Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CORAÇÃO COMANCHE - P.2 / Catherine Anderson
CORAÇÃO COMANCHE - P.2 / Catherine Anderson

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

 

 

                                                             Capítulo 11

Amy se sentia como um lombo recheado no vestido de seda azul. Loretta tinha insistido em que levasse espartilho, o que tinha distribuído suas curvas por lugares que nunca pensou que tivesse. O som dos violinos lhe cravava nas têmporas, e um retumbo de pés produzia vibrações pelo chão do salão comunitário. Amy desejava estar em casa, na tranqüilidade de seu lar e com a certeza de saber o que ocorreria depois.

—Ele virá —assegurou Loretta inclinando-se sobre ela para que pudesse ouvi-la—. Ele e Caçador devem ter trabalhado até tarde. Seguro que já estão em casa, lavando-se.

Amy se mordeu o lábio.

—Acredito que vou a casa. Não é tão divertido como pensava.

Loretta a agarrou pela boneca.

—Disso nada.

 

 

 

 

Índigo passou ante elas dando voltas, um poquito muito abraçada a seu casal de baile, com uns sapatos negros de salto que reluziam debaixo de seu vestido rosa. Loretta seguiu a sua filha com o olhar.

Com um suspiro, soltou a Amy do braço e disse:

—Que desperdício que leve esse vestido para tipos como esse.

Amy estudou ao Brandon Marshall, o companheiro de Índigo. Era um loiro alto de olhos azuis e vivazes, o sonho perfeito de qualquer garota. Bonito, bem vestido e sofisticado. Podia entender por que Índigo o olhava com olhos sonhadores e por que Loretta estava tão preocupada. Brandon Marshall parecia ter uns vinte anos, muito major para cortejar a Índigo.

—Não pude falar com ela essa noite, quando fui buscá-la —admitiu Amy—. E logo, estive tão atada com meus próprios...

Loretta perdeu a sua filha no bulício dos bailarinos.

—Não passa nada —lhe dedicou um sorriso—. Algumas vezes me esquecimento de que aqueles aos que quero devem também viver suas próprias experiências. Não posso lhe proibir nada. Seria um engano. —O olhar da Loretta passou dos bailarinos a Amy—. Já o fiz contigo também, sabe?

A Amy lhe encolheu o coração ao ver a cara de tristeza da Loretta.

—Não seja boba, Loretta Jones. Foi maravilhosa comigo.

—Fui? te olhe, aterrorizada por um estúpido ato social.

Amy entreabriu os olhos.

—Acredito que o término «aterrorizada» é um pouco exagerado. Não todo mundo se diverte com estas tolices.

—Vejamos como se sente quando chegar Veloz.

—Possivelmente pensou que todo mundo ia observar o.

—Amy, comprou uma camisa nova para esta noite. Certamente que virá. te relaxe, quer?

—Por isso comprou uma camisa nova? Para esta noite?

Loretta sorriu.

—por que se não ia comprar uma camisa nova?

O viúvo senhor Black se aproximou. Amy se sentiu como um inseto parecido com um alfinete a um painel ao ver como a olhava. Desejou ficar o xale e desviou o olhar para o perchero que havia junto à porta, tentada de ir agarrar o.

—Senhorita Amy, não está acostumado a você nos honrar com sua presença neste tipo de eventos. Concede-me este baile?

—Eu não danço —respondeu Amy brandamente, tratando de não lhe ofender. além de ser o juiz, o senhor Black era carpinteiro e formava parte do comitê do colégio—. Eu gosto de olhar, simplesmente.

Seu rosto gasto forçou um sorriso.

—Vi que traz você uma cesta. Certamente, puxarei por ela. —Seu olhar descendeu até o peito da Amy.

—Acredito que não tem lido bem a etiqueta. Não é uma cesta para a luta.

Loretta se aproximou de um grupo de mulheres. Amy a seguiu com o olhar. Sua prima sabia o muito que lhe desagradava o senhor Black. Tinha uns olhos de sapo que a faziam sentir como uma mosca a ponto de ser comida.

—ouvi que tem um novo aluno, o senhor López, o pistoleiro. Hão-me isso dito algumas mães preocupadas na última reunião. E me alegra saber que começou a lhe dar aulas depois do colégio. É estranho que um pistoleiro atira a classe. É obvio, com uma professora tão bonita como você, até eu iria a que me refrescasse o alfabeto também.

Amy tragou saliva, começava a perder a paciência.

Loretta voltou e tomou parte na conversação.

—O senhor López é um amigo da família, em realidade é quase como um irmão. Agora trabalha na mina, por isso Amy lhe está dando classes todos os dias.

—Em privado, entendo. —O senhor Black levantou uma sobrancelha, como se de algum modo lhe parecesse inadequado.

Amy se moveu nervosa. Lhes teria visto alguém caminhar pelo bosque durante a noite? Doía-lhe o estômago. Seu trabalho era sua independência.

—lhe dar aulas em privado é a única forma, senhor Black. Estou segura de que não quererá lhe negar ao homem uma educação.

—Certamente que não quer. —Loretta sorriu, como se Black acabasse de anunciar que a Segunda Vinda era iminente—. O senhor Black pertence ao comitê da escola. A educação para todos é sua missão. Equivoco-me, cavalheiro? Arrumado a que lhe agrada ver sua dedicação, Amy.

Black soprou cheio de orgulho.

—Certamente que sim. —Colocou sua mão fria no ombro nu da Amy—. Sou certamente um admirador desta jovencita. É uma excelente professora.

Amy tivesse desejado apartar-se. Lhe aconteceu os dedos pela pele, uns dedos frios e úmidos. Olhando o de reojo, perguntou-se como reagiria se lhe desse um tapa para lhe apartar a mão.

Os violinos deixaram de sonar, e toda a atenção foi parar à parte dianteira do salão. O senhor Black se tomou ainda mais liberdades com o dedo. Estava animando-o ela para que ficasse? E o certo é que, aparentemente, a mão em seu ombro era do mais inocente.

Randall Hamstead, que era o dono da loja de têxteis, subiu ao cenário com uma cesta de comida em alto.

Loretta se aproximou da Amy.

—Você arrumado o pagamento em ovos de na próxima semana a que não lhe deram o chá de boñiga de ovelha de sua mãe.

Amy começou a rir e depois ficou geada, a vista fixa na cesta de vime azul que Hamstead tinha na mão. Olhou horrorizada a Loretta e depois olhou ao perchero. Sua cesta não estava onde ela a tinha deixado.

Ao descobrir onde tinha Amy posta sua atenção, Loretta fez um pequeno som de exasperação.

—Deveriam estar já aqui.

—Loretta Jane... —Amy se esqueceu por completo dos dedos do senhor Black e se agitou nervosamente sob sua mão—. Onde diabos foste e o que é o que tem feito?

Ao ver-se descoberta, seus olhos se desviaram para os pratos postos para o jantar.

—Não era minha intenção te incomodar, Amy. Tudo isto o faço para que nos divirtamos. Veloz disse que viria.

A Amy deu vontade de dar um bom açoite a sua prima.

—Loretta Jane, como pudeste? É um truque do mais sujo e ruim!

Loretta jogou uma olhada à porta.

—Onde se colocaram estes homens?

—Atenção, senhores —exclamou Hamstead—, começamos com um prêmio. Presunto, salada de batatas, pão e bolo de maçã.

—Ao grão! —gritou um homem. Alguns homens que havia a seu lado riram e lhe aplaudiram nas costas.

O senhor Hamstead riu.

—Esta cesta pertence A... —leu a etiqueta e piscou—. A senhorita Amy, nossa professora.

Como Amy não tinha assistido nunca a um ato social, e muito menos participado de uma luta de cestas, vários dos solteiros ulularam entusiasmados e se aproximaram do cenário.

—Sete dólares —gritou alguém.

A Amy lhe encolheu o estômago. Sete dólares? Era vergonhoso.

—Oito —disse outra voz.

—Dez. Um homem não pode regular em uma mulher que pode lhe ensinar o alfabeto.

Amy dirigiu outro olhar de terror a Loretta. Os olhos de sua prima se fizeram ainda mais redondos.

—Não é minha culpa. Deveriam ter chegado já.

—Que não é tua culpa? —gritou Amy—. Me roubou a cesta e a pôs na luta, e diz que não é tua culpa?

—Onze dólares —gritou alguém.

O senhor Black rugiu.

—Quinze dólares. Vejamos se pode superar isso.

Amy olhou ao senhor Black de soslaio, resignada a seu a não ser. O senhor Hamstead gritou.

—Quinze dólares. Quinze. Quem dá mais? Quinze à uma, quinze às duas...

—Cem dólares —disse uma voz profunda.

ouviu-se um murmúrio de admiração entre a audiência. Amy sentiu que ia deprimir se. Cem dólares? Ao olhar para a porta viu veloz no vestíbulo, com Caçador e Chase detrás. Levava uma camisa azul claro que pronunciava seus largos ombros e seus musculosos braços, uma cor que contrastava com a escuridão de sua pele. A Amy lhe acelerou o pulso com solo olhá-lo. Ele avançou pela sala, alto e seguro de si mesmo, tirando o chapéu com uma floritura que solo Veloz podia fazer de maneira graciosa. Pendurando o chapéu em um cabide contigüa aonde ela tinha o xale, deteve-se para observar aos que o rodeavam, até que fixou o olhar justo nela. Uma mecha rebelde de cabelo negro lhe caía pela frente.

—me perdoe, senhor? Há dito cem dólares?

—Assim é, cem. —Veloz se abriu passo entre a gente e pôs uma saca de peças de ouro na mesa. Depois se deu a volta e olhou a Amy, como fizeram todos outros que havia na sala. Cem dólares era uma barbaridade de dinheiro para que um homem o gastasse em uma cesta, era uma loucura, quase embaraçoso. As más línguas o comentariam durante anos. Se a Mai Belle do botequim tivesse tirado seu negócio à rua, não teria conseguido mais falações.

O senhor Hamstead parecia tão impressionado que se apressou a dizer:

—Cem à uma, cem às duas, adjudicada.

Um homem podia assistir a todos os eventos sociais e comprar cestas durante cinco anos com cem dólares. Hamstead lhe deu a cesta a Veloz, ganhador indiscutível.

Loretta empurrou a Amy para diante.

—Vamos, boba. Quanto tempo crie que vai estar aí de pé te esperando?

Amy não sentia os pés. Caminhou para Veloz, com o vestido de seda fazendo frufrú a cada passo e as bochechas tintas ao sentir seu olhar. A diferença do senhor Black, Veloz não lhe olhava ao decote. Nunca deixou de lhe olhar aos olhos.

Quando chegou por fim até Veloz, lhe ofereceu o braço, com uma faísca de posesividad nos olhos difícil de evitar. Amy sabia que todos os que estavam no salão tinham o olhar posto neles. A senhorita Amy e esse homem. Quase podia ouvi-los.

agarrou-se a seu braço. Pensariam que estava tonteando com ele. Perderia seu salário, sua independência. Aonde a conduziria isto? A procurar um homem que pudesse cuidar dela, como todas as demais estúpidas do povo, ali é aonde a conduziria tudo isto.

O braço de Veloz era duro como uma rocha, tinha o tecido da manga ligeiramente úmida e quente. Sabia que se lavou e se pôs rapidamente a camisa, quando ainda estava molhado, para chegar ali. Enquanto se abria passo entre a gente, Amy baixou a cabeça, ruborizada.

—Cem dólares, Veloz? por que tem feito algo tão extravagante? vais arruinar minha reputação.

—Arruinar sua reputação? —ficou tenso—. Arruinar sua reputação, diz? É uma honra para ti que tenha devotado cem dólares. Caçador diz que nunca ninguém tinha pago tanto dinheiro.

Então Amy o entendeu. Os comanches mostravam consideração por suas algemas segundo o preço nupcial que pagassem. Quantos mais cavalos deixassem frente à loja de seu futuro sogro, major seria a honra. Veloz tinha visto a luta como uma maneira de expressar a alta consideração que lhe tinha. E o tinha feito. De forma irrevogável.

—Ai, Veloz, você não o entende. A gente pensará que há algo entre nós. Perguntarão-se o que é o que vais obter de mim depois de pagar cem dólares, não o vê?

Ele se deteve no perchero para agarrar o xale e depois o colocou sobre os ombros. Seus olhos escuros chispavam ao olhá-la.

—O que é o que vou conseguir? Uma reprimenda? É a mulher mais formosa do povo. Se não sorrir, irei ali e porei outros cem sobre a mesa.

—Onde conseguiste tanto dinheiro? —gemeu ela—. Não o terá roubado, verdade?

—Eu não roubo dinheiro às pessoas. —ajustou-se o chapéu, agarrou-a do braço e a levou até a porta—. O consegui honestamente.

—Como?

—Vendendo cavalos e vacas. Quando deixei a reserva, planejava começar com um imóvel. Trabalhei e economizei dinheiro. —Baixou o olhar—. O plano se veio abaixo. Nunca gastei esse dinheiro.

Ao entrar na noite, um ar frio envolveu a Amy. Respirou fundo, contente de estar longe de todas essas olhadas suspicazes.

—Graças a Deus. Odiaria pensar que comprou minha cesta com dinheiro fraudulento. —Dirigiu-lhe um olhar de soslaio, tratando de ver algo com ajuda da luz que provinha do edifício—. Onde conseguiu todos esses cavalos e vacas?

—Olhe por onde pisa.

Amy não via nada, mas estava acostumada a que fora assim na escuridão. Então tropeçou.

—Me vais responder ou não?

—Cuidado, Amy. —Atraiu-a para ele.

—Por todos os diabos! Roubou-os, verdade?

—Não diga palavrões. Quer que te lave a boca com sabão? —Inclinou a cabeça, com o rosto escurecido pela asa do chapéu—. Onde quer comer?

Amy entreabriu os olhos.

—Quanto dinheiro tem, Veloz?

—Amy, se for me pendurar por roubar ganho, terá que pendurar a todos os homens do Texas. Essas vacas que vendi aconteceram Rio tantas vezes que não necessitam nem que as guiem.

—Como é isso?

—Os texanos roubam aos mexicanos e viceversa. As vacas aprendem o caminho muito rápido. —Conduziu-a junto a um grande carvalho—. Não te zangue. antes de que eu as roubasse, esses cavalos e essas vacas já tinham sido roubados. Hoje é uma noite especial. Inclusive me comprei uma camisa nova.

—Quanto dinheiro fraudulento fica ainda, Veloz?

Ele pôs a cesta no chão. À luz da lua, Amy viu uma folha que caía lentamente e se posava com suavidade nos ombros de Veloz. Ele a tirou com a mão.

—O suficiente para te sortir de pololos de encaixe durante uma boa temporada.

Amy sentiu um comichão no pescoço.

—Eu não uso calções de encaixe.

—Pois deveria. Aquele dia que pôs a secar sua roupa interior na janela, o único no que podia pensar era em que lhe faltavam os encaixes. —jogou-se o chapéu para trás e sorriu, com a luz da lua refletindo-se em seus dentes—. Poderia deixar de me brigar?

—O que vou fazer se perder meu trabalho?

—Pode te casar comigo e ter filhos.

—Não quero. Quero meu trabalho de professora e ter minha própria vida, sem um homem que me diga o que tenho que fazer e quando.

Veloz se cruzou de braços.

—Eu não vou dizer te o que tem que fazer nem quando tem que fazê-lo. Sente-se, Amy, para que possamos comer. —Ao ver que não lhe obedecia, inclinou-se para ela—. Não roubarei mais cavalos e vacas. Prometo-lhe isso.

—Veloz, não me importa se roubar. Não é de minha incumbência.

—Então, por que te zanga?

—Porque gastou esse dinheiro em minha cesta. Por não mencionar que gastou muito. Se não perder meu trabalho, será de milagre.

—se preocupa muito por esse trabalho.

—Esse trabalho me paga o pão e a manteiga.

—Se o deixar, eu te conseguirei mais pão e mais manteiga do que possa comer. ficará gorda se lhe comer isso tudo. E te prometo que não te direi o que tem que fazer nem quando fazê-lo. Agora, sente-se. Não comprei a cesta para que discutamos. Você gosta de minha camisa?

Ela o observou durante um momento, desiludida ao dar-se conta de que, apesar de ter prometido que não ia lhe dar ordens, o primeiro que tinha feito era lhe dizer que se sentasse.

—Sim, eu gosto. Fica muito bem.

Ele voltou a sorrir.

—Está tão bonita com esse vestido que quase esqueci puxar quando ouvi que diziam seu nome. Quem era esse homem que estava de pé junto a ti?

—Obrigado pelo completo. chama-se Black e está no comitê da escola.

—Vá, pois então já posso me esquecer de que vás ficar te sem trabalho ou de que algum dia tenha que vir para mim para que cuide de ti. Esse homem está louco por ti.

Algumas outros casais saíram do salão e foram sentar se sob as árvores para comer, seguindo seu exemplo. Amy se sentou na erva, com cuidado de não sujar o vestido da Loretta. Veloz se sentou a seu lado. Ela se mordeu o lábio.

—Ai, Veloz, sinto ser tão seca. Sei que não o fez com malícia quando pagou tanto pela cesta.

—Pois claro que não. eu tenho a culpa de que a gente tenha idéias tão loucas? —Estendeu o braço e levantou o pano que cobria a cesta—. Mmm, Amy, isto parece delicioso.

Ela se inclinou, com os olhos entrecerrados para ver melhor. O som de uma risada flutuou na escuridão da noite. A risada de uma mulher. A Amy lhe encolheu a garganta. Estava segura de que nenhum homem tinha pago cem dólares por sua cesta como tinha sido seu caso. O pobre Veloz tinha pago essa fortuna e em troca só se levava uma reprimenda.

—Fiz bolo de maçã. Você gosta?

—eu adoro o bolo de maçã. —Olhou-a—. Sobre tudo o teu.

—Mas se nunca provaste o meu.

—Não o necessito.

Sentindo-se torpe e de tudo desconjurado, Amy começou a tirar a comida, consciente de que Veloz observava todos seus movimentos. Comeram em silêncio. Para a Amy, foi um desses silêncios incômodos, sobre tudo para ouvir que as outras mulheres não paravam de rir e falar. A salada de batatas se converteu em uma bola de enormes dimensione em sua boca.

Ouviu a Elmira Johnson dizer:

—Ah, Samuel! Estorva daqui!

Veloz levantou os olhos do prato.

—Amy, quer te tranqüilizar?

Ela se tragou de um golpe a salada, perguntando-se se lhe teria sabido tão seca como a ela.

—Nunca tinha vindo a um baile antes. Teria que ter comprado a cesta da Elmira para te divertir um pouco.

—Sonha como um pato.

Sem pensá-lo, Amy se pôs-se a rir.

—E o que é pior, também parece um pato. Alguma vez te deste conta de como lhe infla a saia no traseiro quando caminha?

—Isso é um anquinhas, Veloz, e é a última moda. ouvi que todas o levaremos dentro de um ano ou assim. Elmira tem uma tia que viaja ao estrangeiro.

Ele arqueou uma sobrancelha.

—Nem te ocorra te pôr um. Quando caminha pela rua, seu traseiro se levanta tanto que até se poderia pôr um prato em cima. —Dirigiu-lhe um sorriso travesso—. E quem há dito que você não é divertida? Até pode chegar a me gostar de que me ganem se o faz a mulher adequada.

serve-se uma grande parte de bolo de maçã fazendo um ruído de apreciação.

—Amy, tem que te casar comigo e me fazer bolo de maçã todas as semanas. Onde aprendeu a fazer assim a base?

—Minha mãe. —Lhe entristeceu o rosto. Tratou de apartar essas lembranças—. Tinha muito boa mão com a cozinha e a confeitaria.

Veloz limpou o prato em um tempo recorde e depois se estirou sobre a erva. Uma a uma, os outros casais começaram a retornar ao salão de baile. Amy terminou de comer e voltou a pôr na cesta a comida que tinha demasiado, com os pratos sujos em cima para lavá-los mais tarde. Desejou que alguma casal se ficou fora. Em qualquer momento, sabia que Veloz poderia sugerir que também eles voltassem dentro. E, depois, quereria que dançasse com ele.

Veloz observou a Amy com a extremidade do olho. Os raios da meia lua iluminavam sua pequena cara, convertendo seus olhos em esferas brilhantes e sua boca em um luminoso rubi. A diadema que levava na cabeça refulgia como a prata, e os cachos que lhe caíam pelas orelhas e a nuca eram uma tentação. Ela tinha a mão colocada sobre sua saia, e seus dedos magros se moviam ao compasso da música. Era tão formosa que Veloz desejou aproximar-se dela, sentir seu calidez, cheirar seu doce perfume.

—Parece-te bem que entremos e dancemos? —perguntou ele, fazendo um gesto para a luz que saía do salão. Uma linha de bailarinos passou ante a porta, golpeando o chão com as botas e as saias formando redemoinhos-se—. Parece que o estão acontecendo bem.

—Ah, não, não sei. —Inclusive com a escassa luz, ele pôde ver o rubor em suas bochechas—. Me basta escutando. —Dirigiu o olhar para uma carruagem próxima e o grupo de cavalos que o conduzia—. Olhe esse velho cavalo. Arrumado a que está seguindo o ritmo da música com as pezuñas dianteiras.

Veloz se tombou de flanco, sujeitando-a cabeça com a mão. Tinha a sensação de que Amy se passou a vida limitando-se a escutar. Pela forma em que se movia, suspeitou que lhe teria gostado de fazer muito mais. Imaginou que a sua idade, devia ser muito embaraçoso estrear seu primeiro baile frente a meio povo.

—Sabe? Sempre quis que uma dama me ensinasse a dançar. —Não era mentira. As únicas mulheres com as que Veloz tinha dançado não eram damas—. Poderia fazê-lo, Amy?

—Sei um pouco, mas não o suficiente para te ensinar.

—Pode me ensinar esse pouco que sabe?

Ela fixou a vista em direção ao salão.

—Todo mundo nos olhará.

—Ali não. —ficou em pé—. Vamos. Será divertido.

Sem estar do todo segura, tomou sua mão e deixou que a ajudasse a levantar-se, longe das sombras da árvore e justa sob a luz da lua. Lhe tirou o xale dos ombros e o pôs junto à cesta.

Com o cenho franzido, olhou-lhe os pés, concentrada.

—Espero não te ensinar mau. Ou o que é ainda pior, espero não colocar um pé em um buraco e cair. —moveu-se para um lado, mordendo o lábio—. Pode ao menos lombriga?

—Vejo-te perfeitamente. E você a mim?

—Digamos que não o suficiente para ler os titulares se fosse um periódico.

Veloz conteve uma gargalhada. Tinha dançado virtualmente em todos os salões do Texas e, fora qual fora o passo que Amy estivesse tratando de dar, nunca o tinha visto dessa maneira. Ela suspirou.

—Temo-me que não sou muito boa ensinando a ninguém. —deslocou-se com graça para sua esquerda. Veloz a seguiu e ela riu—. Acredito que essa é a parte da dama.

A música se deteve. Ela ficou de pé ante ele, com os braços separados do corpo, à espera. Depois se ouviu o som cadencioso de uma valsa. Veloz deu um passo para diante e colocou a palma da mão na cintura dela, lhe buscando a mão. Ela se esticou ao sentir a maneira tão próxima como a agarrava.

—te relaxe, Amy, e me siga.

Quando ele a fez girar, ela olhou preocupada por cima de seu ombro para tratar de ver o chão escuro.

—Eu vejo bem. me ponha a mão no ombro.

Ela o fez e jogou atrás a cabeça para lhe ver a cara.

—Veloz, dança muito bem! Onde aprendeu?

—Você é como o ar em meus braços —sussurrou, atraindo-a para ele—. Fecha os olhos, Amy. Deixa que a música te leve.

Ela fechou os olhos, juntando as pestanas, e uma expressão extasiada alagou seu rosto. Veloz imaginou debaixo dele com uma expressão similar e perdeu o passo. Amy, inexperiente como era, não notou nada. A Veloz lhe encolheu o coração. Em muitas coisas, ela era ainda uma menina. Tivesse querido poder tê-la entre seus braços para sempre.

A valsa terminou, mas Veloz seguiu dançando. Amy era a única música que necessitava. Então começou outra valsa.

—Sinto-me como se voasse —sussurrou ela, com os olhos ainda fechados—. Ai, Veloz, é maravilhoso!

Queria beijá-la. Queria-o tanto que lhe doía. Queria levá-la entre as sombras e lhe baixar o vestido de seda pelos braços, sentir a calidez de sua pele, lhe ouvir dizer quão maravilhoso ele a fazia sentir. Queria converter seus pesadelos em sonhos, fazer que seu ontem fora uma lembrança enterrada, lhe construir uma vida cheia de amor e de risadas. Queria sentir como seu ventre crescia com um filho dele, ver como a cabeça moréia desse menino dormia em seu peito, ver o amor que sabia que ela sentia refletido em seus olhos. Queria-o mais que nada no mundo. Até o momento, parecia que ninguém o tinha seguido até o Oregón. Fazia o que parecia impossível e tinha escapado de seu passado. Agora tinha que ajudar a Amy a escapar do dele, para que pudessem construir um futuro entre os dois.

Mas neste momento, a noite era da Amy. Para que dançasse, já que nunca antes o tinha feito. Para que risse, já que o fazia com tão pouca freqüência. Este era seu presente, já que para todo o resto ainda não estava preparada. E se não chegasse a estar lista nunca para o outro, Veloz sabia que agarraria o que ela pudesse lhe dar, embora solo fosse um sorriso, porque um pedacinho da Amy valia mais que mil mulheres lhe dando todo o resto.

Amava-a. Tinha amado à menina magricela que foi faz quinze anos, amava à formosa mulher que era hoje e amaria à anciã com rugas que seria. Simplesmente, porque a essência da Amy ia além de seu físico. Amy era seu sol. A única alegria perfeita que tinha tido na vida e a que tinha perdido durante tanto tempo. Agora que havia a tornado a encontrar, não podia imaginar a vida sem ela.

                                                       Capítulo 12

Amy não acreditou que nada pudesse danificar essa noite. Dançar. Dançar de verdade. Pouco importava que estivessem girando sob o carvalho, solos os dois. Não necessitava observadores para fazê-lo oficial. Um homem a levava em braços e ela luzia um formoso vestido de seda, elevando-se em uma valsa. Era mais do que nunca tivesse sonhado. Queria dançar e dançar e dançar, até que a lua deixasse de ver-se e o amanhecer iluminasse o céu.

Com a vista posta no rosto escuro de Veloz, decidiu que era o homem mais bonito do mundo. Pensar que tinha sido ele quem lhe tinha comprado a cesta. E pela escandalosa cifra de cem dólares. sentia-se flutuando. Maravilhosamente bem. Era uma noite mágica, Veloz era mágico, tudo era mágico.

Inclusive tinha deixado de lhe importar que tivesse ganho os cem dólares roubando. Criado como comanche, Veloz tinha crescido aprendendo a ser um ladrão de cavalos. O fato de que tivesse aprendido este ofício tão bem não deveria surpreendê-la. Sua promessa de que não voltaria a roubar permitia a Amy esquecer que o tinha feito.

Quando notou uma pontada no flanco, tentou não lhe fazer caso. Esta era uma noite única em sua vida e queria desfrutá-la ao máximo. Quando Veloz diminuiu o ritmo e a balançou contra seu peito, ela tentou protestar, mas não teve forças para fazê-lo.

—Está cansada.

—Ah, Veloz, temos que parar? Sinto-me tão bem.

—Haverá outras noites, Amy.

Ele baixou a cabeça. Amy se deu conta muito tarde de que se derreteu contra ele como uma bola de manteiga em uma bolacha quente. A sensação de magia se rompeu. Solo por uns minutos, tinha cansado sob seu feitiço, como o tinha feito muitos anos atrás, esquecendo seu passado, esquecendo que era uma mulher em um mundo no que os homens tinham todo o poder. Mas ninguém podia ficar para sempre em um mundo de sonho.

Ela jogou a cara para trás, assustada pelo brilho que viu em seus olhos e a firmeza de seu braço rodeando-a, atraindo-a para ele, o que punha de manifesto seu desejo, inclusive através das capas de tecido vaqueiro, seda e musselina. Embora a noite a cegava, a luz da lua iluminou a cara dele, mostrando a dureza de seu rosto, o sorriso determinado de sua boca, a suave linha de seu nariz. Amy tinha visto esse olhar na cara dos homens antes, mas nunca na de Veloz.

Sua paixão se avivou ao dançar com ela. E, quando aos homens acontecia isto, aflorava o animal que havia neles. Ela podia cheirar a mudança nele, ver a capa de suor que cobria sua cara, ouvir a respiração rápida e impaciente. De repente se deu conta de que estava de pé entre ela e o salão comunitário.

Lhe aconteceu o braço pelo pescoço e soltou a mão para ficar a na cintura. Mas não se deteve ali. Enquanto a reclamava com os lábios, fez descender a mão por suas costelas, medindo-a com os dedos, frustrado ao encontrar a rede de ossos de baleia do sutiã da Loretta. Deteve a mão na suavidade de seus peitos, que se inchavam sob o espartilho, talheres com o tecido difuso de sua combinação e a seda do vestido.

Amy fez um movimento brusco. O calor da mão de Veloz lhe queimava. Quando ela gemeu, lhe colocou sua língua, quente e sedosa, na boca, invadindo-a com um ritmo que ela conhecia muito bem, empurrando fundo, sem lhe deixar escapatória. Ele encontrou o topo de seu peito e a capturou com seus dedos através da seda. Um furacão de sensações fez que se estremecesse. E a esteira que deixou vinho carregada de um pânico irracional.

Tratou de apartar a cara, tentou livrar-se de seus braços. Eram esbeltos e musculosos. Sustentava-a com tanta facilidade como se ela fora uma menina com uma chilique. Seu corpo se encurvou ao redor dela, tão duro como o aço, e seu beijo se fez mais exigente e decidido, como se forçando-a pudesse convencer a de que o que lhe estava fazendo gostava. Ela tentou dizer seu nome, suplicou-lhe que se detivera, mas as palavras ficaram em sua boca, em uma confusão de gemidos.

O mundo se converteu em um torvelinho de raios de lua e loucura. Veloz tinha deixado de ser Veloz; era sozinho outro homem malvado, conseguindo o que desejava. Ela tinha deixado de ser a senhorita Amy, segura em Terra de Lobos, sob um grande carvalho nos subúrbios do salão comunitário e com a música flutuando no ar. O instinto animal a guiou da mesma forma que guiava a Veloz, e lutou por sobreviver.

Durante tão solo esse instante no que Amy passou de ser uma mulher a um animal apanhado, Veloz sussurrou seu nome, afrouxou seu abraço e lhe tirou a mão do peito. Mas Amy não pôde perceber a mudança. Apartou violentamente a boca e tratou de escapar, cega de pânico, pensando sozinho em i-lo mais longe que pudesse. E o certo é que o conseguiu, embora sem saber muito bem como. O ataque inesperado de Veloz a tinha sumido em uma espécie de seqüência de estímulo-reação.

Ele a liberou e ela saiu correndo.

—Amy!

A voz de Veloz, tênue de desejo, soou como a de um estranho, e a respirou a seguir correndo. Não sabia aonde ia, mas não lhe importava sempre e quando fora longe dele.

—Amy, carinho, volta. Não entre na arvoredo. Amy, não!

de repente se viu em um caminho reduzido a um túnel. Solo podia ouvir o ruído áspero de sua respiração, o tamborilar de seu coração, quão gemidos rasgavam sua garganta. Logo que podia ouvir o som de seus pés no chão. Um ramo lhe golpeou a cara. cambaleou-se. O bosque apareceu imponente frente a ela, com fantasmas mais negros que a escuridão, capazes de lhe rasgar a roupa, de lhe agarrar pelas pernas.

E então ouviu o som de umas botas, como um trovão, aproximando-se detrás dela, duras e rápidas. Lhe pôs a pele de galinha. obrigou-se a correr para diante com maior velocidade, frenética, fora de si. «Ai, Deus, ai, Deus.» Nenhum lugar era seguro. Ninguém podia fazer que se sentisse segura. Veloz era como todos outros, correndo detrás dela, com o peso de toda sua força sobre ela. Não poderia lutar contra ele nem detê-lo. Ele terminaria por empreendê-la a golpes com ela, tremendo de satisfação, e cairia sobre ela, como uma âncora inamovible de carne suarenta que penetraria seu terror. «Outra vez não..., outra vez não.»

—Amy, tome cuidado! Há um tronco... Carinho, tome cuidado!

Algo lhe golpeou por detrás. Amy gritou ao cair, algemada em uma confusão horrível de braços e pernas duras. Veloz a agarrou a meio caminho e caiu ele primeiro no estou acostumado a amortecendo o impacto. Mas Amy logo que pôde dar-se conta disto. Grunhiu e se revolveu, tratando de escapar dele. Ao ver que não podia, dispôs-se a lhe atacar de frente, lhe golpeando na cara.

Sem parar de injuriar, agarrou-o pelas bonecas. Agitando o corpo, levantou-se do chão e aproveitou a reação violenta dela para imobilizá-la baixo ele. Ela esperneou, mas as saias lhe engancharam nas pernas. Lhe pôs uma coxa sobre os dela e atirou de seus braços para ficar os sob a cabeça.

Com a respiração acelerada e a cara em cima dela, disse em alto:

—Já está, Amy. Tudo está bem.

Mas não estava bem. Ele a tinha. As taças das árvores, suas silhuetas negras imponentes e cambiantes contra o céu, eram como sentinelas testemunhas de sua afronta. Não podia mover-se, não podia respirar. Lhe ancorou as bonecas com uma mão, deixando livre a outra. Amy sabia o que viria depois. Um grito emanou dentro dela, lhe rasgando a garganta até surgir como um miado lastimoso.

—me perdoe, Amy. Fiz-o sem querer. Carinho, fiz-o sem querer. —A mão que ela pensava ia rasgar lhe o vestido, posou-se com tremente suavidade em seu cabelo—. Já está, Amy. Prometo-lhe isso. Não vou fazer te danifico.

As palavras lhe chegavam como de muito longe, as mesmas palavras, uma e outra vez, mas o corpo duro e pesado que havia sobre o seu falava com muita mais força. Ela lutou até que ficou empapada de suor, até que seus músculos deixaram de responder às ordens que lhes dava o cérebro, até que o medo cedeu um pouco, contido, esperando a reclamá-la. Tremeu e lutou, chorando, incapaz de formular os rogos de clemência que se formavam redemoinhos em sua cabeça.

—Não passa nada —voltou a dizer Veloz—. O sinto, Amy. Perdi a cabeça um momento. Não tinha que ter passado. Sinto muito. Não vou fazer te danifico. Prometo-lhe isso. Nem agora nem nunca.

Ele passou a mão da cabeça ao pescoço, lhe tocando a nuca com seus quentes dedos, acariciando os cachos espaçados e úmidos que caíam contra sua pele molhada.

—Não... não me to... toque. Não...

A mão que tinha na nuca se esticou.

—Carinho, não vou fazer te danifico. Prometo-lhe isso. te tranqüilize. Essa é minha garota. Respira fundo.

Amy o fez e rompeu em soluços. Eram umas lágrimas selvagens e histéricas. Veloz perjurou e se moveu para não estar em cima dela, levando-a com ele ao círculo que formavam seus braços até que a teve em cima dele. A Amy pareceu que tinha mãos trementes por todos lados, no cabelo, nas costas, nos braços..., acariciando-a, acalmando-a, obrigando-a a que a tensão cedesse.

—Sinto-o muito —dizia uma e outra vez—. Por favor, não chore. Preferiria que me dessem chicotadas antes de verte chorar. De verdade. Irei contigo ao celeiro de Caçador. Pode me partir em duas com a correia se quiser. Mereço-me isso. Mas por favor, não chore.

Tombada em cima dele como estava, Amy podia sentir o batimento do coração de seu coração. Tinha uma bochecha sobre sua camisa. estremeceu-se e ficou sem forças, arrulhada pela sinceridade de sua voz e o tremor de arrependimento que notou em seu corpo magro.

Passava o tempo e ela podia medi-lo em cada um dos batimentos do coração erráticos que dava seu coração. O vento sussurrava, dobrava as árvores, fazendo ranger os ramos e as folhas ressecadas. Amy fechou os olhos, com a garganta muito seca para falar, exausta. Estava segura de que devia haver-se voltado louca, porque não tinha nenhum sentido correr em correria para afastar-se de um homem e tombar-se depois sobre ele, tranqüila e imóvel. Mas tombada assim como estava, sentia uma paz que não era capaz de entender e para a que tampouco tinha forças com as que racionalizá-la.

De todas formas, seus sentimentos para Veloz nunca tinham tido muito sentido.

depois de um momento durante o que ele se dedicou a lhe passar os dedos pela trança desfeita e jogar com ela intrometendo-lhe pelos nódulos, disse:

—Queria que esta noite fora perfeita para ti.

A voz vibrou em seu peito e também no dela, rouca de emoções. Amy se acariciou a bochecha com o peito dele, sentindo certa tranqüilidade ao fazê-lo pelo aroma de limpo de sua pele, a sabão e a couro.

—Nunca quis te perseguir dessa maneira —sussurrou ele—. Por favor, me acredite. Surgiu assim e aconteceu tão rápido que não me deu a oportunidade de me deter antes de que saísse correndo.

Ela apertou os olhos para conter as lágrimas.

—Ah, Veloz, desejaria com todo meu coração que os homens não fossem algo que superar, sobre tudo você. —Tragou saliva e tremeu—. Mas te converteu em um desconhecido. E me assusta pensar que esse estranho está dentro de ti agora, preparado para saltar sobre mim quando menos me o espere.

—Suponho que me mereço isso. Mas, Amy, não há nenhum estranho dentro de mim. Desejo-te dessa maneira todo o tempo. É sozinho que esse desejo se fez maior durante um segundo. Era um sentimento tão doce, te ter junto a mim.

Suas palavras a fizeram sentir muito incômoda. Estava sobre ele agora. Com um suspiro, Veloz lhe pôs a mão na bochecha.

—Não tenha medo. —O tom era rouco—. Acredito que prefiro te ouvir chorar, por muito que isso me mate.

Afundando os ombros no peito de Veloz, Amy se levantou para olhá-lo, ainda aterrada pelo que acabava de admitir.

—Cre... acredito que deveríamos voltar para salão comunitário.

—Não podemos. Olhe como está. Sua reputação se iria ao traste se lhe vissem assim. —Lhe apartou uma mecha da cara—. E não é que não esteja preciosa, com esse cabelo solto caindo pelos ombros como raios de prata e ouro. —Acariciou-lhe a bochecha com os nódulos e depois passou a ponta do dedo por seus lábios—. me Beije, Amy. Poderia fazer isso por mim?

Amy se deu conta nesse mesmo momento de que ela não era a única que se tornou louca.

—O que?

—me beije —repetiu ele amavelmente—. Não vou ultrapassar me. Solo um beijo. Uma vez. Um beijo verdadeiro, com os lábios abertos e sua língua tocando a minha. Um beijo bonito e duradouro. Eu gostaria que conhecesse estranho que há em mim e que o olhasse de frente. Se não o fizer, desconfiará deste lado meu para sempre, e não quero que isso aconteça.

Tal e como Amy via as coisas, era muito mais inteligente seguir desconfiando. Era um truque, sabia. Começou a mover-se para afastar-se dele, mas Veloz a agarrou pela cintura, abraçando-a com rapidez.

—Por favor. Não te obrigarei a que o faça outra vez se te resultar horrível. O que te parece esse trato? Um beijo. Se o odiar... —calou-se e pareceu considerar o que estava a ponto de dizer—. Se o odeia, liberarei-te da promessa de matrimônio.

Isto chamou sua atenção. Pode que fora um truque, mas nunca o tinha tido como a um mentiroso. Logo que podia acreditar o que estava ouvindo.

—Se odeia me beijar, seremos simplesmente amigos de agora em diante —acrescentou em um suspiro contido—. Não voltarei a te incomodar.

Amigos. Isso seria um sonho feito realidade..., ser capaz de estar com Veloz e não ter que preocupar-se nunca mais. Lhe acelerou o pulso ao pensar em beijá-lo. Mas se de verdade ia liberar a da promessa de matrimônio, seria uma loucura não considerá-lo. Porque estava segura de que odiaria fazê-lo.

—O... diz-o de verdade?

—Menti-te alguma vez? me diga uma vez em que o tenha feito, Amy.

Veloz a observou, com o coração em um punho, temendo que ela se negasse e mais apavorado ainda de que não o fizesse. Se lhe beijava e o detestava, perderia-a. Havia muito em jogo..., o resto de sua vida. Dada sua inexperiência, temia que inclusive seus maiores esforços ficassem em um mero roce de lábios e não naquilo do que os beijos de sonho pareciam. Mas era um risco que tinha que correr. Se deixava que saísse do bosque com a imagem de seus ofegos e seus manuseios na mente, nunca poderia voltar a aproximar-se dela a menos de dois metros, a menos que fosse a por ela e a obrigasse.

A expressão na cara da Amy deixava entrever cada uma de suas emoções e pensamentos, a maioria deles desagradáveis. Mas havia também um brilho de determinação em seus olhos. que pudesse livrar-se da promessa do matrimônio era sem dúvida uma tentação muito poderosa. Não tinha mais remedeio que aceitá-lo. Convexo ainda, imóvel, baixo ela, esperou.

—Me... promete-me que não te ultrapassará? —perguntou com voz dúbia e medrosa.

Veloz se tinha ultrapassado com a simples visão da Amy desde que a tinha visto pela primeira vez, um pequeno demônio furioso, com um glorioso cabelo loiro e uns olhos azuis que jogavam faíscas. Era tudo tão estranho. apaixonou-se por ela por essa coragem selvagem que tinha e agora a amava inclusive mais porque não o tinha. Esta Amy, que tinha sofrido tanto e por isso fugia dele com um terror irracional, fazia aflorar seu instinto de amparo. Quão único queria era protegê-la do resto do mundo. Exceto, é obvio, dele mesmo.

—Prometo-te que não perderei a cabeça —corrigiu—, se for isso o que quer dizer. Porque a isso refere quando fala de me ultrapassar, verdade?

Ela ficou tensa e pareceu que estava a ponto de saltar longe dele. Veloz apertou o braço com o que a rodeava.

—Amy, é natural. Algumas vezes, simplesmente lhe Miro e acontece. Ou cheiro seu cabelo e ocorre. Ultrapasso-me quase sempre que estou contigo.

Uma expressão de autêntico terror alagou seus olhos.

—Ai, Deus. Veloz, vamos. —Pô-lhe as mãos no peito e empurrou para levantar-se—. Agora, por favor.

Ele seguiu abraçando-a para que não se movesse.

—Não até que me beije. Não quer fazê-lo? Pensa nisso, Amy. Se você não gostar, seremos sozinho amigos, como você e Caçador. Isso é o que quer, não é assim?

—Entretanto, não seria assim. Meu cabelo não inquieta a Caçador. Eu... quero-me ir. Agora mesmo.

—Amy, me escute. Não há nada que temer. Um homem pode sofrer pelo desejo de uma mulher de vez em quando, e eu sofro por ti. Sofri esta noite quando estávamos dançando. E quando te pegou para mim, esqueci-o tudo exceto isso, solo por um segundo. A gente se beija todo o tempo sem que ocorra nada. Tenta-o. Vamos. Não pode ser tão difícil depois de tudo. Pensa no que pode ganhar. —E no que ele tinha que perder.

Ela voltou a olhar seus lábios com intensidade. E então, lhe agarrando a camisa com os punhos, dobrou a cabeça e lhe tocou os lábios com os seus. Ele abriu a boca uns centímetros, o suficiente para deixar que ela entrasse nele, mas não tanto como para assustá-la.

Ela o beijou mais profundamente, com um contato tão ligeiro, tão úmido, doce e tímido, que o coração de Veloz começou a pulsar com força e todo seu corpo se contraiu de desejo. Veloz estendeu a mão pelas costas dela, total e absolutamente ultrapassado quando a ponta de sua pequena língua lhe penetrou como uma flecha e roçou a zona sensível de seu paladar. Deixou que ela experimentasse com a aproximação e o afastamento, com cuidado de não fazer nada que pudesse pô-la nervosa.

Por fim, quando pareceu sentir-se segura do que estava fazendo, pegou os lábios aos dele, passando com acanhamento a língua pelo bordo de seus dentes. Ele lutou por manter-se passivo, mas este beijo o estava enlouquecendo de tal maneira que teve que pôr a mão por detrás da cabeça da Amy para não perder o controle. Ao pressionar com a mão, suas bocas se ajustaram com mais firmeza, ele arqueou a cabeça e tocou com cuidado sua língua. Ela se estremeceu, mas Veloz afiançou seu abraço até ver como se relaxava.

Quando notou que a tensão desaparecia, ele pôde também relaxar-se em certa maneira, e o instinto lhe disse o que estava passando. Sabia que tinha ganho pela maneira em que o corpo da Amy se moldava contra o seu. Amy, sua Amy. Quase com reverência, Veloz explorou sua boca, fazendo uso de toda a experiência que tinha com as mulheres e do amor que sentia por ela para fazer que este beijo fora maravilhoso.

A Amy, tudo lhe dava voltas. A boca de Veloz atirava da dela, quente e úmida, jogando com a língua, retirando-se, com uma sensação tão tentadora que se encorajou e empurrou com a sua para diante, desejando mais. Um desejo que lhe concedeu com um gemido profundo no peito.

Em algum lugar de seu inconsciente, Amy tratou de recordar-se que era crucial que não gostasse disso. A liberdade que tanto ansiava tinha que fazer que não gostasse. A independência e o sentimento de sobrevivência tinham que fazer que não gostasse. Porque, se gostava, podia despedir-se de qualquer esperança de recuperar o controle sobre sua vida.

Quando aconteceu, ela sentiu a mudança nele, do mesmo modo que o havia sentido antes. A paixão lhe cobrindo o corpo como uma capa fina de suor, a urgência de sua respiração, a tensão na maneira de sujeitá-la. Mas esta vez a sujeitava com carinho. Suas mãos flutuavam sobre ela como o ar, tão brandamente que a pele lhe arrepiava e revivia com espera. Não se sentia ameaçada, a não ser adorada.

E sentir-se adorada foi sua perdição. Veloz gemeu de novo e rodou com ela, ficando em cima. Tudo girava já de tal maneira que não lhe importou. Esta vez ele não tocava seus peitos. Tocava-lhe todo o resto. Essa carícia elétrica era tão maravilhosa que não queria que parasse.

—Amy...

Seu nome era uma prece em seus lábios. Enjoada e entusiasmada de calor, moveu as pestanas, apenas consciente de que sua boca tinha deixado a dela e se aventurou por sua garganta. sentia-se tão arrebatada de emoção que não tinha forças para protestar. Uns lábios como plumas riscaram a linha de seu pescoço, depois seguiram pelo oco de seus peitos. Amy piscou, mas isto não fez que Veloz fora mais devagar, e, antes de que pudesse pensar em uma forma de mostrar seu desacordo pelas liberdades que se estava tomando, ele a persuadiu de que ao fim e ao cabo gostava do que estava passando.

Ele afundou a língua pelo bordo de seu vestido, atirando da puntilla, deslizando-se por debaixo, roçando a ponta de seu peito. Ela gemeu e lhe agarrou o cabelo com os punhos para lhe apartar. antes de poder fazê-lo, seu peito, elogiado pelo espartilho e excitado por sua língua, soltou-se do débil encaixe e foi direto a sua boca. Conmocionada pela sensação que lhe golpeou o ventre, arqueou as costas em rebeldia e Veloz se aproveitou disso, atirando com força de seu mamilo.

Qualquer pensamento desapareceu de sua cabeça. Amy esqueceu onde estava, o que estava fazendo, tudo. Veloz e sua boca quente, implacável e exigente, eram sua única realidade. Amy protestou e depois gemeu ao sentir o mordisco no mamilo, até inchá-lo, até que sua auréola se fez firme e o desejo se converteu em comichão.

Doce tortura. Mordiscando e beliscando-a brandamente com os dentes, logo a teve tremendo de frustração, lhe pressionando o peito com a cabeça, suplicando com seu corpo para que lhe desse o calor total de sua boca. Mas ele se negou. Amy acreditou que ia derreter se, que seus ossos se converteram em líquido quente que jorrava por seu corpo.

—Veloz... Veloz, por favor...

No instante em que pôs voz a sua súplica, ele deixou cair todo o peso de sua boca sobre a dela, sem cuidado esta vez, com uma força tão faminta, tão quente, que tremeu e se agitou com cada arrasto de sua língua. Uma dor de desejo começou a crescer dentro dela, uma dor aguda, insaciável e inflamado.

Era como estar entre uma espiral divina e as chamas do inferno ao mesmo tempo. Amy sentia uma estranha necessidade dentro dela, danificando-a, possuindo-a. Desejava. Não encontrava uma definição em sua mente do que era o que desejava, solo uma noção primária de uma necessidade tão antiga como a feminilidade, e se sentia presa dela com uma impotência estremecedora, muito irracional para poder analisar o que estava passando.

Sobre ela, Veloz lutava por recuperar o controle sobre si mesmo, sabendo que podia agora conseguir mais, tomá-la como o tinha desejado todo este tempo. Mas era arriscado. prometeu-se não tomá-la, maldita seja. E aqui estava, a ponto de lhe romper o vestido e fazê-lo no chão duro e frio. Ela era dela. Estava tão perto.

Em toda sua vida, Veloz nunca tinha traído uma promessa. Nestes últimos anos tinha ido abandonando todos seus princípios, exceto a honra, algo que ninguém podia lhe roubar a menos que fora ele quem o abandonasse. Se agora rompia a promessa que tinha feito a Amy, quando cada ápice de sua confiança nele dependia de sua palavra, o dano seria irrevogável. Se algo ia mau, o mais mínimo descuido, como que ela se assustasse no momento da união, faria que o que parecia tão perfeito se convertesse em um pesadelo.

Ele tragou saliva, tratou de tranqüilizar-se e respirar mais devagar. Com a cabeça levantada, baixou o olhar para seu doce rosto, impressionado do desejo que tinha provocado nela e que solo ele poderia saciar.

—Amy, amor... —Sua voz tremia—. Amy...

Ela tremeu, arranca-rabo a sua camisa. Veloz baixou a cabeça até seu peito, suavizou os beijos, fazendo-a voltar pouco a pouco. Voltou a colocar seu peito redondo e perfeito no decote de encaixe e o cobriu a sua vez com o tecido de seda..., uma das coisas mais difíceis que tinha tido que fazer em sua vida.

—Amy...

Beijou-a do pescoço até a boca, sussurrando seu nome até que a prudência voltou lentamente para seus olhos. Com a prudência chegou a incredulidade. Veloz se tornou para trás para que ela pudesse sentar-se. Com as mãos no joelho, observou-a em reverencial silêncio, sem estar muito seguro de qual ia ser sua reação.

Tocando-a arbusto despenteado e dourada de seu cabelo, olhou a seu redor como perdida, e disse:

—Eu... ai meu Deus...

Não era exatamente o que Veloz tinha esperado, mas ao menos não era uma recriminação.

—Está bem?

Ela o olhou como se não acreditasse que nada pudesse estar bem de novo e ficou uma mão no sutiã. Inclusive na escuridão da noite, Veloz pôde ver o doloroso rubor que subia por suas bochechas.

—Amy... —Rodeou-a com o braço e, colocando-se, atirou dela para pô-la em seu regaço. Com a cabeça dela no ombro, beijou-a na frente—. Está bem, carinho. Confia em mim, tudo irá bem.

