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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CAPTURADA A MEIA NOITE / Lara Adrian
CAPTURADA A MEIA NOITE / Lara Adrian

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

MIDNIGHT BREED 08

CAPTURADA A MEIA NOITE

 

Em uma encruzilhada entre a morte e o desejo, uma mulher vai saborear um prazer ao que nenhum mortal pode sobreviver...

No árido e gelado Alaska, a ex-agente da polícia Jenna Darrow consegue sobreviver a um inexplicável evento que a deixa ferida em corpo e alma. Mas, sua fuga a coloca totalmente em um novo e enorme desafio. Estranhas mudanças estão acontecendo em seu interior e ela luta consigo mesma para tentar compreender — e controlar — a nova fome que surge. Para fazer isso, ela busca ajuda em Boston e em uma estirpe de antigos guerreiros vampiros cuja própria existência é por si um mistério. E possivelmente, o mais misterioso de todos eles seja Brock, um macho alfa de olhos negros e aspecto ameaçador cujas mãos têm o poder de reconfortá-la, curá-la... E fazer despertar à paixão. E enquanto Jenna se recupera sob os atentos cuidados de Brock, verá-se arrastada à nova missão da Ordem: deter um cruel inimigo e seu exército de assassinos de submeter à humanidade em um reinado de terror. Apesar da determinação de ambos para lutar contra seus sentimentos e deixar-se levar somente por uma relação física, Jenna e Brock muito em breve se verão envolvidos em um desejo muito mais selvagem que a vida e mais forte que a morte... Até que um segredo do passado de Brock e a mortalidade de Jenna submeterão o amor proibido que ambos sentem a uma última prova de fogo...

 

                        Vida... Ou morte?

As palavras passaram por ela na escuridão. Sílabas destacadas. A aspereza de uma voz chata, sem ar fresco penetrando no pesado cochilo da sua mente e conseguindo que ela acordasse, escutasse. Para fazer uma escolha.

Vida?

Ou morte?

Ela gemeu contra o chão frio sob sua face, tentando barrar a voz - e a decisão implacável que exigia - da sua mente. Não era a primeira vez que ouvia essas palavras, esta pergunta. Nem a primeira vez no espaço de algumas horas infinitas que abriu uma pálpebra pesada na calma frígida da sua cabana e se encontrava olhando para a face terrível de um monstro.

Vampiro.

—Escolha. — A criatura sussurrou a palavra num assobio lento. Ele se agachou acima de onde ela estava, enrolada e tremendo no chão perto da lareira fria. Suas presas brilharam no luar, navalhas agudas, letais. As pontas ainda estavam sujas com sangue fresco - seu sangue, vindo da mordida na sua garganta momentos antes.

Ela tentou se levantar, mas não podia despertar seus músculos enfraquecidos que se dobravam em resposta. Tentou falar, conseguiu só um gemido áspero. Sua garganta estava tão seca como cinza, sua língua grossa e apática na sua boca.

Fora, o inverno do Alaska rugiu, amargo e irreconciliável, enchendo seus ouvidos. Ninguém para ouvir seus gritos, mesmo se tentasse.

Esta criatura podia matá-la num instante. Não sabia por que não o fez. Não sabia por que continuava pressionando por uma resposta a uma pergunta que esteve fazendo a si mesma quase a cada dia da sua vida nos últimos quatro anos.

Depois do acidente que tinha levado seu marido e a pequena menina.

Com que frequência tinha se lamentado por não estar morta junto com eles naquele trecho frio da estrada? Tudo teria sido tão mais fácil, menos doloroso, se estivesse.

Podia sentir um julgamento silencioso na cintilação dos olhos inumanos que se concentravam nela na escuridão agora, queimando brilhante, pupilas tão finas como as de um gato. Marcas intricadas na sua pele seguiam por todas as partes da frente do corpo imenso da criatura. O padrão desenhado parecia pulsar em cores violentas enquanto a olhava. O silêncio se alongou enquanto ele pacientemente a examinava como faria com um inseto preso dentro de um jarro de vidro.

Quando falou novamente, desta vez seus lábios não se moveram. As palavras penetraram seu crânio como fumaça e afundaram na sua mente.

A decisão é sua, humana. Diga-me o que será: vida ou morte?

Ela virou a cabeça e fechou os seus olhos, se recusando a olhar a criatura. Recusando ser parte do jogo privado que parecia jogar com ela. Um predador brincando com sua presa, olhando-a se torcer enquanto decidia se a poupava ou não.

Como terminará depende de você. Você decidirá.

—Vá para o diabo. — Ela pronunciou indistintamente, sua voz grossa e enferrujada.

Dedos fortes de ferro apertaram seu queixo e a puxaram de volta para enfrentá-lo mais uma vez. A criatura levantou sua cabeça, aqueles felinos olhos ambarinos sem emoções quando puxou uma respiração áspera, logo falou pelos seus lábios manchados de sangue e presas.

—Escolha o caminho. Não há muito tempo agora.

Não havia nenhuma impaciência na voz que rosnou tão perto do seu rosto, só uma indiferença chata. Uma apatia que parecia dizer que realmente não se preocupava de um jeito ou de outro pela resposta que ela daria.

A raiva ferveu dentro dela. Ela queria dizer que se fodesse, que a matasse e acabasse com isto, se era o que queria fazer. Não a faria implorar, maldição. O desafio se agitou em seu intestino, empurrando a raiva pela garganta seca e para a ponta da sua língua.

Mas as palavras não vieram.

Ela não podia pedir a morte. Nem mesmo quando a morte seria a única fuga do terror que a mantinha agora. A única fuga da dor por ter perdido as duas pessoas que mais tinha amado e a existência aparentemente sem sentido que era tudo que tinha desde que eles se foram.

Ele a soltou do seu aperto duro e olhou com enlouquecedora calma enquanto ela caía no chão. O tempo se estendeu, impossivelmente longo. Ela lutou para encontrar sua voz, dizer a palavra que a libertaria ou condenaria. Agachado perto dela, ele se balançava nos seus calcanhares com sua cabeça inclinada em consideração silenciosa.

Então, para seu horror e confusão, ele estendeu seu braço esquerdo e com uma unha parecida com uma garra cortou profundamente na carne acima do seu pulso. O sangue caiu da ferida, gotejando, pingos de chuva escarlate que caiam nas pranchas de madeira sob ele. Ele empurrou seu dedo no corte aberto, cavando no músculo e nos tendões do seu braço.

—Oh, Jesus. O que está fazendo? — A repulsa apertou seus sentidos. Seus instintos gritaram que algo terrível estava a ponto de acontecer - talvez mesmo mais terrível que o horror do seu cativeiro, com este pesadelo que a tinha tomado há horas para se alimentar do seu sangue. — Oh, meu Deus. Por favor, não. O que é que está fazendo?

Ele não respondeu. Nem mesmo olhou para ela até que retirou algo minúsculo de dentro da sua carne, que agora olhava enquanto apertava entre seu polegar sangrento e o indicador. Ele pestanejou lentamente, um breve fechar dos seus olhos antes que a prendessem em um raio hipnótico de luz ambarina.

—Vida ou morte. — Assobiou a criatura, aqueles olhos cruéis se estreitando nela. Ele se inclinou em sua direção, sangue ainda gotejando da ferida infligida a si mesmo no seu antebraço. — Você deve decidir, agora mesmo.

Não, ela pensou desesperadamente. Não.

Uma onda de fúria chegou de algum lugar dentro dela. Ela não podia segurá-la. Não pode conter o estouro da raiva que subiu por sua garganta crua e explodiu fora da sua boca em um grito de banshee .

—Não! — Ela levantou seus punhos e bateu na carne dura, inumana dos ombros nus da criatura. Debateu-se e se enfureceu, batendo nele com cada pingo de força que pode reunir, apreciando a dor de cada impacto dos seus socos no corpo dele. — Maldição, não! Fique longe de mim! Não me toque!

Ela bateu seus punhos contra ele novamente, repetidas vezes. Entretanto, ele se aproximou mais.

—Me deixe em paz, maldição! Vá embora!

Seus dedos acertaram seus ombros e os lados da sua cabeça, soco após soco, mesmo enquanto uma escuridão pesada começou a descer sobre ela. Parecia espessa em volta dela, uma mortalha ensopada que tornava seus movimentos lentos, seus pensamentos confusos em sua mente.

Seus músculos afrouxaram, se recusando a cooperar. Ainda assim continuou batendo na criatura, lentamente, como se socasse no meio de um oceano preto, cheio de piche.

—Não. — Ela gemeu, os olhos fechando na escuridão que a rodeava. Ela continuou a afundar. Mais longe e mais longe em um vazio sem som, leve, infinito. — Não... Deixe-me ir. Maldição... Deixe-me ir...

Então, quando parecia que a escuridão que a envolvia nunca fosse soltá-la, sentiu que algo frio e úmido era apertado contra sua testa. Vozes falando em uma mistura indiscernível em algum lugar sobre sua cabeça.

—Não. — Ela murmurou. — Não. Deixe-me ir...

Convocando seu último vestígio de força que possuía, ela lançou outro soco na criatura que a segurava. O músculo grosso absorveu o soco. Ela se aferrou ao seu captor então, se agarrando nele, arranhando-o. Assustada, sentiu o tecido suave em suas mãos. Lã quente, tricotada. Não a pele pegajosa, nua da criatura que esteve na sua cabana e a manteve presa.

A confusão disparou um aviso na sua mente lenta.

—Quem... Não, não me toque ...

—Jenna, pode me ouvir? — A voz de barítono profunda que soava perto de seu rosto era de alguma maneira familiar. Estranhamente calmante.

Ele chamou algo profundo dentro dela, deu algo para se agarrar quando estava no mar escuro e insondável em sua volta. Ela gemeu, ainda perdida, mas com a sensação de um fio delgado de esperança que pudesse sobreviver.

A voz baixa que precisava ouvir desesperadamente veio novamente.

—Kade, Alex. Puta merda, ela está saindo. Acho que está despertando finalmente.

Ela puxou uma respiração dura, desejando ar.

—Deixe-me ir. — Ela murmurou, incerta se podia confiar nas suas sensações. Incerta se podia confiar em algo agora. — Oh, Deus... Por favor, não... Não me toque. Não o faça...

—Jenna? — Em algum lugar próximo, uma voz feminina tomou forma acima dela. Um tom sensível, sério. Uma amiga. — Jenna, querida, sou eu, Alex. Você está bem agora. Entende? Você está segura, prometo.

As palavras penetraram lentamente, trazendo com elas um sentido de alívio e conforto. Uma sensação de paz, apesar do terror frio que ainda rolava por suas veias.

Com esforço, ela abriu suas pálpebras e pestanejou com a luz que se apegava como um véu aos seus sentidos. Três formas pairaram em volta dela, duas delas imensas, inconfundivelmente machos, outra alta e delgada, feminina. Sua melhor amiga no Alasca, Alexandra Maguire.

—Que... Onde estou...

—Shh. — Alex acalmou. — Silêncio agora. Está tudo bem. Está em um lugar seguro. Você vai ficar bem agora.

Jenna pestanejou, se esforçando para focar. Lentamente, as formas a volta da cama ficaram humanas. Meio sentada, percebeu suas mãos ainda cheias pelo suéter de lã usado pelo maior dos dois machos. O afro-americano imenso, parecendo feroz com o cabelo raspado e ombros de linebacker , cuja voz profunda a tinha ajudado a sair do terror que se afogava em seu pesadelo.

Aquele em que esteve dando pancadas implacavelmente por Deus sabe quanto tempo, confundindo-o com a criatura infernal que a tinha atacado no Alasca.

—Hey. — ele murmurou, sua grande boca se curvando suavemente. Castanhos escuros, os olhos que viam a alma, prenderam seu olhar. Aquele peculiar sorriso caloroso confirmou a ordem não dita quando ela soltou seu aperto de morte nele e caiu atrás na cama. — Fico feliz ao ver que decidiu se unir à terra dos vivos.

Jenna franziu o cenho ao seu humor leve, lembrando-se da escolha terrível que foi feita pelo seu atacante. Ela exalou um suspiro áspero enquanto lutava para absorver o novo ambiente desconhecido. Ela se sentiu um pouco como Dorothy despertando no Kansas depois da sua viagem à Oz.

Exceto que o Oz deste cenário era um tormento aparentemente infinito. Uma viagem de horror a uma espécie de inferno embebido por sangue.

Pelo menos o horror daquela provação tinha terminado.

Ela olhou para Alex.

—Onde estamos?

Sua amiga se aproximou e colocou um tecido fresco, úmido na sua testa.

—Você está segura, Jenna. Nada pode prejudicá-la neste lugar.

—Onde? — Jenna exigiu, sentindo um pânico ímpar começando a crescer. Embora a cama em que estivesse fosse macia debaixo dela, cheia de travesseiros fofos e mantas, não podia deixar de notar as clínicas paredes brancas, a frota de monitores médicos e leitores digitais reunidos em volta da sala. — O que é isto, um hospital?

—Não exatamente. — Respondeu Alex. — Estamos em Boston, em uma instituição privada. É o lugar mais seguro para você estar agora. O lugar mais seguro para todos nós.

Boston? Uma instituição privada? A explicação vaga não a fez se sentir melhor.

—Onde está Zach? Tenho que vê-lo. Tenho que falar com ele.

A expressão de Alex empalideceu um bocado com a menção do irmão de Jenna. Ficou silenciosa por um longo momento. Muito tempo. Deu uma olhada sobre seu ombro para o outro homem atrás dela. Era vagamente familiar a Jenna, com seu cabelo preto espetado, penetrantes olhos de prata, e maçãs do rosto afiadas. Alex disse seu nome num sussurro tranquilo.

—Kade...

—Vou buscar Gideon. — Ele disse, oferecendo uma carícia sensível quando falou. Este homem - Kade - era obviamente amigo de Alex. Íntimo. Ele e Alex estavam juntos; mesmo em seu estado agitado, Jenna podia sentir o amor profundo que crepitava entre o par. Quando Kade se afastou de Alex, ele disparou uma olhada ao outro homem na sala. — Brock, se assegure que tudo fique calmo até eu voltar.

A cabeça escura acenou uma vez, triste. Mas quando Jenna olhou para ele, o homem grande chamado Brock encontrou seu olhar com a mesma calma gentil que a tinha cumprimentado quando abriu seus olhos pela primeira vez neste lugar estranho.

Jenna engoliu o nó de medo que subia firmemente na sua garganta.

—Alex, me diga o que está acontecendo. Sei que fui... Atacada. Fui mordida. Oh, Jesus... Havia uma... Uma criatura. Ele de alguma forma entrou na minha cabana e me atacou.

A expressão de Alex era pesada, oferecendo sua mão quando se aproximou de Jenna.

—Sei, querida. Sei que o que passou deve ter sido terrível. Mas está aqui agora. Você sobreviveu, graças a Deus.

Jenna fechou seus olhos abafando um soluço cru.

—Alex, ele... Ele se alimentou de mim.

Brock tinha se aproximado da cama sem aviso. Estava junto dela e conseguiu acariciar com as pontas do dedo ao longo do lado do seu pescoço. Suas grandes mãos eram quentes, e impossivelmente sensíveis. Foi a sensação mais estranha, a paz que emanava da sua carícia leve.

Parte dela queria rejeitar seu toque não solicitado, mas outra parte dela - uma parte indigente, vulnerável que odiava reconhecer, sem falar em satisfazer - não podia recusar o conforto. Seu pulso desacelerou sob o ritmo doce dos seus dedos enquanto viajavam ligeiramente de cima para baixo ao longo da sua garganta.

—Melhor? — Ele perguntou calmo enquanto afastava sua mão dela.

Ela soltou um suspiro lento com um aceno débil de cabeça.

—Realmente tenho que ver meu irmão. Zach sabe que estou aqui?

Os lábios de Alex se apertaram quando um silêncio dolorido ficou longo na sala.

—Jenna, querida, não se incomode com nada ou ninguém por enquanto, certo? Você passou por tanto. Por agora, vai somente se concentrar em você e em se assegurar que está bem. Zach iria querer isto, também.

—Onde ele está, Alex? — Apesar de ter sido há anos que Jenna usou distintivo e uniforme de Policial do estado do Alasca, sabia quando alguém evitava os fatos. Sabia quando alguém tentava proteger outra pessoa, tentando poupá-la da dor. Como Alex fazia com ela neste mesmo momento. — O que aconteceu ao meu irmão? Tenho que vê-lo. Algo está mal com ele, Alex, posso ver na sua cara. Tenho que sair daqui, agora mesmo.

A grande, larga mão de Brock veio na direção dela novamente, mas desta vez, Jenna o empurrou. Foi apenas um movimento leve do seu pulso, mas bateu na mão dele como se tivesse posto toda sua força - e mais alguma - no movimento.

—Que diabos? — Os olhos de Brock se estreitaram, algo estalou brilhante e perigoso no seu olhar escuro, indo e vindo antes que pudesse registrar totalmente o que via.

E naquele mesmo momento, Kade voltou à sala com dois outros homens com ele. Um era alto e magro, atlético, uma coroa desgrenhada de cabelo loiro e óculos escuros azuis sem aro, cobrindo os pálidos olhos, que se equilibravam na ponta do seu nariz lhe dado um ar de cientista louco misturado com nerd. O outro, de cabelos escuros e sombrio, entrou dentro da pequena sala como um rei medieval, sua presença imponente e parecendo sugar todo ar do lugar.

Jenna engoliu. Como antiga policial, estava acostumada a encarar homens duas vezes o seu tamanho sem estremecer. Nunca foi fácil de intimidar, mas ver provavelmente 500 quilos de músculo e força irracional que agora a rodeava nesses quatro homens - para não falar nada do ar distintamente letal que pareciam vestir tão casualmente como sua própria pele - ela achou muito difícil encarar o escrutínio, quase suspeito, dos olhares de cada homem na sala.

Onde quer que tenha sido trazida, sejam quem fossem esses homens associados com Kade, Jenna tinha a impressão muito distinta que a assim chamada instituição privada não era um hospital em absoluto. E certo como o inferno que não era um clube de campo.

—Ela está acordada só há alguns minutos? — Perguntou o loiro, sua voz transportando apenas uma insinuação nua de um sotaque inglês. Quando Brock e Alex acenaram juntos, ele se aproximou da cama. — Olá, Jenna. Sou Gideon. Este é Lucan. — Ele disse, gesticulando à montanha que era seu companheiro, que agora estava ao lado de Brock do outro lado da sala. Gideon franziu o cenho ao olhá-la por cima das suas lentes. — Como se sente?

Ela franziu o cenho.

—Como se um ônibus me atropelasse. Um ônibus que parece ter me arrastado do Alasca até Boston.

—Era o único modo. — Interpôs Lucan, a ordem palpável em seu nivelado tom não-peço-permissão. Ele era o líder aqui, nenhuma dúvida sobre isto. — Você tem muita informação, e precisava de cuidados especializados e observação.

Ela não gostou do som disto em absoluto.

—Do que preciso é voltar para casa. Seja o que aquele monstro me fez, eu sobrevivi. Não preciso de nenhuma espécie de cuidado ou observação porque estou perfeita.

—Não. — Lucan contrariou sério. — Você não está perfeita. Longe disso, de fato.

Embora fosse dito sem crueldade ou ameaça, um medo frio penetrou por ela. Ela olhou para Alex e Brock - as duas pessoas que tinham assegurado há apenas alguns minutos que estava muito bem, que estava segura. As duas pessoas que tinham conseguido de fato a fazer se sentir segura, depois de despertar do pesadelo que ainda podia provar na sua língua. Nenhum deles disse nada agora.

Ela afastou o olhar, irritada e um pouco amedrontada do que aquele silêncio poderia realmente querer dizer. —Tenho que sair aqui. Quero ir para casa.

Quando começou a balançar suas pernas pela borda da cama para se levantar, não foi Lucan ou Brock ou algum dos outros enormes homens que a pararam, mas Alex. A melhor amiga de Jenna se moveu ao lado dela, o olhar sério no seu rosto mais eficaz que qualquer força bruta na sala.

—Jen, você tem que me escutar agora. A todos nós. Há coisas que tem de entender... Sobre o que aconteceu no Alasca, e sobre coisas que ainda temos que compreender. Coisas que só você pode ser capaz de responder.

Jenna sacudiu a cabeça.

—Não sei sobre o que está falando. A única coisa que sei é que fui feita prisioneira e atacada - mordida e sangrada, pelo amor de Deus - por algo pior que um pesadelo. Pode estar lá ainda, em Harmony. Não posso sentar aqui sabendo que o monstro que me aterrorizou pode estar fazendo as mesmas coisas horríveis ao meu irmão ou alguém mais em casa.

—Isto não acontecerá. — disse Alex. — A criatura que a atacou - o Antigo - está morta. Ninguém em Harmony está em perigo agora. Kade e os outros se asseguraram disto.

Jenna sentiu só um silvo de alívio, porque apesar das boas notícias que seu atacante estava morto, havia ainda algo frio roendo seu coração.

—E Zach? Onde está meu irmão?

Alex olhou na direção de Kade e Brock, ambos tinham se aproximado do lado da cama. Alex deu uma sacudida fraca de cabeça, seus olhos castanhos tristes sob as ondas em camadas do seu cabelo loiro escuro. —Oh, Jenna... Sinto tanto.

Ela absorveu as palavras de sua amiga, relutante em compreender. Seu irmão - a última família que restava - estava morto?

—Não. — Ela engoliu a negativa, a tristeza subindo por sua garganta quando Alex envolveu um braço consolador em volta dela.

Na onda da sua dor, as memórias subiram à superfície, também: a voz de Alex, a chamando do exterior da cabana onde a criatura espreitava sobre Jenna na escuridão. Os gritos zangados de Zach, uma corrente de ameaça mortal em cada sílaba cortante - mas ameaça dirigida a quem? Ela não tinha certeza então. Agora não estava certa se importava em absoluto.

Houve uma rajada de arma fora da cabana, um instante antes que a criatura levantasse num ímpeto e se lançasse pelos painéis de madeira desgastados pelo mau tempo da porta dianteira e fosse ao quintal arborizado cheio de neve. Ela se lembrava do uivo agudo dos gritos de seu irmão. O terror puro que precedeu um silêncio horrível.

Então... Nada.

Apenas um sono profundo, anormal e escuridão infinita.

Ela saiu do abraço de Alex, sugando de volta sua dor. Ela não perderia o controle, não na frente desses homens mal-encarados que a olhavam com uma mistura de compaixão e interesse cauteloso, interrogativo.

—Vou partir agora. — Ela disse, cavando profundamente para encontrar o tom não-fode-comigo que usava tão bem quando policial. Ela se levantou, sentindo um leve tremor nas pernas. Quando se inclinou fracamente de lado, Brock estendeu a mão para estabilizá-la, mas ela se equilibrou antes que pudesse oferecer a não solicitada assistência. Não precisava de ninguém a mimando, fazendo-a se sentir débil. — Alex pode me mostrar o caminho para fora.

Lucan intencionalmente limpou sua garganta.

—Ah, acho que não. — Gideon falou, polidamente britânico, ainda sem vacilar. —Agora que está finalmente acordada e lúcida, vamos precisar da sua ajuda.

—Minha ajuda? — Ela franziu o cenho. — Minha ajuda com que?

—Temos que entender precisamente o que aconteceu entre você e o Antigo no tempo que ele ficou com você. Especificamente, se disse algo ou confiou alguma informação a você.

Ela zombou.

—Sinto muito. Já sobrevivi à provação uma vez. Não tenho nenhum interesse em revivê-la em todos os detalhes horríveis para vocês. Obrigada, mas não. Eu quero tirar isto da minha mente completamente.

—Há algo que tem que ver, Jenna. — Desta vez foi Brock que falou. Sua voz era baixa, mais preocupada que exigente. — Por favor, ouça-nos sem interromper.

Ela fez uma pausa, incerta, e Gideon encheu o silêncio da sua indecisão.

—Estivemos a observando desde que chegou ao complexo. — Ele disse enquanto caminhava para um painel de controle montado na parede. Ele digitou algo no teclado e um monitor de tela chata caiu do teto. A imagem no vídeo que pestanejou na tela era um registro evidente dela, adormecida nesta mesma sala. Nada fantástico, só ela, imóvel na cama. — As coisas começam a ficar interessantes por volta da marca de quarenta e três horas.

Ele digitou uma ordem que fez avançar o clipe ao lugar que mencionou. Jenna se viu na tela, uma sensação de desconfiança quando seu vídeo começou a se mover e se contorcer, batendo violentamente na cama. Ela murmurava algo em seu sono, uma cadeia de sons - palavras e frase, estava certa, embora não tivesse nenhuma base para entendê-las.

—Não entendo. O que está acontecendo?

—Esperamos que você pudesse nos dizer. — Disse Lucan. — Você reconhece a língua que está falando?

—Língua? Parece um monte de baboseira para mim.

—Está certa sobre isto? — Não parecia convencido. — Gideon, mostre o vídeo seguinte.

Outro clipe encheu o monitor, as imagens rápidas de um novo episódio, este até mais enervante que o primeiro. Jenna olhou, paralisada, enquanto seu corpo na tela dava pontapés e se contorcia, acompanhado pela trilha sonora surreal da sua própria voz dizendo algo que não fazia absolutamente nenhum sentido.

Era difícil assustá-la, mas este vídeo de ala psiquiátrica era quase a coisa última que gostaria de ver após tudo com que estava lidava.

—Desligue. — Ela murmurou. — Por favor. Não quero ver mais nada agora mesmo.

—Temos horas de gravação como esta. — Lucan disse quando Gideon desligou o vídeo. — Tivemos você sob observação por vinte e quatro horas o tempo todo.

—O tempo todo. — Repercutiu Jenna. — Há quanto tempo estou aqui?

—Cinco dias. — Respondeu Gideon. — No início pensamos que era um coma provocado pela ferida, mas seus órgãos vitais ficaram normais todo este tempo. Seu exame de sangue é normal, também. Do ponto de vista médico, você estava simplesmente... — Ele parecia procurar a palavra certa. — Adormecida.

—Por cinco dias. — Ela disse, precisando estar segura que entendia. — Ninguém apenas adormece por cinco dias inteiros. Deve haver algo mais comigo. Jesus, depois de tudo, devia ver um médico, ir a um hospital de verdade.

Lucan sacudiu a cabeça.

—Gideon é mais experiente que qualquer outro que pudesse procurar. Esta coisa não pode ser tratada pela sua espécie de médicos.

—Minha espécie? O que isto significa?

—Jenna. — Alex disse, tomando sua mão. — Sei que deve estar confusa e assustada. Estive assim também, muito recentemente, embora não possa imaginar ninguém passando o que você passou. Mas tem que ser forte agora. Você tem que confiar em nós - confie em mim - que está nas melhores mãos possíveis. Vamos ajudá-la. Compreenderemos isto para você, prometo.

—Compreender? Conte-me. Maldito seja, tenho que saber o que realmente está acontecendo!

—Deixe-a ver os raios X. — Murmurou Lucan para Gideon, que digitou uma série rápida de teclas e criou as imagens no monitor.

—Este primeiro foi tirado após minutos de sua chegada ao complexo. — Ele explicou, quando um crânio e coluna vertebral apareceram. No ponto mais alto das suas vértebras, algo pequeno incandesceu ferozmente brilhante, tão pequeno como um grão de arroz.

Sua voz, quando ela finalmente a encontrou, manteve o tremor mais nu.

—O que é isso?

—Não estamos seguros. — Respondeu Gideon suavemente. Ele trouxe outro raio X. — Este foi tirado vinte e quatro horas depois. Pode ver as gavinhas filiformes que começaram a se estender por fora do objeto.

Quando Jenna olhou, sentiu os dedos de Alex se apertando em volta dos dela. Outra imagem surgiu na tela, e nesta, as gavinhas se estendiam como renda do objeto brilhante e incandescente para sua coluna vertebral.

—Oh, Deus. — Ela sussurrou, levando sua mão livre para sentir a pele na sua nuca. Ela pressionou forte e quase vomitou ao registrar a fraca elevação do que estava embutido dentro dela. — Ele me fez isto?

Vida... Ou morte?

A escolha é sua, Jenna Tucker-Darrow.

As palavras da criatura voltaram agora, junto com a lembrança da ferida infligida a si mesmo, o objeto quase indiscernível que tinha arrancado de dentro da sua própria carne.

Vida, ou morte?

Escolha.

—Ele pôs algo dentro de mim. — Ela murmurou.

A ligeira oscilação que tinha sentido há alguns momentos voltou como uma vingança. Seus joelhos se dobraram, mas antes que terminasse no chão, Brock e Alex cada um a pegaram por um braço, dando seu apoio. Tão terrível como era, Jenna não podia desgrudar seus olhos do raio X que enchia a tela acima.

—Oh, meu Deus. — Ela gemeu. — O que aquele monstro me fez?

Lucan a fitou.

—Isto é o que pretendemos descobrir.

Em pé no corredor fora da enfermaria alguns minutos depois, Brock e os outros guerreiros olhavam como Alex se sentava na borda da cama e calmamente consolava sua amiga. Jenna não ruiu ou se esmigalhou. Deixou que Alex a envolvesse em um abraço sensível, mas os olhos avelã de Jenna permaneciam secos, fitando sempre em frente, sua expressão ilegível, vidrada com o choque.

Gideon limpou sua garganta, quebrando o silêncio quando afastou a vista da pequena janela da porta da enfermaria.

—Correu tudo bem. Consideravelmente.

Brock grunhiu.

—Considerando-se que ela mal saiu de um período de cinco dias de Rip Van Winkle para saber que seu irmão estava morto, foi semeada pelo vovô de todas as sanguessugas, trazida aqui contra sua vontade - e oh, a propósito, encontramos algo embutido na sua coluna que provavelmente não se originou neste planeta, portanto parabéns, apesar de tudo, há uma boa chance que seja parte Borg agora. — Ele exalou uma maldição seca. — Jesus, isto é uma merda.

—Sim, é. — Disse Lucan. — Mas seria um inferno muito pior se não pudéssemos conter a situação. Agora mesmo, tudo que temos a fazer é manter a fêmea calma e em estreita observação até compreendermos melhor o próprio implante e o que, e se, pode significar algo para nós. Sem mencionar o fato que o Antigo deve ter tido uma razão para colocar o material no interior dela em primeiro lugar. Esta é uma pergunta que pede uma resposta. Mais cedo ou mais tarde.

Brock acenou com a cabeça em acordo com o resto dos seus irmãos. Foi só um movimento leve, mas a flexão dos músculos de seu pescoço fez ressaltar sua dor de cabeça. Apertou seus dedos nas têmporas, esperando a agonia parecida com uma faca passar.

Junto dele, Kade franziu o cenho, as sobrancelhas negras se enrugando sobre seus lupinos olhos de prata.

—Você está bem?

—Ótimo. — Brock murmurou, irritado pela demonstração pública de preocupação, embora viesse de um guerreiro que era tão próximo como um irmão para ele. E embora o duro golpe de Jenna o rasgasse de dentro para fora, Brock simplesmente encolheu os ombros. — Nada demais, apenas seguindo o curso.

—Você esteve absorvendo a dor daquela fêmea por quase uma semana inteira. — Lucan o lembrou. — Precisa de um intervalo...

Brock soltou uma maldição baixa.

—Nada que algumas horas em patrulha esta noite não cure.

Seu olhar desviou ao pequeno painel de vidro claro que mostrava a sala da enfermaria. Como todos da Raça, Brock era dotado de uma capacidade única. Seu talento para absorver a dor e sofrimento humano ajudou a manter Jenna cômoda desde sua provação no Alasca, mas suas habilidades eram somente um Band-Aid na melhor das hipóteses.

Agora que estava consciente e capaz de prover a Ordem com qualquer informação que precisassem sobre seu tempo com o Antigo e o material alienígena embutido dentro dela, os problemas de Jenna Darrow eram dela mesma.

—Há algo mais que todos devem saber sobre a fêmea. — Brock disse enquanto a observava cuidadosamente balançar suas pernas nuas pela borda da cama e se levantar. Tentou não notar como a bata de hospital branco subia a meio caminho por cima das suas coxas um instante antes que seus pés tocassem o chão. Em vez disso se concentrou em como prontamente encontrou seu equilíbrio. Depois de cinco dias deitada em um sono antinatural, seus músculos absorveram seu peso com apenas um tremor de instabilidade. —Ela é mais forte do que devia ser. Pode andar sem ajuda, e há alguns minutos, quando só Alex e eu estávamos na sala com ela, Jenna se agitou sobre o desejo de ver seu irmão. Fui tocá-la e acalmá-la, e ela desviou minha mão. Empurrou-me como se fosse nada.

As sobrancelhas de Kade subiram.

—Esquecendo do fato que você é Raça e tem os reflexos para se livrar dela, também tem aproximadamente 45 quilos a mais que aquela fêmea.

—Exatamente. — Brock olhou para Lucan e os outros. — Não penso que percebeu o significado do que fez, mas não há dúvidas do poder que lançou em mim sem tentar realmente.

—Jesus. — Lucan sussurrou forte, sua mandíbula rígida.

—Sua dor é mais forte agora do que antes, também. — Acrescentou Brock. — Não sei o que está acontecendo, mas tudo sobre ela parece estar se intensificando agora que está acordada.

A carranca de Lucan ficou mais profunda quando olhou para Gideon.

—Estamos certos que é humana, e não uma Companheira de Raça?

—Apenas seu estoque básico de Homo Sapiens. — Confirmou o gênio da Ordem. — Pedi para Alexandra fazer um exame visual da pele de sua amiga assim que chegaram do Alasca. Não havia nenhuma marca de lágrima-e-lua-crescente em qualquer lugar no corpo de Jenna. Quanto ao exame de sangue e DNA, todas as amostras que tirei voltaram claras, também. De fato, estive fazendo testes a cada vinte e quatro horas, e não houve nada anormal. Tudo sobre a mulher até agora - além da presença do implante - é perfeitamente banal.

Banal? Brock mal se conteve em ridicularizar a palavra inadequada. Naturalmente, nem Gideon nem nenhum dos outros guerreiros estiveram presentes na pesquisa do corpo da cabeça-ao-pés feita em Jenna após sua chegada no complexo. Estava torturada com a dor, entrando e saindo da consciência enquanto Brock, Kade, Alex, e o resto da equipe que tinha se juntado no Alasca voltavam para casa em Boston.

Considerando que era o único que podia acalmá-la, Brock ficou ao lado de Jenna e manteve a situação sob controle o melhor que pode. Supunha-se que seu papel fosse puramente profissional, clínico e impessoal. Uma ferramenta à mão em caso de emergência.

Mas teve uma resposta alarmantemente não profissional à vista do corpo nu de Jenna. Foi há cinco dias, mas se lembrava de cada polegada exposta da sua pele marfim como se a visse novamente agora, e seu pulso pulou pela lembrança.

Ele lembrou cada curva lisa e o vale inclinado, cada pequeno monte, cada cicatriz - da pequena incisão no seu abdome ao monte de feridas curadas e lacerações que permeavam seu tronco e antebraços, dizendo que já esteve no inferno e voltou pelo menos uma vez antes.

E foi tudo menos clínico e impessoal quando Jenna entrou em uma convulsão súbita de agonia momentos depois que Alex terminou de procurar em vão uma marca que significasse que sua amiga era uma Companheira de Raça como as outras mulheres que viviam no complexo da Ordem. Tinha colocado suas mãos dos dois lados do seu pescoço e tinha afastado a dor dela, muito consciente do quão suave e delicada era sua pele sob as pontas dos seus dedos. Ele apertou suas mãos quando o pensamento cresceu sobre ele agora.

Ele não tinha que pensar na mulher, nua ou de outra maneira. Exceto que agora que pensou, podia pensar um pouco mais. E quando ela levantou o olhar e pegou seu olhar pelo vidro da pequena janela na porta, um calor não solicitado o atravessou como uma flecha ardente.

Desejo era ruim o suficiente, mas o sentido ímpar de proteção de um caçador era o que realmente o desequilibrava. A sensação tinha começado no Alasca, quando ele e os outros guerreiros a encontraram. Não sumiu nos dias que estava no complexo. Se algo, a sensação só ficou mais forte, vendo sua luta no sono estranho que a mantinha inconsciente desde que saiu da sua provação com o Antigo no Alasca.

Seu olhar franco ainda mantinha o dele do outro lado da enfermaria: cauteloso, quase suspeito. Não havia nenhuma fraqueza nos seus olhos, nem na leve inclinação do seu queixo. Jenna Darrow era claramente uma fêmea forte, apesar de tudo que tinha passado, e ele se encontrou desejando que tivesse um acesso de lágrimas e histeria em vez da calma mulher, sob-controle cujo inflexível olhar recusava desviar do dele.

Ela estava calma e estoica, tão valente quanto bela, e com certeza não a fazia menos intrigante para ele.

—Quando foi a última vez que fez exame de sangue e DNA? — Lucan perguntou, a pergunta feita em voz grave, baixa, dando a Brock algo mais para se concentrar.

Gideon empurrou atrás sua manga da camisa para verificar seu relógio.

—Tirei a última amostra há aproximadamente sete horas.

Lucan grunhiu quando se afastou da porta da enfermaria.

—Faça tudo novamente agora. Se as leituras se modificarem uma parcela mínima da última amostra, quero saber.

A cabeça loira de Gideon assentiu.

—Considerando o que Brock nos disse, também gostaria de medir um pouco de força e resistência. Qualquer informação que pudermos reunir no estudo de Jenna pode ser crucial à compreensão do que exatamente estamos lidando aqui.

—Tudo o que precisar. — Disse Lucan severamente. — Somente faça, e rápido. Esta situação é importante, mas também não podemos permitir perder o ímpeto em nossas outras missões.

Brock inclinou sua cabeça junto com os outros guerreiros, sabendo tão bem quanto eles que um humano no complexo era uma complicação que a Ordem não precisava quando ainda tinham um inimigo solto - Dragos, um corrupto Raça mais velho, a quem a Ordem estava perseguindo por quase um ano.

Dragos esteve trabalhando em segredo por muitas décadas, sob mais de uma identidade e dentro de clandestinas e poderosas alianças. Sua operação tinha cultivado numerosos tentáculos e de longo alcance, como os guerreiros descobriam, e cada um daqueles braços ávidos trabalhavam para um objetivo único: a dominação completa e total de Dragos tanto por cima da Raça quanto da humanidade igualmente.

O principal objetivo da Ordem era a destruição e desmontagem rápida e permanente de sua operação inteira. A Ordem pretendia tirar Dragos pela raiz. Mas houve complicações àquele objetivo. Ele tinha desaparecido recentemente, e havia, como sempre, camadas de proteção na frente dele - aliados secretos dentro da nação Raça, talvez fora também. Dragos também tinha um exército inumerável de assassinos experientes na sua ordem, cada um nascido e criado especificamente para matar. Machos Raça assassinos que eram descendentes diretos do Antigo que, até sua fuga ao Alasca há algumas semanas e subsequente morte, esteve sob as ordens de Dragos.

Brock olhou para a enfermaria onde Jenna começou a andar para frente e para trás como um animal enjaulado. Dizer que a Ordem tinha suas mãos cheias no momento atual era pouco. Agora que estava acordada, pelo menos sua parte estava acabada. Seu talento serviu Jenna na semana passada; daqui em diante estaria por conta de Gideon e Lucan decidir.

Dentro da sala, Alex se afastou da sua amiga e se aproximou da porta. Ela a abriu e saiu ao corredor, seus olhos marrons suaves, preocupados sob as ondas loiras escuras na sua testa.

—Como ela está? — Kade perguntou, se movendo em direção à sua mulher como se a gravidade o puxasse até lá. Eram um par recentemente formado, tendo se encontrado durante a missão de Kade no Alasca, mas vendo o guerreiro e sua bonita piloto Companheira de Raça, parecia impossível a Brock que só estivessem juntos por um par de semanas. — Jenna precisa de algo, querida?

—Ela está confusa e chateada, é compreensível. — Disse Alex, se movendo ao abrigo do corpo de Kade como ele tinha feito com ela. — Acho que se sentirá melhor depois de uma longa ducha e alguma roupa limpa. Diz que se sente maluca presa na sala e quer dar um passeio para esticar um pouco as pernas. Eu disse que perguntaria se estava tudo bem.

Alex olhou para Lucan quando falou, dirigindo o pedido ao membro mais velho da Ordem, seu fundador e líder.

—Jenna não está presa aqui. — Ele respondeu. — Naturalmente é livre para se banhar e vestir e andar em volta.

—Obrigado. — Alex disse, gratidão clareando um pouco a incerteza nos seus olhos. — Eu disse que ela não seria mantida aqui como prisioneira, mas não pareceu acreditar. Depois do que passou, acho que isto não é surpreendente. Irei contar-lhe o que disse, Lucan.

Quando ela se virou para voltar à enfermaria, o líder da Ordem limpou sua garganta. A companheira de Kade reduziu a velocidade e deu um olhar por cima do seu ombro, um pouco da sua alegria já a deixando quando encontrou a olhada severa de Lucan.

—Jenna é livre para passear e fazer o que preferir - contanto que alguém esteja com ela, e contanto que não tente deixar o complexo. Veja que tenha tudo que precisa. Quando estiver pronta para seu passeio em volta do complexo, Brock a levará. Estou o encarregando do seu bem-estar. Ele vai se assegurar que Jenna não se perca pelo caminho.

Brock teve que se esforçar para bloquear a maldição que chegava à sua língua.

Apenas ótimo, ele pensou, querendo como o inferno rejeitar a nomeação que o manteria no quarto fechado com Jenna Darrow.

Em vez disso reconheceu a ordem de Lucan com um aceno de cabeça.

 

As mãos de Jenna estavam apertadas quando as empurrou nos bolsos do robe atoalhado, branco que cobria sua bata de hospital fina. Seus pés nadaram nos novos chinelos, extra grande, de tamanho masculino que Alex tinha achado numa gaveta na enfermaria onde Jenna tinha despertado há menos de uma hora. Ela arrastou os pés junto de sua amiga, andando ao longo de um corredor iluminado, de mármore branco que serpenteava num labirinto aparentemente infinito de passagens semelhantes.

Jenna se sentia estranhamente entorpecida, não somente pelo choque de ouvir que seu irmão estava morto, mas pelo fato que o pesadelo do qual tinha despertado não terminou com sua sobrevivência. A criatura que a tinha atacado na sua cabana poderia estar morta, como foi informada, mas não estava livre de sua influência.

Depois do que viu nas imagens de raios-X e nos vídeos do hospital, sabia com um medo profundo que parte deste monstro ainda mantinha suas presas num aperto cruel. Devia estar gritando de terror só por saber. No fundo, medo e dor rolavam. Ela a apertou com uma tampa dura fazendo bolhas na histeria, recusando mostrar essa espécie de fraqueza, até mesmo para sua melhor amiga.

Mas havia uma calma verdadeira dentro dela, que estava com ela na enfermaria - desde o momento que Brock pôs suas mãos nela e prometeu que estava segura. Foi aquela segurança bem como sua própria determinação de policial que a impediu de ruir enquanto andava pelo labirinto de corredores com Alex.

—Estamos quase lá. — Alex disse quando conduziu Jenna em volta de outra esquina, em direção a outro longo corredor brilhante. — Pensei que seria mais cômodo se limpar e vestir no meu quarto e de Kade e não na enfermaria.

Jenna deu um aceno de cabeça vago, embora fosse difícil imaginar ficar cômoda em qualquer lugar neste lugar estranho e desconhecido. Ela andou cautelosamente, seus enferrujados instintos de policial formigando quando passou por sala após sala desmarcada. Não havia uma única janela exterior no lugar, nada para indicar onde a instalação estava localizada, nem o que poderia estar além das suas paredes. Nenhum modo de saber mesmo se era dia ou noite lá fora.

Acima da sua cabeça, seguindo o comprimento do corredor, as pequenas cúpulas pretas escondiam o que ela imaginou serem câmeras de vigilância. Era tudo muito - top de linha - muito privado, e muito seguro.

—Que lugar é este, uma espécie de prédio do governo? — Ela perguntou, exprimindo suas suspeitas em voz alta. — Definitivamente não é civil. É uma espécie de unidade militar?

Alex enviou a ela um relance hesitante, contido.

—É mais seguro que qualquer dessas coisas. Estamos há aproximadamente trinta andares subterrâneos, não muito longe da cidade de Boston.

—Um bunker , então. — Adivinhou Jenna, ainda tentando dar sentido a tudo. — Se não é do governo ou militar, de quem é?

Alex pareceu considerar sua resposta um pouco mais que o necessário.

—O complexo em que estamos, e a propriedade acima de nós no nível da rua, pertence à Ordem.

—A Ordem. — Repetiu Jenna, notando que a explicação de Alex levantava mais perguntas sobre o lugar do que respondia. Ela nunca viu nada parecido com este lugar antes. Era estranho com seu desenho de alta tecnologia, muito distante de algo que tenha visto alguma vez no Alasca rural ou algum dos lugares que esteve nos Quarenta e Oito Estados Mais Baixos .

Somando-se à estranheza, sob seus pés nos chinelos, o mármore branco polido foi incrustado com pedra preta brilhante que fazia um padrão corrente de símbolos ímpares ao longo do chão - floreios formando arcos e formas geométricas complexas que se pareciam com tatuagens tribais.

Dermaglifos.

A palavra saltou nos seus pensamentos do nada, uma resposta a uma pergunta que nem mesmo saberia fazer. Era uma palavra pouco conhecida, tão pouco conhecida como tudo sobre este lugar e as pessoas que pareciam viver aqui. E, no entanto, a certeza com a qual sua mente forneceu o termo a fez sentir como se o tivesse pensado ou dito milhares de vezes.

Impossível.

—Jenna, você está bem? — Alex fez uma pausa no corredor um par de passos à frente de onde os pés de Jenna pararam de se mover. — Está cansada? Podemos descansar por um minuto, se precisar...

—Não. Estou bem. — Sentia uma ruga que vincava sua testa enquanto olhava o desenho intricado no chão liso. — Estou somente... Confusa.

E isso era devido a mais que somente a peculiaridade de onde estava agora. Tudo parecia diferente para ela, até seu próprio corpo. Alguma parte do seu intelecto sabia que depois de cinco dias inconscientes em um leito, provavelmente devia estar esgotada pela distância curta que acabava de andar.

Os músculos não ricocheteavam naturalmente daquela espécie da inatividade sem um pouco de dor e reciclagem. Sabia por sua própria experiência pessoal, no acidente há quatro anos que a deixou na UTI do hospital em Fairbanks. O mesmo acidente que matou seu marido e filha.

Jenna lembrava bem demais das semanas de reabilitação difíceis que levou para deixá-la de pé e andando novamente. Mas agora, depois da provação que acabava de despertar, seus membros estavam constantes e ágeis. Completamente não afetados pela falta prolongada de uso.

Seu corpo parecia estranhamente reanimado. Mais forte, mas, de alguma maneira, não exatamente o mesmo.

—Nada disto faz sentido. — Ela murmurou, quando ela e Alex continuaram seu progresso abaixo pelo corredor longo.

—Oh, Jen. — Alex tocou seu ombro com uma mão doce. — Sei sobre a confusão que deve estar sentindo agora mesmo. Acredite em mim, eu sei. Lamento que tudo isto tenha acontecido. Queria que houvesse algum modo de voltar o que você passou.

Jenna pestanejou lentamente, registrando a profundidade do desgosto de sua amiga. Tinha perguntas - tantas perguntas - mas quando se aprofundaram no labirinto de corredores, ouviram os sons mistos de vozes transportadas de uma sala murada de vidro adiante. Ela ouviu a voz de barítono profunda, rolante de Brock e facilmente, as sílabas rapidamente ditas, britânicas do homem denominado Gideon.

Quando ela e Alex se aproximaram da sala que se encontravam, viu que aquele chamado Lucan estava lá, assim como Kade e dois outros enormes com a aura letal que esses tipos pareciam usar tão casualmente como sua farda preta e cintos de armas bem estocados.

—Este é o laboratório de tecnologia. — Explicou Alex para ela. — Todos os computadores que vê são domínio de Gideon. Kade diz que ele é uma espécie de gênio quando se trata de tecnologia. Provavelmente um gênio quando se trata de quase tudo.

Quando fizeram uma pausa no corredor, Kade olhou para cima e examinou Alex demoradamente pelo vidro. A eletricidade crepitou nos seus olhos de prata, e Jenna teria que estar inconsciente no seu leito de doente para não sentir o calor compartilhado entre Alex e seu homem.

Jenna tinha sua própria quota de olhares dos outros reunidos na sala cercada de vidro. Lucan e Gideon se viraram, como fizeram os dois outros grandes homens que não eram familiares para ela. Um louro de olhar severo, seu olhar dourado tão frio e insensível como uma lâmina, e o outro um homem de pele azeitonada com uma coroa grossa de ondas de chocolate marrom que acentuavam seus olhos de topázio cobertos por longos cílios e uma massa infeliz de cicatrizes que cobria o lado esquerdo do seu rosto de outra maneira sem defeito. Havia curiosidade franca nos olhares masculino, talvez um pouco de suspeita, também.

—Estes são Hunter e Rio. — Disse Alex, indicando o loiro ameaçador e o moreno cicatrizado respectivamente. — São membros da Ordem, também.

Jenna deu um aceno de cabeça vago de reconhecimento, sentindo-se tão notada na frente desses homens como em seu primeiro dia no emprego com os Policiais do estado do Alasca, uma novata saída-da-academia e uma fêmea, além disso. Mas aqui, a sensação não era tanto sobre discriminação de sexo ou insegurança masculina. Conhecia bastante daquelas baboseiras durante sua permanência com os Staties para perceber que isto era algo diferente. Algo muito mais profundo.

Aqui, sentiu que em virtude da sua mera presença, pisava em terra sagrada. De algum modo não dito, percebeu nos cinco pares de olhos que a estudavam neste lugar, entre essas pessoas, que era de alguma forma uma intrusa.

Mesmo Brock estava sombrio, um olhar avaliador sobre, que parecia dizer que não tinha certeza se gostava de vê-la lá, independentemente dos cuidados e carinho que mostrou antes na enfermaria. Jenna não argumentaria esse ponto nem por um segundo. Concordava com a vibração que se expandia pelas paredes de vidro do laboratório de tecnologia. Ela não pertencia ali. Este não era seu povo. Não, alguma coisa em cada um dos rígidos, ilegíveis rostos fixos nela dizia que não eram do tipo dela. Eram algo mais... Outra coisa.

Mas depois do que tinha passado em sua cabana no Alasca - após o que tinha visto de si mesma na enfermaria - poderia dizer o que era agora?

A questão gelou seus ossos.

Não queria pensar nisso. Mal podia suportar ter alimentado algo tão monstruoso e terrível como a criatura que a havia feito prisioneira em sua própria casa por todas àquelas horas. A mesma criatura que implantou um corpo estranho em seu corpo e virado sua vida - o pouco que havia restado - do avesso.

O que seria dela agora?

Voltaria a ser a mulher de antes?

Jenna quase cedeu sob o peso das questões que não estava disposta a considerar.

Para piorar, o sentimento de confusão que a seguia pelos corredores do complexo se abateu de novo, mais forte agora. Tudo parecia amplificar a sua volta, desde o barulho suave da luz fluorescente sobre a cabeça - as luzes que brilhavam muito para os olhos sensíveis - até a aceleração de sua pulsação, que parecia estar se encaminhando para a alta-velocidade, empurrando muito sangue através de suas veias. Sua pele estava muito apertada, enrolada em um corpo que estava acelerado com alguma consciência nova e estranha. Sentiu sua agitação desde o momento que abriu os olhos na enfermaria, e ao invés de nivelar, estava piorando.

Algum estranho novo poder parecia estar crescendo dentro dela.

Esticando, despertando...

—Estou me sentindo meio esquisita. — Ela disse a Alex, quando suas têmporas latejaram, suas palmas ficaram úmidas embora permanecessem fechadas dentro dos bolsos do seu robe. — Acho que tenho que sair daqui, conseguir algum ar.

Alex estendeu a mão e tirou uma mecha do cabelo do rosto de Jenna.

—Meu quarto e de Kade fica no fim deste caminho. Irá se sentir muito melhor depois de uma ducha quente, estou segura.

—Certo. — Jenna murmurou, permitindo-se ser guiada longe da parede de vidro do laboratório de tecnologia e os enervantes olhares que a seguiam.

Vários metros adiante no corredor que se curvava, um par de portas se abriram. Três mulheres saíram usando casacos curtos com capuz de inverno salpicados de neve e botas molhadas. Eram seguidas por uma menina embrulhada do mesmo modo que segurava um par de cães em correias - um exuberante terrier pequeno e o lobo cinza-e-branco de Alex, Luna, que também parecia ter chegado recentemente do Alasca a Boston.

Logo que os olhos azuis agudos de Luna se iluminaram em Alex e Jenna, ela pulou para frente. A menina que segurava a correia deixou sair um pequeno grito, mais risadinha que qualquer coisa, seu capuz do casaco curto caindo e libertando um monte do cabelo loiro saltando em volta do rosto delicado.

—Oi, Alex! — Ela disse, rindo quando Luna a puxou ao longo do corredor na sua vigília. — Acabamos de voltar de um passeio lá fora. Está congelando lá em cima!

Estendendo a mão para a grande cabeça de Luna, Alex deu à criança um sorriso amistoso.

—Obrigado por levá-la. Sei que ela gosta de estar com você, Mira.

A pequena menina balançou sua cabeça entusiasmada.

—Eu gosto de Luna, também. Tanto quanto de Harvard.

Se em protesto ou acordo, o pequeno terrier ladrou uma vez e dançou freneticamente em volta das pernas do cão maior, o grosso rabo balançando aproximadamente a 100 km por hora.

—Olá. — Disse uma das três mulheres. — Sou Gabrielle. É bom vê-la em pé e de volta, Jenna.

—Sinto muito. — Interpôs Alex, levantando para fazer apresentações rápidas. —Jenna, Gabrielle é Companheira de Lucan.

—Oi. — Jenna tirou sua mão do bolso e a estendeu em saudação à mulher jovem com muito cabelo ruivo. Junto de Gabrielle, uma mulher afro-americana ofereceu um sorriso quente quando estendeu sua mão em boas-vindas.

—Sou Savannah. — Ela disse, sua voz como veludo e creme, imediatamente fazendo Jenna se sentir em casa. — Estou segura que já encontrou Gideon, meu companheiro.

Jenna acenou com a cabeça, sentindo-se mal preparada para brincadeiras apesar do calor das outras mulheres.

—E esta é Tess. — Acrescentou Alex, indicando a última do grupo de três, uma loira pesadamente grávida com olhos tranquilos, verdes-mar que pareciam sábios além dos seus anos. — Ela e seu companheiro, Dante, estão esperando seu filho para breve.

—Somente mais algumas semanas. — Disse Tess quando rapidamente apertou a mão de Jenna, e a outra mão ligeiramente na grande barriga. — Ficamos muito preocupadas com você desde que chegou aqui, Jenna. Precisa de algo? Se houver algo que possamos fazer por você, espero que você nos avise.

—Você pode voltar atrás o tempo aproximadamente uma semana?— Jenna perguntou, só meio brincando. — Eu realmente gostaria de apagar os últimos dias e voltar à minha vida no Alasca. Alguém pode fazer isto por mim?

Uma olhada preocupada passou entre as mulheres.

—Temo que não seja possível. — Disse Gabrielle. Embora o desgosto amolecesse sua expressão, a companheira de Lucan falou com a confiança serena de uma mulher sabedora de sua própria autoridade, mas desinclinada a abusar dela. — O que passou foi terrível, Jenna, mas o único caminho é avançar. Sinto muito.

—Não mais que eu. — Disse Jenna calmamente.

Alex murmurou algumas palavras baixas de adeus às outras mulheres. Então coçou Luna atrás das orelhas e deu à loba um beijo rápido no focinho antes de levar Jenna de volta à sua caminhada acima pelo corredor. Em algum lugar na distância, Jenna ouviu um clique metálico, e os sons abafados de risada entre uma conversa viva - pelo tom, uma antiga brincadeira - entre pelo menos uma mulher e três homens.

Jenna arrastou seus pés ao lado de Alex quando viraram um canto no corredor e o estrondo de vozes e armamento se desvaneceu.

—Quanta gente vive aqui?

Alex levantou sua cabeça, pensando.

—A Ordem tem dez membros agora, que vivem aqui no complexo. Todos exceto Brock, Hunter, e Chase são vinculados, o que faz sete de nós Companheiras de Raça, mais Mira.

—Dezoito pessoas no total. — Disse Jenna, distraidamente contando-os em sua mente.

—Dezenove agora. — Corrigiu Alex, quando se inclinou para dar uma olhada sobre seu ombro.

—Sou temporária. — Disse Jenna, andando ao longo de outro comprido corredor de mármore, logo fazendo uma pausa atrás de Alex quando reduziu a velocidade em frente a uma porta desmarcada. — Logo que um dos seus novos colegas agentes secretos descubra como me livrar da coisa no meu pescoço, estarei partindo. Não pertenço aqui, Alex. Minha vida está no Alasca.

O simpático sorriso que vacilou nos lábios de Alex deu uma guinada no pulso de Jenna.

—Bem, aqui estamos. — Ela abriu a porta de um apartamento e guiou por gestos Jenna ao interior. Ela entrou na frente e ligou um abajur, enchendo o quarto espaçoso com um clarão. Alex parecia ansiosa de alguma maneira, andando pelo lugar como um redemoinho de vento e falando muito rápido. — Quero que fique à vontade, Jen. Descanse por um minuto na sala, se quiser. Vou pegar roupa limpa e abrirei a ducha para você. A menos que prefira fechar seus olhos um pouco? Posso te dar uma das camisetas de Kade para dormir e preparar a cama para você.

—Alex.

Ela desapareceu no quarto adjacente, ainda falando a mil por hora.

—Está com fome? Quer que eu consiga algo para comer?

Jenna caminhou até a porta aberta.

—Diga o que está acontecendo aqui. Quero dizer, realmente acontecendo.

Finalmente, Alex fez uma pausa.

Ela virou a cabeça e somente a fitou por um minuto cheio de silêncio.

—Quero saber. — Disse Jenna. — Maldita seja, preciso saber. Por favor, Alex, como minha amiga. Diga-me a verdade.

Alex a fitou, deixando sair uma respiração longa quando lentamente sacudiu a cabeça.

—Oh, Jen. Há tanto que não sabe. Coisas que nem eu mesma sabia há um par de semanas, depois que Kade apareceu em Harmony.

Jenna ficou lá, olhando a luta de sua amiga, normalmente franca e direta nas palavras.

—Diga-me, Alex. O que é tudo isto?

—Vampiros, Jen. — A palavra foi sussurrada, mas o olhar de Alex não oscilou. —Você sabe que são de verdade agora. Você viu por si mesma. Mas o que não sabe é que não são como fomos ensinadas a acreditar pelos contos de horror e filmes.

Jenna ridicularizou.

—Aquela coisa que me atacou era bastante horrível.

—Sei. — Continuou Alex, implorando agora. — Não posso desculpar o que o Antigo te fez. Mas me ouça sem interromper. Há outros da sua espécie que não são tão diferentes de nós, Jen. Superficialmente, naturalmente, não somos iguais. Eles têm necessidades diferentes de sobrevivência, mas profundamente, há um núcleo de humanidade dentro deles. Têm famílias e amigos. São capazes de um amor incrível, bondade e honra. Como nós, há os bons e os maus entre eles, também.

Não muito tempo atrás - uma mera semana, de fato - Jenna teria caído na gargalhada ouvindo algo tão estranho como o que Alex falava agora.

Mas tudo tinha mudado desde então. Uma semana parecia um século de onde estava agora. Jenna não pode rir, não pode nem mesmo reunir uma palavra de negativa quando Alex continuou, explicando como a Raça, como preferiram ser chamados, veio a existir e prosperar por milhares de anos nas sombras do mundo humano.

Jenna só pode escutar enquanto Alex contava como a Ordem foi fundada há séculos por Lucan e um punhado de outros, a maior parte dos quais mortos há muito tempo. Os homens sediados no quartel-general deste complexo eram todos guerreiros, inclusive Kade e Brock, até o encantadoramente nerd Gideon. Eles eram Raça, sobrenaturais e mortais. Eram outra coisa, tal como os instintos de Jenna tinham dito.

Todos os homens, membros da Ordem, como agora, tinham se comprometido a fornecer proteção tanto para os humanos como para a Raça, sua missão era caçar vampiros perdidos para a Sede de Sangue chamados Renegados.

Jenna prendeu sua respiração quando Alex baixinho, confessou que quando era criança na Flórida, sua mãe e o irmão mais jovem foram atacados e mortos por Renegados. Alex e seu pai escaparam por pouco com suas vidas.

—A história que contamos a todos sobre minha mãe e Richie quando nos mudamos para Harmony era apenas isto, Jen. Uma história. Foi uma mentira que ambos quisemos acreditar. Penso que papai consequentemente o fez, e logo o Alzheimer cuidou do resto. Quase podia acreditar na nossa mentira, também, até que as matanças começaram no Alasca. Então eu soube. Não podia mais fugir da verdade. Tive que enfrentá-la.

Jenna fechou seus olhos, deixando todas essas revelações incríveis pesarem em seus ombros como um manto pesado. Ela mal podia ignorar o que tinha passado, mas não podia ignorar a dor crua da experiência de sua melhor amiga quando criança. A provação de Alex estava no seu passado, felizmente. Ela tinha seguido. Tinha encontrado a felicidade finalmente, possivelmente e ironicamente, com Kade.

Jenna esperava que pudesse ser capaz de ir além do pesadelo que tinha suportado, mas sentia o toque frio de uma algema quando pensava no pedaço de material desconhecido sob a base do seu crânio.

—E eu? — Ela se ouviu murmurando. Sua voz aumentou quando a ansiedade inundou sua circulação sanguínea. — E a coisa que está dentro de mim, Alex? O que é? Como vou me livrar dela?

—Não temos essas respostas ainda, Jenna. — Alex se aproximou, preocupação vincando sua testa. — Não sabemos, mas prometo, encontraremos um modo de ajudá-la. Kade e o resto da Ordem farão tudo em seu poder para entender isto. Enquanto isso, a protegerão e vão se assegurar que seja bem cuidada.

—Não. — Jenna envolveu seus braços em volta dela. — Tudo que preciso é ir para casa. Quero voltar à Harmony.

—Oh, Jen. — Alex lentamente sacudiu sua cabeça. — A vida que conhecia no Alasca acabou agora. Tudo em Harmony está mudado. Precauções precisaram ser tomadas.

Ela não gostou do som disto em absoluto.

—Sobre o que está falando? Que precauções? O que está mudado?

—A Ordem teve que se assegurar que o boato do Antigo e os acontecimentos estranhos em volta da cidade não vazassem ao resto da população. — O olhar de Alex manteve o dela. — Jenna, apagaram as memórias das pessoas nas semanas das matanças no mato e outras mortes em volta de Harmony. Para ninguém ficar preocupado, você e eu saímos de Harmonia há meses já. Você não pode voltar e levantar muitas perguntas. Destruiria tudo em volta de nós se o fizer.

Jenna se forçou a ficar calma enquanto processava tudo que ouvia. Vampiros e sede secreta. Um mundo alternativo que existia ao lado da sua própria realidade por milhares de anos. Sua melhor amiga de duas décadas que mal sobreviveu a um vampiro quando criança.

E logo a parte que trouxe uma onda de tristeza: múltiplos homicídios recentes em Harmony, que pareciam incluir seu irmão.

—Diga-me o que aconteceu ao Zach.

O rosto de Alex estava cheio de tristeza.

—Ele tinha segredos, Jen. Muitos. Talvez seja melhor se não souber tudo...

—Conte-me. — Disse Jenna, odiando o tratamento doce, em particular de Alex. —Nunca deixamos bobagens entre nós, e certo como o inferno que não quero começar agora.

Alex acenou com a cabeça.

—Zach vendia drogas e álcool às populações Nativas. Ele e Skeeter Arnold estavam juntos por algum tempo. Não entendi até antes que Zach... — Ela exalou baixinho. — Quando confrontei Zach sobre o que sabia, ele ficou violento, Jen. Ele puxou uma arma para mim.

Jenna fechou seus olhos, doente ao pensar que seu irmão mais velho - o condecorado policial que ela se esforçou a copiar praticamente toda sua vida - era, de fato, corrupto. Certo, nunca tinham sido realmente unidos, irmãos ou não, e estavam se afastando cada vez mais nos últimos anos.

Deus, quantas vezes tinha apertado Zach para investigar as atividades duvidosas de Skeeter Arnold em torno de Harmony? Agora a relutância de Zach fazia muito sentido. Ele realmente não se preocupava com o que acontecia na cidade. Estava mais preocupado com a proteção. A que distância teria ido para proteger seu pequeno segredo sujo?

—Ele machucou você, Alex?

—Não. — Ela disse. — Mas teria, Jen. Parti na minha moto de neve, até sua casa. Ele me seguiu. Quando chegamos lá, ele disparou - mais para me assustar. Tudo aconteceu tão rápido depois. A próxima coisa que vi foi o Antigo saindo da sua cabana e o derrubando. Depois da luta inicial, acabou muito rápido para ele.

Jenna a fitou então, por um momento longo, completamente sem palavras.

—Jesus Cristo, Alex. Tudo que está me dizendo aqui... É tudo verdade? Tudo isto?

—Sim. Você disse que queria saber. Não posso esconder de você, e acho que é melhor para você entender.

Jenna recuou, tropeçando um pouco. Estava repentinamente inundada em confusão. Repentinamente afundada na emoção que tirava sua respiração e punha um aperto no seu peito.

—Preciso... De algum tempo sozinha...

Alex acenou com a cabeça.

—Sei como deve ser muito para você, Jenna. Acredite, sei.

Ela caminhou na direção do banheiro ao lado, Alex se moveu atrás dela, próxima como se achasse que Jenna podia cair. Mas as pernas de Jenna não estavam moles. Ela estava atordoada e sacudida pelo que acabava de ouvir, mas seu corpo e mente estavam longe de ser débeis.

A adrenalina corria por ela, inundando seus sentidos e pondo seu instinto de lute-ou-fuja em alerta. Ela forçou uma calma na sua expressão quando olhou Alex agora, enquanto no interior se sentia tudo menos calma.

—Acho que tomarei aquela ducha agora. Eu só... Quero ficar sozinha por pouco tempo. Tenho que pensar...

—Muito bem. — Alex concordou, a conduzindo ao interior do banheiro enorme. —Leve todo o tempo que precisar. Vou conseguir alguma roupa e sapatos, então estarei aí fora se precisar de mim.

Jenna acenou, seus olhos seguindo Alex até a porta e esperando para fechar atrás dela. Só então as lágrimas começaram a cair. Ela as esfregou quando caíram sobre suas bochechas, quentes como ácido, enquanto o resto dela se sentia resfriado até o núcleo.

Sentia-se perdida e assustada, tão desesperada quanto um animal preso em uma armadilha. Tinha que sair deste lugar, mesmo se precisasse mastigar seu próprio braço para escapar. Mesmo se precisasse usar sua amiga.

Jenna acionou a água quente na ducha para duas pessoas. Quando o vapor começou a encher a sala, pensou no elevador que tinha trazido as outras mulheres e a menina do exterior.

Pensou na liberdade, e o que poderia fazer para prová-la.

 

—Ainda faltam outras duas malditas horas para o pôr do sol. — Disse Brock, olhando o relógio na parede do laboratório de tecnologia como se pudesse fazer a noite chegar. Ele soltou a mesa de conferência em que estava apoiado, suas pernas inquietas, seu corpo precisando se mover. — Os dias podem ser curtos nesta época do ano na Nova Inglaterra, mas maldição, às vezes eles rastejam.

Sentiu olhos sobre ele quando começou a perambular pela sala. Estavam só ele, Kade e Gideon no laboratório de tecnologia agora; Lucan foi encontrar Gabrielle, e Hunter e Rio tinham partido para se juntar a Renata, Nikolai e Tegan na sala de armas para um pouco de pugilismo antes da partida das patrulhas da noite na cidade. Devia ter ido com eles. Em vez disso tinha ficado atrás no laboratório, curioso para ver os resultados do último exame de sangue de Gideon em Jenna.

Fez uma pausa atrás da tela de computador e olhou um conjunto de estatísticas rolando na tela.

—Quanto tempo mais vai levar, Gid?

Por alguns segundos, o ruído de dedos correndo sobre um teclado foi a única resposta.

—Estou fazendo somente uma última análise de DNA, então devemos ter alguns dados.

Brock grunhiu. Impaciente, cruzou seus braços sobre seu peito e continuou fazendo uma pista no chão.

—Está se sentindo bem?

Quando voltou sua cabeça, encontrou o olhar estreitado, avaliador de Kade. Ele fez uma carreta para o guerreiro.

—Sim, por que?

Kade encolheu os ombros.

—Não sei, cara. Não estou acostumado a vê-lo tão nervoso.

—Nervoso? — Brock repetiu a palavra como se fosse um insulto. — Merda. Não sei o que você pensa. Não estou nervoso.

—Você está nervoso. — Completou Gideon por cima do estrépito do seu trabalho no computador. — De fato, está visivelmente distraído nas últimas horas. Depois que a amiga humana de Alex despertou hoje.

Brock sentiu que sua carranca ficava mais profunda enquanto seu passo através do chão se tornava mais agitado. Inferno, talvez estivesse no limite, mas só porque estava ansioso para a escuridão cair, e assim poder sair na patrulha e fazer o que tinha sido treinado para fazer. Era tudo. Não tinha nada a ver com algo – ou alguém - mais.

Se estava distraído por Jenna Darrow, era porque sua presença no complexo era uma violação das regras da Ordem. Nunca tinham permitido um humano em sua sede. Todos os guerreiros eram agudamente conscientes daquele fato, um ponto óbvio quando ela e Alex caminharam além do laboratório de tecnologia há pouco tempo. E que esta mulher humana transportasse algo estranho dentro dela - algo indeterminado, que podia ou não resultar prejudicial à Ordem e sua missão contra Dragos - fazia sua presença ainda mais perturbadora.

Jenna tinha todo mundo no limite de certa maneira. Brock não era diferente. Pelo menos, isto é o que se dizia enquanto passeava atrás da mesa de trabalho de Gideon, logo exalando uma maldição áspera.

—Porra, vou sair. Se algo interessante aparecer nesse exame de sangue antes do anoitecer, estarei na sala de armas.

