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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CORAÇÃO DE CAUBÓI / Diana Palmer
CORAÇÃO DE CAUBÓI / Diana Palmer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

CORAÇÃO DE CAUBÓI

 

Num clima tenso, o homem alto e a jovem loira mais pareciam boxeadores à espera de um sinal para o início de uma luta.

— Nunca!— ela repetia num tom alto. Seus olhos faiscavam de ira. — Eu sei que precisamos do trabalho, mas preciso de um motivo mais razoável para poder fazer isso, Terry Black!

Aborrecido, ele deu um longo suspiro e virou-se para a janela, o olhar perdido no lento tráfego que se estendia pela manhã em San Antônio. Com as mãos nos bolsos dianteiros das calças e de cabeça baixa, começou a dar passos lentos pela sala; seu desânimo era visível.

— Ficarei arruinado se não conseguir o contrato!— Terry desabafou.

Amanda sugeriu com um tom seco na voz:

— Venda um de seus Cadillacs. Ele lançou-lhe um olhar de censura.

— Amanda!

— Eu era Mandy quando cheguei aqui esta manhã— ela fez questão de lembrá-lo.

— Acalme-se Terry, a situação não é tão ruim assim.

— É... você pode estar certa— ele concordou e percorrendo o olhar pelas curvas do corpo dela, concluiu:

— Não é possível que ele não goste de você! Nenhum homem que tenha sangue correndo nas veias conseguiria desaprová-la.

— Jace Whitehall não tem sangue correndo nas veias. Ele é feito de gelo!— afirmou ela, desgostosa.

— Jace não me deu explicações. Seu irmão Duncan foi quem me passou as informações— esclareceu Terry.

— Mas Jace possui a maior parte da corporação— argumentou Amanda.

— E ele nunca procurou uma agência de publicidade.

— Se os Whitehall desejam vender lotes no interior de acordo com o projeto de desenvolvimento em que estão trabalhando na Flórida, terão de fazer anúncios. E por que não nos solicitariam?— e, dando um sorriso matreiro, acrescentou: — Afinal, somos os melhores no ramo.

Amanda deu um sorriso de mofa e falou:

— Continue...

— Nós precisamos do contrato— insistiu Terry.— E roçando dois dedos no queixo, prosseguiu: — Você tem noção da importância do império dos Whitehall?— ele perguntou como se Amanda nunca tivesse ouvido esse assunto. — Só a fazenda que possuem no Texas tem uma área de 25 mil acres!

— Eu sei— declarou Amanda, dando um suspiro e seus olhos castanhos tornaram-se tristes com a lembrança que veio à sua mente. —Você esqueceu que antes a fazenda de meu pai era anexada à dos Whitehall?— e baixando os longos cílios, continuou: — De qualquer maneira, acho que você deve resolver isso sozinho.

Terry a olhou sentindo-se desolado.

— Temo que possa falhar se for sozinho— ele confessou com insegurança no tom de voz.

Amanda piscou duas vezes antes de declarar:

— Sinto muito. Não há nada que eu possa fazer. Contudo, será que terei o seu perdão?

— Não. A menos que vá comigo para resolver esse problema.

— Por quê?

— Porque somos sócios— ele fez questão de lembrá-la. Depois, comprimindo os lábios até formar uma linha fina, prosseguiu: — E principalmente porque Duncan Whitehall não irá discutir este assunto sem a sua presença. Ele só estima nossa agência pela amizade por você. E foi por isso que ele veio nos procurar. E então? O que me diz?

A situação era complicada. Amanda e Duncan foram amigos por muitos anos, mas sabendo como o irmão dele se sentia em relação a ela, era estranho o fato de Duncan insistir na presença dela para a realização dos negócios.

— Mas Jace me odeia!— ela exclamou com os olhos arregalados. — Eu não quero ir, Terry.

— Por que ele a odeia?— ele perguntou curioso.

— Porque eu atropelei o touro dele que vale um quarto de um milhão de dólares.

— Como?

— Bem, não fui eu, na verdade... Minha mãe cometeu este acidente, mas ela tinha tanto medo de Jace que eu resolvi assumir a culpa. Porém não adiantou muito, porque ele era um grande campeão.

— Jace?

— O touro!— ela exclamou ao mesmo tempo em que cruzou os braços na frente do peito.

— Bem, mas isso não muda a nossa situação. Se não vier comigo, iremos perder o contrato.

— Poderemos perder de qualquer jeito, tratando-se de Jace— ela o lembrou. — Faz apenas seis meses e eu lhe asseguro que ele ainda não superou esta perda.

Ele apertou os olhos.

— Amanda, você tem medo de Jace?

Ela deu um sorriso sem graça.

Terry mordiscou o lábio inferior e intrigado, resolveu perguntar:

— Por que tem medo dele?

— Isso é uma boa pergunta. Mas temo não saber lhe responder.

— Certamente ele já se esqueceu do touro— disse Terry, tentando confortá-la.

— Você acha mesmo?— perguntou Amanda revelando uma sombra de dúvida no olhar.

— Não acredita que ele possa ter esquecido o assunto?

— Não sei... pode ser.

— Então, o que acha de ir para casa e fazer as malas?— sugeriu Terry dando um largo sorriso.

— Casa?— ela repetiu dando um riso desanimado.

— Só você mesmo para chamar aquele minúsculo apartamento de "casa"! Minha mãe odeia o lugar também e suponho que seja por isso que ela passa a maior parte do tempo visitando as antigas amigas.

Visitando. Essa era mais uma razão para Jace nunca se cansar de dizer que a mãe dela vivia à custa alheia. Se ele tivesse idéia de que na realidade fora Beatrice Carson, e não a sua filha que havia atropelado o touro em Duke's Ranson, teria sido ainda pior.

Terry apanhou algumas fotografias empilhadas em cima de sua mesa de trabalho e entregando-as a ela, perguntou:

— Você não está zangada comigo, está? Amanda deu de ombros.

— Não sei ainda. Mas se Jace não aceitar nossa proposta, depois não venha me culpar. Duncan deveria ter pedido apenas a você para que fizesse o negócio. Eu só vou dar azar se for junto.

— Não, não vai— ele assegurou. — E também não se arrependerá.

Ela olhou para ele sobre um dos ombros e, dando um sorriso forçado, revelou:

— Foi exatamente o que disse minha mãe quando me convenceu a ir à Casa Verde há seis meses. Espero que sua intuição esteja mais certa do que a dela, naquela época.

JÁ era tarde da noite quando Amanda, acomodada em uma confortável poltrona, ainda mantinha os olhos fixos em uma foto antiga que ela mesma havia tirado dos irmãos Whitehall. Eram Jace e Duncan na escadaria da grande mansão em Victoria, Casa Verde. Duncan exibia um sorriso amável, como sempre. Jace estava com um olhar severo e franzia a testa. Amanda ainda sentia o corpo estremecer diante daquele olhar.

"Se tivesse alguma maneira de escapar daquela viagem seria um grande alívio", pensou. Mas infelizmente as coisas não eram tão simples assim. Ao menos se o pai ainda fosse vivo para controlar Beatrice...

A mãe agia como uma criança, tentando sempre se alienar para não encarar a realidade. Ela nem mesmo protestara quando Amanda assumira a culpa por ter ferido gravemente o touro e não se importou pelo fato de a ira de Jace cair sobre sua filha. Beatrice simplesmente ficou parada ao lado dela no momento em que o acidente ocorreu, deixando-a assumir toda a responsabilidade. Assim como fizera a filha assumir a culpa em outros incidentes.

E Jace já detestava a mãe dela, mesmo antes do ocorrido.

Mas no momento, Amanda estava muito cansada para refletir sobre o assunto. Ela passara a vida protegendo a mãe. Se ao menos houvesse um homem que se aproximasse de Amanda e casasse com ela, ajudando-a a enfrentar os problemas ou simplesmente levando-a com ele para o Alaska, Taiti ou Sibéria... Enfim, para qualquer lugar longe dali...

Ela deu uma última espiada na fotografia e ao mesmo tempo perguntava-se por que Duncan insistira tanto para que ela fosse ao encontro deles com Terry. Está certo que eram sócios na agência de publicidade, mas Terry era o sócio majoritário e tinha maior experiência com os negócios.

Amanda franziu o cenho.

Ela sabia que Marguerite gostava dela, assim como Duncan e talvez essa fosse a explicação.

 

Amanda observava pela janela do táxi aéreo, o aeroporto de Victoria agigantar-se enquanto o piloto baixava a aeronave para a aterrissagem.

Essa parte do Texas não era estranha para ela, já que havia sido o seu lar, antes de se mudar para San Antônio, quando ingressara na Faculdade.

Ela havia passado a infância no Texas, em meio a criadores de gado, homens de negócios e todo um legado histórico que ainda fazia seu coração bater forte.

Amanda levou as mãos ao rosto, maravilhada ao contemplar a vista. Ela amava esse Estado, desde os desertos no oeste até a porção leste, onde estava naquele momento.

De Victoria, havia apenas um curto trajeto até a fazenda Whitehall, em Casa Verde.

— Então essa é a sua cidade natal? -Terry perguntou assim que o avião aterrissou, provocando um barulho devido ao atrito dos freios com o solo, antes de parar completamente.

— Sim. A cidade de Victoria— respondeu Amanda — A pequena cidade acolhedora de sempre. Eu simplesmente amo este lugar. Os conhecidos de meu pai instalaram-se na cidade ainda na época em que era perigoso fazer uma cavalgada sem carregar uma arma. Um dos antepassados de Jace era um índio Comanche— ela acrescentou. — O tio era proprietário de Casa Verde e o pai de Jace, Jude Whitehall herdou a propriedade quando os garotos ainda eram pequenos.

— Vocês tornaram-se grandes amigos, eu suponho. Amanda enrubesceu.

— Ao contrário. Minha mãe nunca quis que eu me envolvesse com eles. Na época, pertenciam à classe média— ela relatou sentindo certo embaraço e depois concluiu:

— E ela fazia questão de deixar isso bem claro. É um milagre que Marguerite a tenha perdoado. Jace, por sua vez, não esquecera e nunca perdoara.

— Acho que começo a entender a situação...— Terry declarou no momento em que desciam da pequena aeronave.

— Quem virá nos buscar?— quis saber Terry.

— Qualquer um que tiver tempo disponível— ela declarou e ao mesmo tempo desejava que fosse qualquer um, menos Jace. — Duncan ou Jace provavelmente já teriam vindo ao nosso encontro em San Antônio para a realização desse acordo, pois eles possuem dois aviões e ambos são pilotos. Têm os próprios hangares e planejam as próprias viagens— Amanda deu uma pausa para respirar e depois prosseguiu: — Mas... é primavera.— ela finalizou, como se isso pudesse explicar tudo.

Terry piscou duas vezes.

— Como?

— É a época em que os funcionários selecionam e marcam o gado a ferro. O administrador da fazenda tem de arcar com toda a responsabilidade, por isso Jace não dá essa autoridade a ninguém. Ele faz questão de observar toda a operação. Com isso, Duncan tem que dobrar a atenção para os interesses de sociedades locais e de outras sociedades enquanto o irmão fica ocupado por aqui.

— E o tempo é curto— declarou Terry comprimindo os lábios. — Eu não pensei nisso, senão teria esperado até o próximo mês. Mas a questão é— declarou dando um suspiro — que nós realmente precisamos desse contrato. Os negócios não foram tão bem durante o inverno, houve uma queda econômica.

Ela concordou com um gesto de cabeça; porém, na realidade, não estava prestando atenção ao que ele dizia. Seus olhos estavam fixos na estrada que conduzia ao aeroporto e principalmente em uma Mercedes prata que vinha em alta velocidade na direção deles. Jace possuía uma Mercedes prata.

— Você parece assustada— observou Terry. — Reconhece aquele carro?

Ela assentiu com um gesto de cabeça e sentia o coração bater cada vez mais rápido conforme o carro se aproximava. Assim que a Mercedes parou na frente da estação terminal e a porta do veiculo foi aberta, Amanda deu um discreto suspiro de alívio.

Marguerite Whitehall desceu do carro e veio ao encontro deles, vestindo um elegante terninho de saia justa na cor pink e calçava sandálias. Os cabelos brancos estavam perfeitamente arranjados e ela exibia um sorriso radiante.

— Fico feliz em revê-la, querida— Marguerite disse a Amanda, enquanto lhe dava um abraço apertado.

— É muito bom estar aqui— mentiu Amanda, evitando os olhos escuros de Marguerite. Depois, virando-se para Terry, apresentou: — Este é Terry Black, meu sócio da agência de publicidade em San Antônio.

— Você é muito bem-vindo, Terry— declarou Marguerite de maneira cortês.

— Duncan me falou a respeito da oferta que fez a ele. Espero que Jace vá adiante com a negociação.— Marguerite disse isso, com um sorriso sem graça para Amanda.

— Estou ansioso para conversar com Duncan sobre o contrato— relatou Terry, sorrindo educadamente.

— Ah... Ele não está por aqui, eu lamento— informou a mulher mais velha. Depois esclareceu: — Duncan teve de partir para São Francisco esta tarde para resolver um negócio urgente— e, com um sorriso amável, acrescentou: — Mas Jace está em casa.

Ao ouvir o comentário, Amanda sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha e lutou contra o impulso de entrar no táxi aéreo novamente e voltar para casa. Ao invés disso, seguiu os dois até o carro e acomodou-se no banco da frente ao lado de Marguerite, enquanto Terry carregava as bagagens e depois as colocava no porta-malas. Em seguida, ele acomodou-se no banco traseiro.

Durante o trajeto, Terry apreciava a vista; após um tempo comentou:

— Já consigo avistar uma parte da fazenda. Marguerite olhou para ele rapidamente sobre o ombro direito e esboçou um sorriso.

— Desculpe-me por tê-la feito pegar um vôo comercial, Amanda. Jace poderia tê-la trazido, mas Tess estava com ele e não acho que você gostaria de ter a companhia dela— declarou Marguerite.

— Tess?— indagou Terry.

— Tess Anderson— respondeu Marguerite. — Jace e o pai dela são sócios e Duncan também, é claro, nesse empreendimento na Flórida.

— Teremos que consultá-lo sobre o futuro contrato com a nossa agência?— quis saber Terry.

— Suponho que não será necessário— respondeu Marguerite. — Ele sempre concorda com qualquer coisa que Jace impõe.

— Como está Tess?— Amanda perguntou com ar de tranqüilidade.

— Do mesmo jeito de sempre— falou Marguerite e acrescentou em seguida: — Como se fosse a sombra de Jace...

Amanda lembrava-se disso. Tess sempre procurava ficar ao lado dele desde a época em que ainda eram adolescentes.

— Tess e Amanda freqüentaram a mesma escola na Suíça— Marguerite revelou a Terry.

Aquele comentário casual acabou por provocar uma lembrança desagradável para Amanda. Sua família perdera tudo quando o pai dela, Bob Carson, foi surpreendido em um acordo fraudulento numa região próxima. O choque dessa descoberta provocou um ataque cardíaco em Bob e ele faleceu, deixando uma linda esposa e a filha para lidarem com uma situação vergonhosa e dívidas a serem quitadas.

Jace oferecera-se para ajudá-la. Ela ainda enrubescia quando se lembrava da proposta que ele havia feito. Amanda nunca contara a ninguém sobre a proposta, mas a lembrança permanecia viva em sua memória e sempre acreditou que sua recusa era o mínimo que Jace merecia. Após a parte que pertencia à família dela ter sido leiloada, Amanda apresentou o diploma de jornalismo a Terry Black e começou a trabalhar com ele em seu escritório. Não demorou muito e se tornaram sócios.

Enquanto ela se mantinha ocupada no trabalho, sua mãe, Beatrice, quando não estava desperdiçando o dinheiro que Amanda lhe dava, em futilidades ou festas, fazia inconvenientes e demoradas visitas às amigas da alta sociedade. Todo o sacrifício ficava por conta da filha.

— Como está Beatrice? — indagou Marguerite de forma gentil, interrompendo os devaneios de Amanda.

— Ah... Está bem — ela respondeu de imediato e em seguida informou: — Está passando a primavera com os Bannons.

— Em Bahamas...— completou Marguerite dando um suspiro. — Eu gostaria de estar lá agora.

— E por que não vai? — indagou Terry.

— Porque a primeira vez que a Sra. Brown ficou nervosa por Jace não ter aparecido durante o café-da-manhã, ele ameaçou despedi-la. E foi a única cozinheira que eu consegui manter até agora por mais de três meses. Então, tenho de supervisionar melhor para que nada de desagradável ocorra.

Terry girou a cabeça para olhar através do vidro traseiro do carro, sentindo-se incomodado com o que acabara de ouvir.

— Jace parece ser um pouco genioso— ele comentou, rindo forçado.

— Isso depende do humor dele— afirmou Marguerite. — Jace pode ser dócil e gentil. É fácil ficar ao lado dele quando está adormecido. Já quando está acordado...

Amanda deu uma estrondosa gargalhada e tranqüilizou o sócio:

— Falaremos com Duncan— — e, divertida, ela brincou: — Esse não morde!

— E também não está sempre na companhia de Tess para atrapalhar— disse Marguerite para incentivá-lo.

— Talvez Jace ceda um dia e resolva casar-se com ela— sugeriu Amanda.

Marguerite deu um ruidoso suspiro.

— Espero que você seja minha nora um dia.

— Duncan e eu juntos a deixaríamos louca!— brincou Amanda.

— Eu não estava me referindo a Duncan— declarou Marguerite e depois lançou um olhar significativo para ela, fazendo com que a pulsação de Amanda acelerasse.

Desviando os olhos, Amanda virou o rosto para o outro lado e afirmou com a voz embargada:

— Jace nunca irá me perdoar por aquele touro.

— Foi inevitável. Você não teve culpa por aquele touro ter ultrapassado a cerca— Marguerite a confortou, no mesmo momento em que estacionava a Mercedes em frente da mansão.

Assim que saíram do carro, Amanda percorreu o olhar ao redor e apertou forte uma das alças da bolsa que levava. Ela não queria de jeito nenhum pensar em Jace, mas quando fixou os olhos na enorme varanda do andar superior da casa, uma avalanche de lembranças tomou conta de seus pensamentos. E nem todas eram agradáveis.

Marguerite abriu a porta de entrada da mansão e os convidou para entrar. O piso do hall era todo de madeira de pinho e estava impecavelmente polido. Havia um tapete oriental e uma pequena mesa de mármore importado onde estava colocado um vaso contendo elegantes rosas vermelhas, retiradas do próprio roseiral que ficava nos fundos da mansão onde havia também um jardim e uma enorme piscina em formato oval.

A escadaria que levava ao segundo andar da casa era protegida por um carpete na cor vermelha e o corrimão de madeira escura estava tão bem polido que até brilhava.

Uma criada baixinha aproximou-se e gentilmente ofereceu-se para guardar o suéter que Amanda usava. Logo em seguida outro empregado se encarregou de apanhar as bagagens que Terry carregava.

— Diego e Maria— Marguerite os apresentou somente a Terry, pois Amanda de imediato os reconheceu.

Os serviçais sorriram e o cumprimentaram.

— Iremos apreciar um café e conversar por um tempo— declarou Marguerite e conduziu Amanda e Terry para a ampla sala de estar.

—Sentem-se e fiquem à vontade enquanto vou pedir à Maria para nos trazer um café.— falou Marguerite exibindo um sorriso amável e depois informou: — Jace deverá chegar logo.

— Não tão cedo.— Uma voz áspera emergiu atrás deles e Tess Anderson aproximou-se com as mãos nos bolsos dianteiros da saia e vestindo uma mini-blusa com um decote em V. Ela parou na frente deles e os encarou. Os cabelos negros estavam soltos e caíam sobre seus ombros, os olhos eram escuros e intimidadores. O batom vermelho destacava os lábios e chamava atenção.

— Uau!— murmurou Terry quase num sussurro e arregalou os olhos ao contemplar a visão da mulher à sua frente.

Tess aceitou a adulação masculina como coisa rotineira para ela e exibiu um olhar de superioridade. Em seguida lançou um olhar fuzilante para Amanda, que a encarou com certa repugnância.

— Jace está procurando por uma nova máquina de colheita com Bill Johnson— informou Tess. — A antiga quebrou esta manhã.

— Ele já parou de xingar ou ainda não?— Marguerite zombou.

Tess permaneceu séria:

— É natural que isso o tenha perturbado. É um equipamento muito caro. Jace me pediu para que viesse avisá-la de que ele irá se atrasar.

— E quando ele foi pontual na hora das refeições?— indagou Marguerite com ironia.

Tess girou os calcanhares em direção à porta; antes de sair avisou:

— Tenho que ir— e, lançando um olhar para Terry e Amanda, acrescentou:

— Ouvi falar sobre Duncan ter contratado a agência de vocês para o anúncio de nossos projetos na Flórida. Meu pai e eu queremos ficar a par de tudo o que for combinado, já que demos uma importância em dinheiro nos investimentos.

— Claro— disse Terry com as faces coradas.

— Manteremos contato. Até mais, Marguerite.— despediu-se de maneira indiferente. Depois fechou a porta com força fazendo soar um estrondoso barulho.

Por um tempo, um silêncio total pairou no ambiente. Os olhos de Marguerite estavam faiscando de indignação:

— Desde quando eu dei permissão para que ela me chamasse pelo primeiro nome?

Com a cabeça baixa e os olhos fixos no próprio calçado que usava, Terry murmurou:

— Quanta arrogância...— e depois acrescentou:

— Eu devia saber que esse trabalho não seria tão fácil.

— Não se preocupe— ponderou Amanda com o intuito de animá-lo. — O Sr. Anderson não tem nada a ver com a filha.

Logo depois, a serviçal trazia em uma enorme bandeja de prata, um bule com o café fresco e três xícaras de porcelana chinesa.

Enquanto Marguerite os servia, Amanda observava atentamente um quadro em uma das paredes da sala. A obra de arte exibia figuras do faroeste antigo e membros da tribo Comanche.

— Nunca se cansa de admirar esse quadro, não é?— indagou Marguerite.

— Não mesmo— Amanda respondeu sorrindo. Terry desviou os olhos de Amanda e os dirigiu a Marguerite.

— Conte-me sobre a casa— ele sugeriu franzindo as sobrancelhas, mostrando-se interessado.

A mulher lhe deu total atenção e uma hora depois ainda continuava falando sobre o passado.

Já começava a anoitecer; Amanda estava tranqüila e quase adormecia ao ouvir as histórias que lhe eram familiares, quando a porta da sala foi escancarada de súbito.

Assim que ela olhou na direção da porta, encontrou um olhar brilhante e quase prateado.

 

Era Jace!

Jason Everett Whitehall, o Jace, era a imagem do seu falecido pai. Alto, robusto e com olhos que brilhavam como a prata polida. A pele era bronzeada e os cabelos negros e espessos. Era o tipo de homem que atraía os olhares de todos por onde passava.

Estava com uma blusa modelo faroeste que salientava os ombros poderosos, assim como a justa calça jeans evidenciava o quadril estreito e as coxas firmes e fortes.

As botas caras de couro legítimo estavam empoeiradas, mas ainda adequadas para serem usadas. E em uma das mãos ele segurava o costumeiro chapéu preto.

Amanda não conseguia tirar os olhos dele. Jace não parecia estar irritado ou nervoso no momento. E foi gentil o bastante quando Terry o cumprimentou.

— Acho que conhece minha sócia, Amanda.— Declarou Terry dando um sorriso educado assim que Jace entrou na sala.

— É eu conheço.— Falou Jace com um tom indiferente e lançou um olhar apenas em direção às curvas do corpo dela. — Duncan deve estar de volta amanhã. Contudo, durante o jantar desta noite você já poderá me adiantar algo sobre o assunto.

— Ótimo!— exclamou Terry.

Enquanto se dirigia ao barzinho em um dos cantos da sala para preparar um drinque, Jace perguntou a Amanda:

— Como está sua mãe?

Ela ficou tensa e respondeu de imediato:

— Muito bem, obrigada.

— Qual das amigas ela está importunando este mês?— ele indagou com ironia.

— Jace!— exclamou Marguerite, repreendendo-o e voltando a atenção para as visitas, declarou:

— Gostaria de refrescar-se, Amanda? E, você Terry, se quiser nos acompanhar, aproveitarei para mostrar o seu quarto— dizendo isso, ela os conduziu rapidamente. Mas antes de sair, lançou um olhar furioso para o filho.

— Mas o que há de errado com ele?— Marguerite lamentou-se, assim que elas entraram no quarto de hóspedes, aonde Amanda iria se instalar.

As paredes azuis do quarto de hóspedes combinavam com o edredom que cobria a cama, enfeitada com diversas almofadas. O ambiente era agradável e acolhedor.

— Jace apenas está sendo ele mesmo— confortou Amanda tentando demonstrar mais calma do que realmente sentia. As palavras dele a machucaram e Amanda sabia que essa era exatamente a intenção dele.

Marguerite sentou-se na beirada da cama e observou Amanda guardar cuidadosamente as roupas que trouxera na mala.

— Você é a única mulher que conheço que não persegue meu filho. Apesar do gênio forte, ele é considerado um bom partido...

— Às vezes chego a ter medo dele.

— É eu sei— compreendeu a mulher mais velha.

— Mas Tess parece não temê-lo— declarou Amanda dando um suspiro. E com um riso forçado, acrescentou:

— Talvez eles se "mereçam".

— Tess? Se ele se casar com ela, eu mudo desta casa e vou para a Austrália!— exclamou Marguerite.

— Acha essa idéia tão ruim assim?

— Minha querida, da última vez que ela ajudou Jace em uma venda, deixou Maria debulhada em lágrimas e eu quase perdi minha empregada mais eficiente.

Amanda ficou pensativa por um instante e remexendo em um dos botões da blusa que acabara de pendurar no armário, indagou:

— Eles estão noivos?

— Eu não sei. Jace não me conta nada. Suponho que se ele decidisse se casar com ela, eu só ficaria sabendo no próprio dia do casamento!

Amanda deu uma gargalhada e depois comentou:

— Não consigo imaginar Jace casado.

