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Series & Trilogias Literarias
Lady Henrietta Zetland, com absoluta certeza, não está buscando um novo amor agora que se tornou viúva tão jovem. Ela não pode proporcionar o que a maioria dos maridos desejam, portanto, está muito feliz em abandonar as armadilhas da sociedade e da temporada londrina e abraçar a vida no campo. Contudo, no instante em que conhece Marcus Duncan, o novo Marquês de Zetland, a paixão que ela aprisiona há tanto tempo, ressurge e apaga todo o bom senso e senso de adequação.
Tornar-se marquês era exatamente o que Marcus Duncan precisava para poder salvar sua propriedade escocesa decadente. Sua jornada para a Inglaterra para inspecionar as propriedades recém herdadas o colocam no caminho da jovem viúva de seu falecido primo. Marcus fica encantado por Henrietta assim que a vê, e um tórrido caso de amor se inicia. A última coisa que ele espera é perder seu coração e quando ele a pressiona por mais, as revelações que se seguem têm o poder de separá-los para sempre.
CAPÍTULO 1
LADY HENRIETTA Nicholson, marquesa de Zetland, sentou-se diante da penteadeira do quarto e olhou para o próprio reflexo. Seus olhos estavam avermelhados e inchados, a ponta do nariz estava vermelha, e seus cabelos haviam se recusado a ser comportar nesse dia sombrio e permanecerem confinados sob os grampos de cabelo.
Atrás dela, sua criada se apressava pelo quarto, fazendo a cama que agora parecia muito grande, vazia e fria; muito parecida com como a sua vida seria a partir de hoje. Sua mãe, a duquesa de Athelby, estava lá embaixo e não estava disposta a deixar Henrietta sozinha nessa grande propriedade que agora era dela. A propriedade não era vinculada ao título, e ela estava livre para viver o resto de seus dias em Surrey, se quisesse. Quão maravilhosa essa ideia soava. Tendo acabado de enterrar o marido no solo frio e úmido, menos de uma hora antes, Henrietta precisava de algo pelo que ansiar.
Ela secou as lágrimas que caíam por suas bochechas. Como esta poderia ser a vida dela? Eles haviam se casado há apenas doze meses, e era inacreditável que Walter estivesse morto. Sua doença fora tão rápida, uma gripe insignificante que se instalou em seus pulmões e nunca mais saiu Não importava o que tentassem, ou quantos médicos haviam procurado na Rua Harley, a tosse e a respiração só pioraram cada vez mais até que ele morreu dormindo.
Henrietta lembrava-se do dia em que o encontrara no quarto, lutando para respirar, e assim soube com um pavor repugnante que
ele não demoraria muito para deixar esta terra. Que a doença que provocou uma carnificina em seu corpo venceria a guerra.
Querendo ser forte por ele, ela não desmoronava até ficar sozinha, e confiou em sua habilidade de ficar calma na presença dele, de tentar mantê-lo alegre, enquanto o tempo todo seu coração estava se despedaçando em seu peito, sabendo que ele estava escapando de suas mãos. Que ela iria perdê-lo.
Se ao menos tivesse sido uma passagem pacífica. O peito dele tremeu com ferocidade durante as últimas horas, e Henrietta se preparou da melhor maneira possível. E agora, o pior havia acontecido. Ela estava sozinha. O homem que ela amava não estava mais desse reino e, por mais que sua mãe tentasse confortá-
la, não era ela que Henrietta queria ao seu lado.
Ela fungou e começou a tirar os poucos grampos que restavam em seus cabelos, colocando-os em um prato raso de cristal que ficava em sua penteadeira.
Sua mãe queria que Henrietta voltasse para a cidade para lhe fazer companhia, mas ela ficaria em Surrey. Esta era sua casa agora, o lugar em que ela foi mais feliz, e ela não estava disposta a deixá-lo sabendo que seria bombardeada na cidade com olhares de pena de amigos e conhecidos, e por tentativas constantes de confortar e diminuir sua tristeza pela perda.
Suas amigas mais íntimas vieram com boas intenções, e ela estava agradecida por terem viajado a Surrey para prestar condolências, mas o turbilhão social de Londres não a atraía mais como antes.
Ao longo do ano anterior, ela se acostumou à vida no interior a administrar uma grande casa sozinha. As frivolidades da vida londrina pareciam vazias e tolas agora. Fofoca e escândalo. Por
mais que sentisse falta das amigas, no dia seguinte ela se despediria e seria egoísta em ficar grata pela partida delas.
Se ela voltasse para a cidade, a sociedade esperaria que ela arrumasse um novo casamento, e ela jamais faria algo assim. Ela não enganaria outro marido. Sabia o que os homens procuram, por direito, em um casamento: filhos.
Não, ela era uma viúva. Ela se tornaria uma matrona da alta sociedade, mesmo que uma bem jovem, quando por fim voltasse, e essa seria sua vida.
Uma batida leve soou na porta, e sua criada abriu. Era sua mãe.
Mesmo na meia-idade, a duquesa de Athelby era uma mulher bonita. Muitos diziam que Henrietta parecia-se mais com a mãe do que o pai tão querido, mas ela sempre gostou de pensar que ela e seu irmão gêmeo Henry lembravam um pouco dos dois.
— Você está bem, querida? Pensei em dormir aqui com você esta noite.
Henrietta sorriu, contemplando a mãe de camisola e pés descalços. Mesmo se quisesse ficar sozinha esta noite, era inútil discutir com a mãe. Se ela pensava que precisava ficar para dar conforto, mesmo que esse conforto fosse livre de palavras, Henrietta não poderia dizer quase nada para convencê-la do contrário.
— Você pode ficar, mamãe. Eu não me importo.
Sua mãe dispensou a criada e subiu na cama, arrumou alguns travesseiros para que ela pudesse ficar com as costas retas.
— Você pensou sobre voltar comigo a Londres na próxima semana? Ou talvez ir para a propriedade de Ruxton? Seu pai achou que seria bom você fechar Kewell Hall e voltar para casa por um tempo. Henry também. Conversamos sobre este assunto hoje á noite depois que você se retirou.
Claro.
Henrietta afastou o lampejo de irritação pelo fato de sua família estar confabulando sem a presença dela, pois só queriam seu bem.
O dia de hoje também havia sido difícil para eles, ela fez questão de se lembrar. Amavam Walter, eram poucos os que não o amavam e sentiriam falta dele.
— Eu pensei um pouco. — disse ela, levantando-se e caminhando para a cama, mexendo sem prestar atenção nas roupas de cama. — Mas eu vou ficar aqui, mamãe. Prometo que ficarei bem. — continuou ela quando a mãe a observou com certo horror. — Não farei nenhuma tolice, mas quero... não, preciso de tempo sozinha. Para aceitar o fato de que sou viúva, que Walter se foi. Você entende, não é? Voltarei à cidade depois após meu ano de luto, mas até lá, quero ficar aqui. Perto de meus cavalos, nossos animais de estimação, nosso jardim e casa. Eu só preciso me curar antes de voltar correndo para um lugar que nunca permitirá que eu encare a nova verdade da minha vida.
A verdade era que agora que estava sem Walter, ela estaria sozinha. Para sempre.
Sua mãe assentiu, os olhos cobertos de tristeza.
— Você foi tão forte durante toda essa provação, minha querida.
É aceitável desmoronar quando perdemos alguém que amamos.
Felizmente, você nunca perdeu um ente querido antes, então eu me preocupo que você esteja trancafiando suas emoções.
Henrietta engoliu o nó na garganta.
Ela foi forte, e agora que não precisava mais ser, tudo que desejava era ficar sozinha. Para desmoronar e desfazer-se sozinha, para poder juntar os cacos de sua vida. Ela nunca fora uma mulher pouco prática, mas algo lhe dizia que ela seria tudo menos o seu habitual pelos próximos meses.
— Eu a amo muito, querida. — disse sua mãe. — Se eu pudesse aliviar essa dor, se eu pudesse voltar no tempo e devolver Walter a você, eu o faria em um piscar de olhos. Eu vou me preocupar se você ficar aqui. Talvez eu possa adiar minha partida. Tenho certeza de que seu pai não se importará nem um pouco.
Henrietta subiu na cama ao lado da mãe, deitou-se e se aninhou nos braços dela.
— Quero que você vá com papai. Estou triste e chorarei neste momento, mas com o tempo ficarei bem. Prometo escrever para você toda semana, mas preciso estar por conta própria no momento. Prometo que tudo ficará bem novamente.
Henrietta esperava que fosse a verdade.
A propriedade e as pessoas que dependiam de seu funcionamento estavam confiando nela para fazê-lo. O novo marquês cuidaria das outras propriedades de Walter, mas Kewell Hall era sua responsabilidade, e ela não falharia com essas pessoas. Daria um mês a si, na melhor das hipóteses para lamentar-se e, em seguida, teria que se recompor e dar seu máximo nas tarefas diárias. Era o que Walter gostaria que ela fizesse. Ele a amava tanto que nunca iria querer que ela se afundasse na infelicidade para sempre.
A mãe dela passou a mão pelos seus cabelos, e Henrietta ouviu um suspiro de derrota.
— Muito bem, eu e seu pai retornaremos à cidade na próxima semana, conforme planejado. Mas eu vou visitá-la todos os meses, ou quase todos. Surrey não é tão longe e, para minha própria sanidade, você deve me permitir vir. Nunca ficarei tranquila se não souber que minha filhinha está bem.
Henrietta sorriu, abraçando a mãe com mais força.
— Eu amo você.
Sua mãe se abaixou e beijou seus cabelos.
— Eu também amo você, minha querida garota. E eu prometo a você que sua dor diminuirá com o tempo, e você descobrirá que a vida continuará, mesmo que não queira. Mas vai, e quando estiver pronta, você voltará a amar. Você é jovem demais, e tem a alma muito bonita para ser uma viúva para sempre.
A ideia fez Henrietta estremecer. Pensar em se casar de novo, de ter intimidades, de compartilhar qualquer tipo de vida com alguém que não fosse Walter era abominável demais para se imaginar. Ela nunca voltaria a se casar. O amor de sua vida havia falecido, e esse tipo de amor só aparecia uma vez.
Ninguém nunca teve a sorte de encontrar dois grandes amores em uma vida. Sua mãe deveria saber muito bem que esta era a verdade, já que o pai de Henrietta, o duque de Athelby, era o segundo marido de sua mãe, depois do desastre que fora o primeiro.
— Você sabe tão bem quanto qualquer pessoa que outro casamento não acontecerá para mim, mamãe. Não posso me casar com um homem sabendo que sou incapaz de ter filhos.
— Os médicos podem estar errados, querida. — disse a mãe.
Até para Henrietta, o tom de sua mãe continha um pouco de desespero.
— Um ano de casamento e nenhum filho, mamãe. Acho que no meu caso, eles estavam corretos, preciso aceitar meu destino. Eu nunca serei mãe. — não querendo lhe dar mais motivos para se preocupar ou discutir mais o assunto, ela bocejou, o cansaço a inundando. — Eu preciso dormir agora, mamãe.
— Muito bem. —sua mãe se acomodou ao lado dela. — Boa noite, querida.
— Boa noite, mamãe.
Pelo menos durante o sono, ela poderia estar alheia à dor que ricocheteava por todo o seus ser a cada respiração. Uma dor que apenas o sono aliviaria. Uma dor que ela duvidava que fosse deixa-la.
MARCUS DUNCAN sentou-se diante do fogo estrondoso em sua biblioteca e leu a missiva notificando-o de que seu primo distante, o marquês de Zetland, falecera de forma repentina e inesperada, levado por algum tipo de doença pulmonar.
Ele balançou a cabeça ante o golpe inesperado, mas que não poderia ter acontecido em um momento melhor. Saber que o marquesado agora era dele, junto de todas as propriedades que acompanhavam o título, encheu-o de alegria por si e de desespero pela família do falecido marquês. Ninguém quer ganhar terras, dinheiro e um título dessa maneira, e ele escreveria para mostrar sua assistência ao luto deles.
Também significaria, em última análise, que ele teria que viajar da Escócia para a Inglaterra, deixar seu amado filho e pátria e lidar com as legalidades da situação. Marcus olhou para Arthur, que estava sentado com sua babá, brincando com um cavalo de madeira. Embora seu filho não pudesse herdar o marquesado, ou as terras e propriedades não vinculadas, seu futuro seria mais seguro.
A renda que Marcus obteria das terras inglesas ajudaria a reconstruir e reparar as próprias propriedades na Escócia, dando ao filho uma base sólida para o futuro.
A culpa arranhava sua alma por não ser capaz de prover essa solidez devido às origens do garoto. Quando alguém nascia fora do casamento, o estigma era tão duradouro quanto fedor de esterco.
Mas agora que havia a possibilidade de a sorte os favorecer, bem, isso poderia mudar um pouco as coisas para o rapaz, e isso por si só era motivo de agradecimento.
Ele examinou o documento legal que acompanhava a carta de seu advogado em Edimburgo, afirmando que a viúva de seu primo, a marquesa, permanecia em Kewell Hall, mas que havia algum tipo de problema em relação a quem possuía essa propriedade não vinculada, e que portanto, uma conversa mais extensiva seria necessária.
Marcus supôs que ele teria que examinar as propriedades, garantir que tudo estivesse em boas condições e arrendá-las antes de voltar para a Escócia. Seu advogado mencionou a possibilidade de alugar também a casa de Londres, uma fonte de renda que era oportuna devido aos reparos necessários em seu castelo. Não que ele desejasse a morte do primo, jamais, mas ele teria que pensar em termos de suas próprias responsabilidades financeiras agora que ele era o marquês.
Quando o tempo estivesse melhor, ele viajaria para o sul, talvez em um mês ou dois, mas primeiro ele teria que ir a Edimburgo para assinar o recebimento da herança e assim, se tornar oficialmente o novo marquês de Zetland. O nome Zetland não soava tão bem quanto Duncan, mas ele nunca pensou em herdar o título.
Seu pobre primo.
Morrer em uma idade tão jovem, e sem herdeiros, deve ser um golpe terrível para uma família, e por mais que seja odioso alguém distante herdar o título, Marcus faria tudo o que pudesse para ajudá-
los com sua dor. Ele poderia ser um homem severo, mas não era cruel.
Ele se levantou, foi até a mesa e sentou-se atrás dos quatro pés de mogno. Deslizando uma folha de pergaminho para mais perto,
ele rabiscou uma nota para o advogado. Ele iria ao escritório na próxima semana. Quanto à quando ele partiria para a Inglaterra, bem, ele pensaria nisso mais tarde. Com uma propriedade para cuidar aqui na Escócia, e às vésperas da preparação para o plantio, não havia tempo viável agora para supervisionar as propriedades inglesas.
Seu filho precisava dele, e o dinheiro da herança do marquesado lhe daria alguns fundos extras para que a reforma da ala leste de sua casa pudesse começar. Ele não podia partir agora que tinha a oportunidade de concluir todos os reparos que desejava fazer há tempos na propriedade. Havia também numerosas casas de arrendatários que precisavam de novos telhados antes da chegada do inverno além de outros reparos que haviam sido apenas temporários até que sua sorte mudasse.
Ele garantiria que o administrador local, o que supervisionava as casas do marquês, iniciasse os procedimentos para arrendar as propriedades a qualquer pessoa interessada e solicitaria que seu advogado encaminhasse qualquer correspondência para ele aqui.
Por enquanto, este seria o lugar de onde ele lidaria com qualquer negócio em questão.
CAPÍTULO 2
Um ano depois
A VIAGEM de carruagem desde a Escócia foi longa. Muito longa para ser repetida em muito em breve. Marcus pulou quando o veículo parou diante da residência, a mesma em que vivia a marquesa viúva em questão. Aliás, a propriedade era dele, e ele acreditava que ela já deveria ter deixado a casa.
Ele olhou para a estrutura georgiana de arenito, prestou atenção às grandes janelas retangulares que reluziam ao sol da tarde. O
terreno era bem conservado e mais parecia um parque do que os gramados desenhados dos quais os ingleses gostavam tanto. Ele gostou muito desse resultado, era mais natural, mais ao seu gosto.
Ele ajeitou e ajustou a gravata, verificando se o traje seria adequado para encontrar a viúva de seu primo. Ele duvidava que ela ficaria muito feliz em vê-lo, já que ele abordaria a questão de por que ela ainda estava morando aqui e não em outro lugar.
A porta da frente se abriu, e um lacaio de libré vermelho apareceu, curvando-se para ele.
— Posso ajudá-lo, meu senhor?
Marcus caminhou até o jovem.
Sua altura e o fato de ele ser bem largo costumavam despertar o temor de Deus no rosto das pessoas, e o jovem criado não agiu diferente. O rapaz olhou para ele como se estivesse de frente para a morte.
— Por favor, diga a Lady Zetland que o Marquês de Zetland está aqui para vê-la.
Os olhos do lacaio se arregalaram, mas ele assentiu.
— Siga-me, se for de seu agrado, e eu notificarei Sua Senhoria de sua chegada.
Marcus seguiu o rapaz para dentro de casa. O interior estava limpo, bem organizado e não parecia precisar de reparos.
Nos últimos meses, ele garantiu que as outras duas propriedades que herdara na Inglaterra fossem entregues para famílias boas e honestas, e ele seria feliz em fazer o mesmo com essa propriedade. Assim que Lady Zetland se afastasse, é claro, a menos que ela quisesse se tornar a arrendatária, e então ele ficaria mais do que satisfeito em deixá-la em paz e retornar à Escócia.
— Por aqui, meu senhor. Lady Zetland está na biblioteca.
Marcus seguiu o rapaz até uma sala tomada de livros do chão ao teto. Fogo forte crepitava na lareira, e os móveis de couro verde e vermelho profundos davam uma essência masculina ao cômodo Ele admirou o lugar, e caso desejasse manter a casa, tinha que admitir que se sentiria bem confortável em uma sala como essa. O
esquema era muito semelhante à como ele havia posicionado os móveis em sua própria biblioteca, na Escócia.
O lacaio fez um gesto para ele entrar.
Ele analisou a sala, e seus passos vacilaram antes de ele se endireitar e continuar para cumprimentar Sua senhoria.
— In ainm Dé. — ele murmurou em gaélico. Ele não esperava o que encontrou. — Lady Zetland, desculpe-nos por nos encontrarmos em circunstâncias tão tristes . Aceite minhas condolências.
Ela estava em pé atrás da mesa. O vestido matutino azul lembrava o céu escocês no verão. Os cabelos dela estavam presos pela metade, e algumas mechas de tom marrom acobreado caíam sobre os ombros, e os dedos dele coçaram querendo descobrir se erma tão macios quanto pareciam.
Ela estendeu a mão delicada, e ele a pegou, curvando-se.
— Por favor, sente-se, Lorde Zetland. Eu também gostaria que estivéssemos nos reunindo em diferentes circunstâncias, mas infelizmente, a vida nem sempre é justa.
Com este fato ele concordava.
Sentando-se, ele assimilou um pouco mais o cômodo, faria qualquer coisa, exceto encarar essa mulher que ele não acreditou que seria tão atraente como era. Com olhos grandes e luminosos e uma pele impecável, ela era a perfeita rosa inglesa. Ele estava bem perto de sentir pena por seu primo que morrera deixando tal mulher sozinha para continuar a viver. Seria o bastante para matá-lo uma segunda vez ante a ideia de que outro homem poderia querer se casar com ela.
— Você solicitou uma reunião hoje, embora eu não tenha certeza do motivo. — disse ela. — Há algo que você gostaria de discutir comigo com relação às propriedades que você assumiu? Eu trabalhei bastante ao lado de Walter bastante antes de ele morrer.
então tenho uma ideia de como as coisas funcionam.
Marcus balançou a cabeça, limpando a garganta.
— Ó não, todas as propriedades foram arrendadas e estão sendo cuidadas. Sou escocês caso ainda não tenha percebido meu sotaque, e voltarei para o norte dentro de uma semana. Mas tenho uma pergunta sobre esta residência.
Ela franziu a testa, e mesmo a pequena linha formada entre as sobrancelhas dela não diminuiu sua beleza. Nenhuma mulher deveria ser tão desconcertante, mas parece que a marquesa o havia feito perder a compostura e decerto que estava causando estragos na velocidade em que seu sangue circulava o corpo.
— O que você deseja saber? — ela perguntou com grandes olhos azuis claros e inteligentes.
Ela realmente não sabia?
— Bem, quanto a isso, e não pretendo ser insensível, mas ela também faz parte da minha herança ao assumir o título.
Sua senhoria empalideceu, e Marcus lutou para não expirar de vergonha por ter que levantar o assunto. Ele teria uma conversa muito severa com o advogado quando se encontrassem outra vez.
— Desculpe-me, Lady Zetland, pensei que você soubesse. Dei a você tempo, pouco mais de doze meses para ser exato, pois pensei que você precisava de tempo para se curar, para viver o luto. Mas quando eu parti em viagem para a Inglaterra, e meu advogado mencionou que a senhora ainda vivia aqui, eu quis ver por mim mesmo se havia um motivo para você não se mudar. Você não sabia? — ele perguntou, odiando que ela parecesse ter visto um fantasma.
— Mas esta casa é minha. Walter deixou para mim quando morreu. — ela foi até um armário grande atrás dela e abriu uma das gavetas para pegar um pergaminho enrolado. — Aqui, este é o documento.
Ela o entregou a Marcus que abriu e logo viu o erro gritante.
— Ele não assinou, Lady Zetland. O despacho com certeza afirma que a casa deve ficar com a senhora, mas não está assinado. Ante o olhar abatido dela, ele se encolheu por dentro. Ele nunca tomou algo que não fosse dele por direito e, caso não precisasse dos fundos para seu rapazinho, ficaria feliz em se afastar da propriedade. Mas devido à sua atual situação financeira, essa opção não estava aberta para ele.
— Não pode ser! — ela pegou o documento dele e o leu brevemente antes de cair de volta na cadeira. — Ó meu Deus, isso é terrível. Eu não entendo. Não entendo por que meu advogado deixou este detalhe despercebido.
Marcus também não entendia, e ele odiava ser o portador de más notícias. Mas a casa era dele, e não era vinculada, portanto ele poderia fazer o que quisesse com ela. Ele não queria forçar Lady Zetland a sair, então talvez houvesse algo que pudesse fazer por ela em troca, já que ela era inocente nessa bagunça.
— Deixe-me procurar informações sobre as legalidades do problema que enfrentamos agora. Talvez haja outro documento assinado que nenhum de nós tenha conhecimento.
Ela lançou um olhar incrédulo a ele.
— Eu acredito que está sendo muito gentil, meu senhor. Mas eu concordo, devemos esperar para descobrir exatamente qual é a situação em relação a essa propriedade e depois seguir daí.
Ele assentiu, mas a queda desanimada dos ombros dela o deixou inquieto.
— Se a casa ficar em minhas mãos, minha senhora, estou mais do que disposto a lhe oferecer o imóvel, se significa tanto para você.
O que ele estava dizendo?!
Ele precisava dos fundos que a propriedade traria para garantir o futuro de seu filho e de suas próprias propriedades escocesas. Lady Zetland e seu rosto miserável haviam lesionado seu cérebro.
— Ó, não, meu senhor. Eu nunca poderia aceitar tal presente, mas obrigada por oferecer. Foi muita gentileza sua.
Ele não era gentil, ele se sentia como um bruto expulsando uma mulher sozinha de sua casa. Nenhum dinheiro valia fazer uma coisa tão dissimulada, e ele não agiria de tal modo agora. Não se ela não tivesse para onde ir.
— Mandarei chamar meu advogado agora mesmo para ver o que aconteceu. E suponho que... — disse ela, enrolando o documento mais uma vez. — já que esta é sua casa, devo convidá-
lo a ficar enquanto resolvemos esse problema e decidimos o que
devo fazer. São muitos os quartos, não será um problema. Somos família, afinal.
De certa forma, eles eram parentes, mas ainda assim, Marcus não gostou do fato de que Lady Zetland o fez se sentir como um garoto imaturo diante de uma mulher bonita pela primeira vez.
— Se não for um problema. Como eu disse, parto daqui a uma semana mais ou menos, assim que esta derrocada for resolvida a contento de todos. Nunca foi minha intenção te dar um pé na bunda, minha senhora.
Os olhos dela se arregalaram, e Marcus percebeu a maneira escocesa de falar dele deveria estar bem distante de tudo que Sua Senhoria já ouviu na vida. Uma risada flutuou até ele que olhou para cima para vê-la rindo. Talvez ela não fosse uma senhorita inglesa tão perfeita.
— Perdão, minha senhora. Eu moro sozinho há muitos anos, e não estou acostumado a estar por perto intitulados.
Ela sorriu para ele, e o ar nos pulmões escafedeu-se. Santo Deus, ela era bonita demais para se colocar em palavras. Embora ele pudesse pensar em algumas: angelical, pura, rosa em plena floração...
