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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CONTOS DA AVÓ MI / Cremilde Vieira da Cruz
CONTOS DA AVÓ MI / Cremilde Vieira da Cruz

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

CONTOS DA AVÓ MI

 

                   CHEGOU MARÇO, E O PANTUFA?!

O Carlinhos estava ansioso pela chegada da Primavera e, conversando com o Joãozinho, dizia: - Chegou o mês de Março e em pouco será Primavera. As árvores e os jardins começam a florir e a Natureza a ficar colorida.

 

- Eu adoro a Primavera! - exclamou o Joãozinho. Ainda ela vem sei lá onde e já começo a ter sonhos primaveris. Uma vez sonhei que passeava num jardim repleto de flores que conversavam animadamente estendidas ao sol. As borboletas esvoaçavam em seu redor, poisavam nesta e naquela e, muito sorrateiramente, iam bebendo um pouquinho de seu néctar.

 

- E quando os passarinhos regressam às árvores ao fim da tarde, chilreando sem parar, até que se instalam comodamente nos ramos verdejantes?! A cantiga deles transmite-nos alegria, não é, Joãozinho?

 

- É, é! Mas também gosto de vê-los partir pela manhã, fazendo altos voos. Chega a parecer que tocam o Céu. Depois descem, descem, passam a rasar a terra ou o mar... Por vezes receio que se magoem, quando os vejo descer em alta velocidade e parece que vão estatelar-se contra as montanhas. Mas não! Passam a rasar, petiscam aqui e ali, e continuam o seu voo.

 

- Havia um passarinho chamado Pantufa, muito meu amigo, que todos os anos, no mês de Março, me trazia de presente um lindo ramo de flores silvestres. Fazia questão de chegar no primeiro dia de Primavera. O ano passado, não sei porquê não veio! Fiquei tão triste! - disse o Carlinhos.

 

- Não entristeças, Carlinhos, que ele virá este ano!

 

Não sei, Joãozinho! Ando tão ansioso! Não sei se lhe aconteceu alguma coisa ou se deixou de gostar de mim. Fazia-me tantos carinhos e eu a ele! A minha mãe tem sempre a casa florida, mas nunca achei as flores tão bonitas como aquelas que o Pantufa me oferecia. A nossa casa ficava tão alegre! Eu achava o mês de Março mais agradável quando o Pantufinha chegava e dava bicadinhas na minha janela. Nessa altura nem precisava de despertador, pois ele acordava-me à hora que costumo levantar-me para ir para a escola.

- Quem sabe se o Pantufa veio e como há tantas árvores parecidas, foi poisar noutra qualquer distante de tua casa? Até pode ter acontecido que, por ter outros meninos amigos, tenha reservado aquela visita para eles! - disse o Joãozinho.

 

- Talvez, Joãozinho, mas isso não impede que me tenha deixado triste e cheio de saudades!

A minha professora também já disse isso, porque ela adivinha sempre quando estou triste ou alegre. Uma vez até lhe perguntei se é bruxa, pois costuma dizer-se que as bruxas é que adivinham! Ela riu-se e respondeu que não; que os meus olhos é que lhe dizem. Quando me disse isto, fiquei espantado, porque nunca ouvi dizer que os olhos falam, mas ela explicou que pela expressão dos olhos se nota se as pessoas estão alegres ou tristes, e por isso se diz que os olhos falam.

 

- A minha professora também diz coisas, que no principio me deixavam espantado, assim como aos meus colegas, mas agora não nos admiramos, nem tu te deves admirar, porque as professoras sabem tudo, Carlinhos!

 

- Isso é verdade! Nunca fiz uma pergunta à minha professora que ela não soubesse responder. Por isso estou confiante que o Pantufa virá esta Primavera, dado que ela me garantiu que ele virá com tempo disponível para visitar todos os meninos.

 

- Eu não te disse que ele devia ter outros amigos?! Como tu, também eles devem estar ansiosos pela chegada da Primavera e, consequentemente, do Pantufa. Até eu estou com curiosidade de conhecer o Pantufa!

 

 

                   O SENHOR CARNAVAL

 

Muito discretamente, o Senhor Carnaval vai preparando coisas engraçadíssimas ao longo do ano, para durante três dias divertir as pessoas.

 

Este Senhor é muito alegre e bem disposto; transmite alegria às pessoas e tem muita paciência para fazer coisas minuciosas e trabalhosas. Por ser uma pessoa simpática, encontra sempre colaboradores que muito o ajudam nas tarefas carnavalescas. Faz fatos lindíssimos de sedas brilhantes e cores garridas ornamentados de miçangas, pérolas, lantejoulas e outros ornamentos, todos eles muito trabalhosos. Faz chapéus de plumas altas e dos mais variados modelos, sempre muito decorativos.

 

Imaginem que o Senhor Carnaval e seus colaboradores ainda ornamentam os Carros Alegóricos, com arte e bom gosto, para o que é necessário muito tempo e paciência, e têm todo este trabalho para um Cortejo de duas ou três horas.

 

O Cortejo Carnavalesco é, normalmente, feito nas avenidas principais das cidades, vilas e aldeias, ao longo das quais grandes multidões aguardam com ansiedade o momento do desfile dos grupos, pois o Cortejo é composto por vários grupos de pessoas, (homens e mulheres) dos mais jovens aos de idade já avançada.

 

Cada um destes grupos tem o seu próprio traje, a sua própria música, o seu próprio Carro Alegórico, e dançam animadíssimos pelas ruas fora.

 

O samba, de origem brasileira, é a dança característica do Carnaval. É uma música muito alegre e as pessoas divertem-se bastante.

 

O Senhor Carnaval é muito inteligente, trabalhador e... lembra-se de cada coisa!

 

Todo o trabalho é feito com muito cuidado, às escondidas das pessoas, para que no dia do cortejo, seja uma surpresa. É um espectáculo imponente, o Cortejo de Carnaval, e é feito na véspera ou antevéspera do próprio dia de Carnaval. Depois, na terça-feira que é mesmo o dia de Carnaval, há outro Cortejo chamado Carnaval Trapalhão, que é muito divertido, porque as pessoas se vestem de qualquer maneira, com as roupas mais diversas e esquisitas, sapatos muito feios e velhos, pintam muito as caras ou usam máscaras muito feias, os homens vestem-se de mulher e as mulheres vestem-se de homem... Só visto! E aquelas carantonhas de bichos muito feios, que eles usam!... Às vezes, usam sapatos tão grandes, que mal conseguem andar, e narizes tão compridos, que quase não podem com eles. Mas divertem-se muito desfilando pelas ruas, fazendo barulho com latas e outras coisas, e muitas palhaçadas.

 

É assim o Senhor Carnaval, durante uns dias. Terminada esta euforia, o Senhor Carnaval volta a sossegar, a ficar quieto e calado. As crianças que haviam estado de férias para participarem nestas brincadeiras e também para descansarem um pouco, voltam à escola, e os adultos, aos seus empregos. Ninguém fala de Carnaval, senão no ano seguinte.

