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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


COMO TENTAR UM CONDE / Tamara Gill
COMO TENTAR UM CONDE / Tamara Gill

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Quando a sorte de alguém muda, todas as apostas perdem o valor...
Hamish Doherty, Conde de Leighton está tendo uma temporada terrível. Uma parte de sua casa foi destruída por um incêndio, foi atacado na saída de uma jogatina, e uma debutante que ele não suporta parece determinada a se casar com ele. É o bastante para fazer qualquer lorde correr para as colinas, mas a sorte dele parece se deteriorar ainda mais no interior. Após uma conta não paga em uma estalagem e uma carteira bolsa de moedas roubada, ele se vê pronto para levantar a bandeira branca – até o regate inesperado de uma bela estranha.
Como filha de um comerciante bem-sucedido, a Srta. Katherine Martin não tem tempo para aristocratas e seus problemas. No entanto, há algo intrigante nesse Conde azarado, mas lindo.
Quando o caminho dos dois volta a se cruzar, Lorde Leighton se oferece para quitar a dívida da maneira que ela quiser. Katherine decide que uma noite nos braços dele será o bastante, porém quando duas almas similares encontram a paixão juntas, tudo indica que uma única noite não será o bastante. Mas pode uma mulher sem título e com o comércio correndo nas veias ser o suficiente para tentar um Conde?

 

 

 


 

 

 


CAPÍTULO 1

Foi, sem dúvida, a pior semana da vida de Lorde Hamish Doherty, Conde Leighton. Ele estava deitado todo esparramado no piso principal da Pousada Two Toads, perto da fronteira de Berkshire.

Seus olhos lacrimejaram quando dor ricocheteou em seu rosto, o sangue escorrendo de seu nariz, que nenhuma quantidade de toques com o lenço interrompia. Era um adeus ao seu perfil impecável, as damas da sociedade ficariam um pouco chateadas ao ver que seu nariz estava agora um pouco torto.

— Eu disse que não importa quem você pensa que é, se não puder pagar a dívida, eu arrancarei o dinheiro de você. — rosnou o proprietário, seu corpo volumoso nitidamente ameaçador.

Hamish limpou o nariz, procurando novamente nos bolsos a bolsa, que estava desaparecida.

Onde diabos foi parar?

Estava com ele ao chegar três dias atrás, ele deu uma gorjeta para a garçonete peituda, uma moeda de ouro, depois de uma cuidadosa limpeza em seu quarto, mas depois a memória ficou nebulosa.

Ontem, fora dar uma volta para visitar seu bom amigo, o duque de Athelby, na Residência Ruxdon, mas não havia necessidade para dinheiro lá, então deixara a bolsa de moedas no quarto. Um erro estúpido, considerando o estado em que seu nariz estava agora.

Afastando uma onda de raiva, ele respondeu com calma:

— Isto não passa de um mal-entendido. Eu tenho dinheiro. Eu o deixei no meu quarto.

— Você está dizendo que foi roubado? Que minha pousada é um estabelecimento que permite roubos àqueles debaixo de meu teto?

O dono da hospedaria bateu com o bastão de madeira na mão, um sinal seguro de que substituiria o punho que bateu em seu nariz um momento atrás.

Hamish olhou ao redor da sala e se encolheu, já que ele agora era o centro das atenções de outros hóspedes, todos a par de sua humilhação. Sem dúvida, ele seria o motivo de fofocas por toda a cidade durante a próxima semana, assim que sua identidade se tornasse conhecida.

— Não exatamente... só que a bolsa estava lá ontem, e hoje não está. E não estou dizendo que foi roubada, mas apenas que está desaparecida, e eu não me esqueci de onde guardei.

A garçonete que o havia atendido soltou um suspiro ofendido.

— Parece que você está tentando acusar um de nós de roubo.

Hamish levantou a mão quando o dono do lugar deu um passo em sua direção.

— Não estou, mas não tenho meios para pagar minha dívida.

Deixe-me enviar uma mensagem ao meu amigo, o duque de Athelby, e ele pagará a conta. Posso garantir.

O homem estreitou os olhos e pareceu um pouco incerto acerca de continuar com o abuso ante a menção do duque, mas durou pouco, pois ele pareceu desconsiderar os contatos elevados de Hamish ao dar um passo ameaçador em sua direção.

— Você é um mentiroso, e um que não pode pagar. — acusou o proprietário.

Droga, se havia algo que Hamish não gostava, era de conflito, e ele não queria causar problemas tão próximos da propriedade do duque de Athelby, mas também não permitiria ser tratado tão mal.

Ele era um aristocrata sendo espancado como um criminoso de

baixa vida. Se o indivíduo não se atentasse às suas ações futuras, ele se encontraria perante o magistrado local por agressão e roubo.

— Sou o Conde de Leighton. Não me confunda com um Zé Ninguém sem dinheiro ou influência. Se você se aproximar mais de mim com esse bastão, descobrirá rápido o quão verdadeiras são minhas palavras.

Os olhos do comerciante se arregalaram, e ele interrompeu o avanço. Claramente, o homem estava repensando melhor a ideia de abrir a cabeça de Hamish.

— Como eu sei que você não mente sobre ser um almofadinha?

Um par de botas robustas apareceu ao lado de sua cabeça, e ele notou que estavam bem gastas e um pouco empoeiradas, provavelmente do pátio da estalagem. O vestido que seguiu as botas era de uma cor cinza fosca, bom para viajar. O rosto que olhou para ele não era nada menos que angelical.

— Quanto Sua Senhoria deve? — a mulher misteriosa perguntou ao proprietário, passando entre ele e o homem que já lhe concedera um nariz ensanguentado que, aliás, se recusava a parar de sangrar.

Ele apertou o nariz com mais força.

— Quatro libras cobrirão, e devo dizer que estamos felizes que a senhorita tenha escolhido hospedar-se conosco de novo.

Ela vasculhou a pequena bolsa e retirou a quantidade correta, colocando-a na mão do dono da hospedaria.

— Mande nossas malas para nossos quartos e prepare a carruagem de Sua Senhoria agora mesmo. Quanto às alegações do cavalheiro de ser Lorde Leighton, garanto que ele é quem diz ser.

Posso atestá-lo, pois temos amigos em comum. — ela olhou para ele de relance, a voz firme e calma. — Presumo que se ele deveria pagar a conta, é porque está de partida.

— Claro, Srta. Martin. — disse o homem, curvando-se e gritando para a equipe ao redor fazer o que ela pedia. — Desculpas, milorde, por qualquer confusão. Espero que você entenda que, a falta de prova de sua identidade me forçou a agir como agi.

Hamish olhou para o desgraçado.

— Que seja sabido que não voltarei a pisar em seu estabelecimento e nem o recomendarei.

A Srta. Martin se ajoelhou ao lado dele, estendendo a mão enluvada para ele segurar. Ele o fez, e ela o ajudou a se levantar.

Por um momento, Hamish olhou para o anjo que salvara seu pobre traseiro sem dinheiro antes que ela levantasse uma sobrancelha escura.

— Lorde Leighton, senhorita Katherine Martin, ao seu dispor. Já nos conhecemos antes, em um baile que participei com minha boa amiga, a Srta. Cecilia Smith, agora marquesa de Aaron.

Hamish franziu a testa, esforçando o cérebro para se lembrar da beleza diante dele e não aconteceu nada. Como ele poderia esquecer uma mulher assim? Ela era uma mulher que exalava autoridade e era dona de uma aura de aço. Até o comerciante corpulento e de ossos grandes não parecia incomodá-la.

Ele encontrou as penetrantes e inteligentes esferas castanhas dela, eram tão escuras quanto um café forte. Ele sentiu o estômago revirar. Ao ficar de pé, uma coisa ficou perfeitamente clara: ela era alta, quase tão alta quanto ele. Ela nunca seria vista como um diamante, mas a Srta. Martin era atraente.

Seus longos cachos castanhos avermelhados caíam sobre os ombros, e não estavam presos nem contavam com acessórios com um gorro. Ela o encarou com franqueza inabalável, e quanto à boca, bem, sensual e cheia foram dois termos que vieram à mente...

— Tenho vergonha de dizer que não me lembro, mas estou muito satisfeito em conhecê-la e agradeço a sua ajuda hoje. Estou extremamente envergonhado. Deveria ter cuidado melhor dos meus pertences.

— Não tenho dúvidas de que o senhor foi roubado e, sim, por favor, quando permanecer em tais locais no futuro, tenha mais cuidado com suas coisas. Nem sempre estarei disponível para salvá-lo.

Ela lançou um sorriso para ele e se virou, seguiu para as escadas.

— Espere! — ele disse, pegando o braço dela, pedindo, com gentileza, que ela virasse para ele mais uma vez, depois a soltou.

Uma necessidade inexplicável de vê-la de novo brotou dentro dele. Um belo rubor aqueceu as bochechas da moça, talvez por causa da intimidade que o gesto teve, e ele suprimiu o desejo de puxar a gravata como um estudante.

— Devo retribuir sua bondade. Temos amigos em comum, irei vê-la na cidade? Como posso entrar em contato com a senhorita?

— Hamish parou de falar antes que parecesse um tolo desesperado.

Ela voltou a mexer na pequena bolsa, e pegou um cartão.

— Pertencemos à círculos sociais bem diferentes, mesmo que minha boa amiga tenha se casado com a aristocracia. Mas talvez nos vejamos novamente. Quanto ao reembolso, caso milorde ou algum conhecido precise de um empreiteiro, recomende a empresa do meu pai. Você não encontrará pessoal mais qualificado ou preços melhores.

Hamish olhou para o cartão e dizia: Sr. Montgomery Martin, Mestre Construtor.

— Espero que nos encontremos novamente, senhorita Martin.

Ele nunca havia dito palavras tão sinceras. Ela salvou a pele dele, entrou como uma amazona e lutou contra o estalajadeiro malvado. A necessidade de revê-la, em uma situação em que ele não estivesse sujo e desgrenhado, queimou por seu corpo. Ele queria vê-la em sua própria esfera, em seus próprios termos. Ele enviaria um bilhete para a marquesa de Aaron assim que retornasse a Londres, e veria o que ela poderia arranjar.

A Srta. Martin riu, indo para as escadas.

— Bom retorno à Londres, milorde. E, por favor, lembre-se dos meus conselhos pelo bem desse seu belo nariz. Eu odiaria que sua estrutura óssea volte a sofrer a força de um punho.

Uma sensação quente surgiu dentro do peito dele.

— Então, você me acha bonito, senhorita Martin?

— Acredito que só ressaltei seu nariz, milorde. É possível que você esteja necessitado de um elogio?

Hamish riu e assistiu à senhorita insolente e deleitável subir as escadas, a última imagem que ele teve dela foi das pequenas botas pretas desaparecendo de vista.


CAPÍTULO 2

Três meses depois...

H amish nunca pensou que a vida poderia piorar tanto depois da morte de sua irmã. A perda dela havia partido seu coração e, embora ecos de pesar ainda o atormentassem, uma dormência abençoada envolvia seu coração em uma camada protetora. Uma série de incidentes infelizes parecia determinada a agravar a miséria dele, e ele chegara a pensar, seriamente, que nada poderia alterar suas emoções, cauterizadas pela dor.

No entanto, olhando para os restos carbonizados do que restava de boa parte de sua casa em Londres, uma casa repleta de lembranças felizes e da risada alegre dela, bem, ele precisou rever suas ideias.

O ano poderia acabar de vez se dependesse dele. Primeiro, ele foi agredido na pousada, a mesma pousada em que ele fora roubado. Ao voltar à cidade, ele visitou seu antro de jogos favoritos, para ter seus bons ganhos da noite, mais uma vez, roubados. Ele também ganhou outro sangramento no nariz por conta do incômodo.

O motivo para tamanha sucessão de infortúnios ele não conseguia entender, a menos que o Todo-Poderoso estivesse chateado com ele por não cumprir seu dever de se casar com uma jovem debutante adequada. Ele não pensava em se casar tão cedo.

O filho de sua amada irmã herdaria sua fortuna e propriedades, não havia nenhuma necessidade real para ele se casar e procriar.

Mesmo assim, a quantidade de desgraças que o atormentava estava começando a gerar fofoca entre a criadagem, e ele não sabia

mais o que fazer para tornar essa maré em sorte, em vez de azar.

E agora isso.

Ele balançou a cabeça, afastando-se do prédio quando uma grande viga cedeu, levando uma parte do chão com ela. Criados e vizinhos se aglomeravam em torno dele, encaravam o que havia sido parte de sua casa. A parte em que ele sediava seu baile anual e a sala de estar no primeiro andar. Tudo se foi, nada além de cinzas e madeira carbonizada.

Droga.

— Acabei de ouvir, Hamish. Eu sinto muito. — Hunter, o marquês de Aaron, bateu no ombro dele, segurando-o. — Vamos reconstruir em pouco tempo. Não se desespere.

Hamish se perguntou que horas deviam ser já que o marquês ainda estava vestido para a noite, mas não havia sinal de Cecilia na carruagem. Ele suspirou, sem saber se ele tinha ânimo para tal tarefa. Era tanta má sorte ultimamente que era capaz de ele ver tudo queimar assim que terminasse de subir tudo.

— Você já sentiu como se sua vida estivesse errada? Que você deve ter feito algo tão hediondo, que o mundo quer sua cabeça?

Hunter olhou para ele.

— Não, mas é assim que você se sente?

Hamish fez uma careta.

— Não consigo evitar a sensação de que preciso corrigir algo ou continuarei sendo amaldiçoado. Ninguém que eu conheço teve tanto infortúnio quanto eu este ano.

— Está falando do furto em Vauxhall.

— Sim, mas houve outras coisas também.

Talvez ele não tivesse contado a Hunter tudo o que havia acontecido com ele desde a morte de sua irmã. Mesmo assim, não mudava o fato de que coisas ruins continuavam acontecendo com

ele, e ele não sabia o porquê. Ele era um patife e um cavalheiro muito procurado, sim, mas não era mau. Ele doava para a Sociedade de Socorro de Londres da duquesa de Athelby e da Marquesa de Aaron todos os anos.

Pagava a seus funcionários um salário justo e tentava ser cortês com todos, apesar da posição que ocupavam. Então, o que ele estava fazendo de errado? Por que o destino parecia determinado a fazê-lo cair de joelhos? Não fazia sentido.

— É melhor você ir. Cecilia vai se perguntar onde você está, e não preciso compartilhar minha desgraça com os outros. Deve ser melhor manter-se longe de mim para sempre.

— Não dê atenção ao que os boatos estão dizendo sobre você.

Hamish passou a mão no queixo com barba por fazer.

Quando o fogo se alastrou na noite anterior, ele já estava deitado e ouviu o som de estalos e estrondos vindo de fora de sua porta.

Graças a Deus que ele foi investigar, ou poderia ter perdido toda a casa se não tivesse alertado os criados e mandado dois deles buscar a bomba d'água enquanto lutavam para resolver com baldes de areia, água e sacos de juta encharcados.

— As pessoas estão falando de mim, e depois disso falarão mais ainda.

— Não vamos nos preocupar com o que aconteceu com você, mas com os próximos passos. Você tem que reconstruir.

O que significa que ele terá que contratar um empreiteiro.

Ele sentiu-se cansado apenas de pensar.

— Você pode ficar conosco até que sua casa seja reparada.

Hamish chamou o administrador que estava inspecionando os restos carbonizados de sua casa.

— Sr. Oakes, entre em contato com os advogados da J. Smith &

Filhos e solicite a avaliação do seguro. Precisamos concluir essa

reconstrução o mais rápido possível. Também precisaremos contratar dois homens fortes para vigiar a casa até que ela seja novamente segurada. Não desejo perder mais nada neste inferno.

O funcionário dele fez uma reverência.

— Sim, senhor. Farei isso agora mesmo.

— Henderson. — lamentou Lorde Aaron, chamando o condutor de Hamish, que também estava na rua, com uma expressão de choque. — Arrume o que puder das roupas de Sua Senhoria e envie-as para minha casa o mais rápido possível. Peça a Stubbs que recupere os objetos de valor que ele puder reunir. Receio que eu terei que fazer isso.

Hamish seguiu o marquês até a casa para ver a destruição com mais clareza e, apesar de grande parte do edifício ter sido danificada pela fumaça, pelo menos estava de pé. Como o resto da casa não pegara fogo era um mistério, mas a tempestade que veio, inundando o prédio com a chuva, ajudou. Um fiapo de esperança ao menos. Apenas por isso as chamas foram subjugadas e, por fim, apagadas. As paredes carbonizadas, descascadas, o papel de parede enegrecido, os retratos da família queimando era demais para ser assimilado e, em poucos minutos, Hamish caminhou em direção à porta. Ele não conseguia mais olhar. Amanhã ele viria para lidar com a bagunça.

— Senhor, por favor, antes de partir. — disse o administrador, saindo da sala que havia sofrido danos graves devido ao incêndio no andar de cima.

— Sim, Sr. Oakes, o que é?

— Mandei chamar os corretores de seguros e seus advogados.

Stubbs e Henderson levarão tudo o que você pediu para a casa do marquês de Aaron antes do almoço de amanhã.

— Muito bom. Agradeço. — ele disse, ansioso para se afastar.


A carruagem deles esperou um pouco na rua, devido aos homens que já estavam trabalhando na casa para protegê-la da melhor forma possível e garantir que o fogo estivesse definitivamente apagado. Hamish balançou a cabeça diante do caos que esse desastre causara a seus vizinhos e a si. Pensar que apenas ontem tudo estava como deveria estar na Praça Berkeley e hoje, bem, não era o que alguém desejaria.

Katherine sentou-se em sua mesa na biblioteca do pai e leu a carta do Sr. Oakes, administrador do Conde de Leighton. Ela ouvira falar do incêndio em Mayfair, mas não sabia que era Lorde Leighton que havia sofrido as consequências.

Ela pegou um pedaço de pergaminho e escreveu ao Sr. Oakes, notificando-o de que iria à casa de Sua Senhoria para realizar o orçamento para a reconstrução da ala danificada, e que ele poderia esperar por ela às duas horas da tarde.

— Tudo bem, minha querida? Vi que havia algumas missivas hoje de manhã.

Katherine olhou para cima e viu o pai com a cabeça na porta, as roupas dele estavam sujas e empoeiradas pelo trabalho de manhã no cais sudoeste do Tamisa. A barba grisalha e as sobrancelhas grossas também ostentavam um pouco de poeira e ela riu.

Não importa onde ele estivesse, se ele estivesse em Londres, ele sempre garantia que chegava em casa para jantar com ela, especialmente após a perda de sua mãe apenas dois anos antes.

Se ele o fazia porque achava que ela estava sozinha, ou que ele estava, Katherine não tinha certeza, mas ela gostava da companhia dele de qualquer maneira.


— Nos pediram para orçar a reconstrução da casa de Lorde Leighton em Berkeley. Ele foi o cavalheiro que sofreu o incêndio na semana passada. Pelo que afirma o administrador dele, ele perdeu uma ala inteira de sua casa. A parte dedicada ao entretenimento, então querem consertar o mais rápido possível.

— Entretenimento, é? — o pai disse, sorrindo. — Você não compareceu a um baile dele há um ano ou mais? Com Cecilia?

— Sim. — disse ela, levantando-se e juntando-se ao pai, pegando o braço dele e levando-o para a sala de jantar. — Era um salão de baile adorável também. Uma grande pena que tenha sido danificado. Eles precisam de um empreiteiro e, como você é de longe o melhor de Londres, pediram por você e mais nenhum.

— Bem. — disse o pai, ficando um pouco mais alto com tantos elogios. — Estou honrado. Certifique-se de ser justa, honesta, razoável, mas compreensiva ao visitar o local. Eu gostaria de fazer outro projeto dessa grandeza, não o temos há um ano ou mais.

— Não, nós não temos.

Eles sentaram-se à mesa, o cheiro da sopa de legumes quente era convidativo e encheu a sala quando o primeiro prato foi colocado diante deles. Essa hora da noite, quando eram apenas os dois, era a parte favorita do dia de Katherine. Desde a morte da mãe, o tempo que passavam juntos conversando sobre os acontecimentos do dia se tornou sagrado. Acomodaram-se e começaram a comer, o pai dela fazendo barulhos de satisfação com cada colher de sopa.

— Que outros cômodos foram danificados, você sabe?

— O salão de baile, é claro, parte de uma sala de estar no andar de cima, o corredor que leva a esses cômodos sofreu danos pela

fumaça, e o teto do salão de baile desabou, então é uma bagunça daquelas. Mas levarei Thomas comigo, e ele fará as medições, um desenho detalhado dos cômodos como eram, e faremos o orçamento adequado depois disso.

— Conhecemos quem vai restaurar?

Katherine tomou seu último gole de sopa, baixando a colher.

— Não, eu ainda não fui informada, mas imagino que será o Sr.

Hope que é quem trabalha com os pares do Conde Leighton.

— Claro. Eu deveria ter me lembrado.

A porta da sala de jantar se abriu, e a prima de Katherine entrou, sobrinha de sua falecida mãe, Jane Digby.

Katherine gemeu por dentro.

Desde que Jane chegara na semana passada para passar a temporada com eles, Katherine já contava sete dias ansiosos por esquecer. Jane, uma mulher bonita de dezenove anos, tinha longos cabelos loiros com cachos suficientes para ter volume e permitir que os penteados se sustentassem corretamente.

Ela não era muito alta, como Katherine, e suas curvas eram bonitas. Pior ainda, Jane sabia que virava cabeças onde quer que fosse com seus brilhantes olhos azuis e pele impecável. O único defeito? Seu discurso muito ousado e sabichão. Talvez devido ao fato de que morar na pequena paróquia perto de Nottingham não permitisse que ela soubesse o que se deve ou não discutir.

Não era um erro da garota, era óbvio que a mãe a deixou muito solta, mas agora o resultado de tal negligência em sua educação significava que Katherine fazia todos os esforços para evitá-la, já que Jane e suas opiniões diferentes agora incluía enumerar todos os defeitos de Katherine: o que ela poderia usar para realçar melhor a cor dos olhos ou ajudar a esconder sua altura onipotente que não era favorável aos homens de sua classe. Ou o que ela poderia fazer

com seus cabelos para ajudar a esconder o marrom opaco com que ela nascera.

— Ah, me desculpe por me atrasar. Queria que sua criada, Mary, arrumasse meu cabelo. Ela é muito esperta, mas demorou um tempo para terminar.

Jane sentou-se à mesa e, colocando um guardanapo no colo, fez um gesto para o lacaio servir a sopa.

— Ficou adorável, minha querida. — disse o pai, chamando atenção de Katherine, pelo brilho de alegria nos olhos dele.

— Onde você encontrou a pena? — Katherine tomou um gole de vinho, qualquer coisa para impedir que seus lábios sorrissem ante o estilo exuberante no penteado da garota.

Jane tomou a sopa e assentiu de forma ansiosa.

— Ah, sim, eu queria uma pena de pavão, mas só consegui encontrar uma de um chapéu velho no sótão. Eu acho que pode ser uma pena de galinha.

O pai tossiu, e Katherine teve pena da prima.

— Amanhã iremos à costureira e veremos se encontraremos penas mais adequadas para seus chapéus. O que você acha?

Jane deu um salto na cadeira, os olhos brilhando de excitação.

— Ó, como eu adoraria fazer isso. E talvez enquanto estivermos lá, podemos ver se eles têm chapéus para você substituir o que você usa em nossos passeios no parque todos os dias, Katherine.

Seu cabelo é de uma cor castanha suave, e um chapéu da mesma cor não faz nada por você. Se você quer arrumar um marido, deve se esforçar mais quanto a aparência.

Katherine sorriu, agradecendo ao lacaio que a servia o segundo prato.

— Obrigada, Jane. Vou levar seu conselho em consideração. —

disse ela com educação forçada, não querendo responder às

considerações imprudentes de Jane e causar uma discussão que afligiria o pai.

— Ah, você deveria. — Jane continuou, afastando a sopa e pedindo o segundo prato. — Todos as minhas amigas em Gotham me dizem que sou especialista nessas coisas, e fazem tudo o que eu digo. Você deve. Eu apostaria que, se seguir todos os meus conselhos, conseguirá um marido logo.

— Se Katherine arrumar um marido, eu perco uma filha. Não se apresse, minha querida. Eu, com certeza, vou sentir saudades.

Katherine sorriu para o pai, sem intenção de conseguir um marido, a menos que fossem compatíveis como os maridos de suas boas amigas, a marquesa de Aaron e a duquesa de Athelby eram com elas.

O marquês e o duque estavam entre os melhores dos homens, possuíam qualidades que ela desejava em sua própria união. Eles amavam e cuidavam de suas esposas, e Cecilia, que era da mesma classe de Katherine, muito mais baixa na sociedade do que Sua Senhoria, apenas o fazia mais digno do amor de sua amiga. Colocar o que a Sociedade espera dele de lado e se casar por amor, garantiu que Katherine o adorasse quase tanto quanto Cecilia.

— Você vai à noite de cartas de Cecilia esta noite, minha querida? A menos que eu esteja enganado e que seja em um dia completamente diferente.

Katherine afastou a mente de suas reflexões sobre os felizes casamentos de suas amigas ou o fato de que ela, em um tempo passado, desejara algo semelhante. Ter uma família e filhos, mas agora aos vinte e seis anos, esses sonhos pareciam cada vez mais distantes a cada dia.

— Eu vou, papai. Vou sair depois do jantar.

— Nesse vestido? — Jane perguntou, escrutinizando o vestido, aversão nublando sua inspeção.

Ela olhou para o vestido de musselina rosa claro que vestia.

Embora não fosse o auge da moda, era bonito e não estava danificado ou marcado. Afinal, era apenas uma noite de cartas com amigos íntimos, não era um baile em que Katherine deveria vestir-se no auge da moda.

— O que há de errado com este vestido? Eu acho que me veste muito bem.

— Você está linda, minha querida. — afirmou o pai, afastando o segundo prato.

— É tão simples e sem graça. Você parece um tanto desinteressante.

— Jane, isso é cruel. — seu pai acrescentou com uma careta.

Ante a resposta do pai dela, Jane voltou sua atenção para a refeição. Mas a refeição tranquila deles não durou muito.

— Eu não quis ser má, tio. Só quero que Katherine se dê bem em festas e eventos. Se minha prima conseguir um bom casamento, melhoraria minhas próprias perspectivas. Eu detestaria ter que me casar com um clérigo do interior. Quão terrível isso seria. Tenho certeza de que morreria de tédio no primeiro mês.

Se elas tivessem tal sorte...

— O evento desta noite é apenas um encontro entre amigos, e posso garantir que meu vestido, por mais simples e sem graça que seja, servirá muito bem. Meus amigos não se importam com o que eu visto, desde que eu compareça. — Katherine levantou-se, deu a volta na mesa e beijou a bochecha do pai. — Vou deixá-los agora.

Pedi para a carruagem chegar às sete e já está quase na hora.

O pai dela deu um tapinha no braço dela.

— Muito bem minha querida. Vejo você quando voltar para casa.

— Pode ser que eu chegue tarde. Não me espere acordado.

Katherine entrou no vestíbulo, colocou o chapéu antes de pegar a capa e as luvas onde as havia deixado perto da porta da frente.

Como esperado, a carruagem estava esperando por ela.

Inclinando-se contra as almofadas, ela suspirou aliviada por estar longe de sua prima. Por mais que gostasse da garota, era melhor passar pouco tempo de cada vez ao lado dela. Suas constantes críticas a ela estavam se tornando desgastantes. Katherine não precisava de ninguém para mostrar suas falhas. Ela os conhecia muito bem.

Ela era uma mulher que trabalhava para o pai, gerenciava muitas outras coisas além do trabalho braçal pelo qual a empresa do pai era conhecida.

Alta, ela era magra demais, esguia demais para ser atraente.

Uma girafa como alguns a chamavam. Sem mencionar os seios pequenos que a fazia parecer uma vara. Katherine olhou para o corpete e tentou ajustar o vestido para dar-lhe a aparência de mais decote. Ela suspirou, desistindo quando seus esforços não conseguiram nada. Não havia esperança, ela era o que era e não havia nada que pudesse fazer para mudar.

A carruagem parou diante da casa de Cecilia, e Katherine saltou sem ajuda. A porta da frente se abriu, e o mordomo de Cecilia sorriu em boas-vindas.

— Srta. Martin, por favor, entre. A marquesa espera por você na sala de estar.

— Obrigada, Thomas. — Katherine entregou a capa e foi em direção ao corredor que começava ao lado da escada.

A casa estava iluminada e cheirava a flores. Desde que Cecilia se casara com o marquês na primavera passada, passara a ter

arranjos florais em todos os cômodos, não importa a estação do ano, e o lar cheirava sempre divino.

Katherine sorriu quando um lacaio abriu a porta para ela na sala de estar, e adentrou em uma sala cheia de pessoas, rindo e jogando cartas. Uma mulher estava sentada tocando no pianoforte, havia mais pessoas do que ela pensava que teria, e o lembrete de Jane a seu vestido fez seu estômago revirar.

Talvez ela devesse ter mudado para algo mais adequado.

— Você está aqui. — disse Cecilia, passando pelos convidados e alcançando Katherine, puxando-a para um abraço feroz. — Estou tão feliz que você veio. Preciso de alguém com quem realmente possa conversar.

Cecilia usava um vestido de seda azul-celeste deslumbrante que a abraçava como água. Sua amiga usava roupas tão bonitas nos últimos tempos que ela não podia deixar de sentir um pouco de inveja de seu notável senso de estilo.

— Você pode falar comigo. — disse o marquês, ficando ao lado delas.

Katherine riu, e Cecilia sorriu.

— Você sabe o que eu quero dizer. — disse ela.

— Felizmente sim. — disse o marquês, ele se virou para Katherine e, inclinando-se, beijou sua bochecha. — Não tem nos visitado o bastante, Kat. Você precisa vir com mais frequência.

Obrigado por ter vindo hoje à noite.

Cecilia pegou o braço de Katherine, puxando-a para dentro da sala.

— Venha se sentar comigo e com Darcy. Estamos discutindo o que vamos fazer nesta temporada e queremos que você também se envolva. O máximo que seu pai possa ficar sem você, é claro. Nós sabemos que você está muito ocupada.

Tendo que trabalhar todos os dias, e agora com a possibilidade de reconstruir a casa de Lorde Leighton, não deixava muito espaço para socializar. Embora, caso ela encontrasse um marido tão amoroso e doce como a duquesa e a marquesa, bem, ela teria que deixar de lado a necessidade de dormir e fazer o que devia. Dançar até o amanhecer. Ela amava seu pai e adorava trabalhar com ele, mas ainda ansiava pela realização de ter um marido e filhos algum dia.

O casamento de seus pais foi muito feliz, cheio de amor e respeito. Quando criança, ela foi apoiada e amada de forma incondicional, e queria o mesmo para seus próprios filhos, se tivesse tanta sorte.

— O que você tem em mente?

A duquesa também a recebeu com um abraço caloroso, e em pouco tempo havia passado uma hora de nada além de conversas sobre vestidos, bailes e festas. A duquesa estava ansiosa para realizar uma visita ao interior, no meio da temporada, à sua propriedade em Berkshire. Katherine foi convidada, caso desejasse participar.

Um leve risinho das senhoras que estavam do outro lado da sala chamou a atenção de Katherine, e ela se virou para ver Lorde Leighton entrar, parar no limiar e examinar todos como um deus sentado observando os meros mortais.

Katherine já o vira antes, algumas vezes, considerando que tinham amigos em comum, mas esta noite vestia calças de cetim de cor clara e um casaco azul de cauda longa soberbo, estava além da perfeição. Ele parecia estar participando do maior baile de Londres.

Nada comum para cartas e bebidas com os amigos.

— Cheguei! — ele declarou, rindo e caminhando até o duque de Athelby e o marquês que estavam ao lado dos convidados

conversando.

Os homens apertaram as mãos, e Katherine os observou, incapaz de desviar os olhos de Lorde Leighton e de sua adorável e extraordinária forma masculina.

Não que ela devesse estar olhando para os homens desta camada da sociedade, com certeza não da maneira que ela considerava Lorde Leighton, mas era difícil não admirar sua elegância arrojada. Nenhum homem deveria nascer com tanta beleza e Sua Senhoria era belo demais.