—Não —sussurrou ela—. Não vê que não?

Ele fechou os olhos, inalando o aroma de seu cabelo, deixando que as mechas lhe fizessem cócegas no nariz.

—Não te gostou?

Notou seu tremor, um tremor horrível e lhe paralisem. Um medo que se voltou contra ele.

—Não! Claro que não.

Lhe aconteceu o braço pelos ombros e lhe tocou a orelha com os lábios.

—Recorda quando estava acostumado a te agarrar deste modo?

Amy o recordava, e as lembranças a fizeram chorar.

—Sim. —mordeu-se o lábio, lutando por deter o horrível tremor que se deu procuração de seu corpo. Ai, Deus, ele tinha ganho. derreteu-se sob sua boca, tinha tremido e suplicado. estava-se traindo a si mesmo, estava-se condenando. Agora ele insistiria em que se casassem. Como tinha podido ser tão estúpida para aceitar sua aposta e beijá-lo? Deveria ter sabido que ele estava seguro de ganhar, porque de outro modo nunca tivesse feito semelhante oferta. E ela, como uma boba descerebrada, pôs-se a si mesmo em uma situação em que seu consciencia não tinha a força suficiente.

—De verdade, eu gostaria que voltássemos para casa, Veloz.

Veloz lhe acariciou o braço, desejando encontrar as palavras apropriadas.

—Se quer ir, levarei-te.

Ela cravou seus olhos azuis nele, uns olhos que refletiam um temor completamente distinto, um temor que já não era provocado por ele, mas sim por si mesmo. Veloz não podia entendê-lo, ou sabê-lo, mas estava ali de todas formas. Amy se acabava de enfrentar a sua própria paixão e, por alguma razão que estava longe do alcance de Veloz, isto fazia que se sentisse ainda mais vulnerável do que se havia sentido antes.

                                                   Capítulo 13

De caminho ao povo, Veloz solo podia pensar em uma coisa. Amy lhe tinha mentido sobre o beijo e o tinha feito abertamente ao lhe dizer que o tinha odiado. Ele tratava de entendê-lo, tratava de ficar em seu lugar e compreender a razão. Ela não era das que mentiam, não nas coisas importantes. Talvez sim nas coisas pequenas, em meio de uma discussão ou quando se sentia ameaçada. Mas nunca em algo como isto.

Não sabia como enfrentar-se a ela. Parecia tão assustada. E não sabia por que. até agora tinha pensado que o que lhe aterrava era o sexo. Agora compreendia que embora seus temores se centraram nisso, podia haver outras muitas razões, razões que até agora não tinha considerado e que existia a possibilidade de que nunca chegasse a compreender.

De caminho a casa, Amy se voltou para ele.

—Suponho que vais ser o típico e arrogante homem, e insistir em que eu gostei do que acaba de passar.

A ponto de cair, Veloz baixou o olhar, sem saber muito bem o que dizer.

—Nunca me tinha mentido nas coisas importantes, Amy. Se tivesse que escolher uma só coisa neste mundo em que posso confiar, seria em sua palavra.

Ela ficou tensa e apartou a cara como se ele a tivesse golpeado. Veloz soube por sua reação que tinha dado no prego. Fechando os olhos, respirou com força pelo nariz, deixando que o ar ventilasse seus pequenos orifícios nasais. Ele a olhou e viu que tinha os punhos fechados. depois de um momento começou a chorar:

—Crie-te muito preparado. vais apelar a minha honra e me fazer admitir que eu gostei, verdade? Em vão. Nunca o admitirei, nunca.

—Amy, não estou tentando...

—Não me minta. —Ela pôs seus angustiados olhos nele—. Crie que me ganhaste com um pequeno beijo. voltamos para compromisso. Insistirá em que me case contigo. Sei que o fará..., não cria que não sei.

Veloz apertou os dentes.

—Vê? Não pode negá-lo, verdade? Todos os homens são iguais. Querem o controle e de uma maneira ou de outra, conseguem-no. Sabia o que aconteceria. E me enganou me dizendo que me liberaria de sua promessa, sabendo que eu cairia na armadilha. Sabia que foste ganhar inclusive antes de me desafiar.

Veloz não quis deixar patente que ela acabava de admitir que lhe tinha gostado do beijo.

—Amy, isto não tem nenhum sentido. por que ia enganar te eu?

—por que? —Cravou-lhe a ponta do dedo indicador no peito—. Entende algo. Esta mulher nunca beijará suas botas. Nunca!

Veloz tragou saliva.

—Minhas botas? Amy, quando te pedi eu...

—Já me humilhei o suficiente. Nunca ninguém voltará a ter esse poder sobre mim de novo. Ninguém!

Com estas palavras, deu meia volta e cruzou o jardim correndo. Não viu uma raiz de árvore que me sobressaía da terra e tropeçou. Cambaleando-se, chegou à porta e lutou com ela como se pensasse que ele a perseguia. Veloz a observou, com medo a pressioná-la agora que estava tão zangada.

—boa noite, senhor López, adeus e até nunca! —disse-lhe por cima do ombro.

Entrou na casa e fechou de uma portada. Um segundo depois, Veloz ouviu um ruído de cristais ao romper-se e um «Maldita seja!» que lhe encolheu o coração. aproximou-se para a porta e pegou a orelha à madeira para ouvir melhor.

—Amy, está bem?

—Estarei bem quando for de minha casa.

Ouviu um golpe e um «Ai!» que o fez tremer. Um momento depois, fez-se a luz. Veloz se apoiou na árvore que havia no jardim, sem saber se devia tentar solucioná-lo agora ou deixá-lo para outro momento. Ela estava acostumada justificar-se mais quando estava zangada. Mas um enfrentamento neste momento seria indevidamente desagradável.

Enquanto sopesava as opções, Amy se aproximou da janela do salão e apoiou as mãos no cristal, esquadrinhando a escuridão. Olhou através dele diretamente e depois suspirou aliviada, prova de que não o tinha visto e de que ela pensava que se foi. Veloz sorriu com ternura.

A luz do abajur passou do salão ao dormitório. As cortinas de encaixe deixavam ver tudo o que havia no interior. Veloz supôs que um homem branco não se teria ficado ali a espiá-la. Ao menos não um cavalheiro. Ele tinha estado em seu dormitório pelas noites, e suas cortinas pareciam muito mais discretas de dentro.

Amy fez uma contorção para desabotoar o vestido de seda azul. A Veloz excitou a maneira em que se tirava as mangas pelos esbeltos braços, da mesma forma em que ele se imaginou muitas vezes fazendo-o. dobrou-se para desfazer os nós da parte traseira do espartilho e pôs o objeto a um lado. Enquanto caminhava para a cômoda, deu uma patada para desfazer-se dos pololos sobre a marcha. Pondo uma camisola em cima da cômoda, tirou-se a combinação por acima. Veloz se preparou ao ver que o objeto saía voando longe dela. Tinha a boca como se se comeu um punhado de terra.

Era tão formosa, tão condenadamente formosa.

Seu corpo parecia ondular-se sob a capa de encaixe, um resplendor branco delicioso, e suas estreitas costas terminava em uma diminuta cintura para culminar no traseiro mais bonito que tivesse visto em sua vida. Sua mulher. Os brancos talvez o condenassem por estar ali espiando-a, mas desde seu ponto de vista, o que ele fazia era uma grande concessão. Se olhar era pecado, então se iria ao inferno sonriendo.

E então as viu. Cicatrizes. Esfumadas, mas ainda ali: uma rede de linhas brancas que lhe cruzavam as costas e o traseiro. sentia-se como se um cavalo lhe tivesse dado um coice nas vísceras. Acreditou que as pernas não lhe sustentavam. Se não tivesse sido pela árvore, teria se cansado. Alguém lhe tinha dada chicotadas. Não tinha sido Santos. Uma vez, anos atrás, Veloz tinha visto as costas da Amy enquanto se banhava e não tinha visto nenhuma marca depois do tempo passado com os comancheros. Queria vomitar.

«A menina cresceu e soube o que significava ter uma vida difícil. Já sabe como são os sonhos. Algumas vezes não têm nenhum sentido.» Recordou a voz da Amy, aparentemente contente de esconder sua dor. E depois suas próprias palavras também lhe vieram à mente, lhe rompendo quase o coração pelas haver dito. «Já não ficam guelra para te defender se alguém te atacar. O que te passou, Amy? Perguntaste-lhe isso alguma vez?» Ela o tinha cuidadoso com seus luminosos olhos, sem rancor, sem um signo de recriminação. «Sinto te haver desiludido. Sobrevivi e me mantive corda, Veloz. Não é isso suficiente?»

As lágrimas rodaram por suas bochechas, lágrimas de impotência, de raiva. «Já me humilhei o suficiente. Ninguém voltará a ter nunca esse tipo de poder sobre mim. Ninguém!» Veloz se agarrou o estômago com o braço e caiu com as costas apoiada à árvore até o chão. «por que não me esperou no Texas, Amy, como convimos?»

Ali, solo na escuridão, chorou... de vergonha ao saber que ela o tinha esperado ali nessa granja poeirenta, acreditando que voltaria, como lhe tinha prometido..., e de arrependimento, porque tinha sido tão cego que não tinha podido ver que a gloriosa e valente menina que ele tinha conhecido seguia sendo igual de gloriosa e valente, embora de uma maneira diferente. «Quer me pegar? Vamos, Amy. Esta é sua oportunidade. Acaso é uma covarde? Deixo-te que me golpeie uma vez.» E, que Deus a benza, ela tinha aceito a provocação e o tinha feito, inclusive embora devia ter estado aterrada.

Cada lembrança lhe partia em dois. Tinha sido tão cruel com ela sem querer o... «Poderia me limitar a subir pela força a meu cavalo.» tampou-se os olhos com a mão. «Não, assim é a vida, carinho. Não tem alternativa! É minha! Estou aqui, vou ficar me, e será melhor que comece a te acostumar à idéia de que terá que as verta comigo.»

O tempo deixou de ter sentido para ele. O abajur se apagou, deixando às escuras a habitação. O vento trocou, soprando em seu cabelo, lhe cortando através da camisa. E ele seguiu sentado ali, olhando, castigando-se com cada palavra sem sentido que lhe tinha proferido desde sua chegada a Terra de Lobos.

 

Amy o viu pela manhã, nada mais sair da cama. Ali, sentado sob o pinheiro, sem casaco, com a camisa azul suja, e a seu lado a cesta do jantar e o xale. aproximou-se do cristal da janela e olhou através dos encaixes. Parecia desfeito, como se alguém tivesse morrido.

Teve medo. Saiu correndo para a porta. O ar frio da manhã lhe transpassava a camisola.

—Veloz? Ai, Deus, o que passou?

O primeiro que pensou foi na família da Loretta, que algum deles tinha resultado ferido e que o tinham mandado a ele para dizer-lhe Sua cara não era para menos. Baixou correndo os degraus do alpendre e saiu ao jardim.

—Veloz? O que... o que ocorreu?

—Nada, Amy. Solo estive aqui sentado, pensando.

—Pensando? —repetiu ela—. estiveste aqui toda a noite?

—Sim. Tenho que falar contigo.

—Ah. —ficou tensa, de repente incômoda—. Não tem frio?

—Não me viria mal uma taça de café.

—Estou segura de que Loretta tem já uma bule quente.

—Quero uma taça de seu café. Posso entrar?

—Pois... —Amy olhou a seu redor, incômoda—. Do que quer falar?

—De nós. De muitas coisas.

—Deixa que me vista.

Ele olhou a camisola.

—Está bem assim.

—Tolices.

Recolhendo suas coisas, levantou-se da árvore, intumescido e torpe.

—Não é nenhuma tolice. Vamos a por um pouco de café à cozinha.

Logo, caminhou com passos instáveis para a casa. Olhando-se, seguiu-o intranqüila. Podia ouvi-lo já transportando pela cozinha.

—Estarei contigo em um momento.

Ele tirou a cabeça pelo marco da porta.

—Amy, está coberta de pés a cabeça. Vêem aqui junto ao lar, carinho. Está tremendo. O carvão está quente, e já pus um pouco de lenha. Em um par de minutos teremos fogo.

Ela permaneceu imóvel, não muito segura de querer aproximar-se dele. depois da noite anterior, o que estava planejando agora?

—Amy...

Ela avançou pouco a pouco, decidindo cada passo que dava para a porta. Ele elevou a vista da cafeteira quando ela apareceu na entrada. Conduzindo-a para uma cadeira, disse:

—Sente-se. É hora de que falemos como é devido.

Não gostou de como tinha divulgado isso.

—Poderei alguma vez ter paz e tranqüilidade em minha casa de novo?

—Talvez antes do que pensa.

Amy se sentou na cadeira, cobrindo-as joelhos com a camisola e enredando nervosamente o tecido que cobria o busto, temerosa de que ele pudesse ver algo através da malha.

—te relaxe. Vi muito mais ontem à noite e não devi abrir a porta de uma patada. Acredito que agora posso me controlar como um homem civilizado.

Girou uma cadeira e se sentou escarranchado nela, suspirando. Amy voltou a pensar em suas palavras, tomando consciencia delas.

Como se soubesse o que estava perguntando-se, Veloz disse:

—Fiquei sob a árvore ontem à noite e vi como te despia.

Lhe perguntou indignada.

—Que fez o que... ?

—Eu... —Fez uma pausa—. Já me ouviste.

—Como te atreve!

—Sou um inseto sem sentimentos.

—Certamente que o é.

abraçou-se ao respaldo da cadeira e pôs a frente sobre suas bonecas.

—Sinto muito. Sei que não vale de muito, mas o sinto. Por uma parte, sinto-o seriamente. Mas, por outra, me alegro de havê-lo feito.

—Tenho que aceitar suas desculpas quando nem sequer te está arrependendo de verdade?

—Não importa. —Levantou a cabeça, ficando uma mão na cara—. Diabos, já nada importa.

Amy nunca o tinha visto assim.

—Veloz?

—Vou —disse brandamente.

—Vai?

—Sim.

—Q... quando?

—Hoje —suspirou outra vez—. Finalmente ganhaste, Amy. Não vou fazer te cumprir a promessa. É livre.

Amy não dava crédito ao que estava escutando.

—Por isso passou ontem à noite?

O levantou a mão e a levou a franja.

—Sim, mas não pela razão que você imagina. —Sorriu com ternura—. Não perdi a aposta, e sabe. Não odiou o que aconteceu, odiou a posição em que te deixou. A promessa de matrimônio a levou o vento..., terminou. Agora pode ser honesta.

Ela sentiu que lhe ardiam as bochechas.

—É isto um truque?

Ele riu brandamente.

—Não necessito truques. Se queria ser um descarado, seria-o sem mais. Levaria-te a habitação, tiraria-te a roupa e reclamaria o que é meu. —Ele arqueou uma sobrancelha, como se esperasse sua reação—. E não tome isto como uma ameaça. Solo estou dizendo a verdade. por que teria que tomar-se essa moléstia?

Amy não sabia.

—Então, por... por que vai?

—Porque estou te fazendo a vida impossível e agora sei por que, e não te culpo nem sequer um pouco. —Olhou-a fixamente aos olhos, com lágrimas nos seus. esclareceu-se garganta—. Vi as cicatrizes, Amy.

Amy ficou geada na cadeira. Se o agudizaron os sentidos. Pôde ouvir o crepitar do fogo, a destilação da água fervendo, o vento sussurrando no exterior. Não podia falar, não podia apartar a vista da dele.

—Não te estou pedindo que fale disso —disse em voz baixa—. Nem o faço agora, nem o farei alguma vez. Não acredito que o tenha contado a ninguém, verdade? —Ao encontrar seu silencioso olhar, continuou—: Como conseguiste que Loretta não te veja as costas?

Amy tinha a boca seca.

—Banho-me em minha habitação.

Ele assentiu.

—Assim que esse foi seu segredo. É um peso muito grande para suportá-lo sua sozinha, não crie? Sobre tudo tendo em conta que solo tem dezenove anos e está aterrorizada.

—Nunca tive medo de Caçador. E não havia muito com o que carregar. Mas sim muito que explicar. Assim não o fiz.

Veloz pensou nisto.

—Porque estava envergonhada.

—Não é nada do que alguém possa sentir-se orgulhoso.

Seus olhos se cravaram nos dela. Tinha a horrível sensação de que podia ver muito nela, lê-la muito bem, e sentia que não podia lhe ocultar nenhum secreto. Sabia que Henry lhe tinha feito muito mais que golpeá-la.

—Ontem à noite, quando disse que alguma vez beijaria minhas botas, acreditava que era sozinho uma metáfora, mas não o era, verdade? Esse bastardo te fez fazê-lo, não é assim?

A Amy lhe fez um nó na garganta. Vieram-lhe à mente um centenar de mentiras, mas soube antes das pronunciar que mentir a Veloz era tão impossível como mentir-se a si mesmo. Assim não disse nada.

Veloz se agarrou à cadeira com mais força, observando-a enquanto ela levantava a cabeça com os olhos cheios de orgulho quebrado.

—Amy, algumas vezes a vida se faz maior do que somos, e fazemos coisas que nunca tivéssemos sonhado que poderíamos fazer para sobreviver. Não terá que envergonhar-se disso. Se crie que é a única pessoa que teve alguma vez que ficar de joelhos, equivoca-te.

Amy se sentia nua e tão envergonhada que queria morrer. «Foi gloriosa.» Nunca voltaria a pensar que era gloriosa. Mais lágrimas rodaram por suas bochechas, quentes e grosas.

—Não quero que Loretta e Caçador saibam —disse tremendo.

—Não o direi. Tem minha palavra.

Ele murmurou algo para si, olhando ao céu por um momento; depois fixou esses olhos que pareciam vê-lo tudo nela de novo.

—Uma pergunta. Loretta disse que lhe escrevia cartas, dizendo que tudo ia bem. por que, pelo amor de Deus? Duvidou por um segundo de que Caçador fora a te resgatar? Ele tivesse ido ao fim do mundo para te salvar.

Amy tragou saliva, e depois encontrou a voz.

—Isto... Henry permanecia detrás de mim e me dizia o que tinha que escrever. Até a morte da última mula, levava ele as cartas aos vizinhos e fazia que eles as enviassem. Não podia escrever sozinha sem que ele soubesse. —obrigou-se a olhá-lo aos olhos, depois o observou, sem palavras durante um instante—. Q... quando disse que foi ?

—Hoje. Está desejando lombriga desaparecer, verdade?

Amy viu a dor em sua expressão. ficou as mãos no regaço e conteve uma negação.

—Tivesse desejado que te justificasse comigo —disse ele com um suspiro—. Quando penso em tudo o que hei dito e feito, eu... —calou-se e retirou a cafeteira do fogo para que não fervesse mais—. Te teria entendido muito melhor.

Ela inclinou a cabeça, com o olhar perdido nas madeiras do chão. Uma mancha vermelha junto ao fogão havia decolorado a superfície.

—Não necessito que me entendam. Solo necessito que me deixem tranqüila.

—Agora me dou conta. —Emitiu outro suspiro—. Sobre ontem à noite...

—Menti. —Levantou o olhar e seus olhos se encontraram. O silêncio se apoderou deles—. Menti porque tinha medo.

—Sei.

—Não, não pode sabê-lo. —Fechou os olhos, incapaz de suportar seu olhar—. É um homem. As coisas são diferentes para ti.

—Acredito que posso te entender. —Veloz desejava lhe secar as lágrimas, rodeá-la com seus braços, abraçá-la enquanto chorava, mas ela lutava por conter as lágrimas, tratava de afastar suas lembranças, por razões que a ele lhe escapavam, incapaz de compartilhá-los com ele. E, até que não o fizesse, não se atreveria a tocá-la—. Tinha medo de admitir que você gostou do beijo porque pensava que te pediria mais, que te pediria que nos casássemos. E então sua vida nunca voltaria a te pertencer.

Ela fez um som estranho, metade soluço, metade risada.

—Que vida? —Levantou as pestanas e se esfregou para limpá-las bochechas com dedos trementes—. Te dá conta de que esta casa e todo o resto passariam a ser de sua propriedade se me casar contigo? Inclusive minha roupa! Se decidisse vendê-lo tudo e repartir o dinheiro, não poderia dizer absolutamente nada.

—Certamente que poderia.

—Não segundo a lei.

—É isso o que se preocupa? Suas propriedades?

Uns pontos de vermelho carmesim coloriam suas pálidas bochechas.

—Não, é o ser propriedade de alguém. De ti! De qualquer outro!

As palavras saíram disparadas de seus lábios, crudas e feias, criando um abismo entre eles. Por sua expressão, Veloz soube que não tinha querido as dizer, que desejava poder as fazer desaparecer.

—Propriedade, Amy?

—Sim, propriedade! Tem idéia de como se sente um sendo propriedade de alguém?

Veloz sabia que por fim tinha conseguido que lhe dissesse a verdade, mas agora ele se sentia mais confuso que nunca. Certamente ele a sentiria de sua propriedade se se casavam, do mesmo modo que ele seria propriedade dela.

—Não estou seguro de entender o que quer dizer.

—É singelo. Se me casar contigo, pertencerei-te. Se tiver filhos, pertencerão-lhe. Sabe o que disseram os vizinhos quando escapei do Henry e lhes pedi asilo?

Veloz a olhou fixamente.

—Não. diga-me isso —Eso es una exageración.

—Disseram que ele era meu pai. E que tinha que voltar para casa. Que devia tentar não irritá-lo. Como se eu fora a culpado! —Um olhar de ave enjaulada apareceu em seus olhos—. Não estava em condições de caminhar para escapar dali aquela noite, asseguro-lhe isso. Foi o único que pude fazer para chegar até eles. O homem selou seu cavalo e me levou a casa, como se isso fora o mais nobre que podia fazer.

Veloz não queria ouvir o resto.

—O que ocorreu?

—O que crie? Henry estava furioso. E bêbado, como de costume. Crie que me deu um tapinha na cabeça e me disse que tinha sido uma garota má por ir a casa dos vizinhos?

—Amy, Henry era o pior bastardo do mundo. Um homem entre um milhão.

—Não! —Sacudiu a cabeça e se levantou da cadeira. Caminhando, passou as mãos pelos objetos, o máquina de moer do café, a batedeira de manteiga, um prato decorativo que tinha pendurado na parede, sem poder enfocar nenhum dos objetos que ia tocando—. Inclusive aqui em Terra de Lobos ocorre. O homem tem todo o poder. Os homens fazem as leis e há muito poucos que protegem às algemas e aos filhos. Deus prohíbe que possam perder o controle sobre suas famílias.

—Isso é um exagero.

—Pensa o que queira.

—depois de tudo o que passaste, imagino que deve te dar muito medo voltar a te pôr nessa posição de vulnerabilidade de novo.

—Medo? Não, Veloz. Medo é quando algo salta sobre ti e seu coração dá um tombo. —passou-se a mão pelo cabelo—. Viu os moratones do Peter quando foi ao colégio?

Veloz tratou de recordar.

—Sim..., sim..., um na bochecha.

—Seu pai, Abe Crenton, esquenta-se bem em seu botequim e quando chega a casa põe o ponto final.

—O há dito ao delegado?

—Disse a Alice Crenton que o fizesse.

Havia um mundo de corações quebrados em seus olhos. Veloz a observou.

—E o que fez o delegado Hilton?

—Colocou ao Abe no cárcere durante cinco dias.

—E?

—Quando Crenton saiu, foi a casa, a sua casa, e golpeou a sua mulher por havê-lo metido no cárcere. —Agarrou um trapo e limpou a mesa, embora a Veloz parecia que estava completamente poda. depois de acabar, cravou as unhas no trapo—. A golpeou de verdade, por isso nunca tornou a atrever-se a dizer nada.

—poderia-se partir, Amy. Ninguém tem por que suportar isso.

Ela baixou o olhar para o trapo um momento, depois levantou a vista para ele.

—Sério? E aonde iria, Veloz? Não tem forma de ganhá-la vida e manter a cinco filhos. Não pode lhe jogar de casa. É sua casa. Vive bem. Seus filhos não morrem de fome. uns quantos golpes não são tão maus.

—Está-me dizendo que Caçador permanece alheio e deixa que alguns homens deste povo peguem a suas mulheres e filhos, e não faz nada para remediá-lo?

—Nunca falei com Caçador disto. O que poderia fazer ele? Pegar ao Crenton? Existem leis contra isso. —riu brandamente, amargamente—. Caçador terminaria no cárcere, e algo mais de cinco dias. —Levantou as mãos—. Assim funcionam as coisas. Peter vem para ver-me para que eu lhe console quando teve uma má noite. —Sua voz era um fio fino—. E eu o abraço e lhe curo as feridas. E lhe digo algo imperdoável: «Ele é seu pai, Peter. Tem que voltar para casa. Tenta com todas suas forças não irritá-lo». E ele o tenta, até que volta a ocorrer outra vez.

Veloz fechou os olhos.

—Odeio-me por lhe dizer isso, mas assim é a vida, verdade? Você me disse isso, recorda? Assim é a vida...

—Amy, sinto muito. Não pode duvidar de que te quero.

—Não, mas... —Fez um som de frustração e atirou o trapo sobre a mesa. Fechando os punhos a ambos os lados de seu corpo disse—: Simplesmente, não posso ter a fé cega que outras mulheres têm. Não posso, Veloz. depois de minha mãe, eu fui o poste dos torturas do Henry durante três miseráveis e intermináveis anos, sem escapatória. Sabe o que foi o que por fim fez que me escapasse? Tinha mandado vir a um padre! ia casar se comigo! Não tivesse havido escapatória para mim na vida. Tivesse preferido morrer de sede antes que isso. Assim que me parti e me jurei que nunca voltaria a deixar que ninguém me dominasse dessa forma.

—Entendo. —E o que lhe rompia o coração era que de verdade a entendia.

—Você tem um lado escuro, Veloz, um lado que nunca deixa que veja, mas sei que está aí.

—Sim, claro que há um lado escuro. Acaso não temos todos um?

—Sim, e esse é o problema. Não podemos escapar ao feito de que somos todos seres humanos, com defeitos e debilidades. —As lágrimas caíam por suas pestanas de novo, brilhantes, convertendo seus olhos em lagos luminosos—. Não te estou condenando, asseguro-lhe isso.

—Ah, não?

Seu carita se torceu.

—Não! Sei que a situação em que estava era impossível, que sobreviveu da única maneira que pôde. É sozinho que... —ficou sem respiração e depois voltou a respirar de maneira acelerada—. Se me caso contigo, pode que seja maravilhoso. Mas, depois de que passe a novidade, talvez não o seja tanto. Não existem garantias na vida. O matrimônio, especialmente para uma mulher, é uma grande aposta. E o risco é muito alto para mim.

—Nunca te poria a mão em cima. Estou seguro de que sabe isso.

—Sei que você crie que não o faria. Mas a magia se acaba, Veloz. A vida diária se volta aborrecida e lhe frustrem, e vêm os apuros. A gente discute e perde os nervos. Os homens bebem. Voltam para casa de mau humor. Acontece. Pode me prometer que não passará? levaste uma vida violenta. mataste a tantos homens que perdeste a conta. Pode de verdade deixar todo isso atrás?

A Veloz fez um tic o músculo da mandíbula.

—Amy não posso te prometer uma vida sem momentos difíceis, se isso for o que quer. Não posso te prometer que não perderei os nervos. Quão único posso te prometer é que nunca te farei mal. Não importa o louco que me volte. Se de verdade me zangar, pode que ponha a casa patas acima, ou que grite e ameace. Mas nunca te poria a mão em cima.

Ela se mordeu o lábio, com o olhar fixo nele. Veloz sabia que estava lutando consigo mesma. Sabia também que o medo que havia dentro dela superava a todo o resto. depois de um momento, sussurrou.

—Desejaria ter a coragem de te dar a oportunidade de que me demonstrasse isso. Mas não o tenho. Sinto muito. Sei que não o entende...

—Mas sim o entendo. Estive muito momento pensando ontem à noite. —Respirou profundamente e olhou para a janela, deixando que seus olhos se fechassem por um instante—. Por isso vou. —Voltou a olhá-la—. Não quero que se sinta ameaçada. Nunca seremos amantes, mas jamais terá havido uma amizade tão bonita como a nossa. Não se deve converter em um inferno a vida de uma amiga, não se pode evitá-lo.

levantou-se e agarrou duas taças do móvel. Ela se deu a volta para olhá-lo com os olhos chorosos. depois de encher as duas taças de café, entregou- uma a ela, fazendo um grande esforço por sorrir como se seu coração não estivesse quebrado em mil pedaços.

—Tomará um café com este velho amigo?

Amy agarrou a taça, olhando-a fixamente um momento.

—Aonde irá? —perguntou-lhe com voz insegura.

—Não sei. Aonde me leve o sol, suponho.

—Vol... voltará alguma vez?

Veloz evitou seu olhar.

—Para que? Para discutir contigo? Para te fazer a vida impossível outra vez? Quero-te, carinho. Eu gostaria que pudéssemos ser sozinho amigos, mas isso é impossível, e sabe. Quero mais. Não posso evitar querer mais. —encolheu-se de ombros—. Eu gostaria de voltar de vez em quando e verte, mas certamente não o farei.

—Fomos tão bons amigos. —agarrou-se à taça de café, tremendo de tal maneira que o líquido escuro alcançou o bordo de porcelana—. Nos passávamos isso tão bem.

—Fomos meninos. Já não sou um menino, Amy. Necessito mais do que você pode me dar. Ontem à noite, quando estávamos dançando, disse-me mesmo que poderia me estabelecer aqui solo por verte sorrir. —passou-se uma mão pelo cabelo—. E se fosse sozinho em mim em quem tenho que pensar, possivelmente poderia. Mas e se não ser tão nobre? Não sou eu o único que sofreria. Você sofreria também. E não poderia suportá-lo.

Tremendo, Amy pôs a taça na mesa, com a cabeça cheia de lembranças, lembranças tão doces que solo desejava recuperá-los. ficou ali de pé, rígida e tremente.

—por que não pode simplesmente me amar? por que tem que ser sujo?

A Veloz lhe contraíram as vísceras e esteve a ponto de derramar o café. Tragou saliva.

—Amy, não é sujo. É formoso com a pessoa adequada.

Uma expressão constrangida apareceu em seu rosto.

—Có... como de longe crie que irá?

Ele suspirou e jogou mão da cadeira.

—Não sei. Até que a necessidade me faça me deter e pendurar o chapéu, suponho. —Levantou os olhos para ela—. Não vais sentar te comigo, carinho? Por última vez, como amigos.

Ela se afundou em uma cadeira, ainda com a cara compungida. A Veloz doía essa expressão. No fundo tinha esperado que lhe pedisse que ficasse, que o amor que ele sabia que sentia por ele pudesse lhe dar um pouco de coragem para arriscar-se.

beberam-se o café em silêncio, bastante longe da camaradagem que um dia lhes unisse. Quando Veloz apurou o último sorvo, ficou olhando os sedimentos e abandonou toda esperança de que ela fosse dizer as palavras que desejava ouvir. Por sua mente passou a imagem de suas costas, a rede de cicatrizes que eram testemunho de tudo o que tinha sofrido, e entendeu que o deixasse partir. Entendia-o, mas isso não o fazia menos doloroso.

—Bom...

Ela não levantou os olhos da taça de café. agarrou-se com as mãos à porcelana, com os nódulos brancos e vermelhos. Veloz tinha a horrível sensação de estar abandonando-a e, entretanto, como não fazê-lo?

—Será melhor que vá ver meu cavalo e a recolher minhas coisas —disse brandamente.

Ela seguia com o olhar baixo. Ele se levantou da cadeira, deixou a taça na pia, lentamente, pedindo a Deus que ela saísse voando da cadeira e se lançasse a seus braços. Mas não o fez. E nunca o faria.

—Adeus, Amy —disse com voz rouca.

—Adeus, Veloz.

Ela manteve a cabeça baixa, sem mover-se. Veloz foi para a porta, deixando o coração em cada um dos passos que dava. Quando chegou ao vestíbulo, olhou para trás. Ela seguia onde estava, arranca-rabo à taça de café como se o fora a vida nisso.

 

Caçador estava sentado em uma pilha de feno, observando a Veloz enquanto selava o cavalo. Tinha chegado o momento de dizer-se adeus, algo que nenhum dos dois queria fazer. Eram os únicos que ficavam de seu povo, em um mundo estranho e às vezes hostil.

—Espero que o sol brilhe para ti —disse Caçador.

Veloz sorriu apesar da tristeza.

—Meu sol está ao outro lado da rua, Caçador. Cuida bem dela, fará-o?

—Sempre o tenho feito.

Veloz apertou a cilha da cadeira. Já se tinha despedido do resto da família. Era hora de partir.

—Caçador... —Veloz pôs a mão no pescoço de Diabo—. Há coisas sobre a Amy que não sabem.

Os olhos azuis de Caçador se entrecerraron.

—Sim?

—Prometi-lhe que nunca lhe diria isso.

—Amy não tem secretos conosco.

—Sim..., sim os tem, Caçador. Segredos horríveis. —A garganta de Veloz se contraiu. Nunca tinha quebrado uma promessa em sua vida—. Disse que lhe tinha construído um mundo seguro e que tinha feito algo mau. Peço-te que deixe que ela fique aqui escondida e que sonhe seus sonhos, portanto tempo como pode. Não deixe que nada a ameace. Para a Amy, o mundo que lhe deste é sua única sobrevivência.

O rosto de Caçador se esticou.

—Que secretos são esses?

—Não lhe posso dizer isso E não a pressões para que lhe diga isso. —Veloz guiou a Diabo em um círculo para dirigi-lo para a porta—. Algumas costure é melhor as enterrar.

—Henry... —Caçador sussurrou esse nome, com um brilho de fúria nos olhos.

—Não insista, Caçador. —Veloz duvidou, olhando por cima da cadeira para seu amigo—. Não trairei sua confiança. Já a traíram bastante ao longo de sua vida. Simplesmente, estate aqui para ela.

Caçador pareceu adoecer. Fechou os olhos, com a garganta seca.

—Mas as cartas... tudo parecia ir bem.

Veloz não lhe deu nenhuma explicação. O tinha prometido a Amy.

—Acredito que devo ir ao Texas —sussurrou Caçador.

As mãos de Veloz começaram a tremer.

—Diabos! Não pode fazer isso. Não diga tolices, Caçador.

Caçador encontrou seu olhar.

—Aonde vai você?

Veloz evitou seu olhar.

—Disse-lhe isso, aonde me leve o vento.

—Talvez ao Texas.

—Quem o diz?

—Se for ali, nunca voltará. Sabe, e eu também sei. Sabe Amy? Essa é a questão.

—O que eu faça não é assunto dele.

Caçador se levantou do fardo de palha.

—Recolherei minhas coisas.

Veloz proferiu um palavrão.

—Não fará nada disso. Loretta e seus filhos lhe necessitam aqui e, maldita seja, também Amy.

Caçador apertou as mãos.

—O que foi o que lhe fez?

—Será melhor que não saiba, meu amigo.

Com movimentos rápidos, Caçador cruzou o celeiro, agarrou a Veloz pela camisa e lhe pôs contra a parede. O ataque agarrou tão despreparado a Veloz que por um instante levantou o punho com intenção de lhe pegar. Depois se centrou na cara desencaixada de raiva de seu amigo e se obrigou a relaxar o corpo.

—O que lhe fez?

—Não vou lutar contigo, Caçador.

—diga-me isso Ela é parte de meu sangue!

—Não. O prometi e não posso trai-la. Se de verdade for meu amigo, não pode me pedir algo assim.

—por que não me disse isso ela mesma? por que?

—Porque ela... —Veloz apartou a Caçador com um empurrão, alisando-a camisa. Passando-a mão pelo cabelo, ficou a andar e depois se deu a volta—. Algumas costure são difíceis de contar. Ela tampouco me disse isso , se isso for o que te consome. Eu o averigüei Y... —Veloz deixou cair as mãos—. Ela não quer que ninguém saiba. Ocultou-lhes isso todos estes anos. E agora não me corresponde dizer nada.

—Então vai ao Texas?

—Nunca hei dito isso.

—Seus olhos o dizem. vais vingar sua honra. Ele a violou, verdade?

Veloz recolheu o chapéu que se cansado durante o enfrentamento. Ajustando-lhe na cabeça, guiou ao cavalo fora do estábulo. Caçador o seguiu, rígido de fúria. Seu olhar ia de Veloz à pequena casa da Amy, ao outro lado do povo.

—Não lhe diga nada —disse Veloz—. Promete que não o haras. Seria como matá-la se se inteirasse de que sabe.

—por que?

Veloz suspirou, duvidando ao pôr um pé no estribo.

—Por vergonha, suponho.

—Vergonha! —Caçador empalideceu—. Vergonha? Henry é o que deveria ter vergonha, não ela! Nunca ela!

—Segundo nossa forma de pensar. Mas Amy não se criou como nós. Deixa-o passar, Caçador. A ferida se curará.

—O que curará? O homem ao que ama se vai de sua vida.

Veloz se sentia como se alguém lhe tivesse parecido uma faca no estômago.

—Se me amar ou não, isso é algo completamente diferente. Ela já não confia em mim, e quem pode culpá-la? Tirá-lo tudo à luz, envergonhá-la, não fará que sinta de maneira diferente.

Veloz saltou à cadeira. Caçador agarrou o cavalo pela brida.

—Veloz, se for, leve-lhe isso contigo. Cavalga até sua casa, sobe-a a seu cavalo, ata-a se for necessário, e lhe leve isso contigo. Não a deixe aqui para que siga vivendo uma vida cheia de pesadelos.

—Caçador, eu sou seu pesadelo.

Com isto, Veloz açulou a suas arreios. Os cascos do animal golpearam a terra ao baixar a rua e passar ao galope.

 

                                                     Capítulo 14

Amy se agarrou ao marco da janela, olhando fixamente pelo cristal embaciado a Veloz, que cavalgava em seu corcel negro rua abaixo. Chorava e lhe tremia todo o corpo. Viu que ele punha o cavalo ao passo quando esteve à altura de sua casa. A vista da Amy se deslizou da cartucheira que pendurava de seus quadris à cinta de madrepérola de seu chapéu negro e depois foi parar à esteira de lã negra que tinha enrolado na parte traseira de sua cadeira, o odiado poncho.

Um comanchero, um pistoleiro, um assassino. obrigou-se a repetir estas palavras em sua mente, para recordar quem era e o que era. Mas já não podia seguir sentindo o temor que havia sentido antes. Ele era simplesmente Veloz, uma mescla curiosa de passado e presente, um homem duro e amargo com uma capacidade para a violência que ela não podia evitar, mas também com uma grande capacidade para a ternura.

Veloz cavalgou até o alto da colina e fez girar a seu cavalo para olhar o que deixava atrás. Ela teve o pressentimento de que podia vê-la detrás da janela, mas não fechou as cortinas nem se moveu de onde estava. Não podia. Queria beber desta imagem dele, memorizar cada detalhe, porque sabia, no mais profundo de seu coração, que desapareceria e que nunca mais voltaria a lhe ver.

Não podia deixar de chorar. Desejava que se fora para deixar assim de sentir essa dor que se instalou em seu peito. Mas ele permaneceu ali, imóvel sobre o cavalo, vapuleado pelo vento de outubro, olhando para sua casa como se a esperasse, como se lhe desse uma última oportunidade. «Confia em mim —parecia lhe dizer—. Sal da casa, Amy. Corre a meus braços. me dê uma oportunidade.»

—Não posso, Veloz —sussurrou à solidão—. Não posso.

Dando as costas à janela, Amy ficou uma mão na boca e fechou os olhos. Não o veria. Pretenderia que nunca tinha estado ali. Seguiria com sua vida. Não podia desejar coisas que não podia ter.

«O mundo ao que pertenço desapareceu. Você é minha última oportunidade.» Rígida, ficou ali de pé, medindo os segundos com cada pulsação, segundos que eram uma agonia porque sabia que podia haver-se ido já, que, se se girava e olhava, a colina podia muito bem estar vazia.

Tão vazia como sua vida.

 

Veloz pôs a Diabo ao trote, aferrando-se com força às rédeas. O vento lhe golpeava a mandíbula, atravessava-lhe o tecido da camisa. Jogou o braço para trás para alcançar o poncho, dúbio. Depois o tirou das cordas com as que o tinha pacote. Já não importava que o tivesse posto. Não voltaria a importar nunca. Dando rédea solta a suas arreios, tirou-se o chapéu para passar a cabeça pelo oco do objeto de casaco. A capa protetora de lã não o resguardou do frio. Porque o frio que sentia estava em seu interior.

Agarrando outra vez as rédeas, fixou a vista no horizonte, uma extensão infinita de árvores e montanhas. «Um homem cujo passado permanece fixo no horizonte percorre um grande caminho para nenhuma parte».

 

Diabo rebufó e endireitou as orelhas. Veloz aguçou o ouvido, sem ouvir nada. O cavalo voltou a soprar. Fazendo-o ir ao passo, deu-se a volta sobre a cadeira para olhar para trás. «Está sonhando —se disse a si mesmo—. Segue cavalgando e não te torture». Mas seguiu aguçando o ouvido de todas formas. E então o ouviu. Um grito, elevado pelo vento, tão fraco que logo que podia ouvi-lo.

Então ela apareceu no alto da colina, com as saias cinzas alvoroçadas, as mechas de cabelo dourado ao vento lhe tampando a cara. Ele piscou, com medo a estar imaginando-o.

Amy. Recolhendo-as saias, baixava a ladeira a tanta velocidade que pensou que ia tropeçar e cair.

A uns seis metros de distância, deteve-se balançando-se. As lágrimas cobriam seu rosto. Seus olhos pareciam doloridos; o azul intenso fazia contraste com a palidez de sua pele, imprimindo a seu olhar maior profundidade. ficou as mãos na cintura, sem fôlego, soluçando.

—Veloz... —gemeu e tragou saliva, esforçando-se por falar—. Espera até manhã... sim? Solo um dia mais.

Veloz sentiu como se lhe estivessem espremendo o coração.

—Que diferença pode haver entre hoje e amanhã, Amy?

A ela lhe contraiu a cara. ficou uma mão nos olhos.

—Não vá, por favor. Não vá.

Veloz desceu do cavalo, com o poncho ao vento e a franja lhe cobrindo a cara. Deveria haver o tirado. Sabia o muito que ela o odiava. Mas, como ela disse, um homem não pode apagar seu passado por muito que o tente.

—Amy, me olhe.

Ela deixou cair a mão e o olhou com olhos úmidos e lábios trementes.

—Não ficaria comigo um dia mais?

Veloz deixou que sua vista percorresse as árvores, tentando não deixar-se vencer pelo tom de súplica de sua voz.

—por que, Amy? Para que tenhamos que acontecer outra vez amanhã? É melhor assim, rápido e limpo.

—Nunca voltará —deu uns passos para ele—. Não quero que vá.

—Por um dia?

—Não quero que vá nunca.

Ele a olhou.

—por que? Diga-o, Amy.

Ela fechou os olhos e se abraçou a si mesmo.

—Já sabe por que, maldita seja! Já sabe por que!

—Isso não é suficiente. Quero que me diga isso.

—Porque... quero-te!

A Veloz deu um tombo o coração.

—me olhe quando o diz. Não sou um desenho na chaminé. Não posso voltar e me converter no menino que conheceu. Tem que me querer como sou agora. me olhe.

Ela abriu lentamente os olhos. Deslizou o olhar da diadema nacarada de seu chapéu ao poncho, passando por seus revólveres e terminando nas esporas. Depois, ficou pálida e o olhou diretamente aos olhos. Suspirou profundamente, como se o vento pudesse balançá-la.

—Quero-te.

Em suas palavras não havia convicção. Ele a olhou, consciente de que seu futuro, se tinham algum, dependia totalmente dela e desta pequena amostra de coragem que ficava.

—Se de verdade me amar, Amy, então dá os três passos que te pedi que desse a primeira noite. Mas entende que se o fizer, terá perdido sua liberdade. Pode chamá-lo propriedade, mas eu o chamo amor. E o quero tudo: seu amor, sua vida e seu corpo. Não ficarei por menos.

Ela se esfregou as mãos, olhando-o fixamente.

—Ho... hoje, quer dizer?

Era tristemente óbvio que sua atenção tinha recaído em solo uma parte do que ele havia dito. Veloz apertou os dentes. Tão assustada de fazer o amor como estava ela, não podia permitir que isto a separasse dele de novo. Terminariam no mesmo ponto onde começaram. Ele sabia agora que a idéia de que alguém pudesse ter poder sobre ela a aterrava. Possivelmente nunca poderia superar isto a menos que ele a obrigasse a render-se a ele. Solo então poderia lhe provar que seus temores eram lhes embainhem.

Com um esforço sobre-humano, Veloz conseguiu por fim falar.

—Possivelmente hoje. Possivelmente agora mesmo, aqui mesmo. Essa não é a questão. Sabe que não o é. O que importa quando seja, Amy, se confiar em mim, se de verdade crie que te amo? Quando ama a alguém, importam-lhe seus sentimentos. Se não crie, com todo seu coração, que me importam os teus, então nos faça um favor e vete a casa.

—Acredito.

—Então sabe o que tem que fazer. —Manteve o olhar, odiando-se a si mesmo, mas convencendo-se de que não tinha outra opção—. É sua eleição. Dei-te sua liberdade. Se isso for o que quer, agarra-a e corre. Se não, terá que dar três passos, e eu não posso te ajudar a fazê-lo.

Ela ficou ali de pé, como se os pés lhe tivessem parecido na terra. Veloz esperou. Foi a espera mais larga de sua vida. E mesmo assim, ela não se moveu.

Dando-a volta para seu cavalo, disse:

—Adeus, Amy.

—Não! —gritou ela.

Veloz olhou para trás e a viu correr para ele. Logo que teve tempo de dá-la volta antes de que ela se equilibrasse sobre ele como uma catapulta. Veloz a agarrou, balançando-se pelo impacto de seu peso. Depois a rodeou forte com os braços. Ela tremeu, pendurada dele. A Veloz queimavam os olhos pelas lágrimas. Baixou a cabeça, pondo sua cara na doce curva de seu pescoço, deleitando-se no sentimento de tê-la contra ele, agora já sem nenhuma reserva. Tinha sonhado com este momento, tinha-o esperado com tantas vontades..., mas nada podia comparar-se com a realidade de ter a Amy em seus braços.

—Não... não me deixe —balbuciou ela—. Por favor, não o faça, Veloz. Arriscarei-me. Trocarei. Farei-o, de verdade. Solo tem que me dar uma oportunidade, fará-o?

Soltando-se de uma mão, pô-lhe o poncho pelos ombros para protegê-la do vento e depois a atraiu para ele uma vez mais. Ela se deixou abraçar. Veloz sofria por ela, desejava poder desfazer tudo o que lhe tinha feito. Mas não podia.

—Ah, Amy, meu amor, não quero que troque. Não me importa se vier para mim com medo —lhe sussurrou torpemente—. Não me importa se fizerem falta anos até que as coisas funcionem entre nós quando fizermos o amor. O único que me importa é que vieste livremente. —Ele duvidou, por medo a pressioná-la, embora sabia que devia fazê-lo—. Dava que é minha, Amy. Quero uma promessa de matrimônio. Não a que fizemos faz quinze anos, a não ser uma nova, uma que faça do fundo de seu coração. Pode fazê-lo?

A tensão em seu corpo lhe indicou o muito que lhe custava dizer essas palavras.

—Sou tua. Casarei-me contigo. Lhe... prometo-lhe isso.

—E se escolho te fazer o amor neste momento, baixo uma destas árvores? Seguiria mantendo sua promessa?

Um tremor a sacudiu.

—Sim... sim.

A Veloz falharam os braços e os apertou ao redor dela. Em seu inconsciente, soube que devia tomar cuidado. Ela era muito delicada. Poderia estar lhe fazendo danifico. Mas, maldita seja, queria-a tanto. Ouvi-la dizer que sim, embora fora com essa voz trêmula, era tão maravilhoso que queria abraçar até seu último halo de fôlego, fundir seus corpos em um, para que nunca tivesse que temer voltar a perdê-la. Lutou por controlar-se, lutou para que seus braços se relaxassem. lhe pondo uma mão no cabelo e outra nas costas, balançou-se com ela a mercê do vento, acalmando-a com suas carícias, aliviado ao ver que a tensão nela cedia.

—Nunca te arrependerá disto, Amy. Nunca.

Ele a elevou em seus braços e a subiu ao cavalo. Pondo-a na cadeira, colocou-lhe as saias e depois montou detrás dela, lhe rodeando a cintura com o braço. Ela dirigiu um olhar de apreensão para as árvores, mas não perguntou por suas intenções. Ele sabia que guardar silêncio não estava lhe resultando fácil.

Veloz a atraiu para ele e baixou a cabeça para ela. A asa de seu chapéu detinha o vento.

—Recorda quando te dizia que parecia ter um coração comanche?

Ela assentiu, sem dizer nada. Veloz lhe roçou a bochecha com os lábios.

—Ainda tem um coração comanche, Amy. Mais ainda, acredito que mais que ninguém que tenha podido conhecer nunca.

—Não —disse com uma voz profunda—. Já não.

As lágrimas lhe esfriaram as bochechas.

—Ah, sim. Crie que ser valente significa não ter medo? Ou atrever-se? A coragem, em realidade, significa dar três passos quando isso te aterra.

 

A luz do fogo jogava com seus rostos. Estirado sobre o tapete, Veloz sustentava a Amy no oco de seu corpo, com um braço na cintura e uma mão aberta uns centímetros só por debaixo de seu peito. O silêncio entre eles deixava lugar a outros sons, como o do vento que golpeava as venezianas da casa, o ramo da árvore que tocava com um rangido a janela do dormitório, o batimento do coração de seus corações, a respiração de seus pulmões e o tictac do relógio que contava os minutos de seu futuro, um futuro que se abria ante eles agora, cheio de promessas incumplidas.

Veloz passou os dedos pelo tecido de seu vestido, tocando os pequenos botões que terminavam delicadamente em seu pescoço. Ela não se apartou e isto gostou. Também o animou a seguir tocando algo mais que os botões.

—vou ter que ir ver caçador, a lhe dizer que não me fui —sussurrou.

Ela se estirou ligeiramente. Veloz pensou que devia estar cansada depois de todo o ocorrido, e que por isso estava adormecida. ficava. Era evidente que isto se converteu em sua única realidade, o único ao que, por agora, podia enfrentar-se. Este tempo juntos, ao calor do fogo e em silêncio, era sua calma antes da tormenta. Tinha que saber que ele queria mais, que pediria finalmente mais, mas por agora deixou que desfrutasse de do momento.

Muitas lembranças lhe vieram à mente. E sentiu que ela também o recordava. Com a luz do fogo e o vento fora, era fácil acreditar que as paredes que lhes rodeavam eram de pele, que o vento que assobiava vinha do norte, percorrendo as planícies de erva. Os meninos, congregados ao redor do fogo da noite, com o estômago cheio, os membros cansados e relaxados de ter estado correndo todo o dia sob um céu do verão infinito, a risada e o jogo. Este era seu laço de amizade do passado, um laço de confiança que os unia agora. Era um presente tão precioso, o da amizade, e tinham estado a ponto de perdê-lo...

Veloz se deu conta de que teria que voltar para passado e recuperar algo mais que lembranças, que de algum modo tinha que trazer a risada e a magia de volta a sua relação. Pelo bem da Amy. E talvez também por seu próprio bem.

levantou-se lentamente, cuidando cada um de seus movimentos para não assustá-la. Pondo-a em cuclillas junto a ele, estudou o azul de seus olhos. Sobre tudo pareciam assombrados e receosos, como se não estivesse do todo segura de como tinha chegado a dar este passo e temesse o que ia vir depois. Ao ler estas emoções, Veloz soube o muito que devia lhe querer. Tinha renunciado a todas suas defesas para que ficasse, e Amy tinha mais raciocine que ninguém para tentar proteger-se.