Ele caminhou para a porta do laboratório e fez uma pausa quando o largo painel de vidro deslizou aberto na frente dele. Apenas tinha dado um passo através do limiar, quando Alex veio apressada em direção ao laboratório do seu quarto e Kade.

—Ela se foi. — Alex falou sem pensar enquanto entrava na sala, claramente chateada. — Jenna... Ela se foi!

Brock não sabia por que as notícias bateram no seu intestino como um soco físico.

—Onde ela está?

—Não sei. — Respondeu Alex, a dor nos seus olhos.

Kade estava ao lado de sua companheira em menos de meio segundo.

—O que aconteceu?

Alex sacudiu a cabeça.

—Ela tomou uma ducha e se vestiu. Quando saiu do banheiro disse que estava cansada. Perguntou-me se podia se deitar por algum tempo no sofá. Quando voltei de buscar um travesseiro e uma manta do quartinho, ela somente... Tinha partido. Nossa porta estava aberta para o corredor, mas não havia nenhum sinal de Jenna. Estive a procurando nos últimos minutos, mas não posso encontrá-la em nenhum lugar. Estou preocupada com ela. E sinto muito, Kade. Devia ter mais cuidado. Devia ter...

—Está tudo bem. — Ele disse, suavemente acariciando o braço de Alex. — Você não fez nada errado.

—Talvez tenha. Eu contei da Raça e da Ordem. Eu disse tudo de Zach, e de como deixamos as coisas em Harmony. Ela tinha tantas perguntas, e achei que tinha o direito de saber.

Brock sufocou a maldição que chegava na ponta da sua língua. Sabia muito bem que estava encarregado de Jenna, também.

Kade assentiu, sério enquanto deixava um beijo na testa de Alex.

—Está tudo bem. Fez a coisa certa. É melhor que encare a verdade de frente.

—Temo apenas que a verdade a tenha deixado em pânico.

—Ai, Cristo. — Murmurou Gideon de sua posição na frente do computador do complexo. Em um dos painéis que controlavam os movimentos na propriedade, as luzes começaram a pestanejar como uma árvore de Natal. — Ela está na mansão ao nível do solo. Ou, melhor estava na mansão. Temos uma violação de segurança numa porta exterior.

—Pensei que todos os pontos de entrada eram trancados como procedimento. — Disse Brock, não querendo que saísse como uma acusação.

—Dê uma olhada você. — Disse Gideon, virando o monitor enquanto prendia um fone de ouvido e digitava um número velozmente. — Lucan, temos uma situação.

Enquanto o líder da Ordem recebia um rápido resumo, Brock andava com gravidade até o computador, Kade e Alex atrás. Nas câmeras de segurança da propriedade acima do complexo, uma das barras de ferro reforçadas com aço da mansão estava torcida para fora como um pedaço de caramelo. A porta estava aberta à luz do dia fora, o brilho de raios solares no quintal cheio de neve quase cegava, até mesmo na tela.

—Santo inferno. — Murmurou Brock.

Junto dele, Alex respirou sua descrença. Kade ficou silencioso, seu olhar tão severo como atordoado quando seus olhos deslizaram para Brock. Pelo telefone, Gideon dava agora ordens urgentes a uma das fêmeas mais formidáveis da Ordem na residência, Renata, para subir e trazer Jenna de volta.

—Tenho sua posição na câmera agora. — Ele disse a Renata. — Está no lado leste da propriedade, direção sudeste a pé. Se pegar a porta de serviço ao sul, será capaz de alcançá-la antes que chegue a cerca de perímetro.

—A cerca de perímetro. — Murmurou Brock. — Jesus Cristo, aquela coisa é carregada com mais de catorze mil volts da eletricidade.

Gideon continuou falando, avisando Renata do progresso de Jenna e posição.

—Corte a força. — Disse Brock. — Tem que cortar a força da cerca.

Gideon deu uma olhada duvidosa para ele.

—E a deixar sair valsando da propriedade? Não posso, cara.

Brock sabia que o guerreiro tinha razão. Sabia que a coisa mais inteligente, o melhor a fazer para a Ordem era assegurar que a humana ficasse contida dentro do complexo. Mas pensar em Jenna entrando em contato com uma dose potencialmente letal de eletricidade era muito. Era, numa palavra, inaceitável.

Ele olhou a câmera de segurança e viu Jenna, vestida com um suéter branco e calça, seu cabelo marrom solto voando atrás dela quando correu através do quintal nevado em um clipe cego na direção da borda da propriedade. Diretamente para a alta cerca de 3 metros que cercava a propriedade por todos os lados.

—Gideon. — Ele rosnou, quando a forma fugidia de Jenna ficou menor no monitor. — Corte a maldita força.

Brock não esperou o outro guerreiro obedecer. Ele avançou e bateu sua mão forte abaixo do painel de controle. As luzes pestanejaram, e um sinal agudo e intermitente persistiu avisando que a rede elétrica estava desativada.

Um silêncio longo encheu a sala.

—Estou vendo-a. — A voz de Renata veio pelo alto falante do laboratório. — Estou atrás dela.

Eles olharam na tela quando a companheira de Nikolai deslizou a pé na direção do rastro de Jenna na neve. Momentos tensos enquanto esperavam pela nova palavra.

Finalmente, Renata falou, mas a maldição que assobiou no seu bocal não era o que alguém na sala esperava ouvir. — Maldição. Não...

As veias de Brock ficaram frias com o medo.

—O que aconteceu?

—Fale comigo. — Disse Gideon. — O que está acontecendo, Renata?

—Muito tarde. — Ela respondeu, sua voz estranhamente dura. — Cheguei muito tarde - ela escapou. Ela se foi.

Gideon se inclinou, levantando sua cabeça na direção de Brock.

—Ela escalou a maldita cerca, não foi?

—Escalou? — O riso de resposta de Renata foi mais uma exalação aguda. — Não, ela não escalou. Ela... Ai, merda. Acredite ou não, eu a vi saltar sobre ela.

 

A estrada zumbia sob o traseiro vestido com jeans de Jenna e as solas dos seus sapatos ensopados de neve, o cheiro de carne defumada e suor masculino flutuando de todas as direções dentro dos limites apagados da van de entrega. Ela sentou no chão entre engradados empilhados e caixas de papelão, que a empurravam a cada impacto. Seu estômago se agitou, embora se era pela adrenalina que fluía por ela ou pela mistura inebriante de carne processada e odor corporal que martelava suas narinas, não podia estar certa.

Como conseguiu sair do complexo era um borrão. Sua cabeça ainda nadava com as revelações perturbadoras das últimas poucas horas, e seus sentidos estavam estafados desde o momento que tomou a decisão de tentar a fuga. Mesmo agora, a vista, sons e movimento - cada pedaço da entrada sensorial - pareciam estar voando num borrão caótico.

Na frente da van, o motorista e o passageiro falavam animadamente numa língua estrangeira grossa, soando eslávica. Sabiam o bastante de inglês para aceitar levá-la à cidade quando lhes pediu carona na rua da propriedade, e por agora era o bastante para ela. Exceto que agora que estava há algumas milhas , não podia deixar de notar que tinham parado de sorrir e tentar falar com ela em seu inglês quebrado.

Agora o motorista lançava olhares furtivos para ela pelo retrovisor, e não gostou do som das vozes baixas, das risadas que os dois homens compartilharam quando saltou no fundo da van escura.

—A que distância está a cidade? — Ela perguntou, se agarrando forte a um engradado de salame quando a caminhonete virou à esquerda em um semáforo. Seu estômago pulou com o movimento, seus ouvidos zunindo, a cabeça latejando. Ela forçou a vista pelo para-brisa dianteiro do veículo enquanto ele se dirigia ao brilho do fim da tarde na cidade à distância. — Na estação de ônibus, sim? É onde disse que me levaria. Qual a distância?

Por um segundo, se admirou que qualquer um deles pudesse ouvi-la acima do estrondo do motor da van quando o motorista acelerou. O som parecia ensurdecedor. Mas então o passageiro girou e disse algo na sua própria língua.

Algo que pareceu divertir seu amigo atrás do volante.

Um nó de medo se formou no intestino de Jenna.

—Sabe? Mudei de ideia. Nenhuma estação de ônibus. Leve-me à polícia. A polícia. — Ela disse, prolongando a palavra para assim não haver nenhum equívoco. Ela apontou para si mesma quando o motorista a olhou feio pelo espelho. — Sou policial. Sou da polícia.

Ela falou com a dureza que era sua segunda natureza, mesmo depois de todos esses anos que deixou o uniforme. Mas se o par de palhaços na frente entendeu seu tom ou o que ela disse, não pareciam acreditar.

—Polícia? — O motorista riu enquanto olhava seu companheiro. — Nassi, nuk duken si ajo e policise per ju?

—Não. — Aquele que parecia se chamar Nassi respondeu, sacudindo a cabeça e abrindo seus lábios finos e mostrando dentes tortos. Seu olhar viajou lentamente sobre o corpo de Jenna. — Per mua, ajo duket si nje cope e shijshme e gomarit.

Ela parece um saboroso traseiro para mim.

Jenna pensou que a olhada escura que Nassi enviou devia ser o bastante para entender o que ele disse, mas as palavras pareciam tão claras para ela. Impossivelmente claras. Ela fitou os dois homens quando começaram uma conversa privada na sua língua nativa. Ela olhou seus lábios, estudou os sons que deviam ser inteiramente estranhos para ela - palavras que não podia entender, no entanto, de alguma maneira o fazia.

—Não sei sobre você, Gresa, meu amigo, mas me cairia bem um pouco de traseiro americano de primeira. — Acrescentou Nassi, tão confiante que seu discurso estranho deslizaria direto por ela, que teve coragem para olhar Jenna no olho quando falou. —Leve esta cadela ao escritório e vamos nos divertir um pouco com ela.

—Parece bom para mim. — Gresa riu e baixou seu pé no acelerador, enviando a van de entrega apressada sob um viaduto e pelo tráfego intenso.

Oh, Deus.

A sensação de medo de Jenna há alguns minutos era tão fria como gelo em sua barriga agora.

O solavanco súbito da aceleração a jogou sentada de bunda. Ela levantou com dificuldade para se agarrar aos engradados em volta dela, sabendo que suas possibilidades de sair do veículo veloz eram zero. Se a queda da van não a matasse, os carros e caminhões que voavam em ambos os lados certamente o fariam.

Para piorar, sua cabeça começava a girar com as luzes e barulho fora da van. A fumaça dos escapamentos, junto com o fedor dentro do veículo, formaram um guisado olfativo nauseante que fez seu estômago se acender, ameaçando vomitar. Tudo ao seu redor parecia amplificado e muito intenso, como se o mundo de alguma maneira ficasse mais vívido, mais sufocado de detalhes.

Será que estava perdendo a cabeça?

Depois de tudo que tinha passado recentemente, depois de tudo que viu e ouviu, não se surpreenderia se tivesse um colapso.

E enquanto se acomodava miserável contra os engradados e caixas, escutando os dois homens discutirem suas ideias para ela em detalhes ansiosos, violentos, ela percebeu que sua sanidade mental não era a única coisa em perigo agora. Nassi e seu amigo Gresa tinham alguns planos bastante sórdidos para seu escritório. Os planos incluíam facas, correntes e paredes à prova de som, portanto ninguém ouviria seus gritos, se Jenna podia confiar na sua recente fluência súbita da sua língua.

Discutiam qual deles seria o primeiro, enquanto as rodas da van saíam da estrada principal para uma parte desgastada da cidade. A rua se estreitou, a iluminação se tornou mais escassa quanto mais fundo viajavam para o que parecia ser uma área industrial. Armazéns e edifícios de tijolo vermelhos ladeavam a rua e becos.

A van de entrega pulou sobre grandes buracos e asfalto desigual, os pneus triturando o gelo - sobre a neve derretida marrom que ladeava os dois lados da rua.

—Lar doce lar. — Disse Nassi, em inglês desta vez, sorrindo para ela do seu assento de passageiro. — O passeio acabou. Hora de cobrar nossa passagem.

Os dois homens riram quando o motorista entrou com a van no estacionamento e desligou o motor. Nassi saiu do seu assento e começou a ir para trás da van. Jenna sabia que só teria alguns segundos para agir - segundos preciosos para inutilizar um ou ambos os homens e fugir.

Ela avançou para uma posição estável, se preparando para o que sabia que vinha.

Nassi sorriu largamente quando se aproximou.

—O que tem a oferecer, hein? Deixe-me ver.

—Não. — Jenna disse, sacudindo a cabeça e se fingindo de fêmea incapaz. —Não, por favor.

Ele riu com olhos de lobo.

—Gosto de mulher que implora. Uma mulher que sabe seu lugar.

—Por favor, não faça isso. — Jenna disse quando se aproximou mais. O fedor dele quase a fez vomitar, mas manteve seus olhos concentrados nele. Quando estava a um braço dela, empurrou sua mão esquerda, com a palma para frente, como se fosse afastá-lo fisicamente.

Ela sabia que ele a agarraria.

Ela contou, e mal pode conter o solavanco de triunfo que cresceu pelas suas veias quando a pegou pelo pulso e a puxou do chão da van.

Ela pôs seu peso em movimento, usando sua própria força irracional para se lançar nele. Com sua mão livre, acertou embaixo do nariz, dirigindo a cartilagem suave no seu septum com um estouro de osso triturado.

—Aaghh! — Nassi uivou em agonia. — Puta! Cadela, pagará por isto!

O sangue jorrou da sua cara para ela quando ele empurrou suas mãos e rugiu em sua direção. Jenna desviou para a esquerda, evitando seu aperto. Na frente da van, ouviu o outro homem girando com dificuldade, se movendo do assento do motorista para tatear no consolo entre os assentos.

Não teve tempo para se preocupar com ele agora. Nassi estava furioso, e para sair da van, teria que derrubá-lo primeiro.

Jenna trancou suas mãos juntas e baixou seus cotovelos na espinha do seu atacante. Ele gritou de dor, tossindo quando tentou agarrá-la de novo. Ela desviou novamente, dançando fora do seu alcance como se ele estivesse imóvel.

—Puthje topa tuaj lamtumire, ju copille skemtuar! — Ela sussurrou forte, uma ameaça que cumpriu quando dobrou seu joelho entre as suas pernas e o pregou com um soco agudo na virilha.

Nassi caiu como uma tonelada de tijolos.

Jenna girou com um grito de batalha, pronta para combater seu amigo Gresa agora.

Ela não viu a arma na mão do outro homem até a chama trêmula do tiro queimar tão brilhante como relâmpago. O estampido da bala quando explodiu em sua direção foi ensurdecedor. Ela pestanejou, ofuscada e estranhamente desconectada, quando a queimação do impacto acertou nela.

 

—Conseguimos algo?

Lucan andou pelo laboratório de tecnologia onde Brock, Kade, Alex, Renata e Nikolai estavam todos reunidos sobre a mesa de trabalho de Gideon.

Brock tinha as mãos na mesa, fitando por cima do ombro de Gideon o monitor. Deu a Lucan uma sacudida de cabeça.

—Nada sólido ainda. Estamos procurando no DMV registros para possíveis combinações.

Jenna tinha saído há mais de uma hora. A melhor pista para onde poderia ter fugido eram um par de imagens capturadas por uma câmera de segurança montada no perímetro do sul da propriedade.

Mais ou menos no mesmo tempo que Renata viu o pulo de Jenna na cerca e desaparecendo das terras, uma van de entrega branca desmarcada passava pela rua adjacente à propriedade. Gideon só foi capaz de conseguir uma leitura parcial da van comercial de Massachusetts antes que virasse uma esquina e desaparecesse no intervalo. Desde então, tinham entrado no DMV de Boston e feito combinações de números de chapas, tentando reduzir a quem a van era registrada e onde poderia ser encontrada.

Brock estava seguro que se localizassem aquela van, Jenna não podia estar distante.

—Se temos evidências sólidas ou não, logo que o sol caía na próxima hora e meia, vamos precisar de patrulhas limpando a cidade. — Disse Lucan. — Não podemos nos permitir perder esta mulher antes de entender o que poderia significar para nossas operações.

—E não posso permitir que algo aconteça à minha melhor amiga. — Disse Alex, indicando a dobra emocional na situação inteira com Jenna. — Ela está chateada e ferida. E se algo mal acontecer lá fora? É uma boa pessoa. Não merece nada disto.

—Nós a encontraremos. — Disse Brock firmemente. — Prometo, o faremos.

Kade encontrou seu olhar e deu um aceno de cabeça solene. Depois das circunstâncias atordoantes da fuga de Jenna do complexo, encontrar a mulher humana com o pedaço de material estranho dentro do seu corpo era uma missão da qual nenhum dos guerreiros fugiria. Jenna Darrow devia ser recuperada, não importa o que custasse.

—Espere, espere. — Murmurou Gideon. — Isto pode ser interessante. Só tenho um par na última sequência. Um deles está registrado em uma garagem de automóveis em Quincy .

—O outro? — Brock perguntou, se inclinando para uma olhada mais próxima.

—Fábrica de embalagem de carne em Southie . — Disse Gideon. — Chamada Melhor Açougueiro. Diz que se especializam em cortes personalizados e fornecimento.

—Não me diga. — Disse Renata, seu cabelo escuro balançando quando virou sua cabeça para olhar os outros reunidos no laboratório. — O executivo bancário que vive a um par de milhas rua acima está com hóspedes em casa para o Natal no próximo fim de semana. Faz sentido que uma perua de entrega siga por este caminho.

—Sim, faz. — Concordou Lucan. — Gideon, consiga o endereço deste lugar.

—É prá já. — Ele bateu algumas teclas e tanto uma listagem da rua como um mapa de satélite apareceu na tela. — Aqui está, bem no ventre de Southie.

Os olhos de Brock se concentraram na posição, queimando tão quente como raios laser. Ele deu a volta e saiu do laboratório de tecnologia, determinação em cada batida dura dos seus saltos no chão de mármore.

Atrás dele, Kade saiu precipitadamente do laboratório ao corredor.

—Que porra, cara? O sol não desceu por enquanto. Aonde vai?

Brock continuou andando.

—Vou buscá-la.

 

O sol mal começara a mergulhar sob o horizonte de Boston quando Brock virou um dos SUVs da Ordem para uma rua em Southie. Sob seu sobretudo de couro preto, estava com a roupa preta com proteção UV, luvas, e máscara. Aproximadamente cento e dez anos e várias linhas de sangue de Raças após a primeira geração de Lucan, a pele de Brock podia resistir aos raios de sol por um curto período de tempo, mas não havia um membro da sua espécie vivo que não tratasse a luz do dia com uma sã dose de respeito.

Ele não tinha nenhuma intenção de virar toucinho defumado, mas pensar em esperar no complexo até o crepúsculo enquanto uma mulher inocente vagava pela cidade, sozinha e aborrecida, era muito para ele. Sua decisão foi tomada assim que divisou a van de entrega branca desmarcada no endereço que Gideon tinha traçado. Mesmo antes que Brock saísse do Rover , o odor fresco de sangue humano derramado atingiu seu nariz.

—Porra. — Ele murmurou baixinho, andando com gravidade pela neve derretida congelada e suja da rua em direção ao veículo.

Ele espiou pela janela de passageiros e seu olhar encontrou uma cápsula de bala usada no chão entre os assentos. O cheiro de cobre da hemoglobina era mais forte aqui, quase dominante.

Sendo Raça, não podia controlar a reação do seu corpo à presença de sangue fresco. A saliva aumentou na sua boca, seus dentes caninos rasgaram das suas gengivas até que as presas pressionassem a carne da sua língua.

Instintivamente, arrastou o odor nas suas narinas, tentando determinar se o sangue era de Jenna. Mas não era uma Companheira de Raça; o odor de seu sangue não transportava sua marca única como Alex ou as outras fêmeas no complexo.

Um macho Raça podia seguir a pista do odor de uma Companheira de Raça por milhas, não importa como estivesse fraco. Jenna podia estar sangrando sob o nariz de Brock, e não haveria nenhum modo dele saber se era ela ou algum outro Homo sapiens.

—Maldito seja. — Ele rosnou, balançando sua cabeça na direção da fábrica de embalagem de carne próxima. O fato que alguém tinha sangrado recentemente dentro da van de entrega era toda a prova que precisava que Jenna estava provavelmente em perigo.

Sua raiva ferveu lentamente com antecipação do que encontraria dentro do edifício de tijolo vermelho. Da rua quando se aproximou do lugar, pode ouvir vozes masculinas e o zumbido de um compressor de sistema de ventilação zumbindo no telhado.

Brock se arrastou em volta de uma porta ao lado e perscrutou dentro pela pequena janela reforçada por arame. Apenas engradados e caixas de papelão. Agarrou o puxador metálico e o torceu no seu punho. Lançando-o numa pilha de neve imunda acumulada, deslizou dentro do edifício.

Suas botas eram silenciosas no chão de concreto quando se moveu pelo armazém e área de limpeza, em direção ao centro da pequena fábrica. O estrondo da conversa ficava mais alto enquanto ele progredia, pelo menos quatro vozes distintas, todos machos, todos puxando as sílabas grossas de uma língua do leste europeu.

Algo os tinha agitado. Um dos homens gritou e caiu, tossindo e chiando mais que respirando.

Brock seguiu o cano longo, que levava ao centro da sala. Suas narinas se encheram do fedor químico de produtos de limpeza e o odor doce de sangue velho dos animais e temperos.

A entrada aberta à frente dele tinha uma cortina com várias tiras verticais de plástico. Quando se aproximou dela, um homem falando albanês por cima do seu ombro saiu da outra sala. Usava um avental sujo de sangue, sua cabeça calva coberta em um gorro plástico elástico, um grande cutelo em sua mão.

—Ei! — Ele exclamou quando virou a cabeça e viu Brock ali. — O que faz aqui, imbecil? É propriedade privada! Fora daqui!

Brock deu um passo ameaçador na direção dele.

—Onde está a mulher?

—Hein? — O cara pareceu desprevenido por um segundo antes que se reagrupasse e brandisse seu cutelo na frente do rosto de Brock. — Nenhuma mulher aqui. Caia fora!

Brock se moveu rápido, tirando a lâmina da mão do homem e esmagando sua garganta no seu punho antes que o filho da puta tivesse uma chance de gritar. Dando passos em volta do cadáver silencioso, Brock abriu a cortina plástica e entrou na área de processamento principal do edifício.

A presença de sangue humano derramada era mais forte aqui, ainda fresco. Brock viu um homem sentado sozinho em um assento dentro de um escritório envidraçado, um tufo de tecido vermelho molhado sob seu nariz. Nesta área do edifício, partes de vaca e porco estavam suspensas em grandes ganchos. A sala era fria, maturada com fedor de sangue e morte.

As botas de Brock comeram a distância quando se dirigiu ao escritório e abriu a porta.

—Onde ela está?

—Q-Que porra é essa? — O homem levantou da cadeira. Sua voz pesadamente acentuada estava desgraciosa com um ceceio anormal, anasalada pela ruptura do seu nariz. — O que está acontecendo? Não sei sobre o que está falando.

—Com o diabo que não. — Brock estendeu a mão e agarrou um punhado da camisa salpicada por sangue do cara. Ele o levantou da terra, deixando seus pés suspensos quatro polegadas do concreto. — Você pegou uma mulher fora da cidade. Diga-me o que fez com ela.

—Quem é você? — O homem coaxou, o branco dos seus olhos ficando mais largo enquanto lutava - e não conseguia - para se soltar. — Por favor, me deixe ir.

—Diga onde ela está, e talvez não o mate.

—Por favor! — O homem se lamentou. — Por favor, não me machuque!

Brock gargalhou escuramente, então sua audição aguda pegou o som de pegadas se apressando, se movendo secretamente atrás das mesas de açougueiro e equipamento na sala adjacente. Ele olhou para cima... Ainda a tempo de ver o resplendor de um cano de pistola aço fixo nele.

O tiro saiu com ímpeto, quebrando a janela do escritório e rasgando a carne do seu ombro.

Brock rugiu, não de dor, mas de fúria.

Virou seu olhar sobre o bastardo que disparou nele, prendendo o ser humano com a ígnea luz ambarina dos seus olhos, que tinham se transformado do seu marrom escuro normal à cor fundida de sua outra natureza, mais letal. Brock abriu seus lábios mostrando seus dentes e presas e berrou de raiva.

Houve um grito alto quando o homem que segurava a arma se virou e correu.

—Oh, Cristo! — Se lamentou o humano ofegante que Brock ainda mantinha preso pela garganta. — Não fiz nada - juro! A cadela quebrou meu nariz, mas não a toquei. G-Gresa. — Ele estalou, levantando sua mão para apontar na direção do seu amigo que tinha fugido. — Ele disparou nela, não eu.

Naquela nova notícia não desejada, os dedos de Brock se apertaram em volta da frágil traqueia humana.

—Ela levou um tiro? Diga-me onde ela está, porra. Agora!

—N-No freezer. — Ele respirou. — Oh, merda. Por favor, não me mate!

Brock apertou punindo mais forte, logo lançou o chorão filho da puta contra a parede distante. O humano gritou de dor, logo caiu num monte choramingante no chão de concreto.

—Deve rezar para que fique boa. — Disse Brock. — Ou vai lamentar que eu não o tivesse matado agora mesmo.

 

Jenna se enrolou no chão do largo caminho no refrigerador, seus dentes batendo, o corpo tremendo de frio.

Fora da porta de aço selada, os barulhos soavam. Choques pesados, homens gritando... O abrupto tiroteio e o ruído brilhante de vidro quebrado. Então um rugido tão intenso e mortal, que ergueu sua cabeça quando ela começava a ficar muito pesada para se manter levantada, suas pálpebras muito difíceis de manter abertas.

Ela escutou, ouvindo só silêncio agora.

Alguém se aproximou da cela fria que a envolvia. Não precisava ouvir o barulho das pegadas próximas para saber que alguém estava lá. Tão frio quanto estava lá dentro, a rajada do ar gelado que vinha do outro lado da porta trancada era ártica.

A trava protestou um instante antes que o painel de aço inteiro fosse rasgado das suas dobradiças num grito metálico ensurdecedor. O vapor fluiu da abertura, encobrindo uma montanha maciça preta - vestida como um homem.

Não, não um homem, ela percebeu com assombro ofuscado.

Um vampiro.

Brock.

Seu rosto magro era tão duro, que mal o reconheceu. As enormes presas raiavam brancas atrás da larga boca que estava severa e furiosa. Sua respiração entrava e saía entre seus lábios, e atrás de um par de óculos escuros, o carvão de seus olhos ardia com um calor que Jenna sentiu tão seguro como um toque quando esquadrinhou o ambiente enevoado e a encontrou caída e tremente no canto.

Jenna não queria sentir o ímpeto de alívio que a inundou quando se aproximou e se ajoelhou junto dela. Não queria confiar na sensação que dizia que ele era amigo, alguém para ajudá-la. Alguém que precisava, naquele momento. Talvez a única pessoa que podia ajudá-la.

Ela começou a dizer que estava bem, mas sua voz era fibrosa e débil. Seus olhos de brasa queimaram pelo véu de sombras. Ele olhou para baixo e assobiou quando viu sua coxa ferida e o sangue que tinha embebido a perna da sua calça e formado uma pequena piscina debaixo dela.

—Não fale. — Ele disse, despindo suas luvas de couro pretas e apertando seus dedos contra ambos os lados do seu pescoço. Seu toque era leve, mas consolador, parecendo aquecê-la de dentro para fora. O frio foi para longe dela, levando a dor da sua ferida de bala com ele. — Você ficará bem agora, Jenna. Vou te tirar daqui.

Ele tirou seu sobretudo preto e o enrolou em volta dos seus ombros. Jenna suspirou quando o calor do seu corpo e o odor dele - couro, tempero e macho forte, mortal - a envolveram. Quando ele se inclinou atrás, ela notou um buraco de bala no círculo carnudo do seu ombro.

—Você está sangrando, também. — Ela murmurou, mais alarmada pelo seu dano que pelo pensamento que seu salvador era um vampiro.

Ele encolheu os ombros por sua preocupação.

—Não se incomode comigo. Viverei. Precisa mais que isso para derrubar um da minha espécie. Você, entretanto...

A maneira como disse, o olhar grave encontrando por acaso seu rosto quando seus olhos sombreados foram à deriva por sua coxa sangrando, parecendo quase acusatório.

—Vamos. — Ele disse, estendendo a mão suavemente para pegá-la nos seus braços. — Já a tenho agora.

Ele a transportou para fora da sala refrigerada como se fosse apenas penas nos seus braços. Desde que era uma menina dando seus primeiros passos, Jenna nunca foi do tipo para ser tratada como uma frágil princesa de contos de fadas. Como antiga policial, nunca esperou isso de um homem, nem queria.

Ela sempre era a protetora, a primeira em perigo. Ela odiava estar tão vulnerável agora, mas os braços sólidos de Brock eram tão bons sob ela, que não podia se sentir ofendida. Ela se agarrou apertado quando ele andou pela pequena fábrica, além dos cabides de carne horríveis e mais de uma pessoa caída, inanimada no chão.

Jenna afastou a cabeça e enterrou seu rosto no peito musculoso de Brock quando alcançaram a última sala da fábrica e saíram ao exterior. Era crepúsculo na rua, a neve cobrindo edifícios e becos banhados pelo escurecimento azul da tarde.

Quando Brock começou a sair, um SUV compacto preto apontou numa rua transversal. Parou na calçada e Kade saltou do banco traseiro.

—Ai, porra. — Rosnou o companheiro de Alex. — Cheiro sangue.

—Ela foi baleada. — Disse Brock, sua voz profunda.

Kade chegou mais perto.

—Você está bem? — Ele perguntou, seus olhos cinza empreendendo uma fraca luz amarela na escuridão crescente. Jenna acenou com a cabeça sua resposta, olhando como as pontas das suas presas se alongavam atrás do seu lábio superior. — Niko e Renata estão comigo. — Ele disse a Brock. — Qual a situação no interior?

Brock grunhiu, humor negro sob o tom perigoso da sua voz.

—Sujo.

—Era esperado. — Kade disse, dando um olhar torto para ele. — Você não parece muito bem, cara. Golpe bonito no seu ombro. Temos que levar Jenna de volta ao complexo antes que perca mais sangue. Renata está no volante do Rover. Pode levá-la enquanto o resto de nós limpa o interior.

—A humana é minha responsabilidade. — Disse Brock, seu peito vibrando contra a orelha de Jenna. — Ela fica comigo. Eu a levarei ao complexo.

Jenna pegou a olhada curiosa que brilhou através do rosto de Kade pela afirmação de Brock. Ele estreitou seus olhos, mas não disse nada quando Brock andou para além dele ao SUV devagar, transportando Jenna em seus braços.

—Como estamos? — Renata perguntou a Brock do volante do Rover preto quando o veículo acelerou do sul de Boston para o complexo da Ordem. Seus olhos verdes o olharam pelo retrovisor, as sobrancelhas escuras em uma carranca. — Aproximadamente quinze minutos para a chegada. Tudo bem aí atrás?

—Sim. — Brock respondeu, olhando para onde Jenna estava, descansando calmamente no seu colo no assento traseiro. Tinha cortado um dos cintos de segurança e atado em volta da sua coxa como um torniquete, esperando que ajudasse a estancar o sangue. — Ela está aguentando.

Seus olhos estavam fechados, seus lábios ligeiramente abertos e tingidos de azul do frio a que tinha sido submetida no interior do freezer. Seu corpo ainda tremia sob seu sobretudo de couro, embora achasse que tremia mais de choque do que qualquer outro desconforto. Seu talento de Raça o assegurava disto. Com uma palma em volta da sua nuca, a outra cariciando suas têmporas, envolveu a dor de Jenna nele.

Renata limpou sua garganta intencionalmente quando o olhou no espelho.

—Que tal você, grande cara? Era um inferno de sangue lá atrás. Está seguro que não prefere dirigir e cuidarei dela até chegarmos ao complexo? Diga a palavra e paro. Não levará mais que um minuto.

—Continue dirigindo. A situação está sob controle aqui atrás. — Disse Brock, embora se admirasse que a Companheira de Raça perspicaz de Niko acreditasse, dado que sua resposta rosnada foi dita por dentes apertados e presas totalmente extensas.

Foi difícil conter sua reação à hemorragia de Jenna quando a encontrou no interior do edifício. Agora que estava preso com ela, sentindo o calor do seu sangue se derramando pelo couro do seu sobretudo, cheirar sua fragrância de cobre, e ouvir o golpe baixo de cada batida do coração que empurrava ainda mais sangue por sua ferida, Brock vivia um inferno privado atrás do SUV.

Ele era Raça, e não havia ninguém entre sua espécie que pudesse resistir ao puxão de sangue humano fresco. Não ajudava de nenhum modo que a última vez que se alimentou fosse... Inferno, não estava certo. Provavelmente ao redor de uma semana, o que seria mau até nas melhores circunstâncias. E essas dificilmente eram as melhores circunstâncias.

Brock enfocou todo seu esforço em puxar a dor de Jenna. Mais fácil guardar sua mente da fome por aquele caminho. Também ajudava a impedi-lo de notar como sua pele era suave, e como as curvas do seu corpo se ajustavam tão agradavelmente contra ele.

A dor absorvida do seu ferimento - e a ligeira irritação do seu próprio - era a única coisa que impedia seu corpo de ter ainda outro tipo de reação, também. Mesmo então, não podia ignorar totalmente a tensão pouco confortável do seu uniforme, ou o leve adejo do seu pulso contra as pontas dos seus dedos onde descansavam contra sua nuca, fazendo-o ansiar pôr a sua boca contra a dela em vez disso.

Para prová-la, de todos os modos que um homem pode desejar uma mulher.

Requereu muito esforço para sacudir o pensamento da sua mente. Jenna era uma missão, isto era tudo. E humana, com a vida frágil e curta para ficar junto com ele. Embora se fosse honesto, seria o primeiro a admitir que há muito preferia fêmeas mortais sobre suas irmãs que nasceram Companheiras de Raça.

Quanto a envolvimentos românticos, tentava manter as coisas casuais. Nada muito permanente. Nada que pudesse durar o bastante para uma mulher confiar nele.

Sim, já esteve lá, já tinha feito isto. E tinha a culpa e auto-compaixão para comprovar. Nenhum desejo de voltar por este determinado caminho outra vez.

Antes que suas memórias pudessem arrastá-lo em direção às sombras dos seus defeitos passados, Brock olhou para cima e viu o portão de entrada do complexo da Ordem aparecendo adiante. Renata anunciou sua chegada a Gideon pelo seu fone de ouvido, e quando o Rover parou na alta porta de ferro, ele a destrancou e abriu para dar as boas-vindas a eles no interior.

—Gideon diz que a enfermaria está preparada e esperando por nós. — Ela disse enquanto se dirigia à garagem no fundo.

Brock grunhiu em resposta, mal podendo falar agora por causa de suas presas. A parte traseira inteira do Rover estava banhada em âmbar, a incandescência dos seus olhos transformados se desfazendo da luz como uma fogueira ao ar livre mesmo por trás das lentes escuras dos seus óculos.

Renata estacionou o veículo dentro do grande hangar, logo correu para ajudá-lo a tirar Jenna do assento traseiro e pegar o elevador que os levaria do nível da rua à sede subterrânea do complexo. Jenna despertou quando as portas fecharam e o assobio hidráulico entrou em ação.

—Ponha-me no chão. — Ela resmungou, lutando um pouco nos braços de Brock como se estivesse aborrecida com sua ajuda. — Não estou com dor. Posso me levantar sozinha. Posso andar...

—Não, não pode. — Ele disse, a cortando, suas palavras concisas e roucas. — Seu corpo está em choque. Sua perna pendurada. Não vai andar para lugar algum.

Em meio à ofuscação do seu choque, Jenna o olhou furiosa, mas manteve seus braços em volta do seu pescoço quando o elevador parou no complexo abaixo. Brock saiu, andando apressado. Renata o seguiu, arrastando a sola de suas botas no contraponto ao tamborilar suave do sangue que gotejava no chão da ferida de Jenna.

Quando viraram uma curva no corredor que os levaria a enfermaria, Lucan os encontrou no corredor. Ele parou, pés afastados, as mãos de lado. Brock pode decifrar sutilmente o chamejar das narinas do Gen Um quando o odor de sangue fresco viajou pelo corredor.

Os olhos de Lucan se fixaram na humana sangrando, seu brilho cinza com faíscas de luz, as pupilas se estreitando prontamente a lascas felinas.

—Santo inferno.

—Sim. — Brock arrastou as palavras. — O tiro feriu a coxa direita, calibre .45 sem sinal de saída. Amarramos, mas ela perdeu um monte de sangue entre aqui e o lugar no Southie onde a encontrei.

—Que merda. — Disse Lucan, suas presas claramente visíveis agora, pontos gêmeos que apareciam quando falava. Ele soltou uma maldição áspera. — Siga, então. Estão esperando por ela na enfermaria.

Brock deu ao líder da Ordem um aceno de cabeça severo quando continuou além dele. Na enfermaria, Gideon e Tess tinham preparado uma mesa de operação para Jenna. O rosto de Gideon ficou um bocado pálido à vista dela, e quando apertou suas maxilas, um músculo empurrou na sua face magra.

—Coloque-a exatamente aqui. — Disse Tess junto à mesa de cirurgia, se antecipando quando Gideon, o macho Raça sempre calmo e sereno, que costurava as feridas de combate dos outros guerreiros, parecia perdido agora que a paciente em questão era humana e tinha células vermelhas vazando como uma torneira.

—Porra. — Disse Gideon após um longo momento, seu acento britânico mais forte que o normal. — É muito sangue. Tess, pode...

—Sim. — Ela disse rapidamente. — Posso lidar com isso sozinha.

—Certo. — Ele disse, visivelmente afetado. — Eu vou, ah... Acho que vou esperar lá fora.

Quando Gideon saiu, Brock colocou Jenna na mesa de aço inoxidável. Quando não se afastou, Tess olhou para ele em dúvida.

—Está machucado, também?

Ele encolheu seu ombro bom.

—Não é nada.

Ela enrugou seus lábios, não inteiramente convencida.

—Talvez Gideon possa querer garantir isto.

—Não é nada. — Repetiu Brock, impaciente. Ele tirou seus óculos e os enganchou no colarinho de sua camisa preta. — E Jenna? Quão mal está?

Tess olhou para ela e teve um leve estremecimento.

—Deixe-me dar uma olhada. É uma pena que meu talento esteja suprimido por causa do bebê, ou podia curá-la em alguns segundos, em vez da hora ou mais que provavelmente levará para estancar o pior da hemorragia.

Tess tinha sido uma veterinária experiente e especializada antes que se instalasse no complexo da Ordem e fosse companheira de Dante. Tinha empreendido desde então um papel vital como mão direita de Gideon na enfermaria, tendendo a uma maior - e, sem dúvida, mais desagradável - clientela que tinha tratado em sua antiga clínica na cidade.

Como Companheira de Raça também possuía um talento extraordinário - aquele que era único dela e seria passado ao filho que carregava, como a mãe de Brock tinha passado o seu próprio para ele. Tess tinha o toque da cura, também, só que sua capacidade ia além da sua. O talento de Brock era o poder de absorver a dor humana, mas o efeito era temporário. Tess podia restaurar de fato a saúde, até restaurar a vida, em qualquer criatura viva.

Ou, melhor era capaz, antes que a gravidez tivesse sufocado seu poder.

Mas ainda era uma médica muito boa, e Jenna não podia estar em mãos mais capazes. Entretanto, Brock achou difícil se afastar da mesa de operações, apesar da sede de sangue que torcia e retorcia suas tripas.

Ficou lá, imóvel, quando Tess esfregou suas mãos, tirou o torniquete temporário, logo fez um exame visual superficial da ferida. Pediu a Renata para se aproximar e ajudá-la, logo falou de maneira tranquilizadora com Jenna, explicando o que ela teria que fazer para extrair a bala e fechar a ferida.

—As boas notícias são, não há nenhum dano no osso e, do que posso dizer, será um procedimento simples retirar a bala e reparar a artéria que cortou. — Ela fez uma pausa. — As más notícias são que, realmente não estamos equipados aqui para este tipo de dano - quer dizer, um dano humano. De fato, é a primeira paciente não-Raça que já esteve na enfermaria do complexo.

O olhar de Jenna deslizou para Brock como se confirmando o que ouvia.

—Que sorte a minha, presa em um hospital de vampiros.

Tess sorriu com simpatia.

—Cuidaremos de você, prometo. Infelizmente, não temos necessidade de coisas como anestesia. Os guerreiros não precisam quando entram com ferimentos, e aquelas de nós que estamos emparelhadas temos o vínculo de sangue para ajudar com a cura. Mas posso te dar uma local...

—Deixe-me ajudar. — Interrompeu Brock, já se movendo em volta da mesa para ficar do lado de Jenna. Ele manteve o olhar interrogativo de Tess. — Não me incomodo com o sangue. Farei isto. Deixe-me ajudá-la.

—Muito bem. — Tess respondeu baixinho. — Vai começar.

Brock encarou sem piscar quando Tess pegou um par de tesouras da bandeja de instrumentos e começou a cortar a roupa arruinada de Jenna. Polegada a polegada, do tornozelo da sua perna direita ao seu quadril, o jeans encharcado de sangue caiu de lado. Em minutos escassos, tudo que cobria a parte de baixo de Jenna era uma insignificante calcinha branca.

Brock engoliu, sua garganta trabalhando audivelmente ao ver a pele feminina tão suave enquanto seus sentidos eram ensopados com a chamada de cobre do sangue de Jenna.

Devia ter rosnado sua fome em voz alta, porque naquele mesmo instante, as pálpebras de Jenna levantaram, assustadas. Não havia dúvida que era uma vista assustadora acima da mesa de operações, seu olhar arraigado nela, cada músculo e tendão no seu corpo tão apertado como arame de piano. Mas medrosa ou não, Jenna não afastou o olhar. Ela o fez olhar para baixo, e ele viu nos seus olhos castanhos corajosos um pouco da policial de fronteira que costumava ser.

—Renata. — Tess disse. — Você me ajuda a mover Jenna só um pouco para nos livrar dessa roupa?

As duas Companheiras de Raça trabalharam juntas, retirando a calça sangrenta e seu sobretudo arruinado enquanto Brock só pode ficar ali, imobilizado pela sede e algo mais que corria mais profundo.

—Certo. — Tess incitou, pegando seu olhar aquecido com uma olhada de conhecimento. Tinha esfregado e secado suas mãos e posto um par de luvas cirúrgicas tiradas de uma caixa na bandeja dobrável. — Começarei assim que estiver pronto, Brock.

Ele estendeu a mão para Jenna e pôs a palma da sua mão contra o lado do seu pescoço. Ela estremeceu no início, até que o olhar incerto encontrou o dele como se pudesse se mover aos arrancos longe do seu toque.

—Feche seus olhos. — Ele pediu, um esforço para manter a fome longe da sua voz. — Estará acabado em apenas alguns minutos.

Seu peito subia e descia em movimentos rápidos, seus olhos presos nos dele, não exatamente confiando.

E por que deveria? Ele nasceu do mesmo material que a criatura que a tinha aterrorizado no Alasca. Da maneira como a olhava agora, Brock imaginou que era um pequeno milagre ela não levantar da mesa e tentar se defender dele com um dos bisturis ordenados de Tess.

Mas quando olhou para baixo, Jenna tinha uma respiração suave. Seus olhos foram à deriva fechando. Ele sentiu a batida forte do seu pulso sob seu polegar... Então o primeiro solavanco de dor quando Tess começou a limpar e cuidar da ferida de Jenna.

Brock concentrou todo seu foco em mantê-la cômoda, envolvendo seu talento em volta da ácida queimação de antissépticos e instrumentos cirúrgicos agudos. Ele engoliu a dor de Jenna, consciente do trabalho eficiente de Tess quando retirou a bala de dentro do músculo da coxa de Jenna.

—Consegui. — Murmurou Tess. O pedaço de chumbo fez barulho na bacia de aço inoxidável. — Foi a pior parte. O resto do procedimento será mamão com açúcar.

Brock grunhiu. Podia suportar a dor bastante facilmente. Inferno, uma ferida de tiro e remendo era padrão quase toda noite de um ou vários dos guerreiros que voltavam da patrulha. Mas Jenna não tinha se alistado para esta merda, ex-policial ou não. Não tinha pedido para ser parte das batalhas da Ordem, entretanto por que isto importava, não sabia.

Ele sentia muitas coisas que não tinha nenhum maldito direito de sentir.

A fome ainda se misturava nele como uma tempestade, crescendo de duas fontes poderosas, igualmente exigentes. Ceder a qualquer uma seria um erro, especialmente agora. Especialmente porque o objeto dos seus desejos era a mulher que a Ordem tinha que manter segura. Continuar ao seu lado, pelo menos até que pudessem determinar o que podia significar na sua guerra com Dragos.

E ainda assim a queria.

Sentia-se protetor dela, embora soubesse que era inadequado para o cargo, e embora ela parecesse relutante com a ideia de precisar da ajuda de alguém, Lucan a tinha feito sua responsabilidade, mas Brock não podia negar que era sua missão pessoal mesmo antes disto. Desde o momento que pôs os olhos nela no Alasca, depois que o Antigo a tinha atormentado por dias na sua própria casa, ele investiu emotivamente nos cuidados de sua segurança.

Não é bom, ele se repreendeu. Má ideia do caralho, ficar pessoalmente implicado quando era trabalho.

Não tinha aprendido a dura lição em Detroit?

Ficar pessoalmente envolvido em qualquer missão era a via rápida ao fracasso.

Os minutos devem ter passado enquanto contemplava os anos que estavam entre aquele capítulo escuro da sua vida e o lugar onde estava agora. Estava vagamente consciente de Tess operando em silêncio atento, Renata a postos com os instrumentos necessários e provisões quando eram solicitados. Não foi até que a sutura final estivesse no lugar e Tess andasse a pia para se lavar que Brock percebeu que ainda tocava Jenna, ainda acariciando a linha da sua carótida com a ponta do seu polegar.

Ele limpou sua garganta e retirou a mão. Quando falou, sua voz era um arranhão acima do som.

—Terminamos aqui, Doutora?

Tess fez uma pausa na pia, virando para dar uma olhada no ombro dele.

—Que tal seu ferimento?

—Estou bem. — Ele disse. Não tinha nenhuma intenção de ficar mais tempo que o necessário, e, além disso, sua genética Raça o curaria em pouco tempo.

Tess deu um encolhimento fraco.

—Então, terminamos.

Na mesa junto dele, o olhar de Jenna encontrou o dele e o segurou, constante e forte. Seus lábios, ainda pálidos e azulados pelo choque e frio, se dividiram num pequeno sopro de ar. Sua garganta trabalhou quando engoliu e tentou novamente.

—Brock... Obrigada...

—Estou saindo agora. — Ele rosnou, áspero. Se afastou da mesa, então, com uma maldição auto-dirigida, se virou e saiu com gravidade da enfermaria.

Brock balançou no Rover preto fora da propriedade da Ordem e entrou na noite sozinho. Normalmente, os guerreiros saíam para suas patrulhas em equipes, mas, francamente, se sentia uma companhia de merda - até para ele.

Suas veias pulsavam com agressividade, e a fome que tinha afundado suas garras nele no hospital com Jenna não melhorava sua atitude, também. Tinha que sentir o chão sob suas botas e uma arma na sua mão. Inferno, por sua noite até aqui, até daria boas-vindas ao primeiro vento frio enlouquecedor de dezembro que normalmente desprezava.

Algo para distraí-lo da necessidade que o consumia.

Para ajudar naquela tarefa, puxou seu celular do bolso do seu uniforme e discou para Kade velozmente.

—Limpeza de Luz Solar. — Respondeu o guerreiro irônico. — Como estão as coisas na fazenda?

Brock só pode rosnar.

Kade riu.

—Isso é bom, hum? Quando foi a última vez que alguém trouxe um humano sangrando ao complexo? Ou qualquer humano, no que diz respeito ao assunto.

—As coisas ficaram um pouco tensas por algum tempo. — Admitiu Brock. — Por sorte, Tess entrou em cena e remendou Jenna. Ela vai ficar bem.

—Fico contente por ouvir isto. Alex nunca nos perdoaria se deixássemos algo acontecer à sua melhor amiga.

Brock realmente não queria discutir Jenna, ou a responsabilidade de sua segurança. Fez uma carranca quando entrou mais na cidade, seu olhar esquadrinhando as ruas e becos, na expectativa de criminosos ou idiotas - qualquer desculpa para encostar e se ocupar em um pouco de corpo a corpo. Humano ou Raça, tanto fazia, desde que aguentassem uma luta decente.

—Qual a situação em Southie? — Ele perguntou a Kade.

—Como se nunca tivesse acontecido, cara. Niko e eu nos livramos dos corpos, do vidro quebrado, e todo o sangue. O freezer onde prenderam Jenna parecia que tinha sido usado para um matadouro de merda.

A maxila de Brock ficou apertada quando reviveu o momento que a tinha encontrado numa lembrança vívida. Seu temperamento chamejou mais quente quando pensou nos dois bastardos que a tinham machucado.

—E as testemunhas? — No longo segundo de silêncio que respondeu a ele, Brock soltou uma maldição. — Os dois caras que recolheram Jenna fora do complexo e a trouxeram - abandonei um deles semiconsciente em um escritório fora do freezer, o outro fugiu depois que disparou em mim e vislumbrou minhas presas.

—Ai, porra. — Disse Kade. — Não havia ninguém no edifício exceto os cadáveres que despachamos. Não sabíamos sobre testemunhas, cara.

Sim, certo. No calor do momento, com Jenna sangrando e congelada nos seus braços, Brock se esqueceu de mencionar aquele fato.

—Maldição. — Ele soltou, fechando seu punho forte contra o painel do Rover. — A culpa é minha. Fodi tudo. Devia ter dito que havia vivos que tinham que ser contidos.

—Não se preocupe. — Disse Kade. — Não estamos longe. Direi a Niko para voltar. Podemos dar outra olhada no lugar, perseguir os dois fugitivos, e limpar suas memórias de tudo isso.

—Não é necessário. Já estou nisso. — Brock fez uma curva na intersecção mais próxima e se dirigiu ao sul de Boston. — Informarei quando controlar a situação.

—Está seguro? — Kade perguntou. — Se quiser algum apoio...

—Chamo se precisar.

Antes que seu irmão-de-armas pudesse comentar sobre o tom letal da voz de Brock, ele fechou o telefone e o empurrou atrás no seu bolso quando o Rover entrou no ventre da cidade.

Quando chegou à fábrica de embalagem de carne, seu pulso martelava com necessidade de violência. Estacionou o veículo em uma rua ao lado e caminhou pelos lotes nevados para subir por trás do edifício. As luzes estavam acesas no interior, e pelo tijolo e argamassa, pode ouvir o estrondo abafado de vozes masculinas, ambos pesadamente acentuados e um deles beirando a histeria.

Brock pulou silenciosamente para o telhado do velho edifício e fez seu caminho até uma claraboia coberta de crosta de neve onde olhou a fábrica abaixo. Os dois idiotas que queria ver vagavam para frente e para trás entre as partes pendentes da vaca, compartilhando uma garrafa de vodka barata e fumando cigarros que sacudiam de seus dedos.

—Estou dizendo a você, Gresa. — Gritou aquele com o nariz quebrado. — Temos que chamar a polícia!

O atirador - Gresa, evidentemente - tomou um trago longo da garrafa, logo deu uma sacuda severa de cabeça.

—Dizer o que, Nassi? Olhe a sua volta! Vê alguma evidência do que pensamos que vimos aqui esta noite? Digo, nada aconteceu. Sem polícia.

—Sei o que vi. — Insistiu Nassi, sua voz ainda alta. — Temos que dizer a alguém!

Gresa andou com passos largos e empurrou a vodka nele. Enquanto Nassi bebia, seu amigo gesticulava à fábrica tranquila.

—Não há nenhum sangue, nenhum sinal de problema. Nenhum sinal de Koli ou Majko, também.

—Estão mortos! — Nassi se lamentou. Soltou algumas palavras na sua língua nativa antes de continuar novamente no seu inglês quebrado. — Vi seus corpos, como você também! Estavam aqui quando saímos do edifício. Sei que os viu, Gresa! E se aquele homem - que... Seja o que fosse - os levou embora? E se voltar por nós agora, também?

O atirador de Jenna tateou suas costas e arrancou sua pistola. Ele a balançou na frente dele como um prêmio.

—Se voltar, tenho isto. Disparei nele uma vez, posso disparar novamente. Da próxima vez, o matarei.

Nassi levou a garrafa à boca mais uma vez e bebeu de um gole que foi deixado. Ele a deixou vazia no chão aos seus pés.

—Você é tolo, Gresa. Logo, penso que será um tolo morto. Mas não eu. Estou partindo. Deixo este emprego fedorento, e vou para casa.

Ele saiu da linha de visão de Brock, seu companheiro em seus calcanhares.

Quando os dois homens saíram do edifício na rua escura, Brock esperava. Caiu do telhado e agora estava ali na frente da porta, bloqueando seu caminho.

—Indo a algum lugar? — Ele perguntou agradavelmente, dando uma boa visão das presas. — Talvez precisem de um elevador.

Ambos gritaram - os gritos raspando o terror humano puro que eram música para os ouvidos de Brock.

Ele pulou no homem da frente, aquele com o nariz quebrado. Rasgando sua garganta vulnerável, Brock não bebeu, mas matou em vez disso. Lançou o corpo frouxo na neve, logo levantou sua cabeça na direção daquele que tinha posto uma bala na coxa de Jenna.

Gresa gritou novamente, a arma na sua mão tremendo violentamente. Se Brock fosse humano, ou estivesse distraído como antes na fábrica, quando sua fúria por Nassi o tinha feito falhar em perceber uma pistola apontada para do outro lado da sala, Gresa poderia ser capaz de disparar nele novamente agora.

Ele disparou um tiro, mas foi desgracioso e mal-apontado.

E Brock se moveu tão rápido quanto um relâmpago, arremetendo em um mergulho que derrubou Gresa e enviou sua bala errante desviando ao escuro.

Com uma guinada do seu braço, quebrou o pulso do atirador e sentou sobre ele na terra.

—Sua morte será mais lenta. — Ele rosnou, subindo seus lábios dos seus dentes e presas e prendendo o assaltante de Jenna com uma rajada da luz ambarina dos seus olhos transformados.

Gresa choramingou e soluçou, logo uivou de terror quando Brock se curvou e afundou suas garras em volta da artéria que pulava de modo selvagem no pescoço do humano. Ele arrastou o sangue misturado com álcool na sua boca, se alimentando em um frenesi de raiva e sede.

Ele bebeu, e bebeu um pouco mais.

O sangue o nutriu, mas foi a fúria - a vingança pelo que esses homens tinham feito a uma fêmea inocente, Jenna - que realmente o satisfez.

Brock recuou e rugiu seu triunfo até o céu da noite, sangue gotejando abaixo do seu queixo em um rastro quente. Ele se alimentou um pouco mais, e logo agarrou o crânio do humano entre suas mãos e deu um empurrão selvagem, quebrando o pescoço.

Quando acabou, quando os últimos vestígios da sua raiva e sede tinham começado a vazar, e tudo que restou foi se livrar dos mortos, Brock lançou um olhar mais agudo na carnificina que tinha feito. Era total e selvagem.

Aniquilação completa.

—Jesus Cristo. — Ele assobiou, caindo para suas coxas e juntando suas mãos sobre sua cabeça.

Tanto para manter as coisas profissionais quando se tratava de Jenna Darrow.

Se isto foi um teste, imaginou que acabava de ser reprovado com grande sucesso.

 

      — Espero que esteja com fome. — Disse Alex, emergindo da porta vai-e-vem da cozinha da mansão, uma grande cesta de frutas frescas em uma mão, uma cesto de biscoitos de ervas aromáticos soltando vapor na outra.

Ela as colocou na mesa de sala de jantar em frente a Jenna e Tess, que tinham sido instruídas por Alex e as outras mulheres do complexo para se acomodarem e permitir que fosse servido o café da manhã.

—Como está indo, Jen? — Alex perguntou. —Precisa de algo? Se precisar erguer sua perna, posso trazer uma poltrona da outra sala.

Jenna sacudiu a cabeça.

—Estou perfeita. — Sua perna estava muito melhor desde sua cirurgia na noite passada, e não tinha muita dor. Só por insistência de Tess que usava uma bengala para andar. — Não há realmente nenhuma necessidade de me paparicar.

—Esta é minha melhor amiga policial para você. — Disse Alex, dirigindo um olhar torto em direção a Tess e fazendo uma onda desdenhosa com sua mão. — Só uma pequena ferida de tiro, nenhuma necessidade de preocupação.

Jenna ridicularizou ligeiramente.

—Em comparação com a semana que tive, um buraco de bala na minha coxa é provavelmente a menor das minhas preocupações.

Ela não procurava compaixão, somente afirmava um fato.

A mão de Tess baixou suavemente ao seu pulso, assustando Jenna com seu calor e preocupação genuína que brilhava nos olhos da jovem.

—Nenhuma de nós pode sequer pretender saber como foi, Jenna, mas espero que entenda que estamos aqui com você agora. Está entre amigos - todos nós.

Jenna resistiu ao puxão de conforto que as palavras de Tess tiveram nela. Não queria se sentir relaxada neste lugar, entre Alex e essas estranhas aparentemente gentis.

Nem com Brock.

Ainda menos com ele.

Sua mente ainda vacilava pelo seu resgate inesperado na cidade. Tinha sido um erro fugir como fez, mal preparada e emocionalmente desequilibrada. Não estava há tanto tempo assim afastada do trabalho de polícia que não se lembrava que o melhor modo de pegar algum idiota era obrigá-lo a fugir por território pouco conhecido. Tudo que sabia naquele segundo antes de fugir do complexo era um desespero para evitar sua nova realidade sombria.

Tinha cometido um erro clássico de novato, alimentada pela pura emoção, e terminou precisando de apoio para arrastar sua bunda para a segurança. Aquele apoio tinha vindo na forma de um vampiro formidável, assustador-como-o-inferno, algo que não estava segura se poderia alguma vez ser capaz de entender.

No fundo, sabia que Brock tinha salvado sua vida na noite passada. Parte dela desejava que não o tivesse feito. Não queria lhe dever nada. Não gostava de estar em dívida com ninguém, e certamente não com um homem que sequer podia ser classificado como humano.

Deus, que estrago sua vida tinha virado.

Com seus pensamentos se tornando progressivamente mais sombrios, Jenna afastou sua mão do aperto leve de Tess e encostou de volta na sua cadeira.

Tess não a obrigou a falar, simplesmente se debruçou na mesa e inspirou um pouco do vapor que saia dos biscoitos.

—Mmm. — Ela gemeu, seu braço delgado sentindo os chutes do bebê. — É a receita de manjericão e queijo Cheddar de Dylan?

—A pedido do público. — Respondeu Alex brilhantemente. — Há mais de onde veio estes, inclusive o incrível creme brulee de Savannah para as torradas francesas. Falando nisso, vou buscar um pouco mais para a festa.

Quando Alex girou e desapareceu na cozinha, Tess lançou a Jenna uma olhada clandestina.

—Você não viveu até que tenha provado os biscoitos de Dylan e a torrada francesa de Savannah. Confie em mim, o céu absoluto.

Jenna ofereceu um sorriso educado.

—Soa bom. Não fui boa cozinheira. Minha maior criação para a fama na cozinha foi uma omelete de carne de alce defumado com queijo suíço, espinafre, e batatas de pele-vermelha.

—Carne de alce? — Tess riu. — Bem, posso garantir que nenhuma de nós jamais provou nada assim. Talvez possa fazê-lo para nós algum dia.

—Talvez. — Jenna disse sem compromisso, levantando seu ombro em um encolhimento leve.

Se não fosse pelo perturbador estranho material embutido na sua espinha, e, agora, a ferida de tiro que a tinha parado por Deus sabe quanto tempo, teria partido deste lugar. Não estava segura de quanto tempo mais ficaria, mas logo que fosse capaz de andar novamente, seria história. Não importa que a Ordem pensasse precisar dela; não tinha nenhum interesse em ser sua cobaia.

Era ainda além de estranho pensar que se sentava de fato ali - em uma secreta sede militar povoada por uma equipe de guerreiros vampiros e mulheres aparentemente sãs, perfeitamente agradáveis que pareciam felizes e confortavelmente em casa entre eles.

O surrealismo de tudo isso ficou mais forte quando Alex e o resto das fêmeas da Ordem - cinco jovens mulheres atordoantemente belas e a pequena menina loira chamada Mira - saíram da cozinha com o resto do café da manhã. Conversavam animadas, tão relaxadas entre elas como se estivessem juntas por toda a vida.

Eram uma família - Alex inclusive, embora acabasse de chegar há uma semana, junto com Jenna.

Um ritmo fácil se ajustou na sala de jantar quando pratos com bordas de ouro foram passados em volta e empilhados com todo tipo de coisas deliciosas. Os copos de suco cristalinos foram cheios até a borda, e delicadas xícaras de porcelana logo soltavam vapor com o café escuro e fragrante.

Jenna estudou em silêncio o andamento da refeição. Xarope de bordo quente e os potes de manteiga circulavam pela mesa, parando pelo maior tempo com a pequena Mira, que embebeu sua torrada francesa na doçura pegajosa e fez uma cobertura de manteiga em seu biscoito. Mira devorou o biscoito em duas grandes mordidas, em seguida atacou o resto de sua refeição com o mesmo entusiasmo desenfreado.

Jenna sorriu apesar de si mesma do apetite voraz da criança, sentindo uma pontada de melancolia, senão culpa, quando pensou em sua própria filha. Libby foi uma pequena tão cautelosa, auto-disciplinada e séria, mesmo sendo uma pequena criança.

Deus, o que não daria agora para poder olhar Libby desfrutar algo tão simples como café da manhã através da mesa.

Com os dedos cobertos de açúcar, Mira pegou seu copo de suco de laranja e tomou um grande gole. Suspirou contente quando pousou o copo com um baque suave.

—Posso colocar chantilly nos meus pêssegos? — Ela perguntou, prendendo Jenna com seus olhos violetas estranhos.

Por um momento, Jenna se sentiu presa naquele olhar. Livrou-se da sensação e pegou o prato de porcelana que estava a meio caminho entre o seu próprio prato e o de Mira através da mesa.

—Posso, por favor, colocar chantilly. — Renata a corrigiu do seu assento à direita da pequena menina. A morena de olhar sério deu a Mira uma piscada maternal, afetuosa quando estendeu a mão para pegar o prato que Jenna passava.

—Posso, por favor. — Alterou Mira, olhando tudo menos a bronca.

Jenna cortou um pedaço da torrada francesa e pôs uma mordida na sua boca. Estava como Tess prometeu - celestial. Mal pode se impedir de gemer em voz alta quando saboreou o cremoso gosto de baunilha nela.

—Gostou? — Perguntou Savannah, que estava sentado no fim da mesa da longa sala de jantar.

—É deliciosa. — Murmurou Jenna, suas papilas gustativas ainda vibrando de felicidade. Ela enviou um abrangente olhar em volta de todo mundo reunido lá. —Obrigado por me deixarem compartilhar tudo isso com vocês. Nunca vi tanta comida na minha vida.

—Pensou que íamos fazê-la morrer de fome? — Gabrielle perguntou do fim oposto da mesa. Seu sorriso era amistoso, convidativo.

—Não estou segura do que pensei. — Respondeu Jenna. — Para falar a verdade, não sei como processar nada disto ainda.

Gabrielle inclinou sua cabeça num aceno lento, um olhar sábio e sereno, embora fosse, sem dúvida, alguns anos mais jovem que Jenna, que tinha trinta e três anos.

—Isto é compreensível. Você passou por muito, e sua situação é única para todos nós.

—Minha situação. — Disse Jenna, empurrando à toa uma parte do pão embebido em xarope de volta em seu prato. — Quer dizer o objeto não identificado alojado na base do meu crânio?

—Sim, isto. — Reconheceu Gabrielle, uma nota doce em sua voz. — E o fato que foi bastante afortunada para evitar que o Antigo acabasse com sua vida. O fato de se alimentar de você e a deixar viver é...

—Inédito. — Emendou outra das mulheres do seu assento ao lado de Gabrielle. Tinha uma massa de cabelo vermelho ígneo, seu bonito rosto salpicado por sardas aveludadas. — Se soubesse do que foi capaz... Se tivesse alguma ideia do que aconteceu a tantos outros... — Sua voz diminuiu, um pequeno tremor fazendo seus dedos tremerem em volta do garfo que segurava. — Não é menos que um milagre que ainda esteja viva, Jenna.

—Dylan está certa. — Concordou Tess. — Há cerca de um ano, quando a Ordem descobriu que o Antigo foi despertado, estivemos tentando localizar ele e Dragos, o filho da puta responsável por devolver aquela espécie de perigo ao mundo.

—Não estou segura de qual deles é pior. — Renata interpôs. — O Antigo reclamou muitas vidas inocentes, mas foi Dragos, o neto sádico do Antigo que esteve mexendo todos os pauzinhos.

—Está me dizendo que a criatura tem descendentes? — Jenna perguntou, incapaz de conter sua repulsa.

Gabrielle tomou um golinho do seu café, então cuidadosamente pousou a xícara no seu pires.

—Aquela criatura e vários outros como ele geraram a Raça inteira na Terra.

—Na Terra? — Jenna soltou um riso descrente. — Está falando sobre alienígenas agora? Aquele vampiro que me atacou...

—Não é deste mundo. — Savannah terminou por ela. — É verdade. Não é pior que acreditar na existência dos próprios vampiros, se me perguntar, mas é a mais pura verdade de Deus. Os Antigos estupraram e conquistaram quando aterrissaram forçosamente aqui há alguns milhares de anos. Depois de algum tempo, algumas das suas vítimas ficaram grávidas com o que seria a primeira geração da Raça.

—Isto de fato faz sentido para todas vocês? — Jenna perguntou, ainda incrédula. Ela olhou para Alex junto dela. — Você acredita nisto, também?

Alex acenou com a cabeça.

—Tendo visto Kade e todos os outros aqui no complexo, como não posso acreditar? Também vi o Antigo com meus próprios olhos, momentos antes que fosse morto em um rochedo íngreme fora de Harmony.

—E esta outra pessoa - Dragos? — Jenna perguntou, com curiosa relutância para juntar todas as partes deste quebra-cabeça assombroso de alguma maneira. — Onde entra?

Dylan foi a primeira a responder.

—Como vê, Dragos acordou o Antigo muito antes do que imaginamos. Décadas antes, de fato. Ele o manteve em segredo, e o usou para criar uma nova geração inteira de Gen Um - os membros mais fortes da Raça, porque descendem diretamente do sangue do Antigo e não estão geneticamente diluídos, como as gerações posteriores.

—Dragos produziu um exército pessoal com os membros mais poderosos, mais mortais da Raça. — Renata acrescentou. — Estão sob seu controle, treinados para ser assassinos cruéis. Os assassinos particulares de Dragos que pode chamar a qualquer momento.

Gabrielle acenou com a cabeça.

—E para criar esses descendentes de primeira geração, Dragos também precisou de um estoque de mulheres férteis para reproduzir com o Antigo.

—As Companheiras de Raça. — Alex disse.

Jenna olhou para ela.

—E o que são?

—Mulheres que nascem com DNA único e propriedades sanguíneas que as fazem capazes de compartilhar uma obrigação de vida com membros da Raça e carregar seus filhos. — disse Tess, sua mão vagando sobre sua barriga grávida. — Mulheres como todas nós reunidas nesta mesa agora mesmo.

O choque e horror apertaram o intestino de Jenna.

—Estão dizendo que eu...

—Não. — Tess disse, sacudindo a cabeça. — Você é mortal, não uma Companheira de Raça. Seu exame de sangue é normal, e não tem a marca que o resto de nós tem.

Com sua carranca, Tess estendeu sua mão direita, que tinha uma pequena marca vermelha entre seu polegar e dedo indicador. Era uma lua crescente muito pequena com o que parecia ser uma lágrima, caindo no seu centro.

—Todas têm esta mesma tatuagem?

—Não é uma tatuagem. — Disse Alex. — É uma marca de nascença, Jenna. Todas as Companheiras de Raça nascem com uma em algum lugar nos seus corpos. A minha é no meu quadril.

—Não há muitas de nós no mundo. — Savannah disse. — A Raça considera toda Companheira de Raça sagrada, mas não Dragos. Ele esteve reunindo mulheres por anos, as mantendo prisioneiras, com o único objetivo de parir seus Gen Um assassinos. Muitas foram mortas, pelo próprio Dragos ou pelo Antigo.

—Como sabem disto? — Jenna perguntou, horrorizada pelo que ouvia.

Abaixo dela na mesa, Dylan limpou sua garganta.

—Eu as vi. Mortas, é claro.

A parte policial de Jenna se empertigou.

—Se tem corpos mortos, tem muita evidência, e provavelmente podem levar esse imbecil, Dragos, às autoridades.

Dylan sacudiu a cabeça.

—Não vi os corpos. As vi mortas. Elas... Aparecem-me às vezes. Às vezes me falam.

Jenna não sabia se caia na gargalhada ou baixava sua cabeça em derrota.

—Você vê gente morta?

—Cada Companheira de Raça tem um determinado talento ou capacidade que a faz única de qualquer outra. — Explicou Tess. — Para Dylan, essa capacidade é uma conexão a outras Companheiras de Raça que morreram.

Renata se inclinou, fixando seus antebraços na borda da mesa.

—Pelo talento de Dylan, sabemos que Dragos é responsável por numerosas mortes de Companheiras de Raça. E por outra amiga da Ordem, Claire Reichen, cujo talento nos levou a localizar de fato a base de operações de Dragos há uns meses atrás, sabemos que está mantendo muito mais Companheiras de Raça presas. Desde então, a operação de Dragos está afundando. Agora a missão principal da Ordem - além de acabar com o bastardo o mais depressa possível - é encontrar sua nova sede e trazer suas vítimas à segurança.

—Ajudamos como podemos, mas é difícil alcançar um objetivo móvel. — Disse Dylan. — Procuramos relatórios de pessoas desaparecidas online, rostos que reconheço. E dirigimos missões durante o dia a abrigos de mulheres, orfanatos, cortiços... Qualquer lugar que possa ter ligação com as mulheres desaparecidas.

Renata acenou com a cabeça.