Ao contrário da maioria dos homens de seu grupo, Lorde Leighton possuía cabelos longos, ou pelo menos, na altura dos ombros. Seus cabelos estavam amarrados com uma fita preta hoje à noite, de forma que destacou as maçãs do rosto marcantes e lábios generosos. Quanto aos olhos dele, eram sua melhor característica se ela tivesse que escolher uma, e, para ser honesta, havia muitos bons aspectos para escolher. Mas seus olhos eram amendoados e de um tom tão escuro de ônix que eram quase pretos.

Ela suspirou por dentro pela beleza dele, maravilhando-se pelo fato de alguém poder nascer não apenas com riqueza e estatura, mas também com aparência. Como ele era sortudo.

— Você já conheceu Lorde Leighton? — a duquesa perguntou, sentando-se na cadeira e lançando um olhar na direção de seu marido.

— Conheci. E amanhã eu vou ter uma reunião com o administrador dele e fornecer o orçamento para a reconstrução de sua casa. Que situação terrível para ele estar. Sabe onde ele está hospedado até que a casa seja reparada?

— Aqui. — disse Cecilia com interesse. — Ficará aqui por algum tempo, pelo que entendi. O dano foi substancial e levará alguns

meses para ser reparado.

— É muito ruim, mas poderia ter sido muito pior. Foi uma sorte ele ter acordado e ter o espírito de soar o alarme, ou ele poderia ter morrido. — acrescentou Katherine.

— Pois é. — a duquesa sorriu quando o marido parou ao lado dela.

— Srta. Martin, conhece Lorde Hamish Doherty, Conde de Leighton? — indagou o duque, gesticulando para o amigo que se juntara a eles.

O marquês de Aaron os seguiu de perto, e parou atrás de Cecília. Katherine encontrou os olhos do conde e viu o momento em que ele a reconheceu.

— Ora, quais as chances? A lady que salvou minha vida. Como vai, senhorita Martin? Suponho que esteja gostando da noite?

— Estou, obrigada, milorde. E devo dizer que estou feliz em ver que voltou para Londres, apesar de tudo. Embora tenha ficado triste ao saber do incêndio que sofreu na semana passada.

— Obrigado, sim. Como pode ver, estou de volta à cidade, graças a você.

— Por que eu sinto que vocês dois têm uma pequena história que não conhecemos? — a duquesa brincou, olhando de um lado para o outro entre eles.

— Porque temos. — disse o conde antes de tomar um gole de champanhe. — A senhorita Martin salvou minha pele em uma pousada a caminho de sua propriedade. E não esqueci de sua bondade, minha querida. Eu ainda estou em débito com você.

— E vai ficar devendo ainda mais depois de amanhã. —

acrescentou Cecilia, sorrindo.

O conde franziu o cenho.

— E por que isso? — ele perguntou.

Katherine teve pena do homem.

— Você pode ter se esquecido, mas acredito que mencionei que meu pai é tem uma empresa no ramo da construção civil, milorde.

Amanhã vou me reunir com seu administrador para orçar os reparos estruturais em sua casa aqui em Londres.

— Você? — disse o conde, erguendo a testa em choque óbvio.

— Cuidado, Hamish, lembre-se de que você está cercado por três mulheres muito fortes neste momento. — disse o duque, sorrindo.

— Não quis ofender, senhorita Martin, estou apenas chocado.

Não achei que as mulheres trabalhassem nessa área.

— Em geral não, mas eu sou a exceção. — disse ela com um pequeno sorriso, o orgulho esquentando o peito.

E amanhã ela provaria a ele exatamente porque era uma exceção. Sua mente era rápida e suas habilidades matemáticas eram melhores do que da maioria, assim como sua capacidade de negociar os melhores preços de madeira que se podia obter em Londres e arredores.

Era por isso que seu pai confiava e dependia tanto dela nos negócios. Os dois checavam e conferiam uma segunda vez os cálculos e somas para evitar erros, por isso eram tão ocupados.

O olhar direto do conde agraciou sua figura, e um calafrio peculiar tomou conta dela. Ele gostava do que via ou estava apenas curioso com a mulher à sua frente que não era o padrão de tantos dos homens da esfera dele?

Ela não precisava da prima Jane para lembrá-la de sua falta de charme e elegância. Ao lado da duquesa e de Cecília, não era segredo que ela não tinha a beleza e a confiança social deles.

Katherine era do ramo comercial, filha de um construtor, e trabalhava na empresa dele. E embora Cecilia, uma mulher de sua

esfera social tivesse se casado com um marquês, pelo menos não era considerada tão grosseira quanto Katherine, pois a família trabalhava com a advocacia.

Katherine analisou o vestido e o comparou com as amigas. A seda elegante delas, o corte e o design de seus vestidos eram o auge da moda, fazendo com que o vestido modesto que Katherine usava parecesse bem barato se comparado aos delas. Erguendo o queixo, ela tomou um gole de vinho e lutou para afastar a dúvida.

Darcy e Cecilia eram suas amigas e nunca a diminuiriam não importa o que a sociedade optasse por fazer.

A vida passava por ela, suas amigas estavam começando famílias e se casando, enquanto ela parecia estar presa, sem avançar para nada exceto a velhice.

— Estou ansioso para ver seu orçamento, senhorita Martin. Foi um prazer encontrá-la de novo. — disse Lorde Leighton, fazendo uma reverência antes de sair para se juntar a outro grupo de convidados. Eles o receberam com risadas e reverências perfeitas, e sua ausência foi sentida.

Katherine o observou por um momento antes de voltar a atenção para as amigas. Homens como Lorde Leighton não viam mulheres como ela como iguais. Ela não era rica nem bem conectada, e agora aos vinte e seis anos suas perspectivas de se casar, mesmo em sua própria esfera social, pareciam um sonho perdido.

À medida que envelhecia, Katherine precisava admitir que não parecia pertencer a lugar algum, exceto ao trabalho. Ela estava condenada a morrer como uma solteirona idosa. Uma mulher que jamais experimentaria um beijo roubado ou um abraço sedutor de um homem da classe de Lorde Leighton. Ou de qualquer classe, na verdade.

À medida que a noite avançava, quando os jogos de cartas e a música deram lugar a um baile improvisado, e nenhum cavalheiro a convidou para dançar, o som desmoralizante da voz de Jane não desaparecia. Era um constante lembrete de que ela não pertencia, não era desejada e não era refinada o suficiente como as amigas. E

não se calaria.

Não importa o quanto ela dissesse a si que não era assim.


CAPÍTULO 3

K atherine e o Sr. Andrew Perry, seu capataz, pararam do lado de fora da casa do Conde de Leighton, batia o lápis no bloco de notas. O lorde estava mais de uma hora atrasado e ainda não havia sinal de carruagem ou cavalheiro chegando a pé na direção da casa dele.

— Talvez devêssemos voltar em outra hora, senhorita Katherine.

Sua Senhoria parece ter se esquecido.

Katherine olhou para cima e para baixo da rua outra vez e franziu a testa.

— É estranho que nem o administrador dele tenha chegado. Vejo que há homens lá dentro limpando, talvez se começarmos as medições e fizermos a inspeção, Sua Senhoria chegaria depois.

Pode ter havido algum tipo de confusão acerca do horário.

Andrew murmurou algo em descontento, mas a seguiu degraus acima, e entraram no hall de entrada onde havia um mundaréu de trabalhadores, alguns no andar de cima e outros na sala abaixo de onde o fogo se alastrou.

— Vamos começar no andar de cima e aí descemos.

Nesse mesmo momento a porta da frente se abriu e o Sr. Oakes entrou apressado, o brilho de suor cobrindo o rosto, os cabelos arrepiados como se ele tivesse vindo correndo até ali.

— Sr. Perry e Srta. Martin, presumo.

Katherine estendeu a mão, e o homem a apertou e, em seguida cumprimentou o Sr. Perry também.

— Peço desculpas. Sua Senhoria havia declarado que desejava comparecer hoje, mas me enviou uma missiva a cerca de meia hora

informando que ele havia mudado de ideia. Eu não estava preparado e sabia que já estariam esperando, então estou muito atrasado. Eu sinto muito.

Katherine sorriu, tentando acalmar o homem atormentado.

— Não precisa se preocupar. Podemos começar?

O fato de Lorde Leighton não desejar vê-la de novo nem discutir os reparos da casa com uma mulher não a surpreendia. Depois da conversa inicial na noite anterior, ele saiu a esmo pela sala, conversando com toda e qualquer mulher que Cecilia havia convidado, jogando-se sobre elas e fazendo-as corar e rir como tolas.

Só provou mais uma vez que ela era simples e imprópria, não era uma mulher capaz de fazer a cabeça de Lorde Leighton virar.

Ele era um homem que emanava charme e era de uma aparência espetacular, enquanto ela emanava comércio e pouco apelo.

Uma pena, ela esperava vê-lo. Talvez seja melhor, pois que bem poderia resultar de qualquer interação fora negócios?

— Por aqui, por favor. — disse Oakes, subindo as escadas.

Katherine seguiu e durante a hora seguinte eles mediram, conversaram sobre madeira, colheram amostras do que estava lá, e Katherine desenhou o layout da sala, a estrutura do teto, ou pelo menos o que restava dela.

Katherine percebeu que Sua Senhoria havia perdido um dos maiores salões de baile de Londres, mas pelo menos um de seus melhores destaques, a lareira de mármore, havia sobrevivido com nada mais que uma leve descoloração pela fumaça.

O Sr. Oakes explicou o que o conde esperava em relação à reconstrução e que mudanças ele queria fazer, sendo a maior delas um terraço saindo do salão e, considerando que este ficava no

primeiro andar da casa, seria preciso um pouco de design e talento para colocar o plano em prática.

Mas não seria difícil para o pai realizar, e quando todo o trabalho de construção estivesse concluído, Lorde Leighton ficaria satisfeito, assim como todos os clientes dele. Com todos os dados necessários em mãos, ela se virou para o Sr. Oakes e estendeu a mão.

— Bom dia, senhor. Obrigada por sua ajuda e suas informações.

Teremos uma cotação pronta para Sua Senhoria na segunda-feira da semana que vem.

Ele pegou a mão dela, apertando-a.

— Srta. Martin, obrigado. Você foi muito profissional. Dê os meus cumprimentos ao seu pai.

Eles saíram, subiram na carruagem que os esperava, o condutor foi instruído para voltar ao escritório.

Um sorriso satisfeito cruzou os lábios do Sr. Perry.

— Acho que tudo correu bem. O que acha, senhorita Martin?

— Eu concordo e, depois de ver o estrago, acredito que caso Sua Senhoria nos escolha para a reconstrução, a reforma terminaria dentro de seis meses, se o tempo estiver favorável.

— Quando Sua Senhoria decidir quem vai reformar a casa, é melhor consultá-los antes de começarmos.

— Vou mandar um recado para o administrador dele, não sei por que esqueci de perguntar hoje. Mas, mesmo assim, se ele não souber, perguntarei a Lorde Leighton diretamente. Ele está na casa de uma boa amiga minha, a marquesa de Aaron.

E ela iria jantar com eles no sábado seguinte, apenas alguns amigos seletos, que Katherine supôs ser o duque e duquesa de Athelby. Se Lorde Leighton comparecesse, ela perguntaria a ele.


Recostando-se nas almofadas, Katherine tentou ignorar a pequena agitação que sentiu ao pensar em ver Sua Senhoria novamente.

Não fazia sentido que ela sonhasse com ele, ele nunca a consideraria como esposa, nem mesmo como um caso de amor.

Muito simples, muito comum para atrair os olhares de qualquer um dos pares do reino, mas, mesmo assim, não significava que ela não pudesse olhar para ele, se encher de prazer e sonhar acordada com a sensação que os lábios macios dele teriam contra os dela.

Ela suspirou.

Aposto que seria uma sensação pecaminosa...

— Srta. Martin, disse alguma coisa?

Katherine balançou a cabeça.

— Estava apenas murmurando para mim mesma. Por favor, me ignore.

Ela estava apenas sonhando com coisas que ela adoraria ter, mesmo que por um momento, mas que nunca teria a chance de experimentar. O fato de Lorde Leighton nem se dar ao trabalho de comparecer à consulta hoje dizia tudo o que ela precisava saber acerca da importância que ela tinha na vida dele. Ela ser tão invisível para pessoas que não fossem suas amigas a desconcertava. Ela contava com um bom dote, não era bonita, sabia disso, mas não era feia, portanto sua invisibilidade deveria ser por causa de seu corpo nada inspirador. E o fato de ela trabalhar para viver.

Talvez Jane estivesse certa, e ela precisasse melhorar seu guarda-roupa e comprar um chapéu novo. Qualquer coisa para mudar um pouco, fazer com que ela pareça uma dama que sabia se vestir e como atrair homens, quando na verdade ela não tinha ideia.

Hamish olhou para o outro lado da mesa de jantar do marquês de Aaron e mastigou o frango assado com bastante lentidão enquanto tentava entender a senhorita Martin, que por acaso estava sentada à sua frente. Sua mente era tão sagaz quanto a de qualquer homem que ele já conhecera, a inteligência e conhecimento dela sobre notícias e assuntos atuais eram melhores do que os dele, ele precisava admitir. Para todos os efeitos, ela era uma mulher moderna e educada. Mas seu vestido era de duas temporada atrás ao menos e, embora seu cabelo tivesse sido penteado, pouco fazia para destacar seus olhos escuros e atraentes.

Talvez ela se vestia de maneira tão descuidada para esconder o rosto encantador, ou talvez, apenas não se importava com as frivolidades a que tantas mulheres de sua classe dedicavam grande parte do dia.

Já ele, ele adorava ver mulheres vestidas com as últimas tendências da moda, com os cabelos adornados com joias e com a quantidade certa de rouge nos lábios, que faziam um homem desejar borrar suas bocas com um beijo apaixonado. Quando a senhorita Martin salvou o nariz dele de mais danos na pousada há alguns meses, ele não pensou que iria revê-la, mas também não havia esquecido de sua pequena dívida de gratidão.

E agora, depois de ver o orçamento da empresa de construção do pai dela, bastante razoável, e considerando que eram os melhores de Londres, ele a veria muito mais nos próximos meses já que decidira usar os serviços da empresa.

Por razões que nem ele sabia, ele gostaria de vê-la mais vezes.

Falar mais com ela. Descobrir quais eram suas paixões e atividades, ver se essa flor de estufa diante dele floresceria em uma rosa.

Hamish pigarreou.

— Srta. Martin, queria lhe contar que decidi contratar seu pai para reconstruir minha casa. Sei que é insensato falar de negócios em eventos como este, mas meu administrador falou muito bem da senhorita e do profissionalismo do Sr. Perry, e o orçamento é bastante razoável. Quando acha que poderá começar?

A duquesa bateu palmas, sorrindo.

— Ó, estou tão feliz que tenha escolhido fechar com o Sr. Martin, Hamish. Não ficará desapontado. Ele nos ajudou em todas as obras dos orfanatos e escolas. Katherine e seu pai são simplesmente os melhores.

Um leve rubor surgiu nas bochechas de Katherine, tornando-a ainda mais bonita do que Hamish achava possível. Ela não era o tipo de mulher para quem ele normalmente olharia, não por causa de sua posição ou roupas, ele não era um idiota, mas porque ela era muito esbelta e alta. E ele, em geral, gostava era de mulheres com curvas que exibiam bem a forma feminina. Ele era, para ser franco, um homem que adorava seios e nádegas de mesmo tamanho. A senhorita Martin, embora não fosse totalmente reta na região dos seios, contava com um bom punhado no máximo, mas não muito mais.

Ele tomou um gole de vinho, e os olhares dos dois se cruzaram.

— Obrigada, Lorde Leighton. Estou muito feliz em saber de tal decisão, e contarei ao meu pai as novidades ao retornar para casa esta noite.

Ele sorriu, divertido com o discurso formal dela ao se dirigir a ele.

Com todos os outros, ela se mostrava mais livre, ria e falava sem pensar duas vezes, mas com ele, ela sempre agia um pouco cautelosa, cuidadosa com suas palavras. E tal atitude o fez pensar.

— Katherine, esqueci de perguntar a você na semana passada, mas todos fomos convidados para o baile dos O'Callaghan, e

esperávamos que você comparecesse conosco. Enviarei a carruagem para buscá-la e, depois seguimos juntos. É na próxima quinta-feira. — interrompeu Cecilia.

Mais uma vez, ela confundiu Hamish.

Com a menção de um baile, seus olhos brilharam e, sem escrúpulos, ele conseguiria chamar Katherine de bela. Quem ela desejava ser e não era, escondida sob roupas desajeitadas.

— Próxima quinta? Terei que verificar com o papai se não temos compromissos pendentes, mas tenho certeza de que tudo dará certo.

— Há a promessa de bons jogos, Hamish. Vai estar presente? —

o duque perguntou, afastando a sobremesa.

Lorde Aaron pediu o vinho do porto, e as damas se levantaram, sinalizando o fim da refeição.

— Estarei lá. Prometi a Lady O'Callaghan que dançaria a primeira valsa com ela, e eu odiaria desapontá-la.

— Tenha cuidado, Hamish, ou você se comprometerá com Sua Senhoria, a espertinha. Sabe bem, assim como todos nós, que ela está atrás de um novo marido, já que o último morreu em circunstâncias desafortunadas. — a duquesa disse, rindo.

— Acredito que morrer, seja em qualquer circunstância, deve ser um infortúnio. — disse Katherine com ênfase.

Cecilia colocou o guardanapo sobre a mesa, assentindo.

— A duquesa quis dizer, Kat, que o marido de Sua Senhoria morreu sob ela quando os dois estavam em seus aposentos particulares.

— Bem, pobre homem, ou talvez, sortudo, dependendo de como você enxerga a situação. — disse Katherine, rindo.

Hamish fechou a boca depressa, nunca havia ouvido uma mulher falar de forma tão aberta, e sobre esse assunto em

particular, na alta sociedade. Às vezes, as amantes do passado falavam com extrema sinceridade e pouco respeito pelas pessoas a seu redor, mas nunca vira uma situação similar entre os seus. Os homens, sim, costumavam falar dessa maneira, mas as mulheres, nunca.

O duque e o marquês riram, e Hamish também se viu entretido e talvez um pouco intrigado com a garota. As damas se levantaram, e o olhar de Hamish seguiu a senhorita Martin... Kat saiu pela porta antes que um lacaio a fechasse, deixando apenas a ele, o duque e o marquês sozinhos.

— As mulheres sempre falam assim? Digo, nunca ouvi Cecilia dizer essas coisas entre aristocratas.

Hunter riu.

— Essas três mulheres são melhores amigas, e eu estremeço ao pensar no que elas discutem quando não estamos por perto. Tenho certeza de que Katherine sabe tudo sobre a vida de uma mulher casada, e o que acontece entre um homem e uma mulher no leito conjugal. Ouvi-las conversar sobre o assunto, à mesa e entre amigos, não é nada demais.

— Uma ocorrência bastante comum, devo dizer. — acrescentou o marquês. — Porque outro dia eu ouvi Cecilia contando a Kat sobre os rumores que circulavam na alta classe sobre Lorde Leslie e o valete dele.

— Que rumores? Não soube desses. — Hamish olhou para os dois homens, imaginando quando eles se tornaram tão, tão casados!

Ele se recostou na cadeira, pegando o charuto que o duque ofereceu.

— O que acham da senhorita Martin?

Os dois homens se voltaram para ele, e Hamish deu uma longa tragada, tentando concluir o que exatamente estaria passando pela cabeça deles naquele momento. Sua mente estava cheia de pensamentos sobre uma mulher que ele não tinha o direito de pensar. Ele nem queria uma esposa.

— Ela é adorável, e nós nos preocupamos com ela tanto quanto Darcy e Cecilia cuidariam de uma irmã, caso tivessem uma. Por isso, quando pergunta o que pensamos dela, nos perguntamos o que pretende com a pergunta, Hamish. — disse o duque, erguendo uma sobrancelha e parecendo bastante severo.

Hamish lembrou-se de como era o duque antes de se casar com Darcy, severo e mal-humorado. Hamish fez uma pausa, tentando decidir o que achava. Ele esfregou a mandíbula, contemplando as palavras dele.

— A Srta. Martin é gentil e tem boas maneiras, mas falta o refinamento que a duquesa e a marquesa exibem. Sei que Cecilia e Katherine cresceram uma ao lado da outra em Cheapside e se tratam como irmãs, mas é estranho que Cecilia mantenha a amizade tão forte agora que é marquesa.

Hunter se inclinou na cadeira, colocando o charuto na bandeja destinada a ele.

— Por que a amizade delas não continuaria? Kat é maravilhosa, e eu nunca sugeriria a Cecilia que terminasse essa amizade.

— Você deve admitir que ela debutou há anos e ainda não se casou. Sem mencionar as roupas, seus cabelos. E ela vai participar do baile de Lorde e Lady Keppel com vocês na próxima semana. O

que ela vai vestir! Eu tenho medo de descobrir. É um pouco peculiar, você precisa admitir.

Hamish recostou-se na cadeira, imaginando a senhorita Martin em um vestido de seda bordado de cor profunda e rica. Ela ficaria

tão bonita quanto qualquer mulher que ele conhecia.

Ele franziu a testa.

De onde diabos esse pensamento veio.

O duque deu de ombros.

— Eu gosto da Srta. Martin, e jamais a excluiria de forma alguma. Concordo que as roupas dela não são as mais elegantes, nem que arruma o cabelo do modo mais estiloso, mas ela é leal, honesta e gentil. E Darcy a ama, e bem, eu também. Espero que isso não seja um problema para você, Hamish. Ela é nossa amiga, e eu não quero que você magoe a alma pura dela só porque ela não é tão elegante e rica quanto muitos de seus amigos.

Ante seu silêncio, Hunter olhou para ele.

— Hamish? Teremos algum problema?

Hamish jogou o charuto na lareira e ficou de pé.

— Claro que não. Eu apenas achei estranho, é tudo. Mas se deseja que ela faça parte do seu convívio em nossa sociedade, quem sou eu para dizer o contrário? Mesmo que ela seja responsável pela reforma da minha casa, me sentirei obrigado a dançar com ela nos bailes.

Hunter riu.

— Cobrarei você por isso, e nunca se sabe, pode acabar gostando de dançar com a senhorita Martin. Ela pode encantá-lo tanto quanto encantou a todos nós.

— Talvez. — disse ele, dirigindo-se para a porta que um lacaio havia aberto. — Mas, por enquanto, lhes desejo boa noite. Há um jogo de cartas à minha espera, e uma boa amiga deseja uma dança comigo.

O duque balançou a cabeça quando Hamish pegou a capa e o chapéu com o lacaio no corredor.


— Vejo você no baile, Hamish. E lembre-se de trazer suas melhores maneiras com você.

Ele apertou o peito em um insulto falso.

— Claro. Quando eu já me apresentei de outra forma?

Hamish logo se acomodou em sua carruagem e olhou pela janela, pensou em seus amigos, nos casamentos deles e na sorte que tiveram. Ele já pensou querer uma vida assim, mas após a morte da irmã e da dor que causou à sua família e à do marido dela, ele não tinha mais tanta certeza. Amar alguém, e perdê-la, parecia uma coisa idiota a se fazer. Ele não desejava seus sentimentos em risco.

Seu sobrinho herdaria o título, portanto não precisaria se casar se não desejasse ser fiel a uma dama. Sua vida era plena, não havia parceiras para ele na cama, mas os entretenimentos de sua classe social o mantinham ocupado.

A imagem de Katherine Martin flutuou em sua mente, a ideia de ser recebido em casa por uma mulher com sua inteligência e beleza vívidas, tê-la aquecendo sua cama e a de mais ninguém, e ele se indagou acerca de seu curso na vida.

Imaginou se sua vida de ociosidade era o que ele realmente queria.


CAPÍTULO 4

— Édemais, Sua Graça. Eu não poderia usar uma obra-prima dessas.

Katherine deslizou a mão pelo vestido de seda dourado com uma abundância de bordados de seda prateados e decorado com centenas de contas de vidro e cordões de seda. Nunca havia visto um vestido tão bonito e, ao pegá-lo, segurou-o diante de si no espelho. Ficou surpresa com como a cor lhe convinha.

— Você ficará linda e, como ficará aqui esta noite, não aceitarei o não como resposta. Vou mandar minha criada subir para arrumar seu cabelo, e você será a mulher mais bonita do baile anual dos Leeders.

Darcy tocou a campainha que chamava os criados para o belo quarto em que ela havia sido colocada. Uma cama de solteiro coberta com uma colcha com um desenho floral azul complementava as cortinas de veludo azul da janela. Uma pequena espreguiçadeira fora posta no final da cama e, considerando o tamanho do quarto, permitia que alguém se aquecesse diante da lareira quando bem acesa.

— Você está sendo muito gentil, mas para ser honesta, me sentirei estranha vestindo algo que se adapte às pessoas da sua esfera mais do que a minha. As pessoas não vão me ver como uma fraude?

Darcy mandou o lacaio, que estava esperando na porta, descer e trazer uma banheira, e virou-se para Kate com uma pequena carranca na testa.

— Nunca mais quero ouvir você dizer uma coisa dessas. Você é a amiga mais próxima da duquesa de Athelby e da marquesa de Aaron. Ninguém se atreveria a olhar para você com nada menos do que pura adoração. E se não o fizerem, terão que se ver comigo.

Darcy se aproximou e apertou a mão dela, apertando-a um pouco.

— Algumas pessoas nascem com privilégios como eu, e outras se casam e entram nesta vida, como Cecilia, mas isso não torna ninguém em outro lugar menos digno de respeito ou cordialidade.

Afinal, somos todos humanos. Não quero que você se sinta menor do que nós, porque não é. — Darcy pegou o vestido das mãos da amiga e o colocou na cama. — Se eu fiz com que você se sentisse desconfortável com este vestido, é claro que você é livre para usar o que quiser, e eu ficarei ao seu lado, tão orgulhosa quanto eu ficaria se não estivesse vestindo nada.

Katherine riu e foi para perto do vestido.

Ah, era tão bonito, tão pesado e deve ter levado centenas de horas de costura para ser terminado.

— Só me preocupo que as pessoas pensem que estou tentando ser alguém que não sou. Mas... — ela disse, suspirando, admirando o vestido mais uma vez. — você está certa. Por que eu deveria me importar com o que as pessoas pensam ou acreditam, é apenas um vestido. — Katherine virou-se para Darcy. — Vou usá-lo e aproveitarei cada momento em que estarei nesta obra-prima tão bonita. Obrigada por me permitir esse pequeno luxo.

Darcy bateu palmas no mesmo instante em que uma batida leve soou na porta.

— Kat, a noite será muito divertida, e você ficará deslumbrante.

Darcy mandou os criados entrarem, e um lacaio trouxe uma banheira de porte médio, e os outros funcionários trouxeram baldes


com água fumegante. Uma criada deixou toalhas e sabonete em uma cadeira ao lado da banheira.

— Vou deixar você agora, minha querida, e nos veremos depois que estiver vestida. Toque a campainha quando estiver pronta para fazer o penteado e minha criada virá atendê-la. Vejo você no hall de entrada às oito.

O baile dos Leeders estava abarrotado, e Katherine seguiu o duque e a duquesa para o salão depois de serem anunciados na porta.

Parecia que centenas de olhos se viraram para ela, e a contagem deveria ser algo assim. Observando ao redor do salão, grande parte da alta sociedade a analisava, alguns curiosos, sem dúvida, sobre quem o duque e a duquesa haviam trazido, enquanto que outros, aqueles que a viram em outros eventos, encaravam-na com ar de desprezo.

Katherine levantou o queixo e permaneceu ao lado de Darcy quando um lacaio trouxe uma bandeja de champanhe diante deles.

Katherine pegou uma taça e tomou um gole bem necessário.

— Há tantas pessoas aqui hoje à noite. Como vamos encontrar Cecilia nessa multidão?

A duquesa esticou o pescoço, olhando e assentindo em reconhecimento àqueles que tentavam chamar sua atenção.

— Cecilia e Hunter chegarão em breve, e eu disse a ela que estaria nessa parte do salão de baile, para que ela nos encontrasse com facilidade.

Lady Oliver, que acabara de retornar do exterior com o marido, o visconde Oliver, acenou para a duquesa e veio em linha reta na direção delas. A duquesa sorriu, claramente satisfeita por sua

amiga, que esteve fora da cidade nos últimos dezoito meses, estar de volta entre eles.

— Fran. — disse a duquesa, beijando a amiga nas duas bochechas antes de darem um rápido abraço. — Estou tão feliz em revê-la.

Ela beijou o visconde e depois os guiou para onde Katherine e o duque estavam esperando.

— Athelby vocês conhecem, mas deixe-me apresentá-los à minha nova amiga, Senhorita Katherine Martin. Ela cresceu com Lady Aaron, deve se lembrar disso pelas minhas cartas.

Lady Oliver sorriu para Kat, que teve a impressão de que a dama estava realmente feliz em enfim conhecê-la. Ela deixou que o nervosismo em seu estômago se dissipasse, ela havia se posto nervosa imaginando se a amiga da duquesa não a aprovaria.

Katherine fez uma reverência.

— Prazer em conhecê-la, Lady Oliver. Soube que você foi para o exterior, e até viu as pirâmides do Egito.

Sua Senhoria sorriu, era claro que rememorava os pontos turísticos que visitara.

— Sim, fomos a lugares maravilhosos. E quase me esqueci de contar Darcy, mas encontrei a mulher mais incrível do mundo enquanto viajava para lá. O nome dela é Lady Georgina Savile, uma viúva de grande fortuna, e chegará a Londres no final do mês. Lorde Oliver e eu daremos um baile em sua homenagem, e você deve vir também, senhorita Martin, se desejar.

— Ficarei honrada de participar. — disse Katherine, encantada por ser incluída. A conversa rumou para os outros locais que a viscondessa havia visitado durante os muitos meses no exterior, e Katherine aproveitou a oportunidade para observar os dançarinos e outros convidados.

Na pista de dança, um vislumbre escarlate chamou a atenção dela.

Ela notou o conde de Leighton dançando com uma mulher loira em um vestido de seda vermelha escura e acabamentos em musselina branca. O vestido complementava muito a mulher, e seu porte destacava todas os pequenos detalhes e desenhos de seda que se espalhavam pelo corpete.

O prazer que Katherine sentira até então diminuiu um pouco ao ver Lorde Leighton tão fascinado pela beldade de curvas acentuadas. Não deveria surpreender Katherine que ela não se destacaria. Era preciso ser uma sirene para capturar o belo e popular Lorde Leighton.

A noite foi passando e pouco depois da meia-noite apenas o duque, e o marquês de Aaron haviam a convidado para dançar.

Nem o vestido bonito que a amiga lhe emprestara parecia convencer os homens a se aproximar dela.

Katherine tentou se incluir nas conversas das amigas o máximo que pôde, mas, à medida que a noite avançava até as primeiras horas da manhã, ficava cada vez mais difícil. Ela havia acordado cedo naquele dia para verificar a entrega da madeira que seria usadas na casa de Lorde Leighton, e em seguida, teve uma reunião com o Sr. Perry e o administrador de Sua Senhoria, Sr. Oakes, para discutir o progresso da semana e o que seria feito na próxima.

Sua presença em um baile, quando já passara bastante da sua hora de dormir, deixava os olhos pesados e os pés doendo, mesmo em sapatilhas tão macias que a faziam ter a impressão de caminhar sobre nuvens.

A menção do nome de Lorde Leighton chamou sua atenção, e ela ergueu os olhos da taça de champanhe que segurava e ver Sua Senhoria caminhando até eles. Desta vez, estava com uma mulher

diferente da beleza escarlate com quem ela o viu dançando no início da noite. Esta ostentava cabelos ruivos marcantes, penteados com cachos e um delicado fio de diamantes entremeando toda a extensão dos fios. O vestido era quase cor de ébano, com um punhado de flores decorativas bordadas com fio de ouro ao redor da bainha, corpete e mangas.