— Não se preocupe, Lorde Zetland, não mude seu comportamento por minha causa. Posso garantir que já ouvi coisas piores.
— Já? — ele duvidava disso. — Onde, posso perguntar?
— Minha mãe faz parte, há muitos anos, da Sociedade do Socorro de Londres, uma entidade caridosa que ajuda crianças a ter estudo e a conseguirem um emprego, tanto em Londres quanto no interior. Nos últimos anos antes do meu casamento, minha mãe me incluiu nas reuniões, me levou para visitar as escolas e os abrigos que até então também ajudavam mulheres a passar de meios
menos agradáveis de ganhar a vida para meios mais respeitáveis e seguros. Então, já ouvi coisas piores que "bunda", garanto.
— Sua mãe parece uma mulher de grande bondade.
— Ela é. — disse Sua Senhoria com um sorriso melancólico. —
E temo que, assim que ela souber que perdi Kewell Hall, ela estará à nossa porta exigindo saber do que se trata.
— Então, eu deveria ter medo? — Marcus perguntou, apenas meio sério.
— Ó sim, o senhor deve ficar aterrorizado. A duquesa de Athelby não é alguém que eu iria gostar de confrontar.
Marcus engoliu em seco.
Lady Zetland era filha do duque de Athelby. Bom Deus, ele ouvira falar do duque e da duquesa de Athelby mesmo na Escócia.
Eles eram praticamente os regentes da Alta Sociedade. Ele soube que seu primo distante havia se casado bem, mas não fazia ideia de quão bem.
— Eu me considero devidamente avisado, minha senhora. —
disse ele ficando de pé. — A senhora se importa se eu me retirar para o meu quarto? Viajei muitos quilômetros hoje e devo admitir que gostaria de descansar antes do jantar.
— É claro. — disse Lady Zetland, levantando-se, indo até a lareira e puxando a campainha da criadagem.
Em segundos o lacaio que abriu a porta da frente estava ali de prontidão para fazer o que quer que a senhora da casa decretasse.
Marcus teve que rir dos modos dos ingleses, em especial se comparado com a maneira como ele vivia. Ele era um homem simples. Sim, ele morava em um castelo, mas metade da construção estava caindo, embora os aluguéis das propriedades inglesas fossem ajudá-lo na restauração da casa, com o tempo.
Ele era intitulado por si só na Escócia. Era o Laird do Clã Duncan. Mas ser um Laird não era mais o mesmo que no passado das Terras Altas, e o clã hoje também não era nada como antes.
— Janto às oito em ponto. — ela o acompanhou até a porta da biblioteca e apontou para um cômodo do outro lado do corredor. —
A sala de jantar é por ali, Lorde Zetland.
— Por favor. — disse ele, virando-se para ela. — Me chame de Marcus. Somos uma família, por mais distante que sejamos.
Ela sorriu, e novamente ele teve que desviar o olhar da beleza dela. Quando ele retornasse à Escócia, teria que encontrar uma noiva ou uma amante. Essa reação visceral que ele experimentava com Lady Zetland não era comum, com certeza não para ele, e isso só poderia significar uma coisa. Ele precisava de uma mulher.
— Fico feliz, Marcus. Obrigada. E você, pode me chamar de Henrietta.
Ele assentiu e seguiu o lacaio para fora da sala e escadas acima. Ele gostava do nome Henrietta, ou Hetti, como costumava-se encurtar na Escócia. Tal ideia o fez pensar se era assim que os amigos mais próximos dela a chamavam, ou como o marido costumava chamá-la. Combinava com ela, e com o tempo talvez eles também se tornassem amigos, e ela permitiria que ele a chamasse por esse apelido também.
CAPÍTULO 3
M AIS TARDE naquela noite, Henrietta andava de um lado para o outro diante da lareira, as pérolas em volta do pescoço, uma adorável distração em suas mãos enquanto pensava no jantar que aconteceria em breve.
A ideia de jantar com o primo de seu marido, algo em tese corriqueiro, não a deixaria abalada em dias comuns, mas o homem que havia entrado em sua biblioteca , todos os um metro e oitenta e dois centímetros dele, ela estava certa do cálculo, com ombros que pareciam fortes o suficiente para carregar uma mulher em cada um deles até o quarto dele para quem sabe o que, não era alguém com quem ela pensaria jantar algum dia.
O corpo dela mostrou ter vida própria ao encontrá-lo, e com relutância ela precisou admitir que sentia um resquício de atração por ele, o que era ao mesmo tempo confuso e complicado.
Ela lembrou-se dos jantares que tivera com o marido Walter e das vezes que ele mencionou quem herdaria o título e as propriedades caso eles não viessem a ter um filho. Fato que infelizmente se concretizou no curto ano que eles tiveram juntos e casados. Não que Henrietta tivesse alguma esperança de produzir um herdeiro. Seu único arrependimento por se casar com o marquês fora mentir para ele.
Walter falara de Marcus Duncan como nada além de um primo distante que nunca teria impacto em sua vida. Depois de hoje, o impacto foi bem sentido, e o coração de Henrietta ainda não havia se acalmado do baque de conhecê-lo. Ela acalmou os nervos
inesperados que flutuavam em seu âmago e se preparou para a refeição que a aguardava.
O gongo do jantar soou abaixo da escada e sua dama de companhia, Mary, entregou-lhe um xale. Henrietta agradeceu e desceu as escadas, concentrando-se na respiração e ignorando a reviravolta que sentia por dentro. Ela estava longe da sociedade há algum tempo já, então era natural que o primeiro cavalheiro a vir visitá-la a fizesse reagir de uma maneira tão sem sentido. A estada dele seria de apenas uma semana. Ele logo iria embora, e a vida dela voltaria ao normal.
Naquela tarde, ela enviou um expresso ao advogado dela em Londres para descobrir se a papelada que Lorde Zetland lhe mostrara hoje estava correta e, em caso afirmativo, como haviam sido tão relapsos ao lidar com tais assuntos.
Se ela soubesse desde o início que essa casa não era mais dela, ela teria se mudado para a propriedade que possuía não muito longe dali. Uma mansão encantadora que seus pais a presentearam em decorrência de seu décimo oitavo aniversário, um local para onde sempre poderia ir, se necessário.
E decerto que era necessário agora. Por mais que fosse sentir saudades de sua casa aqui em Kewell Hall, uma residência em que ela e Walter haviam criado muitas lembranças felizes, a casa dela em Surrey também guardava boas lembranças. Afinal, foi onde ela encontrou Walter pela primeira vez, quando seus pais deram um baile lá, durante a primeira temporada de Henrietta. Também fora lá que Walter propôs casamento. Então, mesmo que ela perdesse esta casa, tudo ficaria bem no final.
Ela apertou o corrimão da escada e, segurando no vestido com a outra mão, começou a descer as escadas. No meio do caminho a porta da biblioteca se abriu, e Lorde Zetland saiu para o corredor.
Vestido com um kilt escocês de cores vermelho e azul escuro, o imponente escocês das Terras Altas parecia ter saído das páginas de livros de história. Sua camisa estava colocada para dentro do kilt, o sporran nos quadris acentuava sua cintura estreita, e ele usava um paletó sobre a camisa. Ela nunca vira um escocês tão bonito.
Lorde Zetland era um homem com todas as letras. Não havia linhas suaves ou traços delicados nesse cavalheiro, ele era rígido, forte, capaz. A mandíbula era angular e parecia cinzelada com perfeição, um deus em um kilt, e seus cabelos possuíam um discreto toque de ouro em meio às mechas mais escuras, mas seus olhos eram sua melhor característica. Eles eram gentis, atenciosos, conhecedores, ela diria. Henrietta duvidava que ele perdesse muito do que se passava antes dele.
— Boa noite, Marcus. Você está muito bem. Esse kilt que está vestindo traz as cores da família?
— Sim, Henrietta, isso mesmo. — ele estendeu a mão para ela.
O toque da mão dele era quente e mais gentil do que ela pensava que seria, e logo depois ele encaixou a mão dela em seu braço e a acompanhou até a sala de jantar.
— Pedi que a cozinheira fizesse alguns pratos escoceses, então espero que você goste de haggis.
Ele riu, afastando a cadeira para que ela se sentasse antes de ir se colocar na cadeira diante dela. Até a extensão de cedro polido que os separava não era suficiente para impedir que o sangue nas veias dela reagisse à proximidade dele.
Talvez sua mãe estivesse correta, e ela precisasse voltar à cidade, se jogar de volta ao turbilhão social londrino e continuar seu luto longe do isolamento. Ela estava aqui há pouco mais de um ano, a maior parte desse tempo sozinha, exceto os momentos em que seus pais ou que o irmão a visitaram. A reação dela à esse
highlander era a prova de que ela precisava partir, mesmo que por apenas alguns meses.
O primeiro prato, uma sopa chamada a la Solferino, foi colocada diante deles e, por um tempo, eles comeram em silêncio, antes que Henrietta erguesse os olhos e flagrasse Marcus a estudando.
Ela limpou a boca com o guardanapo.
— Algo errado com a sopa, meu senhor?
— Não. — disse ele, sorrindo com malícia. — Estava apenas me lembrando que fazia tempo que eu não jantava na companhia de uma mulher e de com sentia falta. Minha casa é bem isolada e não viajo muito, então estar jantando com você, a filha de um duque, uma marquesa por direito, bem, é uma boa nova que não me esquecerei tão cedo.
Quão doce ele era. As palavras sinceras fizeram os lábios dela tremerem.
— Você não é o único a ter tais pensamentos acerca de como é bom jantar na companhia de alguém. Eu também pensava o mesmo, e que talvez não importa se eu vou manter essa casa, ou se vou me retirar para minha propriedade, talvez esteja na hora de eu voltar a Londres para ver minha família e recuperar a vida que perdi quando Walter faleceu.
— Você possui uma propriedade? Posso perguntar onde fica?
Henrietta chamou os criados para retirar o primeiro prato e trazer o segundo.
— Sim, fica a cinco quilômetros de Kewell Hall. Se eu perder este patrimônio, farei de Cranfield meu lar e farei a comuta de lá para Londres e vice e versa. É uma viagem curta à cavalo daqui,
caso queira conhecê-la durante sua estada. Não vejo problema, de verdade. Faz alguns dias que planejo ir dar uma olhada, também posso mostrar um pouco de Kewell Hall no caminho. Matar dois coelhos com uma cajadada só.
— Um bom passeio é exatamente o que eu preciso.
Henrietta escondeu o sorriso atrás do guardanapo ante as palavras dele e, quando o segundo prato foi colocado diante deles, ela vislumbrou o tom vermelho que cobria as bochechas de Lorde Zetland.
— Você está bem, meu senhor? Parece um pouco corado.
Ele limpou a garganta.
— Estou muito bem, obrigado. O fogo atrás de mim está um pouco quente, só isso.
— Amanhã é muito cedo para você? Kewell Hall é muito bonita e, se o senhor de fato for o dono dela, pelo menos conhecerá um pouco de seu terreno.
— Eu gostaria muito disso. — disse ele, um meio sorriso movendo seus lábios.
Henrietta percebeu que criara uma pequena obsessão pela boca dele, uma boca cheia e macia. Marcus beijava com paixão, ou com sedução doce? Ela apostava que com paixão. Qualquer mulher em seus braços seria devorada, seduzida e sucumbiria a amor apaixonado. Tão selvagem quanto as Terras Altas onde ele nascera.
Tal pensamento a envergonhou, e ela voltou a se concentrar na refeição.
Após a morte de Walter, ela pensou que não se casaria outra vez, nem permitiria que o sexo oposto tivesse impacto em sua vida.
Fazia apenas doze meses. Seria muito cedo para ela reagir a outro homem dessa maneira? Essa pergunta ela não podia responder, mas no fundo sabia que Walter iria querer que ela fosse feliz. Não
iria querer que ela se trancasse em Surrey e vivesse a vida pela metade.
Ela olhou para a aliança de casamento que ainda usava.
— Está combinado então. — disse ela, espetando um pedaço de pato. — Vou avisar à estrebaria e partiremos depois do café-da-manhã.
Lorde Zetland assentiu, e o restante da refeição foi agradável, apenas um pouco silenciosa aqui e ali. Não que essas pausas na conversa fossem constrangedoras, pelo contrário, eram tudo menos isso e deram a Henrietta tempo para estudar um pouco mais o novo marquês.
Quem era ele?
Teria uma moça na Escócia com quem queria se casar? Já era casado? Com certeza ele não mencionou uma esposa, então ela não acreditava que esse fosse o caso. Mas ele não parecia falar muito sobre seu lar, além de ser um castelo. Ele era um mistério, um escocês, mas ela se atreveria a aprender mais sobre ele durante a estada dele aqui, e só para satisfazer sua própria curiosidade, que queria saber tudo, e agora.
CAPÍTULO 4
O TERRENO E ARREDORES de Kewell Hall eram magníficos, e quanto mais Marcus via da propriedade, mais gostava de tudo, inclusive da mulher que andava ao lado dele, mostrando-lhe o que poderia ser dele.
Para uma mulher que parecia ter perdido a propriedade, ela estava levando bem na esportiva toda a situação. Talvez fosse apenas porque ela era a dona de uma propriedade não muito longe daqui, além de ser filha de um duque, e assim Kewell Hall não era de tanta importância para ela. Embora, considerando o terreno e as construções, ele pudesse ver que ela era uma viúva que se esforçava muito para garantir que a casa e as terras fossem bem cuidadas.
Eles pararam diante de um riacho. Um pouco adiante, Marcus conseguia ver o ponto em que as carruagens faziam o cruzamento e a estrada que levava à propriedade.
— É aqui que as terras de Kewell Hall terminam e minha propriedade começa. Não é profundo, mas, se houver tempestades é preciso cuidado.
Ele sorriu, gostando do fato de que ela precisava avisá-lo de tais possibilidades. Foi bom ser alvo de tal cuidado, mesmo que apenas fosse um pequeno aviso sobre inundações. Ele não era alvo de cuidados de outrem há alguns anos, e a emoção que surgiu dentro dele, acolhedora e reconfortante, era algo que ele poderia se acostumar.
— Devidamente anotado, minha senhora.
— Henrietta, por favor. — ela falou ao se virar para ele com um olhar contemplativo e puxou o cavalo para atravessar o riacho.
Marcus a imitou e deu um leve chute na montaria para fazer o animal subir a ligeira inclinação do outro lado. Eles cavalgaram até o topo de uma colina, e a vista do vale além era magnífica. Acres e acres de árvores e pastagens onde se via ovelhas e veados vagueando. Marcus absorveu a vista, admitindo para si que era muito bonita, mesmo que fosse a Inglaterra. E então ele a viu em casa. Aninhada em um bosque, estava Cranfield.
Se ele esperava uma propriedade pequena, se enganou. Esta casa era maior que Kewell Hall. Centenas de janelas brilhavam à luz do sol da manhã, e dali ele podia ver dois jardineiros trabalhando no local.
— Sua propriedade é magnífica, Henrietta. — disse ele, acalmando a montaria que cavoucava o solo, impaciente para continuar. — Vendo-a neste instante, estou surpreso por não morar lá. É muito maior que Kewell Hall.
Ela olhou de volta para a construção e deu de ombros.
— É muito grande e, embora Walter tenha me dado a opção de morar aqui ou na propriedade dele, eu quis que nossa vida fosse construída em Kewell Hall.
— Você queria que os filhos de vocês fossem criados sob o mesmo teto que o pai deles foi. Não há nada de errado com sua escolha.
Com a menção a filhos, seu olhar se fechou e, de repente, ela pareceu triste. Claro que ele sabia que eles não tiveram filhos, ou ele não estaria na posição em que se encontrava agora, um marquês, mas talvez pensasse que apenas não houve tempo para se produzir um herdeiro. Afinal, Walter havia morrido muito jovem, e apenas um ano depois do casamento.
— Talvez um dia fique repleto do som de crianças rindo. — ele acrescentou.
— Talvez. Agora... — disse ela, voltando a sorrir e a parecer à vontade com ele. — Devemos continuar? Eu sempre corro com o meu cavalo daqui. Deseja fazer o mesmo?
Marcus nunca recusava um desafio.
— Sim, claro.
Antes que ele tivesse a chance de se preparar, Henrietta instigou o cavalo dela a um impulso que logo se transformou em um galope pleno colina abaixo, sem ressalvas. Ele a observou, esquecendo-se, por um momento, que era uma corrida. Então ele partiu atrás dela, e seu cavalo, um cavalo castrado que havia ganhado alguns derbies escoceses, logo estava apenas alguns passos atrás dela.
O riso dela flutuou até ele, e ele olhou para frente e a encontrou checando o paradeiro dele.
— Terá que fazer melhor que isso para me alcançar, Lorde Zetland.
Ele sorriu, ainda mais divertido, considerando que deveria se concentrar nas terras, não em correr pelos campos com uma marquesa inglesa. Mesmo sem a presença de planaltos para tornar a vista mais agradável, a visão perfeita de Henrietta em seu traje de montaria compensava o bastante para o gosto dele.
Eles diminuíram a velocidade ao atravessarem um riacho raso e depois, seguindo o exemplo de Henrietta, ele puxou sua montaria em um trote lento, seguido de uma caminhada.
— Seu cavalo é rápido, vou concordar com isso, mas se você não tivesse trapaceado e decolado antes que eu estivesse pronto, eu teria ganhado.
Ela sorriu, dando uma batidinha no pescoço do cavalo.
— Eu não preciso de vantagem para vencer, não se engane, meu senhor.
Ele riu.
— Não discutirei contigo, minha senhora. Vejo que você ainda não está pronta para ouvir o bom senso sobre o assunto.
Ele sorriu para a afronta dela e riu quando ela entendeu a graça.
Ser feliz, despreocupada como ela estava certa neste momento, combinava muito bem com ela, e ele nunca havia visto uma mulher mais bonita.
Eles se afastaram do bosque, e a casa dela se ergueu diante deles. Construída em um estilo semelhante ao de Kewell Hall, o arenito da propriedade praticamente brilhava ao sol da manhã, convidativo e acolhedor. E, no entanto, nenhum lacaio veio cumprimentá-los, nem mesmo um criado comum. Só se via os funcionários externos, cumprindo suas obrigações.
Marcus desmontou e foi ajudar Henrietta, mas a encontrou já ao lado do cavalo. Ela sustentou o olhar dele e deu de ombros.
— Obrigada por pensar em mim, mas desmonto sozinha há algum tempo. Até vou surpreendê-lo em breve ao voltar para o cavalo também sozinha.
Ele fez uma reverência.
— Você terá toda a minha atenção desde que eu veja tal feito.
Eles amarraram os cavalos em uma árvore próxima e foram em direção à porta da frente.
— Não há funcionários internos. Estão todos em Kewell Hall agora, mas a governanta manda algumas arrumadeiras aqui e ali para manter a poeira sob controle. — ela tirou uma chave de um bolso do traje de equitação e destrancou a porta, abrindo-a. — E
esta é Cranfield. — ela virou-se para ele. — O que acha?
Marcus entrou e olhou em volta.
A casa era semelhante a Kewell Hall, exceto que estava repleta de lençóis empoeirados, as persianas das janelas fechadas, e era nulo o som da vida, de pessoas vivendo entre suas paredes, não havia o ecoar ao redor delas.
Do lado de fora, a casa parecia acolhedora, por dentro parecia desolada.
— É adorável, moça. Talvez um pouco solitária, eu diria. Por que não listou esta propriedade depois de se estabelecer em Kewell Hall?
Henrietta deu alguns passos no vestíbulo e seguiu para os fundos da casa. Ele foi atrás.
— Eu não sei. Suponho que queria mantê-la para mim. Afinal, foi um presente, e me gerou muitas memórias. Eu odiaria arrendar a propriedade, permitir que outra família formasse suas próprias memórias maravilhosas, só para me virar para eles e dizer, em alguns anos, que precisariam sair. Fazer tal coisa me chatearia, portanto decidi fechá-la à espera do momento em que eu estaria pronta para retornar.
A casa parecia adequada para ela, e mesmo que Marcus conhecesse pouco a marquesa de Zetland, até ele conseguia ver que ela se sentia relaxada e à vontade aqui.
— Este é meu cômodo favorito, era onde minha avó passava a maior parte do tempo. Também há rumores de que foi aqui que o rei George IV a pediu em casamento. mas ela nunca confirmou nem negou a história, então nunca saberemos.
Ela sorriu para ele, e algo saltou no peito de Marcus. Ele podia entender bem a atração do primo por esta mulher, ela com certeza era agradável em todos os aspectos, em temperamento, caráter e aparência.
— Minha casa na Escócia testemunhou muitas histórias do clã, que remontam a Roberto I, da Escócia, mas o governante escocês nunca propôs casamento a ninguém da minha família. Embora, devo dizer que alguns de meus antepassados adorariam ter uma história dessas para contar em torno de uma grande lareira tarde da noite. Meu filho certamente ama espadas e tudo referente ao Medieval.
Ela se sentou em um sofá coberto de lençóis, e fez um gesto para ele se juntar a ela. Ele obedeceu, rindo um pouco quando uma camada de poeira subiu enquanto eles se acomodavam.
— Você tem um filho? Eu não sabia que era casado. Sua esposa está na Escócia?
— Arthur é o nome dele, um belo rapaz de dois anos de idade. A mãe dele não está mais conosco. — ele disse, se esquivando da verdade brutal de que a mãe do garoto o havia deixado sem aviso.
Ou do fato de que ele não teve a chance de se casar com a moça e trazer alguma respeitabilidade ao nascimento de seu filho.
— Sinto muito por sua perda. — disse ela, tocando na mão dele por um breve momento. — Diga-me então, como é seu lar escocês?
— ela perguntou, mudando de assunto, o que o fez feliz. — Minha mãe tem uma propriedade lá que eu adoro visitar. Faz mais de dois anos que não a visito, mas pretendo fazer esta viagem antes da próxima temporada.
— Meu lar, o Castelo de Morleigh, fica na cordilheira com vista para o Lago Ruthven. É possível ver o lago de dois lados do castelo e no inverno, os picos ficam cobertos de neve. A região é pantanosa, por isso é difícil viajar em determinadas épocas do ano.
O castelo em si é bem frio, cheio de passagens secretas e, segundo meus criados, de fantasmas. Você é mais do que bem-vinda para se
hospedar lá caso se aventure a entrar tanto no país. Eu adoraria a companhia.
E ele amaria a companhia dela acima de qualquer outra coisa.
Um leve rubor percorreu o rosto dela e ele não conseguiria desviar o olhar nem que sua vida dependesse de tal movimento. Ela suspirou, recostando-se, apoiando a cabeça nas costas do sofá, olhando para o teto.
— Acho que aceitarei o convite, Lorde Zetland. O simples cogitar viajar para Londres e participar de outra temporada não me é nada tentador. Sinto falta de minhas amizades, mas todos conseguirão sobreviver mais alguns meses sem a minha presença. Eu gostaria de viajar um pouco mais antes das intermináveis noites e dias de socialização ocupando meu tempo. Passar férias nas Terras Altas me parece como algo saído de um sonho.
Pensar em Henrietta retornando à cidade, ou sendo cortejada por cavalheiros elegíveis o deixou um pouco irritado. Era algo que ele não conseguia conceber, o que por si só já valia uma reflexão.
Até a mãe de seu filho não provocara em Marcus esse sentimento desconfortável de que, se ele investisse seu tempo com essa mulher, ela poderia se tornar parte de seu futuro. Parte do futuro do menino.
Ele sempre quis uma esposa, e Henrietta, com sua natureza calma e generosa, seria uma mãe maravilhosa para o filho dele e qualquer criança que eles tivessem juntos. Marcus olhou para os jardins dos fundos e afastou o pensamento.
Ele conhecia a mulher há apenas dois dias e já estava planejando transformá-la em sua égua parideira. Ele possuía pedras na cabeça em vez de cérebro? Ela talvez não deseje voltar a se casar, muito menos se casar com ele. Casamento! Ele definitivamente precisava controlar sua imaginação errante.
— O castelo de Morleigh sempre lhe dará as boas-vindas, Lady Zetland. Nem precisa avisar que está para chegar.
Ela se virou e encontrou o olhar dele.
— Você está sendo muito gentil. — ela o estudou um momento.
— Preciso fazer uma pergunta, Lorde Zetland. Você é um cavalheiro solteiro e elegível agora... não há ninguém ansiando por você em casa?
— Não se preocupe com isso, não há moça alguma esperando por mim.
Henrietta franziu a testa.
— É difícil de acreditar.
Ele riu.
Quão errada ela estava.
— Você me acha bonito o suficiente para tentar as damas?
Tomarei isso como um elogio.
— Você está colocando palavras na minha boca, meu senhor, como bem sabe.
