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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CITY OF THE DEAD
CITY OF THE DEAD

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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[18]
Tentando não respirar muito fundo, Leon alcançou os pés da escada de metal e girou rapidamente, mirando sua
arma no escuro. Água molhou suas botas enquanto seus olhos se ajustavam à baixa luz, e viu a origem do
terrível cheiro.
Partes dele, na verdade...
O túnel continuava à sua frente e estava forrado com corpos humanos feitos em pedaços. Membros, cabeças,
troncos estavam espalhados aleatoriamente pelo túnel de pedra, balançando gentilmente pelos centímetros de
água que cobriam o chão.
"Leon? Como está aí?". A voz de Ada desceu pelo círculo de luz no topo da escada, ecoando. Leon não
respondeu, seu olhar chocado fixado na terrível cena, sua mente tentando juntar as partes e trazer um número.
Quantos? Quantas pessoas?
Muitas para contar. Ele viu uma cabeça sem face, o longo cabelo cobrindo-a. O tronco de uma mulher, o seio
emerso na escura água. Um braço envolvido nos farrapos de uma camisa de policial. Uma perna, ainda usando
um tênis. Uma enrolada mão, os dedos lisos e brancos.
Uma dúzia? Vinte?
"Leon?". O tom de Ada enfatizou.
"É - parece bem". Ele disse, forçando para não alterar a voz. "Nada se move".
"Estou descendo".
Ele se afastou da escada para dá-la espaço, lembrando de algo que ela disse antes, sobre corpos sendo
jogados...
Ada desceu da escada. Os olhos dele tinham se ajustado bem o bastante para ver o olhar de nojo no rosto dela -
nojo e o que parecia tristeza.
"Houve um ataque na garagem". Ela disse suavemente. "Quatorze ou quinze pessoas morreram...".
Franzindo, ela passou por Leon para olhar os resto de perto. Quando falou de novo, parecia preocupada.
"Eu não vi o ataque, mas não acho que foram despedaçados desse jeito".
Ela olhou para cima, vendo o teto do túnel, apertando sua 9mm. Leon seguiu seu olhar, mas só viu o tom
esverdeado das pedras. Ada balançou a cabeça, olhando de volta para o mar de carne.
"Os - zumbis não fizeram isso. Algo pegou essas pessoas depois de mortas".
Leon sentiu um calafrio subir sua espinha. Era a última coisa que queria ouvir naquele lugar.
"Então não é seguro aqui. Nós devemos voltar e -".
Ada seguiu em frente, passando pelos pedaços, os movimentos da água parecendo mais altos no quieto túnel.
Droga, ela ignora todo mundo ou só eu?
Olhando onde pisava, Leon a seguiu, erguendo o braço para tocar o ombro dela. "Pelo menos eu vou na frente,
#
tá?".
"Tá Bom,". Ela disse. "Abra caminho".
Ele passou por ela e continuou, tentando dividir a atenção entre a escuridão à frente e os pedaços de corpos e
ossos abaixo. Bem à frente, o túnel virava à direita, e tinha alguma luz refletida na oleosa superfície da água, a
passagem estava mais clara e com menos corpos.
Leon parou a tempo o bastante para empunhar a Remington e verificar se estava carregada. Seja lá o que tinha
pego os corpos não parecia estar por perto, mas ele não queria estar despreparado.
Ada esperou sem falar, apesar dele conseguir sentir sua impaciência. Ela era tão calma quanto um soldado
veterano, demonstrando nada mais além de ansiedade para acabar logo com isso - e se ela gosta de sua
presença, deve estar fazendo muita força para não demonstrar. Não que ele queira a gratidão dela -
- mas a maioria das pessoas gostariam da presença de um policial, não é? Mesmo sendo um novato?
Talvez não, e essa não é a hora e lugar para começar a fazer perguntas. Leon começou a andar de novo,
passando por cima de um pedaço mastigado de carne que não podia identificar.
"Pare". Ada cochichou. "Ouça".
Leon obedeceu, Remington em uma mão, VP70 na outra. Ele inclinou a cabeça para ouvir, mas só percebeu um
distante gotejar -
- e uma suave pancada, como martelos abafados numa superfície forrada. Estava se aproximando, vindo do
túnel que virava logo à frente.
Por que a água não respinga, por que não ouvimos água - ?
Leon recuou um passo, erguendo ambas as armas, lembrando como Ada tinha olhado para o teto antes -
- e viu, viu e sentiu seu coração parar em meia batida. Uma aranha do tamanho de um cachorro grande,
andando pelas paredes, mexendo suas arrepiadas pernas peludas -
- impossível -
- e de repente houve uma série de ensurdecedoras explosões próximas ao seu ouvido direito,
bam-bam-bam-bam, o cano da Beretta de Ada brilhando enquanto ativava. Os ecos golpearam pelo escuro
enquanto o gigante aracnídeo pulava da parede, mergulhando na tingida água.
A aranha engatinhou na direção deles, ferida, arrastando duas de suas pernas, escuros fluídos escorrendo pelo
seu grotesco e arredondado corpo. Ela passou por cima de uma cabeça, o crânio escapando abaixo de seu
abdômen inchado, e Leon pôde ver seus brilhantes olhos negros, cada um do tamanho de uma bola de ping-pong
--
e ele atirou com a Remington, mal sentindo o poderoso tranco da arma, sua concentração voltada para o
aracnídeo. O tiro explodiu a face alien em pedaços. A aranha virou de papo para o ar, suas grossas pernas
tremendo, curvando-se ao redor de seu corpo peludo.
Seus ouvidos apitando, seu coração pulando, Leon carregou outra bala, sua mente não só dizendo que tinha
matado uma aranha daquele tamanho, mas que seu físico estava errado, suas pernas não agüentariam tamanho
peso -
- Ada passou por ele, correndo, gritando para ele.
"Vamos, podem haver mais vindo!".
Leon correu atrás dela, seu choque contido pelo rápido comportamento de Ada - pulando sobre os pedaços de
carne e da aranha que só passou a existir depois que chegou a Raccoon.
"Solte a arma". Irons pediu, e a garota obedeceu, hesitando por um segundo. A Browning foi ao chão e Irons
teve que resistir ao desejo de rir de novo, pelo quanto estúpida ela agia. A assassina da Umbrella com certeza
ficou louca, entrando em seu santuário como se fosse dona do lugar - essa atitude lhe custou o jogo.
"Vire-se devagar - e mantenha as mãos onde eu possa vê-las". Ele disse, ainda sorrindo. "Oh, que gloriosa e fácil
conquista! A Umbrella o subestimou pela última vez.
Novamente, a garota fez o que ele pediu, virando devagar, de mãos vazias e abertas. O olhar em sua face não
tinha preço, suas expressões fixadas como uma máscara de medo e choque; ela não esperava por isso, ela
achava que seria fácil dar um fim em Brian Irons. Depois de tudo, ele era um homem quebrado, uma sombra de
seu antigo eu, sua cidade e sua vida tirada -
"Errada, não estava?". Ele disse, sentindo o humor vazando da situação, sentindo a raiva borbulhar novamente.
Ele manteve a VP70 mirada na ridícula e jovem face dela; insultando, que eles mandaram uma criança para seu
#
serviço sujo. E bonitinha...
"Calma, Chefe Irons". Ela disse, e mesmo bravo, ele gostou de ouvir a tensão em sua opressiva voz, o pico do
medo sob seu inútil apelo. Ele vai adorar isso, mais do que imaginava...
... mas primeiro, algumas respostas.
"Quem te mandou? Foi Coleman, do quartel general? Ou suas ordens vêm dos superiores... alguém da comissão,
talvez? Não há mais motivos para mentir".
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão. "Eu - eu nem sei do que está falando. Por favor, deve
haver algum engano -".
"Oh, um engano, tá bom". Irons cuspiu. "E você o cometeu. Há quanto tempo a Umbrella está me observando?
Quais foram as suas ordens, exatamente - onde você deveria ter me matado, a Umbrella quis que eu sofresse
um pouco antes?".
A garota não respondeu por um momento, provavelmente tentando decidir o quanto dizer a ele. Ela era boa,
suas expressões cautelosamente montadas para mostrar somente um medo confuso, mas ele enxergava
através disso.
Ela foi pega, deve saber que não a deixarei viver e está tentando esconder a verdade. Jovem mas bem treinada.
"Eu vim para Raccoon atrás do meu irmão". Ela disse devagar, seus bem abertos olhos cinzas fixados na arma.
"Ele estava com o S.T.A.R.S. e eu só -".
"S.T.A.R.S.? É o melhor que você pode fazer?". Irons riu mais, balançando a cabeça. O S.T.A.R.S. de Raccoon
fugiu logo depois que as coisas foram para a merda - e pelo que ele ouviu falar, a Umbrella já tinha "convertido" a
organização para seus propósitos, estavam trabalhando para eliminar aqueles que cruzassem o caminho. Essa
desculpa não funcionava.
Mas há algo...
Ele estudou os olhos. "E quem é o seu irmão?".
"Chris Redfield, você conhece - eu sou Claire, a irmã dele, e eu não sei nada sobre o que a Umbrella fez e não fui
mandada para matá-lo". Ela disse rápido.
Ela se parecia com Redfield, pelo menos os olhos... Chris era um pomposo e desrespeitoso, que o desafiou
abertamente várias vezes; de fato -
"Redfield estava trabalhando para a Umbrella, não estava?". Mesmo dizendo alto, Irons pôde ver que era
verdade - e sua raiva subiu como uma maré vermelha, um calor ácido que desceu por suas veias fazendo-o
enjoar.
Até os meus empregados, todo o tempo. Fantoches traidores da Umbrella.
"A mansão de Spencer, as acusações contra a Umbrella... foi tudo armado, eles vinham provocando problemas
para - para me distrair, para então poderem roubar o vírus de Birkin...".
Irons deu um passo até a garota, sem precisar de força para puxar o gatilho, contrariando seus planos. A garota,
Claire, recuou, de braços para cima, de mãos abertas como para se proteger de sua fúria.
"Foi como o S.T.A.R.S. soube quando sair da cidade. Eles foram alertados para sair antes do vazamento do
T-virus!".
Ele deu mais um passo até ela, mas Claire parou, seus olhos mais abertos. "Então Chris não está aqui?".
Seu pequeno e esperançoso suspiro só alimentou o calor vermelho que pulava dentro de Irons - os sentimentos
eram tão poderosos que transcendiam raiva, focando suas intenções em algo brutal e preciso. Não era suficiente
ter sido traído pela Umbrella e pelo S.T.A.R.S., ter sido manipulado, atormentado, caçado -
Não, não. Eu fui enganado por essa garota, uma espiã assassina de uma família de traidores. Uma vida devotada
ao serviço, experiências, sacrifícios pessoais, e essa é a minha recompensa?
"Um tapa na cara". Ele disse, sua voz tão fria quanto essa nova selvageria que o enchia, o transformava num
caçador. "Tratando-me como um idiota. Você nem tem respeito o bastante para mentir bem".
Ele estendeu a 9mm e andou na direção dela, cada passo calculado e deliberado - e o medo dela era real desta
vez, ele riu do modo como ela recuava, seus trêmulos lábios. Ela estava apavorada, tentando achar uma arma,
observá-lo, fugir, tudo ao mesmo tempo, mas sem sucesso enquanto ele marchava.
"Eu tenho o poder,". Ele disse. "esse é o meu santuário, esse é o meu domínio. Você é a invasora. Você é a
mentirosa, você é o mal - eu vou tirar a sua pele viva. Eu te farei gritar, sua vagabunda, você vai desejar nunca
#
ter nascido. Seja lá quanto te pagaram, não foi o bastante".
Ela recuou até bater numa estante, tropeçando na perna da mesa, quase caindo no alçapão no canto da sala.
Irons a seguia, sentindo aquele bonito e excitante poder, sentindo prazer com a indefesa.
"Por favor, você não quer fazer isso, eu não sou quem você pensa!".
A patética súplica o fez parar e rir, querendo dá-la mais terror, querendo mostrá-la que seu controle era absoluto.
Ela estava encurralada entre um armário e o alçapão, e Irons ficou a uma distância segura, adorando o pânico
nos olhos dela - o pânico de um animal emboscado...
Irons lambeu os lábios, seu faminto olhar viajando por suas suaves formas. Outro troféu, outro corpo para
transformar... e é hora de trabalhar, de -
"Graaagh!".
Mas que -
A tampa que cobria o poço voou pelo ar, partindo com um tremendo crack, um pedaço atingindo a coxa de
Irons. Ele ficou assustado sem entender - ele estava no controle e mesmo assim algo deu errado, horrivelmente
errado -
Algo enrolou em seu calcanhar, algo que apertava tão forte que ouviu os ossos sendo esmagados, a afiada dor
subindo por sua perna -
- e ele travou o olhar com o da garota, de olho brilhando com um novo terror, e nesse instante de contato, de
claridade, ele quis tanto dizer que era um bom homem, um homem que nunca mereceu nada do que aconteceu -
- e aquilo sacudiu, e Irons estava caindo, derrubando a arma, puxado para o poço pelo grito, a dor e a besta que
o esperava lá embaixo.
[19]
Num minuto, Irons estava de pé na frente dela, olhando em seus olhos com uma terrível tristeza -
- no outro, ele se foi. Puxado para um buraco no chão por um braço musculoso e com garras, saindo de visão,
junto com Irons.
Houve outro grito da criatura, um poderoso ruído que ganhou intensidade e superou o de Irons. Estática, Claire só
pode ouvir, choque, alívio, medo enquanto os choros saiam do buraco, acertando seus ouvidos no pequeno e frio
calabouço que Irons tinha criado -
- até que os gritos cessaram, só um ou dois segundos depois - e os barulhos de carne sendo mastigada
começaram.
Claire se moveu. Ela pegou a arma de Irons e correu pela mesa no centro da sala.
Ele ia me matar e aquilo o matou -
A realidade do que ia acontecer e do que aconteceu a atingiu, fazendo de suas pernas borracha. Claire forçou
mais alguns passos para trás até encostar na úmida parede de pedra, suspirando.
Ele tinha planejado matá-la, mas não de uma vez. Ela viu como o malvado olhar dele passou pelo seu corpo,
ouviu a ansiosa antecipação em sua maluca risada -
Houve um suave ronco vindo do buraco, um som bestial, o ronco de um leão bem alimentado. Claire virou,
erguendo a arma -
- e algo explodiu do buraco, algo com braços debatendo, e Claire atirou. Uma garrafa na prateleira espatifou
enquanto a coisa acertou o chão -
- e era Irons, mas só metade dele. Ele foi dividido, cortado em dois pela coisa que o tinha pego; tudo abaixo da
cintura se foi, fiapos de pele rasgada e músculos pendurados sobre a piscina de sangue que substituía suas
pernas.
Claire recuou para a porta, ainda apontando para a abertura - e ouviu a criatura, o monstro gritar de novo, um
eco que desapareceu, caindo a uma distância que não podia imaginar. Um segundo depois, ela não o ouvia mais;
#
tinha ido embora.
O monstro de Sherry. Era o monstro de Sherry.
Claire foi vagarosamente até o corpo do Chefe Irons, na direção do escuro buraco - mas não era todo escuro. Ela
pôde ver luz vindo de algum lugar, o bastante para ver que havia outro andar lá embaixo, o que parecia uma
passarela gradeada de metal - e uma escada de mão.
Um sub-subsolo... uma saída?
Ela se afastou da abertura, seus pensamentos fluindo desorganizadamente, tentando absorver o que Irons tinha
dito. Chris não estava em Raccoon, os S.T.A.R.S. se foram - um bom e ruim alívio, pois significava que ele estava
bem, mas não salvaria o dia. Houve um vazamento na Umbrella que ao menos explicava os zumbis - mas e o
que disse sobre Birkin, o vírus de Birkin... é pai de Sherry?
É - talvez os zumbis sejam o resultado de algum acidente, mas e o Mr. X e os homens do avesso?
O modo como Irons falou sobre a Umbrella, sugere que a companhia farmacêutica não era uma vítima inocente.
"Como ele o chamou?".
"T-virus". Ela cochichou, e tremeu. "Tinha o novo vírus de Birkin e tinha o T-virus...".
A doença zumbi tinha um nome. Mas você não nomeia algo a não ser que saiba algo sobre ele, o que significa -
- que ela não sabia o que significava. Tudo o que sabe é que Sherry precisava sair de Raccoon e o sub-subsolo
podia ser a saída. Devia ter uma saída, o monstro dever ter ido para algum lugar...
... e você quer seguí-lo com Sherry? Ele pode voltar - e se realmente estiver atrás de Sherry...
Pensamento infeliz - tal como voltar para as ruas. E a delegacia já está infestada por Deus sabe lá o que. Claire
checou o clip da arma de Irons, contando dezessete balas.
Ela respirou fundo, voltando a si, e olhou para os restos do chefe da polícia. Era um modo ruim de morrer, mas
não conseguiu sentir pena. Ele estava pronto para amarrá-la e torturá-la, ele riu ao implorar por sua vida, e agora
está morto; ela não estava feliz, mas também não derramaria lágrimas. Seu único sentimento sobre isso era o de
que deveria cobri-lo antes de trazer Sherry; a menina já viu violência o bastante para uma vida.
Nós, Claire pensou, e começou a procurar algo para esconder Chefe Irons.
Leon a alcançou no frio e industrial corredor que dava na entrada do esgoto, alguns degraus acima do subsolo
inundado. Ela tinha corrido na frente para posicionar as chaves de acesso ao esgoto, sem querer explicar muito
como as achou; ela só teve o trabalho de jogá-las na sala da caldeira antes que os passos dele tocassem os
degraus de metal atrás dela
Pelo menos eu não finjo estar com falta de ar...
Ada pôde ver no olhar dele que deveria suavizar as coisas; ela começou a falar na hora em que ele pisou no
corredor.
"Desculpe ter corrido". Disse oferecendo um sorriso assustado. "Eu odeio aranhas".
Leon franziu, estudando-a, e ela percebeu que deveria explicar melhor. Ela deu um passo até ele. Mantendo olho
no olho, jogando a cabeça para trás, a fim de enfatizar a diferença de altura; era pouca, mas na experiência dela,
homens respondiam bem às pequenas coisas.
"Acho que só estou com pressa em sair daqui". Ela disse rápido, perdendo o sorriso. "Espero não o ter
preocupado".
Ele derrubou o olhar antes de demonstrar interesse. Ela ficou mais surpresa quando ele recuou.
"Bom, você me preocupou. Não faça de novo, tá? Eu posso ser pouco de um policial, mas eu estou tentando - e
só Deus sabe o que encontraremos aqui".
Ele olhou para ela de novo, falando suavemente. "Eu vim com você porque eu quero ajudar, eu quero fazer o
meu trabalho - e eu não posso fazê-lo se você sair na frente. Além disso,". Ele complementou, sorrindo um
pouco. "se você correr, quem vai me ajudar?".
Foi a vez de Ada desviar o olhar. Ela forçou um sorriso. "Eu farei o possível".
Leon acenou e virou para olhar o lugar, acabando com a conversa - para o alívio de Ada. Ela estava incerta sobre
o que pensar sobre ele, mas estava desconfortável com seu respeito por ele estar crescendo; nada bom
considerando a situação.
Não havia muito o que ver no úmido corredor; duas portas. A sala da caldeira, onde jogou as chaves - ou plugs,
#
de preferência, estava bem à frente. A outra dava num depósito, segundo a placa na parede.
Ada seguiu Leon para a mais próxima, o depósito. Lá não havia nada de importante. Caixas, uma mesa, um baú,
mas pelo menos nenhuma aberração. Depois de uma rápida procurada eles voltaram para o corredor e foram
para a sala da caldeira.
"Como você aprendeu a atirar daquele jeito, afinal?". Leon perguntou e parou na frente da porta. Seu tom parecia
casual. "Você é muito boa. Você esteve no exército ou algo...?".
Boa tentativa, policial.
Ada sorriu, incorporando seu personagem. "Paintball, acredite ou não. Eu também ia no tiro-ao-alvo com meu tio,
mas nunca me aprofundei muito. E então, há alguns anos, um amigo do trabalho - nós éramos compradores em
uma galeria de arte de Nova Iorque - ele me levou para um daqueles fins de semana de sobrevivência e nós
demos uns tiros. Você sabe, caminhada, escalada, coisas do tipo - e paintball. É ótimo, nós íamos a cada dois
meses... eu nunca pensei que fosse usar isso de verdade".
Ela pôde vê-lo acreditar, ver que ele queria acreditar. Mas deve ter respondido algumas perguntas que queria
fazer.
"É, você é melhor do que alguns colegas meus da academia. É sério. Então, você está pronta para continuar?".
Ada acenou. Leon empurrou a porta, olhando o velho e enferrujado maquinário antes de entrar. Ada não olhou
para baixo, querendo que ele achasse o pacote amassado que havia colocado momentos atrás.
A sala era em "H", corrimãos cercavam as duas grandes caldeiras em cada lado. As fluorescentes que ainda
funcionavam criavam estranhas sombras nas paredes infiltradas. A porta que levava ao sistema de esgoto estava
no lado oposto, à esquerda, ao lado de um painel.
"Ei -". Leon se agachou, pegando os plugs que abririam a porta. "Parece que alguém derrubou algo...".
Antes que Ada pudesse perguntar o que tinha achado, ela ouviu um barulho. Um suave rastejo vindo do canto
oposto direito da sala.
Leon se levantou rapidamente, soltando os plugs e erguendo a espingarda. Ada apontou sua Beretta, lembrando
como a porta estava encostada antes de colocar os plugs no chão.
Droga, o implante.
Ela sabia antes mesmo de aparecer. A coisa tinha crescido, e bem rápido, vinte vezes seu tamanho em alguns
minutos - e ainda estava crescendo, exponencialmente.
A aparência também estava mudando. Não era mais aquela medusa que rasgou Bertolucci. A calda se foi, e a
criatura que rastejava pelo chão enferrujado agora tinha membros. Garras saiam de sua lisa pele acompanhada
pelo som de cartilagem sendo perfurada. Musculosas pernas se desenrolaram e o rastejar se tornou mais suave,
quase felino -
A espingarda e a Beretta soaram ao mesmo tempo. A criatura ainda mutava quando os tiros deformaram sua
carne. Em resposta, a coisa vomitou, um ronco que lançou um projétil de apodrecida bile verde -
- que caiu no chão e começou a se mexer. Aquilo estava vivo - e as onze ou doze criaturinhas que surgiram
pareciam saber exatamente onde a ameaça estava. Os animais multi-pernas rastejaram na direção de Ada e
Leon enquanto o implante dava um passo.
"Eu pego eles". Ada gritou, já atirando no mais próximo. Eles eram rápidos, e Ada mais ainda; ela apontou e
atirou, explodindo os bebês monstro em uma fonte de escuros fluídos.
Leon atirava de novo e de novo com a espingarda, mas Ada não podia ver como o monstro mãe estava. Cinco
dos rastejantes restando e só três balas -
- e ela ouviu a espingarda ir ao chão, ouviu tiros de revólver enquanto matava dois dos pequenos antes da arma
clicar.
Sem parar para pensar, Ada soltou a Beretta e foi para o chão. Ela pegou a espingarda pelo cano, se agachou e
desceu a arma, bem forte. Dois dos bichos viraram pasta com o impacto - mas o terceiro e último saltou em uma
inesperada propulsão -
- e pousou na coxa dela, agarrando com garras afiadas como agulhas. Ada soltou a espingarda, gritando
enquanto o animal subia sua perna, o quente e úmido peso dele fazendo-a frenética de nojo.
Sai, SAI -
Ela caiu para trás, estapeando a criatura que já estava em seu ombro, rastejando para seu rosto, para sua boca
--
e Leon a agarrou, erguendo-a com uma mão enquanto arrancava o bicho com a outra.
#
Ada se agarrou nele para não cair e o animal aderiu forte ao tecido do vestido. Leon tinha um bom tato e
arrancou o bicho, gritando enquanto arremessava-o pela sala.
"O revólver!".
A arma estava presa no cinto de Leon. Ada a liberou, vendo que o bicho tinha caído perto da mãe, morta por
Leon -
- e atirou, tentando um tiro certeiro apesar de seu desequilíbrio, assustada pelo quanto perto esteve de ser
implantada. A bala ressoou no chão, lascas enferrujadas respingaram - e a criatura explodiu contra a parede de
trás. Estourada.
Nada se mexeu e os dois ficaram parados, encostados um no outro como sobreviventes de um terrível acidente -
que de certo modo eram. Tudo aconteceu em menos de um minuto e eles saíram ilesos - mas Ada não se iludirá
por terem estado perto, ou com o que acabaram de destruir.
G-virus.
Ela tinha certeza; o T-virus não seria capaz de criar algo tão complicado, não sem um time de cirurgiões - e eles
viram a coisa crescer; o quanto grande e poderosa a criatura teria ficado se eles tivessem demorado mais um
pouco? E se houver mais deles? A ida para os laboratórios não será mais uma caminhada - e Ada se sentiu grata
por Leon ter decidido ir com ela. Já que ele insiste tanto em ir na frente, se algo atacar, ela terá uma chance
melhor de sobreviver -
"Você está bem? Ele te machucou?".
Com um braço ainda segurando ela, Leon olhava em seus olhos, preocupado. E ela percebeu que podia cheirá-lo,
um limpo cheiro de sabão - e se afastou dele. Ela devolveu o revólver e esticou o vestido, procurando por cortes
a fim de não olhar para ele.
"Obrigado, eu estou bem. Não se preocupe?".
Foi mais grossa do que queria, pois estava agitada com o ataque. Ela olhou para ele e ficou incerta sobre o que
sentir ao ver que a resposta o tinha pego de surpresa. Ele piscou devagar.
"Paintball, né?". Ele disse suavemente, e virou para pegar os plugs. Ada o acompanhou, dizendo a si mesma que
era ridículo se importar com o que ele pensava dela. Eles estavam embarcando numa jornada em que ela podia
descartá-lo, ou vê-lo dar sua vida por ela...
... ou matá-lo eu mesma. Não vamos esquecer disso. Então quem se importa se ele acha que sou uma ingrata?
Ada se curvou para pegar a espingarda, sentindo a força que precisava fazer para não desviar de suas
prioridades - e sentindo um vazio lá dentro que não sentia há muito, muito tempo.
[20]
Irons foi um homem muito mau. Doente. Sherry parecia saber o tempo todo, mas ver sua câmara de tortura
secreta fez tudo virar realidade. A sala era rude, ossos, garrafas e um cheiro pior que o dos zumbis. Por isso não
se importou tanto com o corpo incompleto sob o lençol manchado de sangue. Sherry tentou imaginar o que tinha
acontecido exatamente.
"Vamos, querida, vamos indo". Claire disse, seu tom dizendo que Irons tinha sido bastante injuriado. Tudo o que
Claire disse foi que Irons a tinha atacado e que depois algo o atacou. E que poderiam achar algum lugar seguro se
descerem pelo buraco. Sherry estava tão feliz em ver Claire que nem fez perguntas.
Não parece caber uma pessoa inteira lá... ele foi comido? Ou cortado em pedaços?
"Sherry? Vamos?".
Claire tocou o ombro dela, tirando-a de perto do que sobrou de Irons. Sherry deixou ser conduzida até o buraco
no canto.
Claire desceu a escada primeiro e depois de um segundo, disse que era seguro descer. Sherry pisou
cuidadosamente nas barras de metal, sentindo-se feliz como há dias não se sentia. Claire a ajudou nos últimos
degraus, erguendo-a e colocando-a no chão de metal. Sherry virou e olhou em volta, arregalando os olhos.
"Uau". Ela disse, a palavra ecoou e voltou nas escuras sombras que refletiam das estranhas paredes.
"É". Claire disse. "Vamos".
#
Claire começou a andar e Sherry a seguiu de perto, ainda olhando em volta impressionada. Era como a toca de
um cara mau num filme de espião, alguma passagem dentro de uma montanha. Elas estavam numa passarela
com corrimão nas laterais, a turva e esverdeada luz verde atravessando a grade da passarela, vinda de algum
lugar lá embaixo - apesar de a parede da direita ser de tijolos, a outra era mesmo a de uma caverna. Ela pôde
ver grandes pilares e estalactites de pedra, formações naturais esverdeadas pela fantasmagórica luz.
Sherry coçou o nariz. Interessante, mas cheirava podre. "Que lugar você acha que é esse?".
Claire balançou a cabeça. "Eu não tenho certeza. Entre o cheiro e a locação, eu diria que estamos na parte de
uma estação de tratamento de esgoto".
Sherry acenou, grata por saber - e mais ainda por ver a saída bem à frente. A passarela não era muito longa;
virava à esquerda onde estava outra escada de mão que subia. Chegando lá, Claire hesitou, olhando para a
abertura acima e depois para a caverna.
"Eu subo primeiro... que tal você vir atrás, mas ficando na escada até eu dizer que é seguro?".
Sherry acenou, aliviada. Por um segundo, ela teve medo de Claire mandá-la esperar, como antes.
De jeito nenhum. Aqui é escuro, fedorento e vazio. Se eu fosse um monstro, seria aqui onde eu estaria...
Claire subiu e Sherry foi logo atrás, segurando as frias barras firmemente. Segundos depois, os longos e finos
braços de Claire apareceram para ajudá-la a sair.
Elas estavam de volta em solo firme, um curto corredor de cimento que parecia incrivelmente brilhante depois da
caverna. Sherry deduziu que ainda estavam na estação de tratamento; o cheiro não era tão ruim apesar do
escuro e parado rio que orlava o lado esquerdo do corredor, uns trinta centímetros de profundidade por uns dois
de largura. A lodosa água ia de uma grande porta metálica até um circular túnel com grades. Acima havia um
parapeito, mas Sherry não viu escadas.
Quer dizer que... oh, eca.
"Vai ser preciso?". Ela perguntou.
Claire suspirou. "Acho que sim. Mas veja pelo lado bom - nenhum monstro consciente nos seguiria naquilo".
Sherry sorriu. Não era tão engraçado, mas ela gostou do que Claire tentava fazer - o mesmo que cobrir o corpo
de Irons ou dizer que seus pais estavam a salvo.
Ela está tentando me defender do quanto ruim estão as coisas...
Sherry gostou tanto que já estava temendo a hora em que Claire tiver que deixá-la. E terá; Claire tem uma vida
inteira em algum lugar, seus amigos e família, e quando saírem de Raccoon, ela voltará para casa e Sherry ficará
sozinha de novo. Mesmo se seus pais estiverem bem, ela ficará só... e mesmo querendo que eles estejam, não
queria ver seu fim com Claire.
Ela só tinha doze anos e já reparou que sua família era diferente da maioria. As outras crianças da escola tinham
pais que passavam tempo com elas, tinham festas de aniversário e iam acampar, tinham irmãos, irmãs e bichos
de estimação. Sherry nunca teve nada disso, mas sabia que seus pais tinham boas intenções e que a amavam -
mas às vezes, não importava o quanto boa, calma e auto-suficiente ela era, ainda estava longe deles -
"Está pronta para isso?".
A suave voz de Claire a trouxe de volta para a realidade, lembrando-a para ficar mais alerta. Sherry acenou, e
Claire entrou na escura e suja água, ajudando Sherry.
A água estava fria e melada, subindo até os joelhos de Sherry; era grossa, mas nem tanto quanto vômito. Claire
andou para a grande porta de metal à esquerda com sua nova arma, tão enjoada quanto Sherry.
"Parece que nós vamos -".
Um alto ruído no parapeito a interrompeu e ambas olharam para cima, Sherry se aproximando de Claire quando o
barulho apareceu outra vez. Pareciam passos, mas muito lentos e altos para serem normais -
- e Sherry viu um homem de casaco longo e escuro aparecer, sua boca secando de medo. Ele era gigante, uns
três metros, e sua cabeça careca tão branca quanto a barriga de um peixe. Ela não conseguia vê-lo bem por
causa do ângulo, mas viu o bastante - e pôde sentir que era mau, que havia algo muito errado e mau sobre ele.
Radiava dele como doença.
"Claire?". Ela chiou enquanto o gigante cruzava o parapeito, enquanto virava na direção delas - devagar, tão
devagar que Sherry não quis ver seu rosto, o rosto de um homem que podia assustá-la só de andar no parapeito
-
#
"Corre!".
Claire agarrou a mão dela e as duas correram, tormentando a grossa água na direção da porta fechada.
- não esteja trancada, não esteja trancada!
A porta estava perto mas parecia demorar para sempre, cada segundo passando enquanto lutavam contra o
peso da fria e oleosa água.
Claire achou o controle, batendo no botão com um tipo de pânico que só fez Sherry se assustar mais. A porta se
dividiu ao meio, metade deslizando para o teto e a outra mergulhando nas ondas.
Sherry não olhou para trás mas Claire sim. Seja lá o que viu, a fez tirar Sherry do chão, cruzar a porta e entrar no
longo e escuro túnel que a porta escondia. Assim, que passaram, Claire tocou na parede e a porta fechou
selando-as na escuridão.
"Não se mexa e fique quieta". Claire cochichou, e sob a fraca luz que vinha de cima, Sherry viu Claire armada,
procurando ameaças nas sombras. Sherry obedeceu, seu coração pulando, imaginando quem ou o que aquele
homem foi - era o homem que Claire havia comentado antes, mas quem ele era? Pessoas não ficam daquele
tamanho, e Claire também tinha se assustado -
Clink.
Um ruído metálico, suave e abafado na parede ao lado - e Sherry sentiu a água aos seus pés se mover de
repente, uma corrente que moveu suas pernas, tirou seu equilíbrio -
- e ela caiu, seu rosto na fria e nojenta água enquanto a corrente ficava mais forte, sugando-a para baixo. Sherry
tentou se segurar em algo, mas seus dedos só encontravam o lodo do chão de pedra, enquanto as águas a
levavam para longe de Claire.
- não posso respirar -
Ela chutou forte, agitando o corpo, seus olhos doendo de água ruim - e conseguiu respirar assim que sua cabeça
voltou à tona, assim que percebeu estar num túnel, um escuro e melado túnel não muito maior que os de
ventilação da delegacia. As rápidas águas a congelavam, respirando sufocada o sujo ar acima, forçando para não
lutar contra o impiedoso poder da água. O túnel tinha que dar em algum lugar - e quando der, deverá estar
preparada para correr.
Claire, por favor, me encontre, por favor, não desista de mim...
Ela estava perdida, cega e surda, deslizando por um escuro túnel - e cada vez mais longe da única pessoa que
pode protegê-la das criaturas que tomaram conta de Raccoon.
Annette já não duvidava mais de que seu marido havia escapado do laboratório. Não só pela metade das
entradas estarem abertas, mas também pelas cercas que circundavam a fábrica estarem derrubadas - e os
túneis do esgoto, que deveriam estar praticamente vazios, estavam cheios de portadores humanos que devem
ter vindo de fora. Mesmo avançados em termos de deterioração celular, ela teve que derrubar cinco deles a tiro
para livrar o caminho entre o teleférico e as salas de operação do esgoto.
Depois do que pareceu levar uma eternidade para cruzar as semitratadas águas do sistema, ela chegou na
plataforma que procurava. Annette subiu no corredor de concreto, olhando cuidadosamente para a porta fechada
à sua frente. Fechada e inteira, um bom sinal - mas se ele passou por ela antes de perder todos os traços de
inteligência humana, antes de virar um impensado e violento animal? Mesmo agora, ele ainda pode ter guardado
alguma memória? Ela não sabia. O G-virus ainda não tinha sido testado em humanos...
... e se ele passou? E se chegou na delegacia?
Não. Ela não podia, não iria considerar a possibilidade. Considerando o que ela sabia sobre as mudanças
quimiofisiológicas - o que ele seria capaz de fazer se o vírus funcionar como deveria - o pensamento de vê-lo
chegar a uma população não infectada... bom, era impensável.
A delegacia é segura, ela pensou firmemente. Irons pode ser um incompetente, mas seus policiais não. Seja lá o
que William for agora, não poderá passar por eles.
Ela não conseguia acreditar em mais nada; Sherry estava lá, se tivesse feito o que deveria fazer - e além de ser
seu sangue, Sherry seria muito importante em seus planos futuros.
Annette se encostou na parede, ciente de que o tempo estava passando, mas incapaz de continuar sem
descansar. Ela estava quase no fim da área contida e tudo o que encontrou foram vários caminhos que William
pôde ter usado para escapar.
E a Umbrella estará aqui em breve. Eu tenho que voltar, eu tenho que ativar a destruição antes que eles me
#
impeçam.
William merecia estar em paz - mas, além disso, destruir a criatura que um dia foi seu marido erradicaria todas as
suas dúvidas sobre o sucesso de seu objetivo. Mas se ela explodir o laboratório e fugir, só para descobrir que a
Umbrella o capturou? Todos os seus esforços, todo o trabalho dele, por nada...
Annette fechou os olhos, desejando haver um modo fácil de fazer a decisão que tinha de ser feita. O fato era, a
morte de William não era tão crucial quanto fugir do laboratório. Havia uma boa chance de que ele não seja
encontrado, de que eles nem saibam de sua transformação -
- eu tenho uma chance. Ele não está aqui e em lugar algum.
Ela se desencostou da parede, caminhando vagarosamente para a porta. Ia checar os últimos túneis, ao menos
ver se as salas de controle tinham algum dano - e depois vai voltar. Voltar e terminar o que a Umbrella tinha
começado.
Annette abriu a porta e -
- e ouviu passos, ecoando pelo vazio corredor em algum lugar à frente; o corredor era em "T", os passos
derretidos uns nos outros tornando impossível saber de onde vinham - mas eram fortes, de não infectados,
talvez mais de um, e isso quer dizer uma coisa.
Umbrella. Eles finalmente vieram.
Raiva ferveu atrás dela, fazendo suas mãos tremerem, seus lábios ficarem entre seus dentes. Tinham que ser
eles, um de seus espiões assassinos. Além de Irons e alguns oficiais da cidade, só a Umbrella sabia que esses
túneis ainda eram usados - e que davam no complexo subterrâneo. A possibilidade de ser um sobrevivente
inocente não passou por sua mente; ela ergueu o revólver e esperou pelo idiota sem coração aparecer.
Uma figura ficou visível, uma mulher de vermelho, e Annette atirou -
- bam, mas estava tremendo, gritando por dentro, e errou o tiro. Ele ricocheteou no cimento da parede, pim, e a
mulher ergueu uma arma -
- e Annette atirou de novo, bam-pim, mas de repente apareceu outro, uma azulada sombra que voou na frente
da mulher, tirando-a do caminho.
Tudo isso aconteceu de uma vez -
- e Annette ouviu um choro de dor, de um homem, e sentiu uma explosão de triunfo.
Peguei ele, eu peguei ele -
Mas devem haver mais, ela não tinha acertado a mulher - e eles eram assassinos treinados.
Annette virou e correu, seu longo, branco e sujo avental de laboratório voando, seus sapatos molhados contra o
cimento. Ela tinha que voltar ao laboratório, rápido.
O tempo se esgotou.
[21]
Leon tinha parado para arrumar seus arreios, Ada passou na frente, surpresa pelos primeiros túneis estarem
vazios. Se não lhe falhe a memória, esse corredor dava no sistema de tratamento de esgoto; depois tinha o
teleférico para a fábrica, e então o elevador para o subterrâneo. As condições provavelmente ficarão piores
quanto mais perto do laboratório ficar, mas se continuar desse jeito... ela já está começando a ficar otimista.
Leon esteve bem quieto desde que entraram no esgoto, falando só o necessário - cuidando onde pisa, espere um
minuto, que caminho devemos seguir... ele era corajoso, pelo menos acima da média entre os cabeças do
departamento, e atirava bem - e não sabia nada sobre mulheres. Quando ela cortou a tentativa dele de
confortá-la, ele ficou confuso e machucado - e agora ele não sabe como interagir com ela. Leon preferiu se calar
do que ser rejeitado de novo.
Ada chegou na intersecção em "T" do corredor vazio, pensando no lugar mais fácil para se livrar de Leon -
#
- e viu a mulher, na hora em que atirou.
Bam!
Ada sentiu lascas do concreto espirrarem em seu ombro enquanto erguia a Beretta, uma onda de emoções e
percepções no instante que levou para reagir. Ela não teria tempo para reagir, o próximo tiro a mataria, brava por
ter sido tão estúpida - e reconheceu a mulher.
Birkin -
Ela ouviu o segundo tiro - e então foi golpeada, empurrada do caminho e caindo no chão enquanto Leon chorava
de dor e surpresa, seu corpo caindo sobre o dela.
Ada respirou fundo, chocada assim que entendeu o que tinha acontecido, assim que Leon rolou e agarrou o
braço. Ela ouviu passos correndo, Leon gemendo, e sentou.
Oh, meu Deus. Essa não -
Ele levou um tiro. Por mim.
Ada se levantou, inclinando ele. "Leon!".
Ele olhou par ela, mordendo por causa da dor. Sangue vazava por entre seus dedos, pressionados contra seu
ombro esquerdo.
"Eu estou - bem". Ele suspirou, apesar de pálido e sofrendo, ela achou que estava bem. Devia estar doendo
muito mas não ia - não irá morrer.
Eu teria morrido, Leon salvou a minha vida -
E na cauda desse pensamento, - Annette Birkin. Ainda viva.
"Aquela mulher". Ela disse, sentindo-se culpada enquanto virava para correr. "Eu preciso falar com ela".
Ada decolou, fazendo a curva e descendo o corredor, uma porta aberta no fim. Leon sobreviverá, e se conseguir
alcançar Annette todo esse maldito pesadelo acabará. Ada tinha estudado as fotos, sabia que era a esposa de
Birkin - e se ela não estiver com a amostra, com certeza sabe onde está.
Ela cruzou a porta e parou antes de pular em outro túnel cheio de água, ouvindo, analisando a superfície da água.
Nenhum respingo de água, mas haviam algumas ondas à esquerda -
- e uma escada de mão na parede, levando ao túnel de ventilação acima.
Ada pulou na água e foi para a escada na parede da frente. O túnel continuava para a esquerda, mas não tinha
saída.
Ela escalou rapidamente as barras, recusando-se a pensar em Leon (porque ele estava bem) enquanto espiava o
túnel e via que estava vazio, antes de cruzar um conjunto de pás. Através dele, outra olhada antes de passar
por outro conjunto de pás, e desceu outra escada. A gigante câmara de dois andares que abrigava o maquinário
de tratamento estava ausente de vida, tão fria, industrial e equipada quanto esperava. Havia uma ponte
hidráulica lá, erguida no andar que estava - isso quer dizer que Annette desceu pela escada oeste, a outra única
saída. Ada andou em seus mapas mentais assim que começou a cruzar a ponte.
"Largue a arma".
Atrás dela. Ada hesitou, sentindo uma dor interior. A segunda vez que estragou tudo - mas não obedecerá
Annette de jeito nenhum. A mira dela era ruim e Ada se estendeu, preparando para se jogar, girar e atirar -
Bam-pim!
O tiro acertou o chão à direita de Ada. Annette a tinha.
Ada derrubou a arma, erguendo as mãos devagar, virando para a cientista.
Jesus, eu mereço morrer por isso...
Annette Birkin andou até ela, uma Browning 9mm tremendo em uma mão estendida. Ada recuou ao ver aquela
arma balançando - mas viu uma oportunidade quando Annette se aproximou, passando a uns três metros dela.
Muito perto. Muito perto e à beira de um colapso, não é?
"Quem é você? Qual é o seu nome?!".
Ada exalou forte, gaguejando sua voz. "Ada, Ada Wong. Por favor, não atire, por favor, eu não fiz nada - ".
Annette franziu, "Ada... Wong. Eu conheço esse nome - Ada era o nome da namorada de John...".
"É, John Howe! Mas como você sabe? Você sabe onde ele está?".
"Eu sei porque John trabalhou com meu marido, William. Você já ouviu dele claro - William Birkin, o responsável
pela criação do T-virus".
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Annette mostrou um pouco de orgulho e desespero, dando esperanças à Ada; uma fraqueza que podia ver. Ada
tinha lido os arquivos sobre William - leu sobre a firme subida pela hierarquia da Umbrella, os avanços em virologia
e seqüênciamento genético... e sobre a ambição científica que o tornou um verdadeiro sociopata. Parece que sua
esposa estava com os mesmos planos - isso significa que a senhora não teria problemas em puxar o gatilho.
Seja tola e não a faça duvidar.
"T-virus? O que é -". Ada piscou, e arregalou os olhos. "Doutor Birkin? Espere, Birkin, o bioquímico?".
Ela viu um feixe de prazer no rosto de Annette - mas logo se foi, ficando só desespero. Desespero e maldade em
seus profundos e vermelhos olhos.
"John Howe está morto". Ela disse friamente. "Ele morreu há três meses atrás na mansão de Spencer. Minhas
condolências - mas depois, você vai se juntar a ele, não vai? Você não vai levar o G-virus de mim, você não vai
tê-lo!".
Ada começou a tremer. "G-virus? Por favor, eu não sei do que você está falando!".
"Você sabe". Annette apertou os dentes. "A Umbrella mandou você para roubá-lo, você não pode mentir para
mim! William está morto para mim agora, a Umbrella o tirou de mim, eles o forçaram a usá-lo! Eles o
forçaram...".
Ela parou, seu olhar distante. Ada esticou-se - mas Annette voltou, seus olhos molhados de lágrimas, a arma
apontada para o rosto de Ada.
"Eles vieram uma semana atrás". Ela respirou. "Eles vieram para pegá-lo e atiraram no meu William quando não
daria as amostras. Eles levaram a maleta, eles levaram todos os finais, ambas as séries - exceto pela única que
William guardava, o G-virus...".
A voz de Annette virou um grito de repente. "Ele estava morrendo, você não vê? Ele não tinha escolha!".
Ada entendeu. Entendeu tudo. "Ele injetou em si mesmo, não foi?".
A cientista acenou, seu mole cabelo loiro caindo nos olhos, sua voz suave novamente. "O vírus revitaliza funções
celulares. Ele - o vírus mudou William. Eu não vi - o que ele fez, mas eu vi os corpos dos homens que tentaram
matá-lo... e ouvi os gritos".
Ada se aproximou, como se para confortá-la, suas expressões como uma máscara de simpatia - mas Annette
levantou a arma de novo. Mesmo na tristeza, ela não deixaria Ada se aproximar.
Mas já é perto o suficiente...
"Eu sinto tanto". Ada disse, abaixando os braços. "Então o G-virus, ele vazou, ele infectou toda a Raccoon -".
Annette balançou a cabeça. "Não. Quando os assassinos da Umbrella foram - parados, a maleta foi quebrada. O
T-virus vazou - os funcionários do laboratório atingidos pelo aerotransmissível foram contidos, só que haviam
ratos, entendeu? Ratos no esgoto...".
Ela pausou, seus lábios tremendo. "... a não ser que William, meu querido marido já tenha começado a se
reproduzir. Implantando embriões, replicando... ainda não deve ser hora para isso, mas eu - ".
Ela parou, seus olhos estreitando, a maldade fluindo novamente. Seus olhos avermelhados brilhando com
paranóia.
Preparar-se -
"Você não pode tê-lo!". Annette gritou, saliva voando de seus lábios rachados. "Ele deu sua vida para mantê-lo
longe de você, você é uma espiã e você não pode tê-lo -".
Ada agachou e pulou, jogando seus braços sob os de Annette, empurrando a arma para cima e longe das duas.
A Browning descarregou, mandando uma bala para o teto enquanto lutavam pelo controle da arma. Annette
estava fisicamente mais cansada, mas era dirigida por demônios de ódio e perda, o cume de sua insanidade
dando-a forças -
Ada soltou a arma de repente e Annette tropeçou. Ela caiu no corrimão da ponte e Ada golpeou-a com o cotovelo
na barriga, o centro do equilíbrio -
- e Annette virou, sua boca aberta de surpresa, seus braços tentando se equilibrar - e ela mergulhou sobre o
corrimão, silenciosamente, nenhum som até o thump de seu corpo atingindo o chão a uns 6 metros abaixo.
"Droga". Ada cochichou, olhando para baixo. Annette ficou lá, de barriga para baixo e parada, a arma ainda
apertada em sua mão.
Isso é ótimo. Cair numa emboscada pela segunda vez e matar a única maluca que podia te dizer onde estavam
as amostras -
Um baixo gemido flutuou do corpo de Annette Birkin - e ela se moveu, arqueando as costas, tentando rolar para
#
o lado.
Droga. Droga. Droga.
Ada virou e correu pela ponte, pegando a Beretta enquanto corria para o que parecia um painel de controle ao
lado da escada para o túnel de ventilação. Ela tinha que abaixar a ponte e pegar Annette antes que fuja -
- mas o painel era para a ventilação, e enquanto outro doloroso gemido - um pouco mais alto - ecoou pelo lugar,
Ada soube que não tinha muito tempo.
O depósito de lixo, eu posso cruzar o depósito e pegar um dos túneis -
Enquanto pensava isso, já estava correndo para a escada oeste, esperando que a cientista esteja machucada o
bastante para ficar lá um minuto ou dois. Havia uma pequena sacada no final da ponte onde dava para ver o
depósito, e a escada de mão na parede à direita. Ada desceu o mais rápido que podia, pulando no chão de
cimento na última barra.
O depósito de lixo era uma grande área quadrada, as paredes amontoadas com materiais industriais - ferro velho
amassado, canos enferrujados, painéis cobertos de fios, papelão podre... Ela desceu do patamar e pulou em
quase um metro de lodo, a fria meleca passando de suas pernas. Ela não se importava, só queria pegar a
senhora Birkin e encerrar suas horas em Raccoon -
- foi quando algo se mexeu. Abaixo do opaco e fedorento líquido, algo grande se moveu. Ada viu o que poderia
ser o dorso de um réptil, viu e ouviu uma pilha de tábuas caírem na água a uns três metros à frente no mesmo
instante.
Você deve estar brincando...
Seja lá o que for, era grande o bastante para fazer Ada esquecer Annette. Ada voltou para o patamar e pegou
impulso, sem tirar os olhos das ondas de lodo -
- que de repente subiram num violento espirro de escuridão e na direção dela. Ada ergueu a Beretta e começou a
atirar.
* * *
Havia um pequeno elevador no canto da vazia sala de reuniões, um quadrado de metal que aparentemente
descia. Claire foi até ele, fétida água pingava de suas roupas, terrivelmente perdida e ansiosa para continuar
andando e achar Sherry.
Por favor, esteja viva, querida, por favor.
Ela tinha visto o tubo de drenagem, mas não Sherry - e depois de agonizantes e longos momentos gritando na
água agitada, e tentativas de entrar no buraco, ela acabou abandonando o esforço. Sherry se foi, talvez afogada,
talvez não - a não ser que o fluxo de água revertesse, Sherry não voltará.
Claire achou os controles da pequena plataforma e apertou o botão. Um motor escondido zuniu e o elevador
desceu, levando-a para outro provável corredor vazio, talvez outra sala desconhecida - ou pior, direto para outra
criatura sobrenatural.
Ela apertava as mãos molhadas enquanto descia lentamente. Ela se sentia andando às cegas. Do túnel onde
Sherry desapareceu, ela só passou por um corredor pouco iluminado e uma sala de reuniões não decorada e de
alguma forma esterilizada.
O elevador estava descendo num corredor e ela se agachou, apontando a arma de Irons enquanto a nova
localidade aparecia.
O corredor de concreto tinha outro elevador na outra ponta, e tinha uma intersecção para a esquerda no meio
dele - e próximo à junção havia um corpo encostado na parede, o que parecia ser um policial -
Ela sentiu uma mistura de choque e sofrimento, arregalando os olhos enquanto olhava para as feições do policial,
a cor do cabelo, o físico...
... é o - Leon?
Antes do elevador tocar o chão, Claire pulou e correu para a figura. Era Leon, e não estava se mexendo - mas
respirava, e assim que ela se agachou na frente dele, seus olhos abriram. A mão dele estava em seu braço
esquerdo, os dedos molhados de sangue.
"Claire?". Seus olhos azuis pareciam claros, cansados, porém conscientes.
#
"Leon! O que aconteceu? Você está bem?".
"Eu levei um tiro, devo ter apagado por um minuto...".
Ele cuidadosamente tirou a mão, expondo um pequeno e rasgado buraco acima da axila. Parecia doloroso, não
pelo menos não sangrava muito.
Estremecido, Leon colocou o tecido de seu uniforme sobre o buraco e pressionou a mão sobre ele.
"Dói pra diabo, mas acho que vou sobreviver - Ada, onde está Ada?".
Dizendo a última frase quase frenético, Leon fez força para se desencostar da parede. Com um suave gemido ele
soltou, sem condições de se mexer.
"Fique parado, descanse por um minuto". Claire disse. "Quem é Ada?".
"Eu a conheci na delegacia. Eu não consegui te achar e descobrimos como fugir de Raccoon - pelos esgotos. A
cidade não é segura, houve algum tipo de vazamento no laboratório da Umbrella, e Ada quis partir logo depois.
Alguém atirou em nós e eu fui atingido - Ada foi atrás do atirador, descendo o corredor, ela disse que era uma
mulher...".
Ele balançou a cabeça e franziu. "Eu tenho que achá-la. Eu não sei quanto tempo fiquei apagado, não mais do
que alguns minutos, ela não deve ter ido longe -".
Ele tentou se mexer de novo e Claire o impediu, empurrando-o de volta. "Eu vou. Eu - estava com uma garotinha
que agora está perdida nos esgotos. Talvez eu ache as duas".
Leon hesitou - depois acenou, desistindo. "Como está de munição?".
"Ah, sete nesta -". Ela conferiu a arma que pegou da viatura e colocou na cintura. Parece que aquele passeio foi
há milhões de anos. "- e dezessete nesta".
Ela ergueu a arma de Irons e Leon acenou de novo, sua cabeça rolando cansadamente. "Certo, isso é bom. Eu
te seguirei em alguns minutos... tome cuidado, tá? E boa sorte".
Claire se levantou, desejando que tivessem mais tempo. Ela queria contar sobre Chris e Irons, Mr. X e o T-virus,
ela queria saber o que ele sabia sobre a Umbrella, ou se sabia onde ficava a saída do esgoto -
- mas essa Ada deve estar enfrentando um atirador nesse momento e Sherry pode estar em qualquer lugar.
- Leon fechou os olhos. Claire virou e foi para a intersecção, imaginado se algum deles sairá disso com vida.
[22]
Annette doía por toda parte. Ela se sentou vagarosamente, enjoada com as centenas de dores que gritavam por
sua atenção. Seu pescoço e estômago doíam, tinha torcido o pulso e seus joelhos pareciam inchados - mas foi a
aguda dor em seu lado direito que era pior, ela achava que tinha quebrado uma costela.
Sua horrível, horrível mulher -
Annette se inclinou, segurando seu tenso pescoço com uma mão machucada, mas só viu metal e sombra; Ada
Wong, a vagabunda da Umbrella aparentemente fugiu. Ela fingia não saber de nada, mas Annette não era burra,
Ada já devia estar a caminho do laboratório - ou vindo atrás dela, ansiosa para terminar o serviço.
Umbrella, a Umbrella fez isso...
Annette se ajoelhou, usando sua raiva para superar a dor. Ela tinha que chegar ao laboratório antes dos espiões -
mas estava tão machucada!
Não posso deixar roubarem o trabalho dele...
Ela cambaleou até a porta da imensa sala, um braço envolto em seu ardente peito - e parou, inclinando a cabeça
para ouvir.
Tiros. Ecoando pelo frio ar, vindos da área de despejo - e um segundo depois ela ouviu um tremendo assobio,
mais tiros e respingos de água -
Annette sorriu, um sorriso apertado e sem humor. Talvez ela chegue no laboratório antes.
A ponte, abaixe a ponte, não a deixe escapar...
Cansada e dolorida, Annette foi para os controles hidráulicos e acionou a ponte. Os poderosos motores da ponte
#
abafaram os barulhos da batalha, a plataforma rotacionando e descendo até travar com um pesado clank.
Annette se desencostou da parede, caindo sobre os controles perto da porta. Ela viu os controles do túnel de
ventilação e os ligou, ainda sorrindo enquanto as pás começavam a roncar lá em cima. Ada teve problemas no
depósito de lixo e Annette não vai deixá-la voltar por onde veio; com a ponte abaixada e as pás girando, a
senhorita Wong terá lutar pelo caminho.
Tomara que seja um bando de lickers, sua vadia, espero que estejam fazendo-a em pedaços...
Annette saiu dos controles e caiu, a dor e a tontura eram demais, seus ralados e inchados joelhos acertando o
chão, espetando agulhas de agonia por suas pernas -
E a porta à sua frente abriu. Annette ergueu a arma, mas não era capaz de mirar, gastando o que restava de
sua força para não gritar de sofrimento e frustração.
William, está doendo tanto, sinto muito, mas eu não posso -
Uma jovem mulher se agachou na frente dela, com um olhar de preocupação no rosto. Ela vestia shorts e um
colete pingando água do esgoto - e segurava um grande revólver, não apontando diretamente para Annette - e
não apontando para lugar nenhum também.
Outra espiã.
"Você é Ada?". A garota perguntou, tentando tocá-la - era mais do que Annette podia suportar, ser tocada pela
dó de algum espião corporativo.
"Afaste-se de mim". Annette resmungou, estapeando fracamente a mão estendida da garota. "Eu não sou o seu
'contato', e eu não o tenho em mim. Você pode me matar, mas não vai encontrá-lo".
A garota se afastou, um olhar de confusão em seu sujo rosto. "Achar o que? Quem é você?".
As perguntas de novo, e a fúria passou, deixando-a insensível. Annette estava cansada de jogos; doía demais e
já não era mais capaz de lutar. "Annette Birkin". Ela disse exausta. "Como se não soubesse...".
Ela vai me matar agora. Está acabado, tudo acabado.
Annette não podia fazer nada. Lágrimas desceram suas bochechas, lágrimas tão fúteis quanto seus planos. Ela
desapontou William, ela falhou como esposa e como mãe, e até mesmo como cientista. Pelo menos acabará
agora, finalmente haverá um fim para a angústia -
"Você é a mãe de Sherry?".
As palavras da garota a atordoaram, tirando-a de sua exaustão como um tapa na cara.
"O que?! Quem - como você soube sobre Sherry?".
"Ela está perdida nos esgotos". A moça disse, sua voz rápida e desesperada enquanto guardava a arma no cinto.
"Por favor, você tem que me ajudar a encontrá-la! Ela foi sugada para um tubo de drenagem e eu não sei onde
procurar -".
"Mas eu pedi para ela ir à delegacia". Annette lamentou, toda a dor física esquecida, seu coração pulsando
horríveis ondas de descrença. "Por que ela está aqui? É perigoso, ela será morta! E o G-virus - a Umbrella vai
achá-la, eles vão pegá-lo, por que ela está aqui?".
A garota se estendeu para ajudá-la de novo, levantando-a, e Annette não lutou, muito fraca e assustada para
isso.
A garota a olhou intensamente, parecendo culpada, com medo e esperançosa ao mesmo tempo. "A delegacia foi
tomada - para onde a drenagem vai? Por favor, Annette, você precisa me dizer!".
A verdade mostrou-se como um raio de luz em sua exaustão e medo.
A drenagem vai para o tanque de filtragem - que é perto do bonde da fábrica.
A rota mais curta para os laboratórios.
Era um truque. A garota estava usando Sherry para chegar no laboratório, para pegar informações sobre o
G-virus. Sherry ainda estava na delegacia, segura e bem, e tudo isso é uma armação -
- mas a Umbrella conhece o caminho, por que ela perguntaria algo que já sabe? Não faz sentido.
Annette ergueu a arma, seu dolorido pulso tremendo, e se afastou da garota. Sua confusão e perguntas eram
demais - por isso não podia fazer nada, não podia apertar o gatilho.
"Não se mexa. Não me diga". Ela disse, ignorando a dor enquanto abria a porta. "Eu vou atirar se tentar me
seguir".
"Annette - eu não entendo, eu só quero -".
"Cale a boca! Cale a boca e me deixe em paz. Será que vocês todos não podem me deixar em paz?!".
Ela passou pela porta, surpreendendo a garota, apertando seu braço contra a costela contundida ou quebrada
#
assim que fechou a porta..
Sherry...
Era uma mentira, tinha que ser - mas não mudaria nada. Ela ainda podia, tinha que voltar para o laboratório e
terminar o que começou.
Virando, mancando e tossindo, Annette se apoiou na fria parede do túnel conector, deixando cada doloroso e
terrível passo lembrá-la do que a Umbrella fez.
Uma fria e quieta caverna, as paredes brilhavam com gelo e eu estou perdido. Perdido e exausto, correndo e
com medo por um longo tempo, então eu paro e descanso. Tão quieto, tão frio - mas meu braço dói, eu estou
sentado contra uma parede onde nasceu espinhos, e um deles está cavando minha pele, me espetando. Dói
tanto, e eu tenho que me levantar, eu tenho que encontrar alguém, eu tenho que -
- levantar.
Leon abriu os olhos, a par de que tinha apagado novamente. A percepção o fez respirar fundo, o súbito medo
fazendo-o completamente acordado.
Ada, Claire - Jesus, quanto tempo?
Ele gentilmente tirou a mão do braço, o sangue grosso entre seus dedos. Dói, mas não tanto quanto antes - e o
sangramento havia parado, pelo menos na entrada; os farrapos de seu uniforme tinham grudado no ferimento,
formando um curativo.
Ele se inclinou, tentando tocar onde a bala tinha saído; de novo, havia tecido sobre a dor pulsante do ferimento.
Não estava certo, mas só de pensar que a bala tinha varado sua carne sem acertar o osso - ele foi
extremamente sortudo.
Mesmo se tivesse arrancado meu braço, Ada ainda estaria por aí - e eu mandei Claire atrás dela. Eu preciso ir
atrás delas.
Apertando os dentes, Leon se levantou com o braço bom, seus músculos frios e duros por causa do concreto
úmido.
Seu ombro esquerdo raspou na parede e ele ofegou quando a dor intensificou brevemente. Leon esperou passar,
respirando fundo, pensando que poderia ter sido bem pior.
Quando finalmente de pé, decidiu que agüentará; ele não estava enjoado e apesar de haver sangue na parede e
no chão, não era tanto quanto imaginava. Cuidando para não mexer no ferimento, Leon virou e desceu o
corredor até a porta fechada, andando o mais rápido que podia.
Depois da porta, deu de cara com outro túnel cheio de água que ia para os dois lados; havia uma escada de mão
à sua frente à esquerda, mas nem pensou em subir com o braço ferido - além disso, havia um ventilador
barulhento no topo da escada. Ele desceu do patamar e foi para a direita na escura água, esperando achar pistas
de Ada e Claire.
Perseguir um atirador... como pôde fazer aquilo, como pôde me deixar lá?
Depois do confronto com o monstro vomitante, ele jurou não assumir mais nada sobre Ada Wong; ela era flertiva
e insociável, e se ela aprendeu a atirar brincando de paintball, ele era um executivo de banco. Mas apesar de seu
confuso comportamento e provável duplicidade, ele gostava dela; ela era esperta e confiante, ela era bonita - e
ele assumiu que havia uma pessoa decente sob aquela contraditória fachada...
... e ela o deixou para trás e foi pegar o atirador, deixou você rolando no chão com uma bala no braço. É, ela é
ótima; peça-a em casamento.
Ele chegou onde o túnel se dividia. Havia um portão trancado à direita, então Leon seguiu à esquerda, olhando as
grossas sombras. Ele devia ter ido com Claire -
Ele parou, ouvindo algo. Tiros, distantes e abafados, vindo de algum lugar à frente, distorcidos pelo labirinto de
túneis que compunham o sistema de esgotos.
Ainda armado, Leon apertou o ferimento e começou a correr, devagar por causa da água - mas quando os tiros
pararam, ele achou um motivo para ir mais rápido.
Havia uma passagem à frente, uma fraca luz amarelada vinha de lá. Mesmo antes de chegar, viu que teria de
escolher.
Diretamente à frente estava uma alto degrau e uma pesada porta na parede do fim do túnel, água caía do teto
#
como uma cachoeira.
Uma escolha óbvia, exceto -
Leon parou na passagem iluminada, olhando. Outra porta, e ele não tinha tempo para decidir, os tiros podem ter
vindo de qualquer lugar -
Bam, Bam -
Para a esquerda. Leon subiu no patamar, sentindo mais dor, sentindo um molhado quente no pulso. Ele ignorou
isso, indo para a porta e a abrindo, ouvindo mais tiros enquanto passava pela ponte no meio da grande câmara e
ia até a próxima porta.
Ele entrou em um frio corredor só que bem maior e mais largo que os outros, provavelmente algum tipo de
corredor para transporte de equipamentos pesados. Ele virava para a esquerda e esquerda de novo, caixas e
cilindros de aço na esquina da primeira curva.
... acetileno, talvez oxigênio, bom Deus, o que leva tantos tiros e não morre?
Ele ouviu mais tiros e água espirrando - e um som diferente, um profundo e gutural assobio. Estranhamente
familiar, mas muito alto para ser possível.
Um milhão de cobras, milhares de gatos gigantes, algum terrível dinossauro -
Ele correu, finalmente desistindo de manter o ferimento fechado, precisando do braço livre para ganhar mais
velocidade. O fim do túnel estava perto, ele viu um painel de luzes piscando e uma abertura à esquerda, outra
grande porta de abastecimento -
- e ele parou bem a tempo de não entrar na linha de fogo, assim que outra rápida sucessão de tiros soou, assim
que um tenebroso impacto na água fez chover no chão como um grosso lençol.
"Pare, eu estou entrando!". Ele gritou -
- e ouviu a voz de Ada, sentindo um alívio apesar do horror que estava à frente.
"Leon!".
Ela está viva!
Ele ergueu a arma, seu ferimento sangrando agora, ele apareceu na comporta aberta, tábuas quebradas
nadando no turbulento líquido. Ela estava num pequeno patamar de concreto ao lado de uma escada de mão,
apontando a Beretta para a piscina de lixo.
"Ada, o que -".
Splash!
Uma gigante explosão saiu do lago e o jogou para o corredor. Aconteceu tão rápido que ele só viu depois que
estava voando no ar. Ele caiu sobre o braço ferido e gritou, tanto pelo choque do que tinha visto quanto pela dor.
- crocodilo -
Leon ficou de pé e correu antes mesmo de saber se conseguia levantar - e o lagarto gigante, o crocodilo de nove
metros de comprimento subiu no corredor atrás dele com um poderoso rosnado. O cimento tremeu assim que o
mamute réptil saiu das águas, galões de água escura vazando de sua mandíbula cheia de dentes.
- uma boca tão grande quanto eu, maior -
Leon correu, não havia dor, seu coração martelando de pânico - e a besta rosnou de novo, um impossível berro
que sacudiu seus ossos, que fez suor explodir de todos os poros -
- e Leon deu uma olhada para trás, viu que era mais rápido que o lagarto gigante. Ele ainda estava subindo pela
comporta, suas pernas grossas e curtas pareciam troncos de árvores, sua incrível cabeça grande demais para
manobrar facilmente.
Leon trocou de arma numa onda de terror, seu ferimento gritando enquanto colocava uma bala na Remington.
Ele andou de lado, alcançando a curva -
- e descarregou todos as cinco balas o mais rápido que podia, o pesado calibre explodindo o focinho do monstro.
Ele rosnou, balançando a cabeça de lado a lado, baldes de sangue emergindo de sua sorridente face - mas ainda
vindo, tirando sua calda da piscina lá atrás.
Insuficiente, não foi o bastante -
Leon virou e correu de novo, horrorizado em ter que se retirar, com medo do que acontecerá a Ada ao fugir do
crocodilo, mas sabendo que precisará de outros cinqüenta tiros para derrubá-lo - ou uma explosão nuclear, e por
que ele ainda estava pensando? Ele precisava fugir e depois pensar no que fazer.
Agüenta aí, Ada -
Os fortes passos do gigante encheram seus ouvidos enquanto passava pelas caixas, pela fileira de cilindros de aço
#
--
e parou de correr. Seus instintos gritavam por sanidade, mas ele tinha uma idéia - e enquanto o lagarto dava
outro passo, Leon virou e voltou.
Funciona, isso funciona nos filmes, por favor, Deus, esteja ouvindo.
Os cinco cilindros brilhantes estavam presos por uma corrente. Havia um botão para a mesma e Leon o apertou.
Uma ponta da pesada corrente foi para o chão.
Soltando a espingarda, ele agarrou o cilindro mais próximo, seus músculos tencionando, sangue pulsando de seu
braço ferido. Ele pode sentir finos traços de suor descendo pelo peito, sentando no calcanhar para libertar o
cilindro do pequeno suporte.
- pronto!
Leon se jogou para trás e o tubo de gás comprimido foi ao chão, rolando alguns centímetros. Ele olhou para cima
e viu que o crocodilo tinha percorrido mais quinze metros - perto o bastante para ver os sujos dentes enquanto
rosnava de novo, sentindo seu quente e podre hálito.
Leon colocou o pé no cilindro e empurrou com toda a força, o mesmo rolando vagarosamente na direção do
lagarto. Por uma incrível sorte, o corredor tinha uma ligeira inclinação e o cilindro ganhou velocidade, rolando em
um semicírculo.
Recuando, ele tirou o revólver do cinto e apontou para o tubo, forçando para não puxar o gatilho. O crocodilo
avançava, sua calda batendo tão forte na parede que fazia levantar poeira.
Vamos desgraçado -
A menos de dez metros, o crocodilo e o cilindro se encontraram - e Leon apertou o gatilho. O primeiro tiro acertou
o chão perto do tubo - e a boca sorridente abriu, a grande cabeça abaixando para empurrar o obstáculo.
- firme -
Leon atirou de novo, e -
KA-BOOM!
- e foi jogado ao chão quando o cilindro explodiu. Numa explosão de aço retorcido e gases, a cabeça da criatura
foi obliterada, desaparecendo como um balão estourado. Quase na mesma hora, uma onda de sangue acertou
Leon, pedaços de dente, ossos e carne enfumaçada caindo sobre ele como um cobertor molhado.
Enjoado, seus ouvidos zunindo e braço sangrando, Leon sentou enquanto a carcaça decapitada ia ao chão, as
pernas dobrando com o peso do réptil. Ele pressionou sua mão ensangüentada contra o ferimento, exausto,
enjoado, dolorido - e profundamente satisfeito.
"Te peguei, sua porcaria idiota". Ele disse, e sorriu. Quando Ada veio correndo um pouco depois, foi assim que o
encontrou - olhando deslumbrado e atordoado para seu serviço, sujo de sangue e sangrando, sorrindo como uma
criancinha.
[23]
Leon vestia uma camisa branca sobre o uniforme; Ada rasgou-a e fez uma atadura no braço dele, uma espécie
de tipóia antes de colocar a camiseta de volta. Ele perdeu sangue o bastante para estar tonto; e Ada aproveitou
a situação para se explicar enquanto o atendia, sentindo-se chocada com a complexidade de emoções dentro
dela.
"... e eu achei que ela me parecia familiar. Eu achava que a conhecia através de John e quase a alcancei - mas
ela deve ter me despistado. Eu me perdi nos túneis, tentando voltar...".
Nenhuma verdade, mas Leon nem percebeu - até o gentil modo como ela o tocava, ou o leve tremor em sua
voz enquanto pedia desculpas pela terceira vez, por deixá-lo para trás.
Ele salvou a minha vida. De novo. E eu acabo retribuindo tudo com mentiras, mentiras em troco de sua
generosidade.
Algo mudou nela quando ele foi baleado em seu lugar, e não conseguia mudar de volta. Pior, ela não sabia se
#
queria mudar de volta. Era como o nascimento de um novo sentimento, uma emoção que a enchia; era
desconfortável, mas também não era desprazeroso. O modo como destruiu o crocodilo fez esse sentimento mais
forte ainda. O buraco em seu braço foi só na carne, mas o sangue em seu corpo, ela sabia que doía muito, que
estava drenando-o,
matando-o enquanto tentava salvá-la.
Livre-se dele agora, sua mente soou, não deixe isso afetar seu trabalho - o trabalho, Ada, a missão. Sua vida.
Ela sabia que isso era a única coisa a fazer - mas quando ele ficou pronto e sua história foi contada, ela parou de
ouvir ela mesma. Ada o ajudou a se levantar e o tirou do cenário com os restos do réptil, sem parecer ter achado
uma saída quando estava perdida.
Annette se foi; assim que Leon tinha chamado a atenção do crocodilo, ela subiu a escada e checou - e viu que
Annette teve bastante senso de ligar os ventiladores e abaixar a ponte antes de fugir. Apesar de Annette estar
errada sobre os propósitos de Ada, ela terá que chegar no laboratório antes da cientista. E com Leon nessas
condições só a atrasaria.
Solte ele! Perca o peso, você não é uma enfermeira, por Deus, esta não é você, Ada -
"Estou com sede". Leon suspirou, sua respiração morna em seu pescoço. Olhando em seu rosto ensangüentado
e piscante, ela viu que a voz lá dentro seria mais fácil de ignorar. Ela terá que deixá-lo -
- mas não agora.
"Então vamos achar um pouco de água". Ela disse, e virou-o gentilmente para a direção que precisava ir.
Sherry acordou no escuro, um terrível gosto na boca, um rio de água fria puxando suas roupas. Havia um
estrondoso barulho a sua volta, como se o céu estivesse caindo, e por um segundo não podia se lembrar do que
tinha acontecido ou onde estava - e quando percebeu que não conseguia se mover, ela entrou em pânico. O som
estava enfraquecendo mais e mais até acabar - mas ela estava presa em algum rio fedorento, presa e sozinha.
Ela abriu a boca para gritar - mas lembrou do monstro que berrava, depois do gigante careca e depois de Claire.
Ela lembrou de Claire quando a impediu de gritar; de algum modo a imagem de Claire funcionava como um suave
toque, acalmando o cego terror e a permitindo pensar.
Sugada por um buraco, e agora estou - em outro lugar, e gritar não vai ajudar.
Era um pensamento forte e corajoso, fazendo-a pensar melhor. Ela se desencostou da dureza atrás e percebeu
que não estava presa; ela estava contra uma fileira de barras na parede e a força da água corrente a tinha
segurado lá - e provavelmente a salvou de ter afundado. A nojenta água ainda estava agitada, borbulhando - e o
gosto ruim em sua boca significava que havia engolido um pouco dela...
Pensar nisso abriu o resto de sua memória. Ela estava flutuando e de alguma forma foi revirada, engoliu o horrível
líquido e - apagou.
Pelo menos o barulho tinha acabado, e agora que estava mais acordada, percebeu que podia enxergar. Não
muito, mas o suficiente para ver que estava numa grande sala alagada e que havia um pequeno buraco de luz
vindo de cima.
Tem que ser uma saída. Alguém construiu esse lugar, tem que haver uma saída...
Ela nadou mais pela sala, e sentiu seus dedos do pé tocarem algo duro e plano. Sentindo-se boba por não ter
pensado nisso antes, ela respirou fundo e esticou as pernas - e ficou de pé. A água batia em seus ombros, mas
conseguia ficar de pé.
Os últimos traços de pânico se foram ao parar no meio do lugar, virando devagar, seus olhos finalmente se
adaptando à fraca iluminação - e viu a escada de mão na parede ao longe. Ainda assustada, a visão das barras
significava que tinha achado a saída. Sherry levantou o pé e foi para a escada, orgulhosa de como está se
virando.
Sem gritar nem chorar. Como Claire diz. Forte.
Ela começou a subir, agarrando as melecadas barras de metal que pareciam continuar para sempre. Ao olhar
para baixo, só viu a água movimentando onde a luz incidia. Ela também viu a origem da luz - uma estreita fenda
no teto, não muito longe de onde estava.
Quase no topo. E se eu cair não vou me machucar... não há nada para se assustar.
Sherry respirou fundo para tornar isso verdade e olhou para cima de novo.
Mais algumas barras, e quando foi tocar a próxima, sua mão bateu no teto de metal. Ela empurrou com uma
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mão e -
- e a tampa não se moveu. Não mesmo.
"Droga". A palavra soou pequena e só, mais como um apelo.
Sherry colocou um cotovelo em volta da barra que segurava, tocou seu colar da sorte, e tentou de novo,
empurrando de verdade desta vez. Ela sentiu o alçapão mexer um pouco, mas não o bastante. Ela abaixou a
mão, quieta; estava presa.
Por vários minutos ela não se moveu, não querendo voltar para a água, não querendo acreditar que estava presa
- mas seus braços estavam começando a ficar cansados e ela não queria pular. Finalmente, ela começou a
descer, mais devagar do que quando subiu. Cada degrau a menos era como admitir a derrota. Ela estava a um
terço do caminho para a água quando ouviu passos acima - uma suave vibração a princípio, mas depois se
difundiram em passos distintos, mais altos, se aproximando do poço que Sherry estava.
Sherry deu um segundo para pensar em ignorar os passos, mas acabou subindo, decidindo que valia a pena
arriscar; pode não ser Claire - mas podia ser sua única chance de escapar.
Ela começou a gritar antes mesmo de chegar ao topo. "Ei! Socorro, você pode me ouvir? Ei, Ei!".
Os passos pareceram parar, e ela alcançou o topo, ainda chamando, batendo no metal várias vezes.
"Ei, ei, ei!".
Outra pancada com sua dolorida mão - e de repente estava socando o ar, uma forte luz caindo em seu rosto.
"Sherry! Oh, meu Deus, querida, que bom que você está bem!".
Claire, era Claire, e Sherry não a conseguia ver, mas estava derretida de prazer ao som de sua voz. Fortes e
quentes mãos a levantaram, quentes e úmidos braços a abraçaram fortemente. Sherry piscou e começou a
perceber as características da vasta sala através da brilhante e branca névoa.
"Como você sabia que era eu?". Claire perguntou, ainda segurando-a.
"Eu não sabia. Eu não conseguia sair sozinha, e ouvi passos...".
Sherry olhou em volta, sentindo-se impressionada por Claire tê-la ouvido.
A sala era enorme, com passarelas de metal na diagonal - e a seção do chão onde tinha saído estava no canto
mais longe da sala.
"Estou muito feliz por ver você". Sherry disse e Claire sorriu, tão feliz e espantada quanto Sherry.
Claire se ajoelhou na frente dela, seu sorriso sumindo um pouco. "Sherry, eu vi sua mãe. Ela está bem, está viva
-".
"Onde? Onde ela está?". Sherry ficou corada, empolgada com a notícia - mas sentindo uma incerteza,
tencionando os músculos de repente, ficando difícil de respirar.
Ela olhou fundo nos olhos preocupados de Claire, e percebeu que ela iria mentir de novo - que tentava dar uma
notícia ruim do melhor jeito possível. Sherry teria deixado ela fazer isso algumas horas atrás -
- mas agora não. Fortes e corajosas nós temos que ser...
"Diga-me, Claire. Diga-me a verdade".
Claire suspirou, balançando a cabeça. "Eu não sei para onde ela foi. Ela estava - com medo de mim, Sherry. Acho
que ela me confundiu com outra pessoa, alguém ruim. Ela correu de mim - mas eu tenho quase certeza de que
ela veio por aqui, e eu estava procurando por ela quando ouvi você".
Sherry acenou devagar, forçando para aceitar a idéia de que sua mãe vinha agindo estranho - estranho o
bastante para Claire suavizar.
"E você acha que ela veio para cá?" Sherry finalmente perguntou.
"Não estou certa. Eu também achei um policial, antes de ver sua mãe. Eu o conheci quando cheguei na cidade, e
ele estava num dos túneis que passei depois que você desapareceu. Ele estava ferido, ele não podia vir comigo -
então depois que vi sua mãe, eu voltei para buscá-lo, mas ele não estava mais lá."
"Morreu?".
Claire balançou a cabeça. "Não. Foi embora - então eu voltei e esse é o único caminho que sua mãe pode ter
pego. Mas como eu disse, não estou muito certa..."
Ela hesitou, olhando para Sherry pensativa-mente. "A sua mãe já te falou sobre algo chamado G-virus?".
"G-virus? Não acho que não".
"Ela já te deu algo para segurar, algum tubo de vidro, ou algo assim?".
Sherry franziu de volta. "Não, nada. Por quê?".
Claire se levantou, tocando e apertando o ombro de Sherry. "Não é nada importante".
#
Sherry estreitou os olhos e Claire sorriu de novo. "É sério. Venha, vamos ver se descobrimos por onde sua mãe
foi. Aposto como está procurando você".
Sherry deixou Claire dar o caminho, imaginando porque de repente tinha certeza de que Claire não acreditava no
que dizia... e imaginando porque não conseguia fazer mais perguntas.
O elevador plataforma do galpão, com uma locomotiva em cima, estava onde Annette o tinha deixado. O tempo
tinha apertado, mas ainda estava na frente dos espiões, de Ada e de sua amiguinha de roupas rasgadas...
... dizendo mentiras como se o sofrimento de perder William não fosse o bastante para elas...
Ela tirou a chave de controle do bolso de seu rasgado avental de laboratório, apoiando-se nos controles, inserindo
a chave e girando-a. Seus trêmulos dedos tocaram o botão de ativação e uma trilha de luzes apareceram no
painel, bem claras apesar do brilho da lua cheia. Uma fresca brisa de outono soprou em seu corpo dolorido, um
amigável vento que cheirava como fogo e doença...
... como no Dia da Bruxas, como fogueiras queimando a carne pestilenta das brincadeiras...
Quatro barulhentas buzinas soaram no ar noturno, o pesado elevador dizendo que é hora de ir. Annette subiu os
degraus para a locomotiva, incapaz de lembrar o que estava pensando. Ela estava cansada. Quanto tempo faz
que não dorme? Ela também não lembra disso?
Bati a cabeça, não foi? Ou apenas sonolência, pode ser...
Seus machucados a tinham levado para delirantes lugares que nunca imaginou existir, ela sabia o que fazer - o
sistema de disparo, a abertura do portão do trem subterrâneo, se esconder nas sombras e esperar se curar -
mas o resto ficou tão estranho, como se tivesse tomado um remédio para pensar um pouco por vez.
Estava quase acabado. Uma mágica e positiva frase que ainda podia ver, não importava o quanto cega tinha
ficado. A caminho do galpão, ela tossiu e tossiu, e depois vomitou de dor, uma escuridão que quase permaneceu
por tanto tempo que ela pensou ter perdido a visão -
- está quase acabado.
Agarrando o pensamento como um amor perdido, ela achou a maçaneta da porta metálica e entrou. O
movimento e o som de movimento a engoliram enquanto se deitava no suave banco de metal e fechava os
olhos. Alguns momentos para descansar e estará tudo acabado...
Annette afundou na escuridão, o suave hum dos motores levando-a para um profundo e distante sono. Ela
estava descendo, seus músculos relaxados, suas dores e misérias perdendo a força - e por um bom tempo
achou silêncio até que -
- até que um terrível grito esfaqueou sua escuridão, um berro de tal fúria e dor que falou para seu coração - e ela
voltou à vida, ofegando e apavorada -
- e então percebeu o que a tinha tirado de seu sono.
Foi William. Ele tinha voltado para casa, ele a tinha seguido - e a Umbrella não terá nada porque seu marido tinha
voltado para o raio da explosão.
O grito soou de novo, desta vez ecoando por um dos vários túneis secretos do laboratório enquanto descia.
Annette fechou os olhos novamente, o novo pensamento se juntado ao seu amor perdido, ambos juntos a
fazendo feliz.
William voltou. Está quase acabado.
O terceiro seguiu naturalmente enquanto voltava para o silêncio, sabendo que terá de se levantar em breve.
Quando a plataforma parar, ela levantará e estará pronta para a jornada final.
A Umbrella sofrerá pelo que fez - e todos morrerão no final.
Ela sorriu e dormiu, sonhando com William.
#
[24]
Leon finalmente começou a se sentir ele mesmo, sentado na sala de controle onde Ada o deixou. Ela tinha
achado um kit médico em um dos gabinetes empoeirados, junto com uma garrafa de água; já fazia dez minutos
que ela tinha saído e, a aspirina já estava funcionando, a água fez maravilhas.
Ele sentou no console cheio de botões, tentando se lembrar do que tinha acontecido depois da explosão no
esgoto; a última coisa de que se lembrava era do colapso do crocodilo e de ter sido pego por uma fraqueza logo
depois. Ada fez um curativo e o levou pelos túneis -
- e um vagão, nós ficamos num vagão por um minuto ou dois -
- e finalmente esta sala, onde ela pediu que descansasse enquanto verificava algo.
Leon tinha protestado, lembrando-a de que não era seguro, mas estava confuso o bastante para não fazer nada
exceto sentar onde ela mandou. Uma vez que bebeu um galão de água, começou a melhorar. Parece que a
perda de sangue causava desidratação...
... aí ela me deu água e foi checar o que? E como ela sabia vir por esse caminho?
Ele mal conseguia andar e mesmo delirando, ele percebeu o quanto ela estava confiante e precisa ao escolher o
caminho? Ela era uma compradora de arte em Nova Iorque, como ela pode saber algo sobre o sistema de
esgoto de Raccoon City?
E onde ela está? Por que ainda não voltou?
Ada provavelmente salvou sua vida - mas ele não podia continuar acreditando no que ela dizia ser. Ele queria
saber o que ela estava fazendo, saber agora, e não só porque está guardando segredos, mas porque Claire
ainda estava nos esgotos. Se Ada conhece uma saída, Leon devia isso a Claire.
Leon se levantou devagar, se apoiando na cadeira e respirando fundo. Ainda fraco, não sentia tanta dor no braço
e nem enjôo - a aspirina talvez.
Ele sacou o revólver e andou para a porta da pequena e empoeirada sala de controle, prometendo que não
aceitaria mais respostas vagas ou sorrisinhos.
Ele abriu a porta e saiu num enorme galpão de madeira; estava vazio e escuro, mas a brisa noturna fez isso
quase agradável - e lá estava Ada, subindo numa plataforma elevada fora do galpão, desaparecendo atrás do
que parecia ser uma locomotiva amarela. Era um elevador de transporte industrial - e pelos oleosos trilhos que
terminavam dentro do galpão, deveria ser a parte de uma fábrica abandonada, que não estava completamente
abandonada.
"Ada!".
Com seu braço ferido pressionado contra o corpo, Leon correu para a grande plataforma hexagonal - ficou
enraivecido ao ouvir o crescente barulho dos motores, o barulho mecânico subindo no limpo céu noturno. Ada
estava partindo, não tinha ido verificar nada -
- só que ela não vai a parte alguma antes de dizer por quê.
Leon correu pela luz da lua, ouvindo a porta da locomotiva fechar enquanto passava por um painel de controle.
Depois que subiu os degraus e tentava recuperar o equilíbrio, o grande elevador começou a descer, painéis de
quase um metro cercaram o perímetro hexagonal da plataforma, levando Leon, Ada e a locomotiva para baixo
numa suave descida.
Leon abriu a porta enquanto tudo ficava escuro, o céu tornando-se apenas um ponto cada vez menor. A luz da
lua sendo trocada pelas brancas luminárias do poço do elevador.
Ao entrar, viu o surpreso olhar de Ada enquanto se levantava de um assento preso na parede, enquanto ela
erguia a Beretta e a abaixava de novo - o sentimento de culpa indo e vindo no tempo que levou para fechar a
porta.
Nenhum dos dois falou, encarando um ao outro. Leon quase a viu tentando inventar uma explicação - cansado
como estava, ele decidiu que não tinha paciência para isso.
"Para onde nós vamos?". Ele perguntou, tentando não mostrar a raiva em sua voz.
Ada suspirou - e sentou, seus ombros caindo "Eu acho que é uma saída". Ela olhou para ele. "Desculpe. Eu não
devia ter tentado partir sem você, mas eu estava com medo...".
Ele pôde ver tristeza de verdade em sua voz e em seus olhos, sua raiva diminuindo um pouco. "Com medo de
quê?".
#
"De que você não fosse conseguir. De que eu não fosse conseguir, tentando manter nós dois a salvo."
"Ada, do que você está falando?". Leon foi para o banco, sentando ao lado dela. Ela olhou para as mãos, falando
suavemente.
"Quanto eu estava procurando você nos esgotos, eu achei um mapa. Ele mostrava o que parecia ser algum tipo
de laboratório ou fábrica subterrânea - e se o mapa estiver certo, havia um túnel que dava fora da cidade".
Ela olhou para ele de novo. "Leon, eu não achava que você tivesse condições de fazer uma viagem como aquela,
como esta - e eu estava como medo de traze-lo comigo, de ser um túnel sem saída ou de algo nos atacar...".
Leon acenou devagar. Ela estava tentando se proteger - e a ele.
"Me desculpe". Ela repetiu. "Eu devia ter contado, eu não devia tê-lo abandonado daquele jeito. Depois de tudo o
que você fez por mim, eu - eu pelo menos te devia a verdade".
A culpa e a vergonha em seus olhos não era algo falso. Leon foi para tocar a mão dela, preparando-se para dizer
que entendia e que não a culpava -
- foi quando houve uma pancada no lado de fora. O vagão inteiro tremeu um pouco, mas suficiente para
deixá-los apreensivos.
"Deve ser um defeito na trilha...". Leon disse e Ada acenou, com uma intensidade que o fez prazerosamente
desconfortável, um calor que se espalhou por todo seu corpo -
BAM!
- e Ada voou do banco, jogada ao chão assim que uma grande e encurvada coisa varou a parede como se fosse
papel. Era uma mão, uma mão com garras bem compridas, pingando de -
"Ada!".
A mão gigante saiu e voltou, fazendo novos buracos no metal enquanto Leon se jogava ao chão, agarrando o
mole corpo de Ada, colocando-a no centro do vagão. Um terrível grito soou pela escuridão do lado de fora - foi o
mesmo grito furioso que tinha ouvido na delegacia, só que mais alto e violento - e menos humano do que antes.
Leon segurou Ada com o braço bom, sentindo um quente rastro de sangue sair do lado direito dela.
"Ada, acorde! Ada!".
E nada. Ele a abaixou gentilmente no chão e apertou o buraco de sangue em seu vestido, bem acima do quadril.
Sangue jorrava de duas profundas perfurações; não dava para saber se era grave. Ele rasgou cerca de cinco
centímetros da parte debaixo do curto vestido dela, pressionando o tecido contra o ferimento -
- e o monstro gritou de novo, e a raiva naquele grito nem se comparava com a de Leon, olhando para o falecido
rosto de Ada. Ele esticou o apertado vestido sobre a atadura improvisada, prendendo-a o melhor que podia,
depois se levantou e empunhou a Remington.
Ada tinha cuidado dele e o protegeu quando não conseguia se proteger. Leon carregou a espingarda
impiedosamente enquanto se preparava para retribuir o favor.
Quando elas chegaram no que parecia o fim da linha, foi Sherry que adivinhou por onde sua mãe devia ter ido.
Elas tinham entrado em outra cavernosa e escura câmara, mas só tinha a porta de entrada. Não parecia ter
outra saída, a não ser que Annette tivesse descido da passarela de metal e caminhado pelo vazio que as cercava.
Elas pararam na beira do chão de metal, tentando enxergar a escuridão à frente, mas sem sorte. O lugar parecia
uma doca; o chão gradeado ia da porta até a parede de trás, e terminava sem mais nem menos, dando lugar a
um interminável vazio. Ou Annette desceu e seguiu em frente ou Claire seguiu pelo caminho errado.
Então voltamos ou seguimos em frente?
Ela não queria nenhuma das opções - se bem que voltar parece melhor do que encarar uma caverna escura. E
Leon ainda deve estar lá atrás...
"Isso é algum teleférico? Sherry perguntou, e Claire se bateu mentalmente.
Plataforma, vários cabos no teto...
"É, acho que é, apesar de você ter adivinhado por mim. A minha cabeça deve estar ruim...".
O pequeno painel do outro lado da plataforma devia ser a mesa de controle. Claire foi para lá, Sherry a seguiu,
apertando seu colar dourado enquanto descrevia os barulhos do tubo de drenagem.
"... e se movia como um trem. Me assustou bastante, também. Era bem alto".
Bem abaixo do pequeno monitor estava um código de chamada. Claire digitou o código e apertou "enter" - e o
lugar se encheu com o suave hum do maquinário.
"Você é bem espertinha, sabia?". Claire disse e Sherry praticamente se iluminou, um doce sorriso em seu rosto.
#
Claire colocou um braço em volta dos ombros de Sherry e juntas foram esperar no fim da plataforma.
As luzes do teleférico apareceram alguns segundos depois, aumentando cada vez mais. Depois dessa, Claire
decidiu que seria fantasticamente mais otimista. O teleférico daria fora da cidade e estaria bem estocado com
água e comida, teria chuveiros e roupas limpas -
- não, apague isso. Uma banheira quente e um daqueles grosso roupões de veludo. E pantufas.
Legal, qualquer coisa que não inclua monstros e pessoas malucas. Ela olhou para Sherry e viu que ela ainda
esfregava o medalhão.
"O que tem aí?". Ela perguntou, tentando fazê-la sorrir de novo. "É a foto do seu namorado?".
"Dentro? Oh, não é para guardar nada". Sherry disse, e Claire gostou de ver as bochechas dela coradas. "Minha
mãe me deu, é para dar sorte - e eu não tenho um namorado. Os meninos da minha idade são totalmente
imaturos".
Claire sorriu. "Vá se acostumando, docinho. Alguns deles nunca crescem mais do que isso".
Já dava para ver o aspecto do teleférico, um único vagão com cerca de seis metros vindo suavemente.
"Para onde você acha que ele vai?". Sherry perguntou, e antes que Claire pudesse responder, a porta pela qual
entraram explodiu.
A porta veio para dentro, arrancada das dobradiças em um ruído metálico e caindo no chão -
- e Claire agarrou Sherry, colocando-a perto assim que Mr. X apareceu, contorcendo-se para cruzar a abertura,
seu olhar desalmado mirando nelas.
"Fique atrás de mim!". Claire gritou, sacando a arma de Irons, arriscando um olhar para o teleférico se
aproximando. Dez segundos, só dez segundos -
- mas X deu um passo gigante para elas, seus grandes braços se levantando, ainda a seis metros de distância,
mas só a quatro de seus largos passos -
"Entre no vagão quando ele parar!". Claire gritou e apertou o gatilho.
Quatro, cinco, seis tiros no peito dele. O sétimo acertando uma bochecha branca, mas Mr. X nem piscou, nem
sangrou - nem parou. Outro passo. O escuro buraco em seu rosto como prova de sua inumanidade. Claire
abaixou a mira, pernas, joelhos.
Bam-bam-bam!
- e ele pausou quando pelo menos um dos tiros acertou seu joelho esquerdo, seus olhos negros fixados nela,
marcando-a -
"Aqui, vamos!".
Sherry já estava puxando o colete dela, gritando, e Claire recuou, atirando de novo. Mais dois tiros acertaram sua
barriga -
- e ela já estava no vagão. Sherry achou o controle da porta e a mesma deslizou para o lado, Mr. X enquadrado
na pequena janela, sem vir mas também sem cair. Sem morrer.
"Siga-me!". Claire gritou, vendo os comandos luminosos à direita, sabendo que a porta não agüentaria um
segundo.
Ela correu com Sherry, agradecendo a Deus pelo designer ter sido amigável quando o botão "partir" desceu sob
suas trêmulas mãos -
- e o teleférico se moveu, deslizando da plataforma, para longe do indestrutível homem e para dentro do escuro.
Annette sentou-se no dormitório do nível quatro, esperando o computador ligar e debatendo se inicia ou não a
seqüência P-Epsilon. Quando o sistema de destruição for ativado, todas as portas serão destrancadas, até
mesmo as eletrônicas. E as criaturas que estiveram presas pelos últimos dias ficarão livres para vagar, e a maioria
delas estarão famintas...
... famintas e quentes, sangrando puro vírus através da carne...
Ela não queria encarar nenhuma dessas criaturas, mas assim que as primeiras linhas do código apareceram na
tela, ela decidiu iniciar a seqüência. O gás P-Epsilon era um experimento que alguns microbiologistas criaram para
satisfazer a equipe de controle de danos da Umbrella. Se funcionar, o gás incapacitará qualquer criatura infectada
pelo vírus aerotransmissível - a principio - garantindo-a uma viagem segura para o túnel de transporte, mas os
espiões estavam vindo e Annette não queria tornar as coisas fáceis para eles. Ela tinha ouvido o elevador de
#
carga sendo chamado para a superfície a caminho do laboratório de sínteses - o que era ótimo, eles estarão aqui
para o final, e ela queria que eles lutassem por suas vidas enquanto acelerava para fora do multibilionário
complexo, para longe da brilhante explosão...
... ele vai queimar e eu ficarei livre desse pesadelo. Fim de jogo, eu venço e a Umbrella perde, e de uma vez por
todas as criaturas assassinas -
Ela sentiu-se bem; ela queria ir direto para o computador mais próximo e ativar o sistema de destruição, mesmo
antes de coletar a amostra, só que ela mal enxergava à frente quando saiu do elevador; e ela tinha medo de
esquecer alguma coisa - ou pior, cair e não levantar mais. A viagem para o armário de remédios do laboratório de
síntese fixou tudo isso.
Epinefrina*, endorfina*, anfetamina*, oh, Deus.
Annette sabia que estava drogada, que não devia subestimar suas habilidades, mas por que não se sentir feliz?
Ela sorriu para o pequeno computador à frente e começou a digitar os códigos, sentindo como se seus dedos
fossem quebrar enquanto a adrenalina sintética corria por suas veia dilatadas.
--------------------------------------------------------------
* Epinefrina - Sinônimo de adrenalina.
* Endorfina - Analgésico.
* Anfetamina - medicamento vaso-condutor e estimulante.
-------------------------------------------------------------- Ela tinha voltado para o laboratório, William também, e a última
amostra viável do G-virus estava no seu bolso. Ela a tinha escondido numa caixa de fusíveis antes de ir procurar
William, e a recuperou quando voltou -
76E, 43L, 17A, tempo para destruição... 20, alerta vocal/corte de energia, 10, autorização pessoal, 0001 Birkin -
- e era isso. Annette não parava de sorrir, não queria parar enquanto tocava o "enter". Um toque e nada na
terra poderia pará-lo. Em dez minutos os alertas gravados serão tocados, e o elevador desligará; em quinze
começará a contagem - cinco minutos para alcançar uma distância segura de trem, outros cinco e -
Boom. Vinte minutos antes da explosão. Mais do que suficiente para chegar no túnel e ligar o trem; suficiente
para acelerar por baixo das ruas da cidade, pelas montanhas isoladas dos limites de Raccoon. Tempo o bastante
para chegar no fim da linha e ver a Umbrella perder.
Quando o relógio marcar zero, as cargas plásticas na central de força do laboratório serão ativadas. Mesmo se
onze das doze cargas explosivas falharem, uma única seria capaz de detonar as cargas secundárias embutidas
nas paredes. O sistema de destruição da Umbrella foi projetado para derrubar tudo. O laboratório se tornará um
inferno, explodindo sob a cidade morta, visível à quilômetros - e ela estará lá para ver, para ver que fez tudo dar
certo.
Isto é por você William...
O pensamento foi amargo... por um tempo, eles não - aproveitaram a relação marido e mulher. William era tão
brilhante, tão devotado ao trabalho que os prazeres da síntese tomaram o lugar da vida de casado. Mas ela
aprendeu a conviver com isso - e agora, com seu dedo tocando o fim de tudo, ela desejou que tivesse havido
mais entre eles nos últimos anos, mais do que sua adoração por seus incríveis presentes ou pela adoração dele
por sua assistência...
Este é o nosso último beijo, meu amor. Esta é minha contribuição pelo trabalho, meu ato final pelo que
compartilhamos.
É, estava certo, esse era o sentimento. Annette apertou a tecla, seu coração cantando, e viu o código de
travamento aparecer na tela em verde brilhante.
"Eu, com todo respeito, ofereço a minha demissão". Ela disse suavemente e começou a rir.
[25]
Leon tinha dado duas voltas em torno do vagão e não viu nada.
Quando a criatura finalmente saiu das sombras do teto do vagão, Leon ergueu a espingarda. A visão o fez
#
congelar, sua fúria rendendo-se ao medo.
Mas que droga -
A coisa ainda gritava, o brutal berro como a voz do inferno. A coisa já foi um homem - pernas e braços, pedaços
de roupas penduradas em seu grande corpo - mas tudo de humano mudou - ainda estava mudando enquanto
aumentava sua ferocidade, e Leon só conseguia olhar.
Seu corpo era inchado e ondulado com estranhos músculos. Seu braço direito era quase meio metro mais longo
que o outro, manchadas garras sobressaindo da mão. E o inquieto tumor no ombro direito parecia um olho do
tamanho de uma bola de basquete, mexendo de um lado para o outro como se procurasse algo -
- e o grito também estava mudando, mais profundo, mais áspero, o despenteado rosto caindo - derretendo até o
peito. Como cera quente, a cabeça humana escorregou para o peito esquerdo -
- e ao mesmo tempo, outro rosto estava se formando, crescendo com um terrível som de estalo, como dedos
sendo quebrados. Rachados olhos se abriram, o vermelho buraco de uma boca se formando, respirando para
gritar -
- e Leon apertou o gatilho.
Boom!
O tiro acertou o peito, um grosso e roxo sangue espirrou, cortando o grito da criatura - mas foi só isso. O novo
rosto do monstro virou para Leon, inclinando -
- e pulou na plataforma, aterrissando com as penas meio agachadas. Ele deu um passo a frente e ficou perto o
bastante para Leon sentir o estranho e químico cheiro que a pele do monstro soltava - e viu que o sangramento
no peito tinha parado, que a carne estava comendo os buracos.
A criatura levantou sua poderosa garra e Leon recuou, atirando novamente quando a mão desceu -
- shhink!
- e faíscas voaram do metal assim que o tiro acertou a criatura no estômago. O pesado calibre mal intimidou o
gigante mostro. Ele deu outro passo e Leon recuou, atirando de novo -
- e encostou nos degraus que sobem para o vagão, tropeçando e caindo sentado, o tiro indo longe sobre a
cabeça em forma de bala da criatura. Mais um passo e estará nele -
- e estarei morto -
- exceto que a criatura não deu o passo. Ao invés disso, ela virou para o parapeito da plataforma, sua bizarra
cabeça levantando, os buracos de suas narinas alargando -
- e silenciosamente, quase graciosamente, o monstro pulou para a escuridão fora da plataforma.
Por um momento, Leon não se mexeu. Não podia, estava muito ocupado tentando entender porque o monstro
não o matou. Deve ter sentido ou cheirado algo, terminou o ataque que com certeza teria ganho - e pulou fora
do transporte.
Eu não morri. Ele se foi e eu não estou morto.
Por quê? Ele não sabia, mas saber que estava vivo já bastava - e alguns segundos depois, seus confusos
sentidos o disseram que o elevador estava diminuindo a velocidade, que o poço estava ficando mais claro, a
escuridão ficando acinzentada.
Leon ficou de pé e foi ver Ada.
Sherry ouviu o monstro de longe, em algum lugar do claro e fundo buraco, e sentiu-se bem mais assustada do
que quando Mr. X - Claire o chamava assim - entrou na estação do teleférico. Claire disse que foi um problema na
máquina, mas Sherry não se convenceu. O som era tão distante e estranho que poderia ser outra coisa...
... e se não for? E se Claire estiver errada?
Elas pararam no lado de fora do galpão, em frente a um grande buraco no chão e esperaram pelos ruídos
mecânicos cessarem. A quase lua cheia estava baixa no céu, e Sherry podia dizer que já era de madrugada pelo
tom azul no horizonte; ela não se sentia cansada. Estava assustada e ansiosa, mesmo com Claire segurando sua
mão, Sherry não queria entrar no buraco escuro onde o monstro poderia estar.
Depois de um longo tempo, o maquinário parou e Claire recuou - o poço do transporte, ela disse - e voltou para o
galpão.
"Vamos ver se podemos chamá-lo de volta - Sherry?".
#
Sherry não se mexeu. Ela olhava dentro do buraco, segurando seu amuleto e desejando ser corajosa como Claire
- mas ela não era, e sabia disso, e não queria descer na escuridão.
Eu não posso, eu não posso descer lá, eu NÃO sou como a Claire, e não me importo se minha mãe está lá
embaixo -
Sherry sentiu um calor nas costas e olhou para cima, assustada, e viu que Claire tinha tirado o colete e estava
colocando-o em Sherry.
"Eu quero que você o use". Claire disse, e apesar do medo, Sherry sentiu uma súbita onda de pura alegria.
"Mas por que? Ele é seu, e você vai sentir frio...". Sherry disse.
Claire ignorou por um minuto, ajudando-a se vestir. Era grande demais para ela e estava um pouco sujo, mas foi
a coisa mais legal que já ganhou.
Para mim. Ela quer que eu o tenha.
Claire se ajoelhou, agora vestindo só uma fina camiseta preta e shorts. Olhando seriamente, Claire fechou o
colete no peito de Sherry e começou a falar.
"Eu quero que fique com ele porque eu posso dizer que você está com medo. Faz tempo que eu o tenho.
Quando eu o uso, sinto como se pudesse chutar traseiros. Como se nada fosse me deter. Meu irmão tem uma
jaqueta de couro com o mesmo desenho nas costas, e ele chuta traseiros - mas ele tirou a idéia de mim".
Claire sorriu de repente, um cansado e quente sorriso que fez Sherry esquecer do monstro, só por um minuto.
"E agora é seu, e toda vez que vesti-lo, eu quero que se lembre de que você é a melhor garota de doze anos
com quem eu já andei".
Sherry sorriu de volta, abraçando o tecido rosa escuro. "É um suborno, não é?".
Claire acenou sem hesitar. "Sim, é um suborno. Então, o que você me diz?".
Suspirando, Sherry pegou a mão dela, e juntas entraram no galpão para procurar os controles do elevador.
Ada acordou assim que Leon a colocou numa barulhenta cama metálica, sentindo uma pulsante dor de cabeça e
uma dor em seu lado. Sua primeira idéia foi a de ter sido baleada - mas ao abrir os olhos e ver a pálida e
preocupada face de Leon, ela lembrou.
Ele ia me beijar, acho - e então...
"O que aconteceu?".
Leon tirou o cabelo da testa dela, sorrindo um pouco. "Aconteceu um monstro. O mesmo que pegou Bertolucci,
acho. Ele atravessou a parede do transporte com a mão e te nocauteou. Você bateu a cabeça depois que - te
arranhou".
Vírus!
Ada fez força para levantar e ver o ferimento, mas a dor de cabeça a impedia. Ela tocou o galo bem acima da
têmpora* esquerda, e tremeu.
"Ei, fique parada". Leon disse. "O ferimento não é tão grave, mas você levou uma séria pancada...".
Ada fechou os olhos. Se ela foi infectada, não havia nada que podia fazer - e que ironia - se foi Birkin quem a feriu
e ainda estava quente, Ada acabaria coletando a amostra do G-virus de uma forma bem pessoal.
Respire fundo. Você não está mais no transporte, o que isso a diz?
"Onde nós estamos?". Ela perguntou, abrindo os olhos.
Leon balançou a cabeça. "Não tenho certeza. Como você tinha dito, é um laboratório ou fábrica subterrânea. O
elevador está lá fora. Eu a trouxe para a sala mais próxima".
Ada virou a cabeça para ver a janela, para ver a área do elevador.
Deve ser o nível quatro, onde a plataforma pára...
O laboratório de síntese principal ficava no nível cinco.
Leon olhava tão sinceramente, seu brilhante olhar azul tão sensível, que por alguns segundos fez Ada pensar em
abortar a missão. Eles poderiam descer para o túnel de fuga juntos, entrar no trem e sair da cidade. Podiam fugir
para bem, bem longe -
- e depois o que? Ligar para Trent e dizer que vai reembolsar? Claro. Depois você pode conhecer os pais de Leon,
ganhar um anel, comprar uma pequena casa branca com um cercado de madeira, ter alguns filhos... você pode
aprender crochê e esfregar os pés dele depois de um duro dia prendendo bêbados e fazendo paradas no trânsito.
Felizes para sempre.
Ada fechou os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava.
#
"Minha cabeça dói muito, Leon, e o túnel que vi no mapa - eu não sei onde é exatamente...".
"Eu vou achá-lo,". Ele disse. "eu vou achá-lo e depois voltar para cá. Não se preocupe com nada, tá bom?".
"Tome cuidado". Ela sussurrou, e sentiu os suaves lábios dele tocarem sua testa, o ouviu levantar e ir para a
porta.
"Fique aqui, eu volto logo". Ele disse, e a porta abriu e fechou. Ela estava só.
Ele ficará bem. Ele se perderá tentando achar o túnel, vai voltar, verá que fui embora e pegará o elevador de
volta à superfície... eu poderei achar a amostra, escapar e tudo acabará.
Ada contou um minuto e sentou-se devagar. Foi uma bela pancada mas ainda conseguia funcionar.
Houve um barulho lá fora, e Ada se levantou, olhando pela janela. Ela conhecia o som mesmo antes de olhar, e
sentiu seu coração afundar um pouco. O elevador estava subindo, provavelmente chamado do galpão por uma
equipe da Umbrella...
... isso quer dizer que não tinha muito tempo. E se eles o acharem -
Não, Leon ficará bem. Ele era um combatente, sabia fugir do perigo, era forte e decente - e não precisava de
alguém como ela em sua vida. Ela foi louca em considerar isso, mesmo por um momento. Era hora de arrumar
as coisas, para fazer o que veio fazer, para lembrar quem ela era - uma agente freelance*, uma mulher sem
dúvidas na hora de roubar ou matar para completar a missão, uma fria e eficiente ladra que leva o prêmio em
uma carreira sem erros. Ada Wong nunca anda com os bons, e não será um policial de olhos azuis que a fará
esquecer disso. Ada tirou as chaves e cartões do bolsar* e abriu a porta, dizendo a si mesma que estava
fazendo a coisa certa - esperando acreditar nisso.
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* Têmpora - Osso lateral superior da cabeça.
* Freelance - Autônomo(a).
* Bolsar - Bolso de vestido.
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[26]
Annette teve alguns problemas.
A ida para a sala de carga foi ruim; cruzou com um infectado, nos primeiros estágios, e o matou com um tiro na
cabeça. Ela passou sob um Re3 que não se desgrudou do teto, e parece que as outras criaturas ainda não
perceberam que estavam livres.
Mesmo assim, ela conseguiu chegar lá em menos de três minutos. Ela digitou o código com um senso de grande
conquista -
- até que a porta da sala de carga se recusou a abrir. Annette digitou o simples código de novo, com mais
cuidado - e nada. Era uma das únicas portas no complexo que não abriam automaticamente com o sistema de
destruição, mas isso não deveria ser um problema - havia uma entrada de disco debaixo dos controles, o disco
que sempre esteve lá, que por insistência da Umbrella, só os chefes da seção poderiam ter acesso -
- e claro, depois de verificar, ela viu que não estava lá. Alguém pegou.
Annette ficou parada na frente da porta trancada do saguão vazio, e sentiu o pânico alcançar a sua mente.
O lugar vai explodir e eu desperdicei quatro, quase cinco minutos agora e onde está o maldito disco?
"Calma, calma, você está bem, tudo bem...".
Um fraco eco, um suspiro de razão no brilhante saguão. Ela só tinha que descer em outro nível; ela tinha a chave
mestra, uma arma e tempo. Não muito, mas o bastante.
Respirando fundo, Annette voltou para o corredor que dava nas escadas, lembrando se de que mesmo não
conseguindo, a Umbrella ia pagar. Ela não queria morrer, não iria morrer, mas os corredores claros e sujos de
sangue, os laboratórios uma vez estéreis vão queimar de qualquer jeito, não há motivo para pânico -
- e assim que virou à direita e correu pelo corredor, seus passos altos e profundos no silêncio, uma grade de
metal caiu do teto bem na sua frente -
#
- e um Re3, um licker, apareceu e gritou por seu sangue.
Não!
Annette atirou, mas só acertou o ombro dele enquanto avançava, esticando um braço deformado para acertá-la.
Ela sentiu uma aguda dor no braço e atirou de novo, chocada e desacreditada -
- e o segundo tiro acertou-o na garganta. Ele gritou, sangue espirrando do pescoço, seu babante e falso grito
enquanto pulava nela de novo.
O terceiro atingiu seu gelatinoso e acinzentado cérebro, e ele caiu se contorcendo, a centímetros de suas trêmulas
pernas.
Ofegando ao ver o quanto perto ele parou, Annette olhou para seu braço sangrando, para os grandes rasgos em
seu avental -
- e algo cedeu. Algo em sua mente.
Sua mente correndo, seu coração batendo, o sangue e o licker, o licker de William, morto no chão à sua frente -
tudo isso dançava em um círculo que se juntou em um só pensamento. Um que explicava tudo isso.
Não é deles.
Era tão claro, como cristal. Ela não podia fugir da dor, porque a dor acabaria em qualquer lugar; ela tinha provas,
pingando de seu braço. William tinha entendido, mas se perdeu antes de explicar, antes de dizer o que ela
realmente precisava fazer. Ela tinha que confrontar seus agressores e fazê-los entender que o G-virus não
pertencia a eles.
Mas eles vão entender? Conseguirão?
Talvez sim, talvez não. Era o trabalho de William, seu legado, e agora era dela.
Deles não. Meu.
Ela tinha que achá-los e dizer a eles. E quando aceitarem a verdade, eles terão que deixá-la sozinha - e então, se
ainda houver tempo, ela seguirá seu próprio caminho.
Mas primeiro ela precisava de outro ato. Sorrindo, de olhos grandes e estrelados, Annette passou por cima do
licker e foi para a escada.
Leon pensou ter ouvido tiros.
Ele estava em um tipo de ala cirúrgica, a primeira sala no final da primeira passagem que pegou depois de deixar
Ada, e levantou os olhos da pilha de papéis amassados que tinha achado, ouvindo - mas os distantes
cracks não se repetiram, então voltou à busca. Ele folheou rapidamente as páginas, desesperado para achar algo
além de intermináveis listas de números e cartas sob o timbre da Umbrella.
Vamos, deve ter algo útil em tudo isso...
Ele queria sair, queria pegar Ada e sair. O cadáver estripado caído no canto era um bom motivo, mas era mais do
que isso - o ar na sala, o corredor lá fora, ele apostou que todas as salas daquele lugar estavam erradas.
Cheirava como morte, e pior, tinha uma atmosfera de algo mais escuro, algo amoral. Mal.
Eles faziam experiências aqui, testes e sabe lá Deus o que mais - e eles criaram a praga zumbi; eles criaram o
demônio que atacou Ada, eles assassinaram a cidade inteira. Seja lá o que queriam fazer, estavam praticando o
mal.
- Mal em larga escala; o elevador os tinha levado para um complexo secreto da Umbrella, um dos grandes. Pelos
números na parede, ele sabia que estava no quarto piso - e a passarela de metal que o levou para a sala de
operações, uma das três, se esticava sobre um buraco que cobria a câmara inteira, o fundo perdido na sombra.
Ele não sabia o quanto tinha descido, e nem se importava, ele só queria achar um simples mapa que indicasse a
saída.
E não está aqui...
Frustrado, Leon deixou os papéis de lado - e viu que havia um disquete de computador na mesa de metal,
escondido pelos papéis. Franzindo, Leon o pegou - "Para verificação da sala de carga" estava impresso numa
etiqueta.
Suspirando, ele o colocou no bolso e esfregou os olhos com a mão direita, seu braço esquerdo praticamente inútil
depois de carregar Ada. Ele não queria procurar um computador e ver o que tinha no disco, não queria procurar a
saída de porta em porta, ver com quais atrocidades a Umbrella tinha brincado. Ele estava cansado, com dor e
preocupado com Ada... e decidiu, enquanto ia para a porta, que deveria falar com ela. Tentar refrescar sua
#
mente, dizer que acharia a saída, mas o lugar é grande demais; se ela soubesse a direção, ou se lembrasse em
que andar era...
Leon abriu a porta, saiu para o corredor e -
- uma mulher armada estava na sua frente, uma 9mm apontada para seu peito. Ela estava sangrando, finos
riscos de sangue descendo pelo braço, manchando seu sujo avental de laboratório - e o olhar dela, estranho e
esbugalhado, o dizia que se mexer seria uma má idéia.
Oh, Deus, o que é isso?
"Você matou meu marido". Ela disse. "Você, sua amiga e a garota - todos vocês, vocês queriam dançar no
túmulo dele, mas eu tenho novidades para você!".
Ela tinha certeza, ele percebeu em sua alta e trêmula voz. Ele manteve as mãos abaixadas, sua voz calma e
baixa.
"Senhora, eu sou um policial e estou aqui para ajudar, está bem? Eu não quero machucá-la, eu só - "
A- mulher colocou a mão ensangüentada no bolso e tirou algo, um tubo de vidro cheio de um líquido roxo. Ela
sorriu bastante, erguendo-o acima da cabeça, ainda mirando a arma em Leon.
"Aqui está! É o que você quer, não é? Me ouça, você me ouve? Não é de vocês! Você entende o que estou
dizendo? William o fez, eu o ajudei, e não pertence a você!".
Leon acenou devagar. "Não pertence a mim, você está certa. É absolutamente seu - ".
A mulher nem ouvia. "Você acha que pode pegá-lo, mas eu vou impedi-lo, eu não vou deixá-lo pegar - tem muito
tempo, tempo para matar você, Ada e quem mais tentar pegá-lo!".
Ada -
"O que você sabe sobre Ada?". Leon perguntou, dando meio passo na direção da maluca, não muito calmo.
"Você a machucou? Me diga!".
A mulher riu, uma risada insana e sem graça. "A Umbrella a mandou, seu idiota! Ada Wong, a senhorita ame-os e
deixe-os! Ela seduziu John para pegar o G-virus, só que não é dela, também! Não é, NÃO É DE VOCES, É MEU -".
Um forte tremor abalou o chão, lançando Leon ao mesmo, uma vibração que chacoalhou as paredes -
- e crash, canos e reboque caíram do teto, uma pesada viga levando a mulher ao chão. Leon cobriu a cabeça
enquanto pedaços de cimento caíam sobre ele -
- e acabou. Leon sentou, olhando chocado para a mulher, sem saber o que tinha acontecido. Ela não se movia. A
viga de metal que a derrubou ainda estava pendurada no teto -
- e uma fria e calma voz soou de repente, de alto falantes escondidos nas paredes - feminina, calma e pontuada
pelo ritmo de um alarme.
"A seqüência de autodestruição foi ativada. Esta seqüência não pode ser abortada. Todas as pessoas devem
evacuar imediatamente. A seqüência de autodestruição foi ativada. Este programa não pode ser abortado. Todas
as pessoas devem evacuar imediatamente -".
Leon ficou de pé, correu para a mulher e pegou o cilindro de vidro da mão estendida, colocando-o na bolsa. Ele
não sabia quem ela era, mas era louca o bastante para segurar um tubo de ensaio.
Ada - ele tinha que achá-la para fugirem. Os pulsantes e penetrantes alarmes ecoavam pelos corredores,
perseguindo-o até a porta para as passarelas, junto com a indiferente voz feminina repetindo a mensagem de
destruição iminente.
A gravação não dizia quanto tempo tinham, mas sabia que não queria estar lá quando o relógio zerar.
[27]
A descida do elevador terminou num arranho de freios hidráulicos - e depois silêncio, assim que os motores
desligaram, prendendo-as no interminável poço.
"Claire? O que -".
Claire segurou a boca de Sherry com o dedo - e ouviu o que parecia um alarme lá fora, uma repetida e abafada
batida. Parecia haver uma voz também, mas Claire não conseguia entender o murmúrio.
"Vamos, meu bem, acho que o passeio acabou. Vamos ver onde paramos, tá bom? E fique perto".
#
Elas saíram do vagão para a plataforma, os distantes sons não mais tão distantes - e havia luz, vinda de algum
lugar atrás do vagão. Claire pegou a mão de Sherry enquanto andavam rapidamente, sem querer preocupar a
garota, mas certa de que era um alarme. Havia alguém falando, também, e Claire queria saber o que dizia.
O elevador tinha parado a alguns centímetros abaixo de algum tipo de túnel de serviço, a luz que viu, vinha de
uma lâmpada enjaulada e pendurada no teto do túnel. Não havia porta, mas tinha um pequeno buraco no fim da
passagem; dava para elas passarem agachadas.
É isso ou escalar até a superfície, provavelmente um quilômetro acima...
Sem chance. Claire ajudou Sherry a subir na passagem e depois foi sua vez, indo para a boca do buraco e
agachando para o escuro. O alarme ficou mais alto ao se aproximarem, o murmúrio se transformando numa voz
feminina. Ela forçou para entender, esperando ouvir "problema no elevador" ou "temporário" -
Mas ainda não entendia. Elas tinham que deixar o elevador e esperar saírem num lugar melhor.
Claire virou, suspirando. "É hora de engatinhar. Eu vou primeiro, e depois -".
SLAM!
Sherry gritou enquanto algo caiu no teto do vagão atrás dela, uma forte pancada no metal que o partiu. Claire a
agarrou, aproximando-a, sua respi-ração presa na garganta -
- e uma mão, duas mãos apareceram no buraco do teto. Dois grossos braços cobertos em sombra -
- e a brilhante cabeça de Mr. X ergueu-se do vagão, como uma lua morta numa noite sem estrelas.
Claire virou e empurrou Sherry para a escuridão do túnel, seu coração martelando, seu corpo subitamente
molhado de suor.
"Vai, vai, estou bem atrás de você!".
Sherry sumiu no escuro e Claire não olhou para trás, o incansável perseguidor certamente já saindo do vagão
para continuar sua determinada caçada.
Ada ouviu os gritos de Annette de onde as três passarelas se juntavam. Ela se forçou a não correr para socorrer
Leon, prometendo que se ouvir tiros, mudaria de idéia -
- mas então o lugar balançou violentamente, e a suave voz da gravação começou a falar.
Droga!
Ada se levantou furiosa com a cientista, uma parte sua doendo por Leon, sabendo o que isso significava. Annette
tinha acionado a destruição, isso quer dizer que tinham menos de dez minutos para saírem de lá -
- e Leon não conhece o caminho.
Não, não é importante. Se ela for pegar a amostra que Annette certamente tem, precisaria ser agora. Leon não
era seu problema, nunca foi, e não desistiria agora, não depois do que passou para pegar o precioso vírus de
Trent.
Ada deu um passo para fora do painel central que conectava as três passarelas - e ouviu passos vindo para ela,
fortes demais para serem de Annette. Ada deslizou para a sombra, para trás da passarela oeste, se escondendo.
Um segundo depois. Leon passa correndo, provavelmente voltando para onde ela deveria estar esperando por
ele. Ada respirou fundo enquanto tirava-o de sua mente, e correu pela passarela sul para achar Annette.
Ada se foi.
"...foi ativado. Esta seqüência de auto destruição -".
"Cala a boca, cala a boca -". Leon falou, parado no meio da sala, seu estômago apertado, suas mãos fechadas.
Quando ela ouviu o alarme deve ter entrado em pânico e fugido. Ela devia estar andando por aí, perdida e
atordoada, talvez procurando por ele enquanto a infernal voz se repetia junto com o alarme.
O elevador!
Leon foi para a porta - e viu que não estava lá, um largo e pouco fundo buraco lá fora. Ele nem tinha percebido
por estar preocupado com Ada -
- nós temos que achar aquele túnel! Sem o elevador estamos presos!
Frustrado em silêncio, Leon virou e voltou para as passarelas, rezando para achá-la a tempo.
O pequeno túnel terminava abruptamente, sobre uma queda de pelo menos dois metros em um corredor vazio.
De ouvidos zunindo, de boca seca, Sherry agarrou as bordas do buraco, fechou os olhos e saltou. Ela pousou
agachada e depois caiu, sua perna direita dobrando. Doeu, mas ela mal sentiu, levantando com as mãos e
#
joelhos para sair do caminho, olhando para o buraco -
- e lá estava Claire, sua cabeça saindo, seus preocupados olhos vendo que estava bem, que o corredor era
seguro... exceto por haver sirenes tocando, uma mulher falando em alto falantes, e Mr. X estar vindo.
Claire esticou o braço com a arma. "Sherry, preciso que segure isso, eu não consigo virar".
Sherry agarrou o cano, impressionada com o peso da arma. "Não aponte isso para nada". Claire disse e
praticamente mergulhou do buraco, curvando o corpo e aterrissando sobre o ombro, suas pernas batendo na
parede.
Antes de Sherry perguntar se estava bem, Claire já estava de pé, pegando a arma e apontando-a para a porta
no final do corredor.
"Corre!". Ela disse, e começou a correr, uma mão empurrando as costas de Sherry enquanto iam para a porta,
enquanto a voz as diziam que o sistema de destruição tinha sido ativado -
- e atrás delas, um som de metal retorcendo atravessou as sirenes, e Sherry correu mais rápido, aterrorizada.
[28]
Annette Birkin se arrastou para fora do pesado e frio metal, ainda segurando a arma, o G-virus se foi. Assim que
abriu a boca para gritar de fúria, sangue correu pelos seus lábios.
- meu meu meu -
De algum modo ficou de pé.
Ada disse a si mesma que não merecia a boa opinião de Leon. Nunca mereceu.
Perdoe-me...
Leon voltava da área do elevador, correndo cego com medo por ela. Assim que passou pelo centro e foi para a
passarela oeste, Ada saiu das sombras e apontou a Beretta para as costas dele.
"Leon!".
Ele virou, e Ada sentiu sua garganta travar com o alívio no rosto dele - forçando para não sentir nada, o sorriso
dele sumindo.
Oh, Jesus, me perdoe!
"Estive esperando você". Ela disse, não se orgulhando do quanto calma estava. Do quanto fria.
Os alarmes soavam, a voz mecânica tão gelada quanto a dela, dizendo que o sistema não pode ser abortado.
"O G-virus". Ela disse. "Dê ele para mim".
Leon não se mexeu. "Ela estava dizendo a verdade" Ele falou, sem raiva mas com mais dor do que Ada queria
ouvir. "Você trabalha para a Umbrella".
Ada balançou a cabeça. "Não. Para quem eu trabalho não interessa. Eu - eu".
Pela primeira vez desde criança, Ada sentiu traços de lágrimas - e de repente o odiou por isso, por tê-la feito se
odiar.
"Eu tentei!". Ela lamentou, sua postura quebrada pela corrente de raiva que corria por ela. "Eu tentei te deixar, lá
no galpão! E você teve que tirar de Annette, você não o deixou par trás!".
Ela viu pena no rosto dele e sentiu a fúria passar, levada por uma onda de dor - pelo que perdeu com ele; pela
parte de si que perdeu a um longo, longo tempo.
Ela queria contar sobre Trent. Sobre as missões na Europa e Japão, sobre como se tornou o que era, sobre cada
evento de sua miserável vida que a trouxe para cá - apontando uma arma para o homem que a salvou.
O relógio estava correndo.
"Passe ele para cá". Ela disse. "Não me faça matá-lo".
Leon olhou nos olhos dela e simplesmente disse. "Não".
#
Um segundo passou, e outro.
Ada abaixou a Beretta.
Leon se livrou da bala que o mataria - e Ada abaixou a arma lentamente, seus ombros caindo, uma lágrima
descendo pela bochecha de porcelana.
Leon soltou sua respiração presa, sentindo muitas coisas, tristeza, traição - uma dó pela torturante força no
escuro olhar dela -
- foi quando um tiro badalou para fora das sombras atrás dela. Os olhos de Ada arregalaram, sua boca abriu
enquanto começava a cair, a arma acertou o chão, seu corpo bateu no parapeito e mergulhou.
"Ada, não!".
Ele correu e pulou, e de alguma forma ela conseguiu agarrar a barra de metal do parapeito - enquanto ele pegava
seu pulso, o corpo dela pendurado sobre a escuridão sem fundo, sangue em seu ombro.
"Ada, agüente firme!".
"Meu". Annette suspirou.
Ela ergueu a arma de novo para atirar no outro, para recuperar o que era seu, para fazê-los pagar -
- mas a arma estava pesada demais, estava caindo e ela junto. Juntas, elas caíram no metal escuro, o escuro, o
escuro em sua mente que finalmente levou a dor embora.