 

Entretanto, e embora aparentemente o Senhor Carnaval esteja sossegado, a verdade é que já começa a imaginar o que há-de fazer no ano seguinte. O seu cérebro é uma máquina que nunca pára e arranja sempre coisas engraçadíssimas e diferentes em cada Carnaval. Daí a começar a executá-las é um instante, porque são coisas que dão muito trabalho e levam muito tempo a fazer, apesar de serem centenas de pessoas a trabalhar de modo a que não possa haver descuidos.

 

O Senhor Carnaval voltará a aparecer no próximo ano com as ideias mais variadas.

 

Isto é uma pequena descrição do que conheço do Senhor Carnaval, para que os meninos que não conhecem, fiquem com uma ideia.

 

Ah, esquecia-me de falar dos Cabeçudos!... Seria uma falta imperdoável, pois são imprescindíveis num desfile de Carnaval. São uns homens que fazem parte do Cortejo, dançam muito animados e têm umas cabeçorras enormes e umas carantonhas muito feias que fazem rir muito as pessoas.

 

 

                   CARNAVAL NA FLORESTA

 

Em vésperas de Carnaval o Elefante e a Pacaça trocam impressões sobre as máscaras que irão usar:

 

- Este ano vou mascarar-me de Joaninha. - dizia o Elefante à Pacaça.

 

A Pacaça deu uma gargalhada tão grande, que até assustou e fez estremecer as árvores, e disse:

 

- És maluco! Com um tamanhão desses, queres mascarar-te de Joaninha, um insecto tão pequenino? Ai, meu amigo, se não te cuidas!... Já não é a primeira vez que te sais com coisas sem sentido, mas essa é de mais!

 

- Ora, se vou! Já falei com a minha mulher que vai também mascarar-se, mas ainda não resolveu de quê, e ela apoiou-me inteiramente e prontificou-se a fazer-me um lindo traje de Joaninha. Até comprou uma revista que só traz fatos de Carnaval! Digo-te que vem lá uma Joaninha!...

 

- Estará a tua mulher maluquinha também? Só assim se compreende - disse a Pacaça. - Se assim é, também farei a minha loucura e mascarar-me-ei de Formiga!

 

- De Formiga?!... - perguntou o Elefante, admiradíssimo.

 

- Sim, de Formiga! - disse a Pacaça.

 

- E porquê, de Formiga? - perguntou o Elefante.

 

- Porque gostava de ser Formiga! Elas são tão ágeis que devem dançar muito bem e devem divertir-se muito no Carnaval - disse a Pacaça.

- Talvez eu fique leve se me mascarar de Formiga e possa divertir-me este Carnaval, já que nos passados não me diverti nada. Pesada como sou, nunca consegui dar um passo de dança. e enquanto todos os animais mais pequenos dançaram a bom dançar, eu limitei-me a olhá-los, mas com umas cócegas nas patas, que não te digo nem te conto.

 

- Olha, olha!... Chamas-me maluco, mas ao que parece, tu é que és! - disse o Elefante, ao mesmo tempo que dava uma gargalhada que fez estremecer a terra. - Pensas que pelo facto de te mascarares de Formiga, ficarás mais leve? Tem juízo!

Eu vou mascarar-me de Joaninha, mas não tenho a veleidade de pensar que ficarei tão leve, que conseguirei voar! Será apenas um disfarce para me divertir. Gosto muito dos disfarces de Carnaval, e há máscaras tão engraçadas, que me rio a bandeiras despregadas. Não danço, mas divirto-me a ver os outros!

O ano passado não me mascarei, mas fui assistir ao Cortejo de Carnaval na Avenida das Palmeiras. Foi uma beleza! Vi tantas Joaninhas mascaradas de Elefante, que pensei que um Elefante deve ficar engraçado mascarado de Joaninha! Por isso, vou experimentar. Hei-de divertir-me bastante, disso podes estar certa, amiga Pacaça.

Tenciono também fazer parte do Cortejo do Carnaval Trapalhão que é engraçadíssimo! Aí, não te digo como irei disfarçado, para não me reconheceres. Será divertidíssimo para todos.

 

- Dou-te razão, amigo Elefante! Já que não posso dançar devido ao peso que tenho, seguirei a tua ideia e mascarar-me-ei de Formiga, para me divertir e para que os outros se divirtam também.

Já pensaste na graça que vão achar todos os animais pequeninos, quando virem um Elefante mascarado de Joaninha e uma Pacaça mascarada de Formiga?

 

- Eu já, amiga Pacaça! Estou mesmo desejoso que chegue o Carnaval!

 

 

                     A CENOURINHA SALTAPICA

 

A Cenourinha Saltapica passeia pela horta e, de narizinho arrebitado, olhos sorridentes, vai cumprimentando todos os amigos:

 

     - Bom dia, Senhor Tomate!

     - Bom dia, Senhora Cebola!

     - Bom dia, Senhor Nabo!

 

         Saltitando sem parar

         com o narizito no ar

         logo chega ao pomar

       pr'a outros cumprimentar:

 

     - Bom dia, Senhora Laranjeira!

     - Bom dia, Senhora Pereira!

     - Bom dia, Senhor Pessegueiro!

     - Bom dia, Senhora Uveira!

 

Então ouve-se uma voz indignada:

 

- Uveira?!... Ó Cenourinha Saltapica, o meu nome não é Uveira! Por favor chama-me Videira, que esse sim, é o meu nome.

 

- Videira?!... - perguntou admirada a Cenourinha Saltapica. - Ora esta!...Desde quando é que se chama Videira à árvore que dá uvas?

 

- Também não deves chamar-me árvore, pois eu sou um arbusto.

 

A Cenourinha Saltapica, não achando graça nenhuma às reprimendas do arbusto a que, teimosamente, queria chamar Uveira, resolveu não discutir mais e cheia de razão, seguiu o seu caminho, saltitando.

Chegou perto duma casa rodeada por um jardim muito bonito, e sempre a saltitar, foi cumprimentando todas as flores:

 

                   - Bom dia, Senhora Rosa!

                   - Bom dia, Senhora Orquidea!

                   - Bom dia, Senhora Hortensia!

               Bom dia...

 

- Ai, ai, ai, que não me lembro do nome desta flor! O melhor é não inventar nome nenhum, não vá ela ofender-se e repreender-me, como fez a Senhora Uveira, ou Videira... Será Uveira ou Videira? Não, não! Cá para mim é Uveira.

 

A Cenourinha Saltapica continuou o seu passeio, sempre saltitando, até que chegou a um bosque.

 

                   Ia saltitando contente

                   quando deparou de repente

                   com um coelho pela frente

                   com um ar muito imponente

 

A Cenourinha Saltapica ficou assustadíssima, mas como era muito esperta, disse com um sorriso simpático, aparentando muita calma:

 

- Bom dia, Senhor Coelho! Está tão bonito que até parece que passou pela horta ali ao lado e encheu a barriguinha de cenouras viçosas!

