Biblio VT
Series & Trilogias Literarias
Uma noite roubada de prazer, que ameaçaria tudo o que ela ama se fosse revelada...
Depois de cinco anos presa no interior, a recém-viúva Nina Granville, Duquesa de Exeter, retornou à cidade para um recomeço.
Mas foi aqui que ela cometeu uma indiscrição. — Uma noite roubada de prazer, que ameaçaria tudo o que ela ama se fosse revelada.
Byron sempre amou Nina de longe — até que festejos no interior viraram seu mundo de cabeça para baixo. A culpa o fez fugir da Costa inglesa, e Nina se casou com um homem de idade o bastante para ser seu avô, mas agora o belo patife está volta... e pronto para reivindicar o que é dele.
No entanto, Nina escondeu algo de Byron, um segredo que poderia ameaçar a atração avassaladora entre eles e destruir a amizade de longa data que têm para sempre. Com o irmão de Byron determinado a revelar a verdade, Nina precisa usar seu poder na sociedade para assegurar que seu segredo seja mantido. Mesmo à custa do amor...
Edwina Granville, duquesa de Exeter, sentava-se em uma carruagem à caminho Granville Hall, uma propriedade grande e imponente que parecia um castelo. Com muros e torres de altura imensurável, e a localização no topo de uma colina íngreme, os únicos elementos arquitetônicos que faltavam eram torres e escadas em espiral. O edifício pairava sobre a cidade de Minehead, em Kent e parecia ter tanta excelência quanto o duque com quem acabara de se casar.
Deste dia em diante, agora que seus votos foram proferidos, este seria seu lar. Ela olhou pela janela e viu a igreja desaparecer de vista, seus pais ainda parados do lado de fora, cumprimentando os poucos convidados que compareceram de Londres.
Um ronco estrondoso soou ao seu lado, e ela se virou para ver o duque de Exeter dormindo, a cabeça pendendo e a boca caída como se tivesse tido um derrame. Ela suspirou, nunca pensara que este seria seu marido e ao final de sua segunda temporada, mas aqui estava ela, duquesa e esposa de um homem com idade suficiente para ser seu avô.
Seu estômago revirou ante a ideia de se deitar com ele, mas aguentou e tolerou com uma força formidável porque esse era seu dever. Ela foi educada a esperar tal destino ao entrar em um casamento. A carruagem balançou ao subir a colina íngreme em direção ao casarão. Edwina, Nina para os amigos, faria o papel de esposa atenciosa e obediente por um motivo e apenas um. Porque qualquer coisa era melhor do que ser vista pelo homem que ela amava como uma fidalga triste e digna de pena que perdeu a
cabeça por causa da pior das hipóteses. Ela estreitou os olhos, apertando a mão no colo enquanto se lembrava do motivo pelo qual estava nessa situação.
Sr. Andrew Hill, um cavalheiro que a fez acreditar que ela significava mais para ele do que de fato significava. Um desgraçado flertador, como nenhum outro, e um homem de quem ela deveria ter ficado muito longe. Mas ela não se afastou, não conseguiu, se fosse honesta consigo. E agora ela estava casada com um duque, teria os filhos dele e seria uma mulher de alta classe sempre que viajassem para a cidade.
Nina supôs que deveria se sentir culpada por se casar com um homem que não amava, mas não podia. A sanguessuga ao lado dela estava muito disposta a se casar com uma mulher tantos anos abaixo dele em idade a ponto de que deveria ser ilegal, mas seu dinheiro e sua família eram uma tentação enorme.
Então, quando ele propôs, e devido ao seu desespero após ser menosprezada, ela disse que sim. A única boa graça, ela supunha, era o fato de o duque já ter um filho. Alguém mais velho que ela, o que resultava em reuniões embaraçosas, em especial porque a esposa dele, a marquesa, odiava Nina com mais paixão do que amava o marido.
Nina olhou para o estofado o de veludo cinza em frente a ela. A decisão de se casar com o duque havia sido tomada com tanta pressa da parte dela, que ela não havia considerado em profundidade o que realmente significava para ela.
Seu tempo em Londres agora seria reduzido, devido ao fato de o duque não gostar muito da cidade e deixar o entretenimento para o filho. Algo positivo, talvez, para a terrível situação em que ela agora se encontrava. Pelo menos ela não teria que enfrentar o homem que arruinara todos os seus sonhos, e ela no processo. Não teria que
enfrentar a Sociedade e seu olhar malicioso, porque ela se vendeu à um casamento sem amor e a um homem com o dobro da sua idade.
A maneira como ela se enganara de que seria diferente de seus pais, de que teria um casamento incrível e de amor, agora zombava dela.
Nina suspirou, olhando para os dedos. Ela sentiria falta de seus amigos, um em particular mais do que os outros. Byron, irmão gêmeo de Andrew, o malandro que tomou o que queria sem um pingo de remorso. Um homem que conseguia erguer a cabeça ao anunciar um noivado com alguém que não era ela não poderia, em hipótese alguma, ter nutrido sentimentos por ela. Mas ela sentiria falta de Byron. Ele partiu para o continente antes do casamento dela, e ela não estava certa de que voltaria a vê-lo. Ela esperava que fosse em breve, mas não se enganaria. Era provável que nunca mais o visse.
CAPÍTULO 1
Kent. Cinco anos depois.
N ina sentou-se em um cobertor nos gramados atrás de Granville Hall e observou Molly e Lora correrem atrás do cão, um lebrél irlandês de nome Bentley, que era três vezes maior que as crianças. O cachorro era companheiro constante de Molly e Lora desde o dia em que nasceram, e mesmo que a avó se preocupasse e se apavorasse com a possibilidade de as crianças serem mordidas, ou pior, estraçalhadas pelo animal enorme, Nina sabia que Bentley nunca as machucaria.
Mas ela não podia garantir que o cachorro não machucaria outras pessoas se pensasse que eram uma ameaça.
Molly riu, rolando no chão, e Nina riu junto quando Bentley se sentou nas costas de Molly, segurando-a. Lora tentou tirar o cachorro da irmã, sem sucesso.
— Mamãe, eu estou presa. — sua filha gritou, a doce voz cheia de alegria.
Ela deu de ombros, e pôs uma das mãos sobre os olhos para manter-se vigilante.
— Parece ter perdido essa guerra, Molly. Talvez devesse dar um petisco para Bentley, já que ele é o vencedor, pelo que vejo.
A menção da palavra petisco fez Bentley trotar até ela, e ela apertou o rosto do lebrél, beijando a ponte do nariz dele.
— Para a cozinha. Vão ver o que a cozinheira fez para vocês.
Molly e Lora gritaram de emoção e foram para os fundos da casa, correndo o mais rápido que as perninhas possibilitava, mas
não tão rápido quanto Bentley, que já havia desaparecido de vista. A cozinheira deles, a Sra. Jones, teria uma abundância de doces tanto para o cachorro quanto para as crianças. Nina se levantou e sacudiu o cobertor, pronta para entrar em casa agora que o sol estava se pondo no céu a oeste.
Como ela sentiria falta dessa propriedade. Mas estava na hora de ela voltar para a cidade, participar de uma temporada e ajudar a pavimentar o caminho para suas filhas nos próximos anos. Não que ela estivesse procurando outro marido. Um já fora suficiente, e um casamento sem amor não era uma vida fácil de se levar. E não havia motivo para procurar outro homem para aquecer sua cama.
Ela era rica por si só, possuía várias casas e estava prestes a embarcar em uma nova empreitada aqui mesmo em sua região natal, Kent. Mesmo assim, por mais ocupada que estivesse com o planejamento da escola para a aldeia, sentia falta dos amigos, em particular a esposa de seu primo, a duquesa de Athelby, cujas cartas se tornaram cada vez mais insistentes sobre a data de sua volta a Londres.
E assim ela iria, e pela primeira vez desde que teve as filhas, as deixaria aqui em Kent. Não havia sido uma escolha fácil, mas com os estudos das crianças e o desejo dela de que respirassem o ar puro do campo em vez do ar entupido de carvão de Londres, seria melhor assim. É claro que ela voltaria para casa algumas vezes durante a temporada para vê-las.
— Sua Graça, chegou uma missiva expressa da duquesa de Athelby. Está em sua mesa, na biblioteca.
— Obrigada, já vou ver.
A criada fez uma reverência e a deixou.
Nina foi até as portas do terraço que davam para a exuberante biblioteca do salão. O cômodo era revestido de painéis de mogno e
estantes de livros. Livros de todo o mundo se empilhavam nas paredes, do chão ao teto. Um par de cadeiras de couro e botões estava diante de uma janela, ponto escolhido a dedo por receber luz natural do exterior.
Fogo ardia na lareira, quente e convidativo. Indo para a mesa que ficava no centro da sala, Nina pegou a missiva e partiu o selo ducal. Ela deslizou o olhar pela nota, apertando a mesa em busca de apoio, quando o pequeno mundo de segurança que ela criara para si desapareceu diante de seus olhos.
QUERIDA NINA,
Sinto que devo avisá-la para se preparar para seu retorno à cidade.
O Sr. Andrew Hill voltou da Irlanda para passar uma temporada em Londres e está casado, como você sabe. Você deve se preparar para encontrar os dois. Sinto muito, querida. Sei que essa não é a notícia que você gostaria de receber de mim. Vejo você em alguns dias.
Darcy.
Nina amassou a nota e lutou para não externar sua náusea. Andrew estava de volta à cidade! Querido Deus, não. De todas as temporadas que ela pôde participar, ele tinha que ter escolhido retornar na mesma que ela? Revê-lo depois de tantos anos, ouvir sua voz, o som da risada, o cheiro de sua pele... Como ela iria suportar? Será que ela permaneceria civilizada e não daria um tapa no rosto mentiroso e enganoso dele?
Ela relembrou de sua noite de vergonha. Os detalhes eram tão claros que era quase como se tivesse acontecido ontem. Entrar no quarto de Andrew no meio da noite, tirar proveito de seu estado de embriaguez e seduzi-lo não foi o momento de maior orgulho de sua vida. Mas ele havia sido tão carinhoso, tão amoroso com ela naquela noite, que ela tinha certeza de que ele proporia casamento.
Mas ele não o fizera. Em vez disso, o patife anunciou, logo na manhã seguinte, o noivado com uma tal de Senhorita Fionna O'Connor e arrancou seu coração do corpo.
Nina agiu como a jovem boba que era na época, e cedeu ao que seus pais sempre quiseram para ela, um grande partido. E assim, uma hora depois do anúncio de Andrew, ela estava noiva de um duque transformando-a de filha obediente a esposa obediente. Uma batida leve soou na porta, e um lacaio entrou curvando-se diante dela.
— O almoço foi servido, Sua Graça.
— Traga para mim aqui, por favor. Preciso responder algumas correspondências e não posso esperar. Depois disso, envie uma nota aos estábulos para que preparem as carruagens para meu retorno a Londres para daqui a três dias. E peça para minha dama de companhia vir aqui, por favor.
O lacaio voltou a curvar-se.
— Sim, Sua Graça.
Nina foi até a lareira e sentou-se em uma das cadeiras de couro, olhando as chamas lamberem a madeira. Sua decisão de deixar Molly e Lora para trás seria ainda mais sensata do que previra. As meninas tinham feições tão parecidas com as de Andrew que ela estava certa de que, se ele tivesse o mínimo vislumbre das crianças, saberia que elas eram dele. Ele era um homem orgulhoso, ou ao menos era quando ela o encontrou pela última vez, e ele não se
importaria que eles estivessem sob o nome de outro homem quando deveriam ter o dele. Ela apertou as mãos no colo para impedi-las de tremer. Para sobreviver à Temporada, sobreviver a ver o único homem no mundo a quem amara com tanta paixão, com todo o coração, precisaria se controlar melhor.
Andrew Hill partiu seu coração uma vez. Ele não teria esse poder novamente.
PASSAR A TEMPORADA na cidade não era algo que Byron Hill pensou que teria que suportar mais uma vez. E, no entanto, aqui estava ele, de volta a Londres, com a noiva a reboque, prestes a aproveitar esses últimos meses da temporada antes de se casar com a Srta. Sofia Custer.
Ela não era o tipo de mulher com quem ele cogitara se casar.
Sofia era de uma família de mineiros, pessoas trabalhadoras e honestas que lhe permitiram todos os desejos da vida. Os Custers possuíam praticamente todas as minas de cobre existentes na Inglaterra e, sendo filha única, Sofia, desfrutava dos luxos que essa vida trazia. Ela era um pouco imatura, ele supunha, e costumava seguir seu próprio caminho, mas eles se davam bem o suficiente, e era hora de ele se estabelecer para começar uma família própria.
Byron estava parado em frente ao White's e batia os calcanhares, esperando que Hunter, o marquês de Aaron, chegasse. O cavalheiro já estava cinco minutos atrasado e, se não chegasse logo, o porteiro do White's lhe daria um passa fora.
Um coche de aluguel parou, e Hunter pulou, vindo em sua direção com um sorriso.
— Byron, que bom revê-lo. — disse ele, apertando seu ombro e mão.
Byron sorriu de volta, satisfeito por voltar a se encontrar com o primo.
— Faz muito tempo. Tempo demasiado longo. E, no entanto, de várias maneiras, não o bastante.
— Vamos caminhar em direção ao Hyde Park e pôr a conversa em dia. O clima é agradável o suficiente.
Byron não podia concordar mais.
O dia amanhecera mais quente do que o normal para março e, depois da longa viagem de volta do continente, um passeio soava exatamente o que precisava.
— Diga-me tudo o que aconteceu neste tempo em que estive fora.
Hunter riu, a bengala soando um crescendo na calçada.
— Eu poderia perguntar o mesmo de você. Ouvi dizer que está para se casar. Eu conheci a Srta. Custer duas temporadas atrás, antes da família viajar para o exterior. Ela parecia muito agradável e inteligente. Suponho que se Byron Hill, um solteiro elegível, se é que poderia se chamar um homem assim, está para se casar é porque encontrou o amor da sua vida?
A pergunta ousada pegou Byron desprevenido, e ele recusou a ideia de responder ao primo. Não havia amor entre ele e Sofia, mesmo que se dessem muito bem. Byron esperava que, com o tempo, talvez o gostar e respeito mútuos se transformassem em emoções mais profundas e significativas, mas isso levaria tempo.
— Não somos um par unido por amor, não. Deixo essas emoções para você e Cecilia.
Ele deveria querer mais por Sofia e por si mesmo, mas amar alguém de novo? Não. Ele entregou seu coração há muitos anos e
nunca o recuperou.
A lembrança de Edwina Fox, agora duquesa de Exeter, uma mulher que só tinha olhos para seu irmão gêmeo Andrew, fazia seus dentes doerem. Até hoje, a lembrança dos dois juntos, de observá-
los em bailes e festas dançando e rindo de brincadeiras, fazia o sangue de Byron ferver. Ele afastou a lembrança, não desejando sentir-se melancólico quando voltar à cidade era uma coisa boa. Era hora de seguir em frente, se casar e se estabelecer.
Seu primo trazia um olhar caprichoso no rosto antes de dizer:
— Não tenho vergonha de dizer que amo minha esposa, a adoro além do que qualquer cavalheiro respeitável deveria e não mudaria minha situação por nada no mundo. Mas você tem certeza de que deseja prosseguir com essa união? Se não houver amor, não há garantia de que existirá, e se casar com alguém é um compromisso para toda a vida. Não quero vê-lo cometer um erro, Byron.
— Eu cometi o meu maior erro há muitos anos. Isso é apenas uma questão insignificante. — a declaração saiu sem querer, e ele não conseguiu impedir. — Minhas desculpas, Hunter, parece que Londres tem muitos fantasmas que querem voltar a me assombrar.
Seu primo lançou um olhar avaliador a ele.
— Como está Andrew? Soube que ele voltou da Irlanda na semana passada.
— Sim, e Fionna o acompanha. Voltarão para a Irlanda depois do meu casamento e do final da temporada.
Os dois chegaram à esquina da Rua Upper Brook com a Park Lane e atravessaram a rua antes de entrar no Hyde Park. À
distância, podiam ver um grupo de crianças correndo na direção da Serpentina. As mulheres passeavam a pé ou de carruagem, e havia alguns cavalheiros que preferiam andar a cavalo. O parque estava
pleno com a sociedade londrina em suas doses diárias de fofocas e exercícios.
Eles entraram na passarela Broad Walk, ambos perdidos em pensamentos por um tempo e satisfeitos com o silêncio. Era uma das coisas que Byron mais amava em seu primo; eles nem sempre precisavam preencher o silêncio com conversas sem sentido.
— Agora que você está de volta à Inglaterra, e Andrew reside na Irlanda a maior parte do tempo, você assumiu a casa de Londres?
Byron assentiu, observando dois meninos correrem enquanto a babá os vigiava de debaixo de um grande carvalho.
— Correto. Farei de lá nossa casa até encontrarmos algo mais próximo da família de Sofia na Cornualha.
Que ficava muito longe de Londres, e exatamente como ele queria. Ele não queria estar em nenhum lugar perto da cidade onde pudesse encontrar Edwina a qualquer momento. Não que ela estivesse ciente dos sentimentos dele, ela só tinha olhos para o irmão e nunca deu a Byron um segundo olhar.
— A casa daqui vai se adequar muito bem a você e, com Andrew ficando lá por esta temporada, vai dar à esposa dele e a sua futura companheira tempo para se conhecerem.
— É verdade. — respondeu ele, sem pensar muito na situação.
Byron não tinha certeza de que Sofia se daria muito bem com a esposa de Andrew. Fionna O'Connor vinha de títulos na Irlanda, e ter uma futura cunhada advinda da mineração não refletiria tão bem sobre Fionna quanto ela gostaria. Ele teria que garantir que não se esforçasse para ofender Sofia.
— Irei ao leilão da Tattersalls na quinta-feira. Você gostaria de se juntar a mim? Como nenhum de nós mora na Inglaterra há alguns anos, não temos cavalos. A estrebaria está vazia, exceto por um
veículo solitário. Gostaria da sua opinião sobre uma égua cinzenta que espiei para Sofia, se você estiver disponível.
— Vou deixar Cecilia na reunião de caridade dela e encontro você lá.
— Cecilia ainda está muito ocupada com a Sociedade de Socorro de Londres? Ter filhos não a desacelerou? — Byron perguntou, sorrindo com carinho enquanto pensava na mulher que havia capturado e salvado seu primo.
Que mulher notável ela era... sempre ajudando os outros, de natureza amável e amorosa. De fato, Hunter era um homem de muita sorte.
— Duvido muito que algo vá desacelerar Cecilia. Ela é simplesmente maravilhosa. Por falar em coisas maravilhosas, a Sociedade do Socorro de Londres está realizará uma festa de caridade no próximo sábado. Será em nossa casa e gostaríamos que você participasse. Acha que estará livre?
E assim começariam o turbilhão e a loucura da Temporada.
Mesmo que fosse apenas um baile de caridade, era o primeiro de muitos. Mas seria bom que sua noiva conhecesse a extensão da família dele, e talvez Sofia até gostasse de se voluntariar para a organização de caridade.
— Ficaríamos honrados em participar. — disse ele sinceramente.
Hunter riu, o olhar confuso.
— Você pode se arrepender dessas palavras, primo. Pode ser um baile de caridade, mas traga suas economias. Cecilia e as demais voluntárias coletarão doações e não deixarão você sair sem dar algum tipo de contribuição monetária.
Byron sorriu.
— Devidamente anotado. Não me esquecerei.
Eles voltaram para os portões do parque.
Nina estaria neste baile de caridade? Byron amaldiçoou seu próprio desejo de querer revê-la, vislumbrá-la de longe e, ao mesmo tempo, rezava para que não o visse.
Ele respirou fundo.
Ele teria que ser firme se a visse. Uma coisa que ele nunca quis que Nina soubesse era que a ver se casar com outro homem quase o partiu em dois. Quase não. O partira em dois, e ele ainda estava consertando a fratura.
CAPÍTULO 2
C om a noiva em seu braço, Byron subiu os degraus da casa de seu primo Hunter, o marquês de Aaron, em Londres, e esperou na fila para ser recebido pelo anfitrião e pela anfitriã da noite.
A fila era longa, e o baile de caridade já parecia lotado. Parece que Cecilia se encaixara perfeitamente no status elevado do marquês na sociedade e o tornara seu. Nada mais correto, pois Bryan nunca havia conhecido mulher mais gentil.
Aproximando-se do marquês e da marquesa, Byron apresentou Sofia e beijou Cecilia em boas-vindas. Seu irmão, que estava atrás dele, fez o mesmo por Fionna, e eles entraram no salão. A grande sala retangular brilhava à luz de velas, e alguns casais já estavam dançando. Byron entrou na sala, não esperando que a grandeza do espetáculo causasse uma pontada de nostalgia.
A última vez que ele esteve em um salão de baile, ainda era garoto, ainda verde e ansioso para viver a vida ao máximo em Londres, ou pelo menos era assim que parecia. Na verdade, faz apenas cinco anos mais ou menos, mas muita coisa mudou desde que ele partira. Ele não era mais o jovem imaturo e maleável de antes. Ele não permitia que outros ditassem sua vida ou lhe dissessem o que fazer ou como agir.
Andrew levou Fionna para dançar, e Byron virou-se para Sofia.
— Vamos dançar também, minha querida? — ele perguntou, olhando por cima do ombro dela quando uma visão em vermelho chamou sua atenção. Ele parou, com o braço estendido para pegar o de Sofia, e o ar falhou em chegar aos pulmões.
Edwina Fox. Maldição, era ela.
Sofia assentiu.
— Obrigada, sim.
Byron fechou a boca com um estalo e refez sua expressão para algo mais próximo da indiferença. Por tudo o que ele e Edwina compartilhavam, ela não estava a par do segredo que ele carregava, e nunca saberia se ele pudesse evitar. Somente seu primo Hunter, que se deparou com Byron na manhã seguinte ao erro de julgamento de Byron e exigiu que ele lhe dissesse a verdade, sabia seu segredo.
E o manteria até que estivesse morto.
Byron foi em direção à pista de dança, mas antes que pudesse dar dois passos, a atenção de Edwina se voltou para onde ele estava, e ele percebeu o momento em que ela o reconheceu. De alguma forma, embora fossem gêmeos, ela quase sempre conseguia diferenciar ele e Andrew. Talvez fosse a covinha solitária nas bochechas, em lados opostos, mas ele não estava sorrindo agora.
Ela começou a ir em direção a eles, seu sorriso lindo e acolhedor apenas para ele. Ou pelo menos foi o que ele disse para si antes de refrear a idiotice que tendia a vir à tona sempre que ela estava por perto.
— Byron. — disse ela, aproximando-se antes de se inclinar e beijar sua bochecha. — Estou tão feliz que você esteja aqui nesta temporada. Faz muito tempo desde a última vez que nos vimos.
O cheiro intoxicante de jasmim foi como um golpe físico em seu estômago. Os anos distante dela, não ser capaz de cheirar seu doce aroma, ouvir sua voz ou ver seu lindo rosto quase o derrubaram como um carvalho velho em uma tempestade. Ele a encarou por um momento, incapaz de fazer qualquer outra coisa.
Cristo, ela era linda... seus cabelos escuros da cor do céu noturno, sua tez cremosa perfeita e seus risonhos olhos azuis. Sem mencionar as covinhas adoráveis em suas bochechas que ele havia beijado sem parar em uma noite de pecado.
— Sua Graça, que bom revê-la. — sua voz era formal, sem vida, e Sofia olhou para ele com um olhar de confusão no rosto. Ele gesticulou para a noiva. — Sua graça, deixe-me apresentar Sofia Custer, minha noiva.
Edwina sorriu quando Sofia fez uma pequena reverência.
— É um prazer conhecê-la, senhorita Custer, e parabéns pelo noivado. Fiquei muito feliz com a notícia ao saber. Desejo felicidades para você e Byron.
Byron engoliu a bile que subiu em sua garganta por ter Edwina tão perto dele, e ainda assim a distância entre eles nunca fora tão grande.
— Sua Graça, seu está aqui esta noite? — perguntar pelo marido de Edwina fez Byron querer rosnar. Ele odiava a lesma velha e rabugenta que caçava jovens mulheres de fortuna. Edwina foi a última vítima dele.
Edwina franziu a testa.
— Não, meu enteado, o duque de Exeter, está aqui. Talvez você não tenha sabido, mas meu marido faleceu há alguns anos já.
— Eu não sabia. — ele conseguiu gaguejar, a sala girando.
Ela não era mais casada? Uma viúva?
— Se você nos der licença, Sua Graça, prometi a Sofia a próxima dança. — ele arrastou a noiva para o centro do baile e os alinhou com os outros casais que se preparavam para a quadrilha.
— Que encontro interessante e esclarecedor foi esse. — disse Sofia, sorrindo para ele.
Byron não viu nada divertido no que acabara de acontecer. Se alguma coisa, ele nunca sentiu tanta dor. Ele pensou que havia se preparado para vê-la novamente, observá-la dançando com o marido e aproveitando a temporada. Ele não estava preparado para vê-la solteira.
— Você acha? — ele disse, jogando-se na dança com mais entusiasmo do que o necessário, esperando que Sofia mudasse de assunto.
— Sim. Você tem amigos nas altas esferas, Byron. Estou surpresa por nunca ter mencionado antes que seu primo é um marquês ou que você é amigo de uma duquesa.
Amigo de uma duquesa.
Como ele desejava que isso fosse verdade. Claro que era de certa forma, eles já foram melhores amigos, mas ele queria muito mais do que isso. Como ele e seu irmão Andrew eram gêmeos de aparências que reproduziam um ao outro com perfeição, ele nunca entendeu por que ela gravitava em direção a Andrew e não a ele.
Andrew era de longe o mais calmo e gentil dos dois, mais disposto a ouvir e cuidar dos outros.
Enquanto Byron... bem, ele gostava da vida, do ar livre e de cavalgar, e não apenas em relação aos cavalos. Ele era o selvagem, ele supunha, e talvez não fosse o que ela estava procurando na época. E agora era tarde demais.
Sua noiva passou o braço no dele, e o observou.
— Não sou cega, Byron. Eu vi o jeito que olhou para ela. Você já nutriu sentimentos pela duquesa. Talvez ainda os guarde.
Se havia algo de bom em seu entendimento com Sofia Custer, era a promessa que haviam feito um ao outro de sempre serem honestos. Não importa o que essa honestidade possa custar. Mas ele poderia ser sincero quanto a este assunto? Ele não queria
machucá-la, mas o olhar risonho que ela lançava a ele dizia que não estava nem um pouco abalada pela reação dele à duquesa.
— Eu gostava dela. Em um outro momento. Mas já faz muito tempo. — ele a girou para um dos movimentos combinados. —
Estou disposto a deixar o passado para trás, ser amigo da duquesa.
Ela parece receptiva à ideia e, com a amizade dela e meus primos, você terá uma boa posição aqui na Sociedade. Teremos amigos que nos apoiarão.
Sofia deu de ombros.
— Eu não me importo com esta sociedade. Quando nos casarmos, viajaremos de volta para a Cornualha e você ajudará meu pai a administrar as minas, exatamente como combinamos.
— É claro. — disse ele, curvando-se quando a dança chegou ao fim. — Vamos voltar para Hunter e Cecilia? Tenho certeza de que eles gostariam de conversar com você um pouco mais, conhecê-la melhor.
De novo Sophia deu de ombros, parecia pouco interessada na família dele. Ela estava com raiva dele? Afinal, estaria com ciúmes de Edwina? Ele supôs que havia uma chance de que ela gostasse mais dele do que eles admitiram, mas daí tiveram tão pouco tempo juntos que ele realmente não achava que fosse possível. Não se pode ficar com ciúmes de alguém que mal conhece e que mal conhece você.
Quando se conheceram no exterior, em Roma, Sofia estava visitando o continente com a família, e eles desfrutaram da companhia um do outro. Ele a levou com a família aos pontos turísticos de Paris, Roma e Florença. Sempre tiveram algo sobre o que conversar, mas, ao retornar a Londres, a vida despreocupada havia terminado e, com isso, a conversa.
Ele havia proposto casamento a Sofia depois de um dia maravilhoso passeando de barco na costa do sul da França, e pareceu o fim perfeito para um dia perfeito. Ele estava em uma idade em que ansiava por uma família própria, uma esposa e não uma amante, e Sofia se encaixava muito bem nesse papel. Mas, ao retornar à Inglaterra e às realidades que acompanhavam o retorno: a vida na cidade e a Cornualha; a compatibilidade deles não era tão boa quanto ele pensava.
Quando voltaram para o lado do primo, Cecilia cumprimentou Sofia de forma calorosa e perguntou se ela gostaria de se juntar a ela para dar uma volta pelo salão. Uma lasca de alívio atravessou Byron quando as damas desapareceram na multidão de convidados.