Katherine rangeu os dentes, não querendo acreditar que Sua Senhoria era tão obcecado por beleza quanto parecia estar. Ela era uma tola por sequer pensar nele de outra maneira, mais do que como um conhecido em comum.

— Lorde Leighton, que bom que você fez uma pausa em sua diversão para vir falar conosco. — disse a duquesa de Athelby, dando-lhe a mão para beijar.

Ele fez uma mesura e apresentou sua companhia a todos. Lady Scottle, esposa do falecido Barão Scottle.

O olhar de Sua Senhoria percorreu cada um deles, mas parou nela, os olhos se arregalando quando a notou. Ela levantou o queixo, preparando-se para o que ele estava prestes a dizer. A última coisa que ela queria que ele pensasse era que ela estava se vestindo para impressionar a esfera dele. Essa era a última coisa que ela pensaria fazer, não importa o que usasse, nunca sucumbiria e mudaria quem era.

— Srta. Martin? — ele perguntou, dando um passo na direção dela, largando o braço de Lady Scottle, que simplesmente ficou ao lado de Darcy e Cecilia e começou a conversar.

Katherine fez uma reverência.

— Lorde Leighton, espero que esteja gostando do baile.

A atenção dele a percorreu mais uma vez, e ela sentiu-se esquentar enquanto os olhos dele a perscrutavam, apreciando-a.

Ela quase sempre via desapontamento refletido nos olhos dos

outros, e senso de dever cumprido no olhar dos cavalheiros quando faziam a coisa certa e dançavam com ela.

Mas, nesse caso, a reação no rosto de Lorde Leighton não era nada que ela já vira antes. Decerto não para ela. Ela viu apreciação e desejo, em geral visto na direção de outras, mas ela nunca fora bonita o suficiente para justificar uma admiração tão sincera. Parece que um vestido bonito e um pouco de rouge nos lábios podem fazer maravilhas.

— É mesmo você? — ele disse, pegando a mão dela e curvando-se sobre ela. — Como está linda esta noite.

Katherine puxou a mão quando ele se esqueceu de soltá-la, e sorriu para acalmar o rebuliço que se instalou em seu estômago.

— Sou eu, apenas me vesti de forma mais apropriada para a ocasião.

— Dourado combina com você. — disse ele, olhando-a com o que Katherine esperava que fosse admiração.

A Lady que viera com ele aproximou-se e deslizou braço no de Sua Senhoria. Um gesto muito íntimo, se Katherine pudesse nomear.

— Dance comigo, Hamish. Parece que teremos uma valsa.

Katherine deu um passo para trás, para dar privacidade a eles e se assustou quando Lorde Leighton apertou a mão dela, colocando-a na dobra do braço dele.

— Perdoe-me, Lady Scottle, mas eu já prometi esta dança para a senhorita Martin.

A duquesa se intrometeu e puxou Lady Scottle para onde estava de conversa com Cecilia. Katherine foi para a área de dança com Sua Senhoria, mascarando o choque que sentia por ver Lorde Hamish mentir para uma mulher. Mentir da maneira mais crível, e

sentiu-se pior porque ela permitiu, apenas para poder dançar com ele.

Ele a abraçou, e ela encontrou seu olhar, tentando não se perder na bela visão que era Lorde Leighton.

— Você acabou de mentir, milorde. E para uma mulher que não esperava vê-lo convidar outra para dançar. Você sempre é tão leviano?

Sua Senhoria sorriu, a mão enluvada quente sobre a dela.

O toque dele no quadril dela a deixava consciente do fato de que ela não era tão curvilínea e feminina como a dama que ele deixara ao lado de seus amigos. Sua figura, embora magra e até que agradável, não era suave e feminina, ou tão abundante em algumas regiões quanto os homens gostavam. Ou era o que ela havia ouvido falar...

— Acho que está errada e, a menos que você diga a Lady Scottle, ela nunca saberá a verdade. E de qualquer maneira, eu queria dançar com você.

— Por quê? — ela perguntou, perplexa de verdade, por estar nos braços dele.

Katherine não pôde deixar de se perguntar se ele estava brincando com ela, presenteando-a com migalhas antes de seguir para iguarias mais substanciais. Ela esperava que a admiração que sentia por ele não fosse evidente para ele, ainda mais se ele não sentisse nada do tipo por ela.

— Bem, temos amigos em comum, e é esperado que eu dance com você pelo menos uma vez. Porque tenho certeza de que Athelby e Aaron já dançaram, não é?

— Sim, dançaram. — ela admitiu de má vontade, mas ainda assim, não era razão para eles dançarem.

Katherine afastou a ideia de que ele quis dançar com ela porque gostava dela. Tais noções não ajudavam ninguém, em especial ela mesma. Ela não era uma debutante, e não importava o que seus amigos fizessem para tentar permitir que homens a cortejassem, nem sempre acontecia.

Quem ela estava enganando. Nunca aconteceria.

— E se a senhorita acha que esqueci como me ajudou ao pagar minha dívida na hospedaria, está muito enganada. Não me esqueci do que prometi e que estou em dívida com você por sua generosidade. Estou apenas tentando corrigir meu erro com você naquela noite.

Katherine não conseguiu encará-lo quando um pensamento muito perverso atravessou sua mente. A ideia era tentadora e, aos vinte e seis anos, ela era corajosa o suficiente para pedir o que desejava a Sua Senhoria. Ele, na verdade. Por uma noite pelo menos...

— Embora seja agradável dançar com você, milorde, talvez eu tenha algo a pedir, mas aqui não é o lugar nem a hora.

Ele a puxou para perto quando eles fizeram um giro na valsa.

— Assim me deixa curioso, Srta. Martin. Por favor, vamos conversar agora. Diga-me o que você deseja.

Ela sentiu o estômago revirar.

Conseguiria ser tão ousada? As palavras grudaram em sua garganta, mas, ao saber da natureza afetuosa do casamento de suas amigas, as conversas sobre a vida de casada, Katherine ficou curiosa.

Como seria estar com um homem?

Todos os homens faziam os dedos de uma mulher se encolherem nas sapatilhas quando a beijavam, como a duquesa


disse que o duque faz? Respirando fundo, ela encontrou o olhar dele com mais determinação do que ela pensara ser possível reunir.

— Encontre-me no terraço em meia hora e contarei, aqui é público demais, muitos olhos estão nos observando. Faria isso por mim?

Lorde Leighton franziu a testa, mas assentiu.

— Claro. Eu a encontrarei, como pediu.

Hamish dançou com Lady Scottle depois de deixar a Srta. Martin com o duque e duquesa de Athelby. A esposa do falecido Barão era uma mulher bonita, luxuriante, amorosa e viúva, e se ele jogasse bem, a noite poderia terminar de forma bem agradável para os dois.

Ele saiu do salão de jogos com o uísque na mão e viu a mulher, que o derrubou com sua beleza crua uma hora antes, deslizar para longe da festa e seguir para o terraço. Ele não se mexeu, esperou mais alguns minutos antes de sair também.

A noite estava quente, e havia alguns casais ao ar livre, apreciando a brisa agradável da noite, refrescante, depois de estar dentro da mansão que cheirava a cera, perfumes e odor humano que ninguém gostava de sentir.

Hamish passeou pelo terraço, parando para conversar com aqueles que conhecia, o tempo todo bebendo seu uísque e procurando a senhorita Martin, que parecia ter desaparecido. Ele chegou ao fim do terraço e tudo o que viu diante dele foi o jardim bem cuidado e sombreado.

O som de "psiu" veio da balaustrada.

Num primeiro instante ele não pôde evitar a risada que escapou ao ver a Srta. Martin sair de uma pequena alcova do terraço que

ficava ao nível do solo. Hamish desceu as escadas e se juntou à Srta. Martin no local isolado, não era visível para quem passeava no terraço e sentou-se no assento frio de pedra.

— Você está sendo muito misteriosa, e devo acrescentar um pouco escandalosa, senhorita Martin. Se você for vista aqui... e comigo ainda por cima, sua reputação estará arruinada.

Ela balançou a cabeça, descartando as palavras dele antes de se sentar e apertar as mãos no colo com firmeza.

— Você disse antes que queria me ajudar, que tinha uma dívida depois que eu o ajudei em Berkshire. E se tem certeza de que contratar meu pai não anula sua dívida, há algo que eu gostaria de pedir. Antes que eu sucumba ao pensamento lógico e fuja.

Ele riu, gostando do fato de a Srta. Martin ter senso de humor.

— Agora estou ainda mais curioso. Por favor, pergunte, e verei o que posso fazer.

— Certifique-se de ter certeza, pois depois que eu pronunciar as palavras, não há como voltar atrás. Os olhos dela estavam arregalados, e havia uma ponta de vulnerabilidade naquelas palavras que ele adorou. Ele apertou as coxas com força para não a tocar, qualquer parte dela.

— Descobri esta noite o que eu quero que faça por mim.

— Sério? — ele perguntou, um pouco perturbado pelo fato de estar sozinho no jardim com uma mulher que, quanto mais tempo passava, se tornava cada vez mais atraente.

Ele se ateve a este pensamento. O pai dela era um construtor, um negociante que ele contratara para reconstruir sua casa. Ele não precisava começar a ver potencial onde não havia nenhum. A Srta.

Martin não o consideraria como potencial marido, assim como ele não a considerava como potencial esposa. Não que ele estivesse procurando por casamento, ele se lembrou. Hamish tentou se

lembrar de quantas doses ele bebeu esta noite, mas perdeu a conta na quarta.

— O que é?

Ela mordeu o lábio inferior, e ele lutou para não rosnar.

A mulher estava tornando tudo um tormento para ele para não a beijar.

— É um fato bem conhecido na minha esfera social habitual que eu sou uma encalhada. Não me iludo com o pensamento de um grande casamento agora. Sabia que eu sou a mais velha entre minhas amigas? Até Cecilia, sou dois anos mais velha que ela.

Os lábios dele se contraíram.

— Não acredito que isto seja sinônimo de que está no caminho de ser uma matrona, Srta. Martin. Você ainda é mais jovem que eu, e não me considero velho.

Embora fosse infelizmente verdade, e talvez até uma injustiça, o que ela estava dizendo. Oras, ele havia dito isso ao duque e ao marquês. Não que ele admitisse essas coisas. Ele não era um imbecil completo.

— Quantos anos tem, milorde?

— Tenho vinte e seis.

Ela meio que sorriu, dando de ombros.

— Então sim, temos a mesma idade, mas temo que esteja se esquecendo o que a idade significa para uma mulher e o que significa para um homem. Você ainda é jovem, talvez até jovem demais para sequer considerar casamento, enquanto eu sou vista como solteirona, quase decrépita.

Ele não conseguiu evitar e riu.

— Você não parece decrépita esta noite, minha querida.

E não parecia. De modo nenhum. Se ele pudesse dizer algo, era que ela se tornara uma das mulheres mais bonitas e inteligentes

que ele já conhecera. O administrador dele não conseguia parar de falar da Srta. Martin, de suas ideias e da abordagem prática dos comerciantes e daqueles que trabalhavam para o pai dela.

Talvez se ela acreditasse não ser capaz de arrumar um casamento, ele devesse empurrá-la para o sujeito. Pelo que ele sabia, o homem não era casado, e a senhorita Martin era da mesma camada social que o Sr. Oakes.

Hamish pensou em mencionar esses fatos, mas manteve as palavras para si quando reparou no olhar dela. Seus olhos estavam tão arregalados e com certo ar ardiloso que ele se perguntou, e queria saber, como ela queria que ele a pagasse.

— Obrigada pelo elogio, mesmo que eu acredite que você os distribua por aí como um entregador de jornal com seu produto. E

mesmo sabendo disso, proponho o seguinte. — ela respirou fundo e disse: — Gostaria que o senhor, Lorde Leighton, dormisse comigo.

Durma comigo como um homem dorme com uma mulher a quem deseja, como um marido deve dormir com sua esposa. Como um homem dorme com a amante.

Hamish engoliu em seco, seu corpo acordando, a mente respondendo sim, enquanto a boca parecia inóspita para palavras.

Ele limpou a garganta.

— Srta. Martin, você não pode estar falando sério. Ficará arruinada.

Droga, essa ideia estava errada. Imoral até. A senhorita Martin era uma jovem educada e gentil que ainda podia conseguir um par adequado e ser feliz na vida.

— Não seria certo. Não farei isso.

Porém, a ideia, agora que estava na cabeça dele, não era ruim...

Imaginar as longas pernas dela envolvendo seus quadris. Droga.

Isso não era nada apropriado.

— Estou me tornando uma solteirona, milorde. Deixe-me experimentar como é para uma mulher se deitar nos braços de um homem apenas uma vez. Eu não quero morrer, não importa quando for, e me lamentar pelo que eu perdi. Pois tenho certeza de que, depois de passar um tempo ao lado do duque, do marquês e de suas esposas, estou perdendo alguma coisa.

Ele ficou em pé, precisava se distanciar, embora continuasse escondido dentro da pequena alcova. Hamish sabia muito bem o que ela estava perdendo e, por mais que seu coração a quisesse, este não era um assunto que ele pudesse ajudá-la. Não importa o quão sedutora pudesse ser a ideia.

— Nossos amigos, se descobrirem, nunca mais falarão comigo.

Eles exigiriam que nos casássemos, e eu não desejo me casar...

— Comigo? — ela terminou por ele, mágoa cruzando suas feições antes de ela mascarar a emoção.

Aquela única palavra o fez falar.

— Não, não é você, não quero me casar com ninguém. Agora não, talvez nunca.

Hamish passou a mão pelos cabelos, a mente evocando todos os pensamentos acerca de como a Srta. Martin pareceria nua em sua cama, seduzindo e implorando por mais. As pernas longas e cintura fina, o cabelo escuro, um tom vibrante de chocolate, caídos de modo suave contra seus ombros perfeitos e de pele cremosa.

Puta merda...

— Não vou exigir nada além de uma noite na sua cama. Perdoe-me, mas devo ser franca. Tenho um dote substancial, mais do que a maioria das moças do meu círculo, mas sou de beleza comum e um casamento não me parece algo próximo. Tentei chamar a atenção de cavalheiros que se deram ao trabalho de me cortejar, mas sempre falhava e não deu em nada. Não farei exigências a você.

Meu futuro, mesmo que seja o de uma matrona, será um futuro de conforto em que eu não terei que trabalhar se não quiser. Eu apenas quero experimentar o leito conjugal, nada mais. Você disse estar em dívida comigo. Isso quitaria essa dívida. É o que eu desejo.

Ele deu alguns passos e se sentou ao lado dela de novo, odiando o fato de que ela cheirava tão atraente quanto suas palavras.

— E se você engravidar? E então, Srta. Martin? Este seria o pior dos desastres.

A memória de sua irmã com hemorragia, contorcendo-se de dor, passou por sua mente. Ele olhou para ela, os grandes olhos castanhos arregalados em esperança e vulnerabilidade.

— Eu não sou tão inocente a ponto de não saber que existem meios, coisas que mulheres e homens podem fazer para impedir tais resultados. Porque... — disse ela, gesticulando. — há muitas amantes nesta cidade que não são mães, então sei que alguns métodos são bem-sucedidos.

Hamish não tinha certeza se desejava estrangular a mulher por se oferecer a ele como um cordeiro de sacrifício, ou se a beijava como se não houvesse amanhã, aqui e agora.

Ele se virou para os lábios dela. Droga, ela tinha uma boca deliciosa, lábios que imploravam beijos, muitos. Como ela não conseguiu se casar com nenhum cavalheiro de sua esfera social?

T odos idiotas!

— Existem maneiras, mas nada que uma jovem educada como você deva conhecer ou até mencionar. E mesmo assim, mulheres ainda acabam grávidas.

Sua irmã, por exemplo, com um corpo muito parecido com o de Katherine, fora avisada para não ter filhos. O médico considerava o corpo dela inadequado para o parto, algo sobre quadris estreitos, e

os da senhorita Martin eram muito parecidos. Caso ela engravidasse, só de pensar que ela poderia vir a morrer devido à irresponsabilidade dele era o bastante para revirar o estômago.

Ela riu, cobrindo a boca com a mão enluvada.

— Tenho a mesma idade que você, Lorde Leighton, não sou uma menina desavisada do campo. Você se esqueceu que eu trabalho na Sociedade de Socorro de Londres com Cecilia? Não há muito que eu não tenha visto, ou ouvido, de uma maneira ou de outra. Nós dois somos adultos. Estou propondo o que quero e oferecendo soluções para os obstáculos lançados por você. A meu ver, estamos tendo uma conversa razoável e adulta. Algo que mais mulheres deveriam fazer com os homens em suas vidas, caso queira saber.

Não, ele não queria saber e nem desejava ter essa conversa. Ele não dormiria com uma virgem só porque ela não queria morrer como uma velha donzela. Ora, amanhã mesmo um jovem poderia se aproximar dela em uma festa, e eles poderiam se apaixonar loucamente, e então em que situação ela se veria. Arruinada.

— Não farei isso. Sinto muito. — ele se levantou. — Por favor, já que devemos trabalhar juntos na reforma da minha casa, não me faça essa proposta outra vez. Pagarei da maneira que puder, de qualquer outro jeito, mas não a levarei para minha cama.

Ele não arriscaria a vida dela, e nem a honra.

Hamish engoliu em seco quando ela se levantou, uma mulher tão alta que ele quase podia olhá-la diretamente nos olhos.

— Existe alguma chance de fazê-lo mudar de ideia, milorde?

Ele engoliu em seco, mantendo as mãos firme nas laterais do corpo para não se permitir puxá-la em um abraço e beijá-la.

Assuste-a.

Queria que tudo fosse para o inferno. Ele não era um deflorador de virgens. E por que diabos essa mulher estava tentando tentá-lo

assim? Mesmo agora, o fascínio crescente da voz dela, a leve mas determinada inclinação do corpo dela na direção dele, à espera de uma resposta, dizia tudo o que ele precisava saber sobre que jogo ela jogava. Ela estava jogando sim, mas não venceria. Não seria capaz.

— Não há. Boa noite.

Hamish caminhou de volta até os degraus do terraço e procurou a segurança do salão de baile, qualquer coisa menos a tentação que permanecia no jardim. Ele começara a sentir pena de Adão, mas ele não morderia o fruto proibido. Nem mesmo por uma noite.


CAPÍTULO 5

Dois dias depois, Katherine parou diante da casa de Lorde Leighton, na Berkeley Square, e observou as vigas pesadas serem carregadas no carrinho e colocadas ao longo da trilha. Esta semana começaria a instalação do telhado e, segundo seus cálculos, a casa ficaria a salvo das chuvas em três semanas.

Tudo estava progredindo bem, e ela escreveu um lembrete em seu caderno para verificar se as ardósias do telhado estavam dentro do prazo previsto para a entrega.

— Srta. Martin, como vai esta tarde?

A voz familiar causou um arrepio na espinha e ela se recompôs, se virou e sorriu em boas-vindas a Lorde Leighton.

— Estou muito bem, milorde. É ótimo que esteja aqui hoje. Como você pode ver — disse ela, gesticulando para as pilhas de vigas. —, seu telhado acabou de chegar e parece muito promissor, se posso afirmar.

Outra carruagem chegou na rua, e o conde murmurou algo baixinho antes de abrir a porta da carruagem que parou diante da casa.

Uma mulher em um vestido preto pesado com rendas saiu da carruagem. Ela era uma mulher mais velha, e lembrava muito Sua Senhoria na altura dos olhos. Katherine verificou o próprio vestido e torceu para que não tivesse deixado nenhuma poeira no rosto quando estava lá dentro, olhando o avanço da obra.

Lorde Leighton beijou a bochecha da mulher e a trouxe na direção de Katherine.

— Srta. Martin, posso apresentar minha mãe, a condessa viúva de Leighton. Mãe, esta é a senhorita Martin. O pai dela é dono da empresa que está reconstruindo minha casa em Londres.

A carranca severa da senhora não precisou de explicação para que Katherine soubesse o que pensava dela e de sua presença em um local de trabalho que em geral era reservado para homens.

— Srta. Martin, que peculiar que seu pai não esteja presente.

Você está aqui, desacompanhada? — o leve sotaque escocês explicava um pouco o nome de Lorde Leighton, nada inglês.

Katherine fez uma pequena reverência, segurando o caderno e a prancheta diante do peito. Um meio de proteção, talvez, o mais provável. Lorde Leighton era muito descontraído, um homem livre e feliz, tanto quanto sua mãe parecia bastante severa e irritada.

— Meu pai está dentro da casa, Sua Senhoria. Supervisionando os construtores. Estaremos aqui com mais frequência nas próximas semanas, enquanto terminarmos a obra e preparamos a cada para a chagada dos decoradores.

— Você é uma mulher.

Katherine levantou o queixo, tendo sido alvo de tais conversas antes, mas por algum motivo a viúva Leighton a fez sentir que sua presença ali era mais errada do que jamais experimentara. Saber que a mulher à sua frente era mãe de Lorde Leighton, talvez a tenha feito querer impressioná-la?

Importava o que Sua Senhoria pensava e como tais impressões afetariam a opinião de Lorde Leighton? Katherine jamais reagira a um homem como reagia a Lorde Leighton. Nunca na vida quis sentir o deslizar dos lábios tanto quanto desejava sentir os dele contra os dela.

Mesmo assim, ela não sentiria vergonha, e nem ficaria tímida por sua posição na vida. Seu emprego era a única atividade que

ocupava seus dias, e ela estava orgulhosa do que havia alcançado, e muito bem aliás.

— Sou mulher sim, Sua Senhoria. Mas, para a sorte de vocês, a senhora e seu filho, sou inteligente assim como meu pai, e posso garantir que quando a reconstrução da casa estiver concluída, ficarão tão satisfeitos como todos os nossos outros clientes.

Ela fungou para Katherine e olhou para a casa.

— Ó, eu detesto ter comerciantes perambulando por nossa linda casa. Espero que tenha removido todos os objetos de valor, não se pode confiar a esses homens nada que não esteja pregado ao chão.

Eles são pobres, afinal, Hamish.

Katherine mordeu a língua ou custaria ao pai um cliente muito lucrativo e com diversas boas conexões.

— Posso atestar por nossos funcionários e afirmar com total confiança que nada será danificado ou roubado.

— Você não pode ter certeza disso, é só olhar para eles. —

disse Sua Senhoria, com os lábios demonstrando todo o desdém enquanto observava os homens descarregando as vigas. —

Plebeus sujos e imundos.

Sua Senhoria saltou ante as palavras da mãe.

— Mãe, isso foi rude e cruel. Peça desculpas à Srta. Martin.

Esses homens são funcionários dela, de sua confiança. Você não pode fazer tais declarações acerca deles.

— Farei o que eu quiser. — Sua Senhoria voltou-se para a carruagem, esperando na porta que seu filho a ajudasse a subir os degraus. — Não esqueça que você deve acompanhar, a mim e Lizzie, ao baile de Every. Esperamos você às oito.

Katherine se aproximou do carrinho, não querendo estar perto da mãe de Lorde Leighton. Nunca em sua vida ela conhecera uma

mulher tão rude. A carruagem se afastou, e o som dos passos de Sua Senhoria chegou a ela antes que ele parasse ao lado dela.

— Peço desculpas, senhorita Martin. Minha mãe é... bem, ela está presa aos costumes, e eu não tenho como mudar suas ideias.

A última das vigas foi descarregada.

Katherine agradeceu aos homens que entregavam as mercadorias e pediu que enviassem a fatura o mais rápido possível.

Ela voltou-se para Lorde Leighton, que estava ao seu lado, encarando o prédio

— Estou aqui para fazer um trabalho e concluiremos o trabalho de forma correta, dentro do orçamento e no prazo. E posso prometer a você, milorde, que nada será roubado ou danificado ao fazê-lo.

— Mesmo assim, lamento que ela tenha insinuado o contrário.

Com as vigas agora descarregadas no canteiro de obras, o trabalho de Katherine na casa de Sua Senhoria estava completo.

Seu pai cuidaria de qualquer outro detalhe que precisasse ser resolvido. Avisando ao mestre-de-obras, o Sr. Perry, que havia terminado suas tarefas, ela se virou para o veículo dela, deixando Lorde Leighton encarando a casa sozinho.

Ele correu para ela, franzindo a testa.

— Voltará ao escritório sozinha, nesse tráfego de Londres?

Katherine ajeitou as saias, pegou as rédeas e soltou o freio.

— Milorde, sou assídua condutora pelas ruas de Londres. Temos outros trabalhos em andamento na cidade, e não posso depender de outras pessoas para me carregarem por aí como uma rainha que não consegue domar um cavalo.

— E, por acaso, está indo para outra obra agora, Srta. Martin?

Ela assentiu, divertida por ele estar um pouco chocado com a habilidade dela.

— Estou. Nem todos nós temos o luxo de descansar o dia inteiro em nossos clubes ou na casa de nossos amigos. Alguns de nós precisam trabalhar para ganhar a vida, para que possamos aparecer em hospedarias do interior e pagar a estada de lordes desavisados que precisam ser resgatados.

— Touchè, permitirei esse comentário, mas se você acha que vou mudar de ideia sobre o que você me pediu na outra noite, está enganada. Não mudarei de ideia, por mais atraente que esteja com seu vestido cinza e monótono.

Sua Senhoria se assustou ao som das próprias palavras. Ele deveria ter dito uma coisa dessas?

Ela o estudou, perguntando-se pela primeira vez se ele era sincero no que dizia sobre uma noite de pecado entre eles.

— No entanto — continuou ele. —, oferecerei uma grande doação à Sociedade de Socorro de Londres como pagamento, em vez de ceder ao seu pedido.

Katherine ignorou a pontada de mágoa que as palavras dele provocaram. Não que ela fosse recusar dinheiro para os orfanatos e escolas, mas ali estava outro cavalheiro que se ofereceria para dar algo em vez de aceitar um pedido dela. Não era como se ela estivesse pedindo o mundo, só queria uma noite.

Nesta fase de sua vida ela se contentaria com um beijo, e nem isso ela teria. Ela enrijeceu as costas e se recusou a sentir pena de si. Pelo menos ela tentou descobrir como seria a vida de casada, era melhor do que não tentar.

— A doação seria bem-vinda, obrigada. O senhor prefere ter apenas contato profissional, e estou conformada em aceitar sua decisão. Mas lembre-se disto Lorde Leighton... — disse ela, sacudindo as rédeas e começando a se mover. — sua negativa não me impede de pedir o mesmo a outra pessoa.


Hamish sentou-se na cama, o corpo encharcado de suor e a roupa de cama úmida ao toque. Seu coração batia um milhão de vezes rápido demais no peito. Ele se inclinou em direção a mesa de cabeceira e pegou o copo de água que tinha ali, sorvendo o líquido com rapidez.

Depois de acompanhar sua mãe e Lizzie ao baile dos Every naquela noite, ele decidiu ficar na casa da mãe em vez de com o marquês de Aaron. Pelo menos, daria a seus amigos um pouco de tempo longe dele. Ele odiaria se tornar um incômodo enquanto desfrutava da hospitalidade deles.

Ele passou a mão pelos cabelos, o corpo duro, a mente inundada de imagens da senhorita Martin. Imagens que ele sabia que não deveria estar tendo, pois estava determinado nunca dormir com a mulher, nem mesmo depois do comentário que ela fizera na despedida deles, de que seria simples encontrar alguém para atender o pedido dela. A simples ideia de outro homem beijando-a, tocando-a... ele não conseguia nem pensar.

Maldição!

Ele jogou os lençóis de lado e foi até a janela, abriu a cortina e inspirou o mais fundo que conseguiu o ar fresco da noite. A porta do quarto se abriu e um pouco de luz inundou a sala.

— Você está bem, Lorde Leighton? Ouvi barulho vindo daqui.

Hamish gemeu interiormente.

A prima distante, Srta. Lizzie Doherty, estava na cidade para a temporada e era totalmente patrocinada pela mãe dele. Pior ainda era o fato de a jovem acreditar que ele seria o marido perfeito.

— Estou muito bem, obrigado Lizzie. Por favor, feche a porta quando sair. Você não deveria estar aqui.


Ela lançou um sorriso hesitante, e ele franziu a testa, detestando a ideia de que ele poderia ser pego no meio da noite, sozinho em um quarto junto de uma senhorita solteira. Sua mãe exigiria que ele se casasse com ela, o que seria desastroso para os dois.

Ele não seria pressionado a se casar. Nem mesmo por sua mãe e seus desejos de vê-lo se estabelecer com alguém que ela aprovasse. Um casamento nesses termos levaria apenas a mágoa e ressentimento e acabaria em desastre.

— Muito bem. Boa noite, meu senhor.

Ele assentiu.

— Boa noite.

Ele suspirou de alívio quando a porta se fechou atrás dela. O

que mais falta acontecer! Hamish fez uma anotação mental para não ficar na casa da mãe outra vez, a menos que a senhorita Doherty estivesse de volta na segurança de sua casa do interior, ou se casasse com um homem que estivesse pelo menos interessado na moça.

Querendo ter certeza de que ele não seria visitado mais uma vez, Hamish trancou a porta e voltou para a cama. O sonho que ele teve com a Srta. Martin era uma exceção, ele tinha certeza disso.

Resultado das palavras dela no outro dia. Ela não dormiria com outro homem só para jogar sua virgindade pela janela.

Pensar nela, fazendo amor com outro cavalheiro, talvez até gostando do ato e desejando fazê-lo mais vezes deixou um buraco no estômago dele. Ele não iria permitir. Talvez ele devesse conversar com as amigas, duquesa e marquesa, para impedir.

Decerto que elas não tolerariam uma ideia tão absurda.

Três noites depois, Hamish se viu de pé no salão de baile de Duncannon gemendo. Droga, a irritante Srta. Martin deixaria seus cabelos brancos antes que a temporada terminasse. Ela estava dançando com Lorde Thomas, um cavalheiro de título, e quase nada mais. Os bolsos dele eram notórios sacos vazios.

E a Srta. Martin continuava a piscar ingenuamente para o cavalheiro, o que dizia a Hamish exatamente o que ele precisava saber. Ela havia escolhido outro homem para introduzi-la às delícias sensuais e estava tentando, naquele momento, seduzi-lo.

Ele não aceitaria, nem seria atraído pelo charme dela. Mas ele a alertaria sobre a reputação imoral do homem com quem ela dançava, na esperança de jogar algum bom senso naquela cabeça.

A mãe dele acenou de um ponto mais à frente no salão, Lizzie ao lado dela sorrindo na esperança de que ele as cumprimentasse.

Incapaz de escapar, ele foi até elas.

— Boa noite, mamãe, Lizzie. Não achei que viessem ao baile dos Duncannon esta noite. Pensei que iam à Noite Musical de Sir Colton.

A viúva gesticulou para os convidados que passavam por eles.

— Estamos aqui porque eu queria vê-lo antes de seguirmos para lá. Você sabe que Lady Colton é uma das minhas amigas mais íntimas e acabou de voltar de sua propriedade rural, e eu gostaria muito de conversar com ela.

— Bem, então... — disse Hamish, não querendo adiar a partida delas. — Quer que eu as acompanhe até a carruagem?

— Ó, não, não precisamos de assistência, Hamish, mas trouxe novidades. O marido de sua falecida irmã, Lorde Russell, está voltando de Bath. Ele permanecerá na cidade durante a temporada, se você quiser ver o pequeno Oscar.

Hamish sorriu.

Esta era sim uma boa notícia. Ele sempre gostou da companhia de Lorde Russell e adorava Oscar.

— Estou ansioso para vê-los. Já se passaram vários meses desde que nos falamos.

— Sabia que ficaria contente. Ficará conosco na minha casa, já que não tem endereço fixo em Londres no momento. Pode visitá-lo lá a partir da próxima sexta-feira.

Hamish pegou a mão da mãe e a colocou no braço.

— Permita-me acompanhá-la até a carruagem. Acabará se desencontrando de sua amiga se não for logo.

— Sim, você está certo. Temos que ir. — disse a mãe, permitindo que ele a guiasse em direção à entrada da casa.