— Ele anda muito estranho... Sempre ocupado, mal me escuta quando tento falar com ele— e sorrindo afirmou:

— Fico contente por você não guardar mágoas das coisas que Jace fala. Sua mãe é minha melhor amiga e nada do que ele diga vai mudar isso.

—Não concordo. É verdade sim— protestou Amanda.

— E nós duas sabemos disso.

— Mas ainda assim não há desculpa para Jace depreciá-la— contestou Marguerite. — Terei uma boa conversa com ele sobre isso depois. Bem, querida, agora vou deixá-la em paz para que possa se arrumar. Espero você na sala de jantar— ela declarou e deu um sorriso amável para Amanda, antes de abandonar o quarto.

Amanda tomou uma rápida ducha e depois vestiu uma saia de pregas brancas e uma bonita blusa azul-marinho, completando o vestuário com um cachecol branco.

Prendeu os cabelos com uma fita, calçou um par de sandálias e antes de descer as escadas rumo à sala de estar, borrifou perfume e passou um toque de batom.

A primeira pessoa que viu foi Terry, recostado na porta de entrada da sala e segurando uma taça com conhaque.

— Uau!— ele brincou, olhando-a de cima a baixo. Amanda deu um sorriso ao passar por ele e entrou na sala, deparando-se de imediato com os olhos expressivos de Jace. Sentiu o coração dar pulos e incapaz de sustentar o brilho daqueles olhos devastadores, baixou os cílios e olhou para o chão.

— Gostaria de apreciar uma taça de vinho?— ele perguntou com aspereza.

Amanda recusou com um gesto de cabeça e voltou a aproximar-se de Terry, como se fosse um gato arisco procurando por proteção.

Terry enlaçou-a pelos ombros de forma carinhosa e declarou a Jace:

— Ela é "viciada" em cafeína. Não aprecia bebidas alcoólicas.

Ele lançou um olhar fulminante para Terry e em seguida, comentou:

— Vamos para a sala de jantar. Minha mãe logo deverá descer do quarto— e dizendo isso, seguiu na frente e Amanda não conseguiu deixar de admirar como o terno dele adaptava-se perfeitamente aos ombros largos e poderosos. Ele era um homem atraente. Muito atraente— ela admitiu em pensamento.

Quando se sentaram nas cadeiras da mesa rústica da enorme sala de jantar, Amanda sentiu-se incomodada, estavam tão perto, que um dos pés dela, sem querer, roçou por baixo da mesa em uma das botas de couro dele.

Ela rapidamente recolheu o pé, atenta ao olhar severo que ele lhe lançou.

— Diga-me, por que Duncan acha que nós precisamos contratar uma agência de publicidade?— indagou Jace de maneira arrogante, ao mesmo tempo em que se recostava no espaldar da cadeira fazendo com que a camisa branca de seda ficasse mais colada ao peito, evidenciando os músculos rijos do corpo robusto. A camisa estava com três botões superiores abertos, o que deixava mais exposto o peito bronzeado. Desviando os olhos do corpo másculo e perfeito, ela baixou as pálpebras e fixou o olhar no prato de porcelana chinesa que fora destinado para que ela se servisse.

Observando as iguarias que a cozinheira acabava de depositar sobre a mesa, Amanda ficou admirada ao ver tanta diversidade em uma só refeição.

Marguerite uniu-se a eles no meio do discurso que Terry fazia sobre vendas e sorriu para todos, enquanto acomodava-se em seu lugar de costume à elegante mesa.

— Perdoem-me o atraso, mas é que perdi a noção do tempo ouvindo histórias na estação de rádio local.

— Histórias de detetives— zombou Jace. — Não é de admirar que deixe o abajur aceso em seu quarto, todas as noites!— ele acrescentou e sorriu para a mãe.

Amanda, ao contemplar aquele sorriso, sentiu o corpo inteiro estremecer.

Bem no meio do desfecho que Terry fazia sobre os negócios, o telefone tocou e segundos depois, Jace foi chamado por um dos empregados para atender um telefonema.

Assim que ele se ergueu da cadeira, Marguerite comentou indignada:

— Será que não haverá uma única vez em que não teremos uma refeição sem interrupções? Quando não é algum problema com a fazenda, é outro qualquer. Semana passada, foi a vez da equipe de uma revista querendo saber se Jace estava mesmo se casando. Eu respondi que sim!— ela exclamou irritada — e mal posso esperar para alguém "esfregar" o artigo publicado bem no rosto dele!

Amanda não conseguia parar de rir devido ao comentário irônico da mãe de Jace e ainda divertida, indagou:

— Oh! Como você pôde Marguerite?

— Como ela pôde fazer o quê?— Jace perguntou assim que retornou à sala, ainda a tempo de ouvir a pergunta de Amanda.

Esta apenas meneou a cabeça e levou um guardanapo aos lábios, enquanto observava Marguerite que nem mesmo pareceu importar-se com o flagra.

— Algum desastre?— Marguerite perguntou a Jace assim que ele se acomodou novamente na cadeira. — O mundo irá entrar em guerra se você terminar uma refeição?

Jace ergueu uma das sobrancelhas como resposta e sorveu um gole do café antes que esfriasse demais.

— Gostaria de ficar no meu lugar?— ele perguntou para a mãe com ironia.

— Ah, eu simplesmente iria amar— retrucou Marguerite com a mesma ironia. — Venderia tudo o que temos.

— E condenaria Duncan e eu para cuidar das roseiras para sempre?— ele provocou.

A mãe resolveu ceder.

— Bem, é que eu gostaria que tivéssemos apenas uma refeição juntos, Jace...

— E como conseguiu sobreviver até agora?— ele indagou. — Nunca tivemos uma refeição sem ser interrompida até hoje, que eu saiba.

— E quando seu pai era vivo, era ainda— — ela admitiu. — E dando risada, acrescentou:

— Lembro-me de atirar um prato na direção de seu pai, quando ele saiu para ir conversar com um procurador durante a ceia de Natal.

Jace deu um riso de desagrado e a censurou:

— Ê... e eu me lembro da reação dele quando retornou à ceia.

Marguerite enrubesceu como uma adolescente. Em seguida, pigarreou e mudou de assunto:

— A propósito, eu...

Antes que ela pudesse terminar de falar, Maria entrou na sala e anunciou que Tess estava ao telefone e desejava falar com Jace.

Marguerite lançou um olhar furioso para o filho assim que ele se ergueu da cadeira novamente. Não se conteve e começou a protestar:

— Por que você não inventa um telefone especial que já venha com um prato? Ou melhor, um telefone comestível, para que possa falar e comer ao mesmo tempo?

Amanda não se conteve e deu uma estrondosa gargalhada.

Sempre fora assim com os Whitehall. Marguerite usava esse mesmo argumento com o marido, Jude, quando ele ainda era vivo.

Um tempo depois, todos pareciam ter sumido.

Jace subira ao andar superior da casa e Marguerite havia "levado" Terry junto com ela para mostrar-lhe sua coleção de miniaturas de jade, deixando Amanda sozinha na sala de estar.

Talvez fosse uma boa idéia subir logo e ir para o quarto— desolada, ela pensava. Mesmo porque, se Jace resolvesse descer para o andar térreo antes de os outros voltarem, ela se sentiria embaraçada por ficar a sós com ele. Essa era uma circunstância que ela nunca se sentiria preparada para enfrentar— admitiu em pensamento.

Apressou-se em sair da sala e foi em direção da escadaria.

Mas antes que pudesse subir os degraus, avistou Jace descendo as escadas. Ele havia acrescentado ao figurino, uma gravata marrom com listras douradas, combinando com o terno e a camisa branca de seda. Estava simplesmente magnífico e enlouquecedor.

— Fugindo?— ele perguntou erguendo uma das sobrancelhas de forma provocativa, enquanto descia os degraus da longa escadaria.

 

Amanda permaneceu ali e ficou paralisada, olhando fixo para Jace e sentindo-se impotente.

— Eu... ia apenas subir para...— ela gaguejou.

Sem hesitar, ele desceu o restante dos degraus e parou em frente a ela, olhando-a com arrogância. Jace estava tão próximo que ela podia sentir a deliciosa fragrância da colônia cara que ele usava.

— Subir para fazer o quê?— ele ironizou. — Apanhar um lenço?

— Um escudo seria mais apropriado— ela brincou, tentando esconder o nervosismo. Jace não sorriu.

— Continua sendo a mesma palhacinha de sempre— ele comentou e depois estreitando os olhos, estudou-a de cima a baixo, desdenhoso. — Por que teve de voltar aqui?

— Porque Duncan insistiu para que eu viesse fechar este contrato.

Jace franziu o cenho e insistiu:

— Para quê? Você apenas trabalha para Terry Black.

— Eu sou sócia de Terry— ela respondeu e em seguida indagou: — Você não sabia?

Jace a fitou atentamente.

— Como consegue conviver nessa situação?— ele indagou insolente.

— Não é bem assim— ela protestou.

—Ah, não?— ele ironizou com ferocidade. —Ao menos eu ofereci a você muito mais do que uma sociedade em um negócio de terceira classe!

Contrariada, Amanda o acusou:

— Para você, as mulheres são como brinquedos expostos em prateleiras, aguardando para serem compradas, não é?

— Tess não é— ele retrucou com crueldade.

— Que ótimo para ela!— devolveu Amanda.

Jace colocou as mãos nos bolsos dianteiros da calça e olhou para ela com ar de superioridade.

— Você está muito magra— ele observou. Amanda deu de ombros.

— Trabalho demais.

— Fazendo o quê?— perguntou Jace com tom rude. — Dormindo com o chefe?

— Não!— Amanda gritou indignada e fitou o tom bronzeado do rosto dele que se destacava em meio à luz brilhante do candelabro. — Por que você me odeia tanto? Será que aquele touro que eu atropelei era tão importante assim?

As feições dele ficaram ainda mais sérias.

— Um grande campeão... Como ousa perguntar dessa maneira? Meu Deus, você nem mesmo se desculpou por aquilo!

— E se o fizesse o traria de volta?

— Não— respondeu Jace. — Mas seria educado.

— Você não irá permitir que seu desprezo prejudique o contrato com a agência, irá?

— Por quê? Está com medo de que seu chefe perca o dinheiro?

— É... talvez— declarou ela baixando os cílios.

Jace inclinou a cabeça e buscando os olhos de Amanda, perguntou:

— Por que não diz logo a verdade? Duncan não a convidou. Você veio por vontade própria— e esboçando um sorriso de desprezo, ele completou: — Eu não me esqueci de como você costumava correr atrás do meu irmão. E agora vejo que tem mais motivos do que nunca.

Amanda viu as lembranças inocentes do passado dissolverem-se em sua mente e sentiu-se sem chão.

— Vá para o inferno, Jace Whitehall!— ela exclamou e os olhos pareciam lançar faíscas quando ela encarou-o.

Ele ergueu as sobrancelhas e mostrou-se surpreso e ao mesmo tempo irônico.

— O quê?

Antes que ela pudesse repetir o insulto, foi interrompida pela voz de Terry.

— Ah! Aí estão vocês!— ele perguntou alegre. — Venham nos fazer companhia. Está cedo para ir dormir.

Com o semblante sério, Jace passou por Amanda e caminhou na direção da porta principal da casa.

— Vai sair de novo?— quis saber Marguerite.

— Sim— respondeu Jace de maneira vaga, antes de dar um beijo na mãe e declarar: — Boa noite.

Ele girou nos calcanhares e os deixou sem dizer nada. Depois fechou a porta atrás de si com mais força que o necessário.

Terry olhou com espanto para Amanda:

— Por que insultou Jace?

— Eu pergunto o mesmo— acrescentou Marguerite.

— Ele mereceu!— ela exclamou, acrescentando em seguida: — Homem grosseiro e arrogante!

— O que há de errado com vocês dois?— Terry perguntou.

— Uma vez minha mãe chamou Jace de caubói— Amanda esclareceu. — Mas não foi em uma boa hora e Jace se ofendeu. E acho que ainda não superou isso.

Marguerite sorriu.

— Ah! Eu me lembro disso! Foi quando Jace começou a chamar Amanda de "dama".

Ela era e é uma dama. Mas ele quis dizer num outro sentido...

Naquela noite, Amanda não conseguia dormir, por conta das antigas lembranças. Começou a recordar uma sexta-feira há sete anos, quando em uma manhã de sol, ela caminhava no campo e avistou Jace montado em seu lindo cavalo negro galopando suavemente.

— Procurando por Duncan?— ele perguntou em um tom seco, assim que parou próximo.

— Não. Na verdade, eu estava procurando você— ela o corrigiu e baixou os cílios tentando disfarçar a timidez. — Amanhã à noite será minha festa de aniversário de dezesseis anos...

Ele percorreu o corpo de Amanda até chegar às faces enrubescidas. Jace a fascinava, apesar de seu jeito ameaçador.

— E o que tenho a ver com isso?— sua voz era fria como gelo.

O sorriso que Amanda mantinha nos lábios até então, desvaneceu-se. E junto também a coragem dela.

— Eu... hum... queria convidar você para comparecer à minha festa— ela pediu com a voz embargada.

Jace estreitou os olhos e erguendo o queixo, estudou-a sobre o cigarro que mantinha entre os lábios sensuais.

— E o que a sua mãe pensa sobre essa idéia?

— Ela disse que por ela, não terá problema nenhum— declarou Amanda, esforçando-se para omitir a verdade. Pois fora muito difícil conseguir convencer a mãe a permitir que convidasse os irmãos Whitehall.

— Sei...— duvidou Jace.

Amanda jogou os cabelos loiros e brilhantes para trás tentando demonstrar autoconfiança.

— Você vai, Jace?— ela insistiu com docilidade.

— Somente eu? Não vai convidar meu irmão Duncan?

— Ah, vocês dois, claro... Mas é que Duncan havia me dito que você não iria a menos que eu viesse lhe pedir.

Jace deu um profundo suspiro, soltando uma nuvem de fumaça do cigarro e fixou os olhos no rosto inocente e esperançoso de Amanda.

— Você irá, Jace?— ela persistiu humildemente.

— Talvez— respondeu ele, sem querer se comprometer— e, sem dizer mais nenhuma palavra, deu meia-volta e saiu às pressas, deixando-a confusa e esperançosa em meio à poeira deixada pelo trotar do cavalo.

O mais incrível foi que Jace compareceu à festa com Duncan, vestido com uma elegante calça preta e uma vistosa camisa branca de seda. Ele estava fabuloso e para a infelicidade de Amanda, rodeado de garotas antes mesmo de entrar na casa. A maioria das amigas dele eram debutantes e por sinal muito sofisticadas e extrovertidas, ao contrário de Amanda que era extremamente tímida. Ela estava com os cabelos loiros presos no alto da cabeça, usava um batom de cor suave nos lábios e trajava um vestido verde com bordados brancos.

Durante o decorrer da festa, ela não tirava os olhos de Jace e ficou aborrecida quando viu que ele nem se importara pelo fato de Duncan ter dançado com ela quase todas as músicas. Amanda olhou desgostosa para o seu vestido, odiando-o. O modesto decote e as mangas estufadas não haviam sido atraentes o suficiente para chamar a atenção de Jace.

Ela desejava tanto dançar com ele. Nem que fosse uma única música...

E foi o que aconteceu.

A última da noite, uma música lenta que falava sobre "amores perdidos"; Amanda achara muito apropriada para o momento.

Jace nem mesmo perguntou se ela gostaria de dançar com ele. Apenas ofereceu uma das mãos e ela aceitara, sentindo o seu calor. Até a forma com que ele dançava era excitante. Jace pressionava seu corpo, as mãos firmes na cintura dela. Uma das mãos de Amanda estava apoiada no peito másculo e a outra em um dos ombros fortes e poderosos, enquanto os dois se moviam lentamente, acompanhando a música. Ela sentia a fragrância alucinante da colônia dele e o calor daquele homem alto e atlético contra a extensão de seu próprio corpo, enquanto dançavam. Sentia os músculos poderosos das coxas firmes dele pressionando-a e fazendo com que o tecido de suas saias se elevassem um pouco. Amanda sentia o coração bater descontrolado, conforme ele a puxava mais.

Novas e incríveis sensações a invadiam, fazendo-a derreter-se naqueles braços. Ela ergueu o rosto e fitou Jace nos olhos exibindo um desejo ardente como jamais fizera com ninguém. Jace parou de se mover repentinamente. Segurou com força uma das mãos dela e a conduziu para um pátio escuro que ficava atrás da casa, tendo apenas as luzes da cidade de Victoria como testemunha.

— É isso o que você deseja, querida?— ele perguntou, comprimindo seu corpo, usando um tom estranho e áspero na voz.

— Jace, eu não...— ela tentou protestar.

Mas antes que pudesse terminar a frase, os lábios masculinos tomaram os dela de assalto, de uma maneira rude e cruel.

Jace mordiscou-a no lábio inferior intencionalmente, fazendo com que ela desse um gemido de dor e espanto, impondo a Amanda a experiência do primeiro beijo e mostrando a ela os perigos de flertar com um homem mais experiente. Jace deslizou as mãos bronzeadas e fortes pela cintura dela e foi subindo até chegar à curvatura dos seios, quebrando todas as regras que Amanda tentara impor e provando com o toque das mãos todas as curvas daquele corpo macio e delicado.

— É como tocar em uma seda— ele murmurou próximo aos lábios dela e percorreu o olhar por Amanda.

— Olhe para mim!— comandou Jace de forma grosseira.

— Quero ver seu rosto.

Ela ergueu o rosto e o encarou com um brilho amedrontado nos olhos castanhos enquanto começou a afastá-lo.

— Não...— ela sussurrou.

— Por que não?— ele perguntou baixando os cílios para as próprias mãos que seguravam firme a cintura dela.

— Não foi para isso que você quis que eu viesse esta noite, Amanda? Para comprovar se um fazendeiro sabe fazer amor como um cavalheiro?

Ela desvencilhou-se dos braços fortes dele e lágrimas de humilhação começaram a brotar nos olhos ingênuos.

O que foi? Não gosta de ouvir a verdade?— ele perguntou com ironia e depois começou a rir dela, enquanto acendia um cigarro. — Desculpe-me por desapontá-la pequena, mas eu passei a ser o responsável pela fazenda agora. Sou o chefe. Não só dei lucros à Casa Verde como também pretendo torná-la uma lenda. Quando eu realizar os meus objetivos terei a maior fazenda de todo o Texas. E então, se até lá eu ainda estiver tentado, talvez lhe dê uma nova chance.— A forma com que ele a olhava, fazia com que seu coração se partisse em milhões de pedacinhos.

Amanda não conseguia raciocinar direito no momento para se defender. Duncan apareceu antes que ela pudesse dizer algo.

Ela nunca mais convidou Jace para qualquer outra festa e tinha motivo bastante para ficar a quilômetros de distância dele.

Aquelas tristes recordações fizeram com que Amanda ficasse acordada durante horas. E, quando finalmente conseguiu adormecer, teve sonhos perturbados por cenas que não conseguia se lembrar quando acordou no dia seguinte.

Ela se levantou e vestiu o seu velho robe azul de cetim e olhou para ele com tristeza, lembrando-se de como era bonito e sofisticado na época em que o ganhara. Ela deu de ombros. Afinal, aquela vida luxuosa tinha acabado.

Os longos cabelos caíam-lhe sobre os ombros e as costas. Os fios loiros acinzentados estavam embaraçados, o que somente a tornava ainda mais bonita.

Ela cruzou os braços para se aquecer um pouco pois um ar frio da manhã entrava pela janela que estava aberta para apreciar o ar fresco e puro do campo.

Uma batida na porta a sobressaltou.

Ainda sonolenta e com os pés descalços no chão, abriu a porta esperando que fosse a governanta Maria, mas ficou surpresa ao ver Duncan com um largo sorriso estampado no rosto e um brilho alegre e jovial nos olhos.

— Bom dia!— ele exclamou, animado.

— Duncan!— ela exclamou de volta e sem pensar duas vezes, atirou-se nos braços dele. Ele a abraçou com carinho.

— Sentiu saudades?— e ainda abraçado a ela, exclamou: — Nem mesmo me enviou um cartão postal!

—Não pensei que quisesse ter notícias minhas— murmurou ela.

— E por que não? Afinal, não foi o meu touro que você atropelou— brincou ele.

— Não. Foi o meu!— uma voz forte soou atrás de Duncan e ela sentiu o corpo todo ficar tenso.

Livrando-se do abraço de Duncan, ela recuou dois passos para trás e olhou admirada para Jace. Ele estava vestido com roupas próprias para o trabalho naquela manhã: calça jeans escura, camisa esporte que combinava perfeitamente com os olhos dele.

— Bom dia, Jace— ela cumprimentou com um tom áspero na voz. — Desculpe-me por não tratar você com boas maneiras. Eu me esqueci de agradecer pela recepção amável que me concedeu ontem.

Jace ergueu umas das sobrancelhas e lançou um olhar desafiador para ela.

— Sem problemas, dama. Ela sentiu as faces esquentarem de raiva.

— Meu nome é Amanda. Ou, se preferir, Srta. Carson. Mas não me chame de dama. Eu não gosto— ela declarou com segurança na voz.

Jace curvou um dos cantos dos lábios, num meio-sorriso irônico.

— É valente na companhia de outra pessoa, não é? Tente ser assim quando estivermos a sós.

— Tenha certeza de que seu seguro de vida esteja em dia antes— provocou ela de forma venenosa.

— Hei meus amigos. Essa não é uma boa maneira de começar o dia em uma linda manhã como esta— Duncan interveio. — Especialmente quando ainda nem tivemos um café-da-manhã.

Após um breve silêncio entre eles, Jace direcionou o olhar para o irmão e perguntou:

— O que conseguiu na reunião?

— Jenkins está interessado. Acho que consegui fisgá-lo. Mas iremos ter a certeza amanhã. E quanto à Black? Ele explicou em que a agência de publicidade poderá ser útil em nossos projetos na Flórida?

— Sim, mas não em detalhes— respondeu Jace. E levando um cigarro aos lábios, acendeu usando a chama de um isqueiro dourado. Propositalmente, fixou o olhar no isqueiro por alguns segundos, antes de recolocá-lo de volta ao bolso. Amanda logo se lembrou de que havia sido um presente dado à Jace pelo pai dela em um Natal.

— E o que acha do contrato?— quis saber Duncan. Jace o olhou por trás da fumaça do cigarro e declarou:

— Preciso ouvir mais sobre o assunto. Muito mais.

— É... parece que teremos uma longa semana pela frente— comentou Duncan dando um suspiro.

— E será ainda mais longa para certas pessoas...— acrescentou Jace dirigindo-se para Amanda. — E se a dama aqui atrapalhar é bem capaz de Black retornar para San Antônio com a proposta sem levar minha assinatura no contrato.

Amanda o odiou pela ameaça que ele acabara de fazer. E era ainda mais desprezível porque sabia que Jace era bem capaz de fazer isso. Ele carregava um ressentimento dela e por isso poderia com crueldade negar a proposta de Terry por puro despeito. E o que a deixava ainda mais preocupada era que Jace nunca havia blefado.

— Vamos resolver isso então, Jace— sugeriu Duncan, tentando quebrar o clima tenso entre Amanda e o irmão.

— Tenho trabalho a fazer— resmungou ele e virou-se; antes de deixá-los, convidou:

— Venha conhecer o touro que comprei na semana passada depois que fizer o desjejum.

— Posso levar Amanda comigo?— quis saber Duncan.

Jace sentiu os músculos ficarem tensos. E aborrecido, declarou:

— Gostaria de manter esse touro a salvo— e deixou-os a sós.

Amanda ficou paralisada. Ela seguiu com um olhar furioso os passos que ele dava, contemplando suas costas amplas e másculas.

— Como você mudou... nunca a vi responder assim para Jace.— Duncan observou.

— Tenho 23 anos e ele não me usará como "saco de pancadas" novamente— afirmou ela com frieza no tom de voz.

Ele ficou calado por um instante e depois, pediu:

— Vá se vestir para tomarmos o café-da-manhã. Estou ansioso para ouvir mais sobre a proposta que você e Terry estão oferecendo.

— Tess e o pai dela terão de ouvir também?— Amanda quis saber.

— Ah, Tess!— resmungou Duncan. — Eu havia me esquecido dela. Bem, depois falaremos com ela. Jace e eu temos uma parte bem maior nos investimentos do que os Andersons, então nós daremos a última palavra.

— Jace ficará do lado deles— afirmou ela.

— Ele poderá surpreendê-la, Amanda. Aliás, posso apostar nisso— comentou Duncan, misterioso. Dando um largo sorriso, falou:

— Vá se vestir, garota, tempo é dinheiro!

— Sim senhor!— ela concordou com uma reverência divertida.

Durante a tarde, Duncan os levou para dar um passeio a cavalo nos arredores da fazenda, cuidando de Terry, que era um novato.

A fazenda se estendia em várias direções, protegida por uma cerca de madeira pintada na cor branca.

— Lembra-se de como seu pai costumava usar aquele touro velho, o Brahma, para perseguir os cães?— Amanda perguntou a Duncan.

Ele assentiu com um gesto de cabeça.

— Minha mãe sempre ameaçava vender o Brahma depois que ele matou aquele cãozinho Spaniel. E quando meu pai faleceu, foi exatamente o que ela fez— ele acrescentou sacudindo a cabeça em um gesto de reprovação — Vendeu o touro por cem mil dólares, o preço que valia.

— Jace não tentou impedi-la?— indagou Amanda, incrédula.

__Ele não estava sabendo de nada. Minha mãe proibiu que eu contasse a ele. Jace estava fora da propriedade, fechando negócios em outras fazendas.

— E o que ele fez quando voltou e descobriu que o animal não estava mais aqui?— ela quis saber.

— Jogou a cabeça para trás e caiu na— respondeu Duncan.

Amanda ergueu as sobrancelhas.

— Também por todo aquele dinheiro...

— Acho estranho o jeito como Jace a trata. Sei que ele é genioso, mas com você ele exagera demais – observou Duncan.

Amanda ficou calada e olhando para o horizonte resolveu mudar o assunto:

— Você mencionou algo sobre nos mostrar o novo touro.

