Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites
COBIÇA
Segunda Parte
Ao longo dos últimos vinte anos, Jim passara horas assim: Sozinho. Sem rádio, sem televisão. Só um pedaço de madeira e uma faca. Ele fizera pássaros, animais, estrelas e letras que nada significavam. Rostos e lugares entalhados. Árvores e flores. Havia muitas vantagens em seu hobby. Barato, portátil, e ele sempre teria sua lâmina aonde quer que estivesse.
As armas de fogo tinham ido e vindo. Outros tipos de armas, também. Oficiais comandantes da mesma forma.
Mas a faca sempre tinha estado com ele.
Deus, o dia que ela fora dada de presente a ele, seu flanco era claro como um espelho, e a primeira coisa que fizera foi levá-la para fora de seu alojamento e esfregar sujeira em ambos os lados dela: Embaçando todo aquele brilho-e-esplendor, como afiar as extremidades do negócio, tinha sido parte de realçar sua utilidade.
A arma nunca lhe falhara. E pro inferno se ele não dissesse que ele também, mas ela cortava em pedaços uma excelente peça de madeira, também—
Seu celular explodiu, tocando em cima da colcha. Enquanto ia ver quem era, Jim colocou o galho de carvalho de lado e manteve a faca com ele por força do hábito.
Abrindo o telefone, viu que era um número não-identificável e sabia exatamente quem era. Pressionando com o polegar no botão send, ele levou o celular ao ouvido.
—Sim? Silêncio. E então aquela profunda e cínica voz:
—Em qual peça você está trabalhando? Porra. O fodido do Matthias sempre sabia demais. —A rainha.
—Antigos hábitos são difíceis de desaparecer, não são?
Assim como antigos chefes.
—Achei que você disse que eu não podia te ligar mais.
—Seus dedos não fizeram a ação desta vez, fizeram?
—E pensar que você desperdiçou todo esse esforço só para descobrir o que eu estava fazendo. Houve uma pausa. —O número da placa. Por que você precisa descobri-lo e por que se importa com o dono do veículo.
Ah, então este era o porquê do telefonema.
—Não é da sua conta.
—Nós não toleramos trabalhos freelances. Em qualquer nível. Faça uma merda como esta e estará não somente fora do serviço ativo, você será aposentado.
O que significava que havia uma caixa de madeira, não um relógio de ouro, em seu futuro: Os chefes dele não o enviavam no pôr-do-sol com um Rolex. Você simplesmente acordava morto numa manhã.
—Seja como for, Matthias, eu conheço a rotina, e se você ligou só para confirmar isto, perdeu seu tempo.
—E sobre o número da placa?
Jim parou, e pensou, supondo que o dever ainda era uma obrigação. Enquanto recitava o número de identificação de Marie-Terese e detalhava o pouco que sabia sobre a mulher, ele estava confiante que a procura não seria assinalada como inapropriada, mesmo que ela estivesse sendo feita pelos canais do governo. Matthias era brando, por um lado. Por outro, havia apenas um outro cara com mais poder do que ele tinha.
E aquele FDP trabalhava num escritório oval.
É, tinha horas em que não fazia mal algum ter o cachorro grande lhe devendo a vida.
—Eu estarei em contato,— Matthias disse.
Quando o telefone foi desligado, Jim baixou o olhar para sua faca. Matthias ganhara uma na mesma época que Jim, e o cara tinha sido malditamente bom com ela — mas ele também tinha sido excelente nas políticas do —escritório—, considerando que Jim, com todas as suas tendências anti-sociais, ficara em campo. Um caminho levou Matthias para o topo; O outro colocara Jim... num estúdio em cima de uma garagem.
Com um novo conjunto de chefes.
Jim sacudiu a cabeça enquanto ele comparava aquelas quatro bichas aristocráticas com suas bolas de criquet, seu cão de caça e seu castelo para Matthias e sua laia: Era como colocar um punhado de sapatilhas de balé contra botas para caminhar equipadas com esporas de gelo. Sem chance — pelo menos na superfície. Jim tinha a distinta impressão, contudo, que aqueles garotos no outro lado tinham merda em seus bolsos de trás que fariam todas as armas convencionais e nucleares à disposição de Matthias parecerem como brinquedos.
Ele voltou e se sentou na cadeira barata, próximo ao Dog, exceto que desta vez levou seu celular com ele. Enquanto retomava a esculpir, ele pensava sobre sua nova linha do trabalho.
Assumindo que Vin seguiria em frente e romperia as coisas com Devina, e proveria o cara responsável por penetrar na concha de Marie-Terese, Jim teve que se perguntar qual diabos era seu próprio papel em toda parte dessa encruzilhada. Sim, talvez ele tivesse conseguido pegar o par delas no mesmo lugar na noite de sexta-feira, mas exceto isto, o que ele tinha feito?
Ou este era o bico mais fácil do planeta, ou ele estava perdendo alguma coisa.
Um pouco mais tarde, Jim deu uma olhada no relógio. E então meia hora depois olhou novamente. Matthias trabalhava rápido. Sempre. E em virtude disso, o pedido era simples: Verificar o registro e o dono de um Toyota Camry de cinco anos e realizar uma busca de antecedente criminal. Este era o tipo de coisa que levava dois cliques do mouse, seis golpes no teclado, e mais ou menos um nano-segundo.
A menos que uma emergência de segurança nacional tivesse acontecido. Ou algo havia sido encontrado nos registros de Marie-Terese.
Havia razões por que as pessoas sentiam a necessidade de olhar atrás de si mesmas em becos escuros. Boas razões por que a maioria tendia a se apressar, mesmo se não estivesse frio. Excelentes razões por que ruas iluminadas eram muito preferidas à noite.
—Oh... Deus, não.... Por favor...
A curva para baixo do pé-de-cabra cortou a súplica e foi um corte brusco, como desligar uma luz: Num momento havia iluminação, no outro nada além de escuridão. Num momento havia uma voz, no outro nada além de silêncio. O sangue estava em ambos os rostos agora.
Enquanto ele começava a matar o homem, a ira ergueu seu braço mais do que qualquer pensamento consciente e sua raiva lhe deu o tipo de força que significava que não iria demorar muito tempo. Só mais um golpe, se é que isso seria necessário, e haveria mais do que um silêncio temporário.
Deslocando seu peso para conseguir tirar o máximo da trajetória descendente, ele—
Na outra extremidade do beco, os faróis de um carro fizeram uma varredura ao redor, os dois feixes de luz atingindo o tijolo do edifício à esquerda e revelando sua parede áspera.
Não havia tempo para outro golpe. Em questão de segundos, ele seria iluminado tão claro como se estivesse no palco.
Dando a volta, ele disparou para o lado oposto do beco, correndo tão rápido quanto podia. Enquanto acelerava, dando a volta na esquina, eles veriam por um momento sua jaqueta e a parte de trás de seu boné de beisebol, mas existiam centenas de blusões Gore-Tex[1] pretos em Caldwell, e um chapéu preto era um chapéu preto.
Houve um chiado de freios e então alguém gritou alguma coisa.
Ele continuou com o andar apressado por apenas três quarteirões, e quando não havia mais nenhum grito e nenhum som barulhento de um carro o perseguindo, diminuiu a velocidade de seu passo, então entrou rapidamente numa inserção que não tinha nenhuma iluminação na parte de cima. Tirando o blusão, enterrou o pé-de-cabra nele, fazendo nó atrás de nó com as mangas para prender a coisa enquanto recuperava o fôlego.
Seu carro não estava muito longe porque ele o tinha deixado em um lugar distinto do estacionamento do Iron Mask apenas para ficar protegido. E não é que aquilo tinha se revelado ser a decisão certa?
Mesmo depois que ele estava respirando devagar e continuamente, ficou onde estava, escondido e seguro. As sirenes da polícia vieram mais ou menos cinco minutos depois e ele observou dois carros de marca acelerar. Mais ou menos um minuto e meio depois um terceiro carro, que não era de marca e tinha o giroflex preso no painel, passou com muita pressa por ele.
Quando não tinha mais nenhum outro, tirou seu boné de beisebol, o enrolou, e empurrou para dentro do bolso de sua calça jeans. Então tirou seu cinto, suspendeu seu casaco de lã, e guardou o pé-de-cabra ensanguentado e seu embrulho junto a sua costela. Depois de se cobrir outra vez, se moveu como um fantasma para fora da inserção e se dirigiu a seu carro, que estava a menos de quatrocentos metros de distância.
Prosseguindo, ele não caminhava nem rápido nem devagar, e olhava ao redor com seus olhos, mas não com sua cabeça. Para o observador casual, ele era apenas um outro pedestre na rua depois da meia-noite, um cara jovem prestes a se encontrar com amigos ou talvez a caminho da casa de sua garota: Nada incomum, totalmente despercebido, enquanto se deparava com um par de sujeitos, uma mulher sem-teto e um punhado de casais.
Seu carro estava exatamente onde o havia deixado e ele teve que entrar cuidadosamente, graças ao que estava escondido debaixo de seu casaco de lã. Dando a partida no motor, saiu em direção a Trade, e quando uma ambulância se aproximou dele a toda velocidade, ele fez a coisa certa, retirando-se rapidamente para o lado e saindo do caminho.
Não precisa se apressar, rapazes, ele pensou. Dado a brutalidade com que tinha batido naquele cara, não havia como o trazerem de volta.
Diminuindo em direção ao rio, ele ficou com o fluxo do tráfico, até o ponto que havia algum, mas não tinham muitas pessoas nas estradas tão tarde assim. E havia cada vez menos enquanto ele ia para cada vez mais longe do centro da cidade.
Uns bons vinte e cinco quilômetros depois, ele parou no acostamento da estrada.
Não havia nenhuma iluminação na rua ali. Nenhum carro. Só uma extensão de asfalto com árvores e galhos que vinham até o acostamento de cascalho.
Saindo, trancou o carro e foi pelo bosque, em direção ao rio. Quando ele emergiu na margem do Hudson, olhou para o outro lado do caminho. Havia algumas casas no outro lado, mas só tinham luzes acesas do lado de fora, o que significava que os habitantes estavam dormindo — embora não importaria se eles estivessem acordados, deitados na cama, ou até caminhando pelas suas cozinhas, querendo um lanche. Ninguém o veria. O rio era largo aqui, largo e fundo.
Levantando seu casaco de lã preto, ele libertou o pé-de-cabra, e com um forte arremesso, o lançou junto com o blusão na água. Com um baque e apenas um pouco de água espirrada, a coisa afundou num piscar de olhos, para nunca mais ser encontrada: O leito do rio estava a pelo menos três metros abaixo nesta parte, mas melhor ainda, ele escolhera um lugar onde havia uma curva para o curso do Hudson — a corrente não iria apenas levar o pé-de-cabra mais longe de Caldwell; arrastaria a coisa para mais distante no meio, longe da margem.
De volta ao seu carro, ele entrou e continuou andando.
Dirigiu nos arredores por um tempo, escutando a rádio local, morrendo por saber o que a polícia iria relatar sobre que tinha acontecido naquele beco. Mas não havia nada. Apenas hip-hop e pop rock na FM e teorias de conspiração e líderes da direita falando na AM.
Enquanto ele prosseguia, pegando aleatoriamente esquerdas e direitas, pensava no modo como as coisas saíram aquela noite. Ele podia sentir a si mesmo deslizar para dentro de antigos modos e hábitos, e isso não era bom — embora de certa forma, parecesse inevitável.
Era difícil mudar quem você era por dentro. Muito difícil.
O negócio era que, atirar naqueles garotos de faculdade na noite anterior tinha sido um pouco um choque, mas todo o incidente do pé-de-cabra neste instante parecia negócios como de costume. E o gatilho para a matança tinha sido muito mais baixo. O cara não tinha nem mesmo sido agressivo com a ela naquele clube. Ele ficara com ela e isso fora o suficiente. Um olhada naquele sorriso de auto-satisfação quando ele tinha saído daquele banheiro que eles tinham desaparecidos e o filho da puta era um homem morto.
Mas as coisas não podiam continuar assim. Ele era esperto o suficiente para saber que se continuasse eliminado homens no centro da cidade, suas chances de ser pego aumentariam com cada corpo que deixasse para trás. Então ou ele precisava parar... ou limpar suas bagunças.
Quando estava convencido de que não tinha sido seguido, e quando não conseguia mais combater o desejo de checar a TV, ele se dirigiu para casa — ou para o que tinha sido sua casa nos últimos dois meses.
A casa era de aluguel, nos subúrbios da cidade, num bairro cheio de jovens famílias com jovens crianças ou velhos casais sem crianças. E dado o número de gente que estava passando por um momento difícil no atual estado de depressão econômica, tinha sido fácil para ele encontrar alguma coisa.
O aluguel era mil por mês. Sem problemas.
Entrando na calçada, bateu no abridor da porta da garagem e esperou enquanto os painéis se levantavam. Estranho. A casa ao lado tinha luzes acesas dentro dela. Uma no corredor frontal, outra na sala de estar, e uma terceira no alto da escada. O lugar sempre ficara escuro antes.
Não era da sua conta, entretanto — ele tinha bastante dos seus próprios problemas acontecendo.
Estacionando em sua garagem, apertou o botão do controle remoto e esperou até que ficasse fechado do lado de dentro, assim ninguém o veria sair. O qual era um hábito que adquirira graças ao observar sua mulher. Dentro da casa, ele foi para a parte de trás do hall do banheiro e ligou a luz. No espelho, percebeu que o bigode que colocara no lábio superior tinha saído do lugar — nada bom, mas pelo menos ninguém olhara pra ele com ar divertido enquanto caminhava para seu carro. Talvez tivesse acontecido enquanto estava no rio.
Ele arrancou a faixa de penugem, escorrendo banheiro abaixo, e pensou em lavar o sangue ali, mas imaginou que o chuveiro lá de cima seria melhor. E quanto a suas roupas? Seu casaco de lã ficara protegido pela jaqueta, que estava agora no Hudson, mas sua calça jeans estava manchada.
Droga, as calças eram um problema. Havia uma lareira na sala de estar, mas ele nunca a usara antes, não tinha nenhuma madeira, e além disso, se acendesse algo, haveria uma chance dos vizinhos sentirem o cheiro da fumaça e se lembrarem disto.
Melhor deixá-las no rio depois de escurecer, assim como ele fizera com o pé-de-cabra.
O chapéu. Ele usara o chapéu, também.
Ele tirou o boné preto do bolso de trás. Tinham só algumas manchas nele, mas isso era o suficiente para colocá-lo na área de descarte. Não se conseguia limpar as fibras o suficiente nestes tempos dos CSIs[2]. O fogo ou o desaparecimento permanente eram as únicas opções que se tinha.
Lá em cima, ele parou no topo da escadaria. Com ambas as mãos, tirou a peruca e alisou seu cabelo de forma que ficasse no lugar. Ele supôs que seria melhor tomar banho antes de se revelar, mas não podia esperar tanto assim. Além disso, teria que caminhar pelo quarto para chegar ao banheiro, então ela o veria de qualquer maneira.
Ele foi para a entrada da porta. —Eu estou em casa.
Do outro lado, ela olhou para ele do canto, tão bonita, recatada e resplandecente como sempre, seus olhos inundados de compaixão e calor, sua pele de alabastro brilhando na turva luz lançada pela lâmpada da rua do lado de fora.
Ele esperou por uma resposta e então lembrou a si mesmo que uma não viria: A estátua de Maria Madalena que ele roubara ao amanhecer permanecia tão quieta quanto tinha estado quando ele a levara da igreja.
Ele teve que levá-la. Agora que sabia o que sua mulher fazia para viver, esta era sua representação de seu amor, algo para ajudá-lo a aguentar até que finalmente e permanentemente a tivesse no lugar onde ela pertencia — que era com ele.
A estátua também o lembrava de que não devia matá-la só porque ela era uma puta suja, imunda. Ela era... uma mulher desorientada, enganada, fora do caminho certo. Algo de que ele próprio era culpado. Mas ele tinha cumprido sua pena e estava de volta ao caminho agora....
Bem, com pequenas exceções.
Enquanto se ajoelhava na frente da estátua, estendeu o braço para colocar o rosto em sua palma. Ele amava poder tocar em sua mulher e era um pouco desapontador não tê-la o acariciando de volta ou o adorando como ela deveria.
Mas era por isso que ele precisava da coisa real.
Marie-Terese estava convencida que Vin iria beijá-la na boca.
E havia uma parte dela que queria apenas isso, mas ela estava em pânico, também: Tecnicamente, tinha estado tendo relações sexuais no clube, mas já tinham passado três anos desde a última vez que ela foi realmente beijada. E a última vez que isto aconteceu, a tinham forçado, como parte de um ato de violência.
Em vez de dar o que ela tanto queria e temia, porém, Vin apenas pressionou seus lábios na sua testa e a estreitou contra o seu peito – e aqui estava ela, nos braços fortes de um homem cujo coração estava batendo perto de seu ouvido, cujo calor estava esquentando o seu próprio corpo, cuja mão estava fazendo círculos lentos nas suas costas.
Marie-Terese deslizou a palma de sua mão em seu peitorais. Por debaixo da cashmere, seu corpo estava rígido, sugerindo que ele se exercitava muito.
Perguntou-se como ele ficaria sem roupa.
Perguntou-se como sua boca se sentiria na dele.
Perguntou-se como seria tê-lo, pele contra pele.
—Eu acho que deveríamos ir, — ele disse, sua voz retumbando através de seu peito. —Nós temos?
Ele prendeu a respiração e depois soltou.
— Eu acho que é melhor.
—Por que?
Vin encolheu os ombros, o movimento esfregando sua suéter contra seu rosto.
—Apenas acho que é o melhor.
— Oh, homem... que tal isso como uma cortês rejeição.
Bom Deus, e se ela tinha entendido tudo errado?
De repente, saiu dos braços dele.
—Sim, eu acho que você está certo.
Na pressa, a palma de sua mão escorregou no pelo fino de sua suéter e roçou por cima de algo que estava duro, abaixo de sua cintura. E não sólido como um osso.
—Maldição, eu sinto muito, — ele disse, movendo seus quadris pra longe. — Sim, definitivamente é hora de sair daqui...
Ela olhou para baixo. Sua ereção era inconfundível, e por tudo que você sabe, ele teve uma estrondosa resposta sexual. Ela o quis. Precisava tê-lo dentro dela. E todos os motivos racionais para não ir por aí, de repente, não eram nada mais que bla, bla, bla...
Com os olhos presos no dele, ela sussurrou:
— Beije-me.
Vin congelou no processo de se levantar. Enquanto seu peito se expandia, ele olhava para o chão e não disse nada.
—Oh, — ela disse. —Eu entendo.
Seu corpo poderia a querer, mas sua mente estava emperrada com o pensamento de estar com uma prostituta.
Em segundos horríveis, ela viu os rostos dos Johns com quem ela tinha estado... ou pelo menos daqueles que ela conseguia se lembrar. Tantos deles, mais do que ela podia contar, e eles lotaram o espaço entre ela e esse homem que estava sentado em sua cama de infância, parecendo tão sexy quanto qualquer coisa.
Ela não quis os outros. Teve o cuidado de estar tão separada deles como ela podia, as camadas de látex e barreiras de dissociação que ela usou para tentar permanecer tão intocada pelo contato como ela podia.
Vin, no entanto ... Vin ela o queria perto, e ele não podia chegar lá.
Esse foi o dano real que ela tinha feito para si mesma, não foi: ela assumiu que, enquanto estivesse livre de doenças e fisicamente ilesa, os efeitos a longo prazo estariam limitados a vagas lembranças que ela estaria desesperada para esquecer. Mas isto era o câncer, não uma gripe. Porque ela mal podia ver Vin, no meio de centenas, e ele estava tão cego e invisível pela multidão anônima, como ela era.
Difícil de engolir, ela pensou... neste momento, ela teria desistido de tudo para ter tido um quadro limpo entre ela e Vin. Tudo... Com exceção de seu filho.
Marie-Terese se deslocou para fora da cama, mas ele pegou sua mão antes que ela pudesse disparar para fora do quarto.
—Eu não posso parar só beijando você. — Seu olhar excitado fixo nela. —Essa é a única razão que eu estou me segurando. Eu gostaria de dizer que eu sou um cavalheiro e poderia me conter ou parar com apenas uma palavra sua, mas eu não posso confiar em mim. Não esta noite.
Apanhados na distância entre eles, tudo que ela conseguia ouvir era, Mulheres como você não dizem não.
Com a voz rouca, ela disse:
— Você já sabe que eu sou uma vagabunda. Então eu não vou parar. – A expressão de Vin foi fria e ele a soltou.
Depois de um momento, ele se levantou e olhou para ela.
—Você nunca mais vai se referir a si mesma assim na minha frente novamente. Estamos claros? Nunca mais. Eu não dou a mínima com quem você esteve ou quantos eram, você não é uma vagabunda, não para mim. Você quer atacar a si mesmo, faça isso no seu tempo e não tente me arrastar para o meio.
Em um instinto de sobrevivência, ela se encolheu e protegeu a cabeça, esperando suas mãos se fecharem em punhos e vir voando para ela.
Ela havia sido treinada exaustivamente no que os homens furiosos faziam para as mulheres.
Exceto Vin só olhou fixamente para ela, a raiva no seu rosto sumiu, deixando-o pálido.
—Ele bateu em você, não foi.
Marie-Terese não poderia responder. Porque até um aceno com a cabeça a teria enviado a um espiral de lágrimas. Hoje à noite... como o próprio Vin havia dito, esta noite não era a noite para confiar em si mesma: Considerando desistir do negócio a fez se sentir mais forte, isso seria temporário. Aqui e agora, ela era vulnerável como o inferno.
— Jesus Cristo... — Vin murmurou.
Antes dela perceber, ela estava de volta em seus braços, nas costas dela e de perto. Enquanto eles estavam juntos, alguma coisa ocorreu com ela sobre as escolhas que ela fez... algo que ela não queria olhar muito de perto, então ela afastou isso da mente e se prendeu apertado em seu abraço.
Erguendo sua cabeça para olhá-lo, ela disse:
— Fique comigo. Agora.
Vin ficou imóvel... e depois com mãos gentis segurou seu rosto em concha.
— Você tem certeza?
—Sim.
Após um longo momento, ele diminuiu a distância entre suas bocas e a beijou doce e lento. Ah... suave. Ele era tão suave e cuidadoso, acariciando, inclinando sua cabeça para o lado, acariciando um pouco mais.
Foi melhor do que ela lembrava, porque era melhor do que ela jamais teve.
Correndo as palmas das mãos pelo seus braços, ela sentiu como se os dois fossem suspensos no ar, presos por opção, não capturados pelas circunstâncias. Leve como o contato entre eles era, suave como seus lábios eram, cuidadoso como suas mãos eram, poder chiou entre eles.
Vin recuou um pouco. Ele estava respirando com dificuldade, os músculos do seu pescoço se esticando. E não era só isso. Quando ele olhou para ela, seu corpo estava ainda mais pronto para o que ia acontecer em seguida. Ele pigarreou.
—Marie-Terese…
Estava na ponta de sua língua lhe pedir para chamá-la por seu nome verdadeiro, mas ela se deteve.
—Sim? — Ela sussurrou em uma voz tão potente quanto a dele. —Deite-se comigo.
Quando ela assentiu, ele a trouxe para ele e a puxou para a cama de forma que eles acabaram com suas partes superiores juntas. Com seus corpos ajustados num efeito glorioso, suas mãos roçaram seus cabelos, sua face e seus ombros.
—Eu gosto da maneira como você se sente debaixo de mim, — ela disse.
Ele sorriu.
—E como eu me sinto?
— Duro. — Ela se arqueou contra ele, esfregando-se em sua ereção.
Enquanto Vin se recostava de volta no travesseiro e silvou, ela colocou a boca sobre sua rígida medula espinhal que se alinhava ao pescoço, beijando seu caminho até eles até que ela chegou na sua mandíbula afiada. Agora, ela era aquela que estava fundindo suas bocas, e ele a estava acompanhando, línguas arrastando para dentro e para fora, mãos vagando, quadris se movendo ondeando no gesto antigo de sexo bruto.
Não demorou muito para que ela precisasse de muito mais. Seus seios estavam doendo, os bicos lutando contra o sutiã, e ela tomou sua mão e a aliviou sob a camisa que ela estava usando. O contato da palma de sua mão em suas costelas a fez chupar sua língua e incitou-o para a frente, guiando o contato sobre ela.
—Vin...
Enquanto ele espalmava seu peito, ele gemia e esfregava o polegar ao redor do seu mamilo.
—Você é inferno em minha força de vontade. Inferno total...
Com um impulso, ele se debruçou e se aninhou em seu peito por cima da roupa.
—Eu preciso de você nua.
—Era só o que eu estava pensando. — Sentada em seus quadris, ela enrolou o cacho do cabelo sobre a cabeça e foi atacada por uma onda de pudor. De repente, ela queria que a sua nudez fosse bonita para ele... ela realmente quis.
Como se ele lesse sua mente, ele murmurou:
—Você prefere fazer isso com as luzes apagadas?
Bem, sim. Exceto que ela então não poderia vê-lo.
—Eu não sou perfeita, Vin.
Ele deu de ombros.
—Nem eu. Mas eu garanto que o que quer que você escolha me mostrar eu vou gostar porque é você.
Soltando suas mãos e segurando fixamente seu olhar, ela disse:
—Então tire minha camisa. Por favor. – Sentando-se em seu colo de forma que eles ficassem cara a cara, Vin desabotoou a camisa até o umbigo, sua boca indo pra sua garganta e, em seguida, pra sua clavícula e, finalmente na frente o fecho de seu sutiã. Seus olhos tocando os dela enquanto ele alcançava e fazia saltar o fecho.
Ele não deixou os dois lados romper-se separadamente, mas segurou—os no lugar.
Centímetro por centímetro sua boca beijou todo o caminho até seu peito. Enquanto fazia isso, ele expunha lentamente sua carne até chegar ao mamilo e, em seguida, ele o tirou completamente do bojo de renda. Seu corpo inteiro estremeceu com a luxúria.
—Você está tão errada — ele gemeu. — Olhe para você... Perfeita. — Ele estendeu a língua e a lambeu. E lambeu novamente.
Observá-lo foi quase tão bom como senti-lo, e os dois juntos, a visão e a sensação, disparou o sangue dela até que ela estava ofegante. Graças a Deus que eles tinha deixado a luz acesa.
Vin mudou suas posições, colocando-a embaixo dele e elevando-se por cima dela, seus ombros largos bloqueando o spot no teto enquanto ele a beijava novamente. Sob sua força, ela se sentia pequena e frágil, mas poderosa também: Ele estava respirando com dificuldade, porque ele a queria, porque o seu desespero era tão grande e exigente como o dela, porque ele precisava disso com o mesmo vigor e energia que ela. Eles estavam juntos nisso.
E então ela parou de pensar, porque ele lançou sua boca em seu peito e tomou fundo enquanto ele separava sua camisa do caminho e afastou o bojo do seu sutiã.
Enquanto ele continuava o que estava fazendo, ela estava morrendo de vontade de saber qual seria a sensação de sua pele na dele, então ela pegou um punhado da parte de trás de seu suéter e começou a puxá-lo. Ele terminou o trabalho, levantando-se para tirar do seu peito.
No espelho do outro lado, ela assistia como as costas dele eram reveladas, a luz por cima batendo na espetacular expansão dos músculos que preencheram seus ombros e em volta do seu torso. E a visão de seus peitorais foi tão bom.
Ele era uma fantasia que se tornou real, seu corpo, nada mais que saliências de força que se transformavam em carne macia quando ele levou seus lábios até o mamilo novamente. Com os braços curvados sustentando o peso de seu peito, ele era um magnífico animal macho pronto para cinqüenta mil anos de evolução e desenvolvimento mental para o acasalamento básico que estava por vir.
Fale sobre o perfeito...
Marie-Terese mexeu os quadris e afundou os dedos profundamente em seus cabelos. Seu corpo era fluido sob sua boca e seu toque, o calor circulando através dela e apertando a dor entre suas pernas. Quando a necessidade erótica era demais, ela abriu suas coxas e...
Ambos gemeram quando sua ereção pousou exatamente no lugar certo.
Vin se arqueou contra ela, e suas unhas arranharam através do cós de sua calça comprida: Cuidadoso e suave foi tudo bem e bom, mas o impulso tinha começado a construir e toda a preocupação do que fazer foi varrida.
—Posso tirar suas calças jeans? — Ele perguntou. Ou mais parecida um gemido. — Oh, por favor...
Ela se apoiou sobre os calcanhares enquanto ele deixava livre o botão superior, abria o zíper e escorregava o jeans por suas pernas. Sua calcinha era preta e ele parou e apenas olhou fixamente.
—Bom... Senhor — ele murmurou.
Suas mãos realmente se agitaram quando ele estendeu e correu as pontas dos dedos em sua barriga. Ela esperou que ele a beijasse outra vez... ou se mover por cima dela... ou tirar suas calcinhas...
—Há algo de errado?, — ela disse com voz rouca.
–Não... nada... eu só não posso ter o suficiente olhando para você.
Finalmente, ele se aproximou de seus lábios. Lambendo sua boca, ele se ajustou sob ela com todo o seu peso, seu tórax nu sobre o dela, as pernas entrelaçadas. Juntos, eles acharam um ritmo, um arco erótico até que ela estava ofegando como ele.
—Por favor... Vin...
Enquanto ele a beijava, sua mão deslizou embaixo do seu quadril e por cima de sua coxa, depois roçou através da extensão de sua calcinha.
— Eu preciso sentir você — ele disse.
Ela pegou seu antebraço e o empurrou para baixo, movendo os dedos para seu centro, arrastando-os através do calor que a cobria. Quando ela estremeceu e abriu as pernas para os lados, ainda mais, ele levou a boca para seu peito e chupou... enquanto a esfregava.
—Mais, — ela disse.
Deslizando sob a extremidade delicada, ele encontrou sua maciez e amaldiçoou, seu corpo esticado rompendo-se da cabeça aos pés, os dentes rangendo, as cordas em seu pescoço se apertando completamente.
—Ah... Cristo..., — disse.
—Ah... maldição.
De repente, ele se puxou pra trás e olhou pra baixo, para si mesmo.
–O que?, — ela perguntou ofegante.
—Eu acho que eu acabei de ter um orgasmo.
Enquanto ele ruborizava, ela começou a sorrir e não conseguia parar.
—Você teve?
Ele balançou a cabeça para ela.
—Certo, ok, isso não é uma coisa boa em um momento como este. Cinco minutos a partir de agora? Perfeito. Neste momento? Não tão quente.
—Bem, isso me faz se sentir sexy, — disse ela, acariciando com a mão seu rosto. —Você não precisa de nenhuma ajuda com isso.
Marie-Terese deixa seu toque deslizar devagarzinho por seu tórax e seu estômago rígido, em seguida mais embaixo sobre o seu cinto e seu...
Vin jogou sua cabeça pra trás e gemeu, seu peitoral se flexionando, seu tronco se curvando pra cima.
— Droga.
Movendo sua palma de cima pra baixo em sua ereção, ela aconchegou seu rosto em seu pescoço e mordeu um pouco.
—Eu não acho que será tão lento.
Suas costelas se contraíram, sua respiração acelerou.
—Eu preciso ficar nu.
—Eu espero que sim.
Suas mãos eram ásperas em seu cinto e braguilha, e sua calça caiu no chão na velocidade da luz. A cueca negra e curta mal cobria seu sexo. Sua ereção era uma crista longa enchendo um lado, a ponta da cabeça lutando para se livrar do cós que a mantinha dentro.
Antes que ele pudesse deitar de costas, ela o alcançou e puxou suas cuecas por baixo de suas coxas rígidas, despertando sua excitação. Ele teve um orgasmo e a ponta do seu sexo, brilhante e molhada o fez ainda mais preparado para o que estava vindo rápido.
Embrulhando a mão em torno de seu eixo, ela acariciava o seu sexo e olhou para cima, vendo como ele plantou uma palma contra a parede e deixou a cabeça cair. Ele se moveu com ela e ela olhou através do espelho, olhando como suas costas pareciam enquanto seus quadris se balançavam para frente e para trás, apertando e soltando os músculos do torso e da forma que sua espinha ondulava em uma onda era a coisa mais erótica que ela já tinha visto...
Marie-Terese o deixou lhe tirar a calcinha, e se estendeu ao lado dele. Pronta. Vin endireitou a cabeça e olhou fixamente para ela por baixo das sobrancelhas, os olhos prateados iluminados e brilhantes como um flash de aço no sol do meio-dia.
Ambos se lembraram da mesma coisa ao mesmo tempo.
–Você tem um...
—Eu tenho um preservativo.
Graças a Deus, ela pensou enquanto ele pegou sua carteira e tirou um daqueles pacotes de Tiffany Trojan azul. Ela tomava pílula, cortesia de sua visita regular ao médico, e ela acabou de ter um check-up, mas não importa quanto atraída ela estava por Vin, ela não iria ser descuidada com seu próprio corpo por ninguém.
O sexo seguro era a única maneira.
E vê-lo proteger ambos era um inferno de sexy. Quando ele estava pronto, eles retomaram a posição que tinham antes, de costas contra o edredom, metade dele em cima dela, metade ao lado. O preservativo era frio contra sua coxa, deixando rapidamente um rastro refrescante, e ela desejou que tivesse um momento para sentir verdadeiramente o seu sexo em algum lugar nela. Mas depois ele estava completamente em cima dela e entre as pernas, a cabeça dele cutucando seu coração.
Ela olhou-o fixamente nos olhos enquanto o guiava.
Como ele estava certo. Como encher e espetacular a união. O quão maravilhoso encontrar seu olhar fixo e ver refletido nele as mesmas coisas que ela estava sentindo o choque glorioso de como eles se encaixam bem, a necessidade de enroscar-se ainda mais...
E existia outra surpresa para ela: Por uma vez não doeu porque seu corpo realmente queria isto.
—Você está bem? — Ele perguntou com uma voz gutural.
— Mais do que bem.
Marie-Terese envolveu os braços em volta de seus ombros e o segurou tão perto que eles começaram a se mover juntos. Sua última visão antes de fechar as pálpebras foi deles no espelho, seus corpos embrulhados, suas pernas amplamente divididas, seus quadris conduzindo. Quando ela encontrou no espelho seus próprios olhos, seu reflexo, foi um choque. Suas bochechas estavam vermelhas e os cabelos emaranhados e seus lábios? Separados. Ela se parecia muito com uma mulher com um bom parceiro.
O que fez sentido. Isto era sexo da maneira boa e antiga entre duas pessoas que queriam estar juntas por nenhuma outra razão a não ser que no momento era a coisa certa para ambos.
Enquanto o espelho estava mostrando cresceu ondulado de lágrimas que saltavam dos olhos, ela encerrou a visão deles e virou o rosto em seu ombro.
De alguma maneira, ele conseguiu abraçá-la e ainda manter o ritmo.
Quando Marie-Terese se lançou sobre a borda do prazer e caía em queda livre ela tinha apenas uma vaga lembrança, ela segurou no homem responsável pela forma como ela se sentia e se deixou ir. De seu sexo, mais um clímax e ela sentiu a satisfação absoluta enquanto ele tremia e gozava.
Exceto então tudo deu errado. Por uma fração de segundo, ela pensou que estava fazendo por dinheiro, e isso foi tudo que necessitou para arruiná-lo: Uma rajada fria soprou em seu peito e se espalhou até que todas as suas veias estavam congelados e seus músculos contraídos contra os ossos gelados.
Vin congelou como se ele tivesse percebido a mudança nela e ergueu sua cabeça.
—Converse comigo.
Ela abriu a boca. Mas nada poderia sair.
—Tudo bem, disse ele suavemente, pegando suas lágrimas com a ponta dos dedos. —Isso deve ser duro para você. Mesmo que pareça certo, deve ser difícil.
Ela lutou para recuperar o fôlego, não do esforço, mas do esforço de não voar sem ele.
—E se tudo volta toda vez que eu estou...
Com você, ela quis dizer, mas ia parecer demais. Pelo amor de Deus, ela não sabia se ainda estaria na cidade semana que vem.
Ele a beijou.
—Outras memórias tomarão o lugar de tudo isso. Vai levar tempo, mas acontecerá.
Ela olhou para o espelho e pensou na maneira como ele se moveu. Enquanto ela se lembrava da sensação e do aspecto dele, o frio retrocedeu, reconduzindo-a por uma onda de calor.
— Espero que tenha razão, — ela disse, passando as mãos pelos cabelos. — Eu realmente espero.
Enquanto estavam deitados juntos, Vin cobriu Marie-Terese com a melhor manta que tinha: seu próprio corpo. Demônios, que bem se sentia estar todo aglomerado em sua pequena cama com ela, embora devia tomar cuidado com as mãos e para onde se dirigiam. Com tanta pele feminina deliciosamente suave exposta e tão perto…
Depois de dois orgasmos, dos quais somente um tinha chegado no momento adequado, seguia estando ereto. E faminto. Mas não ia pressioná-la de maneira nenhuma.
Assim, enquanto a acariciava lentamente tomava cuidado na direção que tomavam suas mãos, mantinha os quadris apartados e o olhar fixo em outro lado do quarto em vez de em, digamos, seus perfeitos mamilos rosados.
—Lamento todo o assunto das lágrimas —disse ela, como se soubesse que estava preocupado.
—Posso fazer algo por você?
Ela pressionou os lábios contra seus peitorais.
—Já fez o bastante.
Bom, isso realmente fez que no interior de seu peito se sentisse todo um homem.
—Eu gostaria de voltar a fazê-lo, alguma vez.
—Sério?
—Logo.
O sorriso que lhe dedicou era brilhante como um arco íris.
—Que pena que tivesse somente uma camisinha.
—Falando de coisas trágicas.
Permaneceram flanco contra flanco até que a brisa fria que entrava pela janela preponderou sobre a corrente de ar quente que provinha da ventilação que havia sobre a cama.
—Tem frio —disse ele, esfregando um arrepio do braço dela—. Entretanto eu me sinto muito bem.
Estirou-se por cima dela para levantar a camisa do chão. Enquanto a ajudava a colocá-la fez uma pausa para observar como se balançavam seus seios.
—Nunca deveria usar sutiã. Jamais.
Ela riu enquanto grampeava os botões, depois de lhe entregar o suéter que ela levava, levantou suas calcinhas.
OH, pelo amor de Deus… queria as conservar. O que o convertia em um pervertido e um imbecil mas esse era o cavernícola nele: desejava ter algo de sua mulher com ele.
Salvo que não lhe pertencia, verdade? Merda, que mulher em seu são julgamento quereria unir-se a um tipo que acabava de deixar a sua futura esposa? Sim, isso definia a alguém realmente estável.
—Acredito que estas são tuas —murmurou, lhe entregando a tira preta com cuidado.
—Sim, são-no. —Pegou e lhe brindou tremendo espetáculo ao colocá-las, não devido a que estivesse sendo deliberadamente erótica, mas sim porque para ele, ela era bastante comestível de qualquer forma e sem importar o que fizesse.
Todo o assunto lhe recordava o momento em que lhe tinha tirado os jeans. Nesse ponto se deteve para olhá-la fixamente durante tanto tempo porque tinha desejado saboreá-la nesse mesmo instante e nesse mesmo lugar: visões dele deslocando seus quadris até a beira da cama, ajoelhando-se no chão frente a ela e tomando seu condenado tempo lhe saboreando, o tinham imobilizado.
Não obstante, o sexo oral em certa forma, era mais íntimo que todo o tema da penetração, e lhe preocupava que estar com ele lhe trouxesse más lembranças. E isso tinha sido exatamente o que tinha passado.
Mas com sorte haveria outras vezes. Breve. E muitas.
Quando esteve vestido, e ela teve seu sutiã metido no bolso, saíram de seu antigo quarto, de braços dados, e ao passar frente ao espelho, tirou a imagem da Madonna e a deslizou dentro de sua jaqueta.
No andar de baixo, apagou as luzes, baixou a calefação, e quando chegaram à porta principal, fez uma pausa e olhou a seu redor.
—Deveria limpar este lugar.
Não obstante, tinha a sensação de que não faria nada a respeito. Apesar de que tinha uma equipe de homens que podia mandar para que se desfizera de toda a antiga merda e demolisse os banheiros e a cozinha, no que referia a essa casa tinha um terrível problema de inércia. De muitas formas era como se lhe roubasse a vontade de viver.
Durante todo o caminho de volta para o Iron Mask, sustentou a mão de Marie-Terese, só a soltou quando teve que utilizar a alavanca de mudanças.
Quando estava entrando no estacionamento do clube, jogou-lhe uma olhada. Enquanto olhava pela janela, a linha de seu queixo e a forma em que o cabelo lhe caía sobre o ombro lhe pareceram incrivelmente formosas.
E logo se deu conta para onde estava olhando ela. O beco que estava na parte mais afastada, que tinha sido passado os laços com a cinta que assinalava a cena de um crime.
—Quer que te siga até sua casa? —perguntou-lhe.
Ela assentiu, com os olhos ainda fixos no lugar onde esses meninos tinham sido assassinados.
—Se não te incomodar?
—Estarei encantado.
Merda, a confiança de uma mulher podia fazer que um homem se sentisse alto como uma montanha. Marie-Terese voltou o rosto para ele.
—Obrigado… por tudo.
Inclinou-se para ela lentamente, em caso de que ser beijada tão perto do lugar onde tinha trabalhado pudesse lhe resultar excessivo. Entretanto, ela não se apartou, e quando seus lábios se roçaram brevemente, ele inalou intensamente. Roupa limpa e frescura de mulher. Esse era seu aroma. Melhor que qualquer perfume fabricado.
—Posso voltar a verte? —perguntou-lhe.
Agachando a cabeça, levantou sua bolsa do chão.
—Isso espero.
Com um último sorriso muito breve, abriu mais a porta, saiu e foi para seu carro. Em vez de usar um dispositivo de segurança, abriu-o com a mesma chave, e a fodida coisa demorou uma eternidade em arrancar.
Não gostava do Camry que tinha. Era muito pouco confiável.
E já que estava, tampouco gostava da forma em que acabava de esquivar seu olhar.
Quando finalmente o carro decidiu ligar, partiu, e com ele grudado em seu pára-choque, saíram do centro da cidade e entraram em outro bairro de casas suburbanas. Soube imediatamente qual era a dela: a pequena de estilo Cape Cod com grades em todas as janelas, incluindo as do segundo piso. O carro que estava estacionado justo em frente, paralelo ao meio-fio certamente era o da babá.
Vin aguardou na entrada do caminho para carros a que abrisse a porta da garagem e ela entrasse. Enquanto os painéis rodavam até fechar-se, teve a esperança de poder vê-la um segundo, mas ela permaneceu no carro.
O que sem dúvida era mais seguro, e por isso estava muito bem.
Aguardou um pouco mais.
E então apareceu na janela da cozinha, levantando a mão em um gesto de despedida. Devolvendo a saudação, agitou a mão e logo a pôs sobre a buzina para fazê-la sonar… mas se deteve, imaginando que não apreciaria que chamasse a atenção respeito a ela.
Se foi com um cenho que franzia suas sobrancelhas até as unir, sua situação era terrivelmente óbvia. Seguia fugindo de seu ex-marido… fugindo, não por estar simplesmente assustada, mas sim aterrorizada, e esperando que em algum momento a encontrasse. Pelo amor de Deus, nem sequer se arriscava a abrir a porta do carro até que estava trancada dentro da garagem.
No primeiro que pensou foi em que queria lhe construir uma fortaleza e armar o fodido lugar com um pelotão de soldados como Jim.
Seu seguinte pensamento foi para a forma em que tinha respondido sua pergunta antes de deixar seu carro:
Posso voltar a verte? Isso espero.
Ia fugir. Mesmo que essas duas mortes da noite anterior tivessem algo que ver com ela ou não, ia empreender a fuga. E a idéia de não voltar a vê-la nunca mais, de não saber o que lhe aconteceria, de não fazer nada para ajudá-la, aterrorizava-lhe como a merda.
Quinze minutos depois, entrou na garagem do Commodore e estacionou perto de seu Range Rover negro. Por alguma razão, quando entrou no elevador, foi atacado pelos ecos do pesadelo que tinha tido a respeito de Devina e voltou a escutar essa voz:
É meu, Vin. E sempre tomo o que é meu.
No piso vinte e oito saiu do elevador para entrar no corredor…
Vin se deteve. A porta de seu duplex estava aberta e havia vozes saindo de seu apartamento. Umas quantas.
Resultava-lhe difícil acreditar que Devina tivesse conseguido que o pessoal da mudança viesse tão tarde… era passado da meia-noite, merda. Assim que demônios estava ocorrendo?
Caminhando a passo longos, preparado para lhe fazer passar um mau momento, muito mau momento, a quem quer que estivesse em sua guarida, Vin irrompeu no lugar com as pistolas proverbiais fumegando.
Policiais.
Havia quatro policiais no vestíbulo principal, e todos lhe olharam ao mesmo tempo. Santa merda, finalmente tinha ocorrido. Todos esses subornos a oficiais municipais, todas essas transgressões, todas essas evasões de impostos… finalmente foram multar-lhe.
—Posso ajudá-los, Oficiais? —disse, assumindo sua cara de pôquer.
—Está aqui —gritou um deles.
Enquanto se perguntava quantos haveria em seu escritório, seus olhos se desviaram para a sala...
Sussurrando uma maldição, deu uns passos vacilantes para diante e aferrou a ombreira esculpida da arcada. O lugar parecia ter sido vítima de um furacão, os móveis estavam derrubados, os quadros torcidos, as garrafas de licor destroçadas.
—Onde está Devina? —perguntou.
—No hospital —respondeu alguém.
—Como?
—Hospital.
Voltou-se para o policial que tinha falado. O tipo tinha a constituição de um bulldog, e com a expressão dura que tinha no rosto, também se parecia com um.
—Ela está bem? O que ocorreu? —Vin olhou as algemas que o tipo estava liberando de seu cinturão—. Para que são essas?
—Está você detido por assalto e agressão. Por favor me dê suas mãos.
—Perdão?
—Está você detido por assalto e agressão. —O policial não aguardou a que Vin lhe obedecesse, mas sim lhe agarrou o pulso direito e lhe pôs a algema. E com uma rápida torção Vin esteve algemado—. Tem você direito a permanecer em silêncio. Tudo o que diga pode e será usado contra você no julgamento. Tem direito à presença de um advogado durante o interrogatório. Se não puder pagar um advogado… —Agora o tom de voz do tipo se fez desagradável— lhe será atribuído um. Entende os direitos que lhe tenho exposto?
—Não voltei aqui em toda a tarde! E a última vez que vi Devina ela estava indo embora.
—Entende seus direitos?
—Eu não fiz nada disto!
—Entende seus direitos?
Fazia anos que Vin não era detido, mas era como andar em uma fodida bicicleta: nunca se esquecia. Salvo por uma parte muito importante… naquele tempo, sabia precisamente o motivo pelo qual o levavam em custódia porque realmente tinha cometido o crime.
—Me responda algo —demandou enquanto se girava bruscamente para confrontar o oficial—. Por que pensa que eu a machuquei?
—Porque ela disse, e a julgar pelos nódulos machucados de sua mão direita, diria que muito recentemente participou de uma briga. —Devina… tinha mentido. Grande.
—Não a golpeei. Nunca. Não tinha razões para fazê-lo.
—Ah não? Quer dizer que quando lhe contou que se deitou com seu amigo, isso não lhe indignou? É difícil de acreditar.
—Meu amigo?
—Vamos prendê-lo. E logo pode chamar seu advogado. —O policial olhou a sala arruinada… que de todas formas ainda parecia cara, inclusive apesar de quão destroçada estava—. Algo me diz que não vai precisar recorrer a um defensor público.
Quando Jim despertou no domingo estava estendido de lado, com Cão metido junto a seu peito, e a televisão muda ao fundo.
Que estivesse deitado de lado e que a TV estivesse ligada sem som era parte do procedimento operativo padrão. De todos os modos, Cão era um agradável benefício: quente, amistoso e por alguma razão cheirava a brisa de verão. As únicas vezes que se desorientava um pouco era quando Cão sonhava: suas patas se moviam convulsivamente, abria e fechava as mandíbulas, e de vez em quando proferia algum grunhido ou latido embuçado.
Não podia evitar perguntar-se com o que sonhava. Resultava claro que incluía alguma corrida, dado todo o movimento de patas, mas com sorte seria ele, que realizava a perseguição.
Jim arqueou o pescoço para ver que programa havia na televisão. Nas notícias locais estava essa repórter que era quase bonita, mas muito loira, e evidentemente cobria as manhãs dos fins de semana. Enquanto discorria pela informação, foram aparecendo imagens à esquerda de sua cabeça e de tanto em tanto era substituída por material gravado. Boletins das votações na escola. Problemas de buracos nas ruas. Programa a respeito dos riscos que corria a juventude.
E então cintilou uma imagem familiar: o rosto de Vin.
Jim saiu disparado da cama, pegou o controle remoto e subiu o volume… e não podia acreditar no que estava ouvindo: Vin tinha sido detido por bater em sua namorada. Logo se fixaria a fiança. Devina tinha passado a noite no hospital em observação.
—E em outras notícias —continuou a apresentadora— houve um segundo ataque brutal no centro da cidade. Robert Belthower, de 36 anos de idade, foi encontrado jogado à meia-noite em um beco não muito longe de onde na sexta-feira de noite foram alvejadas duas vítimas. Agora está no Hospital St. Patrick e sua condição é crítica. Ainda não se identificou nenhum suspeito responsável por este crime, e o Chefe de Polícia, Sal Funuccio, fez uma declaração recomendando que se tomem precauções…
Jim acariciou as costas de Cão. Santa merda… Vin diPietro era muitas coisas, mas espancador de mulheres? Era difícil de acreditar, dada a forma como tinha ido atrás desses dois universitários por molestar Marie-Terese. E tinham encontrado outro tipo em um beco? Embora pudesse ser que não estivesse relacionado com… como se tivesse recebido um sinal, soou seu celular, porque estava claro que esta tormenta de merda precisava de outro tornado para sua preparação.
Jim o levantou da mesinha sem olhar… era um pequeno truque que tinha aprendido graças a ter trabalhado muito na escuridão. Era surpreendente como o som compensava a falta de visão.
—Bom dia raiozinho de sol —disse sem olhar quem era. A voz de seu antigo chefe soava quase tão alegre como ele se sentia.
—Ela não existe.
A mão de Jim se esticou sobre o telefone, embora não o surpreendia.
—Não pôde encontrar nada?
—Eu não disse isso. Mas sua Marie-Terese Boudreau é uma identidade fabricada por um tipo de Las Vegas. O único que posso te dizer, é que foi criada faz aproximadamente cinco anos e em princípio foi usada por uma dama que terminou na Venezuela. Logo, faz dois anos, sua garota comprou os documentos, viajou para o leste e se estabeleceu em Caldwell, Nova Iorque. Vive no 189 da Avenida Fern. Tem um celular. —Os números rodaram pela língua de seu chefe e foram parar diretamente na aguçada memória de Jim— Quanto a sua declaração de imposto, seus Formulários W-2 são de um lugar chamado ZeroSum, e logo no final do ano passado, trocou para o Iron Mask. Figura como bailarina em ambos os lugares. Com uma pessoa independente.
—Quem é em realidade?
Houve uma pausa.
—Bom, olhe se essa não é a pergunta chave.
O tom de satisfação dessa voz profunda era o tipo de coisa que nunca queria ouvir: significava que suas bolas estavam metidas em um parafuso de banco e que alguém com uma grande tendência ao sadismo tinha sua mão sobre a manivela.
Jim fechou os olhos.
—Não voltarei. Você disse quando sai, está fora.
—Vamos, Zacharias, sabe como funcionam as coisas. Uma etiqueta pendurada no dedo do pé é a única forma real de terminar conosco. A única razão pela qual o deixe tomar umas pequenas férias foi porque estava muito perto do abismo. Mas quem diria? Agora é muuuiiitoooo melhor escutar você.
Jim lutou contra o impulso de dar um murro na parede.
—Por uma vez em sua miserável e triste vida pode fazer algo sem esperar nada em troca? Tenta-o. Pode chegar a gostar disso. Poderia começar agora.
—Sinto muito. Tudo é uma negociação.
—Acaso seu pai tirou sua moralidade a golpes? Ou simplesmente nasceu sendo uma merda?
—Poderia perguntar a ele, mas faz anos que morreu. O pobre tipo se meteu no caminho de minha bala. Uma verdadeira lástima, realmente.
Jim mordeu o fodido lábio e esticou cada músculo de sua mandíbula e seu pescoço.
—Por favor… preciso da informação a respeito dela. Então me diga isso. É importante.
Naturalmente, ao sacana do Matthias não o comoveu a merda da sua mamãe?
—O suposto favor que te devo somente chega até aqui. Logo se quiser mais, deve me dar algo para ganhá-lo. É sua decisão. E antes que pergunte, a atribuição que tenho em mente é muito apropriada para você.
—Já não mato pessoas.
—Humm.
—Matthias, preciso saber quem é ela.
—Com certeza que sim. E já sabe onde me encontrar.
A linha ficou morta, e durante um momento, Jim considerou seriamente atirar o telefone para o outro lado do quarto. Quão único o deteve foi Cão, que levantou sua cabeça sonolenta e de alguma forma deu um jeito para acabar com esse impulso como se o tivesse drenado diretamente de seu braço.
Deixou cair o celular sobre a colcha.
Enquanto sua mente disparava e seu temperamento fervia, Jim não sabia que merda fazer consigo mesmo… pelo que simplesmente estendeu a mão para o animal e mediante carícias tentou alisar a pelagem de entre suas orelhas, que sobressaía diretamente para cima.
—Olhe este penteado, amigo. Quando desperta, se parece com o Einstein… realmente se parece com ele.
Quando estava na prisão, o contato visual era tudo.
Vin tinha aprendido isso durante suas incursões no sistema de detenção juvenil: quando estava detrás das grades, a forma em que enfrentava os olhares dos tipos com quem estava era seu “Olá, meu nome é…” e havia quatro categorias principais.
Os drogados tinham os olhos desfocados e habitualmente era devido a que não podiam controlar seus nervos ópticos muito melhor do que podiam controlar suas glândulas sudoríparas, suas tripas ou seu sistema nervoso. Eram o equivalente carcerário das esculturas de grama, tendiam a escolher um lugar e permaneciam ali, e em sua maior parte se mantinham separados do drama porque não instigavam ninguém e os alvos fáceis eram aborrecidos.
Os ladrões de baixo calibre, por outra lado, frequentemente se achavam em sua primeira viagem através do sistema penal e bastante assustados, lançavam olhadas como bolas de ping-pong, fortuitas, não se atrasando muito em nenhuma parte, seus olhos ricocheteavam por toda parte. Isto os convertia em perfeitos candidatos a ser ridicularizados e perseguidos verbalmente, mas em geral não os golpeavam… porque eram os que gritavam chamando os guardas mais que voando.
Os sacanas, pelo contrário, tinham olhares predadores, sempre sondando em busca de debilidade e preparados para dar o golpe. Estes eram os que se metiam com todo mundo e adoravam fazer o papel de perseguidores, mas não eram os mais perigosos. Instigavam, mas deixavam que os agitadores continuassem com o assunto… eram os meninos que ao brincar na caixa de areia quebravam os brinquedos e jogavam a culpa nos outros.
Os agitadores tinham o olhar enlouquecido e amavam as brigas. Tudo o que se precisava era a mais mínima das provocações e estavam preparados para entrar na dança. Não havia mais que dizer.