Depois de acompanhar a mãe e Lizzie para fora dali, embora a senhorita tenha implorado para ficar com ele, Hamish voltou para o salão de baile e foi atrás do lacaio mais próximo que carregasse uma bandeja de champanhe. Pegando uma taça, ele se misturou com convidados, prometeu uma dança à Srta. Grey, uma jovem que ele sempre admirou. O baile estava lotado e, afastando-se da área de dança, ele observou a Srta. Martin de longe. Ela conversava com Cecilia, gesticulava muito, e as duas riam.

A senhorita Martin olhou na direção dele e fixou seu olhar no dele desde o outro lado do salão. Uma sensação peculiar percorreu seu corpo, e ele tomou outro gole de champanhe. Naquela noite, ela estava vestida com um vestido de musselina prateado com um tom azul profundo que acentuava sua figura. Apenas deslumbrante.

Ele não queria sentir desejo pela mulher, não seria sensato. Ele não brincava com virgens, não importa que idade tivessem, ou há quanto tempo tivessem debutado, era um ato desonesto.

Mas ele também não queria deixar de provar aqueles doces lábios. Ele conseguia se imaginar sendo o primeiro e único homem

a conhecê-la da forma mais íntima. Dar a ela o que ela queria.

Como ela o tentava, mais do que qualquer outra mulher que ele já conhecera.

A mulher já o havia enfeitiçado.

Algo que Cecilia disse chamou a atenção dela, e a Srta. Martin desviou o olhar.

— Darcy me contou algo um tanto peculiar ontem. — disse o duque, parando ao lado dele, mas sem dizer mais nada.

Hamish lutou para não revirar os olhos diante da vaga declaração do duque, mas quando nada mais foi dito, Hamish teve que perguntar:

— Bem, você vai me contar, ou eu tenho que adivinhar?

O duque riu e, quando a srta. Martin foi puxada para dançar em torno do salão mais uma vez, ele rangeu os dentes. Quantas vezes uma mulher conseguiria dançar em uma única noite? Com certeza, ela deveria estar ficando cansada.

Ele ficou surpreso que ela não o tivesse procurado para reafirmar a ideia escandalosa. O fato de ela não o ter procurado deixava um gosto amargo na boca dele. Ele ajustou a gravata, mantendo a atenção em qualquer coisa, menos na mulher que nublava seus pensamentos.

Para o inferno com tudo.

— Muito bem, direi que, como seu nome foi mencionado, achei melhor você estar alerta quando se tratar da senhorita Martin. — o duque falou, com censura em seu tom.

Hamish gemeu.

Elas sabiam...

— Eu já sei, Sua Graça. A senhorita Martin me pediu o favor, afinal. Recusei, é claro. — acrescentou depressa quando o olhar do duque se tornou furioso.

Sua Graça suspirou de alívio.

— Fico feliz em saber, embora tenha ficado chocado que a Srta.

Martin se aventurasse a tanto. Não que eu tenha voz ativa sobre o futuro dela ou o que ela faz, mas não gostaria de vê-la arruinada, já que ela é uma amiga íntima da minha esposa.

— Você está me alertando para não mudar de ideia?

A dica velada não era difícil de notar, mas o duque não precisava se preocupar, Hamish não tinha intenção de seduzir a deliciosa Srta.

Martin.

De maneira alguma, havia se prometido.

A própria mulher, por obra divina cruzou na frente deles ao dançar um reel com Sir Fraser. O olhar travesso dela encontrou o dele, e ele fez uma careta. Ele nunca conhecera uma mulher tão irritante em toda a sua vida. Ela estava rindo dele agora? Ela suspeitava do teor da conversa dele e do duque?

— Segundo os padrões da Sociedade, não há dúvida de que a senhorita Martin está encalhada, uma matrona em formação, mesmo que eu a ache muito bonita. Ela é de uma esfera social muito abaixo da nossa. Mesmo assim, acredito que seria um erro brincar com ela, mesmo que seja do desejo dela. Somos todos amigos e haverá situações no futuro em que estaremos no mesmo lugar. Não quero que haja constrangimentos ou sentimentos ruins.

— Nem a possibilidade de acontecer uma gravidez.

Hamish estremeceu ante o pensamento.

O duque assentiu uma vez.

— Isso também.

A senhorita Martin continuou a rodopiar e dançar diante deles, o vestido prateado fazendo-a parecer etérea além de exibir suas longas pernas quando o material misericordioso grudava em sua pele. Hamish engoliu em seco.


Ele precisava se recompor.

— Eu prometo a você. — disse ele, incapaz de desviar o olhar dela. — Não serei eu quem a arruinará.

Darcy veio até eles e arrastou o duque para dançar, e Hamish foi até Cecilia e Hunter. Seu momento de paz durou pouco, já que a srta. Martin foi trazida de volta aos amigos pelo parceiro de dança.

O cavalheiro não ficou muito tempo, logo saiu e estava dançando com outra mulher alguns minutos depois.

O que não parecia incomodar a senhorita Martin nem um pouco, as bochechas coradas pelo esforço só criavam mais imagens na cabeça de Hamish. Imagens que não poderiam estar lá. Deles, juntos, beijando-se sem pudor e produzindo um tom de rosa em nas bochechas dela e outras partes deliciosas de seu corpo.

Havia algo muito errado com ele, e caso não se contivesse logo, ele arrancaria as próprias orelhas.

Katherine tomou um gole de ratafia e lutou para não rir, talvez houvesse um lado positivo em se vestir de maneira mais elegante.

Esse baile foi um triunfo devido a quantidade enorme de pedidos para dançar que ela recebeu e, pela primeira vez em muito tempo, ela estava se divertindo imensamente.

O pobre Lorde Leighton, porém, parecia muito conflituoso, e era tudo por causa dela. E, no entanto, ela não conseguia refrear o desejo dentro dela e parar com a provocação. Pela primeira vez em sua vida, um lorde rico e poderoso a estava observando, seu olhar com uma admiração quase ardente que ameaçava deixá-la em chamas. Ela poderia se acostumar com essas inspeções. Um sentimento inebriante de fato.

Ela não tinha esperanças de que ele aceitasse ajudar em sua missão de perder a virgindade, e ela também não pediria a mais ninguém, não importa o que havia dito ao tolo, mas ele estava em dívida com ela, e era isso que ela queria. Então, se ele dissesse a palavra sim, ela o encontraria em qualquer lugar e a qualquer momento para passar apenas uma noite em seus braços.

Imaginá-lo acima dela, fazendo o que cavalheiros faziam com suas damas, deixou-a perturbada, e uma vibração peculiar percorreu sua barriga.

Se ela fosse honesta, precisava admitir que estava desesperada por um beijo dele. Que ele a arruinasse, por mais escandaloso que isso fosse. Explorar e se engajar em tudo o que, por costume, lhe seria negado e dane-se o que a Sociedade falasse e até mesmo seus amigos. Ela faria o que quisesse e lidaria com as consequências mais tarde, se houvesse.

A marquesa e a marquês saíram para o salão de baile para dançar uma valsa, e Hamish virou-se para ela.

— Pare de me olhar assim.

— Assim como? — ela perguntou, olhando para ele por baixo dos cílios, um pequeno truque que ela viu a duquesa usar com o duque quando queria desconversar.

Ele se inclinou na direção dela para garantir privacidade.

— Eu não vou dormir com você.

Ela suspirou, nada de novo.

— Tem certeza? Você me deve, milorde, e prometeu dar-me o que eu desejasse. É muito injusto se não me der o que eu quero. —

Katherine se aproximou ainda mais. — Ouvi dizer que pode ser bastante agradável, milorde. Negaria a uma solteirona a única chance de viver momentos assim com um homem? — ela sussurrou no ouvido dele.

Ela estava sendo ousada demais, mas estava cansada de ser a única a perder. Ela era franca, opinativa e, às vezes, barulhenta em seu trabalho, e parecia que se ela usasse traços semelhantes na tentativa de obter as atenções do sexo oposto, também funcionaria em seu proveito. Ao menos estava sendo assim esta noite.

Ele enrijeceu.

— Não brinque com fogo, senhorita Martin.

As palavras dele foram baixas e vibraram com alerta.

— Eu contratei a empresa do seu pai, e decerto isso é pagamento suficiente para cobrir seu auxílio na hospedaria.

Ela ergueu a sobrancelha, não esperava que ele se apoiasse em tal desculpa.

— Você contratou a empresa do meu pai para reconstruir sua casa porque ele é o melhor. Meu desejo por nós dois nada tem a ver, mas procurarei outro se você se recusar a honrar sua dívida.

Um músculo saltou no queixo dele, e ele puxou a gravata.

— O duque me alertou para ficar longe de você, então como vê, mesmo que eu quisesse, não posso.

Ele queria tê-la?

Que delicioso se assim fosse.

— O duque não tem nada a ver com isso.

Katherine amaldiçoou que Darcy tivesse conseguido arrancar dela o que ela desejava de Lorde Leighton. Como a mulher havia conseguido tal feito, Katherine ainda estava tentando descobrir. Que o duque soubesse da ideia dela era tanto mortificante quanto irritante.

Esses casais precisavam compartilhar tudo entre eles?

— Honrarei minha dívida com você, senhorita Martin, mas de qualquer outra maneira. Já enviei uma doação para sua instituição de caridade e adicionarei as quatro libras que você pagou na

hospedaria ao valor da reforma. Por favor, qualquer coisa, menos o que você me pede.

Ele passou a mão pelos cabelos, as palavras rasgadas e com uma ponta de súplica. As inseguranças dela a ameaçaram. Ela era tão horrenda, tão alta e magra que ele estava preocupado que ela não o inspirasse o suficiente quando estivessem sozinhos para se deitar com ela?

Claro que era isso, e ela era uma tola por esperar o contrário.

Katherine engoliu o nó que se formou na garganta ante o pensamento mortificante. Ela não mais deixaria a duquesa e a marquesa emprestar lindos vestidos para que ela usasse, nem que as criadas arrumassem seus cabelos em estilos modernos e intrincados.

A falsa ousadia a estava fazendo ter esperanças de que não precisava e não queria que os outros percebessem. Ela ainda era, em seu âmago, a mulher simples e sem curvas, saída do distrito comercial que só estava aqui devido à conhecidos, não por causa do que ela era.

Vergonha tomou conta dela, e ela piscou, horrorizada que as lágrimas ameaçassem se derramar sobre suas bochechas.

— Lorde Leighton, suas palavras me fizeram perceber como é terrível e vergonhoso o que estou lhe pedindo. Por favor, perdoe-me e saiba que não pedirei outra vez, nem declararei sua dívida como não paga. Em todo caso, nunca pediria reembolso. Não é do meu feitio. Acredito que tive um deslumbre de coisas que nunca terei e vi a oportunidade de consegui-lo, e ao tentar tal feito envergonhei a mim e a milorde. Sinto muito.

Katherine conseguiu fazer uma reverência rápida antes de sair do salão, precisava se afastar de todos, para que não a vissem chateada. Ela voltaria para casa e enviaria uma carta de desculpas


aos amigos por sair mais cedo. Melhor que fazer um espetáculo de si em público.

Na manhã seguinte, Katherine saiu da sala de café-da-manhã cedo, depois de uma noite inquieta. De qualquer forma, se adequava aos seus planos, pois ela precisava supervisionar a construção do telhado na casa de Lorde Leighton.

— Espero que você não vá sair usando isso. — disse Jane, flutuando pelas escadas com um vestido de musselina azul claro, seu cabelo loiro perfeito e encaracolado com perfeição.

A visão de sua prima apenas ampliava suas próprias falhas, e ela pegou as luvas de equitação da mesinha ao lado da porta da frente. Os cavalheiros queriam mulheres bonitas e com curvas, e não se importavam com inteligência ou sagacidade, que era suas características.

— Como pode ver, costumo usar calças, e meu pai está ciente do fato.

Katherine colocou o boné de feltro cinza na cabeça, que quase cobria os cabelos e, olhando-se no espelho, constatou que se passaria facilmente como homem. Era fato que sua figura não era a mais feminina e nem a mais desejada por Lorde Leighton. Ele deixou isso bem claro na noite anterior, e ela esteve vestida como todas as outras mulheres.

— Suponho que com suas longas pernas e com um corpo que não têm uma grama de curvas femininas, você seja confundida com um cavalheiro com bastante facilidade.

Katherine parou na porta da frente, debatendo se deixaria sua parente irritante se safar de tal insulto ou simplesmente ignorá-la.


Escolheu ignorá-la e, abrindo a porta, saiu de casa.

O dia estava começando, o ar fresco, crepitante.

Ela fez sinal para um coche de aluguel e foi até Mayfair. Os trabalhadores já teriam chegado e, como ela presumia, ao chegar, ela ficou feliz em ver os homens ocupados no telhado.

— Posso ajudá-lo? — um homem perguntou quando ela entrou pela porta da frente e seguiu pelo hall de entrada da casa.

Katherine abafou um grito, não tendo visto o cavalheiro parado junto às portas da biblioteca.

— Lorde Leighton, você me assustou. Eu não vi você parado aí.

— ela disse, aproximando-se dele.

Os olhos dele se arregalaram, a atenção toda nas pernas dela.

— Você está de calças.

Não era uma pergunta, e Katherine ergueu uma sobrancelha.

— Pois é. Costumo usar calças assim para esse tipo de trabalho, elas me permitem circular com mais liberdade e ajudar os homens quando necessário. Isso também evita que meus vestidos sejam arruinados sem necessidade.

Sua Senhoria engoliu em seco, mas não respondeu de imediato, apenas continuou olhando.

— Você não pode. — disse ele quando enfim recuperando a voz.

— Não vai subir junto aos homens, com estas calças.

Katherine se virou e foi para a escada.

— Ó, não se preocupe, milorde. Esses homens estão bastante acostumados a me ver vestida assim. Quanto a você, peço desculpas por tê-lo surpreendido, mas garanto que, depois de concluir minha inspeção aqui, deixarei você sozinho, não haverá chances de eu envergonhá-lo.

Hamish respirou fundo enquanto observava a Srta. Martin subir as escadas, as calças masculinas exibindo cada linha longa e esculpida de suas pernas, suas pequenas nádegas, minimamente cobertas pela jaqueta verde-garrafa.

Ele nunca havia visto uma mulher vestida com tal peça e, por mais ridículo que parecesse, ele gostava muito. Mais mulheres deveriam usar essas roupas se ficassem tão bem quanto a Srta.

Martin.

Ele a seguiu escada acima, incapaz de desviar o olhar da bunda dela. Ela nunca se virou para olhá-lo ou envolvê-lo em mais conversas. Ele ficou aturdido, talvez a conversa deles na noite passada a tivesse insultado de alguma forma.

Quem ele estava iludindo, é claro que ela havia se magoado. Ele não deixou de ver as lágrimas dela depois de se negar a atender o pedido. Mas o que a Srta. Martin não sabia era que a negativa não era porque ele não queria tê-la, por não querer passar a mão por toda extensão do corpo dela, descobrir se ela era tão suave e doce quanto ele imaginava, mas porque o desejo dele por ela ia contra o que era correto. Ele pode ser um canalha renomado em Londres, mas até ele tinha regras.

Eles construíram uma relação de trabalho, e é aí que terminaria.

Se eles dormissem juntos, e ela engravidasse, ele seria obrigado por honra de se casar com ela, uma situação que ele não via para seu futuro. Além disso, se a Srta. Martin viesse a gerar uma criança, a ideia o fazia suar frio, seu coração tremia.

O trabalho de parto atroz de sua irmã May era algo que ele nunca mais queria ver. May, como a Srta. Martin, era delicada e de ossos pequenos. Nenhuma delas parecia adequada para ter filhos.

O médico que cuidara de sua irmã chegou a afirmar que mulheres

com quadris estreitos, de ossos finos e magras, não eram adequadas para passar pelo trauma de dar à luz um filho.

A Srta. Martin poderia se casar e ter filhos, ou correr esse risco, mas não com ele.

Eles chegaram ao primeiro andar e foram em direção ao salão de baile, que era uma colmeia de atividades. Hamish viu o capataz conversando com dois trabalhadores, os três olhavam para as vigas do telhado novo.

O cômodo, com a estrutura sendo refeita, estava começando a tomar a forma anterior, exceto pela varanda recém-projetada que se abria para permitir que os hóspedes se reunissem ao ar livre, mesmo no primeiro andar da casa.

— Você gosta do design, milorde? — a Srta. Martin perguntou, chegando ao lado dele na varanda que dava para o grande e belo jardim dos fundos.

O ar cheirava a carvalho, e alguns dos trabalhadores haviam montado serras na varanda recém-construída e as usavam para cortar madeira para atender às suas necessidades. Hamish se encaminhou para onde a balaustrada estava tomando forma.

Um pedreiro havia sido chamado para criar algo igual ao do terraço abaixo, e grandes pilares de pedra já estavam embaixo deles, sustentando um pouco do peso que a nova estrutura colocava na casa.

— Acredito que não entrará em colapso. — disse ele, brincando.

Afinal, era uma distância enorme até o chão.

— Decerto que não. Instalamos vigas de suporte na própria casa, que correm sob o piso do salão de baile. Como sabe, a maior parte foi danificada, precisou ser substituída. Antes da reforma propriamente dita, e porque você estipulou que queria ter um terraço na varanda, colocamos as vigas de apoio. É claro que a varanda

também recebe suporte por baixo, mas assim que os pilares de pedra sejam colocados, essa varanda não vai a lugar algum.

— É seguro para nós agora? — ele perguntou, ainda não convencido pelas palavras dela.

— Sim, para os poucos de nós que estamos aqui. É claro que não para um baile em que mais de vinte pessoas estariam aqui paradas ao mesmo tempo. Até que os pilares sejam terminados, eu não sugeriria tal comoção, mas apenas nós e os dois trabalhadores é perfeitamente seguro.

Hamish assentiu e olhou para trás, através das portas do terraço, que também eram novas e ainda em sua forma natural, não pintadas ou com puxadores.

— Fizeram um trabalho maravilhoso até agora. Agradeça ao seu pai.

Ela sorriu, e seu rosto foi tomado de orgulho, fazendo-a parecer ainda mais bonita do que ele pensava ser possível. E ele a recusou.

Recusou o único desejo dela...

— Obrigada, Lorde Leighton. Papai ficará satisfeito em saber do seu comentário.

— Não sou cego para suas próprias opiniões e trabalho duro em minha casa, também agradeço. Vou recomendar a empresa de vocês para quem conheço que esteja procurando um empreiteiro.

Ela começou a se afastar, e ele a seguiu.

— Estamos apenas fazendo nosso trabalho, e em breve estaremos fora do seu caminho, sua vida poderá voltar ao normal.

Normal... chata.

Ele gostava de tê-la aqui, conversando com ele sobre outras coisas além de fofocas ou das últimas modas. A Srta. Martin era uma mulher interessante, muito inteligente e educada.

— Vai a algum outro lugar? — ele perguntou, quando ela se despediu do capataz e continuou em direção à escada. Talvez eles pudessem estender a conversa com um almoço improvisado.

— Vou. Preciso inspecionar um prédio em Richmond que acabamos de construir. Construímos casas além de realizar reformas. O dia é sempre cheio.

Hamish pegou a mão dela e a fez parar quando ela começou a andar. Não foi até a Srta. Martin puxar a mão que ele percebeu que ainda a segurava.

— Srta. Martin, você me daria a honra de poder chamá-la pelo seu primeiro nome? Chamar um ao outro de Srta. e Lorde parece demasiado formal, e somos amigos, não somos? Se você se sentir mais à vontade, chamando apenas pelo nome, quando estivermos aqui ou sozinhos, também pode.

Ela encontrou o olhar dele, um pequeno sorriso provocante erguendo os lábios.

— Sozinhos, Lorde Leighton? Você afirmou não desejar estar a sós comigo, portanto, é melhor nos mantermos formais e distantes.

— E se eu dissesse que não desejo permanecer formal e distante?

Por que ele sugeriu tal coisa, Hamish não conseguia entender, nem se arrependia das palavras, algo que ele também não conseguia entender.

A Srta. Martin subiu na carruagem e se inclinou um pouco pela janela. Ela o contemplou por um momento, uma pequena linha de expressão franzindo a testa quase sempre imaculada.

— Meu nome é Katherine, Kat para meus amigos. Você pode me chamar como quiser, em particular ou público, não me incomoda.

Katherine.

Ele gostou do nome dela, e a versão abreviada, Kat, trazia uma vibração de menina má. Combinava com ela. Ele pegou a mão dela, que estava apoiada na porta da carruagem e a beijou.

— Até a próxima, Katherine. — disse ele, gostando do fato de as bochechas dela serem tomadas por um leve tom de rosa.

— Você não me disse seu nome, Lorde Leighton. — ela disse, sorrindo.

— Pode me chamar de Hamish.

Ele deu um passo para trás e observou a carruagem se afastar, dando a volta na Berkeley Square.

Kat...

Ele vibrou por dentro pelo que o nome trouxe à sua imaginação e não pôde deixar de imaginar se ela seria como um gato selvagem, indomável e feroz, ou doce e afetuosa. Ou talvez fosse ambos, e esse pensamento deixou seu próprio corpo aquecido.

Ele não deveria a querer como queria, mas havia algo diferente nela. Talvez fosse a feroz independência e autoconfiança que o atraíram. Entre seus pares ele a viu em momentos em que ela parecia assustada, mas era algo esperado quando se adentra um ninho de víboras como Londres.

Hamish virou-se e voltou para a casa, seu administrador havia pedido que revisasse algumas cartas que havia deixado na biblioteca, e organizasse os negócios de duas propriedades no interior. Em geral, ele evitaria a maior parte desse trabalho e o delegaria ao próprio administrador, mas não hoje.

A inabalável dedicação de Katherine ao trabalho fez com que sua abordagem superficial fosse vergonhosa. Ele deveria fazer o melhor por seus inquilinos e por aqueles que trabalhavam para ele.

Ele deveria gastar menos tempo socializando e mais tempo cuidando das coisas que realmente importavam. Desde que

reencontrou Katherine, ele precisava admitir que sua má sorte havia diminuído, de fato, até desaparecido.

A Srta. Martin, estava fazendo a diferença no mundo, e ele também faria. Uma risada autodepreciativa escapou. Ela já era uma boa influência a ele e em seus modos mimados.


CAPÍTULO 6

A duquesa organizou um chá da tarde, para alguns dos mais importantes membros da sociedade, dois dias após Katherine se encontrar com Lorde Leighton e, infelizmente, ou felizmente dependendo da disposição de Katherine no tal dia, ela foi convidada.

A interminável tagarelice de fofocas, de vestidos e a lista de quem havia acabado de voltar à cidade e quem havia voltado às suas propriedades rurais foi tudo o que ela ouviu, assentiu e ofegou pelas últimas duas horas. Se ela não escapasse logo, simplesmente expiraria de tédio.

Desculpando-se com três mulheres recém-casadas que estavam empenhadas em encontrar a babá perfeita para os filhos iminentes, Katherine se afastou e foi em direção a Cecilia, que parecia tão entediada quanto ela.

Ao se juntar a Cecilia, a senhora com quem Cecilia estava falando deu desculpas e se afastou, felizmente deixando-as em paz.

— Salve-me, ou vou contar a você tudo o que descobri sobre babás, pois acabei de ter uma discussão muito longa e envolvida sobre o assunto.

Cecilia riu, entregando a ela um prato com biscoitos de açúcar.

— Coma um desses, vai fazer você se sentir melhor.

Katherine deu uma mordida e quase se engasgou quando a mãe de Lorde Leighton entrou na sala junto da jovem que estava patrocinando este ano. A mulher parecia quase amigável ao cumprimentar a duquesa e, olhando ao redor, assentiu e acenou para as mulheres que conhecia, mas a solicitude e a alegria de Sua

Senhoria diminuíram um pouco quando avistou Katherine. Em vez de só desviar o olhar e se juntar às conversas dos amigos, ela se aproximou das duas, o rosto tomado de desagrado e ira.

Lady Aaron, é um prazer vê-la outra vez e preciso agradecer por ter hospedado meu filho nas semanas após o terrível incêndio. Você é a melhor das pessoas por abrir sua casa.

Cecilia fez uma reverência, e Katherine a imitou, quase esquecendo-se de mostrar respeito por uma das matriarcas da Sociedade.

— Lorde Leighton é sempre bem-vindo, como você sabe. É um prazer tê-lo como nosso hóspede. — Cecilia virou-se para Katherine. — Lady Leighton, deixe-me apresentar minha amiga, senhorita Katherine Martin. Ela é uma boa amiga para mim e para a duquesa de Athelby, também é uma das fundadoras da Sociedade de Socorro de Londres que administro.

Katherine fez uma reverência rápida e depois se lembrou que já havia feito isso. Ela sentiu rubor se espalhando por suas bochechas, respirou devagar para acalmar-se. De que importava se Sua Senhoria a estava encarando com descontentamento óbvio para quem olhava na direção delas.

A mulher não era nada para ela, apenas a mãe do homem cujo rosto a mantinha acordada à noite. Acordada com um desejo que ela não entendia, mas queria desesperadamente compreender.

— Lady Leighton e eu já nos conhecemos, embora tenha sido um encontro muito breve.

Os olhos da mulher se estreitaram, mas ela fingiu surpresa.

— Ó, claro, na casa do meu filho. Você é a filha do empreiteiro, não é? — ela sorriu para minimizar a alfinetada. — Como vão os negócios da família, minha querida? Ao ver sua aparência atormentada no outro dia, posso apenas presumir que você tem

pouco tempo para frivolidades como passeios como esses. Você parecia bastante cansada, se posso mencionar. Talvez, no futuro, você devesse considerar se participar de eventos como este é bom para a sua saúde.

Katherine engoliu a resposta atrevida que se formou em sua língua e, em vez disso, mordeu o biscoito, na tentativa engolir junto qualquer pensamento de responder.

Não que ela tivesse que se preocupar com essas coisas, pois Cecilia passou o braço dentro do dela e levantou o queixo.

— Lady Leighton, sabia que Katherine e eu crescemos juntas, em Cheapside? Fomos vizinhas desde muito cedo. Como sabe, meu pai é advogado.

A expressão de Lady Leighton não mudou, mas a cordialidade para com Cecilia diminuiu um pouco em seus olhos.

— Eu não sabia disso, Lady Aaron. Que interessante.

— Pois é. — disse Cecilia, dando um breve sorriso para Katherine. — Mas chega de falar sobre nós, fale da jovem que você trouxe hoje. Ela parece muito gentil.

Para seu crédito, Lady Leighton aproveitou a oportunidade para parar de falar da infância demérita de Cecilia e Katherine.

— Ela é minha sobrinha, Lizzie Doherty. Estou patrocinando-a nesta temporada e espero que ela se case e se estabeleça até a próxima temporada. Nossa família precisa de um evento edificante, como um casamento.

— Há pretendentes que manifestaram intenção, Sua Senhoria?

— perguntou Katherine, tudo para não continuar muda ao lado delas.

— Alguns, mas ela recusou as propostas. Acredito que ela tem sentimentos pelo meu filho, Hamish, e que belo par eles formariam,

mas, infelizmente, ele não parece retribuir os sentimentos dela e, portanto, ela sente-se bastante abatida.

— Mas eles são primos. Casamento entre eles seria algo desejável? — Katherine deixou escapar antes de pensar melhor.

Os olhos de Sua Senhoria se arregalaram e a boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu por alguns momentos. Katherine se amaldiçoou por perguntar, pois Sua Senhoria não gostou da pergunta.

— Deixe-me assegurar, Srta. Martin, que primos se casam e podem se casar, de modo que sua pergunta, que cheira a despeito, pode ser mantida para si, se não se importa. Hamish teria sorte em se casar com uma lady como a prima, pois é isso que a Srta. Lizzie Doherty é, ao contrário de algumas das mulheres que andam entre nós.

Cecilia se engasgou, e Katherine estudou Sua Senhoria por um momento, e descobriu o que faltava. Ela nasceu com privilégios, era condessa, mas era cruel e nada mais faltava para que Katherine tomasse uma atitude.

— Refere-se a mim, Sua Senhoria?

A mulher olhou para ela com desdém.

— Como se atreve a me perguntar uma coisa dessas? Eu nunca seria tão rude.

— Preciso discordar. — disse Katherine, colocando o prato agora vazio em uma pequena mesa ao lado deles e se virou na direção da amiga. — Preciso ir, querida Cecilia, mas ainda vamos juntas ao baile de De Vere na sexta-feira?

— Você não precisa ir, Katherine. Por favor, senhoras, não vamos brigar.

Katherine lançou mais um olhar ameaçador para Lady Leighton e saiu da sala. Conversas diversas fluíam em torno delas, e graças a


isso, os presentes pareciam não ter notado a pequena discordância entre ela e a condessa. Mas que mulher desagradável ela era. Tanta pompa e poder, e achava que Katherine não podia ter amigos entre os mais ricos de Londres.

E talvez ela não pudesse. Ela era filha de um trabalhador, afinal, mas por um acaso puro e simples, ela se tornou amiga de uma duquesa e sua melhor amiga se casou com uma marquês e, gostando ou não, agora ela tinha um pé em cada camada da sociedade.

Um lacaio à espera entregou sua capa e chamou um coche para ela.

Katherine suspirou, encostando a cabeça contra as almofadas. Lady Leighton era uma bruxa desagradável. Mas por que a mulher desgostava tanto dela? Não é como se conhecessem, ou se houvesse rumores sobre Katherine. Katherine não era uma mulher que cortejava escândalos, e tirando a única vez em que pedira a Lorde Leighton que dormisse com ela, nada poderia ser usado contra ela.

Ela pensou em quando conheceu Sua Senhoria, a viúva, na obra. Havia algo nos olhos de Lorde Leighton que a preocupava.

Teria percebido que seu filho estava atraído por Katherine, uma atração quase palpável entre eles sempre que estavam perto um do outro?

Katherine com certeza sentia, e esse mesmo fascínio foi o motivo pelo qual ela pediu que ele se deitasse com ela. Mesmo que ele fosse inflexível em não aceitar o desejo dela, ela não se impediria de sonhar com essa possibilidade.

Ela havia visto com bastante frequência os olhares e pequenos afetos que Darcy e Cecilia trocavam com seus maridos. Desde que passou a tê-los como amigos, vê-los casados e felizes deixava uma dor no peito. Se ela não era capaz de encontrar um cavalheiro para se casar, e não se podia dizer que ela não havia tentado, pois havia sim e durante anos. Ela queria ao menos conhecer o toque de um homem, saber se estava perdendo algo e deveria voltar a buscar.

A carruagem parou diante de sua casa e, agradecendo ao lacaio que desceu as escadas para abrir a porta da carruagem, ela entrou, e parou com um baque no corredor ao ver Jane, parada diante de Lorde Leighton, roxa de vergonha.

— Querida Katherine, olha quem veio nos visitar. Você conhece Lorde Leighton, é claro.

Katherine já estava farta de mulheres rancorosas pelo dia, e ver Jane toda agitada e presunçosa para cima de Lorde Leighton, e na casa dela, fez com que sentisse dor na mandíbula de tanta raiva reprimida. Katherine arrancou as luvas e abriu o chapéu, entregando-as a um lacaio que esperava antes de se virar para encarar os dois.

— Boa tarde, milorde. Posso ajudá-los com algo?

Jane deu uma risadinha.

— Deve perdoar minha prima, milorde. Parece que a educação dela foi perdida junto de sua juventude.

A atrevida e desavergonhada estendeu a mão e tirou um fia invisível da jaqueta de Sua Senhoria, e Lorde Leighton se afastou, incerteza nublando seus olhos.

— Pelo contrário, Senhorita Digby. Nunca vi a Srta. Martin demonstrando algo que não fosse um pilar de boas maneiras e gentileza. Algo que você pode querer imitar.

Jane empalideceu por ser repreendida, e Katherine lutou para não sorrir com a gentileza dele em relação a ela.

— Eu esperava ter uma palavra em particular com você, senhorita Martin. Caso esteja livre. — ele perguntou, encontrando seu olhar.

— Suponho que você não precisará de acompanhante, já que você já está além dessa necessidade. — disse Jane, deixando claro sua opinião agora que Lorde Leighton a havia dispensado. —

Embora você deva, de fato, começar a usar peças mais matronais na cabeça, prima querida, e seria menos escandaloso se você atendesse visitantes homens em particular.