 

O Coelho pensou:

 

- Cenouras é cá comigo e, em vez de comer só esta, se puder comer até me satisfazer!...

 

- Ó minha amiga Cenourinha Saltapica, quer dizer-me onde é a tal horta? É que eu estou com uma fominha, que se apanho umas cenourinhas diante de mim, não sei que lhes farei.

 

A Cenourinha Saltapica tremia que nem varas verdes, mas sempre aparentando muita calma, disse:

 

- O Senhor Coelho está a ver aquela Nespereira?

Dá meia dúzia de passos e é logo a seguir, à beira dum riacho. Se tiver sede, nem precisa de se cansar à procura de água para saciar a sua sede.

 

- Obrigado, Cenourinha Saltapica, não perco mais tempo!...

 

A Cenourinha Saltapica, logo que o Coelho virou costas respirou fundo de alívio, e continuou o seu passeio, sempre saltitando.

 

 

                   A HISTÓRIA DO RATINHO AZUL

 

Era uma vez um Ratinho Azul. Era Azul, porque nasceu no Céu e já seus pais eram Azuis. Certo dia, o Ratinho Azul que era muito curioso e, de vez em quando, dava uma espreitadela para a Terra, pensou vir até cá. O problema que punha, era a maneira como havia de deslocar-se.

 

Pôs-se a pensar... Levou tanto tempo a pensar, que estava já grande e ainda não lhe tinha surgido uma ideia.

 

Olhava cá para baixo e via uma distância tão grande, que quase esmorecia, convencido que não conseguiria concretizar o seu sonho.

Um dia...

 

- E se eu fosse falar com o Sol? - pensou o Ratinho Azul. - Ele vai todos os dias à Terra e poderia levar-me!

 

Foi falar com o Sol, mas quando lhe disse o que pretendia, o Sol deu uma gargalhada de troça e perguntou:

 

- Que queres tu ir fazer à Terra? Não vês que és tão pequenino que te perderias no meio daquele bulício?!

 

O Ratinho Azul, triste como a noite, desatou a chorar e o Sol, impávido, não ligou a menor importância às lágrimas dele e mandou-o embora. Ele lá foi, todo choroso, mas de repente...

 

- Ah, estou a lembrar-me da Lua! Vou até lá e, talvez ela me ajude. Como ela vai todos os dias à Terra!...

 

Foi então à Lua. Caminhou, caminhou... Levou tanto tempo a chegar que, quando chegou, já estava velho; já tinha barbas brancas. Apesar disso, não desistiu nem perdeu a esperança de um dia ir à Terra. Pôs o problema à Lua, e aquela, fixando-o nos olhos, disse:

 

- Não me importo de te levar, Ratinho Azul. Pequenino como és, nada me custa. Porém, quero prevenir-te duma coisa: És capaz de vir a ter problemas na Terra.

 

- Porquê? - perguntou o Ratinho, muito triste.

 

- Porque na Terra há ratos; muitos mesmo! Todavia, são diferentes de ti e não tão bonitos e, de certo, não ficarão satisfeitos com a tua presença. Sei lá o que poderá acontecer-te?...

 

- Não me acontecerá nada, porque tenciono ir, apenas para conhecer e não para perturbar o bem estar dos ratos que a habitam. A Terra deve ser tão bonita!

 

- Como tu queiras. - disse a Lua. - Estou só a avisar-te. Mas se apesar do aviso que te faço, continuares com o mesmo desejo, levar-te-ei. Aparece aqui logo à noite preparado para a viagem.

 

O Ratinho Azul ficou tão contente, que correu para casa, desta vez por um caminho mais curto, para chegar bem depressa. Chegado a casa, preparou-se, lavando-se muito bem, penteando os bigodes, perfumando-se, comendo uma boa refeição... Ah, não se esqueceu de lavar os dentes após a refeição, o que é importantíssimo para os conservar!

Saiu de casa todo contente e foi cantando uma cantiguinha, para o percurso lhe parecer mais rápido. Era noite escura, quando chegou a casa da Lua. Bateu à porta, bateu, bateu... e a Lua não apareceu. Desesperado e resolvido a voltar para casa, desiludido por ninguém querer ajudá-lo, começou a chorar e, à sua volta, ficou tudo inundado.

 

Uma nuvem que vivia ali perto, abriu a porta, por acaso, de certo para apanhar um pouco de ar fresco, e deparou-se com o triste espectáculo. Com pena, perguntou ao Ratinho Azul se precisava de ajuda.

 

- Preciso! Se me pudesses ajudar... Estou muito triste, porque a Lua prometeu levar-me à Terra e, quando cheguei aqui, ela já não estava. Se me indicasses uma maneira de eu poder ir!

 

- A Lua não costuma fazer essas coisas! - disse a Nuvem. - Deve ter tido algum contratempo! Deixa lá! Irei à Terra daqui a dias e levar-te-ei. É só uma questão de teres paciência e esperares mais um pouco.

 

- Quando chegar a ir à Terra, serei tão velho que nem forças terei para dar uns passeios por lá! - disse o Ratinho Azul.

 

- Não! Já falta pouco tempo. - disse a Nuvem - Será logo que comece o Outono e já estamos no fim do Verão. Terás de ir bem agasalhado, porque nessa altura começará a fazer frio na Terra. Leva guarda-chuva, pois eu vou à Terra, precisamente para levar a chuva e, às vezes levo tanta, que faz inundações bem maiores do que a que fizeste aqui com tuas lágrimas.

 

- Logo que o Verão termine, estarei aqui! - exclamou o Ratinho Azul, muito contente.

 

Não te atrases, Nuvem, que estou mesmo ansioso por conhecer a Terra!

 

 

                   PASSEIO À SERRA DA ESTRELA

 

Este Inverno o Coelhinho Amarelo resolveu ir até à Serra da Estrela para umas boas brincadeiras na neve. O único problema será transportar o trenó até lá, mas como ele é muito esperto, pensou:

 

- Hei-de encontrar algum pateta pelo caminho!...

 

Calçou boas meias de lã, botas felpudas, vestiu seu bom sobretudo e não esqueceu o excelente cachecol vermelho que, por sinal, além de ser muito quentinho, lhe ficava muito bem. Pôs-se a caminho pelo caminho mais curto, e durante o percurso encontrou o Ratinho Cinzento que, com o seu sobretudo de cor alegre e o lenço muito bem posto, seguia o mesmo caminho todo contente.

 

- Olá amigo Ratinho Cinzento! Então que faz por aqui? Está muito bonito com esse sobretudo! Ah, que lindo lenço!

 

- Passeio! - disse o Ratinho Cinzento.- Como está muito frio, tive de me agasalhar.

 

- O Ratinho Cinzento achou melhor não dizer ao Coelhinho Amarelo, que se deslocava para a serra com o fim de encontrar uma daquelas casas onde se faz o bom Queijo da Serra, não fosse o Coelhinho Amarelo rir-se de troça e envergonhá-lo.