Sentada sobre os talões, com as saias formando um círculo no chão, tinha o aspecto da menina que tinha sido uma vez. Lhe aconteceu um dedo pelo contorno sombreado das bochechas, sem saber muito bem o que dizer.

—Tem idéia de quão formosa é?

Fixou a vista em sua boca. Era evidente que ela esperava que ele fizesse algum movimento e que estava preparando-se. Ele suspirou e lhe aconteceu a mão pelo cabelo, penteando-a lentamente, desenredando os nós de suas largas mechas douradas que caíam em uma cortina brilhante entre seus dedos. Excitou-lhe o roce das mechas ao cair por seu braço, quentes e sedosos, e imaginou que era sua pele. Ter por fim direitos inalienáveis e não poder exercê-los era uma autêntica tortura.

—Algum dia virá para mim levando sozinho seu formoso cabelo —lhe sussurrou com voz rouca.

A Amy lhe esticou um pequeno músculo da boca. Veloz se levou uma das mechas douradas à cara e roçou com sua bochecha.

—Prometo que serei tua, Veloz. É o único que posso te prometer. Não espere mais do que posso te dar.

—Isso é tudo, Amy. Solo quero o que pode me dar.

Seus olhos se obscureceram.

—O que... o que diz?

Veloz suspirou. Não estava seguro de que demônios estava dizendo.

—Quão único quero é que não tenha medo.

—Não posso evitá-lo.

—Mas eu sim posso. Crie de verdade que poderia te forçar? —Agarrou-lhe o queixo para que não pudesse evitar seu olhar—. De verdade o crie?

Ela o olhou como um coelho assustado nas garras de um falcão faminto. Veloz se deu conta de que uma relação amorosa física não entrava dentro dos planos da Amy, e de que não podia encontrar nada em seu passado que trocasse isso. Ela via o sexo como algo egoísta, algo sujo que os homens exigiam e que as mulheres estavam obrigadas a dar.

A voz dela se voltou fina e insegura, como a nota desafinada de uma flauta.

—Mas eu..., agora isso não se está questionando.

«Isso» era algo que claramente a aterrorizava. Veloz quase sorriu, não porque o encontrasse divertido, mas sim porque sabia que era um temor de tudo infundado. Se Texas não tivesse estado tão longe, teria ido fazer uma visita ao Henry Masters.

Sem espaço para mais rancor, Veloz estudou o pequeno rosto que tinha em frente.

—Sabe o que é o que mais quero agora mesmo? Quero rir contigo... como estávamos acostumados a fazer.

Os olhos dela se obscureceram com a lembrança.

—Ríamo-nos muito, verdade? Acredito... —Fez uma pausa e o estudou, com uma expressão de melancolia—. Sabe que foi meu único e melhor amigo? Nunca tive outro, porque me criei sem vizinhos perto. Algumas vezes, enquanto ainda estava na granja do Texas, quando me sentia sozinha, estava acostumado a me sentar sob a pacana e imaginava que você estava comigo.

Veloz sentiu uma dor na garganta.

—Oxalá tivesse estado ali.

—Estava acostumado a recordar coisas que fazíamos juntos. —Sorriu levemente, com os olhos brilhantes fixos nele—. Era quase como se de verdade voltássemos às fazer de novo. Ou te contava meus problemas e imaginava o que você me diria. Dava-me muito bons conselhos.

—O que te dizia?

—Que olhasse ao horizonte. —As lágrimas enchiam seus olhos—. Me dizia: «Olhe à manhã, Amy. O ontem se foi». E eu encontrava a coragem para seguir, solo um dia mais, porque o manhã poderia ser o dia no que você viria a me buscar. —Suspirou e levantou os braços, encolhendo-se ligeiramente de ombros—. Não podia me render, sabe?, porque o manhã sempre estava a uma noite de distância.

Destroçava-lhe pensar nas dificuldades que ela devia ter acontecido e em não ter podido estar ali para ajudá-la. Possivelmente um dia pudesse compartilhar essas experiências com ele e livrar-se delas. Sabia o que era esperar um dia mais. Também sabia quão mau podiam ficá-las coisas para alguém que vivia mais à frente do presente, com solo um elusivo amanhã que nunca chegava como única esperança.

—Temos uma segunda oportunidade, você e eu —lhe sussurrou—. A oportunidade de voltar a ser bons amigos outra vez.

—Já não somos meninos —lhe recordou ela—. Não podemos voltar atrás.

—Não podemos? Isso é o que quero, ter o que estávamos acostumados a ter. Fazer o amor é algo que ocorrerá quando tiver que ocorrer, quando nos sentirmos bem fazendo-o.

Ela ficou em pé, levantando de forma imperceptível o queixo.

—Veloz, devo te dizer que nunca me sentirei bem fazendo-o. Tem que entendê-lo.

Apreciando sua honestidade, sabendo o difícil que devia ser para ela não recorrer a subterfúgios, especialmente quando estava arriscando tanto, disse-lhe:

—Eu saberei quando é o momento. E não é agora. Assim te relaxe e desfruta de que estejamos juntos.

—Mas... —mordeu-se o lábio inferior com os dentes, preocupada com um momento—. Não o vê? Não posso me relaxar quando sei que... que pode passar.

—Então te avisarei primeiro. O que te parece?

—Avisará-me?

—Sim. E, até que o faça, não há nada do que preocupar-se. Assim não deve ter medo se te tocar ou se te beijar.

Um brilho de esperança apareceu em seus olhos, junto a uma forte dose de incerteza.

—Promete-me isso?

Veloz tinha o pressentimento de que esta era uma promessa que teria que fazer uma e outra vez até que ela começasse a lhe acreditar.

—Prometo-lhe isso, Amy.

 

                                                     Capítulo 15

Essa noite, os Lobo tiveram uma grande janta de domingo para celebrar a decisão de Veloz de ficar. Amy esteve ali, como sempre tinha feito todos os domingos antes de que Veloz chegasse a Terra de Lobos. E pela primeira vez desde sua chegada pôde ser ela mesma, rodeada daqueles aos que amava, rendo, falando e brincando. Consciente de como sua presença a tinha confinado esses dias, lhe arrebatando à família e seu apoio, Veloz se sentiu em mais de uma ocasião arrependido.

Para o final do jantar, Amy surpreendeu inclusive a Veloz quando de repente se levantou e disse que tinha uma notícia que dar. Todos a olharam. Quando uniu seu olhar a de Veloz através da mesa, suas bochechas avermelharam com acanhamento e seus olhos se voltaram de um azul mais intenso. Era evidente que não tinha muito claro o que ia dizer. Tinha o corpo tenso. antes de falar, Veloz adivinhou sua intenção, e logo que pôde acreditar que tivesse reunido a coragem para dar um passo tão irrevogável, e com tanta rapidez.

—Sei que Veloz talvez não lhes diga isso por consideração para mim —disse com voz tremente—, mas depois de toda a animação que montei desde que chegou, acredito que é justo que lhes diga que renovei minha promessa de matrimônio com ele.

O silêncio se apoderou do salão, um silêncio imóvel, de respiração contida, como se todos na mesa se ficaram gelados ao mesmo tempo. Os músculos das pernas da Amy se intumesceram. ficou uma mão na saia. Já está, já o havia dito. Agora já não havia volta atrás. Jogando mão de toda a coragem que ficava, olhou a Veloz aos olhos.

Ele parecia um jogador profissional que acabasse de ensinar quatro agarra em uma jogada de pôquer.

depois de um momento, Caçador disse:

—Espero que o sol brilhe para os dois.

Com um gritito, Loretta se levantou da cadeira e deu a Amy um emotivo abraço.

—Sabia que se solucionaria. Sabia.

Outra onda de incerteza sobressaltou a Amy ao devolver o abraço a Loretta. Nada se tinha solucionado ainda. Podia sentir o olhar de Veloz. perguntou-se no que estaria pensando, por que não falava, por que sorria dessa maneira.

—Assim que lhes ides casar? —perguntou Índigo com entusiasmo infantil—. Ah, é estupendo! Acredito que deveríamos dar uma grande festa para celebrá-lo. Talvez Brandon Marshall possa vir. —Cravou seus olhos azuis na Loretta—. Posso convidá-lo, mamãe?

Soltando a Amy, Loretta olhou a sua filha com nervosismo.

—Deixa primeiro que se organize a festa, Índigo. Logo falaremos dos convites.

Veloz levantou uma mão.

—Não haverá nenhuma festa. —Sua voz soou com determinação—. Não no momento, ao menos.

—por que não? —perguntou Loretta.

Veloz levantou a sobrancelha esquerda.

—Porque não quero que ninguém fora destas paredes saiba até que decidamos que estamos preparados.

Caçador o interrompeu.

—Esses não são nossos costumes, Veloz. Os compromissos sempre se anunciam publicamente.

—É meu costume. —Veloz se recostou na cadeira e rodeou a taça de café com os dedos. Seu olhar, escura e indecifrável, encontrou-se com a da Amy—. Temos muito que fazer. Casar-se logo não é uma prioridade.

—Um compromisso comprido não tem nada de mau —lhe assegurou Loretta—. Mas por que não anunciar o compromisso de forma oficial?

Veloz voltou a olhar a Amy, com um misterioso sorriso.

—O trabalho da Amy é muito importante para ela. Eu gostaria que pudesse conservá-lo.

Amy piscou, tentando entender o que ele acabava de dizer, mas antes de poder assimilá-lo, Loretta gritou:

—por que um anúncio assim ia pôr em perigo o trabalho da Amy?

Uma vez mais, Veloz parecia ter sozinho olhos para a Amy.

—Não sou o que diz a pessoa mais popular em Terra de Lobos. Se as línguas começarem a murmurar..., bom, não terá que ser um gênio para saber o que ocorreria. Não quero correr esse risco. Se não dizermos nada, daremos às pessoas a oportunidade de que me conheçam melhor. Possivelmente então não lhes importará que sua professora se case com um antigo pistoleiro.

—Mas as más línguas falarão ainda mais se não saberem que estão comprometidos —replicou Loretta.

—Não, se tomarmos cuidado e não deixamos que nos vejam juntos muito. Até o momento, conseguimo-lo bastante bem.

Veloz jogou todo o peso de seu corpo sobre o respaldo da cadeira, com os ombros relaxados, um braço em cima do respaldo e a outra mão posta em cima da coxa. Amy quase podia sentir a calidez desses fortes dedos sobre seus peitos, a força de seu braço ao redor dela.

—Se forem casar, tia Amy não precisa trabalhar —disse Chase, intervindo na conversação—. Ela ficará em casa e cozinhará e cuidará dos meninos.

—Quem o diz? —Ainda balançando-se na cadeira com o impulso dos pés, Veloz olhou ao moço—. por que tem ela que deixá-lo tudo porque se case?

—Sim, Chase, por que? —perguntou Índigo—. As mulheres podem fazer outras coisas além de limpar a casa e lavar a roupa.

Chase levantou os olhos ao teto.

Rendo, Veloz levantou uma mão.

—Não era minha intenção começar aqui uma discussão. É sozinho que a forma dos brancos de fazer as coisas não me parece justa. De fato, sei que posso escrever meu nome, vou assinar um papel que diga que a casa da Amy segue sendo de sua propriedade e que seu dinheiro é seu também.

A Amy deu um tombo o coração. sentia-se tão comovida que teve que fazer verdadeiros esforços por não chorar. Ficando uma mão sobre o peito, disse:

—O que há dito?

—Ouviste-me.

—vais assinar um papel negando os direitos que tem sobre minha casa e meu salário?

—Isso é uma loucura! —gritou Loretta—. por que ia querer uma esposa que se dividissem as propriedades?

—Para manter sua independência. —Veloz olhou a Caçador, divertido—. Não te parece bem.

Caçador se encolheu de ombros.

—É um bom costume, é o costume de nosso povo. Não assinamos papéis, mas o que é da mulher lhe segue pertencendo depois de casada.

—Então está decidido. De acordo, Amy? —Veloz observou a sua futura algema, esperando pacientemente que falasse. Quando viu que se limitava a ficar ali de pé, olhando-o, disse—: Bem, está de acordo ou não?

Amy tratou de falar e não pôde. Por fim se limitou a assentir. Veloz voltou a sorrir. Durante um momento interminável, Amy esqueceu a todos os que estavam na habitação. Solo existia Veloz e a ternura que via em seus olhos negros.

Quando se teve terminado o jantar e os pratos estiveram lavados, Veloz convidou a Amy a dar um passeio noturno. Ela aceitou sem duvidá-lo. Assim que alcançaram as árvores que havia detrás da casa, longe dos olhares de outros, reduziram o passo e começaram a caminhar a um ritmo mais tranqüilo.

Quando lhe agarrou a mão, Amy respirou profundamente, exalando um suspiro.

—Não trocaste. Em muitos aspectos, não trocaste.

—O que quer dizer? Ela sorriu e encontrou seu olhar.

—Em um momento está pedindo promessas e ao momento seguinte troca de idéia. Não esperava... —calou-se e arqueou uma sobrancelha—. Não tinha por que fazer nenhuma dessas concessões no jantar. E entretanto as fez. por que?

A expressão de sua cara se agudizó.

—Não acredito que os costumes de sua gente sejam justas.

Amy evitou o comentário.

—A maioria dos homens querem ter a lei a seu favor. Sua casa, seu dinheiro. Desta forma têm o controle.

—Eu não sou como outros homens. —Ele abriu o punho e tocou ligeiramente com os nódulos seu queixo—. Enquanto não te pegue uma vez à semana para manter em forma meu braço, não necessitará nunca esse papel. Assiná-lo não me custa nenhum esforço e entretanto, te faz muito feliz.

Andando ao mesmo ritmo que ele, apoiou a cabeça em seu braço, olhando as árvores, que se elevavam sobre eles. Veloz estudou a parte de acima de sua dourada cabeça. Inalou uma boa baforada de ar e o deixou sair pouco a pouco depois, como se com isso estivesse livrando-se de um grande peso.

—Estava acostumado a fazer isso antes, me pedir as coisas mais difíceis para logo tomar muito pouco uma vez tinha aceito as fazer. —Levantou a cabeça—. Ainda lembrança as primeiras vezes nas que me tirou passear depois de que Caçador me resgatasse dos comancheros. Levava-me até o inferno, com o passar do rio, tão longe do povoado como foi possível. Sabia o que estava pensando.

—Não era difícil de adivinhar —respondeu ele com um sorriso—. Tinha que aprender que não necessita a segurança de outros para estar a salvo comigo. Essa era a única maneira de lhe demonstrar isso —Lo sé. Pero sucederá si nos damos tiempo.

—Está-o fazendo outra vez. Tenta me demonstrar algo. Faz-me temer o pior de ti. E depois não faz nada do que me fez pensar. Fez que aceitasse fazer o amor contigo hoje. Mas alguma vez teve intenção de fazer algo assim, verdade? Assim que acredito que sei onde estou, então dá outra vez a volta a tudo.

Com um suspiro, atraiu-a para si e a apoiou sobre o oco de seu braço.

Roçou-lhe a bochecha com os lábios. Amy sentiu um calafrio nas costas e ficou sem respiração quando suas bocas se juntaram.

—É muito singelo, Amy. Quão único quero, quão único sempre quis, é que confie em mim. Se tiver isso, todo o resto virá sozinho. Não o entende? O resto simplesmente acontecerá.

Com lágrimas nos olhos, tocou-lhe a cicatriz da bochecha, e depois deixou cair a frente sobre seu peito.

—Não é fácil para mim.

Ele sorriu e a rodeou com os braços, contente de poder tê-la tão perto.

—Sei. Mas acontecerá se nos damos tempo.

Quando Veloz levantou a cabeça, viu que tinha os olhos cheios de lágrimas.

—Quero-te, Veloz —lhe sussurrou—. Sempre te quis.

—Sei.

Ao olhá-la, viu a frágil confiança que havia em seus olhos e logo que pôde acreditar a sorte que tinha tido. sentiu-se de repente cheio de ansiedade. Durante meia vida, qualquer tipo de felicidade lhe tinha sido negada. Não se tinha atrevido a sonhar. Agora, sustentava o mundo em seus braços. Amy. Queria-a tanto... O que aconteceria algo saía mau? O que aconteceria voltasse a perdê-la?

—Veloz? O que te ocorre? —sussurrou.

—Nada. Tudo está bem.

Guardando seus temores para si, obrigou-se a sorrir e baixou a cabeça para lhe roçar uma vez mais os lábios. Na magia da noite, bastava-lhe podendo recuperar seu amor de juventude. As veria com o futuro quando chegasse o momento.

 

                                                         Capítulo 16

Uma semana depois exatamente, mais ou menos à mesma hora da noite, Veloz estava de pé com um ombro apoiado no alpendre da Amy, com os lábios ainda trementes pelo beijo inocente que se deram de boa noite e as vísceras contraídas pelo desejo de algo mais. depois de sete dias de tratá-la com pés de chumbo, sua paciência era tão frágil que acreditava que ia romper se de um momento a outro. Deixá-la era o mais difícil que tinha feito nunca. Cada um de seus instintos lhe pedia que voltasse dentro e a fizesse cair entre seus braços. Ela se teria entregue a ele. Não lhe cabia nenhuma dúvida. E seria a união mais maravilhosa de sua vida. Quão único tinha que fazer era voltar ali dentro...

Fechou os olhos, com uma dor desço no ventre que lhe fechava o estômago. Durante toda sua vida, os homens tinham tomado a Amy pela força. Esta noite, ela tinha crédulo nele o suficiente para deixar que a abraçasse. Tinha que passar por isso para ver o contraste entre ser utilizada e querer fazer o amor. Sua união seria tudo quão doce prometia e isso bem merecia outra noite de frustração.

Ajustando o chapéu na cabeça, obrigou-se a mover os pés rua abaixo, notando com cada pernada a força de vontade e o sacrifício que lhe exigia. Mas ao final, seguiu caminhando porque amava a Amy muito mais do que amava satisfazer seu desejo físico por ela.

Como vinha sendo já um hábito essa semana, encaminhou-se ao botequim com a esperança de encontrar algo de alivio em uma taça de uísque e um amistoso jogo de cartas. Sobre tudo no uísque. Com a frustração que lhe provocava ter que renunciar a Amy cada noite, custava-lhe conciliar o sonho, e tinha que estar pela manhã cedo trabalhando na mina de Caçador. Um gole lhe relaxava.

Randall Hamstead se sentava sozinho na mesa da esquina do botequim. Veloz foi à barra e pediu um gole, sonriendo com educação ao Mai Belle, uma loira descarada sentada em um tamborete próximo. A mulher o olhou de cima abaixo enquanto esperava a que lhe servissem. À luz brilhante do abajur, as linhas de sua cara se agudizaban, fazendo que sua pele maquiada parecesse de papel enrugado. por cima do sutiã negro, seus peitos se sobressaíam como melões amadurecidos.

Veloz não pôde evitar perguntar-se como alguém tão atrativo e de bom coração como ela tinha podido acabar em um sítio assim, como prostituta entrada em anos, fazendo galanterias a homens que certamente desprezava. Algumas vezes não estava seguro dos quais eram os selvagens, se os comanches ou os homens brancos.

Pagou pela bebida e deslizou a volta por debaixo da barra para ela. Ela olhou o dinheiro com uma sobrancelha levantada. Com a taça na mão, Veloz esquivou as mesas e se uniu ao Randall Hamstead. Agarrando uma das cadeiras que havia a seu lado, disse:

—Bom, Randall, como se levou hoje o negócio dos tecidos? Tem moedas suficientes para jogar pôquer ou pensa ficar aí olhando toda a noite?

Randall sorriu.

—Só estava esperando a que algum desgraçado aparecesse. Começava a pensar que não foste vir esta noite.

—Ah, assim sou o desgraçado ao que estava esperando, né? —Veloz pôs um dólar sobre a mesa—. Aposta e dá as cartas, amigo. Veremos agora quem dos dois é mais desgraçado.

Várias mãos depois, Veloz volteou dois naipes de um mesmo pau, com um ás acima.

—Não superam minha escada —disse Hamstead, mostrando suas cartas através da mesa—. Perde, López. Outra vez.

Veloz sorriu.

—A meu ver, não recuperaste ainda o que perdeu comigo faz duas noites.

Um grupo de mineiros de outra mesa ouviram a brincadeira de Veloz e riram. Randall lhes dirigiu um olhar de advertência.

—Só tenho dois dólares dos que me envergonhar.

—Três. —Veloz deu uma imersão ao cigarro, agarrando as cartas com uma mão para as pôr juntas—. Estou aprendendo a contar, recorda? te guarde seu orgulho para outro dia.

De uma mesa próxima, Abe Crenton hasteou uma garrafa de uísque vazia.

—Pete! —gritou—. me Traga outra.

Randall olhou ao dono bêbado do botequim com uma expressão de asco.

—Menos mal que não gosta de jogar às cartas quando está assim.

—É bom?

Randall sorriu e suspirou.

—Faz armadilhas. Nunca aposte suas economias quando ele está jogando.

Veloz rezou para que Crenton não fosse a casa bebido e ficasse a martirizar ao pequeno Peter e a sua família.

—Partida de pôquer a sete, quatro mau e suja —disse, pondo o baralho de um golpe sobre a mesa—. Te importa te cortar seu próprio cangote?

Hamstead cortou.

—Aqui vêm de minha volta três perus. Posso senti-lo nos ossos.

Veloz levantou as duas primeiras cartas e riu.

—Minha dama se come a seu dez. Vejo seu dólar e subo um.

Crenton se inclinou sobre a mesa, tão bebido que quase caiu da cadeira em que estava sentado.

—O que tem que dizer sobre sua dama, López?

Veloz levantou o olhar das cartas, perdendo o sorriso.

—Como diz?

Crenton enfocou seus imprecisos olhos azuis e sorriu de forma desagradável, com uma barba ruiva tão molhada de uísque que cheirava a vários metros de distância.

—É tão boa em privado como parece?

—Quem?

—A senhorita Amy... quem demônios vai ser? Não acreditará que alguém pensa que está aprendendo a ler ali dentro, verdade?

Veloz pôs as cartas sobre a mesa. Queria saltar e arrancar a cara ao Crenton. Solo a lembrança da Amy o conteve. Se não dirigia bem a situação, poderia danificar de forma irreparável sua reputação. esforçou-se por sorrir.

—Oxalá estivesse me divertindo tanto como outros pensam. Essa mulher tem muito amido nos pololos, poderiam pôr-se a andar sem ela dentro.

Crenton jogou para trás a cabeça e explorou em uma gargalhada. Hamstead avermelhou e pareceu incômodo.

—A senhorita Amy é uma boa mulher. Os dois deveriam falar dela com respeito.

—Eu a respeito —replicou Veloz, tragando o último sorvo de uísque do copo e bufou quando o líquido lhe abrasou a garganta a seu passo para o estômago—. É o único que se pode fazer com uma mulher como ela. E não é que não o tenha tentado. É uma mulher muito bonita.

—Amém —disse Crenton, movendo seu copo vazio no ar—. Assim me diga, López, se não ter estado comprometendo-a, por que demônios pagou cem dólares por sua cesta?

Veloz pôs o copo na mesa e se tornou atrás na cadeira.

—Foi a única maneira que me ocorreu de pagar por minhas classes. O comitê não tivesse aceito dinheiro ou uma doação de um homem com minha reputação. E a senhorita Amy não aceitará dinheiro de mim. Pensei que o povo devia receber algum tipo de recompensa.

Era uma má desculpa, mas a única que Veloz pôde inventar imediatamente. Crenton, entretanto, pareceu satisfeito. Assentiu e arrotou.

—Suponho que me passaria o mesmo. Porque você não é um menino. E —voltou a arrotar— os bons tipos de Terra de Lobos certamente não querem verte em sua piedosa e condenada escola de todos os modos.

Nesse momento, as portas do botequim se abriram. Dois homens entraram sorteando as mesas em direção à barra. Talheres com a asa de seus chapéus como foram, Veloz não pôde ver suas caras. Sua atenção se centrou na roupa e não pôde evitar sentir certo nervosismo. Motivos de madrepérola decoravam as calças de um deles. O outro levava uma jaqueta de pele bordada e com franjas. Os dois levavam cartucheiras chapeadas. Caminhavam com fanfarronice, os ombros erguidos e os braços ligeiramente dobrados, como se suportassem muita tensão neles, como se não gostassem de dar as costas a estranhos. Veloz conhecia esse sentimento muito bem.

—Dois copos de uísque —disse o homem com as calças de motivos de madrepérola—. E nos deixe aqui a garrafa.

Veloz se levantou lentamente, lamentando não levar suas armas consigo. Jogou uma olhada aos outros clientes do botequim. Nenhum salvo ele parecia pensar que os dois recém chegados parecessem desconjurado.

—vais terminar a partida e te sentar? —perguntou Randall.

Obrigando-se a recuperar a calma, Veloz agarrou as cartas e, com o sangue-frio que dá a prática, continuou jogando, embora seguiu sem perder de vista aos homens da barra.

—Pete! vais trazer de uma vez a garrafa? —gritou Crenton.

—Estou nisso, chefe.

O taberneiro serve aos dois estranhos. Enquanto corria entre as mesas, levando a segunda garrafa a seu chefe, o estranho que levava a jaqueta de franjas se deu a volta e plantou o talão da bota no reposapiés da barra, com um cotovelo sobre ela e o copo nos lábios. Percorreu o salão com o olhar, observando a Veloz com seus olhos azuis, primeiro de soslaio e depois cravando seus olhos nele sem duvidar.

Pete pôs a garrafa sobre a mesa, frente a Crenton. Voltando-se para a barra, começou a conversar com os recém chegados. Veloz emprestou atenção, esperando tirar um pouco de informação, sem dar-se conta de que Abe Crenton tinha pego a garrafa e caminhava dando inclinações bruscas para a porta.

—O que lhes traz para esta boa cidade, amigos? —perguntou Pete.

—estivemos no Jacksonville —disse o homem da jaqueta—. ouvimos que havia várias nervuras por descobrir aqui.

Pete se tirou um pano do ombro e se dispôs a secar com ele um copo.

—Há muito ouro nestas colinas para quem tem a paciência suficiente para buscá-lo. —Dirigiu-lhes um sorriso, dando um golpe na barra—. Estão pensando em abrir uma mina ou o que?

Os homens pareciam reticentes a responder.

—Bom, na verdade não estamos seguros. Nunca trabalhamos em uma mina antes. Pensávamos fazer algumas averiguações antes de nos pôr a cavar a terra.

—Caçador Lobo é o tipo com o que têm que falar. Não lhe importa ajudar aos novos, não como a outros. Certamente, sua propriedade não parece estar perto de esgotar-se, por isso pode ser generoso. —Pete lhes dirigiu um sorriso amistoso—. Há um bom hotel ao lado. É o que está junto ao restaurante. Não há melhor comida que a do Tess Bronson.

—Então seremos clientes assíduos, suponho.

—De onde são?

—Desde por aí —respondeu o outro homem.

—vais apostar? —perguntou Hamstead, obrigando a Veloz a voltar para jogo.

Veloz pôs outro dólar no bote.

—Sinto muito, Randall. Não posso evitar me fixar nesses dois tipos que acabam de entrar. Parece-me que não vão trazer a não ser problemas.

Randall jogou uma olhada para a barra.

—Sim? Bom, há todo tipo de mineiros por aqui. Quão único tem que fazer é gritar «ouro!», e aparecerão buscadores de todos lados.

—Estes não parecem ser dos que procuram ouro.

—depois de ti, nada me surpreende. —Sorriu—. Já deixamos que estar isolados do mundo. A diligência de Sacramento passa pelo Jacksonville de caminho por volta do Portland todos os dias. —Randall estudou as cartas que Veloz lhe tinha dado—. Irei ao inferno se meus três do mesmo pau não superarem a seu par de damas, amigo. Recolho meus três dólares e coxo cinco para terminar.

Veloz recolheu o dinheiro e as cartas.

—É o sinal de que devo ir a casa. boa noite, Randall. Desfruta de do jogo.

Levantando-se da cadeira, fez um sinal de boa noite ao Mai Belle e deixou o botequim, aliviado ao sentir o ar fresco da noite na cara. Saindo-se da calçada, deteve-se para observar os dois cavalos que estavam atados ao poste. depois de jogar uma olhada à entrada do botequim, aproximou-se deles para fixar-se nas cadeiras com rebites estridentes que levavam, assim como as cavanhaques que reluziam à luz da lua. Agachando-se um pouco, levantou o casco de um dos cavalos e passou a mão pela ferradura. Bem posta. Provou os tendões da parte dianteira do animal e o joelho para saber se os tinha inchados, prova de que tinham feito um comprido viaje.

—O que faz, López? Está pensando em roubar cavalos?

Reconhecendo a voz, Veloz se deu a volta e esquadrinhou o espaço escuro que havia entre o botequim e a loja de provisões.

—boa noite, Marshall. passou um século da última vez que nos vimos.

Hilton saiu das sombras.

—converti em um costume o de não ser visto. Um servidor da lei aprende mais desta forma.

—Tinha-te por um homem inteligente. E vejo que não me equivoquei.

Hilton se deteve junto ao cavalo.

—E bem?

—E bem o que?

Hilton bufou.

—Vêm de longe ou não?

—O suficiente —respondeu Veloz.

Hilton suspirou e se jogou o chapéu para trás para olhar em direção ao botequim.

—Minha mulher estava acostumada dizer que não devia julgar às pessoas a primeira vista, mas por minha experiência, não estou acostumado a me equivocar com as primeiras impressões. —Olhou a Veloz—. Como contigo, por exemplo. No instante em que te vi, soube que não foi nem a metade de mau do que sua reputação assegura.

—Espero que isso seja um completo.

—Se não o fora, seu culo estaria ainda detrás daqueles barrotes. Não poderia permitir que um antigo pistoleiro estivesse incomodando a nossa professora. Um respeitável sim, isso é diferente.

Veloz começou a passar o polegar pelo cinturão das pistoleras, notando sua ausência. Depois moveu os polegares por cima do cinturão da calça.

—Existe um assassino que possa ser considerado respeitável, delegado?

Hilton riu.

—Isso é o que eu gosto de ti, López. Sempre franco. —ficou em silêncio um momento, esquadrinhando a Veloz através da penumbra—. Está em seus olhos.

—Como diz?

Hilton voltou a rir.

—Posso ler a um homem nos olhos. Não tem olhar de assassino.

—Então não tem a vista muito fina. fui um assassino, Hilton. E não me sinto precisamente orgulhoso disso.

Como se Veloz não tivesse falado, o delegado sorriu e se arranhou o queixo.

—Não, você tem o olhar de um homem que se encontra entre a espada e a parede. Disparará se lhe pressionam, mas não vai buscando-o. Nunca o tem feito, se te tiver lido bem. E poucas vezes me equivoco.

—Aonde quer chegar?

Hilton passou a mão pela cadeira do cavalo, com as sobrancelhas franzidas.

—A que eu não gosto do aspecto desses dois daí dentro muito menos do que gostam a ti.

—Crie que vêm procurando problemas?

Hilton se jogou o chapéu sobre os olhos para mantê-los na sombra.

—Talvez. —Começou a afastar-se, depois duvidou—. Suponho que o que em realidade estou tratando de dizer é que, se Terra de Lobos é onde te vais encontrar entre a espada e a parede, e os problemas lhe chegam sem querer o, aqui tem a um amigo.

Veloz tragou saliva.

—Recordarei isso.

Hilton assentiu e se afastou passeando tranqüilamente para desaparecer de novo entre as sombras. Veloz ficou ali um momento, refletindo sobre a conversação. Depois fixou a vista nas portas do botequim e apertou a mandíbula.

                                                    Capítulo 17

Ao dia seguinte, os dois estranhos visitaram a mina, fazendo a Caçador todo tipo de perguntas. Veloz seguiu trabalhando, mas esteve em todo momento com a orelha parada. Os homens pareciam verdadeiramente interessados em encontrar ouro. Caçador lhes subministrou toda a informação necessária e lhes fez uma lista com os artigos que deviam comprar na loja de provisões se queriam começar com as perfurações. depois de que se foram, Veloz abandonou a caixa de lavagem que tinha estado utilizando para separar o ouro, rodeou uma pilha de cascalho e chegou até Caçador de uma pernada.

—E bem?

Caçador franziu o cenho, com o olhar ainda fixo nos homens, que descendiam a costa que conduzia ao povo.

—Asseguram que são irmãos. Lowdry, dizem que é seu sobrenome, Hank e Steve Lowdry.

—Crie-lhes?

—Não estou seguro. Já veremos, não te parece? Se comprarem material para fazer as prospecções, então poderá te relaxar. Se não...

Veloz ficou firme para que o vento lhe desse na cara e deu uma palmada na perna da calça de seu gordurento macaco de trabalho.

—Pareciam estar me observando?

—Não. —Dando-a volta, Caçador pôs uma mão no ombro de Veloz—. Talvez está vendo fantasmas onde não os há, meu amigo. Admito que seu aspecto é algo duro e que suas roupas recordaram às dos comancheros. Mas Terra de Lobos está muito longe do Texas.

—Não acredito que Texas tenha o monopólio dos homens duros.

—Você e eu estamos no Oregón, não?

Com um sorriso, Veloz voltou para trabalho.

 

Amy se sentou nos degraus da escola para comer o almoço à hora do recreio. Rodeada da risada dos meninos, não pôde evitar fazer uma comparação entre a simplicidade de suas vidas e as complicações da sua. À exceção do Peter, os alunos tinham uma vida fácil. Desejou que pudessem seguir assim de inocentes sempre. Seria maravilhoso poder confiar e ver sozinho bondade em outros.

Enquanto passeava a vista pelo pátio de recreio, Amy suspirou com um deixe de tristeza, sabendo que estava pensando em contos de fadas. A dor e a desilusão eram parte da vida. Índigo, por exemplo. Sua fascinação pelo Brandon Marshall estava destinada ao fracasso mas, a menos que a garota experimentasse certas insipidezes, não poderia reconhecer a um bom homem quando finalmente chegasse.

Amy procurou a sua sobrinha entre os grupos de meninos e sentiu um calafrio ao não vê-la. Índigo não estava acostumado a sair do pátio durante os recreios.

Sacudindo-as miolos das mãos, descendeu os degraus e cruzou o pátio para olhar em direção ao povo. Nada. Com o cenho franzido, interrompeu a alguns dos meninos que estavam jogando «corre que te pilho» para lhes perguntar se tinham visto sair a Índigo.

—Sim —disse a mais pequena dos Hamstead—. foi se passear.

—Sozinha?

—Não.

Amy esperou e, ao ver que a menina não tinha intenção de dar mais informação, sorriu.

—Anna, se não se foi sozinha, com quem se foi?

—Com um menino.

Amy cruzou os braços.

—É você uma mulher de poucas palavras, senhorita Hamstead?

Anna parecia perplexa.

—Quem era o menino? —perguntou impaciente Amy.

Anna enrugou o nariz e se encolheu de ombros.

—Não sei.

Amy se inclinou para diante.

—Pode me dizer que aspecto tinha?

—Bonito.

Amy se estirou, cada vez mais nervosa.

—Em que direção se foram?

A menina levantou um dedo em direção ao bosque.

—por ali.

—Obrigado, Anna. Foste-me que grande ajuda.

Correndo para as árvores, Amy se levantou a saia para rodear um atoleiro. Não se atrevia a afastar-se muito e deixar aos meninos sozinhos. depois de entrar um pouco no bosque, deteve-se para escutar. Chegou-lhe uma risada a sua direita. foi nessa direção e se recolheu com força a saia para não sujar-se.

—Índigo!

Então viu a garota. Trazia o cabelo leonado solto, os olhos faiscantes e as bochechas ruborizadas.

—Olá, tia Amy. O que está fazendo aqui?

Amy se fez a um lado, estirando o pescoço.

—Pergunta-a é, o que está fazendo você aqui? E com quem estava?

Índigo sorriu e avançou para ela, como se fora a lhe confiar um segredo.

—Tenho um pretendente, tia Amy, Brandon Marshall! É tão bonito..., meu coração quase deixa de pulsar quando o vejo.

o da Amy quase deixou de fazê-lo também ao ver a expressão de Índigo nos olhos.

—E te escapa do colégio para te citar com ele no bosque? Índigo, isso não é próprio de uma senhorita.

—Não tenho feito nada mau. Solo estivemos falando.

Sem estar muito segura, Amy olhou o rosto encantador de Índigo, tratando de não dizer algo que pudesse feri-la.

—Estou segura de que não fez nada mau, carinho. Isso nunca me passou pela cabeça. Mas a triste realidade é que a gente tem a língua muito larga.

Os olhos de Índigo se abriram com indignação.

—Falas igual a mamãe. É Brandon, verdade? Vocês não gostam porque vem de Boston. Não pensam que possa fixar-se em uma garota como eu. E agora estão zangadas porque sim o tem feito.

Amy tocou a sua sobrinha no ombro.

—Isso não é certo. Acredito que é uma jovem muito bonita, Índigo. Qualquer menino se sentiria honrado de te cortejar, inclusive um rico de Boston.

—Então, por que lhes opõem a que fale com ele?

—Não me oponho. —Amy fez uma pausa—. Mas Brandon é um pouco maior que você. Não quero que te faça mal.

—Isso é exatamente o que diz mamãe.

Amy suspirou.

—Deve admitir que a vizinhança rica de Boston é bastante diferente ao de Terra de Lobos. E Brandon é diferente também. Não só major, também é mais sofisticado.

—E isso significa?

—Significa que Brandon voltará certamente para Boston um dia. Talvez nunca teve intenção de te fazer danifico ao querer que fossem amigos para logo partir, mas te fará mal de todos os modos. E existe a possibilidade de que ele pense que está bem revoar um pouco por aqui antes. Você lhe chamaste a atenção, mas é porque de verdade gosta ou é porque o que quer é divertir-se um pouco?

—O que em realidade quer dizer é que ele me respeita menos porque sou mestiça. Que jogará com meus sentimentos, terá o que quer e depois se irá sentir nenhum remorso.

—Não...

—Sim, isso quer dizer! Não sou tão boa como as demais, isso é o que está dizendo. Não lhe importará me fazer danifico porque as garotas como eu não contamos igual às garotas brancas.

Amy tragou saliva.

—Índigo, não pode pensar de verdade... —A mentira se converteu em pó. Índigo havia visto suficientes prejuízos contra seu pai, contra os poucos índios que ainda ficavam na zona e contra os trabalhadores chineses, para acreditar uma mentira—. Existe gente ignorante no mundo. —Fez um intento—. É uma jovem muito bonita. Há homens sem escrúpulos no mundo, homens que se aproveitariam de ti sem pensar-lhe Porque é meio a Índia.

—Brandon não é um menino sem escrúpulos!

—Espero que não —sussurrou Amy.

Os olhos de Índigo se encheram de lágrimas, zangada.

—Sinto-me orgulhosa de meu sangue. Orgulhosa, ouviste-me? E ao Brandon gosta pelo que sou. Já o verá. Você e minha mãe. Já o verão!

Dito isto, Índigo correu adiantando a Amy em direção à escola. Tremendo, Amy a viu ir-se. Depois jogou uma olhada a seu redor, perguntando-se como Brandon tinha desaparecido tão rapidamente. No que pensava um jovem para encontrar-se secretamente com uma garota da idade de Índigo no bosque?

Amy jogou com o bordo de encaixe do pescoço de seu vestido, assustada por Índigo e insegura do que devia fazer para afastar à garota de maiores problemas. Amy só podia rezar para que a educação de Índigo lhe servisse de algo.

Ao apressar-se de volta ao colégio, recitou em silêncio uma prece para que Índigo estivesse ali. Ao ver que a garota estava sentada nos degraus do alpendre, suspirou aliviada. Mal-humorada, mas ali estava. prometeu-se que refletiria sobre o assunto e que falaria com Índigo outra vez. Possivelmente se trocava de tática, a garota não ficaria tão à defensiva e escutaria algum de seus conselhos.

O alívio que sentiu Amy ao ver índigo durou pouco. Logo que cruzou o pátio, ouviu um grito de dor. Ao dá-la volta, viu que Peter estava no chão de barriga para baixo. Pôs-se a correr junto ao menino. Ele ficou então de joelhos, soluçando e agarrando a camisa à altura do peito.

—Não queria empurrá-lo —gritou Jeremiah—. Não queria, senhorita Amy, o juro.

—Não estava te acusando, Jeremiah —respondeu Amy—. Você sempre é muito cuidadoso com os meninos pequenos.

Apartando aos meninos de seu caminho, Amy ajudou ao Peter a ficar em pé e depois o conduziu pelo pátio para, continuando, lhe fazer subir as escadas do alpendre. Chegou até seu escritório, onde tinha recortes guardados de tecido limpos, um cilindro de ataduras e bálsamo medicinal.

—Vêem aqui, carinho, lhe sente-se disse Amy brandamente, lhe secando as lágrimas com o lenço e fazendo que se sentasse na cadeira—. Deve te haver dado um golpe muito forte. Você é mais duro que o ramo de um pinheiro.

Peter levantou os olhos, com a cara tão pálida que suas sardas pareciam salpicaduras de barro; e seus olhos azuis, enormes. Ele colocou um braço protetor ao redor da cintura.

—Quero ir a casa a que me curem. Minha mamãe sabe como fazê-lo.

Um grande admirador da Alice Crenton, sorriu Amy, perguntando-se se Peter estava sofrendo um ataque de acanhamento infantil.

—Estou segura de que a ela lhe dá muito melhor que a mim. Entretanto, minha consciência não me permite deixar que te vás casa sem saber antes como foi a queda. Assim, posso vê-lo?

—Não, senhorita Amy. —Peter emitiu um chiado, com aspecto abatido.

Amy lhe deu um tapinha na cabeça, depois estirou o braço para lhe tirar a camisa por fora da calça.

—Não cria que não vi antes o peito nu de um jovem...

—Não, senhorita.

—Direi-te um segredo, se me prometer que não o diz a ninguém —acrescentou Amy procurando sua cumplicidade—. Sou tão vergonhosa, que preferiria tomar um chá de boñiga de ovelha da viúva Hamstead antes que ir ver o médico. —Peter a olhou, claramente incapaz de encontrar a relação. Amy sentiu que lhe punham as bochechas vermelhas—. Solo se por acaso te dá vergonha, pensei que te ajudaria saber que outras pessoas também sentem vergonha.

Tão cuidadosamente como pôde, Amy levantou a flanela, tratando de lhe tirar o objeto pela cabeça. Quando o tecido deixou ao descoberto seu estômago, Amy ficou hipnotizada ao ver os moratones e as costelas inchadas. Não pôde evitar um gemido.

—Ai, Peter...

—Caí-me muito forte.

Amy sabia que a cor avermelhada dos moratones do Peter nas costelas não era de fazia uns minutos. Deviam haver-se produzido no dia anterior ou a noite anterior. Tragou saliva, sem saber muito bem o que dizer. Seu medo era óbvio: não queria piorar as coisas. Sentiu uma necessidade quase incontrolável de embalá-lo e protegê-lo. Mas Peter não admitiria que o tratassem como a um menino pequeno.

—Peter, o que ocorreu? —perguntou-lhe brandamente, assaltada de repente pela culpa. Tinha que ter notado os sinais de que Peter estava ferido e, entretanto, tinha estado toda a manhã em classe e não se deu conta.

—Já o viu, caí-me.

Amy lhe tirou a camisa pela cabeça, sentindo-se enjoada. levantou-se e lhe olhou as costas. Como temia, também tinha moratones por toda a zona.

—Peter, sei que seu pai te fez isto.

—Não o diga a minha mãe. Tem-me isso que prometer, senhorita Amy.

Amy tratou de manter a voz baixa.

—Ela não sabe?

—Não sabe que é assim de mau. Disse-lhe que não era nada.

—Então por que quer que ela seja a que te cure?

—Não quero. Não quero que ninguém o faça. Solo pioraria as coisas. Não quero que me cuidem.

Amy sentiu que uma gota de suor lhe caía pela frente. Queria gritar e amaldiçoar, encontrar ao Abe Crenton e pulverizá-lo. Em vez disso, respirou profundamente e disse:

—Mas Peter, temo-me que um par destas costelas estão rotas. Terá que as enfaixar. E deveria ficar na cama até que melhores um pouco.

Peter ficou a chorar amargamente.

—Não! Se o digo a minha mãe, zangará-se e se enfrentará a meu pai Y... —Fechou os olhos, inalando ar—. Lhe pegará outra vez. E minhas costelas seguirão rotas de todas formas. Assim, para que complicar as coisas?

Amy se levou a mão à garganta, tremendo. Peter estava muito ferido. Se caía de novo, uma dessas costelas poderia lhe perfurar o pulmão. Não tinha outra opção que atuar.

—O que fez que seu pai se zangasse esta vez? —perguntou.

—Nada. Ontem à noite chegou a casa bêbado, como o faz às vezes. Isso foi tudo. Não se teria enfurecido comigo se não tivesse sido porque saltei sobre ele e tratei de detê-lo.

—Porque quis golpear a sua mãe, quer dizer?

—Sim. Estarei bem, senhorita Amy. De verdade.

—Não, Peter. Seu pai te tem feito mal de verdade esta vez. —Amy passou os dedos por uma das costelas do Peter. Inspirou e expirou ar outra vez, com os lábios brancos—. Uma costela rota pode ser perigosa. Terá que fazer algo.

—Como o que? Se fala com mamãe, irá de novo a falar com o delegado, e meu pai voltará para casa zangado depois do cárcere. É melhor que fique à margem, senhorita Amy. Tem que fazê-lo!

Amy suspirou.

—Entendido, Peter. —Acariciou-lhe o cabelo com a mão—. te Ponha a camisa, de acordo? vou terminar logo a classe hoje e te levarei a minha casa. O menos que posso fazer é enfaixar essas costelas. Depois falaremos. Possivelmente se pensarmos nisso, possamos encontrar uma solução.

Quando Amy se deu a volta, descobriu que Índigo estava de pé na entrada. Olhava-os preocupada. Deu um passo para eles.

—vai se pôr bem Peter, tia Amy?

—Isso espero. —Pondo uma mão no ombro da garota, disse—: Peter não quer que ninguém saiba que está ferido. Eu gostaria que guardasse o segredo.

Índigo assentiu.

—Ouvi-o. Não o direi aos outros meninos. —encontrou-se com o olhar da Amy e sussurrou—: Entretanto, acredito que seu pai se merece uma boa surra.

—Agora mesmo eu gostaria de ser eu quem a desse.

A delicada boca de Índigo se converteu em uma linha de determinação.

—Entre as duas, podemos fazê-lo.

Amy conseguiu sorrir fracamente, recordando a época em que tampouco lhe tinha dado medo nada.

—Algumas vezes tem mais caráter que sabedoria, menina. Abe Crenton é um homem forte.

Índigo se tocou o vestido de camurça, onde levava uma faca pacota à coxa.

—Poderia lhe golpear nos tornozelos e derrubá-lo.

Com um sorriso nervoso, Amy passou de comprimento e foi atender a outros meninos.

—Terei-o em mente.

 

Uma hora mais tarde, Amy estava sentada no bordo de sua cama, observando ao Peter enquanto dormia. Com dedos trementes, retirou-lhe os cachos ruivos da frente. Destroçava-lhe o coração pensar que devia levá-lo a casa outra vez. Pensou em fazer uma visita ao delegado, mas o que podia fazer ele? Encerrar ao Abe uns quantos dias? Ao final o homem voltaria para casa, furioso e muito mais perigoso.

Amy afundou a cabeça entre as mãos, tão angustiada que quão único queria fazer era chorar. por que não havia melhores leis para proteger aos meninos como Peter? Ou às mulheres como Alice? A legislação nacional resultava impotente ante o poder absoluto que os homens tinham sobre o controle do dinheiro familiar. Inclusive quando as mulheres punham uma denúncia por abuso, o que conseguiam? Nove de cada dez vezes, os juizes emitiam sentenças ridículas contra os maridos e os pais abusivos. Assim que se cumpria a sentença, os homens obtinham sua liberdade e voltavam para seus lares, senhores incontestáveis de seus castelos. Não se davam conta os legisladores de que essas mulheres estavam escravizadas por sua dependência de necessidades como proteção e comida?

Amy fechou os olhos, recordando suas muitas batalhas com o Henry Masters e a degradação que havia sentido. Não tinha tido nenhuma oportunidade. Ele tinha na mão todos os agarra. Lenta mas de forma segura, tinha ido perdendo sua dignidade e seu orgulho.

Nunca o esqueceria. Sabia que devia haver outras mulheres e meninos sofrendo o mesmo trato. Possivelmente, um dia, os Peter do mundo se converteriam em homens e recordariam as injustiças que lhes tinha feito. Possivelmente, graças a eles, poderiam trocar as leis. Mas por agora, havia poucas possibilidades.

Com um suspiro Amy se levantou da cama. Deu um passo... e ficou imóvel. Veloz estava de pé na soleira do dormitório, com o ombro apoiado no marco da porta e a vista fixa nas ataduras que cobriam o peito do Peter. Tinha a mandíbula apertada. Recuperando a compostura, Amy reduziu a distância que havia entre eles. Ele saiu ao vestíbulo para que ela pudesse segui-lo e fechar a porta do dormitório.

—É muito grave?

Ainda comovida por suas lembranças do Henry, Amy não pôde recuperá-lo suficiente para ter aquela conversação nesse momento.

—É meio-dia —jogou uma olhada a suas calças cheias de pó—, pensei que estaria na mina.

—Estava-o. Mas Índigo veio a nos ver.

Amy passou de comprimento e se foi direta à cozinha. dispôs-se a jogar água fresca da jarra na cafeteira e serve várias colheradas de café que tinha moído essa manhã.

—Não sei você, mas me viria bem um pouco de café quente.

Veloz apoiou o quadril contra o móvel da cozinha, observando-a.

—Eu diria que te viria bem um copo ou dois de uísque. Tenho-te feito uma pergunta, Amy. São muito graves suas feridas?

—Pois... acredito que tem duas costelas rotas.

—Santo céu!

Perdida, Amy sentiu que as lágrimas começavam a lhe queimar nos olhos e se deslizavam como riachos quentes por suas bochechas. Lágrimas de frustração e medo, lágrimas de uma dor que ultrapassava a empatia pelo Peter. Veloz amaldiçoou em voz baixa e lhe rodeou o pescoço com a mão, atraindo-a para seu peito.

—Não chore, carinho. Para que?

Amy repousou sua cabeça na curva do ombro, procurando refúgio em seu aroma, uma mescla de suor masculino, tecido vaqueiro secado ao sol, pinheiro e ar fresco da montanha. Desejava rodeá-lo com os braços e não deixar ir nunca, chorar até que já não ficassem lágrimas.

—Tenho que mandar o de volta a essa casa. Outra vez. Não é justo.

Veloz inclinou a cabeça para ela, lhe rodeando a cintura com o outro braço.

—Acredito que chegou o momento de que alguém fale com o Abe Crenton. E de repente, entraram-me umas vontades terríveis de me jogar um gole.

Amy ficou tensa.

—Não! Não deve interferir, Veloz. Solo pioraria as coisas. Aprendi isto da pior maneira.

Veloz lhe aconteceu a mão pelas costas. Ela quase podia ver o sorriso de sua cara quando falou.