— Obrigada, Jane, você pode ir. — disse ela, as palavras bruscas e diretas.

Katherine passou por ela com pouca consideração, já havia pessoas por demais a julgando pelo simples fato de que ela não se encaixava no molde esperado para mulheres.

Lorde Leighton a seguiu até a biblioteca, e ela fez um gesto para ele se sentar diante da lareira acesa, já pronta para o pai quando ele voltasse para casa mais tarde. Katherine sentou-se ao lado dele e tentou se livrar do aborrecimento, e maldição, da mágoa que a prima havia causado nela com tais palavras.

— Como posso ajudá-lo, Lorde Leighton? — ela perguntou, ajeitando as saias sobre as pernas.

Ele ficou quieto por um momento, depois mexeu na gravata antes que parecesse recomposto.

— Eu queria discutir o que você pediu de mim.

Katherine gemeu por dentro, não queria nem estava com disposição para discutir tais assuntos. Não hoje, pelo menos. Depois que ela encontrou a mãe dele no chá da tarde da Duquesa de Athelby, e agora a prima dela, a disposição de permanecer

agradável depois de ouvir por que ele não conseguia dormir com ela diminuiu.

— Não há necessidade de explicar nada, milorde. Entendo perfeitamente bem.

— Entende? — ele perguntou, observando-a com intensidade.

O que ele via enquanto a olhava: beleza, desespero...

Ela estava certa da última opção. mas a primeira ela nunca pensara ser. Ela era aceitável segundo um outro cavalheiro, rica mas não obediente, muito trabalho para que alguém estivesse disposto a aceitá-la.

— Você já explicou seus motivos, milorde. Não precisa explicar mais uma vez. — ela se levantou, e ele agarrou a mão dela, puxando-a de volta para baixo.

— Não fui de todo honesto quando nos falamos pela última vez.

Usei nossa classe como desculpa, nossos amigos em comum e de suas reações caso nosso interlúdio se tornasse conhecido, especialmente quando prometi nunca escurecer a porta do seu quarto. Eu usei sua potencial queda social, a ruína de sua reputação, caso você tenha filhos.

O coração dela se apertou com a enumeração que ele fazia.

Katherine puxou a mão, colocando as suas duas no colo.

— Acredito que são desculpas dignas o suficiente, você não precisa encontrar mais nenhuma.

— Preciso, porque temo que pense que neguei porque eu não desejo você.

Katherine sentiu as bochechas esquentarem e mordeu o lábio, sem saber o que dizer com tanta honestidade.

— Então, o que é? — ela perguntou, incapaz de se conter.

— Eu sei que você não pediu nada além de uma noite na minha cama, mas me pergunto se pensou nas consequências de tais

ações. Não escondo o fato de ter tido amantes, muitas, mas eram amantes experientes, conheciam as regras e sabem entrar e sair deste jogo sem consequências. Se é que entende o que estou dizendo.

Ela entendia com perfeição.

— Você fala de filhos, que uma noite juntos pode me deixar com um filho seu na barriga. Algo que você não deseja mais do que eu, milorde.

Não que a ideia de ter um filho de Lorde Leighton não a deixasse desnorteada. Quem conseguisse convencê-la a se casar, a amar, ficaria muito satisfeita. Para além do charme e beleza, ele era gentil e não cruel. Não havia um ditado que dizia que os canalhas resultavam nos melhores maridos...

— Eu vi você com a duquesa e da marquesa. Vi seus olhares melancólicos por causa da felicidade delas. Caso passássemos uma noite juntos, temo que você acabaria querendo mais do que estou disposto a me comprometer. E não é por você. — ele disse, estendendo a mão para pegar a dela. — Sou eu. Não desejo um casamento, não agora pelo menos, e talvez nunca.


O polegar dele deslizou por cima da mão dela, e Katherine percebeu que ele ainda a segurava.

— Não pense, nem por um momento, Katherine que eu não a desejo. Desde o instante em que nos conhecemos, senti um desejo peculiar por beijar você. Para ser sincero, a fome que você desperta em mim não é algo que eu conheça e não confio em mim. E isso pode levar a loucura e consequências. — ele declarou com a voz cheia de emoção.

Ela encontrou o olhar dele, e um arrepio a invadiu.

— Não estou pedindo casamento e nem filhos. Mas também não vou me esconder da vida. Eu me recuso a fazê-lo por mais tempo.


Desejo experimentar tudo o que posso antes de morrer e, embora compreenda seus medos, não significa que eu não possa procurar o que quero saber. O que eu quero sentir.

Hamish olhou para Katherine quando a declaração trouxe um rubor às bochechas dela, e um brilho àqueles olhos castanhos escuros.

Os medos dele eram irracionais? Talvez, mas não mudava o fato de que mulheres morriam no parto, mulheres magras e delicadas como a Srta. Martin.

Nunca em sua vida ele foi convidado a uma noite de pecado com uma mulher de posição respeitável. Os casos dele sempre haviam terminado antes mesmo de começarem, ele nunca tentou aprofundar o contato, nem teve vontade de cuidar das mulheres com quem dormia. Não era o que ele queria.

— Minha vinda aqui foi para explicar minhas razões para a negativa. Não queria que você acreditasse que haja algo fora o que relatei aqui.

— Obrigada por ser tão honesto comigo, portanto serei franca também.

— Mesmo? — disse ele, curioso. — Então, me conte.

Katherine riu, puxando-o de volta para a espreguiçadeira para se sentar.

— Eu acreditava que havia me rechaçado porque eu não sou o que você acha atraente. Também já vi você em bailes e festas, as mulheres cheias de curvas e com cabelos loiros dourados que você procura. — ela apontou para si.— E é claro que eu não sou nenhuma dessas coisas. Então, de uma maneira estranha, é um alívio saber suas razões.


O olhar dele deslizou sobre a forma dela, do rosto até os dedos dos pés, e ela sentiu o ventre se aquecer. Ela mordeu o lábio, querendo-o com um desespero que nunca havia sentido antes. Era a coisa mais estranha do mundo e, no entanto, ela não conseguia se conter.

Seria pelo fato de ele a ter rejeitado que ela o queria tanto, ou mais simples, porque ele foi o único homem a provocar tanta vida dentro dela.

— Mas agora você sabe as razões por trás da minha escolha, não pense que é porque eu não a acho atraente. Porque mesmo agora tudo em que consigo pensar é no que você quer de mim. No que eu adoraria fazer com você.

Katherine ofegou, incapaz de evitar.

O que ele adoraria fazer com ela?

O que isso significava? Seu coração batia forte no peito e leve vestido de musselina parecia apertado sobre os seios. O que ele estava fazendo com ela? Uma fome crua cruzou as feições dele, e ela estremeceu.

— Droga. — ele rosnou, movendo-se rapidamente e tomando os lábios dela em um beijo ardente, a mão dele foi para o queixo dela, erguendo-o de forma que ele pudesse aprofundar o abraço.

O mundo ficou fora de controle e uma palavra girava de forma infinita em sua mente.

Sim... Então, era isso que fazia suas amigas sonharem acordadas quando falavam dos maridos...

Hamish gemeu quando ela imitou o que ele fez com a língua, e uma dor boa vibrou entre suas pernas. Ela se contorceu, precisando estar mais perto dele. Ele a puxou com força contra o peito, e ela ouvia as batidas do próprio coração altas em seus ouvidos.

Katherine o beijou de volta com ansiedade, vontade de saber mais, de experimentar esse lado da vida. Ela nunca havia sido beijada antes e agora, estava aprendendo com um verdadeiro libertino, um homem famoso por suas belas mulheres e casos relâmpago, e a deixava ainda mais desesperada por fazer o máximo que ele permitisse.

Pois não havia dúvida de que esse abraço sedutor em que ela estava envolvida não passava de uma pequena amostra do que havia por trás de suas defesas. Ela iria beijá-lo até ele parar e não importava o que acontecesse após o evento.

Os seios dela roçaram no peito dele quando ela passou os braços pelo pescoço dele. O beijo era ardente, profundo e exigente.

O deslizar da mão dele em sua coxa a fez estremecer, e foi somente quando ar frio beijou seus tornozelos que ela se perguntou se ele estava perdendo o controle. Teria mudado de ideia? Estaria disposto a dormir com ela agora que a beijara?

Ó, por favor, diga que sim.

Hamish se desvencilhou dos braços dela, empurrando-a para o lado dela da espreguiçadeira, levantou-se depressa e passou uma das mãos nos cabelos.

— Santo Deus.

Ele deu alguns passos para trás, colidindo com a cadeira atrás dele e quase caindo. Endireitando-se, ele a observou, os olhos arregalados, os lábios avermelhados pela troca deles.

Ela conseguiu. Abalou um dos cavalheiros mais visados da sociedade. Era uma sensação inebriante, e ela se levantou, querendo mais.

Ele estendeu a mão para interromper os passos dela.

— Não. Nós não podemos. Eu não posso. Sinto muito. — ele avisou e saiu correndo da sala como um cavalo assustado.

Katherine observou a porta aberta até ouvir a porta da frente se fechar atrás dele. Ela se jogou na poltrona de couro, satisfeita por ter tido, enfim, aos vinte e seis anos de idade, seu primeiro beijo. E

não um beijo casto nos lábios, mas um verdadeiro beijo, de abalar seu coração. Um que deixava tudo em comparação mais pálido.

Se estar nos braços de Lorde Leighton fosse tão agradável quanto o que ela acabara de experimentar, não era de admirar que as mulheres se casassem com homens ou se entregassem a casos escandalosos. Quem não gostaria disso todos os dias?

E agora tudo o que ela precisava fazer era descobrir como fazê-

lo beijá-la de novo. Ela olhou para as chamas que lambiam a madeira na lareira. O baile dos Curzon estava se aproximando. E

ela iria com Darcy e Cecilia. Talvez ela adiasse a ideia de usar um de seus próprios vestidos, e aceitasse emprestar um de Darcy.

Darcy havia se regozijado em chocar a alta classe antes de se casar com o duque de Athelby, e era exatamente isso que Katherine precisava fazer com Lorde Leighton. Seduzi-lo a tê-la ou, pelo menos, a beijá-la novamente. Qualquer uma das opções seria agradável.


CAPÍTULO 7

H amish chegou atrasado ao baile dos Curzon e havia uma razão muito especial para tal. Ele não costumava agir como um covarde, não se ausentava de eventos que poderiam ser difíceis, mas esta noite ele não estava tão certo de estar pronto para a batalha.

Seria uma batalha muito peculiar com a senhorita Martin, que se mostrara ótima na arte de beijar e era a dona de um charme único.

Fazia quatro dias desde que ele a beijara na biblioteca dela, um evento que nunca deveria ter acontecido.

Em um instante ele explicava a ela por que não poderiam dormir juntos, e no seguinte a atacava no sofá. Um toque em seus lábios macios e os pequenos suspiros quando ele tomou a boca dela, e ele se viu duro.

Ele cumprimentou os anfitriões, parando para conversar por um tempo, embora sua mente estivesse em outro lugar. Ela ainda estaria aqui? Já passava da meia-noite, e o grupo de amigos deles costumava participar de mais de um evento da Sociedade por noite.

— Lorde Leighton. — ele ouviu seu nome e xingou-se por dentro quando reconheceu a voz.

A prima dele, Lizzie Doherty, acenou e caminhou em sua direção. Desculpando-se com Lorde Curzon, ele a encontrou, longe de ouvidos indiscretos já que nunca se sabe o que pode sair da boca das garotas.

— Lizzie, você está muito bem esta noite.

Ela mergulhou em uma reverência rápida, sorrindo para ele.

Ele refreou o aborrecimento, a jovem era doce, embora um pouco ingênua e irritante às vezes. Além disso, ela era da família, e ele não seria ríspido com ela, por mais que desejasse procurar a Srta. Martin, se apenas para se desculpar por seu comportamento desagradável no outro dia.

— Obrigado primo, é muito gentil da sua parte. Sua mãe disse que sua cor favorita era o azul, e então achei que iria agradá-lo.

Hamish fez uma anotação mental para dizer à mãe que se ocupasse de seus próprios negócios no futuro.

— Foi? Bem, a cor combina muito com você.

Ela pegou o braço dele e, embora fosse um atrevimento, Hamish aproveitou a oportunidade para entregá-la à mãe, a quem ele havia visto estar perto das portas da sala de jantar. A expressão de satisfação dela ao vê-lo com Lizzie alertou Hamish, e ele sabia exatamente do que se tratava.

Sua mãe sorriu, inclinando-se para beijar sua bochecha quando ele ficou diante dela. Com experiência que só se ganha com a prática, ele extraiu o braço de Lizzie sem causar ofensa.

— Você está muito atrasado, Hamish. Estávamos esperando você chegar, você deve dançar com sua prima antes de sairmos.

Ele gemeu por dentro ao concordar.

— Claro, dançarei com minha prima. Quando outra dança estiver para começar, virei pegá-la.

— Deve haver uma valsa agora, antes do jantar. Acho que agora é uma hora tão boa quanto qualquer outra.

Hamish estendeu o braço para a prima, e ela quase pulou nele ao se aproximar. Levando-a ao centro do salão, um vislumbre de vermelho chamou sua atenção e, ao tropeçar, reconheceu a Srta.

Martin, que estava nos braços de Lorde Lacelles, um conde de caráter impecável e fundos ilimitados. Ele podia se casar com quem

e quando quisesse, pois era filho único. Nenhum outro familiar vivo após a morte precoce de seus pais.

Se o sorriso contente e os olhos cintilantes que ela lançava em direção ao conde eram alguma indicação, a Srta. Martin estava muito satisfeita.

— Vamos, Lorde Leighton? — a prima perguntou.

Hamish desviou o olhar da Srta. Martin e puxou Lizzie para ele.

Ele permitiu que o fluxo da música acalmasse sua ira, mas era um martírio já que a Srta. Martin continuava flutuando, o som de sua risada alegre como um soco no estômago dele.

Ele não falou muito com Lizzie por medo de ser ríspido, mas de alguma forma, ele conseguiu responder a uma ou duas perguntas, embora não pudesse se lembrar do que ela falava, ou o que ele respondeu. Assim que a dança terminou, ele a conduziu de volta para a mãe dele, deixou-as na mesa da sala de jantar e saiu para procurar seus amigos, onde era certo que a Srta. Martin estaria.

A mesa deles estava cheia quando ele se aproximou, o conde de Lacelles sentado onde ele deveria estar. O duque levantou-se quando ele se aproximou, sorrindo em boas-vindas.

— Leighton, deixe-me buscar uma cadeira para você. — disse ele, chamando um lacaio para atendê-lo.

Em pouco tempo, Hamish estava sentado junto de todos, e o aborrecimento que fluía por suas veias não diminuiu. Ele esperava falar com Katherine sozinho, mas a probabilidade disso no momento parecia pequena. Darcy, Cecilia e a Srta. Martin estavam sentadas à mesa, comendo rissóis de lagosta e bebendo vinho. Riam e sorriam de todos os tipos de coisas que ele conseguia discernir.

E o que o deixou perplexo quando não deveria foi perceber que a Srta. Martin evitava qualquer tipo de contato visual com ele.

Quando ele falava, ela se virava, pura e simples, para o conde de

Lacelles ao lado dela e conversava baixinho. Quando ele comentava sobre os tópicos que seus amigos levantavam, ela se ocupava com a refeição ou com o vinho.

O que ela estava planejando?

A boa conversa fluiu e, determinado a fazê-la olhar para ele, Hamish simplesmente esperou, encarou-a e observou com paciência. O momento em que ela por fim se virou para ele foi como um golpe físico em seu estômago. Em suas esferas escuras, não havia como mascarar o desejo ardente por ele.

Onde ela aprendera uma coisa dessas? Uma mulher que ele sabia, com certeza absoluta, nunca havia sido beijada antes de seu deslize no outro dia. Mas ela havia aprendido a arte de flertar, e seu corpo reagiu de acordo.

O duque pigarreou, e Hamish olhou para o amigo sentado à esquerda, a testa levantada do duque dizia a Hamish que ele havia percebido a comunicação silenciosa deles.

— Espero que você saiba o que está fazendo, Hamish. Não quero ver a Srta. Martin magoada, sob nenhuma circunstância. Ela não tem um irmão para duelar por sua honra, então fique atento.

Hamish tomou um longo gole de vinho.

— Eu não pretendo magoá-la, e não há chances de que nada ocorra. Eu disse a ela que não devo fazer o que ela pede, e assunto encerrado.

— Sério? — o duque zombou. — Esse olhar que acabou de ser trocado entre os dois me diz que algo já ocorreu.

Ele se recusou a se encolher ante a presença dominante do duque e seus olhos conhecedores. Hamish baixou a voz.

— Eu a beijei, isso é tudo, e tudo que sempre haverá.

Os convidados começaram a se encaminhar para o salão de baile, e Hamish ficou de pé, sem querer continuar a atual conversa.

Para provar seu argumento, ele saiu da sala de jantar e procurou Lady Gray, uma viúva de quem gostava muito, e uma mulher que mais de uma vez aqueceu sua cama.

Ele precisava de distração, um lembrete de que a senhorita Martin não era alguém especial. Ela era apenas uma amiga que ele havia beijado. Um lacaio passou com uma bandeja de prata cheia de taças de champanhe, e ele pegou uma e a bebeu, colocando-a de volta na bandeja antes que o lacaio tivesse subido dois degraus.

Lady Gray lançou um olhar divertido a ele quando ele se curvou diante dela, antes de pegar sua mão e quase arrastá-la para a pista de dança.

Ele rodopiou junto a ela através dos intrincados passos do reel, lembrando-se de que ela era o tipo de mulher que ele gostava de levar para a cama. Era de estatura mediana, com ricos cachos dourados que acentuavam seu rosto marcante e seios também marcantes. Sua postura cheia de curvas e quadris com carne neles eram perfeitos para se ancorar ante uma onda de prazer. E ela era bem versada em evitar as consequências que esse esporte na cama costumava produzir.

— Espero que eu esteja sendo útil para distrair Lorde Leighton de qualquer coisa que o incomode.

Ele olhou para ela, surpreso com as palavras.

— Como assim?

Ela riu, um som sensual e provocante que foi direto à sua consciência.

— Quem é ela? — Lady Gray perguntou, encontrando o olhar dele, as feições dela sérias de repente.

Ele a girou, antes de descer a fila de dançarinos.

— Ninguém.

A mentira provocou um gosto amargo na língua dele que olhou para frente a tempo de ver Katherine o observando, a atenção nele por apenas um segundo antes de voltar-se para o parceiro de dança e depois se afastar.

Se ele esperava ver mágoa nas feições dela, ficou desapontado.

Nenhuma reação assim, apenas tédio e curiosidade. Ela não se importava? Será que ela realmente desejava que ele a levasse para sua cama, uma noite, e então eles se separariam...

Estaria ele sendo muito emocional com todo o conceito, quando ela o encarava como uma mera experiência esclarecedora a que desfrutaria antes de assumir de vez o papel de solteirona inveterada?

— Ela é muito bonita, não linda, mas aceitável.

Aceitável?

A palavra fez a ira dele escalar. Katherine era mais do que aceitável. Caramba, ele a escava considerando, cada vez mais, uma das mulheres mais bonitas que ele conhece. As mulheres com quem ele costumava passar o dia não passavam de bonecas pintadas. A fortuna delas era a única característica que as separavam das prostitutas de Covent Garden.

Vergonha tomou conta dele com o pensamento. Eram homens como ele que perpetuavam tais atos contra muros nos becos, em casas barulhentas de má reputação. Eram homens como ele que dormiam com mulheres em situações em que o menor interesse era suficiente para um vestido ser levantado em uma sala vazia de um baile ou em uma passagem deserta. Se as mulheres que conhecia se prostituíam, ele também o fazia.

— Ela é adorável, mas não está disposta a conversar. Nem eu deveria estar dançando com você apenas para incomodá-la. —

Lady Grey sorriu para ele, o sorriso chegava nos olhos. — É isso

que eu sou agora? Uma mulher usada para causar ciúmes em outra, de modo que você consiga o quer?

Se ao menos fosse tão simples assim.

Não havia dúvida de que ele queria Katherine, mas era ela quem o procurava e o queria da mesma maneira. Um conceito inebriante e sedutor que ele nunca havia experimentado na vida.

Felizmente, a dança chegou ao fim e, devolvendo Lady Grey às amigas, Hamish saiu depressa, seguiu em direção à senhorita Martin. Ela observou a aproximação dele, uma sobrancelha erguendo-se desafiadora e irritante ao mesmo tempo, e fez seu desejo por ela dobrar.

Ele passou por ela, agarrou sua mão e puxou-a para segui-lo.

Ela o fez sem dar uma palavra, e eles saíram por uma passagem que levava a um conservatório. O cômodo cheirava a plantas e frutas exóticas. Sem esperar, e sem nenhuma palavra dita entre eles, ele a empurrou contra a parede ao lado da porta e tomou sua boca em um beijo ardente e punitivo.

Ela gemeu no instante em que os lábios dos dois se encontraram, as mãos envolvendo o pescoço dele, mantendo-o perto. Hamish a prendeu lá, querendo mantê-la contra ele para sempre. Sua mente era um conjunto de ideias insondáveis e confusos, o que era certo e errado. O que ele queria fazer versus o que deveria fazer.

A sensação da mão dela deslizando pelas costas dele, descansando no limite de sua coluna, enviou uma onda de calor ao pênis dele que endureceu ainda mais. E caramba, ele já estava tão duro que sentia dor.

Ele beijou o pescoço dela, o aroma de maçãs que o vestido dela exalava intoxicando. Ele apertou a bunda dela, segurando-a contra ele e investiu, deleitando-se com o suspiro de surpresa que ela

emitiu, antes que esse pequeno suspiro se transformasse em um convite. Ela ondulou contra ele, buscando seu próprio prazer.

Hamish estava certo de que ela não sabia o que procurava, mas o corpo, quando despertado, não precisava de experiências passadas para saber o que ansiava. Aqui, no baile dos Curzon não era o lugar para eles, e ele não a defloraria aqui entre a sociedade, mas ele a teria.

E essa era certeza que agora ele carregava.

Quando ficavam longe, ele não conseguia pensar em mais nada além de estar com ela mais uma vez, mesmo que para uma simples conversa. E quando estava perto dela, o desejo de tocá-la, de pegar a mão enluvada e dançar, era esmagador. Ele não negaria mais aos dois o que ambos queriam.

— Nós não podemos fazer isso aqui, Katherine.

As palavras dele mostravam que estava sem fôlego, seu coração batendo forte nos ouvidos.

— Onde então? — ela perguntou, encontrando seu olhar. —

Com certeza podemos nos reunir em breve. Afinal, é apenas por uma noite.

Ela deslizou o polegar sobre os lábios dele, e ele mordeu de leve.

— Em breve, prometo, mas não aqui e não agora. Não serei tão inconsequente de tomá-la contra a parede de uma sala qualquer.

— Mas.. — disse ela, uma inclinação divertida na cabeça. — A ideia de tal consumação me deixa curiosa. É possível nessas condições?

Ai, meu Deus.

Ele endureceu ainda mais com a imagem que ela despertou em sua mente.

— É possível, acredite, muito é possível quando se quer o bastante.

Uma pequena linha se formou entre as sobrancelhas perfeitas dela.

— Você vai me achar boba, mas como é possível? Nós dois precisamos ficar de pé, eu pensei...

Hamish se abaixou e ergueu o vestido, erguendo as pernas dela ao mesmo tempo e passando-as no quadril dele. Por instinto, ela colocou os braços em volta do pescoço dele, os olhos arregalados de surpresa e entendimento.

Foi o pior erro de sua vida, pois ao tê-la assim, seu pênis duro contra o calor dela quase o derrubou de joelhos de tanta necessidade.

— Você entende agora? — ele murmurou, incapaz de se impedir e esfregar-se contra o núcleo dela.

Ela quase vibrou em seus braços, ajudando-o com a própria ondulação.

— Não se mexa, Katherine.

Ele a beijou com força, e a pequena atrevida se moveu de novo, ele gemeu, mas em algum lugar no recesso luxurioso de sua mente, ele a pôs de pé, ajeitando um pouco o vestido antes de voltar a confrontar as próprias emoções.

— Você deve retornar ao baile antes que sua ausência seja notada. Volte pelo hall de entrada principal, os convidados acharão que você voltou da sala de descanso.

Hamish não se mexeu, precisava ficar exatamente onde estava, para não a arrastar para o banco de mármore e tomá-la aqui e agora, e dane-se se alguém os pegasse.

Katherine, com os olhos nublados pela necessidade não satisfeita, um sentimento de que ele estava bem familiarizado, parou

diante dele, inclinando-se antes de dar um beijo suave em sou rosto.

Ela encontrou o olhar dele quando terminou com o beijo casto, fixando-se no olhar dele.

— Vou aguardar que me convoque, Lorde Leighton.

Ele sentiu um aperto no abdômen ao pensar nela debaixo dele.

Sem distrações ou a possibilidade de interrupção.

— Hamish, por favor. — ele a lembrou.

Ela se virou e foi em direção à porta, parando para olhar por cima do ombro.

— Não demore muito, Hamish. Depois do que você me mostrou esta noite, posso procurar outro se você demorar.

Com o corpo rugindo de necessidade, ele agarrou a pequena mesa ao lado dele e não soltou até que ela estivesse fora de vista.

Quando a puxou para longe do baile, não planejara se envolver em tais extravagâncias.

Mentiras absolutas se ele era corajoso o bastante de assumir para si. Ele estava tão distraído ao vê-la dançando com outra pessoa, que todos os seus pensamentos se concentraram em reivindicá-la, deixando-a saber em termos incertos que era ele quem a defloraria, não outro homem.

Para o inferno com tudo.

O que ele ia fazer? Depois de prová-la, de ter o corpo doce e disposto dela contra o dele, tentando-o como pecado, não havia nenhuma escapatória, nem aqui nem o inferno, de que ele não daria a ela o que ela desejava. Mas e depois? Uma noite apenas nos braços dela?

Algo dizia a ele que nunca bastaria. Para ter a real dimensão de tudo e de como seria entre os dois, ele precisaria ter ao menos duas noites com ela. Ele faria a proposta para ela quando a visse da próxima vez, mais cedo ou mais tarde.


A carruagem sacudia pelas estradas a caminho de Yardley Hall, Surrey, onde o marquês de Aaron e Cecilia haviam convidado um grupo seleto de amigos para uma celebração que duraria quinze dias. O convite havia chegado um dia depois de Katherine ter experimentado o beijo mais revelador de sua vida, no conservatório com Lorde Leighton.

Ele queria revê-la, prometera mostrar mais a ela, e assim o faria na casa de campo de Cecilia. Trepidação e excitação a percorreram ante o pensamento, e ela se remexeu no assento, apreciando a deliciosa dor que despertou em seu núcleo.

Era uma experiência nova ser querida, e ela sabia pela resposta ardente dele ao beijo que ele a desejava. E os céus eram testemunhas., ela o queria.

A carruagem adentrou os portões de Yardley Hall, e Katherine olhou para a ladeira e viu a mansão, as janelas de vidro brilhando ao sol da tarde. Ela foi a última a deixar Londres devido ao trabalho, precisava supervisionar a reforma do telhado da casa de Lorde Leighton que agora estava na fase final.

O trabalho estrutural estava indo muito bem, e logo aquele lado do edifício estaria completo, e a associação dela com Sua Senhoria, à âmbito comercial, estaria finalizada. Ela só podia esperar que não fosse o fim para o lado pessoal.

Antes da chegada do convite para a festa, ela não havia sido convocada por Lorde Leighton, e ela se consolou com a ideia de que o veria ali. Eles não estavam namorando, ele explicou suas razões para não se envolver com ela, e ela as havia aceitado. Ele estava em débito com ela e pagaria a dívida da maneira mais prazerosa possível. Depois disso, não havia mais nada para ele.

A carruagem desceu pela estrada de cascalho em direção à propriedade, e ela a perdeu a casa de vista por um momento. Ela queria ver outra coisa. Algo mais. Solteira aos vinte e seis anos, como não iria querer? Esta talvez fosse sua última chance de conseguir um cavalheiro que concordasse. Ela afastou os pensamentos negativos que queriam zombar de sua ideia de conseguir um conde como marido.

Nascida em uma família envolvida com construções desde sempre, além de ser de Cheapside. Mas ela era uma dama e crescera com os melhores tutores e professores de etiqueta. Tudo bem que ela não possuía um título, nem era filha de um cavalheiro titulado, mas era digna e igual a eles. Pelo menos em mente.

Mas Lorde Leighton veria essas coisas ou apenas desejaria dormir com ela e acabar com tudo?

A carruagem parou, e ela se assustou de tão perdida em pensamentos. Ela esperou um lacaio abrir a porta e segurou-o pelo braço enquanto descia. O sol da tarde brilhava deste lado da casa e, embora o vento leve estivesse um pouco frio, era revigorante e refrescante estar fora da carruagem e fora da cidade.

A porta da frente se abriu, e Cecilia saiu, desceu para abraçá-la rapidamente antes de levá-la para dentro.

— Estou tão feliz que você conseguiu vir. Perdeu os últimos cinco dias. Espero tenha conseguido resolver tudo para voltar conosco na quarta?

— Está tudo acertado, estou de férias. Porém, adoraria um banho, ou diria que estou desesperada por um. Havia papelada de última hora para resolver esta manhã, portanto, vim direto do escritório.

— Claro, o que você quiser. Vou levá-la ao seu quarto agora mesmo, e pedir que levem um pouco de chá enquanto preparam um

banho para você. O jantar será servido às oito horas em ponto, e assim que você descansar, vamos poder conversar um pouco mais tarde.

— Obrigada, Cecilia. — disse ela, subindo a escada.

No primeiro andar, viraram à esquerda ao longo do extenso corredor, e Katherine pôde ouvir uma multidão de vozes e risadas atrás dela.

Lorde Leighton estaria lá esperando por ela?

— Talvez eu devesse dizer oi primeiro, e depois me refrescar.

Não quero ser rude.

Cecilia ordenou aos criados que preparassem um banho e chá e depois a pegou pelo braço, puxando-a de volta para a sala onde os convidados estavam reunidos.

Por mais que ela quisesse descansar e se refrescar, a necessidade de ver Lorde Leighton, ter a certeza de que ele estava presente, era demais para negar-se. Enquanto iam para a sala, Cecilia falou sobre as fofocas que ouvira. Saber dos últimos cinco dias, das noites divertidas e engraçadas que eles passaram, causou nervosismo em Katherine.

As duas entraram na sala, e Darcy se levantou, aproximou-se e deu um beijo de boas-vindas em sua bochecha.

— Estamos tão felizes que você chegou. Quase morremos de ansiedade por não ter chegado ontem como planejado. Achamos que você não conseguiria sair de Londres.

Katherine sorriu para alguns dos convidados que a reconheceram e, após um breve reconhecimento da sala, notou que um convidado em particular estava desaparecido. Sua decepção deve ter transparecido, pois Cecilia apertou mais o braço dela, chegando a doer um pouco.

— Há outros convidados, é claro. Lorde Leighton está cavalgando com Lady Georgina Savile. Tornaram-se amigos com certa rapidez nos últimos dias, têm muito em comum, como o amor pelas viagens. Acredito que Lady Oliver tenha mencionado algo sobre a moça há algumas semanas, em Londres. Ela voltou recentemente do exterior, do Egito, aliás. Ela é bem engraçada e muito inteligente.

E, naquele exato momento, a lady em questão entrou na sala, agarrando-se com firmeza no braço de Lorde Leighton, os dois rindo de alguma troca de palavras divertida que era desconhecida do resto da sala.

A mulher era tudo o que Katherine não era, e se o chão tivesse se aberto naquele momento e a engolido, ela ficaria agradecida.

Lady Savile era dona de cabelos ruivos brilhantes e pele macia e alva como leite. Se ela havia ido para o exterior, para o Egito ainda por cima, estava claro que tomou cuidado para não ter sardas ou se bronzear. Seus seios preenchiam o vestido de equitação verde com perfeição, e suas bochechas traziam um tom de rosa pálido após os esforços da cavalgada.

