Biblio VT
Uma promessa suja se transforma em uma obsessão sombria...
Harper mantém a cabeça baixa - invisível. Passando pela vida despercebida, se escondendo do passado e evitando o futuro.
James não tem limites - invencível. Procurando uma saída, procurando alguém que ele possa salvar em vez de matar.
Resistir não é uma opção quando você está desesperado para reivindicar uma mulher mortal. O vínculo é desconfortável e o futuro é incerto, a não ser por um detalhe.
Sozinhos... Harper e James são perigosos.
Juntos... eles são implacáveis.
Meu nome é James Fenici.
Você nunca me verá chegando.
Eu ando nas sombras como a própria escuridão.
Eu me escondo nos cantos onde ninguém olha.
Eu vivo sem regras, não tenho limites, não levo prisioneiros e nunca pisco.
Não sou seu cavaleiro de armadura brilhante; Eu sou o seu pior pesadelo.
Meu nome é James Fenici e você é meu alvo. Apenas um de nós sairá vivo, e não será você. Quando seu nome está na minha lista, sua vida acaba. É um acordo que faço com a morte, é um contrato que assino com sangue, é uma causa perdida - se acostume.
Meu nome é James Fenici e estou tão sujo quanto eles.
Mas então, um dia, eu a vi. E o monstro que eu pensava que era. Tudo o que eu pensei que sabia. Toda promessa suja que eu já quebrei, voltou para me dar um tapa na cara.
Meu nome é James Fenici.
E eu acho que estou apaixonado.
Mesmo que eu não estivesse olhando...
Mesmo que eu não estivesse prestando atenção...
Mesmo se eu não estivesse obcecado...
Não teria como ela passar despercebido.
A praia está lotada. É sábado à tarde. E mesmo que Junho seja um mês quente, hoje foi um dia praticamente perfeito de verão. Vinte e oito graus às oito da noite e vento suficiente apenas para fazer as tranças douradas dançarem em volta do rosto dela. As ondas são grandes o suficiente para manter os surfistas entretidos, enquanto ela come seu jantar de fast food nos degraus do Píer Plaza. O pôr-do-sol - com tons de vermelho misturados ao laranja, delineando o horizonte ao longe - forma um quadro perfeito em contraste com a luz quente que cai sobre seu corpo bronzeado.
É a noite perfeita. Mas essa garota é a única coisa que vejo.
Eu a observo há três meses. Ela vem para a praia duas vezes por dia. Uma vez no início da manhã, pouco antes do quiosque do píer abrir. Ela faz uma rotina de exercícios maluca, que provavelmente não ajuda em nada seu condicionamento físico. É o que parece, já que são movimentos fáceis. Não que sejam fáceis para a maioria. É fácil para ela. Essa rotina é provavelmente algo que ela vem fazendo desde criança.
Ela volta à praia todas as noites, pede mais fast food e come nos degraus do Píer Plaza. Depois, fica alguns minutos olhando o mar, mesmo que não haja surfistas para entretê-la. O que parece admirá-la é o Oceano Pacífico.
Ela presta atenção em tudo. Todo mundo que passa. Ela nunca fala com ninguém. Se os patinadores na ciclovia, que estão na frente dos degraus, se aproximam demais, ela sai. Se eles mexem com ela, ela simplesmente vira a cabeça. Eles a chamam de alguns nomes, às vezes, mas devem achar que ela é surda ou muito bem treinada.
Ela não é surda.
Eu sei que ela não é surda.
Eu sei onde ela mora.
Eu sei que ela está se escondendo.
Eu sei que sou a última pessoa que ela quer ver.
Eu sei que ela usa cuecas masculinas e uma blusa enorme pra dormir.
Eu sei que ela tem problemas de ansiedade, porque ela mantém um frasco de comprimidos em seu banheiro.
Eu sei que ela nunca toma essas pílulas. Eu as conto. Mas, toda vez que eu verifico, a garrafa foi trocada de lugar. Então, eu sei que ela pensa sobre elas com frequência suficiente para querer segurar o frasco.
Eu sei que ela tem um telefone. Mas também sei que ela nunca usa. Eu verifico os minutos. Nunca muda. Eu sei quanto dinheiro ela tem, o que tem dentro da geladeira dela. Eu sei que ela se toca à noite, às vezes. E ela geme quando goza, arqueando as costas por apenas alguns segundos.
Eu sei que ela está triste e ela luta contra isso. Eu li as páginas do diário dela. Não é realmente um diário. Ela escreve algumas páginas todas as noites, depois vai para a cama, acorda e as lê. Em seguida, queima tudo na pia da cozinha, antes de iniciar sua rotina matinal.
Elas sempre dizem a mesma coisa; ‘Por favor, não demore.’ ‘Por favor, venha para mim.’ ‘Por favor, me encontre.’ ‘Por favor, não me esqueça.’ ‘Por favor, por favor, por favor, não me deixe aqui sozinha.’
Eu sei muito sobre ela, mas não sei seu nome. Ou, quem ela está esperando. Eu tenho uma ideia, mas isso pode ser fruto dos meus desejos. Eu não sei por que ela está aqui. Ou porque eu estou aqui, pra começo de conversa. Estou tão inseguro sobre todas essas coisas quanto ela, incerta sobre esse príncipe ausente, desejando que ele venha salvá-la.
Mas, de uma coisa eu tenho certeza.
Essa garota?
Ela é minha.
Eu a procurei.
Eu a encontrei.
E sou eu quem vai ficar com ela.
Harper
—Qual é o seu nome?
A voz me assusta, porque eu não tinha ideia de que tinha mais alguém no píer comigo. As ondas estão grandes nesta manhã e elas batem contra os pilares com força o suficiente para me envolver em uma névoa salgada de água do mar. Eu não me viro para encará-lo. Ele tem uma voz rouca e suave, que me faz formigar por dentro e, por um momento, sinto que já a ouvi antes. Eu imagino qual seja o tipo de homem com uma voz dessa... Alguém grande. Alguém jovem, mas não tão jovem quanto eu. Eu continuo a examinar o horizonte, olhando para o Oceano Pacífico, esperando pelo nascer do sol. Faltam apenas alguns minutos pra isso e eu odeio que ele esteja interrompendo o meu momento.
—Olá? Seu nome? — ele pergunta novamente.
Ele é alguém acostumado a receber uma resposta quando faz uma pergunta. Ele é alguém com autoridade, mas não é um policial ou um guarda. Os policiais têm um tom monótono, quase como se dissessem “Não é nada pessoal, mas você é irritante, quer fazer o favor de me dar algumas repostas?” Já os guardas, como funcionários legítimos do governo, não dariam a mínima para mim. Então, ele não deve ser militar. Eu cresci ouvindo vozes autoritárias, guardando na memória os tons que eles usavam – os que inspiram, os que se acovardam e os que você precisa temer. O tom desse cara me diz que ele nunca recua.
Ele é um dos nossos. Eu sei disso imediatamente, apenas com essas poucas palavras, eu sei. É isso.
Eu não me importo com nada disso agora, simplesmente continuo com a minha busca para ver a linha azul onde o mar encontra o céu, quando a primeira luz do dia surge. Por que as pessoas não podem simplesmente me deixar em paz?
—Mulher! — ele rosna para mim, enquanto dá alguns passos mais perto. Ele está descalço, posso dizer pela maneira como seus pés se arrastam pelo píer de concreto, enquanto ele caminha. Meu coração palpita por alguns segundos e me pergunto se ele vai me machucar. Ele tinha permissão para me machucar? Eu imaginei ser capturada de um milhão de maneiras diferentes, menos dessa.
Será que eu estou pronta?
Uma mão descansa no meu ombro direito, segurando um pouco, como se para me virar. Isso é um gatilho para mim. Eu não quero que ele veja meu rosto.
Agarro seu pulso com as duas mãos e me curvo, estendendo o pé e passando o tornozelo em volta do dele. Eu levanto e faço um arremesso meio desleixado, porque ele é muito mais pesado do que qualquer um em quem pratiquei esse movimento antes. Ele meio que cai para o lado, em vez de realmente ser jogado por cima do meu ombro, mas esse momento extra de distração é tudo que eu preciso.
Subo no parapeito do Huntington Beach Píer e mergulho direto na névoa salgada.
Eu atinjo o mar escuro com um pequeno respingo e, em seguida, o som abafado de ondas quebrando enche minha cabeça. Eu continuo afundando no ritmo da minha imersão, forçando meu corpo a ficar submerso. Então, viro uma cambalhota e dou meia volta, tirando os sapatos enquanto nado. Eu volto a superfície quando percebo que estou sob o píer, mas sou pega de surpresa por uma onda forte, que me joga de cabeça contra um pilar de concreto.
A dor dispara na minha cabeça e meu corpo tenciona, precisando de alguns segundos pra absorver o impacto.
Meus instintos são lentos e minha hesitação é um erro do qual, talvez, eu não viva o suficiente pra poder me arrepender. As ondas estão quebrando furiosamente em cima de mim e, antes que eu perceba, abro a boca e respiro fundo, antes de afundar de novo. Eu engasgo, inspirando ainda mais água, em seguida, olho pra cima e percebo o pequeno brilho da luz no amanhecer que se aproxima.
Uma mão agarra meu tornozelo e, desta vez, eu engulo a água para não inundar meus pulmões. Eu chuto, mas meu corpo está sobrecarregado e confuso, tentando lidar com as várias situações de risco à minha vida nesse momento. Então eu desisto e me permito ser puxada.
Se esse cara pulou do cais atrás de mim, ele não vai me deixar fugir. Também não tenho como lutar com ele debaixo d'água.
É isso, eu vou me afogar.
Ele larga meu tornozelo e agarra meu braço, me puxando para a superfície. Eu subo ofegando por ar e engasgando com a água salgada. A adrenalina corre pelo meu sangue, uma reação primitiva à situação, me forçando a reagir – lutar ou fugir. Cada músculo do meu corpo formiga, conforme a energia é desviada através do meu corpo. E, por mais estranho que pareça, meu único pensamento neste momento é o quão exausta eu vou estar, se sobreviver.
Então eu volto à realidade. Não vou sobreviver se não lidar com esse cara.
Eu grito. A mão dele voa para a minha boca, forte e pesada, como se eu o tivesse levado ao limite.
—Quieta! — ele ruge em meu ouvido quando me vira de costas, sua outra mão alcançando debaixo do meu braço agitado, me segurando pelo peito. — Calma, mulher.
Mulher? Eu sou apenas uma garota. Será que ele não percebeu isso? Ele não pode ver que eu sou apenas uma garota?
Ele nada em direção à costa, arrastando-me junto com ele. A cada poucos segundos a maré enche, empurrando água salgada pela minha boca e nariz. Eu engulo e engasgo, então o homem me levanta um pouco sobre o mar agitado para que eu possa engolir um pouco de ar, antes que comece tudo de novo. Depois de vários minutos lutando contra a corrente, seus pés encontram a areia fofa no fundo e ele fica de pé, me levantando e me carregando em seus braços.
Esta é a minha última chance, então eu jogo minhas pernas para cima, girando para fora do seu aperto, fazendo com que nós dois caiamos outra vez de costas nas ondas quebrando.
Eu me contorço e ele perde o controle sobre mim, mas justamente quando acho que posso jogá-lo nadando de volta para o mar, sua mão aperta meu tornozelo novamente. Ele me arrasta de volta e uma dor dispara no meu joelho, provavelmente por conta da força que ele usou pra me puxar. Minha camisa infla conforme ele me puxa, ondulando em volta do meu rosto, trazendo com ela uma porção generosa de areia molhada. Será que tinha como minha sorte piorar ainda mais hoje?
Eu tusso e agarro o tecido que ameaça me sufocar e, desta vez, ele não tenta ser gentil ou aliviar meus medos. Ele me vira e me arrasta até a praia, até que estamos fora da água, e então ele cai em cima de mim, sua respiração quente no meu ouvido. Seu peito arfando em cima do meu. Nossos batimentos cardíacos sincronizados com medo, adrenalina ou dor, não sei ao certo.
—Por favor! — Eu gemo, enquanto seu peso total repousa sobre o meu pequeno corpo. — Você está me esmagando!
Ele não se move, apenas continua a respirar, o peito puxando o ar, fazendo seu corpo se mover contra o meu de uma maneira que, de repente, parece mais íntima do que deveria. Eu arranho suas costas, empurrando contra os músculos grossos de seus ombros.
—Fica quieta. — ele diz, depois de alguns segundos. — Você está sangrando e essa luta só vai piorar as coisas.
—Saia de cima de mim ou eu vou gritar! — eu rosno de volta para ele.
—Grite, então. — ele diz, calmamente, a respiração não mais tão difícil agora. — Você será presa por pular do píer. Eu vou dizer que te salvei, já que você estava tentando se matar. Se você gritar, sua vida vai se complicar muito rápido. Então, vá em frente, grite pra porra do mundo, se quiser. Deixe todos saberem que você está aqui comigo, lionfish1. Eu não poderia me importar menos.
Suas palavras racionais, juntamente com o apelido que ele acabou de me dar, são uma completa contradição. De repente, estou muito insegura de mim mesma.
—O que você quer? — Desta vez não estou rosnando, porque ele está certo. Ele deve saber que não posso arriscar ter a atenção que um grito trará. — E você não me salvou, porque eu não estava tentando me matar.
Ele ri, fazendo seus quadris esfregarem contra mim por um segundo. Minha respiração engata e um pequeno gemido sai. Esse momento de fraqueza o faz apoiar a parte superior do corpo nos cotovelos e a água do mar, misturada ao suor de seu rosto, alcança o meu. Entro em pânico e me contorço, fechando os olhos e a boca, desesperada para manter a água fora.
Mãos fortes deslizam sob minha cabeça e a levantam da zona de perigo, mas é tarde demais, a adrenalina é demais. O medo toma conta e eu começo a tremer e chorar.
—Abra seus olhos.
Eu não abro os olhos.
—Apenas saia de cima de mim!
—Abra seus olhos e olhe para mim.
—Não, só acaba logo com isso. Se foi pra isso que você veio, então termine de uma vez! — Nesse momento, eu realmente começo a chorar, porque acabei de perceber que comecei uma briga com um cara enorme e forte, pulei do píer e caí direto numa armadilha de concreto. Engoli água, quase sufoquei e fui pega. Por este homem que... que... que está me fazendo sentir coisas que eu não tenho interesse em sentir, no momento.
Ele não faz nada. Sua respiração está completamente normal agora e eu gostaria de poder dizer a mesma coisa sobre a minha, mas não posso. Então ele apenas espera, enquanto eu realizo a gravidade da minha situação.
De repente, eu paro de chorar e começo a rir.
Quando que eu ia imaginar que terminaria desse jeito? Não lutando, mas em total rendição? Eu sou a pessoa mais fraca, viva. Eu sou a pessoa mais fraca que vai...
—Ficou engraçado, agora?
Sua pergunta me faz parar de rir, porque não é engraçado.
—Não. — eu grito. — Não é engraçado, mas eu estou com medo. — Meus dentes estão batendo de frio, por causa da névoa de água gelada que implacavelmente vai e vem, salpicando sobre nós.
Ele espera.
Eu espero.
As ondas quebram e recuam.
Seu corpo está imóvel e calmo enquanto descansa em cima do meu, então seu rosto mergulha no meu pescoço e ele respira fundo conforme uma onda recua.
—Você está sangrando. Sua cabeça dói?
Eu respondo com um ligeiro aceno e continuo a lutar contra meu pânico, tentando segurar a respiração para que os soluços não escapem, mas falhando miseravelmente.
Suas mãos ainda seguram minha cabeça, impedindo a água de invadir minhas vias aéreas. Após cerca de um minuto, meu coração diminui o ritmo selvagem e eu me acomodo em seu abraço.
—Melhor? — ele pergunta.
Eu concordo.
—Agora abra seus olhos.
Eu respiro fundo e obedeço, tentando ignorar a ardência ao redor dos meus olhos, por alguns segundos, enquanto suas feições entram em foco.
—Você não parece um assassino.
Ele fica na defensiva ao ouvir minhas palavras, talvez até um pouco chocado. Por um momento, pelo menos. Então, sua expressão volta a ficar neutra novamente.
Eu o estudo enquanto ele está em silêncio. Seus olhos são de um verde brilhante. E ele está tão perto que eu posso ver todas as pequenas manchas de amarelo e marrom neles. Eu engulo em seco e encaro seu olhar ansioso.
—O que foi?
Ele me encara de volta e os momentos de silêncio tornam as coisas desconfortáveis. Ele ainda está em cima de mim.
E então, como se ele estivesse lendo minha mente, descobrindo que seu toque está me deixando nervosa, ele muda a perna de posição, colocando os joelhos ao redor do meu quadril. Eu fecho os olhos e começo a chorar de novo, porque agora eu acho que ele vai me estuprar e eu acabei de ter pensamentos sensuais aleatórios sobre meu estuprador.
—Por que você está chorando? — Ele se senta, montando em cima de mim, me segurando pelos ombros. Mas ele não está mais descansando todo o seu peso em mim e isso é um grande alívio.
Eu arregalo os olhos com a pergunta, porque me deixa momentaneamente confusa. Por que ele está me perguntando essas coisas?
—O que você vai fazer comigo? — Eu pareço uma criança estúpida.
Ele estuda meu rosto por um momento.
—O que você acha que eu vou fazer com você?
—Me matar, me estuprar, me torturar, me levar de volta... Ou, todos os itens acima, na ordem inversa. — Eu tento evitar o olhar dele, mas não consigo. Seu rosto é tão lindo. Suas feições tão perfeitas. Seu cabelo é curto e escuro, seu rosto tem a sombra de uma barba por fazer cobrindo o queixo e a mandíbula, do tipo que diz ‘eu estou muito ocupado atacando garotas jovens ao nascer do sol, então não tenho tempo para me barbear diariamente.’ Tão impressionantes quanto seus olhos são, eles podem não ser sua melhor característica, porque aqueles lábios cheios estão chamando meu nome agora. Deus, qual é o meu problema?
Eu mudo de tática.
—Por favor, ou sai de mim ou faz logo o que veio fazer.
—OK. — diz ele, com um sorriso. E é isso, o sorriso, essa é a melhor parte dele. É grande e genuíno. E ele tem dentes perfeitos. Dentes brancos perfeitos que não se parecem em nada com os dentes de um assassino. — Vamos ao que interessa. Eu perguntei seu nome, gostaria de uma resposta.
O que?
—Meu nome? Você pulou do píer atrás de mim porque não te respondi qual era o meu nome?
—Eu salvei você, mulher.
Meu corpo inteiro fica quente com essa palavra. Mulher. Por que ele está me chamando assim? Certamente ele pode ver quão jovem eu sou. Eu não sou uma mulher. Mal sou maior de idade, como dizem. E eu me sinto muito mais como uma criança nesse momento.
—O que seus pais lhe deram. Não minta para mim, eu vou saber.
Aposto que ele vai. Eu deveria contar a ele? Eu me viro e suspiro. Isso dificilmente importa agora. Ele já me pegou. Se ele não sabia quem eu era, por que ele está tão interessado?
—Harper.
—Mmmmm... — Ele sorri um pouco. — Harper. — ele repete, como se meu nome fosse um segredo pelo qual ele estava desesperado. — Gostei. — Ele me puxa para uma posição sentada e depois fica em pé, me levando com ele. Antes que eu possa me afastar ou tentar algum dos meus outros golpes matadores contra ele, ele está me empurrando de volta contra o pilar de concreto. Ele pressiona seu corpo contra o meu, suas mãos descansando em ambos os lados da minha cabeça. — Eu achei que você seria um alvo fácil, mas eu estava errado. Você tem uma pequena leoa em você, não tem? Talvez até um pouco de veneno para acompanhar, certo? Lionfish? — Dessa vez, ele sorri largamente e as covinhas aparecem. Uma em cada bochecha. Ele é charmoso demais pra ser um assassino. — Eu também tenho um pouco de polvo de anéis azuis2 em mim.
O que?
—Eu não costumo ser surpreendido, especialmente por mulheres. Mas eu tenho que te dizer, Harper, ver que você prefere pular de um píer a ser convidada para um encontro... bem, é um golpe doloroso pro meu ego, para dizer o mínimo.
Uma risada sai de mim antes que eu possa pará-la.
—Um encontro?
—A maioria das mulheres.... — ele diz, ignorando a minha pergunta — Não assume que um cara vai estuprá-la ou matá-la quando ele pergunta o nome dela. — Ele se inclina para o meu rosto e meus olhos só conseguem se concentrar em seus lábios.
Ele vai me beijar?
Assim que ele se aproxima, ele muda de direção e sua respiração faz cócegas no meu ouvido.