—Amy, meu amor, quando você interferiu, fez-o de maneira educada. Acredito que entenderá meu idioma um pouco melhor.

—Meterá-te em problemas. À primeira de mudança, acabará no cárcere.

—Por falar?

—Falar não trocará ao Abe, e você sabe.

Lhe pôs os lábios no ouvido, lhe transmitindo um comichão que lhe chegou à costas.

—Tudo estriba no que contenham as palavras. Confia em mim, Amy. Alguém tem que fazer algo. Se não lhe detivermos, qualquer dia chegará muito longe e o dano que faça já não terá remédio.

Amy lhe agarrou a camisa com o punho, sabendo que estava no certo.

—Não quero que te meta em problemas.

—Não cavalguei três mil quilômetros procurando problemas, pode me acreditar. —Agarrou-a pelos ombros e a separou dele—. Mas às vezes os problemas chegam. E um homem não pode lhes dar as costas. Esta é uma dessas vezes. Crie que poderia dormir pelas noites sabendo isto e não fazendo nada?

—Não —admitiu com voz triste—. Índigo deveria haver o pensado antes de lhes dizer isso a ti e a Caçador. É como pôr madeira seca e acender um fósforo.

—Índigo fez o correto —respondeu Veloz, arqueando uma retrocede—. Ela sabe que tanto seu pai como eu temos o julgamento suficiente como para não fazer nada que se volte em nosso contrário.

—Ela é também muito jovem e idealista —respondeu Amy—, e não lhes conhece como lhes conheço eu.

Os olhos de Veloz se encheram de carinho.

—Amy, confia em mim. Tenho muita experiência nestas coisas, me acredite. Quando Peter desperte, leva-o a casa. Não haverá mais surras ali, asseguro-lhe isso, não de forma gratuita ao menos.

Amy lhe tocou o ombro.

—Veloz... poderia acabar nessa cela outra vez. Sei o muito que odeia estar confinado.

—Odiar não é nem de longe o que significa para mim. —deteve-se na entrada do salão—. O que significa que caminharei dois mil quilômetros para evitá-lo. Mas se ocorrer, ocorre. uns quantos dias não me matarão. —Um sorriso se desenhou em seus lábios—. Me trará bolo de maçã todas as noites?

—Veloz, está seguro de que não piorará as coisas? Se Abe voltar para casa Y... —umedeceu-se os lábios—. Parece que utilizou as botas com o Peter.

Ele procurou seu olhar.

—Confia em mim?

Ela o olhou fixamente, considerando a pergunta.

—Sim.

—Então não tenha medo de levar ao Peter a casa.

                                               Capítulo 18

Veloz cortou o baralho de pôquer e lhe deu uma imersão a seu cigarro enquanto lançava um sorriso ao Abe Crenton através da nuvem de fumaça. O dono do salão recolheu o baralho com um habilidoso jogo de mãos e deu começo a uma nova partida de stud a sete cartas, lhe deixando a ele e a Veloz um naipe de barriga para baixo. Veloz tinha jogado partidas de cartas com alguns dos melhores vigaristas do Texas. Crenton era um descarado novato em comparação com aqueles tipos, o suficientemente bom para Terra de Lobos, mas não o bastante ávido para burlar a experiência adquirida por Veloz. Por isso havia dito Randall Hamstead, Abe tinha fama de ser um trapaceiro, e Veloz se alegrava de ver que estava à altura das circunstâncias. Sabia que não havia uma forma mais fácil de provocar uma briga com um homem que acertando em seu ponto débil.

—Está-me ameaçando, López? —perguntou-lhe Crenton.

Veloz jogou uma olhada às mesas que estavam ao redor. Os dois estranhos, Hank e Steve Lowdry, acabavam de chegar de gastar uma quantidade considerável de dinheiro na loja principal para tratar de passar desapercebidos e agora se sentavam ao outro lado do salão. Veloz tinha o pressentimento de que os dois homens o estavam observando, e isso lhe fez sentir-se incômodo. Por outro lado, pensando-o melhor, acreditou que dois espectadores atentos como eles poderiam lhe servir de ajuda mais tarde, assim que se obrigou a manter a calma e relaxar-se.

—te ameaçar? por que pensa isso? —Crenton lançou uma segunda carta para Veloz, com seus olhos azuis bem abertos.

—por que se não me contaria uma história como essa?

Veloz levantou as cartas pelos extremos. Um rei e um quatro. Seguiu observando enquanto Crenton agarrava uma segunda carta para ele, esta vez do final do baralho.

—Eu gosto de contar histórias. Não pensava que lhe tomaria como algo pessoal.

Crenton se acomodou melhor em sua cadeira.

—Conta-me a história de um comanche maltratador que mata a sua mulher a golpes e depois pendura sua cabeleira em um poste, e pretende que não me tome como algo pessoal?

Movendo a língua com habilidade, Veloz passou o cigarro de um lado a outro da boca, com a vista um tanto nublada a causa da fumaça.

—Você não é um maltratador que vá dando golpes a sua mulher por aí, não?

—Simplesmente imponho disciplina. Tem algo que dizer contra isso?

Ao recordar a pequena e pálida cara do Peter apoiada no travesseiro da Amy, Veloz pôs um dólar mais no centro. Crenton tirou dois e subiu a aposta um dólar.

—Não sou um homem ao que goste de discutir —respondeu Veloz, subindo a aposta inicial que tinha feito somando um dólar mais—. Se algo me incomodar de verdade, estou acostumado a ir ao grão.

—Não vou permitir que nenhum homem me diga como tenho que tratar a minha família.

Veloz sorriu.

—Lhe toma todo muito a peito, não crie? Solo era uma história, Crenton. Além disso, se quisesse que lhe tomasse como algo pessoal, simplesmente te haveria dito que te chutaria o traseiro a próxima vez que pusesse uma mão em cima a sua mulher e a seus filhos.

Crenton lhe deu outra carta a Veloz, esta vez de barriga para cima. Um três. Uma vez mais, o homem agarrou uma carta de abaixo do baralho e mostrou um ás. Veloz examinou a mesa. Solo ficavam quatro cartas mais por descobrir. Tinha que dar-se pressa. Crenton apostou dois dólares mais e estirou os ombros.

—Se me houvesse dito isso, minha resposta teria sido que, no momento em que te aproximasse de mim, faria que a lei acabasse contigo.

Veloz lhe deu outra imersão a seu cigarro e se deu a volta, movendo também a cadeira, para subir dois dólares mais e assim igualar a aposta. detrás dele, pôde ouvir a risita gutural do Mai Belle. O tinido dos copos chocando e o som de líquido ao cair sobre o cristal chamou a atenção de Veloz. Parecia uma tarde agradável e tranqüila naquele abrevadero local, e ninguém suspeitava que o lugar estava a ponto de converter-se no inferno. Por um momento, lamentou ter que romper aquela atmosfera.

—Bom, pois como solo estamos falando de hipóteses —disse enquanto olhava ao Crenton—, e volto a insistir em que solo se trata de hipóteses, minha resposta seria que se me tivesse que aproximar de ti, nunca me veria me aproximar e jamais saberia o que te teria golpeado. E quanto à lei, tenho que te dizer que não podem pendurar a um homem sem provar que é culpado.

—Está-me ameaçando —afirmou finalmente Crenton com um surpreendente sorriso—. Me parece que seu palavrório é muito loquaz e atrevida para um pistoleiro debilucho que tem todas as de perder.

—Dá-me a sensação de que é um homem dos que põe muita carne no assador, não crie? Embora, claro, ao ter sido criado como um animal asqueroso, acredito que lhe pode permitir isso. Eu, pelo contrário, tenho que compensar essa falta de volume que não te falta com outras coisas, e utilizar uma pistola não é o único talento que tenho. —Veloz se fixou nas fortes mãos do Crenton—. De fato, se tivesse que escolher uma arma, escolheria uma faca. O truque mais habilidoso de que posso presumir é lhe rachar o cangote a qualquer antes de que nem sequer possa voltar a pestanejar. Você viu isso alguma vez, Crenton? É uma forma bastante silenciosa de terminar com as disputas. Ataca por detrás. Tudo ocorre em décimas de segundo e em um movimento ágil e seco.

Quando Crenton se dispôs a agarrar outra carta de abaixo do baralho, Veloz tirou a navalha da vagem, lançou-a e cravou a carta na mesa, deixando a faca perpendicular a ela. Crenton ficou gelado, com seus olhos azuis cravados na manga da navalha, que ainda tremia depois do impacto.

—Maldita seja, quase me alcança a mão, condenado bastardo!

Veloz se levantou de um golpe da mesa e a agarrou bem forte pelos extremos, apoiando-se nela. Com uma voz lhe relampejem, com a que pensava seguir a conversação, disse-lhe:

—É um maldito trapaceiro, Crenton.

Crenton se levantou também, disposto a defender sua dignidade como jogador.

—O que me está chamando?

—Trapaceiro, imbecil! Quantos mineiros terão perdido seu pagamento ante ti neste salão, embusteiro!

Os irmãos Lowdry se levantaram das cadeiras, tomando os copos e a garrafa e sentando-se em outra mesa mais segura para manter-se à margem.

Crenton ficou vermelho de ira.

—Ninguém se atreve a me chamar trapaceiro e parte de qualquer jeito.

Veloz cravou seus olhos nele.

—Não acredito que haja dito nenhuma mentira.

—Não tem nenhuma prova para fazer tal acusação.

—Nenhuma prova? Vi-te manipular por debaixo da mesa com meus próprios olhos.

Depois de dizer aquilo, Veloz girou as duas cartas que Crenton tinha escondidas, as pondo de barriga para cima, e apareceram três agarra. Arrancando a faca da mesa, volteou a carta e desvelou o quarto.

—Todos os que estão aqui são testemunhas. trocaste o baralho.

Crenton interrompeu a Veloz elevando o punho contra ele e o alcançou à altura da mandíbula. Soltando a faca, Veloz se cambaleou a causa do golpe e se golpeou contra uma mesa que estava detrás dele, fazendo-a patinar por aquele chão escorregadio devido ao peso de seu corpo. Veloz dobrou o cotovelo para apoiar-se nela e levantar-se de novo, mas antes de que pudesse fazê-lo, Crenton saltou sobre ele.

Alguém proferiu um grito.

Ao que Mai Belle respondeu, também vociferando:

—lhes largue daqui, malditos tarados! —Os dois homens se enfrascaron em uma luta, rodando pelo chão, levando uma cadeira por diante a seu passo. Veloz sentiu uma forte dor nas costelas. Agarrando-se forte à altura do ventre e ainda com a vista um tanto nublada pelo primeiro golpe, tratou de ficar em pé, cambaleando-se e tentando recuperar a respiração.

Crenton investiu de novo a Veloz.

—Quer voltar a me chamar embusteiro, filho da grande puta? Te vou ensinar uns quantos maneiras, maldito!

A ameaça se agudizó quando Crenton plantou sua bota entre o pescoço e o queixo de Veloz. Com um certo sentimento de indiferença, sentiu como se ia jogando para trás. Depois, seu corpo se chocou contra a parede, provocando um estrondo similar ao que faria uma grande bola de massa de pão sem assar ao cair ao chão. Pestanejou um par de vezes, tratando de ver o que acontecia. No fundo, pensava que ter permitido que o outro homem lhe tivesse golpeado primeiro tinha sido uma forma estúpida de começar uma briga. E era uma forma ainda mais estúpida de perdê-la.

depois daquelas reflexões, não teve muito mais tempo para pensar. Crenton arremeteu contra ele como um touro feroz, preparado para lhe investir com a cabeça no estômago, com os braços abertos e dando um forte impulso nas pernas para deslocar com rapidez sua gigantesca constituição. Veloz voltou a pestanejar e, no segundo último, recuperou a consciencia o suficiente para tornar-se a um lado. Crenton chocou primeiro com toda a cabeça na parede e, continuando, com os joelhos. Para surpresa de Veloz, o dono do salão não caiu inconsciente ao chão, mas sim se limitou a mover a cabeça de um lado ao outro e se apartou para trás.

—Bom, López. Sua boca te meteu nisto. A ver como o termina agora —disse alguém com um sorriso de orelha a orelha.

Veloz se passou a manga pelo queixo, que estava sangrando, ao mesmo tempo que examinava ao Crenton com olhos furiosos. Sua intenção tinha sido provocar ao dono do salão para que se enfrascaran em uma briga e assim lhe dar uma lição. Não tinha contado com que Crenton fosse dar um murro tão forte ou que saltasse tão rápido.

Veloz sacudiu de novo a cabeça e se inclinou para diante, com os braços ligeiramente inclinados e os cotovelos para fora. Quando viu que Crenton se aproximava dele, esquivou-o dando um rodeio, tratando de ganhar tempo para refrescar-se um pouco. Veloz tinha convexo a suficientes homens para saber que seu rápido jogo de pernas e a precisão de seus punhos podiam ser rivais invencíveis quando se enfrentava a tipos maiores que ele. O problema era que Crenton se adiantou na hora de dar o primeiro golpe, e tinha sido um dos fortes, seguido de uma patada na mandíbula. Veloz não era capaz de pensar com claridade, e muito menos de fazer que seus pés pisassem no chão com firmeza. Se não tomava cuidado, acabaria como um lodaçal pelo que acabavam de passar um centenar de cavalos.

—O que te passa, Veloz? É um galinha?

A Veloz todo dava voltas. Depois, quando cessou o movimento, a sensação de enjôo o fez cambalear-se. Pestanejou por enésima vez e sacudiu a cabeça de novo. Fixando sua atenção no Crenton, tratou de ficar na pele do Peter ou Alice Crenton, tendo-se que enfrentar a aquele homem bêbado, noite detrás noite, sem esperança alguma de que aquele pesadelo chegasse a seu fim. Esses pensamentos, além de saber que Amy confiava nele, animaram-no a seguir. Era hora de que Crenton provasse um pouco de sua própria medicina, e ele a daria, ou ao menos morreria tentando-o.

—Estou aqui, Crenton —disse Veloz em voz baixa, lhe fazendo gestos para que se aproximasse dele—. Vamos, vêem por mim.

Crenton agarrou uma cadeira.

—Lá vou, condenado mexicano. —preparou-se para lhe investir, e se levou com ele a cadeira quando começou a correr.

Veloz se agachou e o esquivou, lhe pondo a rasteira quando o dono do bar estava a ponto de passar por diante. Crenton tropeçou e caiu dando com o estômago diretamente sobre a cadeira. Veloz nem sequer lhe deu tempo a levantar-se. Equilibrando-se sobre ele, agarrou-o pelos ombros, inclinou-o para trás dobrando-o quase pela metade e lhe cravou o punho na boca. Crenton perdeu o equilíbrio, caiu rodando pelo chão e depois conseguiu voltar-se para levantar. Fazendo-se com outra cadeira, girou-a bruscamente, mas Veloz pôde esquivá-la com facilidade. A cadeira atravessou a janela do salão e caiu no extremo oposto do caminho. Uma mulher começou a gritar desde fora:

—Delegado Hilton!   Delegado Hilton!   Uma briga! Uma briga! Venha rápido!

Com a mente um pouco mais limpa, Veloz se deu conta de que a animação tinha atraído a atenção de muita gente. Seus anos de prática lhe tinham permitido saber como concentrar-se unicamente em seu adversário e esquecer-se de todo o resto. Deu um rodeio, flexionando os dedos, com o corpo preparado para um novo ataque. Crenton soprou e se cambaleou para um lado com pouco atino. Tratou de recuperar o equilíbrio, mas se balançou outra vez. Veloz trocou de posição e o agarrou pela cabeça, evitando o golpe. Crenton grunhiu, dobrou-se formando um ângulo reto e se preparou para a carga de novo. Veloz se separou de seu caminho, e o homem acabou se chocando contra a mesa onde tinham estado jogando antes ao pôquer.

Quando Crenton se levantou de novo, Veloz viu que estava empunhando sua faca. Amy, gasta pela comoção, chegou justo no momento no que Crenton tinha pego a arma. fez-se caminho entre o tumulto, dando cotoveladas a seu passo, ficando nas pontas dos pés para poder ver, com o coração lhe pulsando com força pelo medo. O delegado Hilton subia a rua correndo como se fosse a vida nisso, sujeitando o chapéu para não deixá-lo atrás.

—Crenton tem uma navalha, delegado! —gritou um homem entre a multidão.

Amy conseguiu fazer um oco entre a multidão e, uma vez teve chegado ao salão, apareceu pela janela rota. Veloz dava voltas ao redor do Crenton, tornando-se para trás para evitar que o alcançasse com a faca. Seu estômago se encolheu ao ver a cena. Quando o delegado Hilton conseguiu chegar até ali, correu para ele.

—Tem que fazer algo! —gritou-lhe—. Crenton vai matar o!

Hilton analisou a situação, entrecerrando um pouco os olhos.

—Acalme-se, senhorita Amy! López pode arrumar-lhe sozinho.

—Mas Crenton tem uma faca! —Enquanto falava, lançou um olhar assustado através da janela, a tempo para ver como Veloz conseguia arrancar a faca ao Crenton com uma patada.

Hilton se cruzou de braços e soltou uma risita.

—Agora veremos um par de jogos de pernas desses que lhe tiram a respiração.

Amy o olhou, aterrada.

—Não pensará ficar aí, cruzado de braços, não?

—O que pretende que faça? Faz muito tempo aprendi que é mais fácil deter uma briga quando os dois competidores põem empenho com as poucas forças que ficam. —Fez uma careta e moveu a cabeça de um lado ao outro, inclinando-se para diante para poder ver melhor através da janela—. Abe leva merecendo-se que lhe baixem as fumaças a muito tempo tempo. —Uma vez dito isto, o delegado agarrou a Amy e a apartou para um lado da janela. Imediatamente seguinte, Veloz e Crenton saíam disparados por essa mesma janela, trazendo consigo os poucos cristais que ainda ficavam em seu sítio. Caíram no bordo da calçada e rodaram até o meio-fio. Os espectadores se tornaram para trás, situando-se a uma distância prudente, formando um semicírculo ao redor dos combatentes; entre eles, as mulheres não deixavam de dar gritos.

Crenton se equilibrou sobre Veloz e lhe deu um golpe letal na cabeça. Amy se estremeceu e fechou os olhos, incapaz de olhar. Escutou o impacto de um punho contra a carne, um grunhido e depois uma sucessão de golpes rápidos.

—Já basta, López! —disse Hilton—. Agora não te jogue atrás!

Amy abriu os olhos e viu veloz sobre o Crenton, lhe esbofeteando a cara com toda a ira que levava dentro. Queria fechar os olhos de novo, mas não pôde. O rosto assassino de Veloz a aterrou. Deixou ao Crenton e se levantou, em uma luta por tomar um pouco de ar, cambaleando-se um pouco antes de conseguir ficar reto.

—te levante! —gritou-lhe—. Vamos, Crenton! Isto solo acaba de começar! Ou acaso você não gosta de brigar quando tem que te enfrentar a alguém de suas dimensões?

Crenton rodou sobre seu estômago e tratou de erguer-se apoiando os joelhos. Veloz seguiu rodeando-o, esperando a que o homem ficasse verdadeiramente em pé. No momento no que o dono do salão o conseguiu, Veloz lhe cravou uma patada no estômago. Crenton se dobrou sobre seus joelhos, gemendo de dor e abraçando o ventre.

—E esta é pelo Peter! —gritou Veloz—. O que acontece? Você não gosta?

O dono do botequim conseguiu ficar de pé outra vez e se preparou para investir de novo, esta vez como uma besta raivosa. Veloz se fez a um lado, girou-se e deu uma patada ao Crenton no quadril, ajudando-o a cair em picado com a cabeça diretamente no barro. Amy se agarrou a cintura; sentia-se enjoada e queria que aquilo terminasse. Desde que os comancheros a tinham atacado, qualquer forma de violência lhe parecia nauseabunda. Tal e como tinha descoberto o dia do baile social, inclusive um pouco tão singelo como matar a uma galinha tinha revolto o estômago.

Crenton ainda não queria admitir sua derrota. endireitou-se uma vez mais e voltou a girar-se, o que resultou ser um grande engano. Veloz lhe deu outra patada no estômago, apesar de todos os esforços que tinha feito por levantar-se.

—E esta é por sua mulher, miserável bastardo!

Crenton se veio abaixo novamente, mas esta vez ficou atirado no chão, gritando de dor.

—Está bem! Rendo-me...!

Veloz, que tampouco parecia manter-se em pé com muita estabilidade, cambaleou-se um pouco ao redor do homem, ficou de cuclillas e o agarrou pelo cabelo. depois de lhe dar uma sacudida selvagem, gritou-lhe:

—A próxima vez que ponha suas asquerosas mãos em cima do menino ou de qualquer de sua família, darei-te ainda mais! Muito mais! se inteira?

—Sim! —gemeu Crenton—. Não lhes voltarei a pegar. Juro-o!

—te lembre disto a próxima vez que goste de te enfurecer com alguém!

E com essas palavras, Veloz deixou cair a cabeça do homem outra vez contra o barro e ficou em pé. deu-se a volta para a calçada, balançou-se um pouco e conseguiu manter finalmente o equilíbrio, para depois voltar a entrar no salão em linha reta de uma forma bastante aceitável.

—De acordo, amigos! acabou-se a função —gritou Hilton, saindo à rua e dirigindo-se ao Crenton, que seguia enroscado, atirado no chão—. Bom, Abe, parece que esta vez encontrou a fôrma de seu sapato.

—Quero a esse homem entre grades —disse Crenton com voz rouca—. E que pague por tudas as imperfeições.

—Quer que o prenda? —gritou um homem de entre a multidão—. Eu estava ali quando tudo começou, Crenton. Você estava fazendo armadilhas na partida e foi você o que deu o primeiro murro. Eu diria mas bem que deve ser você ao que ponham entre grades.

Veloz saiu do salão justo depois, sujeitando o chapéu com uma mão e sustentando a faca na outra. Hilton se voltou para ele.

—Quer apresentar alguma queixa, López? —Veloz olhou a Amy, e seus gestos se endureceram. Depois lançou um olhar frio ao Crenton—. E você o que opina, Crenton? Temos trato ou não?

Crenton fez uma careta tratando de sentar-se, ficando uma mão sobre as costelas.

—Ele me ameaçou, delegado! Você o ouviu! Ameaçou me tirando a vida faz um minuto!

Hilton franziu o nevoeiro.

—Imagino que com tudo aquele ruído, Abe, devi-me que perder essa parte.

—Outros o ouviram também! Vamos, que alguém fale! —Crenton lançou um olhar ameaçador a todos os espectadores. Nenhum deles saiu em defesa do Abe, e mais ainda, alguns inclusive lhe torceram a cara mostrando uma expressão de repugnância. O trato que Abe tinha tido com sua família tempo atrás não lhe tinha granjeado muita popularidade e, embora Alice Crenton tinha decidido não voltar a pôr em evidencia a seu marido, todo mundo recordava como em uma ocasião o tinha metido no cárcere—. Alguém tem que havê-lo ouvido!

Veloz se limpou o sangue que lhe caía pelo queixo.

—O que conta é que me tenha escutado você. Volta a lhe tocar tão solo um cabelo ao menino e veremos se foi uma ameaça ou uma promessa.

Abe olhou ao Hilton.

—Vê-o? ouviu isso, não?

O delegado assentiu com a cabeça.

—Mas nada em concreto. —Continuando, dirigiu-se à multidão—: Algum de vocês ouviu algo em concreto pelo que deva me alarmar?

Nenhum dos que estavam ali de pé se atreveu a dizer nada. O delegado Hilton sorriu ligeiramente.

—Acredito que ninguém ouviu nada, Crenton.

Veloz se aproximou da Amy, sacudindo o chapéu contra suas calças para lhe tirar o pó e lhe dando forma à coroa esmagada. Quando alcançou a calçada, o pôs sobre a cabeça, situando a asa à altura dos olhos. Ela lançou um olhar a seus nódulos, que estavam avermelhados e cheios de feridas, e ao corte que tinha no queixo.

—Está sangrando.

—Estou bem.

—Ai, Veloz! Suas pobres mãos!

—Estou bem, Amy, já lhe hei isso dito! —Lhe endureceu o olhar—. Estou muito melhor do que possa estar você. O que está fazendo aqui?

—Ouvi todo o barulho Y...

Agarrou-a pelo braço e a animou sem muita gentileza a que dessem um passeio. Tratando de recuperar o fôlego, disse-lhe:

—Que não te ocorra te aproximar de novo a uma briga, está claro?

—Mas, Veloz, eu...

Deu-lhe uma pequena sacudida ao braço pelo que a tinha arranca-rabo.

—Nem peros nem nada, que não te ocorra nunca mais! Podia ter pego uma pistola em lugar de uma faca!

—Também havia outras mulheres ali.

—Importam-me um carajo as outras mulheres! Quando voltar a acontecer um pouco parecido, não quero te voltar para ver ali. E, se te vir, darei-te uma patada nesse bonito traseiro que tem e te mandarei de volta a casa.

Amy ficou observando a dura silhueta que desenhava seu perfil, assustada por um momento ao pensar nas palavras que lhe havia dito. Parecia o suficientemente zangado para chutá-la agora. Tendo em conta a largura de seus ombros e sua compleição musculosa, era uma ameaça que não se podia tomar à ligeira. O absurdo de pensar sequer nisso a fez despertar, e um pequeno sorriso se desenhou em sua cara. Acabava de lhe dar uma surra a um homem por haver-se ultrapassado com sua mulher e seus filhos. Não tinha a sensação de que pudesse fazê-lo ele mesmo.

Ele a olhou com curiosidade.

—O que te parece tão gracioso?

—Eu... —Ela moveu a cabeça de um lado ao outro, tratando de fazer um valente esforço por recuperar a compostura e manter-se séria—. Nada!

Uma vez mais, entrecerró os olhos.

—Não terá pensado que te ia chutar o traseiro a sério?

Ela ficou olhando com atenção as pranchas de madeira da calçada, surpreendida ao ver que isso era o que exatamente tinha pensado. Por um minuto, não pôde acreditar. Sabia que não lhe ia fazer nenhuma graça. Elevou o olhar para encontrar-se com a dele. Embora sabia que o que estava a ponto de dizer era absolutamente infantil e que aquele não era momento para jogos, não pôde resistir.

—Acredito que para isso terá que me apanhar primeiro.

antes de que ele pudesse reagir, saiu correndo por diante, avantajando-o uns quantos metros. Depois se voltou e lhe tirou a língua. Não parecia que Veloz se estivesse divertindo muito. Caminhou para trás um momento e lhe tirou a língua outra vez. Ele franziu o cenho, e apertou o passo, alargando as pernadas com seus enormes expulsa ressonando na madeira da calçada. Amy foi diminuindo o passo à medida que ele se aproximava, consciente de que, solo um mês antes, aquela atitude a teria assustado.

Quando a alcançou, ela se escorreu e saiu correndo. Em questão de segundos, Veloz conseguiu agarrá-la pela cintura e a ponto esteve de elevá-la do chão. riu e passou os braços ao redor do pescoço dele, contente ao ver que tinha recuperado aquele brilho em seus olhos.

—E agora o que pensa fazer, senhorita Amy? —desafiou-a ele.

—me render —disse ela com uma voz suave.

O olhar dele se encheu de ternura.

—me prometa que nunca te aproximará de uma briga. Se te passasse algo...

—Prometo-lhe isso.

Continuando, ele inclinou a cabeça e aproximou seus lábios aos da Amy mesclando-se em um beijo que a fez flutuar e tocar as nuvens, para depois voltar a dar-se conta do lugar no que estavam e de que alguém poderia vê-los. Animando-a a seguir com seu passeio, guiou-a para sair da calçada e caminhar pelo meio-fio. Amy o rodeou pela cintura e jogou a cabeça ligeiramente para trás para olhar seu queixo.

—Deveria ter mais cuidado —lhe disse em um tom um tanto áspero—. Teria que saber que perderá seu posto de professora se lhe virem tonteando com um pistoleiro que se vai metendo em brigas por aí.

 

                                                     Capítulo 19

Depois de ter levado ao Peter junto a sua mãe, Veloz se estirou no sofá da Amy e ficou dormido enquanto ela assava um bolo de maçã de massa grosa e preparava o jantar. Enquanto trabalhava em seus quehaceres, Amy deu marcha atrás no tempo, recordando a ternura com a que Veloz tinha tratado ao Peter por cima de tudo. Sua garganta ficou tensa da emoção. Amava tanto a Veloz, e ele a ela também. O tinha demonstrado de mil maneiras. Não era hora de que fizesse ela o mesmo?

Apertou a manga da colher e começou a remover as verduras com mais força. Notou um comichão agradável no estômago, como se se tratasse de mariposas revoando, e aquela sensação invadiu logo todo seu corpo. Saber o que tinha que fazer e fazê-lo eram duas coisas bem diferentes.

Os ricos aromas que emanavam da cozinha despertaram a Veloz, e se aproximou até ali, esfregando-se ligeiramente as costelas e com um olhar que se voltou mais cálida quando divisou a mesa repleta de comida.

—Amy, bolo de maçã?

Lhe respondeu com um sorriso nervoso.

—Não faz falta que um homem esteja no cárcere para receber um bolo de maçã. Às vezes é tão maravilhoso que o merece a qualquer hora. —Envolvendo as mãos no avental, tratou de olhá-lo aos olhos mas, finalmente, não o conseguiu—. Eu, isto... Quero que esta noite seja especial.

Veloz se aproximou da mesa ainda mais.

—Frango frito?

—Caçador me trouxe uma galinha ontem.

—Purê de batatas com sofrito? Acredito que morri e acabo de entrar no paraíso.

Ela esperava que ele não tivesse notado como lhe tremiam as mãos quando posou a terrina de verduras sobre a mesa.

—Pensava que não acreditava no paraíso.

—É obvio que sim. O paraíso comanche, seu paraíso, provavelmente seja o mesmo. Os deuses devem manter aos índios e aos brancos separados para que não acabemos juntos e comecemos uma nova guerra.

Amy enrugou o nariz.

—Isso não é assim. Não existiria paraíso algum se não estivesse contigo.

Ele cravo os olhos nela e depois sorriu.

—por que tenho a sensação de que me tem mais aprecio da briga?

—Porque é verdade. —deu-se a volta para a estufa e se tirou o avental pelos ombros—. Não me interprete mal. Recorrer à violência não é a melhor forma de fazer as coisas. Entretanto, é o único que funciona com o Crenton e não há nenhuma lei que proteja a sua família dele. O pensará duas vezes antes de voltar a fazer machuco ao Peter. E, além disso, acredito que... —Fez uma pausa, voltou-se e o olhou por cima do ombro, com os olhos cheios de lágrimas—. Acredito que foi maravilhoso com o Peter...

Veloz cruzou a habitação para chegar até ela. Agarrou-a pelos ombros, estreitou-a em seus braços e uniu seus lábios com os seus, fundindo-se em um doce e suave beijo.

—Quase pode comigo.

Seus olhos se voltaram maiores.

—De verdade?

—Maldita seja, sim. —riu—. Se não tivesse sido tão ágil, teria acabado comigo.

Esquecendo-se de suas próprias preocupações por um instante, Amy percorreu com a gema dos dedos a cicatriz de sua bochecha, e recordou quão assustada tinha estado quando Crenton o ameaçou com a faca. Podia ter perdido a Veloz.

—O que não deixa de me fazer pensar que é maravilhoso.

Veloz manteve os olhos cravados nela, quentes e absorventes.

—Se esse for o efeito que vai ter em ti, então acredito que vou colocar me em uma briga cada dia.

Lhe respondeu com um empurrãozinho carinhoso e infantil.

—Sente-se e come.

Ele a obedeceu e tomou várias porções de cada prato, incluído o bolo de maçã, adulando-a a cada dentada que dava.

Veloz não pôde evitar dar-se conta de que Amy logo que dava bocado, olhando com freqüência a escuridão através da janela, depois ao abajur, com um sorriso um tanto distraída.

—Ocorre algo?

Ela pareceu voltar em si.

—Não... nada.

Veloz se recostou na cadeira para estudá-la melhor.

—Está nervosa por algo. Quer que falemos?

O gesto de sua boca ficou tenso. Tragou saliva, tratando de evitar que seus olhares se cruzassem.

—Não, eu... —Falhou-lhe a voz e seus grandes olhos azuis se encontraram com os ele—. Me desculpa um momento?

—Claro.

Veloz a observou enquanto saía da cozinha, preocupado pela expressão que tinha visto em seus olhos. Não só parecia nervosa, mas também assustada. Pensou no jantar, tratando de recordar se havia dito ou feito algo que não devesse, mas não encontrou nada.

ficou em pé e começou a recolher a mesa. Acabava de agarrar o prato com o bolo de maçã quando ouviu a Amy pronunciar seu nome com voz tremente, com um tom suave e difuso. Ainda com o prato na mão, deu-se a volta e ficou perplexo. Ela estava ali de pé, sob o marco da porta, entre as sombras, com o cabelo solto dançando ao redor de seus quadris, formando uma dourada nuvem resplandecente. Baixou o olhar e, ao mesmo tempo, deixou cair o prato, que chocou contra o chão em um forte estrondo e fez que o bolo se derramasse por toda parte.

—Mierda!

Aquela palavra retumbou no ar, com tanta força que pareceu fazer vibrar até as paredes. Veloz desejou haver-se mordido a língua. Amy se estremeceu e emitiu um pequeno grito assustado, cruzando os braços para cobrir-se seus peitos nus, com uma cara tão pálida que Veloz pensou que se desvaneceria em qualquer momento. Deu um passo para ela, pisando nas partes de cristal e depois escorregando com uma parte de bolo. voltou-se a ficar gelado enquanto a observava. Sabia que não devia, mas não pôde evitá-lo. Embora estava cheia de partes de maçã, era o ser mais belo que jamais tinha visto. Sentiu que ficava sem respiração. O mundo se afundava sob seus pés. E o olhar jaqueta lhe fez ter medo de mover sequer um músculo.

—Amy...

Ela deu um passo para trás.

—Não deveria..., fui uma estúpida. —calou-se e deu outro passo para trás—. Estou cheia de partes de maçã.

Veloz se aventurou a dar dois passos mais, fazendo ranger os cristais que havia pelo chão. À medida que ele avançava, ela retrocedia, entrando cada vez mais na escuridão.

—Amy, não... —Pisou em uma parte de bolo e amaldiçoou um par de vezes—. Não foste nenhuma estúpida. —Logo deu um salto para esquivar todo aquele desordene—. Amy, volta.

Desapareceu como um fantasma entre as sombras e se encaminhou para sua habitação. Veloz amaldiçoou uma vez mais para seus adentros, sacudiu-se zangado as calças para desfazer-se de uma parte de maçã que lhe tinha ficado pego e se apressou a procurá-la. logo que entrou no vestíbulo, a porta se fechou de uma portada. Sabia que aquela porta não tinha ferrolho. Agarrando o pomo, girou-o devagar. Quando abriu a porta, pôde escutar suaves soluços e pequenas choramingações que provinham da escuridão. Nesses momentos desejava esbofetear-se com todas suas forças.

Ele a escutou mover-se pela habitação. Quando seus olhos se acostumaram a caminhar na escuridão, viu que estava medindo os móveis em busca de sua roupa, que ela mesma tinha deixado sobre o escritório.

—Amy —disse ele com um tom suave.

surpreendeu-se e se deu a volta, agarrando com firmeza seus pololos contra os peitos. Veloz fechou a porta e se apoiou nela. Enquanto isso, Amy olhou se desesperada a sua redor e depois em direção a Veloz. Ele sabia perfeitamente que ela não podia vê-lo. Um tenro sorriso se desenhou em sua boca ao imaginar-se a Amy deixando a habitação momentos antes, tremendo de medo, cada passado uma agonia para ela, mas encaminhando-se para ele de todos os modos, sem nada mais que seu precioso cabelo, simplesmente porque queria lhe agradar.

Com uma voz rouca, cheia de emoção, disse-lhe:

—É a mulher mais bela que vi jamais... me perdoe por ter reagido dessa maneira. —Tragou saliva e continuou—: Eu, isto... o bolo... Pilhou-me tão por surpresa que... Foi como... cortou-te com algum dos cristais?

—Não.

Sua voz apenas se podia ouvir. Veloz sentiu uma forte dor no peito que mais tarde lhe chegou até a garganta. Podia ver como tremia.

—Amy, podemos tentá-lo uma vez mais, sem o bolo e sem os palavrões? Seriamente que estive tentando corrigir minha linguagem, sabe que o tenho feito, mas às vezes as palavras saem sem pensar.

Entre soluços, disse-lhe:

—Não podemos tentá-lo de novo sem o bolo. Estou cheia de partes de maçã.

—E que mais dá? As duas coisas que mais amo neste mundo são o bolo de maçã e você, embora não precisamente nessa ordem. Terei que ir me comendo os trocitos de maçã até chegar a ti, não me posso queixar.

Ainda soluçando, resmungou entre fôlegos:

—Eu... simplesmente quero esquecer o que passou. Estou toda pegajosa.

Veloz se dirigiu para ela.

—Maçã em suas pernas! —Olhou para cima, sonriendo na escuridão, observando-a—. Maçã no cabelo!

Quando a teve alcançado, secou-lhe uma lágrima que lhe caía pela bochecha. Ela deu um salto e retrocedeu se chocando contra o armário.

—Quer me matar de um susto?

—Sinto muito. Esqueci-me de que eu sim posso ver e você não.

Ela apertou sua roupa interior contra o peito, com os olhos cheios de luz enquanto tratava de encontrá-lo.

—Estou aqui, Amy. —Agarrou-lhe o queixo com a mão e inclinou sua cabeça para cima—. E, se pensar que me vou esquecer de ti, de pé na soleira da porta, brilhando como o ouro e a luz da lua, equivoca-te. Nunca me esquecerei, ao menos não enquanto viva. E não existe nenhuma possibilidade de que possa viver como se não tivesse acontecido.

Ele sentiu que ela se estremecia.

—Faz frio aqui. Vamos junto ao fogo.

Ela retrocedeu.

—Não. Eu... não estou de humor para... Não quero...

Veloz se inclinou para ela com cuidado e a acolheu em seus braços. Lá onde suas mãos a tocavam, sentia-se adoecer. Não podia evitar tremer, mas se sentia de verdade adoecer. Atravessou a habitação, trocou-a de posição para poder abrir a porta e a levou até o salão. Quando a pôs de novo no chão, deu um passo para trás, ainda obstinada a seus pololos, sujeitando-os com tanta força que os nódulos haviam lhe tornado de um branco brilhante. Veloz agarrou aquela peça de tecido.

—vamos tirar os daqui, de acordo? —Para poder arrebatar-se os das mãos, teve que dar um pequeno puxão. Ela resistia, olhando de forma selvagem às chamas.

—Amy...

—troquei que opinião —gritou—. Já estava o bastante nervosa e depois...

—E depois eu reagi como um idiota. Sinto muito, Amy, amor. Simplesmente me agarrou por surpresa. me dê outra oportunidade, por favor.

Finalmente, tirou-lhe a roupa interior das mãos e a atirou a um lado. Quando se deu a volta, quase ficou sem respiração. Embora se abraçava a si mesmo, tratando de esconder-se com os braços cruzados e os dedos bem estirados, tão solo o fato de vê-la ali, de pé frente à luz do fogo, despertou todos seus sentidos. O mamilo rosado de um de seus peitos aparecia bicudo entre dois dedos. Incapaz de conter-se, tocou a ponta com suavidade, sobressaltado porque ela tinha encontrado o valor de obsequiá-lo com seu corpo.

Ela inalou ar com força e apartou as mãos, lhe oferecendo uma maior visão de seu peito, enquanto tratava de decidir que parte era mais importante cobrir. Observando-a com uma compreensão enternecedora, Veloz entendeu o que acontecia. Seus peitos eram muito mais amplos do que escondiam seus vestidos afetados; isso era quão único podia cobrir com suas pequenas mãos. Veloz desejou que pudessem ser as suas. O que ocorria era que, se solo se tampava os peitos, deixaria o resto do corpo ao descoberto.

Finalmente, acabou por tampar-se com um braço, cobrindo-se exatamente um dos peitos, deixando o outro à vista sob seu braço. Com a outra mão, tampou-se rapidamente o brilhante triângulo dourado onde culminavam suas coxas. Dado que suas mãos eram muito magras para cobrir tudo o que queria, felicitou-se a si mesmo pelo que tinha conseguido.

—meu deus, Amy, tem idéia de quão bela é? —perguntou-lhe em um rouco sussurro.

Seus grandes olhos azuis se cravaram nos dele.

—Sua pele é como um raio de lua. —Curvou a mão ao redor de seu mamilo, dando um passo mais para ela—. E seus peitos... Em toda minha vida, não vi nada igual. Recorda a essas rosas de cor pálida, quando os casulos se abrem pela primeira vez ao sol. —Acariciou seu cabelo com os dedos e descendeu até seu ombro, para poder beijá-la—. É um sonho doce e tenro. Ainda não me acredito que seja real.

—Estou coberta de maçã.

Veloz inclinou a cabeça, passando seus lábios pela curva de seu pescoço até chegar à nuca.

—Quando terminar, não ficará nem um só pedaço de maçã em seu corpo, prometo-lhe isso.

—Vê... veloz?

—Sim? —Apanhou o lóbulo de sua orelha entre os dentes e depois desenhou a silhueta de sua orelha com a língua. Ela se estremeceu e agarrou sua camisa com força, o que significava que tinha desistido em seu esforço por cobrir-se. Ele se tornou para trás—. me Diga, Amy.

Em um intento por abraçar-se de novo, sujeitou-a pelas bonecas antes de que pudesse continuar. Retrocedeu e apartou o olhar. Ela fechou os olhos e os apertou, de novo com força, enquanto tragava com dificuldade.

Veloz não podia articular palavra. E, embora pudesse fazê-lo, as palavras não poderiam expressar as emoções que naqueles momentos invadiam seu ser. Com a mão que tinha livre, alcançou a lhe tocar um peito e depois vacilou, tremendo. Quando seus dedos acariciaram sua luminosa pele, ficou tenso e deixou de respirar. Quando apoiou a mão sobre ela, soltou-lhe as bonecas e a abraçou fortemente.

—Amy... —Sua voz tremia com tão solo pronunciar seu nome—. É tão doce, tão incrivelmente doce.

—Tão doce... Estou pegajosa.

—Carinho, não me importa que esteja pegajosa. —Aproveitou o momento e saboreou seu ombro—. É deliciosa.

—OH... Deus —disse ela, e depois afundou sua cara no peito dele—. Quero minha roupa... Foi uma idéia estúpida. Não deveria haver... Veloz? —Ela moveu o braço para agarrar sua mão quando notou que a tinha em seu traseiro—. O que está...? Veloz?

Ele inclinou a cabeça para trás.

—Amy, me olhe.

Finalmente, levantou a cara. Quando o fez, ele se inclinou e uniu sua boca com a dela. Amy emitiu um som de protesto e começou a oferecer resistência, soltando o ar como podia pelos lábios cada vez que respirava. Ele ficou mais tenso e lhe introduziu a língua. Então, ela ficou paralisada, gemendo com suavidade, ficando nas pontas dos pés para alcançá-lo e rodeá-lo com seus braços ao redor do pescoço.

entregou-se a ele, lhe permitindo tocar onde quisesse. Veloz sentiu que seu coração começava a palpitar com força. Os músculos de suas coxas se esticaram por completo. Suas mãos percorriam o corpo da Amy, tremendo, flutuando, doloridas. Agarrou com a palma sua nádega para poder sentir mais perto seus quadris. A carne cálida de seu traseiro o fazia estremecer. Depois, sentiu como seus braços se enlaçavam ao redor de seu pescoço. Posou a outra emano em suas esbeltas costas para mantê-la reta e sujeitá-la em caso de que lhe entrasse o pânico. Um suave murmúrio saiu de sua garganta e chegou até sua boca.

Veloz pensou em quão aterrada devia estar. A ponto esteve de perder o controle quando ela se aproximou mais a ele e se aferrou a seu corpo quase de forma selvagem, em busca de seu calor. A grandeza do que estava a ponto de acontecer o apanhou por um instante. Veloz fechou os olhos e os apertou novamente com força, tremendo quase tanto como ela, tão decidido a fazer que todo aquilo fora bonito para ela que às vezes se sentia paralisado. Um movimento em vão, um descuido em uma palavra, Y... Tragou saliva e o som retumbou dentro de seu peito. Depois, separou suas bocas e afundou a cara no cabelo da Amy.

—Veloz?

Separou a mão de suas costas e começou a percorrê-la para cima, seguindo com as gemas dos dedos as linhas das cicatrizes, com o coração em um punho, consciente do muito que tinha crédulo nele para apresentar-se assim como o tinha feito.

—Estou bem, Amy, meu amor —sussurrou, sem saber muito bem a quem estava tratando de convencer, se a ela ou a ele mesmo—. Estou bem.

—Está tem... tremendo.

Ele a abraçou com mais força.

—Sei.

—por que?

—Estou apavorado.

—Que está o que?

Lhe escapou uma risada ruidosa.

—Assustado! Estou tão assustado como um menino em seu primeiro dia de colégio. Se o fizer mau, se o danificar tudo... Quero-te tanto, Amy...

Para sua surpresa, notou como o corpo dela se relaxava. Jogou a cabeça para trás, tratando de lhe ver a cara. Ele ficou direito e levantou as pestanas para olhá-la aos olhos. Deixou de abraçá-lo pelo pescoço e agarrou sua cara com as mãos. Com seus olhos azuis cheios de lágrimas, ficou novamente nas pontas dos pés para beijar a cicatriz que tinha na bochecha, o corte do queixo e depois a boca.

—OH, Veloz... não tenha medo —disse sussurrando, tocando seus lábios, com um respirar tão doce que acabou encantando-o.

—Quero te fazer feliz...

—Feliz? Sou feliz —lhe respondeu—. Sou feliz como me prometeu. me diga que me ama, Veloz. diga-me isso a sua maneira esta vez, sem palavras. Não pode fazer algo mal ao me dizer que me quer, verdade?

Pouco depois, passou seus lábios por um lado de seu pescoço; gostava da sensação de sentir as mãos dela em sua cara. Quando teve encontrado a posição adequada ao tocar sua boca, introduziu a língua. Seu coração palpitava com tanta força e tão rápido que se viu incapaz de seguir o ritmo dos batimentos do coração. Deslizou as mãos até sua cintura e a levou até o chão com cuidado para ficar de joelhos sobre o tapete.

Apartando-se dela, sentou-se apoiando-se sobre os talões e a olhou. Ela se tinha ajoelhado antes que ele, com a cabeça erguida e o olhar cravado na sua, com os braços rodeando todo seu corpo. Com cuidado, agarrou-a pelas bonecas e colocou seus braços para os lados. Sua tez branca começou a adquirir um tom rosado. Veloz lhe acariciou um peito, levantando-o ligeiramente com a palma da mão. Sua pele parecia escura como a noite em comparação com a dela. Inclinou a cabeça e tocou com sua língua a ponta rosada e ereta do mamilo, sonriendo levemente ao sentir que também podia sentir seu pulso ali. Estava tão assustada que toda ela era um batimento do coração, e a queria ainda mais por isso.

Um grito sufocado saiu de sua boca quando Veloz lhe tocou a pele com a língua, gemeu e seu corpo sensível se encolheu, como se essa fosse sua única defesa contra aquelas ásperas carícias. Incapaz de conter-se, Veloz atirou dela para si e a beijou, agarrando-a pelos quadris quando finalmente caiu sobre seus joelhos. Amy levou suas mãos ao cabelo de Veloz. Fechou-as em um punho, sentindo que sua respiração era cada vez mais intensa e superficial e que a língua dele desenhava círculos ao redor de seu mamilo, provocando que despertasse cada uma das terminações nervosas que acabavam ali. Quando ficou sobre ela, gemeu para seus adentros, jogando a cabeça para trás ao fechar a boca.

Depois, como se se desfizesse de todo o amido de seu corpo, derreteu-se. Sujeitando-a com o braço, Veloz a tombou no chão, emprestando agora atenção ao outro peito, agradecido pelos profundos gemidos que ela dava enquanto lhe percorria o corpo. Amy. Sua vida, seu amor, um sonho em forma de veludo em seus braços, mais doce que tudo o que tinha podido imaginar ou acreditar que existisse.

Olhando o de reojo, Amy observou a escura cabeça de Veloz ao afundar-se em seu peito, suas escuras mãos deslizando-se por toda sua silhueta. De repente, uma sensação estranha a invadiu por completo, mas tão bela que quase lhe impedia de respirar. Sua camisa lhe roçava o corpo, ainda mais quente pelo fogo e sua pele. arqueou-se para ele, entregando-se, agora sem medo algum. Assim é como Deus queria que acontecesse. Como um presente celestial. Um acontecimento sagrado.

«Quero-te.» Aquelas palavras se refletiam na forma em que a sustentava entre seus braços. «Quero-te.» Suas mãos o diziam, logo que tocando-a, mas sim mas bem lhe rendendo culto. Quando ficou sobre ela e se tirou a camisa, a luz das chamas dançava em seu peito e seus braços. Com certa pesadumbre nas pálpebras, Amy o olhou e só pôde ver a doçura que se escondia baixo aquela masculinidade pura, a amplitude de seus arredondados ombros, as linhas dos músculos de seu estômago, o árido cabelo escuro que desenhava um triângulo do peito até sua estreita cintura. Seu corpo brunido brilhava qual madeira laqueada, rica, sólida e robusta.

Quando seus braços alcançaram suas costas, seus peitos entraram em contato com sua pele cálida, aflorando todos seus sentidos e lhe cortando o fôlego. O amor por Veloz a cobria em sua totalidade até chegar a fazê-la sentir dor. Não tinha medo. Sentiu sua mão seguindo com a gema dos dedos as cicatrizes de suas costas e uma lágrima que se deslizava por de seu pescoço.

Continuando, aferrou-se a ele, invadida por uma felicidade que não encontrava forma de expressar, porque Veloz López, o homem duro e ressentido que nunca tinha deixado entrever nenhuma debilidade, o homem que tinha semeado o medo com tanta facilidade por todo Texas, que se tinha enfrentado à morte centenas, ou possivelmente milhares de vezes, estava-a abraçando com uma ternura indescritível e derramava suas lágrimas pela dor que ela tinha sofrido. Se ele podia expor-se de tal maneira ante ela, não podia lhe negar absolutamente nada.

Quando deslizou a mão por seu ventre, quando sentiu que seus dedos jogavam com o pêlo encaracolado do ápice de suas coxas, não ofereceu resistência alguma, a não ser justamente o contrário: abriu as pernas, confiando nele como nunca tinha feito com outra pessoa, rendendo-se ante ele embora sabia que lhe doeria e tranqüila ao mesmo tempo porque também sabia que ele trataria de lhe fazer o menor dano possível. Deslizou os dedos até mais abaixo, e Amy gemeu novamente, deixando-a fora de combate por essa sensação elétrica que lhe tinha atravessado o ventre. Esperava que ele se equilibrasse sobre ela, para desfazer-se das outras peças de roupa que ainda levava postas, para tomá-la. O que não tinha pensado era que ia sentir algo assim, um prazer que a rodeava com ondas de calor e comichões.