William -
Foi seu último pensamento antes de dormir.
O que ele quer, por que nós?
Lá, um mezanino do outro lado, a uns três metros do outro andar lá embaixo, caixotes de madeira bem abaixo
da passarela.
"Por aqui!". Claire gritou, e elas correram. O calor emanava das máquinas quando chegaram no piso inferior da
câmara de dois andares, enquanto Claire levantava Sherry e seguia logo atrás.
Crash!
Ela virou, viu que a grande criatura estava atravessando a porta, andando e procurando -
No final da mezanino, uma porta dupla de metal. Elas correram, Claire não pensando em nada exceto como
destruir uma coisa que sobreviveu tudo isso -
- a porta estava destrancada, e elas saíram em outro mezanino; o calor lá era terrível -
- e não tinha saída.
Claire viu, depois de dar alguns passos lá dentro, que estavam no parapeito de uma casa de fundição, o
borbulhante calor estourando em bolhas na piscina lá embaixo.
Ela tinha doze balas, divididas em duas armas. Claire foi para a ponta da plataforma, Sherry ao lado, o laranja
elétrico do metal derretido banhando-as com sua fervura. Quente o bastante para queimar qualquer coisa...
Como? Como eu faço ele pular?
"Sherry, vá até lá!".
Ela apontou para o canto mais longe da plataforma, e Sherry balançou a cabeça, seu rosto tremendo de medo.
"Vá! Agora!". Claire gritou, e com um choro de terror, Sherry correu, seu medalhão batendo no colete -
- não é um medalhão -
- e Sherry gritou, Claire virou, Mr. X estava vindo.
Ele entrou na câmara, tão duro, grande e impossível quanto a primeira vez que o viu, a luz alaranjada tornando-o
ainda mais um pesadelo.
Claire se aproximou, guardando a arma de Irons no short, o plano meio formado correndo em sua aterrorizada
mente. Provavelmente não funcionará, mas ela tinha que tentar -
- ele me alcança, eu pulo no beiral, me seguro, ele cai -
Mr. X virou seu vazio olhar para ela e deu um de seus estrondosos e calculados passos, os escuros buracos de
bala em seu rosto e pescoço suavizados pela luz alaranjada -
- e ele virou para Sherry, ergueu os punhos e começou a andar.
"Ei! Ei, eu estou aqui!".
Claire começou a gritar, mas ele não a ouviu, não a viu, o monstruoso ser concentrado na pobre garotinha
#
encurralada na parede, esfregando o medalhão -
- e Claire sabia o que ele queria. As frases de Annette e Sherry vieram juntas, formando a resposta.
G-virus, fazê-la em pedaços, amuleto da sorte -
Não é um medalhão.
"Sherry, ele quer o colar! Jogue- o para mim!".
Se ela estiver errada, ambas estarão mortas. Mr. X chegou mais perto da garota, bloqueando-a da visão de
Claire -
- e o colar, o colar do G-virus que Annette tinha dado para a filha voou pelo ar quente, caindo no chão perto de
Claire.
Mr. X girou, seguindo o caminho do colar com seus olhos negros, esquecendo Sherry. Era verdade.
Boa garota!
Claire o pegou, balançando-o para o monstro. "Você quer isso?". Claire disse, as palavras saindo com fúria pelas
balas gastas com ele, pelos medos que ela e Sherry tiveram. "Quer? Então venha pegar seu miserável!".
O monstro estava a uns dois metros de distância quando Claire virou e jogou o medalhão na piscina fervente,
desaparecendo no metal derretido -
- e a super criatura que as tinha aterrorizado por aquela interminável noite foi direto para o parapeito, as barras de
metal cedendo com seu peso -
- e mergulhou silenciosamente no gigante tonel, uma grande onda de lava respingou, espontâneas erupções de
fogo dançando na escura
forma do corpo que desaparecia sob o fogo derretido.
Triunfo, alívio, maravilhoso - e a fria voz da gravação mudou de repente, tirando a alegria de ver Mr. X tomar um
banho de lava.
Sob o grito das sirenes -
"Restam cinco minutos para alcançar distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se à plataforma de embarque. Repito, dirijam-se à plataforma de embarque.
Repito...".
Sherry estava do lado, Claire pegou sua mão e elas correram.
A dor era incrível e Ada fechou os olhos, pensando se morreria por isso.
"Ada, agüente firme! Agüenta, eu vou te levantar!".
Através das sirenes, Ada ouviu que a contagem para a detonação tinha começado. Cinco minutos.
Ele tenta me salvar, nós morremos.
A pegada de Leon era forte, sua determinação quase tão forte quanto o orgulho dela. Quase.
Ada virou o rosto para ele, viu que apesar de tudo, ele ainda queria salvá-la.
Não desta vez. Não para mim...
A vida dela tem sido sobre egoísmo, ego e ganância. Ela viu muita gente boa morrer, e durante o caminho,
perdeu a habilidade de se importar - dizendo a si mesma que o esforço era uma perda de tempo e um sinal de
fraqueza.
Eu estava errada. Eu fui egoísta e errada, mas agora é tarde demais.
"Leon - desça, oeste, ache a sala de carga, depois das escadas - cadeiras de espera. Você vai precisar do disco,
está no meu - bolso -
"Ada, eu já tenho! Disco de carga, certo, eu já tenho, eu achei - não fale, agüente aí, deixe-me ajudar!". Ele
inclinou-se no parapeito, tentando manter o agarre.
Falar era um terrível esforço, mas ela tinha que terminar antes do tempo acabar.
"O código é 345. Pegue o elevador, Leon. Desça. O túnel - do trem dá para fora. Tem que - correr a toda
velocidade... e cuidado com Birkin, o infectado com G-virus, ele - ele já está mudando a essa hora. Entendeu?".
Leon acenou, seu olhar azul a penetrando.
"Sobreviva". Ela disse, e era uma boa palavra, uma palavra para se cumprir. Ela estava cansada, e a missão
estava preparada, e Leon viverá.
Ela soltou-se da barra metálica do parapeito, e Leon gritou seu nome, o som a seguindo para o escuro como um
amargo adeus.
#
[29]
Sherry estava assustada, mas Mr. X estava morto. Devia ser o monstro que a procurava na delegacia, que
queria parti-la ao meio -
- mas não havia tempo para pensar enquanto corriam pela sala dos maquinários, pelo corredor com o buraco no
teto, fazendo a curva -
- e Sherry gritou quando um zumbi avançou sobre elas, uma criatura feita de ossos, e Claire atirou.
- bang, e a cabeça branca e seca desmoronou, o corpo capotando no chão, e Claire já estava puxando Sherry
para a porta no final do corredor.
Era um elevador, Sherry se jogou numa das paredes depois que Claire a empurrou para dentro, tentando
recuperar o fôlego enquanto Claire apertava os botões. Depois de correrem de Mr. X, a descida de elevador foi
suave.
"Nós vamos conseguir". Claire disse. "Só mais um pouco".
Sherry acenou, seu coração pulando mais forte enquanto a voz dizia que restavam quatro minutos para se
safarem.
Leon sentiu como se não soubesse levantar e andar. A visão do bonito rosto dela um segundo antes de se
soltar...
ela se foi. Ela está morta.
Ele pegou a Beretta do chão, ainda estava quente com o toque dela - e estava leve demais, leve porque não
estava carregada. Nem o clip estava lá, ela nunca quis machucá-lo; ela estava mentindo, ela mentiu o tempo
todo.
"... quatro minutos para alcançar a mínima distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se para a plataforma de embarque...".
Ele tinha quatro minutos para ficar longe o bastante e cumprir o último pedido de Ada.
Ele se levantou e virou para a porta - e parou, tirando o pequeno tubo cheio do líquido roxo da bolsa. Ele sabia
que não tinha tempo, mas só levou um segundo para levar o braço para trás e arremessar a amostra o mais
forte que podia, querendo-a o mais longe possível.
Se o laboratório é o responsável por tantas mortes, que o G-virus queime com ele.
"Isso!".
A porta do elevador abriu - e havia um trem, um trem subterrâneo brilhando, o escuro túnel à esquerda. O trem
estava escuro e silencioso, não a máquina ligada e trêmula que Claire esperava ver, mas ainda era o veículo de
fuga mais bonito que já tinha visto.
Com Sherry grudada em seu braço, elas foram para a composição de três vagões, os alarmes ainda soando,
ecoando pela enorme estação. A voz já informava que elas tinham três minutos para alcançar uma distância
segura.
Entrando no trem, Claire percebeu e nem se importou com a ausência de assentos. A cabine de controle estava à
esquerda.
"Vamos colocar essa coisa na estrada". Claire disse, e o brilhante olhar de esperança no sujo e cansado rosto de
Sherry, fez o coração de Claire partir, só um pouco.
Oh, meu bem...
Claire subiu os degraus para a cabine, prometendo a si mesma que carregaria Sherry pelo túnel caso o trem não
funcionasse. Qualquer coisa para não quebrar aquele frágil olhar de esperança.
#
O código e o disco de verificação abriram a porta como Ada disse, a larga porta abrindo-se em um curto corredor.
Com três minutos sobrando, Leon correu pelo corredor cheio de símbolos de risco biológico, e achou a sala de
carga.
Ele não tinha tempo de parar e olhar, seu foco era pegar o elevador antes que não fosse possível escapar com
vida. Leon correu para o fundo da avermelhada sala, achando os controles da larga porta do elevador e
apertando para descer, pronto para entrar -
- e nada aconteceu, exceto por uma fileira de pequenas luzes - umas vinte talvez - que começaram a se apagar
em cima da porta. Bem devagar.
Leon apertou o botão novamente, parecia levar minutos entre os andares.
"Jesus!". Ele virou, querendo gritar se for ter esperar muito -
- e pela primeira vez deu uma olhada no lugar. As duas largas estantes que corriam o comprimento da sala
continham um tipo de "carga" bem específica - e apesar dos seis tubos de vidro em cada estante não conterem
nada além de um claro fluído vermelho, Leon sentiu calafrios só de olhar. Cada cilindro podia comportar um
homem adulto, e o fez imaginar para que foram construídos.
Não importa, eles vão explodir em alguns minutos.
Ele virou para o elevador, quase feliz por estar bravo e frustrado, por sentir algo além de perda -
- e o teto sobre a porta do elevador começou a tremer e rachar... Leon recuou, apontando sua arma para o
sólido painel de metal enquanto vinha ao chão -
- e o monstro do elevador-locomotiva aterrissou na sua frente, a mesma criatura demoníaca que machucou Ada,
que devia tê-lo matado -
Birkin - ?
- e pelo jeito que inclinou a cabeça e gritou, Leon podia dizer que veio para terminar o serviço.
O trem estava pronto, estava ligado e pronto para partir - mas parecia que o portão do túnel estava com defeito;
um painel cheio de luzes verdes e uma única vermelha, insistindo que o portão fosse aberto manualmente.
Dois minutos para alcançar distância segura.
Não vai dar, nunca conseguiremos -
"Fique aqui". Claire disse e saiu para verificar, rezando para que não fosse nada.
Leon virou e correu enquanto o monstro começava a ir em sua direção, cada poderosa passada estremecendo a
câmara, os ecos de seu terrível grito ainda nítidos.
Pense!
A espingarda não foi suficiente, ele tinha que atirar em algum lugar vulnerável, os olhos, use a Magnum.
Leon voltou para a porta de entrada. Ele girou e atirou, mirando no rosto da criatura -
- mas o rosto estava mudando de novo, a boca caindo enquanto gritava. Grandes e tortos espinhos de dente
escorreram do que sobrou da boca, do alto de seu pulsante peito - e quando outro grito explodiu de sua
garganta, Leon viu dois novos braços brotarem dos lados. Os membros formaram posições, cotovelos travando,
grossos dedos com garras crescendo.
Bam-bam-bam!
Os tiros se agruparam, explodindo na fina pele sobre o olho esquerdo. O monstro rosnou, desta vez de dor, e
Leon viu lascas de ossos e líquido arroxeado se espalharem.
Ele sacudiu a cabeça para todos os lados, expelindo mais líquido, se agachando como um sapo mutante -
- e saltou no ar, para cima e para a direita, parando numa das fileiras, grunhindo como um animal.
Droga, como ele fez aquilo -
Leon não conseguiu ver os olhos, nada além de suas costas enquanto descia - mas estava mudando de novo,
pôde ouvir sons quebrantes e ver os pedaços da espinha erguerem através da carne de suas costas.
Ele não queria ver no que iria se transformar, mas o elevador ainda não tinha chegado e só faltavam dois
minutos.
Leon recarregou e atirou no que podia ver - uma forma com seis pernas, uma forma que não era mais humana.
O tiro acertou um de seus ombros, fazendo a criatura pular. A besta voltou ao chão como uma aranha, caindo a
alguns centímetros na frente de Leon. O peito tinha se transformado numa parede de estranhos dentes, espinhos
que abriam e fechava enquanto respirava - e quando gritou de novo, foi como um demônio, como o grito de
#
milhares de almas morrendo.
Leon acertou dois tiros no buraco de dentes e se afastou. Sob as constantes sirenes ele ouviu o claro e animado
pin da chegada do elevador.
Claire correu para a frente do trem, olhando para a série de alavancas e botões na parede do túnel, franzindo e
abaixando a alavanca vermelha e branca. Ela ouviu o som metálico em algum lugar na frente do trem e correu
para a porta -
- quando ouviu metal de novo - o som de metal sendo partido e martelado, vindo de algum lugar atrás do trem.
Não, de jeito nenhum.
Ela olhou para o final do trem, além das barras do portão fechado - e ouviu um som como ossos no cimento, um
som que se repetia.
Passos.
Claire correu para a porta, sabendo que não podia ser Mr. X, não mesmo - ele foi derretido, se foi, e elas não
tinham mais o G-virus -
- e ela viu o movimento por detrás das grades. Algo alto, filetes de fumaça enrolando na escuridão atrás das
grades - e o forte cheiro de queimado. Ele saiu da sombra, na direção da parte de trás do trem, erguendo os
punhos -
BAM!
- e o vagão tremeu enquanto Claire percebia que era Mr. X, ou o que tinha sobrado dele - e que certamente era
um demônio vindo direto do inferno.
Ela tinha combinado onze balas no elevador; não vai ser suficiente mas era tudo o que tinha.
Claire apontou a arma de Irons, imaginando se esse será o fim.
Leon correu em volta da prateleira à sua direita, voltando para o elevador, e houveram galopantes passos bem
atrás, ele não podia parar.
Outra curva e de volta para o meio da sala -
- e ele foi atingido nas costas, uma borrachenta e quente carne que o levou ao chão.
Leon rolou quando a coisa ficou em cima dele, seus dentes intencionados a furar seu crânio. O grande olho ainda
estava lá, no ombro, olhando para ele -
- e Leon descarregou a arma no queixo da criatura, gritando, esvaziando os pesados cartuchos na cabeça do
monstro.
A besta gritou, cambaleando, caindo para o lado. Leon se levantou como um raio e correu para o elevador
aberto. O enorme animal ainda estava gritando enquanto Leon entrava no elevador e virava, apertando o
controle para descer -
- e viu a besta se mexer, mudando, gritando enquanto também virava para o elevador. Ele ganhava velocidade a
cada passo, a porta se fechando lentamente, a criatura quase voando agora -
- e Leon tinha a espingarda em suas mãos, engatilhando uma bala e atirando. O tiro acertando o peito e parando
a criatura.
- e a porta fechou, Leon estava descendo, e só restava um minuto.
[30]
BAM!
Sherry sentiu o trem balançar violentamente.
Claire!
Ela correu para a porta, lembrando que Claire disse para não sair e não se importar; ela não sabia o que era ou o
que podia fazer para ajudar, mas não poda ficar parada -
#
BAM!
- e o carro balançou de novo, o chão tremendo sob seus pés. Sherry alcançou a porta e apertou o botão de
abrir.
A porta abriu - e lá estava Claire apontando a arma para algo que Sherry não conseguia ver, algo atrás do trem.
O olhar de Claire passou por Sherry.
"Não saia! Feche a porta!". Claire gritou com medo e pânico.
Sherry tocou o botão e hesitou, com medo por Claire, querendo ver o que era -
- olhe rápido -
- e ela colocou a cabeça para fora, por um segundo, procurando a fonte do medo de Claire. Um cheiro de química
e carne queimada encheu a plataforma, vindo de -
Sherry gritou quando o viu, quando viu o esfarrapado e carbonizado monstro que sacudia o trem logo depois do
portão. Ela viu seu gigante punho acertar o metal do vagão, mas era a cara dele que atraia o olhar de Sherry.
Mr. X.
A pele estava queimada, toda ela. Fumaça emanava de sua cabeça, mas os olhos ainda estavam vivos -
vermelho e pretos e quentes com a fumaça, mas ainda bem vivos.
"Sherry! Feche agora!". Claire gritou sem tirar os olhos do monstro.
Sherry apertou o controle, a porta fechando enquanto Claire começava a atirar.
O elevador descia mesmo, mas não como Leon imaginava, a larga plataforma descia lentamente em ângulo,
luzes alaranjadas nas escuras paredes.
"... agora quarenta segundos para alcançar a mínima distância segura...".
"Vai vai vai - ". Leon suspirou. A voz tinha parado de mencionar a plataforma de embarque, só fazendo anúncios
de dez em dez segundos.
Chegar até aqui e morrer por causa de um elevador lento...
ele não podia aceitar isso. Ele passou por muitas coisas, o acidente com Claire, os monstros, Ada, Birkin - ele tinha
que conseguir, ou será tudo por nada.
Não parecia haver chão debaixo do elevador, ou ele já teria descido a pé.
"... vinte segundos para alcançar...".
Leon começou a tremer, tensão correndo por seus músculos, ficando difícil ele respirar. O que é distância segura?
Quanto tempo até a explosão depois que aquela voz dizer zero?
O trem terá que ser rápido. E ele tinha dez segundos para alcançá-lo, e o elevador continuava descendo sem
pressa pela escuridão.
A porta fechou e Sherry estava a salvo. Por enquanto.
Claire não podia esperar machucar a criatura, mas pelo menos distraí-la o bastante para fugir. Ela queria ter
ensinado os simples controles do trem para Sherry, queria que o veículo já estivesse se movendo, levando Sherry
para a segurança -
- mas eu não ensinei e nós temos que ir AGORA.
A mensagem já contava os dez segundos finais para a distância segura. Mr. X dava outra pancada no trem
enquanto Claire mirava e atirava.
Cinco tiros, quatro deles acertando o material que constituía a região onde uma orelha devia estar. O quinto foi
longe enquanto as pancadas ecoavam pelo lugar e a coisa que foi Mr. X virou para ela.
O que foi agora?
A gravação a distraiu por uma fração de segundo e Mr. X deu um passo na direção dela, um monstruoso passo
que o tirou das sombras.
"... três. Dois. Um. Distância mínima agora requerida. A autodestruição ocorrerá em cinco minutos. Restam cinco
minutos para a detonação".
Os alarmes ainda tocavam, mas pelo menos a voz tinha parado. Ela mal tinha percebido, seus olhos fixados na
criatura. Apesar das camadas queimadas e enfumaçadas, a pele dele não tinha perdido elasticidade; o material
avermelhado ainda contraia como músculos de verdade. Parecia um gigante pelado que se arrastou para fora de
um prédio em chamas - e se sofreu com o banho de metal derretido, ela não podia ver. Outro passo e os braços
#
foram ao alto, o portão de barras foi partido, as barras de metal caindo no concreto do chão.
Pelo menos ele está devagar -
Claire correu para a porta do trem, ainda com medo, mas o monstro era lento e poderoso, só que incapaz de se
mover de verdade -
- e de repente, Mr. X não estava mais andando. A criatura curvou a cintura, os joelhos -
- e se lançou do chão num dinâmico bote, seus pés deformados o impulsionando a toda velocidade.
Claire não pensou. Ela desviou para a direita evitando o ataque, correndo o mais rápido que podia. Ele quase a
pegou, os reflexos dele mais rápidos do que rápido - como se perder a pele o tivesse libertado. Assim que ela
pulou o portão destruído e entrou nas sombras, ela ouviu o arranhar de garras no cimento, viu que Mr. X tinha
descido seu braço bem aonde ela estava um segundo atrás.
Ele a teria partido -
- mas por que, sem o G-virus, sem razão -
Claire correu mais na escuridão enquanto os alto-falantes informavam quatro minutos restando.
"Restam agora quatro minutos para a detonação...".
Droga droga droga!
Quando pensou em ter um ataque de frustração, o elevador parou. Leon agarrou a fechadura da grossa cancela
de metal, querendo correr -
Ele saiu num corredor. E não haviam sinais dizendo qual direção seguir.
Direita ou esquerda?
Esses segundos de hesitação poderiam ter lhe custado a vida.
Ele ouviu uma vez que quando na frente de uma escolha, as pessoas instintivamente escolhem a direção da mão
dominante. Com a sorte que teve nesta noite em Raccoon, ele decidiu ir para o outro lado.
Esquerda. Leon correu, pensando se deveria se incomodar.
Não muito longe do portão, Claire viu uma passarela que passava sobre o trem, as escadas escondidas na
sombra -
- e ela ouviu Mr. X atrás. O terror a dirigiu, seus pés mal tocavam o chão -
- e os passos ficaram mais altos, mais rápidos, ouviu as garras dele rasgarem o cimento. Ela tinha um segundo
antes daquela mão a acertar -
- e ela virou de novo, jogando-se na escuridão do lado da escada. Mr. X passou voando, ela sentiu o vento da
mão em suas pernas enquanto caia no chão.
Ela ignorou a dor de seu cotovelo no cimento, levantando-se e procurando o monstro no escuro.
Ele pode ver, me ver?
A mão dela achou uma parede à direita. Ela estava no espaço debaixo da escada, e não sabia onde o quieto e
impossível X estava; a falta de luz não ajudaria se ele pudesse enxergar.
Ela correu as mãos pela parede e achou um interruptor. Ao apertá-lo, a textura do escuro mudou quando a fraca
luz veio de cima - e ela viu o monstro a menos de quinze metros, bem quando virava, seu olhar procurando -
- e a achando. A marcando. O único som era o de sua pele rachada - até dar um passo para a escada.
Seis ou sete tiros, acerte os olhos -
Claire saiu rapidamente de lá e ergueu a arma de Irons, apertando o gatilho, recuando para a escada.
Bam-bam-bam -
- e X se posicionava para mais um ataque, os tiros penetrando em seu rosto, dois deles ricocheteando em seu
crânio.
- bam-bam -
Ela estava na escada, subindo um degrau, as balas inúteis, Mr. X começando sua corrida. Ele estará nela antes
de poder virar, antes de subir os degraus -
- eu vou morrer -
- mas pelo menos eu o machuco antes -
Mr. X deu um passo - dois passos poderosos, diminuindo a distância entre os dois enquanto Claire mirava,
determinada a fazer os últimos tiros valerem a pena. Ela morreria e seu único arrependimento seria por Sherry, só
desejava que ela pudesse incapacitar o pesadelo X antes de morrer.
#
Ela atirou, e o olho esquerdo do monstro explodiu.
Isso!
Mr. X foi para a direita; não parando, mas também não indo para ela - mas ainda acertará a base da escada -
muito perto! - ela tinha que tentar o outro olho e só tinha dois segundos -
Claire mirou, achou o olho, e -
- click!
- estava sem balas, e o monstro estava chegando na base da escada, o cheiro de carne queimada enquanto
erguia sua gigante mão, e seu grande e terrível corpo era tudo o que conseguia ver.
Claire tropeçou e rolou a escada de ferro, seu corpo como uma bola -
- e gritou quando as garras da mão de X rasgaram sua coxa esquerda através do corrimão, e a distante voz
dizendo que tinham três minutos.
[31]
Ele pegou o caminho errado. As curvas o levaram para um depósito - sem saída.
"Restam três minutos para a detonação".
Leon virou e voltou por onde veio, forçando-se a correr com o que parecia o resto de suas forças.
Claire parou no chão, na base da escada e ficou de pé, sangue correndo pela perna num quente pulso de dor. Ela
correu, nada quebrado -
- mas ela sabia que isso era o começo do que ele fará com ela, uma prévia da dor real.
Mr. X ainda estava inclinado no corrimão da escada, mas assim que ela correu para o portão quebrado, o
monstro ficou a postos. Ele virou para ela, o buraco em seu olho jorrando um escuro líquido - mas ele vai se
recuperar e partir para ela como a máquina impiedosa que era. Não há nada que possa pará-lo.
Pelo menos eu morro na explosão -
Claire passou pelo metal retorcido do portão, mau se equilibrando, sangue pingando no chão enquanto dava outro
passo, por favor, que seja rápido -
"Aqui, use isso!".
Claire girou, viu Mr. X se posicionando para mais um ataque - e viu uma silhueta bem acima, na passarela sobre o
trem. Uma voz de mulher, forma de mulher, a sombra jogando algo -
- quem -
- aquilo caiu no chão, entre ela e Mr. X. era metal, e prateado - ela já viu nos filmes, era uma metralhadora - e
Claire correu. Outra última esperança, outra chance para ela e Sherry sobreviverem.
Ela alcançou a arma, viu X se jogando ao encontro dela, o trovão de seus passos vibrando o chão -
- e ela ergueu a pesada arma, recuando, sua mão trêmula achando o gatilho, seu corpo acomodando-se com a
arma. Firme no chão, braços encurvados em volta do metal, mirando -
- por favor por favor -
O monstro estava a alguns passos quando o jato de balas saíram da arma, um chocalho de pequenas explosões
que balançavam o corpo inteiro de Claire - e mergulharam no corpo da besta, a força de tantas balas parando-o e
empurrando-o para trás.
- tatatatatatatata -
A vibração parecia tentar se libertar do agarre dela. Ela mau ouvia seus próprios choros de dor e fúria enquanto
as balas furavam o abdômen dele com tal rapidez e velocidade.
- e Mr. X tentava andar, mas algo estranho e bom estava acontecendo. Sua barriga estava sendo rasgada pelas
balas, fluídos escuros descendo por suas pernas. A boca dele estava aberta, um buraco em um de seus olhos -
também sangrando.
#
- tatatatatata -
Claire continuou, vendo a criatura tentando se manter de pé. Vendo-o sangrar.
Com as balas ainda voando, Mr. X ergueu os braços -
- e partiu no meio.
Claire tirou o dedo do gatilho quando a parte de cima dele caiu no chão, um molhado som de carne pesada - e as
pernas tombaram, mais sangue estranho saindo das partes formando piscinas. A criatura estava morta, e
mesmo se não estivesse, não importava mais. Só se conseguir se arrastar mais rápido do que ela. Sua batalha já
tinha terminado -
- para o inferno com tudo isso, não há tempo, VAMOS!
Claire correu, ignorando o sangue em sua bota e a dor que o causava, seu olhar procurando a estranha
salvadora. Ninguém estava lá, e ela não sabia se outro minuto tinha passado, o alerta perdido com os tiros.
"Ei!". Claire gritou, indo para o trem.
"Nós temos que ir agora!".
Sem resposta, nenhum som exceto o zumbido em seu ouvido e o eco das palavras. Se ela quer salvar Sherry...
Claire virou e correu.
"- dois minutos para -".
Leon correu mais rápido. Ele já perdeu a conta das curvas do corredor, e as esperanças também, uma voz lhe
dizendo para parar, sentar e descansar -
- quando ele ouviu um fraco ruído.
O som de um maquinário pesado ganhando vida em algum lugar à frente. Não muito longe.
Trem!
Mais rápido, pernas distantes e moles, pulmões trabalhando, coração pulando - de algum modo ou de outro,
estava quase acabado.
[32]
Claire entrou no trem com um rifle gigante e uma perna coberta de sangue, mal parando para tocar os controles
da porta antes de correr para a cabine. Sherry sabia que estavam com problemas e não perguntou nada, ela a
seguiu, aliviada por Claire estar bem.
Ela está bem e já estamos indo...
Uma fraca versão da voz dos alto-falantes soou na pequena cabine de comando.
"Restam dois minutos para a detonação".
Claire soltou a arma e apertou os botões, sua atenção fixada no console. De repente, um grande som mecânico
as envolveu, um crescente motor que fez Claire bater os dentes. Sherry não sabia se foi um sorriso, mas Claire
sorriu quando o trem tremeu -
- e começou a se mover, tirando-as da plataforma.
Claire virou, viu Sherry atrás dela, e tentou sorrir. Claire tocou o ombro da garota, mas não disse nada - nem
Sherry, esperando ver o que aconteceria.
O trem ganhou velocidade, passando por alguns corredores e plataformas mal iluminadas, o túnel à frente escuro
e vazio.
O calor da mão de Claire a fez lembrar de que eram amigas, que seja qual for o futuro disso, Claire era sua
amiga -
- e ela viu um homem, um policial aparecer bem à frente, à esquerda, e o trem estava passando por ele, seus
olhos largos e desesperados em seu sujo rosto.
#
"Claire!".
"Estou vendo ele -".
Claire viu e correu para a porta, abrindo-a.
"Leon!". Ela gritou. "Vamos!".
Ela entrou de repente, uma parede passando, parecendo tão desesperada quanto o homem - Leon parecia.
Depois de um segundo ela virou e fechou a porta.
"Ele conseguiu?". Sherry perguntou, vendo que Claire não poderia saber.
Claire foi até ela e a envolveu em seu braço enquanto o trem acelerava e sua face se cobria de preocupação -
- e a voz disse que restava um minuto -
- e a porta de trás do vagão abriu. Leon apareceu, seu braço atado com um pano manchado, seu cabelo duro
com uma escura meleca, seus olhos azuis brilhando sob a máscara de sujeira.
"Destruição total!". Ele gritou. Claire acenou e Leon suspirou fundo. Ele foi até elas, o trem voando pelo túnel, e
abraçou Claire.
"Ada?". Claire cochichou. "Ann - a cientista?".
Leon balançou a cabeça. "Não. Eu não - não". Sherry viu que ele queria chorar.
"Trinta segundos para a detonação. Vinte e nove... vinte e oito...".
A voz da mulher continuou contando, os números parecendo duas vezes mais rápidos do que deveriam, e Sherry
enterrou a cabeça em Claire, pensando na mãe. Mamãe e papai. Ela esperava que tivessem conseguido, que
estivessem à salvo -
- mas provavelmente não.
Sherry podia ouvir o coração de Claire e a apertou mais, ouvindo o policial se aproximar delas.
"... cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Seqüência completada. Detonação".
Por um segundo não houve som. O alarme finalmente parou sobrando apenas os movimentos do trem -
- e então houve uma explosão, um som abafado, um shoomp que continuava crescendo, ficando maior.
Sherry fechou os olhos e o trem chacoalhou de repente, terrivelmente, e todos eles foram para o chão de metal.
Uma brilhante e queimada luz piscou pela janela enquanto o som de batidas de cano explodiram em volta deles,
pesadas pancadas choveram no teto -
- e o trem continuou indo, a luz sumiu e eles não estavam mortos.
O cegante flash dissipou-se, e Leon sentiu a tensão em seu corpo. Ele olhou para o lado e viu Claire sentando-se,
pegando a mão da jovem garota ao lado dela.
"Tudo bem?". Claire perguntou e a menina acenou. Ambas olharam para ele, sentindo o que ele sentia - choque,
exaustão, descrença e esperança.
"Leon Kennedy, esta é Sherry Birkin". Claire disse, sem enfatizar o "Birkin". Ele entendeu a mensagem e acenou
antes de sorrir para a garota.
"Sherry, este é Leon,". Claire continuou. "eu o conheci quando cheguei em Raccoon".
Sherry retribuiu o sorriso, um sorriso bem adulto que parecia fora do lugar; ela era muito jovem para sorrir
daquele jeito.
Mais uma proeza da Umbrella, a inocência roubada de uma criança.
Por alguns segundos eles ficaram lá sentados no chão, sorrisos sumindo. Leon mal ousou pensar que tudo estava
acabado. De novo, ele viu seus sentimentos espelhados nas sobrancelhas preocupadas de Sherry e nos cansados
olhos de Claire -
- foi quando eles ouviram um distante ranger de metal vindo da parte de trás do trem, ele não se sentiu
surpreso. Um cedente e rasgante arranhão - seguido por uma pesada pancada - e depois nada.
Sabia que não tinha acabado -
"Zumbi?". Sherry cochichou, as palavras quase perdidas no suave balançar do trem.
"Eu não sei, meu bem". Claire disse suavemente, e pela primeira vez, Leon percebeu que a perna dela estava
cortada, sangue saindo de vários arranhões.
"Que tal eu dar uma olhada?". Leon disse, tentando não assustar Sherry. Ele se levantou acenando para a perna
de Claire.
"Sherry, fique aqui com Claire, fique de olho naquela perna? Vou ver se acho alguma atadura enquanto dou uma
vasculhada, não deixe-a se mover, tá bom?".
Sherry acenou, e novamente um aceno muito maduro para a idade dela. "Tá".
"Eu volto num minuto". Ele disse, e virou para a porta de trás do trem, rezando para que não seja nada
enquanto empunhava a Remington.
Leon abriu a porta, os sons do trem se amplificando por um segundo, e depois fechou a porta.
Claire não o viu entrar no próximo vagão de onde estava; se houver mais alguma coisa no trem, nenhum deles
estará a salvo -
- não pense assim, está acabado -
- como está para Mr. X?
"O que eu faço?". Sherry perguntou. "Pressionar, né?".
Claire acenou. "É, só que nós estamos bem sujas, e acho que está começando a coagular. Vamos ver se Leon
volta com algo limpo...".
Os pensamentos dela voltaram para Mr. X.
- G-virus. Antes ele queria o G-virus.
Por que Mr. X foi para a plataforma do trem? Por que ele queria entrar no trem, a não ser que -
Claire forçou para se levantar, lutando contra a tontura e a dor na perna.
"Ei, não se mexa". Sherry disse. "Leon falou para ficar parada."
Claire podia superar seus problemas físicos, mas ver Sherry no cume do pânico era demais; se tiver G-virus no
trem e por isso Mr. X voltou, Leon terá que enfrentá-lo sozinho. Ela não podia deixar Sherry. Se Leon não voltar,
ela terá que desengatar o trem ou tentar pará-lo -
Claire cessou os pensamentos, forçando um sorriso. "Sim, senhorita, eu só queria ver se ele já tinha entrado no
outro vagão...".
Ela viu o alívio no rosto de Sherry. "Ah. Bom, então esqueça, pois eu estou cuidando de você agora, e eu digo
que você não se mexe".
Claire acenou, esperando estar errada, que Leon voltasse a qualquer segundo -
Seja lá quem projetou o veículo de fuga, pensava que os funcionários da Umbrella fossem transportados que nem
sardinha -
Seja lá quem for, não devia ser pior que a coisa na sala de carga, a coisa Birkin. Só de pensar que a criatura tinha
a ver com Sherry, era preocupante, até mesmo obsceno. Um monstro e uma maluca, ambos pais de uma
garotinha...
Ele chegou no fim do segundo vagão e espiou pela janela da porta, esquecendo os pensamentos enquanto
tentava ver alguma coisa no último vagão. Estava escuro e nada mais.
Droga.
Talvez não seja nada, mas ele tinha que olhar.
Ele respirou fundo e abriu a porta, recebendo a brisa do exterior, se segurando na grade de apoio. Não devia ser
nada, mas parecia ruim, errado.
Ele abriu a próxima porta e entrou na escuridão. Imediatamente ele ergueu a espingarda, seus sentidos dizendo
para correr quando a porta fechou. Ele recuou e procurou o interruptor de luz. Além do escuro, havia um forte
cheiro de água sanitária ou cloro, e um suave som de molhado, de movimento -
Uma única lâmpada acendeu no meio do vagão, e por um momento pensou ter perdido a consciência.
Uma coisa. Uma criatura que estava longe de humana, exceto pelo pulsante tumor em um lado, uma lisa bola
que mais parecia um olho.
Birkin.
A criatura era gigante, borbulhando uma escura pasta, expandindo seu volume até ocupar a largura do vagão.
Leon não sabia o quanto alto era. Birkin tinha grossas caudas estendidas, tentáculos de uma massa elástica e
úmida, presa em toda parte do espaço à sua frente - no teto, paredes e no chão. E enquanto Leon olhava, a
besta se moveu para frente, os escuros membros contraindo, levando o corpo para alguns centímetros à frente
de onde estava.
É loucura, mas ele estava vendo, vendo as cores preta, verde e roxa em seus tentáculos enquanto se esticavam
de novo, o material viscoso o puxando mais alguns centímetros. O corpo era nada mais do que uma caverna que
ainda tinha dentes -
-e que iria alcançá-lo em breve se não esquecer o nojo da cena.
Leon mirou no grande buraco da boca dele e puxou o gatilho, carregando outra bala, atirando, carregando,
atirando -
- e a espingarda ficou vazia, o gigante continuando a se aproximar.
Ele não sabia como matá-lo, não sabia se as balas o machucaram. Sua mente correu para achar uma resposta.
Ele podia desengatar o último vagão -
- mas a coisa ainda continuaria viva. Vivendo e mudando na escuridão do túnel, se tornando algo novo -
Os tentáculos se esticaram de novo e Leon voltou para a porta. Ele tinha que desconectar os carros, não havia
outra escolha -
- a não ser -
Ele hesitou, depois sacou a Magnum e mirou na criatura, no estranho tumor, o olho que estava em todas as
formas que Birkin já teve.
- BAM!
O efeito foi imediato, a bala perfurou a esfera - e um hiss veio de sua boca circular cheia de dentes afiados, um
som único na Terra. A carne dentro dele contraiu, ficando escura, murchando -
- e a coisa implodiu, encolhendo rapidamente, virando uma massa escura e um quarto do tamanho que tinha,
derretendo numa borbulhante poça de meleca arroxeada.
"Engula isso". Leon cochichou, olhando por alguns momentos, sem pensar em nada - e virou para se juntar às
duas, para dizer que tinha acabado.
Primeiro dia de trabalho.
"Eu quero um aumento". Ele disse, para ninguém e não pôde conter o sorriso em seu rosto, um cansado sorriso
que sumiu rapidamente... mas pelos segundos que durou, Leon se sentiu melhor do que há muito tempo atrás.
Leon estava de volta, e havia encontrado um macacão, que ele rasgou em pedaços e usou para cobrir a perna
de Claire. Tudo o que ele disse foi que agora eles estavam salvos, apesar de Sherry tê-lo visto e Claire lançou-lhe
um olhar - um daqueles olhares do tipo "não-devemos-falar-disso-agora". Sherry estava muito cansada para levar
a mal.
Ela aconchegou-se nos braços de Claire, Claire alisando seu cabelo, nenhum dos três falando. Não havia nada a
dizer, pelo menos não por enquanto. Eles estavam vivos, num trem correndo através da escuridão - e de algum
lugar não muito distante, uma luz suave surgindo, vindo da janela da cabine de controle e Sherry pensou que se
parecia muito com a luz da manhã.
[Epílogo]
Eles viram a explosão 16 quilômetros de fora da cidade, uma nuvem negra que se ergueu na luz da manhã
pendurando-se sobre Raccoon como uma terrível tempestade -
- ou um sonho ruim, Rebecca pensou, ou uma lembrança. Umbrella.
Ela não disse alto, porque não era necessário. John e David não estiveram na mansão de Spencer, mas
souberam do que a Umbrella era capaz em Caliban.
Ninguém falou quando David acelerou o carro, seus dedos apertados no volante. Desta vez, John não fez piadas.
Todos sabiam que era ruim; antes de Jill, Chris e Barry partirem para a Europa, Jill os disse sobre a suspeita de
outro acidente, e pediu que ficassem alerta. Quando as linhas telefônicas ficaram mudas, eles carregaram a van e
deixaram o Maine para ver o que podia ser feito. A única pergunta é a de quantas pessoas morreram desta vez.
Talvez este seja o fim. Uma explosão como aquela... a Umbrella não vai esconder isso tão fácil, não se tiver tão
ruim quanto parece.
John finalmente quebrou o silêncio. "Autodestruição?".
David suspirou. "Provavelmente. E se houve um vazamento, nós não entraremos; nós circularemos a cidade e
depois chamaremos ajuda de Latham. A Umbrella com certeza já está mandando sua equipe de limpeza".
Rebecca acenou junto com John. Eles não eram mais parte do S.T.A.R.S., mas David já foi capitão, e por um
bom motivo.
Eles caíram no silêncio, o amanhecer tocando as árvores que passavam pela van, Rebecca imaginando o que eles
encontrarão -
- quando ela viu as pessoas andando na estrada, balançando os braços.
"Ei -". Ela começou a falar quando David já pisava nos freios, se aproximando das três figuras. Um policial de
atadura no braço e uma jovem mulher de shorts, ambos armados, e uma garotinha de colete rosa grande
demais para ela. Eles não estavam infectados, ou pelo menos não mostravam sinais que Rebecca pudesse ver -
mas eles pareciam. Com suas roupas rasgadas e seus pálidos rostos sob a sujeira, eles com certeza podiam ser
confundidos.
"Eu falo". David, disse, seu sotaque britânico bem firme, emparelhando com os sobreviventes de Raccoon.
David abriu a janela e desligou o motor, o jovem policial adiantando um passo enquanto a mulher colocava seu
pegajoso braço no ombro da menina.
"Houve um acidente, em Raccoon". Ele disse. Mesmo cansados e feridos, havia uma cautela no tom do policial,
sugerindo o quanto ruim estavam as coisas. "Um terrível acidente. Você não quer ir lá, não é seguro".
David franziu. "Que tipo de acidente, policial?". Foi a jovem mulher que respondeu. "Um acidente da Umbrella". O
policial acenou e a garotinha loira enterrou seu rosto no corpo da mulher.
John e Rebecca trocaram um olhar, e David destravou as portas.
"Mesmo? Esses costumam ser do pior tipo". David disse gentilmente. "Nós ficaremos felizes em ajudar se
quiserem, ou podemos chamar ajuda...".
Era uma pergunta. O policial olhou para a mulher e voltou para David. Ele deve ter visto algo no rosto de David
que passou confiança; ele acenou e chamou a mulher e a garota para se aproximarem.
"Obrigado". Ele disse, a exaustão finalmente vindo. "Se você puder nos dar uma carona estará ótimo".
David sorriu. "Por favor, entrem. John, Rebecca - vocês os ajudam...?".
John pegou alguns cobertores lá atrás enquanto Rebecca pegava o kit médico, cuidando para não descobrir os
rifles perto do estepe.
Acidente da Umbrella...
Rebecca pensou no quanto sortudos foram por terem sobrevivido.
Eles começaram a falar mesmo antes de David fazer o retorno - e em pouco tempo, eles descobriram ter muito
em comum. Enquanto a menina dormia, eles voltaram por onde vieram, deixando a cidade em chamas para trás[18]
Tentando não respirar muito fundo, Leon alcançou os pés da escada de metal e girou rapidamente, mirando sua
arma no escuro. Água molhou suas botas enquanto seus olhos se ajustavam à baixa luz, e viu a origem do
terrível cheiro.
Partes dele, na verdade...
O túnel continuava à sua frente e estava forrado com corpos humanos feitos em pedaços. Membros, cabeças,
troncos estavam espalhados aleatoriamente pelo túnel de pedra, balançando gentilmente pelos centímetros de
água que cobriam o chão.
"Leon? Como está aí?". A voz de Ada desceu pelo círculo de luz no topo da escada, ecoando. Leon não
respondeu, seu olhar chocado fixado na terrível cena, sua mente tentando juntar as partes e trazer um número.
Quantos? Quantas pessoas?
Muitas para contar. Ele viu uma cabeça sem face, o longo cabelo cobrindo-a. O tronco de uma mulher, o seio
emerso na escura água. Um braço envolvido nos farrapos de uma camisa de policial. Uma perna, ainda usando
um tênis. Uma enrolada mão, os dedos lisos e brancos.
Uma dúzia? Vinte?
"Leon?". O tom de Ada enfatizou.
"É - parece bem". Ele disse, forçando para não alterar a voz. "Nada se move".
"Estou descendo".
Ele se afastou da escada para dá-la espaço, lembrando de algo que ela disse antes, sobre corpos sendo
jogados...
Ada desceu da escada. Os olhos dele tinham se ajustado bem o bastante para ver o olhar de nojo no rosto dela -
nojo e o que parecia tristeza.
"Houve um ataque na garagem". Ela disse suavemente. "Quatorze ou quinze pessoas morreram...".
Franzindo, ela passou por Leon para olhar os resto de perto. Quando falou de novo, parecia preocupada.
"Eu não vi o ataque, mas não acho que foram despedaçados desse jeito".
Ela olhou para cima, vendo o teto do túnel, apertando sua 9mm. Leon seguiu seu olhar, mas só viu o tom
esverdeado das pedras. Ada balançou a cabeça, olhando de volta para o mar de carne.
"Os - zumbis não fizeram isso. Algo pegou essas pessoas depois de mortas".
Leon sentiu um calafrio subir sua espinha. Era a última coisa que queria ouvir naquele lugar.
"Então não é seguro aqui. Nós devemos voltar e -".
Ada seguiu em frente, passando pelos pedaços, os movimentos da água parecendo mais altos no quieto túnel.
Droga, ela ignora todo mundo ou só eu?
Olhando onde pisava, Leon a seguiu, erguendo o braço para tocar o ombro dela. "Pelo menos eu vou na frente,
#
tá?".
"Tá Bom,". Ela disse. "Abra caminho".
Ele passou por ela e continuou, tentando dividir a atenção entre a escuridão à frente e os pedaços de corpos e
ossos abaixo. Bem à frente, o túnel virava à direita, e tinha alguma luz refletida na oleosa superfície da água, a
passagem estava mais clara e com menos corpos.
Leon parou a tempo o bastante para empunhar a Remington e verificar se estava carregada. Seja lá o que tinha
pego os corpos não parecia estar por perto, mas ele não queria estar despreparado.
Ada esperou sem falar, apesar dele conseguir sentir sua impaciência. Ela era tão calma quanto um soldado
veterano, demonstrando nada mais além de ansiedade para acabar logo com isso - e se ela gosta de sua
presença, deve estar fazendo muita força para não demonstrar. Não que ele queira a gratidão dela -
- mas a maioria das pessoas gostariam da presença de um policial, não é? Mesmo sendo um novato?
Talvez não, e essa não é a hora e lugar para começar a fazer perguntas. Leon começou a andar de novo,
passando por cima de um pedaço mastigado de carne que não podia identificar.
"Pare". Ada cochichou. "Ouça".
Leon obedeceu, Remington em uma mão, VP70 na outra. Ele inclinou a cabeça para ouvir, mas só percebeu um
distante gotejar -
- e uma suave pancada, como martelos abafados numa superfície forrada. Estava se aproximando, vindo do
túnel que virava logo à frente.
Por que a água não respinga, por que não ouvimos água - ?
Leon recuou um passo, erguendo ambas as armas, lembrando como Ada tinha olhado para o teto antes -
- e viu, viu e sentiu seu coração parar em meia batida. Uma aranha do tamanho de um cachorro grande,
andando pelas paredes, mexendo suas arrepiadas pernas peludas -
- impossível -
- e de repente houve uma série de ensurdecedoras explosões próximas ao seu ouvido direito,
bam-bam-bam-bam, o cano da Beretta de Ada brilhando enquanto ativava. Os ecos golpearam pelo escuro
enquanto o gigante aracnídeo pulava da parede, mergulhando na tingida água.
A aranha engatinhou na direção deles, ferida, arrastando duas de suas pernas, escuros fluídos escorrendo pelo
seu grotesco e arredondado corpo. Ela passou por cima de uma cabeça, o crânio escapando abaixo de seu
abdômen inchado, e Leon pôde ver seus brilhantes olhos negros, cada um do tamanho de uma bola de ping-pong
--
e ele atirou com a Remington, mal sentindo o poderoso tranco da arma, sua concentração voltada para o
aracnídeo. O tiro explodiu a face alien em pedaços. A aranha virou de papo para o ar, suas grossas pernas
tremendo, curvando-se ao redor de seu corpo peludo.
Seus ouvidos apitando, seu coração pulando, Leon carregou outra bala, sua mente não só dizendo que tinha
matado uma aranha daquele tamanho, mas que seu físico estava errado, suas pernas não agüentariam tamanho
peso -
- Ada passou por ele, correndo, gritando para ele.
"Vamos, podem haver mais vindo!".
Leon correu atrás dela, seu choque contido pelo rápido comportamento de Ada - pulando sobre os pedaços de
carne e da aranha que só passou a existir depois que chegou a Raccoon.
"Solte a arma". Irons pediu, e a garota obedeceu, hesitando por um segundo. A Browning foi ao chão e Irons
teve que resistir ao desejo de rir de novo, pelo quanto estúpida ela agia. A assassina da Umbrella com certeza
ficou louca, entrando em seu santuário como se fosse dona do lugar - essa atitude lhe custou o jogo.
"Vire-se devagar - e mantenha as mãos onde eu possa vê-las". Ele disse, ainda sorrindo. "Oh, que gloriosa e fácil
conquista! A Umbrella o subestimou pela última vez.
Novamente, a garota fez o que ele pediu, virando devagar, de mãos vazias e abertas. O olhar em sua face não
tinha preço, suas expressões fixadas como uma máscara de medo e choque; ela não esperava por isso, ela
achava que seria fácil dar um fim em Brian Irons. Depois de tudo, ele era um homem quebrado, uma sombra de
seu antigo eu, sua cidade e sua vida tirada -
"Errada, não estava?". Ele disse, sentindo o humor vazando da situação, sentindo a raiva borbulhar novamente.
Ele manteve a VP70 mirada na ridícula e jovem face dela; insultando, que eles mandaram uma criança para seu
#
serviço sujo. E bonitinha...
"Calma, Chefe Irons". Ela disse, e mesmo bravo, ele gostou de ouvir a tensão em sua opressiva voz, o pico do
medo sob seu inútil apelo. Ele vai adorar isso, mais do que imaginava...
... mas primeiro, algumas respostas.
"Quem te mandou? Foi Coleman, do quartel general? Ou suas ordens vêm dos superiores... alguém da comissão,
talvez? Não há mais motivos para mentir".
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão. "Eu - eu nem sei do que está falando. Por favor, deve
haver algum engano -".
"Oh, um engano, tá bom". Irons cuspiu. "E você o cometeu. Há quanto tempo a Umbrella está me observando?
Quais foram as suas ordens, exatamente - onde você deveria ter me matado, a Umbrella quis que eu sofresse
um pouco antes?".
A garota não respondeu por um momento, provavelmente tentando decidir o quanto dizer a ele. Ela era boa,
suas expressões cautelosamente montadas para mostrar somente um medo confuso, mas ele enxergava
através disso.
Ela foi pega, deve saber que não a deixarei viver e está tentando esconder a verdade. Jovem mas bem treinada.
"Eu vim para Raccoon atrás do meu irmão". Ela disse devagar, seus bem abertos olhos cinzas fixados na arma.
"Ele estava com o S.T.A.R.S. e eu só -".
"S.T.A.R.S.? É o melhor que você pode fazer?". Irons riu mais, balançando a cabeça. O S.T.A.R.S. de Raccoon
fugiu logo depois que as coisas foram para a merda - e pelo que ele ouviu falar, a Umbrella já tinha "convertido" a
organização para seus propósitos, estavam trabalhando para eliminar aqueles que cruzassem o caminho. Essa
desculpa não funcionava.
Mas há algo...
Ele estudou os olhos. "E quem é o seu irmão?".
"Chris Redfield, você conhece - eu sou Claire, a irmã dele, e eu não sei nada sobre o que a Umbrella fez e não fui
mandada para matá-lo". Ela disse rápido.
Ela se parecia com Redfield, pelo menos os olhos... Chris era um pomposo e desrespeitoso, que o desafiou
abertamente várias vezes; de fato -
"Redfield estava trabalhando para a Umbrella, não estava?". Mesmo dizendo alto, Irons pôde ver que era
verdade - e sua raiva subiu como uma maré vermelha, um calor ácido que desceu por suas veias fazendo-o
enjoar.
Até os meus empregados, todo o tempo. Fantoches traidores da Umbrella.
"A mansão de Spencer, as acusações contra a Umbrella... foi tudo armado, eles vinham provocando problemas
para - para me distrair, para então poderem roubar o vírus de Birkin...".
Irons deu um passo até a garota, sem precisar de força para puxar o gatilho, contrariando seus planos. A garota,
Claire, recuou, de braços para cima, de mãos abertas como para se proteger de sua fúria.
"Foi como o S.T.A.R.S. soube quando sair da cidade. Eles foram alertados para sair antes do vazamento do
T-virus!".
Ele deu mais um passo até ela, mas Claire parou, seus olhos mais abertos. "Então Chris não está aqui?".
Seu pequeno e esperançoso suspiro só alimentou o calor vermelho que pulava dentro de Irons - os sentimentos
eram tão poderosos que transcendiam raiva, focando suas intenções em algo brutal e preciso. Não era suficiente
ter sido traído pela Umbrella e pelo S.T.A.R.S., ter sido manipulado, atormentado, caçado -
Não, não. Eu fui enganado por essa garota, uma espiã assassina de uma família de traidores. Uma vida devotada
ao serviço, experiências, sacrifícios pessoais, e essa é a minha recompensa?
"Um tapa na cara". Ele disse, sua voz tão fria quanto essa nova selvageria que o enchia, o transformava num
caçador. "Tratando-me como um idiota. Você nem tem respeito o bastante para mentir bem".
Ele estendeu a 9mm e andou na direção dela, cada passo calculado e deliberado - e o medo dela era real desta
vez, ele riu do modo como ela recuava, seus trêmulos lábios. Ela estava apavorada, tentando achar uma arma,
observá-lo, fugir, tudo ao mesmo tempo, mas sem sucesso enquanto ele marchava.
"Eu tenho o poder,". Ele disse. "esse é o meu santuário, esse é o meu domínio. Você é a invasora. Você é a
mentirosa, você é o mal - eu vou tirar a sua pele viva. Eu te farei gritar, sua vagabunda, você vai desejar nunca
#
ter nascido. Seja lá quanto te pagaram, não foi o bastante".
Ela recuou até bater numa estante, tropeçando na perna da mesa, quase caindo no alçapão no canto da sala.
Irons a seguia, sentindo aquele bonito e excitante poder, sentindo prazer com a indefesa.
"Por favor, você não quer fazer isso, eu não sou quem você pensa!".
A patética súplica o fez parar e rir, querendo dá-la mais terror, querendo mostrá-la que seu controle era absoluto.
Ela estava encurralada entre um armário e o alçapão, e Irons ficou a uma distância segura, adorando o pânico
nos olhos dela - o pânico de um animal emboscado...
Irons lambeu os lábios, seu faminto olhar viajando por suas suaves formas. Outro troféu, outro corpo para
transformar... e é hora de trabalhar, de -
"Graaagh!".
Mas que -
A tampa que cobria o poço voou pelo ar, partindo com um tremendo crack, um pedaço atingindo a coxa de
Irons. Ele ficou assustado sem entender - ele estava no controle e mesmo assim algo deu errado, horrivelmente
errado -
Algo enrolou em seu calcanhar, algo que apertava tão forte que ouviu os ossos sendo esmagados, a afiada dor
subindo por sua perna -
- e ele travou o olhar com o da garota, de olho brilhando com um novo terror, e nesse instante de contato, de
claridade, ele quis tanto dizer que era um bom homem, um homem que nunca mereceu nada do que aconteceu -
- e aquilo sacudiu, e Irons estava caindo, derrubando a arma, puxado para o poço pelo grito, a dor e a besta que
o esperava lá embaixo.
[19]
Num minuto, Irons estava de pé na frente dela, olhando em seus olhos com uma terrível tristeza -
- no outro, ele se foi. Puxado para um buraco no chão por um braço musculoso e com garras, saindo de visão,
junto com Irons.
Houve outro grito da criatura, um poderoso ruído que ganhou intensidade e superou o de Irons. Estática, Claire só
pode ouvir, choque, alívio, medo enquanto os choros saiam do buraco, acertando seus ouvidos no pequeno e frio
calabouço que Irons tinha criado -
- até que os gritos cessaram, só um ou dois segundos depois - e os barulhos de carne sendo mastigada
começaram.
Claire se moveu. Ela pegou a arma de Irons e correu pela mesa no centro da sala.
Ele ia me matar e aquilo o matou -
A realidade do que ia acontecer e do que aconteceu a atingiu, fazendo de suas pernas borracha. Claire forçou
mais alguns passos para trás até encostar na úmida parede de pedra, suspirando.
Ele tinha planejado matá-la, mas não de uma vez. Ela viu como o malvado olhar dele passou pelo seu corpo,
ouviu a ansiosa antecipação em sua maluca risada -
Houve um suave ronco vindo do buraco, um som bestial, o ronco de um leão bem alimentado. Claire virou,
erguendo a arma -
- e algo explodiu do buraco, algo com braços debatendo, e Claire atirou. Uma garrafa na prateleira espatifou
enquanto a coisa acertou o chão -
- e era Irons, mas só metade dele. Ele foi dividido, cortado em dois pela coisa que o tinha pego; tudo abaixo da
cintura se foi, fiapos de pele rasgada e músculos pendurados sobre a piscina de sangue que substituía suas
pernas.
Claire recuou para a porta, ainda apontando para a abertura - e ouviu a criatura, o monstro gritar de novo, um
eco que desapareceu, caindo a uma distância que não podia imaginar. Um segundo depois, ela não o ouvia mais;
#
tinha ido embora.
O monstro de Sherry. Era o monstro de Sherry.
Claire foi vagarosamente até o corpo do Chefe Irons, na direção do escuro buraco - mas não era todo escuro. Ela
pôde ver luz vindo de algum lugar, o bastante para ver que havia outro andar lá embaixo, o que parecia uma
passarela gradeada de metal - e uma escada de mão.
Um sub-subsolo... uma saída?
Ela se afastou da abertura, seus pensamentos fluindo desorganizadamente, tentando absorver o que Irons tinha
dito. Chris não estava em Raccoon, os S.T.A.R.S. se foram - um bom e ruim alívio, pois significava que ele estava
bem, mas não salvaria o dia. Houve um vazamento na Umbrella que ao menos explicava os zumbis - mas e o
que disse sobre Birkin, o vírus de Birkin... é pai de Sherry?
É - talvez os zumbis sejam o resultado de algum acidente, mas e o Mr. X e os homens do avesso?
O modo como Irons falou sobre a Umbrella, sugere que a companhia farmacêutica não era uma vítima inocente.
"Como ele o chamou?".
"T-virus". Ela cochichou, e tremeu. "Tinha o novo vírus de Birkin e tinha o T-virus...".
A doença zumbi tinha um nome. Mas você não nomeia algo a não ser que saiba algo sobre ele, o que significa -
- que ela não sabia o que significava. Tudo o que sabe é que Sherry precisava sair de Raccoon e o sub-subsolo
podia ser a saída. Devia ter uma saída, o monstro dever ter ido para algum lugar...
... e você quer seguí-lo com Sherry? Ele pode voltar - e se realmente estiver atrás de Sherry...
Pensamento infeliz - tal como voltar para as ruas. E a delegacia já está infestada por Deus sabe lá o que. Claire
checou o clip da arma de Irons, contando dezessete balas.
Ela respirou fundo, voltando a si, e olhou para os restos do chefe da polícia. Era um modo ruim de morrer, mas
não conseguiu sentir pena. Ele estava pronto para amarrá-la e torturá-la, ele riu ao implorar por sua vida, e agora
está morto; ela não estava feliz, mas também não derramaria lágrimas. Seu único sentimento sobre isso era o de
que deveria cobri-lo antes de trazer Sherry; a menina já viu violência o bastante para uma vida.
Nós, Claire pensou, e começou a procurar algo para esconder Chefe Irons.
Leon a alcançou no frio e industrial corredor que dava na entrada do esgoto, alguns degraus acima do subsolo
inundado. Ela tinha corrido na frente para posicionar as chaves de acesso ao esgoto, sem querer explicar muito
como as achou; ela só teve o trabalho de jogá-las na sala da caldeira antes que os passos dele tocassem os
degraus de metal atrás dela
Pelo menos eu não finjo estar com falta de ar...
Ada pôde ver no olhar dele que deveria suavizar as coisas; ela começou a falar na hora em que ele pisou no
corredor.
"Desculpe ter corrido". Disse oferecendo um sorriso assustado. "Eu odeio aranhas".
Leon franziu, estudando-a, e ela percebeu que deveria explicar melhor. Ela deu um passo até ele. Mantendo olho
no olho, jogando a cabeça para trás, a fim de enfatizar a diferença de altura; era pouca, mas na experiência dela,
homens respondiam bem às pequenas coisas.
"Acho que só estou com pressa em sair daqui". Ela disse rápido, perdendo o sorriso. "Espero não o ter
preocupado".
Ele derrubou o olhar antes de demonstrar interesse. Ela ficou mais surpresa quando ele recuou.
"Bom, você me preocupou. Não faça de novo, tá? Eu posso ser pouco de um policial, mas eu estou tentando - e
só Deus sabe o que encontraremos aqui".
Ele olhou para ela de novo, falando suavemente. "Eu vim com você porque eu quero ajudar, eu quero fazer o
meu trabalho - e eu não posso fazê-lo se você sair na frente. Além disso,". Ele complementou, sorrindo um
pouco. "se você correr, quem vai me ajudar?".
Foi a vez de Ada desviar o olhar. Ela forçou um sorriso. "Eu farei o possível".
Leon acenou e virou para olhar o lugar, acabando com a conversa - para o alívio de Ada. Ela estava incerta sobre
o que pensar sobre ele, mas estava desconfortável com seu respeito por ele estar crescendo; nada bom
considerando a situação.
Não havia muito o que ver no úmido corredor; duas portas. A sala da caldeira, onde jogou as chaves - ou plugs,
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de preferência, estava bem à frente. A outra dava num depósito, segundo a placa na parede.
Ada seguiu Leon para a mais próxima, o depósito. Lá não havia nada de importante. Caixas, uma mesa, um baú,
mas pelo menos nenhuma aberração. Depois de uma rápida procurada eles voltaram para o corredor e foram
para a sala da caldeira.
"Como você aprendeu a atirar daquele jeito, afinal?". Leon perguntou e parou na frente da porta. Seu tom parecia
casual. "Você é muito boa. Você esteve no exército ou algo...?".
Boa tentativa, policial.
Ada sorriu, incorporando seu personagem. "Paintball, acredite ou não. Eu também ia no tiro-ao-alvo com meu tio,
mas nunca me aprofundei muito. E então, há alguns anos, um amigo do trabalho - nós éramos compradores em
uma galeria de arte de Nova Iorque - ele me levou para um daqueles fins de semana de sobrevivência e nós
demos uns tiros. Você sabe, caminhada, escalada, coisas do tipo - e paintball. É ótimo, nós íamos a cada dois
meses... eu nunca pensei que fosse usar isso de verdade".
Ela pôde vê-lo acreditar, ver que ele queria acreditar. Mas deve ter respondido algumas perguntas que queria
fazer.
"É, você é melhor do que alguns colegas meus da academia. É sério. Então, você está pronta para continuar?".
Ada acenou. Leon empurrou a porta, olhando o velho e enferrujado maquinário antes de entrar. Ada não olhou
para baixo, querendo que ele achasse o pacote amassado que havia colocado momentos atrás.
A sala era em "H", corrimãos cercavam as duas grandes caldeiras em cada lado. As fluorescentes que ainda
funcionavam criavam estranhas sombras nas paredes infiltradas. A porta que levava ao sistema de esgoto estava
no lado oposto, à esquerda, ao lado de um painel.
"Ei -". Leon se agachou, pegando os plugs que abririam a porta. "Parece que alguém derrubou algo...".
Antes que Ada pudesse perguntar o que tinha achado, ela ouviu um barulho. Um suave rastejo vindo do canto
oposto direito da sala.
Leon se levantou rapidamente, soltando os plugs e erguendo a espingarda. Ada apontou sua Beretta, lembrando
como a porta estava encostada antes de colocar os plugs no chão.
Droga, o implante.
Ela sabia antes mesmo de aparecer. A coisa tinha crescido, e bem rápido, vinte vezes seu tamanho em alguns
minutos - e ainda estava crescendo, exponencialmente.
A aparência também estava mudando. Não era mais aquela medusa que rasgou Bertolucci. A calda se foi, e a
criatura que rastejava pelo chão enferrujado agora tinha membros. Garras saiam de sua lisa pele acompanhada
pelo som de cartilagem sendo perfurada. Musculosas pernas se desenrolaram e o rastejar se tornou mais suave,
quase felino -
A espingarda e a Beretta soaram ao mesmo tempo. A criatura ainda mutava quando os tiros deformaram sua
carne. Em resposta, a coisa vomitou, um ronco que lançou um projétil de apodrecida bile verde -
- que caiu no chão e começou a se mexer. Aquilo estava vivo - e as onze ou doze criaturinhas que surgiram
pareciam saber exatamente onde a ameaça estava. Os animais multi-pernas rastejaram na direção de Ada e
Leon enquanto o implante dava um passo.
"Eu pego eles". Ada gritou, já atirando no mais próximo. Eles eram rápidos, e Ada mais ainda; ela apontou e
atirou, explodindo os bebês monstro em uma fonte de escuros fluídos.
Leon atirava de novo e de novo com a espingarda, mas Ada não podia ver como o monstro mãe estava. Cinco
dos rastejantes restando e só três balas -
- e ela ouviu a espingarda ir ao chão, ouviu tiros de revólver enquanto matava dois dos pequenos antes da arma
clicar.
Sem parar para pensar, Ada soltou a Beretta e foi para o chão. Ela pegou a espingarda pelo cano, se agachou e
desceu a arma, bem forte. Dois dos bichos viraram pasta com o impacto - mas o terceiro e último saltou em uma
inesperada propulsão -
- e pousou na coxa dela, agarrando com garras afiadas como agulhas. Ada soltou a espingarda, gritando
enquanto o animal subia sua perna, o quente e úmido peso dele fazendo-a frenética de nojo.
Sai, SAI -
Ela caiu para trás, estapeando a criatura que já estava em seu ombro, rastejando para seu rosto, para sua boca
--
e Leon a agarrou, erguendo-a com uma mão enquanto arrancava o bicho com a outra.
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Ada se agarrou nele para não cair e o animal aderiu forte ao tecido do vestido. Leon tinha um bom tato e
arrancou o bicho, gritando enquanto arremessava-o pela sala.
"O revólver!".
A arma estava presa no cinto de Leon. Ada a liberou, vendo que o bicho tinha caído perto da mãe, morta por
Leon -
- e atirou, tentando um tiro certeiro apesar de seu desequilíbrio, assustada pelo quanto perto esteve de ser
implantada. A bala ressoou no chão, lascas enferrujadas respingaram - e a criatura explodiu contra a parede de
trás. Estourada.
Nada se mexeu e os dois ficaram parados, encostados um no outro como sobreviventes de um terrível acidente -
que de certo modo eram. Tudo aconteceu em menos de um minuto e eles saíram ilesos - mas Ada não se iludirá
por terem estado perto, ou com o que acabaram de destruir.
G-virus.
Ela tinha certeza; o T-virus não seria capaz de criar algo tão complicado, não sem um time de cirurgiões - e eles
viram a coisa crescer; o quanto grande e poderosa a criatura teria ficado se eles tivessem demorado mais um
pouco? E se houver mais deles? A ida para os laboratórios não será mais uma caminhada - e Ada se sentiu grata
por Leon ter decidido ir com ela. Já que ele insiste tanto em ir na frente, se algo atacar, ela terá uma chance
melhor de sobreviver -
"Você está bem? Ele te machucou?".
Com um braço ainda segurando ela, Leon olhava em seus olhos, preocupado. E ela percebeu que podia cheirá-lo,
um limpo cheiro de sabão - e se afastou dele. Ela devolveu o revólver e esticou o vestido, procurando por cortes
a fim de não olhar para ele.
"Obrigado, eu estou bem. Não se preocupe?".
Foi mais grossa do que queria, pois estava agitada com o ataque. Ela olhou para ele e ficou incerta sobre o que
sentir ao ver que a resposta o tinha pego de surpresa. Ele piscou devagar.
"Paintball, né?". Ele disse suavemente, e virou para pegar os plugs. Ada o acompanhou, dizendo a si mesma que
era ridículo se importar com o que ele pensava dela. Eles estavam embarcando numa jornada em que ela podia
descartá-lo, ou vê-lo dar sua vida por ela...
... ou matá-lo eu mesma. Não vamos esquecer disso. Então quem se importa se ele acha que sou uma ingrata?
Ada se curvou para pegar a espingarda, sentindo a força que precisava fazer para não desviar de suas
prioridades - e sentindo um vazio lá dentro que não sentia há muito, muito tempo.
[20]
Irons foi um homem muito mau. Doente. Sherry parecia saber o tempo todo, mas ver sua câmara de tortura
secreta fez tudo virar realidade. A sala era rude, ossos, garrafas e um cheiro pior que o dos zumbis. Por isso não
se importou tanto com o corpo incompleto sob o lençol manchado de sangue. Sherry tentou imaginar o que tinha
acontecido exatamente.
"Vamos, querida, vamos indo". Claire disse, seu tom dizendo que Irons tinha sido bastante injuriado. Tudo o que
Claire disse foi que Irons a tinha atacado e que depois algo o atacou. E que poderiam achar algum lugar seguro se
descerem pelo buraco. Sherry estava tão feliz em ver Claire que nem fez perguntas.
Não parece caber uma pessoa inteira lá... ele foi comido? Ou cortado em pedaços?
"Sherry? Vamos?".
Claire tocou o ombro dela, tirando-a de perto do que sobrou de Irons. Sherry deixou ser conduzida até o buraco
no canto.
Claire desceu a escada primeiro e depois de um segundo, disse que era seguro descer. Sherry pisou
cuidadosamente nas barras de metal, sentindo-se feliz como há dias não se sentia. Claire a ajudou nos últimos
degraus, erguendo-a e colocando-a no chão de metal. Sherry virou e olhou em volta, arregalando os olhos.
"Uau". Ela disse, a palavra ecoou e voltou nas escuras sombras que refletiam das estranhas paredes.
"É". Claire disse. "Vamos".
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Claire começou a andar e Sherry a seguiu de perto, ainda olhando em volta impressionada. Era como a toca de
um cara mau num filme de espião, alguma passagem dentro de uma montanha. Elas estavam numa passarela
com corrimão nas laterais, a turva e esverdeada luz verde atravessando a grade da passarela, vinda de algum
lugar lá embaixo - apesar de a parede da direita ser de tijolos, a outra era mesmo a de uma caverna. Ela pôde
ver grandes pilares e estalactites de pedra, formações naturais esverdeadas pela fantasmagórica luz.
Sherry coçou o nariz. Interessante, mas cheirava podre. "Que lugar você acha que é esse?".
Claire balançou a cabeça. "Eu não tenho certeza. Entre o cheiro e a locação, eu diria que estamos na parte de
uma estação de tratamento de esgoto".
Sherry acenou, grata por saber - e mais ainda por ver a saída bem à frente. A passarela não era muito longa;
virava à esquerda onde estava outra escada de mão que subia. Chegando lá, Claire hesitou, olhando para a
abertura acima e depois para a caverna.
"Eu subo primeiro... que tal você vir atrás, mas ficando na escada até eu dizer que é seguro?".
Sherry acenou, aliviada. Por um segundo, ela teve medo de Claire mandá-la esperar, como antes.
De jeito nenhum. Aqui é escuro, fedorento e vazio. Se eu fosse um monstro, seria aqui onde eu estaria...
Claire subiu e Sherry foi logo atrás, segurando as frias barras firmemente. Segundos depois, os longos e finos
braços de Claire apareceram para ajudá-la a sair.
Elas estavam de volta em solo firme, um curto corredor de cimento que parecia incrivelmente brilhante depois da
caverna. Sherry deduziu que ainda estavam na estação de tratamento; o cheiro não era tão ruim apesar do
escuro e parado rio que orlava o lado esquerdo do corredor, uns trinta centímetros de profundidade por uns dois
de largura. A lodosa água ia de uma grande porta metálica até um circular túnel com grades. Acima havia um
parapeito, mas Sherry não viu escadas.
Quer dizer que... oh, eca.
"Vai ser preciso?". Ela perguntou.
Claire suspirou. "Acho que sim. Mas veja pelo lado bom - nenhum monstro consciente nos seguiria naquilo".
Sherry sorriu. Não era tão engraçado, mas ela gostou do que Claire tentava fazer - o mesmo que cobrir o corpo
de Irons ou dizer que seus pais estavam a salvo.
Ela está tentando me defender do quanto ruim estão as coisas...
Sherry gostou tanto que já estava temendo a hora em que Claire tiver que deixá-la. E terá; Claire tem uma vida
inteira em algum lugar, seus amigos e família, e quando saírem de Raccoon, ela voltará para casa e Sherry ficará
sozinha de novo. Mesmo se seus pais estiverem bem, ela ficará só... e mesmo querendo que eles estejam, não
queria ver seu fim com Claire.
Ela só tinha doze anos e já reparou que sua família era diferente da maioria. As outras crianças da escola tinham
pais que passavam tempo com elas, tinham festas de aniversário e iam acampar, tinham irmãos, irmãs e bichos
de estimação. Sherry nunca teve nada disso, mas sabia que seus pais tinham boas intenções e que a amavam -
mas às vezes, não importava o quanto boa, calma e auto-suficiente ela era, ainda estava longe deles -
"Está pronta para isso?".
A suave voz de Claire a trouxe de volta para a realidade, lembrando-a para ficar mais alerta. Sherry acenou, e
Claire entrou na escura e suja água, ajudando Sherry.
A água estava fria e melada, subindo até os joelhos de Sherry; era grossa, mas nem tanto quanto vômito. Claire
andou para a grande porta de metal à esquerda com sua nova arma, tão enjoada quanto Sherry.
"Parece que nós vamos -".
Um alto ruído no parapeito a interrompeu e ambas olharam para cima, Sherry se aproximando de Claire quando o
barulho apareceu outra vez. Pareciam passos, mas muito lentos e altos para serem normais -
- e Sherry viu um homem de casaco longo e escuro aparecer, sua boca secando de medo. Ele era gigante, uns
três metros, e sua cabeça careca tão branca quanto a barriga de um peixe. Ela não conseguia vê-lo bem por
causa do ângulo, mas viu o bastante - e pôde sentir que era mau, que havia algo muito errado e mau sobre ele.
Radiava dele como doença.
"Claire?". Ela chiou enquanto o gigante cruzava o parapeito, enquanto virava na direção delas - devagar, tão
devagar que Sherry não quis ver seu rosto, o rosto de um homem que podia assustá-la só de andar no parapeito
-
#
"Corre!".
Claire agarrou a mão dela e as duas correram, tormentando a grossa água na direção da porta fechada.
- não esteja trancada, não esteja trancada!
A porta estava perto mas parecia demorar para sempre, cada segundo passando enquanto lutavam contra o
peso da fria e oleosa água.
Claire achou o controle, batendo no botão com um tipo de pânico que só fez Sherry se assustar mais. A porta se
dividiu ao meio, metade deslizando para o teto e a outra mergulhando nas ondas.
Sherry não olhou para trás mas Claire sim. Seja lá o que viu, a fez tirar Sherry do chão, cruzar a porta e entrar no
longo e escuro túnel que a porta escondia. Assim, que passaram, Claire tocou na parede e a porta fechou
selando-as na escuridão.
"Não se mexa e fique quieta". Claire cochichou, e sob a fraca luz que vinha de cima, Sherry viu Claire armada,
procurando ameaças nas sombras. Sherry obedeceu, seu coração pulando, imaginando quem ou o que aquele
homem foi - era o homem que Claire havia comentado antes, mas quem ele era? Pessoas não ficam daquele
tamanho, e Claire também tinha se assustado -
Clink.
Um ruído metálico, suave e abafado na parede ao lado - e Sherry sentiu a água aos seus pés se mover de
repente, uma corrente que moveu suas pernas, tirou seu equilíbrio -
- e ela caiu, seu rosto na fria e nojenta água enquanto a corrente ficava mais forte, sugando-a para baixo. Sherry
tentou se segurar em algo, mas seus dedos só encontravam o lodo do chão de pedra, enquanto as águas a
levavam para longe de Claire.
- não posso respirar -
Ela chutou forte, agitando o corpo, seus olhos doendo de água ruim - e conseguiu respirar assim que sua cabeça
voltou à tona, assim que percebeu estar num túnel, um escuro e melado túnel não muito maior que os de
ventilação da delegacia. As rápidas águas a congelavam, respirando sufocada o sujo ar acima, forçando para não
lutar contra o impiedoso poder da água. O túnel tinha que dar em algum lugar - e quando der, deverá estar
preparada para correr.
Claire, por favor, me encontre, por favor, não desista de mim...
Ela estava perdida, cega e surda, deslizando por um escuro túnel - e cada vez mais longe da única pessoa que
pode protegê-la das criaturas que tomaram conta de Raccoon.
Annette já não duvidava mais de que seu marido havia escapado do laboratório. Não só pela metade das
entradas estarem abertas, mas também pelas cercas que circundavam a fábrica estarem derrubadas - e os
túneis do esgoto, que deveriam estar praticamente vazios, estavam cheios de portadores humanos que devem
ter vindo de fora. Mesmo avançados em termos de deterioração celular, ela teve que derrubar cinco deles a tiro
para livrar o caminho entre o teleférico e as salas de operação do esgoto.
Depois do que pareceu levar uma eternidade para cruzar as semitratadas águas do sistema, ela chegou na
plataforma que procurava. Annette subiu no corredor de concreto, olhando cuidadosamente para a porta fechada
à sua frente. Fechada e inteira, um bom sinal - mas se ele passou por ela antes de perder todos os traços de
inteligência humana, antes de virar um impensado e violento animal? Mesmo agora, ele ainda pode ter guardado
alguma memória? Ela não sabia. O G-virus ainda não tinha sido testado em humanos...
... e se ele passou? E se chegou na delegacia?
Não. Ela não podia, não iria considerar a possibilidade. Considerando o que ela sabia sobre as mudanças
quimiofisiológicas - o que ele seria capaz de fazer se o vírus funcionar como deveria - o pensamento de vê-lo
chegar a uma população não infectada... bom, era impensável.
A delegacia é segura, ela pensou firmemente. Irons pode ser um incompetente, mas seus policiais não. Seja lá o
que William for agora, não poderá passar por eles.
Ela não conseguia acreditar em mais nada; Sherry estava lá, se tivesse feito o que deveria fazer - e além de ser
seu sangue, Sherry seria muito importante em seus planos futuros.
Annette se encostou na parede, ciente de que o tempo estava passando, mas incapaz de continuar sem
descansar. Ela estava quase no fim da área contida e tudo o que encontrou foram vários caminhos que William
pôde ter usado para escapar.
E a Umbrella estará aqui em breve. Eu tenho que voltar, eu tenho que ativar a destruição antes que eles me
#
impeçam.
William merecia estar em paz - mas, além disso, destruir a criatura que um dia foi seu marido erradicaria todas as
suas dúvidas sobre o sucesso de seu objetivo. Mas se ela explodir o laboratório e fugir, só para descobrir que a
Umbrella o capturou? Todos os seus esforços, todo o trabalho dele, por nada...
Annette fechou os olhos, desejando haver um modo fácil de fazer a decisão que tinha de ser feita. O fato era, a
morte de William não era tão crucial quanto fugir do laboratório. Havia uma boa chance de que ele não seja
encontrado, de que eles nem saibam de sua transformação -
- eu tenho uma chance. Ele não está aqui e em lugar algum.
Ela se desencostou da parede, caminhando vagarosamente para a porta. Ia checar os últimos túneis, ao menos
ver se as salas de controle tinham algum dano - e depois vai voltar. Voltar e terminar o que a Umbrella tinha
começado.
Annette abriu a porta e -
- e ouviu passos, ecoando pelo vazio corredor em algum lugar à frente; o corredor era em "T", os passos
derretidos uns nos outros tornando impossível saber de onde vinham - mas eram fortes, de não infectados,
talvez mais de um, e isso quer dizer uma coisa.
Umbrella. Eles finalmente vieram.
Raiva ferveu atrás dela, fazendo suas mãos tremerem, seus lábios ficarem entre seus dentes. Tinham que ser
eles, um de seus espiões assassinos. Além de Irons e alguns oficiais da cidade, só a Umbrella sabia que esses
túneis ainda eram usados - e que davam no complexo subterrâneo. A possibilidade de ser um sobrevivente
inocente não passou por sua mente; ela ergueu o revólver e esperou pelo idiota sem coração aparecer.
Uma figura ficou visível, uma mulher de vermelho, e Annette atirou -
- bam, mas estava tremendo, gritando por dentro, e errou o tiro. Ele ricocheteou no cimento da parede, pim, e a
mulher ergueu uma arma -
- e Annette atirou de novo, bam-pim, mas de repente apareceu outro, uma azulada sombra que voou na frente
da mulher, tirando-a do caminho.
Tudo isso aconteceu de uma vez -
- e Annette ouviu um choro de dor, de um homem, e sentiu uma explosão de triunfo.
Peguei ele, eu peguei ele -
Mas devem haver mais, ela não tinha acertado a mulher - e eles eram assassinos treinados.
Annette virou e correu, seu longo, branco e sujo avental de laboratório voando, seus sapatos molhados contra o
cimento. Ela tinha que voltar ao laboratório, rápido.
O tempo se esgotou.
[21]
Leon tinha parado para arrumar seus arreios, Ada passou na frente, surpresa pelos primeiros túneis estarem
vazios. Se não lhe falhe a memória, esse corredor dava no sistema de tratamento de esgoto; depois tinha o
teleférico para a fábrica, e então o elevador para o subterrâneo. As condições provavelmente ficarão piores
quanto mais perto do laboratório ficar, mas se continuar desse jeito... ela já está começando a ficar otimista.
Leon esteve bem quieto desde que entraram no esgoto, falando só o necessário - cuidando onde pisa, espere um
minuto, que caminho devemos seguir... ele era corajoso, pelo menos acima da média entre os cabeças do
departamento, e atirava bem - e não sabia nada sobre mulheres. Quando ela cortou a tentativa dele de
confortá-la, ele ficou confuso e machucado - e agora ele não sabe como interagir com ela. Leon preferiu se calar
do que ser rejeitado de novo.
Ada chegou na intersecção em "T" do corredor vazio, pensando no lugar mais fácil para se livrar de Leon -
#
- e viu a mulher, na hora em que atirou.
Bam!
Ada sentiu lascas do concreto espirrarem em seu ombro enquanto erguia a Beretta, uma onda de emoções e
percepções no instante que levou para reagir. Ela não teria tempo para reagir, o próximo tiro a mataria, brava por
ter sido tão estúpida - e reconheceu a mulher.
Birkin -
Ela ouviu o segundo tiro - e então foi golpeada, empurrada do caminho e caindo no chão enquanto Leon chorava
de dor e surpresa, seu corpo caindo sobre o dela.
Ada respirou fundo, chocada assim que entendeu o que tinha acontecido, assim que Leon rolou e agarrou o
braço. Ela ouviu passos correndo, Leon gemendo, e sentou.
Oh, meu Deus. Essa não -
Ele levou um tiro. Por mim.
Ada se levantou, inclinando ele. "Leon!".
Ele olhou par ela, mordendo por causa da dor. Sangue vazava por entre seus dedos, pressionados contra seu
ombro esquerdo.
"Eu estou - bem". Ele suspirou, apesar de pálido e sofrendo, ela achou que estava bem. Devia estar doendo
muito mas não ia - não irá morrer.
Eu teria morrido, Leon salvou a minha vida -
E na cauda desse pensamento, - Annette Birkin. Ainda viva.
"Aquela mulher". Ela disse, sentindo-se culpada enquanto virava para correr. "Eu preciso falar com ela".
Ada decolou, fazendo a curva e descendo o corredor, uma porta aberta no fim. Leon sobreviverá, e se conseguir
alcançar Annette todo esse maldito pesadelo acabará. Ada tinha estudado as fotos, sabia que era a esposa de
Birkin - e se ela não estiver com a amostra, com certeza sabe onde está.
Ela cruzou a porta e parou antes de pular em outro túnel cheio de água, ouvindo, analisando a superfície da água.
Nenhum respingo de água, mas haviam algumas ondas à esquerda -
- e uma escada de mão na parede, levando ao túnel de ventilação acima.
Ada pulou na água e foi para a escada na parede da frente. O túnel continuava para a esquerda, mas não tinha
saída.
Ela escalou rapidamente as barras, recusando-se a pensar em Leon (porque ele estava bem) enquanto espiava o
túnel e via que estava vazio, antes de cruzar um conjunto de pás. Através dele, outra olhada antes de passar
por outro conjunto de pás, e desceu outra escada. A gigante câmara de dois andares que abrigava o maquinário
de tratamento estava ausente de vida, tão fria, industrial e equipada quanto esperava. Havia uma ponte
hidráulica lá, erguida no andar que estava - isso quer dizer que Annette desceu pela escada oeste, a outra única
saída. Ada andou em seus mapas mentais assim que começou a cruzar a ponte.
"Largue a arma".
Atrás dela. Ada hesitou, sentindo uma dor interior. A segunda vez que estragou tudo - mas não obedecerá
Annette de jeito nenhum. A mira dela era ruim e Ada se estendeu, preparando para se jogar, girar e atirar -
Bam-pim!
O tiro acertou o chão à direita de Ada. Annette a tinha.
Ada derrubou a arma, erguendo as mãos devagar, virando para a cientista.
Jesus, eu mereço morrer por isso...
Annette Birkin andou até ela, uma Browning 9mm tremendo em uma mão estendida. Ada recuou ao ver aquela
arma balançando - mas viu uma oportunidade quando Annette se aproximou, passando a uns três metros dela.
Muito perto. Muito perto e à beira de um colapso, não é?
"Quem é você? Qual é o seu nome?!".
Ada exalou forte, gaguejando sua voz. "Ada, Ada Wong. Por favor, não atire, por favor, eu não fiz nada - ".
Annette franziu, "Ada... Wong. Eu conheço esse nome - Ada era o nome da namorada de John...".
"É, John Howe! Mas como você sabe? Você sabe onde ele está?".
"Eu sei porque John trabalhou com meu marido, William. Você já ouviu dele claro - William Birkin, o responsável
pela criação do T-virus".
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Annette mostrou um pouco de orgulho e desespero, dando esperanças à Ada; uma fraqueza que podia ver. Ada
tinha lido os arquivos sobre William - leu sobre a firme subida pela hierarquia da Umbrella, os avanços em virologia
e seqüênciamento genético... e sobre a ambição científica que o tornou um verdadeiro sociopata. Parece que sua
esposa estava com os mesmos planos - isso significa que a senhora não teria problemas em puxar o gatilho.
Seja tola e não a faça duvidar.
"T-virus? O que é -". Ada piscou, e arregalou os olhos. "Doutor Birkin? Espere, Birkin, o bioquímico?".
Ela viu um feixe de prazer no rosto de Annette - mas logo se foi, ficando só desespero. Desespero e maldade em
seus profundos e vermelhos olhos.
"John Howe está morto". Ela disse friamente. "Ele morreu há três meses atrás na mansão de Spencer. Minhas
condolências - mas depois, você vai se juntar a ele, não vai? Você não vai levar o G-virus de mim, você não vai
tê-lo!".
Ada começou a tremer. "G-virus? Por favor, eu não sei do que você está falando!".
"Você sabe". Annette apertou os dentes. "A Umbrella mandou você para roubá-lo, você não pode mentir para
mim! William está morto para mim agora, a Umbrella o tirou de mim, eles o forçaram a usá-lo! Eles o
forçaram...".
Ela parou, seu olhar distante. Ada esticou-se - mas Annette voltou, seus olhos molhados de lágrimas, a arma
apontada para o rosto de Ada.
"Eles vieram uma semana atrás". Ela respirou. "Eles vieram para pegá-lo e atiraram no meu William quando não
daria as amostras. Eles levaram a maleta, eles levaram todos os finais, ambas as séries - exceto pela única que
William guardava, o G-virus...".
A voz de Annette virou um grito de repente. "Ele estava morrendo, você não vê? Ele não tinha escolha!".
Ada entendeu. Entendeu tudo. "Ele injetou em si mesmo, não foi?".
A cientista acenou, seu mole cabelo loiro caindo nos olhos, sua voz suave novamente. "O vírus revitaliza funções
celulares. Ele - o vírus mudou William. Eu não vi - o que ele fez, mas eu vi os corpos dos homens que tentaram
matá-lo... e ouvi os gritos".
Ada se aproximou, como se para confortá-la, suas expressões como uma máscara de simpatia - mas Annette
levantou a arma de novo. Mesmo na tristeza, ela não deixaria Ada se aproximar.
Mas já é perto o suficiente...
"Eu sinto tanto". Ada disse, abaixando os braços. "Então o G-virus, ele vazou, ele infectou toda a Raccoon -".
Annette balançou a cabeça. "Não. Quando os assassinos da Umbrella foram - parados, a maleta foi quebrada. O
T-virus vazou - os funcionários do laboratório atingidos pelo aerotransmissível foram contidos, só que haviam
ratos, entendeu? Ratos no esgoto...".
Ela pausou, seus lábios tremendo. "... a não ser que William, meu querido marido já tenha começado a se
reproduzir. Implantando embriões, replicando... ainda não deve ser hora para isso, mas eu - ".
Ela parou, seus olhos estreitando, a maldade fluindo novamente. Seus olhos avermelhados brilhando com
paranóia.
Preparar-se -
"Você não pode tê-lo!". Annette gritou, saliva voando de seus lábios rachados. "Ele deu sua vida para mantê-lo
longe de você, você é uma espiã e você não pode tê-lo -".
Ada agachou e pulou, jogando seus braços sob os de Annette, empurrando a arma para cima e longe das duas.
A Browning descarregou, mandando uma bala para o teto enquanto lutavam pelo controle da arma. Annette
estava fisicamente mais cansada, mas era dirigida por demônios de ódio e perda, o cume de sua insanidade
dando-a forças -
Ada soltou a arma de repente e Annette tropeçou. Ela caiu no corrimão da ponte e Ada golpeou-a com o cotovelo
na barriga, o centro do equilíbrio -
- e Annette virou, sua boca aberta de surpresa, seus braços tentando se equilibrar - e ela mergulhou sobre o
corrimão, silenciosamente, nenhum som até o thump de seu corpo atingindo o chão a uns 6 metros abaixo.
"Droga". Ada cochichou, olhando para baixo. Annette ficou lá, de barriga para baixo e parada, a arma ainda
apertada em sua mão.
Isso é ótimo. Cair numa emboscada pela segunda vez e matar a única maluca que podia te dizer onde estavam
as amostras -
Um baixo gemido flutuou do corpo de Annette Birkin - e ela se moveu, arqueando as costas, tentando rolar para
#
o lado.
Droga. Droga. Droga.
Ada virou e correu pela ponte, pegando a Beretta enquanto corria para o que parecia um painel de controle ao
lado da escada para o túnel de ventilação. Ela tinha que abaixar a ponte e pegar Annette antes que fuja -
- mas o painel era para a ventilação, e enquanto outro doloroso gemido - um pouco mais alto - ecoou pelo lugar,
Ada soube que não tinha muito tempo.
O depósito de lixo, eu posso cruzar o depósito e pegar um dos túneis -
Enquanto pensava isso, já estava correndo para a escada oeste, esperando que a cientista esteja machucada o
bastante para ficar lá um minuto ou dois. Havia uma pequena sacada no final da ponte onde dava para ver o
depósito, e a escada de mão na parede à direita. Ada desceu o mais rápido que podia, pulando no chão de
cimento na última barra.
O depósito de lixo era uma grande área quadrada, as paredes amontoadas com materiais industriais - ferro velho
amassado, canos enferrujados, painéis cobertos de fios, papelão podre... Ela desceu do patamar e pulou em
quase um metro de lodo, a fria meleca passando de suas pernas. Ela não se importava, só queria pegar a
senhora Birkin e encerrar suas horas em Raccoon -
- foi quando algo se mexeu. Abaixo do opaco e fedorento líquido, algo grande se moveu. Ada viu o que poderia
ser o dorso de um réptil, viu e ouviu uma pilha de tábuas caírem na água a uns três metros à frente no mesmo
instante.
Você deve estar brincando...
Seja lá o que for, era grande o bastante para fazer Ada esquecer Annette. Ada voltou para o patamar e pegou
impulso, sem tirar os olhos das ondas de lodo -
- que de repente subiram num violento espirro de escuridão e na direção dela. Ada ergueu a Beretta e começou a
atirar.
* * *
Havia um pequeno elevador no canto da vazia sala de reuniões, um quadrado de metal que aparentemente
descia. Claire foi até ele, fétida água pingava de suas roupas, terrivelmente perdida e ansiosa para continuar
andando e achar Sherry.
Por favor, esteja viva, querida, por favor.
Ela tinha visto o tubo de drenagem, mas não Sherry - e depois de agonizantes e longos momentos gritando na
água agitada, e tentativas de entrar no buraco, ela acabou abandonando o esforço. Sherry se foi, talvez afogada,
talvez não - a não ser que o fluxo de água revertesse, Sherry não voltará.
Claire achou os controles da pequena plataforma e apertou o botão. Um motor escondido zuniu e o elevador
desceu, levando-a para outro provável corredor vazio, talvez outra sala desconhecida - ou pior, direto para outra
criatura sobrenatural.
Ela apertava as mãos molhadas enquanto descia lentamente. Ela se sentia andando às cegas. Do túnel onde
Sherry desapareceu, ela só passou por um corredor pouco iluminado e uma sala de reuniões não decorada e de
alguma forma esterilizada.
O elevador estava descendo num corredor e ela se agachou, apontando a arma de Irons enquanto a nova
localidade aparecia.
O corredor de concreto tinha outro elevador na outra ponta, e tinha uma intersecção para a esquerda no meio
dele - e próximo à junção havia um corpo encostado na parede, o que parecia ser um policial -
Ela sentiu uma mistura de choque e sofrimento, arregalando os olhos enquanto olhava para as feições do policial,
a cor do cabelo, o físico...
... é o - Leon?
Antes do elevador tocar o chão, Claire pulou e correu para a figura. Era Leon, e não estava se mexendo - mas
respirava, e assim que ela se agachou na frente dele, seus olhos abriram. A mão dele estava em seu braço
esquerdo, os dedos molhados de sangue.
"Claire?". Seus olhos azuis pareciam claros, cansados, porém conscientes.
#
"Leon! O que aconteceu? Você está bem?".
"Eu levei um tiro, devo ter apagado por um minuto...".
Ele cuidadosamente tirou a mão, expondo um pequeno e rasgado buraco acima da axila. Parecia doloroso, não
pelo menos não sangrava muito.
Estremecido, Leon colocou o tecido de seu uniforme sobre o buraco e pressionou a mão sobre ele.
"Dói pra diabo, mas acho que vou sobreviver - Ada, onde está Ada?".
Dizendo a última frase quase frenético, Leon fez força para se desencostar da parede. Com um suave gemido ele
soltou, sem condições de se mexer.
"Fique parado, descanse por um minuto". Claire disse. "Quem é Ada?".
"Eu a conheci na delegacia. Eu não consegui te achar e descobrimos como fugir de Raccoon - pelos esgotos. A
cidade não é segura, houve algum tipo de vazamento no laboratório da Umbrella, e Ada quis partir logo depois.
Alguém atirou em nós e eu fui atingido - Ada foi atrás do atirador, descendo o corredor, ela disse que era uma
mulher...".
Ele balançou a cabeça e franziu. "Eu tenho que achá-la. Eu não sei quanto tempo fiquei apagado, não mais do
que alguns minutos, ela não deve ter ido longe -".
Ele tentou se mexer de novo e Claire o impediu, empurrando-o de volta. "Eu vou. Eu - estava com uma garotinha
que agora está perdida nos esgotos. Talvez eu ache as duas".
Leon hesitou - depois acenou, desistindo. "Como está de munição?".
"Ah, sete nesta -". Ela conferiu a arma que pegou da viatura e colocou na cintura. Parece que aquele passeio foi
há milhões de anos. "- e dezessete nesta".
Ela ergueu a arma de Irons e Leon acenou de novo, sua cabeça rolando cansadamente. "Certo, isso é bom. Eu
te seguirei em alguns minutos... tome cuidado, tá? E boa sorte".
Claire se levantou, desejando que tivessem mais tempo. Ela queria contar sobre Chris e Irons, Mr. X e o T-virus,
ela queria saber o que ele sabia sobre a Umbrella, ou se sabia onde ficava a saída do esgoto -
- mas essa Ada deve estar enfrentando um atirador nesse momento e Sherry pode estar em qualquer lugar.
- Leon fechou os olhos. Claire virou e foi para a intersecção, imaginado se algum deles sairá disso com vida.
[22]
Annette doía por toda parte. Ela se sentou vagarosamente, enjoada com as centenas de dores que gritavam por
sua atenção. Seu pescoço e estômago doíam, tinha torcido o pulso e seus joelhos pareciam inchados - mas foi a
aguda dor em seu lado direito que era pior, ela achava que tinha quebrado uma costela.
Sua horrível, horrível mulher -
Annette se inclinou, segurando seu tenso pescoço com uma mão machucada, mas só viu metal e sombra; Ada
Wong, a vagabunda da Umbrella aparentemente fugiu. Ela fingia não saber de nada, mas Annette não era burra,
Ada já devia estar a caminho do laboratório - ou vindo atrás dela, ansiosa para terminar o serviço.
Umbrella, a Umbrella fez isso...
Annette se ajoelhou, usando sua raiva para superar a dor. Ela tinha que chegar ao laboratório antes dos espiões -
mas estava tão machucada!
Não posso deixar roubarem o trabalho dele...
Ela cambaleou até a porta da imensa sala, um braço envolto em seu ardente peito - e parou, inclinando a cabeça
para ouvir.
Tiros. Ecoando pelo frio ar, vindos da área de despejo - e um segundo depois ela ouviu um tremendo assobio,
mais tiros e respingos de água -
Annette sorriu, um sorriso apertado e sem humor. Talvez ela chegue no laboratório antes.
A ponte, abaixe a ponte, não a deixe escapar...
Cansada e dolorida, Annette foi para os controles hidráulicos e acionou a ponte. Os poderosos motores da ponte
#
abafaram os barulhos da batalha, a plataforma rotacionando e descendo até travar com um pesado clank.
Annette se desencostou da parede, caindo sobre os controles perto da porta. Ela viu os controles do túnel de
ventilação e os ligou, ainda sorrindo enquanto as pás começavam a roncar lá em cima. Ada teve problemas no
depósito de lixo e Annette não vai deixá-la voltar por onde veio; com a ponte abaixada e as pás girando, a
senhorita Wong terá lutar pelo caminho.
Tomara que seja um bando de lickers, sua vadia, espero que estejam fazendo-a em pedaços...
Annette saiu dos controles e caiu, a dor e a tontura eram demais, seus ralados e inchados joelhos acertando o
chão, espetando agulhas de agonia por suas pernas -
E a porta à sua frente abriu. Annette ergueu a arma, mas não era capaz de mirar, gastando o que restava de
sua força para não gritar de sofrimento e frustração.
William, está doendo tanto, sinto muito, mas eu não posso -
Uma jovem mulher se agachou na frente dela, com um olhar de preocupação no rosto. Ela vestia shorts e um
colete pingando água do esgoto - e segurava um grande revólver, não apontando diretamente para Annette - e
não apontando para lugar nenhum também.
Outra espiã.
"Você é Ada?". A garota perguntou, tentando tocá-la - era mais do que Annette podia suportar, ser tocada pela
dó de algum espião corporativo.
"Afaste-se de mim". Annette resmungou, estapeando fracamente a mão estendida da garota. "Eu não sou o seu
'contato', e eu não o tenho em mim. Você pode me matar, mas não vai encontrá-lo".
A garota se afastou, um olhar de confusão em seu sujo rosto. "Achar o que? Quem é você?".
As perguntas de novo, e a fúria passou, deixando-a insensível. Annette estava cansada de jogos; doía demais e
já não era mais capaz de lutar. "Annette Birkin". Ela disse exausta. "Como se não soubesse...".
Ela vai me matar agora. Está acabado, tudo acabado.
Annette não podia fazer nada. Lágrimas desceram suas bochechas, lágrimas tão fúteis quanto seus planos. Ela
desapontou William, ela falhou como esposa e como mãe, e até mesmo como cientista. Pelo menos acabará
agora, finalmente haverá um fim para a angústia -
"Você é a mãe de Sherry?".
As palavras da garota a atordoaram, tirando-a de sua exaustão como um tapa na cara.
"O que?! Quem - como você soube sobre Sherry?".
"Ela está perdida nos esgotos". A moça disse, sua voz rápida e desesperada enquanto guardava a arma no cinto.
"Por favor, você tem que me ajudar a encontrá-la! Ela foi sugada para um tubo de drenagem e eu não sei onde
procurar -".
"Mas eu pedi para ela ir à delegacia". Annette lamentou, toda a dor física esquecida, seu coração pulsando
horríveis ondas de descrença. "Por que ela está aqui? É perigoso, ela será morta! E o G-virus - a Umbrella vai
achá-la, eles vão pegá-lo, por que ela está aqui?".
A garota se estendeu para ajudá-la de novo, levantando-a, e Annette não lutou, muito fraca e assustada para
isso.
A garota a olhou intensamente, parecendo culpada, com medo e esperançosa ao mesmo tempo. "A delegacia foi
tomada - para onde a drenagem vai? Por favor, Annette, você precisa me dizer!".
A verdade mostrou-se como um raio de luz em sua exaustão e medo.
A drenagem vai para o tanque de filtragem - que é perto do bonde da fábrica.
A rota mais curta para os laboratórios.
Era um truque. A garota estava usando Sherry para chegar no laboratório, para pegar informações sobre o
G-virus. Sherry ainda estava na delegacia, segura e bem, e tudo isso é uma armação -
- mas a Umbrella conhece o caminho, por que ela perguntaria algo que já sabe? Não faz sentido.
Annette ergueu a arma, seu dolorido pulso tremendo, e se afastou da garota. Sua confusão e perguntas eram
demais - por isso não podia fazer nada, não podia apertar o gatilho.
"Não se mexa. Não me diga". Ela disse, ignorando a dor enquanto abria a porta. "Eu vou atirar se tentar me
seguir".
"Annette - eu não entendo, eu só quero -".
"Cale a boca! Cale a boca e me deixe em paz. Será que vocês todos não podem me deixar em paz?!".
Ela passou pela porta, surpreendendo a garota, apertando seu braço contra a costela contundida ou quebrada
#
assim que fechou a porta..
Sherry...
Era uma mentira, tinha que ser - mas não mudaria nada. Ela ainda podia, tinha que voltar para o laboratório e
terminar o que começou.
Virando, mancando e tossindo, Annette se apoiou na fria parede do túnel conector, deixando cada doloroso e
terrível passo lembrá-la do que a Umbrella fez.
Uma fria e quieta caverna, as paredes brilhavam com gelo e eu estou perdido. Perdido e exausto, correndo e
com medo por um longo tempo, então eu paro e descanso. Tão quieto, tão frio - mas meu braço dói, eu estou
sentado contra uma parede onde nasceu espinhos, e um deles está cavando minha pele, me espetando. Dói
tanto, e eu tenho que me levantar, eu tenho que encontrar alguém, eu tenho que -
- levantar.
Leon abriu os olhos, a par de que tinha apagado novamente. A percepção o fez respirar fundo, o súbito medo
fazendo-o completamente acordado.
Ada, Claire - Jesus, quanto tempo?
Ele gentilmente tirou a mão do braço, o sangue grosso entre seus dedos. Dói, mas não tanto quanto antes - e o
sangramento havia parado, pelo menos na entrada; os farrapos de seu uniforme tinham grudado no ferimento,
formando um curativo.
Ele se inclinou, tentando tocar onde a bala tinha saído; de novo, havia tecido sobre a dor pulsante do ferimento.
Não estava certo, mas só de pensar que a bala tinha varado sua carne sem acertar o osso - ele foi
extremamente sortudo.
Mesmo se tivesse arrancado meu braço, Ada ainda estaria por aí - e eu mandei Claire atrás dela. Eu preciso ir
atrás delas.
Apertando os dentes, Leon se levantou com o braço bom, seus músculos frios e duros por causa do concreto
úmido.
Seu ombro esquerdo raspou na parede e ele ofegou quando a dor intensificou brevemente. Leon esperou passar,
respirando fundo, pensando que poderia ter sido bem pior.
Quando finalmente de pé, decidiu que agüentará; ele não estava enjoado e apesar de haver sangue na parede e
no chão, não era tanto quanto imaginava. Cuidando para não mexer no ferimento, Leon virou e desceu o
corredor até a porta fechada, andando o mais rápido que podia.
Depois da porta, deu de cara com outro túnel cheio de água que ia para os dois lados; havia uma escada de mão
à sua frente à esquerda, mas nem pensou em subir com o braço ferido - além disso, havia um ventilador
barulhento no topo da escada. Ele desceu do patamar e foi para a direita na escura água, esperando achar pistas
de Ada e Claire.
Perseguir um atirador... como pôde fazer aquilo, como pôde me deixar lá?
Depois do confronto com o monstro vomitante, ele jurou não assumir mais nada sobre Ada Wong; ela era flertiva
e insociável, e se ela aprendeu a atirar brincando de paintball, ele era um executivo de banco. Mas apesar de seu
confuso comportamento e provável duplicidade, ele gostava dela; ela era esperta e confiante, ela era bonita - e
ele assumiu que havia uma pessoa decente sob aquela contraditória fachada...
... e ela o deixou para trás e foi pegar o atirador, deixou você rolando no chão com uma bala no braço. É, ela é
ótima; peça-a em casamento.
Ele chegou onde o túnel se dividia. Havia um portão trancado à direita, então Leon seguiu à esquerda, olhando as
grossas sombras. Ele devia ter ido com Claire -
Ele parou, ouvindo algo. Tiros, distantes e abafados, vindo de algum lugar à frente, distorcidos pelo labirinto de
túneis que compunham o sistema de esgotos.
Ainda armado, Leon apertou o ferimento e começou a correr, devagar por causa da água - mas quando os tiros
pararam, ele achou um motivo para ir mais rápido.
Havia uma passagem à frente, uma fraca luz amarelada vinha de lá. Mesmo antes de chegar, viu que teria de
escolher.
Diretamente à frente estava uma alto degrau e uma pesada porta na parede do fim do túnel, água caía do teto
#
como uma cachoeira.
Uma escolha óbvia, exceto -
Leon parou na passagem iluminada, olhando. Outra porta, e ele não tinha tempo para decidir, os tiros podem ter
vindo de qualquer lugar -
Bam, Bam -
Para a esquerda. Leon subiu no patamar, sentindo mais dor, sentindo um molhado quente no pulso. Ele ignorou
isso, indo para a porta e a abrindo, ouvindo mais tiros enquanto passava pela ponte no meio da grande câmara e
ia até a próxima porta.
Ele entrou em um frio corredor só que bem maior e mais largo que os outros, provavelmente algum tipo de
corredor para transporte de equipamentos pesados. Ele virava para a esquerda e esquerda de novo, caixas e
cilindros de aço na esquina da primeira curva.
... acetileno, talvez oxigênio, bom Deus, o que leva tantos tiros e não morre?
Ele ouviu mais tiros e água espirrando - e um som diferente, um profundo e gutural assobio. Estranhamente
familiar, mas muito alto para ser possível.
Um milhão de cobras, milhares de gatos gigantes, algum terrível dinossauro -
Ele correu, finalmente desistindo de manter o ferimento fechado, precisando do braço livre para ganhar mais
velocidade. O fim do túnel estava perto, ele viu um painel de luzes piscando e uma abertura à esquerda, outra
grande porta de abastecimento -
- e ele parou bem a tempo de não entrar na linha de fogo, assim que outra rápida sucessão de tiros soou, assim
que um tenebroso impacto na água fez chover no chão como um grosso lençol.
"Pare, eu estou entrando!". Ele gritou -
- e ouviu a voz de Ada, sentindo um alívio apesar do horror que estava à frente.
"Leon!".
Ela está viva!
Ele ergueu a arma, seu ferimento sangrando agora, ele apareceu na comporta aberta, tábuas quebradas
nadando no turbulento líquido. Ela estava num pequeno patamar de concreto ao lado de uma escada de mão,
apontando a Beretta para a piscina de lixo.
"Ada, o que -".
Splash!
Uma gigante explosão saiu do lago e o jogou para o corredor. Aconteceu tão rápido que ele só viu depois que
estava voando no ar. Ele caiu sobre o braço ferido e gritou, tanto pelo choque do que tinha visto quanto pela dor.
- crocodilo -
Leon ficou de pé e correu antes mesmo de saber se conseguia levantar - e o lagarto gigante, o crocodilo de nove
metros de comprimento subiu no corredor atrás dele com um poderoso rosnado. O cimento tremeu assim que o
mamute réptil saiu das águas, galões de água escura vazando de sua mandíbula cheia de dentes.
- uma boca tão grande quanto eu, maior -
Leon correu, não havia dor, seu coração martelando de pânico - e a besta rosnou de novo, um impossível berro
que sacudiu seus ossos, que fez suor explodir de todos os poros -
- e Leon deu uma olhada para trás, viu que era mais rápido que o lagarto gigante. Ele ainda estava subindo pela
comporta, suas pernas grossas e curtas pareciam troncos de árvores, sua incrível cabeça grande demais para
manobrar facilmente.
Leon trocou de arma numa onda de terror, seu ferimento gritando enquanto colocava uma bala na Remington.
Ele andou de lado, alcançando a curva -
- e descarregou todos as cinco balas o mais rápido que podia, o pesado calibre explodindo o focinho do monstro.
Ele rosnou, balançando a cabeça de lado a lado, baldes de sangue emergindo de sua sorridente face - mas ainda
vindo, tirando sua calda da piscina lá atrás.
Insuficiente, não foi o bastante -
Leon virou e correu de novo, horrorizado em ter que se retirar, com medo do que acontecerá a Ada ao fugir do
crocodilo, mas sabendo que precisará de outros cinqüenta tiros para derrubá-lo - ou uma explosão nuclear, e por
que ele ainda estava pensando? Ele precisava fugir e depois pensar no que fazer.
Agüenta aí, Ada -
Os fortes passos do gigante encheram seus ouvidos enquanto passava pelas caixas, pela fileira de cilindros de aço
#
--
e parou de correr. Seus instintos gritavam por sanidade, mas ele tinha uma idéia - e enquanto o lagarto dava
outro passo, Leon virou e voltou.
Funciona, isso funciona nos filmes, por favor, Deus, esteja ouvindo.
Os cinco cilindros brilhantes estavam presos por uma corrente. Havia um botão para a mesma e Leon o apertou.
Uma ponta da pesada corrente foi para o chão.
Soltando a espingarda, ele agarrou o cilindro mais próximo, seus músculos tencionando, sangue pulsando de seu
braço ferido. Ele pode sentir finos traços de suor descendo pelo peito, sentando no calcanhar para libertar o
cilindro do pequeno suporte.
- pronto!
Leon se jogou para trás e o tubo de gás comprimido foi ao chão, rolando alguns centímetros. Ele olhou para cima
e viu que o crocodilo tinha percorrido mais quinze metros - perto o bastante para ver os sujos dentes enquanto
rosnava de novo, sentindo seu quente e podre hálito.
Leon colocou o pé no cilindro e empurrou com toda a força, o mesmo rolando vagarosamente na direção do
lagarto. Por uma incrível sorte, o corredor tinha uma ligeira inclinação e o cilindro ganhou velocidade, rolando em
um semicírculo.
Recuando, ele tirou o revólver do cinto e apontou para o tubo, forçando para não puxar o gatilho. O crocodilo
avançava, sua calda batendo tão forte na parede que fazia levantar poeira.
Vamos desgraçado -
A menos de dez metros, o crocodilo e o cilindro se encontraram - e Leon apertou o gatilho. O primeiro tiro acertou
o chão perto do tubo - e a boca sorridente abriu, a grande cabeça abaixando para empurrar o obstáculo.
- firme -
Leon atirou de novo, e -
KA-BOOM!
- e foi jogado ao chão quando o cilindro explodiu. Numa explosão de aço retorcido e gases, a cabeça da criatura
foi obliterada, desaparecendo como um balão estourado. Quase na mesma hora, uma onda de sangue acertou
Leon, pedaços de dente, ossos e carne enfumaçada caindo sobre ele como um cobertor molhado.
Enjoado, seus ouvidos zunindo e braço sangrando, Leon sentou enquanto a carcaça decapitada ia ao chão, as
pernas dobrando com o peso do réptil. Ele pressionou sua mão ensangüentada contra o ferimento, exausto,
enjoado, dolorido - e profundamente satisfeito.
"Te peguei, sua porcaria idiota". Ele disse, e sorriu. Quando Ada veio correndo um pouco depois, foi assim que o
encontrou - olhando deslumbrado e atordoado para seu serviço, sujo de sangue e sangrando, sorrindo como uma
criancinha.
[23]
Leon vestia uma camisa branca sobre o uniforme; Ada rasgou-a e fez uma atadura no braço dele, uma espécie
de tipóia antes de colocar a camiseta de volta. Ele perdeu sangue o bastante para estar tonto; e Ada aproveitou
a situação para se explicar enquanto o atendia, sentindo-se chocada com a complexidade de emoções dentro
dela.
"... e eu achei que ela me parecia familiar. Eu achava que a conhecia através de John e quase a alcancei - mas
ela deve ter me despistado. Eu me perdi nos túneis, tentando voltar...".
Nenhuma verdade, mas Leon nem percebeu - até o gentil modo como ela o tocava, ou o leve tremor em sua
voz enquanto pedia desculpas pela terceira vez, por deixá-lo para trás.
Ele salvou a minha vida. De novo. E eu acabo retribuindo tudo com mentiras, mentiras em troco de sua
generosidade.
Algo mudou nela quando ele foi baleado em seu lugar, e não conseguia mudar de volta. Pior, ela não sabia se
#
queria mudar de volta. Era como o nascimento de um novo sentimento, uma emoção que a enchia; era
desconfortável, mas também não era desprazeroso. O modo como destruiu o crocodilo fez esse sentimento mais
forte ainda. O buraco em seu braço foi só na carne, mas o sangue em seu corpo, ela sabia que doía muito, que
estava drenando-o,
matando-o enquanto tentava salvá-la.
Livre-se dele agora, sua mente soou, não deixe isso afetar seu trabalho - o trabalho, Ada, a missão. Sua vida.
Ela sabia que isso era a única coisa a fazer - mas quando ele ficou pronto e sua história foi contada, ela parou de
ouvir ela mesma. Ada o ajudou a se levantar e o tirou do cenário com os restos do réptil, sem parecer ter achado
uma saída quando estava perdida.
Annette se foi; assim que Leon tinha chamado a atenção do crocodilo, ela subiu a escada e checou - e viu que
Annette teve bastante senso de ligar os ventiladores e abaixar a ponte antes de fugir. Apesar de Annette estar
errada sobre os propósitos de Ada, ela terá que chegar no laboratório antes da cientista. E com Leon nessas
condições só a atrasaria.
Solte ele! Perca o peso, você não é uma enfermeira, por Deus, esta não é você, Ada -
"Estou com sede". Leon suspirou, sua respiração morna em seu pescoço. Olhando em seu rosto ensangüentado
e piscante, ela viu que a voz lá dentro seria mais fácil de ignorar. Ela terá que deixá-lo -
- mas não agora.
"Então vamos achar um pouco de água". Ela disse, e virou-o gentilmente para a direção que precisava ir.
Sherry acordou no escuro, um terrível gosto na boca, um rio de água fria puxando suas roupas. Havia um
estrondoso barulho a sua volta, como se o céu estivesse caindo, e por um segundo não podia se lembrar do que
tinha acontecido ou onde estava - e quando percebeu que não conseguia se mover, ela entrou em pânico. O som
estava enfraquecendo mais e mais até acabar - mas ela estava presa em algum rio fedorento, presa e sozinha.
Ela abriu a boca para gritar - mas lembrou do monstro que berrava, depois do gigante careca e depois de Claire.
Ela lembrou de Claire quando a impediu de gritar; de algum modo a imagem de Claire funcionava como um suave
toque, acalmando o cego terror e a permitindo pensar.
Sugada por um buraco, e agora estou - em outro lugar, e gritar não vai ajudar.
Era um pensamento forte e corajoso, fazendo-a pensar melhor. Ela se desencostou da dureza atrás e percebeu
que não estava presa; ela estava contra uma fileira de barras na parede e a força da água corrente a tinha
segurado lá - e provavelmente a salvou de ter afundado. A nojenta água ainda estava agitada, borbulhando - e o
gosto ruim em sua boca significava que havia engolido um pouco dela...
Pensar nisso abriu o resto de sua memória. Ela estava flutuando e de alguma forma foi revirada, engoliu o horrível
líquido e - apagou.
Pelo menos o barulho tinha acabado, e agora que estava mais acordada, percebeu que podia enxergar. Não
muito, mas o suficiente para ver que estava numa grande sala alagada e que havia um pequeno buraco de luz
vindo de cima.
Tem que ser uma saída. Alguém construiu esse lugar, tem que haver uma saída...
Ela nadou mais pela sala, e sentiu seus dedos do pé tocarem algo duro e plano. Sentindo-se boba por não ter
pensado nisso antes, ela respirou fundo e esticou as pernas - e ficou de pé. A água batia em seus ombros, mas
conseguia ficar de pé.
Os últimos traços de pânico se foram ao parar no meio do lugar, virando devagar, seus olhos finalmente se
adaptando à fraca iluminação - e viu a escada de mão na parede ao longe. Ainda assustada, a visão das barras
significava que tinha achado a saída. Sherry levantou o pé e foi para a escada, orgulhosa de como está se
virando.
Sem gritar nem chorar. Como Claire diz. Forte.
Ela começou a subir, agarrando as melecadas barras de metal que pareciam continuar para sempre. Ao olhar
para baixo, só viu a água movimentando onde a luz incidia. Ela também viu a origem da luz - uma estreita fenda
no teto, não muito longe de onde estava.
Quase no topo. E se eu cair não vou me machucar... não há nada para se assustar.
Sherry respirou fundo para tornar isso verdade e olhou para cima de novo.
Mais algumas barras, e quando foi tocar a próxima, sua mão bateu no teto de metal. Ela empurrou com uma
#
mão e -
- e a tampa não se moveu. Não mesmo.
"Droga". A palavra soou pequena e só, mais como um apelo.
Sherry colocou um cotovelo em volta da barra que segurava, tocou seu colar da sorte, e tentou de novo,
empurrando de verdade desta vez. Ela sentiu o alçapão mexer um pouco, mas não o bastante. Ela abaixou a
mão, quieta; estava presa.
Por vários minutos ela não se moveu, não querendo voltar para a água, não querendo acreditar que estava presa
- mas seus braços estavam começando a ficar cansados e ela não queria pular. Finalmente, ela começou a
descer, mais devagar do que quando subiu. Cada degrau a menos era como admitir a derrota. Ela estava a um
terço do caminho para a água quando ouviu passos acima - uma suave vibração a princípio, mas depois se
difundiram em passos distintos, mais altos, se aproximando do poço que Sherry estava.
Sherry deu um segundo para pensar em ignorar os passos, mas acabou subindo, decidindo que valia a pena
arriscar; pode não ser Claire - mas podia ser sua única chance de escapar.
Ela começou a gritar antes mesmo de chegar ao topo. "Ei! Socorro, você pode me ouvir? Ei, Ei!".
Os passos pareceram parar, e ela alcançou o topo, ainda chamando, batendo no metal várias vezes.
"Ei, ei, ei!".
Outra pancada com sua dolorida mão - e de repente estava socando o ar, uma forte luz caindo em seu rosto.
"Sherry! Oh, meu Deus, querida, que bom que você está bem!".
Claire, era Claire, e Sherry não a conseguia ver, mas estava derretida de prazer ao som de sua voz. Fortes e
quentes mãos a levantaram, quentes e úmidos braços a abraçaram fortemente. Sherry piscou e começou a
perceber as características da vasta sala através da brilhante e branca névoa.
"Como você sabia que era eu?". Claire perguntou, ainda segurando-a.
"Eu não sabia. Eu não conseguia sair sozinha, e ouvi passos...".
Sherry olhou em volta, sentindo-se impressionada por Claire tê-la ouvido.
A sala era enorme, com passarelas de metal na diagonal - e a seção do chão onde tinha saído estava no canto
mais longe da sala.
"Estou muito feliz por ver você". Sherry disse e Claire sorriu, tão feliz e espantada quanto Sherry.
Claire se ajoelhou na frente dela, seu sorriso sumindo um pouco. "Sherry, eu vi sua mãe. Ela está bem, está viva
-".
"Onde? Onde ela está?". Sherry ficou corada, empolgada com a notícia - mas sentindo uma incerteza,
tencionando os músculos de repente, ficando difícil de respirar.
Ela olhou fundo nos olhos preocupados de Claire, e percebeu que ela iria mentir de novo - que tentava dar uma
notícia ruim do melhor jeito possível. Sherry teria deixado ela fazer isso algumas horas atrás -
- mas agora não. Fortes e corajosas nós temos que ser...
"Diga-me, Claire. Diga-me a verdade".
Claire suspirou, balançando a cabeça. "Eu não sei para onde ela foi. Ela estava - com medo de mim, Sherry. Acho
que ela me confundiu com outra pessoa, alguém ruim. Ela correu de mim - mas eu tenho quase certeza de que
ela veio por aqui, e eu estava procurando por ela quando ouvi você".
Sherry acenou devagar, forçando para aceitar a idéia de que sua mãe vinha agindo estranho - estranho o
bastante para Claire suavizar.
"E você acha que ela veio para cá?" Sherry finalmente perguntou.
"Não estou certa. Eu também achei um policial, antes de ver sua mãe. Eu o conheci quando cheguei na cidade, e
ele estava num dos túneis que passei depois que você desapareceu. Ele estava ferido, ele não podia vir comigo -
então depois que vi sua mãe, eu voltei para buscá-lo, mas ele não estava mais lá."
"Morreu?".
Claire balançou a cabeça. "Não. Foi embora - então eu voltei e esse é o único caminho que sua mãe pode ter
pego. Mas como eu disse, não estou muito certa..."
Ela hesitou, olhando para Sherry pensativa-mente. "A sua mãe já te falou sobre algo chamado G-virus?".
"G-virus? Não acho que não".
"Ela já te deu algo para segurar, algum tubo de vidro, ou algo assim?".
Sherry franziu de volta. "Não, nada. Por quê?".
Claire se levantou, tocando e apertando o ombro de Sherry. "Não é nada importante".
#
Sherry estreitou os olhos e Claire sorriu de novo. "É sério. Venha, vamos ver se descobrimos por onde sua mãe
foi. Aposto como está procurando você".
Sherry deixou Claire dar o caminho, imaginando porque de repente tinha certeza de que Claire não acreditava no
que dizia... e imaginando porque não conseguia fazer mais perguntas.
O elevador plataforma do galpão, com uma locomotiva em cima, estava onde Annette o tinha deixado. O tempo
tinha apertado, mas ainda estava na frente dos espiões, de Ada e de sua amiguinha de roupas rasgadas...
... dizendo mentiras como se o sofrimento de perder William não fosse o bastante para elas...
Ela tirou a chave de controle do bolso de seu rasgado avental de laboratório, apoiando-se nos controles, inserindo
a chave e girando-a. Seus trêmulos dedos tocaram o botão de ativação e uma trilha de luzes apareceram no
painel, bem claras apesar do brilho da lua cheia. Uma fresca brisa de outono soprou em seu corpo dolorido, um
amigável vento que cheirava como fogo e doença...
... como no Dia da Bruxas, como fogueiras queimando a carne pestilenta das brincadeiras...
Quatro barulhentas buzinas soaram no ar noturno, o pesado elevador dizendo que é hora de ir. Annette subiu os
degraus para a locomotiva, incapaz de lembrar o que estava pensando. Ela estava cansada. Quanto tempo faz
que não dorme? Ela também não lembra disso?
Bati a cabeça, não foi? Ou apenas sonolência, pode ser...
Seus machucados a tinham levado para delirantes lugares que nunca imaginou existir, ela sabia o que fazer - o
sistema de disparo, a abertura do portão do trem subterrâneo, se esconder nas sombras e esperar se curar -
mas o resto ficou tão estranho, como se tivesse tomado um remédio para pensar um pouco por vez.
Estava quase acabado. Uma mágica e positiva frase que ainda podia ver, não importava o quanto cega tinha
ficado. A caminho do galpão, ela tossiu e tossiu, e depois vomitou de dor, uma escuridão que quase permaneceu
por tanto tempo que ela pensou ter perdido a visão -
- está quase acabado.
Agarrando o pensamento como um amor perdido, ela achou a maçaneta da porta metálica e entrou. O
movimento e o som de movimento a engoliram enquanto se deitava no suave banco de metal e fechava os
olhos. Alguns momentos para descansar e estará tudo acabado...
Annette afundou na escuridão, o suave hum dos motores levando-a para um profundo e distante sono. Ela
estava descendo, seus músculos relaxados, suas dores e misérias perdendo a força - e por um bom tempo
achou silêncio até que -
- até que um terrível grito esfaqueou sua escuridão, um berro de tal fúria e dor que falou para seu coração - e ela
voltou à vida, ofegando e apavorada -
- e então percebeu o que a tinha tirado de seu sono.
Foi William. Ele tinha voltado para casa, ele a tinha seguido - e a Umbrella não terá nada porque seu marido tinha
voltado para o raio da explosão.
O grito soou de novo, desta vez ecoando por um dos vários túneis secretos do laboratório enquanto descia.
Annette fechou os olhos novamente, o novo pensamento se juntado ao seu amor perdido, ambos juntos a
fazendo feliz.
William voltou. Está quase acabado.
O terceiro seguiu naturalmente enquanto voltava para o silêncio, sabendo que terá de se levantar em breve.
Quando a plataforma parar, ela levantará e estará pronta para a jornada final.
A Umbrella sofrerá pelo que fez - e todos morrerão no final.
Ela sorriu e dormiu, sonhando com William.
#
[24]
Leon finalmente começou a se sentir ele mesmo, sentado na sala de controle onde Ada o deixou. Ela tinha
achado um kit médico em um dos gabinetes empoeirados, junto com uma garrafa de água; já fazia dez minutos
que ela tinha saído e, a aspirina já estava funcionando, a água fez maravilhas.
Ele sentou no console cheio de botões, tentando se lembrar do que tinha acontecido depois da explosão no
esgoto; a última coisa de que se lembrava era do colapso do crocodilo e de ter sido pego por uma fraqueza logo
depois. Ada fez um curativo e o levou pelos túneis -
- e um vagão, nós ficamos num vagão por um minuto ou dois -
- e finalmente esta sala, onde ela pediu que descansasse enquanto verificava algo.
Leon tinha protestado, lembrando-a de que não era seguro, mas estava confuso o bastante para não fazer nada
exceto sentar onde ela mandou. Uma vez que bebeu um galão de água, começou a melhorar. Parece que a
perda de sangue causava desidratação...
... aí ela me deu água e foi checar o que? E como ela sabia vir por esse caminho?
Ele mal conseguia andar e mesmo delirando, ele percebeu o quanto ela estava confiante e precisa ao escolher o
caminho? Ela era uma compradora de arte em Nova Iorque, como ela pode saber algo sobre o sistema de
esgoto de Raccoon City?
E onde ela está? Por que ainda não voltou?
Ada provavelmente salvou sua vida - mas ele não podia continuar acreditando no que ela dizia ser. Ele queria
saber o que ela estava fazendo, saber agora, e não só porque está guardando segredos, mas porque Claire
ainda estava nos esgotos. Se Ada conhece uma saída, Leon devia isso a Claire.
Leon se levantou devagar, se apoiando na cadeira e respirando fundo. Ainda fraco, não sentia tanta dor no braço
e nem enjôo - a aspirina talvez.