Fato, e mesmo assim gostou de provocá-la. Ela era uma oponente digna.
— Seu filho, ele é bem comportado? Imagino que estar longe dele todas essas semanas, é difícil?
— Ele é bem comportado, e muito amado. Sinto mais a falta dele do que pensava que sentiria, e essa foi uma das razões pelas quais não deixei a Escócia logo após a morte de Lorde Zetland. O garoto tinha apenas um ano de idade, e eu não achava certo deixá-lo sozinho para viajar para tão longe. Mas só ficarei por uma semana aqui, logo estarei ao lado dele de novo.
— Ele se parece com você? — ela perguntou. — Eu aposto que ele é bonito.
Marcus ergueu a sobrancelha, incapaz de deixar essa pergunta passar.
— Aí está você fazendo referência a minha suporta beleza, de novo. — ele brincou.
Ele olhou para ela e seus olhares cruzaram. Sustentaram-se. E
aquela tensão que fervia entre eles desde que se conheceram aumentou ainda mais. Estava em ponto de ebulição, e Marcus precisou se agarrar a todas as suas forças para não avançar a curta distância que os separava e tomar os lábios dela com os dele.
Maldição, ele queria beijá-la.
— Não sou uma debutante, meu senhor. Sou capaz de admitir quando um cavalheiro é bonito ou não, e você é tão ou mais bonito quanto qualquer outro que eu já conheci. É um choque enorme ouvir uma marquesa, a filha de um duque, dizer isso, mas minha educação não foi nada convencional, e meus pais sempre nos ensinaram a expressar nossa opinião e defender aquilo em que acreditamos.
— Eu gosto dessas características. Fazem justiça a você.
— Espero que sim. — disse ela, batendo as mãos nos joelhos e ficando de pé. — Agora, é melhor voltarmos a Kewell Hall antes do almoço. Preparei uma surpresa para você hoje.
A doçura desta mulher nunca terminava? Ela era maravilhosa, e ele não conseguia evitar de se encantar por suas boas maneiras inglesas.
— Você não precisa se esforçar para me agradar. Estou contente com a mera visita, por conhecer você e aqueles que vivem e trabalham em Kewell Hall. Você não precisa sair de sua rotina por minha causa.
— Ah, não saí. Apenas pedi que um almoço especial fosse preparado para você. Acredito que vai gostar.
Por favor, que não seja haggis de novo.
Por mais escocês que ele fosse, pensar em comer pulmões, coração e fígado fervidos e enfiados no intestino de uma ovelha era mais do que suficiente para fazer seu estômago revirar. Já era bastante ruim ter comido na noite anterior.
— Pode me dizer o que é?
Se fosse haggis ele iria precisar se preparar mentalmente para a tortura que estaria prestes a acontecer.
— Não, você verá em breve. Agora, quero mostrar um antigo mosteiro que fica nas proximidades, é fascinante e supostamente assombrado. Como seu castelo também parece ser, talvez você possa me dar sua opinião profissional sobre isso.
Ele riu.
— Mostre o caminho, minha senhora. Se houver espíritos ou fantasmas vagando, eu saberei.
O restante do dia foi digno de ser vivido: boa companhia, ótima conversa, um piquenique com carnes frias e vinho ao lado do rio para o almoço e um passeio que fez o tempo de Marcus ser bem utilizado. Ele não conseguia se lembrar da última vez que havia se divertido tanto com uma mulher, sendo esta uma mulher que ele não estava cortejando. Não que Henrietta não fosse uma moça formosa, pois decerto que era, mas como ela era viúva há pouco, doze meses podem ser muito cedo para que ela realmente estivesse recuperada da perda do marido.
E Marcus não estava bem certo de que queria uma esposa nesta fase de sua vida. Ele ainda era jovem, vinte e oito anos. Por mais que ele gostasse de ter mais filhos um dia, ele também não queria se apressar com algo apenas porque Lady Zetland englobava tudo o que ele sempre quis em uma esposa.
Não, ele voltaria para a Escócia e, se os caminhos deles se cruzassem outra vez, aí ele saberia que o destino havia agido e dado as cartas para eles. Caso contrário, talvez não fosse para ser.
CAPÍTULO 5
H ENRIETTA ESTAVA DEITADA, tarde da noite, e tudo o que ela conseguia pensar eram em Lorde Zetland –
Marcus, como ele pediu que ela o chamasse – e seu belo bumbum enquanto ele subia as ruínas do mosteiro, ele estendendo a mão para ajudá-la a se juntar a ele no pequeno mirante criado por uma parede em ruínas.
Ela sorriu ante as recordações do dia prazeroso, a conversa despreocupada que não fora interrompida nem condenada. Ao que parece, a conversa entre eles era bem natural, achavam graça nas mesmas coisas, e o amor dele pela terra, mesmo que Kewell Hall continuasse nas mãos dela, era genuíno. Ele mostrou que se importava com as questões que eram caras a ela, como plantio, colheita e os agricultores arrendatários. Ele quis conhecer os planos dela, como era o rendimento e a comunidade local.
Até mesmo a possibilidade de perder esta casa e propriedade não era tão perturbadora se ela soubesse que iria para um homem que se importaria tanto com ela. O fato de serem vizinhos também não era perturbador. Na verdade, ela poderia ir até Kewell Hall com muita facilidade, para visitar, ajudar Sua Senhoria se ele precisasse, e rever os criados, verificar se eles estavam felizes.
Ela rolou, balançando a cabeça com suas próprias reflexões. A quem estava enganando? A única razão pela qual ela viria a Kewell Hall seria para ver Marcus, e a possibilidade de vê-lo com aquelas calças, talvez curvando-se diante de uma lareira para acendê-la.
Fato era que ela não deveria estar pensando nele dessa maneira
– ele era um primo distante do marido, e herdeiro. Embora Walter
tivesse falecido há mais de um ano, estaria ela sendo insensível, desrespeitando seus votos de casamento, por estar pensando em outro homem dessa maneira? Não que ela fosse se casar com ele.
Ele não demonstrara nenhum indício de estar atraído por ela, exceto, talvez, aquele olhar que compartilhavam em sua biblioteca em Cranfield, mas fora isso, ele agiu como o cavalheiro perfeito.
Ele era jovem e, embora tivessem quase a mesma idade, sem dúvida desejaria ter mais filhos um dia, o que ela nunca poderia lhe dar. Era uma vergonha que ela carregava e que não conseguiu contar à Walter, nem mesmo depois do casamento.
Ser estéril, ser incapaz de conceber – como o médico de Londres havia lhe dito – fora um golpe devastador, mas não podia dizer que inesperado. Ela sabia desde que começara a se tornar uma mulher que algo não estava certo e pedira conselhos à mãe.
Que ela nunca teria filhos não era o que esperavam ouvir. Ainda assim, ela teve sua temporada, captou a atenção de um marquês e se casou com ele, o tempo todo esperando que os médicos estivessem errados. Mas depois de um ano de casamento, ela não menstruou nem uma vez, e portanto, não teria filhos.
Ela afastou os cobertores e saiu da cama, enrolou um xale nos ombros e saiu do quarto. A casa estava bem escura, dispunha de poucas velas deixadas acesas que logo se apagariam devido à falta do que queimar. Pegando um pequeno castiçal, ela desceu as escadas e foi para a cozinha, iria pegar um copo de leite e talvez ver se a cozinheira teria deixado pão fresco para ela fazer um pequeno lanche.
Ao entrar na cozinha, ela reprimiu um grito ao ver a figura sombria de Lorde Zetland sentado à mesa, um copo com algum tipo de bebida apertado nas mãos dele. Ele se levantou de supetão, o barulho da cadeira no chão de ardósia soou alto no cômodo, e ela
se encolheu, não querendo acordar os criados que os encontrariam sozinhos.
— Também não conseguiu dormir, moça? — ele perguntou, apontando para uma cadeira, para ela se sentar e se juntar a ele.
Henrietta verificou primeiro a despensa em busca de pão e sorriu quando viu um pão recém assado. Cortando uma fatia, ela a colocou em um prato e o colocou sobre a mesa antes de se servir de um copo de leite e se juntar à Sua Senhoria para um lanche na madrugada.
— Não consegui. Não sei dizer o motivo já que tivemos um dia tão agitado e mesmo assim o sono me falta.
Ela olhou para Sua Senhoria de relance e agradeceu por estarem em um local sombrio. Suas bochechas queimavam com o que ela viu. Lorde Zetland usava apenas uma camisa e calças, mas a camisa estava aberta na altura do pescoço, ela podia ver o contorno de seu peito e a leve cobertura de pelos escuros.
Ela não via um homem em vestimentas assim há mais de um ano. Mas olhar para Lorde Zetland era tão diferente de olhar para o corpo do falecido marido. Embora o Lorde Zetland anterior fosse alto, ele também fora bem magro. Possuía músculos , é claro, mas o atual Lorde Zetland, que tomava o café de forma bem vagarosa, os músculos dele... bem, eram bastante proeminentes e preenchiam a camisa com facilidade.
Henrietta colocou outro pedaço de pão na boca e mastigou, faria qualquer coisa para impedir que seus olhos voltassem à figura maravilhosa dele que ela podia ver muito bem agora que seus olhos haviam se ajustado à pouca iluminação.
— Você pode olhar para mim, Henrietta. Eu não mordo. — ele sorriu para ela que sentiu as bochechas queimarem ainda mais.
— Eu estou olhando para você. — disse ela, desejando poder retirar as palavras assim que as dissesse. — Isto é, que coisa estranha de se dizer, pois eu estou olhando para você. Por que acha que eu não estou?
Mas ela já sabia por que ele havia feito tal comentário. Porque ela estava o observando como se fosse uma nova iguaria diante dela, algo proibido, mas que ela continuava a dar olhadelas furtivas.
— Você costuma me olhar nos olhos, mas neste momento mal consegue subir os olhos acima do que meu peito.
Henrietta então encontrou o olhar dele, e não deixou de notar o calor que espreitava aquelas orbes azuis. Ela pensara que ele havia ignorado a situação deles, juntos em uma cozinha escura, não totalmente vestidos e a sós. Mas não era o caso.
Em vez disso, ele a encarava de uma maneira que Walter nunca olhara, nem mesmo nas profundezas da noite, quando estavam sozinhos. O olhar dele recaiu nos lábios dela, desceu o restante de sua figura, e ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo, seus seios ficaram pesados e apertados sob a camisola. Seu coração estava batendo rápido demais para ser adequado.
— E, no entanto, posso dizer que neste exato momento seus olhos também não encontram os meus, senhor. Você gosta do que vê?
O que ela estava dizendo?
O que diabos eles estavam fazendo?
Ela nunca foi tão direta ou escandalosa. Uma voz sussurrava que sua mãe ficaria bem orgulhosa dela naquele momento. A duquesa era uma mulher que vivia a vida ao máximo, e queria que seus filhos fizessem o mesmo, mas Henrietta sempre fora certinha, comportava-se como a filha perfeita de um duque. Mas na
companhia de Lorde Zetland, algo a incitava a ser travessa, a brincar e rir, em vez do contrário, pela primeira vez.
O olhar dele escureceu ainda mais, e ele largou a xícara.
— E muito. — a voz dele soou profunda, um pouco acima de um sussurro, e ela estremeceu e se assustou quando ele empurrou a cadeira para trás. — Boa noite, Lady Zetland.
Ela o viu sair e fechou a boca com um estalo quando ele fechou a porta da cozinha atrás dele. Bem, ela não estava muito certa do que acabara de acontecer, e não gostara muito de Lorde Zetland tê-
la deixado sozinha sem terminar a conversa esclarecedora que estavam tendo. Sem mencionar que pensar que ele gostara do que viu a deixou nervosa.
Algo dizia que falar com ele na manhã seguinte seria estranho, e ela não estava ansiosa por tal momento. Depois do que disseram um ao outro, se ele achava que encontrar o olhar dela naquele momento era um problema, ele não sabia de nada ainda.
MARCUS CAVALGOU forte em direção ao rio que corria em Kewell Hall. No dia em que ele e Henrietta haviam visitado a propriedade dela, ela dissera que Kewell Hall estava cercada por uma via navegável que bifurcava e corria pela propriedade, tornando-a quase cercada por um fosso.
O céu carregava nuvens ameaçadoras e, à distância, ele ouviu o estrondo de um trovão, mesmo com o ruído dos cascos embaixo dele. Ele atravessou o riacho e havia acabado de subir do outro lado do aterro quando os céus se abriram, e a chuva pesada e fria nublou sua visão mais do que ele gostaria. Ele puxou o cavalo, planejando voltar para casa e para a segurança.
Pelo canto do olho, um vislumbre de azul chamou sua atenção, e ele avistou Henrietta parada sob um velho carvalho, tentando encontrar um mínimo de cobertura sob a tempestade.
Lady Zetland estava deslumbrante em seu cavalo; uma imagem plena. Sentava-se com a coluna ereta, o queixo levantado e autoritário, não deixava dúvidas de que havia sido criada em um lar ducal.
Ele investiu na direção dela.
Não ansiava vê-la hoje, não depois do comportamento atroz que ele demonstrara na noite anterior. Ele nunca saberia o que o havia feito perguntar o que ela achava dele. O fato de ela não ter olhado para ele com nenhum pingo de desejo desde que passaram a dividir a mesma casa o deixava distraído, e quanto mais tempo ele passava com ela, mais ele queria que ela o notasse. Que ela o quisesse tanto quanto ele temia estar querendo-a.
Henrietta ser filha de um duque significava que, antes que ele pensasse em cortejar uma mulher de tal categoria, era melhor ter certeza de que ela era a mulher para ele e aberta a tais investidas.
Dois pontos dos quais ele não tinha certeza. O que fez suas palavras provocadoras na noite anterior serem iníquas e completamente inaceitáveis.
Ele posicionou a montaria dele ao lado dela e lançou um meio sorriso.
— Lady Zetland, devo me desculpar pela noite passada. Eu nunca deveria tê-la provocado, questionado seu olhar. Foi muito errado da minha parte, peço perdão, moça.
Ela sorriu para ele e, de alguma forma, serviu para dissipar a vergonha dele.
— Não se sinta envergonhado, Lorde Zetland. Sua pergunta afinal fora certeira. Eu estava olhando para você, e de forma
escandalosa, imaginando o que havia por debaixo de sua camisa e como seria beijá-lo. Então, veja... — ela disse sem tirar os olhos das forças climáticas que ganhavam mais força e ferocidade. — não estou envergonhada, nem zangada com suas palavras e não quero que nossas conversas abertas e honestas terminem por causa disso.
Marcus olhou para ela por um momento, o ar não chegando aos seus pulmões como deveria. Isso significaria que...
— Você imaginou que me beijava, Lady Zetland?
Ela assentiu, mordendo um pouco o lábio.
Uma pequena gota de chuva escorreu pelo queixo dela. Suas palavras extinguiram o resquício de limite que ele ainda possuía.
Mudando o cavalo de posição para ficar mais perto dela, ele se inclinou para ela, segurou suas bochechas e a beijou. Com vontade.
Os lábios frios dela encontraram os dele e, em vez de uma mulher de classe que não sabia como beijar, ele foi recebido por uma mulher que apertou as lapelas do casaco dele, o abraçou e o beijou de volta com tanta paixão, tanta necessidade, que fez sua cabeça girar.
Não deveria estar fazendo isso.
O aviso disparou em sua mente. Henrietta era a esposa de seu primo falecido. A filha de um duque, uma mulher que talvez não o fosse querer quando soubesse das desgraças dele. Que seu filho era ilegítimo e que nascera de uma mulher que trabalhava para ele.
Se ela não pudesse aceitar o filho dele, então ele não poderia fazê-
la dele. Era uma verdade absoluta que não poderia ser desfeita enquanto ele vivesse.
O beijo continuou, as línguas entrelaçadas, provocantes. O ato desacelerava e acelerava, provocava e implorava a ambos pelas
coisas mais maravilhosas que poderiam ser sentidas na cama se eles acabassem lá.
A montaria dele se mexeu e os separou.
A distância o fez desfazer o enlace, mas não conseguiu tirar os olhos dela nem que sua vida dependesse do desvio. As bochechas dela estavam vermelhas, os lábios um pouco inchados pelo abraço, e a necessidade em seus olhos provocou uma parte dele que ele não pensava que existia. Ele esfregou o peito, tentando acalmar o coração acelerado.
— Suponho que agora preciso me desculpar por esse beijo, e, no entanto, por mais que eu deva desculpas por tê-la puxado e beijado, não me arrependo. Quero beijar você desde o momento em que cheguei.
Os lábios dela se contraíram, e ela mergulhou o olhar para o peito dele, exatamente como na noite anterior.
— Eu também queria beijá-lo.
Um trovão soou, e a chuva começou a cair mais forte do que antes. Henrietta incitou a montaria de leve para deixar o abrigo do carvalho. Marcus a seguiu.
— É melhor atravessarmos o rio de volta antes que seja inundado, ou não teremos como retornar à propriedade.
— Claro.
Os dois cavalgaram o mais rápido que o solo encharcado permitia, e só diminuíram a velocidade quando chegaram ao rio.
Embora a correnteza estivesse um pouco mais forte, ainda aparentava ser transponível.
— Me siga de perto, Lorde Zetland, e seu cavalo continuará de pé.
Ele fez o que ela pediu, começando a se perguntar se ele iria cumprir com o que quer que ela viesse a pedir. Lady Zetland era
uma mulher que valia a pena seguir em qualquer lugar.
CAPÍTULO 6
H ENRIETTA SENTOU-SE na escrivaninha e rabiscou um bilhete para a mãe, deixando de fora a fofoca de que ela beijara um homem que não era seu marido, com coragem, atrevimento e sem se importar com o que pudessem vir a pensar.
Quando ele instigou o beijo, ela pensou, por um instante, em se afastar, mas no momento em que os lábios dele tocaram os dela, todos os pensamentos de negá-lo desapareceram. Agora, desde então, ela só conseguia pensar em repetir, em quando o veria em particular, e até onde essa nova intimidade poderia levar.
Imagens dele compartilhando sua cama, suas mãos fortes e capazes correndo sobre seu corpo. Por que, mesmo agora, quando ele estava com o administrador da propriedade olhando as plantações dos inquilinos, ela sentia-se revirar por dentro ao pensar em levá-lo para a cama.
Pensar no que poderiam fazer se ela permitisse tais liberdades fazia com que a respiração dela entrecortasse. Imaginá-lo em cima dela, sem roupas, seus músculos fortes flexionando com o esforço de lhe trazer prazer... Ela fechou os olhos, gostando mais da fantasia do que qualquer jovem bem-educada deveria.
Uma batida na porta a assustou, e ela pulou da cadeira, o som de um lacaio solicitando permissão para entrar a trazendo de volta aos seus deveres. Henrietta dobrou a carta e, puxando a gaveta superior, colocou-a ali.
— Entre. — disse ela, fechando a gaveta e trancando-a.
— A nova criada arrumadeira chegou, Lady Zetland. Gostaria de vê-la agora, ou mais tarde?
— Mande-a vir, obrigada.
Henrietta ficou de pé quando a jovem entrou, seus cabelos vermelhos brilhantes mal domados por um penteado apressado. A criada fez uma reverência rápida, mas não se atreveu a sorrir.
— Lady Zetland, obrigada por me empregar. Não vou te decepcionar.
Henrietta sorriu, contornando a mesa para se aproximar dela.
— Suas funções foram explicadas, assim como o que espero de todos que trabalham em Kewell Hall?
A jovem assentiu.
— A governanta me falou dos meus deveres e de onde vou dormir.
Ela era uma mulher bonita, era escocesa. Parecia que esta semana ela estava bem servida de presenças escocesas.
— Seu nome? — ela perguntou.
A mulher encontrou seu olhar.
— Srta. Emma Campbell, milady.
— E de que parte da Escócia você é, senhorita Campbell?
A jovem deixou o olhar vaguear pela sala um pouco antes de responder.
— Terras Altas, milady.
Henrietta sorriu.
— Uma parte adorável do país, se posso dizer. — ela acompanhou a nova criada até a porta da biblioteca. — A Sra. King a acompanhará daqui. Espero que fique bem em seu emprego aqui.
A mulher mergulhou em uma reverência perfeita.
— Obrigada, milady. Sinto que será.
Henrietta observou a Sra. King levá-la para a cozinha, onde sem dúvida ela seria posta a trabalhar assim que o almoço dos funcionários terminasse.
A porta da frente se abriu, e Lorde Zetland chegou de sua incursão com o administrador. Seu cabelo estava despenteado por cavalgar a manhã toda, e um arrepio de prazer a invadiu ao revê-lo.
Após o beijo deles, um que envolveu mais paixão do que ela já havia experimentado antes, todos os seus pensamentos se voltaram para quando fariam de novo.
Pelos olhares dele, sombrios e cheios de promessas, um novo beijo aconteceria mais cedo ou mais tarde.
— Lorde Zetland. Considera que as propriedades agrícolas dos inquilinos estão bem cuidadas?
Ele entregou seu redingote cinza, o chapéu e as luvas a um lacaio que esperava.
— Sim, Lady Zetland. Todas parecem estar em boas mãos e bem cuidadas, como você disse que estavam.
Ele passou por ela, e de forma surpreendente, ele a pegou pela mão e a puxou para a biblioteca, fechou a porta atrás deles, e no momento em que a porta se fechou, ele a empurrou contra a porta, o rosto dela apertado entre as mãos capazes dele enquanto a boca dele, quente e insistente, tomava seus lábios, despertando nela uma fome que ela não sabia ter.
Mal o beijo começou, terminou e, por um momento, Henrietta segurou a maçaneta da porta para firmar os pés. Ele passou um dedo pela bochecha dela, inclinando o queixo para encontrar o olhar dele.
— Durante todo o dia, durante todo o tempo em que andei pela propriedade, todos os meus pensamentos estavam em você. De revê-la, beijá-la. Me vejo, desde que acordo até o momento em que adormeço, com a mente ocupada com sua doçura e nada mais.
Henrietta mordeu o lábio, encantada com as palavras doces dele. Se conseguisse falar, teria dito a Marcus que havia sido o
mesmo para ela. Contou as horas até que ele retornasse à propriedade, para que pudessem retomar de onde o interlúdio do dia anterior havia parado.
— Seus beijos são pecaminosos, meu senhor, e pior do que isso, você sabe o quanto me afetam.
— Eles afetam você, moça? Como? — ele perguntou, inclinando a cabeça e trilhando com beijos sua bochecha, orelha, demorando-se no lóbulo por um momento antes de beijar o pescoço dela.
Santo Deus...
Ela engoliu em seco enquanto seu corpo vibrava de vontade que ele fosse mais longe. Como ela poderia se concentrar na pergunta dele e responder enquanto os lábios dele a provocavam? Ela empurrou seu peito um pouco para poder encará-lo e não se sentir tão desconcertada.
— Eu amava meu marido, de verdade, mas embora o leito conjugal fosse bom, ou ao menos eu pensava assim, não muito após o casamento ele adoeceu. Então, Lorde Zetland, estou em desvantagem em relação a você. Eu não sou tão mundana com essas coisas.
Ele sorriu, e ela voltou para seus braços, precisando estar perto dele novamente.
— Não vou apressar você, moça. Afinal, só estamos nos beijando.
Henrietta assentiu, querendo mais do que beijar o homem.
Um pensamento bem escandaloso, mas estando nos braços dele ela não conseguia pensar em nenhum outro lugar que preferisse estar. Havia pouca chance de ela engravidar, caso se tornassem amantes e, portanto, nada ruinoso poderia ocorrer se ela o levasse para a cama.
Uma pontada de tristeza tomou conta dela ao saber que engravidar não era uma preocupação tão grande quanto deveria ser.
Se ela tivesse amadurecido como esperado, como o médico explicou, então Lorde Zetland precisaria ter cuidado.
— Você é um perfeito cavalheiro, meu senhor. — disse ela, passando a mão pelo cabelo na nuca dele.
— Não sou cavalheiro nenhum. Longe disso, moça.
Ela mordeu o lábio, o tom profundo de suas palavras a fazendo doer em lugares que ela não sabia que poderiam doer.
Que esclarecedor.
— Como? Mostre-me. — disse ela, aproximando-se ainda mais para que os seios tocassem o peito dele.
MARCUS ENGOLIU EM SECO, e quando estava prestes a reivindicar seu prêmio, uma leve batida na porta foi ouvida, seguida de vozes femininas, o que o fez soltar impropérios por dentro. Quem quer que havia chegado fez os olhos de Henrietta se arregalarem de choque e pânico, e ela o calou, gesticulando para que ele sentasse no sofá perto do fogo.
Ele fez o que ela pediu, da forma mais silenciosa que pôde, enquanto ela se atrapalhava para endireitar o vestido e os cabelos que ficaram um pouco bagunçados após o beijo. Ele não pôde deixar de admirar e sorrir ante a tentativa apressada de se deixar apresentável, quando tudo o que ele queria era deixá-la em um estado bem longe desse.