Ele se movia retirando-se lentamente, tão lentamente, e depois voltava a impulsioná-la com ternura, com cuidado, procurando um lugar dentro dela que a fazia sentir-se acalorada e tremente cada vez que o encontrava. Amy gemeu e elevou os quadris, incapaz de respirar à medida que ele aumentava o ritmo, empurrando com mais força e rapidez até que conseguiu adaptar-se ao som de seus movimentos, misturada em uma sensação que estava a ponto de deixá-la sem sentido. Ao abrir os olhos, observou um mundo onde a luz do fogo e a escuridão dançavam formando espirais, e se mergulhou nele, encontrando esse lugar dentro dela que a fazia sentir espasmos por todo o corpo. sentia-se ligeira, como se estivesse flutuando no ar, mas quando sabia que estava a um passo de separar, Veloz a aproximou dele com o braço e deixou que aquelas ondas de puro êxtase se apropriassem dela por completo.

 

Ficou tombada em seus braços instantes depois, ainda tremendo, com o peito tratando de recuperar o fôlego, o corpo totalmente úmido e o coração lhe pulsando com força. Ele a acariciou com ternura, lhe sussurrando à medida que, passo a passo, voltava para mundo real. Amy sabia que o que lhe tinha feito não tinha chegado a seu final, que ainda não tinha obtido o prazer absoluto. Embora sabia que seria doloroso para ela, tratou de lutar contra seus medos pelo muito que desejava agradá-lo. Entretanto, ao dá-la volta, ele deslizou novamente a mão sobre seu corpo, acariciando-a com a gema dos dedos com suavidade, mas sem entrar nela esta vez. Ela ofegou ao sentir aquele amontoado de sensações que atravessaram todo seu ser.

—Veloz...

—Confia em mim, Amy... —insistiu com voz rouca—. Assim é como se supõe que deve ser. Confia em mim.

Amy começou a vislumbrar luzes em sua cabeça. O calor voltou a invadi-la por dentro, candente primeiro, depois de forma selvagem, até que seu ventre ficou tenso, fazendo-a retorcer-se e tremer, arqueando-se para ele e desejando que ele o fizesse com mais força. Depois, uma rajada de êxtase entrou em seu corpo, lhe dando sacudidas, uma atrás de outra, até fazê-la estremecer, até fazê-la gritar, até desgastá-la, deixando-a muito fraco para mover-se, muito menos falar.

Em meio daquela neblina que lhe impedia de ver com claridade, viu veloz sobre ela, brilhando como o bronze, com os tendões tensos, dando-se conta ao olhá-lo que também ele estava nu. O medo, que ainda sentia com tanta ferocidade, encurralando-a, mantinha seus dedos frios, roubava-lhe o fôlego, mantinha-a em tensão. Agarrando-a pelos quadris, Veloz a elevou para ele. Ela se agarrou com os punhos ao tapete, ainda tensa, esperando nada menos que agonia.

—Amy, amor, confia em mim?

Amy se aferrou ao tapete ainda com mais força, ainda em seus braços. Com um gemido afogado, assentiu.

—Então te relaxe. me demonstre que confia em mim, Amy, por última vez. —Massageou seus músculos, sentindo sua rigidez, com as mãos cálidas e gentis, incessantes—. Faz-o por mim. Solta o tapete.

As lembranças do ontem e do agora se misturavam em sua cabeça. Veloz, seu querido amigo. Desejava-a. E não importava a dor que sentisse: queria satisfazê-lo. obrigou-se a afrouxar as mãos e a soltar as fibras trancadas do tapete, ainda com os olhos cravados nos dele.

—Agora respira fundo —lhe sussurrou—. E relaxa seu corpo. Não quero te fazer danifico. te relaxe. Muito bem.

Quando exalou o grande amontoado de ar que tinha tomado antes, ele a penetrou em um suave impulso. Amy voltou a inalar ar e notou seus pulmões queixando por aquela invasão repentina. O mundo se derrubava ante ela. Esperou, apertando bem os dentes, sabendo que a dor chegaria. Mas não foi assim. Depois, ele baixou seu corpo para sustentá-la entre seus braços. Durante uns instantes, não se moveu, deixando-a acostumar-se a ele.

—Está bem?

Com um soluço de alívio, disse-lhe:

—Sim —disse sem logo que poder acreditar-lhe Continuando, ele afundou a cara em seu cabelo, com os lábios lhe roçando a orelha, lhe permitindo sentir sua respiração, rápida e afogada.

—Não tenha medo. Confia em mim, carinho. Juro-te pelo que mais queira que não te vou fazer mal. —Começou a mover-se dentro dela, rememorando o ritmo de seus pesadelos, embora agora seu pesadelo se converteu em um sonho—. Te quero, Amy. te agarre bem forte a meu pescoço. Vêem comigo...

E com aquela petição ainda sussurrando em sua cabeça, a levou com ele ao paraíso.

                                               Capítulo 20

Amy voltou lentamente para a realidade, tomando consciencia do que havia a seu redor: em primeiro lugar, a luz lhe pisquem do fogo da chaminé; depois, a aspereza do tapete trancado em suas costas, a calidez da respiração de Veloz sobre seu pescoço, o toque de suas mãos... Fechou os olhos, saboreando a paz e a segurança de saber que o homem que dormia junto a ela a queria.

Respirou profundamente. Queria absorver cada um dos aromas que ele emanava, notá-los em sua memória: o débil resto de sabão, o couro penetrante, o tabaco e sua suave pele. Podia sentir os batimentos do coração de seu coração contra o peito, um batimento do coração tão forte que parecia lhe penetrar pelas veias. Pareceu-lhe perfeitamente adequado jazer ali com ele, com os membros adormecidos e a cabeça à deriva. Um sentimento de pertença a enchia em corpo e alma.

Veloz. Seu nome ressonou em sua cabeça como os lembra de uma canção, doce e cadenciosa. Não havia nenhuma necessidade de pô-lo por escrito, nenhuma necessidade de que sua união fora reconhecida pela lei ou a igreja. Os votos que se feito o um ao outro foram pronunciados muito tempo atrás e, ao menos para ela, um matrimônio comanche era suficiente.

—Está bem? —perguntou Veloz.

Amy abriu os olhos e lhe aconteceu os dedos levemente pelo cabelo.

—Eu... —As lágrimas lhe queimaram as pestanas e a garganta lhe fechou em um nó—. Estou bem. Melhor que bem. Sinto-me maravilhosamente.

Lhe tocou a nuca com os lábios, lhe passando a língua pela pele.

—Você é a que sabe maravilhosamente —murmurou—, e me faz sentir ainda melhor. Não quero me mover.

—Então não o faça. —Na verdade, não queria que o fizesse, quase temia que assim fora, porque então não teria mais remedeio que enfrentar-se à realidade uma vez mais. Durante ao menos um instante mais, queria ficar dentro do sonho que Veloz tinha criado para ela, acreditar na bondade, na honestidade e no amor, embora só fora por um pequeno lapso de tempo.

—vou esmagar te.

moveu-se ligeiramente e pôs um cotovelo no tapete para incorporar-se um pouco e apartar-se de seu peito. Enquanto jogava a cabeça para trás, Amy olhou o sorriso que expressavam seus olhos e curvou a boca a modo de resposta. depois de observá-la um bom momento, Veloz levou sua mão para a cara dela e lhe percorreu as bochechas com o dedo. Cheirava a ela, e Amy pensou em tudo o que tinha passado entre eles, e em como tinha conseguido afastar seus pesadelos com magia.

Ele se tornou para trás um pouco mais, observando-a, com a vista fixa no rubor de suas bochechas. O brilho que viu em seus olhos a fez envergonhar-se. Imediatamente, deu-se conta de que estava nua. sentiu-se um tanto indigna, ao recordar como se retorceu e gemido com suas carícias. Podia saber pelo brilho de seus olhos que ele também o recordava.

Veloz sorriu abertamente. Sua primeira reação foi procurar sua roupa a provas. Pouco depois, encontrou a camisa e cobriu a Amy com ela. Amy se abraçou ao objeto negro, cheia de incerteza, mas agradecida de poder cobrir-se. Seu primeiro pensamento foi jogar mão de suas roupas, mas estavam no dormitório e tinha que percorrer quilômetros para poder as recuperar. Não só isso. Também lhe parecia incorreto escorrer-se dessa maneira, como se nada importante tivesse ocorrido. E logo estava o que em realidade desejava fazer.

—Isto... temo-me que isto não me dá muito bem —admitiu em um sussurro.

—Se te desse bem, sentiria-me decepcionado. Não sabe que a um homem gosta de pensar que é o primeiro? Que sua mulher esteve sozinho com ele?

A Amy lhe fez um nó no estômago.

—Veloz, você sabe que...

—Direi-te o que sei —sussurrou—. Sei que é a mulher mais doce, pura e formosa que tenha conhecido nunca. Nenhum homem te beijou nunca desta maneira. —inclinou-se para beijá-la docemente na boca—. Nem te há meio doido como eu o tenho feito. Nem viu seu corpo como eu o vi. Ou te tem feito o amor. É meu e só minha, Amy. Isso é o que sei.

—Ah, Veloz... —A camisa se moveu e ela atirou dela para cima para voltar a pô-la em seu sítio.

Ele riu brandamente.

—Ofereço-me a ir te buscar a roupa, mas que saiba que eu gosto mais assim.

Amy olhou com nervosismo o escuro vestíbulo, que lhe desejou muito lejísimos. Veloz se incorporou para sentar-se, ao parecer totalmente cômodo com sua nudez. Com uma amostra esplêndida de seus músculos, tornou-se para diante para agarrar suas calças. Ela observou o jogo de tendões de suas costas ao mover-se, fascinada pela forma em que sua pele brunida se convertia em nós de aço e depois se relaxava. Quando Veloz se levantou e começou a ficá-los calças, ela pôde ver em toda seu majestuosidad a musculatura de suas nádegas e suas coxas. O cinturão fez um som ao grampear-se e a banda de couro se ajustou completamente ao redor de seus esbeltos quadris. Depois recolheu os meias três-quartos e as botas e se sentou junto a ela para ficar ambas as coisas.

Quando terminou, voltou-se para olhá-la, com a vista posta na camisa que ela agarrava com os punhos à altura dos peitos.

—Posso ir fumar me um charuto? —perguntou.

Amy tragou saliva, aterrada com a idéia de ter que lhe dar a camisa e ficar nua. Ele se deixou cair sobre um cotovelo e passou a mão pelo tecido, procurando com os dedos o bolso no que tinha a saca guardada de tabaco. O bolso em questão descansava sobre seu peito direito, pela parte interior. Ele afundou a mão no pescoço do objeto, lhe roçando com a palma o peito, e depois mediu para tratar de tirar a saca do bolso. As carícias involuntárias não fizeram a não ser despertar um labirinto de sentidos em seus peitos e em todo o corpo.

De repente, a mão se deteve. Seus olhares se encontraram. Ele sorriu aberta e maliciosamente. Abandonando sua busca dentro do bolso, começou a mover seus quentes dedos pela pele que encontrou a seu passo.

—Ao diabo com o tabaco —sussurrou com voz rouca.

E a seguir a beijou. Em solo uns segundos, Amy se encontrou com que tinha perdido a sujeição do escudo de tecido, a sujeição de tudo. Seus sentidos se debilitaram sob a perícia de suas mãos, escutando ao longe o som de seus próprios gemidos e dando-se conta de que Veloz tinha um poder sobre ela que nunca tinha permitido a ninguém mais, um poder lhe subjuguem e controlador ao que era incapaz de resistir, ao que não queria resistir. Ela respondia a cada carícia de suas mãos, a cada petição silenciosa... gemendo, porque sabia que a rendição lhe traria o êxtase; um êxtase arrobador, e um arroubo enlevado que lhe faria perder a consciencia. As mãos de Veloz percorreram seu corpo reduzindo-a a um atoleiro de desejo tremente e irracional, e ela se formou redemoinhos sob suas ligeiras carícias, retorcendo-se de dor, arqueando-se, desejando que seus dedos a queimassem como o tinham feito antes.

Em um tumulto de paixão, sentiu como a ternura dele dava passo ao desejo ardente e febril. O rozamiento de suas mãos se fez desumano e seus dedos entraram em sua carne, reivindicando-a. Quando lhe pôs uma mão sobre o já tremente topo de suas coxas, afundando-a nela, muito sensações a banhou por completo. Sua respiração ressonava em sua cabeça, entrecortada e rápida: era o som de um homem que se queimava de desejo.

Quando aproximou seus quadris para ele, Amy se deu conta de que sua intenção era tomá-la rapidamente. Sem êxtase, sem perda de consciencia. Por um instante, o temor a invadiu. Ele se abriu o cinturão de um puxão e se desabotoou as calças. Ela sentiu a longitude de aço de sua masculinidade, pressionando, quente, contra sua coxa, em busca da entrada. antes de que pudesse tomar consciencia disso, encontrou-a e se meteu nela, com dureza. Ela gemeu, com o ventre convulsionado e as vísceras retorcidas e apertadas. Seus braços a rodearam, em um abraço forte, com uma posesividad que quase o fazia danifico.

Ele se apartou e depois empurrou, dando rédea solta ao poder de seu corpo. O impacto sacudiu todo seu corpo e o dele, em uma invasão profunda e feroz. Depois, sem preâmbulo algum, ele estabeleceu um ritmo, esta vez um ritmo furioso e desumano. Ela ficou tensa, preparada para a dor. Mas em vez disso o ritmo a consumiu. Respondeu-lhe instintivamente, lhe rodeando os quadris com as pernas e arqueando-se para encontrar-se com ele, aumentando o impacto, glorificando as baforadas de fogo que saíam dela, ardendo por dentro, fundindo-se.

Ele era o poder, ela a vencida. Mas o orgulho e a dignidade a tinham abandonado. rendeu-se à força que a absorvia, uma força que a requeria como se seu desejo fora também o dela, uma necessidade quente e instável que a levava acima e abaixo, a fazia retorcer-se e a cegava. Nesse momento de elevação, Veloz ficou detido sobre ela, com o rosto contraído, os ombros tremendo, os braços atravessados pelos espasmos. Então, ela sentiu a entrada de seu fogo, como a lava de um vulcão que se precipita em erupção, intensificando sua própria lava.

Com um gemido, Veloz recuperou o ritmo, lentamente ao princípio, com o rosto brilhante e satisfeito e o olhar fixo na dela enquanto estabilizava o movimento. Em alguma parte de seu subconsciente, Amy se deu conta de que ele queria observá-la enquanto a penetrava até o final, mas ela tinha ido muito depressa para resistir, e seu corpo era agora mais dele que dele. Veloz sorriu. Ela o viu, registrou-o em sua mente e depois perdeu o contato com a realidade no momento em que ele pôde empurrar sem ter já nada do que preocupar-se.

Ela o ouviu gemer, necessitá-la. Com um grito se agarrou a seus ombros, ofegando em busca de ar, com os quadris arqueados para encontrar-se com ele no momento do clímax. Como Veloz, sentiu-se vítima dos espasmos.

Quando ela caiu tremendo e esgotada debaixo ele, ele se uniu a ela ainda com mais determinação, beijando-a com sua boca quente pelos peitos, a garganta e a cara. Exausta, Amy se acomodou em seu abraço, com os membros relaxados e os músculos sem vida. Ele a sustentou, lhe passando uma mão pelas costas até os ombros, e muito em breve ficou dormida. Foi um sonho profundo e prazenteiro, coberta como estava da calidez de seu corpo.

 

Amy despertou em meio da escuridão. Reconheceu a suavidade do lençol de baixo baixo ela. Algo quente e úmido lhe roçava as pernas. Piscou e ficou tensa, tratando de ver.

—Veloz?

Ele riu em voz baixa.

—Quem se não?

—O que... o que está fazendo? —Tratou de ver algo, frustrada pela negrume e a familiaridade das mãos de Veloz sobre sua pessoa.

O pano lhe roçou agora a coxa.

—Estou-te lavando. Prometi-lhe isso, recorda? Não ficará nem rastro de maçã quando terminar.

Ela ouviu o som do trapo molhado ao deixá-lo cair na água. As mantas fizeram um ruído seco quando ele as ondeou para as voltar para pôr de novo sobre ela. O colchão se afundou com o peso do corpo dele ao tombar-se junto a ela. Pouco depois, rodeou-a com o braço. A manga de sua camisa lhe resultou abrasiva ao contato com a cintura, e a palma de sua mão, áspera nas costas.

—Tenho que ir, garota dourada. Em um par de horas mais amanhecerá e se alguém me vê saindo daqui, sua reputação se irá ao inferno.

Amy podia sentir sua respiração na bochecha, seu calor, mas o único que podia ver dele era algo negro frente a ela, mais negro que a mesma noite. Agarrou-lhe a camisa com os punhos, assustada de repente, sem saber muito bem por que. Se partia, a realidade voltaria a impor-se entre eles. Ela queria manter muito próxima esta noite, mantê-la para sempre.

—Não... não quero que vá. Agora estamos casados, não é assim? por que tem que ir ?

Seus lábios roçaram os dela.

—Amy, amor, a lei comanche não se aplica aqui. Se ficar antes de que nos casemos à maneira dos brancos, olharão-lhe como a uma perdida. —Notou um sorriso em sua voz—. Acredito que precisamos encontrar a um pároco... e rápido!

—Não voltará até dentro de várias semanas!

Tocou-lhe a língua com a sua e disse em alto:

—Semanas?

—Semanas —repetiu ela, com um sentimento de impotência—. Não quero esperar semanas. E você? Quero que fique agora comigo. Um matrimônio comanche é tão bom como qualquer outro. É-o tudo.

Era impossível passar por cima o pânico que havia em sua voz. Veloz se voltou para ela para observar sua cara em sombras.

—Amy, amor, o que te ocorre?

—Não... não quero que vá. Tenho o horrível pressentimento de que, quando o fizer, será como se esta noite nunca tivesse acontecido.

Passou-lhe a mão pelo cabelo. Embora ele mesmo tinha tido o mesmo pressentimento, sabia pelo som de sua voz que não era comparável ao pânico que ela estava sentindo.

—Carinho, isso é uma loucura.

—Não importa. Assim é como me sinto. Se te partir, pode te ocorrer algo. Pode que nunca retorne.

—Retornarei —disse com um sussurro, médio em brincadeira. Mas enquanto o dizia, essas palavras ressonaram em sua cabeça, como um eco do passado. Então o entendeu tudo. Houve uma vez em que se amaram o um ao outro, de forma inocente, mas com a mesma paixão que agora, e suas promessas se converteram em pó que se levou o vento do Texas. Agora, por fim, tinham recuperado esse sentimento de unidade, e Amy se horrorizava ao pensar que pudesse perdê-lo de novo. A Veloz quase lhe rompeu o coração. tombou-se junto a ela e fez que fechasse os olhos.

—Amy, me escute. Nada voltará a nos separar nunca. Nada. Não deixarei que isso ocorra. Além disso, solo vou ao outro lado da rua. Um grito e poderei te ouvir.

Ela se aproximou mais a ele, afundando o rosto contra seu pescoço.

—Parecem-me centenas de quilômetros.

Veloz suspirou.

—Não quero que perca seu trabalho. Sei que necessita essa segurança, ao menos durante um tempo.

—Necessito-te mais a ti.

—Pode ter ambas as coisas. Agora estamos casados, Amy. Você sabe. Eu sei. Nada nem ninguém pode trocar isso. —Levantou um pouco o queixo e a beijou na parte alta da cabeça, adorando a suavidade de seu cabelo de seda, deslizando-se contra sua camisa—. E com o matrimônio vem todo isso que teme. Ao menos durante o primeiro ano ou assim, enquanto trate de me esquivar e aprenda como sou quando...

—Não me importa isso. —Inclusive enquanto falava, Amy sabia que não pensava o que estava dizendo. Muito depois, sim lhe importaria. Não tinha sentido ocultá-lo. Henry Masters lhe tinha deixado um rastro, pudesse admiti-lo ou não.

Veloz fechou os olhos, sabendo que as cicatrizes que tinha dentro eram muito profundas para pretender que sanariam em uma noite de amor. Desejou que pudesse ser assim, mas desejá-lo não trocava a realidade.

—me importa —sussurrou, com voz grave. Fez que se incorporasse para pô-la sobre seu peito e lhe agarrou a cara com as duas mãos—. Se perder esse trabalho, dependerá de mim para tudo. Antes ou depois, isso te consumirá.

—Mas... —Amy se calou, desprezando-se a si mesmo porque sabia que o que ele dizia era certo.

Fez-a calar posando um dedo sobre seus lábios.

—Nada de peros. Não tem que deixá-lo tudo para ser minha esposa, Amy. Podemos seguir assim até que o pároco volte. Virei cada noite a que me dê classes. E possivelmente fique alguma que outra noite até antes do amanhecer. Nunca vão separar nos de novo. Prometo-lhe isso.

Amy deixou que partisse sem poder lhe oferecer nenhum outro argumento. Muito depois de sua partida, ela seguia tombada na cama tremendo, desejando que ele estivesse ali com ela, odiando-se de que sua debilidade os tivesse mantido apartados durante tanto tempo.

 

Ao dia seguinte, depois do colégio, Amy foi a casa da Loretta em seu habitual visita diária. Para sua surpresa, tão Veloz como Caçador estavam em casa. Sem esperar-lhe Amy fechou a porta depois de entrar e depois ficou de pé ali, sem saber muito bem como devia saudar veloz depois da noite que tinham acontecido juntos.

—Ah, Amy, chega a tempo para um bolo de amora quente! —exclamou Loretta.

—E... isso sonha estupendo —disse Amy fracamente, com a cabeça posta nos pratos. Ao levantar-se essa manhã, não tinha encontrado nem rastro de sujeira na cozinha. Veloz o limpou tudo enquanto ela dormia.   

Seus olhares se encontraram. As lembranças da noite de paixão ocupavam todos seus pensamentos. Baixou os olhos, tratando de manter a compostura, mas tudo o que havia nele, inclusive sua camisa, recordava-lhe o que tinha passado fazia solo umas horas.

Veloz viu o rubor que subia a Amy pelo pescoço e se o tivesse qualificado de cor carmesim não se teria ficado curto. Alagava-lhe a cara, chegando até o nascimento do cabelo, tão óbvio que soube que Caçador e Loretta não demorariam muito em notá-lo. A situação lhe parecia meigamente divertida e tratou de conter um sorriso. A doce, a encantada Amy, com seu vestido de professora, com seu cabelo glorioso recolhido em uma coroa trancada sobre a cabeça. Para ela, fazer o amor a noite anterior tinha sido escandaloso.

O sorriso em seu interior se converteu em dor na garganta quando recordou quão maravilhosa tinha sido em realidade sua união. Ela ia a não poder controlar-se quando fizessem de verdade o amor. E se se ruborizava dessa maneira depois, todos no povo saberiam o que tinha passado.

Fazendo como se nada passasse, Veloz se esfregou as mãos.

—Venha, pois serve esse bolo, Loretta. Tenho tanta fome que não posso sentir as pernas.

O intento de jovialidade foi em vão. Loretta ficou imóvel, olhando fixamente a Amy, que se tinha posto de uma intensa cor vermelha em um segundo. Caçador, em lugar de olhar a Amy, voltou seus olhos azul escuro a Veloz, com a sobrancelha levantada. Quando Veloz lhe devolveu o olhar, a boca de Caçador se torceu. Depois, olhou a Amy.

—Amy, carinho, ocorre-te algo? —perguntou Loretta.

Os olhos da Amy pareceram voltar-se maiores que os pratos de bolo que havia na mesa: o azul faiscante de seus olhos contrastava com o vermelho de suas bochechas. Veloz teve que conter um gemido.

—Não, na... nada —conseguiu responder, no que era a maior mentira que tinha tentado dizer em sua vida—. Por... por que o pergunta?

Loretta lançou um olhar a Caçador. Amy se voltou para Veloz com olhar de súplica. Para seu desespero, notou que também seu pescoço ficava vermelho e o calor lhe subia até a cara. Diabos, se ia ruborizar se também ele a estas alturas! esclareceu-se garganta e se passou a mão pelo cabelo, tão envergonhado como se lhe acabassem de pilhar pulando com a Amy no celeiro. Caçador, sonriendo como um idiota, centrou sua atenção no bolo e agarrou o servidor.

—Bem, se não ocorrer nada, vamos comer —disse, lançando outro olhar intencionado a Veloz.

Amy se tirou o xale e o pendurou do cabide. Aproximando-se da mesa, limpou-se as mãos na saia. sentia-se tão culpado que até um parvo se deu conta. Os olhos azuis da Loretta passaram de sua prima a Veloz. E depois, como se fora uma enfermidade contagiosa a que tivesse entrado na casa, seu rosto se voltou completamente rosa. Só Caçador parecia imune. Sem parar de sorrir, serve quatro pratos de bolo, pedindo a todos com um movimento que tomassem assento.

Os quatro se encheram a boca imediatamente. Veloz fez um ruído apreciativo e agarrou um segundo pedaço. Loretta, claramente incômoda porque ninguém elogiava seu bom fazer como confeiteira, levantou os olhos do prato.

—Como ficaram no forno essas maçãs que te dava?

Veloz, que estava a ponto de tragar, explorou. Todos, incluída Amy, voltaram-se para lhe observar enquanto lutava por agarrar ar. Quando por fim tragou e fez baixar o bolo com um sorvo de café quente, conseguiu pronunciar uma tremente desculpa. Amy começou a ruborizar-se de novo. O sorriso de Caçador se fez mais ampla. Loretta parecia completamente desconcertada.

Caçador procurou o olhar de Veloz.

—vais sobreviver a esse bolo?

—Não é o bolo da Loretta. —Veloz deu outro sorvo ao café—. Estou bem. É que me engasguei, é tudo.

Amy baixou a cabeça e atacou as amoras de seu prato como se lhes acabasse de declarar a guerra. Caçador se esclareceu garganta.

—Veloz e eu fomos fazer uma visita ao Peter de volta a casa, Amy.

Ela levantou o olhar, com os olhos obscurecidos, como se lhe tivessem descolorido de repente.

—De verdade? E como está?

—Está bem. Acredito que o pequeno bate-papo que teve Veloz com o Abe serviu que algo. Ao menos não voltou para casa e descarregou sua ira ontem, como tivesse feito outras vezes.

—Tem-no sua mãe na cama?

—E tão pendente dele como uma galinha de curral —assinalou Caçador. Encontrando-se com o olhar da Amy, perguntou—: por que alguma vez me contou os problemas do Peter? Eu pensava que a única vez que Abe se passou da raia foi quando sua mulher o mandou ao cárcere. Não tinha nem idéia de que para ele fora costume voltar para casa bêbado e pagá-lo com sua família.

Amy sentiu que as bochechas voltavam a lhe arder.

—Eu... —O olhar de Caçador não lhe deixava escapatória. encolheu-se de ombros—. Se tivesse ido a ti, teria-te enfrentado ao Abe, e tinha medo de que te metesse em problemas.

A Caçador lhe esticou a mandíbula.

—Me alegro de que Índigo confie mais em meu sentido comum. Uma coisa é um homem com mau gênio. Mas o do Abe Crenton é passar-se da raia. Não é costume entre os de meu povo olhar para outro lado quando um homem abusa de sua mulher e sua família. Você sabia isso, Amy.

Amy tinha sido testemunha centenas de vezes das reprimendas de Caçador a seus filhos, mas nunca antes se dirigiram a ela. Durante anos, tinha-lhe visto olhar com esses olhos seus luminosos a Índigo e Chase, provocando neles um sentido remorso sem nem sequer levantar a voz. perguntou-se freqüentemente como conseguia fazê-lo. Agora sabia. Caçador, com sua bondade, era capaz de penetrar até o mais profundo. O olhar doído de seus olhos lhe chegava ao coração.

—Fiz-o com boa intenção —disse lastimeramente.

Seus olhares se encontraram e, sem dizer uma palavra, disse-o tudo.

—A próxima vez, irei a ti —prometeu Amy.

Caçador olhou então a Veloz.

—Se Abe voltar a fazer mal, preocupa-se por seu marido. Foi seu força a que defendeu a Alice Crenton e a seus filhos ontem.

O fato de que Caçador se dirigisse a Veloz como seu marido evidenciava que sabia o que tinha passado entre eles a noite anterior. Mas antes de que Amy pudesse reagir, Caçador estirou o braço e lhe agarrou a mão, um pouco como quando o pai Ou'Grady lhe tocava a frente quando ia dar a absolvição. Nesse momento se sentiu em paz, em uma paz cálida e reconfortante.

Durante solo um instante, desejou ter crescido com os comanches, que a tivesse criado o pai de Caçador, Muitos Cavalos, e não Henry Masters. Desejou ter tido um lar cheio de amor, no que a houvesse renhido com bondade e compreensão e não com o punho ou o cinturão.

A diferença da Amy, os filhos da Loretta não conheciam o medo. Eles corriam selvagens e livres, levando a cabeça sempre alta. E, mesmo assim, apesar de suas maneiras bondosas, Caçador punha disciplina em sua casa, inculcava a seus filhos todas essas boas virtudes que considerava importantes: lealdade, honestidade, orgulho e coragem. Nunca demandava obediência, mas esta se dava de forma natural e sem esforço, porque os filhos de Caçador o amavam muito para fazer algo que lhe desgostasse.

O olhar da Amy passou de Caçador a Veloz, que parecia absorto no bolo, quão mesmo Loretta. Sua aparente indiferença era uma vez mais outro costume do povo comanche: a vergonha de um era de um e não incumbia a outros. Amy voltou a olhar a Caçador e descobriu que tinha pego já o garfo, o que significava que suas faltas pertenciam ao passado.

Como se sentisse que o momento de castigo tinha passado, Veloz levantou os olhos e a olhou fixamente, com faíscas neles. Tinha um sorriso involuntário nos lábios. A diferença dela, Veloz tinha sido criado com os comanches, e os costumes de Caçador eram também as suas. Não pôde evitar perguntar-se se seria um pai como Caçador, alheio ao ruidoso caos de sua casa, pondo ordem só quando de verdade se produzia uma verdadeira transgressão, com bondade, brigando com voz suave.

—Pergunto-me onde foi Índigo esta vez depois do colégio —remarcou Loretta—. Deveria estar já em casa.

Caçador levantou a cabeça.

—Virá.

—Arrumado a que está com esse Marshall. É muito major para ela. Mas do que serve que o diga?

Amy a interrompeu para lhe contar a discussão que tinha tido com Índigo na tarde anterior.

—Quis ter falado com ela outra vez, mas com o assunto do Peter me esqueceu.

Loretta jogou com seu garfo.

—Senhor, oxalá tenha mandado a esse jovem a fritar aspargos. por que um moço de vinte anos ia estar interessado em uma garota de sua idade? Eu não gosto de nada.

—Lhe mandará a fritar aspargos —respondeu Caçador—. Os olhos de Índigo olham à manhã. Solo tem que abri-los.

Veloz terminou seu bolo e levou o prato à pia. Olhando por cima do ombro a Amy, extraiu o relógio do bolso.

—É quase a hora de minhas lições. Está preparada?

Olhou-a com olhos brincalhões e a Amy não lhe passou por cima o significado velado de sua pergunta. Ela se levantou e cruzou a habitação com o prato, com cuidado de não olhá-lo. depois de pô-lo na pia, voltou-se para a porta.

—Se vir índigo, direi-lhe que volte para casa, Loretta.

Loretta sorriu.

—Não, não faça isso. Como diz Caçador, solo tem que abrir os olhos. Suponho que tenho o cacoete de querer sobreprotegê-la.

Veloz agarrou seu chapéu do cabide. depois de ficar o com um garboso movimento, agarrou o xale da Amy e lhe cobriu os ombros com ele, lhe roçando o pescoço e depois os peitos com os nódulos enquanto colocava as dobras da lã. Quase sem respiração, Amy levantou seus assustados olhos azuis para olhá-lo. antes de que se produzira outro de seus rubores, Veloz a fez sair pela porta rendo-se pelo baixo, consciente de que a Caçador não lhe tinha escapado o significado dessa mudança de cor.

Uma vez no alpendre, Amy se abraçou ao xale. Veloz a agarrou pelo cotovelo, imaginando o momento das «lições» com impaciente lascívia. Se tinha a oportunidade, daria-lhe algo um pouco mais escandaloso pelo que ruborizar-se.

—Tem as bochechas vermelhas como um tomate —informou, enquanto baixavam os degraus—. Têm que cruzar o povo. Quer que todo mundo que nos veja saiba o que estivemos fazendo?

Sua cara se voltou de cor escarlate, o que provocou uma vez mais a risada em Veloz. lhe pondo uma mão na nuca, brincou com os cachos enquanto a guiava pela calçada.

—Até quando pensa seguir te ruborizando cada vez que lhe Miro?

—Não tenho a culpa de ter o rosto tão pálido.

—O que é o que te envergonha tanto?

Amy lhe olhou com seus olhos azuis.

—Não tem graça.

Veloz jogou para trás a cabeça e emitiu uma sonora gargalhada.

—Para, por favor! A gente nos está olhando.

Ele viu o Samuel Jones ao outro lado da rua, ocupado em varrer a parte da calçada que dava a seu negócio.

—Amy, ninguém nos está olhando. Direi-lhe isso de uma vez por todas: a vergonha comigo te vai durar o que dura uma vela em uma tormenta de vento.

—Não me diga.

—Prometo-lhe isso. Leva se quiser esses recatados pescoços abotoados até o queixo em público, mas não em nossa casa.

—O que levarei então?

—O avental, se está cozinhando. O resto do tempo, eu preferiria que não levasse nada.

Ela o olhou aterrorizada.

—Minhas classes de leitura e aritmética entram na categoria «de outra maneira».

Ela acelerou o passo, olhando a direita e esquerda como se temesse que alguém pudesse ouvi-lo. Veloz riu, apertando o passo também para não ficar atrás.

—Tem vontades de chegar a casa, verdade?

Ela esteve a ponto de tropeçar com a saia ao deter-se. Ruborizando-se da cabeça aos pés, olhou-o aos olhos.

—Está me atormentando de propósito. Não poderia ser por uma vez um cavalheiro, Veloz? É de muito má educação que... que fale disso como se falasse do tempo!

Enquanto se dava a volta e uma vez mais empreendia a marcha a passo rápido, Veloz ficou atrasado para poder desfrutar da vista de seus quadris. Então, como se o tivessem pacote em curto com uma corda, Amy se deteve. Veloz levantou os olhos para ver o que acontecia. Steve e Hank Lowdry irromperam na calçada, a solo uns metros diante dela. Amy retrocedeu, com o corpo rígido. Veloz acelerou o passo para alcançá-la. Quando lhe tocou o braço, ela se aproximou a ele.

—Não passa nada, carinho.

Sentiu um calafrio.

—parecem-se A... quais são?

Veloz lhe aconteceu o braço pelos ombros e a insistiu a que seguisse caminhando, sem preocupar-se nem um momento de que alguém pudesse vê-los.

—Só um par de mineiros. Quer que passemos ao outro lado da rua?

—Não. Não tenho medo quando está comigo.

Ela se aproximou mais a ele, desmentindo suas palavras. Veloz olhou para diante aos dois homens, inquieto ao descobrir que não era o único que pensava que pareciam comancheros. Demônios. Do primeiro momento o tinha pressentido. E agora também Amy.

Para alívio de Veloz, os dois homens se separaram da calçada e deixaram que ele e Amy passassem. Suas esporas ressonaram no chão úmido e compacto. Veloz olhou para baixo. O rosto da Amy, de vermelho brilhante só uns momentos antes, pôs-se agora branco como a morte.

—Por... por que estão aqui? —Olhou-o assustada aos olhos—. O que estão procurando em Terra de Lobos?

—Procuram ouro.

—O que me crucifiquem! —Olhou-os por cima do ombro—. Os homens como eles não ganham a vida trabalhando.

—Suponho que têm o mesmo direito a sonhar que outros.

—Não crie que parecem... —calou-se, como se não pudesse dizer a palavra.

—O que, Amy? —Veloz se desceu da calçada—. me Escute. Levam aqui um par de dias. Se fossem tão maus como parecem, já teriam criado problemas. Caçador foi ver os. Diz que parecem de verdade interessados em encontrar ouro.

Quando terminou de falar, lhe arrepiou o pêlo da nuca. Olhou para trás para ver que os dois homens se detiveram na rua. Com os chapéus baixos, não podia saber se o olhavam nem podia entender sua estranha reação. Pôs com mais firmeza o braço sobre a Amy e acelerou o passo.

—Se não terem vindo a por ouro —acrescentou, mais para ele que para ela—, é que estão pensando muito seus movimentos.

—Movimentos? —A Amy lhe contraiu a cara—. Não acreditará que... Ai, Veloz, não... Não são pistoleiros, verdade?

—Eu não os conheço. —O medo que viu em seus olhos lhe fez desejar não haver dito nada. Dedicou-lhe um rápido sorriso e a reconfortou com o braço—. Né, não seja tão pessimista. Estou-me bancando esperto. Tem que ver com o território. Vim aqui a começar de novo, recorda? Tentemos não ver problemas onde não os há. A probabilidade de que alguém me tenha seguido do Texas é muito remota, não crie?

Ela recuperou um pouco de cor.

—É um caminho muito comprido. —Sorriu—. Possivelmente estou vendo comancheros por todos lados, agora que freqüento a um.

Ele a olhou com os olhos entreabridos.

—Não sou um comanchero, nunca fui. Se de verdade o pensasse, não teria feito...

Lhe cravou as costelas.

—Sei um cavalheiro.

—Tampouco sou um cavalheiro. —Baixou a cabeça e lhe mordiscou o lóbulo da orelha—. E, daqui a uma hora, terei-te convencido disso —lhe sussurrou.

Pela extremidade do olho, Veloz viu um movimento ao outro lado do povo. deu-se a volta a tempo para ver índigo metendo-se só no bosque. Amy também a viu.

—Essa garota... Estou segura de aonde vai. Oxalá não se encontrasse com ele a sós dessa maneira.

—Crie que vai encontrar se com ele? Talvez vai caçar. E se não, também gosta de passear. Ela é muito selvagem.

—um pouco muito para meu gosto. Está muito segura de si mesmo. Não tem medo de nada. Isso poderia ser perigoso se esse jovem carecer de escrúpulos.

Veloz sorriu, recordando a faca que Índigo levava na coxa.

—Compadeço ao Brandon se se passar da raia com ela. Essa garota é tão rápida com a faca como nenhum homem que tenha conhecido. E te aposto a que tampouco lhe dá mal brigar. Poder brigar com o Chase lhe deu muitas guelra.

—Ela é sozinho uma garota, Veloz. Brandon a dobra em tamanho.

—Poderia com três como ele sem sequer suar. Deixa de preocupar-se. Qualquer menino que queira aproveitar-se dela vai ter que morder mais pó do que pensa.

Enquanto subiam os degraus da casa, Amy não pôde evitar jogar um último olhar para o lado do bosque pelo que Índigo tinha desaparecido.

                                                   Capítulo 21

Índigo pressentiu o perigo do momento em que entrou no claro do bosque. Brandon não tinha vindo sozinho. Três de seus amigos estavam com ele, e não gostou do olhar que viu em seus olhos.

deteve-se em seco.

—Olá, Índigo —disse Brandon avançando um passo para ela. tirou-se a jaqueta de quadros e levava uma camisa azul claro, com as mangas arregaçadas até o cotovelo. Nunca o tinha visto com uma roupa tão informal. Olhou-a de cima abaixo e se passou uma mão pelas costelas, como se acabasse de comer e lhe doesse o estômago—. Me alegro de que tenha decidido vir —sorriu—; assim poderemos fazer as pazes.

Não gostou da maneira em que disse «fazer as pazes», como se fora uma brincadeira. Embora mantinha o olhar fixo no Brandon, Índigo viu que os outros se dirigiam para ela. A meia sorriso que viu em suas caras a assustou. Não tinha nem idéia do que podia estar lhes acontecendo pela mente, mas fora o que fosse, não podia ser nada bom para ela.

—Brandon? —disse ela brandamente—. por que trouxeste para seus amigos contigo?

Olhou-a com esses olhos azuis, divertido.

—Estão aqui para me ajudar contigo.

Ela olhou aos outros. A noite anterior, Brandon tinha tentado lhe colocar a mão por debaixo da blusa e ela o tinha esbofeteado. despediram-se zangados. Hoje, durante o recreio de meio-dia, ele se tinha aproximado do pátio para lhe perguntar se ficavam essa tarde. Para fazer as pazes, havia dito.

Ela se umedeceu o lábio; tinha a boca seca e pegajosa.

—Necessita ajuda para te desculpar?

—Carinho, você é a que vai desculpar se —disse em um sussurro—. E vais fazer o de joelhos. Nenhuma cadela a Índia me esbofeteia e se vai de rositas.

Índigo por fim pôde separar os pés do chão. Deu um passo para trás, conmocionada pelo insulto. Tinha-lhe feito sentir como se fora algo sujo, algo tão por debaixo dele que nem sequer se merecia seu desprezo. A dor a partiu em dois. Tinha-lhe querido tanto... acreditou-se todas as coisas bonitas que lhe havia dito. Ao parecer, tudo tinha sido uma grande mentira.

Agarrando-se ao feroz orgulho que seu pai lhe tinha inculcado, conteve as vontades de chorar e levantou o queixo.

—Não me porei de joelhos ante nenhum homem.

Brandon deu outro passo para ela.

—OH, claro que te porá de joelhos. Quando estiver em presença dos que são melhores que você, é no chão onde tem que estar. Tem uma opinião muito elevada de ti mesma, Índigo. Deus criou aos índios para uma coisa, e vais aprender o agora mesmo. Não pensou de verdade que um homem branco podia ter outro interesse por ti, não?

Um dos outros jovens riu, com uma gargalhada profunda e surda. Ela se deu a volta para correr, mas chocou violentamente contra o peito imenso de outro. O impacto a deixou enjoada. antes de cair, uns braços imensos a rodearam. Fracamente se deu conta de que havia alguém detrás dela. Devia haver cinco. Os braços de um deles a sujeitaram pelo torso, estrangulando-a, lhe cortando a respiração.

—Vá, vá! Acaso não é este um abraço de amor? —Levantando-a do chão, fez-a girar em círculo e olhar ao Brandon—. Não sente saudades que tenha estado perseguindo-a. Nem sequer parece uma mestiça. E a julgar por como se move, quem diria que é tão jovem?

—Só faz falta uma gota de sangue a Índia —respondeu Brandon.

—Né, não me queixo. Sempre quis ter a uma garota branca que resistisse um pouco. Isto é certamente o que mais se aproxima desse desejo.

Com os olhos entrecerrados, Índigo examinou a cara do homem que a deixava sujeita, uma cara moréia, que reconheceu imediatamente. Heath Mallory, do Jacksonville. Tinha-o visto em missa com sua família, um jovem bom e educado. Agora, entretanto, sua cara se tornou arruda e ameaçadora, e seu sorriso, cruel. Tratou de soltar-se, mas ele a agarrou com força. Para seu desespero, sentiu que ele a soltava com um braço para lhe colocar a mão por debaixo da blusa e a combinação. A Índigo deram arcadas.

—Não —gritou—. me Tire as mãos de cima!

Ele procurou seus peitos. Índigo conseguiu soltar-se com um braço e lhe pegou uma cotovelada na boca com todas suas forças. O golpe fez que começasse a sangrar. A ira o cegou. Com uma maldição, separou-a de um golpe e depois lhe deu um reverso com os nódulos na bochecha. Índigo viu pontos negros ante seus olhos.

antes de que pudesse recuperar o equilíbrio, Brandon a agarrou por detrás e a atirou ao chão. De um salto, ficou sobre ela, lhe agarrando as bonecas para imobilizá-la. O peso de seu corpo a deixou sem fôlego. Inclusive embora pudesse escapar dele, havia outros quatro, e sabia que não teria nenhuma oportunidade de livrar-se deles.

Embora tentou lutar com todas suas forças, o pânico a invadiu. retorceu-se e gritou, rezando para que alguém, por algum milagre do céu, ouvisse-a. Chutou e se sacudiu. Apesar de seus esforços, Brandon conseguiu colocar a mão na blusa. Sentiu uns dedos aproximando-se de seus peitos. Neste horrível e interminável momento, soube que foram violar a, não porque tivesse feito nada para merecê-lo, mas sim porque tinha sangue comanche nas veias. Não sabia exatamente o que significava ser violada, mas tinha ouvido o suficiente para saber que era algo horrível. O pânico se fez maior, cegou-a e bloqueou qualquer pensamento racional.

Então, quase como se estivesse junto a ela, ouviu a voz de seu pai. «Nunca utilize a força em uma briga, Índigo. Utiliza os conhecimentos que eu te ensinei. Mantén a calma. Mede a seu inimigo. Depois ataca seus pontos débeis.» Fechou os olhos e se obrigou a deixar de lado o medo, ficando como sem vida.

Brandon riu, lhe cravando os dedos com força, castigando-a.

—Aqui temos a uma Índia lista. Sabe o que lhe convém, verdade, Índigo?

Lentamente, Índigo abriu os olhos. enfrentou-se ao olhar do Brandon, separando-se da mente a sensação que lhe produzia a mão sobre sua pele. Pensando que sua frouxidão era signo de rendição, baixou a cabeça e afundou seus lábios nos dela. Ela sofreu o beijo um momento, esperando, e quando o ângulo de sua cabeça foi o adequado, cravou-lhe os dentes no lábio superior, fechando a mandíbula com todas suas forças.

Brandon ficou tenso, incapaz de retirar-se sem que lhe rasgasse o lábio. Emitiu um gemido fico. Lhe mordeu ainda mais forte. Ele rugiu, lhe soltando as bonecas para lhe agarrar a cabeça. Nesse momento, Índigo abriu a mandíbula para que pudesse retirar a cabeça e lhe cravou os polegares nos olhos. Ele gritou e se ergueu para trás, ficando-as mãos sobre a cara. Índigo se deslizou debaixo dele, com o sabor de seu sangue na boca enquanto ficava de joelhos.

Os outros quatro formaram um círculo ao redor dela. Índigo tirou a faca de debaixo de sua saia, consciente de que Heath Mallory estava detrás dela.

—Vamos, escória tosi —assobiou ela, hasteando a folha reluzente da faca—. Quem de vós me quer primeiro? me deixem que lhes mostre para que serve uma Índia.

—meu deus, meus olhos! Meus olhos! —Brandon estava de joelhos, sujeitando-a cara e retorcendo-se de forma selvagem.

Índigo sabia que não lhe tinha parecido os dedos o suficientemente forte para deixá-lo cego. E não porque seu pai não o tivesse ensinado. Rapidamente se fez uma composição de lugar de seus oponentes, tratando de conter o medo. Tinha havido sempre uma constante em tudo o que seu pai lhe tinha ensinado: não havia lugar para o pânico na batalha.

«Mede a seu inimigo.» Os quatro que ficavam seguiam superando-a em número e força e, embora nenhum tinha a musculatura de seu pai ou do tio Veloz, sua única esperança ao lutar com eles era usar a cabeça. balançou-se ligeiramente, a um lado e a outro, mantendo ao Heath sempre à vista e a faca na palma da mão.

Heath arremeteu contra ela. Índigo saltou e lhe pegou uma navalhada. A ponta da faca lhe alcançou a parte superior do braço. Ele chiou e saltou para trás, tampando-a ferida, com o sangue caindo pela camisa branca e entre os dedos.

—Esta pequena zorra me cortou!

—te aproxime tosi tivo e te cortarei o pescoço —o ameaçou.

Um dos outros, um ruivo desajeitado, agachou-se e correu para ela. Índigo agarrou um punhado de terra e o atirou aos olhos, afastando-se de seu caminho e dando um salto para ficar em pé enquanto ele caía ao chão. girou-se, lista para enfrentar-se a outros. O orgulho lhe subiu pela garganta, quente e vivo, lhe pondo de ponta os cabelos da nuca. Com o corpo para diante, as mãos em alto e os pés sempre em movimento, desejou por um instante que seu pai pudesse vê-la. Desde sua infância, lhe tinha assegurado que o tamanho não dava a vitória a um homem, e agora o estava comprovando.

Com renovadas esperanças olhou aos três que ficavam. Brilhavam-lhes os olhos e tinham as caras reluzentes de suor. «Deixa que venham.» Embora tinha medo, a faca seguia em sua mão, tão familiar e tão fácil de dirigir como se fora parte de seu corpo. Embora odiava matar, não o duvidaria se saltavam sobre ela. Nem sequer o Deus de sua mãe poderia condená-la por defender-se.

—Vêem me agarrar —disse desafiando a um jovem de cabelo negro—. Vamos! Onde está sua valentia? Dá um passo...

O rosto do jovem se contraiu e ficou branco. Tinha o olhar fixo na faca.

—Não tem valor para me matar.

Índigo tragou saliva.

—Já o veremos.

Justo enquanto falava, algo a golpeou por detrás. Viu uma camisa azul e se deu conta de que era Brandon. cambaleou-se e caiu sob seu peso, e a ponto esteve de perder a faca. Rodaram pelo chão. Ele ficou em cima, imobilizando-a com o corpo. Sem perder um momento em considerações, Índigo blandió a folha e lhe cravou a orelha. Ele rugiu e se tornou a um lado. Ela se agarrou com o punho a sua camisa e lhe pôs a faca na garganta. No instante em que sentiu o frio metal, ficou paralisado, com os olhos injetados em sangue fixos nela.

—Não te mova —lhe disse—. Nem sequer respire, Brandon. —Viu outros rodeando-os—. lhes diga que se retirem se valorar algo sua vida.

Ao Brandon lhe fechou a laringe ao notar o bordo afiado da folha. Caía-lhe ainda sangre do lábio.

—Já a ouvistes —gemeu—. lhes Jogue atrás! Diz-o a sério!

—É obvio que o digo a sério —sussurrou—. Sou uma selvagem, recorda? Uma Índia!

O corpo do Brandon começou a tremer, um tremor terrível e incontrolável. Índigo conhecia esse sentimento. Só momentos antes tinha estado tão aterrorizada como ele. Não lhe dava nenhuma pena. Se tivesse conseguido o que se propunha, agora seria ela a que estaria com as pernas abertas e sofrendo seus abusos.

—Vamos! —gritou aos outros—. lhes Aparte!

Não queria apartar a vista do Brandon, mas devia estar segura de que seus amigos se retiravam e sabia que devia fazê-lo. Em tensão, olhou primeiro à esquerda e depois à direita. Não pôde ver ninguém, mas isso não significava que não houvesse alguém fora de seu campo de visão, preparado para saltar sobre ela. Mesmo assim, não tinha outra opção mais que arriscar-se. Ficar ali no chão, lhes dando tempo para pensar em como desarmá-la, teria sido um grande engano.

—De acordo, Brandon, lhe levante —lhe ordenou—. Não faça nenhum movimento repentino.

Ele se moveu para trás um pouco. Ela manteve a faca sobre sua garganta.

—Pagará por isso —sussurrou—. Juro Por Deus que o pagará. Farei-te te arrastar ante mim. Embora seja quão última faça em minha vida.

Índigo se levantou, ficando primeiro de joelhos e depois de pé.

—Nunca me arrastarei nem por ti nem por nenhum homem, Brandon Marshall. Volta para Boston e a seu mundo de brancos se isso for o que quer de uma mulher.

—Uma mulher? Você? Você é uma Índia. —tocou-se o lábio partido, depois a orelha, com a mão tremente—. Me marcaste que por vida, pequena zorra! Pagará por isso. Prometo-lhe isso.

Índigo lançou um olhar aos outros, depois saiu correndo. Estava bastante longe do povo e sabia que eles a perseguiriam. Seus mocasines tocavam o chão só ligeiramente, e a tonicidade dos músculos de suas pernas lhe permitiam correr a toda velocidade entre as árvores. detrás dela ouviu o som de umas botas golpeando o chão. Tinha os olhos cheios de lágrimas e logo que podia ver por onde ia. As apartou com a manga. «Cadela a Índia.» Essas palavras a partiam em dois.

