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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


Contos pra Criança e Gente Grande Ler / C.R. Cunha
Contos pra Criança e Gente Grande Ler / C.R. Cunha

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

Contos pra Criança e Gente Grande Ler

 

 

SUMÁRIO

A lagoa de Águas Prateadas do Centro do Arco Íris

Um Anjo da Guarda Desempregado

Crueldade Humana

Drogas Pesadas

O "Bom Ladrão"

O Boneco de Neve

...Saudades da Mãe de Saudade

Anjo da Guarda

Dores e Marcas da Infância

Lágrimas nos Olhos de uma Borboleta Azul

Conversa de Pai e Filha

Quando o Nosso "Fiofó" Coça é a Gente Mesmo que Tem de Coçar

 

 

A criança é desde o começo de sua vida sagrada, e maravilhosa por ser cheia de sonhos, um bom leitor. Ela continuará a ser se os adultos que hoje a circundam alimentarem seu doce instinto de fantasias em lugar de por a prova a sua competência. O desejo que ela tem de aprender deve ser estimulado muito antes de lhe ser imposto o dever de recitar.

A grande dificuldade de se ensinar uma criança a gostar da leitura é que ela requer recolhimento e silêncio. Por isso precisamos encher a sua imaginação de vida e nunca deixa-la sozinha com um livro, nessa faze. Temos de ser incansáveis contadores de histórias e de estórias o tempo todo.

                                                                                                           Carlos Cunha

 

 

A LAGOA DE ÁGUAS PRATEADAS DO CENTRO DO ARCO ÍRIS

Coaxando baixinho enquanto tomava um delicioso banho de sol, numa tarde quente de verão, sobre uma Vitoria Regia enorme que flutuava nas águas paradas do centro da lagoa o sapinho amarelo...

- Qua... Qua... Quaaaa...

Eu lia em voz alta, para mim mesmo, as primeiras palavras do conto infantil que tinha acabado de iniciar e procurava por idéias para que pudesse continuá-lo, quando ouvi uma sonora gargalhada. Era o meu filhinho rindo desregradamente do que eu tinha dito.

- Nossa quanta alegria! Do que você está rindo tanto?

- Do que você falou sozinho ai pai. A mãe sempre diz que o senhor é meio biruta, por causa das histórias que inventa. Eu não acho não, só que só tem sapo verde pai. Amarelo não existe!

- E quem te disse que não? Eu já não te falei que quando alguém escreve uma história os personagens dela criam vida na cabeça dos que a lêem? Se isso acontece, quando as crianças lerem o que estou escrevendo vão dar vida ao sapinho amarelo e ele vai existir.

- É mesmo pai! O senhor falou, mas eu tinha esquecido. Que legal! Quando a história tiver pronta conta ela pra mim?

- Conto sim filho, só que agora me deixa trabalhar pra eu poder terminar a história.

- Ta pai. Eu vou jogar game e ficar bem quietinho pra não te atrapalhar.

“... pensava na vida e às vezes esticava a sua língua comprida pra caçar uma mosca gorda. Ele se chamava Loirinho e era diferente dos outros sapos que viviam sempre conversando, um com os outros, ou namorando. Gostava da solidão do centro da lagoa e era ali que se sentia feliz.

Os sapos mais velhos sempre lhe diziam:

- Você precisa arrumar uma namorada Loirinho. A vida é muito triste pra quem vive sozinho.

- É que estou à espera de um grande amor.

- Mas tem um monte de sapinhas lindas e sozinhas por aqui que podiam ser sua namorada! Tem aquela que usa vestidinhos rodados cheios de florzinhas que está sempre sorrindo, a que gosta de brincos e pulseirinhas de prata, a que escreve poesia e é romântica como você e muitas outras, todas bonitinhas e loucas pra te namorar.

- Eu sou um sapo romântico e só vou namorar quando gostar de verdade de alguém, ele sempre respondia. O que eu quero é conhecer um grande amor e vou esperar até ele chegar.

Todos os dias pela manhã o sapinho amarelo subia em uma Vitoria Regia e usando um pequeno galho seco como remo ia para o centro da lagoa. Só voltava de lá, para a margem esquerda onde morava, no fim da tarde. Havia muitas vilas de sapo por toda a margem da lagoa, mas o Loirinho nunca tinha ido até nenhuma delas e só conhecia aquela em que tinha nascido e em que vivia.

Na margem direita, a oposta daquela em que vivia o sapinho amarelo, tinha também uma grande vila de sapos e era nela que morava a Rosinha. Ela era também uma sapinha muito romântica, que gostava da solidão, e como o sapinho amarelo passava horas na grossa areia da beira da lagoa, ao invés de no centro dela, sonhando com a chegada de um grande amor. Era também diferente dos outros sapos da vila em que nasceu, pois nela todos eram verdes e ela tinha a pele cor de rosa. Foi por isso que recebeu o nome de Rosinha.