Isso por si só era bem revelador quanto ao vínculo emocional entre eles, que era muito pouco.
— Você está pálido como um fantasma, primo. Sua gravata está muito apertada ou sua querida noiva não está muito satisfeita com a maneira como você reagiu quando viu Edwina Fox? — Hunter lançou um olhar inquisidor, e Byron se encolheu.
— Você viu essa parte? Eu esperava mascarar minhas feições antes que ela notasse, mas, infelizmente, parece que não tive sucesso.
Hunter pegou dois copos de uísque de um lacaio que passava e entregou um a Byron.
— Não me esqueci do que ela significava para você. Edwina, quero dizer. Faz muitos anos desde que você a viu, é tão impensado que tenha reagido assim? Tenho certeza de que foi como ver um fantasma. Mas lembre-se, primo, Nina não sabe que era você no quarto naquela noite, então você precisa ter cuidado em torno dela.
Seus maneirismos vão denunciá-lo, e ela começará a se perguntar por que você age de forma tão estranha em torno dela.
Byron via a razão no argumento de Hunter. A lembrança daquela noite era tão vívida em sua mente que poderia ter acontecido ontem, não cinco anos atrás. A noite do baile anual do duque e da duquesa de Athelby, realizada naquele ano em sua propriedade rural, começara como todos os eventos pelos quais Byron passara.
Edwina Fox, como era conhecida na época, estava curtindo sua segunda temporada na cidade, sendo cortejada por muitos, mas de alguma forma conseguiu ser conhecida como astuta e fria, ao menos quando se tratava de seus admiradores. Todos os seus admiradores, exceto um: o irmão de Byron, Andrew.
Durante sua primeira temporada, ela conseguiu escapar da armadilha de Lorde Wakely, que segundo os rumores queria se casar com ela, mas depois ele se casou com Lizzie Doherty e, portanto, Edwina estava livre para fazer o que quisesse.
Andrew sempre foi gentil, educado e agradável com o sexo oposto, e Nina, como todas as debutantes que ele já conhecera, adorava ser admirada e apreciada. Byron conhecia o jogo que seu irmão estava jogando: fazer muitas se apaixonarem, interpretar o cavalheiro admirável que as matronas da sociedade adoravam, mas o tempo todo cortejava alguém de fora do grupo da elite Londrina.
Na noite do baile e no dia seguinte à chegada do irmão à propriedade, Andrew o procurou com um pedido:
— Irmão, estou feliz por tê-lo encontrado antes do jantar. Você se importaria se trocássemos de quarto esta noite? A cama no meu quarto é muito dura, e eu sei que você não se importa com colchões, então eu esperava poder trocar.
Byron revirou os olhos para o problema de seu irmão. Típico dele reclamar dos menores problemas da vida.
— Ficaremos aqui mais uma noite. Não consegue passar por uma noite?
Andrew fez um teatro esfregando as costas, e Byron deveria ter adivinhado, pelas terríveis habilidades de atuação de seu irmão, que ele não estava arquitetando nada de bom.
— Por favor, Byron. Vou falar com nossos valetes e pedir que troquem nossas coisas de lugar. Não suporto mais uma noite naquela cama.
Byron xingou baixinho.
— Você só dormiu uma vez nela. Decerto que não é nenhuma tarefa árdua.
— Não consegui descansar. Você não se importa com colchões duros, por favor, troque comigo. — implorou o irmão. — Minhas costas já estão me incomodando e foi apenas uma noite, como você disse.
— Certo. — disse Byron, não querendo ser incomodado por um problema tão insignificante. — Dê instruções aos valetes para trocarem nossos pertences de quarto.
Andrew sorriu, seu alívio evidente.
— Obrigado meu irmão. Vou mandar Walter arrumar nossas coisas.
— Faça isso e logo. Estou cansado depois da minha jornada aqui hoje e com colchão duro ou não, estou ansioso para me deitar para a noite.
CAPÍTULO 3
Byron estava parado na beirada da cama, encarava a miragem de Edwina Fox que entrara em seu quarto segundos antes, fechando a porta detrás dela. Vestindo apenas um robe com uma camisola por baixo, o algodão era tão puro que Byron podia ver o contorno de seu corpo à luz do fogo queimando na lareira.
Caramba, o que ela está fazendo aqui?
Ele subiu para o quarto cedo, havia sido o último a chegar para o baile de Athelby realizado naquela mesma noite. Levou uma garrafa do melhor uísque do duque para o quarto para ajudá-lo a dormir.
Assim como o irmão o havia informado, a cama era terrivelmente dura, e o álcool deveria ajudar um pouco.
Nina fechou o trinco da porta, e ele engoliu em seco, piscando para clarear a visão embaçada. Não era o que deveria acontecer.
Nina amava seu irmão, não ele.
Teria o coração dela mudado de opinião? Enfim vira o valor dele? Ele absorveu a imagem dela, seus cabelos caindo em cascata pelas costas, seus longos cachos escuros que enrolavam um pouco em torno de seu rosto angelical.
Inferno, ela era bonita. Tão linda e doce. E droga, que ele fosse para o inferno, ele a queria. Fazia tanto tempo que queria que ela fosse dele, e aqui estava ela, finalmente, depois de todos esses anos sendo amigos.
— Olá, está surpreso em me ver? — ela perguntou, dando um passo em sua direção.
Byron recuou, a beirada da cama batendo nos joelhos.
— Sim. Estou sim. — ele gaguejou, balançando a cabeça. —
Edwina, você deveria sair. Você estar aqui é um erro e não desejo que você se arrependa.
Ela fechou o espaço entre eles, e ele ficou sem ter para onde ir, a menos que se jogasse de volta na cama. Quando ela se aproximou dele, ele lutou para não notar como a luz do fogo delineava suas longas pernas finas e a curvatura de sua cintura.
Ela olhou para ele, incerta.
— Não me mande embora. — ela implorou. — Você sabe que eu quero você. Somos amigos há tanto tempo, nos conhecemos há eras. Eu quero beijar você. Deixe-me.
Beijá-la? Querido Deus, sim.
Ela se inclinou, tentando capturar os lábios dele, e ele apertou seus ombros e a empurrou para longe.
— Escute, Nina, você tem certeza? Não há como voltar atrás.
Um pouco de você, e eu vou querer tê-la para sempre.
Ela balançou a cabeça, as mechas escuras saltando com o esforço.
— Tenho certeza. Por favor, me beije e me faça sua.
Byron debateu com seu próprio código moral.
Ela era virgem, mas só estava pedindo um beijo. Que mal faria?
Ele a observou e ao ler o desejo em seus olhos azuis tempestuosos a determinação dele em negar o pedido desapareceu.
A mão dela deslizou contra seu peito nu, e ele amaldiçoou o fato de ter tirado a camisa depois de tomar muitas doses. O toque dela queimava sua pele, a sensação permanecia onde quer que ela tocasse. O quarto girou um pouco, e ele apertou a cama em busca de apoio.
— Apenas um beijo, e eu voltarei sorrateiramente para o meu quarto. Ninguém precisa saber.
Byron fechou os olhos por um momento, não querendo olhar para ela, pois sabia que, se o fizesse, desmoronaria e faria o que ela desejava. A sedução o rasgou em dois, e os anos de negação, de estar sempre à margem, nunca quem ela queria, vieram à tona e derrubaram todas as suas defesas. Ele não podia negar nada a ela.
Nem mesmo um beijo.
Seus olhares se cruzaram.
— Eu vou beijá-la. Mas apenas uma vez.
Ela assentiu, seus olhos brilhando com consciência e expectativa. O cheiro de jasmim flutuou de seus cabelos, e ele fechou os olhos, deleitando-se com a essência dela.
Pouco antes de se beijarem, ele sorveu as feições dela. Ela possuía as sobrancelhas mais lindas e perfeitas. Lábios que imploravam para ser beijados, tão cheios com um leve tom rosado.
Seus olhos estavam fechados, seus cílios eram arcos perfeitos contra as bochechas. Ele deu um pequeno beijo no nariz dela, outro na bochecha, e depois beijou o queixo dela, contornando a mandíbula, querendo saborear o momento e não se apressar com ela. O primeiro e único beijo que ele teria com Nina.
Ela suspirou, o sussurro da respiração dela fazendo o sangue dele bombear com força em suas veias, e ele tomou a boca dela em um beijo ardente. As mãos dela alcançaram o pescoço dele, segurando-o contra ela. Os seios dela pressionaram seu peito, e ele jurou que podia sentir o coração dela batendo tão rápido quanto o seu. A vibração da língua dela tocou a dele, e o controle dele sumiu.
Ele a levantou contra seu sexo endurecido, desesperado por ela e incapaz de negar a sensação de seu corpo flexível em seus braços.
Ele a encaixou contra ele, e ela gemeu, um tom profundo e sedutor que ele queria ouvir mais e mais. Ela ondulou de volta, buscando seu próprio prazer, embora não soubesse exatamente
como poderia ser entre um homem e uma mulher, pelo menos ainda não.
— Me faça sua. Me escolha. Eu quero você.
Ele os jogou na cama. As mãos dele, sem pensar, se atrapalharam com a camisola, puxando-a corpo acima para se amontoar na cintura. Ela não usava nada por baixo, e ele xingou.
Ele queria beijá-la no monte que brilhava sob a luz fogo. Ouvi-la gemer o nome dele. Fazê-la encontrar o clímax sob o toque dos lábios dele. Ele queria fazer tudo com ela. Uma noite nunca seria suficiente.
Uma pequena voz o alertou contra esse curso. Estava errado, o que ele estava levando-a fazer. Edwina era virgem. Essa ação poderia arruinar suas chances de um bom casamento, mas a ideia de ela estar com outra pessoa afastou sua culpa. Ele queria que ela fosse dele, havia sido paciente esperando que ela o notasse. E
agora ela o notara. Ele não conseguiria afastá-la, assim como não conseguiria afastar o sol do dia.
Ele a beijou outra vez, e ela suspirou quando ele se acomodou entre as pernas dela.
— Ó, Nina, você não tem ideia do quanto eu quero você. Eu quero você há tanto tempo que dói.
Os dedos dela deslizaram em seus cabelos, puxando-o para outro beijo. O desejo dela era o comando dele, nos braços dele ele faria qualquer coisa que ela quisesse, lhe concederia todos os desejos, se ela deixasse.
Ela levantou as pernas, prendendo-as nos quadris dele. Ele pegou o pênis na mão e se guiou ao núcleo quente e úmido dela.
Maldição como a sensação era boa, apertada, quente e tão deliciosamente molhada. Ele se engasgou enquanto entrava por inteiro, um súbito puxão de ar dela o fez ficar imóvel por um
momento, enquanto ele permitia que ela se familiarizasse com a união deles.
— Você está bem, Nina? Sinto muito por machucá-la. — ele disse, beijando o lóbulo da orelha dela.
Ela relaxou em seu abraço, e ele lutou consigo mesmo para não continuar. Ele a queria com um desespero que poderia torná-lo descuidado, e ele não queria isso para ela. Ele queria que ela se lembrasse dessa noite para sempre. Queria ser tudo o que ela desejava e muito mais. Que fosse o começo deles.
Ela apertou o rosto dele com as mãos e encontrou o olhar dele.
— Não pare. — ela assentiu. — É isso que eu quero.
E era o que ele queria desde aquela noite, até agora, enquanto observava Edwina, agora duquesa de Exeter, conversar com um grupo de damas à margem do salão de baile. Mas o destino, na manhã seguinte, havia jogado seu coringa, e ele perdera o jogo.
Seu irmão apareceu ao lado dele, juntando-se à conversa com Hunter.
— Devo admitir que estou satisfeito por estar de volta à cidade.
— disse Andrew, puxando Fionna para mais perto. — Devemos vir com mais frequência, minha querida. Eu havia me esquecido de como Londres pode ser divertida.
Ela deu um aceno amigável, e Byron lutou para não revirar os olhos para o bate-papo banal que seu irmão tinha com sua esposa.
Desde o casamento cinco anos antes, seu irmão se tornara o homem mais chato do mundo. Não que ele não fosse chato antes.
Na verdade, Byron ainda não conseguia entender a atração que as mulheres da alta sociedade sentiam por ele.
— Eu o vi conversando com a duquesa. Edwina está bem? —
Andrew perguntou, encontrando os olhos de Byron.
— Muito bem pelo que percebi. Ela também está aqui para a temporada. — disse Byron, tentando manter a compostura quando estava perto da única mulher que poderia desconcertá-lo a qualquer momento.
Ele passou a mão na mandíbula, e voltou-se para a duquesa. Ela lançou um olhar na direção deles, e, pedindo licença ao grupo em que estava, veio até eles.
Hunter pigarreou, e Byron se lembrou que ela não sabia a verdade. Não sabia que foi ele que se deitou com ela, não o irmão.
Infelizmente, ele só descobriu que ela pensara ser Andrew depois de dormirem juntos. Depois de levar Nina até a porta e verificar se a passagem estava vazia de convidados, ele lhe desejou boa noite, e ouviu o nome de seu irmão sussurrado no ouvido. Ter seu coração arrancado do peito teria sido menos doloroso.
Ele soube naquele momento que erro colossal ela havia cometido, e ele também. Que uma noite em que ele pensava em nada além de começos seria apenas o fim, caso Nina soubesse a verdade. Não que isso importasse, no dia seguinte, Nina e Andrew fizeram suas escolhas, e ele ficou sem nada.
Byron olhou para o irmão e não deixou de notar o brilho de medo que surgiu nos olhos de seu gêmeo. Ele deveria ter medo também.
Inferno, os dois deveriam temer que Nina descobrisse a verdade.
Toda a verdade, algumas das quais até Byron nunca se perdoaria.
NINA PAROU à frente dos dois irmãos, maravilhada com a semelhança entre os dois, idênticos sim, e ainda assim os anos não
foram gentis com Andrew. Ele tornou-se arredondado nos cinco anos desde que ela o viu pela última vez. Enquanto Byron, ele sim envelhecera bem, como um bom vinho.
Nina se repreendeu.
Tais pensamentos não eram apropriados, e Byron era seu amigo.
Ter uma reação tão visceral a ele não era o que duquesas faziam, não importava o quanto ela se perguntava o que havia por baixo do casaco superfino e do colete e camisa perfeitamente engomados.
Os homens fizeram uma reverência, e a esposa de Andrew fez uma bela reverência, que ela não retribuiu. Eles não mereciam esse respeito, ou pelo menos o marido dela não merecia.
— Duquesa, você está muito bem. — disse Andrew. — Faz muitos anos.
A lembrança do que haviam feito juntos antes de tantos anos se passarem lançou uma rajada de aborrecimento em seu sangue, e ela lutou contra a própria vontade para não jogar a taça que segurava na cabeça dele.
Não que ela o desejasse mais. O tratamento que ela recebeu dele apagou tais sentimentos, mas ainda assim, isso não significava que ela permitiria que ele aproveitasse sua temporada sem uma pequena vingança.
— Alguns podem dizer que não foi tempo o bastante.
Um silêncio desconfortável se seguiu, e Nina sorriu para Byron.
Ela começou a se perguntar o que exatamente a fez gostar de Andrew naquela época. Um homem tratar uma debutante de maneira tão deplorável, mesmo depois do que compartilharam, não fazia dele um homem com quem ela queria estar associada.
— Você ficará em sua casa aqui em Londres durante a temporada?
— Sim, Sua Graça. — disse Fionna, sorrindo um pouco. —
Esperamos oferecer nosso próprio baile mais para frente.
Nina precisava admitir que a esposa de Andrew era bonita, embora a última vez que a vira, ela sentira-se nauseada com a notícia do noivado com o homem que a deflorara na noite anterior.
— Que adorável. Tenho certeza de que será um grande sucesso.
— Permita-nos oferecer nossas condolências pelo falecimento do duque. Presumo que o filho dele tenha herdado o título? —
Andrew perguntou, seu tom de desinteresse era exatamente o que Nina estava sentindo naquele momento.
— Matthew herdou o título, e ele e sua esposa também estão na cidade nesta temporada, embora passem a maior parte do tempo na propriedade em Derbyshire.
Byron franziu a testa.
— Eu pensei que a propriedade ducal fosse em Kent.
— Era. — disse Nina. — Mas essa casa não era vinculada ao título, e George deixou para mim, então é onde eu moro. Também possuo uma casa na Berkley Square só para mim, o que é um pequeno consolo.
Considerando que ela se casou com o duque sem um pingo de apego e que ela então permitira que ele acreditasse que as meninas a que ela deu à luz eram dele.
— Como estão as meninas? — Lorde Aaron perguntou. —
Soube que ficarão em Kent enquanto estiver em Londres.
Nina havia pensado nisso, mas quando chegou a hora, ela não pôde deixá-las para trás e, então, preparou-as e as trouxe junto.
— A princípio sim, mas acabei decidindo pelo oposto. Elas estão em Londres comigo e fazendo um bom proveito de todos os museus e parques que não temos em casa.
— Você é mãe?
A pergunta brusca que veio de Byron não era o que Nina esperava. Ela então olhou para os dois irmãos, esperando que eles não se metessem muito em sua vida. Andrew decerto que não possuía mais direitos a ela ou às filhas, mesmo que fosse o pai.
— Sou... Duas meninas, minha única razão de viver. Eles são simplesmente meu coração.
— Qual a idade delas? — Byron perguntou, a voz rouca.
Nina não estava disposta a contar mais nada e sorriu ao dar boas-vindas à Cecilia, Lady Aaron, que se juntava a eles. Nina a beijou nas bochechas.
— Que bom revê-la, Cecilia. Pretendia escrever, e espero que Darcy talvez tenha contado a você da minha ideia.
Cecilia assentiu, indo até o marido e passando o braço no dele.
— Ela me contou, e eu adorei.
— Que ideia? — Lorde Aaron perguntou, lançando um olhar curioso para a esposa.
— A duquesa comprou um prédio vago na cidadezinha próximo de sua propriedade e vai transformá-lo em uma escol, além de um lugar onde as que precisarem poderão morar. Temos duas outras escolas no interior, mas esta será a nossa primeira em Kent. Estou muito empolgada.
A noiva de Byron se juntou a eles. Seus longos cachos dourados estavam arrumados no alto da cabeça e a faziam parecer mais velha do que ela era. Seu vestido branco de musselina trazia uma bonita fita rosa na cintura. Chegando ao lado de Byron, ela passou a mão pelo braço dele. A familiaridade entre os dois provocou algo dentro de Nina e por um momento ela simplesmente olhou para o ponto onde se uniam.
A Srta. Custer mergulhou em uma reverência, mas a inspeção que fez em Nina mostrava-se menos que encantador.
— É um prazer revê-la, Sua Graça. — ela falou com voz tediosa.
— Do que estão falando?
Cecilia contou à Srta. Custer sobre a nova escola, mas mesmo esse assunto pareceu pouco interessante à noiva de Byron.
— Acredito ser de extrema importância se quisermos combater as diferenças entre as classes. — acrescentou Nina. — É muito difícil melhorar por si só, mas essa nova escola permitirá que meninas e meninos se tornem o que quiserem, se tiverem a determinação de fazê-lo.
A Srta. Custer emitiu um som de zombaria.
— Não vou me oferecer para montar uma na Cornualha.
Perderíamos metade da nossa força de trabalho nas minas em um dia, se o fizéssemos. Precisamos dos jovens que trabalham para nós. — Sofia riu da própria declaração, como se os pobres e necessitados fossem algo engraçado.
Nina fechou as mãos ao lado do corpo.
— Você acredita que permitir que crianças trabalhem no subsolo, inalando um ar que não é bom para os pulmões, impedindo-as de fazer outras atividades que decerto prolongariam suas vidas e as fariam mais felizes, não é algo ruim?
— Não é. — disse Sofia, encontrando seu olhar. — Alguém tem que fazer o trabalho, e as crianças são as mais eficientes. Acho que sua ideia, por mais revolucionária que seja, nunca terá sucesso.
Um calafrio percorreu as costas de Nina ante a frieza que ela leu nos olhos da mulher. Não importa o que Sofia ou Nina dissessem, elas nunca seriam amigas. A aversão que exalava da mulher era palatável. Sem mencionar que qualquer um que achasse adequado permitir que crianças trabalhassem em minas não era amigo dela.
— Discordo, senhorita Custer, e espero ver o fim do trabalho infantil nas minas da sua família. As crianças merecem muito mais
do que aquilo que nós, a sociedade em geral, vem dando a elas.
Sofia tomou um gole de vinho, mas não disse mais nada.
O grupo caiu em um silêncio constrangedor, e Nina não pôde deixar de estreitar os olhos para a garotinha da Cornualha. Queria dizer mais verdades à Srta. Custer sobre suas crenças atrozes, mas não o fez. Ela era a noiva de Byron, e Byron era seu amigo. Ela não o envergonharia, por mais que detestasse a futura esposa dele.
Felizmente, Nina foi convidada pelo duque de Athelby para dançar, e a noite progrediu bem, exceto pela pequena desavença com a Srta. Custer e suas visões arcaicas.
Ela jantou com Darcy e discutiu os planos para a nova escola, fazendo-a desejar que a temporada estivesse chegando ao fim, não apenas começando, assim poderia voltar para casa e começar a construção de sua nova propriedade.
Byron veio sentar-se com elas durante a refeição. Darcy pediu licença, e Nina virou-se para o velho amigo, feliz por ter algum tempo a sós com ele.
Ela tocou o braço dele de leve.
— Eu já te disse o quanto estou feliz por você estar de volta à Inglaterra? Por um tempo pensei que jamais voltaria.
Ele assentiu devagar.
— A atração do sol era demais para negar.
Nina riu, um som que não ouvira muitas vezes nos últimos anos, a menos que estivesse com as filhas, é claro, que sempre a faziam feliz.
— Deixe disso, Byron, até eu sei que suas palavras cheiram a sarcasmo. — ela observou as feições, a mandíbula forte e nariz reto dele.
Orbes castanhas, da cor do cacau. Como foi que ela nunca o viu além da amizade? Com certeza, ele era tão bonito quanto seu
irmão, mas talvez um pouco mais selvagem. Seria essa a razão?
Andrew sempre pareceu responsável, cuidadoso e confiável.
Quão errada ela estava. Todo o tempo que ela estava se precipitando para Andrew, colocando-o em um pedestal, esperando que a união deles fosse um casamento amoroso, ele só tinha olhos para outra pessoa.
— Fico feliz por estarmos sozinhos, Byron, porque há algo que quero discutir com você.
— Você pode me dizer qualquer coisa. O que foi, Nina?
O uso do nome dela a aqueceu de dentro para fora.
— A história entre seu irmão e eu... não quero que fique entre nossa amizade. Você sempre esteve lá por mim. Como amigo e suporte. Senti sua falta nestes cinco anos.
— Também senti sua falta. — ele pigarreou e tomou um gole de vinho. — Nada ficará entre nós. Lutarei por nossa amizade, não importa quais obstáculos enfrentemos. Isso eu posso prometer a você.
— Bem, esperemos que não haja mais obstáculos e que possamos seguir em frente. Eu sabia que ver Andrew com a esposa seria difícil no começo, mas agora, depois de revê-lo, e sem a névoa da paixonite adolescente, simplesmente não consigo entender o que me fazia gostar dele. Ele é um pouco insípido, não acha?
— É verdade. — disse Byron, com os olhos brilhando de malícia.
— Para ser sincero, também nunca entendi o que você via no meu irmão. E eu o amo, de verdade, mas nunca pensei que a personalidade dele se adequasse à sua. Eu sei que você era vista como um pouco fria e distante durante a primeira temporada, mas para mim você sempre foi acolhedora, engraçada, disposta a rir. Eu sempre pensei que você deveria se casar com um homem que a
testasse, a amasse loucamente e a honrasse. Andrew nunca foi esse homem.
O ar sumiu dos pulmões de Nina, e ela se viu fascinada pelos olhos de Byron. Quão bem ele a conhecia, por trás da fachada que ela erguia frente a si. Como foi que ele viu tudo o que ela era e podia oferecer, e Andrew não? Ela suspirou, supondo que quando alguém só possuía olhos para outra pessoa, a atenção não poderia ser do tamanho que se pensava ser.
Um tremor se instalou em sua barriga, e ela olhou para a taça de champanhe. Por que ela estava reagindo a Byron dessa maneira?
Primeiro, ele estava noivo, e segundo, ela não estava em busca de um novo casamento. Em especial com um dos irmãos Hill. Não importa o quanto ela ame o amigo, ela não trilhará o mesmo caminho do passado.
Pela primeira vez em anos, ela estava feliz com quem era, uma mãe. As meninas precisavam dela e precisariam de sua orientação ainda mais à medida que se tornassem jovens mulheres. Ser independente e rica, ter suas próprias propriedades lhe dava uma liberdade com a qual a maioria das mulheres só podia sonhar, e ela não estava disposta a desistir disso, ainda mais por um homem.
— Espero não ter ofendido você, Nina, com o que eu disse.
Ela balançou a cabeça, sorrindo para deixá-lo à vontade.
— Claro que não. Eu acho que o que você disse foi adorável e agradeço. Eu sei que sempre seremos amigos e queria garantir que continuasse assim. Quanto a mim e seu irmão, bem, nunca mais seremos amigos.
Nina leu o entendimento nos olhos do amigo e agradeceu que ele estivesse de volta à cidade. Eles costumavam se divertir muito juntos, e com Byron de volta, sua temporada teria outro elemento de alegria.
— Posso entender sua visão em relação ao meu irmão e sei que não faz sentido tentar mudar seu conceito. Então... — ele disse, estendendo a mão. — vamos dançar?
Ela deslizou os dedos enluvados no abraço dele, sorrindo.
— Eu adoraria.
CAPÍTULO 4
Byron entrou na sala de café-da-manhã na manhã seguinte e ficou feliz por encontrar Andrew sozinho.
Ele se serviu de duas fatias de torta de vitela e presunto, ovos escalfados e uma fatia de torrada, antes de se sentar. Um lacaio serviu um café a ele, e Byron tomou um instante para colocar seus pensamentos em ordem.
Andrew dobrou o jornal que estava lendo e o colocou de lado, sobre a mesa, dispensando os criados da sala. Byron olhou para ele desde o outro lado da mesa de mogno, e Andrew mostrou-se surpreso, sem dúvida se perguntava o que havia deixado o irmão com os humores alterados.
— Na noite em que você me pediu para trocarmos de quarto na propriedade de Athelby devido ao seu colchão duro, me diga que Nina aparecer no quarto não foi algo orquestrado por você. — disse Byron, observando o irmão. — Diga-me que você não sabia que ela ia entrar no seu quarto e se oferecer como um doce em um prato.
Os olhos de Andrew se arregalaram, e Byron sabia que seu relato dos fatos era verdadeiro. o irmão havia armado para ele. Ele sabia que Nina iria ao quarto e mandara Byron lá para encontrá-la em vez dele. Ele fez Byron acreditar que ela estava lá por ele, enquanto o tempo todo lá ela esperava o outro irmão.
— Desgraçado, Andrew. Eu devia me levantar agora e bater em você.
Andrew baixou a xícara de café na mesa com força suficiente para o líquido derramar um pouco sobre a toalha de mesa branca.
— E daí se eu soubesse? É tarde demais para mudar as coisas agora. Eu queria me casar com Fionna, e Edwina estava se intrometendo. — o irmão deu de ombros, e uma névoa vermelha se apoderou da visão de Byron. — Fiquei surpreso com a evidente antipatia dela por mim na noite passada. Era mais do que eu esperava de uma mulher com quem eu apenas afirmei que não me casaria. Ela parecia desprezada por mim.
— É porque ela foi desprezada. Desprezada por você. Na manhã seguinte, ela chegou ao andar de baixo e encontrou você anunciando o noivado com a senhorita O'Connor. O que você esperava de Nina? Alegria? Parabéns? Você não merece nada dela.
Andrew o estudou por um momento, e Byron lutou para manter as mãos abertas. O silêncio foi longo, e quando ele encontrou o olhar endurecido de seu irmão, ele sabia que Andrew havia descoberto seu segredo.
— Você dormiu com ela, não dormiu? Ela foi ao meu quarto, pensando que era eu, e você se aproveitou disso. Ela acha que eu dormi com ela na noite anterior ao anúncio de meu noivado com Fionna.
Andrew passou a mão pelos cabelos e, por um momento, a calma e a paciência de Byron se desfizeram um pouco.
— Eu pensei que ela estava lá para mim. Como você sabia que ela iria aparecer?
Seu irmão se mexeu no assento, ajustou a gravata.
— Ela me enviou uma missiva naquele dia, dizendo que queria conversar em particular. Por motivos óbvios, eu não poderia encontrá-la, então acredito que entrei em pânico. A cama era dura, admito isso, Byron, o que era um motivo válido para trocar de quarto, mas não achei que ela seguiria em frente com o plano.
Parece que eu estava errado.