—Na verdade, eu estava pensando apenas em transar esta noite, se você concordasse. — a umidade se acumula entre as minhas pernas — E pronto, fim da história. Talvez até algumas cervejas e tacos, na beira da praia. Ou, se você é do tipo mais sofisticada, um bom restaurante à beira-mar, com uma garrafa de vinho cara, para complementar as preliminares. De qualquer jeito, a noite termina com uma boa foda – selvagem e quente - na sua casa, para que eu possa desaparecer no meio da noite enquanto você dorme tranquilamente, completamente satisfeita com todos os orgasmos que eu te dei.
Eu engulo em seco de novo e sua palma vem até a minha garganta, seu polegar acariciando pequenos círculos contra a minha pele. Ele para na veia pulsando em meu pescoço e é como se ele estivesse avaliando minha reação pelo fluxo do meu sangue. Eu prendo a respiração e ele move a mão, deslizando-a para descansar no meu ombro.
—Só que não vai mais ser assim agora, Harper.
—Não? — Eu sussurro, minha mente totalmente arrebatada pelo que está acontecendo. O que está acontecendo?
—Não. — diz ele, seu olhar atento derramando-se no meu. — Eu observei você a manhã toda, enquanto fazia seu circuito. Flexões curtas na grade do quebra-mar. Corrida na orla, exatamente 50 voltas. Abdominais na areia. No final, uma caminhada leve até a beira do píer, pouco antes do amanhecer. E, o tempo todo, seus olhos estavam vasculhando a área. Procurando pessoas.
—Eu nunca vi você. — eu digo, o pânico de volta na minha voz.
—Não, eu não sou alguém que gosta de ser visto, Harper. Eu sou alguém que gosta de ver. Mas eu entendi. — ele continua, voltando a conversa pra mim — Você estava apenas sendo cuidadosa. Talvez, até um pouco paranoica. Com medo de ser assaltada por um morador de rua descontrolado à procura de drogas. O de sempre, Harper.
O jeito que ele diz meu nome, Deus. Por que esse homem está me fazendo sentir assim?
—Eu só estava curioso. Uma curiosidade genuína, do tipo que sinto quando vejo um inseto incomum. Mas, mergulhar de um píer... Um ótimo salto, a propósito, você fez mergulho na escola? — Ele não espera pela minha resposta. — Mergulhar de um píer, só pra não ter que me dizer seu nome? Ahhh Harper... Isso é fodidamente intrigante.
—É?
—É. — Seus lábios tocam meu ouvido desta vez. A língua dele desliza e toca minha pele. Eu levanto os ombros e solto um gemido. — Eu ainda quero te foder, mas não hoje.
—Oh meu Deus. — eu choramingo. — Apenas diga o que você quer comigo?
Ele se afasta. Sua mão volta para a minha garganta, mas não fica lá. Não. As pontas dos dedos dele estão me cutucando para erguer a cabeça e encontrar seu olhar de frente.
Eu obedeço. É como se eu estivesse presa em um transe, junto com ele.
—Eu quero conhecer você.
E então sua boca está na minha, sua língua sondando, empurrando minha boca aberta. Sua mão vai para o meio das minhas pernas, onde ele pulsa descontroladamente, criando atrito, exigindo mais umidade. Sua outra mão vai para o meu peito, o mamilo duro e inchado, enrijecido por causa da água fria, mesmo com minha pele formigando de excitação, medo e desejo.
Ele tem gosto de sal e beija como o mar. Como um oceano perigoso, matador e implacável, que pode fazer o que quiser com o meu corpo. Me jogar, me girar, me derrubar e roubar meu folego, me deixando impotente.
Exatamente como me sinto agora.
O beijo fica mais selvagem conforme ele aperta meu peito e estimula meu clitóris ao mesmo tempo. Minhas pernas estão tremendo tanto que acho que posso cair. E mesmo que nenhum homem tenha me feito sentir assim antes, mesmo que eu queira isso mais do que qualquer coisa, eu me contorço, me obrigando a me afastar.
—Pare!
E é tudo o que eu preciso dizer.
Ele congela e se afasta. Perco meu apoio, já que o corpo dele não está mais pressionado contra o meu, me segurando. Eu caio na água rasa e puxo meus joelhos até o peito, escondendo meu rosto em minhas mãos.
Quando abro os olhos, alguns minutos depois, ele se foi.
Era como se ele nunca tivesse estado aqui.
Harper
Demoro vários minutos para me recompor. A cidade está ganhando vida agora. A madrugada chegou e se foi enquanto eu estava tendo uma crise pessoal e as ruas estão cheias de tráfego de carros e pedestres. Os carros buzinam, as pessoas estão rindo, as motos estão cortando caminho pela estrada. Até mesmo alguns banhistas estão presentes agora. Um jogo de vôlei acabou de começar, perto do Píer Plaza.
Eu me levanto e começo a fazer o meu caminho até a praia, sentindo a areia arranhando minha pele dentro da minha roupa molhada. Eu puxo o top sobre a cabeça, então fico apenas de sutiã esportivo.
Isso não foi sexy. Isso foi... um ataque. É isso aí.
No entanto, parecia sexy. Ele disse algumas coisas muito sexuais, mesmo que tudo o que tenha feito foi roubar um beijo.
Respiro fundo e tento ignorar a sensação de estar andando descalça no cimento. Ter que andar pelas ruas descalça me deixa irritada. Não me importo de ficar descalça na areia, no convés de um barco ou dentro de minha própria casa. Mas em qualquer outro lugar? É nojento. Subo os degraus que me levam ao nível da rua Píer Plaza, olhando a Main Street.
Atravesso a avenida e sigo um quarteirão além do norte, desviando de motociclistas e corredores, depois viro à direita na Rua Cinco, em direção à delegacia. Eu moro do outro lado da rua. Bem, não exatamente do outro lado da rua. O restaurante mexicano, em frente ao meu prédio, é que fica perto da delegacia local, mas eu moro perto o suficiente. E se meu irmão descobrisse...
Eu me permito abrir um sorriso. Mesmo que minha manhã tenha sido uma droga e um cara tenha me agredido sexualmente - mas você gostou, Harp. Você sabe que sim - meu irmão morreria de rir se soubesse que eu estava vivendo do outro lado da rua, em frente aos policiais.
Mesmo que os policiais patrulhem as ruas em carrinhos que lembram os de golfe. Esta cidade é basicamente uma cidade de praias, mas é mais do que apenas isso. É claro que eles também têm sua parcela de homens gostosos vestindo shorts e andando de bicicleta na orla.
E há vários deles do lado de fora da estação, tomando café quando passo. Eu faço questão de ignorá-los completamente. Eu definitivamente não estou disponível no mercado para um policial e a última coisa que eu preciso é que um deles note minha existência.
Não que eles fossem me notar. Eu sou praticamente invisível, exceto para um homem de olhos verdes muito bonitos.
Eu tento o meu melhor para ser o menos atraente possível. Meu cabelo nunca está arrumado, só uso rabo de cavalo. Eu nunca uso maquiagem. Minha pele é bronzeada e meu cabelo tem fios muito claros, que fazem parecer que eu gasto uma fortuna enfiada em salões extravagantes. Mas eu não posso fazer nada quanto a isso. É quem eu sou, meu eu natural.
O Sr. Bonitão é o tipo de homem que todos percebem. Ele é alto, minha cabeça chega apenas aos ombros dele. Sombrio? Sim. Mas aqueles brilhantes olhos verdes tornam sua escuridão mais exótica do que a maioria. E ele estava duro.
Eu me abalo mentalmente com esse deslize freudiano.
Seus músculos estavam duros. E grossos.
Mas ele também era duro nesse outro sentido.
Ele era forte. E musculoso. E, por aqueles poucos momentos em que ele estava me segurando embaixo dele, gentilmente segurando a parte de trás da minha cabeça, para manter a água longe de mim, enquanto recuperávamos nossa respiração... ele era tudo o que eu estava procurando. E tudo do que eu deveria fugir.
Atravesso a rua e, em seguida, caminho para o pátio lateral, onde um portão de madeira de dois metros de altura guarda o prédio que fica atrás. Eu abro o trinco, que é uma engenhoca estúpida feita de corda, que puxa uma alavanca do outro lado e, em seguida, entro na passarela que leva ao prédio escondido.
Apenas quatro pessoas vivem aqui atrás. Duas pessoas moram nos pequenos apartamentos que dividem o andar térreo. Um homem mais velho mora na cobertura do segundo andar, que é um termo relativo, já que tem apenas dois andares, mas que seja. E eu. Eu moro no apartamento no nível do jardim. Mais conhecido como o porão.
Mesmo sendo o único nesse nível, compartilho o espaço com a lavanderia do prédio, então meu apartamento é pequeno. Apenas uma cozinha compacta, um banheiro e a sala de estar, que funciona como um quarto.
Se o bonitão não tivesse desaparecido, ele estaria me fodendo aqui hoje à noite.
Deus. De onde veio isso?
Ele conseguiu o que queria, Harper. Ele sabe seu nome.
Balanço a cabeça e entro no prédio, passo pela lavanderia e entro na sala mecânica onde mantenho a chave. Eu não carrego nada comigo quando saio daqui. Sem telefone, sem chave, sem identificação. Quando saio deste edifício, não sou ninguém. Eu deixo de existir.
É como dizem por aí, o que é uma árvore caída no meio de uma floresta? Nada. Bem, se uma garota não é notada, ela ainda existe?
Eu pego minha chave escondida atrás do aquecedor de água quente e faço o meu caminho até a porta. Zero é o meu número - para correspondências e outras coisas. Meu endereço. Zero é o meu lugar neste mundo. E é tão apropriado não ser nada, mesmo no sentido pejorativo. Eu gosto de não ser nada.
Eu não me importo de ser uma ninguém, porque quando eu chego em casa, meu pequeno espaço de nada, me sinto segura.
Sendo invisível. Zero... Uma ninguém. É bom.
Eu não estou segura, claro. Ninguém está. Mas eu preciso da ilusão, agora mais do que nunca. Porque alguém, depois de viver aqui por onze meses - onze longos e solitários meses; sem amigos, sem família e sem esperança de ter uma vida normal novamente - alguém quer me conhecer.
Não me foder, embora ele tenha dito isso também. Ele terminou a conversa dizendo que queria ‘me conhecer.’
O apartamento não é nada especial, mas não está infestado de baratas, então me considero sortuda. Eu pesquisei essas coisas antes de me mudar e pagar meu aluguel adiantado por um ano. Baratas. Não. Isso é pior que andar descalça na rua.
Eu tenho mais um mês pago e então as decisões precisam ser tomadas, porque estou sem dinheiro. Este lugar pode ser pequeno, não ter vista para o mar e estar longe de chegar perto dos lugares onde eu cresci. Mas fica a um quarteirão da delegacia e a uma quadra da avenida principal. É uma caminhada de cinco minutos até a praia. E são mil e oitocentos dólares por mês. A única maneira de eu poder ficar aqui depois do término do meu contrato pré-pago de um ano, é se eu assaltasse um banco.
Eu não estou tão desesperada. Ainda.
Meu telefone vibra no balcão, me tirando da minha festa de autopiedade. Em menos de um segundo, meu coração acelera novamente. Que merda é essa? Eu ando até ele e o pego, justamente quando ele para de vibrar.
DESCONHECIDO: Eu sei onde você mora.
O que? Meu coração está batendo tão rápido que, por um momento, acho que posso cair e desmoronar. Eu cambaleio para uma cadeira e me sento, ofegando por ar, em pequenas rajadas, enquanto o medo me consome. Eu me inclino e coloco a cabeça entre os joelhos, ao mesmo tempo em que o telefone volta a vibrar.
Não. Não. Não. Mas que porra está acontecendo?!
Eu não consigo pensar direito. A única coisa que ouço são meus batimentos cardíacos - induzidos por adrenalina - latejando bem no meu ouvido.
O telefone vibra uma e outra vez, mas não consigo me mexer. Estou paralisada de medo. Eu estou morta. Eu sou uma garota morta. O telefone vibra de novo. Eu pensei que o bonitão fosse meu assassino, mas ele me deixou ir. E agora... isso?
Eu balanço sem parar, pra frente e pra trás, enquanto lágrimas gordas e pesadas escorrem silenciosamente dos meus olhos.
Se eles me encontraram, minha vida já era.
Eu me forço a levantar e tropeço até o banheiro, onde guardo as pílulas. Eu não as tomo há alguns meses. Mas aquela pequena pílula branca está chamando meu nome. Aquela pequena pílula branca é a única coisa que me impedirá de perder a cabeça agora.
O frasco treme, fazendo as pílulas se agitarem por dentro, mas consigo que algumas caiam na minha palma aberta. Eu tomo todas e enfio a boca embaixo da torneira, bebendo água para ajudar a engolir.
Meu telefone ainda está vibrando no balcão.
Mesmo sabendo que ainda não deu tempo de as pílulas agirem na minha corrente sanguínea, apenas saber que eu as tomei já me acalma. Eu respiro fundo por alguns minutos e, depois de algum tempo, estou calma.
Uma onda sonolenta cai sobre mim, encolhida no chão do banheiro, então decido me levantar e voltar para a sala de estar, onde minha cama está embutida contra a parede oposta, para deixar espaço para a cadeira e a pequena mesa de centro. Eu pego o telefone enquanto ando e depois caio em cima da cama bagunçada, rolando um pouco para ficar debaixo das cobertas. Aconchegada, fecho os olhos.
O telefone toca e, agora que estou relaxada, posso lidar com isso.
—Eu estou pronta, filho da puta! — eu grito para o alto-falante. — Vem me pegar, já que você sabe tanto.
—O que?
Quando registro a voz do bonitão da praia, quase pulo de pé.
—Como você conseguiu esse número?
—Eu sou o único atrás de você, Harper.
Eu encerro a ligação e começo a olhar freneticamente os registros de chamadas perdidas. Tudo ele! Aquele idiota! São todas dele! Eu vou para as mensagens e começo a ler.
DESCONHECIDO: O jantar é às oito.
DESCONHECIDO: Tacos na praia ou restaurante à beira mar?
DESCONHECIDO: Harper, eu não gosto de ser ignorado.
DESCONHECIDO: Eu vou até sua casa, estou na mesma rua.
Essa mensagem foi cinco minutos atrás, antes de eu encerrar a ligação.
Meu telefone toca novamente e eu atendo.
—O que é que você quer?
—Eu fiz uma pergunta, estou esperando uma resposta. — ele rosna no telefone. Consigo registrar levemente o som de pessoas conversando na rua, carros passando e uma sirene, que eu posso ouvir tanto de dentro do meu apartamento, quanto através do telefone. Ele está perto. Provavelmente, do lado de fora do meu prédio.
Ele é um deles? Não tenho certeza.
—Estou confusa. — eu confesso, as pílulas devem estar fazendo efeito agora, me levando a embolar as palavras. Meu corpo cai de volta nas cobertas. Minha cabeça está girando e meus olhos estão pesados. — Estou tão confusa...
—Harper? — O bonitão me chama através do meu telefone, a voz abafada pelos cobertores. Eu procuro o aparelho pela cama, tateando sobre os cobertores. Minha visão fica borrada quando eu o encontro e o trago perto da minha boca, encarando o teclado desfocado.
—Vá embora, bonitão. — eu sussurro para a luz fraca. — Você não pode me ver. Eu sou invisível. Você não quer me conhecer. Porque eu não sou ninguém. Eu não sou nada.
James
Suas palavras me param. Estava quase entrando em seu prédio, mas suas palavras me impediram. Bonitão? Então a ligação foi encerrada com três bipes, eu puxo meu telefone para longe da minha orelha e olho para ele. Ela tomou as pílulas. Ela estava arrastando as palavras. Eu a assustei e ela tomou aquelas fodidas pílulas.
Eu pego a chave que fiz e abro a porta dela. O lugar é tranquilo, exceto pelo zumbido mecânico do ar-condicionado. Eu fecho a porta e caminho até a cama dela. Ela está encolhida em posição fetal, segurando o travesseiro. Na maioria das noites, é assim que ela dorme. Mas não está de noite e ela não está dormindo. Ela está desmaiada.
Eu pego o frasco do banheiro e conto as pílulas. Faltam sete. Quatorze miligramas. Não é bom, mas poderia ser pior. Essas pílulas não costumam causar overdose por superdosagem. Eu conheço essa merda. Farmacologia é minha especialidade. Meu cartão de visitas, quando preciso cuidar dos negócios. O veneno que eu uso diz aos meus superiores que tipo de trabalho precisa ser feito. Ansiolíticos são praticamente inúteis para matar pessoas, então ela não vai morrer, mas ela vai ficar apagada por um tempo.
Eu puxo as cobertas para trás e ela geme. Suas roupas estão ensopadas, ela cheira a sal e sua cabeça ainda está sangrando.
—Harper? — Eu a puxo para a posição sentada e seguro seu rosto. — Harper?
Seus olhos reviram quando ela solta uma palavra incompreensível.
Eu a deito novamente e me abaixo para desabotoar seu short. Ele está grudada no corpo dela, então eu tenho que puxá-lo com força pelo quadril. Sua calcinha embola junto com o tecido molhado. É preta, igual ao sutiã esportivo e, por um momento, eu a imagino apenas de lingerie.
Meu pau fica duro instantaneamente.
Sua boceta está coberta de finos pelos loiros. Aparados e depilados. Isso para meu coração por um segundo. Deus. Eu desejo essa garota há meses. Eu a imaginei nua nessa cama tantas vezes que isso é quase como reviver um sonho. Eu puxo seu short e calcinha sobre os tornozelos e, em seguida, puxo-a sentada novamente.
—Fique quieta. — eu sussurro, enquanto ela geme. Eu puxo o sutiã por cima da cabeça e o jogo no chão, ao lado do short. E então eu a levanto em meus braços e a seguro perto. Seus seios pressionam contra mim e, em seguida, seus braços rodeiam meu pescoço e ela se inclina, empurrando o rosto no meu ombro como se estivesse se aconchegando.
Porra. Eu a quero tanto.
Ela é minha. Eu sinto que ela é minha. Eu tenho um desejo quase irresistível de tocar cada parte de seu corpo tonificado e bronzeado. Eu quero empurrá-la contra a parede e fodê-la por trás. Eu quero que ela chupe meu pau enquanto fodo sua boceta e sua bunda com os dedos.
Eu sonho com isso há meses.
Harper
Oh meu Deus, que dor de cabeça.
Eu me viro na cama e sinto o cheiro... que cheiro é esse?
Meus lençóis cheiram deliciosos. Como um prado de verão. Fresco.
Inspiro fundo e depois lembro por que eu desmaiei, em primeiro lugar, e me sento imediatamente, meu coração mais uma vez batendo descontroladamente. Eu não estou cheirando a praia e minhas roupas não fedem a sal, mesmo que eu tenha pulado de um píer. Minha cama também não está cheia de areia. Eu olho em volta, tentando avaliar o que está acontecendo.
Ou o que aconteceu, depois que eu adormeci.
Minha cabeça está leve por causa das pílulas. Eu olho para a minha mesa de cabeceira e observo o frasco. Quantas eu tomei? Três? Quatro? Mais?
Bem, devem ter sido muitas, depois de tanto tempo sem usá-las. O suficiente para mexer com a minha memória. Mas eu só peguei porque eu estava apavorada. Eu pensei que...
No que eu estava pensando?
Eu tento me lembrar... O Píer. Eu pulei de um píer. Bati a cabeça... meus dedos vão para a minha têmpora esquerda, onde está latejando. Não há sangue, apenas uma crosta e... pontos? Eu arrasto o dedo para frente e para trás, através dos pequenos nós e sinto um choque dolorido quando, sem querer, puxo uma parte da linha presa ao meu couro cabeludo.
Alguém costurou minha cabeça.
Eu retiro a mão.
O bonitão me salvou. Foi ele quem me deu esses pontos.
Não! Oh meu Deus!
Não é isso que está acontecendo aqui, Harper!
Ele está trabalhando para eles!
Ele tem que estar, de que outra forma ele conseguiria meu número de telefone? E por que ele estava me seguindo, pra começo de conversa?
Eu silencio minha voz interior. Eu não posso lidar com isso agora. Isso precisa parar, eu preciso pensar. As coisas precisam ser simples. Se tinha uma hora pra confiar nos meus instintos, era agora.
E a verdade simples é que esse cara me atacou, me beijou e insinuou que ia fazer sexo comigo. Ele trabalha para eles, eu sei disso. Eu tenho certeza. Não sei bem que tipo de jogo ele está jogando, mas conheci alguns dos caçadores enquanto crescia. Ele é definitivamente um deles. Todo arrogante, carismático e calmo. Ele parecia muito seguro de si.
Não parecia?
Mas por que ele não me matou? Ou me levou de volta?