 

- E se fossemos ambos até à serra que está coberta de neve, para respirarmos aquele ar saudável e deslizarmos pela montanha abaixo, sentadinhos no trenó? É tão agradável! - disse o Coelhinho Amarelo.

 

- Mas o trenó é muito pesado para subirmos a serra com ele às costas! - disse o Ratinho Cinzento.

 

- É lá agora! Eu trouxe-o até aqui sozinho e se nos formos revezando, será ainda mais fácil!

 

- É uma ideia! - exclamou o Ratinho Cinzento.

 

- Então, vamos lá! - disse o Coelhinho Amarelo, todo contente.

 

Partiram imediatamente. Subiram, subiram... Transpiraram, transpiraram...A dada altura encontraram o Ouriço Pica-Pica que, como eles, estava muito bem vestido, mas não aparentando frio.

 

- Olha o Ouriço Pica-Pica! - disse o Ratinho Cinzento. - Que lindo que ele está! Mas parece não ter frio! Nem apertou o sobretudo! - Como estás, Ouriço Pica-Pica?

 

- Muito assustado! Muito assustado!

 

- Ah, por isso tens os cabelos em pé! - disse o Coelhinho Amarelo. - Então que se passa?

 

- Oh, nem queiram saber!

 

- Diz lá! Diz lá! - disse o Ratinho Cinzento.

 

- Até estou a transpirar por tanto correr. Imaginem que estava eu muito entretido a olhar para uma linda borboleta que esvoaçava à minha volta, veio uma cobra má na nossa direcção, com a cabeça levantada para nos lançar veneno. A nossa sorte foi termo-nos apercebido a tempo e nem dei por a borboleta desaparecer. Também me pus em fuga o mais rapidamente que consegui, por isso estou assim cansado e cheio de calor.

 

- Ora bem, - disse o Coelhinho Amarelo - como estamos todos cansados, vamos descansar um pouco e, se quiseres, vens connosco até ao cimo da serra, para nos divertirmos um bocado a brincar na neve.

 

- Boa ideia! - disse o Ouriço Pica-Pica.

 

O Coelhinho Amarelo, espertalhão, esfregou as patinhas de contente por ter mais um para levar o trenó e, assim, salvaguardar as suas forças. Descansaram um pouco e, quando resolveram partir, disse ao Ouriço Pica-Pica:

 

- Agora levas tu o trenó um bocado, está bem? É que nós já temos uma dor de costas!

 

- Está bem! - disse o Ouriço Pica-Pica, não muito satisfeito.

 

Subiram, subiram ... e nenhum dos companheiros se oferecia para levar o trenó, até que ele, tão cansado estava, pediu que um deles o substituísse.

 

- Já não posso mais! - disse. - Um de vocês terá de me substituir.

 

Agora levas tu, Ratinho Cinzento - disse o Coelhinho Amarelo, fazendo-se desentendido.

 

E lá foi o Ratinho Cinzento com o trenó, até ao cimo da serra. Chegados lá, o Coelhinho Amarelo, mauzão, disse:

 

- Pronto, agora é a minha vez e já não preciso de vocês.

 

Pegou no trenó, pô-lo sobre a neve, sentou-se e deslizou pela encosta abaixo, até que o perderam de vista.

 

- Que grande partida ele nos pregou! - disseram ambos tristíssimos. - Nunca mais acreditaremos na gentileza do Coelhinho Amarelo.

 

                            O Coelhinho mauzão

                            teve um gesto muito feio

                            pegou o Ratinho pela mão

                            fez-lhe partida pelo meio

 

                            O Ouriço coitadinho

                            apanhado de surpresa

                            com um lindo sorrisinho

                            caiu também em beleza

 

                        Mas recorda o Pipinho

                        um coelhinho também

                        simpático e amiguinho

                        que não despreza ninguém

 

 

                   O PORQUINHO JACINTO

 

Era uma vez um porquinho que vivia numa quinta no alto da montanha duma ilha muito verde, com muitas flores e muitas cascatas de água transparente.

 

O porquinho chamava-se Jacinto e vivia muito feliz, porque o seu dono, o senhor Raposo, tratava-o e cuidava muito bem da sua pocilga, que estava sempre impecavelmente limpa.

 

Certo dia, o Porquinho Jacinto adoeceu e o dono ficou muito preocupado, porque tinha uma estimação muito grande no seu Jacinto. Telefonou imediatamente ao veterinário, pedindo-lhe que fosse logo dar assistência ao pobre bicho que estava a sofrer imenso e grunhia tão desesperadamente, que fazia dó.

 

O senhor Dr. Coelho, veterinário, chegou, auscultou o Porquinho Jacinto, pensou um bocado e disse ao senhor Raposo:

 

- Tenha calma, que o Porquinho Jacinto vai ficar bom. Para já, vou dar-lhe uma injecção e tem aqui estes pozinhos, para misturar muito bem na ração, quando lhe der as refeições.

 

- Ai, Senhor Dr., não sei como hei-de pagar-lhe, se me salvar o Jacinto! Tenho mais estima por ele, que por nada deste mundo!

 

- Ó homem, não se preocupe, que o Jacinto não tem nada de grave. É só uma pequena indisposição que lhe provoca umas dores no abdómen. Deve ter sido originada por qualquer alimento não muito fresco. Mas descanse, que logo à noitinha ele estará bom.

 

- Ó Senhor Dr., o meu Porquinho Jacinto nunca comeu comida nenhuma que não estivesse muito fresca, isso tenho eu a certeza, porque quem lhe faz a comida sou eu e faço-a com muito cuidado e com produtos frescos da minha quinta. O Senhor Dr. não tem, de certeza, cliente nenhum que trate tão bem o seu porco como eu. Pelo menos aqui na Ilha.

O meu Jacinto vive como um príncipe! - Veja o Senhor Dr. que, como vivemos aqui no alto da montanha, para ele não ficar triste, levo-o frequentemente a dar uma volta de carro até à cidade e à beira-mar. O Jacinto distrai-se imenso! Gostava que o Senhor Dr. visse!

 

O meu porquinho é muito carinhoso e faz-me muita companhia, por isso é que estou assustadíssimo. Se ele me falta!... Além disso é um animal muito esperto.

 

Ainda ontem o levei a dar um passeio e ele mirava tudo; as flores, a água a correr na ribeira, as pessoas que passavam... De regresso a casa, o Jacinto entristeceu e começou a puxar-me as calças com a patinha. Então é que eu me lembrei duma falha que tive, pois sempre que o levo a passear, compro-lhe, numa lojinha lá da cidade, um chocolatinho, que ele até se lambe todo quando o come. Como ontem me esqueci, ele entristeceu e chamou a minha atenção para tal facto, puxando-me as calças. Voltei para trás, porque o meu Jacinto não podia ficar triste! Para ele ficar mais contente, em vez de um, comprei-lhe dois chocolates, que ele devorou num instante. Veja o Senhor Dr. se isto é tratar mal o meu bichinho!?