E finalmente, tinha os genuínos sociopatas, aqueles a quem não importava uma merda e podiam matá-lo e comer seu fígado. Ou não. De qualquer forma não importava. Seus olhos percorriam o lugar, como tubarões oculares que quase sempre nadavam pelo meio da cela… até que identificavam a sua vítima.
Vin se sentou em meio de uma amostra representativa do mencionado, mas não formava parte de nenhum desses grupos, pertencia a uma categoria totalmente atípica: mantinha-se à margem dos assuntos de outros e esperava que lhe concedessem a mesma cortesia. E se não o faziam?
—Bonito traje temos aqui.
Sentado com as costas contra a parede de concreto e os olhos fixos no chão, não precisava levantar o olhar para saber que dos onze tipos que estavam retidos na cela, ele era o único que usava lapelas. Ah, sim, um sacana tomando a iniciativa.
Vin se inclinou para frente deliberadamente e colocou os cotovelos sobre os joelhos. Agarrando um de seus punhos com a outra mão, lentamente girou a cabeça em direção ao tipo que tinha falado.
Robusto. Com uma tatuagem no pescoço. Usava brincos. O cabelo tão curto que podia ver seu crânio. E quando o FDP sorriu como se estivesse observando uma comida que tinha intenções de saborear, pôde ver que a um de seus dentes dianteiros lhe faltava uma lasca.
Evidentemente pensava que tinha agarrado pelo rabo um ladrão de baixo calibre novato.
Vin lhe mostrou seus próprios dentes e fez ranger os nódulos de sua mão direita um por um.
—Você gosta das minhas roupas, sacana?
Ao receber essa resposta, o Sr. Personalidade se curou instantaneamente de seu ataque de isto-vai-se-divertido. Seus olhos castanhos mediram rapidamente o tamanho do punho de Vin e logo retornaram ao olhar firme que estava cravado nele.
—Perguntei a você —disse Vin em voz alta e pausada— se você gosta das minhas roupas, sacana.
Enquanto o tipo considerava a resposta, Vin ansiava que esta fosse ofensiva, e algo disso devia ter transparecido: quando todos os outros homens fizeram o mesmo que os espectadores de uma partida de tênis, indo de um a outro, de um a outro, o sacana afrouxou a tensão de seus ombros.
—Sim, é verdadeiramente bonito. Realmente um bom traje. Sim.
Vin permaneceu exatamente onde estava enquanto que o outro tipo voltava a sentar-se no banco. E logo olhou fixamente nos olhos a cada um dos restantes tipos do galinheiro… e um a um foram baixando os olhos ao chão. Só nesse momento Vin permitiu relaxar-se um pouco.
Enquanto a metade de seu cérebro continuava conectada às políticas de escritório, assim era como as considerava, a outra metade voltou a agitar-se pensando em como demônios tinha terminado ali. Devina tinha mentido descaradamente à polícia, e que Deus o ajudasse, mas ia descobrir que merda tinha acontecido realmente. E amigo? De que demônios estava falando ela?
Voltou a recordar o vestido azul com aroma da colônia de outro homem. A idéia de que o tinha estado enganando o deixava perigosamente psicótico, assim forçou seu cérebro a que se concentrasse no mais importante. Como, oh, o fato de que tinha sido golpeada por outra pessoa, mas era seu membro e suas bolas que estavam em uma cela.
Cristo, se tão só o sistema de segurança de sua casa tivesse o mesmo tipo de monitoramento que tinha seu escritório. Então teria gravados todos os cômodos as vinte e quatro horas dos sete dias da semana.
O tinido de chaves anunciou a chegada de um guarda.
—DiPietro, seu advogado está aqui.
Vin se levantou do banco, e quando a porta se deslizou até abrir-se com um ruído surdo, saiu e pôs as mãos detrás das costas, oferecendo-as ao guarda para que o algemasse.
Isto pareceu surpreender ao tipo das chaves, mas não aos que acabavam de presenciar como Vin tinha estado a ponto de agir como Rocky Balboa com o sacana.
Ouviu-se um clique, clique e logo ele e o tira foram pelo corredor até outro jogo de barras de ferro que devia ser aberto por alguém do outro lado. Depois de dobrar uma vez à direita e outra à esquerda se detiveram em frente a uma porta que parecia tirada de uma escola secundária, estava pintada de bege esbranquiçado e a janela tinha uma malha de arame embutida no vidro.
Dentro da sala de interrogatórios, Mick Rhodes estava recostado contra a parede mais afastada, com os sapatos de cordões com costura inglesa cruzados e um traje de dupla lapela do estilo do qual o Sr. Personalidade também teria aprovado.
Mick ficou em silêncio enquanto o guarda lhe tirava as algemas e saía da sala. Depois que se fechou a porta, o advogado sacudiu a cabeça.
—Não posso acreditar nisso.
—Então somos dois.
—Que demônios aconteceu, Vin?
Então Mick assinalou com a cabeça para cima, a uma câmara de segurança que sugeria que aqui na estação de polícia o privilégio advogado-cliente era provavelmente mais uma teoria que uma realidade.
Tomando uma das duas cadeiras, Vin se sentou ante a pequena mesa.
—Não tenho nem a mais puta idéia. Cheguei em casa ao redor da meia-noite e a polícia estava no lugar… que tinha sido destroçado. Disseram-me que Devina estava no hospital e que havia dito que eu a tinha enviado para lá. Entretanto meu álibi é hermético. Estive em meu escritório durante toda a tarde até o anoitecer. Posso lhes proporcionar os vídeos onde apareço sentado diante da minha escrivaninha durante essas horas.
—Vi o relatório da polícia. Ela diz que foi atacada às dez.
Merda. Tinha presumido que tinha ocorrido mais cedo.
—Correto, mais tarde falaremos de todo o assunto de onde estava — murmurou Mick, como se soubesse que a resposta a isso era complicada—Recorri a alguns contatos. Sua fiança será estipulada em uma hora. Será ao redor dos cem mil.
—Se me dessem minha carteira, poderia fazê-lo agora mesmo.
—Bem. Levarei você para casa…
—Só para pegar um pouco de roupa. —Não queria voltar a ver o duplex nunca mais, muito menos ficar ali— Irei a um hotel.
—Não o culpo. E se descobrir que se quer isolar um pouco devido a imprensa, pode ficar comigo em Greenwich.
—Preciso falar com Devina. —Não só precisava averiguar quem a tinha golpeado, mas também com quem demônios tinha estado deitando-se. Tinha um montão de amigos… um homem como ele, com a quantidade de dinheiro que tinha? Tinha amigos em cada fodido lugar.
—Primeiro vamos tirá-lo daqui, ok? E logo falaremos do que faremos a seguir.
—Eu não fiz isso, Mick.
—Acredita que estaria vestido assim um domingo pela manhã se pensasse de outra forma? Pelo amor de Deus, homem, neste momento poderia estar instalado muito comodamente com The Times.
—Ao menos essa é uma prioridade que me inspira respeito.
E Mick foi fiel a sua palavra: graças a uma rápida retirada de cem dos grandes de seu cartão de débito, às dez e meia da manhã Vin estava fora da estação de polícia e entrando no Mercedes de seu amigo.
Não obstante ficar livre dificilmente era um motivo para celebrar. Enquanto iam para o Commodore, a mente de Vin era um absoluto caos, girando fora de controle ao tentar encontrar algum tipo de lógica a todo o assunto.
—Vin, companheiro, vai me escutar não só porque sou seu irmão de fraternidade, e sabe que pode confiar em mim, mas também porque sou seu advogado. Não vá ao hospital. Não fale com Devina. Se ela chamar você ou tentar entrar em contato de alguma forma, não lhe responda.
O Mercedes se deteve brandamente frente ao Commodore.
—Tem álibi de onde estava ontem entre as dez e as doze da noite?
Enquanto olhava através do pára-brisa, Vin recordou exatamente onde tinha estado… e o que tinha estado fazendo. A decisão era clara.
—Não que possa dar à polícia. Não.
—Mas estava com alguém?
—Sim. —Vin abriu a porta— Mas não a envolverei...
—Ela?
—Pode me contatar através de meu celular.
—Espera. Quem é ela?
—Não é da sua conta.
Mick apoiou o antebraço sobre o volante e se inclinou por cima do assento do acompanhante.
—Pode ser que tenha que reconsiderar isso, se quer salvar o traseiro.
—Não machuquei Devina. E não tenho idéia de por que iria querer me preparar uma armadilha para me incriminar por esta merda.
—Não? Sabe algo a respeito desta “ela” sua?
Vin negou com a cabeça.
—Não, não sabe nada. Ligue-me.
—Não vá ao hospital, Vin. Prometa.
—Não é meu seguinte destino. —Fechou a porta do carro e andou a passos longos até a entrada do Commodore— Acredite em mim.
O complexo do Hospital St. Francis estava instalado como a lógica de uma fazenda de formigas. Refletindo uma filosofia arquitetônica interativa, como muitos outros centros médicos desse estilo, os edifícios que cobriam sua superfície eram uma mistura de estilos, e estavam localizados onde tinham podido encaixá-los, como se fossem plugues redondos colocados dentro de orifícios quadrados. No recinto havia um pouquinho de tudo, desde tijolos góticos, a aço e vidro corporativo ou extensões de colunas de pedra, sendo o único em comum com tudo que estava amontoado.
Jim estacionou sua caminhonete em um espaço que havia junto a um edifício de quinze andares, imaginando que este tão grande era um bom lugar onde começar, já que era onde o tinham ingressado nele como paciente do serviço de emergência. Cortando caminho entre as filas de carros, cruzou o caminho, foi para o pórtico e entrou no edifício através de um jogo de portas deslizantes de vidro.
Ante a mesa de informação, disse:
—Estou procurando Devina Avale.
A mulher de cento e doze anos com o cabelo azul que estava a cargo do posto lhe sorriu com tanta calidez, que fez que se sentisse como um imbecil por reduzi-la ao ponto de não ver além de sua idade.
—Deixe que verifique em que quarto se encontra.
Enquanto os dedos com aspecto de raminhos, caçavam e bicavam sobre o teclado, pensou em quanto mais rápida tinha sido sua busca quando estava em seu departamento. Tinha suposto que o nome Devina seria bastante incomum no negócio de modelo, que se a googleava[3] em seu notebook, encontraria a namorada de Vin… e o que lhe aparece? Não foi nada difícil. Embora no mundo profissional se usasse chamar só pelo primeiro nome, fazia uns seis meses o Caldwell Courier Journal a tinha fotografado junto a Vin em uma beneficência, e ali estava seu sobrenome: Avale.
—Está no 1253.
—Obrigado senhora —disse inclinando levemente a cabeça.
—Não é nada. Pode subir por esses elevadores que estão junto à loja de presentes.
Assentiu e foi a passos longos para os elevadores. Havia um grupo de pessoas aguardando, todos eles seguiam os pequenos números que apareciam nos visores que havia em cima das três portas, e se uniu aos que presenciavam a luta.
Parecia ser uma corrida entre o da direita e o do meio.
O elevador do meio ganhou, e ele se amontoou dentro com o resto das pessoas, unindo-se à confusão de pessoas que estendiam o braço para apertar o botão de seu andar, e logo se situou de frente ao visor de números digitais que estava na parte superior. Bing. Bing. Bing. As portas se abriam. As pessoas se misturavam. As portas se abriam. Mais cruzamento de gente.
Saiu no andar doze e ao chegar à enfermaria não dirigiu a palavra a ninguém. Até aqui tinha sido fácil chegar, talvez muito fácil, e não estava disposto a arriscar-se a que se apresentasse algum obstáculo. Demônios, não o surpreenderia encontrar uma unidade do Departamento de Policia na porta do 1253… mas não havia ninguém. Tampouco havia familiares nem amigos passeando fora da porta fechada.
Golpeou brandamente e apareceu.
—Devina?
—Jim? —chegou-lhe uma voz tênue —Aguarde um minuto.
Enquanto esperava, olhou o corredor em ambas as direções. Havia um carro de limpeza entre o quarto de Devina e o seguinte, e um armário alto sobre rodas vinha para ele… que dado o aroma de ervilhas e hambúrgueres que despedia ao passar, continha o almoço. As enfermeiras caminhavam daqui para lá, por toda parte, e no lado mais afastado, um paciente estava dando pequenos passos vestido com sua bata de hospital e a mão sobre o suporte de sua intravenosa.
Parecia que a tinha tirado para passear para que pudesse mijar contra os marcos das portas.
—Está bem, pode entrar.
Entrou em um quarto em penumbra que era exatamente igual a que ele tinha ocupado: bege, austero e dominado pela cama de hospital que estava no meio. Ao outro lado do quarto, a cortina estava fechada para proteger da luz do sol e estava se movendo levemente, como se a acabasse de fechar… talvez para que não pudesse obter uma clara visão de seu rosto.
Que era um desastre.
Tanto assim fez uma pausa. Suas bonitas feições estavam distorcidas pelo inchaço de suas bochechas, queixo e olhos; seus lábios estavam partidos: e os hematomas cor púrpura sobre sua pálida pele eram como manchas sobre um vestido de noiva… feias e trágicas.
—Estou mau, verdade? —inquiriu, levantando uma mão tremente para defender a si mesma.
—Cristo… Jesus. Está bem?
—Estarei, acredito. Deixaram-me internada porque tenho uma concussão. —Quando puxou as mantas para cobrir-se, Jim dirigiu seus perspicazes olhos para as mãos. Seus nódulos não estavam machucados.
O qual significava que ela não havia feito isto a si mesma e que não se defendeu ou, o que era mais provável, não tinha podido defender-se.
Observando-a, Jim sentiu que sua resolução cambaleava, esforçando-se para encontrar terreno firme. E se…? Não, Vin não podia haver feito isto, ou sim?
—Quanto o lamento —murmurou Jim, afundando uma dos cantos da cama ao sentar-se.
—Não deveria lhe ter contado o nosso… —arrancou um lencinho de uma caixa e cuidadosamente se deu leves golpes debaixo dos olhos— Mas minha consciência estava me matando e eu… não esperava isto. Também rompeu nosso compromisso.
Jim franziu o cenho, ao pensar que segundo a última coisa que tinha ouvido, o tipo planejava romper com ela.
—Pediu a você que se casasse com ele?
—Por isso tive que dizer a ele. — inclinou-se, apoiando-se sobre um de seus joelhos— Ele me pediu isso… e eu disse que sim, mas logo tive que lhe dizer o que tinha ocorrido. —Devina se endireitou e agarrou seu antebraço— Se eu fosse você me manteria afastado dele. Por seu próprio bem. Está furioso.
Ao recordar a expressão de seu rosto quando lhe tinha contado que o vestido azul de Devina tinha aroma de colônia de outro homem, não foi difícil imaginar que isso fosse verdade. Mas havia partes desta situação que simplesmente não concordavam… embora fosse difícil pensar nisso, vendo o rosto de Devina… e seu braço.
Que tinha uma série de hematomas delineando a forma da mão de um homem.
—Quando lhe deixarão sair? —perguntou-lhe.
—Provavelmente esta tarde. Deus, odeio que me veja desta forma.
—Sou a última pessoa que deveria preocupar-se.
Produziu-se um silêncio.
—Pode acreditar onde terminamos? —disse em voz baixa.
Não. Não podia e em muitos aspectos.
—Sua família virá buscá-la?
—Vêm ao redor da uma, que é quando se supõe que vão dar-me alta. Estão realmente preocupados.
—Posso entender seus motivos.
—O problema é que parte de mim deseja vê-lo. Quero falar… resolver isto conversando. Não sei… e antes que me julgue, sou consciente de quão mal soa o que disse. Simplesmente deveria me afastar, pôr toda a distância possível entre nós. Mas não posso me afastar dele tão facilmente. Amo-o.
A derrota que denotava era tão difícil de tolerar como a condição em que se encontrava, e Jim tomou sua mão.
—Sinto. —sussurrou— Sinto muitíssimo.
Apertou-lhe a palma.
—É um amigo muito bom.
Houve um golpe seco na porta e entrou a enfermeira.
—Como se sente?
—Será melhor que vá —disse Jim. Enquanto ficava de pé, saudou a enfermeira com a cabeça e voltou a olhar Devina— Posso fazer algo por você?
—Pode me deixar seu telefone? Só no caso… Não sei…
Deu-lhe os números, disse-lhe adeus novamente e partiu.
Quando deixou a sala, sentiu o mesmo que tinha sentido em muitas de suas missões militares: informação conflitiva, ações incompreensíveis, escolhas imprevisíveis… tudo isso ele tinha visto antes, com a só diferença dos nomes e as localidades trocadas.
Ao afastar o que sabia que era verdade, ficavam muitos espaços em branco a ser preenchidos, e surgiam mais pergunta que respostas sólidas dadas.
Entrou no elevador e enquanto observava descender os números até que no visor apareceu um L, decidiu remeter-se a seu treinamento e sua experiência: quando não sabia o que estava ocorrendo, procurava informação.
De retorno à mesa de informação, aproximou-se da pequena anciã e assinalou as portas duplas pelas quais tinha entrado no edifício.
—É esta a única porta de saída para os pacientes?
Ela sorriu calidamente… dando-lhe a impressão de que devia fazer muito bons biscoitinhos de natal.
—A maioria deles sai por aqui, sim. Especialmente se os devem recolher.
—Obrigado.
—De nada.
Jim saiu e examinou cuidadosamente a fronte do edifício. Havia quantidade de lugares onde sentar-se a observar a saída, mas os pequenos bancos que havia ao longo da calçada entre as árvores cortadas não tinham suficiente cobertura. E não havia esquinas detrás das quais esconder-se.
Olhou mais à frente do beiral do pórtico para o estacionamento, ansiando poder encontrar um lugar…
Nesse mesmo momento um SUV deu marcha ré saindo de um espaço que estava situado a duas de distância dos marcados com os sinais azuis e brancos que indicavam reservado para deficientes.
Três minutos depois, Jim colocou sua caminhonete no espaço vazio, desligou o motor, e apontou seus olhos para o centro de hospitalização. O fato de que tivesse que olhar através da janela da minivan que estava ao lado era a camuflagem perfeita.
Fazia muito tempo que tinha aprendido que a informação que obtinha em segredo provavelmente era a que te seria de mais utilidade.
—Está preparado? —gritou Marie-Terese da cozinha.
—Quase —gritou Robbie do andar de cima.
Comprovando seu relógio, decidiu que era necessária uma aproximação mais direta para conseguir sair de casa a tempo. Ao subir as escadas atapetadas, degrau por degrau, seus sapatos sem salto não faziam ruído sobre o desenho em ziguezague azul e marrom. Como o resto da decoração, o tapete não era algo que ela teria escolhido pessoalmente, mas sim era compreensível que tivesse sido disposta em uma área de alto trânsito de uma casa alugada.
Encontrou seu filho em frente ao espelho, tentando endireitar sua mini gravata de homem.
Por um momento, viu-se sobressaltada por uma extrapolação maternal: teve uma faísca onde viu seu filho desajeitado, mas forte preparando-se para o baile de graduação. E logo o viu orgulhoso e esbelto no momento da graduação universitária. E foi ainda mais adiante, vendo-o com um smoking no dia de seu casamento.
—O que está olhando? —perguntou-lhe, inquieto.
O futuro, esperava. Um agradável futuro normal que discorresse o mais afastado possível do que tinham sido estes dois últimos anos.
—Precisa de ajuda? —perguntou-lhe.
—Não, posso fazer isto.
Deixou cair as mãos aos lados e se girou para ela, capitulando.
Adiantando-se, ajoelhou-se em frente a ele e afrouxou o nó enviesado. Enquanto o desfazia, ele permaneceu ali com tanta paciência e confiança, que era difícil não acreditar numa mãe ao menos meio decente.
—Acredito que deveremos comprar uma jaqueta maior.
—Sim… está me apertando na parte de cima. E olhe… vê? —estendendo os braços, franziu o cenho ante a forma em que as mangas se deslizavam para cima até a metade de seu antebraço— Odeio isso.
Fez um rápido trabalho com a curta tira cor azul marinho e vermelha, para nada surpreendida que sancionasse o corte da jaqueta. A seu filho sempre tinha gostado de vestir-se de traje, e preferia que seus sapatos, inclusive os tênis, não tivessem raios. O mesmo ocorria com tudo o que tinha: ao abrir suas gavetas ou seu armário veria a roupa toda disposta e pendurada ordenadamente; os livros alinhados nas prateleiras; e a cama nunca estava desfeita a não ser quando ele estava entre os lençóis
Seu pai era igual, muito minucioso quanto à ordem de sua roupa e o resto de suas coisas.
Seu filho também tinha o cabelo e os olhos escuros de Mark.
Deus… teria desejado que não houvesse nenhuma parte desse homem nele, mas a biologia era a biologia. E nunca tinha evidenciado nenhum dos aspectos que realmente lhe preocupavam, como ter o temperamento e a maldade de seu ex.
—Aí está, preparado para sair. —Quando se voltou para inspecionar-se, ela teve que lutar contra o impulso de abraçá-lo com força. Bem?
—Está muito melhor do que o que eu fiz. —Ela o olhou séria— Sinto, melhor que o que eu fiz. Obrigado.
Olhando seu reflexo, pensou sobre o custo de uma nova jaqueta… e dos sapatos… e dos casacos de inverno e as calças de verão e tentou não cair no pânico. Depois de tudo, sempre podia trabalhar de garçonete. Não lhe renderia nem de perto a quantidade de dinheiro que estava ganhando ultimamente… mas seria suficiente. Teria que alcançar.
Especialmente quando se mudassem a uma cidade menor onde os aluguéis fossem mais baratos…
Deus… embora não desejasse deixar Caldwell… realmente não. Não depois da última noite com Vin.
—Chegaremos tarde, vamos. —disse.
No andar de baixo vestiram os casacos e as luvas ao mesmo tempo e logo se meteram no Camry. A manhã era fria, o que significava que a garagem era uma caixa de gelo, e o motor ofegou e balbuciou.
—Precisamos de um carro novo —disse Robbie ao mesmo tempo em que ela girava a chave outra vez.
—Sei.
Pressionou o botão para abrir a porta da garagem, aguardou que revelasse o meio-fio e o mundo que havia do outro lado. Saindo de marcha ré, deu uma volta em V, voltou a acionar o controle remoto, e partiu para St. Patrick.
Quando chegaram à catedral, a fila de carros estacionados ao longo da rua se estendia por vários blocos. Conduziu um pouco mais, procurando as opções ilegais e se acomodou em um lugar na esquina que deixava a cauda de seu carro ao ar. Saindo, deu a volta no carro e mediu quanto tinha ultrapassado seu pára-choque o meio-fio amarelo que delimitava a área onde não se podia estacionar.
Pouco mais de meio metro.
—Maldição.
Enquanto os sinos da catedral começavam a soar, decidiu que ia ter fé em que se um policial passasse por ali, ele ou ela fossem bons cristãos ou daltônicos.
—Vamos —disse, estendendo a mão para Robbie, que tinha se aproximado. Quando deslizou a palma na sua, começou a caminhar rápido e ele se adaptou a seu passo, caminhando a seu lado, para o qual seus pequenos mocassins deviam ir ao dobro de velocidade sobre o meio-fio.
—Acredito que chegamos tarde, mamãe. —disse sem fôlego— E é minha culpa. Queria que minha gravata estivesse bem feita.
Baixou o olhar para ele. Enquanto caminhavam apressadamente, a parte superior de seu cabelo batia as asas ao mesmo ritmo que seu jaquetão de marinheiro azul marinho, mas seus olhos estavam imóveis: fixos no pavimento e estava piscando muito rápido.
Marie-Terese se deteve, o puxou para freá-lo, e ficou em cócoras. Pondo as mãos sobre seus dois braços, sacudiu-o brandamente.
—Não há nada errado em chegar tarde. As pessoas chegam tarde todo o tempo. Fazemos quanto podemos para chegar na hora a todos os lados e isso é tudo o que se pode fazer, está bem? Está bem? Robbie?
Os sinos da catedral emudeceram. Um momento depois um carro passou junto a eles. Na distância se ouviu o latido de um cão.
Deu-se conta que isto não tinha nada a ver com o chegar tarde.
—Fale comigo. —sussurrou, localizando o seu rosto em sua linha de visão, apesar de que virtualmente teve que deitar-se para obtê-lo— Por favor, Robbie.
As palavras fizeram explosão em sua boca.
—Eu gostava mais do meu próprio nome. E não quero me mudar outra vez. Eu gosto de minhas babás e do meu quarto. Eu gosto da Associação Cristã de Jovens. Eu gosto… do aqui e agora.
Marie-Terese se sentou sobre seus calcanhares… e desejou matar seu ex-marido.
—Sinto muito. Sei que isto foi muito duro para você.
—Iremos, verdade? Ontem à noite chegou em casa cedo e a ouvi conversar com Quinesha. Disse-lhe que era provável que tivesse que fazer outro tipo de disposições. —A palavra disposições soou como estado de ânimo—Eu gosto de Quinesha. Não quero outras disposições.
Novamente as disposições.
Olhando para seu filho, perguntou-se exatamente como podia lhe dizer que deviam mudar-se porque tinha a firme convicção de que “os maus tempos” como ele os chamava, definitivamente tinham retornado.
O carro que tinha passado junto a eles antes, retornou, tendo fracassado evidentemente ao momento de encontrar um lugar onde estacionar.
—Ontem à noite renunciei a meu trabalho —disse, aproximando-se tanto como podia à verdade— Deixei de ser garçonete nesse lugar porque não era feliz ali. Assim deverei conseguir outro trabalho em algum lado.
Robbie elevou os olhos para ela e estudou seu rosto.
—Há muitos restaurantes em Caldwell.
—É verdade, mas provavelmente não precisam de empregados neste momento e devo ganhar dinheiro para viver.
—Oh. —Pareceu que estava considerando todo o assunto outra vez— Certo. Isso é diferente.
Repentinamente relaxou como se o que tivesse estado lhe incomodando fosse como um balão de hélio que acabasse de ser solto no vento.
—Amo você. —disse, odiando que de fato estivesse ocorrendo precisamente o que a ele tinha estado lhe preocupando. Foram devido a razões que não tinham nada a ver com seu trabalho. Mas não queria que tivesse que suportar essa carga.
—E eu a você, mamãe. —Deu-lhe um rápido abraço, com seus pequenos braços que só chegavam a rodeá-la parcialmente. Ainda assim sentiu o abraço em todo seu corpo.
—Está preparado? —perguntou com voz rouca.
—Estou.
Voltaram a adotar um passo rápido e conversaram todo o tempo até chegar à catedral e enquanto subiam seus longos degraus de pedra; logo penetraram pela imponente porta. Uma vez dentro do vestíbulo, tiraram os casacos e ela pegou um programa das mãos do anfitrião que estava localizado no vestíbulo da nave. A pedido do homem, dirigiram-se a uma das portas laterais e em silêncio se instalaram em um banco de igreja que estava quase vazio.
Assim que se sentaram, chamaram os meninos pedindo que se adiantassem para ir à escola dominical. Não obstante Robbie permaneceu junto a ela. Nunca saía com outros meninos… nunca o tinha pedido e certamente ela nunca o tinha sugerido.
Quando os sacerdotes e o coro começaram o serviço, respirou fundo e deixou que a balsâmica calidez da igreja se filtrasse nela. E durante meio segundo, imaginou como seria ter Vin sentado junto a eles, talvez do outro lado de seu filho. Seria bonito olhar sobre a cabeça de Robbie e ver o homem que amava. Talvez trocassem um sorriso secreto como faziam os casais de tanto em tanto. Talvez tivesse sido Vin o que teria ajudado Robbie com a gravata.
Talvez houvesse uma filha entre os suportes de livros.
Franzindo o cenho, Marie-Terese se deu conta que pela primeira vez em muitíssimo tempo, estava sonhando acordada. Em realidade fantasiando a respeito de um futuro grato e feliz. Deus… Quanto tempo tinha passado? Quando começou a sair com o Mark… desde esse então.
Tinha-o conhecido no Cassino Mandalay Bay. Ela e seus amigas, que tinham completo vinte e um no mesmo ano, tinham viajado a Las Vegas para seu primeiro fim de semana de garotas fora da cidade, e podia recordar quão dispostas tinham estado todas elas a provar a verdadeira liberdade de adultas.
Enquanto ela e seus amigas tinham estado perdendo o tempo na parte barata, delimitada pela corda de veludo, com apostas de um dólar, Mark tinha estado na mesa dos jogadores empedernidos da seção VIP. Quando a viu, enviou uma garçonete para que as convidasse à seção de luxo… onde as bebidas eram grátis e a aposta mínima era de vinte dólares.
Ao princípio tinha assumido que tudo era por Sarah. Sarah era, e sem dúvida continuava sendo, uma loira de um metro e oitenta de altura que de algum jeito parecia estar nua inclusive quando estava absolutamente vestida. A garota era um ímã para os homens e dado que tinha uma grande quantidade de candidatos de onde escolher, suas expectativas tinham sido muito elevadas. E quem teria imaginado? Alguém que podia permitir-se apostar em grande era definitivamente considerado apropriado para ela.
Mas não, Mark tinha tido olhos só para Marie-Terese. E o tinha deixado claro quando a tinha situado junto a ele e tinha deixado que Sarah se arrumasse por sua conta.
Essa noite, Mark e seus dois sócios, como se tinha referido as tipos trajados que o acompanhavam, tinham sido uns perfeitos cavalheiros, pagando as bebidas, conversando e sendo atentos. Tinha havido muitos beijos entre os jogos de dado e bate-papo despreocupado, o tipo de coisas que, quando foi o suficientemente jovem para acreditar no glamour, faziam-na se sentir como uma celebridade.
Tinha sido o começo perfeito para um fim de semana: ter vinte e um anos e estar na parte exclusiva do cassino, rodeada de homens com trajes caros, era tudo o que ela e suas amigas podiam ter desejado, e logo depois de três ou quatro horas, tinham subido à suíte de propriedade de Mark. Talvez não fosse a jogada mais inteligente, mas eram quatro moças e só três homens, e depois de ter passado tempo juntos e ter compartilhado uma rajada ganhadora coletiva, produziu-se uma ilusão de amizade e confiança.
Mas nada mau tinha ocorrido. Simplesmente continuaram bebendo, conversando e flertando. E Sarah tinha terminado em um quarto a sós com o mais alto dos dois “sócios”.
Ao final da noite, Marie-Terese tinha saído ao balcão com Mark.
Ainda podia recordar a sensação do ar seco e quente soprando sobre a faiscante vista da Avenida Las Vegas.
Tinha ocorrido dez anos atrás, mas essa noite ainda lhe resultava tão clara como o momento em que se converteu em uma lembrança: os dois fora no terraço, muito por cima da cidade feita pelo homem, de pé um ao lado do outro. Ela olhava a paisagem. Ele olhava fixamente para ela.
Mark lhe tinha afastado o cabelo a um lado e a tinha beijado na nuca… e com esse suave contato lhe tinha proporcionado a melhor experiência sexual de sua vida.
E até ali chegaram as coisas.
A noite seguinte tinha sido muito similar, com a condição de que Mark as tinha levado para ver um concerto de Celine Dion e logo tinham retornado às mesas de jogo. Esplêndido. Elegante. Excitante. Marie-Terese se remontou nas cálidas rajadas da promessa, o romance e o conto de fadas e ao final da segunda noite, tinha voltado para a suíte e havia tornado a beijar Mark no terraço. E isso tinha sido tudo.
Tinha-a decepcionado um pouco que ele não tivesse desejado mais, embora não tivesse sido capaz de dormir com ele. Não era tão disposta como Sarah, que era capaz de conhecer um homem e só umas horas depois ir para cama com ele.
Que ironia que tivesse terminado no lugar onde se encontrava.
À manhã seguinte, deviam partir e Mark fez que sua limusine as levasse ao aeroporto. Havia se sentido destruída assumindo que esse era o fim de tudo: umas quarenta e oito horas divertidas… justo o que o agente de viagens lhes tinha prometido e tinham obtido exatamente o que tinham pago.
Enquanto se afastava do hotel com suas amigas, tinha esperado que Mark saísse correndo e lhes fizesse gestos para que parassem, mas não o fez, e supôs que quão último tinha visto dele tinha sido quando lhe tinha beijado a mão no quarto de hotel em que ela e seu amigas se hospedaram.
O esmagante peso da volta à vida normal havia feito que seus olhos se enchessem de lágrimas. Comparado com Las Vegas, sua vida em casa, com seu trabalho de secretária e a escola noturna que assistia para graduar-se, tinham-lhe parecido uma espécie de morte.
Quando a limusine chegou ao aeroporto, o condutor desceu e abriu a porta, enquanto ia se aproximando um porta-malas e tinha começado a descarregar sua nada espetacular bagagem. Ao desceu ao meio-fio, Marie-Terese voltou o rosto para outro lado porque não queria que as demais rissem dela por estar triste.
O chofer a deteve.
—O Sr. Capricio me pediu que lhe entregasse isto.
A caixa era do tamanho de uma xícara de café, estava envolta em papel vermelho e tinha um laço branco… a abriu nesse mesmo momento e nesse mesmo lugar, jogando o papel do pacote na rua junto com a parte da fita de cetim. Dentro havia uma delicada corrente de ouro com um pingente de ouro em forma de M. Também havia um pedaço de papel, como podia ser encontrado em um biscoito da sorte. A mensagem dizia: Por favor me ligue assim que estiver em sua casa e a salvo.
Tinha memorizado o número instantaneamente e durante toda a viagem de volta a sua casa esteve radiante.
Que perfeito começo. Ao princípio não tinha havido nem um indício de como terminariam terminando as coisas… embora em retrospectiva, tinha considerado o pingente em forma de M como uma marca de posse, uma espécie de matrícula para cão humano.
Deus, tinha usado esse colar com tanto orgulho… porque desse então queria ser reclamada. Como uma mulher que tinha crescido com uma mãe preocupada e um pai sempre ausente, a idéia de que um homem a desejasse lhe tinha parecido mágica. E Mark não tinha sido um homem médio, nem de classe média… embora se houvesse sido, para ela igual teria significado um progresso. Não, ele pertencia à seção VIP, enquanto que ela era mais adequada para o armário do porteiro.
E durante os meses que seguiram, tinha-a enganado à perfeição, seduzindo-a cuidadosa e calculadamente. Até lhe disse que não queria ter sexo antes de casar-se… para poder apresentar-lhe a sua mãe e sua avó católicas com a consciência tranquila.
Cinco meses depois estavam casados, e depois da cerimônia as coisas tinham dado um tombo radical. Assim que se mudou à suíte do hotel com ele, Mark tinha estabelecido um controle firme como um punho sobre ela. Demônios, quando sua mãe tinha morrido, tinha insistido em que seu chofer a acompanhasse a Califórnia e que estivesse a seu lado do mesmo instante em que descesse do avião até o momento em que voltasse a pôr o pé na suíte.
E o assunto do sexo antes do matrimônio? Resultou ser que não tinha sido um grande sacrifício para ele porque tinha estado tendo-o com suas várias amantes… e ela se inteirou quando, aproximadamente um mês depois que secou a tinta na licença de matrimônio, uma delas apareceu com um ventre do tamanho de uma bola de basquete.
Retornando ao presente, ficou de pé com o resto da congregação e cantou as palavras do hino que Robbie segurava na mão.
Considerando o que lhe tinha ensinado o passado, preocupou-a o conto de fadas que tinha composto em sua mente a respeito de Vin.
O otimismo não era para os fracos de coração. E sonhar acordada podia metê-la em problemas.
Sentou-se a suas costas e ela nunca soube. E essa era justamente a beleza dos disfarces. Hoje estava usando o de assistente-da-igreja, que significava lentes de contato azuis e óculos com armação de arame.
Tinha esperado no fundo da igreja que chegasse com seu filho, e quando nenhum dos dois apareceu, imaginou que pela primeira vez não assistiriam ao serviço e que deviam estar em casa. Tinha saído dirigindo-se a seu carro, mas quando estava conduzindo, tinha-os visto na calçada falando seriamente. Dando uma volta à quadra, tinha-os observado falar até que se dirigiram rapidamente para a Catedral e desapareceram através das grandes portas.
Quando voltou a estacionar tinha perdido a metade do serviço, mas deu um jeito para sentar-se justo detrás dela e seu filho, deslizando-se das sombras para sentar-se no banco da igreja.
Ela passou a maior parte do serviço olhando fixamente os afrescos que estavam sendo limpos, com a cabeça inclinada a um lado de tal forma que o ângulo de sua bochecha aparecia especialmente adorável. Como sempre, estava vestida com uma saia longa e um suéter —hoje eram de cor marrom escura— e tinha um par de brincos de pérola. Levava o cabelo escuro recolhido em um coque frouxo e usava um perfume muito tênue… ou talvez se tratasse simplesmente do sabão para a roupa ou essas toalhinhas suavizantes que usava na secadora.
Teria que ir ao supermercado e cheirar todos os detergentes, para ver qual de todos ele era.
Sentada no banco de igreja, era a viva imagem da boa mãe, ajudando seu filho a encontrar a página correta no livro de hinos, agachando-se de tanto em tanto, quando ele queria lhe fazer uma pergunta. Ninguém teria se atrevido a pronunciar sequer a palavra puta onde ela pudesse ouvi-lo… muito menos aplicá-la a ela: parecia ser uma dessas mulheres que conceberam seus filhos de forma imaculada.
O fazia pensar no tipo ao que tinha golpeado com a chave de porcas. Não na parte a respeito de matá-lo, embora evidentemente isso não tinha saído conforme o planejado, já que o idiota só estava em coma… outra razão pela qual os disfarces eram tão necessários. Não, pensava na expressão do rosto são do homem quando tinha saído do sujo e imundo banho, desse sujo e imundo clube.
Que ilusão mais enganosa transmitia.
Ferveu de raiva, mas esse definitivamente não era o momento adequado para isso e para distrair-se ficou a olhar fixamente os delicados músculos que lhe percorriam a nuca. Ao redor da grácil curva se formavam suaves cachos, e mais de uma vez tirou o chapéu inclinando-se para frente para tocá-los…
Ou talvez para lhe rodear a garganta com as mãos.
E apertar até que fosse sua e só sua.
Podia imaginar perfeitamente como seria subjugar suas resistências e reclamá-la como sua… podia imaginar a alienação na expressão de seus olhos enquanto morria.
Ao ver-se envolto no futuro, quase agiu segundo seu impulso, mas felizmente, as partes cantadas do serviço o ajudaram a romper sua furiosa concentração e ocupar suas mãos. Também olhava ao filho, de vez em quando, para evitar que sua obsessão se centrasse nela enquanto se achava em um lugar no qual, se as coisas lhe escapavam das mãos, perderia tudo.
O filho se comportava muito bem. Com tanta maturidade. Sem dúvida era o pequeno homem da casa.
Nunca deixava que fosse com outros meninos à escola dominical, mantendo-o justo a seu lado. O qual era um pouco frustrante, embora demonstrava ser inteligente ao não perdê-lo de vista. Muito inteligente.
Mas não deveria preocupar-se. Muito em breve o pequeno ia estar junto a seu pai… e ela ia estar com seu eterno marido.
O futuro perfeito estava planejado para todos eles.
Vin atravessou a porta do duplex, trancou-se dentro e sentiu como se alguém o tivesse chutado no estômago. Do vestíbulo, olhou a sala arruinada, e não podia acreditar no que estava vendo.
Enquanto caminhava pelo lugar, tudo o que podia fazer era sacudir a cabeça. Os sofás estavam derrubados, as almofadas de seda pisoteadas e várias estátuas tinham sido arrancadas dos suportes. O tapete, perto da barra estava arruinado, manchado com o licor que tinha emanado das garrafas quebradas e ia ter que voltar a pintar e empapelar as paredes porque parecia que tinham jogado nelas algumas garrafas de vinho de Burdeos.
Tirando o casaco, atirou-o sobre o sofá arruinado e perambulou pelo espaço que uma vez fora perfeito. Era assombroso como todas essas coisas inestimáveis tinham sido convertidas em lixo tão rapidamente. Merda, se acrescentasse uma capa de imundície e restos de comida teria um contêiner.
Agachando-se, recolheu alguns fragmentos que se soltaram de um espelho veneziano quebrado. Tinha sido golpeado com algo que tinha uma vaga semelhança a umas costas humana, o centro da peça tinha uma longa seção esmagada com forma de torso humano.
O fino polvilho de pó branco sobre toda sua superfície parecia indicar que a polícia tinha estado ocupada polvilhando-o em busca de impressões digitais.
Merda, seguro como o inferno que alguém tinha sido jogado por toda a casa.
Vin foi ao bar e pôs os cacos do espelho junto a algumas das garrafas quebradas. Logo, reatou a busca do que aos tiras não cabia nenhuma dúvida que tinha acontecido depois.
Não havia sangue à vista. Mas possivelmente já tinham retirado os objetos manchados por ela.
Além disso, os hematomas sangravam sob a pele, assim que a falta de sangue nesse lugar não ia necessariamente ajudá-lo.
Indubitavelmente o Departamento de Policia durante sua permanência no edifício devia ter interrogado ao guarda da recepção… embora não era como se o tipo pudesse atestar que Vin não tinha estado no apartamento. Depois de tudo, os residentes podiam tomar os elevadores diretamente da garagem.
Vin se aproximou do telefone e chamou à recepção. Quando uma voz masculina respondeu, não andou com rodeios:
—Gary, é Vin… você deu à polícia acesso às fitas de segurança dos elevadores e os espaços da escada do edifício?
Não houve absolutamente nenhuma pausa.
—Jesus, Sr. diPietro, por que o fez…?
—Eu não o fiz… O juro. A Policia conseguiu essas fitas?
—Sim, têm-nas todas.
Vin exalou aliviado. Não havia maneira de que pudesse ter chegado ao duplex sem aparecer em uma dessas gravações. De fato, o que estas iriam provar era que tinha deixado o edifício essa manhã e não havia retornado até passada a meia-noite.
—E você foi filmado —disse o guarda.
Vin piscou.
—O que?
—Você subiu no elevador da garagem às dez. Está na fita.
—O que? —Isso era impossível, a essa hora estava no carro, conduzindo para o Woods com Marie-Terese—. Espera, viu meu rosto. Realmente viu meu rosto?
—Sim, tão claro quanto o dia. Ela entrou pelas portas principais e subiu ao duplex, e logo, vinte minutos mais tarde, você entrou pela garagem. Levava seu impermeável negro e uma meia hora mais tarde se foi com sua boina dos Boston Sox jogada sobre os olhos.
—Não era eu. É…
—Era.
—Mas… não estacionei meu BMW em seu lugar… não estava e meu outro carro estava ali. Não utilizei meu cartão de passagem para atravessar o portão. Explique-me…
—Alguém o trouxe até aqui, logo entrou pela porta para pedestres. Não sei. Olhe, tenho que ir. Estamos realizando uma prova do alarme de incêndios.
A linha ficou muda.
Vin pendurou o receptor e olhou fixamente o telefone, sentindo como se todo o fodido mundo se tornou louco. Então, depois de um momento, foi ao sofá, arrumou as almofadas para que estivessem aparentemente ordenados e virtualmente caiu de traseiro.
Quando o sistema de alarme do edifício começou a soar e as luzes estroboscópicas cintilaram nas instalações fixas do vestíbulo, sentiu como se estivesse no sonho que tinha tido, no qual Devina caía sobre ele como algo saído da Noite dos Mortos Vivos[4].
As peças de xadrez estavam sendo dispostas a seu redor, bloqueando seus movimentos, encaixotando-o.
É meu, Vin. E sempre tomo o que é meu.
Enquanto voltava a ouvir essas palavras em sua mente, o som do alarme era o acompanhamento perfeito para o pânico que ardia por suas veias. Merda. Que demônios ia fazer agora?
Como saída de nenhuma parte, a voz de Jim Heron interrompeu a de Devina: Estou aqui para salvar sua alma.
Ignorando essa pista extremamente inútil, Vin se levantou e foi a seu escritório em busca de algo que era muito mais provável que o tranquilizasse. Foi para onde estavam as garrafas de licor intactas, serviu-se de um Bourbon, bebeu-o e logo preencheu o copo largo e baixo. Tinham deixado a televisão ligada, mas sem volume, e enquanto se situava atrás da escrivaninha, cravou os olhos nas notícias locais.
Quando imediatamente depois apareceu uma fotografia junto à cabeça da apresentadora loira, não pôde dizer que o surpreendia. Dada a forma em que se estavam desenvolvendo as coisas, precisaria que uma maldita bomba súcia[5] no centro de Caldwell para suscitar alguma reação nele.
Pegou o controle remoto.
—…Robert Belthower, trinta e seis, foi encontrado cedo esta noite em um beco não longe de onde a noite da sexta-feira foram alvejadas duas vítimas. Neste momento se encontra internado no Hospital St. Francis e sua condição é crítica. Ainda não foi identificado nenhum suspeito neste crime...
Era o tipo do Iron Mask. Que tinha saído do banheiro com Marie-Terese.
Vin levantou o telefone e marcou.
A chamada não foi aceita até o quarto tom, e a voz do Jim soava tensa, como se não quisesse responder.
—Olá, amigo.
Ainda tem vontades de salvar minha alma? Quis zombar Vin.
—Viu as notícias?
Uma longa vacilação.
—Quer dizer sobre Devina?
—Sim. Entretanto eu não o fiz, juro… a última vez que a vi foi quando rompi com ela essa tarde e quando partiu de minha casa deixei que levasse o anel que lhe comprei... por nada. Mas estou ligando para você pelo tipo que encontraram golpeado em um beco do centro. Esteve com Marie-Terese ontem à noite. Vi-o com ela. E com ele já seriam três os homens que nas últimas vinte e quatro horas estiveram… Olá? Jim? —Quando ouviu um hãn-hãn, ficou claro qual era o problema—. Olhe, eu não fiz essa merda a Devina, embora sei que não acredita em mim.
Outro longo silêncio.
—Alô? Oh, merda, honestamente acredita que eu poderia fazer mal a uma mulher?
—Pensei que chamava por mim.
Agora foi sua vez de fazer uma pausa.
—Por quê?
Outro longo silêncio.
—Ela disse que lhe tinha contado isso. Sobre nós.
—Nós? O que nós?
—Disse que foi por causa disso que enlouqueceu e a golpeou.
Vin apertou o copo que tinha na mão.
—Exatamente o que é que está dizendo a respeito de vocês dois?
A suave maldição que lhe chegou através da linha era a forma de dizer, no idioma universal, sexo-que-não-deveria-ter-acontecido.
Ao Vin lhe esticaram os músculos dos ombros e dos braços.
—Você está brincando. Está-me puxando o fodido cabelo.
—Sinto muito…
O copo que Vin tinha na mão se quebrou, o Bourbon escorreu por toda parte, ensopando a manga e o punho e salpicando a frente da camisa e suas calças.
Terminou a chamada lançando o celular através do escritório.
Enquanto Jim apertava a tecla de desligar, estava disposto a apostar que essa não era a forma como Vin tinha terminado a chamada. Não, tinha o pressentimento de que qualquer telefone que tivesse estado na orelha de Vin era agora sujeira para uma pá. Genial. Fodidamente maravilhoso.
Depois de esfregar os olhos, voltou a concentrar-se na entrada do edifício hospitalar e permitiu que a primeira parte da conversa se registrasse: outro tipo vinculado com Marie-Terese tinha sido golpeado. E quando Vin ligou, em sua mente, essa tinha sido sua primeira prioridade, ainda por cima do fato de que, oh, sim, estava acusado de cometer um assalto grave por ter triturado a sua noiva com os nódulos.
Para Vin essa merda com Marie-Terese era mais forte que nunca. O qual de algum modo lhe dava a sensação de que não era algo muito bom.
Homem, esta missão especial ia ao fodido inferno mais rápido que se fosse em queda livre.
Jim jogou uma olhada a seu relógio e logo voltou para sua observação de cada uma das pessoas que entravam e saíam pelas portas. Era perto da uma, assim supostamente os parentes de Devina viriam a qualquer momento e ela iria com eles.
Deus, Devina era uma mentirosa.
Sentiu-se como um sacrílego ao chegar a essa conclusão, dado o aspecto do rosto da mulher, mas a verdade era o que era: Vin não se inteirou de nada do que tinha ocorrido na noite de quinta-feira nem do acontecido em sua caminhonete. Nada. O estou-totalmente-na-escuridão tinha ressoado em sua voz transtornada.
Por que teria mentido ela a respeito de haver contado ao homem? E em que mais tinha mentido?
Seguro como a merda que isso fazia a negação de Vin mais acreditável.
A uma em ponto chegou e passou, e também a uma e meia. Logo as duas. Devina já deveria estar para sair, assumindo que fazer a papelada lhe levasse perto de uma hora e que sua família fosse pontual… e assumindo que não saísse por outro lado.
E assumindo que alguém a devesse recolher.
Desejando ter um cigarro, tirou o telefone e esfregou a superfície plana da tela até que se esquentou. A verdade. Esta situação precisava de uma injeção de verdade. Precisava saber quem era Marie-Terese e quem era Devina e que porra estava acontecendo.
Infelizmente, isso ia custar-lhe…
Repentinamente Devina atravessou as portas duplas com um par de grandes óculos de sol que tampavam a maior parte de seu rosto. Estava vestida com um conjunto de ioga negro, e em comparação, a bolsa de crocodilo extragrande que levava pendurando ao lado a fazia parecer magra como uma régua. Enquanto saía ao meio-fio do pórtico, as pessoas a olhavam ao passar, como se tentando localizá-la no universo das celebridades.
Não havia ninguém com ela.
E... os machucados que tinha tido no rosto agora tinham desaparecido. Todos. Estava para fazer uma sessão de fotografia, tão encantadora e perfeita como tinha estado durante o jantar da noite da sexta-feira.
Geladas advertências chapinharam nas veias de Jim, o tipo de advertências que só tinha tido algumas vezes em sua vida.
Isto estava mau. Muito mal.
Endireitando-se no assento da caminhonete, preparou-se para olhar o pavimento sob seus pés. Sob a luz que se vertia do céu e criava sombras no chão de objetos grandes e pequenos, ela não lançava nenhuma sombra. Ela tinha forma, mas não substância, forma, mas não carne. Este era o inimigo. Estava olhando o inimigo. Tinha tido relações sexuais com o inimigo.
Como se ouvisse seus pensamentos, Devina olhou diretamente para onde ele estava estacionado. E então franziu as sobrancelhas e seu rosto percorreu lentamente o lugar de um lado a outro, o que o fez pensar que ela não podia ver exatamente onde estava ele, mas sabia que alguém a estava olhando.
Sua expressão era fria como a pedra. Não tinha nada da calidez que tinha irradiado diante de Vin ou o que tinha entretido ao redor de Jim na caminhonete ou no carro ou nessa cama de hospital.
Fria. Como pedra.
Frieza de assassina em série.
E já que estava dizendo verdades: era uma sedutora, uma mentirosa e uma manipuladora... e estava atrás de Vin. E não o queria para contrair matrimônio, mas sim queria possuir a alma do homem.
Jim também sentia a convicção, no centro de seu peito, de que ela sabia quem e o que era ele. Tinha-o sabido desde a primeira noite em que tinham tido sexo… e tinha seduzido seu traseiro de propósito. Inferno, a lógica era indiscutível. Seus novos chefes, os Quatro Garotos, tinham-no colocado no campo de jogo, e parecia que o outro lado também tinha enviado uma operação à situação… que sabia mais que Jim.
Quando esse velho estribilho do Diabo com Vestido Azul percorreu sua mente, começou a perguntar-se a respeito de tipos que montavam Harleys e que tampouco projetavam sombras. E que provavelmente também fossem mentirosos.
Maldição.
Devina examinou o estacionamento outra vez, tratou com acritude a algum pobre tipo que sem querer a pisou ao retroceder, e logo levantou a mão para chamar um dos táxis da fila que havia a sua direita. Quando avançou um táxi, ela entrou e partiram.
Tempo de ficar em movimento, pensou Jim enquanto arrancava a caminhonete e retrocedia saindo de sua vaga. Como ela tinha visto seu meio de transporte embora só na escuridão, tinha somente um véu e não uma cobertura, assim teve que colocar-se dois carros mais atrás e rezar para que o taxista não tivesse o hábito de acelerar nas luzes alaranjadas.
Enquanto a seguia, colocou o celular em posição para chamar, quando pressionou enviar, não havia nada mais importante para ele que conseguir o que necessitava. Nada do que tivesse que fazer seria excessivo. Nenhum sacrifício seria muito grande nem muito humilhante. Tinha retornado à terra da obsessão pelo objetivo, com tanta determinação e tão imutável como uma bala já disparada.
—Zacharias. —disse quando responderam.
Matthias o sacana, riu baixinho.
—Juro que falo mais com você que com minha própria mãe.
—Não sabia que tinha uma. Pensei que tinha saído de um ovo.
—Chama-me para discutir sobre árvores genealógicas ou há um propósito para isto?
—Preciso da informação.
—Ah. Já me parecia que recuperaria o juízo.
—Mas desejo informação de dois nomes. Não de um. E não posso fazer o trabalho para você até que termine o que estou fazendo em Caldwell.
—No que está trabalhando exatamente?
—Não é de sua conta.
Embora Matthias fosse conseguir um bonito panorama dos quais estavam implicados.
—Durante quanto tempo estará preso?
—Não sei. Não serão seis meses. Possivelmente nem sequer um.
Houve uma pausa.
—Darei a você quarenta e oito horas. E logo me pertencerá.
—Não pertenço a ninguém, imbecil.
—Correto. Seguro. Espera meu e-mail explicando tudo.
—Olhe, não deixarei Caldwell até que esteja bem e fodidamente preparado. Assim envia o que te dê vontade, mas se acredita que vai me enviar ao estrangeiro depois de amanhã para eliminar alguém, tem a cabeça no traseiro.
—Como sabe o que vou pedir a você?
—Porque você e todos os meus chefes anteriores a você só quiseram uma coisa de mim —disse Jim com voz rouca.
—Bom, possivelmente variaríamos um pouco se você não fosse tão fodidamente brilhante em tudo o que faz.
Jim apertou com força o telefone celular e decidiu que se continuasse com as falsas adulações, ia adotar o método de Vin de terminar as conexões.
Clareou garganta.
—O e-mail não funcionará. Já não tenho conta.
—De todos os modos ia enviar para você um pacote. Honestamente, não acreditará que confio no Hotmail ou Yahoo!, não é?
—Bem. Meu endereço é…
—Como se já não soubesse. —mais dessa risada—Assim suponho que quer um relatório sumário de Marie-Terese Boudreau?
—Sim, e…
—Vincent diPietro?
Que soubesse, não o surpreendia em nada.
—Não. Devina Avale.
—Interessante. Não será a mulher que ontem à noite disse que o velho e bom do Vincent a enviou ao hospital, verdade? Por que... sim, é ela. Tenho-a aqui mesmo em minha tela de computador. Com que terrível grupo de pessoas se relaciona. Tão violentas.
—E pensar que é uma melhoria em relação à gente como você.
Agora percebia um pouco menos dessa diversão:
—Como disse? Não é sábio morder a mão que te alimenta… Sim, acredito que é verdade.
—É mais provável que escolha disparar antes que utilizar os dentes. Para sua Informação.