— Bem errado, exato. Ela acha que foi você quem dormiu com ela na noite anterior ao anúncio do noivado. Ela não sabe que fui eu.
Todos esses equívocos podem ser colocados na sua conta, seu idiota. Por que você não enviou uma resposta contando que seu coração pertencia à outra? Você não tem consciência?
Seu irmão era um covarde e, caramba, como ele conseguiria o perdão de Nina por causa dessa bagunça?
— Não posso permitir que minha esposa ouça em algum lugar que eu supostamente deflorei uma virgem pouco antes de pedir a mão dela em casamento. Fionna nunca me perdoaria. — disse Andrew, de pé e deixando a cadeira cair no chão.
Raiva zumbiu nas veias de Byron, e ele lutou para não perder a calma.
— Troquei de quarto para você conseguir dormir. Eu não sabia que ela ia chegar à minha porta e pedir coisas que você sabia que eu desejava ouvir dela há anos. Você brincou comigo e com Nina para ganhar seu próprio feliz para sempre.
— E durante todo o tempo em que ela esteve no seu quarto, você pode dizer, com toda honestidade do mundo, que um nome não foi pronunciado? Você não desconfiou, Byron?
Byron engoliu a bile que subiu na garganta.
Essa possibilidade nem passou na mente dele. Estar tão envolvido pelo prazer de tê-la em seus braços o tornou incapaz de pensar com clareza. Ele realmente acreditou que ela estava lá por ele. Que idiota havia sido. E no momento em que ela sussurrou o nome do irmão na saída, um pedacinho dele morreu.
— Não achei que meu próprio sangue pudesse me usar dessa maneira. Não serei enganado duas vezes, irmão. — Byron se levantou, e respirou fundo para se acalmar. — Devo contar a ela a verdade.
Andrew gesticulou com os braços, derrubando o restante do café.
— Claro que você precisa contar a ela. Edwina acordou na manhã seguinte e me viu anunciar um noivado perante todos os presentes, o tempo todo pensando que havíamos copulado como animais na noite anterior.
Byron investiu contra o irmão, pronto para arrancar a cabeça do maldito. O irmão tropeçou para trás e caiu sobre a cadeira, aterrissando de bunda com um baque forte.
— Se sua preciosa Fionna descobrir como você usou Nina, cortejou-a e flertou com ela durante as duas temporadas inteiras que ela participou, então você merece a ira dela. Enganar seu próprio irmão para salvar a própria pele, bem, ao fazer isso você perdeu qualquer respeito que eu possa, um dia, ter tido você.
Permitirei que você fique aqui pelo resto da temporada, depois retorne à Irlanda e fique lá. Você não me merece como irmão, nem Nina como amiga.
— Quem você pensa que é? — Andrew gritou, apontando um dedo para ele. — Você poderia ter pedido a mão dela. Por que você não fez de sua preciosa Nina uma mulher honesta? Em vez disso, permitiu que ela se casasse com um homem com idade suficiente para ser avô dela.
Byron cerrou os punhos.
— Você sabe muito bem que eu desci e encontrei vocês dois comprometidos e se deliciando com os grandes casamentos que conseguiram. Não pude dizer nada para Nina. Ela estaria arruinada e, por mais que me amasse como amiga, ela estava apaixonada por você. Eu teria partido o coração dela, ainda mais do que já estava partido ao ver você ficar noivo de Fionna. Eu não poderia destruí-la duas vezes em um único dia.
Como ele quis falar com ela naquela manhã. Tomá-la em seus braços e pedir a ela que se casasse com ele. Dizer que ele a faria feliz, a manteria segura e lhe daria tudo o que ela pudesse querer na vida. Uma parte dele foi covarde e ficou com medo de perdê-la, mesmo como amiga, caso contasse a verdade para ela, mas não mais. Ele contaria tudo agora e dane-se as consequências. E ele faria isso em breve.
Andrew levantou-se, espanando as calças de camurça com as mãos.
— Eu aceitarei minha parte nessa confusão lamentável, mas agora você deve dizer a verdade. Não vou fazê-la acreditar que fui eu quem tirou a virgindade dela.
Byron pensou em como ele começaria a contar a Nina. Quando ela soubesse a verdade daquela noite, nunca mais falaria com ele, e a ideia de se afastar de uma mulher que sempre fora sua amiga, uma mulher por quem ele se apaixonara naquela temporada longínqua, o fez querer vomitar.
Ele engoliu em seco.
— Claro que vou contar a verdade. Mas não é algo que você pode deixar escapar para qualquer pessoa a qualquer momento. Eu a ofendi, você a ofendeu. E tal constatação a devastará.
Andrew pegou o jornal da mesa e foi em direção à porta.
— Isso precisa ser feito, e em breve. Vou dar o tempo que você quiser, mas não se demore apenas porque será difícil para ela ouvir.
Byron observou o irmão sair, resistindo à vontade de jogar um prato na cabeça. Andrew sempre fora um idiota sem coração, alguém que se preocupa apenas com a própria pele em qualquer situação. Nos cinco anos desde que Byron o vira pela última vez, seu irmão não mudara nem um pouco para melhor.
Byron suspirou, endireitando a cadeira do irmão e olhando por cima do ombro a bagunça da mesa do café. Ele sentou-se diante de sua refeição agora fria. Pegou o garfo enquanto sua mente vagueava para o que ele teria que fazer e como Nina lidaria com a descoberta da verdade.
Não importava o quanto ele a amava, o quanto a desejava, não era ele que ela queria. Ele deveria ter sido mais sensato na noite em que ela foi ao quarto dele, saber que estava enganada, que era um mal-entendido para ambos. O custo daquela noite seria maior do que ele jamais imaginara, e talvez muito além do reparável para a amizade deles.
NINA PAROU nos degraus diante da casa dos irmãos Hill em Londres. Não era um local que ela pensava que voltaria a dar o ar da graça de novo e, ainda assim, aqui estava ela. Ela bateu na porta usando a aldrava de ferro. Olhou para a praça e sorriu para alguns transeuntes antes que a porta se abrisse, e um lacaio a cumprimentasse.
— Sr. Byron Hill, por favor. — ela entregou-lhe o cartão. — Diga a ele que a duquesa viúva de Exeter está aqui para vê-lo.
O lacaio fez uma reverência e tropeçou nas palavras ao convidá-
la a entrar e fazer o que ela pediu, antes de desaparecer em um dos cômodos que dava para o vestíbulo. Os passos acelerados no piso de parquet soaram antes que Byron saísse por uma porta, sorrindo em boas-vindas.
— Sua Graça, que maravilhoso revê-la, espero que tudo esteja bem.
Nina sorriu para o velho amigo, mais uma vez muito satisfeita por ele estar de volta à cidade.
— Está tudo bem, mas eu esperava que você me acompanhasse hoje. Vou comprar as carteiras necessárias para a escola que estou abrindo em Kent e gostaria da sua opinião sobre elas.
Ele lançou um olhar duvidoso.
— Você tem certeza de que deseja que eu a acompanhe? A duquesa de Athelby ou a marquesa de Aaron podem ser mais adequadas, já que já administram duas escolas aqui na cidade.
Ela apertou as mãos na frente do corpo e lutou para ignorar o fato de seu pulso acelerar ao vê-lo. Por que agora ela achava seu amigo mais querido tão atraente? Seria só porque ele estava noivo e, portanto, não era um pretendente que ela poderia ter? Ou o fato de que ela o amava como amigo há anos e só agora o via pelo seu valor? Também poderia ser ambos...
— Darcy e Katherine me deram o nome e o endereço do fornecedor, e ele está à minha espera, mas eu gostaria de companhia. Homens, como você sabe, às vezes acham difícil serem justos ao negociar com mulheres.
Byron pediu o casaco e a bengala e os pegou do lacaio quando foram buscados.
— Eu adoraria acompanhá-la, é claro. Só presumi que uma duquesa teria funcionários para executar essas tarefas.
— Eu os tenho, mas é algo que quero fazer eu mesma. Posso ser uma duquesa, mas não significa que eu fico em casa mandando nos outros. Como minha vida seria entediante se fosse esse o caso.
— E não vamos nos esquecer que você é mãe agora, algo que simplesmente não consigo imaginar. Você precisa me deixar conhecer suas filhas. Eu adoraria conhecê-las.
— Eu adoraria isso também. Teremos que garantir que vocês se conheçam antes de ir para a Cornualha. Vivendo naquele condado distante, nunca veremos você.
E se a sorte estivesse do lado dela, Byron não reconheceria a verdade de que as meninas não se pareciam com o marido falecido dela, mas com alguém completamente diferente.
Ele a encarou por um momento antes de pigarrear e gesticular em direção à porta.
— Vamos?
Eles foram até a carruagem dela, que estava estacionada na frente da casa. Byron pegou a mão dela, ajudando-a a subir o degrau. A sensação de seu toque foi forte, mesmo através das luvas de couro de tamanho infantil dela, e a fez ficar desnorteada. Ela teria que controlar as próprias emoções e reações a ele. Agir como uma adolescente apaixonada nunca daria certo, especialmente agora que ele estava noivo de outra.
— O local não é muito longe. Obrigada por vir. Isso nos dá mais tempo para nos atualizarmos.
Ela acomodou-se nas almofadas, ciente de que sua carruagem era provavelmente muito maior do que as que Byron tinha, mas, além de olhar com prazer para o veículo, ele não comentou a opulência.
— De quantas carteiras estamos falando hoje? — ele perguntou.
Nina estava feliz que a conversa tivesse se desviado em uma direção prática, impedindo-a de inquiri-lo acerca do que o fazia amar Sofia Custer. Depois da conversa com a moça na noite anterior, Nina não conseguiu encontrar muito do que gostar na mulher que concordava com trabalho infantil.
— Cem. Vi algumas mesas com uma pequena tampa que se abre e permite que as crianças mantenham seus quadros ou o
almoço guardados. É muito revolucionário, e é o design que mais tenho interesse.
— Cem carteiras serão dispendiosas à você.
Ela deu uma risada. O custo era o menor dos seus problemas.
— Sou uma mulher extremamente rica, Byron. Não se preocupe, estou gastando trocados.
As bochechas dela ficaram vermelhas, e ele se inclinou para frente, pegando a mão dela que repousava no colo.
— Mil desculpas, duquesa. Foi muito grosseiro da minha parte.
Na verdade, não sei por que o mencionei. Suponho que por preocupação e amizade.
Nina apertou a mão dele e quebrou o contato. Por que agora ele a desconcertava tanto? Ele nunca provocou tal reação nela.
— Aonde você foi depois da festa campestre de Athelby, onde nos vimos pela última vez? Seu irmão seguiu para a Irlanda, e nunca me deu um endereço para contatar você. Queria escrever, contar tudo o que havia acontecido, mas não sabia para onde enviar as missivas.
Ele olhou pela janela, os músculos da têmpora tensos.
— Aquele dia em que nos separamos, prefiro que fique no esquecimento. Eu dormi até tarde e desci para uma casa em polvorosa, ou pelo menos atribulada. Meu irmão ficou noivo da senhorita O'Connor, e você do duque de Exeter. Pensei que havia sido transportado para um universo alternativo.
Nina costumava sentir o mesmo.
Sua apressada decisão de aceitar o duque depois de ouvir as notícias do noivado de Andrew mostrou-se recompensadora à nível financeiro, e o duque, não importa quanto mais velho que ela fosse, não fora cruel. Mas se ela pudesse refazer tudo, não se casaria com ele. Ela teria se arruinado e declarado publicamente que Andrew a
havia deflorado e exigido que ele se casasse com ela. Não que o casamento deles pudesse ser algo bom com um início desses, mas o fato de ele ser capaz de fazer isso a ela e depois se casar com outra pessoa ainda a irritava. Como alguém pode ser tão sem coração?
— Não vou insultá-lo declarando que amei o duque e que não queria outro marido, pois você sabe que seria uma mentira. Casei-me com o duque porque Andrew partiu meu coração, eu era tola e jovem na época, mas ainda assim ele o fez, e eu queria provar a ele que ele não era o único que podia ser tão insensível, tão frio e distante. Suponho que realmente fui fiel a visão das pessoas me viam, afinal.
— Sinto muito pelo meu irmão e suas ações em relação a você.
Nina zombou.
O que Byron pensaria se soubesse toda a verdade? Que Andrew não havia apenas partido seu coração, mas a arruinara. Olhando para o acontecido, ela sabia que tivera sorte de o duque ter pedido sua mão. Se ele não tivesse feito o pedido, ela teria que, quando descobriu estar grávida, contar aos pais o que havia acontecido e que o pai era um homem casado. Essas notícias não teriam sido bem-vindas pelos pais, nem pela sociedade em geral.
— Não tanto quanto me arrependo por acreditar nas palavras bonitas dele... — disse ela, querendo colocar um ponto final a tal conversa. — mas vamos discutir meu novo empreendimento e a temporada à nossa frente.
Não queria passar mais um momento pensando em Andrew Hill ou em sua traição. Ela queria olhar para o futuro dela e das filhas, o futuro de todas as crianças que ajudaria em sua escola em Kent.
Os lábios de Byron se ergueram em um pequeno sorriso.
— Concordo plenamente. Agora, diga-me onde exatamente esta escola será. Precisarei saber para que, quando voltar à cidade, possa pedir e enviar livros para você. Uma escola não é nada sem uma biblioteca.
Nina sentiu-se aquecida, e com um desejo incrível de abraçá-lo.
— Sua generosidade não será esquecida. Obrigada, Byron. Você é bom demais.
Ele lançou um sorriso perverso e, nem se sua vida dependesse de tal, conseguiu desviar. A boca do estômago se apertou e a carruagem de repente pareceu terrivelmente pequena e fechada.
Byron pigarreou, e ela ficou contente com a distração.
— Você é membro da Sociedade de Socorro de Londres há muito tempo? Como você se envolveu? — ele perguntou, a tensão do momento aliviada por seu interesse genuíno pelo trabalho dela.
— O duque de Athelby é meu parente, e eu sabia que Darcy estava envolvida há alguns anos. Meu marido não gostava muito de vir à cidade, então eu costumava visitar a pequena vila à margem de nossa casa em Kent. Mesmo sendo uma vila tranquila, podia ver que havia crianças sem escola, crianças sem cuidados ou comida adequados. Eu quero mudar isso. Ajudar onde eu puder.
— Você sempre teve um coração de ouro. Suas filhas devem ter muito orgulho de você.
Nina sorriu pensando em suas meninas.
— Espero que sejam, ou serão pelo menos quando forem mais velhas. Quero que sejam mulheres fortes e gentis. Mulheres poderosas que querem fazer a diferença na vida de outras pessoas.
— Em seguida você vai querer votar. — disse Byron, sorrindo para ela.
Nina suspirou.
Ele era amigo dela há tantos anos, e eles sempre se deram tão bem. Ficar perto dele por mais do que alguns momentos não seria nada difícil. Certamente era algo que ela desfrutaria diariamente se pudesse.
— Espero que um dia tenhamos o direito. É justo e correto que as mulheres tenham o que os homens têm, que tenham as mesmas oportunidades também. Quero isso para minhas meninas e não vou me desculpar por minhas opiniões.
— Eu não gostaria que o fizesse. — ele sussurrou, encontrando seu olhar.
Ela riu para esconder as emoções turbulentas que ele parecia conjurar nela.
— Estou feliz que você esteja de volta a Londres. Obrigada por ter vindo hoje nessa minha excursão.
— Para que servem os amigos, se não para ajudarmos um ao outro?
Amigos... A palavra ecoou em sua mente. Ela queria ser apenas amiga de Byron? Ela o estudou enquanto ele olhava pela janela, para as ruas que passavam em Londres. A atenção dela percorreu o traje dele. As calças de camurça não exigiam forro nas coxas musculosas. Seus ombros eram largos, e seu sobretudo preto o fazia parecer maior, mais perigoso e musculoso.
Eles sempre foram melhores amigos, mas agora, vendo-o com a senhorita Custer, ela não estava muito certa de gostar da ideia de que ele estava destinado a outro. Não queria imaginá-lo ao lado da esposa, na privacidade do quarto, o corpo dele para desfrutar, para passar as mãos e brincar. Só para a Srta. Custer e mais ninguém.
Assim como Nina cometera um erro com Andrew, ela agora percebeu que também cometera um terrível erro de julgamento com Byron. Mas o que fazer com esse erro? Desde sua loucura juvenil
com Andrew ela não sentia esse desejo de estar com um homem, mas certamente estava sentindo agora com Byron. Deveria dissuadi-lo de se casar com a Srta. Custer? Ou ela deveria reconhecer o fato de que os dois só foram feitos para serem amigos e nada mais?
Com certeza, se fosse para eles ficarem juntos, o destino teria apresentado sua jogada. Nada acontecera. Mesmo assim, Nina debateu consigo mesma o que ela queria e o que era certo, e neste exato momento, a parte egoísta dela queria Byron para si e a senhorita Custer poderia ir para o inferno.
CAPÍTULO 5
Duas noites depois, Nina compareceu ao baile anual do duque e da duquesa de Athelby. A casa deles em Londres era uma das mais belas da capital e, tão magníficos quanto a casa eram a decoração e os arranjos florais que Darcy adorava ter em todo o salão de baile.
Ao entrar no cômodo, alguém poderia pensar que havia entrado em uma floresta. De alguma forma, Darcy havia trazido o ar livre para dentro da casa com as portas do terraço abertas no final do cômodo e; se o piso não fosse de parquet, mas de grama, poderia se pensar que estavam do lado de fora.
Nina mergulhou em uma pequena reverência e beijou o duque e a duquesa em boas-vindas.
— Você se superou, Darcy. Este salão de baile está lindo.
Darcy sorriu, com orgulho nos olhos.
— As árvores que usei são as que vou enviar para Kent para serem plantadas no terreno da sua escola. O transporte está marcado para daqui a dois dias, então pensei em usá-las hoje.
Espero que goste da minha pequena doação para o seu novo empreendimento.
Lágrimas embaçaram a visão de Nina com a generosidade de seus amigos.
— Obrigada, estou impressionada com a sua gentileza. As crianças vão amá-las, e vou providenciar uma placa para que sempre se lembrem quem lhes deu carvalhos tão magníficos.
Darcy apertou a mão dela.
— O prazer é meu, e por favor, entre. Nos vemos em breve.
Nina se juntou à multidão e, vendo Katherine, Lady Leighton, de pé sozinha, seguiu na direção dela.
— Katherine, que prazer revê-la. — disse ela, parando ao lado da lady e pegando uma taça de champanhe de um lacaio que passava.
— Duquesa. — disse Katherine, mergulhando em uma reverência. — Soube que você estava de volta à cidade e que está se engajando com a Sociedade do Socorro de Londres. Estou muito feliz por saber que veremos mais você. Precisamos de mais membros, em especial mulheres em posições importantes e que sejam ativas na caridade. Acho que mais pessoas dão atenção à nossa causa quando mulheres como você participam.
— Concordo plenamente e farei tudo o que puder para fazer a diferença.
Nina havia conhecido a condessa durante sua primeira temporada, já que ela era parente por casamento com Lizzie Doherty, que se casara com o homem que cortejou Nina durante toda aquela temporada, Lorde Wakely. Felizmente, eles agora estavam casados e morando no exterior. Nina rememorou aquela temporada por um momento, percebendo que ela parecia ser um imã para cavalheiros que acabavam se casando com outras pessoas.
Pensar nesse fato a deixou desconfortável, como se talvez houvesse algo errado com ela. Ela agira de forma fria e distante naquela primeira temporada, mas apenas porque amava Andrew Hill e não queria se casar com Lorde Wakely. Mas então Andrew dormiu com ela e escolheu outra apenas algumas horas depois. Talvez houvesse algo que outros viam nela e que ela não estava ciente.
Algo negativo.
— Ouvi que você tem duas filhas, Sua Graça. Gêmeas, não são?
A menção de suas filhas, a quem ela colocara em segurança na cama uma hora antes, a fez sorrir.
— Elas têm cinco anos agora e são bem ativas. Já amam ouvir histórias e passear na carruagem. Nós vamos ao Hatchards amanhã. Sei que são um pouco novas, mas acho que vão gostar do passeio.
— Você poderia levá-las ao Gunter's depois, para um sorvete.
Eu sei que meus filhos adoram tais delícias.
Por um tempo, elas conversaram sobre os filhos e as travessuras que às vezes faziam, antes de Nina dar uma olhada no salão e avistar sua nora, a duquesa de Exeter. A carranca na testa de Bridget enquanto se aproximava delas fez uma bola de mau presságio se instalar em Nina. Ela se preparou para o confronto que, sem dúvida, logo se seguiria.
— Sua Graça. — Lady Leighton disse, quando Bridget chegou ao lado delas.
Nina ergueu a sobrancelha e lutou para dar um sorriso acolhedor para Bridget, que ainda sustentava uma expressão grave no rosto.
— Uma escola, Nina? Se não fosse embaraçoso o bastante o fato de eu ter uma sogra mais nova que eu, agora temos que viver com o fato de que você abrirá uma escola em Kent. Como você pôde fazer isso com a família?
Nina revirou os olhos.
Bridget era uma mulher baixa, ainda mais em comparação com o duque que era uns bons trinta centímetros mais alto que ela. Ela era uma mulher curvilínea, e seus vestidos pareciam ter babados demais, eram muito menininha para uma mulher da idade dela. Não importa quantas vezes Nina tenha tentado ajudá-la a ganhar um pouco de senso de moda, ela parecia presa na época em que sua mãe costumava vesti-la.
— Não há nada vergonhoso em ajudar os menos afortunados.
Eu abrir uma escola não trará vergonha para a família. No entanto, sua exibição pública de desdém ao meu empreendimento pode.
Talvez você deva me visitar depois de amanhã para podermos discutir isso em particular.
Bridget foi inteligente e olhou em volta e ver alguns dos convidados observando-as. Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Não irei visitá-la, não temos nada para conversar. Mas se você acredita que vai abrir uma escola, quero notificá-la de que isso não acontecerá. Não enquanto eu for a duquesa de Exeter.
— Bem, minha querida, sou a duquesa viúva de Exeter e não respondo a você. Agora, chispa daqui. Esta conversa terminou. —
Nina perdeu a calma fingida e olhou para a nora.
A mulher era tão desagradável quanto o marido, que também nunca havia aprovado que o duque se casasse com ela. Não que Nina se importasse com o que os dois pensavam, mas a irritava que Bridget rosnasse para ela em um lugar tão público. Isto ela não suportaria.
— Parece que vou visitá-la amanhã. — disse Bridget, virando-se.
— Pode ir amanhã, mas não estaremos em casa. Eu disse depois de amanhã.
Bridget não se incomodou em responder, apenas bufou, e Nina respirou com calma quando a perdeu de vista na multidão de convidados.
— Sinto muito, Sua Graça. Nunca vi alguém reagir à caridade de maneira tão negativa. A duquesa é sempre assim com você? —
Lady Leighton perguntou.
Nina tomou um gole de champanhe, sabendo que poderia precisar de mais um pouco esta noite se Bridget estivesse presente.
— Ela é sempre assim. Não importa o que eu faça ou diga, nunca sou boa o suficiente para eles. Como deve ter ouvido, o duque era muito mais velho que eu, e eles nunca me aprovaram.
Pensam que eu me casei com ele pelo dinheiro, mas era de fato um acordo igualitário tanto em termos financeiros quanto emocionais.
— Espero que você não ache a minha próxima pergunta bisbilhoteira, e me avise se fui longe demais, mas pelo que sei a propriedade de Kent foi deixada para você, e o duque também a presenteou com uma casa em Londres. Acredita que o atual duque achou os termos do testamento do pai muito generosos, e portanto pretendem atacar você da maneira que puder?
Nina deu de ombros, já que pensou o mesmo por diversas vezes. Mas o que está feito, está feito, e o atual duque sabia muito bem que Nina havia trazido uma fortuna para a família, parte dela permitindo que ele e Bridget vivessem com muito conforto. Se fossem um pouco mais espertos, deveriam ser educados e deixá-la em paz.
— Talvez, mas a propriedade de Kent não era vinculada ao título, nem a dita casa de Londres. Era a casa da amante do duque, não que a sociedade soubesse já que está localizada em Mayfair. O
duque e a duquesa podem ter um pouco de raiva por perder essas propriedades, mas não é como se eles não tivessem muitas outras mais para escolher. O duque possuía várias propriedades na Inglaterra e na Escócia.
Lady Leighton riu.
— Então eles são apenas rancorosos e não ousarei convidá-los para quaisquer eventos futuros em nossa casa. E conversarei com meus amigos, assegurarei que eles sintam a frieza que pode ser acumulada nas pessoas que maltratam alguém que não merece tal comportamento. Você abrir uma escola é uma coisa maravilhosa, e
se a atual duquesa de Exeter fizesse algo semelhante, talvez a vida dela fosse mais completa do que é agora.
Nina duvidava que muito pudesse abalar a vida da duquesa, mas ela concordou em qualquer caso.
— Tenho certeza de que você está certa.
Logo se juntaram a Lorde Leighton, que levou a esposa para uma valsa. Nina ficou sozinha, contente em observar os convidados e em saborear seu champanhe. Ela mal podia esperar pelo dia seguinte, estava ansiosa para passar um tempo com as meninas.
— Você parece perdida em pensamentos, duquesa. O baile não está tedioso, está? — o Sr. Byron Hill disse contra o ouvido dela, enviando um delicioso arrepio por toda a sua espinha.
Ela se afastou, abrindo certa distância e rezando para que ele não tivesse notado a reação dela a ele.
— Só estou observando e pensando. Vou levar minhas filhas para um passeio amanhã e me vejo bem ansiosa. Eu estive tão ocupada com a temporada que já passou da hora de um pouco de aventura para elas.
— Parece uma ideia maravilhosa. — afirmou Byron.
Ele sorriu e o gesto fez sobressair a pequena covinha na bochecha esquerda. Nina ficou olhando por um momento, sabendo que os dois irmãos tinham uma, mas em lados opostos do rosto. Na noite em que dormiu com Andrew, ela poderia jurar que estava do lado esquerdo, não do lado direito do rosto dele...
— Duquesa, você está bem? — Byron estendeu a mão e tocou seu braço, e Nina afastou o pensamento. Agora ela estava sendo boba, a memória brincando com ela.
— Estou perfeitamente bem, obrigada. Diga-me, onde está sua noiva hoje à noite? Eu não a vi.
Byron passou a mão na mandíbula, olhando para a multidão de convidados.
— O pai a chamou de volta à Cornualha, portanto ela vai estar ausente pelo resto da temporada. Vamos nos casar na igreja da vila dela, então viajarei para lá assim que a temporada terminar.
Desespero a inundou com a menção de Byron partir, e Nina levou um momento para acalmar suas emoções antes de dizer:
— E assim nunca mais o veremos. Por favor, não se torne um estranho como os últimos anos. Agora que eu tenho você de volta, detestaria voltar a perdê-lo.
Ela olhou para Byron e leu a consciência que brilhava em seus olhos. Ela não deveria dizer essas coisas, não para um homem que amava outra mulher, mas ela também não conseguia se conter. Se ao menos ela o tivesse notado antes. Se tivesse visto o valor dele antes que seu destino estivesse traçado.
Ele desviou o olhar dela, o músculo em sua mandíbula flexionando.
— Temos a temporada, minha amiga. Vamos fazer uma promessa de desfrutá-la juntos, o máximo que pudermos, antes que eu vá para a Cornualha e que você volte para Kent e sua nova aventura.
Nina estendeu a mão.
Byron olhou para a mão dela por um momento antes de rir e apertá-la com firmeza. As mãos dele eram muito grandes em comparação com as dela, e a ideia delas segurando-a, puxando-a para perto, dando-lhe prazer a abalou em toda a sua estrutura.
Ele balançou as mãos deles uma vez.
— Temos um acordo, duquesa?
— Temos. — disse ela, soltando-o. — Esse é um acordo que eu estou feliz em firmar.
BYRON CAMINHOU pela Hatchards, segurando os novos livros de poesia que o atendente o notificara que haviam chegado, enquanto procurava outras leituras. A campainha da porta tocou, seguida pelo som de vozes infantis animadas. Ele olhou para cima e viu a duquesa viúva de Exeter e suas duas filhas entrarem, a babá das crianças seguindo logo atrás.
Ele se apoiou nas prateleiras e olhou para Nina, observando a beleza dela que era amplificada ao redor das duas meninas. As menininhas seguiam a mãe, cabelos escuros com leves cachos.
Elas passaram correndo por ele, e ele se viu encarando-as. Elas eram adoráveis. Ele deveria se sentir irritado, desprezado até por Nina ter tido as filhas com um homem que não era digno de seu carinho, mas ele não podia. Nina não merecia sua ira. Ela fora injustiçada por ele e seu irmão, mesmo que Byron não soubesse dos próprios erros na época.