— Ah, claro. Sigam-me — ele comandou exibindo um sorriso amável.

Foram para outra parte da fazenda, um enorme pasto, muita poeira e muito barulho, tanto dos animais quanto dos enérgicos caubóis que falavam alto.

Sob a luz intensa do sol, Jace Whitehall encontrava-se recostado em uma parte da cerca, observando atentamente tudo o que se passava.

O interesse de Jace pela fazenda nunca terminava, mesmo que ele pudesse passar o resto da vida sem preocupar-se em ter de vestir jeans e chapéu para trabalhar. Ele agora era um homem rico, bem-sucedido e possuía um escritório luxuoso em um dos arranha-céus no centro da cidade de Victoria. A verdade era que Jace gostava de ser livre e não somente ficar atrás de uma mesa de trabalho.

Ele lançou um olhar feroz para Amanda. Contudo, ela continuou inabalável e manteve-se tranqüila. Não queria deixar que ele percebesse o quanto sua presença afetava seus sentimentos.

Jace caminhou na direção deles e Duncan declarou alto:

— Vim ver o touro.

Jace pulou o cercado e retirando o chapéu, ergueu uma das mangas da camisa e limpou o suor da testa. Depois, na frente deles, perguntou ao irmão:

— Precisava ter trazido uma delegação junto?

— Nós até pensamos em alugar um ônibus e acamparmos por aqui— comentou Amanda dando um sorriso audacioso.

Jace estreitou os olhos:

— Por que não desce desse cavalo e vem "bancar a engraçadinha" mais de perto?

— Sou alérgica à capim— zombou Amanda. — E à poeira também.

Duncan sorriu e meneando a cabeça, comentou:

— Essa garota não tem jeito.

— Como você consegue ficar nesse calor e poeira, Jace? Sem mencionar o barulho!— quis saber Terry.

— Muita prática— declarou Jace. — Não é um trabalho nada fácil.

— Nunca irei reclamar novamente do preço da carne— prometeu Terry levando uma das mãos sobre os olhos para se proteger dos intensos raios solares, ao mesmo tempo em que observava os homens trabalhando para selecionar, ordenar e marcar o gado.

Jace olhou para o irmão e sugeriu:

— Mostre os cavalos árabes para Black. Eles são os mais velozes. Bem... isso se Terry conseguir permanecer em cima de um deles— acrescentou, lançando um olhar divertido para Terry, que enrubesceu de imediato.

— Obrigado, vou adorar— declarou Terry, constrangido.

Jace deu uma risada e por um instante, as linhas severas do seu rosto desapareceram.

— Mas vá com calma. Não é tão fácil montar em um cavalo daqueles. Digo por experiência própria— ele avisou ao jovem.

Terry assentiu com um gesto de cabeça.

— Obrigado pelo aviso. Mas acho melhor deixar os cavalos para uma próxima vez.

Logo após Jace exibir o touro que havia comprado, Duncan sugeriu que retornassem:

— Venha Amanda, vamos correr!— ele a desafiou com entusiasmo.

— Espere!— gritou Jace.

Amanda parou tão subitamente que o corpo quase deslizou na sela, enquanto segurava as rédeas com firmeza.

— Nada de corridas!— Jace impôs severo— e olhando para Duncan, revelou:

— Ela é muito propensa a cometer acidentes.

Duncan apenas o olhou divertido e falou:

— Se você está dizendo...

— Não sou criança!— protestou Amanda, lançando um olhar severo para Jace.

Ele sustentou o olhar acinzentado e brilhante em Amanda e provocou uma onda de excitação que a invadiu por inteiro.

Jace continuou sério e antes de voltar ao trabalho, avisou ao irmão:

— Se os Summers quiserem falar comigo sobre a venda daquela fundação, mande alguém vir me comunicar— e dizendo isso, foi caminhando a passos largos em direção aos outros homens e ao gado, sem olhar para trás.

Terry não se "moveu" pelo restante da tarde. Ele poupou o corpo e ficou numa espreguiçadeira embaixo de uma enorme magnólia bem próxima da água azul e cristalina da enorme piscina oval.

Amanda ficou por perto conversando com Duncan coberta por um guarda-sol, apreciando uma limonada refrescante.

— O que você acha da campanha que nós preparamos?— Amanda perguntou a Duncan.

— Eu gostei— respondeu ele, de forma polida. — Mas a questão é: Será que Jace gostou? Ele não está animado com o projeto. Está ciente de que a idéia de vender apartamentos no interior da Flórida não será muito fácil. A maioria das pessoas gosta de apartamentos em frente à praia.

Ela concordou com um gesto de cabeça.

— Mas podemos fazer com que dê certo, produzindo bons anúncios— Amanda o confortou com segurança na voz. — Tenho certeza disto.

Duncan sorriu para ela.

— Você não é mais aquela garota que deixou esta cidade há alguns anos atrás, sempre insegura e com um sorriso tímido no rosto... Meu Deus, Srta. Carson, como você mudou! Eu já havia notado isso na sua última visita há seis meses, mas agora vejo uma diferença ainda maior.

— Acha mesmo que estou tão diferente assim?

— Pelo menos com relação a Jace. Parece que agora não teme enfrentá-lo! Amanda enrubesceu... — Não tenho tanta certeza.

— Pois eu tenho.

Ela deu um suspiro e resolveu perguntar:

— Por que insistiu para que eu viesse com Terry fechar esse negócio dos anúncios?

— Um dia lhe direi— prometeu Duncan. — Mas agora tudo o que quero é aproveitar o sol desta linda tarde.

— Acho que vou ajudar Marguerite com os convites para a festa— e dizendo isso, Amanda ergueu-se e começou a caminhar em direção da casa.

Quando se aproximou da entrada principal, parou por um instante para admirar as magníficas rosas brancas do jardim. Inclinou-se para observar as flores mais de perto e sentir a deliciosa fragrância que emanava das rosas. O jardim era um motivo de orgulho de Marguerite. Neste momento um caminhão parou em frente à mansão.

Jace abriu a porta e rapidamente, desceu do banco do passageiro, com a mão direita pressionando o outro braço que sangrava muito. A manga da camisa estava manchada de sangue na altura do ombro esquerdo.

— Pode ir— ele avisou ao motorista — irei depois com Duncan, assim que cuidar desse ferimento.

O motorista fez um gesto de cabeça e acelerou o caminhão, saindo rapidamente da visão deles. Amanda ficou atônita ao ver aquele sangue.

— Você está machucado!— ela exclamou incrédula.

— Se vai ficar impressionada e desmaiar, então é melhor sair daí para que eu possa entrar— ele declarou e deu dois passos à frente.

— É melhor deixar ajudá-lo. Você não irá conseguir cuidar disso sozinho— e dizendo isso ela abriu a porta da casa.

— Já fiz isso antes— ele retrucou e foi seguindo-a através do hall que conduzia a um dos banheiros sociais.

— Não duvido nada— ela provocou, lançando um olhar irônico para ele.

— Sua pirralha— ele resmungou.

— Não me insulte ou irei colocar um curativo em seus lábios também!

Ela o conduziu até o banheiro e pediu para que ele se sentasse em um banquinho. Jace retirou o chapéu e o depositou no piso de mosaico.

Enquanto Amanda procurava por bandagens e anti-sépticos no gabinete da pia, Jace contemplava o corpo esbelto dela.

— Tentação...parece uma ninfa— ele murmurou. Amanda virou-se e olhou espantada para ele, pelo que acabara de ouvir e involuntariamente sentiu as faces esquentarem.

— O que você estava fazendo? Estava ornamentando a área da piscina, bonita desse jeito?— ele perguntou enquanto ela torcia um pano limpo e macio para retirar o excesso de água.

— Estive ouvindo os lamentos de Terry por estar com o corpo dolorido devido à cavalgada— ela respondeu exibindo um sorriso tímido e em seguida avisou, sem necessidade: — Você terá que tirar a camisa.

Ele começou a desabotoar a camisa lentamente com os olhos fixos no rosto dela.

— Tess me ajudaria a fazer isso— ele comentou dando-lhe uma indireta.

— Ela poderia agora estar inconsciente no chão. Você sabe que Tess desmaia ao ver sangue— retrucou ela, recusando o atraente "convite".

O jeito com que ele a cobiçava, a deixava confusa e ao mesmo tempo amedrontada. Era uma sensação nova, excitante e um pouco assustadora.

Jace retirou a camisa e jogou-a no chão. Ela pressionou com força o pano úmido em uma das mãos ao contemplar o tórax forte e bronzeado e os ombros largos e poderosos. Sentiu o coração bater forte dentro do peito e odiou-se por sentir-se daquela maneira em relação a ele. Jace era muito sensual, apesar de ser tão arrogante, tão intimidador. Só de olhar para ele, sentia-se frágil e vulnerável, fraca, diante do tamanho do desejo que sentia por ele. Jace estreitou os olhos e a encarou:

— O que está esperando?

— Desculpe— ela murmurou e sentiu o corpo todo ficar tenso ao começar a fazer o curativo no ombro esquerdo dele.

— O corte é profundo, Jace.

— Eu sei. Apenas limpe o ferimento, Amanda. Não faça observações desnecessárias— ele declarou enquanto retesava os músculos do braço devido à dor, apesar da suavidade do toque da mão de Amanda.

— Irá precisar de pontos.

— Sofri uma dúzia de cortes e não dei pontos, e nem por isso morri— retrucou ele com grosseria.

Espero que pelo menos você sempre tenha tomado injeções antitetânicas.

Você está brincando, não é?— ele retrucou com a expressão séria.

Jace estava certo, era ridículo pensar que ele não havia tido esse tipo de precaução.

Ela finalmente terminou de fazer a assepsia do ferimento e em seguida apanhou o tubo do spray anti-séptico.

— Espirre apenas no corte e não em todo o resto em— — declarou ele, observando-a agitar o tubo e direcioná-lo ao ferimento.

— Eu devia jogar iodo em você, isso sim!— retrucou ela, irritada e depois avisou dando um sorriso cruel:

— Isso irá doer.

Ele a fitou com arrogância e estreitando os olhos, estudou-a de cima a baixo e falou:

— Você não irá gostar da forma com que eu poderei revidar.

Ignorando a ameaça, ela terminou o curativo, envolvendo o ferimento com gaze e fixando-o com esparadrapo.

— Gostaria que fosse consultar um médico.

— Se meu braço começar a ficar verde devido ao seu curativo amador, eu irei.

Ela ergueu o rosto para encará-lo, mas ao invés de deparar-se com um olhar ameaçador, viu um brilho divertido nos olhos dele e um riso de deboche.

—Você faz com que meu sangue ferva, Jace Whitehall!— murmurou Amanda.

— Hum... palavras suspeitas, Srta. Carson.

— Não do jeito que está pensando!— ela protestou de imediato.

Jace ergueu as sobrancelhas e ironicamente quis saber:

— Ah, não?

Ela virou-se de costas para ele e começou a guardar no gabinete os objetos que usara, recusando-se a encará-lo. Seria muito tentador...

— Da riqueza do passado aos farrapos de hoje...— ele comentou, analisando o vestido puído que ela usava.

Seu sócio não tem recursos para lhe proporcionar roupas esportivas melhores, não?

— Ele não compra minhas roupas.

— Você não conseguirá fazer com que eu acredite nisso— afirmou Jace com frieza no tom de voz.

— Aqueles terninhos que você usa para trabalhar não custam pouco. Eles são da última moda e você não tem esse dinheiro.

— Será que não consegue entender que eles são antigos, porém bem conservados?— ela falou, impaciente.

— Eu compro roupas básicas e essenciais, então elas não ficam fora de moda!

Jace deu de ombros, mostrando a ela que aquela conversa já o estava cansando. Em seguida ele estendeu o braço direito para apanhar a camisa do chão. Sem nem mesmo olhar para ela, ele comentou sobre o curativo:

— Bela tentativa, dama.

— Eu realmente gostaria que você não me chamasse assim— irritada, ela falou por entre dentes.

— Por que não consegue ser como Duncan, que me aceita do jeito que sou, sem julgar-me da maneira terrível como você faz?

Jace olhou-a diretamente nos olhos e afirmou:

— Porque eu não sou Duncan. E nunca fui— e cerrando os dentes ele indagou:

— Você ainda o deseja? Foi por isso que veio até aqui com seu sócio?

Amanda ergueu as mãos para cima e indignada, retrucou:

— Está bem. Sim, eu desejo seu irmão. Estou interessada no dinheiro dele. Quero me casar com ele, gastar cada centavo da fortuna dele e comprar presentes caros para todas as minhas amigas! Está satisfeito agora?

Ele ergueu uma das sobrancelhas, demonstrando indiferença.

— Prefiro vê-la no inferno do que casada com meu irmão!

Sem perceber, o olhar de Amanda fixou o tórax amplo e poderoso de Jace e depois seus olhos castanhos focaram as linhas de expressão severas.

— Por que me odeia tanto?

Jace intensificou o brilho prateado dos olhos e afirmou:

— Você sabe muito bem o motivo. Amanda baixou os longos cílios e confessou:

— Mas aquela sua proposta foi há muito tempo e também não considero uma lembrança muito agradável.

— Por que não?— ele perguntou pressionando com as mãos a camisa que deixara sobre o colo.

— Aquela minha proposta teria resolvido os seus problemas. Ficaria amparada pelo resto da vida. Você e aquela sua mãe inconstante.

— E tudo o que eu deveria ter feito seria sacrificar minha auto-estima— murmurou Amanda com ironia, olhando-o de relance.

— Não gostaria de ser amante de homem nenhum Jason, muito menos sua.

Ele olhou-a indignado:

— Amante?

Amanda ergueu o queixo.

— E qual nome mais você daria a esse tipo de relacionamento?— ela desafiou.

— Você me pediu para "viver" com você!

— Comigo, isso mesmo. E nesta casa. A casa da minha mãe. Droga, Amanda você acha que do jeito que ela é moralista, iria permitir algo que não fosse um relacionamento tradicional entre nós? Eu iria propor-lhe casamento. E estava com a droga da aliança no meu bolso e você teria visto se não tivesse se precipitado e ido embora.

"A morte deveria ser mais ou menos assim" pensava Amanda. Casamento! Ela poderia ter sido a esposa de Jason Whitehall! Viver com ele, compartilhar tudo ao lado dele e agora mesmo poderia ser a mãe de um filho dele...

Os olhos dela se encheram de lágrimas. Amanda mal conseguiu suportar quando vislumbrou um frio e cruel sorriso no rosto de Jace.

— Sentindo remorso, querida?— ele perguntou usando um tom áspero e depois desabafou:

— Eu estava começando a resolver os problemas da fazenda na época. Estávamos operando no vermelho inicialmente e os primeiros investimentos que consegui serviram apenas para o pagamento de dívidas. Mas você não entendia, não é mesmo? Você apenas ficou me olhando por um tempo e depois fechou a porta na minha cara. Meu Deus, e teve muita sorte por eu não ter arrombado aquela maldita porta e ter ido atrás de você.

— Eu suspeitei que você pudesse fazer isso— ela admitiu com a voz fraca. O rosto estava abatido e o coração partindo-se ao meio dentro do peito.

— E eu não o culparia. Mas você parecia tão feroz, Jason, eu estava horrorizada e com medo de você me agredir. Foi por isso que eu fugi.

Ele ergueu-se e parou em frente a ela:

— Medo de mim? Por quê? Amanda recuou dois passos e revelou:

— Você foi muito rude comigo na minha festa de aniversário de 16 anos— ela fez questão de lembrá-lo e enrubesceu de imediato com a lembrança que veio a sua mente.

— Você nem imagina os receios secretos que as garotas daquela idade têm dos homens. Tudo o que acontece com o corpo e os hormônios, é tudo tão misterioso e novo... Você era mais velho do que eu e principalmente mais experiente. E quando me perguntou de maneira tão fria se eu gostaria de morar com você, eu nem sabia o que dizer, analisando a forma com que me tratara na noite da festa.— E dizendo isso, Amanda virou-se de costas para evitar encará-lo.

Houve um tenso e longo momento de silêncio entre eles.

— Eu a machuquei, não foi?— ele perguntou com a voz fria e calculada, fixando os olhos nas costas dela.

— E eu quis lhe machucar. Duncan contou que você apenas me convidou por educação e que na realidade não gostava nem um pouco de mim— ele deu um riso, incrédulo e prosseguiu: — E meu irmão ainda acrescentou que você havia dito que eu não sabia lidar com as mulheres. Ela voltou-se para ele, totalmente perplexa:

— Eu não disse a Duncan porque havia convidado você— e baixando a cabeça, ela prosseguiu: — Quanto ao resto... eu estava apenas brincando. Não é verdade que às vezes brincamos sobre as coisas que mais nos apavoram?— ela justificou-se. — Eu o temia, Jace. Mas costumava sonhar em como seria se um dia você me beijasse. Nos sonhos o beijo era mais amável do que foi na realidade...

— Ela deu de ombros e sorriu tentando encobrir a dor.

— Mas nada disso importa mais. Eram apenas sonhos de garota e agora sou uma mulher.

— Você é?— ele perguntou, dando passos lentos em direção a ela, aproximando-se mais, exibindo um sorriso sarcástico enquanto ela ia recuando, assustada.

— Está com 23 anos e ainda tem medo de mim? Não irei forçá-la a nada, Amanda.

Ela sentiu as faces esquentarem de raiva.

— Você poderia me insultar mais?

— Não acho que você possa ser insultada— ele retrucou friamente enquanto o olhar dele parecia despi-la.

— Pobre menina rica. Que decadência! Quantos anos tem esse vestido que está usando?

— Ele cobre o meu corpo— Amanda defendeu-se.

—Nem tanto— ele observou. E estreitando os olhos, declarou:

— Minha mãe mencionou algo sobre comprar-lhe algumas roupas enquanto você estivesse por aqui. Aparentemente ela viu mais o seu guarda-roupa do que eu. Mas não se anime, querida— ele acrescentou com ironia. — Eu não trabalho feito um louco para manter você e aquela sua mãe maluca. Se está precisando de roupas novas, peça para Black providenciar e não à minha mãe.

Com os lábios trêmulos, ela protestou:

— Prefiro andar nua a aceitar um lenço sequer que o seu dinheiro possa comprar.

— Sem dúvida que o seu namorado iria preferir isso também.

— Ele é meu sócio!— ela gritou. — E nada mais!

— Pude constatar que ele não é um bom cavaleiro também. Se não consegue agüentar ficar sobre um cavalo manso como aquele, como iria agüentar você?

Gostaria de saber, Jace. O que você faria para substituir o prazer de me fazer insultos se eu não estivesse por perto?— ela perguntou aborrecida. Jace ignorou-a e quis saber:

— Onde está seu "sócio"?

Na área da piscina com Duncan, discutindo detalhes do contrato— e lançando um olhar frio para Jace, atirou.    

— Não que isso vá adiantar alguma coisa. Sei que você irá dizer não.

— Não tente pensar por mim, Amanda. Você não me conhece. E nunca soube como eu sou de verdade.

— Mesmo porque você nem dá oportunidade para que as pessoas se aproximem de você, Jason.

— Você gostaria?

— Não, obrigada. Cansei de suportar suas ofensas.

— E por acaso foram sem motivos?— ele gritou. — Meu Deus, cada vez que você aparece aqui acontece um desastre!

— Eu não estou me referindo ao acidente com aquele touro— ela defendeu-se. — E você não precisava ter gritado quando...

— Mas que diabos você esperava que eu fizesse? Você podia ter morrido no dia do acidente, sua maluca!

— E você iria dar graças se isso acontecesse, não é?— ela indagou com ironia.

— E a propósito, eu queria me desculpar pelo touro, mas havia torcido meu pulso e mal podia raciocinar com a dor que estava sentindo.

— Você torceu o pulso?— ele gritou, indignado. — E foi dirigindo daqui até San Antônio, daquele jeito? Sua doida!

— O que queria que eu fizesse? Pedisse carona? Você já havia atirado no touro e do jeito que estava furioso, pensei que pudesse atirar em mim também. Então resolvi fugir o mais rápido possível— e dizendo isso, ela girou nos calcanhares e começou a caminhar na direção da porta, ignorando os apelos dele gritando alto o nome dela.

Ele alcançou-a no hall e agarrou-a pelo braço esquerdo, forçando-a a encará-lo. Os olhos dele faiscavam com ferocidade. Sem camisa e com aquele tórax poderoso e bronzeado, fazia com que Amanda se sentisse fraca à tentação.

— Onde você pensa que vai?— Jace perguntou usando um tom desafiador.

— Seduzir Duncan na piscina— ela respondeu com sarcasmo.

— Não foi para isso que acha que eu vim?

— Nunca irá se casar com meu irmão!

— Eu não preciso me casar com ele, para dormir com ele— Amanda provocou empinando o nariz e jogando os longos cabelos loiros para trás. — O que importa se o seu irmão substituir você naquilo que falhou?

Foi a pior coisa que ela poderia ter dito.

Amanda teve apenas alguns segundos para entender que ele ia explodir de raiva antes de dar-lhe as costas e começar a correr.

E correu até chegar à sala de estar. Quando girou o corpo rapidamente para fechar a porta, já era tarde. Jace facilmente empurrou a porta semi-aberta e entrou, fechando-a em seguida com força e trancando-os a sós.

Ele ficou encarando-a. O brilho feroz dos olhos acinzentados a fuzilavam. O semblante sério e extremamente ameaçador.

— Vamos ver o quanto é corajosa, agora— e dizendo isso, começou a dar passos lentos na direção dela.

Amanda recuava conforme ele ia se aproximando e sentia toda a coragem desvanecer-se ao sustentar o brilho furioso dos olhos dele.

— Eu não quis dizer aquilo!— ela exclamou sentindo o ar lhe faltar e depois repetiu assustada: — Jace, eu não quis dizer aquilo!

As costas se chocaram contra a mesa de mármore e ela foi obrigada a parar de recuar. Amanda ficou paralisada. Ele agarrou com força os braços dela.

— Não me machuque!— ela suplicou.

— Você tem me machucado durante anos— afirmou Jace com um tom rouco na voz, intensificando o brilho prateado dos olhos. E num rápido movimento, ele a aprisionou contra a mesa usando o próprio corpo. — Duncan já fez amor com você? Responda-me!

— Não!— ela exclamou. — Ele nunca me tocou desse jeito, nunca Jace, eu juro!

Ela viu a raiva diminuir no semblante dele, apesar de ainda sentir a tensão nos músculos das coxas firmes pressionadas contra ela.

As mãos bronzeadas deslizavam pelas costas femininas e delicadas. Ela não estava usando sutiã, por isso podia sentir aquele tórax másculo contra os seus seios sob o tecido fino da roupa. A intimidade fez com que seu corpo estremecesse por inteiro. Jace baixou os cílios e notou que ela estava ciente das fortes batidas do seu coração.

— Gostaria de estar tocando em sua pele macia por baixo desse vestido...— ele sussurrou com a voz rouca.

— Jace!— ela exclamou, sentindo-se embaraçada e tentou afastá-lo com uma das mãos.

— Não, não lute— ele avisou e moveu as mãos lentamente acariciando a cintura esbelta, pressionando-a com força contra o próprio corpo.

— Alguma vez Terry fez amor com você?— ele indagou curioso, observando as faces coradas e o brilho assustado nos olhos castanhos de Amanda.

— Você está muito nervosa para uma mulher que está acostumada a ser tocada.

— Talvez eu esteja nervosa por sua causa.

Ela pressionou os dedos contra o amplo tórax masculino, lutando contra o desejo de deslizá-los pela pele bronzeada e sensual. A colônia silvestre que emanava do corpo másculo estava enlouquecendo Amanda.

— Por minha causa?— ele indagou fixando os olhos nos dela.

Amanda mordiscou o lábio inferior e declarou:

— Da última vez, você me machucou.

— Da última vez— ele repetiu — você tinha 16 anos e eu estava furioso. Machuquei-a de propósito, Amanda.

— E o que eu fiz, exceto estar apaixonada por você?

Jace ficou tão imóvel, que por um instante Amanda pensou que ele não tivesse ouvido o que ela acabara de dizer. Ele a pressionou com mais força e um suspiro escapou dos lábios dele.

—Apaixonada por mim?— ele duvidou. — Meu Deus, você virava o rosto toda vez que eu a olhava.

— Claro Jace. Você me deixava aterrorizada!— ela acusou e sustentou o brilho dos olhos dele. — Eu sabia que minha mãe não simpatizava com você e achava que você também me detestava tanto quanto detestava a minha mãe. E sempre me olhava com um olhar feroz.

Os olhos dele focaram os lábios de Amanda.

— E eu não gostava. Fiquei em choque quando me convidou para ir à sua festa.

Amanda procurou o olhar dele e indagou com voz suave:

— Por que você foi? Jace deu de ombros.

— Eu não sei. Estava acostumado a ter mulheres muito mais experientes do que aquelas que me cercaram durante aquela noite.

Uma onda de ciúmes a invadiu.

— Então foi minha culpa?— ela resmungou.

— Como você poderia saber? Obviamente era uma virgem. Eu ficava me perguntando quantos garotos você já havia beijado. Você nem soube me beijar direito.

Amanda baixou a cabeça e apoiou-se no peito dele, antes que Jace pudesse notar o rubor que se espalhou pelas faces dela.

— Eu nunca havia sido beijada antes. Você foi... o primeiro. E foi por pouco o último, também— e depois acrescentou: — Eu estava assustada, Jace. E foi um terrível primeiro beijo que você me deu.

Com uma das mãos ele ergueu o queixo delicado de Amanda para poder encará-la.

— Eu deixei cicatrizes em suas lembranças?— ele perguntou usando um tom gentil.

—Tudo o que eu me lembrava depois daquela noite, era como sentia você estremecer contra o meu corpo e a maciez da sua pele sob o toque de minhas mãos. Eu sabia que havia deixado você assustada, mas estava muito nervoso para me importar. Se eu soubesse da verdade...

— Provavelmente não teria feito muita diferença— ela fez questão de dizer. — Tenho um pressentimento de que você não seja do tipo carinhoso, Jason.