—Sou muito consciente de quanto você gosta das armas, muito obrigado. E apesar de sua pobre opinião sobre mim, tenho toda a informação a respeito de Marie-Terese aqui mesmo. —A favor de Matthias terei que dizer que foi direto ao ponto— Gretchen Moore nascida em Las Vidas, Califórnia. Idade, trinta e um. Graduada na Universidade de Califórnia de San Diego. Mãe e pai mortos. —Houve um som como de deslocamento e um grunhido, como se Matthias estivesse mudando de posição… e a idéia de que o tipo tivesse que suportar dores crônicas o satisfazia como o inferno— Agora a parte interessante. Casada com o Mark Capricio em Las Vegas, faz nove anos. Capricio é um autêntico membro da máfia, uma merda verdadeiramente doente que segundo seus antecedentes penais tem uma severa desordem de personalidade. Um verdadeiro arrebenta cabeças. Evidentemente ela tentou deixá-lo três anos atrás e ele a golpeou, pegou menino e se mandou. Encontrá-lo custou a ela alguns meses e a contratação de um investigador particular. Quando recuperou seu filho, divorciou-se do imbecil, comprou a identidade de Marie-Terese, e desapareceu, acabando finalmente em Caldwell, NY. Após, ela manteve um perfil ultra-baixo, e com razão. Os homens como Capricio não permitem que suas mulheres se vão.
Santa. Merda. Assim… havia boas possibilidades, de que esses dois meninos mortos e esse homem espancado ontem à noite no beco significassem que Capricio a tinha encontrado. Tinha que ser isso. Vin disse que o segundo ataque foi para um tipo que tinha sido visto com ela…
—Mas no que se refere a seu ex-marido, e a curto prazo, ela não tem nada do que preocupar-se.
—Desculpa? —disse Jim.
—Capricio está fazendo vinte anos em uma prisão federal por uma salada de crimes que incluem desvio de dinheiro, lavagem de dinheiro, intimidação a uma testemunha e perjúrio… e depois disso, ainda lhe falta cumprir condenação por uma penca de crimes estatais, que compreendem cumplicidade em um assassinato, assalto e agressão. Merda, o tipo bem poderia ser material para uma pergunta de exame na faculdade de direito. —Outra mudança de postura que foi remarcada com uma suave maldição—. Aparentemente, todo seu mundo lhe estava caindo em cima aproximadamente na mesma época em que Gretchen/Marie-Terese decidiu deixá-lo. O qual é lógico. Provavelmente foi se tornando mais e mais violento em seu lar, à medida que os federais e a polícia estatal de Nevada foram lhe cercando. Quando lhe arrebatou ao filho, estava fugindo da lei, não só de sua mulher… o que converte ao fato de que tenha conseguido desaparecer três meses em um testemunho da envergadura de suas conexões. Obviamente, alguém o delatou, embora… também é provável que o detetive particular dela tenha pressionado no lugar adequado, no momento oportuno ameaçando entregá-la a um de seus protetores. Quem sabe.
—Mas me perguntou se agora sua família não virá em sua busca.
—Sim, li a respeito desses dois assassinatos a ponta de pistola no beco. Duvido que se trate de sua família. Eles a teriam matado levando o filho. Não haveria razão para que expusessem a si mesmos a correr um risco desnecessário aniquilando inocentes.
—Sim, e além disso, se mata alguém simplesmente porque esteve com ela, converte-se em algo pessoal. Assim que a pergunta é, quem está atrás dela? Assumindo que ela seja o comum denominador entre os ataques da sexta-feira e da noite do sábado.
—Espera, outra pessoa foi eliminada, e não de boa maneira?
—E eu aqui pensando que sabia tudo.
Houve uma pausa longa e logo a voz de Matthias retornou, desta vez sem seu habitual tom de pavoneio.
—Não sei tudo. Embora me levou um bom momento me dar conta disso. De todos os modos, farei o de Devina para você. Espera minha chamada junto ao telefone.
—Entendido.
Quando Jim desligou, sentia como se tivesse vestido um conjunto de roupa que lhe resultava familiar: o tira e o frouxa com o Matthias se desenvolveu igual ao de sempre. Rápido, ao ponto, engenhoso e lógico. Esse era o problema. Eles sempre tinham trabalhado bem juntos.
Possivelmente um pouco muito bem.
Voltou a centrar-se na perseguição, rastreando o táxi de Devina enquanto atravessava o centro em direção ao velho distrito de armazéns. Quando entraram no labirinto de edifícios industriais que tinham sido convertidos em lofts, deixou que o táxi girasse para tomar o Canal Street e continuou até a próxima travessa onde podia realizar um giro à esquerda. Deu uma volta à quadra, e seu emprego do tempo esteve perfeito: quando chegou novamente à rua Canal, conseguiu ver Devina descer do táxi e caminhar até uma porta. Quando entrou utilizando uma chave, tomou como indicação de que ali tinha seu apartamento.
Jim seguiu conduzindo, e enquanto saía do distrito, fez outra chamada.
Chuck, capataz da equipe do Grupo diPietro, respondeu com seu mau humor habitual.
—Sim.
—Chuck, é Jim Heron.
—Ei. —Houve uma exalação, como se o tipo estivesse na metade de um charuto— Como anda?
—Bem. Quero que saiba que vou trabalhar amanhã.
A voz do tipo adotou certa calidez.
—É um bom homem, Heron. Mas não se esforce muito.
—Nah. Estou bem.
—Bem, agradeço-o.
—Escuta, estou tentando entrar em contato com dois dos tipos com os quais geralmente trabalho e me perguntava se tinha seus números.
—Tenho o número de todos exceto o seu. De quem precisa?
—Adrian Vogel e Eddie Blackhawk.
Houve uma pausa, e não pôde resistir a imaginar ao tipo mascando a bituca do charuto.
—Quais?
Jim repetiu os nomes.
—Não sei de quem está falando. Não há ninguém com esses nomes no batente. —Houve uma vacilação, como se o tipo se perguntasse se Jim estava em seu cabais— Está seguro de que não precisa de alguns dias livres?
—Possivelmente tenho os nomes errados. Montam em Harleys. Um deles tem cabelo curto e piercings. O outro é imenso e tem uma trança que lhe cai pelas costas.
Outra exalação.
—Olhe, Jim, voe vai tirar a manhã livre também. O verei na terça-feira.
—Ninguém assim na equipe?
—Não, Jim, ninguém.
—Então suponho que estou confuso. Obrigado.
Jim atirou o celular no assento contiguo e quase estrangulou o volante. Não eram parte da equipe. Grande surpresa.
Porque esse par de bastardos não existiam em realidade, ao menos não mais que Devina.
Cristo, parecia que neste novo trabalho estava rodeado de mentirosos. O que em realidade o devolvia a um terreno familiar. Certo?
Seu telefone soou e ele o pegou.
—Não pode encontrá-la, verdade. Devina Avale não é nada mais que ar.
Matthias não ria desta vez.
—Nada. Nenhuma maldita coisa. É como se tivesse caído à terra de nenhuma parte. O assunto é que, todos seus documentos são verdadeiros na superfície… mas só até certo ponto. Não existe certidão de nascimento. Nada de pais. Seu crédito foi estabelecido faz só sete meses, e o número da segurança social é o de uma mulher morta. Assim não é uma grande fachada, o que significa que deveria ter podido encontrar algo, algo sobre sua verdadeira identidade. Mas ela é uma miragem.
—Obrigado, Matthias.
—Não parece nada surpreso.
—Não o estou.
—Em que demônios se colocou?
Jim sacudiu a cabeça.
—A mesma merda, diferente dia. Isso é tudo.
Houve um breve silêncio.
—Espera um pacote de minha parte.
—Entendido.
Jim terminou a chamada, pôs o telefone no bolso dianteiro da jaqueta, e decidiu que era hora de ir encarar o baile no Commodore. Vin DiPietro tinha direito de saber quem e o que era sua ex, e esperava que o tipo estivesse aberto à verdade… embora soasse muito como ficção.
Abruptamente, a lembrança de Vin levantando o olhar do tamborete do vestuário de Iron Mask retornou.
Acredita em demônios?
Quão único podia fazer Jim era esperar que essa pergunta fosse retórica.
O vidro era curioso. Quando quebrava uma merda dessas, enchia o seu saco e lhe devolvia.
No banheiro principal, no andar de cima, Vin estava rodeado de gaze e esparadrapo branco. O que se havia feito na palma ao apertar esse copo de Bourbon até fazê-lo pedacinhos estava muito por cima da terra das tirita, assim tinha se visto obrigado a pedir reforços da variedade Cruz Vermelha e as coisas não estavam indo bem. Estando a ferida na mão direita, converteu-se em uma enfermeira lerda e praguejadora, que se enredava com os envoltórios, as tesouras e o esparadrapo.
Menos mal que fosse seu próprio paciente. Só o vocabulário, deixando a um lado a incompetência, faria que lhe proibissem exercer... ou o safado equivalente para os auxiliares de clínica.
Estava a ponto de terminar com a ordália[6] quando soou o telefone que havia junto ao lavabo. E não era extremamente divertido? Com um diminuto par de tesouras de unhas na mão esquerda, uma parte de esparadrapo entre os dentes, e sendo sua mão direita pouco mais que uma garra, requereu de toda sua coordenação responder à chamada.
—Deixe-o subir. —disse ao guarda do vestíbulo.
Depois de deixar o receptor, fez um trabalho meio decente, deixou toda a confusão sobre o balcão tal como estava e dirigindo-se para as escadas, desceu para a porta principal. Quando o elevador chegou e se abriu, ele estava no corredor, esperando.
Jim Heron saiu e não ficou esperando uma saudação ou um convite para falar. O qual teve que respeitar.
—Quinta-feira de noite —disse o tipo— Não o conhecia. Não a conhecia. Deveria ter lhe dito isso, mas para ser honesto, quando os vi juntos, não quis sujar as coisas. Foi um engano e o lamento muitíssimo... Mais que tudo pelo fato de que soubesse por outra pessoa que não fosse eu.
Todo o tempo enquanto falava, os braços de Heron penduravam lassos a seus lados, como se estivesse preparado para uma briga se não houvesse tiros, e sua voz era tão firme e nivelada quanto seus olhos. Sem andar com rodeios. Sem artifícios. Sem fodidas mentiras.
E enquanto Vin o enfrentava, em vez de raiva, o qual ele mesmo teria esperado sentir para o tipo, só sentiu um cansaço extremo. Cansaço e um doloroso batimento na mão. Repentinamente, compreendeu que estava se cansando de imitar a seu safado pai no referente a mulheres. Graças a esse legado, ao longo dos últimos vinte anos, a natureza suspicaz de Vin tinha encontrado muitas sombras onde não existia nenhuma... e entretanto, de fato lhe tinha passado por cima a única vez em que alguém que estava deitando-se com ele, tinha-o enganado.
Tanta energia esbanjada, toda no lugar equivocado.
Deus, simplesmente não lhe importava Devina. Neste momento, de verdade não lhe importava o que houvesse feito enquanto estavam juntos.
—Mentiu sobre o que ocorreu aqui ontem à noite —disse Vin bruscamente— Devina mentiu.
Não houve absolutamente nenhuma vacilação na réplica:
—Sei.
—Ah, sim?
—Não acredito numa palavra do que diz sobre tudo.
—E isso por quê?
—Fui vê-la no hospital porque estava me custando acreditar em toda essa merda. E ela me obsequiou um pequeno número cheio de corações-e-flores a respeito de haver te contado o que tinha acontecido na quinta-feira de noite e que essa tinha sido a razão pela qual bateu nela. Mas não sabia, verdade? Nenhuma vez te disse nada, verdade?
—Nem o mais mínimo. —Vin se virou e se encaminhou para o duplex. Quando Jim não o seguiu, disse sobre seu ombro— Você vai ficar aí de pé como uma estátua ou quer comer?
Evidentemente a comida era preferível a jogar às estátuas de mármore, e depois que ambos atravessaram a porta principal, Vin a fechou com chave e pôs a cadeia em seu lugar. Tal e como estavam as coisas ultimamente, não ia arriscar-se com nada.
—Santa merda —disse Jim—, sua sala...
—Sim, foi redecorada por Vence McMahon[7].
Na cozinha, Vin tirou alguns frios e o pote de Hellmans utilizando a mão esquerda.
—Pode escolher entre pão de centeio ou sem levedura.
—Sem levedura.
Enquanto Vin pegava um pouco de alface e um tomate do refrigerador, preparou-se psicologicamente.
—Tenho que saber como foi. Com Devina. Conte-me tudo... Merda, tudo não. Mas como se aproximou de você?
—Está seguro de que quer falar disso?
Tirou uma faca da gaveta.
—Tenho que fazê-lo, amigo. É necessário. Sinto como... sinto como se tivesse estado com alguém a quem não conheço absolutamente.
Jim amaldiçoou e logo se sentou em um dos tamboretes ante o balcão.
—Não tanta maionese para mim.
—Genial. Agora fala.
—Por certo, não acredito que ela seja quem diz ser.
—Curioso, eu tampouco.
—O que quero dizer, é que fiz uma comprovação de seus antecedentes.
Vin levantou a vista no processo de tirar a tampa azul de um pote de plástico.
—Vai me contar como conseguiu isso?
—Não nesta vida.
—E o resultado foi...?
—Não existe, literalmente. E acredite em mim, se a pessoa que utilizei não pôde averiguar sua verdadeira identidade, ninguém pode.
Vin pôs pouca Hellmans no pão sem levedura de Jim, e mais quantidade em seu próprio de pão de centeio, mas foi um trabalho sujo e impreciso. Estava claro que ambidestro não era.
Deus, não o surpreendia sobre Devina absolutamente...
—Ainda continuo esperando os detalhes da quinta-feira de noite —disse —Faça-nos um favor e fala de uma vez. Agora mesmo não conto com a energia necessária para ser cortês.
—Merda... —Jim esfregou o rosto— De acordo... ela estava no Iron Mask. Eu estava com... uns amigos, suponho que poderia chamá-los assim, embora filhos da puta também serviria. Seja como for, quando saí, ela me seguiu até o estacionamento. Fazia frio. Parecia perdida. Estava... Está seguro de que quer isto?
—Sim. —Vin agarrou um tomate, colocou-o sobre uma tábua de cortar, e começou a cortá-lo com a graça de um menino de cinco anos. Estripá-lo seria mais preciso — Continue.
Jim sacudiu a cabeça.
—Estava aborrecida com você. E parecia realmente insegura de si mesma.
Vin franziu o cenho.
—Em que sentido estava aborrecida?
—Em que sentido...? Refere-te ao motivo? Não entrou em detalhes. Eu não perguntei. Eu só... já sabe, queria que se sentisse bem consigo mesma.
Agora era Vin o que sacudia a cabeça.
—Devina sempre está bem. Essa é a questão. Sem importar seu humor, no fundo sempre está bem. Essa foi uma das coisas que me atraiu dela... bom, isso e o fato de que é uma das mulheres mais fisicamente seguras que conheci em minha vida. Mas isso é o que acontece quando se está perfeitamente constituída.
—Disse que você queria que ela fizesse implante de seio.
Vin elevou os olhos de repente.
—Está brincando comigo? Disse a ela que era perfeita desde a noite que a conheci, e o dizia a sério. Nunca quis que mudasse nada.
Abruptamente, Jim franziu as sobrancelhas e adotou uma expressão severa.
—Parece que o enganaram, amigo. —Vin cortou a alface e foi à pia com algumas folhas para lavar— Deixe-me adivinhar, ela abriu o coração para você, você viu uma mulher vulnerável presa a um filho da puta, beijou-a... talvez inclusive pensou que não levaria as coisas mais longe.
—Não podia acreditar como terminaram acabando as coisas.
—Sentia-se mal por ela, mas também se sentia atraído. —Vin fechou o grifo e sacudiu a alface romana— Queria lhe dar algo que a fizesse sentir bem.
Jim baixou a voz.
—Assim é exatamente como foi.
—Quer saber como me conquistou?
—Sim. Quero.
Quando esteve de volta junta ao balcão, Vin estendeu fatias de rosbife tão magras como o papel.
—Fui na inauguração de uma galeria. Ela estava ali, sozinha, com um vestido decotado por detrás até a parte baixa das costas. No teto havia umas luzes, dessas que se dirigem para as pinturas que estão em venda, e quando entrei, vi-a de pé diante do Chagall que eu tinha ido comprar, com essa luz lhe iluminando a pele das costas. Extraordinário. —Acrescentou uma capa de tomate destroçado e uma amaciada manta de alface, logo fechou os sanduíches— Cortado ou inteiro?
—Inteiro.
Entregou o pão sem levedura a Jim e cortou seu pão de centeio pela metade.
—Sentou-se diante de mim no leilão e eu estive cheirando seu perfume todo o tempo. Paguei uma quantidade inconcebível pelo Chagall, e nunca esqueci a forma como ela me olhou sobre o ombro quando caiu o martelo. Seu sorriso era o tipo de coisa que naquela época, eu gostava de ver no rosto de uma mulher. —Vin deu uma dentada e enquanto mastigava o recordou vividamente— Eu gosto do imoral, você sabe, do tio pornô. E seu olhar indicava que não tinha nenhum tipo de problema com esse tipo de merda. Essa noite veio para casa comigo e eu a fodi aqui mesmo no chão. Logo nas escadas. Finalmente na cama. Duas vezes. Deixou-me lhe fazer qualquer coisa e gostou.
Jim piscou e deixou de mastigar, como se estivesse tentando conciliar a atuação na linha do Leave it to Beaver[8] que o havia feito acreditar nele com a atuação de vídeo pornográfico que tinha devotado a Vin.
—Ela era... —Vin se inclinou de lado e arrancou dois guardanapos de papel— exatamente quem eu queria que fosse. —Ofereceu um ao Jim— Em minha vida de trabalho me deu rédea solta para fazer o que quisesse, não lhe importava se saia durante uma semana sem avisar. Acompanhava-me quando eu queria que o fizesse, ficava em casa quando não. Era como... um reflexo do que eu queria.
Jim limpou a boca.
—Ou em meu caso, pelo que a aproximaria de mim.
—Exatamente.
Terminaram seus sanduíches e Vin fez dois mais, e enquanto comiam a segunda rodada, ficaram principalmente em silêncio, como se ambos estivessem evocando seu tempo com Devina... e perguntando-se como tinham sido enganados tão facilmente.
Finalmente Vin rompeu o silêncio.
—Então, dizem que me têm gravado em um vídeo de vigilância de ontem à noite. Subindo no elevador. O guarda de segurança me disse que viu meu rosto, mas isso é impossível. Não estava aqui. Quem quer que seja, não era eu.
—Acredito em você.
—Vai ser o único.
O outro homem fez uma pausa com o pão a meio caminho de sua boca.
—Não estou seguro de como dizer isto.
—Bom, considerando que acaba de me dizer que fodeu a minha ex-noiva, é difícil imaginar algo mais delicado que isso.
—Isto é.
O próprio Vin fez uma pausa a meio dentada, não gostava da expressão do rosto do tipo.
—O que?
Jim tomou seu maldito tempo para falar, inclusive terminou seu fodido almoço. Finalmente, soltou uma risada tensa e curta.
—Nem sequer sei como começar a falar disto.
—Olá? A anteriormente mencionada questão do sexo com a ex-noiva? Vamos, vá ao ponto.
—Está bem. Merda. Sua ex não tem sombra.
Agora foi a vez de Vin rir.
—Isso é algum tipo de código militar?
—Quer saber por que acredito que não foi você o do elevador ontem à noite? Por como você falou dela. Ela é um reflexo, uma miragem... não existe e é absolutamente perigosa, e sim, sei que isto não tem sentido, mas é a realidade.
Vin baixou lentamente o que ficava de seu rosbife. O tipo falava a sério. Mortalmente sério.
Era possível, perguntou-se Vin, que por uma vez pudesse falar do outro aspecto de sua vida? Dessa parte que concernia a coisas que não podiam ser tocadas nem vistas, mas que lhe tinham moldado com tanta segurança como o DNA de seus pais?
—Disse... que tinha vindo salvar minha alma —murmurou Vin.
Jim apoiou suas mãos sobre o balcão de granito e se inclinou para frente. Sob as mangas curtas de sua simples camiseta branca, os músculos de seus braços se avultaram sob o peso.
—E o disse a sério. Tenho um novo e alegre trabalho que consta em afastar as pessoas da beirada.
—Da beirada do que?
—Da condenação eterna. Como disse antes... em seu caso, estava acostumado a pensar que consistia em me assegurar de que terminasse junto a Devina, mas agora estou condenadamente seguro de que esse é o desenlace equivocado. Agora... significa outra coisa. Só que não sei o que.
Vin limpou a boca e baixou o olhar às mãos grandes e capazes do homem.
—Acreditaria-me... se te dissesse que tive um sonho com Devina... um no qual ela era como algo saído de 28 Dias, toda podre e fodida? Afirmava que eu lhe tinha pedido que viesse para mim, que havíamos feito algum tipo de trato e que não havia forma de rompê-lo. E sabe o mais ridículo de tudo? Não parecia um sonho.
—Eu acredito que não o era. Antes de ter essa pequena sessão da sexta-feira com o cabo de corrente, durante a qual me apagou a luz, haveria dito que estava louco. Agora? Pode apostar seu traseiro que acredito em cada palavra disso.
Ao fim, ao menos algo que estava a seu favor em vez de em contra, pensou Vin enquanto decidia justificar-se e expor tudo.
—Quando tinha dezessete anos, fui a esta... —Deus, inclusive com o bem que estava tomando Jim as coisas, ainda se sentia um completo imbecil —Fui ver uma mulher que lia a palma da mão, uma adivinha... uma mulher no centro. Recorda esse encantamento que sofri no vagão do restaurante? —Quando Jim assentiu com a cabeça, continuou— Estava acostumado a tê-los muito frequentemente, e necessitava... merda, necessitava algum modo de detê-los. Estavam arruinando minha vida, me fazendo sentir como um fenômeno.
—Porque via o futuro?
—Sim, e essa merda simplesmente não está bem, sabe? Nunca me ofereci voluntário para isso e haveria feito qualquer coisa para detê-lo. —Imagens do passado, dele desmaiando em centros comerciais, escolas, bibliotecas e cinemas, alagaram seu cérebro— Era uma tortura. Nunca sabia quando chegariam os transes e não sabia o que dizia neles e as pessoas que não se assustavam como a merda e pensavam que estava louco. —Riu com uma áspera gargalhada— Poderia ter sido diferente se tivesse podido predizer os números da loteria, mas só tinha más notícias para compartilhar. Seja como for, ali estava eu, com dezessete anos, sem ter nem idéia de nada, ao limite de minha corda, com nada mais que um par de pais violentos e alcoólicos em casa que não podiam me oferecer nenhuma ajuda ou conselho... não sabia que mais fazer, aonde ir, com quem falar. Quero dizer, minha mãe e meu pai? Eram uns fodidos alcoólicos a quem não teria perguntado o que fazer para almoçar, muito menos algo disto. Assim que um dia próximo ao Halloween, que por certo é o dia de meu aniversário, na parte de trás do Courier Journal vi um montão de anúncios destes psíquicos, curadores ou o que sejam, e decidi tentá-lo com um deles. Fui ao centro, chamei em algumas portas e finalmente uma delas se abriu. A mulher parecia entender a situação. Disse-me o que fazer, fui para casa e o fiz... e tudo mudou.
—De que forma?
—Por um lado, os transes pararam e logo, repentinamente tinha a sorte de meu lado. Meus pais finalmente explodiram... economizarei os detalhes, mas digamos que seu fim foi simplesmente uma evolução do alcoolismo. Depois que morreram, eu me senti aliviado, livre e... diferente. Completei dezoito, herdei a casa e o negócio de encanamento de meu pai... e assim começou tudo.
—Espera, disse que foi diferente... como?
Vin deu de ombros.
—Enquanto crescia, era tranquilo. Já sabe, nunca me interessou muito a escola, contentava-me saindo adiante. Mas depois que morreram meus pais... sim, já nada em mim permaneceu acalmado. Tinha esta ânsia. —ficou a mão no estômago— Sempre estava ansioso. Nada era... ou foi nunca suficiente. É como se estivesse obcecado fazendo dinheiro... faminto sem importar quanto dinheiro houvesse em minhas contas nem quanto tinha. Estava acostumado a pensar que era só porque tinha passado de ser adolescente a ser adulto no mesmo momento em que morreram meus pais... quero dizer, tinha que manter a mim mesmo porque ninguém mais ia fazer isso. Mas não estou seguro de que isso o explique completamente. A questão é que enquanto estava trabalhando a jornada completa para esses encanadores, meti-me no tráfico de drogas. O efetivo era uma loucura e quando começou a empilhar-se, eu só queria mais e mais. Coloquei-me a construir casas porque dessa forma podia ser legal... e isso era importante, não porque tinha medo da prisão, mas sim porque não podia fazer tanto dinheiro se estivesse por trás dos barrotes como fora. Era implacável e não me continha nem a ética nem as leis nem nada além da autoconservação. Nada me aliviava... até há duas noites.
—O que mudou então?
—Olhei uma mulher nos olhos e senti... outra coisa.
Vin estendeu a mão até seu bolso traseiro e tirou o cartão da Virgem. Depois de lhe jogar um longo olhar, colocou-a sobre o balcão e a girou para que Jim pudesse vê-la.
—Quando a olhei nos olhos... senti-me satisfeito pela primeira vez.
Jim se inclinou para frente e olhou fixamente a imagem. Santa merda... era Marie-Terese. O cabelo escuro, os olhos azuis, o rosto suave e amável.
—De acordo, isto é fodidamente horripilante.
Vin clareou a garganta.
—Não é a Virgem Maria. Sei. E esta imagem não é dela. Mas quando vejo Marie-Terese, esse poço ardente que tenho no estômago se alivia. Com Devina? Ela só o alimenta. Já fosse pelo tipo de sexo que praticávamos e os limites que transpassamos, ou as coisas que ela queria ou os lugares aos que fomos. Ela acrescentava constantemente à ânsia. Marie-Terese por outro lado... é como um lago quente. Quando estou com ela, não preciso de nada mais. Nunca.
O tipo recuperou bruscamente o cartão e revirou os olhos.
—Jesus Cristo, me escute. Sonho como um filme do Lifetime[9] ou alguma merda assim.
Jim esboçou um sorriso.
—Sim, bom, se as coisas não funcionarem, sempre pode pôr um negócio de cartões de felicitação e dirigi-lo da a prisão.
—É justo o tipo de troca de profissão que estava desejando fazer.
—Melhor que fazer matrículas.
—Mais engenhoso, certamente.
Jim pensou em Devina e no assim chamado sonho que Vin tinha tido. Havia muito boas probabilidades de que não tivesse sido um pesadelo. Por amor de Deus, se não lançava sombra a plena luz do dia, então o que outros truques tinha sob a manga?
—O que fez exatamente? —perguntou Jim—. Quando tinha dezessete anos.
Vin cruzou os braços sobre o peito e virtualmente se pôde ouvir o som de sucção quando foi arrastado para seu passado.
—Fiz o que a mulher me disse que fizesse.
—Que foi…? —Quando Vin sacudiu a cabeça, Jim supôs que devia ser algo bastante aterrador— Essa mulher ainda anda por aí?
—Não tenho idéia.
—Qual é seu nome?
—Isso o que importa? Isso ficou no passado.
—Mas Devina não, e graças a ela apresentaram-se denúncias contra você por algo que não fez. —Quando se viu envolto por um montão de maldições, Jim assentiu com a cabeça— Abriu uma porta, não seria má idéia voltar e conseguir a chave para fechá-la.
—Esse é o problema. Acreditei que estava fechando-a. Quanto a essa mulher, foi há vinte anos. Duvido que possamos encontrá-la.
Quando Vin começou a limpar tudo, Jim observou a torpe vendagem que tinha na mão.
—Como se fez essa ferida?
—Esmaguei um copo com a mão enquanto falava com você.
—Já vejo.
Vin se deteve a meio caminho de fechar a bolsa do pão sem levedura.
—Preocupa-me Marie-Terese. Sabe, se Devina pode me fazer isto , de que não será capaz?
—Sou consciente disso. Ela sabe algo de...?
—Não, e me encarregarei de que continue assim. Não quero que Marie-Terese se envolva nesta merda.
Mais provas de que Vin não era um idiota.
—Escuta... com respeito a ela. —Jim desejava ser muito cuidadoso ao referir-se a este assunto—Depois que me contaram que o outro tipo assassinado no centro tinha estado com ela, joguei uma olhada em seus antecedentes.
—OH, Jesus... —Vin, que acabava de abrir a despensa, girou-se rapidamente— Esse ex-marido dela. Encontrou-a. É...
—Ele não. Está no cárcere. —Jim lhe informou o que o sacana do Matthias tinha averiguado e o que lhes parece?... quanto mais avançava a história, maior era o cenho no rosto de Vin— Em resumo —concluiu Jim—, embora seja possível que algum cúmplice de Capricio tivesse vindo em sua busca, não é provável que seja responsável por essas outras mortes porque em realidade o único que lhes preocuparia seria Marie-Terese.
Vin amaldiçoou... o que significava que tinha captado a imagem e todas suas implicações.
—Então, quem? Assumindo que ela seja a conexão entre os dois ataques.
—Essa é a questão.
Vin se recostou para trás contra o balcão, cruzando os braços e com aspecto de estar desejando brigar com alguém.
—Por certo, renunciou —disse depois de um momento— Já sabe, dessa merda no Iron Mask. E acredito que vai abandonar Caldwell.
—Seriamente?
—Não quero perdê-la de vista, mas talvez seja o melhor. Poderia ser um desses... homens, já sabe, os do clube, ao que ela... se...
Quando o tipo apertou os lábios como se suas vísceras se congelaram, Jim compreendeu que as coisas tinham progredido entre esses dois. Rápido. Embora não estivesse disposto a apostar em Cão, poderia apostar sua caminhonete e sua Harley que Vin e Marie-Terese se converteram em amantes... porque essa expressão no rosto do tipo era dilaceradora.
—Não quero perdê-la —resmungou Vin— E odeio que esteja fugindo por sua vida.
—Bom —disse Jim—, então acredito que você e eu devemos assegurar que seja seguro para ela permanecer aqui.
A salvo de Devina... e de qualquer psicopata que fosse atrás dela.
Ao menos Jim sabia que demônios fazer com um imbecil que padecesse um caso de obsessão por uma mulher. Quanto a Devina? Bom, essa solução ia ter que tirar-lhe do traseiro.
Ao outro lado da mesa Vin levantou a vista, e quando seus olhos se encontraram, o tipo assentiu uma vez, como se soubesse que as coisas iriam ficar estranhas e estivesse de acordo com isso. Estendendo sua mão enfaixada, disse:
—Excelente plano, meu amigo.
Jim estreitou cuidadosamente a garra que lhe oferecia.
—Tenho o pressentimento de que vai ser um prazer trabalhar com você.
—O mesmo digo. Suponho que a briga do bar foi só um pré-aquecimento.
—Evidentemente.
Quando Marie-Terese se sentou depois do último hino da missa, sentiu seu telefone vibrando em sua bolsa, desligou sem retirar o aparelho.
Robbie a examinou com o olhar, mas ela apenas recostou no banco, e deu a ele um discreto sorriso. Do seu ponto de vista, havia três possibilidades para a chamada: número errado, babás... ou Trez. E por mais que gostasse de seu velho chefe, esperava que não fosse ele.
Abruptamente, pensou sobre algo que aprendera na faculdade sobre pára-quedistas veteranos. Foi na aula de psicologia, durante um estudo sobre percepção do perigo e ansiedade. Perguntados quando ou se eles já sentiram medo, os pára-quedistas, que se ajustavam no perfil do grupo de risco, responderam opressivamente que a única vez que estiveram nervosos, foi em seu último salto, como se pudessem ter consumido toda sua sorte com o passar do tempo e as vantagens que tiveram até aquele ponto poderiam abandoná-los da mesma maneira que abandonavam os saltos.
Engraçado, quando ela estava com dezoito anos e sentada em um salão de conferência, isso pareceu tão ridículo. Depois de todos os saltos que aqueles “voadores” deram, por que perderam seus nervos de aço no último? Agora ela entendia.
Poderia ter parado na noite anterior... mas se aquele toque era Trez a chamando de volta para se encontrar com o Departamento de Policia novamente? E se dessa vez, não fosse sobre aqueles tiroteios, mas sobre o que fez para ganhar dinheiro?
Enquanto ela se sentava ao lado do filho na igreja, o risco que assumira parecera real pela primeira vez. A situação era, a evolução da garçonete sexy para algo mais foi feito em um ambiente onde isso era uma “escolha de carreira” que muitas pessoas ao redor dela fariam com segurança. Abruptamente, entretanto, ela percebeu que deveria estar louca. Se fosse presa, Robbie terminaria em um lar adotivo, com ambos os pais atrás das grades.
Certo, nem Trez, nem seu primeiro chefe, tiveram algum problema com a polícia, mas como poderia ter tanta fé naquela reputação considerando o que estava em jogo?
Deus... cortando os laços com todo aquele lado inferior e indigente da vida, era capaz de ver sua escolha do que fazia para ganhar dinheiro com olhos muito diferentes...
Olhando de relance ao redor para todas as pessoas nos bancos, estava chocada ao perceber que aqueles eram olhos normais com os quais considerava suas ações. E, em conseqüência disso estava horrorizada consigo mesma.
Cuidado com o que você deseja, ela pensou. Queria estar se preocupando à toa, porque aquilo parecia tão mais fácil do que onde esteve. Mas agora que estava mergulhando seu pé naquele charco, acabou de perceber que o que fez era ainda mais terrível, irresponsável e perigoso.
E realmente, aquela foi a forma que viveu nos últimos dez anos, não foi? Seu casamento com Mark foi o primeiro passo para a vida do tipo fora da lei que só tinha vira na TV. Trapacear para manter seu filho seguro foi o segundo. Tornar-se prostituta para conseguir dinheiro a fim de sobreviver foi o terceiro.
Enquanto ela olhava ao longo do corredor para o altar, ficou brava consigo mesma e suas escolhas. Ela era a única pessoa que Robbie teve na vida, e embora pensasse que o estava colocando em primeiro lugar, ela realmente não fez isso, fez?
E o fato é que não tivera outras opções considerando que o tipo de dinheiro que ela devia, era pouco consolador.
Quando a missa terminou, ela e Robbie levantaram-se e juntaram-se ao aglomerado de pessoas que se amontoavam no hall em torno do Padre Neely. Para a maior parte deles, o foco dela era conduzir Robbie adiante, mas de vez em quando, porque não podia evitar isso sem ser rude, ela gesticulava com a cabeça para as pessoas que sabia serem do grupo de oração ou das missas dos domingos anteriores.
Robbie aferrou-se a sua mão, mas o fez como um homem, conduzindo-a ao invés de ser levado, pelo menos tão longe quanto ele sabia. Ao chegarem diante do Padre, a soltou e foi o primeiro a apertar a mão do homem.
— Serviço adorável. — disse Marie-Terese apoiando as palmas das mãos levemente nos ombros do filho. – e as reformas na Catedral estão ficando bonitas.
— Elas estão, elas estão. – Padre Neely olhou ao redor com um sorriso, seu cabelo branco, porte alto e magro, perfeito para um homem de batina. De fato, ele se parecia com a Catedral, pálido e etéreo. – Uma melhoria nela, e já era hora.
— Estou contente que vocês estão limpando o estatuário também. – ela movimentou a cabeça na direção do pedestal vazio onde ficava Maria Madalena. – Quando ela volta?
— Oh, querida, você não sabe? Ela foi roubada. – As pessoas se aproximaram e Padre Neely começou a trocar olhares dos outros paroquianos e sorrir. – A polícia está procurando pelo vândalo. Nós tivemos sorte, entretanto, considerando que eles podiam ter levado os outros também.
— Isto é terrível. – Marie-Terese cutucou Robbie e ele entendeu a indireta, apertou sua mão e começou a conduzi-la novamente. – Eu espero que eles a consigam de volta.
— Eu também. – O Padre inclinou-se para frente e apertou seu antebraço, seus olhos debaixo de suas sobrancelhas tipo bolas de algodão. – Fique bem, minha criança.
Ele era sempre agradável com ela. Embora ele soubesse.
— Você também, Padre. – ela disse asperamente.
Ela e Robbie saíram na tarde fria de Abril, e enquanto olhava para o céu branco leitoso, cheirou uma mudança no ar.
— Wow, eu acho que nós poderemos ter neve.
— Realmente? Isso seria tão legal.
Conforme caminhavam ao longo da calçada, os motores dos carros estavam recomeçando as atividades por toda a parte enquanto a edição dominical do Times brilhava e a congregação corria de volta para casa para desmoronar em sofás e poltronas com o jornal. Pelo menos, era isso que supôs que estavam fazendo, dado o número de pessoas que viu rua abaixo no Rite Aid com os braços cheios de New York Times e a edição de domingo do Caldwell Courier Journal.
Sem perguntar, Robbie tomou sua mão novamente enquanto iam ao meio fio no fim do quarteirão e esperavam juntos por uma pausa no vai-e-vem do trânsito. Aguardando ao lado dele, se preocupou sobre o que a esperava em seu telefone, exceto que sabia que era melhor do que checar com ele por perto. Sua “cara de pôquer” era boa, mas nem tanto.
Por outro lado, sua sorte com as leis de estacionamento trabalhou a seu favor e o Camry não foi rebocado, mas seu motor não estava muito feliz pelo tempo frio que chegou. Ela finalmente fez a coisa funcionar, apesar de tudo, e entrou no trânsito.
Do banco de trás, escapou de sua bolsa um “ronronado”. Seu telefone estava vibrando outra vez, desta vez de encontro a sua carteira o que ampliou o som.
Girando o braço, ela tentou alcançar a bolsa, mas mãos ágeis e pequenas chegaram lá primeiro.
— Trez falando. – anunciou enquanto ele entregou o celular a ela .
Ela respondeu com medo – Oi?
— Você precisa vir até o clube imediatamente. – disse Trez – os policiais estão aqui por causa do assalto e querem fazer algumas perguntas para você.
— Que assal... – ela olhou de relance para Robbie – Eu sinto muito, mas sobre o que você está falando?
— Outro homem foi encontrado em uma viela ontem à noite. Ele foi espancado e está em estado crítico no hospital. Escute, ele é alguém que eu vi com você, e os outros também. Você tem que vir.
— Mãe!
Marie-Terese pisou fundo nos freios e o Camry deslizou guinchando como um porco, faltando centímetros para atingir um SUV que tinha o direito preferencial de passagem. Enquanto o outro carro vociferava um ruído de advertência, o telefone celular pulava de sua mão e saltava através do painel, pipocando por todo o caminho pela janela de Robbie antes de desaparecer no assoalho aos seus pés.
O Camry conseguiu parar com a graça do balançar de um touro e ela colocou os braços ao redor do filho.
— Você está bem?
Enquanto ela batia levemente as mãos no tórax dele, ele inclinou a cabeça e se libertou do aperto mortal do cinto de segurança.
— Eu acho... aquela luz... estava vermelha.
— Certamente estava. – ela empurrou seu cabelo para longe de seu rosto e olhou para frente através do pára-brisa.
O furioso motorista do SUV fez contato visual, mas assim que o sujeito viu seu rosto, a raiva nele aliviou. O que deu a ela uma idéia de quão aterrorizada devia parecer. Enquanto ele murmurava “você está bem?” ela inclinou a cabeça e gesticulou com a mão antes de ir embora.
Porém, Marie-Terese precisava de um minuto, então graças a Deus o Camry praticamente estacionou sozinho paralelamente ao meio-fio.
Bem, sobre o meio-fio.
Pelo espelho retrovisor, ela viu um homem saindo de um Subaru azul que parou atrás dela. Enquanto caminhava, ele empurrou seus óculos para cima do nariz e tentou alisar seus cabelos loiros revoltos pelo vento. Ela o conhecia, percebeu... do grupo de oração da noite anterior no confessionário.
Ela apertou a tecla da janela, pensando no quanto estava surpresa ao vê-lo aproximar-se. Parecia tímido e quase nunca falava nas reuniões. O que fazia com que ela supostamente o colocasse na mesma tribo dos “quietos” como ela.
— Todos estão bem? – ele perguntou, curvando-se e colocando seu antebraço no teto.
— Nós estamos bem, mas essa passou perto. – ela sorriu para ele. – Gentileza sua parar.
— Eu estava atrás de você, e eu devia ter buzinado ou algo assim quando eu não vi nenhuma luz de freio enquanto você se aproximava do cruzamento. Supus que você estava distraída. Você está bem, também, filho?
Robbie se manteve em silêncio, seus olhos voltados para baixo e suas mãos no colo. Ele não queria olhar para o homem, e Marie-Terese não tinha interesse em forçá-lo.
— Ele está bem. — Disse ela resistindo ao impulso de verificar novamente em busca de ferimentos.
Passou um longo momento e então o homem recuou.
— Suponho que estará à caminho de casa, então. Cuide-se.
— Você também e obrigada pela preocupação conosco.
— O prazer foi meu. Vejo você em breve.
Enquanto ela erguia o vidro da sua janela, um grito áspero e abrupto veio do assoalho aos pés de Robbie.
— O telefone! – ela disse. – Oh, não, Trez... Robbie você consegue pegá-lo?
Robbie curvou-se e ergueu o telefone. Antes de dá-lo para ela, ele perguntou rudemente. – Você gostaria de me levar para casa?
Marie-Terese quase riu, mas a seriedade no rosto dele a impediu.
— Eu tomarei mais cuidado. Prometo.
— Certo, mãe.
Ela bateu levemente em seu joelho e levou o telefone novamente até a orelha.
— Trez?
— Que porra foi essa?
Com um estremecimento, ela segurou o receptor longe de sua orelha.
— Ah... foi um farol vermelho com o qual não lidei muito bem. – ela checou todos os espelhos do carro e todas as janelas antes de acender o pisca-alerta – Mas ninguém se machucou.
Conforme o Subaru azul passou por ela, ela acenou para o motorista. Paul... Peter... qual era seu nome?
— Jesus Cristo... eu quase tive um ataque cardíaco. – murmurou Trez.
— O que você estava dizendo?
Como se na próxima infração um choque não fosse suficiente.
— Por que você não me chama de volta quando chegar em casa? Eu não sei quantos sinais de trânsito existem entre você e...
— Eu estou prestando atenção agora. – ela saiu devagar – Eu juro.
Havia algum resmungo destinado aos homens sobre a conexão. Então:
— Está bem... aqui está o negócio. Os tiras apareceram aqui cerca de meia hora atrás, querendo falar com o pessoal outra vez, e com você em particular. Eu acho que eles foram até a sua casa e então tentaram chamá-la, e quando não puderam encontrá-la, vieram para cá. Eu não sei muita coisa, somente que existe uma pegada em ambas as cenas que parece sugerir um vínculo entre os dois ataques. A marca de um tênis de corrida, eu acho. Eu não deveria supostamente saber disso, ok? A propósito, justamente quando os dois tiras saíram para dar um trago e estavam passando algumas fotos de um lado para o outro, e “bang”, eu peguei um pedaço do papo.
O primeiro pensamento de Marie-Terese foi que Vin não usou tênis – ou pelo menos esteve usando mocassins de solado liso ambas as noites.
O estranho não era isso: Sua preocupação inicial era se Vin estava ou não envolvido, e não se Mark estava enviando da prisão pessoas atrás dela. O ponto era, entretanto, ela tinha fugido de seu ex uma vez antes e podia fazer isso novamente. Mas a idéia de que ela estava se apaixonando por outro homem violento não era o tipo de coisa da qual poderia cair fora tão facilmente.
— Trez, você tem alguma idéia de quando o... – ela olhou de relance para Robbie, que estava desenhando na janela com a ponta do dedo. – Você sabe quando aconteceu? Ontem à noite?
— Depois que você saiu.
Então, não poderia ter sido Vin...
— Seu homem está em apuros, a propósito.
— Como?
— Vin diPietro. Seu rosto está em todos os noticiários. Acreditam em sua namorada que acabou no hospital, e ela está dizendo que é o responsável por ela estar lá.
Como uma segunda rodada do golpe dramático, Marie Teresa tirou o pé do acelerador e deliberadamente olhou para cima ao chegar em um cruzamento. Verde. Verde significa “siga”, disse a si mesma. Siga significa “acelere”. Abaixou cuidadosamente o pé e o Camry respondeu com todo o entusiasmo de um paciente no respirador.
— Tem alguma chance — Trez murmurou – de que os dois estivessem juntos ontem à noite, por volta das dez?
— Sim.
— Então respire fundo. Porque de acordo com as notícias, foi quando tudo isso rolou.
Marie-Terese soltou a respiração, mas apenas por um momento.
— Oh, meu Deus... o que ele vai fazer?
— Ele já está solto sob fiança.
— Eu posso ajudá-lo.
Embora assim que as palavras deixaram sua boca, quis saber se era verdade. A última coisa que ela precisava era seu rosto no noticiário. Não havia nenhum jeito de saber se ela estava protegida de Mark até o momento porque ele desistiu dela... ou porque as pessoas que enviou atrás dela ainda não a haviam encontrado.
— Yeah, embora talvez você devesse tentar ficar fora disso. – disse Trez – Ele pegou o dinheiro e as conexões, e as mentiras são sempre reveladas no final. Em todo o caso, eu posso dizer aos policiais que você conversará com eles agora?
— Sim, mas eles vão ter que esperar com você. – a última coisa que ela queria eram os tiras na frente de Robbie novamente, então o clube era o melhor lugar para ela encontrar com eles. – Eu chamarei a babá imediatamente.
— Uma última coisa.
— Sim?
— Mesmo que você dê o fora do negócio agora, um passado como o nosso tem um longo alcance, percebe? Por favor, tenha cuidado com as pessoas ao seu redor e quando estiver em dúvida, me chame. Eu não quero alarmar você, mas não gosto destes ataques acontecendo com as pessoas ligadas a você.
Ela também não gostava.
— Eu ligarei.
— E se você precisar deixar Caldwell, eu posso ajudar.
— Obrigada, Trez. – ela desligou e olhou para o filho. – Eu vou ter que sair um pouco esta tarde.
— Certo. Quinesha pode vir?
— Eu tentarei consegui-la.
Quando pararam embaixo de um poste iluminado, Marie-Terese buscou rapidamente o serviço de babás e ligou.
— Mãe, quem é que você quer ajudar?
Enquanto o telefone chamava, ela encontrou os olhos do filho. E não soube o que dizer.
— Ele é a razão pela qual você estava sorrindo na Igreja?
Ela desligou antes que atendessem.
— Ele é um amigo meu.
— Oh. – Robbie apertou uma prega em sua roupa cáqui.
— Ele é somente um amigo.
Robbie franziu as sobrancelhas.
— Eu fico com medo às vezes.
— Do que?
— Pessoas.
Engraçado, tal como ela.
— Nem todos são como seu...— ela não queria terminar a frase. – Eu não quero que você se sinta como se todo mundo fosse ruim e fosse machucá-lo. A maioria das pessoas é legal.
Robbie pareceu ponderar sobre o assunto. Após um momento, elevou os olhos para ela.
— Mas como você sabe a diferença, Mãe?
O coração de Marie-Terese parou. Deus, tinha vezes que como pais, as palavras escapavam e seu peito ficava vazio.
— Eu não tenho uma boa resposta para isso.
Enquanto o farol ficava verde e eles seguiam adiante, Robbie fixou sua atenção na estrada e ela deixava uma mensagem para a babá. Depois que ela desligou, teve a esperança de que ele estava olhando fixamente para fora porque estava prestando atenção nos semáforos junto com ela. Mas, ela não achava que fosse tão simples.
Eles estavam na metade do caminho para casa, quando lembrou, Saul. O nome do homem do grupo de oração era Saul.
Quando Jim conseguiu voltar do Commodore, parou na frente de sua garagem e saiu. Enquanto subia os degraus, Cão separou as cortinas da janela estilo vitoriano com a cabeça e vendo pela maneira como suas orelhas estavam em pé e sua cara tremia, estava claro que aquele rabo curto e grosso girava tão rápido como a hélice de um avião.
— Yup, eu voltei garotão.
Jim estava com a chave pronta enquanto caminhava até a porta, mas parou antes de colocá-la na Schlage[10] brilhante e novinha em folha que instalou antes de se mudar.
Olhando por cima de seu ombro, fixou o olhar no rastro de sujeira. Um conjunto fresco de trilhas de pneu marcou parcialmente o chão congelado.
Alguém tinha vindo e ido embora enquanto esteve fora.
Enquanto Cão sapateava com excitação do outro lado da porta, Jim fez uma varredura visual em torno da paisagem, e então olhou para baixo para os degraus de madeira. Várias pegadas enlameadas, todas elas estavam secas e feitas com uma indiscreta bota Timberland, indicando que elas não foram feitas somente por ele.
Que significava que quem quer que esteve lá ou limparam os pés na grama primeiro ou levitaram suas bundas até sua varanda. Pressentia que eles não aterrizaram em sua vaga, fizeram um cavalo de pau e foram diretamente de volta para fora.
Levando a mão para as costas, desembainhou sua faca e usou a mão esquerda para colocar a chave para funcionar.
O rangido da porta encobriu o tic-tic-tic das patas de Cão sobre o assoalho nu... ao mesmo tempo em que emitia um barulho suave de raspagem.
Jim esperou, peneirando através dos sons de “olá” do cão, procurando por algo mais. Quando não encontrou nada, abriu a porta o mais rápido que podia sem machucar Cão, e seus olhos circundaram em uma varredura.
Não havia ninguém lá, mas conforme entrava, encontrou o motivo para as marcas de pneu lá embaixo.
Enquanto Cão pulava ao seu redor, Jim curvou-se e pegou um envelope de documentos que estava sobre o linóleo debaixo da caixa de correio. Nenhum nome na parte da frente. Nenhum remetente. A coisa pesava quase tanto quanto um livro, e o que quer que estivesse em seu interior deu a ele a sensação de ser um livro, retangular, com bordas limpas.
— Você gostaria de sair, garotão? – disse ele para Cão enquanto apontava para a grande área ao ar livre.
Cão trotou para fora com sua pata manca, e Jim esperou na porta com o pacote nas mãos enquanto conduzia a perseguição pela pontas dos arbustos na calçada.
Enquanto ele esperava pela fodida versão “frutinha” do Mathias, tentava convencer seu estomago a não emitir ordem de evacuação para aqueles dois sanduíches de rosbife que Vin tinha feito para ele.
Veja, este era o problema: sua cabeça podia decidir todos os tipos de coisas, mas isso não significava que seu corpo estivesse todo animadinho com o plano da hora.
Depois de subir as escadas e passar pela porta, Cão foi direto para sua tigela de água.
Disparando feito um raio, Jim descartou a entrega e chegou lá primeiro, pegando a tigela, esvaziando-a e lavando a coisa com sabão. Enquanto ele a enchia novamente, seu coração estava batendo em um ritmo desagradável, constante.
O fato era que, o pacote era apenas ligeiramente maior que a caixa de correio. Então eles estiveram lá. E, embora fosse improvável que envenenassem a água de Cão, o animal tinha de alguma maneira se tornado familiar nos últimos três dias, e isso significava que qualquer margem de risco era inaceitável.
Enquanto Cão tomava seu drink, Jim subiu na cama, sentou e agarrou o envelope. Em um minuto Cão terminou e cambaleou para cima da cama tal qual um drogado e como se quisesse saber o que estava no pacote.
— Você não pode comer isso. – disse Jim – Mas você poderia mijar nele se quisesse. Eu desculparia, definitivamente, a bagunça. Com certeza.
Usando sua faca, perfurou o papel duro, grosso e abriu uma fenda que esticou amplamente, botando para fora e revelando…
Um laptop do tamanho de uma antiquada fita de VHS.
Tirou da caixa e deixou Cão dar uma fungada nele. Evidentemente, havia uma aprovação, porque Cão deu um cutucão e enrodilhou-se com um bocejo.
Jim abriu a tela e ligou. O Windows Vista carregou, e como vocês sabem, entrou no menu iniciar e pediu o Outlook que foi instalado, ele tinha uma conta. E a senha era a mesma que a sua antiga.
Na caixa de mensagens, ele encontrou um e-mail de boas vindas do Outlook Express, que ignorou, e dois de remetentes anônimos.
— Deus, Cão, toda a vez que tento sair, eles me puxam de volta, nem mesmo tentando uma personificação de Al Pacino.
Jim abriu o primeiro e-mail e foi direto para o seu anexo, que buscou um arquivo do Adobe de... um relatório pessoal que tinha umas boas quinze páginas inteiras.
O retrato no canto superior à esquerda era de um bundão que Jim conhecia, e os detalhes incluíam o último endereço conhecido do sujeito, seus dados pessoais, seus afastamentos, suas honras, e suas deficiências. Enquanto Jim esquadrinhava e absorvia do Intel, ele estava atento ao cronômetro na porção mais baixa da tela. Tinha começado em cinco minutos e rapidamente desceu para dois, e quando os três dígitos separados por dois pontos marcavam “0:00”, o arquivo expirou, como se nunca tivesse existido. Acontecia o mesmo, simplesmente de imediato, se ele tentasse enviar adiante, imprimir ou salvar o arquivo.
Mathias era astuto assim.
Então, agradecia sua maldita memória fotográfica.
Quanto ao relatório propriamente dito? Na superfície, parecia como se não existisse nada fora do normal, era somente um jardim de informações padrão de um sujeito clandestino como se fosse um arquivo nada além de éter até que desapareceu completamente. Exceto que haviam as três letras indicadoras próximas do final da palavra
STATUS “DEA[11]”
Ah, então esta era a tarefa. No serviço militar em que Jim esteve, não existia nada como DEA. Existia A, ER ou CP: Ativo, Em Reserva e “Caixa de Pinho” – o último é um jargão usado extra-oficialmente, é claro. Jim era ER – o que significava que tecnicamente ele estava sujeito a ser chamado de volta a qualquer momento e teria que ir ou as letras “MORTO” iam aparecer próximo ao seu status. E a verdade era que ele teve que chantagear o maldito Mathias até para entrar na reserva, embora desse o que ele tinha ao sujeito, deveria poder continuar lá. Se ele não tivesse que revendido sua alma.
Bem... a tarefa estava clara: Mathias queria esse homem morto.
Jim tornou a varrer rapidamente o relatório até certificar-se de que poderia fechar seus olhos e ler o texto e ver o retrato por trás de suas pálpebras. Então prestou atenção na marca zero e a coisa desapareceu.
Ele abriu o segundo email. Outro arquivo para quebrar o código de segurança e outro relógio no canto inferior que foi ativado quando ele entrou. Desta vez tinha apenas um retrato do sujeito, só que agora com o rosto danificado, com um racho na fronte que deixava escapar um maremoto de sangue. Mas ele não era uma vítima. Suas juntas foram enfaixadas para lutar e havia uma rede vermelha de galinheiro atrás de sua cabeça e ombros.
A imagem mais sólida era de um esquadrinhar aéreo de um espaço ilegal que misturava artes marciais com luta de grupos. O código de área era 617. Boston.
O nome do soldado estava passando, era um merda tão brega quanto desgraçadamente bonito e preciso, assumindo que ele não tenha mudado: Punho. Seu nome verdadeiro era Isaac Rothe.
Este arquivo durou somente cento e oitenta segundos, e Jim se manteve atento, encarando aquele rosto. Ele o viu algumas vezes, e em algumas ocasiões ao seu lado quando trabalharam juntos.
Cão se aninhou de sua maneira enrolando-se no colo de Jim, colocando sua cara sobre o teclado.
Yup, Mathias queria o sujeito morto porque Isaac tinha saltado fora da jogada, então isso era um trabalho padrão e regras padronizadas foram aplicadas. O que significava que se Jim não fizesse isso, outra pessoa faria e o caçador faria com que Jim acordasse morto pela manhã, também.