Eles viviam sonhando os mesmos sonhos e tinham as mesmas esperanças. Um sabia que o outro existia, mas não quem ele era. Só o destino, ou a enorme força de atração que só o verdadeiro amor possui, poderia realizar o milagre de um dia eles se encontrarem.

Numa tarde de sol, na hora em que em locais diferentes eles tinham seus belos sonhos românticos, de repente o céu se fez negro e uma forte ventania de tempestade levou a Vitoria Regia em que o sapinho amarelo estava em direção a margem direita. Com muito medo do vento forte e por estar sendo arrastado para um lugar desconhecido ele chegou até lá.

Apesar do tempo feio ele perdeu o medo e ficou encantado quando lá chegou, pois viu sentada na areia grossa a linda sapinha cor de rosa. Sentiu que finalmente estava amando. Quando viu o sapinho amarelo ela teve o mesmo sentimento que ele.

Nessa hora grossos raios de sol furaram as nuvens escuras, desceram até o local em que eles estavam e formaram uma enorme escada de luzes. Os dois subiram por ela e foram até uma solitária lagoa de águas prateadas que havia no centro do Arco Iris, para viverem todos os sonhos de amor que tiveram em suas vidas.

Esta história aconteceu faz muito tempo, mas ainda hoje existe a lagoa de águas prateadas no centro do Arco Iris, só que lá não é mais um lugar solitário. Ela agora é cheia de vida e é morada de milhares de sapinhos coloridos, que  são os descendentes do sapinho amarelo e da sapinha cor de rosa.

 

UM ANJO DA GUARDA DESEMPREGADO

Sentado em uma nuvem bastante baixa e toda branquinha o Malaquias observava um lugar muito bonito, bem pertinho de um grande rio, só que os seus olhos estavam opacos por causa da tristeza que fluía da sua alma e os impedia de brilharem. Há muito que estava ali vendo o tempo passar e desgostoso com a vida.
Ele tinha nascido anjo e se especializara na guarda das pessoas, só que não havia emprego. Elas não acreditavam em sua existência e por isso ele ficava o tempo todo ali sem fazer nada.
Malaquias era um anjo da guarda desempregado.
Dali – sentado na nuvem fofinha – ele via um sapo enorme, de pele verde, grossa e enrugada, que dormitava na grama perto da água e uma linda garça branca que tinha as pernas longas dentro da parte bem rasinha e pegava com o bico pequenos peixinhos que engolia deliciada.
Foi nessa hora que ele ouviu uma gargalhada sonora, cortando o ar, e viu sair correndo, de trás de uma grande moita, uma linda menininha. Atrás dela, logo a seguir, surgiu uma mulher brava gritando com ela e a repreendendo:

- Não corra dessa maneira menina, você vai acabar caindo. Volte aqui, não chegue perto da água que é perigoso.

Pulando e saltitando, com o rostinho coberto de felicidade, a menininha continuou até a beira do rio onde, olhando para a mulher com os seus olhinhos cheios de pureza e inocência, falou para ela:

- Não tem perigo não. É tão bonito e calmo aqui, um lugar ideal pra gente se divertir e pular. Vem brincar comigo mãezinha, vem.

- Aqui é muito bonito filhinha, só que é muito perigoso também. Pulando e brincando assim você acaba se machucando. Sai de perto da água, anda. Vem pra cá.

- Me deixa brincar mãe. Não precisa se preocupar que o meu anjo da guarda toma conta de mim e não vai me acontecer nada de ruim.

Malaquias que acompanhava a conversa, desde que elas apareceram ali, ouviu maravilhado o que a menininha havia dito e continuou prestando atenção.

- Deixa de bobagem e saia já daí. Anjo da guarda não existe, é coisa de estória e você tem de se comportar para nada de ruim te acontecer. Vem já pra cá.

- Existe sim mãe, eu sei que existe.

- Nunca foi visto um anjo da guarda minha filha. Como é que vai existir uma coisa que nunca ninguém viu.

- Gozado mamãe, a senhora diz que me ama e eu nunca vi o amor. Então a senhora quando fala assim está mentindo pra mim e o amor não existe.

- Isso é diferente filhinha. Amor é um sentimento que...

Na hora em que a mãe tentava explicar pra criança, sobre a diferença da existência de um anjo da guarda e um sentimento que trazemos em nosso coração, a menininha pisou em falso e como estava muito na beirada d’água caiu dentro do rio.
Todos ficaram assustados. A mãe dela começou a gritar desesperada. O sapo, que tinha se escondido entre a vegetação alta, ficou sem saber o que fazer e a garça branca, paralisada no galho alto para onde ela tinha voado, olhava atônita. Só o Malaquias continuou calmo.
Do coração do anjo fluiu nessa hora um brilho intenso que cortou o ar e foi atingir a garça. A ave voou então sobre a correnteza, que levava a menina, e a prendendo com o bico tirou ela da água e colocou-a na margem.
A pobre mãe, que tinha ficado cega pelo desespero, não viu nada disso e somente sabia que a sua filhinha tinha caído no rio. Chorava desconsolada quando a criança chegou perto dela, toda molhada, e com sua voz doce lhe falou:

- Não chora não mamãe que eu estou bem.