Ele sacou o revólver e andou para a porta da pequena e empoeirada sala de controle, prometendo que não
aceitaria mais respostas vagas ou sorrisinhos.
Ele abriu a porta e saiu num enorme galpão de madeira; estava vazio e escuro, mas a brisa noturna fez isso
quase agradável - e lá estava Ada, subindo numa plataforma elevada fora do galpão, desaparecendo atrás do
que parecia ser uma locomotiva amarela. Era um elevador de transporte industrial - e pelos oleosos trilhos que
terminavam dentro do galpão, deveria ser a parte de uma fábrica abandonada, que não estava completamente
abandonada.
"Ada!".
Com seu braço ferido pressionado contra o corpo, Leon correu para a grande plataforma hexagonal - ficou
enraivecido ao ouvir o crescente barulho dos motores, o barulho mecânico subindo no limpo céu noturno. Ada
estava partindo, não tinha ido verificar nada -
- só que ela não vai a parte alguma antes de dizer por quê.
Leon correu pela luz da lua, ouvindo a porta da locomotiva fechar enquanto passava por um painel de controle.
Depois que subiu os degraus e tentava recuperar o equilíbrio, o grande elevador começou a descer, painéis de
quase um metro cercaram o perímetro hexagonal da plataforma, levando Leon, Ada e a locomotiva para baixo
numa suave descida.
Leon abriu a porta enquanto tudo ficava escuro, o céu tornando-se apenas um ponto cada vez menor. A luz da
lua sendo trocada pelas brancas luminárias do poço do elevador.
Ao entrar, viu o surpreso olhar de Ada enquanto se levantava de um assento preso na parede, enquanto ela
erguia a Beretta e a abaixava de novo - o sentimento de culpa indo e vindo no tempo que levou para fechar a
porta.
Nenhum dos dois falou, encarando um ao outro. Leon quase a viu tentando inventar uma explicação - cansado
como estava, ele decidiu que não tinha paciência para isso.
"Para onde nós vamos?". Ele perguntou, tentando não mostrar a raiva em sua voz.
Ada suspirou - e sentou, seus ombros caindo "Eu acho que é uma saída". Ela olhou para ele. "Desculpe. Eu não
devia ter tentado partir sem você, mas eu estava com medo...".
Ele pôde ver tristeza de verdade em sua voz e em seus olhos, sua raiva diminuindo um pouco. "Com medo de
quê?".
#
"De que você não fosse conseguir. De que eu não fosse conseguir, tentando manter nós dois a salvo."
"Ada, do que você está falando?". Leon foi para o banco, sentando ao lado dela. Ela olhou para as mãos, falando
suavemente.
"Quanto eu estava procurando você nos esgotos, eu achei um mapa. Ele mostrava o que parecia ser algum tipo
de laboratório ou fábrica subterrânea - e se o mapa estiver certo, havia um túnel que dava fora da cidade".
Ela olhou para ele de novo. "Leon, eu não achava que você tivesse condições de fazer uma viagem como aquela,
como esta - e eu estava como medo de traze-lo comigo, de ser um túnel sem saída ou de algo nos atacar...".
Leon acenou devagar. Ela estava tentando se proteger - e a ele.
"Me desculpe". Ela repetiu. "Eu devia ter contado, eu não devia tê-lo abandonado daquele jeito. Depois de tudo o
que você fez por mim, eu - eu pelo menos te devia a verdade".
A culpa e a vergonha em seus olhos não era algo falso. Leon foi para tocar a mão dela, preparando-se para dizer
que entendia e que não a culpava -
- foi quando houve uma pancada no lado de fora. O vagão inteiro tremeu um pouco, mas suficiente para
deixá-los apreensivos.
"Deve ser um defeito na trilha...". Leon disse e Ada acenou, com uma intensidade que o fez prazerosamente
desconfortável, um calor que se espalhou por todo seu corpo -
BAM!
- e Ada voou do banco, jogada ao chão assim que uma grande e encurvada coisa varou a parede como se fosse
papel. Era uma mão, uma mão com garras bem compridas, pingando de -
"Ada!".
A mão gigante saiu e voltou, fazendo novos buracos no metal enquanto Leon se jogava ao chão, agarrando o
mole corpo de Ada, colocando-a no centro do vagão. Um terrível grito soou pela escuridão do lado de fora - foi o
mesmo grito furioso que tinha ouvido na delegacia, só que mais alto e violento - e menos humano do que antes.
Leon segurou Ada com o braço bom, sentindo um quente rastro de sangue sair do lado direito dela.
"Ada, acorde! Ada!".
E nada. Ele a abaixou gentilmente no chão e apertou o buraco de sangue em seu vestido, bem acima do quadril.
Sangue jorrava de duas profundas perfurações; não dava para saber se era grave. Ele rasgou cerca de cinco
centímetros da parte debaixo do curto vestido dela, pressionando o tecido contra o ferimento -
- e o monstro gritou de novo, e a raiva naquele grito nem se comparava com a de Leon, olhando para o falecido
rosto de Ada. Ele esticou o apertado vestido sobre a atadura improvisada, prendendo-a o melhor que podia,
depois se levantou e empunhou a Remington.
Ada tinha cuidado dele e o protegeu quando não conseguia se proteger. Leon carregou a espingarda
impiedosamente enquanto se preparava para retribuir o favor.
Quando elas chegaram no que parecia o fim da linha, foi Sherry que adivinhou por onde sua mãe devia ter ido.
Elas tinham entrado em outra cavernosa e escura câmara, mas só tinha a porta de entrada. Não parecia ter
outra saída, a não ser que Annette tivesse descido da passarela de metal e caminhado pelo vazio que as cercava.
Elas pararam na beira do chão de metal, tentando enxergar a escuridão à frente, mas sem sorte. O lugar parecia
uma doca; o chão gradeado ia da porta até a parede de trás, e terminava sem mais nem menos, dando lugar a
um interminável vazio. Ou Annette desceu e seguiu em frente ou Claire seguiu pelo caminho errado.
Então voltamos ou seguimos em frente?
Ela não queria nenhuma das opções - se bem que voltar parece melhor do que encarar uma caverna escura. E
Leon ainda deve estar lá atrás...
"Isso é algum teleférico? Sherry perguntou, e Claire se bateu mentalmente.
Plataforma, vários cabos no teto...
"É, acho que é, apesar de você ter adivinhado por mim. A minha cabeça deve estar ruim...".
O pequeno painel do outro lado da plataforma devia ser a mesa de controle. Claire foi para lá, Sherry a seguiu,
apertando seu colar dourado enquanto descrevia os barulhos do tubo de drenagem.
"... e se movia como um trem. Me assustou bastante, também. Era bem alto".
Bem abaixo do pequeno monitor estava um código de chamada. Claire digitou o código e apertou "enter" - e o
lugar se encheu com o suave hum do maquinário.
"Você é bem espertinha, sabia?". Claire disse e Sherry praticamente se iluminou, um doce sorriso em seu rosto.
#
Claire colocou um braço em volta dos ombros de Sherry e juntas foram esperar no fim da plataforma.
As luzes do teleférico apareceram alguns segundos depois, aumentando cada vez mais. Depois dessa, Claire
decidiu que seria fantasticamente mais otimista. O teleférico daria fora da cidade e estaria bem estocado com
água e comida, teria chuveiros e roupas limpas -
- não, apague isso. Uma banheira quente e um daqueles grosso roupões de veludo. E pantufas.
Legal, qualquer coisa que não inclua monstros e pessoas malucas. Ela olhou para Sherry e viu que ela ainda
esfregava o medalhão.
"O que tem aí?". Ela perguntou, tentando fazê-la sorrir de novo. "É a foto do seu namorado?".
"Dentro? Oh, não é para guardar nada". Sherry disse, e Claire gostou de ver as bochechas dela coradas. "Minha
mãe me deu, é para dar sorte - e eu não tenho um namorado. Os meninos da minha idade são totalmente
imaturos".
Claire sorriu. "Vá se acostumando, docinho. Alguns deles nunca crescem mais do que isso".
Já dava para ver o aspecto do teleférico, um único vagão com cerca de seis metros vindo suavemente.
"Para onde você acha que ele vai?". Sherry perguntou, e antes que Claire pudesse responder, a porta pela qual
entraram explodiu.
A porta veio para dentro, arrancada das dobradiças em um ruído metálico e caindo no chão -
- e Claire agarrou Sherry, colocando-a perto assim que Mr. X apareceu, contorcendo-se para cruzar a abertura,
seu olhar desalmado mirando nelas.
"Fique atrás de mim!". Claire gritou, sacando a arma de Irons, arriscando um olhar para o teleférico se
aproximando. Dez segundos, só dez segundos -
- mas X deu um passo gigante para elas, seus grandes braços se levantando, ainda a seis metros de distância,
mas só a quatro de seus largos passos -
"Entre no vagão quando ele parar!". Claire gritou e apertou o gatilho.
Quatro, cinco, seis tiros no peito dele. O sétimo acertando uma bochecha branca, mas Mr. X nem piscou, nem
sangrou - nem parou. Outro passo. O escuro buraco em seu rosto como prova de sua inumanidade. Claire
abaixou a mira, pernas, joelhos.
Bam-bam-bam!
- e ele pausou quando pelo menos um dos tiros acertou seu joelho esquerdo, seus olhos negros fixados nela,
marcando-a -
"Aqui, vamos!".
Sherry já estava puxando o colete dela, gritando, e Claire recuou, atirando de novo. Mais dois tiros acertaram sua
barriga -
- e ela já estava no vagão. Sherry achou o controle da porta e a mesma deslizou para o lado, Mr. X enquadrado
na pequena janela, sem vir mas também sem cair. Sem morrer.
"Siga-me!". Claire gritou, vendo os comandos luminosos à direita, sabendo que a porta não agüentaria um
segundo.
Ela correu com Sherry, agradecendo a Deus pelo designer ter sido amigável quando o botão "partir" desceu sob
suas trêmulas mãos -
- e o teleférico se moveu, deslizando da plataforma, para longe do indestrutível homem e para dentro do escuro.
Annette sentou-se no dormitório do nível quatro, esperando o computador ligar e debatendo se inicia ou não a
seqüência P-Epsilon. Quando o sistema de destruição for ativado, todas as portas serão destrancadas, até
mesmo as eletrônicas. E as criaturas que estiveram presas pelos últimos dias ficarão livres para vagar, e a maioria
delas estarão famintas...
... famintas e quentes, sangrando puro vírus através da carne...
Ela não queria encarar nenhuma dessas criaturas, mas assim que as primeiras linhas do código apareceram na
tela, ela decidiu iniciar a seqüência. O gás P-Epsilon era um experimento que alguns microbiologistas criaram para
satisfazer a equipe de controle de danos da Umbrella. Se funcionar, o gás incapacitará qualquer criatura infectada
pelo vírus aerotransmissível - a principio - garantindo-a uma viagem segura para o túnel de transporte, mas os
espiões estavam vindo e Annette não queria tornar as coisas fáceis para eles. Ela tinha ouvido o elevador de
#
carga sendo chamado para a superfície a caminho do laboratório de sínteses - o que era ótimo, eles estarão aqui
para o final, e ela queria que eles lutassem por suas vidas enquanto acelerava para fora do multibilionário
complexo, para longe da brilhante explosão...
... ele vai queimar e eu ficarei livre desse pesadelo. Fim de jogo, eu venço e a Umbrella perde, e de uma vez por
todas as criaturas assassinas -
Ela sentiu-se bem; ela queria ir direto para o computador mais próximo e ativar o sistema de destruição, mesmo
antes de coletar a amostra, só que ela mal enxergava à frente quando saiu do elevador; e ela tinha medo de
esquecer alguma coisa - ou pior, cair e não levantar mais. A viagem para o armário de remédios do laboratório de
síntese fixou tudo isso.
Epinefrina*, endorfina*, anfetamina*, oh, Deus.
Annette sabia que estava drogada, que não devia subestimar suas habilidades, mas por que não se sentir feliz?
Ela sorriu para o pequeno computador à frente e começou a digitar os códigos, sentindo como se seus dedos
fossem quebrar enquanto a adrenalina sintética corria por suas veia dilatadas.
--------------------------------------------------------------
* Epinefrina - Sinônimo de adrenalina.
* Endorfina - Analgésico.
* Anfetamina - medicamento vaso-condutor e estimulante.
-------------------------------------------------------------- Ela tinha voltado para o laboratório, William também, e a última
amostra viável do G-virus estava no seu bolso. Ela a tinha escondido numa caixa de fusíveis antes de ir procurar
William, e a recuperou quando voltou -
76E, 43L, 17A, tempo para destruição... 20, alerta vocal/corte de energia, 10, autorização pessoal, 0001 Birkin -
- e era isso. Annette não parava de sorrir, não queria parar enquanto tocava o "enter". Um toque e nada na
terra poderia pará-lo. Em dez minutos os alertas gravados serão tocados, e o elevador desligará; em quinze
começará a contagem - cinco minutos para alcançar uma distância segura de trem, outros cinco e -
Boom. Vinte minutos antes da explosão. Mais do que suficiente para chegar no túnel e ligar o trem; suficiente
para acelerar por baixo das ruas da cidade, pelas montanhas isoladas dos limites de Raccoon. Tempo o bastante
para chegar no fim da linha e ver a Umbrella perder.
Quando o relógio marcar zero, as cargas plásticas na central de força do laboratório serão ativadas. Mesmo se
onze das doze cargas explosivas falharem, uma única seria capaz de detonar as cargas secundárias embutidas
nas paredes. O sistema de destruição da Umbrella foi projetado para derrubar tudo. O laboratório se tornará um
inferno, explodindo sob a cidade morta, visível à quilômetros - e ela estará lá para ver, para ver que fez tudo dar
certo.
Isto é por você William...
O pensamento foi amargo... por um tempo, eles não - aproveitaram a relação marido e mulher. William era tão
brilhante, tão devotado ao trabalho que os prazeres da síntese tomaram o lugar da vida de casado. Mas ela
aprendeu a conviver com isso - e agora, com seu dedo tocando o fim de tudo, ela desejou que tivesse havido
mais entre eles nos últimos anos, mais do que sua adoração por seus incríveis presentes ou pela adoração dele
por sua assistência...
Este é o nosso último beijo, meu amor. Esta é minha contribuição pelo trabalho, meu ato final pelo que
compartilhamos.
É, estava certo, esse era o sentimento. Annette apertou a tecla, seu coração cantando, e viu o código de
travamento aparecer na tela em verde brilhante.
"Eu, com todo respeito, ofereço a minha demissão". Ela disse suavemente e começou a rir.
[25]
Leon tinha dado duas voltas em torno do vagão e não viu nada.
Quando a criatura finalmente saiu das sombras do teto do vagão, Leon ergueu a espingarda. A visão o fez
#
congelar, sua fúria rendendo-se ao medo.
Mas que droga -
A coisa ainda gritava, o brutal berro como a voz do inferno. A coisa já foi um homem - pernas e braços, pedaços
de roupas penduradas em seu grande corpo - mas tudo de humano mudou - ainda estava mudando enquanto
aumentava sua ferocidade, e Leon só conseguia olhar.
Seu corpo era inchado e ondulado com estranhos músculos. Seu braço direito era quase meio metro mais longo
que o outro, manchadas garras sobressaindo da mão. E o inquieto tumor no ombro direito parecia um olho do
tamanho de uma bola de basquete, mexendo de um lado para o outro como se procurasse algo -
- e o grito também estava mudando, mais profundo, mais áspero, o despenteado rosto caindo - derretendo até o
peito. Como cera quente, a cabeça humana escorregou para o peito esquerdo -
- e ao mesmo tempo, outro rosto estava se formando, crescendo com um terrível som de estalo, como dedos
sendo quebrados. Rachados olhos se abriram, o vermelho buraco de uma boca se formando, respirando para
gritar -
- e Leon apertou o gatilho.
Boom!
O tiro acertou o peito, um grosso e roxo sangue espirrou, cortando o grito da criatura - mas foi só isso. O novo
rosto do monstro virou para Leon, inclinando -
- e pulou na plataforma, aterrissando com as penas meio agachadas. Ele deu um passo a frente e ficou perto o
bastante para Leon sentir o estranho e químico cheiro que a pele do monstro soltava - e viu que o sangramento
no peito tinha parado, que a carne estava comendo os buracos.
A criatura levantou sua poderosa garra e Leon recuou, atirando novamente quando a mão desceu -
- shhink!
- e faíscas voaram do metal assim que o tiro acertou a criatura no estômago. O pesado calibre mal intimidou o
gigante mostro. Ele deu outro passo e Leon recuou, atirando de novo -
- e encostou nos degraus que sobem para o vagão, tropeçando e caindo sentado, o tiro indo longe sobre a
cabeça em forma de bala da criatura. Mais um passo e estará nele -
- e estarei morto -
- exceto que a criatura não deu o passo. Ao invés disso, ela virou para o parapeito da plataforma, sua bizarra
cabeça levantando, os buracos de suas narinas alargando -
- e silenciosamente, quase graciosamente, o monstro pulou para a escuridão fora da plataforma.
Por um momento, Leon não se mexeu. Não podia, estava muito ocupado tentando entender porque o monstro
não o matou. Deve ter sentido ou cheirado algo, terminou o ataque que com certeza teria ganho - e pulou fora
do transporte.
Eu não morri. Ele se foi e eu não estou morto.
Por quê? Ele não sabia, mas saber que estava vivo já bastava - e alguns segundos depois, seus confusos
sentidos o disseram que o elevador estava diminuindo a velocidade, que o poço estava ficando mais claro, a
escuridão ficando acinzentada.
Leon ficou de pé e foi ver Ada.
Sherry ouviu o monstro de longe, em algum lugar do claro e fundo buraco, e sentiu-se bem mais assustada do
que quando Mr. X - Claire o chamava assim - entrou na estação do teleférico. Claire disse que foi um problema na
máquina, mas Sherry não se convenceu. O som era tão distante e estranho que poderia ser outra coisa...
... e se não for? E se Claire estiver errada?
Elas pararam no lado de fora do galpão, em frente a um grande buraco no chão e esperaram pelos ruídos
mecânicos cessarem. A quase lua cheia estava baixa no céu, e Sherry podia dizer que já era de madrugada pelo
tom azul no horizonte; ela não se sentia cansada. Estava assustada e ansiosa, mesmo com Claire segurando sua
mão, Sherry não queria entrar no buraco escuro onde o monstro poderia estar.
Depois de um longo tempo, o maquinário parou e Claire recuou - o poço do transporte, ela disse - e voltou para o
galpão.
"Vamos ver se podemos chamá-lo de volta - Sherry?".
#
Sherry não se mexeu. Ela olhava dentro do buraco, segurando seu amuleto e desejando ser corajosa como Claire
- mas ela não era, e sabia disso, e não queria descer na escuridão.
Eu não posso, eu não posso descer lá, eu NÃO sou como a Claire, e não me importo se minha mãe está lá
embaixo -
Sherry sentiu um calor nas costas e olhou para cima, assustada, e viu que Claire tinha tirado o colete e estava
colocando-o em Sherry.
"Eu quero que você o use". Claire disse, e apesar do medo, Sherry sentiu uma súbita onda de pura alegria.
"Mas por que? Ele é seu, e você vai sentir frio...". Sherry disse.
Claire ignorou por um minuto, ajudando-a se vestir. Era grande demais para ela e estava um pouco sujo, mas foi
a coisa mais legal que já ganhou.
Para mim. Ela quer que eu o tenha.
Claire se ajoelhou, agora vestindo só uma fina camiseta preta e shorts. Olhando seriamente, Claire fechou o
colete no peito de Sherry e começou a falar.
"Eu quero que fique com ele porque eu posso dizer que você está com medo. Faz tempo que eu o tenho.
Quando eu o uso, sinto como se pudesse chutar traseiros. Como se nada fosse me deter. Meu irmão tem uma
jaqueta de couro com o mesmo desenho nas costas, e ele chuta traseiros - mas ele tirou a idéia de mim".
Claire sorriu de repente, um cansado e quente sorriso que fez Sherry esquecer do monstro, só por um minuto.
"E agora é seu, e toda vez que vesti-lo, eu quero que se lembre de que você é a melhor garota de doze anos
com quem eu já andei".
Sherry sorriu de volta, abraçando o tecido rosa escuro. "É um suborno, não é?".
Claire acenou sem hesitar. "Sim, é um suborno. Então, o que você me diz?".
Suspirando, Sherry pegou a mão dela, e juntas entraram no galpão para procurar os controles do elevador.
Ada acordou assim que Leon a colocou numa barulhenta cama metálica, sentindo uma pulsante dor de cabeça e
uma dor em seu lado. Sua primeira idéia foi a de ter sido baleada - mas ao abrir os olhos e ver a pálida e
preocupada face de Leon, ela lembrou.
Ele ia me beijar, acho - e então...
"O que aconteceu?".
Leon tirou o cabelo da testa dela, sorrindo um pouco. "Aconteceu um monstro. O mesmo que pegou Bertolucci,
acho. Ele atravessou a parede do transporte com a mão e te nocauteou. Você bateu a cabeça depois que - te
arranhou".
Vírus!
Ada fez força para levantar e ver o ferimento, mas a dor de cabeça a impedia. Ela tocou o galo bem acima da
têmpora* esquerda, e tremeu.
"Ei, fique parada". Leon disse. "O ferimento não é tão grave, mas você levou uma séria pancada...".
Ada fechou os olhos. Se ela foi infectada, não havia nada que podia fazer - e que ironia - se foi Birkin quem a feriu
e ainda estava quente, Ada acabaria coletando a amostra do G-virus de uma forma bem pessoal.
Respire fundo. Você não está mais no transporte, o que isso a diz?
"Onde nós estamos?". Ela perguntou, abrindo os olhos.
Leon balançou a cabeça. "Não tenho certeza. Como você tinha dito, é um laboratório ou fábrica subterrânea. O
elevador está lá fora. Eu a trouxe para a sala mais próxima".
Ada virou a cabeça para ver a janela, para ver a área do elevador.
Deve ser o nível quatro, onde a plataforma pára...
O laboratório de síntese principal ficava no nível cinco.
Leon olhava tão sinceramente, seu brilhante olhar azul tão sensível, que por alguns segundos fez Ada pensar em
abortar a missão. Eles poderiam descer para o túnel de fuga juntos, entrar no trem e sair da cidade. Podiam fugir
para bem, bem longe -
- e depois o que? Ligar para Trent e dizer que vai reembolsar? Claro. Depois você pode conhecer os pais de Leon,
ganhar um anel, comprar uma pequena casa branca com um cercado de madeira, ter alguns filhos... você pode
aprender crochê e esfregar os pés dele depois de um duro dia prendendo bêbados e fazendo paradas no trânsito.
Felizes para sempre.
Ada fechou os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava.
#
"Minha cabeça dói muito, Leon, e o túnel que vi no mapa - eu não sei onde é exatamente...".
"Eu vou achá-lo,". Ele disse. "eu vou achá-lo e depois voltar para cá. Não se preocupe com nada, tá bom?".
"Tome cuidado". Ela sussurrou, e sentiu os suaves lábios dele tocarem sua testa, o ouviu levantar e ir para a
porta.
"Fique aqui, eu volto logo". Ele disse, e a porta abriu e fechou. Ela estava só.
Ele ficará bem. Ele se perderá tentando achar o túnel, vai voltar, verá que fui embora e pegará o elevador de
volta à superfície... eu poderei achar a amostra, escapar e tudo acabará.
Ada contou um minuto e sentou-se devagar. Foi uma bela pancada mas ainda conseguia funcionar.
Houve um barulho lá fora, e Ada se levantou, olhando pela janela. Ela conhecia o som mesmo antes de olhar, e
sentiu seu coração afundar um pouco. O elevador estava subindo, provavelmente chamado do galpão por uma
equipe da Umbrella...
... isso quer dizer que não tinha muito tempo. E se eles o acharem -
Não, Leon ficará bem. Ele era um combatente, sabia fugir do perigo, era forte e decente - e não precisava de
alguém como ela em sua vida. Ela foi louca em considerar isso, mesmo por um momento. Era hora de arrumar
as coisas, para fazer o que veio fazer, para lembrar quem ela era - uma agente freelance*, uma mulher sem
dúvidas na hora de roubar ou matar para completar a missão, uma fria e eficiente ladra que leva o prêmio em
uma carreira sem erros. Ada Wong nunca anda com os bons, e não será um policial de olhos azuis que a fará
esquecer disso. Ada tirou as chaves e cartões do bolsar* e abriu a porta, dizendo a si mesma que estava
fazendo a coisa certa - esperando acreditar nisso.
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* Têmpora - Osso lateral superior da cabeça.
* Freelance - Autônomo(a).
* Bolsar - Bolso de vestido.
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[26]
Annette teve alguns problemas.
A ida para a sala de carga foi ruim; cruzou com um infectado, nos primeiros estágios, e o matou com um tiro na
cabeça. Ela passou sob um Re3 que não se desgrudou do teto, e parece que as outras criaturas ainda não
perceberam que estavam livres.
Mesmo assim, ela conseguiu chegar lá em menos de três minutos. Ela digitou o código com um senso de grande
conquista -
- até que a porta da sala de carga se recusou a abrir. Annette digitou o simples código de novo, com mais
cuidado - e nada. Era uma das únicas portas no complexo que não abriam automaticamente com o sistema de
destruição, mas isso não deveria ser um problema - havia uma entrada de disco debaixo dos controles, o disco
que sempre esteve lá, que por insistência da Umbrella, só os chefes da seção poderiam ter acesso -
- e claro, depois de verificar, ela viu que não estava lá. Alguém pegou.
Annette ficou parada na frente da porta trancada do saguão vazio, e sentiu o pânico alcançar a sua mente.
O lugar vai explodir e eu desperdicei quatro, quase cinco minutos agora e onde está o maldito disco?
"Calma, calma, você está bem, tudo bem...".
Um fraco eco, um suspiro de razão no brilhante saguão. Ela só tinha que descer em outro nível; ela tinha a chave
mestra, uma arma e tempo. Não muito, mas o bastante.
Respirando fundo, Annette voltou para o corredor que dava nas escadas, lembrando se de que mesmo não
conseguindo, a Umbrella ia pagar. Ela não queria morrer, não iria morrer, mas os corredores claros e sujos de
sangue, os laboratórios uma vez estéreis vão queimar de qualquer jeito, não há motivo para pânico -
- e assim que virou à direita e correu pelo corredor, seus passos altos e profundos no silêncio, uma grade de
metal caiu do teto bem na sua frente -
#
- e um Re3, um licker, apareceu e gritou por seu sangue.
Não!
Annette atirou, mas só acertou o ombro dele enquanto avançava, esticando um braço deformado para acertá-la.
Ela sentiu uma aguda dor no braço e atirou de novo, chocada e desacreditada -
- e o segundo tiro acertou-o na garganta. Ele gritou, sangue espirrando do pescoço, seu babante e falso grito
enquanto pulava nela de novo.
O terceiro atingiu seu gelatinoso e acinzentado cérebro, e ele caiu se contorcendo, a centímetros de suas trêmulas
pernas.
Ofegando ao ver o quanto perto ele parou, Annette olhou para seu braço sangrando, para os grandes rasgos em
seu avental -
- e algo cedeu. Algo em sua mente.
Sua mente correndo, seu coração batendo, o sangue e o licker, o licker de William, morto no chão à sua frente -
tudo isso dançava em um círculo que se juntou em um só pensamento. Um que explicava tudo isso.
Não é deles.
Era tão claro, como cristal. Ela não podia fugir da dor, porque a dor acabaria em qualquer lugar; ela tinha provas,
pingando de seu braço. William tinha entendido, mas se perdeu antes de explicar, antes de dizer o que ela
realmente precisava fazer. Ela tinha que confrontar seus agressores e fazê-los entender que o G-virus não
pertencia a eles.
Mas eles vão entender? Conseguirão?
Talvez sim, talvez não. Era o trabalho de William, seu legado, e agora era dela.
Deles não. Meu.
Ela tinha que achá-los e dizer a eles. E quando aceitarem a verdade, eles terão que deixá-la sozinha - e então, se
ainda houver tempo, ela seguirá seu próprio caminho.
Mas primeiro ela precisava de outro ato. Sorrindo, de olhos grandes e estrelados, Annette passou por cima do
licker e foi para a escada.
Leon pensou ter ouvido tiros.
Ele estava em um tipo de ala cirúrgica, a primeira sala no final da primeira passagem que pegou depois de deixar
Ada, e levantou os olhos da pilha de papéis amassados que tinha achado, ouvindo - mas os distantes
cracks não se repetiram, então voltou à busca. Ele folheou rapidamente as páginas, desesperado para achar algo
além de intermináveis listas de números e cartas sob o timbre da Umbrella.
Vamos, deve ter algo útil em tudo isso...
Ele queria sair, queria pegar Ada e sair. O cadáver estripado caído no canto era um bom motivo, mas era mais do
que isso - o ar na sala, o corredor lá fora, ele apostou que todas as salas daquele lugar estavam erradas.
Cheirava como morte, e pior, tinha uma atmosfera de algo mais escuro, algo amoral. Mal.
Eles faziam experiências aqui, testes e sabe lá Deus o que mais - e eles criaram a praga zumbi; eles criaram o
demônio que atacou Ada, eles assassinaram a cidade inteira. Seja lá o que queriam fazer, estavam praticando o
mal.
- Mal em larga escala; o elevador os tinha levado para um complexo secreto da Umbrella, um dos grandes. Pelos
números na parede, ele sabia que estava no quarto piso - e a passarela de metal que o levou para a sala de
operações, uma das três, se esticava sobre um buraco que cobria a câmara inteira, o fundo perdido na sombra.
Ele não sabia o quanto tinha descido, e nem se importava, ele só queria achar um simples mapa que indicasse a
saída.
E não está aqui...
Frustrado, Leon deixou os papéis de lado - e viu que havia um disquete de computador na mesa de metal,
escondido pelos papéis. Franzindo, Leon o pegou - "Para verificação da sala de carga" estava impresso numa
etiqueta.
Suspirando, ele o colocou no bolso e esfregou os olhos com a mão direita, seu braço esquerdo praticamente inútil
depois de carregar Ada. Ele não queria procurar um computador e ver o que tinha no disco, não queria procurar a
saída de porta em porta, ver com quais atrocidades a Umbrella tinha brincado. Ele estava cansado, com dor e
preocupado com Ada... e decidiu, enquanto ia para a porta, que deveria falar com ela. Tentar refrescar sua
#
mente, dizer que acharia a saída, mas o lugar é grande demais; se ela soubesse a direção, ou se lembrasse em
que andar era...
Leon abriu a porta, saiu para o corredor e -
- uma mulher armada estava na sua frente, uma 9mm apontada para seu peito. Ela estava sangrando, finos
riscos de sangue descendo pelo braço, manchando seu sujo avental de laboratório - e o olhar dela, estranho e
esbugalhado, o dizia que se mexer seria uma má idéia.
Oh, Deus, o que é isso?
"Você matou meu marido". Ela disse. "Você, sua amiga e a garota - todos vocês, vocês queriam dançar no
túmulo dele, mas eu tenho novidades para você!".
Ela tinha certeza, ele percebeu em sua alta e trêmula voz. Ele manteve as mãos abaixadas, sua voz calma e
baixa.
"Senhora, eu sou um policial e estou aqui para ajudar, está bem? Eu não quero machucá-la, eu só - "
A- mulher colocou a mão ensangüentada no bolso e tirou algo, um tubo de vidro cheio de um líquido roxo. Ela
sorriu bastante, erguendo-o acima da cabeça, ainda mirando a arma em Leon.
"Aqui está! É o que você quer, não é? Me ouça, você me ouve? Não é de vocês! Você entende o que estou
dizendo? William o fez, eu o ajudei, e não pertence a você!".
Leon acenou devagar. "Não pertence a mim, você está certa. É absolutamente seu - ".
A mulher nem ouvia. "Você acha que pode pegá-lo, mas eu vou impedi-lo, eu não vou deixá-lo pegar - tem muito
tempo, tempo para matar você, Ada e quem mais tentar pegá-lo!".
Ada -
"O que você sabe sobre Ada?". Leon perguntou, dando meio passo na direção da maluca, não muito calmo.
"Você a machucou? Me diga!".
A mulher riu, uma risada insana e sem graça. "A Umbrella a mandou, seu idiota! Ada Wong, a senhorita ame-os e
deixe-os! Ela seduziu John para pegar o G-virus, só que não é dela, também! Não é, NÃO É DE VOCES, É MEU -".
Um forte tremor abalou o chão, lançando Leon ao mesmo, uma vibração que chacoalhou as paredes -
- e crash, canos e reboque caíram do teto, uma pesada viga levando a mulher ao chão. Leon cobriu a cabeça
enquanto pedaços de cimento caíam sobre ele -
- e acabou. Leon sentou, olhando chocado para a mulher, sem saber o que tinha acontecido. Ela não se movia. A
viga de metal que a derrubou ainda estava pendurada no teto -
- e uma fria e calma voz soou de repente, de alto falantes escondidos nas paredes - feminina, calma e pontuada
pelo ritmo de um alarme.
"A seqüência de autodestruição foi ativada. Esta seqüência não pode ser abortada. Todas as pessoas devem
evacuar imediatamente. A seqüência de autodestruição foi ativada. Este programa não pode ser abortado. Todas
as pessoas devem evacuar imediatamente -".
Leon ficou de pé, correu para a mulher e pegou o cilindro de vidro da mão estendida, colocando-o na bolsa. Ele
não sabia quem ela era, mas era louca o bastante para segurar um tubo de ensaio.
Ada - ele tinha que achá-la para fugirem. Os pulsantes e penetrantes alarmes ecoavam pelos corredores,
perseguindo-o até a porta para as passarelas, junto com a indiferente voz feminina repetindo a mensagem de
destruição iminente.
A gravação não dizia quanto tempo tinham, mas sabia que não queria estar lá quando o relógio zerar.
[27]
A descida do elevador terminou num arranho de freios hidráulicos - e depois silêncio, assim que os motores
desligaram, prendendo-as no interminável poço.
"Claire? O que -".
Claire segurou a boca de Sherry com o dedo - e ouviu o que parecia um alarme lá fora, uma repetida e abafada
batida. Parecia haver uma voz também, mas Claire não conseguia entender o murmúrio.
"Vamos, meu bem, acho que o passeio acabou. Vamos ver onde paramos, tá bom? E fique perto".
#
Elas saíram do vagão para a plataforma, os distantes sons não mais tão distantes - e havia luz, vinda de algum
lugar atrás do vagão. Claire pegou a mão de Sherry enquanto andavam rapidamente, sem querer preocupar a
garota, mas certa de que era um alarme. Havia alguém falando, também, e Claire queria saber o que dizia.
O elevador tinha parado a alguns centímetros abaixo de algum tipo de túnel de serviço, a luz que viu, vinha de
uma lâmpada enjaulada e pendurada no teto do túnel. Não havia porta, mas tinha um pequeno buraco no fim da
passagem; dava para elas passarem agachadas.
É isso ou escalar até a superfície, provavelmente um quilômetro acima...
Sem chance. Claire ajudou Sherry a subir na passagem e depois foi sua vez, indo para a boca do buraco e
agachando para o escuro. O alarme ficou mais alto ao se aproximarem, o murmúrio se transformando numa voz
feminina. Ela forçou para entender, esperando ouvir "problema no elevador" ou "temporário" -
Mas ainda não entendia. Elas tinham que deixar o elevador e esperar saírem num lugar melhor.
Claire virou, suspirando. "É hora de engatinhar. Eu vou primeiro, e depois -".
SLAM!
Sherry gritou enquanto algo caiu no teto do vagão atrás dela, uma forte pancada no metal que o partiu. Claire a
agarrou, aproximando-a, sua respi-ração presa na garganta -
- e uma mão, duas mãos apareceram no buraco do teto. Dois grossos braços cobertos em sombra -
- e a brilhante cabeça de Mr. X ergueu-se do vagão, como uma lua morta numa noite sem estrelas.
Claire virou e empurrou Sherry para a escuridão do túnel, seu coração martelando, seu corpo subitamente
molhado de suor.
"Vai, vai, estou bem atrás de você!".
Sherry sumiu no escuro e Claire não olhou para trás, o incansável perseguidor certamente já saindo do vagão
para continuar sua determinada caçada.
Ada ouviu os gritos de Annette de onde as três passarelas se juntavam. Ela se forçou a não correr para socorrer
Leon, prometendo que se ouvir tiros, mudaria de idéia -
- mas então o lugar balançou violentamente, e a suave voz da gravação começou a falar.
Droga!
Ada se levantou furiosa com a cientista, uma parte sua doendo por Leon, sabendo o que isso significava. Annette
tinha acionado a destruição, isso quer dizer que tinham menos de dez minutos para saírem de lá -
- e Leon não conhece o caminho.
Não, não é importante. Se ela for pegar a amostra que Annette certamente tem, precisaria ser agora. Leon não
era seu problema, nunca foi, e não desistiria agora, não depois do que passou para pegar o precioso vírus de
Trent.
Ada deu um passo para fora do painel central que conectava as três passarelas - e ouviu passos vindo para ela,
fortes demais para serem de Annette. Ada deslizou para a sombra, para trás da passarela oeste, se escondendo.
Um segundo depois. Leon passa correndo, provavelmente voltando para onde ela deveria estar esperando por
ele. Ada respirou fundo enquanto tirava-o de sua mente, e correu pela passarela sul para achar Annette.
Ada se foi.
"...foi ativado. Esta seqüência de auto destruição -".
"Cala a boca, cala a boca -". Leon falou, parado no meio da sala, seu estômago apertado, suas mãos fechadas.
Quando ela ouviu o alarme deve ter entrado em pânico e fugido. Ela devia estar andando por aí, perdida e
atordoada, talvez procurando por ele enquanto a infernal voz se repetia junto com o alarme.
O elevador!
Leon foi para a porta - e viu que não estava lá, um largo e pouco fundo buraco lá fora. Ele nem tinha percebido
por estar preocupado com Ada -
- nós temos que achar aquele túnel! Sem o elevador estamos presos!
Frustrado em silêncio, Leon virou e voltou para as passarelas, rezando para achá-la a tempo.
O pequeno túnel terminava abruptamente, sobre uma queda de pelo menos dois metros em um corredor vazio.
De ouvidos zunindo, de boca seca, Sherry agarrou as bordas do buraco, fechou os olhos e saltou. Ela pousou
agachada e depois caiu, sua perna direita dobrando. Doeu, mas ela mal sentiu, levantando com as mãos e
#
joelhos para sair do caminho, olhando para o buraco -
- e lá estava Claire, sua cabeça saindo, seus preocupados olhos vendo que estava bem, que o corredor era
seguro... exceto por haver sirenes tocando, uma mulher falando em alto falantes, e Mr. X estar vindo.
Claire esticou o braço com a arma. "Sherry, preciso que segure isso, eu não consigo virar".
Sherry agarrou o cano, impressionada com o peso da arma. "Não aponte isso para nada". Claire disse e
praticamente mergulhou do buraco, curvando o corpo e aterrissando sobre o ombro, suas pernas batendo na
parede.
Antes de Sherry perguntar se estava bem, Claire já estava de pé, pegando a arma e apontando-a para a porta
no final do corredor.
"Corre!". Ela disse, e começou a correr, uma mão empurrando as costas de Sherry enquanto iam para a porta,
enquanto a voz as diziam que o sistema de destruição tinha sido ativado -
- e atrás delas, um som de metal retorcendo atravessou as sirenes, e Sherry correu mais rápido, aterrorizada.
[28]
Annette Birkin se arrastou para fora do pesado e frio metal, ainda segurando a arma, o G-virus se foi. Assim que
abriu a boca para gritar de fúria, sangue correu pelos seus lábios.
- meu meu meu -
De algum modo ficou de pé.
Ada disse a si mesma que não merecia a boa opinião de Leon. Nunca mereceu.
Perdoe-me...
Leon voltava da área do elevador, correndo cego com medo por ela. Assim que passou pelo centro e foi para a
passarela oeste, Ada saiu das sombras e apontou a Beretta para as costas dele.
"Leon!".
Ele virou, e Ada sentiu sua garganta travar com o alívio no rosto dele - forçando para não sentir nada, o sorriso
dele sumindo.
Oh, Jesus, me perdoe!
"Estive esperando você". Ela disse, não se orgulhando do quanto calma estava. Do quanto fria.
Os alarmes soavam, a voz mecânica tão gelada quanto a dela, dizendo que o sistema não pode ser abortado.
"O G-virus". Ela disse. "Dê ele para mim".
Leon não se mexeu. "Ela estava dizendo a verdade" Ele falou, sem raiva mas com mais dor do que Ada queria
ouvir. "Você trabalha para a Umbrella".
Ada balançou a cabeça. "Não. Para quem eu trabalho não interessa. Eu - eu".
Pela primeira vez desde criança, Ada sentiu traços de lágrimas - e de repente o odiou por isso, por tê-la feito se
odiar.
"Eu tentei!". Ela lamentou, sua postura quebrada pela corrente de raiva que corria por ela. "Eu tentei te deixar, lá
no galpão! E você teve que tirar de Annette, você não o deixou par trás!".
Ela viu pena no rosto dele e sentiu a fúria passar, levada por uma onda de dor - pelo que perdeu com ele; pela
parte de si que perdeu a um longo, longo tempo.
Ela queria contar sobre Trent. Sobre as missões na Europa e Japão, sobre como se tornou o que era, sobre cada
evento de sua miserável vida que a trouxe para cá - apontando uma arma para o homem que a salvou.
O relógio estava correndo.
"Passe ele para cá". Ela disse. "Não me faça matá-lo".
Leon olhou nos olhos dela e simplesmente disse. "Não".
#
Um segundo passou, e outro.
Ada abaixou a Beretta.
Leon se livrou da bala que o mataria - e Ada abaixou a arma lentamente, seus ombros caindo, uma lágrima
descendo pela bochecha de porcelana.
Leon soltou sua respiração presa, sentindo muitas coisas, tristeza, traição - uma dó pela torturante força no
escuro olhar dela -
- foi quando um tiro badalou para fora das sombras atrás dela. Os olhos de Ada arregalaram, sua boca abriu
enquanto começava a cair, a arma acertou o chão, seu corpo bateu no parapeito e mergulhou.
"Ada, não!".
Ele correu e pulou, e de alguma forma ela conseguiu agarrar a barra de metal do parapeito - enquanto ele pegava
seu pulso, o corpo dela pendurado sobre a escuridão sem fundo, sangue em seu ombro.
"Ada, agüente firme!".
"Meu". Annette suspirou.
Ela ergueu a arma de novo para atirar no outro, para recuperar o que era seu, para fazê-los pagar -
- mas a arma estava pesada demais, estava caindo e ela junto. Juntas, elas caíram no metal escuro, o escuro, o
escuro em sua mente que finalmente levou a dor embora.
William -
Foi seu último pensamento antes de dormir.
O que ele quer, por que nós?
Lá, um mezanino do outro lado, a uns três metros do outro andar lá embaixo, caixotes de madeira bem abaixo
da passarela.
"Por aqui!". Claire gritou, e elas correram. O calor emanava das máquinas quando chegaram no piso inferior da
câmara de dois andares, enquanto Claire levantava Sherry e seguia logo atrás.
Crash!
Ela virou, viu que a grande criatura estava atravessando a porta, andando e procurando -
No final da mezanino, uma porta dupla de metal. Elas correram, Claire não pensando em nada exceto como
destruir uma coisa que sobreviveu tudo isso -
- a porta estava destrancada, e elas saíram em outro mezanino; o calor lá era terrível -
- e não tinha saída.
Claire viu, depois de dar alguns passos lá dentro, que estavam no parapeito de uma casa de fundição, o
borbulhante calor estourando em bolhas na piscina lá embaixo.
Ela tinha doze balas, divididas em duas armas. Claire foi para a ponta da plataforma, Sherry ao lado, o laranja
elétrico do metal derretido banhando-as com sua fervura. Quente o bastante para queimar qualquer coisa...
Como? Como eu faço ele pular?
"Sherry, vá até lá!".
Ela apontou para o canto mais longe da plataforma, e Sherry balançou a cabeça, seu rosto tremendo de medo.
"Vá! Agora!". Claire gritou, e com um choro de terror, Sherry correu, seu medalhão batendo no colete -
- não é um medalhão -
- e Sherry gritou, Claire virou, Mr. X estava vindo.
Ele entrou na câmara, tão duro, grande e impossível quanto a primeira vez que o viu, a luz alaranjada tornando-o
ainda mais um pesadelo.
Claire se aproximou, guardando a arma de Irons no short, o plano meio formado correndo em sua aterrorizada
mente. Provavelmente não funcionará, mas ela tinha que tentar -
- ele me alcança, eu pulo no beiral, me seguro, ele cai -
Mr. X virou seu vazio olhar para ela e deu um de seus estrondosos e calculados passos, os escuros buracos de
bala em seu rosto e pescoço suavizados pela luz alaranjada -
- e ele virou para Sherry, ergueu os punhos e começou a andar.
"Ei! Ei, eu estou aqui!".
Claire começou a gritar, mas ele não a ouviu, não a viu, o monstruoso ser concentrado na pobre garotinha
#
encurralada na parede, esfregando o medalhão -
- e Claire sabia o que ele queria. As frases de Annette e Sherry vieram juntas, formando a resposta.
G-virus, fazê-la em pedaços, amuleto da sorte -
Não é um medalhão.
"Sherry, ele quer o colar! Jogue- o para mim!".
Se ela estiver errada, ambas estarão mortas. Mr. X chegou mais perto da garota, bloqueando-a da visão de
Claire -
- e o colar, o colar do G-virus que Annette tinha dado para a filha voou pelo ar quente, caindo no chão perto de
Claire.
Mr. X girou, seguindo o caminho do colar com seus olhos negros, esquecendo Sherry. Era verdade.
Boa garota!
Claire o pegou, balançando-o para o monstro. "Você quer isso?". Claire disse, as palavras saindo com fúria pelas
balas gastas com ele, pelos medos que ela e Sherry tiveram. "Quer? Então venha pegar seu miserável!".
O monstro estava a uns dois metros de distância quando Claire virou e jogou o medalhão na piscina fervente,
desaparecendo no metal derretido -
- e a super criatura que as tinha aterrorizado por aquela interminável noite foi direto para o parapeito, as barras de
metal cedendo com seu peso -
- e mergulhou silenciosamente no gigante tonel, uma grande onda de lava respingou, espontâneas erupções de
fogo dançando na escura
forma do corpo que desaparecia sob o fogo derretido.
Triunfo, alívio, maravilhoso - e a fria voz da gravação mudou de repente, tirando a alegria de ver Mr. X tomar um
banho de lava.
Sob o grito das sirenes -
"Restam cinco minutos para alcançar distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se à plataforma de embarque. Repito, dirijam-se à plataforma de embarque.
Repito...".
Sherry estava do lado, Claire pegou sua mão e elas correram.
A dor era incrível e Ada fechou os olhos, pensando se morreria por isso.
"Ada, agüente firme! Agüenta, eu vou te levantar!".
Através das sirenes, Ada ouviu que a contagem para a detonação tinha começado. Cinco minutos.
Ele tenta me salvar, nós morremos.
A pegada de Leon era forte, sua determinação quase tão forte quanto o orgulho dela. Quase.
Ada virou o rosto para ele, viu que apesar de tudo, ele ainda queria salvá-la.
Não desta vez. Não para mim...
A vida dela tem sido sobre egoísmo, ego e ganância. Ela viu muita gente boa morrer, e durante o caminho,
perdeu a habilidade de se importar - dizendo a si mesma que o esforço era uma perda de tempo e um sinal de
fraqueza.
Eu estava errada. Eu fui egoísta e errada, mas agora é tarde demais.
"Leon - desça, oeste, ache a sala de carga, depois das escadas - cadeiras de espera. Você vai precisar do disco,
está no meu - bolso -
"Ada, eu já tenho! Disco de carga, certo, eu já tenho, eu achei - não fale, agüente aí, deixe-me ajudar!". Ele
inclinou-se no parapeito, tentando manter o agarre.
Falar era um terrível esforço, mas ela tinha que terminar antes do tempo acabar.
"O código é 345. Pegue o elevador, Leon. Desça. O túnel - do trem dá para fora. Tem que - correr a toda
velocidade... e cuidado com Birkin, o infectado com G-virus, ele - ele já está mudando a essa hora. Entendeu?".
Leon acenou, seu olhar azul a penetrando.
"Sobreviva". Ela disse, e era uma boa palavra, uma palavra para se cumprir. Ela estava cansada, e a missão
estava preparada, e Leon viverá.
Ela soltou-se da barra metálica do parapeito, e Leon gritou seu nome, o som a seguindo para o escuro como um
amargo adeus.
#
[29]
Sherry estava assustada, mas Mr. X estava morto. Devia ser o monstro que a procurava na delegacia, que
queria parti-la ao meio -
- mas não havia tempo para pensar enquanto corriam pela sala dos maquinários, pelo corredor com o buraco no
teto, fazendo a curva -
- e Sherry gritou quando um zumbi avançou sobre elas, uma criatura feita de ossos, e Claire atirou.
- bang, e a cabeça branca e seca desmoronou, o corpo capotando no chão, e Claire já estava puxando Sherry
para a porta no final do corredor.
Era um elevador, Sherry se jogou numa das paredes depois que Claire a empurrou para dentro, tentando
recuperar o fôlego enquanto Claire apertava os botões. Depois de correrem de Mr. X, a descida de elevador foi
suave.
"Nós vamos conseguir". Claire disse. "Só mais um pouco".
Sherry acenou, seu coração pulando mais forte enquanto a voz dizia que restavam quatro minutos para se
safarem.
Leon sentiu como se não soubesse levantar e andar. A visão do bonito rosto dela um segundo antes de se
soltar...
ela se foi. Ela está morta.
Ele pegou a Beretta do chão, ainda estava quente com o toque dela - e estava leve demais, leve porque não
estava carregada. Nem o clip estava lá, ela nunca quis machucá-lo; ela estava mentindo, ela mentiu o tempo
todo.
"... quatro minutos para alcançar a mínima distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se para a plataforma de embarque...".
Ele tinha quatro minutos para ficar longe o bastante e cumprir o último pedido de Ada.
Ele se levantou e virou para a porta - e parou, tirando o pequeno tubo cheio do líquido roxo da bolsa. Ele sabia
que não tinha tempo, mas só levou um segundo para levar o braço para trás e arremessar a amostra o mais
forte que podia, querendo-a o mais longe possível.
Se o laboratório é o responsável por tantas mortes, que o G-virus queime com ele.
"Isso!".
A porta do elevador abriu - e havia um trem, um trem subterrâneo brilhando, o escuro túnel à esquerda. O trem
estava escuro e silencioso, não a máquina ligada e trêmula que Claire esperava ver, mas ainda era o veículo de
fuga mais bonito que já tinha visto.
Com Sherry grudada em seu braço, elas foram para a composição de três vagões, os alarmes ainda soando,
ecoando pela enorme estação. A voz já informava que elas tinham três minutos para alcançar uma distância
segura.
Entrando no trem, Claire percebeu e nem se importou com a ausência de assentos. A cabine de controle estava à
esquerda.
"Vamos colocar essa coisa na estrada". Claire disse, e o brilhante olhar de esperança no sujo e cansado rosto de
Sherry, fez o coração de Claire partir, só um pouco.
Oh, meu bem...
Claire subiu os degraus para a cabine, prometendo a si mesma que carregaria Sherry pelo túnel caso o trem não
funcionasse. Qualquer coisa para não quebrar aquele frágil olhar de esperança.
#
O código e o disco de verificação abriram a porta como Ada disse, a larga porta abrindo-se em um curto corredor.
Com três minutos sobrando, Leon correu pelo corredor cheio de símbolos de risco biológico, e achou a sala de
carga.
Ele não tinha tempo de parar e olhar, seu foco era pegar o elevador antes que não fosse possível escapar com
vida. Leon correu para o fundo da avermelhada sala, achando os controles da larga porta do elevador e
apertando para descer, pronto para entrar -
- e nada aconteceu, exceto por uma fileira de pequenas luzes - umas vinte talvez - que começaram a se apagar
em cima da porta. Bem devagar.
Leon apertou o botão novamente, parecia levar minutos entre os andares.
"Jesus!". Ele virou, querendo gritar se for ter esperar muito -
- e pela primeira vez deu uma olhada no lugar. As duas largas estantes que corriam o comprimento da sala
continham um tipo de "carga" bem específica - e apesar dos seis tubos de vidro em cada estante não conterem
nada além de um claro fluído vermelho, Leon sentiu calafrios só de olhar. Cada cilindro podia comportar um
homem adulto, e o fez imaginar para que foram construídos.
Não importa, eles vão explodir em alguns minutos.
Ele virou para o elevador, quase feliz por estar bravo e frustrado, por sentir algo além de perda -
- e o teto sobre a porta do elevador começou a tremer e rachar... Leon recuou, apontando sua arma para o
sólido painel de metal enquanto vinha ao chão -
- e o monstro do elevador-locomotiva aterrissou na sua frente, a mesma criatura demoníaca que machucou Ada,
que devia tê-lo matado -
Birkin - ?
- e pelo jeito que inclinou a cabeça e gritou, Leon podia dizer que veio para terminar o serviço.
O trem estava pronto, estava ligado e pronto para partir - mas parecia que o portão do túnel estava com defeito;
um painel cheio de luzes verdes e uma única vermelha, insistindo que o portão fosse aberto manualmente.
Dois minutos para alcançar distância segura.
Não vai dar, nunca conseguiremos -
"Fique aqui". Claire disse e saiu para verificar, rezando para que não fosse nada.
Leon virou e correu enquanto o monstro começava a ir em sua direção, cada poderosa passada estremecendo a
câmara, os ecos de seu terrível grito ainda nítidos.
Pense!
A espingarda não foi suficiente, ele tinha que atirar em algum lugar vulnerável, os olhos, use a Magnum.
Leon voltou para a porta de entrada. Ele girou e atirou, mirando no rosto da criatura -
- mas o rosto estava mudando de novo, a boca caindo enquanto gritava. Grandes e tortos espinhos de dente
escorreram do que sobrou da boca, do alto de seu pulsante peito - e quando outro grito explodiu de sua
garganta, Leon viu dois novos braços brotarem dos lados. Os membros formaram posições, cotovelos travando,
grossos dedos com garras crescendo.
Bam-bam-bam!
Os tiros se agruparam, explodindo na fina pele sobre o olho esquerdo. O monstro rosnou, desta vez de dor, e
Leon viu lascas de ossos e líquido arroxeado se espalharem.
Ele sacudiu a cabeça para todos os lados, expelindo mais líquido, se agachando como um sapo mutante -
- e saltou no ar, para cima e para a direita, parando numa das fileiras, grunhindo como um animal.
Droga, como ele fez aquilo -
Leon não conseguiu ver os olhos, nada além de suas costas enquanto descia - mas estava mudando de novo,
pôde ouvir sons quebrantes e ver os pedaços da espinha erguerem através da carne de suas costas.
Ele não queria ver no que iria se transformar, mas o elevador ainda não tinha chegado e só faltavam dois
minutos.
Leon recarregou e atirou no que podia ver - uma forma com seis pernas, uma forma que não era mais humana.
O tiro acertou um de seus ombros, fazendo a criatura pular. A besta voltou ao chão como uma aranha, caindo a
alguns centímetros na frente de Leon. O peito tinha se transformado numa parede de estranhos dentes, espinhos
que abriam e fechava enquanto respirava - e quando gritou de novo, foi como um demônio, como o grito de
#
milhares de almas morrendo.
Leon acertou dois tiros no buraco de dentes e se afastou. Sob as constantes sirenes ele ouviu o claro e animado
pin da chegada do elevador.
Claire correu para a frente do trem, olhando para a série de alavancas e botões na parede do túnel, franzindo e
abaixando a alavanca vermelha e branca. Ela ouviu o som metálico em algum lugar na frente do trem e correu
para a porta -
- quando ouviu metal de novo - o som de metal sendo partido e martelado, vindo de algum lugar atrás do trem.
Não, de jeito nenhum.
Ela olhou para o final do trem, além das barras do portão fechado - e ouviu um som como ossos no cimento, um
som que se repetia.
Passos.
Claire correu para a porta, sabendo que não podia ser Mr. X, não mesmo - ele foi derretido, se foi, e elas não
tinham mais o G-virus -
- e ela viu o movimento por detrás das grades. Algo alto, filetes de fumaça enrolando na escuridão atrás das
grades - e o forte cheiro de queimado. Ele saiu da sombra, na direção da parte de trás do trem, erguendo os
punhos -
BAM!
- e o vagão tremeu enquanto Claire percebia que era Mr. X, ou o que tinha sobrado dele - e que certamente era
um demônio vindo direto do inferno.
Ela tinha combinado onze balas no elevador; não vai ser suficiente mas era tudo o que tinha.
Claire apontou a arma de Irons, imaginando se esse será o fim.
Leon correu em volta da prateleira à sua direita, voltando para o elevador, e houveram galopantes passos bem
atrás, ele não podia parar.
Outra curva e de volta para o meio da sala -
- e ele foi atingido nas costas, uma borrachenta e quente carne que o levou ao chão.
Leon rolou quando a coisa ficou em cima dele, seus dentes intencionados a furar seu crânio. O grande olho ainda
estava lá, no ombro, olhando para ele -
- e Leon descarregou a arma no queixo da criatura, gritando, esvaziando os pesados cartuchos na cabeça do
monstro.
A besta gritou, cambaleando, caindo para o lado. Leon se levantou como um raio e correu para o elevador
aberto. O enorme animal ainda estava gritando enquanto Leon entrava no elevador e virava, apertando o
controle para descer -
- e viu a besta se mexer, mudando, gritando enquanto também virava para o elevador. Ele ganhava velocidade a
cada passo, a porta se fechando lentamente, a criatura quase voando agora -
- e Leon tinha a espingarda em suas mãos, engatilhando uma bala e atirando. O tiro acertando o peito e parando
a criatura.
- e a porta fechou, Leon estava descendo, e só restava um minuto.
[30]
BAM!
Sherry sentiu o trem balançar violentamente.
Claire!
Ela correu para a porta, lembrando que Claire disse para não sair e não se importar; ela não sabia o que era ou o
que podia fazer para ajudar, mas não poda ficar parada -
#
BAM!
- e o carro balançou de novo, o chão tremendo sob seus pés. Sherry alcançou a porta e apertou o botão de
abrir.
A porta abriu - e lá estava Claire apontando a arma para algo que Sherry não conseguia ver, algo atrás do trem.
O olhar de Claire passou por Sherry.
"Não saia! Feche a porta!". Claire gritou com medo e pânico.
Sherry tocou o botão e hesitou, com medo por Claire, querendo ver o que era -
- olhe rápido -
- e ela colocou a cabeça para fora, por um segundo, procurando a fonte do medo de Claire. Um cheiro de química
e carne queimada encheu a plataforma, vindo de -
Sherry gritou quando o viu, quando viu o esfarrapado e carbonizado monstro que sacudia o trem logo depois do
portão. Ela viu seu gigante punho acertar o metal do vagão, mas era a cara dele que atraia o olhar de Sherry.
Mr. X.
A pele estava queimada, toda ela. Fumaça emanava de sua cabeça, mas os olhos ainda estavam vivos -
vermelho e pretos e quentes com a fumaça, mas ainda bem vivos.
"Sherry! Feche agora!". Claire gritou sem tirar os olhos do monstro.
Sherry apertou o controle, a porta fechando enquanto Claire começava a atirar.
O elevador descia mesmo, mas não como Leon imaginava, a larga plataforma descia lentamente em ângulo,
luzes alaranjadas nas escuras paredes.
"... agora quarenta segundos para alcançar a mínima distância segura...".
"Vai vai vai - ". Leon suspirou. A voz tinha parado de mencionar a plataforma de embarque, só fazendo anúncios
de dez em dez segundos.
Chegar até aqui e morrer por causa de um elevador lento...
ele não podia aceitar isso. Ele passou por muitas coisas, o acidente com Claire, os monstros, Ada, Birkin - ele tinha
que conseguir, ou será tudo por nada.
Não parecia haver chão debaixo do elevador, ou ele já teria descido a pé.
"... vinte segundos para alcançar...".
Leon começou a tremer, tensão correndo por seus músculos, ficando difícil ele respirar. O que é distância segura?
Quanto tempo até a explosão depois que aquela voz dizer zero?
O trem terá que ser rápido. E ele tinha dez segundos para alcançá-lo, e o elevador continuava descendo sem
pressa pela escuridão.
A porta fechou e Sherry estava a salvo. Por enquanto.
Claire não podia esperar machucar a criatura, mas pelo menos distraí-la o bastante para fugir. Ela queria ter
ensinado os simples controles do trem para Sherry, queria que o veículo já estivesse se movendo, levando Sherry
para a segurança -
- mas eu não ensinei e nós temos que ir AGORA.
A mensagem já contava os dez segundos finais para a distância segura. Mr. X dava outra pancada no trem
enquanto Claire mirava e atirava.
Cinco tiros, quatro deles acertando o material que constituía a região onde uma orelha devia estar. O quinto foi
longe enquanto as pancadas ecoavam pelo lugar e a coisa que foi Mr. X virou para ela.
O que foi agora?
A gravação a distraiu por uma fração de segundo e Mr. X deu um passo na direção dela, um monstruoso passo
que o tirou das sombras.
"... três. Dois. Um. Distância mínima agora requerida. A autodestruição ocorrerá em cinco minutos. Restam cinco
minutos para a detonação".
Os alarmes ainda tocavam, mas pelo menos a voz tinha parado. Ela mal tinha percebido, seus olhos fixados na
criatura. Apesar das camadas queimadas e enfumaçadas, a pele dele não tinha perdido elasticidade; o material
avermelhado ainda contraia como músculos de verdade. Parecia um gigante pelado que se arrastou para fora de
um prédio em chamas - e se sofreu com o banho de metal derretido, ela não podia ver. Outro passo e os braços
#
foram ao alto, o portão de barras foi partido, as barras de metal caindo no concreto do chão.
Pelo menos ele está devagar -
Claire correu para a porta do trem, ainda com medo, mas o monstro era lento e poderoso, só que incapaz de se
mover de verdade -
- e de repente, Mr. X não estava mais andando. A criatura curvou a cintura, os joelhos -
- e se lançou do chão num dinâmico bote, seus pés deformados o impulsionando a toda velocidade.
Claire não pensou. Ela desviou para a direita evitando o ataque, correndo o mais rápido que podia. Ele quase a
pegou, os reflexos dele mais rápidos do que rápido - como se perder a pele o tivesse libertado. Assim que ela
pulou o portão destruído e entrou nas sombras, ela ouviu o arranhar de garras no cimento, viu que Mr. X tinha
descido seu braço bem aonde ela estava um segundo atrás.
Ele a teria partido -
- mas por que, sem o G-virus, sem razão -
Claire correu mais na escuridão enquanto os alto-falantes informavam quatro minutos restando.
"Restam agora quatro minutos para a detonação...".
Droga droga droga!
Quando pensou em ter um ataque de frustração, o elevador parou. Leon agarrou a fechadura da grossa cancela
de metal, querendo correr -
Ele saiu num corredor. E não haviam sinais dizendo qual direção seguir.
Direita ou esquerda?
Esses segundos de hesitação poderiam ter lhe custado a vida.
Ele ouviu uma vez que quando na frente de uma escolha, as pessoas instintivamente escolhem a direção da mão
dominante. Com a sorte que teve nesta noite em Raccoon, ele decidiu ir para o outro lado.
Esquerda. Leon correu, pensando se deveria se incomodar.
Não muito longe do portão, Claire viu uma passarela que passava sobre o trem, as escadas escondidas na
sombra -
- e ela ouviu Mr. X atrás. O terror a dirigiu, seus pés mal tocavam o chão -
- e os passos ficaram mais altos, mais rápidos, ouviu as garras dele rasgarem o cimento. Ela tinha um segundo
antes daquela mão a acertar -
- e ela virou de novo, jogando-se na escuridão do lado da escada. Mr. X passou voando, ela sentiu o vento da
mão em suas pernas enquanto caia no chão.
Ela ignorou a dor de seu cotovelo no cimento, levantando-se e procurando o monstro no escuro.
Ele pode ver, me ver?
A mão dela achou uma parede à direita. Ela estava no espaço debaixo da escada, e não sabia onde o quieto e
impossível X estava; a falta de luz não ajudaria se ele pudesse enxergar.
Ela correu as mãos pela parede e achou um interruptor. Ao apertá-lo, a textura do escuro mudou quando a fraca
luz veio de cima - e ela viu o monstro a menos de quinze metros, bem quando virava, seu olhar procurando -
- e a achando. A marcando. O único som era o de sua pele rachada - até dar um passo para a escada.
Seis ou sete tiros, acerte os olhos -
Claire saiu rapidamente de lá e ergueu a arma de Irons, apertando o gatilho, recuando para a escada.
Bam-bam-bam -
- e X se posicionava para mais um ataque, os tiros penetrando em seu rosto, dois deles ricocheteando em seu
crânio.
- bam-bam -
Ela estava na escada, subindo um degrau, as balas inúteis, Mr. X começando sua corrida. Ele estará nela antes
de poder virar, antes de subir os degraus -
- eu vou morrer -
- mas pelo menos eu o machuco antes -
Mr. X deu um passo - dois passos poderosos, diminuindo a distância entre os dois enquanto Claire mirava,
determinada a fazer os últimos tiros valerem a pena. Ela morreria e seu único arrependimento seria por Sherry, só
desejava que ela pudesse incapacitar o pesadelo X antes de morrer.
#
Ela atirou, e o olho esquerdo do monstro explodiu.
Isso!
Mr. X foi para a direita; não parando, mas também não indo para ela - mas ainda acertará a base da escada -
muito perto! - ela tinha que tentar o outro olho e só tinha dois segundos -
Claire mirou, achou o olho, e -
- click!
- estava sem balas, e o monstro estava chegando na base da escada, o cheiro de carne queimada enquanto
erguia sua gigante mão, e seu grande e terrível corpo era tudo o que conseguia ver.
Claire tropeçou e rolou a escada de ferro, seu corpo como uma bola -
- e gritou quando as garras da mão de X rasgaram sua coxa esquerda através do corrimão, e a distante voz
dizendo que tinham três minutos.
[31]
Ele pegou o caminho errado. As curvas o levaram para um depósito - sem saída.
"Restam três minutos para a detonação".
Leon virou e voltou por onde veio, forçando-se a correr com o que parecia o resto de suas forças.
Claire parou no chão, na base da escada e ficou de pé, sangue correndo pela perna num quente pulso de dor. Ela
correu, nada quebrado -
- mas ela sabia que isso era o começo do que ele fará com ela, uma prévia da dor real.
Mr. X ainda estava inclinado no corrimão da escada, mas assim que ela correu para o portão quebrado, o
monstro ficou a postos. Ele virou para ela, o buraco em seu olho jorrando um escuro líquido - mas ele vai se
recuperar e partir para ela como a máquina impiedosa que era. Não há nada que possa pará-lo.
Pelo menos eu morro na explosão -
Claire passou pelo metal retorcido do portão, mau se equilibrando, sangue pingando no chão enquanto dava outro
passo, por favor, que seja rápido -
"Aqui, use isso!".
Claire girou, viu Mr. X se posicionando para mais um ataque - e viu uma silhueta bem acima, na passarela sobre o
trem. Uma voz de mulher, forma de mulher, a sombra jogando algo -
- quem -
- aquilo caiu no chão, entre ela e Mr. X. era metal, e prateado - ela já viu nos filmes, era uma metralhadora - e
Claire correu. Outra última esperança, outra chance para ela e Sherry sobreviverem.
Ela alcançou a arma, viu X se jogando ao encontro dela, o trovão de seus passos vibrando o chão -
- e ela ergueu a pesada arma, recuando, sua mão trêmula achando o gatilho, seu corpo acomodando-se com a
arma. Firme no chão, braços encurvados em volta do metal, mirando -
- por favor por favor -
O monstro estava a alguns passos quando o jato de balas saíram da arma, um chocalho de pequenas explosões
que balançavam o corpo inteiro de Claire - e mergulharam no corpo da besta, a força de tantas balas parando-o e
empurrando-o para trás.
- tatatatatatatata -
A vibração parecia tentar se libertar do agarre dela. Ela mau ouvia seus próprios choros de dor e fúria enquanto
as balas furavam o abdômen dele com tal rapidez e velocidade.
- e Mr. X tentava andar, mas algo estranho e bom estava acontecendo. Sua barriga estava sendo rasgada pelas
balas, fluídos escuros descendo por suas pernas. A boca dele estava aberta, um buraco em um de seus olhos -
também sangrando.
#
- tatatatatata -
Claire continuou, vendo a criatura tentando se manter de pé. Vendo-o sangrar.
Com as balas ainda voando, Mr. X ergueu os braços -
- e partiu no meio.
Claire tirou o dedo do gatilho quando a parte de cima dele caiu no chão, um molhado som de carne pesada - e as
pernas tombaram, mais sangue estranho saindo das partes formando piscinas. A criatura estava morta, e
mesmo se não estivesse, não importava mais. Só se conseguir se arrastar mais rápido do que ela. Sua batalha já
tinha terminado -
- para o inferno com tudo isso, não há tempo, VAMOS!
Claire correu, ignorando o sangue em sua bota e a dor que o causava, seu olhar procurando a estranha
salvadora. Ninguém estava lá, e ela não sabia se outro minuto tinha passado, o alerta perdido com os tiros.
"Ei!". Claire gritou, indo para o trem.
"Nós temos que ir agora!".
Sem resposta, nenhum som exceto o zumbido em seu ouvido e o eco das palavras. Se ela quer salvar Sherry...
Claire virou e correu.
"- dois minutos para -".
Leon correu mais rápido. Ele já perdeu a conta das curvas do corredor, e as esperanças também, uma voz lhe
dizendo para parar, sentar e descansar -
- quando ele ouviu um fraco ruído.
O som de um maquinário pesado ganhando vida em algum lugar à frente. Não muito longe.
Trem!
Mais rápido, pernas distantes e moles, pulmões trabalhando, coração pulando - de algum modo ou de outro,
estava quase acabado.
[32]
Claire entrou no trem com um rifle gigante e uma perna coberta de sangue, mal parando para tocar os controles
da porta antes de correr para a cabine. Sherry sabia que estavam com problemas e não perguntou nada, ela a
seguiu, aliviada por Claire estar bem.
Ela está bem e já estamos indo...
Uma fraca versão da voz dos alto-falantes soou na pequena cabine de comando.
"Restam dois minutos para a detonação".
Claire soltou a arma e apertou os botões, sua atenção fixada no console. De repente, um grande som mecânico
as envolveu, um crescente motor que fez Claire bater os dentes. Sherry não sabia se foi um sorriso, mas Claire
sorriu quando o trem tremeu -
- e começou a se mover, tirando-as da plataforma.
Claire virou, viu Sherry atrás dela, e tentou sorrir. Claire tocou o ombro da garota, mas não disse nada - nem
Sherry, esperando ver o que aconteceria.
O trem ganhou velocidade, passando por alguns corredores e plataformas mal iluminadas, o túnel à frente escuro
e vazio.
O calor da mão de Claire a fez lembrar de que eram amigas, que seja qual for o futuro disso, Claire era sua
amiga -
- e ela viu um homem, um policial aparecer bem à frente, à esquerda, e o trem estava passando por ele, seus
olhos largos e desesperados em seu sujo rosto.
#
"Claire!".
"Estou vendo ele -".
Claire viu e correu para a porta, abrindo-a.
"Leon!". Ela gritou. "Vamos!".
Ela entrou de repente, uma parede passando, parecendo tão desesperada quanto o homem - Leon parecia.
Depois de um segundo ela virou e fechou a porta.
"Ele conseguiu?". Sherry perguntou, vendo que Claire não poderia saber.
Claire foi até ela e a envolveu em seu braço enquanto o trem acelerava e sua face se cobria de preocupação -
- e a voz disse que restava um minuto -
- e a porta de trás do vagão abriu. Leon apareceu, seu braço atado com um pano manchado, seu cabelo duro
com uma escura meleca, seus olhos azuis brilhando sob a máscara de sujeira.
"Destruição total!". Ele gritou. Claire acenou e Leon suspirou fundo. Ele foi até elas, o trem voando pelo túnel, e
abraçou Claire.
"Ada?". Claire cochichou. "Ann - a cientista?".
Leon balançou a cabeça. "Não. Eu não - não". Sherry viu que ele queria chorar.
"Trinta segundos para a detonação. Vinte e nove... vinte e oito...".
A voz da mulher continuou contando, os números parecendo duas vezes mais rápidos do que deveriam, e Sherry
enterrou a cabeça em Claire, pensando na mãe. Mamãe e papai. Ela esperava que tivessem conseguido, que
estivessem à salvo -
- mas provavelmente não.
Sherry podia ouvir o coração de Claire e a apertou mais, ouvindo o policial se aproximar delas.
"... cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Seqüência completada. Detonação".
Por um segundo não houve som. O alarme finalmente parou sobrando apenas os movimentos do trem -
- e então houve uma explosão, um som abafado, um shoomp que continuava crescendo, ficando maior.
Sherry fechou os olhos e o trem chacoalhou de repente, terrivelmente, e todos eles foram para o chão de metal.
Uma brilhante e queimada luz piscou pela janela enquanto o som de batidas de cano explodiram em volta deles,
pesadas pancadas choveram no teto -
- e o trem continuou indo, a luz sumiu e eles não estavam mortos.
O cegante flash dissipou-se, e Leon sentiu a tensão em seu corpo. Ele olhou para o lado e viu Claire sentando-se,
pegando a mão da jovem garota ao lado dela.
"Tudo bem?". Claire perguntou e a menina acenou. Ambas olharam para ele, sentindo o que ele sentia - choque,
exaustão, descrença e esperança.
"Leon Kennedy, esta é Sherry Birkin". Claire disse, sem enfatizar o "Birkin". Ele entendeu a mensagem e acenou
antes de sorrir para a garota.
"Sherry, este é Leon,". Claire continuou. "eu o conheci quando cheguei em Raccoon".
Sherry retribuiu o sorriso, um sorriso bem adulto que parecia fora do lugar; ela era muito jovem para sorrir
daquele jeito.
Mais uma proeza da Umbrella, a inocência roubada de uma criança.
Por alguns segundos eles ficaram lá sentados no chão, sorrisos sumindo. Leon mal ousou pensar que tudo estava
acabado. De novo, ele viu seus sentimentos espelhados nas sobrancelhas preocupadas de Sherry e nos cansados
olhos de Claire -
- foi quando eles ouviram um distante ranger de metal vindo da parte de trás do trem, ele não se sentiu
surpreso. Um cedente e rasgante arranhão - seguido por uma pesada pancada - e depois nada.
Sabia que não tinha acabado -
"Zumbi?". Sherry cochichou, as palavras quase perdidas no suave balançar do trem.
"Eu não sei, meu bem". Claire disse suavemente, e pela primeira vez, Leon percebeu que a perna dela estava
cortada, sangue saindo de vários arranhões.
"Que tal eu dar uma olhada?". Leon disse, tentando não assustar Sherry. Ele se levantou acenando para a perna
de Claire.
"Sherry, fique aqui com Claire, fique de olho naquela perna? Vou ver se acho alguma atadura enquanto dou uma
vasculhada, não deixe-a se mover, tá bom?".
Sherry acenou, e novamente um aceno muito maduro para a idade dela. "Tá".
"Eu volto num minuto". Ele disse, e virou para a porta de trás do trem, rezando para que não seja nada
enquanto empunhava a Remington.
Leon abriu a porta, os sons do trem se amplificando por um segundo, e depois fechou a porta.
Claire não o viu entrar no próximo vagão de onde estava; se houver mais alguma coisa no trem, nenhum deles
estará a salvo -
- não pense assim, está acabado -
- como está para Mr. X?
"O que eu faço?". Sherry perguntou. "Pressionar, né?".
Claire acenou. "É, só que nós estamos bem sujas, e acho que está começando a coagular. Vamos ver se Leon
volta com algo limpo...".
Os pensamentos dela voltaram para Mr. X.
- G-virus. Antes ele queria o G-virus.
Por que Mr. X foi para a plataforma do trem? Por que ele queria entrar no trem, a não ser que -
Claire forçou para se levantar, lutando contra a tontura e a dor na perna.
"Ei, não se mexa". Sherry disse. "Leon falou para ficar parada."
Claire podia superar seus problemas físicos, mas ver Sherry no cume do pânico era demais; se tiver G-virus no
trem e por isso Mr. X voltou, Leon terá que enfrentá-lo sozinho. Ela não podia deixar Sherry. Se Leon não voltar,
ela terá que desengatar o trem ou tentar pará-lo -
Claire cessou os pensamentos, forçando um sorriso. "Sim, senhorita, eu só queria ver se ele já tinha entrado no
outro vagão...".
Ela viu o alívio no rosto de Sherry. "Ah. Bom, então esqueça, pois eu estou cuidando de você agora, e eu digo
que você não se mexe".
Claire acenou, esperando estar errada, que Leon voltasse a qualquer segundo -
Seja lá quem projetou o veículo de fuga, pensava que os funcionários da Umbrella fossem transportados que nem
sardinha -
Seja lá quem for, não devia ser pior que a coisa na sala de carga, a coisa Birkin. Só de pensar que a criatura tinha
a ver com Sherry, era preocupante, até mesmo obsceno. Um monstro e uma maluca, ambos pais de uma
garotinha...
Ele chegou no fim do segundo vagão e espiou pela janela da porta, esquecendo os pensamentos enquanto
tentava ver alguma coisa no último vagão. Estava escuro e nada mais.
Droga.
Talvez não seja nada, mas ele tinha que olhar.
Ele respirou fundo e abriu a porta, recebendo a brisa do exterior, se segurando na grade de apoio. Não devia ser
nada, mas parecia ruim, errado.
Ele abriu a próxima porta e entrou na escuridão. Imediatamente ele ergueu a espingarda, seus sentidos dizendo
para correr quando a porta fechou. Ele recuou e procurou o interruptor de luz. Além do escuro, havia um forte
cheiro de água sanitária ou cloro, e um suave som de molhado, de movimento -
Uma única lâmpada acendeu no meio do vagão, e por um momento pensou ter perdido a consciência.
Uma coisa. Uma criatura que estava longe de humana, exceto pelo pulsante tumor em um lado, uma lisa bola
que mais parecia um olho.
Birkin.
A criatura era gigante, borbulhando uma escura pasta, expandindo seu volume até ocupar a largura do vagão.
Leon não sabia o quanto alto era. Birkin tinha grossas caudas estendidas, tentáculos de uma massa elástica e
úmida, presa em toda parte do espaço à sua frente - no teto, paredes e no chão. E enquanto Leon olhava, a
besta se moveu para frente, os escuros membros contraindo, levando o corpo para alguns centímetros à frente
de onde estava.
É loucura, mas ele estava vendo, vendo as cores preta, verde e roxa em seus tentáculos enquanto se esticavam
de novo, o material viscoso o puxando mais alguns centímetros. O corpo era nada mais do que uma caverna que
ainda tinha dentes -
-e que iria alcançá-lo em breve se não esquecer o nojo da cena.
Leon mirou no grande buraco da boca dele e puxou o gatilho, carregando outra bala, atirando, carregando,
atirando -
- e a espingarda ficou vazia, o gigante continuando a se aproximar.
Ele não sabia como matá-lo, não sabia se as balas o machucaram. Sua mente correu para achar uma resposta.
Ele podia desengatar o último vagão -
- mas a coisa ainda continuaria viva. Vivendo e mudando na escuridão do túnel, se tornando algo novo -
Os tentáculos se esticaram de novo e Leon voltou para a porta. Ele tinha que desconectar os carros, não havia
outra escolha -
- a não ser -
Ele hesitou, depois sacou a Magnum e mirou na criatura, no estranho tumor, o olho que estava em todas as
formas que Birkin já teve.
- BAM!
O efeito foi imediato, a bala perfurou a esfera - e um hiss veio de sua boca circular cheia de dentes afiados, um
som único na Terra. A carne dentro dele contraiu, ficando escura, murchando -
- e a coisa implodiu, encolhendo rapidamente, virando uma massa escura e um quarto do tamanho que tinha,
derretendo numa borbulhante poça de meleca arroxeada.
"Engula isso". Leon cochichou, olhando por alguns momentos, sem pensar em nada - e virou para se juntar às
duas, para dizer que tinha acabado.
Primeiro dia de trabalho.
"Eu quero um aumento". Ele disse, para ninguém e não pôde conter o sorriso em seu rosto, um cansado sorriso
que sumiu rapidamente... mas pelos segundos que durou, Leon se sentiu melhor do que há muito tempo atrás.
Leon estava de volta, e havia encontrado um macacão, que ele rasgou em pedaços e usou para cobrir a perna
de Claire. Tudo o que ele disse foi que agora eles estavam salvos, apesar de Sherry tê-lo visto e Claire lançou-lhe
um olhar - um daqueles olhares do tipo "não-devemos-falar-disso-agora". Sherry estava muito cansada para levar
a mal.
Ela aconchegou-se nos braços de Claire, Claire alisando seu cabelo, nenhum dos três falando. Não havia nada a
dizer, pelo menos não por enquanto. Eles estavam vivos, num trem correndo através da escuridão - e de algum
lugar não muito distante, uma luz suave surgindo, vindo da janela da cabine de controle e Sherry pensou que se
parecia muito com a luz da manhã.
[Epílogo]
Eles viram a explosão 16 quilômetros de fora da cidade, uma nuvem negra que se ergueu na luz da manhã
pendurando-se sobre Raccoon como uma terrível tempestade -
- ou um sonho ruim, Rebecca pensou, ou uma lembrança. Umbrella.
Ela não disse alto, porque não era necessário. John e David não estiveram na mansão de Spencer, mas
souberam do que a Umbrella era capaz em Caliban.
Ninguém falou quando David acelerou o carro, seus dedos apertados no volante. Desta vez, John não fez piadas.
Todos sabiam que era ruim; antes de Jill, Chris e Barry partirem para a Europa, Jill os disse sobre a suspeita de
outro acidente, e pediu que ficassem alerta. Quando as linhas telefônicas ficaram mudas, eles carregaram a van e
deixaram o Maine para ver o que podia ser feito. A única pergunta é a de quantas pessoas morreram desta vez.
Talvez este seja o fim. Uma explosão como aquela... a Umbrella não vai esconder isso tão fácil, não se tiver tão
ruim quanto parece.
John finalmente quebrou o silêncio. "Autodestruição?".
David suspirou. "Provavelmente. E se houve um vazamento, nós não entraremos; nós circularemos a cidade e
depois chamaremos ajuda de Latham. A Umbrella com certeza já está mandando sua equipe de limpeza".
Rebecca acenou junto com John. Eles não eram mais parte do S.T.A.R.S., mas David já foi capitão, e por um
bom motivo.
Eles caíram no silêncio, o amanhecer tocando as árvores que passavam pela van, Rebecca imaginando o que eles
encontrarão -
- quando ela viu as pessoas andando na estrada, balançando os braços.
"Ei -". Ela começou a falar quando David já pisava nos freios, se aproximando das três figuras. Um policial de
atadura no braço e uma jovem mulher de shorts, ambos armados, e uma garotinha de colete rosa grande
demais para ela. Eles não estavam infectados, ou pelo menos não mostravam sinais que Rebecca pudesse ver -
mas eles pareciam. Com suas roupas rasgadas e seus pálidos rostos sob a sujeira, eles com certeza podiam ser
confundidos.
"Eu falo". David, disse, seu sotaque britânico bem firme, emparelhando com os sobreviventes de Raccoon.
David abriu a janela e desligou o motor, o jovem policial adiantando um passo enquanto a mulher colocava seu
pegajoso braço no ombro da menina.
"Houve um acidente, em Raccoon". Ele disse. Mesmo cansados e feridos, havia uma cautela no tom do policial,
sugerindo o quanto ruim estavam as coisas. "Um terrível acidente. Você não quer ir lá, não é seguro".
David franziu. "Que tipo de acidente, policial?". Foi a jovem mulher que respondeu. "Um acidente da Umbrella". O
policial acenou e a garotinha loira enterrou seu rosto no corpo da mulher.
John e Rebecca trocaram um olhar, e David destravou as portas.
"Mesmo? Esses costumam ser do pior tipo". David disse gentilmente. "Nós ficaremos felizes em ajudar se
quiserem, ou podemos chamar ajuda...".
Era uma pergunta. O policial olhou para a mulher e voltou para David. Ele deve ter visto algo no rosto de David
que passou confiança; ele acenou e chamou a mulher e a garota para se aproximarem.
"Obrigado". Ele disse, a exaustão finalmente vindo. "Se você puder nos dar uma carona estará ótimo".
David sorriu. "Por favor, entrem. John, Rebecca - vocês os ajudam...?".
John pegou alguns cobertores lá atrás enquanto Rebecca pegava o kit médico, cuidando para não descobrir os
rifles perto do estepe.
Acidente da Umbrella...
Rebecca pensou no quanto sortudos foram por terem sobrevivido.
Eles começaram a falar mesmo antes de David fazer o retorno - e em pouco tempo, eles descobriram ter muito
em comum. Enquanto a menina dormia, eles voltaram por onde vieram, deixando a cidade em chamas para trás[18]
Tentando não respirar muito fundo, Leon alcançou os pés da escada de metal e girou rapidamente, mirando sua
arma no escuro. Água molhou suas botas enquanto seus olhos se ajustavam à baixa luz, e viu a origem do
terrível cheiro.
Partes dele, na verdade...
O túnel continuava à sua frente e estava forrado com corpos humanos feitos em pedaços. Membros, cabeças,
troncos estavam espalhados aleatoriamente pelo túnel de pedra, balançando gentilmente pelos centímetros de
água que cobriam o chão.
"Leon? Como está aí?". A voz de Ada desceu pelo círculo de luz no topo da escada, ecoando. Leon não
respondeu, seu olhar chocado fixado na terrível cena, sua mente tentando juntar as partes e trazer um número.
Quantos? Quantas pessoas?
Muitas para contar. Ele viu uma cabeça sem face, o longo cabelo cobrindo-a. O tronco de uma mulher, o seio
emerso na escura água. Um braço envolvido nos farrapos de uma camisa de policial. Uma perna, ainda usando
um tênis. Uma enrolada mão, os dedos lisos e brancos.
Uma dúzia? Vinte?
"Leon?". O tom de Ada enfatizou.
"É - parece bem". Ele disse, forçando para não alterar a voz. "Nada se move".
"Estou descendo".
Ele se afastou da escada para dá-la espaço, lembrando de algo que ela disse antes, sobre corpos sendo
jogados...
Ada desceu da escada. Os olhos dele tinham se ajustado bem o bastante para ver o olhar de nojo no rosto dela -
nojo e o que parecia tristeza.
"Houve um ataque na garagem". Ela disse suavemente. "Quatorze ou quinze pessoas morreram...".
Franzindo, ela passou por Leon para olhar os resto de perto. Quando falou de novo, parecia preocupada.
"Eu não vi o ataque, mas não acho que foram despedaçados desse jeito".
Ela olhou para cima, vendo o teto do túnel, apertando sua 9mm. Leon seguiu seu olhar, mas só viu o tom
esverdeado das pedras. Ada balançou a cabeça, olhando de volta para o mar de carne.
"Os - zumbis não fizeram isso. Algo pegou essas pessoas depois de mortas".
Leon sentiu um calafrio subir sua espinha. Era a última coisa que queria ouvir naquele lugar.
"Então não é seguro aqui. Nós devemos voltar e -".
Ada seguiu em frente, passando pelos pedaços, os movimentos da água parecendo mais altos no quieto túnel.
Droga, ela ignora todo mundo ou só eu?
Olhando onde pisava, Leon a seguiu, erguendo o braço para tocar o ombro dela. "Pelo menos eu vou na frente,
#
tá?".
"Tá Bom,". Ela disse. "Abra caminho".
Ele passou por ela e continuou, tentando dividir a atenção entre a escuridão à frente e os pedaços de corpos e
ossos abaixo. Bem à frente, o túnel virava à direita, e tinha alguma luz refletida na oleosa superfície da água, a
passagem estava mais clara e com menos corpos.
Leon parou a tempo o bastante para empunhar a Remington e verificar se estava carregada. Seja lá o que tinha
pego os corpos não parecia estar por perto, mas ele não queria estar despreparado.
Ada esperou sem falar, apesar dele conseguir sentir sua impaciência. Ela era tão calma quanto um soldado
veterano, demonstrando nada mais além de ansiedade para acabar logo com isso - e se ela gosta de sua
presença, deve estar fazendo muita força para não demonstrar. Não que ele queira a gratidão dela -
- mas a maioria das pessoas gostariam da presença de um policial, não é? Mesmo sendo um novato?
Talvez não, e essa não é a hora e lugar para começar a fazer perguntas. Leon começou a andar de novo,
passando por cima de um pedaço mastigado de carne que não podia identificar.
"Pare". Ada cochichou. "Ouça".
Leon obedeceu, Remington em uma mão, VP70 na outra. Ele inclinou a cabeça para ouvir, mas só percebeu um
distante gotejar -
- e uma suave pancada, como martelos abafados numa superfície forrada. Estava se aproximando, vindo do
túnel que virava logo à frente.
Por que a água não respinga, por que não ouvimos água - ?
Leon recuou um passo, erguendo ambas as armas, lembrando como Ada tinha olhado para o teto antes -
- e viu, viu e sentiu seu coração parar em meia batida. Uma aranha do tamanho de um cachorro grande,
andando pelas paredes, mexendo suas arrepiadas pernas peludas -
- impossível -
- e de repente houve uma série de ensurdecedoras explosões próximas ao seu ouvido direito,
bam-bam-bam-bam, o cano da Beretta de Ada brilhando enquanto ativava. Os ecos golpearam pelo escuro
enquanto o gigante aracnídeo pulava da parede, mergulhando na tingida água.
A aranha engatinhou na direção deles, ferida, arrastando duas de suas pernas, escuros fluídos escorrendo pelo
seu grotesco e arredondado corpo. Ela passou por cima de uma cabeça, o crânio escapando abaixo de seu
abdômen inchado, e Leon pôde ver seus brilhantes olhos negros, cada um do tamanho de uma bola de ping-pong
--
e ele atirou com a Remington, mal sentindo o poderoso tranco da arma, sua concentração voltada para o
aracnídeo. O tiro explodiu a face alien em pedaços. A aranha virou de papo para o ar, suas grossas pernas
tremendo, curvando-se ao redor de seu corpo peludo.
Seus ouvidos apitando, seu coração pulando, Leon carregou outra bala, sua mente não só dizendo que tinha
matado uma aranha daquele tamanho, mas que seu físico estava errado, suas pernas não agüentariam tamanho
peso -
- Ada passou por ele, correndo, gritando para ele.
"Vamos, podem haver mais vindo!".
Leon correu atrás dela, seu choque contido pelo rápido comportamento de Ada - pulando sobre os pedaços de
carne e da aranha que só passou a existir depois que chegou a Raccoon.
"Solte a arma". Irons pediu, e a garota obedeceu, hesitando por um segundo. A Browning foi ao chão e Irons
teve que resistir ao desejo de rir de novo, pelo quanto estúpida ela agia. A assassina da Umbrella com certeza
ficou louca, entrando em seu santuário como se fosse dona do lugar - essa atitude lhe custou o jogo.
"Vire-se devagar - e mantenha as mãos onde eu possa vê-las". Ele disse, ainda sorrindo. "Oh, que gloriosa e fácil
conquista! A Umbrella o subestimou pela última vez.
Novamente, a garota fez o que ele pediu, virando devagar, de mãos vazias e abertas. O olhar em sua face não
tinha preço, suas expressões fixadas como uma máscara de medo e choque; ela não esperava por isso, ela
achava que seria fácil dar um fim em Brian Irons. Depois de tudo, ele era um homem quebrado, uma sombra de
seu antigo eu, sua cidade e sua vida tirada -
"Errada, não estava?". Ele disse, sentindo o humor vazando da situação, sentindo a raiva borbulhar novamente.
Ele manteve a VP70 mirada na ridícula e jovem face dela; insultando, que eles mandaram uma criança para seu
#
serviço sujo. E bonitinha...
"Calma, Chefe Irons". Ela disse, e mesmo bravo, ele gostou de ouvir a tensão em sua opressiva voz, o pico do
medo sob seu inútil apelo. Ele vai adorar isso, mais do que imaginava...
... mas primeiro, algumas respostas.
"Quem te mandou? Foi Coleman, do quartel general? Ou suas ordens vêm dos superiores... alguém da comissão,
talvez? Não há mais motivos para mentir".
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão. "Eu - eu nem sei do que está falando. Por favor, deve
haver algum engano -".
"Oh, um engano, tá bom". Irons cuspiu. "E você o cometeu. Há quanto tempo a Umbrella está me observando?
Quais foram as suas ordens, exatamente - onde você deveria ter me matado, a Umbrella quis que eu sofresse
um pouco antes?".
A garota não respondeu por um momento, provavelmente tentando decidir o quanto dizer a ele. Ela era boa,
suas expressões cautelosamente montadas para mostrar somente um medo confuso, mas ele enxergava
através disso.
Ela foi pega, deve saber que não a deixarei viver e está tentando esconder a verdade. Jovem mas bem treinada.
"Eu vim para Raccoon atrás do meu irmão". Ela disse devagar, seus bem abertos olhos cinzas fixados na arma.
"Ele estava com o S.T.A.R.S. e eu só -".
"S.T.A.R.S.? É o melhor que você pode fazer?". Irons riu mais, balançando a cabeça. O S.T.A.R.S. de Raccoon
fugiu logo depois que as coisas foram para a merda - e pelo que ele ouviu falar, a Umbrella já tinha "convertido" a
organização para seus propósitos, estavam trabalhando para eliminar aqueles que cruzassem o caminho. Essa
desculpa não funcionava.
Mas há algo...
Ele estudou os olhos. "E quem é o seu irmão?".
"Chris Redfield, você conhece - eu sou Claire, a irmã dele, e eu não sei nada sobre o que a Umbrella fez e não fui
mandada para matá-lo". Ela disse rápido.
Ela se parecia com Redfield, pelo menos os olhos... Chris era um pomposo e desrespeitoso, que o desafiou
abertamente várias vezes; de fato -
"Redfield estava trabalhando para a Umbrella, não estava?". Mesmo dizendo alto, Irons pôde ver que era
verdade - e sua raiva subiu como uma maré vermelha, um calor ácido que desceu por suas veias fazendo-o
enjoar.
Até os meus empregados, todo o tempo. Fantoches traidores da Umbrella.
"A mansão de Spencer, as acusações contra a Umbrella... foi tudo armado, eles vinham provocando problemas
para - para me distrair, para então poderem roubar o vírus de Birkin...".
Irons deu um passo até a garota, sem precisar de força para puxar o gatilho, contrariando seus planos. A garota,
Claire, recuou, de braços para cima, de mãos abertas como para se proteger de sua fúria.
"Foi como o S.T.A.R.S. soube quando sair da cidade. Eles foram alertados para sair antes do vazamento do
T-virus!".
Ele deu mais um passo até ela, mas Claire parou, seus olhos mais abertos. "Então Chris não está aqui?".
Seu pequeno e esperançoso suspiro só alimentou o calor vermelho que pulava dentro de Irons - os sentimentos
eram tão poderosos que transcendiam raiva, focando suas intenções em algo brutal e preciso. Não era suficiente
ter sido traído pela Umbrella e pelo S.T.A.R.S., ter sido manipulado, atormentado, caçado -
Não, não. Eu fui enganado por essa garota, uma espiã assassina de uma família de traidores. Uma vida devotada
ao serviço, experiências, sacrifícios pessoais, e essa é a minha recompensa?
"Um tapa na cara". Ele disse, sua voz tão fria quanto essa nova selvageria que o enchia, o transformava num
caçador. "Tratando-me como um idiota. Você nem tem respeito o bastante para mentir bem".
Ele estendeu a 9mm e andou na direção dela, cada passo calculado e deliberado - e o medo dela era real desta
vez, ele riu do modo como ela recuava, seus trêmulos lábios. Ela estava apavorada, tentando achar uma arma,
observá-lo, fugir, tudo ao mesmo tempo, mas sem sucesso enquanto ele marchava.
"Eu tenho o poder,". Ele disse. "esse é o meu santuário, esse é o meu domínio. Você é a invasora. Você é a
mentirosa, você é o mal - eu vou tirar a sua pele viva. Eu te farei gritar, sua vagabunda, você vai desejar nunca
#
ter nascido. Seja lá quanto te pagaram, não foi o bastante".
Ela recuou até bater numa estante, tropeçando na perna da mesa, quase caindo no alçapão no canto da sala.
Irons a seguia, sentindo aquele bonito e excitante poder, sentindo prazer com a indefesa.
"Por favor, você não quer fazer isso, eu não sou quem você pensa!".
A patética súplica o fez parar e rir, querendo dá-la mais terror, querendo mostrá-la que seu controle era absoluto.
Ela estava encurralada entre um armário e o alçapão, e Irons ficou a uma distância segura, adorando o pânico
nos olhos dela - o pânico de um animal emboscado...
Irons lambeu os lábios, seu faminto olhar viajando por suas suaves formas. Outro troféu, outro corpo para
transformar... e é hora de trabalhar, de -
"Graaagh!".
Mas que -
A tampa que cobria o poço voou pelo ar, partindo com um tremendo crack, um pedaço atingindo a coxa de
Irons. Ele ficou assustado sem entender - ele estava no controle e mesmo assim algo deu errado, horrivelmente
errado -
Algo enrolou em seu calcanhar, algo que apertava tão forte que ouviu os ossos sendo esmagados, a afiada dor
subindo por sua perna -
- e ele travou o olhar com o da garota, de olho brilhando com um novo terror, e nesse instante de contato, de
claridade, ele quis tanto dizer que era um bom homem, um homem que nunca mereceu nada do que aconteceu -
- e aquilo sacudiu, e Irons estava caindo, derrubando a arma, puxado para o poço pelo grito, a dor e a besta que
o esperava lá embaixo.
[19]
Num minuto, Irons estava de pé na frente dela, olhando em seus olhos com uma terrível tristeza -
- no outro, ele se foi. Puxado para um buraco no chão por um braço musculoso e com garras, saindo de visão,
junto com Irons.
Houve outro grito da criatura, um poderoso ruído que ganhou intensidade e superou o de Irons. Estática, Claire só
pode ouvir, choque, alívio, medo enquanto os choros saiam do buraco, acertando seus ouvidos no pequeno e frio
calabouço que Irons tinha criado -
- até que os gritos cessaram, só um ou dois segundos depois - e os barulhos de carne sendo mastigada
começaram.
Claire se moveu. Ela pegou a arma de Irons e correu pela mesa no centro da sala.
Ele ia me matar e aquilo o matou -
A realidade do que ia acontecer e do que aconteceu a atingiu, fazendo de suas pernas borracha. Claire forçou
mais alguns passos para trás até encostar na úmida parede de pedra, suspirando.
Ele tinha planejado matá-la, mas não de uma vez. Ela viu como o malvado olhar dele passou pelo seu corpo,
ouviu a ansiosa antecipação em sua maluca risada -
Houve um suave ronco vindo do buraco, um som bestial, o ronco de um leão bem alimentado. Claire virou,
erguendo a arma -
- e algo explodiu do buraco, algo com braços debatendo, e Claire atirou. Uma garrafa na prateleira espatifou
enquanto a coisa acertou o chão -
- e era Irons, mas só metade dele. Ele foi dividido, cortado em dois pela coisa que o tinha pego; tudo abaixo da
cintura se foi, fiapos de pele rasgada e músculos pendurados sobre a piscina de sangue que substituía suas
pernas.
Claire recuou para a porta, ainda apontando para a abertura - e ouviu a criatura, o monstro gritar de novo, um
eco que desapareceu, caindo a uma distância que não podia imaginar. Um segundo depois, ela não o ouvia mais;
#
tinha ido embora.
O monstro de Sherry. Era o monstro de Sherry.
Claire foi vagarosamente até o corpo do Chefe Irons, na direção do escuro buraco - mas não era todo escuro. Ela
pôde ver luz vindo de algum lugar, o bastante para ver que havia outro andar lá embaixo, o que parecia uma
passarela gradeada de metal - e uma escada de mão.
Um sub-subsolo... uma saída?
Ela se afastou da abertura, seus pensamentos fluindo desorganizadamente, tentando absorver o que Irons tinha
dito. Chris não estava em Raccoon, os S.T.A.R.S. se foram - um bom e ruim alívio, pois significava que ele estava
bem, mas não salvaria o dia. Houve um vazamento na Umbrella que ao menos explicava os zumbis - mas e o
que disse sobre Birkin, o vírus de Birkin... é pai de Sherry?
É - talvez os zumbis sejam o resultado de algum acidente, mas e o Mr. X e os homens do avesso?
O modo como Irons falou sobre a Umbrella, sugere que a companhia farmacêutica não era uma vítima inocente.
"Como ele o chamou?".
"T-virus". Ela cochichou, e tremeu. "Tinha o novo vírus de Birkin e tinha o T-virus...".
A doença zumbi tinha um nome. Mas você não nomeia algo a não ser que saiba algo sobre ele, o que significa -
- que ela não sabia o que significava. Tudo o que sabe é que Sherry precisava sair de Raccoon e o sub-subsolo
podia ser a saída. Devia ter uma saída, o monstro dever ter ido para algum lugar...
... e você quer seguí-lo com Sherry? Ele pode voltar - e se realmente estiver atrás de Sherry...
Pensamento infeliz - tal como voltar para as ruas. E a delegacia já está infestada por Deus sabe lá o que. Claire
checou o clip da arma de Irons, contando dezessete balas.
Ela respirou fundo, voltando a si, e olhou para os restos do chefe da polícia. Era um modo ruim de morrer, mas
não conseguiu sentir pena. Ele estava pronto para amarrá-la e torturá-la, ele riu ao implorar por sua vida, e agora
está morto; ela não estava feliz, mas também não derramaria lágrimas. Seu único sentimento sobre isso era o de
que deveria cobri-lo antes de trazer Sherry; a menina já viu violência o bastante para uma vida.
Nós, Claire pensou, e começou a procurar algo para esconder Chefe Irons.
Leon a alcançou no frio e industrial corredor que dava na entrada do esgoto, alguns degraus acima do subsolo
inundado. Ela tinha corrido na frente para posicionar as chaves de acesso ao esgoto, sem querer explicar muito
como as achou; ela só teve o trabalho de jogá-las na sala da caldeira antes que os passos dele tocassem os
degraus de metal atrás dela
Pelo menos eu não finjo estar com falta de ar...
Ada pôde ver no olhar dele que deveria suavizar as coisas; ela começou a falar na hora em que ele pisou no
corredor.
"Desculpe ter corrido". Disse oferecendo um sorriso assustado. "Eu odeio aranhas".
Leon franziu, estudando-a, e ela percebeu que deveria explicar melhor. Ela deu um passo até ele. Mantendo olho
no olho, jogando a cabeça para trás, a fim de enfatizar a diferença de altura; era pouca, mas na experiência dela,
homens respondiam bem às pequenas coisas.
"Acho que só estou com pressa em sair daqui". Ela disse rápido, perdendo o sorriso. "Espero não o ter
preocupado".
Ele derrubou o olhar antes de demonstrar interesse. Ela ficou mais surpresa quando ele recuou.
"Bom, você me preocupou. Não faça de novo, tá? Eu posso ser pouco de um policial, mas eu estou tentando - e
só Deus sabe o que encontraremos aqui".
Ele olhou para ela de novo, falando suavemente. "Eu vim com você porque eu quero ajudar, eu quero fazer o
meu trabalho - e eu não posso fazê-lo se você sair na frente. Além disso,". Ele complementou, sorrindo um
pouco. "se você correr, quem vai me ajudar?".
Foi a vez de Ada desviar o olhar. Ela forçou um sorriso. "Eu farei o possível".
Leon acenou e virou para olhar o lugar, acabando com a conversa - para o alívio de Ada. Ela estava incerta sobre
o que pensar sobre ele, mas estava desconfortável com seu respeito por ele estar crescendo; nada bom
considerando a situação.
Não havia muito o que ver no úmido corredor; duas portas. A sala da caldeira, onde jogou as chaves - ou plugs,
#
de preferência, estava bem à frente. A outra dava num depósito, segundo a placa na parede.
Ada seguiu Leon para a mais próxima, o depósito. Lá não havia nada de importante. Caixas, uma mesa, um baú,
mas pelo menos nenhuma aberração. Depois de uma rápida procurada eles voltaram para o corredor e foram
para a sala da caldeira.
"Como você aprendeu a atirar daquele jeito, afinal?". Leon perguntou e parou na frente da porta. Seu tom parecia
casual. "Você é muito boa. Você esteve no exército ou algo...?".
Boa tentativa, policial.
Ada sorriu, incorporando seu personagem. "Paintball, acredite ou não. Eu também ia no tiro-ao-alvo com meu tio,
mas nunca me aprofundei muito. E então, há alguns anos, um amigo do trabalho - nós éramos compradores em
uma galeria de arte de Nova Iorque - ele me levou para um daqueles fins de semana de sobrevivência e nós
demos uns tiros. Você sabe, caminhada, escalada, coisas do tipo - e paintball. É ótimo, nós íamos a cada dois
meses... eu nunca pensei que fosse usar isso de verdade".
Ela pôde vê-lo acreditar, ver que ele queria acreditar. Mas deve ter respondido algumas perguntas que queria
fazer.
"É, você é melhor do que alguns colegas meus da academia. É sério. Então, você está pronta para continuar?".
Ada acenou. Leon empurrou a porta, olhando o velho e enferrujado maquinário antes de entrar. Ada não olhou
para baixo, querendo que ele achasse o pacote amassado que havia colocado momentos atrás.
A sala era em "H", corrimãos cercavam as duas grandes caldeiras em cada lado. As fluorescentes que ainda
funcionavam criavam estranhas sombras nas paredes infiltradas. A porta que levava ao sistema de esgoto estava
no lado oposto, à esquerda, ao lado de um painel.
"Ei -". Leon se agachou, pegando os plugs que abririam a porta. "Parece que alguém derrubou algo...".
Antes que Ada pudesse perguntar o que tinha achado, ela ouviu um barulho. Um suave rastejo vindo do canto
oposto direito da sala.
Leon se levantou rapidamente, soltando os plugs e erguendo a espingarda. Ada apontou sua Beretta, lembrando
como a porta estava encostada antes de colocar os plugs no chão.
Droga, o implante.
Ela sabia antes mesmo de aparecer. A coisa tinha crescido, e bem rápido, vinte vezes seu tamanho em alguns
minutos - e ainda estava crescendo, exponencialmente.
A aparência também estava mudando. Não era mais aquela medusa que rasgou Bertolucci. A calda se foi, e a
criatura que rastejava pelo chão enferrujado agora tinha membros. Garras saiam de sua lisa pele acompanhada
pelo som de cartilagem sendo perfurada. Musculosas pernas se desenrolaram e o rastejar se tornou mais suave,
quase felino -
A espingarda e a Beretta soaram ao mesmo tempo. A criatura ainda mutava quando os tiros deformaram sua
carne. Em resposta, a coisa vomitou, um ronco que lançou um projétil de apodrecida bile verde -
- que caiu no chão e começou a se mexer. Aquilo estava vivo - e as onze ou doze criaturinhas que surgiram
pareciam saber exatamente onde a ameaça estava. Os animais multi-pernas rastejaram na direção de Ada e
Leon enquanto o implante dava um passo.
"Eu pego eles". Ada gritou, já atirando no mais próximo. Eles eram rápidos, e Ada mais ainda; ela apontou e
atirou, explodindo os bebês monstro em uma fonte de escuros fluídos.
Leon atirava de novo e de novo com a espingarda, mas Ada não podia ver como o monstro mãe estava. Cinco
dos rastejantes restando e só três balas -
- e ela ouviu a espingarda ir ao chão, ouviu tiros de revólver enquanto matava dois dos pequenos antes da arma
clicar.
Sem parar para pensar, Ada soltou a Beretta e foi para o chão. Ela pegou a espingarda pelo cano, se agachou e
desceu a arma, bem forte. Dois dos bichos viraram pasta com o impacto - mas o terceiro e último saltou em uma
inesperada propulsão -
- e pousou na coxa dela, agarrando com garras afiadas como agulhas. Ada soltou a espingarda, gritando
enquanto o animal subia sua perna, o quente e úmido peso dele fazendo-a frenética de nojo.
Sai, SAI -
Ela caiu para trás, estapeando a criatura que já estava em seu ombro, rastejando para seu rosto, para sua boca
--
e Leon a agarrou, erguendo-a com uma mão enquanto arrancava o bicho com a outra.
#
Ada se agarrou nele para não cair e o animal aderiu forte ao tecido do vestido. Leon tinha um bom tato e
arrancou o bicho, gritando enquanto arremessava-o pela sala.
"O revólver!".
A arma estava presa no cinto de Leon. Ada a liberou, vendo que o bicho tinha caído perto da mãe, morta por
Leon -
- e atirou, tentando um tiro certeiro apesar de seu desequilíbrio, assustada pelo quanto perto esteve de ser
implantada. A bala ressoou no chão, lascas enferrujadas respingaram - e a criatura explodiu contra a parede de
trás. Estourada.
Nada se mexeu e os dois ficaram parados, encostados um no outro como sobreviventes de um terrível acidente -
que de certo modo eram. Tudo aconteceu em menos de um minuto e eles saíram ilesos - mas Ada não se iludirá
por terem estado perto, ou com o que acabaram de destruir.
G-virus.
Ela tinha certeza; o T-virus não seria capaz de criar algo tão complicado, não sem um time de cirurgiões - e eles
viram a coisa crescer; o quanto grande e poderosa a criatura teria ficado se eles tivessem demorado mais um
pouco? E se houver mais deles? A ida para os laboratórios não será mais uma caminhada - e Ada se sentiu grata
por Leon ter decidido ir com ela. Já que ele insiste tanto em ir na frente, se algo atacar, ela terá uma chance
melhor de sobreviver -
"Você está bem? Ele te machucou?".
Com um braço ainda segurando ela, Leon olhava em seus olhos, preocupado. E ela percebeu que podia cheirá-lo,
um limpo cheiro de sabão - e se afastou dele. Ela devolveu o revólver e esticou o vestido, procurando por cortes
a fim de não olhar para ele.
"Obrigado, eu estou bem. Não se preocupe?".
Foi mais grossa do que queria, pois estava agitada com o ataque. Ela olhou para ele e ficou incerta sobre o que
sentir ao ver que a resposta o tinha pego de surpresa. Ele piscou devagar.
"Paintball, né?". Ele disse suavemente, e virou para pegar os plugs. Ada o acompanhou, dizendo a si mesma que
era ridículo se importar com o que ele pensava dela. Eles estavam embarcando numa jornada em que ela podia
descartá-lo, ou vê-lo dar sua vida por ela...
... ou matá-lo eu mesma. Não vamos esquecer disso. Então quem se importa se ele acha que sou uma ingrata?
Ada se curvou para pegar a espingarda, sentindo a força que precisava fazer para não desviar de suas
prioridades - e sentindo um vazio lá dentro que não sentia há muito, muito tempo.
[20]
Irons foi um homem muito mau. Doente. Sherry parecia saber o tempo todo, mas ver sua câmara de tortura
secreta fez tudo virar realidade. A sala era rude, ossos, garrafas e um cheiro pior que o dos zumbis. Por isso não
se importou tanto com o corpo incompleto sob o lençol manchado de sangue. Sherry tentou imaginar o que tinha
acontecido exatamente.
"Vamos, querida, vamos indo". Claire disse, seu tom dizendo que Irons tinha sido bastante injuriado. Tudo o que
Claire disse foi que Irons a tinha atacado e que depois algo o atacou. E que poderiam achar algum lugar seguro se
descerem pelo buraco. Sherry estava tão feliz em ver Claire que nem fez perguntas.
Não parece caber uma pessoa inteira lá... ele foi comido? Ou cortado em pedaços?
"Sherry? Vamos?".
Claire tocou o ombro dela, tirando-a de perto do que sobrou de Irons. Sherry deixou ser conduzida até o buraco
no canto.
Claire desceu a escada primeiro e depois de um segundo, disse que era seguro descer. Sherry pisou
cuidadosamente nas barras de metal, sentindo-se feliz como há dias não se sentia. Claire a ajudou nos últimos
degraus, erguendo-a e colocando-a no chão de metal. Sherry virou e olhou em volta, arregalando os olhos.
"Uau". Ela disse, a palavra ecoou e voltou nas escuras sombras que refletiam das estranhas paredes.
"É". Claire disse. "Vamos".
#
Claire começou a andar e Sherry a seguiu de perto, ainda olhando em volta impressionada. Era como a toca de
um cara mau num filme de espião, alguma passagem dentro de uma montanha. Elas estavam numa passarela
com corrimão nas laterais, a turva e esverdeada luz verde atravessando a grade da passarela, vinda de algum
lugar lá embaixo - apesar de a parede da direita ser de tijolos, a outra era mesmo a de uma caverna. Ela pôde
ver grandes pilares e estalactites de pedra, formações naturais esverdeadas pela fantasmagórica luz.
Sherry coçou o nariz. Interessante, mas cheirava podre. "Que lugar você acha que é esse?".
Claire balançou a cabeça. "Eu não tenho certeza. Entre o cheiro e a locação, eu diria que estamos na parte de
uma estação de tratamento de esgoto".
Sherry acenou, grata por saber - e mais ainda por ver a saída bem à frente. A passarela não era muito longa;
virava à esquerda onde estava outra escada de mão que subia. Chegando lá, Claire hesitou, olhando para a
abertura acima e depois para a caverna.
"Eu subo primeiro... que tal você vir atrás, mas ficando na escada até eu dizer que é seguro?".
Sherry acenou, aliviada. Por um segundo, ela teve medo de Claire mandá-la esperar, como antes.
De jeito nenhum. Aqui é escuro, fedorento e vazio. Se eu fosse um monstro, seria aqui onde eu estaria...
Claire subiu e Sherry foi logo atrás, segurando as frias barras firmemente. Segundos depois, os longos e finos
braços de Claire apareceram para ajudá-la a sair.
Elas estavam de volta em solo firme, um curto corredor de cimento que parecia incrivelmente brilhante depois da
caverna. Sherry deduziu que ainda estavam na estação de tratamento; o cheiro não era tão ruim apesar do
escuro e parado rio que orlava o lado esquerdo do corredor, uns trinta centímetros de profundidade por uns dois
de largura. A lodosa água ia de uma grande porta metálica até um circular túnel com grades. Acima havia um
parapeito, mas Sherry não viu escadas.
Quer dizer que... oh, eca.
"Vai ser preciso?". Ela perguntou.
Claire suspirou. "Acho que sim. Mas veja pelo lado bom - nenhum monstro consciente nos seguiria naquilo".
Sherry sorriu. Não era tão engraçado, mas ela gostou do que Claire tentava fazer - o mesmo que cobrir o corpo
de Irons ou dizer que seus pais estavam a salvo.
Ela está tentando me defender do quanto ruim estão as coisas...
Sherry gostou tanto que já estava temendo a hora em que Claire tiver que deixá-la. E terá; Claire tem uma vida
inteira em algum lugar, seus amigos e família, e quando saírem de Raccoon, ela voltará para casa e Sherry ficará
sozinha de novo. Mesmo se seus pais estiverem bem, ela ficará só... e mesmo querendo que eles estejam, não
queria ver seu fim com Claire.
Ela só tinha doze anos e já reparou que sua família era diferente da maioria. As outras crianças da escola tinham
pais que passavam tempo com elas, tinham festas de aniversário e iam acampar, tinham irmãos, irmãs e bichos
de estimação. Sherry nunca teve nada disso, mas sabia que seus pais tinham boas intenções e que a amavam -
mas às vezes, não importava o quanto boa, calma e auto-suficiente ela era, ainda estava longe deles -
"Está pronta para isso?".
A suave voz de Claire a trouxe de volta para a realidade, lembrando-a para ficar mais alerta. Sherry acenou, e
Claire entrou na escura e suja água, ajudando Sherry.
A água estava fria e melada, subindo até os joelhos de Sherry; era grossa, mas nem tanto quanto vômito. Claire
andou para a grande porta de metal à esquerda com sua nova arma, tão enjoada quanto Sherry.
"Parece que nós vamos -".
Um alto ruído no parapeito a interrompeu e ambas olharam para cima, Sherry se aproximando de Claire quando o
barulho apareceu outra vez. Pareciam passos, mas muito lentos e altos para serem normais -
- e Sherry viu um homem de casaco longo e escuro aparecer, sua boca secando de medo. Ele era gigante, uns
três metros, e sua cabeça careca tão branca quanto a barriga de um peixe. Ela não conseguia vê-lo bem por
causa do ângulo, mas viu o bastante - e pôde sentir que era mau, que havia algo muito errado e mau sobre ele.
Radiava dele como doença.
"Claire?". Ela chiou enquanto o gigante cruzava o parapeito, enquanto virava na direção delas - devagar, tão
devagar que Sherry não quis ver seu rosto, o rosto de um homem que podia assustá-la só de andar no parapeito
-
#
"Corre!".
Claire agarrou a mão dela e as duas correram, tormentando a grossa água na direção da porta fechada.
- não esteja trancada, não esteja trancada!
A porta estava perto mas parecia demorar para sempre, cada segundo passando enquanto lutavam contra o
peso da fria e oleosa água.
Claire achou o controle, batendo no botão com um tipo de pânico que só fez Sherry se assustar mais. A porta se
dividiu ao meio, metade deslizando para o teto e a outra mergulhando nas ondas.
Sherry não olhou para trás mas Claire sim. Seja lá o que viu, a fez tirar Sherry do chão, cruzar a porta e entrar no
longo e escuro túnel que a porta escondia. Assim, que passaram, Claire tocou na parede e a porta fechou
selando-as na escuridão.
"Não se mexa e fique quieta". Claire cochichou, e sob a fraca luz que vinha de cima, Sherry viu Claire armada,
procurando ameaças nas sombras. Sherry obedeceu, seu coração pulando, imaginando quem ou o que aquele
homem foi - era o homem que Claire havia comentado antes, mas quem ele era? Pessoas não ficam daquele
tamanho, e Claire também tinha se assustado -
Clink.
Um ruído metálico, suave e abafado na parede ao lado - e Sherry sentiu a água aos seus pés se mover de
repente, uma corrente que moveu suas pernas, tirou seu equilíbrio -
- e ela caiu, seu rosto na fria e nojenta água enquanto a corrente ficava mais forte, sugando-a para baixo. Sherry
tentou se segurar em algo, mas seus dedos só encontravam o lodo do chão de pedra, enquanto as águas a
levavam para longe de Claire.
- não posso respirar -
Ela chutou forte, agitando o corpo, seus olhos doendo de água ruim - e conseguiu respirar assim que sua cabeça
voltou à tona, assim que percebeu estar num túnel, um escuro e melado túnel não muito maior que os de
ventilação da delegacia. As rápidas águas a congelavam, respirando sufocada o sujo ar acima, forçando para não
lutar contra o impiedoso poder da água. O túnel tinha que dar em algum lugar - e quando der, deverá estar
preparada para correr.
Claire, por favor, me encontre, por favor, não desista de mim...
Ela estava perdida, cega e surda, deslizando por um escuro túnel - e cada vez mais longe da única pessoa que
pode protegê-la das criaturas que tomaram conta de Raccoon.
Annette já não duvidava mais de que seu marido havia escapado do laboratório. Não só pela metade das
entradas estarem abertas, mas também pelas cercas que circundavam a fábrica estarem derrubadas - e os
túneis do esgoto, que deveriam estar praticamente vazios, estavam cheios de portadores humanos que devem
ter vindo de fora. Mesmo avançados em termos de deterioração celular, ela teve que derrubar cinco deles a tiro
para livrar o caminho entre o teleférico e as salas de operação do esgoto.
Depois do que pareceu levar uma eternidade para cruzar as semitratadas águas do sistema, ela chegou na
plataforma que procurava. Annette subiu no corredor de concreto, olhando cuidadosamente para a porta fechada
à sua frente. Fechada e inteira, um bom sinal - mas se ele passou por ela antes de perder todos os traços de
inteligência humana, antes de virar um impensado e violento animal? Mesmo agora, ele ainda pode ter guardado
alguma memória? Ela não sabia. O G-virus ainda não tinha sido testado em humanos...
... e se ele passou? E se chegou na delegacia?
Não. Ela não podia, não iria considerar a possibilidade. Considerando o que ela sabia sobre as mudanças
quimiofisiológicas - o que ele seria capaz de fazer se o vírus funcionar como deveria - o pensamento de vê-lo
chegar a uma população não infectada... bom, era impensável.
A delegacia é segura, ela pensou firmemente. Irons pode ser um incompetente, mas seus policiais não. Seja lá o
que William for agora, não poderá passar por eles.
Ela não conseguia acreditar em mais nada; Sherry estava lá, se tivesse feito o que deveria fazer - e além de ser
seu sangue, Sherry seria muito importante em seus planos futuros.
Annette se encostou na parede, ciente de que o tempo estava passando, mas incapaz de continuar sem
descansar. Ela estava quase no fim da área contida e tudo o que encontrou foram vários caminhos que William
pôde ter usado para escapar.
E a Umbrella estará aqui em breve. Eu tenho que voltar, eu tenho que ativar a destruição antes que eles me
#
impeçam.
William merecia estar em paz - mas, além disso, destruir a criatura que um dia foi seu marido erradicaria todas as
suas dúvidas sobre o sucesso de seu objetivo. Mas se ela explodir o laboratório e fugir, só para descobrir que a
Umbrella o capturou? Todos os seus esforços, todo o trabalho dele, por nada...
Annette fechou os olhos, desejando haver um modo fácil de fazer a decisão que tinha de ser feita. O fato era, a
morte de William não era tão crucial quanto fugir do laboratório. Havia uma boa chance de que ele não seja
encontrado, de que eles nem saibam de sua transformação -
- eu tenho uma chance. Ele não está aqui e em lugar algum.
Ela se desencostou da parede, caminhando vagarosamente para a porta. Ia checar os últimos túneis, ao menos
ver se as salas de controle tinham algum dano - e depois vai voltar. Voltar e terminar o que a Umbrella tinha
começado.
Annette abriu a porta e -
- e ouviu passos, ecoando pelo vazio corredor em algum lugar à frente; o corredor era em "T", os passos
derretidos uns nos outros tornando impossível saber de onde vinham - mas eram fortes, de não infectados,
talvez mais de um, e isso quer dizer uma coisa.
Umbrella. Eles finalmente vieram.
Raiva ferveu atrás dela, fazendo suas mãos tremerem, seus lábios ficarem entre seus dentes. Tinham que ser
eles, um de seus espiões assassinos. Além de Irons e alguns oficiais da cidade, só a Umbrella sabia que esses
túneis ainda eram usados - e que davam no complexo subterrâneo. A possibilidade de ser um sobrevivente
inocente não passou por sua mente; ela ergueu o revólver e esperou pelo idiota sem coração aparecer.
Uma figura ficou visível, uma mulher de vermelho, e Annette atirou -
- bam, mas estava tremendo, gritando por dentro, e errou o tiro. Ele ricocheteou no cimento da parede, pim, e a
mulher ergueu uma arma -
- e Annette atirou de novo, bam-pim, mas de repente apareceu outro, uma azulada sombra que voou na frente
da mulher, tirando-a do caminho.
Tudo isso aconteceu de uma vez -
- e Annette ouviu um choro de dor, de um homem, e sentiu uma explosão de triunfo.
Peguei ele, eu peguei ele -
Mas devem haver mais, ela não tinha acertado a mulher - e eles eram assassinos treinados.
Annette virou e correu, seu longo, branco e sujo avental de laboratório voando, seus sapatos molhados contra o
cimento. Ela tinha que voltar ao laboratório, rápido.
O tempo se esgotou.
[21]
Leon tinha parado para arrumar seus arreios, Ada passou na frente, surpresa pelos primeiros túneis estarem
vazios. Se não lhe falhe a memória, esse corredor dava no sistema de tratamento de esgoto; depois tinha o
teleférico para a fábrica, e então o elevador para o subterrâneo. As condições provavelmente ficarão piores
quanto mais perto do laboratório ficar, mas se continuar desse jeito... ela já está começando a ficar otimista.
Leon esteve bem quieto desde que entraram no esgoto, falando só o necessário - cuidando onde pisa, espere um
minuto, que caminho devemos seguir... ele era corajoso, pelo menos acima da média entre os cabeças do
departamento, e atirava bem - e não sabia nada sobre mulheres. Quando ela cortou a tentativa dele de
confortá-la, ele ficou confuso e machucado - e agora ele não sabe como interagir com ela. Leon preferiu se calar
do que ser rejeitado de novo.
Ada chegou na intersecção em "T" do corredor vazio, pensando no lugar mais fácil para se livrar de Leon -
#
- e viu a mulher, na hora em que atirou.
Bam!
Ada sentiu lascas do concreto espirrarem em seu ombro enquanto erguia a Beretta, uma onda de emoções e
percepções no instante que levou para reagir. Ela não teria tempo para reagir, o próximo tiro a mataria, brava por
ter sido tão estúpida - e reconheceu a mulher.
Birkin -
Ela ouviu o segundo tiro - e então foi golpeada, empurrada do caminho e caindo no chão enquanto Leon chorava
de dor e surpresa, seu corpo caindo sobre o dela.
Ada respirou fundo, chocada assim que entendeu o que tinha acontecido, assim que Leon rolou e agarrou o
braço. Ela ouviu passos correndo, Leon gemendo, e sentou.
Oh, meu Deus. Essa não -
Ele levou um tiro. Por mim.
Ada se levantou, inclinando ele. "Leon!".
Ele olhou par ela, mordendo por causa da dor. Sangue vazava por entre seus dedos, pressionados contra seu
ombro esquerdo.
"Eu estou - bem". Ele suspirou, apesar de pálido e sofrendo, ela achou que estava bem. Devia estar doendo
muito mas não ia - não irá morrer.
Eu teria morrido, Leon salvou a minha vida -
E na cauda desse pensamento, - Annette Birkin. Ainda viva.
"Aquela mulher". Ela disse, sentindo-se culpada enquanto virava para correr. "Eu preciso falar com ela".
Ada decolou, fazendo a curva e descendo o corredor, uma porta aberta no fim. Leon sobreviverá, e se conseguir
alcançar Annette todo esse maldito pesadelo acabará. Ada tinha estudado as fotos, sabia que era a esposa de
Birkin - e se ela não estiver com a amostra, com certeza sabe onde está.
Ela cruzou a porta e parou antes de pular em outro túnel cheio de água, ouvindo, analisando a superfície da água.
Nenhum respingo de água, mas haviam algumas ondas à esquerda -
- e uma escada de mão na parede, levando ao túnel de ventilação acima.
Ada pulou na água e foi para a escada na parede da frente. O túnel continuava para a esquerda, mas não tinha
saída.
Ela escalou rapidamente as barras, recusando-se a pensar em Leon (porque ele estava bem) enquanto espiava o
túnel e via que estava vazio, antes de cruzar um conjunto de pás. Através dele, outra olhada antes de passar
por outro conjunto de pás, e desceu outra escada. A gigante câmara de dois andares que abrigava o maquinário
de tratamento estava ausente de vida, tão fria, industrial e equipada quanto esperava. Havia uma ponte
hidráulica lá, erguida no andar que estava - isso quer dizer que Annette desceu pela escada oeste, a outra única
saída. Ada andou em seus mapas mentais assim que começou a cruzar a ponte.
"Largue a arma".
Atrás dela. Ada hesitou, sentindo uma dor interior. A segunda vez que estragou tudo - mas não obedecerá
Annette de jeito nenhum. A mira dela era ruim e Ada se estendeu, preparando para se jogar, girar e atirar -
Bam-pim!