— Ah, é mesmo?— ele perguntou, direcionando os lábios de Amanda. — Talvez seja a hora de eu fazer algo para apagar aquela primeira impressão.

— Jason, eu não acho...

— Não fale nada— ele pediu num sussurro enquanto começou a tocar de leve os lábios dela, mordiscando-lhe suavemente o lábio inferior, induzindo-a a abrir a boca para então aprofundar-se num beijo lento e intenso, fazendo com que qualquer pensamento desaparecesse da mente dela.

Ele envolveu-a em seus braços fazendo com que seus corpos ficassem colados e prolongou o beijo, explorando com a língua todos os cantos.

Era quase como voltar no tempo, para o dia da festa de aniversário dela, porém o beijo que ele dera na ocasião nada tinha a ver com o beijo que agora a estava deixando encantada.

Jace agora estava sendo gentil com ela, e com cuidado a induzia a abrir os lábios para permitir que ele a provasse com a língua e lhe desse um beijo profundo e intenso. O silêncio era quebrado apenas pelas respirações aceleradas enquanto eles se beijavam de forma mais e mais ardente. Amanda acariciava o tórax dele com um ardor que não era provindo de experiências passadas, mas sim de um desejo louco e desenfreado. Ela sentiu necessidade de tocá-lo, de explorar com as mãos toda a extensão do corpo másculo e robusto. Ela podia sentir o calor do corpo dele contra o seu e estremecia ao experimentar as sensações que provocava com as mãos bronzeadas ao acariciar seu pescoço de forma lenta e provocante.

Vagarosamente ele foi deslizando as mãos pelo tecido fino do vestido que ela usava e quando chegou próximo da região sensível, Amanda imobilizou-lhe a mão com os dedos trêmulos e nervosos.

Jace deu um suspiro e dirigindo o brilho dos olhos para o rosto dela, falou:

— Eu quero ver você— e com a voz rouca continuou:

— Quero ver seu rosto quando eu te tocar.

Amanda estremeceu ao perceber que também queria olhar nos olhos dele quando ele a tocasse. Mas da forma com que ele ainda demonstrava ferocidade, sentiu-se receosa.

"Jace era seu inimigo. Ele não nutria sentimento por ela além do desprezo e permitir que ele tivesse esse tipo de intimidade, seria suicídio" pensava Amanda.

— Não— ela sussurrou.

Ele baixou o rosto e olhou no fundo dos olhos dela:

— Você está pretendendo me dizer que essa é alguma outra "primeira vez"?— e dando um suspiro, declarou: — Desculpe querida. Mas sou uma "raposa velha" agora e precavido das armadilhas das mulheres.

Irritada, ela tentou desvencilhar-se dos braços dele, mas Jace a impediu sem fazer esforço.

— Deixe-me ir!— ela implorou. — Eu não sei do que está falando, Jace.

— Ah, não?— ele perguntou com ironia. — Você é cheia de truques Amanda, mas não pense que irá conseguir me fisgar. Cuidado com suas provocações. É melhor pensar duas vezes antes de fazer isso novamente. Pois da próxima vez, eu irei continuar— ele declarou com a expressão séria, observando a perplexidade nos olhos castanhos dela.

— E lhe ensinarei muitas coisas sobre os homens, que você nunca imaginou.

— Eu não irei permitir!— ela retrucou elevando o tom de voz.

— E por que não?— e lançando um olhar desafiador, e!e prosseguiu: — Mulheres como você não são muito exigentes, não é mesmo? Por que não comigo, Amanda?

— Eu te odeio!— ela sussurrou com a voz embargada.                                                                     E realmente naquele momento ela estava odiando Jace. Como ele ousava fazer tais insinuações para ela?        

Jace apenas sorriu, mas ela não viu nem sinal de bom-humor nos olhos dele.

— Você me odeia? Fico contente por saber disto. Eu ia saber que você estivesse sofrendo por um amor correspondido por mim. Mas se mudar de idéia, querida sabe onde fica o meu quarto— depois, acrescentou friamente.

— Só não espere casamento. Eu sei o quanto você e sua mãe necessitam de um ticket refeição. Mas querida,— ele declarou, enquanto abria a porta — não serei eu quem irá providenciar isso.

E dizendo isso, Jace abandonou a sala e fechou a porta atrás de si.

 

Amanda subiu até o seu quarto para refrescar-se e levar ao rosto aquecido um pouco da água fria para se acalmar um pouco. Ela levou ao rosto uma toalha úmida e pressionou-a contra os lábios na esperança de que isto pudesse diminuir a mágoa que sentia. Mágoa. Amanda fechou os olhos por um instante. Seu coração estava partido. E a memória recente do que acabara de acontecer, atormentava-a.

Sua mente voltou ao tempo, às lembranças que guardara do dia em que Jace havia se aproximado dela e feito a proposta que poderia ter mudado o curso de sua vida.

Tudo havia acontecido em um lindo dia ensolarado e Amanda estava sozinha quando ouvira o som de um carro estacionando em frente a sua casa. Ela se dirigiu à porta, enquanto Jace subia de dois em dois os degraus da escadaria da frente. Ele vestia uma calça jeans e uma camisa preta e obviamente esteve fora, trabalhando na fazenda. Jace parou em frente a ela e retirando o chapéu preto que usava, direcionou o brilho dos olhos para o rosto de Amanda.

— Você não está com uma aparência muito boa— ele observou e percorrendo o olhar pelas curvas do corpo esbelto dela, perguntou: — Como estão as coisas?

Amanda ergueu o queixo e tentou demonstrar segurança, ela tinha muito orgulho e amor-próprio para deixar ele visse a barra que estava enfrentando: o pai havia falecido, a mãe gastava todo o dinheiro que ela conseguia, a perda dos bens da família e toda aquela desgraça... Amanda sustentou o olhar dele e revelou com firmeza no tom de voz:

— Estamos na luta— ela relatou e até mesmo forçou um sorriso.

Mas Jace não colocou muita fé no que ela dizia.

— Ouvi dizer que você colocou a casa à venda— declarou ele. — E da maneira que a sua mãe está se comportando, antes que você consiga um comprador, terá que vender a roupa do corpo para sustentá-la.

Amanda mordiscou o lábio inferior e assegurou:

— Vamos conseguir superar esta situação.

— Você não precisa fazer isso, Amanda— ele afirmou com precisão no tom de voz. — Eu posso fazer isso por você. Pagar as contas, manter a fazenda. Posso até mesmo sustentar a "inconstante" da sua mãe, embora eu não aprecie muito a idéia.

Amanda o estudou cautelosamente.

— Em troca do quê, exatamente?

— Que venha viver comigo.

Aquelas palavras caíram sobre ela como um balde de água fria. Talvez se ele tivesse sido gentil com ela na noite em que comparecera ao seu aniversário... Mas ele não fora e só de pensar no que estava pedindo a ela... Podia sentir o sangue congelar nas veias. Amanda nem mesmo se deu ao trabalho de explicar. Ela o deixou e antes que ele tivesse tempo de dizer mais alguma coisa, entrou depressa casa e trancou a porta sem nem ao menos dar uma resposta. E a lembrança do que acontecera naquele dia ficara entre eles como uma ferida que nunca fora cicatrizada.

"E fora melhor assim" pensava Amanda. Se ele soubesse o que ela realmente sentia... Amor. Não podia negar esse forte sentimento. Lágrimas começaram a brotar em seus olhos. Amor não era uma palavra que ele conhecia.

"Por que tinha de ser Jace?" Amanda se perguntava com angústia. Por que não Terry ou Duncan? Ou até mesmo alguns dos poucos homens que ela conhecera durante todos aqueles anos... Por que tinha que ser justamente o único homem no mundo que ela não poderia ter? Seu pobre coração já estava cansado de tanta indiferença.

Era bom mesmo que ela e Terry partissem no fim de semana. Agora que descobrira o que representava aquele medo que sentia de Jace, poderia ficar longe dele. Ela poderia deixar Casa Verde e nunca mais vê-lo novamente. Lágrimas voltaram a inundar os olhos castanhos de Amanda. Doía demais pensar que nunca mais o veria. Mas do jeito que as coisas estavam, seria menos cruel do que ficar perto dele.

Decidida, enxugou as lágrimas com as palmas das mãos e trocou o vestido que usava por uma calça jeans e uma miniblusa pink. Amarrotou o vestido e o colocou dentro da mala, prometendo a si mesma que jamais o usaria novamente. Podia sentir a essência da colônia de Jace impregnada no tecido do vestido.

Marguerite ainda estava ocupada, endereçando os convites de sua festa, em uma pequena sala no segundo andar da casa, quando Amanda foi ao seu encontro.

— Olá, querida. Aproveitou bastante o sol?— a mulher mais velha perguntou de forma gentil, depositando a caneta sobre a mesa.

— De certa forma— respondeu Amanda. — Eu vinha ajudá-la quando encontrei Jace e o ajudei, fazendo-lhe um curativo.

Preocupada, Marguerite quis saber:

— Ele está bem?

— Sim. Foi apenas um ferimento no braço— ela informou, aliviando a tensão no semblante da mãe de Jace.

— Não sei como ele se machucou. Talvez algum animal o tenha ferido, eu suponho— ela relatou, enquanto se acomodava em uma cadeira ao lado de Marguerite, em frente à escrivaninha.

— Jace permitiu que você fizesse um curativo nele?

Pensei que Tess fosse ajudá-lo nessas horas— observou a mulher mais velha.

— Aparentemente não— respondeu Amanda, desejando que seu rosto não mostrasse o que realmente havia acontecido.

— Tem certeza de que não se importa em ajudar?— Marguerite perguntou, empurrando alguns envelopes e uma lista com nomes e endereços na direção de Amanda.

— Claro que não — ela declarou e apanhando uma caneta começou a endereçar os convites.

— Você irá à festa, é claro. Esses são apenas alguns convites que estamos endereçando para alguns amigos meus que, tenho certeza, não irão deixar de comparecer. A festa será no salão de baile da fazenda dos Sullevans. Eles possuem um enorme salão, algo que não temos aqui.

Amanda concordou com um gesto de cabeça, recordando-se da enorme fazenda dos Sullevans, em uma ocasião fora muito bem recebida por eles.

Acho que eu... não poderei comparecer— declarou Amanda.

A mulher mais velha virou-se para ela e sorriu, conhecendo-a o suficiente para afirmar:

— Irei providenciar um vestido para você.

— Não!— ela protestou e a voz soou mais alta do que desejava, ao lembrar-se do que Jace havia dito sobre a mãe comprar roupas.

Contudo, Marguerite logo voltou para os envelopes e Amanda recomeçou a escrever os endereços, sem perceber o sorriso divertido no rosto da mãe de Jace.

Duncan e Marguerite eram os únicos que estavam sentados à mesa durante o café-da-manhã, quando Amanda desceu do quarto após uma noite mal dormida. Jace havia saído bem cedo e ido para o escritório.

— Jace está ficando pior a cada dia que passa— observou Duncan, dirigindo o olhar para Amanda e exibindo um sorriso enquanto ela se acomodava em uma cadeira ao lado dele.

— Você não sabe o motivo, Amanda?

Ela apressou-se em apanhar uma xícara de café e levando-a aos lábios, inclinou a cabeça, tentando esconder o rosto enrubescido.

— Eu? Por quê?

— Bem, esteve ausente durante ontem à tarde— ele observou. — Depois, você teve dor de cabeça e Jace, um negócio urgente para resolver no escritório...

Marguerite estava começando a suspeitar do que havia se passado. Ela ergueu uma das sobrancelhas e indagou com a voz calma:

— Você e Jace discutiram ontem, Amanda?

— Ultimamente é muito perigoso deixá-los a sós— provocou Duncan.

— Ele a provoca e ela dá o troco. Deus ajude quem tentar intrometer-se entre os dois.

— Onde está Terry?— Amanda indagou desviando o assunto.

— Ele e eu estivemos conversando até tarde sobre a campanha— esclareceu Duncan. — Ele ainda deve estar dormindo. Terei que ir a Nova York hoje a negócios— ele sorveu um gole do café e depositou a xícara no pires. Depois, fixando Amanda, informou: — Jace concordou em falar com Terry esta noite.

— Ah, é? Que bom...— ela murmurou.

Duncan observou-a permanecer com a cabeça baixa e quando ela ergueu o rosto, ele notou a palidez da pele e as manchas escuras ao redor dos olhos.

Marguerite terminou de alimentar-se e depositou o guardanapo após o uso ao lado do prato. Enquanto levava a xícara de café aos lábios, comentou:

— Como é agradável apreciar uma refeição sem ser interrompida— e dando um suspiro, concluiu: — Duncan, ao seu lado o café-da-manhã é bem mais tranqüilo.

— Eu não cuido sozinho dos interesses de nossas propriedades— ele fez questão de lembrá-la.

As palavras de Duncan fizeram Amanda se lembrar do que Jace havia dito e inconscientemente, ela recuou, recostando no espaldar da cadeira.

Os olhos de Marguerite exibiram um brilho repentino, quando murmurou:

— Eu gostaria de livrar-me de tudo isto, com exceção de uma parte da fazenda. Talvez não permanecêssemos ricos, mas ao menos poderíamos ter refeições sem sermos importunadas por telefonemas sobre diversos negócios. E Jace não se pressionaria tanto.—     comentou Duncan. — Ele sempre se pressionou e nós dois sabemos por quê.

Marguerite sorriu para o filho e pensativa, quis saber.

— E como você acha que será o resultado final?

— Acho que há uma distinta possibilidade de sucesso— declarou ele de forma misteriosa, erguendo a xícara como se estivesse fazendo um brinde.

— Vocês continuam tendo essas conversas "estranhas"— observou Amanda, desconfiada.

— Perdão querida— Marguerite desculpou-se. — São apenas antigas suspeitas.

— Quer ir à Nova York comigo?— Duncan convidou Amanda, de súbito. — Só irei ficar o dia por lá.

Os olhos dela se iluminaram. A possibilidade de poder ficar despreocupada por um dia inteiro era encantadora. Especialmente quando ela desejava ficar longe de Jace.

— Eu poderei ir mesmo?— ela indagou com o semblante animado. — Oh, mas e Terry...

— Ele ficará bem aqui comigo— interferiu Marguerite. — Cuidarei dele por você e esta noite, Jace e ele estarão ocupados discutindo detalhes do contrato. Então, por que não ir, querida?

— Se não se importa mesmo...

— Vá colocar um lindo vestido— pediu Duncan, exibindo um largo sorriso para ela.

— Ótimo!— ela exclamou e após pedir licença, rumou rapidamente para a escada.

Amanda escolheu um vestido branco com detalhes em lilás. Um ótimo vestido que ela conseguira comprar em uma liquidação de uma boutique. Ela apanhou um agasalho e apressou-se em calçar as sandálias. Nem mesmo demorou-se para retocar a maquiagem e prendeu os longos cabelos loiros.

Em seguida, desceu rapidamente e viu que Terry finalmente encontrava-se sentado à mesa, fazendo o desjejum.

— Oi!— disse Amanda. — Eu vou deixá-lo aqui esta tarde. Irei com Duncan à Nova York, tudo bem?

— Claro. Tenha uma boa viagem. Ficarei cuidando dos negócios por aqui— informou Terry.

— Se estiver pronta...— declarou Duncan, vestindo o paletó.

— Mais do que pronta!— informou Amanda, entusiasmada.

Ele observou cuidadosamente o conjunto que ela usava e estreitou os olhos ao vislumbrar o agasalho.

— Querida, há muita diferença entre o clima do Texas e o de Nova York. Iremos voltar à noite. Tem certeza de que só este agasalho será suficiente?

Amanda assentiu com um gesto de cabeça. — Irei lhe emprestar um agasalho mais apropriado— Marguerite ofereceu dando um sorriso gentil. E olhando para o filho, acrescentou:

— Não dá para trazer na mala agasalhos muito grandes, Duncan. São muito volumosos. Amanda agradeceu-a profundamente em pensamento, por ter dito aquilo. Sabia que a mãe de Jace sempre procurava defendê-la em qualquer situação.

Marguerite saiu e logo depois voltou trazendo uma peça cara e sofisticada.

Mas eu não posso... — Amanda tentou protestar. Claro que pode querida. Eu possuo outros e nós temos praticamente o mesmo tamanho. Pegue-o, veja se fica bem em você.

Ela ajudou Amanda a vesti-lo e ficou simplesmente perfeito. Amanda ergueu as sobrancelhas e não precisou dizer nada, pois o gesto já dizia tudo. Marguerite apenas assentiu com um gesto de cabeça.

— Divirtam-se e não voltem muito tarde.— disse Marguerite, acrescentando em seguida: — Duncan, qual avião você irá utilizar?

— O Piper— ele respondeu, enquanto saía com Amanda pela porta da frente, e antes de fechá-la, avisou: — Não nos espere para o jantar. Iremos ter um belo jantar em Nova York.                                                                           O vôo estava agradável e Duncan era um bom piloto. Quase tão bom quanto Jace e não tão ousado. Antes que Amanda esperasse, eles já estavam aterrissando no terminal de Nova York.

Duncan solicitou um táxi com a naturalidade de um viajante experiente. Ele informou o endereço ao motorista e recostou-se no banco traseiro do carro, dando um suspiro.

— Essa é a melhor forma de viajar— ele disse a ela. — Sem malas... simplesmente pular para dentro do avião e ir embora.

Amanda sorriu.

— É verdade. E já que chegamos tão rápido até aqui, só falta irmos a Martinique.

— É uma ilha bem divertida— ele comentou, voltando ao tempo com suas lembranças.

— Lembra-se de quando eu e você fomos para lá com o tio Macklin e esquecemos de avisar minha mãe? Pensei que o fim do mundo estivesse chegando quando tivemos de nos explicar. Mas foi divertido, não?

— Com certeza— respondeu Amanda, virando-se para encará-lo. Ele não tinha nada a ver com Jace. Ela gostava do jeito alegre de Duncan e da sua brilhante personalidade. Se ela pudesse ao menos tê-lo amado, ao invés de Jace...

— Gosto quando faz isso...— ele observou a ternura nos olhos dela e esboçou um largo sorriso.

— Isso o quê?

— Comparar-me com Jace. Oh, não tente negar Amanda— ele disse quando ela tentou protestar. — Eu a conheço há muito tempo. Mas de qualquer forma, eu não me importo. Jace tem um jeito único de ser. Muitos homens perderiam se comparados a ele.

Amanda baixou os cílios e declarou:

— Desculpe, Duncan. Eu não tive essa intenção. Ele segurou uma de suas mãos e falou:

— Eu sei disso. O melhor de estar ao seu lado, Mandy, é que posso ser eu mesmo. Fico contente por ter você como amiga.

Ela sorriu.

— Posso dizer o mesmo.

— Claro que nem sempre a considerei assim...— ele confessou dando um meio-sorriso. — Sabe, eu era... apaixonado por você quando tinha 16 anos. E você nem mesmo notou. Estava muito ocupada tentando afastar-se de Jace. E eu tinha um ciúme terrível.

— Está falando sério?— ela quis saber. — Duncan, eu sinto muito...

Talvez isso explicasse a mentira que ele havia contado a Jace sobre o motivo de ela o ter convidado para sua festa de aniversário.

Foi só uma paixão juvenil querida, eu superei rápido. E fico feliz por ter conseguido superar. Você nunca teve esse tipo de sentimento por mim, teve?— ele perguntou de um jeito tão sério, como ela nunca havia visto.

— Não— ela respondeu com sinceridade. — Nunca tive.

Houve um breve silêncio.

— Se eu puder lhe ajudar, Mandy, do jeito que for, eu o farei.

A ternura na voz dele era o oposto da grosseria de Jace. Lágrimas começaram a rolar, descendo pelas faces de Amanda.

— Mandy— ele disse de forma solidária, enquanto afagava os longos cabelos dela. — Está difícil, não é? Eu não deveria ter perdido o contato com você. Precisa olhar além do horizonte, Amanda.

Ela sacudiu a cabeça.

— Posso cuidar de mim, Duncan.

— Claro que pode querida— ele declarou exibindo um sorriso amável.

— Eu não costumo demonstrar tanta fraqueza. Desculpe. É que sinto às vezes que o peso está maior do que posso agüentar. Toda a responsabilidade que preciso ter.

— E que supostamente na sua idade, você não deveria— ele observou. — Você teve de sustentar sua mãe, desde que tudo em sua vida mudou. Eu sei, você não se importa, mas o fato é que não está vivendo sua própria vida. Tudo o que faz é trabalhar para manter Beatrice. E não lhe sobra dinheiro, após pagar as contas, para que possa sair e se distrair. Isso não é justo, Amanda.

— Duncan, se eu não fizer isso, quem irá fazer?— ela perguntou desolada. — Minha mãe não pode trabalhar. Nunca precisou trabalhar. O que ela poderia fazer?

— As pessoas podiam contratá-la por uma hora para ficar em um canto de suas casas, segurando um lampião, se fosse uma estátua, apenas para enfeitar— ele sugeriu com um riso matreiro nos lábios.

Amanda deu uma gargalhada ao ouvir o comentário absurdo.

— Você é terrível, Duncan.

— Por isso você gosta de mim— brincou ele. — Lembra-se daquele verão em que pegamos arcos e flechas e miramos nos touros que Jace estava vendendo naquele leilão?

— Jamais me esqueci disso! Nós nunca tivemos de correr tanto dele.

— Jace realmente ficou muito furioso— comentou Duncan, dando uma gargalhada.

— Tive de passar uma semana com meu tio e você, se me lembro bem, logo depois entrou naquela escola.

— Senti que seria mais seguro viver na Suíça— confessou Amanda. — Jace ficou mais do que furioso, para ser honesta.

Duncan deu um suspiro.

— Foram belos dias, não é mesmo, Amanda? Ela concordou com um gesto de cabeça:

— É uma pena que tivemos de crescer e nos tornar adultos sérios e responsáveis.

 

Amanda e Duncan estavam voando de volta para o Texas quando de repente, um som incomum acordou Amanda. Ela ajeitou-se novamente no banco e observou que ele esforçava-se para controlar a aeronave.

— Qual o problema?— perguntou franzindo o cenho, visivelmente preocupada.

Ele estava conduzindo o avião mais adiante, com uma das mãos no manche e a outra no painel central.

— Eu acho que é o mag esquerdo, mas ainda não posso afirmar.

— Mag?— ela repetiu sem entender nada.

— Magneto.— Ele alcançou a ignição e girou-a para a esquerda e depois para a direita. O avião estava literalmente "dançando" no ar. Duncan cerrou os dentes. — Vou tentar ajustar a potência e facilitar a mistura, só então saberei se poderemos nos arriscar a continuar assim.

Amanda apenas ficou olhando para ele. A linguagem de Duncan era totalmente desconhecida para ela. Mas seja lá o que for que estivesse fazendo, não parecia ajudar.

Ele praguejou quase sem fôlego. — Bem, é isso aí. Teremos que aterrissar em Seven Bridges e consertar o avião. Não arriscarei ir mais longe dessa maneira.

Duncan baixou a aeronave na direção da pista de pouso iluminada em meio a uma intensa neblina. — Deus, espero que não haja uma vaca na pista— ele resmungou, enquanto esforçava-se para manter a aeronave no maior controle possível.

— Você é um consolo e tanto para mim, Duncan – ela comentou sentindo um enorme nervosismo. — Onde você disse que estamos mesmo?

— Seven Bridges, Tenesse— ele informou. — Segure-se querida, aí vamos nós!

— Confio em você— ela o encorajou. — Iremos ficar bem.

— É o que espero.

Os próximos minutos foram os mais perigosos. Os motores tremiam como se fossem partir-se ao meio e as luzes da pista em meio à cerração estavam nubladas. Se Jace estivesse no controle, ela não teria se preocupado nem um pouco... e lamentava por pensar assim, pois sabia que Duncan estava dando o melhor de si.

Assim que ele baixou mais a aeronave, perdeu o controle apenas por um segundo e teve de subir o avião novamente e fazer a volta. Uma experiência que quase fez Amanda ficar com cabelos brancos.

Ele agarrou tão forte com uma das mãos o topo do banco onde ela estava, que nenhuma palavra conseguiu sair dos lábios de Amanda. E nada do que dissesse poderia ajudá-lo. Ao contrário, poderia até distraí-lo e fazer com que cometesse um erro fatal. Ela se manteve em silêncio. Apenas sussurrava uma prece.

Duncan baixou novamente o avião. Os olhos estavam fixos nos controles, na pista de pouso, no indicador da velocidade do ar, o painel que mostrava o horizonte e o altímetro. Agora, toda a sua experiência em vôos aparecia e ele ficou visivelmente mais relaxado. Conseguiu pousar cuidadosamente a aeronave na pista enquanto o som dos freios ecoava seguido pela diminuição da potência do motor. De repente silêncio total; ele desligou o motor completamente enquanto o avião deslizava pela pista.

— Em cima da hora— ele suspirou, sentindo o cansaço dominá-lo.

— Você foi muito bem, como todos sempre dizem— ela brincou, sentindo-se capaz de relaxar já que estavam seguros. — Agora, como voltaremos para casa?

— Podemos pegar carona— ele zombou.

— Devemos chamar reforços?

— Os "reforços" seriam Jace— ele a lembrou — e meu queixo ainda não está totalmente recuperado desde a última vez em que eu o aborreci.

Ela não havia pensado nisso. Eles prometeram estar de volta à fazenda por volta da meia-noite e isso seria... Amanda respirou fundo.

— A esta altura, deveremos considerar a "loucura" de tentar voltar para casa.

Eles desceram da aeronave enquanto um mecânico aproximava-se, saído de um hangar iluminado. Ele caminhava na direção deles, enquanto limpava as mãos em um pano. O homem era robusto, tinha cabelos brancos e exibia um sorriso educado no rosto.

— Está com problemas?

— É um dos meus magnetos— Duncan comunicou ao operador.

— Irei precisar de um novo. Se tiver algum, pode colocar para mim.

— É um Piper Navajo pelo que posso ver— o homem supôs e Duncan assentiu com um gesto de cabeça. — Claro, posso consertar; eu acho. Trabalho em serviços de aviação e minha esposa e eu moramos ali naquele trailer— ele informou, apontando com o dedo indicador para o local.