Tinha que afastar-se antes de que a agarrassem. imaginou o rosto de seu pai, o de sua mãe, o do Chase. Toda sua vida tinha estado rodeada de amor. Tinha sido testemunha de discriminação racial, mas solo na distância. Agora ela o tinha sofrido de primeira mão. Recordou a carícia do Brandon. Não significava nada para ele! Nunca a tinha querido. Solo tinha querido utilizá-la.

O som dos passos era cada vez mais próximo. Índigo correu ainda mais depressa, saltando sobre arbustos, correndo contra os ramos baixos, sem ire nos pulmões, incapaz de respirar. Tinha as pernas mais largas que eles. O cabelo lhe caía pelos olhos, um véu cegador de cor marrom e dourada. Seu pé tropeçou com algo e caiu ao chão, com um impacto que lhe agarrou por surpresa. Ofegando, agarrou-se com as unhas ao chão para ficar em pé, procurando grosseiramente sua faca.

O rangido de seus passos parecia provir das árvores que havia detrás dela. Abandonando a busca da faca, lançou-se através de um arbusto, com tanto medo que esqueceu tudo o que lhe tinha ensinado seu pai. O retumbar dos passos era iminente, tão próximo que podia ouvi-los respirar.

 

Amy revisou as somas de Veloz em seu caderno, plenamente consciente do ombro que roçava seu sutiã quando se inclinava sobre o papel para as ler. Até o momento, tinha conseguido manter a mente centrada nos temas acadêmicos, mas sentia que ele tinha outros planos para quando terminassem a lição do dia. A idéia a punha nervosa e fazia que lhe resultasse difícil concentrar-se. Quando ele a olhava, sentia-se tímida e incômoda. Imaginava que ele devia estar pensando na noite anterior, em sua nudez e na maneira desavergonhada com a que lhe tinha respondido. O brilho radiante que via em seus olhos lhe acelerava o pulso. Ele a desejava dessa maneira outra vez e não fazia nenhum esforço por ocultá-lo.

Um rubor quente lhe subiu pelo pescoço. A noite anterior tinha necessitado toda sua coragem para iniciar o ato sexual. Agora que seus piores temores tinham passado, Veloz jogava com umas regras completamente diferentes. Já não sabia o que esperar dele. Claramente, não acreditava que fosse necessário conter-se. E parecia divertir-se com o efeito que produzia nela.

Mas a Amy não parecia divertido. Se foram fazer o amor mais tarde, não queria pensar nisso até que ocorresse. As insinuações e olhares intencionados a punham nervosa.

Como se lhe lesse o pensamento, Veloz jogou para trás a cabeça e se apoiou contra seu peito.

—Estou cansado de somar —disse com voz grave.

Notou uma sensação de formigamento no estômago. Evitou seu acalorada olhar.

—Não temos muito mais que fazer.

Ele girou a cara para ela, roçando com os dentes a crista de um de seus peitos, fazendo que seus sentidos prendessem fogo incluso através do tecido do vestido.

—Desejo-te.

Sentiu que lhe afrouxavam as pernas. Veloz levantou uma mão para alcançar os botões de seu vestido.

—Ou te vem à habitação comigo ou lhe nu aqui mesmo. —Um botão se soltou da casa—. esperei quão máximo estava disposto a esperar. —Outro botão se desabotoou sob seus ágeis dedos—. Te farei o amor sobre a mesa, juro-lhe isso.

—Veloz... estamos a plena luz do dia! Sobre a mesa? —Passou uma mão pela superfície em questão—. É... não pode... —ficou sem respiração—. depois de jantar, talvez possamos...

—Diabos, depois do jantar. Agora, e depois do jantar outra vez. —O tom de brincadeira de sua voz não conseguia cobrir sua determinação. estirou-se para roçar seus lábios pela clavícula descoberta—. Deus, é deliciosa. Nunca tenho o bastante. Possivelmente deveria te fazer o amor aqui mesmo. —Sua língua se afundou ainda mais quando desabotoou outro botão—. Provar cada palmo de seu doce corpo. Uma segunda e uma terceira vez. —Passou-lhe um braço pelos quadris e atirou dela para ele, encontrando com a boca o caminho para a parte baixa do pescoço da combinação—. fechaste a porta? —perguntou, com seu quente fôlego lhe roçando a pele.

Amy não recordava se a tinha fechado ou não. Com essa boca lhe mordiscando o corpo, não podia recordar absolutamente nada. Amy lhe aconteceu a mão pelo cabelo, aterrorizada pela imagem de si mesmo nu arremesso sobre a mesa. Não estava lista para uma desfarçatez semelhante.

—Veloz, eu... por favor. É pela tarde. vamos esperar.

—E que mais dá a hora do dia?

—É... é de dia.

—Levo te esperando toda minha vida. Estou farto de esperar, Amy. Estamos casados, recorda? Podemos fazer o amor sempre que quisermos. E agora mesmo, eu gostaria...

—Mas eu... é, eu não... —A boca dele provocava um estranho efeito em seus pensamentos. Procurou em sua cabeça o que tratava de dizer—. Não estou com ânimos.

—Deixa que eu me ocupe disso —murmurou, ainda mordiscando-a, ainda bombardeando a de sensações que lhe tiravam o fôlego.

Estava claro que não estava disposto a aceitar um não por resposta. Amy tratou de falar.

—Então, vamos ao menos ao dormitório.

Veloz afrouxou o abraço e ficou em pé.

—Guíame. —Agarrou-a pelas bonecas—. Não te abotoe esse condenado vestido. Lhe vou tirar isso de todos os modos.

Com as bochechas tintas, separou-se dele. Enquanto cruzava a cozinha, ouviu algo e duvidou. O som voltou a repetir-se, tão fraco que não estava segura. Mas reconheceu a voz imediatamente.

—É Índigo.

Ele grunhiu e a agarrou da cintura para ele.

—É muito inoportuna.

Com o coração como o tinha, Amy agradeceu o adiamento.

—Veloz, tenho que ir ver o que quer.

Com um suspiro, ele a soltou e a seguiu até a janela do salão. Abotoando-se rapidamente o vestido, Amy abriu as cortinas para ver fora. Por um momento não pôde distinguir a Índigo. Depois captou um movimento ao final do bosque. Ao concentrar-se, viu o Brandon Marshall. Tinha a Índigo agarrada do braço e atirava dela para o bosque. A garota lhe deu um joelhada na virilha. Outros dois jovens saíram das árvores. Entre os três, fizeram-se com a garota e atiraram dela para a espessura para que ninguém pudesse vê-la.

—Ai, Meu deus!

A seu lado, Veloz ficou tenso. Com uma maldição, correu para a porta e Amy fez o mesmo. Saíram da casa, depois correram pelo alpendre e atravessaram o jardim. Os gritos de Índigo os guiaram pelo bosque, impulsionando-os a correr ainda mais depressa. A Amy começou a lhe pulsar o coração com força. levantou-se a saia para poder seguir a Veloz quando ele ficou a correr a toda velocidade.

Ao chegar ao bosque, Veloz se deteve um momento para localizar os gritos, dando assim a Amy a oportunidade de alcançá-lo. Juntos correram em ziguezague entre as árvores até chegar a um pequeno claro. O que viram fez que Amy ficasse sem força nas pernas. Índigo estava no chão e quatro jovens a sujeitavam com as pernas abertas. Ajoelhado entre elas, Brandon Marshall lhe rompia a saia sem perder um minuto.

Veloz rugiu furioso e se dispôs a atacar. Agarrados por surpresa, os meninos soltaram a Índigo e se dispersaram. Veloz golpeou ao que tinha mais perto. Ao momento seguinte, os outros quatro se reuniram com ele.

O primeiro reflexo da Amy foi pôr a Índigo a salvo. Agarrou à garota do braço e a arrastou longe dos homens. depois de ajudá-la a ficar em pé, conduziu-a até o bordo do claro. O horrível som dos punhos ressonava não muito longe. Ela se girou, procurando algum tipo de arma para poder ir em ajuda de Veloz. Não a tivesse necessitado. Veloz tinha a vantagem de havê-los pego por surpresa e, embora os jovens estavam bem desenvolvidos, careciam da dura precisão e da velocidade mortal do comanche.

Amy ficou geada. Nunca tinha visto lutar a um homem dessa maneira. Ele se equilibrou sobre os cinco como um selvagem, incapacitando ao Brandon com um golpe sinistro na garganta, dando uma patada certeira por debaixo do joelho a outro e utilizando seus punhos com o terceiro. Os outros dois se escabulleron entre as árvores.

Ainda furioso, Veloz agarrou ao Brandon Marshall e o arrastou pelo claro até onde estava Índigo, obrigando ao jovem a ficar de joelhos. Amy agarrou o ramo de uma árvore e a blandió em alto, ameaçando em silencio aos dois homens que jaziam sobre o chão e lhes fazendo saber que os atacaria se decidiam mover-se.

—Está bem, Índigo? —perguntou Veloz com voz acalmada.

Soluçando e tremendo, Índigo assentiu, abraçando-se a si mesmo como se tivesse frio.

Veloz agarrou ao Brandon pelo cabelo e lhe atirou da cabeça para trás.

—lhe peça perdão, bastardo inútil!

—Não o farei —grasnou Brandon, resistindo a dor da garganta arroxeada.

Veloz o agarrou pela orelha ensangüentada.

—Faz-o ou, que Deus me ajude, você Mato aqui mesmo! —Não havia engano possível no olhar assassino de Veloz—. O digo a sério, menino. Não cria que não o farei.

Tragando saliva compulsivamente, Brandon tratou de pronunciar as palavras.

—Sinto muito! Sinto muito...

—Não é suficiente! —Veloz voltou a lhe atirar do cabelo—. lhe Peça perdão!

—Peço-te perdão —gritou Brandon—. Te peço perdão, Índigo!

Veloz levantou a vista.

—Você decide, Índigo. Deixo-lhe com vida?

A expressão na cara pálida de Índigo se endureceu. Ela alargou o momento, olhando a cara ensangüentada do Brandon como se não o tivesse visto nunca antes.

—Pelo amor de Deus, não pode deixar que me mate! —soluçou Brandon—. Índigo, por favor...

A boca da moça fez uma careta de desgosto.

—lhe deixe viver, tio Veloz. Não merece a pena matá-lo.

Desta forma, Índigo se deu a volta e deixou o claro. Como Amy temia que os outros dois meninos pudessem reaparecer e atacar pela segunda vez, não estava segura de se devia seguir a sua sobrinha e deixar a Veloz sozinho.

Ele atirou ao Brandon ao chão.

—Não volte a vir por Terra de Lobos outra vez. Não, se valorar um pouco sua vida.

Ao dá-la volta para partir, o olhar de Veloz recaiu no ramo de árvore que Amy sustentava. Seus olhos escuros se suavizaram e não pôde conter um sorriso. lhe tirando a arma, agarrou-a do braço e a tirou dali. Quando se aproximavam do limite do claro, Brandon ficou em pé. Seus amigos se reuniram com ele.

—Isto não vai ficar assim —gritou Brandon—. Ninguém humilha ao Marshall e se sai com a sua! Será melhor que comece a levar suas pistolas se souber o que lhe convém.

Veloz ficou tenso mas seguiu caminhando. Índigo os esperava ao final do bosque. Ao vê-los, saiu correndo em busca dos braços da Amy.

—terminou-se, carinho —sussurrou Amy, acariciando o cabelo enredado da garota—. Se terminou.

—Ai, tia Amy! por que tentaram me fazer isto? por que?

Amy abraçou à garota com mais força. Não tinha respostas, Índigo tremia com tanta força que Amy temeu que pudesse vir-se abaixo. Olhou a Veloz. Entendendo a mensagem silenciosa, agarrou à garota em braços e a levou a casa.

—Ai, tio Veloz! —Rodeou-lhe o pescoço com os braços—. Estou tão contente de que aparecesse! Tão contente. Me caiu a faca. E não o encontrava. Foi então quando me alcançaram.

—Está segura de que está bem? —perguntou.

—Sim. Não me... chegou antes de que... —Índigo rompeu a chorar histéricamente—. Mamãe e tia Amy trataram de me dizer isso e eu não as escutei.

Veloz apertou o passo.

—vamos casa a ver sua mãe, de acordo?

 

Uma hora depois Índigo estava acurrucada e a salvo na cama de sua habitação, profundamente dormida, com as feridas e arranhões curados. Loretta baixou as escadas para reunir-se com Caçador, Veloz e Amy ante o fogo. Amy serve a sua prima uma taça de chocolate quente. Ao dar-lhe pô-lhe uma mão no ombro para reconfortá-la.

—encontra-se bem?

Pálida e tremente, Loretta assentiu vagamente, com o olhar perdido.

—quão bem uma garota pode estar depois de passar por algo assim. —Levantou os olhos e se encontrou com o olhar da Amy—. Imagino que ninguém entende melhor que você o que deve sentir.

A Amy lhe fez um nó no estômago. As lembranças a assaltaram. Entrar naquele claro e ver índigo em meio de um ataque lhe tinha removido seu próprio passado. Como se Veloz sentisse quão comovida estava, aproximou-se dela e lhe rodeou os ombros com o braço. Atraindo-a para ele, roçou-lhe com os lábios a têmpora.

Agradecida pela amostra de carinho, Amy se apoiou nele procurando a segurança de sua carícia.

—Ah, Veloz, estou tão contente de que estivesse ali. Não sei o que tivesse feito se não.

Com voz contraída, respondeu:

—Parecia bastante capaz com esse ramo na mão. —Seus olhos tinham um brilho brincalhão ao olhá-la—. Não te tinha visto esse olhar desde fazia anos. Tivesse-te desenvolvido muito bem sem mim.

Amy tremeu.

—Não estou tão segura disso. E se...

—É melhor não pensar nos «e se». Estava ali, tudo terminou e Índigo está bem.

Apartando a taça, Loretta se passou a mão pelos olhos.

—Fisicamente, ao menos. Temo-me que nunca esquecerá. Maldito Brandon Marshall! Eu gostaria de pendurá-lo pelos dedos dos pés e lhe golpear até deixá-lo moribundo. Sabia que isto ocorreria. Sabia! por que não tratei de detê-lo?

Caçador permanecia em silêncio, com a vista desce em direção a sua esposa. depois de um bom momento, agachou-se e a rodeou com os braços.

—Índigo é forte, pequena. Suas lembranças do Brandon Marshall se converterão em pó que se leva o vento. Não pode salvar a de tudo. E não pode escolher a seus amigos. Ela deve aprender a julgar o caráter de um homem por si mesmo.

Loretta se abraçou a ele.

—Ah, Caçador, por que o fez? Ela é uma garota tão doce. um pouco indisciplinada, sim, mas não fez nada para merecer isto. O que ocorre a esse jovem?

Caçador fechou os olhos.

—Aqui neste povo que construímos nos esquecemos do resto do mundo e de todo o ódio que existe. Índigo leva meu sangue. Aos olhos de alguns, isso a faz menos humana.

Loretta soluçou.

—Mas isso é terrível! Pensei que vindo aqui escaparíamos dos prejuízos.

—Aqui, neste lugar, temo-lo feito —sussurrou—. Mas no mundo que existe fora de Terra de Lobos... —calou-se e lhe aconteceu uma mão pelas costas—. Não chore. Índigo ficará bem. E será mais sábia agora, não crie? Tudo irá bem. As palavras da profecia o prometeram.

Amy recordou umas quantas palavras da profecia e rezou para que Caçador tivesse razão. Um novo manhã e uma nova nação onde os comanches e os tosi tivo vivessem juntos para sempre. Era possível algo assim? Terra de Lobos crescia cada vez mais, como o tinha feito Jacksonville. Cada ano chegavam mais forasteiros para instalar-se, trazendo com eles a estreiteza de miras e os prejuízos irracionais, não só contra os índios, a não ser contra qualquer outra minoria. Qualquer que lesse o Democratic Teme se daria conta. Se os pobres chineses ousavam sequer pôr a expressão equivocada em suas caras, podiam ser presos e multados severamente. Algumas vezes Amy se perguntava se os cidadãos do Jacksonville não tinham votado em silencio para utilizar aos chineses como fonte de ganhos para a cidade. Poderiam Caçador e seus descendentes realmente viver entre os brancos em paz? Brandon Marshall não seria o último homem que desejando a Índigo tratasse de aproveitar-se dela por seu sangue a Índia.

Veloz se esclareceu garganta.

—Ódio dizer isto, mas me temo que Brandon voltará em busca de problemas. Acredito que é bastante arrogante e retornará. Asseguraria-me de que o delegado Hilton não está no Jacksonville, no caso de.

As palavras de Veloz intensificaram a apreensão da Amy. Passou-lhe um braço pela cintura, com medo não já solo pelos Lobo, mas também por Veloz e por ela mesma. Sua premonição da noite anterior, de que a realidade poderia interpor-se entre eles, tinha vindo a apanhá-la. Se Brandon Marshall cumpria com suas ameaças, Veloz se veria forçado a ir armado. Se o fazia, o pesadelo que o tinha feito fugir do Texas começaria de novo.

Levantou a cabeça para ele.

—Se te desafiar, o que fará? —perguntou-lhe tremendo.

Seus olhos negros se encontraram com os dela.

—Não vou agarrar as pistolas outra vez, Amy. Tem minha palavra. Terá que disparar a um homem desarmado. Nem sequer Brandon é tão estúpido.

—Mas...

—Não há peros —disse arreganhando-a brandamente—. Vim aqui para começar de novo. Não deixarei que um cabeça louca como Marshall o arruíne tudo.

A promessa não conseguiu tranqüilizar a Amy.

Caçador levantou o olhar.

—Índigo é minha filha. Se voltar, será meu problema.

Veloz fez uma careta.

—Talvez ele não o veja dessa maneira. Eu sou o que lhe fez ficar de joelhos. Esperemos sozinho que não voltemos a vê-lo.

Loretta os interrompeu com severidade.

—Os dois estão esquecendo ao delegado Hilton. Ele é a lei aqui. Estou segura de que Brandon não voltará antes de manhã, que é quando Hilton retorna. Não duvidem de que ele se encarregará do assunto.

Um ruído nas escadas chamou a atenção de todos. Amy se deu a volta e viu índigo no degrau superior, com a cara torcida de chorar e levando nos braços um vulto de roupa. Estava claro que a garota não tinha estado dormindo tão profundamente como pensavam. Levantou o queixo e se quadrou de ombros.

—Estou ocasionando muitos problemas, verdade? —antes de que ninguém pudesse responder, acrescentou—: Bem, não voltarei a fazê-lo. Prometo-lhes isso. —Inclinou a cabeça para mostrar o vulto de roupa—. vou queimá-la. Tudo. E não tratem de me impedir isso La chica abrió la puerta y desapareció en la penumbra. Unos minutos más tarde, el resplandor rosáceo de una hoguera bañó las ventanas traseras de la casa. Amy miró afuera y vio a Índigo, con la espalda rígida, la cabeza alta, mientras tiraba un vestido detrás de otro en la hoguera.

Amy olhou a roupa que levava: vestidos, roupa interior e sapatos. Uma cinta de delicada cor rosa caía por sua boneca. Amy reconheceu o vestido rosa que a menina tinha levado a noite do baile social.

Índigo cruzou a habitação e se dirigiu à porta traseira. Enquanto agarrava o pomo, olhou por cima do ombro, com seus olhos azuis cheios de lágrimas.

—de agora em diante, sou comanche. Nunca mais levarei roupa de mulher tosi. Nunca!

Caçador pôs uma mão no ombro da Loretta para que não pudesse levantar-se da cadeira de balanço. Cravando seus luminosos olhos em sua filha, disse:

—Um comanche nunca faz promessas quando está zangado, Índigo, e nunca é muito tempo. Não pode renegar do sangue de sua mãe que corre por suas veias. Ela é parte de seu coração.

As lágrimas rodaram pelas bochechas de Índigo, e sua boca começou a tremer. Seu olhar doído se fixou na Loretta.

Com a mesma voz doce, Caçador acrescentou:

—Vê e faz o que tenha que fazer. Quando te tiver passado o aborrecimento, estaremos aqui te esperando com todo o amor de nosso coração.

A garota abriu a porta e desapareceu na penumbra. Uns minutos mais tarde, o resplendor rosáceo de uma fogueira banhou as janelas traseiras da casa. Amy olhou fora e viu índigo, com as costas rígida, a cabeça alta, enquanto atirava um vestido detrás de outro na fogueira.

Vestida à maneira comanche e com os mocasines tradicionais, a cabeleira despenteada reluzente à luz das chamas, Índigo parecia uma branca disfarçada da Índia. A Amy lhe rompeu o coração. O caminho que queria empreender era impossível. Qualquer que a visse saberia que era mais branca que comanche.

Amy saiu silenciosamente da casa. Ao descender os degraus do alpendre e cruzar o jardim, sua sobrinha se deu a volta para olhá-la. Amy tremeu pelo frio da noite e aproximou as mãos ao fogo, sem dizer nada. O vento sussurrava entre os ramos nus que se elevavam sobre suas cabeças, um som inóspito e solitário. O aroma do inverno tocava o ar, frio e puro, recordando os picos nevados e os pedaços de gelo nos telhados das casas.

—Tratou de me violar —sussurrou Índigo como se ainda não pudesse acreditar-lhe Ele e todos seus amigos. Solo porque meu pai é comanche.

Amy se mordeu a bochecha por dentro, desejando e rezando por encontrar as palavras adequadas. Um jorro de breu gotejou de um dos troncos e prendeu fogo, dando um estalo e vaiando nas chamas. Índigo lançou o último objeto de roupa que ficava ao fogo.

Olhou a Amy com preocupação.

—O verão passado, quando mamãe e eu fomos ao Jacksonville de compras sem papai nem Chase, vimos uma Índia sentada na calçada da porta de um botequim. passou-se ali toda a tarde, sentada sob o sol abrasador, sem nada que comer nem beber, enquanto seu marido caçador se bebia todo seu dinheiro no interior. Mamãe teve piedade dela e lhe comprou um refresco, mas ela teve medo de aceitá-lo.

Amy adivinhou aonde queria ir parar Índigo e respirou fundo.

—Ocorrem coisas tristes, Índigo. Este velho nosso mundo pode ser muito duro algumas vezes.

Índigo trocou o peso do corpo, com uma expressão de agonia no rosto. Com a ponta do sapato, empurrou um tronco ao meio consumir para devolvê-lo ao fogo.

—Quando o marido da Índia saiu do botequim, estava muito bebido. Começou a pegá-la, e todos os que estávamos na rua ficamos ali sem fazer nada. Se tivesse sido uma mulher branca, algum homem o teria evitado, mas como era a Índia, sozinho...

deteve-se, e tragou saliva.

—Poderia terminar como essa mulher, tia Amy... se me casar com um homem branco. Ele nunca pensaria que sou tão boa como ele e me trataria mau, como esse caçador tratava à a Índia. E aos brancos não importaria. limitariam-se a olhar para outro lado... porque eu também sou a Índia.

Amy estirou o braço e agarrou uma das mãos de Índigo.

—Não todos os brancos som como Brandon e seus amigos. Esses homens do Jacksonville que ficaram sem fazer nada certamente queriam evitá-lo e não tiveram valor para fazê-lo.

Os dedos de Índigo se fecharam com tanta força que a Amy doeram os nódulos.

—Tenho medo, tia Amy.

Amy se deu conta então de que Índigo tinha visto uma realidade que nunca pensou que existisse.

—Todos temos medo de algo, carinho. Mas não pode deixar que o medo controle sua vida. —Enquanto falava, as palavras soavam em sua mente, tão válidas para sua própria situação como para a da moça—. Quando o homem adequado chegue, saberá e não importará a cor de pele que tenha. —Ou seu passado.

—Sim! Sim que importará! Sou metade a Índia. Não posso trocar isso. Nunca confiarei em outro homem branco, nunca. Esses cinco me ensinaram hoje uma lição que nunca esquecerei. O sangue a Índia me faz estar muito longe deles. —Uma lágrima rodou por sua bochecha—. Eles acreditam que as índias solo valem para uma coisa.

Amy rodeou a Índigo com os braços, desejando poder desfazer o que Brandon Marshall fazia, embora sabia que era impossível. Índigo chorou sobre seu ombro, uns soluços profundos e dilaceradores, com o corpo tremendo.

—Amava-o —chorou—. O amava com todo meu coração. Mas não era amor absolutamente, verdade? Solo acreditei que o era. Ele estava jogando comigo todo o tempo. me mentindo. Pretendendo que lhe importava. Mas não era assim para nada. Todo o tempo ele me odiava e eu nunca o vi. Ai, tia Amy, sinto-me tão estúpida. E tão envergonhada que quero morrer.

Amy a embalou em seus braços, lhe acariciando o cabelo, reconfortando a da única maneira que sabia. Podia quase sentir sua dor. Quando Índigo por fim se acalmou, Amy suspirou e disse:

—Não se sinta envergonhada, carinho. Há pessoas cruéis neste mundo e vão pela vida procurando vítimas. As garotas formosas, inocentes e jovens como você são objetivos fáceis. Esses cinco jovens de hoje são quão mesmos pode ver dando patadas aos cães e atormentando aos meninos. Seu sangue a Índia só foi uma desculpa para dar rédea solta a sua crueldade.

Índigo se revolveu e murmurou algo.

—Cala um momento, carinho, e me escute. Não deve começar a julgar aos homens pela cor de sua pele. —Da mesma maneira que ela não tinha julgado a Veloz por sua roupa de comanchero—. Se o fizer, então Brandon terá ganho, não o entende? Converterá-te em uma retorcida como ele. te orgulhe de seu sangue, tanto da branca como da comanche. Se não o fizer, então tudo o que seu pai e sua mãe defendem, tudo o que lhe ensinaram, terá sido em vão.

Índigo se apartou. Secando-as bochechas, olhou fixamente ao fogo. depois de um bom momento sussurrou.

—Tentarei-o, tia Amy.

—Isso é quão único estamos pedindo. —Acariciando o cabelo de Índigo com a mão, Amy conseguiu sorrir—. Sei que veio aqui para estar sozinha, assim vou voltar dentro e te deixar a sós com seus pensamentos. Às vezes temos que pensar as coisas em solidão. Mas enquanto o faça, não esqueça o muito que lhe queremos.

Índigo respirou, tremendo.

—Nunca esquecerei este dia tampouco. Parece fácil, deixá-lo atrás e não deixar que me troque, mas não o é.

Amy sorriu.

—Seu pai diz que seus olhos olham ao futuro. Pode que leve tempo, mas te recuperará disto. E será uma melhor pessoa por isso.

A índigo lhe endureceu a boca.

—Se Miro ao futuro, então por que fui tão cega com o Brandon?

Amy lhe deu um tapinha no ombro.

—Esqueceu a lição mais importante que seus pais lhe ensinaram, a de que as roupas bonitas e as boas maneiras não fazem a um homem. Nunca voltará a tropeçar com a mesma pedra.

Com isto, Amy voltou para a casa, rezando a cada passo para estar no certo.

                                          Capítulo 22

De repente, justo de caminho a casa, Amy viu finalmente com claridade o perto que Índigo tinha estado de ser violada. Seguindo o conselho de Veloz, não se tinha permitido pensar nos «e se». Mas, agora, esses pensamentos sobre o que quase tinha ocorrido voltaram para ela.

antes de chegar ao alpendre, Amy começou a tremer. De forma insidiosa ao princípio, o tremor começou nas pestanas enquanto subia os degraus e depois descendeu ao chegar à porta da cozinha, lhe chegando aos braços, as mãos e, por último, as pernas. Era um sentimento estranho, distante; seus pensamentos pareciam desconexos. agarrou-se à saia para que deixassem de lhe tremer as mãos, mas uma vez superado ali, o tremor se transmitiu a sua mandíbula. Começaram a lhe tocar castanholas os dentes.

Não entendia o que lhe estava passando. Tudo parecia impreciso. Como em um sonho, sentiu-se movendo-se pela habitação. Ouviu a voz de Veloz, ouviu-se lhe dando uma espécie de resposta. Então, como se despertasse de um estado de hipnose, encontrou-se diante da pilha de esfregar da casa da Loretta, esfregando-as mãos furiosamente com a escova que utilizava Caçador para os nódulos. Quando se deu conta do que estava fazendo, não pôde recordar como tinha chegado ali, nem tampouco como tinha cheio a pia. Solo sabia que tinha uma necessidade compulsiva de esfregar-se para ficar poda.

A escova caiu de seus dedos gelados sobre a água saponácea. Amy ficou olhando a água suja salpicando, precipitando-se para o exterior da pilha e chapinhando nos borde.

agarrou-se à pia e piscou. Imagens de cores cegadores lhe chegavam da escuridão de seu subconsciente. Não eram imagens de Índigo sendo atacada, mas sim dela. Durante quinze anos tinha mantido essas imagens a um lado, sem permitir-se nunca as recordar, exceto em seus pesadelos.

Os comancheros a tinham tido cativa durante quase duas semanas. As lembranças estiveram latentes em alguma parte de seu cérebro após, como uma enfermidade. Entre a prudência e a loucura existe uma fina linha. Para sobreviver, tinha seqüestrado ao passado em sua mente e o havia talher de uma grosa cortina negra. Agora essa cortina parecia haver-se aberto, e as imagens estavam aparecendo de novo.

Amy não podia respirar. inclinou-se ligeiramente para diante, com os pulmões ardendo, o estômago inchado e as têmporas tremendo.

—Amy?

A voz de Veloz retumbou em sua cabeça. «Amy. Amy. Amy.» Não podia lhe ver, não podia ver nada exceto... OH, não! Ficando rígida, concentrou-se, voltando para essas lembranças. O que lhe tinha passado hoje a Índigo não tinha nada que ver com ela, nada.

—Amy, está bem?

«Amy, está bem? Está bem? Está bem?» Voltou a piscar. Os pulmões lhe encolheram e expandiram. Sem soltar a pia, moveu a cabeça.

—Sim, estou bem.

«Estou bem. Estou bem. Estou bem.» Teve umas vontades histéricas de rir. conteve-se. Certamente que não estava bem. Como podia estar bem? sentia-se como se a água lhe subisse pelo braço e lhe colocasse pela manga, uma água que não recordava haver meio doido. Tratou de concentrar-se na frieza, na realidade de todo aquilo.

—Acredito que será melhor que vamos a sua casa um momento —disse Veloz—. Acredito que Caçador e Loretta precisam estar um tempo sozinhos.

Sozinhos. Ah, sim, ela queria estar sozinha. Solo um momento. As lembranças eram muito intensas. Como aranhas. Cobriam-lhe o corpo. ia vomitar.

—Carinho, está segura de que está bem?

esfregou-se a manga. As lembranças a cobriam como aranhas. A bílis lhe subiu pela garganta. esfregou-se com mais força. Tinha que parar. Solo um louco esfregaria algo que não existe.

—Estou bem. Sim, vamos. Precisam estar a sós.

Era essa sua voz? Tremente e aguda. Flutuando, incapaz de sentir os pés, atravessou a habitação. Ar fresco. Respirar... isso era realidade.

No caminho para a porta, Veloz se despediu de Caçador e Loretta.

—Voltarei tarde, não me esperem levantados.

A porta se fechou de um golpe. Amy se abraçou à cintura e inalou o ar da noite. O anúncio de Veloz de que voltaria tarde fazia evidente onde estaria e o que pensava que estariam fazendo. Lhe encolheu o ventre. Não poderia suportá-lo. Não agora.

Tinha necessidade de fugir e desaparecer na escuridão. Ele a agarrou do braço enquanto baixavam os degraus, com tanta firmeza que seus desejos de escapar desvaneceram. Voltou a tragar de novo. O mundo dançava a seu redor, em giros desenquadrados de luz de lua e negrume.

Ele a conduziu pela calçada.

—Amy, algo se preocupa. Pode me dizer o que é?

Podia falar disso? Não. Nem sequer devia pensar nisso.

—É... é difícil de acreditar que seja já novembro.

—Isso significa que não quer que o falemos?

Falá-lo? Não havia palavras. Como poderia explicá-lo? Uma cortina negra em sua mente? Pensaria que estava louca. E podia muito bem enlouquecer se não recuperava o controle.

—Faz tão frio. Muito em breve chegará o Dia de Ação de Obrigado.

Ele olhou ao céu.

—Há lua enche. Deste-te conta?

Aliviada de que não seguisse insistindo, Amy olhou para cima. A lua estava desce no céu, um disco branco redondo e leitoso, e uns ramos retorcidos de carvalho se desenhavam a contraluz. lembrou-se de quando olhava à lua quinze anos atrás, com as bonecas abrasadas de lutar contra a soga que a atava à roda do carromato, assustada porque chegaria a manhã e, com ela, os homens..., um detrás de outro em uma visita interminável.

—Sabia que há trezentas e quarenta e duas tabuletas nesta calçada?

Ela se moveu e olhou para ele. A calçada? Tabuletas? Ouviu o eco dos sapatos na madeira e tratou de identificar o som.

—Há... aprendeste a contar uma cifra tão alta?

—Demônios, não. Só trato de falar de algo, de acordo? Pensei que isso te tranqüilizaria. —Moveu a cabeça, olhando-a com um sorriso—. Crie que choverá amanhã?

—Não se vê uma nuvem esta noite. —Amy deixou cair o queixo para olhá-los pés—. O... sinto muito, Veloz.

—Não o sinta nunca, Amy. Não me meti nisto com a esperança de te trocar. —Sua voz se voltou grave—. Solo quero te amar.

—Há coisas das que não é fácil falar.

Soltou-lhe o cotovelo e se meteu as mãos nos bolsos.

—Tinha medo de que o de hoje te faria mal. —Lhe esticou a voz—. Não me deixe fora disto. Nem me culpe por isso. Não posso controlar o que Brandon faz.

—Não é isso.

—Não?

Era um deixe de zango o que notava? Amy se mordeu o lábio. Ele merecia uma explicação.

—Ver isso... trouxe-me de volta... aos comancheros, as duas semanas que passei com eles. —Duvidava que Veloz tivesse saído alguma vez correndo de algo. Ele se enfrentaria às lembranças desde o começo e depois os relegaria ao passado e nunca voltaria a olhar atrás—. Índigo esteve tão perto. De repente pensei no perto que tinha estado... e comecei a recordar.

Ele manteve as mãos nos bolsos. A brisa lhe pegou a camisa nas costas. encurvou-se um pouco.

—Pode me contar suas lembranças?

—Não.

—Já sabe, Amy, algumas vezes falar em voz alta ajuda a esquecer. —Ela notou que duvidava antes de continuar—. Não tem que me esconder nada. Nada do que lhe fizeram pode ser tão mau, nada do que você fez ou sentiu pode ser tão mau como para que alguma vez deixe de te querer.

—Não quero pensar nisso. Não posso.

Ela esperava que a pressionasse. Em vez disso, suspirou e disse:

—Então não o faça. Quando chegar o momento o fará, verdade?

Tirou uma mão do bolso e agarrou a sua, entrelaçando os dedos. antes de que Amy se desse conta do que ia fazer, atirou dela e incrementou o passo. Não cabia nenhuma dúvida de por que tinha tanta pressa e do que era o que tinha em mente.

Seus pés golpearam o frio chão a um ritmo marcial. O vento penetrava entre os edifícios, lhe levantando a saia e lhe penetrando por debaixo até lhe chegar às pernas. Tremeu e esquadrinhou a escuridão que se abatia ante eles. E se Brandon Marshall e seus amigos se escondiam nas sombras? E se...? Deixou de pensar em seco. Tinha que deixar de pensar de forma negativa.

Veloz a olhou.

—Tem frio?

—um pouco.

—Espere uns minutos e eu a esquentarei, senhora López.

Inclusive à luz da lua, podia ver o brilho de picardia em seus olhos. Apartou o olhar. Poderia fazer o amor com ele esta noite, tendo tão recente o que lhe tinha passado a Índigo? E, se não podia, então o que? zangaria-se? Acreditaria que estava lhe fazendo responsável por alguma forma? Não era isso absolutamente, mas como podia fazer que o entendesse?

Ao aproximar-se da casa, seu já de por si acelerado pulso se converteu em um tremor nas têmporas. Enquanto subiam as escadas do alpendre e abriam a porta, a pouca compostura que ainda ficava desintegrou. Devia fazer as coisas rotineiras como acender o abajur, fazer fogo e vestir-se para ir à cama? E se as lembranças a invadiam de novo quando ele a tocasse?

Quando entraram no salão às escuras, ele respondeu a uma de suas perguntas acendendo o abajur. A luz resplandeceu no biombo. Enquanto ajustava a mecha, ela ficou de pé esperando, com a cabeça a ponto de estalar. Ele se incorporou e se voltou para ela, alto e escuro, bloqueando com seus largos ombros a luz que emitia o abajur. A contraluz, não podia ver sua expressão.

—Isto... gosta de uma taça de café?

—Não, obrigado.

Embora não podia lhe ver a boca, podia imaginar por sua voz que estava sonriendo. Ele apoiou o quadril na mesa e se cruzou de braços, com o corpo depravado. Ela fixou o olhar em suas botas.

—Acendo o fogo?

A ponto de tornar-se a rir, disse:

—Não vamos necessitar o.

Sentiu que a estrangulavam.

—Tenho algumas sobra de ontem à noite. Não comeste. Quer algo?

—Sim, em realidade, há algo que quero.

—Frango? Fica um pouco de pão de milho. Purê de batatas e molho. Não me levará muito tempo esquentá-lo.

—Não, obrigado.

esforçou-se em olhar mais acima de suas botas, até os joelhos.

—Então, o que quer?

—A ti.

Duas palavras que ficaram penduradas entre eles e que fizeram que se arrependesse de ter perguntado. umedeceu-se os lábios e olhou sua cara sombria.

—Bom, suponho que... isto... —As palavras lhe engasgavam, o pensamento a abandonava. Por sua mente passaram visões da noite anterior. Notou um calafrio pelo espinho dorsal que lhe subiu lentamente e lhe pôs a carne de galinha ao redor das omoplatas—. por que me olha?

—Eu gosto de te olhar. Agora me toca perguntar. por que está tão nervosa?

Ele se estirou e agarrou o bordo da mesa com as mãos para agarrar o abajur. Com ela em alto, foi tranqüilamente para a Amy com a luz jogando com seu rosto enquanto se movia, banhando suas facções de âmbar e depois as sumindo em sombras. Recordou ter pensado uma vez que tinha o mesmo aspecto que o diabo que ela imaginava, tão alto e negro como o ébano, vestido tudo de negro. Havia algo que não terminava de ser civilizado nele, decidiu Amy, sobre tudo quando tinha esse reflito nos olhos.

—Quer que vamos ao dormitório? —perguntou Veloz.

Amy assentiu, incapaz de acreditar que pudesse ser tão insensível. Tinha que saber o desequilibrada que se sentia nesse momento e quão fresco o tinha tudo na mente. Não era muito próprio de Veloz não fazer caso de seus sentimentos. Tinha a boca tão seca que parecia que lhe ia arranhar a língua com os dentes. Lhe pôs seu enorme emano sobre as costas e a conduziu para o vestíbulo. Ela se moveu por diante dele, observando como suas sombras dançavam nas paredes mais que as figuras reais às que representavam. A porta do dormitório bocejou como uma cova que estivesse esperando para tragar-lhe Entrou na escuridão. Ele a seguiu, banhando a habitação de luz.

Nada parecia o mesmo com ele aqui. O espaço parecia diminuir. As cortinas de encaixe pareciam muito adornadas; a cômoda, abarrotada. Veloz fez um oco na mesinha para o abajur; depois se sentou na cama e começou a desabotoá-la camisa, com o olhar fixo nela e uma meia sorriso desenhado na boca. Parecia desconjurado sentado ali, muito escuro e tosco para estar rodeado de volantes.

Amy tratou de umedecê-los lábios, mas ainda tinha a língua acartonada. A camisa aberta lhe caía até a cintura, deixando ao descoberto uma fileira de músculos no peito e um estômago plano que brilhava como carvalho encerado à luz do abajur. Dobrou o joelho e se desabotoou uma bota, com o olhar ainda fixo nela.

—Amy?

Era mais que uma pergunta, era uma petição. Obrigou a suas mãos a tocar o decote de seu vestido e jogou com o pequeno botão que o fechava. Quando por fim se abriu, procedeu a fazer o mesmo com o seguinte, e depois com o seguinte. Ele atirou uma bota ao chão e depois se tirou a outra, atento sempre aos movimentos dela. Amy desejou com todo seu coração que o abajur ficasse sem combustível ou que ele olhasse para outro lado. Nenhuma das duas coisas aconteceu.

—Poderia apagar a luz, por favor?

—Se o fizer, não poderei verte.

Essa era a idéia. Amy deixou de mover as mãos.

—Não estou lista ainda para me despir com a luz acesa.

Ele atirou de um lado da camisa para tirar-lhe do cinturão e se passou uma mão pelas costelas.

—Nunca se sentirá preparada se sempre te esconde na escuridão. Quero verte quando te faço o amor, Amy. E quero que você me veja.

—Mas... —A frase ficou pela metade porque não sabia muito bem como ia completá-la.

—Mas o que? —Atirou do outro lado da camisa e ficou em pé—. Não se trata sozinho de acanhamento, verdade? —moveu-se para ela—. Está ainda preocupada com o que ocorreu a Índigo?

Talvez sim a entendia depois de tudo.

—Sim.

—É natural. —Alargou as mãos e começou a lhe desabotoar os botões—. Totalmente natural e compreensível.

—Sim? Então, por que não...? —Agarrou-lhe as mãos para que deixasse de despi-la—. Manhã de noite, talvez então me sinta melhor. Mas esta noite, poderíamos...?

—Sentirá-se melhor em dois minutos. —Seus dedos evitaram os dela e seguiram descendendo até ter desabotoado o último botão. Apartou o pescoço do vestido, introduzindo seus cálidas mãos pelos braços da Amy enquanto lhe tirava as mangas pelas bonecas—. Confia em mim, Amy.

Não podia evitá-lo.

—Não me sinto cômoda com a luz acesa.

—supõe-se que não deve te sentir cômoda. —Afundou a cabeça e lhe deu um leve beijo quente na têmpora—. Se supõe que deve te sentir tremente e débil, e sem respiração.

Ela sentia todas estas coisas, e pior ainda. Também se sentia traída porque ele não podia entendê-lo. Era a primeira vez que Veloz não intuía o que ela não sabia expressar.

Atirou do laço que atava suas anáguas, e depois atirou tanto delas como do vestido até que caíram ao chão. Continuando, avançou pela lingüeta de sua perneiras. Amy teve a impressão de que dissesse o que dissesse, ele não ia deter se.

—Veloz?

As perneiras cederam. Lhe fez um nó no estômago e se levou as mãos à barriga.

—Veloz, eu...

Ele se agachou ante ela e lhe agarrou um dos tornozelos. depois de lhe desabotoar um sapato, o tirou e atirou da perna da calça das perneiras para tirar-lhe pelo tornozelo. Ela olhava a parte traseira de sua cabeça moréia enquanto ele centrava sua atenção no outro sapato. Depois, percorreu lentamente suas pernas com os olhos, chegando até a parte superior de suas meias de canalé. Aproximando-se, beijou-lhe a coxa nua por cima da banda de algodão, com uns lábios quentes e aveludados, lhe molhando a pele com seu fôlego. Os pulmões da Amy deixaram de funcionar.

—Veloz? —gemeu—. Por favor, apaga a luz.

Lhe baixou uma média, com a liga e tudo, pela perna, seguindo o descida com os lábios.

—me dê cinco minutos, Amy, amor. Se mesmo assim se sentir tão tensa, apagarei-a. Mas primeiro deixa que o tente a minha maneira.

Passou-lhe a mão por detrás da perna e lhe dobrou o joelho, lhe tirando a liga e a média. Ela ofegou quando notou que lhe mordiscava a impigem e depois o pé. Fez o mesmo com a outra meia e depois jogou para trás a cabeça, lhe agarrando as coxas com as mãos, com seus dedos quentes e amáveis, mas também incessantes. Seus olhos escuros se encontraram com os dela.

—Não tem medo, verdade?

—Não, mas...

—Não há peros. Se tiver medo, solo tem que me dizer isso Sorriu de forma pormenorizada—. O acanhamento não conta. Tem medo?

—É sozinho que, depois do que ocorreu, não quero fazer o amor. Solo pensar nisso me faz sentir —procurou as palavras para descrevê-lo— murcha por dentro.

Ele se levantou e sujeitou os laços da combinação.

—me dê algo mais de dois minutos. Cinco, talvez? Acredito que sei qual é a padre. te relaxe e te deixe levar.

—Não posso. Há tanta luz aqui como se fora de dia!

—Fecha os olhos e não te dará conta. —A combinação se abriu—. Então, os dois seremos felizes.

Ele inclinou a cabeça para lhe beijar um ombro nu enquanto lhe tirava a combinação pelos braços.

—Uma mulher tão formosa e pretende que não te olhe? —Passou-lhe os lábios pela garganta lhe obrigando a jogar para trás a cabeça com a força de sua mandíbula. Seus beijos lhe acenderam a pele—. Deus, Amy, quero-te.

—Aqui faz frio. Me vou pôr doente.

Ele riu e lhe mordeu a pele por debaixo da orelha.

—Isso não passará.

—Tenho a pele de galinha. Morrerei de tosse antes de que chegue o inverno.

—Não terá frio por muito tempo —prometeu; e então a agarrou em braços e a levou a cama. Com uma rapidez que a fez sentir-se enjoada, atirou-a sobre o cobertor enquanto se tirava a camisa.

Amy tratou de ficar o cobertor por cima. Lhe agarrou a boneca.

—Não, por favor.

Ela o deixou e se abraçou a si mesmo. Ficando de lado e subindo os joelhos, conseguiu esconder-se um pouco entre as mantas. Ele a olhou com olhos quentes. Com um movimento de boneca, desabotoou-se o cinturão. Ao ver que começava a tirá-los calças, Amy seguiu sua recomendação e fechou os olhos com força. Ouviu um rangido de tecido vaqueiro.

—Amy, viu-me ontem à noite.

O colchão se afundou sob o peso de Veloz. Pô-lhe uma mão cálida no quadril. Com a outra capturou seus joelhos. Obrigou-lhe a estirar as pernas para que ele pudesse aproximar-se. O calor de seu peito lhe roçou os braços. Com os lábios lhe roçou a mandíbula.

—Quero-te —sussurrou ele—. Deus, não sabe quanto te quero.

Com força, mas também com suavidade, pô-lhe os braços aos lados e a girou de costas, cravando-a nessa posição com o peso de seu peito. O roce de sua pele contra seus peitos a deixou sem fôlego. Ela abriu os olhos para encontrar uma cara moréia a solo uns centímetros da sua. Uns olhos marrons a olhavam com ternura.

—me olhe, Amy, amor, e dava meu nome —sussurrou.

Ela tragou saliva.

—Veloz.

Lhe aconteceu uma mão pela cintura, subiu-a a um lado riscando com a ponta dos dedos a parte baixa de seus peitos.

—Outra vez, Amy, amor. Não, não feche os olhos. me olhe e dava meu nome.

Sua mão, cálida e áspera, fechou-se ao contato com a brandura de sua pele. Aproximou a cara a ela, sem apartar nem um momento o olhar.

—Veloz —sussurrou.

Roçou com o polegar a crista de seu mamilo. Ela gemeu ao notar a elétrica sensação.

—Outra vez —ordenou.

—Vê... veloz.

—Veloz López —lhe percorreu a garganta com os lábios—. Diga-o. E não o esqueça nunca. O ontem se terminou. É meu emano a que está sobre ti agora.

A Amy lhe encheram os olhos de lágrimas. Pensava que ele não a tinha entendido. Mas talvez a tinha entendido muito bem. Veloz López. Tocou-a com seu calor pessoal, limpando-a com as mãos de uma maneira que nenhuma bucha tivesse podido fazer.

—Não podem te fazer danifico já —lhe sussurrou com fúria—. Nunca mais. É minha. Entende-o?

Amy lhe rodeou o pescoço com os braços e ficou unida a ele.

—Ai, Veloz... dói. As lembranças doem.

—Conta-me o Acariciou-lhe a garganta com os lábios.

Ela começou a tremer. uniu-se a ele ainda mais desesperadamente.

—Não posso. Tenho medo. Não me permito recordá-lo. Alguma vez. Não o entende? Não posso. Se o fizer, voltarei-me louca.

Ele estreitou o abraço, estendendo uma mão para lhe acariciar as costas. Amy se sentia rodeada por ele, por seu calor e sua força.

—Nem sequer agora que eu estou aqui contigo? Voltaremo-nos loucos juntos. Solo uma lembrança, Amy, amor. Não pode te enfrentar solo a um enquanto abraço? Começa pelo princípio. O que estava fazendo quando chegaram os comancheros?

Com um soluço entrecortado, sussurrou:

—Lavando a roupa. Loretta e eu estávamos lavando a roupa. Eu sacudia com um pau a roupa molhada e não lhes ouvimos chegar até que foi muito tarde.

As lembranças a assaltaram. A mão de Veloz massageava suas costas. Seu abraço se fez mais estreito.

—Está bem. São sozinho palavras, Amy. Pode te deter quando quiser. me conte.

—Não... não fui dentro quando Loretta me disse isso. Possivelmente se o tivesse feito, não me teriam pego. Mas eu... —Sentiu um estremecimento—. Foi minha culpa. Não escutei o que ela me disse e me agarraram.

—Não, isso é uma loucura, Amy. Que pessoa tivesse deixado a Loretta só aí fora com eles?

—Nunca escutava o que me diziam. Essa vez, paguei por isso.

—Foi muito valente para sua idade —lhe corrigiu—. Inclusive embora te tivesse metido na casa, Santos teria ido a por ti. O que passou depois?

—Mamãe saiu com um rifle. Um dos... comancheros me pôs uma faca na garganta. Disse que me mataria se não o atirava.

—E o fez?

—Sim.

—E eles lhe levaram?

—Sim... sim. —Amy afundou o rosto em seu ombro.

—E você tivesse desejado que ela permitisse que o homem te matasse...

—por que não o fez? Teria sido o melhor. Ai, Deus, por que não deixou que me matasse!

Ele blandió um punho no ar.

—Porque estava destinada a estar aqui comigo esta noite. Porque eu não teria tido a ninguém a quem amar se você tivesse morrido. Ninguém que me amasse. Tudo tem uma razão, Amy. Todos nós temos um propósito. me conte...

Amy não estava segura de onde lhe saíam as palavras. Chegavam-lhe ao ouvido, estridentes, feias e arrudas, vomitadas como se fossem um veneno. Uma vez começou a falar, não pôde deter-se. Veloz não dizia nada. Solo a abraçava e a acariciava, escutando-a.

Amy sabia que estava balbuciando. Falou e falou... até que começou a sentir-se exausta, até que sentiu o corpo pesado e começou a arrastar as palavras. Por fim deixou de tremer. E então ocorreu algo incrível. ficou sem nada que dizer.

Ardia-lhe a garganta de chorar. tombou-se em silencio debaixo dele e abriu os olhos, incrédula. Durante quinze intermináveis anos, a horrorosa escuridão de seu interior parecia não ter fundo. Agora o tinha tirado tudo. Tudo, absolutamente tudo. sentiu-se extrañamente vazia... e em paz.

Veloz se revolveu e se incorporou ligeiramente. lhe penteando o cabelo com os dedos, foi riscando um caminho de beijos suaves por sua frente, depois beijou seus olhos fechados.

—Está bem? —perguntou com voz rouca.

—Sim —sussurrou, sem poder acreditar-lhe La recorrió con las caricias de sus manos impregnándola de su calor personal.