O tiro acertou o chão à direita de Ada. Annette a tinha.
Ada derrubou a arma, erguendo as mãos devagar, virando para a cientista.
Jesus, eu mereço morrer por isso...
Annette Birkin andou até ela, uma Browning 9mm tremendo em uma mão estendida. Ada recuou ao ver aquela
arma balançando - mas viu uma oportunidade quando Annette se aproximou, passando a uns três metros dela.
Muito perto. Muito perto e à beira de um colapso, não é?
"Quem é você? Qual é o seu nome?!".
Ada exalou forte, gaguejando sua voz. "Ada, Ada Wong. Por favor, não atire, por favor, eu não fiz nada - ".
Annette franziu, "Ada... Wong. Eu conheço esse nome - Ada era o nome da namorada de John...".
"É, John Howe! Mas como você sabe? Você sabe onde ele está?".
"Eu sei porque John trabalhou com meu marido, William. Você já ouviu dele claro - William Birkin, o responsável
pela criação do T-virus".
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Annette mostrou um pouco de orgulho e desespero, dando esperanças à Ada; uma fraqueza que podia ver. Ada
tinha lido os arquivos sobre William - leu sobre a firme subida pela hierarquia da Umbrella, os avanços em virologia
e seqüênciamento genético... e sobre a ambição científica que o tornou um verdadeiro sociopata. Parece que sua
esposa estava com os mesmos planos - isso significa que a senhora não teria problemas em puxar o gatilho.
Seja tola e não a faça duvidar.
"T-virus? O que é -". Ada piscou, e arregalou os olhos. "Doutor Birkin? Espere, Birkin, o bioquímico?".
Ela viu um feixe de prazer no rosto de Annette - mas logo se foi, ficando só desespero. Desespero e maldade em
seus profundos e vermelhos olhos.
"John Howe está morto". Ela disse friamente. "Ele morreu há três meses atrás na mansão de Spencer. Minhas
condolências - mas depois, você vai se juntar a ele, não vai? Você não vai levar o G-virus de mim, você não vai
tê-lo!".
Ada começou a tremer. "G-virus? Por favor, eu não sei do que você está falando!".
"Você sabe". Annette apertou os dentes. "A Umbrella mandou você para roubá-lo, você não pode mentir para
mim! William está morto para mim agora, a Umbrella o tirou de mim, eles o forçaram a usá-lo! Eles o
forçaram...".
Ela parou, seu olhar distante. Ada esticou-se - mas Annette voltou, seus olhos molhados de lágrimas, a arma
apontada para o rosto de Ada.
"Eles vieram uma semana atrás". Ela respirou. "Eles vieram para pegá-lo e atiraram no meu William quando não
daria as amostras. Eles levaram a maleta, eles levaram todos os finais, ambas as séries - exceto pela única que
William guardava, o G-virus...".
A voz de Annette virou um grito de repente. "Ele estava morrendo, você não vê? Ele não tinha escolha!".
Ada entendeu. Entendeu tudo. "Ele injetou em si mesmo, não foi?".
A cientista acenou, seu mole cabelo loiro caindo nos olhos, sua voz suave novamente. "O vírus revitaliza funções
celulares. Ele - o vírus mudou William. Eu não vi - o que ele fez, mas eu vi os corpos dos homens que tentaram
matá-lo... e ouvi os gritos".
Ada se aproximou, como se para confortá-la, suas expressões como uma máscara de simpatia - mas Annette
levantou a arma de novo. Mesmo na tristeza, ela não deixaria Ada se aproximar.
Mas já é perto o suficiente...
"Eu sinto tanto". Ada disse, abaixando os braços. "Então o G-virus, ele vazou, ele infectou toda a Raccoon -".
Annette balançou a cabeça. "Não. Quando os assassinos da Umbrella foram - parados, a maleta foi quebrada. O
T-virus vazou - os funcionários do laboratório atingidos pelo aerotransmissível foram contidos, só que haviam
ratos, entendeu? Ratos no esgoto...".
Ela pausou, seus lábios tremendo. "... a não ser que William, meu querido marido já tenha começado a se
reproduzir. Implantando embriões, replicando... ainda não deve ser hora para isso, mas eu - ".
Ela parou, seus olhos estreitando, a maldade fluindo novamente. Seus olhos avermelhados brilhando com
paranóia.
Preparar-se -
"Você não pode tê-lo!". Annette gritou, saliva voando de seus lábios rachados. "Ele deu sua vida para mantê-lo
longe de você, você é uma espiã e você não pode tê-lo -".
Ada agachou e pulou, jogando seus braços sob os de Annette, empurrando a arma para cima e longe das duas.
A Browning descarregou, mandando uma bala para o teto enquanto lutavam pelo controle da arma. Annette
estava fisicamente mais cansada, mas era dirigida por demônios de ódio e perda, o cume de sua insanidade
dando-a forças -
Ada soltou a arma de repente e Annette tropeçou. Ela caiu no corrimão da ponte e Ada golpeou-a com o cotovelo
na barriga, o centro do equilíbrio -
- e Annette virou, sua boca aberta de surpresa, seus braços tentando se equilibrar - e ela mergulhou sobre o
corrimão, silenciosamente, nenhum som até o thump de seu corpo atingindo o chão a uns 6 metros abaixo.
"Droga". Ada cochichou, olhando para baixo. Annette ficou lá, de barriga para baixo e parada, a arma ainda
apertada em sua mão.
Isso é ótimo. Cair numa emboscada pela segunda vez e matar a única maluca que podia te dizer onde estavam
as amostras -
Um baixo gemido flutuou do corpo de Annette Birkin - e ela se moveu, arqueando as costas, tentando rolar para
#
o lado.
Droga. Droga. Droga.
Ada virou e correu pela ponte, pegando a Beretta enquanto corria para o que parecia um painel de controle ao
lado da escada para o túnel de ventilação. Ela tinha que abaixar a ponte e pegar Annette antes que fuja -
- mas o painel era para a ventilação, e enquanto outro doloroso gemido - um pouco mais alto - ecoou pelo lugar,
Ada soube que não tinha muito tempo.
O depósito de lixo, eu posso cruzar o depósito e pegar um dos túneis -
Enquanto pensava isso, já estava correndo para a escada oeste, esperando que a cientista esteja machucada o
bastante para ficar lá um minuto ou dois. Havia uma pequena sacada no final da ponte onde dava para ver o
depósito, e a escada de mão na parede à direita. Ada desceu o mais rápido que podia, pulando no chão de
cimento na última barra.
O depósito de lixo era uma grande área quadrada, as paredes amontoadas com materiais industriais - ferro velho
amassado, canos enferrujados, painéis cobertos de fios, papelão podre... Ela desceu do patamar e pulou em
quase um metro de lodo, a fria meleca passando de suas pernas. Ela não se importava, só queria pegar a
senhora Birkin e encerrar suas horas em Raccoon -
- foi quando algo se mexeu. Abaixo do opaco e fedorento líquido, algo grande se moveu. Ada viu o que poderia
ser o dorso de um réptil, viu e ouviu uma pilha de tábuas caírem na água a uns três metros à frente no mesmo
instante.
Você deve estar brincando...
Seja lá o que for, era grande o bastante para fazer Ada esquecer Annette. Ada voltou para o patamar e pegou
impulso, sem tirar os olhos das ondas de lodo -
- que de repente subiram num violento espirro de escuridão e na direção dela. Ada ergueu a Beretta e começou a
atirar.
* * *
Havia um pequeno elevador no canto da vazia sala de reuniões, um quadrado de metal que aparentemente
descia. Claire foi até ele, fétida água pingava de suas roupas, terrivelmente perdida e ansiosa para continuar
andando e achar Sherry.
Por favor, esteja viva, querida, por favor.
Ela tinha visto o tubo de drenagem, mas não Sherry - e depois de agonizantes e longos momentos gritando na
água agitada, e tentativas de entrar no buraco, ela acabou abandonando o esforço. Sherry se foi, talvez afogada,
talvez não - a não ser que o fluxo de água revertesse, Sherry não voltará.
Claire achou os controles da pequena plataforma e apertou o botão. Um motor escondido zuniu e o elevador
desceu, levando-a para outro provável corredor vazio, talvez outra sala desconhecida - ou pior, direto para outra
criatura sobrenatural.
Ela apertava as mãos molhadas enquanto descia lentamente. Ela se sentia andando às cegas. Do túnel onde
Sherry desapareceu, ela só passou por um corredor pouco iluminado e uma sala de reuniões não decorada e de
alguma forma esterilizada.
O elevador estava descendo num corredor e ela se agachou, apontando a arma de Irons enquanto a nova
localidade aparecia.
O corredor de concreto tinha outro elevador na outra ponta, e tinha uma intersecção para a esquerda no meio
dele - e próximo à junção havia um corpo encostado na parede, o que parecia ser um policial -
Ela sentiu uma mistura de choque e sofrimento, arregalando os olhos enquanto olhava para as feições do policial,
a cor do cabelo, o físico...
... é o - Leon?
Antes do elevador tocar o chão, Claire pulou e correu para a figura. Era Leon, e não estava se mexendo - mas
respirava, e assim que ela se agachou na frente dele, seus olhos abriram. A mão dele estava em seu braço
esquerdo, os dedos molhados de sangue.
"Claire?". Seus olhos azuis pareciam claros, cansados, porém conscientes.
#
"Leon! O que aconteceu? Você está bem?".
"Eu levei um tiro, devo ter apagado por um minuto...".
Ele cuidadosamente tirou a mão, expondo um pequeno e rasgado buraco acima da axila. Parecia doloroso, não
pelo menos não sangrava muito.
Estremecido, Leon colocou o tecido de seu uniforme sobre o buraco e pressionou a mão sobre ele.
"Dói pra diabo, mas acho que vou sobreviver - Ada, onde está Ada?".
Dizendo a última frase quase frenético, Leon fez força para se desencostar da parede. Com um suave gemido ele
soltou, sem condições de se mexer.
"Fique parado, descanse por um minuto". Claire disse. "Quem é Ada?".
"Eu a conheci na delegacia. Eu não consegui te achar e descobrimos como fugir de Raccoon - pelos esgotos. A
cidade não é segura, houve algum tipo de vazamento no laboratório da Umbrella, e Ada quis partir logo depois.
Alguém atirou em nós e eu fui atingido - Ada foi atrás do atirador, descendo o corredor, ela disse que era uma
mulher...".
Ele balançou a cabeça e franziu. "Eu tenho que achá-la. Eu não sei quanto tempo fiquei apagado, não mais do
que alguns minutos, ela não deve ter ido longe -".
Ele tentou se mexer de novo e Claire o impediu, empurrando-o de volta. "Eu vou. Eu - estava com uma garotinha
que agora está perdida nos esgotos. Talvez eu ache as duas".
Leon hesitou - depois acenou, desistindo. "Como está de munição?".
"Ah, sete nesta -". Ela conferiu a arma que pegou da viatura e colocou na cintura. Parece que aquele passeio foi
há milhões de anos. "- e dezessete nesta".
Ela ergueu a arma de Irons e Leon acenou de novo, sua cabeça rolando cansadamente. "Certo, isso é bom. Eu
te seguirei em alguns minutos... tome cuidado, tá? E boa sorte".
Claire se levantou, desejando que tivessem mais tempo. Ela queria contar sobre Chris e Irons, Mr. X e o T-virus,
ela queria saber o que ele sabia sobre a Umbrella, ou se sabia onde ficava a saída do esgoto -
- mas essa Ada deve estar enfrentando um atirador nesse momento e Sherry pode estar em qualquer lugar.
- Leon fechou os olhos. Claire virou e foi para a intersecção, imaginado se algum deles sairá disso com vida.
[22]
Annette doía por toda parte. Ela se sentou vagarosamente, enjoada com as centenas de dores que gritavam por
sua atenção. Seu pescoço e estômago doíam, tinha torcido o pulso e seus joelhos pareciam inchados - mas foi a
aguda dor em seu lado direito que era pior, ela achava que tinha quebrado uma costela.
Sua horrível, horrível mulher -
Annette se inclinou, segurando seu tenso pescoço com uma mão machucada, mas só viu metal e sombra; Ada
Wong, a vagabunda da Umbrella aparentemente fugiu. Ela fingia não saber de nada, mas Annette não era burra,
Ada já devia estar a caminho do laboratório - ou vindo atrás dela, ansiosa para terminar o serviço.
Umbrella, a Umbrella fez isso...
Annette se ajoelhou, usando sua raiva para superar a dor. Ela tinha que chegar ao laboratório antes dos espiões -
mas estava tão machucada!
Não posso deixar roubarem o trabalho dele...
Ela cambaleou até a porta da imensa sala, um braço envolto em seu ardente peito - e parou, inclinando a cabeça
para ouvir.
Tiros. Ecoando pelo frio ar, vindos da área de despejo - e um segundo depois ela ouviu um tremendo assobio,
mais tiros e respingos de água -
Annette sorriu, um sorriso apertado e sem humor. Talvez ela chegue no laboratório antes.
A ponte, abaixe a ponte, não a deixe escapar...
Cansada e dolorida, Annette foi para os controles hidráulicos e acionou a ponte. Os poderosos motores da ponte
#
abafaram os barulhos da batalha, a plataforma rotacionando e descendo até travar com um pesado clank.
Annette se desencostou da parede, caindo sobre os controles perto da porta. Ela viu os controles do túnel de
ventilação e os ligou, ainda sorrindo enquanto as pás começavam a roncar lá em cima. Ada teve problemas no
depósito de lixo e Annette não vai deixá-la voltar por onde veio; com a ponte abaixada e as pás girando, a
senhorita Wong terá lutar pelo caminho.
Tomara que seja um bando de lickers, sua vadia, espero que estejam fazendo-a em pedaços...
Annette saiu dos controles e caiu, a dor e a tontura eram demais, seus ralados e inchados joelhos acertando o
chão, espetando agulhas de agonia por suas pernas -
E a porta à sua frente abriu. Annette ergueu a arma, mas não era capaz de mirar, gastando o que restava de
sua força para não gritar de sofrimento e frustração.
William, está doendo tanto, sinto muito, mas eu não posso -
Uma jovem mulher se agachou na frente dela, com um olhar de preocupação no rosto. Ela vestia shorts e um
colete pingando água do esgoto - e segurava um grande revólver, não apontando diretamente para Annette - e
não apontando para lugar nenhum também.
Outra espiã.
"Você é Ada?". A garota perguntou, tentando tocá-la - era mais do que Annette podia suportar, ser tocada pela
dó de algum espião corporativo.
"Afaste-se de mim". Annette resmungou, estapeando fracamente a mão estendida da garota. "Eu não sou o seu
'contato', e eu não o tenho em mim. Você pode me matar, mas não vai encontrá-lo".
A garota se afastou, um olhar de confusão em seu sujo rosto. "Achar o que? Quem é você?".
As perguntas de novo, e a fúria passou, deixando-a insensível. Annette estava cansada de jogos; doía demais e
já não era mais capaz de lutar. "Annette Birkin". Ela disse exausta. "Como se não soubesse...".
Ela vai me matar agora. Está acabado, tudo acabado.
Annette não podia fazer nada. Lágrimas desceram suas bochechas, lágrimas tão fúteis quanto seus planos. Ela
desapontou William, ela falhou como esposa e como mãe, e até mesmo como cientista. Pelo menos acabará
agora, finalmente haverá um fim para a angústia -
"Você é a mãe de Sherry?".
As palavras da garota a atordoaram, tirando-a de sua exaustão como um tapa na cara.
"O que?! Quem - como você soube sobre Sherry?".
"Ela está perdida nos esgotos". A moça disse, sua voz rápida e desesperada enquanto guardava a arma no cinto.
"Por favor, você tem que me ajudar a encontrá-la! Ela foi sugada para um tubo de drenagem e eu não sei onde
procurar -".
"Mas eu pedi para ela ir à delegacia". Annette lamentou, toda a dor física esquecida, seu coração pulsando
horríveis ondas de descrença. "Por que ela está aqui? É perigoso, ela será morta! E o G-virus - a Umbrella vai
achá-la, eles vão pegá-lo, por que ela está aqui?".
A garota se estendeu para ajudá-la de novo, levantando-a, e Annette não lutou, muito fraca e assustada para
isso.
A garota a olhou intensamente, parecendo culpada, com medo e esperançosa ao mesmo tempo. "A delegacia foi
tomada - para onde a drenagem vai? Por favor, Annette, você precisa me dizer!".
A verdade mostrou-se como um raio de luz em sua exaustão e medo.
A drenagem vai para o tanque de filtragem - que é perto do bonde da fábrica.
A rota mais curta para os laboratórios.
Era um truque. A garota estava usando Sherry para chegar no laboratório, para pegar informações sobre o
G-virus. Sherry ainda estava na delegacia, segura e bem, e tudo isso é uma armação -
- mas a Umbrella conhece o caminho, por que ela perguntaria algo que já sabe? Não faz sentido.
Annette ergueu a arma, seu dolorido pulso tremendo, e se afastou da garota. Sua confusão e perguntas eram
demais - por isso não podia fazer nada, não podia apertar o gatilho.
"Não se mexa. Não me diga". Ela disse, ignorando a dor enquanto abria a porta. "Eu vou atirar se tentar me
seguir".
"Annette - eu não entendo, eu só quero -".
"Cale a boca! Cale a boca e me deixe em paz. Será que vocês todos não podem me deixar em paz?!".
Ela passou pela porta, surpreendendo a garota, apertando seu braço contra a costela contundida ou quebrada
#
assim que fechou a porta..
Sherry...
Era uma mentira, tinha que ser - mas não mudaria nada. Ela ainda podia, tinha que voltar para o laboratório e
terminar o que começou.
Virando, mancando e tossindo, Annette se apoiou na fria parede do túnel conector, deixando cada doloroso e
terrível passo lembrá-la do que a Umbrella fez.
Uma fria e quieta caverna, as paredes brilhavam com gelo e eu estou perdido. Perdido e exausto, correndo e
com medo por um longo tempo, então eu paro e descanso. Tão quieto, tão frio - mas meu braço dói, eu estou
sentado contra uma parede onde nasceu espinhos, e um deles está cavando minha pele, me espetando. Dói
tanto, e eu tenho que me levantar, eu tenho que encontrar alguém, eu tenho que -
- levantar.
Leon abriu os olhos, a par de que tinha apagado novamente. A percepção o fez respirar fundo, o súbito medo
fazendo-o completamente acordado.
Ada, Claire - Jesus, quanto tempo?
Ele gentilmente tirou a mão do braço, o sangue grosso entre seus dedos. Dói, mas não tanto quanto antes - e o
sangramento havia parado, pelo menos na entrada; os farrapos de seu uniforme tinham grudado no ferimento,
formando um curativo.
Ele se inclinou, tentando tocar onde a bala tinha saído; de novo, havia tecido sobre a dor pulsante do ferimento.
Não estava certo, mas só de pensar que a bala tinha varado sua carne sem acertar o osso - ele foi
extremamente sortudo.
Mesmo se tivesse arrancado meu braço, Ada ainda estaria por aí - e eu mandei Claire atrás dela. Eu preciso ir
atrás delas.
Apertando os dentes, Leon se levantou com o braço bom, seus músculos frios e duros por causa do concreto
úmido.
Seu ombro esquerdo raspou na parede e ele ofegou quando a dor intensificou brevemente. Leon esperou passar,
respirando fundo, pensando que poderia ter sido bem pior.
Quando finalmente de pé, decidiu que agüentará; ele não estava enjoado e apesar de haver sangue na parede e
no chão, não era tanto quanto imaginava. Cuidando para não mexer no ferimento, Leon virou e desceu o
corredor até a porta fechada, andando o mais rápido que podia.
Depois da porta, deu de cara com outro túnel cheio de água que ia para os dois lados; havia uma escada de mão
à sua frente à esquerda, mas nem pensou em subir com o braço ferido - além disso, havia um ventilador
barulhento no topo da escada. Ele desceu do patamar e foi para a direita na escura água, esperando achar pistas
de Ada e Claire.
Perseguir um atirador... como pôde fazer aquilo, como pôde me deixar lá?
Depois do confronto com o monstro vomitante, ele jurou não assumir mais nada sobre Ada Wong; ela era flertiva
e insociável, e se ela aprendeu a atirar brincando de paintball, ele era um executivo de banco. Mas apesar de seu
confuso comportamento e provável duplicidade, ele gostava dela; ela era esperta e confiante, ela era bonita - e
ele assumiu que havia uma pessoa decente sob aquela contraditória fachada...
... e ela o deixou para trás e foi pegar o atirador, deixou você rolando no chão com uma bala no braço. É, ela é
ótima; peça-a em casamento.
Ele chegou onde o túnel se dividia. Havia um portão trancado à direita, então Leon seguiu à esquerda, olhando as
grossas sombras. Ele devia ter ido com Claire -
Ele parou, ouvindo algo. Tiros, distantes e abafados, vindo de algum lugar à frente, distorcidos pelo labirinto de
túneis que compunham o sistema de esgotos.
Ainda armado, Leon apertou o ferimento e começou a correr, devagar por causa da água - mas quando os tiros
pararam, ele achou um motivo para ir mais rápido.
Havia uma passagem à frente, uma fraca luz amarelada vinha de lá. Mesmo antes de chegar, viu que teria de
escolher.
Diretamente à frente estava uma alto degrau e uma pesada porta na parede do fim do túnel, água caía do teto
#
como uma cachoeira.
Uma escolha óbvia, exceto -
Leon parou na passagem iluminada, olhando. Outra porta, e ele não tinha tempo para decidir, os tiros podem ter
vindo de qualquer lugar -
Bam, Bam -
Para a esquerda. Leon subiu no patamar, sentindo mais dor, sentindo um molhado quente no pulso. Ele ignorou
isso, indo para a porta e a abrindo, ouvindo mais tiros enquanto passava pela ponte no meio da grande câmara e
ia até a próxima porta.
Ele entrou em um frio corredor só que bem maior e mais largo que os outros, provavelmente algum tipo de
corredor para transporte de equipamentos pesados. Ele virava para a esquerda e esquerda de novo, caixas e
cilindros de aço na esquina da primeira curva.
... acetileno, talvez oxigênio, bom Deus, o que leva tantos tiros e não morre?
Ele ouviu mais tiros e água espirrando - e um som diferente, um profundo e gutural assobio. Estranhamente
familiar, mas muito alto para ser possível.
Um milhão de cobras, milhares de gatos gigantes, algum terrível dinossauro -
Ele correu, finalmente desistindo de manter o ferimento fechado, precisando do braço livre para ganhar mais
velocidade. O fim do túnel estava perto, ele viu um painel de luzes piscando e uma abertura à esquerda, outra
grande porta de abastecimento -
- e ele parou bem a tempo de não entrar na linha de fogo, assim que outra rápida sucessão de tiros soou, assim
que um tenebroso impacto na água fez chover no chão como um grosso lençol.
"Pare, eu estou entrando!". Ele gritou -
- e ouviu a voz de Ada, sentindo um alívio apesar do horror que estava à frente.
"Leon!".
Ela está viva!
Ele ergueu a arma, seu ferimento sangrando agora, ele apareceu na comporta aberta, tábuas quebradas
nadando no turbulento líquido. Ela estava num pequeno patamar de concreto ao lado de uma escada de mão,
apontando a Beretta para a piscina de lixo.
"Ada, o que -".
Splash!
Uma gigante explosão saiu do lago e o jogou para o corredor. Aconteceu tão rápido que ele só viu depois que
estava voando no ar. Ele caiu sobre o braço ferido e gritou, tanto pelo choque do que tinha visto quanto pela dor.
- crocodilo -
Leon ficou de pé e correu antes mesmo de saber se conseguia levantar - e o lagarto gigante, o crocodilo de nove
metros de comprimento subiu no corredor atrás dele com um poderoso rosnado. O cimento tremeu assim que o
mamute réptil saiu das águas, galões de água escura vazando de sua mandíbula cheia de dentes.
- uma boca tão grande quanto eu, maior -
Leon correu, não havia dor, seu coração martelando de pânico - e a besta rosnou de novo, um impossível berro
que sacudiu seus ossos, que fez suor explodir de todos os poros -
- e Leon deu uma olhada para trás, viu que era mais rápido que o lagarto gigante. Ele ainda estava subindo pela
comporta, suas pernas grossas e curtas pareciam troncos de árvores, sua incrível cabeça grande demais para
manobrar facilmente.
Leon trocou de arma numa onda de terror, seu ferimento gritando enquanto colocava uma bala na Remington.
Ele andou de lado, alcançando a curva -
- e descarregou todos as cinco balas o mais rápido que podia, o pesado calibre explodindo o focinho do monstro.
Ele rosnou, balançando a cabeça de lado a lado, baldes de sangue emergindo de sua sorridente face - mas ainda
vindo, tirando sua calda da piscina lá atrás.
Insuficiente, não foi o bastante -
Leon virou e correu de novo, horrorizado em ter que se retirar, com medo do que acontecerá a Ada ao fugir do
crocodilo, mas sabendo que precisará de outros cinqüenta tiros para derrubá-lo - ou uma explosão nuclear, e por
que ele ainda estava pensando? Ele precisava fugir e depois pensar no que fazer.
Agüenta aí, Ada -
Os fortes passos do gigante encheram seus ouvidos enquanto passava pelas caixas, pela fileira de cilindros de aço
#
--
e parou de correr. Seus instintos gritavam por sanidade, mas ele tinha uma idéia - e enquanto o lagarto dava
outro passo, Leon virou e voltou.
Funciona, isso funciona nos filmes, por favor, Deus, esteja ouvindo.
Os cinco cilindros brilhantes estavam presos por uma corrente. Havia um botão para a mesma e Leon o apertou.
Uma ponta da pesada corrente foi para o chão.
Soltando a espingarda, ele agarrou o cilindro mais próximo, seus músculos tencionando, sangue pulsando de seu
braço ferido. Ele pode sentir finos traços de suor descendo pelo peito, sentando no calcanhar para libertar o
cilindro do pequeno suporte.
- pronto!
Leon se jogou para trás e o tubo de gás comprimido foi ao chão, rolando alguns centímetros. Ele olhou para cima
e viu que o crocodilo tinha percorrido mais quinze metros - perto o bastante para ver os sujos dentes enquanto
rosnava de novo, sentindo seu quente e podre hálito.
Leon colocou o pé no cilindro e empurrou com toda a força, o mesmo rolando vagarosamente na direção do
lagarto. Por uma incrível sorte, o corredor tinha uma ligeira inclinação e o cilindro ganhou velocidade, rolando em
um semicírculo.
Recuando, ele tirou o revólver do cinto e apontou para o tubo, forçando para não puxar o gatilho. O crocodilo
avançava, sua calda batendo tão forte na parede que fazia levantar poeira.
Vamos desgraçado -
A menos de dez metros, o crocodilo e o cilindro se encontraram - e Leon apertou o gatilho. O primeiro tiro acertou
o chão perto do tubo - e a boca sorridente abriu, a grande cabeça abaixando para empurrar o obstáculo.
- firme -
Leon atirou de novo, e -
KA-BOOM!
- e foi jogado ao chão quando o cilindro explodiu. Numa explosão de aço retorcido e gases, a cabeça da criatura
foi obliterada, desaparecendo como um balão estourado. Quase na mesma hora, uma onda de sangue acertou
Leon, pedaços de dente, ossos e carne enfumaçada caindo sobre ele como um cobertor molhado.
Enjoado, seus ouvidos zunindo e braço sangrando, Leon sentou enquanto a carcaça decapitada ia ao chão, as
pernas dobrando com o peso do réptil. Ele pressionou sua mão ensangüentada contra o ferimento, exausto,
enjoado, dolorido - e profundamente satisfeito.
"Te peguei, sua porcaria idiota". Ele disse, e sorriu. Quando Ada veio correndo um pouco depois, foi assim que o
encontrou - olhando deslumbrado e atordoado para seu serviço, sujo de sangue e sangrando, sorrindo como uma
criancinha.
[23]
Leon vestia uma camisa branca sobre o uniforme; Ada rasgou-a e fez uma atadura no braço dele, uma espécie
de tipóia antes de colocar a camiseta de volta. Ele perdeu sangue o bastante para estar tonto; e Ada aproveitou
a situação para se explicar enquanto o atendia, sentindo-se chocada com a complexidade de emoções dentro
dela.
"... e eu achei que ela me parecia familiar. Eu achava que a conhecia através de John e quase a alcancei - mas
ela deve ter me despistado. Eu me perdi nos túneis, tentando voltar...".
Nenhuma verdade, mas Leon nem percebeu - até o gentil modo como ela o tocava, ou o leve tremor em sua
voz enquanto pedia desculpas pela terceira vez, por deixá-lo para trás.
Ele salvou a minha vida. De novo. E eu acabo retribuindo tudo com mentiras, mentiras em troco de sua
generosidade.
Algo mudou nela quando ele foi baleado em seu lugar, e não conseguia mudar de volta. Pior, ela não sabia se
#
queria mudar de volta. Era como o nascimento de um novo sentimento, uma emoção que a enchia; era
desconfortável, mas também não era desprazeroso. O modo como destruiu o crocodilo fez esse sentimento mais
forte ainda. O buraco em seu braço foi só na carne, mas o sangue em seu corpo, ela sabia que doía muito, que
estava drenando-o,
matando-o enquanto tentava salvá-la.
Livre-se dele agora, sua mente soou, não deixe isso afetar seu trabalho - o trabalho, Ada, a missão. Sua vida.
Ela sabia que isso era a única coisa a fazer - mas quando ele ficou pronto e sua história foi contada, ela parou de
ouvir ela mesma. Ada o ajudou a se levantar e o tirou do cenário com os restos do réptil, sem parecer ter achado
uma saída quando estava perdida.
Annette se foi; assim que Leon tinha chamado a atenção do crocodilo, ela subiu a escada e checou - e viu que
Annette teve bastante senso de ligar os ventiladores e abaixar a ponte antes de fugir. Apesar de Annette estar
errada sobre os propósitos de Ada, ela terá que chegar no laboratório antes da cientista. E com Leon nessas
condições só a atrasaria.
Solte ele! Perca o peso, você não é uma enfermeira, por Deus, esta não é você, Ada -
"Estou com sede". Leon suspirou, sua respiração morna em seu pescoço. Olhando em seu rosto ensangüentado
e piscante, ela viu que a voz lá dentro seria mais fácil de ignorar. Ela terá que deixá-lo -
- mas não agora.
"Então vamos achar um pouco de água". Ela disse, e virou-o gentilmente para a direção que precisava ir.
Sherry acordou no escuro, um terrível gosto na boca, um rio de água fria puxando suas roupas. Havia um
estrondoso barulho a sua volta, como se o céu estivesse caindo, e por um segundo não podia se lembrar do que
tinha acontecido ou onde estava - e quando percebeu que não conseguia se mover, ela entrou em pânico. O som
estava enfraquecendo mais e mais até acabar - mas ela estava presa em algum rio fedorento, presa e sozinha.
Ela abriu a boca para gritar - mas lembrou do monstro que berrava, depois do gigante careca e depois de Claire.
Ela lembrou de Claire quando a impediu de gritar; de algum modo a imagem de Claire funcionava como um suave
toque, acalmando o cego terror e a permitindo pensar.
Sugada por um buraco, e agora estou - em outro lugar, e gritar não vai ajudar.
Era um pensamento forte e corajoso, fazendo-a pensar melhor. Ela se desencostou da dureza atrás e percebeu
que não estava presa; ela estava contra uma fileira de barras na parede e a força da água corrente a tinha
segurado lá - e provavelmente a salvou de ter afundado. A nojenta água ainda estava agitada, borbulhando - e o
gosto ruim em sua boca significava que havia engolido um pouco dela...
Pensar nisso abriu o resto de sua memória. Ela estava flutuando e de alguma forma foi revirada, engoliu o horrível
líquido e - apagou.
Pelo menos o barulho tinha acabado, e agora que estava mais acordada, percebeu que podia enxergar. Não
muito, mas o suficiente para ver que estava numa grande sala alagada e que havia um pequeno buraco de luz
vindo de cima.
Tem que ser uma saída. Alguém construiu esse lugar, tem que haver uma saída...
Ela nadou mais pela sala, e sentiu seus dedos do pé tocarem algo duro e plano. Sentindo-se boba por não ter
pensado nisso antes, ela respirou fundo e esticou as pernas - e ficou de pé. A água batia em seus ombros, mas
conseguia ficar de pé.
Os últimos traços de pânico se foram ao parar no meio do lugar, virando devagar, seus olhos finalmente se
adaptando à fraca iluminação - e viu a escada de mão na parede ao longe. Ainda assustada, a visão das barras
significava que tinha achado a saída. Sherry levantou o pé e foi para a escada, orgulhosa de como está se
virando.
Sem gritar nem chorar. Como Claire diz. Forte.
Ela começou a subir, agarrando as melecadas barras de metal que pareciam continuar para sempre. Ao olhar
para baixo, só viu a água movimentando onde a luz incidia. Ela também viu a origem da luz - uma estreita fenda
no teto, não muito longe de onde estava.
Quase no topo. E se eu cair não vou me machucar... não há nada para se assustar.
Sherry respirou fundo para tornar isso verdade e olhou para cima de novo.
Mais algumas barras, e quando foi tocar a próxima, sua mão bateu no teto de metal. Ela empurrou com uma
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mão e -
- e a tampa não se moveu. Não mesmo.
"Droga". A palavra soou pequena e só, mais como um apelo.
Sherry colocou um cotovelo em volta da barra que segurava, tocou seu colar da sorte, e tentou de novo,
empurrando de verdade desta vez. Ela sentiu o alçapão mexer um pouco, mas não o bastante. Ela abaixou a
mão, quieta; estava presa.
Por vários minutos ela não se moveu, não querendo voltar para a água, não querendo acreditar que estava presa
- mas seus braços estavam começando a ficar cansados e ela não queria pular. Finalmente, ela começou a
descer, mais devagar do que quando subiu. Cada degrau a menos era como admitir a derrota. Ela estava a um
terço do caminho para a água quando ouviu passos acima - uma suave vibração a princípio, mas depois se
difundiram em passos distintos, mais altos, se aproximando do poço que Sherry estava.
Sherry deu um segundo para pensar em ignorar os passos, mas acabou subindo, decidindo que valia a pena
arriscar; pode não ser Claire - mas podia ser sua única chance de escapar.
Ela começou a gritar antes mesmo de chegar ao topo. "Ei! Socorro, você pode me ouvir? Ei, Ei!".
Os passos pareceram parar, e ela alcançou o topo, ainda chamando, batendo no metal várias vezes.
"Ei, ei, ei!".
Outra pancada com sua dolorida mão - e de repente estava socando o ar, uma forte luz caindo em seu rosto.
"Sherry! Oh, meu Deus, querida, que bom que você está bem!".
Claire, era Claire, e Sherry não a conseguia ver, mas estava derretida de prazer ao som de sua voz. Fortes e
quentes mãos a levantaram, quentes e úmidos braços a abraçaram fortemente. Sherry piscou e começou a
perceber as características da vasta sala através da brilhante e branca névoa.
"Como você sabia que era eu?". Claire perguntou, ainda segurando-a.
"Eu não sabia. Eu não conseguia sair sozinha, e ouvi passos...".
Sherry olhou em volta, sentindo-se impressionada por Claire tê-la ouvido.
A sala era enorme, com passarelas de metal na diagonal - e a seção do chão onde tinha saído estava no canto
mais longe da sala.
"Estou muito feliz por ver você". Sherry disse e Claire sorriu, tão feliz e espantada quanto Sherry.
Claire se ajoelhou na frente dela, seu sorriso sumindo um pouco. "Sherry, eu vi sua mãe. Ela está bem, está viva
-".
"Onde? Onde ela está?". Sherry ficou corada, empolgada com a notícia - mas sentindo uma incerteza,
tencionando os músculos de repente, ficando difícil de respirar.
Ela olhou fundo nos olhos preocupados de Claire, e percebeu que ela iria mentir de novo - que tentava dar uma
notícia ruim do melhor jeito possível. Sherry teria deixado ela fazer isso algumas horas atrás -
- mas agora não. Fortes e corajosas nós temos que ser...
"Diga-me, Claire. Diga-me a verdade".
Claire suspirou, balançando a cabeça. "Eu não sei para onde ela foi. Ela estava - com medo de mim, Sherry. Acho
que ela me confundiu com outra pessoa, alguém ruim. Ela correu de mim - mas eu tenho quase certeza de que
ela veio por aqui, e eu estava procurando por ela quando ouvi você".
Sherry acenou devagar, forçando para aceitar a idéia de que sua mãe vinha agindo estranho - estranho o
bastante para Claire suavizar.
"E você acha que ela veio para cá?" Sherry finalmente perguntou.
"Não estou certa. Eu também achei um policial, antes de ver sua mãe. Eu o conheci quando cheguei na cidade, e
ele estava num dos túneis que passei depois que você desapareceu. Ele estava ferido, ele não podia vir comigo -
então depois que vi sua mãe, eu voltei para buscá-lo, mas ele não estava mais lá."
"Morreu?".
Claire balançou a cabeça. "Não. Foi embora - então eu voltei e esse é o único caminho que sua mãe pode ter
pego. Mas como eu disse, não estou muito certa..."
Ela hesitou, olhando para Sherry pensativa-mente. "A sua mãe já te falou sobre algo chamado G-virus?".
"G-virus? Não acho que não".
"Ela já te deu algo para segurar, algum tubo de vidro, ou algo assim?".
Sherry franziu de volta. "Não, nada. Por quê?".
Claire se levantou, tocando e apertando o ombro de Sherry. "Não é nada importante".
#
Sherry estreitou os olhos e Claire sorriu de novo. "É sério. Venha, vamos ver se descobrimos por onde sua mãe
foi. Aposto como está procurando você".
Sherry deixou Claire dar o caminho, imaginando porque de repente tinha certeza de que Claire não acreditava no
que dizia... e imaginando porque não conseguia fazer mais perguntas.
O elevador plataforma do galpão, com uma locomotiva em cima, estava onde Annette o tinha deixado. O tempo
tinha apertado, mas ainda estava na frente dos espiões, de Ada e de sua amiguinha de roupas rasgadas...
... dizendo mentiras como se o sofrimento de perder William não fosse o bastante para elas...
Ela tirou a chave de controle do bolso de seu rasgado avental de laboratório, apoiando-se nos controles, inserindo
a chave e girando-a. Seus trêmulos dedos tocaram o botão de ativação e uma trilha de luzes apareceram no
painel, bem claras apesar do brilho da lua cheia. Uma fresca brisa de outono soprou em seu corpo dolorido, um
amigável vento que cheirava como fogo e doença...
... como no Dia da Bruxas, como fogueiras queimando a carne pestilenta das brincadeiras...
Quatro barulhentas buzinas soaram no ar noturno, o pesado elevador dizendo que é hora de ir. Annette subiu os
degraus para a locomotiva, incapaz de lembrar o que estava pensando. Ela estava cansada. Quanto tempo faz
que não dorme? Ela também não lembra disso?
Bati a cabeça, não foi? Ou apenas sonolência, pode ser...
Seus machucados a tinham levado para delirantes lugares que nunca imaginou existir, ela sabia o que fazer - o
sistema de disparo, a abertura do portão do trem subterrâneo, se esconder nas sombras e esperar se curar -
mas o resto ficou tão estranho, como se tivesse tomado um remédio para pensar um pouco por vez.
Estava quase acabado. Uma mágica e positiva frase que ainda podia ver, não importava o quanto cega tinha
ficado. A caminho do galpão, ela tossiu e tossiu, e depois vomitou de dor, uma escuridão que quase permaneceu
por tanto tempo que ela pensou ter perdido a visão -
- está quase acabado.
Agarrando o pensamento como um amor perdido, ela achou a maçaneta da porta metálica e entrou. O
movimento e o som de movimento a engoliram enquanto se deitava no suave banco de metal e fechava os
olhos. Alguns momentos para descansar e estará tudo acabado...
Annette afundou na escuridão, o suave hum dos motores levando-a para um profundo e distante sono. Ela
estava descendo, seus músculos relaxados, suas dores e misérias perdendo a força - e por um bom tempo
achou silêncio até que -
- até que um terrível grito esfaqueou sua escuridão, um berro de tal fúria e dor que falou para seu coração - e ela
voltou à vida, ofegando e apavorada -
- e então percebeu o que a tinha tirado de seu sono.
Foi William. Ele tinha voltado para casa, ele a tinha seguido - e a Umbrella não terá nada porque seu marido tinha
voltado para o raio da explosão.
O grito soou de novo, desta vez ecoando por um dos vários túneis secretos do laboratório enquanto descia.
Annette fechou os olhos novamente, o novo pensamento se juntado ao seu amor perdido, ambos juntos a
fazendo feliz.
William voltou. Está quase acabado.
O terceiro seguiu naturalmente enquanto voltava para o silêncio, sabendo que terá de se levantar em breve.
Quando a plataforma parar, ela levantará e estará pronta para a jornada final.
A Umbrella sofrerá pelo que fez - e todos morrerão no final.
Ela sorriu e dormiu, sonhando com William.
#
[24]
Leon finalmente começou a se sentir ele mesmo, sentado na sala de controle onde Ada o deixou. Ela tinha
achado um kit médico em um dos gabinetes empoeirados, junto com uma garrafa de água; já fazia dez minutos
que ela tinha saído e, a aspirina já estava funcionando, a água fez maravilhas.
Ele sentou no console cheio de botões, tentando se lembrar do que tinha acontecido depois da explosão no
esgoto; a última coisa de que se lembrava era do colapso do crocodilo e de ter sido pego por uma fraqueza logo
depois. Ada fez um curativo e o levou pelos túneis -
- e um vagão, nós ficamos num vagão por um minuto ou dois -
- e finalmente esta sala, onde ela pediu que descansasse enquanto verificava algo.
Leon tinha protestado, lembrando-a de que não era seguro, mas estava confuso o bastante para não fazer nada
exceto sentar onde ela mandou. Uma vez que bebeu um galão de água, começou a melhorar. Parece que a
perda de sangue causava desidratação...
... aí ela me deu água e foi checar o que? E como ela sabia vir por esse caminho?
Ele mal conseguia andar e mesmo delirando, ele percebeu o quanto ela estava confiante e precisa ao escolher o
caminho? Ela era uma compradora de arte em Nova Iorque, como ela pode saber algo sobre o sistema de
esgoto de Raccoon City?
E onde ela está? Por que ainda não voltou?
Ada provavelmente salvou sua vida - mas ele não podia continuar acreditando no que ela dizia ser. Ele queria
saber o que ela estava fazendo, saber agora, e não só porque está guardando segredos, mas porque Claire
ainda estava nos esgotos. Se Ada conhece uma saída, Leon devia isso a Claire.
Leon se levantou devagar, se apoiando na cadeira e respirando fundo. Ainda fraco, não sentia tanta dor no braço
e nem enjôo - a aspirina talvez.
Ele sacou o revólver e andou para a porta da pequena e empoeirada sala de controle, prometendo que não
aceitaria mais respostas vagas ou sorrisinhos.
Ele abriu a porta e saiu num enorme galpão de madeira; estava vazio e escuro, mas a brisa noturna fez isso
quase agradável - e lá estava Ada, subindo numa plataforma elevada fora do galpão, desaparecendo atrás do
que parecia ser uma locomotiva amarela. Era um elevador de transporte industrial - e pelos oleosos trilhos que
terminavam dentro do galpão, deveria ser a parte de uma fábrica abandonada, que não estava completamente
abandonada.
"Ada!".
Com seu braço ferido pressionado contra o corpo, Leon correu para a grande plataforma hexagonal - ficou
enraivecido ao ouvir o crescente barulho dos motores, o barulho mecânico subindo no limpo céu noturno. Ada
estava partindo, não tinha ido verificar nada -
- só que ela não vai a parte alguma antes de dizer por quê.
Leon correu pela luz da lua, ouvindo a porta da locomotiva fechar enquanto passava por um painel de controle.
Depois que subiu os degraus e tentava recuperar o equilíbrio, o grande elevador começou a descer, painéis de
quase um metro cercaram o perímetro hexagonal da plataforma, levando Leon, Ada e a locomotiva para baixo
numa suave descida.
Leon abriu a porta enquanto tudo ficava escuro, o céu tornando-se apenas um ponto cada vez menor. A luz da
lua sendo trocada pelas brancas luminárias do poço do elevador.
Ao entrar, viu o surpreso olhar de Ada enquanto se levantava de um assento preso na parede, enquanto ela
erguia a Beretta e a abaixava de novo - o sentimento de culpa indo e vindo no tempo que levou para fechar a
porta.
Nenhum dos dois falou, encarando um ao outro. Leon quase a viu tentando inventar uma explicação - cansado
como estava, ele decidiu que não tinha paciência para isso.
"Para onde nós vamos?". Ele perguntou, tentando não mostrar a raiva em sua voz.
Ada suspirou - e sentou, seus ombros caindo "Eu acho que é uma saída". Ela olhou para ele. "Desculpe. Eu não
devia ter tentado partir sem você, mas eu estava com medo...".
Ele pôde ver tristeza de verdade em sua voz e em seus olhos, sua raiva diminuindo um pouco. "Com medo de
quê?".
#
"De que você não fosse conseguir. De que eu não fosse conseguir, tentando manter nós dois a salvo."
"Ada, do que você está falando?". Leon foi para o banco, sentando ao lado dela. Ela olhou para as mãos, falando
suavemente.
"Quanto eu estava procurando você nos esgotos, eu achei um mapa. Ele mostrava o que parecia ser algum tipo
de laboratório ou fábrica subterrânea - e se o mapa estiver certo, havia um túnel que dava fora da cidade".
Ela olhou para ele de novo. "Leon, eu não achava que você tivesse condições de fazer uma viagem como aquela,
como esta - e eu estava como medo de traze-lo comigo, de ser um túnel sem saída ou de algo nos atacar...".
Leon acenou devagar. Ela estava tentando se proteger - e a ele.
"Me desculpe". Ela repetiu. "Eu devia ter contado, eu não devia tê-lo abandonado daquele jeito. Depois de tudo o
que você fez por mim, eu - eu pelo menos te devia a verdade".
A culpa e a vergonha em seus olhos não era algo falso. Leon foi para tocar a mão dela, preparando-se para dizer
que entendia e que não a culpava -
- foi quando houve uma pancada no lado de fora. O vagão inteiro tremeu um pouco, mas suficiente para
deixá-los apreensivos.
"Deve ser um defeito na trilha...". Leon disse e Ada acenou, com uma intensidade que o fez prazerosamente
desconfortável, um calor que se espalhou por todo seu corpo -
BAM!
- e Ada voou do banco, jogada ao chão assim que uma grande e encurvada coisa varou a parede como se fosse
papel. Era uma mão, uma mão com garras bem compridas, pingando de -
"Ada!".
A mão gigante saiu e voltou, fazendo novos buracos no metal enquanto Leon se jogava ao chão, agarrando o
mole corpo de Ada, colocando-a no centro do vagão. Um terrível grito soou pela escuridão do lado de fora - foi o
mesmo grito furioso que tinha ouvido na delegacia, só que mais alto e violento - e menos humano do que antes.
Leon segurou Ada com o braço bom, sentindo um quente rastro de sangue sair do lado direito dela.
"Ada, acorde! Ada!".
E nada. Ele a abaixou gentilmente no chão e apertou o buraco de sangue em seu vestido, bem acima do quadril.
Sangue jorrava de duas profundas perfurações; não dava para saber se era grave. Ele rasgou cerca de cinco
centímetros da parte debaixo do curto vestido dela, pressionando o tecido contra o ferimento -
- e o monstro gritou de novo, e a raiva naquele grito nem se comparava com a de Leon, olhando para o falecido
rosto de Ada. Ele esticou o apertado vestido sobre a atadura improvisada, prendendo-a o melhor que podia,
depois se levantou e empunhou a Remington.
Ada tinha cuidado dele e o protegeu quando não conseguia se proteger. Leon carregou a espingarda
impiedosamente enquanto se preparava para retribuir o favor.
Quando elas chegaram no que parecia o fim da linha, foi Sherry que adivinhou por onde sua mãe devia ter ido.
Elas tinham entrado em outra cavernosa e escura câmara, mas só tinha a porta de entrada. Não parecia ter
outra saída, a não ser que Annette tivesse descido da passarela de metal e caminhado pelo vazio que as cercava.
Elas pararam na beira do chão de metal, tentando enxergar a escuridão à frente, mas sem sorte. O lugar parecia
uma doca; o chão gradeado ia da porta até a parede de trás, e terminava sem mais nem menos, dando lugar a
um interminável vazio. Ou Annette desceu e seguiu em frente ou Claire seguiu pelo caminho errado.
Então voltamos ou seguimos em frente?
Ela não queria nenhuma das opções - se bem que voltar parece melhor do que encarar uma caverna escura. E
Leon ainda deve estar lá atrás...
"Isso é algum teleférico? Sherry perguntou, e Claire se bateu mentalmente.
Plataforma, vários cabos no teto...
"É, acho que é, apesar de você ter adivinhado por mim. A minha cabeça deve estar ruim...".
O pequeno painel do outro lado da plataforma devia ser a mesa de controle. Claire foi para lá, Sherry a seguiu,
apertando seu colar dourado enquanto descrevia os barulhos do tubo de drenagem.
"... e se movia como um trem. Me assustou bastante, também. Era bem alto".
Bem abaixo do pequeno monitor estava um código de chamada. Claire digitou o código e apertou "enter" - e o
lugar se encheu com o suave hum do maquinário.
"Você é bem espertinha, sabia?". Claire disse e Sherry praticamente se iluminou, um doce sorriso em seu rosto.
#
Claire colocou um braço em volta dos ombros de Sherry e juntas foram esperar no fim da plataforma.
As luzes do teleférico apareceram alguns segundos depois, aumentando cada vez mais. Depois dessa, Claire
decidiu que seria fantasticamente mais otimista. O teleférico daria fora da cidade e estaria bem estocado com
água e comida, teria chuveiros e roupas limpas -
- não, apague isso. Uma banheira quente e um daqueles grosso roupões de veludo. E pantufas.
Legal, qualquer coisa que não inclua monstros e pessoas malucas. Ela olhou para Sherry e viu que ela ainda
esfregava o medalhão.
"O que tem aí?". Ela perguntou, tentando fazê-la sorrir de novo. "É a foto do seu namorado?".
"Dentro? Oh, não é para guardar nada". Sherry disse, e Claire gostou de ver as bochechas dela coradas. "Minha
mãe me deu, é para dar sorte - e eu não tenho um namorado. Os meninos da minha idade são totalmente
imaturos".
Claire sorriu. "Vá se acostumando, docinho. Alguns deles nunca crescem mais do que isso".
Já dava para ver o aspecto do teleférico, um único vagão com cerca de seis metros vindo suavemente.
"Para onde você acha que ele vai?". Sherry perguntou, e antes que Claire pudesse responder, a porta pela qual
entraram explodiu.
A porta veio para dentro, arrancada das dobradiças em um ruído metálico e caindo no chão -
- e Claire agarrou Sherry, colocando-a perto assim que Mr. X apareceu, contorcendo-se para cruzar a abertura,
seu olhar desalmado mirando nelas.
"Fique atrás de mim!". Claire gritou, sacando a arma de Irons, arriscando um olhar para o teleférico se
aproximando. Dez segundos, só dez segundos -
- mas X deu um passo gigante para elas, seus grandes braços se levantando, ainda a seis metros de distância,
mas só a quatro de seus largos passos -
"Entre no vagão quando ele parar!". Claire gritou e apertou o gatilho.
Quatro, cinco, seis tiros no peito dele. O sétimo acertando uma bochecha branca, mas Mr. X nem piscou, nem
sangrou - nem parou. Outro passo. O escuro buraco em seu rosto como prova de sua inumanidade. Claire
abaixou a mira, pernas, joelhos.
Bam-bam-bam!
- e ele pausou quando pelo menos um dos tiros acertou seu joelho esquerdo, seus olhos negros fixados nela,
marcando-a -
"Aqui, vamos!".
Sherry já estava puxando o colete dela, gritando, e Claire recuou, atirando de novo. Mais dois tiros acertaram sua
barriga -
- e ela já estava no vagão. Sherry achou o controle da porta e a mesma deslizou para o lado, Mr. X enquadrado
na pequena janela, sem vir mas também sem cair. Sem morrer.
"Siga-me!". Claire gritou, vendo os comandos luminosos à direita, sabendo que a porta não agüentaria um
segundo.
Ela correu com Sherry, agradecendo a Deus pelo designer ter sido amigável quando o botão "partir" desceu sob
suas trêmulas mãos -
- e o teleférico se moveu, deslizando da plataforma, para longe do indestrutível homem e para dentro do escuro.
Annette sentou-se no dormitório do nível quatro, esperando o computador ligar e debatendo se inicia ou não a
seqüência P-Epsilon. Quando o sistema de destruição for ativado, todas as portas serão destrancadas, até
mesmo as eletrônicas. E as criaturas que estiveram presas pelos últimos dias ficarão livres para vagar, e a maioria
delas estarão famintas...
... famintas e quentes, sangrando puro vírus através da carne...
Ela não queria encarar nenhuma dessas criaturas, mas assim que as primeiras linhas do código apareceram na
tela, ela decidiu iniciar a seqüência. O gás P-Epsilon era um experimento que alguns microbiologistas criaram para
satisfazer a equipe de controle de danos da Umbrella. Se funcionar, o gás incapacitará qualquer criatura infectada
pelo vírus aerotransmissível - a principio - garantindo-a uma viagem segura para o túnel de transporte, mas os
espiões estavam vindo e Annette não queria tornar as coisas fáceis para eles. Ela tinha ouvido o elevador de
#
carga sendo chamado para a superfície a caminho do laboratório de sínteses - o que era ótimo, eles estarão aqui
para o final, e ela queria que eles lutassem por suas vidas enquanto acelerava para fora do multibilionário
complexo, para longe da brilhante explosão...
... ele vai queimar e eu ficarei livre desse pesadelo. Fim de jogo, eu venço e a Umbrella perde, e de uma vez por
todas as criaturas assassinas -
Ela sentiu-se bem; ela queria ir direto para o computador mais próximo e ativar o sistema de destruição, mesmo
antes de coletar a amostra, só que ela mal enxergava à frente quando saiu do elevador; e ela tinha medo de
esquecer alguma coisa - ou pior, cair e não levantar mais. A viagem para o armário de remédios do laboratório de
síntese fixou tudo isso.
Epinefrina*, endorfina*, anfetamina*, oh, Deus.
Annette sabia que estava drogada, que não devia subestimar suas habilidades, mas por que não se sentir feliz?
Ela sorriu para o pequeno computador à frente e começou a digitar os códigos, sentindo como se seus dedos
fossem quebrar enquanto a adrenalina sintética corria por suas veia dilatadas.
--------------------------------------------------------------
* Epinefrina - Sinônimo de adrenalina.
* Endorfina - Analgésico.
* Anfetamina - medicamento vaso-condutor e estimulante.
-------------------------------------------------------------- Ela tinha voltado para o laboratório, William também, e a última
amostra viável do G-virus estava no seu bolso. Ela a tinha escondido numa caixa de fusíveis antes de ir procurar
William, e a recuperou quando voltou -
76E, 43L, 17A, tempo para destruição... 20, alerta vocal/corte de energia, 10, autorização pessoal, 0001 Birkin -
- e era isso. Annette não parava de sorrir, não queria parar enquanto tocava o "enter". Um toque e nada na
terra poderia pará-lo. Em dez minutos os alertas gravados serão tocados, e o elevador desligará; em quinze
começará a contagem - cinco minutos para alcançar uma distância segura de trem, outros cinco e -
Boom. Vinte minutos antes da explosão. Mais do que suficiente para chegar no túnel e ligar o trem; suficiente
para acelerar por baixo das ruas da cidade, pelas montanhas isoladas dos limites de Raccoon. Tempo o bastante
para chegar no fim da linha e ver a Umbrella perder.
Quando o relógio marcar zero, as cargas plásticas na central de força do laboratório serão ativadas. Mesmo se
onze das doze cargas explosivas falharem, uma única seria capaz de detonar as cargas secundárias embutidas
nas paredes. O sistema de destruição da Umbrella foi projetado para derrubar tudo. O laboratório se tornará um
inferno, explodindo sob a cidade morta, visível à quilômetros - e ela estará lá para ver, para ver que fez tudo dar
certo.
Isto é por você William...
O pensamento foi amargo... por um tempo, eles não - aproveitaram a relação marido e mulher. William era tão
brilhante, tão devotado ao trabalho que os prazeres da síntese tomaram o lugar da vida de casado. Mas ela
aprendeu a conviver com isso - e agora, com seu dedo tocando o fim de tudo, ela desejou que tivesse havido
mais entre eles nos últimos anos, mais do que sua adoração por seus incríveis presentes ou pela adoração dele
por sua assistência...
Este é o nosso último beijo, meu amor. Esta é minha contribuição pelo trabalho, meu ato final pelo que
compartilhamos.
É, estava certo, esse era o sentimento. Annette apertou a tecla, seu coração cantando, e viu o código de
travamento aparecer na tela em verde brilhante.
"Eu, com todo respeito, ofereço a minha demissão". Ela disse suavemente e começou a rir.
[25]
Leon tinha dado duas voltas em torno do vagão e não viu nada.
Quando a criatura finalmente saiu das sombras do teto do vagão, Leon ergueu a espingarda. A visão o fez
#
congelar, sua fúria rendendo-se ao medo.
Mas que droga -
A coisa ainda gritava, o brutal berro como a voz do inferno. A coisa já foi um homem - pernas e braços, pedaços
de roupas penduradas em seu grande corpo - mas tudo de humano mudou - ainda estava mudando enquanto
aumentava sua ferocidade, e Leon só conseguia olhar.
Seu corpo era inchado e ondulado com estranhos músculos. Seu braço direito era quase meio metro mais longo
que o outro, manchadas garras sobressaindo da mão. E o inquieto tumor no ombro direito parecia um olho do
tamanho de uma bola de basquete, mexendo de um lado para o outro como se procurasse algo -
- e o grito também estava mudando, mais profundo, mais áspero, o despenteado rosto caindo - derretendo até o
peito. Como cera quente, a cabeça humana escorregou para o peito esquerdo -
- e ao mesmo tempo, outro rosto estava se formando, crescendo com um terrível som de estalo, como dedos
sendo quebrados. Rachados olhos se abriram, o vermelho buraco de uma boca se formando, respirando para
gritar -
- e Leon apertou o gatilho.
Boom!
O tiro acertou o peito, um grosso e roxo sangue espirrou, cortando o grito da criatura - mas foi só isso. O novo
rosto do monstro virou para Leon, inclinando -
- e pulou na plataforma, aterrissando com as penas meio agachadas. Ele deu um passo a frente e ficou perto o
bastante para Leon sentir o estranho e químico cheiro que a pele do monstro soltava - e viu que o sangramento
no peito tinha parado, que a carne estava comendo os buracos.
A criatura levantou sua poderosa garra e Leon recuou, atirando novamente quando a mão desceu -
- shhink!
- e faíscas voaram do metal assim que o tiro acertou a criatura no estômago. O pesado calibre mal intimidou o
gigante mostro. Ele deu outro passo e Leon recuou, atirando de novo -
- e encostou nos degraus que sobem para o vagão, tropeçando e caindo sentado, o tiro indo longe sobre a
cabeça em forma de bala da criatura. Mais um passo e estará nele -
- e estarei morto -
- exceto que a criatura não deu o passo. Ao invés disso, ela virou para o parapeito da plataforma, sua bizarra
cabeça levantando, os buracos de suas narinas alargando -
- e silenciosamente, quase graciosamente, o monstro pulou para a escuridão fora da plataforma.
Por um momento, Leon não se mexeu. Não podia, estava muito ocupado tentando entender porque o monstro
não o matou. Deve ter sentido ou cheirado algo, terminou o ataque que com certeza teria ganho - e pulou fora
do transporte.
Eu não morri. Ele se foi e eu não estou morto.
Por quê? Ele não sabia, mas saber que estava vivo já bastava - e alguns segundos depois, seus confusos
sentidos o disseram que o elevador estava diminuindo a velocidade, que o poço estava ficando mais claro, a
escuridão ficando acinzentada.
Leon ficou de pé e foi ver Ada.
Sherry ouviu o monstro de longe, em algum lugar do claro e fundo buraco, e sentiu-se bem mais assustada do
que quando Mr. X - Claire o chamava assim - entrou na estação do teleférico. Claire disse que foi um problema na
máquina, mas Sherry não se convenceu. O som era tão distante e estranho que poderia ser outra coisa...
... e se não for? E se Claire estiver errada?
Elas pararam no lado de fora do galpão, em frente a um grande buraco no chão e esperaram pelos ruídos
mecânicos cessarem. A quase lua cheia estava baixa no céu, e Sherry podia dizer que já era de madrugada pelo
tom azul no horizonte; ela não se sentia cansada. Estava assustada e ansiosa, mesmo com Claire segurando sua
mão, Sherry não queria entrar no buraco escuro onde o monstro poderia estar.
Depois de um longo tempo, o maquinário parou e Claire recuou - o poço do transporte, ela disse - e voltou para o
galpão.
"Vamos ver se podemos chamá-lo de volta - Sherry?".
#
Sherry não se mexeu. Ela olhava dentro do buraco, segurando seu amuleto e desejando ser corajosa como Claire
- mas ela não era, e sabia disso, e não queria descer na escuridão.
Eu não posso, eu não posso descer lá, eu NÃO sou como a Claire, e não me importo se minha mãe está lá
embaixo -
Sherry sentiu um calor nas costas e olhou para cima, assustada, e viu que Claire tinha tirado o colete e estava
colocando-o em Sherry.
"Eu quero que você o use". Claire disse, e apesar do medo, Sherry sentiu uma súbita onda de pura alegria.
"Mas por que? Ele é seu, e você vai sentir frio...". Sherry disse.
Claire ignorou por um minuto, ajudando-a se vestir. Era grande demais para ela e estava um pouco sujo, mas foi
a coisa mais legal que já ganhou.
Para mim. Ela quer que eu o tenha.
Claire se ajoelhou, agora vestindo só uma fina camiseta preta e shorts. Olhando seriamente, Claire fechou o
colete no peito de Sherry e começou a falar.
"Eu quero que fique com ele porque eu posso dizer que você está com medo. Faz tempo que eu o tenho.
Quando eu o uso, sinto como se pudesse chutar traseiros. Como se nada fosse me deter. Meu irmão tem uma
jaqueta de couro com o mesmo desenho nas costas, e ele chuta traseiros - mas ele tirou a idéia de mim".
Claire sorriu de repente, um cansado e quente sorriso que fez Sherry esquecer do monstro, só por um minuto.
"E agora é seu, e toda vez que vesti-lo, eu quero que se lembre de que você é a melhor garota de doze anos
com quem eu já andei".
Sherry sorriu de volta, abraçando o tecido rosa escuro. "É um suborno, não é?".
Claire acenou sem hesitar. "Sim, é um suborno. Então, o que você me diz?".
Suspirando, Sherry pegou a mão dela, e juntas entraram no galpão para procurar os controles do elevador.
Ada acordou assim que Leon a colocou numa barulhenta cama metálica, sentindo uma pulsante dor de cabeça e
uma dor em seu lado. Sua primeira idéia foi a de ter sido baleada - mas ao abrir os olhos e ver a pálida e
preocupada face de Leon, ela lembrou.
Ele ia me beijar, acho - e então...
"O que aconteceu?".
Leon tirou o cabelo da testa dela, sorrindo um pouco. "Aconteceu um monstro. O mesmo que pegou Bertolucci,
acho. Ele atravessou a parede do transporte com a mão e te nocauteou. Você bateu a cabeça depois que - te
arranhou".
Vírus!
Ada fez força para levantar e ver o ferimento, mas a dor de cabeça a impedia. Ela tocou o galo bem acima da
têmpora* esquerda, e tremeu.
"Ei, fique parada". Leon disse. "O ferimento não é tão grave, mas você levou uma séria pancada...".
Ada fechou os olhos. Se ela foi infectada, não havia nada que podia fazer - e que ironia - se foi Birkin quem a feriu
e ainda estava quente, Ada acabaria coletando a amostra do G-virus de uma forma bem pessoal.
Respire fundo. Você não está mais no transporte, o que isso a diz?
"Onde nós estamos?". Ela perguntou, abrindo os olhos.
Leon balançou a cabeça. "Não tenho certeza. Como você tinha dito, é um laboratório ou fábrica subterrânea. O
elevador está lá fora. Eu a trouxe para a sala mais próxima".
Ada virou a cabeça para ver a janela, para ver a área do elevador.
Deve ser o nível quatro, onde a plataforma pára...
O laboratório de síntese principal ficava no nível cinco.
Leon olhava tão sinceramente, seu brilhante olhar azul tão sensível, que por alguns segundos fez Ada pensar em
abortar a missão. Eles poderiam descer para o túnel de fuga juntos, entrar no trem e sair da cidade. Podiam fugir
para bem, bem longe -
- e depois o que? Ligar para Trent e dizer que vai reembolsar? Claro. Depois você pode conhecer os pais de Leon,
ganhar um anel, comprar uma pequena casa branca com um cercado de madeira, ter alguns filhos... você pode
aprender crochê e esfregar os pés dele depois de um duro dia prendendo bêbados e fazendo paradas no trânsito.
Felizes para sempre.
Ada fechou os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava.
#
"Minha cabeça dói muito, Leon, e o túnel que vi no mapa - eu não sei onde é exatamente...".
"Eu vou achá-lo,". Ele disse. "eu vou achá-lo e depois voltar para cá. Não se preocupe com nada, tá bom?".
"Tome cuidado". Ela sussurrou, e sentiu os suaves lábios dele tocarem sua testa, o ouviu levantar e ir para a
porta.
"Fique aqui, eu volto logo". Ele disse, e a porta abriu e fechou. Ela estava só.
Ele ficará bem. Ele se perderá tentando achar o túnel, vai voltar, verá que fui embora e pegará o elevador de
volta à superfície... eu poderei achar a amostra, escapar e tudo acabará.
Ada contou um minuto e sentou-se devagar. Foi uma bela pancada mas ainda conseguia funcionar.
Houve um barulho lá fora, e Ada se levantou, olhando pela janela. Ela conhecia o som mesmo antes de olhar, e
sentiu seu coração afundar um pouco. O elevador estava subindo, provavelmente chamado do galpão por uma
equipe da Umbrella...
... isso quer dizer que não tinha muito tempo. E se eles o acharem -
Não, Leon ficará bem. Ele era um combatente, sabia fugir do perigo, era forte e decente - e não precisava de
alguém como ela em sua vida. Ela foi louca em considerar isso, mesmo por um momento. Era hora de arrumar
as coisas, para fazer o que veio fazer, para lembrar quem ela era - uma agente freelance*, uma mulher sem
dúvidas na hora de roubar ou matar para completar a missão, uma fria e eficiente ladra que leva o prêmio em
uma carreira sem erros. Ada Wong nunca anda com os bons, e não será um policial de olhos azuis que a fará
esquecer disso. Ada tirou as chaves e cartões do bolsar* e abriu a porta, dizendo a si mesma que estava
fazendo a coisa certa - esperando acreditar nisso.
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* Têmpora - Osso lateral superior da cabeça.
* Freelance - Autônomo(a).
* Bolsar - Bolso de vestido.
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[26]
Annette teve alguns problemas.
A ida para a sala de carga foi ruim; cruzou com um infectado, nos primeiros estágios, e o matou com um tiro na
cabeça. Ela passou sob um Re3 que não se desgrudou do teto, e parece que as outras criaturas ainda não
perceberam que estavam livres.
Mesmo assim, ela conseguiu chegar lá em menos de três minutos. Ela digitou o código com um senso de grande
conquista -
- até que a porta da sala de carga se recusou a abrir. Annette digitou o simples código de novo, com mais
cuidado - e nada. Era uma das únicas portas no complexo que não abriam automaticamente com o sistema de
destruição, mas isso não deveria ser um problema - havia uma entrada de disco debaixo dos controles, o disco
que sempre esteve lá, que por insistência da Umbrella, só os chefes da seção poderiam ter acesso -
- e claro, depois de verificar, ela viu que não estava lá. Alguém pegou.
Annette ficou parada na frente da porta trancada do saguão vazio, e sentiu o pânico alcançar a sua mente.
O lugar vai explodir e eu desperdicei quatro, quase cinco minutos agora e onde está o maldito disco?
"Calma, calma, você está bem, tudo bem...".
Um fraco eco, um suspiro de razão no brilhante saguão. Ela só tinha que descer em outro nível; ela tinha a chave
mestra, uma arma e tempo. Não muito, mas o bastante.
Respirando fundo, Annette voltou para o corredor que dava nas escadas, lembrando se de que mesmo não
conseguindo, a Umbrella ia pagar. Ela não queria morrer, não iria morrer, mas os corredores claros e sujos de
sangue, os laboratórios uma vez estéreis vão queimar de qualquer jeito, não há motivo para pânico -
- e assim que virou à direita e correu pelo corredor, seus passos altos e profundos no silêncio, uma grade de
metal caiu do teto bem na sua frente -
#
- e um Re3, um licker, apareceu e gritou por seu sangue.
Não!
Annette atirou, mas só acertou o ombro dele enquanto avançava, esticando um braço deformado para acertá-la.
Ela sentiu uma aguda dor no braço e atirou de novo, chocada e desacreditada -
- e o segundo tiro acertou-o na garganta. Ele gritou, sangue espirrando do pescoço, seu babante e falso grito
enquanto pulava nela de novo.
O terceiro atingiu seu gelatinoso e acinzentado cérebro, e ele caiu se contorcendo, a centímetros de suas trêmulas
pernas.
Ofegando ao ver o quanto perto ele parou, Annette olhou para seu braço sangrando, para os grandes rasgos em
seu avental -
- e algo cedeu. Algo em sua mente.
Sua mente correndo, seu coração batendo, o sangue e o licker, o licker de William, morto no chão à sua frente -
tudo isso dançava em um círculo que se juntou em um só pensamento. Um que explicava tudo isso.
Não é deles.
Era tão claro, como cristal. Ela não podia fugir da dor, porque a dor acabaria em qualquer lugar; ela tinha provas,
pingando de seu braço. William tinha entendido, mas se perdeu antes de explicar, antes de dizer o que ela
realmente precisava fazer. Ela tinha que confrontar seus agressores e fazê-los entender que o G-virus não
pertencia a eles.
Mas eles vão entender? Conseguirão?
Talvez sim, talvez não. Era o trabalho de William, seu legado, e agora era dela.
Deles não. Meu.
Ela tinha que achá-los e dizer a eles. E quando aceitarem a verdade, eles terão que deixá-la sozinha - e então, se
ainda houver tempo, ela seguirá seu próprio caminho.
Mas primeiro ela precisava de outro ato. Sorrindo, de olhos grandes e estrelados, Annette passou por cima do
licker e foi para a escada.
Leon pensou ter ouvido tiros.
Ele estava em um tipo de ala cirúrgica, a primeira sala no final da primeira passagem que pegou depois de deixar
Ada, e levantou os olhos da pilha de papéis amassados que tinha achado, ouvindo - mas os distantes
cracks não se repetiram, então voltou à busca. Ele folheou rapidamente as páginas, desesperado para achar algo
além de intermináveis listas de números e cartas sob o timbre da Umbrella.
Vamos, deve ter algo útil em tudo isso...
Ele queria sair, queria pegar Ada e sair. O cadáver estripado caído no canto era um bom motivo, mas era mais do
que isso - o ar na sala, o corredor lá fora, ele apostou que todas as salas daquele lugar estavam erradas.
Cheirava como morte, e pior, tinha uma atmosfera de algo mais escuro, algo amoral. Mal.
Eles faziam experiências aqui, testes e sabe lá Deus o que mais - e eles criaram a praga zumbi; eles criaram o
demônio que atacou Ada, eles assassinaram a cidade inteira. Seja lá o que queriam fazer, estavam praticando o
mal.
- Mal em larga escala; o elevador os tinha levado para um complexo secreto da Umbrella, um dos grandes. Pelos
números na parede, ele sabia que estava no quarto piso - e a passarela de metal que o levou para a sala de
operações, uma das três, se esticava sobre um buraco que cobria a câmara inteira, o fundo perdido na sombra.
Ele não sabia o quanto tinha descido, e nem se importava, ele só queria achar um simples mapa que indicasse a
saída.
E não está aqui...
Frustrado, Leon deixou os papéis de lado - e viu que havia um disquete de computador na mesa de metal,
escondido pelos papéis. Franzindo, Leon o pegou - "Para verificação da sala de carga" estava impresso numa
etiqueta.
Suspirando, ele o colocou no bolso e esfregou os olhos com a mão direita, seu braço esquerdo praticamente inútil
depois de carregar Ada. Ele não queria procurar um computador e ver o que tinha no disco, não queria procurar a
saída de porta em porta, ver com quais atrocidades a Umbrella tinha brincado. Ele estava cansado, com dor e
preocupado com Ada... e decidiu, enquanto ia para a porta, que deveria falar com ela. Tentar refrescar sua
#
mente, dizer que acharia a saída, mas o lugar é grande demais; se ela soubesse a direção, ou se lembrasse em
que andar era...
Leon abriu a porta, saiu para o corredor e -
- uma mulher armada estava na sua frente, uma 9mm apontada para seu peito. Ela estava sangrando, finos
riscos de sangue descendo pelo braço, manchando seu sujo avental de laboratório - e o olhar dela, estranho e
esbugalhado, o dizia que se mexer seria uma má idéia.
Oh, Deus, o que é isso?
"Você matou meu marido". Ela disse. "Você, sua amiga e a garota - todos vocês, vocês queriam dançar no
túmulo dele, mas eu tenho novidades para você!".
Ela tinha certeza, ele percebeu em sua alta e trêmula voz. Ele manteve as mãos abaixadas, sua voz calma e
baixa.
"Senhora, eu sou um policial e estou aqui para ajudar, está bem? Eu não quero machucá-la, eu só - "
A- mulher colocou a mão ensangüentada no bolso e tirou algo, um tubo de vidro cheio de um líquido roxo. Ela
sorriu bastante, erguendo-o acima da cabeça, ainda mirando a arma em Leon.
"Aqui está! É o que você quer, não é? Me ouça, você me ouve? Não é de vocês! Você entende o que estou
dizendo? William o fez, eu o ajudei, e não pertence a você!".
Leon acenou devagar. "Não pertence a mim, você está certa. É absolutamente seu - ".
A mulher nem ouvia. "Você acha que pode pegá-lo, mas eu vou impedi-lo, eu não vou deixá-lo pegar - tem muito
tempo, tempo para matar você, Ada e quem mais tentar pegá-lo!".
Ada -
"O que você sabe sobre Ada?". Leon perguntou, dando meio passo na direção da maluca, não muito calmo.
"Você a machucou? Me diga!".
A mulher riu, uma risada insana e sem graça. "A Umbrella a mandou, seu idiota! Ada Wong, a senhorita ame-os e
deixe-os! Ela seduziu John para pegar o G-virus, só que não é dela, também! Não é, NÃO É DE VOCES, É MEU -".
Um forte tremor abalou o chão, lançando Leon ao mesmo, uma vibração que chacoalhou as paredes -
- e crash, canos e reboque caíram do teto, uma pesada viga levando a mulher ao chão. Leon cobriu a cabeça
enquanto pedaços de cimento caíam sobre ele -
- e acabou. Leon sentou, olhando chocado para a mulher, sem saber o que tinha acontecido. Ela não se movia. A
viga de metal que a derrubou ainda estava pendurada no teto -
- e uma fria e calma voz soou de repente, de alto falantes escondidos nas paredes - feminina, calma e pontuada
pelo ritmo de um alarme.
"A seqüência de autodestruição foi ativada. Esta seqüência não pode ser abortada. Todas as pessoas devem
evacuar imediatamente. A seqüência de autodestruição foi ativada. Este programa não pode ser abortado. Todas
as pessoas devem evacuar imediatamente -".
Leon ficou de pé, correu para a mulher e pegou o cilindro de vidro da mão estendida, colocando-o na bolsa. Ele
não sabia quem ela era, mas era louca o bastante para segurar um tubo de ensaio.
Ada - ele tinha que achá-la para fugirem. Os pulsantes e penetrantes alarmes ecoavam pelos corredores,
perseguindo-o até a porta para as passarelas, junto com a indiferente voz feminina repetindo a mensagem de
destruição iminente.
A gravação não dizia quanto tempo tinham, mas sabia que não queria estar lá quando o relógio zerar.
[27]
A descida do elevador terminou num arranho de freios hidráulicos - e depois silêncio, assim que os motores
desligaram, prendendo-as no interminável poço.
"Claire? O que -".
Claire segurou a boca de Sherry com o dedo - e ouviu o que parecia um alarme lá fora, uma repetida e abafada
batida. Parecia haver uma voz também, mas Claire não conseguia entender o murmúrio.
"Vamos, meu bem, acho que o passeio acabou. Vamos ver onde paramos, tá bom? E fique perto".
#
Elas saíram do vagão para a plataforma, os distantes sons não mais tão distantes - e havia luz, vinda de algum
lugar atrás do vagão. Claire pegou a mão de Sherry enquanto andavam rapidamente, sem querer preocupar a
garota, mas certa de que era um alarme. Havia alguém falando, também, e Claire queria saber o que dizia.
O elevador tinha parado a alguns centímetros abaixo de algum tipo de túnel de serviço, a luz que viu, vinha de
uma lâmpada enjaulada e pendurada no teto do túnel. Não havia porta, mas tinha um pequeno buraco no fim da
passagem; dava para elas passarem agachadas.
É isso ou escalar até a superfície, provavelmente um quilômetro acima...
Sem chance. Claire ajudou Sherry a subir na passagem e depois foi sua vez, indo para a boca do buraco e
agachando para o escuro. O alarme ficou mais alto ao se aproximarem, o murmúrio se transformando numa voz
feminina. Ela forçou para entender, esperando ouvir "problema no elevador" ou "temporário" -
Mas ainda não entendia. Elas tinham que deixar o elevador e esperar saírem num lugar melhor.
Claire virou, suspirando. "É hora de engatinhar. Eu vou primeiro, e depois -".
SLAM!
Sherry gritou enquanto algo caiu no teto do vagão atrás dela, uma forte pancada no metal que o partiu. Claire a
agarrou, aproximando-a, sua respi-ração presa na garganta -
- e uma mão, duas mãos apareceram no buraco do teto. Dois grossos braços cobertos em sombra -
- e a brilhante cabeça de Mr. X ergueu-se do vagão, como uma lua morta numa noite sem estrelas.
Claire virou e empurrou Sherry para a escuridão do túnel, seu coração martelando, seu corpo subitamente
molhado de suor.
"Vai, vai, estou bem atrás de você!".
Sherry sumiu no escuro e Claire não olhou para trás, o incansável perseguidor certamente já saindo do vagão
para continuar sua determinada caçada.
Ada ouviu os gritos de Annette de onde as três passarelas se juntavam. Ela se forçou a não correr para socorrer
Leon, prometendo que se ouvir tiros, mudaria de idéia -
- mas então o lugar balançou violentamente, e a suave voz da gravação começou a falar.
Droga!
Ada se levantou furiosa com a cientista, uma parte sua doendo por Leon, sabendo o que isso significava. Annette
tinha acionado a destruição, isso quer dizer que tinham menos de dez minutos para saírem de lá -
- e Leon não conhece o caminho.
Não, não é importante. Se ela for pegar a amostra que Annette certamente tem, precisaria ser agora. Leon não
era seu problema, nunca foi, e não desistiria agora, não depois do que passou para pegar o precioso vírus de
Trent.
Ada deu um passo para fora do painel central que conectava as três passarelas - e ouviu passos vindo para ela,
fortes demais para serem de Annette. Ada deslizou para a sombra, para trás da passarela oeste, se escondendo.
Um segundo depois. Leon passa correndo, provavelmente voltando para onde ela deveria estar esperando por
ele. Ada respirou fundo enquanto tirava-o de sua mente, e correu pela passarela sul para achar Annette.
Ada se foi.
"...foi ativado. Esta seqüência de auto destruição -".
"Cala a boca, cala a boca -". Leon falou, parado no meio da sala, seu estômago apertado, suas mãos fechadas.
Quando ela ouviu o alarme deve ter entrado em pânico e fugido. Ela devia estar andando por aí, perdida e
atordoada, talvez procurando por ele enquanto a infernal voz se repetia junto com o alarme.
O elevador!
Leon foi para a porta - e viu que não estava lá, um largo e pouco fundo buraco lá fora. Ele nem tinha percebido
por estar preocupado com Ada -
- nós temos que achar aquele túnel! Sem o elevador estamos presos!
Frustrado em silêncio, Leon virou e voltou para as passarelas, rezando para achá-la a tempo.
O pequeno túnel terminava abruptamente, sobre uma queda de pelo menos dois metros em um corredor vazio.
De ouvidos zunindo, de boca seca, Sherry agarrou as bordas do buraco, fechou os olhos e saltou. Ela pousou
agachada e depois caiu, sua perna direita dobrando. Doeu, mas ela mal sentiu, levantando com as mãos e
#
joelhos para sair do caminho, olhando para o buraco -
- e lá estava Claire, sua cabeça saindo, seus preocupados olhos vendo que estava bem, que o corredor era
seguro... exceto por haver sirenes tocando, uma mulher falando em alto falantes, e Mr. X estar vindo.
Claire esticou o braço com a arma. "Sherry, preciso que segure isso, eu não consigo virar".
Sherry agarrou o cano, impressionada com o peso da arma. "Não aponte isso para nada". Claire disse e
praticamente mergulhou do buraco, curvando o corpo e aterrissando sobre o ombro, suas pernas batendo na
parede.
Antes de Sherry perguntar se estava bem, Claire já estava de pé, pegando a arma e apontando-a para a porta
no final do corredor.
"Corre!". Ela disse, e começou a correr, uma mão empurrando as costas de Sherry enquanto iam para a porta,
enquanto a voz as diziam que o sistema de destruição tinha sido ativado -
- e atrás delas, um som de metal retorcendo atravessou as sirenes, e Sherry correu mais rápido, aterrorizada.
[28]
Annette Birkin se arrastou para fora do pesado e frio metal, ainda segurando a arma, o G-virus se foi. Assim que
abriu a boca para gritar de fúria, sangue correu pelos seus lábios.
- meu meu meu -
De algum modo ficou de pé.
Ada disse a si mesma que não merecia a boa opinião de Leon. Nunca mereceu.
Perdoe-me...
Leon voltava da área do elevador, correndo cego com medo por ela. Assim que passou pelo centro e foi para a
passarela oeste, Ada saiu das sombras e apontou a Beretta para as costas dele.
"Leon!".
Ele virou, e Ada sentiu sua garganta travar com o alívio no rosto dele - forçando para não sentir nada, o sorriso
dele sumindo.
Oh, Jesus, me perdoe!
"Estive esperando você". Ela disse, não se orgulhando do quanto calma estava. Do quanto fria.
Os alarmes soavam, a voz mecânica tão gelada quanto a dela, dizendo que o sistema não pode ser abortado.
"O G-virus". Ela disse. "Dê ele para mim".
Leon não se mexeu. "Ela estava dizendo a verdade" Ele falou, sem raiva mas com mais dor do que Ada queria
ouvir. "Você trabalha para a Umbrella".
Ada balançou a cabeça. "Não. Para quem eu trabalho não interessa. Eu - eu".
Pela primeira vez desde criança, Ada sentiu traços de lágrimas - e de repente o odiou por isso, por tê-la feito se
odiar.
"Eu tentei!". Ela lamentou, sua postura quebrada pela corrente de raiva que corria por ela. "Eu tentei te deixar, lá
no galpão! E você teve que tirar de Annette, você não o deixou par trás!".
Ela viu pena no rosto dele e sentiu a fúria passar, levada por uma onda de dor - pelo que perdeu com ele; pela
parte de si que perdeu a um longo, longo tempo.
Ela queria contar sobre Trent. Sobre as missões na Europa e Japão, sobre como se tornou o que era, sobre cada
evento de sua miserável vida que a trouxe para cá - apontando uma arma para o homem que a salvou.
O relógio estava correndo.
"Passe ele para cá". Ela disse. "Não me faça matá-lo".
Leon olhou nos olhos dela e simplesmente disse. "Não".
#
Um segundo passou, e outro.
Ada abaixou a Beretta.
Leon se livrou da bala que o mataria - e Ada abaixou a arma lentamente, seus ombros caindo, uma lágrima
descendo pela bochecha de porcelana.
Leon soltou sua respiração presa, sentindo muitas coisas, tristeza, traição - uma dó pela torturante força no
escuro olhar dela -
- foi quando um tiro badalou para fora das sombras atrás dela. Os olhos de Ada arregalaram, sua boca abriu
enquanto começava a cair, a arma acertou o chão, seu corpo bateu no parapeito e mergulhou.
"Ada, não!".
Ele correu e pulou, e de alguma forma ela conseguiu agarrar a barra de metal do parapeito - enquanto ele pegava
seu pulso, o corpo dela pendurado sobre a escuridão sem fundo, sangue em seu ombro.
"Ada, agüente firme!".
"Meu". Annette suspirou.
Ela ergueu a arma de novo para atirar no outro, para recuperar o que era seu, para fazê-los pagar -
- mas a arma estava pesada demais, estava caindo e ela junto. Juntas, elas caíram no metal escuro, o escuro, o
escuro em sua mente que finalmente levou a dor embora.
William -
Foi seu último pensamento antes de dormir.
O que ele quer, por que nós?
Lá, um mezanino do outro lado, a uns três metros do outro andar lá embaixo, caixotes de madeira bem abaixo
da passarela.
"Por aqui!". Claire gritou, e elas correram. O calor emanava das máquinas quando chegaram no piso inferior da
câmara de dois andares, enquanto Claire levantava Sherry e seguia logo atrás.
Crash!
Ela virou, viu que a grande criatura estava atravessando a porta, andando e procurando -
No final da mezanino, uma porta dupla de metal. Elas correram, Claire não pensando em nada exceto como
destruir uma coisa que sobreviveu tudo isso -
- a porta estava destrancada, e elas saíram em outro mezanino; o calor lá era terrível -
- e não tinha saída.
Claire viu, depois de dar alguns passos lá dentro, que estavam no parapeito de uma casa de fundição, o
borbulhante calor estourando em bolhas na piscina lá embaixo.
Ela tinha doze balas, divididas em duas armas. Claire foi para a ponta da plataforma, Sherry ao lado, o laranja
elétrico do metal derretido banhando-as com sua fervura. Quente o bastante para queimar qualquer coisa...
Como? Como eu faço ele pular?
"Sherry, vá até lá!".
Ela apontou para o canto mais longe da plataforma, e Sherry balançou a cabeça, seu rosto tremendo de medo.
"Vá! Agora!". Claire gritou, e com um choro de terror, Sherry correu, seu medalhão batendo no colete -
- não é um medalhão -
- e Sherry gritou, Claire virou, Mr. X estava vindo.
Ele entrou na câmara, tão duro, grande e impossível quanto a primeira vez que o viu, a luz alaranjada tornando-o
ainda mais um pesadelo.
Claire se aproximou, guardando a arma de Irons no short, o plano meio formado correndo em sua aterrorizada
mente. Provavelmente não funcionará, mas ela tinha que tentar -
- ele me alcança, eu pulo no beiral, me seguro, ele cai -
Mr. X virou seu vazio olhar para ela e deu um de seus estrondosos e calculados passos, os escuros buracos de
bala em seu rosto e pescoço suavizados pela luz alaranjada -
- e ele virou para Sherry, ergueu os punhos e começou a andar.
"Ei! Ei, eu estou aqui!".
Claire começou a gritar, mas ele não a ouviu, não a viu, o monstruoso ser concentrado na pobre garotinha
#
encurralada na parede, esfregando o medalhão -
- e Claire sabia o que ele queria. As frases de Annette e Sherry vieram juntas, formando a resposta.
G-virus, fazê-la em pedaços, amuleto da sorte -
Não é um medalhão.
"Sherry, ele quer o colar! Jogue- o para mim!".
Se ela estiver errada, ambas estarão mortas. Mr. X chegou mais perto da garota, bloqueando-a da visão de
Claire -
- e o colar, o colar do G-virus que Annette tinha dado para a filha voou pelo ar quente, caindo no chão perto de
Claire.
Mr. X girou, seguindo o caminho do colar com seus olhos negros, esquecendo Sherry. Era verdade.
Boa garota!
Claire o pegou, balançando-o para o monstro. "Você quer isso?". Claire disse, as palavras saindo com fúria pelas
balas gastas com ele, pelos medos que ela e Sherry tiveram. "Quer? Então venha pegar seu miserável!".
O monstro estava a uns dois metros de distância quando Claire virou e jogou o medalhão na piscina fervente,
desaparecendo no metal derretido -
- e a super criatura que as tinha aterrorizado por aquela interminável noite foi direto para o parapeito, as barras de
metal cedendo com seu peso -
- e mergulhou silenciosamente no gigante tonel, uma grande onda de lava respingou, espontâneas erupções de
fogo dançando na escura
forma do corpo que desaparecia sob o fogo derretido.
Triunfo, alívio, maravilhoso - e a fria voz da gravação mudou de repente, tirando a alegria de ver Mr. X tomar um
banho de lava.
Sob o grito das sirenes -
"Restam cinco minutos para alcançar distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se à plataforma de embarque. Repito, dirijam-se à plataforma de embarque.
Repito...".
Sherry estava do lado, Claire pegou sua mão e elas correram.
A dor era incrível e Ada fechou os olhos, pensando se morreria por isso.
"Ada, agüente firme! Agüenta, eu vou te levantar!".
Através das sirenes, Ada ouviu que a contagem para a detonação tinha começado. Cinco minutos.
Ele tenta me salvar, nós morremos.
A pegada de Leon era forte, sua determinação quase tão forte quanto o orgulho dela. Quase.
Ada virou o rosto para ele, viu que apesar de tudo, ele ainda queria salvá-la.
Não desta vez. Não para mim...
A vida dela tem sido sobre egoísmo, ego e ganância. Ela viu muita gente boa morrer, e durante o caminho,
perdeu a habilidade de se importar - dizendo a si mesma que o esforço era uma perda de tempo e um sinal de
fraqueza.
Eu estava errada. Eu fui egoísta e errada, mas agora é tarde demais.
"Leon - desça, oeste, ache a sala de carga, depois das escadas - cadeiras de espera. Você vai precisar do disco,
está no meu - bolso -
"Ada, eu já tenho! Disco de carga, certo, eu já tenho, eu achei - não fale, agüente aí, deixe-me ajudar!". Ele
inclinou-se no parapeito, tentando manter o agarre.
Falar era um terrível esforço, mas ela tinha que terminar antes do tempo acabar.
"O código é 345. Pegue o elevador, Leon. Desça. O túnel - do trem dá para fora. Tem que - correr a toda
velocidade... e cuidado com Birkin, o infectado com G-virus, ele - ele já está mudando a essa hora. Entendeu?".
Leon acenou, seu olhar azul a penetrando.
"Sobreviva". Ela disse, e era uma boa palavra, uma palavra para se cumprir. Ela estava cansada, e a missão
estava preparada, e Leon viverá.
Ela soltou-se da barra metálica do parapeito, e Leon gritou seu nome, o som a seguindo para o escuro como um
amargo adeus.
#
[29]
Sherry estava assustada, mas Mr. X estava morto. Devia ser o monstro que a procurava na delegacia, que
queria parti-la ao meio -
- mas não havia tempo para pensar enquanto corriam pela sala dos maquinários, pelo corredor com o buraco no
teto, fazendo a curva -
- e Sherry gritou quando um zumbi avançou sobre elas, uma criatura feita de ossos, e Claire atirou.
- bang, e a cabeça branca e seca desmoronou, o corpo capotando no chão, e Claire já estava puxando Sherry
para a porta no final do corredor.
Era um elevador, Sherry se jogou numa das paredes depois que Claire a empurrou para dentro, tentando
recuperar o fôlego enquanto Claire apertava os botões. Depois de correrem de Mr. X, a descida de elevador foi
suave.
"Nós vamos conseguir". Claire disse. "Só mais um pouco".
Sherry acenou, seu coração pulando mais forte enquanto a voz dizia que restavam quatro minutos para se
safarem.
Leon sentiu como se não soubesse levantar e andar. A visão do bonito rosto dela um segundo antes de se
soltar...
ela se foi. Ela está morta.
Ele pegou a Beretta do chão, ainda estava quente com o toque dela - e estava leve demais, leve porque não
estava carregada. Nem o clip estava lá, ela nunca quis machucá-lo; ela estava mentindo, ela mentiu o tempo
todo.
"... quatro minutos para alcançar a mínima distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se para a plataforma de embarque...".
Ele tinha quatro minutos para ficar longe o bastante e cumprir o último pedido de Ada.
Ele se levantou e virou para a porta - e parou, tirando o pequeno tubo cheio do líquido roxo da bolsa. Ele sabia
que não tinha tempo, mas só levou um segundo para levar o braço para trás e arremessar a amostra o mais
forte que podia, querendo-a o mais longe possível.
Se o laboratório é o responsável por tantas mortes, que o G-virus queime com ele.
"Isso!".
A porta do elevador abriu - e havia um trem, um trem subterrâneo brilhando, o escuro túnel à esquerda. O trem
estava escuro e silencioso, não a máquina ligada e trêmula que Claire esperava ver, mas ainda era o veículo de
fuga mais bonito que já tinha visto.
Com Sherry grudada em seu braço, elas foram para a composição de três vagões, os alarmes ainda soando,
ecoando pela enorme estação. A voz já informava que elas tinham três minutos para alcançar uma distância
segura.
Entrando no trem, Claire percebeu e nem se importou com a ausência de assentos. A cabine de controle estava à
esquerda.
"Vamos colocar essa coisa na estrada". Claire disse, e o brilhante olhar de esperança no sujo e cansado rosto de
Sherry, fez o coração de Claire partir, só um pouco.
Oh, meu bem...
Claire subiu os degraus para a cabine, prometendo a si mesma que carregaria Sherry pelo túnel caso o trem não
funcionasse. Qualquer coisa para não quebrar aquele frágil olhar de esperança.
#
O código e o disco de verificação abriram a porta como Ada disse, a larga porta abrindo-se em um curto corredor.
Com três minutos sobrando, Leon correu pelo corredor cheio de símbolos de risco biológico, e achou a sala de
carga.
Ele não tinha tempo de parar e olhar, seu foco era pegar o elevador antes que não fosse possível escapar com
vida. Leon correu para o fundo da avermelhada sala, achando os controles da larga porta do elevador e
apertando para descer, pronto para entrar -
- e nada aconteceu, exceto por uma fileira de pequenas luzes - umas vinte talvez - que começaram a se apagar
em cima da porta. Bem devagar.
Leon apertou o botão novamente, parecia levar minutos entre os andares.
"Jesus!". Ele virou, querendo gritar se for ter esperar muito -
- e pela primeira vez deu uma olhada no lugar. As duas largas estantes que corriam o comprimento da sala
continham um tipo de "carga" bem específica - e apesar dos seis tubos de vidro em cada estante não conterem
nada além de um claro fluído vermelho, Leon sentiu calafrios só de olhar. Cada cilindro podia comportar um
homem adulto, e o fez imaginar para que foram construídos.
Não importa, eles vão explodir em alguns minutos.
Ele virou para o elevador, quase feliz por estar bravo e frustrado, por sentir algo além de perda -
- e o teto sobre a porta do elevador começou a tremer e rachar... Leon recuou, apontando sua arma para o
sólido painel de metal enquanto vinha ao chão -
- e o monstro do elevador-locomotiva aterrissou na sua frente, a mesma criatura demoníaca que machucou Ada,
que devia tê-lo matado -
Birkin - ?
- e pelo jeito que inclinou a cabeça e gritou, Leon podia dizer que veio para terminar o serviço.
O trem estava pronto, estava ligado e pronto para partir - mas parecia que o portão do túnel estava com defeito;
um painel cheio de luzes verdes e uma única vermelha, insistindo que o portão fosse aberto manualmente.
Dois minutos para alcançar distância segura.
Não vai dar, nunca conseguiremos -
"Fique aqui". Claire disse e saiu para verificar, rezando para que não fosse nada.
Leon virou e correu enquanto o monstro começava a ir em sua direção, cada poderosa passada estremecendo a
câmara, os ecos de seu terrível grito ainda nítidos.
Pense!
A espingarda não foi suficiente, ele tinha que atirar em algum lugar vulnerável, os olhos, use a Magnum.
Leon voltou para a porta de entrada. Ele girou e atirou, mirando no rosto da criatura -
- mas o rosto estava mudando de novo, a boca caindo enquanto gritava. Grandes e tortos espinhos de dente
escorreram do que sobrou da boca, do alto de seu pulsante peito - e quando outro grito explodiu de sua
garganta, Leon viu dois novos braços brotarem dos lados. Os membros formaram posições, cotovelos travando,
grossos dedos com garras crescendo.
Bam-bam-bam!
Os tiros se agruparam, explodindo na fina pele sobre o olho esquerdo. O monstro rosnou, desta vez de dor, e
Leon viu lascas de ossos e líquido arroxeado se espalharem.
Ele sacudiu a cabeça para todos os lados, expelindo mais líquido, se agachando como um sapo mutante -
- e saltou no ar, para cima e para a direita, parando numa das fileiras, grunhindo como um animal.
Droga, como ele fez aquilo -
Leon não conseguiu ver os olhos, nada além de suas costas enquanto descia - mas estava mudando de novo,
pôde ouvir sons quebrantes e ver os pedaços da espinha erguerem através da carne de suas costas.
Ele não queria ver no que iria se transformar, mas o elevador ainda não tinha chegado e só faltavam dois
minutos.
Leon recarregou e atirou no que podia ver - uma forma com seis pernas, uma forma que não era mais humana.
O tiro acertou um de seus ombros, fazendo a criatura pular. A besta voltou ao chão como uma aranha, caindo a
alguns centímetros na frente de Leon. O peito tinha se transformado numa parede de estranhos dentes, espinhos
que abriam e fechava enquanto respirava - e quando gritou de novo, foi como um demônio, como o grito de
#
milhares de almas morrendo.
Leon acertou dois tiros no buraco de dentes e se afastou. Sob as constantes sirenes ele ouviu o claro e animado
pin da chegada do elevador.
Claire correu para a frente do trem, olhando para a série de alavancas e botões na parede do túnel, franzindo e
abaixando a alavanca vermelha e branca. Ela ouviu o som metálico em algum lugar na frente do trem e correu
para a porta -
- quando ouviu metal de novo - o som de metal sendo partido e martelado, vindo de algum lugar atrás do trem.
Não, de jeito nenhum.
Ela olhou para o final do trem, além das barras do portão fechado - e ouviu um som como ossos no cimento, um
som que se repetia.
Passos.
Claire correu para a porta, sabendo que não podia ser Mr. X, não mesmo - ele foi derretido, se foi, e elas não
tinham mais o G-virus -
- e ela viu o movimento por detrás das grades. Algo alto, filetes de fumaça enrolando na escuridão atrás das
grades - e o forte cheiro de queimado. Ele saiu da sombra, na direção da parte de trás do trem, erguendo os
punhos -
BAM!
- e o vagão tremeu enquanto Claire percebia que era Mr. X, ou o que tinha sobrado dele - e que certamente era
um demônio vindo direto do inferno.
Ela tinha combinado onze balas no elevador; não vai ser suficiente mas era tudo o que tinha.
Claire apontou a arma de Irons, imaginando se esse será o fim.
Leon correu em volta da prateleira à sua direita, voltando para o elevador, e houveram galopantes passos bem
atrás, ele não podia parar.
Outra curva e de volta para o meio da sala -
- e ele foi atingido nas costas, uma borrachenta e quente carne que o levou ao chão.
Leon rolou quando a coisa ficou em cima dele, seus dentes intencionados a furar seu crânio. O grande olho ainda
estava lá, no ombro, olhando para ele -
- e Leon descarregou a arma no queixo da criatura, gritando, esvaziando os pesados cartuchos na cabeça do
monstro.
A besta gritou, cambaleando, caindo para o lado. Leon se levantou como um raio e correu para o elevador
aberto. O enorme animal ainda estava gritando enquanto Leon entrava no elevador e virava, apertando o
controle para descer -
- e viu a besta se mexer, mudando, gritando enquanto também virava para o elevador. Ele ganhava velocidade a
cada passo, a porta se fechando lentamente, a criatura quase voando agora -
- e Leon tinha a espingarda em suas mãos, engatilhando uma bala e atirando. O tiro acertando o peito e parando
a criatura.
- e a porta fechou, Leon estava descendo, e só restava um minuto.
[30]
BAM!
Sherry sentiu o trem balançar violentamente.
Claire!
Ela correu para a porta, lembrando que Claire disse para não sair e não se importar; ela não sabia o que era ou o
que podia fazer para ajudar, mas não poda ficar parada -
#
BAM!
- e o carro balançou de novo, o chão tremendo sob seus pés. Sherry alcançou a porta e apertou o botão de
abrir.
A porta abriu - e lá estava Claire apontando a arma para algo que Sherry não conseguia ver, algo atrás do trem.
O olhar de Claire passou por Sherry.
"Não saia! Feche a porta!". Claire gritou com medo e pânico.
Sherry tocou o botão e hesitou, com medo por Claire, querendo ver o que era -
- olhe rápido -
- e ela colocou a cabeça para fora, por um segundo, procurando a fonte do medo de Claire. Um cheiro de química
e carne queimada encheu a plataforma, vindo de -
Sherry gritou quando o viu, quando viu o esfarrapado e carbonizado monstro que sacudia o trem logo depois do
portão. Ela viu seu gigante punho acertar o metal do vagão, mas era a cara dele que atraia o olhar de Sherry.
Mr. X.
A pele estava queimada, toda ela. Fumaça emanava de sua cabeça, mas os olhos ainda estavam vivos -
vermelho e pretos e quentes com a fumaça, mas ainda bem vivos.
"Sherry! Feche agora!". Claire gritou sem tirar os olhos do monstro.
Sherry apertou o controle, a porta fechando enquanto Claire começava a atirar.
O elevador descia mesmo, mas não como Leon imaginava, a larga plataforma descia lentamente em ângulo,
luzes alaranjadas nas escuras paredes.
"... agora quarenta segundos para alcançar a mínima distância segura...".
"Vai vai vai - ". Leon suspirou. A voz tinha parado de mencionar a plataforma de embarque, só fazendo anúncios
de dez em dez segundos.
Chegar até aqui e morrer por causa de um elevador lento...
ele não podia aceitar isso. Ele passou por muitas coisas, o acidente com Claire, os monstros, Ada, Birkin - ele tinha
que conseguir, ou será tudo por nada.
Não parecia haver chão debaixo do elevador, ou ele já teria descido a pé.
"... vinte segundos para alcançar...".
Leon começou a tremer, tensão correndo por seus músculos, ficando difícil ele respirar. O que é distância segura?
Quanto tempo até a explosão depois que aquela voz dizer zero?
O trem terá que ser rápido. E ele tinha dez segundos para alcançá-lo, e o elevador continuava descendo sem
pressa pela escuridão.
A porta fechou e Sherry estava a salvo. Por enquanto.
Claire não podia esperar machucar a criatura, mas pelo menos distraí-la o bastante para fugir. Ela queria ter
ensinado os simples controles do trem para Sherry, queria que o veículo já estivesse se movendo, levando Sherry
para a segurança -
- mas eu não ensinei e nós temos que ir AGORA.
A mensagem já contava os dez segundos finais para a distância segura. Mr. X dava outra pancada no trem
enquanto Claire mirava e atirava.
Cinco tiros, quatro deles acertando o material que constituía a região onde uma orelha devia estar. O quinto foi
longe enquanto as pancadas ecoavam pelo lugar e a coisa que foi Mr. X virou para ela.
O que foi agora?
A gravação a distraiu por uma fração de segundo e Mr. X deu um passo na direção dela, um monstruoso passo
que o tirou das sombras.
"... três. Dois. Um. Distância mínima agora requerida. A autodestruição ocorrerá em cinco minutos. Restam cinco
minutos para a detonação".
Os alarmes ainda tocavam, mas pelo menos a voz tinha parado. Ela mal tinha percebido, seus olhos fixados na
criatura. Apesar das camadas queimadas e enfumaçadas, a pele dele não tinha perdido elasticidade; o material
avermelhado ainda contraia como músculos de verdade. Parecia um gigante pelado que se arrastou para fora de
um prédio em chamas - e se sofreu com o banho de metal derretido, ela não podia ver. Outro passo e os braços
#
foram ao alto, o portão de barras foi partido, as barras de metal caindo no concreto do chão.
Pelo menos ele está devagar -
Claire correu para a porta do trem, ainda com medo, mas o monstro era lento e poderoso, só que incapaz de se
mover de verdade -
- e de repente, Mr. X não estava mais andando. A criatura curvou a cintura, os joelhos -
- e se lançou do chão num dinâmico bote, seus pés deformados o impulsionando a toda velocidade.
Claire não pensou. Ela desviou para a direita evitando o ataque, correndo o mais rápido que podia. Ele quase a
pegou, os reflexos dele mais rápidos do que rápido - como se perder a pele o tivesse libertado. Assim que ela
pulou o portão destruído e entrou nas sombras, ela ouviu o arranhar de garras no cimento, viu que Mr. X tinha
descido seu braço bem aonde ela estava um segundo atrás.
Ele a teria partido -
- mas por que, sem o G-virus, sem razão -
Claire correu mais na escuridão enquanto os alto-falantes informavam quatro minutos restando.
"Restam agora quatro minutos para a detonação...".
Droga droga droga!
Quando pensou em ter um ataque de frustração, o elevador parou. Leon agarrou a fechadura da grossa cancela
de metal, querendo correr -
Ele saiu num corredor. E não haviam sinais dizendo qual direção seguir.
Direita ou esquerda?
Esses segundos de hesitação poderiam ter lhe custado a vida.
Ele ouviu uma vez que quando na frente de uma escolha, as pessoas instintivamente escolhem a direção da mão
dominante. Com a sorte que teve nesta noite em Raccoon, ele decidiu ir para o outro lado.
Esquerda. Leon correu, pensando se deveria se incomodar.
Não muito longe do portão, Claire viu uma passarela que passava sobre o trem, as escadas escondidas na
sombra -
- e ela ouviu Mr. X atrás. O terror a dirigiu, seus pés mal tocavam o chão -
- e os passos ficaram mais altos, mais rápidos, ouviu as garras dele rasgarem o cimento. Ela tinha um segundo
antes daquela mão a acertar -
- e ela virou de novo, jogando-se na escuridão do lado da escada. Mr. X passou voando, ela sentiu o vento da
mão em suas pernas enquanto caia no chão.
Ela ignorou a dor de seu cotovelo no cimento, levantando-se e procurando o monstro no escuro.
Ele pode ver, me ver?
A mão dela achou uma parede à direita. Ela estava no espaço debaixo da escada, e não sabia onde o quieto e
impossível X estava; a falta de luz não ajudaria se ele pudesse enxergar.
Ela correu as mãos pela parede e achou um interruptor. Ao apertá-lo, a textura do escuro mudou quando a fraca
luz veio de cima - e ela viu o monstro a menos de quinze metros, bem quando virava, seu olhar procurando -
- e a achando. A marcando. O único som era o de sua pele rachada - até dar um passo para a escada.
Seis ou sete tiros, acerte os olhos -
Claire saiu rapidamente de lá e ergueu a arma de Irons, apertando o gatilho, recuando para a escada.
Bam-bam-bam -
- e X se posicionava para mais um ataque, os tiros penetrando em seu rosto, dois deles ricocheteando em seu
crânio.
- bam-bam -
Ela estava na escada, subindo um degrau, as balas inúteis, Mr. X começando sua corrida. Ele estará nela antes
de poder virar, antes de subir os degraus -
- eu vou morrer -
- mas pelo menos eu o machuco antes -
Mr. X deu um passo - dois passos poderosos, diminuindo a distância entre os dois enquanto Claire mirava,
determinada a fazer os últimos tiros valerem a pena. Ela morreria e seu único arrependimento seria por Sherry, só
desejava que ela pudesse incapacitar o pesadelo X antes de morrer.
#
Ela atirou, e o olho esquerdo do monstro explodiu.
Isso!
Mr. X foi para a direita; não parando, mas também não indo para ela - mas ainda acertará a base da escada -
muito perto! - ela tinha que tentar o outro olho e só tinha dois segundos -
Claire mirou, achou o olho, e -
- click!
- estava sem balas, e o monstro estava chegando na base da escada, o cheiro de carne queimada enquanto
erguia sua gigante mão, e seu grande e terrível corpo era tudo o que conseguia ver.
Claire tropeçou e rolou a escada de ferro, seu corpo como uma bola -
- e gritou quando as garras da mão de X rasgaram sua coxa esquerda através do corrimão, e a distante voz
dizendo que tinham três minutos.
[31]
Ele pegou o caminho errado. As curvas o levaram para um depósito - sem saída.
"Restam três minutos para a detonação".
Leon virou e voltou por onde veio, forçando-se a correr com o que parecia o resto de suas forças.
Claire parou no chão, na base da escada e ficou de pé, sangue correndo pela perna num quente pulso de dor. Ela
correu, nada quebrado -
- mas ela sabia que isso era o começo do que ele fará com ela, uma prévia da dor real.
Mr. X ainda estava inclinado no corrimão da escada, mas assim que ela correu para o portão quebrado, o
monstro ficou a postos. Ele virou para ela, o buraco em seu olho jorrando um escuro líquido - mas ele vai se
recuperar e partir para ela como a máquina impiedosa que era. Não há nada que possa pará-lo.
Pelo menos eu morro na explosão -
Claire passou pelo metal retorcido do portão, mau se equilibrando, sangue pingando no chão enquanto dava outro
passo, por favor, que seja rápido -
"Aqui, use isso!".
Claire girou, viu Mr. X se posicionando para mais um ataque - e viu uma silhueta bem acima, na passarela sobre o
trem. Uma voz de mulher, forma de mulher, a sombra jogando algo -
- quem -
- aquilo caiu no chão, entre ela e Mr. X. era metal, e prateado - ela já viu nos filmes, era uma metralhadora - e
Claire correu. Outra última esperança, outra chance para ela e Sherry sobreviverem.
Ela alcançou a arma, viu X se jogando ao encontro dela, o trovão de seus passos vibrando o chão -
- e ela ergueu a pesada arma, recuando, sua mão trêmula achando o gatilho, seu corpo acomodando-se com a
arma. Firme no chão, braços encurvados em volta do metal, mirando -
- por favor por favor -
O monstro estava a alguns passos quando o jato de balas saíram da arma, um chocalho de pequenas explosões
que balançavam o corpo inteiro de Claire - e mergulharam no corpo da besta, a força de tantas balas parando-o e
empurrando-o para trás.
- tatatatatatatata -
A vibração parecia tentar se libertar do agarre dela. Ela mau ouvia seus próprios choros de dor e fúria enquanto
as balas furavam o abdômen dele com tal rapidez e velocidade.
- e Mr. X tentava andar, mas algo estranho e bom estava acontecendo. Sua barriga estava sendo rasgada pelas
balas, fluídos escuros descendo por suas pernas. A boca dele estava aberta, um buraco em um de seus olhos -
também sangrando.
#
- tatatatatata -
Claire continuou, vendo a criatura tentando se manter de pé. Vendo-o sangrar.
Com as balas ainda voando, Mr. X ergueu os braços -
- e partiu no meio.
Claire tirou o dedo do gatilho quando a parte de cima dele caiu no chão, um molhado som de carne pesada - e as
pernas tombaram, mais sangue estranho saindo das partes formando piscinas. A criatura estava morta, e
mesmo se não estivesse, não importava mais. Só se conseguir se arrastar mais rápido do que ela. Sua batalha já
tinha terminado -
- para o inferno com tudo isso, não há tempo, VAMOS!
Claire correu, ignorando o sangue em sua bota e a dor que o causava, seu olhar procurando a estranha
salvadora. Ninguém estava lá, e ela não sabia se outro minuto tinha passado, o alerta perdido com os tiros.
"Ei!". Claire gritou, indo para o trem.
"Nós temos que ir agora!".
Sem resposta, nenhum som exceto o zumbido em seu ouvido e o eco das palavras. Se ela quer salvar Sherry...
Claire virou e correu.
"- dois minutos para -".
Leon correu mais rápido. Ele já perdeu a conta das curvas do corredor, e as esperanças também, uma voz lhe
dizendo para parar, sentar e descansar -
- quando ele ouviu um fraco ruído.
O som de um maquinário pesado ganhando vida em algum lugar à frente. Não muito longe.
Trem!
Mais rápido, pernas distantes e moles, pulmões trabalhando, coração pulando - de algum modo ou de outro,
estava quase acabado.
[32]
Claire entrou no trem com um rifle gigante e uma perna coberta de sangue, mal parando para tocar os controles
da porta antes de correr para a cabine. Sherry sabia que estavam com problemas e não perguntou nada, ela a
seguiu, aliviada por Claire estar bem.
Ela está bem e já estamos indo...
Uma fraca versão da voz dos alto-falantes soou na pequena cabine de comando.
"Restam dois minutos para a detonação".
Claire soltou a arma e apertou os botões, sua atenção fixada no console. De repente, um grande som mecânico
as envolveu, um crescente motor que fez Claire bater os dentes. Sherry não sabia se foi um sorriso, mas Claire
sorriu quando o trem tremeu -
- e começou a se mover, tirando-as da plataforma.
Claire virou, viu Sherry atrás dela, e tentou sorrir. Claire tocou o ombro da garota, mas não disse nada - nem
Sherry, esperando ver o que aconteceria.
O trem ganhou velocidade, passando por alguns corredores e plataformas mal iluminadas, o túnel à frente escuro
e vazio.
O calor da mão de Claire a fez lembrar de que eram amigas, que seja qual for o futuro disso, Claire era sua
amiga -
- e ela viu um homem, um policial aparecer bem à frente, à esquerda, e o trem estava passando por ele, seus
olhos largos e desesperados em seu sujo rosto.
#
"Claire!".
"Estou vendo ele -".
Claire viu e correu para a porta, abrindo-a.
"Leon!". Ela gritou. "Vamos!".
Ela entrou de repente, uma parede passando, parecendo tão desesperada quanto o homem - Leon parecia.
Depois de um segundo ela virou e fechou a porta.
"Ele conseguiu?". Sherry perguntou, vendo que Claire não poderia saber.
Claire foi até ela e a envolveu em seu braço enquanto o trem acelerava e sua face se cobria de preocupação -
- e a voz disse que restava um minuto -
- e a porta de trás do vagão abriu. Leon apareceu, seu braço atado com um pano manchado, seu cabelo duro
com uma escura meleca, seus olhos azuis brilhando sob a máscara de sujeira.
"Destruição total!". Ele gritou. Claire acenou e Leon suspirou fundo. Ele foi até elas, o trem voando pelo túnel, e
abraçou Claire.
"Ada?". Claire cochichou. "Ann - a cientista?".
Leon balançou a cabeça. "Não. Eu não - não". Sherry viu que ele queria chorar.
"Trinta segundos para a detonação. Vinte e nove... vinte e oito...".
A voz da mulher continuou contando, os números parecendo duas vezes mais rápidos do que deveriam, e Sherry
enterrou a cabeça em Claire, pensando na mãe. Mamãe e papai. Ela esperava que tivessem conseguido, que
estivessem à salvo -
- mas provavelmente não.
Sherry podia ouvir o coração de Claire e a apertou mais, ouvindo o policial se aproximar delas.
"... cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Seqüência completada. Detonação".
Por um segundo não houve som. O alarme finalmente parou sobrando apenas os movimentos do trem -
- e então houve uma explosão, um som abafado, um shoomp que continuava crescendo, ficando maior.
Sherry fechou os olhos e o trem chacoalhou de repente, terrivelmente, e todos eles foram para o chão de metal.
Uma brilhante e queimada luz piscou pela janela enquanto o som de batidas de cano explodiram em volta deles,
pesadas pancadas choveram no teto -
- e o trem continuou indo, a luz sumiu e eles não estavam mortos.
O cegante flash dissipou-se, e Leon sentiu a tensão em seu corpo. Ele olhou para o lado e viu Claire sentando-se,
pegando a mão da jovem garota ao lado dela.
"Tudo bem?". Claire perguntou e a menina acenou. Ambas olharam para ele, sentindo o que ele sentia - choque,
exaustão, descrença e esperança.
"Leon Kennedy, esta é Sherry Birkin". Claire disse, sem enfatizar o "Birkin". Ele entendeu a mensagem e acenou
antes de sorrir para a garota.
"Sherry, este é Leon,". Claire continuou. "eu o conheci quando cheguei em Raccoon".
Sherry retribuiu o sorriso, um sorriso bem adulto que parecia fora do lugar; ela era muito jovem para sorrir
daquele jeito.
Mais uma proeza da Umbrella, a inocência roubada de uma criança.
Por alguns segundos eles ficaram lá sentados no chão, sorrisos sumindo. Leon mal ousou pensar que tudo estava
acabado. De novo, ele viu seus sentimentos espelhados nas sobrancelhas preocupadas de Sherry e nos cansados
olhos de Claire -
- foi quando eles ouviram um distante ranger de metal vindo da parte de trás do trem, ele não se sentiu
surpreso. Um cedente e rasgante arranhão - seguido por uma pesada pancada - e depois nada.
Sabia que não tinha acabado -
"Zumbi?". Sherry cochichou, as palavras quase perdidas no suave balançar do trem.
"Eu não sei, meu bem". Claire disse suavemente, e pela primeira vez, Leon percebeu que a perna dela estava
cortada, sangue saindo de vários arranhões.
"Que tal eu dar uma olhada?". Leon disse, tentando não assustar Sherry. Ele se levantou acenando para a perna
de Claire.
"Sherry, fique aqui com Claire, fique de olho naquela perna? Vou ver se acho alguma atadura enquanto dou uma
vasculhada, não deixe-a se mover, tá bom?".
Sherry acenou, e novamente um aceno muito maduro para a idade dela. "Tá".
"Eu volto num minuto". Ele disse, e virou para a porta de trás do trem, rezando para que não seja nada
enquanto empunhava a Remington.
Leon abriu a porta, os sons do trem se amplificando por um segundo, e depois fechou a porta.
Claire não o viu entrar no próximo vagão de onde estava; se houver mais alguma coisa no trem, nenhum deles
estará a salvo -
- não pense assim, está acabado -
- como está para Mr. X?
"O que eu faço?". Sherry perguntou. "Pressionar, né?".
Claire acenou. "É, só que nós estamos bem sujas, e acho que está começando a coagular. Vamos ver se Leon
volta com algo limpo...".
Os pensamentos dela voltaram para Mr. X.
- G-virus. Antes ele queria o G-virus.
Por que Mr. X foi para a plataforma do trem? Por que ele queria entrar no trem, a não ser que -
Claire forçou para se levantar, lutando contra a tontura e a dor na perna.
"Ei, não se mexa". Sherry disse. "Leon falou para ficar parada."
Claire podia superar seus problemas físicos, mas ver Sherry no cume do pânico era demais; se tiver G-virus no
trem e por isso Mr. X voltou, Leon terá que enfrentá-lo sozinho. Ela não podia deixar Sherry. Se Leon não voltar,
ela terá que desengatar o trem ou tentar pará-lo -
Claire cessou os pensamentos, forçando um sorriso. "Sim, senhorita, eu só queria ver se ele já tinha entrado no
outro vagão...".
Ela viu o alívio no rosto de Sherry. "Ah. Bom, então esqueça, pois eu estou cuidando de você agora, e eu digo
que você não se mexe".
Claire acenou, esperando estar errada, que Leon voltasse a qualquer segundo -
Seja lá quem projetou o veículo de fuga, pensava que os funcionários da Umbrella fossem transportados que nem
sardinha -
Seja lá quem for, não devia ser pior que a coisa na sala de carga, a coisa Birkin. Só de pensar que a criatura tinha
a ver com Sherry, era preocupante, até mesmo obsceno. Um monstro e uma maluca, ambos pais de uma
garotinha...
Ele chegou no fim do segundo vagão e espiou pela janela da porta, esquecendo os pensamentos enquanto
tentava ver alguma coisa no último vagão. Estava escuro e nada mais.
Droga.
Talvez não seja nada, mas ele tinha que olhar.
Ele respirou fundo e abriu a porta, recebendo a brisa do exterior, se segurando na grade de apoio. Não devia ser
nada, mas parecia ruim, errado.
Ele abriu a próxima porta e entrou na escuridão. Imediatamente ele ergueu a espingarda, seus sentidos dizendo
para correr quando a porta fechou. Ele recuou e procurou o interruptor de luz. Além do escuro, havia um forte
cheiro de água sanitária ou cloro, e um suave som de molhado, de movimento -
Uma única lâmpada acendeu no meio do vagão, e por um momento pensou ter perdido a consciência.
Uma coisa. Uma criatura que estava longe de humana, exceto pelo pulsante tumor em um lado, uma lisa bola
que mais parecia um olho.
Birkin.
A criatura era gigante, borbulhando uma escura pasta, expandindo seu volume até ocupar a largura do vagão.
Leon não sabia o quanto alto era. Birkin tinha grossas caudas estendidas, tentáculos de uma massa elástica e
úmida, presa em toda parte do espaço à sua frente - no teto, paredes e no chão. E enquanto Leon olhava, a
besta se moveu para frente, os escuros membros contraindo, levando o corpo para alguns centímetros à frente
de onde estava.
É loucura, mas ele estava vendo, vendo as cores preta, verde e roxa em seus tentáculos enquanto se esticavam
de novo, o material viscoso o puxando mais alguns centímetros. O corpo era nada mais do que uma caverna que
ainda tinha dentes -
-e que iria alcançá-lo em breve se não esquecer o nojo da cena.
Leon mirou no grande buraco da boca dele e puxou o gatilho, carregando outra bala, atirando, carregando,
atirando -
- e a espingarda ficou vazia, o gigante continuando a se aproximar.
Ele não sabia como matá-lo, não sabia se as balas o machucaram. Sua mente correu para achar uma resposta.
Ele podia desengatar o último vagão -
- mas a coisa ainda continuaria viva. Vivendo e mudando na escuridão do túnel, se tornando algo novo -
Os tentáculos se esticaram de novo e Leon voltou para a porta. Ele tinha que desconectar os carros, não havia
outra escolha -
- a não ser -
Ele hesitou, depois sacou a Magnum e mirou na criatura, no estranho tumor, o olho que estava em todas as
formas que Birkin já teve.
- BAM!
O efeito foi imediato, a bala perfurou a esfera - e um hiss veio de sua boca circular cheia de dentes afiados, um
som único na Terra. A carne dentro dele contraiu, ficando escura, murchando -
- e a coisa implodiu, encolhendo rapidamente, virando uma massa escura e um quarto do tamanho que tinha,
derretendo numa borbulhante poça de meleca arroxeada.
"Engula isso". Leon cochichou, olhando por alguns momentos, sem pensar em nada - e virou para se juntar às
duas, para dizer que tinha acabado.
Primeiro dia de trabalho.
"Eu quero um aumento". Ele disse, para ninguém e não pôde conter o sorriso em seu rosto, um cansado sorriso
que sumiu rapidamente... mas pelos segundos que durou, Leon se sentiu melhor do que há muito tempo atrás.
Leon estava de volta, e havia encontrado um macacão, que ele rasgou em pedaços e usou para cobrir a perna
de Claire. Tudo o que ele disse foi que agora eles estavam salvos, apesar de Sherry tê-lo visto e Claire lançou-lhe
um olhar - um daqueles olhares do tipo "não-devemos-falar-disso-agora". Sherry estava muito cansada para levar
a mal.
Ela aconchegou-se nos braços de Claire, Claire alisando seu cabelo, nenhum dos três falando. Não havia nada a
dizer, pelo menos não por enquanto. Eles estavam vivos, num trem correndo através da escuridão - e de algum
lugar não muito distante, uma luz suave surgindo, vindo da janela da cabine de controle e Sherry pensou que se
parecia muito com a luz da manhã.
[Epílogo]
Eles viram a explosão 16 quilômetros de fora da cidade, uma nuvem negra que se ergueu na luz da manhã
pendurando-se sobre Raccoon como uma terrível tempestade -
- ou um sonho ruim, Rebecca pensou, ou uma lembrança. Umbrella.
Ela não disse alto, porque não era necessário. John e David não estiveram na mansão de Spencer, mas
souberam do que a Umbrella era capaz em Caliban.
Ninguém falou quando David acelerou o carro, seus dedos apertados no volante. Desta vez, John não fez piadas.
Todos sabiam que era ruim; antes de Jill, Chris e Barry partirem para a Europa, Jill os disse sobre a suspeita de
outro acidente, e pediu que ficassem alerta. Quando as linhas telefônicas ficaram mudas, eles carregaram a van e
deixaram o Maine para ver o que podia ser feito. A única pergunta é a de quantas pessoas morreram desta vez.
Talvez este seja o fim. Uma explosão como aquela... a Umbrella não vai esconder isso tão fácil, não se tiver tão
ruim quanto parece.
John finalmente quebrou o silêncio. "Autodestruição?".
David suspirou. "Provavelmente. E se houve um vazamento, nós não entraremos; nós circularemos a cidade e
depois chamaremos ajuda de Latham. A Umbrella com certeza já está mandando sua equipe de limpeza".
Rebecca acenou junto com John. Eles não eram mais parte do S.T.A.R.S., mas David já foi capitão, e por um
bom motivo.
Eles caíram no silêncio, o amanhecer tocando as árvores que passavam pela van, Rebecca imaginando o que eles
encontrarão -
- quando ela viu as pessoas andando na estrada, balançando os braços.
"Ei -". Ela começou a falar quando David já pisava nos freios, se aproximando das três figuras. Um policial de
atadura no braço e uma jovem mulher de shorts, ambos armados, e uma garotinha de colete rosa grande
demais para ela. Eles não estavam infectados, ou pelo menos não mostravam sinais que Rebecca pudesse ver -
mas eles pareciam. Com suas roupas rasgadas e seus pálidos rostos sob a sujeira, eles com certeza podiam ser
confundidos.
"Eu falo". David, disse, seu sotaque britânico bem firme, emparelhando com os sobreviventes de Raccoon.
David abriu a janela e desligou o motor, o jovem policial adiantando um passo enquanto a mulher colocava seu
pegajoso braço no ombro da menina.
"Houve um acidente, em Raccoon". Ele disse. Mesmo cansados e feridos, havia uma cautela no tom do policial,
sugerindo o quanto ruim estavam as coisas. "Um terrível acidente. Você não quer ir lá, não é seguro".
David franziu. "Que tipo de acidente, policial?". Foi a jovem mulher que respondeu. "Um acidente da Umbrella". O
policial acenou e a garotinha loira enterrou seu rosto no corpo da mulher.
John e Rebecca trocaram um olhar, e David destravou as portas.
"Mesmo? Esses costumam ser do pior tipo". David disse gentilmente. "Nós ficaremos felizes em ajudar se
quiserem, ou podemos chamar ajuda...".
Era uma pergunta. O policial olhou para a mulher e voltou para David. Ele deve ter visto algo no rosto de David
que passou confiança; ele acenou e chamou a mulher e a garota para se aproximarem.
"Obrigado". Ele disse, a exaustão finalmente vindo. "Se você puder nos dar uma carona estará ótimo".
David sorriu. "Por favor, entrem. John, Rebecca - vocês os ajudam...?".
John pegou alguns cobertores lá atrás enquanto Rebecca pegava o kit médico, cuidando para não descobrir os
rifles perto do estepe.
Acidente da Umbrella...
Rebecca pensou no quanto sortudos foram por terem sobrevivido.
Eles começaram a falar mesmo antes de David fazer o retorno - e em pouco tempo, eles descobriram ter muito
em comum. Enquanto a menina dormia, eles voltaram por onde vieram, deixando a cidade em chamas para trás[18]
Tentando não respirar muito fundo, Leon alcançou os pés da escada de metal e girou rapidamente, mirando sua
arma no escuro. Água molhou suas botas enquanto seus olhos se ajustavam à baixa luz, e viu a origem do
terrível cheiro.