Ela não era tão alta quanto Katherine, mas poucas mulheres eram e, também, não era tão magra. Em uma palavra, a mulher era lindíssima. Não era de admirar que Lorde Leighton tivesse se divertido nos últimos cinco dias. Quem não se entreteria com tal companhia?

Katherine era desprovida de curvas, seu vestido de viagem estava bem gasto, marrom, e não fazia nada pelos cabelos sem vida. Seus seios não chegavam a metade do tamanhos dos de Lady Savile, e ela estava prestes a chorar por sua decisão de vir cumprimentar a todos antes de estar mais apresentável.

Que valor a presença dela teria para a maioria dos convidados por aqui? Ela não era nada além de servil para eles.

— Acha que meu banho já está pronto agora? — ela perguntou para Cecilia em voz baixa. — Acho que voltarei ao meu quarto.

O olhar de Darcy deslizou para o de Lorde Leighton, e Katherine não perdeu a troca. Lorde Leighton passou por elas e assentiu de leve em sua direção, desejando-lhe as boas-vindas antes de se sentar em um sofá.

Um criado entregou uma taça de vinho à Lady Savile.

Katherine pediu licença e foi embora, Cecilia seguindo-a de perto.

— Está tudo bem, Kat? Parece triste.

— Estou apenas cansada. Vou descansar um pouco, tomar banho e me recompor. Nos vemos no jantar.

E então, assim que se recuperasse, descobriria uma maneira de dizer às amigas que voltaria a Londres. Ela não pertencia a este lugar e nunca poderia competir com uma mulher da beleza e porte de Lady Savile. E ela não queria.

Lorde Leighton não parecia nem um pouco interessado nela.

Não deveria surpreendê-la, pois ele era famoso por ser um libertino, ficava entediado e distraído com facilidade. Talvez fosse melhor que ela não desse prosseguimento com o plano de se deitar com ele.

Se o ciúme que sentia agora era grande, ela não precisava sentir algo cem vezes maior depois de conhecê-lo intimamente. Pensar nele perdendo o interesse nela, talvez até de encontrar uma mulher com quem se casasse, deixou uma sensação vazia no local em que seu coração deveria estar.

Tal ideia seria insuportável.


CAPÍTULO 8

H amish estava sentado à mesa naquela noite, e sua atenção voltava-se para Katherine a qualquer oportunidade. Como ela estava linda esta tarde ao chegar. Os cabelos dela haviam caído um pouco durante a viagem de carruagem até Yardley Hall, e seus olhos estavam iluminados pela possibilidade ao conversar com Cecilia e a duquesa.

Assim foi, até que ela o viu com Lady Savile e todo o prazer, a alegria de estar naquela casa de campo desapareceu de suas feições. Ela pareceu ficar arrasada, se é que alguém poderia ficar assim, e ele se amaldiçoou como o tolo que era por ter sido o responsável por aquele olhar de decepção em seus ricos olhos castanhos.

Lady Savile era uma mulher muito bonita e, certamente, se ele não conhecesse Katherine da maneira que conhecia agora, poderia ter tentado a sorte com a dama, mas não era esse o caso agora. Ele não estava interessado na mulher, apenas como uma amiga, e antes que a noite terminasse, ele garantiria que Katherine também soubesse desse fato. Ele não permitiria que ela passasse nem uma noite se preocupando com algo que não existia.

Para piorar as coisas, ele estava sentado ao lado de Lady Savile, que sem saber de nada e com seu semblante divertido e a nova amizade deles, não fazia ideia de que os pequenos toques que ela fazia em seu braço, suas brincadeiras risonhas durante o jantar estavam magoando a mulher que ele mais se preocupava no mundo, mais do que julgava ser real até que viu a dor nos olhos dela esta tarde, mais dor do que ele jamais desejou impor nela.

Droga.

À medida que o jantar avançava, ele não deixou de notar que Katherine tornou-se cada vez mais quieta, se recusava a encontrar seu olhar ou se pronunciar em qualquer conversa da qual ele participasse.

— Vamos jogar um jogo depois do jantar. Sei de um que acho que será tão divertido. — disse Lady Savile, sorrindo para todos, o charme jovial fazendo os cavalheiros presentes se entusiasmarem e as mulheres mais ainda. Todos, exceto Katherine, que tomava um gole de vinho sem comentar.

— Que ideia maravilhosa. — disse Cecilia, mais do que feliz em entrar em cena.

— A casa é grande, com numerosos cômodos e corredores, sótãos e adegas. E hoje à noite, vocês poderão explorar parte disso, mas há um porém. — disse Lady Savile, levantando-se e olhando cada um dos presentes, um a um.

— Ah, conte logo. — as palavras de Katherine pingaram com sarcasmo, e o olhar preocupado que Cecilia lançou a ela não pareceu atenuar o crescente aborrecimento da senhorita Martin.

Hamish sabia a causa raiz da ira dela, e era ele e seu mau comportamento à chegada dela. Depois de ela não ter conseguido chegar na data marcada, ele teve esperanças de que ela chegaria hoje. Ainda assim, ele quis sair ao ar livre e fora a cavalo, só ao chegar nos estábulos que se encontrou com Lady Savile que pediu para se juntar a ele, pois não conhecia a região. Ele não fora capaz de recusar e, quando viu a carruagem de Katherine descer a colina, voltou para a propriedade, ansiosa para revê-la.

No entanto, no momento em que entrou na sala, ele não podia permitir que ninguém visse o quão impaciente ele estava, então

assentiu em boas-vindas, e nada mais. E agora, ao que parece, Katherine estava irritada.

— Hoje à noite — continuou Sua Senhoria. —, vamos brincar de esconde-esconde. Após o jantar, vocês encontrarão no hall de entrada um lacaio com um baralho de cartas dentro do chapéu. São todas cartas pretas, exceto duas. Cada um de vocês deverá retirar uma. Aqueles que pegarem as pretas devem esconder-se. Já os dois premiados com as brancas deverão sair à procura dos demais.

Aqueles que pegarem as cartas brancas, devem encontrar o maior número possível de pessoas em uma hora. Quem permanecer escondido e não for encontrado, vence. — ela disse, radiante de emoção.

Lady Savile voltou a sentar-se, parecia satisfeita com as instruções para a noite, e Cecilia se levantou para falar.

— Podem continuar com o jantar, em breve daremos início ao jogo.

A partir deste momento, o jantar passou de forma agradável e como esperado, a discussão se voltou para a brincadeira vindoura, os convidados discutindo acerca das possibilidades dentro e fora da casa.

Quando o jantar terminou, Hamish estava desesperado para falar com Katherine. Depois da partida apressada dela para o quarto esta tarde, ela não retornou e foi uma das últimas convidadas a chegar para jantar. Que ela o estava evitando era óbvio, mas ele não permitiria que continuassem dessa forma. Ele odiava o fato de ela ter sido ferida por suas ações. E odiava também o fato de ter refreado sua reação ao vê-la, só porque era o adequado.

Com o jantar finalizado, e os convidados prosseguindo ao hall de entrada, como pedido, um lacaio esperava por todos, segurando uma boina preta. Algumas mulheres riam de tão animadas. Seria


porque iriam explorar a casa, cheia de passagens ocultas e compartimentos secretos, ou apenas pela possibilidade de se encontrarem sozinhas com um cavalheiro admirador?

Hamish esperou mais atrás, queria ver se Katherine entraria na brincadeira, e graças ao bom humor de suas amigas, a duquesa e a marquesa, ela pegou uma carta.

Preta. Ela deveria se esconder.

Hamish também pegou uma carta. Branca. E deslizou para perto de Katherine, inclinando-se para garantir privacidade.

— Srta. Martin, não se esconda demais. Ou não poderei encontrá-la.

Estavam tão perto que ele sentiu o arrepio que percorreu o corpo dela. Deu-lhe esperança de que ela não tivesse farta dele, o tivesse descartado com desonesto e calhorda.

— Você se esquece que já estive aqui antes, e por duas vezes, conheço bem esta casa. Você nunca vai me encontrar.

Ela encontrou o olhar desafiador dela com um a altura e uma rajada de calor o atravessou. Ele a queria. Ele queria tudo dela e mais ninguém.

Hamish sorriu.

— Veremos, não é? — ele a deixou, sabendo muito bem enquanto voltava para a biblioteca, que ela observava todos os seus movimentos.

Katherine sabia exatamente onde iria se esconder, onde ninguém a encontraria. A mansão do marquês e de Cecília era um conjunto de cômodos, corredores e passagens secretas, uma das quais corria

ao longo da parede da galeria. Cecilia a havia mostrado da última vez que esteve aqui.

Ela só precisava erguer um pouco a tapeçaria de cavaleiros em batalha, e uma porta de madeira se revelaria detrás dela. Na verdade, não era nem uma porta, era uma passagem disfarçada entre os painéis de parede.

Enquanto ela subia até o primeiro andar, pessoas passavam por ela, homens e mulheres, rindo, gritando de alegria. Um ou dois desapareceram em salas que não faziam parte do jogo. Katherine encolheu os ombros e continuou pela galeria, feliz por descobrir que ninguém a seguira até esta parte da casa, que era pouco iluminada e desprovida de criados.

Ela encontrou a tapeçaria e puxou-a um pouco, empurrando o painel atrás. Ele se abriu com um pequeno rangido, ela pegou um candelabro e escorregou pela passagem e fechou a porta. Para uma passagem secreta, até era razoavelmente limpa, e alguém havia colocado uma cadeira no corredor. Ela teria que perguntar a Cecilia se foi ela que havia posto a cadeira ali e por quê.

O som de passos correndo do lado de fora e mais risadas passaram, e Katherine sorriu. Ninguém, nem Lorde Leighton a encontraria aqui. Ela supôs que poderia perder toda a diversão de ser encontrada se ficasse tão bem escondida, mas agora era tarde demais para mudar de ideia. Não que ela desejasse ser encontrada por Sua Senhoria.

Hoje, ele havia provado como ela havia sido idiota de pensar que ele poderia se importar com ela mais do que de fato se importava.

Que ele poderia gostar dela, de verdade, por quem e pelo que ela era, não apenas porque ela pediu que ele a deflorasse.

Katherine balançou a cabeça, que idiota havia sido.

E não era algo que ela pudesse desfazer. Até as amigas sabiam da ideia patética que ela tivera. Pelo resto de seus dias como uma solteirona, ela seria jogada na esfera dele pelo simples fato de terem os mesmos amigos, e ela se sentiria mortificada todas as vezes. Se ao menos ela nunca tivesse feito tal pedido a ele.

Passos soaram e pararam a frente da parede contra a qual ela estava sentada. Katherine parou, seu coração disparado em alarme.

Decerto que ninguém saberia onde ela estava...

Os painéis se abriram e as madeixas escuras e o sorriso provocador de Lorde Leighton apareceram. Ele fechou o painel atrás dele antes de falar, deixando-os sozinhos. Bem sozinhos.

— Como me encontrou aqui? — ela não estava certa se sentia-se ofendida por ser encontrada com tanta facilidade, ou se estava nervosa por estarem tão sozinhos em um espaço tão escurecido.

— A tapeçaria na galeria estava dobrada. Eu passei por aqui mais cedo hoje, e não estava, e então adivinhei. E que palpite de sorte foi este.

Ele deu alguns passos até parar diante dela, e pela primeira vez na vida, ele a fez se sentir um pouco pequena. Afinal, ele era mais alto que ela ao menos uns cinco centímetros, poucos homens podiam se gabar de tal coisa na esfera social dela ou na dele.

— Você teve sorte, e alguém poderia dizer que eu tive azar.

Suponho que teremos de voltar lá para baixo, assim você pode se gabar de ter me encontrado.

O olhar dele recaiu aos lábios dela e ficou lá.

— Ou você poderia me conceder o prêmio de um vencedor.

— Que seria? — Katherine teve o desejo irresistível de retirar seu fichu e usá-lo como leque.

Para um corredor secreto que em tese seguia quase que infinitamente para ambas as direções, a sensação era de muito

calor e pouco espaço.

— Talvez você me conceda... — ele se aproximou ainda mais. —

um bei...

— Não beijarei você, milorde. Não tenho esta permissão hoje.

Ele sorriu e caramba, o coração dela acelerou.

— Permissão? Posso perguntar por que me despreza? Não a vi esta tarde e nem antes do jantar. Eu esperava conversar com você antes de jantarmos.

Katherine deu de ombros, e Hamish recuou, a separação fazendo o peito dela doer.

— Você está com raiva de mim. Por quê?

Algo em no tom dele dizia que ele já suspeitava, mas se ela admitisse aborrecimento, e mágoa, abriria o caminho para ele ao descobrir que ela ansiara por mais. Que ela se importava. E ela não permitiria isso. Ela não seria enganada duas vezes.

— Eu cometi um erro quando lhe pedi para fazer amor comigo.

Peço desculpas e não desejo mais agir por curiosidade. Sinto muito por ter me jogado para cima do senhor. Katherine tentou passar por ele, mas ele bloqueou o caminho dela.

— Não lamento que tenha me feito tal proposta. Embora eu saiba que você está ciente de que não estou procurando uma esposa, não significa que não podemos nos divertir de forma cuidadosa. Não importa no que você acredita, Kat, há algumas semanas você se tornou uma parte importante da minha vida. Você me inspira com sua independência e seu trabalho. Você não precisa de um homem para guiá-la pela vida, pois você é mulher de si. Eu a admiro e a desejo.

Ele se aproximou ainda mais, e Katherine recuou por instinto, e bateu com força na parede. Ele continuou:

— Eu quero você, mais ninguém, não importa o que pense que viu hoje, foi tudo teatro. É por você que meu coração bate forte, que meu corpo reage. É você e somente você que quero para aquecer minha cama.

Ela engoliu, rubor brotando em suas bochechas, e ela agradeceu a escuridão que os rodeava. As palavras dele, pesadas, e a voz rouca, atingiram a parte dela que era solitária, que desejava um futuro até então perdido.

Um gemido rasgou o ar, e Katherine pulou contra ele, agarrando-as pelas lapelas.

— Isso soou como algo que um desavisado interpretaria como um fantasma.

Ele riu, passando um braço pela curva das costas dela e um delicioso arrepio percorreu sua espinha.

— Eu acho que veio daqui de cima. — ele a puxou para junto dele. — Venha, vamos investigar mais.

— Não sei se é sensato. Não quero ver nenhum dos ancestrais de Lorde Aaron me atravessando, muito obrigada.

Para sua surpresa, ele parou, ergueu o queixo dela e a beijou.

Um toque suave como uma pluma que disparou direto para o coração dela.

Minha nossa, ela estava em terreno perigoso, e não por causa do escuro...

— Não se preocupe, querida Kat. Eu salvarei você.

Katherine inclinou-se mais para o lado dele quando começaram a descer o corredor, um único candelabro como fonte de luz. O

corredor permaneceu uma linha reta por algum tempo, seguindo a galeria de retratos do lado de fora antes de virar à esquerda.

Não houve outro som senão um xingamento que ecoou nas paredes quando Sua Senhoria tropeçou, e a única luz deles,

arruinada no processo. Ela congelou, não querendo tropeçar também.

— Você está bem, milorde?

— Hamish, por favor. Sem títulos, é muito formal.

— Está mesmo preocupado com formas de tratamento agora?

Apenas responda a pergunta. — ela falou na escuridão, incapaz de enxergar algo.

Mais sons de arranhadas e outro xingamento.

— Mas que... — Katherine ofegou quando uma mão grande e masculina pousou bem sobre seu seio.

O corpo dela ganhou vida, e ela esperava, até mesmo ansiava, que a mão dele se curvasse sobre sua carne dolorida e a apertasse um pouco. Qualquer coisa para salvá-la dessa necessidade latejante que ela tinha por ele.

— Hamish...

A respiração acelerada dele dizia que ele reagiu da mesma maneira. Ele demorou muito tempo para remover a mão.

— Eu deveria me desculpar. Decerto que não é atitude de um cavalheiro.

O seio dela doeu com a ausência de toque dele quando ele se afastou, e ela não estava pronta para ele parar de tocá-la. Mas aqui e agora não era hora de um interlúdio. Todos os convidados estavam participando da brincadeira e, se eles desaparecessem, especialmente Hamish, já que ele deveria encontrar os outros, causaria um enorme escândalo.

— Foi um acidente, causado pelo fato de estarmos presos em uma passagem secreta desprovida de qualquer luz. Como diabos vamos encontrar o caminho de volta? — ela disse, esperando mudar de assunto.

Perto de Lorde Leighton, ela não confiava em si. Os impulsos que ele despertou se recusaram a se acalmar e exigiam que ela fizesse o que queria, não o que deveria.

— Lá, à nossa frente. — disse ele, a voz bem próxima dela. —

Há uma pequena luz. — a mão dele resvalou pelo braço dela antes que ele a segurasse. — Vamos devagar, senão ambos cairemos na próxima vez.

Ela riu e deixou que ele a guiasse.

Eles andaram devagar, mais cautelosos agora que a visão estava prejudicada pela escuridão, mas a pequena luz que eles espionavam não era uma porta, mas um pequeno buraco que os deixava olhar para o corredor, ou o que Katherine pensava ser um corredor.

O gemido que eles ouviram pouco antes soou outra vez, e ela agarrou o braço dele. Lorde Leighton parou para olhar pelo buraco e xingou.

— Não olhe, Katherine. Venha, vamos continuar por aqui.

— O que era? O que você viu? — ela o empurrou para o lado e, na ponta dos pés, olhou pelo buraco.

Era algo que Katherine nunca havia visto em sua vida e detestava pensar que algo assim pudesse estar localizado em seu quarto, como estava neste.

— Ai meu Deus. — ela ofegou, incapaz de desviar o olhar da visão diante dela. Dois dos convidados, que vieram sem parceiros após a morte de seus cônjuges, estava se divertindo muito em particular.

— Venha, Kat.

A voz dele estava tensa, mais profunda do que já o havia escutado ser, e ela amaldiçoou-se por não poder vê-lo, ver o que o flagrante deles provocava nele.

— Estou feliz que eles estejam se divertindo. — disse ela, sorrindo com as próprias palavras.

— Você não está se divertindo? — ela estendeu a mão para pegar na mão dele, mas pousou diretamente no peito dele. Ele era todo músculo, um homem saudável e viril. O único homem que já a deixou fraca dos joelhos. — Eu apreciaria mais o nosso tempo aqui se estivéssemos fazendo o que estava acontecendo no quarto ao lado.

No escuro, tudo parecia ampliado, a respiração dele, os calafrios dela quando a mão dele subiu para cobrir a dela ainda em seu peito.

Depois de vê-lo hoje com Lady Savile, ela nunca pensou que sentiria ciúmes, ou mesmo mágoa provocada por outra pessoa, mas pensar em Hamish nos braços de outra mulher, amando-a como ela queria que ele a amasse, deixava um vazio em seu coração.

Ela mordeu o lábio.

Ele faria o que ela pediu como haviam concordado, ou ao conhecer aqui uma mulher que se adequava ao seu gosto, tanto na aparência quanto na posição social, ele simplesmente deixaria de querê-la?

Ele a puxou para seus braços, e uma pequena vibração disparou dentro dela.

— Se você me quer, Katherine, eu irei ao seu quarto hoje à noite.

Eu já sei qual é. E então, minha querida... — ele disse, as mãos tomando o rosto dela e a beijando. — Faremos tudo o que você quiser.

Calor se acumulou entre as pernas dela, e ela gemeu quando ele a beijou de novo. Pensar neles fazendo o que ela viu, pelo buraco, o casal fazer, deixou-a ansiosa pelo fim da noite, para que a noite deles pudesse começar.

— Qualquer coisa?

Katherine não tinha vergonha de ler o que os amantes compartilhavam durante um ato sexual, e havia algumas ideias muito interessantes que ela desejava tentar. Mas ele a deixaria?

Excitação percorreu suas veias. Ela supôs que logo descobriria. Se essa era sua única noite com Lorde Leighton, ela aproveitaria ao máximo.

Ele riu, puxando-a de volta ao longo da passagem.

— Sou seu para fazer o que você quiser, mas primeiro temos que encontrar a saída dessa passagem infernal. Se eu não retornar em breve para o convívio dos demais, não posso me responsabilizar por minhas ações. Nem mesmo nesta escuridão.


CAPÍTULO 9

H amish andava de um lado para o outro em seu quarto, esperando a casa se acalmar após as atividades da noite. A brincadeira continuou depois que Katherine e ele encontraram a saída da passagem secreta e, com a ajuda dela, ele encontrou a maioria dos convidados. Depois disso, os convidados se reuniram na sala de música no andar de baixo para jogar cartas, dançar e bater um bom papo.

No entanto, durante todo o tempo, Hamish só conseguia pensar no que estava por vir. Ele queria tornar a primeira vez de Katherine agradável e pensou e repensou em diversas maneiras de garantir que assim fosse. Não era o melhor plano de ação, pois ele estava rodeado de pessoas naquele momento, e não iria, sob nenhuma circunstância, falar do assunto.

Katherine passou o resto da noite indo de grupo em grupo e, depois da conversa no andar de cima, ela parecia ter ficado um pouco mais calma acerca de Lady Savile e, no entanto, de vez em quando ele a via admirando a mulher, e um pequeno alarme disparou em sua mente...

Será que ela não se considerava atraente, nem tão bonita quanto as outras mulheres ali presentes? Para ele, Katherine era a mulher mais bonita que ele já conhecera, e depois desta noite ela saberia disso.

Ele checou a hora, passava de uma da madrugada, e ainda assim, ele conseguia ouvir pessoas indo e vindo no corredor, os hóspedes rumo à cama. Finalmente. Alguns minutos depois, sua

porta se abriu, e ele se virou para ver Katherine entrar e fechá-la com rapidez.

Ela se virou para ele, um roupão de seda sobre a camisola. Ele soltou um suspiro dolorido. Caramba, ela era linda, e dele. Sua para adorar e amar pela noite.

— Você demorou muito, Lorde Leighton. Espero que não tenha mudado de ideia. — disse ela, aproximando-se e tirando o roupão e jogando-o em uma cadeira próxima.

Hamish reencontrou as forças, embora soasse ofegante.

Quando ela se tornou uma sereia experiente?

Ele a encontrou no meio do caminho e puxou-a em seus braços, a beijou como se quis beijá-la quando a viu na sala de estar, e ele voltava do passeio à cavalo.

Ela se derreteu contra ele, toda a extensão macia e feminina que o fez ver estrelas. Ele passou as mãos pelas costas dela e pelas nádegas para puxá-la com força contra seu pênis inchado que se digladiava contra as calças.

O fato de ela estar aqui, no quarto dele, e eles estarem sozinhos, sem serem perturbados durante toda a noite, o fez sentir o pulso acelerar. Ele mordeu os lábios dela, explorou a boca dela com a língua, gemeu quando ela responde à altura, golpe por golpe, toque por toque.

— Katherine. — ele sussurrou contra o pescoço dela, beliscando a veia que se projetava lá.

Sua pele cheirava a sabonete e jasmim, os cabelos a frutas. Ele estava certo de que o gosto dela seria tão bom quanto o cheiro.

Hamish não podia esperar muito mais para vê-la, ele queria contemplá-la em toda o esplendor, deitar-se com ela.

Ela interrompeu o beijo e deu um passo para trás, sustentando o olhar dele, o dela pesado de desejo que fez o sangue dele ir direto

para a virilha. Katherine ficou parada diante dele, a camisola quase transparente, e desatou as cordinhas de sua camisola.

Ele não conseguia desviar a atenção das mãos dela por nada, ou do que estavam fazendo, e então, com um movimento do ombro a peça escorregou, caiu e se acumulou em cima dos pés dela.

Por baixo, ela estava gloriosamente nua. Hamish estendeu a mão e traçou sua clavícula, um suspiro audível dela quase pôs fim à sua determinação de olhar, admirar e reconhecer cada centímetro dela.

Seus seios, que eram maiores do que ele pensava, subiam a cada respiração, os mamilos eram do rosa mais doce que ele já vira e se tornaram botões apertados.

Ele queria lambê-los, chupá-los e beijá-los até que ela estivesse se contorcendo e implorando por ele. Ele lambeu os lábios, imaginando, mas o tempo todo sabendo que dentro de instantes ele faria o que sonhava há semanas. Ele moveu os olhos para baixo, até a cintura perfeita dela, e os quadris um pouco mais largos. Ela era tão bonita que a respiração dele ficou presa nos pulmões.

— Isto é uma honra para mim, Katherine.

Ele passou a mão sobre o umbigo dela, e com o olhar ainda preso no dela, desceu a mão para cobri-la entre as pernas. Ela estava molhada, gloriosa e pronta para ele.

Ela envolveu o pescoço dele com as mãos e gemeu, o som destruindo o pouco controle que ele ainda mantinha. Pegando-a nos braços com um único movimento, ele seguiu até a cama, deitou-a e, em seguida, cobriu-a com o próprio corpo. Ela tremeu embaixo dele, e ele a beijou, querendo dissipar qualquer nervosismo.

Se ele pudesse evitar, nunca a machucaria, mas se houvesse dor durante a união deles, seria mínima e logo substituída pelo prazer.


Katherine tremia de ânsia por Hamish.

Seu corpo forte, magro, mas musculoso sobre o dela, uma mecha de cabelo que fazia cócegas em seus seios, o ligeiro roçar de seu queixo quando a beijava, conquistava sua boca com um beijo punitivo. Katherine se prometeu naquele instante, que mesmo que nunca mais fosse beijada daquela forma de novo, sua vida seria feliz.

Por ter um beijo daqueles de Hamish, um que dizia sem palavras que ela era querida, desejada, ansiada, era mais do que qualquer coisa que ela poderia esperar.

As mãos dele apertaram a coxa dela, e ele levantou a perna dela para se encaixar no quadril dele. A posição permitiu que ele pressionasse o corpo inteiro contra o dela, e todos os pensamentos dela se concentraram no local que implorava, palpitava por mais dele.

— O que é essa loucura que você está fazendo comigo. — ela ofegou, observando-o enquanto ele beijava seu colo e descia para um dos seios, contemplando-o.

Katherine lutou para não se esconder, consciente do fato de que ela não possuía seios tão fartos quanto as amantes habituais dele, mas seu deleite extraordinário ao olhar para eles parecia dizer que ele não se importava.

Uma mão segurou seu seio, e prazer a atravessou. Ele se inclinou, lambendo primeiro o mamilo antes de dar um beliscão provocador. Ela gemeu, um som que se misturou ao gemido dele.

Katherine empurrou-se contra ele, seu núcleo contra o membro rígido dele, e ela sentiu necessidade de senti-lo dentro dela. Embora

ela nunca tivesse experimentado tais atos, decerto que seria tão bom quanto a boca dele estava sendo agora.

Ele se moveu para dar atenção ao outro seio, e ela passou os dedos pelos cabelos dele, segurando-o contra ela, para que ele nunca parasse de adorá-la. A mão dele deslizou pelo estômago dela, apertando-a ali antes de mergulhar entre suas dobras molhadas.

Katherine fechou os olhos quando ele deslizou os dedos contra os pontos mais íntimos dela, ele usou o polegar para roçar uma parte dela que a fazia querer nada mais além dele.

— Hamish. — foi tudo o que ela conseguiu dizer enquanto sua mente zumbia.

Será que era sempre assim entre casais? Depois de conhecer tal prazer, seria uma tormenta saber que nunca mais viveria aquilo. Ele gemeu e beijou a barriga dela. Então, perdida em seu próprio prazer, ela não percebeu o que ele estava fazendo antes que o hálito quente dele acariciasse seu monte.

Ela tentou se sentar, mas ele encontrou seu olhar com uma ferocidade que a deixou confusa e desejosa, e pressionou a barriga dela, avisando-a para manter-se deitada.

— Deite-se e relaxe. Se quisermos ter apenas uma noite, teremos uma longa e bem eclética.

Ele baixou a cabeça, e Katherine suspirou, mordendo o lábio enquanto a boca, a língua... O que a língua dele estava fazendo estava além de qualquer coisa que ela pudesse imaginar ser possível. Quando ela viu os desenhos dos livros que achara na biblioteca do duque de Athelby, ela nunca imaginou como seria maravilhoso.

Ele deslizou um dedo pelo local que se despertava a cada toque e o deslizou para dentro.

— Kat perversa, você é tão apertada.

Katherine já não compreendia pensamentos ou palavras ditas em voz alta, ela apenas se agarrou à cabeça dele, segurando-o, ondulando contra seu rosto como uma mulher enlouquecida. Como ela não sabia que estar com um homem poderia ser assim? Como ela poderia seguir com sua vida e só ter uma única noite?

Fazer amor com Hamish apenas uma vez...

As lições dele continuaram, com cada impulso da mão, a língua correspondia em intensidade e, com um prazer agonizante, o corpo dela se contorceu, se acendeu e algo que ela nunca sentiu apareceu.

— Isso, querida, deixe vir. Goze para mim. — ele disse, beijando-a novamente sem restrição.

A provocação dele passou para um tormento lento, e o corpo dela engatou, e ela empurrou o quadril para cima, para encontrar alívio. Sem preocupar-se com o quão devassa ela poderia parecer, um prazer como nenhum que ela já conheceu chacoalhou seu corpo. Tremor após tremor, um delicioso espasmo percorreu sua pele e ela riu, os membros fracos, corpo relaxado e saciado.

Hamish beijou seu corpo, passando a perna dela por cima do quadril dele.

— Minha vez. — disse ele, beijando-a com vontade.

Ela sentiu o próprio sabor na boca dele, e isso fez com que o prazer começasse a se erguer de novo. Isto é o que ela queria, afinal. Estar com Hamish assim, como amante, um homem que pelo menos uma noite adoraria seu corpo, e a faria se sentir tão bonita quanto qualquer outra pessoa.

Ele se posicionou na abertura dela.

— Sinto muito, minha querida, isso pode ser desconfortável.

Ele se empurrou, e Katherine se engasgou com a dor, agarrando os ombros dele. Ele parou de se mover, ficou imóvel e enterrado nela. A inércia permitiu a ela se acostumar à sensação de ele estar lá, dentro dela.

Era estranho, sem dúvida, mas quando ele começou a se mexer, em vez de dor, ela sentiu apenas o deleite residual de sua própria libertação, até aumentou, agora que Hamish iria experimentar o mesmo.

Ele investiu, gemendo contra o pescoço dela quando ela levantou as pernas.

— Você é tão linda, Katherine. — ele murmurou contra os lábios dela, observando-a enquanto a tomava.

Os braços dele ficaram tensos quando ele se ergueu sobre ela, os músculos rígidos pelo esforço, e ela nunca havia visto nada tão desejoso na vida. Os golpes se tornaram mais rápidos, mais fortes, e ela descobriu que quanto mais ele estocava, mais seu corpo ansiava por liberação.

Ela estava se tornando uma mulher que não iria se cansar dele, e uma noite apenas pareceu um desperdício. Com certeza eles poderiam passar duas noites juntos.

— Katherine. — ele gemeu, pegando seus lábios, seus quadris flexionando.

Ela sentiu um calor se espalhar por ela e, no último minuto, ele saiu, derramando sua semente sobre a barriga dela. Hamish desmoronou ao lado dela e, enfiando a mão na gaveta do armário, ele puxou um lenço e a limpou antes de puxá-la contra seu peito.

— Descansaremos por um tempo e, então, minha querida, mostrarei o que mais podemos fazer.

O sorriso provocador dele imitava o dela.

— Há mais que podemos fazer?

Ela nunca pensou que haveria. De verdade, não. Ela viu figuras em livros, mas sempre presumira que as posições eram exóticas, não desempenhadas por lordes ingleses bem-educados. Excitação a percorreu quando uma posição que ela achara interessante voltou à sua mente.

— Você está com um olhar travesso. O que está se passando em sua cabeça? — ele perguntou, beijando-a tão gentilmente nos lábios que seu coração deu um pulo.

Ela se inclinou e sussurrou sua ideia no ouvido dele, incapaz de expressar em voz alta, mesmo que estivessem sozinhos. Os olhos dele se arregalaram antes que escurecessem de necessidade.

Ele a rolou de costas, prendendo-a na cama.

— Você tem certeza? — ele perguntou, o corpo tenso e sua masculinidade dura novamente contra a perna dela.