—Em particular aquelas com habilidades psíquicas ou outras capacidades excepcionais que poderiam insinuar uma Companheira de Raça em potencial.

—Fazemos o que podemos. — Disse Gabrielle. — Mas não encontramos uma verdadeira pista ainda. Parece estar faltando a chave que destrancará tudo, e até que a encontremos, tudo que fazemos é perseguir nosso próprio rabo.

—Bem, aguentem firme. — Disse Jenna, seu enferrujado lado policial compreendendo a frustração de seguir pistas que não iam a lugar algum. — A persistência é muitas vezes o maior aliado de um detetive.

—Pelo menos não temos mais que nos incomodar com o Antigo. — Savannah disse. — É menos uma batalha.

Em volta da reunião do café da manhã, um coro de vozes concordando respondeu à afirmação.

—Por que o Antigo a deixou viver, Jenna?

A pergunta veio de Elise, a pequena loira de cabelo curto, do outro lado de Tess. No reticente grupo parecia uma flor frágil, mas tinha o olhar franco, sem vacilar de uma guerreira. Provavelmente precisava que seu interior fosse de aço, considerando a companhia que ela e as outras mulheres no complexo tinham.

Jenna olhou para seu prato e considerou sua resposta. Levou um longo momento para formar as palavras.

—Ele me fez escolher.

—O que quer dizer? — Savannah perguntou, sua testa franzida.

O que será, Jenna Tucker-Darrow?

Vida... Ou morte?

Jenna sentia cada par de olhos arraigados em sua calma. Forçando-se a encontrar as perguntas não ditas que pairavam como um peso no ar, levantou os olhos. Ela enquadrou seu queixo e disse as palavras sucintamente, rapidamente.

—Eu queria morrer. É o que eu preferia - naquele momento, especialmente. Ele sabia, estou certa disso. Mas por alguma razão, parecia querer brincar comigo, portanto me fez decidir se me mataria naquela noite.

—Oh, Jen, isto é terrível. — A voz de Alex puxou um pouco. Seu braço envolveu os ombros de Jenna em um abraço protetor. — Aquele filho da puta cruel.

—Deste modo, — Elise incitou. — você disse ao Antigo para deixá-la viver e ele o fez - simples assim?

Lembrando o momento com claridade áspera agora, Jenna deu uma sacudida deliberada de cabeça.

—Eu disse que queria viver, e a última coisa que me lembro foi ele cortando seu braço e retirando aquela coisa - um pedaço muito pequeno - de Deus sabe o que - e o colocando dentro de mim.

Ela sentiu, mas não viu, os olhares sutilmente trocados que viajaram em volta da mesa.

—Acham que pode ser significativo? — Ela perguntou, dirigindo a pergunta ao grupo como um todo. Tentou socar abaixo a pontada súbita de medo que reverberou repentinamente no seu peito. — Acham que colocando aquele objeto dentro de mim tem algo a ver com se eu vivo ou morro?

Alex pegou sua mão em um aperto de conforto, mas foi Tess que falou antes de alguém mais.

—Talvez Gideon possa fazer mais testes e nos ajudar a compreender isto.

Jenna engoliu, logo acenou com a cabeça.

Seu prato de comida ficou intocado durante a refeição.

 

Num canto sombreado de uma suíte de hotel luxuosa em Boston, onde pesadas cortinas estavam fechadas para bloquear com segurança até o mais leve raio de luz solar da manhã, o macho da Raça chamado Dragos estava sentado numa cadeira estofada de seda e tamborilando suas unhas na mesa de mogno junto dele. O atraso o deixava impaciente, e a impaciência o fazia mortal.

—Se não chegar nos próximos sessenta segundos, um de vocês o matará. — Ele disse ao par de assassinos Gen Um que o flanqueavam, parecendo musculosos demônios de 2 metros.

Mal tinha falado, fora do vestíbulo da suíte presidencial, se ouviu o carrilhão eletrônico suave do elevador privado, anunciando um hóspede chegando. Dragos não se moveu do seu assento para a outra sala, esperando em silêncio irritado enquanto outros dos seus guardas pessoais escoltavam um macho de Raça civil - um tenente na operação secreta de Dragos - para sua audiência privada.

O vampiro teve o bom senso de curvar sua cabeça no instante que seu olhar se fixou em Dragos.

—Desculpas por fazer você esperar, Senhor. A cidade está cheia de humanos. Compradores e turistas de férias. — Ele disse, desdém em cada sílaba culta. Ele tirou suas luvas de couro pretas e as prendeu no bolso do seu casaco de caxemira. — Meu motorista teve que rodear o hotel uma dúzia de vezes antes que fôssemos capazes de chegar perto das portas de serviço no subsolo.

Dragos continuou tamborilando seus dedos na mesa.

—Algo de errado com o saguão?

Seu tenente, Raça da segunda geração como o próprio Dragos, branqueou ligeiramente.

—É meio dia, Senhor. Com tanta luz solar, me queimaria em minutos.

Dragos simplesmente o fitou, impassível. Não estava feliz com a inconveniência do local da reunião, também. Preferia estar desfrutando do conforto e segurança da sua própria residência. Mas não era mais possível. Não desde que a Ordem interferiu em sua operação e o obrigou a se esconder.

Por medo da descoberta, não permitia que nenhum dos seus sócios civis soubessem onde sua nova sede estava localizada. Como precaução adicional, nenhum deles sabia as posições de seus outros locais e pessoal, também. Não podia correr o risco que algum dos seus tenentes caísse nas mãos da Ordem e terminasse comprometendo Dragos com esperança de escapar da ira de Lucan.

Só em pensar em Lucan Thorne e seus autodenominados cavaleiros guerreiros punha um gosto amargo na boca de Dragos. Tudo pelo que vinha trabalhando - sua visão do futuro que mal podia esperar para por suas mãos - estava estragado pelas ações da Ordem. Forçando-o a por o rabo entre as pernas e correr. Conseguiram destruir o centro nervoso de sua operação - um super-laboratório de pesquisa científica, que tinha custado centenas de milhões de dólares e várias décadas de esforço para aperfeiçoar.

Tudo perdido agora, nada além de entulho e destroços no meio de uma floresta em Connecticut.

Agora o poder e privilégio que Dragos estava acostumado há séculos foi substituído por se esconder nas sombras e constantemente olhar sobre seu ombro para ver se seus inimigos não se aproximavam dele. A Ordem o tinha feito fugir e se esconder como um coelho desesperado para fugir do laço do caçador, e não gostava nem um pouco disso.

A última irritação foi no Alasca, com a fuga do Antigo, o instrumento mais valioso e insubstituível de Dragos, na sua busca pela dominação suprema. Ruim o bastante que o Antigo se soltasse durante o transporte à sua nova cela. Mas o desastre foi pior quando a Ordem de alguma maneira conseguiu encontrar não só o laboratório no Alaska, mas o fugitivo do outro mundo, também.

Dragos tinha perdido duas partes importantes para os guerreiros. Não estava disposto a perder nenhuma outra maldita coisa.

—Quero ouvir boas notícias. — Ele disse ao seu tenente, olhando para o macho sob o sulco da sua carranca. — Como está progredindo com sua tarefa?

—Tudo está no lugar, Senhor. O alvo e seus familiares acabam de voltar aos Estados Unidos depois de uma semana de férias fora.

Dragos grunhiu em reconhecimento. O objetivo em questão era um Raça mais velho, quase mil anos - Gen Um, de fato - e era precisamente por isso que Dragos o tinha na mira. Além do desejo de Lucan Thorne e seu bando de guerreiros fora do negócio, Dragos também tinha voltado a um dos seus objetivos de missão iniciais: a extinção sistemática e total de cada Gen Um Raça no planeta.

O fato do próprio Lucan e outro dos membros fundadores da Ordem, Tegan, serem ambos Gen Um só fazia aquele objetivo mais doce. E mais imperativo. Retirando todos os Gen Um - exceto sua cultura de assassinos produzidos e treinados para servir a ele incondicionalmente - Dragos e os outros membros da segunda geração da Raça seriam os vampiros mais poderosos que existiam.

E se, ou melhor, quando Dragos se cansasse de compartilhar o futuro que imaginou, e assegurasse que estava fluindo, então pediria ao seu exército pessoal de assassinos que exterminasse cada contemporâneo da segunda geração, também.

Sentou-se contemplativo, entediado, em silêncio enquanto seu tenente se apressava a rever os pontos mais perfeitos do plano, que o próprio Dragos tinha idealizado somente alguns dias antes. Passo a passo, tática a tática, o outro macho da Raça expôs tudo, assegurando-o que nada foi deixado de lado.

—O Gen Um e sua família estão sob nossa estrita vigilância desde sua chegada em casa. — Disse o tenente. — Estamos prontos para puxar o gatilho da operação à sua ordem, senhor.

Dragos inclinou a cabeça em um aceno de cabeça vago.

—Faça acontecer.

—Sim, senhor.

A profunda reverência do tenente e a retirada brusca agradava quase tanto a Dragos como saber que esta grave ofensiva deixaria bem claro à Ordem que podia estar por baixo, mas estava longe de estar fora.

De fato, sua presença no ostensivo hotel de Boston - numa de várias reuniões introdutórias importantes que levou semanas para conseguir entre ele e um grupo escolhido à mão de humanos influentes - solidificaria a posição de Dragos na escalada à glória final. Praticamente já podia provar o êxito.

—Oh, uma mais coisa. — Gritou Dragos ao seu sócio que partia.

—Sim, senhor?

—Se falhar nisto, — Ele disse agradavelmente. — esteja preparado para me alimentar com seu próprio coração.

A face do macho ficou tão branca como o carpete que cobria o andar como neve.

—Não falharei, senhor.

Dragos sorriu, mostrando tanto dentes como presas.

—Veja que não o faça.

Depois da confusão embebida por morte no trabalho da sua noite na cidade, Brock considerou um triunfo pessoal conseguir evitar Jenna durante a maior parte do dia que esteve de volta no complexo. Com os dois corpos masculinos jogados nas águas represadas geladas do Rio Místico, ficou lá fora sozinho até perto da alvorada, tentando se livrar da fúria que parecia segui-lo por toda a noite.

Mesmo depois que voltou para a sede da Ordem naquela manhã, o injustificado - completamente não desejado - sentido de raiva o agarrava enquanto pensava na mulher inocente que foi machucada, fazendo seus músculos vibrarem com a necessidade de violência. Um par de horas suadas treinando com as lâminas na sala de armas tinham ajudado a aparar um pouco suas arestas. Mas tinha que se escaldar, uma ducha de quarenta minutos como punição depois do treinamento.

Ele poderia estar se sentindo condenadamente bem, sentia que sua cabeça estava parafusada certa e apertada novamente, não fosse pelo dois golpes que Gideon deu não muito tempo antes.

O primeiro golpe foram as notícias que Jenna tinha descido do café da manhã com as outras mulheres do complexo e solicitado outra rodada de exames de tecido e sangue. Tinha lembrado algo sobre o tempo que passou na companhia do Antigo - algo que Gideon disse que deixou a fêmea bastante abalada.

O segundo soco veio quase imediatamente depois que as primeiras amostras foram tiradas e examinadas.

A contagem de sangue e DNA de Jenna tinham mudado significativamente desde a última vez que Gideon as fez.

Ontem, seus resultados eram normais. Hoje, tudo estava fora dos gráficos.

—Não podemos tirar conclusões precipitadas. Não importa o que esses relatórios pareçam indicar. — Lucan finalmente disse tranquilo, sua voz profunda.

—Talvez devêssemos colher outra amostra. — Disse Tess, a única fêmea no laboratório de tecnologia no momento atual. Ela olhou dos resultados de laboratório perturbadores para Lucan, Brock, e o resto da Ordem que tinha sido intimada para rever os achados de Gideon. — Posso buscar Jenna e a levar à enfermaria para um segundo teste?

—Pode. — Disse Gideon. — Mas colher outra amostra não vai modificar nada. — Ele tirou seus óculos azuis pálidos e os lançou na mesa de trabalho acrílica em frente a ele. Beliscando a ponta do seu nariz, lentamente sacudiu sua cabeça. — Essa espécie de mutações de DNA e réplicas celulares maciças simplesmente não ocorrem. Corpos humanos não são avançados o suficiente para lidar com as exigências que as modificações desta importância colocariam nos seus órgãos e artérias, para não falar no impacto que algo assim teria no sistema nervoso central.

Com os braços atravessando seu peito, Brock se apoiou contra a parede ao lado de Kade, Dante e Rio. Não disse nada, lutando para dar sentido a tudo que via e ouvia. Lucan tinha aconselhado que ninguém tirasse conclusões, mas era muito duro não assumir que a partir de agora o futuro e bem-estar de Jenna estava severamente em questão.

—Não entendo. — Disse Nikolai do outro lado do laboratório de tecnologia, onde estava sentado na grande mesa junto com Tegan e Hunter. — Por que agora? Digo, se tudo era normal antes, por que a inundação súbita de mutações no seu sangue e DNA?'

Gideon encolheu os ombros vagamente.

—Pode ser o fato que até ontem estava em sono profundo, quase um coma. Sabíamos que sua força muscular tinha aumentado quando despertou. Brock viu, assim como nós, quando Jenna abandonou o complexo. As modificações celulares que estamos vendo agora podem ser uma reação atrasada ao simples despertar. Estar consciente e vigilante pode ter atuado como uma espécie de comutador dentro do seu corpo.

—Na noite passada ela foi atingida. — Acrescentou Brock, contendo o rosnado zangado que enchia o fundo da sua garganta. — Isto pode ter algo a ver com o que estamos vendo no seu exame de sangue agora?

—Talvez. — Gideon disse. — Tudo é possível, suponho. Isto não é algo que eu, ou alguém mais nesta sala, já vimos antes.

—    Sim. — Brock concordou. — E isso é uma merda.

Da parte do fundo do laboratório de tecnologia, os pés calçados apoiados na mesa de conferência enquanto reclinava atrás na sua cadeira, Chase Sterling limpou sua garganta.

—Por todas as coisas consideradas, talvez não seja uma boa ideia dar a esta mulher tanta liberdade no complexo. Ela é um grande ponto de interrogação agora mesmo. Pelo que sabemos, pode ser uma espécie de bomba relógio ambulante.

Por um longo momento, ninguém disse nada. Brock odiou o silêncio. Odiou Chase por dizer o que nenhum dos guerreiros queria considerar.

—O que sugere? — Lucan perguntou, disparando uma olhada sóbria ao macho que passou décadas como parte da Agência de Execução burocrática da Raça antes de se unir a Ordem.

Chase arqueou uma sobrancelha loira.

—Se dependesse de mim, eu a tiraria do complexo o mais rápido possível. Tranque-a longe em algum lugar apertado e seguro, tão longe de nossa operação quanto possa, pelo menos até termos uma possibilidade de derrubar Dragos, definitivamente.

O rosnado de Brock saiu com ímpeto da sua garganta, escuro com a animosidade.

—Jenna fica aqui.

Gideon repôs seus óculos e acenou na direção de Brock.

—Concordo. Não seria confortável a remoção dela agora. Gostaria de vigiá-la, ter uma melhor compreensão do que está acontecendo a nível celular e neurológico, no mínimo.

—A responsabilidade é sua. — Chase arrastou as palavras. — Mas será nossos funerais se estiver errado.

—Ela fica. — Disse Brock, apontando seu olhar estreitado sob a mesa para onde estava o ex-agente sorrindo de modo afetado.

—Você teve um tesão por esta humana desde o segundo que a viu. — Chase remarcou, seu tom leve, mas sua expressão sombria com desafio. — Você precisa provar o que, cara? O que é - você é apenas um otário que nasceu para salvar donzelas em perigo? Ou ser o Santo Padroeiro das Causas Perdidas é seu negócio?

Brock se arqueou através da mesa em um único pulo. Teria suas mãos em volta da garganta de Chase, mas o vampiro o viu e se moveu rápido. A cadeira tombou, e em meio segundo os dois grandes machos estavam olho no olho, maxila à maxila, presos num impasse fervente que nenhum deles podia ganhar.

Brock sentiu mãos fortes o levando para longe da confrontação - Kade e Tegan, antes que pudesse dar a Chase o que merecia. E atrás de Chase estavam Lucan e Hunter, e o resto dos guerreiros prontos para conter a situação se qualquer macho pensasse em continuar.

Olhando Chase, Brock se permitiu ser desviado para longe do seu companheiro, mas só um pouco. Por que não foi a primeira vez que percebeu a natureza antagônica e agressiva de Chase Sterling, e ponderou o que levou o outrora experiente - e honesto - macho a ser tão volátil.

Se a Ordem tinha uma bomba relógio para se preocupar no seu meio, Brock se perguntava se não estava olhando para a fonte daquele perigo agora mesmo.

 

—Por que diabos está levando tanto tempo?

Jenna não percebeu que havia frustração na sua voz alta até que Alex se esticou e tomou sua mão em um aperto de conforto.

—Gideon disse que queria fazer alguns testes extras nas suas amostras. Tenho certeza que saberemos algo logo.

Jenna bufou um suspiro agudo. Bengala na mão, embora sentisse necessidade mínima de se apoiar nela, se levantou do sofá em que ela estava sentada e mancou até o outro lado da sala do apartamento. Tinha sido levada para lá por Alex e Tess depois da sua coleta de sangue na enfermaria há algumas horas, e informada do uso do quarto como sendo dela pela duração da sua estadia no complexo.

A suíte era uma grande melhora da sua sala na enfermaria. Espaçosa e cômoda, com mobília de couro enorme e mesas de madeira escuras que estavam meticulosamente polidas e livres de desordem. As altas estantes de madeira continham uma biblioteca de clássicos, filosofia, política e história. Os livros sérios, instigantes pareciam contrastar com a prateleira cheia, mas bem organizada - em ordem alfabética - de ficção comercial popular ao lado.

Jenna deixou seu olhar vagar pelas prateleiras de títulos e autores, precisando da distração momentânea para se impedir de pensar por muito tempo no que poderia estar atrasando as respostas de Gideon e dos outros.

—Tess esteve lá embaixo por mais de uma hora. — ela indicou, puxando um livro à toa sobre cantoras de jazz do seu lugar na seção de história. Ela folheou algumas páginas, mais para usar suas mãos do que por qualquer verdadeiro interesse no livro.

Quando abriu numa seção de boates dos anos de 1920, uma velha fotografia amarelada caiu. Jenna a pegou antes que caísse no chão. O rosto radiante de uma mulher bem jovem vestida em peles e seda a fitava da imagem. Com seus olhos grandes, em forma de amêndoa e pele de porcelana que parecia incandescer contra seu cabelo preto longo, era bela e exótica, principalmente com o clube de jazz atrás dela.

Com sua própria vida se movendo num rodamoinho de confusão e preocupação, Jenna foi atingida por um momento pelo júbilo absoluto no sorriso da jovem. Era uma alegria tão crua, honesta, que quase machucou Jenna por vê-la. Conheceu essa espécie de felicidade uma vez, não foi? Deus, quanto tempo se passou desde que tinha se sentido sequer metade viva como a jovem naquela fotografia?

Irritada por sua auto-piedade, Jenna deslizou a foto entre as páginas, logo devolveu o livro ao seu lugar na prateleira.

—Não aguento mais não saber. Está me deixando louca.

—Sei, Jen, mas...

—Isto é insano. Não vou esperar aqui mais tempo. — ela disse, virando para enfrentar sua amiga. A ponta da sua bengala se chocou no chão coberto pelo tapete quando caminhou para a porta. — Eles devem ter alguns resultados até agora. Tenho que saber o que está acontecendo. Vou lá embaixo eu mesma.

—Jenna, espere. — Acautelou Alex.

Mas já estava no corredor, andando tão rápido como podia entre o impedimento da sua bengala e a pontada de dor na sua perna a cada passo ligeiro.

—Jenna! — Alex chamou, seus próprios passos rapidamente se adiantando no corredor vazio.

Jenna continuou, curva após curva no branco mármore polido. Sua perna pulsava agora, mas não se preocupou. Jogando fora a bengala que só a atrapalhava, quase correu na direção dos sons abafados de vozes masculinas que vinha adiante. Ela arquejava quando alcançou as paredes de vidro do laboratório de tecnologia, um brilho de suor acima dos seus lábios e testa.

Seus olhos encontraram Brock antes de qualquer outro no grupo solene. Seu rosto estava tenso, os tendões no seu pescoço esticados como fios, sua boca uma linha severa, quase ameaçadora. Estava atrás na sala, rodeado de vários outros guerreiros, todos parecendo tensos e preocupados - ainda mais agora que estava ali. Gideon e Tess estavam perto da mesa do computador na frente do laboratório.

Todo mundo parou o que estava fazendo para olhar para ela.

Jenna sentiu o peso dos seus olhares como uma coisa física. Seu coração balançou. Obviamente, tinham a análise do seu exame de sangue. Quanto terríveis podiam ser os resultados?

Suas expressões eram ilegíveis, todo mundo mantendo sobre ela uma observação cautelosa, silenciosa enquanto suas pegadas reduziam a velocidade e paravam na frente das largas portas de vidro do laboratório de tecnologia.

Deus, a olhavam agora como se nunca a tivessem visto antes.

Não, ela percebeu que o grupo não se movia, simplesmente a olhava pela parede clara que estava entre ela e a reunião do outro lado. Eles a olhavam como se esperassem que já estivesse morta.

Como se fosse um fantasma.

O medo se instalou frio e pesado no seu estômago, mas não ia desistir agora.

—Deixe-me entrar. — Ela exigiu, enfurecida e aterrorizada. — Maldito seja, abra esta porta maldita e me diga o que está acontecendo!

Ela levantou sua mão e fechou o punho, mas antes que tivesse uma chance de bater no vidro, ele se abriu com um assobio suave. Ela saltou no interior, Alex em seus calcanhares.

—Diga-me. — Disse Jenna, seu olhar viajando de um rosto silencioso ao outro. Ela se demorou em Brock, uma pessoa na sala além de Alex em quem sentia um pouco de confiança. — Por favor... Tenho que saber o que encontrou.

—Houve algumas modificações no seu sangue. — Ele disse, sua voz profunda impossivelmente baixa. Muito doce. — No seu DNA, também.

—Modificações. — Jenna engoliu em seco. — Que tipo de modificações?

—Anomalias. — Gideon interpôs. Quando girou sua cabeça para olhá-lo, foi atingida pela preocupação nos olhos do guerreiro. Ele falou com cuidado, olhando e soando com um doutor que dá a pior espécie de notícias ao seu paciente. — Encontramos algumas réplicas celulares estranhas, Jenna. As mutações estão sendo passadas ao seu DNA e se multiplicando rapidamente. Essas mutações não estavam presentes da última vez que analisamos suas amostras.

Ela sacudiu a cabeça, tanto de confusão como pelo reflexo em negar o que achava estar ouvindo.

—Não entendo. Está falando sobre uma espécie de doença? Aquela criatura me infeccionou com algo quando me mordeu?

—Nada assim. — Disse Gideon. Ele disparou um olhar ansioso a Lucan. — Bem, não exatamente assim.

—Então o que exatamente? — Ela exigiu. A resposta chegou um segundo mais tarde. — Oh, Jesus Cristo. Esta coisa atrás do meu pescoço. — Ela pôs sua mão acima do lugar onde o Antigo tinha inserido o pequeno material não identificado. — Esta coisa que pôs dentro de mim está causando as modificações. Isto é o que acha, não é?

Gideon deu um aceno de cabeça fraco.

—É biotecnologia de algum tipo - nada que a Raça ou humanos possam criar. Dos raios X mais novos que tiramos hoje, parece que o implante está se integrando na sua coluna vertebral em uma taxa muito acelerada, também.

—Tire-o.

Uma rodada de olhares preocupados viajou o grupo de grandes machos. Mesmo Tess parecia estranhamente silenciosa, sem vontade de manter o olhar em Jenna.

—Não é tão simples. — Gideon finalmente respondeu. — Possivelmente deva ver o raio X por si mesma.

Antes que pudesse considerar se queria ver a prova de tudo que diziam, a imagem do seu crânio e coluna vertebral pestanejou em tela cheia num monitor montado na parede em frente dela. Num instante, Jenna observou com familiaridade doente o objeto do tamanho de um arroz incandescendo no centro das suas vértebras superiores. Os tentáculos filiformes que estavam presentes ontem eram mais numerosos neste novo filme.

Facilmente centenas mais, cada fino fio tecido intricadamente - inextricavelmente - por e em volta da sua medula.

Gideon limpou sua garganta.

—Como disse, o objeto parece ser uma combinação de material genético e alta tecnologia. Nunca vi nada como isso, nem fui capaz de encontrar qualquer pesquisa científica humana que chegue perto disto. Considerando a transformação biológica que estamos vendo no seu DNA e exames de sangue, parece que a fonte do material genético é do próprio Antigo.

O que significava que parte daquela criatura estava dentro dela. Vivendo ali. Prosperando.

O pulso de Jenna martelou forte no seu peito. Sentiu seu sangue bombeando e correndo pelas suas veias - células mutantes que imaginou estarem mastigando seu corpo a cada batida de coração, se multiplicando e crescendo, devorando-a por dentro.

—Tire isso de mim. — Ela disse, sua voz subindo em aflição. — Tire a maldita coisa de mim agora mesmo, ou o farei eu mesma!

Ela ergueu ambas as mãos e começou a arranhar sua nuca com as unhas, o desespero a deixando louca.

Ela nem sequer viu Brock sair da sua posição do outro lado do laboratório de tecnologia, mas em menos de um segundo, estava junto dela, suas grandes mãos envolvendo seus dedos. Seus olhos castanhos escuros encontraram o seu olhar e não a soltaram.

—Devagar agora. — Ele disse, um sussurro baixo enquanto suavemente, mas firme, afastava suas mãos da nuca e as mantinha no seu aperto quente. — Respire, Jenna.

Seus pulmões espremeram, logo se lançaram num soluço.

—Deixe-me ir. Por favor, me deixem em paz, todos vocês.

Ela recuou e tentou partir, mas o tamborilar pesado do seu pulso e de repente um zumbido nos seus ouvidos fizeram a sala em volta girar violentamente. Uma onda escura de náusea a varreu, cobrindo tudo numa grossa, espessa névoa.

—Eu tenho você. — A voz calma de Brock murmurou em algum lugar perto do seu ouvido. Ela sentiu seus pés deixando a terra e pela segunda vez em tão poucos dias se encontrou presa na segurança dos seus braços.

 

      Ele não se desculpou pelo que fazia ou disse onde a levava. Simplesmente saiu do laboratório de tecnologia e a levou corredor acima por onde tinha vindo com Alex alguns minutos antes.

—Me solta. — Exigiu Jenna, seus sentidos ainda confusos, girando mais a cada passo das pernas de Brock. Ela se mexeu nos seus braços, tentando ignorar como até mesmo o mínimo movimento fazia sua cabeça girar e seu estômago rodar. Sua cabeça caiu no antebraço musculoso, um gemido aflito saindo dela. — Eu disse para me soltar, porra.

Ele resmungou mas continuou andando.

—Ouvi da primeira vez.

Ela fechou os olhos, só porque era muito difícil mantê-los abertos e olhar o teto do corredor se contorcer e girar acima dela quando Brock a transportou mais fundo no complexo. Ele reduziu a velocidade depois de um instante, logo virou abruptamente, e Jenna olhou até ver que a tinha trazido de volta à suíte que agora era seu quarto.

—Por favor, me solte. — Ela murmurou, sua língua grossa, a garganta seca. A dor atrás dos seus olhos tinha se transformado numa britadeira, o zumbido nos seus ouvidos um ensurdecedor lamento em alta frequência que parecia querer partir sua cabeça no meio. — Oh, Deus. — Ela respirou, incapaz de ocultar sua agonia. — Dói tanto ...

—Certo. — Brock disse calmo. — Tudo vai ficar bem agora.

—Não, não vai. — Ela choramingou, humilhada pelo som da sua própria fraqueza, e pelo fato que Brock a via assim. — O que está me acontecendo? O que ele me fez?

—Ele não importa agora. — Sussurrou Brock, sua voz profunda se manteve muito baixa. Cuidadosamente nivelada para ser verdade. — Vamos resolver isto primeiro.

Ele cruzou a sala com ela e se ajoelhou para colocá-la no sofá. Jenna se recostou e deixou que suavemente endireitasse suas pernas, não com tanto desconforto e preocupação que não reconhecesse a brandura das mãos fortes que podiam esmagar provavelmente a vida de alguém com um pouco mais que a vontade deste homem.

—Relaxe. — Ele disse, e aquelas mãos fortes, sensíveis subiram perto do seu rosto. Ele se debruçou e ligeiramente acariciou sua face, seus olhos escuros a compelindo a manter seu olhar. — Só descanse e respire agora, Jenna. Você pode fazer isto para mim?

Ela se acalmou um pouco, sentindo o som de seu nome nos lábios, o calor dos seus dedos quando passaram lentamente de sua face à maxila, então abaixo, ao longo do lado do seu pescoço. As rajadas curtas de respiração que entravam e saíam dos seus pulmões começaram a reduzir a velocidade, aliviando, quando Brock envolveu sua nuca em uma mão e deslizou a outra palma em um suave, calmo vai-e-vem através do seu peito.

—É isso. — Ele murmurou, seu olhar ainda preso no dela, intenso e ainda tão impossivelmente sensível ao mesmo tempo. — Deixe ir toda a dor, e relaxe. Você está segura, Jenna. Pode confiar em mim.

Ela não sabia por que aquelas palavras a afetaram tanto. Talvez fosse a dor que a estava enfraquecendo. Talvez fosse o medo do desconhecido, o abismo aberto de incerteza que tinha mudado repentinamente sua realidade desde aquela noite gelada, horrorosa no Alasca.

E talvez fosse somente o simples fato que passou um longo tempo - quatro anos solitários - desde que sentiu a firme carícia quente do toque de um homem, mesmo oferecendo só conforto.

Quatro anos vazios desde que se convenceu que não precisava de contato ou intimidade. Quatro anos infinitos desde que se lembrou como era se sentir como uma mulher de carne-e-osso, como era ser desejada. Como era ser capaz de abrir seu coração a algo mais.

Jenna fechou seus olhos quando as lágrimas picaram neles. Ela empurrou de lado a emoção que crescia sobre ela inesperadamente e focou em vez disso no calor calmante das pontas dos dedos de Brock na sua pele. Deixou sua voz correr sobre ela, sentindo suas palavras e seu toque adulando a dor da ferida estranha que parecia estar rasgando-a de dentro para fora.

—Assim está bem, Jenna. Somente respire agora.

Ela sentiu o torno de dor em volta do seu crânio se desatando enquanto ele falava. Brock acariciou suas têmporas com seus polegares, seus dedos enfiados no seu cabelo, mantendo sua cabeça num aperto consolador. O zumbido nos seus ouvidos começou a desvanecer, até, finalmente, partir.

—Você está indo bem. — Murmurou Brock, sua voz mais escura que antes, somente acima de um rosnado. — Deixe ir, Jenna. Dê o resto dela para mim.

Ela exalou um suspiro longo, purgativo, incapaz de guardá-lo dentro dela enquanto Brock acariciava seu rosto e pescoço. Ela gemeu, dando boas-vindas ao prazer que devorava lentamente sua agonia.

—Sensação agradável. — Ela sussurrou, incapaz de resistir ao impulso de ter mais do seu toque. — A dor não é tão má agora.

—Isto é bom, Jenna. — Ele respirou fundo, mas soou mais como um suspiro, logo exalou um gemido baixo. — Deixe tudo ir agora.

Jenna sentiu um tremor vibrando pelas pontas dos seus dedos quando falou. Suas pálpebras se abriram e ela parou atingida pelo que viu.

Os tendões no seu pescoço estavam esticados, sua maxila tão apertada que era um milagre que seus dentes não quebrassem. Um músculo pulava de modo selvagem na sua face magra. As gotas de transpiração caíam em sua testa e lábio superior.

Ele estava com dor.

Surpreendente dor - tal como ela tinha sentido, minutos antes que seu toque aliviasse sua agonia.

Ficou claro para ela então.

Ele não somente a acalmava com suas mãos. Ele tirava de alguma maneira a sua dor. Ele a desviava, puxando-a propositadamente para ele.

Ofendida pela ideia, e ainda mais embaraçada por ficar ali e imaginar que seu toque era algo mais que compaixão, Jenna estremeceu fora do seu alcance e sentou no sofá. Ela respirou fundo com ultraje quando fitou seus olhos escuros, que brilhavam com pequenas manchas de luz ambarina.

—O que pensa que está fazendo? — Ela respirou, se levantando.

O músculo que estava saltando na sua maxila deu um puxão forte quando ele levantou para enfrentá-la.

—    Ajudando você.

As imagens se infiltraram na sua mente em um instante - uma vívida lembrança do seu cativeiro com a criatura que tinha invadido sua cabana no Alasca.

Foi seguida de dor então, também. Estava aterrorizada e em choque, inundado em tanta confusão e horror, que pensou que poderia morrer com ela.

E se lembrou das mãos quentes, carinhosas que a consolaram. O rosto de um estranho muito bonito que entrou na sua vida como um anjo escuro e a tinha mantido segura, protegida e calma, quando tudo no seu mundo era um caos.

—Você estava lá. — Ela murmurou, atordoada por perceber só agora. — No Alasca, depois que o Antigo partiu. Você ficou comigo. Você levou embora minha dor então, também. E depois, depois que fui trazida aqui ao complexo. Meu Deus... Você ficou do meu lado todo o tempo que estive na enfermaria?

Seus olhos permaneceram fixos nela, escuros e ilegíveis.

—Era o único que podia ajudá-la.

—Quem pediu? — Ela exigiu, conscientemente dura, mas desesperada para purgar o calor que ainda viajava por ela, não solicitado e indesejado.

Já era mal o bastante ele pensar que precisava mimá-la como uma criança através da sua provação prolongada. Mas era pior quando parecia achar que precisava disso agora, também. Ela estaria condenada antes que o deixasse pensar por um segundo que daria boas-vindas de fato ao seu toque.

Com a expressão dolorida pelo que tinha feito alguns momentos antes, ele sacudiu a cabeça e soltou uma maldição baixa.

—Para uma mulher que não quer ajuda de ninguém, você parece precisar muito.

Ela mal resistiu à tentação de dizer onde podia enfiar esse sentimento.

—Posso cuidar de mim mesma.

—Como fez na noite passada na cidade? — Ele desafiou. — Como fez apenas há alguns minutos no laboratório de tecnologia, quando meus braços foram a única coisa entre seu traseiro teimoso e o chão?

A humilhação picou suas faces como uma tapa.

—Você sabe o que? Salve a ambos do sofrimento, e não me faça mais favores.

Ela se afastou dele e começou a andar na direção da porta que ainda estava aberta para o corredor. Cada passo milagrosamente indolor que dava só aumentava sua raiva por Brock. Colocaria tanta distância quanto fosse possível entre eles.

Antes que chegasse na porta, ele estava na frente dela. Bloqueando seu caminho, embora não o tivesse visto ou ouvido se mover.

Ela parou de repente. Abriu a boca, assombrada pela velocidade sobrenatural que evidentemente tinha sob seu controle.

—Saia do meu caminho. — Ela disse, e tentou se mover além dele.

Ele a evitou, pondo seu corpo imenso diretamente na frente dela. A intensidade do seu olhar dizia que queria dizer algo mais, mas Jenna não queria ouvir. Tinha que ficar sozinha.

Precisava de espaço para pensar em tudo que tinha acontecido com ela... Tudo que ainda acontecia, ficando mais horripilante a cada momento.

—Saia da frente. — Ela disse, odiando o pequeno puxão que se arrastou na sua voz.

Brock lentamente levantou sua mão e tirou uma mecha desarranjada do cabelo da sua testa. Foi um gesto terno, a bondade que tanto desejava mas temia aceitar.

—Você está no nosso mundo agora, Jenna. E queira admitir ou não, não está no controle de sua mente agora.

Ela olhou sua boca quando falou, desejando não ficar tão fascinada pelos movimentos dos seus lábios cheios, sensuais. Ele ainda resistia à sua dor; podia notar pela chama trêmula leve das suas narinas quando soltou sua respiração e puxou uma controlada exalação. A tensão em seu bonito rosto e pescoço forte não tinha passado, também.

Vê-lo carregando uma carga que lhe pertencia a fez se sentir pequena e fraca.

Toda a sua vida se esforçou para ser digna - primeiro para seu pai e seu irmão, Zach, ambos deixaram bem claro que duvidavam de sua capacidade para se tornar policial. Mais tarde, ela tinha se esforçado para ser a perfeita esposa e mãe. Sua vida inteira foi estruturada em força, disciplina e capacidade.

Inacreditavelmente, quando estava na frente de Brock agora, não era o fato que fosse outra coisa que humano - algo perigoso e do outro mundo - que a fez querer que o chão se abrisse e a engolisse. Era o medo que pudesse ver pela concha dura da raiva que usava como armadura e que pudesse ver o fracasso assustado, solitário que realmente era.

Brock deu outra sacuda fraca de cabeça no silêncio longo que pairou entre eles. Seus olhos desceram lentamente, indo à deriva por todas as partes do seu rosto antes de voltar até encontrar seu olhar.

—Há coisas piores que precisar se apoiar em alguém de vez em quando, Jenna.

—Maldito seja, eu disse para sair do meu caminho! — Ela o empurrou, suas palmas se unindo com seu largo peito quando o empurrou com toda a raiva e medo que tinha dentro dela.

Brock voou para trás vários metros, quase batendo na parede distante do corredor.

Jenna puxou sua respiração, atordoada e assombrada pelo que acabava de fazer.

Horrorizada por ele.

Brock era imenso, dois metros de altura e prováveis mais de 100 quilos de músculo e força. Algo muito mais poderoso que ela. Algo muito mais poderoso que algo que viu alguma vez.

E ela acabava de empurrá-lo fisicamente um par de metros através do chão.

Suas sobrancelhas se levantaram acima do seu olhar surpreso.

—Jesus Cristo. — Ele murmurou, mais espanto na sua voz que raiva.

Jenna estendeu suas mãos na frente dela e as fitou como se pertencessem a outra pessoa.

—Oh, meu Deus. Como eu fiz... O que aconteceu?

—Está tudo bem. — Ele disse, voltando na direção dela com aquela irritante calma sua.

—Brock, sinto muito. Honestamente não queria...

—Sei. — Ele disse, acenando com a cabeça sobriamente. — Não se preocupe. Não me machucou.

Uma bolha de histeria subiu por sua garganta. Primeiro, as notícias chocantes que o implante alterava de alguma maneira seu DNA, e agora isto - uma força que não podia lhe pertencer, mas de alguma maneira o fazia. Ela se lembrou da sua fuga da propriedade e as habilidades da língua estranha que parecia ter desde que o Antigo tinha deixado uma parte dele embutido na sua medula.

—O que está acontecendo, Brock? Quando tudo isso finalmente vai parar?

Ele pegou suas mãos trêmulas entre suas palmas e as segurou.

—Independentemente do que está acontecendo, não tem que atravessar sozinha. Tem que entender isto.

Ela não sabia se ele falava de todo o mundo no complexo ou dele. Não tinha nenhuma voz para pedir um esclarecimento. Ela se dizia que não importava o que ele pensasse, mas isso não impediu seu coração de correr quando olhou para ele. Sob o calor dos seus olhos castanhos insondáveis, sentiu que seus piores medos desapareciam.

Ela se sentia quente e protegida, coisas que queria negar mas não podia enquanto Brock a segurasse nas suas mãos e no seu olhar.

Ele franziu a testa depois de um longo momento e lentamente liberou suas mãos, deixando as palmas correrem por seus braços. Era uma carícia sensual, demorando muito tempo para ser confundida com outra coisa que não íntima. Jenna sabia, e ela podia ver que ele sabia, também.

Seus olhos escuros pareciam ficar mais profundos, consumindo-a. Eles caíram lentamente na sua boca e ficaram lá quando a respiração de Jenna saiu dela em um pequeno suspiro trêmulo.

Ela sabia que devia se afastar dele agora. Não havia nenhuma razão para ficarem tão perto, apenas algumas polegadas escassas separando seus corpos. Menos que aquele espaço entre sua boca e a dele. Tudo que precisava era um mergulho leve da cabeça dele ou um avançar da dela e seus lábios se uniriam.

O pulso de Jenna saltou ao pensar no beijo de Brock.

Era a coisa mais distante da sua mente quando a trouxe para esta sala. E há alguns momentos, quando seu medo e raiva a fizeram rosnar como um animal selvagem pego na armadilha de um caçador.

Mas agora, quando ele estava assim tão perto que podia sentir o calor do seu corpo irradiando na direção dela, o odor condimentado da sua pele a tentando a pôr sua cabeça contra ele e cheirá-lo, beijar Brock era um impulso secreto que pulsava por ela com cada esvoaçante batida do seu coração.

Talvez ele soubesse o que ela sentia.

Talvez sentisse a mesma coisa.

Ele soltou uma maldição áspera, logo deu um pequeno passo atrás, a fitando duro, fazendo uma careta feroz.

—Ai, porra... Jenna...

Quando ele se estendeu e ternamente pegou seu rosto nas suas grandes mãos, todo o ar pareceu evaporar da sala. Os pulmões de Jenna congelaram no seu peito, mas seu coração continuou martelando, correndo tão rápido que pensou que fosse explodir.

Ela esperou, no terror e esperança, confusa pelo desejo que tinha de sentir a boca de Brock na dela.

Sua língua correu rapidamente por cima dos seus lábios, o movimento dando um vislumbre dos pontos agudos das suas presas, reluzindo como diamantes. Ele xingou novamente, então se afastou o comprimento de um braço, deixando uma brecha de ar frio na frente dela onde o calor do seu corpo estava somente um segundo antes.

—Eu não devia estar aqui. — Ele murmurou densamente. — E você precisa de descanso. Fique à vontade. Se não tiver bastante cobertores na cama, encontrará mais no meu closet saindo do banheiro. Use o que quiser.

Jenna se sacudiu mentalmente para voltar ao modo de conversa.

—Este, hum... É seu quarto?

Ele deu um aceno de cabeça fraco, já saindo ao corredor.

—Foi. Agora é seu.

—Espere um minuto. — Jenna foi atrás dele. — E você? Tem outro lugar para ficar?

—Não se incomode. — Ele disse, fazendo uma pausa para olhá-la quando se apoiou contra o batente da porta. — Descanse um pouco, Jenna. Te vejo por aí.

O sangue de Brock ainda corria calorosamente nas suas veias pouco depois, quando chegou em uma das últimas suítes restantes e bateu os nós dos dedos na porta fechada.

—É onze minutos antes do que combinamos. — Veio a voz profunda, prática do macho Raça do outro lado.

A porta se abriu e Brock foi espetado por um par de olhos dourados brilhantes e ilegíveis.

—Avon chamando. — Disse Brock como saudação quando levantou o saco de couro preto que continha todos os seus itens pessoais, que tinha tirado do seu quarto naquele dia mais cedo. — E o que quer dizer, não supõe que eu fique aqui por mais onze minutos? Não me diga que vai ser um daqueles companheiros de quarto ansiosos que dirigem tudo pelo relógio, cara. Minhas escolhas foram limitadas, já que você e Chase pegaram os dois últimos quartos no complexo. E para dizer a verdade, se Harvard e eu compartilharmos um quarto, não estou seguro que sobreviveríamos uma semana.

Hunter não disse nada quando Brock entrou e andou pela sala. Ele o seguiu pela área do beliche, como um fantasma.

—Pensei que era outra pessoa. — Ele comentou um pouco tarde.

—Sim? — Brock girou sua cabeça para ver o estoico Gen Um, genuinamente curioso sobre o mais novo membro, o mais recluso da Ordem. Sem mencionar o fato que estava ansioso para manter sua mente longe dos pensamentos superaquecidos sobre Jenna Darrow. — Quem esperava além de mim?

—Não é relevante. — Respondeu Hunter.

—Certo. — Brock encolheu os ombros. — Só estava tentando manter a conversa, isto é tudo.

A expressão do Gen Um permaneceu impassível, completamente neutra. Nada surpreendente, considerando a forma como o macho tinha sido criado - um dos assassinos de Dragos. Inferno, o tipo não tinha nem mesmo um nome. Como o resto do exército pessoal que Dragos tinha reproduzido do Antigo, o Gen Um era conhecido simplesmente pelo seu objetivo principal na vida: Hunter.

Chegou à Ordem há alguns meses, depois que Brock, Nikolai, e alguns outros guerreiros tinham liderado um ataque a uma reunião de Dragos e seus tenentes. Hunter foi libertado durante a escaramuça e se aliou agora contra seu criador nos esforços da Ordem para fazer Dragos cair.

Brock fez uma pausa na frente do par de camas duplas assentadas de ambos os lados da sala de beliches ao estilo de quartel. Ambas estavam feitas com precisão militar, cobertor bege e lençóis brancos dobrados, sem uma única ruga, um único travesseiro meticulosamente arranjado na cabeceira de cada beliche.

—Então, qual você quer que eu use?

—Não faz nenhuma diferença para mim.

Brock olhou o rosto impassível de olhos dourados inescrutáveis.

—Então me diga em qual você normalmente dorme, e pegarei a outra.

A expressão de Hunter não se modificou nem um pouco.

—São mobília. Não tenho nenhum apego a elas.

—Nenhum apego. — Murmurou Brock sob uma maldição baixa. — Pode dizer isto novamente, cara. Talvez possa me dar alguns indicações sobre essa sua atitude não-dou-uma-merda-por-nada. Acho que seria verdadeiramente prático de vez em quando, porra. Sobretudo quando se trata de mulheres.

Com um rosnado, jogou sua bagagem no beliche da esquerda, logo esfregou a palma por cima do seu rosto e topo da sua cabeça. O gemido que vazou dele estava cheio de frustração e luxúria retida que esteve sufocando desde que se forçou a se afastar de Jenna e da tentação extrema que não precisava.

—Maldição. — Ele soltou, seu corpo vibrando mais uma vez somente por lembrar do seu belo rosto, virado para olhar para ele.

Se não pensasse melhor, acharia que estava esperando que a beijasse. Tudo de macho dentro dele gritou com aquela certeza no momento, mas sabia que era a última coisa que Jenna precisava.

Estava confusa e vulnerável, e supunha que era um homem melhor do que aquele que poderia tirar proveito daquele fato simplesmente porque sua libido almejava um gosto dela. Naturalmente, isto não o fazia se sentir melhor sobre o feroz tesão - que voltava repentinamente à vida, a honra que se condenasse.

—Vamos lá, herói. — Ele se repreendeu. — Agora vai entrar em uma tina de água gelada por uma semana em pagamento por ser nobre.

—Você está doente? — Hunter perguntou, Brock se surpreendeu ao perceber que o outro macho ainda estava atrás dele na sala.

—Sim. — Brock disse, dando uma risada sardônica. — Estou mal, muito mal. Se quer saber a verdade, estou indisposto desde que pus os olhos nela.

—A fêmea humana. — Respondeu Hunter com compreensão severa. — É evidente que é um problema para você.

Brock deu um suspiro sem humor.

—Você acha?

—Sim, acho. — Não havia nenhum julgamento na resposta, só a afirmação do fato. Ele falava como uma máquina: precisão total, sentimento nulo. — Suponho que todo mundo no laboratório de tecnologia chegou a mesma conclusão hoje, quando permitiu que Chase provocasse sua raiva com seus comentários quanto ao seu apego à mulher. Suas ações mostraram uma fraqueza no seu treinamento, e pior, uma falta de autocontrole. Você reagiu descuidadamente.

—Obrigado por notar. — Respondeu Brock, suspeitando que seu sarcasmo estava sendo desperdiçado no Hunter insociável e imperturbável. — Lembre-me de fazer uma escultura de suas bolas se alguma vez se desatar o bastante para deixar uma mulher entrar sob sua pele.

Hunter não reagiu, simplesmente o fitou sem uma mancha sequer de emoção.

—Isto não acontecerá.

—Uma merda. — Brock disse, sacudindo a cabeça ao rígido Gen Um que foi criado com negligência e punido com disciplina. — Você obviamente não esteve com a mulher certa se pode soar tão seguro de si.

A expressão de Hunter permaneceu estoica. Distante e isolada. De fato, quando Brock o olhou, claramente começou a ver a verdade.

—Santo inferno. Você nunca esteve com uma mulher, Hunter? Meu Deus... Você é virgem, não é?

Os olhos de ouro do Gen Um ficaram concentrados em Brock como se considerasse não permitir que a revelação o afetasse. E Brock tinha que admirar o cara, nem um grau de emoção cintilou naqueles olhos estranhos, nem nas características perfeitamente educadas do seu rosto.

A única coisa que fez Hunter estremecer foi o suave arrastar de pés em chinelos no corredor fora. A voz de uma criança - Mira - chamando na sala.

—Hunter, você está aqui?

Ele virou sem oferecer uma desculpa e foi encontrar a pequena.

—Agora não é uma hora conveniente. — Brock o ouviu dizer profundamente, nivelando seu tom.

—Mas não quer saber o que acontece quando Harry põe a capa de invisibilidade? — Mira perguntou, decepção ofuscando sua voz normalmente brilhante. — É uma das minhas partes favoritas do livro inteiro. Você tem que ouvir este capítulo. Você vai amar.

—Ela tem razão, é uma das melhores partes. — Brock saiu do quarto dos beliches, não seguro do que o fazia sorrir mais - se descobrir que o completamente frio assassino Gen Um era virgem, inexperiente, ou o mais novo, a ideia igualmente divertida que a chegada de Brock tinha interrompido o que parecia ser a hora de leitura de Hunter com a residente mais jovem do complexo.

Ele deu a Mira uma piscada e um sorriso quando ela pulou no sofá e abriu o livro no lugar que tinha parado.

—Relaxe. — Ele disse a Hunter, que estava lá, duro como uma estátua. — Não vou contar a ninguém seus segredos.

Ele não esperou para ver sua reação, só saiu no corredor e deixou Hunter olhando seu rastro.

—Cruzem os dedos, mas acho que acabamos de encontrar a pista que estávamos procurando. — Dylan desligou o telefone e girou sua cadeira de volta para enfrentar Jenna, Alex, Renata, e Savannah, todas reunidas na sala de reunião das Companheiras de Raça nas últimas duas horas.

De fato, chamá-la de sala de reuniões seria injusto. Nada menos que meia dúzia de computadores estavam numa mesa longa atrás da sala. As caixas de arquivos estavam organizadas por localização e alojadas em uma alta estante para livros de acesso fácil. Quase cada polegada do espaço da parede estava coberta com mapas destacados, salpicados de alfinetes na Nova Inglaterra e diagramas de investigação detalhados que teriam envergonhado a maior parte das unidades de polícia. Entre aqueles mapas e diagramas estavam vários esboços peritamente desenhados pela mão das jovens - rostos de desaparecidas, a quem a Ordem e suas Companheiras de Raça diligentes estavam determinadas a encontrar.

Não, Jenna pensou ao olhar em volta, isto não era nenhuma mera sala de reunião.

Isto era uma sala dedicada a estratégia, missão e guerra.

Jenna deu as boas-vindas à energia do lugar, especialmente depois das notícias perturbadoras que recebeu sobre seu sangue. Também precisava de uma distração dos momentos inesperadamente aquecidos que tinha compartilhado com Brock no seu - ou, melhor, dela - quarto do complexo. Aproveitou para sair de lá depois que ele tinha partido. Foi Alex quem a procurou não muito depois, e foi Alex que trouxe Jenna com ela à sala de guerra das Companheiras de Raça para alguma companhia e conversa.

Não queria ficar interessada no trabalho que as mulheres da Ordem estavam implicadas, mas quando se sentou lá entre elas, ficou impossível sua parte policial ignorar o odor de uma boa caça de informações. Ela se sentou um pouco mais reta em sua cadeira na mesa de conferência quando Dylan foi até uma impressora laser e pegou a folha de papel que caiu na bandeja.

—O que conseguiu? — Savannah perguntou.

Dylan bateu a página impressa na mesa em frente das mulheres reunidas.

—Irmã Margaret Mary Howland.

Jenna e as outras se inclinaram para ver a imagem digitalizada. Era uma fotografia de um grupo de aproximadamente uma dúzia de mulheres jovens e meninas. Pelo estilo da sua roupa, parecia ter sido tirada possivelmente há vinte anos. O grupo estava reunido no gramado abaixo de um largo pórtico coberto, a pose organizada em que os alunos às vezes tiravam uma fotografia da classe anual. Exceto que neste caso, não era uma escola atrás deles, mas uma casa grande, modesta que se proclama ser Casa para Jovens St. John, Queensboro, Nova York.

Uma mulher gentil, de meia-idade usando um crucifixo e um vestido de verão modesto estava ao lado do grupo reunido embaixo do beiral branco que carregava a placa pintada. Uma das meninas mais jovens estava abraçada com a mulher mais velha, seus ombros magros num aperto humanitário, seu pequeno rosto virado para cima e radiante com afeto.

—Esta é ela. — Disse Dylan, apontando para a mulher com o sorriso maternal e braços protetores. — Irmã Margaret.

—E ela é? — Jenna perguntou, incapaz de conter sua curiosidade.

Dylan olhou para ela.

—Agora mesmo, se ainda estiver viva, esta mulher é possivelmente nossa melhor aposta para descobrir mais sobre as Companheiras de Raça que foram presas ou terminaram mortas nas mãos de Dragos.

Jenna deu uma pequena sacudida de cabeça.

—Não estou seguindo.

—Algumas das mulheres que ele matou - e provavelmente muitas que ainda está mantendo presas agora - vieram de abrigos. — Disse Dylan. — Vejam, é bastante comum as Companheiras de Raça se sentirem confusas e fora do lugar na sociedade mortal. A maior parte de nós não tem nenhuma ideia do quanto diferente somos, sem falar em por que. Além da nossa marca de nascença comum e biologia compartilhada, todas possuímos uma espécie de capacidade extrassensorial única, também.

—Não do tipo que se vê em demonstrações de televisão ou anúncios telefônicos de psíquicos. — Savannah interpôs. — Os verdadeiros talentos ESP são muitas vezes o melhor modo de identificar uma Companheira de Raça.

Dylan acenou com a cabeça.

—Às vezes esses talentos são uma bênção, mas muitos são uma maldição. Meu próprio talento foi uma maldição a maior parte da minha vida, mas afortunadamente tive uma mãe que me amava. Por que a tive, não importa quanto confusa ou assustada estava, sempre tive a segurança de casa.

—Mas nem todo mundo é afortunado. — Renata acrescentou. — Eu encontrei os orfanatos de Montreal para Mira e eu. E, de vez em quando a rua como casa.

Jenna escutou em silêncio, contando suas próprias bênçãos por ter nascido numa família normal, relativamente unida, onde seu maior problema de infância foi tentar competir com seu irmão por aprovação e afeto. Não podia imaginar as espécies de problemas que fêmeas com a marca da lágrima e lua crescente tinham que carregar. Suas próprias questões, tão incompreensíveis como eram, pareceram diminuir um pouco quando considerou as vidas que essas outras mulheres viviam. Para não falar do inferno que as que estavam mortas ou desaparecidas tiveram que aguentar.

—Deste modo, acredita que Dragos está se alimentando de jovens que terminam nessa espécie de abrigo? — Ela perguntou.

—Sabemos que sim. — disse Dylan. — Minha mãe trabalhou em um abrigo em Nova York. É uma história longa, para outro dia, mas basicamente descobri que o abrigo que trabalhou era financiado e dirigido por ninguém menos que o próprio Dragos.

—Oh, meu Deus. — Respirou Jenna.

—Esteve se ocultando atrás de um pseudônimo, chamando-se Gordon Fasso quando se movia dentro de círculos sociais humanos, portanto ninguém tinha qualquer ideia de quem ele realmente era... Até ser tarde demais. — Dylan puxou o que pareceu ser uma respiração para se fortalecer. — Matou minha mãe depois que percebeu que tinha sido desmascarado e que a Ordem se aproximava dele.

—Sinto muito. — Sussurrou Jenna, sentindo completamente. — Ter perdido alguém que ama para esse tipo de maldade...

As palavras foram à deriva enquanto algo frio e feroz crescia profundamente dentro dela. Como antiga policial, sabia o gosto amargo da injustiça e a necessidade de compensar a balança. Mas empurrou as sensações, dizendo que a luta da Ordem contra seu inimigo, Dragos, não lhe pertencia. Tinha batalhas dela mesma para enfrentar.

—Com certeza Dragos encontrará o que é dele no final. — Ela disse.

Era um sentimento coxo, sem emoção. Mas esperava que tivesse razão. Sentada com essas mulheres agora, que veio a conhecer um pouco melhor no curto tempo que estava no complexo, Jenna rezou pelo êxito da Ordem contra Dragos. Pensar em alguém tão perverso como ele solto no mundo estava além do inaceitável.

Ela pegou a cópia impressa e olhou a expressão quente da freira que estava como um bom pastor ao lado da sua tropa vulnerável.

—Como espera que esta mulher - Irmã Margaret - possa te ajudar?

—A rotatividade de pessoal é muito alta em abrigos juvenis. — Explicou Dylan. —Aquele onde minha mãe trabalhou não foi exceção. Uma amiga sua que trabalhou com ela lá me deu o nome da Irmã Margaret e essa fotografia. Ela diz que a irmã se aposentou há alguns anos, mas foi voluntária em vários abrigos de Nova York desde os anos 70, que é exatamente o tipo de pessoa com quem temos que falar.

—Alguém que esteve nos abrigos por um longo tempo e poderia identificar residentes antigos por um esboço. — Savannah disse, gesticulando aos rostos desenhados a mão pregados nas paredes.

Jenna acenou com a cabeça.

—Aqueles esboços representam mulheres que estiveram em abrigos da área?

—Aqueles esboços, — Disse Alex junto a Jenna. — são Companheiras de Raça mantidas por Dragos enquanto falamos.

—Acha que ainda estão vivas?

—Foram vistas há um par de meses. — A voz de Renata era severa. — Uma amiga da Ordem, Claire Reichen, usou seu talento de Companheira de Raça de Caminhar nos Sonhos para localizar a sede de Dragos. Ela viu as prisioneiras - mais de vinte delas - trancadas em celas no seu laboratório. Embora Dragos trasladasse suas operações antes que pudéssemos salvá-las, Claire esteve trabalhando com um artista para documentar os rostos que viu.

—Na verdade, é onde Claire está agora mesmo, ela e Elise. — Disse Alex. — Elise tem muitos amigos na comunidade civil da Raça aqui em Boston. Ela e Claire estiveram trabalhando em um par de novos esboços, baseados no que Claire viu naquele dia na toca de Dragos.

—Uma vez que tenhamos os rostos das prisioneiras, — Disse Dylan. — podemos começar a procurar nomes e possíveis membros da família. Algo que possa ajudar a nos levar mais perto de quem essas mulheres são.

—Que tal bancos de dados de pessoas desaparecidas? — Jenna perguntou. — Você comparou os esboços com os perfis enumerados de grupos como o Centro Nacional de Pessoas Desparecidas?

—Fizemos, e não acertamos em nada. — Disse Dylan. — A maior parte dessas mulheres e meninas nos abrigos são fugitivas e órfãs. Muitas são descartáveis. Algumas são presas fáceis, que deliberadamente cortaram todos os laços com família e amigos. O resultado no fim é o mesmo: não têm ninguém para procurá-las ou sentir sua falta, assim não há nenhum relatório arquivado.

Renata resmungou baixinho em confirmação e parecia ter um pouco de experiência.

—Quando não se tem ninguém e coisa alguma, pode desaparecer e vai parecer que nunca existiu em primeiro lugar.

Dos seus anos como policial no Alasca, Jenna sabia quanto verdadeiro podia ser. As pessoas podem desaparecer sem deixar vestígios em grandes cidades ou pequenas comunidades igualmente. Acontecia a cada dia, embora nunca imaginasse que fosse pelas razões que Dylan, Savannah, Renata, e as outras mulheres explicavam agora.

—Deste modo, qual é seu plano uma vez que identifique as Companheiras de Raça que faltam?

—Uma vez que tenhamos uma conexão bastante pessoal com uma delas, — Savannah disse. — Claire pode tentar se unir pelos caminhos do sonho e trazer alguma informação de onde as prisioneiras foram levadas.

Jenna tentava digerir e compreender os fatos, mas sua cabeça começava a girar com tudo que ouvia. E não podia parar sua mente procurando soluções para os problemas expostos diante dela.

—Espere um segundo. Se o talento de Claire a conduziu à toca de Dragos uma vez, por que não pode fazer de novo?

—Para seu talento trabalhar, ela precisa de uma espécie de conexão emocional ou pessoal com quem está tentando encontrar no estado de sonho. — Respondeu Dylan. —Sua conexão antes não foi com Dragos, mas outra pessoa.

—Seu antigo companheiro, Wilhelm Roth. — Renata colocou, quase cuspindo o nome como uma maldição. — Era um indivíduo vil, mas ao lado de Dragos, sua crueldade não era nada. De nenhuma maneira poderíamos alguma vez deixar Claire tentar explorar Dragos pessoalmente. Seria suicídio.

—Certo. Deste modo, onde isto nos deixa? — Jenna perguntou, a palavra saindo da sua boca antes que percebesse o que tinha dito. Mas era tarde demais para voltar atrás, e estava muito intrigada para fingir. — Para onde vão as coisas a partir daqui?

—Esperamos poder encontrar Irmã Margaret e que ela nos ajude a compreender isto. — Disse Dylan.

—Temos algum modo de contatá-la? — Renata perguntou.

A excitação de Dylan diminuiu um pouco.

—Infelizmente, não podemos nem sequer estar seguras que ainda esteja viva. A amiga da minha mamãe disse que estaria com seus 80 anos agora. As únicas boas notícias para nós são que o convento da irmã está baseado em Boston, assim há uma possibilidade dela ser daqui. Tudo que temos para seguir agora é seu número de seguro social.

—Dê-o a Gideon. — Savannah disse. — Estou segura que pode entrar no computador do governo em algum lugar e conseguir qualquer informação que precisamos.

—Exatamente meu pensamento. — Respondeu Dylan com um sorriso.

Jenna considerou oferecer sua própria ajuda para localizar a boa irmã. Ainda tinha amigos dentro da lei e algumas agências federais. Bastaria uma chamada telefônica ou um e-mail, pedir um favor confidencial ou dois. Mas as mulheres da Ordem pareciam ter tudo sob controle.

E era melhor não se deixar emaranhar em nada disto, ela se lembrou severamente, quando Dylan pegou o telefone ao lado da sua mesa de trabalho e chamou o laboratório de tecnologia.

Alguns momentos depois, tanto Gideon como Rio chegaram à sala de guerra. Os dois guerreiros receberam um resumo rápido do que Dylan descobriu. Antes que terminasse de explicar, Gideon se sentou no computador e começou a trabalhar.

Jenna olhou de sua cadeira na mesa quando todos os outros - Savannah, Renata, Alex, Rio e Dylan - se inclinaram para olhar Gideon operando sua magia. Savannah estava certa; não levou mais que alguns minutos para hackear um firewall de segurança de um site do governo dos Estados Unidos e começar a carregar os registros que precisavam.

—Irmã Margaret Mary Howland, viva e bem, segundo a Administração de Seguro Social. — Ele anunciou. — O cheque do mês passado de duzentos e noventa e oito dólares foi enviado para um endereço em Gloucester. Está imprimindo agora.

Dylan sorriu.

—Gideon, você é um deus nerd.

—Só quero agradar. — Ele saltou da cadeira e agarrou Savannah em um rápido e duro beijo. — Diga-me que está deslumbrada, querida.

—Estou deslumbrada. — Ela respondeu cômica, rindo antes que esbofeteasse brincalhona seu ombro.

Ele sorriu, disparando a Jenna uma olhada de suas íris azuis pálidas.

—Ela me ama. — Ele disse, puxando sua bela companheira em um abraço mais apertado. — Ela é louca por mim, realmente. Não pode viver sem mim. Provavelmente quer me levar à cama imediatamente e me amar.

—Hah! Você quer. — Savannah disse, mas havia um brilho quente no seu olhar.

—Pena não termos esta mesma sorte para conseguir a conta na TerraGlobal. — Rio disse, seu braço envolvendo os ombros de Dylan no que parecia ser um movimento instintivamente íntimo.

Renata franziu.

—Ainda nenhuma sorte lá, né?

—Não muito. — Interpôs Gideon. Deve ter visto a olhada confusa de Jenna. — Os parceiros da TerraGlobal são uma companhia que acreditamos que Dragos está usando para encobrir algumas das suas operações secretas.

Alex pulou.

—Você se lembra da Companhia de Mineração que abriram fora de Harmony alguns meses atrás - Mina Coldstream? — No aceno de cabeça de Jenna, ela disse: —Pertencia a Dragos. Acreditamos que estava destinada a ser usada como detenção para o Antigo, uma vez que o transportassem ao Alasca. Infelizmente, sabemos como terminou.

—Fomos capazes de rastrear a companhia de mineração até a TerraGlobal. — Rio acrescentou. — Mas isto foi o mais longe que pudemos chegar. Sabemos que a TerraGlobal tem muitas camadas. Só está levando um maldito longo tempo para descascá-la. Entretanto, Dragos se encrava mais fundo, cada minuto mais longe do nosso alcance.

—Vocês vão conseguir. — Disse Jenna. Ela tentou ignorar o salto no seu coração que a incitava a segurar um par de armas e assumir o comando. — Vocês têm que pegá-lo, portanto vão conseguir.

—Sim. — Rio respondeu, seu rosto cicatrizado determinado quando acenou com a cabeça em acordo e olhou para Dylan. — Um dia, pegaremos aquele filho de uma cadela. Vai pagar por tudo que fez.

Sob seu braço forte, Dylan sorriu tristemente. Ela se entocou no seu abraço, tentando sem êxito sufocar um bocejo.

—Vamos. — Ele disse, tirando algumas das suas mechas vermelhas fora dos seus olhos. — Está pondo muitas horas em tudo isto. Agora vou levá-la para a cama.

—Não é má ideia. — Disse Renata. — O anoitecer vai chegar mais cedo, e aposto que Niko ainda está testando novos alvos na sala de armas. Tempo de ir buscar meu homem.

Quando se despediu e saiu, Dylan e Rio, então Savannah e Gideon fizeram o mesmo.

—Quer ficar comigo e Kade por um tempo? — Alex perguntou.

Jenna deu uma sacudida branda de cabeça.

—Não, estou bem. Acho que ficarei aqui por alguns minutos, relaxando um pouco. Foi um dia longo e estranho.

O sorriso de Alex foi compreensivo.

—Se precisar de qualquer coisa, me chame. Certo?

Jenna acenou com a cabeça.

—Estou ótima. Mas agradeço.

Ela olhou sua amiga lentamente virar e desaparecer no corredor. Quando não havia nada mais na sala além de tranquilidade e solidão, Jenna se levantou e foi até a parede com os mapas, diagramas e esboços.

Era admirável o que a Ordem e suas companheiras tentavam fazer. Era um trabalho importante - mais importante que qualquer coisa que Jenna entrou em contato alguma vez no Alasca rural, ou em qualquer outro lugar no que dizia respeito ao assunto.

Se tudo que tinha aprendido nos últimos dias era verdade, então o que a Ordem fazia aqui não era menos que salvar o mundo.

—Jesus Cristo. — Jenna sussurrou, impressionada pela enormidade de tudo.

Queria ajudar.

Se fosse capaz - até de algum pequeno modo - teria que ajudar.

Ela?

Jenna andou em volta da sala de guerra, sua própria batalha se travando dentro dela. Não estava pronta para ser parte de algo como isto. Não quando ainda tinha tanto para compreender sobre ela. Com seu irmão morto, não tinha absolutamente nenhuma família. O Alasca foi sua casa a vida inteira, e agora se foi também, uma parte da sua existência prévia apagada para ajudar a Ordem a preservar seus segredos enquanto perseguiam seu inimigo.

Quanto ao futuro, não podia nem começar a adivinhar. A questão alienígena embutida dentro dela era um problema que nunca podia ter imaginado, e nenhuma quantidade de anseio ia se livrar dela. Nem mesmo o brilho mental de Gideon parecia capaz de desembaraçá-la daquela complicação.

E havia Brock. De todas as coisas que tinham acontecido entre a invasão da sua cabana pelo Antigo e a atual, inesperada - embora bastante suportável - boas-vindas de todo mundo na sede da Ordem, Brock era uma coisa com a qual não estava preparada para lidar.

Não estava nem perto de pronta para as sensações que acordou nela. As coisas que não sentia em anos, e seguro como inferno não queria sentir agora.

Nada mais na sua vida era certo, e a última coisa que precisava era implicar-se mais nos problemas que enfrentavam os guerreiros e suas companheiras.

No entanto, Jenna se encontrava à deriva na mesa do computador na escrivaninha próxima. Sentou no teclado e abriu um navegador de Internet, logo foi a um daqueles locais de correio eletrônico gratuitos e criou uma conta.

Ela abriu uma nova mensagem e digitou o endereço de um dos seus amigos no FBI em Anchorage . Fez uma única pergunta, uma interrogação a ser investigada confidencialmente como um favor pessoal.

Soltou sua respiração, logo enviou.

No chuveiro adjacente à sala de armas, Brock deu a volta e acionou o registro de temperatura de quente para escaldar. As mãos presas na porta do chuveiro, a cabeça curvada no seu peito, deu as boas-vindas à água escaldante que caiu sobre seus ombros e abaixo por seu corpo nu. Vapor quente rolava em volta dele, grosso como nevoeiro, da sua cabeça ao chão de ladrilhos sob seus pés.

—Cristo. — Kade assobiou de um par de cabines abaixo dele. — Duas horas contínuas de mano-a-mano não foram bastante punição para você? Agora sente necessidade de se ferver vivo?

Brock grunhiu, passando a mão por seu rosto enquanto o vapor se juntava e o calor continuava açoitando seus músculos muito-tensos. Tinha encontrado Kade na sala de armas com Niko e Chase depois que deixou seus equipamentos no seu novo quarto compartilhado com Hunter. Parecia razoável esperar que uns poucos alvos difíceis no trabalho de lâminas e treinamento corpo a corpo fossem o bastante para esgotar um pouco seu desassossego e distração. Devia ter sido, mas não foi.

—O que está acontecendo com você, homem?

—Não sei do que está falando. — Murmurou Brock, afastando sua cabeça do borrifo escaldante.

A zombaria de Kade repercutiu cavernosa no chuveiro.

—Pelo inferno que não sabe.