Partes dele, na verdade...
O túnel continuava à sua frente e estava forrado com corpos humanos feitos em pedaços. Membros, cabeças,
troncos estavam espalhados aleatoriamente pelo túnel de pedra, balançando gentilmente pelos centímetros de
água que cobriam o chão.
"Leon? Como está aí?". A voz de Ada desceu pelo círculo de luz no topo da escada, ecoando. Leon não
respondeu, seu olhar chocado fixado na terrível cena, sua mente tentando juntar as partes e trazer um número.
Quantos? Quantas pessoas?
Muitas para contar. Ele viu uma cabeça sem face, o longo cabelo cobrindo-a. O tronco de uma mulher, o seio
emerso na escura água. Um braço envolvido nos farrapos de uma camisa de policial. Uma perna, ainda usando
um tênis. Uma enrolada mão, os dedos lisos e brancos.
Uma dúzia? Vinte?
"Leon?". O tom de Ada enfatizou.
"É - parece bem". Ele disse, forçando para não alterar a voz. "Nada se move".
"Estou descendo".
Ele se afastou da escada para dá-la espaço, lembrando de algo que ela disse antes, sobre corpos sendo
jogados...
Ada desceu da escada. Os olhos dele tinham se ajustado bem o bastante para ver o olhar de nojo no rosto dela -
nojo e o que parecia tristeza.
"Houve um ataque na garagem". Ela disse suavemente. "Quatorze ou quinze pessoas morreram...".
Franzindo, ela passou por Leon para olhar os resto de perto. Quando falou de novo, parecia preocupada.
"Eu não vi o ataque, mas não acho que foram despedaçados desse jeito".
Ela olhou para cima, vendo o teto do túnel, apertando sua 9mm. Leon seguiu seu olhar, mas só viu o tom
esverdeado das pedras. Ada balançou a cabeça, olhando de volta para o mar de carne.
"Os - zumbis não fizeram isso. Algo pegou essas pessoas depois de mortas".
Leon sentiu um calafrio subir sua espinha. Era a última coisa que queria ouvir naquele lugar.
"Então não é seguro aqui. Nós devemos voltar e -".
Ada seguiu em frente, passando pelos pedaços, os movimentos da água parecendo mais altos no quieto túnel.
Droga, ela ignora todo mundo ou só eu?
Olhando onde pisava, Leon a seguiu, erguendo o braço para tocar o ombro dela. "Pelo menos eu vou na frente,
#
tá?".
"Tá Bom,". Ela disse. "Abra caminho".
Ele passou por ela e continuou, tentando dividir a atenção entre a escuridão à frente e os pedaços de corpos e
ossos abaixo. Bem à frente, o túnel virava à direita, e tinha alguma luz refletida na oleosa superfície da água, a
passagem estava mais clara e com menos corpos.
Leon parou a tempo o bastante para empunhar a Remington e verificar se estava carregada. Seja lá o que tinha
pego os corpos não parecia estar por perto, mas ele não queria estar despreparado.
Ada esperou sem falar, apesar dele conseguir sentir sua impaciência. Ela era tão calma quanto um soldado
veterano, demonstrando nada mais além de ansiedade para acabar logo com isso - e se ela gosta de sua
presença, deve estar fazendo muita força para não demonstrar. Não que ele queira a gratidão dela -
- mas a maioria das pessoas gostariam da presença de um policial, não é? Mesmo sendo um novato?
Talvez não, e essa não é a hora e lugar para começar a fazer perguntas. Leon começou a andar de novo,
passando por cima de um pedaço mastigado de carne que não podia identificar.
"Pare". Ada cochichou. "Ouça".
Leon obedeceu, Remington em uma mão, VP70 na outra. Ele inclinou a cabeça para ouvir, mas só percebeu um
distante gotejar -
- e uma suave pancada, como martelos abafados numa superfície forrada. Estava se aproximando, vindo do
túnel que virava logo à frente.
Por que a água não respinga, por que não ouvimos água - ?
Leon recuou um passo, erguendo ambas as armas, lembrando como Ada tinha olhado para o teto antes -
- e viu, viu e sentiu seu coração parar em meia batida. Uma aranha do tamanho de um cachorro grande,
andando pelas paredes, mexendo suas arrepiadas pernas peludas -
- impossível -
- e de repente houve uma série de ensurdecedoras explosões próximas ao seu ouvido direito,
bam-bam-bam-bam, o cano da Beretta de Ada brilhando enquanto ativava. Os ecos golpearam pelo escuro
enquanto o gigante aracnídeo pulava da parede, mergulhando na tingida água.
A aranha engatinhou na direção deles, ferida, arrastando duas de suas pernas, escuros fluídos escorrendo pelo
seu grotesco e arredondado corpo. Ela passou por cima de uma cabeça, o crânio escapando abaixo de seu
abdômen inchado, e Leon pôde ver seus brilhantes olhos negros, cada um do tamanho de uma bola de ping-pong
--
e ele atirou com a Remington, mal sentindo o poderoso tranco da arma, sua concentração voltada para o
aracnídeo. O tiro explodiu a face alien em pedaços. A aranha virou de papo para o ar, suas grossas pernas
tremendo, curvando-se ao redor de seu corpo peludo.
Seus ouvidos apitando, seu coração pulando, Leon carregou outra bala, sua mente não só dizendo que tinha
matado uma aranha daquele tamanho, mas que seu físico estava errado, suas pernas não agüentariam tamanho
peso -
- Ada passou por ele, correndo, gritando para ele.
"Vamos, podem haver mais vindo!".
Leon correu atrás dela, seu choque contido pelo rápido comportamento de Ada - pulando sobre os pedaços de
carne e da aranha que só passou a existir depois que chegou a Raccoon.
"Solte a arma". Irons pediu, e a garota obedeceu, hesitando por um segundo. A Browning foi ao chão e Irons
teve que resistir ao desejo de rir de novo, pelo quanto estúpida ela agia. A assassina da Umbrella com certeza
ficou louca, entrando em seu santuário como se fosse dona do lugar - essa atitude lhe custou o jogo.
"Vire-se devagar - e mantenha as mãos onde eu possa vê-las". Ele disse, ainda sorrindo. "Oh, que gloriosa e fácil
conquista! A Umbrella o subestimou pela última vez.
Novamente, a garota fez o que ele pediu, virando devagar, de mãos vazias e abertas. O olhar em sua face não
tinha preço, suas expressões fixadas como uma máscara de medo e choque; ela não esperava por isso, ela
achava que seria fácil dar um fim em Brian Irons. Depois de tudo, ele era um homem quebrado, uma sombra de
seu antigo eu, sua cidade e sua vida tirada -
"Errada, não estava?". Ele disse, sentindo o humor vazando da situação, sentindo a raiva borbulhar novamente.
Ele manteve a VP70 mirada na ridícula e jovem face dela; insultando, que eles mandaram uma criança para seu
#
serviço sujo. E bonitinha...
"Calma, Chefe Irons". Ela disse, e mesmo bravo, ele gostou de ouvir a tensão em sua opressiva voz, o pico do
medo sob seu inútil apelo. Ele vai adorar isso, mais do que imaginava...
... mas primeiro, algumas respostas.
"Quem te mandou? Foi Coleman, do quartel general? Ou suas ordens vêm dos superiores... alguém da comissão,
talvez? Não há mais motivos para mentir".
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão. "Eu - eu nem sei do que está falando. Por favor, deve
haver algum engano -".
"Oh, um engano, tá bom". Irons cuspiu. "E você o cometeu. Há quanto tempo a Umbrella está me observando?
Quais foram as suas ordens, exatamente - onde você deveria ter me matado, a Umbrella quis que eu sofresse
um pouco antes?".
A garota não respondeu por um momento, provavelmente tentando decidir o quanto dizer a ele. Ela era boa,
suas expressões cautelosamente montadas para mostrar somente um medo confuso, mas ele enxergava
através disso.
Ela foi pega, deve saber que não a deixarei viver e está tentando esconder a verdade. Jovem mas bem treinada.
"Eu vim para Raccoon atrás do meu irmão". Ela disse devagar, seus bem abertos olhos cinzas fixados na arma.
"Ele estava com o S.T.A.R.S. e eu só -".
"S.T.A.R.S.? É o melhor que você pode fazer?". Irons riu mais, balançando a cabeça. O S.T.A.R.S. de Raccoon
fugiu logo depois que as coisas foram para a merda - e pelo que ele ouviu falar, a Umbrella já tinha "convertido" a
organização para seus propósitos, estavam trabalhando para eliminar aqueles que cruzassem o caminho. Essa
desculpa não funcionava.
Mas há algo...
Ele estudou os olhos. "E quem é o seu irmão?".
"Chris Redfield, você conhece - eu sou Claire, a irmã dele, e eu não sei nada sobre o que a Umbrella fez e não fui
mandada para matá-lo". Ela disse rápido.
Ela se parecia com Redfield, pelo menos os olhos... Chris era um pomposo e desrespeitoso, que o desafiou
abertamente várias vezes; de fato -
"Redfield estava trabalhando para a Umbrella, não estava?". Mesmo dizendo alto, Irons pôde ver que era
verdade - e sua raiva subiu como uma maré vermelha, um calor ácido que desceu por suas veias fazendo-o
enjoar.
Até os meus empregados, todo o tempo. Fantoches traidores da Umbrella.
"A mansão de Spencer, as acusações contra a Umbrella... foi tudo armado, eles vinham provocando problemas
para - para me distrair, para então poderem roubar o vírus de Birkin...".
Irons deu um passo até a garota, sem precisar de força para puxar o gatilho, contrariando seus planos. A garota,
Claire, recuou, de braços para cima, de mãos abertas como para se proteger de sua fúria.
"Foi como o S.T.A.R.S. soube quando sair da cidade. Eles foram alertados para sair antes do vazamento do
T-virus!".
Ele deu mais um passo até ela, mas Claire parou, seus olhos mais abertos. "Então Chris não está aqui?".
Seu pequeno e esperançoso suspiro só alimentou o calor vermelho que pulava dentro de Irons - os sentimentos
eram tão poderosos que transcendiam raiva, focando suas intenções em algo brutal e preciso. Não era suficiente
ter sido traído pela Umbrella e pelo S.T.A.R.S., ter sido manipulado, atormentado, caçado -
Não, não. Eu fui enganado por essa garota, uma espiã assassina de uma família de traidores. Uma vida devotada
ao serviço, experiências, sacrifícios pessoais, e essa é a minha recompensa?
"Um tapa na cara". Ele disse, sua voz tão fria quanto essa nova selvageria que o enchia, o transformava num
caçador. "Tratando-me como um idiota. Você nem tem respeito o bastante para mentir bem".
Ele estendeu a 9mm e andou na direção dela, cada passo calculado e deliberado - e o medo dela era real desta
vez, ele riu do modo como ela recuava, seus trêmulos lábios. Ela estava apavorada, tentando achar uma arma,
observá-lo, fugir, tudo ao mesmo tempo, mas sem sucesso enquanto ele marchava.
"Eu tenho o poder,". Ele disse. "esse é o meu santuário, esse é o meu domínio. Você é a invasora. Você é a
mentirosa, você é o mal - eu vou tirar a sua pele viva. Eu te farei gritar, sua vagabunda, você vai desejar nunca
#
ter nascido. Seja lá quanto te pagaram, não foi o bastante".
Ela recuou até bater numa estante, tropeçando na perna da mesa, quase caindo no alçapão no canto da sala.
Irons a seguia, sentindo aquele bonito e excitante poder, sentindo prazer com a indefesa.
"Por favor, você não quer fazer isso, eu não sou quem você pensa!".
A patética súplica o fez parar e rir, querendo dá-la mais terror, querendo mostrá-la que seu controle era absoluto.
Ela estava encurralada entre um armário e o alçapão, e Irons ficou a uma distância segura, adorando o pânico
nos olhos dela - o pânico de um animal emboscado...
Irons lambeu os lábios, seu faminto olhar viajando por suas suaves formas. Outro troféu, outro corpo para
transformar... e é hora de trabalhar, de -
"Graaagh!".
Mas que -
A tampa que cobria o poço voou pelo ar, partindo com um tremendo crack, um pedaço atingindo a coxa de
Irons. Ele ficou assustado sem entender - ele estava no controle e mesmo assim algo deu errado, horrivelmente
errado -
Algo enrolou em seu calcanhar, algo que apertava tão forte que ouviu os ossos sendo esmagados, a afiada dor
subindo por sua perna -
- e ele travou o olhar com o da garota, de olho brilhando com um novo terror, e nesse instante de contato, de
claridade, ele quis tanto dizer que era um bom homem, um homem que nunca mereceu nada do que aconteceu -
- e aquilo sacudiu, e Irons estava caindo, derrubando a arma, puxado para o poço pelo grito, a dor e a besta que
o esperava lá embaixo.
[19]
Num minuto, Irons estava de pé na frente dela, olhando em seus olhos com uma terrível tristeza -
- no outro, ele se foi. Puxado para um buraco no chão por um braço musculoso e com garras, saindo de visão,
junto com Irons.
Houve outro grito da criatura, um poderoso ruído que ganhou intensidade e superou o de Irons. Estática, Claire só
pode ouvir, choque, alívio, medo enquanto os choros saiam do buraco, acertando seus ouvidos no pequeno e frio
calabouço que Irons tinha criado -
- até que os gritos cessaram, só um ou dois segundos depois - e os barulhos de carne sendo mastigada
começaram.
Claire se moveu. Ela pegou a arma de Irons e correu pela mesa no centro da sala.
Ele ia me matar e aquilo o matou -
A realidade do que ia acontecer e do que aconteceu a atingiu, fazendo de suas pernas borracha. Claire forçou
mais alguns passos para trás até encostar na úmida parede de pedra, suspirando.
Ele tinha planejado matá-la, mas não de uma vez. Ela viu como o malvado olhar dele passou pelo seu corpo,
ouviu a ansiosa antecipação em sua maluca risada -
Houve um suave ronco vindo do buraco, um som bestial, o ronco de um leão bem alimentado. Claire virou,
erguendo a arma -
- e algo explodiu do buraco, algo com braços debatendo, e Claire atirou. Uma garrafa na prateleira espatifou
enquanto a coisa acertou o chão -
- e era Irons, mas só metade dele. Ele foi dividido, cortado em dois pela coisa que o tinha pego; tudo abaixo da
cintura se foi, fiapos de pele rasgada e músculos pendurados sobre a piscina de sangue que substituía suas
pernas.
Claire recuou para a porta, ainda apontando para a abertura - e ouviu a criatura, o monstro gritar de novo, um
eco que desapareceu, caindo a uma distância que não podia imaginar. Um segundo depois, ela não o ouvia mais;
#
tinha ido embora.
O monstro de Sherry. Era o monstro de Sherry.
Claire foi vagarosamente até o corpo do Chefe Irons, na direção do escuro buraco - mas não era todo escuro. Ela
pôde ver luz vindo de algum lugar, o bastante para ver que havia outro andar lá embaixo, o que parecia uma
passarela gradeada de metal - e uma escada de mão.
Um sub-subsolo... uma saída?
Ela se afastou da abertura, seus pensamentos fluindo desorganizadamente, tentando absorver o que Irons tinha
dito. Chris não estava em Raccoon, os S.T.A.R.S. se foram - um bom e ruim alívio, pois significava que ele estava
bem, mas não salvaria o dia. Houve um vazamento na Umbrella que ao menos explicava os zumbis - mas e o
que disse sobre Birkin, o vírus de Birkin... é pai de Sherry?
É - talvez os zumbis sejam o resultado de algum acidente, mas e o Mr. X e os homens do avesso?
O modo como Irons falou sobre a Umbrella, sugere que a companhia farmacêutica não era uma vítima inocente.
"Como ele o chamou?".
"T-virus". Ela cochichou, e tremeu. "Tinha o novo vírus de Birkin e tinha o T-virus...".
A doença zumbi tinha um nome. Mas você não nomeia algo a não ser que saiba algo sobre ele, o que significa -
- que ela não sabia o que significava. Tudo o que sabe é que Sherry precisava sair de Raccoon e o sub-subsolo
podia ser a saída. Devia ter uma saída, o monstro dever ter ido para algum lugar...
... e você quer seguí-lo com Sherry? Ele pode voltar - e se realmente estiver atrás de Sherry...
Pensamento infeliz - tal como voltar para as ruas. E a delegacia já está infestada por Deus sabe lá o que. Claire
checou o clip da arma de Irons, contando dezessete balas.
Ela respirou fundo, voltando a si, e olhou para os restos do chefe da polícia. Era um modo ruim de morrer, mas
não conseguiu sentir pena. Ele estava pronto para amarrá-la e torturá-la, ele riu ao implorar por sua vida, e agora
está morto; ela não estava feliz, mas também não derramaria lágrimas. Seu único sentimento sobre isso era o de
que deveria cobri-lo antes de trazer Sherry; a menina já viu violência o bastante para uma vida.
Nós, Claire pensou, e começou a procurar algo para esconder Chefe Irons.
Leon a alcançou no frio e industrial corredor que dava na entrada do esgoto, alguns degraus acima do subsolo
inundado. Ela tinha corrido na frente para posicionar as chaves de acesso ao esgoto, sem querer explicar muito
como as achou; ela só teve o trabalho de jogá-las na sala da caldeira antes que os passos dele tocassem os
degraus de metal atrás dela
Pelo menos eu não finjo estar com falta de ar...
Ada pôde ver no olhar dele que deveria suavizar as coisas; ela começou a falar na hora em que ele pisou no
corredor.
"Desculpe ter corrido". Disse oferecendo um sorriso assustado. "Eu odeio aranhas".
Leon franziu, estudando-a, e ela percebeu que deveria explicar melhor. Ela deu um passo até ele. Mantendo olho
no olho, jogando a cabeça para trás, a fim de enfatizar a diferença de altura; era pouca, mas na experiência dela,
homens respondiam bem às pequenas coisas.
"Acho que só estou com pressa em sair daqui". Ela disse rápido, perdendo o sorriso. "Espero não o ter
preocupado".
Ele derrubou o olhar antes de demonstrar interesse. Ela ficou mais surpresa quando ele recuou.
"Bom, você me preocupou. Não faça de novo, tá? Eu posso ser pouco de um policial, mas eu estou tentando - e
só Deus sabe o que encontraremos aqui".
Ele olhou para ela de novo, falando suavemente. "Eu vim com você porque eu quero ajudar, eu quero fazer o
meu trabalho - e eu não posso fazê-lo se você sair na frente. Além disso,". Ele complementou, sorrindo um
pouco. "se você correr, quem vai me ajudar?".
Foi a vez de Ada desviar o olhar. Ela forçou um sorriso. "Eu farei o possível".
Leon acenou e virou para olhar o lugar, acabando com a conversa - para o alívio de Ada. Ela estava incerta sobre
o que pensar sobre ele, mas estava desconfortável com seu respeito por ele estar crescendo; nada bom
considerando a situação.
Não havia muito o que ver no úmido corredor; duas portas. A sala da caldeira, onde jogou as chaves - ou plugs,
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de preferência, estava bem à frente. A outra dava num depósito, segundo a placa na parede.
Ada seguiu Leon para a mais próxima, o depósito. Lá não havia nada de importante. Caixas, uma mesa, um baú,
mas pelo menos nenhuma aberração. Depois de uma rápida procurada eles voltaram para o corredor e foram
para a sala da caldeira.
"Como você aprendeu a atirar daquele jeito, afinal?". Leon perguntou e parou na frente da porta. Seu tom parecia
casual. "Você é muito boa. Você esteve no exército ou algo...?".
Boa tentativa, policial.
Ada sorriu, incorporando seu personagem. "Paintball, acredite ou não. Eu também ia no tiro-ao-alvo com meu tio,
mas nunca me aprofundei muito. E então, há alguns anos, um amigo do trabalho - nós éramos compradores em
uma galeria de arte de Nova Iorque - ele me levou para um daqueles fins de semana de sobrevivência e nós
demos uns tiros. Você sabe, caminhada, escalada, coisas do tipo - e paintball. É ótimo, nós íamos a cada dois
meses... eu nunca pensei que fosse usar isso de verdade".
Ela pôde vê-lo acreditar, ver que ele queria acreditar. Mas deve ter respondido algumas perguntas que queria
fazer.
"É, você é melhor do que alguns colegas meus da academia. É sério. Então, você está pronta para continuar?".
Ada acenou. Leon empurrou a porta, olhando o velho e enferrujado maquinário antes de entrar. Ada não olhou
para baixo, querendo que ele achasse o pacote amassado que havia colocado momentos atrás.
A sala era em "H", corrimãos cercavam as duas grandes caldeiras em cada lado. As fluorescentes que ainda
funcionavam criavam estranhas sombras nas paredes infiltradas. A porta que levava ao sistema de esgoto estava
no lado oposto, à esquerda, ao lado de um painel.
"Ei -". Leon se agachou, pegando os plugs que abririam a porta. "Parece que alguém derrubou algo...".
Antes que Ada pudesse perguntar o que tinha achado, ela ouviu um barulho. Um suave rastejo vindo do canto
oposto direito da sala.
Leon se levantou rapidamente, soltando os plugs e erguendo a espingarda. Ada apontou sua Beretta, lembrando
como a porta estava encostada antes de colocar os plugs no chão.
Droga, o implante.
Ela sabia antes mesmo de aparecer. A coisa tinha crescido, e bem rápido, vinte vezes seu tamanho em alguns
minutos - e ainda estava crescendo, exponencialmente.
A aparência também estava mudando. Não era mais aquela medusa que rasgou Bertolucci. A calda se foi, e a
criatura que rastejava pelo chão enferrujado agora tinha membros. Garras saiam de sua lisa pele acompanhada
pelo som de cartilagem sendo perfurada. Musculosas pernas se desenrolaram e o rastejar se tornou mais suave,
quase felino -
A espingarda e a Beretta soaram ao mesmo tempo. A criatura ainda mutava quando os tiros deformaram sua
carne. Em resposta, a coisa vomitou, um ronco que lançou um projétil de apodrecida bile verde -
- que caiu no chão e começou a se mexer. Aquilo estava vivo - e as onze ou doze criaturinhas que surgiram
pareciam saber exatamente onde a ameaça estava. Os animais multi-pernas rastejaram na direção de Ada e
Leon enquanto o implante dava um passo.
"Eu pego eles". Ada gritou, já atirando no mais próximo. Eles eram rápidos, e Ada mais ainda; ela apontou e
atirou, explodindo os bebês monstro em uma fonte de escuros fluídos.
Leon atirava de novo e de novo com a espingarda, mas Ada não podia ver como o monstro mãe estava. Cinco
dos rastejantes restando e só três balas -
- e ela ouviu a espingarda ir ao chão, ouviu tiros de revólver enquanto matava dois dos pequenos antes da arma
clicar.
Sem parar para pensar, Ada soltou a Beretta e foi para o chão. Ela pegou a espingarda pelo cano, se agachou e
desceu a arma, bem forte. Dois dos bichos viraram pasta com o impacto - mas o terceiro e último saltou em uma
inesperada propulsão -
- e pousou na coxa dela, agarrando com garras afiadas como agulhas. Ada soltou a espingarda, gritando
enquanto o animal subia sua perna, o quente e úmido peso dele fazendo-a frenética de nojo.
Sai, SAI -
Ela caiu para trás, estapeando a criatura que já estava em seu ombro, rastejando para seu rosto, para sua boca
--
e Leon a agarrou, erguendo-a com uma mão enquanto arrancava o bicho com a outra.
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Ada se agarrou nele para não cair e o animal aderiu forte ao tecido do vestido. Leon tinha um bom tato e
arrancou o bicho, gritando enquanto arremessava-o pela sala.
"O revólver!".
A arma estava presa no cinto de Leon. Ada a liberou, vendo que o bicho tinha caído perto da mãe, morta por
Leon -
- e atirou, tentando um tiro certeiro apesar de seu desequilíbrio, assustada pelo quanto perto esteve de ser
implantada. A bala ressoou no chão, lascas enferrujadas respingaram - e a criatura explodiu contra a parede de
trás. Estourada.
Nada se mexeu e os dois ficaram parados, encostados um no outro como sobreviventes de um terrível acidente -
que de certo modo eram. Tudo aconteceu em menos de um minuto e eles saíram ilesos - mas Ada não se iludirá
por terem estado perto, ou com o que acabaram de destruir.
G-virus.
Ela tinha certeza; o T-virus não seria capaz de criar algo tão complicado, não sem um time de cirurgiões - e eles
viram a coisa crescer; o quanto grande e poderosa a criatura teria ficado se eles tivessem demorado mais um
pouco? E se houver mais deles? A ida para os laboratórios não será mais uma caminhada - e Ada se sentiu grata
por Leon ter decidido ir com ela. Já que ele insiste tanto em ir na frente, se algo atacar, ela terá uma chance
melhor de sobreviver -
"Você está bem? Ele te machucou?".
Com um braço ainda segurando ela, Leon olhava em seus olhos, preocupado. E ela percebeu que podia cheirá-lo,
um limpo cheiro de sabão - e se afastou dele. Ela devolveu o revólver e esticou o vestido, procurando por cortes
a fim de não olhar para ele.
"Obrigado, eu estou bem. Não se preocupe?".
Foi mais grossa do que queria, pois estava agitada com o ataque. Ela olhou para ele e ficou incerta sobre o que
sentir ao ver que a resposta o tinha pego de surpresa. Ele piscou devagar.
"Paintball, né?". Ele disse suavemente, e virou para pegar os plugs. Ada o acompanhou, dizendo a si mesma que
era ridículo se importar com o que ele pensava dela. Eles estavam embarcando numa jornada em que ela podia
descartá-lo, ou vê-lo dar sua vida por ela...
... ou matá-lo eu mesma. Não vamos esquecer disso. Então quem se importa se ele acha que sou uma ingrata?
Ada se curvou para pegar a espingarda, sentindo a força que precisava fazer para não desviar de suas
prioridades - e sentindo um vazio lá dentro que não sentia há muito, muito tempo.
[20]
Irons foi um homem muito mau. Doente. Sherry parecia saber o tempo todo, mas ver sua câmara de tortura
secreta fez tudo virar realidade. A sala era rude, ossos, garrafas e um cheiro pior que o dos zumbis. Por isso não
se importou tanto com o corpo incompleto sob o lençol manchado de sangue. Sherry tentou imaginar o que tinha
acontecido exatamente.
"Vamos, querida, vamos indo". Claire disse, seu tom dizendo que Irons tinha sido bastante injuriado. Tudo o que
Claire disse foi que Irons a tinha atacado e que depois algo o atacou. E que poderiam achar algum lugar seguro se
descerem pelo buraco. Sherry estava tão feliz em ver Claire que nem fez perguntas.
Não parece caber uma pessoa inteira lá... ele foi comido? Ou cortado em pedaços?
"Sherry? Vamos?".
Claire tocou o ombro dela, tirando-a de perto do que sobrou de Irons. Sherry deixou ser conduzida até o buraco
no canto.
Claire desceu a escada primeiro e depois de um segundo, disse que era seguro descer. Sherry pisou
cuidadosamente nas barras de metal, sentindo-se feliz como há dias não se sentia. Claire a ajudou nos últimos
degraus, erguendo-a e colocando-a no chão de metal. Sherry virou e olhou em volta, arregalando os olhos.
"Uau". Ela disse, a palavra ecoou e voltou nas escuras sombras que refletiam das estranhas paredes.
"É". Claire disse. "Vamos".
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Claire começou a andar e Sherry a seguiu de perto, ainda olhando em volta impressionada. Era como a toca de
um cara mau num filme de espião, alguma passagem dentro de uma montanha. Elas estavam numa passarela
com corrimão nas laterais, a turva e esverdeada luz verde atravessando a grade da passarela, vinda de algum
lugar lá embaixo - apesar de a parede da direita ser de tijolos, a outra era mesmo a de uma caverna. Ela pôde
ver grandes pilares e estalactites de pedra, formações naturais esverdeadas pela fantasmagórica luz.
Sherry coçou o nariz. Interessante, mas cheirava podre. "Que lugar você acha que é esse?".
Claire balançou a cabeça. "Eu não tenho certeza. Entre o cheiro e a locação, eu diria que estamos na parte de
uma estação de tratamento de esgoto".
Sherry acenou, grata por saber - e mais ainda por ver a saída bem à frente. A passarela não era muito longa;
virava à esquerda onde estava outra escada de mão que subia. Chegando lá, Claire hesitou, olhando para a
abertura acima e depois para a caverna.
"Eu subo primeiro... que tal você vir atrás, mas ficando na escada até eu dizer que é seguro?".
Sherry acenou, aliviada. Por um segundo, ela teve medo de Claire mandá-la esperar, como antes.
De jeito nenhum. Aqui é escuro, fedorento e vazio. Se eu fosse um monstro, seria aqui onde eu estaria...
Claire subiu e Sherry foi logo atrás, segurando as frias barras firmemente. Segundos depois, os longos e finos
braços de Claire apareceram para ajudá-la a sair.
Elas estavam de volta em solo firme, um curto corredor de cimento que parecia incrivelmente brilhante depois da
caverna. Sherry deduziu que ainda estavam na estação de tratamento; o cheiro não era tão ruim apesar do
escuro e parado rio que orlava o lado esquerdo do corredor, uns trinta centímetros de profundidade por uns dois
de largura. A lodosa água ia de uma grande porta metálica até um circular túnel com grades. Acima havia um
parapeito, mas Sherry não viu escadas.
Quer dizer que... oh, eca.
"Vai ser preciso?". Ela perguntou.
Claire suspirou. "Acho que sim. Mas veja pelo lado bom - nenhum monstro consciente nos seguiria naquilo".
Sherry sorriu. Não era tão engraçado, mas ela gostou do que Claire tentava fazer - o mesmo que cobrir o corpo
de Irons ou dizer que seus pais estavam a salvo.
Ela está tentando me defender do quanto ruim estão as coisas...
Sherry gostou tanto que já estava temendo a hora em que Claire tiver que deixá-la. E terá; Claire tem uma vida
inteira em algum lugar, seus amigos e família, e quando saírem de Raccoon, ela voltará para casa e Sherry ficará
sozinha de novo. Mesmo se seus pais estiverem bem, ela ficará só... e mesmo querendo que eles estejam, não
queria ver seu fim com Claire.
Ela só tinha doze anos e já reparou que sua família era diferente da maioria. As outras crianças da escola tinham
pais que passavam tempo com elas, tinham festas de aniversário e iam acampar, tinham irmãos, irmãs e bichos
de estimação. Sherry nunca teve nada disso, mas sabia que seus pais tinham boas intenções e que a amavam -
mas às vezes, não importava o quanto boa, calma e auto-suficiente ela era, ainda estava longe deles -
"Está pronta para isso?".
A suave voz de Claire a trouxe de volta para a realidade, lembrando-a para ficar mais alerta. Sherry acenou, e
Claire entrou na escura e suja água, ajudando Sherry.
A água estava fria e melada, subindo até os joelhos de Sherry; era grossa, mas nem tanto quanto vômito. Claire
andou para a grande porta de metal à esquerda com sua nova arma, tão enjoada quanto Sherry.
"Parece que nós vamos -".
Um alto ruído no parapeito a interrompeu e ambas olharam para cima, Sherry se aproximando de Claire quando o
barulho apareceu outra vez. Pareciam passos, mas muito lentos e altos para serem normais -
- e Sherry viu um homem de casaco longo e escuro aparecer, sua boca secando de medo. Ele era gigante, uns
três metros, e sua cabeça careca tão branca quanto a barriga de um peixe. Ela não conseguia vê-lo bem por
causa do ângulo, mas viu o bastante - e pôde sentir que era mau, que havia algo muito errado e mau sobre ele.
Radiava dele como doença.
"Claire?". Ela chiou enquanto o gigante cruzava o parapeito, enquanto virava na direção delas - devagar, tão
devagar que Sherry não quis ver seu rosto, o rosto de um homem que podia assustá-la só de andar no parapeito
-
#
"Corre!".
Claire agarrou a mão dela e as duas correram, tormentando a grossa água na direção da porta fechada.
- não esteja trancada, não esteja trancada!
A porta estava perto mas parecia demorar para sempre, cada segundo passando enquanto lutavam contra o
peso da fria e oleosa água.
Claire achou o controle, batendo no botão com um tipo de pânico que só fez Sherry se assustar mais. A porta se
dividiu ao meio, metade deslizando para o teto e a outra mergulhando nas ondas.
Sherry não olhou para trás mas Claire sim. Seja lá o que viu, a fez tirar Sherry do chão, cruzar a porta e entrar no
longo e escuro túnel que a porta escondia. Assim, que passaram, Claire tocou na parede e a porta fechou
selando-as na escuridão.
"Não se mexa e fique quieta". Claire cochichou, e sob a fraca luz que vinha de cima, Sherry viu Claire armada,
procurando ameaças nas sombras. Sherry obedeceu, seu coração pulando, imaginando quem ou o que aquele
homem foi - era o homem que Claire havia comentado antes, mas quem ele era? Pessoas não ficam daquele
tamanho, e Claire também tinha se assustado -
Clink.
Um ruído metálico, suave e abafado na parede ao lado - e Sherry sentiu a água aos seus pés se mover de
repente, uma corrente que moveu suas pernas, tirou seu equilíbrio -
- e ela caiu, seu rosto na fria e nojenta água enquanto a corrente ficava mais forte, sugando-a para baixo. Sherry
tentou se segurar em algo, mas seus dedos só encontravam o lodo do chão de pedra, enquanto as águas a
levavam para longe de Claire.
- não posso respirar -
Ela chutou forte, agitando o corpo, seus olhos doendo de água ruim - e conseguiu respirar assim que sua cabeça
voltou à tona, assim que percebeu estar num túnel, um escuro e melado túnel não muito maior que os de
ventilação da delegacia. As rápidas águas a congelavam, respirando sufocada o sujo ar acima, forçando para não
lutar contra o impiedoso poder da água. O túnel tinha que dar em algum lugar - e quando der, deverá estar
preparada para correr.
Claire, por favor, me encontre, por favor, não desista de mim...
Ela estava perdida, cega e surda, deslizando por um escuro túnel - e cada vez mais longe da única pessoa que
pode protegê-la das criaturas que tomaram conta de Raccoon.
Annette já não duvidava mais de que seu marido havia escapado do laboratório. Não só pela metade das
entradas estarem abertas, mas também pelas cercas que circundavam a fábrica estarem derrubadas - e os
túneis do esgoto, que deveriam estar praticamente vazios, estavam cheios de portadores humanos que devem
ter vindo de fora. Mesmo avançados em termos de deterioração celular, ela teve que derrubar cinco deles a tiro
para livrar o caminho entre o teleférico e as salas de operação do esgoto.
Depois do que pareceu levar uma eternidade para cruzar as semitratadas águas do sistema, ela chegou na
plataforma que procurava. Annette subiu no corredor de concreto, olhando cuidadosamente para a porta fechada
à sua frente. Fechada e inteira, um bom sinal - mas se ele passou por ela antes de perder todos os traços de
inteligência humana, antes de virar um impensado e violento animal? Mesmo agora, ele ainda pode ter guardado
alguma memória? Ela não sabia. O G-virus ainda não tinha sido testado em humanos...
... e se ele passou? E se chegou na delegacia?
Não. Ela não podia, não iria considerar a possibilidade. Considerando o que ela sabia sobre as mudanças
quimiofisiológicas - o que ele seria capaz de fazer se o vírus funcionar como deveria - o pensamento de vê-lo
chegar a uma população não infectada... bom, era impensável.
A delegacia é segura, ela pensou firmemente. Irons pode ser um incompetente, mas seus policiais não. Seja lá o
que William for agora, não poderá passar por eles.
Ela não conseguia acreditar em mais nada; Sherry estava lá, se tivesse feito o que deveria fazer - e além de ser
seu sangue, Sherry seria muito importante em seus planos futuros.
Annette se encostou na parede, ciente de que o tempo estava passando, mas incapaz de continuar sem
descansar. Ela estava quase no fim da área contida e tudo o que encontrou foram vários caminhos que William
pôde ter usado para escapar.
E a Umbrella estará aqui em breve. Eu tenho que voltar, eu tenho que ativar a destruição antes que eles me
#
impeçam.
William merecia estar em paz - mas, além disso, destruir a criatura que um dia foi seu marido erradicaria todas as
suas dúvidas sobre o sucesso de seu objetivo. Mas se ela explodir o laboratório e fugir, só para descobrir que a
Umbrella o capturou? Todos os seus esforços, todo o trabalho dele, por nada...
Annette fechou os olhos, desejando haver um modo fácil de fazer a decisão que tinha de ser feita. O fato era, a
morte de William não era tão crucial quanto fugir do laboratório. Havia uma boa chance de que ele não seja
encontrado, de que eles nem saibam de sua transformação -
- eu tenho uma chance. Ele não está aqui e em lugar algum.
Ela se desencostou da parede, caminhando vagarosamente para a porta. Ia checar os últimos túneis, ao menos
ver se as salas de controle tinham algum dano - e depois vai voltar. Voltar e terminar o que a Umbrella tinha
começado.
Annette abriu a porta e -
- e ouviu passos, ecoando pelo vazio corredor em algum lugar à frente; o corredor era em "T", os passos
derretidos uns nos outros tornando impossível saber de onde vinham - mas eram fortes, de não infectados,
talvez mais de um, e isso quer dizer uma coisa.
Umbrella. Eles finalmente vieram.
Raiva ferveu atrás dela, fazendo suas mãos tremerem, seus lábios ficarem entre seus dentes. Tinham que ser
eles, um de seus espiões assassinos. Além de Irons e alguns oficiais da cidade, só a Umbrella sabia que esses
túneis ainda eram usados - e que davam no complexo subterrâneo. A possibilidade de ser um sobrevivente
inocente não passou por sua mente; ela ergueu o revólver e esperou pelo idiota sem coração aparecer.
Uma figura ficou visível, uma mulher de vermelho, e Annette atirou -
- bam, mas estava tremendo, gritando por dentro, e errou o tiro. Ele ricocheteou no cimento da parede, pim, e a
mulher ergueu uma arma -
- e Annette atirou de novo, bam-pim, mas de repente apareceu outro, uma azulada sombra que voou na frente
da mulher, tirando-a do caminho.
Tudo isso aconteceu de uma vez -
- e Annette ouviu um choro de dor, de um homem, e sentiu uma explosão de triunfo.
Peguei ele, eu peguei ele -
Mas devem haver mais, ela não tinha acertado a mulher - e eles eram assassinos treinados.
Annette virou e correu, seu longo, branco e sujo avental de laboratório voando, seus sapatos molhados contra o
cimento. Ela tinha que voltar ao laboratório, rápido.
O tempo se esgotou.
[21]
Leon tinha parado para arrumar seus arreios, Ada passou na frente, surpresa pelos primeiros túneis estarem
vazios. Se não lhe falhe a memória, esse corredor dava no sistema de tratamento de esgoto; depois tinha o
teleférico para a fábrica, e então o elevador para o subterrâneo. As condições provavelmente ficarão piores
quanto mais perto do laboratório ficar, mas se continuar desse jeito... ela já está começando a ficar otimista.
Leon esteve bem quieto desde que entraram no esgoto, falando só o necessário - cuidando onde pisa, espere um
minuto, que caminho devemos seguir... ele era corajoso, pelo menos acima da média entre os cabeças do
departamento, e atirava bem - e não sabia nada sobre mulheres. Quando ela cortou a tentativa dele de
confortá-la, ele ficou confuso e machucado - e agora ele não sabe como interagir com ela. Leon preferiu se calar
do que ser rejeitado de novo.
Ada chegou na intersecção em "T" do corredor vazio, pensando no lugar mais fácil para se livrar de Leon -
#
- e viu a mulher, na hora em que atirou.
Bam!
Ada sentiu lascas do concreto espirrarem em seu ombro enquanto erguia a Beretta, uma onda de emoções e
percepções no instante que levou para reagir. Ela não teria tempo para reagir, o próximo tiro a mataria, brava por
ter sido tão estúpida - e reconheceu a mulher.
Birkin -
Ela ouviu o segundo tiro - e então foi golpeada, empurrada do caminho e caindo no chão enquanto Leon chorava
de dor e surpresa, seu corpo caindo sobre o dela.
Ada respirou fundo, chocada assim que entendeu o que tinha acontecido, assim que Leon rolou e agarrou o
braço. Ela ouviu passos correndo, Leon gemendo, e sentou.
Oh, meu Deus. Essa não -
Ele levou um tiro. Por mim.
Ada se levantou, inclinando ele. "Leon!".
Ele olhou par ela, mordendo por causa da dor. Sangue vazava por entre seus dedos, pressionados contra seu
ombro esquerdo.
"Eu estou - bem". Ele suspirou, apesar de pálido e sofrendo, ela achou que estava bem. Devia estar doendo
muito mas não ia - não irá morrer.
Eu teria morrido, Leon salvou a minha vida -
E na cauda desse pensamento, - Annette Birkin. Ainda viva.
"Aquela mulher". Ela disse, sentindo-se culpada enquanto virava para correr. "Eu preciso falar com ela".
Ada decolou, fazendo a curva e descendo o corredor, uma porta aberta no fim. Leon sobreviverá, e se conseguir
alcançar Annette todo esse maldito pesadelo acabará. Ada tinha estudado as fotos, sabia que era a esposa de
Birkin - e se ela não estiver com a amostra, com certeza sabe onde está.
Ela cruzou a porta e parou antes de pular em outro túnel cheio de água, ouvindo, analisando a superfície da água.
Nenhum respingo de água, mas haviam algumas ondas à esquerda -
- e uma escada de mão na parede, levando ao túnel de ventilação acima.
Ada pulou na água e foi para a escada na parede da frente. O túnel continuava para a esquerda, mas não tinha
saída.
Ela escalou rapidamente as barras, recusando-se a pensar em Leon (porque ele estava bem) enquanto espiava o
túnel e via que estava vazio, antes de cruzar um conjunto de pás. Através dele, outra olhada antes de passar
por outro conjunto de pás, e desceu outra escada. A gigante câmara de dois andares que abrigava o maquinário
de tratamento estava ausente de vida, tão fria, industrial e equipada quanto esperava. Havia uma ponte
hidráulica lá, erguida no andar que estava - isso quer dizer que Annette desceu pela escada oeste, a outra única
saída. Ada andou em seus mapas mentais assim que começou a cruzar a ponte.
"Largue a arma".
Atrás dela. Ada hesitou, sentindo uma dor interior. A segunda vez que estragou tudo - mas não obedecerá
Annette de jeito nenhum. A mira dela era ruim e Ada se estendeu, preparando para se jogar, girar e atirar -
Bam-pim!
O tiro acertou o chão à direita de Ada. Annette a tinha.
Ada derrubou a arma, erguendo as mãos devagar, virando para a cientista.
Jesus, eu mereço morrer por isso...
Annette Birkin andou até ela, uma Browning 9mm tremendo em uma mão estendida. Ada recuou ao ver aquela
arma balançando - mas viu uma oportunidade quando Annette se aproximou, passando a uns três metros dela.
Muito perto. Muito perto e à beira de um colapso, não é?
"Quem é você? Qual é o seu nome?!".
Ada exalou forte, gaguejando sua voz. "Ada, Ada Wong. Por favor, não atire, por favor, eu não fiz nada - ".
Annette franziu, "Ada... Wong. Eu conheço esse nome - Ada era o nome da namorada de John...".
"É, John Howe! Mas como você sabe? Você sabe onde ele está?".
"Eu sei porque John trabalhou com meu marido, William. Você já ouviu dele claro - William Birkin, o responsável
pela criação do T-virus".
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Annette mostrou um pouco de orgulho e desespero, dando esperanças à Ada; uma fraqueza que podia ver. Ada
tinha lido os arquivos sobre William - leu sobre a firme subida pela hierarquia da Umbrella, os avanços em virologia
e seqüênciamento genético... e sobre a ambição científica que o tornou um verdadeiro sociopata. Parece que sua
esposa estava com os mesmos planos - isso significa que a senhora não teria problemas em puxar o gatilho.
Seja tola e não a faça duvidar.
"T-virus? O que é -". Ada piscou, e arregalou os olhos. "Doutor Birkin? Espere, Birkin, o bioquímico?".
Ela viu um feixe de prazer no rosto de Annette - mas logo se foi, ficando só desespero. Desespero e maldade em
seus profundos e vermelhos olhos.
"John Howe está morto". Ela disse friamente. "Ele morreu há três meses atrás na mansão de Spencer. Minhas
condolências - mas depois, você vai se juntar a ele, não vai? Você não vai levar o G-virus de mim, você não vai
tê-lo!".
Ada começou a tremer. "G-virus? Por favor, eu não sei do que você está falando!".
"Você sabe". Annette apertou os dentes. "A Umbrella mandou você para roubá-lo, você não pode mentir para
mim! William está morto para mim agora, a Umbrella o tirou de mim, eles o forçaram a usá-lo! Eles o
forçaram...".
Ela parou, seu olhar distante. Ada esticou-se - mas Annette voltou, seus olhos molhados de lágrimas, a arma
apontada para o rosto de Ada.
"Eles vieram uma semana atrás". Ela respirou. "Eles vieram para pegá-lo e atiraram no meu William quando não
daria as amostras. Eles levaram a maleta, eles levaram todos os finais, ambas as séries - exceto pela única que
William guardava, o G-virus...".
A voz de Annette virou um grito de repente. "Ele estava morrendo, você não vê? Ele não tinha escolha!".
Ada entendeu. Entendeu tudo. "Ele injetou em si mesmo, não foi?".
A cientista acenou, seu mole cabelo loiro caindo nos olhos, sua voz suave novamente. "O vírus revitaliza funções
celulares. Ele - o vírus mudou William. Eu não vi - o que ele fez, mas eu vi os corpos dos homens que tentaram
matá-lo... e ouvi os gritos".
Ada se aproximou, como se para confortá-la, suas expressões como uma máscara de simpatia - mas Annette
levantou a arma de novo. Mesmo na tristeza, ela não deixaria Ada se aproximar.
Mas já é perto o suficiente...
"Eu sinto tanto". Ada disse, abaixando os braços. "Então o G-virus, ele vazou, ele infectou toda a Raccoon -".
Annette balançou a cabeça. "Não. Quando os assassinos da Umbrella foram - parados, a maleta foi quebrada. O
T-virus vazou - os funcionários do laboratório atingidos pelo aerotransmissível foram contidos, só que haviam
ratos, entendeu? Ratos no esgoto...".
Ela pausou, seus lábios tremendo. "... a não ser que William, meu querido marido já tenha começado a se
reproduzir. Implantando embriões, replicando... ainda não deve ser hora para isso, mas eu - ".
Ela parou, seus olhos estreitando, a maldade fluindo novamente. Seus olhos avermelhados brilhando com
paranóia.
Preparar-se -
"Você não pode tê-lo!". Annette gritou, saliva voando de seus lábios rachados. "Ele deu sua vida para mantê-lo
longe de você, você é uma espiã e você não pode tê-lo -".
Ada agachou e pulou, jogando seus braços sob os de Annette, empurrando a arma para cima e longe das duas.
A Browning descarregou, mandando uma bala para o teto enquanto lutavam pelo controle da arma. Annette
estava fisicamente mais cansada, mas era dirigida por demônios de ódio e perda, o cume de sua insanidade
dando-a forças -
Ada soltou a arma de repente e Annette tropeçou. Ela caiu no corrimão da ponte e Ada golpeou-a com o cotovelo
na barriga, o centro do equilíbrio -
- e Annette virou, sua boca aberta de surpresa, seus braços tentando se equilibrar - e ela mergulhou sobre o
corrimão, silenciosamente, nenhum som até o thump de seu corpo atingindo o chão a uns 6 metros abaixo.
"Droga". Ada cochichou, olhando para baixo. Annette ficou lá, de barriga para baixo e parada, a arma ainda
apertada em sua mão.
Isso é ótimo. Cair numa emboscada pela segunda vez e matar a única maluca que podia te dizer onde estavam
as amostras -
Um baixo gemido flutuou do corpo de Annette Birkin - e ela se moveu, arqueando as costas, tentando rolar para
#
o lado.
Droga. Droga. Droga.
Ada virou e correu pela ponte, pegando a Beretta enquanto corria para o que parecia um painel de controle ao
lado da escada para o túnel de ventilação. Ela tinha que abaixar a ponte e pegar Annette antes que fuja -
- mas o painel era para a ventilação, e enquanto outro doloroso gemido - um pouco mais alto - ecoou pelo lugar,
Ada soube que não tinha muito tempo.
O depósito de lixo, eu posso cruzar o depósito e pegar um dos túneis -
Enquanto pensava isso, já estava correndo para a escada oeste, esperando que a cientista esteja machucada o
bastante para ficar lá um minuto ou dois. Havia uma pequena sacada no final da ponte onde dava para ver o
depósito, e a escada de mão na parede à direita. Ada desceu o mais rápido que podia, pulando no chão de
cimento na última barra.
O depósito de lixo era uma grande área quadrada, as paredes amontoadas com materiais industriais - ferro velho
amassado, canos enferrujados, painéis cobertos de fios, papelão podre... Ela desceu do patamar e pulou em
quase um metro de lodo, a fria meleca passando de suas pernas. Ela não se importava, só queria pegar a
senhora Birkin e encerrar suas horas em Raccoon -
- foi quando algo se mexeu. Abaixo do opaco e fedorento líquido, algo grande se moveu. Ada viu o que poderia
ser o dorso de um réptil, viu e ouviu uma pilha de tábuas caírem na água a uns três metros à frente no mesmo
instante.
Você deve estar brincando...
Seja lá o que for, era grande o bastante para fazer Ada esquecer Annette. Ada voltou para o patamar e pegou
impulso, sem tirar os olhos das ondas de lodo -
- que de repente subiram num violento espirro de escuridão e na direção dela. Ada ergueu a Beretta e começou a
atirar.
* * *
Havia um pequeno elevador no canto da vazia sala de reuniões, um quadrado de metal que aparentemente
descia. Claire foi até ele, fétida água pingava de suas roupas, terrivelmente perdida e ansiosa para continuar
andando e achar Sherry.
Por favor, esteja viva, querida, por favor.
Ela tinha visto o tubo de drenagem, mas não Sherry - e depois de agonizantes e longos momentos gritando na
água agitada, e tentativas de entrar no buraco, ela acabou abandonando o esforço. Sherry se foi, talvez afogada,
talvez não - a não ser que o fluxo de água revertesse, Sherry não voltará.
Claire achou os controles da pequena plataforma e apertou o botão. Um motor escondido zuniu e o elevador
desceu, levando-a para outro provável corredor vazio, talvez outra sala desconhecida - ou pior, direto para outra
criatura sobrenatural.
Ela apertava as mãos molhadas enquanto descia lentamente. Ela se sentia andando às cegas. Do túnel onde
Sherry desapareceu, ela só passou por um corredor pouco iluminado e uma sala de reuniões não decorada e de
alguma forma esterilizada.
O elevador estava descendo num corredor e ela se agachou, apontando a arma de Irons enquanto a nova
localidade aparecia.
O corredor de concreto tinha outro elevador na outra ponta, e tinha uma intersecção para a esquerda no meio
dele - e próximo à junção havia um corpo encostado na parede, o que parecia ser um policial -
Ela sentiu uma mistura de choque e sofrimento, arregalando os olhos enquanto olhava para as feições do policial,
a cor do cabelo, o físico...
... é o - Leon?
Antes do elevador tocar o chão, Claire pulou e correu para a figura. Era Leon, e não estava se mexendo - mas
respirava, e assim que ela se agachou na frente dele, seus olhos abriram. A mão dele estava em seu braço
esquerdo, os dedos molhados de sangue.
"Claire?". Seus olhos azuis pareciam claros, cansados, porém conscientes.
#
"Leon! O que aconteceu? Você está bem?".
"Eu levei um tiro, devo ter apagado por um minuto...".
Ele cuidadosamente tirou a mão, expondo um pequeno e rasgado buraco acima da axila. Parecia doloroso, não
pelo menos não sangrava muito.
Estremecido, Leon colocou o tecido de seu uniforme sobre o buraco e pressionou a mão sobre ele.
"Dói pra diabo, mas acho que vou sobreviver - Ada, onde está Ada?".
Dizendo a última frase quase frenético, Leon fez força para se desencostar da parede. Com um suave gemido ele
soltou, sem condições de se mexer.
"Fique parado, descanse por um minuto". Claire disse. "Quem é Ada?".
"Eu a conheci na delegacia. Eu não consegui te achar e descobrimos como fugir de Raccoon - pelos esgotos. A
cidade não é segura, houve algum tipo de vazamento no laboratório da Umbrella, e Ada quis partir logo depois.
Alguém atirou em nós e eu fui atingido - Ada foi atrás do atirador, descendo o corredor, ela disse que era uma
mulher...".
Ele balançou a cabeça e franziu. "Eu tenho que achá-la. Eu não sei quanto tempo fiquei apagado, não mais do
que alguns minutos, ela não deve ter ido longe -".
Ele tentou se mexer de novo e Claire o impediu, empurrando-o de volta. "Eu vou. Eu - estava com uma garotinha
que agora está perdida nos esgotos. Talvez eu ache as duas".
Leon hesitou - depois acenou, desistindo. "Como está de munição?".
"Ah, sete nesta -". Ela conferiu a arma que pegou da viatura e colocou na cintura. Parece que aquele passeio foi
há milhões de anos. "- e dezessete nesta".
Ela ergueu a arma de Irons e Leon acenou de novo, sua cabeça rolando cansadamente. "Certo, isso é bom. Eu
te seguirei em alguns minutos... tome cuidado, tá? E boa sorte".
Claire se levantou, desejando que tivessem mais tempo. Ela queria contar sobre Chris e Irons, Mr. X e o T-virus,
ela queria saber o que ele sabia sobre a Umbrella, ou se sabia onde ficava a saída do esgoto -
- mas essa Ada deve estar enfrentando um atirador nesse momento e Sherry pode estar em qualquer lugar.
- Leon fechou os olhos. Claire virou e foi para a intersecção, imaginado se algum deles sairá disso com vida.
[22]
Annette doía por toda parte. Ela se sentou vagarosamente, enjoada com as centenas de dores que gritavam por
sua atenção. Seu pescoço e estômago doíam, tinha torcido o pulso e seus joelhos pareciam inchados - mas foi a
aguda dor em seu lado direito que era pior, ela achava que tinha quebrado uma costela.
Sua horrível, horrível mulher -
Annette se inclinou, segurando seu tenso pescoço com uma mão machucada, mas só viu metal e sombra; Ada
Wong, a vagabunda da Umbrella aparentemente fugiu. Ela fingia não saber de nada, mas Annette não era burra,
Ada já devia estar a caminho do laboratório - ou vindo atrás dela, ansiosa para terminar o serviço.
Umbrella, a Umbrella fez isso...
Annette se ajoelhou, usando sua raiva para superar a dor. Ela tinha que chegar ao laboratório antes dos espiões -
mas estava tão machucada!
Não posso deixar roubarem o trabalho dele...
Ela cambaleou até a porta da imensa sala, um braço envolto em seu ardente peito - e parou, inclinando a cabeça
para ouvir.
Tiros. Ecoando pelo frio ar, vindos da área de despejo - e um segundo depois ela ouviu um tremendo assobio,
mais tiros e respingos de água -
Annette sorriu, um sorriso apertado e sem humor. Talvez ela chegue no laboratório antes.
A ponte, abaixe a ponte, não a deixe escapar...
Cansada e dolorida, Annette foi para os controles hidráulicos e acionou a ponte. Os poderosos motores da ponte
#
abafaram os barulhos da batalha, a plataforma rotacionando e descendo até travar com um pesado clank.
Annette se desencostou da parede, caindo sobre os controles perto da porta. Ela viu os controles do túnel de
ventilação e os ligou, ainda sorrindo enquanto as pás começavam a roncar lá em cima. Ada teve problemas no
depósito de lixo e Annette não vai deixá-la voltar por onde veio; com a ponte abaixada e as pás girando, a
senhorita Wong terá lutar pelo caminho.
Tomara que seja um bando de lickers, sua vadia, espero que estejam fazendo-a em pedaços...
Annette saiu dos controles e caiu, a dor e a tontura eram demais, seus ralados e inchados joelhos acertando o
chão, espetando agulhas de agonia por suas pernas -
E a porta à sua frente abriu. Annette ergueu a arma, mas não era capaz de mirar, gastando o que restava de
sua força para não gritar de sofrimento e frustração.
William, está doendo tanto, sinto muito, mas eu não posso -
Uma jovem mulher se agachou na frente dela, com um olhar de preocupação no rosto. Ela vestia shorts e um
colete pingando água do esgoto - e segurava um grande revólver, não apontando diretamente para Annette - e
não apontando para lugar nenhum também.
Outra espiã.
"Você é Ada?". A garota perguntou, tentando tocá-la - era mais do que Annette podia suportar, ser tocada pela
dó de algum espião corporativo.
"Afaste-se de mim". Annette resmungou, estapeando fracamente a mão estendida da garota. "Eu não sou o seu
'contato', e eu não o tenho em mim. Você pode me matar, mas não vai encontrá-lo".
A garota se afastou, um olhar de confusão em seu sujo rosto. "Achar o que? Quem é você?".
As perguntas de novo, e a fúria passou, deixando-a insensível. Annette estava cansada de jogos; doía demais e
já não era mais capaz de lutar. "Annette Birkin". Ela disse exausta. "Como se não soubesse...".
Ela vai me matar agora. Está acabado, tudo acabado.
Annette não podia fazer nada. Lágrimas desceram suas bochechas, lágrimas tão fúteis quanto seus planos. Ela
desapontou William, ela falhou como esposa e como mãe, e até mesmo como cientista. Pelo menos acabará
agora, finalmente haverá um fim para a angústia -
"Você é a mãe de Sherry?".
As palavras da garota a atordoaram, tirando-a de sua exaustão como um tapa na cara.
"O que?! Quem - como você soube sobre Sherry?".
"Ela está perdida nos esgotos". A moça disse, sua voz rápida e desesperada enquanto guardava a arma no cinto.
"Por favor, você tem que me ajudar a encontrá-la! Ela foi sugada para um tubo de drenagem e eu não sei onde
procurar -".
"Mas eu pedi para ela ir à delegacia". Annette lamentou, toda a dor física esquecida, seu coração pulsando
horríveis ondas de descrença. "Por que ela está aqui? É perigoso, ela será morta! E o G-virus - a Umbrella vai
achá-la, eles vão pegá-lo, por que ela está aqui?".
A garota se estendeu para ajudá-la de novo, levantando-a, e Annette não lutou, muito fraca e assustada para
isso.
A garota a olhou intensamente, parecendo culpada, com medo e esperançosa ao mesmo tempo. "A delegacia foi
tomada - para onde a drenagem vai? Por favor, Annette, você precisa me dizer!".
A verdade mostrou-se como um raio de luz em sua exaustão e medo.
A drenagem vai para o tanque de filtragem - que é perto do bonde da fábrica.
A rota mais curta para os laboratórios.
Era um truque. A garota estava usando Sherry para chegar no laboratório, para pegar informações sobre o
G-virus. Sherry ainda estava na delegacia, segura e bem, e tudo isso é uma armação -
- mas a Umbrella conhece o caminho, por que ela perguntaria algo que já sabe? Não faz sentido.
Annette ergueu a arma, seu dolorido pulso tremendo, e se afastou da garota. Sua confusão e perguntas eram
demais - por isso não podia fazer nada, não podia apertar o gatilho.
"Não se mexa. Não me diga". Ela disse, ignorando a dor enquanto abria a porta. "Eu vou atirar se tentar me
seguir".
"Annette - eu não entendo, eu só quero -".
"Cale a boca! Cale a boca e me deixe em paz. Será que vocês todos não podem me deixar em paz?!".
Ela passou pela porta, surpreendendo a garota, apertando seu braço contra a costela contundida ou quebrada
#
assim que fechou a porta..
Sherry...
Era uma mentira, tinha que ser - mas não mudaria nada. Ela ainda podia, tinha que voltar para o laboratório e
terminar o que começou.
Virando, mancando e tossindo, Annette se apoiou na fria parede do túnel conector, deixando cada doloroso e
terrível passo lembrá-la do que a Umbrella fez.
Uma fria e quieta caverna, as paredes brilhavam com gelo e eu estou perdido. Perdido e exausto, correndo e
com medo por um longo tempo, então eu paro e descanso. Tão quieto, tão frio - mas meu braço dói, eu estou
sentado contra uma parede onde nasceu espinhos, e um deles está cavando minha pele, me espetando. Dói
tanto, e eu tenho que me levantar, eu tenho que encontrar alguém, eu tenho que -
- levantar.
Leon abriu os olhos, a par de que tinha apagado novamente. A percepção o fez respirar fundo, o súbito medo
fazendo-o completamente acordado.
Ada, Claire - Jesus, quanto tempo?
Ele gentilmente tirou a mão do braço, o sangue grosso entre seus dedos. Dói, mas não tanto quanto antes - e o
sangramento havia parado, pelo menos na entrada; os farrapos de seu uniforme tinham grudado no ferimento,
formando um curativo.
Ele se inclinou, tentando tocar onde a bala tinha saído; de novo, havia tecido sobre a dor pulsante do ferimento.
Não estava certo, mas só de pensar que a bala tinha varado sua carne sem acertar o osso - ele foi
extremamente sortudo.
Mesmo se tivesse arrancado meu braço, Ada ainda estaria por aí - e eu mandei Claire atrás dela. Eu preciso ir
atrás delas.
Apertando os dentes, Leon se levantou com o braço bom, seus músculos frios e duros por causa do concreto
úmido.
Seu ombro esquerdo raspou na parede e ele ofegou quando a dor intensificou brevemente. Leon esperou passar,
respirando fundo, pensando que poderia ter sido bem pior.
Quando finalmente de pé, decidiu que agüentará; ele não estava enjoado e apesar de haver sangue na parede e
no chão, não era tanto quanto imaginava. Cuidando para não mexer no ferimento, Leon virou e desceu o
corredor até a porta fechada, andando o mais rápido que podia.
Depois da porta, deu de cara com outro túnel cheio de água que ia para os dois lados; havia uma escada de mão
à sua frente à esquerda, mas nem pensou em subir com o braço ferido - além disso, havia um ventilador
barulhento no topo da escada. Ele desceu do patamar e foi para a direita na escura água, esperando achar pistas
de Ada e Claire.
Perseguir um atirador... como pôde fazer aquilo, como pôde me deixar lá?
Depois do confronto com o monstro vomitante, ele jurou não assumir mais nada sobre Ada Wong; ela era flertiva
e insociável, e se ela aprendeu a atirar brincando de paintball, ele era um executivo de banco. Mas apesar de seu
confuso comportamento e provável duplicidade, ele gostava dela; ela era esperta e confiante, ela era bonita - e
ele assumiu que havia uma pessoa decente sob aquela contraditória fachada...
... e ela o deixou para trás e foi pegar o atirador, deixou você rolando no chão com uma bala no braço. É, ela é
ótima; peça-a em casamento.
Ele chegou onde o túnel se dividia. Havia um portão trancado à direita, então Leon seguiu à esquerda, olhando as
grossas sombras. Ele devia ter ido com Claire -
Ele parou, ouvindo algo. Tiros, distantes e abafados, vindo de algum lugar à frente, distorcidos pelo labirinto de
túneis que compunham o sistema de esgotos.
Ainda armado, Leon apertou o ferimento e começou a correr, devagar por causa da água - mas quando os tiros
pararam, ele achou um motivo para ir mais rápido.
Havia uma passagem à frente, uma fraca luz amarelada vinha de lá. Mesmo antes de chegar, viu que teria de
escolher.
Diretamente à frente estava uma alto degrau e uma pesada porta na parede do fim do túnel, água caía do teto
#
como uma cachoeira.
Uma escolha óbvia, exceto -
Leon parou na passagem iluminada, olhando. Outra porta, e ele não tinha tempo para decidir, os tiros podem ter
vindo de qualquer lugar -
Bam, Bam -
Para a esquerda. Leon subiu no patamar, sentindo mais dor, sentindo um molhado quente no pulso. Ele ignorou
isso, indo para a porta e a abrindo, ouvindo mais tiros enquanto passava pela ponte no meio da grande câmara e
ia até a próxima porta.
Ele entrou em um frio corredor só que bem maior e mais largo que os outros, provavelmente algum tipo de
corredor para transporte de equipamentos pesados. Ele virava para a esquerda e esquerda de novo, caixas e
cilindros de aço na esquina da primeira curva.
... acetileno, talvez oxigênio, bom Deus, o que leva tantos tiros e não morre?
Ele ouviu mais tiros e água espirrando - e um som diferente, um profundo e gutural assobio. Estranhamente
familiar, mas muito alto para ser possível.
Um milhão de cobras, milhares de gatos gigantes, algum terrível dinossauro -
Ele correu, finalmente desistindo de manter o ferimento fechado, precisando do braço livre para ganhar mais
velocidade. O fim do túnel estava perto, ele viu um painel de luzes piscando e uma abertura à esquerda, outra
grande porta de abastecimento -
- e ele parou bem a tempo de não entrar na linha de fogo, assim que outra rápida sucessão de tiros soou, assim
que um tenebroso impacto na água fez chover no chão como um grosso lençol.
"Pare, eu estou entrando!". Ele gritou -
- e ouviu a voz de Ada, sentindo um alívio apesar do horror que estava à frente.
"Leon!".
Ela está viva!
Ele ergueu a arma, seu ferimento sangrando agora, ele apareceu na comporta aberta, tábuas quebradas
nadando no turbulento líquido. Ela estava num pequeno patamar de concreto ao lado de uma escada de mão,
apontando a Beretta para a piscina de lixo.
"Ada, o que -".
Splash!
Uma gigante explosão saiu do lago e o jogou para o corredor. Aconteceu tão rápido que ele só viu depois que
estava voando no ar. Ele caiu sobre o braço ferido e gritou, tanto pelo choque do que tinha visto quanto pela dor.
- crocodilo -
Leon ficou de pé e correu antes mesmo de saber se conseguia levantar - e o lagarto gigante, o crocodilo de nove
metros de comprimento subiu no corredor atrás dele com um poderoso rosnado. O cimento tremeu assim que o
mamute réptil saiu das águas, galões de água escura vazando de sua mandíbula cheia de dentes.
- uma boca tão grande quanto eu, maior -
Leon correu, não havia dor, seu coração martelando de pânico - e a besta rosnou de novo, um impossível berro
que sacudiu seus ossos, que fez suor explodir de todos os poros -
- e Leon deu uma olhada para trás, viu que era mais rápido que o lagarto gigante. Ele ainda estava subindo pela
comporta, suas pernas grossas e curtas pareciam troncos de árvores, sua incrível cabeça grande demais para
manobrar facilmente.
Leon trocou de arma numa onda de terror, seu ferimento gritando enquanto colocava uma bala na Remington.
Ele andou de lado, alcançando a curva -
- e descarregou todos as cinco balas o mais rápido que podia, o pesado calibre explodindo o focinho do monstro.
Ele rosnou, balançando a cabeça de lado a lado, baldes de sangue emergindo de sua sorridente face - mas ainda
vindo, tirando sua calda da piscina lá atrás.
Insuficiente, não foi o bastante -
Leon virou e correu de novo, horrorizado em ter que se retirar, com medo do que acontecerá a Ada ao fugir do
crocodilo, mas sabendo que precisará de outros cinqüenta tiros para derrubá-lo - ou uma explosão nuclear, e por
que ele ainda estava pensando? Ele precisava fugir e depois pensar no que fazer.
Agüenta aí, Ada -
Os fortes passos do gigante encheram seus ouvidos enquanto passava pelas caixas, pela fileira de cilindros de aço
#
--
e parou de correr. Seus instintos gritavam por sanidade, mas ele tinha uma idéia - e enquanto o lagarto dava
outro passo, Leon virou e voltou.
Funciona, isso funciona nos filmes, por favor, Deus, esteja ouvindo.
Os cinco cilindros brilhantes estavam presos por uma corrente. Havia um botão para a mesma e Leon o apertou.
Uma ponta da pesada corrente foi para o chão.
Soltando a espingarda, ele agarrou o cilindro mais próximo, seus músculos tencionando, sangue pulsando de seu
braço ferido. Ele pode sentir finos traços de suor descendo pelo peito, sentando no calcanhar para libertar o
cilindro do pequeno suporte.
- pronto!
Leon se jogou para trás e o tubo de gás comprimido foi ao chão, rolando alguns centímetros. Ele olhou para cima
e viu que o crocodilo tinha percorrido mais quinze metros - perto o bastante para ver os sujos dentes enquanto
rosnava de novo, sentindo seu quente e podre hálito.
Leon colocou o pé no cilindro e empurrou com toda a força, o mesmo rolando vagarosamente na direção do
lagarto. Por uma incrível sorte, o corredor tinha uma ligeira inclinação e o cilindro ganhou velocidade, rolando em
um semicírculo.
Recuando, ele tirou o revólver do cinto e apontou para o tubo, forçando para não puxar o gatilho. O crocodilo
avançava, sua calda batendo tão forte na parede que fazia levantar poeira.
Vamos desgraçado -
A menos de dez metros, o crocodilo e o cilindro se encontraram - e Leon apertou o gatilho. O primeiro tiro acertou
o chão perto do tubo - e a boca sorridente abriu, a grande cabeça abaixando para empurrar o obstáculo.
- firme -
Leon atirou de novo, e -
KA-BOOM!
- e foi jogado ao chão quando o cilindro explodiu. Numa explosão de aço retorcido e gases, a cabeça da criatura
foi obliterada, desaparecendo como um balão estourado. Quase na mesma hora, uma onda de sangue acertou
Leon, pedaços de dente, ossos e carne enfumaçada caindo sobre ele como um cobertor molhado.
Enjoado, seus ouvidos zunindo e braço sangrando, Leon sentou enquanto a carcaça decapitada ia ao chão, as
pernas dobrando com o peso do réptil. Ele pressionou sua mão ensangüentada contra o ferimento, exausto,
enjoado, dolorido - e profundamente satisfeito.
"Te peguei, sua porcaria idiota". Ele disse, e sorriu. Quando Ada veio correndo um pouco depois, foi assim que o
encontrou - olhando deslumbrado e atordoado para seu serviço, sujo de sangue e sangrando, sorrindo como uma
criancinha.
[23]
Leon vestia uma camisa branca sobre o uniforme; Ada rasgou-a e fez uma atadura no braço dele, uma espécie
de tipóia antes de colocar a camiseta de volta. Ele perdeu sangue o bastante para estar tonto; e Ada aproveitou
a situação para se explicar enquanto o atendia, sentindo-se chocada com a complexidade de emoções dentro
dela.
"... e eu achei que ela me parecia familiar. Eu achava que a conhecia através de John e quase a alcancei - mas
ela deve ter me despistado. Eu me perdi nos túneis, tentando voltar...".
Nenhuma verdade, mas Leon nem percebeu - até o gentil modo como ela o tocava, ou o leve tremor em sua
voz enquanto pedia desculpas pela terceira vez, por deixá-lo para trás.
Ele salvou a minha vida. De novo. E eu acabo retribuindo tudo com mentiras, mentiras em troco de sua
generosidade.
Algo mudou nela quando ele foi baleado em seu lugar, e não conseguia mudar de volta. Pior, ela não sabia se
#
queria mudar de volta. Era como o nascimento de um novo sentimento, uma emoção que a enchia; era
desconfortável, mas também não era desprazeroso. O modo como destruiu o crocodilo fez esse sentimento mais
forte ainda. O buraco em seu braço foi só na carne, mas o sangue em seu corpo, ela sabia que doía muito, que
estava drenando-o,
matando-o enquanto tentava salvá-la.
Livre-se dele agora, sua mente soou, não deixe isso afetar seu trabalho - o trabalho, Ada, a missão. Sua vida.
Ela sabia que isso era a única coisa a fazer - mas quando ele ficou pronto e sua história foi contada, ela parou de
ouvir ela mesma. Ada o ajudou a se levantar e o tirou do cenário com os restos do réptil, sem parecer ter achado
uma saída quando estava perdida.
Annette se foi; assim que Leon tinha chamado a atenção do crocodilo, ela subiu a escada e checou - e viu que
Annette teve bastante senso de ligar os ventiladores e abaixar a ponte antes de fugir. Apesar de Annette estar
errada sobre os propósitos de Ada, ela terá que chegar no laboratório antes da cientista. E com Leon nessas
condições só a atrasaria.
Solte ele! Perca o peso, você não é uma enfermeira, por Deus, esta não é você, Ada -
"Estou com sede". Leon suspirou, sua respiração morna em seu pescoço. Olhando em seu rosto ensangüentado
e piscante, ela viu que a voz lá dentro seria mais fácil de ignorar. Ela terá que deixá-lo -
- mas não agora.
"Então vamos achar um pouco de água". Ela disse, e virou-o gentilmente para a direção que precisava ir.
Sherry acordou no escuro, um terrível gosto na boca, um rio de água fria puxando suas roupas. Havia um
estrondoso barulho a sua volta, como se o céu estivesse caindo, e por um segundo não podia se lembrar do que
tinha acontecido ou onde estava - e quando percebeu que não conseguia se mover, ela entrou em pânico. O som
estava enfraquecendo mais e mais até acabar - mas ela estava presa em algum rio fedorento, presa e sozinha.
Ela abriu a boca para gritar - mas lembrou do monstro que berrava, depois do gigante careca e depois de Claire.
Ela lembrou de Claire quando a impediu de gritar; de algum modo a imagem de Claire funcionava como um suave
toque, acalmando o cego terror e a permitindo pensar.
Sugada por um buraco, e agora estou - em outro lugar, e gritar não vai ajudar.
Era um pensamento forte e corajoso, fazendo-a pensar melhor. Ela se desencostou da dureza atrás e percebeu
que não estava presa; ela estava contra uma fileira de barras na parede e a força da água corrente a tinha
segurado lá - e provavelmente a salvou de ter afundado. A nojenta água ainda estava agitada, borbulhando - e o
gosto ruim em sua boca significava que havia engolido um pouco dela...
Pensar nisso abriu o resto de sua memória. Ela estava flutuando e de alguma forma foi revirada, engoliu o horrível
líquido e - apagou.
Pelo menos o barulho tinha acabado, e agora que estava mais acordada, percebeu que podia enxergar. Não
muito, mas o suficiente para ver que estava numa grande sala alagada e que havia um pequeno buraco de luz
vindo de cima.
Tem que ser uma saída. Alguém construiu esse lugar, tem que haver uma saída...
Ela nadou mais pela sala, e sentiu seus dedos do pé tocarem algo duro e plano. Sentindo-se boba por não ter
pensado nisso antes, ela respirou fundo e esticou as pernas - e ficou de pé. A água batia em seus ombros, mas
conseguia ficar de pé.
Os últimos traços de pânico se foram ao parar no meio do lugar, virando devagar, seus olhos finalmente se
adaptando à fraca iluminação - e viu a escada de mão na parede ao longe. Ainda assustada, a visão das barras
significava que tinha achado a saída. Sherry levantou o pé e foi para a escada, orgulhosa de como está se
virando.
Sem gritar nem chorar. Como Claire diz. Forte.
Ela começou a subir, agarrando as melecadas barras de metal que pareciam continuar para sempre. Ao olhar
para baixo, só viu a água movimentando onde a luz incidia. Ela também viu a origem da luz - uma estreita fenda
no teto, não muito longe de onde estava.
Quase no topo. E se eu cair não vou me machucar... não há nada para se assustar.
Sherry respirou fundo para tornar isso verdade e olhou para cima de novo.
Mais algumas barras, e quando foi tocar a próxima, sua mão bateu no teto de metal. Ela empurrou com uma
#
mão e -
- e a tampa não se moveu. Não mesmo.
"Droga". A palavra soou pequena e só, mais como um apelo.
Sherry colocou um cotovelo em volta da barra que segurava, tocou seu colar da sorte, e tentou de novo,
empurrando de verdade desta vez. Ela sentiu o alçapão mexer um pouco, mas não o bastante. Ela abaixou a
mão, quieta; estava presa.
Por vários minutos ela não se moveu, não querendo voltar para a água, não querendo acreditar que estava presa
- mas seus braços estavam começando a ficar cansados e ela não queria pular. Finalmente, ela começou a
descer, mais devagar do que quando subiu. Cada degrau a menos era como admitir a derrota. Ela estava a um
terço do caminho para a água quando ouviu passos acima - uma suave vibração a princípio, mas depois se
difundiram em passos distintos, mais altos, se aproximando do poço que Sherry estava.
Sherry deu um segundo para pensar em ignorar os passos, mas acabou subindo, decidindo que valia a pena
arriscar; pode não ser Claire - mas podia ser sua única chance de escapar.
Ela começou a gritar antes mesmo de chegar ao topo. "Ei! Socorro, você pode me ouvir? Ei, Ei!".
Os passos pareceram parar, e ela alcançou o topo, ainda chamando, batendo no metal várias vezes.
"Ei, ei, ei!".
Outra pancada com sua dolorida mão - e de repente estava socando o ar, uma forte luz caindo em seu rosto.
"Sherry! Oh, meu Deus, querida, que bom que você está bem!".
Claire, era Claire, e Sherry não a conseguia ver, mas estava derretida de prazer ao som de sua voz. Fortes e
quentes mãos a levantaram, quentes e úmidos braços a abraçaram fortemente. Sherry piscou e começou a
perceber as características da vasta sala através da brilhante e branca névoa.
"Como você sabia que era eu?". Claire perguntou, ainda segurando-a.
"Eu não sabia. Eu não conseguia sair sozinha, e ouvi passos...".
Sherry olhou em volta, sentindo-se impressionada por Claire tê-la ouvido.
A sala era enorme, com passarelas de metal na diagonal - e a seção do chão onde tinha saído estava no canto
mais longe da sala.
"Estou muito feliz por ver você". Sherry disse e Claire sorriu, tão feliz e espantada quanto Sherry.
Claire se ajoelhou na frente dela, seu sorriso sumindo um pouco. "Sherry, eu vi sua mãe. Ela está bem, está viva
-".
"Onde? Onde ela está?". Sherry ficou corada, empolgada com a notícia - mas sentindo uma incerteza,
tencionando os músculos de repente, ficando difícil de respirar.
Ela olhou fundo nos olhos preocupados de Claire, e percebeu que ela iria mentir de novo - que tentava dar uma
notícia ruim do melhor jeito possível. Sherry teria deixado ela fazer isso algumas horas atrás -
- mas agora não. Fortes e corajosas nós temos que ser...
"Diga-me, Claire. Diga-me a verdade".
Claire suspirou, balançando a cabeça. "Eu não sei para onde ela foi. Ela estava - com medo de mim, Sherry. Acho
que ela me confundiu com outra pessoa, alguém ruim. Ela correu de mim - mas eu tenho quase certeza de que
ela veio por aqui, e eu estava procurando por ela quando ouvi você".
Sherry acenou devagar, forçando para aceitar a idéia de que sua mãe vinha agindo estranho - estranho o
bastante para Claire suavizar.
"E você acha que ela veio para cá?" Sherry finalmente perguntou.
"Não estou certa. Eu também achei um policial, antes de ver sua mãe. Eu o conheci quando cheguei na cidade, e
ele estava num dos túneis que passei depois que você desapareceu. Ele estava ferido, ele não podia vir comigo -
então depois que vi sua mãe, eu voltei para buscá-lo, mas ele não estava mais lá."
"Morreu?".
Claire balançou a cabeça. "Não. Foi embora - então eu voltei e esse é o único caminho que sua mãe pode ter
pego. Mas como eu disse, não estou muito certa..."
Ela hesitou, olhando para Sherry pensativa-mente. "A sua mãe já te falou sobre algo chamado G-virus?".
"G-virus? Não acho que não".
"Ela já te deu algo para segurar, algum tubo de vidro, ou algo assim?".
Sherry franziu de volta. "Não, nada. Por quê?".
Claire se levantou, tocando e apertando o ombro de Sherry. "Não é nada importante".
#
Sherry estreitou os olhos e Claire sorriu de novo. "É sério. Venha, vamos ver se descobrimos por onde sua mãe
foi. Aposto como está procurando você".
Sherry deixou Claire dar o caminho, imaginando porque de repente tinha certeza de que Claire não acreditava no
que dizia... e imaginando porque não conseguia fazer mais perguntas.
O elevador plataforma do galpão, com uma locomotiva em cima, estava onde Annette o tinha deixado. O tempo
tinha apertado, mas ainda estava na frente dos espiões, de Ada e de sua amiguinha de roupas rasgadas...
... dizendo mentiras como se o sofrimento de perder William não fosse o bastante para elas...
Ela tirou a chave de controle do bolso de seu rasgado avental de laboratório, apoiando-se nos controles, inserindo
a chave e girando-a. Seus trêmulos dedos tocaram o botão de ativação e uma trilha de luzes apareceram no
painel, bem claras apesar do brilho da lua cheia. Uma fresca brisa de outono soprou em seu corpo dolorido, um
amigável vento que cheirava como fogo e doença...
... como no Dia da Bruxas, como fogueiras queimando a carne pestilenta das brincadeiras...
Quatro barulhentas buzinas soaram no ar noturno, o pesado elevador dizendo que é hora de ir. Annette subiu os
degraus para a locomotiva, incapaz de lembrar o que estava pensando. Ela estava cansada. Quanto tempo faz
que não dorme? Ela também não lembra disso?
Bati a cabeça, não foi? Ou apenas sonolência, pode ser...
Seus machucados a tinham levado para delirantes lugares que nunca imaginou existir, ela sabia o que fazer - o
sistema de disparo, a abertura do portão do trem subterrâneo, se esconder nas sombras e esperar se curar -
mas o resto ficou tão estranho, como se tivesse tomado um remédio para pensar um pouco por vez.
Estava quase acabado. Uma mágica e positiva frase que ainda podia ver, não importava o quanto cega tinha
ficado. A caminho do galpão, ela tossiu e tossiu, e depois vomitou de dor, uma escuridão que quase permaneceu
por tanto tempo que ela pensou ter perdido a visão -
- está quase acabado.
Agarrando o pensamento como um amor perdido, ela achou a maçaneta da porta metálica e entrou. O
movimento e o som de movimento a engoliram enquanto se deitava no suave banco de metal e fechava os
olhos. Alguns momentos para descansar e estará tudo acabado...
Annette afundou na escuridão, o suave hum dos motores levando-a para um profundo e distante sono. Ela
estava descendo, seus músculos relaxados, suas dores e misérias perdendo a força - e por um bom tempo
achou silêncio até que -
- até que um terrível grito esfaqueou sua escuridão, um berro de tal fúria e dor que falou para seu coração - e ela
voltou à vida, ofegando e apavorada -
- e então percebeu o que a tinha tirado de seu sono.
Foi William. Ele tinha voltado para casa, ele a tinha seguido - e a Umbrella não terá nada porque seu marido tinha
voltado para o raio da explosão.
O grito soou de novo, desta vez ecoando por um dos vários túneis secretos do laboratório enquanto descia.
Annette fechou os olhos novamente, o novo pensamento se juntado ao seu amor perdido, ambos juntos a
fazendo feliz.
William voltou. Está quase acabado.
O terceiro seguiu naturalmente enquanto voltava para o silêncio, sabendo que terá de se levantar em breve.
Quando a plataforma parar, ela levantará e estará pronta para a jornada final.
A Umbrella sofrerá pelo que fez - e todos morrerão no final.
Ela sorriu e dormiu, sonhando com William.
#
[24]
Leon finalmente começou a se sentir ele mesmo, sentado na sala de controle onde Ada o deixou. Ela tinha
achado um kit médico em um dos gabinetes empoeirados, junto com uma garrafa de água; já fazia dez minutos
que ela tinha saído e, a aspirina já estava funcionando, a água fez maravilhas.
Ele sentou no console cheio de botões, tentando se lembrar do que tinha acontecido depois da explosão no
esgoto; a última coisa de que se lembrava era do colapso do crocodilo e de ter sido pego por uma fraqueza logo
depois. Ada fez um curativo e o levou pelos túneis -
- e um vagão, nós ficamos num vagão por um minuto ou dois -
- e finalmente esta sala, onde ela pediu que descansasse enquanto verificava algo.
Leon tinha protestado, lembrando-a de que não era seguro, mas estava confuso o bastante para não fazer nada
exceto sentar onde ela mandou. Uma vez que bebeu um galão de água, começou a melhorar. Parece que a
perda de sangue causava desidratação...
... aí ela me deu água e foi checar o que? E como ela sabia vir por esse caminho?
Ele mal conseguia andar e mesmo delirando, ele percebeu o quanto ela estava confiante e precisa ao escolher o
caminho? Ela era uma compradora de arte em Nova Iorque, como ela pode saber algo sobre o sistema de
esgoto de Raccoon City?
E onde ela está? Por que ainda não voltou?
Ada provavelmente salvou sua vida - mas ele não podia continuar acreditando no que ela dizia ser. Ele queria
saber o que ela estava fazendo, saber agora, e não só porque está guardando segredos, mas porque Claire
ainda estava nos esgotos. Se Ada conhece uma saída, Leon devia isso a Claire.
Leon se levantou devagar, se apoiando na cadeira e respirando fundo. Ainda fraco, não sentia tanta dor no braço
e nem enjôo - a aspirina talvez.
Ele sacou o revólver e andou para a porta da pequena e empoeirada sala de controle, prometendo que não
aceitaria mais respostas vagas ou sorrisinhos.
Ele abriu a porta e saiu num enorme galpão de madeira; estava vazio e escuro, mas a brisa noturna fez isso
quase agradável - e lá estava Ada, subindo numa plataforma elevada fora do galpão, desaparecendo atrás do
que parecia ser uma locomotiva amarela. Era um elevador de transporte industrial - e pelos oleosos trilhos que
terminavam dentro do galpão, deveria ser a parte de uma fábrica abandonada, que não estava completamente
abandonada.
"Ada!".
Com seu braço ferido pressionado contra o corpo, Leon correu para a grande plataforma hexagonal - ficou
enraivecido ao ouvir o crescente barulho dos motores, o barulho mecânico subindo no limpo céu noturno. Ada
estava partindo, não tinha ido verificar nada -
- só que ela não vai a parte alguma antes de dizer por quê.
Leon correu pela luz da lua, ouvindo a porta da locomotiva fechar enquanto passava por um painel de controle.
Depois que subiu os degraus e tentava recuperar o equilíbrio, o grande elevador começou a descer, painéis de
quase um metro cercaram o perímetro hexagonal da plataforma, levando Leon, Ada e a locomotiva para baixo
numa suave descida.
Leon abriu a porta enquanto tudo ficava escuro, o céu tornando-se apenas um ponto cada vez menor. A luz da
lua sendo trocada pelas brancas luminárias do poço do elevador.
Ao entrar, viu o surpreso olhar de Ada enquanto se levantava de um assento preso na parede, enquanto ela
erguia a Beretta e a abaixava de novo - o sentimento de culpa indo e vindo no tempo que levou para fechar a
porta.
Nenhum dos dois falou, encarando um ao outro. Leon quase a viu tentando inventar uma explicação - cansado
como estava, ele decidiu que não tinha paciência para isso.
"Para onde nós vamos?". Ele perguntou, tentando não mostrar a raiva em sua voz.
Ada suspirou - e sentou, seus ombros caindo "Eu acho que é uma saída". Ela olhou para ele. "Desculpe. Eu não
devia ter tentado partir sem você, mas eu estava com medo...".
Ele pôde ver tristeza de verdade em sua voz e em seus olhos, sua raiva diminuindo um pouco. "Com medo de
quê?".
#
"De que você não fosse conseguir. De que eu não fosse conseguir, tentando manter nós dois a salvo."
"Ada, do que você está falando?". Leon foi para o banco, sentando ao lado dela. Ela olhou para as mãos, falando
suavemente.
"Quanto eu estava procurando você nos esgotos, eu achei um mapa. Ele mostrava o que parecia ser algum tipo
de laboratório ou fábrica subterrânea - e se o mapa estiver certo, havia um túnel que dava fora da cidade".
Ela olhou para ele de novo. "Leon, eu não achava que você tivesse condições de fazer uma viagem como aquela,
como esta - e eu estava como medo de traze-lo comigo, de ser um túnel sem saída ou de algo nos atacar...".
Leon acenou devagar. Ela estava tentando se proteger - e a ele.
"Me desculpe". Ela repetiu. "Eu devia ter contado, eu não devia tê-lo abandonado daquele jeito. Depois de tudo o
que você fez por mim, eu - eu pelo menos te devia a verdade".
A culpa e a vergonha em seus olhos não era algo falso. Leon foi para tocar a mão dela, preparando-se para dizer
que entendia e que não a culpava -
- foi quando houve uma pancada no lado de fora. O vagão inteiro tremeu um pouco, mas suficiente para
deixá-los apreensivos.
"Deve ser um defeito na trilha...". Leon disse e Ada acenou, com uma intensidade que o fez prazerosamente
desconfortável, um calor que se espalhou por todo seu corpo -
BAM!
- e Ada voou do banco, jogada ao chão assim que uma grande e encurvada coisa varou a parede como se fosse
papel. Era uma mão, uma mão com garras bem compridas, pingando de -
"Ada!".
A mão gigante saiu e voltou, fazendo novos buracos no metal enquanto Leon se jogava ao chão, agarrando o
mole corpo de Ada, colocando-a no centro do vagão. Um terrível grito soou pela escuridão do lado de fora - foi o
mesmo grito furioso que tinha ouvido na delegacia, só que mais alto e violento - e menos humano do que antes.
Leon segurou Ada com o braço bom, sentindo um quente rastro de sangue sair do lado direito dela.
"Ada, acorde! Ada!".
E nada. Ele a abaixou gentilmente no chão e apertou o buraco de sangue em seu vestido, bem acima do quadril.
Sangue jorrava de duas profundas perfurações; não dava para saber se era grave. Ele rasgou cerca de cinco
centímetros da parte debaixo do curto vestido dela, pressionando o tecido contra o ferimento -
- e o monstro gritou de novo, e a raiva naquele grito nem se comparava com a de Leon, olhando para o falecido
rosto de Ada. Ele esticou o apertado vestido sobre a atadura improvisada, prendendo-a o melhor que podia,
depois se levantou e empunhou a Remington.
Ada tinha cuidado dele e o protegeu quando não conseguia se proteger. Leon carregou a espingarda
impiedosamente enquanto se preparava para retribuir o favor.
Quando elas chegaram no que parecia o fim da linha, foi Sherry que adivinhou por onde sua mãe devia ter ido.
Elas tinham entrado em outra cavernosa e escura câmara, mas só tinha a porta de entrada. Não parecia ter
outra saída, a não ser que Annette tivesse descido da passarela de metal e caminhado pelo vazio que as cercava.
Elas pararam na beira do chão de metal, tentando enxergar a escuridão à frente, mas sem sorte. O lugar parecia
uma doca; o chão gradeado ia da porta até a parede de trás, e terminava sem mais nem menos, dando lugar a
um interminável vazio. Ou Annette desceu e seguiu em frente ou Claire seguiu pelo caminho errado.
Então voltamos ou seguimos em frente?
Ela não queria nenhuma das opções - se bem que voltar parece melhor do que encarar uma caverna escura. E
Leon ainda deve estar lá atrás...
"Isso é algum teleférico? Sherry perguntou, e Claire se bateu mentalmente.
Plataforma, vários cabos no teto...
"É, acho que é, apesar de você ter adivinhado por mim. A minha cabeça deve estar ruim...".
O pequeno painel do outro lado da plataforma devia ser a mesa de controle. Claire foi para lá, Sherry a seguiu,
apertando seu colar dourado enquanto descrevia os barulhos do tubo de drenagem.
"... e se movia como um trem. Me assustou bastante, também. Era bem alto".
Bem abaixo do pequeno monitor estava um código de chamada. Claire digitou o código e apertou "enter" - e o
lugar se encheu com o suave hum do maquinário.
"Você é bem espertinha, sabia?". Claire disse e Sherry praticamente se iluminou, um doce sorriso em seu rosto.
#
Claire colocou um braço em volta dos ombros de Sherry e juntas foram esperar no fim da plataforma.
As luzes do teleférico apareceram alguns segundos depois, aumentando cada vez mais. Depois dessa, Claire
decidiu que seria fantasticamente mais otimista. O teleférico daria fora da cidade e estaria bem estocado com
água e comida, teria chuveiros e roupas limpas -
- não, apague isso. Uma banheira quente e um daqueles grosso roupões de veludo. E pantufas.
Legal, qualquer coisa que não inclua monstros e pessoas malucas. Ela olhou para Sherry e viu que ela ainda
esfregava o medalhão.
"O que tem aí?". Ela perguntou, tentando fazê-la sorrir de novo. "É a foto do seu namorado?".
"Dentro? Oh, não é para guardar nada". Sherry disse, e Claire gostou de ver as bochechas dela coradas. "Minha
mãe me deu, é para dar sorte - e eu não tenho um namorado. Os meninos da minha idade são totalmente
imaturos".
Claire sorriu. "Vá se acostumando, docinho. Alguns deles nunca crescem mais do que isso".
Já dava para ver o aspecto do teleférico, um único vagão com cerca de seis metros vindo suavemente.
"Para onde você acha que ele vai?". Sherry perguntou, e antes que Claire pudesse responder, a porta pela qual
entraram explodiu.
A porta veio para dentro, arrancada das dobradiças em um ruído metálico e caindo no chão -
- e Claire agarrou Sherry, colocando-a perto assim que Mr. X apareceu, contorcendo-se para cruzar a abertura,
seu olhar desalmado mirando nelas.
"Fique atrás de mim!". Claire gritou, sacando a arma de Irons, arriscando um olhar para o teleférico se
aproximando. Dez segundos, só dez segundos -
- mas X deu um passo gigante para elas, seus grandes braços se levantando, ainda a seis metros de distância,
mas só a quatro de seus largos passos -
"Entre no vagão quando ele parar!". Claire gritou e apertou o gatilho.
Quatro, cinco, seis tiros no peito dele. O sétimo acertando uma bochecha branca, mas Mr. X nem piscou, nem
sangrou - nem parou. Outro passo. O escuro buraco em seu rosto como prova de sua inumanidade. Claire
abaixou a mira, pernas, joelhos.
Bam-bam-bam!
- e ele pausou quando pelo menos um dos tiros acertou seu joelho esquerdo, seus olhos negros fixados nela,
marcando-a -
"Aqui, vamos!".
Sherry já estava puxando o colete dela, gritando, e Claire recuou, atirando de novo. Mais dois tiros acertaram sua
barriga -
- e ela já estava no vagão. Sherry achou o controle da porta e a mesma deslizou para o lado, Mr. X enquadrado
na pequena janela, sem vir mas também sem cair. Sem morrer.
"Siga-me!". Claire gritou, vendo os comandos luminosos à direita, sabendo que a porta não agüentaria um
segundo.
Ela correu com Sherry, agradecendo a Deus pelo designer ter sido amigável quando o botão "partir" desceu sob
suas trêmulas mãos -
- e o teleférico se moveu, deslizando da plataforma, para longe do indestrutível homem e para dentro do escuro.
Annette sentou-se no dormitório do nível quatro, esperando o computador ligar e debatendo se inicia ou não a
seqüência P-Epsilon. Quando o sistema de destruição for ativado, todas as portas serão destrancadas, até
mesmo as eletrônicas. E as criaturas que estiveram presas pelos últimos dias ficarão livres para vagar, e a maioria
delas estarão famintas...
... famintas e quentes, sangrando puro vírus através da carne...
Ela não queria encarar nenhuma dessas criaturas, mas assim que as primeiras linhas do código apareceram na
tela, ela decidiu iniciar a seqüência. O gás P-Epsilon era um experimento que alguns microbiologistas criaram para
satisfazer a equipe de controle de danos da Umbrella. Se funcionar, o gás incapacitará qualquer criatura infectada
pelo vírus aerotransmissível - a principio - garantindo-a uma viagem segura para o túnel de transporte, mas os
espiões estavam vindo e Annette não queria tornar as coisas fáceis para eles. Ela tinha ouvido o elevador de
#
carga sendo chamado para a superfície a caminho do laboratório de sínteses - o que era ótimo, eles estarão aqui
para o final, e ela queria que eles lutassem por suas vidas enquanto acelerava para fora do multibilionário
complexo, para longe da brilhante explosão...
... ele vai queimar e eu ficarei livre desse pesadelo. Fim de jogo, eu venço e a Umbrella perde, e de uma vez por
todas as criaturas assassinas -
Ela sentiu-se bem; ela queria ir direto para o computador mais próximo e ativar o sistema de destruição, mesmo
antes de coletar a amostra, só que ela mal enxergava à frente quando saiu do elevador; e ela tinha medo de
esquecer alguma coisa - ou pior, cair e não levantar mais. A viagem para o armário de remédios do laboratório de
síntese fixou tudo isso.
Epinefrina*, endorfina*, anfetamina*, oh, Deus.
Annette sabia que estava drogada, que não devia subestimar suas habilidades, mas por que não se sentir feliz?
Ela sorriu para o pequeno computador à frente e começou a digitar os códigos, sentindo como se seus dedos
fossem quebrar enquanto a adrenalina sintética corria por suas veia dilatadas.
--------------------------------------------------------------
* Epinefrina - Sinônimo de adrenalina.
* Endorfina - Analgésico.
* Anfetamina - medicamento vaso-condutor e estimulante.
-------------------------------------------------------------- Ela tinha voltado para o laboratório, William também, e a última
amostra viável do G-virus estava no seu bolso. Ela a tinha escondido numa caixa de fusíveis antes de ir procurar
William, e a recuperou quando voltou -
76E, 43L, 17A, tempo para destruição... 20, alerta vocal/corte de energia, 10, autorização pessoal, 0001 Birkin -
- e era isso. Annette não parava de sorrir, não queria parar enquanto tocava o "enter". Um toque e nada na
terra poderia pará-lo. Em dez minutos os alertas gravados serão tocados, e o elevador desligará; em quinze
começará a contagem - cinco minutos para alcançar uma distância segura de trem, outros cinco e -
Boom. Vinte minutos antes da explosão. Mais do que suficiente para chegar no túnel e ligar o trem; suficiente
para acelerar por baixo das ruas da cidade, pelas montanhas isoladas dos limites de Raccoon. Tempo o bastante
para chegar no fim da linha e ver a Umbrella perder.
Quando o relógio marcar zero, as cargas plásticas na central de força do laboratório serão ativadas. Mesmo se
onze das doze cargas explosivas falharem, uma única seria capaz de detonar as cargas secundárias embutidas
nas paredes. O sistema de destruição da Umbrella foi projetado para derrubar tudo. O laboratório se tornará um
inferno, explodindo sob a cidade morta, visível à quilômetros - e ela estará lá para ver, para ver que fez tudo dar
certo.
Isto é por você William...
O pensamento foi amargo... por um tempo, eles não - aproveitaram a relação marido e mulher. William era tão
brilhante, tão devotado ao trabalho que os prazeres da síntese tomaram o lugar da vida de casado. Mas ela
aprendeu a conviver com isso - e agora, com seu dedo tocando o fim de tudo, ela desejou que tivesse havido
mais entre eles nos últimos anos, mais do que sua adoração por seus incríveis presentes ou pela adoração dele
por sua assistência...
Este é o nosso último beijo, meu amor. Esta é minha contribuição pelo trabalho, meu ato final pelo que
compartilhamos.
É, estava certo, esse era o sentimento. Annette apertou a tecla, seu coração cantando, e viu o código de
travamento aparecer na tela em verde brilhante.
"Eu, com todo respeito, ofereço a minha demissão". Ela disse suavemente e começou a rir.
[25]
Leon tinha dado duas voltas em torno do vagão e não viu nada.
Quando a criatura finalmente saiu das sombras do teto do vagão, Leon ergueu a espingarda. A visão o fez
#
congelar, sua fúria rendendo-se ao medo.
Mas que droga -
A coisa ainda gritava, o brutal berro como a voz do inferno. A coisa já foi um homem - pernas e braços, pedaços
de roupas penduradas em seu grande corpo - mas tudo de humano mudou - ainda estava mudando enquanto
aumentava sua ferocidade, e Leon só conseguia olhar.
Seu corpo era inchado e ondulado com estranhos músculos. Seu braço direito era quase meio metro mais longo
que o outro, manchadas garras sobressaindo da mão. E o inquieto tumor no ombro direito parecia um olho do
tamanho de uma bola de basquete, mexendo de um lado para o outro como se procurasse algo -
- e o grito também estava mudando, mais profundo, mais áspero, o despenteado rosto caindo - derretendo até o
peito. Como cera quente, a cabeça humana escorregou para o peito esquerdo -
- e ao mesmo tempo, outro rosto estava se formando, crescendo com um terrível som de estalo, como dedos
sendo quebrados. Rachados olhos se abriram, o vermelho buraco de uma boca se formando, respirando para
gritar -
- e Leon apertou o gatilho.
Boom!
O tiro acertou o peito, um grosso e roxo sangue espirrou, cortando o grito da criatura - mas foi só isso. O novo
rosto do monstro virou para Leon, inclinando -
- e pulou na plataforma, aterrissando com as penas meio agachadas. Ele deu um passo a frente e ficou perto o
bastante para Leon sentir o estranho e químico cheiro que a pele do monstro soltava - e viu que o sangramento
no peito tinha parado, que a carne estava comendo os buracos.
A criatura levantou sua poderosa garra e Leon recuou, atirando novamente quando a mão desceu -
- shhink!
- e faíscas voaram do metal assim que o tiro acertou a criatura no estômago. O pesado calibre mal intimidou o
gigante mostro. Ele deu outro passo e Leon recuou, atirando de novo -
- e encostou nos degraus que sobem para o vagão, tropeçando e caindo sentado, o tiro indo longe sobre a
cabeça em forma de bala da criatura. Mais um passo e estará nele -
- e estarei morto -
- exceto que a criatura não deu o passo. Ao invés disso, ela virou para o parapeito da plataforma, sua bizarra
cabeça levantando, os buracos de suas narinas alargando -
- e silenciosamente, quase graciosamente, o monstro pulou para a escuridão fora da plataforma.
Por um momento, Leon não se mexeu. Não podia, estava muito ocupado tentando entender porque o monstro
não o matou. Deve ter sentido ou cheirado algo, terminou o ataque que com certeza teria ganho - e pulou fora
do transporte.
Eu não morri. Ele se foi e eu não estou morto.
Por quê? Ele não sabia, mas saber que estava vivo já bastava - e alguns segundos depois, seus confusos
sentidos o disseram que o elevador estava diminuindo a velocidade, que o poço estava ficando mais claro, a
escuridão ficando acinzentada.
Leon ficou de pé e foi ver Ada.
Sherry ouviu o monstro de longe, em algum lugar do claro e fundo buraco, e sentiu-se bem mais assustada do
que quando Mr. X - Claire o chamava assim - entrou na estação do teleférico. Claire disse que foi um problema na
máquina, mas Sherry não se convenceu. O som era tão distante e estranho que poderia ser outra coisa...
... e se não for? E se Claire estiver errada?
Elas pararam no lado de fora do galpão, em frente a um grande buraco no chão e esperaram pelos ruídos
mecânicos cessarem. A quase lua cheia estava baixa no céu, e Sherry podia dizer que já era de madrugada pelo
tom azul no horizonte; ela não se sentia cansada. Estava assustada e ansiosa, mesmo com Claire segurando sua
mão, Sherry não queria entrar no buraco escuro onde o monstro poderia estar.
Depois de um longo tempo, o maquinário parou e Claire recuou - o poço do transporte, ela disse - e voltou para o
galpão.
"Vamos ver se podemos chamá-lo de volta - Sherry?".
#
Sherry não se mexeu. Ela olhava dentro do buraco, segurando seu amuleto e desejando ser corajosa como Claire
- mas ela não era, e sabia disso, e não queria descer na escuridão.
Eu não posso, eu não posso descer lá, eu NÃO sou como a Claire, e não me importo se minha mãe está lá
embaixo -
Sherry sentiu um calor nas costas e olhou para cima, assustada, e viu que Claire tinha tirado o colete e estava
colocando-o em Sherry.
"Eu quero que você o use". Claire disse, e apesar do medo, Sherry sentiu uma súbita onda de pura alegria.
"Mas por que? Ele é seu, e você vai sentir frio...". Sherry disse.
Claire ignorou por um minuto, ajudando-a se vestir. Era grande demais para ela e estava um pouco sujo, mas foi
a coisa mais legal que já ganhou.
Para mim. Ela quer que eu o tenha.
Claire se ajoelhou, agora vestindo só uma fina camiseta preta e shorts. Olhando seriamente, Claire fechou o
colete no peito de Sherry e começou a falar.
"Eu quero que fique com ele porque eu posso dizer que você está com medo. Faz tempo que eu o tenho.
Quando eu o uso, sinto como se pudesse chutar traseiros. Como se nada fosse me deter. Meu irmão tem uma
jaqueta de couro com o mesmo desenho nas costas, e ele chuta traseiros - mas ele tirou a idéia de mim".
Claire sorriu de repente, um cansado e quente sorriso que fez Sherry esquecer do monstro, só por um minuto.
"E agora é seu, e toda vez que vesti-lo, eu quero que se lembre de que você é a melhor garota de doze anos
com quem eu já andei".
Sherry sorriu de volta, abraçando o tecido rosa escuro. "É um suborno, não é?".
Claire acenou sem hesitar. "Sim, é um suborno. Então, o que você me diz?".
Suspirando, Sherry pegou a mão dela, e juntas entraram no galpão para procurar os controles do elevador.
Ada acordou assim que Leon a colocou numa barulhenta cama metálica, sentindo uma pulsante dor de cabeça e
uma dor em seu lado. Sua primeira idéia foi a de ter sido baleada - mas ao abrir os olhos e ver a pálida e
preocupada face de Leon, ela lembrou.
Ele ia me beijar, acho - e então...
"O que aconteceu?".
Leon tirou o cabelo da testa dela, sorrindo um pouco. "Aconteceu um monstro. O mesmo que pegou Bertolucci,
acho. Ele atravessou a parede do transporte com a mão e te nocauteou. Você bateu a cabeça depois que - te
arranhou".
Vírus!
Ada fez força para levantar e ver o ferimento, mas a dor de cabeça a impedia. Ela tocou o galo bem acima da
têmpora* esquerda, e tremeu.
"Ei, fique parada". Leon disse. "O ferimento não é tão grave, mas você levou uma séria pancada...".
Ada fechou os olhos. Se ela foi infectada, não havia nada que podia fazer - e que ironia - se foi Birkin quem a feriu
e ainda estava quente, Ada acabaria coletando a amostra do G-virus de uma forma bem pessoal.
Respire fundo. Você não está mais no transporte, o que isso a diz?
"Onde nós estamos?". Ela perguntou, abrindo os olhos.
Leon balançou a cabeça. "Não tenho certeza. Como você tinha dito, é um laboratório ou fábrica subterrânea. O
elevador está lá fora. Eu a trouxe para a sala mais próxima".
Ada virou a cabeça para ver a janela, para ver a área do elevador.
Deve ser o nível quatro, onde a plataforma pára...
O laboratório de síntese principal ficava no nível cinco.
Leon olhava tão sinceramente, seu brilhante olhar azul tão sensível, que por alguns segundos fez Ada pensar em
abortar a missão. Eles poderiam descer para o túnel de fuga juntos, entrar no trem e sair da cidade. Podiam fugir
para bem, bem longe -
- e depois o que? Ligar para Trent e dizer que vai reembolsar? Claro. Depois você pode conhecer os pais de Leon,
ganhar um anel, comprar uma pequena casa branca com um cercado de madeira, ter alguns filhos... você pode
aprender crochê e esfregar os pés dele depois de um duro dia prendendo bêbados e fazendo paradas no trânsito.
Felizes para sempre.
Ada fechou os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava.
#
"Minha cabeça dói muito, Leon, e o túnel que vi no mapa - eu não sei onde é exatamente...".
"Eu vou achá-lo,". Ele disse. "eu vou achá-lo e depois voltar para cá. Não se preocupe com nada, tá bom?".
"Tome cuidado". Ela sussurrou, e sentiu os suaves lábios dele tocarem sua testa, o ouviu levantar e ir para a
porta.
"Fique aqui, eu volto logo". Ele disse, e a porta abriu e fechou. Ela estava só.
Ele ficará bem. Ele se perderá tentando achar o túnel, vai voltar, verá que fui embora e pegará o elevador de
volta à superfície... eu poderei achar a amostra, escapar e tudo acabará.
Ada contou um minuto e sentou-se devagar. Foi uma bela pancada mas ainda conseguia funcionar.
Houve um barulho lá fora, e Ada se levantou, olhando pela janela. Ela conhecia o som mesmo antes de olhar, e
sentiu seu coração afundar um pouco. O elevador estava subindo, provavelmente chamado do galpão por uma
equipe da Umbrella...
... isso quer dizer que não tinha muito tempo. E se eles o acharem -
Não, Leon ficará bem. Ele era um combatente, sabia fugir do perigo, era forte e decente - e não precisava de
alguém como ela em sua vida. Ela foi louca em considerar isso, mesmo por um momento. Era hora de arrumar
as coisas, para fazer o que veio fazer, para lembrar quem ela era - uma agente freelance*, uma mulher sem
dúvidas na hora de roubar ou matar para completar a missão, uma fria e eficiente ladra que leva o prêmio em
uma carreira sem erros. Ada Wong nunca anda com os bons, e não será um policial de olhos azuis que a fará
esquecer disso. Ada tirou as chaves e cartões do bolsar* e abriu a porta, dizendo a si mesma que estava
fazendo a coisa certa - esperando acreditar nisso.
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* Têmpora - Osso lateral superior da cabeça.
* Freelance - Autônomo(a).
* Bolsar - Bolso de vestido.
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[26]
Annette teve alguns problemas.
A ida para a sala de carga foi ruim; cruzou com um infectado, nos primeiros estágios, e o matou com um tiro na
cabeça. Ela passou sob um Re3 que não se desgrudou do teto, e parece que as outras criaturas ainda não
perceberam que estavam livres.
Mesmo assim, ela conseguiu chegar lá em menos de três minutos. Ela digitou o código com um senso de grande
conquista -
- até que a porta da sala de carga se recusou a abrir. Annette digitou o simples código de novo, com mais
cuidado - e nada. Era uma das únicas portas no complexo que não abriam automaticamente com o sistema de
destruição, mas isso não deveria ser um problema - havia uma entrada de disco debaixo dos controles, o disco
que sempre esteve lá, que por insistência da Umbrella, só os chefes da seção poderiam ter acesso -
- e claro, depois de verificar, ela viu que não estava lá. Alguém pegou.
Annette ficou parada na frente da porta trancada do saguão vazio, e sentiu o pânico alcançar a sua mente.
O lugar vai explodir e eu desperdicei quatro, quase cinco minutos agora e onde está o maldito disco?
"Calma, calma, você está bem, tudo bem...".
Um fraco eco, um suspiro de razão no brilhante saguão. Ela só tinha que descer em outro nível; ela tinha a chave
mestra, uma arma e tempo. Não muito, mas o bastante.
Respirando fundo, Annette voltou para o corredor que dava nas escadas, lembrando se de que mesmo não
conseguindo, a Umbrella ia pagar. Ela não queria morrer, não iria morrer, mas os corredores claros e sujos de
sangue, os laboratórios uma vez estéreis vão queimar de qualquer jeito, não há motivo para pânico -
- e assim que virou à direita e correu pelo corredor, seus passos altos e profundos no silêncio, uma grade de
metal caiu do teto bem na sua frente -
#
- e um Re3, um licker, apareceu e gritou por seu sangue.
Não!
Annette atirou, mas só acertou o ombro dele enquanto avançava, esticando um braço deformado para acertá-la.
Ela sentiu uma aguda dor no braço e atirou de novo, chocada e desacreditada -
- e o segundo tiro acertou-o na garganta. Ele gritou, sangue espirrando do pescoço, seu babante e falso grito
enquanto pulava nela de novo.
O terceiro atingiu seu gelatinoso e acinzentado cérebro, e ele caiu se contorcendo, a centímetros de suas trêmulas
pernas.
Ofegando ao ver o quanto perto ele parou, Annette olhou para seu braço sangrando, para os grandes rasgos em
seu avental -
- e algo cedeu. Algo em sua mente.
Sua mente correndo, seu coração batendo, o sangue e o licker, o licker de William, morto no chão à sua frente -
tudo isso dançava em um círculo que se juntou em um só pensamento. Um que explicava tudo isso.
Não é deles.
Era tão claro, como cristal. Ela não podia fugir da dor, porque a dor acabaria em qualquer lugar; ela tinha provas,
pingando de seu braço. William tinha entendido, mas se perdeu antes de explicar, antes de dizer o que ela
realmente precisava fazer. Ela tinha que confrontar seus agressores e fazê-los entender que o G-virus não
pertencia a eles.
Mas eles vão entender? Conseguirão?
Talvez sim, talvez não. Era o trabalho de William, seu legado, e agora era dela.
Deles não. Meu.
Ela tinha que achá-los e dizer a eles. E quando aceitarem a verdade, eles terão que deixá-la sozinha - e então, se
ainda houver tempo, ela seguirá seu próprio caminho.
Mas primeiro ela precisava de outro ato. Sorrindo, de olhos grandes e estrelados, Annette passou por cima do
licker e foi para a escada.
Leon pensou ter ouvido tiros.
Ele estava em um tipo de ala cirúrgica, a primeira sala no final da primeira passagem que pegou depois de deixar
Ada, e levantou os olhos da pilha de papéis amassados que tinha achado, ouvindo - mas os distantes
cracks não se repetiram, então voltou à busca. Ele folheou rapidamente as páginas, desesperado para achar algo
além de intermináveis listas de números e cartas sob o timbre da Umbrella.
Vamos, deve ter algo útil em tudo isso...
Ele queria sair, queria pegar Ada e sair. O cadáver estripado caído no canto era um bom motivo, mas era mais do
que isso - o ar na sala, o corredor lá fora, ele apostou que todas as salas daquele lugar estavam erradas.
Cheirava como morte, e pior, tinha uma atmosfera de algo mais escuro, algo amoral. Mal.
Eles faziam experiências aqui, testes e sabe lá Deus o que mais - e eles criaram a praga zumbi; eles criaram o
demônio que atacou Ada, eles assassinaram a cidade inteira. Seja lá o que queriam fazer, estavam praticando o
mal.
- Mal em larga escala; o elevador os tinha levado para um complexo secreto da Umbrella, um dos grandes. Pelos
números na parede, ele sabia que estava no quarto piso - e a passarela de metal que o levou para a sala de
operações, uma das três, se esticava sobre um buraco que cobria a câmara inteira, o fundo perdido na sombra.
Ele não sabia o quanto tinha descido, e nem se importava, ele só queria achar um simples mapa que indicasse a
saída.
E não está aqui...
Frustrado, Leon deixou os papéis de lado - e viu que havia um disquete de computador na mesa de metal,
escondido pelos papéis. Franzindo, Leon o pegou - "Para verificação da sala de carga" estava impresso numa
etiqueta.
Suspirando, ele o colocou no bolso e esfregou os olhos com a mão direita, seu braço esquerdo praticamente inútil
depois de carregar Ada. Ele não queria procurar um computador e ver o que tinha no disco, não queria procurar a
saída de porta em porta, ver com quais atrocidades a Umbrella tinha brincado. Ele estava cansado, com dor e
preocupado com Ada... e decidiu, enquanto ia para a porta, que deveria falar com ela. Tentar refrescar sua
#
mente, dizer que acharia a saída, mas o lugar é grande demais; se ela soubesse a direção, ou se lembrasse em
que andar era...
Leon abriu a porta, saiu para o corredor e -
- uma mulher armada estava na sua frente, uma 9mm apontada para seu peito. Ela estava sangrando, finos
riscos de sangue descendo pelo braço, manchando seu sujo avental de laboratório - e o olhar dela, estranho e
esbugalhado, o dizia que se mexer seria uma má idéia.
Oh, Deus, o que é isso?
"Você matou meu marido". Ela disse. "Você, sua amiga e a garota - todos vocês, vocês queriam dançar no
túmulo dele, mas eu tenho novidades para você!".
Ela tinha certeza, ele percebeu em sua alta e trêmula voz. Ele manteve as mãos abaixadas, sua voz calma e
baixa.
"Senhora, eu sou um policial e estou aqui para ajudar, está bem? Eu não quero machucá-la, eu só - "
A- mulher colocou a mão ensangüentada no bolso e tirou algo, um tubo de vidro cheio de um líquido roxo. Ela
sorriu bastante, erguendo-o acima da cabeça, ainda mirando a arma em Leon.
"Aqui está! É o que você quer, não é? Me ouça, você me ouve? Não é de vocês! Você entende o que estou
dizendo? William o fez, eu o ajudei, e não pertence a você!".
Leon acenou devagar. "Não pertence a mim, você está certa. É absolutamente seu - ".
A mulher nem ouvia. "Você acha que pode pegá-lo, mas eu vou impedi-lo, eu não vou deixá-lo pegar - tem muito
tempo, tempo para matar você, Ada e quem mais tentar pegá-lo!".
Ada -
"O que você sabe sobre Ada?". Leon perguntou, dando meio passo na direção da maluca, não muito calmo.
"Você a machucou? Me diga!".
A mulher riu, uma risada insana e sem graça. "A Umbrella a mandou, seu idiota! Ada Wong, a senhorita ame-os e
deixe-os! Ela seduziu John para pegar o G-virus, só que não é dela, também! Não é, NÃO É DE VOCES, É MEU -".
Um forte tremor abalou o chão, lançando Leon ao mesmo, uma vibração que chacoalhou as paredes -
- e crash, canos e reboque caíram do teto, uma pesada viga levando a mulher ao chão. Leon cobriu a cabeça
enquanto pedaços de cimento caíam sobre ele -
- e acabou. Leon sentou, olhando chocado para a mulher, sem saber o que tinha acontecido. Ela não se movia. A
viga de metal que a derrubou ainda estava pendurada no teto -
- e uma fria e calma voz soou de repente, de alto falantes escondidos nas paredes - feminina, calma e pontuada
pelo ritmo de um alarme.
"A seqüência de autodestruição foi ativada. Esta seqüência não pode ser abortada. Todas as pessoas devem
evacuar imediatamente. A seqüência de autodestruição foi ativada. Este programa não pode ser abortado. Todas
as pessoas devem evacuar imediatamente -".
Leon ficou de pé, correu para a mulher e pegou o cilindro de vidro da mão estendida, colocando-o na bolsa. Ele
não sabia quem ela era, mas era louca o bastante para segurar um tubo de ensaio.
Ada - ele tinha que achá-la para fugirem. Os pulsantes e penetrantes alarmes ecoavam pelos corredores,
perseguindo-o até a porta para as passarelas, junto com a indiferente voz feminina repetindo a mensagem de
destruição iminente.
A gravação não dizia quanto tempo tinham, mas sabia que não queria estar lá quando o relógio zerar.
[27]
A descida do elevador terminou num arranho de freios hidráulicos - e depois silêncio, assim que os motores
desligaram, prendendo-as no interminável poço.
"Claire? O que -".
Claire segurou a boca de Sherry com o dedo - e ouviu o que parecia um alarme lá fora, uma repetida e abafada
batida. Parecia haver uma voz também, mas Claire não conseguia entender o murmúrio.
"Vamos, meu bem, acho que o passeio acabou. Vamos ver onde paramos, tá bom? E fique perto".
#
Elas saíram do vagão para a plataforma, os distantes sons não mais tão distantes - e havia luz, vinda de algum
lugar atrás do vagão. Claire pegou a mão de Sherry enquanto andavam rapidamente, sem querer preocupar a
garota, mas certa de que era um alarme. Havia alguém falando, também, e Claire queria saber o que dizia.
O elevador tinha parado a alguns centímetros abaixo de algum tipo de túnel de serviço, a luz que viu, vinha de
uma lâmpada enjaulada e pendurada no teto do túnel. Não havia porta, mas tinha um pequeno buraco no fim da
passagem; dava para elas passarem agachadas.
É isso ou escalar até a superfície, provavelmente um quilômetro acima...
Sem chance. Claire ajudou Sherry a subir na passagem e depois foi sua vez, indo para a boca do buraco e
agachando para o escuro. O alarme ficou mais alto ao se aproximarem, o murmúrio se transformando numa voz
feminina. Ela forçou para entender, esperando ouvir "problema no elevador" ou "temporário" -
Mas ainda não entendia. Elas tinham que deixar o elevador e esperar saírem num lugar melhor.
Claire virou, suspirando. "É hora de engatinhar. Eu vou primeiro, e depois -".
SLAM!
Sherry gritou enquanto algo caiu no teto do vagão atrás dela, uma forte pancada no metal que o partiu. Claire a
agarrou, aproximando-a, sua respi-ração presa na garganta -
- e uma mão, duas mãos apareceram no buraco do teto. Dois grossos braços cobertos em sombra -
- e a brilhante cabeça de Mr. X ergueu-se do vagão, como uma lua morta numa noite sem estrelas.
Claire virou e empurrou Sherry para a escuridão do túnel, seu coração martelando, seu corpo subitamente
molhado de suor.
"Vai, vai, estou bem atrás de você!".
Sherry sumiu no escuro e Claire não olhou para trás, o incansável perseguidor certamente já saindo do vagão
para continuar sua determinada caçada.
Ada ouviu os gritos de Annette de onde as três passarelas se juntavam. Ela se forçou a não correr para socorrer
Leon, prometendo que se ouvir tiros, mudaria de idéia -
- mas então o lugar balançou violentamente, e a suave voz da gravação começou a falar.
Droga!
Ada se levantou furiosa com a cientista, uma parte sua doendo por Leon, sabendo o que isso significava. Annette
tinha acionado a destruição, isso quer dizer que tinham menos de dez minutos para saírem de lá -
- e Leon não conhece o caminho.
Não, não é importante. Se ela for pegar a amostra que Annette certamente tem, precisaria ser agora. Leon não
era seu problema, nunca foi, e não desistiria agora, não depois do que passou para pegar o precioso vírus de
Trent.
Ada deu um passo para fora do painel central que conectava as três passarelas - e ouviu passos vindo para ela,
fortes demais para serem de Annette. Ada deslizou para a sombra, para trás da passarela oeste, se escondendo.
Um segundo depois. Leon passa correndo, provavelmente voltando para onde ela deveria estar esperando por
ele. Ada respirou fundo enquanto tirava-o de sua mente, e correu pela passarela sul para achar Annette.
Ada se foi.
"...foi ativado. Esta seqüência de auto destruição -".
"Cala a boca, cala a boca -". Leon falou, parado no meio da sala, seu estômago apertado, suas mãos fechadas.
Quando ela ouviu o alarme deve ter entrado em pânico e fugido. Ela devia estar andando por aí, perdida e
atordoada, talvez procurando por ele enquanto a infernal voz se repetia junto com o alarme.
O elevador!
Leon foi para a porta - e viu que não estava lá, um largo e pouco fundo buraco lá fora. Ele nem tinha percebido
por estar preocupado com Ada -
- nós temos que achar aquele túnel! Sem o elevador estamos presos!
Frustrado em silêncio, Leon virou e voltou para as passarelas, rezando para achá-la a tempo.
O pequeno túnel terminava abruptamente, sobre uma queda de pelo menos dois metros em um corredor vazio.
De ouvidos zunindo, de boca seca, Sherry agarrou as bordas do buraco, fechou os olhos e saltou. Ela pousou
agachada e depois caiu, sua perna direita dobrando. Doeu, mas ela mal sentiu, levantando com as mãos e
#
joelhos para sair do caminho, olhando para o buraco -
- e lá estava Claire, sua cabeça saindo, seus preocupados olhos vendo que estava bem, que o corredor era
seguro... exceto por haver sirenes tocando, uma mulher falando em alto falantes, e Mr. X estar vindo.
Claire esticou o braço com a arma. "Sherry, preciso que segure isso, eu não consigo virar".
Sherry agarrou o cano, impressionada com o peso da arma. "Não aponte isso para nada". Claire disse e
praticamente mergulhou do buraco, curvando o corpo e aterrissando sobre o ombro, suas pernas batendo na
parede.
Antes de Sherry perguntar se estava bem, Claire já estava de pé, pegando a arma e apontando-a para a porta
no final do corredor.
"Corre!". Ela disse, e começou a correr, uma mão empurrando as costas de Sherry enquanto iam para a porta,
enquanto a voz as diziam que o sistema de destruição tinha sido ativado -
- e atrás delas, um som de metal retorcendo atravessou as sirenes, e Sherry correu mais rápido, aterrorizada.
[28]
Annette Birkin se arrastou para fora do pesado e frio metal, ainda segurando a arma, o G-virus se foi. Assim que
abriu a boca para gritar de fúria, sangue correu pelos seus lábios.
- meu meu meu -
De algum modo ficou de pé.
Ada disse a si mesma que não merecia a boa opinião de Leon. Nunca mereceu.
Perdoe-me...
Leon voltava da área do elevador, correndo cego com medo por ela. Assim que passou pelo centro e foi para a
passarela oeste, Ada saiu das sombras e apontou a Beretta para as costas dele.
"Leon!".
Ele virou, e Ada sentiu sua garganta travar com o alívio no rosto dele - forçando para não sentir nada, o sorriso
dele sumindo.
Oh, Jesus, me perdoe!
"Estive esperando você". Ela disse, não se orgulhando do quanto calma estava. Do quanto fria.
Os alarmes soavam, a voz mecânica tão gelada quanto a dela, dizendo que o sistema não pode ser abortado.
"O G-virus". Ela disse. "Dê ele para mim".
Leon não se mexeu. "Ela estava dizendo a verdade" Ele falou, sem raiva mas com mais dor do que Ada queria
ouvir. "Você trabalha para a Umbrella".
Ada balançou a cabeça. "Não. Para quem eu trabalho não interessa. Eu - eu".
Pela primeira vez desde criança, Ada sentiu traços de lágrimas - e de repente o odiou por isso, por tê-la feito se
odiar.
"Eu tentei!". Ela lamentou, sua postura quebrada pela corrente de raiva que corria por ela. "Eu tentei te deixar, lá
no galpão! E você teve que tirar de Annette, você não o deixou par trás!".
Ela viu pena no rosto dele e sentiu a fúria passar, levada por uma onda de dor - pelo que perdeu com ele; pela
parte de si que perdeu a um longo, longo tempo.
Ela queria contar sobre Trent. Sobre as missões na Europa e Japão, sobre como se tornou o que era, sobre cada
evento de sua miserável vida que a trouxe para cá - apontando uma arma para o homem que a salvou.
O relógio estava correndo.
"Passe ele para cá". Ela disse. "Não me faça matá-lo".
Leon olhou nos olhos dela e simplesmente disse. "Não".
#
Um segundo passou, e outro.
Ada abaixou a Beretta.
Leon se livrou da bala que o mataria - e Ada abaixou a arma lentamente, seus ombros caindo, uma lágrima
descendo pela bochecha de porcelana.
Leon soltou sua respiração presa, sentindo muitas coisas, tristeza, traição - uma dó pela torturante força no
escuro olhar dela -
- foi quando um tiro badalou para fora das sombras atrás dela. Os olhos de Ada arregalaram, sua boca abriu
enquanto começava a cair, a arma acertou o chão, seu corpo bateu no parapeito e mergulhou.
"Ada, não!".
Ele correu e pulou, e de alguma forma ela conseguiu agarrar a barra de metal do parapeito - enquanto ele pegava
seu pulso, o corpo dela pendurado sobre a escuridão sem fundo, sangue em seu ombro.
"Ada, agüente firme!".
"Meu". Annette suspirou.
Ela ergueu a arma de novo para atirar no outro, para recuperar o que era seu, para fazê-los pagar -
- mas a arma estava pesada demais, estava caindo e ela junto. Juntas, elas caíram no metal escuro, o escuro, o
escuro em sua mente que finalmente levou a dor embora.