Ela abriu a porta, deleite em suas feições ao ver quem estava lá.
— Mamãe, que prazer ver você. Eu não sabia que você viria me visitar. Estava escrevendo para você há pouco.
Marcus ficou de pé, cruzando as mãos atrás das costas quando a duquesa de Athelby e uma outra mulher entraram na sala. A duquesa entrou e seu olhar, afiado e experiente, fixou-se nele. Ele ficou tenso na tentativa de não se mexer sob o escrutínio dela, e ficou aliviado quando Henrietta caminhou em sua direção depois de cumprimentar a outra mulher.
— Mama, Margaret, deixe-me apresentar Lorde Zetland, o novo marquês. Lorde Zetland, esta é minha mãe, a duquesa de Athelby e esta é minha prima, Srta. Margaret Bell.
Ele fez uma reverência.
— É um prazer conhecê-la, Sua Graça.
E ele pôde ver de onde Henrietta herdou sua bela aparência, pois a duquesa também era uma mulher bonita, mesmo com a idade dela.
— Como está, Lorde Zetland?
— Muito bem, obrigado, Sua Graça. — disse ele, sem saber se o tom dela era amigável ou ameaçador.
— Lorde Zetland está aqui para ver a propriedade. Parece que posso não ser a dona de Kewell Hall, afinal. Walter não assinou a papelada para finalizar minha herança.
Marcus olhou para Henrietta, pois o tom dela era de decepção, e ele nunca quis que fosse assim. A propriedade não estava vinculada ao título e, portanto, ele poderia presenteá-la com a casa e as terras.
Mas se ele fizesse isso, o alívio que o aluguel da propriedade traria para ajudar seu filho a ter um futuro mais seguro, além de ajudar a restaurar seu próprio castelo escocês, desapareceria.
Contudo, ele também não queria que Henrietta ficasse infeliz. Talvez ele devesse ceder a propriedade e dar um fim a tudo. Havia outras
duas outras propriedades para se obter renda. Ele não precisava ser egoísta.
— Sobre isso, minha querida. — disse a duquesa, sentando-se na escrivaninha. — Você está correta em suas suposições, pois Walter não assinou o documento que transferia a propriedade.
Nosso advogado veio nos visitar, pedindo desculpas pelo erro relativo a esse assunto. Você não é a proprietária de Kewell Hall, nem de suas terras ou das propriedades dos inquilinos. Eu vim com sua prima para ajudá-la a fazer sua mudança para Cranfield. Abrir a casa e contratar funcionários adequados.
Marcus franziu a testa, não queria que Henrietta fosse a lugar nenhum, muito menos para um lugar a cinco quilômetros de distância.
— Não há pressa se o que diz é verdade. Henrietta tem me ajudado a aprender como a propriedade e a casa são administradas e a ganhar a confiança do administrador e da criadagem. Seria um grande entrave se ela fosse embora agora.
A duquesa ergueu uma sobrancelha suspeita.
— Henrietta, é? — la pigarreou, lançando um olhar conhecedor à filha. — Darei a vocês alguns dias para amarrarem qualquer ponta solta acerca da administração da propriedade e, em seguida, minha filha se mudará para Cranfield.
Henrietta suspirou, mas assentiu, e Marcus sentiu-se tentado a xingar. Ele não queria que ela fosse embora. A ideia o deixou reticente quando algo parecido com pânico se apoderou de seu peito.
Ele se acostumou a vê-la no jantar e no café-da-manhã. Aos passeios pela propriedade. E agora que estavam se tornando mais íntimos, o retorno à casa no fim do dia havia se tornado mais doce.
Semelhante ao que aconteceu esta tarde.
— Ainda poderei ajudá-lo até você voltar à Escócia, Lorde Zetland. Não se preocupe.
Ele assentiu, mas não se aventurou a dizer mais nenhuma palavra acerca do assunto. A duquesa parecia satisfeita com o resultado, e levantou-se para ir até a filha.
— Venha, me ajude no meu quarto e discutiremos Cranfield.
Na porta, Henrietta parou, voltando-se para Marcus.
— Vejo você no jantar, Lorde Zetland.
Ele as observou sair e passou a mão pelos cabelos.
Não havia muito mais para ele aprender sobre a propriedade.
Olhando para a escrivaninha, ele notou uma carta deixada ali. A duquesa a colocou lá quando se sentou? Ele foi até lá e virou o papel. Reconhecendo o rabisco e o selo de seu advogado no verso, ele a abriu, e leu por alto a missiva.
Afirmava o que a duquesa acabara de dizer. Kewell Hall era dele em sua totalidade. O advogado dele também declarava que encaminharia os documentos comprovativos para a propriedade dele na Escócia. Marcus sentou-se na cadeira, tendo que admitir que seu tempo aqui na Inglaterra teria que chegar a um fim.
Mesmo que a casa fosse arrendada, ou que ele a desse à Henrietta, não restava mais nada para mantê-lo aqui. Exceto a mulher que preenchia todos os seus momentos de vigília e sono.
Henrietta.
CAPÍTULO 7
N A COMPANHIA da prima Margaret, Maggie para a família, Henrietta sentou-se em uma sala dos fundos que dava para o terraço e contou a ela sobre sua crescente paixão por Lorde Zetland. De sua escandalosa ideia que queria colocar em ação em relação ao lorde escocês que atualmente residia sob seu teto.
— Ele definitivamente é bonito, Henrietta. Mas como alguém que foi casada com um homem que era de um jeito antes do casamento e diferente após a troca de votos; preciso perguntar se você está certa de que ele não é um lobo em pele de cordeiro. Ele é escocês, e sabemos bem que eles não muito afáveis com os ingleses. —
disse ela, assentindo com ênfase.
Henrietta riu, mas a prima tinha boas razões para dizer essas coisas. Ela fora casada com o conde de Worncliffe, um homem que se mostrou tão violento que Maggie não teve outra opção a não ser se divorciar dele. E mesmo ser parente do duque de Athelby não foi suficiente para salvar sua reputação, e a mãe de Henrietta, ao trazer Maggie para cá, significava apenas uma coisa: que ela faria de Maggie sua companheira e daria à mulher algum tipo de posição e segurança financeira, por menor que fosse.
Henrietta não gostava nada da ideia. Maggie deveria ter o direito a se casar novamente, de ir a bailes e festas e continuar as amizades que manteve durante o casamento. Enquanto isso, Lorde Worncliffe andava por Londres com toda a liberdade para fazer o que quisesse, e nem um pingo de escândalo resvalava em seu nome. Maggie havia sido despojada da fortuna que havia levado
para o casamento, o que a deixava com muito pouco para viver. A injustiça de tudo isso era enlouquecedora, e Henrietta odiava o destino que sua prima encontrou pelo simples fato de buscar a própria liberdade.
— Ele não é um homem mau. Mesmo se nos casássemos, e posso prometer que isso não acontecerá, não acredito que ele mudaria. Ele é gentil, muito sensual e seus beijos... bem, eu não consigo nem pensar que um homem que beija tão bem possa se transformar e ser tornar um monstro.
Maggie franziu a testa, pensando nas palavras de Henrietta.
— Isso pode ser verdade. Deus sabe que Lorde Worncliffe não sabia beijar. Na verdade, era bastante desagradável.
As duas riram.
Então Henrietta disse:
— Se eu for para Cranfield, significa que não verei Marcus com a frequência que gostaria. Não quero partir, ainda não pelo menos.
— Hm. — disse Maggie, franzindo a testa. — Talvez eu possa fingir alguma doença, isso convenceria sua mãe a deixar você ficar aqui mais um pouco.
— Acho que está se esquecendo de que mamãe é a duquesa de Athelby. Ela desvendará nosso pequeno ardil em pouco tempo. Não.
— disse Henrietta, levantando-se para enfatizar suas palavras. —
Apenas direi a ela que ainda não estou pronta para sair e que preciso que ela retorne à cidade. Quando chegar a hora de Lorde Zetland partir, eu pedirei a ajuda de mamãe. Você, claro, Maggie, pode ficar.
— Acredita que sua mãe voltaria à cidade? Eu sei que ela estava ansiosa para revê-la.
Por mais que Henrietta amasse seus pais, eles costumavam se intrometer demais na vida da filha. Ela era viúva, uma mulher adulta,
portanto, mais do que capaz de cuidar de si e de decidir quando era hora de deixar Kewell Hall e Lorde Zetland.
— Vou contar a ela de uma maneira gentil esta tarde. Ela está descansando no momento. Mas vai entender, tenho certeza disso.
Agora devo ir e me trocar.
Maggie olhou pela janela.
— Você não vai sair nesse calor, vai? Vai ficar sardenta.
— Há uma cabana perto do rio, no lado oeste da propriedade, não se esqueça. Os pais de Walter a construíram pouco depois que se casaram. Terei o cuidado de não ficar ao sol por muito tempo, mas hoje está quente o bastante para nadar, para poder mergulhar os dedos dos pés. Você é mais que bem-vinda se juntar a mim, se quiser.
— Não, obrigada, ficarei aqui. Eu nunca gostei de águas escuras e profundas. — disse Maggie, tremendo um pouco.
Henrietta desejou uma boa tarde e, depois de vestir o traje de banho que ficou bem escondido sob o vestido matutino, seguiu em direção ao rio. A caminhada levou apenas quinze minutos e, com a floresta que cercava a propriedade, a caminhada foi pincelada pela luz do sol. Ao longe, ela conseguia ouvir a água espirrando e quando saiu das árvores para a clareira, seus passos diminuíram o ritmo. A partir dali, uma moldura de madeira com rosas trepadeiras recém-plantadas ficava ao lado da margem do rio, um caminho limpo e conveniente que leva à água.
Mas quem estava nadando é que chamou sua atenção. Ela parou, mordendo o lábio, enquanto Lorde Zetland estava com água na cintura, as costas nuas brilhando à luz do sol, gotas de água escorrendo dos cabelos por toda a sua forma perfeita.
— Nossa. — ela murmurou, não querendo que ele a notasse e acabasse com sua deliciosa inspeção dele.
A ideia de poder nadar com ele, sentir seu corpo próximo ao dela, a fez dar os passos necessários para chegar à cabana. Ela se sentou no banco de madeira ao lado da porta e tirou as botas. Ele se virou ao ouvi-la e sorriu ao encontrar seu olhar, uma luz pecaminosa em seus olhos.
— Precisei aproveitar a oportunidade de nadar neste dia quente.
Você vai se juntar a mim, moça? — ele passou a mão pelos cabelos, e os músculos do braço se flexionaram.
Ela suspirou, desfazendo os botões na frente do vestido, e o olhar de Lorde Zetland baixou para seu colo.
— O que você está fazendo, Henrietta? — ele perguntou depois de um momento, a voz dele tornando-se mais profunda do que ela jamais ouvira.
Ela ficou de pé e tirou o vestido, ficando apenas com uma camisola e os calções compridos. Em seguida, tirou as meias e as colocou sobre o banco junto com o vestido.
— Vou nadar, como você. Este é o meu traje de banho.
Ele olhou para ela, seu peito subindo e descendo a cada respiração. A visão dela o tentava, o fazia querer beijá-la outra vez?
Ó, meu Deus, ela esperava que sim, pois da parte dela, ela queria muito beijá-lo, ainda mais depois que foram interrompidos ontem com a chegada de sua mãe e Maggie.
Ela deu um passo hesitante na água e ficou aliviada ao descobrir que não estava muito fria. O leito do rio era lamacento, e ela foi cuidadosa ao entrar na água e evitar de cair.
— Você nunca viu uma mulher em trajes de banho, meu senhor?
— Ah, sim, eu vi mulheres em trajes de banho, minha senhora.
Mas nunca uma mulher que me faça querer arrancar o tal traje do corpo dela.
Ela escorregou e caiu na água provocando respingos, depois saiu da água rindo.
— Você fez isso de propósito para me tirar a concentração.
Ele nadou até ela, puxando-a com força contra seu corpo e colocando as pernas dela em volta da cintura dela. A ação permitiu que ela sentisse todos os músculos tensos do peito dele, o calor da pele, a gota d'água trilhando o queixo.
— Não, não foi proposital, mas também não posso negar o fato de que vê-la aqui comigo, e nesse seu traje de banho tão transparente que agora está molhado, é um benefício que eu nunca pensei que aconteceria ao decidir vir até aqui mais cedo...
Henrietta olhou para o próprio corpo, e seu rosto esquentou ao ver os mamilos espreitando sob o tecido da camisola. Ela voltou a olhar para cima ao mesmo tempo que Marcus e percebeu que ele também a observava.
Os mamilos dela!
Ele deu um sorriso largo.
— Linda.
Ela deslizou as mãos sobre os ombros dele e o beijou de forma suave.
— Você tem o dom das palavras. Temo não ser eu mesma com você.
Ela não deveria se permitir se envolver, se apegar a esse homem. Era de se supor que ele iria querer voltar a se casar e ter mais filhos. E embora ela pudesse ser uma esposa amorosa e generosa para ele, não poderia dar filhos a ele.
— O sentimento é mútuo, moça. — ele a beijou, e ela não se esquivou da necessidade que zumbia através de seu corpo.
Em seu âmago, a masculinidade endurecida dele a pressionava, com intensidade feroz, próxima a seu monte. Ela podia sentir o
senso de restrição dele conforme as mãos dele a embalavam com força, e o tempo todo a boca dele a devorava, ele a beijava com tanta paixão que ela se esqueceu do resto e simplesmente cedeu ao desejo por esse homem. Ser mulher nos braços de um homem e não a filha de um duque nos braços de um lorde.
Ele os levou para águas mais profundas, chegava ao peito deles, e Henrietta interrompeu o beijo, reclinando-se para molhar os cabelos. A água era tão refrescante, e ela nunca viveu uma experiência dessas com um homem. Nem mesmo com Walter.
Pensando bem, eles nem haviam tomado banho juntos, mas a ideia de tomar banho com Marcus a deixava dolorida de necessidade.
Ela afastou os cabelos do rosto dele, queria ver os cílios longos dele que a deixavam com tanta inveja, e ver o queixo forte e o nariz aristocrático. Havia pouca dúvida em sua mente que ela queria levar Marcus para a cama. Deitar-se com um homem que não era seu marido. Um ato pecaminoso e escandaloso, mas ela não conseguia evitar.
Ela se esforçou para pedir o que queria sem ter medo da negação dele ou de se interromper falando. Com certeza, depois de estarem como agora, ele não se recusaria a dormir com ela.
— Se eu pedisse para você vir ao meu quarto hoje à noite, você concordaria?
Ele a observou por um momento, e o desejo que ela leu naquele olhar a fez seu coração bater forte.
— Me juntarei a você assim que todos os outros estiverem deitados para dormir.
Ela sorriu e depois gritou quando ele a pegou e a jogou nas profundezas. Ela se ergueu e nadou para longe dele enquanto ele a perseguia. Mas sua tentativa de escapar durou pouco, pois ele era rápido demais. Apertando o tornozelo dela, ele a puxou de volta
para ele. A ação a fez engolir um pouco de água, e ela tossiu tentando recuperar o fôlego.
Ele a levou um pouco em direção ao raso.
— Você está bem, moça? Eu não quis afogar você.
Ela riu.
— Você não me afogou. Engoli um pouco de água, só isso. —
ela inclinou-se na água e flutuou um pouco. — Junte-se a mim. —
ela perguntou.
Ele se aproximou para ficar ao lado dela, e o toque do dedo circulando um dos mamilos dela os fez enrugar e endurecer.
— Depois desta noite, voltaremos aqui, e eu vou fazer amor com você na margem deste rio, sob as estrelas.
— Promete, Marcus? Eu odiaria ser decepcionada por um cavalheiro que não cumpre sua palavra.
Ela ofegou quando a boca dele desceu sobre um de seus mamilos e o chupou.
— Sim, prometo moça. Essa é uma promessa que nunca vou quebrar.
CAPÍTULO 8
ENQUANTO MARCUS se banhava, se vestia, e depois amarrava a gravata diante do espelho em seu quarto na preparação para o jantar que aconteceria naquela noite, ele debateu consigo mesmo o que deveria fazer. Quanto deveria contar a Henrietta antes de dormir com ela? Pois nesta noite havia poucas dúvidas de que ele a teria, de todas as formas possíveis e várias vezes, caso ela permitisse.
A ideia de tê-la embaixo dele, de fazê-la chamar seu nome enquanto ele se empurrava para dentro dela em busca do prazer dela, o fazia ficar duro dentro das restrições das calças que vestia.
Ele pegou um copo de conhaque e bebeu de uma só vez, precisava controlar seus nervos e desejo.
O gongo do jantar soou no andar de baixo e inspirando para acalmar-se, ele saiu do quarto.
Ele precisava contar a Henrietta a verdade sobre seu filho. Que seu filho era o filho bastardo que fora gerado com uma mulher que acordara e partira apenas alguns dias depois de dar à luz o menino.
Sua vergonha era duas vezes mais forte pelo fato de ele ter se confortado nos braços de uma criada, uma mulher que trabalhava em sua casa e sob sua proteção.
Alguns na Escócia lhe deram as costas devido a essa verdade, a religião e o senso moral dessas pessoas não perdoaram seus pecados. Marcus não se importava com o que os outros pensavam, desde que seu filho estivesse feliz e saudável, mas Henrietta merecia saber e escolher que caminho ela seguiria.
Um ligeiro latejar começou atrás de seus olhos ante a realização do que deveria fazer.
Ele desceu para jantar, e por boas graças não encontrou nenhuma das parentes de Henrietta que haviam chegado para ficar.
A mãe da moça não era alguém com quem ele quisesse cruzar com muita frequência. Para ser honesto, ele estava com certo medo da mulher, mas a prima de Henrietta, Maggie, era agradável o suficiente.
Ele entrou na sala de jantar e encontrou todas sentadas.
Henrietta sorriu quando seus olhares se cruzaram. Ele sorriu de volta.
— Perdão pelo atraso, Sua Graça, senhoras. Parece que estou com uma leve dor de cabeça. Talvez eu tenha tomado muito sol hoje.
Henrietta pousou a taça de vinho e chamou um lacaio.
— Mande preparar um chá de tisana para Lorde Zetland, por favor, e traga-o antes de servir o primeiro prato.
O lacaio fez o que ela pediu e, agradecendo-lhe, Marcus bebeu o líquido turvo assim que chegou e seguiu para a sopa de tartaruga.
Os pratos iam e vinham, junto com as conversas sobre a alta sociedade e os escândalos que aconteciam em Londres, incluindo o que o irmão de Henrietta – gêmeo ainda por cima – que Marcus não sabia que existia, andou aprontando.
Algumas vezes Marcus pegou Henrietta estudando-o, e com o latejar atrás dos olhos ganhando força, ele odiou o fato de que a decepcionaria mais uma vez cancelando o encontro deles.
— Quando pretende partir, Lorde Zetland? — a duquesa perguntou, cortando a carne de porco e colocando um pedaço delicado na boca.
— Já estou aqui há uma semana, portanto não continuarei a incomodar por muito mais tempo, Lady Zetland. O inverno chegará em breve nas Terras Altas, e eu preciso estar em casa para preparar tudo para a estação antes que a neve impeça que eu saia daqui.
Marcus encontrou o olhar de Henrietta e o sustentou.
Que semana maravilhosa havia sido. Ele não conseguia se lembrar de momentos mais felizes na companhia de uma mulher, ou de qualquer um. Henrietta fora a anfitriã perfeita e tão conhecedora quanto o administrador que supervisionava o funcionamento diário da propriedade.
Marcus tomou um gole de vinho, admitindo para si que sentiria falta dela.
— Sua casa é grande, meu senhor? — Maggie perguntou a ele, parecia genuína em seu interesse.
— É um castelo com vista para o Lago Ruthven. É claro que precisa de muitos reparos, mas espero concluir a reforma em um ano ou dois.
— Parece adorável, meu senhor. Gostaria de vê-lo um dia. —
disse Henrietta.
Marcus olhou para cima e não perdeu a expressão curiosa da mãe de Henrietta ante as palavras da filha. Henrietta não parecia se importar que a mãe estivesse olhando para ela. Ela apenas continuou olhando para ele, as belas esferas azuis cheias de expectativa e calor.
— Falando em viagem, mamãe. Ainda há alguns detalhes sobre Kewell Hall e a propriedade que preciso examinar com Lorde Zetland antes de partir para Cranfield. Talvez seja melhor você voltar para o papai na cidade, e eu escrevo para você quando precisar de assistência. Maggie pode ficar e me fazer companhia até então.
A duquesa limpou a boca com o guardanapo, antes de recolocar o quadrado de tecido em seu colo.
— Eu queria falar com você sobre isso, minha querida. Hoje recebi uma carta do seu pai querendo saber quando voltarei. Acho que irei para Londres amanhã mesmo, e aguardarei sua missiva.
Marcus continuou a comer, não querendo que a duquesa visse que sua partida eminente o deixava aliviado. Não que ele não gostasse de Sua Graça, mas ele queria mais tempo com Henrietta, e com a duquesa aqui, incentivando Henrietta a se mudar logo para sua própria propriedade... bem, tal partida não se encaixava em seus planos.
— Imagino que um castelo nas Terras Altas da Escócia deva ser assombrado, Lorde Zetland. — disse Maggie, sorrindo para ele.
Ele riu.
— Se você perguntar à minha governanta, ela dirá que sim. Mas, infelizmente, eu nunca vi nada que me causasse alarme, e nem quero.
Henrietta recostou-se na cadeira enquanto o próximo prato era servido.
— Então seu castelo não tem segredos escandalosos, sombrios e ocultos que deseja esconder? Eu pensei que todos os castelos vinham com algum tipo de mistério ou história para contar.
Marcus se engasgou com o vinho e tossiu antes de pousar o copo de cristal.
— Não. — ele murmurou, balançando a cabeça. — Não há segredos no Castelo de Morleigh.
Ele se voltou para a refeição e concentrou-se ao colocar um pouco do molho amarronzado sobre a carne de porco. A alegação de que sua casa não guardava segredos foi como deixar uma bola de chumbo cair em seu estômago.
Ele odiava mentir para Henrietta, mas também não estava certo do que ela pensaria se soubesse a verdade sobre ele. Que ele tinha um filho, um filho concebido fora do casamento, e não com uma mulher de sangue nobre, mas uma criada sob sua proteção. Isso o fazia parecer um patife vil, mesmo que o relacionamento dele com Henrietta, por mais recente que fosse, fosse mútuo.
A filha de um duque poderia não entender que ele se sentiu só, e a mãe de seu filho se ofereceu primeiro como amiga e depois como amante. Foi só depois que ela estava arredondando com o filho dele que ele descobriu que abutre traiçoeiro e caçadora de dinheiro ela era. Ela nunca quis o menino, apenas queria alçar-se para fora da servidão. Algo pelo que ele não podia culpá-la, mas talvez houvesse outras maneiras de se afastar do emprego doméstico.
Henrietta havia se banhado depois do jantar e, em um ato de puro descaramento, pedira que enviassem um banho para Lorde Zetland também, mas pedira aos criados que enviassem um pouco depois das dez. Se seus funcionários a consideravam ilógica por fazê-lo, era correto afirmar que não o falariam na sua frente. E sabendo que Sua Senhoria estava sofrendo de dor de cabeça, ela pediu ao valete dele que derramasse um pouco de óleo de lavanda na água para aliviar a dor.
Com ordens estritas para que só retirassem a banheira no dia seguinte, ela andou diante da lareira apagada em seu quarto, e esperou que o valete fosse dispensado. Não que ela tivesse espionado seus próprios criados, mas costumava ser neste horário que os criados terminavam seus afazeres e se retiravam para jantar.
O som de passos e do inconfundível bater da porta da escadaria de serviço a fez sorrir. Lorde Zetland estava sozinho. E era possível que, neste exato momento, nu em um banho. A ideia de ver sua pele firme e tocada pelo sol brilhando na água mais uma vez fez com que seus mamilos se apertassem sob sua camisola.
Ela caminhou até a porta e, abrindo apenas uma fresta, olhou para o corredor. Ninguém permanecera ali, então, reunindo toda a determinação e confiança que pôde, ela foi em direção ao quarto dele, certificando-se de fechar a porta do próprio quarto antes de sair.
Ela parou diante da porta dele, sua mão ficou no ar rente à maçaneta, uma onda de nervosismo a atravessou. Ele iria gostar de que ela fosse até ele? É claro que eles planejaram que Marcus é que iria ao quarto dela esta noite. Mas com a menção de uma dor de cabeça, talvez a noite de hoje não fosse mais possível.
Abaixando a mão na lateral do corpo, ela mordeu o lábio ao refletir até que o som da voz de Lorde Zetland dentro de seu quarto a fizesse dar um pulo.