Eu procuro meu telefone e o encontro na mesa, ao lado do frasco de remédios. Eu avanço até ele e começo a buscar minhas mensagens. Mas quando eu desbloqueio a caixa de entrada, não há nada lá. Vazia. Como devia ser. Ninguém nunca me manda mensagem. Ninguém tem esse número.
Mas... ele me mandou uma mensagem. Ele me perguntou... droga. Eu não consigo lembrar o que era, mas eu pulei do píer quando ele me perguntou algo e então eu vim para casa, em pânico. Quando recebi a mensagem - a que não está mais aqui - eu tomei as pílulas, então fui para a cama.
Só que... eu olho para as minhas roupas. Eu estou vestindo uma blusa rosa e uma calcinha short branca. Eu cheiro minha pele. Não, nenhum traço do oceano. Eu sinto cheiro de sabão. Eu devo ter tomado um banho.
Eu troquei os lençóis? Porque não há areia na cama. Nem entre os meus dedos. O short e sutiã esportivo que eu estava usando deveriam estar no chão, onde eu geralmente os lanço depois de me despir, mas eles não estão em lugar nenhum.
Eu dou um sorriso quando me levanto e vou até a cozinha fazer um café.
—Eu deveria tomar pílulas com mais frequência. Aparentemente, a Harper drogada é bem mais legal.
Ou...
O bonitão entrou, me limpou, costurou minha ferida, me vestiu, trocou meus lençóis e lavou a roupa.
Eu ri da loucura disso.
Ou...
Deus, eu odeio a subvocalizarão incessante da minha mente. Por que não posso simplesmente calar a boca?
Talvez eu tenha imaginado a coisa toda? Talvez não houvesse homem no píer? Talvez eu tenha tomado muitas pílulas e todas essas coisas tenham sido apenas frutos da minha imaginação.
Eu realmente preciso sair desta casa. Quanto tempo uma pessoa pode falar sozinha antes de ser considerado uma patologia? Não faço ideia, mas não estou a fim de descobrir. Talvez aquele cara fosse um sonho, quem se importa. Se ele estivesse aqui para me levar de volta, já teria feito. Com toda certeza eu não estaria meio nua na minha cozinha, fazendo café.
Dane-se o café. Eu preciso ir a algum lugar. Qualquer lugar. Verifico a hora para ver quanto tempo fiquei fora e são sete e meia. Como se fosse combinado, um ronco ecoa do meu estômago. Eu não comi nada o dia todo.
Eu pego um short da minha cômoda, coloco um sutiã limpo e visto uma blusa branca. O cabelo nunca é mais do que um rabo de cavalo, então eu apenas passo os dedos nos fios e puxo para cima.
Calço meus chinelos, pego minha chave e saio.
Eu paro na sala de máquinas para deixar a chave e pegar algum dinheiro. Apenas dez dólares. Eu tenho cerca de oitocentos sobrando, mas é difícil me importar quando tudo que eu quero são dez dólares e meu estômago está começando a doer.
Como há apenas quatro pessoas que moram nesse prédio, as chances de eu esbarrar nelas a qualquer momento são baixas. Eu amo isso, porque agora todo mundo é o inimigo. Eu aprecio as pessoas quando preciso de algo. Como o cara na lanchonete mexicana para onde estou indo agora. Ele me dá comida em troca de dinheiro. Então, eu aprecio ele por suas habilidades de fazer taco.
Mas eu não quero saber o nome dele e não quero que ele saiba o meu.
Eu não quero nada com ninguém. Eu só quero sair no meu estranho estado de limbo. Eu nunca falei com meus vizinhos. Eu sei como eles são, fico de olho nas coisas estranhas ao redor, coisas que saem do normal. Diferente é ruim. Eu gosto de normal. Normal é bom.
Exceto pelo homem bonito do píer.
Não havia homem algum. Isso tudo foi um sonho. Pular de um píer?! Aham, que movimento idiota. Mas os sonhos são assim. Nos sonhos você pula de lugares idiotas o tempo todo. E, falando sério, eu realmente vou me foder se ele for real, porque eu disse meu nome a ele.
Eu ando pela calçada que leva a avenida principal, abro a porta da lanchonete e me preparo para me juntar ao mundo.
O lugar está lotado, então eu apenas entro na fila, fingindo olhar para o menu enquanto espero. Eu não como sempre aqui, é muito perto de casa para vir todo dia. Mas, quando eu venho, sempre peço a mesma coisa. Tacos Asada, uma porção de arroz e um chá. Quinze minutos depois, tenho meu saco de comida gordurosa, alguns guardanapos e um garfo de plástico. As mesas do lado de fora estão cheias, então eu vou até a praia para comer nos degraus do Píer Plaza. Eu escolho um espaço contra a parede e me encosto. Eu venho aqui todas as noites para ver o pôr do sol. A cidade instalou esses degraus de concreto em forma de estádio para os observadores do pôr do sol e do voleibol.
Sentar aqui ao pôr do sol e vê-lo nascer do píer, são as duas constantes da minha vida no momento. As duas coisas que posso contar para me manter sã. São apenas oito horas agora, então ainda tenho alguns momentos antes do sol se pôr.
Eu abro o saco e quando começo a comer, não consigo parar. É como se eu não comesse há dias.
Estou prestes a colocar a última garfada de arroz na boca quando meu telefone vibra.
Meu coração acelera. É um baque gigante que quase me leva a outro ataque de pânico, mas eu me acalmo e pego o telefone no assento de concreto ao meu lado.
DESCONHECIDO: Tacos na praia? Ok.
Eu me levanto e giro ao redor, enquanto o telefone vibra na minha mão novamente. Eu ignoro, ainda procurando. Ele não está aqui nos degraus. Eu pulo para cima na barreira de concreto que separa as várias seções de assentos e escaneio novamente.
Como eu o reconheceria? Não sei como é sua postura, seu andar ou sua altura. Eu só me lembro dos olhos dele. E do toque de seus lábios, a suavidade de sua língua. E nada disso é útil à distância.
Meu telefone vibra novamente, então eu pulo e checo a tela.
DESCONHECIDO: Você só vai me ver se eu quiser.
Eu respondo:
EU: Mas você pode me ver quando quiser?
DESCONHECIDO: Eu quero conhecer você e sempre consigo o que quero. Aliás, amei o short, Harp.
Minha mão voa para o meu peito, como se para proteger meu coração da dor imediata que me inundou quando li o nome. Harp. Como este homem ousa se inserir na minha vida e fingir que tem o direito de me conhecer? Como ele ousa interromper minha rotina e me tirar da bolha de conforto em que me envolvi?
Pego os restos do meu jantar, corro de volta pelos degraus e jogo no lixo. Depois ando pela avenida como um zumbi, cortando o trânsito da hora do rush. Viro a esquina e começo a acelerar para ir para casa.
Viu? Viu só, Harper? É por isso que você não sai de casa, porra.
Eu caminho meio correndo até o portão e decido entrar pelos fundos. Deus, esse troço não é muito seguro. Qualquer um pode subir e puxar esse pedaço estúpido de corda. Eu encontro minha chave e entro no apartamento, fechando a porta atrás de mim, trancando-a com força, e então me inclino contra ela para que eu possa, finalmente, cair no chão.
Esse cara é um idiota. Ele está me perseguindo. Me observando, anotando o que estou vestindo, o que estou comendo. Meu celular vibra atrás de mim e eu pulo.
Eu vou ter que ir à polícia. Não tem como isso terminar bem. De jeito nenhum. Eu vou ser obrigada a ir à polícia. E se ele não for um deles? E se ele for apenas um estuprador maluco?
Outra vibração.
Eu pego o telefone e viro a tela para ler as mensagens.
DESCONHECIDO: Que dia é hoje?
O que?
Eu respiro fundo e respondo.
EU: Quarta-feira.
DESCONHECIDO: É melhor olhar o calendário, Harper.
Nenhum apelido desta vez. Por quê? Ele viu minha reação lá na praia? Como? Como ele poderia saber que foi o nome que me fez reagir?
DESCONHECIDO: Verifique o dia, Harper. Eu odeio ter que pedir pra você fazer tudo duas vezes.
Eu verifico a data no meu celular, mas isso não ajuda. Eu nunca acompanho as datas. Então eu vou para o meu aplicativo de calendário e meus olhos quase saltam da minha cabeça.
Sexta-feira.
Bem, isso explica a fila na lanchonete mexicana. E a minha fome. Eu dormi por três dias.
DESCONHECIDO: Estou esperando.
Ele pode esperar o quanto quiser. Ele está tentando jogar comigo, mas eu não vou entrar nessa brincadeira.
DESCONHECIDO: Você se lembra do banho que eu te dei, depois que você tomou aquelas pílulas?
Não me lembro de nada. É um efeito colateral comum dos calmantes, mas só quando você toma muitos. Alguém teve que costurar minha cabeça, me despir, me limpar, lavar minhas roupas encharcadas de água salgada e me colocar na cama.
Esse alguém foi ele.
DESCONHECIDO: Eu gostei. Muito. Cada segundo.
As lágrimas caíam pelo meu rosto enquanto entendia a gravidade do que ele estava me dizendo. Então eu respondi:
EU: Eu vou te denunciar à polícia por estupro, babaca!
James
Estupro.
Foda-se, ela só pode estar brincando comigo. Isso me faz rir, mas sério, essa garota... Porra, depois de tudo que aconteceu, ela acha mesmo que eu sou um estuprador de merda?
Estou a dois metros da porta do prédio dela, mas faço um pequeno desvio em direção ao beco, para pensar sobre isso.
Estuprador.
Reviro as possibilidades repetidamente em minha mente e só tenho uma explicação. Ela não tem ideia de quem eu sou.
Passo as mãos pelos cabelos, puxando um pouco. Ela está me deixando louco! Todos esses meses vivendo feito um maldito stalker, reprimindo o desejo e ignorando o tesão acumulado, estão nublando meu raciocínio.
Se ela não tem ideia de quem eu sou, então...
Harper
Uma batida na porta me assusta.
—Harper? — a voz rouca atravessa baixinho pela porta. — Abra, Harp.
—Não me chame assim. — eu digo de volta. — Você não tem o direito de me chamar assim.
—Abra a porra da porta ou eu juro por Deus que vou arrebentar as fechaduras e derrubá-la.
—Eu estou chamando a polícia.
—Não, você não está. Você está fugindo. Não é preciso um cara como eu para ver isso. Abra. Essa. Porta. Eu preciso esclarecer as coisas. Agora.
Eu paro, pensando sobre isso.
Ele chuta a porta e a madeira ao redor da fechadura começa a se partir.
—Para com isso!
—Abra a droga da porta. — ele exige.
Eu me aproximo e viro a trava. Assim que ela destranca, ele empurra a porta aberta e para bem na minha frente, respirando com dificuldade, seu peito subindo e descendo como naquele dia sob o píer. Só que, agora, ele parece furioso.
E isso me deixa apavorada. Eu recuo, estendendo as mãos para afastá-lo. Fechando a porta com um chute, ele continua vindo na minha direção, me forçando a ficar contra a parede.
—Você acha que eu estuprei você? — Seus olhos estão brilhando de raiva enquanto ele olha para mim. Os olhos dele se movem por todo os meu rosto, incapazes de se fixar nos meus. — Me responda! — ele grita.
Eu me assusto com o grito e imediatamente perco o controle, deixando minhas lágrimas caírem livremente. Envergonhada, cubro o rosto.
—Vá embora! Só me deixe em paz!
Ele tira minhas mãos do meu rosto e o segura com as dele, se inclinando mais perto. Tão perto quanto ele estava no outro dia, na praia. Meu corpo inteiro começa a tremer.
—Você acha... — ele diz, mais suave agora. — Que eu estuprei você, Harp?
—Por favor, não me chame assim. Por favor, por favor, por favor, não me chame assim.
Ele solta um longo suspiro, retira as mãos, se vira e se afasta. Cubro meu rosto de novo e espio por entre os dedos como uma criança, observando-o se frustrar comigo, passando as mãos pelos cabelos bagunçados. Ele está vestindo uma camiseta azul clara que abraça todos os músculos de suas costas. O jeans desbotado parece muito velho e há um buraco na altura da bunda que me permite ver o padrão xadrez de sua cueca. Nos pés ele usa um tênis da Vans clássico, que parece ter sido feito nos anos 80.
Ele é claramente perigoso, mas essa contradição em seu gosto pra moda me faz rir.
Ele se vira pra mim, intrigado.
—Engraçado? — Ele me pergunta, com as sobrancelhas arqueadas com suspeita. — Isso é engraçado? — É a vez dele de rir, mas é claro que ele não está achando graça nenhuma. — Você tem um senso de humor estranho, Har... per. — Ele acrescenta a última sílaba e inclina a cabeça um pouco para ver se reajo ao nome novamente.
Eu abro as mãos e me pressiono contra a parede, enquanto ele se aproxima de novo. Desta vez ele não me toca, simplesmente pressiona as palmas das mãos contra a parede em ambos os lados da minha cabeça.
Eu respiro fundo e olho em volta, tentando evitar seu olhar.
—Agora, me responda. Você acha que eu entrei, te encontrei drogada e inconsciente, com a cabeça sangrando... — Ele passa a ponta dos dedos ao longo da minha ferida costurada e eu estremeço. — Cuidei de você... — Sua voz diminui quase para um sussurro. — Te dei banho, costurei alguns pontos na sua cabeça, te vesti com as coisas mais doces que pude encontrar em sua escassa variedade de roupas... — Eu engulo em seco enquanto imagino a cena na minha cabeça. Suas mãos no meu corpo. Seus olhos no meu corpo. Escolhendo minhas roupas e me vestindo. — E então te cobri e dormi ao seu lado por quarenta e oito malditas horas, até você sair da sua patética overdose de benzodiazapam?
—Eu não tive uma overdose, só não estou acostumada a tomar muitas pílulas!
Ele tapa minha boca.
—Shhhhh! Essa foi a segunda coisa maluca que você fez naquele dia. — ele enfatiza. — Me diz, você acha mesmo que eu vim, fiz tudo isso e depois te estuprei?
Eu olho para longe, envergonhada.
—Sua boceta está dolorida?
Volto minha atenção para a linguagem vulgar.
—Está?
Eu nego com a cabeça.
—Bem, então você pode ter certeza, Harper, que eu não te fodi. Porque eu não fodo pela metade, nem de qualquer jeito. Se eu tivesse te fodido, acredite em mim, você sentiria o efeito do meu pau na sua boceta por uma semana, e a única coisa incerta na sua cabeça seria a respeito de quando é que eu voltaria pra fazer tudo de novo.
Oh meu Deus! Eu fiquei molhada com essas palavras. Eu viro minha cabeça para esconder o rubor, mas seus dedos deslizam sob o meu queixo e forçam minha atenção de volta para ele.
—Olhe para mim.
Eu ergo os olhos e solto um suspiro doloroso. Ele olha para mim por um momento e depois se inclina devagar, diferente daquela loucura esmagadora que compartilhamos no píer, naquele dia. Ele arrasta os lábios contra os meus em um beijo suave e então se afasta, antes que eu possa reagir.
—Você pensou sobre o nosso beijo no píer, depois? — Eu coro e tento desviar o olhar, mas as pontas dos dedos estão de volta no meu queixo, pedindo-me para olhá-lo nos olhos. — Me responda, Harper.
—Sim.
—Foi bom?
Eu abro um sorriso, não posso evitar. Isso também o faz sorrir e as benditas covinhas aparecem.
—Foi do jeito que você sonhou? Porque eu posso fazer melhor. Eu posso fazer muito melhor, se você ficou desapontada, Harper.
Eu coro novamente.
—Não, foi bom.
—Bom? Beijar você deveria ser muito mais que bom.
Eu olho nos olhos dele dessa vez e digo a verdade.
—Foi... espetacular. — Eu recebo mais covinhas em recompensa dessa admissão. Quando olho para os olhos dele, estou em transe. Ele é... hipnótico. — Eu gostaria de outro beijo. — eu sussurro, sem saber direito de onde isso veio. É verdade, então eu não retiro o que disse. Eu apenas olho para ele.
Ele se inclina para o meu pescoço e morde o lóbulo da minha orelha.
—Você gostaria? — ele respira em mim.
Eu só consigo acenar com a cabeça desta vez. Minha capacidade de falar foi embora. Meu corpo inteiro arrepia, e não de um jeito ruim, mas de um jeito que eu nunca experimentei antes.
—Agora? — ele sussurra.
—Sim. — eu respondo suavemente.
—Bem... — ele diz, com a voz normal enquanto se afasta. — Eu acho que você tem um compromisso na praia. Talvez possamos reavaliar isso... — ele ri —Seja lá o que “isso” for, depois.
—O que?
Ele pega minha mão e me leva para a porta. Eu pego minha chave do chão e a coloco no bolso. Eu nunca deixei o apartamento com outra pessoa antes. Isso me tira da minha rotina de segurança.
Ele segura minha mão todo o caminho até o portão de madeira e depois me conduz a frente com um tapinha na bunda. Eu fecho os olhos e suspiro com esse movimento, mas eu não digo nada, porque seu toque não autorizado desapareceu um momento depois. Ele volta para o meu lado e segura minha mão novamente, como se fôssemos um casal de namorados saindo para uma caminhada de sexta à noite.
—Isso é estranho. — eu digo em voz baixa.
—O que é estranho? — ele pergunta.
Eu olho para ele enquanto andamos e ele distraidamente pega os óculos de sol pendurados no colarinho de sua camiseta e os coloca. Sinto falta dos olhos dele imediatamente, mas o sol está quase se pondo e estamos indo para o oeste, então o brilho alaranjado está realmente explodindo em nossos rostos, iluminando nossa pele, fazendo-o parecer um deus bronzeado de camiseta apertada e jeans.
Ele levanta nossas mãos entrelaçadas.
—Ficar de mãos dadas é estranho?
—Sim, mas... — Eu paro e ele não liga muito, mas apenas porque estamos no cruzamento da avenida principal, aguardando o semáforo liberar nossa travessia. Esperamos com uma multidão de pessoas que estão indo para a praia, assistir ao pôr do sol. E é quando percebo o que ele quis dizer antes. — Meu compromisso é com o sol?
Ele olha para mim e sorri.
—O sol? Eu sempre imaginei que você vinha aqui na parte da tarde para admirar o crepúsculo. Então você também não vem até aqui todas as manhãs pra observar o dia nascer, mas pra ver o sol?
—Você esteve me vigiando.
Ele acena com a cabeça quando a luz muda e a multidão de pessoas se mistura para frente, nos levando no impulso, como uma onda.
Quando chegamos aos degraus do Píer, não há quase onde sentar. Sexta-feira à noite o pôr do sol é muito popular no verão. Eu costumo chegar aqui pelo menos meia hora mais cedo nos finais de semana.
—Estamos atrasados. — meu novo parceiro diz quando nos aproximamos. Ele corre para a direita, me puxando junto enquanto ele vai. E então ele encontra um assento para nós, entre duas pilastras. Ele se senta primeiro e eu olho duvidosamente para o pequeno espaço deixado para mim. Ele dá um tapinha no joelho. — Sente-se, Harper.
Ele me puxa para ele até que eu caio em seu colo.
Como se eu tivesse escolha.
Quando ele envolve seus braços em volta de mim e se inclina contra o pilar de concreto, eu tensiono imediatamente. Não tenho certeza de como devo agir agora.
Ele se inclina no meu pescoço.
—Relaxe. — ele diz suavemente.
—Eu não posso evitar. — eu respondo. — Eu nem sei seu nome e você está me abraçando em público, como se estivéssemos juntos ou algo assim.
— Mais tarde, Harper. Apenas aproveite o show. Já vai começar.
Eu desisto. Ele me faz querer desistir.
A garota independente e obstinada dentro de mim quer se opor, mas eu não dou ouvidos a ela. Porque eu gosto. Ele parece tão familiar. Sinto como se ele fosse um velho amigo, em vez de um estranho. Pela primeira vez, em mais de um ano, me sinto segura. E, como a maior lição que eu já aprendi na vida foi que a segurança era um presente, decido aceitá-lo.
Inclino-me contra seu peito e sinto nossos batimentos cardíacos. O meu, depois o dele. Então o meu, depois o dele. E depois de um tempo disso, eles começaram a bater juntos. Todos ao nosso redor estão conversando e brincando. Bebês choram. Os skatistas fazem manobras radicais na pista ao lado da ciclovia. Mas nós permanecemos calados, presos em nosso próprio mundo.
O sol mergulha no horizonte e tudo escurece. É como se o sol estivesse brincando de cruzar o céu o dia inteiro mas, de repente, sem cerimônia, ele desaparecesse.
As pessoas aplaudem e as crianças comemoram. Eles fazem isso todas as noites. Alguns deles eu até reconheço, como se fizéssemos parte de um clube secreto de observadores do pôr do sol.