William -
Foi seu último pensamento antes de dormir.
O que ele quer, por que nós?
Lá, um mezanino do outro lado, a uns três metros do outro andar lá embaixo, caixotes de madeira bem abaixo
da passarela.
"Por aqui!". Claire gritou, e elas correram. O calor emanava das máquinas quando chegaram no piso inferior da
câmara de dois andares, enquanto Claire levantava Sherry e seguia logo atrás.
Crash!
Ela virou, viu que a grande criatura estava atravessando a porta, andando e procurando -
No final da mezanino, uma porta dupla de metal. Elas correram, Claire não pensando em nada exceto como
destruir uma coisa que sobreviveu tudo isso -
- a porta estava destrancada, e elas saíram em outro mezanino; o calor lá era terrível -
- e não tinha saída.
Claire viu, depois de dar alguns passos lá dentro, que estavam no parapeito de uma casa de fundição, o
borbulhante calor estourando em bolhas na piscina lá embaixo.
Ela tinha doze balas, divididas em duas armas. Claire foi para a ponta da plataforma, Sherry ao lado, o laranja
elétrico do metal derretido banhando-as com sua fervura. Quente o bastante para queimar qualquer coisa...
Como? Como eu faço ele pular?
"Sherry, vá até lá!".
Ela apontou para o canto mais longe da plataforma, e Sherry balançou a cabeça, seu rosto tremendo de medo.
"Vá! Agora!". Claire gritou, e com um choro de terror, Sherry correu, seu medalhão batendo no colete -
- não é um medalhão -
- e Sherry gritou, Claire virou, Mr. X estava vindo.
Ele entrou na câmara, tão duro, grande e impossível quanto a primeira vez que o viu, a luz alaranjada tornando-o
ainda mais um pesadelo.
Claire se aproximou, guardando a arma de Irons no short, o plano meio formado correndo em sua aterrorizada
mente. Provavelmente não funcionará, mas ela tinha que tentar -
- ele me alcança, eu pulo no beiral, me seguro, ele cai -
Mr. X virou seu vazio olhar para ela e deu um de seus estrondosos e calculados passos, os escuros buracos de
bala em seu rosto e pescoço suavizados pela luz alaranjada -
- e ele virou para Sherry, ergueu os punhos e começou a andar.
"Ei! Ei, eu estou aqui!".
Claire começou a gritar, mas ele não a ouviu, não a viu, o monstruoso ser concentrado na pobre garotinha
#
encurralada na parede, esfregando o medalhão -
- e Claire sabia o que ele queria. As frases de Annette e Sherry vieram juntas, formando a resposta.
G-virus, fazê-la em pedaços, amuleto da sorte -
Não é um medalhão.
"Sherry, ele quer o colar! Jogue- o para mim!".
Se ela estiver errada, ambas estarão mortas. Mr. X chegou mais perto da garota, bloqueando-a da visão de
Claire -
- e o colar, o colar do G-virus que Annette tinha dado para a filha voou pelo ar quente, caindo no chão perto de
Claire.
Mr. X girou, seguindo o caminho do colar com seus olhos negros, esquecendo Sherry. Era verdade.
Boa garota!
Claire o pegou, balançando-o para o monstro. "Você quer isso?". Claire disse, as palavras saindo com fúria pelas
balas gastas com ele, pelos medos que ela e Sherry tiveram. "Quer? Então venha pegar seu miserável!".
O monstro estava a uns dois metros de distância quando Claire virou e jogou o medalhão na piscina fervente,
desaparecendo no metal derretido -
- e a super criatura que as tinha aterrorizado por aquela interminável noite foi direto para o parapeito, as barras de
metal cedendo com seu peso -
- e mergulhou silenciosamente no gigante tonel, uma grande onda de lava respingou, espontâneas erupções de
fogo dançando na escura
forma do corpo que desaparecia sob o fogo derretido.
Triunfo, alívio, maravilhoso - e a fria voz da gravação mudou de repente, tirando a alegria de ver Mr. X tomar um
banho de lava.
Sob o grito das sirenes -
"Restam cinco minutos para alcançar distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se à plataforma de embarque. Repito, dirijam-se à plataforma de embarque.
Repito...".
Sherry estava do lado, Claire pegou sua mão e elas correram.
A dor era incrível e Ada fechou os olhos, pensando se morreria por isso.
"Ada, agüente firme! Agüenta, eu vou te levantar!".
Através das sirenes, Ada ouviu que a contagem para a detonação tinha começado. Cinco minutos.
Ele tenta me salvar, nós morremos.
A pegada de Leon era forte, sua determinação quase tão forte quanto o orgulho dela. Quase.
Ada virou o rosto para ele, viu que apesar de tudo, ele ainda queria salvá-la.
Não desta vez. Não para mim...
A vida dela tem sido sobre egoísmo, ego e ganância. Ela viu muita gente boa morrer, e durante o caminho,
perdeu a habilidade de se importar - dizendo a si mesma que o esforço era uma perda de tempo e um sinal de
fraqueza.
Eu estava errada. Eu fui egoísta e errada, mas agora é tarde demais.
"Leon - desça, oeste, ache a sala de carga, depois das escadas - cadeiras de espera. Você vai precisar do disco,
está no meu - bolso -
"Ada, eu já tenho! Disco de carga, certo, eu já tenho, eu achei - não fale, agüente aí, deixe-me ajudar!". Ele
inclinou-se no parapeito, tentando manter o agarre.
Falar era um terrível esforço, mas ela tinha que terminar antes do tempo acabar.
"O código é 345. Pegue o elevador, Leon. Desça. O túnel - do trem dá para fora. Tem que - correr a toda
velocidade... e cuidado com Birkin, o infectado com G-virus, ele - ele já está mudando a essa hora. Entendeu?".
Leon acenou, seu olhar azul a penetrando.
"Sobreviva". Ela disse, e era uma boa palavra, uma palavra para se cumprir. Ela estava cansada, e a missão
estava preparada, e Leon viverá.
Ela soltou-se da barra metálica do parapeito, e Leon gritou seu nome, o som a seguindo para o escuro como um
amargo adeus.
#
[29]
Sherry estava assustada, mas Mr. X estava morto. Devia ser o monstro que a procurava na delegacia, que
queria parti-la ao meio -
- mas não havia tempo para pensar enquanto corriam pela sala dos maquinários, pelo corredor com o buraco no
teto, fazendo a curva -
- e Sherry gritou quando um zumbi avançou sobre elas, uma criatura feita de ossos, e Claire atirou.
- bang, e a cabeça branca e seca desmoronou, o corpo capotando no chão, e Claire já estava puxando Sherry
para a porta no final do corredor.
Era um elevador, Sherry se jogou numa das paredes depois que Claire a empurrou para dentro, tentando
recuperar o fôlego enquanto Claire apertava os botões. Depois de correrem de Mr. X, a descida de elevador foi
suave.
"Nós vamos conseguir". Claire disse. "Só mais um pouco".
Sherry acenou, seu coração pulando mais forte enquanto a voz dizia que restavam quatro minutos para se
safarem.
Leon sentiu como se não soubesse levantar e andar. A visão do bonito rosto dela um segundo antes de se
soltar...
ela se foi. Ela está morta.
Ele pegou a Beretta do chão, ainda estava quente com o toque dela - e estava leve demais, leve porque não
estava carregada. Nem o clip estava lá, ela nunca quis machucá-lo; ela estava mentindo, ela mentiu o tempo
todo.
"... quatro minutos para alcançar a mínima distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se para a plataforma de embarque...".
Ele tinha quatro minutos para ficar longe o bastante e cumprir o último pedido de Ada.
Ele se levantou e virou para a porta - e parou, tirando o pequeno tubo cheio do líquido roxo da bolsa. Ele sabia
que não tinha tempo, mas só levou um segundo para levar o braço para trás e arremessar a amostra o mais
forte que podia, querendo-a o mais longe possível.
Se o laboratório é o responsável por tantas mortes, que o G-virus queime com ele.
"Isso!".
A porta do elevador abriu - e havia um trem, um trem subterrâneo brilhando, o escuro túnel à esquerda. O trem
estava escuro e silencioso, não a máquina ligada e trêmula que Claire esperava ver, mas ainda era o veículo de
fuga mais bonito que já tinha visto.
Com Sherry grudada em seu braço, elas foram para a composição de três vagões, os alarmes ainda soando,
ecoando pela enorme estação. A voz já informava que elas tinham três minutos para alcançar uma distância
segura.
Entrando no trem, Claire percebeu e nem se importou com a ausência de assentos. A cabine de controle estava à
esquerda.
"Vamos colocar essa coisa na estrada". Claire disse, e o brilhante olhar de esperança no sujo e cansado rosto de
Sherry, fez o coração de Claire partir, só um pouco.
Oh, meu bem...
Claire subiu os degraus para a cabine, prometendo a si mesma que carregaria Sherry pelo túnel caso o trem não
funcionasse. Qualquer coisa para não quebrar aquele frágil olhar de esperança.
#
O código e o disco de verificação abriram a porta como Ada disse, a larga porta abrindo-se em um curto corredor.
Com três minutos sobrando, Leon correu pelo corredor cheio de símbolos de risco biológico, e achou a sala de
carga.
Ele não tinha tempo de parar e olhar, seu foco era pegar o elevador antes que não fosse possível escapar com
vida. Leon correu para o fundo da avermelhada sala, achando os controles da larga porta do elevador e
apertando para descer, pronto para entrar -
- e nada aconteceu, exceto por uma fileira de pequenas luzes - umas vinte talvez - que começaram a se apagar
em cima da porta. Bem devagar.
Leon apertou o botão novamente, parecia levar minutos entre os andares.
"Jesus!". Ele virou, querendo gritar se for ter esperar muito -
- e pela primeira vez deu uma olhada no lugar. As duas largas estantes que corriam o comprimento da sala
continham um tipo de "carga" bem específica - e apesar dos seis tubos de vidro em cada estante não conterem
nada além de um claro fluído vermelho, Leon sentiu calafrios só de olhar. Cada cilindro podia comportar um
homem adulto, e o fez imaginar para que foram construídos.
Não importa, eles vão explodir em alguns minutos.
Ele virou para o elevador, quase feliz por estar bravo e frustrado, por sentir algo além de perda -
- e o teto sobre a porta do elevador começou a tremer e rachar... Leon recuou, apontando sua arma para o
sólido painel de metal enquanto vinha ao chão -
- e o monstro do elevador-locomotiva aterrissou na sua frente, a mesma criatura demoníaca que machucou Ada,
que devia tê-lo matado -
Birkin - ?
- e pelo jeito que inclinou a cabeça e gritou, Leon podia dizer que veio para terminar o serviço.
O trem estava pronto, estava ligado e pronto para partir - mas parecia que o portão do túnel estava com defeito;
um painel cheio de luzes verdes e uma única vermelha, insistindo que o portão fosse aberto manualmente.
Dois minutos para alcançar distância segura.
Não vai dar, nunca conseguiremos -
"Fique aqui". Claire disse e saiu para verificar, rezando para que não fosse nada.
Leon virou e correu enquanto o monstro começava a ir em sua direção, cada poderosa passada estremecendo a
câmara, os ecos de seu terrível grito ainda nítidos.
Pense!
A espingarda não foi suficiente, ele tinha que atirar em algum lugar vulnerável, os olhos, use a Magnum.
Leon voltou para a porta de entrada. Ele girou e atirou, mirando no rosto da criatura -
- mas o rosto estava mudando de novo, a boca caindo enquanto gritava. Grandes e tortos espinhos de dente
escorreram do que sobrou da boca, do alto de seu pulsante peito - e quando outro grito explodiu de sua
garganta, Leon viu dois novos braços brotarem dos lados. Os membros formaram posições, cotovelos travando,
grossos dedos com garras crescendo.
Bam-bam-bam!
Os tiros se agruparam, explodindo na fina pele sobre o olho esquerdo. O monstro rosnou, desta vez de dor, e
Leon viu lascas de ossos e líquido arroxeado se espalharem.
Ele sacudiu a cabeça para todos os lados, expelindo mais líquido, se agachando como um sapo mutante -
- e saltou no ar, para cima e para a direita, parando numa das fileiras, grunhindo como um animal.
Droga, como ele fez aquilo -
Leon não conseguiu ver os olhos, nada além de suas costas enquanto descia - mas estava mudando de novo,
pôde ouvir sons quebrantes e ver os pedaços da espinha erguerem através da carne de suas costas.
Ele não queria ver no que iria se transformar, mas o elevador ainda não tinha chegado e só faltavam dois
minutos.
Leon recarregou e atirou no que podia ver - uma forma com seis pernas, uma forma que não era mais humana.
O tiro acertou um de seus ombros, fazendo a criatura pular. A besta voltou ao chão como uma aranha, caindo a
alguns centímetros na frente de Leon. O peito tinha se transformado numa parede de estranhos dentes, espinhos
que abriam e fechava enquanto respirava - e quando gritou de novo, foi como um demônio, como o grito de
#
milhares de almas morrendo.
Leon acertou dois tiros no buraco de dentes e se afastou. Sob as constantes sirenes ele ouviu o claro e animado
pin da chegada do elevador.
Claire correu para a frente do trem, olhando para a série de alavancas e botões na parede do túnel, franzindo e
abaixando a alavanca vermelha e branca. Ela ouviu o som metálico em algum lugar na frente do trem e correu
para a porta -
- quando ouviu metal de novo - o som de metal sendo partido e martelado, vindo de algum lugar atrás do trem.
Não, de jeito nenhum.
Ela olhou para o final do trem, além das barras do portão fechado - e ouviu um som como ossos no cimento, um
som que se repetia.
Passos.
Claire correu para a porta, sabendo que não podia ser Mr. X, não mesmo - ele foi derretido, se foi, e elas não
tinham mais o G-virus -
- e ela viu o movimento por detrás das grades. Algo alto, filetes de fumaça enrolando na escuridão atrás das
grades - e o forte cheiro de queimado. Ele saiu da sombra, na direção da parte de trás do trem, erguendo os
punhos -
BAM!
- e o vagão tremeu enquanto Claire percebia que era Mr. X, ou o que tinha sobrado dele - e que certamente era
um demônio vindo direto do inferno.
Ela tinha combinado onze balas no elevador; não vai ser suficiente mas era tudo o que tinha.
Claire apontou a arma de Irons, imaginando se esse será o fim.
Leon correu em volta da prateleira à sua direita, voltando para o elevador, e houveram galopantes passos bem
atrás, ele não podia parar.
Outra curva e de volta para o meio da sala -
- e ele foi atingido nas costas, uma borrachenta e quente carne que o levou ao chão.
Leon rolou quando a coisa ficou em cima dele, seus dentes intencionados a furar seu crânio. O grande olho ainda
estava lá, no ombro, olhando para ele -
- e Leon descarregou a arma no queixo da criatura, gritando, esvaziando os pesados cartuchos na cabeça do
monstro.
A besta gritou, cambaleando, caindo para o lado. Leon se levantou como um raio e correu para o elevador
aberto. O enorme animal ainda estava gritando enquanto Leon entrava no elevador e virava, apertando o
controle para descer -
- e viu a besta se mexer, mudando, gritando enquanto também virava para o elevador. Ele ganhava velocidade a
cada passo, a porta se fechando lentamente, a criatura quase voando agora -
- e Leon tinha a espingarda em suas mãos, engatilhando uma bala e atirando. O tiro acertando o peito e parando
a criatura.
- e a porta fechou, Leon estava descendo, e só restava um minuto.
[30]
BAM!
Sherry sentiu o trem balançar violentamente.
Claire!
Ela correu para a porta, lembrando que Claire disse para não sair e não se importar; ela não sabia o que era ou o
que podia fazer para ajudar, mas não poda ficar parada -
#
BAM!
- e o carro balançou de novo, o chão tremendo sob seus pés. Sherry alcançou a porta e apertou o botão de
abrir.
A porta abriu - e lá estava Claire apontando a arma para algo que Sherry não conseguia ver, algo atrás do trem.
O olhar de Claire passou por Sherry.
"Não saia! Feche a porta!". Claire gritou com medo e pânico.
Sherry tocou o botão e hesitou, com medo por Claire, querendo ver o que era -
- olhe rápido -
- e ela colocou a cabeça para fora, por um segundo, procurando a fonte do medo de Claire. Um cheiro de química
e carne queimada encheu a plataforma, vindo de -
Sherry gritou quando o viu, quando viu o esfarrapado e carbonizado monstro que sacudia o trem logo depois do
portão. Ela viu seu gigante punho acertar o metal do vagão, mas era a cara dele que atraia o olhar de Sherry.
Mr. X.
A pele estava queimada, toda ela. Fumaça emanava de sua cabeça, mas os olhos ainda estavam vivos -
vermelho e pretos e quentes com a fumaça, mas ainda bem vivos.
"Sherry! Feche agora!". Claire gritou sem tirar os olhos do monstro.
Sherry apertou o controle, a porta fechando enquanto Claire começava a atirar.
O elevador descia mesmo, mas não como Leon imaginava, a larga plataforma descia lentamente em ângulo,
luzes alaranjadas nas escuras paredes.
"... agora quarenta segundos para alcançar a mínima distância segura...".
"Vai vai vai - ". Leon suspirou. A voz tinha parado de mencionar a plataforma de embarque, só fazendo anúncios
de dez em dez segundos.
Chegar até aqui e morrer por causa de um elevador lento...
ele não podia aceitar isso. Ele passou por muitas coisas, o acidente com Claire, os monstros, Ada, Birkin - ele tinha
que conseguir, ou será tudo por nada.
Não parecia haver chão debaixo do elevador, ou ele já teria descido a pé.
"... vinte segundos para alcançar...".
Leon começou a tremer, tensão correndo por seus músculos, ficando difícil ele respirar. O que é distância segura?
Quanto tempo até a explosão depois que aquela voz dizer zero?
O trem terá que ser rápido. E ele tinha dez segundos para alcançá-lo, e o elevador continuava descendo sem
pressa pela escuridão.
A porta fechou e Sherry estava a salvo. Por enquanto.
Claire não podia esperar machucar a criatura, mas pelo menos distraí-la o bastante para fugir. Ela queria ter
ensinado os simples controles do trem para Sherry, queria que o veículo já estivesse se movendo, levando Sherry
para a segurança -
- mas eu não ensinei e nós temos que ir AGORA.
A mensagem já contava os dez segundos finais para a distância segura. Mr. X dava outra pancada no trem
enquanto Claire mirava e atirava.
Cinco tiros, quatro deles acertando o material que constituía a região onde uma orelha devia estar. O quinto foi
longe enquanto as pancadas ecoavam pelo lugar e a coisa que foi Mr. X virou para ela.
O que foi agora?
A gravação a distraiu por uma fração de segundo e Mr. X deu um passo na direção dela, um monstruoso passo
que o tirou das sombras.
"... três. Dois. Um. Distância mínima agora requerida. A autodestruição ocorrerá em cinco minutos. Restam cinco
minutos para a detonação".
Os alarmes ainda tocavam, mas pelo menos a voz tinha parado. Ela mal tinha percebido, seus olhos fixados na
criatura. Apesar das camadas queimadas e enfumaçadas, a pele dele não tinha perdido elasticidade; o material
avermelhado ainda contraia como músculos de verdade. Parecia um gigante pelado que se arrastou para fora de
um prédio em chamas - e se sofreu com o banho de metal derretido, ela não podia ver. Outro passo e os braços
#
foram ao alto, o portão de barras foi partido, as barras de metal caindo no concreto do chão.
Pelo menos ele está devagar -
Claire correu para a porta do trem, ainda com medo, mas o monstro era lento e poderoso, só que incapaz de se
mover de verdade -
- e de repente, Mr. X não estava mais andando. A criatura curvou a cintura, os joelhos -
- e se lançou do chão num dinâmico bote, seus pés deformados o impulsionando a toda velocidade.
Claire não pensou. Ela desviou para a direita evitando o ataque, correndo o mais rápido que podia. Ele quase a
pegou, os reflexos dele mais rápidos do que rápido - como se perder a pele o tivesse libertado. Assim que ela
pulou o portão destruído e entrou nas sombras, ela ouviu o arranhar de garras no cimento, viu que Mr. X tinha
descido seu braço bem aonde ela estava um segundo atrás.
Ele a teria partido -
- mas por que, sem o G-virus, sem razão -
Claire correu mais na escuridão enquanto os alto-falantes informavam quatro minutos restando.
"Restam agora quatro minutos para a detonação...".
Droga droga droga!
Quando pensou em ter um ataque de frustração, o elevador parou. Leon agarrou a fechadura da grossa cancela
de metal, querendo correr -
Ele saiu num corredor. E não haviam sinais dizendo qual direção seguir.
Direita ou esquerda?
Esses segundos de hesitação poderiam ter lhe custado a vida.
Ele ouviu uma vez que quando na frente de uma escolha, as pessoas instintivamente escolhem a direção da mão
dominante. Com a sorte que teve nesta noite em Raccoon, ele decidiu ir para o outro lado.
Esquerda. Leon correu, pensando se deveria se incomodar.
Não muito longe do portão, Claire viu uma passarela que passava sobre o trem, as escadas escondidas na
sombra -
- e ela ouviu Mr. X atrás. O terror a dirigiu, seus pés mal tocavam o chão -
- e os passos ficaram mais altos, mais rápidos, ouviu as garras dele rasgarem o cimento. Ela tinha um segundo
antes daquela mão a acertar -
- e ela virou de novo, jogando-se na escuridão do lado da escada. Mr. X passou voando, ela sentiu o vento da
mão em suas pernas enquanto caia no chão.
Ela ignorou a dor de seu cotovelo no cimento, levantando-se e procurando o monstro no escuro.
Ele pode ver, me ver?
A mão dela achou uma parede à direita. Ela estava no espaço debaixo da escada, e não sabia onde o quieto e
impossível X estava; a falta de luz não ajudaria se ele pudesse enxergar.
Ela correu as mãos pela parede e achou um interruptor. Ao apertá-lo, a textura do escuro mudou quando a fraca
luz veio de cima - e ela viu o monstro a menos de quinze metros, bem quando virava, seu olhar procurando -
- e a achando. A marcando. O único som era o de sua pele rachada - até dar um passo para a escada.
Seis ou sete tiros, acerte os olhos -
Claire saiu rapidamente de lá e ergueu a arma de Irons, apertando o gatilho, recuando para a escada.
Bam-bam-bam -
- e X se posicionava para mais um ataque, os tiros penetrando em seu rosto, dois deles ricocheteando em seu
crânio.
- bam-bam -
Ela estava na escada, subindo um degrau, as balas inúteis, Mr. X começando sua corrida. Ele estará nela antes
de poder virar, antes de subir os degraus -
- eu vou morrer -
- mas pelo menos eu o machuco antes -
Mr. X deu um passo - dois passos poderosos, diminuindo a distância entre os dois enquanto Claire mirava,
determinada a fazer os últimos tiros valerem a pena. Ela morreria e seu único arrependimento seria por Sherry, só
desejava que ela pudesse incapacitar o pesadelo X antes de morrer.
#
Ela atirou, e o olho esquerdo do monstro explodiu.
Isso!
Mr. X foi para a direita; não parando, mas também não indo para ela - mas ainda acertará a base da escada -
muito perto! - ela tinha que tentar o outro olho e só tinha dois segundos -
Claire mirou, achou o olho, e -
- click!
- estava sem balas, e o monstro estava chegando na base da escada, o cheiro de carne queimada enquanto
erguia sua gigante mão, e seu grande e terrível corpo era tudo o que conseguia ver.
Claire tropeçou e rolou a escada de ferro, seu corpo como uma bola -
- e gritou quando as garras da mão de X rasgaram sua coxa esquerda através do corrimão, e a distante voz
dizendo que tinham três minutos.
[31]
Ele pegou o caminho errado. As curvas o levaram para um depósito - sem saída.
"Restam três minutos para a detonação".
Leon virou e voltou por onde veio, forçando-se a correr com o que parecia o resto de suas forças.
Claire parou no chão, na base da escada e ficou de pé, sangue correndo pela perna num quente pulso de dor. Ela
correu, nada quebrado -
- mas ela sabia que isso era o começo do que ele fará com ela, uma prévia da dor real.
Mr. X ainda estava inclinado no corrimão da escada, mas assim que ela correu para o portão quebrado, o
monstro ficou a postos. Ele virou para ela, o buraco em seu olho jorrando um escuro líquido - mas ele vai se
recuperar e partir para ela como a máquina impiedosa que era. Não há nada que possa pará-lo.
Pelo menos eu morro na explosão -
Claire passou pelo metal retorcido do portão, mau se equilibrando, sangue pingando no chão enquanto dava outro
passo, por favor, que seja rápido -
"Aqui, use isso!".
Claire girou, viu Mr. X se posicionando para mais um ataque - e viu uma silhueta bem acima, na passarela sobre o
trem. Uma voz de mulher, forma de mulher, a sombra jogando algo -
- quem -
- aquilo caiu no chão, entre ela e Mr. X. era metal, e prateado - ela já viu nos filmes, era uma metralhadora - e
Claire correu. Outra última esperança, outra chance para ela e Sherry sobreviverem.
Ela alcançou a arma, viu X se jogando ao encontro dela, o trovão de seus passos vibrando o chão -
- e ela ergueu a pesada arma, recuando, sua mão trêmula achando o gatilho, seu corpo acomodando-se com a
arma. Firme no chão, braços encurvados em volta do metal, mirando -
- por favor por favor -
O monstro estava a alguns passos quando o jato de balas saíram da arma, um chocalho de pequenas explosões
que balançavam o corpo inteiro de Claire - e mergulharam no corpo da besta, a força de tantas balas parando-o e
empurrando-o para trás.
- tatatatatatatata -
A vibração parecia tentar se libertar do agarre dela. Ela mau ouvia seus próprios choros de dor e fúria enquanto
as balas furavam o abdômen dele com tal rapidez e velocidade.
- e Mr. X tentava andar, mas algo estranho e bom estava acontecendo. Sua barriga estava sendo rasgada pelas
balas, fluídos escuros descendo por suas pernas. A boca dele estava aberta, um buraco em um de seus olhos -
também sangrando.
#
- tatatatatata -
Claire continuou, vendo a criatura tentando se manter de pé. Vendo-o sangrar.
Com as balas ainda voando, Mr. X ergueu os braços -
- e partiu no meio.
Claire tirou o dedo do gatilho quando a parte de cima dele caiu no chão, um molhado som de carne pesada - e as
pernas tombaram, mais sangue estranho saindo das partes formando piscinas. A criatura estava morta, e
mesmo se não estivesse, não importava mais. Só se conseguir se arrastar mais rápido do que ela. Sua batalha já
tinha terminado -
- para o inferno com tudo isso, não há tempo, VAMOS!
Claire correu, ignorando o sangue em sua bota e a dor que o causava, seu olhar procurando a estranha
salvadora. Ninguém estava lá, e ela não sabia se outro minuto tinha passado, o alerta perdido com os tiros.
"Ei!". Claire gritou, indo para o trem.
"Nós temos que ir agora!".
Sem resposta, nenhum som exceto o zumbido em seu ouvido e o eco das palavras. Se ela quer salvar Sherry...
Claire virou e correu.
"- dois minutos para -".
Leon correu mais rápido. Ele já perdeu a conta das curvas do corredor, e as esperanças também, uma voz lhe
dizendo para parar, sentar e descansar -
- quando ele ouviu um fraco ruído.
O som de um maquinário pesado ganhando vida em algum lugar à frente. Não muito longe.
Trem!
Mais rápido, pernas distantes e moles, pulmões trabalhando, coração pulando - de algum modo ou de outro,
estava quase acabado.
[32]
Claire entrou no trem com um rifle gigante e uma perna coberta de sangue, mal parando para tocar os controles
da porta antes de correr para a cabine. Sherry sabia que estavam com problemas e não perguntou nada, ela a
seguiu, aliviada por Claire estar bem.
Ela está bem e já estamos indo...
Uma fraca versão da voz dos alto-falantes soou na pequena cabine de comando.
"Restam dois minutos para a detonação".
Claire soltou a arma e apertou os botões, sua atenção fixada no console. De repente, um grande som mecânico
as envolveu, um crescente motor que fez Claire bater os dentes. Sherry não sabia se foi um sorriso, mas Claire
sorriu quando o trem tremeu -
- e começou a se mover, tirando-as da plataforma.
Claire virou, viu Sherry atrás dela, e tentou sorrir. Claire tocou o ombro da garota, mas não disse nada - nem
Sherry, esperando ver o que aconteceria.
O trem ganhou velocidade, passando por alguns corredores e plataformas mal iluminadas, o túnel à frente escuro
e vazio.
O calor da mão de Claire a fez lembrar de que eram amigas, que seja qual for o futuro disso, Claire era sua
amiga -
- e ela viu um homem, um policial aparecer bem à frente, à esquerda, e o trem estava passando por ele, seus
olhos largos e desesperados em seu sujo rosto.
#
"Claire!".
"Estou vendo ele -".
Claire viu e correu para a porta, abrindo-a.
"Leon!". Ela gritou. "Vamos!".
Ela entrou de repente, uma parede passando, parecendo tão desesperada quanto o homem - Leon parecia.
Depois de um segundo ela virou e fechou a porta.
"Ele conseguiu?". Sherry perguntou, vendo que Claire não poderia saber.
Claire foi até ela e a envolveu em seu braço enquanto o trem acelerava e sua face se cobria de preocupação -
- e a voz disse que restava um minuto -
- e a porta de trás do vagão abriu. Leon apareceu, seu braço atado com um pano manchado, seu cabelo duro
com uma escura meleca, seus olhos azuis brilhando sob a máscara de sujeira.
"Destruição total!". Ele gritou. Claire acenou e Leon suspirou fundo. Ele foi até elas, o trem voando pelo túnel, e
abraçou Claire.
"Ada?". Claire cochichou. "Ann - a cientista?".
Leon balançou a cabeça. "Não. Eu não - não". Sherry viu que ele queria chorar.
"Trinta segundos para a detonação. Vinte e nove... vinte e oito...".
A voz da mulher continuou contando, os números parecendo duas vezes mais rápidos do que deveriam, e Sherry
enterrou a cabeça em Claire, pensando na mãe. Mamãe e papai. Ela esperava que tivessem conseguido, que
estivessem à salvo -
- mas provavelmente não.
Sherry podia ouvir o coração de Claire e a apertou mais, ouvindo o policial se aproximar delas.
"... cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Seqüência completada. Detonação".
Por um segundo não houve som. O alarme finalmente parou sobrando apenas os movimentos do trem -
- e então houve uma explosão, um som abafado, um shoomp que continuava crescendo, ficando maior.
Sherry fechou os olhos e o trem chacoalhou de repente, terrivelmente, e todos eles foram para o chão de metal.
Uma brilhante e queimada luz piscou pela janela enquanto o som de batidas de cano explodiram em volta deles,
pesadas pancadas choveram no teto -
- e o trem continuou indo, a luz sumiu e eles não estavam mortos.
O cegante flash dissipou-se, e Leon sentiu a tensão em seu corpo. Ele olhou para o lado e viu Claire sentando-se,
pegando a mão da jovem garota ao lado dela.
"Tudo bem?". Claire perguntou e a menina acenou. Ambas olharam para ele, sentindo o que ele sentia - choque,
exaustão, descrença e esperança.
"Leon Kennedy, esta é Sherry Birkin". Claire disse, sem enfatizar o "Birkin". Ele entendeu a mensagem e acenou
antes de sorrir para a garota.
"Sherry, este é Leon,". Claire continuou. "eu o conheci quando cheguei em Raccoon".
Sherry retribuiu o sorriso, um sorriso bem adulto que parecia fora do lugar; ela era muito jovem para sorrir
daquele jeito.
Mais uma proeza da Umbrella, a inocência roubada de uma criança.
Por alguns segundos eles ficaram lá sentados no chão, sorrisos sumindo. Leon mal ousou pensar que tudo estava
acabado. De novo, ele viu seus sentimentos espelhados nas sobrancelhas preocupadas de Sherry e nos cansados
olhos de Claire -
- foi quando eles ouviram um distante ranger de metal vindo da parte de trás do trem, ele não se sentiu
surpreso. Um cedente e rasgante arranhão - seguido por uma pesada pancada - e depois nada.
Sabia que não tinha acabado -
"Zumbi?". Sherry cochichou, as palavras quase perdidas no suave balançar do trem.
"Eu não sei, meu bem". Claire disse suavemente, e pela primeira vez, Leon percebeu que a perna dela estava
cortada, sangue saindo de vários arranhões.
"Que tal eu dar uma olhada?". Leon disse, tentando não assustar Sherry. Ele se levantou acenando para a perna
de Claire.
"Sherry, fique aqui com Claire, fique de olho naquela perna? Vou ver se acho alguma atadura enquanto dou uma
vasculhada, não deixe-a se mover, tá bom?".
Sherry acenou, e novamente um aceno muito maduro para a idade dela. "Tá".
"Eu volto num minuto". Ele disse, e virou para a porta de trás do trem, rezando para que não seja nada
enquanto empunhava a Remington.
Leon abriu a porta, os sons do trem se amplificando por um segundo, e depois fechou a porta.
Claire não o viu entrar no próximo vagão de onde estava; se houver mais alguma coisa no trem, nenhum deles
estará a salvo -
- não pense assim, está acabado -
- como está para Mr. X?
"O que eu faço?". Sherry perguntou. "Pressionar, né?".
Claire acenou. "É, só que nós estamos bem sujas, e acho que está começando a coagular. Vamos ver se Leon
volta com algo limpo...".
Os pensamentos dela voltaram para Mr. X.
- G-virus. Antes ele queria o G-virus.
Por que Mr. X foi para a plataforma do trem? Por que ele queria entrar no trem, a não ser que -
Claire forçou para se levantar, lutando contra a tontura e a dor na perna.
"Ei, não se mexa". Sherry disse. "Leon falou para ficar parada."
Claire podia superar seus problemas físicos, mas ver Sherry no cume do pânico era demais; se tiver G-virus no
trem e por isso Mr. X voltou, Leon terá que enfrentá-lo sozinho. Ela não podia deixar Sherry. Se Leon não voltar,
ela terá que desengatar o trem ou tentar pará-lo -
Claire cessou os pensamentos, forçando um sorriso. "Sim, senhorita, eu só queria ver se ele já tinha entrado no
outro vagão...".
Ela viu o alívio no rosto de Sherry. "Ah. Bom, então esqueça, pois eu estou cuidando de você agora, e eu digo
que você não se mexe".
Claire acenou, esperando estar errada, que Leon voltasse a qualquer segundo -
Seja lá quem projetou o veículo de fuga, pensava que os funcionários da Umbrella fossem transportados que nem
sardinha -
Seja lá quem for, não devia ser pior que a coisa na sala de carga, a coisa Birkin. Só de pensar que a criatura tinha
a ver com Sherry, era preocupante, até mesmo obsceno. Um monstro e uma maluca, ambos pais de uma
garotinha...
Ele chegou no fim do segundo vagão e espiou pela janela da porta, esquecendo os pensamentos enquanto
tentava ver alguma coisa no último vagão. Estava escuro e nada mais.
Droga.
Talvez não seja nada, mas ele tinha que olhar.
Ele respirou fundo e abriu a porta, recebendo a brisa do exterior, se segurando na grade de apoio. Não devia ser
nada, mas parecia ruim, errado.
Ele abriu a próxima porta e entrou na escuridão. Imediatamente ele ergueu a espingarda, seus sentidos dizendo
para correr quando a porta fechou. Ele recuou e procurou o interruptor de luz. Além do escuro, havia um forte
cheiro de água sanitária ou cloro, e um suave som de molhado, de movimento -
Uma única lâmpada acendeu no meio do vagão, e por um momento pensou ter perdido a consciência.
Uma coisa. Uma criatura que estava longe de humana, exceto pelo pulsante tumor em um lado, uma lisa bola
que mais parecia um olho.
Birkin.
A criatura era gigante, borbulhando uma escura pasta, expandindo seu volume até ocupar a largura do vagão.
Leon não sabia o quanto alto era. Birkin tinha grossas caudas estendidas, tentáculos de uma massa elástica e
úmida, presa em toda parte do espaço à sua frente - no teto, paredes e no chão. E enquanto Leon olhava, a
besta se moveu para frente, os escuros membros contraindo, levando o corpo para alguns centímetros à frente
de onde estava.
É loucura, mas ele estava vendo, vendo as cores preta, verde e roxa em seus tentáculos enquanto se esticavam
de novo, o material viscoso o puxando mais alguns centímetros. O corpo era nada mais do que uma caverna que
ainda tinha dentes -
-e que iria alcançá-lo em breve se não esquecer o nojo da cena.
Leon mirou no grande buraco da boca dele e puxou o gatilho, carregando outra bala, atirando, carregando,
atirando -
- e a espingarda ficou vazia, o gigante continuando a se aproximar.
Ele não sabia como matá-lo, não sabia se as balas o machucaram. Sua mente correu para achar uma resposta.
Ele podia desengatar o último vagão -
- mas a coisa ainda continuaria viva. Vivendo e mudando na escuridão do túnel, se tornando algo novo -
Os tentáculos se esticaram de novo e Leon voltou para a porta. Ele tinha que desconectar os carros, não havia
outra escolha -
- a não ser -
Ele hesitou, depois sacou a Magnum e mirou na criatura, no estranho tumor, o olho que estava em todas as
formas que Birkin já teve.
- BAM!
O efeito foi imediato, a bala perfurou a esfera - e um hiss veio de sua boca circular cheia de dentes afiados, um
som único na Terra. A carne dentro dele contraiu, ficando escura, murchando -
- e a coisa implodiu, encolhendo rapidamente, virando uma massa escura e um quarto do tamanho que tinha,
derretendo numa borbulhante poça de meleca arroxeada.
"Engula isso". Leon cochichou, olhando por alguns momentos, sem pensar em nada - e virou para se juntar às
duas, para dizer que tinha acabado.
Primeiro dia de trabalho.
"Eu quero um aumento". Ele disse, para ninguém e não pôde conter o sorriso em seu rosto, um cansado sorriso
que sumiu rapidamente... mas pelos segundos que durou, Leon se sentiu melhor do que há muito tempo atrás.
Leon estava de volta, e havia encontrado um macacão, que ele rasgou em pedaços e usou para cobrir a perna
de Claire. Tudo o que ele disse foi que agora eles estavam salvos, apesar de Sherry tê-lo visto e Claire lançou-lhe
um olhar - um daqueles olhares do tipo "não-devemos-falar-disso-agora". Sherry estava muito cansada para levar
a mal.
Ela aconchegou-se nos braços de Claire, Claire alisando seu cabelo, nenhum dos três falando. Não havia nada a
dizer, pelo menos não por enquanto. Eles estavam vivos, num trem correndo através da escuridão - e de algum
lugar não muito distante, uma luz suave surgindo, vindo da janela da cabine de controle e Sherry pensou que se
parecia muito com a luz da manhã.
[Epílogo]
Eles viram a explosão 16 quilômetros de fora da cidade, uma nuvem negra que se ergueu na luz da manhã
pendurando-se sobre Raccoon como uma terrível tempestade -
- ou um sonho ruim, Rebecca pensou, ou uma lembrança. Umbrella.
Ela não disse alto, porque não era necessário. John e David não estiveram na mansão de Spencer, mas
souberam do que a Umbrella era capaz em Caliban.
Ninguém falou quando David acelerou o carro, seus dedos apertados no volante. Desta vez, John não fez piadas.
Todos sabiam que era ruim; antes de Jill, Chris e Barry partirem para a Europa, Jill os disse sobre a suspeita de
outro acidente, e pediu que ficassem alerta. Quando as linhas telefônicas ficaram mudas, eles carregaram a van e
deixaram o Maine para ver o que podia ser feito. A única pergunta é a de quantas pessoas morreram desta vez.
Talvez este seja o fim. Uma explosão como aquela... a Umbrella não vai esconder isso tão fácil, não se tiver tão
ruim quanto parece.
John finalmente quebrou o silêncio. "Autodestruição?".
David suspirou. "Provavelmente. E se houve um vazamento, nós não entraremos; nós circularemos a cidade e
depois chamaremos ajuda de Latham. A Umbrella com certeza já está mandando sua equipe de limpeza".
Rebecca acenou junto com John. Eles não eram mais parte do S.T.A.R.S., mas David já foi capitão, e por um
bom motivo.
Eles caíram no silêncio, o amanhecer tocando as árvores que passavam pela van, Rebecca imaginando o que eles
encontrarão -
- quando ela viu as pessoas andando na estrada, balançando os braços.
"Ei -". Ela começou a falar quando David já pisava nos freios, se aproximando das três figuras. Um policial de
atadura no braço e uma jovem mulher de shorts, ambos armados, e uma garotinha de colete rosa grande
demais para ela. Eles não estavam infectados, ou pelo menos não mostravam sinais que Rebecca pudesse ver -
mas eles pareciam. Com suas roupas rasgadas e seus pálidos rostos sob a sujeira, eles com certeza podiam ser
confundidos.
"Eu falo". David, disse, seu sotaque britânico bem firme, emparelhando com os sobreviventes de Raccoon.
David abriu a janela e desligou o motor, o jovem policial adiantando um passo enquanto a mulher colocava seu
pegajoso braço no ombro da menina.
"Houve um acidente, em Raccoon". Ele disse. Mesmo cansados e feridos, havia uma cautela no tom do policial,
sugerindo o quanto ruim estavam as coisas. "Um terrível acidente. Você não quer ir lá, não é seguro".
David franziu. "Que tipo de acidente, policial?". Foi a jovem mulher que respondeu. "Um acidente da Umbrella". O
policial acenou e a garotinha loira enterrou seu rosto no corpo da mulher.
John e Rebecca trocaram um olhar, e David destravou as portas.
"Mesmo? Esses costumam ser do pior tipo". David disse gentilmente. "Nós ficaremos felizes em ajudar se
quiserem, ou podemos chamar ajuda...".
Era uma pergunta. O policial olhou para a mulher e voltou para David. Ele deve ter visto algo no rosto de David
que passou confiança; ele acenou e chamou a mulher e a garota para se aproximarem.
"Obrigado". Ele disse, a exaustão finalmente vindo. "Se você puder nos dar uma carona estará ótimo".
David sorriu. "Por favor, entrem. John, Rebecca - vocês os ajudam...?".
John pegou alguns cobertores lá atrás enquanto Rebecca pegava o kit médico, cuidando para não descobrir os
rifles perto do estepe.
Acidente da Umbrella...
Rebecca pensou no quanto sortudos foram por terem sobrevivido.
Eles começaram a falar mesmo antes de David fazer o retorno - e em pouco tempo, eles descobriram ter muito
em comum. Enquanto a menina dormia, eles voltaram por onde vieram, deixando a cidade em chamas para trás[18]
Tentando não respirar muito fundo, Leon alcançou os pés da escada de metal e girou rapidamente, mirando sua
arma no escuro. Água molhou suas botas enquanto seus olhos se ajustavam à baixa luz, e viu a origem do
terrível cheiro.
Partes dele, na verdade...
O túnel continuava à sua frente e estava forrado com corpos humanos feitos em pedaços. Membros, cabeças,
troncos estavam espalhados aleatoriamente pelo túnel de pedra, balançando gentilmente pelos centímetros de
água que cobriam o chão.
"Leon? Como está aí?". A voz de Ada desceu pelo círculo de luz no topo da escada, ecoando. Leon não
respondeu, seu olhar chocado fixado na terrível cena, sua mente tentando juntar as partes e trazer um número.
Quantos? Quantas pessoas?
Muitas para contar. Ele viu uma cabeça sem face, o longo cabelo cobrindo-a. O tronco de uma mulher, o seio
emerso na escura água. Um braço envolvido nos farrapos de uma camisa de policial. Uma perna, ainda usando
um tênis. Uma enrolada mão, os dedos lisos e brancos.
Uma dúzia? Vinte?
"Leon?". O tom de Ada enfatizou.
"É - parece bem". Ele disse, forçando para não alterar a voz. "Nada se move".
"Estou descendo".
Ele se afastou da escada para dá-la espaço, lembrando de algo que ela disse antes, sobre corpos sendo
jogados...
Ada desceu da escada. Os olhos dele tinham se ajustado bem o bastante para ver o olhar de nojo no rosto dela -
nojo e o que parecia tristeza.
"Houve um ataque na garagem". Ela disse suavemente. "Quatorze ou quinze pessoas morreram...".
Franzindo, ela passou por Leon para olhar os resto de perto. Quando falou de novo, parecia preocupada.
"Eu não vi o ataque, mas não acho que foram despedaçados desse jeito".
Ela olhou para cima, vendo o teto do túnel, apertando sua 9mm. Leon seguiu seu olhar, mas só viu o tom
esverdeado das pedras. Ada balançou a cabeça, olhando de volta para o mar de carne.
"Os - zumbis não fizeram isso. Algo pegou essas pessoas depois de mortas".
Leon sentiu um calafrio subir sua espinha. Era a última coisa que queria ouvir naquele lugar.
"Então não é seguro aqui. Nós devemos voltar e -".
Ada seguiu em frente, passando pelos pedaços, os movimentos da água parecendo mais altos no quieto túnel.
Droga, ela ignora todo mundo ou só eu?
Olhando onde pisava, Leon a seguiu, erguendo o braço para tocar o ombro dela. "Pelo menos eu vou na frente,
#
tá?".
"Tá Bom,". Ela disse. "Abra caminho".
Ele passou por ela e continuou, tentando dividir a atenção entre a escuridão à frente e os pedaços de corpos e
ossos abaixo. Bem à frente, o túnel virava à direita, e tinha alguma luz refletida na oleosa superfície da água, a
passagem estava mais clara e com menos corpos.
Leon parou a tempo o bastante para empunhar a Remington e verificar se estava carregada. Seja lá o que tinha
pego os corpos não parecia estar por perto, mas ele não queria estar despreparado.
Ada esperou sem falar, apesar dele conseguir sentir sua impaciência. Ela era tão calma quanto um soldado
veterano, demonstrando nada mais além de ansiedade para acabar logo com isso - e se ela gosta de sua
presença, deve estar fazendo muita força para não demonstrar. Não que ele queira a gratidão dela -
- mas a maioria das pessoas gostariam da presença de um policial, não é? Mesmo sendo um novato?
Talvez não, e essa não é a hora e lugar para começar a fazer perguntas. Leon começou a andar de novo,
passando por cima de um pedaço mastigado de carne que não podia identificar.
"Pare". Ada cochichou. "Ouça".
Leon obedeceu, Remington em uma mão, VP70 na outra. Ele inclinou a cabeça para ouvir, mas só percebeu um
distante gotejar -
- e uma suave pancada, como martelos abafados numa superfície forrada. Estava se aproximando, vindo do
túnel que virava logo à frente.
Por que a água não respinga, por que não ouvimos água - ?
Leon recuou um passo, erguendo ambas as armas, lembrando como Ada tinha olhado para o teto antes -
- e viu, viu e sentiu seu coração parar em meia batida. Uma aranha do tamanho de um cachorro grande,
andando pelas paredes, mexendo suas arrepiadas pernas peludas -
- impossível -
- e de repente houve uma série de ensurdecedoras explosões próximas ao seu ouvido direito,
bam-bam-bam-bam, o cano da Beretta de Ada brilhando enquanto ativava. Os ecos golpearam pelo escuro
enquanto o gigante aracnídeo pulava da parede, mergulhando na tingida água.
A aranha engatinhou na direção deles, ferida, arrastando duas de suas pernas, escuros fluídos escorrendo pelo
seu grotesco e arredondado corpo. Ela passou por cima de uma cabeça, o crânio escapando abaixo de seu
abdômen inchado, e Leon pôde ver seus brilhantes olhos negros, cada um do tamanho de uma bola de ping-pong
--
e ele atirou com a Remington, mal sentindo o poderoso tranco da arma, sua concentração voltada para o
aracnídeo. O tiro explodiu a face alien em pedaços. A aranha virou de papo para o ar, suas grossas pernas
tremendo, curvando-se ao redor de seu corpo peludo.
Seus ouvidos apitando, seu coração pulando, Leon carregou outra bala, sua mente não só dizendo que tinha
matado uma aranha daquele tamanho, mas que seu físico estava errado, suas pernas não agüentariam tamanho
peso -
- Ada passou por ele, correndo, gritando para ele.
"Vamos, podem haver mais vindo!".
Leon correu atrás dela, seu choque contido pelo rápido comportamento de Ada - pulando sobre os pedaços de
carne e da aranha que só passou a existir depois que chegou a Raccoon.
"Solte a arma". Irons pediu, e a garota obedeceu, hesitando por um segundo. A Browning foi ao chão e Irons
teve que resistir ao desejo de rir de novo, pelo quanto estúpida ela agia. A assassina da Umbrella com certeza
ficou louca, entrando em seu santuário como se fosse dona do lugar - essa atitude lhe custou o jogo.
"Vire-se devagar - e mantenha as mãos onde eu possa vê-las". Ele disse, ainda sorrindo. "Oh, que gloriosa e fácil
conquista! A Umbrella o subestimou pela última vez.
Novamente, a garota fez o que ele pediu, virando devagar, de mãos vazias e abertas. O olhar em sua face não
tinha preço, suas expressões fixadas como uma máscara de medo e choque; ela não esperava por isso, ela
achava que seria fácil dar um fim em Brian Irons. Depois de tudo, ele era um homem quebrado, uma sombra de
seu antigo eu, sua cidade e sua vida tirada -
"Errada, não estava?". Ele disse, sentindo o humor vazando da situação, sentindo a raiva borbulhar novamente.
Ele manteve a VP70 mirada na ridícula e jovem face dela; insultando, que eles mandaram uma criança para seu
#
serviço sujo. E bonitinha...
"Calma, Chefe Irons". Ela disse, e mesmo bravo, ele gostou de ouvir a tensão em sua opressiva voz, o pico do
medo sob seu inútil apelo. Ele vai adorar isso, mais do que imaginava...
... mas primeiro, algumas respostas.
"Quem te mandou? Foi Coleman, do quartel general? Ou suas ordens vêm dos superiores... alguém da comissão,
talvez? Não há mais motivos para mentir".
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão. "Eu - eu nem sei do que está falando. Por favor, deve
haver algum engano -".
"Oh, um engano, tá bom". Irons cuspiu. "E você o cometeu. Há quanto tempo a Umbrella está me observando?
Quais foram as suas ordens, exatamente - onde você deveria ter me matado, a Umbrella quis que eu sofresse
um pouco antes?".
A garota não respondeu por um momento, provavelmente tentando decidir o quanto dizer a ele. Ela era boa,
suas expressões cautelosamente montadas para mostrar somente um medo confuso, mas ele enxergava
através disso.
Ela foi pega, deve saber que não a deixarei viver e está tentando esconder a verdade. Jovem mas bem treinada.
"Eu vim para Raccoon atrás do meu irmão". Ela disse devagar, seus bem abertos olhos cinzas fixados na arma.
"Ele estava com o S.T.A.R.S. e eu só -".
"S.T.A.R.S.? É o melhor que você pode fazer?". Irons riu mais, balançando a cabeça. O S.T.A.R.S. de Raccoon
fugiu logo depois que as coisas foram para a merda - e pelo que ele ouviu falar, a Umbrella já tinha "convertido" a
organização para seus propósitos, estavam trabalhando para eliminar aqueles que cruzassem o caminho. Essa
desculpa não funcionava.
Mas há algo...
Ele estudou os olhos. "E quem é o seu irmão?".
"Chris Redfield, você conhece - eu sou Claire, a irmã dele, e eu não sei nada sobre o que a Umbrella fez e não fui
mandada para matá-lo". Ela disse rápido.
Ela se parecia com Redfield, pelo menos os olhos... Chris era um pomposo e desrespeitoso, que o desafiou
abertamente várias vezes; de fato -
"Redfield estava trabalhando para a Umbrella, não estava?". Mesmo dizendo alto, Irons pôde ver que era
verdade - e sua raiva subiu como uma maré vermelha, um calor ácido que desceu por suas veias fazendo-o
enjoar.
Até os meus empregados, todo o tempo. Fantoches traidores da Umbrella.
"A mansão de Spencer, as acusações contra a Umbrella... foi tudo armado, eles vinham provocando problemas
para - para me distrair, para então poderem roubar o vírus de Birkin...".
Irons deu um passo até a garota, sem precisar de força para puxar o gatilho, contrariando seus planos. A garota,
Claire, recuou, de braços para cima, de mãos abertas como para se proteger de sua fúria.
"Foi como o S.T.A.R.S. soube quando sair da cidade. Eles foram alertados para sair antes do vazamento do
T-virus!".
Ele deu mais um passo até ela, mas Claire parou, seus olhos mais abertos. "Então Chris não está aqui?".
Seu pequeno e esperançoso suspiro só alimentou o calor vermelho que pulava dentro de Irons - os sentimentos
eram tão poderosos que transcendiam raiva, focando suas intenções em algo brutal e preciso. Não era suficiente
ter sido traído pela Umbrella e pelo S.T.A.R.S., ter sido manipulado, atormentado, caçado -
Não, não. Eu fui enganado por essa garota, uma espiã assassina de uma família de traidores. Uma vida devotada
ao serviço, experiências, sacrifícios pessoais, e essa é a minha recompensa?
"Um tapa na cara". Ele disse, sua voz tão fria quanto essa nova selvageria que o enchia, o transformava num
caçador. "Tratando-me como um idiota. Você nem tem respeito o bastante para mentir bem".
Ele estendeu a 9mm e andou na direção dela, cada passo calculado e deliberado - e o medo dela era real desta
vez, ele riu do modo como ela recuava, seus trêmulos lábios. Ela estava apavorada, tentando achar uma arma,
observá-lo, fugir, tudo ao mesmo tempo, mas sem sucesso enquanto ele marchava.
"Eu tenho o poder,". Ele disse. "esse é o meu santuário, esse é o meu domínio. Você é a invasora. Você é a
mentirosa, você é o mal - eu vou tirar a sua pele viva. Eu te farei gritar, sua vagabunda, você vai desejar nunca
#
ter nascido. Seja lá quanto te pagaram, não foi o bastante".
Ela recuou até bater numa estante, tropeçando na perna da mesa, quase caindo no alçapão no canto da sala.
Irons a seguia, sentindo aquele bonito e excitante poder, sentindo prazer com a indefesa.
"Por favor, você não quer fazer isso, eu não sou quem você pensa!".
A patética súplica o fez parar e rir, querendo dá-la mais terror, querendo mostrá-la que seu controle era absoluto.
Ela estava encurralada entre um armário e o alçapão, e Irons ficou a uma distância segura, adorando o pânico
nos olhos dela - o pânico de um animal emboscado...
Irons lambeu os lábios, seu faminto olhar viajando por suas suaves formas. Outro troféu, outro corpo para
transformar... e é hora de trabalhar, de -
"Graaagh!".
Mas que -
A tampa que cobria o poço voou pelo ar, partindo com um tremendo crack, um pedaço atingindo a coxa de
Irons. Ele ficou assustado sem entender - ele estava no controle e mesmo assim algo deu errado, horrivelmente
errado -
Algo enrolou em seu calcanhar, algo que apertava tão forte que ouviu os ossos sendo esmagados, a afiada dor
subindo por sua perna -
- e ele travou o olhar com o da garota, de olho brilhando com um novo terror, e nesse instante de contato, de
claridade, ele quis tanto dizer que era um bom homem, um homem que nunca mereceu nada do que aconteceu -
- e aquilo sacudiu, e Irons estava caindo, derrubando a arma, puxado para o poço pelo grito, a dor e a besta que
o esperava lá embaixo.
[19]
Num minuto, Irons estava de pé na frente dela, olhando em seus olhos com uma terrível tristeza -
- no outro, ele se foi. Puxado para um buraco no chão por um braço musculoso e com garras, saindo de visão,
junto com Irons.
Houve outro grito da criatura, um poderoso ruído que ganhou intensidade e superou o de Irons. Estática, Claire só
pode ouvir, choque, alívio, medo enquanto os choros saiam do buraco, acertando seus ouvidos no pequeno e frio
calabouço que Irons tinha criado -
- até que os gritos cessaram, só um ou dois segundos depois - e os barulhos de carne sendo mastigada
começaram.
Claire se moveu. Ela pegou a arma de Irons e correu pela mesa no centro da sala.
Ele ia me matar e aquilo o matou -
A realidade do que ia acontecer e do que aconteceu a atingiu, fazendo de suas pernas borracha. Claire forçou
mais alguns passos para trás até encostar na úmida parede de pedra, suspirando.
Ele tinha planejado matá-la, mas não de uma vez. Ela viu como o malvado olhar dele passou pelo seu corpo,
ouviu a ansiosa antecipação em sua maluca risada -
Houve um suave ronco vindo do buraco, um som bestial, o ronco de um leão bem alimentado. Claire virou,
erguendo a arma -
- e algo explodiu do buraco, algo com braços debatendo, e Claire atirou. Uma garrafa na prateleira espatifou
enquanto a coisa acertou o chão -
- e era Irons, mas só metade dele. Ele foi dividido, cortado em dois pela coisa que o tinha pego; tudo abaixo da
cintura se foi, fiapos de pele rasgada e músculos pendurados sobre a piscina de sangue que substituía suas
pernas.
Claire recuou para a porta, ainda apontando para a abertura - e ouviu a criatura, o monstro gritar de novo, um
eco que desapareceu, caindo a uma distância que não podia imaginar. Um segundo depois, ela não o ouvia mais;
#
tinha ido embora.
O monstro de Sherry. Era o monstro de Sherry.
Claire foi vagarosamente até o corpo do Chefe Irons, na direção do escuro buraco - mas não era todo escuro. Ela
pôde ver luz vindo de algum lugar, o bastante para ver que havia outro andar lá embaixo, o que parecia uma
passarela gradeada de metal - e uma escada de mão.
Um sub-subsolo... uma saída?
Ela se afastou da abertura, seus pensamentos fluindo desorganizadamente, tentando absorver o que Irons tinha
dito. Chris não estava em Raccoon, os S.T.A.R.S. se foram - um bom e ruim alívio, pois significava que ele estava
bem, mas não salvaria o dia. Houve um vazamento na Umbrella que ao menos explicava os zumbis - mas e o
que disse sobre Birkin, o vírus de Birkin... é pai de Sherry?
É - talvez os zumbis sejam o resultado de algum acidente, mas e o Mr. X e os homens do avesso?
O modo como Irons falou sobre a Umbrella, sugere que a companhia farmacêutica não era uma vítima inocente.
"Como ele o chamou?".
"T-virus". Ela cochichou, e tremeu. "Tinha o novo vírus de Birkin e tinha o T-virus...".
A doença zumbi tinha um nome. Mas você não nomeia algo a não ser que saiba algo sobre ele, o que significa -
- que ela não sabia o que significava. Tudo o que sabe é que Sherry precisava sair de Raccoon e o sub-subsolo
podia ser a saída. Devia ter uma saída, o monstro dever ter ido para algum lugar...
... e você quer seguí-lo com Sherry? Ele pode voltar - e se realmente estiver atrás de Sherry...
Pensamento infeliz - tal como voltar para as ruas. E a delegacia já está infestada por Deus sabe lá o que. Claire
checou o clip da arma de Irons, contando dezessete balas.
Ela respirou fundo, voltando a si, e olhou para os restos do chefe da polícia. Era um modo ruim de morrer, mas
não conseguiu sentir pena. Ele estava pronto para amarrá-la e torturá-la, ele riu ao implorar por sua vida, e agora
está morto; ela não estava feliz, mas também não derramaria lágrimas. Seu único sentimento sobre isso era o de
que deveria cobri-lo antes de trazer Sherry; a menina já viu violência o bastante para uma vida.
Nós, Claire pensou, e começou a procurar algo para esconder Chefe Irons.
Leon a alcançou no frio e industrial corredor que dava na entrada do esgoto, alguns degraus acima do subsolo
inundado. Ela tinha corrido na frente para posicionar as chaves de acesso ao esgoto, sem querer explicar muito
como as achou; ela só teve o trabalho de jogá-las na sala da caldeira antes que os passos dele tocassem os
degraus de metal atrás dela
Pelo menos eu não finjo estar com falta de ar...
Ada pôde ver no olhar dele que deveria suavizar as coisas; ela começou a falar na hora em que ele pisou no
corredor.
"Desculpe ter corrido". Disse oferecendo um sorriso assustado. "Eu odeio aranhas".
Leon franziu, estudando-a, e ela percebeu que deveria explicar melhor. Ela deu um passo até ele. Mantendo olho
no olho, jogando a cabeça para trás, a fim de enfatizar a diferença de altura; era pouca, mas na experiência dela,
homens respondiam bem às pequenas coisas.
"Acho que só estou com pressa em sair daqui". Ela disse rápido, perdendo o sorriso. "Espero não o ter
preocupado".
Ele derrubou o olhar antes de demonstrar interesse. Ela ficou mais surpresa quando ele recuou.
"Bom, você me preocupou. Não faça de novo, tá? Eu posso ser pouco de um policial, mas eu estou tentando - e
só Deus sabe o que encontraremos aqui".
Ele olhou para ela de novo, falando suavemente. "Eu vim com você porque eu quero ajudar, eu quero fazer o
meu trabalho - e eu não posso fazê-lo se você sair na frente. Além disso,". Ele complementou, sorrindo um
pouco. "se você correr, quem vai me ajudar?".
Foi a vez de Ada desviar o olhar. Ela forçou um sorriso. "Eu farei o possível".
Leon acenou e virou para olhar o lugar, acabando com a conversa - para o alívio de Ada. Ela estava incerta sobre
o que pensar sobre ele, mas estava desconfortável com seu respeito por ele estar crescendo; nada bom
considerando a situação.
Não havia muito o que ver no úmido corredor; duas portas. A sala da caldeira, onde jogou as chaves - ou plugs,
#
de preferência, estava bem à frente. A outra dava num depósito, segundo a placa na parede.
Ada seguiu Leon para a mais próxima, o depósito. Lá não havia nada de importante. Caixas, uma mesa, um baú,
mas pelo menos nenhuma aberração. Depois de uma rápida procurada eles voltaram para o corredor e foram
para a sala da caldeira.
"Como você aprendeu a atirar daquele jeito, afinal?". Leon perguntou e parou na frente da porta. Seu tom parecia
casual. "Você é muito boa. Você esteve no exército ou algo...?".
Boa tentativa, policial.
Ada sorriu, incorporando seu personagem. "Paintball, acredite ou não. Eu também ia no tiro-ao-alvo com meu tio,
mas nunca me aprofundei muito. E então, há alguns anos, um amigo do trabalho - nós éramos compradores em
uma galeria de arte de Nova Iorque - ele me levou para um daqueles fins de semana de sobrevivência e nós
demos uns tiros. Você sabe, caminhada, escalada, coisas do tipo - e paintball. É ótimo, nós íamos a cada dois
meses... eu nunca pensei que fosse usar isso de verdade".
Ela pôde vê-lo acreditar, ver que ele queria acreditar. Mas deve ter respondido algumas perguntas que queria
fazer.
"É, você é melhor do que alguns colegas meus da academia. É sério. Então, você está pronta para continuar?".
Ada acenou. Leon empurrou a porta, olhando o velho e enferrujado maquinário antes de entrar. Ada não olhou
para baixo, querendo que ele achasse o pacote amassado que havia colocado momentos atrás.
A sala era em "H", corrimãos cercavam as duas grandes caldeiras em cada lado. As fluorescentes que ainda
funcionavam criavam estranhas sombras nas paredes infiltradas. A porta que levava ao sistema de esgoto estava
no lado oposto, à esquerda, ao lado de um painel.
"Ei -". Leon se agachou, pegando os plugs que abririam a porta. "Parece que alguém derrubou algo...".
Antes que Ada pudesse perguntar o que tinha achado, ela ouviu um barulho. Um suave rastejo vindo do canto
oposto direito da sala.
Leon se levantou rapidamente, soltando os plugs e erguendo a espingarda. Ada apontou sua Beretta, lembrando
como a porta estava encostada antes de colocar os plugs no chão.
Droga, o implante.
Ela sabia antes mesmo de aparecer. A coisa tinha crescido, e bem rápido, vinte vezes seu tamanho em alguns
minutos - e ainda estava crescendo, exponencialmente.
A aparência também estava mudando. Não era mais aquela medusa que rasgou Bertolucci. A calda se foi, e a
criatura que rastejava pelo chão enferrujado agora tinha membros. Garras saiam de sua lisa pele acompanhada
pelo som de cartilagem sendo perfurada. Musculosas pernas se desenrolaram e o rastejar se tornou mais suave,
quase felino -
A espingarda e a Beretta soaram ao mesmo tempo. A criatura ainda mutava quando os tiros deformaram sua
carne. Em resposta, a coisa vomitou, um ronco que lançou um projétil de apodrecida bile verde -
- que caiu no chão e começou a se mexer. Aquilo estava vivo - e as onze ou doze criaturinhas que surgiram
pareciam saber exatamente onde a ameaça estava. Os animais multi-pernas rastejaram na direção de Ada e
Leon enquanto o implante dava um passo.
"Eu pego eles". Ada gritou, já atirando no mais próximo. Eles eram rápidos, e Ada mais ainda; ela apontou e
atirou, explodindo os bebês monstro em uma fonte de escuros fluídos.
Leon atirava de novo e de novo com a espingarda, mas Ada não podia ver como o monstro mãe estava. Cinco
dos rastejantes restando e só três balas -
- e ela ouviu a espingarda ir ao chão, ouviu tiros de revólver enquanto matava dois dos pequenos antes da arma
clicar.
Sem parar para pensar, Ada soltou a Beretta e foi para o chão. Ela pegou a espingarda pelo cano, se agachou e
desceu a arma, bem forte. Dois dos bichos viraram pasta com o impacto - mas o terceiro e último saltou em uma
inesperada propulsão -
- e pousou na coxa dela, agarrando com garras afiadas como agulhas. Ada soltou a espingarda, gritando
enquanto o animal subia sua perna, o quente e úmido peso dele fazendo-a frenética de nojo.
Sai, SAI -
Ela caiu para trás, estapeando a criatura que já estava em seu ombro, rastejando para seu rosto, para sua boca
--
e Leon a agarrou, erguendo-a com uma mão enquanto arrancava o bicho com a outra.
#
Ada se agarrou nele para não cair e o animal aderiu forte ao tecido do vestido. Leon tinha um bom tato e
arrancou o bicho, gritando enquanto arremessava-o pela sala.
"O revólver!".
A arma estava presa no cinto de Leon. Ada a liberou, vendo que o bicho tinha caído perto da mãe, morta por
Leon -
- e atirou, tentando um tiro certeiro apesar de seu desequilíbrio, assustada pelo quanto perto esteve de ser
implantada. A bala ressoou no chão, lascas enferrujadas respingaram - e a criatura explodiu contra a parede de
trás. Estourada.
Nada se mexeu e os dois ficaram parados, encostados um no outro como sobreviventes de um terrível acidente -
que de certo modo eram. Tudo aconteceu em menos de um minuto e eles saíram ilesos - mas Ada não se iludirá
por terem estado perto, ou com o que acabaram de destruir.
G-virus.
Ela tinha certeza; o T-virus não seria capaz de criar algo tão complicado, não sem um time de cirurgiões - e eles
viram a coisa crescer; o quanto grande e poderosa a criatura teria ficado se eles tivessem demorado mais um
pouco? E se houver mais deles? A ida para os laboratórios não será mais uma caminhada - e Ada se sentiu grata
por Leon ter decidido ir com ela. Já que ele insiste tanto em ir na frente, se algo atacar, ela terá uma chance
melhor de sobreviver -
"Você está bem? Ele te machucou?".
Com um braço ainda segurando ela, Leon olhava em seus olhos, preocupado. E ela percebeu que podia cheirá-lo,
um limpo cheiro de sabão - e se afastou dele. Ela devolveu o revólver e esticou o vestido, procurando por cortes
a fim de não olhar para ele.
"Obrigado, eu estou bem. Não se preocupe?".
Foi mais grossa do que queria, pois estava agitada com o ataque. Ela olhou para ele e ficou incerta sobre o que
sentir ao ver que a resposta o tinha pego de surpresa. Ele piscou devagar.
"Paintball, né?". Ele disse suavemente, e virou para pegar os plugs. Ada o acompanhou, dizendo a si mesma que
era ridículo se importar com o que ele pensava dela. Eles estavam embarcando numa jornada em que ela podia
descartá-lo, ou vê-lo dar sua vida por ela...
... ou matá-lo eu mesma. Não vamos esquecer disso. Então quem se importa se ele acha que sou uma ingrata?
Ada se curvou para pegar a espingarda, sentindo a força que precisava fazer para não desviar de suas
prioridades - e sentindo um vazio lá dentro que não sentia há muito, muito tempo.
[20]
Irons foi um homem muito mau. Doente. Sherry parecia saber o tempo todo, mas ver sua câmara de tortura
secreta fez tudo virar realidade. A sala era rude, ossos, garrafas e um cheiro pior que o dos zumbis. Por isso não
se importou tanto com o corpo incompleto sob o lençol manchado de sangue. Sherry tentou imaginar o que tinha
acontecido exatamente.
"Vamos, querida, vamos indo". Claire disse, seu tom dizendo que Irons tinha sido bastante injuriado. Tudo o que
Claire disse foi que Irons a tinha atacado e que depois algo o atacou. E que poderiam achar algum lugar seguro se
descerem pelo buraco. Sherry estava tão feliz em ver Claire que nem fez perguntas.
Não parece caber uma pessoa inteira lá... ele foi comido? Ou cortado em pedaços?
"Sherry? Vamos?".
Claire tocou o ombro dela, tirando-a de perto do que sobrou de Irons. Sherry deixou ser conduzida até o buraco
no canto.
Claire desceu a escada primeiro e depois de um segundo, disse que era seguro descer. Sherry pisou
cuidadosamente nas barras de metal, sentindo-se feliz como há dias não se sentia. Claire a ajudou nos últimos
degraus, erguendo-a e colocando-a no chão de metal. Sherry virou e olhou em volta, arregalando os olhos.
"Uau". Ela disse, a palavra ecoou e voltou nas escuras sombras que refletiam das estranhas paredes.
"É". Claire disse. "Vamos".
#
Claire começou a andar e Sherry a seguiu de perto, ainda olhando em volta impressionada. Era como a toca de
um cara mau num filme de espião, alguma passagem dentro de uma montanha. Elas estavam numa passarela
com corrimão nas laterais, a turva e esverdeada luz verde atravessando a grade da passarela, vinda de algum
lugar lá embaixo - apesar de a parede da direita ser de tijolos, a outra era mesmo a de uma caverna. Ela pôde
ver grandes pilares e estalactites de pedra, formações naturais esverdeadas pela fantasmagórica luz.
Sherry coçou o nariz. Interessante, mas cheirava podre. "Que lugar você acha que é esse?".
Claire balançou a cabeça. "Eu não tenho certeza. Entre o cheiro e a locação, eu diria que estamos na parte de
uma estação de tratamento de esgoto".
Sherry acenou, grata por saber - e mais ainda por ver a saída bem à frente. A passarela não era muito longa;
virava à esquerda onde estava outra escada de mão que subia. Chegando lá, Claire hesitou, olhando para a
abertura acima e depois para a caverna.
"Eu subo primeiro... que tal você vir atrás, mas ficando na escada até eu dizer que é seguro?".
Sherry acenou, aliviada. Por um segundo, ela teve medo de Claire mandá-la esperar, como antes.
De jeito nenhum. Aqui é escuro, fedorento e vazio. Se eu fosse um monstro, seria aqui onde eu estaria...
Claire subiu e Sherry foi logo atrás, segurando as frias barras firmemente. Segundos depois, os longos e finos
braços de Claire apareceram para ajudá-la a sair.
Elas estavam de volta em solo firme, um curto corredor de cimento que parecia incrivelmente brilhante depois da
caverna. Sherry deduziu que ainda estavam na estação de tratamento; o cheiro não era tão ruim apesar do
escuro e parado rio que orlava o lado esquerdo do corredor, uns trinta centímetros de profundidade por uns dois
de largura. A lodosa água ia de uma grande porta metálica até um circular túnel com grades. Acima havia um
parapeito, mas Sherry não viu escadas.
Quer dizer que... oh, eca.
"Vai ser preciso?". Ela perguntou.
Claire suspirou. "Acho que sim. Mas veja pelo lado bom - nenhum monstro consciente nos seguiria naquilo".
Sherry sorriu. Não era tão engraçado, mas ela gostou do que Claire tentava fazer - o mesmo que cobrir o corpo
de Irons ou dizer que seus pais estavam a salvo.
Ela está tentando me defender do quanto ruim estão as coisas...
Sherry gostou tanto que já estava temendo a hora em que Claire tiver que deixá-la. E terá; Claire tem uma vida
inteira em algum lugar, seus amigos e família, e quando saírem de Raccoon, ela voltará para casa e Sherry ficará
sozinha de novo. Mesmo se seus pais estiverem bem, ela ficará só... e mesmo querendo que eles estejam, não
queria ver seu fim com Claire.
Ela só tinha doze anos e já reparou que sua família era diferente da maioria. As outras crianças da escola tinham
pais que passavam tempo com elas, tinham festas de aniversário e iam acampar, tinham irmãos, irmãs e bichos
de estimação. Sherry nunca teve nada disso, mas sabia que seus pais tinham boas intenções e que a amavam -
mas às vezes, não importava o quanto boa, calma e auto-suficiente ela era, ainda estava longe deles -
"Está pronta para isso?".
A suave voz de Claire a trouxe de volta para a realidade, lembrando-a para ficar mais alerta. Sherry acenou, e
Claire entrou na escura e suja água, ajudando Sherry.
A água estava fria e melada, subindo até os joelhos de Sherry; era grossa, mas nem tanto quanto vômito. Claire
andou para a grande porta de metal à esquerda com sua nova arma, tão enjoada quanto Sherry.
"Parece que nós vamos -".
Um alto ruído no parapeito a interrompeu e ambas olharam para cima, Sherry se aproximando de Claire quando o
barulho apareceu outra vez. Pareciam passos, mas muito lentos e altos para serem normais -
- e Sherry viu um homem de casaco longo e escuro aparecer, sua boca secando de medo. Ele era gigante, uns
três metros, e sua cabeça careca tão branca quanto a barriga de um peixe. Ela não conseguia vê-lo bem por
causa do ângulo, mas viu o bastante - e pôde sentir que era mau, que havia algo muito errado e mau sobre ele.
Radiava dele como doença.
"Claire?". Ela chiou enquanto o gigante cruzava o parapeito, enquanto virava na direção delas - devagar, tão
devagar que Sherry não quis ver seu rosto, o rosto de um homem que podia assustá-la só de andar no parapeito
-
#
"Corre!".
Claire agarrou a mão dela e as duas correram, tormentando a grossa água na direção da porta fechada.
- não esteja trancada, não esteja trancada!
A porta estava perto mas parecia demorar para sempre, cada segundo passando enquanto lutavam contra o
peso da fria e oleosa água.
Claire achou o controle, batendo no botão com um tipo de pânico que só fez Sherry se assustar mais. A porta se
dividiu ao meio, metade deslizando para o teto e a outra mergulhando nas ondas.
Sherry não olhou para trás mas Claire sim. Seja lá o que viu, a fez tirar Sherry do chão, cruzar a porta e entrar no
longo e escuro túnel que a porta escondia. Assim, que passaram, Claire tocou na parede e a porta fechou
selando-as na escuridão.
"Não se mexa e fique quieta". Claire cochichou, e sob a fraca luz que vinha de cima, Sherry viu Claire armada,
procurando ameaças nas sombras. Sherry obedeceu, seu coração pulando, imaginando quem ou o que aquele
homem foi - era o homem que Claire havia comentado antes, mas quem ele era? Pessoas não ficam daquele
tamanho, e Claire também tinha se assustado -
Clink.
Um ruído metálico, suave e abafado na parede ao lado - e Sherry sentiu a água aos seus pés se mover de
repente, uma corrente que moveu suas pernas, tirou seu equilíbrio -
- e ela caiu, seu rosto na fria e nojenta água enquanto a corrente ficava mais forte, sugando-a para baixo. Sherry
tentou se segurar em algo, mas seus dedos só encontravam o lodo do chão de pedra, enquanto as águas a
levavam para longe de Claire.
- não posso respirar -
Ela chutou forte, agitando o corpo, seus olhos doendo de água ruim - e conseguiu respirar assim que sua cabeça
voltou à tona, assim que percebeu estar num túnel, um escuro e melado túnel não muito maior que os de
ventilação da delegacia. As rápidas águas a congelavam, respirando sufocada o sujo ar acima, forçando para não
lutar contra o impiedoso poder da água. O túnel tinha que dar em algum lugar - e quando der, deverá estar
preparada para correr.
Claire, por favor, me encontre, por favor, não desista de mim...
Ela estava perdida, cega e surda, deslizando por um escuro túnel - e cada vez mais longe da única pessoa que
pode protegê-la das criaturas que tomaram conta de Raccoon.
Annette já não duvidava mais de que seu marido havia escapado do laboratório. Não só pela metade das
entradas estarem abertas, mas também pelas cercas que circundavam a fábrica estarem derrubadas - e os
túneis do esgoto, que deveriam estar praticamente vazios, estavam cheios de portadores humanos que devem
ter vindo de fora. Mesmo avançados em termos de deterioração celular, ela teve que derrubar cinco deles a tiro
para livrar o caminho entre o teleférico e as salas de operação do esgoto.
Depois do que pareceu levar uma eternidade para cruzar as semitratadas águas do sistema, ela chegou na
plataforma que procurava. Annette subiu no corredor de concreto, olhando cuidadosamente para a porta fechada
à sua frente. Fechada e inteira, um bom sinal - mas se ele passou por ela antes de perder todos os traços de
inteligência humana, antes de virar um impensado e violento animal? Mesmo agora, ele ainda pode ter guardado
alguma memória? Ela não sabia. O G-virus ainda não tinha sido testado em humanos...
... e se ele passou? E se chegou na delegacia?
Não. Ela não podia, não iria considerar a possibilidade. Considerando o que ela sabia sobre as mudanças
quimiofisiológicas - o que ele seria capaz de fazer se o vírus funcionar como deveria - o pensamento de vê-lo
chegar a uma população não infectada... bom, era impensável.
A delegacia é segura, ela pensou firmemente. Irons pode ser um incompetente, mas seus policiais não. Seja lá o
que William for agora, não poderá passar por eles.
Ela não conseguia acreditar em mais nada; Sherry estava lá, se tivesse feito o que deveria fazer - e além de ser
seu sangue, Sherry seria muito importante em seus planos futuros.
Annette se encostou na parede, ciente de que o tempo estava passando, mas incapaz de continuar sem
descansar. Ela estava quase no fim da área contida e tudo o que encontrou foram vários caminhos que William
pôde ter usado para escapar.
E a Umbrella estará aqui em breve. Eu tenho que voltar, eu tenho que ativar a destruição antes que eles me
#
impeçam.
William merecia estar em paz - mas, além disso, destruir a criatura que um dia foi seu marido erradicaria todas as
suas dúvidas sobre o sucesso de seu objetivo. Mas se ela explodir o laboratório e fugir, só para descobrir que a
Umbrella o capturou? Todos os seus esforços, todo o trabalho dele, por nada...
Annette fechou os olhos, desejando haver um modo fácil de fazer a decisão que tinha de ser feita. O fato era, a
morte de William não era tão crucial quanto fugir do laboratório. Havia uma boa chance de que ele não seja
encontrado, de que eles nem saibam de sua transformação -
- eu tenho uma chance. Ele não está aqui e em lugar algum.
Ela se desencostou da parede, caminhando vagarosamente para a porta. Ia checar os últimos túneis, ao menos
ver se as salas de controle tinham algum dano - e depois vai voltar. Voltar e terminar o que a Umbrella tinha
começado.
Annette abriu a porta e -
- e ouviu passos, ecoando pelo vazio corredor em algum lugar à frente; o corredor era em "T", os passos
derretidos uns nos outros tornando impossível saber de onde vinham - mas eram fortes, de não infectados,
talvez mais de um, e isso quer dizer uma coisa.
Umbrella. Eles finalmente vieram.
Raiva ferveu atrás dela, fazendo suas mãos tremerem, seus lábios ficarem entre seus dentes. Tinham que ser
eles, um de seus espiões assassinos. Além de Irons e alguns oficiais da cidade, só a Umbrella sabia que esses
túneis ainda eram usados - e que davam no complexo subterrâneo. A possibilidade de ser um sobrevivente
inocente não passou por sua mente; ela ergueu o revólver e esperou pelo idiota sem coração aparecer.
Uma figura ficou visível, uma mulher de vermelho, e Annette atirou -
- bam, mas estava tremendo, gritando por dentro, e errou o tiro. Ele ricocheteou no cimento da parede, pim, e a
mulher ergueu uma arma -
- e Annette atirou de novo, bam-pim, mas de repente apareceu outro, uma azulada sombra que voou na frente
da mulher, tirando-a do caminho.
Tudo isso aconteceu de uma vez -
- e Annette ouviu um choro de dor, de um homem, e sentiu uma explosão de triunfo.
Peguei ele, eu peguei ele -
Mas devem haver mais, ela não tinha acertado a mulher - e eles eram assassinos treinados.
Annette virou e correu, seu longo, branco e sujo avental de laboratório voando, seus sapatos molhados contra o
cimento. Ela tinha que voltar ao laboratório, rápido.
O tempo se esgotou.
[21]
Leon tinha parado para arrumar seus arreios, Ada passou na frente, surpresa pelos primeiros túneis estarem
vazios. Se não lhe falhe a memória, esse corredor dava no sistema de tratamento de esgoto; depois tinha o
teleférico para a fábrica, e então o elevador para o subterrâneo. As condições provavelmente ficarão piores
quanto mais perto do laboratório ficar, mas se continuar desse jeito... ela já está começando a ficar otimista.
Leon esteve bem quieto desde que entraram no esgoto, falando só o necessário - cuidando onde pisa, espere um
minuto, que caminho devemos seguir... ele era corajoso, pelo menos acima da média entre os cabeças do
departamento, e atirava bem - e não sabia nada sobre mulheres. Quando ela cortou a tentativa dele de
confortá-la, ele ficou confuso e machucado - e agora ele não sabe como interagir com ela. Leon preferiu se calar
do que ser rejeitado de novo.
Ada chegou na intersecção em "T" do corredor vazio, pensando no lugar mais fácil para se livrar de Leon -
#
- e viu a mulher, na hora em que atirou.
Bam!
Ada sentiu lascas do concreto espirrarem em seu ombro enquanto erguia a Beretta, uma onda de emoções e
percepções no instante que levou para reagir. Ela não teria tempo para reagir, o próximo tiro a mataria, brava por
ter sido tão estúpida - e reconheceu a mulher.
Birkin -
Ela ouviu o segundo tiro - e então foi golpeada, empurrada do caminho e caindo no chão enquanto Leon chorava
de dor e surpresa, seu corpo caindo sobre o dela.
Ada respirou fundo, chocada assim que entendeu o que tinha acontecido, assim que Leon rolou e agarrou o
braço. Ela ouviu passos correndo, Leon gemendo, e sentou.
Oh, meu Deus. Essa não -
Ele levou um tiro. Por mim.
Ada se levantou, inclinando ele. "Leon!".
Ele olhou par ela, mordendo por causa da dor. Sangue vazava por entre seus dedos, pressionados contra seu
ombro esquerdo.
"Eu estou - bem". Ele suspirou, apesar de pálido e sofrendo, ela achou que estava bem. Devia estar doendo
muito mas não ia - não irá morrer.
Eu teria morrido, Leon salvou a minha vida -
E na cauda desse pensamento, - Annette Birkin. Ainda viva.
"Aquela mulher". Ela disse, sentindo-se culpada enquanto virava para correr. "Eu preciso falar com ela".
Ada decolou, fazendo a curva e descendo o corredor, uma porta aberta no fim. Leon sobreviverá, e se conseguir
alcançar Annette todo esse maldito pesadelo acabará. Ada tinha estudado as fotos, sabia que era a esposa de
Birkin - e se ela não estiver com a amostra, com certeza sabe onde está.
Ela cruzou a porta e parou antes de pular em outro túnel cheio de água, ouvindo, analisando a superfície da água.
Nenhum respingo de água, mas haviam algumas ondas à esquerda -
- e uma escada de mão na parede, levando ao túnel de ventilação acima.
Ada pulou na água e foi para a escada na parede da frente. O túnel continuava para a esquerda, mas não tinha
saída.
Ela escalou rapidamente as barras, recusando-se a pensar em Leon (porque ele estava bem) enquanto espiava o
túnel e via que estava vazio, antes de cruzar um conjunto de pás. Através dele, outra olhada antes de passar
por outro conjunto de pás, e desceu outra escada. A gigante câmara de dois andares que abrigava o maquinário
de tratamento estava ausente de vida, tão fria, industrial e equipada quanto esperava. Havia uma ponte
hidráulica lá, erguida no andar que estava - isso quer dizer que Annette desceu pela escada oeste, a outra única
saída. Ada andou em seus mapas mentais assim que começou a cruzar a ponte.
"Largue a arma".
Atrás dela. Ada hesitou, sentindo uma dor interior. A segunda vez que estragou tudo - mas não obedecerá
Annette de jeito nenhum. A mira dela era ruim e Ada se estendeu, preparando para se jogar, girar e atirar -
Bam-pim!
O tiro acertou o chão à direita de Ada. Annette a tinha.
Ada derrubou a arma, erguendo as mãos devagar, virando para a cientista.
Jesus, eu mereço morrer por isso...
Annette Birkin andou até ela, uma Browning 9mm tremendo em uma mão estendida. Ada recuou ao ver aquela
arma balançando - mas viu uma oportunidade quando Annette se aproximou, passando a uns três metros dela.
Muito perto. Muito perto e à beira de um colapso, não é?
"Quem é você? Qual é o seu nome?!".
Ada exalou forte, gaguejando sua voz. "Ada, Ada Wong. Por favor, não atire, por favor, eu não fiz nada - ".
Annette franziu, "Ada... Wong. Eu conheço esse nome - Ada era o nome da namorada de John...".
"É, John Howe! Mas como você sabe? Você sabe onde ele está?".
"Eu sei porque John trabalhou com meu marido, William. Você já ouviu dele claro - William Birkin, o responsável
pela criação do T-virus".
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Annette mostrou um pouco de orgulho e desespero, dando esperanças à Ada; uma fraqueza que podia ver. Ada
tinha lido os arquivos sobre William - leu sobre a firme subida pela hierarquia da Umbrella, os avanços em virologia
e seqüênciamento genético... e sobre a ambição científica que o tornou um verdadeiro sociopata. Parece que sua
esposa estava com os mesmos planos - isso significa que a senhora não teria problemas em puxar o gatilho.
Seja tola e não a faça duvidar.
"T-virus? O que é -". Ada piscou, e arregalou os olhos. "Doutor Birkin? Espere, Birkin, o bioquímico?".
Ela viu um feixe de prazer no rosto de Annette - mas logo se foi, ficando só desespero. Desespero e maldade em
seus profundos e vermelhos olhos.
"John Howe está morto". Ela disse friamente. "Ele morreu há três meses atrás na mansão de Spencer. Minhas
condolências - mas depois, você vai se juntar a ele, não vai? Você não vai levar o G-virus de mim, você não vai
tê-lo!".
Ada começou a tremer. "G-virus? Por favor, eu não sei do que você está falando!".
"Você sabe". Annette apertou os dentes. "A Umbrella mandou você para roubá-lo, você não pode mentir para
mim! William está morto para mim agora, a Umbrella o tirou de mim, eles o forçaram a usá-lo! Eles o
forçaram...".
Ela parou, seu olhar distante. Ada esticou-se - mas Annette voltou, seus olhos molhados de lágrimas, a arma
apontada para o rosto de Ada.
"Eles vieram uma semana atrás". Ela respirou. "Eles vieram para pegá-lo e atiraram no meu William quando não
daria as amostras. Eles levaram a maleta, eles levaram todos os finais, ambas as séries - exceto pela única que
William guardava, o G-virus...".
A voz de Annette virou um grito de repente. "Ele estava morrendo, você não vê? Ele não tinha escolha!".
Ada entendeu. Entendeu tudo. "Ele injetou em si mesmo, não foi?".
A cientista acenou, seu mole cabelo loiro caindo nos olhos, sua voz suave novamente. "O vírus revitaliza funções
celulares. Ele - o vírus mudou William. Eu não vi - o que ele fez, mas eu vi os corpos dos homens que tentaram
matá-lo... e ouvi os gritos".
Ada se aproximou, como se para confortá-la, suas expressões como uma máscara de simpatia - mas Annette
levantou a arma de novo. Mesmo na tristeza, ela não deixaria Ada se aproximar.
Mas já é perto o suficiente...
"Eu sinto tanto". Ada disse, abaixando os braços. "Então o G-virus, ele vazou, ele infectou toda a Raccoon -".
Annette balançou a cabeça. "Não. Quando os assassinos da Umbrella foram - parados, a maleta foi quebrada. O
T-virus vazou - os funcionários do laboratório atingidos pelo aerotransmissível foram contidos, só que haviam
ratos, entendeu? Ratos no esgoto...".
Ela pausou, seus lábios tremendo. "... a não ser que William, meu querido marido já tenha começado a se
reproduzir. Implantando embriões, replicando... ainda não deve ser hora para isso, mas eu - ".
Ela parou, seus olhos estreitando, a maldade fluindo novamente. Seus olhos avermelhados brilhando com
paranóia.
Preparar-se -
"Você não pode tê-lo!". Annette gritou, saliva voando de seus lábios rachados. "Ele deu sua vida para mantê-lo
longe de você, você é uma espiã e você não pode tê-lo -".
Ada agachou e pulou, jogando seus braços sob os de Annette, empurrando a arma para cima e longe das duas.
A Browning descarregou, mandando uma bala para o teto enquanto lutavam pelo controle da arma. Annette
estava fisicamente mais cansada, mas era dirigida por demônios de ódio e perda, o cume de sua insanidade
dando-a forças -
Ada soltou a arma de repente e Annette tropeçou. Ela caiu no corrimão da ponte e Ada golpeou-a com o cotovelo
na barriga, o centro do equilíbrio -
- e Annette virou, sua boca aberta de surpresa, seus braços tentando se equilibrar - e ela mergulhou sobre o
corrimão, silenciosamente, nenhum som até o thump de seu corpo atingindo o chão a uns 6 metros abaixo.
"Droga". Ada cochichou, olhando para baixo. Annette ficou lá, de barriga para baixo e parada, a arma ainda
apertada em sua mão.
Isso é ótimo. Cair numa emboscada pela segunda vez e matar a única maluca que podia te dizer onde estavam
as amostras -
Um baixo gemido flutuou do corpo de Annette Birkin - e ela se moveu, arqueando as costas, tentando rolar para
#
o lado.
Droga. Droga. Droga.
Ada virou e correu pela ponte, pegando a Beretta enquanto corria para o que parecia um painel de controle ao
lado da escada para o túnel de ventilação. Ela tinha que abaixar a ponte e pegar Annette antes que fuja -
- mas o painel era para a ventilação, e enquanto outro doloroso gemido - um pouco mais alto - ecoou pelo lugar,
Ada soube que não tinha muito tempo.
O depósito de lixo, eu posso cruzar o depósito e pegar um dos túneis -
Enquanto pensava isso, já estava correndo para a escada oeste, esperando que a cientista esteja machucada o
bastante para ficar lá um minuto ou dois. Havia uma pequena sacada no final da ponte onde dava para ver o
depósito, e a escada de mão na parede à direita. Ada desceu o mais rápido que podia, pulando no chão de
cimento na última barra.
O depósito de lixo era uma grande área quadrada, as paredes amontoadas com materiais industriais - ferro velho
amassado, canos enferrujados, painéis cobertos de fios, papelão podre... Ela desceu do patamar e pulou em
quase um metro de lodo, a fria meleca passando de suas pernas. Ela não se importava, só queria pegar a
senhora Birkin e encerrar suas horas em Raccoon -
- foi quando algo se mexeu. Abaixo do opaco e fedorento líquido, algo grande se moveu. Ada viu o que poderia
ser o dorso de um réptil, viu e ouviu uma pilha de tábuas caírem na água a uns três metros à frente no mesmo
instante.
Você deve estar brincando...
Seja lá o que for, era grande o bastante para fazer Ada esquecer Annette. Ada voltou para o patamar e pegou
impulso, sem tirar os olhos das ondas de lodo -
- que de repente subiram num violento espirro de escuridão e na direção dela. Ada ergueu a Beretta e começou a
atirar.
* * *
Havia um pequeno elevador no canto da vazia sala de reuniões, um quadrado de metal que aparentemente
descia. Claire foi até ele, fétida água pingava de suas roupas, terrivelmente perdida e ansiosa para continuar
andando e achar Sherry.
Por favor, esteja viva, querida, por favor.
Ela tinha visto o tubo de drenagem, mas não Sherry - e depois de agonizantes e longos momentos gritando na
água agitada, e tentativas de entrar no buraco, ela acabou abandonando o esforço. Sherry se foi, talvez afogada,
talvez não - a não ser que o fluxo de água revertesse, Sherry não voltará.
Claire achou os controles da pequena plataforma e apertou o botão. Um motor escondido zuniu e o elevador
desceu, levando-a para outro provável corredor vazio, talvez outra sala desconhecida - ou pior, direto para outra
criatura sobrenatural.
Ela apertava as mãos molhadas enquanto descia lentamente. Ela se sentia andando às cegas. Do túnel onde
Sherry desapareceu, ela só passou por um corredor pouco iluminado e uma sala de reuniões não decorada e de
alguma forma esterilizada.
O elevador estava descendo num corredor e ela se agachou, apontando a arma de Irons enquanto a nova
localidade aparecia.
O corredor de concreto tinha outro elevador na outra ponta, e tinha uma intersecção para a esquerda no meio
dele - e próximo à junção havia um corpo encostado na parede, o que parecia ser um policial -
Ela sentiu uma mistura de choque e sofrimento, arregalando os olhos enquanto olhava para as feições do policial,
a cor do cabelo, o físico...
... é o - Leon?
Antes do elevador tocar o chão, Claire pulou e correu para a figura. Era Leon, e não estava se mexendo - mas
respirava, e assim que ela se agachou na frente dele, seus olhos abriram. A mão dele estava em seu braço
esquerdo, os dedos molhados de sangue.
"Claire?". Seus olhos azuis pareciam claros, cansados, porém conscientes.
#
"Leon! O que aconteceu? Você está bem?".
"Eu levei um tiro, devo ter apagado por um minuto...".
Ele cuidadosamente tirou a mão, expondo um pequeno e rasgado buraco acima da axila. Parecia doloroso, não
pelo menos não sangrava muito.
Estremecido, Leon colocou o tecido de seu uniforme sobre o buraco e pressionou a mão sobre ele.
"Dói pra diabo, mas acho que vou sobreviver - Ada, onde está Ada?".
Dizendo a última frase quase frenético, Leon fez força para se desencostar da parede. Com um suave gemido ele
soltou, sem condições de se mexer.
"Fique parado, descanse por um minuto". Claire disse. "Quem é Ada?".
"Eu a conheci na delegacia. Eu não consegui te achar e descobrimos como fugir de Raccoon - pelos esgotos. A
cidade não é segura, houve algum tipo de vazamento no laboratório da Umbrella, e Ada quis partir logo depois.
Alguém atirou em nós e eu fui atingido - Ada foi atrás do atirador, descendo o corredor, ela disse que era uma
mulher...".
Ele balançou a cabeça e franziu. "Eu tenho que achá-la. Eu não sei quanto tempo fiquei apagado, não mais do
que alguns minutos, ela não deve ter ido longe -".
Ele tentou se mexer de novo e Claire o impediu, empurrando-o de volta. "Eu vou. Eu - estava com uma garotinha
que agora está perdida nos esgotos. Talvez eu ache as duas".
Leon hesitou - depois acenou, desistindo. "Como está de munição?".
"Ah, sete nesta -". Ela conferiu a arma que pegou da viatura e colocou na cintura. Parece que aquele passeio foi
há milhões de anos. "- e dezessete nesta".
Ela ergueu a arma de Irons e Leon acenou de novo, sua cabeça rolando cansadamente. "Certo, isso é bom. Eu
te seguirei em alguns minutos... tome cuidado, tá? E boa sorte".
Claire se levantou, desejando que tivessem mais tempo. Ela queria contar sobre Chris e Irons, Mr. X e o T-virus,
ela queria saber o que ele sabia sobre a Umbrella, ou se sabia onde ficava a saída do esgoto -
- mas essa Ada deve estar enfrentando um atirador nesse momento e Sherry pode estar em qualquer lugar.
- Leon fechou os olhos. Claire virou e foi para a intersecção, imaginado se algum deles sairá disso com vida.
[22]
Annette doía por toda parte. Ela se sentou vagarosamente, enjoada com as centenas de dores que gritavam por
sua atenção. Seu pescoço e estômago doíam, tinha torcido o pulso e seus joelhos pareciam inchados - mas foi a
aguda dor em seu lado direito que era pior, ela achava que tinha quebrado uma costela.
Sua horrível, horrível mulher -
Annette se inclinou, segurando seu tenso pescoço com uma mão machucada, mas só viu metal e sombra; Ada
Wong, a vagabunda da Umbrella aparentemente fugiu. Ela fingia não saber de nada, mas Annette não era burra,
Ada já devia estar a caminho do laboratório - ou vindo atrás dela, ansiosa para terminar o serviço.
Umbrella, a Umbrella fez isso...
Annette se ajoelhou, usando sua raiva para superar a dor. Ela tinha que chegar ao laboratório antes dos espiões -
mas estava tão machucada!
Não posso deixar roubarem o trabalho dele...
Ela cambaleou até a porta da imensa sala, um braço envolto em seu ardente peito - e parou, inclinando a cabeça
para ouvir.
Tiros. Ecoando pelo frio ar, vindos da área de despejo - e um segundo depois ela ouviu um tremendo assobio,
mais tiros e respingos de água -
Annette sorriu, um sorriso apertado e sem humor. Talvez ela chegue no laboratório antes.
A ponte, abaixe a ponte, não a deixe escapar...
Cansada e dolorida, Annette foi para os controles hidráulicos e acionou a ponte. Os poderosos motores da ponte
#
abafaram os barulhos da batalha, a plataforma rotacionando e descendo até travar com um pesado clank.
Annette se desencostou da parede, caindo sobre os controles perto da porta. Ela viu os controles do túnel de
ventilação e os ligou, ainda sorrindo enquanto as pás começavam a roncar lá em cima. Ada teve problemas no
depósito de lixo e Annette não vai deixá-la voltar por onde veio; com a ponte abaixada e as pás girando, a
senhorita Wong terá lutar pelo caminho.
Tomara que seja um bando de lickers, sua vadia, espero que estejam fazendo-a em pedaços...
Annette saiu dos controles e caiu, a dor e a tontura eram demais, seus ralados e inchados joelhos acertando o
chão, espetando agulhas de agonia por suas pernas -
E a porta à sua frente abriu. Annette ergueu a arma, mas não era capaz de mirar, gastando o que restava de
sua força para não gritar de sofrimento e frustração.
William, está doendo tanto, sinto muito, mas eu não posso -
Uma jovem mulher se agachou na frente dela, com um olhar de preocupação no rosto. Ela vestia shorts e um
colete pingando água do esgoto - e segurava um grande revólver, não apontando diretamente para Annette - e
não apontando para lugar nenhum também.
Outra espiã.
"Você é Ada?". A garota perguntou, tentando tocá-la - era mais do que Annette podia suportar, ser tocada pela
dó de algum espião corporativo.
"Afaste-se de mim". Annette resmungou, estapeando fracamente a mão estendida da garota. "Eu não sou o seu
'contato', e eu não o tenho em mim. Você pode me matar, mas não vai encontrá-lo".
A garota se afastou, um olhar de confusão em seu sujo rosto. "Achar o que? Quem é você?".
As perguntas de novo, e a fúria passou, deixando-a insensível. Annette estava cansada de jogos; doía demais e
já não era mais capaz de lutar. "Annette Birkin". Ela disse exausta. "Como se não soubesse...".
Ela vai me matar agora. Está acabado, tudo acabado.
Annette não podia fazer nada. Lágrimas desceram suas bochechas, lágrimas tão fúteis quanto seus planos. Ela
desapontou William, ela falhou como esposa e como mãe, e até mesmo como cientista. Pelo menos acabará
agora, finalmente haverá um fim para a angústia -
"Você é a mãe de Sherry?".
As palavras da garota a atordoaram, tirando-a de sua exaustão como um tapa na cara.
"O que?! Quem - como você soube sobre Sherry?".
"Ela está perdida nos esgotos". A moça disse, sua voz rápida e desesperada enquanto guardava a arma no cinto.
"Por favor, você tem que me ajudar a encontrá-la! Ela foi sugada para um tubo de drenagem e eu não sei onde
procurar -".
"Mas eu pedi para ela ir à delegacia". Annette lamentou, toda a dor física esquecida, seu coração pulsando
horríveis ondas de descrença. "Por que ela está aqui? É perigoso, ela será morta! E o G-virus - a Umbrella vai
achá-la, eles vão pegá-lo, por que ela está aqui?".
A garota se estendeu para ajudá-la de novo, levantando-a, e Annette não lutou, muito fraca e assustada para
isso.
A garota a olhou intensamente, parecendo culpada, com medo e esperançosa ao mesmo tempo. "A delegacia foi
tomada - para onde a drenagem vai? Por favor, Annette, você precisa me dizer!".
A verdade mostrou-se como um raio de luz em sua exaustão e medo.
A drenagem vai para o tanque de filtragem - que é perto do bonde da fábrica.
A rota mais curta para os laboratórios.
Era um truque. A garota estava usando Sherry para chegar no laboratório, para pegar informações sobre o
G-virus. Sherry ainda estava na delegacia, segura e bem, e tudo isso é uma armação -
- mas a Umbrella conhece o caminho, por que ela perguntaria algo que já sabe? Não faz sentido.
Annette ergueu a arma, seu dolorido pulso tremendo, e se afastou da garota. Sua confusão e perguntas eram
demais - por isso não podia fazer nada, não podia apertar o gatilho.
"Não se mexa. Não me diga". Ela disse, ignorando a dor enquanto abria a porta. "Eu vou atirar se tentar me
seguir".
"Annette - eu não entendo, eu só quero -".
"Cale a boca! Cale a boca e me deixe em paz. Será que vocês todos não podem me deixar em paz?!".
Ela passou pela porta, surpreendendo a garota, apertando seu braço contra a costela contundida ou quebrada
#
assim que fechou a porta..
Sherry...
Era uma mentira, tinha que ser - mas não mudaria nada. Ela ainda podia, tinha que voltar para o laboratório e
terminar o que começou.
Virando, mancando e tossindo, Annette se apoiou na fria parede do túnel conector, deixando cada doloroso e
terrível passo lembrá-la do que a Umbrella fez.
Uma fria e quieta caverna, as paredes brilhavam com gelo e eu estou perdido. Perdido e exausto, correndo e
com medo por um longo tempo, então eu paro e descanso. Tão quieto, tão frio - mas meu braço dói, eu estou
sentado contra uma parede onde nasceu espinhos, e um deles está cavando minha pele, me espetando. Dói
tanto, e eu tenho que me levantar, eu tenho que encontrar alguém, eu tenho que -
- levantar.
Leon abriu os olhos, a par de que tinha apagado novamente. A percepção o fez respirar fundo, o súbito medo
fazendo-o completamente acordado.
Ada, Claire - Jesus, quanto tempo?
Ele gentilmente tirou a mão do braço, o sangue grosso entre seus dedos. Dói, mas não tanto quanto antes - e o
sangramento havia parado, pelo menos na entrada; os farrapos de seu uniforme tinham grudado no ferimento,
formando um curativo.
Ele se inclinou, tentando tocar onde a bala tinha saído; de novo, havia tecido sobre a dor pulsante do ferimento.
Não estava certo, mas só de pensar que a bala tinha varado sua carne sem acertar o osso - ele foi
extremamente sortudo.
Mesmo se tivesse arrancado meu braço, Ada ainda estaria por aí - e eu mandei Claire atrás dela. Eu preciso ir
atrás delas.
Apertando os dentes, Leon se levantou com o braço bom, seus músculos frios e duros por causa do concreto
úmido.
Seu ombro esquerdo raspou na parede e ele ofegou quando a dor intensificou brevemente. Leon esperou passar,
respirando fundo, pensando que poderia ter sido bem pior.
Quando finalmente de pé, decidiu que agüentará; ele não estava enjoado e apesar de haver sangue na parede e
no chão, não era tanto quanto imaginava. Cuidando para não mexer no ferimento, Leon virou e desceu o
corredor até a porta fechada, andando o mais rápido que podia.
Depois da porta, deu de cara com outro túnel cheio de água que ia para os dois lados; havia uma escada de mão
à sua frente à esquerda, mas nem pensou em subir com o braço ferido - além disso, havia um ventilador
barulhento no topo da escada. Ele desceu do patamar e foi para a direita na escura água, esperando achar pistas
de Ada e Claire.
Perseguir um atirador... como pôde fazer aquilo, como pôde me deixar lá?
Depois do confronto com o monstro vomitante, ele jurou não assumir mais nada sobre Ada Wong; ela era flertiva
e insociável, e se ela aprendeu a atirar brincando de paintball, ele era um executivo de banco. Mas apesar de seu
confuso comportamento e provável duplicidade, ele gostava dela; ela era esperta e confiante, ela era bonita - e
ele assumiu que havia uma pessoa decente sob aquela contraditória fachada...
... e ela o deixou para trás e foi pegar o atirador, deixou você rolando no chão com uma bala no braço. É, ela é
ótima; peça-a em casamento.
Ele chegou onde o túnel se dividia. Havia um portão trancado à direita, então Leon seguiu à esquerda, olhando as
grossas sombras. Ele devia ter ido com Claire -
Ele parou, ouvindo algo. Tiros, distantes e abafados, vindo de algum lugar à frente, distorcidos pelo labirinto de
túneis que compunham o sistema de esgotos.
Ainda armado, Leon apertou o ferimento e começou a correr, devagar por causa da água - mas quando os tiros
pararam, ele achou um motivo para ir mais rápido.
Havia uma passagem à frente, uma fraca luz amarelada vinha de lá. Mesmo antes de chegar, viu que teria de
escolher.
Diretamente à frente estava uma alto degrau e uma pesada porta na parede do fim do túnel, água caía do teto
#
como uma cachoeira.
Uma escolha óbvia, exceto -
Leon parou na passagem iluminada, olhando. Outra porta, e ele não tinha tempo para decidir, os tiros podem ter
vindo de qualquer lugar -
Bam, Bam -
Para a esquerda. Leon subiu no patamar, sentindo mais dor, sentindo um molhado quente no pulso. Ele ignorou
isso, indo para a porta e a abrindo, ouvindo mais tiros enquanto passava pela ponte no meio da grande câmara e
ia até a próxima porta.
Ele entrou em um frio corredor só que bem maior e mais largo que os outros, provavelmente algum tipo de
corredor para transporte de equipamentos pesados. Ele virava para a esquerda e esquerda de novo, caixas e
cilindros de aço na esquina da primeira curva.
... acetileno, talvez oxigênio, bom Deus, o que leva tantos tiros e não morre?
Ele ouviu mais tiros e água espirrando - e um som diferente, um profundo e gutural assobio. Estranhamente
familiar, mas muito alto para ser possível.
Um milhão de cobras, milhares de gatos gigantes, algum terrível dinossauro -
Ele correu, finalmente desistindo de manter o ferimento fechado, precisando do braço livre para ganhar mais
velocidade. O fim do túnel estava perto, ele viu um painel de luzes piscando e uma abertura à esquerda, outra
grande porta de abastecimento -
- e ele parou bem a tempo de não entrar na linha de fogo, assim que outra rápida sucessão de tiros soou, assim
que um tenebroso impacto na água fez chover no chão como um grosso lençol.
"Pare, eu estou entrando!". Ele gritou -
- e ouviu a voz de Ada, sentindo um alívio apesar do horror que estava à frente.
"Leon!".
Ela está viva!
Ele ergueu a arma, seu ferimento sangrando agora, ele apareceu na comporta aberta, tábuas quebradas
nadando no turbulento líquido. Ela estava num pequeno patamar de concreto ao lado de uma escada de mão,
apontando a Beretta para a piscina de lixo.
"Ada, o que -".
Splash!
Uma gigante explosão saiu do lago e o jogou para o corredor. Aconteceu tão rápido que ele só viu depois que
estava voando no ar. Ele caiu sobre o braço ferido e gritou, tanto pelo choque do que tinha visto quanto pela dor.
- crocodilo -
Leon ficou de pé e correu antes mesmo de saber se conseguia levantar - e o lagarto gigante, o crocodilo de nove
metros de comprimento subiu no corredor atrás dele com um poderoso rosnado. O cimento tremeu assim que o
mamute réptil saiu das águas, galões de água escura vazando de sua mandíbula cheia de dentes.
- uma boca tão grande quanto eu, maior -
Leon correu, não havia dor, seu coração martelando de pânico - e a besta rosnou de novo, um impossível berro
que sacudiu seus ossos, que fez suor explodir de todos os poros -
- e Leon deu uma olhada para trás, viu que era mais rápido que o lagarto gigante. Ele ainda estava subindo pela
comporta, suas pernas grossas e curtas pareciam troncos de árvores, sua incrível cabeça grande demais para
manobrar facilmente.
Leon trocou de arma numa onda de terror, seu ferimento gritando enquanto colocava uma bala na Remington.
Ele andou de lado, alcançando a curva -
- e descarregou todos as cinco balas o mais rápido que podia, o pesado calibre explodindo o focinho do monstro.
Ele rosnou, balançando a cabeça de lado a lado, baldes de sangue emergindo de sua sorridente face - mas ainda
vindo, tirando sua calda da piscina lá atrás.
Insuficiente, não foi o bastante -
Leon virou e correu de novo, horrorizado em ter que se retirar, com medo do que acontecerá a Ada ao fugir do
crocodilo, mas sabendo que precisará de outros cinqüenta tiros para derrubá-lo - ou uma explosão nuclear, e por
que ele ainda estava pensando? Ele precisava fugir e depois pensar no que fazer.
Agüenta aí, Ada -
Os fortes passos do gigante encheram seus ouvidos enquanto passava pelas caixas, pela fileira de cilindros de aço
#
--
e parou de correr. Seus instintos gritavam por sanidade, mas ele tinha uma idéia - e enquanto o lagarto dava
outro passo, Leon virou e voltou.
Funciona, isso funciona nos filmes, por favor, Deus, esteja ouvindo.
Os cinco cilindros brilhantes estavam presos por uma corrente. Havia um botão para a mesma e Leon o apertou.
Uma ponta da pesada corrente foi para o chão.
Soltando a espingarda, ele agarrou o cilindro mais próximo, seus músculos tencionando, sangue pulsando de seu
braço ferido. Ele pode sentir finos traços de suor descendo pelo peito, sentando no calcanhar para libertar o
cilindro do pequeno suporte.
- pronto!
Leon se jogou para trás e o tubo de gás comprimido foi ao chão, rolando alguns centímetros. Ele olhou para cima
e viu que o crocodilo tinha percorrido mais quinze metros - perto o bastante para ver os sujos dentes enquanto
rosnava de novo, sentindo seu quente e podre hálito.
Leon colocou o pé no cilindro e empurrou com toda a força, o mesmo rolando vagarosamente na direção do
lagarto. Por uma incrível sorte, o corredor tinha uma ligeira inclinação e o cilindro ganhou velocidade, rolando em
um semicírculo.
Recuando, ele tirou o revólver do cinto e apontou para o tubo, forçando para não puxar o gatilho. O crocodilo
avançava, sua calda batendo tão forte na parede que fazia levantar poeira.
Vamos desgraçado -
A menos de dez metros, o crocodilo e o cilindro se encontraram - e Leon apertou o gatilho. O primeiro tiro acertou
o chão perto do tubo - e a boca sorridente abriu, a grande cabeça abaixando para empurrar o obstáculo.
- firme -
Leon atirou de novo, e -
KA-BOOM!
- e foi jogado ao chão quando o cilindro explodiu. Numa explosão de aço retorcido e gases, a cabeça da criatura
foi obliterada, desaparecendo como um balão estourado. Quase na mesma hora, uma onda de sangue acertou
Leon, pedaços de dente, ossos e carne enfumaçada caindo sobre ele como um cobertor molhado.
Enjoado, seus ouvidos zunindo e braço sangrando, Leon sentou enquanto a carcaça decapitada ia ao chão, as
pernas dobrando com o peso do réptil. Ele pressionou sua mão ensangüentada contra o ferimento, exausto,
enjoado, dolorido - e profundamente satisfeito.
"Te peguei, sua porcaria idiota". Ele disse, e sorriu. Quando Ada veio correndo um pouco depois, foi assim que o
encontrou - olhando deslumbrado e atordoado para seu serviço, sujo de sangue e sangrando, sorrindo como uma
criancinha.
[23]
Leon vestia uma camisa branca sobre o uniforme; Ada rasgou-a e fez uma atadura no braço dele, uma espécie
de tipóia antes de colocar a camiseta de volta. Ele perdeu sangue o bastante para estar tonto; e Ada aproveitou
a situação para se explicar enquanto o atendia, sentindo-se chocada com a complexidade de emoções dentro
dela.
"... e eu achei que ela me parecia familiar. Eu achava que a conhecia através de John e quase a alcancei - mas
ela deve ter me despistado. Eu me perdi nos túneis, tentando voltar...".
Nenhuma verdade, mas Leon nem percebeu - até o gentil modo como ela o tocava, ou o leve tremor em sua
voz enquanto pedia desculpas pela terceira vez, por deixá-lo para trás.
Ele salvou a minha vida. De novo. E eu acabo retribuindo tudo com mentiras, mentiras em troco de sua
generosidade.
Algo mudou nela quando ele foi baleado em seu lugar, e não conseguia mudar de volta. Pior, ela não sabia se
#
queria mudar de volta. Era como o nascimento de um novo sentimento, uma emoção que a enchia; era
desconfortável, mas também não era desprazeroso. O modo como destruiu o crocodilo fez esse sentimento mais
forte ainda. O buraco em seu braço foi só na carne, mas o sangue em seu corpo, ela sabia que doía muito, que
estava drenando-o,
matando-o enquanto tentava salvá-la.
Livre-se dele agora, sua mente soou, não deixe isso afetar seu trabalho - o trabalho, Ada, a missão. Sua vida.
Ela sabia que isso era a única coisa a fazer - mas quando ele ficou pronto e sua história foi contada, ela parou de
ouvir ela mesma. Ada o ajudou a se levantar e o tirou do cenário com os restos do réptil, sem parecer ter achado
uma saída quando estava perdida.
Annette se foi; assim que Leon tinha chamado a atenção do crocodilo, ela subiu a escada e checou - e viu que
Annette teve bastante senso de ligar os ventiladores e abaixar a ponte antes de fugir. Apesar de Annette estar
errada sobre os propósitos de Ada, ela terá que chegar no laboratório antes da cientista. E com Leon nessas
condições só a atrasaria.
Solte ele! Perca o peso, você não é uma enfermeira, por Deus, esta não é você, Ada -
"Estou com sede". Leon suspirou, sua respiração morna em seu pescoço. Olhando em seu rosto ensangüentado
e piscante, ela viu que a voz lá dentro seria mais fácil de ignorar. Ela terá que deixá-lo -
- mas não agora.
"Então vamos achar um pouco de água". Ela disse, e virou-o gentilmente para a direção que precisava ir.
Sherry acordou no escuro, um terrível gosto na boca, um rio de água fria puxando suas roupas. Havia um
estrondoso barulho a sua volta, como se o céu estivesse caindo, e por um segundo não podia se lembrar do que
tinha acontecido ou onde estava - e quando percebeu que não conseguia se mover, ela entrou em pânico. O som
estava enfraquecendo mais e mais até acabar - mas ela estava presa em algum rio fedorento, presa e sozinha.
Ela abriu a boca para gritar - mas lembrou do monstro que berrava, depois do gigante careca e depois de Claire.
Ela lembrou de Claire quando a impediu de gritar; de algum modo a imagem de Claire funcionava como um suave
toque, acalmando o cego terror e a permitindo pensar.
Sugada por um buraco, e agora estou - em outro lugar, e gritar não vai ajudar.
Era um pensamento forte e corajoso, fazendo-a pensar melhor. Ela se desencostou da dureza atrás e percebeu
que não estava presa; ela estava contra uma fileira de barras na parede e a força da água corrente a tinha
segurado lá - e provavelmente a salvou de ter afundado. A nojenta água ainda estava agitada, borbulhando - e o
gosto ruim em sua boca significava que havia engolido um pouco dela...
Pensar nisso abriu o resto de sua memória. Ela estava flutuando e de alguma forma foi revirada, engoliu o horrível
líquido e - apagou.
Pelo menos o barulho tinha acabado, e agora que estava mais acordada, percebeu que podia enxergar. Não
muito, mas o suficiente para ver que estava numa grande sala alagada e que havia um pequeno buraco de luz
vindo de cima.
Tem que ser uma saída. Alguém construiu esse lugar, tem que haver uma saída...
Ela nadou mais pela sala, e sentiu seus dedos do pé tocarem algo duro e plano. Sentindo-se boba por não ter
pensado nisso antes, ela respirou fundo e esticou as pernas - e ficou de pé. A água batia em seus ombros, mas
conseguia ficar de pé.
Os últimos traços de pânico se foram ao parar no meio do lugar, virando devagar, seus olhos finalmente se
adaptando à fraca iluminação - e viu a escada de mão na parede ao longe. Ainda assustada, a visão das barras
significava que tinha achado a saída. Sherry levantou o pé e foi para a escada, orgulhosa de como está se
virando.
Sem gritar nem chorar. Como Claire diz. Forte.
Ela começou a subir, agarrando as melecadas barras de metal que pareciam continuar para sempre. Ao olhar
para baixo, só viu a água movimentando onde a luz incidia. Ela também viu a origem da luz - uma estreita fenda
no teto, não muito longe de onde estava.
Quase no topo. E se eu cair não vou me machucar... não há nada para se assustar.
Sherry respirou fundo para tornar isso verdade e olhou para cima de novo.
Mais algumas barras, e quando foi tocar a próxima, sua mão bateu no teto de metal. Ela empurrou com uma
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mão e -
- e a tampa não se moveu. Não mesmo.
"Droga". A palavra soou pequena e só, mais como um apelo.
Sherry colocou um cotovelo em volta da barra que segurava, tocou seu colar da sorte, e tentou de novo,
empurrando de verdade desta vez. Ela sentiu o alçapão mexer um pouco, mas não o bastante. Ela abaixou a
mão, quieta; estava presa.
Por vários minutos ela não se moveu, não querendo voltar para a água, não querendo acreditar que estava presa
- mas seus braços estavam começando a ficar cansados e ela não queria pular. Finalmente, ela começou a
descer, mais devagar do que quando subiu. Cada degrau a menos era como admitir a derrota. Ela estava a um
terço do caminho para a água quando ouviu passos acima - uma suave vibração a princípio, mas depois se
difundiram em passos distintos, mais altos, se aproximando do poço que Sherry estava.
Sherry deu um segundo para pensar em ignorar os passos, mas acabou subindo, decidindo que valia a pena
arriscar; pode não ser Claire - mas podia ser sua única chance de escapar.
Ela começou a gritar antes mesmo de chegar ao topo. "Ei! Socorro, você pode me ouvir? Ei, Ei!".
Os passos pareceram parar, e ela alcançou o topo, ainda chamando, batendo no metal várias vezes.
"Ei, ei, ei!".
Outra pancada com sua dolorida mão - e de repente estava socando o ar, uma forte luz caindo em seu rosto.
"Sherry! Oh, meu Deus, querida, que bom que você está bem!".
Claire, era Claire, e Sherry não a conseguia ver, mas estava derretida de prazer ao som de sua voz. Fortes e
quentes mãos a levantaram, quentes e úmidos braços a abraçaram fortemente. Sherry piscou e começou a
perceber as características da vasta sala através da brilhante e branca névoa.
"Como você sabia que era eu?". Claire perguntou, ainda segurando-a.
"Eu não sabia. Eu não conseguia sair sozinha, e ouvi passos...".
Sherry olhou em volta, sentindo-se impressionada por Claire tê-la ouvido.
A sala era enorme, com passarelas de metal na diagonal - e a seção do chão onde tinha saído estava no canto
mais longe da sala.
"Estou muito feliz por ver você". Sherry disse e Claire sorriu, tão feliz e espantada quanto Sherry.
Claire se ajoelhou na frente dela, seu sorriso sumindo um pouco. "Sherry, eu vi sua mãe. Ela está bem, está viva
-".
"Onde? Onde ela está?". Sherry ficou corada, empolgada com a notícia - mas sentindo uma incerteza,
tencionando os músculos de repente, ficando difícil de respirar.
Ela olhou fundo nos olhos preocupados de Claire, e percebeu que ela iria mentir de novo - que tentava dar uma
notícia ruim do melhor jeito possível. Sherry teria deixado ela fazer isso algumas horas atrás -
- mas agora não. Fortes e corajosas nós temos que ser...
"Diga-me, Claire. Diga-me a verdade".
Claire suspirou, balançando a cabeça. "Eu não sei para onde ela foi. Ela estava - com medo de mim, Sherry. Acho
que ela me confundiu com outra pessoa, alguém ruim. Ela correu de mim - mas eu tenho quase certeza de que
ela veio por aqui, e eu estava procurando por ela quando ouvi você".
Sherry acenou devagar, forçando para aceitar a idéia de que sua mãe vinha agindo estranho - estranho o
bastante para Claire suavizar.
"E você acha que ela veio para cá?" Sherry finalmente perguntou.
"Não estou certa. Eu também achei um policial, antes de ver sua mãe. Eu o conheci quando cheguei na cidade, e
ele estava num dos túneis que passei depois que você desapareceu. Ele estava ferido, ele não podia vir comigo -
então depois que vi sua mãe, eu voltei para buscá-lo, mas ele não estava mais lá."
"Morreu?".
Claire balançou a cabeça. "Não. Foi embora - então eu voltei e esse é o único caminho que sua mãe pode ter
pego. Mas como eu disse, não estou muito certa..."
Ela hesitou, olhando para Sherry pensativa-mente. "A sua mãe já te falou sobre algo chamado G-virus?".
"G-virus? Não acho que não".
"Ela já te deu algo para segurar, algum tubo de vidro, ou algo assim?".
Sherry franziu de volta. "Não, nada. Por quê?".
Claire se levantou, tocando e apertando o ombro de Sherry. "Não é nada importante".
#
Sherry estreitou os olhos e Claire sorriu de novo. "É sério. Venha, vamos ver se descobrimos por onde sua mãe
foi. Aposto como está procurando você".
Sherry deixou Claire dar o caminho, imaginando porque de repente tinha certeza de que Claire não acreditava no
que dizia... e imaginando porque não conseguia fazer mais perguntas.
O elevador plataforma do galpão, com uma locomotiva em cima, estava onde Annette o tinha deixado. O tempo
tinha apertado, mas ainda estava na frente dos espiões, de Ada e de sua amiguinha de roupas rasgadas...
... dizendo mentiras como se o sofrimento de perder William não fosse o bastante para elas...
Ela tirou a chave de controle do bolso de seu rasgado avental de laboratório, apoiando-se nos controles, inserindo
a chave e girando-a. Seus trêmulos dedos tocaram o botão de ativação e uma trilha de luzes apareceram no
painel, bem claras apesar do brilho da lua cheia. Uma fresca brisa de outono soprou em seu corpo dolorido, um
amigável vento que cheirava como fogo e doença...
... como no Dia da Bruxas, como fogueiras queimando a carne pestilenta das brincadeiras...
Quatro barulhentas buzinas soaram no ar noturno, o pesado elevador dizendo que é hora de ir. Annette subiu os
degraus para a locomotiva, incapaz de lembrar o que estava pensando. Ela estava cansada. Quanto tempo faz
que não dorme? Ela também não lembra disso?
Bati a cabeça, não foi? Ou apenas sonolência, pode ser...
Seus machucados a tinham levado para delirantes lugares que nunca imaginou existir, ela sabia o que fazer - o
sistema de disparo, a abertura do portão do trem subterrâneo, se esconder nas sombras e esperar se curar -
mas o resto ficou tão estranho, como se tivesse tomado um remédio para pensar um pouco por vez.
Estava quase acabado. Uma mágica e positiva frase que ainda podia ver, não importava o quanto cega tinha
ficado. A caminho do galpão, ela tossiu e tossiu, e depois vomitou de dor, uma escuridão que quase permaneceu
por tanto tempo que ela pensou ter perdido a visão -
- está quase acabado.
Agarrando o pensamento como um amor perdido, ela achou a maçaneta da porta metálica e entrou. O
movimento e o som de movimento a engoliram enquanto se deitava no suave banco de metal e fechava os
olhos. Alguns momentos para descansar e estará tudo acabado...
Annette afundou na escuridão, o suave hum dos motores levando-a para um profundo e distante sono. Ela
estava descendo, seus músculos relaxados, suas dores e misérias perdendo a força - e por um bom tempo
achou silêncio até que -
- até que um terrível grito esfaqueou sua escuridão, um berro de tal fúria e dor que falou para seu coração - e ela
voltou à vida, ofegando e apavorada -
- e então percebeu o que a tinha tirado de seu sono.
Foi William. Ele tinha voltado para casa, ele a tinha seguido - e a Umbrella não terá nada porque seu marido tinha
voltado para o raio da explosão.
O grito soou de novo, desta vez ecoando por um dos vários túneis secretos do laboratório enquanto descia.
Annette fechou os olhos novamente, o novo pensamento se juntado ao seu amor perdido, ambos juntos a
fazendo feliz.
William voltou. Está quase acabado.
O terceiro seguiu naturalmente enquanto voltava para o silêncio, sabendo que terá de se levantar em breve.
Quando a plataforma parar, ela levantará e estará pronta para a jornada final.
A Umbrella sofrerá pelo que fez - e todos morrerão no final.
Ela sorriu e dormiu, sonhando com William.
#
[24]
Leon finalmente começou a se sentir ele mesmo, sentado na sala de controle onde Ada o deixou. Ela tinha
achado um kit médico em um dos gabinetes empoeirados, junto com uma garrafa de água; já fazia dez minutos
que ela tinha saído e, a aspirina já estava funcionando, a água fez maravilhas.
Ele sentou no console cheio de botões, tentando se lembrar do que tinha acontecido depois da explosão no
esgoto; a última coisa de que se lembrava era do colapso do crocodilo e de ter sido pego por uma fraqueza logo
depois. Ada fez um curativo e o levou pelos túneis -
- e um vagão, nós ficamos num vagão por um minuto ou dois -
- e finalmente esta sala, onde ela pediu que descansasse enquanto verificava algo.
Leon tinha protestado, lembrando-a de que não era seguro, mas estava confuso o bastante para não fazer nada
exceto sentar onde ela mandou. Uma vez que bebeu um galão de água, começou a melhorar. Parece que a
perda de sangue causava desidratação...
... aí ela me deu água e foi checar o que? E como ela sabia vir por esse caminho?
Ele mal conseguia andar e mesmo delirando, ele percebeu o quanto ela estava confiante e precisa ao escolher o
caminho? Ela era uma compradora de arte em Nova Iorque, como ela pode saber algo sobre o sistema de
esgoto de Raccoon City?
E onde ela está? Por que ainda não voltou?
Ada provavelmente salvou sua vida - mas ele não podia continuar acreditando no que ela dizia ser. Ele queria
saber o que ela estava fazendo, saber agora, e não só porque está guardando segredos, mas porque Claire
ainda estava nos esgotos. Se Ada conhece uma saída, Leon devia isso a Claire.
Leon se levantou devagar, se apoiando na cadeira e respirando fundo. Ainda fraco, não sentia tanta dor no braço
e nem enjôo - a aspirina talvez.