— Você vai ficar do lado de fora da porta a noite toda, Henrietta?
Se você não entrar logo, a água ficará fria.
Ela mordeu o lábio, sufocando uma risada, e entrou, garantindo ao se virar para fechar a porta que o trinco estivesse bem firme no lugar. Respirando fundo, ela se virou e lutou para não ficar boquiaberta. Ele estava descansando na banheira diante de uma pequena fogueira na lareira que emanava apenas o suficiente de calor para afastar o ar frio.
O abdômen tonificado dele brilhava na água, do jeito que ela se lembrava, e ele estava esfregando sabão contra a pele de uma maneira que ela gostaria que ele fizesse com ela.
A ideia de sentir as mãos ásperas pelo trabalho dele deslizarem por seus seios a fez latejar entre as pernas, e ela engoliu um gemido de necessidade. Fazia tanto tempo desde que ela esteve com um homem. Mesmo antes da morte de Walter.
— Como você sabia que eu estava do lado de fora da sua porta?
— ela perguntou, sem se mexer.
Ele sorriu, colocando o sabão em uma cadeira ao lado da banheira.
— Algumas velas ainda devem estar acesas no corredor, e eu pude ver uma sombra embaixo da porta. Imaginei que fosse você.
— E se não fosse eu?
— Quem mais poderia ser? — ele perguntou, erguendo a sobrancelha.
Ela precisou concordar com o argumento.
Dando de ombros, ela se afastou da porta, tirou o roupão e o deixou cair no chão. Os olhos dele escureceram, e ele parou de tirar o sabão do corpo para observá-la.
— Você vai se juntar a mim, moça? A água ainda está quente.
Ah, sim, ela iria se juntar a ele, mas primeiro ela precisava assumir o controle dessa situação. Ele era de uma personalidade tão forte, tão confiante, um verdadeiro patife, se ela fosse honesta.
Ela precisava recuperar um pouco de seu poder, tê-lo na palma da mão. Ela olhou para a própria camisola, viu os mamilos escuros empurrando contra o tecido e começou a desatar a fita que mantinha a parte superior do vestido fechada. Desatando-o devagar, ela encontrou o olhar dele e o sustentou enquanto deixava a peça cair no chão, deixando-a nua como um bebê recém-nascido.
Em um rompante, ele trouxe o corpo para frente, pegou a mão dela e puxou-a para entrar no banho com ele. Por um momento, ela
ficou diante dele, seu monte na altura do rosto dele. Abafando a mortificação por esse fato, ela se manteve firme e não se mexeu.
— Você gosta do que vê, meu senhor?
As mãos dele correram pelas costas de suas coxas, torcendo-se para provocá-la, tão perto do seu núcleo, mas não perto o suficiente.
— Sim, eu gosto do que vejo.
Ela gemeu quando ele se inclinou para frente e a beijou ali, então pegou uma das pernas dela e a colocou ao lado da banheira.
A língua dele disparou, correu ao longo de seu núcleo, beijando e lambendo suas partes íntimas de uma maneira que ela nunca soube ser possível.
Walter, com certeza, nunca a tocara dessa forma. O ato de fazer amor sempre fora doce e terno, mas rápido. Depois, ela sempre ficava com um desejo que nunca era saciado.
Mas agora, enquanto Marcus a beijava nos lugares mais privados de uma mulher, e a beijava como se estivesse beijando sua boca, um pequeno resquício do que ela estava perdendo cintilou dentro de seu corpo.
Ela afundou os dedos nos cabelos dele, e a língua dele se esforçou mais, seus lábios sugando e beijando-a, primeiro devagar, e com muito cuidado, pouco depois ele deslizou um dedo dentro de seu núcleo.
Foi demais, o dedo inteiro era mais do que ela podia suportar, e com esse prazer interminável e torturante devorando seu corpo, ela notou que se esfregava contra o rosto dele, o nome dele um apelo sem fôlego em seus lábios.
A outra mão dele agarrou a perna dela, o que ela agradeceu, pois sem o apoio dessa mão, ela teria desabado sobre ele. Com um beijo final contra seu botão, ele olhou para ela, e a necessidade crua
gravada em seu rosto foi o bastante para aumentar o desejo dela por ele uma vez mais.
Ela sentou-se, com as pernas o contornando, e apertou o rosto dele.
— Eu quero você. Eu quero que você me tome. Agora.
Ele rosnou, e erguendo-a um pouco, ele se guiou nela. E pela primeira vez na vida, Henrietta se perdeu.
AO VER HENRIETTA em seu quarto, todas as reflexões acerca de sua dor de cabeça se dissiparam, e a mente de Marcus ficou ocupada com pensamentos mais agradáveis. Ele pensara que a dança deles no ato sexual seria mais lenta do que estava sendo, mas quando Henrietta parou diante dele, um pouco insegura, mas cheia de necessidades não satisfeitas, ele não conseguiu se refrear de provar seu doce néctar.
Apenas uma lambida, e ela se abriu para ele, aceitou o prazer que ele podia proporcionar e permitiu que ele seguisse. Ela estava doce e molhada, e tê-la se esfregando contra a boca dele, bem, ele quase derramou sua semente na banheira como um rapazote imaturo.
Droga, ela era linda.
Agora Henrietta montava em seu corpo, e com muito pouca delicadeza, ele apertou o pênis e se guiou para dentro do núcleo apertado e quente dela. Ela estremeceu nos braços dele, e ele a beijou de forma profunda e demorada, precisava que ela relaxasse para que aproveitasse a união deles de maneira tão prazerosa quanto quando a boca dele saboreou seus lábios inferiores.
Ele não forçou a união deles, não apertou os quadris dela e a esfregou sobre ele, por mais que quisesse. Em vez disso, ele apenas a beijou, provocou-a a querer mais e, por fim, em um ritmo quase doloroso de lento, ela se moveu, começou a ondular em cima dele e a enterrá-lo por completo dentro dela.
— Hm. — ela respirou contra os lábios dele. — É agradável.
Agradável...
Era mais que agradável. Agradável era uma palavra muito mansa para o que eles estavam fazendo, para o que ele queria fazer. Ele a queria com tanta necessidade que ele teve que se forçar fisicamente a não a arrebatar da banheira, deitá-la na cama e se impulsionar dentro dela com força. Rápido.
Haveria mais oportunidades para fazê-la gritar seu nome em tal posição, mas esta noite, envoltos de água morna e sabão, este local teria que servir.
— Moça, você me faz querer tanto você que, mesmo agora, isso não é suficiente.
Ela aumentou o ritmo, e ele não pôde deixar de segurá-la com força contra seu peito. Os seios dela balançaram contra ele, os picos apertados e duros como contas raspavam seu peito a cada movimento.
Ele beijou seu pescoço, deslizando a língua ao longo de sua clavícula. Ela era tão pequena e delicada, a pele cremosa e perfeita com um ligeiro toque de rubor avançando nas bochechas com o esforço deles. Esta noite nunca seria suficiente para ele. Ele queria prová-la outras vezes, beijá-la sem sentido com mais frequência, seduzi-la a ser dele, não apenas enquanto ele estivesse na Inglaterra, mas para sempre.
Ela jogou a cabeça para trás e permitiu que ele desse o tom ao ato, e por um momento ele a fodeu com mais força do que
pretendia, empurrando-a com estocadas rápidas e duras que o deixaram gemendo o nome dela quando suas bolas endureceram perto da liberação.
— Ó sim... — ela ofegou, ajudando-o a manter o ritmo.
Ela não se esquivou da cavalgada mais áspera, ele diria que aumentou o prazer dela, e quanto a ele, o prazer foi dobrado.
— Goze para mim, moça.
Enquanto ele continuava seu ataque, a água espirrava no chão, e ele não deu importância ao barulho que eles estavam fazendo.
Nos últimos dias eles dançaram em torno da atração mútua e agora, sozinhos e juntos assim, essa atração explodiu em chamas, e os dois foram consumidos. Ele queria que ela se desfizesse em seus braços, que sentisse prazer, e queria ver a boca dela abrir-se em um suspiro quando ela atingisse o ápice.
Ele precisava ver os olhos dela escurecerem ante a descoberta e apreciação conforme um tremor após o outro atravessassem seu corpo. Ela o beijou, e ele gemeu quando o núcleo dela se apertou a tal ponto que ele não conseguiu frear o próprio clímax. Eles gozaram, e ele bombeou forte em seu calor úmido, perdeu o autocontrole e a capacidade de pensar direito enquanto a semente dele jorrava dentro dela.
Todo o tempo em que ela o montou, em que buscou o próprio prazer, o nome dele foi um sussurro que tocou os lábios dele enquanto ela se alternava entre beijá-lo como se não houvesse amanhã e abraçá-lo.
Ela caiu contra o peito dele, um pequeno beijo no pescoço, fazendo-o sentir coisas por essa mulher que ele nunca havia sentido por ninguém antes. Ele massageou as costas dela quando ambos recuperaram o fôlego.
Depois de um tempo, ele apertou o rosto dela em suas mãos e a fez olhar para ele. Ele viu a beleza dela, que não estava só do lado de fora. A mulher em seus braços havia amado e perdido, era uma latifundiária e locadora incrível. Uma mulher sensual e independente, e ele a queria. Necessitava por mais de uma noite.
Os olhos dela brilhavam com conhecimento recém adquirido, e ele não pôde deixar de sorrir que ela seria uma mulher a ser considerada a partir de hoje. Não haveria ninguém capaz de impedi-la de conseguir o que queria. E ele esperava que ela o quisesse.
— Você é tão bonita. Espero que tenha gostado do nosso pequeno encontro. — ela sorriu, e o coração dele deu, mais uma vez, um pequeno salto.
— Gostei. Mais do que eu jamais pensei ser possível. Você me trouxe prazer duas vezes, meu senhor. Isso é comum?
Ele rosnou, a conversa sobre o que eles haviam acabado de fazer tornando-se a garantia de que aconteceria de novo, e logo.
— Nem sempre, mas se você se deitar comigo, então sim. Gosto de agradar tanto quando me agradam.
Ela o estudou por um momento, uma pequena sombra cruzando seus olhos antes que ela piscasse, e se foi.
— Você dorme com muitas mulheres? Só consigo entender o que acabou de dizer se tal ato é um acontecimento frequente para você.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Não, moça. Não é frequente, mas eu não sou anjo, não me confunda com um desses. Eu não sou virgem e sempre me propus a agradar na cama.
Henrietta desviou o olhar, mordendo o lábio, e ele esperou para ver o que ela diria. Quando ela não se aventurou mais, ele disse:
— Você está com ciúmes, moça?
Ela deu de ombros e, por um longo momento, não fez nada.
Então ela encontrou o olhar dele, trepidação em suas esferas azuis.
— Talvez eu esteja. Não gosto de compartilhar, Lorde Zetland.
Em geral, eu consigo o que quero e acontece que quero você. — ela deslizou contra ele e seu pênis, semiduro, mas ainda dentro dela, agitou-se com o movimento. — Enquanto você estiver aqui, pelo menos. Quero aproveitar nosso tempo juntos o máximo possível antes de retornar à minha viuvez, e você voltar à Escócia.
Ele não queria voltar para a Escócia sem ela, e agora estava mais do que nunca determinado a garantir que não fosse assim.
— Temos algum tempo antes de eu partir, e agora que sua mãe está de partida, não precisaremos ser tão cuidadosos em torno da propriedade.
— Maggie ainda estará aqui. — Henrietta disse, e de alguma forma, esmagou seu núcleo contra ele, fazendo-o perder o fôlego por um momento.
Ele ofegou.
— Ah, moça. Faça isso de novo. — ele disse, puxando-a para um beijo rápido.
Ela fez, e ele gemeu.
— Mas estou ansioso para me esgueirar, em especial se for você que vai me encontrar.
E ele a teria toda vez que se encontrassem, caso ela permitisse.
Uma amostra, e ele estava perdido, e algo dizia a ele que, neste caso, ele nunca mais queria se encontrar.
CAPÍTULO 9
N A MANHÃ SEGUINTE, Henrietta assistiu à mãe partir para Londres. De pé no cascalho da entrada de Kewell Hall, ela acenou até a carruagem sumir de vista.
Maggie, de pé ao lado dela, suspirou.
— Bem, agora que a duquesa se foi, você vai me dizer por que motivo não estava em seu quarto quando eu fui lá ontem à noite?
Na verdade; eu esperei por você porque poderia ter descido para um lanche tardio, ou para buscar um livro, mas quando não voltou, bem, minha imaginação fez sua parte.
Calor subiu pelas bochechas de Henrietta antes que ela sorrisse.
Foi uma reação das mais absurdas a tal pergunta, mas ela não conseguiu se conter. Quando se tratava de Lorde Zetland, ela parecia ter as reações mais bobas. Sem mencionar que depois do banho da noite anterior, ela nunca mais olharia para uma banheira da mesma maneira.
— Você quer mesmo saber? — Henrietta perguntou, mordendo o lábio.
Os olhos de Maggie se arregalaram de realização.
— Você dormiu com o marquês, não dormiu?
Sua amiga a puxou para caminhar pela trilha que circundava a casa, e Henrietta foi de bom grado. O ar fresco poderia ajudá-la a pensar direito. Deus sabe que depois passar o resto da noite com Lorde Zetland na cama, ela precisava recuperar o bom senso.
Ela assentiu, passando o braço em volta de Maggie e sorrindo.
— Sim, prima, e devo admitir que foi mais do que eu esperava.
Ele foi tão carinhoso, tão maravilhoso, de um jeito que eu nunca
soube ser possível. Apesar de a mamãe ter afirmado que as relações sexuais com o marido podem ser agradáveis, nunca havia sido assim para mim.
— Você encontrou prazer nos braços dele. Hm. — disse Maggie com um ar melancólico.
— Foi a coisa mais maravilhosa que já aconteceu em minha vida, fora meu casamento com Walter, claro. — ela suspirou, lembrando-se do toque de Marcus, das reações que ele provocou em seu corpo que, mesmo agora, com o mero pensar nelas, fazia seu corpo doer de necessidade. — Serei amante dele enquanto ele estiver aqui. Eu o quero, mesmo agora. Não consigo parar de pensar nele.
As reações que ela estava tendo com esse homem eram tão atípicas para ela. Ela não acreditava que olharia para outro cavalheiro pelo resto de sua vida. Mas com Marcus, sua firme determinação se desfez em cinzas. Ela meio que não conseguia ficar longe.
— Bem... — Maggie disse se abanando com ironia.— Você quase que me deixa com ciúmes. Mas saiba que estou feliz por você, Henrietta. Sei que você nunca faz nada de forma espontânea ou sem ponderar antes, portanto, ir para a cama com Lorde Zetland deve significar algo.
Significou alguma coisa?
Ela com certeza estava atraída pelo homem, e talvez por saber que nunca engravidaria dele, sabia que havia pouco risco de que sua reputação ser manchada. Por mais que ela fosse adorar não ser viúva, ser uma por obra do destino significava que ela poderia ter um amante, desde que fosse discreta. Várias mulheres da sociedade o faziam.
E não havia como trazer Walter de volta. Que Deus o tenha, ele se foi para sempre. Já fazia um ano. Quando ela recebeu Lorde Zetland na biblioteca no dia em que ele chegara, ela não planejara que eles acabassem assim, como amantes e amigos.
Mas parece que o destino trazia outros planos...
— Eu gosto dele. Parece que nos damos muito bem, e ele é atencioso e carinhoso. Mas não veja mais do que isso em nosso acordo. Ele vai voltar para a Escócia, e eu voltarei à cidade. Nossas vidas são muito diferentes, e ele não está interessado em ficar no lado sul da fronteira. Nem mesmo por mim.
Não que Henrietta tivesse perguntado o que ele queria, mas ela não desejava complicar mais a relação deles. Eram dois adultos se divertindo, e nada mais.
— Você perguntou a ele?— Maggie indagou com um olhar direto.
— Não. — respondeu Henrietta. — Mas sei que ele deseja retornar à Escócia, e logo. Ele tem um filho para cuidar, e o castelo precisa de reparos antes da chegada do inverno. Ele não pode adiar a viagem de volta só porque há alguém disposta a compartilhar a cama com ele.
Eles viraram a esquina da casa, e Henrietta viu Lorde Zetland sentado em uma mesa do lado de fora no terraço, sombreada por uma treliça com rosas trepadeiras. Também estava com ele a criada recém contratada, que se ocupava recolhendo a louça do café-da-manhã dele.
Ao lado dela, Maggie começou a falar sobre o que planejava fazer agora que era dama de companhia de Henrietta, e o que Henrietta permitiria que ela fizesse já que eram primas. Nisso ela estava certa, pois Henrietta nunca daria ordens à Maggie, nem negaria a ela a oportunidade de fazer algo ou não. Elas eram mais
como irmãs do que primas. Maggie merecia uma vida feliz e tranquila, e não uma vida de servidão. Ela já havia vivido este aspecto por tempo demais ao se casar com o conde.
Lorde Zetland olhava por cima do jornal para a criada, assentindo de vez em quando, e mesmo de onde Henrietta estava, ela podia ver que ele parecia um pouco entediado ao ouvir a jovem, que falava com grande velocidade e gesticulava com as mãos. Do que diabos eles estavam falando? A jovem viu Henrietta e, improvisando uma reverência rápida, entrou na casa.
Ela e a prima terminaram de dar a volta, e Henrietta aproveitou o momento para admirar a pessoa dele. Pela primeira vez desde a morte de Walter, ela ria, se divertia e não se preocupava tanto com o cotidiano da propriedade.
Marcus fez com que ela se lembrasse de que a vida era para os vivos e que não deveria ser desperdiçada ao se afastar como uma reclusa em luto.
— Vejo que você conheceu minha nova criada. Ela estava perdida? Os lacaios é que costumam servir a família.
Marcus se levantou e puxou uma cadeira para Henrietta e Maggie.
— Ela estava perdida, ficou me contando do tamanho da casa, e de como a disposição dos cômodos nestas propriedades são bem diferentes da que estava acostumada nas propriedades escocesas.
— Mesmo?— Maggie disse, olhando para a casa. — Acredito que todas as casas desse tamanho são parecidas.
— Creio que ela mencionou ter trabalhado em casas menores, minha senhora. — ele disse antes de se voltar para Henrietta.—
Você está muito bonita hoje, Lady Zetland. Parece estar muito descansada.
Henrietta lançou um olhar de advertência a ele, e Maggie olhou para os dois com irritação.
— Melhor eu voltar para dentro. Sua mãe me deu uma partitura nova, e quero aprendê-la.
— Logo estarei com você. — Henrietta disse e voltou-se para Marcus.
— E você, comporte-se, meu senhor. — ela disse quando Maggie saiu. — Você não deve falar de forma tão aberta assim, mesmo que minha prima esteja a par de nosso caso.
— Ela está? — ele disse levantando-se e, tão rápido quanto um raio, inclinou-se e a beijou com paixão.
A respiração dela perdeu o compasso ante as sensações que seus beijos, seu toque sempre traziam nela, e ela apertou as lapelas do casaco dele.
— Você contou a ela o que eu fiz com você noite passada?
Calor floresceu nas bochechas de Henrietta, e ela o empurrou de volta para a cadeira.
— Não os detalhes, seu patife, mas contei a ela que nunca na vida havia sentido o que você me fez sentir ontem. Mesmo agora, sentada a menos de um metro de você, acho tudo bem incomum.
Mesmo agora, eu quero você.
Os olhos de Sua Senhoria escureceram de fome, e um arrepio percorreu a espinha dela. O homem era capaz de seduzi-la com um olhar, então era justo que ela o provocasse em troca. Ela o achava atraente em todos os sentidos, queria-o com uma fome que nunca era saciada. Por que ela deveria esconder seu desejo por ele?
Ao longo do tempo em que ele estava aqui, eles se tornaram amigos, e então essa amizade se transformou em paixão. Ela era uma mulher adulta com necessidades, e se ela queria que essas necessidades fossem atendidas pelo homem sentado ao lado dela,
é isso que ela declararia. Não havia a ameaça de gerarem uma criança, então o risco para sua reputação era quase inexistente.
Ele estendeu a mão e passou o dedo pelo braço sem luvas dela.
— Desde o momento em que você saiu do meu quarto hoje de manhã, não pensei em mais nada que não fosse você. Diga quando poderei beijá-la de novo.
Ela sorriu.
— Você me beijou não faz nem dois minutos. Não pode estar tão carente assim.
— Ah, sim. — disse ele se inclinando para frente e colocando a mão em uma das pernas dela e as afastando uma da outra, apenas um pouco.
A ação fez o coração dela disparar e que calor se alojasse entre suas coxas, mas foi o que ele fez em seguida que a deixou sem fôlego. Felizmente, a mesa estava posta com uma toalha bem longa, então tudo o que eles fizeram atrás do móvel permanecia relativamente oculto.
Lorde Zetland se abaixou e colocou a mão sob o vestido dela, passando o toque pela perna, por cima do joelho, e deslizou pela coxa. Ela colocou a mão em cima da dele na coxa e parou o curso.
— Você não pode fazer isso aqui, meu senhor. Não é seguro.
Ele aproximou ainda mais a cadeira e olhou em volta.
— Não há ninguém para nos ver.
Henrietta não se atreveu a detê-lo outra vez quando a mão dele deslizou o restante do caminho, e tocou seu núcleo através da fenda em suas calçolas. Ela apertou a mesa e abriu um pouco mais as pernas quando ele aprofundou mais o toque em seu monte até que um dedo afundou dentro dela.
Ela mordeu o lábio e lutou para não ondular na mão dele. Fazer tal coisa não era nada digno de uma dama da sociedade e, no
entanto, ela queria cavalgar a mão dele, queria a boca dele no lugar em que seus dedos a acariciavam.
— Isto é demais. — ela arfou e o agarrou pelas lapelas, esquecendo-se que se alguém os visse notaria a proximidade nada apropriada em que estavam. Lorde Zetland inclinou-se para ela, a mão debaixo das saias, os olhos ardendo de necessidade e fome.
— Você deveria parar. — ela implorou sem veracidade no tom.
Ela nunca iria querer que ele parasse.
— Mas eu não vou parar, moça. — a voz dele saiu enevoada e doce de desejo.— Eu quero observá-la, preciso vê-la se desfazer sob meu toque uma vez mais. Esta é uma visão de que nunca me cansarei.
Henrietta gemeu e deixando todo o decoro de lado, ela o beijou, tomou a boca dele com toda a necessidade que ele evocava nela.
Ele gemeu e empurrou o dedo mais fundo, mas mais devagar, e a crista do prazer que ela procurava se tornou uma onda mais firme dentro dela, sem atingir o pico.
Ele tomou a boca dela sem restrições, e mais tarde Henrietta se amaldiçoaria pelo fato de ter permitido uma demonstração tão pública de emoção. Uma exibição pública assim de duas pessoas, ao ponto de só faltar finalizar o coito diante de todos que pudessem estar olhando pela janela.
— Devemos parar.
Marcus se soltou do abraço dela o e a puxou para ficar de pé, arrastando-a para a sala matinal, perto do terraço. Felizmente, a sala estava vazia, mas ele não parou ali. Não, ele continuou até a biblioteca, e só então fechou a porta, o trinco sendo posto no lugar com um barulho alto.
— Venha cá, marquesa. — o sotaque escocês dele ainda mais pronunciado pelo desejo.
O peito dele subia e descia a cada respiração, e ela mordeu o lábio na expectativa do que estava por vir. Ela caminhou até o sofá e esbarrou na mesa que estava atrás dele, que bateu na cadeira.
— Perfeito. — disse ele e, a passos largos, chegou a ela e a guiou para sentar-se sobre a mesa e amassou as saias em torno da cintura dela.
Henrietta quase vibrou com a expectativa do que ele estava prestes a fazer. Ela nunca fez amor com um homem em uma mesa antes, e sua excitação dobrou.
Ele rasgou o tecido da própria roupa íntima, e seu pênis saltou orgulhoso, grosso e duro. Ela estendeu a mão e deslizou o dedo ao longo do eixo suave e sedoso. Ele ofegou, rosnando um pouco com a ação dela.
Em seguida, ele o pegou na mão e esfregou a ponta do pênis no núcleo dela, e ela gemeu, sem ter ideia de que poderia desejar um homem tanto quanto o desejava agora. Que maravilhoso que as mulheres pudessem desfrutar de um homem dessa maneira. Era algo com o qual ela poderia se acostumar e almejar com uma frequência maior do que o pudor permitia verbalizar.
Ele envolveu os quadris dela, e ela assistiu com fascinação o modo como ele se guiou para dentro dela. Marcus ergueu os olhos para encontrar o olhar dela no instante em que estava completamente abrigado, cobriu a bochecha dela com beijos doces.
Ele gemeu quando ela levantou as pernas e as cruzou em torno do quadril dele.