 

- Ora agora é que estou a ver qual é a razão da doença do Porquinho Jacinto! - disse o Dr. Coelho. - Isso nem parece seu, senhor Raposo! Então o senhor não sabe que os porcos não devem comer chocolates?!... É por isso que o Porquinho Jacinto está assim mal disposto! Mas não se preocupe, que logo lhe passa. No entanto, aconselho-o a não dar mais chocolates ao Jacinto, está bem?

 

- Mas ele nunca tinha ficado doente, Senhor Dr. e já há muito tempo que lhe dou chocolates!

 

- Teve sorte, Senhor Raposo; teve sorte! Desta vez ainda lhe reforçou a dose, o Porquinho Jacinto sentiu-se e ficou com dores de barriga. Por isso é que ele tem grunhido tanto! De futuro, em vez de lhe dar chocolates, dê-lhe bolota, que isso sim, isso é que é alimento para porcos.

 

 

                   A OVELHINHA DA SERRA

 

Marta sonhava todos os dias que era a Ovelhinha da Serra. Era branquinha como a neve, tinha olhos verdes como a paisagem e a sua lã era tão macia e quente, que desejava dar parte dela àquelas crianças que têm frio e não têm agasalhos. Partia noite adentro, e ia por caminhos desconhecidos até onde seus sonhos a levavam.

 

Um dia chegou a uma terra muito distante, levando consigo muitos agasalhos feitos da sua própria lã. Era noite cerrada e estava numa praia enorme. Não havia ninguém e não fora um caranguejo ou outro a passear pela praia, a Ovelhinha da Serra estaria mesmo só.

 

A Ovelhinha da Serra começou a tirar tudo que levava nos sacos, foi estendendo peça por peça na areia e, acompanhada pela música do mar, pelo ir e vir das ondas, cantou uma cantiga, tentando fazer-se ouvir:

 

                                     Sou a Ovelhinha da Serra

                                      quero a todos ajudar

                                      por isso na vossa terra

                                      agasalhos quero dar

 

                                      Sou branca da cor da neve

                                      olhos da cor da paisagem

                                      para uma estadia breve

                                      fiz esta longa viagem

 

                                      Trago agasalhos quentinhos

                                      de minha lã cada fio

                                      trago sacos bem cheinhos

                                      pr'agasalhar-vos do frio

 

                                      Venham todos junto a mim

                                      a este lindo areal

                                      que mais parece um jardim

                                      com um lindo roseiral

 

Minutos volvidos, a praia estava cheia de pessoas que começaram a surgir de todos os lados. Parte delas queriam apenas ouvir mais de perto a linda voz da

 

Ovelhinha da Serra, mas outras, além de quererem ouvir a bonita voz, queriam ainda receber das suas mãos os belos agasalhos que nunca antes tiveram.

 

A Ovelhinha da Serra, sempre cantando, foi distribuindo peça por peça, mas quando os agasalhos estavam quase a acabar, começou a ficar preocupada, não fosse algum necessitado ficar sem uma peça para si. Mas teve sorte, assim como os contemplados, pois o número de agasalhos era precisamente igual ao número de pessoas necessitadas.

 

A Ovelhinha da Serra sentiu uma grande alegria no coração por ter concretizado o seu desejo e regressou à Terra Natal.

 

 

                   A PÉROLA PERDIDA

 

- O Senhor Hipopótamo está aparentando cansaço e tristeza! - disse o Salmão, saltando na água fresca.

 

- Se lhe parece, amigo Salmão, tenho andado rio abaixo, rio acima, sem parar!... -

disse o Hipopótamo.

 

- Veja lá, se puder ajudá-lo!... - acrescentou o Salmão.

 

- Ficar-lhe-ia muito agradecido! - respondeu o Hipopótamo.

O meu cansaço deve-se a um grande esforço que tenho feito para encontrar uma Pérola que uma amiga Ostra me ofereceu, uma vez que resolvi ir passear até à foz. A minha amiga estava muito sossegada na rocha onde me deitei para descansar e, com todo o meu peso, sem me aperceber que ela estava ali, pus-lhe um pé em cima. A sorte foi ela ter gemido, mal lhe toquei, senão... Fiquei tão apoquentado com o acontecido que resolvi não sair de lá sem que primeiro me tivesse certificado que ela não tinha sofrido nada. Pedi-lhe desculpa não sei quantas vezes, e ela ria à gargalhada e dizia:

 

- Não me magoou nada, Senhor Hipopótamo! Foi só um susto enorme, quando vi o seu pé quase em cima de mim. Estou bem; muito bem! Até lhe vou oferecer uma coisa que, tenho a certeza, vai gostar.

 

- Quando vi a Ostra meter a mão num saco que tinha ao seu lado, fiquei com curiosidade. O saco estava cheio de qualquer coisa, que eu não sabia o que era. Então ela estendeu-me a mão fechada, e disse:

 

- "Feche os olhos e abra a mão, que quero fazer-lhe uma surpresa."

 

- Fechei os olhos, estendi a mão, e senti uma coisa tão pequenina!... Era uma lindíssima Pérola. Guardei-a com muito cuidado na margem do rio. Todavia, não pensei que viria o Outono, com ele as primeiras chuvas e, consequentemente, prováveis enchentes do rio.

 

Aconteceu. Há dias choveu tanto, tanto, que o rio levou um caudal nunca antes visto. A partir de então, não tenho feito mais nada senão procurar a minha preciosa Pérola de estimação. Porém, como sou muito grande, há certos sítios onde não consigo chegar, como sejam aqueles buraquinhos tão pequeninos.

 

Até pode ser que a Pérola tenha ido com a enxurrada, mas ainda não perdi a esperança de a encontrar.

 

Uma vez que o meu amigo é tão prestável que quer ajudar-me, pedia-lhe que procurasse comigo; eu procuraria nos lugares a que tenho acesso e o amigo nos mais escondidinhos, porque é pequenino.

 

- É para já, amigo Hipopótamo. Fique ciente que não o abandonarei enquanto não encontrarmos a sua Pérola. Para já, descanse um pouco, que eu procurarei sozinho. O amigo está com um aspecto tão abatido, que me preocupa! Vou já pôr mãos à obra e garanto-lhe que, se a Pérola não foi com a enxurrada, havemos de encontrá-la. Deixe-se ficar a descansar até que eu volte. Tenho esperança de que hei-de trazer-lha intacta, sem uma beliscadura.

 

- Obrigado, amigo Salmão, fico-lhe muito agradecido! Na verdade estou exausto, mas não deixaria de procurar senão quando as minhas forças se extinguissem.

 

- Não se apoquente mais. Se não a encontrar, é porque foi com a enxurrada, e aí não haverá nada a fazer. Rebuscarei toda a margem nos recantos mais escondidos, mas se mesmo assim não aparecer, ainda pedirei a um Salmonete meu amigo que me acompanhou neste passeio, e ele não deixará de me auxiliar.