Ele sacou o revólver e andou para a porta da pequena e empoeirada sala de controle, prometendo que não
aceitaria mais respostas vagas ou sorrisinhos.
Ele abriu a porta e saiu num enorme galpão de madeira; estava vazio e escuro, mas a brisa noturna fez isso
quase agradável - e lá estava Ada, subindo numa plataforma elevada fora do galpão, desaparecendo atrás do
que parecia ser uma locomotiva amarela. Era um elevador de transporte industrial - e pelos oleosos trilhos que
terminavam dentro do galpão, deveria ser a parte de uma fábrica abandonada, que não estava completamente
abandonada.
"Ada!".
Com seu braço ferido pressionado contra o corpo, Leon correu para a grande plataforma hexagonal - ficou
enraivecido ao ouvir o crescente barulho dos motores, o barulho mecânico subindo no limpo céu noturno. Ada
estava partindo, não tinha ido verificar nada -
- só que ela não vai a parte alguma antes de dizer por quê.
Leon correu pela luz da lua, ouvindo a porta da locomotiva fechar enquanto passava por um painel de controle.
Depois que subiu os degraus e tentava recuperar o equilíbrio, o grande elevador começou a descer, painéis de
quase um metro cercaram o perímetro hexagonal da plataforma, levando Leon, Ada e a locomotiva para baixo
numa suave descida.
Leon abriu a porta enquanto tudo ficava escuro, o céu tornando-se apenas um ponto cada vez menor. A luz da
lua sendo trocada pelas brancas luminárias do poço do elevador.
Ao entrar, viu o surpreso olhar de Ada enquanto se levantava de um assento preso na parede, enquanto ela
erguia a Beretta e a abaixava de novo - o sentimento de culpa indo e vindo no tempo que levou para fechar a
porta.
Nenhum dos dois falou, encarando um ao outro. Leon quase a viu tentando inventar uma explicação - cansado
como estava, ele decidiu que não tinha paciência para isso.
"Para onde nós vamos?". Ele perguntou, tentando não mostrar a raiva em sua voz.
Ada suspirou - e sentou, seus ombros caindo "Eu acho que é uma saída". Ela olhou para ele. "Desculpe. Eu não
devia ter tentado partir sem você, mas eu estava com medo...".
Ele pôde ver tristeza de verdade em sua voz e em seus olhos, sua raiva diminuindo um pouco. "Com medo de
quê?".
#
"De que você não fosse conseguir. De que eu não fosse conseguir, tentando manter nós dois a salvo."
"Ada, do que você está falando?". Leon foi para o banco, sentando ao lado dela. Ela olhou para as mãos, falando
suavemente.
"Quanto eu estava procurando você nos esgotos, eu achei um mapa. Ele mostrava o que parecia ser algum tipo
de laboratório ou fábrica subterrânea - e se o mapa estiver certo, havia um túnel que dava fora da cidade".
Ela olhou para ele de novo. "Leon, eu não achava que você tivesse condições de fazer uma viagem como aquela,
como esta - e eu estava como medo de traze-lo comigo, de ser um túnel sem saída ou de algo nos atacar...".
Leon acenou devagar. Ela estava tentando se proteger - e a ele.
"Me desculpe". Ela repetiu. "Eu devia ter contado, eu não devia tê-lo abandonado daquele jeito. Depois de tudo o
que você fez por mim, eu - eu pelo menos te devia a verdade".
A culpa e a vergonha em seus olhos não era algo falso. Leon foi para tocar a mão dela, preparando-se para dizer
que entendia e que não a culpava -
- foi quando houve uma pancada no lado de fora. O vagão inteiro tremeu um pouco, mas suficiente para
deixá-los apreensivos.
"Deve ser um defeito na trilha...". Leon disse e Ada acenou, com uma intensidade que o fez prazerosamente
desconfortável, um calor que se espalhou por todo seu corpo -
BAM!
- e Ada voou do banco, jogada ao chão assim que uma grande e encurvada coisa varou a parede como se fosse
papel. Era uma mão, uma mão com garras bem compridas, pingando de -
"Ada!".
A mão gigante saiu e voltou, fazendo novos buracos no metal enquanto Leon se jogava ao chão, agarrando o
mole corpo de Ada, colocando-a no centro do vagão. Um terrível grito soou pela escuridão do lado de fora - foi o
mesmo grito furioso que tinha ouvido na delegacia, só que mais alto e violento - e menos humano do que antes.
Leon segurou Ada com o braço bom, sentindo um quente rastro de sangue sair do lado direito dela.
"Ada, acorde! Ada!".
E nada. Ele a abaixou gentilmente no chão e apertou o buraco de sangue em seu vestido, bem acima do quadril.
Sangue jorrava de duas profundas perfurações; não dava para saber se era grave. Ele rasgou cerca de cinco
centímetros da parte debaixo do curto vestido dela, pressionando o tecido contra o ferimento -
- e o monstro gritou de novo, e a raiva naquele grito nem se comparava com a de Leon, olhando para o falecido
rosto de Ada. Ele esticou o apertado vestido sobre a atadura improvisada, prendendo-a o melhor que podia,
depois se levantou e empunhou a Remington.
Ada tinha cuidado dele e o protegeu quando não conseguia se proteger. Leon carregou a espingarda
impiedosamente enquanto se preparava para retribuir o favor.
Quando elas chegaram no que parecia o fim da linha, foi Sherry que adivinhou por onde sua mãe devia ter ido.
Elas tinham entrado em outra cavernosa e escura câmara, mas só tinha a porta de entrada. Não parecia ter
outra saída, a não ser que Annette tivesse descido da passarela de metal e caminhado pelo vazio que as cercava.
Elas pararam na beira do chão de metal, tentando enxergar a escuridão à frente, mas sem sorte. O lugar parecia
uma doca; o chão gradeado ia da porta até a parede de trás, e terminava sem mais nem menos, dando lugar a
um interminável vazio. Ou Annette desceu e seguiu em frente ou Claire seguiu pelo caminho errado.
Então voltamos ou seguimos em frente?
Ela não queria nenhuma das opções - se bem que voltar parece melhor do que encarar uma caverna escura. E
Leon ainda deve estar lá atrás...
"Isso é algum teleférico? Sherry perguntou, e Claire se bateu mentalmente.
Plataforma, vários cabos no teto...
"É, acho que é, apesar de você ter adivinhado por mim. A minha cabeça deve estar ruim...".
O pequeno painel do outro lado da plataforma devia ser a mesa de controle. Claire foi para lá, Sherry a seguiu,
apertando seu colar dourado enquanto descrevia os barulhos do tubo de drenagem.
"... e se movia como um trem. Me assustou bastante, também. Era bem alto".
Bem abaixo do pequeno monitor estava um código de chamada. Claire digitou o código e apertou "enter" - e o
lugar se encheu com o suave hum do maquinário.
"Você é bem espertinha, sabia?". Claire disse e Sherry praticamente se iluminou, um doce sorriso em seu rosto.
#
Claire colocou um braço em volta dos ombros de Sherry e juntas foram esperar no fim da plataforma.
As luzes do teleférico apareceram alguns segundos depois, aumentando cada vez mais. Depois dessa, Claire
decidiu que seria fantasticamente mais otimista. O teleférico daria fora da cidade e estaria bem estocado com
água e comida, teria chuveiros e roupas limpas -
- não, apague isso. Uma banheira quente e um daqueles grosso roupões de veludo. E pantufas.
Legal, qualquer coisa que não inclua monstros e pessoas malucas. Ela olhou para Sherry e viu que ela ainda
esfregava o medalhão.
"O que tem aí?". Ela perguntou, tentando fazê-la sorrir de novo. "É a foto do seu namorado?".
"Dentro? Oh, não é para guardar nada". Sherry disse, e Claire gostou de ver as bochechas dela coradas. "Minha
mãe me deu, é para dar sorte - e eu não tenho um namorado. Os meninos da minha idade são totalmente
imaturos".
Claire sorriu. "Vá se acostumando, docinho. Alguns deles nunca crescem mais do que isso".
Já dava para ver o aspecto do teleférico, um único vagão com cerca de seis metros vindo suavemente.
"Para onde você acha que ele vai?". Sherry perguntou, e antes que Claire pudesse responder, a porta pela qual
entraram explodiu.
A porta veio para dentro, arrancada das dobradiças em um ruído metálico e caindo no chão -
- e Claire agarrou Sherry, colocando-a perto assim que Mr. X apareceu, contorcendo-se para cruzar a abertura,
seu olhar desalmado mirando nelas.
"Fique atrás de mim!". Claire gritou, sacando a arma de Irons, arriscando um olhar para o teleférico se
aproximando. Dez segundos, só dez segundos -
- mas X deu um passo gigante para elas, seus grandes braços se levantando, ainda a seis metros de distância,
mas só a quatro de seus largos passos -
"Entre no vagão quando ele parar!". Claire gritou e apertou o gatilho.
Quatro, cinco, seis tiros no peito dele. O sétimo acertando uma bochecha branca, mas Mr. X nem piscou, nem
sangrou - nem parou. Outro passo. O escuro buraco em seu rosto como prova de sua inumanidade. Claire
abaixou a mira, pernas, joelhos.
Bam-bam-bam!
- e ele pausou quando pelo menos um dos tiros acertou seu joelho esquerdo, seus olhos negros fixados nela,
marcando-a -
"Aqui, vamos!".
Sherry já estava puxando o colete dela, gritando, e Claire recuou, atirando de novo. Mais dois tiros acertaram sua
barriga -
- e ela já estava no vagão. Sherry achou o controle da porta e a mesma deslizou para o lado, Mr. X enquadrado
na pequena janela, sem vir mas também sem cair. Sem morrer.
"Siga-me!". Claire gritou, vendo os comandos luminosos à direita, sabendo que a porta não agüentaria um
segundo.
Ela correu com Sherry, agradecendo a Deus pelo designer ter sido amigável quando o botão "partir" desceu sob
suas trêmulas mãos -
- e o teleférico se moveu, deslizando da plataforma, para longe do indestrutível homem e para dentro do escuro.
Annette sentou-se no dormitório do nível quatro, esperando o computador ligar e debatendo se inicia ou não a
seqüência P-Epsilon. Quando o sistema de destruição for ativado, todas as portas serão destrancadas, até
mesmo as eletrônicas. E as criaturas que estiveram presas pelos últimos dias ficarão livres para vagar, e a maioria
delas estarão famintas...
... famintas e quentes, sangrando puro vírus através da carne...
Ela não queria encarar nenhuma dessas criaturas, mas assim que as primeiras linhas do código apareceram na
tela, ela decidiu iniciar a seqüência. O gás P-Epsilon era um experimento que alguns microbiologistas criaram para
satisfazer a equipe de controle de danos da Umbrella. Se funcionar, o gás incapacitará qualquer criatura infectada
pelo vírus aerotransmissível - a principio - garantindo-a uma viagem segura para o túnel de transporte, mas os
espiões estavam vindo e Annette não queria tornar as coisas fáceis para eles. Ela tinha ouvido o elevador de
#
carga sendo chamado para a superfície a caminho do laboratório de sínteses - o que era ótimo, eles estarão aqui
para o final, e ela queria que eles lutassem por suas vidas enquanto acelerava para fora do multibilionário
complexo, para longe da brilhante explosão...
... ele vai queimar e eu ficarei livre desse pesadelo. Fim de jogo, eu venço e a Umbrella perde, e de uma vez por
todas as criaturas assassinas -
Ela sentiu-se bem; ela queria ir direto para o computador mais próximo e ativar o sistema de destruição, mesmo
antes de coletar a amostra, só que ela mal enxergava à frente quando saiu do elevador; e ela tinha medo de
esquecer alguma coisa - ou pior, cair e não levantar mais. A viagem para o armário de remédios do laboratório de
síntese fixou tudo isso.
Epinefrina*, endorfina*, anfetamina*, oh, Deus.
Annette sabia que estava drogada, que não devia subestimar suas habilidades, mas por que não se sentir feliz?
Ela sorriu para o pequeno computador à frente e começou a digitar os códigos, sentindo como se seus dedos
fossem quebrar enquanto a adrenalina sintética corria por suas veia dilatadas.
--------------------------------------------------------------
* Epinefrina - Sinônimo de adrenalina.
* Endorfina - Analgésico.
* Anfetamina - medicamento vaso-condutor e estimulante.
-------------------------------------------------------------- Ela tinha voltado para o laboratório, William também, e a última
amostra viável do G-virus estava no seu bolso. Ela a tinha escondido numa caixa de fusíveis antes de ir procurar
William, e a recuperou quando voltou -
76E, 43L, 17A, tempo para destruição... 20, alerta vocal/corte de energia, 10, autorização pessoal, 0001 Birkin -
- e era isso. Annette não parava de sorrir, não queria parar enquanto tocava o "enter". Um toque e nada na
terra poderia pará-lo. Em dez minutos os alertas gravados serão tocados, e o elevador desligará; em quinze
começará a contagem - cinco minutos para alcançar uma distância segura de trem, outros cinco e -
Boom. Vinte minutos antes da explosão. Mais do que suficiente para chegar no túnel e ligar o trem; suficiente
para acelerar por baixo das ruas da cidade, pelas montanhas isoladas dos limites de Raccoon. Tempo o bastante
para chegar no fim da linha e ver a Umbrella perder.
Quando o relógio marcar zero, as cargas plásticas na central de força do laboratório serão ativadas. Mesmo se
onze das doze cargas explosivas falharem, uma única seria capaz de detonar as cargas secundárias embutidas
nas paredes. O sistema de destruição da Umbrella foi projetado para derrubar tudo. O laboratório se tornará um
inferno, explodindo sob a cidade morta, visível à quilômetros - e ela estará lá para ver, para ver que fez tudo dar
certo.
Isto é por você William...
O pensamento foi amargo... por um tempo, eles não - aproveitaram a relação marido e mulher. William era tão
brilhante, tão devotado ao trabalho que os prazeres da síntese tomaram o lugar da vida de casado. Mas ela
aprendeu a conviver com isso - e agora, com seu dedo tocando o fim de tudo, ela desejou que tivesse havido
mais entre eles nos últimos anos, mais do que sua adoração por seus incríveis presentes ou pela adoração dele
por sua assistência...
Este é o nosso último beijo, meu amor. Esta é minha contribuição pelo trabalho, meu ato final pelo que
compartilhamos.
É, estava certo, esse era o sentimento. Annette apertou a tecla, seu coração cantando, e viu o código de
travamento aparecer na tela em verde brilhante.
"Eu, com todo respeito, ofereço a minha demissão". Ela disse suavemente e começou a rir.
[25]
Leon tinha dado duas voltas em torno do vagão e não viu nada.
Quando a criatura finalmente saiu das sombras do teto do vagão, Leon ergueu a espingarda. A visão o fez
#
congelar, sua fúria rendendo-se ao medo.
Mas que droga -
A coisa ainda gritava, o brutal berro como a voz do inferno. A coisa já foi um homem - pernas e braços, pedaços
de roupas penduradas em seu grande corpo - mas tudo de humano mudou - ainda estava mudando enquanto
aumentava sua ferocidade, e Leon só conseguia olhar.
Seu corpo era inchado e ondulado com estranhos músculos. Seu braço direito era quase meio metro mais longo
que o outro, manchadas garras sobressaindo da mão. E o inquieto tumor no ombro direito parecia um olho do
tamanho de uma bola de basquete, mexendo de um lado para o outro como se procurasse algo -
- e o grito também estava mudando, mais profundo, mais áspero, o despenteado rosto caindo - derretendo até o
peito. Como cera quente, a cabeça humana escorregou para o peito esquerdo -
- e ao mesmo tempo, outro rosto estava se formando, crescendo com um terrível som de estalo, como dedos
sendo quebrados. Rachados olhos se abriram, o vermelho buraco de uma boca se formando, respirando para
gritar -
- e Leon apertou o gatilho.
Boom!
O tiro acertou o peito, um grosso e roxo sangue espirrou, cortando o grito da criatura - mas foi só isso. O novo
rosto do monstro virou para Leon, inclinando -
- e pulou na plataforma, aterrissando com as penas meio agachadas. Ele deu um passo a frente e ficou perto o
bastante para Leon sentir o estranho e químico cheiro que a pele do monstro soltava - e viu que o sangramento
no peito tinha parado, que a carne estava comendo os buracos.
A criatura levantou sua poderosa garra e Leon recuou, atirando novamente quando a mão desceu -
- shhink!
- e faíscas voaram do metal assim que o tiro acertou a criatura no estômago. O pesado calibre mal intimidou o
gigante mostro. Ele deu outro passo e Leon recuou, atirando de novo -
- e encostou nos degraus que sobem para o vagão, tropeçando e caindo sentado, o tiro indo longe sobre a
cabeça em forma de bala da criatura. Mais um passo e estará nele -
- e estarei morto -
- exceto que a criatura não deu o passo. Ao invés disso, ela virou para o parapeito da plataforma, sua bizarra
cabeça levantando, os buracos de suas narinas alargando -
- e silenciosamente, quase graciosamente, o monstro pulou para a escuridão fora da plataforma.
Por um momento, Leon não se mexeu. Não podia, estava muito ocupado tentando entender porque o monstro
não o matou. Deve ter sentido ou cheirado algo, terminou o ataque que com certeza teria ganho - e pulou fora
do transporte.
Eu não morri. Ele se foi e eu não estou morto.
Por quê? Ele não sabia, mas saber que estava vivo já bastava - e alguns segundos depois, seus confusos
sentidos o disseram que o elevador estava diminuindo a velocidade, que o poço estava ficando mais claro, a
escuridão ficando acinzentada.
Leon ficou de pé e foi ver Ada.
Sherry ouviu o monstro de longe, em algum lugar do claro e fundo buraco, e sentiu-se bem mais assustada do
que quando Mr. X - Claire o chamava assim - entrou na estação do teleférico. Claire disse que foi um problema na
máquina, mas Sherry não se convenceu. O som era tão distante e estranho que poderia ser outra coisa...
... e se não for? E se Claire estiver errada?
Elas pararam no lado de fora do galpão, em frente a um grande buraco no chão e esperaram pelos ruídos
mecânicos cessarem. A quase lua cheia estava baixa no céu, e Sherry podia dizer que já era de madrugada pelo
tom azul no horizonte; ela não se sentia cansada. Estava assustada e ansiosa, mesmo com Claire segurando sua
mão, Sherry não queria entrar no buraco escuro onde o monstro poderia estar.
Depois de um longo tempo, o maquinário parou e Claire recuou - o poço do transporte, ela disse - e voltou para o
galpão.
"Vamos ver se podemos chamá-lo de volta - Sherry?".
#
Sherry não se mexeu. Ela olhava dentro do buraco, segurando seu amuleto e desejando ser corajosa como Claire
- mas ela não era, e sabia disso, e não queria descer na escuridão.
Eu não posso, eu não posso descer lá, eu NÃO sou como a Claire, e não me importo se minha mãe está lá
embaixo -
Sherry sentiu um calor nas costas e olhou para cima, assustada, e viu que Claire tinha tirado o colete e estava
colocando-o em Sherry.
"Eu quero que você o use". Claire disse, e apesar do medo, Sherry sentiu uma súbita onda de pura alegria.
"Mas por que? Ele é seu, e você vai sentir frio...". Sherry disse.
Claire ignorou por um minuto, ajudando-a se vestir. Era grande demais para ela e estava um pouco sujo, mas foi
a coisa mais legal que já ganhou.
Para mim. Ela quer que eu o tenha.
Claire se ajoelhou, agora vestindo só uma fina camiseta preta e shorts. Olhando seriamente, Claire fechou o
colete no peito de Sherry e começou a falar.
"Eu quero que fique com ele porque eu posso dizer que você está com medo. Faz tempo que eu o tenho.
Quando eu o uso, sinto como se pudesse chutar traseiros. Como se nada fosse me deter. Meu irmão tem uma
jaqueta de couro com o mesmo desenho nas costas, e ele chuta traseiros - mas ele tirou a idéia de mim".
Claire sorriu de repente, um cansado e quente sorriso que fez Sherry esquecer do monstro, só por um minuto.
"E agora é seu, e toda vez que vesti-lo, eu quero que se lembre de que você é a melhor garota de doze anos
com quem eu já andei".
Sherry sorriu de volta, abraçando o tecido rosa escuro. "É um suborno, não é?".
Claire acenou sem hesitar. "Sim, é um suborno. Então, o que você me diz?".
Suspirando, Sherry pegou a mão dela, e juntas entraram no galpão para procurar os controles do elevador.
Ada acordou assim que Leon a colocou numa barulhenta cama metálica, sentindo uma pulsante dor de cabeça e
uma dor em seu lado. Sua primeira idéia foi a de ter sido baleada - mas ao abrir os olhos e ver a pálida e
preocupada face de Leon, ela lembrou.
Ele ia me beijar, acho - e então...
"O que aconteceu?".
Leon tirou o cabelo da testa dela, sorrindo um pouco. "Aconteceu um monstro. O mesmo que pegou Bertolucci,
acho. Ele atravessou a parede do transporte com a mão e te nocauteou. Você bateu a cabeça depois que - te
arranhou".
Vírus!
Ada fez força para levantar e ver o ferimento, mas a dor de cabeça a impedia. Ela tocou o galo bem acima da
têmpora* esquerda, e tremeu.
"Ei, fique parada". Leon disse. "O ferimento não é tão grave, mas você levou uma séria pancada...".
Ada fechou os olhos. Se ela foi infectada, não havia nada que podia fazer - e que ironia - se foi Birkin quem a feriu
e ainda estava quente, Ada acabaria coletando a amostra do G-virus de uma forma bem pessoal.
Respire fundo. Você não está mais no transporte, o que isso a diz?
"Onde nós estamos?". Ela perguntou, abrindo os olhos.
Leon balançou a cabeça. "Não tenho certeza. Como você tinha dito, é um laboratório ou fábrica subterrânea. O
elevador está lá fora. Eu a trouxe para a sala mais próxima".
Ada virou a cabeça para ver a janela, para ver a área do elevador.
Deve ser o nível quatro, onde a plataforma pára...
O laboratório de síntese principal ficava no nível cinco.
Leon olhava tão sinceramente, seu brilhante olhar azul tão sensível, que por alguns segundos fez Ada pensar em
abortar a missão. Eles poderiam descer para o túnel de fuga juntos, entrar no trem e sair da cidade. Podiam fugir
para bem, bem longe -
- e depois o que? Ligar para Trent e dizer que vai reembolsar? Claro. Depois você pode conhecer os pais de Leon,
ganhar um anel, comprar uma pequena casa branca com um cercado de madeira, ter alguns filhos... você pode
aprender crochê e esfregar os pés dele depois de um duro dia prendendo bêbados e fazendo paradas no trânsito.
Felizes para sempre.
Ada fechou os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava.
#
"Minha cabeça dói muito, Leon, e o túnel que vi no mapa - eu não sei onde é exatamente...".
"Eu vou achá-lo,". Ele disse. "eu vou achá-lo e depois voltar para cá. Não se preocupe com nada, tá bom?".
"Tome cuidado". Ela sussurrou, e sentiu os suaves lábios dele tocarem sua testa, o ouviu levantar e ir para a
porta.
"Fique aqui, eu volto logo". Ele disse, e a porta abriu e fechou. Ela estava só.
Ele ficará bem. Ele se perderá tentando achar o túnel, vai voltar, verá que fui embora e pegará o elevador de
volta à superfície... eu poderei achar a amostra, escapar e tudo acabará.
Ada contou um minuto e sentou-se devagar. Foi uma bela pancada mas ainda conseguia funcionar.
Houve um barulho lá fora, e Ada se levantou, olhando pela janela. Ela conhecia o som mesmo antes de olhar, e
sentiu seu coração afundar um pouco. O elevador estava subindo, provavelmente chamado do galpão por uma
equipe da Umbrella...
... isso quer dizer que não tinha muito tempo. E se eles o acharem -
Não, Leon ficará bem. Ele era um combatente, sabia fugir do perigo, era forte e decente - e não precisava de
alguém como ela em sua vida. Ela foi louca em considerar isso, mesmo por um momento. Era hora de arrumar
as coisas, para fazer o que veio fazer, para lembrar quem ela era - uma agente freelance*, uma mulher sem
dúvidas na hora de roubar ou matar para completar a missão, uma fria e eficiente ladra que leva o prêmio em
uma carreira sem erros. Ada Wong nunca anda com os bons, e não será um policial de olhos azuis que a fará
esquecer disso. Ada tirou as chaves e cartões do bolsar* e abriu a porta, dizendo a si mesma que estava
fazendo a coisa certa - esperando acreditar nisso.
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* Têmpora - Osso lateral superior da cabeça.
* Freelance - Autônomo(a).
* Bolsar - Bolso de vestido.
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[26]
Annette teve alguns problemas.
A ida para a sala de carga foi ruim; cruzou com um infectado, nos primeiros estágios, e o matou com um tiro na
cabeça. Ela passou sob um Re3 que não se desgrudou do teto, e parece que as outras criaturas ainda não
perceberam que estavam livres.
Mesmo assim, ela conseguiu chegar lá em menos de três minutos. Ela digitou o código com um senso de grande
conquista -
- até que a porta da sala de carga se recusou a abrir. Annette digitou o simples código de novo, com mais
cuidado - e nada. Era uma das únicas portas no complexo que não abriam automaticamente com o sistema de
destruição, mas isso não deveria ser um problema - havia uma entrada de disco debaixo dos controles, o disco
que sempre esteve lá, que por insistência da Umbrella, só os chefes da seção poderiam ter acesso -
- e claro, depois de verificar, ela viu que não estava lá. Alguém pegou.
Annette ficou parada na frente da porta trancada do saguão vazio, e sentiu o pânico alcançar a sua mente.
O lugar vai explodir e eu desperdicei quatro, quase cinco minutos agora e onde está o maldito disco?
"Calma, calma, você está bem, tudo bem...".
Um fraco eco, um suspiro de razão no brilhante saguão. Ela só tinha que descer em outro nível; ela tinha a chave
mestra, uma arma e tempo. Não muito, mas o bastante.
Respirando fundo, Annette voltou para o corredor que dava nas escadas, lembrando se de que mesmo não
conseguindo, a Umbrella ia pagar. Ela não queria morrer, não iria morrer, mas os corredores claros e sujos de
sangue, os laboratórios uma vez estéreis vão queimar de qualquer jeito, não há motivo para pânico -
- e assim que virou à direita e correu pelo corredor, seus passos altos e profundos no silêncio, uma grade de
metal caiu do teto bem na sua frente -
#
- e um Re3, um licker, apareceu e gritou por seu sangue.
Não!
Annette atirou, mas só acertou o ombro dele enquanto avançava, esticando um braço deformado para acertá-la.
Ela sentiu uma aguda dor no braço e atirou de novo, chocada e desacreditada -
- e o segundo tiro acertou-o na garganta. Ele gritou, sangue espirrando do pescoço, seu babante e falso grito
enquanto pulava nela de novo.
O terceiro atingiu seu gelatinoso e acinzentado cérebro, e ele caiu se contorcendo, a centímetros de suas trêmulas
pernas.
Ofegando ao ver o quanto perto ele parou, Annette olhou para seu braço sangrando, para os grandes rasgos em
seu avental -
- e algo cedeu. Algo em sua mente.
Sua mente correndo, seu coração batendo, o sangue e o licker, o licker de William, morto no chão à sua frente -
tudo isso dançava em um círculo que se juntou em um só pensamento. Um que explicava tudo isso.
Não é deles.
Era tão claro, como cristal. Ela não podia fugir da dor, porque a dor acabaria em qualquer lugar; ela tinha provas,
pingando de seu braço. William tinha entendido, mas se perdeu antes de explicar, antes de dizer o que ela
realmente precisava fazer. Ela tinha que confrontar seus agressores e fazê-los entender que o G-virus não
pertencia a eles.
Mas eles vão entender? Conseguirão?
Talvez sim, talvez não. Era o trabalho de William, seu legado, e agora era dela.
Deles não. Meu.
Ela tinha que achá-los e dizer a eles. E quando aceitarem a verdade, eles terão que deixá-la sozinha - e então, se
ainda houver tempo, ela seguirá seu próprio caminho.
Mas primeiro ela precisava de outro ato. Sorrindo, de olhos grandes e estrelados, Annette passou por cima do
licker e foi para a escada.
Leon pensou ter ouvido tiros.
Ele estava em um tipo de ala cirúrgica, a primeira sala no final da primeira passagem que pegou depois de deixar
Ada, e levantou os olhos da pilha de papéis amassados que tinha achado, ouvindo - mas os distantes
cracks não se repetiram, então voltou à busca. Ele folheou rapidamente as páginas, desesperado para achar algo
além de intermináveis listas de números e cartas sob o timbre da Umbrella.
Vamos, deve ter algo útil em tudo isso...
Ele queria sair, queria pegar Ada e sair. O cadáver estripado caído no canto era um bom motivo, mas era mais do
que isso - o ar na sala, o corredor lá fora, ele apostou que todas as salas daquele lugar estavam erradas.
Cheirava como morte, e pior, tinha uma atmosfera de algo mais escuro, algo amoral. Mal.
Eles faziam experiências aqui, testes e sabe lá Deus o que mais - e eles criaram a praga zumbi; eles criaram o
demônio que atacou Ada, eles assassinaram a cidade inteira. Seja lá o que queriam fazer, estavam praticando o
mal.
- Mal em larga escala; o elevador os tinha levado para um complexo secreto da Umbrella, um dos grandes. Pelos
números na parede, ele sabia que estava no quarto piso - e a passarela de metal que o levou para a sala de
operações, uma das três, se esticava sobre um buraco que cobria a câmara inteira, o fundo perdido na sombra.
Ele não sabia o quanto tinha descido, e nem se importava, ele só queria achar um simples mapa que indicasse a
saída.
E não está aqui...
Frustrado, Leon deixou os papéis de lado - e viu que havia um disquete de computador na mesa de metal,
escondido pelos papéis. Franzindo, Leon o pegou - "Para verificação da sala de carga" estava impresso numa
etiqueta.
Suspirando, ele o colocou no bolso e esfregou os olhos com a mão direita, seu braço esquerdo praticamente inútil
depois de carregar Ada. Ele não queria procurar um computador e ver o que tinha no disco, não queria procurar a
saída de porta em porta, ver com quais atrocidades a Umbrella tinha brincado. Ele estava cansado, com dor e
preocupado com Ada... e decidiu, enquanto ia para a porta, que deveria falar com ela. Tentar refrescar sua
#
mente, dizer que acharia a saída, mas o lugar é grande demais; se ela soubesse a direção, ou se lembrasse em
que andar era...
Leon abriu a porta, saiu para o corredor e -
- uma mulher armada estava na sua frente, uma 9mm apontada para seu peito. Ela estava sangrando, finos
riscos de sangue descendo pelo braço, manchando seu sujo avental de laboratório - e o olhar dela, estranho e
esbugalhado, o dizia que se mexer seria uma má idéia.
Oh, Deus, o que é isso?
"Você matou meu marido". Ela disse. "Você, sua amiga e a garota - todos vocês, vocês queriam dançar no
túmulo dele, mas eu tenho novidades para você!".
Ela tinha certeza, ele percebeu em sua alta e trêmula voz. Ele manteve as mãos abaixadas, sua voz calma e
baixa.
"Senhora, eu sou um policial e estou aqui para ajudar, está bem? Eu não quero machucá-la, eu só - "
A- mulher colocou a mão ensangüentada no bolso e tirou algo, um tubo de vidro cheio de um líquido roxo. Ela
sorriu bastante, erguendo-o acima da cabeça, ainda mirando a arma em Leon.
"Aqui está! É o que você quer, não é? Me ouça, você me ouve? Não é de vocês! Você entende o que estou
dizendo? William o fez, eu o ajudei, e não pertence a você!".
Leon acenou devagar. "Não pertence a mim, você está certa. É absolutamente seu - ".
A mulher nem ouvia. "Você acha que pode pegá-lo, mas eu vou impedi-lo, eu não vou deixá-lo pegar - tem muito
tempo, tempo para matar você, Ada e quem mais tentar pegá-lo!".
Ada -
"O que você sabe sobre Ada?". Leon perguntou, dando meio passo na direção da maluca, não muito calmo.
"Você a machucou? Me diga!".
A mulher riu, uma risada insana e sem graça. "A Umbrella a mandou, seu idiota! Ada Wong, a senhorita ame-os e
deixe-os! Ela seduziu John para pegar o G-virus, só que não é dela, também! Não é, NÃO É DE VOCES, É MEU -".
Um forte tremor abalou o chão, lançando Leon ao mesmo, uma vibração que chacoalhou as paredes -
- e crash, canos e reboque caíram do teto, uma pesada viga levando a mulher ao chão. Leon cobriu a cabeça
enquanto pedaços de cimento caíam sobre ele -
- e acabou. Leon sentou, olhando chocado para a mulher, sem saber o que tinha acontecido. Ela não se movia. A
viga de metal que a derrubou ainda estava pendurada no teto -
- e uma fria e calma voz soou de repente, de alto falantes escondidos nas paredes - feminina, calma e pontuada
pelo ritmo de um alarme.
"A seqüência de autodestruição foi ativada. Esta seqüência não pode ser abortada. Todas as pessoas devem
evacuar imediatamente. A seqüência de autodestruição foi ativada. Este programa não pode ser abortado. Todas
as pessoas devem evacuar imediatamente -".
Leon ficou de pé, correu para a mulher e pegou o cilindro de vidro da mão estendida, colocando-o na bolsa. Ele
não sabia quem ela era, mas era louca o bastante para segurar um tubo de ensaio.
Ada - ele tinha que achá-la para fugirem. Os pulsantes e penetrantes alarmes ecoavam pelos corredores,
perseguindo-o até a porta para as passarelas, junto com a indiferente voz feminina repetindo a mensagem de
destruição iminente.
A gravação não dizia quanto tempo tinham, mas sabia que não queria estar lá quando o relógio zerar.
[27]
A descida do elevador terminou num arranho de freios hidráulicos - e depois silêncio, assim que os motores
desligaram, prendendo-as no interminável poço.
"Claire? O que -".
Claire segurou a boca de Sherry com o dedo - e ouviu o que parecia um alarme lá fora, uma repetida e abafada
batida. Parecia haver uma voz também, mas Claire não conseguia entender o murmúrio.
"Vamos, meu bem, acho que o passeio acabou. Vamos ver onde paramos, tá bom? E fique perto".
#
Elas saíram do vagão para a plataforma, os distantes sons não mais tão distantes - e havia luz, vinda de algum
lugar atrás do vagão. Claire pegou a mão de Sherry enquanto andavam rapidamente, sem querer preocupar a
garota, mas certa de que era um alarme. Havia alguém falando, também, e Claire queria saber o que dizia.
O elevador tinha parado a alguns centímetros abaixo de algum tipo de túnel de serviço, a luz que viu, vinha de
uma lâmpada enjaulada e pendurada no teto do túnel. Não havia porta, mas tinha um pequeno buraco no fim da
passagem; dava para elas passarem agachadas.
É isso ou escalar até a superfície, provavelmente um quilômetro acima...
Sem chance. Claire ajudou Sherry a subir na passagem e depois foi sua vez, indo para a boca do buraco e
agachando para o escuro. O alarme ficou mais alto ao se aproximarem, o murmúrio se transformando numa voz
feminina. Ela forçou para entender, esperando ouvir "problema no elevador" ou "temporário" -
Mas ainda não entendia. Elas tinham que deixar o elevador e esperar saírem num lugar melhor.
Claire virou, suspirando. "É hora de engatinhar. Eu vou primeiro, e depois -".
SLAM!
Sherry gritou enquanto algo caiu no teto do vagão atrás dela, uma forte pancada no metal que o partiu. Claire a
agarrou, aproximando-a, sua respi-ração presa na garganta -
- e uma mão, duas mãos apareceram no buraco do teto. Dois grossos braços cobertos em sombra -
- e a brilhante cabeça de Mr. X ergueu-se do vagão, como uma lua morta numa noite sem estrelas.
Claire virou e empurrou Sherry para a escuridão do túnel, seu coração martelando, seu corpo subitamente
molhado de suor.
"Vai, vai, estou bem atrás de você!".
Sherry sumiu no escuro e Claire não olhou para trás, o incansável perseguidor certamente já saindo do vagão
para continuar sua determinada caçada.
Ada ouviu os gritos de Annette de onde as três passarelas se juntavam. Ela se forçou a não correr para socorrer
Leon, prometendo que se ouvir tiros, mudaria de idéia -
- mas então o lugar balançou violentamente, e a suave voz da gravação começou a falar.
Droga!
Ada se levantou furiosa com a cientista, uma parte sua doendo por Leon, sabendo o que isso significava. Annette
tinha acionado a destruição, isso quer dizer que tinham menos de dez minutos para saírem de lá -
- e Leon não conhece o caminho.
Não, não é importante. Se ela for pegar a amostra que Annette certamente tem, precisaria ser agora. Leon não
era seu problema, nunca foi, e não desistiria agora, não depois do que passou para pegar o precioso vírus de
Trent.
Ada deu um passo para fora do painel central que conectava as três passarelas - e ouviu passos vindo para ela,
fortes demais para serem de Annette. Ada deslizou para a sombra, para trás da passarela oeste, se escondendo.
Um segundo depois. Leon passa correndo, provavelmente voltando para onde ela deveria estar esperando por
ele. Ada respirou fundo enquanto tirava-o de sua mente, e correu pela passarela sul para achar Annette.
Ada se foi.
"...foi ativado. Esta seqüência de auto destruição -".
"Cala a boca, cala a boca -". Leon falou, parado no meio da sala, seu estômago apertado, suas mãos fechadas.
Quando ela ouviu o alarme deve ter entrado em pânico e fugido. Ela devia estar andando por aí, perdida e
atordoada, talvez procurando por ele enquanto a infernal voz se repetia junto com o alarme.
O elevador!
Leon foi para a porta - e viu que não estava lá, um largo e pouco fundo buraco lá fora. Ele nem tinha percebido
por estar preocupado com Ada -
- nós temos que achar aquele túnel! Sem o elevador estamos presos!
Frustrado em silêncio, Leon virou e voltou para as passarelas, rezando para achá-la a tempo.
O pequeno túnel terminava abruptamente, sobre uma queda de pelo menos dois metros em um corredor vazio.
De ouvidos zunindo, de boca seca, Sherry agarrou as bordas do buraco, fechou os olhos e saltou. Ela pousou
agachada e depois caiu, sua perna direita dobrando. Doeu, mas ela mal sentiu, levantando com as mãos e
#
joelhos para sair do caminho, olhando para o buraco -
- e lá estava Claire, sua cabeça saindo, seus preocupados olhos vendo que estava bem, que o corredor era
seguro... exceto por haver sirenes tocando, uma mulher falando em alto falantes, e Mr. X estar vindo.
Claire esticou o braço com a arma. "Sherry, preciso que segure isso, eu não consigo virar".
Sherry agarrou o cano, impressionada com o peso da arma. "Não aponte isso para nada". Claire disse e
praticamente mergulhou do buraco, curvando o corpo e aterrissando sobre o ombro, suas pernas batendo na
parede.
Antes de Sherry perguntar se estava bem, Claire já estava de pé, pegando a arma e apontando-a para a porta
no final do corredor.
"Corre!". Ela disse, e começou a correr, uma mão empurrando as costas de Sherry enquanto iam para a porta,
enquanto a voz as diziam que o sistema de destruição tinha sido ativado -
- e atrás delas, um som de metal retorcendo atravessou as sirenes, e Sherry correu mais rápido, aterrorizada.
[28]
Annette Birkin se arrastou para fora do pesado e frio metal, ainda segurando a arma, o G-virus se foi. Assim que
abriu a boca para gritar de fúria, sangue correu pelos seus lábios.
- meu meu meu -
De algum modo ficou de pé.
Ada disse a si mesma que não merecia a boa opinião de Leon. Nunca mereceu.
Perdoe-me...
Leon voltava da área do elevador, correndo cego com medo por ela. Assim que passou pelo centro e foi para a
passarela oeste, Ada saiu das sombras e apontou a Beretta para as costas dele.
"Leon!".
Ele virou, e Ada sentiu sua garganta travar com o alívio no rosto dele - forçando para não sentir nada, o sorriso
dele sumindo.
Oh, Jesus, me perdoe!
"Estive esperando você". Ela disse, não se orgulhando do quanto calma estava. Do quanto fria.
Os alarmes soavam, a voz mecânica tão gelada quanto a dela, dizendo que o sistema não pode ser abortado.
"O G-virus". Ela disse. "Dê ele para mim".
Leon não se mexeu. "Ela estava dizendo a verdade" Ele falou, sem raiva mas com mais dor do que Ada queria
ouvir. "Você trabalha para a Umbrella".
Ada balançou a cabeça. "Não. Para quem eu trabalho não interessa. Eu - eu".
Pela primeira vez desde criança, Ada sentiu traços de lágrimas - e de repente o odiou por isso, por tê-la feito se
odiar.
"Eu tentei!". Ela lamentou, sua postura quebrada pela corrente de raiva que corria por ela. "Eu tentei te deixar, lá
no galpão! E você teve que tirar de Annette, você não o deixou par trás!".
Ela viu pena no rosto dele e sentiu a fúria passar, levada por uma onda de dor - pelo que perdeu com ele; pela
parte de si que perdeu a um longo, longo tempo.
Ela queria contar sobre Trent. Sobre as missões na Europa e Japão, sobre como se tornou o que era, sobre cada
evento de sua miserável vida que a trouxe para cá - apontando uma arma para o homem que a salvou.
O relógio estava correndo.
"Passe ele para cá". Ela disse. "Não me faça matá-lo".
Leon olhou nos olhos dela e simplesmente disse. "Não".
#
Um segundo passou, e outro.
Ada abaixou a Beretta.
Leon se livrou da bala que o mataria - e Ada abaixou a arma lentamente, seus ombros caindo, uma lágrima
descendo pela bochecha de porcelana.
Leon soltou sua respiração presa, sentindo muitas coisas, tristeza, traição - uma dó pela torturante força no
escuro olhar dela -
- foi quando um tiro badalou para fora das sombras atrás dela. Os olhos de Ada arregalaram, sua boca abriu
enquanto começava a cair, a arma acertou o chão, seu corpo bateu no parapeito e mergulhou.
"Ada, não!".
Ele correu e pulou, e de alguma forma ela conseguiu agarrar a barra de metal do parapeito - enquanto ele pegava
seu pulso, o corpo dela pendurado sobre a escuridão sem fundo, sangue em seu ombro.
"Ada, agüente firme!".
"Meu". Annette suspirou.
Ela ergueu a arma de novo para atirar no outro, para recuperar o que era seu, para fazê-los pagar -
- mas a arma estava pesada demais, estava caindo e ela junto. Juntas, elas caíram no metal escuro, o escuro, o
escuro em sua mente que finalmente levou a dor embora.
William -
Foi seu último pensamento antes de dormir.
O que ele quer, por que nós?
Lá, um mezanino do outro lado, a uns três metros do outro andar lá embaixo, caixotes de madeira bem abaixo
da passarela.
"Por aqui!". Claire gritou, e elas correram. O calor emanava das máquinas quando chegaram no piso inferior da
câmara de dois andares, enquanto Claire levantava Sherry e seguia logo atrás.
Crash!
Ela virou, viu que a grande criatura estava atravessando a porta, andando e procurando -
No final da mezanino, uma porta dupla de metal. Elas correram, Claire não pensando em nada exceto como
destruir uma coisa que sobreviveu tudo isso -
- a porta estava destrancada, e elas saíram em outro mezanino; o calor lá era terrível -
- e não tinha saída.
Claire viu, depois de dar alguns passos lá dentro, que estavam no parapeito de uma casa de fundição, o
borbulhante calor estourando em bolhas na piscina lá embaixo.
Ela tinha doze balas, divididas em duas armas. Claire foi para a ponta da plataforma, Sherry ao lado, o laranja
elétrico do metal derretido banhando-as com sua fervura. Quente o bastante para queimar qualquer coisa...
Como? Como eu faço ele pular?
"Sherry, vá até lá!".
Ela apontou para o canto mais longe da plataforma, e Sherry balançou a cabeça, seu rosto tremendo de medo.
"Vá! Agora!". Claire gritou, e com um choro de terror, Sherry correu, seu medalhão batendo no colete -
- não é um medalhão -
- e Sherry gritou, Claire virou, Mr. X estava vindo.
Ele entrou na câmara, tão duro, grande e impossível quanto a primeira vez que o viu, a luz alaranjada tornando-o
ainda mais um pesadelo.
Claire se aproximou, guardando a arma de Irons no short, o plano meio formado correndo em sua aterrorizada
mente. Provavelmente não funcionará, mas ela tinha que tentar -
- ele me alcança, eu pulo no beiral, me seguro, ele cai -
Mr. X virou seu vazio olhar para ela e deu um de seus estrondosos e calculados passos, os escuros buracos de
bala em seu rosto e pescoço suavizados pela luz alaranjada -
- e ele virou para Sherry, ergueu os punhos e começou a andar.
"Ei! Ei, eu estou aqui!".
Claire começou a gritar, mas ele não a ouviu, não a viu, o monstruoso ser concentrado na pobre garotinha
#
encurralada na parede, esfregando o medalhão -
- e Claire sabia o que ele queria. As frases de Annette e Sherry vieram juntas, formando a resposta.
G-virus, fazê-la em pedaços, amuleto da sorte -
Não é um medalhão.
"Sherry, ele quer o colar! Jogue- o para mim!".
Se ela estiver errada, ambas estarão mortas. Mr. X chegou mais perto da garota, bloqueando-a da visão de
Claire -
- e o colar, o colar do G-virus que Annette tinha dado para a filha voou pelo ar quente, caindo no chão perto de
Claire.
Mr. X girou, seguindo o caminho do colar com seus olhos negros, esquecendo Sherry. Era verdade.
Boa garota!
Claire o pegou, balançando-o para o monstro. "Você quer isso?". Claire disse, as palavras saindo com fúria pelas
balas gastas com ele, pelos medos que ela e Sherry tiveram. "Quer? Então venha pegar seu miserável!".
O monstro estava a uns dois metros de distância quando Claire virou e jogou o medalhão na piscina fervente,
desaparecendo no metal derretido -
- e a super criatura que as tinha aterrorizado por aquela interminável noite foi direto para o parapeito, as barras de
metal cedendo com seu peso -
- e mergulhou silenciosamente no gigante tonel, uma grande onda de lava respingou, espontâneas erupções de
fogo dançando na escura
forma do corpo que desaparecia sob o fogo derretido.
Triunfo, alívio, maravilhoso - e a fria voz da gravação mudou de repente, tirando a alegria de ver Mr. X tomar um
banho de lava.
Sob o grito das sirenes -
"Restam cinco minutos para alcançar distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se à plataforma de embarque. Repito, dirijam-se à plataforma de embarque.
Repito...".
Sherry estava do lado, Claire pegou sua mão e elas correram.
A dor era incrível e Ada fechou os olhos, pensando se morreria por isso.
"Ada, agüente firme! Agüenta, eu vou te levantar!".
Através das sirenes, Ada ouviu que a contagem para a detonação tinha começado. Cinco minutos.
Ele tenta me salvar, nós morremos.
A pegada de Leon era forte, sua determinação quase tão forte quanto o orgulho dela. Quase.
Ada virou o rosto para ele, viu que apesar de tudo, ele ainda queria salvá-la.
Não desta vez. Não para mim...
A vida dela tem sido sobre egoísmo, ego e ganância. Ela viu muita gente boa morrer, e durante o caminho,
perdeu a habilidade de se importar - dizendo a si mesma que o esforço era uma perda de tempo e um sinal de
fraqueza.
Eu estava errada. Eu fui egoísta e errada, mas agora é tarde demais.
"Leon - desça, oeste, ache a sala de carga, depois das escadas - cadeiras de espera. Você vai precisar do disco,
está no meu - bolso -
"Ada, eu já tenho! Disco de carga, certo, eu já tenho, eu achei - não fale, agüente aí, deixe-me ajudar!". Ele
inclinou-se no parapeito, tentando manter o agarre.
Falar era um terrível esforço, mas ela tinha que terminar antes do tempo acabar.
"O código é 345. Pegue o elevador, Leon. Desça. O túnel - do trem dá para fora. Tem que - correr a toda
velocidade... e cuidado com Birkin, o infectado com G-virus, ele - ele já está mudando a essa hora. Entendeu?".
Leon acenou, seu olhar azul a penetrando.
"Sobreviva". Ela disse, e era uma boa palavra, uma palavra para se cumprir. Ela estava cansada, e a missão
estava preparada, e Leon viverá.
Ela soltou-se da barra metálica do parapeito, e Leon gritou seu nome, o som a seguindo para o escuro como um
amargo adeus.
#
[29]
Sherry estava assustada, mas Mr. X estava morto. Devia ser o monstro que a procurava na delegacia, que
queria parti-la ao meio -
- mas não havia tempo para pensar enquanto corriam pela sala dos maquinários, pelo corredor com o buraco no
teto, fazendo a curva -
- e Sherry gritou quando um zumbi avançou sobre elas, uma criatura feita de ossos, e Claire atirou.
- bang, e a cabeça branca e seca desmoronou, o corpo capotando no chão, e Claire já estava puxando Sherry
para a porta no final do corredor.
Era um elevador, Sherry se jogou numa das paredes depois que Claire a empurrou para dentro, tentando
recuperar o fôlego enquanto Claire apertava os botões. Depois de correrem de Mr. X, a descida de elevador foi
suave.
"Nós vamos conseguir". Claire disse. "Só mais um pouco".
Sherry acenou, seu coração pulando mais forte enquanto a voz dizia que restavam quatro minutos para se
safarem.
Leon sentiu como se não soubesse levantar e andar. A visão do bonito rosto dela um segundo antes de se
soltar...
ela se foi. Ela está morta.
Ele pegou a Beretta do chão, ainda estava quente com o toque dela - e estava leve demais, leve porque não
estava carregada. Nem o clip estava lá, ela nunca quis machucá-lo; ela estava mentindo, ela mentiu o tempo
todo.
"... quatro minutos para alcançar a mínima distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se para a plataforma de embarque...".
Ele tinha quatro minutos para ficar longe o bastante e cumprir o último pedido de Ada.
Ele se levantou e virou para a porta - e parou, tirando o pequeno tubo cheio do líquido roxo da bolsa. Ele sabia
que não tinha tempo, mas só levou um segundo para levar o braço para trás e arremessar a amostra o mais
forte que podia, querendo-a o mais longe possível.
Se o laboratório é o responsável por tantas mortes, que o G-virus queime com ele.
"Isso!".
A porta do elevador abriu - e havia um trem, um trem subterrâneo brilhando, o escuro túnel à esquerda. O trem
estava escuro e silencioso, não a máquina ligada e trêmula que Claire esperava ver, mas ainda era o veículo de
fuga mais bonito que já tinha visto.
Com Sherry grudada em seu braço, elas foram para a composição de três vagões, os alarmes ainda soando,
ecoando pela enorme estação. A voz já informava que elas tinham três minutos para alcançar uma distância
segura.
Entrando no trem, Claire percebeu e nem se importou com a ausência de assentos. A cabine de controle estava à
esquerda.
"Vamos colocar essa coisa na estrada". Claire disse, e o brilhante olhar de esperança no sujo e cansado rosto de
Sherry, fez o coração de Claire partir, só um pouco.
Oh, meu bem...
Claire subiu os degraus para a cabine, prometendo a si mesma que carregaria Sherry pelo túnel caso o trem não
funcionasse. Qualquer coisa para não quebrar aquele frágil olhar de esperança.
#
O código e o disco de verificação abriram a porta como Ada disse, a larga porta abrindo-se em um curto corredor.
Com três minutos sobrando, Leon correu pelo corredor cheio de símbolos de risco biológico, e achou a sala de
carga.
Ele não tinha tempo de parar e olhar, seu foco era pegar o elevador antes que não fosse possível escapar com
vida. Leon correu para o fundo da avermelhada sala, achando os controles da larga porta do elevador e
apertando para descer, pronto para entrar -
- e nada aconteceu, exceto por uma fileira de pequenas luzes - umas vinte talvez - que começaram a se apagar
em cima da porta. Bem devagar.
Leon apertou o botão novamente, parecia levar minutos entre os andares.
"Jesus!". Ele virou, querendo gritar se for ter esperar muito -
- e pela primeira vez deu uma olhada no lugar. As duas largas estantes que corriam o comprimento da sala
continham um tipo de "carga" bem específica - e apesar dos seis tubos de vidro em cada estante não conterem
nada além de um claro fluído vermelho, Leon sentiu calafrios só de olhar. Cada cilindro podia comportar um
homem adulto, e o fez imaginar para que foram construídos.
Não importa, eles vão explodir em alguns minutos.
Ele virou para o elevador, quase feliz por estar bravo e frustrado, por sentir algo além de perda -
- e o teto sobre a porta do elevador começou a tremer e rachar... Leon recuou, apontando sua arma para o
sólido painel de metal enquanto vinha ao chão -
- e o monstro do elevador-locomotiva aterrissou na sua frente, a mesma criatura demoníaca que machucou Ada,
que devia tê-lo matado -
Birkin - ?
- e pelo jeito que inclinou a cabeça e gritou, Leon podia dizer que veio para terminar o serviço.
O trem estava pronto, estava ligado e pronto para partir - mas parecia que o portão do túnel estava com defeito;
um painel cheio de luzes verdes e uma única vermelha, insistindo que o portão fosse aberto manualmente.
Dois minutos para alcançar distância segura.
Não vai dar, nunca conseguiremos -
"Fique aqui". Claire disse e saiu para verificar, rezando para que não fosse nada.
Leon virou e correu enquanto o monstro começava a ir em sua direção, cada poderosa passada estremecendo a
câmara, os ecos de seu terrível grito ainda nítidos.
Pense!
A espingarda não foi suficiente, ele tinha que atirar em algum lugar vulnerável, os olhos, use a Magnum.
Leon voltou para a porta de entrada. Ele girou e atirou, mirando no rosto da criatura -
- mas o rosto estava mudando de novo, a boca caindo enquanto gritava. Grandes e tortos espinhos de dente
escorreram do que sobrou da boca, do alto de seu pulsante peito - e quando outro grito explodiu de sua
garganta, Leon viu dois novos braços brotarem dos lados. Os membros formaram posições, cotovelos travando,
grossos dedos com garras crescendo.
Bam-bam-bam!
Os tiros se agruparam, explodindo na fina pele sobre o olho esquerdo. O monstro rosnou, desta vez de dor, e
Leon viu lascas de ossos e líquido arroxeado se espalharem.
Ele sacudiu a cabeça para todos os lados, expelindo mais líquido, se agachando como um sapo mutante -
- e saltou no ar, para cima e para a direita, parando numa das fileiras, grunhindo como um animal.
Droga, como ele fez aquilo -
Leon não conseguiu ver os olhos, nada além de suas costas enquanto descia - mas estava mudando de novo,
pôde ouvir sons quebrantes e ver os pedaços da espinha erguerem através da carne de suas costas.
Ele não queria ver no que iria se transformar, mas o elevador ainda não tinha chegado e só faltavam dois
minutos.
Leon recarregou e atirou no que podia ver - uma forma com seis pernas, uma forma que não era mais humana.
O tiro acertou um de seus ombros, fazendo a criatura pular. A besta voltou ao chão como uma aranha, caindo a
alguns centímetros na frente de Leon. O peito tinha se transformado numa parede de estranhos dentes, espinhos
que abriam e fechava enquanto respirava - e quando gritou de novo, foi como um demônio, como o grito de
#
milhares de almas morrendo.
Leon acertou dois tiros no buraco de dentes e se afastou. Sob as constantes sirenes ele ouviu o claro e animado
pin da chegada do elevador.
Claire correu para a frente do trem, olhando para a série de alavancas e botões na parede do túnel, franzindo e
abaixando a alavanca vermelha e branca. Ela ouviu o som metálico em algum lugar na frente do trem e correu
para a porta -
- quando ouviu metal de novo - o som de metal sendo partido e martelado, vindo de algum lugar atrás do trem.
Não, de jeito nenhum.
Ela olhou para o final do trem, além das barras do portão fechado - e ouviu um som como ossos no cimento, um
som que se repetia.
Passos.
Claire correu para a porta, sabendo que não podia ser Mr. X, não mesmo - ele foi derretido, se foi, e elas não
tinham mais o G-virus -
- e ela viu o movimento por detrás das grades. Algo alto, filetes de fumaça enrolando na escuridão atrás das
grades - e o forte cheiro de queimado. Ele saiu da sombra, na direção da parte de trás do trem, erguendo os
punhos -
BAM!
- e o vagão tremeu enquanto Claire percebia que era Mr. X, ou o que tinha sobrado dele - e que certamente era
um demônio vindo direto do inferno.
Ela tinha combinado onze balas no elevador; não vai ser suficiente mas era tudo o que tinha.
Claire apontou a arma de Irons, imaginando se esse será o fim.
Leon correu em volta da prateleira à sua direita, voltando para o elevador, e houveram galopantes passos bem
atrás, ele não podia parar.
Outra curva e de volta para o meio da sala -
- e ele foi atingido nas costas, uma borrachenta e quente carne que o levou ao chão.
Leon rolou quando a coisa ficou em cima dele, seus dentes intencionados a furar seu crânio. O grande olho ainda
estava lá, no ombro, olhando para ele -
- e Leon descarregou a arma no queixo da criatura, gritando, esvaziando os pesados cartuchos na cabeça do
monstro.
A besta gritou, cambaleando, caindo para o lado. Leon se levantou como um raio e correu para o elevador
aberto. O enorme animal ainda estava gritando enquanto Leon entrava no elevador e virava, apertando o
controle para descer -
- e viu a besta se mexer, mudando, gritando enquanto também virava para o elevador. Ele ganhava velocidade a
cada passo, a porta se fechando lentamente, a criatura quase voando agora -
- e Leon tinha a espingarda em suas mãos, engatilhando uma bala e atirando. O tiro acertando o peito e parando
a criatura.
- e a porta fechou, Leon estava descendo, e só restava um minuto.
[30]
BAM!
Sherry sentiu o trem balançar violentamente.
Claire!
Ela correu para a porta, lembrando que Claire disse para não sair e não se importar; ela não sabia o que era ou o
que podia fazer para ajudar, mas não poda ficar parada -
#
BAM!
- e o carro balançou de novo, o chão tremendo sob seus pés. Sherry alcançou a porta e apertou o botão de
abrir.
A porta abriu - e lá estava Claire apontando a arma para algo que Sherry não conseguia ver, algo atrás do trem.
O olhar de Claire passou por Sherry.
"Não saia! Feche a porta!". Claire gritou com medo e pânico.
Sherry tocou o botão e hesitou, com medo por Claire, querendo ver o que era -
- olhe rápido -
- e ela colocou a cabeça para fora, por um segundo, procurando a fonte do medo de Claire. Um cheiro de química
e carne queimada encheu a plataforma, vindo de -
Sherry gritou quando o viu, quando viu o esfarrapado e carbonizado monstro que sacudia o trem logo depois do
portão. Ela viu seu gigante punho acertar o metal do vagão, mas era a cara dele que atraia o olhar de Sherry.
Mr. X.
A pele estava queimada, toda ela. Fumaça emanava de sua cabeça, mas os olhos ainda estavam vivos -
vermelho e pretos e quentes com a fumaça, mas ainda bem vivos.
"Sherry! Feche agora!". Claire gritou sem tirar os olhos do monstro.
Sherry apertou o controle, a porta fechando enquanto Claire começava a atirar.
O elevador descia mesmo, mas não como Leon imaginava, a larga plataforma descia lentamente em ângulo,
luzes alaranjadas nas escuras paredes.
"... agora quarenta segundos para alcançar a mínima distância segura...".
"Vai vai vai - ". Leon suspirou. A voz tinha parado de mencionar a plataforma de embarque, só fazendo anúncios
de dez em dez segundos.
Chegar até aqui e morrer por causa de um elevador lento...
ele não podia aceitar isso. Ele passou por muitas coisas, o acidente com Claire, os monstros, Ada, Birkin - ele tinha
que conseguir, ou será tudo por nada.
Não parecia haver chão debaixo do elevador, ou ele já teria descido a pé.
"... vinte segundos para alcançar...".
Leon começou a tremer, tensão correndo por seus músculos, ficando difícil ele respirar. O que é distância segura?
Quanto tempo até a explosão depois que aquela voz dizer zero?
O trem terá que ser rápido. E ele tinha dez segundos para alcançá-lo, e o elevador continuava descendo sem
pressa pela escuridão.
A porta fechou e Sherry estava a salvo. Por enquanto.
Claire não podia esperar machucar a criatura, mas pelo menos distraí-la o bastante para fugir. Ela queria ter
ensinado os simples controles do trem para Sherry, queria que o veículo já estivesse se movendo, levando Sherry
para a segurança -
- mas eu não ensinei e nós temos que ir AGORA.
A mensagem já contava os dez segundos finais para a distância segura. Mr. X dava outra pancada no trem
enquanto Claire mirava e atirava.
Cinco tiros, quatro deles acertando o material que constituía a região onde uma orelha devia estar. O quinto foi
longe enquanto as pancadas ecoavam pelo lugar e a coisa que foi Mr. X virou para ela.
O que foi agora?
A gravação a distraiu por uma fração de segundo e Mr. X deu um passo na direção dela, um monstruoso passo
que o tirou das sombras.
"... três. Dois. Um. Distância mínima agora requerida. A autodestruição ocorrerá em cinco minutos. Restam cinco
minutos para a detonação".
Os alarmes ainda tocavam, mas pelo menos a voz tinha parado. Ela mal tinha percebido, seus olhos fixados na
criatura. Apesar das camadas queimadas e enfumaçadas, a pele dele não tinha perdido elasticidade; o material
avermelhado ainda contraia como músculos de verdade. Parecia um gigante pelado que se arrastou para fora de
um prédio em chamas - e se sofreu com o banho de metal derretido, ela não podia ver. Outro passo e os braços
#
foram ao alto, o portão de barras foi partido, as barras de metal caindo no concreto do chão.
Pelo menos ele está devagar -
Claire correu para a porta do trem, ainda com medo, mas o monstro era lento e poderoso, só que incapaz de se
mover de verdade -
- e de repente, Mr. X não estava mais andando. A criatura curvou a cintura, os joelhos -
- e se lançou do chão num dinâmico bote, seus pés deformados o impulsionando a toda velocidade.
Claire não pensou. Ela desviou para a direita evitando o ataque, correndo o mais rápido que podia. Ele quase a
pegou, os reflexos dele mais rápidos do que rápido - como se perder a pele o tivesse libertado. Assim que ela
pulou o portão destruído e entrou nas sombras, ela ouviu o arranhar de garras no cimento, viu que Mr. X tinha
descido seu braço bem aonde ela estava um segundo atrás.
Ele a teria partido -
- mas por que, sem o G-virus, sem razão -
Claire correu mais na escuridão enquanto os alto-falantes informavam quatro minutos restando.
"Restam agora quatro minutos para a detonação...".
Droga droga droga!
Quando pensou em ter um ataque de frustração, o elevador parou. Leon agarrou a fechadura da grossa cancela
de metal, querendo correr -
Ele saiu num corredor. E não haviam sinais dizendo qual direção seguir.
Direita ou esquerda?
Esses segundos de hesitação poderiam ter lhe custado a vida.
Ele ouviu uma vez que quando na frente de uma escolha, as pessoas instintivamente escolhem a direção da mão
dominante. Com a sorte que teve nesta noite em Raccoon, ele decidiu ir para o outro lado.
Esquerda. Leon correu, pensando se deveria se incomodar.
Não muito longe do portão, Claire viu uma passarela que passava sobre o trem, as escadas escondidas na
sombra -
- e ela ouviu Mr. X atrás. O terror a dirigiu, seus pés mal tocavam o chão -
- e os passos ficaram mais altos, mais rápidos, ouviu as garras dele rasgarem o cimento. Ela tinha um segundo
antes daquela mão a acertar -
- e ela virou de novo, jogando-se na escuridão do lado da escada. Mr. X passou voando, ela sentiu o vento da
mão em suas pernas enquanto caia no chão.
Ela ignorou a dor de seu cotovelo no cimento, levantando-se e procurando o monstro no escuro.
Ele pode ver, me ver?
A mão dela achou uma parede à direita. Ela estava no espaço debaixo da escada, e não sabia onde o quieto e
impossível X estava; a falta de luz não ajudaria se ele pudesse enxergar.
Ela correu as mãos pela parede e achou um interruptor. Ao apertá-lo, a textura do escuro mudou quando a fraca
luz veio de cima - e ela viu o monstro a menos de quinze metros, bem quando virava, seu olhar procurando -
- e a achando. A marcando. O único som era o de sua pele rachada - até dar um passo para a escada.
Seis ou sete tiros, acerte os olhos -
Claire saiu rapidamente de lá e ergueu a arma de Irons, apertando o gatilho, recuando para a escada.
Bam-bam-bam -
- e X se posicionava para mais um ataque, os tiros penetrando em seu rosto, dois deles ricocheteando em seu
crânio.
- bam-bam -
Ela estava na escada, subindo um degrau, as balas inúteis, Mr. X começando sua corrida. Ele estará nela antes
de poder virar, antes de subir os degraus -
- eu vou morrer -
- mas pelo menos eu o machuco antes -
Mr. X deu um passo - dois passos poderosos, diminuindo a distância entre os dois enquanto Claire mirava,
determinada a fazer os últimos tiros valerem a pena. Ela morreria e seu único arrependimento seria por Sherry, só
desejava que ela pudesse incapacitar o pesadelo X antes de morrer.
#
Ela atirou, e o olho esquerdo do monstro explodiu.
Isso!
Mr. X foi para a direita; não parando, mas também não indo para ela - mas ainda acertará a base da escada -
muito perto! - ela tinha que tentar o outro olho e só tinha dois segundos -
Claire mirou, achou o olho, e -
- click!
- estava sem balas, e o monstro estava chegando na base da escada, o cheiro de carne queimada enquanto
erguia sua gigante mão, e seu grande e terrível corpo era tudo o que conseguia ver.
Claire tropeçou e rolou a escada de ferro, seu corpo como uma bola -
- e gritou quando as garras da mão de X rasgaram sua coxa esquerda através do corrimão, e a distante voz
dizendo que tinham três minutos.
[31]
Ele pegou o caminho errado. As curvas o levaram para um depósito - sem saída.
"Restam três minutos para a detonação".
Leon virou e voltou por onde veio, forçando-se a correr com o que parecia o resto de suas forças.
Claire parou no chão, na base da escada e ficou de pé, sangue correndo pela perna num quente pulso de dor. Ela
correu, nada quebrado -
- mas ela sabia que isso era o começo do que ele fará com ela, uma prévia da dor real.
Mr. X ainda estava inclinado no corrimão da escada, mas assim que ela correu para o portão quebrado, o
monstro ficou a postos. Ele virou para ela, o buraco em seu olho jorrando um escuro líquido - mas ele vai se
recuperar e partir para ela como a máquina impiedosa que era. Não há nada que possa pará-lo.
Pelo menos eu morro na explosão -
Claire passou pelo metal retorcido do portão, mau se equilibrando, sangue pingando no chão enquanto dava outro
passo, por favor, que seja rápido -
"Aqui, use isso!".
Claire girou, viu Mr. X se posicionando para mais um ataque - e viu uma silhueta bem acima, na passarela sobre o
trem. Uma voz de mulher, forma de mulher, a sombra jogando algo -
- quem -
- aquilo caiu no chão, entre ela e Mr. X. era metal, e prateado - ela já viu nos filmes, era uma metralhadora - e
Claire correu. Outra última esperança, outra chance para ela e Sherry sobreviverem.
Ela alcançou a arma, viu X se jogando ao encontro dela, o trovão de seus passos vibrando o chão -
- e ela ergueu a pesada arma, recuando, sua mão trêmula achando o gatilho, seu corpo acomodando-se com a
arma. Firme no chão, braços encurvados em volta do metal, mirando -
- por favor por favor -
O monstro estava a alguns passos quando o jato de balas saíram da arma, um chocalho de pequenas explosões
que balançavam o corpo inteiro de Claire - e mergulharam no corpo da besta, a força de tantas balas parando-o e
empurrando-o para trás.
- tatatatatatatata -
A vibração parecia tentar se libertar do agarre dela. Ela mau ouvia seus próprios choros de dor e fúria enquanto
as balas furavam o abdômen dele com tal rapidez e velocidade.
- e Mr. X tentava andar, mas algo estranho e bom estava acontecendo. Sua barriga estava sendo rasgada pelas
balas, fluídos escuros descendo por suas pernas. A boca dele estava aberta, um buraco em um de seus olhos -
também sangrando.
#
- tatatatatata -
Claire continuou, vendo a criatura tentando se manter de pé. Vendo-o sangrar.
Com as balas ainda voando, Mr. X ergueu os braços -
- e partiu no meio.
Claire tirou o dedo do gatilho quando a parte de cima dele caiu no chão, um molhado som de carne pesada - e as
pernas tombaram, mais sangue estranho saindo das partes formando piscinas. A criatura estava morta, e
mesmo se não estivesse, não importava mais. Só se conseguir se arrastar mais rápido do que ela. Sua batalha já
tinha terminado -
- para o inferno com tudo isso, não há tempo, VAMOS!
Claire correu, ignorando o sangue em sua bota e a dor que o causava, seu olhar procurando a estranha
salvadora. Ninguém estava lá, e ela não sabia se outro minuto tinha passado, o alerta perdido com os tiros.
"Ei!". Claire gritou, indo para o trem.
"Nós temos que ir agora!".
Sem resposta, nenhum som exceto o zumbido em seu ouvido e o eco das palavras. Se ela quer salvar Sherry...
Claire virou e correu.
"- dois minutos para -".
Leon correu mais rápido. Ele já perdeu a conta das curvas do corredor, e as esperanças também, uma voz lhe
dizendo para parar, sentar e descansar -
- quando ele ouviu um fraco ruído.
O som de um maquinário pesado ganhando vida em algum lugar à frente. Não muito longe.
Trem!
Mais rápido, pernas distantes e moles, pulmões trabalhando, coração pulando - de algum modo ou de outro,
estava quase acabado.
[32]
Claire entrou no trem com um rifle gigante e uma perna coberta de sangue, mal parando para tocar os controles
da porta antes de correr para a cabine. Sherry sabia que estavam com problemas e não perguntou nada, ela a
seguiu, aliviada por Claire estar bem.
Ela está bem e já estamos indo...
Uma fraca versão da voz dos alto-falantes soou na pequena cabine de comando.
"Restam dois minutos para a detonação".
Claire soltou a arma e apertou os botões, sua atenção fixada no console. De repente, um grande som mecânico
as envolveu, um crescente motor que fez Claire bater os dentes. Sherry não sabia se foi um sorriso, mas Claire
sorriu quando o trem tremeu -
- e começou a se mover, tirando-as da plataforma.
Claire virou, viu Sherry atrás dela, e tentou sorrir. Claire tocou o ombro da garota, mas não disse nada - nem
Sherry, esperando ver o que aconteceria.
O trem ganhou velocidade, passando por alguns corredores e plataformas mal iluminadas, o túnel à frente escuro
e vazio.
O calor da mão de Claire a fez lembrar de que eram amigas, que seja qual for o futuro disso, Claire era sua
amiga -
- e ela viu um homem, um policial aparecer bem à frente, à esquerda, e o trem estava passando por ele, seus
olhos largos e desesperados em seu sujo rosto.
#
"Claire!".
"Estou vendo ele -".
Claire viu e correu para a porta, abrindo-a.
"Leon!". Ela gritou. "Vamos!".
Ela entrou de repente, uma parede passando, parecendo tão desesperada quanto o homem - Leon parecia.
Depois de um segundo ela virou e fechou a porta.
"Ele conseguiu?". Sherry perguntou, vendo que Claire não poderia saber.
Claire foi até ela e a envolveu em seu braço enquanto o trem acelerava e sua face se cobria de preocupação -
- e a voz disse que restava um minuto -
- e a porta de trás do vagão abriu. Leon apareceu, seu braço atado com um pano manchado, seu cabelo duro
com uma escura meleca, seus olhos azuis brilhando sob a máscara de sujeira.
"Destruição total!". Ele gritou. Claire acenou e Leon suspirou fundo. Ele foi até elas, o trem voando pelo túnel, e
abraçou Claire.
"Ada?". Claire cochichou. "Ann - a cientista?".
Leon balançou a cabeça. "Não. Eu não - não". Sherry viu que ele queria chorar.
"Trinta segundos para a detonação. Vinte e nove... vinte e oito...".
A voz da mulher continuou contando, os números parecendo duas vezes mais rápidos do que deveriam, e Sherry
enterrou a cabeça em Claire, pensando na mãe. Mamãe e papai. Ela esperava que tivessem conseguido, que
estivessem à salvo -
- mas provavelmente não.
Sherry podia ouvir o coração de Claire e a apertou mais, ouvindo o policial se aproximar delas.
"... cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Seqüência completada. Detonação".
Por um segundo não houve som. O alarme finalmente parou sobrando apenas os movimentos do trem -
- e então houve uma explosão, um som abafado, um shoomp que continuava crescendo, ficando maior.
Sherry fechou os olhos e o trem chacoalhou de repente, terrivelmente, e todos eles foram para o chão de metal.
Uma brilhante e queimada luz piscou pela janela enquanto o som de batidas de cano explodiram em volta deles,
pesadas pancadas choveram no teto -
- e o trem continuou indo, a luz sumiu e eles não estavam mortos.
O cegante flash dissipou-se, e Leon sentiu a tensão em seu corpo. Ele olhou para o lado e viu Claire sentando-se,
pegando a mão da jovem garota ao lado dela.
"Tudo bem?". Claire perguntou e a menina acenou. Ambas olharam para ele, sentindo o que ele sentia - choque,
exaustão, descrença e esperança.
"Leon Kennedy, esta é Sherry Birkin". Claire disse, sem enfatizar o "Birkin". Ele entendeu a mensagem e acenou
antes de sorrir para a garota.
"Sherry, este é Leon,". Claire continuou. "eu o conheci quando cheguei em Raccoon".
Sherry retribuiu o sorriso, um sorriso bem adulto que parecia fora do lugar; ela era muito jovem para sorrir
daquele jeito.
Mais uma proeza da Umbrella, a inocência roubada de uma criança.
Por alguns segundos eles ficaram lá sentados no chão, sorrisos sumindo. Leon mal ousou pensar que tudo estava
acabado. De novo, ele viu seus sentimentos espelhados nas sobrancelhas preocupadas de Sherry e nos cansados
olhos de Claire -
- foi quando eles ouviram um distante ranger de metal vindo da parte de trás do trem, ele não se sentiu
surpreso. Um cedente e rasgante arranhão - seguido por uma pesada pancada - e depois nada.
Sabia que não tinha acabado -
"Zumbi?". Sherry cochichou, as palavras quase perdidas no suave balançar do trem.
"Eu não sei, meu bem". Claire disse suavemente, e pela primeira vez, Leon percebeu que a perna dela estava
cortada, sangue saindo de vários arranhões.
"Que tal eu dar uma olhada?". Leon disse, tentando não assustar Sherry. Ele se levantou acenando para a perna
de Claire.
"Sherry, fique aqui com Claire, fique de olho naquela perna? Vou ver se acho alguma atadura enquanto dou uma
vasculhada, não deixe-a se mover, tá bom?".
Sherry acenou, e novamente um aceno muito maduro para a idade dela. "Tá".
"Eu volto num minuto". Ele disse, e virou para a porta de trás do trem, rezando para que não seja nada
enquanto empunhava a Remington.
Leon abriu a porta, os sons do trem se amplificando por um segundo, e depois fechou a porta.
Claire não o viu entrar no próximo vagão de onde estava; se houver mais alguma coisa no trem, nenhum deles
estará a salvo -
- não pense assim, está acabado -
- como está para Mr. X?
"O que eu faço?". Sherry perguntou. "Pressionar, né?".
Claire acenou. "É, só que nós estamos bem sujas, e acho que está começando a coagular. Vamos ver se Leon
volta com algo limpo...".
Os pensamentos dela voltaram para Mr. X.
- G-virus. Antes ele queria o G-virus.
Por que Mr. X foi para a plataforma do trem? Por que ele queria entrar no trem, a não ser que -
Claire forçou para se levantar, lutando contra a tontura e a dor na perna.
"Ei, não se mexa". Sherry disse. "Leon falou para ficar parada."
Claire podia superar seus problemas físicos, mas ver Sherry no cume do pânico era demais; se tiver G-virus no
trem e por isso Mr. X voltou, Leon terá que enfrentá-lo sozinho. Ela não podia deixar Sherry. Se Leon não voltar,
ela terá que desengatar o trem ou tentar pará-lo -
Claire cessou os pensamentos, forçando um sorriso. "Sim, senhorita, eu só queria ver se ele já tinha entrado no
outro vagão...".
Ela viu o alívio no rosto de Sherry. "Ah. Bom, então esqueça, pois eu estou cuidando de você agora, e eu digo
que você não se mexe".
Claire acenou, esperando estar errada, que Leon voltasse a qualquer segundo -
Seja lá quem projetou o veículo de fuga, pensava que os funcionários da Umbrella fossem transportados que nem
sardinha -
Seja lá quem for, não devia ser pior que a coisa na sala de carga, a coisa Birkin. Só de pensar que a criatura tinha
a ver com Sherry, era preocupante, até mesmo obsceno. Um monstro e uma maluca, ambos pais de uma
garotinha...
Ele chegou no fim do segundo vagão e espiou pela janela da porta, esquecendo os pensamentos enquanto
tentava ver alguma coisa no último vagão. Estava escuro e nada mais.
Droga.
Talvez não seja nada, mas ele tinha que olhar.
Ele respirou fundo e abriu a porta, recebendo a brisa do exterior, se segurando na grade de apoio. Não devia ser
nada, mas parecia ruim, errado.
Ele abriu a próxima porta e entrou na escuridão. Imediatamente ele ergueu a espingarda, seus sentidos dizendo
para correr quando a porta fechou. Ele recuou e procurou o interruptor de luz. Além do escuro, havia um forte
cheiro de água sanitária ou cloro, e um suave som de molhado, de movimento -
Uma única lâmpada acendeu no meio do vagão, e por um momento pensou ter perdido a consciência.
Uma coisa. Uma criatura que estava longe de humana, exceto pelo pulsante tumor em um lado, uma lisa bola
que mais parecia um olho.
Birkin.
A criatura era gigante, borbulhando uma escura pasta, expandindo seu volume até ocupar a largura do vagão.
Leon não sabia o quanto alto era. Birkin tinha grossas caudas estendidas, tentáculos de uma massa elástica e
úmida, presa em toda parte do espaço à sua frente - no teto, paredes e no chão. E enquanto Leon olhava, a
besta se moveu para frente, os escuros membros contraindo, levando o corpo para alguns centímetros à frente
de onde estava.
É loucura, mas ele estava vendo, vendo as cores preta, verde e roxa em seus tentáculos enquanto se esticavam
de novo, o material viscoso o puxando mais alguns centímetros. O corpo era nada mais do que uma caverna que
ainda tinha dentes -
-e que iria alcançá-lo em breve se não esquecer o nojo da cena.
Leon mirou no grande buraco da boca dele e puxou o gatilho, carregando outra bala, atirando, carregando,
atirando -
- e a espingarda ficou vazia, o gigante continuando a se aproximar.
Ele não sabia como matá-lo, não sabia se as balas o machucaram. Sua mente correu para achar uma resposta.
Ele podia desengatar o último vagão -
- mas a coisa ainda continuaria viva. Vivendo e mudando na escuridão do túnel, se tornando algo novo -
Os tentáculos se esticaram de novo e Leon voltou para a porta. Ele tinha que desconectar os carros, não havia
outra escolha -
- a não ser -
Ele hesitou, depois sacou a Magnum e mirou na criatura, no estranho tumor, o olho que estava em todas as
formas que Birkin já teve.
- BAM!
O efeito foi imediato, a bala perfurou a esfera - e um hiss veio de sua boca circular cheia de dentes afiados, um
som único na Terra. A carne dentro dele contraiu, ficando escura, murchando -
- e a coisa implodiu, encolhendo rapidamente, virando uma massa escura e um quarto do tamanho que tinha,
derretendo numa borbulhante poça de meleca arroxeada.
"Engula isso". Leon cochichou, olhando por alguns momentos, sem pensar em nada - e virou para se juntar às
duas, para dizer que tinha acabado.
Primeiro dia de trabalho.
"Eu quero um aumento". Ele disse, para ninguém e não pôde conter o sorriso em seu rosto, um cansado sorriso
que sumiu rapidamente... mas pelos segundos que durou, Leon se sentiu melhor do que há muito tempo atrás.
Leon estava de volta, e havia encontrado um macacão, que ele rasgou em pedaços e usou para cobrir a perna
de Claire. Tudo o que ele disse foi que agora eles estavam salvos, apesar de Sherry tê-lo visto e Claire lançou-lhe
um olhar - um daqueles olhares do tipo "não-devemos-falar-disso-agora". Sherry estava muito cansada para levar
a mal.
Ela aconchegou-se nos braços de Claire, Claire alisando seu cabelo, nenhum dos três falando. Não havia nada a
dizer, pelo menos não por enquanto. Eles estavam vivos, num trem correndo através da escuridão - e de algum
lugar não muito distante, uma luz suave surgindo, vindo da janela da cabine de controle e Sherry pensou que se
parecia muito com a luz da manhã.
[Epílogo]
Eles viram a explosão 16 quilômetros de fora da cidade, uma nuvem negra que se ergueu na luz da manhã
pendurando-se sobre Raccoon como uma terrível tempestade -
- ou um sonho ruim, Rebecca pensou, ou uma lembrança. Umbrella.
Ela não disse alto, porque não era necessário. John e David não estiveram na mansão de Spencer, mas
souberam do que a Umbrella era capaz em Caliban.
Ninguém falou quando David acelerou o carro, seus dedos apertados no volante. Desta vez, John não fez piadas.
Todos sabiam que era ruim; antes de Jill, Chris e Barry partirem para a Europa, Jill os disse sobre a suspeita de
outro acidente, e pediu que ficassem alerta. Quando as linhas telefônicas ficaram mudas, eles carregaram a van e
deixaram o Maine para ver o que podia ser feito. A única pergunta é a de quantas pessoas morreram desta vez.
Talvez este seja o fim. Uma explosão como aquela... a Umbrella não vai esconder isso tão fácil, não se tiver tão
ruim quanto parece.
John finalmente quebrou o silêncio. "Autodestruição?".
David suspirou. "Provavelmente. E se houve um vazamento, nós não entraremos; nós circularemos a cidade e
depois chamaremos ajuda de Latham. A Umbrella com certeza já está mandando sua equipe de limpeza".
Rebecca acenou junto com John. Eles não eram mais parte do S.T.A.R.S., mas David já foi capitão, e por um
bom motivo.
Eles caíram no silêncio, o amanhecer tocando as árvores que passavam pela van, Rebecca imaginando o que eles
encontrarão -
- quando ela viu as pessoas andando na estrada, balançando os braços.
"Ei -". Ela começou a falar quando David já pisava nos freios, se aproximando das três figuras. Um policial de
atadura no braço e uma jovem mulher de shorts, ambos armados, e uma garotinha de colete rosa grande
demais para ela. Eles não estavam infectados, ou pelo menos não mostravam sinais que Rebecca pudesse ver -
mas eles pareciam. Com suas roupas rasgadas e seus pálidos rostos sob a sujeira, eles com certeza podiam ser
confundidos.
"Eu falo". David, disse, seu sotaque britânico bem firme, emparelhando com os sobreviventes de Raccoon.
David abriu a janela e desligou o motor, o jovem policial adiantando um passo enquanto a mulher colocava seu
pegajoso braço no ombro da menina.
"Houve um acidente, em Raccoon". Ele disse. Mesmo cansados e feridos, havia uma cautela no tom do policial,
sugerindo o quanto ruim estavam as coisas. "Um terrível acidente. Você não quer ir lá, não é seguro".
David franziu. "Que tipo de acidente, policial?". Foi a jovem mulher que respondeu. "Um acidente da Umbrella". O
policial acenou e a garotinha loira enterrou seu rosto no corpo da mulher.
John e Rebecca trocaram um olhar, e David destravou as portas.
"Mesmo? Esses costumam ser do pior tipo". David disse gentilmente. "Nós ficaremos felizes em ajudar se
quiserem, ou podemos chamar ajuda...".
Era uma pergunta. O policial olhou para a mulher e voltou para David. Ele deve ter visto algo no rosto de David
que passou confiança; ele acenou e chamou a mulher e a garota para se aproximarem.
"Obrigado". Ele disse, a exaustão finalmente vindo. "Se você puder nos dar uma carona estará ótimo".
David sorriu. "Por favor, entrem. John, Rebecca - vocês os ajudam...?".
John pegou alguns cobertores lá atrás enquanto Rebecca pegava o kit médico, cuidando para não descobrir os
rifles perto do estepe.
Acidente da Umbrella...
Rebecca pensou no quanto sortudos foram por terem sobrevivido.
Eles começaram a falar mesmo antes de David fazer o retorno - e em pouco tempo, eles descobriram ter muito
em comum. Enquanto a menina dormia, eles voltaram por onde vieram, deixando a cidade em chamas para trás[18]
Tentando não respirar muito fundo, Leon alcançou os pés da escada de metal e girou rapidamente, mirando sua
arma no escuro. Água molhou suas botas enquanto seus olhos se ajustavam à baixa luz, e viu a origem do
terrível cheiro.
Partes dele, na verdade...
O túnel continuava à sua frente e estava forrado com corpos humanos feitos em pedaços. Membros, cabeças,
troncos estavam espalhados aleatoriamente pelo túnel de pedra, balançando gentilmente pelos centímetros de
água que cobriam o chão.
"Leon? Como está aí?". A voz de Ada desceu pelo círculo de luz no topo da escada, ecoando. Leon não
respondeu, seu olhar chocado fixado na terrível cena, sua mente tentando juntar as partes e trazer um número.
Quantos? Quantas pessoas?
Muitas para contar. Ele viu uma cabeça sem face, o longo cabelo cobrindo-a. O tronco de uma mulher, o seio
emerso na escura água. Um braço envolvido nos farrapos de uma camisa de policial. Uma perna, ainda usando
um tênis. Uma enrolada mão, os dedos lisos e brancos.
Uma dúzia? Vinte?
"Leon?". O tom de Ada enfatizou.
"É - parece bem". Ele disse, forçando para não alterar a voz. "Nada se move".
"Estou descendo".
Ele se afastou da escada para dá-la espaço, lembrando de algo que ela disse antes, sobre corpos sendo
jogados...
Ada desceu da escada. Os olhos dele tinham se ajustado bem o bastante para ver o olhar de nojo no rosto dela -
nojo e o que parecia tristeza.
"Houve um ataque na garagem". Ela disse suavemente. "Quatorze ou quinze pessoas morreram...".
Franzindo, ela passou por Leon para olhar os resto de perto. Quando falou de novo, parecia preocupada.
"Eu não vi o ataque, mas não acho que foram despedaçados desse jeito".
Ela olhou para cima, vendo o teto do túnel, apertando sua 9mm. Leon seguiu seu olhar, mas só viu o tom
esverdeado das pedras. Ada balançou a cabeça, olhando de volta para o mar de carne.
"Os - zumbis não fizeram isso. Algo pegou essas pessoas depois de mortas".
Leon sentiu um calafrio subir sua espinha. Era a última coisa que queria ouvir naquele lugar.
"Então não é seguro aqui. Nós devemos voltar e -".
Ada seguiu em frente, passando pelos pedaços, os movimentos da água parecendo mais altos no quieto túnel.
Droga, ela ignora todo mundo ou só eu?
Olhando onde pisava, Leon a seguiu, erguendo o braço para tocar o ombro dela. "Pelo menos eu vou na frente,
#
tá?".
"Tá Bom,". Ela disse. "Abra caminho".
Ele passou por ela e continuou, tentando dividir a atenção entre a escuridão à frente e os pedaços de corpos e
ossos abaixo. Bem à frente, o túnel virava à direita, e tinha alguma luz refletida na oleosa superfície da água, a
passagem estava mais clara e com menos corpos.
Leon parou a tempo o bastante para empunhar a Remington e verificar se estava carregada. Seja lá o que tinha
pego os corpos não parecia estar por perto, mas ele não queria estar despreparado.
Ada esperou sem falar, apesar dele conseguir sentir sua impaciência. Ela era tão calma quanto um soldado
veterano, demonstrando nada mais além de ansiedade para acabar logo com isso - e se ela gosta de sua
presença, deve estar fazendo muita força para não demonstrar. Não que ele queira a gratidão dela -
- mas a maioria das pessoas gostariam da presença de um policial, não é? Mesmo sendo um novato?
Talvez não, e essa não é a hora e lugar para começar a fazer perguntas. Leon começou a andar de novo,
passando por cima de um pedaço mastigado de carne que não podia identificar.
"Pare". Ada cochichou. "Ouça".
Leon obedeceu, Remington em uma mão, VP70 na outra. Ele inclinou a cabeça para ouvir, mas só percebeu um
distante gotejar -
- e uma suave pancada, como martelos abafados numa superfície forrada. Estava se aproximando, vindo do
túnel que virava logo à frente.
Por que a água não respinga, por que não ouvimos água - ?
Leon recuou um passo, erguendo ambas as armas, lembrando como Ada tinha olhado para o teto antes -
- e viu, viu e sentiu seu coração parar em meia batida. Uma aranha do tamanho de um cachorro grande,
andando pelas paredes, mexendo suas arrepiadas pernas peludas -
- impossível -
- e de repente houve uma série de ensurdecedoras explosões próximas ao seu ouvido direito,
bam-bam-bam-bam, o cano da Beretta de Ada brilhando enquanto ativava. Os ecos golpearam pelo escuro
enquanto o gigante aracnídeo pulava da parede, mergulhando na tingida água.
A aranha engatinhou na direção deles, ferida, arrastando duas de suas pernas, escuros fluídos escorrendo pelo
seu grotesco e arredondado corpo. Ela passou por cima de uma cabeça, o crânio escapando abaixo de seu
abdômen inchado, e Leon pôde ver seus brilhantes olhos negros, cada um do tamanho de uma bola de ping-pong
--
e ele atirou com a Remington, mal sentindo o poderoso tranco da arma, sua concentração voltada para o
aracnídeo. O tiro explodiu a face alien em pedaços. A aranha virou de papo para o ar, suas grossas pernas
tremendo, curvando-se ao redor de seu corpo peludo.
Seus ouvidos apitando, seu coração pulando, Leon carregou outra bala, sua mente não só dizendo que tinha
matado uma aranha daquele tamanho, mas que seu físico estava errado, suas pernas não agüentariam tamanho
peso -
- Ada passou por ele, correndo, gritando para ele.
"Vamos, podem haver mais vindo!".
Leon correu atrás dela, seu choque contido pelo rápido comportamento de Ada - pulando sobre os pedaços de
carne e da aranha que só passou a existir depois que chegou a Raccoon.
"Solte a arma". Irons pediu, e a garota obedeceu, hesitando por um segundo. A Browning foi ao chão e Irons
teve que resistir ao desejo de rir de novo, pelo quanto estúpida ela agia. A assassina da Umbrella com certeza
ficou louca, entrando em seu santuário como se fosse dona do lugar - essa atitude lhe custou o jogo.
"Vire-se devagar - e mantenha as mãos onde eu possa vê-las". Ele disse, ainda sorrindo. "Oh, que gloriosa e fácil
conquista! A Umbrella o subestimou pela última vez.
Novamente, a garota fez o que ele pediu, virando devagar, de mãos vazias e abertas. O olhar em sua face não
tinha preço, suas expressões fixadas como uma máscara de medo e choque; ela não esperava por isso, ela
achava que seria fácil dar um fim em Brian Irons. Depois de tudo, ele era um homem quebrado, uma sombra de
seu antigo eu, sua cidade e sua vida tirada -
"Errada, não estava?". Ele disse, sentindo o humor vazando da situação, sentindo a raiva borbulhar novamente.
Ele manteve a VP70 mirada na ridícula e jovem face dela; insultando, que eles mandaram uma criança para seu
#
serviço sujo. E bonitinha...
"Calma, Chefe Irons". Ela disse, e mesmo bravo, ele gostou de ouvir a tensão em sua opressiva voz, o pico do
medo sob seu inútil apelo. Ele vai adorar isso, mais do que imaginava...
... mas primeiro, algumas respostas.
"Quem te mandou? Foi Coleman, do quartel general? Ou suas ordens vêm dos superiores... alguém da comissão,
talvez? Não há mais motivos para mentir".
A garota olhou para ele, seus olhos cheios de confusão. "Eu - eu nem sei do que está falando. Por favor, deve
haver algum engano -".
"Oh, um engano, tá bom". Irons cuspiu. "E você o cometeu. Há quanto tempo a Umbrella está me observando?
Quais foram as suas ordens, exatamente - onde você deveria ter me matado, a Umbrella quis que eu sofresse
um pouco antes?".
A garota não respondeu por um momento, provavelmente tentando decidir o quanto dizer a ele. Ela era boa,
suas expressões cautelosamente montadas para mostrar somente um medo confuso, mas ele enxergava
através disso.
Ela foi pega, deve saber que não a deixarei viver e está tentando esconder a verdade. Jovem mas bem treinada.
"Eu vim para Raccoon atrás do meu irmão". Ela disse devagar, seus bem abertos olhos cinzas fixados na arma.
"Ele estava com o S.T.A.R.S. e eu só -".
"S.T.A.R.S.? É o melhor que você pode fazer?". Irons riu mais, balançando a cabeça. O S.T.A.R.S. de Raccoon
fugiu logo depois que as coisas foram para a merda - e pelo que ele ouviu falar, a Umbrella já tinha "convertido" a
organização para seus propósitos, estavam trabalhando para eliminar aqueles que cruzassem o caminho. Essa
desculpa não funcionava.
Mas há algo...
Ele estudou os olhos. "E quem é o seu irmão?".
"Chris Redfield, você conhece - eu sou Claire, a irmã dele, e eu não sei nada sobre o que a Umbrella fez e não fui
mandada para matá-lo". Ela disse rápido.
Ela se parecia com Redfield, pelo menos os olhos... Chris era um pomposo e desrespeitoso, que o desafiou
abertamente várias vezes; de fato -
"Redfield estava trabalhando para a Umbrella, não estava?". Mesmo dizendo alto, Irons pôde ver que era
verdade - e sua raiva subiu como uma maré vermelha, um calor ácido que desceu por suas veias fazendo-o
enjoar.
Até os meus empregados, todo o tempo. Fantoches traidores da Umbrella.
"A mansão de Spencer, as acusações contra a Umbrella... foi tudo armado, eles vinham provocando problemas
para - para me distrair, para então poderem roubar o vírus de Birkin...".
Irons deu um passo até a garota, sem precisar de força para puxar o gatilho, contrariando seus planos. A garota,
Claire, recuou, de braços para cima, de mãos abertas como para se proteger de sua fúria.
"Foi como o S.T.A.R.S. soube quando sair da cidade. Eles foram alertados para sair antes do vazamento do
T-virus!".
Ele deu mais um passo até ela, mas Claire parou, seus olhos mais abertos. "Então Chris não está aqui?".
Seu pequeno e esperançoso suspiro só alimentou o calor vermelho que pulava dentro de Irons - os sentimentos
eram tão poderosos que transcendiam raiva, focando suas intenções em algo brutal e preciso. Não era suficiente
ter sido traído pela Umbrella e pelo S.T.A.R.S., ter sido manipulado, atormentado, caçado -
Não, não. Eu fui enganado por essa garota, uma espiã assassina de uma família de traidores. Uma vida devotada
ao serviço, experiências, sacrifícios pessoais, e essa é a minha recompensa?
"Um tapa na cara". Ele disse, sua voz tão fria quanto essa nova selvageria que o enchia, o transformava num
caçador. "Tratando-me como um idiota. Você nem tem respeito o bastante para mentir bem".
Ele estendeu a 9mm e andou na direção dela, cada passo calculado e deliberado - e o medo dela era real desta
vez, ele riu do modo como ela recuava, seus trêmulos lábios. Ela estava apavorada, tentando achar uma arma,
observá-lo, fugir, tudo ao mesmo tempo, mas sem sucesso enquanto ele marchava.
"Eu tenho o poder,". Ele disse. "esse é o meu santuário, esse é o meu domínio. Você é a invasora. Você é a
mentirosa, você é o mal - eu vou tirar a sua pele viva. Eu te farei gritar, sua vagabunda, você vai desejar nunca
#
ter nascido. Seja lá quanto te pagaram, não foi o bastante".
Ela recuou até bater numa estante, tropeçando na perna da mesa, quase caindo no alçapão no canto da sala.
Irons a seguia, sentindo aquele bonito e excitante poder, sentindo prazer com a indefesa.
"Por favor, você não quer fazer isso, eu não sou quem você pensa!".
A patética súplica o fez parar e rir, querendo dá-la mais terror, querendo mostrá-la que seu controle era absoluto.
Ela estava encurralada entre um armário e o alçapão, e Irons ficou a uma distância segura, adorando o pânico
nos olhos dela - o pânico de um animal emboscado...
Irons lambeu os lábios, seu faminto olhar viajando por suas suaves formas. Outro troféu, outro corpo para
transformar... e é hora de trabalhar, de -
"Graaagh!".
Mas que -
A tampa que cobria o poço voou pelo ar, partindo com um tremendo crack, um pedaço atingindo a coxa de
Irons. Ele ficou assustado sem entender - ele estava no controle e mesmo assim algo deu errado, horrivelmente
errado -
Algo enrolou em seu calcanhar, algo que apertava tão forte que ouviu os ossos sendo esmagados, a afiada dor
subindo por sua perna -
- e ele travou o olhar com o da garota, de olho brilhando com um novo terror, e nesse instante de contato, de
claridade, ele quis tanto dizer que era um bom homem, um homem que nunca mereceu nada do que aconteceu -
- e aquilo sacudiu, e Irons estava caindo, derrubando a arma, puxado para o poço pelo grito, a dor e a besta que
o esperava lá embaixo.
[19]
Num minuto, Irons estava de pé na frente dela, olhando em seus olhos com uma terrível tristeza -
- no outro, ele se foi. Puxado para um buraco no chão por um braço musculoso e com garras, saindo de visão,
junto com Irons.
Houve outro grito da criatura, um poderoso ruído que ganhou intensidade e superou o de Irons. Estática, Claire só
pode ouvir, choque, alívio, medo enquanto os choros saiam do buraco, acertando seus ouvidos no pequeno e frio
calabouço que Irons tinha criado -
- até que os gritos cessaram, só um ou dois segundos depois - e os barulhos de carne sendo mastigada
começaram.
Claire se moveu. Ela pegou a arma de Irons e correu pela mesa no centro da sala.
Ele ia me matar e aquilo o matou -
A realidade do que ia acontecer e do que aconteceu a atingiu, fazendo de suas pernas borracha. Claire forçou
mais alguns passos para trás até encostar na úmida parede de pedra, suspirando.
Ele tinha planejado matá-la, mas não de uma vez. Ela viu como o malvado olhar dele passou pelo seu corpo,
ouviu a ansiosa antecipação em sua maluca risada -
Houve um suave ronco vindo do buraco, um som bestial, o ronco de um leão bem alimentado. Claire virou,
erguendo a arma -
- e algo explodiu do buraco, algo com braços debatendo, e Claire atirou. Uma garrafa na prateleira espatifou
enquanto a coisa acertou o chão -
- e era Irons, mas só metade dele. Ele foi dividido, cortado em dois pela coisa que o tinha pego; tudo abaixo da
cintura se foi, fiapos de pele rasgada e músculos pendurados sobre a piscina de sangue que substituía suas
pernas.
Claire recuou para a porta, ainda apontando para a abertura - e ouviu a criatura, o monstro gritar de novo, um
eco que desapareceu, caindo a uma distância que não podia imaginar. Um segundo depois, ela não o ouvia mais;
#
tinha ido embora.
O monstro de Sherry. Era o monstro de Sherry.
Claire foi vagarosamente até o corpo do Chefe Irons, na direção do escuro buraco - mas não era todo escuro. Ela
pôde ver luz vindo de algum lugar, o bastante para ver que havia outro andar lá embaixo, o que parecia uma
passarela gradeada de metal - e uma escada de mão.
Um sub-subsolo... uma saída?
Ela se afastou da abertura, seus pensamentos fluindo desorganizadamente, tentando absorver o que Irons tinha
dito. Chris não estava em Raccoon, os S.T.A.R.S. se foram - um bom e ruim alívio, pois significava que ele estava
bem, mas não salvaria o dia. Houve um vazamento na Umbrella que ao menos explicava os zumbis - mas e o
que disse sobre Birkin, o vírus de Birkin... é pai de Sherry?
É - talvez os zumbis sejam o resultado de algum acidente, mas e o Mr. X e os homens do avesso?
O modo como Irons falou sobre a Umbrella, sugere que a companhia farmacêutica não era uma vítima inocente.
"Como ele o chamou?".
"T-virus". Ela cochichou, e tremeu. "Tinha o novo vírus de Birkin e tinha o T-virus...".
A doença zumbi tinha um nome. Mas você não nomeia algo a não ser que saiba algo sobre ele, o que significa -
- que ela não sabia o que significava. Tudo o que sabe é que Sherry precisava sair de Raccoon e o sub-subsolo
podia ser a saída. Devia ter uma saída, o monstro dever ter ido para algum lugar...
... e você quer seguí-lo com Sherry? Ele pode voltar - e se realmente estiver atrás de Sherry...
Pensamento infeliz - tal como voltar para as ruas. E a delegacia já está infestada por Deus sabe lá o que. Claire
checou o clip da arma de Irons, contando dezessete balas.
Ela respirou fundo, voltando a si, e olhou para os restos do chefe da polícia. Era um modo ruim de morrer, mas
não conseguiu sentir pena. Ele estava pronto para amarrá-la e torturá-la, ele riu ao implorar por sua vida, e agora
está morto; ela não estava feliz, mas também não derramaria lágrimas. Seu único sentimento sobre isso era o de
que deveria cobri-lo antes de trazer Sherry; a menina já viu violência o bastante para uma vida.
Nós, Claire pensou, e começou a procurar algo para esconder Chefe Irons.
Leon a alcançou no frio e industrial corredor que dava na entrada do esgoto, alguns degraus acima do subsolo
inundado. Ela tinha corrido na frente para posicionar as chaves de acesso ao esgoto, sem querer explicar muito
como as achou; ela só teve o trabalho de jogá-las na sala da caldeira antes que os passos dele tocassem os
degraus de metal atrás dela
Pelo menos eu não finjo estar com falta de ar...
Ada pôde ver no olhar dele que deveria suavizar as coisas; ela começou a falar na hora em que ele pisou no
corredor.
"Desculpe ter corrido". Disse oferecendo um sorriso assustado. "Eu odeio aranhas".
Leon franziu, estudando-a, e ela percebeu que deveria explicar melhor. Ela deu um passo até ele. Mantendo olho
no olho, jogando a cabeça para trás, a fim de enfatizar a diferença de altura; era pouca, mas na experiência dela,
homens respondiam bem às pequenas coisas.
"Acho que só estou com pressa em sair daqui". Ela disse rápido, perdendo o sorriso. "Espero não o ter
preocupado".
Ele derrubou o olhar antes de demonstrar interesse. Ela ficou mais surpresa quando ele recuou.
"Bom, você me preocupou. Não faça de novo, tá? Eu posso ser pouco de um policial, mas eu estou tentando - e
só Deus sabe o que encontraremos aqui".
Ele olhou para ela de novo, falando suavemente. "Eu vim com você porque eu quero ajudar, eu quero fazer o
meu trabalho - e eu não posso fazê-lo se você sair na frente. Além disso,". Ele complementou, sorrindo um
pouco. "se você correr, quem vai me ajudar?".
Foi a vez de Ada desviar o olhar. Ela forçou um sorriso. "Eu farei o possível".
Leon acenou e virou para olhar o lugar, acabando com a conversa - para o alívio de Ada. Ela estava incerta sobre
o que pensar sobre ele, mas estava desconfortável com seu respeito por ele estar crescendo; nada bom
considerando a situação.
Não havia muito o que ver no úmido corredor; duas portas. A sala da caldeira, onde jogou as chaves - ou plugs,
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de preferência, estava bem à frente. A outra dava num depósito, segundo a placa na parede.
Ada seguiu Leon para a mais próxima, o depósito. Lá não havia nada de importante. Caixas, uma mesa, um baú,
mas pelo menos nenhuma aberração. Depois de uma rápida procurada eles voltaram para o corredor e foram
para a sala da caldeira.
"Como você aprendeu a atirar daquele jeito, afinal?". Leon perguntou e parou na frente da porta. Seu tom parecia
casual. "Você é muito boa. Você esteve no exército ou algo...?".
Boa tentativa, policial.
Ada sorriu, incorporando seu personagem. "Paintball, acredite ou não. Eu também ia no tiro-ao-alvo com meu tio,
mas nunca me aprofundei muito. E então, há alguns anos, um amigo do trabalho - nós éramos compradores em
uma galeria de arte de Nova Iorque - ele me levou para um daqueles fins de semana de sobrevivência e nós
demos uns tiros. Você sabe, caminhada, escalada, coisas do tipo - e paintball. É ótimo, nós íamos a cada dois
meses... eu nunca pensei que fosse usar isso de verdade".
Ela pôde vê-lo acreditar, ver que ele queria acreditar. Mas deve ter respondido algumas perguntas que queria
fazer.
"É, você é melhor do que alguns colegas meus da academia. É sério. Então, você está pronta para continuar?".
Ada acenou. Leon empurrou a porta, olhando o velho e enferrujado maquinário antes de entrar. Ada não olhou
para baixo, querendo que ele achasse o pacote amassado que havia colocado momentos atrás.
A sala era em "H", corrimãos cercavam as duas grandes caldeiras em cada lado. As fluorescentes que ainda
funcionavam criavam estranhas sombras nas paredes infiltradas. A porta que levava ao sistema de esgoto estava
no lado oposto, à esquerda, ao lado de um painel.
"Ei -". Leon se agachou, pegando os plugs que abririam a porta. "Parece que alguém derrubou algo...".
Antes que Ada pudesse perguntar o que tinha achado, ela ouviu um barulho. Um suave rastejo vindo do canto
oposto direito da sala.
Leon se levantou rapidamente, soltando os plugs e erguendo a espingarda. Ada apontou sua Beretta, lembrando
como a porta estava encostada antes de colocar os plugs no chão.
Droga, o implante.
Ela sabia antes mesmo de aparecer. A coisa tinha crescido, e bem rápido, vinte vezes seu tamanho em alguns
minutos - e ainda estava crescendo, exponencialmente.
A aparência também estava mudando. Não era mais aquela medusa que rasgou Bertolucci. A calda se foi, e a
criatura que rastejava pelo chão enferrujado agora tinha membros. Garras saiam de sua lisa pele acompanhada
pelo som de cartilagem sendo perfurada. Musculosas pernas se desenrolaram e o rastejar se tornou mais suave,
quase felino -
A espingarda e a Beretta soaram ao mesmo tempo. A criatura ainda mutava quando os tiros deformaram sua
carne. Em resposta, a coisa vomitou, um ronco que lançou um projétil de apodrecida bile verde -
- que caiu no chão e começou a se mexer. Aquilo estava vivo - e as onze ou doze criaturinhas que surgiram
pareciam saber exatamente onde a ameaça estava. Os animais multi-pernas rastejaram na direção de Ada e
Leon enquanto o implante dava um passo.
"Eu pego eles". Ada gritou, já atirando no mais próximo. Eles eram rápidos, e Ada mais ainda; ela apontou e
atirou, explodindo os bebês monstro em uma fonte de escuros fluídos.
Leon atirava de novo e de novo com a espingarda, mas Ada não podia ver como o monstro mãe estava. Cinco
dos rastejantes restando e só três balas -
- e ela ouviu a espingarda ir ao chão, ouviu tiros de revólver enquanto matava dois dos pequenos antes da arma
clicar.
Sem parar para pensar, Ada soltou a Beretta e foi para o chão. Ela pegou a espingarda pelo cano, se agachou e
desceu a arma, bem forte. Dois dos bichos viraram pasta com o impacto - mas o terceiro e último saltou em uma
inesperada propulsão -
- e pousou na coxa dela, agarrando com garras afiadas como agulhas. Ada soltou a espingarda, gritando
enquanto o animal subia sua perna, o quente e úmido peso dele fazendo-a frenética de nojo.
Sai, SAI -
Ela caiu para trás, estapeando a criatura que já estava em seu ombro, rastejando para seu rosto, para sua boca
--
e Leon a agarrou, erguendo-a com uma mão enquanto arrancava o bicho com a outra.
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Ada se agarrou nele para não cair e o animal aderiu forte ao tecido do vestido. Leon tinha um bom tato e
arrancou o bicho, gritando enquanto arremessava-o pela sala.
"O revólver!".
A arma estava presa no cinto de Leon. Ada a liberou, vendo que o bicho tinha caído perto da mãe, morta por
Leon -
- e atirou, tentando um tiro certeiro apesar de seu desequilíbrio, assustada pelo quanto perto esteve de ser
implantada. A bala ressoou no chão, lascas enferrujadas respingaram - e a criatura explodiu contra a parede de
trás. Estourada.
Nada se mexeu e os dois ficaram parados, encostados um no outro como sobreviventes de um terrível acidente -
que de certo modo eram. Tudo aconteceu em menos de um minuto e eles saíram ilesos - mas Ada não se iludirá
por terem estado perto, ou com o que acabaram de destruir.
G-virus.
Ela tinha certeza; o T-virus não seria capaz de criar algo tão complicado, não sem um time de cirurgiões - e eles
viram a coisa crescer; o quanto grande e poderosa a criatura teria ficado se eles tivessem demorado mais um
pouco? E se houver mais deles? A ida para os laboratórios não será mais uma caminhada - e Ada se sentiu grata
por Leon ter decidido ir com ela. Já que ele insiste tanto em ir na frente, se algo atacar, ela terá uma chance
melhor de sobreviver -
"Você está bem? Ele te machucou?".
Com um braço ainda segurando ela, Leon olhava em seus olhos, preocupado. E ela percebeu que podia cheirá-lo,
um limpo cheiro de sabão - e se afastou dele. Ela devolveu o revólver e esticou o vestido, procurando por cortes
a fim de não olhar para ele.
"Obrigado, eu estou bem. Não se preocupe?".
Foi mais grossa do que queria, pois estava agitada com o ataque. Ela olhou para ele e ficou incerta sobre o que
sentir ao ver que a resposta o tinha pego de surpresa. Ele piscou devagar.
"Paintball, né?". Ele disse suavemente, e virou para pegar os plugs. Ada o acompanhou, dizendo a si mesma que
era ridículo se importar com o que ele pensava dela. Eles estavam embarcando numa jornada em que ela podia
descartá-lo, ou vê-lo dar sua vida por ela...
... ou matá-lo eu mesma. Não vamos esquecer disso. Então quem se importa se ele acha que sou uma ingrata?
Ada se curvou para pegar a espingarda, sentindo a força que precisava fazer para não desviar de suas
prioridades - e sentindo um vazio lá dentro que não sentia há muito, muito tempo.
[20]
Irons foi um homem muito mau. Doente. Sherry parecia saber o tempo todo, mas ver sua câmara de tortura
secreta fez tudo virar realidade. A sala era rude, ossos, garrafas e um cheiro pior que o dos zumbis. Por isso não
se importou tanto com o corpo incompleto sob o lençol manchado de sangue. Sherry tentou imaginar o que tinha
acontecido exatamente.
"Vamos, querida, vamos indo". Claire disse, seu tom dizendo que Irons tinha sido bastante injuriado. Tudo o que
Claire disse foi que Irons a tinha atacado e que depois algo o atacou. E que poderiam achar algum lugar seguro se
descerem pelo buraco. Sherry estava tão feliz em ver Claire que nem fez perguntas.
Não parece caber uma pessoa inteira lá... ele foi comido? Ou cortado em pedaços?
"Sherry? Vamos?".
Claire tocou o ombro dela, tirando-a de perto do que sobrou de Irons. Sherry deixou ser conduzida até o buraco
no canto.
Claire desceu a escada primeiro e depois de um segundo, disse que era seguro descer. Sherry pisou
cuidadosamente nas barras de metal, sentindo-se feliz como há dias não se sentia. Claire a ajudou nos últimos
degraus, erguendo-a e colocando-a no chão de metal. Sherry virou e olhou em volta, arregalando os olhos.
"Uau". Ela disse, a palavra ecoou e voltou nas escuras sombras que refletiam das estranhas paredes.
"É". Claire disse. "Vamos".
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Claire começou a andar e Sherry a seguiu de perto, ainda olhando em volta impressionada. Era como a toca de
um cara mau num filme de espião, alguma passagem dentro de uma montanha. Elas estavam numa passarela
com corrimão nas laterais, a turva e esverdeada luz verde atravessando a grade da passarela, vinda de algum
lugar lá embaixo - apesar de a parede da direita ser de tijolos, a outra era mesmo a de uma caverna. Ela pôde
ver grandes pilares e estalactites de pedra, formações naturais esverdeadas pela fantasmagórica luz.
Sherry coçou o nariz. Interessante, mas cheirava podre. "Que lugar você acha que é esse?".
Claire balançou a cabeça. "Eu não tenho certeza. Entre o cheiro e a locação, eu diria que estamos na parte de
uma estação de tratamento de esgoto".
Sherry acenou, grata por saber - e mais ainda por ver a saída bem à frente. A passarela não era muito longa;
virava à esquerda onde estava outra escada de mão que subia. Chegando lá, Claire hesitou, olhando para a
abertura acima e depois para a caverna.
"Eu subo primeiro... que tal você vir atrás, mas ficando na escada até eu dizer que é seguro?".
Sherry acenou, aliviada. Por um segundo, ela teve medo de Claire mandá-la esperar, como antes.
De jeito nenhum. Aqui é escuro, fedorento e vazio. Se eu fosse um monstro, seria aqui onde eu estaria...
Claire subiu e Sherry foi logo atrás, segurando as frias barras firmemente. Segundos depois, os longos e finos
braços de Claire apareceram para ajudá-la a sair.
Elas estavam de volta em solo firme, um curto corredor de cimento que parecia incrivelmente brilhante depois da
caverna. Sherry deduziu que ainda estavam na estação de tratamento; o cheiro não era tão ruim apesar do
escuro e parado rio que orlava o lado esquerdo do corredor, uns trinta centímetros de profundidade por uns dois
de largura. A lodosa água ia de uma grande porta metálica até um circular túnel com grades. Acima havia um
parapeito, mas Sherry não viu escadas.
Quer dizer que... oh, eca.
"Vai ser preciso?". Ela perguntou.
Claire suspirou. "Acho que sim. Mas veja pelo lado bom - nenhum monstro consciente nos seguiria naquilo".
Sherry sorriu. Não era tão engraçado, mas ela gostou do que Claire tentava fazer - o mesmo que cobrir o corpo
de Irons ou dizer que seus pais estavam a salvo.
Ela está tentando me defender do quanto ruim estão as coisas...
Sherry gostou tanto que já estava temendo a hora em que Claire tiver que deixá-la. E terá; Claire tem uma vida
inteira em algum lugar, seus amigos e família, e quando saírem de Raccoon, ela voltará para casa e Sherry ficará
sozinha de novo. Mesmo se seus pais estiverem bem, ela ficará só... e mesmo querendo que eles estejam, não
queria ver seu fim com Claire.
Ela só tinha doze anos e já reparou que sua família era diferente da maioria. As outras crianças da escola tinham
pais que passavam tempo com elas, tinham festas de aniversário e iam acampar, tinham irmãos, irmãs e bichos
de estimação. Sherry nunca teve nada disso, mas sabia que seus pais tinham boas intenções e que a amavam -
mas às vezes, não importava o quanto boa, calma e auto-suficiente ela era, ainda estava longe deles -
"Está pronta para isso?".
A suave voz de Claire a trouxe de volta para a realidade, lembrando-a para ficar mais alerta. Sherry acenou, e
Claire entrou na escura e suja água, ajudando Sherry.
A água estava fria e melada, subindo até os joelhos de Sherry; era grossa, mas nem tanto quanto vômito. Claire
andou para a grande porta de metal à esquerda com sua nova arma, tão enjoada quanto Sherry.
"Parece que nós vamos -".
Um alto ruído no parapeito a interrompeu e ambas olharam para cima, Sherry se aproximando de Claire quando o
barulho apareceu outra vez. Pareciam passos, mas muito lentos e altos para serem normais -
- e Sherry viu um homem de casaco longo e escuro aparecer, sua boca secando de medo. Ele era gigante, uns
três metros, e sua cabeça careca tão branca quanto a barriga de um peixe. Ela não conseguia vê-lo bem por
causa do ângulo, mas viu o bastante - e pôde sentir que era mau, que havia algo muito errado e mau sobre ele.
Radiava dele como doença.
"Claire?". Ela chiou enquanto o gigante cruzava o parapeito, enquanto virava na direção delas - devagar, tão
devagar que Sherry não quis ver seu rosto, o rosto de um homem que podia assustá-la só de andar no parapeito
-
#
"Corre!".
Claire agarrou a mão dela e as duas correram, tormentando a grossa água na direção da porta fechada.
- não esteja trancada, não esteja trancada!
A porta estava perto mas parecia demorar para sempre, cada segundo passando enquanto lutavam contra o
peso da fria e oleosa água.
Claire achou o controle, batendo no botão com um tipo de pânico que só fez Sherry se assustar mais. A porta se
dividiu ao meio, metade deslizando para o teto e a outra mergulhando nas ondas.
Sherry não olhou para trás mas Claire sim. Seja lá o que viu, a fez tirar Sherry do chão, cruzar a porta e entrar no
longo e escuro túnel que a porta escondia. Assim, que passaram, Claire tocou na parede e a porta fechou
selando-as na escuridão.
"Não se mexa e fique quieta". Claire cochichou, e sob a fraca luz que vinha de cima, Sherry viu Claire armada,
procurando ameaças nas sombras. Sherry obedeceu, seu coração pulando, imaginando quem ou o que aquele
homem foi - era o homem que Claire havia comentado antes, mas quem ele era? Pessoas não ficam daquele
tamanho, e Claire também tinha se assustado -
Clink.
Um ruído metálico, suave e abafado na parede ao lado - e Sherry sentiu a água aos seus pés se mover de
repente, uma corrente que moveu suas pernas, tirou seu equilíbrio -
- e ela caiu, seu rosto na fria e nojenta água enquanto a corrente ficava mais forte, sugando-a para baixo. Sherry
tentou se segurar em algo, mas seus dedos só encontravam o lodo do chão de pedra, enquanto as águas a
levavam para longe de Claire.
- não posso respirar -
Ela chutou forte, agitando o corpo, seus olhos doendo de água ruim - e conseguiu respirar assim que sua cabeça
voltou à tona, assim que percebeu estar num túnel, um escuro e melado túnel não muito maior que os de
ventilação da delegacia. As rápidas águas a congelavam, respirando sufocada o sujo ar acima, forçando para não
lutar contra o impiedoso poder da água. O túnel tinha que dar em algum lugar - e quando der, deverá estar
preparada para correr.
Claire, por favor, me encontre, por favor, não desista de mim...
Ela estava perdida, cega e surda, deslizando por um escuro túnel - e cada vez mais longe da única pessoa que
pode protegê-la das criaturas que tomaram conta de Raccoon.
Annette já não duvidava mais de que seu marido havia escapado do laboratório. Não só pela metade das
entradas estarem abertas, mas também pelas cercas que circundavam a fábrica estarem derrubadas - e os
túneis do esgoto, que deveriam estar praticamente vazios, estavam cheios de portadores humanos que devem
ter vindo de fora. Mesmo avançados em termos de deterioração celular, ela teve que derrubar cinco deles a tiro
para livrar o caminho entre o teleférico e as salas de operação do esgoto.
Depois do que pareceu levar uma eternidade para cruzar as semitratadas águas do sistema, ela chegou na
plataforma que procurava. Annette subiu no corredor de concreto, olhando cuidadosamente para a porta fechada
à sua frente. Fechada e inteira, um bom sinal - mas se ele passou por ela antes de perder todos os traços de
inteligência humana, antes de virar um impensado e violento animal? Mesmo agora, ele ainda pode ter guardado
alguma memória? Ela não sabia. O G-virus ainda não tinha sido testado em humanos...
... e se ele passou? E se chegou na delegacia?
Não. Ela não podia, não iria considerar a possibilidade. Considerando o que ela sabia sobre as mudanças
quimiofisiológicas - o que ele seria capaz de fazer se o vírus funcionar como deveria - o pensamento de vê-lo
chegar a uma população não infectada... bom, era impensável.
A delegacia é segura, ela pensou firmemente. Irons pode ser um incompetente, mas seus policiais não. Seja lá o
que William for agora, não poderá passar por eles.
Ela não conseguia acreditar em mais nada; Sherry estava lá, se tivesse feito o que deveria fazer - e além de ser
seu sangue, Sherry seria muito importante em seus planos futuros.
Annette se encostou na parede, ciente de que o tempo estava passando, mas incapaz de continuar sem
descansar. Ela estava quase no fim da área contida e tudo o que encontrou foram vários caminhos que William
pôde ter usado para escapar.
E a Umbrella estará aqui em breve. Eu tenho que voltar, eu tenho que ativar a destruição antes que eles me
#
impeçam.
William merecia estar em paz - mas, além disso, destruir a criatura que um dia foi seu marido erradicaria todas as
suas dúvidas sobre o sucesso de seu objetivo. Mas se ela explodir o laboratório e fugir, só para descobrir que a
Umbrella o capturou? Todos os seus esforços, todo o trabalho dele, por nada...
Annette fechou os olhos, desejando haver um modo fácil de fazer a decisão que tinha de ser feita. O fato era, a
morte de William não era tão crucial quanto fugir do laboratório. Havia uma boa chance de que ele não seja
encontrado, de que eles nem saibam de sua transformação -
- eu tenho uma chance. Ele não está aqui e em lugar algum.
Ela se desencostou da parede, caminhando vagarosamente para a porta. Ia checar os últimos túneis, ao menos
ver se as salas de controle tinham algum dano - e depois vai voltar. Voltar e terminar o que a Umbrella tinha
começado.
Annette abriu a porta e -
- e ouviu passos, ecoando pelo vazio corredor em algum lugar à frente; o corredor era em "T", os passos
derretidos uns nos outros tornando impossível saber de onde vinham - mas eram fortes, de não infectados,
talvez mais de um, e isso quer dizer uma coisa.
Umbrella. Eles finalmente vieram.
Raiva ferveu atrás dela, fazendo suas mãos tremerem, seus lábios ficarem entre seus dentes. Tinham que ser
eles, um de seus espiões assassinos. Além de Irons e alguns oficiais da cidade, só a Umbrella sabia que esses
túneis ainda eram usados - e que davam no complexo subterrâneo. A possibilidade de ser um sobrevivente
inocente não passou por sua mente; ela ergueu o revólver e esperou pelo idiota sem coração aparecer.
Uma figura ficou visível, uma mulher de vermelho, e Annette atirou -
- bam, mas estava tremendo, gritando por dentro, e errou o tiro. Ele ricocheteou no cimento da parede, pim, e a
mulher ergueu uma arma -
- e Annette atirou de novo, bam-pim, mas de repente apareceu outro, uma azulada sombra que voou na frente
da mulher, tirando-a do caminho.
Tudo isso aconteceu de uma vez -
- e Annette ouviu um choro de dor, de um homem, e sentiu uma explosão de triunfo.
Peguei ele, eu peguei ele -
Mas devem haver mais, ela não tinha acertado a mulher - e eles eram assassinos treinados.
Annette virou e correu, seu longo, branco e sujo avental de laboratório voando, seus sapatos molhados contra o
cimento. Ela tinha que voltar ao laboratório, rápido.
O tempo se esgotou.
[21]
Leon tinha parado para arrumar seus arreios, Ada passou na frente, surpresa pelos primeiros túneis estarem
vazios. Se não lhe falhe a memória, esse corredor dava no sistema de tratamento de esgoto; depois tinha o
teleférico para a fábrica, e então o elevador para o subterrâneo. As condições provavelmente ficarão piores
quanto mais perto do laboratório ficar, mas se continuar desse jeito... ela já está começando a ficar otimista.
Leon esteve bem quieto desde que entraram no esgoto, falando só o necessário - cuidando onde pisa, espere um
minuto, que caminho devemos seguir... ele era corajoso, pelo menos acima da média entre os cabeças do
departamento, e atirava bem - e não sabia nada sobre mulheres. Quando ela cortou a tentativa dele de
confortá-la, ele ficou confuso e machucado - e agora ele não sabe como interagir com ela. Leon preferiu se calar
do que ser rejeitado de novo.
Ada chegou na intersecção em "T" do corredor vazio, pensando no lugar mais fácil para se livrar de Leon -
#
- e viu a mulher, na hora em que atirou.
Bam!
Ada sentiu lascas do concreto espirrarem em seu ombro enquanto erguia a Beretta, uma onda de emoções e
percepções no instante que levou para reagir. Ela não teria tempo para reagir, o próximo tiro a mataria, brava por
ter sido tão estúpida - e reconheceu a mulher.
Birkin -
Ela ouviu o segundo tiro - e então foi golpeada, empurrada do caminho e caindo no chão enquanto Leon chorava
de dor e surpresa, seu corpo caindo sobre o dela.
Ada respirou fundo, chocada assim que entendeu o que tinha acontecido, assim que Leon rolou e agarrou o
braço. Ela ouviu passos correndo, Leon gemendo, e sentou.
Oh, meu Deus. Essa não -
Ele levou um tiro. Por mim.
Ada se levantou, inclinando ele. "Leon!".
Ele olhou par ela, mordendo por causa da dor. Sangue vazava por entre seus dedos, pressionados contra seu
ombro esquerdo.
"Eu estou - bem". Ele suspirou, apesar de pálido e sofrendo, ela achou que estava bem. Devia estar doendo
muito mas não ia - não irá morrer.
Eu teria morrido, Leon salvou a minha vida -
E na cauda desse pensamento, - Annette Birkin. Ainda viva.
"Aquela mulher". Ela disse, sentindo-se culpada enquanto virava para correr. "Eu preciso falar com ela".
Ada decolou, fazendo a curva e descendo o corredor, uma porta aberta no fim. Leon sobreviverá, e se conseguir
alcançar Annette todo esse maldito pesadelo acabará. Ada tinha estudado as fotos, sabia que era a esposa de
Birkin - e se ela não estiver com a amostra, com certeza sabe onde está.
Ela cruzou a porta e parou antes de pular em outro túnel cheio de água, ouvindo, analisando a superfície da água.
Nenhum respingo de água, mas haviam algumas ondas à esquerda -
- e uma escada de mão na parede, levando ao túnel de ventilação acima.
Ada pulou na água e foi para a escada na parede da frente. O túnel continuava para a esquerda, mas não tinha
saída.
Ela escalou rapidamente as barras, recusando-se a pensar em Leon (porque ele estava bem) enquanto espiava o
túnel e via que estava vazio, antes de cruzar um conjunto de pás. Através dele, outra olhada antes de passar
por outro conjunto de pás, e desceu outra escada. A gigante câmara de dois andares que abrigava o maquinário
de tratamento estava ausente de vida, tão fria, industrial e equipada quanto esperava. Havia uma ponte
hidráulica lá, erguida no andar que estava - isso quer dizer que Annette desceu pela escada oeste, a outra única
saída. Ada andou em seus mapas mentais assim que começou a cruzar a ponte.
"Largue a arma".
Atrás dela. Ada hesitou, sentindo uma dor interior. A segunda vez que estragou tudo - mas não obedecerá
Annette de jeito nenhum. A mira dela era ruim e Ada se estendeu, preparando para se jogar, girar e atirar -
Bam-pim!
O tiro acertou o chão à direita de Ada. Annette a tinha.
Ada derrubou a arma, erguendo as mãos devagar, virando para a cientista.