Desgraçadamente simples.
Jim deslizou sua mão pelo flanco do Cão e preocupou-se sobre quem o alimentaria e se importaria com o sujeitinho se algo ruim acontecesse. Merda, era estranho ter algo pelo que viver... mas Jim simplesmente não podia lidar com a idéia do animal perdido e sozinho, faminto e assustado novamente.
Havia um bando de fodedores de mãe no mundo que não poderiam dar menos importância para um cão coxo, feioso e desprezível.
No entanto a idéia de matar Isaac era repugnante. Deus sabia que Jim desejava se manter fora do serviço ruim, então não poderia culpar o sujeito por sair: Uma vida que fosse conduzida pelas cinzentas regiões limítrofes entre o certo e o errado, o legal e o ilegal, era uma vida dura.
Se ao menos o idiota tivesse o senso de não fazer nada em público, mesmo sendo ilegal.
Então novamente, eles o teriam encontrado eventualmente. Eles sempre encontravam. O som duplo de motores da Harley parando na garagem trouxe ele e o Cão de volta a realidade, e Cão imediatamente começou a sacudir a cauda enquanto aqueles grunhidos silenciavam lá embaixo. Conforme as botas surgiram pela escadaria, o animal saltou fora da cama e dirigiu-se para a porta. A pancada foi alta e a atingiu uma única vez.
Cão espancou a porta, sua excitação fazendo com que parecesse muito mais desprezível do que o habitual e antes que a pobre criatura morresse de excitação, Jim levantou-se e o segurou.
Conforme ele abriu a porta, encontrou os olhos reconfortantes de Adrian.
— O que você quer?
— Precisamos conversar.
Jim cruzou os braços na altura do tórax enquanto Eddie se ajoelhava e mostrava carinho com Cão. Dado o modo como o animal reagiu, era difícil acreditar que os motociclistas estavam jogando no time da Devina, mas somente porque não estavam de parceria com ela não significava que eles eram legais: tudo o que Jim tinha que fazer era pensar sobre as sombras que não viu e a confusão na voz do encarregado do Chuck quando perguntou sobre a dupla.
Faria um sujeito perguntar-se apenas que porra estava parada em sua entrada.
— Vocês dois são mentirosos. – disse Jim. – De forma que conversar parece um pouco sem sentido, não é?
Enquanto cão rolava sobre suas costas de forma que Eddie pudesse fazer cócegas em sua barriga, Adrian encolheu os ombros.
— Nós somos Anjos, não Santos. O que você quer de nós?
— Então vocês conhecem aqueles quatro Ingleses insanos?
— Yeah, nós conhecemos. – Adrian olhou de relance na direção da geladeira. – Escute, essa vai ser uma longa conversa. Se importa em convidar-nos para uma cerveja?
— Vocês são reais?
— Cerveja. Então conversar.
Enquanto Eddie levantava Cão em seus braços fortes, Jim levantou a mão.
— Por que você mentiu?
— Eu não sabia se você podia lidar com essa merda.
— E o que mudou sua opinião?
— O fato de que você compreendeu o que Devina é e não entrou em parafuso. Você acreditou no que viu naquele pavimento no hospital.
— Ou não viu, como foi o caso.
Jim encarou os dois, pensando que certamente eles o tinham seguido, e talvez Devina sentiu a eles ao invés dele no estacionamento do hospital.
— Não — disse Adrian – nós mascaramos você então ela não o viu. Isso era o que ela estava tentando pegar quando olhava ao redor. Existem vantagens no fato dela pensar que você está por sua própria conta e é um tapado.
— Caras, vocês também lêem mentes?
— E estou cansado de saber o quanto você não gosta de mim nesse momento.
— Não pode ser uma coisa nova para você – disse Jim perguntando—se se alguma vez ele trabalharia com pessoas que não fossem uns bundões – Então... vocês dois estão aqui para me ajudar.
— Yup. Assim como Devina vai ter pessoas ajudando-a.
— Eu não gosto de mentirosos. Eu tenho experiência demais com eles.
— Não acontecerá novamente. – Adrian deslizou uma mão através de seu cabelo ridiculamente magnífico. – Olhe, isto não é fácil para nós... Para ser honesto, eu tive minhas dúvidas no começo se trazer você era uma boa idéia, mas esta é uma fraqueza minha. O ponto decisivo é, você está aqui e isto é o que é, então ou nós trabalhamos juntos ou ela terá uma séria vantagem.
Bem, inferno...aquela era uma lógica desgraçadamente incontestável.
— Eu dei fim em toda a Corona na outra noite, então só tenho Bud, — disse Jim depois de um momento – Em latas.
— E isto é justamente o que um anjo tem para almejar. – Adrian disparou de volta.
Eddie movimentou a cabeça.
— Soa bem para mim.
Jim andou para o lado e abriu mais a porta.
— Você está vivo?
Adrian encolheu os ombros enquanto eles entravam.
— Difícil de responder isso. Mas eu sei que eu gosto de cerveja e de sexo, que tal isso?
— O que é o cão?
Eddie respondeu essa:
— Considere ele um amigo. Um amigo muito bom.
O animal... ou o que quer que ele fosse... deu uma abanada típica como se entendesse cada palavra, e estivesse preocupado que ele estivesse ofendido, e Jim se sentiu compelido a se curvar e dar em seu queixo uma coçadinha.
— Suponho que não preciso levá-lo para vacinar, não é?
— Não.
— O que significa essa coceira?
— É o jeito de ser dele. – a mão grande do Eddie alisava o pelo áspero do cachorro. – É somente isso.
Enquanto ele e o Cão sentavam na cama e Adrian vagava ao redor, Jim assumiu o comando de seu dilema sobre a geladeira e agarrou três Bud’s, arrancando as latas fora como cartões. Um trio de “cracks” e “silvos” cruzou o quarto e então houve um “ahhhh” coletivo.
— Quanto você sabe a meu respeito? – perguntou Jim.
— Tudo. – Adrian olhou ao redor e fixou o olhar nas pilhas iguais de roupas limpas e sujas. – Suponho que você não acredita em gavetas de cômodas, não é?
Jim olhou de relance para as roupas.
— Não.
— Irônico, realmente.
— Por quê?
— Você verá.
Adrian cruzou a sala e sentou-se à mesa. Derrubando todas as peças de xadrez da caixa de sapato em sua direção, ele olhou de relance para dentro.
— Então, o que você quer saber sobre ela, nós, qualquer coisa?
Jim tomou outro gole de sua Bud e pensou sobre tudo isso.
— Só uma coisa importa para mim, — disse ele – ela pode ser morta?
Ambos os Anjos ficaram quietos. E lentamente agitaram suas cabeças.
Considerando pelo que ele tinha sido preso, e o caminho que as coisas estavam indo, Vin não podia acreditar o que estava aparecendo na tela do seu telefone enquanto som saía.
Enquanto ele aceitava a ligação, ele diminuiu o som do jornal local e segurou forte.
— Marie-Terese?
Houve uma pausa.
— Oi.
Andando em volta de sua mesa, ele olhou sobre Caldwell, e achou difícil de compreender que meras noites atrás, ele olhava a vista com aquele sentimento de dominação. Agora ele sentia como se sua vida estivesse totalmente fora de controle e ele estava lutando para ficar onde estava ao invés de se sentir como o rei da montanha.
Nunca um tinha ido tão direto no ponto, ele disse.
— Você escutou as notícias? Sobre mim?
— Sim. Mas você estava comigo ontem tarde da noite, quando aconteceu. Eu sei que você não fez.
Alívio rolou por ele... ainda que apenas sobre aquela parte em particular daquela tempestade de merda.
— E o outro ataque no beco?
— Eu estou indo para o Iron Mask agora. A policia quer falar comigo.
— Eu posso ver você? — Ele disse repentinamente com um desespero que o iria chocar em circunstâncias normais.
— Sim.
Vin estava surpreso pela rápida resposta, mas certo como a merda que não iria argumentar com isso.
— Eu irei assim que terminar com o processamento de dados.
— Eu estou no vigésimo oitavo andar. Eu avisarei o porteiro para esperar você.
— Eu não sei quanto tempo eu irei levar, mas eu posso mandar uma mensagem a você quando estiver indo.
Vin girou seus olhos para a esquerda, imaginando-a de qualquer forma, quantos quadras ao oeste e sul ela estava dele.
— Marie-Terese...
— Sim.
Ele lembrou dela e do seu filho... Lembrou o tipo de gente que ela conseguiu para se livrar do — Até aqui. Seu ex podia facilmente escapar da prisão, talvez já tivesse: Mesmo se esses ataques não estavam relacionados com ela, ou estavam sendo feitos por outra pessoa, ela ainda precisava ter seu perfil tão baixo quanto pudesse.
— Não tente me proteger.
— Vin.
— Eu explico quando você chegar aqui. — Ele disse bruscamente. — Deixe-me só dizer que eu sei o quanto você pode perder se o seu rosto aparecer no canal de notícias.
Silêncio. Então:
— Como?
Ele podia dizer pela dureza da voz dela que ela não apreciou a olhada no passado dela.
— Jim, meu amigo... Ele tem contatos. Eu não pedi a ele para fazer, mas ele me contou o que ele descobriu.
Longa pausa. O tipo que o fazia ter desejado como o inferno ter esperado ela chegar para soltar essa bomba. Mas então ela expirou.
— É um tipo de alívio, na verdade. Que você saiba.
— Não preciso dizer que eu não vou contar a ninguém.
— Eu confio em você.
— Bom, porque eu nunca faria nada para machucar você.
Agora era a vez de Vin ficar quieto.
— Deus, Marie-Terese...
Houve apenas um leve guincho de freios.
— Eu estou no clube agora. Nós conversaremos daqui a pouco.
— Não me proteja. Por favor.
— Vejo você logo.
— Fique calada. Não se envolva com uma merda que está no meu rabo. Pelo bem do seu filho e do seu. Não vale o risco.
Ele parou a si próprio naquele momento. De jeito nenhum, ele iria entrar em todo aquele assunto sobre a verdade sobre Devina, — Parcialmente porque ele não entendia de tudo, e mais porque ele odiava a idéia de Marie-Terese achá-lo louco.
— Não é certo. — A voz dela se quebrou. — O que ela está acusando você. Não está.
— Eu sei. Apenas acredite quando eu digo que eu vou cuidar disso. Eu vou lidar com isso.
— Vin...
— Você sabe. Eu estou certo. Vejo você logo.
Enquanto eles terminavam a chamada, ele rezou para que ela agisse com a razão, — E figurou, dado o conflito na voz dela, que a matemática estava adicionando corretamente em sua mente.
Isso era bom.
Ao invés de seguir para a cidade para tentar achar aquela psíquica que ele tinha procurado quando ele tinha 17 anos. — O que era o que ele pretendia fazer. — Vin gastou a próxima uma hora na sala de estar, limpando pedaços de vidro e livros de com capa de couro rasgados, e colocando os sofás e cadeiras de volta no lugar. Ele ainda pegou o aspirador, e tentou ressuscitar o carpete, tendo alguma sorte com os cacos, mas nenhuma com as manchas de líquidos. Ele tinha seu telefone com ele o tempo todo, e então quando a mensagem chegou, que Marie-Terese já estava indo, ele empurrou o aspirador para o armário e correu para trocar a camisa por uma limpa de seda.
Ele estava quase saindo do quarto, quando se deu conta que ainda estava com a mesma calça e a mesma cueca, que tinha estado na cadeia.
Certo. De volta a fonte.
A segunda viagem pelo corredor, e ele estava com um par de calças preta e uma cueca diferente. Mudou as meias, também. Os sapatos eram os mesmos Bally, que ele esteve usando a semana toda. A cronometragem dela foi perfeita.
O interfone tocou no exato momento em que ele entrava no foyer, e ele disse para o porteiro deixá-la entrar. No caminho para a porta, Vin olhou reconferiu no espelho estilhaçado que tinha arrumado sua camisa direito, e se seu cabelo estava bom. — O que era uma coisa de mulherzinha, ele pensou, mas tanto faz.
Fora, no corredor, o elevador parou com um —bing—, e ele se afastou um pouco para dar espaço a Marie-Terese, mesmo que ele preferisse pegá-la e segurá-la em seus braços. — Oh, cara. Ela estava linda. Apenas com aquele jeans e o suéter de lã vermelha, com o cabelo para baixo, e nenhuma maquiagem, ela era como uma pin-up para ele.
— Oi, — Ele disse, como um idiota.
— Oi. — Ela moveu sua bolsa para cima em seu ombro, e seus olhos se deslocaram às portas abertas do duplex. Enquanto ele dava uma olhada em seu dourado hall, suas sobrancelhas se abaixaram levemente.
— Você quer entrar? — Ele deu um passo ao lado, e sinalizou com o braço. — Esteja avisada de qualquer maneira... O lugar está uma bagunça depois... — Enquanto ela passava por ele, ele respirou profundamente. O que você sabe. O cheiro de roupa lavada, era ainda seu perfume favorito.
Vin fechou a porta, trancou a fechadura, e colocou a corrente no lugar. O que não parecia meio caminho de estar completamente a salvo: Ele tinha uma pequena paranóia sobre Devina, que o fazia se perguntar se esses tipos de segurança convencional, poderiam deixá-la fora de qualquer lugar que ela quisesse entrar.
— Eu posso pegar algo para você beber? — Não licor, é claro. Ao menos não na sala. Deus sabia que não tinha nenhum restante ali.
Marie-Terese se encaminhou para os bancos de vidro.
— Isso é bem... — Ela hesitou enquanto vinha por sobre uma mancha do carpete, e olhou para toda a sala, menos para a vista.
— Estava ainda pior antes de eu tentar dar uma limpada. — Ele disse. — Cristo, eu não tenho idéia do que aconteceu aqui.
— Porque a sua namorada iria mentir?
— Ex-namorada, — Ele a lembrou.
Marie-Terese olhou para o vidro quebrado e encontrou com os olhos dele, e a vista dos traços dela todos quebrados nas fendas do vidro, o assustou como a merda. — Ao ponto de ele ter de se acabar em esperança e expectativas de tirá-la de suas tortuosas idéias.
Quando ela virou para encará-lo, seus olhos estavam assustados.
— Vin... Esse homem que foi atacado. Era aquele homem que eu ajudei no banheiro. — Nós entramos juntos e falamos sobre uma garota que ele queria impressionar. — Ela colocou a mão sobre a boca, e tremeu.
— Oh, Deus... Ele estava comigo e então ele...
Vin foi para perto dela, e embrulhou seus braços ao redor dela, a segurando perto. Enquanto ela respirava fundo, ele sentiu das coxas as costelas, e por Deus, se ele não queria matar para protegê-la.
— Não pode ser Mark. — Ela disse em sua camisa. — Mas e se ele mandou alguém para me encontrar?
— Venha aqui. — Ele pegou a mão dela e foi para o sofá. Mas então, ele realmente queria falar com ela no meio da violência que fosse que tinha ocorrido ali?
Pausando, ele pensou sobre o estúdio... Mas tinha lembranças de estar com Devina naquele fodido tapete. O andar de cima... Sim, o quarto era um total não-ir, e não apenas por convidar Marie-Terese para cima, tinha conotações que ele preferia não intencionar: Muito de Devina por lá também.
Vin foi para a mesa da sala de jantar, andando por ela e arrumando duas cadeiras de modo que ele pudesse ficar de frente a ela.
— Você sabe, — Ela disse enquanto colocava a bolsa abaixo e eles se sentavam juntos. — Eu sou na verdade um biscoito duro.
Ele teve que sorrir.
— Eu acredito nisso.
— Você só parece ter aparecido em um momento duro.
Vin estendeu sua mão e tocou um dos cachos de cabelo curvado no rosto dela.
— Eu gostaria de poder fazer alguma coisa para ajudar.
— Eu estou deixando Caldwell.
O coração dele parou. Estava na ponta de sua língua começar a argumentar com ela, mas ele não tinha aquele direito. — Não por uma longa tentativa. Além de que, ele estava muito pressionado para negar a decisão: Era provavelmente o melhor.
— Para onde você vai? — Ele perguntou.
— Qualquer lugar. Eu não sei.
Em seu colo, as mãos dela estavam torcidas e trançadas, como se estivessem paralelas com os seus pensamentos em sua cabeça.
— Você tem dinheiro suficiente? — Ele perguntou, mesmo sabendo o que ela ia dizer.
— Eu estarei bem. De algum jeito... Robbie e eu vamos estar bem.
— Você vai me deixar ajudar você?
Ela sacudiu sua cabeça lentamente.
— Eu não posso fazer isso. Eu não posso... Dever para mais ninguém. Eu estou tendo um momento difícil pagando às pessoas que eu já devo.
— Quanto você deve a eles?
— Eu tenho ainda trinta mil para terminar. — Ela disse, suas mãos paradas. Eu comecei com cento e vinte.
— E se eu der a você, e você devolver eventualmente? Eu tenho certeza que eles estão cobrando juros.
— Um débito é um débito. — Ela sorriu de um jeito triste. — Teve um tempo, que eu esperava que algum homem viria e me resgataria da minha vida. E um fez. — Exceto que o resgate se transformou num pesadelo. Agora eu me resgato. — O que significa que eu pago do meu jeito. Sempre.
— Mas trinta mil dólares? — Cristo, isso era o troco de um sofá para ele.
E de pensar que ela esteve trabalhando para ganhar aquele dinheiro fazendo... Vin apertou seus olhos fechados por um momento. Merda, ele odiava as imagens em sua mente. — Mesmo pensando, que eles eram meramente hipotéticos para o que ela tinha sido forçada a fazer, eles chicoteavam sobre ele. E seria tão fácil para ele fazer tudo desaparecer para ela, — Embora que ele poderia ver de onde ela estava vindo: Precisamente aquele tipo de rotina de salvamento, a tinha irritado em grande estilo, e a lição tinha sido aprendida de maneira dura, para esquecer.
Ele clareou sua garganta.
— O que a policia disse quando você foi falar com eles, apenas agora?
— Eles me mostraram uma foto do rapaz, e eu disse a eles que eu o tinha visto no clube e falado com ele. Eu estava em pânico, que aparecesse alguma testemunha saltasse detrás de uma moita e dissesse que tinha me visto indo para o banheiro com ele, mas o policial não mencionou nada sobre isso. E então... — Quando houve uma longa pausa, ele tinha o pressentimento de que ela estava escolhendo as palavras.
Ele amaldiçoou baixo.
— Diga que você não disse nada sobre estar comigo noite passada.
Ela alcançou as mãos dele, as apertando forte.
— Esse é o motivo porque estou indo embora.
Enquanto seu coração quase parava, ele se perguntou se não deveria dizer a coisa toda para fazê-lo parar de bater completamente.
— Oh, Deus... Você deveria apenas ficar fora.
— Quando eles me perguntaram o que aconteceu depois de eu ter conversado com aquele cara, eu disse a eles que eu saí com um Vincent diPietro, e que eu e você estivemos juntos a noite toda. Das nove e meia, até as quatro da manhã. — Quando ele ia puxar suas mãos para trás, ela as segurou no lugar.
— Vin, eu já fiz coisas o suficiente na minha vida para estar envergonhada. Eu deixei um homem abusar de mim por anos... Mesmo na frente do meu filho. — Sua voz se quebrou, mas então ficou mais forte.
— Eu me prostitui. Eu menti, eu fiz coisas que eu estava acostumada a desprezar em outras mulheres. Eu terminei com isso. Não mais.
— Fodido inferno.
— Fodido Inferno.
Sem pensar, ele se inclinou e deu um rápido beijo nela, depois soltou suas mãos e ficou parado. Incapaz de se conter, ele perambulou pela sala, para cima e para baixo. Então, fez de novo. Ela o observou todas às vezes, um braço caído no respaldo da cadeira que ela estava sentada.
— Eu dei o numero do meu celular à polícia. — Ela disse. — E eu voltarei para testemunhar se for preciso. Eu acho que Robbie e eu vamos empacotar tudo hoje e apenas ir. Se a imprensa não souber como me achar, meu rosto não será mostrado de jeito nenhum.
Vin parou no arco da sala e lembrou da fita de segurança, com seu rosto nela. Marie-Terese não tinha idéia em que tinha caído, porque era muito mais do que um simples caso de uma fodida agressão. Então, sim, era melhor que ela estivesse saindo da cidade. Ele tinha um pressentimento de que ele e seu estranho amigo Jim teriam que pensar num jeito de se livrar de Devina, e não seria apenas um caso de dizer a ela ir socar areia.
Quanto a quem estava atrás de Marie-Terese? Não podia ser Devina, porque o problema tinha começado... Merda, a noite que ele tinha visto Marie-Terese a primeira vez no Iron Mask.
— O que? — Marie-Terese perguntou.
Ele repetiu os detalhes daquela tarde. Devina tinha ido embora antes que ele e Jim tivessem derrubado aqueles dois estudantes. O que significava que era teoricamente possível que ela poderia ter matado os dois no beco... Exceto que não fazia sentido. Porque ela iria atrás de homens que tinham estado com Marie-Terese? Com aquele ex-marido, ela não teria outros alvos, e além de que, Vin não tinha muito a fazer com Marie-Terese aquele ponto.
— O que você está pensando?
Nada que ele poderia contar a ela, infelizmente. Nada mesmo.
Ele perambulou mais uma vez, — E então veio a ele. — Graças a ela ter andado na prancha por ele, ele a tinha sob a mira de uma arma. E ele era um homem que sempre toma vantagem desse tipo de coisas.
— Fique aqui. — Ele disse. — Eu já volto.
Ele correu fora da sala, e foi para o estúdio.
Cinco minutos depois, ele retornou com as mãos cheias, e no instante em que Marie-Terese viu o que ele estava carregando, ela abriu sua boca, como um — Não-mesmo— para ele.
Vin balançou sua cabeça, e a cortou.
— Você disse que paga seus débitos. — Um por um, ele colocou cinco pilhas de cem dólares. — Bem, eu tenho certeza que você me permite fazer o mesmo.
— Vin...
— Cinqüenta mil dólares. — Ele cruzou seus braços sobre seu peito.
— Pegue. Use para pagar suas dívidas e cuidar de você por alguns meses.
Marie-Terese pulou da cadeira.
— Eu estou dizendo a verdade, e não fazendo um favor a você.
— Desculpe, mas você não vai ganhar essa. Eu devo a você por me proteger, e eu determinei que o valor dessa obrigação é de cinqüenta mil. Você tem apenas que lidar com isso.
— O inferno que eu vou. — Ela pegou sua bolsa da mesa, e a jogou em seu ombro.
— Eu não sou..
— Uma hipócrita? Eu imploro para discordar. Você pensa que é a única com orgulho? Você está dizendo que eu não posso me sentir em débito com você? Bela mente fechada.
— Você está torcendo minhas palavras!
— Eu estou? — Ele cabeceou ao dinheiro. — Eu não acho. E eu ainda acho que você é louca o suficiente para sair da cidade sem recursos. Você usa seus cartões de crédito, deixa rastros. Você limpa a sua conta no banco, deixa rastros.
— Vá para o inferno.
— Eu tenho o pressentimento de que eu já fiz isso, comigo muito obrigado.
Ele se inclinou e empurrou o dinheiro na direção dela.
— Pegue o dinheiro Marie-Terese. Pegue, e saiba que não tem nenhuma condição presa. Você nunca, nunca mais quer me ver de novo, tudo bem. Não vá sem nada, de qualquer forma. Você não pode fazer isso comigo. Eu não conseguiria viver com isso.
Durante o tenso silêncio, ele percebeu que desde que ele tinha começado a fazer dinheiro, essa era a primeira vez que ele dava. Ou ao menos tentando dar. Durante os anos, ele nunca tinha ajudado nenhuma instituição de caridade, ou nenhum tipo de causa. — Se o dinheiro estava saindo do bolso dele, ele tinha que ter algo tangível em retorno, e sempre com um aumento do valor.
— Você vai aceitar isso. — Ele murmurou. — Porque isso não é algo Príncipe-no-cavalo-branco. Eu não estou tentando salvar você. Eu estou pagando um débito, e dando a você uma das ferramentas que você irá precisar para construir um futuro melhor.
Quando ela não respondeu, ele deu um tapinha em um dos maços.
— Penso nisso como, — Eu estou ajudando você a comprar seu próprio cavalo branco... Gretchen, pelo amor de Deus, você precisa pegar o dinheiro.
O bastardo usou seu nome verdadeiro. Maldito.
Deus... Tinha sido há tanto tempo que ninguém a chamava de Gretchen. Para Robbie ela era —Mamãe. Para qualquer outra pessoa, ela era Marie-Terese. Ela sempre tinha adorado seu verdadeiro nome, de qualquer forma, e ouvindo-o agora, ela o quis de volta.
Gretchen... Gretchen... Ela encarou o dinheiro. Vin estava certo: Ela pegou aquilo e teve sério espaço para respirar. Exceto... Como isso era diferente de antes? Era ainda um homem a sustentando. Não parecia certo.
Ela se aproximou dele e colocou as mãos dos dois lados do rosto dele.
— Você é um homem muito, muito amável, Vincent diPietro. — Ela o puxou para baixo, para os seus lábios, e ele foi de bom grado, suas mãos levemente nos ombros dela enquanto suas bocas se encontravam.
— E eu quero agradecer a você. — Alegria brilhou nas duras linhas do rosto dele. Mas apenas por um momento.
— Eu irei sempre lembrar o seu gesto. — Ela murmurou.
— Você não tem que pegar a rota difícil. — Ele disse, suas sobrancelhas baixando juntas. — Você.
— Mas veja, isso é o que eu aprendi. As coisas estão difíceis para mim agora, porque eu tentei pegar o caminho mais fácil da primeira vez. — Ela sorriu para ele, pensando que iria lembrar do modo que ele a estava olhando, para o resto de sua vida.
— Esse é o problema com cavalos brancos. Você tem que pagar por você mesmo, ou você estará usando o reino de outra pessoa.
Ele a encarou por um longo tempo.
— Você está quebrando meu fodido coração agora, você realmente está. — Suas mãos apertaram os braços dela, e depois soltou enquanto se afastava dela. — É como se... Eu não pudesse alcançar você ou te tocar, mas você já partiu.
— Me desculpe.
Ele olhou sobre o dinheiro.
— Sabe... Eu nunca me dei conta disso antes. Mas dinheiro é apenas papel, quando você desce tanto por isso.
— Eu vou estar bem.
— Você vai? — Ele sacudiu a cabeça. — Desculpe, isso saiu de forma errada.
Exceto que ele estava certo em estar preocupado. Inferno, ela estava também.
— Eu manterei contato.
— Eu gostaria disso... Alguma idéia para onde você está indo?
— Eu não sei. Ainda não pensei muito sobre isso.
— Bem... E se eu dissesse que eu tenho uma casa vazia que eu poderia emprestar a você. É fora do estado. — Ele levantou suas mãos quando ela ia argumentar.
— Apenas espere um minuto. É em Connecticut, numa área rural. É uma casa de fazenda, mas é perto da cidade, então você não iria ficar isolada. Você poderia dormir lá por algumas noites, colocar seus pés embaixo de você, pensar aonde ir depois. E é melhor que um hotel, porque você não precisa usar um cartão de crédito. Você poderia deixar sua casa à noite, depois de escurecer, e chegar lá em menos de duas horas.
Marie-Terese franziu o cenho enquanto pensava sobre isso.
— Sem esmolas, sem dinheiro, e sem laços. — Ele disse. — Apenas um lugar para você e o seu filho deitarem a cabeça. E quando você estiver pronta para partir, apenas tranque o lugar, e me mande uma carta com as chaves de volta.
Marie-Terese andou ao redor da janela da sala de jantar, e olhou a estonteante vista enquanto tentava pensar sobre como os próximos dias, meses e semanas seriam... Ela não conseguiu nada. Nenhuma pista.
O que era um belo e claro sinal de que ela precisava de algum lugar seguro para ficar e pensar em tudo.
— Certo. — Ela disse, calmamente.
— Isso eu aceito.
Ela ouviu Vin se aproximar por trás, e os braços dele irem em volta dela, ela se virou e o abraçou também.
Eles seguraram um ao outro, por um longo, longo tempo.
Era difícil dizer quando as coisas tinham mudado para ela... Quando ela começou a notar não apenas o conforto do peito largo dele contra ela, ou o calor do corpo dele e os músculos esticados, e o aroma da cara colônia dele.
Ele estava excitado.
E muito forte.
E então... Marie-Terese correu as mãos pelas costas dele, sentindo a maciez da camisa de seda que ele estava, mas se concentrando no forte homem atrás do tecido. Num vislumbre, ela o viu no espelho em seu velho quarto, nu e se elevando em frente dela, seus músculos flexionando ao longo de sua espinha.
Vin moveu seu quadril para trás.
— Eu acho... Eu acho que nós provavelmente devemos...
Ela se arqueou contra ele, e sentiu a ereção que ele estava tentando esconder.
— Fique comigo. Antes de eu ir... Fique comigo?
— Deus, sim.
Ele pegou a mão dela, e os dois subiram rápido as escadas. Por instinto, ela se encaminhou para um quarto preto e dourado que tinha uma enorme cama, mas ele a puxou na direção oposta.
— Não aqui.
Ele a levou a outro quarto, um que era menor em tons de vermelhos e laranjas. Conforme eles subiam pelo cobertor de cetim, seus corpos se moldaram quadril com quadril, bocas se fundindo, línguas se encontrando, mãos indo para zíperes botões e cintos.
Ela arrancou sua blusa, e quando seu peito estava nu, as palmas dela o esfregou, sobre sua pele macia e seus duros músculos. Se movendo para trás, ela o ajudou a tira seu jeans e a blusa, e depois se focou em tirar as calças dele.
— Santo Cristo. — Ele grunhiu enquanto ela puxava sua calça para baixo, pelo meio das suas coxas e agarrou sua ereção através de sua cueca.
Fundindo suas bocas, e chupando a língua dele, ela o acariciou através do fino, flexível algodão da cueca dele até a cabeça passar pelo cinto. O instante que ela ficou pele com pele com ele, ele quebrou o contato de seus lábios, e respirou através dos dentes cerrados.
Seu Armani seguiu o caminho de suas calças, sendo empurrado rudemente por suas pernas, e ela se inclinou sobre seu peito, beijando, mordendo, arrumando seu cabelo para cair e o excitar enquanto ela ia cada vez mais para baixo.
Justamente quando ela o tinha excitado e estava pronta para tomá-lo entre seus lábios, as mãos dele apertaram seus braços.
— Espere... — Uma única gota se formou na sua ponta, e se derramou pela sua cabeça e pela mão dela.
— Seu sexo não quer esperar, Vin. — Ela disse roucamente.
Outra gota seguiu a primeira, como se as palavras dela fossem tão eróticas quanto qualquer coisa que ela poderia ter feito a ele fisicamente.
— Eu preciso que você saiba de... Algo.
Marie-Terese franziu o cenho.
— O que?
— Eu. — Ele colocou as duas mãos no rosto, e esfregou como se quisesse apagar seus traços.
— Quando eu estou com você, não é como eu sempre estive. Sabe, com ninguém ultimamente.
— É... uma coisa boa?
— Definitivamente eu acho que sim. — Ele deixou os braços caírem.
— Mas eu fiz algumas merdas fora, para ser honesto. Com estranhos.
Marie-Terese sentiu suas sobrancelhas pularem, como se elas estivessem fazendo algo por escolha própria.
— Como o que?
Ele sacudiu sua cabeça como se não quisesse lembrar.
— Nada com homens. Mas essa é realmente a única linha que eu tinha desenhado. Eu apenas... Eu não fiz nenhum teste, e eu nem sempre fui cuidadoso. Eu sinto que você merece saber antes de nós fazermos qualquer coisa mais arriscado que um beijo, e sexo com preservativo.
— Você não era monógamo com Devina? — Apesar, de enquanto perguntava, ela percebeu que a questão não fazia sentido, porque a mulher não tinha sido fiel a ele.
— Teve mulheres ao longo do tempo com ela às vezes. Se você entende o que eu quero dizer.
Uma imagem não desejada de Vin coberto por pele feminina correu por ela.
— Wow.
Ela estava a ponto de fazer um comentário sobre tomar um homem especial podia fazer uma prostituta corar, mas dado ao modo como ele tinha reagido a ela sobre sua —profissão—, ela se calou.
— Mas não será assim com você. — Os olhos dele passearam pelo cabelo e rosto dela, até seus seios nus.
— Para mim... Você é tudo o que eu preciso, tudo o que eu quero. Eu não posso descrever. Apenas quando você me beija, é tudo o que eu procuro. — O que?
Ela sorriu, enquanto o acariciava lentamente.
— Você me fez sentir preciosa.
— Venha aqui e me deixe mostrar quanto você é preciosa.
Ele a puxou gentilmente pelos braços, mas ela resistiu, não querendo ser desviada. Engraçado parecia estranho, e maravilhosamente familiar querer fazer o que ela tinha estado fazendo em sua profissão.
— Vin, por favor, deixe-me dar isso a você... — Movendo suas mãos para cima e para baixo, ela viu sua cabeça cair para trás, sua boca abrir, e seu peito se elevar.
— E eu me certificarei de que você não termine. O que acha sobre isso?
Antes de ele poder argumentar, ela se inclinou, e usou a cabeça dele para abrir seus lábios, — Com o susto, ele grunhiu e levantou seus quadris, o movimento empurrou sua ereção mais fundo na boca dela. Enquanto ela o chupava, seus punhos enrolavam a colcha da cama, os músculos dos braços esticando, seu tórax ficando rígido.
Ele era lindo assim, esticado no cetim vermelho, seu corpo excitado a um ponto sem retorno... Nesse quente, erótico momento, Marie-Terese o tinha exatamente onde ela o queria.
— Espere... Disse o que? Vin deu o que exatamente a ela?
Jim olhou através de sua oficina a Adrian e não gostou da expressão no rosto dele. Ele parecia um pouco pálido.
— Um anel. — Jim disse. — Ele deu a ela um anel de compromisso. Ou pelo menos ele disse que ela partiu com ele, quando ele terminou com ela.
O rosto do anjo se apertou mais ainda.
— Era feito de que?
— Era um diamante.
— Não a pedra. Do que ele era feito?
— Eu não sei. Platina, eu acho. Vin é do tipo que vai sempre do melhor.
Enquanto Eddie sacudia sua cabeça e amaldiçoava, Jim disse.
— Certo, agora é a hora feliz quando vocês me dizem porque infernos vocês dois parecem estar como se alguém tivesse chutado o tanque de gasolina?
Adrian engoliu o resto da cerveja e colocou a lata na porcaria da mesa da cozinha.
— Você conhece alguma coisa sobre magia negra, meu amigo?
Jim balançou sua cabeça lentamente, não tão surpreso com a direção que a conversa estava tomando.
— Porque você não me dá uma luz?
Adrian pescou dentro da caixa de sapato cheia de peças de xadrez, e tirou todos os peões, alinhando-os.
— Magia negra é real. Existe, e prevalece mais do que você pensa. — E eu não estou falando sobre cantores batendo a mordendo cabeças de morcegos no palco, ou de um monte de garotas de dezesseis anos, ficando chapadas e brincando com uma tabua Ouija, ou os tão chamados investigadores para normais se masturbando em alguma arrepiante casa velha. Eu estou falando sobre a merda de verdade que morde você no traseiro. Eu estou falando sobre como os demônios conseguem possuir almas... Eu estou falando sobre poções e maldições que não apenas dão certo nesse mundo, mas também no além.
Teve uma pesada, sombria pausa de vasta significância.
A qual Jim quebrou esfregando suas mãos e batendo palmas.
— Uga-Buga!
— Ao menos Eddie riu. Adrian mostro o dedo do meio para Jim e se encaminhou para a geladeira, para outra cerveja.
— Não seja um idiota, — Ele disse enquanto abria uma nova.
— Oh, certo, porque dois nesse grupo iria ser matança.
Jim se encostou na cama, e assim ele estava encostado contra a parede.
— Olhe, eu apenas senti que precisava quebrar a tensão. Continue.
— Isso não é uma piada.
Quando Jim assentiu, Adrian tomou um profundo gole da lata de Bud, parado no seu assento de novo, e parecendo estar preenchendo o catálogo de sua mente.
— Existe muita coisa que você vai aprender com o tempo. Então vamos chamar isso de Lição Um. Demônios colecionam merdas das pessoas que eles estão atrás. Quanto mais eles conseguem, melhor, e eles ficam com aquilo a menos que alguém pegue de volta. Com essa pratica, é como... Pense nisso como um sistema de classificação. Presentes valem mais do que as merdas que eles roubam, e um dos mais fortes são os presentes de verdadeiro metal. Platina serve. Ouro. Prata tem uma extensão menor. É como uma fita magnética. E quanto mais coisas eles conseguem das pessoas, mais forte essas fitas são.
Jim franziu o cenho.
— Para que fim, de qualquer jeito? Eu quero dizer, o que Devina consegue, a não ser um monte de porcarias?
Quando ela mata ele, ela pode mantê-lo com ela pela eternidade, — Essas fitas são um tipo de posse, em efeito. Demônios são como parasitas. Eles entram, e pode levar anos para subjugar a alma de alguém, — Mas é o que eles fazem. Eles entram na cabeça da pessoa e afetam suas escolhas, e com cada dia passado, semana, mês, eles lentamente invadem a vida que é levada, corrompendo, obstruindo, destruindo. A alma se escurece pela infecção, e quando chega ao ponto certo, o demônio entra em jogo, e um evento mortal ocorre. O seu garoto, Vin, está nesse ponto crítico. Ela está pondo a cilada em movimento, com o primeiro sendo preso. É um efeito dominó, e vai ficar pior rápido. Eu já vi isso muitas vezes para pôr em palavras.
— Jesus... Cristo.
— Ou, não muito Ele, nesse caso.
Enquanto as perguntas giravam na mente de Jim, ele disse.
— Mas porque Vin? Porque ele foi escolhido, em primeiro lugar?
— Tem que existir um lugar de entrada. Pense nisso como pegar tétano de um prego enferrujado. Tem um ferimento na alma e o demônio entra através do machucado.
— O que causa um machucado?
— Um monte de merda. Cada caso é diferente. — Adrian moveu os peões formando um X.
— Mas uma vez que os demônios estão lá, precisam ser removidos.
— Você disse que Devina não pode ser morta.
— Nós podemos dar a ela uma fodida prova, de qualquer modo. — Com isso, Eddie soltou um grunhido de aprovação.
— E é isso o que nós vamos ensinar você a fazer.
Bem, não era essa uma lição que ele estava desejoso de aprender.
Jim passou a mão por seu cabelo, e levantou da cama.
— Quer saber? Vin disse algo sobre... Vin disse que quando ele tinha dezessete anos, ele foi, a um tipo de médium/ psíquico. Ele estava tendo esses ataques onde ele via o futuro, e ele estava pelo desesperado para elas pararem.
— O que ela disse para ele fazer?
— Ele não entrou nessa parte, mas os ataques pararam até recentemente. Ele mencionou, que depois que ele seguiu as ordens, por assim dizer, sua sorte mudou no geral. — Adrian franziu o cenho.
— Nós temos que descobrir o que ele fez. — Eddie levantou a voz, — E nós precisamos pegar o anel de volta. Ela está tentando prender ele, mais forte antes de matá-lo, e isso é um inferno de fita forte.
— Eu sei onde ela vive. — Jim disse. — Ou, eu a vi entrar naquele depósito no centro da cidade.
Adrian ficou em pé, e Eddie também.
— Então vamos fazer uma invasão e entrar, não? — Ad, disse, pegando os peões e colocando-os de volta na caixa. Depois que ele terminou sua cerveja, ele estralou os dedos.
— A ultima luta que eu tive com ela acabou muito rápido.
Eddie rolou os olhos e olhou a Jim.
— Foi na Idade Média, e ele ainda não superou.
— Porque tanto tempo.
— Nós ficamos no gelo. — Eddie disse. — Nós éramos um pouco mais caídos do que os nossos chefes estavam confortáveis.
Adrian riu como um filho da puta.
— Como eu mencionei, eu gosto das garotas.
— Normalmente em pares. — Eddie colocou Cachorro no chão e esfregou suas orelhas.
— Nós vamos voltar Cachorro.
Cachorro não pareceu estar feliz com a despedida e começou a rodear todos os pés da sala, incluindo o sofá. — O que parecia sugerir, ele pensou que o pedaço do móvel estava na reserva. Não exatamente o que ele tinha em mente.
Não, ele ia entrar com alguma coisa um pouco mais poderosa.
Indo para a vazia estante de livros no canto mais afastado, ele puxou uma bolsa preta e abriu o zíper da coisa, revelando uma pasta de aço inoxidável de cento e vinte centímetros por noventa. Correndo o indicador sobre os botões, ele soltou a tranca e abriu. Dentro, três armas que estavam embaladas em caixas de ovos não capturavam nenhuma luz, fosse qual fosse, com seu acabamento cinza opaco, e ele deixou o rifle onde estava. Do par de SIGs, ele pegou um dos que tinha desenhado especialmente para ele, que cabia perfeitamente na sua palma direita.
Adrian sacudiu sua cabeça, como se as automáticas não fossem mais que armas de água.
— Apenas, o que você pensa que vai fazer com esses pedaços de metal, Harry, O Sujo?
— É a minha trava de segurança, o que você acha sobre isso?
Jim checou a arma, trancou a pasta de novo, e escondeu a bolsa. A munição estava atrás das latas nas prateleiras sobre a pia, e ele pegou o suficiente para encher o pente.
— Você não pode atirar nela com isso. — Eddie disse suavemente.
— Sem ofensa, — Mas eu só acredito vendo.
— E é por isso que você vai falhar.
Adrian amaldiçoou e bateu a porta.
— Ótimo, você o colocou para brincar de Yoda de novo. Nó podemos ir antes dele levitar a minha fodida moto?
Enquanto Jim trancava as coisas, eles desceram as escadas, Cachorro subiu na parte de trás do sofá, e os olhou através da janela. Ele arranhou um pouco o vidro, como se estivesse protestando, o fato de que ele tinha sido deixado de fora da ação.
— Vamos pegar o meu caminhão. — Jim disse quando eles chegaram no caminho de pedras.
— Menos barulho.
— E tem um rádio, certo? — Com trágica concentração, Adrian começou a esquentar sua voz, parecendo um alce sendo acariciado por um ralador de queijo.
Jim sacudiu sua cabeça a Eddie enquanto as portas eram abertas.
— Como você agüenta a algazarra?
— Surdez seletiva.
— Me ensine, Mestre.
A viagem até a cidade durou em volta de quatrocentos anos, — Adicionado pelo fato de que Adrian achou a estação de rádio de Rock Clássico: —Panamá— de Van Halen, nunca tinha parecido tão ruim, mas isso não era nada comparado com o que aconteceu com —I Would Do Anything for Love (But I Wont Do That), do Meat Loaf. O que evidentemente se referia a Adrian calando sua boca.
Quando eles chegaram no distrito dos depósitos, Jim colocou fim a baboseira de Adrian, e ele nunca esteve tão feliz de mexer em um botão de volume.
— O prédio é há duas ruas abaixo.
— Tem um local para estacionar. — Eddie disse apontando para a esquerda.
Depois que eles caíram fora do F-150, eles andaram abaixo uma quadra, viraram a direita, e o que você sabe, — Mais uma vez, o tempo era tudo. Assim que eles rodearam a esquina, um táxi rodou e parou na frente da porta, onde Devina tinha desaparecido antes.
Os três se abaixaram, para se esconder, um momento depois que o táxi passou com Devina no banco de trás passando batom com um espelho compacto na mão.
— Ela nunca faz nada sem uma razão. — Adrian disse suavemente.
— Isso é uma coisa que você pode pôr no banco de dados. Qualquer coisa que sai da boca dela é quase sempre uma mentira, mas as ações dela... Sempre uma razão. Nós precisamos entrar, achar aquele anel, e sair rápido.
Se movendo rápido, eles foram para as portas duplas, puxaram, e entraram no vestíbulo, que tinha o tanto de nuances arquitetônicas quanto um frigorífico: Piso de concreto, paredes brancas, lavadas, e o espaço dentro era mais gelado do que do lado de fora. O único ornamento que tinha era as luzes do teto em estilo industrial, as caixas do correio eram cinco fileiras de aço inoxidável, e um interfone com uma lista com cinco nomes. Devina Avale era o número cinco.
Desafortunadamente, por dentro, o jogo de portas eram fechados por trancas, mas Jim deu uma puxada de qualquer jeito.
— Nós podemos sempre esperar alguém...
Adrian andou, pegou a maçaneta, e puxou pela metade, sem dar nenhuma porrada.
— Ou você pode simplesmente abrir. — Jim disse ironicamente.
Ad esfregou sua brilhante mão e riu.
— Eu sou bom com as minhas mãos.
— Melhor com que as suas cordas vocais, claramente.
Ele odiava trabalhar.
Odiava gastar seus dias levando pessoas ingratas por Caldwell em um táxi que cheirava com o que quer que fosse que o último motorista tinha comido. Mas as comodidades da vida tinham que ser encontradas, e além disso, ao menos, o objeto de sua afeição tendia a ficar em casa durante as horas do dia.
Tinha também sua política de ignorar. Ele não olhava ao seu passageiro, se recusava a ajudar com bagagem, e nunca falava mais que o necessário. Era um bom caminho para seguir, — Especialmente, dado que suas buscas noturnas tinham sido ultimamente: Não tinha razão para correr o risco de despertar a memória obscurecida de alguém. Você nunca sabia o que as pessoas podiam lembrar da cena de um crime.
Outra lição que ele teve que aprender do jeito mais duro.
— Como está o meu batom?
Ao som da voz feminina, as mãos dele se apertaram no volante. Ele na dava uma merda sobre como parecia a estúpida boca de alguma mulher.
— Eu perguntei a você... Como está o meu batom? — O tom estava mais afiado agora, e fez as mãos dele se apertarem ainda mais no volante.
Antes dela repetir a pergunta, e ele ficar nervoso, ele olhou no espelho retrovisor. Se qualquer que fosse a vadia que estava atrás esperava dele — Olhos negros pegaram os dele, e seguraram como se ela avançasse para frente e colocasse um cadeado nele. E então ele a sentiu o alcançando e...
— Meu batom. — Ela disse, com deliberado e chamejante pronunciação.
Ele deu uma rápida olhada na rua a frente, que estava livre de com o semáforo livre pelas próximas duas quadras, e depois voltou a olhar pelo retrovisor.
— Ah, parece bom.
Com uma deliberada batida do seu manicurado dedo indicador, ela esfregou a linha do lábio inferior, e então fechou sua boca, e o liberou.
— Você é um homem religioso, eu vejo. —Ela murmurou fechando seu espelho.
Ele olhou a cruz que estava colada no pára-brisa do carro.
— Não é meu táxi.
— Oh. — Ela alisou seu cabelo para trás e continuou encarando ele.
Não demorou muito, a ele perceber que o aquecedor estava muito alto, e ele ainda checou duas vezes para saber se o ventilador estava ligado também. Não. Ela era apenas uma mulher que o estava olhando como se ele fosse alguma coisa. O que acontecia tão frequentemente, quanto...
— Qual o seu nome? — Ela sussurrou.
Com a língua presa, e abruptamente não muito certo da resposta, ele apontou para a licença do táxi que tinha uma foto dele. Lendo o que estava escrito, ele disse:
— Saul. Saul Weaver.
— Nome legal.
Enquanto eles chegavam a um sinal vermelho na interseção, ele freou, e no instante que o táxi estava completamente parado, ele estava olhando no espelho... Retro... Visor. As íris dos olhos dela se expandiram tanto até não haver mais nenhum espaço em branco, para contrastar com o denso negro, — E embora, aquilo devia ser o tipo de coisa que o faria sair gritando, ele sentiu um orgasmo líquido tomando o lugar do sangue em suas veias.
Prazer voou sobre ele, o levantando mesmo enquanto ele continuava no assento do táxi, invadindo sua pele, mesmo sua pele continuando intacta, o possuindo, apesar de não ter nenhuma tangível barreira entre eles.
— Saul. — A mulher disse, sua voz mudando tocando algo dentro dele, que era tão profundo quanto a respiração de um homem quanto de uma mulher.
— Eu sei o que você quer.
Saul tragou fortemente, e ouviu sua voz vir de uma longa distância.
— Você sabe?
— E eu sei como você pode conseguir.
— Você... Sabe?
— Estacione naquele beco, Saul.
Com isso, ela abriu seu casaco, revelando uma apertada blusa que mostrava seus mamilos claramente, como se nada os cobrissem.
— Estacione, Saul, e deixe-me dizer o que você precisa fazer.
Com uma virada do volante, ele entrou nas sombras entre dois altos prédios, e parou o táxi. Assim que ele virou para olhar para ela, ele estava completamente cativado: De qualquer forma, prendendo seus olhos estavam no espelho, o resto dela mais que um padrão do exagero. Ela era irreal, e não só porque ela era linda. Olhando naqueles poços negros, ele era completamente aceito, completamente compreendido, e ele sabia sem nenhuma dúvida que ele iria achar o que estava procurando com ela. Ela tinha suas respostas.
— Por favor... Fale-me.
— Venha aqui, Saul. — A mulher rolou suas unhas manicuradas pelo pescoço até seu decote.
— E me deixe entrar.
Não gozar não iria ser fácil.
Enquanto Marie-Terese fazia mágica em sua ereção, Vin sentia como se sua pele estivesse em chamas, seu sangue fervendo e sua medula óssea se transformando em relâmpagos. Com cada sugada e cada carícia, o estava mandando diretamente ao topo, seu corpo oscilando para fora de um precipício do qual estava morrendo de vontade de cair, e ao mesmo tempo sem o menor desejo de se deixar levar. Deus... seu auto-controle o estava matando do jeito mais gostoso, sua cabeça de encontro ao travesseiro, suas coxas rígidas, seu tórax pulsando. Ela o estava levando ao céu e ao Inferno em medidas iguais, e desejou que isso durasse para sempre.
Mas, ele realmente não iria agüentar muito mais tempo.
Ergueu a cabeça usando de toda a sua força, e quando olhou para a parte de baixo de seu corpo, estremeceu de prazer. A boca de Marie-Terese perfeitamente encaixada, seus belos peitos empinados, cheios e luxuriantes, seus mamilos roçando de encontro as suas coxas.
— Oh, Porra!
Ele moveu o corpo rapidamente puxando sua ereção, seus dedos ao redor dos braços dela enquanto ele lutava para não gozar.
— Você...
Vin a interrompeu beijando-a com firmeza e rolando por cima dela. Antes de terminar de girar, ele passou o braço sob um dos joelhos dela e a puxou para cima. Ele estava rosnando, estava selvagem, estava...
— Eu preciso de você agora, Vin! — suas unhas afundaram em seu traseiro enquanto ela se derretia embaixo dele.
— Merda... sim!
Exceto pelo fato de que ambos congelaram ao mesmo tempo. Em uníssono, eles disseram:
—Preservativo.
Vin grunhiu e se esticou para a mesa ao lado da cama, o movimento que o levou de encontro as curvas dela com mais firmeza e, ela não ajudou a suavizar a situação movendo-se contra ele como uma onda.
Enquanto a sensação erótica de carne contra carne reverberava através de seu corpo, Vin perdeu o contato com o Trojan[12] que ele agarrava, o pequeno quadrado foi lançado longe escapando de seu aperto como se tivesse recebido lições de vôo.
— Caralho!
Inclinando-se para o chão, seus quadris se tocaram e seu membro foi para frente deslizando pelas dobras, roçando diretamente sobre sua vagina quente e doce. Com um puxão rápido, ele recuou, porque ele não queria perder o controle, e ...
Homem, as coisas não iam bem no “nível inferior” enquanto o quadrado brincava de se manter afastado da palma de sua mão.
— Deixe-me ajudá-lo. — Marie-Terese disse, juntando-se à caça.
Foi ela quem finalmente pegou o prêmio azul claro, levantando-se e rindo enquanto o segurava acima da cabeça.
— Consegui!
Vin começou a rir junto com ela, e num instante, puxou-a junto a si, abraçando-a. Ainda estava completamente duro e pronto para gozar, mas também se sentia leve e solto enquanto sorria e ela dava uma risadinha e eles rolavam juntos, bagunçando o edredom. O preservativo se perdeu no processo, aparecendo e desaparecendo a cada volta, como um peixe na água.
A coisa apontou ao seu lado, como se finalmente decidisse ser reivindicada. Ou tinha decidido reivindicá-lo.
Vin arrancou-o fora, rasgando o pacote, e embainhou a si mesmo. Deitando-a sobre suas costas novamente, abriu caminho por entre suas coxas e afastou o seu cabelo para longe de seus olhos.
O contato iminente era eletrizante, mas o momento era suave e doce. Ela ardia deliciada enquanto olhava para ele.
— O que? — ela sussurrou segurando o rosto dele entre as mãos.
Vin parou por um momento para gravar seus traços e a forma como a sentiu sob ele, vendo-a não apenas com os olhos, mas sentindo-a com sua pele e seu coração.
— Olá, dama adorável...olá.
Enquanto ela corava graciosamente, ele beijou-a profundamente, sua língua acariciante de encontro a dela, seus corpos conectados. Uma fricção de seus quadris e a ereção dele mudou de posição, e então estava se movendo lentamente para frente facilitando para ela. Enquanto o tomava dentro de si e aquela contração espetacular ressoava, deixou sua cabeça cair no magnífico cabelo dela e se deixou levar.
Longo, profundo, em duras estocadas... sem mais desespero agora, somente o delicioso desespero que o sufocava e revivia em ciclos. Era o mesmo que sentira quando teve sua boca nele, o tipo de coisa que não queria que acabasse nunca, embora não fosse possível.
No momento supremo, Vin rugiu enquanto era tomado por contrações de ponta a ponta de seu corpo, e de longe ele a ouviu dizer seu nome, sentiu suas unhas arranhando sua coluna, absorveu as ondas de sua liberação.
Quando eles estavam recuperando a respiração, ainda estava duro enquanto agarrava a base do preservativo e o retirava.
— Eu voltarei logo!
Depois de terminar o banho, retornou e se esticou ao lado dela.
— Você sabe o que eu tenho lá? — ele apontou com o dedo polegar em direção da extensa área de mármore onde tomou banho.
— O que? — ela deslizou suas mãos por seus braços até seus ombros.
— Seis duchas.
— Verdade?!
— Sim. Larry, Curly, Moe, Joe e Frankie.
— Espera, só cinco tinham nomes?
— Bem, tem o “Pervertido”, mas eu não tenho certeza se ele é adequado para se misturar aos outros. Sua gargalhada era outro tipo de orgasmo para ele, o tipo de coisa que o aquecia de dentro para fora.
— Você me deixará visitá-la? — ele sussurrou. — Depois de você partir.
Coisa errada para dizer. Drenou completamente a felicidade do rosto dela.
— Eu sinto muito. — ele disse rapidamente. — Eu não devia ter perguntado. Merda, não devia...
— Eu gostaria disso.
Sua resposta foi tão repentina quanto sua pergunta foi, e o “indizível” estava pendurado entre eles tal qual um esboço de fumaça ácida.
— Venha comigo. — disse preparando-se para deixar isso de lado. Se eles não tinham muito tempo juntos, ele não iria arruinar o pouco tempo que tinham. — Me deixe tirar meu suor da sua pele.
Ela aferrou-se a seus braços, suas mãos apertando-o para fazê-lo parar.
Balançando a cabeça, roçou sua boca com a dele.
— Não existe nenhuma promessa e eu entendo isso.
— Eu desejaria poder fazê-las.