Na banheira, na noite anterior, ele havia permitido que ela escolhesse o ritmo do ato de fazer amor. Permitiu que ela se acostumasse ao tamanho dele, aproveitasse seu prazer. Mas hoje, aqui e agora, não seria assim. Seus dedos cravaram nos quadris
dela enquanto ele empurrava, forte e profundo. Seus golpes repetitivos fazendo com que a respiração dela ficasse entrecortada.
O corpo dela não era dela, ele a possuía neste momento, e ela colocou a mão em punho na frente da boca para evitar gritar o nome dele, pois com um impulso final ela se transformou em prazer, seu núcleo vibrando e contraindo contra o falo sempre insistente dele, antes que ele também atingisse o prazer, o nome dela sussurrado contra sua orelha.
Eles ficaram assim por um momento, ambos perdidos um no outro, antes que ele dissesse:
— Isso, minha senhora, não era o que eu esperava fazer com você ao vê-la passeando ao ar livre. Mas preciso admitir, não me arrependo de tê-lo feito.
Ela o agarrou, não querendo que o momento terminasse enquanto as espirais finais de prazer desapareciam de seu corpo.
— Estou feliz que o tenha feito. Foi uma delícia.
Ele a beijou mais uma vez, antes de se afastar dela e ajudá-la a se levantar. Ele ajeitou as próprias roupas, e ela o observou enquanto ele amarrava o tecido das calças compridas de volta no lugar. Algo tão simples como apenas observá-lo nesta tarefa fez com que a necessidade por ele voltasse a vida.
A ideia de que ele voltaria para a Escócia em breve, voltaria ao filho e aos deveres de um novo marquês, e de Laird para seus próprios inquilinos nas Terras Altas, deixou uma pontada de arrependimento porque ele não estaria mais aqui. Era maravilhoso ter alguém para rir e conversar. Como ela não percebeu o quão sozinha se sentia após a morte de Walter?
É claro que um dia ele voltaria a se casar, teria mais filhos como se deve, e o tempo que passaram aqui em Kewell Hall seria apenas
uma lembrança fugaz, um momento de despertar, pelo menos para ela, e um adorável encontro para Sua Senhoria na Inglaterra.
Ele levantou o queixo dela, uma leve carranca na testa.
— O que há de errado, moça? De repente, não me parece nada feliz.
Ela afastou a reflexão deprimente e deslizou para fora da mesa, ajeitando o vestido.
— Nada está errado. Estava apenas sonhando acordada. — ela correu para a porta, não gostando nada da emoção que causava um nó na garganta, nem das lágrimas não derramadas que embaçaram sua visão. — Vou subir para me refrescar e me trocar para o almoço. Nos vemos lá.
MARCUS OBSERVOU Henrietta fugir da biblioteca como se os cães do inferno estivessem atrás dela. Ele deu espaço a ela, mas ela não foi rápida o suficiente em sua fuga, de modo que ele notou que os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Ele também rumou para o quarto e repassou o interlúdio deles, tudo o que ele havia feito, todos os movimentos, beijos e toques. Com certeza ele não a machucou. Por todo o caminho ele se remoeu acerca do que mais poderia a estar incomodando.
O ato de fazer amor deles fora espontâneo. Quando ele tocou a perna dela no terraço, ele não queria ir tão longe quanto chegou, ou acabar na biblioteca fazendo amor com tanta paixão, com tanta necessidade, que mesmo agora continuava não satisfeita, e ele queria estar mais uma vez com ela. Mesmo que fosse apenas estar parado ao seu lado, conversando e rindo.
Ele suspirou, e ao chegar em seus aposentos foi até o jarro e a tigela que ficavam em uma mesa lateral e derramou um pouco de água na tigela para limpar o rosto. Ele jogou água no rosto e depois usou um pano para limpar-se o máximo que pôde. Esta noite ele iria a Henrietta e garantiria que ela estivesse bem, que ela não se arrependera das ações deles. Ele nunca forçou, nem jamais forçaria alguém a continuar um caso, se não quisesse.
Quanto mais tempo ele passava com a moça, mais ele gostava dela. Muito mais do que ele pensava que chegaria a gostar quando iniciaram o contato. Ele conseguia visualizá-la ao seu lado, a segunda mãe para seu filho, a senhora tanto de suas propriedades escocesas como das que estavam na Inglaterra.
Ele tirou a gravata, e a colocou em uma cadeira próxima.
Henrietta não havia sugerido casamento, ela falava da partida iminente dele como inevitável e com pouca resposta emocional. Isso não facilitava que ele a lesse. Ela queria se casar com ele?
Ele passou a mão na mandíbula.
Pois Deus sabe que ele gostava dela, mais do que jamais gostara de uma mulher, e para sempre não parecia o bastante.
CAPÍTULO 10
A PÓS UM JANTAR TRANQUILO, Henrietta retirou-se para o quarto e terminado o longo banho quente, ela dispensou a criada e se preparou para dormir. Sentou-se à penteadeira, escovou os cabelos e ficou imaginando quando Lorde Zetland iria embora.
Amanhã eles deveriam checar as plantações ao norte e na volta passar pelo moinho de farinha da propriedade. Eram as últimas estâncias da propriedade que ele ainda não havia visto. Depois disso, ele saberia exatamente o que havia herdado, como funcionava, quem trabalhava para ele e o que ganhava a cada ano.
Com o inverno se aproximando a cada dia, era provável que partisse dentro de uma semana, e então o flerte deles terminaria.
Ela jogou a escova de cabelo em cima da mesa e se assustou quando a porta do quarto se abriu e Lorde Zetland entrou depressa, trancando a porta atrás dele. Ela encontrou o reflexo dele no espelho e sentiu-se contrair por dentro ante a fome nos olhos dele.
Como ele conseguia olhar para uma mulher e, mesmo sem palavras, dizer a ela que ela era desejada, e o que ele faria?
Ela lambeu os lábios ante o pensamento de tê-lo em sua cama, o delicioso deslize do corpo dele contra o dela, uma sensação de que ela sentiria uma terrível falta quando ele partisse a assolou.
— Ousado, meu senhor. Eu não sabia que havíamos planejado ficar juntos esta noite. — disse ela, erguendo a sobrancelha.
Ele não se mexeu, apenas encostou-se à porta, um guerreiro escocês saído de um livro de História. E um que ela queria conquistar.
— Vim desejar uma boa noite, nada mais, moça.
Ela girou na cadeira da penteadeira, puxando o xale sobre os ombros.
— Mesmo? Apenas um boa noite...
Ele se afastou da porta, e os músculos de suas coxas chamaram a atenção dela a cada passo que ele dava. As calças de camurça eram realmente um artigo de vestuário muito útil, eram justas e permitiam que outras pessoas visualizassem todos os ativos que estavam por baixo.
Ele parou diante dela e olhou para baixo.
— Eu tive você hoje, moça. Não sou uma fera. Não vou me forçar a você mais uma vez.
Incapaz de resistir, Henrietta estendeu a mão e apoiou a mão no quadril dele. Ele estava tão quente sob o toque dela. Passando o dedo pela costura lateral de suas calças, ela deixou a mão cair quando alcançou o joelho dele. Ele ficou rígido sob o toque dela. Ele poderia dizer que não a tomaria outra vez, mas ele a queria, e essa verdade a preencheu com uma quantidade inebriante de controle.
Ela se levantou e estendeu as mãos para envolver o pescoço dele. Ela o beijou, com lentidão e intensidade, movimentando a língua em sincronia com a dele, e suspirou quando ele cedeu ao desejo e a puxou para estar grudada por inteira a ele.
Ela foi de bom grado, mas se afastou, de forma lenta e deliberada, antes de sair de seu abraço.
— Temos um grande dia amanhã, meu senhor. Seria bom que você tivesse uma boa noite de descanso.
Ele a estudou por um momento e depois assentiu, disposto a fazer o que ela pedia, não importava que a respiração dele se mostrasse tão irregular quanto a dela.
— Sim, claro. Boa noite, moça. — ele foi até a porta, mas parou antes de abri-la. — Esta tarde, você ficou chateada. Por favor, diga-
me que não está chateada comigo ou com o que estamos fazendo.
Apenas diga uma palavra e interromperemos nosso contato, se for esse o caso.
Havia muitas coisas erradas.
Uma delas era o quanto ela começara a se importar com homem que a olhava com tanta ternura que fazia seu coração doer. Mas não havia futuro para eles, e se ambos quisessem seguir em frente com suas vidas, construir novos futuros, ela não poderia querer que Marcus desenvolvesse algum sentimento por ela.
Ela não podia dar o que ele queria.
O que todos os homens de influência, cavalheiros intitulados, precisavam para seus nomes e grandes propriedades. Ela não tivera sucesso em dar ao marido um filho e, se tivessem tido a oportunidade de serem casados por mais tempo, seria apenas uma questão de tempo até Walter ficar decepcionado com ela. Que descobrisse a verdade; que ela era estéril e incapaz de conceber.
Marcus merecia ter mais filhos, e por mais que ela adorasse dar a ele outro, ela não poderia, nem nunca daria.
Não havia futuro para eles e, portanto, as idas constantes para a cama, os toques que a deixavam ansiosa por mais, os beijos e palavras doces sussurradas em seu ouvido, precisavam ser cortados.
— Não há nada errado, estou apenas cansada, mas nos veremos no café-da-manhã. Boa noite, Marcus.
Ele franziu a testa e olhou como se quisesse dizer algo mais, mas pensou melhor, assentiu e saiu. Henrietta caiu na cadeira diante da lareira e suspirou. O que ela estava fazendo era para o melhor, para ambos. Um dia ele agradeceria, quando estivesse cercado pelos filhos.
Ela sorriu ao pensar nisso.
Ele parecia amar muito o filho, e o menininho merecia irmãos.
Henrietta adorava ter um irmão, tanto quanto seu irmão Henry gostava de ter uma irmã. Marcus era um homem forte, capaz e de moral, perfeito em todos os aspectos para criar filhos respeitáveis e honrados. Exatamente como todos deveriam ser.
MARCUS OLHOU para os campos recém-arados e ouviu o encarregado da fazenda falar sobre os rendimentos e o que estavam preparando para semear. Por mais que a informação lhe interessasse, a mulher que estava sentada em cima de uma égua, quieta e distraída, interessava-lhe mais.
Algo estava acontecendo, e ele estaria condenado ao inferno se deixasse outra noite passar sem descobrir o que era. Talvez suas regras mensais tivessem chegado e por isso que ela o afastou. Mas se fosse esse o caso, ficar em um cavalo por horas a fio não seria muito confortável, então ele descartou a ideia.
Não, ela estava preocupada com outra coisa e, por conseguinte, ele estava preocupada com ela.
— E quantos sacos por acre são colhidos?
O agricultor continuou a dar as informações, e Marcus meio que ouviu. Ele tentou chamar a atenção de Henrietta, mas ela não olhou para ele. Seu estômago revirou ao pensar que ela se cansara dele, que quando ele a levara para a biblioteca no outro dia, sua falta de restrição a havia enojado de alguma maneira. Talvez ela o considerasse bruto.
O homem parou de falar e, agradecendo a informação, Marcus virou-se para a direção em que estava seu próximo destino, o moinho de farinha.
— Lady Zetland, o moinho, talvez. Se você estiver pronta?
Ela olhou para ele como se estivesse surpresa com a pergunta, mas assentiu, virou a montaria e iniciou a cavalgada para leste na propriedade.
— O moinho é bastante grande, pelo que entendi. — disse ele, levando o cavalo para ficar ao lado dela.
— Sim, isso mesmo. Na verdade, um dos maiores em Surrey.
Produzimos farinha para os municípios vizinhos.
Marcus ficou impressionado.
Virando-se para frente, ele conseguiu ver o telhado inclinado de um edifício ao lado do topo da roda que girava quando a água se derramava sobre ela.
— Há muitos homens trabalhando no moinho?
— São cinco. Vou apresentá-lo a todos quando chegarmos.
Um trovão acima deles assustou a montaria dele, e ele arrulhou para acalmá-lo. Henrietta fez o mesmo com a dela, mas a égua empinou com nervosismo por alguns instantes.
— Há uma tempestade vindo atrás de nós. Deveríamos chegar ao moinho antes que a água nos alcance. — disse ela.
Era mais do que ela dissera a ele a manhã toda.
— Devemos acelerar o ritmo, minha senhora, ou temo que não consigamos.
Incitando as montarias a galope, eles cavalgaram pelo restante do caminho, mas já com o moinho à vista, a primeira gota de chuva fria e pesada caiu em na bochecha dele. Eles compartilharam um olhar de entendimento, e então os céus se abriram acima deles.
Quando chegaram ao moinho, minutos depois, estavam encharcados.
Os homens que trabalhavam lá estavam ocupados com seus deveres, garantindo que qualquer trigo que estivesse do lado de fora
fosse retirado do alcance da intempérie.
Henrietta o apresentou, mas avisou ao capataz que ela daria a Lorde Zetland um passeio pelo moinho. Eles começaram a atravessar o prédio e, andando atrás dela, Marcus não pôde deixar de admirar a vista: o balanço dos quadris em sua roupa de montaria azul safira e a linha reta de sua coluna.
— Este é um dos mós que estão em uso. — ela explicou a ele.
— Os grãos são armazenados no andar de cima. Em geral, produzimos cerca de 25 sacas de trigo por semana.
Enquanto continuavam a visita, o orgulho que ela sentia do moinho e seu sucesso transpareceu em sua voz e o deixou feliz.
Parecia que esta filha de duque gostava de seus deveres, e de tudo o que fazia como Lady Zetland.
— Está satisfeito com o andamento de sua herança, meu senhor?
Ela sorriu para ele e, olhando em volta para garantir que estavam sozinhos, ele a puxou para seus braços.
— Você vem com a herança, minha senhora?
As bochechas dela ficaram coradas com as palavras dele, e ela sorriu.
— Receio que não. Mas tenho certeza de que com o tempo você continuará satisfeito com o que recebeu.
Ele a queria, então duvidava que ficaria muito satisfeito, a menos que ela ficasse em seus braços, para sempre.
— E se eu quiser mais?
Ela se soltou do abraço dele e seguiu para um cômodo que abrigava sacos de grãos empilhados. Ele a seguiu e analisou o espaço quando chegaram a um escritório com uma grande janela com vista para o pátio de entrega abaixo. A outra parede contava com uma pequena lareira. A mesa estava repleta de papéis, e uma
pequena coleção de livros descansavam em uma prateleira logo atrás.
— Este é o seu escritório aqui no moinho. Ninguém mais deve entrar aqui, a menos que você esteja presente. O capataz costuma cuidar da maior parte do dia-a-dia do local, mas em certas ocasiões você precisará gerenciar algumas coisas. Você pode, é claro, enviar seu administrador se não tiver tempo.
— Você trabalhava aqui? — ele perguntou, voltando-se de olhar para o pátio.
Henrietta estava sentada à mesa, arrumando algumas notas que estavam à sua frente.
— Sempre o fiz, porque era o que Walter fazia antes de sua morte. É claro que temos um administrador, mas para ser um bom proprietário, é preciso saber o que está acontecendo com o próprio patrimônio e com as pessoas que vivem e trabalham nele. — ela deu de ombros. — Eu apenas prossegui agindo da mesma forma.
— Vou garantir que todas as coisas importantes sejam levadas a mim para aprovação, mesmo que eu esteja na Escócia. Não decepcionarei as pessoas que confiam nos produtos desta propriedade, nem as que ganham a vida trabalhando nela. Isso eu prometo a você, Henrietta.
— Fico feliz. — disse ela, recostando-se na cadeira. — Quando planeja ir embora? Vou preparar minha partida para o mesmo dia.
Ele suspirou, vindo sentar-se na mesa diante dela e cruzando os braços.
— Preciso ir em breve, temo que dentro dos próximos quinze dias. Fiquei por aqui mais tempo do que pretendia. Há alguns assuntos urgentes na Escócia que preciso resolver e não posso ficar longe de Arthur por muito mais tempo.
Ela não olhou para ele, apenas assentiu.
— Vai alugar Kewell Hall?
— Vou. — disse ele, já estava decidido. — Mas somente quando eu estiver certo de que quem for alugar a propriedade entender a importância de quem mora aqui. Mesmo assim, solicitarei relatórios mensais sobre o moinho e a fazenda para garantir que tudo esteja indo como deveria. Não vou decepcioná-la, Henrietta.
Neste instante ela ergueu os olhos para ele, e a tristeza em suas esferas azuis o deixou reticente.
— Não tenho dúvida alguma de que será um excelente marquês.
— Henrietta. — disse ele, estendendo a mão e pegando a dela.
— Você se arrepende do nosso flerte? Você não está feliz como costumava estar, e temo que possa ter forçado você a uma situação que você não queria.
Inferno, ele esperava que não fosse essa a verdade, mas precisava saber o que a deixara tão deprimida nos últimos dois dias.
Ela se levantou e caminhou até estar entre as pernas dele, passando os braços pelos ombros dele.
— Eu aproveitei nosso tempo juntos, mas estou triste por você estar indo embora. Acho que sentirei sua falta.
— Você sempre pode vir comigo.
Marcus se assustou com suas próprias palavras antes de as refletir e concordar com a sinceridade nelas. Parecia que ele, tanto quanto ela, não queria dar o flerte por terminado, mas seu filho precisava dele, e a propriedade escocesa não estava em tão boas condições de funcionamento como as que herdara na Inglaterra. Ele precisava voltar para casa.
— Não posso ir com você. Por um lado, não seria apropriado, e por outro, minha vida está aqui, em Surrey. Não estou pronta para mais nada no momento.
“Mais” significava marido?
Bem, ele teve duas semanas para fazê-la mudar de ideia e, talvez, após a partida dele, o desejo e as saudades a fizessem ir à sua porta escocesa em breve.
— Eu entendo, moça. Mas saiba que a oferta permanece.
E se ela não viesse para a Escócia, bem, assim que a neve derretesse no terreno das montanhas, ele viajaria para o sul novamente e ganharia a mão e o coração dela.
— Seu filho deve sentir sua falta, imagino. Mais do que eu sentiria. Seria egoísta da minha parte pedir que ficasse um pouco mais de tempo sabendo que há tantas outras coisas mais importantes para ocupar seu tempo.
Marcus absorveu suas feições, seu nariz perfeito e seus grandes olhos amendoados com os cílios mais longos que ele já vira. Seus lábios eram suaves, com um resquício leve de Rouge neles. Seu coração doía ao pensar em deixá-la para trás. Ele queria contar que ela também se tornara importante para ele. Que sua estada aqui na Inglaterra havia sido uma das viagens mais felizes e agradáveis de sua vida.
— Ontem recebi uma carta da babá dele, e ele andou perguntando dos cavalos. Suponho que, quando voltar, começarei a passear com ele à cavalo, se o tempo permitir. Um rapaz escocês nunca é jovem demais para aprender a montar.
— Isso também é verdade para as crianças inglesas. Meu pai começou a ensinar a mim e meu irmão quando tínhamos 3 anos de idade. Apenas pequenos pôneis, sabe, mas somos cavaleiros competentes por causa disso.
Marcus a puxou para mais perto, aconchegando-se em seu pescoço e inspirando o doce aroma de jasmim que permeava a pele dela. Ele conseguia imaginar os filhos dos dois aprendendo a cavalgar, aproveitando os dias na terra, aproveitando a vida juntos
em família. Ele beijou uma pequena sarda que havia embaixo da orelha dela, e ela inclinou a cabeça para o lado.
— Venha para a Escócia comigo. Não vou pedir promessas, mas passe o inverno nas Terras Altas comigo e, depois disso, veremos.
Talvez casar-se com um lorde escocês seja do seu agrado, afinal.
Um futuro, filhos e amor...
Ele se afastou e tomou a boca dela em um beijo ardente, se apegando a tudo o que podia dela enquanto ela permanecesse em seus braços. Ela não o afastou nem o negou, e um pouco de esperança surgiu na mente dele de que ela poderia considerar a proposta dele.
Ela passou os dedos pelos cabelos dele e se afastou.
— Vou considerar seu convite, mas não posso prometer..
— É tudo o que peço. — disse ele, segurando-a com força e não querendo deixá-la ir. Nem agora nem nunca. — Devemos continuar a visitação?
Eles tiveram sorte de não terem sido flagrados nem vistos, já que haviam se esquecido de fechar a porta ao entrar no escritório.
Henrietta puxou-o para longe da mesa e, segurando a mão dele o arrastou para fora do escritório.
— Sim, há mais algumas coisas que eu quero que você veja antes de voltarmos ao salão, e não quero voltar para casa tarde demais, caso a chuva decida vir para ficar.
O restante da tarde passou rápido e, pouco antes de eles chegarem à casa, os céus se abriram e, eles ficaram encharcados outra vez. Deixando os cavalos no estábulo, eles correram para dentro da casa, rindo de seu infeliz estado.
Marcus adorava o fato de que essa bela rosa inglesa, filha de um duque, era capaz de ver o lado engraçado da vida, que ela não se
comportava de forma tão séria e imponente a ponto de ser prepotente e distante.
Ela era real, e uma parte dele o alertou de que ele estava ficando muito apegado. Se ela dissesse não ao convite para visitar a Escócia, ele pediria que ela fosse sua esposa. Ele não queria assustá-la, mas se ela se recusasse a ir sem compromisso, talvez se houvesse algo que os deixasse comprometidos, ela talvez aceitasse. Tudo o que restava para ele era esperar e ver o que ela iria decidir.
Ele apenas rezava para que ela decidisse por ele.
CAPÍTULO 11
H ENRIETTA SENTOU-SE na sala que dava para o
terraço e folheou a correspondência que recebera naquela manhã. A luz matutina entrava no cômodo e, como a tempestade havia acabado na noite anterior, ela abriu as portas para permitir que a brisa fresca entrasse.
Ela pegou uma carta da mãe e a leu por alto: falava do irmão, do pai e de algumas das mais recentes melhorias que estava fazendo no edifício de da Sociedade de Socorro de Londres em Cheapside.
Havia uma carta de uma amiga de infância que estava viajando pelo exterior no momento, cheia de pedidos para Henrietta encontrá-la na Espanha. Henrietta olhou através das portas abertas e contemplou a vista por um minuto. A Espanha seria adorável, mas a Escócia a atraía mais caso fosse escolher algum lugar para viajar... Desde que Marcus propusera que ela fosse com ele para as Terras Altas, sua mente estava quase que totalmente voltada para tal opção.
Eles fizeram amor na noite anterior, e a maneira carinhosa como ele a tomou, cada beijo como uma promessa, cada toque cheio de reverência, deixou-a um pouco receosa de que ele estava se apegando a ela tanto quanto ela a ele. A cada união, ela não conseguia evitar que seu coração se tornasse cada vez mais apaixonado pela possibilidade de uma vida juntos.
Ela separou uma carta para Lorde Zetland, que parecia ter vindo da Escócia. Havia também uma para sua prima Maggie, que ainda não acordara. Ela pegou sua xícara de chá e tomou um gole fortificante. Por mais que desejasse acompanhá-lo, jogar as
precauções ao vento e ser dele por mais algum tempo, não seria justo que ela fizesse isso. Nutrir esperança onde não havia nada.
Ela teria que contar a verdade por trás da razão para ela dizer não. Desapontá-lo não seria fácil. O futuro que ele sugeria parecia perfeito, mas nunca iria acontecer. Não quando ela não podia ser tudo o que ele desejava que ela fosse. Ele merecia ter filhos, dar um irmão ao filho.
— Bom dia, Henrietta. Espero que tenha dormido bem.
Henrietta se assustou com a saudação da prima e se virou para o sofá, sorrindo.
— Bom dia, Maggie. Ou devo dizer: “Bom fim de manhã.”, já que é quase ao meio-dia?
Maggie riu e se deixou cair em uma cadeira próxima, suspirando de alívio.
— Ah, estou bem faminta. Pedi que meu café-da-manhã fosse trazido para cá. Espero que você não se importe.
Henrietta sacudiu a cabeça.
— Claro que não. Verdade. — disse ela, olhando para baixo, para a pilha de cartas separadas e encontrando a carta para Maggie. — Esta carta chegou pelo correio esta manhã.
Ela entregou a missiva à prima, sem deixar de notar o medo que atravessou seu rosto ao ler o endereço.
— É do conde? — Henrietta perguntou, bastante certa de que era.
— Sim. Bem capaz de ser outra carta dizendo o quanto ele quer que nos reconciliemos.
Maggie encontrou seu olhar, e a determinação feroz que Henrietta leu em suas esferas marrons era reveladora. Maggie fora sincera em tudo que havia dito e continuava firme em sua decisão.
— O casamento foi anulado, e eu nunca voltarei para ele. Ele é brutal e cruel.
— Você pode ficar comigo para sempre, se desejar. Sabe que nunca a rechaçarei.