—Merda. — Brock exalou a maldição na névoa que entrançava sua cabeça. — Por que sinto que vai me explicar?

Houve um duro chiado de torneira, seguido pela pancada da porta da ducha de Kade quando saiu e foi para a área do vestiário. Alguns minutos depois, a voz de Kade veio da outra sala.

—Você nunca vai me dizer o que aconteceu na noite passada embaixo de Southie naquela fábrica que empacota carne?

Brock fechou seus olhos e soltou algo que parecia um rosnado, até para seus próprios ouvidos.

—Nada para contar. Havia fios soltos. Eu os atei.

—Sim. — Kade disse. — Isto é o que imagino que aconteceu.

Quando Brock levantou sua cabeça, encontrou o guerreiro olhando para ele. Kade estava totalmente vestido com uma camisa preta e calças, apoiado na parede oposta. Seu olhar prateado como aço se estreitou, conhecedor.

Brock tinha muito respeito por seu amigo para tentar enganá-lo.

—Aqueles humanos eram escória que não pensavam em nada além de prejudicar uma mulher inocente. Esperava que esse tipo de brutalidade fosse perdoada?

—Não. — Kade o fitou, logo deu um aceno de cabeça sóbrio. — Se me encontrasse cara a cara com alguém que pôs um dedo em Alex, teria que matar o bastardo. Isto é o que fez, não é? Você matou aqueles homens.

—Eram menos que homens. — Brock soltou. — Eram cães raivosos, e o que fizeram a Jenna - provavelmente não foi a primeira vez que prejudicaram uma mulher. Duvido que Jenna fosse a última. Deste modo, sim, os abati.

Por um longo tempo, Kade não disse nada. Somente o olhou, mesmo depois que Brock pôs sua cabeça embaixo do jato furioso, não sentindo nenhuma necessidade de explicar mais nada. Nem mesmo ao seu melhor amigo na Ordem, o guerreiro que era como família para ele.

—Maldição. — Kade murmurou depois de um longo silêncio. — Você se preocupa com ela, não é?

Brock sacudiu a cabeça, tanto para negar quanto tirar a água do seu rosto.

—Lucan me deu a responsabilidade de cuidar dela, de mantê-la segura. Só estou fazendo o que é esperado de mim. Ela é outra missão, não diferente de qualquer outra.

—Oh, sim. Não há dúvida sobre isto. — Kade sorriu de modo afetado. — Tive uma missão assim no Alasca não faz muito tempo. Talvez tenha mencionado algumas vezes?

—Isto é diferente. — Rosnou Brock. — O que você e Alex têm é... Não é o mesmo em absoluto. Alex é uma Companheira de Raça, em primeiro lugar. Não há nenhuma ameaça de ficar sério com Jenna. Não sou do tipo a longo prazo, e ela é humana, além disso.

As sobrancelhas escuras de Kade se uniram em uma carranca intensa.

—Não penso que algum de nós pode estar seguro exatamente do que ela é agora.

Brock absorveu a verdade daquela afirmação com um renovado sentido de preocupação, não só por Jenna, mas pela Ordem e o resto da nação Raça, também. Independentemente do que acontecia, desde hoje, parecia estar acelerando. Não podia negar que as notícias das suas modificações no sangue o incomodassem. Para não falar do fato que o maldito pedaço alienígena trabalhava ativamente mais profundo em seu corpo, se infiltrando em um nível que nem mesmo Gideon parecia pronto a combater.

Brock soltou uma maldição baixa sob o chuveiro.

—Se está tentando me fazer sentir melhor sobre tudo isto, pode parar quando quiser.

Kade riu, claramente se divertindo.

—Não espero que você tenha qualquer conversa coração a coração com seu novo companheiro de quarto, portanto aqui estou eu, mostrando que me preocupo.

—Estou tocado. — Murmurou Brock. — Agora, saia daqui e me deixe escaldar em paz.

—Com prazer. Toda esta conversa de missões e mulheres me lembrou que tenho meus próprios deveres importantes que estive negligenciando no meu quarto.

Brock grunhiu.

—Dê lembranças a Alex.

Kade simplesmente sorriu quando o saudou, logo foi na direção da saída.

Depois que saiu, Brock demorou embaixo da água só mais alguns minutos. Era final do dia, mas estava muito ligado para dormir. E o lembrete de Kade sobre Jenna e sua biologia mutante deixou sua mente agitada.

Secou-se, logo se vestiu com uma camiseta cinza e calça escura. Calçou suas botas de couro pretas, sentindo o impulso súbito de voltar para a sala de armas e soltar mais vapor até o anoitecer, quando podia finalmente deixar o complexo novamente. Mas suar não tinha feito muito bem da primeira vez; duvidava que fizesse algo por ele agora.

Incerto do que fazer, Brock encontrou-se olhando o corredor central do complexo, na direção do laboratório de tecnologia. As salas estavam tranquilas, desertas. Nada surpreendente durante o dia, quando os guerreiros emparelhados estariam na cama com suas fêmeas e o resto dos ocupantes da sede estaria descansando antes das patrulhas no pôr de sol.

Brock provavelmente devia pensar nisto, também, mas estava mais interessado em saber se Gideon tinha descoberto mais alguma coisa sobre o sangue de Jenna. Quando entrou no trecho do corredor que o levaria ao laboratório, ouviu o movimento em uma das outras salas de reunião do complexo.

Seguindo o som dos papéis, ele abriu uma fresta da porta da sala de reuniões das Companheiras de Raça no complexo.

Jenna estava sozinha dentro da sala.

Sentada a mesa de conferência, vários arquivos desdobrados em leque diante dela e mais um par empilhado ordenadamente no seu cotovelo, estava debruçada sobre um monte de papel, caneta na mão e completamente absorta no que escrevia. No início, não pensou que soubesse que ele estava lá. Mas então sua mão fez uma pausa a meio caminho da página, e levantou a cabeça. As camadas marrons suaves do seu cabelo se moveram como seda quando virou para ver quem estava na entrada.

Seu primeiro impulso foi sair, antes que ela o visse. Ele era Raça; podia estar lá e ir antes que seus olhos mortais pudessem registrar sua presença. Em vez disso, por alguma razão idiota que não tinha interesse algum em examinar, entrou e limpou sua garganta.

O olhar avelã de Jenna ficou maior quando o viu.

—Ei. — Ele disse.

Ela deu um breve sorriso, o olhando mais que um pouco surpresa. E por que não deveria estar, depois do modo como tinha deixado as coisas com ela na última vez que a viu? Ela puxou um dos arquivos e o colocou em cima do seu bloco de notas.

—Pensei que todo mundo tinha ido dormir.

—Eles foram. — Ele andou pela sala e fez um exame visual rápido da informação espalhada na mesa. — Parece que Dylan e as outras já conseguiram recrutá-la.

Ela encolheu os ombros, uma negativa débil.

—Estava somente... Vendo algumas coisas. Comparando notas de alguns arquivos, anotando um par dos meus pensamentos.

Brock sentou na cadeira ao lado dela.

—Elas apreciarão isto. — Ele disse, impressionado por ela estar ajudando. Ele pegou as notas que estava escrevendo. — Posso dar uma olhada?

—Não é nada, realmente. — Ela disse. — Às vezes somente ajuda ter um par fresco de olhos.

Ele olhou sua caligrafia anelada e exata que enchia a maior parte da página. Sua mente parecia funcionar da mesma maneira organizada, baseado no fluxo lógico das suas notas e na lista de sugestões que tinha feito para investigar os casos de pessoas desaparecidas que Dylan e outras Companheiras de Raça estavam perseguindo durante os últimos meses.

—É um bom trabalho. — Ele disse, não lisonjeando, somente um fato. — Posso dizer que é uma bela de uma boa policial.

Novamente o encolhimento de ombros.

—Não sou mais policial. Estou fora há muito tempo.

Ele a olhou falar, ouviu o desgosto na sua voz.

—Não significa que ainda não seja boa no que faz.

—Deixei de ser boa há algum tempo. Algo aconteceu, e eu... Perdi meu limites. — Ela olhou para ele então, inflexível. — Houve um acidente de carro há quatro anos. Meu marido e minha filha de seis anos, ambos morreram, mas de alguma maneira eu sobrevivi.

Brock assentiu fracamente.

—Eu sei. Lamento sua perda.

Sua compaixão pareceu agitá-la um pouco, como se não soubesse o que fazer com ele. Talvez fosse mais fácil ela falar sobre o drama nos seus próprios termos, sem saber que ele já tinha parte da informação. Agora o olhava insegura, como se temesse que a julgasse de algum modo.

—Eu... Lutei para aceitar que Mitch e Libby se foram. Durante muito tempo - agora mesmo - é difícil saber como devo seguir em frente.

—Você vive. — Disse Brock. — Isto é tudo que pode fazer.

Ela acenou com a cabeça, mas havia assombro nos seus olhos.

—Faz soar fácil.

—Não fácil, necessário. — Ele a olhou pegar à toa um grampo quebrado em um dos relatórios. — Por isso se retirou da polícia, porque não sabia como viver depois do acidente?

Fitando o espaço na mesa atravancado na frente dela, ela carranqueou, silenciosa por um longo momento.

—Parei porque não posso executar mais meus deveres. Cada vez que tinha que informar uma infração de trânsito, até mesmo uma pequena batida ou um pneu furado, tremia tanto que mal conseguia ver a cena, mal podia sair do meu veículo para oferecer ajuda. E as chamadas realmente terríveis, os acidentes sérios ou perturbações domésticas que muitas vezes terminavam em violência, me deixavam doente do estômago durante dias depois. Tudo que aprendi no treinamento e no trabalho foi perdido quando aquele trator cheio de madeira cruzou a estrada fria e investiu contra minha vida. — Ela o olhou então, seu olhar marrom esverdeado tão tenaz e inflexível como nunca visto. — Deixei de ser policial porque sabia que não podia fazer meu trabalho da maneira que tinha que ser feito. Não queria que ninguém que confiasse em mim pagasse por minha negligência. Deste modo, me demiti.

Brock respeitou a coragem e flexibilidade de Jenna desde a primeira vez que pôs os olhos nela. Agora sua opinião acabava de subir outro ponto ou dez.

—Você se preocupou com seu trabalho e as pessoas que dependiam de você. Isto não é sinal de fraqueza. Isto é força. E você obviamente tinha muito amor pelo seu trabalho. Penso que você ainda tem.

Por que aquela simples observação a deixava nervosa, ele não sabia, mas teria que ser cego para não notar a chama trêmula de defesa faiscando nos seus olhos. Ela desviou os olhos como se percebendo seu erro, e quando falou, não havia nenhuma raiva na sua voz. Só um tipo chato de resignação.

—Você sabe muito sobre mim, né? Acredito que não há muito que você e a Ordem não saibam por agora.

—Alex nos falou o básico. — Ele admitiu. — Depois do que aconteceu no Alasca, havia coisas que tínhamos que saber.

Ela grunhiu.

—Quer dizer, depois que comecei a falar dormindo na linguagem inarticulada alienígena e fui protegida contra a vontade pela Ordem.

—Sim. — Disse, permanecendo sentado enquanto ela se levantava e se afastava, os braços cruzados no peito. Ele notou que tinha abandonado completamente a bengala que Tess e Gideon tinham prescrito para ela, e apenas coxeava com sua perna ferida. — Vejo que sua ferida do tiro está curando muito bem.

—Está muito melhor. — Ela lançou um aceno de cabeça vago por cima de seu ombro. — De fato, não parecia tão sério em primeiro lugar.

Brock inclinou sua cabeça como se concordasse, mas lembrou claramente do quão sério o tiro foi. Se ela se curava numa velocidade acelerada, achava que as réplicas de DNA que Gideon descobriu poderiam ter algo a ver com isto. — Estou contente que esteja se sentindo melhor. — Ele disse, achando que provavelmente não precisava de nenhuma lembrança sobre a matéria alienígena que se integrava com seu corpo.

Seu olhar se demorou nele, amolecendo.

—Obrigado pelo que fez por mim na noite passada - me encontrando, e me tirando daquele lugar terrível. Penso que salvou minha vida. Sei que o fez, Brock.

—Sem problema.

Deus, esperava que ela nunca soubesse dos detalhes de como selvagemente tinha lidado com seus assaltantes. Não estaria agradecendo se o visse em ação naquela noite, ou se testemunhasse o modo perverso como saciou sua sede de sangue e sua fúria no par de escória humana. Se Jenna soubesse do que era capaz, sem dúvida o veria do mesmo modo que o Antigo que a atacou.

Ele não sabia por que isto o incomodava. Não queria que o comparasse com um monstro, pelo menos não enquanto fosse responsável por zelar por ela na Ordem. Ela tinha que confiar nele, e como seu protetor designado, tinha que se assegurar que o fizesse. Tinha um trabalho a fazer, e não estava prestes a perder de vista sua responsabilidade.

Mas a questão com Jenna era mais profunda que isto, e ele sabia. Somente não tinha nenhuma intenção de dissecá-la - agora ou em qualquer hora no futuro previsível.

Ele a olhou caminhar na direção da parede com mapas e diagramas que documentavam a perseguição das Companheiras de Raça que a Ordem suspeitava que Dragos tivesse como prisioneiras.

—É um trabalho assombroso que estão fazendo. — Murmurou Jenna. — Dylan, Savannah, Renata, Tess... Todas as mulheres que encontrei aqui são realmente incríveis.

—Sim, são. — Concordou Brock. Ele se levantou e se moveu até onde Jenna estava agora. — A Ordem sempre foi uma força a ser reconhecida, mas no ano que estou aqui, vi nossa força dobrar por causa do envolvimento das fêmeas neste complexo.

Ela deu uma olhada que ele achou difícil entender.

—O que? — Ele perguntou.

—Nada. — Um breve sorriso tocou seus lábios quando deu uma pequena sacudida de cabeça. — Estou somente surpresa por ouvir, é tudo. A maioria dos homens que trabalhei - inferno, até meu próprio pai e irmão - comeriam seus distintivos antes de admitir que estivessem melhores depois que se juntaram com uma mulher.

—Não carrego um distintivo. — Ele disse, devolvendo seu sorriso. — E não sou a maioria dos homens.

Ela riu baixinho, mas não afastou seu olhar.

—Não, não, você não é. Ainda assim é um de poucos aqui que não tem uma Companheira de Raça.

Ele considerou o comentário, mais que um pouco intrigado por ela estar curiosa sobre ele a um nível pessoal.

—Negócios são uma coisa. Tomar uma companheira pelo laço de sangue é algo mais. É uma espécie de acordo para sempre, e sou alérgico a relações a longo prazo.

Seus olhos inteligentes se mantiveram nele, o avaliando.

—Por que isto?

Seria fácil dar uma resposta encantadoramente sem sentido, a espécie de merda lisonjeira que estava acostumado a dispensar a Kade e aos outros caras sempre que o assunto de Companheiras de Raça e envolvimentos emocionais aparecia. Mas não podia olhar Jenna e ser menos que honesto, não importa como pudesse parecer.

—Longo prazo tem muitas possibilidades de perder alguém. Deste modo, me esforço para me afastar.

Ela não disse nada por um minuto ou dois. Somente o observou em silêncio, seus braços ainda em volta dela, cem emoções não ditas escurecendo a cor dos seus olhos.

—Sim, sei o que pensa. — Ela disse finalmente, sua voz um pouco rouca, apenas acima de um sussurro. — Sei tudo sobre perder pessoas.

—De nenhum modo vou acreditar nisto. — Ele não podia ver a mulher capaz, confiante falhar em algo que pretendia fazer.

—Confie em mim. — Ela disse sobriamente, logo se afastou dele e andou para a outra parede, onde um punhado de esboços estavam presos ao lado de notas do caso e mapas impressos. Quando falou novamente, havia uma casualidade na sua voz que parecia forçada. — Então, esta alergia a relações de longo prazo é algo novo para você, ou sempre evitou o compromisso?

Ele teve uma imagem mental imediata de olhos escuros brilhantes e um riso malicioso, musical que ainda ouvia às vezes, como um espírito se ocultando nos cantos distantes das suas memórias.

—Houve alguém uma vez. Bem... Podia ter sido alguém. Ela morreu há muito tempo.

A expressão de Jenna era de remorso.

—Brock, sinto muito. Não queria...

Ele encolheu os ombros.

—Nenhuma desculpa é necessária. É história antiga. Cem anos atrás. — Quase literalmente, ele percebeu, atordoado pelo fato que tanto tempo tinha passado desde que seu descuido custou a vida de alguém que supostamente protegia.

Jenna caminhou na sua direção dele e sentou na borda da mesa longa perto dele.

—O que aconteceu?

—Ela foi assassinada. Eu trabalhava como guarda-costas naquele tempo no Darkhaven da sua família em Detroit. Era minha responsabilidade mantê-la segura, mas falhei. Ela desapareceu aos meus cuidados. Seu corpo foi encontrado meses depois, brutalizado além do reconhecimento e lançado num trecho de um imundo rio.

—Oh, meu Deus. — A voz de Jenna era suave, sua testa vincada com compaixão. — Isto foi terrível.

—Sim, foi. — Ele disse, lembrando bem demais o horror do que tinha sido feito, antes e depois que foi morta. Três meses na água não tinham feito o que restou dela um pouco mais fácil de ver.

—Sinto muito. — Disse Jenna novamente, e descansou a palma da sua mão contra seu bíceps.

Ele tentou ignorar a súbita chama trêmula de consciência que o inflamou pelo contato. Mas tentar afastar sua atração parecia com o fogo que espera não ser quente. Toque-o, e será queimado. Como queimava agora, quando olhou a mão pálida de Jenna por cima da sua pele mais escura.

Quando levantou seu olhar ao dela, pode dizer pela sutil inalação que seus olhos estavam provavelmente avivados com faíscas da luz ambarina, sua transformação traindo seu desejo por ela. Ela engoliu, mas não desviou o olhar.

Deus o ajudasse, ela não tirou sua mão suave dele, também, nem mesmo quando seu rosnado baixo de necessidade masculina se frisou no fundo de sua garganta.

Lembranças do que tinha acontecido com eles horas antes no seu quarto o inundaram numa onda aquecida. Havia apenas algumas polegadas entre eles então, como agora. Então tinha se perguntado se Jenna queria que ele a beijasse. Estava incerto sobre seus sentimentos, sobre a possibilidade que pudesse estar sentindo algo próximo do desejo que tinha por ela. Agora precisava saber com uma ferocidade que o surpreendeu.

Para estar certo que não interpretava mal as coisas, por sua própria sanidade mental se nada mais, pegou sua mão livre e a cobriu com seus dedos. Ele a puxou mais perto, contornando pela sua frente quando ela se apoiou contra a mesa.

Ela não se afastou. Não Jenna. Ela o fitou nos olhos, o enfrentando, como ele esperou que faria.

—Realmente não sei como lidar com tudo isto. — Ela disse baixinho. — As coisas que aconteceram desde aquela noite no Alasca... Todas as perguntas que nunca foram respondidas. Posso lidar com isto. De alguma maneira, aprenderei a lidar com tudo disto. Mas você... Isto... — Ela baixou os olhos então, brevemente, fitando suas mãos unidas, seus dedos entrelaçados. — Não sou muito boa nisto. Meu marido se foi há quatro anos. Não houve ninguém desde então. Nunca estive pronta para isto. Eu não queria...

—Jenna. — Brock acariciou o lado inferior do seu queixo suavemente, levantando seu rosto na direção do dele. — Estaria tudo bem se eu te beijasse?

Seus lábios oscilaram em um pequeno sorriso que ele não pode se recusar a provar. Ele curvou sua cabeça e a beijou lentamente, puxando-a para ele, apesar da intensidade de seu próprio desejo.

Embora ela confessasse estar fora de forma, nunca saberia pela sensação sensual dos seus lábios contra os dele. Seu beijo, tanto suave como direto, dando e tomando, o deixou em chamas. Ele se aproximou até que estivesse entre suas pernas, sentindo seu corpo apertado nele enquanto varria sua língua ao longo da linha aveludada da sua boca. Ele correu suas mãos pelos seus lados, a ajudando a subir na mesa de conferência quando sua coxa ferida começou a tremer debaixo dela.

O beijo era um erro de sua parte. Tinha pensado que podia ficar nisso - só um beijo - mas agora que tinha começado com Jenna, não estava seguro se encontraria forças para parar.

E pela sensação dela nos seus braços, seus gemidos de prazer e suspiros quando o beijo se inflamou para algo muito mais poderoso, estava seguro que ela queria mais dele, também.

Ao que parece, não podia estar mais errado.

Não foi até que ele sentiu a umidade no seu rosto que percebeu que ela chorava.

—Ai, Jesus. — Ele soltou, recuando ao mesmo tempo e sentindo-se como um asno quando viu suas faces manchadas de lágrimas. — Sinto muito. Se eu a empurrei muito rápido...

Ela sacudiu sua cabeça, claramente miserável, mas não quis falar.

—Diga que não machuquei você, Jenna.

—Maldição. — Ela engoliu um soluço. — Não posso fazer isto. Sinto muito, é minha falha. Nunca devia ter deixado...

As palavras se interromperam, e logo ela o afastava, saindo com dificuldade debaixo dele e correndo pelo corredor.

Brock ficou lá por um segundo, cada parte dele apertada e dolorida, ferida com o desejo. Ele devia deixá-la ir. Foi um desastre estreitamente evitado, e por mais tentadora que fosse, Jenna deveria sair de sua mente.

Sim, era exatamente o que devia fazer, e sabia muito bem disso.

Mal o pensamento se formou, já estava a meio caminho do fim do corredor, atrás dos sons suaves do choro de Jenna no seu antigo quarto.

Jenna sentiu-se como a maior covarde - a maior fraude - quando fugiu pelo corredor, fungando suas lágrimas. Tinha deixado Brock pensar que não o queria. Provavelmente fingido que a tinha forçado de algum modo com aquele beijo, quando a tinha derretido quase em uma poça na mesa da sala de conferência. Ela o tinha deixado pensar que tinha feito algo mal, possivelmente até a machucado de alguma maneira, e era a coisa mais injusta de todas.

Ainda que não pudesse parar de correr, tinha que pôr distância entre eles com uma determinação que chegava ao desespero. Ele a fazia sentir demais. Coisas que não estava preparada. Coisas que desejava tão profundamente, mas não merecia.

E, portanto correu, tão aterrorizada como nunca e odiando a covardia que empurrava cada passo pelo caminho. Quando chegou ao seu quarto, tremia e estava sem fôlego, as lágrimas correndo em rios quentes por suas faces.

—Jenna.

O som da sua voz profunda atrás dela parecia uma carícia quente contra sua pele. Ela se virou para enfrentá-lo, assombrada pela velocidade e silêncio que o tinha trazido até ali nem um segundo depois que tinha chegado. Então novamente, ele não era humano. Não realmente um homem em absoluto - um fato que tinha que lembrar quando estava assim perto, o tamanho dele, a intensidade crua do seu olhar escuro, chamando tudo que era mulher dentro dela.

Sua boca ainda queimava sem chama por seu beijo. Seu pulso ainda vibrava pesado, calor ainda queimava profundamente no núcleo do seu corpo.

Como se soubesse disto, Brock se aproximou. Estendeu a mão para ela, recebeu sua mão na dele, sem dizer nada. Não havia necessidade de palavras. Apesar das suas lágrimas lentas e o tremor dos seus membros, não podia ocultar o desejo que sentia por ele.

Ela não resistiu quando a puxou mais perto, ao calor do seu corpo. No conforto dos seus braços.

—Estou assustada. — Ela sussurrou, palavras que não eram fáceis, e nunca foram.

Seus olhos prenderam os dela, e ele suavemente acariciou o lado do seu rosto.

—Você não tem que me temer. Não machucarei você, Jenna.

Ela acreditou, mesmo antes que ele curvasse sua cabeça e pousasse seus lábios num beijo dolorosamente sensível. Inacreditavelmente, impossivelmente, ela confiava neste homem que não era nenhum homem. Ela queria suas mãos nela. Queria sentir esta conexão com alguém novamente, mesmo se não estivesse em absoluto pronta para pensar além do físico, ansiosa para tocar e ser tocada.

—Está tudo bem. — Ele murmurou contra sua boca. — Você está segura comigo, prometo.

Jenna fechou seus olhos quando suas palavras se afundaram nela, as mesmas palavras que a tinham acalmado na escuridão despedaçada da sua cabana no Alaska, então novamente no hospital do complexo. Brock foi sua conexão constante ao mundo vivo depois da sua provação com o Antigo. Sua única corda de segurança durante os pesadelos infinitos que tinham seguido nos dias depois que foi trazida a este lugar estranho, mudando de tantos modos horripilantes.

E agora...?

Agora não estava segura onde ele se ajustava na confusão que permanecia na sua vida. Não estava pronta para pensar nisto. Nem estava absolutamente certa que estava pronta para ceder às sensações que ele mexia nela.

Ela recuou ligeiramente, dúvida e vergonha passando pela parte dela que ainda estava de luto, a ferida aberta na sua alma que já tinha aceitado há muito tempo que nunca poderia se curar totalmente.

Apertando sua testa contra a solidez quente de seu peito, o algodão suave da sua camiseta cinza coberta com o odor exótico dele, Jenna respirou se fortalecendo. Deixou sair um suspiro tranquilo, quebrado.

—Eu os amei o bastante? Isto é o que continuo me perguntando, depois daquela noite na minha cabana...

As mãos de Brock passearam ligeiramente por suas costas quando a segurou, forte e compassivo, a calma constante que precisava para reviver aqueles momentos de tortura quando o Antigo a tinha feito decidir seu próprio destino.

—Ele me fez escolher, Brock. Naquela noite na minha cabana, pensei que ia me matar, mas não o fez. Eu não teria lutado. Ele sabia disso, acho. — Estava segura disso, de fato. Era uma noite ruim quando o Antigo invadiu sua cabana. Tinha visto a garrafa quase vazia de uísque no chão junto dela e a pistola carregada na sua mão. A caixa de fotografias que tirava a cada ano no aniversário do acidente que a tinha despojado de sua família e a tinha deixado para seguir sozinha. — Ele sabia que estava preparada para morrer, mas em vez de me matar, me forçou a dizer as palavras em voz alta, dizer o que eu queria mais - vida ou morte. Parecia tortura, uma espécie de jogo doente que me obrigava a jogar contra minha vontade.

Brock soltou uma grosseria sob sua respiração, mas suas mãos permaneceram doces contra suas costas, uma oferta, acalmando o calor.

—Ele me fez escolher. — Ela disse, lembrando cada minuto insuportável da sua provação.

Mas pior que as horas infinitas da prisão e alimentação, o horror de perceber que seu captor não era deste mundo, foi o momento terrível quando ela ouviu sua própria voz dizer as palavras que pareceram arrancadas da caverna mais profunda, mais vergonhosa da sua alma.

Quero viver.

Oh, Deus... Por favor, deixe-me viver.

Não quero morrer!

Jenna engoliu o caroço de dor na sua garganta.

—Continuo pensando que não os amei o bastante. — Ela sussurrou, miserável pelo pensamento. — Continuo pensando que, se realmente os amei, teria morrido com eles. E quando o Antigo me forçou a decidir se queria viver ou não, teria feito uma escolha diferente.

Quando um soluço reteve sua respiração, os dedos de Brock roçaram o lado inferior do seu queixo. Ele levantou seu rosto para encontrar seu olhar solene.

—Você sobreviveu. — Ele disse, sua voz firme ainda infinitamente doce. — Isto é tudo que fez. Ninguém a culparia por isto, especialmente eles.

Ela fechou seus olhos, sentindo o peso do seu remorso diminuir um pouco com suas palavras de conforto. Mas seu coração era um lugar frio e vazio. Um que se abriu ainda mais quando Brock estava próximo, consolando-a. Seu calor e preocupação penetravam dentro da sua pele como um bálsamo, acrescentando emoção mais profunda ao desejo que não tinha diminuído pela proximidade do seu corpo ao dele. Ela se enroscou no abrigo dos seus braços, descansando sua face contra a força sólida, sem vacilo dele.

—Posso tirá-la, Jenna. — Ela sentiu a pressão quente da sua boca, sua respiração pelo cabelo, quando beijou o topo da sua cabeça. — Posso levar a dor para você, se quiser.

Havia uma parte dela que se rebelava com a ideia. A mulher dura, a experiente policial, aquela que sempre estava à frente de qualquer situação, recuava com a noção que sua dor podia ser muita para carregar sozinha. Nunca precisou de uma mãozinha, nem pediria - nunca. Aquela espécie de fraqueza nunca adiantaria.

Ela recuou, a negativa na ponta da língua. Mas quando abriu seus lábios para falar, as palavras não vieram. Ela olhou para o bonito rosto de Brock, seus olhos escuros penetrantes, que pareciam conseguir ver profundamente dentro dela.

—Quando foi a última vez que se permitiu ser feliz, Jenna? — Ele acariciou sua face tão ligeiramente, tão reverentemente que ela tremeu sob seu toque. — Quando foi a última vez que sentiu prazer?

Sua grande mão foi à deriva para baixo, ao longo do lado do seu pescoço. O calor irradiado da sua larga palma e dedos longos. Seu pulso pulou quando prendeu sua nuca, seu polegar acariciando a pele sensível abaixo da sua orelha.

Ele a puxou na direção dele então, inclinando seu rosto para encontrar o dela. Ele a beijou, lento e profundo. A fusão sem pressa da sua boca contra a dele enviou uma corrente de calor líquido por suas veias. O fogo se juntou no centro dela, o recheio principal do desejo brilhante e feroz.

—Se isto não for o que quer, — Ele murmurou contra seus lábios. — então tudo que tem a fazer é me dizer. A qualquer momento, eu paro...

—Não. — Ela sacudiu sua cabeça quando conseguiu tocar seu queixo forte. —Realmente quero isto. Quero você - tanto agora mesmo, que está me assustando como o inferno.

Seu sorriso se estendeu preguiçosamente, aqueles lábios sensuais se separando para revelar o brilho branco dos seus dentes - e o comprimento de suas presas. Jenna fitou sua boca, sabendo que os instintos de sobrevivência humanos básicos deviam estar se desfazendo de todos os tipos de alarmes, avisando-a que estar muito perto daqueles caninos agudos podia ser mortal.

Mas não sentiu nenhum medo. Pelo contrário, sua mente reconhecia sua transformação com um sentido inexplicável de aceitação. Excitação, mesmo, quando a absorção marrom dos seus olhos começou a resplandecer com a ígnea luz ambarina.

Acima da gola redonda da sua camiseta cinza e sob as mangas curtas que aderiam à protuberância nodosa do seu musculoso bíceps, os dermaglifos de Brock pulsavam com cor. As marcas na pele do Raça ficavam mais escuras que sua cor bronze escura habitual para sombras de borgonha, ouro, e o mais profundo purpúreo. Jenna dirigiu seus dedos ao longo das curvas e arcos dos seus dermaglifos, maravilhando-se com sua beleza sobrenatural.

—Tudo que achei que sabia é diferente agora. — Ela meditou em voz alta quando ficava no círculo dos seus braços, traçando à toa o modelo de dermaglifos que subiam pelo seu antebraço grosso. — É tudo diferente agora. Estou diferente - de modo que não estou certa se fará sentido outra vez. — Ela olhou para cima. — Não estou procurando mais confusão na minha vida. Não penso que posso lidar com isso como todo o resto.

Ele prendeu seu olhar, nenhum julgamento nos seus olhos, só paciência e uma aura de controle infalível.

—Você está confusa agora, quando a estou tocando... Ou quando a estou beijando?

—Não. — Ela disse, assombrada ao perceber. — Não agora.

—Bom. — Ele curvou a cabeça e reclamou sua boca novamente, chupando seu lábio inferior, pegando-o entre seus dentes enquanto acariciava suas costas, então estendeu as mãos ao longo da curva do seu traseiro. Ele a apertou possessivamente, puxando seu corpo eletrificado contra sua virilha dura. Ele se aninhou no seu pescoço, seus lábios quentes e molhados na sua pele. Quando falou novamente, sua voz estava mais grossa que antes, afiada com a mesma espécie de desejo que rugia por ela. — Permita-se sentir o prazer, Jenna. Se quiser, então isto é tudo que haverá entre nós. Nenhuma pressão, nenhuma corda. Nenhuma promessa que nenhum de nós não está pronto a fazer.

Oh, Deus. Soava tão bom, tão tentador ceder ao desejo que estava crepitando entre eles desde que despertou no complexo da Ordem. Não estava pronta para abrir seu coração novamente - nunca estaria pronta para aquela vulnerabilidade novamente - mas não sabia se era bastante forte para resistir ao presente que Brock oferecia.

Ele beijou a cova na base da sua garganta.

—É muito bom, Jenna. Dê-me o resto agora. Deixe todo o resto ir, exceto isto.

—Sim. — Ela suspirou, incapaz de conter um ofego quando suas carícia vagavam por seu corpo. Suas mãos fortes, talentosas enviavam picos de energia por suas veias, seu talento sobrenatural afastando o peso remanescente da sua tristeza, culpa e confusão. Sua boca quente, experiente a deixou só com a sensação de fome em seu rastro.

Ele beijou um caminho lento acima da sua garganta, logo ao longo da sua mandíbula, até que seus lábios encontraram os dela mais uma vez. Jenna deu boas-vindas à sua paixão, abrindo-se para ele quando sua língua varreu a linha da sua boca. Ele gemeu quando ela o sorveu mais fundo, rosnando com pura aprovação masculina quando enrolou seus dedos em volta da sua nuca e o segurou mais forte contra sua boca.

Deus, não tinha nem ideia de como tinha desejado o toque de um homem. Estava há tanto tempo sem intimidade, privando-se voluntariamente de contato sexual e liberação. Por quatro anos, se convenceu que não o queria nem merecia, somente uma nova punição imposta a si mesma pela ofensa de ter sobrevivido ao acidente que matou seus amados.

Ela acreditou que estava imune ao desejo, mas agora, com Brock, todas as barreiras impenetráveis estavam se esmigalhando, caindo em volta dela como nada mais que folhas secas, leves. Ela não podia sentir culpa pelo prazer que lhe dava. Se pela capacidade poderosa de Brock em absorver sua dor, ou pela profundidade da sua própria necessidade reprimida, não tinha certeza. Tudo que sabia era a intensidade aumentando na resposta de seu corpo por ele, uma onda de prazer e antecipação esmagadora que a deixava sem fôlego e gananciosa por mais.

As grandes mãos de Brock deslizaram por seus ombros, logo fizeram uma viagem lenta sobre seus seios. Pelo algodão fino tricotado da sua camisa, seus mamilos chegaram ao ponto máximo, doloridos, vivos com a sensação quando amassou cada montículo pesado. Jenna gemeu, querendo sentir mais do seu toque. Ela pegou sua mão na dela e o guiou sob a bainha solta do seu top. Ele não precisou de mais direção que isto. Em menos de um segundo, tinha aberto o gancho dianteiro do seu sutiã e coberto sua carne nua na sua palma aquecida.

Ele importunou o botão de flor duro como diamante quando a acariciou.

—É melhor assim? — Ele murmurou somente abaixo da sua orelha. — Diga se gosta disso.

—Deus... Sim. — Era tão bom, que mal podia formar as palavras.

Jenna engoliu um assobio de prazer, jogando sua cabeça para trás quando a sensação se torceu mais apertada no seu núcleo. Ele continuou tocando-a, beijando e acariciando, enquanto lentamente retirava sua camisa. Ele tomou o mesmo cuidado com seu sutiã desatado, deslizando as tiras finas dos seus ombros, então abaixo por seus braços. Repentinamente estava nua diante dele, nua da cintura para cima. O instinto de se cobrir - ocultar as cicatrizes que cobriam seu tronco desde o acidente e aquela no seu abdome que era uma lembrança diária do nascimento difícil de Libby - chamejou prontamente, mas só por um instante.

Só o tempo que levou para olhar para cima e encontrar o olhar de Brock.

—Você é linda. — Ele disse, suavemente pegando suas mãos nas dele e as afastando do seu corpo antes que tivesse a possibilidade de se sentir desajeitada ou embaraçada pelo seu elogio ou sua observação aberta dela.

Ela nunca se sentiu especialmente bela. Confiante e capaz, fisicamente apta e forte. Aquelas eram palavras que entendia e podia aceitar. Palavras que a tinham carregado pela maior parte dos seus trinta e três anos de vida, até pelo seu matrimônio. Mas linda? Era tão alheio a ela como a língua estranha que se tinha ouvido falar no vídeo da enfermaria ontem.

Brock, por outro lado, era lindo. Embora fosse um modo estranho para descrever a força escura da natureza que estava diante dela agora.

Cada pequena mancha marrom aveludada nos seus olhos se foi, devorada pela incandescência âmbar brilhante que aquecia suas faces como uma chama aberta. Suas pupilas se estreitaram, e suas faces magras estavam esticadas agora e mais angulares, sua pele escura impecável se estendeu através dos seus ossos, fazendo a aparência assombrosa ressaltarem suas longas presas mortalmente agudas.

Aqueles olhos ardentes a prendendo, ele tirou sua camiseta e a deixou cair no chão junto a dela. Seu peito era incrível, uma parede maciça de músculos perfeitamente formados e coberto por um padrão intricado de dermaglifos pulsantes. Não resistiu a tocar sua pele lisa, somente para ver se era tão acetinada contra seus dedos quanto parecia aos seus olhos. Era ainda mais suave do que tinha imaginado, mas a força absoluta, inumana sob ele era inconfundível.

Brock parecia tão letal como quando a salvou na cidade, exceto que em vez da malícia fria que rolava por ele em ondas naquela noite, agora vibrava com algo igualmente agressivo e intenso: desejo. Tudo centrado nela.

—Você é... Porra, Jenna. — Respondeu asperamente, traçando a linha do seu ombro, logo rodeando a ponta rosa do seu seio. —Não tem nenhuma ideia do quanto é linda, não é?

Ela não respondeu, realmente não sabia como. Em vez disso, se aproximou e baixou sua boca na dele em outro beijo ardente. Pele contra a pele, seus seios esmagados contra as enormes placas do seu peito, Jenna quase queimou de desejo. Seu coração martelava, a respiração acelerada, quando Brock deslizou a mão para sua cintura e abriu o botão e o zíper da sua calça. Ela pegou seu lábio com os dentes quando deslizou suas mãos entre o cós solto e a pele dos seus quadris, então suavemente empurrou os jeans para baixo de suas calcinhas de biquíni brancas. Ele baixou às suas coxas, depois desceu os jeans com as suas mãos.

Ele foi cuidadoso com sua ferida se curando, cauteloso para não perturbar a atadura enrolada em volta da sua coxa.

—Isto está bem? — Ele perguntou, olhando para cima, sua voz profunda tão rouca que ela mal a reconheceu. — Se houver dor, posso afastá-la.

Jenna sacudiu a cabeça.

—Não dói. Realmente, está bem.

Seu olhar âmbar brilhante foi coberto quando baixou seus cílios e voltou à sua tarefa. Sua calça foi tirada, ele se acomodou nos calcanhares e a fitou, passando suas mãos de cima abaixo pelo comprimento das suas pernas.

—Assim, tão bela. — Ele a elogiou, logo inclinou a cabeça e apertou seus lábios no triângulo de algodão branco entre suas coxas, o único pedaço de roupa que a cobria agora.

Jenna soltou um suspiro trêmulo quando pegou o tecido nos seus dentes e presas. Com uma olhada significativa para ela, suas mãos ainda acariciando suas pernas, ele puxou o algodão antes de deixá-lo voltar suavemente ao lugar contra sua carne superaquecida. Ele o seguiu com a boca, beijando-a novamente, mais determinado agora, cutucando à parte o reles pedaço de material e fossando sua cara profundamente na fenda úmida de seu sexo.

Suas mãos prenderam firmemente seu traseiro quando a explorou com lábios e língua e a esfoladura erótica dos seus dentes contra a carne molhada no seu núcleo. Ele a tirou das suas calcinhas, logo abriu suas coxas e sugou novamente. Ele trouxe uma mão entre suas pernas, acrescentando o jogo dos seus dedos à perícia da sua boca. Jenna tremeu, perdida na sensação e a menos de uma respiração para voar longe.

—Oh, Deus. — Ela respirou, tremendo quando ele mergulhou entre suas pregas ensopadas a ponta do seu dedo, penetrando-a lentamente, enquanto seu beijo alimentava seu desejo cada vez mais apertado. Ela se balançou contra ele, inundada no calor. — Oh, meu Deus... Brock, não pare.

Ele gemeu contra sua umidade, um ronrono longo de gozo masculino que vibrou por sua carne e osso, profundamente em seu centro aquecido. O clímax de Jenna rugiu em cima dela como uma tempestade. Ela tremeu com a força dele, gritando quando o prazer a agarrou e a arremessou em direção ao céu. Ela se partiu, a sensação brilhando sobre ela como estrelas quando se moveu em espiral mais alto e mais alto, os tremores de felicidade pura passando por ela, um após o outro.

Estava sem ossos quando flutuou de volta à realidade. Sem ossos e drenada, embora seu corpo ainda pulsasse vivo com a sensação. E Brock ainda a beijava. Ainda a acariciava com seus dedos, tirando cada último espasmo dela enquanto apertava seus ombros grossos e arquejava com os pequenos abalos secundários do prazer.

—Acho que precisava disto. — Ela sussurrou, estremecendo quando sua risada baixa estrondou contra sua carne sensível. Ele beijou suas coxas, beliscando provocante, e suas pernas estavam um pouco cambaleantes debaixo dela. Ela se inclinou para frente, deitando sobre o dorso largo de Brock. — Oh, meu Deus. Não tinha ideia de quanto precisava disto.

—O prazer é meu. — Ele respondeu. — E não terminei com você ainda. — Ele saiu debaixo dela, passando seu braço em volta dela e a ajustando por cima do seu ombro direito. — Segure em mim.

Ela não teve nenhuma escolha. Antes que soubesse o que pretendia, ele se levantou. Como em um agachamento colocou todo seu peso em um ombro e levantou como se ela fosse apenas uma pena. Jenna se agarrou como ele tinha dito e não pode menos que se admirar pelo poder absoluto dele quando andou a passos largos com ela ao dormitório adjacente. Vestindo somente sua calça, seus músculos das costas se flexionavam e estendiam debaixo da sua pele lisa a cada passo largo, um concerto perfeito de aptidão e forma.

Não havia dúvida sobre ele, era lindo.

E seu corpo já eletrificado zumbiu com calor renovado quando percebeu que a transportava diretamente à enorme cama.

Ele puxou a colcha e o lençol, logo a deixou na borda do colchão. Jenna olhou com fome crescente quando desabotoou sua calça escura e saiu delas. Não usava nada por baixo. Os elaborados dermaglifos seguiam em volta da sua cintura fina e quadris e abaixo para o volume forte das suas coxas. As cores pulsavam e se transformavam, atraindo seu olhar brevemente para a saliência grossa da sua ereção, que ficou rígida e imensa quando a viu olhar para ele.

Jenna engoliu em seco enquanto ele vinha a passos largos na direção dela, devastador em sua nudez. A incandescência ígnea dos seus olhos estava impossivelmente mais brilhante, suas presas parecendo enormes agora.

Ele fez uma pausa na borda da cama, de cara feia quando ela sustentou seu olhar transformado.

—Você tem medo de mim... Como estou?

Ela deu uma pequena sacudida de cabeça.

—Não, não tenho.

—Se está preocupada com gravidez...

Ela sacudiu a cabeça novamente.

—Meus danos internos no acidente cuidaram disto. Não posso ficar grávida. De qualquer maneira, entendo que a Raça e o DNA humano não se misturam.

—Não. — ele disse. — E quanto a qualquer outra preocupação que poderia ter, você está segura comigo. Não há nenhuma doença ou enfermidade entre minha espécie.

Jenna acenou com a cabeça confirmando.

—Confio em você, Brock.

Sua cara feia diminuiu, mas se segurou ainda.

—Se não está segura - se não for o que quer, então podemos parar. Podemos parar a qualquer hora. — Ele riu baixinho sob sua respiração. — Penso que me mataria para parar agora mesmo, quando está parecendo tão malditamente quente na minha cama, mas o farei. Deus me ajude, mas o farei.

Ela sorriu, tocada por alguém tão poderoso ter tal honra e humildade. Ela empurrou atrás os lençóis e deu lugar a ele ao lado dela.

—Não quero parar.

Sua boca estalou em um largo sorriso. Com um rosnado, avançou e subiu na cama junto dela. No início, simplesmente se tocaram e acariciaram, beijando-se ternamente, aprendendo mais sobre o corpo um do outro. Brock foi paciente com ela, embora a tensão no seu corpo dissesse que estava torturado com a necessidade do orgasmo. Era gentil e preocupado, tratando-a como uma amante estimada embora ambos aceitassem que isto entre eles nunca poderia ser mais que casual, nenhum laço.

Parecia incrível que este homem que mal conhecia - este macho Raça que deveria a assustar muito - podia, em vez disso, ser tão familiar, tão íntimo. Mas Brock não era um estranho para ela. Esteve ao seu lado por um pesadelo e provação, então novamente nos dias de sua recuperação aqui no complexo. E veio atrás dela naquela noite quando estava sozinha e ferida na cidade, seu salvador improvável e sombrio.

—Por que fez isso? — Ela perguntou calmamente, seus dedos traçando os dermaglifos que giravam em volta do seu ombro para seu peito. — Por que você ficou comigo no Alasca, e depois todos aqueles dias que estive no hospital?

Ele ficou silencioso por um momento, sua testa vincada sobre a incandescência ígnea dos seus olhos.

—Odiei ver o que tinha acontecido. Você era uma espectadora inocente que foi pega no fogo cruzado. Você é humana. Não merecia ser arrastada no meio da nossa guerra.

—Sou uma menina grande. Posso lidar com isso. — Ela disse, uma resposta de piloto automático que não sentia realmente. Especialmente depois dos resultados perturbadores do seu último exame de sangue. — E agora... O que estamos fazendo aqui, acho. É parte do seu programa ser-bom-para-a- miserável-humana, também?

—Não. Inferno não. — Sua carranca ficou mais profunda quase ao ponto da raiva. — Pensa que isto é sobre piedade? É isto que sinto por você? — Ele soltou uma respiração áspera, descobrindo as pontas agudas das suas presas quando a rolou de costas e se escarranchou sobre ela. — Caso não tenha notado, estou bastante malditamente quente por você, senhora. Qualquer coisa mais quente, porra, e eu seria cinzas.

Para comprovar seu ponto, ele deu um impulso sutil em seus quadris, assentando seu eixo entre as pregas aveludadas, molhadas do seu sexo. Ele bombeou algumas vezes, deslizando o comprimento rígido do seu membro para a frente e para trás dentro da racha lisa, importunando-a com o calor duro da sua excitação. Ele enganchou seu braço embaixo da sua perna e o colocou em volta do seu ombro, virando seu rosto contra sua coxa e dando a pele sensível um beliscão agudo.

—Isto é puro desejo, não piedade. — Ele disse, sua voz brusca e ferida quando entrou, muito lento e profundo.

Jenna não pode formar uma resposta, mesmo se tentasse. A sensação atordoante dele a enchendo, esticando mais fundo a cada impulso poderoso, era tão esmagadora que roubou sua respiração. Ela se prendeu nele com ambas as mãos quando pegou sua boca em um beijo corajoso e balançou por cima dela, seu corpo se movendo ao mesmo tempo feroz, exigente.

Logo, o pico de outro clímax aumentava sobre ela. Não podia detê-lo. Ele colidiu com ela, fragmentando seus sentidos, os aguçando. Sentiu o ímpeto do seu próprio sangue nas veias, sentiu o furioso pulsar de Brock, também, tamborilando sob as pontas de seus dedos e em cada terminação nervosa. Seus ouvidos se encheram com o som do seu grito sem fôlego de liberação, a fricção lisa dos corpos se torcendo contra os lençóis. Os odores de sexo, sabão e suor limpo na pele quente a intoxicaram. O gosto do beijo escaldante de Brock nos seus lábios só a fez desejar mais dele.

Ela tinha fome, de um modo que não podia entender.

Tinha fome dele, tão profunda que parecia torcê-la no interior.

Queria prová-lo. Provar o poder do que ele era.

Ofegante após seu orgasmo, se afastou da sua boca. Ele xingou algo escuro e agressivo sob sua respiração, seus golpes se tornando mais intensos, veias e tendões surgindo no seu pescoço e ombros como fios grossos que cresciam embaixo da sua pele.

Agarrando-se a ele, Jenna deixou sua cabeça pender para trás por um momento, tentando perder-se no ritmo dos seus corpos. Tentando não pensar na dor atroz que roia no centro dela, o confuso impulso ainda irresistível que chamava seu olhar ao seu pescoço forte. Às suas veias grossas que pulsavam como tambores de guerra em seus ouvidos.

Ela apertou seu rosto na coluna forte do seu pescoço e dirigiu sua língua ao longo do ponto de pulso que encontrou ali. Ele gemeu, um som de prazer que só serviu de combustível ao fogo ainda queimando dentro dela. Ela se arriscou um pouco mais, fechando seus dentes sobre sua pele. Ele rosnou uma maldição crua, e ela mordeu mais forte, sentindo a onda de tensão que atravessava seu corpo inteiro. Ele estava no limite agora, seus braços como granito em volta dela, cada impulso dos seus quadris se tornando mais intenso.

Jenna apertou mais forte na pele suave presa entre seus dentes.

Ela mordeu até que ele ficou frenético e louco pela paixão...

Até ela que provou a primeira gota doce do seu sangue contra sua língua.

 

       Ele não soube o que o acertou mais forte - o calor apertado e molhado da vagina de Jenna que agarrava seu sexo quando rugiu em direção ao orgasmo, ou o súbito beliscão, inteiramente inesperado no seu pescoço.

Juntas, as duas sensações resultaram cataclísmicas.

Brock pegou Jenna pelas costas e a apertou debaixo dele quando o nó da pressão ficou mais apertado, mais quente, logo explodiu. As presas à vista e latejando, ele jogou sua cabeça para trás em um grito gutural quando gozou, forte, rápido e implacável, o clímax mais intenso que já teve.

E mesmo torturado, seu orgasmo não apagou seu desejo por ela. Inferno sagrado, nem perto. Seu sexo permaneceu rígido dentro dela, ainda exuberante e empurrando, funcionando por vontade própria quando sentiu a fragrância terrena e doce do corpo de Jenna misturado com o odor do seu próprio sangue.

Ele seguiu até onde a picada da sua pequena mordida queimava. As pontas do dedo saíram pegajosas do fio fraco que gotejava abaixo por seu peito.

—Jesus Cristo. — Ele assobiou, sua voz constrita de surpresa e muita excitação.

—Sinto muito. — Ela murmurou, soando assustada. — Não queria...

Quando olhou abaixo para Jenna, a incandescência ambarina dos seus olhos transformados iluminou seu bonito rosto e sua boca. A boca inchada pelos beijos, magnífica. Seu sangue estava lá, também, liso e vermelho nos seus lábios.

Tudo que era Raça nele se apertou por aquela mancha escura, brilhante, desejo selvagem chamejado no seu intestino. Tudo ficou pior quando a ponta da sua língua rosa saiu para varrer os traços escarlates.

A fome o apertou como um torno. Ele já era perigoso com o desejo, e agora esta outra ânsia crescia. Ele cambaleou para trás, embora cada impulso selvagem dentro dele berrasse com o desejo de tomar esta mulher de cada modo que sua espécie podia.

Se forçando a recuar antes que as coisas fossem além do seu controle, ele saiu do seu calor e balançou suas pernas pela borda da cama com uma maldição. O chão estava frio sob seus pés, gelado contra sua acalorada pele suada. Quando a mão de Jenna parou ligeiramente nas suas costas, seu toque o atravessou como uma chama.

—Brock, você está bem?

—Tenho que ir. — Ele disse, palavras rudes roçando sobre sua língua.

Era difícil como o inferno fazer seu corpo deixar a cama quando Jenna estava assim perto, nua e bela. Tocando-o com doce, embora desnecessária, preocupação.

Este encontro - o sexo que tão benevolentemente ofereceu, achando que tinha tudo sob controle - era para ela. Pelo menos, foi do que se convenceu quando a beijou na sala de guerra e percebeu há quanto tempo estava sozinha, intocada. Mas foi um movimento egoísta de sua parte.

Ele a queria, e esperava que tudo que precisava para tirá-la da sua cabeça - do seu sistema - fosse levá-la para sua cama. Esperava que ela se parecesse com algum outro agradável caso, namoro banal deliberadamente sem complicação com humanas. Não podia estar mais errado. Em vez de diminuir sua atração por Jenna, fazer amor com ela só aumentou seu desejo por ela. Ainda a queria, agora mais ferozmente que antes.

—Não posso ficar. — A afirmação murmurada era mais um reforço para ele que uma explicação para ela. Sem olhá-la, sabendo que não seria capaz de encontrar forças para partir se o fizesse, se levantou. Ele abaixou para pegar sua calça e apressadamente a vestiu. — O pôr do sol está chegando. Tenho a patrulha para rever, armas e munições para preparar...

—Tudo bem, você não precisar me dar desculpas. — Ela interpôs. — Eu não ia pedir um abraço ou algo assim.

Isto o fez virar para enfrentá-la. Estava aliviado ao ver que não havia nenhum julgamento ou raiva na sua expressão, nem no olhar constante que prendeu o seu, mas não se enganou com a rigidez cuidadosa da sua maxila. Ela provavelmente esperava que a visse resistente, imperturbável - a confiança gelada, experiente que dizia que nunca desistiria de nenhum desafio.

Se tivesse acabado de conhecê-la, poderia ter acreditado nisso. Mas tudo que viu naquele momento foi a vulnerabilidade frágil, secreta que ocultava atrás da máscara não-liga-uma-merda.

—Não pense que isto foi um erro, Jenna. Não quero que lamente o que aconteceu aqui.

Ela encolheu os ombros.

—O que devo lamentar? Foi somente sexo.

Sexo incrível, alucinante, mentalmente se corrigiu, mas se absteve de dizer isso porque somente o pensamento o deixava mais duro. Deus, teria que encontrar uma ducha bem fria rápido. Ou talvez um banho de gelo. Por uma semana inteira.

—Sim. — Ele limpou a garganta. — Tenho que ir agora. Se sua perna a incomodar, ou se houver algo mais que precise... Algo que possa fazer por você, me avise. Está bem?

Ela acenou com a cabeça, mas pode ver do resplendor desafiador dos seus olhos e a subida leve, teimosa do seu queixo que ela nunca pediria. Podia estar relutante em aceitar sua ajuda antes, mas agora estaria condenadamente determinada a recusar tudo que pudesse oferecer.

Se ele queria saber se este encontro foi um erro, a resposta o fitava em cheio na cara agora.

—Vejo você por aí. — Ele disse, sentindo-se tão bobo quanto soava.

Ele não esperou que ela dissesse que esperasse sentado, ou algo até mais sucinto. Ele se afastou dela e deixou o dormitório, pegando sua camiseta no caminho, e se xingando como um imbecil de primeira quando fechou a porta atrás dele e se dirigiu ao corredor vazio.

 

Com um gemido de auto-repugnância, Jenna caiu na cama quando a porta da outra sala fechou atrás de Brock. Sempre teve destreza para assustar os homens, com ou sem uma arma carregada na mão, mas enviar um macho formidável como Brock - um vampiro, por Deus - como um raio pós-sexo pela porta afora devia merecer uma espécie de prêmio.

Ele disse que não queria que pensasse que estar nua com ele foi um erro. Não queria que lamentasse. Mas a expressão no seu rosto quando a tinha olhado parecia contradizer tudo isto. E o modo como fugiu não deixava muita dúvida, também.

—Foi somente sexo. — Ela murmurou baixinho. — Acabou.

Não sabia por que se sentia aborrecida e embaraçada. Se por nada mais, devia estar agradecida pela liberação da frustração sexual reprimida. Obviamente, precisava disso. Não podia se lembrar de alguma vez se sentir tão aquecida e fora de controle como esteve com Brock. Tão saciada como estava, seu corpo ainda vibrava. Todos os seus sentidos pareciam sintonizados em uma frequência mais alta que o normal. Sua pele sentia-se viva, tinindo com hipersensibilidade, muito apertada para seu corpo.

E também havia o emaranhado das suas emoções. Ela se deitou, inundada pela confusão sobre a curiosidade ainda desperta da sua mordida em Brock - forte, ela realmente tirou sangue. O gosto estranho, doce e condimentado dele demorou na sua língua, tão exótico e enigmático como o próprio homem.

Tinha a leve sensação que deveria estar assustada pelo que fez - de fato, ficou horrorizada imediatamente depois - mas agora, sozinha na cama que lhe pertencia, alguma parte sombria, retorcida dela desejava mais.

O que estava pensando? Devia estar ficando louca para ter esses pensamentos, sem falar em atuar por impulso.

Ou talvez o que a movia fosse algo pior...

—Oh, merda. — Jenna sentou, uma preocupação súbita, doente vindo sobre ela.

Seu exame de sangue e DNA começaram a se alterar pelo implante embutido dentro dela. E se não fosse a única coisa mudando nela?

Com o terror caindo como uma rocha fria no seu intestino, ela pulou da cama e se apressou ao banheiro, acendendo todas as luzes. Debruçando no balcão de mármore, puxou para trás seu lábio superior e se fitou no grande espelho.

Nenhuma presa.

Graças a Deus.

Nada a fitava de volta exceto sua própria imagem, sua própria arcada, inteiramente humana de dentes. Nunca esteve tão contente por vê-los desde o dia que tirou seu aparelho aos treze anos - uma menina também muito levada, resistente que tinha chutado muitos traseiros dos meninos na escola secundária por todas as brincadeiras sobre sua boca metálica e sutiã. Um riso irônico, meio-histérico borbulhou dela. Podia ter se salvado de muito esforço e manchas pretas se fosse capaz de mostrar um par de presas afiadas aos seus atormentadores no pátio da escola.

Jenna deu um suspiro longo e vergou contra o balcão. Parecia normal, o que era um alívio, mas no interior, estava diferente. Sabia, e não precisava dos últimos resultados dos testes de Gideon para dizer que algo muito peculiar continuava sob sua pele.

Nos seus ossos.

No sangue que parecia correr como rios de lava por suas veias.

Ela ergueu sua mão até seu cabelo, passando seus dedos por cima da nuca, onde o Antigo tinha feito a incisão e embutido sua parte de biotecnologia detestável dentro dela. Já tinha se curado; não sentia nenhum traço na superfície da sua pele como antes. Mas tinha visto os raios X; sabia que estava lá, se entocando mais fundo nos seus nervos e medula. Infiltrando no seu DNA.

Tornando-se parte dela.

—Oh, Deus. — Ela murmurou, uma onda de náusea chegando.

Quanto mais sua vida podia piorar? Tinha algo monumental para lidar, e ainda assim tinha ido e ficado nua com Brock. Talvez precisasse estar com ele precisamente por causa de todo o resto que lidava ultimamente. Do que não precisava era complicar uma situação já supercomplicada.

Certo como inferno que não precisava ficar sentada ali se preocupando sobre o que ele poderia pensar dela agora. Ela não iria por este caminho, mas isso não a impedia de pensar nele.

E quando tirou a atadura da sua coxa e ligou a ducha, falou para si mesma que não precisava de Brock ou de ninguém para ajudar a atravessar o que estava por vir. Estava sozinha por um longo tempo. Sabia o que era lutar sozinha, se puxar pelos dias sombrios.

Mas saber não a impediu de se inclinar na lembrança da força de Brock - o poder calmante das suas palavras sensíveis e suas mãos dotadas. Suas promessas suavemente murmuradas que não estava sozinha. Que, com ele, estava segura.

—Não preciso dele. — Ela sussurrou no eco vazio do banheiro. — Não preciso de nada de ninguém.

Houve um pequeno tremor na sua voz, uma nota cambaleante de medo que ela desprezou ouvir. Puxou uma respiração aguda, e soltou uma maldição.

Jenna entrou na ducha e sob o borrifo quente, fechou os olhos. Ela deixou o vapor a envolver totalmente, deixou o ritmo constante da água que caía consumir seus soluços suaves, trêmulos.

 

Brock não devia estar surpreso por encontrar um dos outros guerreiros, já que o anoitecer se aproximava e a maior parte da Ordem estaria saindo logo em patrulhas pela cidade. Mas provavelmente a última pessoa que queria ver quando saiu da sala da ducha, onde tinha passado uma boa hora em água gelada, era Sterling Chase.

O antigo Agente de Execução limpava suas armas em uma mesa na sala de armas. Levantou os olhos de seu trabalho quando Brock entrou, já vestido no uniforme preto e botas, pronto para começar sua missão da noite.

—Parece que você e eu somos parceiros esta noite. — Chase arrastou as palavras. — Lucan enviou Kade e Niko até Rhode Island. Algo sobre informação que Reichen encontrou no seu trabalho recente na Europa. Estão saindo logo que o sol desça.

Brock grunhiu. Ele e Chase, parceiros de patrulha? Falar que era um mau dia era pouco.

—Obrigado pela atualização. Tentarei não matá-lo acidentalmente enquanto procuramos tipos maus esta noite.

Chase lhe deu uma olhada inexpressiva.

—Igualmente.

—Merda. — Brock soltou uma aguda exalação. — Qual de nós o enfureceu?

As sobrancelhas de Chase arquearam sob sua coroa loira de cabelo.

—Lucan. — Brock disse. — Não sei por que nos juntaria, a menos que esteja tentando comprovar um ponto a um ou a ambos.

—De fato, a atribuição foi minha sugestão.

A admissão não tornou exatamente as coisas melhores. Brock silenciou, a suspeita vincando sua testa.

—Você sugeriu que saíssemos em patrulha.

Chase inclinou a cabeça.

—Está certo. Considere como um ramo de oliveira. Saí da linha quanto falei de você e da humana. Não devia ter dito o que disse.

Brock o fitou, incrédulo. Ele avançou de forma ameaçadora, mais que pronto para chegar às vias de fato se vislumbrasse uma brisa de duplicidade saindo do macho arrogante.

—Deixe-me lhe dizer algo, Harvard. Não sei que tipo de jogo pensa que está fazendo, mas você não quer foder comigo.

—Nenhum jogo. — Chase disse, seus olhos azuis penetrantes constantes. Claros. Honestos, para estupefação de Brock. — Está abaixo de mim agir do modo que fiz antes, e peço desculpas.

Brock recuou, levantando seu queixo enquanto considerava a sinceridade surpreendente das palavras de Chase.

—Muito bem. — Ele disse lentamente, cauteloso em não ficar cômodo cedo demais.

Esteve em muitas missões com Sterling Chase. Tinha lhe visto trabalhar, e sabia que o macho podia ser uma víbora - tanto no combate armado como em guerra de palavras. Era perigoso, e só porque estendia a mão em uma trégua aparente agora não significava que Brock devia ficar ansioso para lhe voltar as costas.

—Certo. — Ele murmurou. — Desculpas aceitas, cara.

Chase acenou com a cabeça, logo voltou à limpeza das suas armas.

—A propósito, esse corte no seu pescoço está sangrando.

Brock rosnou uma maldição quando alcançou e passou seus dedos sobre a pequena marca da mordida de Jenna. Havia só um risco fraco de sangue ali, mas até uma fração disto bastaria para um Raça identificar. E sob trégua ou não, Chase não deixaria aquilo passar sem um comentário.

—Estarei pronto para sair ao pôr do sol. — Disse Brock, seus olhos treinados na cabeça loira inclinada que não se contraiu em resposta, o resto da atenção de Chase concentrada no trabalho espalhado na mesa diante dele.

Brock girou e saiu ao corredor. Não precisava da lembrança sobre o que tinha acontecido entre Jenna e ele. Estava na sua mente, ocupando a maior parte dos seus pensamentos, desde o momento que a abandonou no seu quarto.

As desculpas de Chase o fizeram perceber que devia uma, também.

Não queria deixar as coisas como estavam com Jenna. Parte dele se perguntava se foi justo persegui-la, depois que fugiu dele, tentando reter as lágrimas. Tinha seduzido sua tristeza com seu toque, mas isso não a tinha tornado mais flexível à sua própria necessidade de exigência por ela?

Não tinha sido seu plano manipulá-la para levá-la para sua cama, não importa o quanto queria. E se a tinha seduzido, não havia nenhuma dúvida do desejo de Jenna uma vez que começaram. Não precisou muito para reviver a sensação das mãos na sua pele, suaves ainda assim exigentes. Sua boca estava quente e molhada na dele, dando e tomando, deixando-o selvagem. Seu corpo o tinha embainhado como cetim liso, quente, uma memória que o deixava duro só de pensar.

E depois, quando sentiu a pressão embotada dos seus dentes humanos na sua garganta...

Santo inferno.

Nunca conheceu nada tão quente.

Nunca conheceu uma mulher tão quente como Jenna, e não esteve vivendo exatamente a vida de um monge que precisasse de base para comparação. As humanas há muito tempo eram seu tipo preferido - uma diversão agradável sem ameaça de enlace. Nunca foi tentado sequer a pensar em passar algumas noites quando estava com suas amantes humanas. Agora se perguntava se não estava vendo Jenna Darrow sob a mesma luz. No fundo, tinha que admitir que esperava poder guardá-la naquele pequeno compartimento organizado.

Por agora, estava determinado a fechar a tampa de sua atração e partir enquanto podia.

Mas ainda tinha o assunto de como tinha deixado as coisas com ela.

Mesmo que estivesse chateada com ele, e tinha o direito de estar, queria que soubesse o que ele sentiu. Não estava arrependido do sexo que foi tão quente que era um milagre não queimarem juntos, mas arrependido por fugir sem se desculpar por sua própria fraqueza depois. Queria consertar as coisas para que pudessem seguir em frente.

E o que, ser amigos?

Inferno, não tinha certeza se sabia como fazer isto. Podia contar seus amigos em uma mão, e nenhum deles era humano. Nenhum deles era uma fêmea que o incendiava somente por estar na mesma sala.

Apesar de tudo, se encontrou na porta do seu antigo quarto, seu punho pronto para bater na porta fechada. Ele encostou seus nós dos dedos contra o painel em uma pancada leve. Não houve nenhuma resposta.

Por um momento, se perguntou se devia voltar e só deixar tudo como estava. Passar um apagador pelo episódio inteiro com Jenna como um lapso que ele nunca ia repetir. Mas antes que pudesse decidir qual seria a maior ofensa - entrar sem ser convidado ou partir novamente - já tinha aberto a porta.

O lugar estava escuro, sem uma luz. Sentiu o cheiro do xampu e vapor emanando do banheiro quando entrou silenciosamente no apartamento. Não fez nenhum som quando andou pelo dormitório, onde Jenna estava dormindo na cama, enrolada longe do seu lado. Ele se aproximou, a olhando por um momento, escutando o ímpeto lento, tranquilo da sua respiração.

O impulso de se juntar a ela era forte, mas se manteve firme. Por pouco.

Seus cabelos escuros se espalhavam úmidos por cima do travesseiro, ondas brilhantes. Ele estendeu a mão para pegar, deixar seus dedos afundar na sua maciez, cuidadoso que seu toque não a perturbasse. Suas desculpas teriam que esperar. Talvez ela até não quisesse ouvi-lo.

Sim, talvez fosse melhor para ambos se apenas deixasse de ser pessoal e voltassem a interagir a nível puramente profissional, pelo menos enquanto ela permanecesse no complexo. Deus sabia, este parecia o plano mais razoável. O plano mais seguro para ambos, mas especialmente para ela. Ficar muito próximo de alguém que foi designado para proteger significava ficar desleixado no que foi treinado a fazer.

Tinha acontecido antes, e uma jovem vibrante pagou o preço com sua vida. Não estava a ponto de pôr Jenna naquela espécie de perigo. Com certeza era resistente e capaz, não a inocente ingênua que tinha confiado em Brock e morreu pelo erro. Mas desde que foi encarregado do bem-estar de Jenna - confiado com sua proteção - ia mantê-la à distância. Era uma promessa que estava determinado a manter.

Não que ela fosse discutir, depois do modo como tinha estragado as coisas entre eles neste quarto.

Ele deixou o cacho úmido e escuro voltar ao lugar no travesseiro. Sem uma palavra, sem um som, recuou da cama. Deixou o apartamento tão sigiloso como tinha entrado... Ignorante que na calma do dormitório, os olhos de Jenna estavam abertos, sua respiração parada quando o escutou fugir pela segunda vez naquela noite.

—Terra para Jenna. Tudo bem com você?

—Hum? Oh. Sim, estou ótima. — Jenna olhou para Alex, saindo do estupor que esteve sequestrando seu foco toda a noite. Depois do B&E inesperado de Brock em seu quarto há algumas horas. Para não falar nada do sexo incrível que o tinha precedido. —Só perdida nos meus pensamentos, acho.

—Isto é exatamente por que perguntei. — Disse Alex. — Você está em outro lugar desde que sentou comigo aqui esta noite.

—Sinto muito. Não é nada para se preocupar. Tudo está bem.

Jenna pegou seu garfo e perseguiu um pedaço de salmão em seu prato. Não estava com fome, mas quando Alex a trouxe para um jantar tranquilo juntas no seu quarto, Jenna não pode negar que agradecia a companhia de sua melhor amiga. Queria fingir, só por algum tempo, que as coisas eram as mesmas de quando estavam no Alasca apenas há algumas semanas - antes que soubesse sobre a corrupção e morte de seu irmão, antes que soubesse sobre vampiros e biotecnologia alienígena que acelerava mutações de DNA.

Antes que tivesse complicado todos os seus problemas ficando nua com Brock.

—Olá? — Através da mesa, Alex a olhou por cima da borda do seu copo de cerveja. — FYI , caso esteja se perguntando, está fazendo de novo, Jen. O que está acontecendo com você?

—Suponho que quer saber o que não seja óbvio. — Respondeu Jenna, afastando seu prato com a mão e recostando na cadeira.

Ela fitou sua amiga, a pessoa mais compreensiva, solidária que conhecia - uma pessoa, além de Brock, que lhe tinha dado força enquanto passava pelas piores provações da sua vida. Jenna percebeu que devia a Alex mais que a fachada habitual de não-se-preocupe-comigo. Não importa que Alex tivesse a capacidade de ver além de qualquer bobagem com seu detector de mentira próprio, cortesia de sua genética Companheira de Raça.

Jenna puxou uma respiração lenta e a deixou sair em um suspiro.

—Algo aconteceu. Entre Brock e eu.