- Mas como você saiu da água menina. Eu te falei pra não chegar perto do rio. Vem, vamos já pra casa. Nunca mais vou sair pra passear em lugar perigoso com você.

Elas entraram no carro e se foram. A mãe não percebeu que no trajeto de volta para casa uma nuvem branca às acompanhava. Só a menininha a viu, pela janela do carro, e piscou feliz para o anjo que estava nela.

 

CRUELDADE HUMANA

Coberto de peninhas muito macias, que brilhavam sob o refletir calmo e suave do sol, que se punha num fim de tarde, o pequenino e delicado beija-flor voejava de arbusto em arbusto a cata do alimento que necessitava para continuar cheio de vida. Pairava no ar em frente a uma linda rosa e dela ia para uma formosa gardênia para depois ir até outra que estava ao lado ou até camélia que se encontrava em outro arvoredo. Era maravilhoso ver aquele passarinho dando beijinhos nas variadas e exóticas flores do campo que ali eram abundantes e que coloriam o verde, até onde a vista alcançasse.
Seu vôo era um bailado repleto de encantamento que enchia de fantasias a menininha que passeava ali pelo campo e tinha ficado paralisada, quando viu o pequeno passarinho, olhando para ele com um sorriso sonhador e permanente em seu rostinho angelical.
Nessa hora uma pedra cortou o ar zunindo velozmente e atingiu em cheio o pobre passarinho. Horrorizada a menininha viu o lindo animalzinho, que a tinha deixado tão maravilhada, cair sem vida entre as folhas e os galhos secos.
Seu irmãozinho estava a poucos passos dela, com uma atiradeira na mão, e trazia no rosto um riso de vitória por ter atirado e acertado a pedra com tanta eficácia naquele passarinho.

- “Você é muito malvado”, a menininha disse para ele e caiu num pranto sentido, que mostrava toda a amargura que tinha atingido o seu coraçãozinho.

Pela primeira vez ela tinha sido testemunha de um ato da crueldade humana, coisa que tanta dor e sofrimento iria trazer nos anos de vida que aquela inocente criança tinha para viver.

 

DROGAS PESADAS

Lucinha até que era uma menina bonitinha, pena que ela estragava a sua beleza com alguns hábitos que tinha e com sua maneira de se comportar.
Quase sempre usava uma mini saia bem curtinha, o que lhe caia muito bem porque tinha as pernas longas, grossas e bonitas. Quando colocava uma calça comprida era sempre um jeans sem bainha e rasgado em vários pontos das pernas.
Só andava com um tênis surrado ou de sandálias havaianas e suas orelhas tinham muitos furos. Ela usava pelo menos meia duzia de brincos em cada uma delas.
Tinha também alguns pincem colocados em diversos pontos do corpo. Um no lábio inferior, um outro na língua, mais um no nariz e um que só os meninos com quem transava viam. Ela usava uma argolinha prateada em um dos lados da sua vagina.
Seus pais viviam desgostosos com ela, seu irmão sentia vergonha da irmã que tinha e ela vivia sendo repreendida pela professora:

- Lucinha. Quantas vezes eu te falei que não quero que mastigue chiclete na minha aula?

- Que é que tem fessora? Eu não to incomodando a aula e nem faço barulho com a boca como muita gente.

- É um hábito horrível que eu não admito dentro desta sala. Jogue fora esse chiclete ou se retire da classe.

- Ta bem... Ta bem fessora, ela falava e colocava os dois dedos de sua mão na boca para pegar o chiclete, que mastigava, e cola-lo sob a carteira.

- Ai é lugar de colocar o chiclete Lucinha? Jogue essa porcaria no lixo.

- Deixa ele aqui fessorinha. Ainda ta docinho e depois da aula eu pego. Dá pra mastigar mais duas ou três horas.

O irmão dela, que era dois anos mais jovem, parecia bem mais velho que a irmã e muito mais ajuisado do que ela. Os pais tinham muito orgulho dele que só lhes dava alegrias. Era um ótimo aluno, muito estimado pela professora, e um menino de hábitos sadios. Gostava muito de ler um bom livro e ouvir músicas. Adorava MPB de primeira linha e passava horas encantadas com os clássicos. Era apaixonado por Mozart.
A professora um dia comentou e perguntou a ele:

- A Lucinha nem parece ser sua irmã. Como pode ser tão diferente de você?

- É professora. De uns tempos pra cá ela está completamente alienada. Era uma menina tão legal, mas desde que se envolveu com drogas sua mente se deteriorou.

- Ela fuma maconha, meu filho?

- Se fosse só isso tudo bem. O ruim é que ela está usando drogas pesadas.

- Então ela está cheirando cocaina?

- Se fosse isso, ou qualquer outra droga química, ficava mais fácil a gente ajuda-la e dela se recuperar. É coisa muito pior professora. Ela está dependente de drogas muito piores que estão destruindo o cérebro dela. A senhora pode ver no jeito dela falar e de se comportar o que essas drogas estão fazendo com ela.