Minutos depois, Amanda estava confortavelmente sentada em uma cadeira dentro do trailer de Donald Aikens, na companhia da esposa dele, Annete, apreciando o melhor café que já provara, enquanto recuperava-se da terrível experiência com a aeronave.

Elas estavam discutindo sobre economia, no momento em que Duncan e o operador do aeroporto entraram no trailer.

— Donald poderá consertar— informou Duncan esboçando um sorriso, apesar das feições cansadas. — Ele só irá barbear-se antes e depois voltará a ver o Piper, mas a esta hora da madrugada já não importa mais a demora.

— Graças a Deus!— exclamou Amanda dando um suspiro de alívio. — Nós precisamos ligar para sua mãe, Duncan. Poderemos pedir a ela que prometa não contar nada a Jace.

— Hum... Temo que vocês não poderão fazer uma ligação a longa distância— lamentou Donald. — Aliás, nem ligação local. Os cabos telefônicos estão com problemas e os técnicos ainda estão tentando consertar. Ouvi isso pelo rádio mais cedo, quando estava trabalhando. Tenho certeza disso. Eu realmente lamento.

Duncan deu um suspiro, desanimado.

— É a sorte— ele declarou e em seguida completou: — Fora do meu alcance.

— Não irei demorar muito— relatou Donald, encorajando os dois, enquanto sorvia um último gole de café. Vocês poderão partir em breve— ele assegurou.

"Em breve" significou duas horas e foi graças à habilidade de Donald como mecânico que eles puderam voltar com a mesma aeronave.

O sol ainda não havia nascido quando Duncan aterrissou na pista de pouso em Casa Verde, mas o céu já começava a clarear.

Cansados, eles desembarcaram do avião e observaram a paisagem silenciosa do pastoril.

— Tranqüilo, não é?— perguntou Duncan, inspirando profundamente o ar puro do campo.

— Até agora sim...— ela concordou sorrindo, mas logo em seguida comentou preocupada: — Com certeza eles devem nos ter ouvido aterrissar.

— Ainda não estou vendo nenhum alvoroço.

Como resposta ao comentário de Duncan, eles ouviram um som alto e forte de uma das pick-ups da fazenda se aproximando.

— Quer apostar quem está dirigindo?

— Acho que tive uma idéia— ela respondeu. Amanda não tinha dúvidas de como seria a reação de Jace e a única solução seria fugir. Contudo, não tinha para onde ir e Jace já havia saído da caminhonete e andava a passos largos na direção deles, com o semblante mais sério do que nunca.

Ele não tinha dormido. Ela pôde observar assim que Jace fixou os olhos em Duncan, ao se aproximar. Precisava barbear-se e estava muito pálido também. Vestia calça cinza, uma camisa branca abotoada até a metade e um casaco de camurça. O familiar chapéu preto quase cobria um dos olhos. Ele estava visivelmente feroz e selvagem sob a meia luz do amanhecer.

— Hum... oi... Jace... — gaguejou Duncan.

Ele mal tentara cumprimentá-lo, quando Jace o agarrou pela camisa e deu-lhe um soco de direita, indo direto no queixo dele, fazendo-o cair no chão pavimentado.

— Você sabe o que temos passado?— Jace indagou com a respiração ofegante.

— Nós esperávamos que chegassem à meia-noite e vocês só chegaram agora! Deixou todos preocupados e nem ao menos deu um telefonema... Nossa mãe está chorando, seu irresponsável!

— É uma longa história— murmurou Duncan, pressionando uma das mãos no queixo dolorido, enquanto se sentava no chão. Visivelmente arrependido, ele tentava se desculpar:

— Eu juro. O magneto direito deu problema e eu quase derrubei o avião.

Jace ficou pasmo e dirigindo um olhar preocupado para Amanda, quis saber:

— Você está bem?

Ela apenas assentiu com um gesto de cabeça, com medo de arriscar falar alguma coisa. Nunca o tinha visto tão preocupado.

Duncan ergueu-se do chão, sentindo uma intensa dor no queixo.

— Droga Jace, eu desejava que você tivesse gritado ao invés de ter me batido— ele resmungou.

— O que aconteceu?— Jace perguntou sem importar-se com a crítica dele.

Duncan explicou em resumo tudo o que havia ocorrido para eles terem se atrasado, sem se esquecer de mencionar o problema dos cabos telefônicos de Seven Bridges, por isso eles não puderam ligar para casa.

O semblante de Jace ficou ainda mais severo, se é que era possível.

— Ainda assim, poderia ter ligado antes de sair de Nova York.

Duncan sorriu constrangido.

— Eu sei, mas é que estávamos nos divertindo tanto que eu nem pensei nisso. E quando fomos para o aeroporto eu não quis perder tempo.

— Eu tentei ligar no terminal de Nova York para ver onde você havia guardado o avião— continuou Jace com um tom severo.

— A culpa é toda minha— Duncan concordou. — E... não tenho uma boa desculpa, para ser sincero. Eu apenas... não pensei.

Jace estreitou os olhos e declarou:

— Explique isso para nossa mãe.

Duncan esperou por Amanda, que estivera quieta o tempo todo, mas Jace a agarrou com força por um dos braços, como se fosse uma punição e foi conduzindo-a com ele na direção da pick-up. Ele fixou os olhos no casaco sofisticado que ela usava e franzindo as sobrancelhas, observou:

— Você não estava com esse casaco.

— Não...— ela ia começar a explicar, quando ele a interrompeu.

— O que eu lhe falei sobre ganhar presentes?— indagou Jace, em um tom áspero.

Era muito para Amanda. A noite, o susto com o avião, a preocupação em voltar à fazenda e agora a fúria de Jace... simplesmente era muito!

Ela começou a soluçar e lágrimas começaram a rolar por suas faces.

— Oh, pelo amor de Deus, Amanda...— Jace protestou.

— Deixe-a em paz, Jace— o irmão interveio. — Eu já a assustei demais durante o problema que tivemos com o avião. E se o agasalho o incomoda, culpe a mamãe.

Jace o olhou como se quisesse espancá-lo novamente. Mas, sem dizer nada, abriu a porta da caminhonete e se sentou ao volante. Duncan deixou Amanda entrar no veículo primeiro e observou como ela retraía-se para não esbarrar em Jace. Ele fechou a porta, Jace ligou a ignição e o veículo começou a andar.

Eles tiveram de explicar tudo novamente para Marguerite, que estava muito pálida e exausta de tanto chorar. Ela os abraçou com força e ternura. Para o alívio de Amanda, Jace foi para o segundo andar da casa logo que eles chegaram.

— Estou tão feliz por vocês estarem bem— declarou Marguerite, sorvendo um gole de café enquanto segurava um lenço ensopado na outra mão. — Eu fiquei tão preocupada.

— Eu queria tê-la avisado— revelou Amanda, limpando as próprias lágrimas com as palmas das mãos. — Mas não tinha jeito. Lamento muito por tê-la aborrecido.

— Jace ficou mais transtornado do que eu— ela informou e exibindo um sorriso desanimado, prosseguiu: — Ele fez buracos no meu tapete, de tanto andar de um lado para o outro. Nunca o vi desse jeito.

— Ele agrediu Duncan— declarou Amanda, ressentida.

Está bem... eu mereci— Duncan admitiu e lançando um olhar para Amanda, completou:

— E você sabe disso. Marguerite deu um profundo suspiro.

— Você tem sorte que isso foi o máximo que ele fez. Jace ameaçou fazer coisas piores enquanto aguardava a sua chegada e sei que ele fumou um maço de cigarros.

— Vocês se importam se eu me deitar um pouco?— perguntou Amanda, educadamente. — Sei que também estão cansados como eu, mas...

— Pode ir querida. Eu e Duncan iremos descansar daqui a pouco, também— respondeu Marguerite. — Bom descanso— ela acrescentou dando um sorriso amável.

— Ah! A propósito... onde está Terry?— quis saber Amanda, lembrando-se só agora do sócio.

— Ele foi cedo para a cama ontem e não quisemos acordá-lo— explicou Marguerite. — Ele nem está sabendo de nada ainda.

— Bem, vejo vocês mais tarde. E eu realmente sinto muito pelo que aconteceu— Amanda se desculpou e inclinou-se para dar um beijo no rosto de Marguerite quando passou por ela.

O cansaço a estava consumindo quando ela chegou ao quarto. Amanda retirou o vestido e depois as sandálias, mas não conseguiu ficar acordada o suficiente para deitar e se cobrir corretamente. Simplesmente desmaiou na cama.

Com a mente confusa entre o sonho e a realidade, sentiu alguém endireitá-la na cama e acomodá-la sobre o travesseiro. Ela começou a erguer lentamente as pálpebras pesadas e parecia ainda estar sonhando quando viu o rosto de Jace bem próximo ao dela.

— Está com muito sono?— ele perguntou com um tom tão suave na voz, que nem parecia ser ele mesmo que falava.

Ela assentiu com um gesto de cabeça. A visão ainda estava nublada, como se ela estivesse em um sonho. E talvez estivesse mesmo.

Ele começou a cobri-la com o lençol de seda e ao mesmo tempo admirava o corpo sensual de Amanda.

— Não estou vestida— ela murmurou sonolenta.

— Pude perceber— ele retornou exibindo um sorriso divertido.

— Você estava bravo comigo— ela recordou, franzindo as sobrancelhas. — Eu não me lembro... por que... mas...

— Não pense em nada. Apenas durma.

Ela olhou nos olhos dele e ao observar a barba por fazer, involuntariamente roçou dois dedos no rosto dele. Para ser um sonho, sentiu o calor da pele bem real.

— Você também não dormiu— ela sussurrou.

— Eu não consegui, até saber o que havia acontecido.

— Ficou realmente preocupado?

— Preocupado!— ele deu um riso indignado e os olhos ainda expressavam certa inquietude. — Meu Deus, eu pensei que vocês estivessem machucados ou pior... Quando na verdade ficaram passeando na Broadway!

Ela dirigiu os olhos para o amplo tórax dele, onde os botões da camisa estavam abertos, e, distraída comentou:

— Nós estávamos apenas nos divertindo.

— Você sempre se diverte com meu irmão.

Ela pôde notar certa amargura naquelas palavras.

— E eu sempre fugi de você- — Amanda murmurou com voz suave e traçou uma linha com a ponta de um dedo no contorno dos lábios sensuais dele. — Eu nunca pude me aproximar de você— ela declarou e o cansaço quase a impedia de continuar falando. — O dia em que o convidei para ir a minha festa, confesso que estava com muito medo. Queria tanto que você comparecesse e você foi tão frio...

— Autodefesa, Amanda— ele admitiu e lançou um olhar ardente para a curva do pescoço de Amanda. — Não gostava do que você me fazia sentir. E também não gosto de ser vulnerável.

Amanda sorriu.

— Tudo o que eu tentava fazer era apenas para que você mudasse um pouco seu mau-humor.

— Tem certeza?— ele indagou e alcançando uma das mãos dela, levou ao próprio peito, pressionando-as contra as fortes batidas do seu coração. — Sinta o que você faz comigo— Jace murmurou, e um brilho de admiração surgiu nos olhos dela. — Só de olhar para você, meu coração começa a bater dessa forma. E tem sido assim há anos e você nem mesmo notou.

Amanda abriu os lábios, completamente surpresa.

Jace sempre fora tão seguro, tão controlado... Era novo e excitante considerar a possibilidade de que ela podia provocar tal impacto nele e que podia fazer com que ele sentisse a mesma emoção que ela quando a tocava.

—Acho que... eu tinha medo de notar— ela sussurrou. — Porque eu o queria tanto...

A respiração dele estava mais forte e rápida agora. Ele inclinou a cabeça e a olhou diretamente nos olhos.

O clima que se formava entre eles era quase insuportável. Ela podia sentir o calor do hálito dele próximo aos seus lábios. Quase enlouqueceu ao sentir tanta sensualidade no corpo másculo, enquanto tocava com as mãos aquele tórax poderoso.

— Jason...— ela sussurrou apreensiva.

Os lábios sensuais dele tocaram de leve os dela.

— Calma— ele sussurrou gentilmente. — Eu só quero tocá-la, ter a certeza de que está aqui e a salvo, não machucada ou perdida em algum lugar. Deus, nunca tive tanto medo em toda minha vida!

— Você gritou comigo— ela lembrou-lhe, enquanto as palavras eram abafadas pelo roçar dos lábios dele, provocando-a loucamente.

— Você me deixou fora de mim, o que esperava que eu fizesse?— ele resmungou.

Jace se moveu e apoiou os braços no lençol ao redor do corpo dela, cercando-a. Com o peito arqueado sobre ela, observava as faces coradas de Amanda.

— Sua bobinha, não consegue entender que não raciocino direito quando estou perto de você? Não viu como perdi o juízo quando ficamos na sala de estar?

Em silêncio, ela o estudava e admirando os contornos perfeitos dos lábios dele e as sensações que podiam provocar.

— Nunca pensei que pudesse fazê-lo perder o juízo.

— Estou perdendo tempo dizendo coisas óbvias a você, quando tudo o que quero agora é tirar esse lençol de cima de você e provar cada centímetro da maciez de sua pele.

O coração dela bateu ainda mais acelerado.

— Que horas são?

— Está com medo, não está?— ele perguntou e acariciou o rosto delicado de Amanda.

— Você já fez isso uma vez... Em sua festa, há anos atrás. Nunca me esqueci. Fora tão inocente e encantadora— as feições dele ficaram tensas. — E agora é uma mulher, não mais tão inocente. Então, por que fingir?

Ela mordiscou o lábio inferior, sentindo-se muito cansada para negar isso e brigar com ele. — Estou cansada, Jason— ela sussurrou dócil.

Ele respirou fundo.

— E eu, não estou?— buscando pelo olhar dela, declarou: — Estive andando de um lado para o outro em meu quarto, tentando me recompor. E sabia que não conseguiria dormir; toda vez que fechava os meus olhos, via seu olhar assustado quando a critiquei sobre a droga do agasalho.

— Mas Marguerite...— ela começou a explicar, mas ele a interrompeu.

— Insistiu. Eu sei. Duncan me falou, lembra?— ele afastou carinhosamente uma mecha de cabelo loiro dela.

— Eu estava muito preocupado, minha querida. E machucado também.

— Eu não posso tê-lo machucado.

— Acha que não?— ele olhou para os lábios rosados de Amanda. — Você não sabe o quanto poderia ter me machucado— ele murmurou e inclinou o corpo sobre ela. Começou a beijá-la suavemente, tocando-a de leve em meio a um silêncio que só era quebrado pelo som da brisa fresca que entrava pela janela do quarto e pela sua respiração acelerada. Depois, alcançou as mãos dela e pressionou-as contra o próprio peito.

— Você alguma vez aprendeu como se deve tocar em um homem?— ele perguntou próximo aos lábios dela.

Amanda acariciou o peito dele com as mãos trêmulas, enquanto o contato dos lábios provocantes dele a enlouquecia.

— Beije com mais intensidade— ela pedia olhando para os olhos dele.

— Eu vou— ele declarou dando um sorriso matreiro.

— Prefiro que seja dessa forma primeiro, você não? Calmo e devagar, gosto de me segurar ao máximo, faz tudo se tornar mais intenso— ele sussurrou bem próximo. — Vamos querida. Não fique apenas deitada, deixando que eu faça tudo sozinho.

Ela quase declarou num impulso que não saberia como ajudá-lo e que a única experiência mais íntima que tivera fora com ele. Com outros homens ela nunca tinha feito mais nada além de beijar.

Amanda o abraçou e o puxou de forma que pudesse sentir o corpo másculo e poderoso. Ele quase se deitou sobre ela e quando Amanda sentiu o peso de Jace, deu um gemido involuntário.

— Não assim, meu amor— ele sussurrou, reclinando-se um pouco para olhar no rosto dela. — Já faz muito tempo que não me esforço para ir com calma com uma mulher. Deixe-nos ir com calma.

Aquelas palavras mexeram com ela; ficou temerosa, e o respeitava ainda mais. Ela contornou os lábios dele com o dedo indicador e procurou os olhos dele, enquanto seu coração batia descontrolado. — Eu não sei muito sobre... — ela esqueceu as palavras e a confissão não saiu como esperava.

— Tudo bem— ele ponderou e beijando-a lenta e suavemente. — Você não quer me tocar?— ele sussurrou enquanto deslizava os dedos vagarosamente na cintura dela.

— Só Deus sabe o quanto eu quero você— Ele acrescentou com a voz rouca, enquanto acariciava seus seios, tocando-os de leve. Isso a estremecia.

Amanda agarrou com força os dedos grossos e bronzeados dele, fazendo-o parar.

Ele reclinou-se e estudou a apreensão no olhar atento dela.

Eu não vou machucá-la— Jace afirmou com a voz suave.

— Eu sei... eu...— ela o olhou sentindo-se insegura e num sussurro confessou: — Eu preciso de tempo.

Jace deu um suspiro forte, afastou-se e em seguida apoiou os cotovelos sobre o colchão ao redor do corpo feminino para equilibrar-se e aliviar a pressão do próprio corpo contra o delicado corpo dela.

— Você já teve sete anos para isso— ele a lembrou.

— E você me odiava nesses sete anos— ela o corrigiu com tristeza na voz. — Jason, não pode esperar que eu... confie em você, que me entregue...

Ele se inclinou e a beijou com ferocidade.

— Quer ficar comigo e se entregar para mim? Por que não consegue dizer isso?— e estreitando os olhos, declarou: — Tudo bem, eu aceito isso. Precisa de um tempo para acostumar-se com a idéia e lhe darei esse tempo. Mas não muito, Amanda. Esperei bem mais do que pretendia e estou a ponto de perder a paciência. Estive muito tempo sem uma mulher.— Ele começou a dar suaves beijos no pescoço e ela fechou os olhos por um instante, arfando de desejo e quando se deu conta, Jace beijava quase a altura dos seios dela. Amanda arqueou o corpo instintivamente devido à essa inesperada pressão e gemeu com a experiência nova e tentadora de sentir os lábios de um homem em seu corpo.

— Você gosta disso?— ele murmurou e afastou mais o lençol, aproximando-se dos mamilos enrijecidos e provocando com a língua, em uma intimidade que a fez agarrar os cabelos negros e espessos com as mãos. E lutando contra o próprio desejo, tentou afastá-lo.

Ele olhou para o rosto enrubescido de Amanda e comentou:

— Por que está tão tímida? Não dizem que os melhores perfumes estão nos menores frascos?

— Seu tolo!— ela sussurrou, enrubescendo ainda mais.

Jace sorriu, observando-a se cobrir com o lençol.

— São pequenos, mas perfeitos, meu amor— ele declarou gentilmente e por um instante parecia ser um estranho, os olhos acinzentados quase meigos, o semblante tão dócil.

Impulsivamente, ela estendeu uma das mãos e tocou no peito dele, erguendo os olhos para encará-lo e seus olhos expressavam muitas dúvidas.

— Desculpe-me por ter deixado você e sua mãe preocupados.

Ele apenas assentiu com um gesto de cabeça.— Acho melhor você dormir agora.

— Você também— ela murmurou. — Não estará disposto para trabalhar depois.

— Eu sempre fico com a mente no trabalho, é verdade— ele admitiu olhando Amanda nos olhos e se aproximando, pediu: — Beije sem receio desta vez— ele sussurrou áspero — e abra a boca.

Jace foi intenso e tão forte; ela nunca sentira nada igual antes. Ela arqueou o corpo e o beijava com ferocidade, cravando as unhas nos ombros poderosos enquanto um gemido de prazer e desejo escapava.

Ela o amava tanto, desejava tanto Jace e nesse instante ele era todo seu. Tudo o que ela queria era entregar a ele tudo o que pudesse, apesar de todos os argumentos e palavras ásperas.

Ele afastou-se um pouco, respirava forte e os olhos brilhavam com o desejo contido. Jace segurou-a por um dos pulsos e retirou a mão dela delicadamente do seu ombro, Depois a acomodou sobre o travesseiro novamente com gentileza.

— Oh, Deus! Eu a quero tanto.

Amanda mordiscou o lábio inferior e o olhou com tanto carinho que nem precisou dizer nada.

Ele deu um longo suspiro e inclinou-se para beijá-la suave e foi muito sensual.

— Você podia dormir comigo... Só dormir. Gostaria de dormir abraçado com você, apenas sentindo o calor do seu corpo contra o meu.

Amanda enrubesceu completamente enquanto ele a admirava.

— E se sua mãe ou Duncan entrarem no quarto?— ela perguntou tentando colocar barreiras, quando tudo o que mais desejava era fazer exatamente o que ele acabava de sugerir.

Jace buscou pelo olhar dela. — Então acho que terei que me casar com você, não acha?— ele perguntou com um sorriso tímido. Mas ergueu-se da cama antes que ela pudesse descobrir se ele estava brincando ou não. Assim que se aproximou da porta, abriu-a, mas antes de sair lançou um olhar para ela e declarou:

— Bons sonhos, meu amor. Durma bem— e em seguida, percorrendo o olhar por todo o corpo de Amanda, coberto pelo lençol de seda, acrescentou: — Deus sabe o quanto eu quero você!

— Boa noite, Jason— ela sussurrou amável — ou devo dizer bom dia?

Ele sorriu e em seguida virou-se e saiu do quarto sem olhar para trás.

Amanda ainda ficou um bom tempo imóvel na cama, antes de deitar-se de lado e dar um suspiro ao fechar os olhos.

 

Amanda abriu os olhos ao perceber a claridade que entrava pela janela do quarto e vislumbrou os raios de sol refletidos sobre o macio edredom azul que cobria o seu corpo.

Assim que fixou os olhos castanhos no teto, a memória da visita de Jace ao seu quarto provocou ondas de entusiasmo por todo o seu corpo. Ela sentou-se na cama e encolhendo as pernas, abraçou os joelhos enquanto olhava para a porta.

Seu rosto estava radiante e os olhos cheios de emoção.

Jace! Aquilo teria mesmo acontecido?

Amanda levantou-se da cama e se dirigiu ao banheiro, assim que olhou para sua imagem refletida no espelho, levou uma das mãos aos lábios, como se estivesse procurando por evidências dos beijos que ele lhe dera.

Havia uma pequena marca em um de seus braços; ela comprovava com emoção, o prazer que compartilhara com Jace. Não havia sido um sonho. Fora totalmente real.

Mas será que Jace havia sentido tanto prazer quanto ela? Ou seria algo de que ele pudesse se arrepender ? Ele poderia mudar? Poderia sorrir para ela, ao invés de ficar sério e inflexível como sempre? Ou poderia odiá-la ainda mais...?

Amanda vestiu um jeans e uma blusa azul de cetim, com um modesto decote em V.

Apressou-se em descer, os cabelos soltos balançavam sobre os ombros enquanto seus olhos brilhavam repletos de sonhos.

Já passava das dez da manhã e ela não esperava ver Jace sentado à mesa para o café-da-manhã. Mas sentiu-se desapontada ao abrir a porta da sala e vislumbrar apenas Marguerite e Terry, que por sua vez, parecia estar muito contrariado.

— Aí está você— ele falou dando um suspiro. — Olha Mandy, você terá de cuidar dos negócios por aqui sem minha ajuda. Jackson acabou de me ligar e informou que ficou insatisfeito com o anúncio de TV que elaboramos para ele.

— Mas o filho dele havia aprovado— ela protestou.

— Sem a permissão dele, pelo que pude perceber— resmungou Terry.

Ele terminou e ergueu-se da cadeira.

— Desculpe ter que deixá-la dessa forma, mas se perdermos esse cliente, teremos grandes problemas. Ele é o melhor cliente que temos. E acho que não preciso lembrá-la disto.

— Não, claro que não. Posso cuidar dos negócios por aqui. Pode ficar tranqüilo, Terry— ela declarou sorrindo.

— Não consegui conversar com Jace na noite passada. Talvez você possa ter mais sorte— ele declarou sorrindo de volta para ela. Depois agradeceu Marguerite pela hospitalidade, avisou Amanda que ligasse para ele quando fosse para o aeroporto de San Antônio, após discutir sobre a proposta com os Whitehall. Saiu apressado para chamar um táxi.

— Você terá que falar sozinha com Jason, mas não parece estar mais tão nervosa em relação a ele – observou Marguerite, olhando-a com um brilho travesso nos olhos.

— E eu me pergunto por quê?

Amanda ficou com as faces coradas e falou com embaraço:

— Isso eu nunca irei dizer.

— Pensei que ele tivesse lhe mostrado o quanto ficara aborrecido pelo incidente de ontem— a mulher mais velha lembrou-a, enquanto remexia com a colher o creme do café que apreciava. — Eu nunca vi Jace ficar daquela maneira. A propósito— ela acrescentou, dirigindo o olhar para Amanda. — Eu tenho uma ótima surpresa para você.

— O que é?— ela quis saber, entusiasmada.

— Terá que esperar mais um pouco— Marguerite respondeu de forma misteriosa, esboçando um sorriso jovial.

Após alguns minutos ela saiu para uma reunião de artes e Amanda aproveitou a ausência dela, para empenhar-se na apresentação que planejara fazer a Jace. Ela não tinha muita esperança de que ele fosse aceitar. Talvez gostasse de beijá-la, mas suspeitava que ele pudesse ter uma atitude machista perante "mulheres no comando dos negócios" e temia que Jace nem mesmo a ouvisse. Seria bem típico dele.

Os pensamentos voltaram-se para o que ele havia dito, e a explicação que dera sobre a proposta que fizera um dia. Jace realmente a havia pedido em casamento há anos atrás. Ela deu um longo suspiro, cerrando as pálpebras. Para ser a esposa dele, ter o direito de tocá-lo sempre que desejasse, correr para os seus braços quando ele chegasse do trabalho, para vê-lo acordar de manhã ao lado dela, Para fazer planos com ele, comprar presentes para ele...