Eu espio uma mulher mais velha, que vejo o tempo todo, olhando para mim. Ela pisca pra mim em aprovação e eu coro. Ela acha que esse estranho e eu estamos juntos. E por que não acharia, certo? Eu estou sentada no colo dele, seus braços estão em volta da minha cintura, minha cabeça está descansando contra seu peito. Nossos corações estão batendo em sincronia.
Nós permanecemos assim até que todos ao nosso redor se afastem.
— E agora? — Eu pergunto.
—Você quer meu nome verdadeiro, meu apelido nos negócios ou meu nome falso?
—Todos eles. — eu digo através de um longo bocejo.
—Esta noite é apenas um. Escolha.
Eu tenho um mau pressentimento sobre isso.
—O que é um apelido de negócios?
—Um codinome. Algo parecido com um código.
Eu sabia.
—Que tipo de código? — Eu já imagino, mas pergunto de qualquer maneira, porque preciso ter certeza absoluta.
—É baseado no que eu faço. Como se fosse um cartão de visitas. Eu uso o codinome, então eles sabem que sou eu.
—Eu também tenho um desses.
Seu peito ronca com uma risada.
—Eu aposto que tem.
—Você quer saber qual é?
—Primeiro o meu, então o seu. Escolha um.
—Nome verdadeiro.
—James Feneci.
—James. — eu repito em um sussurro. — Eu gosto de James.
—Eu gosto de Harper.
—Quantos anos você tem?
—Vinte e oito.
—Eu só tenho dezoito anos.
—Eu sei.
Ele sabe. Hmmm.
O olhar em seu rosto, enquanto minha idade paira entre nós, chama completamente minha atenção.
—Isso te incomoda? — Ele espera alguns segundos antes de responder e esta é a minha pista de que sim, isso o incomoda.
—Isso não me incomoda. — acrescento.
Ele ergue meu queixo com os dedos, então minha cabeça se vira para ele e sua boca está na minha, sua língua sondando, me pedindo para entrar e eu deixo. Mas, desta vez, eu coloco minha língua na dele e parece tão... tão bom.
Ele interrompe o beijo e se levanta, me segurando em seus braços por um momento antes de me colocar no chão.
—Também não me incomoda, mas você está cansada. Vamos, eu vou te levar para casa.
Ele segura minha mão novamente, mudando de lado quando chegamos à estrada, colocando-se entre mim e o tráfego como um perfeito cavalheiro. Mas nós terminamos nossa caminhada para o meu prédio em silêncio. Quando chegamos ao portão de madeira, paramos para que ele possa puxar a corda e abrir o trinco.
— Qual é o seu codinome, Harper? — Ele olha por cima do ombro para mim, como se se sentisse culpado por perguntar.
Eu o encaro, subitamente inquieta. Isso é uma armadilha?
—Você quer saber disso porque você tem um alvo? — É uma pergunta ousada, mas justificada. Se ele está aqui para me matar, eu mereço saber. Mesmo que ele esteja hesitando em cumprir ou não seu contrato.
—Você não é meu alvo, ok? — Mas ele não me olha nos olhos quando diz isso. —Você primeiro. — Ele sorri e mantém o portão aberto para mim. Nós caminhamos até o prédio, então descemos as escadas.
Pego minha chave e estou prestes a empurrá-la para dentro da fechadura quando ele coloca a mão sobre a minha, me impedindo de continuar.
—Tet. — diz ele. — Meu codinome é Tet.
Eu olho para o rosto dele para tentar descobrir o que ele está pensando.
— Por que você me contou?
—Qual é o seu? — Ele pergunta, ignorando a minha pergunta.
—Você está aqui por mim, não está?
Ele sacode a cabeça.
—Não, eu juro. Eu não estou aqui por você. Mas eu preciso saber onde você se encaixa. Codinome?
—Eu não sou ninguém. Aliás, sou apenas a filha de alguém, é isso.
—Codinome, Harper. — Seus olhos ainda são suaves, como se mesmo odiando repetir a pergunta, ele não tivesse escolha.
Eu engulo em seco e levanto a cabeça.
— Come3. Meu código é Come.
Ele solta um longo suspiro de alívio e depois uma risada nervosa.
—Esse é um codinome bastante obsceno para uma menina tão doce.
Eu ignoro sua insinuação.
—Eu poderia ter sido o seu alvo. — Isso me deixa inquieta. A realidade do que isso significa me deixa nervosa.
—Mas você não é. — ele diz, com o rosto sério. — Você não é e isso é tudo o que importa.
—Mas eu sou o alvo de alguém. — Ele pega a chave da minha mão, mas desta vez sou eu que coloco a mão na dele, impedindo-o de abrir a fechadura. — Onde você se encaixa? — Eu não posso acreditar que estou tendo essa conversa. É tão tabu. Nós dois poderíamos ser mortos por essas poucas palavras. Mas, assim como ele precisa saber o meu lugar, eu também preciso saber o dele. Come é um verbo. Um codinome verbal significa que eu sou uma ninguém. Mas Tet, não tenho certeza do que isso significa. Eu conheço a hierarquia - sei todos os níveis e reconheço todas as categorias. Mas nunca ouvi falar de um Tet.
Ele solta um longo suspiro e olha para os pés, como se ele quisesse me dizer tudo, menos isso.
—Seis. — Eu balanço a cabeça e me afasto, mas ele me pega pela cintura e me puxa de volta. — Por favor, não fuja.
—Seis? — Eu não consigo nem... — Seis. — eu repito.
A organização com a qual meu pai é casado, em dívida eterna, a mesma para a qual ele vendeu seus filhos quando se tornou um membro, a mesma que também levará os meus filhos - se eu viver o suficiente para ter um - é profundamente compartimentalizada. Todo mundo tem um lugar. Todo mundo tem um codinome. Existem milhares de membros em todo o mundo. A maioria é inofensiva. Verbos. Como eu; Ir. Dançar. Passear. Pular. Eles são infinitos.
Os superiores recebem codinomes substantivos. Há centenas deles; Urso, mesa, garra, grama. Os nomes não existem para fazer sentido, são apenas um rótulo, para colocar você em perspectiva.
Meu pai tem uma patente, Almirante. Existem doze membros com patentes.
Mas apenas dez receberam um número como codinome.
Assassinos.
James
—Por que você parece tão familiar? — ela pergunta. — Não, espere, essa não é a pergunta certa. Por que eu sinto que você é tão familiar? É porque você estava me observando? — Seus olhos examinam os meus, procurando a verdade, mas, ao mesmo tempo, duvidando se ela realmente quer ou não saber.
—Qual é o codinome do seu irmão?
O tapa bate no meu rosto antes que eu tenha a chance de reagir, mas, uma vez eu reajo, a trato como qualquer outra ameaça. Eu agarro seus braços, torço-os atrás das costas, empurro-a para frente com um joelho e a derrubo para o duro chão de concreto.
Ela se debate embaixo de mim, sai do meu aperto e gira, apenas o suficiente para enfiar o pé na minha barriga.
Eu agarro seu tornozelo, mas ela se esquiva de novo, me acotovelando no pescoço.
—Caralho! — Agarro seu pé e torço, até que ela seja forçada a rolar de volta, então eu a seguro com um braço sobre a coxa e a mão na panturrilha.
—É melhor você quebrar meu joelho, James. — ela ferve, sua respiração saindo em longos suspiros, combinando com a minha própria, do esforço repentino da luta. — Porque se você me soltar, vai se arrepender.
Eu me inclino para ela um pouco mais, me certificando de que ela esteja bem presa ao chão de concreto. Não tenho certeza se ela está falando sério. Eu ouvi tudo sobre os erros que eles cometeram com a educação dela. Era a parte mais importante do relatório que fomos obrigados a memorizar. Ela é perigosa. Não a subestime. Nunca vire as costas.
Observando-a todos esses meses, a severidade dos pequenos avisos diminuiu conforme os dias se tornaram mais longos. Ela nunca ficou com raiva. Ela nunca levantou a voz para ninguém. Ela não era mais intimidante do que qualquer uma das outras garotas na praia.
Mas agora, o veneno em sua voz pressionou minha memória e os avisos estão de volta com força total.
—Harper...
—Não! — ela diz. —Você está aqui para me matar? Me levar de volta? Então o que diabos você está esperando? Faça a porra do seu trabalho. — Ela balança novamente e eu perco meu aperto. Seu joelho se aproxima e quase se conecta com a minha mandíbula. Mas dessa vez sou que esquivo e ela desliza para longe de mim, pulando de pé.
Ela é rápida, jovem e está com raiva, além de encurralada.
Eu fico de pé uma fração de segundo depois, mas eu recuo e ergo as mãos em rendição, tentando acalmá-la.
—Ei, ei, ei, tudo bem, ok? Eu não estou aqui para fazer nada disso.
—Por que você perguntou sobre ele? — Ela rosna. —Você...
—Harper, se eu quisesse te matar, você já estaria morta, baby. Eu sou um assassino muito bem treinado, eu faço meu trabalho e dou o fora. Eu não estou aqui para te machucar.
Ela apenas olha para mim, balançando a cabeça.
—Você foi treinado para dizer isso. Você é treinado para me fazer acreditar em você, pra mentir sobre tudo e qualquer coisa para conseguir o que precisa. Você foi treinado para me deixar vulnerável, carente, fraca...
—Você também, Harper. — eu grito, interrompendo seu discurso e chamando-a de volta à realidade. — Você. Também. Você é tão cruel quanto eu, talvez até mais. Porque você planejou isso por anos, não foi? Talvez o alvo seja eu, certo?
—Talvez seja. — ela retruca.
—Você disse que eles te chamam de Come, não é? É, talvez eles chamem mesmo. Mas esse não é o seu codinome, então não fode, porra! Pelo menos eu fui honesto. Você realmente acha que eu diria meu número se eu estivesse aqui para te matar?
Ela engole seco e eu sei que, dessa vez, eu ganhei.
Harper
Eu me viro rapidamente para não ter que olhar para ele.
—Harper? — Ele me chama suavemente.
Não tenho palavras. Eu simplesmente não tenho palavras.
—Harper? — Ele toca meu ombro e, dessa vez, eu não me importo.
—Não.
—E juro por Deus, não estou aqui por você.
—Onde foi sua última locação?
—Eu não posso dizer.
Eu já sabia disso. Então eu mudo a pergunta.
—Onde você estava no ano passado? — Ele faz uma pausa e eu me viro para ver seu rosto enquanto ele toma sua decisão. Parece que ele está se esforçando bastante pra lembrar, contando os meses, talvez. Mas eles são treinados para fazer isso, não são? — Estou esperando. — Eu bato o pé feito uma criança petulante e seus olhos encaram meu chinelo, então, ele olha para mim e sorri.
Como esse homem poderia ser um deles? Eu não entendo como alguém com essas covinhas poderia ser um assassino.
—Eu estava fazendo a porra de um favor para um amigo, em um país europeu pequeno e indefinido. Aliás, foi lá que todos os meus problemas começaram.
—Você não estava no Pacífico Sul? — Eu pergunto, com cautela. Como se ele fosse mesmo me dizer.
—Não. Eu não trabalho desse lado do planeta. Não vou lá desde que fui designado, quando tinha dezesseis anos. — Ele me observa enquanto eu absorvo suas palavras. Dezesseis anos. Ele está matando pessoas desde os dezesseis anos. —Acabou? — Ele pergunta, quebrando o silêncio. — Estamos bem, agora?
Eu balanço a cabeça e me inclino contra a parede. Ele vem na minha direção e coloca as mãos nos meus quadris, brincando com o cós do meu short.
— Harper. — ele sussurra no meu ouvido. — Eu não vou me afastar de você. Você precisa entender isso. Você precisa aceitar isso. Estou aqui agora e sinto que estou fazendo a coisa certa pela primeira vez na minha vida. Eu quero você. Eu quero estar dentro de você. Eu esperei todo esse tempo, pacientemente. Foi um fodido golpe de sorte, isso sim, ser enviado pra cá e acabar encontrando você.
Eu balancei a cabeça.
—Não, foi uma armadilha.
—Talvez. — diz ele, continuando seu sussurro suave. Isso me desarma e eu quero ceder, eu realmente quero ceder a ele. Mas no fundo eu sei do que ele é capaz. Eu sei, por que aprendi os mesmos truques. — Talvez tenha sido projetado como uma armadilha, mas eu juro para você, eu não fiz parte disso. E eu não vou perguntar sobre o seu irmão novamente.
Quando confrontados pelo alvo, tranquilizem-no com todas e quaisquer possíveis concessões. Eu sei que isso faz parte do jogo, mas ainda assim... eu quero tanto acreditar nele, que dói. Eu quero que ele fique comigo e nunca vá embora. Eu sou tão sozinha e carente, e é óbvio que ele sabe disso.
Sua mão cobre meu rosto e então seus lábios roçam nos meus.
—Harper. — ele implora, quando leva a boca de volta ao meu ouvido. —Confie em mim, eu vou cuidar de você, soldada4.
Eu me forço a não reagir, mas é preciso todo o treinamento que possuo para não responder.
—Eu sei como eles realmente te chamam, Harper. A pequena soldada. Um apelido infantil, certo? Eu conheço você. E você me conhece, não é?
Eu me afasto, forçando-o a se afastar ao mesmo tempo. Eu preciso olhar para ele. Ele é tão familiar. Eu devia ter notado ele na praia ou algo assim. Ele não espera uma resposta, apenas se inclina e morde meu lábio até eu gritar.
E é tudo que é preciso. Eu derreto. Ele sente minha rendição e cola a boca na minha, faminto, como se estivesse esperando por esse momento há anos.
—Eu quero te foder bem aqui no corredor. Colocar você de quatro e te foder por trás.
Jesus, eu fico excitada quase instantaneamente. Ele empurra a coxa entre as minhas pernas e pressiona. Desta vez, a excitação se transforma em umidade.
—Eu nunca... — eu abaixo cabeça, envergonhada.
—Eu sei.
—O que você quer? — Eu olho para ele. Seus olhos verdes fazem aquela coisa novamente, onde eles se movem freneticamente em busca de respostas, tentando me ler.
—Eu quero você. — ele diz.
—Mas por quê? — Eu aponto na direção da praia. — Há uma tonelada de mulheres na praia que você pode ter. Por que você me quer? Eu não passo de uma criança.
—Você com certeza parece uma adulta para mim.
Ele me chamou de mulher na primeira vez que me abordou na praia.
—Eu não me sinto uma mulher. Eu me sinto como uma criança.
Ele esfrega a parte de trás dos dedos no meu rosto e eu franzo a testa, inclinando a cabeça para longe, mas meu corpo responde ao seu toque.
—Você está aqui sozinha há meses. Eu observei você. Eu estive no seu apartamento. Eu encontrei sua chave e seu dinheiro na lavanderia.
Eu arregalo os olhos com essas admissões.
—Você é um stalker, então. Você é uma droga de stalker assustador. Se ao menos fosse só isso, ok, então tudo bem. Eu apenas seguiria em frente e esqueceria de você. Mas você não é apenas um stalker assustador, você é meu stalker assustador. Uma garota que tem um alvo no peito. E você é um cara cujo único propósito na vida é eliminar um alvo. Que droga você acha que passa pela minha cabeça, quando eu escuto um troço desse? Que isso é apenas uma coincidência?
—Nós temos uma história, Harper.
—Não do tipo que importa muito, James. — eu respondo. — Este é o tipo de história que faz você querer mudar seu nome, se afastar e recomeçar.
—Foi o que você fez? Foi assim que você acabou aqui?
Eu solto um longo suspiro e mordo meus lábios.
—Eu não vou te dizer mais nada. Você está tentando me confundir. Me fazendo confiar em você. Então você vai me usar para fazer o que quer que seja que você veio aqui pra fazer e vai embora. Se eles não mandaram você para me matar, então eles querem alguma coisa que acham que eu tenho; ou querem que eu te ajude a fazer algum trabalho sujo, ou... — Ele espera alguns segundos. Uma longa pausa, para ver se eu continuo. Mas é real demais. Eu não posso dizer a última parte.
—Ou o que? — ele cutuca. — Transformá-la em outra coisa? — Eu olho para cima e ele sorri. — É isso, não é? Eles querem te transformar em mim. Você tem habilidades, pequena lionfish? Será que mergulhar de um píer e lutar contra assassinos é apenas mais um dia normal para você? Seu codinome pode ser Come, mas você queria ser mais, e olhe... agora você é. Você cresceu, ficou perigosa. Letal, é disso que eles te chamam. Eles me disseram que você era uma pequena soldada e era letal, então eu deveria ficar longe, muito longe. Chamar reforços e o caralho.
—E por que é que você não fez isso? — Eu estalo.
—PORQUE VOCÊ NÃO É MEU ALVO. Eu não estou aqui por você, porra.
—Então me diga por que você está aqui. — Eu o desafio. — Eu quero saber. Agora.
Ele sorri para mim e balança a cabeça.
Eu pego a chave da mão dele e enfio na fechadura. Quando ele não me impede, eu giro a maçaneta e abro a porta. Então eu olho por cima do meu ombro. E essa hesitação é minha deixa, porque a boca dele cola na minha. Não duro e áspero como um assassino, nem suave e doce como se estivesse cuidando de uma criança.
É diferente, como um meio termo. Um homem beijando uma mulher.
Eu me viro para ele e seus braços me acolhem, suas mãos voam pra dentro das minhas roupas antes mesmo de eu saber o que está acontecendo. Uma mão desliza pela minha bunda, enquanto a outra sobe para agarrar a parte de trás do meu pescoço.
— Estou aqui para você, Harper. Eu quero você.
Aquele ponto entre as minhas pernas também o quer. Mas meu cérebro está com medo. Eu o empurro de volta.
—Não. — Ele suspira e retira a mão, dando alguns passos para trás. — Eu não estou preparada. — Sua risada me irrita, como se ele já soubesse disso. Como se eu fosse apenas uma garota que provoca homens e depois não lhes dá nada. — Eu não sou assim. — eu digo em voz alta, antecipando minha defesa por sua acusação silenciosa. — Eu não sou uma provocadora. Eu só... — Nada. Não tenho outras razões, além da óbvia. Então eu exijo a única coisa que sei que não posso ter, para cobrir minhas inseguranças. — Eu preciso te conhecer melhor primeiro.
Eu recebo um sorriso torto em resposta.
—Você quer saber se eu gosto de sexo selvagem? A resposta é sim. Se eu te foder, vai ser do meu jeito.
—O que? Não! — Eu soltei uma risada desconfortável. — Não foi isso que eu quis dizer.
—Você realmente quer saber por que estou aqui? — Ele cruza os braços e se inclina um pouco sobre os calcanhares.
Eu levanto meu queixo e encontro seu olhar.
—Sim. — eu digo. — Sim, eu preciso dessa informação ou não posso estar com você.
Ele ri da minha exigência infantil.
—Claro, lionfish. Você é a garota bonita com os espinhos venenosos saindo da sua pele. Você pede a única coisa que sabe que não posso dar, só pra me mandar embora, não é?
Meus lábios estão selados.
Ele agarra minha cintura novamente e me puxa para seu peito. Meus braços vão ao redor de seu pescoço automaticamente, como se eu já pertencesse a ele. E então ele se inclina no meu ouvido e sussurra.
—Eu matei meu irmão, Harper. Eu matei o número cinco. Atirei na cabeça dele e depois envenenei um homem, para pagar uma dívida por foder as coisas com meu amigo naquele trabalho que mencionei na Europa. Eu tenho permissão para matar pessoas, se eu precisar, e eu precisava matar essas duas pessoas. Mas meus chefes não ficaram felizes com isso. Eles disseram que eu falhei na avaliação psicológica quando entrei para o interrogatório. Eles disseram que eu sou um perigo para eles, pra mim mesmo e para o mundo. Mas, como passaram os últimos vinte anos me treinando para matar, dificilmente podiam me culpar por uma indiscrição, contanto que fosse um incidente único. Eles disseram que eu poderia relaxar um pouco na praia. Eles queriam ver se algum tempo de inatividade ajudaria a amenizar a situação.
Eu viro a cabeça e olho na cara dele. Sua expressão é dura, embora suas palavras permaneçam brandas. Seus olhos estão pesados, as linhas de expressão na testa estão mais fundas e a mandíbula está tensa, enquanto ele espera pela minha reação.
—Era isso que você queria ouvir, Harper?
Eu aceno para ele.
—Sim. Obrigada. — Ele me empurra e começa a andar pelo corredor.
—Espere!
Ele não espera, só vira no corredor da pequena lavanderia. Eu corro atrás dele, tropeçando um pouco em meus próprios pés.