- Mas que tipo de drogas ela anda tomando?

- Ela curti coisas como o grupo do É o Tcham, O bonde do Tigrão e outros desse nível. Passa horas na frente da televisão assistindo o programa do Gugu, domingão do Faustão ou qualquer outra baixaria e ao invés de ir a um teatro ou a um show, que tenha profundidade e enobreça sua alma, ela se reune a um bando de viciados e vai a esses espetáculos de baixo nível.

- Então o caso da sua irmã é mesmo crítico e se ela está dominada por essas drogas não tem mais jeito não. E não é só ela não meu filho. Como ela, milhares de jovens estão tendo os seus cérebros atrofiados por essas drogas. Até as crianças estão tendo acesso a elas. A gente liga a TV, num programa infantil, e ao invés de ver brincadeiras sadias e historinhas educativas ele está cheio desse tipo de droga. A gente vê neles as crianças alienadas, sob o total domínio dessas drogas, rebolando a bundinha em cima de uma garrafa ou qualquer coisa parecida. Essas drogas sâo mesmo terríveis e estão destruindo os cérebros desta geração.

 

O "BOM LADRÃO"

Era uma bela manhã, apesar do dia ter se iniciado com uma pequena nebulosidade. O marido ia para o trabalho cantarolando cheio de alegria.
Ele era um funcionário publico feliz e cheio de esperanças.
Sua esposa que trabalhava na mesma repartição, mas que entrava trinta minutos antes dele já estava no na repartição. Ele ia estar daqui a pouco junto a ela e do filho que ela carregava já a três meses dentro de si.
Sim, ele tinha plena razão de levar um sorriso nos lábios o tempo todo.

O relógio do departamento marcava, postado na branca parede da sala, oito horas e vinte minutos.
A esposa, dispersa em sua mesa a trabalhar, olhava de minuto à minuto para ele e sentia um aumento constante em sua preocupação. Seu marido morava logo ali ao lado e não era para estar demorando tanto.
Quando ela saiu para o trabalho o deixara terminando o seu banho.
Seu café ela havia feito e deixado sobre a mesa. Mesmo que tivesse passado pela igreja, para a sua palestra matinal com Deus, ele a muito já devia ter chegado.

"O que será que aconteceu", pensava ela preocupada, "pois para ele a pontualidade sempre foi uma lei. É... algo deve ter acontecido?!"

E assim ela passou boa parte daquela manhã sentindo uma angústia dorida. Dos seus olhos,à cada pessoa que adentrava na sala, flamejava uma chama de esperança que se apagava ao não reconhecer em quem chegava o seu homem.
Quando faltavam somente alguns minutos minutos para que o atrazo se fizesse em uma hora, chegou espavorida a menina que fazia diariamente o cheiroso café da repartição e falou para ela esbaforida:

- Regina, o seu marido foi preso ali na esquina. Estava uma bagunça danada e não deu para entender direito o que aconteceu. Tudo o que eu sei dizer é que eu vi ele sendo levado pelos policiais e as pessoas falando sobre um roubo que havia sido cometido.

- Hóóó!!!

A esposa soltou um gemido abafado e caiu, atordoada com a notícia apavorante, sobre o carpete da sala.

Os minutos que se seguiram foram de uma balburdia geral na repartiçao. As amigas de trabalho corriam à procura de sais, vinagre ou algo que aliviasse a pobre esposa que era amiga de todos. Os homens discutiam confusos o ocorrido sem chegar a conclusão alguma:

- Mas como pode ser isso? Ele jamais cometeria um crime. Há anos que trabalha com a gente e todos sabemos que é incapaz de se apossar de algo alheio.

Um funcionário mais cético, que com o marido - o pseudo ladrão - não simpatizava muito, comentou com ironia agourenta:

- É... Tudo pode acontecer. Ganhamos tão mal aqui que o pobre coitado deve ter se desesperado com os apertos da sua nova situação e feito algo impensado.

Um outro, que era na verdade amigo do amigo, respondeu indignado:

- Não, não ele.
Se fosse uma outra pessoa até podia ser, mas não ele.

E assim a confusão dominou as pessoas e a conversa até que alguém perguntou com sensatez:

-Bom, algo tem de ser feito. A pobre Regina precisa de ajuda e ele é nosso amigo. O que faremos?

Após a apresentação de várias opiniões que a nada levavam, alguém disse cheio de probidade:

- Precisamos saber o que realmente foi que aconteceu. Seja o que for, o nosso lugar é ao lado do nosso amigo. Aqui, nesse diz-que-diz, de nada valemos para ele e só fazemos é deixar a nossa amiga Regina mais confusa e nervosa.