Amanda poderia ter tido tudo isso, se tivesse maturidade suficiente na época para perceber que era uma proposta real. Ela o amava, desejava-o e agora... ele estava fora do seu alcance. Ele apreciou a emoção de senti-la nos braços dele. Mas ainda duvidava de sua inocência e havia deixado bem claro que não tinha mais a idéia de casamento em mente.

Estava tão absorta em seus próprios pensamentos que nem ouviu o telefone tocar. Foi preciso um dos empregados para avisá-la.

Ela se perguntava se Terry já estaria ligando tão cedo, já que fora embora há pouco tempo.

— Alô!

— Olá— Jace respondeu com a voz macia. — O que está fazendo?

— Tra... trabalhando no projeto da agência— ela declarou gaguejando.

— Sua voz parece não inspirar muita confiança— ele observou. — Se não acredita em suas habilidades, querida, como espera que eu acredite?

— Confio na agência — respondeu ela, remexendo no fio do telefone. — É que eu apenas... não esperava que me ligasse.

— Mesmo depois do que aconteceu?— ele indagou com a voz suave. — Eu ainda estou com marcas de arranhões em meu ombro por sua causa.

Ela sentiu um calor inundar-lhe as faces quando se lembrou como cravara, com tanto ardor, as unhas na pele bronzeada dele.

— Foi sua culpa— ela sussurrou, dando um sorriso. — Não me faça assumir toda a culpa sozinha...

— Está bem— ele sussurrou, divertido. — Venha ao meu escritório por volta das 11h30. Irei levá-la para almoçar.

Gostei da idéia — ela murmurou com suavidade.

— Sei de algo que iria gostar mais...

— Atrevido! — ela brincou, sentindo-se desnorteada ao ouvi-lo falar dessa maneira.

— Só com você, Srta. Carson. Você tem um corpo tão maravilhoso...

— Jace!

— Não se preocupe, esse telefone não tem extensão— declarou dando risadas. — E meu escritório possui paredes à prova de som.

— Por quê?

— Para que os outros funcionários não escutem os gritos da minha secretária quando eu a espanco— brincou ele.

Amanda deu uma gargalhada.

— Você trata os funcionários assim?

— Somente quando eles não fazem corretamente o que peço— zombou ele. — Não se atrase. Irei levá-la a um restaurante para conversarmos.

— Um almoço formal?— ela quis saber. — Mas você não deveria almoçar somente comigo...

— Irei apreciar um café durante o almoço e dizer a eles que estou de dieta.

— Ninguém vai acreditar nisso — ela murmurou. — Não com esse seu corpo atlético.

— Então você acha isso?

— Você é muito atraente— ela falou com a respiração acelerada, sentindo as faces esquentarem ao murmurar aquelas palavras.

Um som de satisfação veio do outro lado da linha.

— Às 11h30. Não esqueça— ele avisou.

— Não irei me esquecer— ela prometeu e ouviu o telefone ser desligado.

Amanda nunca estivera antes no prédio onde Jace trabalhava. Era um arranha-céu no centro da cidade, enorme e imponente, com uma linda fonte e amplo jardim na entrada. O escritório dele ficava no quinto andar.

Ela entrou no prédio e aguardou o elevador. Assim que chegou, atravessou um extenso corredor e no escritório, dirigiu-se à mesa da secretária de Jace.

— Jace... o Sr. Whitehall está?— ela perguntou sentindo um certo nervosismo.

A secretária, uma moça alta, morena e com lindos olhos azuis, sorriu para ela.

— Consegue ouvir os berros?— a moça sussurrou apontando com o dedo indicador para a sala de Jace, de onde a voz forte e áspera ressoava ao longe. — Um grande acordo com um fazendeiro importante acabou de dar errado e agora Jace está tentando resolver o problema. — Desculpe, não quero lhe importunar. Você gostaria mesmo de vê-lo?— ela finalizou erguendo uma das sobrancelhas.

— Oh, sim. Sou muito corajosa— prometeu Amanda, dando um sorriso.

— Ângela, traga-me o arquivo da Bronson Corporation— a voz de Jace foi ouvida no interfone de comunicação localizado na mesa da secretária. — E avise-me a hora que a Srta. Carson chegar.

Ângela olhou para Amanda, que assentiu com um gesto de cabeça, e falou ao interfone:

— Ela está aqui. Devo mandá-la entrar ou ela precisará de algo para se proteger?

— Não banque a engraçadinha, Srta. Regan— ele respondeu.

A secretária a acompanhou até a sala de Jace. Amanda sentia o coração descompassado, os olhos pareciam confusos com as memórias recentes que invadiam sua mente.

Ele não aparentava estar diferente, o semblante estava sério como sempre, os olhos exibiam severidade enquanto ele percorria o olhar do decote do vestido dela até as pernas bem torneadas e os pés delicados dentro da sandália bege.

Se a noite anterior não tivesse significado nada para ele, será que continuaria tratando-a com a mesma reprovação de antes?

Com uma das mãos, Amanda apertou com força a alça da bolsa, sentindo-se extremamente tensa, enquanto a secretária sorria para ela e fechava a porta, deixando-os a sós.

Jace estava vestindo calça social, um terno marrom escuro, camisa de seda creme e uma gravata complementando o vestuário. Os cabelos negros e espessos estavam revoltos como se ele tivesse passado boa parte do tempo mexendo nos cabelos, impaciente. Estava tão másculo e atraente que ela sentiu vontade de tocá-lo. Esse tipo de reação deixava-a perturbada...

— Pensando em fugir novamente?— ele perguntou observando o nervosismo aparente dela.

Amanda deu de ombros e esboçou um sorriso indeciso.

— Sua secretária achou que talvez eu fosse precisar de um escudo.

— Qualquer um deveria mesmo. Menos você.— E dizendo isso, ele ergueu-se da poltrona e contornou a mesa de trabalho. Com os olhos fixos nos dela, deu passos lentos até chegar onde Amanda estava.

— Oi— ela falou em um tom suave quando seus olhares se encontraram.

Ele ergueu os braços e pressionou as mãos, uma de cada lado contra a porta, ao redor dela, deixando-a cercada. Tão próximo que Amanda podia sentir o calor do corpo másculo e a essência da colônia deliciosa que ele usava.

— Oi— ele murmurou com a voz rouca.

Com dois dedos, ele traçou o contorno dos lábios dela de forma sensual e olhando nos olhos castanhos de Amanda, indagou:

— Apenas uma vez— ele murmurou — por que você não me beija?

Amanda segurou a respiração ao aceitar a idéia e a tentação era muito boa para que conseguisse resistir. Com uma das mãos, ela agarrou com força a bolsa e com a outra mão, apoiou-se em um dos braços dele, ao mesmo tempo em que ficava na ponta dos pés para alcançá-lo e pressionar levemente os lábios dele.

Ele mordiscou-lhe o lábio inferior provocando-a e incitando os mais variados desejos nela.

— Você sabe do que eu gosto— ele murmurou com a respiração ofegante.

Ela sabia, e quase sem fazer um esforço consciente, ergueu ambos os braços e o enlaçou pelo pescoço, enquanto intensificava o beijo e provocava com a ponta da língua, contornando vagarosamente os lábios masculinos e perfeitos de Jace. Em resposta àquela carícia, ela podia sentir o coração dele bater forte e sua respiração acelerada.

— Dessa forma Jason?— ela murmurou próximo aos lábios dele.

— Dessa forma— ele sussurrou, pressionando o corpo feminino contra a porta, fazendo com que ficassem colados um ao outro. Ele comprimiu os lábios macios dela e foi intensificando o beijo, aquele desejo o consumia...

Amanda deu um gemido, ao sentir o fogo da paixão invadir sua mente e seu corpo, enquanto sentia a rigidez dos músculos poderosos de Jace.

Jace afastou-se um pouco e direcionou o olhar para o rosto enrubescido de Amanda e viu o brilho de desejo contido nos olhos castanhos dela.

— Agora você sabe— ele murmurou com a voz rouca e sensual.

— Sei o quê?

— Por que a sala é à prova de som— ele declarou dando um riso divertido.

Amanda sentiu as faces ficarem ainda mais aquecidas e baixando os cílios, fixou o olhar no pescoço másculo e bronzeado.

— É bom o que acontece entre nós. Você não é mais aquela garota virgem e insegura e não me repele quando eu a toco. Eu gosto disso.

"Se ao menos ele soubesse da verdade!" ela pensava apreensiva. Tudo o que ela sabia começava a aprender agora e com ele.

Jace dirigiu o olhar para o relógio que ela usava no pulso esquerdo e comentou:

— É melhor irmos logo. Eu tenho apenas uma hora disponível.

— Tem certeza que você quer...— ela começou a falar, mas ele inclinou-se e começou a beijá-la, enquanto com uma das mãos, girava lentamente a maçaneta da porta. Venha querida, vamos.

— Meu batom!— ela exclamou quando ele começou a abrir a porta.

Jace fechou a porta da sala novamente e olhando para os lábios dela, afirmou:

— Você não precisa disso. É linda sem maquiagem.

— Mas não foi o que eu quis dizer— ela comentou, olhando para ele. — Você está com batom ao redor de seus lábios.

Ele apanhou um lenço no bolso do terno e entregou a ela. Jace a observava enquanto Amanda o limpava. Colocando uma das mãos na cintura dela, percebeu que a deixou nervosa e ela apressou-se em terminar de remover o batom do rosto dele.

— Agora, seu segredo está seguro comigo— ela murmurou devolvendo o lenço para ele.

Ele sorriu e indagou:

— O que a faz pensar que eu me sinto culpado?

— Você não iria querer que alguém visse as marcas de batom em seus lábios— ela o lembrou. — Eu deveria tê-lo deixado sair por essa porta, daquele jeito. Seria um incentivo para sua secretária.

— Ela não me beija.

Amanda tentou não demonstrar tanta satisfação ao ouvir o que ele acabara de dizer.

— Ela é muito bonita— murmurou Amanda.

— O namorado dela é faixa preta de karatê. Ela não conseguiu conter um sorriso.

— Nossa!

— Está com ciúmes, Mandy?— ele perguntou, enquanto abria a porta.

— Convencido— ela sussurrou e deu dois passos frente, antes que ele pudesse revidar.

Jace a levou a um restaurante luxuoso, cujo piso era todo acarpetado na cor vinho, as mesas cobertas por toalhas de linho brancas e tinha sofisticadas cadeiras estofadas de couro genuíno.

Após Jace ordenar ao maitre o que desejavam, lançou um olhar significativo para Amanda.

— Estou à sua disposição— ela falou, assim que o garçom se afastou.

Jace reclinou-se no espaldar da cadeira e acendeu um cigarro.

— Eu também. E agora?

— Parece aborrecido...

— Querida, admito que eu prefira ver as mulheres vestidas com saias ao invés de calças compridas. Mas sou sempre o primeiro a dizer que elas são tão eficientes nos negócios quanto os homens.

Amanda ergueu as sobrancelhas e comentou admirada:

— Nunca pensei que tivesse essa opinião.

— Eu já lhe disse uma vez, Amanda. Você nunca me conheceu de verdade.

— É o que está parecendo... Então me permite convencê-lo da utilidade em fazer publicidade de seus empreendimentos na Flórida?

Ele deu uma longa tragada no cigarro antes de encorajá-la:

— Vá em frente.

Está bem— ela respirou fundo antes de começar a explicar:

— Vocês estão desenvolvendo um resort no interior da onda. Através das informações que levantamos, pude constatar que não fica próximo ao oceano. Porém tem um grande lago perto, cercado de um bosque muito bonito. Poderíamos direcionar a propaganda enfatizando o lugar como propício para um retiro tranqüilo.— Ela prosseguiu, notando o interesse que ele começava a demonstrar. — As pessoas rumam para lugares tão distantes em busca de algo que poderíamos oferecer bem mais perto. Ele comprimiu os lábios.

— Que tipo de publicidade você tem em mente?

— Ah... rádio, televisão e todos os meios de propaganda alternativa. Poderíamos até solicitar o comparecimento de autoridades públicas para a inauguração!

— Opa!— ele a interrompeu, dando uma estrondosa gargalhada ao ver o entusiasmo crescente no brilho dos olhos dela. — Será que posso arcar com tudo isso?

As últimas palavras dele arrefeceram o entusiasmo dela de maneira instantânea. Mas, vendo-o sorrir em seguida, percebeu que era uma brincadeira.

— Quem cuidará do contrato? Você ou seu... sócio?

— Nós dois— ela respondeu. — E então?— ela perguntou, impaciente.

— Vou pensar no assunto e lhe darei uma resposta na festa de minha mãe, na fazenda dos Sullevans. Está bem?

— Está ótimo!— Amanda exclamou suspirando aliviada.

— Obrigada pelo almoço— Amanda agradeceu assim que ele estacionou o carro na frente da mansão.

— O prazer foi meu, Srta. Carson— ele respondeu e procurou pelos olhos dela. — Iremos a um show no Parisienne esta noite. Acho que você irá gostar, poderemos dançar.

Amanda sentiu o coração acelerar.

_— Nós?— ela sussurrou.

Ele inclinou-se e depositou um beijo rápido nos lábios dela, mas intenso o bastante para que sentisse saudades quando ele se afastasse.

— À noite conversaremos mais.

— Sobre o quê?

— Sobre eu e você, querida— ele respondeu de forma direta. — E sobre como iremos prosseguir daqui em diante. Depois do que aconteceu na noite passada, não deixarei que você fuja novamente.

— Mas, Jace...

— Não tenho mais tempo agora. Tenho que voltar ao trabalho. Nos veremos à noite.

Ela saiu do carro e deu um riso amável para ele, antes de fechar a porta.

Amanda estava nas nuvens. O que Jace queria conversar com ela? Casamento, talvez? Ela até conseguia se imaginar em um lindo vestido branco e Jace em um smoking sofisticado esperando-a no altar de uma igreja.

Casar-se com Jace era o maior sonho de sua vida!

Contudo, a proposta que Amanda imaginava que Jace tinha em mente poderia ser sobre qualquer outro assunto. Mas ela preferia pensar dessa maneira, a julgar pelos olhares intensos e os beijos carinhosos. Não poderia ser apenas uma atração física. Não! Ela estava certa de que era mais intenso que isso.

Amanda subiu os degraus da entrada da mansão com os olhos brilhando de alegria enquanto abria a porta.

— É você, querida?— Marguerite chamou. — Venha aqui para a sala de estar!

Ela tencionava contar para Marguerite o quanto agradável havia sido o almoço com Jason. Mas ao entrar, avistou mais uma pessoa na sala.

— Viu? Não lhe disse que tinha uma surpresa para você!— Marguerite exclamou com o olhar animado.

— Oi, meu bem— Beatrice Carson cumprimentou a filha, com os olhos cheios de amor e alegria.

Ela abraçou Amanda, que por sua vez, começava a achar que os problemas agora iriam apenas começar...

— Então, não quer saber por que estou aqui? — Bea perguntou.

— Ah... Por que está aqui, mãe?

— Irei me casar, meu bem! Você terá um "pai"!— ela respondeu emocionada.

Amanda sentou-se no sofá. Aquilo era demais. Era muito cedo.

— Casar?

— Sim, meu bem— declarou a mãe, sentando-se ao seu lado e alcançando-lhe uma das mãos. — Com Reese Bannon. Ele me pediu em casamento há dois dias e eu disse sim. Você vai gostar dele. É um homem maravilhoso!

— Mas... por que teve de vir à Casa Verde?— Amanda perguntou, sentindo o ar faltar.

— Marguerite gentilmente se ofereceu para me ajudar com o enxoval e o planejamento da festa— respondeu Bea com um sorriso radiante.

— Quando vai se casar, mãe?

— Semana que vem! Eu queria mais tempo, mas Reese foi tão inflexível, que resolvi ceder. Estou tão feliz!

— Mas sobre o enxoval... nós não temos muito no banco...— Amanda começou a falar com cautela.

— Eu irei providenciar o enxoval, será meu presente de casamento— disse Marguerite com um sorriso gentil. — Mal posso esperar para começar. Temos tão pouco tempo...

— Sim, é verdade— concordou Bea e começou a fazer planos para a recepção.

Amanda continuou sentada ao lado da mãe, ouvindo-a de vez em quando e apenas subiu para o quarto quando estava quase anoitecendo, a fim de se arrumar para o jantar.

Estava escovando os longos cabelos, quando ouviu um som fraco de uma batida na porta. Era a mãe que entrava no quarto, toda animada.

— Achei que pudéssemos descer juntas para o jantar. Eu... bem... Sei que Jason não gosta de mim.— Ela acrescentou dando um sorriso forçado. — Não contou a ele sobre o touro, não é?

— Não, mãe. Fique tranquila.— Depois de repousar a escova sobre a penteadeira, Amanda ergueu-se do pequeno banco, abraçou a mãe com carinho. — Estou tão feliz que tenha encontrado alguém. Sei o quanto esteve só durante esses últimos anos.

— Não tão só, meu bem. Afinal de contas, tenho você.— Afirmou Bea, tocando nas faces delicadas da filha.

Por falar nisso, Marguerite me disse que você e Jason estão... mais amáveis um com o outro. É verdade?

— Não tenho tanta certeza.

Amanda, homens como Jason Whitehall são raros, difíceis de se encontrar. Uma mulher que tenha a sorte de ser amada por um homem como ele é... abençoada.

Bea deu um longo suspiro. — Oh, Mandy, não fuja dele se você o ama. Eu perdi a minha felicidade, mas você ainda tem a chance de viver a sua.

— Mãe, não estou entendendo muito bem o que você quer dizer.— Amanda sussurrou, confusa.

— Você é uma garota muito boa, minha querida. Mas...

— Bea, você está aí?— Marguerite chamou.

— Sim, querida. Já estamos indo!— ela acariciou o braço esquerdo da filha e revelou: — Tentarei explicar isso depois. Eu preciso lhe contar uma coisa. Um segredo que escondi de você. Iremos nos falar mais tarde.

— Está bem— Amanda respondeu intrigada.

Elas estavam acomodadas na sala de jantar, quando Jason chegou do escritório. Ele aparentava estar cansado e mal-humorado. Logo ao entrar notou Bea e o semblante ficou ainda pior. Jace parecia que ia "explodir".

— Mas que "diabos" está fazendo aqui?— ele perguntou a Beatrice. E dirigindo o olhar para Amanda, criticou: — Um pouco prematuro, não acha querida? Chamar a mamãe? Eu não me lembro de ter feito nenhuma promessa!

Amanda começou a defender-se, mas Bea foi mais rápida.

— Eu vim sem que ninguém me convidasse. Vou me casar, Jason. Vim convidar minha filha para o meu casamento.

— Ah, vai casar com alguém?— ele perguntou em um tom seco e com os olhos faiscando de ira. — Vai ser fiel a ele como foi com o pobre coitado que você se casou antes?

— Jason, onde estão suas boas maneiras?— gritou Marguerite, censurando-o. — Bea é minha amiga!

—Ah, eu imagino!— ele respondeu friamente, com os olhos fixos no rosto de Beatrice.

Amanda viu a mãe ficar completamente pálida.

— O que quer dizer com isso? — insistiu Marguerite.

— Pergunte à sua... amiga!— Jason resmungou. — Ela sabe do que estou falando, não é mesmo Sra. Carson?

— Deixe minha mãe em paz!— Amanda exclamou, erguendo-se da cadeira, fixando os olhos no rosto dele.

— Você não tem o direito de insultá-la dessa maneira.

Você não a conhece.

— Querida, eu sei mais sobre ela do que você possa imaginar— ele respondeu dando um sorriso frio. — Lembre-me de lhe contar tudo, abrir seus olhos!

— Seu... seu... caubói! -Amanda desabafou, os lábios tremiam de indignação e os olhos brilhavam com as lágrimas cristalinas que começavam a brotar.

— Isso soa como nos velhos tempos— ele falou a Amanda com o semblante sério.

— Eu gostava mais quando você era menos fingida. Já lhe disse uma vez e lhe direi novamente, você não irá colocar as mãos no meu dinheiro— ele lançou um olhar severo para Bea e voltando a atenção a Amanda, prosseguiu: — E acho melhor que mande sua "mamãe" de volta para casa. Não irei financiar o casamento dessa mulher sem moral— e dizendo isso, girou nos calcanhares e saiu da sala, subindo em direção ao quarto.

Marguerite abraçou a amiga com compaixão.

— Oh, querida. Eu sinto muito! Não sei o que acontece com ele!

Para Amanda, o mundo havia virado de cabeça para baixo. Jace voltara a detestá-la e ela apenas desejava saber a razão. Por que ele odiava a mãe dela com tanta força?

Ela fechou os olhos. Como ele pôde dizer tais coisas após as carícias que compartilharam? Um desejo tão louco e desenfreado, que quase os deixou fora de si... E como ela poderia proteger sua frágil mãe do ódio de Jace?

Amanda sentiu o coração doer. O dia havia começado com uma promessa boa e estava terminando em um vazio intenso e dolorido.

As três mulheres prosseguiram o jantar, sem a companhia de Jace, que pouco depois, desceu do quarto vestindo calças brancas, uma camisa preta e jaqueta de couro. Ele saiu de casa sem dar uma palavra, provavelmente para ir encontrar-se com Tess, supôs Amanda.

— Não fique assim, meu bem— Bea declarou gentilmente, observando a tristeza da filha.

Amanda tentou sorrir.

— Às vezes tenho vontade de estrangular meu filho— disse Marguerite, ressentida.

— Por que tanto ódio e amargura...?

— Calma, querida— Bea suplicou, tocando de leve na mão direita da amiga. — Jace não tem culpa do que sente por mim, porque há uma justificativa para isso. Afinal de contas... — ela mordiscou o lábio inferior — afinal de contas— ela tentou novamente, olhando com receio para a filha. — Fui eu quem atropelei aquele touro e não Amanda. Ela nem mesmo estava dirigindo.

Marguerite arregalou os olhos:

— Você? Mas Amanda disse...

— Ela estava tentando me proteger. Sabendo o quanto Jace me detestava, eu tinha receio de que ele pudesse negar-me a hospitalidade em Casa Verde, então deixei que Amanda se responsabilizasse por tudo... para minha vergonha!— ela finalizou com a voz fraca.

— Mas isso não dá o direito de Jace insultá-la— Marguerite afirmou. — Preciso ter uma boa conversa com ele!

No dia seguinte as duas mulheres mais velhas fizeram compras. Reese Bannon havia prometido arcar com todas as despesas para o enxoval, apesar dos protestos de Marguerite que gostaria de ter tido esse privilégio.

Amanda permaneceu em seu quarto, lamentando-se por tudo o que estava acontecendo.

À noite, após o jantar, Amanda rumou para a varanda, no intuito de aproveitar a beleza da noite e espairecer um pouco. Ela havia apenas alcançado uma das grandes cadeiras de balanço, quando de relance notou um rápido movimento.

— Não fuja— Jace pediu.

Ela detestou a severidade no tom de voz dele, chegava a doer em sua alma. Mal conseguia suportar ficar próxima dele, depois das desagradáveis acusações que ele havia feito. Contudo, resolveu sentar-se e recostou-se na cadeira.

Ela pôde ver de soslaio a chama do isqueiro, assim que Jace acendeu um cigarro.

— Não pensei que já estivesse em casa— ela comentou com frieza.

— Obvio, se soubesse, teria permanecido escondida em seu quarto.

Ele se acomodou em uma cadeira próxima e em seguida, comentou:

— Você se sentou aqui comigo uma vez, em uma noite sem luar. Lembra-se Amanda?

— A noite em que seu pai faleceu— ela recordou, sentindo novamente o vazio que ficara na casa sem a presença de Jude Whitehall e o pranto de Marguerite e Bea... Nós não trocamos nenhuma palavra.

Ele assentiu com um gesto de cabeça e exibindo um sorriso, comentou:

— Você sentou-se ao meu lado e segurou minha mão. Nada além disso. Nada de lágrimas, lamentos ou promessas de conforto. Apenas sentou-se e segurou minha mão.

— Era tudo o que eu achei que pudesse fazer— ela admitiu. — Sabia quanto o amava... Cheguei a pensar que você fosse me mandar embora.

— Você sempre conseguiu chegar perto de mim quando eu já havia expulsado qualquer outra pessoa— e apontando o cigarro na direção dela, evidenciou: — Permiti que me fizesse um curativo, sendo que não deixaria nem mesmo um médico me tocar.

Amanda sentiu o coração bater mais forte.

"Pense bem, isso é só um jogo para ele, e Jace é um bom jogador. Não deixe que ele a machuque" uma voz interior a alertava.

Amanda ergueu-se e declarou:

— É melhor eu entrar. Está ficando tarde.

— Amanda, fale comigo!— ele resmungou.

— Sobre o quê?— ela indagou com os olhos marejados. — Sobre minha mãe? Nós não temos "moral", como você mesmo disse, sem contar que você sabe de tudo, não é mesmo Jason Todo-Poderoso Whitehall?

Ela saiu furiosa e rumou para a entrada, ouvindo os protestos dele.

Mais descontente do que nunca, na manhã seguinte, Amanda desceu até o estábulo para ver o potro recém-nascido de uma égua árabe. Ela observava o potro branco que cambaleava sobre as pequeninas patas.

Estava tão absorta com a cena graciosa que não ouviu o som da chegada do trotar de um cavalo. Porém, momentos depois, vislumbrou Jace caminhando pelo corredor e vindo na direção dela. As botas que ele usava faziam um barulho ao chocar-se contra as lascas soltas do piso de madeira.

— Está só?— ele quis saber. — Onde está Duncan?

— No escritório — ela respondeu em um tom seco.

— E as mulheres?— acrescentou Jace, recusando-se até a pronunciar o nome de Beatrice.

— Foram ao shopping— e dando-lhe um olhar furioso, acrescentou: — E não estão gastando o seu dinheiro. Ele ignorou o comentário.

— Não tem mais medo de mim, queridinha?

— Nem de vinte iguais a você!— ela retrucou. Era orgulhosa demais para deixar transparecer sua real apreensão.

Jace foi mais perto dela, tão próximo que o braço esquerdo dele tocava no de Amanda, fazendo-a sentir certo prazer com esse contato.

— Você ainda expõe esses animais ao público?— ela perguntou, no intuito de mostrar-se inabalada.