Ele precisava dizer a verdade logo, mas não seria fácil. Na verdade, seria uma das coisas mais difíceis que ele já fez em sua vida.
— Byron, eu me esqueci do quanto você gostava de ler, mesmo que você fingisse desinteresse sempre que eu o flagrava na biblioteca.
Ele se curvou, pegando a mão de Nina e beijando-a, demorou mais do que deveria e depois se conteve, afastando-se.
— Você sempre me conheceu muito bem.
Ela passou por ele, e deslizou o dedo pela lombada dos livros que ele estava segurando.
— Ainda poesia. Qualquer um pensaria que você tem um coração que anseia por romance.
Ele engoliu em seco e esperou que o calor que se espalhava por seu pescoço não atingisse o rosto.
— Eu não leio poesias de amor, e você sabe disso. — ele sorriu para ela e ela riu, indo na direção de suas meninas.
— Venha. — disse ela, gesticulando para ele segui-lo. — Venha conhecer minhas filhas.
Ele sentiu um nó subir e descer de seus estômago, mas ele a seguiu, queria conhecê-las, mas sem saber se elas gostariam dele ou não. Uma ideia surgiu em sua mente, de que as garotas poderiam ter sido filhas dele se ele tivesse lutado por ela na manhã em que ela anunciou o noivado com o duque.
As duas meninas sentavam-se no chão perto de uma janela na frente da loja, rindo e gargalhando de um livro que a babá estava lendo para elas. Eram os querubins mais perfeitos, e o orgulho que ele viu nos olhos de Nina dizia que elas eram seu mundo.
— Queridas, venham conhecer meu amigo, Sr. Byron Hill.
Nossas famílias eram amigas e crescemos juntos. O Sr. Hill e eu somos os melhores amigos desde sempre.
As duas menininhas olharam da mãe para ele e o estudaram com atenção. Os olhos delas eram da mesma cor e forma, os cabelos presos em fitas cor de rosa e vestidos cor de rosa idênticos.
— Elas são lindas Nina. — ele sussurrou, pegando a mão dela e apertando-a um pouco.
Em seguida, ele se ajoelhou diante das duas e estendeu a mão.
— Como vão, Lady Molly, Lady Lora. Estou muito contente em conhecê-las, finalmente. Sua mãe não fala de mais nada.
As duas garotas riram, o som parecia a risada da mãe, mas mais jovem.
— Você não deveria falar sobre nós o tempo todo, mamãe. Não em bailes e festas. Deveria falar sobre o clima ou os vestidos mais
recentes. — disse Lora.
Nina assentiu, parecendo muito séria de repente.
— Você está certa. Vou me assegurar de seguir as regras de etiqueta a partir de hoje.
Lora assentiu, parecendo satisfeita com as instruções sobre etiqueta adequada. Byron se apaixonou por elas ali naquele instante e não conseguia parar de assimilar seus doces traços tão parecidos com os da mãe.
— Você gosta de livros, Sr. Hill? Estamos escolhendo alguns novos hoje. — disse Molly.
— Gostam de ler então? Fico muito feliz em saber disso.
Também adoro ler. — Byron estava maravilhado com elas.
— Nós gostamos de ler, senhor. Gostamos especialmente quando mamãe está em casa e lê para nós. Ela faz uns sons muito engraçados com algumas das histórias. — disse Lora com ares de segredo.
Nina riu, e Byron achou que não poderia amar mais essa mulher.
Lembrou-se do momento exato em que se apaixonara por ela, um ano antes da primeira temporada. Estavam passeando à cavalo na casa de campo dos pais dela, e ela caiu com força em uma poça de lama. A maioria das mulheres nessa situação teria gritado por ter arruinado o vestido, ou reclamado do cavalo tolo que não se comportou, mas não Nina.
Ela riu, riu tanto que lágrimas escorreram por suas bochechas enlameadas. Ela bateu na poça, sujando mais o vestido, e Byron riu junto com ela. Ele apaixonou-se na mesma hora e nunca mais deixou de gostar dela.
Ele passou a mão pelos cabelos, lembrando-se de que estava noivo, que gostava da moça, mas mesmo ele sabia que não era a verdade absoluta. Ele iria se casar com Sofia apenas porque ela
estava disposta e porque a família dela estava em busca de ascensão social, algo com que ele poderia ajudar. Ele pode não ter o título, mas seu primo era um marquês, e ele era um cavalheiro rico. A filha e a família seriam elevadas pela união.
Mas não havia amor. Nem carinho. Na verdade, se eles não tivessem cercados pela beleza do sul da França, a água azul-marinho que batia no barco deles embalando-os em ideais falsos, provavelmente não teriam ficado noivos.
Estava aqui e agora com Nina, ponderando sobre o próprio futuro caso ele tentasse conquistar o amor dela e triunfasse sobre desejo de se estabelecer. Como ele poderia permitir que Sofia se casasse com um homem que amava outra pessoa? Isso não seria justo para com ela nem ele, e o casamento deles não seria feliz se ele permitisse que a fachada continuasse. Ele havia prejudicado Nina uma vez, mas não faria isso uma segunda vez, e nem faria mal a Sofia. Estava na hora de ele parar de cometer erros.
— Essas são as melhores histórias de todas. Agora, deixarei vocês para encontrarem seus livros.
Byron cumprimentou a duquesa em despedida e partiu em busca de mais material de leitura, mas sua mente era um zumbido de pensamentos sobre o que ele precisava fazer e como faria.
Sofia e sua família não ficariam satisfeitos, e ele poderia ser obrigado oferecer algum tipo de acordo financeiro para desistir do contrato. Se Sofia não deixasse que ele desfizesse o acordo, ele não estava certo do que faria. Certamente, como não havia amor, ela não ficaria tão chateada. Irritada, talvez, mas não o suficiente para forçá-lo a cumprir o acordo.
Ele se encolheu.
— Byron, você está bem? Você parece perturbado.
Ele não se virou para a duquesa.
Eles estavam em uma parte isolada da loja, escondida por estantes de livros. O som dos clientes conversando era um sussurro para eles, mas ainda assim, eles estavam sozinhos. Bem sozinhos...
— Eu estou bem. Você deve voltar para suas filhas. Teremos tempo para conversar no baile dos Duncannon hoje à noite.
Por favor, saia. Saia antes que eu a abrace e a beije como eu desejei nos últimos cinco anos.
A mão dela pousou no braço dele, e ele ficou rígido. Como ele sentia falta do toque dela. Era uma forma de tortura e prazer, tudo ao mesmo tempo. Demais e ainda não o suficiente.
— Vamos tomar sorvete, Byron. Junte-se a nós. As meninas adorariam que você viesse. — ela parou por um momento antes de acrescentar: — E eu também.
Ele se virou e a encarou, em seguida ele mirou os lábios dela e não se mexeu. Ele queria beijá-la, queria ela e mais ninguém há tantos anos que perdera a conta. O ar no espaço isolado em que se encontravam estava pesado e, como se sentisse a possibilidade de serem mais que amigos, Nina se afastou, começando a voltar para onde suas filhas estavam sentadas.
— Não vou aceitar não como resposta, Byron. — ela fez um gesto para ele segui-lo, e ele não pôde negar nada a ela.
O tempo que passaram no Gunter's foi um passeio que valeu a pena fazer. Durante a hora que ficaram lá, ele se sentou com Nina e as meninas que aprendeu tudo sobre os passatempos das duas.
Molly gostava de seu pônei, enquanto Lora amava cães e, especialmente, o lebrél irlandês da família chamado Bentley, sobre o qual ela falava sem parar, dizia coisas fofas sobre como ele ficaria demasiado triste e sentiria falta delas, já que estavam na sorveteria, e ele estava trancado na casa. Molly havia convencido sua mãe a permitir que ela trouxesse seu pônei para Londres com elas, e antes
de Byron partir, ele concordou em levá-la para cavalgar e em conhecer Bentley também. Lora não aceitaria outro desfecho.
A duquesa o acompanhou até a calçada enquanto as garotas terminavam seus sorvetes. Byron chamou um coche de aluguel antes de se virar para ela.
— Obrigado por me permitir conhecer suas filhas, e pelos sorvetes. Foi maravilhoso.
Ela olhou para ele, cheia de incertezas.
O cabelo dela estava mais ao natural hoje, um coque solto no alto da cabeça, com algumas mechas flutuando no rosto, emoldurando seus traços perfeitos. Ele apertou as mãos ao lado do corpo antes que fizesse algo estúpido como estender a mão e apertar o queixo dela e beijá-la.
— Estou feliz que você as tenha conhecido. Estava na hora.
Byron assentiu e curvou-se, depois se virou para ir embora. Ela apertou o braço dele, e ele parou, detestando-se pelo modo como seu corpo quase saltava da pele cada vez que ela estava perto.
— Vejo você hoje à noite? — ela perguntou com cautela na voz.
— Sim. — disse ele, e ficou aliviado quando ela soltou seu braço para que ele pudesse ir.
Se ele olhasse para ela agora, caso se virasse e a encarasse, havia poucas chances de ele manter a moral, a promessa a Sofia, e não tomar a duquesa em seus braços. Um lugar que ela pertencia como a nenhum outro. Ele planejaria a viagem para a Cornualha.
Ele precisava falar com Sofia e, se necessário, fazer um acordo monetário com a família dela pelo mal que ele estava prestes a infligir a eles.
Mas ele não podia continuar e ser infiel a ele mesmo. Ainda estava apaixonado por Nina, disso não havia dúvida. E assim que voltasse à cidade, ele iria ao encontro de Nina, faria com que ela
visse como era perfeita para ele desde sempre. Que ele era o homem que ela sempre amou, não apenas como amigo.
Ele acenou para a duquesa e bateu no teto da carruagem para notificar o condutor a seguir em frente. A consciência refletida nos olhos de Nina dizia a ele, mais do que nunca, que ele poderia ter uma chance de conquistá-la. Que ela também sentira a mudança na amizade deles, que os sentimentos que sempre nutriram um pelo outro havia mudado para algo mais, muito mais.
CAPÍTULO 6
N ina se sentou em um sofá que havia sido colocado no terraço de sua casa em Londres e passou a observar as meninas correndo pelo gramado, Bentley sempre perto delas. As risadas e gritos de alegria a fizeram rir, mas sua mente estava em outro lugar. Na verdade, estava na Cornualha, para onde Byron viajara um dia depois de se encontrarem no Gunter's.
Ele não chegou a falar nada no baile naquela mesma noite. Ela mordeu o lábio inferior, se perguntando, e não pela primeira vez, o que ele estava fazendo lá. Claro que ela sabia que ele estava visitando Sofia. Ele voltaria à cidade como um homem casado?
Andrew também partira para uma festa no campo, o que era estranho, pois ainda estava no início da temporada, então ela não podia perguntar a ele o que sabia da partida repentina de seu irmão.
O livro que ela estava lendo, de Frances Burney, não havia despertado sua atenção, e ela o colocou na cadeira, cansada de si e de seus pensamentos confusos. O que importava se Byron se casasse mais cedo do que planejara? Talvez ele estivesse sentindo falta da noiva e quisesse revê-la. Talvez ele retornasse à cidade acompanhado dela.
Todas as imagens que esses cenários colocavam em sua cabeça a deixaram inquieta, e ela franziu a testa, zangada consigo mesma e com ele por razões que não estava realmente pronta para admitir.
— Sua Graça, a Duquesa de Athelby, para vê-la.
— Acompanhe-a ao terraço, obrigada. — disse ela ao lacaio.
Nina suspirou aliviada pela distração. Qualquer coisa serviria para que parasse de se atormentar mais com suas próprias reflexões. Ela se levantou e sorriu quando a duquesa chegou ao terraço.
— Nina, que prazer ver você. — disse Darcy, beijando sua bochecha e se sentando no sofá vazio ao lado de Nina.
— Você também. Sou muito grata por sua companhia. Por mais que eu ame minhas filhas, acabo me torturando com minha própria imaginação e preciso de uma amiga em quem confiar. Sua chegada é pontual.
A duquesa estendeu a mão e colocou a mão sobre a dela.
— Qual é o problema, querida? Você parece bastante agitada.
— E estou. Não sei o que há de errado comigo. Sinto-me nauseada. Quero entrar em uma carruagem e ver por mim mesma se o que está me incomodando é verdade e depois decidir o que fazer. Quero desejar me afastar da cidade. Eu quero...
— O que você quer? — Darcy perguntou, as sobrancelhas erguidas.
Nina encontrou seu olhar e leu a diversão contraindo os lábios da amiga.
— Eu... — ela balançou a cabeça, não acreditando que ia mesmo dizer. — Eu quero... Quero que Byron Hill seja meu e não de Sofia Custer. Quero-o com tudo o que sou e não posso tê-lo.
Somos amigos há muitos anos, muita coisa aconteceu.
— Você não... Não ele sendo noivo de Sofia, espero.
— Não, claro que não. — disse Nina, as bochechas aquecendo.
— Mas eu quis. Por várias vezes tive vontade de me jogar nele.
Você sabe que anos atrás eu fui apaixonada pelo irmão dele, mas agora me indago. Eu me questiono acerca dos motivos que tive na época. Andrew sempre foi o irmão educado e seguro, então é
natural que as moças, assim como eu, dessem atenção a ele caso desejassem se unir àquela família pelo casamento. Mas era com Byron que eu ria. Com quem eu dançava, era ele quem ia passear comigo no parque. Liamos livros e nos procurávamos em bailes e festas. Gostaria de saber agora se foi Byron que eu sempre amei, mas não admitia. Eu escolhi a opção segura, quando eu realmente deveria ter apostado meu coração no irmão que era selvagem, feroz e apaixonado. A última característica ainda por ser explorada, mas quero. Eu quero tanto que dói.
Aí está. Ela disse tudo o que a atormentava sem se importar com as consequências. Se ela era uma mulher detestável, que assim fosse.
Darcy ofegou, os olhos brilhando de compreensão.
— Bem, isso é algo que deve estar fervilhando dentro de você. E
eu prometo que seu segredo está seguro comigo, sempre. Mas ele está noivo, querida. Há poucas chances de isso mudar. Que outras opções você tem além de amá-lo de longe?
Nina recostou-se na cadeira, verificando o paradeiro das meninas e vendo que elas estavam cavando perto das roseiras do Sr. Gregory. O Chefe dos jardineiros não iria gostar.
— Não tenho opções. Não me intrometerei no relacionamento de ninguém, muito menos entre meu melhor amigo e sua noiva. Mesmo assim... — ela suspirou. — Eu fui uma tola completa no que se refere a ele. Vejo isso agora e, infelizmente, é tarde demais.
— Eu já contei a você que o duque e eu também éramos melhores amigos? Muitos anos atrás, antes que o irmão dele falecesse. Mas então ele mudou, ficou taciturno e opinativo em relação a todos, e não nos demos muito bem por algum tempo.
Darcy ficou quieta por um minuto, observando as filhas de Nina antes de se virar e encontrar seu olhar:
— E, no entanto, agora que ele é meu marido, eu beijo o chão que ele pisa e vice-versa. A vida encontra suas formas de se resolver. Até o Sr. Hill se casar, sempre há uma chance.
Nina desejou poder contar a Darcy toda a verdade; que as meninas eram na verdade filhas de Andrew Hill, não do duque, e, que se Byron descobrisse, ele nunca a perdoaria. Mesmo com escolhas tão limitadas quanto antes de Andrew ter proposto casamento a outra mulher, Nina deveria ter contado a Byron seus problemas. Ele a teria ajudado, ela tinha certeza.
— Talvez você esteja certa. Vou apenas parar de me preocupar até nos encontrarmos de novo. Ele pode ter ido apenas visitar a noiva.
— Você sabe quando ele voltará?
Nina balançou a cabeça, estava sem notícias dele.
— Não. Faz algumas semanas que ele partiu. Talvez ele tenha decidido ficar na Cornualha e não voltar para a temporada?
A ideia provocou pânico nela e ela apertou o estômago para tentar parar a agitação que a assolava. Ela realmente precisava controlar as próprias emoções, ou quando eles se reencontrassem, ele a leria como um livro. Ele sempre teve a capacidade de saber em que estado emocional ela estava a qualquer momento.
— Nina, ele vai voltar. Acho que a melhor coisa que você pode fazer é descobrir o que aconteceu enquanto ele estava fora e decidir o seu próximo passo a partir daí. Se ele estiver casado, não há nada que você possa fazer, mas se ele não estiver, bem, há tempo. Não que eu sugira que você se ponha entre eles, isso nunca daria certo, mas apenas descubra o que aconteceu fora da cidade e decida seu próprio caminho. Não se esqueça que há muitos outros cavalheiros elegíveis na cidade que adorariam cortejá-la.
As possibilidades detrás dessa ideia a faziam passar mal como um vinho ruim.
— Não voltei à cidade para encontrar um marido. Byron ter retornado foi simplesmente um golpe de boa sorte. Ser cortejada por outros homens não me interessa.
Darcy sentou-se, batendo as palmas.
— Você precisa de algo para distraí-la. Algo divertido e um pouco arriscado.
A ideia não era desinteressante, e Nina voltou toda a atenção para a duquesa.
— Que tipo de diversão?
— Eu tenho uma amiga, alguém que conheço há muitos anos, que realiza pequenos passeios para membros da sociedade. Você se veste como uma mulher de poucos recursos, talvez como criadas de copa se vestem quando saem. Pegamos uma carruagem para um local menos refinado em Londres, mas devo enfatizar que há segurança, e você pode desfrutar de uma noite em uma taberna como plebeia. Eu já fui uma vez, antes de me casar com o duque, e foi muito divertido. Ele insistirá em me acompanhar desta vez, mas você se divertirá. Você bebe em uma taverna! Pode acreditar.
Podemos jogar e dançar. Deixe-me organizar para você e nossos amigos, e teremos uma noite divertida.
Nina nunca havia ouvido falar disso, mas parecia ser descontraído, e ela precisava descontrair. Desfrutar de uma noite em que ela não precisava agir como a grande duquesa viúva, o epítome dos padrões. Que falsa ela era metade do tempo, e a sociedade não fazia ideia.
— Eu topo. Diga que será em breve. Eu preciso de uma diversão.
Darcy se levantou e estendeu a mão para puxar Nina para ficar de pé.
— Voltarei agora mesmo para casa e tomarei as providências.
Espere uma missiva minha com as instruções.
BYRON VOLTOU a Londres quatro semanas depois de sua partida.
A estada na Cornualha fora um alívio bem-vindo da vida na cidade, mas o término de seu noivado com Sofia não fora fácil, nem bem recebido. O que, aliás, era compreensível.
Ele estava sentado do lado de fora da casa da duquesa de Exeter em Londres, onde a maioria das janelas brilhava com a luz tremeluzente das velas lá dentro. Outra carruagem parou diante da dele, e o som de risadas e conversas animadas flutuou no ar.
A porta da frente da casa de Nina se abriu, e ele viu uma criada de copa descer os degraus. No entanto, havia algo na criada que o ressaltou. Seu caminhar não era o de uma mulher que servia os mais ricos, essa mulher passeava com graça, com o queixo erguido e a postura perfeita. O vestido desgastado foi um pretexto para, de alguma maneira, disfarçá-la, mas ainda assim ele reconheceria Nina em qualquer lugar. E agora, Nina estava saindo de casa vestida como uma criada.
Por que diabos ela faria isso?
Ela pulou na carruagem, e Byron ordenou que o condutor a seguisse. Eles saíram de Mayfair e foram em direção a Southwark, parando diante do Talbot Inn. Seu veículo parou do outro lado da rua, e Byron observou o duque e a duquesa de Athelby saírem junto com Nina. Em um minuto, chegou outra carruagem, esta trazia seu próprio primo e esposa, o Conde de Leighton e sua Lady.
Byron fechou a boca com um estalo, sem ter a menor ideia do que seu primo estava fazendo ali vestido como um homem de poucos recursos. Todos eles perderam a cabeça?
Ele olhou para si, a gravata bem engomada e colete perfeitamente ajustado. Ele não podia entrar na taverna vestido como estava, ele seria descoberto nos primeiros minutos.
Arrancando o casaco, ele o jogou no banco à sua frente, antes de desamarrar a gravata e afrouxar alguns botões no pescoço. O
colete logo o seguiu, e então ele pulou da carruagem, puxando a camisa para fora das calças de camurça. Agitando os cabelos, ele ordenou que o condutor voltasse para casa e depois seguiu em direção à taverna.
Sem dúvida, ele ainda parecia ser da elite, mas era melhor do que um cavalheiro que parecia pronto para um baile. A porta da taverna tintilou quando ele a abriu, e ele viu uma pequena campainha de metal ao olhar para cima. O salão estava enevoado de fumaça, e o cheiro de suor masculino permeava o ar.
Ele foi até o balcão e pediu uma cerveja antes de vasculhar o espaço, tentando ver Nina e os amigos. Ele a ouviu rir antes de qualquer outra coisa. Perscrutando ao longo do bar, ele viu o grupo de pé diante do bar, quase do outro lado do salão, cada um com uma cerveja nas mãos.
Byron sorriu.
O grupo de amigos realmente parecia ridículo, mas ele supôs que era uma fuga da realidade elevada deles. Se ao menos todos os visitantes desses estabelecimentos pudessem dar suas escapadas e então voltar para suas casas e estilos de vida opulentos.
Nina o reconheceu quando ele caminhou até eles. Os olhos dela brilharam com prazer, e esperança cresceu em espiral nele de que
ela gostava dele tanto quanto ele gostava dela. Deus, ele esperava que isso fosse verdade. Após o mês atroz que ele passou indo e voltando da Cornualha ele não tinha certeza de que poderia suportar se Nina recuasse do que ele estava certo do que havia entre eles.
A possibilidade de um futuro.
— Byron. — disse ela, aproximando-se dele e passando o braço sobre o dele, puxando-o na direção de seus amigos. — Estamos tão felizes em vê-lo. Voltou agora para a cidade?
— Sim. — ele assentiu, observando a beleza dela que não era esmaecida nem pelas roupas desgastadas e esfarrapadas que ela usava.
Seu rosto estava um pouco vermelho, seja pelo calor dentro da taverna ou pela chegada dele, ele não tinha certeza, mas esperava que fosse o último.
— Você viajou para a Cornualha, primo. Espero que esteja tudo bem com Sofia? — o marquês perguntou.
À menção de sua noiva, agora sua ex-noiva, Nina soltou seu braço. Ela pegou seu copo de cerveja e tomou um gole. Ela não gostou da menção de Sofia? Talvez fossem ciúmes? Isso ele não sabia, mas antes que a noite terminasse, ele certamente queria que ela soubesse a verdade acerca de sua atual situação. Talvez, por fim, ela olharia para ele o veria de verdade, e mais ninguém.
— Sofia e sua família estão todos de boa saúde. Byron pegou o copo de cerveja que o duque de Athelby ofereceu e agradeceu.
— Quando o casamento acontecerá, ou você está aqui hoje à noite para nos dizer que já está casado? — a duquesa de Athelby perguntou, olhando entre ele e Nina.
Darcy suspeitava de algo a respeito dele e da duquesa? Sua reação a Nina, como se sua pele chiasse e seu coração quisesse
pular do peito, era certamente óbvia para ele, talvez fosse perceptível para os outros também.
— Não estou casado. — ele encontrou os olhos de Nina, queria tê-la sozinha, em algum lugar que pudessem conversar.
Infelizmente, com o passar da noite, eles não tiveram oportunidade de ficar sozinhos. Suas estripulias os levaram a mais duas tavernas antes que decidissem pôr fim à noite, e todos chamaram coches de aluguel para levá-los para casa. Os casais se agruparam em veículos individuais e, finalmente, Byron e Nina ficaram sozinhos para esperar que um novo veículo passasse.
— Vou levá-la para garantir que você chegue em segurança, Sua Graça. — disse Byron. — Se estiver de acordo, é claro.
Ela abriu um sorriso, os olhos brilhando pela grande quantidade de cerveja e das outras bebidas, mas nunca parecera tão bonita para ele. De alguma forma, usando o vestido simples, os cabelos caídos sobre os ombros e poucas joias, ela era a Nina que ele conhecia antes da primeira temporada. A garota despreocupada e feliz que se transformou em uma linda mulher.
— Ora, ora, será uma duquesa? Vejam rapazes, temos uma duquesa aqui.
Byron virou-se para ver um grupo de homens vindo de um beco escuro ao lado da taverna. Devagar, ele pegou uma pequena faca dobrável no bolso da calça, que sempre carregava com ele, e a segurou ao lado da perna, não querendo mostrar aos agressores que ele estava armado. Por menor que fosse o objeto.
— Não queremos problemas, rapazes. Esta mulher não é duquesa, mas é uma duquesa para mim. É meu apelido carinhoso para ela, se entendem o que quero dizer.
Byron tentou soar como os homens, e teve esperanças de que, pela hesitação deles, sua tolice talvez os tivesse tapeado. A
sensação boa durou pouco quando um dos homens atrás do grupo deu um passo à frente.
— Sim, eles têm grana. Olhem para os brincos dela. São um belo par que daria para alimentar a gente por um ano.
Byron virou-se para ver Nina e se encolheu quando o diamante solitário em cada uma de suas orelhas brilhou sob a luz da rua.
— Basta, rapazes. Não podemos pagar por mais nada, e foi um presente para minha esposa. Não os tirem dela.
Os homens olharam entre ele e Nina, antes que dois cavalheiros bêbados saíssem da estalagem, neutralizando a situação. Eles deram mais uma olhada nos brincos e se voltaram para a porta da taverna.
— Certo. Sem ressentimentos, grã-fino. Vamos deixar vocês aí.
Alívio o atravessou, e ele alcançou Nina, puxando-a em seus braços. O corpo dela tremia contra o dele, e ele a apertou mais, esfregando as mãos nas costas dela para tentar combater seu medo.
— Está tudo bem, Nina. Eles já foram.
Um veículo apareceu na rua, e Byron o chamou, colocando-a para dentro e dando o endereço de casa antes que mais alguém os abordasse. Se os homens atacassem, Byron não saberia o que fazer. Um contra sete era demais para qualquer homem, e os homens desta parte de Londres não jogavam limpo. Era muito provável que alguém acabasse morto, possivelmente ele ou Nina.
Byron sentou-se ao lado dela e a puxou na dobra de seu braço.
Ele a inspecionou, apenas para garantir que ela não estava ferida, e ela olhou para cima. Seus olhares se cruzaram, se sustentaram, e nem que sua vida dependesse do movimento, ele conseguiria desviar. Ele a queria mais do que o ar neste momento, e seria tão
fácil se inclinar e tocar seus lábios, beijá-la até que se perdessem um no outro.
— Você estará em casa em breve. Não há nada a temer agora.
— ele sussurrou, envolvendo sua bochecha.
Incapaz de se conter, ele se inclinou, querendo beijá-la, mostrando a ela que havia outras coisas em que pensar, coisas mais agradáveis, do que bandidos de sarjeta em Southwark. Ela se soltou dos braços dele, deslizando em direção à janela.
— Você não deveria fazer isso, Byron. Somos amigos, e você está noivo. Não me envolverei em um caso escandaloso, mesmo que eu seja viúva e possa fazer o que escolher.
Ele passou a mão pelos cabelos.
Maldição, por medo, havia se esquecido de contar..
— Quando falei esta noite que não estava casado, o que realmente quis dizer era que desfiz o contrato de casamento. Não há mais um compromisso entre mim e a senhorita Custer.
Nina olhou para ele com os olhos arregalados, e ele lutou para não sorrir ante o choque dela. Ele supôs que tais notícias não eram o que ela ou qualquer outra pessoa esperaria ouvir.
— Você não vai se casar com a Srta. Custer?
— Não, não vou. O acordo entre nossas famílias nunca foi de uma união feita por amor ou carinho. Eles desejavam aumentar a presença na sociedade. Eu tenho um primo marquês e precisava me casar. Já estava na hora de eu me estabelecer e começar minha própria família. Nós nos conhecemos no exterior e gosto de Sofia, mas uma amizade amena foi o máximo de sentimentos que brotou entre nós.
Sem esperar, ele ofegou quando Nina voltou para perto dele, apertou sua mandíbula e o beijou. Com vontade. Ele gemeu quando
a boca dela se abriu par a dele, a língua deslizando contra a dele e o fazendo se aquecer cintura abaixo.
Ele a puxou para o colo, colou em sua boca um beijo punitivo. A cada mordiscada, cada deslize de seus lábios contra os dela, o emaranhado de suas línguas era uma punição por não o querer. De escolher seu irmão almofadinha em vez dele e essa paixão que inflamava entre eles.
Nina sentiu o sabor da cerveja e dos licores, unidos em uma doçura única, e não era o bastante. O quadril dela se acomodou contra o sexo dele e, se consciente ou não, as pequenas ondulações dela o levaram a um desejo pulsante. Ele queria se enterrar dentro dela. Empurrar-se, tomá-la até que os dois se estilhaçassem em um milhão de pedaços de prazer.