—Espere! — Eu puxo o braço dele e ele para do lado de fora da porta. A secadora apita, sinalizando que a roupa de alguém já centrifugou. — Onde você vai? — Meu coração está estranhamente acelerado com o pensamento dele indo embora.
Ele me olha de lado, sem me dar toda a sua atenção. Um olhar que diz ‘eu estou indo embora.’
—Eu não deveria ter contado essas coisas, me desculpe.
Ele se afasta, mas eu o agarro novamente.
—Quer parar, por favor.
Ele suspira e faz alguns pequenos gestos de cabeça, como se estivesse tendo algum tipo de debate interno.
—Naquela noite que você tomou as pílulas, a que eu estava no telefone com você?
Ele espera, então eu respondo.
—Sim?
—Você disse: 'Você não quer me conhecer... eu não sou ninguém.’ — Ele se vira para me encarar de frente agora, sua expressão vazia, sua boca uma linha reta. Seus olhos impassíveis e vazios. Eu consigo diferenciar, agora. Este é o rosto de um assassino. As covinhas estão escondidas debaixo da carranca, atrás da fachada sem emoção de um assassino endurecido. Um homem que vê a morte como nada pessoal, apenas um trabalho a ser completado. — Mas você está errada, Harp. Eu sou o invisível. Você é a porra de um farol brilhando no escuro, se quer saber minha opinião. Eu que sou um zé ninguém. E, se você fosse meu alvo, eu teria te matado. — Ele olha para mim com aqueles olhos verdes impassíveis, frios e profissionais. — Tão certo como eu fiz com meu irmão. Porque é isso que eu faço. É quem eu sou. Você pode ter a aparência, mas não tem o veneno, lionfish.
Ele se vira para ir embora, mas eu o agarro novamente.
—Você não me mataria.
Suas mãos me agarram pela cintura e me puxam para seu peito.
—Você acha que me quer? Você acha que quer saber mais sobre mim? — Ele se inclina e respira no meu pescoço por um momento. — Você gostaria que eu te fodesse, Harper?
Os arrepios surgem em todo o meu corpo e o espaço entre as minhas pernas está implorando por atenção. Mais contato. Mais conversa, mais palavras suaves sussurradas. Mais de tudo. Eu quero mais de tudo.
—Porque eu vou. Eu sou esse tipo de cara. O tipo que seduz meninas inocentes e transa com elas, só porque ele pode, porque ele sabe fazê-las pensar que elas o querem tanto, que não vão nem pensar duas vezes antes de abrir as pernas e fazer o que ele manda.
—Eu tenho quase dezenove anos. Eu posso lidar com mais do que você pensa.
Ele ri.
—Você é praticamente um bebê. Você não tem ideia do que fazer com um pau na boca.
Tenho vergonha de admitir isso, mas ao invés de me envergonhar, suas palavras me machucam.
—Não importa, Harper. Eu geralmente só pego o que quero e foda-se. Sabe, você estava certa em pedir para me conhecer antes de transar comigo. Porque você fez lembrar de quem eu sou. Do porquê eu estou aqui. — Ele arranca o braço do meu aperto e se vira novamente.
Eu estico a perna para frente e ela se enrosca com a dele, fazendo-o tropeçar, e então eu agarro seu braço e torço. Ele reage mais rápido do que eu esperava e, dois segundos depois, ele me prende de volta no chão. Pressionando minha cintura, mãos me segurando, se curvando e se inclinando para o meu rosto.
—Você quer que eu fique?
Eu não posso responder porque não tenho certeza.
Ele fica de joelhos e então suas mãos soltam as minhas e começam a desafivelar o cinto. Eu me deito, absolutamente imóvel.
Uma vez que o cinto está fora do caminho, ele abre rapidamente o botão, depois, o zíper.
Eu engulo seco.
—Você vai chupar meu pau.
Eu lambo os lábios e as covinhas do assassino aparecem nas duas bochechas.
—Vou tirar a virgindade da sua garganta primeiro, Harper. Depois vai ser a vez da sua boceta e, por último, sua bunda.
Eu nem tenho certeza do que tudo isso significa, além de que vou fazer sexo.
Ele pega seu pênis e o acaricia algumas vezes, puxando-o em direção ao seu estômago, expondo a veia latente em seu comprimento, bombeando enquanto ele incha, ficando duro e grosso.
—Coloque sua mão aqui, Harper.
Eu o alcanço e gentilmente coloco minha mão em volta dele. Imediatamente a umidade entre minhas pernas está de volta. Eu olho para o rosto dele, esperando mais instruções, sem saber o que devo fazer.
—Me masturbe. — diz ele, com uma voz mais suave. — Mais forte. — ele exige, quando fico tímida. Eu aperto com mais força e bato para cima e para baixo. Encontrando um ritmo, como os nossos batimentos cardíacos na praia.
Esse é o mesmo homem?
Eu bombeio mais rápido, e isso faz com que seus olhos fechem um pouco mais.
—Suas mãos no meu pau, Harper... Eu amo isso. Mas, agora, abra a boca.
Eu congelo. Olhando para ele. Decidindo.
—Abra. — ele diz novamente.
Eu obedeço.
—Mais. — ele sussurra, quando coloca as mãos em ambos os lados da minha cabeça e se aproxima do meu corpo. A ponta do seu pau toca meus lábios. — Você quer que eu te diga como eu gosto, Harp?
Eu engulo e, em seguida, forço uma pequena risada.
—Se você quiser sentir prazer, você provavelmente deveria.
Ele sorri e eu relaxo um pouco. Não tenho certeza se gosto dele. James ou Tet, o que ele preferir. Ele é instável. Ele é um assassino. Ele matou seu próprio irmão. Mas ele e eu não somos tão diferentes. Essa é a natureza desta vida em que nascemos. Eu nem tenho certeza se quero fazer isso, mas estou desejando a intimidade que ele me mostrou mais cedo. Eu preciso do toque. Tanto... E talvez ele seja um filho da puta doente... mas eu também sou. Realmente, fomos perfeitos um para o outro.
Ser forçada a chupá-lo, no chão em frente à lavanderia, não é meu primeiro boquete dos sonhos. Mas ser deixada sozinha neste corredor, de novo, eu não aguento. Eu preciso de uma conexão, mesmo que seja baseada em controle e manipulação psicológica.
Ele se move para frente.
—Abra mais. — Eu faço, e ele empurra seu pau contra meus lábios. Eu instintivamente fecho os olhos e a boca. — Abra, Harper. E não feche novamente até terminarmos.
Eu aceno e abro a boca, mas não os olhos. A cabeça do pau dele é quente e macia.
—Lamba. — ele manda.
Eu giro minha língua ao redor e então ele se afasta e empurra para frente, batendo no fundo da minha garganta. Eu engasgo e ele se afasta novamente.
—Fique de joelhos para mim. — Sua voz mudou agora. Mais baixa, mais áspera. E, por um momento, eu estou com medo. Então a mão dele encontra a minha e ele me puxa para a posição sentada, enquanto ele fica de pé. — De joelhos, Harper.
Eu caio de joelhos e, antes mesmo de me equilibrar, ele está de volta na minha boca. Ambas as mãos vão para trás da minha cabeça e ele se empurra para dentro novamente. Eu engasgo e minhas mãos pegam seu pau, afastando-o.
—Mãos nas coxas, Harper. — ele manda.
Eu obedeço e ele geme, seu pau implorando, exigindo ir mais fundo na minha garganta. Eu tusso um pouco e isso faz o assassino gemer ainda mais de prazer. Eu engulo e recebo a mesma reação só que, de repente, começo a engasgar.
—Respire pelo nariz. — diz James, acariciando meu cabelo.
Eu tomo respirações profundas pelo nariz.
—Agora, achate a língua na parte de trás da sua boca.
Eu engasgo de novo, mas a cabeça do pau dele ainda está procurando pela minha garganta. Ele se empurra para frente e depois se afasta um pouco. A saliva está se acumulando na minha boca, quase a ponto de transbordar, e o impulso seguinte a faz escorrer pelo meu queixo.
Quando eu engasgo novamente, as mãos dele agarram meu cabelo e ele puxa minha cabeça para trás, para que ele possa ir mais fundo.
—Oh, caralhoooo. — ele geme, e então eu sinto o jato quente de sua liberação deslizar pela minha garganta. —Engula. — ele sussurra.
Eu engulo até que o líquido quente e salgado se foi e as pulsações em seu pênis diminuem.
Ele se retira e minha cabeça cai para frente. Eu me sento, limpando a baba do meu rosto. Eu nunca me senti tão humilhada em minha vida.
Ele fecha o zíper da calça e depois não há mais nada, além de silêncio.
Harper
A secadora apita novamente. Um sinal de que alguém deve estar vindo até a lavanderia muito em breve. James me dá um tapinha no ombro, mas não olho para cima, nem pra ele. Tudo o que vejo é um fio longo e pegajoso de saliva que está escorrendo pela frente da minha regata. Ele me cutuca novamente.
—Você pode ir embora agora. — eu digo, baixinho. — Sinto muito por prender você aqui.
Ele se abaixa e pega minha mão, então me pede para ficar em pé.
Eu faço. Mas eu mantenho minha cabeça inclinada de vergonha. Eu não posso acreditar que eu apenas dei meu primeiro boquete para um estranho, em um corredor. Eu nunca tive ilusões sobre a minha vida. Eu nunca me liguei naquela coisa de cavaleiro e príncipe encantado, que você lê em revistas femininas. Eu nunca quis ser uma princesa. Mas isso?
Eu arranco minha mão da dele e me afasto. Eu olho para os meus pés o caminho todo de volta até a minha porta. Suas mãos seguram meus ombros antes que eu possa realmente entrar no apartamento, e então ele me gira pra ele.
—Apenas vá. — eu digo, pronta para chorar. — Eu estou bem. Obrigada pelo bom momento.
Seus dedos vão para o meu queixo e tentam me forçar a olhar para ele. Mas, pra mim já chega. Eu entrei no modo autoproteção. Aquela garota flexível, que se abriu pra ele, se foi. Eu estou chateada.
—Me desculpa se eu te machuquei.
Eu aceno, mas mantenho meus olhos no chão.
—Espero que você tenha uma boa vida, Harper. Não vou dizer a eles que te encontrei.
Eu ergo a cabeça nessa admissão.
—Você está aqui para me matar!
—Não. — ele responde, mas seus olhos verdes o traem, revelando a pessoa perdida e desesperada dentro dele. Aquela pessoa que se esconde por trás desse lindo rosto, desse corpo divino. Atrás do homem que andou de mãos dadas comigo até a praia e fingiu gostar de mim, só para experimentar um boquete de principiante, ou seja lá o que ele ganhou com essa merda.
Eu olho para ele e ele se move um pouco para que a luz do corredor acima de sua cabeça o transforme em nada mais do que uma sombra. O simbolismo é tão apropriado.
—É isso que somos? — Pergunto-lhe. — Apenas sombras, sem expressões? Isso é tudo que eu sempre serei?
Ele não diz nada e eu tenho a minha resposta.
—Você tinha algum sonho, quando era pequeno?
—Não. — diz ele, virando a cabeça sob a luz piscando. Em um momento, ele é humano, no outro, ele vira o assassino frio e mortal. A luz brinca com seus dois lados; quando pisca acesa, é o humano. Quando ela apaga, o assassino aparece. Então ele entra de vez na escuridão, de costas, sem se virar pra mim
—Bem, eu tinha um. Nós tínhamos um. — Ele se vira quando eu digo ‘nós’ e me magoa saber que ele também sabe o que isso significa. — Nós íamos fugir no barco, mandando todos eles se foderem. Nós íamos reinventar nossas vidas. — Eu espero por algum tipo de reconhecimento. Ou, talvez, um pedido de desculpas. Pelo quê? Não tenho certeza. Ele não é responsável pelo que aconteceu conosco. — E agora eu não tenho mais um nós, James. Não há mais um nós. E acho que se eu tivesse puxado o gatilho, se eu tivesse tomado a decisão de puxar o gatilho... como você fez com seu irmão... — isso chama a atenção dele, mas pelo jeito que o lábio dele se enruga, eu sei imediatamente que não é o tipo de atenção que eu quero de James Feneci — Então eu não teria nada para ficar tão chateada. Mas não foi isso que aconteceu. Eu tinha um sonho, James. E eles o tomaram de mim. Então, eu saí e construí um novo sonho, sozinha. E se você ficar no meu caminho... — Eu endireito minha postura e inclino meu queixo, aceitando quem e o que eu realmente sou, neste momento decisivo. Eu espero que ele me olhe nos olhos, antes de continuar. — Eu vou ter que te matar.
Ele balança a cabeça suavemente, concordando. Uma cortesia profissional, talvez. Ou, talvez seja um truque para me manter calma, enquanto ele considera suas opções.
—Eu sei quem você é. — ele diz. — Todos nós fomos informados, no verão passado. Todos os dez. Eu sei o que você fez. Eu sei o que aconteceu para te fazer fugir. E sei o que você tem, mesmo que eu não tenha encontrado naquele quartinho com seu dinheiro e sua chave.
Ele faz uma pausa para ver se eu vou reagir, mas nós viemos do mesmo lugar. Fomos feitos do mesmo molde – tanto quando crianças, como depois de adultos. Somos feitos da mesma coisa, talvez não iguais, mas ainda assim, somos produtos da mesma matéria prima. Então, eu sei quando segurar minhas emoções. Se é essa a reação que ele quer, vai ter que esperar muito tempo por ela.
Quando eu não dou a ele o que ele espera, ele continua.
—Eu deveria te entregar, mas eu não vou.
—Por quê? — Eu ri. — Descobriu de repente que tem um coração? Lá no fundo você se acha uma boa pessoa?
Ele balança a cabeça lentamente, seus olhos nunca deixando os meus.
—Eu não sou uma pessoa boa, não importa o nível de profundidade. — E então ele se vira e vai embora.
—Foi por isso que você fez isso comigo? — Eu chamo por ele. Eu não quero que ele vá embora. Esse pequeno gosto da interação humana é como uma droga e faz tanto tempo desde que eu tive um companheiro. — Foi por isso que você me humilhou como uma prostituta barata?
Ele para, balança a cabeça e eu posso ouvir uma pequena risada antes que ele volte. Ele está sorrindo enquanto caminha alguns passos de volta para mim.
—Você acha que eu te humilhei, lá? — Ele vira a cabeça na direção do corredor que leva para a lavanderia. — Você não tem ideia, não é?
Eu forço um encolher de ombros.
—Não tenho ideia do quê?
Ele avança pra mim. Lentamente. Como uma pessoa faminta, tentando roubar um osso de um cachorro. Eu permito que ele me abrace mais uma vez. Eu provavelmente deixaria ele fazer qualquer coisa comigo agora, é o quanto eu quero o toque dele. Mesmo depois que ele enfiou o pau na minha boca e desceu pela minha garganta... eu ainda quero estar perto dele.
—Harper... — ele diz, baixinho, enquanto se inclina no meu ouvido. Ele pega minha mão e a coloca na frente da calça dele. Ele está duro de novo. Seu pau está grande e grosso, mesmo através de seu jeans. — Quando meu pau estava na sua garganta, naquele momento... — ele respira no meu ouvido, o ar quente dança um pouco na minha orelha e eu quase enlouqueço. — Bem antes de eu gozar na sua boca... — o latejar e a umidade entre as minhas pernas estão ameaçando ultrapassar meus sentidos no momento. Eu não tenho certeza de quanto tempo posso durar antes de entrar em combustão. — ... Quando eu estava gemendo com o prazer da sua língua, sentindo os músculos quentes e úmidos em sua garganta, enquanto tentava desesperadamente me dar o que eu queria... isso, Harper, foi humilhação. Porque naquele momento, você me possuía. Tudo o que eu via era você com a boca no meu pau. Me deixando fazer o que eu queria, permitindo que eu encontrasse minha libertação. E você me possuía. Você tinha todo o poder, lionfish, não eu.
De repente, a mão dele estava entre as minhas pernas, empurrando contra o meu short. Ele os puxou para o lado e deslizou os dedos pra dentro.
—Alguém já tocou em você aqui? — A suavidade desapareceu e, em seu lugar, surgiu uma urgência. Ele soltou um rosnado baixo, exigindo furiosamente uma resposta. — Me. Responda. — ele disse, empurrando os dedos ainda mais em minha boceta.
—Não. — eu sussurrei. Meu corpo estava fora do meu controle. Minha cabeça estava girando, conforme os dedos dele mergulhavam mais fundo, e então saíam, apenas para mexer no meu ponto mais sensível.
Eu estava em êxtase. Minha cabeça caiu para trás contra a parede e eu comecei a gemer. E então ele me beijou, sua língua dançando de um lado para o outro dentro da minha boca. Eu respondi ao beijo por instinto, minha língua tentando imitar os movimentos de seus dedos na minha boceta latejante. Ele bombeou forte e eu suspirei, sentindo a boca dele de volta ao meu ouvido, sussurrando coisas suaves e prazerosas, gentis e reconfortantes. Então eu relaxei e deixei ele fazer o que quisesse. Era um prazer que eu nunca tinha experimentado. E eu faria qualquer coisa para continuar sentindo isso.
—Agora eu tenho o poder, não tenho?
Eu só consigo acenar.
—E se você estivesse pronta, Harper, eu te foderia com força, bem aqui. Eu faria coisas que você nem imagina. Eu lamberia sua boceta e faria você gozar na minha cara. Eu foderia sua bunda, te amarraria e espancaria seu traseiro até que você gritasse meu nome.
Então eu explodo ao redor dos dedos dele. Arqueando e ofegando por mais, minha mente girando e minhas pernas amolecendo, me fazendo cair contra o peito dele.
—Agora, sou eu no comando de novo. Viu, Harp? Quando você está de joelhos com a boca no meu pau, é você que tem o controle, baby. Você me possui. Porque a única coisa em minha mente é estar dentro da sua boca. Quando eu esfrego seu clitóris entre meus dedos, aí sou eu que possuo você.
Eu gemo.
—Entendeu? — Ele exige, esfregando sem parar o ponto sensível entre as minhas pernas e me agarrando pelos cabelos. Puxando meu pescoço para trás, me obrigando a olhá-lo nos olhos.
Eu concordo.
—Sim.
Ele retira os dedos e os leva à minha boca.
—Chupa, Harper.
Eu viro a cabeça.
—Olhe para mim. — o assassino nele exige e eu obedeço.
Ele levanta dois dedos, escorregadios com a minha própria excitação, e os esfrega em meus lábios. Eu abro a boca sem nem pensar.
—Chupa. — diz ele, suavemente.
Eu lambo a ponta dos seus dedos, provando a minha própria doçura. Ele os enfia mais fundo em minha boca, esfregando sua ereção contra meus quadris, e o pulsar entre minhas pernas está de volta. Simples assim, estou pronta de novo.
A luz da lavanderia pisca e ele se afasta, levando seu pau duro e seus dedos com ele. Meu corpo está frio e vazio de novo. Eu cruzo os braços instintivamente, praticamente me abraçando.
Ele diminui a distância e segura minha bochecha com uma das mãos.
—Você é tão bonita.
Eu coro. Depois de tudo o que eu fiz, é a palavra bonita que me faz corar.
—Você não acredita em mim?
Eu dou de ombros.
—Eu não sei. — resmungo sinceramente. — Eu não tive muito feedback nessa área.
—Mas você tem um espelho, não tem? — Ele ri quando diz isso.
—Meu cabelo é loiro, meus olhos são castanhos e minha pele é morena.
Ele sorri com as covinhas e meu corpo reage como se eu estivesse sendo jogada em uma onda.
—Seus olhos não são castanhos, são âmbar. É impressionante vê-los à luz do sol poente. E seu cabelo está loiro assim por causa do sol e do mar. Seu lindo corpo moreno é dourado, como se você fosse a definição perfeita de bronzeada. E você é a combinação perfeita de forte e suave. Assassina e amante. Doce e mortal. — Ele se aproxima mais e agarra minha bunda. — Eu vou foder essa bunda. — ele sussurra, me deixando molhada novamente. — Da próxima vez, vou foder sua bunda e sua boceta.
Eu engulo em seco e olho para ele, tentando não imaginar isso agora. Porque eu estou tão fora de controle, que me assusta.
—Quando você estiver pronta, Harper. Venha me encontrar.
E então ele se afasta e vira no corredor, cumprimentando a pessoa que veio pegar suas roupas secas na lavanderia.
Finalmente.
Harper
Uma sombra me chama a atenção enquanto rolo e me sento imediatamente, olhando para a cadeira vazia do outro lado da sala.
Nada.
Eu olho para o relógio. São três da manhã e eu não durmo há dois dias. Eu não saio do apartamento desde o meu último encontro com James, no corredor. Eu não comi, nem tomei banho, não fui ver o sol. Eu simplesmente... existi.