 

O Salmão lá partiu em busca da Pérola do amigo Hipopótamo e este, de tão cansado, adormeceu. Dormiu três dias e três noites e quando acordou lá estava o Salmão à sua beira.

 

- Que canseira, amigo Hipopótamo!... Aqui tem a sua Pérola!

 

- Foi muito difícil, não foi, amigo Salmão? Estou tão grato por ma ter trazido de volta!

 

- Não foi difícil encontrar a Pérola, amigo Hipopótamo; encontrei-a ao primeiro mergulho que dei, mesmo aqui ao pé. O que foi difícil, foi acordá-lo! O seu sono foi tão pesado, que até cheguei a convencer-me que não acordaria mais.

 

- Obrigado, meu grande amigo! Estou tão emocionado que até as lágrimas me escorrem dos olhos sem eu querer.

Não era uma pena perder esta linda Pérola?

 

- Sem dúvida!... Guarde-a bem e lembre-se sempre das enxurradas!...

 

- Sim, sim, não me esquecerei e ainda bem que o amigo Salmão apareceu por estas águas de África, ou nunca teria recuperado a minha preciosa Pérola.

 

                   OS LEÕES LUTADORES

 

Havia festa na selva e todos os animais confraternizavam. Esta havia sido organizada pelo Leão Elias, o leão mais respeitável das redondezas.

 

Desde as melhores comezainas ao desfile de modas, bailarico, etc., tudo aconteceu, e os animais estavam radiantes naquele dia.

 

Eram Leões, Elefantes, Zebras, Rinocerontes, Tigres, Veados, Lobos, Raposas, Esquilos, Cobras, Lagartos, Aranhas e muitos outros.

 

O Leão Elias tinha-se feito acompanhar da Leoa Belezura, a mais bela leoa da floresta.

 

Ora, como se pode imaginar, o Leão Elias estava muito vaidoso ao lado da sua bela namorada. Só que, a certa altura da festa, o Leão Josué começou a fazer uma conquista cerrada à Leoa Belezura, ao que o Leão Elias näo achou graça nenhuma. Assim, não esteve com meias medidas: Atirou-se ao Leão Josué e travaram uma luta tão grande que não houve mais sossego.

 

O Elefante Trombudo, preocupado com a ocorrência e receando que a luta resultasse em desgraça, resolveu intervir, e fê-lo de tal jeito que os dois inimigos desapareceram um para cada lado e ninguém mais lhes pôs a vista em cima. O Elefante Trombudo era passivo e toda a selva o conhecia como tal, de modo que, quando o viram de tromba levantada, orelhas no ar, correndo em direcção aos Leões Lutadores, todos os animais ficaram de olhos arregalados, sem que qualquer deles tivesse coragem para se intrometer. Assim, o Elefante Trombudo ficou com todo o campo descoberto para agir e conseguiu assustar os leões, apesar de não lhes ter feito mal nenhum. Apenas se impôs pelo seu tamanho e pela atitude decisiva e espontânea. Com pena de todos os animais, a festa terminou e todos regressaram às suas casas, desapontados.

 

Entretanto, a Leoa Belezura que tinha fugido assustada, mal viu os dois leões a lutar, refugiou-se numa gruta onde estava um Leão, o Solitário, muito bonito, atraente e ponderado. Logo se apaixonaram, e casaram uns meses mais tarde.

 

Todos os animais foram ao casamento, menos os dois Leões Lutadores.

 

 

                   O COELHINHO ESQUECIDO

 

Era uma vez um Coelhinho muito alegre e desembaraçado que vivia numa linda coelheira. O Coelhinho tinha muitos passatempos e um deles era sentar-se na soleira da porta nas noites estreladas e contar as estrelas. Todavia, como era muito esquecido (por isso lhe chamavam O Coelhinho Esquecido), nunca se lembrava de quantas estrelas tinha contado, e quando chegava ao pé dos pais, entusiasmado para dizer-lhes quantas estrelas tinha visto, já não se lembrava. Ficava muito triste, mas a Mãe Coelha consolava-o dizendo:

 

- Deixa lá, meu Coelhinho Esquecido, que amanhã também haverá estrelas!... Amanhã, lembrar-te-ás.

 

No dia seguinte acontecia a mesma coisa; acabava de contar as estrelas, corria para dentro da coelheira, mas quando chegava, já se lhe tinha varrido da memória.

 

O Coelhinho Esquecido começou a ficar preocupado com as suas falhas de memória e pediu à mãe que o levasse ao médico. Porém, a Mãe Coelha que conhecia muito bem o seu filho, entendeu que não era necessário levá-lo ao médico, já que o seu mal era ser distraído e querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Então disse-lhe:

 

- Meu Coelhinho Esquecido, vem sentar-te no meu colinho para conversarmos um pouco.

 

O Coelhinho como gostava muito de colo, não pensou mais no médico e correu para o colo da Mãe Coelha.

 

- Quero dizer-te, que felizmente és um Coelhinho muito saudável, portanto não precisas de ir ao médico pela facto de te esqueceres do número de estrelas que contas.

 

- Ó Mãe Coelha, leva-me ao médico, por favor, porque devo estar muito doente! Já contei as estrelas tantas vezes e nunca consigo lembrar-me de quantas contei!

 

- Hoje iremos os dois contar as estrelas - disse a Mãe Coelha.

 

À hora habitual, a Mãe Coelha acompanhou o filho, sentaram-se na soleira da porta e começaram a contar:

 

- Uma, duas, três... - contava o Coelhinho Esquecido. - Quando acabar, de contar as estrelas, irei fazer um puzzle e depois irei brincar. Quatro, cinco, seis... Ó Mãe, quantas contei?

 

- Quinze, dezasseis, dezassete... - contava a Mãe, sem responder ao filho.

 

- Depois queres brincar comigo, Mãe Coelha? Dez, onze, doze... Já chega, estou cansado.

 

- Quantas estrelas contaste, meu filho?

 

- Para te dizer a verdade, já me esqueci. Não te disse que preciso de ir ao médico? Não me acreditas!

 

- Enquanto contávamos as estrelas deves ter reparado que não falei, não é verdade?

 

- É sim, Mãe Coelha!

 

- Pois se não falei, foi porque estive atenta ao que estava a fazer, e contei cento e vinte estrelas. Em contrapartida, tu contavas duas ou três e interrompias, porque te lembravas de outra coisa. Os teus pensamentos dispersaram-se e, por esse motivo, aconteceu e sempre tem acontecido não te recordares do número de estrelas que contas. Quando estiveres a fazer seja o que for, ainda que seja um passatempo, faz só isso e pensa apenas no que estás a fazer. Assim, não voltarás a ter falhas de memória.

 

- Hei-de tentar, Mãe Coelha, mas acho que não conseguirei, porque existem tantos passatempos que me agradam, que estou a fazer um e já estou a pensar no próximo. Contudo, hei-de tentar, mãe.