A carruagem parou e, em algum lugar de sua mente, ele ouviu o condutor pular do assento para abrir a porta. Ele colocou Nina no banco ao lado dele. A respiração deles estava irregular, os olhos de Nina cheios de uma necessidade insatisfeita que ele também sentia.
A porta se abriu e, sem uma palavra, Nina desceu. Ele a observou entrar em casa e deu o novo endereço ao condutor.
Inferno... esse beijo.
Esse beijo era tudo o que ele sempre quis, e seria o primeiro beijo de muitos se ele pudesse convencê-la. Ele sempre soube que havia um desejo não realizado entre eles, e esse beijo provou sua teoria. Mas significava que Nina daria uma chance a ele? Isso ele não tinha certeza, mas estava certo de que iria descobrir.
CAPÍTULO 7
N a semana seguinte, Nina juntou-se à duquesa de Athelby no baile dos Keppells e observou Byron do outro lado da sala. Ele estava de pé com o primo, o marquês, e ambos pareciam bastante absortos na conversa.
Depois do beijo na carruagem na semana anterior, Nina fez tudo o que pôde para evitá-lo. Não porque ela não quisesse vê-lo; ela queria mais do que qualquer outra coisa, mas porque apaixonar-se pelo melhor amigo não era algo que ela pensava que iria acontecer.
Sem mencionar que amar os dois irmãos a fazia parecer frívola e oblíqua.
Ela nem queria imaginar o que seus pares diriam se ouvissem boatos de que ela estava de caso com Byron. Eles provavelmente pensariam que ela havia mudado o foco para o outro irmão apenas porque não havia conseguido contrair matrimônio com o primeiro tantos anos antes. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Byron, por toda a sua natureza selvagem, era um amigo gentil e generoso, e o carinho dela por ele havia mudado de natureza com o tempo, passou de camaradagem benigna para algo mais intenso.
Nina desviou o foco de Byron, sua mente um zumbido.
Ela o queria, mas não significava necessariamente tê-lo como marido. Casar-se de novo não era algo que ela queria fazer, decerto que não naquele momento. Ela estava feliz por ser mãe de suas meninas, a dona de seu próprio domínio. Tornar-se a serva obediente de alguém, por mais que ela adorasse Byron, não era uma situação pela qual ela ansiasse por se envolver.
Byron ficaria feliz com um caso amoroso e nada mais? Ele terminou o noivado por ela, quando tudo parecia dito e feito. Ela se virar agora e dizer que ele poderia compartilhar sua cama, mas não a vida dela parecia cruel, um desperdício de seu amor. Ele queria uma esposa, filhos próprios. Muito mais do que ela estava disposta a dar.
— O que há de errado, Nina? Você parece muito distraída. —
disse a duquesa de Athelby, atenta ao olhar da amiga.
Ela estava distraída. Mais do que jamais esteve antes. Com Byron, seu corpo ganhou vida, ele a faz rir, a faz sorrir. Ele a faz feliz, mas ela o faria?
— É tão óbvio assim?
A duquesa riu.
— Para mim é. Para os outros, talvez não. Você sempre foi uma amiga próxima para o Sr. Hill. Você não está sendo tão óbvia ao observá-lo a ponto de que um mero conhecido perceba o que você pensa, mas eu sei o quão íntimos você eram no passado e como se reaproximaram nesta temporada em que você retornou à cidade.
— Ele não está mais noivo. Sua viagem à Cornualha teve como pretexto encerrar o compromisso com a senhorita Custer. Pelo que pude perceber, eles não ficaram satisfeitos e, dada a situação, fico surpresa por não haver mais conversas disso na cidade.
— Não se fala porque ele é primo do marquês, e eles são amigos. O Sr. Hill tem amigos que incluem nós, duques e duquesas e afins. Duvido que muitos o repreendam, mas há fofoca de escândalo, nunca duvide. Algumas casas nunca o perdoarão por abandonar a senhorita Custer.
— Quais sua opinião sobre o assunto? Está muito brava com ele? Comigo?
Darcy estudou Byron por um momento antes de balançar a cabeça, sorrindo um pouco.
— Não, não estou brava com nenhum de vocês, e ficaremos ao lado dos dois, como seus amigos. Sabe muito bem que eu fui casada antes de me reencontrar com o duque, e com um homem que eu preferiria esquecer. Tais casamentos, feitos por obrigação e mesmo tédio, nunca prosperam. Eu não desejaria isso para o Sr. Hill e, com certeza, nunca desejei para você. Acima de qualquer outra pessoa do nosso grupo de amigos, você sabe como é se casar com um homem que não ama.
Nina sabia muito bem como era. Era uma forma de tortura. Ter alguém que não se ama tocando e beijando você, alguém a quem não se sente atraído fisicamente, era capaz de deixar uma pessoa sentindo-se suja, agredida até. Por mais gentil que o duque fosse, ela não gostava dele sob uma luz romântica, o que fazia com que seus momentos íntimos fossem muito estranhos e rápidos.
Ela olhou para onde Byron estava e viu que ele e o marquês haviam partido para outro grupo de cavalheiros, entre o marido de Darcy, o duque.
— Acho que o Sr. Hill terminou o compromisso com a Srta.
Custer por minha causa. — disse Nina, aliviada por ter dito em voz alta a uma amiga o que a incomodava há uma semana.
Se a Sociedade descobrisse que havia algo nascendo entre eles logo após o término com a senhorita Custer, haveria especulações desenfreadas e fofocas. Seu estômago se retorceu em nós.
— O que a faz dizer uma coisa dessas? Pelo que Cameron me contou depois de falar com o Sr. Hill, nunca houve nenhum carinho entre eles. Os Custers podem ficar de fora da sociedade sem este arranjo, mas quando a Srta. Custer se casar com um homem que ela realmente ame, acho que verão a razão por trás da decisão.
— Espero que sim. — disse Nina, cumprimentando duas matronas idosas que passaram por elas. — Mas há algo mais que preciso contar. Sinto que não posso dividir com mais ninguém, já que é um assunto delicado.
— Você pode me dizer qualquer coisa, querida. Eu nunca vou quebrar sua confiança.
Nina puxou Darcy para uma parte mais isolada do salão de baile e se sentaram em um sofá vazio. Ela respirou fundo antes de dizer:
— No caminho para casa depois da nossa aventura em Southwark semana passada, fomos abordados por um grupo de bandidos antes de conseguir um coche de aluguel.
Darcy arfou, e Nina apertou a mão dela.
— Não se alarme que tudo ficou bem, e Byron conseguiu convencê-los a nos deixar em paz. Mas fiquei muito chateada.
Pensei que estávamos com problemas além do nosso alcance. Na carruagem a caminho de casa, não sei se foi pelo que passamos, ou se Byron queria me confortar, me ajudar a superar, mas...
Ela parou por um momento enquanto seu corpo reagia à lembrança do beijo dele. De como tudo de ruim que havia acontecido com ela até aquele momento desapareceu e foi como se o sol tivesse surgido e tudo estivesse certo no mundo:
— Nós nos beijamos. Na verdade, não foi um beijo. Foi muito mais que um beijo. Ela fechou os olhos, querendo repetir o momento, apenas para ver se as emoções que ele despertou nela eram reais. Ela nunca teve tal reação a um homem, nem mesmo com Andrew e se considerara apaixonada por ele.
Byron era seu amigo mais antigo e querido. Sentir tanta paixão nos braços dele não era o que ela esperava.
Darcy sorriu.
— Que interessante. Você gostou do beijo do Sr. Hill, minha querida?
Nina apertou a barriga quando sentiu-se revirar por dentro ante a memória.
— Gostei. Muito. Os beijos dele são tão perversos quanto suas estripulias do passado, e agora me vejo querendo ficar sozinha com ele de novo. Quando ele me disse que o compromisso com a Srta.
Custer havia sido terminado, não senti o que alguém deveria sentir por um amigo: tristeza, querer confortar alguém que estaria sofrendo. Eu quis me jogar em seus braços e dizer a ele para me fazer dele. Para ficar comigo então. E, bem, tenho certeza de que foi exatamente o que fiz.
Darcy riu e quando um lacaio passou, a duquesa pegou um copo de ponche para cada uma.
— O que você acredita que o Sr. Hill achou do beijo? Acredita que ele sentiu o mesmo que você acerca da troca de afetos?
Nina assentiu.
— Acredito que sim, mas tenho evitado ele. Sabe bem o quanto eu queria me casar com o irmão dele, Andrew, tantos anos atrás. Se eu voltar minhas atenções para o irmão dele, vou parecer uma tola.
Alguém que não foi capaz de se esquecer da primeira paixão. Sem mencionar que nunca cogitei me casar de novo, e Byron quer uma esposa, uma família. Não tenho certeza de que quero desistir de minha liberdade ainda.
— Você não tem restrição de tempo, Nina. — disse Darcy, com veracidade na voz. — As pessoas mudam com o tempo. O que você gostou em um momento pode passar a odiar nos anos que se seguem e vice-versa. Com o tempo, você pode achar que se casar com Byron é exatamente o que você quer, ou ambos podem concordar que o tempo passado juntos deve terminar. Nada está
gravado em pedra. Deixe suas emoções guiá-la e tenho certeza de que você fará o que é certo.
Eles poderiam ir de amigos a amantes? Não havia dúvida na mente de Nina que era isso que ela queria. Ela queria Byron com uma necessidade que superava qualquer sentimento que já sentira antes. O que ela sentiu na noite em que ele a beijou a assustou e a tentou ao mesmo tempo. Ela não podia se afastar agora, não quando ambos estavam livres para fazer o que quisessem, sem verificar se havia uma chance para os dois.
— Você pensaria ser escandaloso da minha parte querer ele, mais do que um amigo gostaria de outro amigo? Eu quero... — ela disse, baixando a voz para um sussurro. — que ele compartilhe minha cama. É pecaminoso, eu sei, dizer essas coisas, mas preciso contar a alguém, ou vou simplesmente explodir e gritar para ouvirem do outro lado do salão.
Darcy riu, bebendo o ponche.
— Embora eu concorde com sua escolha, eu aconselharia que vocalizá-la para todos no salão é uma má ideia. — ela sorriu. —
Converse com ele. Diga a ele o que você quer, veja o que ele quer em troca. Vocês são adultos. Você é uma viúva. Não é contra as regras quebrá-las um pouco. Não se você for discreta.
Excitação percorreu as veias de Nina ao pensar em ter Byron em sua cama. Ela olhou para cima e flagrou o homem que ocupava todos os seus pensamentos inspecionando-a. Ela sentiu suas veias aquecerem e não conseguiu desviar o olhar.
Esta noite ele usava um casaco superfino que envolvia sua estrutura muscular à perfeição. A gravata fora colocada com primazia e emoldurava seu maxilar cinzelado e tentador. Seu olhar sombrio e quente a queimava com intenções não ditas, e ela lambeu os lábios, de repente ressecados.
A atenção dela deslizou sobre o corpo dele, seus ombros largos que iam se estreitando até a cintura. Ele era um homem musculoso, ela imaginou que andar a cavalo ajudava a mantê-lo tonificado, e não podia deixar de pensar em como ele seria nu. Era estranho pensar em Byron dessa maneira, mas depois do beijo, ela não conseguia fazer muito mais.
— Eu vou falar com ele. Não podemos continuar como estamos agora.
— Não. — disse Darcy, seu tom um pouco permeado com sarcasmo. — Receio que, se continuarem como estão agora, a atração que sentem um pelo outro será notada a anos-luz por toda Londres. Por que, mesmo agora, o Sr. Hill observa você com a intensidade de um homem enlouquecido de paixão. Alguns podem até dizer desenfreada.
Nina sabia tudo sobre luxúria, com certeza ela havia aprendido depois de beijar Byron. Nem mesmo com Andrew ela sentiu tanto desejo quanto sentia por Byron agora. Que estranho que seu corpo conhecesse seus verdadeiros sentimentos antes de sua mente.
Byron sempre foi o cavalheiro com quem ela sonhava, mas nunca havia percebido.
— Vou me comportar e ser menos óbvia na minha admiração pelo cavalheiro. E acho — disse ela, levantando-se. — que vou procurá-lo agora e ter a pequena conversa. Obrigada por me ouvir, Darcy. Eu agradeço.
Darcy acenou em resposta.
— O prazer foi todo meu. Eu quero seu bem.
Nina mordeu o lábio, sorrindo.
— Eu também quero o meu bem.
BYRON FICARA OBSERVANDO a duquesa de Athelby e Nina conversarem em particular, e ele daria qualquer coisa para descobrir qual o assunto que a conversa se tratava. Os pelos da nuca dele se arrepiaram, e ele acreditou que falavam dele.
As conversas que participava, por outro lado, envolviam política, cavalos e o último escândalo a abalar a sociedade londrina. Ele pensou em se desculpar e ir a Nina convidá-la a dar uma volta pelo salão, mas em vez disso foi para o lado de fora, precisava de um pouco de ar fresco.
Inalar o ar puro era refrescante depois de estar dentro de um caleidoscópio de aromas, e ele foi para o fim do terraço e desceu pelo cascalho que conduzia pelo gramado.
A casa dos Keppells ficava em Hyde Park, e ele caminhou em direção aos portões que sabia existirem nos fundos. Ele levaria alguns minutos para recuperar a compostura. Quanto mais ele observava Nina, mais seu corpo reagia à presença dela.
Ela o consumia, e ainda na última semana fez tudo ao seu alcance para evitá-lo. Teria se arrependido do beijo deles? Estava ressentida por permitir seus avanços? Droga, ele esperava que não.
Ele passou a mão no queixo quando avistou os portões de ferro.
Estavam trancados. Ele parou a frente deles, olhando o parque além, o espaço escuro era tão sombrio quanto seu próprio futuro, se ele não convencesse Nina a fazer parte dele.
— Byron. — alguém o chamou. — ele se virou, o coração batendo forte no peito ao ver Nina caminhando em sua direção com determinação.
— O que está fazendo aqui? Vi você sair, mas com essas sapatilhas não fui capaz de ser tão rápida quanto você nesse cascalho.
Ele riu, e se moveu para diante dela.
— Eu precisava arejar a cabeça. Muitos aromas lá dentro.
Embora tenha sido apenas metade do motivo. Sua verdadeira razão estava diante dele, observando-o com os olhos mais azuis e grandes que ele já conhecera. Ele a adorava. Seu coração amável, a amizade, a ciência de que ela era uma mãe maravilhosa para as filhas.
— Sim. — disse ela, passando por ele para olhar o parque. —
Me desculpe por ter evitado você. Eu não queria, mas precisava colocar a cabeça em ordem... bem, você sabe. O que aconteceu na carruagem.
Ele deu alguns passos e parou atrás dela, tão perto que podia sentir o jasmim que seus cabelos exalavam, e ainda assim não a tocou. Ele apertou as mãos ao seu lado para se conter.
— Quando nos beijamos. — ele sussurrou contra o ouvido dela.
Ela estremeceu e passou os braços pela cintura antes de se virar para encará-lo.
— Sim. Quando nos beijamos, e a amizade que tivemos um pelo outro mudou para sempre.
— Mudou para sempre?
Ele engoliu o pânico, esperando que ela não estivesse prestes a afastá-lo, a dizer a ele que o interlúdio deles foi um erro. Não foi um erro de julgamento para nenhum deles. Eles foram feitos um para o outro. Com o tempo, ele conquistaria o amor dela e, em seguida, poderia contar a verdade da noite que passaram juntos tantos anos antes. Agora não era a hora, mas ele seria honesto com ela quando ela estivesse pronta para ouvir tais honestidades. Verdades que não seriam fáceis de serem aceitas.
Ele era egoísta em manter segredo a realidade da noite em que seu irmão havia enganado os dois, mas ele precisava de tempo para conquistar o amor dela. Depois dos anos que os separaram, só
agora eles estavam recuperando a amizade, se aproximando a cada momento que passavam juntos. Ele queria que ela soubesse que seu coração era verdadeiro e leal a ela quando ele por fim revelasse a verdade. Se ela o repudiasse...
Não havia como ele aguentar tal desfecho. Nenhum deles era culpado pelo que aconteceu, esse engano era um peso que só recaía na alma de seu irmão, mas, mesmo assim, a verdade machucaria Nina, e ele detestava ter que fazer isso a ela. Seu medo de que ela o deixaria de lado, de que poderia perdê-la para sempre, isso ele não aguentaria. Ele diria a verdade, e logo, só que ainda não.
— Claro que mudou, Byron.
Ela se aproximou ainda mais, os braços se abrindo para envolver a cintura dele. Seu corpo cedeu ao prazer, e ele fechou os olhos por um momento, deleitando-se com a sensação de tê-la tão próximo mais uma vez.
Ele passou os braços pelas costas dela.
— Diga-me como mudou.
Ela sorriu para ele.
— Depois do nosso beijo na outra noite, não consegui fazer muito mais do que pensar em você, e se você estiver disposto, gostaria que fôssemos amantes.
O ar parou de entrar nos pulmões dele, e ele levou um momento para recuperar o equilíbrio. Ela queria ser amante dele. Inferno, sim, havia pouco mais que ele queria em troca. Estar com ela em privado, passar um tempo a sós era o que ele mais desejava. Não apenas para tê-la em sua cama, mas também para desfrutar de sua companhia. Conversar, rir e se divertirem como faziam antes de ela debutar.
Ele sentia falta daqueles dias, sentia falta dela. Era uma chance, e ele não estava disposto a estragar tudo. Ele a amaria, a adoraria, assim como ela sempre deveria ter sido amada e adorada, tanto que chegaria ao ponto de nunca desejar que ele fosse embora.
— Eu ficaria honrado. Você não tem ideia do quanto eu desejei estar com você assim.
— Desejou? — ela perguntou, sorrindo para ele.
Sob a luz da lua, ele conseguiu ver um leve rubor. Ela estava um pouco envergonhada por ter pedido para ele levá-la para a cama? É
provável, mas que mulher forte e independente ela era por ter verbalizado. Tal fato apenas o fez adorá-la ainda mais.
— Deve saber que o motivo para eu ter ido romper meu noivado foi estar livre apenas para voltar a vê-la. Eu não podia me casar com Sofia querendo outra mulher. Não apenas na cama, mas na vida.
E agora que Nina havia dado essa oportunidade a ele, havia poucas chances de ele deixá-la ir sem lutar.
Ela esticou os braços e passou as mãos pela nuca dele, brincando com uma mecha de seu cabelo.
— Você é meu melhor amigo há tantos anos. Por onde começamos um caso?
— Assim, minha querida. — disse ele, inclinando-se e beijando-a suavemente na bochecha.
Ele a cobriu de beijos até alcançar a orelha, dando certa atenção ao ponto logo abaixo do lóbulo depois que ela estremeceu um pouco nos braços dele pelo toque. Ela era tão macia, flexível nos braços dele, e se ela não estivesse envolvida em seu abraço, ele não teria acreditado na sorte que sorria para ele.
— E assim. — ele disse finalmente a beijando nos lábios.
Ela se inclinou contra ele, seus seios duros contra o peito dele, e soltou um pequeno som, um ronronar que foi direto para a virilha
dele. Ela se abriu para ele como uma flor ao sol, e ele a beijou profundamente, saboreando cada momento, querendo mais a cada segundo que passava. Beijar uma mulher com paixão, uma mulher que se respeitava e com quem se importava há tantos anos, tornava o abraço diferente de alguma maneira. Mais significativo, intimidador até. Perder esse acerto, fazê-la ir embora quando o caso amoroso chegasse ao fim não era uma opção viável. Não para ele.
Ela correspondeu ao beijo dele com tanto fogo e necessidade, que algo o apertou no peito. Ele entendeu o perigo de beijar uma mulher com quem tinha um relacionamento emocional. Poderia levar a mais do que simples afeto, poderia levar ao amor.
A ideia não o assustava tanto quanto antes. Não com Nina, pelo menos. A mulher que ele tinha agora nos braços, ele não conseguia imaginar mais ninguém que pudesse substituí-la. Nem desejava fazê-lo. E se tal descoberta significava que ele estava se apaixonando por ela, que assim fosse.
Ele era um homem apaixonado, para sua perdição.
CAPÍTULO 8
N ina ficou deitada em sua cama na manhã seguinte, encarando o teto. Sua criada esteve ali mais cedo e afastou as cortinas, e a luz do sol fugidia que chegou ao cômodo garantia um ambiente acolhedor sob o brilho de verão.
Ela sorriu, ainda agitada pelo que havia acontecido no baile dos Keppells na noite anterior. O beijo que ela e Byron trocaram fora melhor que o primeiro, e eles haviam planejado que ele a acompanharia ao jantar íntimo do duque e da duquesa de Athelby esta noite.
Ela suspirou e rolou de lado, olhando para o banco sob as janelas que percorriam toda a extensão do seu quarto. Quando ela ficou tão apaixonada por ele? Quando foi que ele se tornou o único motivo para levá-la a participar de festas e eventos?
Se ela fosse honesta consigo mesma, a semana em que não o vira depois do primeiro beijo havia sido torturante. Ela queria vê-lo a cada segundo de cada dia. E assim poder apreciar a figura atlética, admirar a natureza doce e as travessuras impertinentes, mas maliciosas dele. Ele era um homem sedutor.
Eu me pergunto como ele será na cama...
O pensamento travesso a fez sorrir. Esta noite, depois do jantar, ela descobriria, se estivesse à vontade o suficiente para permitir que ele ficasse. Houve uma batida leve na porta, e sua criada entrou no quarto.
Ela fez uma rápida reverência.
— Bom dia, Sua Graça. A duquesa de Exeter está na sala de estar do andar de baixo e diz que não vai embora até que a veja.
Ela parece bastante agitada, Sua Graça.
Nina suspirou, condenando sua nora ao inferno. Era típico de Bridget chegar e arruinar seus pensamentos de belos da manhã acerca de um certo Byron Hill.
Ela pôs depressa um vestido azul claro e se juntou à duquesa no andar de baixo.
— Bom dia, Bridget. A que devo o prazer da sua companhia tão cedo hoje?
Seu tom era educado, mas imbuído de uma pitada de sarcasmo.
Ela verificou a hora e lutou para se negar o direito de pedir à duquesa que fosse embora devido à prematuridade de sua visita e só voltasse novamente a uma hora decente.
Bridget sentou-se no sofá diante da lareira vazia e olhou para ela.
— Fala-se de você por toda a cidade. Conversas que impactarão minha família e meus filhos. Não vou aceitar, Edwina. Você precisa partir para Kent, e logo.
Nina ergueu a sobrancelha e tocou a campainha, em seguida pediu chá ao lacaio que entrou. Somente quando ele saiu da sala, ela respondeu a Bridget.
— Desculpe-me, duquesa, mas o que faz você pensar que eu tenho que obedecer a qualquer coisa que você me diga? — ela se sentou em uma cadeira próxima e cruzou as mãos no colo, para que não fossem usadas para estrangular a nora parada diante dela.
— Seu casamento nada apropriado com o duque já é sabido, e agora se fala que você tem um amante. É embaraçoso que você se rebaixe de forma tão patética a ponto de perseguir o irmão do homem que a dispensou há tantos anos.
— Quem contou a você tamanha falácia? — Nina perguntou.
Como Bridget descobriu sua associação com Byron? Ela fora muito discreta e só falara do assunto com Darcy, e a duquesa nunca violaria sua confiança.
— Não preciso de ninguém para me contar o que vi com meus próprios olhos ontem à noite. Você, perseguindo um homem como uma prostituta de Covent Garden.
Bridget vira os dois se beijarem no jardim?
Nina ignorou o comentário cortante e respirou fundo, fingindo inocência.
— Você quer dizer o Sr. Byron Hill, eu presumo. — apenas a menção do nome de Byron fez seu coração pular no peito. — Que estou fazendo um espetáculo de mim mesma procurando por ele.
Você se esqueceu de que somos amigos desde muito antes de termos nossas primeiras temporadas na cidade? Que eu praticamente cresci com ele? Claro que eu gravito na direção dele.
Ele é a melhor pessoa que eu conheço.
Os olhos frios da duquesa se estreitaram em fendas irritadiças.
— Ele devora você a cada olhar. É óbvio para todos os que estão apaixonados um pelo outro, talvez até já fossem amantes. O
que, considerando seu passado, não surpreende a mim ou ao duque.
Se as palavras da duquesa foram pensadas para fazer Nina repensar seu relacionamento com Byron, teve o efeito oposto. Na verdade, saber que Byron a devorava cada vez que a olhava a enchia de uma necessidade não satisfeita.
O chá chegou e, felizmente, deu a Nina um momento para se recompor. Como Bridget se atrevia a repreendê-la dessa maneira.
Ela era viúva, e uma de independência financeira. Ela pode fazer o que quiser sem se importar com os problemas que os outros vissem nisso.
— Ele pode querer me cortejar, e caso eu decida por levá-lo para a minha cama, tem minha palavra de que serei discreta.
Bridget ofegou, a demonstração de choque e indignação sendo a mistura mais nítida de emoções que ela já vira a mulher expressar na vida.
— Como se atreve? Como pode dormir com um homem que não é seu marido? — a duquesa apontou um dedo na direção dela, apunhalando-o no ar. — Você é uma puta. Não deveria estar em Mayfair, mas em Convent Garden, onde todas as outras meretrizes oferecem seus serviços.
Raiva atravessou Nina.
— Não me critique por ser uma mulher de pensamentos e necessidades independentes. E nunca me acuse de ser uma meretriz, quando seu marido, sem dúvida, busca o prazer nos braços de tais mulheres em suas incursões aos bairros mais pobres.
Nina sentiu uma pontada de culpa quando o rosto de Bridget empalideceu com suas palavras, mas então a lembrança das acusações de sua nora tóxica afastou o sentimento.
O rosto de Bridget se contorceu e tornou-se algo feio e cruel.
— Sabemos que as meninas não são do duque. Como meu sogro se apaixonou por uma ardilosa é algo que nunca vou entender. Anos atrás, dizia-se que você estava a poucos dias de anunciar seu noivado com o Sr. Andrew Hill, mas da noite para o dia estava noiva do meu sogro, e o Sr. Hill estava noivo da Srta.
O'Connor. Você entende que casamentos apressados sempre fazem com que os outros se perguntem qual o motivo por trás dessas decisões. O seu não é diferente. — ela disse com despeito meloso.
Nina zombou, mas seu sangue gelou com a menção às suas filhas e ao fato de Bridget e o duque acharem que não eram de
George.
Outros suspeitavam?
E agora, com sua amizade com Byron reavivada, esses rumores poderiam se inflamar ainda mais. Mas então, e daí? Ninguém poderia provar que as meninas não eram de George e não havia nada de errado em ser amiga de Byron. Mesmo se o apego entre os dois estivesse transpondo a amizade. Ela não se intimidaria diante da mulher sentada à sua frente, uma mulher desagradável, vingativa e infeliz. Nina não permitiria que a duquesa arruinasse sua vida.
Não agora que ela enfim se recuperara e era a dona de seu próprio domínio.
— Saia e jamais volte aqui. Nem você nem o duque são bem-vindos nesta casa, que eu devo lembrá-la, é minha por lei. Vocês não têm direito sobre mim ou sobre minhas propriedades. Não têm o direito de falar o nome das minhas filhas. Não me considere uma tola ou a uma mulher que aceitará tais insultos. Eu também tenho amigos, Bridget. Amigos que a excluiriam dos círculos sociais sem hesitação, caso essa conversa fosse mencionada.
Bridget se levantou e toda a pretensão de civilidade desapareceu.
— Eu também tenho amigos, não se esqueça. Quanto a esses rumores, não quero que circulem tanto quanto você. Tenho filhos que sofrerão com esse escândalo, caso seja revelado. Sugiro que termine com o Sr. Byron Hill antes de ser pega e não reste nada à ser feito para ajudá-la.
— Eu não preciso nem busco seu auxílio. Vá embora. Agora.
Bridget saiu pela porta, e Nina pegou a xícara de chá, tomando um gole. Que bruxa tóxica. Ela pensou nas palavras de Bridget a respeito dela e de Byron, e se perguntou se estavam sendo óbvios em público. Ele de fato a encarava como se desejasse devorá-la?
Um sorriso retorceu seus lábios. Sim, ele a devorava, e ela adorava que fosse assim. Mas ela adequaria sua reação a ele em público, apenas para manter as meninas longe de possíveis escândalos. Ela jamais iria querer magoá-las só por não conseguir se controlar na frente de Byron.
BYRON ESPERAVA na sala de visitas do duque e da duquesa de Althelby, tentava manter a compostura enquanto eles esperavam o anúncio do jantar. Seu primo havia enviado a ele o convite para este jantar íntimo oferecido pelo duque e pela duquesa, e ele estava além de agradecido. A noite estava apenas começando, Nina chegaria em breve e havia poucas pessoas, o que significava que ele poderia monopolizar seu tempo, ficar junto dela. Talvez até pudesse acompanhá-la até em casa e roubar um beijo ou dois.