E assim resolveram subir,em grupo, à delegacia de polícia para se cientificarem da verdade no ocorrido.
Passaram-se os minutos que, para os que ficaram, se fizeram um tempo infinito de ansiedade e angústia. Em um canto, com tremores e soluçante, a esposa era acalmada por palavras consoladoras e por copos de água com açucar que lhe eram trazidos a todo momento.
A preocupação imperou nebulosamente, até que uma algazarra foi trazida junta ao barulho da chuva fina que caia lá fora.
Através da janela da repartição as pessoas que esperavam viram as que tinham ido em socorro do amigo chegando e fazendo folia debaixo da chuva fina, a carregarem o acusado nos braços em clima de festa.
Era tal a algazarra que ninguém entendia a cena que se passava. O marido havia sido preso por roubo e agora chegava carregado pelos amigos e sorridente trazia nas mãos uma rosa púrpura. Era de fato... inexplicável!

Foi tudo esclarecido algum tempo depois e a festa durou o dia todo na repartição.
Todos apoiaram a atitude do amigo. Roubado ele tinha sim, mas a uma rosa para levar à sua amada.
Em sua euforia com a felicidade que sentia, pela vinda próxima de um filho, naquele dia ao passar em frente ao jardim de uma casa, que havia ao lado do prédio público em que trabalhava, ele pulou a cerca baixa que beirava a calçada e arrancou uma bela flôr que tinha ali para oferecer de sua querida esposa.
A empregada que havia na casa, ao ver aquele homem pulando a cêrca e invadindo o jardim, se apavorou e pôs-se a gritar desesperadamente.
Foi assim que se formou a confusão e começaram os problemas do nosso amigo.
Já com algum tempo passado, ninguém mais se recorda do acontecido e só uma coisa ficou para lembrar do ocorrido. O nome que leva o nosso amigo até hoje é o de "o bom ladrão".

 

O BONECO DE NEVE

Foi logo nos primeiros dias de dezembro, ainda no começo do inverno.
Aquela semana tinha sido puxada para mim. Eu fizera três ou quatro horas de zangio (hora extra)todos os dias.
Na sexta feira cheguei do trabalho quebrado, tomei um banho, jantei e fui para a cama descansar. Não tinha forças para nada. Tudo o que eu queria era estender-me em minha cama e dormir um sono pesado para me recuperar do cansaço que me atingia.

No outro dia pela manhã eu fui o primeiro a acordar. Lavei o rosto, tomei o meu café e resolvi dar um passeio.
Quando fui abrir a porta eu senti que alguma coisa, do lado de fora, a obstruia. Forcei e, quando consegui abri-la, fiquei maravilhado com o que vi.
Os telhados, as copas das árvores, os arrozais, tudo estava branco. A rua estava coberta por um tapete de quase vinte centímetros de neve.
Havia nevado durante a noite toda e a manhã estava linda. Todo aquele branco dava a sensação de pureza e paz sobre a terra.
Ouvi nesse momento um ruido atrás de mim. Era a minha filha caçula que acabava de levantar.
Com os olhos ainda cheios de remela, os cabelos espalhados e a carinha cheia de sono, ela me falou:

- Bom dia papai, hóóó...

Ela ficou encantada com o que viu através da porta aberta. Todo aquele branco a deixou imediatamente desperta, e cheia de euforia começou a gritar:

- Olha quana neve. Que lindo. Vamos brincar lá fora. Vamos papai, vamos?

Eu olhei encantado para ela. Era emocionante ver tanta alegria nos olhos de minha filha. Fui até ela, peguei-a no colo e lhe falei:

- Vamos sim. Só que primeiro você vai escovar os dentes e tomar um café bem gostoso. Assim que teu irmão acordar nós vamos lá brincar.

- Então eu vou chamar ele, ela disse e saiu correndo até o quarto para chamá-lo.

- Crianças... Eu falei para mim mesmo, deslumbrado pelo comportamento dela.

Ela logo voltou acompanhada de seu irmão. Preparei uma refeição matinal e servi para os dois. Tive até de ralhar com eles pela pressa com que comeram.
Assim que acabaram de engolir o lanche, que eu havia preparado para eles, sairam correndo para a porta.
Antes de lá chegarem foram interrompidos pela mãe que tinha acabado de se levantar:

- Ei, aonde é que vocês vão desse jeito?

- Lá fora mãe. Ta cheio de neve e a gente quer brincar,

- Vão sair na neve assim, sem se agasalhar?
- Vistam mais uma blusa, calcem as botas e coloquem luvas. Vamos, assim ninguém vai lá fora. Não quero criança nenhuma resfriada nesta casa.

- Ta bom mamãe, ta bom... E foram, contra a vontade, fazer o que a mãe tinha mandado.

Quando voltaram saimos todos.
As crianças da rua estavam todas fora de casa brincando na neve. Meus filhos logo ficaram entre elas que tentavam acertar, uma nas outras, bolas de neve que se espatifavam contra os corpinhos cheios de roupa, quando uma delas era acertada.
Seus pais conversavam animadamente ou tiravam, com uma pá, a neve que obstruia a frente das casas.
Seus corpos estavam gelados, mas os seus corações não. Ardiam com o calor humano que era distribuido por todos em meio a toda aquela neve.
Eu olhava encantado a felicidade das pessoas, naquela manhã tão bonita, quando a minha mulher me falou:

- Bem, por que você não faz um boneco de neve pras crianças? Elas vão adorar.