Esse cara. Nunca alguém me afetou assim. Ele é tudo em que penso. Ele parece tão... familiar. Talvez seja só porque eu posso tê-lo visto por aí uma ou duas vezes. Ele admitiu que estava me vigiando. Mesmo assim, não parece ser só isso.
Tem mais alguma coisa...
Eu acendo a luz, saio da cama e vou até a cozinha, onde guardei o frasco das pílulas. Eu as evitei com sucesso nos últimos dois dias, mas não aguento mais essa agonia. Não faz bem ficar sem dormir, isso mexe com a nossa cabeça. Faz a gente ver sombras de homens bonitos, sentados na sala, enquanto dorme. Faz com que a gente deseje sentir novamente o pau deles na nossa garganta.
Caralho, eu tenho problemas.
Eu engulo três comprimidos, bebo um copo de água e, em seguida, volto para minha cama e me deito.
Meu coração e meu cérebro diminuem simultaneamente. É um truque da minha mente, eu sei disso. O efeito leva uns bons vinte ou trinta minutos para começar a funcionar. Mas eu relaxo, de qualquer maneira. E aceito pelo que é.
Minhas pálpebras pesam, depois fecham. Meus ombros relaxam quando me viro de lado e solto um longo suspiro.
Um pouco de paz, é tudo que eu quero. Só um pouco de paz.
E meu irmão.
Mas ele se foi.
Então, eu vou ter que me contentar com a minha falsa sensação de paz induzida por sedativos.
O amanhecer chega em uma explosão alaranjada na água, e o dia começa como qualquer outro. Meus pés estão balançando com as ondas, um balanço suave com o qual eu já estou acostumada desde antes de poder andar. Eu nasci neste navio. Eu bebi meu primeiro leite neste navio. Engatinhei pelo convés, dormi no berço e aprendi a arte de controlar meu xixi nesse navio.
E mesmo que a minha infância tenha sido perfeita – destinos incríveis, sol, areia, ilhas tropicais, mergulhos, pessoas e comidas exóticas – tudo acaba hoje.
Hoje fazemos dezoito anos. Nós nunca passamos uma noite separados em nossas vidas, mas corremos o risco de jamais passar outra noite juntos, de novo.
Porque quando o sol de pôr... só vai restar um de nós.
Eu desperto ofegante, as lágrimas ainda nadando em meus olhos. Eu odeio esse sonho, odeio esse sonho. Por que tenho que reviver esse dia, de todos os dias?
Nick e eu estávamos entrelaçados no útero juntos, tão abraçados que matamos nossa mãe durante o parto, porque nos recusamos a soltar um ao outro. Ele era tudo que eu tinha, a única coisa que era verdadeiramente minha. Nós éramos tudo um pro outro.
Eu sempre fui um troféu. Não uma princesa, não. Um troféu. Fui prometida a um associado da Organização quando eu tinha apenas seis anos. Eu fui moldada e polida nessa criatura perfeita, que só servia pra ser olhada, admirada. Eu não tinha permissão pra ter opinião própria, nem pra decidir como queria viver minha vida.
Ou, pra escolher o homem com quem gostaria de me casar, quando atingisse a maioridade.
Meu treinamento foi um ato de caridade. Eu não conseguia ficar quieta, apenas esperando que Nick voltasse de todas aquelas horas de treinamento, todos os dias, então eles simplesmente me deixaram participar. A cada poucos anos, uma babá ranzinza insistia que meninas não deveriam aprender artes marciais ou as várias maneiras de se pescar com uma lança, que eu tinha que me comportar e ser mais adequada. Claro que eu nunca me dava por vencida e o Almirante sempre acabava cedendo. Eu gostava de pensar que era por culpa, por ter me vendido a um associado quando eu era criança. Mas ele me disse, mais de uma vez, que nunca se arrependeu dessa decisão.
Já meu irmão gêmeo, Nick, nunca teve as coisas tão fáceis. Esperava-se que ele contribuísse de maneira mais significativa. Mesmo treinando pesado junto com ele, eu nunca tinha autorização para ir em missão, fazer os trabalhos. E eles começaram quando ainda éramos muito jovens. É muito mais fácil convencer as pessoas sobre ser inocente quando se é um menino de nove anos.
Toda vez que ele deixava o navio, eu ficava no convés e encarava o mar, prestando atenção em tudo, aguardando seu retorno. Era como se... como se eu estivesse prendendo a respiração até que eu o visse novamente. Toda vez que ele saía, eu chorava de medo. E toda vez que ele voltava, eu chorava de alívio.
Ele não podia me contar sobre os trabalhos que fazia. Mas, nós éramos gêmeos. Não idênticos, mas era como se fossemos a mesma pessoa.
Então, claro, ele me contava tudo. Não imediatamente depois do trabalho. O navio nunca foi um lugar seguro para guardar segredos. Mas nós estávamos no porto ou ancorados em alguma ilha remota quase tanto quanto estávamos no mar, então havia muito tempo de brincadeira nos recifes e nas piscinas naturais de praias aleatórias.
Como éramos muito bem comportados, ficávamos bastante sozinhos. A tripulação nos ignorava completamente. Os treinadores de Nick só prestavam atenção em nós quando estavam por perto. Como brincar na praia não era considerado perigoso, os homens contratados para nossa segurança nunca faziam questão de nos acompanhar em nossas aventuras. Eles nunca nos viram escalando rochas ou subindo em árvores, apenas para fofocar sobre nossas vidas em mar aberto. O Almirante jantava conosco todas as noites, exibindo um sorriso presunçoso por conta das nossas boas maneiras. Ele nunca estava por perto. Nosso cuidado foi confiado a outros.
Nós fomos, para todos os efeitos práticos, ignorados.
Levou muitos anos até que percebessem o erro.
E, mesmo que eu tenha orgulho de ter fugido, depois de derrubar toda a equipe do iate da Companhia, eu prefiro reviver os momentos no corredor, quando James estava com as mãos entre as minhas pernas, ao invés do meu último dia no iate.
Eu me viro na cama, minha mente ainda grogue das pílulas, meu corpo ainda buscando alívio da exaustão que vem se arrastando sobre mim desde o meu primeiro orgasmo de verdade.
Se eu conseguisse aliviar a tensão, talvez eu pudesse relaxar.
Minha mão desliza pela minha barriga e empurra o elástico da minha calcinha. Eu hesito por um momento. Eu quero muito mais que esta vida. Estou tão cansada de estar sozinha, tão cansada da solidão. Uma lágrima escorre pelo meu rosto enquanto eu movo meus dedos do jeito que James fez. Empurrando-os para dentro de mim. Bombeando enquanto imagino a maneira como ele soltou a fivela do cinto e libertou seu pênis. Eu gostaria de ter olhado para o rosto dele. Eu daria tudo para ver o rosto dele quando gozou na minha garganta.
Esse pensamento é suficiente para me levar ao clímax, mas é uma sensação muito menos poderosa e satisfatória do que imaginei. Mas funciona o suficiente para aumentar minha sonolência induzida por drogas, quando me viro.
Estou de volta ao meu sonho, só que eu estou na praia, sob o cais... debaixo do corpo de James. Ele roça a parte de trás de seus dedos na minha bochecha e depois se inclina para beijar meus olhos. “Durma, Harper. Você precisa dormir.”
Ele tem razão. Eu preciso tanto dormir. Mas, quando ele se afasta, eu agarro o braço dele. As ondas estão quebrando e recuando, e, a cada ciclo, James se afasta um pouco pela areia.
—Por favor, não me deixe... — eu sussurro, mas é tarde demais. Ele desaparece na água escura e eu estou sozinha na cama novamente.
Eu acordo com a pior dor de cabeça que já senti na vida. E meu estômago está doendo pela falta de... tudo. Saio da cama e tropeço até a pia da cozinha, meus olhos ainda semicerrados. Eu abro a torneira e coloco a boca em baixo, recuo quando sinto o gosto repugnante da rede de agua municipal, mas acabo bebendo dela até meu estômago inchar.
Eu limpo a boca e abro a geladeira. Vazia, salvo alguns pacotes de condimentos que sobraram de uma viagem recente a uma hamburgueria local.
Eu preciso comer.
Eu fecho a porta da geladeira e vou para o chuveiro. Tiro a roupa, me lavo rapidamente, e então percebo que não tenho toalhas limpas. Eu saio pingando pelo chão enquanto procuro por roupas. Eu visto a calcinha pelas pernas molhadas e digo foda-se ao sutiã. Escolho uma blusa branca, que já vem com um top embutido e pego um short qualquer. Penteio o cabelo, escovo os dentes e calço meus chinelos enquanto tranco a porta atrás de mim.
Meu telefone me diz que são sete horas de uma segunda-feira. Eu perdi seis dias de vida desde que conheci James no cais. Sério, essa coisa toda que eu tenho feito não é muito inteligente. E se ele me entregar? Eu ainda estava meio dopada dos comprimidos, estaria basicamente incapaz de reagir. Eu mal estava funcionando normalmente.
Eu passo direto pela lanchonete mexicana, comi lá da última vez, então eu não posso ir lá novamente por um tempo. Eu não quero me tornar amigável com as pessoas. Eu não quero ser uma 'local' e ter que acenar de volta quando acenam para mim, toda vez que for passar por ali. Então eu ando para o leste, na direção oposta da praia, atravesso a avenida e sigo reto, para encontrar um restaurante que eu nunca comi antes. Demoro um pouco, porque moro aqui há onze meses, então a maioria deles já me viu entrando, pelo menos uma vez. Mas agora estou nervosa. A ideia de que James pode ter me denunciado e eu não vá ser capaz de reagir me deixa no limite.
É burrice ser tão descuidada. Especialmente quando já cheguei tão longe. Eu me saí muito bem, não é? Roubei algo muito valioso de uma entidade criminosa global e, onze meses depois, ainda estou viva.
Será que isso faz parte do plano? Se foi tão fácil para James me descobrir, quão difícil seria para os homens da Organização me encontrarem? Será que eles me deixaram em paz, por tanto tempo, por algum motivo? Será que eles enviaram James para avaliar meu estado mental?
Eu escolho um restaurante aleatório e verifico o menu. Eu odeio comida chinesa, então peço as coisas mais comuns que consigo decifrar. Camarão, arroz frito e uma Coca bem grande. Eu preciso das calorias, porque a caminhada quase me matou.
Eu como sozinha e em silêncio, enquanto olho para a rua da frente. Mastigo metodicamente, pensando na vida. Em James. Na atenção que recebi e o jeito que isso me fez sentir. Seu pequeno discurso sobre a divisão do poder durante o sexo... Eu tenho que admitir, faz sentido. Isso coloca as coisas sob uma perspectiva diferente e, quanto mais eu penso nisso, mais meu corpo esquenta.
Eu bebo meu refrigerante e recolho meu lixo, jogando-o na lata quando saio e volto para a praia. Eu tenho um pouco de tempo, antes do sol se pôr, então eu aproveito o passeio.
Quando chego ao Píer Plaza, caminho direto até os degraus de concreto e subo no primeiro pilar. Eu protejo meus olhos do sol e olho para o norte. Procurando por ele. Ele me disse para encontrá-lo, mas como? Foi ele quem me encontrou. Eu me viro lentamente, tirando a mão do rosto enquanto o sol bate nas minhas costas. Eu examino o outro lado da praia, observando os homens parados, fingindo fazer coisas como olhar para um telefone ou a vitrine. Mas não há ninguém que se pareça com o meu James.
Eu desço assim que mais pessoas começam a aparecer e, em seguida, faço o meu caminho para a parte inferior, parando contra um pequeno pilar na frente da grama. A alguns metros de distância, há um grupo de skatistas fazendo manobras na parede baixa que separa a ciclovia da areia. Eu me inclino contra a pedra áspera, apoiando o queixo em meu joelho, e os observo.
Eles são da minha idade. Loiros, bronzeados e sem camisa. Bonitos. Eu normalmente não noto os garotos por aqui, estive muito ocupada sendo invisível para prestar atenção ou me preocupar com coisas estúpidas de adolescente.
Mas eu já vi um deles antes. Na verdade, agora que penso nisso, já o vi muito. Ele surfa de manhã e faz manobras à noite. É como se ele vivesse na praia. Seu sorriso é fácil e aparece com frequência, assim como sua risada rouca.
Eu suspiro enquanto o observo em cima do skate. Ele faz todo o tipo de coisas que parecem desafiar a gravidade. Ele cai, ri, levanta, faz de novo. Seus amigos são todos iguais. Altos, lindos e bem dispostos.
Ele olha na minha direção e eu estou triste demais para tentar fingir que não estou olhando.
Ele acena. Eu nem sequer pisco.
Ele se vira e começa a conversar com seus amigos. Em seguida, eles batem os punhos e ele vira o skate para cima, segurando-o pelas rodas da frente, caminhando na minha direção.
Eu me endireito e começo a sentir o pânico chegando. Merda.
Ele se aproxima sorrindo.
—Hey! — diz ele, largando o skate e sentando ao meu lado. — Você está bem? Veio sozinha esta noite?
—Eu sempre venho sozinha. — eu respondo, enquanto estudo seu rosto, procurando por intenções. Deus, todos os meninos são lindos? Ou é essa praia? Eu nunca prestei muita atenção, mas dois em uma semana? Parece um pouco de sorte.
Ele estende a mão.
—Scott.
Minha mão encontra a dele automaticamente.
—Prazer em conhecê-lo, Scott.
Ele sorri e seus olhos azuis levantam nos cantos.
—Não vai me dizer seu nome?
Eu puxo minha mão e me inclino no pilar, tentando disfarçar minha hesitação.
Ele olha para longe, examinando a multidão para a esquerda e para a direita. Quando se dá por satisfeito, ele volta a olhar para mim.
—Onde está seu namorado?
Eu fico muda.
—Aquele cara com quem você esteve na outra noite? — ele adiciona. —Vocês pareciam muito íntimos, abraçados ao pôr do sol.
—Eu acho que você me confundiu com outra pessoa.
—Oh... — diz ele, balançando a cabeça e olhando para a frente. — Ok. Bem, então você gostaria de dar um passeio? Ver o pôr do sol de outro lugar?
Eu considero minhas opções. Obviamente, ele não está interessado no pôr do sol. Então eu acho que posso supor que isso é um convite para brincar. Na semana passada eu teria dito ‘não obrigada’ automaticamente. Mas esta semana... eu agora entendo por que as garotas ficam atrás dos garotos.
E vice versa.
—Algum lugar especial em mente? — Eu pergunto, me forçando a encará-lo no rosto.
Ele me dá um sorriso torto, que é realmente muito convidativo, e então pega meu joelho e aperta.
—Você escolhe.
—Eu moro nessa rua.
Ele se levanta e estende a mão para mim.
—Vamos, baby.
Ele segura minha mão enquanto atravessamos o Píer Plaza, conversando comigo como se fôssemos amigos há meses.
—Meu irmão Danny...
Eu não poderia me importar menos sobre seu irmão Danny e como ele quebrou o crânio fazendo uma manobra radical de skatista, que soa ridícula demais para ser verdade, mas o que é que eu sei sobre manobras radicais?
Eu só sinto a mão dele na minha. Assim como senti a do James. Isso é tudo que eles precisam fazer? Os lindos? Tudo o que eles tem que fazer é segurar sua mão, para deixá-la estúpida e excitada? Eu estou seguindo direitinho no caminho para a idiotice, com certeza. Eu só consigo pensar em como eu vou me sentir bem depois que conseguir o que eu vim buscar.
E depois... não faço ideia.
Quando chego à minha rua, há luzes piscando na delegacia, então viro à esquerda e caminho de volta pelo beco. Eu paro do lado de fora do portão dos fundos, de repente nervosa com a possibilidade de ele querer entrar.
—É aqui? — Ele diz, balançando a cabeça para o meu prédio. Ele me empurra contra a garagem e, em seguida, suas mãos estão nos meus quadris, mergulhando pelas minhas costas, em direção a minha bunda. Seus lábios estão descendo nos meus antes que eu possa responder.
E então...
Ele é arrancado de mim e jogado no chão, batendo a cabeça no concreto. James está olhando para ele com os punhos cerrados, como se tivesse ativado o modo profissional.
—Para com isso! — Eu digo, de pé entre o cara novo e o assassino. —Você não tem o direito de fazer isso.
James olha para mim e estreita os olhos. Minha barriga se enche de borboletas, como se eu tivesse acabado de pular de um penhasco.... Mas, quando encontro os olhos dele, me sinto paralisar - é o quão assustador ele parece.
Ele aponta para meu novo amigo.
—É sério? Esse idiota? Ele pega uma garota diferente todas as noites. Se você estivesse prestando o mínimo de atenção, saberia disso!
O cara do skate fica de pé, se afastando.
— Estou caindo fora. — Ele se vira, andando para trás alguns passos. — E pra registro, imbecil, eu perguntei se ela era sua. Ela disse que não. Você precisa se resolver com ela.
E então ele larga o skate, pula e, alguns segundos depois, vira a esquina, ficando fora de vista.
James se vira para mim, rangendo os dentes, mandíbula travada.
—Você tem alguma ideia do que está fazendo?
Eu levanto o queixo em desafio.
—Eu sei exatamente o que estou fazendo.
Ele agarra meus ombros e me empurra contra a garagem.
—Você queria foder com ele? — Seus olhos estão se movendo de um lado para o outro, me examinando, esperando uma resposta.
—Talvez.
Sua mão sobe pra minha garganta, seu polegar fazendo pequenos círculos sob o meu queixo.
—Eu faço você gozar, depois me afasto, tentando te dar um pouco de espaço, e você traz para casa o primeiro filho da puta que pergunta seu nome? — Sua ereção pressiona contra a minha barriga e ele abaixa a testa até que ela repouse contra a minha.
Meu coração está acelerado mas, pela primeira vez na minha vida, é pelas razões certas. Eu seguro o rosto dele, passando os dedos pelo seu cabelo escuro.
—Você é minha! — ele rosna. — Eu te disse para vir me encontrar quando estivesse pronta.
—Eu procurei, mas não tive sorte. Então, joguei com a única carta que eu tinha. E, olha que interessante... — Eu sorrio com satisfação. — Aqui está você. — Eu inclino a cabeça e encontro seu olhar. O sol se foi agora, apenas a luz das estrelas o ilumina. E, ainda assim, consigo vê-lo claramente. — Eu não precisei ir até você, James. Tudo o que eu tive que fazer foi me certificar de que você viesse até mim.
Harper
Ele se afasta, mas não antes de eu conseguir ver seu sorriso. Seu corpo treme enquanto ele respira com dificuldade. Provavelmente, tentando diminuir o tom cômico de seu sarcasmo, antes de me encarar, pra que ele possa continuar agindo feito o idiota que é, fingindo que ainda está puto.
Durante toda a minha vida, as pessoas assumiram que eu era burra porque ficava quieta, nunca as interrompia e seguia todas as instruções. Mas eu escolho o silêncio, porque falar menos é sempre mais inteligente. Eu nunca as interrompo porque elas sempre se esquecem de alguma coisa - que pode ser importante depois - quando você não deixa que elas terminem seu raciocínio. E eu sigo as instruções porque mantém o barco flutuando e em equilíbrio, trocadilho de navegação proposital.
Eu nem sempre me senti assim sobre as coisas. Mas, quando éramos pequenos, certa vez perguntei ao meu irmão por que ele era sempre tão receptivo às exigências do Almirante. Nós tínhamos cerca de oito anos e eu passava meus dias naquele verão aprendendo a navegar no barco a velas, enquanto ele trabalhava na cozinha, aprendendo a cozinhar batatas ou algo assim. Mas a resposta dele naquele dia me marcou para sempre.
“Escolha suas batalhas, Harp.”
Eu pensei sobre esse conselho incessantemente desde aquele dia. Escolha suas batalhas. Aceite que você não pode ganhar todas as vezes, até que você esteja em vantagem. Batalhas são sempre uma gangorra entre vitórias e derrotas. Dar e receber. E, desde então, venho economizando minhas perdas pela única batalha que conta; a que vence a guerra. Então, quando o vento forte vem e tenta me tirar do curso, abro minhas velas e vou com a corrente. Eu prefiro guardar essa derrota para outro dia. Mas todas essas coisas são decisões conscientes. Eu sou atenta, mas silenciosa. Eu já aceitei que esta é a minha vida, pelo menos, por enquanto. Eu ainda tenho esperanças.
—Então você estava tentando me deixar com ciúmes. — Ele se vira para mim, sua expressão séria novamente. Mas eu sei que ele gosta da personalidade divertida da Harper rebelde.
—Eu estava. — eu respondo.