Ele sentiu o sangue aquecer ao pensar na possibilidade, tentando, sem sucesso, ouvir o marquês e o duque falarem sobre um cavalo que iria a leilão em Tattersalls, interesse dos dois. A atenção dos três estava voltada para a porta do cômodo.
Ele não precisou esperar muito e perdeu o ritmo da respiração ao ver Nina. Esta noite, ela usava um vestido que era pura perfeição, e se acomodava em torno de seu corpo leve sem falhas.
O vestido de musselina verde abraçava seus seios e dava uma sugestão do formato de sua cintura e quadris bem torneados.
O tecido translúcido era de cor clara, mas o forro era de uma tonalidade mais forte, fazendo o vestido cintilar a cada passo que ela dava. O olhar de Byron e Nina se cruzaram, e ele sorriu. Um leve rubor percorreu as bochechas dela, e ele lutou para não ir em
sua direção assim tão depressa. Não deveria ser demasiado óbvio em seu interesse.
— Ela é uma mulher muito bonita. — disse o primo, inclinando-se para ele de forma a garantir certa privacidade dos outros convidados, fora o duque.
O duque riu, erguendo o copo em saudação.
— Ela é minha parente. Boa aparência é uma característica com a qual todos somos abençoados.
O marquês zombou.
— Darcy é linda. Você, por outro lado, tenho certeza de que ela teve pena e nada mais.
Byron riu quando o duque tentou argumentar, mas depois precisou admitir que Darcy era mesmo linda, que era sortudo de tê-
la como esposa.
— Então... — disse o duque depois de um momento. — Nina será a próxima Sra. Hill, meu bom homem?
Byron esperava que fosse assim. Não havia nada mais que ele quisesse do que tê-la como esposa. O carinho que ele sentia por ela havia mudado, há muito tempo, de amizade para muito mais. Seus sentimentos agora eram muito mais fortes do que o que ele sentia por ela há cinco anos. Ele a amava naquela época, mas agora ele a adorava e a amava muito mais.
Vê-la como uma mulher, uma lady gentil e inteligente sem se importar com o status de quem se dirigia a ela. Que cuidava e amava as filhas, as colocava a frente de todos os outros, tornava o que ele sentia por Nina mais intenso do que qualquer coisa que ele tenha sentido na juventude.
— Se ela me quiser, é claro que eu me casaria com ela. Mas o que quer que seja isso entre nós, também é muito novo. Não quero apressá-la.
Ele precisava que Nina o amasse antes de pensar em pedir a mão dela em casamento. Não porque ele precisasse que esse sentimento fosse dito em voz alta entre eles, mas porque sem amor não havia chance de que ela o perdoasse pelo que ele havia feito no passado. Ou pelo menos, o que seu irmão havia garantido que ele fizesse sem o conhecimento deles. Sem amor, ele não teria chance de ser perdoado por ela.
O irmão o abordara na biblioteca na noite anterior, exigindo que ele dissesse à duquesa a verdade da situação deles. Byron faria isso, e logo.
— Eu acho que ela o aceitaria. Ao menos é o que me parece se pensarmos na admiração que ela transpõe quando acredita que mais ninguém a olha. — o marquês sorriu para ele, tomando um gole de uísque. — Já conversaram sobre a possibilidade de um futuro?
Byron assentiu, terminando a bebida que tinha nas mãos.
— Sim, e estamos dispostos a tentar. Sei que ela é muito independente e focada, especialmente quando se trata da escola.
Mas eu gostaria de ajudá-la com esse empreendimento. Eu faria qualquer coisa para passar um tempo com ela.
O marquês deu um tapa no ombro dele.
— Bom homem, você está apaixonado por ela.
A frase ecoou em seu ouvido e, no entanto, não o assustou. Por que não admitir os sentimentos quando eram verdadeiros? Ele a amava, a amava há anos. Ela simplesmente não estava ciente do fato. Mas estaria em breve. Agora que seriam amantes, ele mostraria o quanto ele a adorava e a valorizava, a cada segundo que passassem juntos.
— Sim, estou. — ele admitiu, sorrindo um pouco. — Agora, se me derem licença, vou desafiar uma duquesa a fazer o mesmo.
Ele deixou o duque e o marquês rindo atrás dele, e seguiu para Nina. Ele a encontrou tomando uma taça de champanhe sozinha ao lado da lareira, perdida em pensamentos. Ele levantou a mão enluvada dela e deu um beijo gentil, demorando-se um momento mais para saborear a sensação de tocá-la de novo.
— Boa noite, Sua Graça. Você está muito bonita esta noite, mas acredito que já saiba disso.
Nina sorriu para ele e recuou a mão.
— Obrigada, Sr. Hill. Que gentileza sua notar.
— Eu noto tudo sobre você. — ele sussurrou, parando ao lado dela para que pudessem conversar um pouco mais em particular.
— Senti saudades.
Com o braço encostado ao corpo; e a jaqueta como proteção, ele esticou a mão para segurar a mão dela que estava rente ao vestido. Seus dedos se entrelaçaram, e foi o movimento mais erótico que ele já viveu na vida. É claro que ele já dormira com mulheres antes, mas tocá-la de maneira tão clandestina, tocar Nina e nenhuma outra, mesmo que fosse apenas a mão dela, enviou choques ao coração dele.
Era possível que ele a amasse mais do que ela jamais o amaria.
Tal ideia o deixou reticente. Ele poderia se machucar adorando-a tanto. Ela ainda precisava saber a verdade acerca da noite que passaram nos braços um do outro. Ele odiava que ela pudesse ficar magoada ao saber que o irmão havia enganado os dois para estarem no mesmo lugar, sob falsos pretextos, e terem chegado a um ponto em que nenhum dos dois poderia ignorar o que havia ocorrido. Mas correr o risco de amar essa mulher, de tê-la como sua, de chegar a casar-se e acordar ao lado dela pelo resto de seus dias, era um perigo que ele estava disposto a se correr.
Ela não se afastou do toque dele, e o olhar que ela deu a ele irradiava necessidade e desejo.
— Senti saudades também. E eu também gostaria de falar com você sobre algo, mas não aqui. Vai me acompanhar até em casa mais tarde? Precisamos ficar sozinhos para essa conversa.
— É claro. — ele disse sem pensar duas vezes. Uma pequena linha de expressão formou-se entre os olhos dela, e ele se perguntou no que ela estaria pensando. Alguma coisa a preocupava? — Diga-me, por favor, que o que você deseja conversar comigo hoje mais tarde não implica dizer que não poderemos ficar juntos. Eu não poderia suportar tal destino. Não depois da outra noite.
Ela balançou a cabeça, alguns fios de cabelo movendo-se à frente de seu rosto.
— Não é isso. Eu prometo.
— Você parece um pouco triste, Nina. Tem certeza de que deseja esperar até mais tarde para falar sobre o que a está incomodando? Tenho certeza de que podemos encontrar um lugar privado depois do jantar.
O mordomo entrou na sala e, curvando-se para os convidados, declarou que o jantar estava servido. O seleto grupo de convidados foi até a sala de jantar no lado oposto da casa, e Byron se viu sentado ao lado da duquesa de Athelby. Ele preferiria estar sentado ao lado de Nina, mas Darcy era uma companhia adorável e sempre mantinha uma conversa interessante, se não divertida.
O primeiro prato veio, e eles comeram em meio a uma conversa de assuntos gerais da sociedade e o que as pessoas planejavam fazer nas próximas semanas. Byron ouviu e observou Nina, que estava sentada no lado oposto da mesa e mais adiante. A conversa dela com o primo dele, o marquês, parecia agradável, mas era
visível que havia pensamentos incômodos rodeando a cabeça de Nina.
— Está tudo bem com Nina, Sr. Hill? Ela parecia um pouco distante antes de jantarmos. — disse a duquesa enquanto continuava a refeição.
Byron suspirou, ele se fazia a mesma pergunta.
— Vou acompanhá-la no trajeto para casa hoje, e ela mencionou que há algo de que ela gostaria de falar comigo, mas não quis me dizer o quê. Espero que ela esteja bem. Não gosto de vê-la tão distraída.
— Acredito que não. — a duquesa lançou um olhar divertido para ele. — Convenhamos, Sr. Hill. É óbvio para todos nós aqui, amigos seus, devo acrescentar, que você está apaixonada por Nina.
E por que não estaria? Você a conhece há muitos anos, eram melhores amigos antes de ela se casar com o duque. Quando se tem uma conexão com alguém, uma ligação fundamentada em amizade, às vezes o amor é uma progressão natural.
Como havia acabado de tomar um gole de sua bebida, Byron tossiu, quase se engasgando com o vinho por causa das palavras ousadas da duquesa.
— A decoração da mesa está linda, Sua Graça. — disse ele, esperando que a mudança repentina de assunto fosse indicativo o suficiente de que ele não queria mais falar dele e de Nina. O que havia entre os dois era particular e muito, muito novo. Ele não queria que os amigos se envolvessem demais quando ele próprio ainda estava à deriva nesse relacionamento.
— Muito bem, vou abandonar o assunto. Mas, quanto às dificuldades de Nina, acho que você descobrirá que ela está tendo problemas com a nora, a duquesa de Exeter. Soube hoje de
rumores de que a duquesa está bastante chateada com a abertura de uma escola em Kent, e ouvi seu nome ser mencionado.
— O quê? — ele disse, ajustando o tom quando o duque de Athelby de onde estava com um olhar inquisitivo. — Peço desculpas, Sua Graça, mas por que estariam falando de mim? Eu não sou ninguém importante.
— Você é o melhor amigo de uma duquesa viúva, trata-se de uma amizade entre um homem e uma viúva. Conversas surgem.
Byron se encolheu.
É claro que a Duquesa Intrometida de Exeter estaria causando problemas para Nina por causa da associação com ele. Bem, ele não aceitaria. Como alguém ousava tentar fazê-los se distanciar, deixar de serem amigos, de se verem. Agora que ele tinha a liberdade de fazê-lo, ele cortejaria Nina, ou qualquer outra pessoa, se ele quisesse, e nenhuma bruxa fofoqueira cruel lhe faria acreditar no contrário.
— Obrigado por me avisar. Adequarei a minha postura e comportamento na próxima vez que estivermos juntos em um evento da sociedade.
— Você deixaria de cortejar Nina? Não pode. — disse Darcy, um olhar tão ártico quanto o que o marido dela havia lhe lançado há pouco.
Byron riu, cortando sua carne com mais força do que o necessário.
— Ah, não. Não serei mais discreto, me deixarei ser mais notável. Quando me dizem que não posso ter algo que quero, aí é que me torno ainda mais teimoso. E cá entre nós, duquesa, quero Edwina, e vou provar a ela que ela também me quer. Não apenas como amigo, mas como marido.
Darcy deu um tapinha em seu braço, sorrindo.
— Eu sabia que não estava errada sobre você. Tenho fé de que será bem-sucedido.
Byron olhou mais para baixo da mesa e encontrou Nina, sorrindo. Ele teria sucesso. Falhar nesta situação não era uma opção.
— Também tenho fé de que sim.
CAPÍTULO 9
A caminho de casa, após o jantar do duque e da duquesa de Athelby, Nina estava sentada ao lado de Byron enquanto seguiam pelas ruas de Mayfair, rumo à casa dela. Seu condutor levaria Byron para casa depois que ela fosse deixada em segurança à sua porta.
Ela franziu o cenho, olhando as ruas do outro lado, imaginando como contar a Byron sobre as acusações de sua terrível nora hoje.
Era humilhante que ela tivesse que contar essas coisas a ele.
Horrível que a sociedade estivesse fofocando sobre eles como se estivessem tendo um caso clandestino, o que não estavam. Ainda não pelo menos. Se era para ser acusada de algo, ela queria ser culpada.
— Eu queria falar com você em particular porque hoje recebi a visita de...
— Eu sei quem a visitou, não precisa me explicar nada. Vamos ignorar a duquesa e sua língua cortante e fazer o que quisermos.
Ele pegou a mão dela, desabotoando a luva da altura do cotovelo para baixo antes de deslizá-la. Um arrepio percorreu o corpo dela por estarem tão perto um do outro de novo. Apenas os dois sem mais ninguém para distraí-los ou interromper o que era inevitável.
— Eu não me importo se nos tornarmos assunto para as fofocas da cidade. Tudo o que me importa é você.
As palavras dele foram como um elixir reparador, um que ela precisava desde o momento em que Bridget saíra de sua casa de manhã.
— Como eu me joguei para seu irmão anos atrás, fico com a impressão de que estou fazendo o mesmo com você. Ela me chamou de meretriz. Diz que sou uma pessoa que não consegue deixar de lado o passado.
Byron se aproximou dela, envolvendo o braço em seu ombro e puxando-a para perto dele.
— Nós éramos melhores amigos muito antes de você se apaixonar por meu irmão, o que eu acredito que não passou de uma fantasia juvenil que se desvaneceu quando você cresceu. O que temos juntos, o que sinto por você... não deixe uma duquesa desagradável e infeliz estragar. Não vou me afastar de você, não vou deixá-la de novo, se esse for o seu medo.
Lágrimas formigaram nos olhos dela, e ela piscou para afastar a tolice. Byron estendeu a mão e limpou uma lágrima perdida de sua bochecha, e ela fungou.
— Me desculpe. Não sei por que estou sendo tão emocional ante o que Bridget disse. Eu não deveria deixá-la me abalar dessa maneira, mas ela fez com que eu me sentisse vulgar. Me fez acreditar que a sociedade desprezaria minhas filhas por permitir que um cavalheiro me cortejasse.
— Não. — ele disse balançando a cabeça. — Você é uma mulher bonita, jovem demais para ser matrona e doce demais para ser vista como algo além de maravilhosa. Suas filhas iriam apoiá-la em se arriscar, se houvesse a possibilidade de encontrar o amor.
Quero que você se arrisque comigo. — Byron a estudou por um momento, e ela se perguntou o que ele estava guardando para si. —
Eu...
— O quê? — ela perguntou quando ele não disse mais nada. —
Diga-me o que queria dizer.
Ele segurou o queixo dela um aperto leve, erguendo o rosto para cima, como se estivesse prestes a beijá-la, mas, em vez disso, disse:
— Eu sempre adorei você. Quando eu a vi com meu irmão, anos atrás, fiquei transtornado. Eu representava um papel, criava escândalos, jogava e bebia, flertava com jovens e velhas. E tudo isso porque eu queria você, mas você só olhava para outro lado. Eu pensei que se fizesse barulho suficiente você me veria. Você deveria ter se casado comigo. Não com Andrew, nem com o duque de Exeter, mas comigo.
Nina sentiu a respiração rarear, e um pedacinho dela morreu ao saber que ele a desejava, mas que em sua idiotice juvenil, ela não o via como algo além de um amigo. Como ela poderia ter sido tão cega?
— Eu vejo você agora. — disse ela, apertando as lapelas da jaqueta dele. Ela fincou os dedos no tecido e o puxou para perto. —
E eu não estou olhando para nenhum lado em que você não esteja.
Byron rosnou e tomou a boca dela em um beijo ardente, e ela retribuiu à altura. A carruagem retumbava ao longo da estrada de cascalho em direção à sua casa, a sociedade de Londres e seus muitos entretenimentos passavam por eles alheias às janelas da carruagem, e o beijo continuou...
Com cada movimento da língua dele, cada mordida de seus dentes, a atração deles se solidificava dentro de Nina, e ela não queria que desaparecesse nunca. Ó, ela via Byron agora, ele era tudo o que ela via e era uma imagem da qual ela odiaria se separar.
Um homem honrado, um homem capaz de lealdade, amizade e amor. Uma alma gentil e apaixonada que era perfeita para ela em todos os sentidos.
A ideia de que ele deveria saber quem era o verdadeiro pai de suas filhas atravessou sua mente, mas ela a afastou bem para o fundo. Com certeza ele a perdoaria pela falsidade, entenderia que ela não tivera muita escolha fora se casar com o duque quando Andrew a abandonou depois de uma noite juntos.
Ela beijou Byron com toda a paixão que pôde mostrar, e depois de semanas ao lado dele, observando-o, desejando-o, a ferocidade do toque pele com pele era o bastante para chamuscá-la.
— Toque-me. — ela implorou já que as mãos teimosas dele se recusavam a deixar suas bochechas.
Ela apertou a mão dele e a colocou sobre o peito, gemendo com o puro deleite que o toque dele evocava. Ela queria que ele a tocasse lá, que latejava na calada da noite ansiando que ele a preenchesse e a inflamasse.
Ele manteve a mão no peito dela por cima do vestido e, deslizou os dedos para o mamilo enrugado, ele o rolou entre o polegar e o indicador.
— Você é tão linda, minha querida. Gostaria que esta noite nunca terminasse.
Nina jogou a cabeça para trás quando a outra mão dele deslizou pelas costas dela, puxando-a para mais perto ainda. Ele beijou o pescoço dela, o toque da língua deslizando até o lóbulo da orelha, fazendo-a ofegar.
— Você provoca. — disse ela, rindo um pouco. — Eu não quero que você me provoque. Quero que você me leve para sua cama.
Ele beliscou o ombro dela, beijando-a no colo, antes de se recostar um pouco, a mão indo para o topo do vestido dela e puxando-o de leve para revelar o seio. O ar fresco da noite beijou a pele dela e, por um momento, ela observou Byron a contemplando,
a necessidade e a fome em suas esferas castanhas fazendo a dor entre suas coxas dobrar.
— Tão sublime. — ele se inclinou e beijou um mamilo, um beijo suave de boca fechada antes que ele deslizasse a língua e o lambesse uma vez. — Você gosta disso, meu amor?
Ela assentiu, incapaz de formular palavras enquanto o observava cultuando seu seio. Ele voltou a beijar o mamilo, mas dessa vez com a boca aberta. O calor do toque dele a encheu de prazer e, sem pensar, ela apertou a cabeça dele, segurando-o contra ela enquanto ele a beijava e chupava seu seio.
— Byron. — disse ela durante um momento de clareza. — Não é o suficiente. Eu quero você.
A carruagem parou e, por um momento, Nina não conseguiu avaliar onde estava. Byron ajeitou o vestido dela antes de se inclinar e abrir a porta, depois desceu para ajudá-la a descer.
— E você me terá, duquesa, mas não hoje à noite. Há muitos olhos atentos para que eu vá com você. Mas irei até você em breve, seremos discretos. Não vou arriscar envolver você em um escândalo. Não importa o quanto eu queira ter você agora.
Nina não se mexeu do assento da carruagem, em parte porque não queria sair, e em parte porque não estava certa de que suas pernas a levariam. Ele lançou um sorriso divertido e estendeu a mão para ajudá-la.
Com relutância, ela aceitou a mão, grata pela ajuda. Parando diante dele na calçada, ela olhou para cima e encontrou os olhos dele. A fome escancarada em seu rosto a deixou com os nervos à flor da pele. As madeixas escuras dele, um pouco bagunçadas com a atividade na carruagem, a fizeram querer estender a mão e puxá-
lo para outro beijo. Desconcertá-lo tanto quanto ele a desconcertara.
Ela tocou os lábios, nunca havia sentido tanta paixão assim na vida. E embora ela soubesse que este era apenas o começo entre eles, ela preocupava-se com o fim. Ela não queria que terminasse.
Algo dentro dela sabia que ter Byron Hill na cama seria uma aventura que ela gostaria de repetir. Seria o suficiente para tentá-la a esquecer seus ideais de viver sozinha pelo resto da vida, contente em ser apenas uma mãe, que a faria querer jogar a cautela ao vento e se submeter à um homem. Um marido.
— Boa noite, Sr. Hill. — disse ela, caminhando para os degraus da frente de sua casa.
Byron estendeu a mão, segurou a mão sem luva dela e deu um beijo gentil.
— Boa noite, Sua Graça.
Nina suspirou, observando-o caminhar até a carruagem e pular para dentro. A porta de sua casa se abriu, mas ela não se mexeu, simplesmente assistiu a carruagem com Byron se afastar no tráfego de Londres. O som da doce voz de Molly soou atrás dela, e ela se virou para ver a filha parada na escada do lado de dentro.
— Molly. — disse ela, entrando e entregando um casaco ao lacaio. — O que você está fazendo acordada? Você deveria estar na cama horas atrás.
Ela se abaixou, pegou a filha e a levou para cima.
— Eu tive um pesadelo, mamãe. — Molly fez uma pausa, analisando a mãe. — Você está bonita, mamãe. Gostei do seu vestido.
Nina sorriu, beijando a bochecha fofa.
— Obrigada querida, mas me conte o que aconteceu no seu sonho. — disse, abraçando a menina.
— Um monstro. Atrás da cortina. Ele queria comer Lora e eu.
— Nossa, coitadinha da minha filhinha. Lembre-se, meu amor, que os sonhos são apenas fruto de nossa imaginação e, embora possam ser assustadores, não são reais. E mamãe está em casa agora. Não vou deixar nada acontecer com você.
A filha olhou para ela e esfregou os olhos, um sinal claro de que ela estava além do cansaço.
— Você vai dormir no nosso quarto hoje, mamãe?
Nina foi para o quarto das meninas, que ficava no mesmo andar que o dela, pois se recusava a deixá-las longe. Entrando no quarto, ela sorriu quando Lora se sentou na cama, parecia bem acordada também.
— Que tal em vez de eu dormir aqui, vocês meninas virem dormir na minha cama? É muito maior e podemos conversar por uns minutinhos, se quiserem. Vocês iriam gostar?
As meninas gritaram de alegria, e Molly se mexeu para ser colocada no chão. As duas garotas pegaram as pequenas bonecas que mantinham na cama e seguiram Nina até o quarto dela. Nina acendeu a lareira. As crianças se acomodaram em sua cama e logo ela as seguiu.
No dia seguinte, Nina pediu o café-da-manhã para as três no quarto e, em seguida, dispensou a criada. Ela pulou na cama entre as meninas e passou os braços nas duas.
— Mamãe, você quer saber do meu sonho?
— É claro. — disse ela, e ouviu Molly descrever o monstro que havia se escondido atrás das cortinas.
Nina analisou os traços das duas meninas enquanto contavam o sonho e como matariam a fera que assustou Molly. Elas eram tão
parecidas com Andrew, em termos de aparência, que não era de admirar que Bridget tivesse concluído que não eram do duque.
O fato de Byron não ter percebido a semelhança a deixava perplexa, mas talvez ele não as tivesse observado com tanta atenção. Ela teria que contar a verdade antes que ele percebesse.
Com suas madeixas escuras e figuras esbeltas, elas não eram nada parecidas com o duque. Ele era um cavalheiro baixinho e arredondado. As meninas eram magras e altas para a idade delas.
Sem mencionar que havia algo em seus olhos que ecoava a família de Andrew. Até Byron tinha os mesmos olhos amendoados que o irmão, e as meninas também.
Ela teria que contar a ele antes que o relacionamento dos dois se aprofundasse. Ele merecia saber a verdade para não darem início a um relacionamento cheio de mentiras e enganos. Byron merecia mais que isso.
CAPÍTULO 10
Byron visitou a duquesa dois dias depois, ao final da tarde, trazendo um buquê de rosas amarelas, que ele sabia que sempre fora sua flor favorita. Ele foi conduzido à uma sala frontal e a encontrou sentada diante da lareira apagada, lendo um livro.
— Byron. — disse ela, levantando-se e indo cumprimentá-lo. Ele o beijou na bochecha antes que se sentassem no sofá. — Chá, por favor, e por gentileza feche a porta ao sair. — disse Nina ao lacaio.
Ele se curvou e fez o que ela pediu. Em seguida ela voltou a atenção para Byron.
Hoje ela usava um vestido matutino amarelo-canário brilhante, uma cor que lhe convinha. Ela parecia a união de verão e primavera, e ele não queria nada além de beijá-la como se eles já estivessem casados.
— Você está linda hoje, Nina. Deveria usar amarelo com mais frequência. — ela ficou com as bochechas coradas e se recostou no sofá, estudando-o. — Eu não a vejo há dois dias. — comecei a me perguntar se a havia assustado.
Ela riu, depois se inclinou para frente e o beijou. Os lábios dela eram macios e quentes, e ele sentiu seu desejo por ela aumentar.
Desde que se separaram na outra noite, ele nada mais passou em sua mente, apenas tê-la em sua cama. Ele ansiava por ser o único homem que ela desejasse; desejasse e amasse, e faria tudo ao seu alcance para fazê-la amá-lo. A mente dele estava bem decidida de que o que ele sentia por sua melhor amiga era amor, verdadeiro e profundo.
— Você nunca me assustaria. Também pensei muito em você.
Ela assentiu, mas algo nos olhos dela o fez ter ressalvas.
— Há algo de errado, Nina? Por favor, me conte. Jamais quero vê-la infeliz. — ele pegou a mão dela, deleitando-se com o fato de que ela não estava vestindo luvas, e ele conseguia senti-la, o calor e os dedos delicados.
— Não fui sincera com você e temo que o que estou prestes a contar o magoe muito. A ponto de pôr um fim ao que está havendo entre nós dois.
Byron sentiu seu âmago revirar de medo porque, talvez, ele sabia o que ela estava prestes a contar. Ou pelo menos o que ela pensava ser a mentira horrível que se interpunha entre eles.
— Continue. — ele conseguiu dizer, preparando-se para ouvir o lado dela da história.
Ela se ajeitou no sofá, cruzando as mãos no colo.
— Você sabe que eu investi no seu irmão, mas o que não sabe é que eu ofereci meu corpo a ele na noite anterior ao pedido de casamento dele à Srta. O'Connor. Uma oferta que ele aceitou.
Ela olhou para o fogo, e ele desejou poder afastar a dor que ele via em suas esferas escuras. Uma dor que ele infligiu a ela, mesmo que não de propósito.
— Perdi minha inocência naquela noite e, na manhã seguinte, acordei com a notícia de que ele havia proposto casamento à Fionna, que eles se casariam na Irlanda, terra da família dela. Eu debati comigo mesma acerca de ir conversar com mamãe e papai e contar o que eu havia feito. Eu sabia que meus pais o forçariam a pedir minha mão. E com o duque de Athelby sendo meu primo, eu poderia ter usado a posição social dele para fazer Andrew se casar comigo. Mas percebi que não conseguiria me casar com um homem que dormia com uma moça solteira e virgem numa noite e era capaz
de propor matrimônio à outra moça na manhã seguinte. Um homem assim não seria digno da minha mão.
Byron apertou o queixo, a mente e o coração discutindo sobre o que ele deveria fazer e o que ele faria. Se ele dissesse a verdade, que foi ele, perderia a oportunidade de fazê-la amá-lo. De fazê-la escolhê-lo. Mas não contar que foi ele naquela cama, e não Andrew, pesava em sua consciência.
— O duque pediu minha mão quando me achou distraída na sala de música, e eu disse que sim sem um momento de hesitação ou emoção. Entendo se essas informações são demais para você suportar e você preferir se retirar da minha vida.
Byron balançou a cabeça, ergueu o queixo dela para que ela olhasse para ele. As lágrimas não derramadas que ele viu dominando os olhos dela partiram seu coração. Ele era um desgraçado por tê-la feito passar por isso. Mas não importa o quanto ele quisesse dizer a verdade, as palavras não se formavam.
Ela não o perdoaria caso ela soubesse que ele achara que ela havia ido ao quarto por ele. Que a amizade deles sempre tivera um viés romântico. A possibilidade de ela não acreditar que Andrew enganara os dois e que, portanto, ela estaria perdida para ele, fez seu estômago contrair de pavor. Por mais egoísta que fosse, ele não poderia perdê-la agora, não quando acabara de ganhar a mulher que sempre adorara.
— Isso não me faz pensar menos de você. Casar-se com o duque, sacrificar-se a um homem que você não amava, a torna honrada.
Algo que Byron não havia feito. Se ele pudesse voltar no tempo, teria lutado por ela, contado a verdade daquela noite. Exposto o irmão como o instigador que ele era. Porém, voltar não era possível, apenas poderiam avançar:
— Você deve ser louvada, e nada mais.
Ela procurou o olhar dele, os olhos brilhando de esperança.
— Você não me odeia.
— Eu nunca poderia odiá-la, Nina. Jamais.
Ela assentiu, estendendo a mão e apertando a dele no momento em que a porta se abriu, e um criado entrou carregando uma bandeja de chá junto com alguns scones cozidos no vapor.
Nina esperou o lacaio sair antes de dizer:
— Obrigada, Byron. Não sei o que faria sem você. Você é muito compreensivo comigo, ainda mais por eu ter me arruinado com o seu irmão e agora querer fazer o mesmo com você.