Achei que era uma ótima idéia.
Peguei emprestado, com o vizinho do lado, uma pá e começei a amontoar a neve para fazer o boneco. Depois de feito o corpo eu coloquei, sobre ele, mais uma porção de neve e dei a ela o formato de uma cabeça.
As crianças tinham parado de brincar e estavam todas, em volta de mim, olhando curiosas e admiradas o que eu fazia.
Todas falavam ao mesmo tempo e faziam comentários que me deixavam alegres e aos meus filhos muito orgulhosos de seu pai:

- Puxa, que boneco legal ta ficando, dizia um!

- É mesmo, o pai do Carlinhos sabe mesmo faze boneco!

- É, meu pai sabe faze um montão de coisas, o Carlinhos dizia todo cheio.

Fui de novo até em casa. Peguei, na cozinha, uma cenoura e algumas uvas que usei para fazer o nariz e os olhos do boneco.
Com um galho seco, que eu quebrei ao meio, eu fiz os seus braços. Pus nele o gorro de lã, que eu tinha na cabeça, e estava pronto o boneco de neve
Olhei para ele e tive a impressão de que me sorria e que em seu sorriso me dizia:

- Viu só paizão. Valeu ou não valeu a pena ter trabalhado tanto esta semana? Ai esta a sua recompensa, a sua família está em festa. Pra eles não tem tempo ruim. Veja a felicidade deles nesta manhã de inverno rigoroso!

 

...SAUDADES DA MÃE DE SAUDADE

Foi explendorosa e hilariante a reação de seus amigos quando ele deu aquele nome de batismo à sua filha. Vários comentários foram feitos, todos em apôio e cobertos de admiração nas opiniões sobre a sua escolha, feita tão acertadamente.

Ele escolheu um nome singelo para se chamar aquela que era tudo o que ele ainda amava. Nome esse escolhido, por influência de Deus, para faze-lo feliz sempre que viesse a se lembrar daquela que tanto amou.

Conseguia ser feliz ao olhar naqueles olhos frescos que davam luz àquele sorriso deslumbrante que ela tinha; neles via refletido o sorriso que ele idolatrara no rosto de sua saudosa mulher.

Com certeza, havia sido iluminado na hora da escolha do nome que deu à sua filha. Deus, ao riscar as linhas de sua vida, foi incontestavelmente justo e magnânimo na escolha do risco que traçou para ele após a morte de sua mulher.

Teria uma vida feliz, mesmo chorando a memória daquela a quem os anjos receberam com tanta arrelia.

"Eu fiz a escolha certa", ele afirmava em seu pensamento enquanto olhava maravilhado para a filha. "Muito acertadamente agi quando escolhi esse nome que você tem. Eu amava muito sua mãe e você é igualzinha a ela. O que seria hoje de mim, sozinho em minha saudade de tua mãe, se não fosse a sua existência em minha vida, pequena e adorada Saudade".

 

ANJO DA GUARDA

Quando a gente é criança nossa mãe fala dele e o coloca em nossa imaginação como um ser delicado e pequeno que mora lá no céu, bem pertinho de Deus.
Diz que ele é muito poderoso, que tem asas pequeninas com penas branquinhas nas costas e se veste com uma túnica azul, com costura dourada, de tecido cintilante. Que o seu rostinho é balofo, como o de uma criança sadia e bela, e os seus cabelos são cacheados e loirinhos.
A gente acredita, porque criança crê em tudo o que é bonito e fantástico. Ajoelha-se na beira da cama, antes de dormir, e de mãozinhas postas pede a ele que olhe pelo nosso cachorrinho que passoui o dia todo quieto, com o nariz escorrendo, e parece doentinho. Nunca deixa de pedir pra ele não deixar a gente sonhar com o bicho papão. E temos um sono gostoso com sonhos bonitos.
Quando acordamos, pela manhã, encontramos o nosso cachorro saltitante e cheio de alegria, latindo como se estivesse pedindo para brincar.
Então nos sentimos felizes e agradecemos ao nosso anjo da guarda por ele ter sido tão bonzinho e atendido os nossos pedidos.