— Não tenho tempo, querida— ele declarou e o tom de voz não estava mais tão áspero.

Amanda desviou os olhos dos dele e esforçou-se para controlar a respiração que se acelerava.

— Hum... o potro é adorável— ela tentou disfarçar.

Ele posicionou-se atrás dela, fazendo com que Amanda não pudesse escapar. Envolveu-a com os braços musculosos, apoiando as mãos, uma de cada lado, na base do cercado, deixando-a aprisionada.

O corpo másculo estava quente e ela podia sentir o calor que emanava da pele dele, podia sentir a fragrância da colônia que ele usava invadi-la.

Há mais filhotes na fazenda?— ela continuou, mas Jace não respondeu.

Ela sentia a respiração dele movimentar levemente os seus cabelos.

— Seus cabelos são perfumados como flores do campo— ele murmurou em tom sensual.

— É o meu xampu— ela sussurrou de maneira vaga. Jace pressionou o corpo contra o dela, provocando um contato enlouquecedor. Ela podia sentir as coxas másculas e poderosas contra as dela e o amplo tórax tocava em seus ombros delicados.

— Quantos cavalos Árabes possuía a propriedade?

— Muitos— ele murmurou, afastando os cabelos loiros dela e pressionando suavemente os lábios sobre a nuca.

— Jason!— ela exclamou com a respiração ofegante.

Ele inclinou mais o tórax, pressionando as costas delicadas, ao mesmo tempo em que levou os lábios ao lóbulo dela, e mordiscou de forma provocativa.

— Você me deixa louco— ele sussurrou com a voz rouca.

Amanda pressionou os dedos na base do cercado enquanto fazia esforço para se controlar.

Ele moveu as mãos, agarrando com força a cintura daquele corpo esbelto.

— Oh, Jason, você não deve— ela suplicava com a voz fraca. — Não depois das coisas horríveis que disse!— ela acusou, odiando-se por ainda assim desejá-lo.

— Não me importo por ter dito aquelas coisas— ele resmungou em um tom rouco. — Eu a quero tanto, Amanda, que chega a doer!

Ela girou o corpo e ficou de frente para ele ao mesmo tempo em que tentou desvencilhar-se, mas Jace imobilizou-a com seu corpo, aprisionando-a contra o cercado, enquanto olhava para os olhos castanhos dela com um brilho intenso de desejo.

Lágrimas de emoção brotaram nos olhos de Amanda, enquanto ela pressionava com as mãos o tórax poderoso de Jace.

— Acha que esses "jogos" são mesmo necessários?— ele perguntou. — Eu sei o que provoquei em você, posso sentir isso. Você precisa fingir? Eu não ligo que você seja uma mulher experiente, mas que droga, isso não importa!

Ela lutou para afastá-lo, mas sentiu-se impotente ao deparar-se com a potência daquele corpo másculo e tão robusto.

— Deixe-me ir, Jason Whitehall!— ela gritou. — Eu não sou experiente, não sou fácil e não estou fingindo!

Ele se enfureceu e segurou-a com firmeza:

— E você espera que eu acredite nisso? Meu Deus, você esteve selvagem em meus braços, tão sedenta de prazer quanto eu!

— Talvez seja porque eu não durma com ninguém!

— Mas sua mãe sim— ele devolveu com ferocidade. Ela olhou para ele indignada.

— Mais uma de suas calúnias infundadas, caubói? Os olhos dele brilharam de forma ameaçadora.

— Eu a encontrei no quarto de meu pai— ele revelou, demonstrando desprezo nas feições rígidas do rosto másculo. — Um mês antes dele falecer. Ela ainda estava casada com o pobre e infeliz do seu pai.

Amanda empalideceu.

Era inimaginável que Bea tivesse feito isso com Jude Whitehall! Jace estava mentindo, tinha de estar! Mas não havia nenhum traço de dúvida no semblante dele. Ele sabia do que estava falando!

— Minha mãe?— ela perguntou incrédula e quase sem fôlego.

— Sua mãe— ele afirmou com frieza. — O único consolo que tive é que ninguém sabia. Mas eu sabia— ele acrescentou bem áspero. — E toda vez que eu a via, tinha vontade de torcer o pescoço dela!

— Então não era porque ela o esnobava— Amanda murmurou, conhecendo só agora a verdade.

— Não. Era porque ela estava tendo um caso com meu pai e eu não consegui impedir isso. Tudo o que eu podia fazer, era tentar proteger minha mãe. E foi o que fiz!

Amanda ergueu os olhos entristecidos. Aquilo era a gota d'água. E ela nunca havia suspeitado de nada!

— E você acha que sou como minha mãe— ela sussurrou. — Por isso pensava que eu dormia com Terry...

— É... mais ou menos isso— ele disse com ironia, mas revelou em seguida: — Você não pensou que talvez eu pudesse estar com ciúmes?

Ela meneou a cabeça, esboçando um fraco sorriso.

— Isso nunca me ocorreu— e respirando fundo, avisou: — Vou fazer minhas malas e partir hoje mesmo.

Ele apertou os braços dela com força.

— Ainda não. E quanto ao seu precioso contrato? Seu sócio não ficará satisfeito se deixar essa chance escapar por entre seus dedos.

Amanda arregalou os olhos, confusa e magoada.

— Por que você simplesmente não me mata?— ela indagou com lágrimas nos olhos. — Você tem feito de minha vida um inferno por tanto tempo... Minha mãe e a sua eram amigas... Agora você me diz... que ela enganava meu pai... oh, meu Deus, eu desejaria estar morta!

Tomada de pânico, com o orgulho ferido e sentindo-se traída, ela conseguiu desvencilhar-se de Jace usando uma força superior e correu para fora do estábulo.

Vislumbrando o cavalo que Jace mantinha preso a uma corda perto da porta, ela o soltou e subiu na sela rapidamente, antes que alguém pudesse impedi-la. Ignorando o protesto de Jace, que começou a gritar seu nome, segundos depois Amanda induziu o cavalo a correr disparado na direção da mata próxima.

O cavalo corria desenfreado pela mata, indo direto na direção de um espesso galho de árvore que estava muito baixo. Amanda chegou a vislumbrar o galho apesar da visão embaçada pelas lágrimas, mas era muito tarde para fazer o animal parar.

Só pôde sentir a aspereza da madeira e o choque do impacto com o chão, antes de tudo escurecer a sua volta.

 

Duncan estava sentado em uma cadeira ao lado dela, quando Amanda abriu os olhos e vislumbrou os raios de sol que entravam no quarto de hospital, os aparatos médicos e sentia uma desagradável dor na cabeça.

— Não vou fazer a pergunta óbvia— ela comentou com voz fraca e tentou esboçar um sorriso. — Mas gostaria de saber quem me "espancou".

Duncan sorriu e pressionando a mão direita dela que estava sobre o lençol branco do hospital, e revelou:

— Na verdade foi um galho de árvore. Você não desviou a cabeça na hora certa.

— Estou aqui por muito tempo?

— A noite toda— ele respondeu. — Jace está no corredor andando de um lado para o outro como um doido.

Jace! Tudo voltara a sua mente: A discussão, a acusação, o abalo que ela tivera e finalmente o real motivo de ele odiar tanto sua mãe.

Amanda fechou os olhos.

Duncan observou-a e franzindo as sobrancelhas, perguntou:

— O que ele disse a você, Mandy?

— Nada— ela mentiu.

— Não minta para mim— ele pediu em um tom suave.

— O que aconteceu foi entre mim e Jace – Amanda respondeu.

— Jace está agindo como quem sente muita culpa. Esteve fora e dentro deste quarto umas seis vezes no mínimo, apenas para observá-la.

— Eu não irei lhe dizer nada, Duncan. É melhor você desistir.

Aborrecido, ele deu um profundo suspiro e informou:

— Sua mãe virá vê-la mais tarde. Ela já esteve aqui mais cedo, mas você estava dormindo.

— Quando poderei ir para casa? Duncan encolheu os ombros.

— Eles querem fazer mais alguns exames.

— Eu não preciso de mais exames— ela protestou dando um suspiro e podia até ver a enorme conta que teria de pagar aquele sofisticado hospital, já que seu plano de saúde não cobriria tais despesas.

Duncan pôde ver a preocupação no rosto dela e declarou:

— Não comece a ficar preocupada com dinheiro. A conta é nossa responsabilidade.

— De jeito nenhum!— ela protestou e sentou-se tão rápido que quase caiu da cama. Ela passou as mãos nos cabelos a fim de ajeitá-los e franzindo o cenho, relatou: — Oh, não, Duncan. Não irei permitir que Jason Whitehall pague mais uma dívida para depois ficar me relembrando a toda hora.

— Quais dívidas ele vem despejando sobre você?— ele quis saber.

Amanda enrubesceu e desviou o olhar para as aberturas da persiana, contemplando os raios de sol que entravam e iluminavam as paredes do quarto.

— É muito amável de sua parte vir me visitar, Duncan— ela disse em tom dócil.

— Quando poderei ir para casa?— ela perguntou novamente.

Duncan suspirou, irritado.

— Vou perguntar ao médico, está bem?

— Diga ao doutor que eu gostaria de ir embora, e ele pode deixar os exames para...

— Está bem, estou indo— ele a acalmou e aproximando-se, afastou uma mecha de cabelos loiros que lhe caíam sobre a testa. — Deus, esse machucado em sua testa, vai ficar feio.

— Roxo, eu espero— ela zombou. — Possuo um esplêndido vestido na cor roxa, acho que vão combinar perfeitamente.

— Você é incorrigível— ele brincou, exibindo um largo sorriso. — Espero que isso não aconteça nunca mais.

Ela levou uma das mãos à testa e retraiu-se ao sentir dor.

— A propósito, como está o cavalo?

— Bem— ele respondeu. — Graças a você, ele não bateu a cabeça.

A porta foi aberta e Jace entrou no quarto.

Amanda involuntariamente sentiu o corpo inteiro ficar tenso enquanto o contemplava.

Apesar do olhar fixo, não deixou de notar o medo no rosto empalidecido de Amanda e comprimindo os lábios, ele quis saber:

— Como você está?

— Muito bem, obrigada.

— Os médicos disseram que teve muita sorte. Se estivesse sentada um pouco mais para a frente, na sela, teria quebrado seu pescoço.

— Sinto desapontá-lo— ela declarou num tom frio e com os lábios trêmulos, ao sentir a dor de sustentar o olhar insensível dele.

Jace virou-se para Duncan e falou, dando-lhe um olhar feroz:

— Achei que tivesse de se encontrar com Donavan para discutir o contrato de Garrison.

Duncan ficou furioso e fora uma das poucas vezes que Amanda o viu enfrentar o irmão:

— A droga do contrato pode esperar! Talvez você consiga ser um sujeito insensível, mas eu não. Estava muito preocupado com Amanda!

— Na minha opinião ela parece estar muito bem— ele devolveu com ironia.

— Palavras muito fáceis para serem ditas pelo homem responsável por ela estar aqui!

Jace intensificou o brilho do olhar e começou a dar passos lentos na direção de Duncan, mas Amanda interveio:

— Eu me coloquei nesta situação, Duncan— ela declarou com dignidade. — Não culpe seu irmão por isso.

— Desde quando eu lhe pedi que me defendesse?— Jace retrucou de forma grosseira.

Ela baixou os cílios e fixou o olhar na camisola verde de hospital que usava.

— Se eu não estivesse neste estado, já teria me levantado para poder enfrentá-lo, seu "coração de pedra"!— ela sussurrou com a voz rouca, sentindo o impacto das palavras frias dele.

— Por que não volta para a fazenda e vai bajular a droga do seu cavalo? Ele fez parte do acidente também, lembra-se? E é muito mais importante do que uma mera mulher!— Duncan falou ao irmão com voz severa.

— Por que não sai lá para fora comigo e resolvemos isso?— Jace o desafiou.

— Parem com isso!— suplicou Amanda, com uma das mãos na cabeça enquanto a dor lhe provocava náuseas. — Por favor, apenas saiam e me deixem aqui em paz.

— Quer que eu lhe traga alguma coisa?— perguntou Duncan, com o semblante sério.

Ela recusou com um gesto de cabeça. — Irei ficar bem. Apenas peça para que verifiquem minhas despesas.

— Você irá sair daqui apenas quando o médico lhe der alta e nem um minuto antes— impôs Jace.

— Irei embora quando eu decidir— ela devolveu e sentou-se na cama para encará-lo.

— Não posso pagar as despesas de um hospital como esse. Irei embora sim e ponto final.

— É o que você pensa!— retrucou Jace com as feições rígidas. — Eu irei pagar as despesas.

— Não mesmo!— ela protestou. — Prefiro morrer de fome a aceitar que me pague um lanche sequer. Eu te odeio!

Jace continuou sério e inflexível. E sem dizer nada, abandonou o quarto.

— Eu só gostaria de saber o que acontece entre você e meu irmão— declarou Duncan, estreitando os olhos.

Amanda desviou-se do olhar de Duncan. Não poderia contar-lhe sobre as terríveis acusações que Jace havia feito. Não podia fazer isto com Duncan, que havia sempre ficado ao seu lado em todas as ocasiões. Ela fechou os olhos. Jace podia odiá-la, mas isso não importava mais.

Ela estava cansada do desprezo dele, não aguentava mais sofrer por ele.

Menos de uma hora depois, Bea entrou no quarto. As faces estavam terrivelmente pálidas.

Ela abraçou Amanda com delicadeza, enquanto lágrimas rolavam em seu rosto. Em seguida, sentou-se na cadeira almofadada, posta ao lado da cama enquanto segurava carinhosamente uma das mãos da filha.

— Estive tão preocupada— ela declarou. — Sinto-me responsável por isso.

Amanda olho-a nos olhos e comentou:

— Mãe! Por que deveria sentir-se culpada? A culpa foi toda minha.

— Duncan me disse que você e Jason brigaram. E aposto que foi por minha causa. Não foi, minha querida?

Baixando os olhos, Amanda confessou dando um suspiro:

— Sim.

— Sobre eu e o... pai dele.— Bea suspeitou. Amanda assentiu sem erguer os olhos.

Bea deu um longo suspiro e aflita, começou a contar tudo:

— Eu preferia que você nunca soubesse disso. Tinha certeza de que Jason sabia, mas eu esperava...— ela direcionou o olhar para os olhos castanhos da filha, expressando um brilho de dor e angústia. — Eu o amava, Amanda. Odiava o que estava fazendo, mas ainda assim, sentia-me impotente. Não consegui lutar contra o meu próprio sentimento— ela afastou uma lágrima do rosto e prosseguiu:

— Sempre me condenei por isso. Enquanto eu viver, irei me lembrar como me sentia quando ele me abraçava. Irei alimentar meu espírito com essas memórias até o dia da minha morte, e não posso me perdoar. Ele era o meu ar.

Amanda a olhou com os lábios trêmulos, procurando palavras.

Quando Jace fizera essa acusação, fora fácil negar. Mas agora ela teria de encarar a realidade. Bea estava revelando um amor tão forte quanto o que ela sentia por Jace. Amanda observou as feições delicadas da mãe e vislumbrou pela primeira vez uma tristeza profunda nos olhos de Bea.

Como seria se Jace fosse casado? Ela teria um sentimento menos intenso por causa disso? E mesmo assim, se ele a quisesse, ela seria capaz de evitá-lo, seria capaz de não amá-lo?

Era tão fácil sentenciar um julgamento moralista... até você se colocar no lugar do acusado.

— Você sente esse amor por Jace, não sente? Amanda assentiu e declarou:

— Com todas as minhas forças. Mas ele só sente desejo por mim, mãe. Não me ama.

— Com Jude era a mesma coisa. Imagino que o filho não seja diferente. Contudo, você está com uma vantagem que eu não tinha minha querida. Jace não é casado.

— Mas me odeia— ela respondeu com tristeza. — Isso não impediu que me desejasse, mas ele detesta sentir essa atração.

Bea apertou carinhosamente a mão da filha.

— Talvez você tenha que dar o primeiro passo. Amanda, nada é mais importante do que o amor. Nada. Minha felicidade foi construída sobre os sonhos despedaçados de outra mulher. Mas você tem a chance de ser feliz. Não a desperdice por orgulho, minha querida. A vida é tão curta!

Amanda segurou forte a mão delicada da mãe e lágrimas começaram a brotar em seus olhos castanhos. Ela nunca havia pensado na mãe como uma mulher, com necessidades e sonhos. Talvez todo aquele desperdício de Bea, gastando dinheiro em festas, fosse para preencher o vazio de uma vida limitada por sonhos não realizados. Lembrando-se de como Jude Whitehall parecia-se com Jace, Amanda conseguia entender a paixão que a mãe sentira. Ela a compreendia muito bem.

— Eu te amo — ela sussurrou para a mãe. Bea ergueu os olhos marejados.

— Sou uma pessoa fraca — ela murmurou de volta e tentou esboçar um sorriso.

Amanda meneou a cabeça,

— É só uma mulher apaixonada. Se Jace correspondesse ao amor que sinto por ele, não me importaria nem se tivesse dez esposas. Eu não desistiria de lutar por ele. Eu o amo tanto!

Amanda fechou os olhos e deixou as lágrimas descerem por suas faces.

Na manhã seguinte quando Marguerite entrou no quarto, encontrou Amanda acomodada em uma poltrona reclinável em um dos cantos do quarto do hospital, com o rosto pálido, a aparência frágil e vulnerável.

— Minha querida, você não está querendo voltar para a fazenda tão cedo, está?

— Não. Quero é ir para a minha casa.

— Eu temia que você pudesse dizer isto, então resolvi tomar algumas providências.

Ela não entendeu as palavras de Marguerite até a porta ser aberta e Jace entrar no quarto.

— Onde está Duncan?— ela indagou apreensiva.

— Trabalhando— ele revelou áspero e em seguida acrescentou: — Como eu deveria estar também.

— Jace!— Marguerite censurou.

— Eu não pedi que viesse— Amanda resmungou. — Posso ir para casa sozinha.

Jace respirou fundo, demonstrando irritação.

— Muito valente— ele ironizou.

Ela tentou erguer-se da poltrona, mas seu corpo estava muito fraco e acabou caindo no chão.

Jace inclinou-se e a ergueu do chão, acomodando-a em seus braços fortes.

— Não... ela choramingou.— Eles têm cadeira de rodas aqui.

— E eu não tenho o dia todo para esperar que nos tragam uma— e saindo com Amanda nos braços; pediu à mãe que os acompanhasse.

Amanda sentiu o calor dos braços dele, e não conseguia deixar de desejá-lo, apesar de toda a mágoa.

— Já assinei sua alta— ele informou. — E se disser uma palavra sobre as despesas— ele acrescentou lançando um olhar furioso. — Eu vou fazer da sua vida um inferno, Amanda.

— Quando foi que me deu outra coisa, Jace?— ela sussurrou.

— E quando você permitiu que eu lhe desse algo diferente?

A pergunta era amável e profunda e a abalou a ponto de fazê-la olhar no fundo dos olhos dele.

Eles foram para o estacionamento e Marguerite adiantou-se, para abrir a porta da Mercedes.

— Querida, tem certeza de que está bem mesmo para ir para a fazenda?— Marguerite indagou, preocupada.

— Estou bem— ela assegurou ao mesmo tempo em que tentava evitar os olhos atentos de Jace no retrovisor do carro.

Na manhã seguinte, apesar dos protestos de Marguerite e Amanda, Bea partiu para Nassau. Ela e Reese iriam esperar até que Amanda estivesse bem para comparecer à cerimônia. Bea disse à filha que iria adiar um mês a data do casamento e que Reese não iria se importar.

— Ele é um homem compreensivo— Bea disse à filha. — Acho que você irá gostar ainda mais dele quando o conhecer.

Amanda sorriu para a mãe que começava realmente a conhecer, só agora.

Bea a abraçou forte. — Tem certeza de que irá ficar bem?

— Sim. Não se preocupe.

Ela deu um beijo no rosto da filha e saiu pela porta principal.

Amanda gostaria de ter ido embora com a mãe, porém não estava em condições de viajar. Preferiu descansar um pouco mais no quarto. A única coisa realmente agradável que aconteceu foi a chegada de um florista trazendo um enorme buquê.

— Para mim?— ela indagou admirada.

O florista deu um sorriso e depositando o buquê na pequena mesinha ao lado da cama, indagou: — Se o seu nome é Amanda Carson.

— Se não fosse, eu mudaria agora mesmo— brincou ela.

— Espero que aprecie— ele declarou antes de sair e fechar a porta.

Quem quer que tivesse mandado as flores conhecia perfeitamente o seu gosto, sabia o quanto ela amava rosas amarelas e margaridas, pois eram as mais dominantes no buquê.

A porta foi aberta novamente e Duncan entrou exibindo um largo sorriso. Assim que ele aproximou-se dela, Amanda o enlaçou pelo pescoço e deu-lhe um abraço carinhoso, enquanto lágrimas de emoção rolavam e ela nem mesmo notou que Jace havia seguido Duncan e estava recostado na porta do quarto, observando-a e franzindo o cenho ao contemplar a cena.

— Oh, Duncan, você é demais! Que coisa maravilhosa você fez— ela falou emocionada, enquanto depositava um beijo amoroso no rosto dele, sem perceber a perplexidade dele e o olhar furioso de Jace.

Duncan perguntou confuso:

— O quê?

—As flores, bobinho— ela disse sorrindo. — Elas são tão lindas. Ninguém nunca me deu flores, sabia?

— Fico feliz que tenha gostado, mas não fui eu, querida— ele admitiu, constrangido.

— Então, quem...?

Jace girou nos calcanhares e saiu do quarto antes que ela terminasse de falar e Amanda franziu as sobrancelhas, intrigada:

— Não poderia ser... poderia?

Com os dedos trêmulos ela procurou o cartão e quando o encontrou, lágrimas copiosas rolaram pelas faces mimosas. Não havia nenhuma mensagem, apenas um rabisco que lhe era familiar, exibindo quatro letras: Jace.

 

Jace não se aproximou mais de Amanda pelo resto do dia, e ela sabia que o magoara. As flores teriam sido uma oferta de paz?

Duncan permaneceu ao lado dela durante a tarde toda.

— Obrigado por me fazer companhia. Sinto-me melhor agora. E acho que estarei pronta para ir embora amanhã cedo. Não suportarei mais ficar perto de Jace.

Ele respirou fundo.

— Você pode me dizer o que realmente está acontecendo?

Amanda meneou a cabeça.

— Está ficando com sono?

— Apenas estou cansada, nem mesmo consegui terminar o jantar.

— Você vai invadir a cozinha antes do amanhecer, escreva o que estou lhe falando— observou ele.

Amanda deu risada.

— É... talvez.

A previsão de Duncan realmente aconteceu. Após a meia-noite ela desceu os degraus da escada e rumou para a cozinha.

Enquanto preparava um sanduíche ouviu a porta ser aberta e viu Jace entrar.

Ele vestia uma jaqueta de couro, calças jeans, o chapéu preto e botas de couro pretas.

— O que está fazendo fora da cama?— ele perguntou com a voz calma, fechando a porta atrás de si.

— Estava com fome— ela respondeu em um tom suave. Amanda lançou um olhar para ele e falou:

— Vou preparar um café...

— Pode deixar que eu preparo— ele se adiantou e tirou a jaqueta, jogando-a em seguida em uma cadeira vazia, junto com o chapéu e deixando exposta a blusa branca que vestia por baixo.

— Desculpe-me pelas flores— ela sussurrou. — Eu não tinha percebido que fora você quem as havia mandado— e fechando os olhos, confessou: — Você tem sido tão cruel.

— Por que eu lhe disse a verdade sobre sua mãe?— ele indagou.

— Porque não precisava ter sido tão rude.

— Não tinha como dizer de outro jeito— ele protestou. — Ao menos consegui sua atenção.

— Jace, será que não consegue encontrar lugar para o perdão em seu coração?

— Acha que eu conseguiria perdoar sua mãe? Ela não merece!— ele gritou. — Assim como a filha.

Amanda respirou fundo.

— Você pensa que sabe tudo sobre mim, não é mesmo?

— Sei tudo o que preciso saber— ele afirmou ao mesmo tempo em que terminava de fumar e apagava o cigarro no cinzeiro.

— Como deve ser maravilhoso nunca cometer erros, nunca estar errado!— ela desabafou.

Ele intensificou o brilho do olhar e confessou:

— Cometo erros. E o meu maior erro foi você.

— Qual erro? Não ter atirado em mim ao invés de atirar no touro?

— Não. Por não tê-la levado para a minha cama quando você era adolescente— ele disse em um tom calmo e com o semblante sério.

Amanda enrubesceu.

— Fala como se eu pudesse ter ido!

— Eu poderia ter tido você na outra noite— ele lembrou-a, estreitando os olhos.

— Você estava mais vulnerável do que quando tinha 16 anos e me desejava ainda mais do que deseja agora.

— Isso não é verdade!— ela exclamou, com a respiração ofegante.

— A única diferença— ele continuou com um tom de voz frio — é que não era admissível no passado, quando os Whitehall faziam parte apenas da classe média. Agora que é o contrário, é compreensível que me deseje. Até mesmo que queira se entregar a mim. E por que não? Afinal, não seria sua primeira vez mesmo.

— Seria preferível tomar veneno a dormir com você— ela retrucou.

Um canto dos lábios dele curvou-se em um meio-sorriso.

— Verdade?— e percorrendo o olhar pelo corpo esbelto dela, declarou:

— Digo o mesmo. Você pode conseguir me excitar quando fica me tentando, mas até aí... qualquer uma que vista saias consegue. Um corpo é igual a qualquer outro para um homem sedento de prazer.

— Vá para o inferno!— ela exclamou e em seguida foi para a sala de jantar. Tudo o que queria na vida naquele momento era ficar longe dele.

Mas Jace não estava disposto a deixá-la escapar tão facilmente. Ele foi para a sala também e vendo-a com a cabeça baixa, indagou:

— Amanda?

Havia uma estranha maciez no profundo tom de voz dele. E foi o que bastou para que lágrimas começassem a rolar desenfreadas pelas faces delicadas dela.