 

- Verás que vale a pena, meu Coelhinho Esquecido.

 

O Coelhinho Esquecido foi para a cama a magicar nas palavras da Mãe Coelha. No dia seguinte, fez um esforço grande, porque não estava habituado a programar todos os passatempos. Começou por dar um passeio pela mata e não pensou em mais nada, a não ser no que os seus olhos observavam, e deu-se conta que nunca achara a mata tão bela. Voltou para casa e descreveu tudo até ao mais pequeno pormenor. Almoçou em silêncio e nunca as cenouras lhe haviam sabido tão bem. Após o almoço dormiu uma soneca e a seguir fez um puzzle atentamente e acabou-o num instante. Nunca havia feito nenhum em tão pouco tempo.

 

Chegada a noite, sem dizer nada foi sentar-se na soleira da porta, olhou o céu com atenção e nunca antes o achara tão belo. Deu então início à contagem das estrelas e só parou quando estava cansado. Correu para a Mãe Coelha e disse:

 

- Mãe!!!... Contei novecentas e noventa e nove estrelas. Tinhas razão! Afinal, a minha ansiedade de querer fazer muitas coisas e pensar em todas ao mesmo tempo, não só me cansava demasiado, e por isso me esquecia, mas até minorava o prazer que me dão os meus passatempos.

 

Hoje foi o dia mais feliz da minha vida!!!

 

 

                   A HISTÓRIA DO SAPO SAPINHO SAPÃO

 

Era uma vez um Sapo que vivia num pântano e que de vez em quando ia passear até um jardim que circundava um palácio muito bonito. Nesse palácio vivia um menino, um Principezinho ainda pequenino.

 

Certo dia andava o Principezinho a passear no jardim com a sua Ama e apercebeu-se que andava por ali um bichinho que ele nunca tinha visto, a saltitar de um lado para outro. Dava cada salto!...

 

O Principezinho olhou muito admirado para a Ama e perguntou-lhe:

 

- Que bicho é aquele?

 

- Não sei! - respondeu a Ama. - Ou melhor, sei, mas não digo! É melhor o Filipinho perguntar-lhe. Daqui a pouco ele estará mais perto de nós e o menino aproveitará para lhe perguntar.

 

- Está bem! - disse o Principezinho.

 

Entretanto, o Sapo chegou perto deles e parou, de certo também admirado, porque nunca tinha visto um Principezinho.

 

- Como te chamas? - perguntou o menino.

 

- Chamo-me Sapo! E tu, como te chamas?

 

- Eu chamo-me Filipe, mas lá em casa chamam-me Filipinho umas vezes, outras vezes chamam-me Lipe, e só muito raramente me chamam Filipe. Quando me chamam Filipe, já sei que me portei mal e vou ser repreendido.

 

- Mas o teu nome é muito bonito! - disse o Principezinho. - Como te chamam os teus pais?

 

- Os meus pais chamam-me Sapo, Sapinho ou Sapão. Depende do meu comportamento. Quando me chamam Sapão!...

 

Por que andas tu aos saltinhos? - perguntou o menino - Não tenhas receio, que não estragas a relva! Podes passear à vontade!

 

- Não, não! - disse o Sapo. - Esta é a minha forma de andar!

 

- Que engraçado! Gostava de andar como tu! - disse o Principezinho.

 

- Então dá-me a tua mão e vem comigo. - Vamos saltitar os dois. - disse o Sapo.

 

- Está bem, vamos lá...

 

                SAPO SAPINHO SAPÃO

                   TOMA LÁ A MINHA MÃO

                   DÁ-ME CÁ A TUA MÃO

                   SAPO SAPINHO SAPÃO

 

E lá foram saltitando, saltitando, à volta do jardim. Andava por ali uma Lagartixa que quando os viu aos saltinhos, pensou:

 

- Aqueles dois são maluquinhos ou têm falta de imaginação! Em vez de fazerem como eu, que passo por cima de tudo, andam para ali aos saltos feitos tontos! Daqui a pouco hão-de estar bonitos, todos transpirados. Mas que falta de inteligência!

 

Enquanto isto, o Sapo e o Principezinho riam à gargalhada, divertidíssimos com o seu saltitar. De repente, viram aproximar-se a Lagartixa e pararam; ficaram muito quietos.

 

- Não é por nada - disse o Sapo - mas não gosto nada de Lagartixas; fazem-me medo!

 

                                      SAPO SAPINHO SAPÃO

                                      DÁ-ME CÁ A TUA MÃO

                                      DÁ-M E CÁ A TUA MÃO

                                      QUE ESTOU NUMA AFLIÇÃO

 

- Vamos fugir daqui, que eu, quando vejo uma lagartixa, fico cheinho de medo - disse o Principezinho. Dentro da minha casa há um jardim mesmo em frente à sala onde estão os meus brinquedos e onde brinco sempre. E se fossemos para lá? Ali a lagartixa não nos importunará.

 

                                      SAPO SAPINHO SAPÃO

                                      ESTOU PERDIDO DE MEDO

                                      AGARRA BEM MINHA MÃO

                                      VAMOS BUSCAR UM BRINQUEDO

 

Depois, disse o Sapo:

 

                                      FUJAMOS PRINCIPEZINHO

                                      FUJAMOS DESTE LUGAR

                                      DÁ-ME CÁ A TUA MÃOZINHA

                                      VAMOS PR'Á SALA BRINCAR

 

A Ama, coitadinha, ficou cansadíssima por andar aquele tempo todo atrás do seu menino, preocupada, não fosse ele cair e magoar-se.

 

A Lagartixa... Que terá acontecido à Lagartixa?

 

 

                   UM DINOSSAURO CHAMADO ZACARIAS

 

O Dinossauro Bebé chama-se Zacarias.

 

Desde muito pequeno que a   Mamã   Hermengarda habituou o Zacarias a levá-lo consigo sempre que viaja, mas desta vez deslocar-se-á à Austrália, em serviço, razão pela qual não o pode levar.

 

Agora há que convencer o Zacarias que é muito mimado, a ficar com a Avó Segismunda que é muito sua amiga, mas não lhe faz, como a Mamã Hermengarda, todas as vontades.

 

O Zacarias é muito inteligente e já se apercebeu que o ambiente lá em casa não está muito claro, o que o faz andar intrigado. Mas hoje mesmo ficará esclarecido, pois a Mamã Hermengarda pensa dizer-lhe, apesar de sentir um certo receio da reacção que irá ter o filho.

 

- Meu Dinossauro Bebé (é assim que a mãe o trata), a mamã terá de viajar na próxima semana, mas desta vez o filho não poderá ir, porque a mamã vai para muito longe e em serviço. Esta viagem será à Austrália, e lá espera-a um trabalho árduo. Assim, o Zacarias ficará com a Avó Segismunda.