Com o passar do tempo deixamos de acreditar em bicho papão e descobrimos que é o nosso pai que compra, no shoping, o brinquedo que encontramos sob a árvore de natal e ficamos sabendo que Papai Noel é só uma fantasia que os adultos criaram para alegrar as crianças. Descobrimos também que é a nossa irmã mais velha que faz os ovos de chocolate, na fábrica em que trabalha, que nos falaram que eram feitos por coelhinhos lá nas nuvens e deixamos assim de crer no coelho da páscoa.
Crescemos e deixamos de crer em belas fantasias para passar a viver uma dura, cruel e triste realidade. Deixamos então de acreditar em nosso anjo da guarda e as vezes até em Deus.
Nos tornamos seres humanos adultos que não pede mais com fervor pelas coisas simples e boas. Nos transformamos em pessoas descrentes, muito tristes e passamos a viver uma vida vazia.
Esquecemos que fomos crianças felizes, quando Papai Noel existia para nós e nunca deixava de trazer o nosso brinquedo. Que em toda a páscoa existia para nós um coelho branco que trazia os ovos de chocolate, que comíamos vorazmente deixando a nossa boca lambuzada, e que nesse tempo éramos alegres e encantados com a vida.
Não percebemos que o anjo da guarda deixou de tomar conta de nós só quando deixamos de ter fé nele e que Deus nunca deixou de existir, mas fomos nós que deixamos de crer Nele.
Tenho certeza que se recuperarmos as nossas fantasias, nossos sonhos e nossa fé a nossa vida voltará a deixar de ser vazia, se tornará mais bela e será imensamente prazerosa. Teremos de volta a ela o amor em família, o carinho pelo ser humano e a alegria que perdemos no dia que deixamos de ter fé e de sonhar.

 

DORES E MARCAS DA INFÂNCIA

Roda, roda, roda... Pé, pé, pé...
Roda, roda, roda... Caranguejo peixe éééééééééééééééé...

Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar
O anel que tu me deste era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...

A maioria das crianças que vivem no mundo de hoje não conhece essas palavras cantadas e até a existência das cantigas de roda. Não sabe o quanto é gostoso caminhar com os pés descalços e sentir a terra sob eles.
Para elas deixou de existir o jogo de picovas, o futebol gostoso jogado com uma bola feita com meias furadas e elas desconhecem uma ladeira segura para despencarem morro abaixo num carrinho de rolimãs.
O cavalinho de pau, feito com um cabo de vassouras, ou a bobeca de trapos passaram a ser brincadeiras ridículas perante a parafernália de games, robôs e outras geringonças eletrônicas.
Os pais dizem ser perigoso, cheios de razão, deixar os seus filhos soltos e alegres a brincar na rua, mas quando num domingo de tarde a criança pede:

- Paiê, leva eu pra passear?

- Agora não meu filho, você não vê que eu estou ocupado com este contrato? Tenho que leva-lo pronto amanhã cedo ao escritório.

- Mãe, me conta uma história bem bonita.

- Tenho de ir a academia e depois ao shoping. Não tenho tempo não filho. Vai brincar lá no seu quarto, vai.

E os domingos passam, as crianças deixam de ser criança bem cedo, sem ter tido uma infância, e crescem sem saber o que é ter sido criança de verdade.
Tornarão-se adultos que não terão na perna a marca de um tiro de sal que levaram quando roubavam frutas num quintal do vizinho e nem viverão a lembrança das dores de um joelho ralado ou de um braço quebrado quando saltavam de um muro alto em suas traquinagens. Nem mesmo se lembrarão da dor causada por terem comido aquela goiaba tão gostosa que estava verde e cheia de bichos.
Eu vivi, quando era criança, em um mundo bem diferente. Tenho marcas no corpo e lembranças doces desse tempo que não me deixam esquecer como fui feliz. A dor de barriga sentida por ter comido uma fruta ainda verde passou e o meu braço quebrado quando era moleque sarou, mas a felicidade que senti em minha infância sobreviveu e se transformou em saudades.
E as crianças de hoje sentirão as mesmas saudades que eu sinto e terão consciência de terem sido felizes ao se lembrarem das dores que sentiram em sua infância? Acharão belas as marcas deixadas nelas nesse tempo?

 

LÁGRIMAS NOS OLHOS DE UMA BORBOLETA AZUL

Um belo entardecer. Não, belo é um adjetivo vulgar para mostrarmos aquele fim de tarde. Na verdade deslumbrante, maravilhoso, um entardecer delicado e glorioso, talves explicasse melhor.
Uma casa de madeira pintada de amarelo claro; nos fundos, um quintal atapetado de trevos molhados pela chuva de verão que caira.
Voejando sobre aquele tapete verde, estava uma linda borboleta azul.
Ela planeava sobre as folhas minúsculas, e em sua dança encantada ia para um velho pé de camélias vermelho púrpura.
A borboleta azul em seu bailado celestial voejou até o galho mais alto do pé de camélias, onde pousou e começou a chorar.
Por que?
Dando beijos doces em cada camélia existente naquele arvoredo, um delicado beija flor bailava em volta do pé de camélias e louvava a liberdade em que vivia.
Foi bruscamente o seu vôo bailado interrompido quando ele viu a borboleta azul.
Tão bela, uma criatura criada por Deus para com a sua beleza mostrar o que há de mais puro e delicado na natureza, prostrada sobre o galho de um arvoredo com as lágrimas escorrendo através de suas asas.
O sol fraco do entardecer batia no azul daquelas asas e tornava-se brilhante em seu refletir nas lágrimas que rolavam.
Uma borboleta azul chorando em um belo entardecer,
algo que nem a poesia e nem os Deuses consegiriam explicar.
O beija flor então perguntou:

- Bela borboleta, por que choras?