— Eu sei. — Ele deslizou as pernas para fora da cama e a envolveu em seus braços. — Mas eu tenho você agora, não tenho?
Ele a manteve no alto enquanto caminhava para o banheiro... a segurou acima do chão de mármore enquanto ligava o chuveiro... a manteve em seus braços enquanto colocava a mão sob o jato de água e esperava até que ficasse morna o suficiente.
— Você não tem que me carregar. — disse ela aninhando-se em seu pescoço.
— Eu sei. Só não quero deixar você ir enquanto ainda está aqui.
— Você alguma vez assistiu Atração Fatal? — Adrian perguntou.
Enquanto as portas do elevador de carga do Armazém de Devina se fechavam, Jim olhou através do que era o espaço de um quarto inteiro. Inferno, você poderia levar um piano de cauda para cima naquela maldita coisa.
— Como? — ele perguntou.
— Atração Fatal, o filme. — Adrian deslizou as mãos para cima e para baixo nas paredes metálicas. — Uma ótima cena em um elevador justamente como este aqui. Está entre as minhas melhores de dez.
— Deixe-me adivinhar, as outras nove estão na internet.
Eddie apertou o botão que marcava “cinco” e a coisa corcoveou como um cavalo selvagem.
— Glenn Close era uma psicótica nesse filme.
Adrian encolheu os ombros e um sorriso astuto em seu rosto parecia sugerir que ele se colocava a si mesmo na situação, por assim dizer.
— Quanto isso importa de verdade, hein?
Eddie e Jim olharam de relance um para o outro e reviraram os olhos de forma inexpressiva, por que, qual era o ponto? Se você adquirisse esse hábito com Adrian, passaria sua vida inteira olhando fixamente para o teto.
No quinto andar o elevador parou com um tranco e as portas chacoalharam enquanto Eddie lutava para tornar a alavanca acessível de forma a deixá-los sair.
O corredor estava limpo, mas escuro como um alpendre, com as paredes de tijolos mantidas unidas por um morteiro antigo e malfeito e por um assoalho de pranchas de madeira desgastado pela velhice e pelas frestas. Para baixo à esquerda, havia uma porta de metal na altura do elevador, com uma placa de “SAÍDA” em cima. Caminhando pela direita havia outra porta feita de painéis de aço niquelado.
Jim retirou sua arma do coldre e a destravou.
— Há probabilidade dela viver com mais alguém?
— Um zelador, em linhas gerais. Embora ela seja conhecida por pegar animais de estimação de tempos em tempos.
— Rottweilers?
—Najas cuspideiras. Serpentes venenosas. Ela gosta de cobras, mas as vezes costuma reciclá-las, usar novamente para seus sapatos e bolsas. Quem fodidamente sabe?
Enquanto andavam até a porta niquelada, Jim assobiou suavemente. Empilhadas umas sobre as outras, sete travas cintilavam como medalhas de honra no peito de um soldado.
— Jesus, de uma olhada nas fechaduras desta coisa.
— Até mesmo os paranóicos tem inimigos, filho. — murmurou Adrian.
— É, você poderia deixar de lado o merda do “filho”?
— Quantos anos você tem? Quarenta? Eu tenho quatrocentos se estou fazendo as contas certas.
— Ok, está bem. — Jim resmungou sobre o ombro. — Você pode usar sua mágica nesses grampos?
Adrian sacudiu seu dedo do meio, colocou sua mão no botão, e... nada aconteceu.
— Foda. Ela bloqueou isso.
— O que você quer dizer?
— O pior tipo de feitiço. — Adrian moveu a cabeça sinalizando para Eddie. — Você sobe.
Enquanto o homem silencioso avançava, Adrian agarrou o braço de Jim e o puxou para trás.
— Você vai querer dar a ele um pouco de espaço.
Eddie ergueu a palma da mão e fechou os olhos, permanecendo quieto como uma estátua. Seu rosto forte com seus lábios proeminentes e mandíbula quadrada assumiram uma expressão de calma determinação, e depois de um momento, um cântico suave emanava dele. Exceto pelo fato de que até onde Jim sabia, os lábios do homem... do anjo... ou o que quer que ele fosse... não estavam se movendo.
Oh, espere... isso não era um cântico.
Ondas de energia pulsavam pela palma da mão do anjo, como calor que sobe do asfalto no verão, e faziam um som rítmico que soava ondulando pelo ar.
Uma por uma, por meio de uma série de deslocamentos, as travas foram se abrindo. E então houve um clique final e a porta flutuou se abrindo como se o espaço ao redor soltasse uma respiração.
— Bom — murmurou Jim enquanto as pálpebras de Eddie se erguiam.
O sujeito respirou profundamente e moveu seus ombros em círculos, como se estivessem endurecidos.
— Sejamos rápidos com isso. Não sabemos por quanto tempo ela vai ficar fora.
Adrian entrou primeiro, um tipo de ódio maligno queimava em sua expressão, e Eddie vinha logo atrás, colado em seu rabo.
— O que... foda... — disse Jim enquanto entrava.
— Sempre com uma coleção. — Adrian cuspiu. — A cadela.
A primeira impressão de Jim foi que o vasto espaço aberto era como uma espécie de fodida loja de liquidação de móveis. Havia centenas e centenas e centenas de relógios, todos agrupados por tipo, mas por outro lado desorganizados. Os relógios de pé permaneciam em um círculo desordenado no canto mais afastado, como se estivessem girando em círculos e tivessem ficado congelados ali assim que se abriu a porta. Os relógios redondos de parede foram pregados às grossas vigas de madeira que corriam verticalmente do chão ao teto. Dispersados em prateleiras havia relógios de mesa que eram verdadeiras obras de arte assim como também relógios despertadores e metrônomos[13].
Mas os relógios de bolso eram os mais esquisitos.
Irradiavam do teto suspenso, como aranhas em teias, relógios de bolso de todas as épocas oscilando em cordas negras.
— O tempo se mantém... deslizando... deslizando... deslizando para o futuro. — Adrian balbuciou enquanto caminhava ao redor.
Exceto que ele realmente não o fazia. Todos os despertadores e relógios estavam parados. Inferno, mais do que parados, os pêndulos dos “relógios de pé” estavam congelados no espaço, no topo de seus arcos.
Jim desviou o olhar do caótico, tempo em suspenso, e encontrou uma outra coleção.
Devina tinha um e somente um tipo de mobília: mobília de escritório. Lá devia ter de vinte a trinta deles, e estavam aglomerados em um monte desorganizado, como se o do meio chamasse para uma reunião rápida e os demais tivessem se apressado a chegar. Assim como com os relógios, todos eram de tipos diferentes, antiguidades que pareciam pertencer a museus, novos com linhas macias e lustrosas, baratos que pareciam ter sido feitos na China e vendidos em liquidação.
— Merda, eu apostaria que ela o colocou em um destes. — Adrian disse enquanto ele e Eddie subiam na reunião de misturas.
— Que cheiro é esse? — Jim perguntou franzindo o nariz.
— Você não vai querer saber.
O foda era que ele queria saber. Alguma coisa estava muito errada, e não era somente porque ela teve um sério TOC[14] quando estava criando a decoração. O ar estava estragado com um odor que fazia a carne de Jim tremer. Doce... de uma forma muito doce.
Deixando Eddie e Adrian com sua rotina do “procurar agulha no palheiro”, Jim foi explorar. Como em todos os “lofts”, não havia nenhuma divisão de espaço, exceto por uma no canto que devia delimitar o banheiro. Qual o significado das facas na cozinha que estavam em franca exibição?
No aparador de granito havia toda a sorte de lâminas: de caça, canivetes suíços, de açougueiro, de cozinha de prisioneiros e cortadores de caixas. As extremidades das coisas eram longas a curtas, lisas e serrilhadas, enferrujadas e brilhantes. E tal qual os móveis de escritório e os relógios, estavam em uma mistura desorganizada, os punhos e as pontas de todos os tipos.
Para um homem que achava já ter estado em todo o tipo de situação sórdida, esta era novidade.
Jim sentiu-se como se estivesse caminhando pela terra do “contrário”.
Inalando profundamente tentou passar sem encostar a cabeça, mas acabou com o nariz entupido. Esse cheiro... o que era isso? De onde estava vindo? Do banheiro, ele percebeu.
— Não entre lá, Jim. — Eddie gritou enquanto ele avançava naquela direção. — Jim! Não.
Yeah, foda-se. O cheiro que entrava pelas narinas era equivalente ao de alargadores novos na boca, e havia uma única coisa que fazia isso.
Vindo sabe-se lá de onde, Eddie apareceu na frente dele, bloqueando a passagem.
— Não, Jim. Você não pode ir lá.
— Sangue. Aquele cheiro é sangue.
— Eu sei.
Jim falou devagar, enquanto Eddie perdia sua mente em uma maldição.
— Então, tem alguém sangrando lá.
Se você romper o selo naquela porta, você poderá ativar também um alarme de segurança. — Eddie apontou para o chão. — Você vê aquilo?
Jim franziu as sobrancelhas e olhou para baixo. Bem na frente de suas botas, havia uma fraca linha de sujeira, como se tivesse sido levemente polvilhado lá por uma mão cuidadosa.
— Se você abrir isto, — Eddie disse — vai passar sobre aquela barreira e nossa cobertura vai evaporar.
— Por que?
— Antes dela partir, ela tratou o batente da porta com um tipo específico de sangue e aquela sujeira é de um cemitério. Se alguém além dela passar e liberar energia ela vai sentir tão claro como uma bomba atômica explodindo.
— Que tipo de sangue é este? — Jim perguntou, embora soubesse que não iria gostar da resposta. — E por que ela não fez isto na porta por onde entramos?
— Ela precisa de um ambiente controlado para tirar o feitiço de proteção. O corredor do lado de fora? Ela não pode ter certeza de que o pessoal da limpeza não varreria a sujeira ou se alguém não iria estragar isto. E todas essas coisas — Eddie girou a mão ao redor — não é tão importante quanto o que está aqui dentro.
Jim encarou fixamente a porta fechada como se a qualquer momento fosse se transformar no Super-homem e pudesse ver através das coisas.
— Jim. Jim... você não pode entrar lá. Nós precisamos achar o anel e decolar.
Era mais do que isso, Jim pensou. Conforme Adrian revelou em seu estúdio, os anjos tinham um padrão de dizer a ele somente o que ele precisava saber no momento e nem um byte a mais de informação. Então definitivamente existia uma merda acontecendo naquele lugar sobre a qual ele não sabia...
— Jim.
Jim focalizou a maçaneta que estava ao seu alcance. Ele era do tipo que não fazia rodeio. E se isso o levasse a um confronto final com Devina o colocaria em dia, era duro de se pensar que era uma coisa ruim.
— Jim.
Água morna acima de seus seios e coxas... Lábios mornos em sua boca... O vapor ondulando fora e ao redor ela.
Marie-Terese correu as mãos ensaboadas pelos ombros volumosos de seu amante, admirada pela diferença entre seus corpos. Ele era tão duro, seus músculos dobrando e soltando, enquanto um se movia contra o outro, roçando, buscando e achando. Sua quente ereção acariciando a parte superior de seu estômago, e entre suas pernas ela estava tão pronta para mais quanto ele estava.
Os lábios de Vin caíram dos seus, explorando seu pescoço, então, desceram até sua clavícula... E ele foi ainda mais baixo, curvando-se para chupar seus mamilos, antes de lamber as apertadas pontas. Enquanto ela afundou os dedos em seu liso cabelo molhado, ele ajoelhou no mármore em frente a ela, segurando seus quadris e a olhando fixamente com olhos quentes. Com seus olhares fixos, a boca dele foi para seu umbigo, tocando suavemente como a água tinha feito antes de ser substituída por sua língua rosa.
Apoiando-se contra a parede de mármore entre os dois chuveiros, Marie-Terese abriu suas pernas enquanto ele beijava o caminho acima de seu quadril. Os dentes brancos deram uma leve mordida no osso, e então ele estava raspando com eles, suavemente através da pele de sua barriga antes de traçar o caminho com sugantes lábios.
Mais baixo.
Para dar mais espaço a ele, ela colocou seu pé em cima no banco de mármore construído no canto, e sua boca foi imediatamente para a parte interna de sua coxa. Ele estava urgente, mas gentil, ao mesmo tempo em que se aproximava mais e mais do broto que pulsava entre suas pernas. Ela estava morrendo para que ele fosse, exatamente, no lugar próximo a sua cabeça, e quando ele parou na parte superior de sua coxa interna, ela mal podia respirar.
— Por favor... — Ela disse gemendo.
Vin se aninhou mais para cima a lambeu com um golpe certo. Enquanto sua voz gritava acima do som da água cadente, seus dedos afundaram em suas coxas e ele gemeu contra seu sexo. Drogantes lambidas misturadas com sugadoras chupadas, até que ela encontrou-se caindo sobre o banco e apoiando um pé contra o suporte de sabonete na parede, e jogando o outro no lado mais distante de suas costas.
E então ele ficou sério. Erguendo sua cabeça e encontrando seus olhos, ele levantou dois dedos e atraiu-os a seus lábios e depois os inseriu dentro de sua boca. Quando eles saíram, lisos por terem estado entre seus lábios, ele se debruçou de volta até seu sexo, lavando-o com sua língua rosa.
A grossa penetração era composta por um formigamento e uma sacudida no seu sexo.
Marie-Terese gozou duro, alto e longamente, e quando esteve finalmente exausta, ela desmoronou contra a pedra dura, parecendo sem ossos como a água que os lavava. Depois que ele deslizou para fora dela, lambeu os dedos, traçando com a língua ao redor, enquanto olhou para ela por baixo de suas pestanas.
Ele estava duro. Talvez até violentamente, dado o comprimento que aparecia entre seus quadris.
—Vin...
—Sim. — Sua voz era nada além de cascalho.
—Está realmente longe do quarto, onde os preservativos estão.
—É.
Ela olhou abaixo em sua ereção.
—Eu não iria querer que você esperasse tanto.
Seu sorriso era feroz.
—O que você teve em mente?
—Eu quero assistir.
Sua risada foi funda e baixa, e ele se colocou de volta contra a parede de vidro, abrindo suas coxas, sua ereção volumosa roçando seu estômago. Deus, ele parecia espetacular contra o mármore cremoso.
—O que exatamente você quer assistir?
Ela ruborizou. Deus a ajudasse, ela realmente ruborizou. Entretanto, ele estava à vontade no chão do chuveiro, brilhando da cabeça até o dedão do pé, pronto para sexo... E procurando por direção.
— O que você quer que eu mostre a você. — Ele falou lentamente.
—Eu quero que você... Coloque sua mão.
—Aqui? — Ele disse, passando a mão acima de seu abdômen.
—Mais baixo. — Ela sussurrou.
—Hmmm... — Sua larga palma se movia para baixo através de suas costelas para o topo de sua ereção. —Aqui?
—Mais baixo...
Ele ultrapassou a cabeça de sua ereção e examinou cuidadosamente seu quadril.
—Mais baixo?
—Para sua esquerda. E mais alto.
—Oh, você quer dizer — Enquanto sua palma achou sua ereção, ele arqueou e seus olhos se fecharam. — Aqui?
— Deus, Sim...
Movendo seus quadris, ele manteve sua mão parada e ela conseguiu exatamente o que procurava: Uma visão atordoante da cabeça de sua ereção passando por seu aperto e desaparecendo, passando e desaparecendo. Seu tórax subia e descia conforme sua respiração, seus lábios abertos, enquanto ele se dava prazer.
—Vin... Você é tão bonito.
Suas pálpebras se ergueram lentamente e ele olhou fixamente a ela, seus cintilantes olhos a atraiam para ele.
—Eu amo ver você me assistir.
Com sua outra mão ele acariciou suas coxas até suas bolas. Ele as apertava e as acariciava, trabalhando sua estimulação em longos golpes e gemendo.
—Eu não sei quanto tempo vou durar...
Bom... Senhor. O edifício inteiro podia estar queimando e ela não poderia se mover, observando enquanto ele apertava suas bolas novamente e então focava na cabeça de sua ereção. Depois, ele a esfregava com seu dedo polegar, ele fez isso duas vezes mais, respirando em golfadas.
Ele fechou os olhos e trabalhou a si mesmo.
Ele era tão sensual, tão... Aberto em frente a ela, escondendo nada, ambos vulneráveis e poderosos.
—Você vai... Fazer-me... Segurar...? — Ele gemeu entre os dentes. Seu olhar ávido fixo, vagando acima dele, e ela tinha a visão mais erótica dele, que ficaria permanente na memória, como se esculpisse as imagens em pedra. —Eu tenho... Que...
—Goze para mim. — Ela disse. Ela queria que isso durasse para sempre, mas sabia que iria começar a doer se demorasse mais.
Agora seu tórax realmente chegou a martelar e então suas mãos se tornaram mais rápidas e duras o suficiente de forma que os músculos em seus braços se esticaram.
Quando ele gozou, sua semente se espalhou por toda parte, seu estômago e suas coxas, porque ele parecia não poder parar. E seus olhos nunca deixaram os dela até que suas palmas finalmente descansaram e então caíram ao lado.
Com sua respiração aliviada, ela sorriu e foi até ele, capturando seu rosto, o beijando suavemente.
—Obrigada.
—A qualquer hora que você deseje esse tipo de show, só deixe-me saber?
—Pode apostar.
Quando finalmente se enxaguaram e saíram do chuveiro, eles tinham idênticos sorrisos adoráveis em seus rostos, e Vin pegou a ela uma toalha com monogramas de uma das aconchegantes prateleiras. O tecido branco era tão grande que a cobria dos seios até os tornozelos, e quando ela usou uma segunda como turbante em seu cabelo, sentiu como se estivesse coberta pelo suave veludo.
Vin pegou uma terceira, secando seu cabelo até que retirou toda a umidade, e cobriu seus quadris.
—Eu gosto de você em minhas toalhas.
—Eu gosto de estar nelas.
Ele se aproximou e a beijou, e na pausa que se seguiu, sua respiração ficou presa em sua garganta.
Ela sabia o que ele queria dizer. E concordou que estava muito, muito cedo para isto.
—Você quer algo para comer? — Ele perguntou.
—Eu... Provavelmente deva ir. — Ela tinha muitas malas para fazer.
—Certo... Tudo certo.
A tristeza espessou o ar vaporoso quando eles deslizaram seus braços ao redor um do outro e deixaram o banheiro.
—Eu estou me intrometendo?
Marie-Terese congelou e também Vin.
A mulher que entrou no quarto tinha uma expressão inescrutável, suas mãos se apertavam aos lados de seu corpo, seu longo cabelo brilhante acima de seus ombros, seu casaco preto apertado ao redor da sua minúscula cintura.
Em sua quietude ressonante, ela parecia, exatamente, como qualquer modelo na superfície, mas existia algo errado sobre ela. Muito. Errado.
Em primeiro lugar, se ela teve uma noite mal dormida, seu rosto não estava mostrando quaisquer sinais disto; Suas feições e pele eram tão lisas e frescas quanto um recém-cortado mármore. Segundo, ela parecia perfeitamente capaz de matar alguém, dado como ela olhou fixamente para os dois.
Oh... Deus. Seus olhos. Não existia uma borda branca ao redor de sua íris preta, seu brilhante olhar, não mostrava nada, além de um par de covas tão escuras e sem fundo quanto buracos negros.
Isso podia ser certo, entretanto?
Enquanto a pele da parte de trás do pescoço de Marie-Terese enrijeceu, a mulher focou nela e sorriu como o assassino do machado que estava olhando para sua próxima vítima.
—Eu vi sua bolsa lá embaixo, na mesa de jantar, querida. Bom, dado quanto dinheiro tinha, eu diria que seus preços são altos. Parabéns.
A voz dura de Vin cortou o ar.
— Como você fez para entrar. Eu bloqueei tudo.
—Você não entende, Vincent. Sua porta está sempre aberta para mim.
Vin colocou seu corpo na frente do de Marie-Terese, protegendo-a.
—Vá. Agora.
O riso dela lembrava a unhas-no-quadro-negro, alto e digno de assustar.
—Desde nosso primeiro encontro as coisas têm sido a minha maneira, Vin, e isso não vai mudar agora. Eu investi muito em você, e acredito que é hora dela ir.
—Foda-se, Devina.
—Você certamente o fez. — A mulher disse. —E muito bem, eu poderia adicionar. Mas você não era o único. Seu amigo Jim também fez direito por mim, e eu penso que gostei dele mais que você. Com ele, eu não precisei de outra pessoa.
—Sim, eu tive que ter mais do que você deu a mim também. — Vin estalou.
Uma onda de frieza ondulada saiu da mulher, e seus olhos, aqueles terríveis buracos negros, transferiram-se para Marie-Terese e a paralisou no lugar.
—Você conheceu Jim, não foi. Você não esteve sozinha com ele? Talvez... Em um carro? Talvez quando você o esteve levando para casa ontem?
Como o inferno ela soube isto? Marie-Terese perguntou-se.
Enquanto o corpo de Vin endurecia, a mulher continuou.
— Quando você o levou de volta para aquela merda de estúdio dele, em cima da garagem, você gostou do sabor de seu pau, não foi — Mas você o teria chupado mesmo assim. Você precisa de todo o dinheiro que possa conseguir, e ele estava disposto a pagar por isto.
Marie-Terese olhou através do quarto.
—Isso nunca aconteceu. Nunca. Eu não fui para a sua casa.
— Isso é o que você diz.
— Não, é o que você diz. Eu sei o que fiz e não fiz e com quem. Você, por outro lado, é uma cadela desesperada que está tentando segurar alguém que não a quer.
A mulher recuou um pouco, e Marie-Terese teve que admitir que teve alguma satisfação por ter saído com aquela.
Mas então Vin andou longe, e um olhar em seu rosto pálido fez com que ela percebesse que Trez tinha estado tragicamente certo. Um passado como o seu tinha um longo alcance, e Vin e ela não conheciam um ao outro tempo o suficiente para a confiança rudimentar ter se desenvolvido, muito menos o tipo de fé exigida para um homem acreditar que uma prostituta não estaria fazendo, seu trabalho, com seu amigo.
Graças a Deus por todas as toalhas que estava usando, ela pensou.
Porque ela de repente sentiu como se estivesse no vento frio do lado de fora.
— Jim.
Em pé, na frente da porta do banheiro de Devina, Jim mediu a expressão no rosto de Eddie: Mortalmente sério. Mais para sua informação, aquele grande corpo do idiota iria estar no caminho se Jim fizesse qualquer movimento para a maçaneta.
Esticando seus músculos apertados, Jim aliviou por cima seu corpo e examinou por cima de seu ombro às cômodas. Adrian estava abrindo gavetas de uma maneira metódica e verificando tudo e qualquer coisa que estava nelas, — E evidentemente, lá havia muito, dado as pancadas.
— Bem. — Jim murmurou. —Acha que nós deveríamos nos juntar na caça ao ovo de páscoa?
—Eu sei que é duro. — Eddie disse. —Mas você tem que confiar em mim.
Eddie bateu em suas costas, e juntos eles giraram a cabeça acima de seu amigo. Jim seguiu um passo.
E girou a maçaneta. Enquanto o anjo caído soltava uma maldição, Jim puxou a placa de madeira e empurrou para uma olhada
Uma jovem mulher estava enforcada nua e de cabeça para baixo acima da banheira de porcelana, suas pernas se abriam em um V, seu salto preso aos tornozelos com corda preta e para a barra circular que devia segurar a cortina do chuveiro. Suas mãos estavam amarradas juntas com a mesma corda preta e puxavam acima de seu corpo de forma que seus dedos apenas tocassem o topo de seu sexo. Ao redor de sua barriga existiam cortes fundos, formando um padrão de algum tipo, e sangue vermelho na sua pele branca, correndo por seu torso antes de se dividir entre a saliência de seu queixo e mandíbula e fluir através seu cabelo loiro.
A banheira estava tampada e cheia.
Oh, Senhor... Mais ou menos cinco centímetros acima da banheira, ela estava pendurada. Seus olhos estavam abertos e fixos à frente, mas sua boca estava trabalhando, sempre muito ligeiramente...
—Ela está viva! — Jim gritou saltando adiante.
Eddie o pegou e o puxou de volta.
—Não, ela não está. E nós precisamos sair daqui agora, graças a você.
Jim se soltou do aperto, e se apressou para frente, levantando suas mãos, pronto para começar a desamarrar a série complexa de nós.
Uma palma dura, pesada caiu sobre seu ombro.
—Ela é uma fodida morta, homem, e nós temos um problema agora. — Quando Jim agitou sua cabeça, aproximando-se e lutando contra o aperto, a voz de Eddie levantou. — Ela está morta, aqueles são espasmos automáticos, não está viva. Viu os cortes de um lado a outro de sua garganta?
Os olhos de Jim passaram ao redor de seu corpo, procurando desesperadamente por um rastro de respiração ou reconhecimento em seu rosto de que ela iria ser salva... Algo... Qualquer coisa...
—Não! — Ele apontou para seus dedos enquanto eles se moviam apenas ligeiramente. —Ela está viva!
Ele foi puxado até que rugiu, a cena mudou ante seus olhos, sacudindo o horror atual para lembrar uma tragédia. Ele viu sua mãe cercada por sangue, seus olhos fechando lentamente, sua boca trabalhando para formar as palavras necessárias para conseguir que ele a deixasse.
A voz tranqüila de Eddie veio direto ao seu ouvido, como se o sujeito não estivesse falando, mas implantando as palavras:
—Jim, nós precisamos dar o fora daqui.
—Nós não podemos deixá-la. — Essa era sua voz? Aquele som tremido?
—Ela se foi. Ela não está mais aqui.
—Nós não podemos deixá-la... Ela é...
—Ela não está conosco, Jim. E nós temos que ir. Para salvar Vin, nós temos que conseguir que você dê o fora daqui.
A voz de Adrian explodiu da entrada.
— Que porra está errada com você.
—Fecha a maldita boca, inferno, Ad. — As palavras de Eddie cortaram a interrupção. — Ele não precisa de você quebrando suas bolas agora mesmo. Jim... Eu preciso que você saia do quarto.
Jim sabia que o sujeito estava certo. A menina estava morta, sangrando como se não fosse nada além de um animal, e isso não era o pior de tudo. Sua congelada máscara de morte era um horror, como se seu sofrimento tivesse sido grande.
—Vamos, Jim.
Então, Deus o ajude, ele sabia que tinha que escutar o anjo e forçar a si mesmo a aceitar que não existia nenhuma batalha a ser lutada aqui: O tempo para conflito e a possibilidade de vitória vieram e ficaram sem que estivesse ciente que existiu. E ele acreditou em Eddie sobre o fato de saírem do quarto agora. Neste momento, arriscar uma altercação com Devina não teria sido boa idéia.
Agora mesmo, um terço do time era uma total confusão mental.
Jim se virou, mas não conseguiu não olhar para trás. A enorme mão de Eddie pegou seu rosto segurando-o onde estava.
— Mantenha seus olhos na frente e venha atrás de mim. Não mova sua cabeça. Você entendeu? Eu quero que você ande de volta comigo e mantenha sua cabeça onde está. Nós Vamos voltar.
—Eu não quero deixá-la. — Ele gemeu. —Oh, merda...
Tanto sofrimento, o terror gravado nos traços suaves, pálidos de seu adorável rosto. Onde estavam seus pais? Quem era ela? Enquanto olhou fixamente para o cadáver da jovem mulher, ele memorizou tudo sobre ela, da marca de nascença em sua coxa, para o azul claro de seus olhos inanimados, para o padrão que tinha sido cortado em seu estômago.
—Ela se foi. — Eddie, suavemente, disse. — Seu corpo é apenas o que restou, sua alma não está mais aqui. Você não pode fazer qualquer coisa por ela, e nós estamos em uma situação perigosa agora mesmo. Nós precisamos dar o fora daqui.
Quanto mais ele olhava para ela, entretanto, mais seus instintos começavam a gritar novamente e ele não podia, — Tudo de uma vez, ele ouviu pequenos barulhos que soavam como patas de ratos em um buraco. Não eram centenas de ratos, porém. Os relógios recomeçaram as atividades, todos eles, ligados no mesmo momento, as caóticas batidas, como incontáveis mãos que se levantavam no loft, enchendo o ar. Abruptamente, a voz do Adrian era horrenda em vez de brava.
—Nós temos que partir. — Suas palavras foram cortadas por um estrondo e então uma vibração que emanaram do chão, uma tão grande que estremeceram a esfumaçada janela acima do banheiro e ondas criou ondas em cima do sangue na banheira. — Como exatamente agora.
—Eu não quero deixá-la.
A voz do Eddie se transformou em um grunhido.
—Ela se foi. E nós precisamos ir.
—Foda-se você! — Jim disse frente a ele.
Os braços volumosos do Eddie eram barras de ferro. Até quando Jim lutou com o agarre, foi preso como um animal, arranhando e rasgando tentando ficar livre, ele não chegou a lugar nenhum.
As vozes ecoaram, a sua e a de Adrian. Mas Eddie estava calado quando começou a puxar Jim do banheiro.
Então Eddie cortou através do caos vocal e a bagunça de roupas:
—Bata nele! Eu não posso afastá-lo do espelho!
Adrian entrou, fechou um punho, e armou seu braço para trás. O movimento foi duro e rápido, a rachadura cortando tudo... E Jim caiu em uma atordoante complacência.
Ele estava em um prolongado estado de confusão, o salto de seus Timberlands[15] marcavam através do chão duro, sua cabeça batendo como um sino. Uma vez que suas botas passaram a porta do banheiro, Adrian manteve a coisa fechada, e Eddie sacudiu Jim com os pés no chão e em um agarre dos bombeiros.
Atordoado e desorientado, Jim tentou identificar uma nova onda de sons estranhos que vieram de uma vasta distância. Olhando acima do balcão da cozinha, ele viu que as facas estavam se movendo ao redor, se organizando, dando ordem a bagunça que eles tinham feito. E passava o mesmo com as cômodas, o que explicava as reverberações: As cômodas estavam tremendo em seus pés, achando posições, como soldados em formação.
Ele mal lembrou de deixar o sótão e não registrou muitos dos degraus que desceu durante a viagem... Mas o ar frio de fora o reavivou o suficiente, de forma que ele pode se soltar do agarre de Eddie e ir para o carro em seus dois pés.
Adrian os dirigiu para longe do armazém, durante todo o tempo, Jim podia ver o rosto da menina.
Não tinha música durante o tempo que eles saíram.
Nem conversas, também.
A provocação de Devina ricocheteou no pinball[16] interno de Vin, desencadeando todo tipo de sinais diabólicos e pontos anti-bônus: Jim e Marie-Terese tinham estado a sós… no carro dela… voltando do escritório dele…
—Conhece todos os homens com os quais esteve? —dizia Devina a Marie-Terese— Deve ter uma memória incrível. Mas neste momento só um desses homens importa… Não é verdade, Vin?
Isto é uma encruzilhada, pensou Vin, um lugar onde devo escolher que direção quero seguir.
E tinha a clara sensação de que se deixasse o que Devina estava dizendo se infiltrasse nele, estaria perdido para sempre… ainda assim havia parte dele que pensava que o que ela dizia era iniludível: Marie-Terese tinha estado a sós com Jim, e ela tinha estado com homens por dinheiro, e o fato de que esses dois tivessem estado juntos sexualmente, era algo que não seria capaz de superar.
A voz de Devina soou mais profunda.
—Sempre temeu se converter em seu pai. E aqui está sendo enganado por uma puta.
Vin deu um vacilante passo para ela, afastando-se de Marie-Terese. Enganado por uma puta…
Imagens de seu pai e sua mãe foram amplificadas pelas palavras de Devina e a realidade do que Marie-Terese fazia para sobreviver.
Enganado por uma puta…
Enfocou-se em Devina, vendo-a realmente…
—Tem tanta razão. —sussurrou, tento sido revelada a verdade
Abruptamente o rosto e os olhos de Devina mudaram, a compaixão animou suas feições e drenou a ira.
—Não desejo isto para você. Nada disto. Só tem que voltar comigo, Vin. Retorna.
Ele avançou, aproximando-se cada vez mais, e ela elevou os braços para ele. Quando estiveram frente a frente, estendeu a mão e afastou um de seus cachos negros para colocá-lo detrás de uma de suas orelhas. Inclinando-se sobre ela, aproximou a boca e intensificou a pressão sobre seu cabelo.
—Vin… sim, Vin. —Seu nome foi dito com tom aliviado e triunfal — Assim deve ser…
—Foda-se. —Quando ela começou a retroceder, conteve-a em seu lugar pressionando seu crânio— Você é a puta.
Trez o havia dito. Quando estavam no Iron Mask, o tipo havia dito que chegaria o momento em que teria que acreditar no que sabia a respeito de Marie-Terese em vez de no que sempre tinha temido que fosse realidade a respeito de uma mulher que ele queria.
—Não é bem-vinda aqui. —disse dando um empurrão em Devina ao soltá-la e retornando para onde estava Marie-Terese. Enquanto tomava sua mulher pelo braço e a colocava detrás de seu corpo, desejou estar no quarto principal, porque era ali onde guardava a arma—Vá embora. Já.
Repentinamente o ar ao redor de Devina se viu alterado, como se sua fúria estivesse causando um distúrbio molecular, e ele se preparou para um impacto. Entretanto, em vez de açoitar para fora, pareceu recolher-se sobre si mesma.
Com misterioso domínio, aproximou-se das janelas, e o primeiro pensamento de Vin foi tirar Marie-Terese do quarto. Infelizmente, a distância entre as janelas panorâmicas e a porta aberta era o suficientemente curta para que Devina pudesse atravessá-la facilmente… e a cadela estava olhando um vidro, o que lhe proporcionava uma forma efetiva de ter olhos na nuca.
—Não pode rescindir o pacto, Vin. Não funciona assim.
—É uma merda que não posso.
Devina se voltou e foi para a cama a passo lento. Inclinando-se, levantou os boxers dele, e observou a colcha enrugada e os travesseiros jogados por toda parte.
—Desordenado, desordenado. Você gostaria de me contar o que lhe fez exatamente, Vin? Ou devo usar a imaginação? Ela tem tanta prática, que estou segura que não teve problemas para te satisfazer.
Deliberadamente Devina arrumou um dos travesseiros, voltando-o para o lugar que lhe correspondia, contra a cabeceira da cama. Aproveitando sua fugaz distração, Vin empurrou Marie-Terese para trás, meteu-a no banheiro e fechou a porta com força. Quando imediatamente se ouviu o ruído do ferrolho correndo, respirou fundo, apesar de que era bastante evidente que Devina não teria problemas em atravessar o melhor dos famosos ferrolhos Schlage.
Devina levantou suas negras órbitas.
—Dá-se conta de que se eu quisesse entrar ali, poderia fazê-lo.
—Teria que passar sobre mim primeiro. E de alguma forma não acredito que possa fazer isso, ou sim? Se tivesse a intenção de me matar ou a ela, agora mesmo, haveria-o feito no segundo em que entrou aqui.
—Continue dizendo isso se o faz se sentir melhor. —Inclinando-se para frente, tomou algo de entre a colcha retorcida— Bom, bom quem diria? Acredito que tenho…
Devina se congelou na metade da oração e girou a cabeça de forma tal que ficou olhando para a janela. Abruptamente, suas sobrancelhas se torceram para baixo sobre os poços negros que tinha como olhos, e as feições de seu rosto sofreram uma breve transformação, deixando ver uma visão do qual ele tinha visto anteriormente de seu verdadeiro aspecto: durante meio segundo toda sua magnífica beleza foi substituída com farrapos de pele putrefata e cinza, e poderia ter jurado que captou uma baforada de aroma de carne morta.
Merda, talvez devesse tê-lo atemorizado, mas sabia por experiência que o enigmático e o inexplicável não eram menos reais por ser extravagantes. E o que era mais importante, Marie-Terese estava do outro lado dessa magra porta, e ele ia lutar até a morte para proteger sua mulher… sem importar que diabos viesse buscá-la
Humana… demônio… uma combinação de ambos. As definições não importavam.
Devina voltou a olhá-lo. Deslizando algo dentro do bolso de seu casaco, disse-lhe, com uma estranha voz que fazia eco:
—Verei a ambos muito em breve. Tenho negócios para atender em outra parte.
—Vai fazer uma cirurgia facial? —perguntou-lhe ele.
—Boa piada.
Com um grito, como se quisesse lhe arrancar os olhos com as unhas, dissolveu-se em uma névoa cinza e saiu sigilosamente do dormitório, fervendo ao longo do tapete e escada abaixo.
Vin deu um salto para frente, fechou a porta do dormitório de um golpe, e lhe passou o ferrolho, embora tivesse a sensação de que com a forma que tinha adotado poderia simplesmente passar como uma rajada por debaixo da porta. Seja como for, de todos os modos era o melhor que podia fazer.
Voltou diretamente para o banheiro e bateu na porta.
—Foi embora, mas não sei por quanto…
Marie-Terese abriu a porta de um puxão. Estava mortalmente pálida e assustada, mas suas primeiras palavras foram:
—Está bem?
Foi nesse momento quando soube que a amava. Assim simples e singelo.
Entretanto, agora não havia tempo para falar desse tipo de merda.
Vin a beijou rapidamente.
—Quero você fora deste lugar. No caso dela retornar.
E assim que Marie-Terese estivesse a salvo, ia chamar Jim. Precisava de um verdadeiro homem de confiança, e não podia pensar em alguém melhor que em um filho da puta que já tinha vencido a morte uma vez e não parecia assustar-se ante a merda que teria feito a maioria dos tipos se cagassem em seus Calvins[17].
De súbito, ela cambaleou.
—Acredito… acredito que vou desmaiar…
—Baixa a cabeça… vamos, sente-se… —Apoiou sua mão sobre o ombro nu dela e pressionou gentilmente para que se sentasse sobre o chão. Logo a ajudou a inclinar-se até que seu comprido cabelo tocou o mármore e ela apoiou as mãos em seus tornozelos.
—Respira tranquila e devagar.
Enquanto ela inalava algumas vezes e seu corpo se estremecia, ele sentia desejos de arrancar a própria pele dos ossos. Maldito fosse, era pior que seu ex-marido. Muito mais destrutivo.
Embora tivesse o coração no lugar correto pela primeira vez em sua vida adulta, tinha-a exposto a algo muito mais horripilante que qualquer coisa que a máfia pudesse tirar do bolso traseiro.
E não se tratava que esse grupo que mandava as pessoas dormirem-com-os peixes fossem um bando de maricas.
Marie-Terese lhe lançou uma olhada.
—Seus olhos… Que demônios acabo de ver?
—Vin! Ei, Vin?
Ante o som do grito afogado, Vin apareceu entre o umbral da porta e gritou:
—Jim?
—Sim —se ouviu a resposta— Estou aqui com reforços, por dizê-lo de algum modo.
—Nesse caso, sobe.
Isto era perfeito. Havia uma saída traseira no segundo andar e podiam tirar Marie-Terese dali… e não seria grandioso fazê-lo com algum tipo de cobertura?
—Vou correr até o outro quarto para vestir alguma roupa —lhe disse— O que acha de você também se vestir?
Quando assentiu, beijou-a, reuniu a roupa dela, a entregou e logo fechou a porta do dormitório em seu caminho para fora.
Enquanto umas pesadas botas iam subindo as escadas, Vin entrou em seu quarto, vestiu calças esportivas, e pegou sua arma da mesinha de noite… e durante todo esse tempo conservou a endemoniada esperança de que os reforços fossem do estilo de Jim.
E o que lhes parece? Eram-no. Os dois imponentes bastardos eram os mesmos que tinham estado no hospital depois de Jim ter sido eletrocutado… e apesar do fato de que os dois estavam vestido de civil, tinham expressão de combatentes.
Jim, por outro lado, tinha o olhar vidrado e vazio de alguém que tinha participado de um mau acidente de tráfico. Era evidente que recentemente tinha recebido más notícias, e ainda assim sua voz continuava sendo forte e nivelada quando ao assinalar ao primeiro da direita, disse:
—Este é Adrian. E aquele é Eddie. São nossos tipos de amigos, se entende a que me refiro.
Fodidos obrigado por isso, pensou Vin.
—Seu senso de oportunidade não poderia ser melhor —disse enquanto lhes estreitava as mãos— Não acreditarão quem acaba de sair.
—OH, aposto que sim o faremos. —murmurou Jim.
—Assim tenho algumas perguntas que fazer a você. —disse o que tinha os piercings— Conhecemos sua namorada. E infelizmente a conhecemos muito bem.
—Ela não é minha namorada.
—Bom, infelizmente ela não saiu de sua vida ainda. Mas tentaremos nos ocupar disso. Nosso garoto Jim, diz que quando tinha dezessete, fez algum tipo de ritual. Poderia descrevê-lo?
—Achava que me liberaria do que há em meu interior.
Naturalmente Marie-Terese escolheu esse momento para abrir a porta do quarto de hóspedes. Estava vestida com jeans e um suéter, levava o cabelo recolhido e tinha as mãos metidas nos bolsos dianteiros de seu pulôver.
—O que há em seu interior? —perguntou.
Vin esfregou o rosto e olhou os homens. Antes que pudesse calcular como mascarar a verdade de forma apropriada, Marie-Terese cortou sua ginástica mental.
—Quero saber de tudo, Vin. Todo o assunto. E agora que a vi de perto, mereço saber… por que, francamente não estou muito segura do que acabo de ver.
Merda. Por mais que desejasse mantê-la separada dos fatos, era difícil negar sua linha de raciocínio. Mas, merda, desejaria como o demônio não ver-se obrigado a manter esta conversa.
—Cavalheiros, nos deixariam uns minutos a sós? —disse sem afastar os olhos dos dela.
—Tem cerveja por aqui? —perguntou Adrian.
—No refrigerador que há junto ao bar da sala de estar. Jim conhece o caminho.
—Que bom. Porque é ele quem a necessita. Vocês dois desçam quando estiverem preparados… e não se preocupem, asseguraremo-nos que Devina não volte a entrar aqui. Presumo que tem sal na cozinha?
—Ah, sim. —Olhou-o com o cenho franzido— Mas para que necessita…?
—Onde o guarda?
Depois de encolher de ombros deu indicações ao tipo de onde podia encontrar a despensa que continha os mantimentos secos, o homem voltou para as escadas, e Vin guiou Marie-Terese para a cama. Entretanto ele não podia ficar quieto, assim começou a passear ao redor.
Dirigindo-se para as janelas panorâmicas, perguntou-se por que a vida o tinha levado até este ponto. Perguntou-se por que tinha começado onde o tinha feito. Perguntou-se… como iam terminar as coisas para ele.
Olhando para a estrada que corria junto ao rio e vendo os carros viajando dentro das pistas indicadas, invejou as pessoas que havia atrás desses volantes e aos que iam no assento de acompanhante. Era seguro apostar que a grande maioria deles estava fazendo a merda habitual, coisas como ir para casa, dirigir-se para ver um filme ou lutar com importantes decisões como o que iam jantar essa noite.
—Vin? Fale comigo. Prometo que não o julgarei.
Clareou garganta, e teve a esperança de que fosse verdade como o inferno.
—Existe a possibilidade de acreditar em… —bom, e agora? Como ia terminar essa oração? Enumerando um montão de merda como tabuleiros da Ouija[18], cartas de tarô, magia negra, vodu, e… demônios… sobretudo os demônios? Genial. Fabuloso.
Ela quebrou o silêncio que ele não se animava a encher.
—Refere-se a seus episódios?
Ele se esfregou o rosto.
—Escuta, o que estou a ponto de dizer não vai soar real… merda, nem sequer vai parecer algo plausível. Mas por favor prometa não ir até que termine? Sem importar quão estranho fique?
Continuou olhando o panorama porque não desejava que ela visse a debilidade que sabia que denotava seu rosto, e ao menos sua voz soava medianamente normal.
A cabeceira da cama rangeu, indicando que ela se pôs mais cômoda sobre o colchão.
—Não vou a nenhum lugar. Prometo.
Outra razão para amá-la. Como se precisasse de alguma!
Vin respirou fundo e lançou a si mesmo sobre o abismo proverbial.
—Quando era jovem, tende a pensar que qualquer coisa que ocorra com você, a seu redor… ou dentro de você, é normal. Porque não conhece outra coisa. Não foi até que fiz cinco anos e fui ao jardim de infância que descobri, da maneira mais difícil, que os outros meninos não podiam dobrar garfos sem tocá-los nem deter a chuva em seus pátios nem saber o que ia ter que jantar sem falar com suas mães. Olhe, meus pais não podiam fazer nada do que eu fazia, mas de todas as formas eu me sentia absolutamente diferente deles, assim não pensei que fosse estranho. Simplesmente pensei que não eram iguais a mim porque eram pais e não crianças.
Ele recusava a entrar em detalhes a respeito das várias formas como se deu conta de que não era igual às outras crianças… e o que essas pequenas merdas o haviam feito ser castigado por ser diferente normal: os detalhes de como tinha sido espancado regularmente por grupos de meninos ou de como as meninas tinham zombado e rido dele não iam mudar o fato de que ela fosse ou não entendê-lo ou acreditar nele. Além disso, a lástima sempre lhe tinha dado urticária.
—Aprendi endemoniadamente rápido a manter a boca fechada a respeito do que podia fazer, e não era difícil escondê-lo. A essa altura, basicamente só podia fazer truques de salão, nada que se interpunha no caminho da vida, mas isso mudou quando completei onze e comecei a experimentar essa merda de cair de traseiro e começar a balbuciar. Esse era um grande problema. Acontecia em qualquer momento e em qualquer lugar. Eu não podia controlá-lo, e em vez de conseguir aplacá-lo ao crescer, como aconteceu com a manipulação e a clarividência em baixa escala, isto piorava cada vez mais.
—Tinha um dom. —disse ela, bastante assombrada.
Ele a olhou por cima de seu ombro. A maior parte da cor tinha voltado para seu rosto, que era mais do que poderia ter esperado, mas não estava de acordo com sua afirmação.
—Eu o via como uma maldição. —Retornou a sua contemplação das fileiras de diminutos carros que estavam muito, muito abaixo. —Ao crescer, tornei-me cada vez maior e mais forte, assim que a perseguição já não era um problema tão importante, mas os episódios não pararam, e cada vez me sentia mais frustrado já que me sentia como um fenômeno. Ao final, decidi que tinha que falar com alguém, assim fui ver esta psíquica do centro da cidade. Senti-me como um fodido idiota, mas estava desesperado. Ela me ajudou e me disse o que tinha que fazer, e apesar de não acreditar no que me disse, fui para casa e fiz o que tinha me indicado… e tudo mudou.
—Deixou de ter os ataques?
—Sim.
—Então por que retornaram agora?
—Não sei. —E tampouco sabia por que tinham começado.
—Vin? —quando olhou para trás, ela aplaudiu a cama a seu lado— Venha se sentar. Por favor.
Depois de examinar seu rosto e não ver nada exceto a calidez e empatia, aproximou-se e depositou o traseiro a seu lado, no colchão. Quando apoiou os punhos sobre o edredom e se inclinou com os ombros encurvados, lhe pôs a mão brandamente sobre as costas e começou a acariciá-lo desenhando lentamente um círculo.
De seu contato extraiu uma incrível reserva de força.
—Depois que cessaram os ataques, tudo foi diferente. E muito pouco tempo depois disso meus pais morreram acidentalmente de uma forma desconexa e singular… o qual não me surpreendeu realmente, porque eram tão violentos um com o outro, que só era questão de tempo. Logo que se foram, deixei os estudos e fui trabalhar para o chefe de meu pai como assistente de bombeiro. Para esse então já tinha completado os dezoito, assim podia trabalhar legalmente e me fiz a promessa de aprender tudo. E assim foi como terminei me convertendo em empreiteiro. Nunca tirei férias, nunca olhei para trás e desde esse dia então a vida foi… —Que curioso, uns dias atrás haveria dito grandiosa—. Desde esse dia então minha vida aparentou ser, para o observador externo, realmente boa.
Mas estava começando a pensar que tudo o que havia feito era pôr uma capa de pintura brilhante e bonita sobre um celeiro que estava vindo abaixo. Alguma vez tinha sido feliz, não tinha obtido alegrias do dinheiro que ganhava… tinha decepcionado pessoas honestas e violado incontáveis acres de terra, e para que? Tudo o que havia feito tinha sido alimentar a tênia solitária que se alojava em suas tripas e o impulsionava. Nada disso o tinha nutrido.
Marie-Terese tomou sua mão.
—Então… quem é essa mulher? O que é?
—Ela é… não sei como responder a nenhuma dessas perguntas. Talvez esses dois tipos que vieram com o Jim possam fazê-lo. —Jogou uma olhada para a porta e logo a Marie-Terese— Não quero que pense que sou uma excentricidade. Mas não a culparei se o fizer.
Enquanto deixava cair a cabeça, pela primeira vez em muito, muito tempo desejou desesperadamente ser outra pessoa.
Quando se tratava de explicar algo, as palavras eram melhor que o silêncio, mas isso não tirava que em algumas situações pudessem resultar insuficientes.
Esta era uma dessas ocasiões, pensou Marie-Terese.
Em sua vida, coisas como as quais tinha mencionado Vin ocorriam nos filmes ou nos livros… eram sussurradas quando tinha treze anos e tinha ido a uma festa de pijama com suas amigas… ou eram mentiras anunciadas na parte traseira das revistas baratas. Não eram parte do mundo real, e sua mente estava lutando para adaptar-se.
O problema era que, tinha visto o que tinha visto: uma mulher com poços negros em lugar de olhos e um aura que parecia viciar o mesmo ar que a rodeava; Vin derrubar-se e começar a pronunciar palavras que não parecia ouvir; e agora… um homem orgulhoso, com a cabeça encurvada de vergonha por algo que não era nem sua culpa nem seu desejo.
Marie-Terese continuou lhe acariciando os ombros, desejando poder fazer algo mais para tranquilizá-lo.
—Eu não… —deixou a oração sem terminar.
Seus reservados olhos cinza se fixaram nos dela.
—Não tem nem idéia do que fazer comigo, verdade?
Bom, sim… mas não estava disposta a expressar esse pensamento com palavras por medo de que pudesse interpretá-lo mau.
—Está bem. —disse ele, estendendo a mão e apertando a dela antes de levantar-se da cama—Acredite em mim, não a culpo no mais mínimo.
—O que posso fazer para ajudar? —perguntou enquanto ele passeava pelo quarto.
Olhou-a da janela.
—Saia da cidade. E talvez não devêssemos nos ver mais. Bem poderia ser mais seguro para você e neste momento isso é a única coisa que me importa. Não vou deixar que ela a pegue. Sem importar o que tenha que fazer. Ela não vai aproximar-se de você.
Ao olhar seu rosto, sentiu uma agitação no profundo de seu ser ao dar-se conta que ele era seu conto de fadas feito realidade. De pé ante ela, estava disposto a lutar por ela, em qualquer campo de batalha em que se livrasse a guerra… estava preparado para aceitar as feridas e para fazer sacrifícios por ela… era o caçador de dragões que tinha estado procurando quando era mais jovem e que tinha perdido a esperança de encontrar ao ir crescendo.
E igualmente importante, quando lhe teria resultado muito mais fácil acreditar nas mentiras que a mulher havia dito, quando podia ter escutado essa mentira absoluta que Devina tramou a respeito de que ela tinha estado com Jim, ele tinha escolhido pensar bem dela, em vez de mau. Tinha tido fé nela, e tinha acreditado, apesar do passado dela e do seu próprio.
As lágrimas ardiam em seus olhos.
—Olhe, devo descer a falar com eles —disse ele bruscamente— Talvez queira ir.
Ela negou com a cabeça e ficou de pé, pensando que dois podiam jogar o jogo do cavalheiro-da-brilhante-armadura.
—Ficarei, se não se importar. E não acredito que seja uma excentricidade. Acredito que é… —tentou escolher as palavras adequadas— Está bem exatamente como é. Mais que bem… é um homem maravilhoso e um grande amante e simplesmente… eu gosto. —Sacudiu a cabeça— Não mudaria nada em você e tampouco tenho medo de você. A única coisa que teria gostado de mudar… é o fato de não tê-lo conhecido anos e anos antes. Mas isso é tudo.
Houve um comprido silêncio.
—Obrigado. —disse ele com voz rouca.
Ela se aproximou dele, e enquanto o abraçava, murmurou:
—Não tem que me agradecer. É o que sinto.
—Não, é um presente. —disse entre seu cabelo— Sempre deveríamos agradecer à pessoa que nos dá algo insubstituível, e para mim… a aceitação é o maior valor que possa me oferecer alguma vez.
Enquanto ela se afogava contra seu peito, ele pronunciou duas pequenas palavras:
—Amo você.
Os olhos de Marie-Terese saíram das órbitas, mas ele se afastou e levantou a mão evitando que começasse a gaguejar.
—Isso é o que sinto. Essa é a situação em que eu estou. E não espero nenhum tipo de resposta. Só queria que soubesse. —Assinalou a porta com um gesto da cabeça—. Vamos descer para encarar a música.
Quando ela vacilou, deu-lhe um suave puxão.
—Vamos.
Depois de beijá-la, ela permitiu que a guiasse fora do quarto. E tomando em consideração a forma em que lhe dava voltas a cabeça, impressionou-a que seu sentido do equilíbrio fosse o suficientemente bom para poder descer as escadas e entrar na sala de estar sem cair de bruços.
Inclusive quando se uniram aos outros, sentia-se como se devesse lhe dar alguma resposta, qualquer coisa, mas honestamente ele não parecia estar esperando que lhe dissesse que era um sentimento recíproco, nem sequer parecia esperar para saber essa informação.
E isso de certa forma estranha fazia que se sentisse respeitada… provavelmente devido que significava que era um presente que lhe brindava de forma incondicional.
Obviamente os homens tinham encontrado a cerveja, já que todos tinham garrafas nas mãos, e Jim apresentou aos dois homens que o acompanhavam. Por alguma razão, confiava em todos eles… o qual era bastante incomum dada a forma em que se sentia habitualmente quando estava em companhia de membros do sexo oposto grandes e musculosos.
Antes que qualquer um deles pudesse falar, disse em voz alta e clara:
—Que infernos é ela? E o quanto preocupada eu deveria estar?
Todos os homens a olharam fixamente como se lhe tivessem crescido duas cabeças.
Eddie, se é que tinha ouvido bem o nome, foi o primeiro a recuperar-se. Inclinou-se para frente e pôs os cotovelos sobre seus joelhos cobertos por jeans. Depois de um momento de reflexão, simplesmente deu de ombros, como se houvesse tentando encontrar a forma de adoçar as coisas e tivesse decidido dar-se por vencido e esquecer a mentira.
—Um demônio. E muito preocupada é pouco.
Vin estava totalmente impressionado por sua mulher. Tendo acabado de passar por um abominável e assustador Bem-vindo-ao-mundo-não-real, e depois ter atingida com uma eu-te-amo-bomba, ela estava segurando suas bases, encarando Eddie fixamente com olhos inteligentes enquanto ela absorvia sua resposta.
— Um demônio. — Ela repetiu.
Enquanto Eddie e Adrian assentiam em harmonia, Jim simplesmente tomou um assento no sofá, colocou sua garrafa de cerveja gelada em seu rosto inchado e se reclinou nas costas do remendado sofá. O suspiro ondulado, que saiu da sua boca, parecia sugerir que o novo machucado que ele estava ostentando, parecia mal, doía mais.
Apenas Deus sabia como ele tinha — Oh, espere, as articulações dos dedos de Adrian estavam machucados.
— O que isso significa? — Ela disse.
A voz de Eddie estava nivelada e razoável.