Jesus, eu mereço morrer por isso...
Annette Birkin andou até ela, uma Browning 9mm tremendo em uma mão estendida. Ada recuou ao ver aquela
arma balançando - mas viu uma oportunidade quando Annette se aproximou, passando a uns três metros dela.
Muito perto. Muito perto e à beira de um colapso, não é?
"Quem é você? Qual é o seu nome?!".
Ada exalou forte, gaguejando sua voz. "Ada, Ada Wong. Por favor, não atire, por favor, eu não fiz nada - ".
Annette franziu, "Ada... Wong. Eu conheço esse nome - Ada era o nome da namorada de John...".
"É, John Howe! Mas como você sabe? Você sabe onde ele está?".
"Eu sei porque John trabalhou com meu marido, William. Você já ouviu dele claro - William Birkin, o responsável
pela criação do T-virus".
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Annette mostrou um pouco de orgulho e desespero, dando esperanças à Ada; uma fraqueza que podia ver. Ada
tinha lido os arquivos sobre William - leu sobre a firme subida pela hierarquia da Umbrella, os avanços em virologia
e seqüênciamento genético... e sobre a ambição científica que o tornou um verdadeiro sociopata. Parece que sua
esposa estava com os mesmos planos - isso significa que a senhora não teria problemas em puxar o gatilho.
Seja tola e não a faça duvidar.
"T-virus? O que é -". Ada piscou, e arregalou os olhos. "Doutor Birkin? Espere, Birkin, o bioquímico?".
Ela viu um feixe de prazer no rosto de Annette - mas logo se foi, ficando só desespero. Desespero e maldade em
seus profundos e vermelhos olhos.
"John Howe está morto". Ela disse friamente. "Ele morreu há três meses atrás na mansão de Spencer. Minhas
condolências - mas depois, você vai se juntar a ele, não vai? Você não vai levar o G-virus de mim, você não vai
tê-lo!".
Ada começou a tremer. "G-virus? Por favor, eu não sei do que você está falando!".
"Você sabe". Annette apertou os dentes. "A Umbrella mandou você para roubá-lo, você não pode mentir para
mim! William está morto para mim agora, a Umbrella o tirou de mim, eles o forçaram a usá-lo! Eles o
forçaram...".
Ela parou, seu olhar distante. Ada esticou-se - mas Annette voltou, seus olhos molhados de lágrimas, a arma
apontada para o rosto de Ada.
"Eles vieram uma semana atrás". Ela respirou. "Eles vieram para pegá-lo e atiraram no meu William quando não
daria as amostras. Eles levaram a maleta, eles levaram todos os finais, ambas as séries - exceto pela única que
William guardava, o G-virus...".
A voz de Annette virou um grito de repente. "Ele estava morrendo, você não vê? Ele não tinha escolha!".
Ada entendeu. Entendeu tudo. "Ele injetou em si mesmo, não foi?".
A cientista acenou, seu mole cabelo loiro caindo nos olhos, sua voz suave novamente. "O vírus revitaliza funções
celulares. Ele - o vírus mudou William. Eu não vi - o que ele fez, mas eu vi os corpos dos homens que tentaram
matá-lo... e ouvi os gritos".
Ada se aproximou, como se para confortá-la, suas expressões como uma máscara de simpatia - mas Annette
levantou a arma de novo. Mesmo na tristeza, ela não deixaria Ada se aproximar.
Mas já é perto o suficiente...
"Eu sinto tanto". Ada disse, abaixando os braços. "Então o G-virus, ele vazou, ele infectou toda a Raccoon -".
Annette balançou a cabeça. "Não. Quando os assassinos da Umbrella foram - parados, a maleta foi quebrada. O
T-virus vazou - os funcionários do laboratório atingidos pelo aerotransmissível foram contidos, só que haviam
ratos, entendeu? Ratos no esgoto...".
Ela pausou, seus lábios tremendo. "... a não ser que William, meu querido marido já tenha começado a se
reproduzir. Implantando embriões, replicando... ainda não deve ser hora para isso, mas eu - ".
Ela parou, seus olhos estreitando, a maldade fluindo novamente. Seus olhos avermelhados brilhando com
paranóia.
Preparar-se -
"Você não pode tê-lo!". Annette gritou, saliva voando de seus lábios rachados. "Ele deu sua vida para mantê-lo
longe de você, você é uma espiã e você não pode tê-lo -".
Ada agachou e pulou, jogando seus braços sob os de Annette, empurrando a arma para cima e longe das duas.
A Browning descarregou, mandando uma bala para o teto enquanto lutavam pelo controle da arma. Annette
estava fisicamente mais cansada, mas era dirigida por demônios de ódio e perda, o cume de sua insanidade
dando-a forças -
Ada soltou a arma de repente e Annette tropeçou. Ela caiu no corrimão da ponte e Ada golpeou-a com o cotovelo
na barriga, o centro do equilíbrio -
- e Annette virou, sua boca aberta de surpresa, seus braços tentando se equilibrar - e ela mergulhou sobre o
corrimão, silenciosamente, nenhum som até o thump de seu corpo atingindo o chão a uns 6 metros abaixo.
"Droga". Ada cochichou, olhando para baixo. Annette ficou lá, de barriga para baixo e parada, a arma ainda
apertada em sua mão.
Isso é ótimo. Cair numa emboscada pela segunda vez e matar a única maluca que podia te dizer onde estavam
as amostras -
Um baixo gemido flutuou do corpo de Annette Birkin - e ela se moveu, arqueando as costas, tentando rolar para
#
o lado.
Droga. Droga. Droga.
Ada virou e correu pela ponte, pegando a Beretta enquanto corria para o que parecia um painel de controle ao
lado da escada para o túnel de ventilação. Ela tinha que abaixar a ponte e pegar Annette antes que fuja -
- mas o painel era para a ventilação, e enquanto outro doloroso gemido - um pouco mais alto - ecoou pelo lugar,
Ada soube que não tinha muito tempo.
O depósito de lixo, eu posso cruzar o depósito e pegar um dos túneis -
Enquanto pensava isso, já estava correndo para a escada oeste, esperando que a cientista esteja machucada o
bastante para ficar lá um minuto ou dois. Havia uma pequena sacada no final da ponte onde dava para ver o
depósito, e a escada de mão na parede à direita. Ada desceu o mais rápido que podia, pulando no chão de
cimento na última barra.
O depósito de lixo era uma grande área quadrada, as paredes amontoadas com materiais industriais - ferro velho
amassado, canos enferrujados, painéis cobertos de fios, papelão podre... Ela desceu do patamar e pulou em
quase um metro de lodo, a fria meleca passando de suas pernas. Ela não se importava, só queria pegar a
senhora Birkin e encerrar suas horas em Raccoon -
- foi quando algo se mexeu. Abaixo do opaco e fedorento líquido, algo grande se moveu. Ada viu o que poderia
ser o dorso de um réptil, viu e ouviu uma pilha de tábuas caírem na água a uns três metros à frente no mesmo
instante.
Você deve estar brincando...
Seja lá o que for, era grande o bastante para fazer Ada esquecer Annette. Ada voltou para o patamar e pegou
impulso, sem tirar os olhos das ondas de lodo -
- que de repente subiram num violento espirro de escuridão e na direção dela. Ada ergueu a Beretta e começou a
atirar.
* * *
Havia um pequeno elevador no canto da vazia sala de reuniões, um quadrado de metal que aparentemente
descia. Claire foi até ele, fétida água pingava de suas roupas, terrivelmente perdida e ansiosa para continuar
andando e achar Sherry.
Por favor, esteja viva, querida, por favor.
Ela tinha visto o tubo de drenagem, mas não Sherry - e depois de agonizantes e longos momentos gritando na
água agitada, e tentativas de entrar no buraco, ela acabou abandonando o esforço. Sherry se foi, talvez afogada,
talvez não - a não ser que o fluxo de água revertesse, Sherry não voltará.
Claire achou os controles da pequena plataforma e apertou o botão. Um motor escondido zuniu e o elevador
desceu, levando-a para outro provável corredor vazio, talvez outra sala desconhecida - ou pior, direto para outra
criatura sobrenatural.
Ela apertava as mãos molhadas enquanto descia lentamente. Ela se sentia andando às cegas. Do túnel onde
Sherry desapareceu, ela só passou por um corredor pouco iluminado e uma sala de reuniões não decorada e de
alguma forma esterilizada.
O elevador estava descendo num corredor e ela se agachou, apontando a arma de Irons enquanto a nova
localidade aparecia.
O corredor de concreto tinha outro elevador na outra ponta, e tinha uma intersecção para a esquerda no meio
dele - e próximo à junção havia um corpo encostado na parede, o que parecia ser um policial -
Ela sentiu uma mistura de choque e sofrimento, arregalando os olhos enquanto olhava para as feições do policial,
a cor do cabelo, o físico...
... é o - Leon?
Antes do elevador tocar o chão, Claire pulou e correu para a figura. Era Leon, e não estava se mexendo - mas
respirava, e assim que ela se agachou na frente dele, seus olhos abriram. A mão dele estava em seu braço
esquerdo, os dedos molhados de sangue.
"Claire?". Seus olhos azuis pareciam claros, cansados, porém conscientes.
#
"Leon! O que aconteceu? Você está bem?".
"Eu levei um tiro, devo ter apagado por um minuto...".
Ele cuidadosamente tirou a mão, expondo um pequeno e rasgado buraco acima da axila. Parecia doloroso, não
pelo menos não sangrava muito.
Estremecido, Leon colocou o tecido de seu uniforme sobre o buraco e pressionou a mão sobre ele.
"Dói pra diabo, mas acho que vou sobreviver - Ada, onde está Ada?".
Dizendo a última frase quase frenético, Leon fez força para se desencostar da parede. Com um suave gemido ele
soltou, sem condições de se mexer.
"Fique parado, descanse por um minuto". Claire disse. "Quem é Ada?".
"Eu a conheci na delegacia. Eu não consegui te achar e descobrimos como fugir de Raccoon - pelos esgotos. A
cidade não é segura, houve algum tipo de vazamento no laboratório da Umbrella, e Ada quis partir logo depois.
Alguém atirou em nós e eu fui atingido - Ada foi atrás do atirador, descendo o corredor, ela disse que era uma
mulher...".
Ele balançou a cabeça e franziu. "Eu tenho que achá-la. Eu não sei quanto tempo fiquei apagado, não mais do
que alguns minutos, ela não deve ter ido longe -".
Ele tentou se mexer de novo e Claire o impediu, empurrando-o de volta. "Eu vou. Eu - estava com uma garotinha
que agora está perdida nos esgotos. Talvez eu ache as duas".
Leon hesitou - depois acenou, desistindo. "Como está de munição?".
"Ah, sete nesta -". Ela conferiu a arma que pegou da viatura e colocou na cintura. Parece que aquele passeio foi
há milhões de anos. "- e dezessete nesta".
Ela ergueu a arma de Irons e Leon acenou de novo, sua cabeça rolando cansadamente. "Certo, isso é bom. Eu
te seguirei em alguns minutos... tome cuidado, tá? E boa sorte".
Claire se levantou, desejando que tivessem mais tempo. Ela queria contar sobre Chris e Irons, Mr. X e o T-virus,
ela queria saber o que ele sabia sobre a Umbrella, ou se sabia onde ficava a saída do esgoto -
- mas essa Ada deve estar enfrentando um atirador nesse momento e Sherry pode estar em qualquer lugar.
- Leon fechou os olhos. Claire virou e foi para a intersecção, imaginado se algum deles sairá disso com vida.
[22]
Annette doía por toda parte. Ela se sentou vagarosamente, enjoada com as centenas de dores que gritavam por
sua atenção. Seu pescoço e estômago doíam, tinha torcido o pulso e seus joelhos pareciam inchados - mas foi a
aguda dor em seu lado direito que era pior, ela achava que tinha quebrado uma costela.
Sua horrível, horrível mulher -
Annette se inclinou, segurando seu tenso pescoço com uma mão machucada, mas só viu metal e sombra; Ada
Wong, a vagabunda da Umbrella aparentemente fugiu. Ela fingia não saber de nada, mas Annette não era burra,
Ada já devia estar a caminho do laboratório - ou vindo atrás dela, ansiosa para terminar o serviço.
Umbrella, a Umbrella fez isso...
Annette se ajoelhou, usando sua raiva para superar a dor. Ela tinha que chegar ao laboratório antes dos espiões -
mas estava tão machucada!
Não posso deixar roubarem o trabalho dele...
Ela cambaleou até a porta da imensa sala, um braço envolto em seu ardente peito - e parou, inclinando a cabeça
para ouvir.
Tiros. Ecoando pelo frio ar, vindos da área de despejo - e um segundo depois ela ouviu um tremendo assobio,
mais tiros e respingos de água -
Annette sorriu, um sorriso apertado e sem humor. Talvez ela chegue no laboratório antes.
A ponte, abaixe a ponte, não a deixe escapar...
Cansada e dolorida, Annette foi para os controles hidráulicos e acionou a ponte. Os poderosos motores da ponte
#
abafaram os barulhos da batalha, a plataforma rotacionando e descendo até travar com um pesado clank.
Annette se desencostou da parede, caindo sobre os controles perto da porta. Ela viu os controles do túnel de
ventilação e os ligou, ainda sorrindo enquanto as pás começavam a roncar lá em cima. Ada teve problemas no
depósito de lixo e Annette não vai deixá-la voltar por onde veio; com a ponte abaixada e as pás girando, a
senhorita Wong terá lutar pelo caminho.
Tomara que seja um bando de lickers, sua vadia, espero que estejam fazendo-a em pedaços...
Annette saiu dos controles e caiu, a dor e a tontura eram demais, seus ralados e inchados joelhos acertando o
chão, espetando agulhas de agonia por suas pernas -
E a porta à sua frente abriu. Annette ergueu a arma, mas não era capaz de mirar, gastando o que restava de
sua força para não gritar de sofrimento e frustração.
William, está doendo tanto, sinto muito, mas eu não posso -
Uma jovem mulher se agachou na frente dela, com um olhar de preocupação no rosto. Ela vestia shorts e um
colete pingando água do esgoto - e segurava um grande revólver, não apontando diretamente para Annette - e
não apontando para lugar nenhum também.
Outra espiã.
"Você é Ada?". A garota perguntou, tentando tocá-la - era mais do que Annette podia suportar, ser tocada pela
dó de algum espião corporativo.
"Afaste-se de mim". Annette resmungou, estapeando fracamente a mão estendida da garota. "Eu não sou o seu
'contato', e eu não o tenho em mim. Você pode me matar, mas não vai encontrá-lo".
A garota se afastou, um olhar de confusão em seu sujo rosto. "Achar o que? Quem é você?".
As perguntas de novo, e a fúria passou, deixando-a insensível. Annette estava cansada de jogos; doía demais e
já não era mais capaz de lutar. "Annette Birkin". Ela disse exausta. "Como se não soubesse...".
Ela vai me matar agora. Está acabado, tudo acabado.
Annette não podia fazer nada. Lágrimas desceram suas bochechas, lágrimas tão fúteis quanto seus planos. Ela
desapontou William, ela falhou como esposa e como mãe, e até mesmo como cientista. Pelo menos acabará
agora, finalmente haverá um fim para a angústia -
"Você é a mãe de Sherry?".
As palavras da garota a atordoaram, tirando-a de sua exaustão como um tapa na cara.
"O que?! Quem - como você soube sobre Sherry?".
"Ela está perdida nos esgotos". A moça disse, sua voz rápida e desesperada enquanto guardava a arma no cinto.
"Por favor, você tem que me ajudar a encontrá-la! Ela foi sugada para um tubo de drenagem e eu não sei onde
procurar -".
"Mas eu pedi para ela ir à delegacia". Annette lamentou, toda a dor física esquecida, seu coração pulsando
horríveis ondas de descrença. "Por que ela está aqui? É perigoso, ela será morta! E o G-virus - a Umbrella vai
achá-la, eles vão pegá-lo, por que ela está aqui?".
A garota se estendeu para ajudá-la de novo, levantando-a, e Annette não lutou, muito fraca e assustada para
isso.
A garota a olhou intensamente, parecendo culpada, com medo e esperançosa ao mesmo tempo. "A delegacia foi
tomada - para onde a drenagem vai? Por favor, Annette, você precisa me dizer!".
A verdade mostrou-se como um raio de luz em sua exaustão e medo.
A drenagem vai para o tanque de filtragem - que é perto do bonde da fábrica.
A rota mais curta para os laboratórios.
Era um truque. A garota estava usando Sherry para chegar no laboratório, para pegar informações sobre o
G-virus. Sherry ainda estava na delegacia, segura e bem, e tudo isso é uma armação -
- mas a Umbrella conhece o caminho, por que ela perguntaria algo que já sabe? Não faz sentido.
Annette ergueu a arma, seu dolorido pulso tremendo, e se afastou da garota. Sua confusão e perguntas eram
demais - por isso não podia fazer nada, não podia apertar o gatilho.
"Não se mexa. Não me diga". Ela disse, ignorando a dor enquanto abria a porta. "Eu vou atirar se tentar me
seguir".
"Annette - eu não entendo, eu só quero -".
"Cale a boca! Cale a boca e me deixe em paz. Será que vocês todos não podem me deixar em paz?!".
Ela passou pela porta, surpreendendo a garota, apertando seu braço contra a costela contundida ou quebrada
#
assim que fechou a porta..
Sherry...
Era uma mentira, tinha que ser - mas não mudaria nada. Ela ainda podia, tinha que voltar para o laboratório e
terminar o que começou.
Virando, mancando e tossindo, Annette se apoiou na fria parede do túnel conector, deixando cada doloroso e
terrível passo lembrá-la do que a Umbrella fez.
Uma fria e quieta caverna, as paredes brilhavam com gelo e eu estou perdido. Perdido e exausto, correndo e
com medo por um longo tempo, então eu paro e descanso. Tão quieto, tão frio - mas meu braço dói, eu estou
sentado contra uma parede onde nasceu espinhos, e um deles está cavando minha pele, me espetando. Dói
tanto, e eu tenho que me levantar, eu tenho que encontrar alguém, eu tenho que -
- levantar.
Leon abriu os olhos, a par de que tinha apagado novamente. A percepção o fez respirar fundo, o súbito medo
fazendo-o completamente acordado.
Ada, Claire - Jesus, quanto tempo?
Ele gentilmente tirou a mão do braço, o sangue grosso entre seus dedos. Dói, mas não tanto quanto antes - e o
sangramento havia parado, pelo menos na entrada; os farrapos de seu uniforme tinham grudado no ferimento,
formando um curativo.
Ele se inclinou, tentando tocar onde a bala tinha saído; de novo, havia tecido sobre a dor pulsante do ferimento.
Não estava certo, mas só de pensar que a bala tinha varado sua carne sem acertar o osso - ele foi
extremamente sortudo.
Mesmo se tivesse arrancado meu braço, Ada ainda estaria por aí - e eu mandei Claire atrás dela. Eu preciso ir
atrás delas.
Apertando os dentes, Leon se levantou com o braço bom, seus músculos frios e duros por causa do concreto
úmido.
Seu ombro esquerdo raspou na parede e ele ofegou quando a dor intensificou brevemente. Leon esperou passar,
respirando fundo, pensando que poderia ter sido bem pior.
Quando finalmente de pé, decidiu que agüentará; ele não estava enjoado e apesar de haver sangue na parede e
no chão, não era tanto quanto imaginava. Cuidando para não mexer no ferimento, Leon virou e desceu o
corredor até a porta fechada, andando o mais rápido que podia.
Depois da porta, deu de cara com outro túnel cheio de água que ia para os dois lados; havia uma escada de mão
à sua frente à esquerda, mas nem pensou em subir com o braço ferido - além disso, havia um ventilador
barulhento no topo da escada. Ele desceu do patamar e foi para a direita na escura água, esperando achar pistas
de Ada e Claire.
Perseguir um atirador... como pôde fazer aquilo, como pôde me deixar lá?
Depois do confronto com o monstro vomitante, ele jurou não assumir mais nada sobre Ada Wong; ela era flertiva
e insociável, e se ela aprendeu a atirar brincando de paintball, ele era um executivo de banco. Mas apesar de seu
confuso comportamento e provável duplicidade, ele gostava dela; ela era esperta e confiante, ela era bonita - e
ele assumiu que havia uma pessoa decente sob aquela contraditória fachada...
... e ela o deixou para trás e foi pegar o atirador, deixou você rolando no chão com uma bala no braço. É, ela é
ótima; peça-a em casamento.
Ele chegou onde o túnel se dividia. Havia um portão trancado à direita, então Leon seguiu à esquerda, olhando as
grossas sombras. Ele devia ter ido com Claire -
Ele parou, ouvindo algo. Tiros, distantes e abafados, vindo de algum lugar à frente, distorcidos pelo labirinto de
túneis que compunham o sistema de esgotos.
Ainda armado, Leon apertou o ferimento e começou a correr, devagar por causa da água - mas quando os tiros
pararam, ele achou um motivo para ir mais rápido.
Havia uma passagem à frente, uma fraca luz amarelada vinha de lá. Mesmo antes de chegar, viu que teria de
escolher.
Diretamente à frente estava uma alto degrau e uma pesada porta na parede do fim do túnel, água caía do teto
#
como uma cachoeira.
Uma escolha óbvia, exceto -
Leon parou na passagem iluminada, olhando. Outra porta, e ele não tinha tempo para decidir, os tiros podem ter
vindo de qualquer lugar -
Bam, Bam -
Para a esquerda. Leon subiu no patamar, sentindo mais dor, sentindo um molhado quente no pulso. Ele ignorou
isso, indo para a porta e a abrindo, ouvindo mais tiros enquanto passava pela ponte no meio da grande câmara e
ia até a próxima porta.
Ele entrou em um frio corredor só que bem maior e mais largo que os outros, provavelmente algum tipo de
corredor para transporte de equipamentos pesados. Ele virava para a esquerda e esquerda de novo, caixas e
cilindros de aço na esquina da primeira curva.
... acetileno, talvez oxigênio, bom Deus, o que leva tantos tiros e não morre?
Ele ouviu mais tiros e água espirrando - e um som diferente, um profundo e gutural assobio. Estranhamente
familiar, mas muito alto para ser possível.
Um milhão de cobras, milhares de gatos gigantes, algum terrível dinossauro -
Ele correu, finalmente desistindo de manter o ferimento fechado, precisando do braço livre para ganhar mais
velocidade. O fim do túnel estava perto, ele viu um painel de luzes piscando e uma abertura à esquerda, outra
grande porta de abastecimento -
- e ele parou bem a tempo de não entrar na linha de fogo, assim que outra rápida sucessão de tiros soou, assim
que um tenebroso impacto na água fez chover no chão como um grosso lençol.
"Pare, eu estou entrando!". Ele gritou -
- e ouviu a voz de Ada, sentindo um alívio apesar do horror que estava à frente.
"Leon!".
Ela está viva!
Ele ergueu a arma, seu ferimento sangrando agora, ele apareceu na comporta aberta, tábuas quebradas
nadando no turbulento líquido. Ela estava num pequeno patamar de concreto ao lado de uma escada de mão,
apontando a Beretta para a piscina de lixo.
"Ada, o que -".
Splash!
Uma gigante explosão saiu do lago e o jogou para o corredor. Aconteceu tão rápido que ele só viu depois que
estava voando no ar. Ele caiu sobre o braço ferido e gritou, tanto pelo choque do que tinha visto quanto pela dor.
- crocodilo -
Leon ficou de pé e correu antes mesmo de saber se conseguia levantar - e o lagarto gigante, o crocodilo de nove
metros de comprimento subiu no corredor atrás dele com um poderoso rosnado. O cimento tremeu assim que o
mamute réptil saiu das águas, galões de água escura vazando de sua mandíbula cheia de dentes.
- uma boca tão grande quanto eu, maior -
Leon correu, não havia dor, seu coração martelando de pânico - e a besta rosnou de novo, um impossível berro
que sacudiu seus ossos, que fez suor explodir de todos os poros -
- e Leon deu uma olhada para trás, viu que era mais rápido que o lagarto gigante. Ele ainda estava subindo pela
comporta, suas pernas grossas e curtas pareciam troncos de árvores, sua incrível cabeça grande demais para
manobrar facilmente.
Leon trocou de arma numa onda de terror, seu ferimento gritando enquanto colocava uma bala na Remington.
Ele andou de lado, alcançando a curva -
- e descarregou todos as cinco balas o mais rápido que podia, o pesado calibre explodindo o focinho do monstro.
Ele rosnou, balançando a cabeça de lado a lado, baldes de sangue emergindo de sua sorridente face - mas ainda
vindo, tirando sua calda da piscina lá atrás.
Insuficiente, não foi o bastante -
Leon virou e correu de novo, horrorizado em ter que se retirar, com medo do que acontecerá a Ada ao fugir do
crocodilo, mas sabendo que precisará de outros cinqüenta tiros para derrubá-lo - ou uma explosão nuclear, e por
que ele ainda estava pensando? Ele precisava fugir e depois pensar no que fazer.
Agüenta aí, Ada -
Os fortes passos do gigante encheram seus ouvidos enquanto passava pelas caixas, pela fileira de cilindros de aço
#
--
e parou de correr. Seus instintos gritavam por sanidade, mas ele tinha uma idéia - e enquanto o lagarto dava
outro passo, Leon virou e voltou.
Funciona, isso funciona nos filmes, por favor, Deus, esteja ouvindo.
Os cinco cilindros brilhantes estavam presos por uma corrente. Havia um botão para a mesma e Leon o apertou.
Uma ponta da pesada corrente foi para o chão.
Soltando a espingarda, ele agarrou o cilindro mais próximo, seus músculos tencionando, sangue pulsando de seu
braço ferido. Ele pode sentir finos traços de suor descendo pelo peito, sentando no calcanhar para libertar o
cilindro do pequeno suporte.
- pronto!
Leon se jogou para trás e o tubo de gás comprimido foi ao chão, rolando alguns centímetros. Ele olhou para cima
e viu que o crocodilo tinha percorrido mais quinze metros - perto o bastante para ver os sujos dentes enquanto
rosnava de novo, sentindo seu quente e podre hálito.
Leon colocou o pé no cilindro e empurrou com toda a força, o mesmo rolando vagarosamente na direção do
lagarto. Por uma incrível sorte, o corredor tinha uma ligeira inclinação e o cilindro ganhou velocidade, rolando em
um semicírculo.
Recuando, ele tirou o revólver do cinto e apontou para o tubo, forçando para não puxar o gatilho. O crocodilo
avançava, sua calda batendo tão forte na parede que fazia levantar poeira.
Vamos desgraçado -
A menos de dez metros, o crocodilo e o cilindro se encontraram - e Leon apertou o gatilho. O primeiro tiro acertou
o chão perto do tubo - e a boca sorridente abriu, a grande cabeça abaixando para empurrar o obstáculo.
- firme -
Leon atirou de novo, e -
KA-BOOM!
- e foi jogado ao chão quando o cilindro explodiu. Numa explosão de aço retorcido e gases, a cabeça da criatura
foi obliterada, desaparecendo como um balão estourado. Quase na mesma hora, uma onda de sangue acertou
Leon, pedaços de dente, ossos e carne enfumaçada caindo sobre ele como um cobertor molhado.
Enjoado, seus ouvidos zunindo e braço sangrando, Leon sentou enquanto a carcaça decapitada ia ao chão, as
pernas dobrando com o peso do réptil. Ele pressionou sua mão ensangüentada contra o ferimento, exausto,
enjoado, dolorido - e profundamente satisfeito.
"Te peguei, sua porcaria idiota". Ele disse, e sorriu. Quando Ada veio correndo um pouco depois, foi assim que o
encontrou - olhando deslumbrado e atordoado para seu serviço, sujo de sangue e sangrando, sorrindo como uma
criancinha.
[23]
Leon vestia uma camisa branca sobre o uniforme; Ada rasgou-a e fez uma atadura no braço dele, uma espécie
de tipóia antes de colocar a camiseta de volta. Ele perdeu sangue o bastante para estar tonto; e Ada aproveitou
a situação para se explicar enquanto o atendia, sentindo-se chocada com a complexidade de emoções dentro
dela.
"... e eu achei que ela me parecia familiar. Eu achava que a conhecia através de John e quase a alcancei - mas
ela deve ter me despistado. Eu me perdi nos túneis, tentando voltar...".
Nenhuma verdade, mas Leon nem percebeu - até o gentil modo como ela o tocava, ou o leve tremor em sua
voz enquanto pedia desculpas pela terceira vez, por deixá-lo para trás.
Ele salvou a minha vida. De novo. E eu acabo retribuindo tudo com mentiras, mentiras em troco de sua
generosidade.
Algo mudou nela quando ele foi baleado em seu lugar, e não conseguia mudar de volta. Pior, ela não sabia se
#
queria mudar de volta. Era como o nascimento de um novo sentimento, uma emoção que a enchia; era
desconfortável, mas também não era desprazeroso. O modo como destruiu o crocodilo fez esse sentimento mais
forte ainda. O buraco em seu braço foi só na carne, mas o sangue em seu corpo, ela sabia que doía muito, que
estava drenando-o,
matando-o enquanto tentava salvá-la.
Livre-se dele agora, sua mente soou, não deixe isso afetar seu trabalho - o trabalho, Ada, a missão. Sua vida.
Ela sabia que isso era a única coisa a fazer - mas quando ele ficou pronto e sua história foi contada, ela parou de
ouvir ela mesma. Ada o ajudou a se levantar e o tirou do cenário com os restos do réptil, sem parecer ter achado
uma saída quando estava perdida.
Annette se foi; assim que Leon tinha chamado a atenção do crocodilo, ela subiu a escada e checou - e viu que
Annette teve bastante senso de ligar os ventiladores e abaixar a ponte antes de fugir. Apesar de Annette estar
errada sobre os propósitos de Ada, ela terá que chegar no laboratório antes da cientista. E com Leon nessas
condições só a atrasaria.
Solte ele! Perca o peso, você não é uma enfermeira, por Deus, esta não é você, Ada -
"Estou com sede". Leon suspirou, sua respiração morna em seu pescoço. Olhando em seu rosto ensangüentado
e piscante, ela viu que a voz lá dentro seria mais fácil de ignorar. Ela terá que deixá-lo -
- mas não agora.
"Então vamos achar um pouco de água". Ela disse, e virou-o gentilmente para a direção que precisava ir.
Sherry acordou no escuro, um terrível gosto na boca, um rio de água fria puxando suas roupas. Havia um
estrondoso barulho a sua volta, como se o céu estivesse caindo, e por um segundo não podia se lembrar do que
tinha acontecido ou onde estava - e quando percebeu que não conseguia se mover, ela entrou em pânico. O som
estava enfraquecendo mais e mais até acabar - mas ela estava presa em algum rio fedorento, presa e sozinha.
Ela abriu a boca para gritar - mas lembrou do monstro que berrava, depois do gigante careca e depois de Claire.
Ela lembrou de Claire quando a impediu de gritar; de algum modo a imagem de Claire funcionava como um suave
toque, acalmando o cego terror e a permitindo pensar.
Sugada por um buraco, e agora estou - em outro lugar, e gritar não vai ajudar.
Era um pensamento forte e corajoso, fazendo-a pensar melhor. Ela se desencostou da dureza atrás e percebeu
que não estava presa; ela estava contra uma fileira de barras na parede e a força da água corrente a tinha
segurado lá - e provavelmente a salvou de ter afundado. A nojenta água ainda estava agitada, borbulhando - e o
gosto ruim em sua boca significava que havia engolido um pouco dela...
Pensar nisso abriu o resto de sua memória. Ela estava flutuando e de alguma forma foi revirada, engoliu o horrível
líquido e - apagou.
Pelo menos o barulho tinha acabado, e agora que estava mais acordada, percebeu que podia enxergar. Não
muito, mas o suficiente para ver que estava numa grande sala alagada e que havia um pequeno buraco de luz
vindo de cima.
Tem que ser uma saída. Alguém construiu esse lugar, tem que haver uma saída...
Ela nadou mais pela sala, e sentiu seus dedos do pé tocarem algo duro e plano. Sentindo-se boba por não ter
pensado nisso antes, ela respirou fundo e esticou as pernas - e ficou de pé. A água batia em seus ombros, mas
conseguia ficar de pé.
Os últimos traços de pânico se foram ao parar no meio do lugar, virando devagar, seus olhos finalmente se
adaptando à fraca iluminação - e viu a escada de mão na parede ao longe. Ainda assustada, a visão das barras
significava que tinha achado a saída. Sherry levantou o pé e foi para a escada, orgulhosa de como está se
virando.
Sem gritar nem chorar. Como Claire diz. Forte.
Ela começou a subir, agarrando as melecadas barras de metal que pareciam continuar para sempre. Ao olhar
para baixo, só viu a água movimentando onde a luz incidia. Ela também viu a origem da luz - uma estreita fenda
no teto, não muito longe de onde estava.
Quase no topo. E se eu cair não vou me machucar... não há nada para se assustar.
Sherry respirou fundo para tornar isso verdade e olhou para cima de novo.
Mais algumas barras, e quando foi tocar a próxima, sua mão bateu no teto de metal. Ela empurrou com uma
#
mão e -
- e a tampa não se moveu. Não mesmo.
"Droga". A palavra soou pequena e só, mais como um apelo.
Sherry colocou um cotovelo em volta da barra que segurava, tocou seu colar da sorte, e tentou de novo,
empurrando de verdade desta vez. Ela sentiu o alçapão mexer um pouco, mas não o bastante. Ela abaixou a
mão, quieta; estava presa.
Por vários minutos ela não se moveu, não querendo voltar para a água, não querendo acreditar que estava presa
- mas seus braços estavam começando a ficar cansados e ela não queria pular. Finalmente, ela começou a
descer, mais devagar do que quando subiu. Cada degrau a menos era como admitir a derrota. Ela estava a um
terço do caminho para a água quando ouviu passos acima - uma suave vibração a princípio, mas depois se
difundiram em passos distintos, mais altos, se aproximando do poço que Sherry estava.
Sherry deu um segundo para pensar em ignorar os passos, mas acabou subindo, decidindo que valia a pena
arriscar; pode não ser Claire - mas podia ser sua única chance de escapar.
Ela começou a gritar antes mesmo de chegar ao topo. "Ei! Socorro, você pode me ouvir? Ei, Ei!".
Os passos pareceram parar, e ela alcançou o topo, ainda chamando, batendo no metal várias vezes.
"Ei, ei, ei!".
Outra pancada com sua dolorida mão - e de repente estava socando o ar, uma forte luz caindo em seu rosto.
"Sherry! Oh, meu Deus, querida, que bom que você está bem!".
Claire, era Claire, e Sherry não a conseguia ver, mas estava derretida de prazer ao som de sua voz. Fortes e
quentes mãos a levantaram, quentes e úmidos braços a abraçaram fortemente. Sherry piscou e começou a
perceber as características da vasta sala através da brilhante e branca névoa.
"Como você sabia que era eu?". Claire perguntou, ainda segurando-a.
"Eu não sabia. Eu não conseguia sair sozinha, e ouvi passos...".
Sherry olhou em volta, sentindo-se impressionada por Claire tê-la ouvido.
A sala era enorme, com passarelas de metal na diagonal - e a seção do chão onde tinha saído estava no canto
mais longe da sala.
"Estou muito feliz por ver você". Sherry disse e Claire sorriu, tão feliz e espantada quanto Sherry.
Claire se ajoelhou na frente dela, seu sorriso sumindo um pouco. "Sherry, eu vi sua mãe. Ela está bem, está viva
-".
"Onde? Onde ela está?". Sherry ficou corada, empolgada com a notícia - mas sentindo uma incerteza,
tencionando os músculos de repente, ficando difícil de respirar.
Ela olhou fundo nos olhos preocupados de Claire, e percebeu que ela iria mentir de novo - que tentava dar uma
notícia ruim do melhor jeito possível. Sherry teria deixado ela fazer isso algumas horas atrás -
- mas agora não. Fortes e corajosas nós temos que ser...
"Diga-me, Claire. Diga-me a verdade".
Claire suspirou, balançando a cabeça. "Eu não sei para onde ela foi. Ela estava - com medo de mim, Sherry. Acho
que ela me confundiu com outra pessoa, alguém ruim. Ela correu de mim - mas eu tenho quase certeza de que
ela veio por aqui, e eu estava procurando por ela quando ouvi você".
Sherry acenou devagar, forçando para aceitar a idéia de que sua mãe vinha agindo estranho - estranho o
bastante para Claire suavizar.
"E você acha que ela veio para cá?" Sherry finalmente perguntou.
"Não estou certa. Eu também achei um policial, antes de ver sua mãe. Eu o conheci quando cheguei na cidade, e
ele estava num dos túneis que passei depois que você desapareceu. Ele estava ferido, ele não podia vir comigo -
então depois que vi sua mãe, eu voltei para buscá-lo, mas ele não estava mais lá."
"Morreu?".
Claire balançou a cabeça. "Não. Foi embora - então eu voltei e esse é o único caminho que sua mãe pode ter
pego. Mas como eu disse, não estou muito certa..."
Ela hesitou, olhando para Sherry pensativa-mente. "A sua mãe já te falou sobre algo chamado G-virus?".
"G-virus? Não acho que não".
"Ela já te deu algo para segurar, algum tubo de vidro, ou algo assim?".
Sherry franziu de volta. "Não, nada. Por quê?".
Claire se levantou, tocando e apertando o ombro de Sherry. "Não é nada importante".
#
Sherry estreitou os olhos e Claire sorriu de novo. "É sério. Venha, vamos ver se descobrimos por onde sua mãe
foi. Aposto como está procurando você".
Sherry deixou Claire dar o caminho, imaginando porque de repente tinha certeza de que Claire não acreditava no
que dizia... e imaginando porque não conseguia fazer mais perguntas.
O elevador plataforma do galpão, com uma locomotiva em cima, estava onde Annette o tinha deixado. O tempo
tinha apertado, mas ainda estava na frente dos espiões, de Ada e de sua amiguinha de roupas rasgadas...
... dizendo mentiras como se o sofrimento de perder William não fosse o bastante para elas...
Ela tirou a chave de controle do bolso de seu rasgado avental de laboratório, apoiando-se nos controles, inserindo
a chave e girando-a. Seus trêmulos dedos tocaram o botão de ativação e uma trilha de luzes apareceram no
painel, bem claras apesar do brilho da lua cheia. Uma fresca brisa de outono soprou em seu corpo dolorido, um
amigável vento que cheirava como fogo e doença...
... como no Dia da Bruxas, como fogueiras queimando a carne pestilenta das brincadeiras...
Quatro barulhentas buzinas soaram no ar noturno, o pesado elevador dizendo que é hora de ir. Annette subiu os
degraus para a locomotiva, incapaz de lembrar o que estava pensando. Ela estava cansada. Quanto tempo faz
que não dorme? Ela também não lembra disso?
Bati a cabeça, não foi? Ou apenas sonolência, pode ser...
Seus machucados a tinham levado para delirantes lugares que nunca imaginou existir, ela sabia o que fazer - o
sistema de disparo, a abertura do portão do trem subterrâneo, se esconder nas sombras e esperar se curar -
mas o resto ficou tão estranho, como se tivesse tomado um remédio para pensar um pouco por vez.
Estava quase acabado. Uma mágica e positiva frase que ainda podia ver, não importava o quanto cega tinha
ficado. A caminho do galpão, ela tossiu e tossiu, e depois vomitou de dor, uma escuridão que quase permaneceu
por tanto tempo que ela pensou ter perdido a visão -
- está quase acabado.
Agarrando o pensamento como um amor perdido, ela achou a maçaneta da porta metálica e entrou. O
movimento e o som de movimento a engoliram enquanto se deitava no suave banco de metal e fechava os
olhos. Alguns momentos para descansar e estará tudo acabado...
Annette afundou na escuridão, o suave hum dos motores levando-a para um profundo e distante sono. Ela
estava descendo, seus músculos relaxados, suas dores e misérias perdendo a força - e por um bom tempo
achou silêncio até que -
- até que um terrível grito esfaqueou sua escuridão, um berro de tal fúria e dor que falou para seu coração - e ela
voltou à vida, ofegando e apavorada -
- e então percebeu o que a tinha tirado de seu sono.
Foi William. Ele tinha voltado para casa, ele a tinha seguido - e a Umbrella não terá nada porque seu marido tinha
voltado para o raio da explosão.
O grito soou de novo, desta vez ecoando por um dos vários túneis secretos do laboratório enquanto descia.
Annette fechou os olhos novamente, o novo pensamento se juntado ao seu amor perdido, ambos juntos a
fazendo feliz.
William voltou. Está quase acabado.
O terceiro seguiu naturalmente enquanto voltava para o silêncio, sabendo que terá de se levantar em breve.
Quando a plataforma parar, ela levantará e estará pronta para a jornada final.
A Umbrella sofrerá pelo que fez - e todos morrerão no final.
Ela sorriu e dormiu, sonhando com William.
#
[24]
Leon finalmente começou a se sentir ele mesmo, sentado na sala de controle onde Ada o deixou. Ela tinha
achado um kit médico em um dos gabinetes empoeirados, junto com uma garrafa de água; já fazia dez minutos
que ela tinha saído e, a aspirina já estava funcionando, a água fez maravilhas.
Ele sentou no console cheio de botões, tentando se lembrar do que tinha acontecido depois da explosão no
esgoto; a última coisa de que se lembrava era do colapso do crocodilo e de ter sido pego por uma fraqueza logo
depois. Ada fez um curativo e o levou pelos túneis -
- e um vagão, nós ficamos num vagão por um minuto ou dois -
- e finalmente esta sala, onde ela pediu que descansasse enquanto verificava algo.
Leon tinha protestado, lembrando-a de que não era seguro, mas estava confuso o bastante para não fazer nada
exceto sentar onde ela mandou. Uma vez que bebeu um galão de água, começou a melhorar. Parece que a
perda de sangue causava desidratação...
... aí ela me deu água e foi checar o que? E como ela sabia vir por esse caminho?
Ele mal conseguia andar e mesmo delirando, ele percebeu o quanto ela estava confiante e precisa ao escolher o
caminho? Ela era uma compradora de arte em Nova Iorque, como ela pode saber algo sobre o sistema de
esgoto de Raccoon City?
E onde ela está? Por que ainda não voltou?
Ada provavelmente salvou sua vida - mas ele não podia continuar acreditando no que ela dizia ser. Ele queria
saber o que ela estava fazendo, saber agora, e não só porque está guardando segredos, mas porque Claire
ainda estava nos esgotos. Se Ada conhece uma saída, Leon devia isso a Claire.
Leon se levantou devagar, se apoiando na cadeira e respirando fundo. Ainda fraco, não sentia tanta dor no braço
e nem enjôo - a aspirina talvez.
Ele sacou o revólver e andou para a porta da pequena e empoeirada sala de controle, prometendo que não
aceitaria mais respostas vagas ou sorrisinhos.
Ele abriu a porta e saiu num enorme galpão de madeira; estava vazio e escuro, mas a brisa noturna fez isso
quase agradável - e lá estava Ada, subindo numa plataforma elevada fora do galpão, desaparecendo atrás do
que parecia ser uma locomotiva amarela. Era um elevador de transporte industrial - e pelos oleosos trilhos que
terminavam dentro do galpão, deveria ser a parte de uma fábrica abandonada, que não estava completamente
abandonada.
"Ada!".
Com seu braço ferido pressionado contra o corpo, Leon correu para a grande plataforma hexagonal - ficou
enraivecido ao ouvir o crescente barulho dos motores, o barulho mecânico subindo no limpo céu noturno. Ada
estava partindo, não tinha ido verificar nada -
- só que ela não vai a parte alguma antes de dizer por quê.
Leon correu pela luz da lua, ouvindo a porta da locomotiva fechar enquanto passava por um painel de controle.
Depois que subiu os degraus e tentava recuperar o equilíbrio, o grande elevador começou a descer, painéis de
quase um metro cercaram o perímetro hexagonal da plataforma, levando Leon, Ada e a locomotiva para baixo
numa suave descida.
Leon abriu a porta enquanto tudo ficava escuro, o céu tornando-se apenas um ponto cada vez menor. A luz da
lua sendo trocada pelas brancas luminárias do poço do elevador.
Ao entrar, viu o surpreso olhar de Ada enquanto se levantava de um assento preso na parede, enquanto ela
erguia a Beretta e a abaixava de novo - o sentimento de culpa indo e vindo no tempo que levou para fechar a
porta.
Nenhum dos dois falou, encarando um ao outro. Leon quase a viu tentando inventar uma explicação - cansado
como estava, ele decidiu que não tinha paciência para isso.
"Para onde nós vamos?". Ele perguntou, tentando não mostrar a raiva em sua voz.
Ada suspirou - e sentou, seus ombros caindo "Eu acho que é uma saída". Ela olhou para ele. "Desculpe. Eu não
devia ter tentado partir sem você, mas eu estava com medo...".
Ele pôde ver tristeza de verdade em sua voz e em seus olhos, sua raiva diminuindo um pouco. "Com medo de
quê?".
#
"De que você não fosse conseguir. De que eu não fosse conseguir, tentando manter nós dois a salvo."
"Ada, do que você está falando?". Leon foi para o banco, sentando ao lado dela. Ela olhou para as mãos, falando
suavemente.
"Quanto eu estava procurando você nos esgotos, eu achei um mapa. Ele mostrava o que parecia ser algum tipo
de laboratório ou fábrica subterrânea - e se o mapa estiver certo, havia um túnel que dava fora da cidade".
Ela olhou para ele de novo. "Leon, eu não achava que você tivesse condições de fazer uma viagem como aquela,
como esta - e eu estava como medo de traze-lo comigo, de ser um túnel sem saída ou de algo nos atacar...".
Leon acenou devagar. Ela estava tentando se proteger - e a ele.
"Me desculpe". Ela repetiu. "Eu devia ter contado, eu não devia tê-lo abandonado daquele jeito. Depois de tudo o
que você fez por mim, eu - eu pelo menos te devia a verdade".
A culpa e a vergonha em seus olhos não era algo falso. Leon foi para tocar a mão dela, preparando-se para dizer
que entendia e que não a culpava -
- foi quando houve uma pancada no lado de fora. O vagão inteiro tremeu um pouco, mas suficiente para
deixá-los apreensivos.
"Deve ser um defeito na trilha...". Leon disse e Ada acenou, com uma intensidade que o fez prazerosamente
desconfortável, um calor que se espalhou por todo seu corpo -
BAM!
- e Ada voou do banco, jogada ao chão assim que uma grande e encurvada coisa varou a parede como se fosse
papel. Era uma mão, uma mão com garras bem compridas, pingando de -
"Ada!".
A mão gigante saiu e voltou, fazendo novos buracos no metal enquanto Leon se jogava ao chão, agarrando o
mole corpo de Ada, colocando-a no centro do vagão. Um terrível grito soou pela escuridão do lado de fora - foi o
mesmo grito furioso que tinha ouvido na delegacia, só que mais alto e violento - e menos humano do que antes.
Leon segurou Ada com o braço bom, sentindo um quente rastro de sangue sair do lado direito dela.
"Ada, acorde! Ada!".
E nada. Ele a abaixou gentilmente no chão e apertou o buraco de sangue em seu vestido, bem acima do quadril.
Sangue jorrava de duas profundas perfurações; não dava para saber se era grave. Ele rasgou cerca de cinco
centímetros da parte debaixo do curto vestido dela, pressionando o tecido contra o ferimento -
- e o monstro gritou de novo, e a raiva naquele grito nem se comparava com a de Leon, olhando para o falecido
rosto de Ada. Ele esticou o apertado vestido sobre a atadura improvisada, prendendo-a o melhor que podia,
depois se levantou e empunhou a Remington.
Ada tinha cuidado dele e o protegeu quando não conseguia se proteger. Leon carregou a espingarda
impiedosamente enquanto se preparava para retribuir o favor.
Quando elas chegaram no que parecia o fim da linha, foi Sherry que adivinhou por onde sua mãe devia ter ido.
Elas tinham entrado em outra cavernosa e escura câmara, mas só tinha a porta de entrada. Não parecia ter
outra saída, a não ser que Annette tivesse descido da passarela de metal e caminhado pelo vazio que as cercava.
Elas pararam na beira do chão de metal, tentando enxergar a escuridão à frente, mas sem sorte. O lugar parecia
uma doca; o chão gradeado ia da porta até a parede de trás, e terminava sem mais nem menos, dando lugar a
um interminável vazio. Ou Annette desceu e seguiu em frente ou Claire seguiu pelo caminho errado.
Então voltamos ou seguimos em frente?
Ela não queria nenhuma das opções - se bem que voltar parece melhor do que encarar uma caverna escura. E
Leon ainda deve estar lá atrás...
"Isso é algum teleférico? Sherry perguntou, e Claire se bateu mentalmente.
Plataforma, vários cabos no teto...
"É, acho que é, apesar de você ter adivinhado por mim. A minha cabeça deve estar ruim...".
O pequeno painel do outro lado da plataforma devia ser a mesa de controle. Claire foi para lá, Sherry a seguiu,
apertando seu colar dourado enquanto descrevia os barulhos do tubo de drenagem.
"... e se movia como um trem. Me assustou bastante, também. Era bem alto".
Bem abaixo do pequeno monitor estava um código de chamada. Claire digitou o código e apertou "enter" - e o
lugar se encheu com o suave hum do maquinário.
"Você é bem espertinha, sabia?". Claire disse e Sherry praticamente se iluminou, um doce sorriso em seu rosto.
#
Claire colocou um braço em volta dos ombros de Sherry e juntas foram esperar no fim da plataforma.
As luzes do teleférico apareceram alguns segundos depois, aumentando cada vez mais. Depois dessa, Claire
decidiu que seria fantasticamente mais otimista. O teleférico daria fora da cidade e estaria bem estocado com
água e comida, teria chuveiros e roupas limpas -
- não, apague isso. Uma banheira quente e um daqueles grosso roupões de veludo. E pantufas.
Legal, qualquer coisa que não inclua monstros e pessoas malucas. Ela olhou para Sherry e viu que ela ainda
esfregava o medalhão.
"O que tem aí?". Ela perguntou, tentando fazê-la sorrir de novo. "É a foto do seu namorado?".
"Dentro? Oh, não é para guardar nada". Sherry disse, e Claire gostou de ver as bochechas dela coradas. "Minha
mãe me deu, é para dar sorte - e eu não tenho um namorado. Os meninos da minha idade são totalmente
imaturos".
Claire sorriu. "Vá se acostumando, docinho. Alguns deles nunca crescem mais do que isso".
Já dava para ver o aspecto do teleférico, um único vagão com cerca de seis metros vindo suavemente.
"Para onde você acha que ele vai?". Sherry perguntou, e antes que Claire pudesse responder, a porta pela qual
entraram explodiu.
A porta veio para dentro, arrancada das dobradiças em um ruído metálico e caindo no chão -
- e Claire agarrou Sherry, colocando-a perto assim que Mr. X apareceu, contorcendo-se para cruzar a abertura,
seu olhar desalmado mirando nelas.
"Fique atrás de mim!". Claire gritou, sacando a arma de Irons, arriscando um olhar para o teleférico se
aproximando. Dez segundos, só dez segundos -
- mas X deu um passo gigante para elas, seus grandes braços se levantando, ainda a seis metros de distância,
mas só a quatro de seus largos passos -
"Entre no vagão quando ele parar!". Claire gritou e apertou o gatilho.
Quatro, cinco, seis tiros no peito dele. O sétimo acertando uma bochecha branca, mas Mr. X nem piscou, nem
sangrou - nem parou. Outro passo. O escuro buraco em seu rosto como prova de sua inumanidade. Claire
abaixou a mira, pernas, joelhos.
Bam-bam-bam!
- e ele pausou quando pelo menos um dos tiros acertou seu joelho esquerdo, seus olhos negros fixados nela,
marcando-a -
"Aqui, vamos!".
Sherry já estava puxando o colete dela, gritando, e Claire recuou, atirando de novo. Mais dois tiros acertaram sua
barriga -
- e ela já estava no vagão. Sherry achou o controle da porta e a mesma deslizou para o lado, Mr. X enquadrado
na pequena janela, sem vir mas também sem cair. Sem morrer.
"Siga-me!". Claire gritou, vendo os comandos luminosos à direita, sabendo que a porta não agüentaria um
segundo.
Ela correu com Sherry, agradecendo a Deus pelo designer ter sido amigável quando o botão "partir" desceu sob
suas trêmulas mãos -
- e o teleférico se moveu, deslizando da plataforma, para longe do indestrutível homem e para dentro do escuro.
Annette sentou-se no dormitório do nível quatro, esperando o computador ligar e debatendo se inicia ou não a
seqüência P-Epsilon. Quando o sistema de destruição for ativado, todas as portas serão destrancadas, até
mesmo as eletrônicas. E as criaturas que estiveram presas pelos últimos dias ficarão livres para vagar, e a maioria
delas estarão famintas...
... famintas e quentes, sangrando puro vírus através da carne...
Ela não queria encarar nenhuma dessas criaturas, mas assim que as primeiras linhas do código apareceram na
tela, ela decidiu iniciar a seqüência. O gás P-Epsilon era um experimento que alguns microbiologistas criaram para
satisfazer a equipe de controle de danos da Umbrella. Se funcionar, o gás incapacitará qualquer criatura infectada
pelo vírus aerotransmissível - a principio - garantindo-a uma viagem segura para o túnel de transporte, mas os
espiões estavam vindo e Annette não queria tornar as coisas fáceis para eles. Ela tinha ouvido o elevador de
#
carga sendo chamado para a superfície a caminho do laboratório de sínteses - o que era ótimo, eles estarão aqui
para o final, e ela queria que eles lutassem por suas vidas enquanto acelerava para fora do multibilionário
complexo, para longe da brilhante explosão...
... ele vai queimar e eu ficarei livre desse pesadelo. Fim de jogo, eu venço e a Umbrella perde, e de uma vez por
todas as criaturas assassinas -
Ela sentiu-se bem; ela queria ir direto para o computador mais próximo e ativar o sistema de destruição, mesmo
antes de coletar a amostra, só que ela mal enxergava à frente quando saiu do elevador; e ela tinha medo de
esquecer alguma coisa - ou pior, cair e não levantar mais. A viagem para o armário de remédios do laboratório de
síntese fixou tudo isso.
Epinefrina*, endorfina*, anfetamina*, oh, Deus.
Annette sabia que estava drogada, que não devia subestimar suas habilidades, mas por que não se sentir feliz?
Ela sorriu para o pequeno computador à frente e começou a digitar os códigos, sentindo como se seus dedos
fossem quebrar enquanto a adrenalina sintética corria por suas veia dilatadas.
--------------------------------------------------------------
* Epinefrina - Sinônimo de adrenalina.
* Endorfina - Analgésico.
* Anfetamina - medicamento vaso-condutor e estimulante.
-------------------------------------------------------------- Ela tinha voltado para o laboratório, William também, e a última
amostra viável do G-virus estava no seu bolso. Ela a tinha escondido numa caixa de fusíveis antes de ir procurar
William, e a recuperou quando voltou -
76E, 43L, 17A, tempo para destruição... 20, alerta vocal/corte de energia, 10, autorização pessoal, 0001 Birkin -
- e era isso. Annette não parava de sorrir, não queria parar enquanto tocava o "enter". Um toque e nada na
terra poderia pará-lo. Em dez minutos os alertas gravados serão tocados, e o elevador desligará; em quinze
começará a contagem - cinco minutos para alcançar uma distância segura de trem, outros cinco e -
Boom. Vinte minutos antes da explosão. Mais do que suficiente para chegar no túnel e ligar o trem; suficiente
para acelerar por baixo das ruas da cidade, pelas montanhas isoladas dos limites de Raccoon. Tempo o bastante
para chegar no fim da linha e ver a Umbrella perder.
Quando o relógio marcar zero, as cargas plásticas na central de força do laboratório serão ativadas. Mesmo se
onze das doze cargas explosivas falharem, uma única seria capaz de detonar as cargas secundárias embutidas
nas paredes. O sistema de destruição da Umbrella foi projetado para derrubar tudo. O laboratório se tornará um
inferno, explodindo sob a cidade morta, visível à quilômetros - e ela estará lá para ver, para ver que fez tudo dar
certo.
Isto é por você William...
O pensamento foi amargo... por um tempo, eles não - aproveitaram a relação marido e mulher. William era tão
brilhante, tão devotado ao trabalho que os prazeres da síntese tomaram o lugar da vida de casado. Mas ela
aprendeu a conviver com isso - e agora, com seu dedo tocando o fim de tudo, ela desejou que tivesse havido
mais entre eles nos últimos anos, mais do que sua adoração por seus incríveis presentes ou pela adoração dele
por sua assistência...
Este é o nosso último beijo, meu amor. Esta é minha contribuição pelo trabalho, meu ato final pelo que
compartilhamos.
É, estava certo, esse era o sentimento. Annette apertou a tecla, seu coração cantando, e viu o código de
travamento aparecer na tela em verde brilhante.
"Eu, com todo respeito, ofereço a minha demissão". Ela disse suavemente e começou a rir.
[25]
Leon tinha dado duas voltas em torno do vagão e não viu nada.
Quando a criatura finalmente saiu das sombras do teto do vagão, Leon ergueu a espingarda. A visão o fez
#
congelar, sua fúria rendendo-se ao medo.
Mas que droga -
A coisa ainda gritava, o brutal berro como a voz do inferno. A coisa já foi um homem - pernas e braços, pedaços
de roupas penduradas em seu grande corpo - mas tudo de humano mudou - ainda estava mudando enquanto
aumentava sua ferocidade, e Leon só conseguia olhar.
Seu corpo era inchado e ondulado com estranhos músculos. Seu braço direito era quase meio metro mais longo
que o outro, manchadas garras sobressaindo da mão. E o inquieto tumor no ombro direito parecia um olho do
tamanho de uma bola de basquete, mexendo de um lado para o outro como se procurasse algo -
- e o grito também estava mudando, mais profundo, mais áspero, o despenteado rosto caindo - derretendo até o
peito. Como cera quente, a cabeça humana escorregou para o peito esquerdo -
- e ao mesmo tempo, outro rosto estava se formando, crescendo com um terrível som de estalo, como dedos
sendo quebrados. Rachados olhos se abriram, o vermelho buraco de uma boca se formando, respirando para
gritar -
- e Leon apertou o gatilho.
Boom!
O tiro acertou o peito, um grosso e roxo sangue espirrou, cortando o grito da criatura - mas foi só isso. O novo
rosto do monstro virou para Leon, inclinando -
- e pulou na plataforma, aterrissando com as penas meio agachadas. Ele deu um passo a frente e ficou perto o
bastante para Leon sentir o estranho e químico cheiro que a pele do monstro soltava - e viu que o sangramento
no peito tinha parado, que a carne estava comendo os buracos.
A criatura levantou sua poderosa garra e Leon recuou, atirando novamente quando a mão desceu -
- shhink!
- e faíscas voaram do metal assim que o tiro acertou a criatura no estômago. O pesado calibre mal intimidou o
gigante mostro. Ele deu outro passo e Leon recuou, atirando de novo -
- e encostou nos degraus que sobem para o vagão, tropeçando e caindo sentado, o tiro indo longe sobre a
cabeça em forma de bala da criatura. Mais um passo e estará nele -
- e estarei morto -
- exceto que a criatura não deu o passo. Ao invés disso, ela virou para o parapeito da plataforma, sua bizarra
cabeça levantando, os buracos de suas narinas alargando -
- e silenciosamente, quase graciosamente, o monstro pulou para a escuridão fora da plataforma.
Por um momento, Leon não se mexeu. Não podia, estava muito ocupado tentando entender porque o monstro
não o matou. Deve ter sentido ou cheirado algo, terminou o ataque que com certeza teria ganho - e pulou fora
do transporte.
Eu não morri. Ele se foi e eu não estou morto.
Por quê? Ele não sabia, mas saber que estava vivo já bastava - e alguns segundos depois, seus confusos
sentidos o disseram que o elevador estava diminuindo a velocidade, que o poço estava ficando mais claro, a
escuridão ficando acinzentada.
Leon ficou de pé e foi ver Ada.
Sherry ouviu o monstro de longe, em algum lugar do claro e fundo buraco, e sentiu-se bem mais assustada do
que quando Mr. X - Claire o chamava assim - entrou na estação do teleférico. Claire disse que foi um problema na
máquina, mas Sherry não se convenceu. O som era tão distante e estranho que poderia ser outra coisa...
... e se não for? E se Claire estiver errada?
Elas pararam no lado de fora do galpão, em frente a um grande buraco no chão e esperaram pelos ruídos
mecânicos cessarem. A quase lua cheia estava baixa no céu, e Sherry podia dizer que já era de madrugada pelo
tom azul no horizonte; ela não se sentia cansada. Estava assustada e ansiosa, mesmo com Claire segurando sua
mão, Sherry não queria entrar no buraco escuro onde o monstro poderia estar.
Depois de um longo tempo, o maquinário parou e Claire recuou - o poço do transporte, ela disse - e voltou para o
galpão.
"Vamos ver se podemos chamá-lo de volta - Sherry?".
#
Sherry não se mexeu. Ela olhava dentro do buraco, segurando seu amuleto e desejando ser corajosa como Claire
- mas ela não era, e sabia disso, e não queria descer na escuridão.
Eu não posso, eu não posso descer lá, eu NÃO sou como a Claire, e não me importo se minha mãe está lá
embaixo -
Sherry sentiu um calor nas costas e olhou para cima, assustada, e viu que Claire tinha tirado o colete e estava
colocando-o em Sherry.
"Eu quero que você o use". Claire disse, e apesar do medo, Sherry sentiu uma súbita onda de pura alegria.
"Mas por que? Ele é seu, e você vai sentir frio...". Sherry disse.
Claire ignorou por um minuto, ajudando-a se vestir. Era grande demais para ela e estava um pouco sujo, mas foi
a coisa mais legal que já ganhou.
Para mim. Ela quer que eu o tenha.
Claire se ajoelhou, agora vestindo só uma fina camiseta preta e shorts. Olhando seriamente, Claire fechou o
colete no peito de Sherry e começou a falar.
"Eu quero que fique com ele porque eu posso dizer que você está com medo. Faz tempo que eu o tenho.
Quando eu o uso, sinto como se pudesse chutar traseiros. Como se nada fosse me deter. Meu irmão tem uma
jaqueta de couro com o mesmo desenho nas costas, e ele chuta traseiros - mas ele tirou a idéia de mim".
Claire sorriu de repente, um cansado e quente sorriso que fez Sherry esquecer do monstro, só por um minuto.
"E agora é seu, e toda vez que vesti-lo, eu quero que se lembre de que você é a melhor garota de doze anos
com quem eu já andei".
Sherry sorriu de volta, abraçando o tecido rosa escuro. "É um suborno, não é?".
Claire acenou sem hesitar. "Sim, é um suborno. Então, o que você me diz?".
Suspirando, Sherry pegou a mão dela, e juntas entraram no galpão para procurar os controles do elevador.
Ada acordou assim que Leon a colocou numa barulhenta cama metálica, sentindo uma pulsante dor de cabeça e
uma dor em seu lado. Sua primeira idéia foi a de ter sido baleada - mas ao abrir os olhos e ver a pálida e
preocupada face de Leon, ela lembrou.
Ele ia me beijar, acho - e então...
"O que aconteceu?".
Leon tirou o cabelo da testa dela, sorrindo um pouco. "Aconteceu um monstro. O mesmo que pegou Bertolucci,
acho. Ele atravessou a parede do transporte com a mão e te nocauteou. Você bateu a cabeça depois que - te
arranhou".
Vírus!
Ada fez força para levantar e ver o ferimento, mas a dor de cabeça a impedia. Ela tocou o galo bem acima da
têmpora* esquerda, e tremeu.
"Ei, fique parada". Leon disse. "O ferimento não é tão grave, mas você levou uma séria pancada...".
Ada fechou os olhos. Se ela foi infectada, não havia nada que podia fazer - e que ironia - se foi Birkin quem a feriu
e ainda estava quente, Ada acabaria coletando a amostra do G-virus de uma forma bem pessoal.
Respire fundo. Você não está mais no transporte, o que isso a diz?
"Onde nós estamos?". Ela perguntou, abrindo os olhos.
Leon balançou a cabeça. "Não tenho certeza. Como você tinha dito, é um laboratório ou fábrica subterrânea. O
elevador está lá fora. Eu a trouxe para a sala mais próxima".
Ada virou a cabeça para ver a janela, para ver a área do elevador.
Deve ser o nível quatro, onde a plataforma pára...
O laboratório de síntese principal ficava no nível cinco.
Leon olhava tão sinceramente, seu brilhante olhar azul tão sensível, que por alguns segundos fez Ada pensar em
abortar a missão. Eles poderiam descer para o túnel de fuga juntos, entrar no trem e sair da cidade. Podiam fugir
para bem, bem longe -
- e depois o que? Ligar para Trent e dizer que vai reembolsar? Claro. Depois você pode conhecer os pais de Leon,
ganhar um anel, comprar uma pequena casa branca com um cercado de madeira, ter alguns filhos... você pode
aprender crochê e esfregar os pés dele depois de um duro dia prendendo bêbados e fazendo paradas no trânsito.
Felizes para sempre.
Ada fechou os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava.
#
"Minha cabeça dói muito, Leon, e o túnel que vi no mapa - eu não sei onde é exatamente...".
"Eu vou achá-lo,". Ele disse. "eu vou achá-lo e depois voltar para cá. Não se preocupe com nada, tá bom?".
"Tome cuidado". Ela sussurrou, e sentiu os suaves lábios dele tocarem sua testa, o ouviu levantar e ir para a
porta.
"Fique aqui, eu volto logo". Ele disse, e a porta abriu e fechou. Ela estava só.
Ele ficará bem. Ele se perderá tentando achar o túnel, vai voltar, verá que fui embora e pegará o elevador de
volta à superfície... eu poderei achar a amostra, escapar e tudo acabará.
Ada contou um minuto e sentou-se devagar. Foi uma bela pancada mas ainda conseguia funcionar.
Houve um barulho lá fora, e Ada se levantou, olhando pela janela. Ela conhecia o som mesmo antes de olhar, e
sentiu seu coração afundar um pouco. O elevador estava subindo, provavelmente chamado do galpão por uma
equipe da Umbrella...
... isso quer dizer que não tinha muito tempo. E se eles o acharem -
Não, Leon ficará bem. Ele era um combatente, sabia fugir do perigo, era forte e decente - e não precisava de
alguém como ela em sua vida. Ela foi louca em considerar isso, mesmo por um momento. Era hora de arrumar
as coisas, para fazer o que veio fazer, para lembrar quem ela era - uma agente freelance*, uma mulher sem
dúvidas na hora de roubar ou matar para completar a missão, uma fria e eficiente ladra que leva o prêmio em
uma carreira sem erros. Ada Wong nunca anda com os bons, e não será um policial de olhos azuis que a fará
esquecer disso. Ada tirou as chaves e cartões do bolsar* e abriu a porta, dizendo a si mesma que estava
fazendo a coisa certa - esperando acreditar nisso.
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* Têmpora - Osso lateral superior da cabeça.
* Freelance - Autônomo(a).
* Bolsar - Bolso de vestido.
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[26]
Annette teve alguns problemas.
A ida para a sala de carga foi ruim; cruzou com um infectado, nos primeiros estágios, e o matou com um tiro na
cabeça. Ela passou sob um Re3 que não se desgrudou do teto, e parece que as outras criaturas ainda não
perceberam que estavam livres.
Mesmo assim, ela conseguiu chegar lá em menos de três minutos. Ela digitou o código com um senso de grande
conquista -
- até que a porta da sala de carga se recusou a abrir. Annette digitou o simples código de novo, com mais
cuidado - e nada. Era uma das únicas portas no complexo que não abriam automaticamente com o sistema de
destruição, mas isso não deveria ser um problema - havia uma entrada de disco debaixo dos controles, o disco
que sempre esteve lá, que por insistência da Umbrella, só os chefes da seção poderiam ter acesso -
- e claro, depois de verificar, ela viu que não estava lá. Alguém pegou.
Annette ficou parada na frente da porta trancada do saguão vazio, e sentiu o pânico alcançar a sua mente.
O lugar vai explodir e eu desperdicei quatro, quase cinco minutos agora e onde está o maldito disco?
"Calma, calma, você está bem, tudo bem...".
Um fraco eco, um suspiro de razão no brilhante saguão. Ela só tinha que descer em outro nível; ela tinha a chave
mestra, uma arma e tempo. Não muito, mas o bastante.
Respirando fundo, Annette voltou para o corredor que dava nas escadas, lembrando se de que mesmo não
conseguindo, a Umbrella ia pagar. Ela não queria morrer, não iria morrer, mas os corredores claros e sujos de
sangue, os laboratórios uma vez estéreis vão queimar de qualquer jeito, não há motivo para pânico -
- e assim que virou à direita e correu pelo corredor, seus passos altos e profundos no silêncio, uma grade de
metal caiu do teto bem na sua frente -
#
- e um Re3, um licker, apareceu e gritou por seu sangue.
Não!
Annette atirou, mas só acertou o ombro dele enquanto avançava, esticando um braço deformado para acertá-la.
Ela sentiu uma aguda dor no braço e atirou de novo, chocada e desacreditada -
- e o segundo tiro acertou-o na garganta. Ele gritou, sangue espirrando do pescoço, seu babante e falso grito
enquanto pulava nela de novo.
O terceiro atingiu seu gelatinoso e acinzentado cérebro, e ele caiu se contorcendo, a centímetros de suas trêmulas
pernas.
Ofegando ao ver o quanto perto ele parou, Annette olhou para seu braço sangrando, para os grandes rasgos em
seu avental -
- e algo cedeu. Algo em sua mente.
Sua mente correndo, seu coração batendo, o sangue e o licker, o licker de William, morto no chão à sua frente -
tudo isso dançava em um círculo que se juntou em um só pensamento. Um que explicava tudo isso.
Não é deles.
Era tão claro, como cristal. Ela não podia fugir da dor, porque a dor acabaria em qualquer lugar; ela tinha provas,
pingando de seu braço. William tinha entendido, mas se perdeu antes de explicar, antes de dizer o que ela
realmente precisava fazer. Ela tinha que confrontar seus agressores e fazê-los entender que o G-virus não
pertencia a eles.
Mas eles vão entender? Conseguirão?
Talvez sim, talvez não. Era o trabalho de William, seu legado, e agora era dela.
Deles não. Meu.
Ela tinha que achá-los e dizer a eles. E quando aceitarem a verdade, eles terão que deixá-la sozinha - e então, se
ainda houver tempo, ela seguirá seu próprio caminho.
Mas primeiro ela precisava de outro ato. Sorrindo, de olhos grandes e estrelados, Annette passou por cima do
licker e foi para a escada.
Leon pensou ter ouvido tiros.
Ele estava em um tipo de ala cirúrgica, a primeira sala no final da primeira passagem que pegou depois de deixar
Ada, e levantou os olhos da pilha de papéis amassados que tinha achado, ouvindo - mas os distantes
cracks não se repetiram, então voltou à busca. Ele folheou rapidamente as páginas, desesperado para achar algo
além de intermináveis listas de números e cartas sob o timbre da Umbrella.
Vamos, deve ter algo útil em tudo isso...
Ele queria sair, queria pegar Ada e sair. O cadáver estripado caído no canto era um bom motivo, mas era mais do
que isso - o ar na sala, o corredor lá fora, ele apostou que todas as salas daquele lugar estavam erradas.
Cheirava como morte, e pior, tinha uma atmosfera de algo mais escuro, algo amoral. Mal.
Eles faziam experiências aqui, testes e sabe lá Deus o que mais - e eles criaram a praga zumbi; eles criaram o
demônio que atacou Ada, eles assassinaram a cidade inteira. Seja lá o que queriam fazer, estavam praticando o
mal.
- Mal em larga escala; o elevador os tinha levado para um complexo secreto da Umbrella, um dos grandes. Pelos
números na parede, ele sabia que estava no quarto piso - e a passarela de metal que o levou para a sala de
operações, uma das três, se esticava sobre um buraco que cobria a câmara inteira, o fundo perdido na sombra.
Ele não sabia o quanto tinha descido, e nem se importava, ele só queria achar um simples mapa que indicasse a
saída.
E não está aqui...
Frustrado, Leon deixou os papéis de lado - e viu que havia um disquete de computador na mesa de metal,
escondido pelos papéis. Franzindo, Leon o pegou - "Para verificação da sala de carga" estava impresso numa
etiqueta.
Suspirando, ele o colocou no bolso e esfregou os olhos com a mão direita, seu braço esquerdo praticamente inútil
depois de carregar Ada. Ele não queria procurar um computador e ver o que tinha no disco, não queria procurar a
saída de porta em porta, ver com quais atrocidades a Umbrella tinha brincado. Ele estava cansado, com dor e
preocupado com Ada... e decidiu, enquanto ia para a porta, que deveria falar com ela. Tentar refrescar sua
#
mente, dizer que acharia a saída, mas o lugar é grande demais; se ela soubesse a direção, ou se lembrasse em
que andar era...
Leon abriu a porta, saiu para o corredor e -
- uma mulher armada estava na sua frente, uma 9mm apontada para seu peito. Ela estava sangrando, finos
riscos de sangue descendo pelo braço, manchando seu sujo avental de laboratório - e o olhar dela, estranho e
esbugalhado, o dizia que se mexer seria uma má idéia.
Oh, Deus, o que é isso?
"Você matou meu marido". Ela disse. "Você, sua amiga e a garota - todos vocês, vocês queriam dançar no
túmulo dele, mas eu tenho novidades para você!".
Ela tinha certeza, ele percebeu em sua alta e trêmula voz. Ele manteve as mãos abaixadas, sua voz calma e
baixa.
"Senhora, eu sou um policial e estou aqui para ajudar, está bem? Eu não quero machucá-la, eu só - "
A- mulher colocou a mão ensangüentada no bolso e tirou algo, um tubo de vidro cheio de um líquido roxo. Ela
sorriu bastante, erguendo-o acima da cabeça, ainda mirando a arma em Leon.
"Aqui está! É o que você quer, não é? Me ouça, você me ouve? Não é de vocês! Você entende o que estou
dizendo? William o fez, eu o ajudei, e não pertence a você!".
Leon acenou devagar. "Não pertence a mim, você está certa. É absolutamente seu - ".
A mulher nem ouvia. "Você acha que pode pegá-lo, mas eu vou impedi-lo, eu não vou deixá-lo pegar - tem muito
tempo, tempo para matar você, Ada e quem mais tentar pegá-lo!".
Ada -
"O que você sabe sobre Ada?". Leon perguntou, dando meio passo na direção da maluca, não muito calmo.
"Você a machucou? Me diga!".
A mulher riu, uma risada insana e sem graça. "A Umbrella a mandou, seu idiota! Ada Wong, a senhorita ame-os e
deixe-os! Ela seduziu John para pegar o G-virus, só que não é dela, também! Não é, NÃO É DE VOCES, É MEU -".
Um forte tremor abalou o chão, lançando Leon ao mesmo, uma vibração que chacoalhou as paredes -
- e crash, canos e reboque caíram do teto, uma pesada viga levando a mulher ao chão. Leon cobriu a cabeça
enquanto pedaços de cimento caíam sobre ele -
- e acabou. Leon sentou, olhando chocado para a mulher, sem saber o que tinha acontecido. Ela não se movia. A
viga de metal que a derrubou ainda estava pendurada no teto -
- e uma fria e calma voz soou de repente, de alto falantes escondidos nas paredes - feminina, calma e pontuada
pelo ritmo de um alarme.
"A seqüência de autodestruição foi ativada. Esta seqüência não pode ser abortada. Todas as pessoas devem
evacuar imediatamente. A seqüência de autodestruição foi ativada. Este programa não pode ser abortado. Todas
as pessoas devem evacuar imediatamente -".
Leon ficou de pé, correu para a mulher e pegou o cilindro de vidro da mão estendida, colocando-o na bolsa. Ele
não sabia quem ela era, mas era louca o bastante para segurar um tubo de ensaio.
Ada - ele tinha que achá-la para fugirem. Os pulsantes e penetrantes alarmes ecoavam pelos corredores,
perseguindo-o até a porta para as passarelas, junto com a indiferente voz feminina repetindo a mensagem de
destruição iminente.
A gravação não dizia quanto tempo tinham, mas sabia que não queria estar lá quando o relógio zerar.
[27]
A descida do elevador terminou num arranho de freios hidráulicos - e depois silêncio, assim que os motores
desligaram, prendendo-as no interminável poço.
"Claire? O que -".
Claire segurou a boca de Sherry com o dedo - e ouviu o que parecia um alarme lá fora, uma repetida e abafada
batida. Parecia haver uma voz também, mas Claire não conseguia entender o murmúrio.
"Vamos, meu bem, acho que o passeio acabou. Vamos ver onde paramos, tá bom? E fique perto".
#
Elas saíram do vagão para a plataforma, os distantes sons não mais tão distantes - e havia luz, vinda de algum
lugar atrás do vagão. Claire pegou a mão de Sherry enquanto andavam rapidamente, sem querer preocupar a
garota, mas certa de que era um alarme. Havia alguém falando, também, e Claire queria saber o que dizia.
O elevador tinha parado a alguns centímetros abaixo de algum tipo de túnel de serviço, a luz que viu, vinha de
uma lâmpada enjaulada e pendurada no teto do túnel. Não havia porta, mas tinha um pequeno buraco no fim da
passagem; dava para elas passarem agachadas.
É isso ou escalar até a superfície, provavelmente um quilômetro acima...
Sem chance. Claire ajudou Sherry a subir na passagem e depois foi sua vez, indo para a boca do buraco e
agachando para o escuro. O alarme ficou mais alto ao se aproximarem, o murmúrio se transformando numa voz
feminina. Ela forçou para entender, esperando ouvir "problema no elevador" ou "temporário" -
Mas ainda não entendia. Elas tinham que deixar o elevador e esperar saírem num lugar melhor.
Claire virou, suspirando. "É hora de engatinhar. Eu vou primeiro, e depois -".
SLAM!
Sherry gritou enquanto algo caiu no teto do vagão atrás dela, uma forte pancada no metal que o partiu. Claire a
agarrou, aproximando-a, sua respi-ração presa na garganta -
- e uma mão, duas mãos apareceram no buraco do teto. Dois grossos braços cobertos em sombra -
- e a brilhante cabeça de Mr. X ergueu-se do vagão, como uma lua morta numa noite sem estrelas.
Claire virou e empurrou Sherry para a escuridão do túnel, seu coração martelando, seu corpo subitamente
molhado de suor.
"Vai, vai, estou bem atrás de você!".
Sherry sumiu no escuro e Claire não olhou para trás, o incansável perseguidor certamente já saindo do vagão
para continuar sua determinada caçada.
Ada ouviu os gritos de Annette de onde as três passarelas se juntavam. Ela se forçou a não correr para socorrer
Leon, prometendo que se ouvir tiros, mudaria de idéia -
- mas então o lugar balançou violentamente, e a suave voz da gravação começou a falar.
Droga!
Ada se levantou furiosa com a cientista, uma parte sua doendo por Leon, sabendo o que isso significava. Annette
tinha acionado a destruição, isso quer dizer que tinham menos de dez minutos para saírem de lá -
- e Leon não conhece o caminho.
Não, não é importante. Se ela for pegar a amostra que Annette certamente tem, precisaria ser agora. Leon não
era seu problema, nunca foi, e não desistiria agora, não depois do que passou para pegar o precioso vírus de
Trent.
Ada deu um passo para fora do painel central que conectava as três passarelas - e ouviu passos vindo para ela,
fortes demais para serem de Annette. Ada deslizou para a sombra, para trás da passarela oeste, se escondendo.
Um segundo depois. Leon passa correndo, provavelmente voltando para onde ela deveria estar esperando por
ele. Ada respirou fundo enquanto tirava-o de sua mente, e correu pela passarela sul para achar Annette.
Ada se foi.
"...foi ativado. Esta seqüência de auto destruição -".
"Cala a boca, cala a boca -". Leon falou, parado no meio da sala, seu estômago apertado, suas mãos fechadas.
Quando ela ouviu o alarme deve ter entrado em pânico e fugido. Ela devia estar andando por aí, perdida e
atordoada, talvez procurando por ele enquanto a infernal voz se repetia junto com o alarme.
O elevador!
Leon foi para a porta - e viu que não estava lá, um largo e pouco fundo buraco lá fora. Ele nem tinha percebido
por estar preocupado com Ada -
- nós temos que achar aquele túnel! Sem o elevador estamos presos!
Frustrado em silêncio, Leon virou e voltou para as passarelas, rezando para achá-la a tempo.
O pequeno túnel terminava abruptamente, sobre uma queda de pelo menos dois metros em um corredor vazio.
De ouvidos zunindo, de boca seca, Sherry agarrou as bordas do buraco, fechou os olhos e saltou. Ela pousou
agachada e depois caiu, sua perna direita dobrando. Doeu, mas ela mal sentiu, levantando com as mãos e
#
joelhos para sair do caminho, olhando para o buraco -
- e lá estava Claire, sua cabeça saindo, seus preocupados olhos vendo que estava bem, que o corredor era
seguro... exceto por haver sirenes tocando, uma mulher falando em alto falantes, e Mr. X estar vindo.
Claire esticou o braço com a arma. "Sherry, preciso que segure isso, eu não consigo virar".
Sherry agarrou o cano, impressionada com o peso da arma. "Não aponte isso para nada". Claire disse e
praticamente mergulhou do buraco, curvando o corpo e aterrissando sobre o ombro, suas pernas batendo na
parede.
Antes de Sherry perguntar se estava bem, Claire já estava de pé, pegando a arma e apontando-a para a porta
no final do corredor.
"Corre!". Ela disse, e começou a correr, uma mão empurrando as costas de Sherry enquanto iam para a porta,
enquanto a voz as diziam que o sistema de destruição tinha sido ativado -
- e atrás delas, um som de metal retorcendo atravessou as sirenes, e Sherry correu mais rápido, aterrorizada.
[28]
Annette Birkin se arrastou para fora do pesado e frio metal, ainda segurando a arma, o G-virus se foi. Assim que
abriu a boca para gritar de fúria, sangue correu pelos seus lábios.
- meu meu meu -
De algum modo ficou de pé.
Ada disse a si mesma que não merecia a boa opinião de Leon. Nunca mereceu.
Perdoe-me...
Leon voltava da área do elevador, correndo cego com medo por ela. Assim que passou pelo centro e foi para a
passarela oeste, Ada saiu das sombras e apontou a Beretta para as costas dele.
"Leon!".
Ele virou, e Ada sentiu sua garganta travar com o alívio no rosto dele - forçando para não sentir nada, o sorriso
dele sumindo.
Oh, Jesus, me perdoe!
"Estive esperando você". Ela disse, não se orgulhando do quanto calma estava. Do quanto fria.
Os alarmes soavam, a voz mecânica tão gelada quanto a dela, dizendo que o sistema não pode ser abortado.
"O G-virus". Ela disse. "Dê ele para mim".
Leon não se mexeu. "Ela estava dizendo a verdade" Ele falou, sem raiva mas com mais dor do que Ada queria
ouvir. "Você trabalha para a Umbrella".
Ada balançou a cabeça. "Não. Para quem eu trabalho não interessa. Eu - eu".
Pela primeira vez desde criança, Ada sentiu traços de lágrimas - e de repente o odiou por isso, por tê-la feito se
odiar.
"Eu tentei!". Ela lamentou, sua postura quebrada pela corrente de raiva que corria por ela. "Eu tentei te deixar, lá
no galpão! E você teve que tirar de Annette, você não o deixou par trás!".
Ela viu pena no rosto dele e sentiu a fúria passar, levada por uma onda de dor - pelo que perdeu com ele; pela
parte de si que perdeu a um longo, longo tempo.
Ela queria contar sobre Trent. Sobre as missões na Europa e Japão, sobre como se tornou o que era, sobre cada
evento de sua miserável vida que a trouxe para cá - apontando uma arma para o homem que a salvou.
O relógio estava correndo.
"Passe ele para cá". Ela disse. "Não me faça matá-lo".
Leon olhou nos olhos dela e simplesmente disse. "Não".
#
Um segundo passou, e outro.
Ada abaixou a Beretta.
Leon se livrou da bala que o mataria - e Ada abaixou a arma lentamente, seus ombros caindo, uma lágrima
descendo pela bochecha de porcelana.
Leon soltou sua respiração presa, sentindo muitas coisas, tristeza, traição - uma dó pela torturante força no
escuro olhar dela -
- foi quando um tiro badalou para fora das sombras atrás dela. Os olhos de Ada arregalaram, sua boca abriu
enquanto começava a cair, a arma acertou o chão, seu corpo bateu no parapeito e mergulhou.
"Ada, não!".
Ele correu e pulou, e de alguma forma ela conseguiu agarrar a barra de metal do parapeito - enquanto ele pegava
seu pulso, o corpo dela pendurado sobre a escuridão sem fundo, sangue em seu ombro.
"Ada, agüente firme!".
"Meu". Annette suspirou.
Ela ergueu a arma de novo para atirar no outro, para recuperar o que era seu, para fazê-los pagar -
- mas a arma estava pesada demais, estava caindo e ela junto. Juntas, elas caíram no metal escuro, o escuro, o
escuro em sua mente que finalmente levou a dor embora.
William -
Foi seu último pensamento antes de dormir.
O que ele quer, por que nós?
Lá, um mezanino do outro lado, a uns três metros do outro andar lá embaixo, caixotes de madeira bem abaixo
da passarela.
"Por aqui!". Claire gritou, e elas correram. O calor emanava das máquinas quando chegaram no piso inferior da
câmara de dois andares, enquanto Claire levantava Sherry e seguia logo atrás.
Crash!
Ela virou, viu que a grande criatura estava atravessando a porta, andando e procurando -
No final da mezanino, uma porta dupla de metal. Elas correram, Claire não pensando em nada exceto como
destruir uma coisa que sobreviveu tudo isso -
- a porta estava destrancada, e elas saíram em outro mezanino; o calor lá era terrível -
- e não tinha saída.
Claire viu, depois de dar alguns passos lá dentro, que estavam no parapeito de uma casa de fundição, o
borbulhante calor estourando em bolhas na piscina lá embaixo.
Ela tinha doze balas, divididas em duas armas. Claire foi para a ponta da plataforma, Sherry ao lado, o laranja
elétrico do metal derretido banhando-as com sua fervura. Quente o bastante para queimar qualquer coisa...
Como? Como eu faço ele pular?
"Sherry, vá até lá!".
Ela apontou para o canto mais longe da plataforma, e Sherry balançou a cabeça, seu rosto tremendo de medo.
"Vá! Agora!". Claire gritou, e com um choro de terror, Sherry correu, seu medalhão batendo no colete -
- não é um medalhão -
- e Sherry gritou, Claire virou, Mr. X estava vindo.
Ele entrou na câmara, tão duro, grande e impossível quanto a primeira vez que o viu, a luz alaranjada tornando-o
ainda mais um pesadelo.
Claire se aproximou, guardando a arma de Irons no short, o plano meio formado correndo em sua aterrorizada
mente. Provavelmente não funcionará, mas ela tinha que tentar -
- ele me alcança, eu pulo no beiral, me seguro, ele cai -
Mr. X virou seu vazio olhar para ela e deu um de seus estrondosos e calculados passos, os escuros buracos de
bala em seu rosto e pescoço suavizados pela luz alaranjada -
- e ele virou para Sherry, ergueu os punhos e começou a andar.
"Ei! Ei, eu estou aqui!".
Claire começou a gritar, mas ele não a ouviu, não a viu, o monstruoso ser concentrado na pobre garotinha
#
encurralada na parede, esfregando o medalhão -
- e Claire sabia o que ele queria. As frases de Annette e Sherry vieram juntas, formando a resposta.
G-virus, fazê-la em pedaços, amuleto da sorte -
Não é um medalhão.
"Sherry, ele quer o colar! Jogue- o para mim!".
Se ela estiver errada, ambas estarão mortas. Mr. X chegou mais perto da garota, bloqueando-a da visão de
Claire -
- e o colar, o colar do G-virus que Annette tinha dado para a filha voou pelo ar quente, caindo no chão perto de
Claire.
Mr. X girou, seguindo o caminho do colar com seus olhos negros, esquecendo Sherry. Era verdade.
Boa garota!
Claire o pegou, balançando-o para o monstro. "Você quer isso?". Claire disse, as palavras saindo com fúria pelas
balas gastas com ele, pelos medos que ela e Sherry tiveram. "Quer? Então venha pegar seu miserável!".
O monstro estava a uns dois metros de distância quando Claire virou e jogou o medalhão na piscina fervente,
desaparecendo no metal derretido -
- e a super criatura que as tinha aterrorizado por aquela interminável noite foi direto para o parapeito, as barras de
metal cedendo com seu peso -
- e mergulhou silenciosamente no gigante tonel, uma grande onda de lava respingou, espontâneas erupções de
fogo dançando na escura
forma do corpo que desaparecia sob o fogo derretido.
Triunfo, alívio, maravilhoso - e a fria voz da gravação mudou de repente, tirando a alegria de ver Mr. X tomar um
banho de lava.
Sob o grito das sirenes -
"Restam cinco minutos para alcançar distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se à plataforma de embarque. Repito, dirijam-se à plataforma de embarque.
Repito...".
Sherry estava do lado, Claire pegou sua mão e elas correram.
A dor era incrível e Ada fechou os olhos, pensando se morreria por isso.
"Ada, agüente firme! Agüenta, eu vou te levantar!".
Através das sirenes, Ada ouviu que a contagem para a detonação tinha começado. Cinco minutos.
Ele tenta me salvar, nós morremos.
A pegada de Leon era forte, sua determinação quase tão forte quanto o orgulho dela. Quase.
Ada virou o rosto para ele, viu que apesar de tudo, ele ainda queria salvá-la.
Não desta vez. Não para mim...
A vida dela tem sido sobre egoísmo, ego e ganância. Ela viu muita gente boa morrer, e durante o caminho,
perdeu a habilidade de se importar - dizendo a si mesma que o esforço era uma perda de tempo e um sinal de
fraqueza.
Eu estava errada. Eu fui egoísta e errada, mas agora é tarde demais.
"Leon - desça, oeste, ache a sala de carga, depois das escadas - cadeiras de espera. Você vai precisar do disco,
está no meu - bolso -
"Ada, eu já tenho! Disco de carga, certo, eu já tenho, eu achei - não fale, agüente aí, deixe-me ajudar!". Ele
inclinou-se no parapeito, tentando manter o agarre.
Falar era um terrível esforço, mas ela tinha que terminar antes do tempo acabar.
"O código é 345. Pegue o elevador, Leon. Desça. O túnel - do trem dá para fora. Tem que - correr a toda
velocidade... e cuidado com Birkin, o infectado com G-virus, ele - ele já está mudando a essa hora. Entendeu?".
Leon acenou, seu olhar azul a penetrando.
"Sobreviva". Ela disse, e era uma boa palavra, uma palavra para se cumprir. Ela estava cansada, e a missão
estava preparada, e Leon viverá.
Ela soltou-se da barra metálica do parapeito, e Leon gritou seu nome, o som a seguindo para o escuro como um
amargo adeus.
#
[29]
Sherry estava assustada, mas Mr. X estava morto. Devia ser o monstro que a procurava na delegacia, que
queria parti-la ao meio -
- mas não havia tempo para pensar enquanto corriam pela sala dos maquinários, pelo corredor com o buraco no
teto, fazendo a curva -
- e Sherry gritou quando um zumbi avançou sobre elas, uma criatura feita de ossos, e Claire atirou.
- bang, e a cabeça branca e seca desmoronou, o corpo capotando no chão, e Claire já estava puxando Sherry
para a porta no final do corredor.
Era um elevador, Sherry se jogou numa das paredes depois que Claire a empurrou para dentro, tentando
recuperar o fôlego enquanto Claire apertava os botões. Depois de correrem de Mr. X, a descida de elevador foi
suave.
"Nós vamos conseguir". Claire disse. "Só mais um pouco".
Sherry acenou, seu coração pulando mais forte enquanto a voz dizia que restavam quatro minutos para se
safarem.
Leon sentiu como se não soubesse levantar e andar. A visão do bonito rosto dela um segundo antes de se
soltar...
ela se foi. Ela está morta.
Ele pegou a Beretta do chão, ainda estava quente com o toque dela - e estava leve demais, leve porque não
estava carregada. Nem o clip estava lá, ela nunca quis machucá-lo; ela estava mentindo, ela mentiu o tempo
todo.
"... quatro minutos para alcançar a mínima distância segura. Todas as pessoas restantes devem evacuar
imediatamente. Favor, dirijam-se para a plataforma de embarque...".
Ele tinha quatro minutos para ficar longe o bastante e cumprir o último pedido de Ada.
Ele se levantou e virou para a porta - e parou, tirando o pequeno tubo cheio do líquido roxo da bolsa. Ele sabia
que não tinha tempo, mas só levou um segundo para levar o braço para trás e arremessar a amostra o mais
forte que podia, querendo-a o mais longe possível.
Se o laboratório é o responsável por tantas mortes, que o G-virus queime com ele.
"Isso!".
A porta do elevador abriu - e havia um trem, um trem subterrâneo brilhando, o escuro túnel à esquerda. O trem
estava escuro e silencioso, não a máquina ligada e trêmula que Claire esperava ver, mas ainda era o veículo de
fuga mais bonito que já tinha visto.
Com Sherry grudada em seu braço, elas foram para a composição de três vagões, os alarmes ainda soando,
ecoando pela enorme estação. A voz já informava que elas tinham três minutos para alcançar uma distância
segura.
Entrando no trem, Claire percebeu e nem se importou com a ausência de assentos. A cabine de controle estava à
esquerda.
"Vamos colocar essa coisa na estrada". Claire disse, e o brilhante olhar de esperança no sujo e cansado rosto de
Sherry, fez o coração de Claire partir, só um pouco.
Oh, meu bem...
Claire subiu os degraus para a cabine, prometendo a si mesma que carregaria Sherry pelo túnel caso o trem não
funcionasse. Qualquer coisa para não quebrar aquele frágil olhar de esperança.
#
O código e o disco de verificação abriram a porta como Ada disse, a larga porta abrindo-se em um curto corredor.
Com três minutos sobrando, Leon correu pelo corredor cheio de símbolos de risco biológico, e achou a sala de
carga.
Ele não tinha tempo de parar e olhar, seu foco era pegar o elevador antes que não fosse possível escapar com
vida. Leon correu para o fundo da avermelhada sala, achando os controles da larga porta do elevador e
apertando para descer, pronto para entrar -
- e nada aconteceu, exceto por uma fileira de pequenas luzes - umas vinte talvez - que começaram a se apagar
em cima da porta. Bem devagar.
Leon apertou o botão novamente, parecia levar minutos entre os andares.
"Jesus!". Ele virou, querendo gritar se for ter esperar muito -
- e pela primeira vez deu uma olhada no lugar. As duas largas estantes que corriam o comprimento da sala
continham um tipo de "carga" bem específica - e apesar dos seis tubos de vidro em cada estante não conterem
nada além de um claro fluído vermelho, Leon sentiu calafrios só de olhar. Cada cilindro podia comportar um
homem adulto, e o fez imaginar para que foram construídos.
Não importa, eles vão explodir em alguns minutos.
Ele virou para o elevador, quase feliz por estar bravo e frustrado, por sentir algo além de perda -
- e o teto sobre a porta do elevador começou a tremer e rachar... Leon recuou, apontando sua arma para o
sólido painel de metal enquanto vinha ao chão -
- e o monstro do elevador-locomotiva aterrissou na sua frente, a mesma criatura demoníaca que machucou Ada,
que devia tê-lo matado -
Birkin - ?
- e pelo jeito que inclinou a cabeça e gritou, Leon podia dizer que veio para terminar o serviço.
O trem estava pronto, estava ligado e pronto para partir - mas parecia que o portão do túnel estava com defeito;
um painel cheio de luzes verdes e uma única vermelha, insistindo que o portão fosse aberto manualmente.
Dois minutos para alcançar distância segura.
Não vai dar, nunca conseguiremos -
"Fique aqui". Claire disse e saiu para verificar, rezando para que não fosse nada.
Leon virou e correu enquanto o monstro começava a ir em sua direção, cada poderosa passada estremecendo a
câmara, os ecos de seu terrível grito ainda nítidos.
Pense!
A espingarda não foi suficiente, ele tinha que atirar em algum lugar vulnerável, os olhos, use a Magnum.
Leon voltou para a porta de entrada. Ele girou e atirou, mirando no rosto da criatura -
- mas o rosto estava mudando de novo, a boca caindo enquanto gritava. Grandes e tortos espinhos de dente
escorreram do que sobrou da boca, do alto de seu pulsante peito - e quando outro grito explodiu de sua
garganta, Leon viu dois novos braços brotarem dos lados. Os membros formaram posições, cotovelos travando,
grossos dedos com garras crescendo.
Bam-bam-bam!
Os tiros se agruparam, explodindo na fina pele sobre o olho esquerdo. O monstro rosnou, desta vez de dor, e
Leon viu lascas de ossos e líquido arroxeado se espalharem.
Ele sacudiu a cabeça para todos os lados, expelindo mais líquido, se agachando como um sapo mutante -
- e saltou no ar, para cima e para a direita, parando numa das fileiras, grunhindo como um animal.
Droga, como ele fez aquilo -
Leon não conseguiu ver os olhos, nada além de suas costas enquanto descia - mas estava mudando de novo,
pôde ouvir sons quebrantes e ver os pedaços da espinha erguerem através da carne de suas costas.
Ele não queria ver no que iria se transformar, mas o elevador ainda não tinha chegado e só faltavam dois
minutos.
Leon recarregou e atirou no que podia ver - uma forma com seis pernas, uma forma que não era mais humana.
O tiro acertou um de seus ombros, fazendo a criatura pular. A besta voltou ao chão como uma aranha, caindo a
alguns centímetros na frente de Leon. O peito tinha se transformado numa parede de estranhos dentes, espinhos
que abriam e fechava enquanto respirava - e quando gritou de novo, foi como um demônio, como o grito de
#
milhares de almas morrendo.
Leon acertou dois tiros no buraco de dentes e se afastou. Sob as constantes sirenes ele ouviu o claro e animado
pin da chegada do elevador.
Claire correu para a frente do trem, olhando para a série de alavancas e botões na parede do túnel, franzindo e
abaixando a alavanca vermelha e branca. Ela ouviu o som metálico em algum lugar na frente do trem e correu
para a porta -
- quando ouviu metal de novo - o som de metal sendo partido e martelado, vindo de algum lugar atrás do trem.
Não, de jeito nenhum.
Ela olhou para o final do trem, além das barras do portão fechado - e ouviu um som como ossos no cimento, um
som que se repetia.
Passos.
Claire correu para a porta, sabendo que não podia ser Mr. X, não mesmo - ele foi derretido, se foi, e elas não
tinham mais o G-virus -
- e ela viu o movimento por detrás das grades. Algo alto, filetes de fumaça enrolando na escuridão atrás das
grades - e o forte cheiro de queimado. Ele saiu da sombra, na direção da parte de trás do trem, erguendo os
punhos -
BAM!
- e o vagão tremeu enquanto Claire percebia que era Mr. X, ou o que tinha sobrado dele - e que certamente era
um demônio vindo direto do inferno.
Ela tinha combinado onze balas no elevador; não vai ser suficiente mas era tudo o que tinha.
Claire apontou a arma de Irons, imaginando se esse será o fim.
Leon correu em volta da prateleira à sua direita, voltando para o elevador, e houveram galopantes passos bem
atrás, ele não podia parar.
Outra curva e de volta para o meio da sala -
- e ele foi atingido nas costas, uma borrachenta e quente carne que o levou ao chão.
Leon rolou quando a coisa ficou em cima dele, seus dentes intencionados a furar seu crânio. O grande olho ainda
estava lá, no ombro, olhando para ele -
- e Leon descarregou a arma no queixo da criatura, gritando, esvaziando os pesados cartuchos na cabeça do
monstro.
A besta gritou, cambaleando, caindo para o lado. Leon se levantou como um raio e correu para o elevador
aberto. O enorme animal ainda estava gritando enquanto Leon entrava no elevador e virava, apertando o
controle para descer -
- e viu a besta se mexer, mudando, gritando enquanto também virava para o elevador. Ele ganhava velocidade a
cada passo, a porta se fechando lentamente, a criatura quase voando agora -
- e Leon tinha a espingarda em suas mãos, engatilhando uma bala e atirando. O tiro acertando o peito e parando
a criatura.
- e a porta fechou, Leon estava descendo, e só restava um minuto.
[30]
BAM!
Sherry sentiu o trem balançar violentamente.
Claire!
Ela correu para a porta, lembrando que Claire disse para não sair e não se importar; ela não sabia o que era ou o
que podia fazer para ajudar, mas não poda ficar parada -
#
BAM!
- e o carro balançou de novo, o chão tremendo sob seus pés. Sherry alcançou a porta e apertou o botão de
abrir.
A porta abriu - e lá estava Claire apontando a arma para algo que Sherry não conseguia ver, algo atrás do trem.
O olhar de Claire passou por Sherry.
"Não saia! Feche a porta!". Claire gritou com medo e pânico.
Sherry tocou o botão e hesitou, com medo por Claire, querendo ver o que era -
- olhe rápido -
- e ela colocou a cabeça para fora, por um segundo, procurando a fonte do medo de Claire. Um cheiro de química
e carne queimada encheu a plataforma, vindo de -
Sherry gritou quando o viu, quando viu o esfarrapado e carbonizado monstro que sacudia o trem logo depois do
portão. Ela viu seu gigante punho acertar o metal do vagão, mas era a cara dele que atraia o olhar de Sherry.
Mr. X.
A pele estava queimada, toda ela. Fumaça emanava de sua cabeça, mas os olhos ainda estavam vivos -
vermelho e pretos e quentes com a fumaça, mas ainda bem vivos.
"Sherry! Feche agora!". Claire gritou sem tirar os olhos do monstro.
Sherry apertou o controle, a porta fechando enquanto Claire começava a atirar.
O elevador descia mesmo, mas não como Leon imaginava, a larga plataforma descia lentamente em ângulo,
luzes alaranjadas nas escuras paredes.
"... agora quarenta segundos para alcançar a mínima distância segura...".
"Vai vai vai - ". Leon suspirou. A voz tinha parado de mencionar a plataforma de embarque, só fazendo anúncios
de dez em dez segundos.
Chegar até aqui e morrer por causa de um elevador lento...
ele não podia aceitar isso. Ele passou por muitas coisas, o acidente com Claire, os monstros, Ada, Birkin - ele tinha
que conseguir, ou será tudo por nada.
Não parecia haver chão debaixo do elevador, ou ele já teria descido a pé.
"... vinte segundos para alcançar...".
Leon começou a tremer, tensão correndo por seus músculos, ficando difícil ele respirar. O que é distância segura?
Quanto tempo até a explosão depois que aquela voz dizer zero?
O trem terá que ser rápido. E ele tinha dez segundos para alcançá-lo, e o elevador continuava descendo sem
pressa pela escuridão.
A porta fechou e Sherry estava a salvo. Por enquanto.
Claire não podia esperar machucar a criatura, mas pelo menos distraí-la o bastante para fugir. Ela queria ter
ensinado os simples controles do trem para Sherry, queria que o veículo já estivesse se movendo, levando Sherry
para a segurança -
- mas eu não ensinei e nós temos que ir AGORA.
A mensagem já contava os dez segundos finais para a distância segura. Mr. X dava outra pancada no trem
enquanto Claire mirava e atirava.
Cinco tiros, quatro deles acertando o material que constituía a região onde uma orelha devia estar. O quinto foi
longe enquanto as pancadas ecoavam pelo lugar e a coisa que foi Mr. X virou para ela.
O que foi agora?
A gravação a distraiu por uma fração de segundo e Mr. X deu um passo na direção dela, um monstruoso passo
que o tirou das sombras.
"... três. Dois. Um. Distância mínima agora requerida. A autodestruição ocorrerá em cinco minutos. Restam cinco
minutos para a detonação".
Os alarmes ainda tocavam, mas pelo menos a voz tinha parado. Ela mal tinha percebido, seus olhos fixados na
criatura. Apesar das camadas queimadas e enfumaçadas, a pele dele não tinha perdido elasticidade; o material
avermelhado ainda contraia como músculos de verdade. Parecia um gigante pelado que se arrastou para fora de
um prédio em chamas - e se sofreu com o banho de metal derretido, ela não podia ver. Outro passo e os braços
#
foram ao alto, o portão de barras foi partido, as barras de metal caindo no concreto do chão.
Pelo menos ele está devagar -
Claire correu para a porta do trem, ainda com medo, mas o monstro era lento e poderoso, só que incapaz de se
mover de verdade -
- e de repente, Mr. X não estava mais andando. A criatura curvou a cintura, os joelhos -
- e se lançou do chão num dinâmico bote, seus pés deformados o impulsionando a toda velocidade.
Claire não pensou. Ela desviou para a direita evitando o ataque, correndo o mais rápido que podia. Ele quase a
pegou, os reflexos dele mais rápidos do que rápido - como se perder a pele o tivesse libertado. Assim que ela
pulou o portão destruído e entrou nas sombras, ela ouviu o arranhar de garras no cimento, viu que Mr. X tinha
descido seu braço bem aonde ela estava um segundo atrás.
Ele a teria partido -
- mas por que, sem o G-virus, sem razão -
Claire correu mais na escuridão enquanto os alto-falantes informavam quatro minutos restando.
"Restam agora quatro minutos para a detonação...".
Droga droga droga!
Quando pensou em ter um ataque de frustração, o elevador parou. Leon agarrou a fechadura da grossa cancela
de metal, querendo correr -
Ele saiu num corredor. E não haviam sinais dizendo qual direção seguir.
Direita ou esquerda?
Esses segundos de hesitação poderiam ter lhe custado a vida.
Ele ouviu uma vez que quando na frente de uma escolha, as pessoas instintivamente escolhem a direção da mão
dominante. Com a sorte que teve nesta noite em Raccoon, ele decidiu ir para o outro lado.
Esquerda. Leon correu, pensando se deveria se incomodar.
Não muito longe do portão, Claire viu uma passarela que passava sobre o trem, as escadas escondidas na
sombra -
- e ela ouviu Mr. X atrás. O terror a dirigiu, seus pés mal tocavam o chão -
- e os passos ficaram mais altos, mais rápidos, ouviu as garras dele rasgarem o cimento. Ela tinha um segundo
antes daquela mão a acertar -
- e ela virou de novo, jogando-se na escuridão do lado da escada. Mr. X passou voando, ela sentiu o vento da
mão em suas pernas enquanto caia no chão.
Ela ignorou a dor de seu cotovelo no cimento, levantando-se e procurando o monstro no escuro.
Ele pode ver, me ver?
A mão dela achou uma parede à direita. Ela estava no espaço debaixo da escada, e não sabia onde o quieto e
impossível X estava; a falta de luz não ajudaria se ele pudesse enxergar.
Ela correu as mãos pela parede e achou um interruptor. Ao apertá-lo, a textura do escuro mudou quando a fraca
luz veio de cima - e ela viu o monstro a menos de quinze metros, bem quando virava, seu olhar procurando -
- e a achando. A marcando. O único som era o de sua pele rachada - até dar um passo para a escada.
Seis ou sete tiros, acerte os olhos -
Claire saiu rapidamente de lá e ergueu a arma de Irons, apertando o gatilho, recuando para a escada.
Bam-bam-bam -
- e X se posicionava para mais um ataque, os tiros penetrando em seu rosto, dois deles ricocheteando em seu
crânio.
- bam-bam -
Ela estava na escada, subindo um degrau, as balas inúteis, Mr. X começando sua corrida. Ele estará nela antes
de poder virar, antes de subir os degraus -
- eu vou morrer -
- mas pelo menos eu o machuco antes -
Mr. X deu um passo - dois passos poderosos, diminuindo a distância entre os dois enquanto Claire mirava,
determinada a fazer os últimos tiros valerem a pena. Ela morreria e seu único arrependimento seria por Sherry, só
desejava que ela pudesse incapacitar o pesadelo X antes de morrer.
#
Ela atirou, e o olho esquerdo do monstro explodiu.
Isso!
Mr. X foi para a direita; não parando, mas também não indo para ela - mas ainda acertará a base da escada -
muito perto! - ela tinha que tentar o outro olho e só tinha dois segundos -
Claire mirou, achou o olho, e -
- click!
- estava sem balas, e o monstro estava chegando na base da escada, o cheiro de carne queimada enquanto
erguia sua gigante mão, e seu grande e terrível corpo era tudo o que conseguia ver.
Claire tropeçou e rolou a escada de ferro, seu corpo como uma bola -
- e gritou quando as garras da mão de X rasgaram sua coxa esquerda através do corrimão, e a distante voz
dizendo que tinham três minutos.
[31]
Ele pegou o caminho errado. As curvas o levaram para um depósito - sem saída.
"Restam três minutos para a detonação".
Leon virou e voltou por onde veio, forçando-se a correr com o que parecia o resto de suas forças.
Claire parou no chão, na base da escada e ficou de pé, sangue correndo pela perna num quente pulso de dor. Ela
correu, nada quebrado -
- mas ela sabia que isso era o começo do que ele fará com ela, uma prévia da dor real.
Mr. X ainda estava inclinado no corrimão da escada, mas assim que ela correu para o portão quebrado, o
monstro ficou a postos. Ele virou para ela, o buraco em seu olho jorrando um escuro líquido - mas ele vai se
recuperar e partir para ela como a máquina impiedosa que era. Não há nada que possa pará-lo.
Pelo menos eu morro na explosão -
Claire passou pelo metal retorcido do portão, mau se equilibrando, sangue pingando no chão enquanto dava outro
passo, por favor, que seja rápido -
"Aqui, use isso!".
Claire girou, viu Mr. X se posicionando para mais um ataque - e viu uma silhueta bem acima, na passarela sobre o
trem. Uma voz de mulher, forma de mulher, a sombra jogando algo -
- quem -
- aquilo caiu no chão, entre ela e Mr. X. era metal, e prateado - ela já viu nos filmes, era uma metralhadora - e
Claire correu. Outra última esperança, outra chance para ela e Sherry sobreviverem.
Ela alcançou a arma, viu X se jogando ao encontro dela, o trovão de seus passos vibrando o chão -
- e ela ergueu a pesada arma, recuando, sua mão trêmula achando o gatilho, seu corpo acomodando-se com a
arma. Firme no chão, braços encurvados em volta do metal, mirando -
- por favor por favor -
O monstro estava a alguns passos quando o jato de balas saíram da arma, um chocalho de pequenas explosões
que balançavam o corpo inteiro de Claire - e mergulharam no corpo da besta, a força de tantas balas parando-o e
empurrando-o para trás.
- tatatatatatatata -
A vibração parecia tentar se libertar do agarre dela. Ela mau ouvia seus próprios choros de dor e fúria enquanto
as balas furavam o abdômen dele com tal rapidez e velocidade.
- e Mr. X tentava andar, mas algo estranho e bom estava acontecendo. Sua barriga estava sendo rasgada pelas
balas, fluídos escuros descendo por suas pernas. A boca dele estava aberta, um buraco em um de seus olhos -
também sangrando.
#
- tatatatatata -
Claire continuou, vendo a criatura tentando se manter de pé. Vendo-o sangrar.
Com as balas ainda voando, Mr. X ergueu os braços -
- e partiu no meio.
Claire tirou o dedo do gatilho quando a parte de cima dele caiu no chão, um molhado som de carne pesada - e as
pernas tombaram, mais sangue estranho saindo das partes formando piscinas. A criatura estava morta, e
mesmo se não estivesse, não importava mais. Só se conseguir se arrastar mais rápido do que ela. Sua batalha já
tinha terminado -
- para o inferno com tudo isso, não há tempo, VAMOS!
Claire correu, ignorando o sangue em sua bota e a dor que o causava, seu olhar procurando a estranha
salvadora. Ninguém estava lá, e ela não sabia se outro minuto tinha passado, o alerta perdido com os tiros.
"Ei!". Claire gritou, indo para o trem.
"Nós temos que ir agora!".
Sem resposta, nenhum som exceto o zumbido em seu ouvido e o eco das palavras. Se ela quer salvar Sherry...
Claire virou e correu.
"- dois minutos para -".
Leon correu mais rápido. Ele já perdeu a conta das curvas do corredor, e as esperanças também, uma voz lhe
dizendo para parar, sentar e descansar -
- quando ele ouviu um fraco ruído.
O som de um maquinário pesado ganhando vida em algum lugar à frente. Não muito longe.
Trem!
Mais rápido, pernas distantes e moles, pulmões trabalhando, coração pulando - de algum modo ou de outro,
estava quase acabado.
[32]
Claire entrou no trem com um rifle gigante e uma perna coberta de sangue, mal parando para tocar os controles
da porta antes de correr para a cabine. Sherry sabia que estavam com problemas e não perguntou nada, ela a
seguiu, aliviada por Claire estar bem.
Ela está bem e já estamos indo...
Uma fraca versão da voz dos alto-falantes soou na pequena cabine de comando.
"Restam dois minutos para a detonação".
Claire soltou a arma e apertou os botões, sua atenção fixada no console. De repente, um grande som mecânico
as envolveu, um crescente motor que fez Claire bater os dentes. Sherry não sabia se foi um sorriso, mas Claire
sorriu quando o trem tremeu -
- e começou a se mover, tirando-as da plataforma.
Claire virou, viu Sherry atrás dela, e tentou sorrir. Claire tocou o ombro da garota, mas não disse nada - nem
Sherry, esperando ver o que aconteceria.
O trem ganhou velocidade, passando por alguns corredores e plataformas mal iluminadas, o túnel à frente escuro
e vazio.
O calor da mão de Claire a fez lembrar de que eram amigas, que seja qual for o futuro disso, Claire era sua
amiga -
- e ela viu um homem, um policial aparecer bem à frente, à esquerda, e o trem estava passando por ele, seus
olhos largos e desesperados em seu sujo rosto.
#
"Claire!".
"Estou vendo ele -".
Claire viu e correu para a porta, abrindo-a.
"Leon!". Ela gritou. "Vamos!".
Ela entrou de repente, uma parede passando, parecendo tão desesperada quanto o homem - Leon parecia.
Depois de um segundo ela virou e fechou a porta.
"Ele conseguiu?". Sherry perguntou, vendo que Claire não poderia saber.
Claire foi até ela e a envolveu em seu braço enquanto o trem acelerava e sua face se cobria de preocupação -
- e a voz disse que restava um minuto -
- e a porta de trás do vagão abriu. Leon apareceu, seu braço atado com um pano manchado, seu cabelo duro
com uma escura meleca, seus olhos azuis brilhando sob a máscara de sujeira.
"Destruição total!". Ele gritou. Claire acenou e Leon suspirou fundo. Ele foi até elas, o trem voando pelo túnel, e
abraçou Claire.
"Ada?". Claire cochichou. "Ann - a cientista?".
Leon balançou a cabeça. "Não. Eu não - não". Sherry viu que ele queria chorar.
"Trinta segundos para a detonação. Vinte e nove... vinte e oito...".
A voz da mulher continuou contando, os números parecendo duas vezes mais rápidos do que deveriam, e Sherry
enterrou a cabeça em Claire, pensando na mãe. Mamãe e papai. Ela esperava que tivessem conseguido, que
estivessem à salvo -
- mas provavelmente não.
Sherry podia ouvir o coração de Claire e a apertou mais, ouvindo o policial se aproximar delas.
"... cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Seqüência completada. Detonação".
Por um segundo não houve som. O alarme finalmente parou sobrando apenas os movimentos do trem -
- e então houve uma explosão, um som abafado, um shoomp que continuava crescendo, ficando maior.
Sherry fechou os olhos e o trem chacoalhou de repente, terrivelmente, e todos eles foram para o chão de metal.
Uma brilhante e queimada luz piscou pela janela enquanto o som de batidas de cano explodiram em volta deles,
pesadas pancadas choveram no teto -
- e o trem continuou indo, a luz sumiu e eles não estavam mortos.
O cegante flash dissipou-se, e Leon sentiu a tensão em seu corpo. Ele olhou para o lado e viu Claire sentando-se,
pegando a mão da jovem garota ao lado dela.
"Tudo bem?". Claire perguntou e a menina acenou. Ambas olharam para ele, sentindo o que ele sentia - choque,
exaustão, descrença e esperança.
"Leon Kennedy, esta é Sherry Birkin". Claire disse, sem enfatizar o "Birkin". Ele entendeu a mensagem e acenou
antes de sorrir para a garota.
"Sherry, este é Leon,". Claire continuou. "eu o conheci quando cheguei em Raccoon".
Sherry retribuiu o sorriso, um sorriso bem adulto que parecia fora do lugar; ela era muito jovem para sorrir
daquele jeito.
Mais uma proeza da Umbrella, a inocência roubada de uma criança.
Por alguns segundos eles ficaram lá sentados no chão, sorrisos sumindo. Leon mal ousou pensar que tudo estava
acabado. De novo, ele viu seus sentimentos espelhados nas sobrancelhas preocupadas de Sherry e nos cansados
olhos de Claire -
- foi quando eles ouviram um distante ranger de metal vindo da parte de trás do trem, ele não se sentiu
surpreso. Um cedente e rasgante arranhão - seguido por uma pesada pancada - e depois nada.
Sabia que não tinha acabado -
"Zumbi?". Sherry cochichou, as palavras quase perdidas no suave balançar do trem.
"Eu não sei, meu bem". Claire disse suavemente, e pela primeira vez, Leon percebeu que a perna dela estava
cortada, sangue saindo de vários arranhões.
"Que tal eu dar uma olhada?". Leon disse, tentando não assustar Sherry. Ele se levantou acenando para a perna
de Claire.
"Sherry, fique aqui com Claire, fique de olho naquela perna? Vou ver se acho alguma atadura enquanto dou uma
vasculhada, não deixe-a se mover, tá bom?".
Sherry acenou, e novamente um aceno muito maduro para a idade dela. "Tá".
"Eu volto num minuto". Ele disse, e virou para a porta de trás do trem, rezando para que não seja nada
enquanto empunhava a Remington.
Leon abriu a porta, os sons do trem se amplificando por um segundo, e depois fechou a porta.
Claire não o viu entrar no próximo vagão de onde estava; se houver mais alguma coisa no trem, nenhum deles
estará a salvo -
- não pense assim, está acabado -
- como está para Mr. X?
"O que eu faço?". Sherry perguntou. "Pressionar, né?".
Claire acenou. "É, só que nós estamos bem sujas, e acho que está começando a coagular. Vamos ver se Leon
volta com algo limpo...".
Os pensamentos dela voltaram para Mr. X.
- G-virus. Antes ele queria o G-virus.
Por que Mr. X foi para a plataforma do trem? Por que ele queria entrar no trem, a não ser que -
Claire forçou para se levantar, lutando contra a tontura e a dor na perna.
"Ei, não se mexa". Sherry disse. "Leon falou para ficar parada."
Claire podia superar seus problemas físicos, mas ver Sherry no cume do pânico era demais; se tiver G-virus no
trem e por isso Mr. X voltou, Leon terá que enfrentá-lo sozinho. Ela não podia deixar Sherry. Se Leon não voltar,
ela terá que desengatar o trem ou tentar pará-lo -
Claire cessou os pensamentos, forçando um sorriso. "Sim, senhorita, eu só queria ver se ele já tinha entrado no
outro vagão...".
Ela viu o alívio no rosto de Sherry. "Ah. Bom, então esqueça, pois eu estou cuidando de você agora, e eu digo
que você não se mexe".
Claire acenou, esperando estar errada, que Leon voltasse a qualquer segundo -
Seja lá quem projetou o veículo de fuga, pensava que os funcionários da Umbrella fossem transportados que nem
sardinha -
Seja lá quem for, não devia ser pior que a coisa na sala de carga, a coisa Birkin. Só de pensar que a criatura tinha
a ver com Sherry, era preocupante, até mesmo obsceno. Um monstro e uma maluca, ambos pais de uma
garotinha...
Ele chegou no fim do segundo vagão e espiou pela janela da porta, esquecendo os pensamentos enquanto
tentava ver alguma coisa no último vagão. Estava escuro e nada mais.
Droga.
Talvez não seja nada, mas ele tinha que olhar.
Ele respirou fundo e abriu a porta, recebendo a brisa do exterior, se segurando na grade de apoio. Não devia ser
nada, mas parecia ruim, errado.
Ele abriu a próxima porta e entrou na escuridão. Imediatamente ele ergueu a espingarda, seus sentidos dizendo
para correr quando a porta fechou. Ele recuou e procurou o interruptor de luz. Além do escuro, havia um forte
cheiro de água sanitária ou cloro, e um suave som de molhado, de movimento -
Uma única lâmpada acendeu no meio do vagão, e por um momento pensou ter perdido a consciência.
Uma coisa. Uma criatura que estava longe de humana, exceto pelo pulsante tumor em um lado, uma lisa bola
que mais parecia um olho.
Birkin.
A criatura era gigante, borbulhando uma escura pasta, expandindo seu volume até ocupar a largura do vagão.
Leon não sabia o quanto alto era. Birkin tinha grossas caudas estendidas, tentáculos de uma massa elástica e
úmida, presa em toda parte do espaço à sua frente - no teto, paredes e no chão. E enquanto Leon olhava, a
besta se moveu para frente, os escuros membros contraindo, levando o corpo para alguns centímetros à frente
de onde estava.
É loucura, mas ele estava vendo, vendo as cores preta, verde e roxa em seus tentáculos enquanto se esticavam
de novo, o material viscoso o puxando mais alguns centímetros. O corpo era nada mais do que uma caverna que
ainda tinha dentes -
-e que iria alcançá-lo em breve se não esquecer o nojo da cena.
Leon mirou no grande buraco da boca dele e puxou o gatilho, carregando outra bala, atirando, carregando,
atirando -
- e a espingarda ficou vazia, o gigante continuando a se aproximar.
Ele não sabia como matá-lo, não sabia se as balas o machucaram. Sua mente correu para achar uma resposta.
Ele podia desengatar o último vagão -
- mas a coisa ainda continuaria viva. Vivendo e mudando na escuridão do túnel, se tornando algo novo -
Os tentáculos se esticaram de novo e Leon voltou para a porta. Ele tinha que desconectar os carros, não havia
outra escolha -
- a não ser -
Ele hesitou, depois sacou a Magnum e mirou na criatura, no estranho tumor, o olho que estava em todas as
formas que Birkin já teve.
- BAM!
O efeito foi imediato, a bala perfurou a esfera - e um hiss veio de sua boca circular cheia de dentes afiados, um
som único na Terra. A carne dentro dele contraiu, ficando escura, murchando -
- e a coisa implodiu, encolhendo rapidamente, virando uma massa escura e um quarto do tamanho que tinha,
derretendo numa borbulhante poça de meleca arroxeada.
"Engula isso". Leon cochichou, olhando por alguns momentos, sem pensar em nada - e virou para se juntar às
duas, para dizer que tinha acabado.
Primeiro dia de trabalho.
"Eu quero um aumento". Ele disse, para ninguém e não pôde conter o sorriso em seu rosto, um cansado sorriso
que sumiu rapidamente... mas pelos segundos que durou, Leon se sentiu melhor do que há muito tempo atrás.
Leon estava de volta, e havia encontrado um macacão, que ele rasgou em pedaços e usou para cobrir a perna
de Claire. Tudo o que ele disse foi que agora eles estavam salvos, apesar de Sherry tê-lo visto e Claire lançou-lhe
um olhar - um daqueles olhares do tipo "não-devemos-falar-disso-agora". Sherry estava muito cansada para levar
a mal.
Ela aconchegou-se nos braços de Claire, Claire alisando seu cabelo, nenhum dos três falando. Não havia nada a
dizer, pelo menos não por enquanto. Eles estavam vivos, num trem correndo através da escuridão - e de algum
lugar não muito distante, uma luz suave surgindo, vindo da janela da cabine de controle e Sherry pensou que se
parecia muito com a luz da manhã.
[Epílogo]
Eles viram a explosão 16 quilômetros de fora da cidade, uma nuvem negra que se ergueu na luz da manhã
pendurando-se sobre Raccoon como uma terrível tempestade -
- ou um sonho ruim, Rebecca pensou, ou uma lembrança. Umbrella.
Ela não disse alto, porque não era necessário. John e David não estiveram na mansão de Spencer, mas
souberam do que a Umbrella era capaz em Caliban.
Ninguém falou quando David acelerou o carro, seus dedos apertados no volante. Desta vez, John não fez piadas.
Todos sabiam que era ruim; antes de Jill, Chris e Barry partirem para a Europa, Jill os disse sobre a suspeita de
outro acidente, e pediu que ficassem alerta. Quando as linhas telefônicas ficaram mudas, eles carregaram a van e
deixaram o Maine para ver o que podia ser feito. A única pergunta é a de quantas pessoas morreram desta vez.
Talvez este seja o fim. Uma explosão como aquela... a Umbrella não vai esconder isso tão fácil, não se tiver tão
ruim quanto parece.
John finalmente quebrou o silêncio. "Autodestruição?".
David suspirou. "Provavelmente. E se houve um vazamento, nós não entraremos; nós circularemos a cidade e
depois chamaremos ajuda de Latham. A Umbrella com certeza já está mandando sua equipe de limpeza".
Rebecca acenou junto com John. Eles não eram mais parte do S.T.A.R.S., mas David já foi capitão, e por um
bom motivo.
Eles caíram no silêncio, o amanhecer tocando as árvores que passavam pela van, Rebecca imaginando o que eles
encontrarão -
- quando ela viu as pessoas andando na estrada, balançando os braços.
"Ei -". Ela começou a falar quando David já pisava nos freios, se aproximando das três figuras. Um policial de
atadura no braço e uma jovem mulher de shorts, ambos armados, e uma garotinha de colete rosa grande
demais para ela. Eles não estavam infectados, ou pelo menos não mostravam sinais que Rebecca pudesse ver -
mas eles pareciam. Com suas roupas rasgadas e seus pálidos rostos sob a sujeira, eles com certeza podiam ser
confundidos.
"Eu falo". David, disse, seu sotaque britânico bem firme, emparelhando com os sobreviventes de Raccoon.
David abriu a janela e desligou o motor, o jovem policial adiantando um passo enquanto a mulher colocava seu
pegajoso braço no ombro da menina.
"Houve um acidente, em Raccoon". Ele disse. Mesmo cansados e feridos, havia uma cautela no tom do policial,
sugerindo o quanto ruim estavam as coisas. "Um terrível acidente. Você não quer ir lá, não é seguro".
David franziu. "Que tipo de acidente, policial?". Foi a jovem mulher que respondeu. "Um acidente da Umbrella". O
policial acenou e a garotinha loira enterrou seu rosto no corpo da mulher.
John e Rebecca trocaram um olhar, e David destravou as portas.
"Mesmo? Esses costumam ser do pior tipo". David disse gentilmente. "Nós ficaremos felizes em ajudar se
quiserem, ou podemos chamar ajuda...".
Era uma pergunta. O policial olhou para a mulher e voltou para David. Ele deve ter visto algo no rosto de David
que passou confiança; ele acenou e chamou a mulher e a garota para se aproximarem.
"Obrigado". Ele disse, a exaustão finalmente vindo. "Se você puder nos dar uma carona estará ótimo".
David sorriu. "Por favor, entrem. John, Rebecca - vocês os ajudam...?".
John pegou alguns cobertores lá atrás enquanto Rebecca pegava o kit médico, cuidando para não descobrir os
rifles perto do estepe.
Acidente da Umbrella...
Rebecca pensou no quanto sortudos foram por terem sobrevivido.
Eles começaram a falar mesmo antes de David fazer o retorno - e em pouco tempo, eles descobriram ter muito
em comum. Enquanto a menina dormia, eles voltaram por onde vieram, deixando a cidade em chamas para trás

 

 

 

 

                                                   S.D. Perry         

 

 

 

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