Ela assentiu, seu corpo vibrando de necessidade renovada.

— Ah sim, tenho certeza. Mostre-me tudo.

Ele rosnou.

— Com prazer.


CAPÍTULO 10

K atherine estava sentada na sala matinal sozinha.

Diante dela havia um bule de chá intocado e uma variedade de bolos. Ela olhou para o pequeno desenho florido na lateral do bule e pensou no que havia acontecido entre ela e Lorde Leighton na noite passada. Na verdade, ainda esta manhã, se fosse honesta sobre o interlúdio deles. Foi bastante vigoroso, demorado e muito esclarecedor.

Ela sorriu.

Quão diferente ela se sentia agora que dormira com um homem.

Mais sábia dentro de seus conhecimentos. Com certeza, mais sábia quanto ao que estava abrindo mão todos esses anos. Tola e boba.

Ela balançou as pernas debaixo dela e se serviu de uma xícara.

Cuidando para não exagerar no leite e o chá acabasse frio, ela tomou um pequeno gole, relaxando na cadeira.

Quando eles se separaram esta manhã, um beijo rápido e casto no corredor, sem falar nada sobre passar mais noites juntos. Ele iria manter o acordo de apenas uma noite? Eles pareciam se dar muito bem em privado, e seria uma pena não prosseguir, já que haviam apenas começado.

— Ó, aqui está você, minha querida. Eu a estava procurando.

Katherine sorriu quando Cecilia entrou na sala, seu vestido matutino bordado e feito de algodão branco fazendo-a parecer um sonho de verão. O casamento parecia ir muito bem para sua amiga, e se o brilho em suas bochechas era alguma indicação, ela e Lorde Aaron também se davam muito bem em particular também.

— Estou apenas tomando uma xícara de chá, antes de ir para lá para fora, participar do jogo de críquete que vocês prepararam.

Quer se juntar a mim?

— Eu adoraria. Depois de toda a correria desta manhã, preciso de substância.

Cecilia sentou-se, as mechas douradas estavam presas no alto da cabeça, e ainda assim alguns cachos emolduravam seu lindo rosto.

— Parece que andou bem ocupada. Posso ajudá-la com algo?

— Katherine perguntou, sentando-se de volta na cadeira e tomando outro gole.

Cecilia serviu-se de uma xícara de chá e pegou um pequeno biscoito.

— Não, tudo está sob controle, mas eu gostaria de saber o que aconteceu na noite passada com Lorde Leighton.

Katherine tossiu, se engasgando com o chá.

— Perdão. O quê?

Como ela sabia? Quando ela entrou tão furtiva no quarto dele, foi muito discreta e se certificou de que o último hóspede já tivesse entrado em quarto antes de correr pelo corredor e entrar na suíte.

Cecilia levantou uma sobrancelha.

— Ele está participando dos jogos lá fora e parece bastante jovial esta manhã. Na verdade, o pobre rapaz fica olhando o tempo todo para a casa como se estivesse esperando alguém, e isso me fez pensar. Em especial porque todos que vieram para nossa festa quinzenal estão lá fora. Todos menos uma pessoa.

Prazer correu por suas veias.

Hamish estava procurando por ela? Esperando por ela?

— Esses bolos são deliciosos, Cecilia. Deve dar meus cumprimentos à sua cozinheira quando a vir.

Cecilia balançou o dedo, sorrindo.

— Ah, não. Sem desconversar. Você vai me dizer, Kat o que você fez sob esse teto, mesmo que seja só para eu apoiá-la. Ajudá-

la em sua escolha.

Katherine levantou-se e caminhou até a janela para olhar para o campo nos fundos. Com certeza, Lorde Leighton estava lá, em calças de camurça e uma casaca verde-garrafa, conversando algo sério com seu amigo Lorde Bridgman.

O jogo o fez dar alguns passos, e foi só então que Katherine se lembrou de sua forma esguia, seus braços fortes e seu bumbum adorável.

Ela se virou e encarou sua amiga mais antiga.

— Eu dormi com Lorde Leighton e para piorar.... — ela confessou fazendo uma pausa. — Quero repetir.

Os olhos de Cecilia se arregalaram, e ela largou a xícara de chá.

— Venha e sente-se. Isso demanda uma longa conversa.

Katherine obedeceu, e cruzou as mãos no colo enquanto esperava Cecilia a perdoar ou condenar. Ela esperava que fosse a primeira opção.

— Não achei que Lorde Leighton desejasse ter relações tão íntimas com você. O que o fez mudar de ideia? — Cecilia perguntou, seu olhar fixo e inabalável nela.

Ela encolheu os ombros.

— Suponho que tenha algo a ver com o fato de que, sempre que estamos juntos, os sentimentos, o desejo que ambos sentimos anula qualquer bom senso. Nunca vou me casar, minha idade é avançada demais, e sei que também não sou o tipo de mulher que Lorde Leighton costuma correr atrás. Não que tenha corrido atrás de mim, mas eu não sou seu tipo ideal.

Lágrimas pinicaram seus olhos, e ela fungou, sem saber de onde vinha toda essa emoção avassaladora. Todas as mulheres choravam depois de uma noite de felicidade? Decerto que não.

— Nós nos separamos em bons termos, mas nenhuma menção foi feita acerca de uma continuidade a tais encontros. E assim, parece que talvez ele alcançou o que queria com nossa barganha que era me dar a única coisa que eu queria dele e agora acabou.

Mas espero que não seja o caso. Eu gosto dele. — afirmou ela, afinal, era a verdade. — Eu gosto muito dele.

— Ó, Katherine. — disse Cecilia, sentando-se ao lado dela. —

Não se desespere, não ainda, pelo menos. Hoje é um novo dia, e tais acordos entre duas pessoas solteiras são fonte do mais alto escândalo, de modo que ele não fará avanços com você, ao menos não em público. Você pode descobrir hoje, ao conversar com ele, que ele se sente da mesma maneira e deseja um namoro. Posso pedir que Hunter fale com ele, se quiser. Para lembrar a Lorde Leighton de sua honra como cavalheiro, para não brincar com mulheres solteiras, apenas para rechaçá-las depois de satisfeito.

Katherine balançou a cabeça, odiando o mero pensamento de ter outros dizendo a Lorde Leighton como ele deveria agir apenas pelo que eles haviam feito. Afinal, foi ideia dela dormir com ele.

— Por favor não. Tenho certeza de que, não importa o que aconteça hoje, Lorde Leighton e eu continuaremos amigos. Antes de mais nada, fui eu quem instigou tudo isso, não podem castigá-lo só porque eu o provoquei até que ele atendesse meu pedido.

Que dilema era esse em que ela estava, um criado por ela mesma,

— Vamos nos juntar aos outros lá fora. Estou apenas sendo tola me escondendo dentro de casa. — Katherine ficou de pé. —

Vamos?

Cecilia soltou um suspiro resignado, mas se levantou.

— Muito bem, mas por favor, confie em mim se alguma coisa a incomodar. Acima de tudo, desejo sua felicidade.

Katherine abraçou Cecilia enquanto saíam para o terraço e desciam as escadas até a grande extensão de gramado.

— Eu irei até você se algo perturbador acontecer, mas até então, por favor, não se preocupe comigo. Eu sou mais velha do que você, não se esqueça. Estou muito bem, sou capaz de lidar com a minha vida.

— Eu sei que você é.

Darcy acenou e veio se juntar a elas, e por um momento as três simplesmente ficaram de pé a observar os convidados jogando críquete. O riso dos jogadores durante a partida trouxe um sorriso aos lábios de Katherine, e ela se esqueceu seus problemas com relação a Hamish e apenas curtiu a confraternização.

Lorde Leighton deu uma tacada, e a pequena bola branca atravessou o aro, dando a ele a liderança. Ele gritou, rindo e sorrindo por sua boa sorte. Ela suspirou ao ver como ele era bonito, ainda mais se comparado a ela. Ela não era tão tola a ponto de se considerar uma beleza acima dos padrões, não quando Lady Savile caminhou até Hamish e colocou a mão no braço dele.

Eles riam de algo relativo ao jogo.

— É inofensivo, Kat. Flertar é da natureza de Lady Savile. Ela não está interessada em Lorde Leighton. Isso eu posso prometer a você.

Katherine olhou de volta para o par e percebeu que Hamish a observava, estava inclinado, de forma casual, no taco, os olhos escuros e nublados percorrendo-a de uma maneira que sua pele formigou de calor.

— E com base nesse olhar — disse Darcy, rindo um pouco. —, ele também não está interessado em Lady Savile, mas sim em outra mulher.

Ela sentiu um rebuliço no estômago e sorriu um pouco.

O jogo terminou e, quando Hamish começou a andar na direção delas, Darcy e Cecilia se juntaram aos maridos sentados em uma mesa ao ar livre, totalmente envolvidos no que parecia ser um debate muito alto e envolvente sobre a próxima venda marcada na Tattersalls.

— Você não vai me parabenizar, senhorita Martin? Eu venci.

Katherine ergueu a sobrancelha, nervosismo a atravessando, era a primeira vez que eles se falavam desde a noite passada. Uma noite em que ele mostrara a ela as muitas coisas que uma mulher e um homem podiam fazer, e que até agora a faziam ansiar.

Ele estaria disposto a dar continuidade ao acordo? Será que ela podia confiar que as suspeitas dela, que ele gostar e desejá-la era algo real, e não apenas uma solução rápida às súplicas e desespero dela de que ele dormisse com ela?

— Parabéns. — disse ela. — Deve estar muito orgulhoso.

Katherine sorriu, ignorando o fato de que tudo o que ela queria fazer agora era arremessar-se nos braços dele e beijá-lo. Ele verificou onde os outros convidados estavam antes de dizer:

— É tudo o que eu vou receber de você? Não está disposta a presentear o vencedor com mais nada?

— Não entendo o que quer dizer, milorde. — disse ela, tentando não olhar para os lábios carnudos que mais uma vez a lembravam dos atos da noite passada, e o prazer que haviam provocado.

Ela falhou como uma miserável.

O cabelo dele estava penteado para trás, mas ao ar livre pequenas mechas flutuavam em seu rosto. Ontem à noite ela havia

se agarrado ao cabelo dele, segurando-o enquanto o beijava a ponto de ele se perder. Ela queria vê-lo daquele jeito outra vez.

— Diga-me Srta. Martin, diga-me: O que consideraria uma boa recompensa para um cavalheiro como eu? Uma garrafa do melhor uísque? Alguns soberanos para cobrir meu bolso. — ele se inclinou na direção dela. — Um beijo da mulher que me mantém acordado a noite inteira de tanto que me faz falta?

Ela estremeceu, sabendo que se eles se beijassem, o contato levaria a muito mais. O duque de Athelby e o marquês convocaram Hamish para se juntar à nova partida. Hamish acenou para eles por cima do ombro, gritando:

— Só um minuto.

— Você quer me beijar de novo, milorde. Pensei que depois da noite passada nosso acordo havia sido concluído e você estaria livre de qualquer obrigação para comigo.

Seu estômago revirou ao expressar seus medos, que sua fala fosse, de fato, um testemunho da verdade. Ele concordaria, se afastaria dela e passaria para a próxima amante? Alguém com melhor posição na sociedade, mais do seu gosto e desejo.

— Eu quero fazer muito mais do que beijar você, Kat. Sei que nosso interlúdio era parte de um acordo de uma noite apenas, mas não é o bastante. Não é o suficiente para mim, e espero que não seja para você também. — ele os guiou pelo gramado, dando a ilusão de que estavam apenas passeando e aproveitando o dia. —

Há uma fonte termal aqui nas terras do marquês. Eu a visitarei esta noite, e iremos para lá.

— Não sei se você percebeu, Hamish, mas não está muito quente. Vamos congelar.

Ele riu, a mão livre pousando sobre a dela que estava em seu braço.

— Eu vou mantê-la aquecida. — e com essas palavras ele abriu um sorriso diabólico e se juntou ao duque e ao marquês.

Katherine não conseguiu fazer nada além de olhar para ele. Ele não estava farto dela. Ele queria passar mais tempo juntos, exatamente como ela esperava.

Ela nunca fora desejada por um homem antes, e era uma mistura de apreensão e alegria saber que Lorde Leighton a desejava. Katherine não sustentava ilusões de que estes encontros com ele encontrariam um limite.

Mas ela quis saber como era a vida com um homem, e ele estava mostrando a ela. Não importava que riscos estivessem atrelados a isso, era pularia neste abismo e aproveitaria ao máximo.


CAPÍTULO 11

M ais tarde naquela noite, eles saíram da casa e atravessaram os gramados até o rio que atravessava a propriedade do marquês de Aaron. A noite estava clara graças à lua cheia e às poucas nuvens, embora Hamish pudesse ver ao longe o clarão de relâmpagos e ouvir o estrondo baixo de trovões.

As termas eram uma característica marcante da propriedade e, muitos anos atrás, o avô do marquês transformou a área em um local que a família e os convidados pudessem usar. O entorno era rodeado de pedras e um caminho foi delineado na margem Assim, as pessoas podiam entrar e sair sem sujar os pés.

Dentro da nascente havia uma saliência usada como apoio e que corria ao longo da região circular da fonte termal, dando aos que desfrutavam da água quente um banco para se sentarem embora parcialmente submersos.

— Ó meu Deus, isso é incrível. — disse Katherine, quando foi agraciada pela visão da terma.

O vapor subia para o céu noturno e, quanto mais se aproximavam, mais quente o ar se tornava.

— Se eu fosse Cecilia, estaria sempre aqui. — ela soltou a mão dele e foi até a água, mergulhando a mão nela. — Está tão quente.

Uma temperatura que estava quase se igualando ao que Hamish sentia no momento. Ao ver Katherine sob o céu iluminado pela lua, a pele translúcida e corada após o esforço de correr em direção às águas, o fez sentir uma dor estranha no peito. Ele desatou a gravata, colocando-a em um banco ao lado da fonte.

— Vamos entrar? — ele perguntou, tirando o colete.

Katherine se juntou a ele. Ele respirou fundo quando ela agarrou a camisa dele e a puxou por cima da cabeça.

— Sem dúvidas.

Eles se despiram depressa, ajudando-se com botões e nós.

Hamish se afastou e observou quando ela passou a camisola em volta pernas, seu corpo mais magnífico do que ele jamais imaginara ser possível. Ele nunca pensou que iria querer uma mulher tanto quanto ele queria Katherine, e a emoção o deixou sobressaltado.

Ter qualquer sentimento além de meramente gostar, era perigoso para ele. Tais emoções levavam ao casamento e depois a filhos, e esta última possibilidade o levaria a uma aflição que ele nunca submeteria sua noiva. A mulher com quem ele se casasse não poderia querer ter filhos. Ele tinha um herdeiro e não arriscaria a vida da futura esposa só para ter mais crianças. Ele já havia perdido uma irmã, e tal perda era mais que suficiente.

A mão dela apertou o queixo dele, e ele encontrou seu olhar, surpreso ao ver preocupação naquelas esferas marrons.

— Está tudo bem, Hamish? Você parece um pouco perdido em pensamentos.

Ele a puxou para seus braços, beijando-a profundamente. Ela riu em meio ao beijo, antes que passasse as mãos em torno do pescoço dele e o beijou de volta com paixão. Pegando-a nos braços, ele a carregou até a água e a desceu com cuidado.

Soltando-a, ele permitiu que ela se levantasse e observou com prazer enquanto ela entrava na água quente.

— Nossa, é divino. Obrigada por me trazer aqui.

Ela se ajoelhou na água, cobrindo o corpo, e ele sentiu falta de ver os mamilos enrugados que reagiram ao ar frio da noite. Hamish deu alguns passos e se apoiou na Saliência, observando-a enquanto flutuava na água, aproveitando um pouco antes de se

juntar a ele no banco. Ela deslizou as mãos pelo peito dele e o beijou de leve nos lábios.

— Agora que você me tem aqui, sozinha e... nua, o que vamos fazer?

O sorriso dela era contagioso, e ele riu.

— O que tem em mente?

Hamish sabia o que ele queria fazer, no que ocupara sua mente durante todo o dia. Quando Katherine estava jogando críquete, ela se inclinou para bater na pequena bola branca, e ele percebeu que as calças de camurça e a casaca só poderia cobrir seu desejo por ela até certo ponto. Ele precisou se sentar e conversar sobre as últimas notícias de Londres para tentar se distrair. Talvez você deva montar no meu colo, e então decidimos.

Os olhos dela brilharam com interesse, e ela acatou a sugestão dele sem pensar duas vezes. O corpo dela se encaixava como uma luva nele, macia e sedosa sob as mãos dele. O monte dela estava pressionado ao pênis dele, e ela suspirou quando deslizou contra ele de propósito, o olhar escurecendo em excitação.

— E agora? — ela perguntou, passando as mãos nos cabelos dele e segurando-o com força.

A respiração dela ficou mais pesada, e ele pôde ver que o deslizamento contínuo contra o membro dele, duro como pedra, era prazeroso para ela, provocando-a a continuar a movimentar-se.

— Agora. — disse ele, a voz tensa. — Você vai me guiar para dentro de você. E então, minha querida... — ele passou a mão pela coluna dela, seguindo para segurá-la pela nuca. — Você vai me foder.

Ela meio ofegou e meio que gemeu, e a ideia que ele verbalizara ameaçou acabar com sua sanidade. Ela passou uma das mãos entre eles, envolveu o pênis dele e o guiou para a vagina dela.

Katherine mordeu o lábio e, com uma descida tortuosa e lenta, ela o tomou por inteiro. Os olhos dela se arregalaram antes que desejo bruto cruzasse suas feições.

— Eu pensei que iria doer.

Ele balançou a cabeça, segurando-a pelos quadris e a guiando em um ritmo constante.

— Se estivermos fazendo certo, nunca mais doerá.

Algo mudou nos olhos dela antes que ela piscasse e o vislumbre desaparecesse. Ela se moveu com mais força e qualquer pensamento envolvendo outra coisa se perdeu. Ele a teria assim pelo tempo que ela desejasse. Não podia desistir dela.

— Eu sabia que uma noite com você nunca seria suficiente.

Ela estremeceu em seu abraço antes de beijá-lo com calor sensual. Ele se deleitou nos braços de uma mulher que não mostrava medo de pegar ou pedir o que queria. Ele deu a ela controle para fazer amor no próprio ritmo. Embora pudesse levá-lo à loucura, ele garantiria que ela sentisse prazer antes que ele gozasse. Katherine arqueou as costas, concedendo a ele uma bela vista dos seios que balançavam na água.

— Você é tão bonita.

Ele apertou um seio e inclinou-se para beijar o mamilo rosado.

Ela gemeu, aumentando o ritmo, e ele lutou pelo controle. Droga, ele queria transar com ela com mais força, sentá-la na margem da terma, baixar a cabeça e tomá-la com a boca. Arrancar a menor quantidade de alegria que pudesse enquanto estavam aqui, longe de Londres e de suas vidas normais.

O núcleo dela se apertou em torno dele, o ritmo dela aumentou, se aprofundou, e ele gemeu.

— Sim, assim. — disse ele, ajudando-a a manter o ritmo.

Katherine fechou os olhos, jogou a cabeça para trás na hora que chegou ao clímax nos braços dele. O suspiro satisfeito dela o distraiu e, no auge da liberação, ele se afastou, envolvendo o pênis com a mão e levando-se ao clímax. Ela se deixou cair no peito dele, e ele a abraçou, passando a mão pelas costas dela enquanto os dois recuperavam o fôlego.

— Londres será muito chata quando voltarmos. Agora que estive com você, como continuar a vida que vivia antes? Você está me mostrando tudo aquilo de que abri mão. O que nem havia pensado precisar. — ela murmurou.

Ela deitou a cabeça no ombro dele, seus olhares se encontraram, e ele a beijou. Ele também foi afetado pela união deles. Hamish nunca teve uma reação emocional ao se deitar com uma mulher, nunca teve essa necessidade avassaladora de proteger, se preocupar e cuidar dela. Necessidade de estar à altura de seus pensamentos, anseios e desejos. Seus contatos anteriores eram interações estéreis, sem emoção. Mas com Katherine, algo era diferente. Ele era diferente com ela.

Ele gostava dela. Muito.

— Diga-me algo que você nunca disse a outra vivalma. — ele perguntou, querendo conhecê-la melhor.

A mão dela passou pelos cabelos dele, e ela suspirou.

— Menti para você quando falei que uso calças para trabalhar.

Eu nunca as uso e se meu pai descobrisse aquela roupa, eu estaria trancada no meu quarto até morrer de velha.

Hamish riu, sem esperar tamanha declaração de honestidade.

— Você estava muito confortável nelas. Por que a vestiu?

— Eu descobri que você estaria na casa naquele dia e queria chocar você, provocar talvez.

As mãos dele correram pelas costas dela, deslizando sobre uma das bochechas da bunda dela, e seu pênis se contraiu.

— Bem, funcionou. Enquanto eu observava você subir as escadas, tudo o que consegui pensar era em levá-la para um quarto vazio e retirar as calças.

— Mesmo? — disse ela, inclinando-se e beijando-o.

— Sim, com certeza.

O coração dele batia forte no peito.

— Talvez possamos continuar nosso caso em Londres, Katherine.

Ele era um canalha, nunca deveria pedir que ela continuasse com um caso assim. O risco era todo dela por ser solteira e de outra classe social. Mas ele não conseguiu não perguntar. Não havia dúvida de que seus caminhos se cruzariam em Londres, seus amigos em comum garantiam tais momentos. Como ele poderia se afastar dela, não a desejar a cada vez que se encontrassem.

Seria tortura, e ele não conseguiria manter-se longe. Um alarme soou em sua mente que ele estava indo contra as próprias regras, mas neste momento, pensar em não ter Katherine em seus braços outra vez, como ela estava neste exato momento, não era uma ideia atraente. Hamish deixou as regras de lado. Eles só teriam que ter cuidado, tanto para não serem pegos quanto para não a engravidar.

A mão dela flutuou no peito dele, parando sobre o coração.

— Você quer?

Ele assentiu sem hesitar.

— Quero. Você ainda não se livrou de mim, Srta. Martin, e até você se cansar de mim, as coisas ficarão como estão.

Ela se sentou, se contorcendo contra ele novamente.

— O que mais podemos fazer, Lorde Leighton? Sou sua.

As palavras dela soaram sinceras, aumentou a luxúria dele.

O que havia de tão diferente nela? O que a fazia tão especial?

— Você está brincando com fogo, Katherine. Está certa de que quer saber?

Ela riu, os seios roçando o peito dele e endurecendo seu pênis a ponto de vibrar.

— Ah, sim, quero saber e fazer tudo antes que nosso tempo acabe.

A ideia de não a ter assim, de observá-la sair da vida dele para ser apenas uma conhecida deixou um gosto amargo na boca dele.

Ele a manteria por perto, cuidaria dela pelo tempo que ela desejasse.

Ele a levou para a margem das termas, deslizou as mãos nas coxas dela.

— Deite-se e abra as pernas. Eu quero provar você.

Ela mordeu o lábio, e ele gemeu por dentro.

— Se eu fizer o que você pede, pode me prometer que me permitirá fazer o mesmo com você?

Na noite anterior, ela tocou seu pau, acariciou-o, mas ele não permitiu mais nada por medo de perder o controle. Imaginar aqueles belos lábios envolvidos em seu membro, chupando com força, a língua lambendo-o quase fez seus olhos revirarem.— Muito bem, mas primeiro, é a minha vez.

Katherine fez o que ele pediu.

— Ensine-me. — disse ela, suspirando quando ele a beijou.

Ó, ele pretendia.


CAPÍTULO 12

H amish estava sentado na biblioteca da casa da mãe, com uma pilha de papéis sobre a mesa, sendo alguns relacionados à reconstrução de sua casa na Berkeley Square. Uma carta, escrita com caligrafia delicada e assinada pelo pai de Katherine, mas que Hamish sabia que ela escrevera cada palavra.

Desde o retorno a Londres no mês anterior, eles tornaram-se inseparáveis, conseguiam momentos roubados em eventos, ficavam juntos à noite quando ele a levava para casa de bailes e festas. Ele mal podia esperar que sua casa estivesse pronta para levá-la até lá, tê-la em sua própria cama e não em uma carruagem ou em escondido em um salão de baile durante uma festa.

Hamish não se refletira muito acerca da importância que Katherine adquirira para ele, mas o que ele sabia era que se importava mais com ela do que com qualquer outra pessoa. A felicidade dela era primordial na vida dele, além disso, ela ainda despertava o desejo dele com tanta ansiedade que palavras não bastavam para descrevê-la.

Uma batida soou à sua porta, e ele guardou a carta de Katherine. A carta contava que a reforma de sua propriedade estava completa, e a fase de decoração começaria, a cargo do Sr. Thomas Hope. Era uma fatura com a descrição dos serviços prestados e o valor devido.

— Entre. — ele disse, não gostando da ideia de voltar para Berkeley Square e não ver Katherine lá, com calças, o pequeno boné cinza empoleirado em cima de seus cabelos, com uma

aparência tão inebriante que ele sentia vontade de arrebatá-la e tê-

la.

Ele conseguira trancar-se com ela na sala de jantar onde a tomou sobre a mesa. Ele nunca olharia para o móvel de mogno com nada além de saudosismo.

— Posso entrar, Lorde Leighton? — Lizzie estava na porta.

Ele gesticulou para ela entrar.

— Sente-se, Lizzie. — ela fez o que ele pediu, e ele lhe deu toda a atenção. — Como posso ajudá-la?

Ela apertou as mãos com força no colo, e a torção delas a acalmava.

— Algum problema? — ele perguntou, largando a pena.

Lágrimas brotaram nos olhos dela, e ele hesitou. Não estava acostumado a tais teatros femininos. Katherine nunca perdia a pose, sempre se mostrava calma e tranquila com tudo. Tudo, exceto o ato sexual. Ele afastou os pensamentos e se concentrou em Lizzie e seu problema.

— Sua mãe deseja que nos casemos, e eu não sabia a quem mais recorrer. Há semanas ela vem me pressionando para ganhar seu favor, mas desta vez ela foi longe demais, e eu não posso fazê-

lo.

Hamish apertou a mandíbula, sem se surpreender pela angústia de Lizzie ser causada pela mãe intrometida.

— O que ela pediu para você?

Ele odiava ter de saber, mas se iria lidar com a situação, com a mãe em particular, ele precisava saber tudo.

— Ela quer que eu seja pega em seus braços, quase me arruinando, para que você, como cavalheiro, precise me pedir em casamento. Eu não posso fazer isso, meu senhor. Por mais que eu

o respeite e agradeça por seu auxílio nesta temporada, sinto apenas afeições fraternas por você.

Após o discurso acalorado dela, Hamish precisava assentir que havia criado respeito pela senhorita Doherty. Ele a tomara como uma marionete da mãe dele, mas a garota mostrou coragem, um pouco de vontade própria, e ele gostava disso. Ela precisaria dessa postura quando a mãe dele soubesse de sua traição.

— Agradeço por ser honesta e por me notificar da proposta menos que adequada de minha mãe. Falarei com ela e posso garantir que você terminará a temporada sem nenhuma influência dela e seus desejos.

A garota pegou um lenço e enxugou as bochechas.

— Ela vai me mandar de volta para o interior, e eu vou morrer como uma solteirona velha e nunca terei o que minhas amigas conseguiram.

A ideia o fez pensar em Katherine e no fato de que aos vinte e seis ela já era chamada de solteirona, uma encalhada. A ideia não parecia boa para ele, nunca pareceu. Uma mulher com tanto espírito, uma alma bonita por dentro e por fora, não deveria jamais ser chamada de matrona, nunca amada ou querida.

— Eu prometo a você que isso nunca vai acontecer. E, com certeza, há homens com idade mais próxima de você que chamaram sua atenção. Você não se tornará uma solteirona até a morte.

— Não tenho dote, meu senhor. Meu pai deixou tudo para meu irmão. O que me é devido são apenas duzentas libras por ano a serem repassadas ao meu futuro marido, não para mim. Talvez eu até tenha admiradores, mas não tenho dinheiro para tentá-los a propor. Parece que meu valor é apenas financeiro. Não há interesse na minha pessoa.

Ela encontrou o olhar dele, suas palavras o atingiram como uma verdade infeliz em suas vidas.

— Portanto, nunca me casarei, pois não posso comprar meu marido. — completou ela com amargura que não se costuma ver em jovens.

Hamish se levantou, contornando a mesa para se apoiar nela.

— Eu não vou permitir que seja assim. Como você está sob nossa proteção, assegurarei que nunca aconteça. Vou lhe dar um dote, senhorita Doherty. Dez mil libras para ser mais exato, uma quantia desprezível para minha família, mas existe uma condição.

— Mas, meu senhor, eu não poderia. Isso é demais. — ela gaguejou, os olhos brilhando de choque.

— Está resolvido. Terei os documentos prontos até o final do mês, mas como eu disse, há uma condição.

— Que seria? — ela empalideceu, mas parecia estar ouvindo.

— Que guardemos segredo. E então, Lizzie, quando encontrar o cavalheiro certo, um que a ame apesar de sua aparente pobreza, saberá que é amor. Você saberá que é o homem certo para você.

Ela ficou sentada por um momento, a boca aberta sem emitir som algum, até que ela saltou nele, jogando os braços em seu pescoço e abraçando-o com força.

— Ó, muito obrigada, Lorde Leighton. Muito obrigada. Serei eternamente grata e, se precisar de alguma coisa, diga a palavra e ficarei ao seu lado sempre.

Ele a afastou, balançando a cabeça.

— Não há necessidade de me agradecer, já foi penitência suficiente acompanhar minha mãe por toda esta temporada. Agora...

— ele disse, empurrando-a em direção à porta, a papelada em sua mesa o esperando. — Vá em frente e aproveite o que resta da

temporada e não precisa escolher um marido com pressa. Às vezes, a pessoa certa para você chega quando se menos espera.

Ela assentiu e fechou a porta com cuidado.

Hamish ficou encarando o papel por alguns instantes, pensando em Katherine, e em como ela havia chegado à vida dele, não aos dezoito anos e nova na cidade, mas aos vinte e seis, uma mulher que conhecia bem sua mente, e queria saber tudo o que seu corpo poderia ser capaz de fazer. Uma mulher que trabalhava para viver e administrava um negócio de muito sucesso.

Lizzie lembrava sua irmã de várias maneiras. A ansiedade por uma temporada em Londres na tentativa de arrumar um bom partido. Felizmente para May, ela se casou por amor, um consolo, considerando que faleceu dando à luz seu outro grande amor.

Ele dera conselhos muito semelhantes aos que havia dado a Lizzie. Casar com o homem de sua escolha, não com a escolha da mãe deles. Afinal, seriam elas que teriam que viver o resto de suas vidas com suas escolhas.

Ele sorriu, pensando em Katherine.

Ele a veria esta noite no baile de Lorde e Lady Oliver, o evento maios esperado da temporada segundo a sociedade. Ele voltaria a Hollyvale em algumas semanas, mas a ideia de deixar Katherine na cidade deixava um gosto amargo na boca.

Ela viria com ele?

Se ele convidasse os amigos, talvez ela aceitasse ir, e então ele poderia tê-la lá, em sua casa, passar um tempo com ela e mais ninguém. A palavra casamento passou por sua mente, e ele se sobressaltou. Ele poderia se casar com ela, terem uma vida juntos?

Pânico o rasgou ao pensar nela engravidando e morrendo. Ele não podia mais negar o que sentia por Katherine, pois era amor, amor absoluto e sem censura, mas ele também amava sua irmã, e

ela morrera. Nada poderia salvá-la, a não ser a escolha de não ter filhos.

Ele duvidava que pudesse impedir Katherine de querer ter filhos, e ela merecia ser mãe, não merecia ser detida pelos medos dele, por seus pesadelos acerca de como seria o futuro dela. Não, ela merecia muito mais que isso.


CAPÍTULO 13

O baile já estava em andamento, e Katherine dançara e rira a noite toda com Cecilia e Darcy, junto de Lorde Leighton, que não havia deixado o lado dela. Ele dançou uma valsa com ela, dançou com a protegida de sua mãe, a Srta. Lizzie Doherty, que parecia uma jovem adorável, além do fato de ter que lidar com a mãe de Hamish na maioria dos dias. Hamish dançou com ela outra vez, mas parecia bastante contente em não sair de onde estava para dançar com outras pessoas.