— Sua concepção comum de um, é longamente mais preciso no caso dela. Ela é uma má entidade que toma a vida, e depois a alma das pessoas. Ela trabalha para a destruição e está atrás de Vin. Qualquer coisa, ou qualquer um que fique em seu caminho está imediatamente em perigo.
— Mas porque Vin? — Ela olhou através do caminho. — Porque você?
Vin abriu sua boca e nada saiu.
— Eu... Eu realmente não tenho idéia.
Eddie andou ao redor, indo da estante de livros ao espelho arruinado.
— Você disse que foi a um psíquico que deu a você um ritual para exercitar. O que você fez para chamá-la para você?
— Mas esse é o ponto. — Vin disse. — Eu não a chamei de jeito nenhum. Eu estava tentando me livrar das visões. Isso foi tudo.
— Você fez alguma coisa.
— Não fui voluntário a essa merda, eu asseguro você.
Eddie assentiu e olhou sobre seu ombro.
— Eu acredito em você. O problema é, eu tenho certeza que armaram para você. Eu não sei o que disseram a você, exatamente, mas eu aposto que não é sobre se livrar dos transes. O negócio é, para Devina poder trabalhar, você tem que dar a ela um jeito de entrar. — Eddie focou em Marie-Terese. — Então nesse caso, eu estou achando que o que ele disse a você, o abriu e Devina tomou vantagem nisso.
— Então ela não está presa às visões dele?
— Não. Ela pode eclipsá-las enquanto ela se segure forte a ele. — Mas ele provavelmente as estará tendo de novo, porque o laço está enfraquecendo um pouco. Quanto a, porque ele? Pense sobre... O metafísico equivalente a um acidente de carro. Vin estava no lugar errado na hora errada, graças a algum péssimo conselho. — Eddie encontrou os olhos de Vin. — Essa psíquica, — Como você a achou? Ela tem algum tipo de vingança contra você?
Então as visões iriam voltar. Ótimo.
— Ah, eu nem conhecia ela. — Vin deu de ombros. — Ela era só uma mulher do centro da cidade, que eu fui por acaso.
Eddie pareceu estremecer, — Como se Vin tivesse acabado de dizer que o cara tinha de ter o colón operado por um encanador.
— Sim, certo... E o que ela disse a você?
Vin perambulou ao redor, mãos nos quadris. A noite que ele tinha subido as escadas e se trancado no seu velho quarto, voltou a ele, — E o que ele lembrou de ter feito, não era exatamente algo que ele se sentia confortável dividindo em tão diferente companhia.
Eddie pareceu ter entendido aquilo.
— Tudo certo, nós voltaremos a isso. Onde você fez?
— No meu quarto. Na casa da minha família. — Espera, espera, segura essa merda um pouco aqui... Eu sou responsável por tudo isso? — Vin esfregou seu peito, o esmagante peso sobre seu coração estava fazendo difícil de respirar. Se eu não tivesse ido a ela, eu não teria... Vivido essa vida minha ao final?
O silêncio era a resposta, não era?
— Oh,... Foda-me — E então ele começou a entender. Devina tinha dito que ela tinha dado tudo a ele... Isso significava que ela tinha tirado coisas dele também? — Oh, meu Deus... Até as mortes? Você está dizendo... Eu sou a causa das mortes, também?
— Que mortes?
— Dos meus pais. Eles morreram uma semana mais ou menos depois.
Eddie olhou a Adrian.
— Isso depende.
— Se eu alguma vez os desejei eles mortos?
— Você desejou?
Vin olhou Marie-Terese, e esperou que enquanto ele respondia, ela visse o arrependimento nos olhos dele. Merda, seus pais tinham sido horríveis um com o outro, e piores com ela, mas isso não significava que ele queria ser a causa de suas mortes.
— Tinha duas coisas que eu queria quando era mais novo. — Ele disse duramente. — Eu queria ser rico, e eu queria estar livre do reino de terror deles.
— Como eles morreram? — Eddie perguntou calmamente, como se ele soubesse, que esse fosse um assunto difícil.
— Depois que eu... O que eu fiz no meu quarto, eu apenas continuei com a vida normalmente, você sabe? Escola, — Bem, Escola de certo modo, porque eu faltava muito. Eu nunca achei que serviria, e então eu realmente não pensei sobre isso. Não foi até eu perceber que eu não tinha desmoronado em uma semana que eu comecei a me perguntar se tinha arrumado o que estava errado comigo.
Vin se moveu para olhar a vista, mas ao invés, ele acabou olhando uma mancha no carpete. Tinha sido feito por uma garrafa quebrada de Bourbon, e a escura marca redonda era do tipo que nenhum limpador de tapete poderia tirar.
— Eu lembro de vir para casa do turno do trabalho do meu pai, o que eu estava acostumado a fazer quando ele estava muito fodidamente bêbado para ficar em pé. Era em volta de meia noite. Eu pus minha mão na maçaneta da porta, e olhei para a lua cheia e eu estava preocupado enquanto contava os dias que tinham passado. Eu estava como, Humm, eu não deveria estar bem agora? E depois eu entrei na casa e encontrei os dois cobertos de sangue no fim da escada. Os dois estavam mortos, — E tinha sido provavelmente porque um deles puxou o outro, e eles rolaram juntos.
— Você não é o problema aqui, — Eddie interrompeu.
Vin apoiou sua mão na janela e abaixou sua cabeça.
— Foda-me.
Por nenhuma boa razão, e provavelmente porque era a única coisa capaz de fazê-lo se sentir pior do que ele se sentia no momento, ele pensou num sanduíche de pasta de amendoim com geléia. Um específico. O único feito pelo seu pai.
Os dois tinham voltado tarde de um trabalho, e não tinha jantar na mesa. O que fazia sentido, porque a única pessoa que poderia ter feito estava desmaiada no sofá com um cigarro que já tinha queimado até as cinzas na sua mão.
Seu pai tinha seguido para a cerveja na geladeira, mas tinha quebrado a tradição pegando pão, geléia e pasta de amendoim no caminho. Ele acendeu um cigarro, separou quatro fatias, passou a geléia de morango, e depois a pasta. Depois de dar uma prensada, ele ofereceu um sanduíche a Vin, e saiu da cozinha.
Tinha tido impressões pretas de dedo no pão branco por que seu pai não tinha lavado as mãos.
Vin tinha jogado o sanduíche na lixeira, usou a pia e sabão, e fez um limpo para ele.
Por alguma razão, ele se arrependia de não ter comido a maldita coisa.
— O que você fez? — Eddie perguntou. — Qual foi o ritual?
— A psíquica me disse... — Vin ricocheteou de volta no tempo.
Depois de ter desmoronado na frente da escola em uma fodida melhora de energias, ele tinha. — E tinha ido ao jornal procurando por psíquicos, porque ele se perguntava se eles viam o futuro como ele tinha feito, e depois se eles sabiam como infernos parar de ver coisas antes delas acontecerem.
Sábado de manhã ele pegou sua bicicleta e pedalou todo o caminho a frente do rio, a um grupo de fachadas com néons baratos que diziam coisas como,
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Ele tinha entrado na primeira porta que tinha uma mão com um círculo, mas tinha tido uma linha. Então ele tinha ido a próxima porta, e a achou trancada. A terceira era um encanto.
Dentro, o escuro lugar tinha cheirado como alguma coisa que ele não pode reconhecer. Sombrio. Picante. Mais tarde, ele aprendeu que era sexo de gente grande, sem regras.
A mulher tinha vindo detrás de uma cortina cheia de contas, e ela estava vestida em preto, com cabelo preto, e delineador preto, — Mas ao invés de uma túnica e peruca e olhos enrugados, ela estava com um macacão, e parecia com algo saído da Playboy.
Ele a quis. E ela sabia.
Enquanto o eco de conhecê-la ondeava sobre ele, ele se sacudiu e voltou para o presente.
— Eu disse a ela o que eu queria, e ela pareceu entender imediatamente. Ela me deu uma vela preta, e disse para eu ir para casa e derreter no fogão. Quando estivesse liquida, eu teria que puxar o pavio, e o por de lado, então. — Ele olhou a Marie-Terese, e desejou como o inferno ter outra história para contar. — Então eu deveria cortar um pedaço do meu cabelo, e colocar com um pouco de sangue... E ah... Algo mais... — Vin não era o tipo de cara que media as palavras ou gaguejava. Mas admitir para um bando de louco e a mulher que ele queria em sua vida, que se masturbar era parte do trato, não era algo que ele estava com pressa em contar.
— Sim, certo. — Eddie disse, salvando seu traseiro. — Então o que?
— Então eu devia esfriar a cera, reformar com o pavio, e ir para cima. Ficar pelado. Desenhar um círculo com sal. Ah... — Ele franziu o cenho. Estranho, a primeira parte estava tão clara, precisamente o que ele fez depois não estava.
— É confuso a partir disso... Eu acho que me cortei de novo, e pinguei meu sangue no centro do circulo. Eu deitei, acendi a vela. Disse algumas palavras. — Eu não consigo lembra quais eram exatamente. Algo como... Eu não sei, chamar coisas para elevar a carga, ou alguma merda.
— O que era na verdade besteira. — Eddie disse em tom duro. — Mas então, o que aconteceu?
— Eu não... Eu não consigo lembrar exatamente. Eu acho que dormi ou algo parecido, porque eu acordei uma hora depois.
Eddie balançou sua cabeça, desgostoso.
— Sim, isso é um ritual de possessão. A vela que ela deu a você tinha partes dela, você adicionou sua metade, e assim é como a porta foi aberta.
— Você está dizendo... Essa era Devina?
— Ela vem em muitas formas. Homem, mulher. Ela pode ser um adulto, uma criança.
Adrian entrou na conversa.
— Nós não achamos que ela vire animais ou objetos inanimados. Mas a vadia tem truques. Muito tempo. Existe alguma chance de nós termos acesso a essa casa. Ou nós vamos ter que invadir?
— Na verdade, ela me pertence.
Os dois homens respiraram profundamente.
— Bom. — Eddie disse. — Nós vamos precisar ir até lá tentar tirar ela de você. Nós teremos uma chance melhor de sucesso, se voltarmos ao lugar em que o ritual foi feito.
— Nós também vamos precisar pegar o seu anel de volta. — Adrian adicionou.
— O diamante? — Vin perguntou? — Por quê?
— Isso é parte do ato. Jim disse que acha que era feito em platina?
— Claro que era.
— Bom ai vai. Metal nobre, e um presente seu para ela.
— Mas eu não dei para ela. Ela achou.
— Você comprou para ela. Os seus sentimentos e pensamentos, são entalhados no metal. A intenção é transformativa.
Vin abaixou suas mãos, e parou. Suas duas mãos deixaram impressões no liso, frio vidro, e ele assistiu elas sumirem.
— Você disse que ela rouba almas. Isso significa que ela vai querer me matar?
A voz de Eddie era baixa.
— Mas nós podemos tentar parar isso.
Vin se virou, e olhou Marie-Terese. Ela estava amortecida enquanto se inclinava contra o arco da sala, e ele foi para ela, pegando-a nos braços. Enquanto eles se abraçavam, ele estava surpreso e grato mais uma vez por ela o aceitar... Mesmo depois de outra casca de cebola ter sido arrancada.
— O que nós podemos fazer para manter Marie-Terese a salvo? — Ele perguntou.
— Tem alguma coisa que ela pode fazer para se proteger? Porque Devina saiu daqui depois de nos ver juntos.
Enquanto os rapazes consideravam suas respostas, seus olhos se encontraram e se concentraram em Eddie.
— Eu estou saindo da cidade hoje a noite, —Por razões diferentes dessa. Isso ira ajudar? E tem algum tipo de... Ahh, Feitiços, Ou...?
A hesitação falou volumes sobre a desconfiança dela e sua resignação, que toda aquela merda estranha tinha acabado de por —real— na realidade dela.
Eddie encontrou seus olhos encarando-o com a cabeça alta.
Devina pode estar em qualquer lugar e ser qualquer um, então a resposta para manter você salva, é libertando Vin, — Nós a tiramos de Vin, e por definição, você está fora do radar dela, porque você não é o que ela quer ou clamou. Ela tem olhos apenas para Vin. — E qualquer coisa que o afaste dela.
Adrian amaldiçoou.
A vadia só se preocupa com as pessoas que ela põe seu nome. É uma das poucas virtudes dela.
— Talvez a única. — Eddie terminou.
— Então vamos fazer. — Vin cortou. — Agora. Vamos para a casa, e tomar conta disso, porque Devina saiu com pressa que só Deus sabe por quê. Eu não quero ela voltando aqui e. —
— Ela vai estar presa por um tempo. Confie em mim.
Através do caminho, Adrian sorriu como um filho da puta. gaveta
— Ela odeia bagunça, e eu sou fodidamente bom em fazê-las nas suas gavetas.
Vin franziu o cenho.
— Olha a boca.
— Não, não esse tipo de... Você sabe... — Adrian levantou as duas mãos. — Eu quero dizer gavetas de penteadeira.
— Vin devolveu seu brinco? —Jim disse abruptamente a Marie-Terese. — A argola que você perdeu fora do Iron Mask.
— Como você soube que eu... — Marie-Terese franziu o cenho. — Bem, sim, ele devolveu.
— Então onde está?
As mãos dela foram para sua orelha.
— Oh... Não. Eu perdi aquela coisa de novo.
E ela usava quando ela entrou no Duplex, Vin lembrou.
— A cama, — Ele disse numa onda de temor. — Lá em cima. Na cama. — Devina pegou algo da cama. Maldição.
Enquanto Vin corria para cima com Marie-Terese atrás dele, Jim deveria ir junto para ajudar, mas ele sentiu como se alguém tivesse passado uma Super-Cola, em seu traseiro no sofá.
Adrian abaixou sua cerveja, e cabeceou para eles.
— Se a Devina pegou um brinco de ouro dessa mulher, nós estamos longe da mudança.
Jim encostou sua cerveja em seu rosto, e deixou sua cabeça ficar frouxa no travesseiro atrás dele de novo. Fechar seus olhos era perigoso porque ele estava tonto, então ele manteve suas pálpebras o mais baixo possível, enquanto ainda era possível ver uma fenda perfeita, agora da bagunçada sala.
Homem, quebrar as coisas são muito mais fáceis do que limpá-las, não era?
— Ela era uma virgem, não era? — Ele disse brandamente. — A garota sobre o tubo?
— Sim.
— Parte do ritual.
Teve uma pausa.
— Sim.
Deus, e ele tinha pensado que o que ele tinha visto no serviço militar fosse feio. O que ele tinha descoberto essa tarde, de qualquer forma tinha sido absolutamente trágico: Uma garota nova como aquela deveria estar no shopping, ou algo parecido, mas não teria mais blocos de nota da escola, ou aulas de biologia, ou meninos para dançar com ela.
— O que vai acontecer com o corpo dela? Ele perguntou.
— Eu suponho que Devina irá se desfazer dele. Ela vai precisar fazer logo.
— Então toda vez que aquela vadia tem que deixar seu lugar, ela mata?
— Os selos duram por um período de tempo, ou até alguém que não ela, os quebra. Essa é a outra razão que eu não quis que você atravessasse aquela porta.
Ótimo. Agora ele tinha mais uma morte na consciência. — Porque certo como a merda, que ela iria proteger aquele espaço de novo.
Jim levou a garrafa a sua boca, e tomou um longo gole. Depois de engolir, ele disse:
— Qual era a grande coisa sobre aquele banheiro, de qualquer forma? Não tinha nada nele.
— Nada que você tenha visto.
Eddie começou a medir seus passos. A maioria das fotos e dos livros tinham sido colocados em ordem por semelhança, provando que Vin ou sua empregada tinha feito alguma limpeza. Mas nada parecia certo, e Jim estava parecendo uma mulher que tinha acabado de ter o seu cabelo feito no salão, bagunçado por um vento cortante: Não importava o que ela fazia para arrumar, não iria voltar ao que tinha sido antes.
Eddie alisou a espinha de uma coleção de livros, suas grandes mãos precisas e gentis nos seus movimentos.
—O banheiro é onde ela mantém seu espelho, o que é seu caminho de entrada e saída desse mundo. É também como ela se veste, e muda sua aparência. É a fonte de tudo que ela é, onde seu poder é concentrado.
— Porque nós não apenas quebramos o idiota então?
Jim demandou, se sentando reto.
— Foda-se isso, vocês são tão duros, porque vocês não fizeram isso anos atrás?
— Você o quebra e ele toma conta de você. — A voz de Eddie ficou apertada. — Ele pode capturar você se você o olhar, mesmo que você entrasse vendado e com uma marreta, no instante em que quebrar, os cacos iriam se tornar em milhares de portais, e sugariam você em pedaços, você podendo ou não ver a coisa.
Abruptamente Eddie se moveu para uma seção diferente da estante de livros, e voltou alinhando mais coisas.
— Ela vai ficar lívida porque quebramos o selo, e irritaram Adrian para atirar através daquela merda. Mais que isso, ela vai precisar mudar de endereço. Ela não vai querer deixar aquele espelho em um lugar comprometido.
— Mas porque ela estaria preocupada sobre onde está? Se nós não podemos quebrar a maldita coisa. Porque faz diferença?
— Bem, nós podemos quebrá-lo, — É apenas que quem fizer se sacrifica. Permanentemente. O pós vida, que ele recebe, não é o mesmo que você viu quando você foi conhecer os chefes. Nós retiramos o antecessor de Devina desse jeito, — Uma considerável perda para a equipe.
Missão suicida. Fantástico.
— Então que poder nós temos?
— Nós podemos prendê-la lá. É difícil de fazer, mas é possível.
Múltiplos passos vieram das escadas, e Adrian parou com as notícias.
— Nós não conseguimos achar o brinco, então nós temos que achar, que Devina o pegou.
Eddie balançou sua cabeça, como se outro tijolo tivesse sido colocada na carga que ele estava carregando nas costas.
— Maldição.
Enquanto Vin colocava um braço protetor em volta de Marie-Terese, Adrian foi pegar sua jaqueta.
— O negócio é esse... Marie-Terese, você precisa estar no ritual agora, e você não pode ir para casa rapidamente. Na a menos que você queira correr o risco dela seguir você, e comprometer o seu filho.
A mulher endureceu.
— Como... Como você sabe que eu tenho um filho? — Oh, espere, você esteve me verificando.
Adrian deu de ombros, e mentiu.
— Sim, assim mesmo. Você tem alguém para tomar conta do seu garotinho?
— Sim, eu tenho. E se ela não puder ficar, meu serviço vai encontrar alguém para aliviá-la.
— Bom, porque nós não poderíamos purificar sua casa, ou armar um perímetro sem dar a Devina uma dica de onde você mora, e eu não quero lutar com ela na frente do seu filho.
— Eu só preciso fazer uma ligação.
— Espere um segundo. — Vin cortou. — Porque nós não apenas cuidamos da parte que afeta Marie-Terese aqui e agora?
— Nós não temos o que precisamos para fazer isso, e como Eddie disse, tem uma melhor chance de sucesso se voltarmos ao lugar onde você abriu a porta para Devina. Primeiro tiraremos ela de você, — Depois se eu conseguir encontrar aquele brinco, nós faremos alguma coisa por Marie-Terese. A boa noticia é que o laço não é tão forte, e ela estará segura com a gente. Eu tenho certeza que você concorda — Nós não corremos riscos.
Evidentemente, Vin estava em duvida com aquela, porque ele assentiu gravemente.
— Absolutamente não.
— Ligue para a sua babá agora, certo? — Enquanto a mulher pegava seu telefone, Adrian acenou a Jim.
— Você e Eddie vão fiscalizar o ritual na velha casa, mas eu ajudarei com as preparações antes de sair.
Jim franziu o cenho, se perguntando sobre o maxilar apertado do cara.
— Onde você vai estar?
— Eu vou pegar o fodido diamante e o brinco de volta.
— Eu não gosto de você fazendo isso sozinho.
Enquanto ele olhava para seu amigo, os olhos de Adrian se tornaram velhos. Positivamente velhos.
— Nós temos que usar todas as armas que temos. E vamos encarar, o que eu posso fazer com ela é uma das melhores que nós temos.
Sim, e quer apostar que não era um caso de dar a ela um tratamento de manicure e pedicure, Jim pensou.
Enquanto os detalhes eram arranjados para a batalha noturna, Jim sabia que tinha de pôr sua cabeça de volta no jogo. Essa adormecida e flutuante rotina tinha de parar, e não apenas porque eles iam encontrar com o inimigo. O caso era, até agora, ele tinha assumido aquela vida perpetua de —Anjos Caídos—, mas isso claramente não era o caso, — E se ele perdesse Eddie e Adrian antes de aprender mais do básico, ele estaria fodido.
Dez minutos depois, ele e os rapazes se encaminharam para o elevador do prédio, e saíram do Comodoro. O carro tinha sido deixado a menos de uma quadra, e a pequena caminhada pelo ar frio ajudou.
— Primeira parada, supermercado de Hannaford. — Adrian disse enquanto ficava atrás do volante de novo.
Jim e Eddie entraram na cabine, e Jim fechou a porta.
— Eu vou querer deixar Cachorro sair, se nós vamos ficar fora a noite toda.
— E eu deixei minha moto em sua casa, de qualquer jeito.
Adrian olhou o espelho lateral, e saiu do lugar onde estava estacionado.
Enquanto eles iam, Jim pensou sobre os dois caras com quem ele estava andando, e se perguntou sobre os truques que lês tinham escondidos nas mangas. Aparte de evidentemente escolher quando e por quem eles eram vistos. E ser capaz de atravessar fechaduras e correntes de porta, — O que ele viu não apenas no deposito da Devina, mas também no Duplex de Vin. — Algo começou a fazê-lo entender.
Jim olhou do grande peito de Eddie a Adrian.
— Aquela noite, que nós três saímos juntos... Quinta à noite. Porque você apontou Devina para mim, como se você quisesse que eu dormisse com ela?
Adrian parou num sinal vermelho e deu uma olhada... Apenas para voltar a olhar para o para brisa em silêncio.
— Porque Adrian? — Menos pergunta, mais rosnado dessa vez.
A mão dele fez um lento círculo no volante.
— Eu disse a você. Eu não queria trabalhar com você.
Jim franziu o cenho.
— Você não me conhecia.
E eu não queria trabalhar com você e eu não gostava de você e eu sou um idiota. — Ele levantou um dedo, o sinal relativo a segurar a onda.
— Mas eu me desculpei. Lembra? — Jim se inclinou contra o assento.
— Você armou pra mim. Praticamente me deu a ela.
— Eu não a segui no estacionamento. Eu não dormi com ela—
— Eu não a teria visto se não fosse por você.
— Que infernos você está falando? Não tem jeito no inferno como que você teria perdido...
— Calem a boca. Os dois.
Eddie descruzou os braços como se estivesse preparado para terminar as coisas a força se precisasse.
— Águas passadas. Esqueça Jim.
Jim apertou os dentes. Homem, isso era como estar com Matthias no meio de tubarões. Até mesmo as pessoas que trabalham com você, quem supostamente estavam do mesmo lado que você, eram capazes de servir você de bandeja para o inimigo.
— Me diga algo, Eddie. — Jim perguntou.
— O que?
Aquela escala de ligação que você estava falando. O sexo é um dos meios de Devina se prender a alguém?
Quando teve apenas silêncio, ele disse.
— É. É sim.
— Sim. — Ele respondeu finalmente.
— Foda-se Adrian. — Jim disse alto e duro.
— Foda-se de verdade.
Adrian arrancou com o volante para a direita, apertou o freio, e entrou com o carro no parque. Enquanto as buzinas dos carros e pessoas gritavam e amaldiçoavam, o filho da mãe desceu do carro, com a expressão de uma cara que tinha uma barra de ferro na mão.
Ele abriu a porá de Jim.
— Saia e vamos resolver isso.
Jim disparou fora, acionado pela morte da garota inocente, o medo no rosto de Marie-Terese, a agressividade que Adrian estava pondo para fora... E o fato de que ele tinha um demônio no meio de seus quadris, e que ele o dirigiu antes dos dois chegarem.
Estava tão pronto.
— Podem vocês dois, cabeças de vento não fazer isso em público.
Eddie gritou.
Sem chance disso. Os punhos de Jim estavam prontos para voar antes das botas dele baterem no chão, e Adrian estava posando para o murro.
— Eu disse que sinto muito. — Adrian disse.
— Você acha que eu gosto desse meu trabalho? Você acha que eu estava pronto para voltar como um fodido principiante?
Jim não se importou em falar. Ele apenas deu um passo e atrás e esmurrou o bastardo direto no maxilar, seus punhos fazendo contato num piscar de olhos. O impacto foi tão forte, que o crânio do anjo caído voou para trás, e mandou seu belo cabelo estilo Farrah Fawcett, com os cachos voando no vento.
— Esse é o pagamento por me derrubar no banheiro de Devina, filho da puta.
Jim disse.
— Agora eu vou trabalhar pela outra merda.
Adrian cuspiu sangue.
— Eu te derrubei para salvar seu traseiro, filho.
— Cai. Fora. Vovô.
A ultima palavra ninguém entendeu por um momento.
Adrian se defendeu, pegando Jim pelo meio, e o ergueu sobre um lado do carro. Assim o impacto bateu nele da orelha ao calcanhar, Jim deu de ombros pela dor, apesar da marca que ele tinha certeza que ele tinha deixado no painel do carro. Sem se mover um centímetro, segurou no cabelo de Adrian e deu uma testada no nariz do cara, e enquanto a coisa sangrava, sobre eles, a resposta de Ad, foi rápida — Ele retornou o insulto dando uma dura joelhada na virilha de Jim, ele agarrou suas bolas e engasgou.
Meeeeeeeeeeeerda. Nada fazia um homem ver estrelas daquele jeito como ter suas partes baixas colidindo com sólidos ossos, e enquanto sua visão ondulava, sua barriga pensou seriamente de mandar a cerveja que ele tinha acabado de tomar na casa de Vin sobre a camiseta de Ad. Força de vontade, e apenas a força de vontade o fez superar e empurrar para o futuro a dor em seu pênis, pegando as panturrilhas de Ad, e desequilibrando-o sobre a grama.
Rolando, e rolando ao redor. Punhos voando. Grunhidos trocados. Lama para rodos os lados. A única coisa que os diferenciava de um par de animais, era o fato de eles estarem vestidos.
E a única coisa que os parou, foi Eddie pegando Jim pela nuca, e pela cintura do jeans, e o puxando para longe. Depois de Jim ter sido puxado da luta, e jogado de lado como um galho que tinha caído de uma arvore, ele deitou com o virado para baixo na terra marrom, seu corpo inteiro batendo como se tivesse saído de um comercial de comprimidos para dor de cabeça.
Ou em seu caso, Em todo o fodido corpo.
Respirando o ar frio cheirava a sangue sujo e fresco, ele estava machucado por toda parte e se sentia muito melhor ao mesmo tempo. Se apoiando nas suas costas, ele deixou suas mãos caírem para os lados, enquanto ele olhava para o céu turvo. Nas nuvens acima, ele pensou ver o rosto da garota que ele deixou para trás naquele banheiro. Ela pareceu estar encarando ele, o vigiando.
Levantando um braço, ele tentou tocar o rosto dela, mas os ventos da primavera mudaram as nuvens, fazendo desaparecer, seus amáveis, trágicos traços.
Ele iria descobrir quem ela era.
E ele iria fazer o certo por ela.
Do mesmo modo como ele tinha feito o certo por sua mãe.
Aqueles idiotas naquele Camaro tinham sido os três primeiros homens que ele tinha matado.
— Acabaram crianças? — Eddie estalou. — Ou eu preciso espancar seus traseiros que vocês não vão poder sentar de novo até o próximo inverno?
Jim inclinou sua cabeça e deu uma olhada sobre Adrian. O bastardo na parecia melhor do que Jim se sentia.
— Trégua? — O cara disse pelos lábios sangrentos.
Jim inalou tão profundamente quanto podia, — Até que a dor impediu suas costelas de se expandirem. Bem, inferno. Ele podia ser capaz de não confiar em nenhum dos dois, mas ele precisava de ajuda, — E ele tinha uma trágica especialidade de trabalhar com pessoas que eram idiotas.
— Sim. — Ele disse roucamente.
— Trégua.
— Ok, eu te amo. E chegarei em casa mais tarde essa noite. Parece bom para Quinesha... O que?
Enquanto Vin os levava para a parte residencial da cidade, Marie-Terese escutava a voz de seu filho entrecortada. Sua voz parecia tão próxima e ao mesmo tempo tão distante.
— Sim. Sim, você pode. Eu te amo. Tchau.
Ela apertou a tecla “fim” em seu telefone e olhou fixamente pela janela, esperando que Vin perguntasse como fora a conversa. Era algo que seu ex sempre fazia. Sempre que atendia o telefone, independente se era alguém do telemarketing, a empregada ou alguém procurando ele, Mark tinha que saber tudo.
Exceto que Vin não perguntou e não parecia estar esperando que ela contasse. E o espaço era... agradável. Gostou de como a deu o poder de escolha, falou coisas significativas sobre respeito e confiança, todas aquelas coisas que ela não conseguiu entender de primeira.
“Obrigada” ela quis dizer. Em lugar disso, murmurou:
— Ele quis sorvete. Acho que sou uma mãe horrível, humm. Provavelmente irá estragar seu jantar. Ele come cedo. Às cinco.
Vin cobriu a mão dela com a sua.
— Você não é uma mãe horrível. Eu posso assegurar a você.
Enquanto passavam por um ponto de ônibus, ela olhava para fora pela janela. As pessoas em pé sob a cobertura de “Plexiglas” [19] olhavam fixamente para o M6 conduzido por Vin, e quando um outro grupo de pedestres olhou de relance para o carro um pouco depois, ela teve a sensação de que em todos os lugares onde Vin passava, ele despertava olhares invejosos e incrédulos... e de cobiça.
— Mark também gostava de bons carros. — disse sem nenhuma razão em especial. — Seus preferidos eram os Bentleys.
Deus, podia lembrar-se de quando andava naqueles carros dele. Ele pegava um zero a cada ano, tão logo os modelos novos fossem lançados, e no começo, ela se sentava no assento do passageiro ao lado dele com o queixo erguido e as mãos afagando o couro. Então, quando as pessoas encaravam, seu peito inchava com orgulho pois o homem que possuía aquele carro era dela, e ela fazia parte de um clube de luxo exclusivo que barrava todos os demais, e era uma rainha ao lado do seu rei.
Não mais. Agora via nos rostos de cobiça nada além de pessoas presas em uma fantasia. Só porque você podia dirigir ou sentar-se em uma BMW extravagante não significava que você tinha o bilhete de loteria premiado permanente dos jogos de azar.
Pensando bem, ela fora muito, muito mais feliz quando estava na calçada dura do que quando estava no assento macio.
Muito melhor e distante também, considerando onde havia terminado.
— Mas eu sou uma péssima mãe. — ela murmurou — Eu menti para ele. Tive que fazê-lo.
— Você fez o que precisava fazer a fim de sobreviver.
— Eu vou ter que continuar mentindo para ele. Não quero que ele saiba nunca.
— E não existe nenhuma razão para que ele saiba. — Vin balançou a cabeça — Penso que a função de um pai é proteger seus filhos. Talvez isso seja antiquado, mas é assim que eu me sinto. Não existe nenhuma razão pela qual ele tenha que passar pelo mesmo sofrimento pelo qual você tem passado. Com o qual você teve que lidar já é suficiente.
O pensamento que se infiltrou em seu cérebro, indo e voltando, desde que estivera com Vin ontem, ressurgira. E não conseguia pensar em uma única razão para não dizê-lo em voz alta.
— Eu fiz algo para sobreviver, mas às vezes eu penso... — ela limpou sua garganta. — Eu sou graduada na faculdade. Tenho um diploma em Marketing. Podia ter conseguido um trabalho.
Ao menos, teoricamente ela poderia. Uma das coisas que a impedira foi o fato de que não confiava cem por cento em sua identidade falsa. Se ela fosse em busca de um trabalho de verdade, não estava certa se seu número de seguro social não apareceria como de alguma outra pessoa.
Mas, o outro argumento para sua escolha havia sido algo mais sombrio.
Vin balançou sua cabeça.
— Você não pode olhar para trás e questionar tudo. Fez o melhor que podia de onde estava.
— Eu acho que queria me castigar. — revelou. Enquanto ele a examinava, ela encontrou seu olhar. — Eu me culpo pela situação em que meu filho foi colocado. Eu escolhi o homem errado para casar, isso é minha culpa. E, sinto como o meu filho sofreu. Transando com aqueles... homens. Odiei aquilo. Eu chorava toda a noite quando acabava e, às vezes, ficava fisicamente doente. Continuava com aquilo pelo dinheiro, é verdade... mas estava me ferindo deliberadamente.
Vin tomou sua mão, trazendo-a até seus lábios e beijou-a com ferocidade.
— Me escute. Seu ex era o imbecil nessa história, não você.
— Eu deviria tê-lo deixado mais cedo.
— E, você está livre agora. Está livre dele e não está fazendo mais... a outra merda. Está livre.
Ela desviou o olhar para o pára-brisa. Exceto que se isso era verdade, então porque ainda se sentia tão presa?
— Você precisa perdoar a si mesma. — disse Vin bem perto. — Esta é a única maneira de deixar isso para trás.
Deus, ela estava tão envolvida, pensou. Supondo que tudo o que aqueles homens haviam dito no duplex era verdade e o que vira nos olhos de Devina, seria uma idiota de pensar o contrário, Vin acabou de descobrir essa noite que quase matara seus próprios pais.
— Você também. — ela apertou a mão dele. — Você precisa fazer o mesmo.
O grunhido que ele soltou era um sinal para parar e algo mais, da mesma maneira que ele respeitou sua privacidade, respeitou a dele. Por mais que desejasse conseguir que ele falasse sobre aquilo que disse, não iria obrigá-lo.
Inclinando a cabeça de encontro ao encosto, o olhou fixamente enquanto ele dirigia. Ele era habilidoso e estava confortável atrás do volante, com suas sobrancelhas baixas e seus lábios mais apertados do que de costume enquanto se concentrava.
Ela estava tão feliz de encontrá-lo. E agradecida por ele ter fé nela em um momento tão importante.
— Obrigada. — disse.
Ele olhou de relance e sorriu discretamente.
— Pelo que?
— Você acreditou em mim ao invés de acreditar nela.
— Naturalmente que sim.
Sua resposta era tão firme quanto sua mão no volante, e por algum motivo isso a levou às lágrimas.
— Por que você está chorando? — ele levou a mão para dentro do bolso da jaqueta e tirou um lenço branco como se fosse novo. — Aqui. Oh, amor, não chore.
— Eu ficarei bem. E é melhor esvaziar agora do que mais tarde.
Depois de enxugar suas bochechas com as pontas dos dedos, ela pegou o super-suave, super-fino quadrado de linho e o abriu em seu colo.
Ela havia passado um pouco de rímel quando se arrumara para a Igreja, não achava certo arruinar o pano delicado usando-o nisso contudo gostou de estar com ele. Gostou de correr seus dedos para frente e para trás sobre a costura em alto relevo de seu monograma, “VSdP”.
— Por que você está chorando? — ele repetiu suavemente.
— Porque você é maravilhoso. — Tocou no “V” da inicial de seu nome de batismo. — E porque quando você diz tais coisas como que me ama, eu acredito e isso me deixa apavorada. — Ela tocou no “S” — E porque tenho me odiado há tanto tempo, mas quando me olha, não me sinto como se fosse tão suja. — Finalmente tocou o “dP” de seu sobrenome. — E, em grande parte, entretanto, é porque você me faz esperar ansiosamente o futuro, e eu nunca mais tinha feito isso.
— Você pode confiar em mim. — sua mão encontrou a dela novamente. — E quanto ao seu passado, não me importa o que você tenha feito, mas sim quem você é. Para mim isso é tudo o que importa.
Ela enxugou mais lágrimas, empurrando-as para longe, e olhou fixamente para ele por entre os bancos, e embora seu rosto bonito estivesse borrado, estava aprendendo a conhecer seus traços de cor, então não importava.
— Você realmente deveria usar meu lenço.
— Eu não quero estragá-lo.
— Eu tenho vários outros.
Ela olhou para baixo, para suas iniciais novamente.
— O que significa o “S”?
— Sean. Meu nome do meio é Sean. Minha mãe era Irlandesa.
— Verdade? — Marie-Terese arregalou os olhos. — Este é o nome verdadeiro do meu filho.
— Vocês, dois idiotas, ficam aqui.
Eddie bateu a porta do motorista com tanta força, que o caminhão inteiro balançou, enquanto o sujeito andava de forma desengonçada na direção da entrada do Hannaford, as pessoas davam um jeito de sair de seu caminho.
As bolas de Jim ainda doíam. Mau. Tipo assim... sentia-se como se tivesse rolado sobre cacos de vidro, formigamento e dor ao mesmo tempo.
No banco ao lado dele, Adrian friccionava seu ombro, sua expressão era de desgosto.
— Bastardo, nos dizendo para permanecer aqui. Quem diabos é ele para nos amedrontar? Foda-se ele.
Jim desviou o olhar para sua janela e prestou atenção enquanto uma mãe, com um bebê nos braços, andava ao lado do caminhão, deu uma olhada em seu rosto e recuou para longe.
— Eu acho que não somos mais sonhos de consumo visuais.
Adrian alcançou o espelho retrovisor e girou-o em sua direção.
— Seja como for, eu sou magnífico... wow. — Eu...
— Parece uma merda. — completou Jim. — Mas pelo menos você poderia caminhar em linha reta se precisasse. Para que teria que parecer uma preciosidade?
Adrian cutucou o nariz. — Eu acho que você o quebrou.
— E agora, provavelmente vou ficar impotente pelo resto da vida. Pelo menos seus inchaços vão desaparecer.
Adrian inclinou-se para trás e cruzou os braços sobre o peito. Em uníssono, ambos soltaram uma respiração profunda.
— Você pode confiar em mim, Jim.
— Confiança não é algo que se compre em um laboratório frio. Tem que se ganhar.
— Então é isso que eu vou fazer.
Enquanto Jim soltava um ruído inteligível, deslocava-se suavemente no banco e suas “partes baixas” não apreciaram a mudança de posição. Depois que conseguiu encontrar uma posição confortável, voltou a observar as pessoas no estacionamento. Havia um ritmo previsível deles saindo de seus carros, entrando nas lojas, e retornando com os carrinhos cheios ou um par de bolsas penduradas nas mãos. Testemunhando tudo isso, foi um golpe perceber quão grande era a distância entre ele e o resto do planeta. E não era apenas porque agora estava em um jogo paranormal que a maior parte destes finos clientes do supermercado não acreditariam ser de verdade.
Ele sempre estaria à parte. Desde que encontrara sua mãe no chão daquela cozinha, era como se suas raízes tivessem sido arrancadas do solo e carregadas por uma estrada até outro ponto do planeta. Seu trabalho não ajudou. Tampouco sua personalidade. E agora ele fora colocado ao lado de um anjo caído que poderia ou não existir de verdade... e que luta sujo.
Merda, não importava se ele estivesse estéril. Nunca iria disparar um projétil para produzir um guri, e manter seu DNA de péssima qualidade fora da piscina de genes era sem dúvida a coisa mais agradável que ele poderia fazer pela raça humana. Cerca de dez minutos mais tarde, Eddie emergiu com um carrinho cheio de sacolas plásticas e enquanto ele levantava a tampa do compartimento de carga e começava a transferir a merda, Jim não pode mais ficar com seus próprios pensamentos e saiu para ajudar: todas as mamães e seus queridos pequenos guris teriam que engolir isso se não gostassem da aparência deles.
Eddie não disse uma palavra enquanto trabalhavam juntos, o que era uma indicação clara de que ao contrário do tipo que Jim e Adrian fariam, Eddie não estava no trem de “Kumbaya”[20]. Sinceramente, ele parecia fazer isso com tudo e todos.
E, sem ofensa, o sujeito tinha uma lista de supermercado anormal e bizarra.
Haviam bastante recipientes de “Sal de Morton”[21] para remover o gelo de uma estrada. Frascos incontáveis de água oxigenada e hamamelis[22]. Vinagre em galão. Limões. Sabedoria popular empacotada em caixas. E quatro enormes latas de carne moída da Dinty Moore?
— O que diabos — perguntou Jim — nós vamos fazer com tudo isso?
— Estocar.
Levaram mais ou menos quinze minutos para voltar para a casa de Jim, e o silêncio estava um pouco menos tenso. Enquanto entravam na garagem, Cão abriu as cortinas da janela.
— Você precisa do material para subir? — perguntou Jim enquanto todos saíam.
— Só uma sacola e eu a pegarei.
Jim disparou pelas escadas com suas chaves na mão, e no segundo em que destrancou a porta, O Cão era todo “Ó meu Deus, você está de volta”, correndo ao redor dele em círculos com seu rabo propulsor.
Jim olhou de relance por sobre os ombros, franzindo as sobrancelhas e deu um tapinha no cão. No andar abaixo, Eddie e Adrian permaneciam juntos e Eddie estava agitando sua cabeça e falando enquanto Adrian focava em um ponto ao lado da orelha esquerda do sujeito, como se tivesse escutado tudo aquilo antes mas não tivesse se interessado na primeira vez.
Em um determinado momento, Eddie agarrou o pescoço do sujeito e forçou algum contato visual. Os lábios de Adrian moveram-se brevemente e Eddie apertou os olhos.
Depois que se abraçaram por um momento rápido, Adrian rugiu para fora em sua Harley. Soltando uma praga, Eddie agarrou uma sacola do compartimento de carga do caminhão e subiu desajeitado pelas escadas.
— Seu fogão funciona? — perguntou o sujeito enquanto entrava e o Cão corria ao redor de seus pés.
— Sim.
Dez minutos mais tarde ele e Eddie estavam sentados em frente a duas tigelas enormes de guisado preparadas de acordo com as instruções na lata de Dinty Moore.
— Fazia anos que não comia isso. — disse Jim enquanto ele esnobava.
— Você precisa se alimentar.
— O que você disse para Adrian?
— Não é da sua conta.
Jim balançou a cabeça.
— Desculpe, resposta errada. Eu sou parte desse time, e eu acho que considerando a quantidade de merda que vocês dois sabem sobre mim, é hora de começar a retornar o maldito favor.
Eddie sorriu com firmeza.
— É uma maravilha que a dupla não se dê bem melhor.
— Talvez pudéssemos nos dar bem se vocês falassem comigo.
Um longo silêncio se seguiu até que Eddie o quebrou colocando sua tigela no chão para que o Cão pudesse dar conta das sobras.
— Há três coisas que eu sei sobre Adrian, — disse o sujeito. — Um, ele sempre fará exatamente o que ele quer, quando quiser. Não existe nenhuma chance dele ser razoável ou mudar de idéia. Dois, ele lutará até que não possa levantar por algo em que acredite. E três anjos caídos não duram para sempre.
Jim recostou-se aliviado na cadeira.
— Eu me perguntei sobre isso.
— É, nós não somos eternos, só vivemos mais tempo. E isso não pode ser ignorado ao se tornar um.
— Por quê?
— Desejo de matar. Um dia destes... sua sorte vai desaparecer e nós vamos perdê-lo. — Eddie afagou lentamente o Cão. — Eu compartilhei muitas coisas com aquele bastardo ao longo dos anos. O conheço melhor do que qualquer outro, e provavelmente sou a única pessoa que realmente pode trabalhar com ele. Quando ele arder em chamas, isso vai me matar...
Eddie não continuou falando, mas nem precisava.
Jim perdera um companheiro em uma ocasião também, e essa merda chupa sua vontade de viver direto para fora.
— O que ele vai fazer com Devina hoje à noite?
Não houve nem ao menos uma pausa:
— Você não ia querer saber.
Antes de deixar o duplex, Vin embalara um rápido lanche para ele e Marie-Terese, e o que restara dele estava espalhado sobre a mesa lascada da velha cozinha de sua família. A folha de estanho que havia envolvido os sanduiches, e as coca-colas agora praticamente vazias, bem como o pacote de batata frita Cape Cod que eles haviam compartilhado seriam rápidos de limpar.
A sobremesa limitava-se à única maçã Granny Smith que ele tinha em casa, e ele a cortara em pedaços que foi alternando, um para ela, outro para si mesmo. Neste momento já era mais caroço do que maçã e agora ele retirava o último pedaço aproveitável junto às sementes para dar a ela.
Por nenhuma razão em especial, ele pensava sobre o que ele dissera a Marie-Terese:
Não é o que você fez – é quem você é.
Ele estava completamente seguro de estar certo com relação a ela e de que aquilo não se aplicava a ele minimamente. A forma como ele vivera a sua vida refletia exatamente quem ele era. – Um bastardo faminto por dinheiro e desprovido de qualquer consciência.
Mas, tal como ela, ele estava deixando aquela velha vida pra trás. Ele ainda tinha uma profunda energia – só que agora ele via isso como um problema e não como algo para agir. E o problema era que ele não tinha idéia de qual a forma o futuro tomaria.
—Aqui, toma o último pedaço. Ele pegou o pedaço da lâmina da faca e ofereceu-o sobre a mesa. —Eu cortei-o com cuidado.
Ela estendeu a linda mão e aceitou o que ele lhe oferecia.
—Obrigada.
Enquanto ela comia, ele deu uma arrumação, recolhendo os detritos, colocando-os de volta no saco Whole Foods, no qual os trouxera.
—Quando eles virão? – Perguntou ela.
—Uma hora após o pôr-do-sol, eles disseram. Esse tipo de coisa sempre parece acontecer no escuro.
Ela esboçou um sorriso e limpou a boca com um guardanapo de papel. Ficando de lado, ela olhou pela janela, os cabelos balançando, caindo soltos sobre os ombros.
—Ainda está bastante claro.
—É.
Quando ele olhou ao redor, ele imaginou como aquele lugar poderia ser. As bancadas de granito. Aparelhos de aço inoxidável. Partir a parede do lado direito e acrescentar uma sala de estar. Retirar todos os tapetes. Pintar. Papel de Parede. Dar uma renovada na bagunça dos banheiros.
Uma jovem família seria feliz ali.
—Vem comigo— ele disse, estendendo a mão.
Marie-Terese pegou a mão dele.
—Para onde?
—Até lá fora.
Levou-a através da garagem, até ao quintal— o qual estava longe de ser uma obra-prima. O gramado era tão atraente como a barba de um velho e o carvalho ao fundo parecia os restos mortais de uma árvore outrora graciosa – mas, pelo menos a temperatura não estava tão fria quanto antes.
Colocando os braços em torno dela, ele a abraçou apertado e gentilmente lhe fechou os olhos com as pontas dos dedos.
—Eu quero que você imagine que nós estamos na praia.
—Uma praia. Ela murmurou.
—Flórida. México. Sul da França. Califórnia. Em qualquer lugar que você goste.
Ela colocou a cabeça em seu peito.
—Ok.
—A cor do céu está mudando para tons de pêssego e dourado e o mar está calmo e azul. Vin se concentrava no sol poente, enquanto falava com ela, tentando imaginá-lo descendo na linha do horizonte do mar, em vez de no telhado cinzento da casa da fazenda vizinha.
Vin começou a se mover, deslocando o corpo de um lado para o outro, e ela seguiu a sua sugestão, balançando em seus braços.
—O ar é suave e quente. Ele pousou o queixo no topo de sua cabeça. —E as ondas estão fazendo essa coisa na areia, avançando e recuando, avançando e recuando. E as palmeiras estão por todo o lado.
Ele esfregou os ombros dela, esperando que ela visualizasse o que ele estava descrevendo, esperando que ela fosse projetada pra fora do lugar onde eles realmente estavam: num reles quintal de uma casinha insignificante na calma localidade de Caldwell, Nova Iorque.
A margem costeira mais próxima que eles tinham era rochosa e um rio.
Ele fechou os olhos e simplesmente permitiu-se sentir a mulher que tinha em seus braços, e compreendeu surpreso que: foi ela que transformou a sua paisagem, e não as palavras dele. Para ele, era por causa dela que ele estava quente.
—Você é um dançarino maravilhoso—, disse ela junto ao seu peito.
—Você acha?. Ele sentiu o movimento no seu peito quando ela confirmou com a cabeça. —Bem, isso é porque eu tenho uma boa parceira.
Eles continuaram se movendo juntos até que a luz começou a se esvair do céu e a temperatura a cair bastante. Quando Vin ficou imóvel ela levantou o rosto e olhou para ele.
Quando ele depositou a mão no seu rosto e ficou olhando para ela, ela sussurrou:
—Sim.
Ele a levou para dentro de casa e subiram até seu quarto. Ele se recostou na porta fechada e ficou olhando enquanto ela despia a malha pela cabeça e de seguida desabotoava a blusa branca e simples. O sutiã foi retirado de seguida, o que implicou que, quando ela se inclinou para tirar os jeans, seus seios balançaram.
Vin conseguira resistir até ela começar a se despir, mas a visão dela tão natural e tão bela provocou uma pressão contra a sua calça.
E, no entanto aquilo não tinha a ver com sexo.
Quando ela ficou nua diante dele, ele foi até ela lentamente e lhe deu um beijo longo e profundo. O corpo dela sob suas mãos era quente e macio, tão pequeno e suave comparado ao seu próprio corpo – e ele adorava esse contraste bem como as curvas dela. Adorava o cheiro e o gosto dela.
Capturando os seios dela em suas mãos, ele tomou um mamilo entre os lábios e chupou-o enquanto acariciava o outro com o polegar, e quando ela arqueou o corpo contra ele, o nome dele saiu disparado de sua boca.
Como ele adorava o modo como seu nome soava!
Com a mão livre, ele lhe acariciou as coxas e depois a parte de trás deslizando por entre as pernas dela. Oh, ela estava tão pronta para ele! Úmida e quente.
Murmurando algo inaudível ele carregou-a até a sua velha cama e a depositou sobre ela. No minuto seguinte estava completamente nu tal qual veio ao mundo e estendeu seu corpo junto ao dela, seu sexo ereto cobrindo o ventre enquanto ele juntava os quadris de ambos.
Mais beijos. Mãos na pele dele. As dela.
Mãos entre as pernas dela. As dele.
Marie-Terese acabou em cima, as coxas separadas pelos quadris dele, seu sexo aberto para ele. Depois que ele colocou uma camisinha, ela o cobriu numa descida lenta e devastadora que lhe roubou o fôlego e o juízo. Em resposta, ele arqueou o corpo, as costas ondulando para fora da cama, o movimento empurrando-o ainda mais profundamente.
Plantando as mãos em seus ombros, ela se posicionou e passou a balançar os quadris para cima e para trás, alcançando um ritmo demolidor. Enquanto Marie-Terese o possuía, ele estava mais do que disposto a dar-lhe qualquer coisa que ela quisesse. Ele estava ofegante e desesperado debaixo dela enquanto o seu corpo conduzia o dele à perfeição.
Por debaixo das pálpebras semi-cerradas, ela o observava, seus olhos brilhando como fogo azul.
Mas eles o consumiram sem qualquer dor.
—Essa é a casa de Vin.
Enquanto Eddie apontava para uma pequena casa, Jim encostou o carro e estacionou. Por força do hábito, ele examinou a área. Um típico bairro residencial de classe média baixa, com os carros estacionados à entrada, lampiões a cada 20 metros, luzes acesas em algumas pequenas salas de estar e cozinhas. Não havia pedestres pois era noite de balada. Não havia grande cobertura pois os arbustos e árvores tinham pouca folhagem.
Quando ele e Eddie saíram do carro e pegaram as sacolas no banco traseiro a iluminação fraca emprestou a tudo em redor uma cor acinzentada, a paisagem parecendo uma fotografia em tons de preto e branco.
A BMW de Vin estava parada na entrada e havia luzes no interior da casa, por isso eles caminharam até a porta da frente e bateram. A resposta foi um grito imediato vindo do topo das escadas, mas demorou um pouco até que a porta fosse aberta e o motivo era bastante óbvio. Vin trazia os cabelos revoltos e as bochechas estavam coradas.
O primeiro pensamento de Jim quando entrou e olhou em redor foi que o mobiliário barato não envelhecera bem. Pelo que ele podia ver, tudo desde o papel de parede gasto, passando pelo sofá de má qualidade até à miserável cozinha nas traseiras devia ser do tempo da velha loja de departamentos Sears Roebuck.
Eram as mesmas coisas com as quais ele havia crescido e pela primeira vez desde que ele conheceu o cara ele achou que tinha algo em comum com Vin.
Eddie pousou uma das sacolas, e um tapete inesperadamente bem mais recente no vestíbulo chamou a sua atenção.
—Eles morreram aqui no fundo das escadas. Seus pais.
—Sim. Vin moveu-se inquieto. —Como você sabe disso?
—Eu posso ver as suas sombras.
Eddie se afastou para o lado, olhou para Jim, e apontou para baixo com um gesto de cabeça.
Jim não entendia o que aquilo tinha de especial, porque quando ele olhou para o chão tudo que ele viu... foi...
Ele esfregou os olhos para se certificar de que estava vendo direito, mas, sim, ele estava. Na base da escada onde se encontrava o tapete novo, ele pôde perceber, com inesperada perturbação, uma repetição visual do que fora em tempos duas pessoas entrelaçadas em amontoado. A mulher tivera cabelos encaracolados e acobreados e vestia um roupão amarelo. O homem estava de macacão verde, do tipo que um eletricista ou um canalizador usaria. As manchas de sangue sob as cabeças cobriam grande parte do tapete.
Jim pigarreou.
—Sim, eu também estou vendo.
Marie-Terese apareceu no topo da escada.
—Onde vocês querem a gente?
—Eu fiz aquilo no meu quarto—, Vin disse.
Eddie deixou alguns dos seus pertences no salão da frente e partiu para o piso superior.
—Então, é para lá que vamos.
Com todas as sacolas que ele estava segurando, Jim teve que virar de lado para caber, enquanto subia, e Vin foi legal o suficiente para lhe aliviar um pouco da carga.
—O que são todas essas coisas? – ele perguntou
—Tem sal aqui pra caramba.
Quando os quatro se amontoaram dentro do quarto, decorado com um desbotado papel de parede azul-marinho e mobiliário juvenil dos anos 70, Eddie agachou-se e puxou o tapete trançado, no centro.
—Você fez aquilo aqui?
Era evidente, dado o círculo desvanecido que ficara no soalho.
—Precisamos limpar isso primeiro? Jim perguntou.
—Limpar o quê? Vin ajoelhou-se e passou as mãos ao longo do piso de madeira falsa. —Não há nada aqui.
—Está tudo bem.
Eddie pegou o braço de Jim enquanto negava com um gesto de cabeça, em seguida, começaram a abrir as malas. Ele entregou a Vin e Marie-Terese um recipiente com sal Morton.
—Vocês têm que derramar uma linha ao redor do perímetro do andar de cima. Tem de ser uma barreira ininterrupta, exceto junto àquela janela. —Ele apontou com a cabeça para a direita. Deixem essa área livre. Se houver mobiliário no caminho não faz mal, passem ao redor e depois de costas para a parede. Tem mais nestes sacos se precisarem.
Quando ele pareceu satisfeito com a forma como eles estavam procedendo, ele tirou um par de charutos de dentro do paletó e deu a Jim um deles junto com um pouco de sal.
—Nós dois vamos fazer o mesmo e um pouco mais lá em baixo.
—Entendido.