—Obrigado, amor.

—por que?

—Por confiar em mim.

Abriu os olhos e o encontrou sonriendo.

—Acredito que sei exatamente o que devo fazer com essas horríveis lembranças teus —lhe disse, baixando a cabeça para lhe mordiscar seductoramente o ombro.

—O que é?

—O que te parece se fizermos lembranças novas? —Acariciou-lhe o peito com os lábios e com a língua desenhou círculos deliciosos—. Uns formosos, Amy.

A Amy lhe encheram os olhos de lágrimas.

—Quero-te, Veloz.

Percorreu-a com as carícias de suas mãos impregnando a de seu calor pessoal.

—E eu quero a ti. Não vou compartilhar te com fantasmas. Acredito que chegou a hora de que os enterremos, não te parece?

Suas mãos começavam já a obrar o milagre. Amy se desfez em um suspiro. Em sua cabeça tinha um formoso caleidoscopio dando voltas. Os dedos de Veloz eram como plumas lhe roçando a pele, lhe fazendo cócegas por todo o corpo. As luzes de sua cabeça se fizeram mais variadas em cores e espectros, até sentir-se como se estivesse flutuando em um arco-íris.

Veloz..., seu amor, sua salvação, seu fazedor de sonhos. derreteu-se nele, sem lhe importar já que a mecha do abajur se queimasse tão vivamente junto a eles, sem saber sequer que existia.

Depois dormiram um em braços do outro, vagando à deriva dos sonhos, satisfeitos no quente casulo do amanhecer. Amy despertou várias vezes e sempre comprovou que Veloz seguia rodeando-a. Sorriu. Era certo que tudo ia bem. Nenhuma guerra a Índia voltaria a separá-los, não haveria esperas intermináveis para que voltasse para por ela. Não tinha sequer medo dos pesadelos. Quando despertasse, Veloz estaria aí para pôr de novo o mundo em ordem.

Um par de horas mais tarde, ele se revolveu. Amy não queria que se fosse, mas tinha que fazê-lo. Acariciou-lhe as costas com a mão enquanto se incorporava.

—Quando vai fazer de mim uma mulher decente, senhor López? —perguntou bobamente.

—logo que esse condenado pároco retorne.

Amy sorriu. Solo Veloz podia dizer «condenado» e «pároco» na mesma frase. perguntou-se o que pensaria o pai Ou'Grady de seu marido comanche, comanchero e pistoleiro, e decidiu que o pároco, sendo como era um homem atento às almas, seria capaz de ver no interior de Veloz. Veloz, essa curiosa mescla de assassino e santo, foragido e herói. Ninguém que o conhecesse duvidaria de que uma parte dele caminhava com os anjos.

Havia uma pureza em seu interior que ainda não tinha sido alterada pela vida brutal que tinha levado, uma inocência, um desejo de um mundo melhor. Ele via o mundo de uma maneira diferente a outros. Para ele, havia uma oração na queda de uma folha, uma canção de adoração nos raios do pôr-do-sol.

—Oxalá não tivesse que ir —sussurrou ao escutar como se vestia.

—Só estarei a um assobio de distância.

—Promete-me isso?

Ouviu-lhe ficá-las botas. Depois se inclinou sobre ela.

—Assobio e o averiguará. —Beijou-a—. Volta a dormir, carinho. Depois vêem casa da Loretta a tomar um café. Jogaremo-nos miraditas através da mesa.

—E voltará amanhã de noite?

—Esta noite —lhe mordeu nos lábios—. São algo mais das duas. Amanhã já está aqui.

Amy fechou os olhos. Seu último pensamento foi que tinha vivido quinze anos esperando a que o manhã lhe trouxesse algo absolutamente maravilhoso. E por fim o tinha feito.

                                         Capítulo 23

Um grito dilacerador despertou a Veloz. Aturdido e convencido por um momento de que tinha imaginado o grito, levantou-se do camastro no que dormia junto à chaminé. Era de dia? Parecia como se acabasse de sair dos braços da Amy e logo que tivesse fechado os olhos. ouviu-se outro grito. Amy? assustou-se. Então se deu conta de que o som provinha do outro lado do povo. ficou as botas e correu para a janela para ver o que acontecia. Na casa do Crenton, viu a Alice de pé, na porta principal. Ia encurvada com as mãos na cara. Era ela a que tinha gritado.

Com uma maldição, Veloz saiu da casa e baixou os degraus do alpendre. Enquanto corria, as fachadas dos edifícios se foram nublando em sua visão periférica. Fracamente viu que outras pessoas saíam de suas casas detrás dele, também em direção à casa do Crenton. Algo atroz tinha ocorrido. Ou isso supôs pelo volume dos gritos. Eram gritos de uma mulher aterrorizada.

Quando chegou ao atalho da casa, chamou:

—Senhora Crenton? O que ocorre?

Ela se deu a volta e se tirou as mãos da cara. Nunca tinha visto ninguém com a cara tão pálida, era quase blanquiazul, como neve no crepúsculo. Ela o olhou fixamente enquanto ele se aproximava dela correndo. Então, começou a retroceder, sacudindo a cabeça, pondo as mãos a modo de escudo como se queria detê-lo.

—Não se aproxime! Ai, Deus piedoso, não se aproxime!

Veloz esteve a ponto de tropeçar com seus próprios pés ao deter-se.

—Senhora Crenton?

—Que classe de animal é você?

Veloz ficou perplexo. Então o viu. Uma cabeleira recém atalho pendurava do poste da porta dos Crenton. A amostra de cabelo vermelho deixava bem claro que se tratava da do Abe Crenton.

Por um momento, Veloz não pôde mover-se. Quão único podia fazer era olhar. O sangue da cabeleira gotejava pelo poste, manchando a madeira envelhecida de negro avermelhado. Lenta e insidiosamente, compreendeu que Alice Crenton acreditava que ele tinha matado a seu marido.

O som de umas pegadas retumbaram detrás de Veloz. A voz de um homem perguntou:

—Jesus bendito, homem, o que é o que tem feito?

Outras pessoas se aproximaram correndo. Uma mulher gritou. Outro homem lhe interpelou.

—Eu ouvi como ameaçava matando-o, mas não pensei que o dissesse de verdade! Que Deus nos agarre confessados!

Veloz se deu a volta, tratando de falar. Randall Hamstead chegou até eles também. Seus olhares se encontraram. Randall o olhou um momento, depois empalideceu e apartou a vista. À esquerda de Veloz, uma mulher começou a ter arcadas. Outra começou a chorar. Os irmãos Lowdry estavam de pé a um lado, com a atenção posta na cabeleira.

Hank Lowdry cuspiu tabaco e se limpou a boca com a imunda manga de couro.

—Que me crucifiquem, embora alguns de nós lhe ouvimos ameaçar com que lhe cortaria a cabeleira, ninguém pensou que o fora a fazer. —Começou a rir, depois se conteve e olhou a seu irmão—. Ele o fez! E o pendurou no maldito poste! Justo como disse que o faria.

A Veloz lhe afundou a terra sob os pés. Todos os que estavam ali pensavam que o tinha feito ele? Era uma loucura! Doentio! Mas também tinha sentido. Veloz López, criado como comanche, depois pistoleiro e comanchero. Um assassino. Ah, sim. A quem melhor que a ele se podia culpar? Sobre tudo quando à vítima tinham talhado a cabeleira. O pânico lhe impedia de respirar. Depois, sentiu umas vontades selvagens de rir.

Por fim, conseguiu falar. Mas quando as palavras se articularam em sua garganta, duvidou, sem saber muito bem o que ia dizer.

—Eu... —calou-se e tragou saliva— não tenho feito isto. —Viu que Caçador estava entre a multidão e se sentiu aliviado—. Caçador, diga-lhe Acreditam que o fiz eu!

Quando Caçador viu a cabeleira, ficou paralisado. depois de examiná-la um momento, voltou sua luminosa cara para Veloz. Não havia dúvida do que diziam seus olhos. Veloz riu então, uma risada tremente e macabra.

—Eu não tenho feito isto —repetiu, levantando as mãos em sinal de súplica—. Não pode acreditar que o tenha feito. Você não, Caçador.

—Procurem o delegado! —gritou alguém.

—Ainda não há voltado —respondeu outro.

—Que alguém cavalgue até o Jacksonville e lhe diga que volte aqui agora mesmo! Temos um assassinato entre mãos.

—Eu irei —gritou um homem. logo que falou, Veloz viu que saía correndo rua abaixo.

—Poderíamos trazer para o senhor Black. Ele é o juiz de instrução. Está autorizado a prender em caso de assassinato.

—Faz-o —ladrou Joe Shipley.

A Veloz invadiu uma sensação de irrealidade. Por Deus bendito, foram encerrar o. imaginou rodeado de barrotes, a claustrofobia e a falta de ar. Considerou pôr-se a correr, mas seus pés lhe tinham pego ao chão. Olhou à multidão. Em cada um dos rostos, viu olhares de acusação e repulsa. Isto não podia estar passando.

Uma voz distante gritou:

—Aqui está o corpo! —Todos olharam em direção ao celeiro do Crenton. Um homem chegou balançando-se. Sujeitando-as joelhos, conteve as náuseas e respirou profundamente—. Lhe cortaram o pescoço! Que Deus tenha piedade de nós, cortaram-lhe o pescoço!

Alice Crenton começou a chorar, um pranto suave e horripilante que subiu pelo espinho dorsal de Veloz como uns dedos frios. Logo que notou que Loretta se uniu à multidão, com Índigo e Chase a ambos os lados. Tinha a cara branca e seus olhos grandes olhavam cheios de incredulidade e horror. apartou-se uns passos dos meninos e se dirigiu a Caçador, com o olhar fixo em Veloz.

—Eu não o fiz —repetiu Veloz.

—Se não foi você, quem o fez? —perguntou alguém—. Não imagino a nenhum de nós cortando a cabeleira ao pobre tipo.

Um murmúrio geral de assentimento se elevou entre a multidão. Loretta pôs os olhos na horrível cabeleira. Não disse nada, mas a dúvida que atravessou sua cara falou por si só. A Veloz lhe engasgou o orgulho ferido. Jogou para trás os ombros e levantou a cabeça. Tinha sido culpado de muitas coisas na vida, mas nunca de mentir. Se Caçador não sabia isso, então não havia nada mais que ele pudesse dizer.

 

Amy estava terminando de pentear-se quando um golpe frenético a levou a porta principal. Por um instante se perguntou se é que se teria ficado dormida. Olhou o relógio. Ia bem de tempo. Tinha tempo de sobra para tomar um café em casa da Loretta antes de ir ao trabalho. Surpreendida, abriu a porta de par em par. Índigo estava de pé no alpendre, com a cara decomposta pelo pranto, o moratón da bochecha de cor vermelha lívido e a juba despenteada pelo vento.

—Tia Amy, meu pai quer que venha a nossa casa. Rápido! Algo terrível aconteceu!

Amy se alarmou.

—O que?

Índigo se umedeceu os lábios, inspirou ar e depois o soltou.

—Tio Veloz matou ao Abe Crenton ontem à noite! Cortou-lhe o pescoço e a cabeleira!

As pernas da Amy se dobraram. Teve que agarrar-se à porta para não cair.

—O que?

—O que ouve! Abe Crenton está morto! Todos pensam que o fez o tio Veloz. O senhor Black o colocou no cárcere por assassinato.

—Ai, Meu deus. —Amy saiu correndo pelo alpendre. Olhou para o povo, depois jogou uma olhada à escola—. Índigo, pode ir correndo a pôr uma nota na porta da escola dizendo que não haverá classe hoje?

—Sim. Tem um papel onde escrever?

Amy ia já pelas escadas.

—Em meu dormitório, na primeira gaveta da cômoda —lhe disse sem deter-se.

Pôs-se a correr. Golpeava o chão com os talões e o impacto ricocheteava em todo seu corpo. Veloz. No cárcere? Por assassinato? Não! Era como se a rua principal do povo se alargasse quilômetros e quilômetros ante ela. levantou-se a saia e saltou à calçada de madeira, com as anáguas e os pololos em volandas.

Ante ela, viu um grupo de homens congregados na porta da prisão. dirigiu-se para ali. Quando se aproximava, eles fecharam ante ela, ombro com ombro, lhe cortando o passo.

—Ninguém vai entrar aí até que não venha o delegado Hilton —bufou o senhor Johnson.

Nos olhos dos homens só se refletia ódio. Amy sabia que uma multidão neste estado podia voltar-se incontrolável. A pequena prisão de madeira parecia do mais vulnerável. Certamente não era nenhuma fortaleza. Se estes homens decidiam entrar em por Veloz, não haveria nada que os detivesse. Os irmãos Lowdry permaneciam um pouco se separados do grupo, para sua direita. Sua proximidade lhe pôs os cabelos de ponta.

Apoiou as mãos na cintura, dando-se conta de que aproximar-se da prisão tinha sido um engano. Se dizia algo inadequado a estes homens, se os fazia enfurecer mais do que já estavam...

—Eu, isto... —Tremiam-lhe as pernas—. Não tratava de entrar. Solo ouvi o bulício e me perguntei o que era o que estava passando.

Hank Lowdry cuspiu tabaco. O líquido foi parar a solo uns centímetros de sua camisa.

—Seu amigo o senhor López matou ao Crenton, isso é o que passou. Rachou-lhe o pescoço e talhado a cabeleira!

Amy pestanejou para ouvir essas palavras. Dando um passo atrás, disse.

—por que estão tão seguros de que o fez o senhor López?

—Não terá que ser um gênio para sabê-lo. Estamos seguros —grunhiu alguém.

Amy olhou para o lugar de onde provinha a voz. centrou-se no Joe Shipley, o pai do Jeremiah. Sustentava uma corda enrolada em uma mão. Virgem Santa. Onde estava Caçador? Olhou por cima de seu ombro. Sabia o perto que estes homens estavam de linchar a seu melhor amigo?

—Estou segura de que a culpabilidade ou a inocência de um homem é algo que solo deve decidir o delegado Hilton ou um jurado —disse sem muita convicção.

Joe Shipley se apartou um pouco do grupo.

—Pensa que Hilton é Deus? Pagamo-lhe um bom dinheiro para que mantenha a salvo este condenado povo. permitiu que um selvagem assassino se instale entre nós, o que não faz a não ser provar que não é mais preparado que qualquer outro. Possivelmente nem sequer é preparado. O resto de nós sabíamos desde o começo de que López traria problemas.

Amy conhecia o Joe Shipley e a muitos de outros desde fazia anos. A maioria deles tinha filhos que foram a sua escola. levava-se bem com suas algemas. Mas hoje todos lhe pareciam estranhos, com esses olhos selvagens e esses rostos contorsionados pela raiva. Se ninguém os tranqüilizava, seriam capazes de fazer algo horrível.

Levantando o queixo, Amy cravou os olhos no Joe Shipley com a mais severo de seus olhares de professora.

—Que López traria problemas —lhe corrigiu.

Shipley levantou as sobrancelhas.

—O que?

—«De que» é incorreto —explicou—. É um dequeísmo. Está mal dito.

Ao Shipley lhe saíram os olhos das órbitas.

Amy estirou as costas e passou uma segunda de vertigem rezando mentalmente o que sabia para que Shipley não decidisse estrangulá-la. Tinha as veias das têmporas inchadas, como se estivessem a ponto de estalar. Agora entendia por que Jeremiah sempre chegava ao colégio citando a seu pai. O homem desprendia tal sensação de força que dificilmente passava desapercebida.

Jogando mão de toda sua coragem, Amy se esclareceu garganta e acrescentou:

—Também lhe aconselho que cuide sua linguagem, senhor Shipley. encontra-se você em presença de uma dama.

Shipley se ruborizou. Ela não deixou de olhá-lo. O homem se moveu incómodamente e depois se esclareceu garganta.

—Peço-lhe que me desculpe.

Amy assentiu de maneira quase imperceptível.

—Já vejo que estamos todos um pouco alterados. Entretanto, não devemos esquecer os bons costumes em momentos de tensão. cancelaram-se as classes no colégio hoje, por isso os meninos poderiam vir por aqui mais tarde. É nossa responsabilidade como adultos dar exemplo.

Lutando por manter uma expressão de firmeza, Amy olhou a outro dos homens. A maioria resistia a olhá-la aos olhos.

Animada, fixou a vista no Michael Bronson.

—Estou segura de que Theodora e o pequeno Michel estarão na rua hoje, senhor Bronson. De fato, deveria lhe dizer ao Tess que hoje não haverá classe.

Mike se arranhou a cabeça e a olhou envergonhado. Amy se sentiu aliviada. Ao recordar a estes homens seus lares e lhes pôr um pouco os pés na terra, tinha conseguido lhes fazer replegar vela, ao menos de momento. Não estava segura de que pudesse durar muito.

—Bem. —Uniu as mãos com a esperança de parecer mais senhora e mais estirada—. Posto que o delegado Hilton ainda não retornou, suponho que esperarei sua chegada em casa dos Lobo. —Inclinou a cabeça—. Que tenham um bom dia.

Desta forma, Amy deu meia volta e começou a caminhar rua abaixo. Teve que utilizar toda sua força de vontade para não começar a correr enquanto subia as escadas da casa da Loretta e cruzava o alpendre. Tremia-lhe a mão ao agarrar o pomo e abrir a porta principal.

A bem-vinda que lhe esperava no salão lhe gelou o sangue. Caçador estava de pé a um lado, revisando, carregando as armas e dando ordens. Loretta ia e vinha entre o armário das armas e seu marido. Índigo já estava de volta. Tanto ela como Chase estavam também muito ocupados. Amy fechou a porta e apoiou as costas contra ela.

Caçador levantou os olhos.

—Recorda como se utiliza um rifle?

—Sim.

Caçador assentiu.

—Se as coisas ficarem feias, talvez sejamos a única esperança que fique a Veloz. Culpado ou não, merece-se um julgamento justo tanto como o que mais.

—Crie que é culpado?

Com os lábios apertados, Caçador agarrou seu Winchester, abriu a alavanca e depois atirou dela para pôr um cartucho em linha com a antecâmara.

—me responda! Admitiu-o Veloz? Seguro que algo haverá dito.

Loretta pôs um punhado de cartuchos na mesa.

—Abe está morto e parece que Veloz o fez. Com essa multidão congregada e a corda lista, não tivemos tempo de pensar em nada mais.

A Amy lhe fez um nó no estômago.

—O que... o que é o que diz Veloz?

—Que não o fez —disse Loretta brandamente—. Mas tudo aponta a que sim.

—Mas se ele disser que não o fez...

Loretta agarrou um pano e começou a pôr azeite no canhão de um dos rifles. Levantou os olhos para seu filho.

—Chase Kelly, vê o mezanino e estorva os móveis que estejam cobrindo as janelas, por favor.

—Para que? —perguntou.

—Se houver problemas, poderemos cobrir melhor a seu pai desde o segundo piso. Quando tiver movido os móveis, fique ali e vigia o cárcere. Se algum desses estúpidos começa a entrar, nos dê um grito.

Chase ficou em pé para fazer o que sua mãe lhe dizia. Loretta se voltou para Índigo.

—Você pode fechar as venezianas da parte traseira da casa. Joga o cadeado à porta também. Se houver problemas, não queremos nenhum visitante na porta de atrás.

Parecia como se os Lobo estivessem preparando-se para a guerra. De repente, Amy se deu conta de que talvez não era sozinho a vida de Veloz a que estava em perigo.

—Ah, Caçador, não pode fazer frente a todo o povo você sozinho. Isto é uma loucura!

Caçador levantou outro rifle.

—A loucura está aí fora, nas ruas. —Seus olhares se encontraram—. Reza para que o delegado Hilton volte a tempo de acalmar a esses tipos. Agora mesmo são incapazes de pensar nada corretamente.

—É que perderam todos a cabeça? Pode que Veloz não seja culpado. Como podem ficar contemplando a morte de um homem se não estarem seguros de que ele o fez?

Caçador apertou a boca.

—As coisas não pintam bem para Veloz, Amy. Não pintam nada bem. Inclusive eu... —calou-se e se limpou o suor da frente com a parte exterior da boneca—. Assegura que não o fez. Mas se não foi ele, quem foi? Não o teria cru se não tivesse ameaçado ao Crenton.

—Ele não disse nada em concreto. —Sentindo-se impotente, Amy separou os cartuchos de calibre 44-40 e os pôs na Winchester de Caçador.

—Não estamos falando do que Veloz disse depois da briga. —Caçador carregou o tubo de seu repetidor retrocarga de sete cartuchos. depois de inserir o tubo na culatra, colocou-se a Spencer no ombro e olhou pelo canhão—. Fez outras ameaças que nós não sabíamos. —Com a bochecha ainda alinhada ao canhão, levantou a vista para ela—. dentro do botequim, antes de que começasse a briga.

A expressão atormentada de Caçador encheu de temor a Amy.

—O que... que tipo de ameaças?

Caçador pôs a um lado o rifle carregado e se beliscou a ponte do nariz. Ao ver que resistia a falar, Amy soube que devia esperar o pior.

—Várias pessoas lhe ouviram contar ao Abe Crenton uma história a respeito de um comanche que rachou o pescoço a um homem que pegava a sua mulher e depois pendurava a cabeleira no poste da entrada para que todos o vissem.

Amy não podia sentir os pés. Se Rio, com um som tremente e trêmulo.

—Isso é uma loucura! por que ia Veloz a dizer isso?

—Para assustá-lo, imagino.

—Mas solo um estúpido contaria a alguém uma história assim para depois fazê-lo de verdade!

—Um estúpido, sim. Ou possivelmente um homem que perde os estribos pela raiva.

Amy acreditou que ia afogar se. agarrou-se ao respaldo de uma cadeira para não cair. Teria ido Veloz ao botequim depois de deixá-la em casa? teria se encetado em uma disputa com o Abe Crenton?

—Não acredito que Veloz seja um estúpido. E não acredito tampouco que seja dos que atuam precipitadamente. Além disso, quão único tem feito foi contar uma história. Isso não é exatamente uma ameaça, não?

Caçador passou a mão pela culatra da Spencer.

—O que é o que vai pensar a gente, Amy? Veloz disse essas palavras, e agora se feito realidade. Quem mais neste povo cortaria o pescoço a um homem e depois lhe cortaria a cabeleira? Eu? Cortar cabeleiras não é algo que um homem branco saiba fazer.

—Mas Veloz diz que não o fez!

—Isso é o que diz.

—Tenho que ir falar com ele —sussurrou.

—Não, até que o delegado Hilton retorne. Assim que ponha a esses homens sob controle, iremos ali a ver como podemos esclarecer tudo isto. Agora mesmo, uma amostra de apoio a Veloz poderia ser problemática. —Fez um movimento para ela para que tomasse assento—. Quão único podemos fazer é vigiar e esperar. Se perderem o controle... —Aplaudiu a culatra da Spencer—. Te ensinei a disparar esta, recorda?

Amy assentiu e se afundou na cadeira.

—Crie de verdade que terei que utilizá-la, não é assim? Que vão tentar linchá-lo, verdade?

Loretta pôs sobre a mesa o rifle que tinha estado engordurando. Respirou profundamente e elevou a vista com preocupação para a Amy.

—Por isso não podemos ir ali. Enquanto o delegado Hilton esteja ausente, qualquer tipo de confrontação é arriscada. Os ânimos estão muito esquentados.

Amy olhou a Caçador.

—Se... perdem o controle, poderemos detê-los?

A cara de Caçador se escureceu.

—Devemos fazê-lo.

Amy imaginou a Veloz miserável pela multidão até uma árvore. Se tivesse que fazê-lo, seria capaz de disparar ao Joe Shipley ou ao Mike Bronson? Começou a lhe suar todo o corpo. Fechou os olhos, um pouco enjoada.

—Os dois pensam que o fez, verdade?

Loretta estirou o braço através da mesa para tocar o ombro da Amy.

—Há algo mais que Caçador não te mencionou. Veloz não esteve aqui ontem à noite. Despertei um pouco depois da uma a beber água e não estava em seu camastro.

Amy se recostou na cadeira.

—Sabe que estava comigo.

—Mas até que hora?

—Foi justo depois das duas quando partiu.

Loretta olhou esperançada a Caçador.

—A julgar pelo estado do corpo, o senhor Black acredita que Abe morreu entre a meia-noite e as duas da manhã, uma hora mais ou uma hora menos dessa franja. Isso significa que Veloz poderia ter estado com a Amy no momento do assassinato.

Caçador levantou uma mão.

—Esquece a hora de margem. Isso fazem quatro em total. Quem pode dizer onde esteve Veloz depois de visitar a Amy? A menos que ela possa jurar que Veloz esteve em sua casa toda a noite...

Não fazia falta que dissesse mais. Amy fechou os olhos.

—O delegado Hilton acaba de chegar —gritou Chase do mezanino—, e esse inapresentável do Brandon Marshall e seus amigos estão aqui também. Vão ao botequim.

Caçador caminhou para a janela do salão e olhou fora.

—O que ocorre? —perguntou Amy.

—por agora, solo estão falando. Brandon e seu grupo não baixaram à a prisão. Seus cavalos estão frente à Lucky Nugget. Imagino que Pete deve estar atendendo o local como de costume. Esse é bom sinal. Possivelmente fiquem a falar e se mantenham separados por um tempo. Se Brandon pode acender os ânimos, fará-o, embora solo seja por vingar-se do que passou ontem.

—Pode ouvir algo do que os outros estão lhe dizendo ao delegado Hilton? —perguntou Loretta.

Caçador levantou um pouco a cortina e fez um sinal para que guardassem silêncio.

—Só estão lhe dizendo o que ocorreu. —depois de olhar um pouco mais, deixou cair a cortina e se voltou para eles—. Bem, não tentaram lhe seguir ao interior do cárcere. Isso é um bom sinal. lhe demos tempo para que fale com Veloz a sós. Depois iremos ver o que podemos averiguar.

Loretta soprou para retirá-los cabelos que lhe caíam pela frente.

—Se alguém pode raciocinar com esses homens, esse é o delegado Hilton. lhe cai bem Veloz.

Amy ficou uma mão na garganta, imaginando uma corda ao redor de seu pescoço, deixando-a sem ar. Não podia deixar que algo assim ocorresse a Veloz. Simplesmente, não podia.

 

Embora o som foi quase apagado pelo murmúrio de vozes que se ouviam fora, Veloz pôde distinguir que a porta da prisão se abria e fechava. Uns passos pesados e medidos atravessaram o chão de madeira até sua cela. Reconheceu as pisadas e não lhe importou abrir os olhos.

—Bem, López —disse o delegado Hilton com tom divertido—. Me dá a impressão de que se colocou em um inferno difícil de solucionar. Ódio ter que lhe interromper a sesta, mas tem que responder a algumas pergunta.

O suor lhe caía por detrás das orelhas até o pescoço. Tinha a garganta seca.

—Sim, tem razão, é um inferno. Já me têm o laço preparado?

Hilton suspirou.

—Falar nunca conseguiu pendurar a ninguém ainda.

Veloz podia ouvir um homem fora gritando.

—Pendure a esse bastardo! —Não era uma frase muito esperanzadora.

Hilton deixou escapar outro suspiro.

—E bem?

—E bem o que?

—Não seja tão condenadamente cabezota! Por tal e como sonha esse grupo daí fora, não é momento de ser orgulhoso. Fez-o ou não?

—Não.

—Suponho que com isso me basta.

Isso fez que Veloz abrisse os olhos. Moveu a cabeça a um lado e a outro.

—Crie-me?

Hilton apertou os lábios.

—Há alguns que diriam o que quero ouvir sozinho para sair daqui. Sei por experiência que você não é um deles.

Com um sorriso de reconhecimento, apoiou um ombro sobre os barrotes, lhe recordando outra manhã em que tinha permanecido na mesma posição. Esta vez, entretanto, uma palavra da Amy não seria suficiente para liberá-lo.

O sorriso do Hilton se esfumou e depois enrugou o sobrecenho.

—Se você não lhe cortou a cabeleira a esse bastardo, quem o fez? Não todo mundo sabe como deixar sem cabelo a caveira de alguém. Por isso me hão dito, foi um corte limpo.

—Eu não poderia havê-lo feito melhor.

—Não me recorde isso. Certamente é você a pessoa mais adequada para fazê-lo.

—Assim é. Está louco por me acreditar. A maioria não o faria. Demônios, provavelmente eu não me acreditaria.

Hilton riu.

—Isso é o que eu gosto de você, sua franqueza. Esperava que me discutisse isso e me desse o nome de um suspeito.

Veloz golpeou o travesseiro e voltou a colocar-lhe sob a cabeça.

—O certo é que não posso pensar em ninguém mais que se cruzou com o Abe. —Seguiu outro incômodo silêncio. As vozes de fora se calaram momentaneamente—. Não me ocorre ninguém, exceto...

—Exceto quem?

Veloz enrugou o cenho.

—Possivelmente Alice Crenton... —grunhiu e sacudiu a cabeça—. Ela acredita que eu o fiz. Assim estou provavelmente ladrando na árvore equivocada. Mas estava pensando que possivelmente ela pode saber algo. Algo que nem sequer ela crie importante. Alguém com quem Abe discutiu, alguém que lhe devesse dinheiro. Tem que haver alguém que o odiasse. depois de tudo, fez que lhe cortassem o pescoço.

—A muitos não gostava, mas duvido de que o tenham matado. Entretanto, não nos virá mal falar com a Alice. —Sorriu ligeiramente—. Além disso, nunca me importou muito chamar a sua porta. É tão encantada como bonita, e faz o melhor maldito pão de mel que nunca tenha provado.

—Gosta de Alice Crenton?

Hilton sorriu.

—Se tivesse pensado por um minuto que poderia convencê-la para que se divorciasse do Abe, a teria afastado a ela e a todos seus filhos dele antes de que pudesse piscar, e não me teria arrependido por isso nem um segundo. O dia que lhe deu o que se merecia foi o mais feliz de minha vida. Se não tivesse sido por esta placa, o teria feito eu mesmo.

A veemência na voz do Hilton indicou a Veloz que o delegado tinha considerado seriamente fazê-lo. voltou-se para olhar ao homem com outros olhos. Não era tão velho e ainda tinha boa planta. Veloz supôs que as mulheres deviam encontrá-lo atrativo com essa forte mandíbula e esses olhos azul cinzento tão vivazes.

—Deve tê-la em muito alta estima. Cinco filhos não são algo.

Hilton assentiu e se encolheu de ombros.

—Entretanto, esse é outro tema. Quem matou ao Abe, isso é o que nos interessa agora.

—Uma pergunta sem resposta. —Veloz pensou um pouco mais na situação—. Tenho que lhe dizer, delegado, que inclusive Caçador duvida de mim esta vez. Se está procurando votos para as próximas eleições, a gente de por aqui não vai ver com muito bons olhos que fique de meu lado.

Hilton voltou a sorrir.

—E volta a fazê-lo... Algumas vezes, López, é melhor que um homem saiba fazer um pouco de politico.

—Isso não me dá bem.

—Sim, claro. Não acredito que estivesse aqui agora falando com você se pensasse que é um enganador. —Dirigiu o polegar para o este—. Tinha um imóvel a uns seis quilômetros daqui. Quando Rose morreu, apresentei a delegado porque trabalhar na granja era muito solitário. Posso voltar ali se o necessitar. Os votos não me interessam.

Veloz se levantou.

—Aprecio sua lealdade.

Hilton emprestou atenção às vozes de fora.

—A lealdade não salvará seu condenado pele. Respostas, isso é o que necessitamos. Pode jurar onde estava ontem à noite?

Veloz ficou tenso.

—Não pela maior parte da noite. Dormi junto ao fogo, mas outros estavam dormidos. Não podem jurar que estive ali.

—Há dito a maior parte da noite. Então saiu da casa, se o entendi bem.

—Da meia-noite até as duas.

Hilton perjurou.

—É quando o juiz acredita que aconteceu o assassinato, entre as onze e as três, ou muito perto a essa hora. Aonde foi?

—De visita.

—Não jogue comigo. Onde esteve, Veloz?

—Com uma amiga.

Hilton se agarrou aos barrotes e pegou a cara a eles.

—Uma mulher. Não é momento de preocupar-se agora pelo que dirão. Era a senhorita Amy? Teve um picor impossível de arranhar e teve que ir em busca do Mai Belle? Com quem esteve?

Veloz ficou em silêncio.

—Me vai dizer isso ou não?

—Não posso. Se esses decentes cidadãos daí fora me penduram, a ela sozinho ficará sua reputação.

—Bem, isso deixa fora ao Mai Belle. Deveu ser a senhorita Amy.

Veloz apertou os dentes.

—Se lhe importar, ela mesma virá a dizê-lo. Sua vida está em jogo.

—E poder provar onde estive até as duas tampouco me salvará.

—Há vezes que a honra pode converter-se na pá que cava a tumba de um homem. Se ela falar, as coisas poderiam trocar para você.

Veloz se sentou no camastro.

—Não! Inclusive embora atestasse que estive com ela, poderia ter matado ao Abe depois. Demônios, poderia inclusive ter álibi até as quatro e isso tampouco me salvaria. As averiguações do senhor Black não são uma ciência exata. Se o corpo do Abe jazia em um lugar de muito vento, o ar frio poderia havê-lo deixado rígido mais rápido do normal.

Veloz grunhiu e se massageou a parte de atrás de seu pescoço.

—Se tiver a sorte de ser processado, que não parece muito provável, o caso iria aos tribunais. Você sabe, eu sei, e —dirigiu um dedo para a multidão— eles sabem. Se ela pudesse jurar que estive em sua companhia até o amanhecer, então valeria a pena. Mas tal e como estão as coisas, prefiro que fique à margem disto.

Hilton levantou as mãos.

—Está bem. É seu pescoço.

Veloz balançou as pernas sobre o lateral do camastro. Tocando o colchão com as mãos, disse:

—Espero que esta informação fique entre nós.

Hilton assentiu e se arranhou a mandíbula. Veloz não necessitava mais garantias, não do Hilton.

—Só no caso de —acrescentou Veloz—, não pense mal da senhorita Amy. Estamos casados segundo a lei de meu povo. Pensamos que com isto valeria até que o pároco voltasse para o Jacksonville.

—Não poderia pensar mal da senhorita Amy embora se passeasse em roupa interior pela rua principal. É uma boa mulher. —tocou-se o nariz e farejou—. Suponho que deveria ir ver caçador para lhe dizer o que está passando. Quão último preciso é que venha aqui e fique a falar com esses daí fora. Assim que lhe tenha advertido, então poderei ir à casa do Crenton e falar com a Alice.

—Ela está convencida de que o fiz eu, o advirto a partir de agora.

—Não se preocupe. Que eu goste não significa que possa me fazer trocar de idéia. Se falar com ela não me dá nenhuma pista, então terei que reunir às pessoas esta noite para tratar de averiguar algo. Não há nada mais esclarecedor que um punhado de gente exaltada, todos gritando ao mesmo tempo.

Veloz se encontrou com seu olhar.

—Posso estar eu nessa reunião?

—Se quiser...

—Pode manter a esses animais daí sob controle?

—Tentarei-o.

 

Depois de que o delegado Hilton teve falado com Caçador, Amy se aproximou da janela do salão para vê-lo partir. Os homens se congregaram a seu redor uma vez na rua, dirigindo-se a ele com vozes zangadas. Ela pegou a cabeça ao cristal para tentar entender o que diziam, embora desejou não havê-lo feito. Hilton, falando em voz baixa, parecia ter certa manha para acalmá-los, mas Amy sabia que não duraria muito. Olhou para a pequena prisão. Veloz estava encerrado ali, acusado de assassinato e, por isso sabia, abandonado por seus amigos.

Cada poro de sua pele lhe dizia o muito que o sentia falta de e quão assustada estava por ele. Tinha resultado ser o cabrito expiatório perfeito. Com toda segurança, era o homem perfeito para que as mentes puritanas de Terra de Lobos condenassem, dado sua origem comanche, o sangue mexicana que corria por suas veias e seu desagradável passado.

Devia ir ver o? Pergunta-a se repetia na mente da Amy e se sentia inclusive culpado por ter que perguntar-lhe Se tivesse sido ao contrário, Veloz estaria já no cárcere com ela. Mas ele era forte e, que Deus a ajudasse, ela não o era. Se a viam perto do cárcere, seria como se anunciasse publicamente que era seu amante. Podia despedir-se de seu trabalho e do respeito de todos seus amigos. Se Veloz terminava na forca, ficaria sozinha, sem trabalho, sem casa, sem segurança.

agarrou-se ao batente da janela até que os nódulos lhe puseram brancos. Covarde! Amava a esse homem ou não? Essa era a pergunta. A única pergunta. Sua culpabilidade ou inocência era o de menos. E a resposta era sim, amava-o com todo seu coração. Seu lugar estava junto a ele, embora fosse ao mesmo inferno por isso.

deu-se a volta da janela e olhou a Caçador.

—Vou.

Caçador foi até a janela e olhou para fora.

—Esses homens parecem estar ainda bastante zangados. E sabe o que o delegado Hilton há dito. Não é uma boa idéia aproximar-se ali agora.

Amy respirou fundo.

—Sim, o mais seguro é que vão estar zangados durante muito tempo. Meu lugar está junto a meu marido. Darei um rodeio ao povo e me aproximarei da prisão por detrás para que não me vejam. —Foi à cozinha da Loretta e agarrou um dos cubos de leite—. Para subir a ele —explicou—. Assim poderei falar com ele pela janela.

Caçador abriu a cortina e jogou outra olhada ao exterior, preocupado.

—Irei contigo.

Amy agarrou com força a asa do cubo.

—Pode nos dar primeiro quinze minutos a sós? Há coisas que... —Moveu a mão—. Se alguém me vir, gritarei.

Caçador sorriu.

—Dirá-lhe que passarei logo por ali?

Amy começou a assentir e então se encontrou com seu olhar.

—O que de verdade eu gostaria de lhe dizer é que estamos todos com ele. —Conteve as lágrimas, olhando a Loretta e depois a Caçador—. Possivelmente matou ao Abe. Possivelmente, justo ao princípio, teve um ataque de pânico e mentiu. Não sei. Mas se disser que... —Sua voz se quebrou. passou-se o cubo à outra mão—. Se, quando falar com ele, segue dizendo que não o fez, então acredito que deveríamos confiar em sua palavra, por muito mal que se vejam as coisas.

Caçador a olhou, enternecido.

—Acredito que tem razão. —Olhou a sua esposa. Loretta assentiu.

Amy não se deu conta de que tinha estado contendo o fôlego. esfregou-se as bochechas e se sorveu o nariz.

—Eu, isto... —encolheu-se de ombros e se dispôs a sair—. Bem, é hora de ir.

—lhe diga que lhe levarei bolo de maçã todos os dias até que saia dali —disse Loretta.

Amy não podia falar pelas lágrimas. limitou-se a assentir e sair dali.

O clique da fechadura ressonou dentro da habitação. Caçador roçou o tapete com a ponta de seu mocasín. depois de um momento, um grande sorriso apareceu em sua cara.

—De que diabos te está rendo agora? —perguntou Loretta.

Olhou-a.

—Só estava pensando no muito que trocou desde que Veloz chegou. E para bem.

Loretta suspirou.

—Rezemos para que não tenha que suportar que lhe rompam o coração outra vez.

                                                   Capítulo 24

Colocando um pé em cima do cubo, Amy se agarrou aos barrotes da prisão para elevar-se. Esquadrinhando o interior, sussurrou:

—Veloz?

Ouviu o som de uns moles. Um instante depois, viu aparecer seu rosto escuro.

—Amy, que demônios faz aqui? —Olhou a sua direita e a sua esquerda—. Alguém poderia verte. As más línguas terão do que falar.

Amy tratava de manter-se serena, mas não parecia estar dando muitos resultados.

—Começa a te parecer com uma velha professora, senhor López. Deixa às línguas que falem.

Ele rodeou os dedos dela com os seus.

—Poderia perder seu trabalho.

—Não me importa. —Amy se surpreendeu ao descobrir que de verdade não lhe importava. Finalmente, nada lhe importava a não ser aquele homem—. Ai, Veloz. O que vamos fazer?

—Tenho um camundongo em meu bolso? Nós não vamos fazer nada. Eu sou o que se colocou nesta confusão. —Conseguiu beijá-la através dos barrotes—. Amy, por muito que eu goste de ver seu doce rosto, não quero que esteja aqui. Arrisca muito se lhe virem comigo.

—A vida é um risco.

Ele se tornou para trás.

—Isto não tem boa pinta. Poderia estar pendurado do extremo de uma soga antes de esta noite. Não pode te permitir perder seu trabalho. Não agora.

Havia um eco em cada uma das palavras que dizia, e a Amy não gostou de como soava. por que utilizava algo tão horrível como isto para lhe fazer ver quão tola tinha sido? Veloz era a única segurança que necessitava, quão único sempre tinha necessitado, e ela tinha estado muito assustada para compreendê-lo.

—Ao diabo com o trabalho.

Ele amaldiçoou em voz baixa.

—Não te entendo. Sem esse trabalho, onde demônios irá se algo me ocorre? Ao arroio, aí é aonde irá. Assim move seu precioso traseiro daqui.

—te cale, Veloz. —Ela pegou a frente aos barrotes e lhe sorriu com lágrimas nos olhos—. Não vai ocorrer te nada. Não o permitirei.

Ele a olhou com o cenho franzido.

—por que eu não gosto como isso sonha? Amy, quero que te mantenha à margem disto. Se algo ocorrer, quero saber que estará bem. Tenho que sabê-lo. Se cair, não quero te levar comigo.

—Estarei bem. —Pela primeira vez em muito tempo, estava segura disso—. Uma pergunta. Sinto ter que lhe perguntar isso mas foi você quem o matou?

Seu olhar não fraquejou.

—Não.

Isso era quão único Amy precisava saber. Tocou-lhe a bochecha com a palma da mão.

—Caçador, Loretta e eu... entre os três, tiraremo-lhe disto. Farei tudo o que seja necessário.

Ela se desceu do cubo e o recolheu do chão. Veloz tratou de lhe agarrar o braço mas falhou.

—Amy, não quero que... Amelia Rose Masters, vete daqui!

—López! —corrigiu-lhe—. E não o esqueça.

Deste modo, desapareceu como tinha vindo.

 

Essa noite, quando o delegado Hilton convocou a reunião que teria lugar no salão comunitário, não fazia falta ser um gênio em direito penal para averiguar por onde foram os tiros. Todos no povo pensavam que Veloz era culpado. Joe Shipley não tinha a soga na mão, mas Amy supôs que não demoraria muito em agarrá-la.

De pé, junto ao perchero e em meio de Caçador e Loretta, Amy tratava de escutar as conversações que tinham lugar a seu redor, o que ouviu lhe fez ferver o sangue. A palavra «mexicano» apareceu em mais de uma ocasião, «pistoleiro» ia em segundo lugar, seguida de «má vida de comanchero». Se a opinião pública servia de indicador, Veloz não teria nenhuma oportunidade.

Sentado na plataforma que fazia as vezes de cenário, o comanche levava as bonecas algemadas à costas. Ao olhá-lo, Amy se sentiu orgulhosa dele. Mantinha a cabeça alta e olhava a seus acusadores diretamente aos olhos. Podia imaginá-lo caminhando para a forca com essa mesma coragem intrépida.

Ela não ia deixar que isso ocorresse, certamente. Tinha já vários planos a respeito. Podia ir procurar as pistolas de Veloz e desatá-lo de algum jeito. O repetidor Spencer seguia ainda sobre a mesa da Loretta. Amy supôs que poderia enganá-la e tirar veloz dali se tinha que fazê-lo.

É obvio, todas estas idéias eram uma loucura. Não poderia apontar com uma arma a seus amigos. E correr sozinho serviria para condenar a Veloz de por vida. Mas tinha que fazer algo. Não podia deixar que morrera por algo que não tinha feito.

Loretta foi chamada a atestar. Com evidente receio, respondeu às perguntas.

—Sim, o senhor López saiu ontem à noite. ao redor da meia-noite me levantei beber água e ele não estava dormindo junto à chaminé. —Quando lhe perguntaram se sabia a que hora Veloz tinha voltado para a casa, ela respondeu—: Não pensei ontem à noite que isso pudesse ter importância. Voltei para a cama e não despertei de novo até pela manhã. —Um murmúrio de satisfação se elevou na sala quando Loretta terminou de falar. Depois veio o testemunho de vários homens, os irmãos Lowdry incluídos, quem tinha ouvido veloz ameaçar ao Abe Crenton no botequim.

Amy pôde ver que as provas se abatiam contra Veloz. Nenhuma só pessoa tinha falado em sua defesa até o momento. Depois houve um murmúrio de curiosidade. De entre a multidão surgiu Brandon Marshall, alto e impecavelmente vestido, com o cabelo loiro brilhando à luz do abajur. Dando-a volta para que todo mundo pudesse ver seu rosto machucado e sua orelha atalho, o jovem começou a falar em alto.

—Não sei nada da morte do Abe Crenton, mas posso atestar que este homem tem instintos de assassino. Quando ouvi a respeito disto, soube que tinha que vir e dizer o que me corresponde. —Com um dedo levantado, fez que todo mundo se fixasse em suas feridas—. Esteve a ponto de me matar. E sabem por que? Por beijar a sua sobrinha. Se não tivesse sido pela presença de meus amigos, me teria matado. O juro.

—É um maldito mentiroso —gritou Índigo. antes de que Caçador pudesse agarrar à garota pelo braço, ela deu vários passos para o cenário—. Tentou me violar!

—Você é a mentirosa! —Brandon fez um gesto a seus amigos para que se aproximassem—. Tenho testemunhas. Fiz eu algo mais que beijar a esta garota?

Heath Mallory se abriu passo para avançar para eles.

—Não. —Sacudiu o punho para Veloz—. Esse homem está louco, asseguro-lhes isso! Louco de ira! Matou ao Abe Crenton, me criem. Podem ver o brilho assassino em seus olhos.

Era certo; o assassinato brilhava nos olhos de Veloz. Amy deu um passo para diante, aterrorizada. O murmúrio da sala se converteu agora em um rugido irado. Com nervosismo, Hilton se aproximou de Veloz.

—Que todo mundo se tranqüilize —advertiu.

—Tranqüilizarei-me quando esse assassino de maridos esteja clandestinamente —gritou a senhora Johnson—. Ninguém pode estar seguro, ouçam o que digo! —Levantou um dedo acusador—. Te vi na rua com meu Elmira, não cria que não te vi! lhe pondo ojitos e seduzindo-a. E ela não é mais que uma menina. Soube então de que índole parecia.

—Digo que solucionemos isto aqui e de uma vez por todas —rugiu Joe Shipley—. Ao inferno com essa farsa de julgamento no Jacksonville. Um dos nossos morreu, e este homem o matou. Temos que cuidar dos de nosso povo, ou virão mais como ele. É melhor dar exemplo desde o começo. Os assassinos serão pendurados em Terra de Lobos. Essa será nossa máxima.

As coisas não faziam a não ser piorar. Amy viu que vários homens se aproximavam da plataforma. Em qualquer momento se tornariam para diante como uma onda, ultrapassariam ao Hilton e arrastariam a Veloz à escuridão da noite. E quando isto passasse, não haveria forma de detê-los.

—Esperem! —gritou, abrindo-se passo entre a multidão para chegar diante do salão. Dando uma cotovelada ao Brandon Marshall da estreita seção de chão vazio que havia frente ao delegado, levantou a voz e disse—: Lhes equivocam! Veloz López não matou ao Abe Crenton! Não pôde fazê-lo ele! E posso prová-lo!

Amy não estava segura de como tinham podido sair estas palavras de sua boca mas, uma vez sortes, não havia forma de tornar-se atrás. Quando se voltou para olhar os rostos enfurecidos que a rodeavam, perguntou-se por um momento se tinha perdido o julgamento. Mas o medo por Veloz a sustentava, um medo e um pânico irracional. Já haveria tempo depois para questionar-se suas ações.

—Veloz esteve comigo ontem à noite —disse em voz alta—. Passamos a velada em casa dos Lobo. Depois ele me levou a casa Y... —a mentira lhe engasgou como o ácido e depois saiu a fervuras— ficou até o amanhecer.

A voz de Veloz lhe chegou por detrás.

—Amy, não!

As expressões dos rostos que Amy tinha em frente trocaram lentamente da ira à incredulidade. De repente, alagou-a um sentimento de vergonha. Subiu-lhe um calor irrefreável pelo pescoço. Tragou saliva e continuou com a voz mais tranqüila.

—Veloz López não pôde matar ao Abe Crenton. chegastes todos a uma conclusão errônea. Ele esteve comigo... toda a noite.

Algumas mulheres olharam a Amy com olhos entrecerrados. Harvey Johnson, o corpulento pai da Elmira, disse:

—Deve te haver dormido em algum momento. Ele pôde então sair e depois voltar, sem que te desse conta. Quem a não ser ia cortar a cabeleira ao Abe?

Amy se endireitou, rígida e preparada para responder.

—O asseguro, quando o senhor López vem a me visitar, quão último fazemos é dormir.

A senhora Johnson pigarreou e começou a abanar-se com a mão como se fora a deprimir-se. A senhora Shipley gemeu.

—Que escândalo! —Outras exclamações do mesmo tipo se ouviram pela sala, e de entre elas houve uma pronunciada por Veloz com uma velocidade e uma dicção perfeita:

—Por todos os diabos! —seguido da Amy, perdeste o julgamento?

Quinze anos tinha demorado Amy em chegar a este momento e, em sua opinião, nunca se havia sentido mais corda. Tinha perdido o respeito de outros, sim, e certamente se ficou sem trabalho. E não havia dúvida de que se sentia humilhada. Mas nada disso lhe importava. Não quando a vida de Veloz pendia de um fio.

Amy se voltou para olhar ao delegado Hilton. No instante em que viu o brilho de seus olhos azul cinzento, soube que suspeitava que mentia. Amy olhou assustada a Veloz. O delegado Hilton levantou um ombro e se esfregou a nuca.

—Então, o senhor López esteve —se esclareceu garganta— em companhia de você toda a noite, certo? E está disposta a jurá-lo?

Amy se viu com a mão no livro sagrado. Poucas vezes mentia, muito menos jurava uma mentira. Deus poderia condená-la a morte. Seu olhar se deslizou para Veloz. Por um instante, viu-o como o tinha visto essa primeira noite que fizeram o amor, tão carinhoso e paciente. Depois, recordou o amável que tinha sido com o Peter. Se o Deus ao que ela reverenciava não queria que um homem assim conservasse a vida, pensou que era tempo de trocar de religião.

—Jurarei-o até meu último fôlego —disse brandamente.

Não houve raios que caíssem do céu. Respirou profundamente e fez mentalmente um ato de contrição. Voltou a olhar a Veloz. Tinha lágrimas nos olhos. sentiu-se mais segura. «me deixe te dizer que amo a minha maneira». Veloz o tinha feito... de tantas formas diferentes. Agora tocava a ela.

Reconfortada pela expressão que viu nos olhos de Veloz, Amy se deu a volta para enfrentar-se à multidão. Viu grande variedade de emoções em quão olhadas encontrou, de desgosto, ódio, repulsa, desprezo... Uma mulher não admitia publicamente uma conduta imoral e seguia olhando de frente ao povo imaculado. Durante oito anos, tinha cultivado a boa opinião destas pessoas. Agora solo podia perguntar-se por que o tinha feito. deu-se conta de que, nas coisas importantes, não lhe importava o mais mínimo o que pensassem.

—Confio em que agora, bons cidadãos de Terra de Lobos, encontrarão ao verdadeiro culpado, não é assim? —disse ela—. O senhor López é inocente.