—Algo... Aconteceu? — Alex a olhou em silêncio por um momento antes que sua testa franzisse numa carranca. — Está dizendo...

—Sim, é exatamente isto o que estou dizendo. — Jenna levantou da mesa e começou a limpar seu lugar. — Estava na sala de guerra sozinha, depois que todo mundo foi dormir. Brock entrou, e começamos a conversar, então começamos a nos beijar. As coisas ficaram realmente intensas, realmente rápidas. Não acho que nenhum de nós soubesse o que ia acontecer.

Alex a seguiu na cozinha.

—Você e Brock... Dormindo juntos? — Ela perguntou. — Vocês fizeram sexo na sala de guerra?

—Deus, não. Somente nos beijamos lá. Na mesa de conferência. O sexo veio depois, no quarto dele. Ou melhor, no meu quarto. — Jenna sentiu um rubor nas faces. Não estava acostumada a discutir sua vida íntima - principalmente porque não tinha uma há um longo tempo. E certamente nunca algo tão fora de controle como o que ela e Brock tinham compartilhado. — Oh, por Deus, não me faça explicar cada detalhe. Diga algo, Alex.

Ela a fitou, um tanto de boca aberta.

—Estou, hum...

—Chocada? Decepcionada? Pode dizer. — Disse Jenna, tentando adivinhar o que sua amiga pensava dela, sabendo como tinha evitado algo que se parecesse com uma relação ou intimidade nos anos desde o acidente, só para terminar na cama com um dos guerreiros da Ordem depois de apenas um par de dias na sua companhia. — Deve pensar que sou patética. Deus sabe que o faço.

—Jenna, não. — Alex a pegou pelos ombros, forçando Jenna a manter seu olhar. — Não penso nada disso em absoluto. Estou surpresa... Mas, nem tanto. Era óbvio para mim que você e Brock tinham uma conexão, até antes que fosse trazida aqui ao complexo. E Kade mencionou algumas vezes que Brock estava muito atraído e que estava preocupado com você, protetor com você.

—Realmente? — A curiosidade tremulou à vida dentro dela contra sua vontade. —Ele falou com Kade sobre mim - quando? O que disse? — Ela repentinamente se sentiu como uma adolescente curiosa querendo detalhes sobre uma paixão na escola. —Oh, Deus - esqueça. Não quero saber. Não importa. O que aconteceu entre nós não significou nada. De fato, realmente gostaria de me esquecer dele.

Se apenas fosse fácil pôr tudo isso fora da sua mente.

Os olhos de Alex estavam suaves, suas palavras cuidadosas.

—É isto o que Brock acha, também? Que fazer amor não significou nada? Que deve tentar fingir que não aconteceu?

Jenna lembrou da paixão incrível que tinham compartilhado e suas palavras sensíveis posteriormente. Ele tinha dito que não queria que ela lamentasse. Ele não queria que pensasse que era um erro. Doces palavras solidárias que tinha oferecido apenas momentos antes que fugisse da sala e a deixasse sentada sozinha e confusa na escuridão.

—Concordamos que não haveria laços, nenhum compromisso entre nós. — Ela se ouviu murmurar quando desviou do olhar de Alex e voltou a limpar mais pratos. Não queria pensar em como era bom estar nos braços de Brock, ou a fome alarmante que ele mexia dentro dela. — Foi somente sexo, Alex, e apenas uma única vez. Acho que tenho coisas maiores para me preocupar, certo? Não vou piorar tudo me envolvendo com ele - fisicamente ou de qualquer outra maneira.

Parecia um argumento inteligente e razoável, embora se tentava de convencer sua amiga ou ela, não estava totalmente certa.

Alex saiu da cozinha atrás dela.

—Acho que já se preocupa com ele, Jen. Acho que Brock significa algo, e está apavorada.

Jenna girou, atingida por ouvir a verdade objetiva expressa em voz alta.

—Não quero sentir nada por ele. Não posso, Alex.

—Seria tão mau se o fizesse?

—Sim. — Ela respondeu, enfática. — Minha vida está bastante incerta como está. Que louca seria eu se me apaixonasse por ele?

O sorriso de Alex foi sutilmente compassivo.

—Acho que tem coisas piores que poderia fazer. Brock é um bom homem.

Jenna sacudiu a cabeça.

—Ele não é nem mesmo totalmente humano, caso qualquer um de nós estivesse tentado a esquecer esse pequeno fato. Embora provavelmente deva estar interrogando minha própria humanidade, depois do modo que eu o mordi esta noite.

As sobrancelhas de Alex se arquearam.

—Você o mordeu?

Muito tarde para voltar atrás por falar sem pensar, Jenna explorou um dedo contra o lado do seu pescoço.

—Enquanto estávamos na cama. Não sei o que deu em mim. Suponho que fui levada pelo momento, e só... O mordi. O bastante para tirar sangue.

—Oh. — Alex respondeu lentamente, a estudando agora. — E como se sentiu, o mordendo?

Jenna bufou um suspiro curto.

—Maluca. Impulsiva. Como um trem descarrilado. Foi embaraçoso como o inferno, se quer saber a verdade. Brock pareceu pensar assim, também. Não pode fugir de mim o bastante rápido depois.

—Você falou com ele desde então?

—Não, e espero que não tenha. Como disse, provavelmente é melhor que ambos esqueçamos tudo isso.

Mas mesmo enquanto falava, não podia deixar de lembrar do momento que percebeu que tinha voltado ao quarto depois que ela tomou banho e foi dormir. Não podia deixar de lembrar como ficou desesperada para ouvi-lo - para dizer algo - naquele par de tranquilos minutos em que a olhou na escuridão, assumindo que estava adormecida e não sabia que ele estava lá.

E agora, depois de tentar convencer a ela e Alex também, que estava no controle da situação com Brock, a memória da sua paixão pôs uma rapidez inegável nas suas veias.

—Ele foi um erro. — Ela murmurou. — Não vou torná-lo pior imaginando que foi mais do que isto. Tudo que posso fazer é insistir em não repeti-lo.

Ela soou tão segura, que pensou que Alex acreditaria. Mas quando olhou sua amiga - sua melhor amiga, que estava junto dela por todos os triunfos e dramas da sua vida - os olhos de Alex eram doces com a compreensão.

—Vá em frente, Jen. Vamos terminar esses pratos, então iremos ver como Dylan e as outras estão indo nas suas investigações.

 

—Estivemos sentados aqui por vinte e cinco minutos, cara. Não penso que seu tipo vai se mostrar. — Brock deu uma olhada para Chase do assento de motorista do Rover estacionado. — Quanto tempo supõe que esperaremos esse imbecil?

Chase olhou para as vagas, cobertas de neve em Dorchester, onde se supunha que seu encontro com um dos seus antigos contatos da Agência de Execução se realizaria.

—Algo deve ter acontecido. Mathias Rowan é um bom homem. Nunca me deixaria esperando. Vamos esperar mais uns minutos.

Brock soltou um grunhido impaciente e subiu o calor do SUV. Não estava excitado em acompanhar Chase na patrulha da noite, mas ficou menos excitado ao saber que seu trabalho na cidade incluía a perspectiva de reunião com um membro da organização de aplicação da lei da nação Raça. A Agência e a Ordem tinham uma desconfiança há muito, mútua, ambos os lados discordando sobre o modo como o crime e a punição deviam funcionar entre a Raça.

Se a Agência de Execução foi eficaz algum dia, Brock pessoalmente não podia saber. A organização era muito mais política que tudo, geralmente beijando bundas e lábios como meio de lidar com os problemas - duas coisas que faltavam no manual da Ordem.

—Cara, odeio o inverno. — Brock murmurou quando uma nova lufada de neve começou a cair de fato. Uma rajada de vento frio bateu do lado do veículo, uivando como uma banshee através do estacionamento vazio.

Verdade seja dita, a maior parte do seu humor sujo tinha a ver em como dirigiu as coisas com Jenna. Não podia parar de se perguntar o que estava fazendo, o que pensava. Se o desprezava, que era certamente seu direito. Estava ansioso que a missão da noite terminasse, a fim de voltar ao complexo e ver como Jenna estava.

—Seu Rowan parece que não vai chegar. — Ele rosnou. — Não vou sentar neste frio maldito congelando meu traseiro por ninguém - muito menos um fanfarrão hipócrita da Agência.

Chase deu-lhe uma olhada significativa.

—Se quer acreditar ou não, há alguns bons indivíduos na Agência de Execução. Mathias Rowan é um deles. Foi meus olhos e ouvidos dentro por meses. Se queremos encontrar os possíveis aliados de Dragos na Agência, precisamos de Rowan do nosso lado.

Brock deu um aceno de cabeça e se recostou para continuar a esperar. Chase estava provavelmente certo sobre seu velho aliado. Poucos na Agência de Execução queriam admitir que havia falhas na sua fundação - falhas que tinham permitido a um cancro como Dragos trabalhar dentro da Agência em segredo por décadas. Dragos tinha se ocultado atrás de um nome falso, acumulando poder e informações, recrutando inúmeros seguidores com a mesma opinião, dispostos a matar por ele - morrer por ele, se o dever exigisse. Dragos tinha subido tão alto que chegou a diretor na Agência antes que a Ordem o tivesse desmascarado há vários meses e o levasse a se esconder.

Embora Dragos estivesse fora da Agência, a Ordem estava certa que não tinha cortado todos os seus tentáculos. Haveria aqueles que ainda concordavam com seus planos perigosos. Aqueles que ainda eram aliados dele na conspiração silenciosa, oculta dentro de camada sobre camada de baboseiras burocráticas que impediam Brock e os outros guerreiros de entrar com as armas em punho para eliminá-las.

Um dos principais objetivos de Chase nos meses desde que Dragos fugiu com o rabo entre as pernas foi começar a descascar aquelas camadas na Agência. Para chegar mais próximo de Dragos, a Ordem tinha que chegar perto dos seus tenentes em passo leve, sem qualquer alarme. Um movimento desatento podia levar Dragos fundo na ocultação.

A operação foi encoberta ao extremo, tão delicada que a melhor esperança de êxito da Ordem estava no gatilho, nas mãos voláteis de Sterling Chase e sua confiança em um velho amigo que era tão leal como Chase prometia ser.

No painel do lado do passageiro, o celular de Chase começou a vibrar.

—É Rowan. — Ele disse, pegando o telefone e respondendo a chamada. — Sim. Estamos esperando. Onde está você?

Brock fitava a neve rodopiando pelo para-brisa, escutando ao lado Chase numa conversa que não parecia com boas notícias.

—Ai, porra - alguém morto? — Chase ficou quieto por um segundo, logo sussurrou algo sórdido. Ao olhar interrogativo de Brock, explicou. — Foi desviado por outra chamada. Um moleque de Darkhaven deixou as coisas saírem de controle em uma festa. Houve uma luta, e uma alimentação na rua. Um humano está morto, o outro fugiu a pé, sangrando muito.

—Jesus. — Brock murmurou.

O humano morto e uma alimentação feita numa rua pública eram bastante ruins. A maior preocupação era a testemunha que escapou. Não era difícil imaginar a histeria que um humano atacado podia causar, correndo em volta gritando a palavra “vampire”. Sem falar do que um humano sangrando podia incitar entre a própria espécie de Brock.

O odor de células vermelhas frescas, caindo, seriam uma boia luminosa a cada Raça em um raio de duas milhas. E Deus proibisse que houvesse qualquer Renegado pela cidade. Uma brisa de uma ferida aberta seria o bastante para os enviar a sede de sangue da população Raça em um frenesi alimentício.

A mandíbula de Chase estava esticada quando voltou à Mathias Rowan no celular.

—Me diga que seus caras contiveram o fugitivo. — Do áspero ranger da maldição que seguiu, Brock adivinhou que a resposta a isto foi não. — Maldição, Mathias. Sabe tão bem como eu que temos que tirar aquele humano da rua. Se precisar da divisão de Boston inteira para ir no encalço dele, então o faça. Quem está com você da Agência?

Brock olhou e escutou como a conversa continuava, observando um lado de Sterling Chase que não conhecia. O ex-Agente estava frio e impositivo, lógico e exato. O esquentadinho imprevisível que Brock estava acostumado a ver como membro da Ordem pareceu se deixar suplantar pelo líder rápido, capaz sentado junto dele no Rover agora.

Tinha ouvido que Chase era o menino de ouro da Agência antes de se juntar à Ordem, embora não pudesse ser comprovado por Brock no ano que passou trabalhando ao lado dele. Agora sentiu um novo respeito acendendo pelo ex-Agente, bem como uma curiosidade atroz sobre o outro, o lado mais escuro dele, que nunca parecia distante da superfície.

—Onde você está, Mathias? — Chase fez gestos a Brock para pôr o veículo em marcha enquanto falava com seu contato da Agência. — Diga-lhe que pare de me importunar sobre se a Ordem está implicada nisto. Não estou pedindo permissão, e você e eu nunca tivemos esta conversa, entendeu? Guarde isto para quando eu chegar. Já estamos indo.

Brock virou o Rover para a rua e seguiu as direções de Chase quando cortou os protestos audíveis de Mathias Rowan, logo enfiou o celular atrás no seu bolso do casaco. Eles aceleraram pela cidade, na direção dos cais industriais, onde muitos jovens - humanos e Raça igualmente - se encontravam para delírios noturnos e privados, depois de altas horas.

Não foi difícil encontrar a cena da matança. Dois sedans pretos desmarcados estavam estacionados em um depósito da zona portuária. Vários machos Raça em casacos escuros e ternos estavam em volta de um grande objeto imóvel na neve imunda do lote adjacente ao edifício.

—São eles. — Chase disse. — Reconheço a maior parte desses homens da Agência.

Brock virou o Rover na área, olhando o grupo enquanto todas as cabeças viravam na direção ao veículo próximo.

—Sim, são eles, muito bem. Inúteis e confusos. — Brock arrastou as palavras, avaliando os Agentes com um relance. — Quem é Rowan?

Não devia ter perguntado. Mal o tinha dito, um do grupo se separou dos outros, andando com gravidade para encontrar Brock e Chase enquanto saíam do veículo. O agente Mathias Rowan era tão alto e largo como os guerreiros, seus ombros grossos sob o pesado casaco de lã escuro talhado. Luminosos olhos verdes brilhavam com inteligência e aborrecimento quando se aproximou, a pele se estendia apertada através das suas altas bochechas.

—Vejo que os meninos da Agência estão tendo um pouco de problemas esta noite. — Chase disse, lançando sua voz bastante alto para o resto dos Agentes reunidos ouvir tão bem como Rowan. — Pensamos que poderiam precisar de um pouco de ajuda aí fora.

—Você quer me foder? — Rowan rosnou baixinho, só para Chase. — Sabe que alguns desses Agentes arrancariam seus membros antes que o tivessem no meio da sua investigação.

—Sim? — Chase respondeu, a boca num sorriso convencido. — Está sendo uma noite lenta para mim por enquanto. Poderia ser interessante deixá-los tentar.

—Chase, maldição. — Rowan manteve sua voz baixa. — Eu disse para não vir.

Chase grunhiu.

—Houve um tempo quando eu dava as ordens por aqui que você era o único a segui-las, Mathias.

—Não mais. — Rowan carranqueou, mas não havia nenhuma animosidade na sua expressão. — Temos três Agentes em perseguição ao fugitivo; eles vão conseguir. O edifício foi limpo de todos os humanos, e qualquer testemunha potencial do incidente foi limpa de toda a memória da noite inteira. É o fim.

—Bem, bem... Porra se não é Sterling Chase. — A saudação rosnada seguiu a brisa invernal, através do lote industrial agitado pela neve de onde um par de outros homens tinham saído sem preâmbulos.

Chase olhou, os olhos se estreitando no grande macho à frente.

—Freyne. — Ele rosnou, cuspindo o nome como se não pudesse suportar o gosto dele. — Devia saber que o imbecil estaria aqui.

—Você está interferindo em negócios da Agência oficial. — Disse o Agente Rowan, mais alto agora, pretendendo ser ouvido por todos. Ele disparou à Chase uma olhada de advertência, mas falou com a espécie de arrogância ansiosa que parecia ser padrão na Agência de Execução como seus ternos GQ e sapatos polidos. — Este incidente não concerne a Ordem. É assunto do Darkhaven, e temos a situação sob controle.

Sorrindo perigosamente aos dois recém-chegados, Chase deu passos em volta do seu amigo com um pouco mais que um relance lateral. Brock o seguiu, músculos se contraindo em prontidão pela batalha quando registrou o ar da ameaça que rolava do par de Agentes que vinham para confrontá-los.

—Jesus Cristo, é você. — Disse aquele chamado Freyne, seus lábios sorrindo em zombaria. — Pensei que nunca mais o veria depois que abateu seu sobrinho Renegado no ano passado.

Brock ficou tenso, pego de surpresa pelo comentário e sua crueldade deliberada. O ultraje pregou nele, embora Chase não parecesse surpreso pelo lembrete cruel. Ignorou a zombaria, um esforço que deve ter tomado um controle incrível baseado em como seu maxilar estava firmemente apertado, quando roçou seus ex-colegas a caminho da cena do crime.

Brock acompanhou os passo longos de Chase, cortando as lufadas de neve, passando pela janela colorida de um sedan onde o garoto do Darkhaven que tinha deixado sua fome governá-lo esperava no interior. Brock sentiu o peso dos olhos do jovem Raça quando ele e Chase passaram pelo carro, suas imagens - dois machos pesadamente armados em uniforme preto e casacos de couro longos, inconfundivelmente membros da Ordem - refletidas no vidro.

Na terra perto do edifício, a neve estava suja profundamente de vermelho onde a luta tinha ocorrido. O cadáver inanimado do humano morto estava agora em uma bolsa de corpos e era carregado em outro veículo da Agência estacionado próximo. O sangue estava morto e sem tentação ou uso, mas o cheiro penetrante de cobre era ainda forte no ar frio, fazendo as gengivas de Brock tinirem com a emergência das suas presas.

Atrás deles, pegadas trituravam a neve e cascalho. Freyne limpou sua garganta, aparentemente incapaz de deixar as coisas como estavam.

—Sabe, Chase, serei direto com você. Ninguém pode culpá-lo por derrubar o garoto.

—Agente Freyne. — Mathias Rowan disse, um aviso que passou despercebido.

—Ele não parecia como se não esperasse o que aconteceu, certo, Chase? Quer dizer, merda. O garoto era Renegado, e só há um modo de lidar com isto. Da mesma forma que lida com um cão raivoso.

Tão determinado como o outro Agente estava em zombar, Chase parecia igualmente determinado a ignorá-lo.

—Lá adiante. — Ele disse a Brock, apontando para indicar um rastro dos pesados respingos longe da cena.

Brock acenou com a cabeça. Já tinha visto o caminho que o fugitivo tomou. E tanto como pessoalmente queria pular no Agente Freyne e humilhar o bastardo presunçoso, se Chase era capaz de ignorá-lo, Brock faria o possível para fazer o mesmo.

—Parece que nosso vivo correu na direção das docas.

—Sim. — Chase concordou. — Julgando pelo montante de sangue que está derramando, está muito débil para chegar longe. A fadiga o derrubará a menos de uma milha.

Brock olhou para Chase.

—Deste modo, se a área foi varrida e ninguém o encontrou ainda...

—Está se ocultando em algum lugar não longe daqui. — Chase disse, terminando o pensamento.

Estavam a ponto de começar a perseguição quando a risada irônica de Freyne chegou neles.

—Colocar uma bala no cérebro do garoto foi um ato de clemência se você me perguntar. Mas tem que perguntar se sua mãe sentiu do mesmo modo... Visto como você matou seu filho bem na frente dela.

Chase congelou com isto. Brock o olhou, viu um músculo marcar perigosamente rápido na sua mandíbula rígida.

Enquanto o resto do pequeno grupo se movia fora da área, Mathias Rowan caminhou para a frente do seu Agente, a fúria vibra em cada polegada dele.

—Maldito seja, Freyne, eu disse para fechar essa fodida boca e isto é uma ordem!

Mas o filho da puta simplesmente não parou. Deu a volta no seu superior, pondo-se diretamente na cara de Chase.

—Elise é de quem me compadeço nisto tudo. Que pobre mulher doce. Ter perdido seu irmão Quentin no dever há todos aqueles anos, então você tira sua única criança diante dos seus olhos. Imagino que não é nenhuma surpresa ela procurar conforto em algum lugar - até entre os assassinos da Ordem. — Freyne fez um som vulgar atrás da sua garganta. — Fêmeas perfeitas podem escolher os machos ansiosos na sua cama. Inferno, teria experimentado alegremente um pouco disto. Surpreendo-me que nunca o tenha feito.

Chase deixou sair um rugido que sacudiu a terra. Num borrão que nem mesmo Brock pode seguir totalmente, Chase se lançou em Freyne. Dois grandes machos caíram no cascalho e neve, Chase prendendo o Agente debaixo dele, socando seus punhos na sua cara.

Freyne lutou, mas não era páreo para a fúria de Chase. Observando de perto, Brock não estava seguro se alguém podia enfrentar a raiva feroz que parecia fluir de Chase enquanto punia com um soco após o outro.

Nenhum de outros Agentes fez um movimento para parar a luta, menos ainda Mathias Rowan. Ele se afastou, silencioso, estoico, o resto dos seus subordinados parecendo medir sua resposta pela dele. Teriam deixado Chase matar Freyne, e fosse aquela morte merecida ou não, Brock não podia permitir que a cena brutal acabasse na sua conclusão inevitável.

Ele se aproximou, pondo uma mão no ombro do seu colega guerreiro.

—Chase, cara. É o bastante.

Chase continuou martelando, embora Freyne não tentasse lutar mais. As presas se estenderam enormes na sua boca, os olhos inflamando com o fogo ambarino da sua raiva, Chase parecia sem vontade - ou incapaz - de trazer a besta nele de volta.

Quando um daqueles punhos sangrentos recuou para dar outro soco, Brock o pegou na sua mão. Ele segurou com toda a sua força, se recusando a deixar cair novamente. Chase deu uma olhada selvagem nele. Rosnado algo cru e sórdido.

Brock lentamente sacudiu a cabeça.

—Vamos, Harvard. Deixe-o por agora. Ele não vale a pena matar, não assim.

Chase o olhou duro, os lábios mostrando suas presas. Ele grunhiu, animalesco, logo girou a cabeça em volta para ver os choramingos do macho sangrento ainda preso debaixo dele e semiconsciente na lama.

Brock sentiu que o punho no seu aperto começava a desatar um pouco.

—É isso, cara. Você é melhor do que isto. Melhor do que ele.

Um celular soou próximo. De lado, Brock viu Rowan pôr o móvel no ouvido e se afastou para atender a chamada. Chase estava irritado e perigoso, ainda não disposto a soltar Freyne.

—Eles o acharam. — Anunciou o Agente Rowan, sua afirmação calma cortando um pouco da tensão. — Dois dos meus Agentes encontraram o fugitivo oculto embaixo de um caminhão de entrega abaixo pelos cais. Eles limparam sua memória do que testemunhou e o deixaram perto de um hospital do outro lado da cidade.

Brock deu um aceno de cabeça fraco em confirmação.

—Ouviu isto, Chase? Está acabado. Vamos sair daqui. — Ele soltou o punho de Chase, confiando que não piorasse a situação com Freyne ou algum dos outros Agentes ainda reunidos, olhando em silêncio ansioso. — Deixe-o ir, Chase. Esta merda está terminada.

—Por agora. — Chase finalmente murmurou, sua voz áspera e escura. Ele bufou, se livrou da mão de Brock no seu ombro. Com a raiva que ainda rolava dele, deu um último soco na face ferida de Freyne antes ficar de pé. — Da próxima vez que o vir, — Ele rosnou. — é um homem morto.

—Vamos, Harvard. — Brock o levou longe da área, não perdendo a olhada aguda que Mathias Rowan nivelou neles enquanto iam na direção do Rover. — Relações muito diplomáticas com a Agência, cara.

Chase não disse nada. O seguiu um par de passos atrás, sua respiração entrando e saindo dos seus pulmões, seu corpo se desfazendo da agressividade como uma rajada nuclear.

—Espero não precisar da ponte lá atrás, porque você acabou de botar fogo nela. — Brock disse enquanto chegavam no veículo.

Chase não respondeu. Apenas tranquilidade atrás de Brock. Muito tranquilo, de fato.

Ele girou em volta. Tudo que encontrou foi muito espaço vazio onde Chase estava apenas há um segundo. Ele se foi, desapareceu sem desculpa ou explicação, na noite de neve.

 

      Uma par de horas depois do jantar com Alex, Jenna sentou na sala de guerra das Companheiras de Raça, na mesma mesa de conferência onde ela e Brock abriram uma porta pela qual provavelmente nenhum deles estava preparado para andar. Mas tentou não pensar nisto. Tentou não pensar na boca sensual de Brock na dela, ou suas mãos experientes, que tinham dado tal prazer intenso mesmo enquanto afastava sua dor e inibições.

Em vez disso, ela prendeu sua atenção na discussão entre as mulheres da Ordem que estavam reunidas na sala para rever a posição da missão de localização das prisioneiras mantidas por Dragos. Só Tess estava foi ausente da reunião, a Companheira de Raça grávida pediu folga para descansar em seu quarto e de Dante, na companhia de Mira, também.

—Ela não está se sentindo mal, não é? — Alex perguntou. — Acha que o bebê pode estar vindo mais cedo?

Savannah deu uma sacudida branda de cabeça quando descansou seus cotovelos na mesa.

—Tess diz que se sente grande, só um pouco cansada. É compreensível. Faltam poucas semanas agora.

Havia uma fraca hesitação na sua voz, então seu olhar foi à deriva sutilmente na direção de Jenna. Uma curiosidade silenciosa nos seus olhos. Naquele momento, Jenna notou que as palmas de Savannah estavam apertadas contra a mesa. Suas sobrancelhas pretas finas levantaram ligeiramente, e era óbvio pela peculiaridade parcial da sua boca que seu talento de Companheira de Raça para ler objetos com um toque acabava de dizer - sem dúvida, em detalhes vívidos - do beijo apaixonado que Jenna e Brock tinham compartilhado naquele superfície.

Quando começou a ficar embaraçada Jenna afastou o olhar, mas Savana simplesmente sorriu em divertimento sereno e deu-lhe um pequeno aceno de cabeça como se dizendo que aprovava.

—Sabe, Dante está apostando quando o bebê chegará. — Dylan continuou. — Rio e eu apostamos nosso dinheiro num bebê de Natal.

Renata sacudiu a cabeça, os cachos do seu cabelo escuro balançando em volta do seu queixo.

—Será Ano Novo, espere e verá. O filho de Dante nunca perderia uma desculpa para uma festa.

No fim da mesa, Gabrielle riu.

—Lucan nunca admitirá que tem vontade de ter um bebê no complexo, mas sei de primeira mão que cinco dólares foram apostados no dia vinte de Dezembro recentemente.

—Há algo especial sobre essa data? — Jenna perguntou, excitada e genuinamente curiosa para saber.

—É o aniversário de Lucan. — Disse Elise, compartilhando o humor de Gabrielle. —E Tegan pôs cem dólares no dia quatro de Fevereiro, sabendo muito bem que é muito tarde para disputar.

—Quatro de Fevereiro. — Savannah disse, acenando com a cabeça em compreensão serena.

O sorriso de Elise era suave com memórias agridoces.

—A noite que Tegan me encontrou caçando Renegados em Boston e tentou me parar.

Dylan estendeu a mão e apertou a mão da outra Companheira de Raça.

—E o resto, como dizem, é história.

Quando a conversa sobre coisas pequenas, rotineiras deu lugar à conversa mais séria da busca de pistas e formulação de novas estratégias de missão, Jenna sentiu seu respeito crescer pelas companheiras inteligentes, determinadas dos guerreiros da Ordem. E apesar das garantias que o cansaço de Tess não era nada para se preocupar, se encontrou preocupada com ela, também, sentindo sua falta da reunião como um dos seus fios mais vibrantes.

Um pensamento atingiu Jenna quando calmamente observou os rostos das outras mulheres na sala: de alguma maneira, tinha começado a considerar todas suas amigas. Essas mulheres importaram para ela, assim como seus objetivos. Tão inflexível como estava em não pertencer a este lugar, entre essa gente, percebeu que queria vê-las tendo sucesso.

Queria ver a Ordem derrotar Dragos, e havia uma parte dela - uma parte muito determinada - que queria ajudar isso a acontecer.

Jenna ansiosamente escutou quando Elise discutiu a situação dos novos esboços que ela e Claire Reichen estavam trabalhando com o artista de Elise no Darkhaven local.

—Só deve levar mais uns dois dias antes que tenhamos terminado os esboços. Claire é assombrosa, assegurando-se que cada detalhe é como ela lembra do seu Caminhar nos Sonhos no laboratório de Dragos. Tem notas meticulosas, e sua memória é incrível.

—Isto está bem. — Disse Renata. — Vamos precisar de toda a ajuda que pudermos. Infelizmente, Dylan e eu batemos num obstáculo quanto à Irmã Margaret.

—Ela está vivendo em uma casa de freiras aposentadas em Gloucester. — Interpôs Dylan. — Falei com o administrador, e disse que minha mãe e a Irmã Margaret eram voluntárias no abrigo de mulheres em Nova York. Não mencionei o que realmente procuramos, naturalmente. Em vez disso fiz parecer como uma chamada pessoal, e perguntei se seria possível visitar a irmã algum dia e conversar sobre seus anos de trabalho voluntário - talvez relembrar um pouco sobre minha mãe. As boas notícias são, a Irmã Margaret gosta de companhia.

—Deste modo, qual é o obstáculo? — Jenna perguntou, incapaz de não pular neste novo rastro de informação.

—Demência. — Renata respondeu.

Dylan acenou com a cabeça.

—Irmã Margaret vem sofrendo muito com isso nos últimos dois anos. O administrador disse que há uma boa chance que não possa se lembrar muito sobre minha mãe ou seu trabalho no abrigo.

—Mas ainda merece uma tentativa, certo? — Jenna olhou em volta para as outras mulheres. — Acho que qualquer pista é boa neste ponto. Há vidas em jogo aqui, portanto temos que usar tudo que podemos. Tudo para encontrar aquelas mulheres e as trazer para casa.

Mais de uma cabeça se virou com surpresa na sua direção. Se alguma das mulheres da Ordem estranhou ela se incluir nos seus esforços para localizar as Companheiras de Raça desaparecidas, nenhuma disse uma palavra sobre isso.

O olhar de Savannah demorou nela, uma olhada de gratidão - de amizade e aceitação - brilhando nos seus olhos doces.

E foi aquela aceitação fácil, a bondade e solidariedade que sentiu em cada uma dessas mulheres especiais desde o primeiro dia que despertou, que pôs um nó de emoção na garganta de Jenna agora. Ele a esmagou, quase sufocando até a sensação por um segundo que podia ser parte de algo tão unido e cômodo como a extensa família extraordinária que vivia e trabalhava neste lugar.

—Muito bem. Vamos trabalhar. — Disse Dylan após um momento. — Há muito a ser feito.

Uma por uma, todas voltaram às suas tarefas, umas revisando um arquivo aberto, outras tomando posição na frente das muitas mesas de computador da sala de guerra. Jenna foi à deriva até um dos PC não usados e abriu um navegador de Internet.

Tinha quase esquecido sua mensagem ao seu amigo no Escritório do FBI em Anchorage, mas logo que abriu o correio eletrônico, viu a resposta na caixa de entrada. Clicou na mensagem e rapidamente leu o que dizia.

—Uh, meninas. — Ela disse, sentindo um pequeno pulo de excitação e triunfo quando leu a resposta do seu amigo. — Sabem quem está tentando conseguir informações dos parceiros da TerraGlobal?

—A fachada corporativa de Dragos. — Disse Dylan, já vindo para ver o que Jenna tinha.

Alex e as outras mulheres se aproximaram atrás dela.

—O que está acontecendo, Jen?

—Não somos os únicos interessados na TerraGlobal. — Jenna olhou para os rostos ansiosos sobre dela. — Um velho amigo meu em Anchorage fez uma pesquisa básica para mim. Acertou na mosca.

Savannah soltou uma risada incrédula enquanto lia a mensagem exposta no monitor.

—O FBI tem uma investigação aberta sobre a TerraGlobal?

—Segundo meu amigo, é relativamente nova. Está sendo dirigido por alguém no escritório de Nova York.

Gabrielle deu a Jenna um sorriso de aprovação.

—Belo trabalho. Devemos informar Lucan do que encontrou.

 

A noite estava só na metade, mas ele já a considerava um êxito triunfante.

Na escuridão do seu helicóptero privado, Dragos sorriu com satisfação profunda quando seu piloto guiou o avião elegante longe da paisagem invernal que brilhava na capital agitada em baixo e foi para as águas escuras do Atlântico, rumo ao norte, na direção do segundo encontro marcado para esta noite. Mal podia esperar para chegar, a antecipação de outra vitória fazendo seu sangue correr mais rápido nas suas veias.

Já há algum tempo, vinha cultivando seus aliados mais úteis, reunindo seus ativos em preparação para a guerra que pretendia travar, não só contra sua própria espécie - complacente, covardes impotentes que mereciam ficar sob sua bota - mas também contra o mundo em geral.

As recepções privadas desta noite eram cruciais aos seus objetivos, e só o começo do que seria uma grave ofensiva surpreendente que se preparava para entregar tanto à Raça como ao gênero humano igualmente. Se a Ordem achava que seus tentáculos se estendiam perigosamente só nos corredores de poder da Raça, teriam um rude despertar. E logo.

Muito logo, ele pensou, rindo baixinho com alegria ansiosa.

—Quanto tempo antes de aterrissarmos em Manhattan? — Ele perguntou ao seu piloto Subordinado.

—Cinquenta e dois minutos, Mestre. Estamos no horário.

Dragos resmungou sua aprovação e descansou no seu assento o resto do voo. Poderia chamar sua noite sem defeito, não fosse por um pequeno problema que picava obstinadamente no seu pescoço - uma pequena notícia aborrecida que tinha chegado ainda dia.

Evidentemente algum humilde auxiliar administrativo trabalhando para os Agentes do FBI no Alasca farejou em seus negócios, pedindo informações sobre parceiros da TerraGlobal. Por isto, culpava a Ordem. Sem dúvida, não era todo dia que uma companhia de mineração - falsa ou não - subia em uma bola infernal de chamas, como sua pequena operação no interior do Alasca fez nas mãos dos guerreiros de Lucan.

Agora Dragos teria a irritação acrescentada de precisar atender algum funcionário público ou benfeitor ambiental tentando se promover na carreira indo atrás de uma corporação vil por Deus sabia que delitos.

Deixe-os cavar, pensou, presunçosamente seguro que estava livre de quaisquer potenciais consequências. Havia camadas suficiente entre ele e a TerraGlobal para mantê-lo isolado da aplicação da lei humana curiosa ou políticos intrometidos. Se isto falhasse, tinha ativos em lugares que asseguravam que seus interesses estavam protegidos. E, no grande esquema, isso não importava.

Ele era intocável, mais a cada dia.

Logo, seria imbatível.

Esse conhecimento estava fora do limite de sua voz quando seu celular tocou com uma chamada de um dos seus tenentes-chave.

—Diga-me como a operação está.

—Tudo em ordem, Senhor. Meus homens estão nas posições que discutimos e prontos para avançar com o plano amanhã ao pôr do sol.

—Excelente. — Dragos respondeu. — Informe-me quando for feito.

—Naturalmente, Senhor.

Dragos fechou o telefone e o deslizou de volta no bolso de seu casaco. Esta noite era um passo triunfante na direção do futuro de ouro que tinha projetado há muito. Mas o movimento de amanhã contra a Ordem - a mordida da víbora que nunca veriam chegar - ia ser uma vitória ainda mais doce.

Dragos deixou o pensamento se instalar sobre ele enquanto apoiava sua cabeça atrás e fechava seus olhos, saboreando a promessa da derrota iminente e final da Ordem.

 

       Cerca de uma hora antes da alvorada, Brock chegou ao complexo sozinho. Odiava como o inferno deixar um parceiro de patrulha para trás depois de uma missão, mas após uma noite procurando na cidade por Chase e nada, não tinha muita escolha. Onde quer que Chase foi depois da sua briga com o Agente de Execução naquela noite, claramente não queria ser encontrado. Não era a primeira vez que fazia AWOL depois das patrulhas, mas isto não fazia seu desaparecimento um pouco melhor para Brock.

O assunto de um irmão-de-armas MIA não o deixou no melhor dos humores quando abriu a porta do quarto que compartilhava com Hunter e entrou na silenciosa sala, sem luz. Em casa na escuridão, sua visão mais aguda do que na luz, Brock tirou seu casaco de couro e o jogou no sofá antes de continuar até a área do beliche adjacente.

O lugar estava tão escuro e silencioso, que assumiu que seu companheiro de quarto ainda não tinha chegado - até que entrou no quarto e viu imediatamente o corpo do Gen Um com os dermaglifos cobrindo o macho nu do pescoço até os dedos do pé.

—Jesus Cristo. — Brock murmurou, evitando o vislumbre inesperado, e totalmente não desejado, frontal do seu companheiro de quarto. — O que é isso, homem?

Hunter estava com as costas poderosas contra a parede, os olhos fechados. Estava tão imóvel quanto uma estátua, respirando quase imperceptivelmente, seus musculosos braços soltos dos seus lados. Embora suas pálpebras abrissem com a interrupção de Brock, o macho imenso, ilegível não pareceu assustado ou mesmo remotamente preocupado.

—Eu estava dormindo. — Ele disse prático. — Estou descansado agora.

—Bom. — Brock arrastou as palavras, sacudindo a cabeça quando deu ao guerreiro nu suas costas. — E que tal por alguma maldita roupa? Estou aprendendo coisas sobre você que realmente não tenho que saber.

—Meu sono é mais eficaz sem roupas para me confinar. — Veio a resposta.

Brock bufou.

—Sim, ótimo, mas duvido que aprecie ver meu traseiro nu - ou algo mais - mais do que quer ver o meu. Jesus, cubra essa merda, está bem?

Sacudindo a cabeça, Brock desatou seu cinturão de armas e o deixou em uma das duas camas imperturbadas. Ele se lembrou da falta de resposta de Hunter quando inicialmente perguntou sobre qual dos beliches lhe pertencia e disparou um relance sobre seu ombro no Gen Um, que estava colocando um par de calças largas.

O macho de Raça que tinha nascido e sido criado para ser uma máquina de matar para Dragos. Um indivíduo marcado pela solidão completa, privado de contato ou companhia, exceto a supervisão do treinador Subordinado que lhe tinha sido destinado.

Repentinamente entendeu por que Hunter não tinha se preocupado com a cama que reclamou.

—Você sempre dorme assim? — Ele perguntou, gesticulando ao lugar onde Hunter esteve.

O Gen Um deu um encolhimento vago.

—Ocasionalmente no chão.

—Seguro como o inferno que não deve ser cômodo.

—O conforto não serve a nenhum objetivo. A necessidade dele só implica e fortifica a fraqueza.

Brock absorveu a afirmação plana, logo xingou baixinho.

—O que Dragos e aqueles outros bastardos fizeram todos esses anos que serviu a eles?

Os olhos dourados não pestanejaram quando encontraram sua carranca no escuro.

—Eles me fizeram forte.

Brock acenou com a cabeça solenemente, pensando na educação e disciplina cruel que era tudo que Hunter conhecia.

—Bastante forte para derrubá-los.

—Até o último deles. — Respondeu Hunter, a inflexão nula, mas a promessa era tão afiada como qualquer lâmina.

—Você quer vingança pelo que fizeram?

A cabeça de Hunter lentamente balançou em negativa.

—Justiça, — Ele disse. — para o que fizeram àqueles incapazes de lutar.

Brock ficou ali por um longo momento, entendendo a determinação fria que emanava do outro macho. Compartilhou aquela necessidade de justiça, e como Hunter - como qualquer um dos guerreiros comprometidos no serviço à Ordem - não descansaria até que Dragos e todo mundo leal à sua missão insana fossem eliminados.

—Você nos honra. — Ele disse, uma frase Raça reservada para só a família mais próxima ou eventos solenes. — A Ordem é afortunada por tê-lo do nosso lado.

Hunter pareceu surpreso, embora se com o elogio em si ou o vínculo que implicava, Brock não podia ter certeza. Um lampejo de incerteza correu pelo olhar dourado, e quando Brock estendeu sua mão para bater no ombro de Hunter, o Gen Um se afastou, evitando o contato como se pudesse queimá-lo.

Ele não explicou a reação vacilante, nem Brock o apertou, embora a pergunta pedisse uma resposta.

—Muito bem, vou sair. Tenho que falar com Gideon sobre algo.

Hunter o fitou.

—Está preocupado sobre sua fêmea?

—Devo estar? — Brock pensou corrigir a referência sobre Jenna ser sua, mas estava muito ocupado tentando lidar com o sangue que repentinamente estava um pouco frio nas suas veias. — Ela está bem? Diga-me o que está acontecendo. Algo aconteceu enquanto estava fora patrulhando?

—Não sei de nenhum problema físico com a humana. — Disse Hunter, o enlouquecendo com sua calma. — Eu me referia à sua pesquisa da TerraGlobal.

—TerraGlobal. — Brock repetiu, o medo se assentando na sua barriga. — Esta é uma das propriedades de Dragos.

—Correto.

—Jesus Cristo. — Brock murmurou. — Está dizendo que ela os contatou de alguma maneira?

Hunter deu uma sacudida fraca de cabeça.

—Ela enviou um e-mail a alguém que conhece no Alasca - um agente federal, que fez uma pesquisa de dados para ela na TerraGlobal. Uma unidade do FBI na Cidade de Nova York respondeu à pesquisa. Estão conscientes da TerraGlobal, e aceitaram se encontrar com ela para discutir sua investigação atual.

—Santo inferno. Diga-me que está brincando.

Não havia nenhum humor no rosto do outro macho, não que Brock ficasse surpreso com isto.

—Entendo que a reunião está marcada para hoje mais tarde nos escritórios de Nova York do FBI. Lucan conseguiu fazer com que Renata a acompanhasse.

Quanto mais ouvia, mais Brock começava a ficar nervoso e precisar de movimento. Ele andou para a frente e para trás, nem mesmo tentando cobrir sua preocupação.

—Quem vai se encontrar com Jenna em Nova York? Sabemos se esta investigação do FBI na TerraGlobal é legal? Bom Deus, que porra ela pensa, se implicando nesta merda em primeiro lugar? Você sabe se - não importa. Irei perguntar a ela eu mesmo.

Ele já estava andando na sala, portanto levou um par de passos duros para levá-lo fora do apartamento e ao corredor fora. Com seu pulso parecendo uma britadeira, derramando adrenalina nas suas veias, não esteve em nenhum tipo de humor para se encontrar cara a cara com seu parceiro de patrulha errante.

Chase vinha à espreita pelo corredor precisamente naquele momento, parecendo um inferno completo. Seus olhos azuis ainda disparavam faíscas âmbar, pupilas mais fendas que círculos. Ele respirava com dificuldade, cada puxão arrastando ar pelos seus dentes e presas. Sujeira e sangue seco endurecidos no seu rosto em faixas estriadas, ainda mais grudado no seu cabelo loiro curto. Sua roupa estava rasgada em vários lugares, sujas com Deus sabe o que.

Ele olhava e cheirava como se tivesse saído de uma maldita zona de guerra.

—Onde estava, porra? — Brock exigiu. — Procurei por todas as partes de Boston por você depois que fugiu esta noite.

Chase olhou para ele, mostrando os dentes num esgar feroz, mas não ofereceu nenhuma espécie de explicação. Ele passou, deixando seu ombro bater em Brock, o desafiando a fazer perguntas. Se Brock não estivesse tão preocupado com Jenna e os problemas que aparentemente tinha, teria derrubado o arrogante filho da puta.

—Bastardo. — Brock rosnou enquanto o ex-Agente ostentava um silêncio cheio de pedras, reservado.

 

Jenna caiu no sofá com um pulo ansioso quando uma pancada dura soou na porta do seu quarto. Era manhã cedo, só um pouco depois das seis da manhã segundo o relógio no estéreo tocando baixinho através da sala. Não que tenha dormido um punhado de horas desde que tinha falado com Lucan e Gideon.

E não seria capaz de dormir no tempo que faltava para a reunião importante que teria naquele dia com o agente de campo do FBI em Nova York.

O Agente Especial Phillip Cho foi bastante agradável pelo telefone quando ligou, e devia estar grata que estivesse disponível e aberto à reunião com ela sobre sua investigação na TerraGlobal. Esta era a primeira vez que tinha um audiência com os federais, portanto não estava segura de seus nervos. Naturalmente, nunca precisou de tantas informações antes numa simples reunião.

Queria esclarecer isto, e não podia menos que sentir o peso do mundo - tanto o seu como da Ordem - nos seus ombros. Não era policial há muito tempo, e agora tinha que se colocar em modo de comando em apenas algumas curtas horas. Deste modo, talvez fosse razoável que se sentisse um pouco no limite sobre tudo isso.

A pancada na porta veio novamente, mais aguda agora, mais exigente.

—Só um segundo.

Ela apertou o botão mudo no controle remoto do som, silenciando um velho CD de jazz de Bessie Smith que estavam colocados em fila no rack quando revirou o quarto há pouco tempo para ajudar a matar o tempo. Cruzou a sala e abriu a porta.

Brock esperava no corredor, pegando-a completamente de surpresa. Devia acabar de chegar da sua patrulha na cidade. Vestido da cabeça aos pés no uniforme de combate preto, sua camiseta justa aderia ao seu largo peito e ombros, as mangas curtas se esticando em volta da largura do seu bíceps.

Não pode impedir seu olhar de vagar pelo comprimento dele, abaixo por seu abdômen duro, acentuado pela dobra nítida da sua camisa no cós acinturado do seu uniforme preto, largo, mas não tanto que mascarasse seus quadris ou o volume poderoso das suas coxas. Era muito perturbador notar como conhecia aquele corpo. Muito perturbador perceber o quanto o desejava, mesmo depois que se prometeu não ir por este caminho novamente.

Não foi até que voltou seu olhar para seu rosto bonito, mas tenso que notou que estava chateado. Enfurecido com algo.

Ela franziu o cenho ao seu olhar tempestuoso.

—O que está acontecendo?

—Por que você não me diz. — Ele deu um passo para a frente, seu grande corpo como uma parede móvel, a forçando de costas para a sala na frente dele. — Acabei de ouvir sobre sua interrogação da TerraGlobal com o maldito FBI. O que está pensando, Jenna?

—Pensando que talvez a Ordem possa usar minha ajuda. — Ela respondeu, sua própria raiva crescendo com seu tom de confronto. — Pensei em explorar alguns dos meus contatos na lei para derramar um pouco de luz na TerraGlobal, dado que o resto de vocês chegou num beco sem saída.

—Dragos é a TerraGlobal. — ele assobiou, ainda avançando nela, muito alto acima dela. Seus olhos castanhos escuros crepitaram com pintas muito pequenas de luz ambarina. — Tem alguma maldita ideia do risco que é para você fazer isto?

—Não arrisquei nada. — Ela disse, ficando na defensiva agora. Sua nuca estava arrepiando a cada passo que fisicamente o levava mais longe na sala. Ela parou de recuar e se cravou nos calcanhares. — Fui totalmente discreta, e a pessoa a quem pedi ajuda é um amigo de confiança. Pensa honestamente que colocaria a Ordem ou as suas missões em perigo?

—A Ordem? — Ele ridicularizou. — Estou falando sobre você, Jenna. Esta não é sua guerra. Você tem que entender, antes que seja machucada.

—Desculpe-me, mas acho que posso me cuidar. Eu sou policial, lembra?

—Foi. — Ele severamente a lembrou, prendendo-a num olhar duro. — E nunca agiu contra nada como Dragos em sua linha de trabalho.

—Não estou agindo contra ele agora, também. — Ela discutiu. — Tudo sobre o que falamos é um encontro inofensivo com um agente do governo. Estive implicada nessa espécie de mijo territorial umas cem vezes. Os Agentes do FBI estão preocupados que um rústico policial local possa saber mais que eles sobre um dos seus casos. Querem saber o que sei, e vice-versa. Não é grande coisa.

Não devia ser grande coisa, ela pensou. Mas seus nervos gritavam estridentes e Brock não parecia exatamente convencido, também.

—Pode ser maior do que espera, Jenna. Não podemos estar seguros de nada que vem de Dragos e seus interesses. Não acho que deva ir. — Seu rosto estava muito sério. —Vou falar com Lucan. Acho que é muito perigoso deixá-la fazer isto.

—Não me lembro de perguntar o que você acha. — Ela disse, tentando não deixar sua expressão severa e tom sóbrio se agitar nela. Ele estava preocupado - profundamente preocupado por ela - e parte dela respondia àquela preocupação com uma consciência que queria ignorar. — Não me lembro de colocá-lo no comando do que faço ou não, também. Tomo minhas próprias decisões. Você e a Ordem podem achar que me mantêm numa espécie de uma coleira - ou sob um maldito microscópio como lhes convém - mas não confunda minha complacência com controle. Sou a única no controle de mim.

Quando não pode mais manter seu estrondoso olhar por mais tempo, se afastou dele e voltou ao sofá, ocupando-se da coleção de livros que estava folheando em seu desassossego das poucas últimas horas.

—Cristo, você é teimosa, não, senhora? — Ele soltou uma maldição baixa. — Este é seu maior problema.

—Que diabos isto significa? — Ela franziu o cenho na sua direção, surpresa por encontrá-lo bem atrás dela. Próximo o bastante para tocá-la. Próximo o bastante para sentir seu calor em cada nervo desperto no seu corpo. Ela endureceu contra o poder masculino que irradiava da sua grande forma, odiando o fato que ainda podia se sentir selvagemente atraída mesmo quando seu sangue fervia lentamente de raiva.

Seu olhar penetrante parecia furar através dela.

—É tudo sobre controle com você, Jenna. Você não pode abandoná-lo, não é?

—Você não sabe sobre o que está falando.

—Não? Aposto que é assim desde que era menininha. — Ela se afastou dele enquanto falava, determinada a não se deixar aborrecer. Ela pegou uma braçada de livros e os levou às prateleiras. — Aposto que foi assim a vida inteira, não é? Tudo nos seus termos, não é? Nunca deixou ninguém tomar as rédeas, não importava quem. Não se move uma polegada a menos que tenha seu doce traseiro teimoso plantado firmemente no assento do motorista.

Por mais que quisesse negar, ele estava muito próximo da verdade. Ela voltou pelos anos da sua infância, todas as lutas no playground e truques temerários nos quais se viu arrastada somente para comprovar que não tinha medo. Seu tempo na polícia foi mais do mesmo, embora numa escala maior, fazendo uma atualização dos punhos para as balas, mas ainda lutando para mostrar que era tão boa como qualquer homem - melhor, até.

O casamento e a maternidade foram outro jogo de obstáculos ao mestre, e foi uma área na qual falhou miseravelmente. Fez uma pausa na frente da estante de livros, o desafio verbal de Brock pairando atrás dela, fechou seus olhos e lembrou da discussão que ela e Mitch tiveram na noite do acidente. Ele a tinha acusado de ser teimosa, também. Tinha razão, mas não tinha percebido isto até que despertou semanas depois no hospital sem sua família.

Mas isto era diferente. Brock não era seu marido. Só porque tinham passado alguns momentos de prazer juntos - e apesar da atração que ainda crepitava entre eles sempre que chegavam perto um do outro - não lhe dava licença para se impor nas suas decisões.

—Você quer saber o que acho? — Ela perguntou, seus movimentos irritados quando colocou cada livro atrás no seu lugar legítimo nas prateleiras. — Acho que você é o único com um problema. Você não sabe o que fazer com uma mulher que não precisa de você cuidando dela. Uma mulher real, que pode sobreviver perfeitamente sozinha e não o deixar ser responsável se for machucada. Você prefere se culpar por não cumprir alguma tarefa imaginária que estabeleceu - alguma medida inalcançável de honra e valor. Se quer falar sobre problemas, tente dar uma boa olhada em você mesmo.

Ele estava tão tranquilo e quieto, que Jenna pensou que poderia ter saído da sala. Mas quando se virou para ver se tinha partido, ela o encontrou perto do sofá, segurando a velha fotografia que tinha achado presa nas páginas de um dos seus livros. Ele fitava a imagem da mulher bem jovem com o cabelo de ébano e grandes olhos de amêndoa. Seu maxilar estava apertado, um tendão marcando na sua face lisa, escura.

—Sim, talvez tenha razão sobre mim, Jenna. — Ele disse finalmente, deixando a foto cair na almofada do sofá. Quando deu uma olhada nela, seu rosto era educado e sóbrio, o guerreiro consumado. — Nada disto muda o fato que me sinto responsável por você. Lucan me encarregou de mantê-la protegida enquanto está sob custódia da Ordem...

—Custódia? — Ela hesitou, mas ele continuou.

—... E isto significa que goste ou não, se aprova ou não, realmente opino no que faz, ou com quem entra em contato.

Ela o ridicularizou, ultrajada.

—Com o diabo que o faz.

Ele caminhou até ela, apenas três passos antes que estivesse direto em cima dela, a proximidade dele sugando todo o ar da sala. O calor brilhante iluminou profundamente seus olhos. Seu olhar feroz provavelmente deveria a ter acovardado, mas estava muito quente com a indignação - e muito consciente do modo que seus sentidos se estendiam para ele com saudade, apesar da raiva que a fazia erguer seu queixo. Quando olhou para ele, procurando dentro dela a atitude dura-como-aço que poderia lhe dar forças para empurrá-lo longe com palavras ásperas ou desafio espinhoso, descobriu que esta a tinha abandonado.

Tudo que pode fazer foi manter a respiração que subitamente ficou superficial nos seus pulmões. Ele estendeu seus dedo ao longo do lado da sua face, acariciando, um toque sensível. Seu polegar se demorou nos seus lábios, acariciando em um padrão preguiçoso enquanto seus olhos a absorveram pelo que pareceu ser para sempre.

Então juntou seu rosto nas palmas e a puxou em sua direção com um chiado, e muito-breve, beijo.

Quando a soltou, ela viu que as faíscas que vislumbraram nos seus olhos tinham crescido agora a brasas brilhantes, queimando sem chama. Seu peito era firme e quente contra o dela, sua excitação apertando inconfundível contra seu quadril. Ela cambaleou para trás, uma chama de desejo correndo nas suas veias.

—Você pode lutar contra mim tudo que quiser, Jenna, não me importo. — Embora suas palavras fossem profissionais, sua voz baixa vibrava por ela como uma tempestade. — Você é minha para proteger e manter segura, portanto não cometa nenhum erro: se deixar o complexo, será comigo.

Brock conseguiu sua intenção de acompanhá-la ao encontro no FBI de Nova York.

Jenna não sabia o que tinha dito a Lucan para persuadi-lo, mas depois naquela manhã, em vez de Renata dirigir o Rover preto da Ordem por quatro horas na estrada pouco conhecida de Boston à Manhattan, era Jenna que estava atrás do volante, com um GPS no painel e Brock tentando ajudar na distante traseira do veículo. Sua pele Raça sensível aos raios UV e o sol diurno o impediam sequer de pensar em sentar junto dela na frente para uma viagem tão longa, sem falar em dirigir.

Embora fosse provavelmente imaturo ela se divertir, Jenna teve que admitir sentir certa satisfação no seu banimento obrigatório ao assento atrás dela. Não tinha esquecido sua acusação sobre precisar estar sempre no controle, mas julgando pelos conselhos impacientes na condução do veículo e os comentários murmurados sobre a batida evidente do seu pé, era óbvio que não era a única que tinha problemas com controle.

E agora, mesmo sentados dentro da caverna escura de uma garagem subterrânea em frente ao escritório do FBI na Cidade de Nova York, Brock ainda dava suas ordens do assento traseiro.

—Mande uma mensagem de texto para mim logo que passe a segurança. — No seu aceno de cabeça, continuou. — Uma vez que esteja na sua reunião com o agente, mande outra para mim novamente. Quero mensagens periódicas, nenhuma inferior a quinze minuto ou vou entrar atrás de você.

Jenna soltou um suspiro impaciente e disparou a ele uma olhada do assento do motorista.

—Isto não é um baile da escola secundaria. É um encontro profissional num edifício público. A menos que algo saia totalmente dos trilhos, mando uma mensagem quando entrar na reunião e outra quando acabar.

Ela podia ver sua carranca por trás dos seus óculos escuros anti-UV.

—Se não vai levar isto a sério, então vou entrar com você.

—Estou levando muito a sério. — Ela discutiu. — E como entraria naquele edifício federal? Por favor. Você está gotejando armas e coberto da cabeça aos pés de kevlar preto. Não passaria além da segurança da porta dianteira - assumindo que a luz do dia não o fritasse primeiro.

—A segurança não seria problema. Eu não seria nada mais que uma brisa fria atrás do seu pescoço quando passasse.

Jenna soltou um riso.

—Certo, então o que? Vai se esconder no corredor enquanto me encontro com o Agente Especial Cho?

—Farei o que for preciso. — Ele respondeu, completamente sério. — Este exercício crescente de informações pertence à Ordem. É da nossa informação que você está indo atrás. E ainda não gosto da ideia de você entrando lá sozinha.

Ela girou longe dele, irritada de alguma forma que não a visse como parte da Ordem, também. Ela olhou para fora da janela uma luz amarela que oscilava na garagem cavernosa.

—Se você está tão preocupado que não posso lidar com esta reunião sozinha, talvez devesse ter deixado Renata vir comigo em vez disso.

Ele se inclinou para a frente, saindo das sombras e vindo entre os assentos para pegar seus ombros. Seus dedos fortes a agarraram firmemente, seus olhos inflamando em uma mistura de âmbar ardente e castanho mais profundo. Mas quando falou, sua voz era apenas aveludada.

—Estou preocupado, Jenna. Não tanto pela maldita reunião como estou com você. Foda-se a reunião. Não há nada lá que seja metade tão importante para mim como assegurar que esteja bem. Renata não está aqui porque se alguém deve guardar suas costas, este sou eu.

Ela grunhiu baixinho, sorrindo apesar da sua irritação com ele.

—Você deve ter cuidado. Está começando a soar muito com um parceiro.

Ela pensou em parceiro de patrulha, mas a observação que estava destinada a ser irônica agora pairava entre eles cheia de insinuações perigosas. Uma tensão pesada, não dita encheu o pequeno espaço do veículo enquanto Brock mantinha o seu olhar. Finalmente, ele soltou uma maldição e a soltou. Sua face pulsava enquanto a fitava no silêncio que se alongava.

Ele se acomodou, saindo da frente do Rover e voltando mais um vez para as sombras atrás.

—Só me mantenha informado, Jenna. Pode fazer isto?

Ela deixou sair a respiração que estava prendendo e pegou a maçaneta na porta do motorista do veículo.

—Mando a mensagem quando estiver no interior.

Sem esperar para ouvir sua resposta rosnada, ela saiu do SUV e se dirigiu ao escritório do FBI do outro lado da rua.

O Agente Especial Phillip Cho não a deixou esperando mais que cinco minutos na área de recepção do décimo oitavo andar. Jenna acabava de mandar sua mensagem de texto a Brock quando o agente num terno preto e conservador emergiu do seu escritório para cumprimentá-la. Depois de recusar uma xícara de café envelhecido, foi conduzida por um mar de cubículos até uma sala de reuniões na área principal do escritório.

O agente Cho gesticulou na direção de uma cadeira giratória na mesa retangular no centro da sala. Fechou a porta atrás dele, logo tomou o assento diretamente na frente dela. Colocou um bloco de anotações de couro preto na frente dele e ofereceu um sorriso educado.

—Então, há quanto tempo está afastada da polícia, senhorita Darrow?

A pergunta a surpreendeu. Não só por ser direta, mas pelo fato que seu amigo do FBI em Anchorage se oferecer para omitir sua posição civil. Naturalmente, não devia se surpreender que Cho fizesse alguma lição de casa nela antes da reunião.

Jenna limpou sua garganta.

—Há quatro anos, me afastei do AST . Devido a razões de natureza pessoal.

Ele acenou com cabeça com simpatia, e ela percebeu que já sabia a resposta e suas razões para deixar a Tropa.

—Devo admitir que fiquei surpreso ao descobrir que suas perguntas sobre a TerraGlobal não era uma investigação oficial. — Ele disse. — Se soubesse, provavelmente não teria marcado esta reunião. Estou seguro que entende que a utilização de recursos estatais ou federais em interesses pessoais é ilegal e pode trazer consequências severas.

Ela levantou seu ombro em um encolhimento fraco, não prestes a deixá-lo amedrontá-la com ameaças sobre procedimento e protocolo. Tinha jogado este jogo muitas vezes quando usava um distintivo e uniforme.

—Chame-me curiosa. Tivemos uma companhia de mineração virando fumaça - literalmente - e ninguém da corporação-mãe se incomodou em oferecer sequer desculpas à cidade. Vai haver um inferno de uma conta com à limpeza, e estou segura que a cidade de Harmony apreciaria saber para onde enviá-la.

Sob a luz das lâmpadas fluorescentes, o olhar fixo de Cho pôs um zumbido estranho nas suas veias.

—Assim, seu interesse no assunto é principalmente de uma cidadã preocupada. Entendi corretamente, senhorita Darrow?

—Está certo. E a policial em mim não podia menos que se perguntar que tipo de gerência os parceiros da TerraGlobal empregam. Apenas fantasmas e fantasmas, pelo pouco que pude encontrar.

Cho grunhiu, ainda a mantendo em um inquietante olhar através da mesa.

—O que exatamente encontrou, senhorita Darrow? Eu estaria muito interessado em ouvir mais.

Jenna inclinou seu queixo abaixo e deu-lhe uma olhada estreitada.

—Você espera que compartilhe minhas informações quando não está me oferecendo nada em troca? Não vai acontecer. Você primeiro, Agente Especial Cho. Qual seu interesse na TerraGlobal?

Ele se acomodou na mesa e pousando seus dedos na frente do seu sorriso fino.

—Temo que isto seja informação secreta.

Seu ar de despedida era inconfundível, mas estaria maldita se fizesse todo este caminho para a reunião só para ser obstruída por um terno presunçoso que pareceu estar gostando do fato que a empurrava de volta. E quanto mais o olhava, mais sua expressão chata fazia sua pele arrepiar.

Forçando-se a não ignorar sua preocupação, ela tentou uma tática mais conciliatória.

—Escute, entendo. Você é obrigado a me dar uma resposta oficial. Só esperei que dois profissionais pudessem ajudar um ao outro um pouco aqui.

—Senhorita Darrow, só vejo um profissional nesta mesa. E mesmo se ainda estivesse na polícia, não poderia lhe dar nenhuma informação da TerraGlobal.

—Vamos. — Ela respondeu, mostrando frustração. — Me dê um nome. Só um nome, um endereço. Algo.

—Quando exatamente deixou o Alasca, senhorita Darrow? — Ele perguntou casualmente, ignorando sua pergunta e levantando sua cabeça em um ângulo estranho quando a estudou. — Tem amigos aqui? Família, possivelmente?

Ela ridicularizou e sacudiu a cabeça.

—Não vai me dar uma maldita coisa, não é? Só aceitou se encontrar comigo porque pensou que poderia tirar algo útil de mim para seus próprios interesses.

Que ele não respondesse contava bastante. Ele abriu seu caderno de couro e começou a escrever algumas notas no papel amarelo. Jenna sentou-se ali por um momento, o olhando, sentindo dentro dos seus ossos que o agente federal taciturno e peculiar tinha todas as respostas que ela e a Ordem tão desesperadamente precisavam para se colocar no rabo de Dragos.

—Muito bem. — Ela disse, imaginando que era tempo de jogar o único trunfo que tinha na sua mão. — Desde que não me dará nenhum nome, darei um em vez disso. Gordon Fasso.

A mão de Cho deixou de se mover a meio caminho do que escrevia. Foi a única indicação que o nome significava algo. Quando levantou os olhos, sua expressão era suave, os estranhos, aborrecidos olhos não revelavam nada.

—Desculpe-me?

—Gordon Fasso. — Ela disse, repetindo o pseudônimo que Dragos usava quando se movia na sociedade humana. Ela olhou a cara de Cho, tentando ler sua reação no piscar do olhar parecido a um tubarão, vazio. — Já ouviu o nome antes?

—Não. — Ele pousou sua caneta e ordenadamente fechou a capa. — Devia ter ouvido?

Jenna o fitou, medindo as palavras cuidadosamente e observando como se instalava indiferente contra sua cadeira.

—Eu achei que se você escavou na TerraGlobal, poderia ter encontrado por acaso esse nome algumas vezes.

A boca de Cho aplainada numa linha dura.

—Sinto muito. Não lembro.

—Está seguro? — Ela esperou seu silêncio prolongado, mantendo seus olhos concentrados no seu olhar escuro só para deixá-lo saber que podia se apegar obstinadamente ao seu impasse aparente.

A tática pareceu funcionar. Cho soltou um suspiro lento, logo se ergueu do seu assento.

—Há outro agente neste escritório que está trabalhando na investigação comigo. Você me dá licença por um momento enquanto falo com ele sobre isto?

—Claro. — Disse Jenna, relaxando um pouco. Talvez agora pudesse chegar de fato a algum lugar.

Depois que Cho saiu da sala, aproveitou a chance para mandar uma mensagem rápida para Brock atrás no SUV do outro lado da rua. Consegui algo. Desço logo.

Mal acabou de enviar, Cho reapareceu na entrada.

—Senhorita Darrow, pode vir comigo, por favor?

Ela levantou e o seguiu ao longo de um corredor alinhado por cubículos, para além das cabeças de numerosos agentes que fitavam telas de computador ou falavam calmamente nos seus telefones. Cho continuou, em direção a uma linha de escritórios traseiros no final do andar. Ele girou à direita no fim do corredor e contornou às numerosas portas com suas placas identificadoras emitidas pelo governo e designações departamentais.

Finalmente, parou na frente da uma porta de uma escada e passou seu distintivo com chip pela fenda de um leitor eletrônico. Quando uma luz passou de vermelho a verde, o agente empurrou a porta de aço e disse a ela.

—Por aqui, por favor. A força tarefa tem sede em outro andar.

Por um instante, algo sombrio cintilou em sua subconsciência - um alarme silencioso que parecia não vir de lugar algum. Ela hesitou, seu olhar preso nos olhos que não pestanejam de Cho.

Ele levantou a cabeça, franzindo o cenho ligeiramente.

—Senhorita Darrow?

Ela olhou em torno, lembrando que estava em um edifício público, entre facilmente cem outras pessoas que trabalhavam de maneira ocupada nos seus cubículos e escritórios. Não havia nenhuma razão para se sentir ameaçada, ela se assegurou, quando um daqueles muitos empregados saiu de um escritório próximo. O homem estava vestido com um terno escuro e gravata, nitidamente profissional, como Cho e o resto das pessoas no departamento.

O homem acenou com a cabeça em saudação quando também se aproximou do poço da escada.

—Agente Especial Cho. — Ele disse com um sorriso educado que passou por Jenna um momento depois.

—Boa tarde, Agente Especial Green. — Respondeu Cho, permitindo ao outro homem entrar na frente deles pela porta aberta. — Vamos, senhorita Darrow?

Jenna se livrou dos estranhos pressentimentos e deu um passo além de Cho. Ele seguiu imediatamente atrás dela. A porta do poço da escada fechou com um golpe metálico que repercutiu no cerco vazio.

E repentinamente o outro homem - Green, se voltou para prendê-la entre ele e Cho. Seus olhos pareciam misteriosos agora, também. De perto, estavam tão enfadonhos e sem emoções como Cho parecido na sala de reunião.

Adrenalina correu pelas veias de Jenna. Ela abriu a boca, pronta para soltar um grito.

Não teve chance.

Algo frio e metálico subiu por sua orelha. Sabia que não era uma arma, até antes que ouvisse o estalido eletrônico do Taser sendo ligado.

O pânico inundou seus sentidos. Ela tentou se mover aos arrancos fora da corrente debilitante, mas o poder do choque era muito grande. A dor ígnea passou rapidamente nela, zumbindo como um milhão de abelhas nas suas orelhas. Ela convulsionou sob o assalto... Então seus membros saíram debaixo dela.

—Pegue suas pernas. — Ela ouviu Cho dizer ao outro homem enquanto enganchou suas mãos sob suas axilas. — Leve-a ao elevador de carga. Meu carro está estacionado do outro lado da rua na garagem. Podemos pegar o túnel para lá do porão.

Jenna não tinha nenhuma força para se livrar deles, nenhuma voz para pedir ajuda. Ela sentiu seu corpo sendo levantado, transportado rudemente abaixo por um par de lances de escadas.

Então perdeu a consciência completamente.

 

Ela demorava um maldito tempo.

Brock verificou seu celular e leu a mensagem de Jenna novamente. Tinha dito que desceria logo, mas tinha enviado à mensagem há mais de quinze minutos. Nenhum sinal dela ainda. Nenhuma nova mensagem dizendo que estava atrasada.

—Merda. — Ele se apertou no assento do Rover.

Perscrutou fora da janela traseira, em direção à entrada aberta da garagem subterrânea e o brilho cegante da tarde de inverno. Jenna estava no edifício do outro lado da rua. Talvez cem jardas de onde estava sentado, mas com a ampla luz do dia os separando, poderia estar também a cem milhas de distância.

Ele enviou um texto breve: Onde está? Então continuou sua impaciente espera, todo o tempo mantendo seus olhos treinados no fluxo de pessoas entrando e saindo do edifício federal, esperando vê-la emergir.

—Vamos, Jenna. Maldição, volte logo aqui.

Depois de outros poucos minutos sem uma resposta dela ou qualquer sinal através da rua, não pode ficar sentado sem fazer nada mais tempo. Tinha o corpo coberto por roupa de proteção UV quando deixou o complexo naquela manhã, uma precaução que pouparia um pouco de tempo se fosse o bastante insano para deixar o Rover e atravessar a rua como pensava. Também tinha a linhagem do seu lado. Se fosse Gen Um, provavelmente teria aproximadamente dez minutos antes que o sol começasse a fritá-lo, com ou sem embalagem protetora.

Brock, sendo várias gerações após a linha pura da Raça, podia contar com aproximadamente meia hora de exposição UV não fatal, alguns minutos a mais ou a menos. Não era um risco que alguém da sua espécie tomava ligeiramente. Nem ele agora, quando abriu a porta dos fundos do Rover e saiu.