O corpo dele teve uma reação visceral às palavras dela, e ele quis puxá-la para seu colo e beijá-la sem se importar com mais nada.
— Você não está arruinada. — disse ele, puxando-a para ele.
Ela se deixou puxar de bom grado, e ele a encarou por um momento, desfrutando da beleza dela antes de se inclinar e beijá-la.
O toque fez seu sangue correr mais veloz. Nina apertou o rosto dele, beijando-o de volta com uma necessidade que correspondia à sua. Depois de desejá-la por tanto tempo, ele não estava certo de que eles poderiam se afastar desse abraço sem ir mais longe. E ele queria ir mais longe, muito mais.
Nina interrompeu o beijo e montou em suas pernas, o vestido embolado na cintura. O calor do corpo dela se chocou contra o calor do corpo dele no instante em que ela o beijou mais uma vez.
Ele queria amá-la de novo.
Ele ansiava e sonhava com esse momento há anos. Tê-la querendo a ele — não o irmão: ele —, o deixava sem fôlego. Ele precisava ouvir seu próprio nome sair dos lábios dela. Ela gemeu quando ele a empurrou contra seu sexo, provocando os dois.
— Por favor, me diga que você não vai fugir dessa vez e me deixar desesperada por seu toque por mais um dia. Eu não acho que conseguiria suportar uma segunda vez.
Ele riu, esfregando-a contra ele de novo.
— Você gostou do nosso interlúdio na carruagem, pelo que vejo.
Você gostou do toque da minha boca no seu seio, gostou que eu a chupasse, provocasse você com a minha língua?
Ela fechou os olhos, seu sexo pressionando com força contra o dele e fazendo seu controle vacilar. Ninguém ali fugiria de nada. Se ele faria algo, era tomar Nina aqui e agora, no sofá mesmo, e dane-se quem os interrompesse.
— Sim. — ela ofegou em meio ao beijo. — Quero você, Byron.
Aqui. Agora.
As palavras dela acenderam um fogo no sangue dele, e ele colocou a mão os corpos dos dois, e a intenção de ir devagar, de saboreá-la aos poucos, se foi. Ele abriu suas calças sem pudor, abriu a calçola dela, e a guiou para seu pênis.
Ela se alongou sobre ele e afundou devagar até tomar seu comprimento por completo. Ele gemeu. O calor dela envolveu seu membro, e ele acalmou a respiração. Não queria perder o controle como um rapaz novo e inexperiente.
As mãos dela cravaram nos cabelos dele, e ela o apertou com força, e em lenta e deliciosa tortura, ela se levantou um pouco antes de se abaixar mais uma vez.
Desta vez, ela suspirou de prazer, e ele segurou os quadris dela com firmeza, tentando de alguma forma controlar não apenas os movimentos dela, mas também os dele.
— Você é tão linda. — disse ele, beijando-a profundamente. A língua dela se uniu à dele e a cada ondulação, suspiro sussurrado e beijo decadente, seu controle oscilava à beira de um penhasco.
— Ó, Byron.
Ela se segurou nele com mais força, os movimentos ficando mais frenéticos e profundos. Neste momento, ele tentou negar-se o prazer, queria que ela atingisse o ápice primeiro, que chegasse ao orgasmo enquanto ordenhava seu membro. O mero pensamento fez suas bolas doerem, e ele colocou a mão sobre o monte dela para esfregá-lo com força enquanto ela o montava com força.
— Relaxe, Nina. — ele implorou, o som do nome dele nos lábios dela, não de mais ninguém, tornando impossível não perder o controle.
Ela era tudo para ele, e ele faria todo o possível para garantir que ela aproveitasse bem o tempo que passassem juntos, seja em circunstâncias íntimas como essa ou quando estivessem na companhia de amigos.
Ela o beijou com força, e ele gemeu quando ela se apertou em torno dele, o clímax forte dela puxando-o para a mesma conclusão.
Ele sustentou o máximo que pôde suportar, antes que suas bolas se apertassem e ele se sentisse duro e longo em seu calor. Ela afundou no peito dele, a respiração rápida enquanto os dois voltavam à realidade.
Felizmente, ninguém havia entrado enquanto se engajaram em tais atos à plena luz do sol da tarde. Ele passou a mão nas costas de Nina, um simples toque, deleitando-se com o fato de que ela por fim estava em seus braços.
— Nina. — disse ele, esperando que ela olhasse para ele.
Ela soltou um suspiro satisfeito e deitou a cabeça no ombro dele, fitando seus olhos.
— Sim. — ela disse com preguiça na voz.
Ele a observou por um momento, emoções crescendo dentro dele tanto que ele não podia mais segurá-las.
— Eu amo você. Eu sempre a amei. — os olhos dela se arregalaram, e ela se sentou, seu olhar parecia dizer que havia crescido uma segunda cabeça nele. Ele deu um sorriso largo. —
Você está chocada, percebo.
— Bem... — ela murmurou. — eu estou sim. Somos amigos há tanto tempo e, bem, eu também sempre amei você.
— Não dessa maneira. — ele balançou a cabeça, apertando o rosto dela nas mãos. — Eu amo você como um homem ama uma mulher. Como um marido deve amar a esposa. Eu a amo muito mais do que um amigo deveria amar uma amiga.
Ele não esperava que ela dissesse o mesmo em retorno.
Com o tempo, ele esperava que ela chegasse a dizer, mas não podia mais continuar sem contar a ela como se sentia. Ele cometera muitos erros quando se tratara dos dois, mas tentaria seguir em diante sem mais nenhum. O que também incluiria contar a verdade sobre a noite que os dois passaram juntos anos atrás.
Já era hora de Nina saber a verdade, e ele só podia esperar que Deus lhe desse a chance de redimir-se por sua parte no esquema do irmão. Que ela o perdoasse por sua parte no pecado.
NINA ENVOLVEU as duas bochechas de Byron, queria muito poder dizer que também o amava, mas não podia, não enquanto ele soubesse apenas de metade da história. Admitir se casar com o duque por despeito era uma coisa, mas permitir que o marido acreditasse que as crianças crescendo na barriga dela eram dele era uma vergonha que ela não suportava pronunciar em voz alta.
Byron pode amá-la, e ela o adorava em troca, mas esconder a verdade de alguém, não permitir ao irmão de Byron a oportunidade
de conhecer as filhas, mesmo que de longe, era uma vergonha que ela carregava consigo todos os dias. Não havia certeza de que Byron perdoaria tal fraude, mesmo que tais erros, cometidos por ela e Andrew, tivessem ocorrido há tanto tempo. Ouvir essas verdades agora arruinaria o que eles haviam acabado de compartilhar e, em um ato egoísta, ela não queria ter essa conversa agora. Com o tempo ela diria, mas ainda não.
Ela saiu do colo de Byron e colocou o vestido no lugar, observando-o pelo canto do olho enquanto ele fazia o mesmo com suas calças. Ele se tornou tão alto e forte, o maxilar esculpido e os olhos escuros e intensos virados para ela e a deixando repleta de nós desconcertantes por dentro.
— Jante comigo amanhã à noite. — disse ele. A sós, apenas nós dois. Eu quero você para mim.
— Onde vamos jantar? Você está hospedado na casa da sua família em Londres, onde tenho certeza de que, não preciso lembrá-
lo, seu irmão e a esposa dele também estão.
Ele colocou uma mecha de cabelo dela para trás da orelha e suspirou.
— Eles sairão amanhã à noite e só retornarão pela manhã.
Venha jantar comigo. — ele insistiu, lançando um olhar de pura súplica. — Vou pedir que a cozinheira faça seus pratos favoritos.
Nina riu, lançando-se contra ele e passando os braços em volta da cintura dele. Como é adorável que eles possam ser assim. Que pudessem tocar-se e falar com liberdade. E logo ela se abriria para ele sobre as filhas.
— Muito bem, eu irei. A que horas quer que eu chegue?
— Às oito será perfeito. — disse ele seguindo com um beijo suave. — Amanhã. Oito horas. — ele se afastou e foi em direção à porta. — Em ponto.
Ela o observou sair, depois olhou para a mesinha diante do sofá e percebeu que não haviam tomado chá e muito menos comido os scones que haviam sido trazidos. Ela tocou a campainha e pediu um banho. Não havia nenhum compromisso que demandasse sua presença esta noite, o que lhe daria um bom tempo para pensar em quando e como ela diria a verdade a Byron.
A reação dele ao saber que Nina dormira com o irmão foi melhor do que ela pensara. Alguns homens nunca perdoariam tal ato, mas Byron sempre fora diferente. Mente aberta, preocupado com ela, como deveria ser um melhor amigo.
Antes de eles se distanciarem, ele sempre fora seu cavaleiro salvador. Não deveria ser surpresa para ela que ele apoiasse e entendesse os motivos para agir como agiu e perdoasse suas ações. Isso lhe dava esperança de que ele a perdoasse apesar do fato de que as meninas eram filhas de Andrew, seu irmão.
Ela saiu da sala e começou a subir as escadas, o som do riso das filhas no quarto delas trazendo um sorriso aos lábios. Ela se apegaria ao fato de que Byron aceitaria a verdade quando contasse, e não se preocuparia com isso agora. No dia seguinte, ela compareceria à uma reunião com a Sociedade de Socorro de Londres, precisava dormir cedo.
Ela checou as meninas e deu boa noite antes de ir para o seu próprio quarto.
O jantar de amanhã à noite seria delicioso com Byron, e seu estômago palpitava ante o conhecimento de que o veria mais uma vez. Ele era o melhor dos homens, e se as reações dela junto dele fossem algum indicativo, ela também estava se apaixonando por seu melhor amigo. Não, ela não estava se apaixonando por ele. Ela já estava apaixonada.
CAPÍTULO 11
Byron sentou-se na biblioteca e observou o relógio seguir com lentidão até atingir a hora em que Nina deveria chegar. Ele bebeu o conhaque e passou a mão pelo cabelo. O irmão dele, maldito fosse o homem e sua esposa intrometida, estava atrasado e ainda não havia saído para o compromisso dessa noite.
Nesse ritmo havia uma grande chance de que todos eles se cruzassem no corredor.
Uma batida na porta soou e Byron xingou, se levantou e ajustou a gravata enquanto rumava para a porta, para receber Nina.
Ela entrou na casa, desamarrou a capa e a entregou ao lacaio que aguardava. A passada de Byron se interrompeu e, por um momento, sua capacidade de falar sumiu. Ela lançou um sorriso conhecedor, antes de esticar a mão para que ele a beijasse.
— Boa noite, Sr. Hill. Espero não estar atrasada para o nosso jantar.
Ele negou com a cabeça, levantando a mão dela, mas em vez de beijar as costas da luva, ele virou a mão e beijou a palma. Ela aproveitou a oportunidade para tocar sua bochecha, antes que ele passasse o braço dela no dele e seguissem em direção à sala de jantar.
— O jantar será servido agora mesmo, então pensei em pular as bebidas e ir direto ao jantar.
— Você está ansioso pela sobremesa, Sr. Hill? — ela perguntou com um sorriso malicioso.
Ó inferno, sim, ele estava ansioso.
E, uma vez servido o jantar, ele tinha plena intenção de dispensar a criadagem para a noite e tê-la só para ele pelo resto da refeição.
— Sua Graça?
Nina parou na porta da sala de jantar e ergueu os olhos para o irmão dele, que estava no topo da escada.
— Eu não sabia que Byron teria companhia hoje à noite... —
Andrew gesticulou com as mãos. — Você. Achei que a Senhora nunca mais daria o ar da graça nesta casa.
Nina levantou o queixo, e o olhar frio que ela deu ao irmão de Byron seria suficiente para minar qualquer ideia de amizade, se era isso que ele estava buscando.
— Byron e eu éramos amigos muito antes de eu pôr meus olhos em você, Andrew.
Byron conteve uma risada ante o rosto chocado do irmão, mas ele ficou rígido quando Fionna apareceu e parou ao lado do marido, pegou em seu braço, e os dois começaram a descer as escadas.
— Vamos deixá-los, Andrew. Parece que os rumores sobre a duquesa são verdadeiros.
Byron cobriu a mão de Nina que pousava em seu braço com a dele. Ela sempre teve um temperamento forte e, ao ouvir tal calúnia, ele duvidava que ela fosse deixar passar.
— Você deve um pedido de desculpas à duquesa, Fionna. Você e Andrew sabem muito bem que somos amigos há muitos anos.
Nosso jantar esta noite não passa de um jantar entre amigos.
Nina riu, olhando para Andrew e a esposa.
— Eles não saberiam discernir o que é uma amizade, Byron.
Assim como rumores circulam acerca da minha pessoa, circulam em torno dos senhores também, Sr. e Sra. Hill. E deixe-me contar que vocês dois são vistos como o casal mais enfadonho de Londres
nesta temporada. Talvez devam abster-se de insultar seus vizinhos e poderiam tentar se divertir um pouco antes de retornarem à Irlanda. De fato... — continuou Nina, afastando-se de Byron e indo em direção à sala de jantar. — Eu não acredito ter visto nenhum de vocês sorrir alguma vez. Alguns acham que nem gostam muito um do outro.
— Edwina, como você pode ser tão ríspida? — Andrew exigiu, pegando o braço da esposa e ajudando-a a descer o restante da escada.
Nina deu de ombros.
— Falo do que vejo. Boa noite. — disse ela, entrando na sala de jantar.
Byron olhou para o irmão, que estava com a cabeça virada para trás. Ele suspirou quando a porta da frente se fechou. Respirando fundo, ele se juntou a Nina. Depois que os criados trouxeram os três pratos, ele os dispensou para a noite.
— Peço desculpas, Nina. Pensei que eles sairiam às oito. Caso tivesse sabido da mudança de planos, eu a teria avisado para retardar sua chegada.
Ela balançou a cabeça um pouco, servindo-se de uma tigela de sopa de tartaruga para si.
— Mesmo que me entristeça que seja óbvio que nós quatro não possamos ser educados um com o outro, e pelo menos fingir que nos damos bem, consigo entender o ódio dela por mim. Tenho certeza de que Andrew contou a ela que me cortejou no passado.
Byron assentiu, mas para ele foi uma corte evasiva. Seu irmão contara a Fionna que ele cortejara Nina, mas não que ela fizera uma proposta a ele, proposta essa que ele concordara com a intenção de induzir Byron a trocar quartos com ele, permitindo que Nina aparecesse em sua suíte pensando que encontraria Andrew. Que
bagunça perversa eles haviam feito de suas vidas, as mentiras com as quais viviam e tentavam esconder um do outro.
— Não vamos mais falar deles. Entendo que você teve uma reunião da Sociedade de Socorro de Londres hoje. Como foi? Mais algum progresso com a escola? — ele perguntou, dando a Nina toda sua atenção.
— A reunião correu bem. Estamos pensando que algumas das crianças mais velhas, aquelas que desejam aprender a trabalhar nos estábulos, ou com cavalos em geral, e até mesmo na fazenda, poderiam ir estudar em Kent comigo. Um tipo de programa em que elas mudem da cidade para buscar outra linha de trabalho, se quiserem. É claro que ainda ensinaríamos matemática e gramática, mas também precisamos considerar a escola como um caminho para o futuro deles. Uma alavanca que os levará a uma direção de emprego seguro, longe das tentações cruéis e às vezes desagradáveis da vida de Londres.
Byron observou a boca dela enquanto ela falava sobre as crianças que ajudaria, as ideias e sonhos que ela nutria para a escola. Um enorme sentimento de respeito e pura adoração ecoou através dele. Como ela poderia ser tão maravilhosa? Como ele havia tirado a sorte grande por ter uma segunda chance com ela.
O jantar deles terminou, e ela tomou um gole de vinho, observando-o por cima da taça.
— Você está muito quieto, Sr. Hill. Eu falei tanto que o fiz se esquecer como se fala? Eu sei que fui muito vocal em minhas ideias. Espero não ter aborrecido você esta noite.
Ele riu, pousando a própria taça de vinho do porto.
— Você não me entedia. Pelo contrário. Se algo, você me inspira a ser melhor.
E ele o faria, se ela o deixasse ajudar. Ele se casaria com ela amanhã e a seguiria até os confins da terra, ajudando tantas pessoas quanto ela desejasse, se ao menos ela aceitasse ser sua esposa.
— Você não deveria dizer essas coisas. Posso aceitar sua recém adquirida inspiração fazê-lo me ajudar.
— Apenas diga o que deseja, e eu tornarei realidade.
— Sério? — ela lançou outro sorriso cheio de malícia. — Então...
— disse ela, empurrando a cadeira para trás e indo parar diante dele. — Se eu pedir que você me leve para o seu quarto, me deite na sua cama e faça amor comigo, você faria?
Cada célula do corpo de Byron ganhou vida com a ideia, e ele engoliu em seco. Ele estendeu a mão e passou sobre o quadril dela, a seda do vestido não era impeditiva, permitindo que ele sentisse todas as curvas de sua figura perfeita.
— Eu obedeceria. — ele encontrou o olhar dela, e ela se encaixou entre as pernas dele, passou a mão no cabelo dele, apertando um pouco. — Eu faria qualquer coisa por você, Nina.
Ela apertou a pegada nos cabelos dele ao baixar o corpo e o beijar. Ele pensou que o beijo seria cheio de fogo, fome, todas as coisas que ele estava sentindo naquele momento por ela, mas, em vez disso, foi lento, uma exploração. Uma doce sedução que, caso ele estivesse de pé, o faria cambalear.
Ele se levantou e a trouxe para seus braços, sorrindo ante o gritinho risonho dela, antes de sair da sala de jantar e seguir para o quarto.
— Acho que nunca vi seu quarto antes, Sr. Hill. Que escandaloso de sua parte levar para o seu quarto uma mulher que você recebeu para jantar. O que os criados terão a dizer sobre isso?
— Eu não dou a mínima para o que alguém possa vir a dizer.
E, felizmente, para provar seu argumento, passaram por dois criados que haviam acabado de descer do terceiro andar, os olhos arregalados, uma prova de que ele teria que propor casamento à Nina, e logo. Não que ele não pretendesse fazer exatamente isso.
De fato, agora que ele a tinha aqui, era o momento perfeito para pedir que ela fosse sempre dele.
Um dos lacaios se apressou em abrir a porta do quarto e, agradecendo ao criado, ele a fechou com o pé, colocando Nina em sua cama. Em seguida, ele voltou até a porta e a trancou antes de se virar para observá-la.
— Dispa-se, duquesa. — disse ele, puxando a gravata do pescoço.
Ele continuou perto da porta, contente em vê-la alcançar a parte de trás do vestido e começar a tirá-lo. Ele tirou as próprias roupas e caminhou devagar em direção à cama, sem deixar de observá-la deslizar o vestido por cima de um ombro e depois pelo o outro e soltar a roupa aos pés.
A camisola leve dela permitia que ele visse seus seios abundantes e o tom escuro de seus mamilos eretos, bem dispostos, quase imploravam para que ele os beijasse. E antes que essa noite terminasse, ele os beijaria, assim como beijaria cada centímetro do corpo dela.
— A camisola também, duquesa. Quero você nua, quero ver você se despir diante de mim.
Ela ergueu a sobrancelha, e ele se perguntou se ela não gostava das ordens dele, mas, em vez de desobedecer, ela pegou as amarras na altura do pescoço e as soltou, permitindo que a peça se abrisse na parte da frente. Assim como ela fez com o vestido, ela deslizou a camisola por um ombro e depois pelo outro antes que o
tecido também se acumulasse em torno das pernas, aos pés da cama.
— O termo correto é duquesa viúva, só para você saber.
Byron ignorou a piada, estava hipnotizado pela imagem dela, completamente nua em frente a ele. Ele não a via assim desde que a noite em que passaram juntos tantos anos atrás. Ele costumava tentar relembrar ao longo dos anos, e às vezes ele conseguia uma imagem nítida, mas nada era tão maravilhoso quanto ver Nina em carne e osso, o corpo abundante dela para amar, para adorar.
Ele caminhou até a cama, estendeu a mão e passou o dedo pelo meio do peito dela. O traço bem vagaroso, ele sentiu a pele macia do estômago, antes de deixar o dedo deslizar para tocar o umbigo dela.
— Você é tão bonita. Faz meu coração doer.
Ela estremeceu, e ele se aproximou ainda mais, sentindo o perfume de jasmim que ela sempre usou para lavar os cabelos, o perfume limpo de sabão de lavanda em sua pele.
— Você também faz meu coração doer.
Ele a beijou, abaixando-a devagar para a cama e se acomodando entre suas coxas. Ela o beijou com tanta ternura que ele pensou que poderia morrer de felicidade. Morrer de amor por ela.
NINA ABANDONOU quaisquer inibições ou preocupações acerca do que as pessoas poderiam pensar do relacionamento deles, e se deixou aproveitar da sensação de ter Byron em cima dela, beijando-a, acariciando-a de uma maneira tão doce e leve que a deixou louca de necessidade.
Ela o queria com uma intensidade que a assustava, e envolvendo as pernas em volta da cintura dele, ela pediu que ele a tomasse. Centímetro a centímetro delicioso, ele deslizou dentro dela, preenchendo-a e inflamando-a mais do que nunca.
Algo havia mudado entre eles. Em algum momento, o amor que tinham um pelo outro como amigos florescera para luxúria, depois amor, e agora tocava-a na alma. Nina encontrou os olhos dele quando ele se empurrou para dentro dela, e puxou o rosto dele para um beijo.
— Eu também amo você, Byron. — disse ela, gemendo quando ele flexionou os quadris e disparou um raio de prazer por todo o seu núcleo.
Ele continuou a provocá-la com golpes lentos e agonizantes, tentadores, deixando-a cada vez mais perto de alcançar sua liberação. Ele era um homem perverso e maravilhoso, e o coração dela explodia de afeto por ele. Ela o faria casar-se com ela. nem que fosse a última coisa que ela faria antes de voltar para casa ao final da temporada. Byron era dela, e ela era dele. E havia pouco que alguém ou qualquer coisa pudesse fazer para evitar.
Ele ergueu os quadris dela, mudando o ângulo do ato de amor deles, e ela gritou o nome dele quando onda após onda de prazer sacudiu desde seu núcleo até chegar a todas as partes de seu corpo. A liberação de Byron seguiu a dela, e eles caíram em um monte de braços e pernas, contentes em permanecer unidos, mas apenas deitados um ao lado do outro, entre leves carícias, adormecendo como quisessem.
— Nina, você é minha amiga há tanto tempo. As últimas semanas foram as mais felizes da minha vida e quero que continue assim. — ele afastou o cabelo dela do rosto, passando-o por cima do ombro.
Ele a encarou por um momento, e ela teve uma ideia de para onde essa conversa iria. Ela se mexeu para deitar-se sobre o peito dele, para vê-lo melhor.
— Eu sei, comigo acontece o mesmo.
O polegar dele correu pela bochecha dela, pelo lábio inferior.
— Case-se comigo.
Ela sorriu, incapaz de esconder a satisfação ante a pergunta dele, e por que ela iria querer? Ela o amava também. Queria ele como marido, agora e sempre. Poderia não ter sido o plano dela ao vir a Londres esta temporada, mas planos mudam, e a vida dela mudaria, pois dizer não era quase impossível.
— Sim. — disse ela, sorrindo através do dilúvio de lágrimas que ameaçava seus olhos. — Sim, eu vou me casar com você, meu amigo lindo e maravilhoso.
Byron a rolou de costas, e ela riu com o deleite dele.
— Vou mimar você e suas garotas pelo resto da minha vida.
Um nó se formou na garganta dela ao ouvir as doces palavras dele sobre o futuro deles junto de suas filhas.
— Vá me visitar amanhã à noite e jantaremos de novo, mas desta vez com as meninas, para lhes contar a novidade. Se você puder chegar um pouco antes do jantar, digamos às seis, há algumas coisas que quero discutir com você.
— Nada sério, eu espero. — disse ele com um beijo gentil.
Nina sentiu um rebuliço se formar por dentro e balançou a cabeça, esperando, contra qualquer esperança, que o que ela diria sobre as filhas não resultasse na retirada da proposta de casamento que ele acabara de fazer.
— Não, nada de terrível, posso assegurar. São apenas legalidades referentes ao matrimônio.
— Muito bem, então a visitarei. Agora... — ele disse, rolando de costas e puxando-a para descansar na dobra do braço dele. —
Conte-me tudo o que eu perdi enquanto estava fora. Quero saber tudo sobre você e suas filhas antes de contarmos as novidades para elas amanhã.
Nina se jogou na conversa, muito feliz por deixar de lado o assunto que teria que divulgar na noite seguinte. Ela afastou o nervosismo provocado pela possibilidade de que, talvez, Byron não conseguisse suportar o fato de que suas futuras enteadas também eram suas sobrinhas.
Ela repetiu para si que o amor dele por ela, a história deles como amigos, o faria perdoá-la, ver que não a culpa não era apenas dela, nem que fora algo planejado. Que era apenas o resultado da precipitada decisão de se jogar contra um cavalheiro em uma época em que ela ainda era jovem e tola.
ANTES DO AMANHECER , Nina escreveu um bilhete para Byron e o deixou sozinho nos travesseiros, vestiu-se e se esgueirou escada abaixo para sair. Um lacaio estava parado na porta da frente mesmo sendo tão cedo, e ela esperava que ninguém estivesse de pé ainda.
— Posso ajudá-la com alguma coisa, Sua Graça? — ele perguntou, abrindo a porta.
— Chamaria um coche de aluguel para mim, por favor?
Ela esperou ali dentro enquanto o lacaio arrumava o transporte dela, e uma sombra em movimento no canto de sua visão quase a fez ter um ataque cardíaco antes que percebesse que era Andrew parado no limiar da porta da biblioteca.
— Posso ter uma palavra, Sua Graça? — disse ele, virando-se para retornar ao cômodo.
O lacaio entrou, e ela pediu que ele segurasse o veículo de aluguel ali, antes de entrar na biblioteca e fechar a porta. Esta era a primeira vez que ela ficava sozinha com Andrew desde a noite em que passaram juntos.
Ela ficou satisfeita ao descobrir que ao estar diante dele sozinha, e em um cômodo mal iluminado, não sentia nem um resquício de emoção por ele que não fosse decepção. Ele não era como um cavalheiro saído de um livro para ela, e não o era há muitos anos.
— Saindo às escondidas, minha senhora? — ele disse, erguendo a sobrancelha.
Com ele parado diante da lareira acesa, ela conseguiu ver uma leve sombra de barba em seu queixo e os cabelos despenteados.
Ele parecia estar vestindo a mesma roupa da noite anterior, e ela se perguntou por que ele não estava lá em cima, com a esposa.
— O que você quer, Andrew? — ela perguntou, as palavras saindo de sua boca bruscas e sem cordialidade, porque era claro que ele não merecia tal cuidado.
— Não quero nada de você, mas posso presumir que, para você ainda estar aqui a essa hora do dia, você e meu irmão devem estar de namoro. Que você o perdoou pelas ações dele naquele ano tão longínquo e que está disposta a seguir em frente como um casal.
Nina franziu a testa e estreitou os olhos para Andrew, tentando avaliar se ele estava apenas tentando criar desavenças, ou se ele estava se referindo a algo que ela não sabia.
— Estamos noivos, não que isso tenha algo a ver com você.
Você perdeu o direito de ter qualquer opinião na minha vida anos atrás. Não que eu precise lembrá-lo de que tipo de imbecil você é. O
pior tipo que uma jovem poderia ter o desagrado de conhecer.
Ele riu, e o pavio dela, já curto, explodiu.
— Você ousa rir de mim, depois do que fez? Tenho certeza de que sua esposa não sabe a verdade daquela noite.
Andrew olhou para ela por um momento e depois riu mais.
— E posso atestar pelas suas acusações que você também não sabe a verdade, minha querida. — ele suspirou, e não que ela quisesse algo dele, mas pena cruzou suas feições antes que ele dissesse: — Nós nunca dormimos juntos, Nina. Se você me conhecesse, e não nunca me conheceu de fato, saberia que eu nunca seria capaz de arruinar uma donzela solteira sem propor casamento. Por mais que eu soubesse que seus sentimentos em relação a mim eram mais do que aquilo que eu poderia devolver, eu também sabia que meu irmão estava apaixonado por você e, por isso, enganei os dois.
Pavor se instalou dentro de seu corpo, e o quarto girou. Ela caiu em um sofá e sentiu dificuldades para respirar.
— Você está me dizendo que foi com Byron que eu dormi anos atrás e não com você? Como pôde fazer isso comigo? Você sabia o que eu sentia por você.
Ele balançou a cabeça, sentando-se ao lado dela. O hálito dele estava repleto de álcool, e ela se afastou um pouco para não ter que sentir aquele cheiro.