Desta forma, Amy caminhou para a porta. Como se tivessem medo de que pudesse polui-los ao roçá-los com o vestido, a gente do salão se apartou para lhe abrir passo. Com as bochechas tintas e a cabeça alta, Amy caminhou entre eles. Quando chegou até a Loretta e Caçador, viu que os dois sorriam. Ao menos não tinha perdido o respeito de todo o mundo.

O ar da noite envolveu a Amy quando esteve fora. Ela o inalou com desejo e apoiou as costas na parede do edifício, encontrando refúgio na escuridão. Tremia da cabeça aos pés. Fechou os olhos e escutou as vozes no interior. Podia ouvir caçador e Loretta e adivinhou que se teriam subido à plataforma. Muito em breve, Veloz estaria livre. Imaginou seu braço sobre seus ombros, a sólida parede de seu peito esquentando-a. Tudo iria bem então. Eles poderiam enfrentar-se ao mundo. Nada importava salvo que estivessem juntos.

Amy ouviu um tinido perto dela. Abriu os olhos, tratando de ver na noite e ficou completamente imóvel. como sempre, sentia-se frustrada pela cegueira que sofria na escuridão. A figura negra de um homem emergiu de alguma parte. Quase ao mesmo tempo, a ponta afiada de uma faca tocou sua garganta. Amy se agitou.

—Grita, puta, e te racharei o pescoço como fiz com o do Abe Crenton.

O terror baixou a Amy pelo espinho dorsal. Instintivamente tratou de gritar, mas o único que conseguiu que saísse de sua garganta foi um gemido. A faca a cravou mais forte. Sentiu um reguero de sangue caindo pelo decote. O aroma de suor rançoso lhe impregnava o nariz. Uma manga de couro lhe rodeava o sutiã. Depois ouviu esse tinido uma vez mais. Esporas de montar. Por muito que a noite a cegasse, soube que um dos irmãos Lowdry sustentava a faca.

Uns dedos cruéis lhe cravaram no braço. Ao momento seguinte sentiu uma mão suja que lhe tampava a boca. O pânico pôde com ela. Agarrou a boneca do homem e lhe afundou os dentes. Ele a amaldiçoou, dolorido. Frenética, Amy tratou de escapulir-se. Depois, saindo de não se sabe onde, algo lhe golpeou na cabeça. Viu umas estrelas brancas ante seus olhos. desabou-se, conmocionada pelo golpe. Depois, a escuridão se abateu sobre ela.

 

Caçador leu a nota uma vez, depois outra. Veloz se mantinha rígido, esperando a que seu amigo falasse. Loretta estava de pé não muito longe, arranca-rabo ao respaldo da cadeira de balanço. Chase e Índigo, com a cara solene e pálida, sentavam-se junto à chaminé. Quando o silêncio se fez insuportável, Loretta gritou:

—Caçador, pelo amor de Deus, o que é o que diz?

Caçador fez uma bola com o papel sujo e levantou o olhar para Veloz.

—Os irmãos Lowdry... —Teve que esclarecê-la garganta antes de poder dizer nada mais—. Na verdade não se chamam Lowdry. chamam-se Gabriel.

Veloz sentiu como se um punho gigante lhe golpeasse nas vísceras. Quase desde que tinha caminhado para o alpendre da casa da Amy e tinha encontrado a nota em sua porta, tinha rezado a Deus e a todos seus deuses para que seus temores fossem lhes embainhem, para que tivesse sido ela a que tivesse deixado a nota para ele, dizendo que se foi a algum sitio a passear porque estava zangada. Todo o caminho de volta a casa de Caçador tinha seguido rezando, pensando toda classe de coisas, uma parte dele consciente de que Amy nunca se aventuraria a sair sozinha de noite.

—Ah, Santo Deus. —Veloz se dobrou ligeiramente, sentindo-se ainda como se lhe tivessem pego no estômago—. Os Gabriel não. Aonde a levaram?

—A uma choça de mineiros que há a uns oito quilômetros remontando Shallows Creek, no antigo Geunther. —Caçador respirou, tremendo—. Querem que vá ali e que o faça com seus revólveres.

—Não! —gritou Loretta—. O que querem é um tiroteio. Se voltar a agarrar essas armas, Veloz, terminará no mesmo beco sem saída no que terminou no Texas. Correrá-se a voz. Outros pistoleiros virão a te buscar. Tem que haver outra maneira de fazê-lo.

Veloz se sentia enjoado.

—A vida da Amy está em perigo, Loretta.

ouviu-se um golpe forte na porta. Todos se giraram e olharam para ela. Loretta por fim recuperou o sentido e correu a abrir. O delegado Hilton entrou com um amplo sorriso na cara.

—Bem, se o que a senhorita Amy fez hoje não é uma atuação que venha Deus e o veja! Não revistam me gostar das mentiras, mas esta vez uma meia verdade nos salvou o dia. —Riu e sacudiu a cabeça—. Por um minuto, López, pensei que sua sinceridade ao falar ia arruinar o tudo. Se não tivesse fechado o pico quando o fez, estava preparado para te atirar o chapéu à cara. Esses selvagens estavam a ponto de começar uma festa de linchamento.

Hilton deu vários passos no salão antes de que parecesse dar-se conta de que o ambiente que ali se respirava não era precisamente festivo. Então se deteve.

—Que demônios ocorre? Isto nos dá um pouco de tempo para caçar ao culpado. Pensei que lhes encontraria celebrando-o.

Veloz pôde por fim recuperar a voz.

—Esses tipos... os irmãos Lowdry? Na verdade, são os irmãos Gabriel. vieram do Texas, me buscando porque matei a seu irmão. E agora se levaram a Amy.

Veloz sempre tinha sabido que Hilton era preparado, mas mesmo assim se impressionou ao ver a rapidez com a que captou a situação.

—Filhos de seu... Eles mataram ao Abe e tentaram fazer que pareça que foi você! —golpeou-se nas calças jeans—. Estúpido de mim que nem sequer pensei neles.

Os olhos de Veloz se encheram de dor. Ele era o estúpido. No momento em que Abe Crenton apareceu com o pescoço talhado, teria que ter tentado recordar quem lhe tinha ouvido ameaçá-lo. Em vez disso, o pânico pôde com ele, preocupado sozinho de que todos acreditassem que era culpado. Tinha esquecido por completo aos irmãos Lowdry. Se olhava para trás, via-se como um idiota. E Amy estava pagando por isso.

—por que diabos agarraram a Amy? —perguntou Hilton em voz alta.

—Para me agarrar a mim. depois de seu anúncio de esta noite, está bastante claro que ela e eu... —Veloz deixou cair as mãos—. Demônios, não sei por que. por que os de sua índole fazem as coisas que fazem? Imagino que esperavam que me pendurassem. Quando viram que não ia ser assim, agarraram-na a ela como sebo. O importante aqui é que eu matei a seu irmão Chink. Ninguém se cruza com os Gabriel e se sai com a sua. Que melhor maneira de vingar-se que fazendo mal a Amy?

O rosto do Hilton ficou tenso. Veloz voltou a vista para o perchero da parede no que estavam seus pistoleras. Recordou o medo que tinha mostrado Amy ao ver os dois comancheros na rua. Devia estar aterrorizada agora. Decidido, caminhou para as armas e atirou do cinturão.

—Ai, Veloz, não —gritou Loretta—. Tem que haver outra maneira. Amy não o quereria deste modo.

Veloz ficou o cinturão e se inclinou para atá-las pernas das calças de pele da cartucheira para que os revólveres ficassem pegos a suas coxas.

—Não tenho outra opção. —Levantou a vista—. Suponho que possivelmente nunca a tive. Como Amy diz, não pode sair fugindo de seu passado. Isto é uma prova disso.

Caçador se aproximou da mesa e agarrou a Spencer.

—Eu vou contigo.

Veloz duvidava de que os Gabriel tivessem chegado tão longe sozinhos. Caçador não tinha rival como guerreiro, mas não era rápido disparando.

—É para mim a quem querem. Sei que quer a Amy, mas tem uma família em que pensar.

Caçador reuniu os cartuchos que tinha de sobra e os meteu no bolso da jaqueta. Levantando a vista para sua mulher, disse:

—Há algumas costure que devo fazer. Minha família sabe entender isto.

A Loretta lhe pôs a cara pálida. Assentiu lentamente. Os olhos azul escuro de Caçador se encheram de orgulho. Sorriu e se voltou para Veloz.

—Quantos crie que haverá?

—Deus sabe —respondeu Veloz—. Quão único sabemos é que haverá mais de dois.

—irei selar meu cavalo —interveio Hilton.

Caçador levantou uma mão.

—Apreciamos a oferta, delegado. Mas Veloz e eu lutaremos esta batalha à maneira comanche. Um homem branco solo conseguiria confundir as coisas.

Hilton tirou peito.

—Sou um maldito bom atirador, já o verão. E eles são mais. Por não mencionar que eu represento à lei em Terra de Lobos. A esses tipos os busca por assassinato.

Veloz seguia ainda olhando a Caçador. Assaltaram-lhe lembranças de tempos passados e sentiu uma fresta de esperança. Se ele e Caçador utilizavam a estratégia de guerra comanche, poderiam acabar com os comancheros um por um sem que fora necessário disparar.

—Se trabalharmos tão bem juntos como estávamos acostumados a fazê-lo —disse Veloz ao delegado—, não nos superarão em número durante muito tempo. —encontrou-se com os olhos do delegado—. resultou ser um amigo fiel para mim. Se quer cavalgar conosco e nos cobrir as costas, estarei-lhe agradecido.

Caçador assentiu com a cabeça e depois se voltou para a porta de atrás. Veloz o seguiu. Hilton olhou a Loretta.

—Onde diabos vão? O estábulo está na outra direção.

Loretta ficou uma mão tremente no peito.

—Têm que preparar-se para a batalha.

uns quantos minutos depois, Caçador e Veloz voltavam a entrar na casa. Hilton jogou uma olhada a suas caras e começou a rir. Seu sorriso morreu repentinamente quando Veloz se aproximou dele com as pinturas. Em uns segundos, as bochechas do delegado estavam cheias de raias e o queixo grafite de vermelho, com os olhos contornados de grafite e os lábios enegrecidos.

—Valerá? —perguntou Veloz a Caçador.

Caçador, ocupado em revisar seu arco e sua tocha de guerra, olhou para cima.

—Sua frente e suas mãos necessitam algo.

Veloz se fixou nessas zonas. Hilton levantou uma sobrancelha.

—É esta a medicina comanche?

—Pode chamá-lo assim —respondeu Veloz—. Evitará que destaque na escuridão e se converta em um branco fácil.

Hilton se encolheu de ombros e baixou a cabeça para que Veloz pudesse chegar a sua sobrancelha.

—Então é boa medicina para mim.

—Sempre foi para nós —respondeu Caçador. Embainhou a tocha e foi abraçar a sua família para despedir-se. Quando teve a Loretta em seus braços, disse—: Reza seu rosário, pequena. —voltou-se para o Chase e lhe deu um pequeno golpe carinhoso sob o queixo—. E você reza também, né? Reza muitas Más Marías para que volte para casa são e salvo.

—Ave Marías —corrigiu Loretta.

Caçador se inclinou para beijar a sua filha, depois lhe esfregou a cara para lhe tirar a pintura com a que lhe tinha manchado. Veloz, ansioso por partir, esperava na porta principal. Loretta seguiu aos homens fora. De pé no alpendre, disse-lhes adeus com a mão.

Quando Veloz se dirigia ao celeiro, ela os chamou.

—Não utilizem os revólveres a menos que tenham que fazê-lo. Seu futuro pode depender disso.

Tal e como o via Veloz, não teriam nenhum futuro de que preocupar-se se algo ocorria a Amy.

 

O primeiro do que Amy foi consciente foi da dor que lhe percorria as costas e lhe chegava à cabeça. Franziu o cenho e tratou de mover-se, embora viu que tinha as bonecas atadas à costas. Foi recuperando a consciencia pouco a pouco, e o primeiro do que se deu conta foi de que estava tombada de barriga para cima em um chão frio de madeira. Tinha pó e areia fina na língua. Tinha deixado já de ouvir o som das botas golpeando o chão e o das esporas. Pela extremidade do olho, viu um homem sentado em uma gaveta de madeira perto dela. Abriu os olhos e voltou a cabeça para ele.

Uma espora mexicana brilhou de caminho ao fogo. Amy percorreu com os olhos as calças de couro, passando pela cinta nacarada da costura lateral, até terminar no revólver de seis balas que levava no quadril. Sua cara era de pele moréia, coberta em parte pela asa do chapéu: Steve Lowdry.

Começou a recordar... Estava de pé na porta do salão comunitário. Um homem tinha saído das sombras e a tinha pego pelo braço, lhe pondo uma faca na garganta. Ela tinha lutado e algo lhe tinha golpeado a cabeça. depois disso, tudo foi escuridão.

Percorreu com um rápido olhar a habitação em penumbras, reparando nas telarañas e a sujeira. Uma choça de mineiros? Nas sombras que cobriam a habitação, viu outros dois homens, um de pé junto à janela e o outro sentado no chão com as costas apoiada na parede. Também levava uma cinta nacarada no chapéu. O fedor de seus corpos sem lavar o impregnava tudo. Eram comancheros.

O terror frio que assaltou a Amy fez que por um momento se sentisse como um cadáver nos primeiros momentos do rigor mortis. Lhe parou o coração. Os pulmões lhe deixaram de funcionar. O frio lhe transpassou os ossos.

Quando por fim recuperou os batimentos do coração do coração, foi como se umas pontadas lhe cravassem na caixa torácica. A respiração lhe sacudiu a garganta e se parou a meio caminho, deixando-a faminta de oxigênio, como um peixe estado %parado na praia. Começou a lhe doer o ventre.

—Anda, olhe quem está acordada.

Lowdry levantou a bota e pegou com a ponteira a Amy no quadril, fazendo-a rodar sobre suas costas. Tinha os braços como se os tivessem quebrado, torcidos sob o peso de seu corpo. Fechou os olhos. Não ver a ajudava a manter a prudência. Se olhava ao rosto do Steve Lowdry, perderia a compostura.

Ouviu um movimento. E uma mão pesada lhe agarrou a garganta.

—Né, ouça, está-te fazendo a dormida, ricitos de mel? —A mão lhe agarrou Esse cabelo é um bom nome para ela, né, Poke? Tem cachos de mel. O que outras coisas tem bonitas, né, ricitos de mel?

Um dos homens riu do outro lado da habitação.

—López não chegará aqui até dentro de um momento. O que te parece se nos dedicamos a prová-la um pouco?

Lowdry riu.

—O que te parece, preciosidade?

Uma terceira voz, áspera e grave, disse:

—Já sabe o que dizem das garotas às que as chama ricitos de mel, não? —Jogou uma gargalhada—. Que são fáceis de montar.

A mão que tinha no cabelo se soltou. Depois sentiu uns dedos no tornozelo e uma força começou a atirar dela pela habitação. O chão de madeira rangia ao contato com seus braços dobrados e trementes. Amy apertou os dentes. O calor do fogo lhe esquentava o corpo. Com os olhos entreabiertos, pôde ver uma luz dourada. Lowdry lhe soltou o tornozelo e deixou que caísse no chão.

Manteve os dentes apertados e os olhos fechados. Sabia o que viria a seguir. O medo fragmentava seus pensamentos. Com os orifícios do nariz fechados, custava-lhe trabalho respirar, mas sabia que se abria a boca começaria a gritar. E, uma vez começasse a fazê-lo, talvez não seria capaz de deter-se.

Steve Lowdry lhe agarrou a parte dianteira do sutiã. Seu aroma fazia que lhe desse vontade de vomitar.

—O que é o que tem aí, ricitos de mel?

O tecido do vestido rodeava suas costas. Amy sabia que se romperia em qualquer momento. Conteve um soluço. A voz dele supurava sobre ela como a baba. Podia ouvir a saliva em sua boca trabalhando, o curto e excitado ritmo de sua respiração. O que tinha aí? Era uma pergunta calculada para aterrorizá-la. E funcionava. imaginou essas mãos sujas sobre seu corpo.

Um centenar de súplicas silenciosas se formaram redemoinhos em sua garganta. Mas antes de que pudesse as pronunciar, as imagens do passado passaram ante seus olhos com uma claridade cegadora. viu-se si mesmo de menina, lutando impotente, soluçando e suplicando clemência. As risadas dos homens sossegaram o eco dessa voz de menina pequena. Suas súplicas aterrorizadas e frenéticas não tinham conseguido nada então e não conseguiriam nada agora. Os homens como estes desfrutavam ouvindo uma mulher chorar. Eles violavam e eram violentos não pela gratificação sexual, mas sim pela pura violência que havia no ato.

De repente se sentiu muito mais tranqüila. Já não era a menina atemorizada com antigamente. E que Deus a condenasse se ia dar a esses animais a satisfação que estavam procurando. depois de tudo, a dor não era algo que fosse estranho. Sabia por experiência que por muito que lhe fizessem mal, a agonia sempre passava. Não podia evitar que estes homens violassem seu corpo, mas podia manter a dignidade, por muito dano que lhe fizessem. «me deixe que lhe diga isso a minha maneira, solo uma vez.» Estas palavras penetraram em sua mente desde algum lugar. Era a voz de Veloz, suave e sedosa, ressonando uma e outra vez. imaginou sua cara moréia, a maneira em que seus olhos se nublavam cheios de ternura quando a olhava, a maneira em que suas mãos lhe sussurravam, fazendo-a sentir-se tão querida. Esses homens não poderiam lhe roubar aquilo.

 

O vestido cedeu. Amy sentiu o ar frio por debaixo do tecido. Uns dedos se cravaram em seus peitos e lhe fizeram mal. Ela ficou tensa, sabendo que isto era sozinho o princípio.

«me deixe que lhe diga isso a minha maneira.» Seguia mantendo a calma. Veloz lhe tinha dado tantas coisas... amor, risada, esperança..., mas o melhor presente de todos tinha sido o lhe fazer descobrir o sentido de si mesmo. «A coragem é dar três passos quando isso te aterroriza.» As lágrimas se amontoaram em seus olhos. Dava igual o que estes homens lhe fizessem esta noite, sobreviveria. E quando chegasse o dia, voltaria a cabeça para o horizonte e não olharia atrás nunca mais.

A mão a colheu com mais força, com crueldade.

—Né, preciosa? Está morta ou o que? Eu gosto das mulheres com um pouco de vida.

Amy se manteve relaxada e concentrada em separar a mente da realidade. Recordou o dia em que ela e Veloz perseguiram os frangos até deixá-los sem plumas. Uma vez mais, ela flutuou em seus braços ao compasso da valsa, sob uma luz de lua cheia de magia. Com as lembranças veio a certeza de que o manhã havia de fato chegado já. Esta noite era sozinho um instante em toda uma vida.

A porta da cabana se abriu de uma portada e o golpe devolveu a Amy à presente. Surpreendida, abriu os olhos para ver o Hank Lowdry entrando como uma exalação. Fechou a porta de repente detrás dele e olhou ao homem que se equilibrava sobre ela.

—Maldito seja, Billy Bo! O que crie que está fazendo?

—me divertir um pouco. Maldito seja, Sigiloso, quase me dá um ataque ao coração.

—Me alegro. Já poderá te divertir depois. López não vai dever tomar o chá.

Veloz ia vir? Amy deslizou a vista para o homem que a tinha atormentado, um homem ao que ela tinha conhecido como Steve Lowdry. Billy Bo? O nome era tão absurdo que quase lhe deu vontade de rir, embora fora de forma histérica. Lhe colocou o vestido quebrado e a pôs em pé. A pele da Amy ardia cada vez que a tocava.

—Posso me divertir e estar preparado de uma vez —se queixou—. Desde quando fica tão nervoso por ter que caçar a um tipo? Somos cinco.

Cinco? Amy olhou a seu redor. Incluído o recém-chegado Sigiloso, aliás Hank Lowdry, contou quatro homens, o que significava que havia outro fora. por que? Para surpreender a Veloz? Deus Santo, Veloz ia vir aqui. Estes homens horríveis deviam estar usando-a como ceva. Veloz não se daria conta da quantas pistolas teria que enfrentar-se. ia cair de cabeça na armadilha.

Sigiloso se moveu junto à janela e esfregou uma parte de cristal embaciado e sujo para poder ver fora.

—López fez correr a pólvora contra vinte dos melhores homens do Chink. Esqueceste-te que isso? E se levou ao Chink por diante na refrega. te esqueça das calças e te centre no que temos entre mãos.

Billy Bo enviou a Amy um olhar de desejo. Depois, agarrando o chapéu para arranhar-se, cambaleou-se pela habitação, com as esporas tilintando ao pisar no chão.

—O que quer que faça?

—Estate atento, estúpido. antes de tirá-la, dispara. —Sigiloso tirou seu revólver do seis e revisou os cartuchos. Depois se ouviu junto ao cristal de novo—. Apaga esse jodido fogo, Poke! Já quem diabos lhe ocorreu acendê-lo?

—Fui eu. —O terceiro homem grunhiu—. Faz um frio de mil demônios aqui dentro.

Amy ouviu umas esporas que se aproximavam da chaminé. Houve água que salpicava e assobiava. A fumaça os rodeava. Voltou a cara para um lado, contente de que estivesse escuro. Cinco homens? E Veloz esperava sozinho a dois. Tinha que fazer algo. Pergunta-a era o que?

 

Veloz conduziu a Diabo até um alto, sob a escura sombra que projetava uma árvore. O aroma de fumaça chamou sua atenção. Caçador estava em alguma parte para sua esquerda. Hilton estava fazendo guarda a uns noventa metros detrás dele. A luz da lua enche banhava o claro que havia ante eles. Perfeito. Ele e Caçador poderiam ver-se o um ao outro o suficiente para comunicar-se por gestos enquanto avançassem para a cabana.

obrigou-se a afastar os pensamentos sobre a Amy de sua cabeça. Fechou os olhos e tratou de absorver os aromas e sons que o rodeavam, tentando formar parte deles. As palavras que havia dito a essa Caçador primeira noite em Terra de Lobos se voltavam contra ele. «O lugar em meu interior que era comanche morreu.» Se isso era certo, então Amy estava perdida.

Veloz abriu os olhos e olhou à lua através das retorcidos ramos que o cobriam. A mãe lua. Lhe encolheu o coração. Tinha passado tanto tempo desde que tinha renegado de seu passado índio. Poderia ainda reconhecer o suor de um homem no ar a noventa metros? Poderia ainda distinguir os sons de um animal dos de um homem, os de um amigo dos de um inimigo? Poderia seguir movendo-se pela escuridão como uma sombra? Trilar como um pássaro noturno? Ulular como um mocho? Chiar como um coiote? Recordaria os sinais que tinha aprendido a usar na batalha?

Estava assustado. Por sua cabeça passou uma imagem da Amy. E agora os irmãos Gabriel a tinham nessa cabana de mineiros. Seu pior temor se feito realidade. Tinha que tirá-la dali.

Um mocho ululou. A Veloz lhe arrepiou o pêlo da nuca. Sem mover o corpo, deslizou o olhar pelo claro. Viu caçador acurrucado detrás de um arbusto. Suas mãos fizeram um movimento rápido. Veloz decifrou o sinal e ficou tenso. «Há um homem diante de ti.»

Tombando-se junto ao pescoço de Diabo, pôs a mão no focinho do animal. O cavalo ficou imóvel. O comanche sorriu. Algumas costure nunca se esqueciam. desceu-se do cavalo como um fantasma e se pegou ao chão. Jogando a cabeça para trás, emitiu um som com a garganta:

—Uuuu! Uuuu! —Rodando para um lado, devolveu o sinal a Caçador. «Eu me encarrego dele.» Caçador assentiu e se fundiu entre as sombras.

 

—Maldita seja, Rodríguez deveria estar já aqui! —Sigiloso deu as costas à janela. A luz da lua fez que Amy pudesse vê-lo enquanto tirava o relógio do bolso. Moveu-o para a luz—. Se supõe que devíamos ter trocado o guarda faz dez minutos. Algo vai mau.

—dormiu-se! —grunhiu Billy Bo desde algum lugar próximo à cabeça da Amy.

Sigiloso dirigiu um polegar para a porta.

—Poke, vá ver que diabos passa. Um dos dois deverá voltar aqui para me dizer isso em cinco minutos. Fernández —gritou ao terceiro homem—, quero-te no telhado. Vamos!

—por que não podem Billy Bo ou Fernández ir ver o Rodríguez? —queixou-se Poke—. Se algo passar, por que deve ser meu pescoço o primeiro em cair?

—Porque o digo eu!

O homem chamado Fernández se dispôs a fazer o que lhe havia dito Sigiloso e saiu em silêncio da cabana. Das sombras, Amy ouviu o Poke levantar do chão e murmurar algo.

—Eu te direi por que somos Fernández e eu os que vamos. É porque não nos apelidamos Gabriel, por isso.

—Fecha seu jodida boca! —espetou-lhe Sigiloso. Levantou a vista ao teto, aguçando o ouvido ao reconhecer o som de passos sobre eles—. Soa como uma manada de cavalos aí acima. É que não sabe andar sem fazer ruído?

Poke deu um passo para um claro de lua e se ajustou o chapéu na cabeça. Amy estava contente de que seus roncos tivessem cessado. Tinha a impressão de que tinha estado na mesma posição durante horas, lhe escutando cuspir e estalar os lábios.

Horas. Tinha passado tanto tempo? Ou só tinham acontecido minutos? Não tinha nem idéia. Solo sabia que não podia fazer que as cordas que atavam suas bonecas se afrouxassem, que não havia nada, absolutamente nada, que pudesse fazer para ajudar a Veloz. Ele viria por ela. Não lhe cabia nenhuma dúvida. E pode que muriese no intento.

Poke tirou o revólver e se assegurou de que estava carregado. Com um último palavrão que mostrava seu desacordo, abriu a porta e saiu. Pouco depois, o silêncio da noite lhes trouxe o som de um mocho ululando.

Amy registrou o som e esteve a ponto de passá-lo por alto. Então o pensou melhor e viu na escuridão a silhueta escura de Sigiloso junto à janela. Estava apoiado nela, fazendo algo com as mãos. Um momento depois, viu o resplendor de um fósforo ao acender-se. A luz da chama banhou seu rosto curtido ao afundar a cabeça e acender um cigarro. Amy tragou saliva e tratou de ver por detrás dele, também através da janela. Se tinha ouvido o som do mocho, não parecia conhecer seu significado. Ao menos não ainda. Mas poderia descobri-lo em qualquer momento, se ela não o distraía.

Voltou a tragar saliva. até agora tinha tratado de passar tão desapercebida como fosse possível, atemorizada com a idéia de chamar a atenção. Mas se Veloz estava aí fora, não podia limitar-se a ficar ali tombada sem fazer nada.

—por que...? —Sua voz se quebrou. umedeceu-se os lábios. E se o som que tinha ouvido era somente um mocho? E se Veloz seguia ainda em Terra de Lobos? E se...? Apartou esses pensamentos e se centrou nos contrários. E se Veloz estava aí fora? Sigiloso Gabriel poderia vê-lo arrastando-se até a cabana e matá-lo—. por que fazem isto?

—Fazer o que? —Sigiloso apartou a cabeça da janela para olhá-la—. Fumar?

—Não... não. Por... por que mataram ao Abe Crenton?

—Nós não gostávamos de seu aspecto.

Ele voltou a olhar pela janela. O pulso da Amy se acelerou.

—Não, sério. De verdade que eu gostaria de sabê-lo. Para que serviu sua morte?

—Para nada. Por isso ao final tivemos que te agarrar a ti.

Era evidente que não ia falar, a menos que ela o forçasse a fazê-lo. Amy olhou seu descomunal figura.

—Ah, assim que seus planos se foram ao traste?

Ele se voltou para olhá-la de novo.

—Só porque você é uma puta mentirosa. López não esteve ontem à noite contigo toda a noite.

—Como pode saber onde estava?

—Porque estávamos vigiando-o, por isso. —Apoiou o quadril contra o batente, dando completamente as costas à janela—. Deixou sua casa por volta das duas. Esperamos até que saísse para matar ao Crenton.

—Para que não tivesse álibi no momento de sua morte. —Amy sentiu certa curiosidade genuína na narração—. Está claro que queriam que o pendurassem. Mas por que? Se queriam tanto que muriese, estou segura de que poderiam ter encontrado dúzias de formas mais eficientes de consegui-lo.

Ele riu sonoramente.

—Efi... o que?

—Eficientes..., mais rápidas.

Ele se encolheu de ombros.

—O mais rápido não sempre é o melhor.

—Temo-me que tornaste a conseguir que me perca.

—Vimos a maneira de liquidá-lo legalmente. Sendo forasteiros por estas terras, era muito mais seguro fazer o desta forma que fazê-lo nós mesmos. Especialmente porque López se levou bem conosco e não levava seus revólveres.

—Eu pensava que sendo forasteiros era mais conveniente para vós. Ninguém sabia quem foram realmente. E quanto ao de que ele não estivesse armado, pensava que isto punha as coisas mais fáceis e não ao contrário.

Irrompeu com uma gargalhada, lhe fazendo ver quão estúpida a considerava.

—Claro, o que queríamos era nos desfazer de um homem que vai desarmado para ter a todos os delegados nos perseguindo. Não há muitos caminhos por aqui. Se a lei nos perseguir... —Deu uma imersão ao cigarro e sacudiu as cinzas, que caíram de uma cor laranja brilhante até o chão—. Bom, agora já sabe. Que me pendurem se sabiam meu verdadeiro nome ou não. Não conhecemos estas montanhas o suficiente para entrar em terrenos fora do mapa e evitar os caminhos principais.

Amy começava a entendê-lo tudo. Dirigiu a vista para a janela.

—Assim decidiram matar ao Crenton, fazer que parecesse que o tinha feito Veloz e deixar que o pendurassem por isso.

—López ameaçou lhe cortando o pescoço ao tipo diante de uma dúzia de testemunhas. Era uma oportunidade que não podíamos deixar escapar. Quão único tínhamos que fazer era cumprir com sua ameaça. Billy Bo e eu compartilhamos muitas cabeleiras, assim fizemos um bom trabalho. Faz uns anos, o exército pagava bem pelas cabeleiras dos índios.

A Amy lhe encolheu o coração. As cabeleiras dos índios. A vida humana não significava nada para estes homens. Lhe secou a garganta. Tragou para conter a náusea.

—Uma pergunta mais, solo por curiosidade. por que querem ver morto ao senhor López?

—Ele matou a meu irmão Chink.

—por que?

—Por uma mulher. —Riu de novo—. Uma mulher loira, como você. O homem tem fixação pelas loiras, não?

Durante um instante, sentiu ciúmes. Mas foi sozinho um instante. Nunca poderia duvidar do amor de Veloz. Se tinha matado ao Chink Gabriel por uma mulher, devia ter tido outras razões que não eram as mais evidentes.

—Eu diria que a seu irmão também gostava das loiras —disse ela brandamente.

—Não lhe importava a cor de cabelo —grunhiu Sigiloso—. Ele sozinho estava divertindo um momento. E López o matou por isso.

O ódio que ouviu em sua voz a fez tremer. perguntou-se se a idéia de seu irmão Chink de divertir-se com uma mulher tinha sido parecida com a do Billy Bo fazia um momento.

 

                                                   Capítulo 25

A Amy pareceu que tinham acontecido várias horas desde que tinha terminado de falar com Sigiloso Gabriel e ele havia tornado a olhar pela janela. Sabia, entretanto, que não tinha podido acontecer tanto tempo. Sigiloso tinha dado instruções ao Poke para que voltasse em cinco minutos, e Poke ainda não tinha retornado. Inclusive embora solo tivesse passado uma hora, Sigiloso estaria já nervoso, perguntando-se o que podia ter passado.

Como se lhe lesse os pensamentos, Sigiloso tirou o relógio do bolso para controlar a hora. Proferiu uma maldição e se voltou para a janela.

—Esse condenado López está aí fora, Billy Bo —disse entre dentes a seu irmão—. Acredito que está tentando acabar conosco um a um.

—Como demônios sabe? —Amy escutou ao Billy Bo que emergia das sombras arrastando os pés—. Eu não vejo nada.

Sigiloso voltou a desencapar a pistola e voltou a comprovar a munição, sinal indubitável de seu nervosismo. Tinha revisado a arma fazia solo um momento.

—Rodríguez não veio a trocar o guarda. Agora Poke tampouco tornou. —Tremia-lhe ligeiramente a voz—. Esse filho de puta está aí fora. Sinto-o nas vísceras.

Billy Bo se aproximou mais à janela e olhou para fora.

—O que vamos fazer?

—Bom, o que não vamos fazer é ficar aqui sentados para ver como nos corta o cangote, isso lhe digo isso. Agarra à garota!

Billy Bo se voltou para a Amy.

—O que vamos fazer com ela?

—Utilizaremo-la para lhe obrigar a sair —respondeu Sigiloso—. López se deixará ver se começarmos a nos colocar um pouco com ela.

Amy sentiu como se lhe tivessem atirado um jarro de água fria. Billy Bo se aproximou e a agarrou das bonecas para obrigá-la a ficar em pé. Sujeitaram-lhe os braços, colocando-lhe pelas costas. A dor lhe cravou nos ombros. Gemeu e se cambaleou contra ele. Agarrando-a outra vez pelas bonecas, deu-lhe um empurrão para a porta. Amy apertou os dentes para não gritar.

Sigiloso abriu a porta de um golpe. Billy Bo tirou a Amy ao exterior. lhe soltando as bonecas, passou-lhe o braço pela cintura e a aproximou dele.

Utilizando a Amy e a seu irmão de escudo, Sigiloso Gabriel saiu por detrás.

—López! Né, López, sabemos que está aí! —rugiu Sigiloso—. Olhe bem a sua mulher, amigo. Porque dentro de um minuto ficará sem nariz. —Pressionou-a contra Billy Bo—. Se isso não te faz sair, então lhe cortarei as orelhas.

Como se queria demonstrar que ia a sério, Billy Bo lhe apoiou a faca no pescoço e pressionou com a folha o lábio superior da Amy. Ela conseguiu conter um gemido. Um só som dela faria que Veloz se precipitasse.

—vou contar até dez, López —disse Sigiloso—. Se não puser à vista antes de que termine, começaremos a cortar.

Fernández sussurrou algo do telhado.

—Quer que lhe dispare, chefe?

—Crie que está aí para te jogar uma sesta? —brigou-lhe Sigiloso, em voz baixa.

Amy esquadrinhou o claro. A luz da lua banhava a área imediata frente à cabana, mas quando tentou ver mais à frente, entre as sombras, sua cegueira noturna lhe impediu de reconhecer nada. Estaria Veloz ali fora? teria se dado conta de que Fernández estava no telhado, preparado para lhe disparar? meu deus... Baixou os olhos e viu a faca que tinha no nariz. Se gritava para adverti-lo, Billy Bo se moveria e lhe faria um corte.

Tremia-lhe todo o corpo. imaginou a Veloz avançando à luz da lua..., imaginou que lhe disparavam. Uma cicatriz na cara não era nada se com isso podia lhe salvar a vida. armou-se de valor, inalou lentamente e depois gritou.

—Há um homem no telhado!

Billy Bo se estremeceu. Por sorte, quando deu um puxão, a faca descendeu uma fração em vez de ir para cima.

—Maldita seja, Billy Bo, faz que se cale! —gritou Sigiloso.

Billy Bo perjurou e lhe cobriu a boca com a mão, blandiendo a manga da faca contra seus lábios. A Amy quase lhe dobraram as pernas. Fechou os olhos aliviada, rezando para que Veloz a tivesse ouvido.

Como se respondesse a suas preces, uma voz maravilhosamente familiar e sedosa saiu da escuridão.

—Deixa que se vá, Gabriel. É para mim a quem quer, não à mulher. Vou armado. Terão seu tiroteio e poderão dizer que foi em defesa própria. Faz as coisas com decência e solta-a.

Amy olhou fixamente à escuridão que havia depois do claro, com o coração lhe pulsando violentamente. Veloz. Queria correr para ele. Cada músculo de seu corpo lutava contra o apertão do Billy Bo.

—Deixa que lhe vejamos —ordenou Sigiloso.

—Não até que a mulher esteja fora de perigo.

—Para que possa nos disparar? Crie que somos tão estúpidos, López? Deixa que lhe vejamos agora mesmo ou ela morrerá.

Uma sombra se moveu. Amy tratou de liberar sua boca da mão do Billy Bo. Ele a tampou com mais força. Sabia que as oportunidades de Veloz seriam menores se ela se mantinha na linha de fogo. Ele teria que escolher seu objetivo, o que lhe faria ser mais lento. Embora disparasse a Sigiloso e Fernández, não se arriscaria a disparar ao Billy Bo por temor a feri-la. Billy Bo se aproveitaria sem dúvida disso e responderia a Veloz com uma bala.

A folha da faca lhe pressionava a garganta. Sabia que Billy Bo lhe cortaria o pescoço à mínima provocação. Sua vida ou a de Veloz? Sem ele, não ficaria muita vida de todas formas. Fez recair o peso de seu corpo em um só pé. Depois, antes de que Billy Bo pudesse adivinhar suas intenções, levantou um joelho e lhe cravou o talão nas acne, fazendo toda a força que foi possível.

Surpreso, ele se tornou para trás gritando de dor. Nessa fração de segundo, Amy aproveitou a vantagem que lhe dava o espaço que se aberto entre eles e o agarrou pela entrepierna. Fechou os dedos como tenazes com todas suas forças. Billy Bo deu um alarido. Amy pensou que ia matar a, assim quando viu que ele a deixava completamente livre, ficou surpreendida. Tratou de lutar com ela para livrar-se das mãos que o sujeitavam.

Tudo aconteceu com grande confusão. Sigiloso perjurou. Billy Bo fez um som como de gargarejos e gritou:

—Tem-me pego pelos cojones! tirem-me isso de cima! Tem-me pego pelos cojones!

O assobio de uma flecha atravessou a escuridão. Quase de forma simultânea, Fernández se retorceu e caiu do telhado como um vulto sem vida detrás deles. O impacto de seu corpo sobre o estou acostumado a assustou a Sigiloso. Em meio da confusão, Amy demorou um momento em dar-se conta de que Billy Bo a tinha solto.

—Amy, te atire ao chão! —gritou-lhe Veloz.

Para ouvir veloz, Amy deixou de sentir medo. Soltou a sua vítima e se atirou ao chão. Ofegando para recuperar o ar que parecia ter perdido, levantou os olhos. Ali estava Veloz, iluminado pela lua. Vestido de negro, com as pistolas reluzindo em seus quadris. Parecia o mesmo Lúcifer. Seu revólver de seis balas brilhava como o relâmpago. Um fogo laranja atravessou a noite. Uma explosão de ruído passou por cima de sua cabeça. Os corpos começaram a cair e o estou acostumado a pareceu rugir baixo ela. Depois, solo houve silêncio, um silêncio horripilante e antinatural.

Com a mão ainda no gatilho, Veloz correu três passos, ficou de cuclillas e se voltou para observar o que havia a seu redor. Amy nunca tinha visto ninguém mover-se com tal rapidez e precisão. Satisfeito ao ver que nada se movia, fechou a distância que ficava entre eles.

—Amy, há mais?

Aturdida pelo depressa que se desenvolveram os acontecimentos, tragou saliva, tratando ainda de respirar.

—Não, não acredito. Cin... cinco, eram cinco.

Veloz embainhou o revólver e cravou um joelho na terra para lhe desatar as mãos e agarrá-la em seus braços. Tremia violentamente.

—Está bem? Têm-lhe feito mal? Amy, está bem?

Nunca ninguém se havia sentido tão bem. Rodeou-lhe o pescoço com os braços e se pendurou dele.

—Estou bem. E você? Ai, Veloz, tinha tanto medo de que lhe matassem!

Ele a abraçou mais forte e afundou a cara na curva de seu pescoço. Por um momento, ficaram ali, pegos o um ao outro. Então Caçador e o delegado Hilton saíram da escuridão.

—Está bem? —ladrou Hilton.

—Sim, acredito que sim. —Veloz levantou a vista para Caçador—. Matou ao Fernández?

Caçador sorriu.

—Era difícil não lhe dar ali no telhado. Está seguro de que Amy está bem?

Veloz respirou. Embora seguia tremendo, riu em voz baixa.

—Está bem. Melhor que bem. esteve gloriosa.

Hilton caminhou por entre os corpos para comprovar o estado dos homens que jaziam no chão. voltou-se para olhar a Veloz, arranhando-a cabeça.

—Nunca tinha visto ninguém disparar desse modo, López. É invejável com essas pistolas na mão.

Veloz ficou tenso. Amy notou a mudança e se tornou atrás para olhá-lo. Uma expressão crua cruzou seu rosto. Olhou para os irmãos Gabriel e tragou saliva.

—me crie, delegado. Ser rápido com um revólver não tem nada que invejar. Agora todos os pistoleiros que haja a vinte quilômetros à redonda virão a me desafiar quando se correr a voz.

O sentimento de alívio da Amy se esfumou. Veloz tinha percorrido dois mil quilômetros para escapar a sua reputação como pistoleiro. E essa noite seu passado havia tornado a apanhá-lo. Seu plano de construir um lar em Terra de Lobos e de viver em paz aqui se converteram em um sonho impossível.

Amy dedicou um olhar assustado aos corpos que havia detrás dela. Os comancheros tinham tido sua revanche depois de tudo.

—Não —sussurrou Veloz. Pô-lhe a palma da mão na bochecha e a obrigou a olhar para outro lado—. Não olhe, Amy, amor. Já viu suficiente horror em sua vida.

Amy assentiu e apoiou a frente contra seu ombro.

—Acredito que será melhor que te leve a casa —acrescentou.

Amy não ofereceu resistência quando se levantou e a agarrou em braços. Obteve, entretanto, pouco descanso de seu calidez e cercania. Solo podia pensar em uma coisa. Veloz ia ver-se obrigado a deixar Terra de Lobos, e ela tinha a inquietante premonição de que não planejava levá-la com ele.

 

Caçador e o delegado Hilton se separaram de Veloz e Amy ao chegar a Terra de Lobos. Caçador e Hilton seguiram até o povo em busca de voluntários que queriam voltar para a mina a enterrar os cinco corpos dos foragidos. Veloz se desculpou, dizendo que queria ficar com a Amy para que se tranqüilizasse.

Fazendo caso omisso de seus protestos, levou-a em seu cavalo até casa, instalando-a no sofá enquanto ele acendia o abajur e fazia fogo na chaminé e na cozinha. Quando terminou, pôs a cafeteira ao fogo. Enquanto se esquentava, voltou para sofá e jogou uma olhada às feridas da Amy. Sua preocupação não aliviava em nada a Amy. Conhecia muito bem a Veloz para evitar o olhar que via em seus olhos. Procurava a maneira de lhe dizer que tinha que partir.

Sendo justa, sabia por que ele queria deixá-la atrás. Ele tinha vivido antes no caminho, sempre olhando por cima de seu ombro. Essa não era vida para um homem casado. Por muito que odiasse admiti-lo, seu recente comportamento indicava que a segurança de um lar e um fogo o eram tudo para ela. Como podia lhe culpar por pensar que ela seria mais feliz em Terra de Lobos? Embora a gente do povo nunca a perdoasse, contaria com a segundad de Caçador e Loretta.

O problema era que ela não seria feliz. Não seria feliz e ponto. As provas pelas que tinha passado essa noite tinham sido difíceis, mas Amy tinha aprendido bem a lição. Veloz era sua pedra angular. Sem ele, toda a segurança e o bem-estar material do mundo não significavam nada.

Enquanto ele servia café em duas taças, Amy rechaçou suas ordens de que ficasse no sofá e foi a sua habitação. Momentos mais tarde, ele foi procurar a.

—O que faz? —perguntou-lhe.

Ela se deu a volta junto à cômoda, com um par de pololos na mão.

—Faço as malas. Não deveria me levar mais de duas mudas, verdade? Nunca vivi no caminho antes.

Sua vista recaiu na roupa interior que tinha na mão. Lhe fechou a laringe e apartou a vista. Ela se sentiu aliviada ao ver que não pretendia fazer como se não soubesse do que estava falando.

—Amy, não tem nem idéia do que está fazendo. As fofocas que provocou ontem à noite se sossegarão logo. Aqui em Terra de Lobos terá... —calou-se e moveu uma mão para a casa—. Comigo, nunca saberá se comerá esse dia ou o seguinte. Ou inclusive se voltará a comer.

A imagem destas palavras fez que Amy duvidasse um momento. Depois, suas dúvidas se dissiparam.

—Veloz, entende o que vou dizer te. Um dia contigo vale mais que toda uma vida sem ti.

Ele a olhou fixamente. Amy viu um brilho de esperança na profundidade de seus olhos.

—Carinho, sei que me ama. Entretanto, não posso te pedir que fuja comigo. Há um limite no que pode fazer para demonstrar seus sentimentos. E se fica grávida? Ou se cair doente?

—Instalaremo-nos em algum sítio. —mordeu-se o lábio—. Não há nada que diga que não possamos trocar seu sobrenome López por algo diferente, nada que diga que não possamos finalmente começar de novo em outro sítio. Sempre quis ir a Califórnia. Há boas minas ali. Ou possivelmente poderíamos ir a Nevada.

—De verdade quer vir comigo? Pensei que... depois de tudo o que me há dito, pensei que você...

A Amy lhe rompeu um pouco o coração. Tinha sido seu amor até agora tão superficial?

—Equivocou-te, Veloz. Vou contigo. E não tente me deixar atrás. Estamos casados, recorda? Onde você vai, eu vou. Assim é como se supõe que deve ser. O que é meu é teu, o que é teu é meu. Sabe como funciona. Isso significa que seus problemas também são meus problemas.

—Mas tudo o que você valora... a segurança daqui, o ter sua própria casa. Não terá nada disso. Se a idéia de ser totalmente dependente de mim aqui em Terra de Lobos te incomodava, como vais sentir te a milhares de quilômetros daqui, sem outra pessoa a que te dirigir salvo a mim? —Olhou-a durante um bom momento—. Pensa-o bem. Se vier comigo, não posso te garantir que serei o bastante nobre para te trazer para casa se trocar de idéia. Prefiro cortar os laços agora que acontecer a dor depois.

Ficando-os pololos em um braço, Amy sussurrou.

—Meu lar estará onde você esteja.

A Veloz lhe encheram os olhos de lágrimas. Ela cruzou lentamente a habitação para unir-se a ele.

—Por favor, não me deixe, Veloz —lhe disse docemente.

Ele resmungou e a estreitou entre seus braços, abraçando-a tão forte que apenas a deixava respirar. Os pololos lhe caíram ao chão.

—te deixar? Amy, amor, pensei que isso era o que queria. te deixar? Seria como se me arrancassem o coração.

—Por não mencionar que me arrancaria o meu também —disse com voz tremente—. Agora que volto ao ter, eu gostaria que ficasse de uma peça por um tempo.

Ela notou um sorriso nos lábios dele e soube que tinha captado a indireta. O coração comanche não sabia de medos e sim da consciencia sobre a gente mesmo. O que lhe tinha dado Veloz não poderia perdê-lo a menos que ela quisesse.

Amy ficou nas pontas dos pés.

—Quero-te, Veloz.

—E eu... —Uma chamada seca na porta o interrompeu. Arqueou uma sobrancelha—. O que passa agora?

Amy sorriu.

—As coisas não podem ficar pior. Assim solo podem ser boas notícias.

Ele se relaxou ligeiramente e se separou dela.

—Não com a sorte que tenho.

Juntos foram abrir a porta. O delegado Hilton estava de pé no alpendre. Tornando o chapéu para trás, dedicou-lhes um enorme sorriso.

—Pensei que seria boa idéia passar e lhes dar as boas notícias.

Veloz abriu a porta por completo.

—Entre, faz frio.

—Não, está bem. Não posso ficar muito. Tenho vontades de chegar junto aos Crenton e ver como estão Alice e os meninos. —Voltou a sorrir—. É um trabalho desagradável, mas alguém tem que fazê-lo.

Amy entrelaçou os dedos de sua mão com os de Veloz.

—Disse que tinha notícias, delegado?

Hilton se esfregou o queixo e enrugou o cenho.

—Pois, o certo é que ontem à noite passou algo condenadamente estranho. Recordam aos irmãos Lowdry? Esse casal com aspecto de duros pelos que estavam preocupados faz uns dias?

Veloz se perguntou se o delegado teria sofrido uma perda de cor. Colheu com mais força a mão da Amy.

—Claro, as lembrança. O que...?

—Bem —continuou o delegado, interrompendo a Veloz—. Parece que formavam parte de uma banda. Eram cinco. Duros de verdade. São eles os que mataram ao Abe Crenton. Só Deus sabe por que, mas a gente não pode nunca imaginar-se como são esses tipos. Abe deve ter tropeçado com eles em um de seus dias maus.

deteve-se e olhou a Amy com olhos brincalhões.

—Suponho que começaram a disparar-se entre eles ontem à noite. Ao menos isso é o que me pareceu. Tiveram um grande tiroteio no Geunther. Nenhum deles viveu para contá-lo. Reuni a um grupo de homens para ir ali e recolher os corpos. Caçador cavalgou com eles...

Voltou a arranhá-la cabeça.

—Disse algo de uma flecha que tinha que recolher. De qualquer forma, ele vai organizar o tudo. O que me deixa o resto da tarde para ir ver a Alice e aos meninos.

Amy só necessitou um minuto para captar o que o delegado queria dizer. A alegria a invadiu. Levantou os olhos para o rosto surpreso de Veloz e se pegou a ele com entusiasmo.

—Obrigado, delegado Hilton —disse brandamente—. É algo maravilhoso o que acaba de fazer. Sempre lhe estaremos agradecidos.

O delegado assentiu e piscou os olhos um olho. Quando se estava dando a volta para sair, disse:

—Disse-lhe isso, López. Se planeja pôr as costas contra a parede em meu povo, tem um amigo. —Levantando a mão em sinal de despedida, apurou o passo—. Bem-vindo a Terra de Lobos. Desejo-lhes a ti e a sua mulher toda a felicidade do mundo.

Veloz entreabriu os olhos, para ver a silhueta do Hilton desaparecendo na escuridão.

—Há-o dito a sério? vai manter tudo isto em segredo?

Amy assentiu.

—Isso parece.

—Dá-te conta do que isso significa? —Agarrou-a alegremente em volandas e começou a dar voltas pela habitação—. Sou livre! Não temos que ir de Terra de Lobos! Ninguém vai ou seja o do tiroteio! —Com ela em alto voltou a dar outra volta—. É um milagre.

Amy jogou para trás a cabeça para poder ver melhor a maravilhosa cara de seu amado. Naquele instante, parecia como se toda sua vida passasse ante seus olhos, um comprido e exaustiva viagem que a tinha levado inexoravelmente a este momento. «Mantén sempre os olhos no horizonte, garota de ouro. O que há detrás de ti pertence ao ontem.» Sorriu, com a vista fixa nessa cara tão querida. Era o horizonte uma linha distante de cor púrpura sobre picos nevados? Amy não acreditava.

Veloz a rodeou com força pela cintura e a levantou dando outra volta pela habitação. Um passo de valsa. Ela seguia olhando-o, flutuando com a música imaginária que parecia envolvê-los. Veloz López, seu horizonte e sua manhã. Por fim, o que havia detrás dela se converteu em um ontem que logo que podia ver.

 

                                                                       Catherine Anderson

 

 

                                         

O melhor da literatura para todos os gostos e idades