—Você sabe o que acontece quando eu fico com ciúmes? — Ele se aproxima de mim e coloca as duas mãos em volta do meu pescoço, seus polegares acariciando meu queixo, deixando rastros quentes na minha pele, que me farão sonhar com ele mais tarde. Meu corpo responde com o agora familiar formigamento entre as minhas pernas e, de repente, estou com calor e excitada.
—Não. — eu digo baixinho.
Ele olha para mim por alguns instantes e depois abaixa a boca para a minha, descansando seus lábios contra os meus.
—Quem está no comando, Harper?
—Você. — eu respondo, obedientemente.
Ele gentilmente encosta a testa contra a minha e solta uma gargalhada.
—O que você está fazendo?
—Sendo gentil. Você quer assumir o comando, então assuma. Eu não sou um maníaco por controle.
Ele pega minha mão e me puxa em direção ao prédio. Eu o sigo obedientemente. Descemos os degraus lado a lado, e então ele me leva para a lavanderia e pega minha chave por trás do bloco de concreto solto onde eu a escondo. Ele me lança um olhar para ver se vou dizer alguma coisa a respeito de ele saber onde é que eu a escondo, mas eu não reajo, então ele me leva de volta, abre a porta do meu apartamento e acena com as mãos para que eu entre.
Eu fico lá na pequena entrada, esperando por suas instruções como se este apartamento fosse dele e não o meu. Ele para e olha para a porta fechada antes de virar. Como se ele precisasse de um momento para tomar uma decisão. Quando ele se vira, seus olhos estão ardendo de paixão. Ele coloca as mãos nos meus braços e me empurra contra a parede. A coxa dele está entre as minhas pernas, esfregando contra aquele local onde eu sei que todos os meus desejos carnais podem ser realizados, e eu gemo. Ele entende isso como um sim à sua pergunta não dita e me beija.
Ele morde meu lábio inferior e me pega de surpresa. Eu gemo com a dor e, em seguida, sinto o gosto do sangue, mas antes que eu possa reagir a isso, a língua dele está de volta, me lambendo, se enroscando com a minha própria língua dentro da minha boca, por alguns segundos, então ele suga meu lábio superior.
—Mmmmm... — é tudo o que eu consigo dizer antes que ele morda esse também. Eu levanto a mão para empurrá-lo, mas ele agarra meu pulso e o ergue acima da minha cabeça.
—Faça isso de novo e eu vou amarrar você.
Eu respiro fundo e olho para longe. Estou tão insegura do que estou fazendo.
—Quer falar sobre os seus limites, Harper? Se quiser, é melhor fazer isso agora. Isso não vai ser romântico, como naqueles contos de fadas fodidos sobre os quais você leu nos livros.
Merda. Tem que haver limites. Certo?
—Você confia em mim? — Quando olho para ele, seu olhar é sério. Muito, muito sério.
Eu balanço a cabeça, porque esta pergunta é fácil.
—Não, não de verdade, James. Quer dizer, eu quero isso. Eu quero. Mas o que compartilhamos está mais pra.. é mais como... respeito. Nada mais. Sabe como você respeita um cachorro enorme, mas só porque que não sabe do que ele é capaz?
Seus olhos se movem para frente e para trás. É a vez dele de perceber isso, eu consigo ver em seu rosto. Os olhos dele estão presos em mim, me deixando saber que ele está formulando uma opinião. O que é bom, eu acho. Ou ele está me reavaliando ou nunca pensou sobre mim desse jeito, antes.
Ele coloca a mão acima da minha cabeça e me beija no nariz.
—Ok.
—Ok? — Deus, por favor, não deixe que ele mude de ideia! — James, eu...
Ele coloca as pontas dos dedos sobre os meus lábios, depois se inclina e lambe o que ele mordeu, chupando-o por um segundo.
—Eu só preciso saber como você quer, Harp. Ou eu posso ir longe demais. E... — Ele segura meu rosto na mão e me puxa para perto, bem ao lado de sua ereção. — E eu não quero fazer nada errado. É um grande passo para você. Até eu entendo isso. Eu posso te machucar, então eu preciso saber o que é que você quer.
O que eu quero? Eu quero fazer sexo. E sentir as pulsações de um orgasmo incrível.
—Eu preciso saber se você tem certeza.
—Eu tenho. — eu digo rapidamente. — Eu tenho, eu juro que tenho certeza. Eu quero isso e se você parar agora, eu vou atrás daquele skatista!
Ele bate na minha bunda. Forte. Eu grito e tento me afastar de sua mão enquanto ele a ergue novamente, com a intenção de me dar mais um tapa, mas ele me abraça forte e, desta vez, atinge minha coxa.
Eu grito bem alto com esse.
—Diga que você sente muito. — diz ele, me olhando nos olhos.
—Desculpe, eu estava só...
—Você estava só me testando, e eu não gosto disso. — Ele olha para mim, seus olhos estreitos e sua mandíbula cerrada.
Ele não está brincando, então eu mastigo meu lábio e aceno.
—OK, eu realmente sinto muito. Foi uma piada de mau gosto. Eu não estou interessada no garoto dourado. — Ele me olha com desconfiança, mas posso dizer que ele está mais interessado em manter a pose, do que com raiva. Mesmo assim, aceno e reconforto-o. — Eu juro.
—Então, você está pronta? — As pontas dos seus dedos deslizam sob a minha blusa e, em seguida, toda a sua palma pressiona contra a pele nua da minha cintura. Suas mãos estão um pouco frias e essa diferença de temperatura envia calafrios por todo o meu corpo. Meus mamilos endurecem imediatamente.
Eu coloco minha mão em volta do seu pescoço e me inclino na ponta dos pés, beijando-o levemente na bochecha.
—Eu estou pronta.
—Sem limites?
—Apenas... seja legal. — Eu sorrio docemente, porque não sei mais o que fazer. Eu não tenho ideia sobre nada dessa merda. Algumas das coisas que ele disse eu nem ao menos entendi. Ele acha que eu tenho sonhado com minha primeira experiência sexual? Bem, ele está errado. Eu nunca li nenhum livro sobre como as outras garotas passam pela primeira vez. Eu tive uma discussão muito clínica sobre sexo com um médico aposentado da Companhia, quando eu tinha dezesseis anos. E não foi muito esclarecedor...
“Não transe até que você esteja casada.”
Bem, só pra constar, ele só disse isso porque eu fui prometida a alguém quando tinha seis anos e, no acordo, estava a promessa de que eu seria virgem quando fosse entregue.
Ele rosna no meu pescoço.
—Foda-se, Harper. Você está me deixando louco. Você tem que me dizer o que não fazer, ou eu juro, farei tudo. Eu vou fazer tudo.
—Eu não sei o que te dizer. Eu só quero que isso seja bom. Eu só quero que você me toque e me faça sentir bem. Faça com que essa solidão desapareça um pouco. Me faça... — paro e olho para ele. Sua atenção está extasiada. Como se ele estivesse preso em cada palavra minha. — Me faça sentir desejada.
Ele tira minha camisa com apenas um movimento. Meus mamilos enrijecem enquanto o ar frio os toca, e então as pontas dos dedos dele roçam sobre eles, pra cima e pra baixo. Meu coração começa a acelerar dentro do meu peito, minha respiração fica irregular e descontrolada. Ele cobre meus seios com as mãos e seus lábios encontram minha boca, sua língua invadindo minha boca. Sem esperar por uma resposta, ele me pega do jeito que quer. Ele desabotoa meu short e arrasta o zíper para baixo. Sua outra mão desliza minha calcinha para o lado e encontra minha boceta completamente encharcada.
—Como você chama isso? — Ele diz, empurrando os dedos dentro de mim.
Eu dou um sorriso.
— O que?
—Boceta. — ele sussurra. — Você chama de sua boceta, da próxima vez que eu perguntar. Quando você quiser que eu te lamba... — Oh Deus, eu quase gozo apenas com o pensamento. — Você vai dizer 'por favor, lamba minha boceta, James.'
Não consigo respirar. E eu não acho que posso dizer isso sem explodir. Seus dedos começam um impulso lento e meus joelhos ficam fracos.
—Você gostaria que eu lambesse sua boceta, Harper?
A maneira como ele diz meu nome... O jeito que ele me toca... A maneira como ele me faz sentir agora... Estou à sua mercê.
—Por favor, lamba minha boceta, James. — Estou surpresa que ele tenha ouvido minhas palavras, de tão baixo que eu falei.
Ele me pega em seus braços e me leva para a sala. Ele me coloca na cama e então me empurra para trás, suavemente, até me deitar de costas.
—Levante seus quadris. — Eu levanto e ele arrasta meu short pelas minhas pernas, parando para beijar minha parte interna da coxa e então beliscar a pele sensível lá. Eu arqueio as costas e sinto a umidade entre as minhas pernas. Sua boca puxa para trás e suas mãos retomam sua tarefa, puxando meus shorts e calcinhas além dos meus joelhos, deixando-os deslizar até os meus tornozelos. Ele os remove e os joga no chão. — Abra as pernas.
Eu coro fortemente, eu sei disso. Porque meu rosto está subitamente muito quente.
—Abra, Harper.
Oh Deus. Eu abro as pernas e fecho os olhos. A umidade praticamente escorre agora. Ele passa alguns dedos até os lábios da minha boceta.
—Puta merda, você está tão pronta. Eu gosto de minhas mulheres raspadas, Harp. Desde que você é nova nisso, eu vou deixar passar. Mas depois, quando tirarmos o básico do caminho, eu vou te depilar.
—O que? Não!
Ele rasteja pelo meu corpo, parando para chupar meu mamilo, em seguida, mordendo-o levemente. Eu arqueio a coluna novamente e gemo, até que ele solta e continua a beijar seu caminho até o meu pescoço. Eu estou morrendo...
—Isso não é negociável. Quando conseguirmos descobrir que porra está acontecendo, você pode começar a se depilar regularmente. Mas, por enquanto, vamos continuar assim mesmo.
Eu fico perdida na palavra nós por mais ou menos cinco segundos inteiros, enquanto ele desce pelo meu corpo, colocando o rosto entre as minhas pernas.
Nós?
Mas meus pensamentos evaporam com nada além de felicidade, quando sua língua toca minha boceta. Ele desliza para cima e para baixo e, em seguida, me agarra atrás dos joelhos, empurra minhas pernas para cima e as abre, lambendo todo o caminho de volta até ela.
—Ooohhhh... — eu cantarolo, enquanto sua língua começa a fazer pequenos padrões de redemoinho. Eu arqueio as costas, fazendo-o perder o ritmo. Sua palma empurra minha barriga para baixo, me forçando a ficar parada no lugar.
Um dedo toca no meu clitóris sensível e estou prestes a me perder no êxtase quando tudo some, de repente.
— Não, soldada. Você pode não gozar ainda. Não até eu mandar.
—O que... Oohhh. — Sua língua está de volta, mas depois recua novamente. — O que você está fazendo? — Estou quente de excitação e minhas pernas estão começando a tremer de prazer acumulado.
—Eu te disse, ainda não.
—Mas por quê? Não é esse o ponto de... — Seus dedos se retiram e, em seguida, correm para o meu mamilo, para me beliscar. Eu me contorço, mas a palma da mão dele ainda está firmemente empurrando minha barriga para baixo. — Ahh!
—Podemos conversar mais tarde, Harper, mas, por enquanto, seja uma boa menina e faça o que eu mandar. Quando eu quiser que você goze, eu vou deixar você saber. Até lá, apenas aproveite. Entendeu?
Eu olho para os olhos dele. Olhos cintilando, ardendo de desejo. Ele está com a boca brilhando com traços da minha umidade e eu lambo os lábios.
—Entendi.
O aperto no meu mamilo diminui e, em seguida, ele chega até a minha boca e lambe o contorno dos meus lábios. Seus dedos cheiram como eu. Como o meu desejo. Eu abro a boca e os chupo, saboreando minha doçura, como fiz na outra noite no corredor.
James geme com esse movimento e eu sinto um momento de poder. Ele tem razão. Sexo é poder. Eu tenho algum poder sobre ele. Esse homem que mata pessoas para viver pode ficar à minha mercê se eu escutar o que ele gosta e aprender a agradá-lo.
—Você é tão fodidamente sexy, sabia disso?
Ele sorri quando ao invés de responder, continuo chupando e lambendo. Eu traço minha língua ao redor de seu dedo e, em seguida, sua outra mão está na minha boceta novamente. Seus dedos fazendo movimentos certeiros, me enchendo de prazer. Eu chupo mais e ele geme, me deixando saber que estou fazendo certo.
—Eu quero sua boca no meu pau, Harper.
—Eu também. — respondo. E eu quero mesmo. Dessa vez, eu quero ver o rosto dele quando gozar pela minha garganta. Eu quero testemunhar o poder que ele diz que eu tenho. Eu quero experimentar o orgasmo com ele.
—Mais tarde, pequena soldada. Primeiro, eu vou te foder com força. Então vamos tomar um banho e explorar nossos corpos um pouco mais.
Seus dedos começam a bombear dentro de mim e minhas mãos voam até a cabeça dele, empurrando seu rosto de volta para o espaço entre as minhas pernas.
—Mais, por favor! — eu imploro. — Eu quero mais da sua língua. Eu quero que você me lamba, James.
Quando eu digo seu nome, ele rosna e agarra meus pulsos em uma mão.
—Coloque os braços acima de cabeça, Harper. E não os mova até que eu diga que pode.
Eu obedeço imediatamente e sou recompensada com a língua dele contra o meu clitóris. Ele a move para frente e para trás algumas vezes e então toda a sua boca cobre minha boceta, sugando até que eu estou perto de explodir. Sua mão volta para a minha barriga, me lembrando que tenho que ficar parada, e eu jogo a cabeça para trás, arqueando as costas enquanto olho para o teto.
—Boa menina. — ele elogia. —Você é uma menina tão boa, Harper.
—Hmmm... — é tudo o que posso fazer. — Eu estou tão perto...
—Eu vou contar até três. Quando eu chegar no três, você pode gozar. Não no dois, nem no um. No três, Harper.
Eu aceno, sentindo a excitação aumentar.
—Sim, no três. — Eu empurro contra seus dedos, tentando empurrá-lo mais fundo dentro de mim.
Ele me bombeia várias vezes, batendo em um local que me faz chamar seu nome e agarrar o travesseiro acima da minha cabeça.
—Oohhh. Meu. Deus.
—Um. — diz ele, pouco antes de baixar o rosto para o meu clitóris novamente. Ele chupa forte dessa vez, fazendo o orgasmo crescer lentamente, junto com a sensação quente na minha barriga. Eu relaxo quando os dedos dele aumentam seu ritmo e ele remove a boca para dizer. — Dois. — Desta vez, sua língua gira suavemente contra o meu clitóris e a explosão se forma novamente. Pouco a pouco, a cada segundo que passa, começo a perder o controle. Ele não para desta vez, mas a palma da mão na minha barriga sobe e torce meu mamilo para trazer meu foco de volta. Eu mordo meu lábio e a pequena sensação dolorosa na minha pele me deixa mais excitada, mas eu respiro fundo. Estou prestes a voltar ao controle quando ele agarra meu seio inteiro e aperta. Ele empurra os dedos dentro de mim, roçando o polegar no meu clitóris e abrindo a boca para me chupar. Eu quase perco a cabeça com o acúmulo de prazer, mas ele mantém o aperto no meu seio, apenas forte o suficiente para me manter focada. Eu estremeço e contraio minha boceta em torno de seus dedos. As sensações entre as minhas pernas param e, antes que eu entenda o que está acontecendo, sinto sua boca na minha. A língua dele está com um sabor doce e azedo, ao mesmo tempo, e me lembro que esse é o gosto da minha própria excitação. Ele se afasta apenas um pouco, seus dedos ainda bombeando loucamente enquanto eu me contorço embaixo dele. — Três. — ele sussurra.
Meu orgasmo vem com um longo gemido e, em seguida, toda a sua mão está cobrindo minha boceta, os dedos trabalhando avidamente, enquanto eu me inclino e rebolo contra a palma da sua mão, procurando por mais atrito, mais tudo. Estrelas se multiplicam na minha visão e meu mundo escurece. Meu coração dispara e seus lábios me beijam de novo e de novo.
—Você foi bem. — ele sussurra. — Você foi tão bem. Você é perfeita, Harper. Você é perfeita pra caralho. — Ele continua a me beijar, seus movimentos dentro de mim estão lentos agora, mas não completamente parados. Quando eu finalmente relaxo, ele retira os dedos de dentro de mim e eu abro a boca, esperando que ele os deslize nos meus lábios e os coloque na minha língua. Eu lambo e chupo enquanto ele me observa, seus olhos cheios de desejo, sua expressão satisfeita com o meu desempenho.
Ele tira os dedos e depois se inclina e me beija profundamente. Lentamente. Ele me explora. Ele move as mãos pelo meu corpo, esfregando minha coxa para cima e para baixo, em seguida, mergulhando em mim novamente, para apertar meu clitóris.
Eu gemo. Ainda estou tão sensível.
—Você está pronta? — ele pergunta.
Eu abro os olhos e o encaro, acenando.
—Sim.
—Você está disposta a se entregar a mim, agora?
Eu aceno de novo.
—Sim.
—Você tem certeza que quer que eu seja o único que você fode pelo resto da sua vida?
Minha testa franze em confusão.
—Ahh sim, porque você é minha. Se eu for o seu primeiro, também serei seu último. É por isso que eu preciso que você tenha certeza. — Ele me observa enquanto eu absorvo suas palavras. — Você tem certeza?
Ele é tão lindo. Eu estava certa quando o vi naquele dia, no píer. Ele arqueia as sobrancelhas diante do meu silêncio, mas eu levanto a mão e retiro uma mexa de cabelo escura de seus olhos.
—Eu sou sua, James. Eu juro, sou sua. — E eu quero dizer cada palavra.
—Eu sei que é. Você é minha, você foi feita pra ser minha. — Ele se levanta da cama e fica diante de mim. — Tire minhas roupas, Harper.
A maneira como ele usa meu nome em seus comandos suaves me deixa em êxtase. Meu corpo inteiro pulsa enquanto espera. Eu fico na frente dele por um momento, observando seu corpo. E então eu agarro a bainha de sua camiseta preta apertada e levanto, lentamente arrastando minhas mãos sobre a superfície dura de sua barriga. Seus músculos tremem por baixo. Seu corpo é bronzeado dourado como o meu. Eu puxo a camisa para seus braços e, em seguida, ele assume, arrancando-a sobre a cabeça e jogando-a no chão.
—Você já...
Eu sei o que ele está perguntando, então eu apenas nego com a cabeça.
—Deus. — Ele para e olha para mim. Me observa. — Como isso aconteceu? — Meu corpo todo é tomado pelo calor e eu realmente prendo minha respiração. Porque eu concordo... algo sobre isso é tão... improvável.
Mas então ele chega até mim, me puxa para um abraço gentil e todas as minhas dúvidas evaporam.
Minhas mãos instintivamente caem no peito dele. Sua pele é tensa e firme. Todo músculo bem definido. Ele não tem marcas, nem tatuagens e cicatrizes.
—Você é absolutamente perfeito. — eu sussurro.
—E todo seu. Se fizermos isso, serei todo seu.
Eu sorrio para ele.
—Você promete?
De repente ele cobre meu rosto e se inclina para me beijar.
—Para sempre. Se fizermos isso, você é minha para sempre.
Isso é tão confuso, mas eu não estou com vontade de pensar. Eu só quero reagir ao agora. Eu me ajoelho no chão e olho para cima. Eu quero lembrar dele assim, olhando para mim com pura adoração. Meus dedos soltam seu cinto lentamente e eu percebo a respiração dele ficando pesada, conforme minha mão passa inocentemente por seu pau duro sob o tecido macio de suas calças. Eu observo cuidadosamente para ver se ele gosta do meu toque e seus olhos estão semicerrados. Suas mãos vão para as minhas e me lembram do que estou fazendo.
Eu desabotoo sua calça jeans e arrasto o zíper até que seu pau esteja visível sob a cueca. Eu engulo em seco, nervosa. Então eu puxo a cueca de uma vez e seu pau salta para frente. Eu olho para cima enquanto o coloco na boca, lambendo a ponta.
Ele joga a cabeça para trás e abre um pouco a boca quando eu envolvo meus lábios ao redor dele e chupo. Ele enfia as mãos entre meus cabelos, segurando minha cabeça, me empurrando para frente para engolir totalmente seu pênis. Eu tento imitar o jeito que ele chupou meu clitóris - girando a língua e chupando sua cabeça lisa. Ele rosna.
—Sim, Harper. Isso mesmo, desse jeito.
Eu abro mais a boca e tento engolir todo seu pau, mas ele me para com uma pressão firme na minha cabeça.
—Não, baby. Eu só quero te sentir um pouco. Eu vou gozar dentro de você, não na sua garganta.