 

- Não fico nada! - gritou o Zacarias. - Gosto muito dela, mas não quero ficar; quero ir contigo!

 

- Não pode ser! - disse, decididamente, a mãe. - E se o meu filho se porta mal, ficará em casa, de futuro, ainda que a mamã vá passear.

 

O Zacarias ficou muito triste, mas não disse mais nada. Porém, recusou-se, a partir daquele momento, a comer e a dormir e, em apenas dois dias, ficou tão abatido que fazia pena.

 

A Mamã Hermengarda resolveu levá-lo ao médico antes de viajar, não fosse acontecer-lhe alguma coisa grave.

 

O médico, o Dr. Sarapatel, examinou-o cuidadosamente e disse:

 

Näo tem nada. É apenas uma birra que passará daqui a pouco, não é verdade Zacarias?

 

O Zacarias olhou-o de soslaio, dedinho enfiado na boca, e não disse uma palavra. Entretanto, o Dr. Sarapatel levou-o até à sala de brinquedos, ao lado da sala de espera do consultório, para que se distraísse com os outros Bebés, que brincavam alegremente enquanto esperavam pela sua vez.

 

O Dr. Sarapatel tinha muita paciência e sabia muito bem como falar com as crianças, de modo que começou por chamar um por um, todos os bebés que ali estavam, para os apresentar ao Zacarias. Entre outros bebés, apresentou-lhe um Cangurú com uns olhos muito bonitos e muito alegre que, logo que viu o Zacarias, pediu à mãe para o pôr no chão, o que ela fez imediatamente, tirando-o de dentro da bolsa. O Zacarias achou muita graça àquela bolsa donde saiu o Cangurú, pois nunca tinha visto coisa igual.

 

- Como te chamas? - perguntou o Zacarias.

 

- Chamo-me Cangurú Saltarico!

 

- Sabes, Canguru Saltarico, estou muito triste, porque a Mamã Hermengarda vai viajar e não quer levar-me. Quer deixar-me com a Avó Segismunda, imagina! Estou tão triste que não quero comer nem dormir e, por isso, vim ao médico.

 

Mal o Dinossauro Bebé acabou de falar, o Canguru Saltarico, disse:

 

- A Mamã Bernardina também viaja muito. Umas vezes vou com ela, outras fico com a Ama Cinderela. Não fico com a Avó Bonifácia, porque ela vive na Austrália.

 

Era a hora do lanche e todas as mamãs tiraram o lanchinho para os filhos comerem. A Mamã Hermengarda que, pelo sim pelo não, tinha também levado lanche para o filho, sem dizer nada pô-lo em cima da mesa, e o Zacarias sem se dar conta, fez o mesmo que os outros e comeu o seu lanchinho num instante.

 

Chegada a vez da consulta do Cangurú Saltarico, tiveram que se despedir, embora com pesar, já que a vontade deles era continuarem naquela sala, a conversarem e a brincarem.

 

. O Dinossauro Bebé, já muito bem disposto, disse:

 

- Gostava que fosses brincar para a minha casa, amanhã!

 

Que vou fazer a tua casa, se amanhã partes para a minha terra?

 

 

- Pensando bem, - disse o Zacarias - já não quero ir. Ficarei com a Avó Segismunda. Acho que será melhor para mim e para a Mamã Hermengarda, e a Avó Segismunda ficará muito contente.

 

 

                   NA ESCOLA

 

Os meninos brincavam no recreio. Tinham entrado para a Primária e a satisfação era grande. Alguns já se conheciam; tinham sido colegas na mesma Creche, mas outros matricularam-se pela primeira vez naquele Colégio.

 

O Cláudio era um dos meninos que pela primeira vez estava no Colégio e, porque era tímido, (tinha chegado de África, era negro e ouvira dizer que os meninos brancos não gostavam dos meninos negros), não se juntava aos meninos brancos. Não fora a distribuição de lugares feita pela Professora, o menino ter-se-ia sentado ao fundo da sala, sozinho.

 

Os companheiros do Cláudio chamavam-no para brincar no recreio, mas ele baixava os olhitos lindos e não arredava pé do seu canto solitário. Estava ansioso por saber ler, por isso levava sempre o livro de leitura de que gostava muito para o recreio, e ia repetindo a leitura das palavras já ensinadas pela Professora.

 

Os outros meninos achavam estranho que o Cláudio não se juntasse a eles. Porém, já tinham tentado de todas as maneiras convencê-1o, mas a sua atitude era irreversível.

A Professora, por seu lado, falava com ele, pedia que se juntasse aos companheiros, mas ele não cedia.

 

Um dia, a meio da aula, a Professora disse:

 

- Hoje não teremos intervalo, porque quero ter uma conversa com os meninos dentro da aula.

.

Embora a surpresa os tenha feito preocupar, porque de certo alguma coisa teriam feito que não devessem, todos acataram o pedido, sem qualquer comentário.

 

Tocou a campainha para o intervalo, e ninguém se mexeu do seu lugar. A Professora chamou todos para junto de si e começou por perguntar ao Cláudio, por que não queria brincar.

 

Gosto muito de brincar. Na minha terra brincava muito com os meninos da minha cor, mas quando estava para vir para cá, os meus amigos avisaram-me que os meninos brancos não gostam dos meninos negros.

 

- Isso é mentira!... - disse o Tiago, indignado. - Pois é! - disse o Miguel, pegando na mão do Cláudio. - Não acredites! Todos somos teus amigos e de todos os meninos da tua cor. Gostaríamos que vocês fossem também nossos amigos.

 

- Há algum menino nesta sala que não goste do Cláudio? - Perguntou a Professora.

 

- Não!... - responderam todos. - O Cláudio é que não gosta de nós, por isso, não brinca connosco!

 

- Estás a ouvir, Cláudio? - Perguntou a Professora - Como vês, estás enganado. Todos os teus companheiros gostam de ti.

 

- Também já ouvi dizer que os meninos negros não gostam dos meninos brancos - disse o Júlio -, mas não acreditei, porque o meu pai tem amigos brancos, negros e mestiços, é amigo de todos e todos são amigos dele.

 

- Todos somos meninos! Que interessa a cor que temos? - exclamou o Hugo. - O importante é que sejamos bem comportados, estudiosos e amigos uns dos outros.

 

- Exactamente! - Disse a Professora, satisfeita. Por isso, Cláudio, não tens que ter receio de te juntares aos teus colegas. Aqui não há meninos brancos e meninos negros. Aqui há meninos que estão para aprender, para se distraírem brincando juntos, construírem amizade e fazerem-se homens.

 

A partir daquele momento, o Cláudio acreditou que todos os companheiros o estimavam e queriam compartilhar com ele não só as brincadeiras, mas também a amizade.

 

Quando voltou à sua terra, teve o cuidado de dizer aos amigos, que estavam muito enganados!...Eles acreditaram, pois o Cláudio levava um sorriso de criança feliz.

 

                                                                                Cremilde Vieira da Cruz  

 

                      

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