Mas algo não estava certo sobre Jenna e esta reunião. Embora tivesse apenas seus próprios instintos para guiá-lo - e o medo profundo de permitir que uma mulher inocente andasse apressadamente em perigo potencial - não havia nenhum outro modo que Brock pudesse ficar parado por outro segundo sem se assegurar que Jenna estava bem.

Mesmo se tivesse que atravessar a luz do dia e um exército de agentes federais humanos para fazê-lo.

Pôs um par de luvas, então puxou seu capuz bloqueando a luz sobre sua testa. Os óculos escuros anti-UV sombrearam suas retinas já abrasadas quando andou depressa em volta do mar de carros estacionados, na direção da rajada da luz solar de inverno que vinha da boca aberta da entrada da garagem.

Fixando-se no choque da luz do dia tão furioso em volta dele, voltou sua atenção ao edifício federal do outro lado da rua e saiu da cobertura da garagem que estava.

 

A consciência voltou na forma da dor enfadonha viajando pelo seu corpo. Os reflexos de Jenna voltaram num piscar de olhos, como se um interruptor fosse ligado dentro dela. O instinto de despertar para chutar e gritar era forte, mas os conteve. Melhor fingir que ainda estava abatida pelo taser, até que pudesse avaliar a situação.

Manteve seus olhos quase fechados, levantando suas pálpebras só uma fração para evitar avisar seus captores que tinha despertado. Pretendia lutar contra os filhos da puta, mas primeiro tinha que se orientar. Determinar onde estava e como poderia sair dali.

A primeira parte foi bastante fácil. O cheiro de couro do assento e fraco mofo do carro disse que estava na parte traseira de um veículo, deitada de lado, sua coluna descansando contra o assento do banco traseiro. Embora o motor estivesse ligado, o carro não se movia ainda. Estava escuro dentro do sedan, apenas o cintilar de uma luz amarela escura que estalava do exterior do vidro colorido da janela mais próxima da sua cabeça.

Puta merda.

A esperança chamejou dentro dela, brilhante e forte. Tinham lhe trazido à garagem do outro lado do edifício federal.

A garagem onde Brock esperava por ela, agora mesmo.

Tinha notado o que aconteceu?

Mas despachou o pensamento logo que ocorreu. Se Brock visse que estava em problemas, já estaria ali. Sabia com uma certeza que a balançou. Nunca a deixaria se machucar se pudesse ajudá-la. Deste modo, não podia saber onde ela estava, somente a alguns metros do Rover preto da Ordem.

Por agora, a menos que pudesse encontrar um modo de chamar sua atenção, estava sozinha.     

Levantando suas pálpebras outro pequeno grau, viu que seus dois captores estavam ambos sentados na frente - Cho atrás do volante do Crown Victoria da frota federal, Green no lado do passageiro, o perfeito profissional do FBI com sua Glock 23 sobre o assento apontando para seu peito.

—Sim, Mestre. Temos a mulher no veículo agora. — Disse Cho, falando em um telefone pelo fone de ouvido. — Não, não houve nenhuma complicação. Naturalmente, Mestre. Entendo, quer mantê-la viva. Contatarei você logo que a tenhamos no depósito para esperar sua chegada esta tarde.

Mestre? Que diabos?

O medo gotejou ao longo da coluna de Jenna quando escutou a obediência robótica no tom de voz estranho de Cho. Mesmo sem a conversa estranhamente subserviente, sabia que se permitisse que esses homens a levassem, estaria morta. Talvez pior, se serviam ao indivíduo perigoso que seus instintos diziam que faziam.

Cho terminou a chamada e pôs o carro na ré.

Esta era sua chance - tinha que agir agora mesmo.

Jenna se moveu cuidadosamente no assento, somente erguendo seus joelhos na direção do seu peito. Não ignorando a pontada leve na sua coxa machucada, continuou enrolando suas pernas por frações, até que seus pés estavam perto do meio do assento da frente. Uma vez alinhada, não hesitou em bater.

Ela chutou com ambos os pés, seu pé direito batendo forte ao lado da cabeça de Green, o esquerdo no cotovelo do braço que segurava a arma. Green rugiu, seu queixo girando quando a mão mantendo a Glock foi na direção do teto do sedan. O tiro explodiu alto no carro quando a bala atravessou a tapeçaria e aço acima da sua cabeça.

Entre o caos do ataque surpresa, o pé de Cho baixou pesado no acelerador. O sedan bateu ao lado de um pilar de concreto grosso atrás deles, mas Cho se recuperou rapidamente. Lançou o veículo no passeio e pisou fundo no pedal novamente. A borracha gritou quando o carro balançou em aceleração.

Onde diabos estava Brock?

Jenna agarrou a maçaneta da porta traseira. Trancada. Ela chutou a porta do lado oposto, dirigindo o salto da sua bota pela janela. Os vidros caíram por suas pernas e assento de couro. O ar frio se apressou no interior, transportando com ele o fedor de óleo de motor e frituras que vinha da esquina.

Jenna se moveu para a janela aberta, mas parou quando Green girou de volta e empurrou o cano da sua arma contra o lado da sua cabeça.

—Senta a porra deste traseiro e se comporte, senhorita Darrow. — Ele disse agradavelmente. — Você não vai a qualquer lugar até que o Mestre diga assim.

Jenna lentamente se afastou da Glock carregada, seu olhar arraigado nos gelados olhos emotivamente vagos do Agente Especial Green.

Não havia dúvida em sua mente agora. Esses agentes do FBI - esses seres que olhavam e agiam como homens, mas de alguma maneira não eram - faziam parte da organização de Dragos. Bom Deus, quão longe se estendia seu alcance?

A pergunta pôs um nó frio de medo em seu estômago quando Cho acelerou o sedan e saiu da garagem, entrando no tráfego vespertino.

 

Brock tinha cruzado a rua iluminada pelo sol em meros segundos, usando a velocidade da sua genética de Raça para transportá-lo pela luz da tarde, até a porta do alto edifício federal. Estava prestes a entrar e fazer outra arremetida rápida, passando a segurança, quando sua audição aguda registrou o abafado estalo de um tiro alguma distância atrás.

Na garagem que estava.

Soube até mesmo antes que ouvisse a o ruidoso rasgar de metal e o grito agudo dos pneus na rua.

Jenna.

Embora não tivesse nenhum vínculo de sangue com ela para alertá-lo se estivesse em perigo, sentiu a certeza arranhando suas vísceras. Não estava mais no edifício federal, mas de volta na garagem, na rua iluminada pelo sol.

Algo terrivelmente mal aconteceu, e tinha tudo a ver com a TerraGlobal - com Dragos.

Mal formou o pensamento, quando um Crown Victoria cinza desmarcado estourou da garagem. Quando o sedan rugiu longe, viu dois homens no assento dianteiro. O passageiro estava virado enfrentando um único ocupante atrás.

Não, não homens - Subordinados.

E Jenna estava no assento traseiro, sentada imóvel, mantida sob a mira da arma.

A fúria rolou por ele como uma onda. Mantendo suas vistas no carro em que estava Jenna, rasgou a multidão de humanos na calçada abaixo do edifício, movendo-se mais rápido que alguém pudesse seguir sua pista.

Pulou através do capô de um táxi no meio-fio, logo evitou um caminhão de entrega que saiu de lugar nenhum e o teria derrubado não fosse pela sua capacidade Raça e o medo do que poderia acontecer a Jenna se não a alcançasse a tempo.

O coração martelando, correu pela garagem e pulou no Rover.

Dois segundos depois, estava na rua, desafiando a chama de raios ultravioletas que fluíam pelo para-brisa quando acelerou na direção de Jenna, rezando como inferno que pudesse alcançá-la antes que a maldade de Dragos - ou que o sol da tarde o torrasse - custasse a vida da mulher que era sua para proteger.

Sua mulher, pensou ferozmente, quando apertou sua bota no acelerador e saiu em perseguição.

 

                O Agente Especial Green - seja quem ou o que ele realmente era - manteve a Glock apontada para ela com uma mão firme enquanto o sedan traçava e balançava pelo congestionado tráfico da cidade de Nova York. Jenna não tinha ideia alguma de onde eles a estavam levando. Ela poderia apenas supor que era algum lugar fora da cidade quando eles deixaram para trás o labirinto de altos arranha-céus e seguiram sobre uma ponte suspensa de estilo gótico que alcançava a largura de um extenso rio.

                Jenna sentou atrás contra o banco, sendo empurrada de um lado para outro com cada solavanco e acelerada. Quando o sedan saltou para passar um veículo se movendo mais lentamente, ela perdeu equilíbrio - o bastante de forma que olhou para cima e pegou uma inesperada visão no retrovisor do Crown Victoria.

                Um Rover preto estava mantendo o ritmo com eles, apenas alguns carros atrás.

                O coração de Jenna se apertou.

                Brock. Tinha que ser ele.

                Mas no mesmo momento, ela esperou como o inferno que não fosse. Não podia ser - ele seria tolo para se arriscar. O sol ainda era uma gigantesca bola de fogo no frio céu ocidental, pelo menos duas horas para se pôr. Dirigir a completa luz do dia seria suicídio para alguém da raça de Brock.

                E ainda assim, era ele.

                Quando o sedan fez outra troca lateral na pista, Jenna verificou o espelho novamente e viu a posição rígida de sua mandíbula pelo tráfico e distância que os separavam. Embora ele usasse óculos escuros fechados para proteger seus olhos, as lentes opacas não eram densas o bastante para mascarar o claro brilho ardente dos olhos dele.

                Brock estava atrás deles e estava mortalmente furioso.

                —Filho da puta. — Green murmurou, espiando sobre a cabeça dela para olhar pela janela traseira do veículo. — Estamos sendo seguidos.

                —Tem certeza? — Cho perguntou, aproveitando a oportunidade para ultrapassar outro carro enquanto eles se aproximaram da outra extremidade da ponte.

                —Eu estou seguro. — Green respondeu. Uma nota de inquietação tinha rastejado por sua antes face ilegível. — É um vampiro. Um dos guerreiros.

                Cho disparou o veículo agora.

—Informe o Mestre que nós estamos quase no local. Pergunte a ele como nós deveríamos proceder.

                Green assentiu, e, ainda mantendo Jenna sob a ameaça de sua Glock, recuperou um celular de seu bolso e apertou um único dígito. A chamada tocou uma vez sobre o viva voz, então a voz de Dragos veio na linha.

                —Situação?

                —Nós estamos nos aproximando das docas de carga do Brooklyn, Mestre, como você instruiu. Mas nós não estamos sozinhos. — Green falou em uma pressa de palavras, como se sentisse a desaprovação que seguiria. — Há alguém nos seguindo na ponte. Ele é da Raça. Um guerreiro da Ordem.

                Jenna não tomou uma pequena quantia de satisfação à maldição violenta que explodiu sobre o viva voz do celular. Tão abatida quanto estava de ouvir a voz do inimigo odiado da Ordem, era gratificante saber que ele temia aos guerreiros. Como ele bem devia.

                —Despiste-o. — Dragos rosnou, puro veneno.

                —Ele está logo atrás de nós. — Cho disse, olhando nervosamente no espelho retrovisor enquanto eles aceleravam ao longo de uma estrada que seguiu a terra à margem da água para uma área industrial. — Ele está agora apenas um carro atrás de nós e ganhando. Eu não acho que nós podemos afastá-lo neste momento.

                Outra praga rosnada de Dragos, mais selvagem que antes.

—Tudo bem. — Ele disse em um baixo e nivelado tom. — Então aborte. Mate a cadela e saia daí. Jogue o cadáver dela nas docas ou na rua, eu não me importo, porra. Mas não deixe aquele maldito vampiro chegar perto de qualquer um de vocês dois. Entendido?

                Green e Cho trocaram um olhar breve de reconhecimento.

—Sim, Mestre. — Green respondeu, terminando a chamada.

                Cho guiou para uma estreita curva para direita para fora da estrada e para um estacionamento na água. Grandes trailers de frete e variados caminhões baú pontilharam o rachado pavimento manchado de gelo. E mais perto da margem do rio estavam vários edifícios de armazém, que eram para onde Cho parecia estar seguindo a velocidade perigosa.

                Green nivelou a arma nela, até que ela estava encarando no tambor a bala engatilhada que logo seria descarregada em sua cabeça. Ela sentia uma onda de poder fluir em suas veias - algo muito mais intenso que adrenalina - quando o momento começou a seguir em câmara lenta.

                O dedo de Green se apertou no gatilho. Houve um suave raspar de aço respondendo, mecanismos na arma de fogo que clicavam em ação como se na névoa grossa de um sonho.

                Jenna ouviu a bala começar a explodir do tambor. Ela sentiu o forte cheiro de pólvora e fumaça. E ela viu o tremor de energia que ondula no ar quando a arma atirou nela.

                Ela abaixou para fora de seu caminho. Ela não sabia como conseguiu isto, nem como era possível saber exatamente como evitar a bala quando Green a explodindo em sua direção. Ela apenas sabia escutar seus instintos, sobrenatural como eles pareciam.

                Ela subiu atrás do assento de Green e torceu seu braço, rompendo o osso com suas mãos nuas. Ele gritou em agonia. A arma disparou novamente, desta vez um agitado e selvagem tiro.

                Atingiu Cho no lado de seu crânio, matando-o imediatamente.

                O sedan mudou de direção e balançou, acelerando com o peso morto do pé de Cho sobre o pedal. Eles atingiram o canto de um contêiner de frete enferrujado, batendo o Crown Vic em uma viciosa capotagem pela neve e gelo.

                Jenna bateu no telhado do carro enquanto ele virava de ponta cabeça, janelas quebrando, airbags desdobrando. Seu mundo inteiro tombou violentamente, de novo e de novo, antes de finalmente parar rangendo de cabeça para baixo no pavimento.

 

                Santo maldito inferno.

                Brock entrou no estacionamento industrial e freou bruscamente, assistindo com uma mistura de horror e fúria enquanto o Crown Victoria batia no lado de um trailer de carga e se lançou em um capotamento esmagador de aço no pavimento congelado.

                —Jenna! — Ele gritou, lançando o Rover no estacionamento e saltando para fora da porta.

                A luz do dia tinha sido uma vadia para se lidar dentro do veículo; fora era além de infernal. Ele quase não poderia ver pela neblina de luz branca ofuscante enquanto corria por gelo e asfalto rachado ao sedan revirado. As rodas do carro ainda estavam girando, o motor gemendo, vomitando fumaça e vapor no ar frígido.

               Enquanto se aproximava, ele ouviu Jenna grunhindo, lutando dentro. O primeiro instinto de Brock foi de agarrar a veículo e endireitá-lo, mas ele não podia estar seguro se virar o carro causaria mais dano a ela, e era um risco que não estava disposto a correr.

               —Jenna, eu estou aqui. — Ele disse, então alcançou e rasgou a porta lateral do motorista de cabeça para baixo de suas dobradiças. Ele a lançou ao chão e caiu às suas coxas olhar no interior moído.

                Ah, Cristo.

                Sangue e sangue coagulado estavam em todos os lugares, o fedor de células vermelhas mortas combinadas com as fortes fumaças de vazamento de óleo e gasolina para perfurar a névoa queimada pelo sol de seus sentidos. Ele olhou além do cadáver do motorista, cuja cabeça foi aberta por uma ferida de tiro a queima roupa. Tudo o foco de Brock estava direcionado em Jenna.

                O teto do sedan estava curvado e esmagado, criando apenas uma pequena quantidade de espaço para ela e o outro macho humano, que estava lutando para conseguir um aperto nas pernas dela. Ela estava o afastando com um pé enquanto tentava arranhar seu caminho para fora da janela mais próxima. O humano desistiu assim que seu olhar vazio deslizou para Brock. Soltando o tornozelo de Jenna, ele se abaixou para rastejar de costas pelo para-brisa aberto.

                —Subordinado. — Brock rosnou, ódio pelo escravo da mente sem alma fazendo seu sangue ferver ainda mais quente com fúria.

                Estes dois homens definitivamente eram os cães de caça leais de Dragos. Sangrado por ele pelo breve período de suas vidas, eles serviriam Dragos em qualquer capacidade que ele requeresse, obedientes até o último suspiro. Brock queria apressar o humano fugitivo para este momento final pessoalmente. Matá-lo com suas mãos nuas.

                Ele malditamente bem iria, mas não até que garantisse que Jenna estava a salvo.

                —Você está bem? — Ele lhe perguntou, tirando suas luvas de couro com os dentes e as lançando de lado assim ele podia tocá-la. Ele alisou seus dedos sobre a pálida e bela face dela, então alcançou para pegá-la sob seus braços. — Venha, vamos sair daqui.

                Ela balançou sua cabeça vigorosamente.

—Eu estou bem, mas minha perna está presa entre os assentos. Vá atrás dele, Brock. Aquele homem está trabalhando com Dragos!

                —Eu sei. — Ele disse. — Ele é um Subordinado e ele não importa. Mas você sim. Segure-se em mim, bebê. Eu vou soltá-la agora.

                Algo metálico estourou do lado de fora do carro. O alto silvo ecoou nitidamente, então outro soou, e ainda outro.

                Balas.

                Os olhos de Jenna encontraram os dele pela fina fumaça e gás que os estava rodeando dentro do veículo destruído.

—Ele deve ter outra arma com ele. Está atirando em nós.

                Brock não respondeu. Ele sabia que o Subordinado não estava tentando atingi-los por todo aquele metal e máquina. Ele estava atirando no próprio carro.

                Tentando criar a faísca que acenderia o exposto tanque de gasolina.

                —Segure-se em mim. — Ele lhe falou, apertando uma mão contra sua espinha enquanto alcançava com a outra os assentos moídos que aprisionavam Jenna. Com um rosnado baixo, ele os rasgou.

                —Eu estou saindo. — Ela disse, já se arrastando.

                Outra bala golpeou o carro. Brock ouviu um suspiro anormal de for a - um fluxo de ar que precedeu o súbito e crescente fedor de espessa fumaça preta e a rajada de calor que dizia que o Subordinado finalmente tinha atingido sua marca.

                —Venha! — Ele disse, agarrando a mão de Jenna.

                Ele a puxou do veículo, ambos tropeçando para fora do pavimento. Uma coluna de fumaça de fogo estourou do carro revirado quando o tanque de gás explodiu, tremendo a terra embaixo deles. O Subordinado continuou atirando, balas zunindo perigosamente perto.

                Brock cobriu o corpo de Jenna com o seu próprio enquanto ele agarrava uma das semiautomáticas em seu cinto de armas. Ele se levantou sobre seus joelhos, pronto para atirar - apenas para perceber seus óculos de sol caídos na saída do carro. Entre a parede de calor, fumaça turbulenta, e a luz queimante do dia, a visão dele era virtualmente nula.

                —Merda! — Ele sibilou, esfregando uma mão pelos seus olhos, se esforçando para ver pela agonia de sua visão chamuscada. Jenna estava se movendo embaixo dele agora, se arrastando para fora do abrigo de seu corpo. Ele alcançou por ela, sua mão procurando cegamente, voltando vazia. — Jenna, maldição. Fique abaixada!

                Mas ela não ficou abaixada. Ela tirou a pistola da mão dele e abriu fogo, uma rápida saraivada de balas que estalavam ruidosamente sobre o rugido de chamas e metal aquecido ao lado deles. Do outro lado do estacionamento, o Subordinado gritou nitidamente, então ficou totalmente calado.

                —Peguei você, seu filho da puta. — Jenna disse. Um momento depois, Brock sentia os dedos dela se envolverem ao redor do seus. — Ele está morto. E você está queimando aqui fora. Venha, vamos dar o fora deste lugar.

                Brock correu com ela, de mãos dadas pelo estacionamento aberto, em direção ao Rover. Por mais que seu orgulho quisesse que ele discutisse que estava bem para dirigir, sabia que estava cozinhado demais até mesmo para tentar. Jenna não lhe deu uma chance para protestar. Ela o empurrou na parte de trás do veículo, então saltou para trás do volante. Ao longe, o uivo de sirenas policiais soava, autoridades humanas sem dúvida respondendo ao acidente aparente perto das docas.

                —Aguente firme. — Jenna disse, lançando o Rover em marcha.

                Ela não parecia perturbada por toda a coisa, fria e senhora de si, a profissional total. E maldito seja se ele alguma vez já tivesse visto qualquer coisa tão quente em todos seus anos. Brock se deitou contra o couro fresco do assento, grato como inferno de tê-la ao seu lado enquanto ela pisou no acelerador e disparou para longe da cena.

 

                O caminho de volta para Boston levou a maior parte de quatro horas, mas o coração de Jenna ainda estava batendo forte - a sua preocupação por Brock ainda viva e implacável - enquanto ela virava o Rover pelos portões férreos do complexo e seguiu ao hangar de passageiros na parte de trás da propriedade privada da Ordem.

                —Nós chegamos. — Ela disse, estacionando o veículo dentro da grande garagem desligando o motor.

                Ela olhou no espelho retrovisor, o inspecionando por cerca da milésima vez desde que eles partiriam de Nova York. Ele tinha estado quieto no assento traseiro do SUV pela maior parte da viagem, apesar de se mexer em agonia óbvia enquanto tentava adormecer os efeitos de sua exposição ultravioleta.

                Ela girou ao redor em seu assento para dar uma olhada mais perto dele.

—Você vai ficar bem?

                —Eu viverei. — Seus olhos encontraram os dela pela escuridão, sua boca larga se movendo desajeitadamente mais em uma careta do que em um sorriso. Ele tentou se sentar, gemendo pelo esforço.

                —Fique aí. Deixe-me ajudá-lo.

                Ela arrastou-se para a parte de trás com ele antes que ele pudesse lhe falar que podia se virar sozinho. Ele olhou para ela em um longo e significante silêncio, os olhos deles se conectando, segurando. Todo o ar pareceu abandonar o espaço ao redor deles. Pareceu deixar os pulmões dela, também, alívio e preocupação que colidiam em seu interior enquanto encarava o belo rosto de Brock. As queimaduras que tinham estado lívidas ao longo de sua testa, bochechas e nariz algumas horas atrás tinham todas sumido agora. Seus olhos escuros ainda estavam úmidos e escoando umidade das extremidades deles, mas não mais vermelhos e inchados.

                —Oh, Deus. — Ela sussurrou, sentindo sua emoções se partirem e começarem a se apressar para fora dela. — Eu estava tão assustada hoje, Brock. Você não tem ideia alguma do quanto.

                —Você, assustada? — Ele a alcançou, passou sua mão ternamente ao longo do lado de sua face. Os lábios dele se curvaram e deu um fraco balanço de cabeça. —Eu a vi em ação hoje. Eu não acho que qualquer coisa realmente a assuste.

                Ela franziu, revivendo o momento quando percebeu que ele estava vindo atrás dela no SUV, sentando atrás do volante em plena luz do dia. Mas a sua preocupação por ele tinha crescido então a algo perto do terror quando, depois que o carro em que ela estava capotou, Brock estava lá, também, disposto a caminhar pelos letais raios UV para ajudá-la. Até mesmo agora, ela estava admirada e humilde pelo que ele tinha feito.

                —Você colocou sua vida em risco por mim. — Ela sussurrou, virando sua bochecha no calor suave da palma dele. —Você se arriscou muito, Brock.

                Ele saiu do assento, pegando a face dela em ambas as mãos. Seu olhar era solene, muito sério.

—Nós éramos parceiros hoje. E se você me perguntar, eu diria que nós fizemos um belo de um time bom.

                Ela sorriu apesar de si mesma.

—Você teve que salvar meu traseiro... Novamente. Até onde parceiros vão, eu odeio lhe contar, mas você pegou o lado ruim desse acordo.

                —Não. Nem mesmo perto. — Os olhos de Brock mantiveram os delas com uma intensidade profunda que parecia alcançar direito em seu centro. Ele acariciou sua bochecha, roçando seu dedo polegar sobre os lábios dela. — E para o registro, foi você que salvou minha pele. Se aquele Subordinado não nos derrubasse, a luz solar teria acabado comigo sem dúvida. Você salvou a nós dois hoje, Jenna. Maldito seja, você estava maravilhosa.

                Quando ela separou seus lábios para negar isto, ele se moveu e a beijou. Jenna derreteu, se perdeu na carícia quente da boca dele na sua. A atração que ela sentia por ele não tinha enfraquecido nem um pouco desde que eles tinham estado juntos na cama dele, mas agora havia algo ainda mais poderoso atrás do aumento de calor que queimava dentro dela. Ela gostava dele - verdadeiramente se importava - e a percepção do que estava sentindo a tomou completamente de surpresa.

                Não deveria ser assim. Ela não deveria sentir uma ligação tão forte com ele, especialmente não quando ele tinha deixado claro que não queria complicar as coisas com emoção ou expectativas de uma relação. Mas quando ele deixou o beijo e olhou em seus olhos, ela pode ver que ele estava sentindo algo mais do que tinha estado preparado, também. Havia algo mais que desejo brilhando na luz âmbar dos seus cativantes olhos marrons.

                —Quando eu vi aqueles Subordinados partirem de carro com você hoje, Jenna... — As palavras se perderam em silêncio. Ele exalou uma maldição suave e a puxou para mais perto, a segurando contra ele por um longo momento. Ele aconchegou seu rosto na curva de seu pescoço e ombro. — Quando eu os vi com você, eu pensei que tivesse falhado. Eu não sei o que eu teria feito se qualquer coisa tivesse acontecido a você.

                —Eu estou aqui. — Ela disse, suavemente afagando suas costas fortes e acariciando sua cabeça inclinada. —Você não falhou comigo. Eu estou logo aqui, Brock, por sua causa.

                Ele a beijou novamente, mais profundamente desta vez, uma união não apressada de suas bocas. As suas mãos eram ternas nela, entrelaçando por seu cabelo e movendo suavemente sobre seus ombros e espinha. Ela se sentia tão abrigada em seus braços, tão pequena e feminina contra a imensidão do peito e dos espessamente musculosos braços do guerreiro.

                E ela gostou da sensação. Ela gostava da maneira como ele a fazia se sentir segura e feminina, coisas que ela nunca realmente conheceu antes, nem mesmo com seu marido.

                Mitch. Oh, Deus...

                Pensar nele fez seu coração se apertar como se pego em um torno. Não por pesar ou desejo por ele, mas porque Brock a estava beijando e a segurando - fazendo-a se sentir merecedora de seu afeto - quando ela ainda não tinha lhe contado tudo.

                Ele poderia se sentir diferente se soubesse que foram suas próprias ações egoístas que tinham causado o acidente que matou seu marido e filha?

                —O que é? — Brock perguntou, sem dúvida sentindo a mudança que estava acontecendo com ela agora. —O que está errado?

                Ela se afastou de seu abraço, desviando o olhar dele, sabendo que era tarde demais para fingir que tudo estava bem. Brock ainda a estava acariciando ternamente, esperando por ela lhe falar o que a estava aborrecendo.

—Você estava certo sobre mim. — Ela murmurou. —Você disse que eu tenho um problema com precisar estar no controle, e você estava certo.

                Ele fez um som indiferente na parte de trás de sua garganta e ergueu o rosto dela para encontrar o seu.

—Nada disso importa.

                —Importa. — Ela insistiu. — Importou hoje e importou no Alasca quatro anos atrás, também.

                —Você está falando sobre quando você perdeu Mitch e Libby. — Ele disse, mais declaração que pergunta. — Você pensa que você é de alguma maneira culpada por isso?

                —Eu sei que sou. — Um soluço subiu pela parte de sua trás garganta, mas ela o sufocou de volta. — Não teria acontecido se eu não tivesse insistido que nós dirigíssemos para casa naquele dia.

                —Jenna, você não pode possivelmente pensar…

                —Deixe-me dizer. — Ela interrompeu. — Por favor... Eu quero que você saiba a verdade. E eu preciso falar as palavras, Brock. Eu não as conterei mais.

               Ele não disse mais nada, sóbrio enquanto tomava as mãos dela entre as suas e a deixou lhe contar como sua teimosia - sua maldita necessidade de estar no comando de toda situação - tinha custado a Mitch e Libby suas vidas.

                —Nós estávamos em Galena, uma cidade a várias horas de distância de onde nós vivemos em Harmony. Os policiais do estado tinham organizado um elegante jantar de gala lá, um desses eventos anuais de encorajamento onde eles entregam medalhas de honra e tiram sua foto com o governador. Eu estava sendo reconhecida por excelência no departamento - a primeira vez que tinha me destacado para qualquer tipo de prêmio. Eu estava convencida que seria bom para minha carreira ser vista por tantas pessoas importantes, assim eu insisti com Mitch que nós comparecêssemos com Libby. — Ela inspirou uma respiração fortificada e lentamente a exalou. — Era novembro e as estradas estavam quase intransitáveis. Nós chegamos a Galena sem muitos problemas, mas no caminho de volta...

                —Tudo bem… — Brock disse, alcançando para colocar de lado uma mecha solta de seu cabelo. — Você está bem?

                Ela lhe deu um aceno vacilante, embora dentro ela dificilmente estivesse bem. Seu peito estava ferido pela angústia e culpa, seus olhos queimando com lágrimas nascentes.

—Mitch e eu discutimos o tempo inteiro. Ele achava que as estradas estavam muito ruins para viajar. Elas estavam, mas outra tempestade estava a caminho, o que apenas tornariam as coisas piores. Eu não queria depender do tempo porque precisava reportar meu turno no dia seguinte. Então nós fomos para casa. Mitch estava dirigindo a Blazer . Libby estava em sua cadeirinha no banco de trás. Um par de horas sobre a rodovia, uma carreta levando uma carga cheia de madeira cruzou em nossa pista. Não houve tempo algum para reagir. Nenhum tempo para dizer que eu sentia muito, ou falar para qualquer um deles quanto eu os amei.

                —Venha aqui. — Brock disse e a aproximou. Ele a segurou por muito tempo, sua força tão reconfortante e quente.

               —Mitch me acusou de me preocupar mais com minha carreira do que com ele ou Libby. — Ela sussurrou, sua voz partida, as palavras difíceis de sair. — Ele costumava dizer que eu era muito controladora, muito teimosa para o meu próprio bem. Mas ele sempre cedia, mesmo então.

                Brock beijou o topo de sua cabeça.

—Você não sabia o que aconteceria, Jenna. Você não poderia saber, então não se culpe. Estava fora de seu controle.

                —Eu apenas me sinto tão culpada por sobreviver. Por que não poderia ter sido eu quem morreu, não eles? — Lágrimas a sufocavam agora, quentes e amargas em sua garganta. — Eu nunca nem mesmo tive uma chance para dizer adeus. Eu fui levava de helicóptero para o hospital em Fairbanks e colocada em coma para ajudar meu corpo a se recuperar. Quando acordei um mês depois, descobri que ambos tinham partido.

                —Jesus. — Brock sussurrou, ainda a segurando no abrigo atencioso de seu abraço. — Eu sinto muito, Jenna. Deus, como você deve ter sofrido.

                Ela engoliu, tentando não se perder na agonia desses dias terríveis. Ajudou que Brock estivesse ali para segurá-la agora. Ele era uma rocha de força, mantendo-a fundamentada e firme.

                —Quando eu saí do hospital, estava tão perdida. Eu não queria viver. Não queria aceitar o fato de que nunca veria minha família novamente. Alex e meu irmão, Zach, tinham tomado conta dos funerais, já que ninguém sabia quando eu poderia sair do coma. Quando eu fui liberada do hospital, Mitch e Libby já estavam cremados. Eu nunca tive coragem para ir no cemitério onde eles foram sepultados.

                —Não em todo esse tempo? — Ele perguntou suavemente, seus dedos acariciando o cabelo dela.

                Ela balançou a cabeça.

—Eu não estava pronta para ver os túmulos deles logo depois do acidente, e cada ano que passou, eu nunca encontrava a força para ir e lhes dizer adeus. Ninguém sabe disso, nem mesmo Alex. Eu estive muito envergonhada para falar para qualquer um exatamente o quanto fraca eu realmente sou.

                —Você não é fraca. — Brock a afastou dele, apenas o bastante para que ele pudesse inclinar sua cabeça e encará-la solenemente nos olhos. — Todo mundo comete erros, Jenna. Todo mundo tem arrependimentos e culpa por coisas que eles deveriam ter feito diferentemente nas suas vidas. Merdas acontecem e nós fazemos o melhor que podemos na ocasião. Você não pode se culpar para sempre.

                As palavras dele a acalmaram, mas ela não podia aceitar tudo aquilo que ele estava dizendo. Ela o viu lutando muito com a sua própria culpa para saber que ele apenas estava sendo agora amável.

—Você só está me dizendo isto para me fazer sentir melhor. Eu sei que realmente não acredita nisto.

                Ele franziu, um tormento silencioso passando sobre a face dele na escuridão do Rover.

               —Qual era o nome dela? — Jenna tocou a agora rígida mandíbula dele, vendo a dor relembrada em seus olhos. —A menina na fotografia antiga no seu alojamento - eu vi como você olhou para a foto dela ontem à noite. Você a conheceu, não é?

                Um aceno, pouco discernível.

—O nome dela era Corinne. Ela era a jovem Companheira de Raça que fui contratado para vigiar de volta em Detroit.

                —Aquela imagem deve ter várias décadas. — Jenna disse, recordando as roupas da época da Depressão e o clube de jazz onde a jovem mulher tinha sido fotografada.

                Brock entendeu a pergunta que ela estava fazendo agora, ela podia ver isso pelo olhar um tanto torto nos olhos dele.

—Era julho de 1935. Eu sei, porque fui eu quem tirou a foto.

                Jenna assentiu, percebendo que ela deveria estar mais surpreendida do que estava à lembrança que Brock e sua raça eram de alguma forma perto de imortais. Agora mesmo, e toda vez ele estava perto dela, ela pensava nele simplesmente como um homem. Um honrado e extraordinário homem que ainda estava magoado por uma velha ferida que o tinha cortado profundamente.

                —Corinne é a mulher que você perdeu? — Ela perguntou suavemente.

                Seu franzir se aprofundou.

—Sim.

                —E você se considera responsável pela sua morte. — Ela impeliu cuidadosamente, precisando saber pelo o que ele tinha passado. Ela queria entendê-lo melhor. Se ela pudesse, ela queria ajudá-lo a aguentar parte de sua própria culpa e dor. —Como aconteceu?

              No princípio, ela não achou que ele lhe contaria. Ele encarou os dedos deles entrelaçados, esfregando seu dedo polegar sobre a parte de trás da mão dela. Quando ele finalmente falou, havia uma extremidade bruta em sua voz profunda, como se a dor de perder Corinne ainda estivesse viva no coração dele.

                —Antigamente quando eu estava em Detroit, a época era muito pobre. Não tanto para a Raça, mas para as cidades humanas em que nós vivíamos. O líder de um Darkhaven local e sua companheira acolheram algumas jovens meninas sem-lar, Companheiras de Raça, para criá-las como suas próprias crianças. Eu fui designado a zelar por Corinne. Ela era uma criança rebelde, mesmo quando uma jovem garota - cheia de vida, sempre rindo. Enquanto envelhecia, uma adolescente, ela ficou ainda mais rebelde. Ela se ressentia com as precauções de seu pai, pensava que ele era muito autoritário. Ela começou a fazer um jogo de tentar se libertar de suas regras e expectativas. Ela começou a forçar limites, correndo riscos terríveis à sua segurança pessoal, testando a paciência de todo o mundo ao redor dela.

                Jenna lhe deu um sorriso suave.

—Eu posso imaginar que isso não passou muito bem com você.

                —Para colocar suavemente. — Disse ele, balançando sua cabeça. — Corinne era inteligente e tentava muito para se livrar de mim a cada chance que tinha, mas ela nunca me excedeu em esperteza. Até aquela última vez, a noite de seu décimo oitavo aniversário.

                —O que aconteceu?

                —Corinne amava música. No momento, jazz era a grande coisa. Os melhores clubes de jazz de Detroit estavam em uma área conhecida como Paradise Valley. Eu não acho que se passou uma semana que ela não me suplicou a levá-la lá. Mais frequentemente sim que não, eu a deixei ter seu modo. Nós fomos aos clubes na noite do seu aniversário, também - nenhuma coisa simples, dado que era o início do século vinte e ela era uma mulher branca sozinha na companhia de um homem negro. — Ele exalou um suave e sem humor riso abafado. — Cor de pele pode ser incidental em meu mundo, entre a Raça, mas não era o caso entre a humanidade na época.

                —Muito frequentemente, esse não é o caso agora, também. — Jenna disse, entrelaçando seus dedos um pouco mais apertados pelos dele e encontrando nada mais que beleza no contraste da pele dele com a sua. — Houve problema no clube aquela noite?

                Ele deu um aceno fraco.

—Houveram alguns olhares e sussurros. Alguns homens brancos tiveram muito para beber. Eles vieram e disseram algumas coisas rudes a Corinne. Eu lhes falei onde podiam ir. Eu não recordo quem lançou o primeiro soco, mas as coisas foram ladeira a baixo.

                —Os homens sabiam o que você era? Que você era Raça?

                —Não a princípio. Eu sabia que minha raiva me entregaria, e sabia que tinha que sair do clube antes que o lugar inteiro visse as mudanças me dominarem. Os homens me seguiram no lado de fora. Corinne teria, também, mas eu lhe disse que ficasse no prédio, que encontrasse algum lugar para esperar enquanto eu lidasse com coisas. — Ele inspirou uma respiração irregular. — Eu não fiquei fora nem dez minutos. Quando eu voltei ao clube, não havia sinal algum dela em qualquer lugar. Eu revirei o lugar procurando por ela. Eu procurei em todo canto da cidade e em todos os Darkhavens da área até o nascer do sol. Eu continuei procurando todas as noites depois, até mesmo fora do estado. Mas... Nada. Ela tinha desaparecido no ar, simples assim.

                Jenna podia ouvir a frustração em sua voz - o arrependimento - mesmo todos estes anos depois. Ela levantou sua mão e suavemente tocou a face dele, incerta do que lhe fazer para ajudar.

—Eu queria ter seu dom. Eu queria poder tirar a sua dor.

                Ele balançou sua cabeça, então trouxe sua palma na boca dele e apertou um beijo no centro de sua mão.

—O que eu sinto é raiva, de mim mesmo. Eu nunca deveria a ter deixado sair da minha vista, nem mesmo por um segundo. Quando as notícias chegaram a mim que o corpo brutalizado e queimado de uma jovem mulher tinha sido recuperado de um rio da cidade não muito longe dos clubes, eu fiquei doente de medo. Eu não queria acreditar que fosse ela. Nem mesmo quando vi o cadáver com meus próprios olhos... O que sobrou dele, depois do que alguém tinha feito a ela cerca de três meses antes dela ser deixada no rio.

                Jenna estremeceu, sabendo muito bem o quanto horrível a morte podia parecer, particularmente para aqueles que se importavam com a vítima. E especialmente para um homem que tinha se considerado responsável por um crime que não tinha modo algum de antecipar, quanto mais prevenir.

                —Ela estava irreconhecível, com exceção de pedaços da roupa e um colar que ela ainda usava quando foi atirada no rio. Queimá-la e cortar suas mãos não tinha sido o bastante para quem a matou. Ela também estava com sobrepeso, garantindo que ela não fosse descoberta por muito tempo depois que desaparecesse.

                —Meu Deus. — Jenna sussurrou. — Este tipo de brutalidade e premeditação não acontece por acaso. Quem fez tinha uma razão.

                Brock encolheu os ombros.

—Que razão possivelmente podia haver em matar uma jovem mulher indefesa? Ela era apenas uma criança. Uma bela e selvagem criança que estava vivendo cada momento. Havia algo viciante sobre sua energia e seu espírito. Corinne não dava a mínima para o que qualquer um dizia ou pensava, ela apenas ponderava pela vida sem desculpas. Agarrando firme em cada dia como se tudo fosse terminar amanhã. Jesus, mal ela sabia.

                Jenna viu a profundidade de seu arrependimento em sua expressão cuidadosamente estudada.

—Quando você percebeu que tinha se apaixonado por ela?

                O olhar dele era distante na escuridão do assento traseiro.

—Eu não me lembro como aconteceu. Eu fiz um esforço para manter meus sentimentos para mim mesmo. Eu nunca agi neles, nem mesmo quando ela flertava e provocava. Não teria sido certo. Corinne era muito jovem, em primeiro lugar. E seu pai confiou em mim para zelar por ela.

                Jenna sorriu enquanto o alcançava, alisando sua mão junto à bochecha e mandíbula rígidas dele.

—Você é um homem honrado, Brock. Você era então e você é agora.

                Ele balançou sua cabeça lentamente, refletindo por um momento.

—Eu falhei. O que aconteceu a Corinne - Deus, o que seus assassinos fizeram ao corpo dela - estava além de compreensão. Nunca deveria ter acontecido. Eu deveria mantê-la a salvo. Eu levei um longo tempo para aceitar que ela tinha partido - que os restos carbonizados e profanados tinham sido uma vez a jovem mulher que eu tinha conhecido desde que ela era uma criança. Eu queria negar que ela estivesse morta. Inferno, eu neguei a mim mesmo por muito tempo, até mesmo a procurando por três estados, me convencendo que ela ainda estava lá fora, que eu podia salvá-la. Isto nunca a trouxe de volta.

                Jenna o observou, vendo o tormento que ainda vivia dentro dele.

—Você deseja que pudesse trazê-la de volta?

                — Eu tinha sido contratado para protegê-la. Este era meu trabalho, a promessa que eu fiz toda vez que ela saiu do Darkhaven de seu pai. Eu teria trocado minha vida pela de Corinne sem hesitação.

                —E agora? — Jenna perguntou quietamente, percebendo que ela estava meio receosa de ouvir que ele ainda poderia amar a bela fantasma de seu passado.

                Mas quando o olhar de Brock se levantou, seus olhos estavam firmes e sérios, centrados completamente nela. Seu toque era quente e demorado contra sua face, sua boca tão perto da dela.

—Você não preferiria saber como me sinto sobre você? — Ele acariciou seu dedo polegar sobre os lábios dela, o mais simples contato superficial, e ainda assim ela chiou profundamente por dentro. — Eu não fui capaz de parar de pensar em você, e acredite em mim, eu tentei. Me envolver nunca esteve em meus planos.

                —Eu sei. — Ela disse. — Alérgico a relacionamentos. Eu me lembro.

                —Eu tenho sido cuidadoso por muito tempo, Jenna. — Sua voz era grossa, um baixo raspar que vibrava nos ossos dela. — Eu tento muito não cometer erros. Especialmente aqueles que não podem ser revertidos.

                Ela engoliu, de repente preocupada que a voz dele tinha ficado muito séria.

                —Você não me deve qualquer coisa, se isso é o que pensa.

                —É onde você está errada. — Ele disse. — Eu lhe devo algo - uma desculpa pelo o que aconteceu entre nós na outra noite.

                Ela balançou sua cabeça em negação.

—Brock, não…

                Ele pegou o queixo dela em seu domínio e atraiu sua atenção de volta para o olhar dele.

—Eu queria você, Jenna. O modo que eu a persegui para minha cama provavelmente não foi justo. Com certeza como o inferno não foi honrado, usar meu talento para entorpecer seu pesar quando também poderia ter afastado parte de seu arbítrio.

                — ão. — Ela tocou seu rosto, lembrando muito bem o quanto bom tinha parecido estar beijando-o, tocando-o, deitar nua com ele em sua cama. Ela tinha estado mais que disposta a conhecer esse tipo de prazer com ele, então e agora. — Não foi assim, Brock. E você não tem que explicar…

                —Acima de tudo, — Ele disse, falando sobre suas negações. — eu lhe devo uma desculpa por sugerir que sexo com você seria puramente físico, sem amarras ou expectativas além do momento. Eu estava errado. Você merece mais que isto, Jenna. Você merece muito mais que qualquer coisa que eu possa lhe oferecer.

               —Eu não lhe pedi nada mais. — Ela acariciou a linha de sua mandíbula, então deixou seus dedos vaguearem para baixo, na forte coluna de seu pescoço. — E o desejo era mútuo, Brock. Meu arbítrio era meu próprio. Ainda é. E eu faria tudo novamente com você.

                Seu rosnado em resposta foi puramente masculino enquanto ele a puxou e beijou profundamente. Ele a segurou perto, a batida de seu coração estrondando poderosamente, o calor de seu corpo penetrando pela pele dela como um bálsamo. Quando ele se separou de sua boca, a respiração dele passava irregularmente por seus dentes e as brilhantes pontas de suas presas. Seus olhos escuros cintilavam como brilhantes faíscas de âmbar.

—Cristo, Jenna... O que eu quero fazer agora mesmo é virar este carro e dirigir para algum lugar com você. Apenas nós dois. Só por um tempo, longe de todo o resto.

                A ideia era mais que tentadora, mas se fez mais irresistível quando ele se inclinou e a pegou em um sensual beijo de derreter os ossos. Ela envolveu seus braços ao redor dele e encontrou sua língua com a própria, se perdendo na ligação erótica de suas bocas. Ele fez um baixo ruído na parte de trás de sua garganta, um rosnado ressoante que vibrava por ela enquanto ele a puxava mais fundo em seus braços, mais fundo em seu beijo.

                Jenna sentia o raspar abrasivo de suas presas contra sua língua, sentia a rígida saliência de sua excitação pressionando contra seu quadril enquanto ele a girava ao redor do longo assento de banco e a cobriu com seu corpo.

                —Gideon está esperando por nós no laboratório de tecnologia. — Ela conseguiu sussurrar enquanto ele se afastava de sua boca para espalhar um atordoante rastro de beijos ao longo da pele sensível debaixo de sua orelha. Eles tinham telefonado da estrada uma hora atrás, alertando Gideon e Lucan à situação que tinham encontrado em Nova York e os deixando saber que estavam seguindo de volta para o complexo. — Eles estão esperando que nós reportássemos assim que chegarmos.

                —Sim. — Ele rosnou, mas ele não parou de beijá-la.

                Ele abriu o casaco dela e deslizou sua mão debaixo de sua camisa. Ele acariciou seus seios sobre o fino tecido de seu sutiã, provocando seus mamilos a picos duros como pedra. Ela se contorceu embaixo dele enquanto ele se movia sobre ela, lentas investidas de sua pélvis que faziam o corpo dela gotejar com a necessidade de senti-lo nu contra ela. Enterrado dentro dela.

                —Brock. — Ela ofegou, quase perdida à paixão que ele estava alimentando nela. — Gideon sabe que nós estamos em aqui. Há provavelmente uma máquina de segurança apontada para nós agora mesmo.

                —Janelas escuras. — Ele raspou, olhando para ela com um sorriso sensual que desnudava as brilhantes pontas de suas presas e fez seu estômago virar. — Ninguém pode ver coisa alguma. Agora pare de pensar em Gideon e me beije.

                Ele não tinha que lhe dizer para parar de pensar. Suas mãos e lábios apagaram todo o pensamento, exceto o anseio que ela tinha por mais dele. Ele a beijou com demanda, empurrando sua língua na boca dela como se pretendesse devorá-la. A paixão dele era intoxicante e ela o bebeu, agarrada nele, interiormente amaldiçoando suas roupas inconvenientes e o interior limitando do Rover.

                Ela o queria até mais intensamente que na primeira vez, seu desejo abastecido pela doçura da desculpa desnecessária dele e a adrenalina que ainda estavam chiando em suas veias por tudo que eles tinham passado juntos naquele dia. Murmurando o nome dele em torno de partidos e satisfeitos ofegos enquanto sua boca vagava ao longo do lado do pescoço dela e suas mãos acariciavam os inchaços doloridos de seus seios, Jenna sabia que se eles ficassem no veículo mesmo um minuto a mais, eles terminariam nus ali mesmo no banco traseiro. Não que ela reclamaria. Ela dificilmente teria fôlego para fazer qualquer coisa mais que gemer em prazer enquanto ele deslizava sua mão entre as pernas dela e balançava sua palma contra ela em um ritmo dominador.

                —Oh, Deus. — Ela sussurrou. — Por favor, não pare.

                Mas ele parou - nem mesmo um segundo depois. Ele ficou imóvel sobre ela, sua cabeça estalando para cima. Então ela ouviu, também.

                O rugido de um veículo se aproximando rápido fora do hangar de passageiros. A porta de garagem abriu e um dos outros SUVs pretos da Ordem veio voando para dentro. Guinchou a uma parada alguns espaços distantes deles e um dos guerreiros saltou para fora do assento do motorista.

                —É o Chase. — Brock murmurou, franzindo enquanto ele observava da janela de trás. — Merda. Algo está errado. Fica aqui, se você preferir não deixá-lo saber que nós estávamos junto ainda agora.

                —Esqueça. Eu vou com você. — Ela disse, então se recompôs e o seguiu para fora do Rover para encontrar o outro macho da Raça. Sterling Chase estava seguindo para o elevador do complexo a um passo urgente. Ele olhou para Brock e Jenna enquanto eles se aproximavam. Se ele supunha o que tinha interrompido, os astutos olhos azuis não denunciaram nada.

                —O que está acontecendo? — Brock perguntou, nada além de negócios em sua voz profunda.

                Chase estava igualmente severo, mal reduzindo a velocidade para conversar.

—Você não ouviu?

                Brock deu um curto balanço de cabeça.

—Nós acabamos de entrar.

       —Recebi uma ligação de Mathias Rowan alguns minutos atrás. — Chase disse. —Houve um sequestro em um dos Darkhavens da área de Boston hoje à noite.

       —Oh, meu Deus. — Jenna sussurrou, acometida. — Não outra Companheira de Raça?

                Chase balançou a cabeça.

—Um jovem macho, quatorze anos de idade. Ele também acontece de ser o neto de um antigo Gen Um chamado Lazaro Archer.

       —Gen Um. — Brock murmurou, instintos formigando em alarme. —Isso não pode possivelmente ser uma coincidência.

                —Duvidoso. — Chase concordou. —A Agência de Execução está interrogando testemunhas, tentando reunir quaisquer pistas que eles possam sobre onde a criança pode ter sido levada, e por que. Enquanto isso, Lazaro Archer e seu filho, Christophe, o pai do menino, estão fazendo barulho que querem se encontrar pessoalmente com seus raptores - quem eles sejam - para negociar a sua liberação.

                —Ah, Cristo. Ideia fodidamente ruim. — Brock disse, passando um olhar tenso a Jenna enquanto eles seguiam Chase pela garagem. — Há apenas uma pessoa que eu posso pensar que teria qualquer motivo para apanhar um membro da família de um Gen Um. É uma armadilha, Harvard. Eu cheiro Dragos sobre tudo isto.

                —Eu também. E assim o faz Lucan. — Chase parou com eles em frente ao elevador do hangar e apertou o botão de chamada. — Ele está organizado uma reunião com o Gen Um e seu filho aqui no complexo. Tegan vai apanhá-los dentro de uma hora.

 

Lucan e Gideon esperavam por eles logo que Brock saltou do elevador com Jenna e Chase.

—Inferno de dia maldito. — Murmurou Lucan, recebendo-os com um relance. —Ambos estão bem?

Brock deu uma olhada em Jenna, que estava calma e constante junto dele. Estava um pouco esfolada e contundida, mas felizmente inteira.

—Podia ter sido pior.

Lucan passou uma mão pelo seu cabelo escuro.

—Dragos está ficando mais corajoso. Subordinados no maldito FBI, por Deus.

—Que diabos? — Chase franziu o cenho, disparando uma olhada incrédula para Brock e Jenna. — Acham que o federal com quem se encontrou hoje...

—Pertencia a Dragos. — Respondeu Brock. — Ele e outro Subordinado de Dragos a pegaram dentro do edifício e fugiram com ela. Persegui o veículo, mas não fui capaz de pegá-los até que caíram do outro lado da Ponte do Brooklin.

Chase exalou uma maldição baixa.

—Tem sorte por estarem vivos.

—Sim. — Brock concordou. — Graças a Jenna. Ela tirou ambos os Subordinados, logo me impediu de virar bacon frito, também.

—Não me diga. — Um pouco da aridez deixou o duro olhar azul de Chase quando a olhou. — Nada mal para uma humana. Estou impressionado.

Ela encolheu os ombros ao elogio.

—Devia saber que algo não estava certo com o Agente com quem me encontrei. Eu realmente sabia, de fato. Tive uma sensação... Acho que podemos chamar assim. Não consegui atinar o que, mas até o fim da reunião continuei pensando que algo estava errado sobre ele.

—O que sentiu? — Gideon perguntou.

Ela franziu o cenho, considerando.

—Não sei exatamente. Somente algo instintivo. Seus olhos me deixavam desconfortável, e continuei com uma sensação esquisita que ele não era... Normal.

—Sabia que não era o bastante humano. — Sugeriu Brock, tão surpreso como o resto dos guerreiros ao ouvir sua admissão. — Você sentiu que era um Subordinado?

—Suponho que sim. — Ela acenou com a cabeça. — Mas não sabia como chamá-lo no momento. Tudo que sabia era que fazia minha pele arrepiar quando estava perto dele.

Brock não perdeu o relance silencioso entre Gideon e Lucan.

Nem Jenna o fez.

—O que foi? Diga-me por que ficou tão quieto de repente.

—Humanos não têm a capacidade de descobrir Subordinados. — Respondeu Brock. — Homo sapiens não são bastante agudos para notar a diferença entre um mortal e alguém que pertence a um mestre Raça.

Ela arqueou suas sobrancelhas.

—Acha que isto também está relacionado ao implante, não é? O presente alienígena que continua aqui. — Ela soltou um riso agudo. — Apenas o quanto maluca fiquei, que tudo parece caminhar nesta direção agora?

Brock resistiu ao impulso de envolver seu braço em volta dela. Em vez disso virou sério para Gideon.

—Encontrou algo mais nos resultados do exame de sangue?

—Nada significante além das anomalias já descobertas. Mas gostaria de tirar mais amostras, bem como conduzir outro teste de stress e força e medições de resistência.

Jenna acenou com a cabeça em acordo.

—Seja quando estiver pronto, estou dentro. Dado que parece não haver nenhum modo de me livrar da maldita coisa, acho que devo começar a tentar entendê-la.

—Os testes vão ter que esperar. — Interpôs Lucan. — Quero que todo o mundo se reúna no laboratório de tecnologia em dez minutos. Muita merda voou hoje, e tenho que me assegurar que estamos todos adiantados antes que nossos hóspedes do Darkhaven cheguem.

O líder da Ordem deu uma olhada de aprovação na direção de Jenna, então para Brock.

—Estou feliz por tê-los de volta. Os dois.

Jenna murmurou seus agradecimentos, mas sua expressão estava marcada com a decepção.

—Infelizmente, já que a reunião foi uma armadilha, não voltamos com nenhuma informação da TerraGlobal.

Lucan grunhiu.

—Talvez não, mas descobrir que Dragos têm Subordinados no governo humano pode ser mais valioso para nós a longo prazo. É certo como o inferno que não são boas notícias, mas é algo que tínhamos que estar conscientes.

—Ele está pisando em coisas grandes. — Acrescentou Gideon. — Entre esta descoberta hoje e agora o rapto do neto de Lazaro Archer, está bastante claro que Dragos não está a ponto de desistir.

—E nada está abaixo dele. — Remarcou Brock, sério com as possibilidades. —Isto o faz mais perigoso do que nunca. Devemos estar preparados para o pior quando este bastardo vier.

Lucan acenou com a cabeça, seu olhar sóbrio, reflexivo.

—Por agora, cuidaremos de uma crise por vez. Chase, venha comigo. Quero você com Tegan quando subir para pegar os Archer. Todos os outros, laboratório de tecnologia em dez minutos.

 

Lazaro Archer se dizia estar perto de mil anos, mas como qualquer outro macho da Raça, externamente o Gen Um não parecia ter mais do que trinta. As linhas em volta da sua boca severa e as sombras sob seus olhos azuis escuros, embora pronunciadas, eram somente a evidência da sua aflição pelo rapto do seu jovem neto. Os perspicazes, mas cansados olhos esquadrinharam os rostos de todo mundo que estava reunido no laboratório de tecnologia - os guerreiros e suas companheiras, e Jenna ao lado de Brock, também - todos o observando e esperando enquanto Lucan e Gabrielle escoltavam o Raça mais velho e seu filho mal-encarado, Christophe, na sala.

As apresentações rápidas, corteses rodearam a grande mesa de reunião, mas todo mundo entendeu que a reunião dificilmente fosse uma chamada social. Brock não podia se lembrar da última vez que um civil da Raça foi admitido no complexo. Poucos na nação dos vampiros sequer sabiam onde a sede da Ordem estava localizada, o que dirá entrar.

Nenhum dos Archer parecia cômodo ali, em particular o pai do menino raptado. Brock não deixou de notar à ligeira superioridade do queixo do macho mais jovem quando esquadrinhou o laboratório de tecnologia e cada um dos guerreiros sentados na mesa, a maior parte ainda vestida em uniformes de patrulha da noite, armas e tudo. Christophe Archer parecia relutante, se não resistente, quando foi oferecida uma cadeira vazia entre os bárbaros da Ordem.

Tempos desesperados, Brock pensou gravemente, inclinando sua cabeça em saudação quando o civil Raça da segunda geração no seu casaco de caxemira longo e impecável, camisa e calça se ajustou cuidadosamente no assento ao lado dele.

Lucan limpou sua garganta, sua voz profunda tomando a ordem imediata da sala quando olhou os dois recém-chegados.

—Primeiro, quero assegurar a ambos que todo mundo nesta sala compartilha o problema da segurança de Kellan. Como disse quando falamos antes, Lazaro, tem o compromisso da Ordem em achar o menino e trazê-lo para casa.

—Isto soa muito encorajador. — Disse Christophe Archer junto de Brock, uma aresta na sua voz. — A Agência de Execução jurou a mesma coisa, e tanto quanto quero acreditar, o fato é que não sabemos onde começar a procurar meu filho. Alguém pode me dizer quem faria isto? Que tipo de criminoso medroso invadiria nossa casa enquanto estamos longe e levaria meu menino?

Depois de falar novamente com Mathias Rowan da Agência de Execução, Chase foi informado de todos os detalhes do rapto antes que os Arher chegassem. Três imensos machos Raça pesadamente armados tinham invadido o que parecia a propriedade Darkhaven onde Lazaro e Christophe Archer viviam com suas famílias. Os Archer mais velhos e suas Companheiras tinham ido a uma arrecadação de fundos de caridade naquela tarde, deixando o adolescente Kellan em casa sozinho.

Como soava, o rapto foi tão furtivo quanto exato - tudo dependia de um objetivo muito específico. Em talvez meros minutos, os intrusos entraram no Darkhaven por uma janela traseira, mataram dois seguranças de Christophe, logo pegaram o adolescente no seu dormitório e se afastaram com ele.

A única testemunha do rapto foi um primo, vários anos mais jovem que Kellan, que estava oculto em um quartinho quando a invasão aconteceu. Compreensivelmente assustado e chateado, não pode descrever os raptores, exceto que estavam vestidos da cabeça aos pés de preto, com máscaras que escondiam tudo exceto os olhos. O menino também observou que os três machos usavam um colarinho preto estranho, grosso em volta dos seus pescoços.

Enquanto o Agente de Execução não entendeu totalmente as ramificações daquele detalhe crucial, cada membro da Ordem o fez. Suspeitavam que Dragos estivesse no coração disto, mas ouvindo que um grupo de três dos seus próprios assassinos - Gens Um criados e treinados para servi-lo, sua lealdade assegurada pelos colares UV letais que cada um usava - confirmava que suas suspeitas estavam corretas.

—Simplesmente não posso compreender esta espécie de loucura. — Disse Christophe, apoiando seus cotovelos na mesa, seus traços aflitos, olhos suplicantes. —Penso, por quê? Certamente nossa Raça não é tão bruta como os seres humanos que agarrariam e seriam coniventes por causa do dinheiro, assim o que alguém pode ganhar roubando meu único filho?

—Nada. — Lucan respondeu, a palavra tão severa quanto sua expressão. — Não acreditamos que isto tenha algo a ver com lucro financeiro em potencial.

—Então o que podem querer com Kellan? O que podem ganhar levando-o embora?

Lucan lançou os olhos brevemente a Lazaro Archer.

—Vantagem estratégica. O indivíduo que encomendou este rapto, sem dúvida, fará uma exigência em muito pouco tempo.

—Uma exigência para quem?

—Para mim. — Disse Lazaro calmamente. Quando o olhar fixo de seu filho deslizou para ele interrogativo, o Gen Um olhou para ele, o remorso franco. —Christophe não é consciente da conversa que tivemos há quase um ano, Lucan. Nunca falei do aviso que me deu e aos outros poucos Gen Um restantes que alguém procurava nos exterminar. Não sabe sobre outras matanças entre nossa geração.

O rosto de Christophe Archer ficou um bocado pálido.

—Pai, sobre o que está falando? Quem está procurando prejudicá-lo?

—Seu nome é Dragos. — Respondeu Lucan. — A Ordem está em uma guerra privada com ele durante algum tempo. Mas não antes que tivesse a possibilidade de passar várias décadas - séculos, de fato - criando seu império secreto. Já matou vários outros Gen Um no ano passado, o que, infelizmente, apenas arranha a superfície da sua loucura. Tudo que conhece é o poder, e a necessidade de reclamá-lo. Não deixará nada intervir entre o que ele quer, e nenhuma vida é sagrada.

—Jesus Cristo. Está dizendo que este bastardo doente foi quem levou Kellan?

Lucan acenou com a cabeça.

—Sinto muito.

Christophe se levantou e começou a andar para frente e para trás da mesa.

—Temos que reavê-lo. Maldito seja, temos que trazer meu filho para casa, não importa o que custe.

—Estamos todos de acordo com isto. — Disse Lucan, falando para todos reunidos no silêncio solene do laboratório de tecnologia. — Mas tem que entender que não importa como isto se desenrole, haverá riscos...

—Danem-se os riscos! — Christophe gritou. — Estamos falando sobre meu filho, minha única criança. Meu menino querido, inocente. Não me fale de riscos, Lucan. Comerciarei alegremente minha própria vida por Kellan.

—Como eu. — Pôs Lazaro sobriamente. — Tudo para minha família.

Brock assistiu a troca emocional, sabendo como era se sentir impotente com tal perda. Mas mais do que foi movido pela dor dos Archer, foi atingido pela dor crua de Jenna junto dele.

Embora segurasse seu queixo ainda, a tensão esticava sua boca. Seus lábios tremeram ligeiramente, e seus olhos castanhos estavam úmidos com lágrimas não derramadas. Fosse por compaixão pelo que os dois machos Raça passavam ou pela lembrança da sua própria dor ao ter um ente querido tirado tão abruptamente, não estava certo. Mas a ternura que viu nela o tocou profundamente.

Sob a mesa, sua mão deslizou para pegar a dela. Juntou seus dedos delgados no seu aperto e ela o olhou, sorrindo fracamente quando seus dedos apertaram num conforto silencioso. Algo mais profundo aconteceu entre eles naquele momento - uma confirmação da ordem não dita da obrigação crescente que compartilhavam.

Ele sabia que ela era forte. Sabia que era uma mulher corajosa, resistente que tinha levado mais que sua cota de golpes na vida e ainda seguia. Mas a vista dela agora, num momento de vulnerabilidade tranquila, fez seu coração abrir um pouco.

Ele amava que não fosse uma flor delicada que murcharia sob o menor calor. Mas amava este vislumbre de maciez nela, também.

Deus, havia tanto para amar nela.

Se não pelo pequeno problema que não tinha nascido Companheira de Raça, Jenna Darrow seria a mulher que podia visualizar facilmente ao seu lado - uma parceira verdadeira, na vida e em todas as coisas. Mas ela era mortal, e se apaixonar por ela inevitavelmente significaria perdê-la. O que aconteceu em Nova York hoje mais cedo - a vista dela nas mãos de Subordinados de Dragos - só tinha deixado aquele ponto mais claro.

A morte de Corinne foi um soco para o qual não estava preparado, mas tinha conseguido continuar. Perder Jenna, se pela idade que a levaria consequentemente ou por algum outro meio, seria de alguma forma impossível imaginar.

Quando segurou sua mão na dele, sabia que não podia fingir mais que ela era simplesmente outra missão, ou que a proteção dela era simplesmente seu dever à Ordem. Tinha ido muito longe e muito rápido para negar o quanto ela significava.

Ele ainda revirava aquela constatação incômoda na sua mente quando Lucan levantou da mesa e foi para perto de Christophe Archer. Lucan pôs sua mão no ombro do outro macho, suas sobrancelhas escuras juntas num olhar solene.

—Não descansaremos até encontrar seu filho e trazê-lo para casa. Tem minha palavra, e tem a palavra dos meus irmãos aqui nesta sala.

Na sua promessa, Brock e os outros guerreiros também levantaram em volta da mesa numa demonstração de solidariedade. Mesmo Hunter, o Gen Um que conhecia em primeira mão como Dragos e seus assassinos eram cruéis, apoiou sua nova missão.

Christophe deu um olhar duro ao líder da Ordem.

—Obrigado. Não há nada mais que posso pedir.

—E não há nada que não darei. — Disse Lazaro, se juntando ao seu filho e Lucan perto do fundo da sala. — A Ordem tem minha fé e minha completa confiança. Não posso me desculpar por ignorar seu conselho há um ano, Lucan. Apenas veja o que está me custando agora. — Ele sacudiu a cabeça triste. — Possivelmente vivi muito tempo, se um mau indivíduo como Dragos pode existir entre nós. É isto o que deve ficar da Raça? Uma guerra de um contra o outro, deixando a ganância e poder nos corromper, como no gênero humano. Possivelmente não somos tão diferentes deles, afinal. No que diz respeito ao assunto, será que somos diferentes do alienígena selvagem que nos criou?

O olhar cinza de aço de Lucan nunca pareceu mais resoluto.

—Estou contando com isso.

Lazaro Archer acenou com a cabeça.

—E estou contando com você. — Ele disse, dando uma olhada a cada guerreiro e fêmea que agora estavam com eles. — Estou contando com todos vocês.

 

A Ordem continuou a reunião por outro par de horas depois que Lazaro e Christophe Archer partiram. Um pouco antes, Jenna e o resto das mulheres tinham ido jantar em outro lugar no complexo, deixando os guerreiros para discutir suas opções limitadas e táticas de como poderiam sair à procura do menino raptado.

Embora Brock escutasse e oferecesse sugestões quando as tinha, sua mente - e seu coração - estavam distraídos. A maior parte de seu foco saiu da sala quando Jenna partiu, e desde então, estava contando os minutos que faltavam até que pudesse estar com ela novamente. Logo que a reunião no laboratório de tecnologia acabou, saiu para o corredor para encontrá-la.

Alex saía do seu quarto, fechando a porta atrás dela quando se aproximou. Ela sorriu sabiamente quando o viu.

—Como ela está? — Ele perguntou.

—Muito melhor do que eu estaria depois do que passou hoje. Ela está acabada, mas conhece Jen. Nunca admitiria.

—Sim. — Ele disse, devolvendo o sorriso de Alex. — Realmente sei disto.

—Ela está mais preocupada com você, acho. Ela me disse o que fez, Brock. Como foi atrás dela, dirigindo na luz do dia.

Ele encolheu os ombros, pouco confortável com o elogio.

—Estava protegido. Minhas queimaduras foram mínimas. Estavam curadas quando regressamos ao complexo.

—Este não é o ponto. — A boca de Alex se curvou calorosamente. Então abruptamente ficou nas pontas do pé e deu um beijo na sua face. — Obrigado por salvar minha amiga.

Enquanto ficou parado ali, inseguro de como responder, Alex rolou seus olhos.

—O que está esperando? Entre e a veja por si mesmo.

Ele esperou até que a companheira de Kade tivesse ido antes de bater na porta. Levou alguns momentos antes que Jenna abrisse. Estava descalça, vestida no seu roupão de banho branco, ele adivinhava, com pouco ou nada embaixo dele.

—Oi. — Ela disse, dando um sorriso de boas-vindas que trouxe o fogo de seu sangue à vida nas suas veias. — Estava prestes a entrar na ducha.

Oh, definitivamente não precisava da tentação da imagem mental para fazer seu corpo ficar ainda mais quente.

—Vim ver como você está. — Ele murmurou, sua voz rouca enquanto lembrava das curvas femininas e pernas longas, deliciosas ocultas sob o roupão enorme. Um roupão preso apenas pela faixa atada em volta da cintura delgada. Ele limpou sua garganta. — Mas se está cansada...

—Não estou. — Ela se afastou da porta, deixando-a aberta atrás dela num convite não dito.

Brock entrou e fechou a porta atrás dele.

Não tinha ido lá com ideias sobre seduzi-la, mas tinha que admitir que parecia uma ideia realmente estelar agora que estava bastante próximo para tocá-la. Próximo o bastante para perceber que ela se sentia da mesma maneira.

Antes que pudesse se parar, estendeu a mão para pegar à dela e a puxou na direção dele. Ela não resistiu. Seus olhos castanhos estavam arregalados e acolhedores quando envolveu sua mão em volta do seu pescoço e a puxou contra ele. Pegou sua boca em um profundo, faminto beijo. Ela sugou seu lábio inferior entre os dentes, e todas as suas boas intenções, embora fossem poucas, foram embora, subindo em chamas.

—Deus, Jenna. — Ele murmurou contra sua boca. — Não posso ficar afastado de você.

Sua resposta foi um gemido gutural, um ronronar feminino lento que vibrou pelo seu corpo e diretamente ao seu pênis. Estava duro como aço, sua pele apertada e superaquecida, cada nervo pulsando no mesmo ritmo do seu coração.

Ele retirou o tecido solto do corpo delicioso de Jenna, revelando para seu olhar polegada a polegada, curva a curva deleitável. Acariciou sua pele suave, deleitando-se com a sensação aveludada dela sob as pontas dos seus dedos ásperos. Seus seios enchiam suas palmas, um cone perfeito de carne cremosa rematado com pequenos mamilos cor de rosa que pediam que os provasse. Ele baixou sua cabeça e esbanjou-a com sua língua, sugando os pequenos botões apertados e rosnando com prazer enquanto ela gemia e suspirava acima dele.

O odor doce da sua excitação o atingiu forte, fazendo suas presas saírem das gengivas numa resposta primitiva, urgente. Ele alcançou entre suas pernas, passando seus dedos nas dobras escorregadias do seu corpo.

—Tão suave. — Murmurou, importunando as pétalas do seu corpo e deleitando-se com o modo que floria completa sob seu toque. — Tão quente e molhada. Você é tão fodidamente sexy, Jenna.