— Eu sei. — disse Maggie, estendendo a mão para tocar o braço da prima. — Sou grata por isso, pois não tenho intenção alguma de voltar a ter um marido. Um foi o suficiente.
— Falando em maridos... eu preciso confidenciar algo a você, e você precisa me dar sua opinião mais sincera.
— É claro. — disse Maggie, antes de agradecer a um criado que trouxe um bule de chá fresco junto com um prato de torradas e ovos fritos. Esperando o criado sair e fechar a porta, Maggie continuou:
— O que quer discutir?
— Você deve me prometer não contar a ninguém, nunca. —
Henrietta lançou um olhar aguçado à prima e, pegando um pedaço de torrada, deu uma mordida.
— Não direi nada. — Maggie insistiu. — Fale antes que eu morra de curiosidade.
— Muito bem. — Henrietta disse, inspirando com força. — O
marquês me pediu para viajar com ele para a Escócia. Creio que ele está pensando em pedir minha mão em casamento.
Os olhos de Maggie se arregalaram antes que ela pulasse da cadeira e puxasse Henrietta para um abraço feroz.
— Ó, minha querida, estou tão feliz por você. Andei observando o marquês na semana passada e, depois de conversar com ele várias vezes, vejo que ele é o mais adorável dos homens. Caloroso e carinhoso, e acredito que seja tão agradável quanto o falecido Lorde Zetland.
Lágrimas embaçaram os olhos de Henrietta.
— Não é tão simples assim, Maggie. Eu queria que fosse. Mas o que eu não contei a ninguém, embora meus pais saibam, é claro, é que sou incapaz de ter filhos.
— Como? Hm. — disse Maggie, franzindo a testa. — O que faz você pensar uma coisa dessas?
— Porque é verdade. Eu nunca tive minhas regras como outras mulheres têm. Eu nunca sangrei nada. Eu pensei que o médico estivesse errado, e estava tão apaixonada por Walter que rezei para que ele estivesse errado em seu diagnóstico. Mas não engravidei nenhuma vez no ano em que estive casada. Às vezes, considero a morte de Walter uma benção, assim ele nunca soube da minha vergonha. Que me casei com ele sabendo que a possibilidade de ter filhos nunca seria concretizada.
— Ó, Henrietta. Eu sinto muito. — Maggie apertou a mão dela.
— E você acha que Lorde Zetland mudará de ideia quando souber que você não pode ter filhos?
Claro que ele mudaria.
Um homem na posição dele necessita de herdeiros. Seu filho herdaria, mas e se algo terrível acontecesse com ele? Mais crianças sempre são bem-vindas em famílias de renome.
Ela se encolheu com o raciocínio insensível por trás da escolha.
— Mesmo que ele não mude de ideia, com o tempo ele poderá se arrepender da escolha, e eu não entrarei em outra união sem que a verdade esteja na mesa. No momento, estamos nos divertindo, e não há regras. Mas se eu for para a Escócia, e os sentimentos que ele está provocando em mim apenas crescerem, será difícil não ter o coração partido no final deste caso. Não posso continuar com esse acordo sabendo que sou estéril e que ele quer filhos.
— Decerto que está é uma decisão para ele tomar. Embora eu concorde... — continuou Maggie, sentando-se e pegando sua xícara
de chá. — que a melhor coisa a fazer é contar à Sua Senhoria. Ele já tem um filho – um herdeiro para o título de marquês – portanto, ele pode surpreendê-la e dizer que para ele basta. Você não é a primeira, nem será a última a enfrentar essa mágoa Henrietta fungou, agradecida por sua prima estar aqui para poder discutir tais assuntos. A prima continuou:
— Você é sempre tão franca e honesta. Suponho que esteja com medo de que, mesmo que ele esteja satisfeito agora, possa não continuar assim com o passar dos anos. Ninguém sabe o que o futuro nos guarda, mas é aí que avalio o caráter da pessoa, e se ele for nobre, gentil e honesto, ele não a enganará. Dar falsas esperanças de um feliz para sempre, quando na verdade, é apenas um feliz para sempre por enquanto, sem continuidade em cinco anos.
— Você faz parecer tão simples. — Henrietta sorriu, um pouco de esperança brilhando dentro dela de que talvez, apenas talvez, Marcus não a mandasse fazer as malas quando soubesse a verdade.
Ele era um homem bom, como Maggie disse. Ele com certeza não mentiria para ela dizendo apenas o que ela queria ouvir e não o que pensava de verdade.
— Mas você está certa, eu darei a ele a escolha e veremos. E
farei isso em breve. Ele vai embora dentro de duas semanas, o que me dá tempo de sobra para ganhar coragem e divulgar meu segredo.
— Acredito que é o melhor. — disse Maggie assentindo. — Você verá, prima. Ele não a decepcionará.
Marcus não havia dito o mesmo ontem?
Ela se apegou às palavras dele e a esperança que veio com elas, e rezou para que ele não a deixasse, ou pior, que partisse seu
coração.
CAPÍTULO 12
N A MANHÃ SEGUINTE, Marcus sentou-se para o café-da-manhã e ficou ouvindo Henrietta e Maggie discutirem o último escândalo a abater Londres, contado em carta pela duquesa de Athelby. Uma debutante fugindo para Gretna não era, aos olhos de Marcus, a pior coisa do mundo, pelo menos eles pretendiam se casar, mas ele sorriu distraído enquanto Henrietta e Maggie pareceram bem escandalizadas pela situação.
— Por que você está sorrindo? — Henrietta perguntou com um olhar confuso. — Isso é terrível. A honorável Edith Feathers está se jogando para um homem sem fortuna e, portanto, seus pais a deserdaram. Do que eles vão viver? Ela tem apenas dezoito anos, não tem experiência com o mundo real.
— Talvez ele faça algo de si e a fortuna perdida da dama não será necessária. Nem todo mundo se casa para obter ganhos financeiros. Eu a congratulo pela escolha. Ela foi corajosa em seguir o coração.
Maggie zombou.
— Quando estiverem morando em casas infestadas por pulgas às margens do Tamisa, duvido muito que Edith fique agradecida por seguir o coração.
— Você não sabe o que vai acontecer com eles. — disse ele, tomando um gole de café.
Henrietta sacudiu a cabeça.
— Os filhos deles nunca serão aceitos na sociedade. Mesmo casados, as crianças serão prejudicadas pela especulação e manchadas por associação. Podem até ser chamadas de bastardas.
O Barão de Feathers decerto que nunca aceitará e, portanto, a sociedade também não. Que terrível para a baronesa que sua filha tenha feito isso. É algo de que não se recupera.
Marcus estreitou os olhos, a menção de filhos bastardos e o ostracismo delas fez o café-da-manhã ganhar um gosto azedo na boca.
— Os ingleses são muito críticos. Está claro que o casal se ama e deveria ter permissão para se casar. O fato de se casarem em Gretna garante que seus filhos não serão ilegítimos. Espero que você, Lady Zetland, apoie a situação.
Ela olhou para ele com algo parecido com choque, e a ideia de contar a ela de seu filho ilegítimo o deixou com a sensação de estar se afogando em pavor.
Ela aceitaria o filho dele?
Será que ela deixaria de socializar com alguém que menosprezasse ou ridicularizasse o rapaz simplesmente por causa de uma situação que não era da alçada dele?
— Bem, é claro que eu a apoiaria caso voltasse a vê-la, mas ainda não muda o fato de eu achar que ela está sendo muito boba.
A vida com a qual Edith está acostumada será muito diferente daquela que ela viverá daqui para frente. Não condeno a escolha dela de casar com um homem que ela ama, mas temo que ela descubra que as condições de vida serão bem diferentes e que o amor deles não durará nessas circunstâncias.
Alívio se derramou através de Marcus como um bálsamo, e ele soltou um suspiro que não sabia que estava segurando.
— Posso concordar com isso. Ela pode se ver em uma vida bem diferente, mas talvez a família mude de ideia e a traga de volta para o convívio deles.
— Espero que você esteja certo, meu senhor. — disse Maggie, mordendo a torrada. — Mas se eu conheço os Feathers, eles nunca perdoarão a filha e garantirão que todos que ela conhecia sigam o exemplo. Temo que a vida de Edith vá ser difícil.
— Qual é o crime do garoto, por assim dizer? — Marcus perguntou curioso. — Ele trabalhava? Ou ele é o filho sem dinheiro de ninguém sabe quem?
— Ele era o mordomo do Barão Feathers e estava estudando para se tornar ministro da igreja. — disse Henrietta. — Ele não é legítimo, por isso a família era tão contra tal união.
Marcus havia ouvido o suficiente. Empurrando a cadeira para trás, ele saiu da sala.
Ele não suportava ouvir alguém menosprezar tanto o rapaz, um mordomo respeitável e um homem de fé, e rotulá-lo com um termo tão depreciativo.
Ele caminhou até a biblioteca e, encontrando seu próprio administrador examinando os livros, fechou a porta.
— Malcolm, preciso que encontre um cavalheiro que se chama Sr. John Smith. Ele estava trabalhando como administrador do Barão Feathers. O rapaz também acabou de se casar com a Honorável Edith Feathers, e eles viajaram para Gretna até onde se sabe. Quero terminar de pagar os estudos teológicos dele e, além disso, os acomode na Residência Norbery até que ele consiga assumir o cargo.
Se ele fosse capaz de ajudar ao menos um homem hostilizado pela sociedade, maldita fosse, ele o faria.
— Claro, meu senhor. — disse Malcolm, rabiscando em um pedaço de pergaminho o que Marcus estava dizendo. — Ele está esperando esta oferta, meu senhor?
Marcus negou com a cabeça.
— Não está. Mas, na minha opinião, os dois foram tratados de forma errada e merecem algo melhor. Faça a oferta a ele, veja se ele aceita. Eu acho que aceitará.
— Bem, é claro, milorde.
Marcus saiu do cômodo, e da casa. Seguiu em direção aos estábulos. Ele precisava de um passeio à cavalo, correr para limpar a cabeça. Ouvir Henrietta falar de forma tão casual acerca da ruína de um casal, e a de seus filhos, não se encaixava bem em sua consciência. Tampouco o deixara com muita esperança de que ela aceitaria Arthur.
E se ela não fosse capaz de enxergar além da ilegitimidade de seu filho, então não havia futuro para os dois. Não importa o quanto ele temesse estar se apaixonando pela moça. Ou pior, o quanto ele já estava apaixonado.
O JANTAR VEIO E FOI, assim como o anoitecer, e Lorde Zetland ainda não havia retornado. A criada dela se ocupava com a preparação do quarto de Henrietta para a noite, mas, enquanto de pé na janela, olhando para o jardim de Kewell Hall, ela sentia-se revirar por dentro pela sensação de que algo estava errado. Que algo ruim acontecera com Marcus.
Depois do café-da-manhã, ela se viu remoendo a conversa tentando descobrir o que poderia tê-lo abalado tanto. A situação de Edith Feathers e do Sr. Smith mostrara-se um ponto sensível para ele, e ela não pôde deixar de se perguntar o porquê.
O som de cascos no cascalho soou abaixo, e ela olhou pela janela para enfim o avistar voltando para casa. Onde ele esteve todas essas horas e por que ele estava tão chateado com uma
fofoca da cidade? Ela o observou dar a volta na casa, e o perdeu de vista.
Dispensando a criada para a noite, ela pegou o xale e desceu as escadas. Ela o encontrou no corredor que levava aos fundos da casa.
— Enfim voltou. Você me deixou ansiosa.
Ele balançou e apalpou a parede em busca de apoio.
— Foi é? Por quê?
O cheiro forte de bebida sustentou-se no ar, e o olhar desfocado e cabelos despenteados dele sugeriam o que ele ficou fazendo o dia todo.
— Você está bêbado, Lorde Zetland?
Ele riu e passou por ela, seguindo em direção ao vestíbulo.
Ela o seguiu enquanto ele subia as escadas. Pelo menos, se ele caísse da escada, ela poderia fazer algum tipo de esforço para segurar este homem lamentável.
— Pois que sim. Sabia que o Leão Vermelho em Betchworth tem um belo estoque do melhor uísque escocês? Eu posso ter tomado uma ou duas doses.
As palavras dele saíam arrastadas e, algumas vezes ela cogitou segurá-lo para evitar que ele falseasse na escada. Ela pegou o braço dele quando ele terminou de subir e ajudou-o a entrar no quarto.
O valete dele o estava esperando lá, e Henrietta dispensou o homem para cuidar de Marcus sozinha. O senhor mais velho lançou um olhar confuso ao sair pela porta, antes de fechá-la com cuidado.
Henrietta não entrava neste cômodo desde que o encontrou no banho, e a ideia de vê-lo outra vez naquelas condições fez suas bochechas esquentarem.
— Deixe-me ajudá-lo a ir para a cama. Você está mais do que bêbado pelo cheiro que vem de você.
— Enquanto você, minha querida... — disse ele, curvando-se e cheirando o cabelo dela, respirando fundo. — está com um cheiro delicioso.
— Bem. — Henrietta o ajudou a se sentar na cama e começou a desamarrar a gravata. — Esteja eu cheirando bem ou não, o melhor que você pode fazer é dormir para se curar desta sua pequena excursão de hoje.
Ele assentiu, parecendo entender, mas o tempo todo seus olhos estavam vidrados e sem foco.
— E se eu não quiser dormir? Ele estendeu a mão e apertou o quadril dela.
Henrietta riu.
— O que você quer fazer então?
No momento em que ela fez a pergunta, lamentou-se por ter falado. O olhar de Lorde Zetland se tornou lava derretida. Um momento antes estava desfocado, mas agora ele a encarava com os olhos escurecidos de fome.
— Você.
Henrietta se voltou para ele, passou o casaco pelos ombros e desabotoou o colete. Ela podia sentir o olhar dele nela, o sangue dela corria veloz em suas veias ante o mero pensar em estar com ele mais uma vez. Com certeza, mesmo bêbado, ele saberia o que estava fazendo. E não era como se eles não tivessem dormido juntos antes.
Ela não estaria se aproveitando dele...
— Essa é uma afirmação bem ousada, meu senhor. Acredita que está bem para tal?
Ele afastou a mão dela da camisa dele e a guiou para a virilha dele. A boca de Henrietta secou ante a sensação dele, grande e duro em suas calças. Ao que parece, ele estava bem preparado.
— Isso responde à sua pergunta, minha senhora? — a atenção dele se fixou nos lábios dela, e Henrietta lutou para acalmar o coração palpitante.
Certamente que respondia.
Mesmo assim, ela queria provocá-lo um pouco antes de fazer qualquer coisa.
— Você está bêbado, meu senhor. Pode estar fisicamente pronto, mas não significa que você terá forças.
Ele puxou a camisa por cima da cabeça e a jogou no chão.
Com ele nu da cintura para cima, ela analisou os músculos tensos em seu peito, e a leve camada de pelos que ela sentira fazer cócegas nela quando eles fizeram amor. As mãos dela coçavam para sentir a pele quente dele.
— Não vou decepcioná-la, moça. Venha cá.
O comando profundo e grave fez seu sexo doer.
— Você ainda está de calças e botas.
— E você ainda está vestida, mas eu posso fazer algo mesmo tão vestido.
Ele estendeu a mão para puxá-la para mais perto, e ela se deixou levar, incapaz de negar-se. As mãos fortes e capazes dele deslizaram pela parte de trás das pernas dela, levantaram o vestido e encontraram o cós de sua roupa íntima. Ele a deslizou para baixo, as mãos dele deixando um rastro de calor enquanto empurrava o tecido para o chão.
Ela retirou as pernas da peça e a chutou para longe, em seguida parou em frente a ele outra vez.
— E agora? — ela perguntou, esperando que fosse algo pecaminoso e travesso.
Ele enfiou a mão sob o vestido dela novamente, e apertando a bunda dela a puxou para a cama para montá-lo. Ele pôs a mão entre eles e abriu as calças libertando seu membro com um suspiro.
Querendo senti-lo de novo, ela abaixou a mão e o acariciou.
Uma gota de umidade equilibrava-se na ponta de sua masculinidade, e ela passou o polegar ali, observando a reação dele tornar-se ainda mais nublada de desejo por ela.
A respiração dele se intensificou, mas ele não desviou o olhar do dela, e o intenso foco nela a deixou com uma sensação inebriante e vivaz.
— O que você vai fazer agora, Lady Zetland? — o tom de voz dele era pura provocação.
O que ela não faria seria uma pergunta melhor, depois das inúmeras vezes que eles estiveram juntos. As últimas semanas foram as mais instrutivas e despreocupadas de sua vida. Ela nunca teria imaginado que copular poderia ser uma atividade tão energética e variada. Sem mencionar prazerosa.
Ela se levantou e, pegando-o na mão, abaixou-se sobre o falo dele. Ele era grande, e a sensação era de ser ainda maior nessa posição, mas onde ela pensou que haveria dor, só encontrou prazer e plenitude deliciosa.
— Deus, Henrietta. — ele ofegou, beijando-a com força. — Eu não consigo me fartar de você.
Era o mesmo para Henrietta, e ela se balançou sobre ele, gostando cada vez mais dessa nova posição.
— E eu de você. — disse ela, sincera em cada palavra.
A partida de Marcus, saber que não o teria ao lado dela no café-
da-manhã, ou para um passeio casual pela propriedade, sem
mencionar em sua cama, seria uma separação a que ela não ansiava que acontecesse.
Ele a deixou liderar, escolher o próprio ritmo, e com essa liberdade a lenta queimação até o clímax foi uma subida torturante que valeu a espera. E então estourou dentro dela.
Ela arfou o nome dele conforme tremor após tremor dominou seu corpo, forte e rápidos, e em algum lugar no caos de sua libertação ela não conseguia mais conter a verdade de suas emoções.
— Eu amo você, Marcus. — ela ofegou, beijando-o.
Ele a beijou de volta, de forma dura e intensa, e a jogou de costas, empurrando-se o mais fundo que pôde, disparando o último clímax dela que disparou pequenos tremores.
— Eu também te amo, moça. Muito. — ele disse ao atingir o próprio clímax.
A declaração dele fez a visão dela embaçar, e ele beijou as lágrimas dela antes de cair para o lado dela e puxá-la na dobra de seu braço.
— O que nos deixa com um problema, não é? — ele perguntou, olhando para baixo e encontrando o olhar dela.
— É verdade, não é? — disse Henrietta, sabendo que no dia seguinte teria que contar a verdade a Marcus.
Precisava contar a ele que, embora o amasse e muito, ela não podia dar o futuro que ele queria.
CAPÍTULO 13
H ENRIETTA RECOSTOU-SE na banheira e tentou ignorar o fato de que sua criada pessoal estava alvoroçada pelo quarto. A moça sumiu de vista em seu quarto de vestir, e Henrietta pulou na banheira quando algo caiu lá dentro com um estrondo.
— Está tudo bem? — Henrietta chamou de forma tímida, queria ficar sozinha e ter um pouco de paz e sossego.
— Está tudo bem, milady. — respondeu a criada antes de voltar para o quarto com um punhado de roupas. — Vou levar essas peças para o andar de baixo, para serem lavadas. — Henrietta assentiu e suspirou de alívio quando ela se foi.
Hoje ela estava determinada a contar a verdade a Lorde Zetland.
O que ele faria com a verdade era uma incógnita, mas antes de começarem qualquer tipo de futuro juntos, precisavam ser honestos.
Fazia uma semana que eles professaram amor um ao outro, e mesmo que ela tivesse planejado contar a ele sobre sua incapacidade de ter filhos logo no dia seguinte, Henrietta nunca encontrara o momento certo.
Mas não mais. Ela contaria hoje.
Ela se lavou depressa e saiu, queria descer e tomar o café-da-manhã com Marcus. A semana anterior passou um dia após o outro de pura felicidade, jantares juntos, piqueniques e longos passeios a cavalo pela propriedade. Ela não queria que terminasse, e o medo de que ele não a quisesse depois que soubesse que ela nunca iria carregar os filhos dele a impedira de confidenciar a ele.
Ela afastou o pensamento doloroso, não queria nem imaginar uma coisa dessas, que Marcus pudesse ser capaz de afastá-la. Ele era gentil, amoroso. Ele entenderia, ela estava certa disso. Ela foi ao quarto de vestir e escolheu um vestido rosa claro. Vestiu as sapatilhas e desceu as escadas.
E assim como esperava, Marcus já estava à mesa; um grande prato de bacon, ovos escalfados e dois bolinhos, além de uma xícara fumegante de café diante dele. Ele serviu uma xícara para ela, que sorriu com o doce gesto.
— Bom dia. — disse, e dispensou os funcionários que estavam pela sala e esperou a porta ser fechada antes de se inclinar sobre a mesa e beijá-lo.
Ele sorriu para ela.
— Bom dia, moça. Você parece doce o suficiente para comer.
— Talvez mais tarde. — ela brincou, sorrindo com a risada dele enquanto colocava alguns ovos mexidos no prato.
Eles comeram em silêncio por um tempo, antes de Henrietta dizer:
— Se você estiver livre depois do café-da-manhã, há algo que eu gostaria de discutir com você, caso haja tempo.
Ele analisou o rosto dela com apreensão, mas assentiu.
— Sim, claro, moça.
Ela sorriu e mudou de assunto para falar do clima e da possibilidade de darem uma volta nesta tarde. Se Marcus notou a mudança de assunto, não comentou, e ela estava agradecida por isso. Contar a verdade já seria difícil por si só sem a complicação de tentar explicar por que ela queria falar com ele em particular.
MARCUS AGUARDOU, sentado na cadeira à frente da dela, separados pela escrivaninha de mogno dela. Ele supôs que a mesa era, na verdade, dele, e era ele que deveria estar onde ela estava, mas ele gostava de vê-la ali, no comando, dona da casa, forte e capaz.
— Você está nervosa, moça. De que assunto gostaria de falar comigo? — ela brincou com o peso de papel, os dedos longos e delicados tremendo um pouco, e ele estendeu a mão, acalmando-a.
— Henrietta, me diga o que há de errado.
Ela estudou as feições dele.
— Há algo que eu preciso contar. É importante e você deve saber antes que algo seja confirmado a respeito de um futuro juntos.
Uma sensação avassaladora de alívio tomou conta dele, e ele recostou-se na cadeira.
— Admito que estou feliz em saber que você tem algo a me dizer, moça, já que também tenho algo que você deveria saber.
— Mesmo? O que quer me dizer?
Ele dispensou a pergunta com a mão.
— Você primeiro. — ele argumentou.
Afinal, ela que havia pedido para se reunirem na biblioteca e discutir algo de alguma importância.
— Não, eu insisto. — ela recostou-se na cadeira e o observou.
Marcus respirou fundo, esperando com todas as suas forças que ela o perdoasse por seus atos passados.
— Você sabe que eu tenho um filho, um belo rapaz que eu amo e aprecio. — ele franziu a testa, as palavras sendo mais difíceis de dizer do que ele pensava que seria. — O que a senhora ainda não sabe é que ele não veio ao mundo da maneira que se espera, e haverá repercussões para ele pelo resto de sua vida. O fato de meu filho enfrentar tanta censura é minha culpa, e somente minha. — ele
deveria ter contado a Henrietta a verdade da situação dele muito antes, e ele sentia-se envergonhado por não o ter feito.
— O que está tentando dizer? — ela perguntou com a voz baixa.
— Meu filho é ilegítimo, Henrietta.
Ela recuou ante a notícia, e Marcus estremeceu.
— Antes de herdar o título de marquês, eu possuía muito pouco.
A propriedade escocesa não produz fundos suficientes para manter o Castelo Morleigh em funcionamento, muito menos concluir os reparos que planejei. Minha propriedade é isolada e, durante os invernos mais frios, fica inacessível. Durante um desses invernos difíceis, procurei o consolo e a companhia de uma mulher, uma criada. Ela é a mãe do meu filho.
Henrietta ofegou, a boca aberta.
— Diga-me que isso não é verdade, Marcus. Você dormiu com uma criada sua?
Maldição, ouvi-la constatar tal fato em voz alta, fez com que ele se sentisse ainda mais dissimulado, cada vez que ela se repetia aumentava sua sensação de ardil e decadência.
— Eu estava sozinho, Henrietta, e procurei conforto nos braços de uma mulher disposta. Mas se você estiver disposta a aceitar Arthur, sei que você seria uma mãe maravilhosa para ele e, se Deus quiser, para os filhos que teremos juntos.
Ela ficou em silêncio por um momento, e ele se encolheu. O que ela estava pensando?
Ela estava enojada dele?
— Isso aconteceu muito tempo antes de eu conhecê-la, e após o nascimento de Arthur, a mãe dele não quis mais saber do menino, mesmo eu tendo proposto casamento. Ela partiu e nunca mais a vimos, nem tivemos notícias dela. — ele se inclinou para frente para
pegar a mão dela, e ela recuou ainda mais em sua cadeira. — Por favor, Henrietta, diga alguma coisa.