— Eu sabia que você era apaixonada por mim, ou pelo menos que acreditava nisso naquela época, e não importa quantas vezes eu tentei dissuadi-la, você nunca entendia. E então eu encontrei uma solução alternativa. — ele riu, e ela engoliu a bile que subiu por sua garganta. — A expressão no rosto do meu irmão na manhã seguinte, quando ele descobriu que você estava noiva do duque foi um momento que nunca me esquecerei. Eu sabia que meu plano havia sido bem-sucedido, que você havia agido como uma prostituta
e deitou-se com ele, para em seguida partir o coração dele. Que triste para vocês dois.
— Mas isso significa... — o estômago de Nina revirou, e ela apertou o peito. — Ai meu Deus... Quer dizer que...
— O quê? — ele perguntou, tirando um pedaço de fiapo invisível do casaco amarrotado.
— Todos esses anos eu pensei que fosse você. Que você havia dormido comigo e dado meia-volta no dia seguinte ao propor casamento para uma outra pessoa. Mas não foi você. Seu irmão, ele não me disse que era ele e não você.
Nina não conseguiu expressar as palavras que estava presas na garganta. Chegara a falar o nome de Andrew naquela noite? Ela não conseguia se lembrar, mas se tivesse dito, Byron não a corrigira. Como ela poderia perdoar tal fraude?
— Seu desgraçado. Seu canalha. Como você pôde fazer isso comigo, ou com seu irmão ainda por cima? Você não tem consciência?
Andrew suspirou, encarando o fogo.
— Suponho que não, mas tudo deu certo no final. Vocês estão noivos, você mesma disse. Sem danos.
Sem danos!
O homem estava louco.
— Desde a minha chegada à cidade, imploro a Byron que diga a verdade à você. — continuou ele. — Eu sabia que você me odiava, o que causou tensão entre minha esposa e eu. Ela suspeita que você esteja com raiva de mim por alguma coisa, mas não sabe pelo quê. Não quero que ela ouça sua falsa afirmação de que fui eu quem tomou sua virtude, quando não é a verdade. Mas Byron não fez o que eu queria que ele fizesse, mesmo tendo tido várias oportunidades para fazê-lo.
Nina lutou para não vomitar ali mesmo.
Byron era o pai de suas filhas. Ele suspeitava? Ele seria um idiota sem não tivesse nem cogitado isso por um breve momento.
Ela com certeza teria se perguntado se estivesse no lugar de Byron.
— Depois de hoje, nunca mais nos falaremos. Se você tivesse feito a coisa certa naquela fatídica temporada e me dissesse que amava outra pessoa, eu teria ficado magoada, sim, mas teria seguido em frente como muitas jovens debutantes fazem todos os dias. Sua culpa nisso é tão grande quanto a do seu irmão, e eu jamais perdoarei nenhum dos dois.
Ela se levantou, passando a mão na bochecha e odiando o fato de estar chorando na frente de um homem em quem ela realmente queria bater.
Andrew ficou de pé, cambaleando um pouco.
— Se eu tivesse tal pretensão eu teria me afastado anos antes daquela temporada, quando descobri que Byron a idolatrava, mas não o fiz. Para ser sincero, eu gostava da atenção. Eu era um fedelho que queria esfregar na cara do irmão que eu também conseguia deslumbrar mulheres, tomar o que eu queria. Aquela temporada foi muito divertida, você deve admitir.
Nina foi para a porta, uma dor profunda e verdadeira a rasgando em dois. Byron a seduziu sob falsas pretensões. Amigos sinceros não faziam essas coisas um ao outro. A lembrança daquela noite, do que eles fizeram... de como ele beijou cada centímetro do corpo dela, beijou-a em lugares que ela não sabia ser possível.
Ela se encolheu com o horror de tudo. Ó Deus, ela nunca o perdoaria. Como ele pudera quebrar sua confiança dessa maneira?
Pessoas que se amam, como afirmava Byron amá-la, não agiam dessa forma.
Ela abriu a porta e correu para a entrada, o estrondo da porta voltando ao seu lugar após a saída dela retumbando por todo o interior da casa.
— Nina? — a voz de Byron no topo da escada só a fez andar mais rápido. Sem esperar pelo lacaio, ela correu para a carruagem que esperava do lado de fora. Ela ouviu Byron chamar seu nome, o som de seus passos audíveis mesmo do lado de fora.
— Berkley Square, e corra. — ela subiu na carruagem, recostando-se no banco e não voltou a olhar para a casa enquanto a carruagem se afastava a uma velocidade alucinante.
Ela confrontaria Byron.
Não havia dúvida de que tal conversa seria necessária, mas precisava de tempo para pensar no que faria. Como ela lidaria ao saber da verdade por trás do evento que mudou por completo a vida de todos eles. Quem ela amava, em quem confiava, quem era o pai de suas filhas.
Um soluço escapou, e ela apertou a mão sobre a boca para tentar se acalmar. Como os irmãos puderam fazer isso com ela? Era mesmo uma fraude das mais cruéis o fato de que quem ela considerava seu melhor amigo e o homem que ele amou pudessem enganá-la de tal maneira a deixava ainda mais desolada.
CAPÍTULO 12
A ssim que Nina chegou em casa, o som de batidas na porta da frente a alertaram para o fato de Byron a ter seguido até lá. Ela entrou no escritório, servindo-se de uma boa dose de conhaque e notou a hora. Ainda era bem cedo, faltavam algumas horas para as meninas acordarem. Talvez fosse melhor ela contar a Byron o que pensava da fraude dele agora, enquanto ainda estava explodindo e magoada com a descoberta.
Depois que se separassem hoje, ela retornaria a Kent e se esqueceria que havia sido enganada pelos irmãos Hill. Andrew disse que havia pregado uma peça nela e em Byron, mas foi mesmo? Ou Byron percebeu logo que ela chegou ao quarto naquela noite que ela estava lá por Andrew e se aproveitou do fato?
O som de murmúrios no corredor chegaram a ela, seguido de passos determinados no chão de parquet. A porta do escritório se abriu, e Byron entrou e fechou a porta com a mesma rapidez. Ele estendeu a mão, em súplica, ela supôs, mas fez pouco para acalmar a raiva dela.
— Deixe-me explicar, Nina. Por favor, meu amor. — ele disse, vindo pegar a mão dela.
Ela deu um tapa no braço dele, aproximando-se da mesa para aumentar o espaço entre eles.
— Explique-se, então. Explique-me como você dormiu comigo anos atrás e me permitiu acreditar que era Andrew, sabendo todo o tempo que era você na cama. Que eu havia me entregado ao irmão errado.
Os ombros dele caíram, e ela lutou contra o resquício de pena que sentiu por ele.
— Não tenho uma desculpa, não há. Mas, por favor, saiba que eu não fazia ideia de que você viria para o meu quarto. Eu não sabia da proposta que você havia feito ao meu irmão. Ele apenas me pediu para trocar de quarto dizendo que a cama era muito dura, caso contrário eu não estaria lá. Eu amava você de longe há tanto tempo que pensei que você estar no meu quarto significava que enfim havia visto o meu valor. Eu pensei que você estava lá para mim. — ele ia e vinha ao longo da espreguiçadeira, as mãos gesticulando a cada palavra. — Eu nem conseguia acreditar na minha virada de sorte. Que você estava diante de mim, oferecendo-se para me amar, e eu mal podia respirar. — ele balançou a cabeça, parecia perdido no passado. — Quando vi a esperança, o desejo em seus olhos, realmente acreditei que era por mim. Então eu dei a você o que pedia.
— O que eu pedia? Eu nunca pedi para ser enganada! Eu nunca quis você.
Ele se encolheu, e ela odiou ter que machucá-lo, mas a mentira os circundava a fez jogar o remorso pela janela.
— Nina, por favor, eu amava você mesmo naquela época. Faz um tempo que queria contar, mas como se começa uma conversa dessas? Não foi nossa culpa que aconteceu, foi de Andrew.
Ela olhou para ele, desejando que ele estivesse em qualquer lugar, menos ali.
— Você não precisava me enganar. Você poderia ter declarado seus sentimentos por mim anos atrás. Andrew pode ter me enganado e me enviado ao seu quarto, mas decerto que você me conhecia o bastante para saber que eu não era tão volátil. Que eu
realmente me considerava apaixonada por seu irmão. Que eu não mudaria de ideia da noite para o dia e me jogaria em cima de você.
Ele balançou a cabeça, abatido.
— Fiquei cego pela esperança. Acreditei que você enfim havia me notado. Eu cometi um erro.
A raiva dela aumentou, e ela apertou as mãos ao lado do corpo.
— A diferença entre você e eu, Byron, é que eu fui honesta. Fui para o quanto pensando que entrava nos aposentos de Andrew. Na manhã seguinte, você percebeu seu erro, e ainda assim escondeu a verdade de mim. Não tente me fazer pensar que é inocente nisso.
Que foi um erro bobo, e que devemos esquecer e seguir adiante.
— Eu gostaria que fosse tão simples, mas não tenho desculpa, e você sabe disso. Eu te adoro, amo você há anos. Eu odiava que você só visse meu irmão e não a mim. — ele apontou para o próprio peito, e ela engoliu em seco, freando as lágrimas que ameaçavam escorrer pelo seu rosto — Mas você nunca me viu. Só via Andrew, o calmo e perfeito. Eu soube do erro que havíamos acabado de cometer quando me deixou naquela noite. Caso não se lembre, você sussurrou o nome de Andrew em minha orelha ao sair.
Ele colocou a mão no coração:
— Juro que até aquele momento eu pensei que você estivesse lá para mim. Quando percebi seu equívoco, já era tarde demais. Eu planejava cortejá-la depois disso, e passei o restante da noite refletindo sobre como a faria minha, como iria seduzi-la se fosse necessário, mas você aceitou a proposta do duque de Exeter, e eu nunca tive uma chance.
Ela se virou de costas para ele, seu sangue quente de raiva e dor.
— Você não tem ideia do que fez. — a voz dela falhou quando o ouviu se aproximar dela, mas saiu do alcance dele.
— Eu sei o que fiz, mas decerto que nada está tão perdido que não possamos resolver e seguir. Eu quero uma vida com você, Nina.
Eu quero estar lá para você e suas meninas. Eu quero ajudá-la com sua escola. Deixe-me fazer tudo isso. Perdoe-me, por favor. — ele implorou.
— Eu não posso. — ela balançou a cabeça, incapaz de colocar as palavras que devia para fora. — ela fungou, querendo fugir, mas sabendo que não podia. — Eu não contei tudo. Há mais neste conto lamentável que você e seu irmão perverso desconhecem.
BYRON FRANZIU a testa, sem entender o que ela dizia.
— Como assim? O que eu não sei?
Nina cruzou as mãos diante do corpo e respirou fundo.
— Eu odiei seu irmão por tantos anos, não apenas porque acreditava que ele havia tomado a minha virtude como um ladrão noturno para em seguida, assim que se levantasse da cama, propor casamento à outra. Embora essa seja uma razão boa o suficiente para detestá-lo, não foi isso que nutriu meu ódio por tanto tempo.
— Então o que foi? — ele perguntou, detestando o fato de ter sido ele a fazer isso com ela.
Que desgraçado egoísta ele era.
— Aceitei o duque em parte por causa da fúria que senti ao saber da decisão do seu irmão, e em parte pelo fato de meus pais estarem me pressionando a arrumar um grande casamento.
Imaginei que, se não pudesse ter o homem que amava, me casaria por dinheiro e status. Elevar-me até estar mais no alto que Andrew na sociedade e, portanto, esmagá-lo, se eu quisesse, sempre que ele ousasse mostrar seu rosto em Londres. Mas me esqueci de tudo
isso no momento em que descobri que estava grávida. Um filho.
Duas filhas que eu acreditava serem de Andrew, mas que agora sei que são suas. As meninas não são filhas do duque, nem de Andrew.
Eles são suas, Byron.
Ele a encarou quando o ódio convicto dela pelo irmão dele se fez claro. Agora fazia sentido esse ódio duradouro dela por Andrew, mesmo anos depois de tudo. Byron pensou nas garotas, lembrou-se das feições delas e se perguntou como ele não havia notado antes que as duas tinham os olhos e as mechas escuras dele. Que elas não se pareciam com o duque de Exeter.
As meninas estavam com cinco anos. Ele havia perdido cinco anos das vidas delas. Uma frieza irritante se instalou dentro dele ante a percepção.
— Você as escondeu de mim, de Andrew, de quem quer que seja. — disse ele com mais severidade do que pretendia.
Ele passou a mão pelos cabelos, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. Ele era pai. Ele tinha duas filhas, dois anjinhos amáveis, e não as conhecia. Nada:
— Por que você teve que fugir e se casar com o duque como se o diabo em pessoa estivesse atrás de você? Eu fui procurá-la no dia seguinte só para descobrir que havia celebrações acontecendo para dois noivados! O seu e o de Andrew. Não tive tempo de cortejá-la, de fazê-la me notar, porque você já era de outra pessoa.
Ela se aproximou dele, ficando o mais ereta que pode diante dele, o que não era muito, considerando que ele era bem mais alto que ela.
— Como você ousa dizer essas coisas! Não se esqueça que eu não sabia que era você e não seu irmão. Considere-se afortunado por eu ter me casado com o duque, pois ele pensava que as
meninas eram dele, o que as torna filhas legítimas. Se eu tivesse esperado, teria sido arruinada.
— Você se arruinou no instante em que enviou um bilhete ao meu irmão pedindo que ele dormisse com você. — ela se afastou dele, e ele foi até ela, querendo puxá-la em seus braços e abraçá-la.
— Maldição. Me desculpe, Nina. Eu não quis dizer isso.
— Saia. — disse ela, afastando-o. — Não quero ver você. Eu não quero saber de você. Não quero nada com você, agora ou nunca.
Pânico começou a se alastrar por ele, que xingou.
— Não vou perdê-la agora. Não vou perder minhas filhas.
— Você nunca nos teve. Para a sociedade em geral, são filhas do falecido duque de Exeter e sempre serão conhecidas como tal.
— ela gritou pelo lacaio, e ele entrou em um momento. —
Acompanhe o Sr. Hill para fora, Carter, e chame Digby se ele causar algum problema.
Ela deu as costas a ele, e Byron a observou por um momento, pensando um pouco antes de fazer o que ela pedia. Ele daria tempo a ela. Inferno, ele precisava de tempo para refletir sobre o que havia sido dito esta manhã.
— Eu a visitarei amanhã, e discutiremos esse assunto quando nós dois estivermos calmos. Tenha um bom dia, Sua Graça.
Ele a deixou então, e voltou a pé para Berkley Square, tentando sem muito sucesso restaurar a calma. Um cavalariço segurava o cavalo dele, e ele agradeceu antes de subir.
Tudo ficaria bem.
Ele daria tempo para ela e se acalmaria, depois disso ele poderia acertar tudo. O que quer que fosse esse tudo.
CAPÍTULO 13
N ina incitou o cavalo a um galope forte pelos campos de sua propriedade escocesa, o vento açoitando seus cabelos que há muito haviam desmanchado o penteado preso.
No mesmo dia em que Byron foi atrás dela, há um mês, ela fechou a casa na Berkley Square e deixou Londres. Elas viajaram a uma velocidade alucinante para longe da cidade e chegaram a Lengrove Hall em uma semana. Aqui na Escócia, o lar que ela herdara da avó paterna era seu esconderijo.
Aqui ela poderia viver livre da chacota da sociedade, de ver seus amigos a olharem com pena quando soubessem que ela e Byron não se casariam. Mesmo sem saber dos detalhes tristes, eles ainda iriam rodeá-la com olhares de preocupação, algo com o que ela não queria lidar. Nunca.
Ela era a pior das pessoas. De certa forma, Byron tinha razão.
Ela mesma causara muitos dos próprios problemas. Para começar, havia sido ela quem pedira a Andrew para dormir com ela. Byron fora um peão no jogo doentio do irmão, tão manipulado quanto ela, e ela odiava se lembrar das palavras que dissera a ele.
Mas Byron deveria ter contado a ela assim que descobriu a verdade daquela noite. Absorta na raiva, ela não chegou a indaga-lo acerca de quando ele descobrira o joguete do irmão, o que a fez pensar que talvez ele só soubera de todos os detalhes há pouco.
As semanas longe de Londres haviam garantido que tivesse tempo para pensar no que poderia ter acontecido se ela não tivesse reagido com tanta impulsividade ao aceitar o pedido do duque. E se ela tivesse ido a Byron e confessado tudo ao amigo? Será que ele
teria se aberto quando à parte dele em todo o triste drama, e dessa forma o resultado teria sido diferente? Uma dor terrível surgiu em seu coração. Ele provocara tamanha dor nela que ela não estava certa de que poderia chegar a perdoá-lo, nem perdoar o que havia acontecido a ambos.
Ela observou suas terras, imaginando o que Byron estava fazendo naquele momento. Nem mesmo o atual duque de Exeter sabia da existência dessa propriedade, que pertencera à avó dela e, até que ela voltasse para a cidade, Byron nunca saberia que ela esteve aqui. Essa casa sempre trouxe uma sensação de segurança, de ser um lugar onde se poderia curar quando necessário. E ela precisava dessa proteção agora.
Por mais zangada e desiludida que estivesse com Byron, ela não conseguia tirar do coração a emoção irritante de amá-lo. Mesmo depois de tudo que ele fez com ela, e ela com ele, ela o amava. A cada momento, de cada dia, desde que ela se separara do lado dele, ela pensara nele. Estaria ele pensando nela também?
Nina instruiu o cavalo para uma caminhada lenta ao chegarem a um vale, as montanhas de ambos os lados deixando o ar mais frio do que em campo aberto. Ela teria que voltar para Kent em breve.
Naquela manhã chegara uma carta de seu capataz, dizendo que as obras haviam começado e que um novo telhado seria erguido dentro de um mês.
Ela ansiou que Byron quisesse fazer parte de sua nova vida, dessa nova direção que tomara, mas não era para ser. O silêncio dele no mês anterior fora ensurdecedor, ele não enviara nem mesmo uma missiva. A governanta de Londres sabia onde ela estava, e qualquer correspondência seria encaminhada para ela aqui, mas nada havia chegado, o que a fez pensar que só havia
uma razão para o silêncio dele. E não era uma razão que ela gostaria de reconhecer.
Nas semanas em que se separaram, Nina pensou no que havia acontecido naquele fatídico ano, e no fato de que ela não fora justa.
O irmão de Byron enganara os dois e, embora Byron tivesse escondido essa verdade dela, não era culpa dele. O entendimento de que Andrew Hill e suas conspirações haviam resultado na perda de seu melhor amigo, de seu amante, de seu futuro com Byron, não era agradável.
BYRON LEVARA DIAS para conseguir arrancar da governanta de Nina em Londres, Sra. Widdle, o paradeiro dela. Ao chegar à casa dela, depois da briga que partira o coração dos dois, ele foi rechaçado sem outra explicação senão que a duquesa havia fechado a propriedade e deixado a cidade.
Ele viajou para Kent e se deparou com Granville Hall tão deserta quanto a propriedade londrina, nenhum sinal de seu amor. Sem saber para onde ir, ele voltou para Londres e, depois de muitos incentivos convincentes e profundos, a Sra. Widdle, conseguiu obter o endereço de Nina na Escócia.
O fato de ela ter viajado para a Escócia com as crianças era uma surpresa. Ele nem sabia que ela possuía propriedades lá, sem mencionar o fato de que ela se afastara tanto dele que o deixava sem muita esperança de que ela estivesse disposta a ouvi-lo. Que o ouvisse e o deixasse explicar como ele havia sido um idiota completo.
Sinto muito, minha querida...
Agora ele olhava pela janela da carruagem para a paisagem que passava. Ele estava chegando às Terras Altas. As montanhas eram cada vez mais extensas, e alguns picos brilhavam com a neve depositada neles. O condutor garantiu que não demoraria muito, e ele se viu ansioso por revê-la. Fora o mês mais longo de sua vida.
Ele se encolheu ao se lembrar do que havia dito a ela.
Ele mirou os céus e rezou ao Todo-Poderoso que permitisse que ela o perdoasse por sua estupidez. Ele não poderia perdê-la. Não importa o que qualquer um deles tivesse feito, ele a amava e estava certo de que ela o amava em troca.
A carruagem saiu da quase escuridão da floresta, e ele vislumbrou o telhado de uma grande residência georgiana aninhada na base de uma pequena colina, assentada diante de um rio veloz.
A casa estava bem cuidada e, como a noite estava quase chegando, algumas luzes brilhavam nas janelas. A ideia de rever Nina o fez estremecer de nervosismo. Fazia um mês. Ela ainda estaria brava com ele? Ela o mandaria embora?
A carruagem desceu a colina e parou diante das portas duplas da casa, rente a um caminho de cascalho. Um lacaio abriu a porta, e Byron teve um vislumbre do interior da casa, uma grande escadaria central e um lampejo de crianças enquanto corriam às pressas, como se estivessem brincando de pega-pega ou esconde-esconde.
Ele desceu e caminhou até a porta, e ouviu Nina gritando para as meninas que ela estaria com elas em breve. Ele parou no limiar, não querendo interromper o momento em família, mas também querendo fazer parte dele com um desespero aterrador.
Ele queria estar ao lado de Nina quando ela mandasse as meninas se vestirem ou se arrumarem para dormir com a babá. Ele queria ser o pai delas no sentido mais verdadeiro, não apenas o homem que as gerara durante uma noite de paixão.
Ele entrou e, antes que o criado tivesse a chance de apresentá-
lo, Nina o viu, parando na metade de um passo na direção da escada, um livro na mão.
— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou.
Ele não conseguiu ler as feições dela, nem descobrir o que ela estava pensando, e queria desesperadamente saber o que estava acontecendo naquela mente inteligente e maravilhosa dela. Ele caminhou até parar diante dela, querendo tocá-la, mas se conteve.
Haveria tempo para isso, quando ela o perdoasse.
— Você é uma mulher difícil de encontrar.
— Talvez porque eu não queria ser encontrada. — ela se virou e voltou para o cômodo de onde havia saído, e ele a seguiu fechando a porta. Ele a observou caminhar até o centro do espaçoso cômodo e colocar o livro em uma mesa que ficava atrás de um sofá de três lugares.
Ele absorveu a sala.
Era uma sala de estar ou de jogos, ele não sabia ao certo que tipo, mas havia livros, uma escrivaninha e uma mesa de bilhar, além de uma variedade de brinquedos infantis espalhados pelo lugar. Era uma sala muito acolhedora e transmitia uma sensação calorosa, a mesma que Nina levava àqueles que amava. Não que fosse para ele no momento.
— Eu tenho tentado encontrar você. Foi preciso algum incentivo para descobrir seu paradeiro por sua governanta, a Sra. Widdle, mas assim que soube sua localização, eu vim. Precisamos conversar, Nina.
Ela suspirou e apontou para uma cadeira diante da lareira. Ele se sentou, e um pedacinho dele morreu quando ela se sentou em frente a ele e não ao lado.
— Então fale.
Além de se jogar aos pés dela, ele se perguntou o que mais ele poderia fazer para fazê-la perdoá-lo. Conseguir que ela olhasse para ele novamente com amor e respeito.
— Me perdoe. Eu sinto muito por tudo. Por amá-la tanto a ponto de esconder a verdade daquela noite sabendo que não era eu que você queria. Por não me declarar no dia seguinte e dizer ao mundo que você não se casaria com o duque, mas comigo. Sinto muito por não estar lá enquanto você carregava nossas meninas em sua barriga, nem quando você deu à luz e enquanto cuidava delas nos últimos anos. Sinto muito por machucá-la. Você é o amor da minha vida. Eu adoro você, Nina. Por favor, me perdoe.
Ela se recostou na cadeira e olhou para ele.
O silêncio dela fazia o pânico crescer em sua garganta, e a opção de se jogar aos pés dela crescia na cabeça dele. Talvez funcionasse. Com certeza, valeria a pena tentar.
— Você era meu amigo, Byron. Nunca o vi com outro olhar além desse, e na minha loucura juvenil, me vi apaixonada por seu irmão.
Eu amadureci bastante desde a noite em que me joguei para cima de um homem que não me queria. E nas últimas semanas eu percebi que talvez, ao ter sido você na cama, fora uma jogada do destino. Porque o que sinto por você não se parece em nada com o que senti por seu irmão. O que sinto por você é muito maior. O que sinto por você é verdadeiro.
O coração dele explodiu de alegria e, pela primeira vez em um mês, ele sentiu que conseguia respirar.
— Você está dizendo que ainda me ama? Que existe uma possibilidade para nós dois, mesmo com todas as coisas que escondemos e fizemos um ao outro?
Nina levantou-se e foi parar diante dele. Ela estendeu a mão e afastou uma mecha de cabelo que caíra sobre o olho dele.
— Sim, é isso que estou dizendo. Na verdade... — ela disse, sentando-se no colo dele e passando o braço em volta do pescoço dele. — Quero tornar esse nós permanente.
— Então, você vai se casar comigo? — ele perguntou, sorrindo.
— Esta é a sua maneira de me propor?
Ela ergueu a sobrancelha, e ele riu. Era de se supor que ele seria capaz de fazer um pedido de casamento melhor. Mas agora, ele não queria que nenhum dos dois se mexesse. Ele queria continuar exatamente onde eles estavam.
— Casa comigo? — ele perguntou, encontrando o olhar dela e se deleitando com o amor que brilhava para ele. Um amor que era exclusivo para ele, e para mais ninguém.
Ela assentiu.
— Vou me casar com você, Byron Hill, meu amigo mais antigo e mais querido. E então poderemos criar nossas meninas, e se Deus desejar nossos outros filhos, juntos. Chega de perder de tempo. Não quero passar nem mais um minuto sem sua companhia.
A ideia parecia perfeita para ele também.
— Bem, estamos na Escócia. Talvez uma viagem a Gretna seja uma opção.
Nina riu.
— Farei arranjos e partimos amanhã.
E eles partiram.
EPILOGUE
12 meses depois
— V ocê está decepcionado, Byron? — Nina perguntou, sorrindo para ele por cima da porta do estábulo. — Eu sei que você estava esperando um menino. — disse ela.
Byron olhou para o cachorro de suas filhas, Bentley, que acabara de se tornar o orgulhoso pai de cinco filhotes fêmeas. Pouco depois do casamento, as meninas os convenceram a procurar outro cão —
uma fêmea — e agora parecia que seu destino era estar cercado por meninas de todas as espécies.
Ele deu um tapinha em Bentley, que estava sentado ao seu lado, olhando para a cama improvisada que as meninas haviam feito para os cães no celeiro. Não que fossem ficar aqui por muito tempo. Em breve, todos voltariam a viver dentro da casa.
Havia pouco que Byron não permitisse às filhas e, nos últimos doze meses, elas o conquistaram, e ele se mostrou impotente contra os encantos delas, e os da esposa, que sorria para ele do outro lado da porta do estábulo.
— Não estou decepcionado. Você, minha Nina, deve parar suas provocações.
Ela lançou um olhar malicioso, e o desejo dele por ela aumentou.
Inferno, ele a amava, e cada vez mais com o passar dos dias. Eles casaram-se em Gretna uma semana depois que ele chegou à Escócia, e em seguida voltaram a Kent para terminar a reforma do prédio que abrigaria a escola de Nina.
O ano anterior havia sido o melhor de sua vida, e saber que seu futuro seria tão incrível quanto, apenas aumentou seu amor pela vida.
— Acho que chamaremos esta de Bessie. — disse Molly, acariciando o filhote na orelha com leves toques de um dos dedos.
— Você não deve tocar nos filhotes. — disse Lora com autoridade. — São muito novinhas e devem ser deixadas em paz.
Lora olhou para a irmã com conhecimento, mas Molly apenas revirou os olhos.
— Você não é nenhuma especialista, Lora. Bentley e Bernadette não se importam que eu acaricie os bebês, e você também não deveria. — Molly virou-se para Nina. — Diga a ela, mamãe. Diga a ela que estou certa.
— O que eu acho, meninas, é que está na hora do almoço, então corram para dentro e se limpem antes de sentarmos para comer.
Nina abriu a porta do estábulo e, com protestos relutantes, as meninas foram para dentro de casa. Byron também saiu, puxando a esposa contra ele antes de seguirem as filhas. Ele se abaixou e passou a mão sobre a pequena protuberância no estômago de Nina.
— Talvez este seja um menino. Não que eu me importe, você sabe que eu adoro todas as minhas garotas.
Ela sorriu para ele, rindo um pouco.
— Eu sei que sim, mas eu iria gostar de um garotinho, mesmo que só para imitar o homem maravilhoso que ele terá como pai, seu modelo.
— Você está feliz então? — ele perguntou, beijando o topo da cabeça dela e a abraçando.
— Mais que feliz. Mas você já sabe disso.
Ele sabia, porque ele também estava feliz. E quando chegou a hora, sete meses depois, Nina deu à luz outra criança saudável.
Uma menina.
S.D. Perry
O melhor da literatura para todos os gostos e idades