—Oh, Deus. — Ela respirou, seus dedos cavando nos seus ombros enquanto ele lentamente a penetrou primeiro com um dedo, logo um segundo. — Mais. — Ela sussurrou. — Não pare.

Com um rosnado, ele balançou sua palma contra ela e tomou sua boca num beijo duro, possessivo, língua e dedos pesquisando profundamente, dando e tomando até que sentisse o tremor de seu corpo com os primeiros tremores do orgasmo. Ela deixou sair um agudo, assustado suspiro, mas não a deixou até que se dobrou contra ele, gritando seu nome no clímax.

Ela ainda arquejava, ainda segurando seus ombros quando ele lentamente acariciou seu sexo, e se curvou para beijar os pequenos botões apertados dos seus mamilos.

—Você está muito vestido. — Ela murmurou, seus olhos pesados escuros e exigentes, embora não mais que as mãos que iam à deriva por seus braços e se encaminhavam direto à protuberância enorme abaixo do cós do seu uniforme. Ela o acariciou por cima do tecido, seu manejo não tímido deixando seu pênis mais apertado, mais cheio, esticando para ser libertado. — Tire isso. Agora.

—Sempre mandona. — Ele disse, sorrindo quando se apressou a obedecer a suas exigências luxuriosas.

Ela riu, passando suas mãos por todas as partes do seu corpo enquanto tirava sua roupa. Quando estava nu, ele envolveu seus braços ao redor dela e a puxou contra ele até suas curvas se fundirem com seus músculos duros. Ela não era nenhuma criança frágil, e amava isto sobre ela. Ele amava sua força. Havia tanto que amava nesta mulher, ele percebeu, parados ali pele com pele, fitando seus olhos.

Oh, sim... Estava em um grande problema aqui.

—Você disse algo sobre uma ducha. — Ele murmurou, tentando fingir que não estava apaixonado naquele mesmo segundo. Tentando se convencer que não tinha se enamorado dela muito antes disto - logo que a viu pela primeira vez, aterrorizada, mas não quebrada, na escuridão da sua cabana no Alasca.

Ela sorriu, ignorante da revelação que fluía sobre ele.

—Eu realmente disse algo sobre uma ducha, de fato. Mas está lá adiante no banheiro, e nós estamos aqui fora.

—Muito fácil cuidar disto. — Ele a pegou nos braços e usando sua velocidade inumana com que tinha nascido para transportá-la até o banheiro adjacente antes que ela pudesse reclamar por ele carregá-la.

—Oh, meu Deus! — Ela exclamou, rindo em volta das palavras enquanto ele colocava seus pés no chão de mármore. — Bonito truque.

—Bebê, espere só um pouco. Tenho muito mais de onde veio este.

Ela arqueou uma sobrancelha delgada.

—É um convite?

—Quer que seja?

Em vez de soltar algo provocante ou sugestivo, ficou quieta repentinamente. Desviou os olhos por um segundo. Quando o olhou de novo, seu rosto estava tão sério como nunca tinha visto.

—Não sei o que quero... Mas quero mais disto. Mais de você.

Brock levantou seu belo rosto na borda da sua mão.

—Tome tudo que quiser.

Ela envolveu seus braços no seu pescoço e o beijou como se nunca quisesse deixá-lo ir. Ele a segurou, bocas juntas e famintas, enquanto levava ambos à grande ducha e ligava a água. Água aquecida correu em volta deles, os ensopando quando continuaram se tocando, acariciando e beijando.

Jenna definiu o ritmo e ele alegremente se submeteu a ela, se apoiando atrás contra o mármore frio da ducha, quando ela se separou da sua boca e lentamente se abaixou diante dele. Ela dirigiu sua boca por seu peito e estômago, sua língua seguindo o padrão dos seus dermáglifos enquanto suas mãos molhadas deslizavam de cima para baixo em seu eixo rijo. Ele quase se perdeu quando seus lábios fecharam em volta da cabeça de seu pênis. Ela o sugou profundamente, deixando-o entorpecido após alguns momentos da sua tortura doce, molhada.

—Ai, Cristo. — Ele assobiou, já muito perto do limite. — Suba aqui agora.

Ele a puxou para cima contra seu corpo duro e a beijou com fome, empurrando sua língua na sua boca quente da maneira que morria para estar dentro de seu sexo. Ele se abaixou e abriu suas pernas, estendendo os montículos firmes, molhados do seu bonito traseiro. Ele a puxou contra ele e levou sua mão ao núcleo liso, quente do seu corpo.

—Tenho que estar dentro de você. — Ele rosnou, a fome tão apertada que se sentia pronto para explodir.

Fixando seus pés no chão da ducha, sua coluna apertada na parede, ele a levantou em cima dele. Lentamente, assobiando com o prazer aquecido puro, ele a guiou sob o comprimento cheio do seu pênis.

Ela gemeu, enterrando seu rosto no seu ombro quando a balançou em um tempo sem pressa, apreciando cada suspiro e respiração de felicidade dela. Ela gozou em um grito tremente, sua vagina o ordenhando, pulsações muito pequenas correndo de cima abaixo por seu eixo.

Sua própria necessidade do orgasmo rugia sobre ele. Ele virou ao contrário e abriu mais suas pernas na frente dele. Ela se inclinou para frente, palmas contra a parede de mármore, água derramando pelo vale da sua coluna e na fenda do seu bonito traseiro. Ele deslizou de volta para casa, enganchando seu braço em volta da sua cintura quando empurrou nela, muito longe para levar as coisas lentamente.

Nunca conheceu esse sexo tão intenso. Nunca conheceu a profundidade do desejo que sentia por esta mulher. O impulso de possuir o atingiu forte, tanto como na primeira vez que fez amor com Jenna. O desejo chamuscava para reclamá-la, marcar como só sua e mantê-la longe de qualquer outro macho para sempre, algo que nunca esperou sentir.

Mas estava vivo nele agora. Quando bombeou no calor suave, molhado do seu corpo, suas gengivas doeram com a fome de prová-la. Atá-la, apesar da impossibilidade de alguma vez realmente tomar esta fêmea - uma mulher mortal - como sua companheira vinculada de sangue.

Ele rosnou com a força daquele desejo, incapaz de se impedir de apertar a boca na curva flexível do seu pescoço e ombro quando entrou mais fundo nela a cada impulso duro. Todo o tempo, as pontas das suas presas descansaram contra sua pele sensível. Brincando... Provando.

—Faça. — Ela sussurrou. — Oh, Deus, Brock... Quero senti-lo. Quero sentir tudo de você.

Ele rosnou baixo na sua garganta, deixando as pontas das presas agudas afundarem um pouco mais, só um sopro de quebrar a superfície.

—Não significará nada. — Ele respondeu asperamente, inseguro se era raiva ou desgosto que fazia sua voz tão crua. Seu orgasmo enrolava apertado, na beira da explosão. — Eu só... Ai, porra... Tenho que provar você, Jenna.

Ela estendeu a mão e pôs sua palma contra sua nuca, pronta para forçá-lo.

—Faça.

Ele mordeu, penetrando a carne suave no mesmo instante que se enterrava até o talo e se derramava profundamente dentro dela. O sangue de Jenna era quente na sua língua, uma rajada grossa, de células vermelhas humanas acobreadas, mas nunca tinha provado nada tão doce. Bebeu dela quando ela gozou novamente, tomando cuidado para não machucá-la, querendo dar somente prazer. Quando ela descansou novamente, baixando da crista do seu orgasmo, ele suavemente passou a língua sobre as pontadas gêmeas para selá-las.

Ele a virou ao contrário para enfrentá-lo, ambos sob o dilúvio quente da ducha. Não tinha palavras, só reverência e maravilha por esta fêmea humana que de alguma maneira tinha roubado seu coração. Ela o olhou por baixo de seus escuros cílios, suas faces rosadas, a boca ainda inchada dos seus beijos.

Brock acariciou seu queixo, um queixo teimoso, belo. Ela sorriu, uma curva sexy nos seus lábios, e logo repentinamente estavam se beijando mais uma vez. Seu sexo respondeu imediatamente, e o fogo alimentou seu sangue até uma fervura rápida. Jenna desceu a mão para tocá-lo, ao mesmo tempo em que sua língua deslizava na dele para brincar ao longo das suas presas.

Oh, sim.

Ia ser uma longa noite.

 

Jenna despertou na grande cama de Brock, envolvida dentro dos seus braços fortes.

Tinham feito amor por horas infinitas: sob a água da ducha, contra a parede do dormitório, no sofá na sala de estar... Tinha perdido a conta de todos os lugares, e todos os modos criativos que encontraram para dar prazer um ao corpo do outro.

Agora ela arrastava suas pálpebras abertas em um estado de contentamento feliz quando se aconchegou no seu abraço, sua face apertada no seu peito, uma perna jogada sobre as coxas dele. Seu movimento provocou um gemido baixo nele, o estrondo profundo vibrando por ela.

—Não queria acordá-lo. — Ela sussurrou.

Outro gemido, algo sombrio e perverso.

—Eu não estava dormindo.

Seu bíceps dobrou quando a puxou mais perto, então cobriu sua mão com a dele e guiou seu toque abaixo para a parte dele que estava, sem dúvida, muito alerta. O riso de Jenna raspou sonolento na sua garganta.

—Sabe, para um velho homem, tem uma resistência assombrosa.

Ele deu um impulso fraco quando ela o agarrou, seu eixo grosso ficando mais rígido, impossivelmente maior, no seu aperto.

—Você tem algo contra centenários?

—Cem anos? — Ela perguntou, subindo para seu cotovelo para olhá-lo. Havia tanto que não sabia sobre ele. Tantas coisas que queria aprender. — Você realmente é tão velho?

—Próximo disso. Mais velho, provavelmente, mas deixei de contar os anos a muito tempo. — Ele sorriu, somente uma curva leve dos seus lábios sensuais, quando estendeu a mão para pegar e colocar um pouco do seu cabelo atrás da sua orelha. —Com medo que não serei capaz de acompanhá-la?

Ela levantou uma sobrancelha.

—Não depois da noite passada.

Quando ele riu baixinho, ela se inclinou e o beijou. Subiu e se escarranchou sobre ele, suspirando de prazer pelo modo como se ajustavam tão perfeitamente juntos. Quando se moveu preguiçosamente sobre dele, simplesmente apreciando a sensação dele a enchendo mais uma vez, observou a minúscula, mas já curada, marca de mordida que tinha deixado no seu pescoço durante sua última batalha do namoro.

Não foi capaz de resistir a beliscá-lo, em particular depois que tinha bebido dela na ducha. Só pensar a fez louca pela excitação. Fez querer devorá-lo, agora mesmo. Em vez disso se debruçou e lambeu com sua língua ao longo do ponto do pulso na base da sua garganta.

—Hummm. — Ela gemeu contra sua pele. — Você é incrível.

—E você é insaciável. — Ele respondeu, embora não parecesse exatamente uma crítica.

—Bem, então, considere-se avisado. Pareço ter muita energia para queimar, especialmente quando você está envolvido. — Ela pretendia uma provocação, mas quando o disse, percebeu no mesmo instante quanto de verdade estava naquela afirmação. Ela recuou e desviou o olhar dele, assombrada por tudo que sentia. — Não posso me lembrar de quanto tempo passou desde que me senti assim. Nunca me senti mais, não sei... Mais viva, acho.

Seus olhos castanhos escuros a prenderam ternamente.

—Parece melhor a cada dia.

—Estou. — Ela engoliu, refletindo sobre todas as mudanças que tinham ocorrido desde que chegou aos cuidados da Ordem. Nunca se sentiu mais afinada com o mundo a volta dela, nem mais curiosa e comprometida sobre a vida. Fisicamente ainda se curava, ainda esperando para ver como a provação pela qual passou no Alasca avançaria. Mas no interior se sentia flutuante e forte.

Pela primeira vez em um longo tempo, no interior se sentia em paz, esperançosa. Sentia que era possível se apaixonar novamente.

Possivelmente já estava.

A constatação levou embora sua respiração. Desviou o olhar de Brock, admirando-se por como tinha deixado acontecer. Como podia ter aberto seu coração tão rapidamente, tão completamente? Tão imprudentemente...

Ela o amava, e a ideia a aterrorizou.

—Ei. — Ele disse, chegando até ela. — Está bem?

—Estou bem. — Ela sussurrou. — Nunca estive melhor.

Sua carranca ficando mais profunda parecia dizer que não acreditava o bastante.

—Venha aqui. — Ele disse, e suavemente a baixou na frente dele na cama, cobrindo-a com seu corpo.

Ele não se introduziu imediatamente, somente aninhou sua ereção dura entre suas coxas e a manteve na cobertura quente dos seus braços. Ele beijou seu ombro, no mesmo lugar que tinha mordido com suas presas na noite passada. Agora mesmo, sua boca estava doce, sua respiração patinando calorosamente por cima da sua pele.

Jenna suspirou profundamente, simplesmente descansando com ele.

—Quanto tempo acha que podemos ficar na cama juntos antes que alguém perceba nossa ausência?

Ele gemeu baixinho, logo apertou um beijo no seu ombro.

—Estou certo que já perceberam. Alex sabe que estou aqui, o que significa que Kade também sabe.

—E seu companheiro de quarto. — Ela o lembrou.

—Sim. — Ele exalou uma risada baixinha. — Hunter não perde uma maldita coisa. Eu gosto do cara, mas juro que é na maior parte do tempo uma máquina de carne-e-osso.

—Não posso imaginar como deve ter sido para ele, o modo como foi criado. — Murmurou Jenna, insegura de como alguém podia sair daquela espécie de ambiente sem algumas cicatrizes muito profundas. Nos calafrios ao pensar nele, ela se aconchegou mais fundo no círculo dos braços quentes de Brock. Seu corpo estava quente e duro contra seu traseiro, algumas partes significativamente mais duras que outras. Ela sorriu, imaginando que podia se acostumar a isto facilmente. — Falando de companheiros de quarto...

Ele grunhiu, seus dedos brincando no seu cabelo.

—Que tal eles?

—Eu só pensei que parece meio bobo você abandonar seu quarto, especialmente agora que somos... — Ela deixou as palavras à deriva, insegura de como classificar sua relação, que supostamente seria sem complicação e casual, mas tinha ficado de alguma maneira algo mais.

Ele arrastou sua boca lentamente ao longo da curva do seu ombro, então ao longo do lado do seu pescoço.

—Você está me pedindo para ficar com você, Jenna?

Ela tremeu sob o calor úmido dos seus lábios e a abrasão erótica das suas presas contra sua pele sensível.

—Sim, acho que estou. Quer dizer, esta é sua cama, afinal. Tudo aqui é seu.

—E você? — Ele juntou seu cabelo e o colocou de lado, apertando sua boca na sua nuca nua. — Você é minha, também?

Ela fechou os olhos, inundada no prazer do seu beijo, e perfurada com uma alegria brilhante, horripilante.

—Se quer saber a verdade, acho que uma parte de mim lhe pertence desde o Alasca.

Seu gemido de resposta não soou de nenhuma maneira infeliz. Ele a puxou mais perto, sua língua brincando com a carne sensível atrás da sua orelha. Mas então repentinamente parou.

Ela não esperava a maldição áspera que seguiu.

—Jenna. — Ele murmurou, alarme em suas palavras. — Ai, porra...

Um novo medo passou por ela, agudo e frio.

—O que foi?

Ele levou um segundo para responder.

Quando o fez, sua voz estava baixa com a descrença.

—É um glifo. Inferno sagrado, Jenna... Você tem um dermaglifo se formando na base do seu pescoço.

 

Uma hora depois, Jenna estava sentada em uma mesa de exame na enfermaria, sendo submetida a uma bateria completa de exames de sangue e amostras de tecido a pedido de Gideon. Tinha ficado surpresa ao ver o pequeno dermaglifo que cobria o lugar da incisão do implante do Antigo, embora possivelmente não mais chocada que o resto dos residentes do complexo. Todo mundo tinha vindo para ver a pele do tamanho de um dólar de prata oculta sob seu cabelo. Embora ninguém exprimisse sua especulação em voz alta, Jenna sabia que cada um deles estava preocupado por ela, incertos sobre o que este novo desdobramento podia significar a longo prazo.

Agora tinham saído todos da sala exceto Brock, que estava ao seu lado, sombrio e tranquilo na sua camisa preta e calça escura. Jenna não tinha muito a dizer, também, olhando ansioso como o gênio residente da Ordem tirava um frasco final de sangue do seu braço.

—Você ainda está se sentindo bem? — Gideon perguntou, olhando-a por cima dos seus óculos azuis. — Não notou nenhuma outra marca no seu corpo? Nenhuma mudança física ou sistêmica desde a última vez que falamos?

Jenna sacudiu a cabeça.

—Nada.

Gideon deu um olhar de relance para Brock antes de se afastar dela.

—E as outras funções do corpo? Notou alguma mudança no seu sistema digestivo? Alguma mudança no seu apetite, ou falta de interesse em comida?

Ela encolheu os ombros.

—Não. Como um cavalo, e sempre.

Pareceu aliviá-lo um pouco.

—Deste modo, nenhuma ânsia estranha quando tem fome ou sede?

Um relâmpago de calor a lavou quando levantou seu olhar para Brock. A marca da mordida dela tinha sumido agora, mas vivamente se lembrou da necessidade que tinha dentro dela quando prendeu seus dentes na sua carne durante seus jogos amorosos. Ela o tinha desejado com uma sede que não podia imaginar, muito menos explicar.

E agora se perguntava...

—Hum, se está falando sobre sangue... — Ela murmurou, embaraçada por seu rosto vermelho quando os olhos escuros de Brock ficaram presos nela. — Tive certas ânsias....

As sobrancelhas loiras de Gideon subiram de surpresa um instante antes que sua atenção voltasse a Brock.

—Quer dizer, vocês dois...

—Eu o mordi. — Falou Jenna sem pensar. — Na noite passada, e há algumas noites, também. Não pude evitar.

—Bem, foda-me. — Disse Gideon, não mais tentando ocultar seu divertimento por saber que ela e Brock estavam intimamente envolvidos. — E você, cara? Bebeu dela, também?

—Há algumas horas. — Respondeu Brock, dando um aceno de cabeça sério, mas parecendo tudo menos arrependido quando seu olhar voltou para ela novamente. —Foi incrível, mas sei aonde quer chegar com isto, Gideon, e posso dizer que seu sangue são puros glóbulos vermelhos de Homo sapiens.

—Nenhuma essência no sangue?

Brock sacudiu a cabeça.

—Somente Hemoglobina cobreada. Ela é humana.

—Exceto que pelas réplicas de DNA que encontramos nos seus últimos resultados e outras coisas que mencionou, Jenna agora também tem um dermaglifo. — O guerreiro passou seus dedos pelas pontas curtas, desgrenhadas do seu cabelo dourado. — Há algo mais, também.

Quando olhou para Jenna, havia uma inquietude na sua expressão que nunca tinha visto antes. Parecia inseguro do que pretendia dizer, e para um homem que parecia ter respostas para cada problema imaginável, sua incerteza agora era francamente alarmante.

—Conte-me, Gideon.

Brock chegou mais perto e pegou sua mão na dele.

—Merda, Gideon. O que encontrou?

O outro guerreiro franziu a testa, a boca enrugada pelo pensamento.

—Há uma espécie de energia associada ao implante... Uma emissão de algum tipo.

—O que isto significa? — Brock perguntou, seus dedos se apertando em volta dos dela.

Gideon encolheu os ombros.

—Não é nada que possa ser capturado com algum dos meus equipamentos, portanto não posso dizer o que é de fato. É tecnologia avançada, muito mais avançada que algo que tenho aqui. Provavelmente mais avançada que algo que temos neste planeta. Minha suposição é, esta emissão de energia é integral ao próprio implante.

Jenna levou sua mão livre até sua nuca, sentindo o traçado ligeiramente alto dos arcos do dermaglifo e curvas.

—Acha que a energia é somente um indicador que o implante está ativo dentro de mim?

—Pode ser tão simples como isto, sim.

Ela o olhou falar, observando que ainda tinha o mesmo olhar de prudência e gravidade.

—Pode ser simples assim, mas você não acha, certo?

Ele estendeu a mão e ligeiramente tocou seu ombro.

—Vamos continuar procurando as respostas, dou minha palavra.

Brock acenou com a cabeça sobriamente ao seu camarada antes de envolver seu braço como proteção em volta de Jenna.

—Agradecemos, cara.

O sorriso de Gideon foi breve quando olhou a ambos.

—Vou verificar essas amostras e dou os resultados assim que os tenha.

Ele se virou para a porta, ao mesmo tempo em que o clipe pesado de saltos de uma bota se aproximava do corredor fora. Kade apareceu, seus olhos de prata agudos brilhando com urgência.

—Harvard recebeu uma chamada de Mathias Rowan. — Ele anunciou abruptamente. — A Agência de Execução tem uma pista possível da posição de Kellan Archer.

—O que conseguimos? — Brock perguntou, seu braço ainda em volta dos ombros de Jenna, mas sua conduta mudando imediatamente para o modo de guerreiro.

—Há outra testemunha, ao que parece. Um humano que vive nas ruas em Quincy afirma que viu três grandes tipos parecendo SWAT empurrar uma criança numa construção lá por baixo na noite passada.

Brock grunhiu.

—Esta pista veio de um humano? Desde quando a Agência está usando Homo sapiens sem teto como informantes?

—Não pergunte para mim, cara. — Disse Kade, levantando suas mãos. — O Agente de nome Freyne deu a pista. Harvard diz que o tipo mantém uma cadeia de humanos em linha dispostos a manter seus olhos e ouvidos abertos pela cidade em troca de dinheiro e narcóticos.

—Mas que merda. — Brock soltou. — Freyne e um viciado humano são nossas fontes desta pista da criança?

Kade sacudiu a cabeça.

—Agora mesmo, é tudo que temos. Lazaro e Christophe Archer já tomaram providências com Mathias Rowan para entrar em Quincy esta noite com uma equipe de Agentes de Execução para verificar o lugar.

A maldição de Brock ecoou com uma profanidade igualmente vívida à de Gideon.

—Sei. — disse Kade. — Lucan quer todo mundo no laboratório de tecnologia pronto para discutir nossas opções. Soa como proteção para a Agência de Execução esta noite.

 

       Não houve muito tempo para se preparar para o encontro com Mathias Rowan e sua equipe de Agentes de Execução naquela noite. Então novamente, a operação inteira se baseava em uma pista fornecida por menos que uma fonte confiável e na determinação - a esperança desesperada - de Lazaro Archer e seu filho que Kellan Archer estivesse, de fato, na construção na borda distante de Quincy.

Nem Brock ou o resto da Ordem tinham esperança que a pista fosse proveitosa. Se Dragos era o instigador do rapto, e parecia razoável assumir isso, então a chance de encontrar o menino vivo, sem falar em quão rapidamente e limpo ele foi levado, parecia pequena na melhor das hipóteses.

Mas nenhum dos guerreiros disse nada quando chegaram atrás dos carros da Agência de Execução estacionados na rua adjacente ao lugar.

Mathias Rowan foi o primeiro a vê-los e foi encontrá-los. Afastou-se de outros seis Agentes que o acompanhavam e andou depressa na direção do Rover quando Brock desligou o motor e os guerreiros que tinham vindo junto com ele saíram ao pavimento congelado. Chase fez as apresentações, que começaram com Tegan e Kade, então Brock, que já era familiar ao Agente Rowan.

Hunter era parte da operação da Ordem esta noite, também, mas tinha saído do Rover um bloco antes do ponto de encontro para se mover furtivamente e checar o perímetro do edifício e área circundante.

O edifício em questão era um prédio de dez andares, ou seria, segundo a placa do imóvel na frente, se o banco de financiamento não tivesse falido com o mergulho recente da economia dos humanos. Concluído pela metade por meses e exposto a sua negligência, a torre de tijolo era um pouco mais que um esqueleto - andares vazios, inacabados e janelas abertas. O lugar parecia tranquilo, bastante desolado para ser útil como um possível local de retenção.

—Lazaro Archer e o pai do menino estão aqui, também. — Rowan informou aos guerreiros. —Ambos insistiram em vir, embora tenha aconselhado que seria melhor para todo mundo implicado se permanecessem em um dos carros da Agência enquanto conduzimos a pesquisa.

Tegan inclinou sua cabeça em acordo.

—Seus homens não chegaram perto do edifício?

—Não. Chegamos só um momento antes de vocês.

—E não viu nenhum movimento dentro ou fora do edifício? — Brock perguntou, lançando os olhos à estrutura escura quando uma lufada de neve perfeita girou em volta deles.

—Não vimos ou ouvimos nada. — Disse Rowan. — Pelas pistas, esperava algo melhor que isto.

—Vamos dar uma olhada. — Disse Tegan, mostrando o caminho.

Quando se aproximaram dos carros da Agência de Execução, Brock reconheceu Freyne entre a equipe de Agentes com Rowan. Ele e dois outros homens se apoiavam contra um dos sedans, pistolas semiautomáticas no coldre e visíveis sob seus casacos de inverno abertos. Brock fez o Agente agressivo desviar o olhar, desafiando qualquer um a fazer um comentário estúpido quando se aproximaram.

Chase foi menos sutil. Sorriu para seu adversário há um par de noites.

—Estou feliz por vê-lo em pé depois que esfreguei o pavimento com seu traseiro na outra noite. A qualquer hora que queira novamente, me avise.

—Vá se foder. — Zombou Freyne, parecendo pronto para terminar as coisas com seu antigo camarada.

A troca de veneno foi breve, interrompida pela abertura da porta traseira do veículo da Agência. Lazaro Archer saiu na rua, seu rosto muito duro com a preocupação. Acenou com a cabeça aos guerreiros em saudação solene.

—Christophe e eu queremos estar na busca do edifício. — Ele disse, dirigindo seu pedido a Tegan. — Não pode esperar que fiquemos aqui esperando...

—Isto é exatamente o que espero. — A voz de Tegan foi firme, mas não sem respeito. — Não sabemos o que poderíamos encontrar lá esta noite, Lazaro. Pode ser nada. Mas se não for, então tem que nos deixar lidar com isto.

—Meu filho e eu queremos ajudar. — Ele discutiu.

A maxila de Tegan enrijeceu agora.

—Então nos ajude nos deixando fazer nosso trabalho. Fique aqui. Saberemos logo se esta pista é boa. Chase, monte guarda com os homens de Rowan até voltarmos. Não os deixe fora da sua vista.

Brock não perdeu a olhada irritada na cara de Harvard, mas o ex-Agente fez como foi instruído. Com Freyne e os outros dois sentinelas a postos, ele colocou Lazaro Archer de volta no veículo e fechou a porta.

Apoiou-se contra o carro, os braços cruzando o peito, e observou quando Brock e o resto do grupo se afastaram na direção do edifício escuro.

Eles se aproximaram silenciosamente, os sinais de Tegan de se dividir em duas equipes entendidos e aceitos tanto por Brock como por Kade e por Rowan e seus três Agentes. Com a equipe da Agência de Execução em volta de um vão de escada traseiro, Tegan, Brock e Kade entraram pela frente da concha vazia, o que teria sido um vestíbulo.

Uma vez no interior, ficou claro que o edifício não estava inteiramente desocupado. Passos se arrastavam no andar acima das suas cabeças. Da mesma área geral, a perna metálica de uma cadeira roçou agudamente. E logo, correndo pela subcorrente do vento invernal que uivava pelas cavidades das janelas abertas em volta deles, veio o som muito bem abafado de choramingos.

Tegan gesticulou em direção à escada do andar principal. Brock e Kade o seguiram, os três subiram o curto espaço com as armas prontas.

Quando chegaram ao segundo andar, o olhar de Brock foi desviado para uma luz fraca que brilhava em algum lugar perto do fim de um apartamento inacabado. Tegan e Kade viram, também.

—Humanos? — Brock mexeu a boca para seus irmãos, achando que poderiam ser sem-tetos, já que sua espécie podia ver claramente na escuridão e não precisaria de luz artificial.

Tegan acenou para continuar a se mover e investigar a fonte da pequena incandescência.

Arrastaram-se para frente na escuridão, três deles bifurcando-se para olhar todos os lados. Quando se aproximaram, Brock pegou um vislumbre passageiro de três grandes figuras masculinas cobertas da cabeça aos pés de preto, cada um portando uma arma semiautomática. Os guardas mascarados apareceram acima de uma figura menor no centro do espaço sem paredes.

Kellan Archer.

Santo inferno, a pista de Freyne era boa, afinal.

A cabeça do jovem Raça caía sobre seu peito magro, seu cabelo ruivo emaranhado e frouxo, sua roupa rasgada pelo evidente manejo áspero dos seus captores. Suas mãos estavam presas atrás dele, seus tornozelos e tronco amarrados numa cadeira metálica com correntes compridas.

Sendo Raça, mesmo um adolescente, Kellan provavelmente podia ter-se soltado das suas restrições se tentasse. Mas tinha pouca chance de fugir de três Caçadores de Dragos, cada um deles armado até os dentes e perto o bastante para enchê-lo de chumbo.

Tegan olhou para Brock, então Kade, um sinal silencioso para se deslocarem juntos. Tinham que se mover calmamente, entrar na melhor posição para derrubar cada um dos Gen Um assassinos sem acertar Kellan Archer no fogo cruzado.

Mas antes que algum deles pudesse dar o primeiro passo, Brock ouviu o suave click metálico que vinha de uma área mais profunda nas sombras do segundo andar.

Mathias Rowan e seus Agentes estavam lá. Viram a criança capturada, também.

E no segundo seguinte, um dos idiotas provocadores da Agência de Execução abriu fogo.

 

A erupção dos tiros dentro do edifício chegou à rua abaixo.

—Santa porra. — Sterling Chase rosnou, sua cabeça levantando com a súbita rajada barulhenta. — Jesus Cristo - devem ter encontrado a criança!

Freyne olhou o ex-Agente de Execução reagir num estado próximo ao pânico quando o tiroteio continuou. Chase puxou sua arma e deu uma olhada selvagem ao edifício através da construção. Sterling Chase, o macho Raça que teve uma carreira de ouro na Agência há pouco, mas tinha jogado tudo fora para se unir à Ordem.

Idiota.

Podia ter se aliado a uma organização muito mais poderosa, como o próprio Freyne fez há apenas alguns meses.

—Estou entrando. — Chase disse, levantando a pistola de 9 mm preta e já se afastando do veículo da Agência na rua. — Você e seus homens fiquem a postos, Freyne. Não dê as costas para este carro nem um maldito segundo, entendido?

Freyne deu um aceno de cabeça agradável, tentando conter seu sorriso ansioso. Esta era exatamente a oportunidade que queria. De fato, estava contando que as coisas acabassem precisamente como agora.

—Mantenha os Archer seguros dentro do veículo. — Chase ordenou enquanto suas botas ruminavam o asfalto coberto de neve, levando-o na direção do caos do tiroteio que ainda continuava na torre esquelética adiante. — Não tire seus olhos deles, não importa o que.

—É isso aí. — Freyne murmurou baixinho uma vez que o ex-Agente estava fora do alcance da voz.

Ao lado dele na rua, a janela de passageiro do assento traseiro deslizou para baixo. Christophe Archer perscrutou fora do interior do sedan, seu rosto normalmente orgulhoso esticado com a preocupação.

—O que está acontecendo? — Ele estremeceu pelos tiros repercutindo na escuridão. — Bom Deus - quem está atirando lá? Eles encontraram meu filho?

Archer fez um movimento como se pretendesse sair do veículo. Freyne se aproximou, bloqueando a porta.

—Relaxe. — Ele disse ao pai nervoso. Quando falou, suavemente tirou sua semiautomática de seu coldre. Uma piscada mal discernível dos seus olhos mandou os outros dois Agentes ao lado oposto do carro. — Temos tudo sob controle.

O segundo andar inteiro do prédio estripado era um caos de balas voando e gritos grossos tanto da Ordem quanto de Mathias Rowan e seus homens. Os três guardas imensos na sala com Kellan Archer devolveram o fogo, atirando de modo selvagem nas sombras, acertando dois dos Agentes de Rowan poucos momentos depois da confrontação surpresa.

O terceiro caiu com um uivo de dor, o joelho baleado por baixo dele, justo antes que outra bala o silenciasse para sempre. O fogo implacável continuou, Brock evitando uma bala que passou além da sua cabeça.

Na confusão e tumulto, chutaram a vela usada como luz na sala com Kellan. Ela rolou sob os pés dos seus captores, sua pequena chama deslizando no chão e mergulhando o lugar na escuridão. A pequena luz se extinguiu, Brock quase não notou sua ausência, nem seus companheiros. Os homens de Dragos, contudo, pareceram momentaneamente desorientados na escuridão.

Brock derrubou um deles com um tiro objetivo na cabeça. Tegan derrubou o outro menos de um segundo depois. Enquanto o último assassino rodava o ar com rajada após rajada do seu rifle automático, Brock se moveu de lado. Mergulhou, lutando pela cadeira onde Kellan Archer se sentava, agora freneticamente lutando para se soltar das restrições.

Os guerreiros e Rowan se aproximaram do terceiro assassino vestido de preto, cada arma apontada nele. Houve uma saraivada frenética de tiros quando o objetivo foi prontamente destruído e caiu no chão em um selvagem monte sangrento.

Brock pegou os ombros estreitos de Kellan Archer, acalmando os gritos aterrorizados do menino.

—Está tudo bem, criança. Está seguro agora.

O cheiro súbito, inesperado de hemoglobina em algum lugar próximo o espantou.

Que porra?

Suas presas saíram das suas gengivas, resposta fisiológica instintiva, quando seus sentidos Raça descobriram a presença de sangue fresco caindo. Lançou uma olhada abrupta a Tegan e aos outros e viu que, também, buscavam o odor de células vermelhas cobreadas.

—Humanos. — Tegan murmurou, seus olhos ambarinos transformados estreitados nos três guardas mortos em piscinas sangrentas no chão próximo.

—Nenhum colar. — Acrescentou Brock, percebendo só agora que sob sua máscara preta, os captores de Kellan não usavam os dispositivos de obediência UV dos verdadeiros Caçadores de Dragos. — Puta merda. Não são Gen Um assassinos que raptaram o menino.

Kade e Mathias Rowan chegaram juntos. Inclinaram-se para retirar as máscaras dos homens caídos. Kade levantou as pálpebras fechadas de um deles e assobiou uma maldição.

—São Subordinados.

—Os Subordinados queriam nos fazer pensar que eram Gen Um assassinos. — Acrescentou Brock, retirando as últimas restrições de Kellan Archer e o ajudando a ficar em pé. — Isto foi uma espécie de armadilha.

—Sim. — Kade disse. — Mas qual o objetivo?

—Jesus Cristo. — Chase estava atrás do grupo, tendo chegado naquele mesmo momento. Seus olhos se transformaram em uma chama âmbar, as pupilas se reduziram a fendas finas, parecendo feroz, suas presas enormes saindo pelo seu lábio superior. Ele olhou, a atenção arraigada aos humanos sangrando. — O que aconteceu aqui?

Tegan se aproximou dele.

—Onde estão os Archer?

—Estão lá fora. — Ele respondeu, sua voz dura. Pareceu tomar um pouco de esforço para ele desviar seu foco de volta a Tegan. — Deixei-os lá atrás com Freyne e seus homens quando ouvi o tiroteio aqui em cima.

Um medo súbito passou por cima do rosto normalmente impassível de Tegan.

—Que porra, Harvard. Eu disse para não deixá-los fora da sua vista.

 

Hunter não fez nenhum som, em absoluto, quando voltou de checar o perímetro da construção. Correu de volta, quando ouviu a rajada de armas que fluía do prédio, mas no momento atual estava mais interessado no tiro único que ouviu perto dos carros da Agência de Execução na rua.

Pelas lufadas de neve que giravam pelo ar na noite escuro, divisou o agente chamado Freyne segurando uma pistola fumegante na frente da janela do assento traseiro aberta do sedan preto da Agência. Naquele mesmo instante, os companheiros de Freyne abriram fogo no carro, também, atirando por todos os lados.

Hunter deu um salto mortal, viajando os vários metros que o separava da cena num piscar de olhos. Caiu em Freyne. Quando tombou o vampiro na terra, vislumbrou uma cabeça explodida suja de sangue no interior do sedan. O fedor de pólvora e morte enchia o ar quando os outros dois Agentes continuaram seu assalto aos ocupantes do veículo.

Freyne rugiu sob Hunter, se debatendo, tentando desfazer-se dele. Hunter enganchou suas mãos de ambos os lados da cabeça do vampiro e deu uma guinada aguda, eficiente. A luta cessou. Freyne caiu inanimado no meio-fio, seus olhos cegos fitando um ângulo anti-natural por cima do seu ombro.

Ao mesmo tempo, um estrondo sacudiu o carro. Um uivo vibrou a terra, e logo a porta do outro lado arrancou suas dobradiças. Voou vários metros antes de se espatifar abaixo no pavimento.

Lazaro Archer saiu com ímpeto de dentro, seu casaco e rosto salpicado com sangue e pedaços de osso e massa cerebral.

Ele se lançou num dos Agentes de Execução traidores, pegando a garganta do outro macho sob os punhais agudos das suas presas enormes. Quando o par voou a terra em um abraço mortal, Hunter pulou por cima do capô do sedan e agarrou os últimos assaltantes, inutilizando o Agente tão facilmente como fez com Freyne.

Ele deu um olhar apático a Lazaro Archer e o macho Raça cuja garganta agora estava escancarada, jorrando sangue de uma mordida viciosa, letal. Archer não tinha terminado, embora o Agente preso sob ele estivesse seguramente morto. Era selvagem na sua fúria, perdido numa dor que Hunter - destituído de emoções - só podia imaginar.

Hunter parou e olhou dentro do veículo, onde o filho de Lazaro estava caído e inanimado no assento traseiro, morto pela bala que Freyne tinha disparado a queima-roupa no lado da sua cabeça.

O medo de Tegan dentro do edifício não foi em vão. De fato, o que esperava o grupo quando saíram com o jovem Kellan Archer era mesmo pior do que podiam ter imaginado.

A morte estava estabelecida na rua onde os carros da Agência de Execução estavam estacionados. Um deles - aquele que continha Lazaro e Christophe Archer - estava cheio de buracos de bala e janelas despedaçadas. Numa olhada mais próxima, Brock pode ver que o lado oposto do sedan estava rasgado, a porta do assento traseiro arrancada inteira das suas dobradiças.

Houve uma emboscada aos ocupantes do carro, um ataque covarde do exterior do veículo. Nenhuma pergunta de quem a tinha perpetrado... Nem como tinha terminado. Freyne e os outros dois Agentes estavam caídos e embebidos por sangue, inanimados no pavimento. Hunter estava sobre eles, impassível, seus olhos dourados agudos esquadrinhando a área circundante com nova preocupação e pronto para enfrentar qualquer ameaça sem ajuda.

E sentado dentro do sedan, sua cabeça e tronco dobrado sobre um corpo sem vida em seu colo, estava Lazaro Archer. Mesmo desta distância, Brock podia ver sangue e pedaços de tecido presos no casaco escuro do Raça mais velho e grudados no seu cabelo. O enorme Gen Um chorava calmamente, angustiado pela perda de seu filho.

—Jesus. — Chase sussurrou ao lado de Brock. — Oh, Jesus Cristo... Não.

—Freyne. — Brock rosnou. — Aquele bastardo devia estar trabalhando com Dragos.

Chase sacudiu a cabeça, esfregou uma mão por cima do seu cabelo em miséria óbvia. Quando falou, sua voz estava sem ar, plana com o choque.

—Não devia tê-los abandonado com ele. Ouvi o tiroteio dentro do edifício, e pensei... Ai, porra. Não importa o que pensei. Maldito seja, devia saber que não devia confiar em Freyne.

Provavelmente sim, Brock pensou, embora nem ele nem o resto do grupo exprimissem qualquer culpa em voz alta. A dor de Chase estava escrita por todas as partes do seu rosto. Não precisava de ninguém falando sobre o lapso de julgamento que custou a vida de Christophe Archer esta noite. O Harvard tipicamente arrogante pareceu empalidecer um pouco, desaparecendo dentro de si, quando se afastou da carnificina e se afundou nas sombras do estacionamento da construção vazia.

Quanto a Brock e os outros, um silêncio grave se instalou nos vivos à vista de tanto sangue derramado e morte. O neto de Lazaro Archer foi resgatado dos seus captores, mas o preço foi muito alto. O filho de Lazaro estava horrivelmente morto nos seus braços somente alguns metros adiante.

Enquanto o grupo absorvia o peso dos eventos sombrios desta noite, o jovem Kellan Archer repentinamente despertou do seu próprio estado de choque. Ele tentou se soltar de Brock, parecendo naquele momento notar que Lazaro estava sentado no sedan adiante.

—Avô! — Ele gritou, lágrimas abafando sua voz juvenil. Ele saiu do aperto de Brock. Então, mancando, começou a correr debilmente. — Avô! É o papai com você, também?

—Segure o menino. — Gritou Hunter. — Não o deixe chegar perto.

Brock pegou Kellan pelo braço e o rodou de volta no sentido contrário, protegendo-o da carnificina com seu corpo.

—Quero ver meu avô! — O menino gritou. — Quero ver minha família!

—Logo. — Brock disse. — Somente seja forte agora, cara. Você estará com sua família logo. Temos que cuidar de algumas coisas primeiro, está bem?

A luta de Kellan diminuiu, mas continuou tentando se virar e olhar em volta de Brock, tentando ver o que ocultavam dele dentro do sedan metralhado na rua.

—Venha e espere aqui comigo. — Kade disse quando se moveu e segurou o jovem, passando seu braço em volta dos ombros magros quando guiou o menino mais longe da calçada, longe do derramamento de sangue no fim da rua.

Depois que Kellan estava seguramente fora do alcance da voz, Mathias Rowan murmurou uma maldição tranquila.

—Não tinha nenhuma ideia que Freyne ou os outros com ele eram corruptos, juro. Meu Deus, não posso acreditar no que aconteceu aqui esta noite. Todos os meus homens, Christophe Archer... Todos mortos. — Ele pegou seu celular. — Tenho de relatar isto.

Antes que pudesse tocar a primeira tecla, Tegan apertou sua mão em volta do pulso do Agente e deu uma sacuda séria de cabeça.

—Preciso que mantenha isto tão tranquilo como possa. Pode atrasar seu relatório enquanto a Ordem se aprofunda no rapto e emboscada?

Rowan inclinou sua cabeça em acordo.

—Posso atrasá-lo por algumas horas, mas muito mais será difícil. Alguns desses Agentes tinham famílias. Haverá perguntas.

—Entendido. — Tegan respondeu. Seu aperto no pulso do Agente não o deixou, e Brock sabia que o talento do Gen Um para ler uma pessoa com um toque diria se Rowan era realmente aliado da Ordem ou não. Após um momento, Tegan acenou com a cabeça. — Sei que era o contato de Chase dentro da Agência por algum tempo, Mathias. A Ordem aprecia muito sua ajuda. Mas não deve confiar em ninguém agora, nem nos seus melhores Agentes.

Mathias Rowan inclinou a cabeça em acordo, seu olhar solene quando viu a destruição então olhou atrás para Tegan e Brock.

—Se isto for um exemplo do que Dragos é capaz, então é meu inimigo, também. Diga-me o que a Ordem precisa, e farei o que puder para ajudá-los a derrubar este filho da puta.

—Agora mesmo, precisamos de tempo e silêncio. — Respondeu Tegan. — Não acredito que Dragos tenha terminado com Lazaro Archer e sua família, portanto sua proteção é suprema. Tenho certeza que Lucan vai concordar que o resgate desta noite foi muito fácil, apesar dos acidentes. Algo não encaixa sobre nada disto.

Brock acenou com a cabeça, tendo a mesma sensação quando descobriram que os captores de Kellan eram Subordinados e não o grupo de três Gen Um assassinos que tinham sido vistos raptando o menino.

—O rapto foi um ardil. Dragos tem algo mais em sua manga.

A olhada de Tegan foi severa.

—Isto é o que minhas vísceras estão me dizendo, também.

—Rezo que ambos estejam errados. — Disse Rowan, seu olhar sóbrio à deriva no sedan onde Lazaro Archer ainda mantinha seu filho morto. — Essas últimas horas foram bastante sangrentas.

—Devemos desocupar o edifício e a rua e limpar tudo aqui. — Disse Tegan. —É muito arriscado deixar qualquer Archer em campo aberto mais tempo.

—Começarei a limpeza. — Ofereceu Brock.

Logo que se virou na direção do prédio, Rowan foi junto com ele.

—Deixe-me ajudá-lo, por favor.

Eles andaram rápido através da construção, mas não tinham chegado a meio caminho quando o celular de Rowan vibrou com uma chamada. Ele o pegou, como se pedindo permissão à Tegan para atender a chamada. O Gen Um acenou com a cabeça.

Rowan pôs o telefone na sua orelha, e Brock viu o alarme aumentando enquanto o rosto do Agente de Execução empalidecia.

—Deve haver algum engano. — Ele murmurou. — O Darkhaven inteiro... Bom Cristo.

Brock acenou a Tegan, sentindo que o gelo começava a se instalar nas suas tripas quando Rowan disse mais palavras de descrença, então desconectou a chamada.

—O que está acontecendo? — Tegan exigiu, tendo voltado ao sinal de Brock. — O que aconteceu?

—O Darkhaven de Lazaro Archer. — Rowan murmurou. — Queimou-se até a terra esta noite. Houve um vazamento de gás e uma explosão maciça. Não há nenhum sobrevivente.

Ninguém disse uma palavra por muito tempo. Uma lufada leve de neve girou sob a luz das estrelas, o único movimento numa noite repentinamente fria e escura como uma sepultura.

E então, do outro lado, o jovem Kellan Archer enterrou seu rosto em suas mãos e começou a gritar. Soluços grandes, torturantes de dor crua. O menino sabia o que tinha perdido esta noite. Ele o sentiu. E quando olhou para cima com olhos cheios de lágrimas que brilhavam com faíscas ambarinas furiosas, Brock viu a raiva que já queimava sem chama no coração do jovem macho.

Depois desta noite, o menino que foi acabou. Como seu avô, sentado a vários metros, coberto pelo sangue de seu próprio filho, Kellan Archer nunca esqueceria - ou perdoaria - a morte e tristeza tão traiçoeiras desta noite.

—Vamos limpar este lugar e sair daqui. — Disse Tegan finalmente. — Colocarei o menino e seu avô no Rover. Estão agora sob proteção da Ordem.

Lazaro Archer estoicamente recusou a oferta da Ordem para levá-lo até seu Darkhaven para um adeus final. Não tinha nenhum desejo de ver os escombros da sua vida, que tinha reclamado quase uma dúzia de pessoas inocentes, inclusive sua amada Companheira de vários séculos. Embora o relatório oficial da Agência de Execução tivesse atribuído o incêndio a um vazamento de gás, todo mundo na Ordem - e o próprio Lazaro - entendeu o incidente pelo que realmente era. Uma matança por atacado, executada sub ordem de Dragos.

A dor de Archer era profunda, mas quando chegou ao complexo era o quadro do controle emocional. Banhado agora, suas ensanguentadas roupas endurecidas jogadas fora e substituídas por um uniforme preto limpo da sala de provisão da Ordem, Lazaro Archer parecia transformado, uma versão mais sombria, mais formidável do Raça civil mais velho que esteve no laboratório de tecnologia somente uma noite antes, desesperado por encontrar seu neto. Melancólico, subjugado, parecia determinado a juntar seu foco inteiro em volta da saúde e bem-estar do seu neto e único herdeiro sobrevivente.

—Kellan diz que não se lembra muito sobre o próprio rapto. — Lazaro murmurou quando ele e Lucan observavam o menino pela janela na sua sala de recuperação da enfermaria. O jovem estava limpo e descansando, no momento junto com Mira, que tinha se encarregado de ler ao seu lado na cama. — Diz que despertou naquele edifício infestado por ratos, com um frio glacial, mantido sob a mira de armas. As surras não começaram até que estivesse consciente. Disse que os bastardos disseram que queriam que gritasse e sofresse.

A maxila de Lucan tencionou ao escutar o abuso que o jovem foi submetido.

—Está seguro agora, Lazaro. Ambos estão. A Ordem verá isto.

O outro Gen Um acenou com a cabeça.

—Aprecio tudo que está fazendo por nós. Como a maior parte dos civis, sei que a Ordem preza seu isolamento, em particular sua sede. Sei que não deve ser fácil para você permitir intrusos no complexo.

Lucan levantou uma sobrancelha em reconhecimento. Pode pensar em algumas exceções, que começavam com a chegada de Sterling Chase e a companheira de Tegan, Elise, há mais de um ano, seguido pela mais recente, Jenna Darrow. Por mais de um século antes, não houve nenhuma exceção.

Tanto quanto Lucan não gostava de forçar sua mão, não era um líder tão friamente rígido que se voltaria a alguém em necessidade. Há muito tempo, possivelmente - antes que tivesse encontrado e se apaixonado por Gabrielle. Antes que soubesse como era ter família e um coração batendo em devoção a outro.

Ele pôs sua mão no largo ombro do Gen Um.

—Precisa de uma casa segura, você e o menino. Não encontrará abrigo mais seguro que este complexo.

Quanto a qualquer preocupação que Lucan pudesse ter sobre confiar a posição do complexo à Archer ou seu jovem neto, Tegan o assegurou que ambos os machos estavam sem duplicidade. Não que Lucan suspeitasse que qualquer um fosse nada menos que honrado.

Entretanto, procurava não dar sua confiança cegamente. Tinha que ter cuidado. Cada vez que olhava ao redor ultimamente, sentia o peso de tantas vidas descansando nos seus ombros. Era uma responsabilidade que levava a sério, muito consciente que se Dragos quisesse abater o coração da Ordem, faria isto neste mesmo lugar.

Era um pensamento que não gostava de ter, mas não podia se permitir ignorar.

Ele não achava que pudesse aguentar se a Ordem - sua família - fosse abatida como a de Lazaro Archer esta noite. Tudo que restava ao Gen Um civil depois de mil anos de vida era o jovem espancado na cama da enfermaria e o corpo assolado por balas do filho, que Tegan e o resto da equipe desta noite tinham trazido com eles ao complexo.

Lucan limpou sua garganta.

—Se quiser manter os ritos de funeral de Christophe pela manhã, faremos os acertos necessários.

Lazaro deu um aceno de cabeça sombrio.

—Obrigado. Por tudo, Lucan.

—As acomodações aqui no complexo são limitadas, mas podemos reajustar algumas coisas para dar espaço para você e Kellan em uma das salas de beliche. Por favor, fiquem quanto for necessário.

Archer apoiou sua mão numa despedida educada.

—Isto é mais do que generoso; contudo, tenho propriedades pessoais em outro lugar. Há outros lugares que meu neto e eu podemos ir.

—Sim, — Lucan respondeu. — mas até estarmos seguros que você e Kellan não estão em perigo iminente de Dragos, não ficarei cômodo com vocês fora da proteção da Ordem.

—Dragos. — Archer disse, seu rosto endurecendo com fúria contida. — Lembro-me do nome dos Velhos Tempos. Dragos e seu filho sempre foram corruptos. Divergentes, conspiradores. Moralmente arruinados. Bom Cristo, pensei que a linha inteira tinha desaparecido há muito.

Lucan grunhiu.

—Um filho da segunda geração permaneceu oculto por décadas atrás de múltiplos pseudônimos, mas não morto. Não ainda. E há mais, Lazaro. Coisas que não sabe. Coisas que a população civil não desejaria saber sobre Dragos e suas maquinações.

Os olhos severos, imutáveis prenderam seu olhar.

—Diga-me. Quero entender. Preciso entender.

—Venha. — Lucan disse. — Vamos caminhar.

Ele guiou Archer longe da enfermaria com seu neto e ao longo do corredor tranquilo. Dois Gen Um andando rápido em silêncio numa distância curta enquanto Lucan considerava por onde começar os fatos que sabiam sobre Dragos. Pelo começo, finalmente decidiu.

—As sementes desta guerra com Dragos foram semeadas há séculos. — Ele disse, enquanto avançavam pelo corredor de mármore branco. — Deve se lembrar da violência daqueles tempos, Lazaro. Você sobreviveu como eu, quando os Antigos corriam incontrolados, impulsionados por sua sede de sangue e emoção da caça. Eram nossos pais, mas tinham que ser parados.

Archer acenou com a cabeça gravemente.

—Realmente me lembro como era então. Como menino, não posso dizer com que frequência testemunhei a selvageria do meu próprio pai. Pareceu se intensificar depois de algum tempo, tornando-se mais feroz e incontrolado, em particular depois que voltava das reuniões.

Lucan levantou a cabeça.

—Reuniões?

—Sim. — Archer respondeu. — Não sei onde ele e outro Antigo se encontravam, mas partia por semanas ou meses de cada vez. Sempre sabia quando estava de volta na área, porque então as matanças nas aldeias humanas em volta de nós começavam novamente. Fiquei aliviado quando finalmente partiu para sempre.

Lucan franziu o cenho.

—Meu pai nunca mencionou reuniões, mas sei que vagava por períodos longos. Sei que caçava. Quando matou minha mãe em sua própria Sede de Sangue, sabia que era tempo de pôr fim em toda essa selvageria.

—Lembro-me de ouvir o que aconteceu a sua mãe. — Archer respondeu. — E me lembro da sua chamada a todos os Gen Um para se juntar com você na guerra contra nossos pais alienígenas. Não pensei que fosse possível que tivesse sucesso.

—Não muitos o fizeram. — Lembrou Lucan, mas não era amargo, não então ou agora. — Oito de nós se levantaram contra os Antigos que sobreviveram. Pensamos que tínhamos matado os últimos deles, mas tivemos traidores nas nossas filas - meu irmão, Marek, como se viu, e o Gen Um pai de Dragos, também. Eles conspiraram em segredo e construíram uma cripta numa montanha oculta para alojar o último dos Antigos. Alegaram que estava morto, mas o mantiveram protegido em hibernação por séculos. Foi depois retirado da cripta, e sobreviveu sob controle de Dragos até recentemente. Dragos o manteve drogado e esfomeado num laboratório privado. Não sabemos a extensão da loucura de Dragos, mas estamos seguros de uma coisa: por algumas décadas, usou o Antigo para produzir um pequeno exército de Gen Um. Esses descendentes agora servem a Dragos como seus assassinos pessoais, sua própria criação.

—Bom Deus. — Archer murmurou, visivelmente abatido. — Mal posso acreditar que tudo isso é verdade.

Lucan poderia ter sentido o mesmo a certa altura, mas o tinha vivido ele próprio. Lembrou-se de tudo que tinha acontecido no ano passado. Todas as traições e revelações, segredos explosivos e dramas inesperados que tinham apunhalado profundamente a Ordem e seus membros.

E a luta não estava acabada. Nem próxima.

—Por enquanto, Dragos conseguiu escapar, mas estamos ficando mais próximos dele a cada dia. Destruímos o que, provavelmente, era sua posição primária. Perdeu outra peça-chave quando o Antigo escapou de alguns dos seus homens no Alasca. Fomos ao encalço da criatura e o abatemos. Mas muito dano já está feito. — Acrescentou Lucan. — Não sabemos quantos Gen Um assassinos Dragos conseguiu criar ou onde poderiam estar. Pretendemos encontrá-los, de qualquer modo. E temos aquele que trabalha conosco agora. Ele se juntou a Ordem há pouco, depois de se libertar do controle de Dragos.

O rosto de Archer se cobriu de cautela.

—Acha isto sábio? Colocar sua confiança em alguém que foi tão estreitamente ligado a Dragos?

Lucan inclinou sua cabeça.

—Tive as mesmas reservas no início, mas Hunter se provou mais do que digno da confiança da Ordem. Você o encontrou, Lazaro. Estava lá esta noite com você, e ajudou a matar os assassinos de Christophe.

O Gen Um exalou uma maldição tranquila.

—Aquele guerreiro salvou minha vida. Ninguém podia ter atuado tão rápido para salvar meu filho, mas se não fosse por Hunter, eu não estaria aqui, também.

—Ele é um macho honrado. — Disse Lucan. — Mas foi produzido e criado para ser uma máquina de matar. Baseado nas descrições que recebemos dos raptores de Kellan, estamos quase certos que foram três Caçadores de Dragos que o levaram da sua casa.

—Pensei ouvir de alguns guerreiros esta noite que os captores que estavam mortos dentro do edifício eram humanos - Subordinados.

Lucan acenou com a cabeça.

—Eram. Por alguma razão, pareciam os mesmos indivíduos que levaram Kellan, mas os Subordinados eram parte de algum esquema maior. Como o ataque ao seu Darkhaven, não tenho dúvidas.

—Mas por quê? — Archer murmurou. — O que esperava ganhar levando quase toda a minha família e reduzindo minha casa a cinzas?

—Não temos essa resposta ainda, mas não descansaremos até consegui-la. — Lucan fez uma pausa no corredor, cruzando seus braços por cima do peito. — Dragos nos deu muito inferno para lidar ultimamente, e minhas entranhas dizem que só estamos vendo o começo do que é capaz. Descobrimos recentemente que embutiu Subordinados em pelo menos uma agência do governo humano, também. Não há dúvida, há mais más notícias de onde isto veio.

Archer xingou, baixinho.

—E pensar que tudo isso estava bem debaixo dos nossos narizes. Lucan, não sei o que dizer, exceto que lamento não ter te apoiado antes. Você não pode imaginar o quanto estou arrependido.

Lucan sacudiu a cabeça.

—Não é necessário. A luta pertence à Ordem.

A expressão de Lazaro Archer foi severa com o objetivo.

—A partir de agora, a luta é minha, também. Estou dentro, Lucan. De qualquer maneira que possa ajudar você e seus guerreiros, se aceitar minha oferta - atrasada como está - então estou dentro.

 

A limusine preta de Dragos parou no meio-fio incrustado de gelo onde seu tenente esperava, ofegando e tremendo sob um poste de luz em seu casaco de caxemira escuro e chapéu.

Quando o motorista Subordinado freou, o homem de Dragos chegou à porta de passageiros traseira e subiu no veículo. Ele tirou seu chapéu e luvas, se virando para enfrentar Dragos junto dele no assento traseiro.

—A Ordem foi avisada sobre o edifício onde o menino era mantido, Senhor. Eles atacaram esta noite como tínhamos antecipado, junto com Lazaro Archer e seu filho e uma unidade da Agência de Execução. Os Subordinados que estavam guardando o menino foram mortos em minutos na confrontação.

—Dificilmente uma surpresa. — Disse Dragos com um encolhimento brando. — E o Agente Freyne?

—Morto, Senhor. Ele e seus homens foram mortos por um dos guerreiros quando tentavam executar sua missão. Christophe Archer foi eliminado, mas seu pai ainda vive.

Dragos grunhiu. Se um dos Archer tivesse que sobreviver ao assassinato que tinha planejado, teria preferido muito que o morto fosse Lazaro em vez de seu filho. Seja como for, o assalto multifocado que tinha orquestrado esta noite ainda era um êxito. Tinha assistido de uma distância segura, em sua limusine, como o Darkhaven de Lazaro Archer explodia na noite de inverno como uma vela romana.

Foi glorioso.

Uma aniquilação total.

E agora tinha a Ordem precisamente onde queria - confusos e espalhados.

Seu tenente Raça continuou a discorrer sobre os resultados da noite.

—O fogo no Darkhaven reclamou todas as vidas dentro, e tenho relatórios que Lazaro Archer não foi visto ou deu notícias desde então. Embora não tenha confirmação, suspeito que tanto o Gen Um como o menino estão em custódia da Ordem como falamos.

—Muito bem. — Dragos respondeu. — Como Lazaro Archer ainda está respirando, eu dificilmente chamaria isto de uma execução sem defeito das minhas ordens. Mas então, se espero perfeição, eu mesmo deveria fazer tudo.

Seu tenente teve a ousadia para parecer ofendido.

—Com todo o devido respeito, Senhor, mas se eu soubesse que a Ordem agora conta com um dos seus Caçadores entre eles, poderia ter tomado precauções extras acerca do papel de Freyne na missão desta noite.

Dragos tinha vivido muito tempo para se surpreender, e raramente algo tinha o poder de espantá-lo. Mas esta notícia relâmpago - este pequena informação perturbadora - de fato fez seu coração acelerar contra seu esterno. A raiva encheu sua cabeça, uma fúria fria que praticamente o teve cuspindo a maldição que pulou à sua língua.

—Não sabia? — Perguntou seu tenente, se espremendo contra a porta, na tentativa de por tanta distância quanto possível entre eles.

—Um Caçador. — Respondeu Dragos, faíscas ambarinas brilhando na cabine escurecida da limusine. — Está certo que isto é verdade?

Seu homem acenou com a cabeça sobriamente.

—Mandei colocar câmeras de vigilância na construção em mais de uma posição. Pelo modo como se move, pelo tamanho enorme dele, e a precisão que mata... Senhor, não posso confundir o guerreiro com nada menos que um dos seus Caçadores.

E havia apenas uma das suas criaturas, assassino desapiedadamente treinado que conseguiu se livrar do controle de Dragos e fugir. Que tivesse se aliado com a Ordem era um choque, claro e simples.

Dragos tinha assumido que Hunter se livrou do seu colar de obediência e fugido na obscuridade, um cão desgarrado, perdido sem seu mestre. Em algum nível, tinha assumido que o assassino fugitivo estava morto ou Renegado agora.

Mas não isto.

E não, ele refletiu agora, não este determinado Caçador.

Tinha sido diferente desde o início. Indiferentemente eficiente. Friamente inteligente. Implacavelmente disciplinado, mas longe de ser submisso. Era uma lição que nunca foi capaz de aprender, não importa como impiedosamente tenha sido tratado.

Dragos devia ter abatido o filho da puta, mas também era o melhor assassino do seu exército de Gen Um até agora.

E agora estava do lado de Lucan e os guerreiros nesta guerra.

Dragos rosnou com o ultraje da mera ideia.

—Saia da minha vista. — Ele rosnou ao seu tenente. — Espere minhas ordens para começar a seguinte fase do plano.

O outro macho Raça saiu com dificuldade do carro sem outra palavra, fechando a porta forte atrás dele e correndo no sentido contrário da rua.

—Vamos. — Dragos ladrou ao Subordinado atrás do volante.

Quando a limusine entrou na confusão do tráfego da noite de Boston, ele endireitou as lapelas do seu smoking de seda italiano e passou sua mão meticulosamente arrumando seu cabelo. Na incandescência escura das luzes da estrada, retirou um convite gravado do bolso da sua jaqueta e leu o endereço da Arrecadação de Fundos Política que acabava de assistir na parte central da cidade.

Uma pequena gotinha de sangue humano sujou o canto inferior do papel marfim, ainda bastante fresco para manchar embaixo da prensa do seu polegar.

Dragos riu baixinho, lembrando como agradou o grupo de funcionários da cidade com a generosidade da sua doação.

Como ficaram atordoados somente alguns minutos depois, quando perceberam o que cada um deles estaria dando em troca.

Agora se inclinou atrás e fechou seus olhos, ouvindo o zumbido da calmaria do caminho enquanto saboreava o zumbido do poder que ainda nadava nas suas veias.

Jenna nunca tinha visto Brock tão quieto.

Ele e outros guerreiros tinham voltado há pouco tempo, acompanhados por Lazaro Archer e seu neto. O alívio que rodeava o resgate do menino foi severamente umedecido pelo preço com o qual tinha vindo. Enquanto planos eram feitos para acomodar os recém-chegados no complexo, limpá-los e acomodá-los, Brock e os outros guerreiros em missão esta noite tinham se dispersado aos seus próprios quartos.

Brock tinha proferido apenas uma palavra desde que voltou. Estava coberto de sangue e sujeira, seu rosto marcado e esticado com a tensão e um pouco de horror pelo que ele e seus irmãos tinham testemunhado durante o resgate do menino. Jenna andou com ele de volta ao quarto que agora compartilhavam e ficou sentada sozinha desde então na borda da cama, fitando a porta do banheiro fechada enquanto ele se banhava do outro lado.

Ela não sabia se ele queria companhia ou preferia sua solidão, mas depois de ouvir sobre o que aconteceu na sua patrulha, descobriu que não podia se sentar inativa quando ele podia estar sofrendo do outro lado da porta fechada.

Ela se aproximou e testou o trinco. Não estava trancada, portanto a abriu e perscrutou o interior.

Brock estava nu debaixo do borrifo que emitia vapor, seus dermaglifos voltados para a porta, as mãos apertadas contra a parede do chuveiro na frente dele. Embora não visse nenhuma ferida nele, a água caía em rastros vermelhos por sua pele escura antes de rodar ao ralo nos seus pés.

—Posso entrar? — Ela perguntou baixinho.

Ele não respondeu, mas não disse para deixá-lo em paz, também. Ela entrou, fechando a porta atrás dela. Não tinha como perguntar se estava bem. Apesar disto parecia fisicamente incólume, cada músculo grosso no seu largo traseiro duro com a tensão. Seus braços tremiam, sua cabeça inclinada contra seu peito.

—Uma família inteira foi feita em pedaços esta noite. — Ele murmurou, sua voz rouca e ferida com a emoção contida. — A vida daquela criança nunca voltará a ser a mesma.

—Eu sei. — Ela sussurrou, chegando mais perto.

Ele levantou seu rosto na cascata quente de água, logo passou uma mão por cima da cabeça.

—Eu te digo, há momentos que acho que não posso lidar com toda essa maldita dor e a morte.

—Isto é o que o faz humano. — Ela disse, logo riu baixinho por como era fácil pensar nele como um homem - seu homem - apesar de todas as coisas que o faziam algo mais que isto.

Inferno, era difícil pensar nela como puramente humana. Ela estava se transformando em algo que ainda não entendia - cada vez mais a cada dia - mas se tornava menos receosa das transformações que se operavam dentro dela. Elas a faziam mais forte, dando um sentido renovado de objetivo... Um renascimento.

Ela se encontrou ansiando pela oportunidade de ter uma vida diferente. Uma nova vida, possivelmente bem aqui neste lugar. Possivelmente com Brock ao seu lado.

Depois da última vez que esteve nos seus braços, ela percebeu que temia menos as sensações que tinha com ele, também.

Foi essa falta de medo que a levou a tirar a blusa e sair das suas calças de ioga. Seu sutiã e calcinhas foram depois, descartadas no chão quando entrou no chuveiro com Brock e envolveu seus braços em volta das suas fortes costas.

Ele endureceu pelo contato, puxando uma respiração aguda. Mas então seus braços baixaram por cima dos dela e a manteve lá, suas grandes mãos quentes e tranquilizadoras quando a acariciou.

—Estou imundo da missão, Jenna.

—Não tem problema. — Ela disse, apertando um rastro de beijos ao liso, musculoso arco da sua espinha. Seus dermaglifos pulsaram numa cor que se tornava mais escura. —Deixe-me cuidar de você dessa vez.

Ela puxou seus braços dele e pegou o sabonete da prateleira do chuveiro. Ele ficou imóvel enquanto ela enchia suas mãos de espuma, logo começou a alisar suavemente o sabão acima dos seus ombros imensos e grandes bíceps. Ela lavou suas costas fortes, então lentamente baixou suas mãos, além da sua cintura estreita, aos lados dos seus quadris.

Ela sentiu o forte tremor do seu corpo quando alcançou à frente dele, suas mãos ensaboadas contornando a borda da sua virilha. Ele estava ereto mesmo antes que ela chegasse lá, gemendo quando ela abriu seus dedos em volta da base do seu pênis, provocando, mas ainda não tocando. Ela trouxe suas mãos de volta e juntou mais espuma, logo se agachou por trás dele para lavar as longas pernas.

Ele estremeceu quando arrastou os dedos ensaboados por suas coxas, apertando seu corpo ruborizado contra ele quando levantou, escorrendo a água com sabão que ainda persistia na sua pele. Ela envolveu um braço em volta da sua cintura, a outra mão descendo para acariciar seu eixo rígido. Ele rosnou uma maldição escura quando ela o acariciou, seu sexo inchando ainda mais no seu aperto.

Ela encontrou um ritmo que pareceu agradá-lo, e trabalhou nele impiedosamente, deleitando-se com a sensação da resposta do seu corpo ao seu toque. Com um gemido baixo, ele se inclinou para frente para fixar um cotovelo contra a parede do chuveiro na frente dele.

—Ah, porra, Jenna... Amo suas mãos em mim.

Ela sorriu por seu elogio, perdendo-se no seu prazer quando o acariciou mais duro, mais intenso. Ele grunhiu, seu sexo palpitante no aperto do seu punho indo e vindo. Então, antes que ela o fizesse perder todo o controle, sussurrou uma maldição crua entre os dentes e presas cerrados.

Ele se virou para encará-la. Seu pênis ereto levantou acima de seu umbigo, duro como aço, mas quente como uma chama quando ele a puxou contra ele, suas grandes mãos nos seus braços, num abraço possessivo e feroz. Seu bonito rosto estava gravado em ângulos mais agudos no auge da paixão, seus olhos tão brilhantes como carvão incandescente, suas presas totalmente brancas e enormes, mortalmente afiadas.

Jenna lambeu seus lábios, sua garganta repentinamente seca com o desejo.

Ele sabia o que ela queria. Ela podia ler sua compreensão tão seguramente como ele leu o olhar faminto em seus próprios olhos.

Ele a ergueu, guiando suas pernas em volta da sua cintura enquanto a transportava fora do banheiro e em direção à grande cama na outra sala. Seus corpos estavam molhados, ainda deslizando nos lugares com sabão quando caíram no colchão juntos em um emaranhado íntimo.

Ele conservou suas coxas enroladas em volta dele quando rolou para suas costas, a acomodando em cima dele. Ele empurrou dentro dela, a enchendo tão perfeitamente. Ela inclinou sua cabeça para trás e exalou um lento, prazeroso suspiro quando ele se assentou ao máximo embaixo dela.

—Você é tão bonita. — Ele murmurou, seu toque vagando por todas as partes da sua carne sensível.

Ela abriu seus olhos e o olhou.

—Quero ser bonita para você. Assim é como você me faz sentir. — Ela manteve fixo seu olhar no salpicado âmbar sem vacilar, se esforçando para não fugir à emoção que a inundava. Ela sentia-se segura com ele. Segura o bastante para dizer o que estava no seu coração. — Sinto-me feliz, Brock, pela primeira vez em um longo tempo. Por causa de você, estou sentindo tantas coisas...