O que estava muito bem para Katherine.

Ela adorava que ele a idolatrasse, e era exatamente isso que ele vinha fazendo desde o retorno de Surrey. Dentro do círculo de amizades deles, o caso dos dois não era mais um segredo. O duque a avisara do escândalo que se romperia caso tal romance se tornasse de conhecimento público. Eles foram muito discretos e cuidadosos e não havia razão para que o relacionamento deles não pudesse continuar. Pelo menos no que se referia a ela.

Lorde Leighton se abaixou entre eles e deslizou o dedo sobre o dedo mindinho dela.

— Encontre-me na sala de música. Ninguém estará lá.

Desejo percorreu as veias dela, e ela encontrou o olhar dele, deleitando-se com o desejo e o calor que via ali. Ele parecia sentir exatamente o mesmo que ela.

— Onde fica?

— Vá na direção da sala de descanso do andar de cima, mas ao chegar lá, vire à direita em vez de à esquerda. É a única porta no

lado direito do corredor. Vou deixar entreaberta. — ele sussurrou, afastando-se da multidão.

Katherine fez questão de prestar pouca atenção à partida dele, e se voltou para Cecilia, que discutia o convite de Lorde Leighton para uma celebração de um mês em sua propriedade rural após a temporada. Ao receber o convite, ela se animou com a ideia de ver a casa dele, contudo, tal ideia a fez dar um passo atrás.

Eles estavam tendo um caso há quase dois meses, e ele não havia sugerido nem uma vez quando terminariam, quando ele gostaria de interromper o contato.

E mesmo que ela tenha pedido para ele dormir com ela, mostrar e ensinar tudo a ela, agora parecia um arranjo, quase como se ela tivesse se tornado amante dele. Não que ele não cuidasse dela, ou fosse leal, ela nunca duvidou disso, era apenas que queria mais.

Ser amada por Hamish havia mostrado que ela possuía valor como mulher, não apenas uma girafa com cabelos lisos que as pessoas ignoravam.

Mas uma mulher que agora sabia como amar, não apenas Lorde Leighton, mas ela mesma. Ela não se vestia para agradar ninguém além de si e, com certeza, se comportava como uma igual às amigas. Ela nunca permitiria que alguém a desmerecesse como se não fosse nada além de uma trabalhadora.

Mas com o passar do tempo, a cada contato dela com Hamish, ela passou a se sentir como se não valesse mais do que umas moedas. E não era mais o suficiente.

— Vou à sala de descanso. Volto em breve. — disse ela com uma pequena reverência à Sua Graça e ao marquês e marquesa.

A sala foi fácil de encontrar e, antes de entrar, ela olhou rapidamente para garantir que ninguém estivesse ali e fechou a porta. Hamish estava parado junto às janelas, olhando para os

jardins. Seu coração deu um pulo, e ela o apreciou antes de caminhar até ele.

— Você está tão bonita hoje à noite. — disse ele, beijando-a.

Fazia quase duas semanas desde a última vez que se viram, e o abraço logo se transformou de calmo e doce a incendiário. De alguma forma, cada vez que estavam juntos, apenas funcionava.

Eles sabiam onde cada um gostava de ser tocado, que beijos enlouqueciam o outro, e Katherine se agarrou a ele respondendo a demanda dele com a própria.

— Preciso ter você. — ele murmurou.

Katherine cedeu ao pedido, desejando-o também, e esquecendo suas próprias dúvidas, deixando-o empurrá-la em direção a um sofá.

Haveria tempo para discutir o que eram, o que quer que fosse a conclusão. Poderiam fazer isso no dia seguinte, longe do baile e de qualquer matrona espiã da sociedade. Esta noite, agora, ela queria tê-lo só para ela, amá-lo tanto quanto o pudesse e mostrar a ele que ela era dele, se ele um dia a quisesse assim.

O sofá bateu nas pernas dela, e ela se sentou. Hamish não perdeu tempo antes de puxá-la para baixo, enrolando as saias dela na cintura, a mão dele deslizando contra seu núcleo em golpes tentadores.

— Não me canso de você. — disse ele, sua voz rouca de desejo.

Ele se ajoelhou entre as pernas dela e abriu com pressa suas calças, voltando sobre ela e empurrando-a com força. Os dois gemeram pelo puro prazer de estar juntos dessa maneira. Ele a beijou com força, e ela ofegou quando ele a carregou para um clímax rápido.

Eles se encaixavam tão perfeitamente bem, e ela fechou os olhos enquanto lágrimas ardiam atrás de suas pálpebras. Ela não seria sentimental com a união deles, mesmo que fosse muito boa.

Tudo o que ela esperou ter com um marido um dia, na época em que ainda sonhava com isso.

Os golpes dele se aprofundaram e, junto do prazer da união veio uma tortura requintada.

— Hamish, aí mesmo. Não pare.

A palavra sussurrada "nunca'" fez cócegas na orelha dela, e o êxtase a percorreu, forte e rápido, e ela abafou seu gemido no ombro da casaca dele. Ele investia sem restrições e, com um gemido abafado, encontrou seu próprio prazer dentro dela.

No momento em que aconteceu, ele parou.

— O que foi? — ela perguntou, afastando a cabeça do ombro dele para olhá-lo.

— Eu não saí. — disse ele, franzindo a testa. — Droga, Katherine. Sinto muito.

Ela balançou a cabeça, descartando a ideia de que a única vez que ele cometera um erro desse tipo resultaria em um bebê.

— Tenho certeza de que vamos ficar bem. Não vamos nos preocupar a menos que precisemos.

O fato de ele não ter mencionado que se casaria com ela se o erro resultasse em um filho, doeu. Hamish passou a significar muito para ela. Será que ele sentia o mesmo? Pela reação dele, ela só podia supor que ele não gostava dela tanto assim. Pois fazia muitas semanas que Katherine percebeu que, sem dúvidas, o amava. Com todo o coração, e ela daria tudo para que ele sentisse o mesmo.

Ele se afastou dela, endireitando as roupas, e ela se levantou fazendo o mesmo, indo até um espelho próximo e ajeitando os cabelos.

— É melhor eu voltar ao baile. Nos vemos em breve. Quando ela se dirigiu para a porta, ele a agarrou pelo braço fazendo-a parar.


Inclinando-se, Hamish a beijou com tanta ternura que ela se afastou e saiu sem dizer outra palavra. Por que ela estava tão emocional não fazia sentido, ela não era uma mulher que sucumbia à histeria. Ela só precisava de um tempo para pensar no que diria a Hamish quando o reencontrasse.

Sua única certeza era de que o contato entre os dois precisaria cessar caso não houvesse futuro para eles. A ideia a deixou tonta, e ela se encostou na parede, sem querer nem imaginar um futuro sem ele.

Por que ela se sentiu impelida a propor tal arranjo? Por que ela precisava saber como seria estar com um homem? Caso não tivesse, seu coração não seria partido em dois quando ele demonstrou seus medos, e eles tivessem continuado como amigos.

No dia seguinte, Katherine foi convocada pela duquesa de Athelby para o chá da tarde, mas, ao chegar, encontrou apenas Darcy e Cecilia presentes. O prazer de ter suas amigas para só para si logo foi substituído por olhares questionadores assim que ela chegou.

Katherine sentou-se na poltrona vazia, cruzou as mãos no colo e se perguntou o que estava errado.

— Vocês duas estão muito diferentes esta tarde. Há algo de errado?

Darcy serviu o chá, lançando um sorriso hesitante antes de se sentar. Cecilia estava quieta, contemplativa e tomou um gole de chá, depois colocou a xícara na mesa coberta com uma toalha de linho e encontrou seus olhos.

— Você foi vista ontem à noite, na sala de música, e não por nós. Caso fosse qualquer um de nós, como seus amigos teríamos

escondido qualquer infração da qual possa ter cometido, mas não podemos esconder o que já se tornou fofoca hoje.

Felizmente, Katherine estava sentada, pois, se ela estivesse de pé, suas pernas certamente cederiam. Ela foi vista?

Ó, meu Deus, que parte viram?

O beijo ou o segundo ato em que Lorde Leighton a prendeu no sofá e...

Ó não...

Ela se encolheu e, pegando o jornal, leu as palavras que pareciam gritar com ela, zombando e rasgando sua reputação em pedaços.

Prostituta!

— Meu pai lê este jornal. — o coração dela descompassou até quase parar, seu vestido parecia muito apertado, a sala girou e, ao longe, ela ouviu Darcy pedir sais.

Em um momento ela foi lançada de volta à realidade, mas assim que se fez saber que toda a Londres sabia, as possíveis fofocas ricochetearam em sua mente. Ela leu o artigo uma segunda vez, não querendo acreditar no que estava escrito em preto e branco.

Uma certa mulher, com as iniciais de KM, de uma esfera social, vários níveis abaixo da nobreza, foi vista se engalfinhando com um certo cavalheiro, Lorde L., de modo que nada poderá reconstruir sua reputação, não importa quão bem sua família seja no ramo da Construção Civil.

— Estou arruinada. É melhor que eu saia.

Katherine se levantou, e Darcy estendeu a mão, parando-a.

— Você não vai a lugar nenhum. O que aconteceu ontem à noite, Katherine? Precisamos saber. O duque foi buscar Lorde Leighton enquanto esperávamos você, há coisas que precisamos fazer para tentar salvar sua reputação.

Katherine levantou-se e caminhou até a garrafa de uísque, servindo-se de um copo. Bebeu o líquido e, em seguida, repetiu o processo.

Seu pai ficaria arrasado ao saber que ela havia se rebaixado. Ele ficaria lívido, o que não era um estado que Katherine já o tivesse visto ter. E ela fez isso com ele. Ela envergonhou a todos, inclusive a si. Ela encontrou os olhos preocupados de suas amigas e suspirou.

— Sabem que eu queria um caso com Lorde Leighton, para experimentar um pouco do que vocês têm. Eu me resignara a nunca me casar, a nunca encontrar um homem que me amasse e me respeitasse.

— Isso não é verdade, Kat. Você é uma mulher bonita e qualquer um ficaria honrado em se casar com você. Se ao menos nos deixasse procurar potenciais pretendentes... — disse Cecilia, pegando sua mão.

Katherine apertou um pouco antes de largar.

De qualquer maneira, as palavras de sua amiga não mudavam o que ela sabia ser verdade. Se ela fosse desejável, atraente, teria se casado anos atrás. Seu dote era grande, mais do que muitas pessoas imaginavam, mas mesmo tal montante não fora tentador o suficiente. Ou tentador demais, e seus únicos cortejadores eram caçadores de fortunas.

— Lorde Leighton é famoso por ter a seu lado deusas louras com curvas nos lugares certos. Pele bonita e olhos brilhantes.

Posso ter olhos bonitos, admito, mas meu cabelo é da cor do pelo dos ratos.

— Katherine, isso é um absurdo. Pare de falar de si dessa maneira. Não vou permitir. — declarou a duquesa, cruzando os braços à sua frente.

— Mas precisa permitir, é a verdade. A única razão para Lorde Leighton e eu ficarmos juntos foi porque ele me devia um favor.

Nada mais. Percebo isso agora.

A porta da frente bateu e, em um momento, a porta da sala se abriu e entrou Lorde Leighton e o duque de Athelby. Hamish parecia miserável, com os cabelos revoltos e a gravata desamarrada no pescoço.

O duque foi ficar ao lado de uma janela, olhando para a rua, e Hamish se aproximou dela, ajoelhando-se ao lado dela.

— Kat, eu sinto muito. Nunca deveria ter permitido tudo o que aconteceu entre nós, e agora eu arruinei você.

— Você precisa consertar isso, Leighton. Seja correto. — disse o duque, sem olhar para eles.

— Correto? — Hamish perguntou, franzindo a testa para o duque. — E o que seria “correto” para você?

Calor subiu pelas bochechas de Katherine, e ela se levantou para ficar diante do fogo, e de repente ela se sentiu gelada.

— Ele quer dizer que deve se casar comigo, Lorde Leighton.

Sua Senhoria encontrou seus olhos, e o horror que ela viu em suas feições era o que ela precisava para saber seu lugar. O

pedacinho de esperança no coração dela, que acreditava que ele talvez pudesse gostar, talvez desejasse se casar com ela, em vez de continuar sua vida de solteiro, murchou e morreu.

O choque e a decepção no olhar de Darcy e Cecilia a fizeram entender mais do que nunca que ele estava apenas se divertindo. E

a culpa era dela, ela se oferecera como um prêmio, feia e magra demais para ser digna de amor, manchada demais pelo trabalho, alojada muito longe de Mayfair para ser adequada. Deveria ter deixado Lorde Leighton ter o crânio aberto naquela noite na estalagem. Ela deveria ter ido embora, mas não o fez. Porque ela sabia quem ele era e sabia que tinham amigos em comum, mesmo que ele não estivesse ciente.

— Está na hora de eu ir. — disse ela, caminhando para a porta.

Lorde Leighton cruzou na frente dela, bloqueando seu caminho.

— Katherine, vamos consertar isso. Não permitirei que sua reputação seja manchada por algo que não pode ser provado.

Ela balançou a cabeça, sem saber que alguém que provocara tanto prazer nela poucas horas antes poderia causar tanta dor a ponto de ele se sentir ferida fisicamente.

— Vá para o inferno, Hamish. Não quero nada de você.

— Você se casará com minha amiga, ou eu o rechaço. — disse Cecilia, ficando de pé e colocando as mãos nos quadris.

Katherine sorriu em agradecimento, mas nunca poderia se casar com um homem que não a queria.

— Obrigada, Lia, mas eu não me casaria com Lorde Leighton agora, mesmo que ele propusesse.

— Por que não? — Hamish e Darcy exigiram em uníssono.

— Não pretendo me casar, e posso prometer que nunca me casaria com um homem que hesitasse, e prometesse todo tipo de maneiras de consertar a ruína da minha reputação, exceto a única maneira de consertá-la de verdade. Com um casamento. Eu sabia desde o início que estar com ele era um risco, mas estava disposta a correr tal risco por uma noite com você. Não vou me subjugar por uma união com um homem que não se importa comigo.

Katherine fez uma pequena reverência e saiu, mal chegando aos degraus da frente antes que as lágrimas se libertassem e seus ombros tremessem em desespero.

Ele não estava apaixonado por ela como ela estava com ele. Ela estava só nesse barco. A calçada de pedra tremeu diante dela e, sem ter como evitar, ela correu para um pequeno canteiro no jardim que ficava ao lado da porta e vomitou.

Uma mulher que ela conhecia de bailes parou e olhou para Katherine por cima do nariz. Ela puxou um lenço. Se a sua ruína não fora selada pelo jornal de hoje, vomitar na frente de Lady Cavendish certamente faria o serviço.


CAPÍTULO 14

H amish voltou para sua propriedade rural, desconvidando os amigos para se juntarem a ele, amigos que se uniram à senhorita Martin, consolando-a em sua tristeza, seu desespero por ser arruinada. Ele partira, pois o atrativo da cidade não era mais como antes, e nunca mais seria.

Katherine estava perdida para ele, o desprezava, assim como a marquesa de Aaron e a duquesa de Athelby também. Com o desprezo das duas, os respectivos maridos também passaram a pensar menos dele, não o convidando mais para jantares em suas casas.

Ele sentou-se sozinho em sua sala de jantar e olhou para a longa mesa vazia diante dele. Depois de ver Katherine deixá-lo na casa do duque e da duquesa de Athelby, ele se encontrava em um estado tão cego de pânico que não foi atrás dela. Em vez disso, ele ouviu o discurso irritado do duque com ele por causa de seu comportamento atroz.

Era tudo o que ele podia fazer para não gritar de volta. Foi honesto desde o início com Katherine, tentou fazê-la ver que ele não podia prometer nada, que não desejava uma esposa ou filhos. Fora uma única vez, ele havia sido bem cuidadoso com ela, não queria que ela tivesse consequências de seus momentos juntos.

Tudo não passava de um conforto infértil por causa da dor que o assolava por não a ver, por não ter contato algum com ela, e o partia em dois. Ele pegou o vinho e se serviu de outra taça. Ele pensou que um tempo longe da cidade, que ter espaço e não a ver, o ajudaria a seguir em frente.

Ele era um tolo.

De qualquer forma, seu tempo longe de Katherine o fazia ansiar mais ainda por ela. Noite após noite, ele acordava suando frio, não por necessidade ou desejo, mas por preocupação, por não estar mais a par do paradeiro dela ou de seu bem-estar. Ele deveria ter ido atrás. Ao não fazer nada naquele dia, ele pode ter cortado qualquer possibilidade de recuperar seus afetos.

Maldito idiota!

A porta da sala de jantar se abriu, e ele olhou para cima, gemendo quando percebeu quem tinha vindo visitá-lo.

— Olá, mãe. — disse ele, saudando-a com a taça.

A mãe dele invadiu a sala como um furacão.

— Como você ousa! Como ousa arremessar nossa família em tal escândalo? Ter um caso com a mulher que supervisionou a reforma de sua casa! Estou mais do que decepcionada. — ela bateu as luvas na mesa. — O que você tem para dizer em sua defesa.

Hamish fechou os olhos e contou até dez, tudo para não perder a paciência. Ele queria desabafar, e se sua mãe continuasse falando com ele de tal maneira, ela seria a receptora de suas opiniões.

— A senhorita Martin pode não ser intitulada ou tão bem conectada quanto nós, mas é uma dama e foi criada como uma.

Não fale mal dela.

— Você sabe que ela está arruinada, que não é mais bem-vinda em nenhum baile da Sociedade. Eu poderia esperar tais ações dela, já que afinal ela exala comércio, mas não de você. Eu esperava muito mais de você. Ter intimidade com alguém de tão pouca conexão está além dos limites.

Hamish afastou a cadeira e se levantou, jogando o guardanapo sobre a mesa.

— Não me ensine como viver minha vida. E não fale sobre Katherine dessa maneira. Eu a arruinei, me afastei dela e a deixei enfrentar os custos de nossas ações sozinhos. Se alguém deve ser ridicularizado somos eu e a sociedade, já que achamos conveniente julgá-la quando não era da conta deles.

Vergonha tomou conta dele por ter deixado Katherine sozinha.

Ele era uma desgraça e havia permitido que seu medo de a perder o vencesse quando ela mais precisou dele.

— E que me importa o que acontece com aquela promíscua?

Você, meu filho, precisa se casar com uma mulher de nascimento respeitável e reputação imaculada o mais rápido possível.

Hamish sabia que sua mãe era dura, até indiferente, mas isso...

Essa frieza e desdém para com os outros estavam além dos limites. Como alguém pode ser tão sem coração?

— Não me fale de tais coisas. Não vou me casar com ninguém de sua escolha.

Os olhos dela escureceram de raiva, e ela bateu com o punho na mesa.

— Você fará o que eu digo, pois está bem claro que você é incapaz de agir como um adulto responsável.

Ele balançou a cabeça.

— Não, mãe.

Ela não respondeu, apenas olhou para ele por um momento.

— Quem então? Com quem você vai se casar, é melhor você se casar com alguém para consertar essa bagunça escandalosa em que nossa família agora se encontra. A sociedade perdoará seus casos com prostitutas, mas dormir com uma mulher solteira que está sob a proteção do duque de Athelby por amizade, isso não se perdoa.


— Vou me casar com a Srta. Martin se ela me quiser, que é o que eu deveria ter feito semanas atrás.

Ele retornaria à cidade e lutaria pelo perdão dela. Mesmo que ele tivesse que se deitar nu na porta dela e pedir perdão. Ele voltaria à cidade à primeira luz da manhã e obteria uma licença de casamento. Ele também pediu que a governanta preparasse o quarto da condessa para sua nova dona.

Ele consertaria a situação.

Ele imploraria o perdão de Katherine e se casaria com ela, se ela o aceitasse. Lembrar-se de como ele não disse nada, simplesmente ficou imóvel na sala da duquesa naquele dia, como um simplório, e permitiu que ela saísse de sua vida.

— Não permitirei que uma filha de construtores seja sua noiva.

Hamish parou diante da a porta.

— Então eu sugiro que arrume suas coisas e se mude para a casa da viúva, pois tentarei até que meu último suspiro reconquistar o amor dela.

Pois era exatamente o que era. Amor.

Ele a amava e consertaria tudo. Nisso, ele não poderia falhar.

Ele não falharia com Katherine de novo.

Katherine se precipitou para a tigela em sua mesa de cabeceira diversas vezes. O enjoo havia se tornado parte de sua rotina matinal, como um aceno de bom dia. Mas nenhuma manhã seria boa novamente. No dia seguinte ela seguiria para uma cabana na propriedade rural da Duquesa de Athelby, onde ficaria até o fim da gravidez e depois...

Bem, ela não tinha certeza do que aconteceria depois.

Seu pai a apoiara, por mais impossível que parecesse. E a ouviu quando ela foi até ele cheia de vergonha. Ele fora um pilar de força para ela, e ela sentiria falta dele quando estivesse fora.

Uma batida soou na porta, e ela voltou para a cama, sentou-se de lado.

— Entre. — disse ela, pegando o copo de água da mesa de cabeceira e tomando um gole.

— Sou eu, querida. Desculpe incomodá-la, mas você tem visita.

— Darcy disse.

— Não posso ver ninguém. Mande embora.

Katherine se deitou na cama, puxando os cobertores até o queixo. Se ao menos ela pudesse se esconder aqui para sempre.

Ela ouviu a porta se abrir mais, e então uma voz que ela não esperava ou desejava voltar a ouvir soou no limiar.

— Posso entrar, Katherine?

Ela se sentou de supetão.

— Não. — ela se engasgou. — Saia do meu quarto e da minha vida.

A porta se fechou, e ela suspirou, meio aliviada, meio desesperada. No momento em que ela precisou dele há três semanas, ele não a perseguiu, nem tentou consertar seu erro no dia seguinte. Em vez disso, ele voltou para o interior e a deixou para os leões.

Desgraçado.

A cama baixou do outro lado, e raiva correu por suas veias quando a porta se fechou. Estava claro que Darcy aprovava que Lorde Leighton viesse vê-la.

Bem, ela não, então ele podia ir embora.

— Katherine, embora eu saiba que nada do que possa dizer seja o bastante, quero que que saiba que eu sinto muito. Eu entrei em

pânico. Casamento sempre leva a filhos, e eu não conseguia imaginar isso para você. O parto é um risco tão grande, e eu já perdi uma irmã para tal vil acontecimento, de modo que não poderia arriscar sua vida da mesma maneira.

Ela se encolheu, sabendo o que era um pedido de desculpas inútil. Quando ele descobrisse que ela estava carregando o filho dele, ela o veria sair de Londres mais uma vez e, desta vez, duvidava que algum dia o visse outra vez.

— Eu amo você. Você é tudo para mim, desde o momento em que nos conhecemos, me senti atraído por sua bondade, sua risada e independência. — a cama tremeu quando ele se levantou e se ajoelhou ao lado dela. Ele pegou as mãos dela, beijando-as rapidamente. — Case-se comigo, por favor. Me perdoe por meus pecados e me diga que você é minha e eu sou seu. Por favor, não posso viver sem você nem mais um momento.

Lágrimas formigaram atrás de suas pálpebras, e ela fungou.

— Você me deixou. Indefesa e sozinha. Você se virou sem olhar para trás. Eu nunca vou perdoá-lo por isso.

A palidez dele se intensificou, tornou-se um cinza doentio após as palavras dela, e ela se arrastou para fora da cama, a náusea de volta com força. Katherine vomitou, e o silêncio atrás dela foi ensurdecedor.

— Você está grávida, não está?

Se a situação não fosse tão terrível, ela teria rido do horror na voz dele.

Katherine pegou um pano ao lado da tigela e limpou o rosto e a boca.

— Como você é esperto por ter notado tal fato. Agora vá embora, Lorde Leighton. Ali está a porta, deixe-me vê-lo fugir como o covarde que você é.

Ele passou a mão pelos cabelos, sem se mexer.

Droga, ele precisa sair.

O desespero no rosto dele por causa das palavras cortantes dela a fez ver que não queria mais sentir nada por ele. Quanto mais pena dele! Ele a fez de boba, e ela não o aceitaria, por mais que ainda o amasse. O amava mais do que tudo em sua vida, exceto o bebê que agora crescia dentro dela.

— Por favor, Katherine, me ouça. Eu não podia me casar com você, pois sabia que não seria justo negar tudo a você, nem mesmo o desejo de ter filhos. Eu queria mantê-la segura, poupar-lhe desse destino. Foi errado da minha parte, eu sei disso agora. Eu permiti que meu medo e minha dor guiassem minhas reações e nunca me perdoarei por isso. Por favor, não me mande embora.

— Por que você está aqui, milorde? Eu não sou o tipo de mulher que se encaixa em seu perfil. Qual o problema de uma mulher de Cheapside não aceitar sua proposta de casamento? Se nos casarmos, você logo se cansará de mim e buscará conforto em outro lugar. Não estou disposta a arriscar meu coração dessa maneira. Se algum dia eu me casar, será por amor e, acima de tudo, lealdade e respeito. Você, Lorde Leighton, carece das duas últimas virtudes.

— Você acabou de admitir que me ama? — ele disse, dando um passo na direção dela. — Pois se é amor que você sente por mim e amor é o que eu sinto por você, então decerto que é um ponto tão bom quanto qualquer outro para reconstruir nossa confiança e respeito?

Ela se afastou dele, odiando que seu corpo ansiasse pelo homem enquanto sua mente se preocupava com a traição dele.

— Não, não é.

Ele avançou e parou diante dela.

— Sim, é. É exatamente a base certa para começar uma vida juntos, a melhor, pois com amor, não há nada que possa romper esse vínculo. — ele se ajoelhou diante dela, procurando seu olhar.

— Case-se comigo, Kat. Seja minha esposa e condessa. Permita-me dar-lhe filhos. Não posso prometer não me preocupar com você, ser exagerado a ponto de garantir que você sempre tenha os melhores médicos, mas tentarei amenizar minha ansiedade pela situação se você for a próxima condessa de Leighton.

Ele levantou uma pequena caixa de veludo e a abriu.

Dentro havia um anel com diamante mais redondo e grande que Katherine já vira. Seu coração pulou uma batida.

— Suas bugigangas não vão me conquistar, milorde. — disse ela, querendo desviar o olhar dele e de seu presente, e, no entanto, falhando.

Ambos eram realmente magníficos. Sua Senhoria implorando por ela era algo que ela simplesmente não permitia parar. Ainda não pelo menos.

— Sou o oposto do que você deseja. Não sou loira, nem com quadris largos de nascença. Vai se cansar de mim, deixar-me para apodrecer no interior, como acontece com tantas outras, enquanto você anda por Covent Garden e espalha sua semente como fazendeiros alimentando galinhas.

Ele sorriu, e ela teve que admitir que a analogia não era das melhores.

— Você é tudo que eu quero, mas não sabia. Para mim, não há ninguém mais bonita, de mente, corpo e alma. Faça de mim um homem melhor e diga sim. Diga sim para mim, por favor.

Ela levantou a sobrancelha, querendo deixá-lo a ver navios um pouco, enquanto pensava.

— Katherine, sua resposta? — ele disse depois de um tempo. —

Srta. Martin, o que será?

Ela apertou os lábios, ajoelhando-se com ele. Ela pegou o anel e o inspecionou enquanto o estômago deu cambalhotas. Poderia perdoá-lo, poderia se casar com um conde?

— Sim. — disse ela, deslizando o anel no dedo e admirando-o.

Sim, ela poderia.

Ele a puxou para um abraço feroz, e ela riu quando ele beijou cada centímetro de suas bochechas, nariz, lábios.

— Eu amo você. Muito. Eu amo tanto que dói pensar que poderia tê-la perdido.

Ela assentiu, passando a mão pelos cabelos dele e percebendo que tinha ansiado por isso, que havia sentido falta dele.

— Eu também o amo.

Katherine engoliu em seco, sem querer chorar e, no entanto, viu Hamish limpando uma lágrima perdida de sua bochecha.

— Nós nos casaremos amanhã. Tenho uma licença especial e, amanhã à noite, você estará em segurança na minha propriedade Hollyvale, em Kent. E aí, minha querida, começaremos nossa vida juntos, criaremos nossos filhos e aproveitaremos nossa existência.

— Parece um plano perfeito.


EPILOGO

O dia do segundo aniversário da filha deles começou com uma tempestade, mas à tarde o sol havia saído. Muito parecido com o dia em que ela nascera. Naquele dia, Lorde Leighton havia invadido a casa, gritando com todos, amaldiçoando Deus e qualquer um que tivesse contato visual com ele; e à tarde, quando Rose nascera, ele voltara a ostentar o semblante calmo de sempre.

O Lorde mais feliz e mais aliviado de toda a Inglaterra.

Katherine havia perdoado suas explosões daquele dia. Ela sabia o custo emocional que vê-la passar por um parto provocara nele, a preocupação, o medo. Ele não estava sozinho, não foi fácil dar à luz um filho e, em certos momentos, ela não acreditou ser capaz de seguir adiante. Mas o corpo de uma mulher é uma coisa forte e poderosa, e ela conseguiu. E, em poucos meses, ela conseguiria novamente.

Ela esperava que fosse um menino, para que Hamish tivesse uma filha e um filho. Dois querubins perfeitos que eles amariam e adorariam até o último suspiro.

Katherine terminou de ler o pequeno livro infantil para Rose e a pôs de pé, assim que seu pai entrou no quarto.

— Como está minha princesinha? — disse ele, pegando-a e beijando-a na bochecha. — Feliz aniversário menina bonita.

— Presente. — disse a filha, batendo palmas.

Katherine riu, a rapidez com que as crianças aprendiam o que aniversários e Natal significavam.

— Presente. — disse Hamish, fingindo surpresa. — Você quer um presente?

Rose assentiu, os olhos brilhando de expectativa.

Hamish a colocou no chão e colocou a mão em suas costas, empurrando-a em direção à janela.

— Olhe para fora, princesa, e você verá seu presente.

Katherine levantou-se e levou Rose até a janela, e ao puxar a cortina, ela sorriu o ver o que passeava pelos gramados. Um pequeno pônei branco, com um grande laço rosa amarrado no pescoço.

Rose gritou e se virou, correndo para a porta o mais rápido que suas pequenas pernas desequilibradas a levariam.

— Eu acho que ela gostou. — disse Katherine, pegando a mão de Hamish e seguindo Rose.

A babá pegou Rose antes de ela chegar às escadas, e juntos todos saíram para ver a nova adição à família.

— Ela é linda, Hamish. Rose já a ama.

— É um potro ainda, mas é muito dócil, eu me assegurei disso.

Acho que se tornará uma montaria adequada para nossa filha.

Katherine inclinou-se e beijou-o, não se importando com a presença de seus funcionários, nem com o que ela fazia, desde o primeiro dia em que se tornou a administradora dessa grande propriedade e de muitas outras que ele possuía.

— Obrigado, Katherine.

Ela franziu o cenho para ele.

— Como assim? Por que está me agradecendo?

Ele encontrou o olhar dela, sério de repente.

— Obrigado por esta vida. Se eu não tivesse conhecido você, se eu não estivesse tendo o pior começo de temporada que já tivera na

vida, não teria conhecido você ou recebido o maior presente de todos, nossa filha.

Ela o pegou pelo queixo, esfregando o polegar na bochecha dele.

— Você também me deu mais do que eu poderia desejar, então obrigada também. Somos iguais nisso, Hamish. Sempre fomos.

Ele assentiu e voltou a atenção para a filha deles.

Katherine permaneceu onde estava enquanto Hamish levantava Rose para a sela e certificando-se de que estava na posição correta, permitiu que o cavalariço a conduzisse pelo quintal.

Katherine pensou que era assim que a vida era para ser, deveria ser. Alegria plena com abundância de amor. Que maravilha que uma mulher de pouca beleza, valor social e com sujeira sob as unhas enluvadas tivesse sido perfeita para um dos patifes mais reverenciados de Londres.

 

 

                                                   S.D. Perry         

 

 

 

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