Quando eles regressaram ao piso inferior, Eddie pegou um isqueiro Bic preto e acendeu o seu charuto cubano, ou lá de que marca fosse. Enquanto ele exalava o que parecia um aroma de... ar fresco do oceano, ele ofereceu lume a Jim que se inclinou para acender o seu. Uma inalada e ele estava no céu. O tabaco sabia incrivelmente bem, como nada que ele já tivera em sua boca antes, e se isso faria parte de suas funções em curso, então ele estava totalmente nessa.
Cara, como ele adorava fumar! E evidentemente que o tema câncer estava fora da sua lista de preocupações nesse momento.
Eddie embolsou o isqueiro e abriu o seu sal.
—A gente vai andar de sala em sala e expire enquanto fazemos uma barreira aqui em baixo. Estamos purificando o ambiente e criando um obstáculo para ela. Tem mais sal nesse saco .
Jim olhou para a sua garota com o guarda-chuva[23].
—Isso vai mesmo manter Devina afastada?
—Isso vai dificultar a entrada dela. Adrian vai mantê-la ocupada enquanto ele puder, mas mesmo com seu grande talento, ela vai saber que algo está acontecendo.
Enquanto Jim rompia o selo do seu sal, ele percebeu que gostava do que estava sentindo. Para o melhor ou para o pior – bem, na maior parte pior – ele fora construído para lutar, e não apenas porque ele era um peso-pesado filho da mãe. O conflito fazia parte do seu sangue, do seu cérebro e das batidas do seu coração.
Ele sentira falta de participar em missões. Inclinando a embalagem de sal Morton para baixo, ele ia fumando alegremente enquanto um pequeno e estreito rio branco jorrava do bico de prata e inundava o tapete. Eddie estava lidando com a parte de trás da casa, ao longo do corredor e em toda a cozinha, por isso Jim se dirigiu para a sala. Foi uma tarefa rápida percorrer todo o rodapé enquanto afastava as cortinas empoeiradas para fora do caminho. E era agradável: Ele se sentia como se estivesse mijando em seu próprio território, reivindicando um direito seu.
Cara, ele quase desejava que a cadela entrasse por aquela porta só para que ele pudesse acabar com a raça dela.
Isso era uma mudança radical. No passado, ele teria religiosamente feito uma distinção entre homens e mulheres. Ele não hesitaria em matar um homem. Fosse com mutilações, atropelamento ou espancamento. As mulheres, no entanto, eram totalmente diferentes. Uma mulher podia se aproximar dele com um canivete e ele apenas a desarmaria. Ponto final. Ele só chegava ao ponto de incapacitar se fosse absolutamente necessário, e o fazia da maneira menos dolorosa e permanente.
Mas Devina não era mais uma mulher para ele. Diabos, ela não era uma mulher, ponto.
O sal deslizava num sussurro enquanto ele traçava uma pequena linha vacilante, e embora lhe tenha sido difícil depositar a maior confiança em algo que era usado para condimentar batata frita MacDonald´s, Eddie não o achara um idiota. Nem por sombras.
E o charuto era danado de bom. Completamente.
Quando eles terminaram, o andar de baixo cheirava a Flórida e estava precisando de um aspirador de pó, e conforme eles se dirigiram para o andar de cima, Eddie desenhou uma linha branca ao longo de cada degrau até a escada parecer uma pista de aterrissagem.
Vin e Marie-Terese haviam estado ocupados e depois de Eddie inspecionar os seus esforços, ele disse a eles para relaxarem um pouco na pequena cama e pediu a Jim que o acompanhasse ao banheiro, junto ao patamar das escadas. Usando a pia como uma tigela, o cara juntou ao peróxido de hidrogênio a planta Hamamelis virginiana e o suco dos limões, juntamente com o vinagre de vinho branco, e misturou tudo com as próprias mãos, envolvendo a solução com os dedos. Quando o cheiro pungente se instalou no ar e perfurou as narinas de Jim, Eddie começou a falar baixinho enquanto continuava fazendo círculos na pia. As palavras eram pouco mais que um sussurro, e numa língua que Jim não entendeu, mas a frase foi repetida inúmeras vezes.
De repente, o aroma que se sentia no ar mudou. Agora não mais desagradável no nariz, ele se transformara no aroma fresco de um campo primaveril.
Eddie ergueu as mãos e enxugou-as em seus jeans, depois enfiou a mão no casaco e fez surgir dois cristais...
—Isso são armas? Jim perguntou.
—Sem dúvida. O cara retirou o tampão de uma das armas e a submergiu. As bolhas se concentraram à superfície enquanto o cartucho ia enchendo. Ele a entregou a Jim. —Põe isso no seu coldre. Ao contrário da sua semi-automática, essa merda realmente vai ter efeito sobre ela.
Enquanto Eddie abastecia a sua, Jim manuseou o cristal molhado. A arma era uma verdadeira obra de arte, esculpida em quartzo transparente, ele supunha, e com uma engenharia de precisão. Empunhando a arma, ele apontou para a parede do banheiro e puxou o gatilho. Um esguicho fino e forte de solução foi lamber exatamente o lugar que ele tinha em mira.
—Legal—, ele murmurou, descartando a sua assinatura.
—Eu vou lhe mostrar como fazê-los. Eddie selou a “barriga” da arma e prendeu-a no coldre atrás das costas. —O fato de você poder esculpir madeira vai ajudar.
Quando eles voltaram para junto dos outros, Vin estava andando ao redor e Marie-Terese estava sentada na cama. Eddie abandonou seu casaco, e vasculhou os sacos Hannaford que estavam agora quase vazios.
Retirando a sálvia fresca, ele abriu o seu recipiente de plástico e deu o maço de folhas a Marie-Terese.
—Agarre isso e fique fora do caminho. Não importa o que você vir ou o que acontecer, você não pode largar e deve manter isso contra ambas as palmas das mãos. Isso vai lhe oferecer alguma proteção.
—O que eu faço? Vin exigiu.
Eddie olhou por cima do ombro.
—Tire a roupa.
A última vez que Vin ficou pelado para uma multidão, o contexto tinha sido muito diferente.
Enquanto ele jogava sua camisa, calça e cueca na penteadeira, ele se certificou que sua arma estava na frente em cima da pilha, e quando ele se virou, ele estava pronto para acaba de vez com isso. Engraçado, ele tinha sido operado apenas uma vez na sua vida, por volta de uma década atrás. Ele teve que ter seu joelho arrumado depois de anos jogando basquete e tênis e correndo com a maldita coisa. — E ele estava exatamente do mesmo jeito que ele tinha estado então: Pronto para voltar ao normal. Esperando que o resultado depois da dor passada fosse o certo.
Ele deu uma olhada em Marie-Terese. Ela estava sentada absolutamente parada na cama, segurando os raminhos de salvia entre suas mãos de modo que as folhas macias apareciam por seus dedos, e a pequena raiz pendurava do lado mais longe. Quando seus olhos encontraram os dele, ele teve que chegar mais perto, e dar um rápido beijo em sua boca. Ela estava assustada, mas ela era forte, — E não importa quanto ele quisesse que ela não fosse parte disso, ele concordava com Adrian: Sem riscos com ela. Não poderia ter nenhum risco com ela, nunca, então eles tinham que assumir que Devina tinha pego seu brinco.
Eddie pegou uma bússola e quatro velas, e depois de fazer algo no estilo Escoteiros, com sua invenção, ele e Jim fizeram o norte, sul, leste e oeste, marcando cada ponto do chão descoberto com a cera das velas.
Depois tinha mais sal correndo em um círculo ao redor da estrutura. Enquanto Vin os observava, ele teve que admitir que o anel em volta que eles fizeram, era mais arrumado do que ele tinha feito vinte anos atrás, mas ele teve que se apressar no passado. Não teve nada falando quanto tempo seus pais iriam morrer.
— Como eu disse, o que você fez foi um ritual de possessão.
Eddie andou em volta, e acendeu as quatro velas.
— Você tomou os três elementos de si próprio como homem, — Cabelo, sangue... Você sabe, — E ofereceu a ela. Ela aceitou os presentes e tomou os resíduos em sua pele espiritual, por assim dizer. Nós vamos limpar ela de você.
— Sim, escutem, — Vin cortou. — Vocês têm certeza que não podem tomar conta de Marie-Terese antes, e depois se preocupar comigo?
— Não, você é o ponto focal. Você chamou Devina para você. Além de que Marie-Terese tem um laço mais fácil para quebrar, assumindo que o brinco está com Devia.
O cara desapareceu no corredor do banheiro e voltou com as mãos pingando como se fosse um cirurgião.
— Jim, vá até minha jaqueta e pegue um rolo de couro que está no bolso direito.
Jim procurou e puxou um pacote de vinte e cinco centímetros de altura e seis de largura, que estava preso por uma faixa de cetim branco.
— Abra.
As mãos de Jim foram rápidas para puxar o laço e depois desenrolar o couro, revelando uma adaga. Feita de vidro.
— Não toque na faca. — Eddie disse.
— O que infernos você vai fazer com isso? — Jim demandou.
— Nós vamos abrir você.
O homem apontou para o circulo de velas queimando.
— Isso é uma cirurgia espiritual, e antes de você perguntar, sim. Vai doer como o demônio. Mas quando nós passarmos, você não vai estar assustado ou coisa parecida. Agora deite, cabeça aqui para o norte.
Vin olhou para o rosto do homem, enquanto eles o encaravam. Amargo. Sério. Especialmente Eddie.
— Eu nunca vi uma faca como essa antes. — Vin murmurou, enquanto olhava a coisa.
— É cristal.
Eddie disse, como se soubesse que Vin precisava de um segundo antes de entrar no ritual.
— E, sim, tome uma respiração profunda, mas nós precisamos começar. — Ele olhou a seu amigo.
— Jim? Você fica perto a Marie-Terese. Eventualmente você estará fazendo isso, mas agora mesmo você vai apenas assistir, e se a merda ficar critica, você está encarregado dela.
— Você lê mentes? — Vin perguntou ao cara.
— Às vezes. Agora podemos começar os negócios? Eu não sei quanto tempo Adrian vai ser capaz de segurá-la.
Vin encarou os olhos de Marie-Terese e rezou que ela pudesse ler tudo o que ele queria falar. Quando ela assentiu como se entendesse perfeitamente, ele se aproximou do círculo de sal e se estendeu no centro onde Eddie tinha medido os lados perfeitamente: A sola dos pés de Vin apenas tocava o outro lado enquanto sua cabeça estava na vela do norte.
— Feche seus olhos, Vin.
Vin deu uma ultima olhada em Marie-Terese, e então baixou suas pálpebras e tentou relaxar seu corpo. O chão estava duro contra sua omoplata, seu traseiro, e seu calcanhar; E seu coração ia perfurar suas costelas. A real merda, não era não poder ver, no entanto, — Não apenas ele se sentia isolado, mas o som de tudo sendo movido era muito alto. Da sua própria respiração aos passos de Eddie andando ao redor dele, ao sussurro de palavras estranhas sobre seu corpo nu, era tudo muito enervante.
E não demorou muito para lê perder a paciência. Aqui estava ele, deitado como um pedaço de carne a ser comido, na frente de Marie-Terese, que estava sem dúvida, — Uma súbita vibração veio através do chão.
Vin sentiu o tom reverberando primeiro em suas mãos e pés, e depois continuando interiormente, os círculos centralizados desenhando no centro dele. Enquanto ele absorvia as ondas rítmicas, uma súbita brisa ventou através dos pelos em seus braços, suas coxas e seu peito, e ele se perguntou se alguém tinha aberto uma janela.
Não... As coisas tinham começado a girar.
Se ele ou o quarto tinha começado a rodar, ele não estava certo, mas abruptamente as ondas e a brisa se uniram, e ficaram irreconhecíveis enquanto começaram a rodar em volta dele... Ou ele rodava em volta. Como água correndo por um cano, a velocidade se acumulou e seu estômago se revoltou, a náusea fazendo com que aquele sanduíche que ele tinha comido com Marie-Terese ficasse verde, e subisse por sua garganta.
Justamente antes dele pôr tudo pra fora, o carrossel parou e ele ficou leve. Não mais rodando, ele estava suspenso em ar quente, e um fodido obrigado por isso. Inalando profundamente, ele sentiu sua barriga relaxar e a tensão em seus braços e pernas diminuir, seus músculos ficando lassos.
E então sua visão retornou, Bom Deus, mesmo com suas pálpebras baixas, ele podia ver luz branca: A fonte estava em algum lugar embaixo dele, perfurando através do piso que ele supostamente estava, seu corpo entalhado em um padrão da iluminação.
O rosto de Eddie apareceu acima do dele.
A boca dele se movia como se ele estivesse falando, e Vin não ouvia as palavras que eram ditas, apenas conhecendo-as em sua mente:
—Respire fundo e fique bem parado.
Vin tentou assentir, mas quando Eddie sacudiu sua cabeça, ele apenas pensou na palavra sim ao cara.
A faca de cristal se elevou sobre o peito de Vin, a arma parada nas grandes mãos de Eddie. Enquanto a luz branca batia, um brilhante arco íris de cores cintilou, tudo indo dos azuis e rosas bebê aos amarelos pálidos, vermelhos sangue, azul marinho e ametista profundo explodindo em frente dele.
Indecifráveis palavras apareceram na cabeça de Vin enquanto Eddie as recitava mais e mais rápidas.
Abraçando a si próprio, Vin focou na ponta afiada da lâmina.
Estava indo ao seu coração. Ele apenas sabia.
Quando a inevitável descida veio, foi mais rápida que um piscar de olhos, e mais lenta que um século, — E o impacto foi pior do que ele estava preparado. O instante em que a Adaga afundou na carne de Vin, ele sentiu como se todos os nervos em seu corpo transmitissem a dor.
Depois Eddie o cortou.
Vin gritou no redemoinho da dor, enquanto seu corpo se partia do seu esterno, sua espinha esticada enquanto ele se contorcia para cima. Ele estava vagamente consciente das palavras de Eddie, e depois a mão brilhante do homem alcançou o centro da agonia, fazendo doer ainda mais.
Sondando. Pulsando. Um imenso puxão.
O que quer que fosse que Eddie estivesse pegando e tirando, estava segurando forte, e abruptamente Vin não pode respirar pela imensa pressão nas suas costelas e pulmões. Arfando, ele lutou para puxar ar para o centro de tudo.
Ele começou a gritar de novo. O que não fazia sentido, porque ele não tinha ar.
Enquanto a luta para extração ficava mais furiosa, Vin lutou para se segurar, não por ele mesmo, mas por Marie-Terese. Ele não iria morrer na frente dela. Ele não iria morrer na frente dela. Ele não iria, — Mas Eddie não diminuiu, e a coisa não aliviou, e Vin começou a cair. Seu coração foi de golpear, a tropeçar, de falhar a bombear, e com a fibrilação veio um frio entorpecedor, que o atacou. Ele tentou lutar, tentou fazer seu corpo voltar a funcionar, mas não tinha reservas sobrando para usar. Mesmo com sua mente e sua alma querendo ficar, seu corpo estava terminado.
Exceto que então a maldade foi aliviada.
Primeiro, tinha apenas uma leve falha, como se apenas uma das raízes que se apegavam a ele tivesse se libertado. Mas então outra se quebrou, e mais outra, e mais um monte. E — Com uma gritante lágrima, como metal estava sendo posta de lado, uma escuridão tinha sido tirada dele, ficando livre... E seu primeiro pensamento foi que ele estava sentindo seu corpo muito mais leve com a ausência. O segundo era que ele ainda estava morrendo, — Vin foi salvo pela luz branca.
De repente, como se soubesse quanto tempo ele tinha restando, ele tinha sido ressuscitado, a quente iluminação o cobrindo, diminuindo a dor, e então deixando o limpo como se a tortura nunca tivesse existido. Ele voou livre, leve e transparente, indiferente ao que o cercava.
Ele quase chorou de alívio e gratidão.
Era a primeira vez em trinta e três anos que ele tinha estado sozinho em sua própria pele. Os olhos de Jim estava dividido em lealdade.
Cada vez que um carro descia lentamente pela rua, ele olhava pela janela. Algum barulho em volta da casa? Rangido de uma árvore? Vento batendo na janela? Era o mesmo. Ele estava constantemente procurando pelos cantos, esperando por Devina aparecer.
E ainda o centro do quarto o consumiu.
Ele nunca tinha visto algo assim. Do momento que o chão soltou de Vin e aquela explosão de luz branca apareceu de lugar nenhum, ao elétrico segundo quando Eddie colocou a faca e começou a puxar, foi tudo tão incrível.
Deus, aquela faca.
Tinha sido a coisa mais linda que Jim já tinha visto: Quando a luz z atravessou, o espectro de cores vividas tinha saltado, os tons tão brilhantes e claros, era como se seus olhos fossem jovens de novo, e estavam vendo pela primeira vez.
Mas a luta... Ele estava certo que Vin iria morrer. No fulcro do brilho, Eddie tinha esfaqueado o homem e procurado dentro de seu peito e começou a puxar como se estivesse tentando arrastar um carro de um pântano. E em resposta Vin tinha gritado de uma enorme distância, a agonia lacrimejando fora de sua garganta enquanto seu corpo se tencionava.
Naquele momento, Marie-Terese tinha disparado para frente, mas Jim a tinha pego, por instinto dizendo a ela que ela não poderia ficar no caminho do que estava acontecendo, sem importar quão horríveis as coisas pareciam. Interromper não estava no manual: Isso era a cirurgia da alma, e o câncer tinha que sair. Mesmo se o homem morresse no meio disso, a tentativa de extração era a coisa certa a fazer.
Jim a segurou do jeito que pôde, e ela acabou em cima dele, as unhas enterradas profundamente em seu antebraço enquanto ela assistia, tão impotente como ele, por causa das conseqüências.
Era tudo sobre Eddie e Vin, e o qual fosse à sorte que ia rolar.
E então aconteceu. Eddie começou a ganhar a batalha — O que ele estava puxando começou a abrir caminho, primeiro aumentando, então com um final, a separação explodindo e empurrando o que fez com que o anjo caísse sobre seu traseiro. Mas não teve tempo para celebração.
Assim que o que quer que fosse aquela coisa preta saiu de Vin, ficou livre no ar, uma sombra de crueldade que flutuou livre, — E imediatamente veio apontando para Marie-Terese. Ondulando pelo ar, se juntou, ficando mais escura como se estivesse reunindo forças, e enfrentou a mulher.
Jim empurrou Marie-Terese para trás e a prendeu contra a parede. Trabalhando rápido com a arma de cristal, ele puxou a tampa na sua barriga e derramou o que quer que fosse que estivesse dentro, até que estava pingando do nariz dela e das pontas do cabelo.
Ele desejou ter um balde daquela merda.
Girando para trás, ele se abraçou enquanto a sombra se atirava contra eles. O impacto não era uma festa, a fumaça não existente parecendo como se fossem mais de mil ferroadas de abelhas na pele dele. Marie-Terese gritou. — Não, não foi ela. A coisa gritou e se despedaçou, parecendo tiros de ar comprimido sendo espalhado através do chão.
A fodida sombra retomou a forma, mas não tentou outra chance. Ferveu para fora da única janela que estava sem sal, e a destruição do vidro foi um choque, o som reverberando pela casa.
Ao mesmo tempo, a luz no círculo foi sugada do quarto, e a saída foi ainda mais barulhenta, um ruído sônico que fez os tímpanos de Jim estalarem e o espelho sobre a penteadeira se quebrou em pedaços. Eddie tinha sido jogado de costas pela explosão de energia, e ele bateu contra a parede, no momento em que Vin aparecia no chão, pálido, tremendo, coberto de suor.
Assim que ele se curvou de lado e puxou seus joelhos para seu peito, Marie-Terese se soltou de Jim e correu para ele.
— Vin? — Ela alisou o cabelo dele.
— Oh, Deus, ele está congelando. Me dê o cobertor.
Jim puxou a coberta da cama e colocou nas mãos dela, depois ele foi checar Eddie, que parecia estar inconsciente.
— Você está bem aí grandão? Eddie?
O cara se sacudiu em atenção, e olhou em volta como se estivesse momentaneamente perdido. Para o credito dele, mesmo no estado fora de si, a adaga de cristal estava presa em seu punho, as juntas brancas que a coisa teria que ser tirada por um par de alicates.
Sua expressão não era outra senão de triunfo.
Quando ele tentou levantar, Jim segurou o cara por baixo de suas axilas e o ajudou a levantar do chão e ir para a cama.
— Você não está parecendo como se isso tivesse ido bem.
Eddie tomou fôlego.
— Ele está limpo... E Bom movimento molhando ela.
— Achei que seria mais efetivo. — Jim transferiu a grossa fita sobre o ombro de Eddie e não conseguia entender porque ele parecia tão desapontado.
— Eu não entendo. Qual é o problema?
Eddie focou na janela quebrada, e sacudiu sua cabeça.
— Isso foi muito fácil.
Meeeeeeeerda.
Se isso tinha sido uma volta no parque, Jim se perguntava com o que no inferno se pareceria uma luta de verdade.
Saul parou na sua entrada em transe, e estacionou o táxi. No leve brilho da garagem, ele levantou seus olhos para o espelho retrovisor e virou sua cabeça de lado. Com seu dedo cortado, ele alisou a ao lugar careca perto de sua orelha e lembrou de estar com a mulher na parte de trás do táxi. Eles tiveram sexo.
Tinha sido a primeira vez desde que ele tinha estado na prisão há dez anos atrás.
Ele tinha gostado... Pelo menos até o fim. No final, enquanto ele relaxava embaixo dela, uma estranha doentia letargia tinha escorregado nele, e ele não tinha se sentido tão relaxado, quanto pego numa armadilha.
Isso tinha sido quando ela tinha pego a tesoura. Ela se moveu tão rápido que ele não poderia tê-la parado, mesmo se estivesse alerta: Cortou de seu cabelo, talhou sua pele. Então ela esfregou seu sangue com o que tinha cortado de sua cabeça, desmontou de seus quadris, e desapareceu as mãos por baixo da saia.
Depois disso, ela tinha o deixado, onde o tinha tomado: No fundo do táxi.
Ela não tinha se incomodado de nem ao menos fechar a porta, e mesmo apesar de o frio ter deixado-o gelado, teve um tempo antes que ele tinha podido alcançar e fechar a coisa. Depois de fechar suas roupas, ele se entregou a exaustão, ignorando o guincho despachado e o fato de que não era muito legal para ele estar tão vulnerável no centro da cidade mesmo no meio do dia.
O sonho que ele tinha tido enquanto dormia, tinha sido horrorizante, e na luz opaca, ele virou sua cabeça e checou que não tinha ninguém no banco de trás com ele. Exceto é claro que não tinha... Ele tinha se trancado no carro no instante em que se pôs atrás do volante.
Deus... O pesadelo. Nele, ele tinha sido fodido por um monstro que era e não era a mulher com quem ele tinha estado... E no sonho, ele fez algum tipo de acordo com ela. Exceto que ele não podia lembrar o que ele ganhou em troca do que quer que fosse que ele tivesse dado.
Sua amada... Tinha tido alguma coisa a ver com sua amada.
Estava escuro quando dois jovens punks o tinham acordado ao abrir as portas da frente do táxi e assaltando sua mochila e sua jaqueta.
Partindo de sua própria vontade, suas mãos tinham se lançado para frente e tinha agarrado um rabo de cavalo do que estava no volante. Sem dificuldades, ele ficou consciente de que estava cem vezes mais forte do que tinha estado antes de dormir. Mais forte, focado. Ele se sentiu como... Uma máquina assassina.
O garoto do outro lado do táxi tinha dado uma olhada no rosto de Saul, largado a carteira na mão dele, e desapareceu numa corrida mortal.
Saul tinha quebrado o pescoço do outro apenas puxando-o pelo rabo de cavalo ao banco de trás e girando sua cabeça até ouvir um —crack— no corpo morto.
Ele deixou o gelado cadáver direto no chão perto de onde o táxi tinha estado estacionado. E olhou para cima a câmera de segurança.
Que sorte, apesar. A luz vermelha que indicava que a coisa estava ligada, não tinha estado piscando. Então ali não tinha nenhum registro dele, da mulher ou dos dois garotos.
Não é sorte, ele ouviu uma voz dizer a ele.
Parte da barganha.
E foi ali quando tinha voltado a ele: Ele tinha querido estar livre de olhos observadores, de fazer o que quisesse, sem a preocupação de ser pego. Sem mais armas escondidas, cobrir pistas, se encobrir, sem se ocultar por aí.
E então estava feito.
Entrando pelo lado do motorista, ele sentiu o peso e a sublimidade, e isso tinha sido quando ele percebeu que o motor tinha ficado ligado desde que a mulher o tinha deixado. Então porque ele não estava morto pelo monóxido de carbono? Estava frio, e o aquecedor tinha estado ligado o tempo todo.
—Vá para casa—. Ele ouviu em sua cabeça.
Quando suas mãos agarraram o volante, instantaneamente ele teve sua direção deixada de lado como um desenho em seu peito: Ele precisava ir para casa. Depressa.
Isso era tudo o que ele sabia, e foi precisamente o que ele fez. Ele dirigiu do centro da cidade pelos subúrbios, indo tão rápido quanto podia — Enquanto que, depois de suas outras mortes, ele tinha sido ta correto como a esposa de um pastor.
Ainda agora, apesar de esse estranho poder correndo por ele, ele se sentiu preso, um motor fora de ordem: Tudo que ele podia fazer era olhar direto para frente.
Num canto escuro de sua mente, ele estava preocupado, por não estar atormentado sobre o que tinha durante um terço do tempo naquele beco. Ele devia ter deixado o táxi no despachante e desaparecido. Sonhos eram tudo bem e bom, mas eram fantasias, não realidade. E qualquer um que matasse pessoas podia ser pego. — Não você. Não mais.
Num canto escuro da sua mente, ele estava interessado no porque de não estar preocupado sobre o que tinha acontecido por uma terceira vez naquele beco. Ele devia ter deixado o carro no despachante e desaparecido. Sonhos eram tudo bem e bom, mas eram fantasias, não realidade. E qualquer um que matasse pessoas podia ser pego. — Não você. Não mais.
—Vá para dentro.
O pensamento o agarrou com a claridade de um sino tocando ao amanhecer. Destrancando as portas, ele saiu e olhou ao redor, ainda tendo dificuldades em entender a transformação que tinha passado. Ele estava diferente em sua própria pele, e tão bom como era, ele se sentiu como um ganhador da loteria que o bilhete ainda precisava ser autenticado. E se isso fosse tirado? E se alguma coisa viesse atrás dele e... — —Você, não se preocupe sobre isso. Vá para dentro—.
Enquanto ele pegava as chaves da casa, ele notou que tinha uma pick-up estacionada na frente da casa ao lado, e um caro carro no caminho, mas ele não deu atenção. Ele tinha que ir para dentro.
Quando ele estava em pé, no seu corredor da frente, ele olhou acima da sala de estar vazia e a cozinha, que estava suja com pacotes do McDonalds, caixas de pizza e garrafas de coca vazia. Agora o que? Ele não estava como fome ou sede e não estava cansado, e pela sua vida, ele não podia entender porque ele tinha que estar na casa.
Ele esperou.
Nada veio a ele, então ele fez como fazia toda vez que chegava em casa, ele subiu as escadas.
No segundo que ele entrou no quarto, a estatua de mármore de sua mulher o energizou, e o deixou focado, e ele se apressou para frente, caindo sobre seus joelhos na frente dela. Segurando em suas mãos, o perfeito rosto de mármore, ele sentiu suas mãos esquentarem a fria pedra.
E foi aí que a barganha voltou a ele, palavra por palavra.
A voz da mulher do táxi ecoou por sua cabeça:
—Por um pequeno preço, você pode ter exatamente o que você quer. Eu posso dizer a você, o que você deve fazer para consegui-la e mantê-la. E eu protejo o que é meu. Eu não vou deixar nada acontecer com você.
Sempre.
Você pode ter exatamente o que você quer.
Mate ela, e ela será sua.
— Sim — Ele disse para a estatua.
— Sim... Meu amor.
Tudo que ele tinha que fazer era ir naquela casa e entrar. Ele tinha que achar um jeito de chegar perto o suficiente de Marie-Terese para, — O barulho de uma janela quebrando fez sua cabeça levantar. Enquanto o vidro explodia na casa ao lado, foi quebrado com tanta força que tirou Saul de seu lugar, fazendo sibilar a porta de alumínio da garagem.
Logo após, e com o contrastante silêncio, a cortina foi empurrada para fora do buraco que tinha sido deixado, como se a pressão dentro fosse maior que a pressão de fora. — Sua amada foi revelada para ele.
Na iluminação de uma lâmpada, o perfeito rosto de Marie-Terese estava desenhado com linhas de horror e medo enquanto ela olhava para o lugar onde a janela tinha estado. Seu cabelo e suas roupas estavam molhados, e não tinha nenhum rastro de cor em suas bochechas, — O que a fazia parecer ainda mais com a estátua.
Enquanto ele a fitava, maravilhado e alegre, ele não se preocupou em ser visto por ela. Como ele estava no escuro, ele estava invisível para ela, e aos outros dois homens que estava com ela.
Interessante... Um deles, era daquele odioso clube. Ele tinha estado batendo naquele par de garotos que Saul tinha matado naquele beco.
Sem tempo para desperdiçar. Vá... Vá... Saul pulou sobre seus pés fora do quarto e desceu as escadas. — Todo o tempo maravilhado pela mulher do seu táxi.
Ela tinha poder. Verdadeiro poder.
Foi o trabalho de um momento correr para o carro, e pegar a arma que estava debaixo do bando do motorista.
Marie-Terese enrolou a colcha em volta de Vin, e o apertou em seus braços. Seu corpo estava um cubo de gelo, nada mais que um estático objeto que soltava gelo. Enquanto ela o esfregava, tentando por calor em seu corpo, ele não estava ajudando. Ele estava agitado — Se contorcendo e se sacudindo, quase como se ele não soubesse onde estava, ou não pudesse entender o que tinha acontecido.
— Shh... Eu estou bem aqui. — Ela disse a ele.
Evidentemente, o som da voz dele era exatamente o que ele precisava ouvir, e se acalmar.
— Vin, eu quero que você se deite contra mim. — Enquanto ela o puxava, ele seguia seus comandos, deitando em seu colo, e se segurando nela.
— Shh... Você está bem. Eu estou bem... —
Enquanto o rosto dele se dobrava ao lado dela, ela não podia acreditar no que tinha visto e ainda não podia duvidar que tinha sido real. Ela também percebeu claramente que tinha estado consciente de apenas uma parte do que tinha realmente acontecido.
Afortunadamente, Eddie tinha apenas fingido a apunhalada, aquela adaga transparente parando direcionada diretamente no esterno de Vin. Mas a agonia tinha sido real para ambos os homens, quando os dois tinham lutado. E então... Bem, ela não sabia o que tinha vindo abaixo depois: Eddie ser jogado para trás, como se algo o tivesse puxado de Vin, e então Marie-Terese sentiu uma pontada de pânico, que estava relacionado a nada especifico — Pelo menos no começo.
Isso mudou rápido. Ela sentiu um mau espírito se focando nela, e no momento que aconteceu, Jim a puxou para trás dele, e então jogou uma solução nela que cheirava como o mar. Enquanto ela gritava, o mau pareceu se estilhaçar em volta dela, e isso foi quando a janela quebrou.
Vin rolou sobre seus braços e olhou para o rosto dela.
— Você... Está mesmo bem? — Ele mal podia colocar as palavras para fora de seus dentes trementes.
— Eu estou bem.
— Você está molhada.
Ela puxou seu cabelo úmido cabelo negro para trás.
— Eu acho que me salvou.
Eddie falou da cama, sua voz grossa, parecendo cascalho.
— Salvou. Jim fez uma boa ligação com essa. — O homem assentiu uma vez, mais focado na má forma que seu amigo estava do que em qualquer elogio.
— Você tem certeza que não precisa de nada? — Ele perguntou a Eddie.
Adrian é quem precisa se apressar. Ela não apareceu e ele não está aqui, e isso significa...
Problemas, Marie-Terese pensou.
— Problemas, — Jim completou. — Então eu vou ter que tornar a encher o vidro do molho mágico. — Enquanto ele se encaminhava para o banheiro, Vin soltou um gemido e tentou se sentar.
— Aqui, — Ela disse, colocando seus braços em volta do torso dele e levantando a parte de cima do corpo dele do chão. Quando ele conseguiu se segurar sentado, ela puxou a colcha dos quadris dele, e o enrolou em volta dele.
Ele correu sua mão por seu cabelo, o alisando.
— Acabou? Eu... Estou livre?
Eddie levantou de uma guinada.
— Não completamente. Não até nós pegarmos aquele diamante de volta.
— Eu posso ajudar com isso?
— Não, é melhor que um de nós tome conta disso.
Vin assentiu, e depois de um momento, ele começou a levantar. Apesar de ele pesar mais do que ela, ela o ajudou o melhor que podia até que ele estava em pé, se segurando por ele mesmo, e depois ela o deixou ir, então ele podia andar sozinho.
Quando ele foi se vestir, ela não queria parecer com uma mamãe-galinha, então ela se encaminhou para olhar a janela que tinha sido quebrada. Olhando o dano, perguntas assobiaram ao redor da mente dela e se misturaram juntas. Os vidros tinham sido estilhaçados por completo, deixando nada mais pedaços para trás nas vidraças, e ela olhou para fora. Embaixo, no chão, tinha cacos e pedaços de vidro e madeira, mas nada maior que o tamanho de uma caneta.
— Fique longe daí. — Eddie disse, se aproximando e tirando-a do caminho com seu grande corpo. — Não está selado, o que significa, — Eddie arfou e colocou a mão em sua garganta como se tivesse sido pego pelo buraco por trás. Enquanto ele se inclinava para trás, sua cabeça e ombros começaram a cair pela abertura e Marie-Terese disparou para ele, — Apenas para ser puxada com ele.
— A... Faca... — Eddie arfou.
Tudo aconteceu em câmera lenta enquanto ela gritava sobre seu ombro. Graças a Deus, Jim já estava lá, vindo correndo do corredor e indo para a faca de cristal que tinha sido deixada em cima da cama. No instante em que a faca esteve em sua mão, Eddie trabalhou, puxando e apunhalando algo que estava fora da janela.
Marie-Terese olhou em uma das pernas de Eddie, enquanto Jim dava um abraço de urso nele pela cintura. Enquanto eles trabalhavam juntos, Vin foi por sua arma na penteadeira, apontando para a confusão. Ela tinha fé que ele não iria atirar a menos que, — Pelo canto mais longínquo do quarto, pela porta aberta, ela viu um homem vindo pelas escadas. Ele estava chegando mais perto a eles em silêncio e se movendo com rígido foco. Quando ele virou sua cabeça, seus olhos se encontraram...
Saul... Do grupo de orações. O que ele estava fazendo, — A arma na mão dele se levantou, e depois apontou, para ela.
— Amada. — Ele disse com reverencia. — Minha agora e sempre.
A arma automática explodiu.
Vin gritou algo, justamente enquanto Jim jogou seu corpo no caminho da bala: Com a graça de um atleta, ele saltou no ar, colocando seu peito no caminho que era intencionado para ela, seus braços abertos, seu torso completamente exposto para o atirador, de um jeito que ele oferecia a maior superfície para protegê-la.
Enquanto o agudo, alto som ecoou, Eddie caiu pela janela, se derrubando do quarto. E então um segundo tiro foi disparado.
Vin se desprendeu de sua letargia no momento em que se fez evidente que perto da janela havia problemas. Tinha estado com as calças a meio caminho quando ouviu que se desatava o caos, e seu primeiro pensamento foi para Marie-Terese… exceto que aparentemente não era ela que estava sendo estrangulada. Não obstante, Jim tinha respondido rapidamente, passando para Eddie a adaga de vidro e logo lhe emprestando cada grama de músculo que tinha. E Marie-Terese estava justo ali para ajudar, fazendo o que podia para evitar que o homem fosse arrastado para fora por só Deus sabia o que.
O primeiro que ocorreu ao Vin foi que devia ir procurar a arma que tinha deixado com suas roupas e assim o fez. Tirando a trava com o polegar, nivelou o canhão apontando a arma para a confusão de corpos que havia junto à janela. Não tinha idéia a quem demônios devia atirar, por isso aguardou serenamente…
E logo a expressão do rosto de Marie-Terese mudou abruptamente passando da determinação à comoção quando enfocou a vista na porta do quarto.
Havia alguém mais na casa.
Vin girou rapidamente sobre seus pés descalços e viu desenvolver a visão que lhe tinha sido dada durante seu transe: um homem com cabelo loiro que começava a ralear estava dobrando a esquina no alto das escadas e levantando uma arma para apontá-la diretamente para o dormitório. Sim… esta era. Ia puxar o gatilho e a bala ia viajar através do ar em um instante… e Marie-Terese ia ser ferida.
—Não! —gritou Vin quando soou o disparo.
Pela extremidade do olho viu Jim saltar na frente a ela, viu o corpo do homem bloquear o chumbo que estava dirigido a ela, viu como o recebia em seu peito e como o impacto o empurrava para trás provocando que a atirasse ao chão.
O instinto de Vin foi correr para ela, mas essa não era a melhor jogada. Girando-se de repente com a arma, sabia que devia assegurar-se de que o intruso não tivesse uma segunda oportunidade de disparar… era quão único podia melhorar as possibilidades que todos tinham de sobreviver.
Embora tivesse a fria e mortal suspeita de que Jim tinha caído de forma permanente.
Segurando a arma com firmeza, Vin ficou frente à porta… e diretamente frente ao rosto de um homem que era uns bons oito centímetros mais baixo que ele.
Era questão de quem apertava primeiro o gatilho, e a surpresa operou a favor de Vin… o atirador ingenuamente tinha assumido que só havia três pessoas no quarto.
Vin não duvidou em disparar, diretamente ao coração, e o impacto desviou a pontaria do tipo e ao mesmo tempo provocou que esticasse o dedo indicador sobre o gatilho. O qual teve como resultado que Vin recebesse uma bala no ombro.
Felizmente foi no esquerdo.
Quando o intruso caiu de costas e sua arma voou para outra parte, Vin enfiou o canhão para ele e lançou outra descarga, e outra e outra sobre o tipo para que não existisse nem a mais mínima possibilidade de que o fodido pudesse sequer pestanejar, muito menos levantar uma arma.
Com cada disparo, o homens se sacudia e as pernas e os braços se agitavam como se fosse uma marionete.
—Marie-Terese está ferida? —gritou Vin quando o bulício se sossegou.
—Não… mas oh, Deus… Jim mal respira e Eddie caiu pela janela.
Vin passou por cima do tipo e chutou sua arma enviando-a escada abaixo, o sangue gotejava de sua mão livre e ia cair sobre os jeans do intruso. Não obstante, ainda não estava disposto a confiar de que o bastardo estivesse morto, assim apontou sua arma para o rosto que tinha diante e que começava a empalidecer enquanto esforçava o ouvido se por acaso abaixo se produziam mais pegadas.
—Use seu telefone —disse a Marie-Terese— Chame o 911.
—Já estou marcando. —respondeu ela.
Desejava olhar por cima do ombro para ver como estava ela com seus próprios olhos, mas não queria arriscar-se. Não havia forma de saber quem mais podia ter entrado na casa, e no peito do intruso ainda se podia apreciar um movimento superficial.
Enquanto os segundos se convertiam em minutos, Vin aprovava totalmente a forma como a cor ia abandonando os traços pouco notórios do rosto do homem, mas Cristo… quem era? O que era?
Embora se uma bala podia detê-lo, provavelmente fosse só um humano. A voz de Marie-Terese flutuou através do cômodo.
—Sim, houve um tiroteio no um-um-seis da Avenida Crestwood. Há dois homens… três homens abatidos… precisamos de uma ambulância em seguida. Marie-Terese Boudreau. Sim… sim. Sim… não, não é minha casa…
As pálpebras do intruso se abriram repentinamente, e Vin encontrou a si mesmo olhando fixamente um par de olhos castanhos que estavam fixos em algo mais que o que fosse que tivesse em frente. Tremendo torpemente esses lábios que estavam ficando cinza começaram a mover-se.
—Nããoo… —a palavra se estendeu durante a duração de uma exalação aterrorizada, como se o que fosse que estivesse vendo fizesse que os pesadelos fossem situações de comédia.
Com um ofego e um estremecimento, o tipo passou ao mais à frente, com uma expressão de terror congelando-se em seu rosto enquanto um fio de sangue fluía brandamente pelo canto de sua boca.
Vin chutou as pernas frouxas duas vezes e logo forçou o ouvido. Podia ouvir o vento soprando nas escadas, mas não se ouvia outro som em nenhum lugar.
Retrocedeu lentamente, fazendo oscilar a arma de esquerda a direita no caso de que alguém subisse do andar inferior ou aparecesse de improviso em alguma das portas.
Dentro do dormitório, estendeu o braço amplamente, Marie-Terese se adiantou e se deram um forte abraço. Estava tremendo, mas durante o meio segundo que estiveram juntos o apertou com força.
—Pode praticar a respiração cardiopulmonar em Jim? —perguntou ele— Ou prefere segurar a arma apontada para…?
—Não, eu me ocuparei dele. —aproximou-se do homem, ajoelhou-se e pôs o ouvido perto da boca de Jim— Ainda respira, mas não por muito.
Tirando o suéter energicamente, formou uma bola com ele, colocou-a sobre a ferida sangrando que tinha Jim no meio do peito e pressionou enquanto tomava o pulso.
—Tão fraco… mas pulsa, assim não posso efetuar compressões de peito. A ambulância chegará em cinco minutos.
Que em uma situação como essa era uma eternidade.
—Não atire. —chegou-lhes uma voz vacilante de baixo—É somente eu.
—Eddie? —gritou Vin—.Jim está ferido!
Quando apareceu Eddie no alto das escadas, tinha aspecto de ter sido atropelado por um carro, e enquanto se adiantava coxeando, olhou ao intruso.
—Esse sim está realmente morto. Como está Jim?
—Bem. —sussurrou Marie-Terese enquanto acariciava o rosto do homem— Verdade Jim? Está bem e vão curá-lo. Você vai superar muito bem…
Vin deixou a arma sobre a cama e se ajoelhou do outro lado de Jim imitando a postura que Marie-Terese tinha adotado no chão com o braço estendido para o homem caído.
—Salvou-me. —disse ela, acariciando com sua pequena mão o grosso braço de Jim— Me salvou, Jim. Sem você estaria morta… OH, Deus, Jim salvou minha vida…
Vin percorreu com a vista o poderoso torso e não precisava do diploma de médico para saber que a ferida que o homem tinha recebido era fatal. Jim respirava da mesma forma superficial que o intruso, e logo ia seguir a rota que o atirador tinha seguido: sua cor estava se desvanecendo a um ritmo alarmante, evidência de um sangrado interno.
Merda, não havia nada que pudessem fazer mais que esperar que os profissionais chegassem com a maca. A Ressuscitação Cardiopulmonar não era uma opção, já que Jim tinha pulso e estava respirando por sua conta, e exercendo pressão sobre uma artéria rompida não ia se obter uma merda.
Pela primeira vez na vida, Vin começou a rezar para poder ouvir logo o som das sirenes.
Jim tinha recebido disparos antes. E o tinham apunhalado. Também tinha sido enforcado uma vez. Tinha sido ferido em brigas a murros, com chaves de porca, com navalhas e com botas. Até tinha sido trespassado com uma caneta Montblanc.
Em todas essas situações tinha sabido que ia sobreviver. Sem importar quanto lhe tivesse doído, ou quanto tivesse sangrado, ou quão maligna tivesse sido a arma, tinha estado seguro de que suas feridas não eram mortais.
E agora sabia com a mesma certeza que a bala que tinha no peito tinha deixado a sua caminho o tipo de rastro dilacerador que ia conduzi-lo para sua magnífica recompensa.
Anjo ou não, estava morrendo. O curioso era que não lhe doía muito. Por certo que sentia um intenso ardor, e tinha dificuldades para respirar… o que tomou como sinal de que seus pulmões estavam começando a se encher de sangue, ou de que a cavidade de seu peito estava alagada… mas acima de tudo estava cômodo. Talvez sentisse um pouquinho de frio, mas acima de tudo conforto.
Assim evidentemente devia estar em estado de choque.
Supunha que essa pequena bala devia ter alcançado uma artéria.
Abriu a boca por instinto, mais que nada, não porque desejasse rezar ou rogar aos médicos que se apressassem: estava se afogando em seu próprio corpo e essa era a versão longa e resumida dos fatos.
E em realidade não era um mau desenlace. Graças aos Quatro Garotos, sabia que logo veria sua mãe. E esperava encontrar-se com a adorável garota loira que não merecia ter morrido da maneira em que o tinha feito.
Tudo isso lhe proporcionava paz.
Era gracioso, ao imaginar esses quatro homens ingleses com suas roupas brancas e seu cão, desejo que tivessem êxito e sentiu lástima por eles. Supôs que esses anjos deviam haver-se equivocado. Ele não era a resposta a seus problemas… embora ao menos tinha obtido que Vin e Marie-Terese tomassem o caminho correto.
E embora resultasse estranho sabê-lo, tinha resultado ser que o que tinha estado em frente a uma encruzilhada tinha sido ele e não Vin.
Quando viu o canhão da pistola apontando e preparado para disparar, seu único pensamento tinha sido para Vin e Marie-Terese. Salvá-la significava salvar a ambos, e seu amor era muito mais valioso que uma desprezível vida.
Era a primeira vez que fazia algo assim. A primeira vez que não só tinha agido com absoluta generosidade, mas sim o havia feito por um sentimento que não tinha nada a ver com a ira ou a vingança. E nunca tinha estado mais seguro de nada em sua vida com exceção da necessidade de vingar a sua mãe, que havia sentido tantos anos atrás.
Reunindo suas fraquejantes forças, Jim tentou enfocar os olhos e pôde ver Marie-Terese e Vin inclinados sobre ele. Vin tinha agarrado sua mão e estava falando com ele, o rosto do homem tinha uma intensidade tão grande que chegava ao ponto da distorção, suas feições pareciam distender-se simultaneamente, seus olhos estavam cheios de veemência. Jim tentou concentrar-se para fazer funcionar seu sentido do ouvido, mas o som estava por cima de suas possibilidades. O melhor que podia fazer era supor que o tipo lhe estava dizendo que aguentasse, que a ambulância estava em caminho, aguenta, a ambulância estava chegando… OH, Deus, Jim, fica conosco…
No lado oposto, estava Marie-Terese chorando silenciosamente, seus lindos olhos resplandeciam pela pena, suas lágrimas cristalinas caíam de suas bochechas e foram parar no peito dele. Ela segurava sua outra palma e lhe esfregava o braço brandamente como se tentasse lhe dar calor.
Ele não podia sentir nada, mas ao observar como o acariciava, sentiu-se comovido.
Infelizmente, não sobrava muito tempo para estar com eles, e não tinha fôlego para falar… assim fez quão único podia fazer.
Com a última reserva de força, Jim junto suas mãos, as unindo por cima do buraco de seu peito que tinha mudado tudo para eles três, segurando as duas metades que eram eles, para que fossem um.
Enquanto sua visão cedia, olhou esses dedos, os pequenos e os grandes, entrelaçados entre si. Repentinamente soube com segurança que o futuro ia ser amável com eles. O demônio tinha sido afastado de Vin e de alguma forma os talismãs tinham acabado em posse de Adrian. Estas duas boas e quebrantadas pessoas iriam curar-se uma à outra e iriam caminhar juntas, lado a lado, durante as horas, dias e anos das décadas por vir, e isso era correto; era algo bom.
Fazia uma boa ação. Depois de tantos anos mutilando vidas, tinha salvado uma que importava. E dois que valiam a pena.
Ao chegar à encruzilhada, tinha escolhido sabiamente.
De repente o peito de Jim se paralisou, ele tossiu com força e sua boca se umedeceu. Sua seguinte inalação, não foi outra coisa que um fervor, e seu coração começou a saltar erraticamente. Já não faltava muito, não faltava virtualmente nada.
Apenas podia esperar para ver sua mãe. E o surpreendia em que medida suas ações lhe contribuíam com paz.
Justo no momento em que as luzes vermelhas estavam a jogar sobre o teto -sinal de que uma ambulância se deteve no caminho de entrada da casa- Jim exalou seu último fôlego… e morreu com um sorriso nos lábios.
A viagem na ambulância foi agitada por causa da velocidade e brilhante devido às luzes intermitentes. As sirenes, entretanto, eram ligadas somente nos cruzamentos das ruas. Marie-Terese tomou isso como um bom sinal.
Estava sentada em um banco embutido junto a Vin, com uma mão agarrada a uma barra vertical de aço inoxidável para firmar-se e a outra firmemente apertada contra sua cálida palma, supunha que se sua condição fosse realmente grave, o dilacerador rugido de tom agudo estaria ligado constantemente.
Ou talvez simplesmente estivesse tentando apaziguar-se.
Enquanto jazia na maca, Vin tinha os olhos fechados e o rosto pálido, mas segurava sua mão. E cada vez que passavam um buraco, sobressaltava-se, retraindo os lábios sobre seus dentes brancos… o que tinha que significar que não estava em um choque profundo ou em coma. E isso era bom, verdade?
Se o comparasse com os potenciais aspectos negativos.
Olhou a paramédico. A mulher estava concentrava na tela de um eletrocardiograma portátil, e sua expressão não deixava transparecer nada.
Marie-Terese se inclinou a um lado e tentou obter um olhar de qualquer leitura que estivesse saindo da máquina… e tudo o que pôde ver foi uma linha branca riscando uma espécie de padrão sobre um fundo negro. Não tinha nem idéia do que significava.
Rezou para começar a ver através da janela traseira da ambulância, postes de sistema de iluminação público nas calçadas… e edifícios em lugar de desertos centros comerciais e áreas residenciais… e carros estacionados nos meio-fios.
Porque isso significaria que finalmente estavam no centro da cidade.
E não era só pelo bem de Vin.
Correndo um pouco e levando para frente o traseiro no assento, podia olhar através do pára-brisa dianteiro, e a consolava o fato de que a ambulância que ia diante deles -a que levava Jim- ainda tivesse as luzes acesas. Os paramédicos tinham avaliado a gravidade de ambos os homens, tinham chamado a uma segunda equipe e tinham tratado primeiro de Jim… e ela tinha permanecido fora, no corredor com Eddie enquanto entravam um desfibrilador portátil ao quarto e davam a esse peito ferido um choque… dois choques…
As palavras mais doces que tinha ouvido alguma vez tinham provindo do homem que tinha o estetoscópio: tem pulso.
Esperava que aí em diante pudessem mantê-lo com vida. A idéia que Jim pudesse morrer por salvá-la era quase insuportável.
E quanto a Saul… não tinha precisado de transporte rápido ao hospital. Sobrava tempo para ele.
Bom Deus… Saul?
Tinha sido virtualmente invisível durante essas reuniões do grupo de oração, nada mais que um homem tranquilo, com entradas, que tinha o aspecto patético de um perpétuo perdedor na equação da vida. Não tinha visto nada nele que a levasse a pensar que estava obcecado com ela, mas o problema era… que era precisamente o tipo de homem que nunca recordaria.
Recordava haver-se topado com ele na igreja a noite anterior durante a confissão, perguntou-se quantas vezes teria deixado de notá-lo. Depois de tudo, tinha sido o primeiro carro em deter-se quando hoje tinha tido o probleminha de tráfego depois do serviço. O que sugeria que tinha estado justo detrás dela.
Quão frequentemente a tinha seguido a casa? Teria ido ao Iron Mask?
Com um calafrio, perguntou-se… teria sido ele que matou esses homens que tinham estado com ela?
Todo o assunto não fazia que se sentisse exatamente contente pelo tipo de homem que tinha sido seu ex-marido. Mas sim agradecia as precauções que tinha tomado devido a Mark.
Pelo pára-brisa dianteiro, viu passar voando os escritórios do Caldwell Courier Journal e apertou a mão de Vin.
—Já quase chegamos.
Ele levantou as pálpebras. Esses olhos cinza que a tinham cativado em um princípio voltaram a ter o mesmo efeito: olhando-os fixamente, sentiu como se tropeçasse e caísse e não tivesse idéia de onde ia aterrissar.
Embora isso já não fosse verdade, não era? Sabia exatamente que tipo de homem era e não era do tipo dos quais você tinha que cuidar.
Era o homem que precisava em sua vida. Que queria em sua vida.
Inclinando-se sobre ele, afastou-lhe o cabelo para trás, acariciou a incipiente barba e o olhou nos olhos.
—Amo você —disse, inclinando-se para beijar seus lábios.
Ele apertou sua mão.
—Eu também… amo você.
Homem, essa voz rouca a derretia por dentro.
—Bem. Então estamos empatados.
—Estamos…
A ambulância golpeou algo na estrada e tudo, das máquinas passando pela paramédico e até Vin na maca, sacudiu-se. Enquanto ele aspirava com um sussurro agressivo e fechava os olhos com força, ela voltou a debruçar-se para olhar através da janela da parte da frente, ansiosa para ver como brilhava no ambiente o complexo do Hospital St. Francis… esperando que de alguma forma o estabelecer contato visual com seu destino pudesse acelerar as coisas.
Vamos…vamos…
De repente a ambulância que ia diante deles apagou as luzes vermelhas e reduziu a velocidade até o limite legal, e a que os levava a ela e a Vin a alcançou rapidamente… e logo a ultrapassou a que até agora tinha liderado a marcha.
—Por que diminuem a velocidade? —perguntou enquanto a paramédico recolocava o monitor do eletrocardiograma— Apagaram as luzes. Por que estão diminuindo a velocidade?
O gesto negativo da cabeça que obteve como resposta, não foi uma surpresa. Era uma tragédia: só era necessário apressar-se se a pessoa estava viva. E esse era o motivo pelo qual ninguém tinha atendido Saul depois que tinha sido declarado morto.
A morte te deixava uma eternidade para se ocupar dos corpos. Não era necessário apressar-se.
Marie-Terese respirou lentamente e quando as lágrimas alagaram seus olhos, soltou a barra da qual se agarrava e as enxugou. Quão último queria era que Vin abrisse os olhos e a visse desgostada.
—TEA[24] dois minutos —gritou o condutor da frente.
A paramédico recolheu um gráfico.
—Senhora, me esqueci de perguntar. É você sua parente mais próxima?
Limpando os olhos, recuperou a compostura pelo bem de Vin e soube com certeza que de nenhuma maldita maneira ia arriscar-se a ser excluída no que referia a seu cuidado. Conhecidos e amigos só podiam chegar até certo ponto quando se tratava dos doutores e as enfermeiras da sala de urgências.
—Sou sua esposa.—disse.
A mulher assentiu e anotou algo.
—E seu nome é?
Nem sequer vacilou.
—Gretchen. Gretchen Capricio.
—Você é um homem muito afortunado.
Duas horas depois, essas palavras com entonação ao estilo Porra, sim! Foram ditas ao Vin enquanto a doutora que tinha afirmado retirava as luvas cirúrgicas cor azul brilhante com um estalo e lançava o par em um contêiner de risco biológico laranja.
Ela tinha muita razão. Tudo o que tinha precisado tinha sido anestesia local e alguns pontos para fechar as feridas de entrada e saída. Não havia ossos quebrados, nem tendões rasgados nem nervos danificados. O bastardo da pistola só tinha acertado a carne, o qual era estúpido e de uma vez uma boa jogada.
Vin realmente tinha tido sorte.
Infelizmente, sua resposta às boas notícias foi dobrar-se sobre si mesmo e vomitar na bacia rosa que tinha junto a sua cabeça. E a ação de mover o torso fez que a dor de seu ombro se convertesse na diva do momento… o que piorou os vômitos… que pioraram a dor… e assim seguiu imensamente. E ainda assim tinha que estar de acordo com a mulher vestida com o uniforme verde de médico. Tinha sorte. Era o bastardo mais afortunado do planeta.