—Jenna. — Ele murmurou, franzindo a testa agora, sua expressão ficando muito grave.

Ela avançou, já na borda do penhasco e determinada a levar tudo até o fim.

—Eu sei que você disse que não gosta de complicações. Ou relacionamentos a longo prazo, eu sei que disse que não quer se envolver...

—Eu estou envolvido. — Disse ele, correndo as mãos pelos seus lados, apoiando-as na cintura quando seus corpos estavam intimamente ligados. Ele os balançou lentamente. — Não se envolve mais do que isso. Deus, eu nunca planejei você, Jenna. Eu pensei que estava jogando seguro, mas você mudou tudo. — Seu toque era leve enquanto acariciava seu rosto e queixo. — Eu não tenho as respostas quando se trata de você... Nós... E o que temos juntos.

Ela engoliu, sacudindo a cabeça em negação muda.

—Eu não queria me apaixonar. — Ela sussurrou. — Não achei que pudesse novamente.

Ele a prendeu em um olhar terno.

—E eu disse a mim mesmo que não iria.

Jenna separou os lábios, incerta do que ele queria dizer. Um instante depois, não importava. Brock a puxou até ele e a beijou, envolvendo-a nos braços. Sua boca pressionava a dela, sua língua empurrando pelos lábios numa louca necessidade de mais. Ela apertou contra seus quadris, o calor queimando mais brilhante em seu centro e saindo dela por todas as terminações nervosas.

Ela se levantou, ofegante agora, incapaz de deixar de se mover sobre ele quando sua necessidade cresceu a um ponto de febre.

—Você está no controle, querida. — Disse ele, sua voz grossa e rouca. — Pegue o que quiser.

Ela olhou sua garganta, vendo a veia pulsando forte ao lado de seu pescoço. A fome chutou dentro dela, assustando-a com sua ferocidade. Desviou seu olhar para longe e encontrou o calor do brilho de seus olhos transformados.

—Qualquer coisa. — Disse, olhando mais que ansioso que ela tivesse sua vez com ele.

Ela se balançava sobre ele, saboreando a sensação de seus corpos unidos e já meio tonta de excitação. O orgasmo rugia em cima dela rapidamente. Ela tentou afastá-lo, mas a sensação a inundava enquanto ela rodava no calor e energia do sexo de Brock.

Ele olhou para ela com interesse ávido, os lábios puxados para trás mostrando suas presas, os tendões como corda em seu pescoço tenso quando ele arqueou os ombros para fora da cama. Jenna não conseguia tirar os olhos do ritmo frenético de seu pulso. Ecoava em seus ossos, em suas próprias veias. No ritmo impaciente do seu corpo enquanto ela estremecia com a explosão repentina de sua liberação.

—Sim. — Ele gemeu, abrindo as mãos em suas costas e não a deixando se afastar quando a fome se abateu sobre ela como uma onda. — Vamos, Jenna. Tudo o que você quiser.

Com um rosnado que não pode segurar, ela enterrou o rosto ao lado de seu pescoço e mordeu. Sangue subiu em sua boca, quente, grosso e picante-doce.

Brock sibilou uma praga que não soava nada arrependida. Seu corpo tremia enquanto ele ia mais fundo dentro dela, cada impulso duro aumentando o prazer nela, levando sua fome a alturas ainda maiores. Ele gritou quando o orgasmo o torturou, seu pulso forte batendo contra a ponta da língua quando Jenna fechou os lábios em volta da veia aberta e começou a beber.

 

Dois dias se passaram desde o ataque à família de Lazaro Archer e a missão de resgate que salvou o jovem Kellan. O menino estava se recuperando fisicamente de sua captura e maus-tratos, mas Jenna sabia como ninguém que suas cicatrizes emocionais - a realidade de tudo que tinha perdido em um momento infernal - ficariam com ele por muito tempo após os cortes e contusões se curarem. Ela só esperava que encontrasse um meio de enfrentá-los em menos tempo e menos autodestrutiva agonia que ela própria tinha levado para lidar com eles.

Ela desejava o mesmo para seu avô Gen Um, também, embora Lazaro Archer não parecesse o tipo que precisava da simpatia de ninguém. Depois da cerimônia fúnebre de seu filho, Christophe, que teve lugar no complexo, Lázaro se recusou a falar daquela noite violenta. Ao mesmo tempo, se dedicou a trabalhar em estreita colaboração com a Ordem. O Gen Um civil agora parecia tão determinado quanto qualquer um dos guerreiros para ver Dragos e sua operação inteira destruída.

Jenna conhecia esse sentimento. Era enlouquecedor pensar que um mal como Dragos estava solto no mundo. Estava intensificando sua operação, o que significava que a Ordem não podia perder uma oportunidade para ganhar qualquer vantagem. Depois do que estiveram dispostos a fazer para Lazaro Archer e sua família, Jenna não podia deixar de se preocupar ainda mais sobre o grupo de Companheiras de Raça que estavam sob seu controle.

Pelo menos nessa frente, havia um lampejo de esperança. Dylan tinha recebido um telefonema naquela manhã do administrador da Casa de Repouso onde a Irmã Margaret Howland estava em Gloucester. A idosa freira havia sido informada sobre o pedido de Dylan para uma visita, e estava animada por um pouco de companhia e conversa.

Jenna foi a primeira a ser voluntária quando Dylan anunciou o passeio da tarde. Renata e Alex também se ofereceram para ir junto, todas ansiosas para ver se os esboços de Claire Reichen das Companheiras de Raça cativas dariam frutos.

Agora, enquanto as quatro mulheres iam para Gloucester num Rover preto da frota da Ordem, todas tinham a esperança de alguns momentos de lucidez da idosa irmã.

Até Lucan tinha concordado que, se pudessem obter pelo menos o nome de uma fêmea, faria toda a missão valer a pena.

Brock não estava muito animado com a perspectiva de Jenna deixar o complexo, principalmente depois da violência perpetrada sobre Lazaro Archer e seus parentes. Ele se preocupava, como sempre, e onde antes costumava irritar, agora a aquecia.

Ele se preocupava com ela, e tinha que admitir, era muito bom saber que tinha alguém vigiando suas costas. Mais que isso, acreditava que Brock era um homem que guardava seu coração tão cuidadosamente como o fazia com sua segurança e bem-estar.

Ela esperava que sim, porque ao longo dos últimos dias - e noites incríveis - tinha colocado seu coração abertamente em suas mãos.

—Aqui estamos nós. — Disse Dylan do banco de passageiro na frente do Rover enquanto Renata entrava na garagem da casa de repouso. — O administrador me disse que a Irmã Margaret toma seu chá da tarde por agora na biblioteca. Ela disse que poderíamos entrar.

—É aqui. — Alex apontou para uma placa de bronze saindo de um banco de neve na frente de uma casa de madeira modesta.

Renata estacionou no terreno meio vazio e desligou o motor.

—Vamos tentar, né? Jenna, pode pegar a sacola de couro na parte de trás?

Ela girou para puxar o monte de pastas e blocos de notas fora da área de carga, em seguida, saiu do veículo com suas amigas.

Quando Jenna deu a volta na frente do Rover, Dylan pegou a sacola dela e a segurou contra o peito. Franzindo os lábios, soltou um suspiro pesado.

Alex parou ao lado dela.

—O que há de errado?

—Todas as minhas pesquisas dos últimos meses podem se perder neste momento. Se isso for um beco sem saída, então não tenho a menor ideia por onde começar de novo.

—Relaxe. — Disse Renata, pegando no ombro de Dylan em solidariedade. — Você arrebentou sua bunda nesta investigação. Não estaríamos tão longe sem você. Você e Claire.

Dylan assentiu, embora não tão animada pelo incentivo.

—Só precisamos de uma pista decente. Não acho que poderia lidar com isso, se acabarmos voltando à estaca zero.

—Se tivermos que começar tudo de novo, — Jenna disse. — então apenas trabalharemos mais. Juntas.

Renata sorriu, seus pálidos olhos verdes cintilantes quando abotoou seu sobretudo de couro para esconder as lâminas e o cinto cravejado de armas em seus quadris.

—Venham. Vamos tomar um chá com as simpáticas velhinhas.

Jenna achou prudente fechar seu próprio casaco também, já que Brock insistiu que carregasse uma arma quando deixou o complexo. Parecia estranho usar uma arma de fogo de novo, mas era um modo diferente do jeito que se sentia no Alasca.

Ela era diferente, e gostava da pessoa que estava se tornando.

Mais importante, estava aprendendo a perdoar a pessoa que foi no Alasca.

Ela deixou uma parte de si mesma em Harmony, um papel a que nunca poderia voltar, mas quando entrou na biblioteca quente do Retiro com Renata, Dylan e Alex, não podia se imaginar voltando a ser a mulher que foi antes. Tinha amigos aqui agora, e um trabalho importante que precisava ser feito.

E melhor que tudo, tinha Brock.

Foi esse pensamento que a fez sorrir quando Dylan as levou para uma frágil idosa que se sentava tranquilamente num sofá rosa perto da lareira da biblioteca. Os olhos azuis nublados piscaram algumas vezes sob uma coroa fofa de cabelo branco encaracolado. Jenna ainda podia ver a expressão de freira estampada no rosto enrugado que olhava para as mulheres da Ordem.

—Irmã Margaret? — Dylan disse, estendendo a mão. — Sou a filha de Sharon Alexander, Dylan. E estas são minhas amigas.

—Oh, meu Deus. — Exclamou a freira velha e doce. — Disseram que eu teria companhia para o chá de hoje. Por favor, sentem-se, meninas. Eu raramente tenho visitas.

Dylan sentou no sofá ao lado da irmã. Jenna e Alex sentaram-se de ambos os lados da mesa de café, em um par de poltronas gastas e Renata se posicionou de costas para uma parede, os olhos na porta - uma guerreira treinada, sempre em guarda.

Não importava que as únicas pessoas na sala além das quatro e irmã Margaret fosse um par de senhoras mancando atrás de andadores de metal e usando colares de chamada de emergência, juntamente com suas contas de rosário.

Jenna ouvia indolente enquanto Dylan puxava um pouco de conversa com Irmã Margaret, em seguida, mergulhou no propósito da sua visita. Tirou um punhado de rascunhos, tentando desesperadamente puxar a memória envelhecida da freira. Não parecia estar indo muito bem.

—Você tem certeza que não se lembra de nenhuma dessas meninas do abrigo? — Dylan escorregou mais um par de esboços na frente da idosa. A irmã olhou para as faces desenhadas a mão, mas não houve reconhecimento nos olhos azuis. — Tente, irmã Margaret. Tudo o que lembrar pode ser muito útil para nós.

—Sinto muito, minha querida. Eu temo que minha memória não seja mais como antes. — Ela pegou a xícara e tomou um gole. — Mas mesmo então, nunca fui boa com nomes e rostos. Deus me deu outras bênçãos, eu suponho. — Jenna viu Dylan desinflar quando relutantemente começou a recolher seus materiais. — Tudo bem, irmã Margaret. Compreendo que estava disposta a nos ver.

—Oh, minha palavra. — Desabafou a irmã, colocando sua xícara de volta sobre o pires. — Que anfitriã terrível eu sou! Esqueci de fazer chá para as meninas.

Dylan pegou a sacola.

—Não é necessário. Não devemos tomar mais do seu tempo.

—Bobagem. Vieram para o chá.

Quando se levantou do sofá e entrou na pequena cozinha da casa de campo, Dylan enviou um olhar de desculpas para Jenna e as outras. Enquanto a irmã remexia no outro cômodo, colocando água e os copos batendo, Dylan recolheu todos os esboços e fotografias. Enfiou tudo de volta na sacola e colocou ao lado dela no chão.

Depois de alguns minutos, a voz esganiçada da Irmã Margaret chegou nelas.

—Será que a irmã Grace não é capaz de te ajudar, querida?

Dylan olhou para cima, franzindo o rosto.

—Irmã Grace?

—Sim. Irmã Grace Gilhooley. Ela e eu éramos voluntárias no abrigo juntas. Fazíamos parte do mesmo convento aqui em Boston.

—Puta merda. — Dylan disse movendo só a boca, a emoção brilhante em seus olhos. Ela levantou do sofá e caminhou até a cozinha. — Eu adoraria conversar com a irmã Grace. Você sabe como podemos encontrá-la, não é?

Irmã Margaret assentiu com orgulho.

—Ora, é claro, eu sei. Ela mora a nem cinco minutos daqui, ao longo da costa. Seu pai era um capitão marítimo. Ou um pescador. Bem, não me lembro bem, para dizer a verdade.

—Tudo bem. — Disse Dylan. — Você pode nos dar seu número de telefone ou endereço, para que possamos contatá-la?

—Eu vou fazer melhor que isso, querida. Eu mesmo vou ligar para ela e deixar que saiba que você gostaria de perguntar sobre algumas destas meninas do abrigo. — Atrás da irmã Margaret, a chaleira começou a apitar. Ela sorriu, como uma agradável e doce avó. — Primeiro, vamos tomar uma xícara de chá juntas.

Elas engoliram o chá o mais rápido possível, sem parecer completamente rudes.

Mesmo assim, levou mais de 20 minutos para se afastarem da doce Irmã Margaret Mary Howland. Felizmente, sua oferta para telefonar para irmã Grace foi útil.

A outra freira aposentada estava aparentemente em melhor saúde que sua amiga, vivendo sem assistência, e, a partir da conversa unilateral que Jenna e as outras ouviram, soava como se a irmã Grace Gilhooley estivesse disposta e capaz de fornecer todas as informações que precisavam sobre seu trabalho no abrigo de Nova York.

—Local agradável. — Comentou Jenna quando Renata passou com o Rover ao longo de um trecho de estrada costeira que levava a uma alegre casa amarela vitoriana isolada numa península rochosa que sobressaia da terra.

O casarão ocupava cerca de dois hectares de terra, um selo postal em relação aos locais no Alasca, mas claramente um cenário de luxo aqui na costa de Cape Cod. Com a neve enchendo o quintal e agarrada às rochas, o mar azul de aço se alastrando para o horizonte, o brilhante canário vitoriano parecia saudável e convidativo como uma mancha de sol quente, no meio de tanto frio e inverno.

—Espero que tenhamos mais sorte aqui. — Disse Alex ao lado de Jenna no banco de trás, espreitando o espólio impressionante quando seguiram a cerca branca em frente, depois viraram na calçada estreita.

Quando Renata estacionou o jipe perto da casa, girou para Dylan ao lado dela na frente.

—Se ela não puder ajudar a identificar algumas das mulheres ausentes do abrigo em Nova Iorque, talvez seja capaz de nos dizer os nomes das Companheiras de Raça nos dois novos desenhos que Claire Reichen nos deu.

Jenna saiu atrás de Alex, ambas indo até a frente do Rover, onde Renata e Dylan já estavam em pé.

—Eu não sabia que tínhamos novos desenhos.

—Elise os pegou com sua amiga no Darkhaven ontem.

Dylan deu a Jenna uma pasta em papel pardo, enquanto caminhavam em direção à varanda ornamentada da casa. Jenna abriu a pasta enquanto seguia suas companheiras subindo os degraus rangentes de madeira para a porta da frente. Ela olhou os esboços feitos à mão, que eram baseados nas memórias de Claire dos rostos que viu alguns meses atrás, quando seu talento para caminhar nos sonhos lhe deu acesso inesperado a um dos laboratórios ocultos de Dragos.

Dylan tocou a campainha.

—Cruzem os dedos. Diabos, façam uma prece enquanto estamos nisso.

A governanta apareceu um instante depois e educadamente informou que eram esperadas. Entretanto, Jenna estudou os dois esboços um pouco mais de perto... E seu coração caiu como uma pedra em seu estômago.

Uma imagem de uma jovem mulher com cabelos escuros lisos e olhos amendoados, a encarou de volta. O rosto delicado era familiar, mesmo no desenho a lápis que não chegava a capturar o pleno impacto de sua beleza exótica.

Corinne.

A Corinne de Brock.

Poderia ser realmente ela? Se sim, como? Ele estava tão certo que estava morta. Disse a Jenna que tinha visto o corpo da Companheira de Raça depois que foi retirado do rio. Então, novamente, também mencionou que passaram meses desde que ela desapareceu antes que seus restos fossem encontrados, e que todos tiveram que identificar suas roupas e o colar que usava quando desapareceu.

Oh, Deus... Poderia realmente estar viva? De alguma forma acabou nas mãos de Dragos e foi mantida em cativeiro por ele por todo esse tempo?

Jenna estava muito atônita para falar, muito dormente para fazer qualquer coisa além de acompanhar suas amigas na casa após a governanta as convidar para entrar. Uma parte dela estava espremida com a esperança que uma jovem mulher presumivelmente morta podia, de fato, estar viva.

No entanto, a outra parte dela estava tomada pelo um medo, uma sombria vergonha - o medo que esse novo conhecimento pudesse custar o homem que amava.

Ela tinha que contar a Brock o mais rápido possível. Era a coisa certa a fazer- ele tinha que saber a verdade. Tinha que ver o desenho e determinar se as suspeitas de Jenna podiam estar corretas.

—Por favor, sintam-se em casa. Vou dizer a irmã Grace que estão aqui. — Disse a pequena mulher agradável quando deixou Jenna e as outras sozinhas na sala da frente.

—Alex. — Ela murmurou, dando um pequeno puxão na manga do seu casaco. — Eu preciso ligar para o complexo.

Alex franziu a testa.

—O que há de errado?

—Este esboço. — Disse ela, olhando mais uma vez e se sentindo absolutamente certa agora que Claire Reichen tinha visto Corinne durante sua caminhada nos sonhos no covil de Dragos. — Reconheço o rosto da mulher. Eu já vi isso antes.

—O quê? — Alex respondeu, pegando a pasta para olhar ela mesma. — Jen, você tem certeza?

Renata e Dylan se aproximaram, assim, todas as três companheiras de Jenna ficaram em torno dela na sala silenciosa da casa. Ela apontou para o rosto delicado da mulher de cabelos escuros no desenho.

—Eu acho que sei quem é essa Companheira de Raça.

—Com certeza, querida. — Disse uma mulher, a voz fria. — Não diga.

O olhar de Jenna colidiu através da sala com um par de calmos olhos cinzentos que a encararam de volta de um rosto reto e aparentemente gentil. Com seu longo cabelo prata preso em um coque frouxo, Irmã Grace Gilhooley usava um vestido azul pálido floral e casaquinho branco que a faziam parecer algo como um quadro de Norman Rockwell .

Mas foram aqueles olhos que lhe entregaram.

Aqueles olhos aborrecidos, e a sensação de formigamento nos novos sentidos de Jenna, que se iluminaram como uma árvore de Natal, logo que a mulher entrou na sala.

Jenna prendeu o olhar de tubarão, percebendo em um instante o quanto a irmã era boa.

—Puta merda. — disse ela, lembrando o mesmo peculiar olhar nos olhos dos homens do FBI que tinham tentado matar a ela e Brock, em Nova York apenas dias antes. Jenna olhou para Renata. — Ela é uma fodida Subordinada.

 

       — É aproximadamente a décima vez que verifica essa coisa desde que chegamos aqui. — Brock sorriu para Dante quando o guerreiro - ansioso e expectante pai - rompeu com o grupo na sala de armas olhando para seu PDA . — Porra, cara, você está tão nervoso como um gato.

—Tess está dormindo em nosso apartamento. — Dante respondeu. — Se precisar de alguma coisa, eu disse a ela que mandasse uma mensagem de texto para mim.

Aparentemente, não encontrando mensagens desde seu último olhar a cerca de cinco minutos, ele colocou o aparelho de volta na mesa e se voltou para o campo de tiro, onde Brock, Kade, Rio e Niko esperavam para retomar suas práticas de alvo.

Quando Dante arrogantemente voltou ao seu lugar entre seus irmãos, Niko olhou para ele com intensidade simulada, se aproximando, olhando seu rosto antes de finalmente dar de ombros exagerados.

—Estou surpreso. Não há nada, afinal.

—O que? — Dante perguntou, suas sobrancelhas negras subindo numa carranca. — Que diabos está falando?

Niko sorriu, exibindo suas covinhas gêmeas.

—Só estava procurado um anel de nariz ou algo assim. Achei que Tess poderia ter posto junto com a rédea curta que te mantém preso.

—Cai for a. — Disse Dante em torno de um riso profundo. Ele apontou um dedo na direção de Niko. — Eu vou lembrar disso quando Renata estiver com oito meses e meio de gravidez e for sua vez de se preocupar.

—Não é preciso esperar. — Kade emendou. — Renata já o tem treinado para saltar aos comandos. Provavelmente tem sua própria coleira, também.

—Sim? — Niko pegou seu cinto e fez um show para desatá-lo. — Me dê um segundo e vou te mostrar.

Brock balançou a cabeça para seus irmãos, se sentindo bem pelas piadas leves - e falar sobre Companheiras de Raça e bebês a caminho. Não podia deixar de pensar em Jenna, e sobre como encontraria uma maneira de fazer um futuro para eles juntos.

Ela não era uma Companheira de Raça, o que os angustiava. Não pelo fato de que nunca teriam filhos juntos. Nem mesmo por causa da ausência de um laço de sangue, o que os conectaria um ao outro, inexoravelmente, enquanto ambos vivessem.

Ele não precisava de uma ligação de sangue para reforçar o que sentia por ela. Já era sua companheira, de todas as maneiras que importavam. Ele a amava e, embora não tivesse certeza de como seria seu futuro com ela, não podia começar a imaginar a vida sem ela.

Ele olhou para os outros guerreiros na sala de armas com ele, e soube que morreria por Jenna se fosse necessário - o mesmo que qualquer outro macho da Raça vinculado pelo sangue.

Quando seu olhar passou por Kade, Niko e Dante, percebeu que Rio estava muito quieto nos últimos minutos. O cicatrizado guerreiro, nascido na Espanha estava encostado na parede, olhando para nada em particular e preguiçosamente esfregando o punho num pequeno círculo no centro do peito.

—Está tudo bem, Rio? — Ele olhou para Brock e deu de ombros vagamente. Seu punho continuava circulando, diretamente sobre o coração.

—Que horas são?

Brock olhou o relógio na outra extremidade da instalação.

—Quase três e meia.

—As mulheres devem ligar a qualquer minute. — Disse Kade. Seus olhos pareciam preocupados, também, seus olhos prata brilhando com uma nota de inquietação. Niko pousou sua arma e pegou seu telefone celular. — Eu vou ligar para Renata. Algo não parece certo para mim de repente.

—Sim. — Kade concordou. — Você não acha que algo está errado, não é?

Embora Brock não estivesse gostando da vibração séria chegando de repente sobre seus irmãos, se assegurou que estava tudo bem. A viagem de um dia que Jenna e as outras fêmeas faziam era apenas uma rápida movimentação ao Cabo. Uma visita a uma freira de setenta anos, por Deus.

Jenna tinha uma arma com ela, assim como Renata, e as duas sabiam como lidar com elas. Não havia nenhuma razão para ficar preocupados.

Dante andou, franzindo a testa sombria, enquanto Niko esperava num silêncio prolongado seu companheiro completar a ligação.

—Alguma resposta?

—Não. — Niko respondeu calmamente.

—Madre de Dios. — Desabafou Rio quando se empurrou longe da parede. —Alguma coisa assustou Dylan. Pude sentir seu medo em minhas veias.

Brock registrou o alarme viajando através de cada um de seus irmãos agora.

—Vocês também? — Perguntou, jogando um olhar sombrio para Kade e Niko.

—Meu pulso acabou de acelerar. — Disse Kade. — Ah, merda. Alguma coisa ruim está acontecendo com Alex e as outras.

—Não vai escurecer por uma hora, no mínimo. — Dante lembrou, sóbrio, com a advertência.

—Nós não temos esse tempo. — Disse Niko. — Temos que ir atrás delas agora.

Com Dante olhando, Brock caiu ao lado de seus três companheiros guerreiros, sentindo-se perdido e sem rumo, dependente de seus instintos para guiá-lo na direção de qualquer ameaça que agora enfrentavam Jenna e as outras Companheiras de Raça.

Santo inferno. Jenna estava em perigo e ele não tinha nenhuma pista.

Podia estar morrendo naquele momento, e não saberia até que estivesse de pé sobre seu corpo.

A constatação foi tão fria quanto a própria morte, enfiando a mão no peito e fechando seu coração em um punho gelado.

—Vamos. — Ele gritou para seus irmãos.

Juntos, os quatro correram para fora da sala de armas, recolhendo suas armas e equipamentos enquanto saíam.

 

No mesmo instante, Jenna e Renata tinham suas pistolas em punho e niveladas no sorriso da Freira-Subordinada, cujos olhos pareciam mortos como se não estivessem ali.

Como se fossem nada, não significassem nada.

Que para esta mulher, Jenna sabia, sem dúvida, elas não eram, e não significavam.

Atrás da Irmã Graça, apareceram agora dois homens volumosos. Estavam à espreita nas sombras do hall às suas costas, vindo para frente antes mesmo que Jenna e Renata levantassem suas armas para atirar. Os olhos dos homens mantinham o mesmo olhar frio como o da freira. Cada um deles segurava uma pistola grande - uma apontada para Renata, outra apontada para Jenna.

O impasse silencioso durou por um longo momento, o tempo que usou para calcular as formas possíveis de desabilitar um ou ambos os homens, sem colocar Alex ou Dylan em perigo no processo. Mas que droga, não era viável. Mesmo que usasse a maior velocidade e reflexos que parecia ter agora, o risco para suas amigas era muito grande para arriscar.

E, mais uma má notícia em seguida.

De algum lugar a esquerda, outro Subordinado apareceu e descansou o cano frio de um revólver contra sua cabeça.

A freira sorriu falsa.

—Eu vou ter que pedir às meninas que abaixem suas armas agora.

Renata não se mexeu. Nem Jenna, apesar do clique metálico quando o Subordinado ao seu lado engatilhou a arma.

—Há quanto tempo trabalha para Dragos? — Renata perguntou à Subordinada. — Ele é seu Mestre, estou certa?

Irmã Grace piscou, imperturbável.

—Mais uma vez, querida. Abaixe sua arma. O tapete que você está pisando está na minha família há mais de 200 anos. Seria uma pena estragar tudo com Arthur ou Patrick aqui explodindo um furo na porra do seu peito.

O próprio peito de Jenna apertou com medo ao pensar em qualquer uma de suas amigas sendo ferida por esses babacas Subordinados. Esperou um tempo, em silêncio aterrorizado, vendo como os músculos magros do braço de Renata perdiam um pouco da tensão. Jenna pensou que estava prestes a obedecer, mas o sutil olhar de soslaio de Renata parecia indicar o contrário.

Jenna reconheceu o olhar com uma mudança quase imperceptível de seu próprio olhar. Teria apenas uma chance para fazer seu movimento. Uma fração de segundo para fazer funcionar ou perder tudo em um instante.

Renata soltou um sonoro suspiro resignado.

Ela começou a baixar a arma...

Enquanto fazia isso, Jenna confiscou cada pedaço de velocidade que poderia chamar dos tendões e nervos de seus membros humanos. Girou com rapidez impossível de ver e agarrou o pulso do Subordinado mantendo-a na mira. Ele gritou de dor, jogando toda a sala em um estado de caos. No que parecia em câmera lenta para Jenna, mas provavelmente foi em frações de segundos, ela nivelou sua pistola no Subordinado caído e colocou duas balas em sua cabeça. Renata, entretanto tinha disparado num dos outros atrás da freira. Quando o segundo Subordinado teve uma fonte jorrando sangue de seu peito e caiu no chão, a irmã Grace se virou para correr para o corredor. Jenna estava lá antes que pudesse dar dois passos.

Ela pulou o Subordinado, se dirigindo para fora em um instante. Estendeu as mãos para a mulher e a empurrou, enviando o monstro de cabelos grisalhos pelo ar. Ela caiu no chão do salão enquanto Renata liquidava o último dos capangas machos e deixava o corpo sacudindo e sangrando no tapete de herança da irmã Grace.

Jenna caminhou até a freira Subordinada se rastejando e a puxou para o delicado sofá coberto de seda perto da janela.

—Comece a falar, sua puta. Há quanto tempo está servindo Dragos? Você já pertencia a ele quando trabalhava em seu abrigo?

A Subordinada sorriu com os dentes manchados de sangue e balançou a cabeça.

—Você não vai conseguir nada de mim. Você não me assusta. A morte não me assusta.

Enquanto falava, um par de passos pesados trovejou de algum lugar abaixo da casa. Mais dois Subordinados, correndo a partir da adega. A porta do corredor se abriu quando saíram correndo. Renata deu meia volta e acertou cada um no centro da testa, interrompendo sua trilha.

Dylan soltou um grito de triunfo quando a casa ficou em silêncio novamente.

E então... Sons baixos de vozes vindo do porão profundamente abaixo.

Vozes femininas.

Mais de uma dúzia de diferentes vozes, todas gritando e gritando, chamando quem pudesse ouvi-las.

—Puta merda. — Alex murmurou.

Os olhos de Dylan se arregalaram.

—Você não acha...

—Vamos descobrir. — Disse Renata. Ela se virou para Jenna. — Você fica aqui?

Jenna assentiu.

—Sim, estou bem. Posso segurá-la até você voltar. Apenas vá.

Na desatenção momentânea, a irmã Grace se mexeu um pouco no sofá, procurando no bolso de seu vestido. Jenna olhou para ela, a tempo de vê-la colocar coisinhas em sua boca. Engoliu rapidamente o objeto. Os tendões em sua garganta apertaram. Sua boca começou a vomitar espuma branca espessa.

—Oh, merda! — Jenna chorou. — Ela se envenenou!

—Ela está morta. Esqueça a cadela. — Renata disse. — Desça conosco, Jenna! — Ela se afastou da Subordinada, deixando o corpo cair convulsionando no chão. Juntas, ela e as outras mulheres correram para baixo nos degraus de pedra antiga que levavam à escura adega enorme, que parecia ser esculpida nas próprias rochas escarpadas da península.

Quanto mais desciam, mais os gritos de socorro ficavam mais altos.

—Ouvimos vocês! — Dylan gritou de volta para as mulheres aterrorizadas. — Tudo bem, as encontramos!

Jenna não estava preparada para o que as esperava na adega que se alargava a frente delas. Escavado na pedra tinha uma cela grande, coberta por uma grade de ferro. Dentro estavam mais de vinte mulheres - despenteadas, sujas, usando aventais de laboratório esfarrapados. Algumas estavam grávidas, outras muito magras e pálidas. Pareciam os piores prisioneiros de guerra, negligenciados e esquecidos, a maioria dos seus rostos marcados e inexpressivos.

Olharam para seu resgate, algumas mudas, algumas chorando em silêncio, enquanto outras choravam abertamente, o peito arfando.

—Oh, Jesus. — Alguém sussurrou, talvez até mesmo Jenna para si mesma.

—Vamos tirá-las daqui. — Renata disse, a voz rouca. — Procurem por uma chave em algum lugar que se encaixa nessa maldita grade.

Dylan e Alex começaram a procurar no espaço escuro. Jenna caminhou em direção ao canto mais distante, perscrutando as sombras fundas que pareciam continuar para sempre nas reentrâncias da antiga adega. Em sua visão periférica, viu os movimentos leves da mão de uma das cativas. Ela estava tentando chamar a atenção de Jenna, apontando disfarçadamente na direção do túnel sem luz que se estendia mais adentro da escuridão do lugar.

Tentando avisá-la.

Jenna ouviu o arrastar quase imperceptível de um passo saindo do escuro. Ela virou a cabeça - bem a tempo de ver um flash de metal, um movimento apresado. Então sentiu o impacto súbito do corpo de outro Subordinado, perfurando-a e quase a derrubando.

—Jenna! — Alex gritou. — Renata, ajude-a!

A arma explodindo ecoou como um tiro de canhão no porão fechado. As fêmeas em cativeiro gritaram e se encolheram à distância do som.

—Está tudo bem. — Jenna chamou. — Ele está morto. Tudo vai ficar bem. — Ela empurrou a pilha sem vida dela e se arrastou debaixo dele. Algo metálico tilintou quando o Subordinado rolou de costas e expulsou seu último suspiro.

—Eu acho que encontrei a chave. — Disse ela, se dobrando sobre ele para remover o anel com várias chaves do bolso da calça.

Ela correu para a cela e começou a procurar a que encaixaria no cadeado da grade. O sangue dos Subordinados encharcava seu casaco e as palmas das mãos, mas não se importou. Tudo o que importava era tirar as Companheiras de Raça deste lugar.

O cadeado soltou na segunda tentativa.

—    Oh, graças a Deus. — Dylan ofegou. — Vamos, todas. Estão a salvo agora.

Jenna abriu a grande grade de ferro e observou com um sentimento de orgulho e alívio quando as poucas prisioneiras começaram a se arrastar de sua prisão. Uma por uma, mulher por mulher, o grupo se afastou, finalmente livre.

 

Os guerreiros estavam a apenas alguns quilômetros de distância do local quando Rio recebeu um telefonema desesperado do celular de Dylan, contando tudo o que tinha acontecido. Apesar de terem sido informados que ela, Alex, Renata e Jenna de alguma forma - milagrosamente - encontraram e libertaram as fêmeas cativas que Dragos aprisionou por muitos anos, Brock e seus irmãos, sentados na SUV da Ordem não estavam preparados para a visão que os recebeu quando entraram na estrada da orla costeira e viram a grande casa amarela nas rochas.

O sol começava a mergulhar abaixo do horizonte em frente, lançando longas sombras no pátio coberto de neve do Casarão Vitoriano. E nesse estaleiro, esperando fora da porta da frente enroladas em cobertores, mantas antigas e xales de malha, estavam facilmente uma dúzia de sujas, abatidas jovens mulheres.

Companheiras de Raça.

Muitas já estavam no Rover estacionado na garagem. Outras ainda estavam sendo escoltadas para fora da casa por Alex e Dylan.

—Jesus Cristo. — Brock sussurrou, impressionado com a enormidade do que havia ocorrido.

Renata estava em pé perto do Rover, ajudando algumas das ex-cativas no banco de trás.

Onde diabos estava Jenna?

Brock esquadrinhou a área inteira num relance rápido, seu coração subindo no peito. Deus, e se estivesse machucada? Dylan certamente teria dito algo se houvesse vítimas, o que não impedia a rocha se formando na boca do seu estômago. Se algo tinha acontecido com ela...

—Esperem um pouco. — Disse Niko, quando entrou na estradinha, logo dirigiu o grande SUV direto em cima do gramado.

Brock pulou antes que o veículo parasse completamente.

Tinha que ver sua mulher. Tinha que senti-la quente e segura nos seus braços.

Ele correu através do quintal congelado, suas botas comendo a distância em meros segundos.

Alex levantou os olhos para ele quando rasgou na direção dela.

—Onde está ela? — Ele exigiu. — Onde está Jenna? Algo aconteceu com ela?

—Ela está bem, Brock. — Alex gesticulou na direção da porta dianteira aberta da casa, onde o cadáver sangrento de pelo menos um Subordinado estava visível e imóvel no interior. — Jenna está se assegurando que o resto das mulheres escape segura da cela onde eram mantidas.

Ele cedeu com as notícias de que ela estava bem, incapaz de ocultar seu alívio.

—Tenho que vê-la.

Alex deu-lhe um sorriso quente enquanto conduzia as trêmulas e pálidas Companheiras de Raça em direção ao par de veículos à espera. Ele se aproximou e estava a ponto de alcançar o pórtico da varanda.

—Brock?

A voz pequena, feminina - tão inesperada, tão distantemente familiar - o imobilizou. Algo clicando no seu cérebro. Uma faísca de descrença.

Um solavanco de reconhecimento.

—    Brock... É realmente você?

Lentamente, ele girou para encarar uma fêmea pequena, de cabelos escuros que estava numa vaga na estradinha, somente a alguns passos do pórtico. Ele não a tinha notado quando passou há um momento. Bom Cristo, não estava seguro se a reconheceria se viesse diretamente até ele na rua.

Mas conhecia sua voz.

Sob a sujeira do seu cativeiro e a negligência que fazia suas faces amareladas, sua pele de alabastro manchada com sujeira e arranhões, percebeu que realmente reconhecia, de fato, seu rosto também.

—Oh, meu Deus. — Ele se sentiu sem fôlego, como se alguém tivesse chutado todo o ar para fora dos seus pulmões. — Corinne?

—É você. — Ela sussurrou. — Nunca pensei que o veria novamente.

Seu rosto enrugou, e logo ela soluçava. Ela correu, lançando seus braços finos em volta da sua cintura e chorando muito no seu peito.

Ele a segurou, inseguro do que fazer.

Inseguro até de pensar.

—Você estava morta. — Ele murmurou. — Você desapareceu sem um traço, e logo puxaram seu corpo do rio. Eu vi. Você estava morta, Corinne.

—Não. — Ela energicamente sacudiu a cabeça, ainda soluçando, seu pequeno corpo arfando com suspiros que torturavam sua alma. — Eles me levaram embora.

A fúria chamejou nele, queimando através do choque e descrença.

—Quem a levou?

Ela soluçou, puxando uma respiração trêmula.

—Não sei. Me levaram embora e me mantiveram presa todo este tempo. Eles me fizeram coisas... Eles fizeram coisas horríveis, Brock.

Ela se enterrou no seu abraço, colando nele como se nunca quisesse deixá-lo. Brock a segurou, se sentindo estúpido por tudo que ouvia.

Ele não sabia o que dizer. Não tinha nenhuma ideia de como o que ela dizia podia ser verdade.

Mas era.

Ela estava viva.

Depois de longos anos - década após década de culpa por sua morte - Corinne repentinamente vivia e respirava, envolvida nos seus braços.

 

Jenna subiu as escadas do porão atrás das últimas prisioneiras. Mal podia acreditar que acabou, que ela, Renata, Dylan e Alex tinham localizado de fato as mulheres e conseguido pô-las em liberdade.

Seu coração ainda martelava no peito, seu pulso ainda corria com a adrenalina e um sentido profundo de realização - de alívio que a provação dessas quase vinte mulheres incapazes finalmente terminava. Ela guiou sua última carga em volta dos Subordinados mortos na sala de visitas e as conduziu à varanda. O crepúsculo se reunia agora sobre o quintal sombreado em plácido azul.

Jenna inspirou o ar fresco do crepúsculo quando pisou na varanda atrás da Companheira de Raça que se arrastava. Ela olhou na direção da estradinha, onde Renata e Niko ajudavam algumas fêmeas a entrar no Rover. Rio e Dylan, Kade e Alex estavam ocupados no gramado dianteiro nevado, conduzindo mais mulheres em outro dos SUVs da Ordem.

Mas foi a vista de Brock que a fez parar gelada no lugar onde estava.

Seus pés simplesmente deixaram de se mover, seu coração rachando quando o viu preso em um abraço sensível com uma fêmea pequena, de cabelos escuros.

Jenna não precisava ver seu rosto para saber que combinaria com o esboço que Claire forneceu. Ou que a beleza frágil envolvida tão suavemente nos braços fortes de Brock era a mesma mulher jovem da fotografia que ele tinha guardado com ele todos os anos depois que pensou que ela estava morta.

Corinne.

Por algum milagre do destino, o antigo amor de Brock foi devolvido. Jenna sufocou um soluço amargo, percebendo que ele conseguiu o impossível: o dom do amor ressuscitado.

Por mais que rasgasse seu próprio coração testemunhar, não podia deixar de se emocionar pelo reencontro.

E não podia interrompê-lo, não importa como desesperadamente desejasse ser aquela protegida nos seus braços, naquele momento.

Endurecendo-se, deu um passo tranquilo fora da varanda e continuou a evacuação das outras prisioneiras libertadas.

Brock olhou para cima e viu Jenna partir, em direção à atividade contínua na estradinha.

Ela estava segura.

Graças a Deus.

Seu coração pulou no peito, se sacudindo com tal alívio por vê-la, que pensou que poderia estourar fora das suas costelas.

—Jenna!

Ela girou lentamente na direção dele e o alívio que sentiu há um momento drenou por seus calcanhares. Seu rosto estava abatido e pálido. A frente do seu casaco rasgado em alguns lugares e sujo de um extravagante e profundo escarlate.

—Oh, Jesus. — Ele se separou de Corinne e correu para onde Jenna estava parada. Agarrando-a pelos ombros, ele a examinou da cabeça aos dedos dos pés, seus sentidos de Raça esmagados pela presença de tanto sangue cobreado derramado. — Ai, Cristo... Jenna, o que aconteceu com você?

Seu rosto apertou um pouco quando sacudiu a cabeça e se afastou dele.

—Estou bem. O sangue não é meu. Um dos Subordinados veio para cima de mim no porão. Disparei nele.

Brock assobiou, torturado pela preocupação embora ela estivesse na frente dele agora, garantindo que não estava machucada.

—Quando ouvi que algo tinha dado errado aqui... — Sua voz foi abafada por uma maldição sombria. — Jenna, estava com um medo danado que pudesse estar machucada.

Ela sacudiu a cabeça, seus olhos castanhos parecendo tristes, mas firmes.

—Estou perfeita.

—E Corinne. — Ele falou sem pensar, olhando através do caminho para onde ela ainda estava, parecendo pequena e abandonada, uma sombra escura da menina vibrante que tinha desaparecido de Detroit há todas aquelas décadas. — Ela está viva, Jenna. Era mantida aqui com as outras.

Jenna acenou com cabeça.

—Eu sei.

—Você sabia? — Ele a fitou, confuso agora.

—Um dos novos esboços que Claire Reichen forneceu. — Ela explicou. — Só o vi quando chegamos aqui, mas reconheci o rosto de Corinne da fotografia que você tem no seu quarto.

—Não posso acreditar. — Ele murmurou, ainda atordoado como o inferno por tudo que acabava de ouvir. — Ela me disse que alguém a levou naquela noite. Ela não sabe quem. Não tenho nenhuma ideia de quem era o corpo que vi, ou por que foi arrumado para parecer o dela. Meu Deus... Não estou certo do que pensar disso tudo agora.

Jenna o escutou divagar, a expressão paciente e compreensiva. Muito mais calma do que estava. Como esperado, manteve um controle constante, profissional, embora acabasse de passar por um inferno na sua própria provação.

A emoção o inundou, seu respeito por ela crescendo naquele momento.

Como seu amor por ela.

—Você percebe o que fez aqui? — Ele perguntou, passando seus dedos ao longo da sua face salpicada de sangue. — Meu Deus, Jenna. Não posso ficar mais orgulhoso de você.

Ele a beijou e puxou contra ele, pronto para dizer aqui e agora como era grato por tê-la na sua vida. Queria gritar seu amor por ela, mas a profundidade de seus sentimentos tinha devorado sua voz.

Então, muito rápido, Jenna saiu dos seus braços, ambos alertados pelo som de passos que se aproximavam. Brock virou para enfrentar Nikolai e Renata. Dylan andou além deles para recuperar Corinne e suavemente a conduziu à porta do lado do passageiro aberta do Rover na estradinha.

Niko desajeitadamente limpou a garganta.

—Desculpe interromper, cara, mas precisamos partir. O Rover está quase cheio, e Rio chamou o complexo para mais um par de transportes para buscar o resto das fêmeas. Chase e Hunter já estão a caminho com o transporte adicional.

Brock acenou com cabeça.

—Elas vão precisar de abrigo em algum lugar.

—Andreas e Claire ofereceram abrir sua casa em Newport para todas as prisioneiras. — Renata respondeu. — Rio vai conduzir o outro SUV para lá agora.

—Certo. — Niko acrescentou. — Kade e eu ficaremos aqui com Renata e Alex para limpar a cena e esperar Chase e Hunter chegarem com um veículo extra para as mulheres restantes e um para nosso regresso ao complexo.

—Precisamos de alguém para dirigir o Rover até Newport. — Disse Renata.

Brock estava pronto para se oferecer, mas mal podia suportar a ideia de se separar de Jenna, mesmo que por algumas horas para fazer o trabalho.

Despedaçado, olhou para ela.

—Vá. — Ela disse baixinho.

Ele queria arrastá-la para seus braços e nunca a deixar ir novamente.

—Você ficará bem até eu voltar?

—Sim. Vou ficar bem, Brock. — Seu sorriso era de alguma maneira triste. Suas mãos tremeram quando estendeu a mão para tocá-lo. Ela o beijou, um fugaz passar de lábios através dos dele. — Você não precisa se preocupar comigo agora. Faça o que tem que fazer.

—Temos que partir. — Pressionou Niko. — Este lugar precisa ser limpo antes que qualquer humano curioso comece a fuçar em volta.

Brock com relutância concordou, recuando de Jenna. Ela deu um aceno de cabeça fraco quando ele se afastou outro passo.

Ele virou e andou com passos largos na direção do Rover à espera. Quando estava atrás do volante e começou a dar ré para seguir Rio no outro veículo, uma parte dele não pode menos que sentir como se o beijo puro que Jenna tinha lhe dado não fosse algo mais que adeus.

Levou cerca de uma hora para Jenna e os outros despacharem os Subordinados mortos e limpar a grande casa velha de todos os traços da batalha que tinha ocorrido ali. Hunter e Chase já tinham chegado e levado as últimas prisioneiras resgatadas, deixando um dos SUVs da Ordem para a equipe de limpeza voltar ao complexo.

Jenna tinha trabalhado em silêncio pesado, sentindo-se cansada e esgotada - emotivamente drenada - quando ajudou Alex a enrolar um dos tapetes manchados de sangue e colocá-lo no fundo do veículo da Ordem.

Não podia deixar de pensar em Brock. Não podia deixar de temer que houvesse cometido um erro terrível permitindo que fosse a Newport com Corinne.

Queria desesperadamente chamá-lo e mandá-lo voltar.

Mas tanto como queria reclamá-lo, não podia ser injusta com ele.

Ele tinha ganho um milagre esta noite, e ela nunca sonharia em tentar tirar isto dele.

Com que frequência rezou por uma segunda oportunidade com Mitch e Libby depois que os perdeu? Com que frequência se lamentou que suas mortes não fossem um erro cósmico que podia ser de alguma maneira corrigido? Quantas vezes esperou além de toda a esperança alguma guinada impossível do destino que devolveria o amor que tinha perdido?

Ela se perguntou se agora ainda seria capaz de fazer aquelas orações e pedidos. Sabia que não poderia. Fazer isso seria negar tudo que sentia por Brock, algo até mais impossível que uma reversão miraculosa da morte.

Mas ao mesmo tempo, não podia pedir a Brock para fazer aquele tipo de escolha.

Mesmo se quebrasse seu coração deixá-lo ir.

Uma onda de tristeza se apressou sobre ela com o pensamento. Ela se agarrou no lado da Rover, suas pernas falhando debaixo dela.

Alex estava ao seu lado em um instante.

—Jen, você está bem?

Ela acenou com a cabeça fracamente, sentindo-se repentinamente mais que vazia por dentro. A sua cabeça girou, a visão começou a escurecer.

—Jenna? — Alex se moveu na frente dela e puxou uma respiração aguda. — Oh, meu Deus. Jenna, você está ferida.

Atordoada, olhou para baixo onde Alex abria seu casaco manchado de sangue. Quando a lã grossa se separou, viu a verdade terrível que deixou o rosto de sua amiga branco como uma folha.

A mente de Jenna voltou ao Subordinado que tinha batido nela nas sombras do porão. Ela se lembrou do brilho de algo metálico na sua mão. Uma faca, adivinhou agora, fitando o sangue vermelho que embebia sua camisa e se dirigiu abaixo pelo lado da sua perna, gotejando uma piscina escura na neve abaixo dos seus pés.

—Kade, se apresse! — Alex gritou, pânico subindo na sua voz. — Renata, Niko - alguém, por favor. Jenna está ferida!

Enquanto os outros saíam da casa em resposta, o mundo de Jenna começou a desbotar em sua volta. Ela ouviu seus amigos falando ansiosamente à sua volta, mas não podia manter seus olhos abertos. Não podia impedir que suas pernas dobrassem debaixo dela.

Ela soltou o veículo e a escuridão pesada a puxou para baixo.

A casa de Andreas e Claire Reichen em Newport era uma colmeia de atividade ansiosa quando as Companheiras de Raça resgatadas chegaram naquela tarde e começaram a se instalar na grande propriedade na Baía Narragansett. Brock e Rio foram os primeiros a chegar lá. Hunter e Chase chegaram pouco depois com o resto das antigas prisioneiras e estavam no processo de encaminhá-las ao interior.

—Inacreditável. — Reichen disse para Brock no corredor do segundo andar da mansão de praia. O vampiro alemão e sua Companheira de Raça nascida na Nova Inglaterra viviam na casa só há alguns meses, o par recentemente emparelhado que se mudou para os Estados Unidos depois de sobreviver à sua própria provação nas mãos de Dragos e seus aliados perigosos. — Claire ficou assombrada todo este tempo pelo que vislumbrou, durante sua caminhada nos sonhos, no laboratório de Dragos, mas ver de fato essas mulheres agora, vivas e fora de perigo após todo esse tempo... Cristo, é esmagador.

Brock acenou com a cabeça, ele mesmo ainda sem acreditar.

—Foi simpático da sua parte e de Claire recebê-las.

—Não teria nenhuma outra maneira.

Ambos os machos se viraram quando Claire saiu de um quarto carregando um monte de toalhas dobradas. Pequena e bela, a fêmea de cabelos escuros tinha um brilho sobre ela quando andou com passos largos no corredor e encontrou o olhar fixo de aprovação do seu companheiro.

       — Estive rezando para este dia chegar há muito tempo. — Ela disse, seus olhos marrom profundos deslocando de Reichen para Brock. — Quase não me atrevia a esperar que pudéssemos ter sucesso de fato.

—O trabalho que você e o resto das mulheres da Ordem fizeram está além do admirável. — Ele respondeu, certo que nunca esqueceria a imagem de Jenna e das outras guiando as prisioneiras fora da casa parecendo as animar para o futuro fora da prisão.

Deus, Jenna, ele pensou. Estava na sua mente o tempo todo. O único lugar que queria estar agora mesmo era com ela - a sentir quente e segura nos seus braços.

Ela era a razão porque tinha dirigido em silêncio de Gloucester à Rhode Island, atormentado pelo fato que Corinne estava cochilando no assento de passageiros junto dele - impossivelmente viva, depois de tantos anos - mas cada fibra do que era o puxava inexoravelmente em direção a Boston.

De volta a Jenna.

Mas não podia simplesmente se afastar de Corinne. Ele devia a ela mais que isto. Por causa dele, por causa do seu descuido na proteção dela, foi levada para longe de tudo que conhecia, suportando uma tortura inexprimível nas mãos de Dragos. Por causa dele, sua vida foi partida.

Como podia simplesmente ignorar tudo isto e voltar à felicidade que encontrou com Jenna?

Como se conjurada só pelo peso dos seus pensamentos escuros, sentiu a presença de Corinne atrás dele.

Reichen e Claire não disseram nada, mas ambos olharam para ele, antes de partirem juntos, o deixando em paz para enfrentar o espírito dos seus fracassos passados.

Ela estava banhada e de roupa limpa. Mas Deus, ainda era tão pequena e frágil. A camisa de mangas compridas era grande e a calça colante ficava folgada na sua estrutura muito pequena. Suas faces estavam pálidas e magras. Círculos escuros marcavam embaixo dos - uma vez - olhos brilhantes, em forma de amêndoa.

Com seu cabelo negro preso em um rabo de cavalo longo, podia ver que tinha envelhecido desde que a tinha visto com dezoito anos. Embora a passagem de anos a pusesse nos seus 90 anos agora, Corinne parecia mais próxima dos trinta. Só a ingestão regular do sangue da Raça teria conservado sua juventude, e Brock ficou assustado imaginando as circunstâncias de como essas refeições ocorriam enquanto estava nos terríveis laboratórios de Dragos.

—Jesus, Corinne. — Ele murmurou, se movendo na sua direção enquanto ela permanecia congelada e silenciosa alguns metros longe dele no corredor. — Nem sei por onde começar.

Pequenos cortes e cicatrizes marcavam o rosto tão sem defeito na sua memória. Seus olhos eram ainda exóticos, ainda corajosos quando não estremeceram - nem mesmo com seu escrutínio - mas havia uma aspereza em seu olhar agora. Foi-se a criança brincalhona, a doce inocência. Em seu lugar estava uma sobrevivente tranquila, calculista.

Ele estendeu a mão para tocá-la, mas ela recuou com uma pequena sacudidela de sua cabeça. Ele deixou sua mão baixar, o punho pendurado ao seu lado.

—Ai, Cristo, Corinne. Pode me perdoar?

Suas sobrancelhas delgadas se uniram ligeiramente.

—Não...

Sua negativa baixinha o afetou profundamente. Ele merecia, sabia, e mal podia dizer uma palavra em sua própria defesa. Ele tinha falhado. Possivelmente mais do que se ela estivesse morta todos esses anos. A morte seria melhor que sofrer enquanto estava presa por um bastardo doente como Dragos.

—Sinto muito. — Ele murmurou, determinado a dizer as palavras embora ela sacudisse silenciosamente sua cabeça, sua carranca ficando mais profunda. — Sei que minhas desculpas não significam nada agora. Não modificam nada para você, Corinne... Mas quero que saiba que não teve um dia que não pensei em você e lamentei não estar lá. Lamento que não possa ter trocado de lugar com você, minha vida em vez da sua...

—Não. — Ela disse, a voz mais forte que antes. — Não, Brock. É isto o que pensou? Que eu o culpasse do que me aconteceu?

Ele a fitou, pasmo pela falta de raiva em seus olhos.

—Você tem todo o direito de me culpar. Supunha-se que eu a protegesse.

Seu olhar fixo escuro estava um pouco triste agora.

—Você fez. Não importa o quanto eu fosse impossível, você sempre me mantinha segura.

—Não naquela noite. — Ele a lembrou severamente.

—Naquela noite, não sei o que aconteceu. — Ela murmurou. — Não sei quem me levou, mas não havia nada que pudesse fazer, Brock. Você nunca devia se culpar. Eu nunca quis que pensasse isto.

—Procurei por todos os lugares, Corinne. Durante semanas, meses... Anos depois que tiraram o corpo do rio - seu corpo, pensei - continuei procurando-a. — Ele puxou uma respiração aguda. — Nunca devia tê-la deixado fora da minha vista naquela noite, nem por um segundo. Falhei...

—Não. — Ela disse, sacudindo a cabeça lentamente, seu rosto destituído de qualquer recriminação, completamente tolerante. — Você nunca falhou. Você me mandou de volta ao clube naquela noite porque achava que eu estaria mais segura lá. Como podia saber que eu seria levada? Você sempre fez tudo certo para mim, Brock.

Ele sacudiu a cabeça, assombrado por sua absolvição, humilhado pela resolução em sua voz. Ela não o culpava, e um pouco da pesada culpa que carregava há tanto tempo simplesmente partiu.

Na onda de alívio que fluiu sobre ele, pensou em Jenna, e na vida que queria começar com ela.

—Você está envolvido com alguém. — Disse Corinne, o estudando em silêncio. — A mulher que ajudou a nos salvar hoje.

Ele assentiu, orgulho inchando dentro dele, apesar da dor surda ao ver a jovem - agora a mulher frágil, séria - que Corinne se tornou durante seus anos na prisão de Dragos.

—Você está apaixonado? — Ela perguntou.

Ele não podia negar, não para ela.

—Sim, estou. Seu nome é Jenna.

Corinne sorriu triste.

—Ela é uma mulher feliz. Fico contente que você esteja feliz, Brock.

Esmagado com gratidão e esperança, ele não pode evitar estender a mão para Corinne e puxá-la em um abraço apertado. Ela ficou rija nos seus braços no início, seu pequeno corpo estremecendo como se o contato a assustasse. Mas então ela relaxou ligeiramente, suas mãos se apoiando ligeiramente nas suas costas.

Ele a soltou após um momento e se afastou dela.

—E você? Ficará bem, Corinne?

Ela deu um sorriso débil quando levantou um ombro frágil.

—Tudo o que preciso agora é ir para casa. — Algo vazio e cru, algo que parecia sangrar dentro dela como uma ferida aberta, sombreava seu olhar. — Tudo o que preciso agora é ficar com minha família.

 

O tenente de Dragos tremia enquanto dava as más notícias.

Todas as fêmeas que Dragos tinham reunido por várias décadas em seu laboratório privado - aquelas que tinham sobrevivido às suas experiências prolongadas e exigências geradoras - tinham sido descobertas e resgatadas pela Ordem.

Pior ainda, tinham sido as mulheres da Ordem, não Lucan ou seus guerreiros, que fizeram a descoberta mais cedo naquele dia. A freira Subordinada que tinha servido a ele, primeiro como funcionária disfarçada que o ajudou a localizar as Companheiras de Raça para sua causa, então, mais recentemente, como diretora da sua pequena prisão perto do mar, não tinha conseguido proteger seus interesses. A vaca inútil estava morta, mas não antes que perdesse vinte fêmeas sob seus cuidados.

E agora a Ordem tinha conseguido tirar outro tijolo da base da sua operação.

Primeiro, tiraram sua autonomia, terminando seus anos de poder ilimitado como diretor dentro da Agência de Execução. Então tomaram seu laboratório secreto, invadindo sua sede e o deixando no chão. Depois, mataram o Antigo, embora Dragos provavelmente tivesse matado a criatura mais cedo ou mais tarde ele mesmo.

E agora isto.

Em pé no vestíbulo da suíte do hotel de Dragos em Boston, seu tenente brincava com seu chapéu, o torcendo na frente dele como um pano molhado.

—Não sei como conseguiram encontrar a posição das prisioneiras, senhor. Possivelmente estiveram olhando a casa por alguma razão. Possivelmente foi pura sorte que as levou lá e elas...

O rugido furioso de Dragos silenciou a loquacidade imediatamente. Ele se arqueou no sofá de seda, seu braço se estendendo para atacar um delicado vaso cristalino de orquídeas apoiado num pedestal próximo. A peça explodiu contra a parede e quebrou, espalhando vidro, água e pedaços de flores em todas as direções.

Seu tenente engasgou de susto e pulou para trás, batendo suas costas contra a porta fechada. Seus olhos estavam quase pulando da sua cabeça, o rosto murcho com medo. Sua expressão ficou ainda mais cheia de terror quando Dragos se abateu sobre ele, fervendo de raiva.

Naqueles olhos terrificados, arregalados, viu a lembrança de seu tenente de uma ameaça que Dragos tinha feito nesta mesma sala de hotel somente uma semana antes.

—Senhor, por favor. — Ele sussurrou. — A Subordinada falhou hoje, não eu. Sou só responsável pela mensagem, não pelo erro.

Dragos não se preocupou com nada disto. Sua raiva era muita para ser controlada agora. Com um grito de guerra animal, direcionado mais para Lucan e seus guerreiros, que para o peão insignificante que estava tremendo na frente dele agora, ele levou seu punho atrás e socou forte no peito do vampiro. Ele passou pela roupa, pele e ossos como um martelo e arrancou fora o órgão que batia freneticamente preso no interior.

O tenente morto caiu aos seus pés. Dragos olhou para ele, seu punho fechado embebido por sangue e derramando uma cascata escarlate sobre o cadáver e o carpete branco em volta dele.

Dragos lançou o coração do vampiro como lixo, então jogou sua cabeça para trás e berrou, sua fúria vibrando no ar em volta dele como um trovão.

—Descarte este lixo. — Ele rosnou ao par de assassinos que assistiam em silêncio do outro lado da suíte do hotel.

Ele foi para o banheiro esfregar o ofensivo sangue das suas mãos, se acalmando com o conhecimento que, embora a Ordem conseguisse outro golpe contra ele hoje, ainda tinha a vantagem. Uma pena que não percebessem isso ainda.

Mas em breve, iriam.

Tinha a Ordem praticamente na mira agora.

E estava mais do que pronto para puxar o gatilho.

Quando Jenna despertou, fitou o teto do hospital do complexo. Pestanejou lentamente, esperando sentir a dor da cauterização da ferida de faca no seu lado. Em vez disso, sentiu um toque quente passando ternamente ao longo do seu braço.

—Ei. — Disse a voz profunda, aveludada que esteve ouvindo no seu sono. — Estive esperando você abrir esses bonitos olhos.

Brock.

Ela virou a cabeça no travesseiro e ficou impressionado ao vê-lo sentado ao lado dela na cama. Parecia tão bonito, tão carinhoso e forte. Seu olhar castanho escuro a absorvia, a boca sensual curvada com somente os traços mais simples de um sorriso.

—Eles me chamaram em Newport e contaram sobre sua lesão. — Ele disse, logo exalou uma maldição suave. — Vi o sangue em você fora da casa da Subordinada, mas não sabia que era seu, Jenna. Não pude voltar rápido o bastante para me assegurar que estava bem.

Ela sorriu para ele, seu coração voando por estar perto dele novamente, mesmo enquanto temia ser feliz, incerta se tinha voltado só para ajudá-la a se curar.

—Como está se sentindo, Jenna?

—Bem. — Ela respondeu, e percebeu naquele momento que de fato se sentia muito bem fisicamente. Ela sentou e moveu o lençol e a manta que a cobriam. A ferida profunda e feia que deveria estar baixo da costela não era nada mais que uma pequena cicatriz, a ferida que sangrou tão profusamente agora tinha sumido. — Quanto tempo fiquei desacordada?

—Algumas horas. — A expressão de Brock suavizou enquanto olhava para ela. —Você surpreendeu a todos, em particular Gideon. Ele ainda está tentando compreender o que está acontecendo com sua fisiologia, mas parece que seu corpo está aprendendo a se curar. Regeneração adaptável, acho que ele chamou assim. Ele diz que quer fazer mais testes, tentar determinar se a regeneração também poderia comprimir o envelhecimento das suas células dentro de algum tempo. Parece achar que há uma boa chance de isto estar acontecendo.

Jenna sacudiu sua cabeça, assombrada. Também ironicamente divertida.

—Sabe, estou começando a achar que poderia ser divertido ser um cyborg.

—Não me importa o que você seja. — Ele respondeu sobriamente. — Estou contente por você estar bem.

No silêncio que se estendeu entre eles, Jenna mexeu na borda do lençol.

—Como estão as outras mulheres - as Companheiras de Raça que resgatamos?

—Estão se instalando todas na casa de Reichen. Será um caminho longo para muitas delas, mas estão vivas e Dragos não pode tocá-las novamente.

—Isto é bom. — Ela respondeu calmamente. — E Corinne?

O rosto de Brock ficou sério.

—Ela foi e voltou do inferno. Quer ir para a casa de sua família em Detroit. Diz que há coisas das quais tem que cuidar lá atrás, no seu passado, antes que possa pensar no seu futuro.

—Oh. — Jenna disse.

Ela entendia como Corinne se sentia. Esteve pensando muito em seu próprio passado, também, e nas coisas que tinha deixado inacabadas no Alasca. Coisas que foi muito covarde para enfrentar antes, mas que agora se sentia pronta para confrontar logo que fosse capaz.

Desde o resgate hoje, esteve pensando em seu futuro, também. Era impossível imaginar Brock fora da equação, especialmente agora que olhava seu bonito rosto, sentindo o calor e conforto do seu olhar escuro e seu doce toque.

—Corinne me pediu para levá-la para casa. — Ele disse, as palavras rasgando no seu coração.

Ela conteve a resposta egoísta que imploraria que ele não fosse. Em vez disso acenou com cabeça, logo deixou escapar as coisas que sabia que ele teria que ouvir.

As coisas que o aliviariam de qualquer culpa sobre o que tinham compartilhado juntos ou as promessas sensíveis que ele tinha feito antes que soubesse que seu antigo amor seria entregue nos seus braços.

—Brock, quero agradecer por me ajudar do modo que fez. Você salvou minha vida - mais de uma vez - e foi o homem mais gentil, mais sensível que já conheci.

Ele franziu, abrindo seus lábios como se fosse dizer algo, mas ela o interrompeu.

—Quero que saiba que estou agradecida pela amizade que me deu. E mais que tudo, estou agradecida pelo modo como me mostrou que posso ser feliz novamente. Não pensei que alguma vez seria, não realmente. E nunca pensei que seria capaz de me apaixonar novamente...

—Jenna… — Ele disse, sua voz ríspida, sua carranca sombria ficando mais profunda.

—Sei que tem que ir com Corinne. Sei que não posso te dar nenhuma das coisas que ela pode, como Companheira de Raça. Nunca poderemos ter filhos, ou um vínculo de sangue. Há uma boa chance de não termos nada próximo do tempo que será capaz de compartilhar com ela. — Ele sacudiu a cabeça, murmurou uma maldição baixa, mas ela não podia parar até dissesse tudo a ele. — Quero que vá com ela. Quero que tenha sua segunda chance...

—Pare de falar, Jenna.

—Quero que seja feliz. — Ela disse, ignorando sua exigência tranquila. — Quero que tenha tudo que merece em uma companheira, mesmo se isto significar ficar sem você.

Ele finalmente a silenciou com um beijo duro, pondo sua mão na base de seu pescoço e puxando-a contra ele. Ele recuou, prendendo seu olhar em um olhar apaixonado e possessivo.

—Pare de dizer o que tenho que fazer. — Ele a beijou novamente, mais suave agora, sua boca cobrindo a dela, a língua exigindo entrada. Ela sentiu seu desejo, e a emoção que parecia dizer que ele nunca quis deixá-la. Quando finalmente a soltou, seus olhos escuros resplandeciam com faíscas ambarinas. — Por um maldito segundo, Jenna, deixe alguém mais estar no comando.

Ela o fitou, apenas se atrevendo a esperar que soubesse para onde se dirigia.

—Estou apaixonado por você. — Ele sussurrou ferozmente. — Eu amo você, e não dou a mínima se é humana, cyborg, alien, ou alguma combinação confusa dos três. Amo você, Jenna. Quero que seja minha. Você é minha, maldição. Se tivermos apenas um punhado de décadas juntos, ou algo mais próximo a para sempre. Você é minha, Jenna.

Ela puxou uma respiração irregular, superada com alegria e alívio.

—Oh, Brock. Te amo tanto. Pensei que o tinha perdido hoje.

—Nunca. — Ele disse, fitando profundamente seus olhos. — Você e eu, somos parceiros. Parceiros em tudo agora. Sempre guardarei suas costas, Jenna.

Ela riu num soluço, e deu um aceno de cabeça trêmulo.

—Você sempre guardará meu coração.

—Sempre. — Ele disse, logo a puxou nos seus braços para um beijo profundo, interminável.

 

As botas de Jenna trituraram a neve iluminada pela lua quando pisou no pedaço de chão consagrado, apenas fora da aldeia muito pequena de Harmony, no Alasca.

Foi a um par de dias que despertou no hospital do complexo, totalmente curada da ferida do golpe que tinha recebido durante o resgate das Companheiras de Raça cativas.

Só um par de dias desde que ela e Brock tinham prometido passar seu futuro juntos como amantes, companheiros... Parceiros.

—Está segura que está pronta para fazer isto? — Ele perguntou, envolvendo seu braço forte em volta dos seus ombros.

Ela sabia que ele odiava o frio deste lugar, mas tinha sido aquele a sugerir a viagem para o norte. Foi paciente e compreensivo, e sabia que ficaria aqui fora com ela para sempre se achasse que ela precisava de mais tempo. Sua respiração emitiu vapor no ar da noite frígido, seu bonito rosto solene, mas reconfortante dentro do capuz profundo de sua parka.

—Estou pronto. — Ela disse, lançando um olhar nebuloso para o pequeno cemitério que se esticava sonolento diante dela. Retorcendo seus dedos enluvados, andou com ele na direção do canto mais distante da trama, onde um par de marcadores de granito estavam ombro a ombro na sua manta grossa de neve.

Estava preparada para a onda da emoção que a inundou quando ela e Brock se aproximaram das sepulturas de Libby e Mitch pela primeira vez, mas ainda levou embora sua respiração. Seu coração apertou, sua garganta contraiu, e por um momento, não estava segura se teria forças para fazer isto, afinal.

—Estou assustada. — Ela sussurrou.

Brock apertou sua mão, sua voz grave e suave.

—Você consegue. Estarei aqui logo ao seu lado o tempo todo.

Ela olhou para seus olhos constantes, escuros, sentindo que seu amor a envolvia, emprestando sua força. Ela acenou com a cabeça, logo continuou andando, seu olhar molhado fixo nas letras gravadas que faziam tudo parecer tão irrefutável.

Tão cru e verdadeiro.

As lágrimas começaram a cair no momento que caminhou para frente das pedras angulares. Soltou a mão de Brock e se aproximou, sabendo que teria que fazer esta parte sozinha.

—Oi, Mitch. — Ela murmurou calmamente, ajoelhando na neve. Ela colocou uma das duas rosas vermelhas que trouxe com ela na base do seu marcador. A outra - presa por uma faixa rosa a um pequeno urso de pelúcia - ela pôs cuidadosamente perto da lápide menor. — Olá, sweetpea .

Por um longo momento, ficou ali, escutando o vento soprar pelos pinheiros boreais, seus olhos fechados com lágrimas enquanto se lembrava dos tempos felizes com seu marido e filha.

—Oh, Deus. — Ela sussurrou, embargada pela emoção. — Sinto tanto. Sinto tanta falta de vocês.

Não podia reter a dor. Fluía em grandes soluços feios - toda a dor retida e culpa que esteve mantendo trancada dentro dela desde a noite do acidente.

Nunca foi capaz de sentir esta purgação antes. Tinha muito medo. Estava muito zangada pela dor para deixá-la ir.

Mas não podia pará-la agora. Sentiu a presença firme de Brock atrás dela - sua corda de segurança, seu porto seguro no meio da tempestade. Ela se sentia mais forte agora, segura.

Ela se sentia amada.

Mais miraculoso para ela, se sentia digna de ser amada.

Com mais palavras murmuradas de adeus, tocou cada uma das lápides, então lentamente se levantou.

Brock estava logo ali, seus braços abertos esperando para pegá-la num abraço sensível. Seu beijo era doce e suave. Ele olhou nos seus olhos, os dedos leves quando tirou suas lágrimas.

—Você está bem?

Ela acenou com a cabeça, se sentindo mais leve apesar do nó que ainda subia na sua garganta. Ela se sentia pronta para começar um novo capítulo na sua vida. Pronta para começar seu futuro com o macho da Raça extraordinário que amava com todas as partes restantes do seu coração.

Fitando os olhos quentes de Brock, ela estendeu a mão, deslizando sua mão na dele.

— Estou pronta para ir para casa agora.

 

                                                                                Lara Adrian  

 

                      

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