Aquela borboleta azul, que só a suas lágrimas e sua mágoa se deslocavam daquele cenário divino, respondeu:

- Sofro por causa daquele canário que está preso na gaiola pendurada na parede daquela casa amarela . Somos livres, ele não. Choro também porque sinto pena do homem que o prendeu e que em sua ignorância não percebe que ao tolher a liberdade faz chorar a natureza e a Deus.

 

CONVERSA DE PAI E FILHA

- A Fabiana ta saindo com um garoto lá do colégio mãe.

- Ela ta namorando?!

- Sei lá. Eles tão sempre de mãos dadas e outro dia foram vistos se beijando atrás da escola.

- Sua tia precisa saber disso. Aquela menina ainda vai dar muita dor de cabeça pra coitada.

- Não fala pra ela não mãe. Se a senhora falar a Fabiana vai saber que eu te contei e ficar com raiva de mim. A qualquer hora a tia vai ficar mesmo sabendo, não precisa à senhora ir fofocar.

- Olha como me fala menina! Não vou fazer nenhuma fofoca. Sua tia precisa saber pra olhar melhor a filha. Cuidar pra Fabiana não ficar igual a ela, sozinha no mundo com filho sem pai pra criar.

- Merda, eu e esta minha boca, a Maira disse para si mesma enquanto via a mãe sair da sala.

 

No final de semana, quando chegou na casa do pai, a Fabiana deu um beijo nele e lhe perguntou:

- Oi pai, tudo bem?

- Tudo filha, e com você?

- Ta tudo ruim. A mãe me deu uma surra e me deixou presa em casa a semana inteira. Só me deixou sair pra ver você.

- Mas por que querida? O que você aprontou desta vez?

- A Maira falou pra mãe dela que me viu com um menino lá na escola e ela foi correndo contar pra minha mãe. O senhor conhece bem ela. Começou a me dizer que eu era muito nova pra namorar e foi logo me metendo a mão.

- E você ta namorando?

- To não pai, só to ficando com um garoto da minha classe.

- Ficando? Desculpa, mas acho que não entendo. Isso não é o mesmo que namoro?

- Não pai. Ficar significa o que a palavra quer dizer. Quando uma pessoa é legal a gente fica com ela, mas não existe compromisso. O carinha lá da escola me leva pra tomar lanche depois da aula, ao cinema, a gente passeia e eu o deixo me beijar, só isso. Enquanto tiver bom pros dois a gente fica, quando um achar que não ta legal cada um vai na sua.

- É, acho que compreendi como é a coisa, só que você precisa entender a sua mãe. Não posso tirar a razão dela por se preocupar com o seu futuro. Você ta ficando mocinha e é normal que ela sinta medo do que possa te acontecer.

- Eu a entendo pai, ela é que não me entende. Não é porque estou saindo com um rapaz que vou ficar grávida e desgraçar a minha vida, como ela pensa! Ela namorou o senhor, vocês se casaram e agora cada um vive para um lado e eu tenho que viver com um e só ver o outro de vez em quando. O senhor acha que é legal pra mim? Eu quero é primeiro estudar e ter certeza das coisas, antes de pensar em namorar e casar. Não vou deixar que o mesmo aconteça com meu filho, se um dia eu o tiver.

- E você já explicou isso pra sua mãe?

- E dá? Ela só vê as coisas do jeito dela e não me deixa falar. Sempre que eu abro a boca apanho. Ela precisa confiar em mim pai, será que não vê que eu tenho mais juízo que ela?

O pai olhou com amor para a filha e pensou:

"É minha querida, eu concordo com você. Não posso te falar isso, mas te dou toda a razão".

 

QUANDO O NOSSO "FIOFÓ" COÇA É A GENTE MESMO QUE TEM DE COÇAR

- Você sabia que coçar o fiofó é feio pai?

- Claro que é, mas quem te ensinou a falar isso?!

- Foi à mãe pai. Eu tava coçando o meu quando ela ficou brava comigo e me disse:

- Para de coçar o fiofó menino, que isso é uma coisa muito feia.

- E ela tem razão, só que não tem outro jeito. Na hora em que o fiofó coça a gente tem de coçar.

- É mesmo, né pai?

- Sim filho. Ou a gente coça ou tem de pedir pra alguém coçar, o que é muito mais feio.

- Também acho, mas tem quem pede pai?!

- Tem sim, mas é só florzinha. Você sabe o que é isso?

- Sei sim pai. São aqueles caras que vivem rebolando e que são cheios de nheconheco, que nem aquele moço esquisito que mora lá na esquina.

- Pois é isso ai, é só gente assim que pede.

- Eu em! Nunca vou pedir pra ninguém coçar o meu fiofó. Não sou florzinha não pai.

- Isso mesmo filho. Nunca se esqueça que quando o nosso fiofó coça, seja feio ou não, se não tem jeito é a gente mesmo que tem de coçar.

 

                                                                                                     Carlos Cunha

 

 

                      

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