—Entretanto não tolera o Demerol[25]. —disse.
Obrigado pela notícias de último momento, pensou Vin. Tinha estado vomitando desde que lhe aplicaram a injeção, por volta de uns trinta minutos.
Depois que sua última rajada de náuseas perdeu entusiasmo, reclinou-se para trás sobre o travesseiro e fechou os olhos. Quando sentiu uma toalhinha fresca limpando sua boca e o rosto, sorriu. Marie-Terese — Gretchen, na realidade — continuava sendo maravilhosa no manejo do tecido de felpa.
E se Deus quisesse, passaria muito tempo antes que tivesse que voltar a fazer uso dessas habilidades nele.
—Vou aplicar em você uma injeção anti-vômitos —disse a doutora— e se o vômito ceder, poderemos lhe dar alta. Deve tirar os pontos dentro de dez dias, e seu médico pode fazê-lo. Nós colocamos um reforço do tétano e lhe darei uma receita para os antibióticos orais… mas por aqui temos umas amostras médicas, e já lhe demos um. Alguma pergunta?
Vin abriu as pálpebras e em vez de olhar a doutora, olhou para Gretchen. Amava-o. O havia dito, quando estavam na ambulância. Tinha escutado as palavras de sua própria boca.
Assim não, não tinha nenhuma pergunta. Enquanto soubesse que ela se sentia dessa forma, estava preparado para enfrentar quase todo o resto.
—Só me aplique essa injeção, Dr, para que possa ir embora daqui.
A mulher ficou umas luvas novas, desentupiu uma seringa e colocou a agulha diretamente em sua veia. Quando apertou o êmbolo, não sentiu nada, o que fez que quase valesse a pena ter os vômitos.
—Isto deverá aliviá-lo imediatamente.
Vin conteve a respiração, sem esperar realmente...
Sagrada merda. O efeito foi imediato, como se sua barriga tivesse sido coberta por um lote completo do Ei-nem-pensar-tranquilo-grandão. Com um suspiro trêmulo, todo seu corpo ficou lasso, dando-lhe uma idéia clara de quão enjoado exatamente havia se sentido, como se o vômito não o tivesse obtido.
—Vejamos se assim agüenta. —disse a doutora, voltando a tampar a seringa e atirando-a a uma caixa laranja— Só descanse aqui, e quando lhe der alta, chamaremos um táxi para você e sua esposa.
Ele e sua esposa.
Vin levou a mão de Gretchen à boca e roçou seus nódulos com um beijo.
—Soa bem pra você? —perguntou— Querida?
—Perfeito. —Um sorriso curvou seus lábios— Tão logo esteja preparado para partir, querido.
—Definitivamente estou.
—Bem, retornarei para controlá-lo. —A doutora foi para a cortina que separava o cubículo de Vin do resto das emergências— Escute, o Departamento de Policia quer vê-lo. Posso lhes dizer que entrem em contato com você…
—Faça que entrem —disse Vin— Não há razão para fazê-los esperar.
—Está seguro?
—O que é o pior que pode ocorrer? Que volte a vomitar outra vez e use os bolsos do tipo no lugar da minha bacia? Estou disposto a me arriscar.
—Muito bem, como quiser. Se alongarem-se muito, toque o botão da enfermaria e nós interviremos. —A doutora assentiu e apartou a cortina— Boa sorte.
Enquanto a cortina se fechava, Vin apertou a mão de Gretchen com urgência, porque não sabia quanto tempo tinham.
—Quero que me diga a verdade.
—Sempre.
—O que aconteceu com Jim? Está…?
Ela engoliu com força antes de responder, e isso disse tudo, e para evitar de ter que dizê-lo com palavras, beijou-lhe a mão outra vez.
—Shh, está bem. Não tem que dizer…
—Era seu amigo. Sinto tanto…
—Não sei como dizer isto, assim simplesmente o direi. —Vin esfregou seu pulso com o polegar, sobre o lugar onde lhe pulsava o pulso—Alegra-me muito que ainda esteja aqui. Para seu filho. Para mim. Jim fez algo incrivelmente desinteressado e heróico e por mais que deseje que não tivesse morrido devido a isso, estou muito agradecido pelo que fez.
Ela baixou a cabeça e assentiu, seu cabelo encaracolado caiu para frente. Enquanto ele desenhava círculos sobre os finos ossos de seu pulso, percorreu as brilhantes ondas com o olhar. A última ação de Jim na terra tinha deixado tremendo legado, ou seja, uma vida a ser vivida… um filho que ainda tinha a sua mãe… e um amante cujo coração não se fez em pedaços pela perda.
Um bom legado.
—Era um verdadeiro homem. —Vin clareou a garganta— Ele… foi um grande homem.
Permaneceram juntos em silêncio, ele estendido sobre a maca, ela em uma cadeira de plástico, suas mãos estavam firmemente unidas… da mesma forma como o homem que tinha salvado a vida dela as tinha unido sobre seu peito.
Ao outro lado da cortina cinza e azul, as pessoas andavam apressadas, suas vozes se sobrepunham uma a outra, seus sapatos sussurravam ao passar, seus ombros roçavam a cortina e faziam que se balançasse nos ganchos de metal dos quais pendurava.
Por outro lado ele e Gretchen, estavam imóveis.
A morte fazia isso a uma pessoa, pensou Vin. Detinha-a em um lugar em meio das grandes cambalhotas e lutas da vida, isolando-a na quietude do silêncio. No mesmo momento em que tomava posse, mudava tudo, mas seu efeito era como o de um carro se chocando contra uma parede… o que estava dentro continuava avançando porque a merda não tinha nem idéia … sendo o resultado o caos absoluto: Toda a roupa que a pessoa teria usado alguma vez se convertia em uma espécie de exibição histórica que devia ser eliminada pelo familiar mais próximo e querido… e suas assinaturas às revistas, seus estados de conta e os avisos do dentista passavam de ser correspondência a ser correio de lixo… e o lugar onde viviam passava de ser um lar a ser uma casa.
Tudo parava… e nada voltava a ser o que tinha sido.
Meu Deus, quando se encontrava com a notícia de que um conhecido tinha morrido, obtinha uma pequena tira do que o defunto estava tendo à mãos cheias: parava de repente e se desentendia do negócio da vida enquanto o tangido dos sinos ressoava através de sua mente e seu corpo. E como os humanos eram insofríveis, habitualmente o primeiro pensamento era: Não, não pode ser.
A vida, entretanto, não vinha com um botão de rebobinar e estava fodidamente seguro que não lhe interessavam as opiniões do galinheiro.
A cortina foi afastada, revelando um homem gordinho com olhos e cabelo escuros.
—Vin diPietro?
Vin sacudiu a cabeça com força para prestar atenção.
—Ah… sim, sou eu.
O homem entrou e tirou uma placa.
—Sou o detetive da Cruz de Homicídios. Como vai?
—Não vomitei durante quase dez minutos.
—Bem, felicito-o. —Saudou Gretchen com uma inclinação de cabeça e lhe fez uma pequena reverência— Sinto que temos de voltar a nos encontrar tão cedo… e sob estas circunstâncias. Agora, vocês podem me dar uma rápida versão do ocorrido? E escutem, nenhum de vocês está sob prisão… mas se preferem falar na presença de um advogado, entendo-os.
Não tinha chamado Mick Rhodes ainda, e sem dúvida desaconselharia dizer algo sem que ele estivesse presente, mas Vin estava muito cansado para que lhe importasse… e de todas as formas, não fazia mal cooperar substantivamente se tinha agido dentro dos limites da lei.
Vin sacudiu a cabeça daqui para lá no travesseiro.
—Não, está bem, detetive. Quanto ao ocorrido abaixo… estávamos em cima no dormitório com… —Por alguma razão, um instinto primitivo lhe disse que não mencionasse Eddie… um tão poderoso que se sentiu incapaz de resisti-lo— …com Jim.
O detetive tirou um pequeno bloco de papel de notas e uma caneta, ao mais puro estilo Colombo.
—O que estavam fazendo na casa? Os vizinhos dizem que normalmente não há ninguém ali.
—O lugar é meu e finalmente tinha decidido renová-lo para vendê-lo. Sou construtor e Jim trabalha… trabalhava… para mim. Estávamos ali discutindo o projeto, já sabe, registrando os cômodos… suponho que deixei a porta principal aberta e estávamos no andar de cima quando tudo ocorreu. —Como o detetive assentia e tomava notas em seu bloco de papel, Vin lhe deu a oportunidade de anotar tudo— Estávamos no dormitório, falando e quando me dei conta ouvi o disparo. Passou tão endemoniadamente rápido… Jim saltou na frente dela e recebeu a bala… Eu estava junto à cômoda, de costas à porta e tirei minha arma… a qual, por certo, está registrada e tenho permissão para usá-la. Disparei no homem e ele caiu.
Mais notas no bloco de papel.
—Disparou-lhe várias vezes.
—Sim, fiz isso. Não ia lhe dar a oportunidade de soltar outro bombardeio.
O detetive retrocedeu no bloco de papel de notas e as páginas coloridas rangeram. Quando levantou a vista novamente, sorriu brevemente.
—Correto, de acordo… então por que não tenta de novo e desta vez me diz a verdade? Por que você estava nessa casa?
—Já disse…
—Havia sal derramado por toda parte, aroma de incenso no ambiente e a janela do dormitório do andar de cima estava quebrada. O lavabo do segundo andar estava cheio com algum tipo de solução, e havia garrafas vazias de coisas como água oxigenada por toda parte… e o círculo desenhado no chão em meio desse dormitório no que estavam também lhe dava um toque bonito. OH… e você foi encontrado sem camisa e sem sapatos, o qual parece uma indumentária bastante singular para falar de negócios. Assim… embora me inclino a acreditar em você quanto à parte do tiroteio, porque posso riscar a trajetória dos disparos assim como também ao outro tipo, mentiu para mim em todo o resto.
Bem, era o momento de deixar cair o alfinete.
—Acredito que deveríamos lhe dizer a verdade, querido. —disse Gretchen.
Vin a olhou e se perguntou: Exatamente que verdade seria essa, querida?
—Por favor, faça isso. —disse o detetive— E olhe, direi a você o que acredito, se por acaso lhe serve de ajuda. O homem que você matou era Eugene Locke aliás Saul Weaver. Era um assassino sentenciado que saiu da prisão faz uns seis meses. Alugava a casa do lado e estava obcecado —o detetive assinalou Gretchen com a cabeça— com você.
—Isso é o que não posso entender… por quê? —Gretchen se deteve— Espere um momento, como você sabe disso? O que encontrou em sua casa?
O detetive afastou a vista de suas notas, centrando-se em um ponto médio.
—O homem tinha fotos delas.
—Que tipo de fotos —perguntou ela com tom desanimado.
Enquanto Vin lhe acariciava a mão, o detetive encontrou seu olhar.
—Com objetivas, teleobjetivas, esse tipo de coisa.
—Quantas.
—Muitas.
Gretchen apertou a palma contra a dele.
—Encontraram algo mais?
—No andar de cima havia uma estátua. Uma que tinha sido denunciada como roubada da Catedral de St. Patrick…
—OH, meu Deus, a Maria Madalena —disse Gretchen—Vi que faltava na igreja.
—Essa mesma. E não estou seguro de se o notou ou não, mas se parece muito com você.
Vin lutou contra o desejo de matar ao tipo outra vez.
—Poderia este Eugene… o tipo este Saul… como se chame, ser responsável por essas mortes e essas surras ocorridas nos becos?
O detetive folheou sua caderneta.
—Dado que está morto, e por conseguinte não é possível danificar sua reputação… lhe direi que acredito poder vinculá-lo com ambos os incidentes. Neste mesmo momento, o homem que foi ferido na cabeça ontem à noite segue ainda com vida. Se conseguir sobreviver, acredito que identificará seu assaltante como a alguém de cabelo escuro, porque quando revistamos a casa de Locke, encontramos uma peruca de homem morena com rastros de salpicaduras de sangue. Os do CSI já estão examinando-a e acredito que os resíduos vão corresponder com uma ou todas nossas vítimas. Também temos o rastro de um sapato extraído da primeira cena que resulta ser extremamente parecida com o que Locke tinha posto esta noite. Assim, sim, se relacionarmos tudo… —Mais percurso de folhas de bloco de papel, seguido de outro olhar a Gretchen— Acredito que Locke se fixava como objetivo os homens com quem você tinha dançado ou para os quais tinha dançado no clube, e isso explica os ataques. E foi um golpe de sorte —ou de má sorte seria mais adequado dizer— o fato de que vivesse na casa contigua a que vocês visitaram esta noite. Porque ele não sabia que o lugar lhe pertencia, verdade?
Vin negou com a cabeça.
—Estive ali acredito que uma vez no mês passado, e antes disso… não recordo. E não acredito que soubesse meu nome para me procurar nos registros de bens imóveis. Além disso, há quanto tempo estava vivendo na casa ao lado?
—Desde que foi solto.
—Sim, ela e eu não nos conhecemos até… faz três dias.
Da Cruz fez outra anotação.
—Bom, fui franco. Que tal se me devolve o favor? Quer me dizer a verdade a respeito do motivo pelo qual estava ali?
Gretchen falou antes que o fizesse Vin.
—Você acredita em fantasmas, detetive? —o homem piscou algumas vezes.
—Ah… não estou seguro.
—Os pais de Vin morreram nessa casa. E ele sim quer renová-la. O problema é… que há um mau espírito nela. Ou o havia. Tentávamos expulsá-lo.
Vin arqueou as sobrancelhas. Merda. Isso tinha sido fantástico, pensou.
—De verdade? —perguntou o detetive, seus olhos cor café iam e vinham entre eles como em uma partida de tênis.
—De verdade —disseram Vin e Gretchen em uníssono.
—Não estão me sacaneando. —murmurou o detetive.
—Não estou sacaneando.—respondeu Vin— Supostamente o sal ia criar uma barreira ou algo assim e o incenso devia limpar o ar. Escute, não vou pretender que entendo tudo a respeito disso… —Demônios, nem sequer ele tinha tudo claro— Mas sei que o que fizemos funcionou.
Porque se sentia diferente. Era diferente. Agora era só ele mesmo.
Da Cruz passou as folhas até encontrar uma limpa e escreveu algo.
—Sabe?Minha avó estava acostumada poder predizer o clima. E havia uma cadeira de balanço em seu apartamento de cobertura que se movia sozinha. O que lançaram pela janela?
—Acreditaria se lhe disser que se quebrou sozinha? —respondeu Vin.
Da Cruz levantou a vista.
—Não sei.
—Bom, assim foi.
—Pode-se supor que o que fosse o que fizeram poderia ter funcionado realmente.
—Fez. —Vin se esfregou os olhos com a mão livre até que seu ombro lançou um alarido que não podia ser ignorado e teve que deter-se— Não obstante eu gostaria de poder ter a fodida esperança de que seja para sempre.
Houve uma pausa e logo depois da Cruz olhou para Gretchen.
—Tenho outra pergunta para você, se não se importar. Disse aos médicos que seu nome é Gretchen Capricio, mas eu a tenho registrada como Marie-Terese Boudreau. Importaria-se de me ajudar explicando isso um pouco?
Gretchen lhe deu uma explicação cabal de sua situação, e enquanto falava, Vin cravou os olhos em seu belo rosto e desejou poder assumir toda a dor do passado e a tensão nervosa do presente, a economizando. Tinha sombras nos olhos e em baixo deles, mas como ele tinha aprendido a esperar, sua voz era firme e tinha o queixo no alto.
Merda, estava apaixonado por ela.
Quando terminou, o detetive estava sacudindo a cabeça.
—Realmente sinto muito por tudo isto. E o entendo perfeitamente… embora desejaria que tivesse sido sincera desde o começo conosco.
—Em sua maior parte, tinha medo da imprensa. Meu ex-marido está na prisão, mas suas conexões familiares estão por todo o país… e alguns deles trabalham com as forças da lei. Depois do que aconteceu com meu filho, não confio em ninguém… nem que leve identificação.
—O que a fez decidir-se a confessar tudo esta noite?
Seus olhos se dirigiram para Vin.
—As coisas mudaram e parto da cidade. De todas as formas o deixarei saber onde estou, mas… tenho que sair de Caldwell.
—Depois de tudo isto, entendo… embora teríamos que ser capazes de localizá-la.
—E voltarei a cada vez que precisar de mim.
—De acordo. Olhe, falarei com meu sargento. Dar uma identidade falsa à polícia é um delito, mas dadas as circunstâncias… —guardou seu bloco de papel de notas— Também ouvi dizer ao pessoal daqui que lhes disse que era sua esposa?
—Queria ficar com ele.
Da Cruz sorriu um pouco.
—Eu fiz isso uma vez. Minha esposa e eu tínhamos uma encontro e quando estava cortando as coisas para fazer uma salada para o jantar, ela cortou o dedo com a faca. Quando a levei para a emergência, menti e disse que estávamos casados.
Gretchen levantou a mão de Vin até seus lábios e o beijou brevemente.
—Alegra-me que o entenda.
—Faço-o. Realmente o faço. —O detetive assinalou Vin com a cabeça— Foi assim que vocês dois começaram a sair?
—Isso mesmo.
—Imagino que a sua anterior namorada não gostou, verdade?
—Isso mesmo… Tenho uma ex-namorada infernal.
Literalmente.
De repente, Vin recordou a desordem que tinha havido em seu duplex e as mentiras que Devina havia dito à polícia.
—Ela é rancorosa, detetive. Pior do que possa imaginar. E não a agredi, nem nessa noite, nem nunca. Meu pai abusava de minha mãe, e eu não estou de acordo com essa merda. Retiraria-me e deixaria tudo o que possuo antes de bater em uma mulher.
O detetive entrecerrou os olhos e cravou esse olhar fixo de águia em Vin. Depois de um momento, o tipo assentiu.
—Bom, já veremos. Não me encarrego desse tipo de assuntos porque estão fora de meu departamento… mas não seria uma surpresa que descobrissem que algo mais estava acontecendo, como uma terceira pessoa ou algo parecido. Já vi a cara de vários agressores e você não é como eles.
Da Cruz guardou o bloco de papel de notas e a caneta e jogou uma olhada ao relógio de pulso.
—Ei, veja só. Agora passou quase meia hora sem vomitar. É um bom sinal… possivelmente o deixem sair desta geladeira.
Vin estendeu a mão livre embora seu ombro não o apreciasse.
—É você um bom homem, detetive, sabia?
Uma palma sólida encontrou a de Vin e as estreitaram.
—E espero que entre vocês dois ocorra tudo bem. Manterei-me em contato.
Depois que o homem saiu, a cortina se agitou até voltar para seu lugar e Vin respirou fundo.
—Quanto tempo se supõe que tenho que esperar antes de poder partir ?
—Daremos meio hora, e se não vierem verem como está, sairei para procurar a doutora.
—Certo.
O problema era que estar impotente e esperando como um menino bom nunca lhe tinha sentado bem. Não tinham passado nem cinco minutos, e já se preparava para apertar o botão que chamava as enfermeiras, quando a cortina se abriu outra vez.
—Perfeito sentido de oportunidade… —Vin franziu o cenho. Em lugar de uma enfermeira ou um doutor, era Eddie, com um aspecto tão sombrio quanto o de um homem que acabava de perder um amigo e de cair por uma janela do segundo andar.
Imagine.
Por instinto, Vin imediatamente quis erguer-se da maca, mas não se saiu muito bem. Quando seu ombro soltou um guincho como o de uma soprano, teve que fechar a garganta para evitar vomitar em cima de si mesmo… mas ao menos não era devido ao Demerol.
Enquanto Gretchen se equilibrava em busca de uma bacia limpa e Eddie levantava ambas as palmas no sinal universal “e daí”, Vin cambaleou na beira do precipício.
Fodidos obrigado que a maré retrocedeu e seu estômago finalmente se tranquilizou.
—Sinto muito. —disse com voz áspera— Estou contrariado.
—Não há problema. Não há nenhum problema.
Vin inspirou pelo nariz e expulsou o ar pela boca.
—Sinto… sobre Jim.
Gretchen se aproximou de Eddie e segurou os maciços antebraços do tipo. De pé em frente a ele, parecia tão diminuta quanto feroz.
—Devo-lhe a vida.
—A de ambos. —interveio Vin.
Eddie a abraçou brevemente e saudou com a cabeça ao Vin. Evidentemente, era o tipo de homem que controlava suas emoções… o qual era algo que Vin podia respeitar.
—Agradeço-lhes isso. E agora, a razão pela qual vim. —Eddie colocou a mão no bolso, e quando a tirou, no centro de sua palma estava o anel de diamantes e o pingente de ouro— Adrian fez o que devia fazer e os tirou. Ambos são completamente livres e pela forma como funcionam estas coisas, agora estão fora de seus limites. Não têm que se preocuparem com que Devina volte. Só guardem estes, certo?
Enquanto Gretchen tomava as peças e o abraçava outra vez, Vin deixou que o abraço dela dissesse tudo o que desejava poder dizer e não se atrevia a fazê-lo. Estava se sentindo um pouquinho engasgado e não devido a seu estômago que estivesse girando para realizar outra evacuação: algumas vezes a profunda gratidão tinha o mesmo efeito nas tripas que a náusea. O assunto era, que simplesmente não podia imaginar o que tinham obtido estes homens ao ajudar a ele e a Gretchen. Jim estava morto, Eddie parecia estar feito merda e só Deus sabia o que havia feito Adrian com Devina.
—Meninos se cuidem, está bem? —murmurou Eddie, girando-se para sair— Eu tenho que ir.
Vin clareou a garganta.
—A respeito de Jim… Não sei se tinha planejado reclamar seu corpo, mas eu gostaria de lhe dar um enterro adequado. Só o melhor. O melhor do melhor.
Eddie olhou sobre o ombro, e seus estranhos olhos cor marrom-avermelhada tinham uma expressão séria.
—Isso seria bonito… o deixarei se encarregar dele. E estou seguro de que ele o apreciaria.
Vin assentiu uma vez, fechando o trato.
—Quer saber quando e onde? Pode me dar seu número?
O tipo recitou alguns números, e Gretchen os anotou em um pedaço de papel.
—Me mande uma mensagem com os detalhes —disse Eddie— Não estou seguro de onde estarei. Vou.
—Não quer que um médico o examine?
—Não há nenhuma necessidade. Estou bem.
—Ah… está bem. Cuide-se. E obrigado… —Vin deixou as palavras no ar porque não sabia como expressar o que sentia em seu coração.
Eddie sorriu de forma sábia e levantou uma de suas mãos.
—Não tem que dizer nada mais. Entendo você.
E logo se foi.
Enquanto a cortina se agitava até fechar-se, Vin observou por debaixo dela como as botas giravam à direita, davam um passo… e se desvaneciam. Como se nunca tivessem estado ali.
Levando a mão direita ao rosto, Vin esfregou os olhos.
—Acredito que estou alucinando.
—Quer que vá procurar o doutor? —Gretchen se aproximou, toda preocupada— Posso usar o botão das enfermeiras.
—Não, estou bem… O sinto, acredito que só estou verdadeiramente exausto. —Quanto a ele concernia, o tipo simplesmente se deslocou para a esquerda e nesse preciso momento estava saindo a passo longos da sala de emergências e entrando na noite. Vin puxou Gretchen, aproximando-a dele— Sinto como se agora tivesse terminado. Todo este assunto.
Bom, tinha terminado tudo exceto suas visões que tinham retornado para ficar… ao menos segundo o que havia dito Eddie. Mas talvez isso não fosse algo mau. Talvez pudesse encontrar alguma forma de canalizá-las ou de usá-las para o bem.
Franzindo o cenho, deu-se conta de que tinha encontrado um novo propósito. Só que este serviria a outros, não a si mesmo.
Se tomasse tudo em consideração não era um mau desenlace.
Gretchen abriu a mão e as jóias brilharam, especialmente o diamante.
—Entretanto, se não se importa, vou colocar estes em uma caixa forte.
Enquanto ela os enterrava profundamente no bolso de seu jeans, Vin assentiu:
—Sim, não voltemos a perder essas coisas de novo, de acordo?
—Não. Nunca mais.
Quando o táxi se deteve em frente à casa alugada de Gretchen, a luz da alvorada despontava sobre Caldwell formando uma encantadora esteira cor pêssego e amarelo dourado. A viagem do St. Francis até ali tinha sido endemoniadamente melhor que a que havia feito à Sala de Emergências na parte traseira dessa ambulância, mas Gretchen tinha claro que Vin estava longe de estar bem. Com o rosto pálido, esverdeado e rígido, resultava óbvio que se sentia dolorido, e com o braço na tipóia, a mobilidade ia ser um problema. Além disso, parecia um indigente com a camisa solta que lhe tinham dado no hospital, com o longo pescoço completamente aberto deixando ver debaixo a atadura super branca que partia da base do pescoço e cruzava todo um lado do peito.
—Próxima parada o Commodore, certo? —disse o condutor por sobre seu ombro.
—Sim —respondeu Vin com voz esgotada.
Gretchen olhou fixamente através da janela para sua pequena casa. O carro da babá estava estacionado em frente, na rua e havia uma luz acesa na cozinha. No andar superior, o quarto de Robbie estava às escuras. Não queria que Vin retornasse ao duplex sozinho. Não estava segura de como reagiria Robbie ao conhecê-lo. E se sentia presa entre os dois.
Voltando-se para Vin, examinou seus traços familiares e atraentes. Estava falando com ela… dando palmadinhas em sua mão… provavelmente lhe dizendo que descansasse, se cuidasse, e o chamasse quando despertasse…
—Por favor, entra —resmungou ela— Fica comigo. Acabam de alvejá-lo e precisa que alguém cuide de você.
Vin se deteve na metade de uma frase e ficou olhando-a fixamente. Que foi precisamente o que fez o taxista no retrovisor. Mas por outro lado, tanto o convite, como a parte do disparo foram, sem dúvida, surpreendentes para cada um dos homens, respectivamente.
—E Robbie? —perguntou Vin.
Gretchen levantou a vista e se encontrou com os olhos do condutor. Deus, desejava que houvesse um modo de pôr uma separação de maneira que o tipo que estava detrás do volante não escutasse tudo isto.
—Apresentarei os dois. E começaremos por aí.
Vin esticou a boca e ela se preparou para uma resposta negativa.
—Obrigado… eu gostaria de conhecer seu filho.
—Bem. —sussurrou com uma combinação de alívio e medo— Vamos.
Ela pegou a carreira e saiu primeiro do táxi para poder ajudar Vin… mas ele negou com a cabeça e se agarrou ao flanco do táxi para sair por si mesmo. O que esteve muito bem de sua parte, considerando a forma como se contraíram os músculos de seu antebraço. Dado o muito que pesava, era mais provável que ela tivesse caído sobre ela, em vez de conseguir colocá-lo em pé.
Uma vez que esteve erguido, ela se situou junto a seu lado bom, fechou a porta e o ajudou a caminhar pelo atalho dianteiro.
Em vez de tentar encontrar suas chaves, chamou brandamente à porta e Quinesha a abriu imediatamente.
—Meu deus, teriam que vê-los.
A mulher retrocedeu e Gretchen levou Vin para o sofá, onde mais que sentar caiu sobre as almofadas... o que a levou a pensar que lhe tinham falhado os joelhos.
Durante um longo momento, todo mundo esperou para ver se ia precisar que o levassem apressadamente ao banheiro.
Quando pareceu que ele aparentemente tinha conseguido controlar-se, Quinesha não se deteve fazendo muitas perguntas. Simplesmente deu a Gretchen um de seus rápidos e fortes abraços, perguntou se queriam que os ajudasse em algo e quando Gretchen lhe disse o usual obrigada-de-coração-mas-não, partiu.
Gretchen fechou a porta com chave e deixou sua bolsa na desvencilhada cadeira que estava junto ao televisor. Vin deixou cair a cabeça para trás e fechou as pálpebras e não a surpreendeu ver que respirava várias vezes, longa e profundamente mantendo-se por outro lado, completamente imóvel,.
—Quer ir ao banheiro? —perguntou-lhe, esperando que não tivesse que vomitar outra vez.
Quando negou com a cabeça, ela foi à cozinha, tomou um copo do armário e o encheu até em cima com gelo. Graças a seu filho, havia duas coisas que ela sempre tinha em casa: refrigerante e bolachas salgadas, também conhecidos como o cura tudo das mães. E embora Robbie fosse um menino que recebia a educação em sua casa, brincava com outros meninos na Associação Cristã, e todas as babás tinham meninos que adoeciam com gripes, resfriados e vírus estomacais. Uma mãe nunca podia saber quando ia precisar da combinação mágica.
Abrindo uma lata fresca da Canada Dry[26], verteu o refresco sobre o gelo e observou como a efervescência se tornava louca e formava espuma que subiu até o mesmo bordo do copo. Enquanto esperava que as coisas se acalmassem, tirou um pacote de bolachas e pôs uma pilha de cinco centímetros sobre um guardanapo de papel dobrado.
No momento em que estava enchendo o copo novamente, escutou a voz grave de Vin da sala de estar:
—Olá.
Seu primeiro instinto foi sair correndo para tranquilizar Robbie... mas sabia que se desse a impressão de que havia um problema, só faria que tudo fosse mais dramático do que já ia ser. Recolhendo o que tinha preparado para Vin, obrigou-se a entrar tranquilamente na sala de estar.
Robbie tinha o cabelo todo arrepiado na parte de trás da cabeça, como sempre que se levantava da cama, e seu pijama do Homem Aranha o fazia parecer menor do que era em realidade porque ela de propósito os comprava números maior do necessário.
Permanecia de pé, apenas dentro da sala, estava concentrado em seu convidado e a expressão de seus olhos era cautelosa, mas curiosa.
Deus… tinha palpitações, um nó na garganta e a mão lhe tremia tanto que fazia tilintar o gelo do refrigerante.
—Este é meu amigo Vin —manifestou em voz baixa.
Robbie olhou para trás, a ela e logo voltou a enfocar-se no sofá.
—Esse é um grande band-aid. Cortou-se?.
Vin assentiu lentamente:
—Fiz isso.
—Com o que?
Gretchen abriu a boca, mas Vin foi mais rápido com a resposta.
—Caí e me machuquei.
—É por isso que também tem o braço na tipóia?
—Isso mesmo.
—Não parece muito bem.
—Não me sinto muito bem.
Houve uma longa pausa. E depois, Robbie deu um passo adiante.
—Posso olhar seu band-aid?
—Sim, claro. —Embora resultou evidente que lhe causava muita dor, Vin afastou as tiras da tipóia de seu ombro e lentamente desabotoou a camisa emprestada. Jogando o tecido para trás, expôs a almofadinha, a gaze e a cinta.
—Uuauuuu —disse Robbie e caminhou para ele, estendendo a mão.
—Não o toque, por favor —disse Gretchen rapidamente— Dói.
Robbie retirou a mão.
—Sinto muito. Sabe?… mamãe é boa curando meus cortes.
—Sim? —disse asperamente Vin.
—Isso mesmo. —Robbie olhou por sobre o ombro— Vê? Já tem o refrigerante. —Baixando a voz até convertê-la em um sussurro, acrescentou—: Ela sempre me dá refrigerante e bolachas salgadas. Realmente eu não gosto muito, mas normalmente me sinto melhor depois de comer isso.
Gretchen se aproximou do sofá e pôs as bolachas na mesa ao lado de Vin.
—Aqui tem. Isto estabilizará seu estômago.
Vin pegou o copo e olhou para Robbie.
—Posso ficar um pouquinho em seu sofá? A verdade é que estou realmente cansado e preciso um lugar onde descansar.
—Sim. Pode ficar aqui até que esteja melhor. —Seu filho estendeu a mão e apresentou a si mesmo— Sou Robbie.
Vin estendeu seu braço bom.
—Prazer em conhecê-lo, amigo.
Depois de que as estreitaram, Robbie sorriu.
—Tenho uma idéia, também
Enquanto saía da sala, ela disse:
—Gostaria de trocar de roupa e tirar o pijama, por favor?
—Sim, mamãe.
Quando passou a seu lado, Gretchen teve que apelar a cada grama de seu controle para não agarrá-lo e abraçá-lo… mas ele estava se comportando como o homem da casa, e os meninos de sete anos mereciam ter seu orgulho.
—Acredita que isso foi bem? —perguntou Vin baixinho.
—Realmente acredito. —Piscou rapidamente e se sentou a seu lado— E por favor beba um pouco disso.
Vin segurou sua mão e lhe deu um rápido apertão, logo bebeu um gole.
—Não acredito que esteja preparado para as bolachas salgadas.
—Podemos esperar para isso.
—Obrigado… por me deixar conhecê-lo.
—Obrigado por ser tão bom com ele.
—Ficarei no sofá, certo?
—Sim e nós podemos ter nossas lições na cozinha. Eu o ensino em casa, e hoje é segunda-feira.
—Amo você —disse Vin, voltando o rosto para olhá-la — A amo tanto que dói, maldição.
Ela sorriu e se inclinou para aproximar-se e beijá-lo.
—Talvez só seja seu ombro o que fala.
—Não, está mais perto do centro de meu peito. Acredito que… se chama coração? Não estou seguro, não tinha tido um antes.
—Acredito que poderia ser o coração, sim.
Houve uma pausa.
—Continua pensando em se mudar a minha fazenda?
—Se a você continua parecendo melhor, sim.
—Enquanto estiver lá importaria-se em ter alguém mais em um dos quartos de convidados? Já sabe, um companheiro de arrendamento? É um lugar grande, e há um apartamento de serviço em cima da cozinha que ele poderia usar enquanto você e Robbie têm todo o espaço do segundo andar. E eu posso responder pelo tipo. É ordenado, limpo, tranquilo e respeitoso. Conheço-o faz tempo. Está tentando recompor sua vida e vai precisar de um lugar onde alojar-se.
Ela acariciou seu rosto e pensou que não fazia muito que eles se conheciam, se tratava-se de horas…mas considerando o que tinham passado, era como se tudo tivesse que ser medido em anos de cão. Ou mais.
—Penso que seria fantástico.
Voltaram a beijar-se rapidamente e ele disse:
—Se não funcionar, partirei em seguida.
—Não sei por que, mas de algum jeito acredito que vai sair bem.
Vin sorriu e bebeu um pouquinho mais.
—Fazia anos que não tomava refrigerante.
—Como está seu estômago…
Robbie voltou a descer, ainda com o pijama.
—Aqui, isto ajudará!
Enquanto lhe estendia seu gibi favorito do Homem Aranha, Gretchen pegou a soda para que Vin pudesse aceitar o presente.
—Isto se vê realmente genial —murmurou Vin enquanto colocava o gibi em seu colo e o abria na primeira página.
—Manterá sua mente ocupada. —assentiu Robbie como se suas palavras fossem ditadas por décadas de experiência— Às vezes quando sente dor, precisa de uma distração.
A palavra distração soou como “discracão”.
—Tenho que ir preparar-me para a escola. Você fique aqui. Bebe isso. Mamãe e eu cuidaremos de você.
Robbie saiu da sala como se tivesse dado um jeito em tudo. E dessa forma simples, Vin triunfou.
Outra vez sobre a grama fresca.
Embora pelo menos desta vez, Jim sabia onde diabos estava.
Quando abriu os olhos e se encontrou com um montão de verde brilhante e esponjoso, girou o rosto a um lado e respirou livre e profundamente. Tinha todo o corpo dolorido, não só o lugar onde tinha recebido a bala, e esperou que as coisas se acalmassem um pouco antes de tentar algum movimento apressado como... Oh, levantar a cabeça ou alguma merda assim.
Supunha que este assunto de estar de barriga para baixo queria dizer que estava realmente morto…
Um par de sapatos de frente brancas perfeitamente lustrados invadiram seu campo visual, e ainda por cima dos pulcros sapatos, havia um par de calças de linho tão bem engomadas que sua raia parecia o fio de uma faca e formavam um corte perfeito à altura dos tornozelos.
As pregas foram elevadas bruscamente de um puxão e logo Nigel ficou em cócoras.
—É maravilhoso vê-lo de novo. E não, vai ter que voltar para baixo outra vez. Tem mais missões por diante.
Jim gemeu.
—Terei que morrer, todas as vezes antes de vir aqui? Não estou criticando, mas merda, posso simplesmente te dar um telefone celular para que me chame.
—Fez muito bem —disse Nigel. O homem... anjo... o que fosse... estendeu a mão— Muito bem, na verdade.
Jim empurrou contra o fofo chão e se girou. Enquanto estreitava a mão que lhe oferecia, o céu se via tão brilhante que teve que piscar rapidamente e a soltou em seguida para poder esfregar os olhos.
Homem… que experiência, do principio ao fim. Mas ao menos essas duas pessoas iriam estar bem.
—Esqueceu de me dizer um dado fundamental —lhe disse o anjo— A encruzilhada me afetava verdade? Quando voou essa bala, a escolha primária em tudo isto foi minha, não do Vin.
—Sim, foi. Quando escolheu salvá-la em vez de si mesmo, esse foi o crítico momento decisivo.
Jim deixou cair os braços aos lados.
—Foi uma prova.
—Passou-a, incidentalmente.
—Bem por mim.
Colin e os outros dois dandis[27] se aproximaram e os três tinham o mesmo traje que Nigel, com calças de vestir brancas bem engomadas e suéter de caxemira cor pêssego, amarelo e celeste, respectivamente. A metade superior de Nigel era cor coral.
—Vocês alguma vez usam roupa de camuflagem? —grunhiu Jim enquanto se impulsionava com as palmas de suas mãos para levantar-se— Ou isso ofende sua sensibilidade?
Colin se ajoelhou e efetivamente pôs os joelhos sobre a mesmíssima grama… o que sugeria que na lavanderia do Céu tinham alvejante Clorox.
—Estou bastante orgulhoso de você, companheiro.
—Como todos nós. —Bertie acariciou a cabeça de seu cão lobo—. Triunfou maravilhosamente.
—De verdade, maravilhosamente. —Quando Byron assentiu, seus óculos de cor rosa cintilaram sob a luz difusa— Mas eu já sabia que iria escolher sabiamente. Estive seguro todo o tempo, sim que o estava.
Jim se centrou em Colin.
—Que mais estão me ocultando?
—Temo que as coisas são relatadas apoiadas nas necessidades que você vai ter que conhecer, querido rapaz.
Jim deixou cair a cabeça para trás e olhou fixamente o leitoso céu azul que parecia estar a quilômetros de distância e ao mesmo tempo o suficientemente perto para tocá-lo.
—Não conhecerão por acaso um sacana chamado Matthias, verdade?
Soprou uma suave brisa fazendo ranger as fibras de mato e a pergunta ficou sem resposta, assim Jim lutou para ficar de pé. Quando Bertie e Byron se inclinaram para ajudá-lo, rechaçou-os apesar de que seu traseiro era mais ou menos tão estável como um lápis de pé sobre sua borracha.
Jim soube o que viria a seguir. Outra missão. Ali fora havia sete almas e tinha salvado uma... ou foram duas?
—De quantas mais tenho que cuidar? —demandou.
Colin fez um amplo gesto de varrido para a esquerda com o braço.
—Olhe-o você mesmo.
Jim franziu o cenho e olhou para o castelo. No alto de seu pendente muro, encrespando-se com a brisa, havia uma enorme bandeira triangular de uma brilhante cor vermelha. A coisa era incrivelmente brilhante, tão vívida como o verde da grama e enquanto dançava ao som da brisa, ele ficou paralisado.
—É por isso que usamos tons pastel. —disse Nigel — Sua primeira bandeira de honra foi desdobrada e aqui nada, exceto a grama da terra, deve rivalizar com ela.
—Isso é por Vin?
—Sim.
—O que acontecerá com eles?
Byron falou.
—Viverão seus dias com amor e quando vierem aqui, passarão a eternidade juntos com alegria.
—Sempre que não dê o fora com os outros seis —interpôs Colin, levantando-se— Ou se dê por vencido.
Jim levantou o dedo para o tipo como se fora uma pistola.
—Eu não me dou por vencido.
—Já veremos... já veremos.
—É tão imbecil.
Nigel assentiu com seriedade.
—É, e muito.
—Por que sou lógico? —O anjo não parecia preocupado absolutamente —ou em absoluto, como diria ele… com sua marca particular— Chega um ponto em cada esforço no que alguém sente a ardência de ter encontrado muitos degraus levantados. Todos passamos por isso e também você. Só nos resta esperar que quando alcançar esse ponto…
—Não vou me dar por vencido, imbecil. Não se preocupe por mim.
Nigel cruzou os braços sobre o peito e olhou fixamente para Jim.
—Agora que Devina o conhece e que lhe tirou algo, começará a fixar como objetivo suas debilidades. Isto se tornará muito mais difícil e muito mais pessoal.
—Pois o tente a grande puta. O que te parece isso?
Colin sorriu.
—Surpreende-me bastante o fato de que não nos demos melhor.
Byron clareou a garganta.
—Acredito que todos deveríamos tomar um momento para dar apóio a Jim em vez de continuar desafiando-o. Fez algo maravilhoso e valoroso, e eu pelo menos estou bastante orgulhoso.
Quando Bertie começou a mostrar-se de acordo e Tarquin a menear a cauda, Jim levantou as palmas.
—Estou genial… Oh Deus, nada de abraços, não…
Muito tarde. Byron envolveu Jim com seus braços surpreendentemente fortes e o abraçou, e depois seguiu Bertie, junto a Tarquin que se levantou sobre suas patas traseiras para lhe pôr as dianteiras nos ombros. Os anjos cheiravam bem; tinha que lhes conceder isso… igual à fumaça que saía dos charutos que Eddie acendia.
Não obstante e por fortuna, Nigel e Colin não eram do tipo a-meus-braços-irmãos.
Algumas vezes um tinha sorte.
O divertido era que Jim estava um pouquinho comovido, embora não fosse admiti-lo. E de repente, também estava preparado para voltar para a batalha. Essa bandeira, esse símbolo evidente de seu êxito, era por alguma razão uma grande motivação… possivelmente porque em sua antiga vida as lápides eram a forma em que media se estava fazendo um bom trabalho e essa bandeira ondeando era muito mais atraente e inspiradora.
—Bom, aqui vai o trato. —disse ao grupo— Há algo que devo fazer antes de meu próximo caso. Devo encontrar um homem antes que o matem pelas razões equivocadas. Forma parte de minha antiga vida e não é o tipo de coisa a que possa lhe dar as costas.
Nigel sorriu, cravando os olhos, estranhamente belos nos de Jim como se vissem tudo.
—É obvio, deve fazer o que desejar.
—Então, uma vez que termine, tenho que voltar aqui ao...?
Mais desses sorrisos conhecedores.
—Simplesmente se ocupe de seus coisas.
—Como me coloco em contato com vocês?
—Não nos procure. Nós o procuraremos.
Jim amaldiçoou entre dentes.
—Estão seguros de não conhecer o Matthias?
Colin se fez ouvir.
—Dá-se conta de que Devina pode ser algo e qualquer pessoa. Homens, mulheres, meninos, certos animais. É onipresente em suas numerosas formas.
—Manterei isso em mente.
—Não confie em ninguém.
Jim fez um gesto afirmativo com a cabeça ao anjo.
—Não há problema, tenho muita prática com essa merda. Uma coisa, entretanto... vocês, realmente se comunicavam comigo através da televisão ou tinha perdido o juízo?
—Vá com Deus, James Heron —disse Nigel, levantando a mão— Demonstrou ser digno de lutar contra nosso inimigo. Agora faça-o outra vez, tenaz bastardo.
Jim dirigiu um último olhar aos muros do castelo e imaginou a sua mãe a salvo e feliz do outro lado. Então uma explosão de energia emergiu da mão do anjo, revolveu suas moléculas e o enviou a voar.
Duro. Frio. Fodido, ai!
Esses foram os primeiros pensamentos de Jim quando voltou a despertar e ao abrir os olhos, foi arrasado por outra luz leitosa e difusa que não parecia provir de nenhum lugar em particular. O que o fez perguntar-se se Nigel não a teria cagado com a merda cintilante de sua palma enviando-o de retorno ao mesmo lugar em que tinha estado.
Salvo que o ar não era fresco. E em vez de uma cama de esponjosa grama, sentia que estava estendido sobre uma extensão de pavimento…
Quando retiraram bruscamente um lençol de seu rosto, Jim quase saiu de sua pele.
—Ouça —lhe disse Eddie— Preparado para partir ?
—Merda! —agarrou o peito— Quer me matar de susto?
—É um pouco tarde para isso.
Jim passeou o olhar pelo lugar. A sala em que estavam tinha azulejos verde pálido no chão, as paredes e o teto e um conjunto de portas de cinquenta centímetros por um metro de aço inoxidável com braceletes de congelador de carne que ocupava toda uma parede. Havia mesas vazias de aço inoxidável com balanças pendentes e mesinhas com rodas colocadas em filas ordenadas e as pias que havia no canto mais afastado eram do tamanho de banheiras.
—Estou na merda do necrotério?
—Bom, sim. —O óbvio tolo estava implícito.
—Jesus Cristo...
Jim se levantou e como não podia ser de outra maneira duas mesas mais à frente havia uma bolsa para cadáveres com um inquilino e ao lado tinha um cadáver cujos pés se sobressaíam ao final do lençol que o cobria.
—Assim realmente põem etiquetas nos dedos dos pés, não é?
Eddie deu de ombros.
—Não é como se eles pudessem dizer seu nome nem nenhuma outra merda.
Amaldiçoando, Jim balançou as pernas para deixá-las pendurar da mesa em que estava e nesse momento viu o Adrian. O anjo de pé no limite da sala, junto às portas duplas, estava excepcionalmente circunspecto: sendo que tipicamente se escancarava onde podia, nesse momento tinha os braços cruzados estreitamente sobre o peito e os pés bem juntos. Sua boca não era mais que uma linha reta e tinha a pele da cor de um Kleenex, o tipo estava olhando fixamente o chão ladrilhado, com o sobrecenho franzido e as pestanas escuras contrastando contra as pálidas bochechas.
Estava sofrendo. Por dentro e por fora.
—Trouxe para você um pouco de roupa. —disse Eddie— E sim, retornei e trouxe Cão. Está em nossa caminhonete, feliz como uma perdiz.
—Assim, estou morto?
—Morto e bem morto. Assim é como funciona.
—Mas posso continuar conservando Cão inclusive embora estou... —Rígido? Deus, perguntou-se se havia uma palavra politicamente correta para morto. Ou era um caso no que, ao ter mastigado poeira de forma definitiva, já não tinha que preocupar-se pela política?
—Sim, é seu. Em qualquer lugar que estiver, ele estará lá.
Por alguma razão esse fato lhe proporcionava um alívio notável.
—Assim, quer estes trapos?
Jim olhou o que tinha Eddie nos braços e logo baixou o olhar para si mesmo. Seu corpo parecia o mesmo, grande, musculoso e sólido. Os olhos, o nariz e as orelhas pareciam funcionar bem. Como demônios ia funcionar isto?
—Já haverá um momento e um lugar melhor para explicar tudo —disse Eddie, estendendo-lhe a roupa.
—Sem dúvida. —Jim pegou os jeans, a camiseta do AC/DC e a jaqueta de couro. As botas eram shitkickers. As meias eram grossas e brancas. E tudo ficava bem.
Enquanto se vestia, continuava olhando para Adrian de vez em quando.
—Vai ficar bem? —perguntou Jim em voz baixa.
—Em alguns dias.
—Há algo que eu possa fazer?
—Sim. Não faça perguntas a respeito.
—Entendido. —depois de abotoar as fivelas das botas, Jim jogou a jaqueta sobre os ombros— Escuta, como explicaremos que retornei de entre os mortos? Quero dizer, vai faltar um corpo…
—Não, não faltará. —Eddie assinalou à mesa em que Jim tinha estado e... sagrada merda. Era seu corpo. Estava ali estendido como um pedaço de vitela, com a pele cinza e um buraco de bala justo no meio do peito.
—Seu período de prova terminou —disse Eddie enquanto voltava a colocar o lençol sobre o rosto— Agora já não há volta atrás.
Jim olhou fixamente para baixo, aos picos e vales que a mortalha perfilava e decidiu que o alegrava muito que sua mãe não estivesse viva para “chorá-lo”. Fazia que esta merda fosse muito mais fácil.
E agora tirou o Matthias de cima dele.
Isto o fez sorrir brevemente.
—Há vantagens em estar morto e enterrado, verdade?
—Às vezes sim, às vezes não. É só o que é. Anda, nos mandemos daqui.
Ainda olhando fixamente seu cadáver, disse:
—Passarei uma temporada em Boston. Não estou seguro de quanto tempo. Os rapazes de cima estiveram de acordo com isso.
—E nós vamos com você. As equipes permanecem juntas.
—Embora não seja sua briga?
—Sim.
A idéia de ter seu próprio respaldo era atraente. Definitivamente, três podiam cobrir mais terreno que um, e só Deus sabia quanto tempo ia levar encontrar o objetivo de Matthias.
—Bem, puta mãe.
Nesse momento, entraram dois tipos com batas brancas, segurando suas canecas de café nas mãos e dando uso a suas bocas. Jim se preparou para esconder-se detrás de algo, de qualquer coisa… e então se deu conta de que enquanto ele podia ver o par, cheirar o que bebiam e ouvir as pisadas de seus tamancos atravessando o chão de ladrilhos, eles eram totalmente ignorantes de que havia outras três pessoas na sala.
Ou não pessoas, pensou.
—Quer fazer a papelada desse? —disse o tipo da direita, assinalando com a cabeça ao corpo do Jim.
—Isso. E se ninguém o reclama tenho o nome de alguém a quem chamar. É… Vincent diPietro.
—Ouça, é o que construiu minha casa.
—Ah sim? —Os dois deixaram suas canecas sobre uma mesa e tomaram tabuletas com prendedores de papéis que continham formulários.
—Sim, minha mulher e eu vivemos nesse bairro que está junto ao rio.
O homem se aproximou, afastou o lençol dos pés de Jim e leu a etiqueta atada ao dedo grande.
—Deve ser agradável.
—É. —Começou a encher os quadros um a um— Mas saiu caro. Terei sorte se puder me aposentar aos oitenta anos.
Jim tomou um momento para despedir-se de si mesmo… o que era fodidamente estranho, mas também resultava um alívio: tinha vindo a Caldwell em busca de um novo começo, e merda, olhe se não o tinha conseguido. Agora tudo era diferente… quem era, o que fazia e para quem trabalhava.
Era como se tivesse renascido e o mundo fosse novo outra vez.
Quando Jim deixou o depósito de cadáveres com um homem a cada lado, sentia-se curiosamente exaltado... e totalmente preparado para lutar outra vez. E tinha o pressentimento de que durante os próximos anos, “Me dê seu melhor golpe, cadela” ia constituir o tema central da banda sonora de sua vida.
E então recordou.
—Preciso voltar para esse armazém —lhes disse quando esteve no corredor— Agora. Quero o corpo dessa garota.
A voz de Adrian foi pouco mais que um sussurro.
—Já não está. Tudo o que estava ali dentro se foi.
Jim se deteve em meio do corredor. Quando um carregador de maca que empurrava um carro cheio de lençóis atravessou aos três, literalmente, Jim não sentiu mais que um tremor no corpo… e possivelmente, em outras circunstâncias, houvesse dito algo como: Ei-veja-só-que-espetacular-é-esta-merda, mas tinha ficado instantaneamente obcecado e só lhe importava uma coisa.
—Onde a levou Devina? —exigiu.
Adrian simplesmente deu de ombros, com o olhar ainda fixo no chão e os piercings brilhando misteriosamente à luz dos tubos fluorescente do corredor.
—A qualquer lugar que quisesse. Quando despertei em meio do chão desse lugar, estava vazio.
—Como moveu a merda tão rápido? Havia um montão.
—Tem ajuda. Do tipo que pode mobilizar com a suficiente rapidez. Eu estava encadeado ou teria… —O tipo interrompeu a si mesmo—. Levou umas duas horas, acredito. Talvez mais. Nesse momento eu estava semi-inconsciente.
—E levaram o corpo da garota?
Adrian assentiu.
—Para desfazer-se dele.
—Como se desfazem deles?
O anjo começou a caminhar outra vez, como se no momento, tivesse terminado com o assunto da conversa.
—Da mesma maneira em que qualquer outra pessoa se livra deles. Cortando-o em pedaços e o enterrando.
Quando Jim o seguiu, a necessidade de vingança o afogava e seu enfoque se aguçou até o ponto da dor. Devia averiguar mais a respeito da garota, de sua família, de onde tinha acabado o corpo. E cedo ou tarde ia cobrar a morte dessa inocente da pele de Devina.
OH, sim, as coisas iriam tomar uma aparência pessoal, com certeza que sim.
Verdadeiro, sangrento e pessoal.
Jim tinha trabalho a fazer.
[1] Gore-Tex é um tecido à prova de água e de vento, e uma marca registrada de W.L. Gore & Associates.
[2] CSIs (Crime Scene Investigators) – Investigadores de cenas de crime
[3] Palavra que a autora usou para indicar busca no Google: site de pesquisa
[4] Filme de terror
[5] Bomba atômica que deixa uma considerável contaminação radioativa
[6] Ordálio ou ordália é um tipo de prova judiciária usado para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo resultado é interpretado como um juízo divino.[1] Também é conhecido como juízo de Deus (judicium Dei, em latim).
[7] Vincent Kennedy McMahon Jr. Promotor americano de luta livre profissional, lutador ocasional, produtor cinematográfico e ex-comentarista.
[8] Leave it to Beaver. Série de televisão familiar dos anos 60
[9] Lifetime: Canal de televisão feminino
[10] Famosa fabrica de fechaduras
[11] DEA: Desaparecido em Ação
[12] camisinha
[13] Metrônomo — aparelho que mede o tempo do compasso musical
[14] Transtorno Obsessivo Compulsivo
[15] Marca de calçado, parecido com botas esportivas.
[16] Pinball é um jogo eletromecânico onde o jogador manipula duas ou mais 'palhetas' de modo a evitar que uma ou mais bolas de metal caiam no espaço existente na parte inferior da área de jogo. A bola, quando entra em contato com certos objetos espalhados pela área de jogo, aumenta a pontuação do jogador.
[17] Calvins de Calvin Klein: marca de roupas que faz sucesso com o anuncio de suas cuecas. Então nessa frase Calvins = cuecas. Foto de um dos anúncios: http://www.marieclaire.com/media/cm/marieclaire/images/calvin%20klein.jpg
[18] O Tabuleiro Ouija ou Tábua Ouija é qualquer superfície plana com letras, números ou outros símbolos em que se coloca um indicador móvel, utilizada supostamente para comunicação com espíritos
[19] tipo de resina tão resistente quanto o acrílico.
[20] Kumbaya: Canção religiosa típica dos missionários americanos
[21] Sal de Morton: substância medicinal
[22] Hamamelis - na fitoterapia são utilizadas as folhas e a casca. Tem propriedades adstringentes, anti-inflamatórias e ação anti-hemorrágica.
[23] O logotipo do sal morton é uma garota com um guarda-chuva.
[24] TEA - no original estimated teme of arrival cuja tradução é: seu Tempo Estimado de Chegada
[25] Similar à morfina, o Demerol é um narcótico de ação rápida no alívio da dor.
[26] Marca de refrigerante
[27] Homem que se destaca por sua elegância e refinamento.
J.R. Ward
O melhor da literatura para todos os gostos e idades