Ponha um fim ao inferno em que estou vivendo.
HENRIETTA LUTOU para se acalmar.
Marcus teve um filho com uma criada. E nem nunca foi casado como ela havia presumido por ele ser pai. Todos os sonhos dela para eles partiram-se como um espelho caindo no chão. Se Arthur fosse legítimo, ela teria aceitado ser a mãe dele de bom grado, mas com o garoto ilegítimo, as coisas mudavam.
Não que ela se importasse que a criança tivesse nascido dentro ou fora do casamento, mas o fato era que ela não poderia dar a Marcus nenhum filho que a lei permitiria herdar as propriedades inglesas. O título dele.
Ela ficou sentada por um momento, incapaz de entender o que ouvira. Ela veio aqui hoje para dizer a Marcus que não poderia lhe dar filhos, e nunca esperou descobrir que ele era pai de uma criança ilegítima, alguém que não poderia herdar nada. Por que ele não disse a ela?
— Como você dormiu com uma de suas criadas? Uma que estava sob sua proteção? — ela sustentou o olhar dele e notou a vergonha que cruzou suas feições.
— Sei que não é desculpa, mas foi um inverno difícil. Ninguém foi capaz de deixar a propriedade por semanas a fio e, em algum momento ao longo dos dias frios e das noites mais frias, eu procurei companhia. Eu sei que errei, mas já está feito, moça. Quero que você seja meu futuro.
A ideia de que o filho dele era ilegítimo se instalou nos ombros dela como um saco de farinha.
— Você não tem herdeiro pelo título de marquês.
Ele assentiu.
— A propriedade escocesa será dele, e o testamento que comprova isso já está reconhecido. O título e as propriedades inglesa serão herdados pelo filho homem mais velho que eu tiver com minha esposa. Quero que esta esposa seja você, Henrietta.
Ela sentiu o estômago revirar ante a verdade nas palavras dele.
Se ao menos ela pudesse gerar um. Ela não se importava que o menino dele tivesse um começo de vida menos que perfeito, mas agora o importante era que a situação havia mudado por completo o cenário que ela havia imaginado.
Se o garoto fosse legítimo, havia uma chance para os dois. Caso contrário, não havia esperança. Ela se fortaleceu, desejando não cair em um ataque de lágrimas.
— Vou ser franca em meu relato e, por favor, espere que eu termine antes de dizer algo... O fato de você ter dormido com uma criada é desagradável e um erro de julgamento, mas eu entendo a solidão e o que ela pode causar.
Como se apaixonar por um homem que não se pode ter.
— Como você disse, seu filho, embora nascido fora do casamento, herdará as propriedades escocesas. Mas e as propriedades inglesas? Quem seguirá a tradição da família aqui? O
que acontecerá com as pessoas que trabalham e vivem nas fazendas que a propriedade possui se não houver um lorde para pagar seus salários?
Marcus se inclinou para frente, ainda sentado na cadeira.
— Somos jovens, Henrietta. Eu esperava que você se casasse comigo. Que pudéssemos ter filhos, um herdeiro para assumir o
título inglês. Não queria propor casamento enquanto carrega tanta raiva de mim. Não foi assim que imaginei que o pedido se daria, mas eu amo você. Eu quero que seja minha esposa. Quero que seja a mãe dos meus filhos.
Lágrimas se acumularam nos olhos dela, e ela secou com raiva uma lágrima que escorria pela bochecha.
— Eu também gostaria disso, mas... — ela balançou a cabeça, desejando nunca ter começado esse caso que ameaçava parti-la em dois. — Não posso dar filhos a você, Marcus. Não há chances de isso acontecer, e não há nada que possa fazer para mudar tal fato além de aceitá-lo. Caso se case comigo, seu filho Arthur seria o único filho que você teria.
Ele franziu a testa, passando a mão pelo cabelo e deixando-o em pé.
— Mas decerto que... Você mesma disse que esteve casada por apenas um ano. Acredito que ter filhos às vezes leva mais tempo que isso. Você só precisa de tempo.
Ela balançou a cabeça.
— Não preciso esperar. Eu sei desse fato há certo tempo, e era disso que eu queria falar hoje. Eu estava prestes a contar a verdade da minha situação.
— Mas decerto que...
— Não. Nesse caso não há espaço para "mas". Não vou me casar com você sabendo o quanto você quer filhos. Você merece ter mais crianças, e eu não serei aquela que o impedirá de fazê-lo.
— Nós não precisamos ter filhos, moça. Eu amo você, e você me ama, com certeza é o bastante.
Henrietta leu o pânico que brilhou nos olhos dele, e odiou ser a responsável por tal reação. Apesar de todos os erros passados, ele
era um homem bom e merecia que apenas coisas maravilhosas lhe acontecessem agora.
Ele queria mais filhos, talvez um irmão ou irmã para Arthur. Ela estava errada ao permitir que o entendimento entre eles se transformasse em muito mais do que idas esporádicas para a cama.
Agora os dois estavam envolvidos emocionalmente, e se separar dele não seria fácil.
— Você mencionou algumas vezes seu desejo de ter mais filhos.
Você não apenas precisa de um herdeiro, você quer um. Está bem claro para mim que você é um pai carinhoso e amoroso. Não vou negar a você o que mais deseja.
Marcus se levantou e deu a volta na mesa, puxando-a para ficar de pé. Ele apertou os braços dela, com firmeza, mas sem provocar dor.
— Eu quero você mais. Não me mande embora, a menos que estejas na carruagem ao meu lado.
Que tentador, mas não.
— Você pode dizer essas coisas agora, mas nos próximos meses, até anos, você começará a se arrepender da escolha e, ao fazê-lo, sentirá remorso de mim. — ela balançou a cabeça. — Eu não irei com você, Marcus, nem me casarei com você. — ela estendeu a mão e a passou a mão colete dele. — Por favor, não torne isso mais difícil do que já é. Pense em nosso tempo aqui apenas com prazer. É assim que pensarei nos próximos meses e anos.
Ele deu um passo para trás como se ela tivesse dado um tapa em seu rosto.
— É porque meu filho é ilegítimo, não é? Você não quer se associar comigo por causa do escândalo que nosso nome traria
caso se tornasse público o que eu fiz. Nós dois sabemos que em Londres nada permanece em segredo.
Henrietta ofegou.
— Não tem nada a ver com as circunstâncias que cercam o nascimento de seu filho. Não me importo que ele tenha nascido fora do casamento.
— Você pode não se importar, mas a sua família sim, seus amigos. E não diga o contrário, pois a carta da duquesa sobre Edith Feathers fugindo com o administrador da família é a prova disso.
— Isso é injusto. Minha decisão não tem nada a ver com seu filho, e se é isso que você pensa de mim, você não me conhece.
Marcus foi até a lareira apagada e apertou o parapeito de mármore. Ele suspirou, balançando a cabeça um pouco.
— Talvez seja melhor eu voltar para casa amanhã, e não na próxima semana. Se não posso fazer com que mude de ideia, não podemos dar continuidade ao que fazíamos.
Henrietta engoliu o nó que se formou em sua garganta com as palavras dele. Ela não queria que ele fosse embora, a verdade era que não. Mesmo que fosse o melhor, permitir que ele tivesse uma esposa e mais filhos, ela queria ser egoísta. Dizer para ele ficar.
Trazer o filho para a Inglaterra e criar o menino aqui com ela, em família. Mas ela não podia. Ela nunca pensou apenas em si, e não começaria agora.
— Vou garantir que a carruagem esteja preparada para a sua partida. — ele olhou para ela, e a dor gravada em seus traços a partiu em dois. — Sinto muito, Marcus. Eu gostaria que as coisas pudessem ser diferentes.
Ele assentiu e caminhou até a porta.
— Pois é, eu também.
CAPÍTULO 14
Seis meses depois
M ARCUS VOLTOU para a Escócia determinado a se esquecer das poucas semanas na Inglaterra, passadas na cama de uma das mulheres mais bonitas daquele país.
Ele pensou que seria fácil esquecer Lady Zetland, seguir em frente, mas, maldição, que inferno era viver, nada fácil.
Mesmo sabendo que ela queria que ele a esquecesse. Ela quase exigira que ele se casasse com outra e gerasse uma penca de filhos.
Ele balançou a cabeça e bateu com força o machado no tronco caído do lado de fora de sua fortaleza. Ele a esqueceria no dia em que as Terras Altas deixassem de ser escocesas. Ela estava no sangue dele, se embrenhou sob a pele dele, e inferno, ele a amava.
A amava loucamente.
Tudo o que restava agora era reconquistá-la. Provar a ela que não importava se ele não tivesse mais filhos, pois ter filhos com outra mulher já não era uma opção. Ele a amava. Queria apenas ela. A moça não conseguia ver isso?
O inverno estava chegando ao fim, e ele acabara de descobrir que as estradas estariam transitáveis em breve e, nos próximos dias, ele deixaria o castelo Morleigh e viajaria para Londres. Ele procuraria Henrietta na cidade e tentaria convencê-la de que ela pertencia a ele. Que o destino dela não era continuar sozinha só porque não era capaz de ter filhos. Ele não permitiria que ela sofresse tal destino. Eles mereciam ser felizes. Juntos.
HENRIETTA RETORNOU à cidade para a Temporada e se arrependeu da decisão assim que chegou. Sua mãe, sentindo sua infelicidade, a jogara nos eventos da cidade com tanto vigor que, ao final da primeira semana de sua volta a Londres, Henrietta estava exausta.
Ela estava parada ao lado do pai no baile dos De Veres e observou os dançarinos em um minueto. Não que ela de fato enxergasse alguém, pois sua mente só conseguia focar-se em outra pessoa. Sentia tanta falta de Lorde Zetland, que até chegou a pensar, por duas vezes, que ele esteve em uma festa ou baile. A linha reta das costas de um cavalheiro, os ombros musculosos ou os cabelos de cor e corte semelhantes chamavam sua atenção e seu coração perdia o compasso.
Mas nunca era ele.
Ela só poderia culpar a si. Ela o afastou, afirmou que ele ficaria mais feliz sem ela e até agora, seis meses depois que Marcus deixou Kewell Hall, ele não havia voltado. Como estava, ela ficava com a impressão de que ela o banir de sua vida era o que ele queria de fato.
Ela afastou o pensamento. Era o mais correto a fazer. Ele só foi embora porque ela o forçou, o que ela precisava fazer para que ele tivesse mais filhos. Ninguém queria uma esposa estéril. Não importava quão ricos ou conectados com os dez mil mais ricos da Inglaterra eles fossem, no final de tudo, filhos era o que garantia a sobrevivência da família.
— Pai, creio que vou voltar para casa.
O duque virou-se para ela, uma careta franzindo a testa.
— Deixe-me encontrar sua mãe e nós iremos com você.
Henrietta colocou a mão na manga dele, segurando-o.
— Tenho plena capacidade de encontrar o caminho de casa, papai. Vou mandar a carruagem voltar para esperá-los.
— Você está bem, minha querida? — ele perguntou, sempre tendo um jeito de sentir quando um de seus filhos estava chateado.
— De verdade, estou sim. Só estou muito cansada.
O pai dela a observou por um momento antes de dizer:
— Sua mãe me contou da visita de Lorde Zetland a Kewell Hall e que ela acreditava que vocês se tornaram próximos durante a estada dele.
Próximos não era o termo que Henrietta usaria.
Tornaram-se muito mais. Que sua mãe havia percebido a atração, tão nova quanto era quando ela estava lá, era revelador. A dor de perdê-lo, de deixá-lo ir, devorava sua alma todos os dias, e às vezes, ela se perguntava se a dor iria diminuir. Ela se recompôs antes de dizer:
— Nos aproximamos sim, papai, mas não era para ser.
Ele lançou um olhar incrédulo a ela.
O pai dela, mesmo que já estivesse um pouco cinzento nas laterais da cabeça e tivesse linhas de sorriso um pouco mais pronunciadas, ainda era um homem atraente para a idade dele. E
um dos melhores homens que ela conhecia, mesmo que ele fosse seu pai, e que isso a tornasse tendenciosa.
— Por que não era para ser? Me mantive quieto por alguns meses, mas me recuso permitir que você se encolha e não viva.
Todo esse tempo que você esteve em Londres, seu coração não estava junto. E acho que sei o porquê.
Henrietta piscou para segurar as lágrimas que falar de Marcus trazia.
— Por que acredita nisso? — ela perguntou, ainda não querendo tornar pública sua dor.
— Você se apaixonou por ele, não foi? Quando voltou para a cidade, não demorou muito para que sua mãe e eu descobríssemos o que estava errado. — ele pegou a mão dela e a colocou no braço, dando um tapinha nela. — Conte-me, Henrietta, por que Lorde Zetland voltou à Escócia sem você?
Ela fungou, e engoliu em seco, imaginando como conseguiria expressar as palavras sem se desmantelar perante toda a Sociedade.
— Ele tem um filho, papai. Um que nasceu fora do casamento.
— E? — o duque disse, erguendo a sobrancelha. — Não creio que tenhamos criado você para ser tão crítica. Ainda mais porque trabalhamos na Sociedade de Socorro de Londres desde que você era criança.
Henrietta sacudiu a cabeça.
— Não, papai, não é isso. Eu não me importo com isso. Mas Sua Senhoria deseja mais filhos. Eu não podia permitir que ele continuasse acreditando que havia um futuro para nós, quando não havia. Ele quer filhos, e eu não posso tê-los.
Uma lágrima perdida escorreu pela bochecha, e ela a enxugou com a mão enluvada.
— Henrietta. — disse o pai, apaziguador. — Eu já contei a você por que sua mãe e eu nunca mais tivemos filhos depois que você e Henry nasceram?
— Não, nós apenas presumimos que já estavam satisfeitos.
Ele sorriu, dando outra batidinha na mão dela.
— Estamos, nunca duvide disso. Adoramos você e Henry, mas gostaríamos de ter mais filhos. Mas sua mãe quase morreu durante o parto, e a mera possibilidade de perdê-la, o risco que correríamos
se ela engravidasse de novo, não valia a pena. E, portanto, ficamos gratos pelo que tínhamos. Dois filhos maravilhosos, e um ao outro.
Ter filhos é muito bom, um presente maravilhoso, mas as pessoas sobrevivem, vivem vidas completas e plenas, mesmo se forem incapazes ou optarem por não os ter.
Henrietta não sabia disso sobre seus pais.
Olhando para o outro lado do salão de baile, viu a mãe rindo com a amiga, a marquesa de Aaron. Perder a mãe, ou talvez nunca a ter por perto enquanto cresciam, era uma tristeza que ela não queria nem contemplar.
— Mas ele deseja filhos, papai. Não serei o motivo para seus desejos não serem atendidos.
— Ele estava de acordo com você? Ele ficou feliz e agradecido por você ter dito para ele voltar para a Escócia?
— Não. — disse ela, pensando no dia. — Discutimos.
— Creio que por amá-la. Você está presente, viva agora. Uma criança, mesmo para alguém que não tenha impossibilidades médicas, pode nunca vir. Às vezes isso acontece também. Mulheres de saúde perfeita também podem nunca conceber. Mas você, minha querida menina de carne e osso, meu sangue, está viva. Está na vida dele. Por que ele não escolheria você em vez de algo que nunca pode acontecer?
Quanto mais o pai falava acerca de sua escolha de afastar Marcus, mais ela se perguntava se havia feito a coisa certa. Ele estaria feliz sem ela? Ou será que ele sentia tanta falta dela como ela dele?
— Acredita que cometi um erro? — ela perguntou olhando para o pai.
Ele sorriu.
— Você apenas fez o que julgou ser correto. E mesmo depois de tudo o que eu lhe disse, ainda tem o direito de manter sua escolha.
Mas vou dizer algo, Henrietta. Eu amo sua mãe. Ela é minha vida. É
o amor da minha vida. E eu teria renegado a linhagem ducal de bom grado caso soubesse que nunca teríamos filhos. Para mim, ela é mais importante do que um título. E se o seu escocês estiver tão abatido, reservado e tristonho como você nestes últimos meses, então acredito que descobrirá que você é o amor da vida dele. Que você é mais importante do que qualquer título que ele possa ter herdado.
Henrietta mordeu o lábio para que parasse de tremer.
Ela precisava partir para ir vê-lo. Descobrir de uma vez por todas se ele estava arrependido de ter partido, ou se estava agradecido.
Continuar aqui em Londres, sentindo pena de si, não era uma opção.
— Preciso ir para a Escócia.
Seu pai de inclinou e a beijou na bochecha.
— Concordo com você, minha querida.
Henrietta deu-lhe boa-noite e se dirigiu à entrada, onde pediu o xale ao lacaio que guardara seus pertences e esperou que chamassem a carruagem do duque de Athelby.
A viagem até a casa de seus pais em Londres foi curta.
Henrietta desceu da carruagem ávida para arrumar as malas e partir, e uma sombra se afastou da casa. Ela enrijeceu e segurou um grito quando um homem vestido com um redingote escuro veio para a parca luz que o poste da rua oferecia.
— Marcus? — ela perguntou, e o condutor contente por ela conhecer o cavalheiro se afastou em direção às cavalariças.
— Sim, sou eu. — ele disse vindo para perto dela.
O coração dela pulou uma batida ao revê-lo. Ela havia se esquecido de como ele era alto, como ele se parecia, na opinião dela, com um guerreiro escocês das antigas. — O que faz em Londres? — ela perguntou sem acreditar que ele estava ali, bem na frente dela e não fruto de sua mente ansiosa e desejosa.
Ela se segurou para não se jogar nele e implorar que ele a amasse do jeito que ela era, para sempre e mais um pouco.
— Há algum lugar em que possamos conversar? — ele perguntou, olhando em volta.
— É claro. — disse ela, percebendo que eles ainda estavam de pé na rua. Começou a subir os degraus. — Venha para a sala de visitas. — Vou pedir um chá.
— Esqueça o chá. Só preciso falar com você. A sós.
Seu tom, profundo e com uma ponta de fragilidade, era prazer e dor em um. Ele precisava falar de algo bom, ou de algo ruim? Talvez ele estivesse aqui para dizer a ela que ainda a amava. Ou, na pior das hipóteses, ele estava aqui para agradecer e dizer que iria se casar.
A ideia deixou um gosto amargo em sua boca.
Sem falarem nada, eles foram até a sala de visitas que ficava nos fundos da casa, e Henrietta trancou a porta detrás deles para garantir privacidade. Sentaram-se em um sofá e, lutando com a necessidade de saber logo o que ele queria, ela esperou, com o máximo de paciência que pôde reunir, que ele dissesse seus motivos para estar na cidade.
Ele avaliou seu vestido e traços com um olhar que beirava a adoração.
— Você está muito bela esta noite. Esteve em um baile?
Ela baixou o olhar para o vestido de bordado dourado e seda por baixo, o colar de diamantes no pescoço. Ela assentiu, mantendo o
olhar baixo para que ele não visse o quanto ela sentia falta dele.
Como ouvir a voz dele outra vez era um bálsamo para sua alma dolorida.
— Fui ao baile anual dos De Veres. Quando você chegou em Londres?
Ele a olhou com timidez nos olhos.
— Cerca de uma hora atrás. Vim direto para cá e fiquei à sua espera já que o mordomo avisou que a família estava fora de casa para a noite. Arrisquei ficar na esperança de que você não passasse a noite toda fora, e sim que voltasse um pouco cedo. Parece que minha sorte está agindo.
— Assim parece. — ela encontrou o olhar dele e, por um momento, eles apenas se entreolharam.
O corpo dela palpitava com expectativa, desejando-o na mesma intensidade de sempre, e se ele não falasse logo, ela expiraria.
— Eu senti sua falta, moça. — ele pegou a mão dela, beijando a parte interna do pulso. — Eu não deveria ter deixado Kewell Hall naquela época. Eu não deveria ter dado ouvidos a você. Na verdade, eu deveria ter exigido que se casasse comigo. Eu não ligo se não tivermos filhos. Eu tenho um filho, estou mais do que contente, prometo. Mas a felicidade só será perfeita se você for minha. Seja minha esposa. Case-se comigo, marquesa.
As palavras do pai flutuaram na mente dela, e ela piscou para clarear a visão.
— Eu não deveria ter deixado você ir e sinto muito por afastá-lo.
Apenas não queria que perdesse o que queria.
Marcus se aproximou dela e, quando ela sentiu o cheiro de sândalo, tudo se encaixou no mundo.
— Só vou perder o que quero se você me mandar embora. Eu amo você, Henrietta. Quero passar o resto da minha vida ao seu
lado. Eu prometo a você nada além de alegria. Apenas diga sim.
Ela assentiu e depois riu quando Marcus a puxou para um abraço feroz. Seus braços fortes e calor a envolveram, e ela suspirou de alívio por ele estar aqui, por nunca mais se separarem.
Ela o abraçou de volta, não querendo larga-lo jamais.
— Vamos nos casar em quatro semanas e depois faremos o que você quiser. — disse ele. — Uma viagem ao exterior, um tempo na sua casa de campo, ou poderíamos viajar para a Escócia, onde você verá minhas amadas Terras Altas.
— Acho que primeiro preciso conhecer seu filho.
— Nosso filho, e se ele a amar com metade da intensidade que eu a amo, você será adorada.
Mais lágrimas brotaram nos olhos dela. Ela acreditava que nunca havia chorado tanto como desde que conheceu Lorde Zetland, mas aqui estava ela, um regador profuso.
— Eu adoraria isso. Por favor, diga-me que você o trouxe para Londres.
— Sim, eu o trouxe. Ele está na casa do Marquesado na cidade.
— ele ergueu o queixo dela e pincelou os lábios, o queixo e as bochechas com beijos. — Passe esta noite comigo e conheça nosso filho amanhã. Não quero me separar de você outra vez.
Henrietta se levantou, puxando-o para ficar de pé.
— Deixe-me pegar meu xale e vamos sair agora mesmo. —
disse ela, rindo da determinação perversa que surgiu nos olhos dele.
ela primeira vez em meses, ela se sentia viva de novo. A mente clara e despreocupada, e o coração cheio de alegria. Seu escocês a seguiu e logo eles estavam abrigados na carruagem do marquês. A noite foi plena de alegria, pecado e tudo o que ela sempre quis.
E na manhã seguinte, Henrietta conheceu o filho dela.
EPILOGUE
Doze anos depois
H enrietta montava seu cavalo, parada na encosta da cordilheira escocesa que dava para o Lago Ruthven, e observava seu filho Arthur se arrastar pelo chão, tentando encontrar um melhor ponto para atirar no cervo que estava em um ponto mais alto do monte.
— Como ele está? — Marcus sussurrou, parando a pé ao lado dela, segurou as rédeas soltas dela nas mãos.
— Acho que ele tem um na mira, ficou bem quieto imóvel.
Henrietta olhou para Marcus, o amor que ela sentia pelo homem que estava a seus pés nunca diminuiu ao longo dos anos desde que se casaram. Se algo mudou, era só para mais. Ele cumprira a promessa – a amou como um louco, dedicou cada minuto livre para garantir que ela fosse feliz e cuidou dela e de Arthur com uma ferocidade inigualável.
Ele era realmente o melhor dos homens, e apesar de nunca terem tido filhos, Henrietta nunca sentiu como se estivesse perdendo algo. O filho de Marcus, o filho dela, era o que mais importava no mundo para os dois, e ela estava tão orgulhosa do jovem em que ele estava se tornando.
Um tiro soou, e Arthur levantou a cabeça para olhar acima da mira da arma. Ele se virou na direção deles, um grande sorriso em seus belos traços.
— Tiro certeiro, mamãe.
Henrietta suspirou, sorrindo com orgulho para o filho.
— Muito bem, Arthur.
Marcus apertou sua coxa, massageando-a um pouco.
— Já falei para você como você fica formosa quando está neste cavalo, com as Terras Altas atrás de você e seu cabelo esvoaçando, suas bochechas com um leve rubor de frio?
Ela riu, empurrando a mão dele.
— Você, senhor, não é um cavalheiro. Pareço um alma penada.
— E você me ama por isso. — disse ele, piscando para ela.
Ela se inclinou, segurando o kilt que ele havia colocado sobre um dos ombros para garantir um pouco mais de calor, e o puxou para um beijo.
— Pois é, eu te amo, não amo? — disse ela, com o melhor sotaque escocês que conseguiu forjar. — E sempre amarei.
Ele estendeu a mão e a puxou do cavalo. Ela riu antes que ele tomasse seus lábios e a beijasse com tanta paixão que ela ficou sem fôlego.
O som do filho reclamando deles chegou aos ouvidos dela, e ela sorriu. Marcus sorriu.
— E eu amo você, moça. Para todo o sempre. Meu amor...
S.D. Perry
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