Pensamentos de controle de natalidade passam rapidamente pela minha mente, mas ele se abaixa e me pega direto em seus braços. Eu envolvo minhas pernas ao redor de sua cintura, seu pênis pressionando contra a minha barriga. Ele nos vira e senta na cama, me mantendo em seu colo, então tira seus sapatos e jeans, então estamos nus.
Ele desce a mão entre as minhas pernas e me encontra tão molhada e escorregadia quanto estava quando gozei, antes.
—Você está pronta para mim. Levante, coloque meu pau bem na entrada da sua boceta e, em seguida, relaxe. — Eu concordo e olho nos olhos dele, enquanto ele sorri. — Vá do jeito que quiser, como quiser. Eu não estou com pressa.
Eu respiro fundo e aceno. Eu me ergo apenas o suficiente para conseguir segurar seu pênis e colocá-lo na minha boceta mas, antes, esfrego-o para frente e para trás contra minha excitação, até que esteja bem lubrificado. A cabeça de seu pau desliza dentro de mim facilmente e, por um momento, eu penso que foi bem mais fácil do achei que seria.
Mas então eu relaxo e ele me penetra mais, me esticando. Eu suspiro quando a dor ameaça me fazer desistir, mas James pega meu rosto de novo e inclina meu queixo pra ele, para que o olhe nos olhos.
—Devagar, baby. Sem pressa. Tente aproveitar. Me sinta. Veja como é quando estou dentro de você.
Eu engulo em seco e levanto um pouco. Sentindo seu pau escorregadio deslizar contra a minha pele. Eu sento mais um pouquinho, paro quando dói e me levanto novamente. Eu faço isso uma e outra vez. E todas as vezes, James geme.
—Você é tão gostosa. — ele me garante. — Você é tão apertada. — ele sussurra no meu ouvido. — Tente ir um pouco mais fundo agora, baby. Eu tô morrendo de vontade de estar dentro de você. Completamente dentro de você.
Meu corpo responde a seus pedidos como se eles fossem uma ordem. Eu quero isso também. Eu o quero dentro de mim mais do que qualquer coisa que eu já quis antes. Eu o deixo afundar mais em mim, reprimindo o choque de dor e o gemido que quer escapar. Eu enterro minha cabeça em seu pescoço e ofego com força. Suas mãos vão para a minha bunda, me incentivando a me mover do jeito que ele quer que eu faça. Eu faço como ele pede.
Eu sou dele.
Ele me levanta, saindo quase completamente de dentro de mim, mas então ele me puxa de volta em seu colo e a dor sobe pela minha espinha, ameaçando me quebrar, quando sinto seus dedos brincando na entrada do meu ânus. Eles pressionam contra os músculos tensos da minha bunda e eu suspiro, a dor do meu hímen se desintegrando, sendo esquecida quase completamente conforme ele me explora de uma maneira nova.
Eu gemo em seu pescoço, as novas sensações são demais pra mim.
—Eu posso gozar, James? Eu quero gozar, não aguento mais, eu quero gozar no seu pau.
—Isso é tudo pra você, baby. Se meu pau te faz sentir prazer, então goze para mim, Harper.
Meu nome em seus lábios me envia ao limite. Meu corpo arqueia quando jogo a cabeça para trás e sussurro seu nome em um gemido.
—James...
Assim que as contrações começam a diminuir, James envolve seus braços em volta de mim e deita na cama, me puxando com força para seu peito. Seus quadris começam um ritmo quase punitivo, empurrando-se mais e mais dentro de mim, suas bolas batendo contra a minha bunda tão forte, que me fazem lembrar de seus dedos há alguns minutos atrás.
Nós gozamos juntos, dessa vez. Explodimos em um orgasmo tão forte que me cegou por uns segundos, me deixando mole e fraca, me impedindo de pensar em qualquer coisa que não fosse esse homem perfeito embaixo de mim.
Harper
Ele se estica até a cabeceira da cama, mantendo-se dentro de mim enquanto nos movemos juntos. Ele cai de volta no travesseiro, me puxando pra deitar em seu peito, me abraçando.
—Meu Deus, Harper, não consigo acreditar que estamos aqui.
Eu franzo a testa enquanto penso nessa frase.
—O que você quer dizer?
Ele rola, saindo completamente de dentro de mim, e então me vira e puxa minha bunda até seus quadris.
—Durma. — ele diz. — Nós vamos terminar isso de manhã.
Eu franzo ainda mais a testa, repassando sem parar essa frase solta na minha mente. Sua aparição repentina no cais. A maneira como ele mergulhou atrás de mim. Eu acho que faz sentido ele ter me perseguido, já que sou a garota desaparecida. Mas então... se ele realmente é o Número Seis, ele deveria ter me reportado a eles imediatamente. Se ele sabia quem eu era e não me entregou, então ele está pedindo pra morrer.
—Durma, Harper. — diz ele com um pouco mais de autoridade. — Conversaremos amanhã. — Eu saio de seu aperto e me levanto. — Onde é que...
—Banheiro. — eu digo, defensivamente. Acho que essa é uma péssima hora para começar a usar a minha cabeça. Quero dizer, acabei de dar a ele a minha virgindade. O Almirante vai ficar tão puto... E, se James for mesmo o Número Seis, ele sabe disso. Talvez ele também esteja fugindo? Talvez ele seja um dos inimigos do meu pai?
Fecho a porta do banheiro e começo meu banho. De repente, eu me sinto suja. Foi bom... merda, foi ótimo, e eu me senti muito bem. Mas agora que minha necessidade foi saciada e minha mente está clareando, as perguntas começaram a aparecer. E eu tenho muitas perguntas.
Como por exemplo... há quanto tempo ele está me observando? Ele mencionou uma vez... meses. Meses? Isso faz ainda menos sentido pra mim. Ele disse que matou o próprio irmão, o Número Cinco, e eles sugeriram que ele tirasse umas férias, o tiraram da ativa. Ele é valioso pra eles, disso eu tenho quase certeza. Você não elimina outro assassino da Organização e sai ileso. E, com certeza, você não mata seu próprio irmão e ganha férias.
Eu mataria para ter meu irmão agora. Eu faria praticamente qualquer coisa para ter meu irmão de volta.
Eu ligo a água quente e observo minha nudez no espelho, enquanto espero que a água esquente.
Por que eu ainda estou aqui? Neste apartamento? Nesta cidade? Na Terra? É realmente possível que o Almirante não tenha ideia de onde estou? Quero dizer, eu cobri bem meus rastros quando saí. Eu praticamente envenenei o navio inteiro. Todos eles ficaram extremamente doentes, até mesmo o capitão, então estávamos parados na água acerca de cento e sessenta quilômetros ao sul do Taiti. Eu posso até ter matado alguns deles, não faço ideia.
Nosso navio tinha uma lancha muito boa. Uma das mais bonitas do mundo, assim como o super iate que a transportava. Toda a minha vida, desde o nascimento até aquele momento em que abri o compartimento de garagem e baixei a lancha para o mar, gastei navegando os oceanos ao redor do mundo, então, navegar sozinha direto para o porto não foi nem um pouco difícil.
Nós já estivemos no Taiti muitas vezes. Tantas que eles até me reconheciam. E me acolhiam. Claro, eu nunca apareci sozinha antes, mas isso foi antes do meu aniversário de dezoito anos, agora eu já podia passear sozinha. Bem, pelo menos foi o que eu disse a eles, fingindo estar animada. A adrenalina percorrendo meu sangue estava me deixando nervosa, mas o agente da alfândega local encarou isso como uma emoção de iniciantes, por estar sozinha pela primeira vez.
Eu consegui deixar tudo ordem no cais, paguei as taxas e peguei um táxi direto para o aeroporto Faa'a International, onde embarquei em um avião para o Havaí. Saí do avião ainda como Harper Tate, mas embarquei no próximo como Jillian Stewart. E, quando cheguei em Los Angeles, eu estava livre.
Eu estava com uma mochila, mas nela só tinha uma chave. Uma chave que meu irmão me deu no dia anterior ao nosso aniversário. Não tenho ideia de como ele conseguiu, mas não perguntei, porque aquele foi o nosso último dia juntos e eu ainda estava em negação a respeito dele ir embora sem mim.
Não é como se ele tivesse escolha. Eles o levaram. Mas ele deixou a chave para trás.
Havia um endereço e um número gravados nela. Peguei um táxi para a Biblioteca da Universidade da California, em Los Angeles, subi de elevador até os armários do quinto andar e dei de cara com o meu futuro.
Trinta mil dólares. Um número de telefone. Um telefone. Um pen drive em forma de peixe. E um frasco de remédios para ansiedade, com um recado de Nick pendurado do lado de fora, dizendo para não tomá-los, a menos que fosse absolutamente necessário. Levamos seis meses para me livrar do hábito de ingerir ansiolíticos. Foi um processo longo e, mesmo agora, depois de quase um ano limpa, ainda corro para as pílulas quando a realidade da situação fica difícil e esmagadora.
Eu peguei o dinheiro, liguei para o número que estava anotado, peguei um táxi até aquele endereço, paguei o aluguel integralmente por um ano, me sentei naquela cadeira solitária na sala de estar e esperei.
Demorei semanas para me adaptar. Olhava por cima do meu ombro em todos os lugares que ia. Por diversas vezes eu cheguei a imaginar como seria minha vida, se eu tivesse ficado mais um dia. Certamente, teria me casado com o velho a quem fui vendida.
Foi o que meu pai planejou pra mim. Não era segredo que Nick e eu seríamos separados no nosso décimo oitavo aniversário, mas eles mantiveram esse pequeno acordo de casamento em segredo, até que fizemos dezesseis anos. Então, aos poucos e bem lentamente, as indiretas começaram a surgir. ‘Ah, Harper, você fará um homem de sorte muito feliz quando fizer dezoito anos.’ Foi assim que os rumores começaram. Mas, quando eu tinha dezessete anos, tudo fez sentido. ‘Qual vestido você vai escolher para o seu casamento, Harper?’ as assistentes de moda no porto me perguntavam.
Mas eu sou quieta. Eu não interrompo. E eu escolho minhas batalhas. Não há sentido em lutar até que eu possa vencer a guerra.
Eu ganhei? Eu tenho um belo assassino na minha cama. Eu ainda estou livre. Ele não me matou, ele me fodeu. Estou me apaixonando por ele. Ele me faz sentir segura. Eu quero estar ao lado dele. Mesmo agora, eu o quero.
Mas, talvez, ele apenas seja tão bom quanto eu em escolher as próprias batalhas?
Há uma pequena batida na porta.
—Harper? — diz James, em voz baixa. — Tudo bem? — Ele não espera pela minha resposta, apenas gira a maçaneta e abre a porta. Eu sorrio para ele. Eu não posso evitar, ele é tão lindo. — Banho? — Ele pergunta, acenando com a cabeça na direção da água fervente que cai na banheira.
Eu aceno e sorrio. Ele caminha até o chuveiro e ajusta a temperatura, depois puxa a gaveta de cima da minha penteadeira e encontra uma gilete nova. Eu arqueio as sobrancelhas para ele. Mas não é sobre me depilar, eu acreditei quando ele disse que o faria. Minha surpresa tem a ver com o fato de ele saber onde eu guardo minhas giletes. Isso significa que ele revirou todo o meu apartamento quando estava aqui me espionando.
—Isso te assusta? — Ele pergunta, como se estivesse lendo minha mente.
—Sim. — eu respondo, acenando. — Por que você estava me espionando? — Eu tento não parecer acusatória, mas é assim que sai.
Ele pega minha mão e me leva para o chuveiro. Ele entra na banheira e eu o sigo. Ele fica embaixo da água e fecha os olhos enquanto arrasta as mãos pelo rosto e depois balança a cabeça, enviando gotas voando na minha direção e bagunçando o cabelo de uma maneira que me faz desejar seu toque.
Ele sai da água e gentilmente me manobra em seu lugar. Eu inclino a cabeça para trás e aproveito os jatos e a corrente que flui na parte de trás da minha cabeça. Eu me afasto e passo os dedos sobre os olhos para poder ver suas mãos ensaboadas massageando meu braço.
—Uma vez que te encontrei, precisava descobrir quem você era. Eu tinha uma boa ideia. Eu tinha visto as fotos que eles circularam alguns meses antes. Eles sabiam que você estava aqui na área de Los Angeles, aquele passaporte não enganou ninguém. Eles te reconheceram quando acessaram as câmeras de segurança. Então eu suponho que é por isso que eles queriam que eu passasse um tempo aqui na Califórnia.
—Eles sabem exatamente onde estou?
—Eu não denunciei você. — ele diz, simplesmente. Mas isso não foi realmente uma resposta.
—Você não vai se meter em muitos problemas? Por me manter em segredo? O Almirante não vai ficar puto quando descobrir?
—E se ele não descobrir? — Suas mãos se movem para as minhas coxas, ensaboando-as. Depois ele arrasta os dedos até minhas panturrilhas, deslizando de volta e mergulhando entre as minhas pernas, para me provocar. Ele deixa meus pelos pubianos cheios de sabão e, em seguida, bate levemente na parte interna da minha coxa. — Abra as pernas, Harper.
Ele levanta a gilete enquanto eu abro as pernas. Eu me cuido bem o suficiente. Não mantenho uma mata selvagem e incontrolável, são apenas alguns pelos, então ele coloca a navalha no topo e remove delicadamente os pelos no caminho até embaixo. Seus dedos brincam entre os lábios da minha boceta enquanto ele continua, me deixando molhada e excitada conforme minha pele fica mais lisa. Ele pega minha mão e a coloca sobre a área raspada.
—Sinta-se, Harper.
Passei meus dedos pela área e aproveitei a sensação. Ele coloca a mão na minha e nós dois nos movemos para cima e para baixo do meu clitóris. Ele empurra meus dedos dentro de mim, então se ajoelha, pega minha perna e a coloca sobre o ombro. Seu rosto mergulha entre as minhas pernas e ele me lambe. Deus, eu só quero morrer. Só quero me inclinar e relaxar enquanto aprecio o prazer que ele está me dando.
Todos os pensamentos a respeito de seus segredos e caminhos tortuosos evaporam. Estou à sua mercê mais uma vez. Eu gozo quase instantaneamente, esse orgasmo tão poderoso quanto os outros. Eu caio contra ele enquanto ele lava meu cabelo, depois desligo a água e gentilmente me seco com a toalha.
—Ainda não terminamos, Harper.
Eu olho para ele, maravilhada com sua beleza. Sua capacidade de ser gentil e suave comigo, embora ele faça parte da elite assassina da Organização e seja um dos homens mais perigosos do mundo.
Eu posso estar me apaixonando por um assassino.
Ele me leva nua de volta para a sala de estar, parando na frente da cadeira.
—Curve-se. — diz ele, naquela voz calma. Eu olho por cima do meu ombro para essas palavras. Ele sorri e meu medo começa a derreter. — Confie. — diz ele, se inclinando para me beijar. — Eu não vou te machucar. — E então ele empurra minhas costas até que eu me inclino sobre a cadeira, expondo minha bunda para ele.
Ele começa a acariciar lentamente cada lado da minha bunda, amassando meus músculos flexíveis e, ocasionalmente, passando por cima da minha boceta. Ele se ajoelha e começa a lamber novamente, seus dedos se juntando à sua língua, até que eu esteja preparada e pronta mais uma vez. Eu ainda estou sensível de toda a atenção, mas então ele remove os dedos da minha boceta e os arrasta em círculos na minha bunda.
Ele desliza um dedo para dentro de mim, por trás, e eu ofego.
—Ah, isso machuca. — eu digo, enquanto ele remove.
—Relaxe. — ele sussurra no meu pescoço. — Estou cansado demais para ir devagar agora. Eu quero que seja duro e rápido desta vez. Então, tentaremos coisas novas da próxima. — Ele morde meu ombro e empurra dentro da minha boceta. Eu me contorço debaixo dele, a dor rasgando através de mim neste momento. Ele não estava mentindo, não é gentil e nem lento. Mas suas mãos acariciam minha coxa enquanto ele sussurra coisas doces no meu ouvido. — Você é tão linda. — diz ele. — Você me deixa louco. — ele geme enquanto se afasta e depois empurra novamente. Desta vez, a dor é menor e, a cada momento, o prazer a ultrapassa.
Quando ele está confiante de que estou bem, ele se levanta, me segurando pelo quadril.
E então ele me fode. Duro. Forte. Rápido. Como um homem fode uma mulher e não do jeito que um menino transa com uma garota. Ele me faz mulher. E mesmo que doa, é gostoso. Eu me sinto tão bem, é tão prazeroso, que não posso imaginar não querer que ele me foda assim várias vezes.
Ele puxa para fora e me vira, empurrando-me de joelhos na frente dele, e então ele goza por todo o meu peito. Eu vejo o rosto dele, dessa vez. Ele joga a cabeça para trás e abre a boca em um gemido de prazer.
E eu vejo.
Eu sinto.
O poder que tenho sobre ele é tão real quanto o poder que ele tem sobre mim.
Ele me leva até a cama e me deita.
—Volto logo. Fique parada, eu vou te limpar. — E então ele entra no banheiro e fecha a porta. Ao mesmo tempo, seu telefone vibra no chão e eu olho para baixo. Deve ter caído de suas calças mais cedo.
Não quero espionar, mas está iluminado no chão, me encarando. Eu olho para ver as palavras. É um endereço. Eu leio para mim mesma e o memorizo. Outra mensagem aparece, fazendo o telefone vibrar novamente. Dessa vez, o texto tem apenas duas palavras; Tudo pronto.
A maçaneta do banheiro balança e eu me viro rapidamente, pegando o travesseiro e cobrindo meu rosto para fingir que estou dormindo. Se ele está incomodado com a mensagem iluminada no chão, não demonstra, porque seu passo não vacila quando ele se dirige para a cama.
—Harper. — ele diz, quando puxa meu ombro para me limpar. Eu abro os olhos um pouco, sorrio, e depois os fecho novamente enquanto ele limpa meus seios de cima a baixo, com a toalha quente.
Alguns minutos depois, ele sobe na cama comigo e me abraça sem seu peito. Ele beija minha cabeça e se inclina pra sussurrar no meu ouvido.
—Você é minha agora, Harp. Você é minha. Não importa o que aconteça, você é só minha.
Harper
Quando acordo, ele se foi.
Há uma nota no balcão e uma pilha de dinheiro. Eu conto o dinheiro, ainda nua. Setecentos e quarenta e dois dólares. Ele carrega muito dinheiro com ele. Pego a nota e a leio.
Vá ao mercado e faça compras. Você está muito magra.
Volto em breve.
É isso aí.
Volto em breve.
Mas o dia vem e vai. E mais e mais dias vêm e vão. E James não volta. Eu olho para o meu telefone, querendo que ele me ligue. Por que eu não peguei a porra do telefone dele quando tive a chance, ao invés de fuxicar suas mensagens de texto inúteis?
Eu fico parada na lavanderia, olhando para o meu dinheiro. Eu tenho mil e quinhentos dólares agora. E um endereço comprometido na memória. Minha mochila está cheia de roupas e itens de necessidade básica. Respirando fundo, deixo a chave lá e pego o dinheiro.
Talvez eu volte, talvez não. Mas eu não vou deixar nada para trás. Estou cansada de esperar que as pessoas que me importam venham me buscar. Estou cansada de imaginar se Nick está vivo ou morto. E, mesmo que tenham sido apenas alguns dias, estou cansada de pensar em James também.
Estou cansada de ser invisível.
Estou cansada de ficar quieta, ser paciente e seguir as instruções.
Mas, acima de tudo, estou cansada de deixar minha vida em espera. Chegou a hora. Eu vou encontrar os homens que pegaram a única pessoa neste mundo em quem posso confiar.
Eu vou encontrar meu irmão ou vou morrer tentando.
Notas
[1] Peixe-leão. Um peixe que é famoso pela beleza e pelos espinhos: são 18, espalhados pela região dorsal, com um veneno capaz de causar dores, náusea, e até convulsões em seres humanos.
[2] Blue-Ringed Octopus - O polvo-de-anéis-azuis é uma espécie de polvo conhecida pelos visíveis anéis azuis no seu corpo e pelo veneno muito poderoso que possui.
[3] Come se traduz de várias maneiras, mas nesse caso, a melhor adaptação é vir, como em ir até algum lugar. Nos trocadilhos, come também significa gozar, então, entendedoras entenderão. rsrs
[4] *Soldier. Gente, o feminino de soldado existe e não, não é soldado feminino, nem A soldado. É simplesmente soldada. Kkk É feio? É! Mas é o que é. O codinome dela é Soldier, que significa soldado, mas como ela é mulher, o nome correto da patente é soldada. Lá nas gringa a definição por gênero não é muito comum, então, a gente que lute.
J.A. Huss
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