— Oh, não, pelo amor de Deus— ele resmungou.

— Por favor... deixe-me ir dormir— ela suplicou com o coração partido. — Por favor...!

— Oh, droga— ele apanhou um lenço de um dos bolsos e limpou suavemente as lágrimas dela. Toda a raiva e o ressentimento pareciam ter sumido das feições dele, pela primeira vez.

Ela fixou os olhos no rosto dele e declarou:

— Desculpe.

— Pelo quê?

Amanda baixou os longos cílios.

— Por tudo o que... minha mãe fez.

Jace respirou fundo e depois acendeu um cigarro.

— Em que lugar de San Antônio você morava?— ele quis saber.

— Em um pequeno apartamento de um dormitório, em um prédio no centro da cidade.

Ele deu um longo suspiro e lentamente começou a desatar os botões superiores da camisa, como se o calor da sala estivesse ficando insuportável.

Os olhos de Amanda involuntariamente acompanhavam o movimento das mãos dele e Jace exibiu um sorriso sensual para ela.

— Quer que eu tire a camisa?— ele indagou com a voz rouca, provocando-a.

Ela desviou os olhos, mas ele não parou de desabotoar a camisa, até deixar o peito másculo desnudo, em meio ao silêncio da sala.

— Deus, estou tão cansado...— ele declarou, enquanto levava um cigarro aos lábios.

— Por que você mandou as flores?— ela indagou de súbito.

Ele procurou pelos olhos dela e declarou:

— Você poderia ter morrido e eu teria sido o responsável. As flores foram a maneira que encontrei para me desculpar— ele admitiu. — Eu nunca desejei que você se machucasse daquela forma.

— Você me ouviria, se eu quisesse lhe explicar uma coisa?— ela perguntou em um tom macio. Ele a olhou de relance e declarou:

— Não se for sobre sua mãe. Amanda respirou profundamente.

— Jason, você alguma vez já esteve apaixonado?— e olhando no fundo dos olhos dele, prosseguiu:

— Tão profundamente apaixonado que nada nem ninguém importassem? Eu não pretendo saber o que seu pai sentia, mas Bea o amava mais do que qualquer outra coisa nesse mundo. Não havia ninguém mais além de Jude para minha mãe. Nem mesmo meu próprio pai. Não que eu ache certo o que ela fez, mas ao menos eu consigo entender suas razões. Ela amava seu pai, Jace.

Ele fixou o olhar no cigarro e em seguida, apagou-o em um cinzeiro.

— Quando será o casamento?

— Daqui a um mês. Irei à cerimônia nas Bahamas.

— E durante esse meio tempo?— ele quis saber.

— Irei voltar para San Antônio, assim que estiver bem para viajar— e com a voz embargada, prosseguiu — Você pode falar com Terry depois sobre sua decisão quanto ao contrato.

Ele deu um suspiro e erguendo-se, declarou:

— Se quer mesmo ir embora daqui dessa forma, vá em frente.

— É isso o que você quer?

Jace ficou tenso e estreitando os olhos, respondeu:

— Você sabe o que eu quero.

Sim, ela sabia muito bem e o amava demais. Seria tão errado passar uma noite com ele?

— Tudo bem— ela resolveu ceder e a voz soou fraca, mas decidida.

Ele franziu o cenho e a olhou confuso.

— Tudo bem o quê?

Ela ergueu o queixo e afirmou:

— Eu durmo com você. Ele respirou fundo.

— Em troca de quê, exatamente?

— Para você tudo tem que ter um retorno?— e, dizendo isso começou a rumar na direção da porta da sala.

— Amanda!

Ela parou antes de abrir a porta e sem olhar para trás, perguntou:

— Sim?

Houve breve silêncio.

— Se você me deseja, volte aqui e prove!

Ela quase fugiu. Mas o desejo que sentia por ele era muito intenso para ser simplesmente ignorado. Ela virou-se e caminhou na direção dele. Seus olhos demonstravam apreensão assim que encontraram os dele. Jace não se moveu nem um pouco e também não desviou o olhar dos olhos castanhos de Amanda.

— E então?— ele quis saber.

Ela aproximou-se, tentando encontrar uma forma de não decepcioná-lo. Ela nunca havia seduzido um homem antes. Algumas cenas de filmes antigos vieram à sua mente e ela procurava inspirar-se. Começou por enlaçar o pescoço másculo e bronzeado de Jace e sobre a ponta dos pés, esforçou-se para alcançar os lábios dele. Ele não se inclinou nem um pouco para ajudá-la.

— Você poderia me ajudar um pouco...— ela pediu, sentindo-se perplexa ao ver o brilho divertido nos olhos dele.

— O que quer que eu faça?

— Se puder inclinar a cabeça só um pouco ou ... Ele inclinou-se, observando o olhar inibido dela. Amanda fechou os olhos e pressionou seu corpo contra o dele. Mas não o suficiente. Era como se ela estivesse beijando uma rocha e mesmo quando ela intensificava a pressão dos lábios nele, Jace não parecia corresponder.

Ela parou de beijá-lo e o fitou, confusa e com a respiração acelerada. — Oh, Jace, ensine-me como...— ela declarou sussurrando.

Ele intensificou o brilho prateado do olhar e baixando a cabeça estudou as feições delicadas de Amanda, ainda com o semblante sério, colocou as mãos sobre a cintura dela e com destreza, desatou o laço do robe azul de cetim que ela usava.

Ela segurou as mãos dele, enquanto ele deslizava o robe pelos seus braços, revelando a camisola fina e transparente com um decote generoso, que permitia a visão parcial dos seios pequenos e perfeitos.

— Você ofereceu-se a mim— ele a lembrou e perguntou, com ironia: — Já está se arrependendo, Amanda?

Ela engoliu em seco, nervosa.

— Não— ela respondeu com voz trêmula.

Em seguida, ele deslizou os dedos pelas alças da camisola.

— Jason, está ficando tarde...— ela sussurrou, sentindo certo pânico e o medo natural de uma mulher no início de uma experiência íntima com seu primeiro homem.

— Calma, querida— ele murmurou, colocando as mãos sobre as costas femininas e beijando carinhoso uma das faces coradas de Amanda. — Apenas relaxe... sei o que estou fazendo. Está com medo de fazer amor comigo?— ele sussurrou.

— Claro que não— ela mentiu.

— Prove para mim.

Ela afastou-se um pouco e o olhou desamparada.

Ele começou lentamente a desatar o nó da alça direita da camisola sobre o ombro dela, repetindo em seguida o gesto na alça do outro ombro, fazendo com que o tecido deslizasse pelo corpo de Amanda até a cintura, deixando-a seminua.

Ela enrubesceu completamente, congelando ao sentir o clima íntimo entre eles, ainda que ela mesma houvesse iniciado.

Ele apreciava calado as delicadas curvas dos seios.

— Meu Deus, você é adorável— ele disse com a voz calma. — Tão doce quanto uma prece...

Amanda segurou a respiração.

— Que... forma diferente de referir-se a mim.

— O que você esperava Amanda, um comentário baixo? O que acontece entre nós não é nada vulgar. Não há por que se envergonhar pela forma como a admiro.

Ele continuou com os olhos fixos em Amanda e ela declarou:

— Eu... eu também gosto de olhar para você— ela disse quase sem fôlego, tocando levemente no peito másculo e bronzeado.

— Mandy...— ele falou com a respiração ofegante, enquanto pressionava o amplo tórax contra os seios nus e enrijecidos, fazendo-a sentir seu calor. —Agora me beije— ele pediu num sussurro rouco, inclinando a cabeça — e deixe-me mostrar o quanto podemos dizer um ao outro, sem palavras.

Jace a beijou com intensidade e ela podia sentir o ar faltar, enquanto ele a provava e explorava com a língua todos os cantos. Ela ergueu os braços e abraçou o pescoço másculo, enquanto seu corpo estremecia por inteiro. Ela o amava tanto!

Ele pressionou as mãos sobre as costas femininas, um instante antes de afastar-se um pouco e olhar fundo nos olhos ingênuos e apaixonados de Amanda.

— Eu quero apenas uma palavra sua— ele declarou em um tom profundo, enquanto as mãos másculas e bronzeadas tremiam um pouco nas costas delicadas. — Sinto-me como se fosse um garoto tendo minha primeira experiência... não consigo mais me segurar.

Ela abriu a boca para começar a falar, quando eles foram interrompidos pelo som alto do motor de um carro aproximando-se da entrada da mansão.

Jace praguejou algo ininteligível com a respiração ofegante e pressionou o corpo dela contra o dele com mais intensidade, enquanto inclinava a cabeça e encostava-se ao pescoço de Amanda em um silêncio aflitivo até o tremor das mãos dele diminuir e as batidas do coração desacelerarem um pouco.

Ela deslizava os dedos sobre os cabelos negros e espessos dele, acalmando-o. — Sinto muito— ela sussurrava com ternura.

Ele pressionou os lábios levemente abaixo da orelha dela e em seguida quis saber:

— Você sente mesmo?— ele sussurrou. — Ou isso é um alívio para você?

— Não estou entendendo— ela murmurou.

— Você é virgem, não é Amanda?

Ela enrubesceu, como se o tom do rosto a denunciasse e ele assentiu com um gesto de cabeça, depois baixou os olhos para as suaves curvas dos seios de Amanda.

— Eu deveria saber...

— Eu... eu tentei lhe contar antes— ela confessou, embaraçada. — Mas você não teria me ouvido.

— Eu estava com ciúmes e machucado— ele admitiu. — Ciúmes de Black e do meu próprio irmão também. Pensei que você tivesse vindo para cá por causa de Duncan.

— Você é o único homem que eu quero— ela falou sentindo o ar faltar, o castanho dos seus olhos revelava a ele todos os seus segredos.

Ele agarrou a cintura fina de Amanda e pressionou-a contra os músculos fortes de suas pernas, notando o frenesi dela.

— Gosto de ver seu rosto quando eu a seguro dessa forma. Seus olhos brilham quando eu a provoco— ele declarou com a voz rouca e sensual.

Amanda fechou os olhos, sentindo uma onda de desejo invadi-la.

— Jace— ela sussurrou, pressionando o corpo delicado contra ele.

— Eu também a desejo— ele sussurrou de volta e beijou respeitoso sua testa. — Droga, Duncan!— ele resmungou assim que ouviu a porta do carro ser aberta em meio ao silêncio da noite.

Jace libertou-a dando um forte suspiro e olhando-a com carinho, declarou:

— É melhor você ir. Não estou disposto a ouvir os comentários de Duncan e odiaria ter de terminar o dia dando outro soco no rosto dele.

Ela sorriu e o brilho radiante dos olhos a fazia parecer ainda mais bonita, enquanto Jace segurava a respiração e contemplava sua beleza.

— Pobre Duncan...— ela murmurou.

— Pobre Duncan, nada!— ele resmungou e alcançando o robe dela, começou a ajudá-la a se vestir, amarrando bem o laço que o prendia. Em seguida, ele inclinou-se... e beijou-a com ardor. — Você é minha, querida— ele declarou próximo aos lábios dela. — E não irei dividi-la com ninguém. Uma vez que eu a levar para minha cama, matarei qualquer homem que tentar tocá-la.

— Jace!— ela exclamou ao ouvir as palavras violentas que ele acabara de dizer.

— Eu esperei você por sete anos— ele disse com a voz áspera.

Ela olhou para ele, sentindo-se impotente e entendendo com dor no coração o que ele dizia.

— Eu... eu irei voltar para San Antônio após a festa de amanhã.

— Mas agora você vai permanecer por aqui. E eu quero que o mundo inteiro saiba que você é minha. E acho bom você começar a refazer os planos. Vá para a cama agora. Falaremos sobre isso amanhã à noite.

Ela o olhou sobre os ombros assim que alcançou a porta e indagou:

— Todos... terão de saber mesmo?

— E por que não?— ele quis saber.

Era diferente com os homens. Por que ele se importaria? Ela virou-se e caminhou em direção ao hall.

— Amanda!— ele exclamou e observou o rosto dela assim que se virou novamente para Jace. — Seu entusiasmo parece ter sumido. O que foi isso? Algo que falei?

— Estou apenas cansada— ela assegurou sorrindo não muito entusiasmada. — Apenas cansada, Jason. Boa noite.

 

Na manhã seguinte, Amanda colocou um vestido branco e desceu as escadas.

Como Jace esperava que ela sobrevivesse à reação de Marguerite e Duncan quando ele calmamente anunciasse que ela era sua "amante"? Pensou com desgosto. Mas ela o amava tanto que este pensamento não conseguiu perturbá-la.

Entrou na sala de estar e seus olhos colidiram com os de Jace, que estava sentado à mesa. Ele observou-a em silêncio, enquanto seus lábios curvavam-se em um meio-sorriso.

— Bom dia, querida— disse Marguerite sorrindo. — Estou contente que tenha acordado cedo, temos muito que fazer para a preparação da festa desta noite. Agora, sobre o seu vestido...

— Deixe comigo— declarou Jace entusiasmado. — Irei cuidar disso.

Marguerite ergueu uma das sobrancelhas e olhou para o rosto corado de Amanda. Em seguida, deu um sorriso gentil e declarou:

— Qualquer coisa que desejar querida.

Duncan entrou na sala, ainda sonolento e cumprimentou:

— Bom dia— e, sentando-se em uma cadeira, perguntou: — Todos dormiram bem?

Amanda sentiu as faces esquentarem e Jace recostou-se no espaldar da cadeira, segurando um cigarro em uma das mãos e estreitando os olhos na direção do irmão. Ele não disse uma palavra, mas também nem precisava. Só o olhar já era suficiente.

— Calma Jace, eu não quis dizer nada de mais!— resmungou Duncan.

Marguerite franziu as sobrancelhas. — Perdi alguma coisa?

— Acho que ambos perdemos— comentou ele e em seguida revelou: — Jace estava sozinho na sala de jantar quando cheguei em casa às 2:00h da madrugada. Parecia um leão enjaulado!

— Jason sempre se parece com um leão enjaulado a essa hora da madrugada— comentou Marguerite.

— Os lábios dele estavam inchados— acrescentou Duncan, dando um olhar sorrateiro para Amanda, que engoliu rapidamente o café que apreciava.

— Isso não prova nada— Jace devolveu enquanto levava o cigarro aos lábios.

Amanda podia ver a memória do que havia acontecido estampada nos olhos de Jace.

Marguerite terminou de fazer o desjejum e em seguida comentou:

— Bem, preciso cuidar da vida. Jace...— ela olhou para ele com certa apreensão. — Será gentil com Amanda?

Ele baixou os olhos para a xícara de café.

— Vou fazer um esforço.

— Ótimo— e dirigindo-se para a porta, ela pediu:

— Duncan você pode me levar com seu carro? O meu está na oficina.

— Mas eu ainda estou comendo...— protestou Duncan.

— Termine seu café quando voltarmos— a mãe retrucou sem hesitar.

Uma vez que os outros estavam fora da sala, Jace dirigiu os olhos para Amanda.

— Oi...— ele declarou exibindo um sorriso divertido.

— Oi— ela sussurrou de volta.

Ele sorriu, dirigindo o olhar para os lábios sensuais de Amanda.

— Duncan não perde uma— ele comentou, dando risada.

Ela enrubesceu e desculpou-se de forma gentil:

— Eu sinto muito.

— Por quê? Não gostou do que aconteceu? Amanda nem sentiu o calor da xícara de porcelana, quase queimando seus dedos.

— Pensei que eu nunca fosse conseguir dormir...

— Então somos dois— ele confessou e seu olhar atravessou a distância entre eles.

— Venha aqui.

Ela depositou a xícara sobre a mesa e erguendo-se da cadeira, foi para perto dele.

Jace enlaçou-a pela cintura e acomodou-a sobre o colo, deixando que a cabeça dela ficasse sobre seu ombro esquerdo, de forma que ele pudesse olhar para o seu rosto. Ela podia sentir a deliciosa fragrância da colônia que ele usava e a maciez do tecido da camisa de seda contra uma de suas faces ao tempo em que vislumbrava parte do peito desnudo pelos botões abertos.

— Eu quase fui ao seu quarto ontem à noite— ele declarou com a voz calma e ela podia ver o brilho de desejo nos olhos dele.

— A droga da minha cama é tão grande e vazia... eu queria você ao meu lado.

— Eu não consegui dormir também— ela admitiu e ergueu o dedo indicador, levando-o aos lábios dele e traçando os contornos da boca máscula e sensual. Ela notou que ele havia feito a barba e a suavidade da pele contrastava com a aspereza da noite anterior.

Ele afastou o dedo dela e inclinando-se depositou um beijou carinhoso em seus lábios. Depois, lentamente começou a intensificar o beijo, a respiração dele se acelerava enquanto enlaçava pela nuca. O beijo parecia que duraria para sempre, lento e profundo, em meio àquele silêncio. Com os braços fortes, ele a aproximou, embalando-a. O ruído da seda da camisa que ele usava contra a blusa dela invadia os ouvidos de Amanda e era acompanhado dos próprios gemidos suaves que ela emitia enquanto correspondia ao beijo com todo o seu coração.

Ela começou a desabotoar o restante dos botões da camisa dele, sem estar totalmente ciente do que ela mesma estava fazendo, induzida com o desejo que a consumia de poder tocá-lo e sentir a nudez do tórax poderoso em suas mãos.

Ele estreitou os olhos e afastando-se um pouco, comentou:

— Se me tocar irei tocá-la também— ele declarou com a voz rouca e sensual.

— E não teremos tempo de continuar fazendo o que isso nos levaria a fazer.

— Isso nos levaria a fazer aquilo?— ela sussurrou.

— Do jeito que estou agora, sim...— ele respondeu e depositou um beijo carinhoso em sua testa. — Oh, Deus, eu amo quando você me toca— ele sussurrou com voz rouca.

Ela sorriu e o beijou no rosto.

— E tão estranho...

— O quê? — ele quis saber.

— Não estar brigando com você.

Ele deu um longo e vagaroso suspiro.

— Eu lhe dei o inferno durante muito tempo.

— Talvez você tivesse motivos para isso— e, dando um suspiro, ela declarou:

— Jace, eu sinto muito pela minha mãe...

Ele levou o dedo indicador aos lábios dela e lançou-lhe um olhar confuso.

— Eu fiquei pensando... acho que estou começando a entender. Emoções nem sempre são fáceis de controlar. Deus sabe como perco a cabeça cada vez que toco em você, Amanda.

Ela sorriu compreensiva.

— Acha isso tão ruim?

— Para mim sim— ele alcançou o cinzeiro e apagou o cigarro.

— Nunca demonstrei meus sentimentos. Já tive mulheres, mas sempre impunha as regras, e nunca tive uma da qual eu não conseguisse me afastar.— Ele baixou a cabeça para encará-la e franzindo o cenho, declarou:

— Você consegue provocar sensações em mim que eu desconhecia. Elas invadem meu corpo como o fogo, quando eu a abraço, quando a toco... você me agrada Amanda. Sei que é um termo meio antigo para ser usado, mas não consigo encontrar uma palavra melhor para descrever isso.

Ela acariciou uma das faces dele e disse:

— Acho que agradamos um ao outro— e, em seguida ela quis saber:

— Eu realmente pertenço a você?

— Você quer?

Ela assentiu com a cabeça, enquanto os olhos adoravam cada traço do rosto dele.

Ele pôs as mãos na cintura dela, e foi subindo até chegar aos seios firmes. Em seguida, acariciou um com ternura ao mesmo tempo em que observava a reação no rosto de Amanda.

— Terá de se acostumar a ser tocada dessa forma – ele declarou com a voz suave.

— Terei?— ela indagou, quase sem fôlego. Ele procurou pelo olhar dela e declarou:

— Não havia pensado até o momento, mas você nunca permitiu que um homem a olhasse da forma com que eu a olhei na noite passada, não é? Sempre achei que fosse uma mulher experiente até eu vislumbrar o intenso rubor que coloriu suas faces. E quando eu a segurei daquele jeito...— ele sorriu admirado. — Irei lembrar-me disto pelo resto da minha vida. Mais do que tudo, quero ser o único a lhe ensinar tudo sobre o amor. Pensei que você tivesse dado esse privilégio a outro homem e eu a odiava por isso.          

— Eu nunca desejei ninguém, a não ser você— ela disse com honestidade e com os olhos entristecidos ao pensar sobre o que ela significaria para ele quando tudo isso acabasse. Ele estava cansado de sua inocência e cansado de esperar por ela. Eles tinham tanto em comum, mas tudo o que ele queria era o seu corpo e não sua mente ou seu coração.

— O que foi?— ele perguntou com a voz macia.

Ela deu de ombros.

— Nada— e depois, mudando o assunto, indagou:

— O que você disse mesmo sobre o vestido?

— Está curiosa- — ele perguntou dando um sorriso amável e colocando-a no chão, declarou:

— Venha comigo e eu irei lhe mostrar.

Jace a levou a uma loja exclusiva e sofisticada. Assim que eles saíram do carro, ele a conduziu de mãos dadas para dentro da loja. Ao se aproximarem do balcão, ele relatou à vendedora o tipo de vestido que gostaria que ela provasse.

— Sim, Sr. Whitehall— declarou a mulher de meia-idade, dando um sorriso educado.

— Eu acho que tenho um que...

— Não quero que me compre um vestido— protestou Amanda enquanto a vendedora apanhava uma peça do estoque.

Jace apenas sorriu e exibiu um brilho misterioso no olhar.

— Por que não? Quer ir à essa festa com um vestido inadequado?

Aquilo doeu. Ela não achava que seria uma coisa tão grave, até ele fazer essa observação. E saber que as pessoas que estavam na loja exclusiva, estavam cientes de que ele estava comprando roupas para ela, o que iriam pensar? Que ela podia ser comprada por um homem? Mas a verdade era essa, não era? E ela já havia prometido entregar-se a ele.

Amanda baixou os cílios, e as faces empalideceram. — O que há de errado?— ele perguntou com os olhos confusos. — Querida, o que foi que eu disse?

Ela tentou sorrir e meneou a cabeça, mas a verdade é que estava com o orgulho ferido.

— Aqui está— declarou a balconista trazendo um vestido preto com detalhes prateados preso a um cabide.

— Ficará perfeito — a vendedora assegurou e antes que Amanda pudesse protestar, ela levou o vestido para o provador, para que Amanda pudesse experimentar a peça.

Após colocá-lo, ela fixou o olhar no seu reflexo no espelho. O vestido moldava-se perfeitamente às curvas de seu corpo e a cor preta destacava o loiro acinzentado dos cabelos.

— Vai permanecer aí dentro o dia todo?— Jace perguntou, impaciente.

Ela saiu do provador e andou graciosamente na direção dele, com o olhar apreensivo.                                                 — Não é simplesmente perfeito?— a mulher de meia-idade comentou dando um sorriso. — Perfeito — concordou Jace, mas não estava olhando realmente para o vestido e sim para as faces enrubescidas de Amanda.

Ela entrou novamente no provador e despiu o vestido. Ao sair, esperou que fosse embrulhado enquanto olhava para o semblante inexpressivo de Jace.

— Eu nem mesmo perguntei o preço— ela declarou.— o vestido é muito lindo, mas eu realmente prefiro comprar algo mais acessível.

— Não sou pobre— ele declarou sorrindo forçado.

— Lembra-se? Ele baixou os olhos. Amanda sentiu-se incomodada.

Será que ele pensava que ela estaria disposta a entregar-se a ele para ter acesso a roupas sofisticadas e uma vida cheia de riquezas? Ela ficou absorta em seus próprios pensamentos, enquanto Jace entregava o cartão de crédito à vendedora e cuidava de outros detalhes. Depois, entregou a caixa a ela, observando intrigado o desânimo que ela exibia. Dando um suspiro forte, ele falou em um tom seco:

— Vamos.

Jace abriu a porta da Mercedes, pegou a caixa de Amanda e guardou o pacote no banco traseiro, enquanto Amanda acomodava-se no banco do passageiro. Em seguida ele sentou-se ao volante.

— Acenda um cigarro para mim— ele pediu, entregando-a um maço de cigarros mentolados.

Ela obedeceu, sem nem mesmo pensar e usou o acendedor do carro e devolveu o cigarro aceso, sem dizer nada.

— E então, por que não gostou do vestido?

— É muito bonito. Obrigada.

— Mas que droga! Você quer me dizer por que está aborrecida?— ele indagou, irritado com ela.

— Não é nada— ela respondeu sutil, olhando para o trânsito e sentindo o coração em pedaços.

— Nada...— ele ironizou. — Esta não é a melhor forma de se começar um relacionamento, sabia?

— Sei— e suspirando profundamente, ela declarou:

— Eu adorei o vestido, Jason. Apenas... eu não queria que tivesse despendido tanto dinheiro nisso.

— Você não acha que merece querida? Pois eu acho— pegou a mão esquerda de Amanda e a segurou com carinho. Em seguida, olhou para ela, antes de voltar a atenção ao tráfego e revelou:

— Desculpe-me por ter de deixá-la para ir ao escritório. Eu gostaria muito de passar o dia todo com você.

Ela deu um suspiro e confessou:

— Eu também gostaria... Ele soltou a mão dela para fazer a volta com o carro e parar em frente à mansão.

— Assim que eu voltar do trabalho quero que vá comigo à festa dos Sullevans, e não com Duncan.

— Sim, Jason— ela declarou gentil. Ele inclinou-se sobre ela para abrir a porta de passageiro e ela pôde sentir a deliciosa fragrância da loção pós-barba que ele usava. Percorreu ligeiramente o olhar pelos braços do rosto másculo e num impulso ela moveu-se para a frente e depositou um beijo suave nos lábios sensuais dele.

Ele ficou surpreso e sentiu uma onda de emoção invadi-lo.

— Desculpe— ela sussurrou.

— Pelo quê? Por acaso precisa de permissão para me beijar ou me tocar?

— Eu... não estou acostumada a fazer isto.

— Já disse a você nessa manhã. Eu adoro quando me toca. Meu Deus, se um dia aparecesse em meu quarto, eu estaria em minha cama de braços abertos para você, será que não sabe disso?

Ela percebeu o olhar terno que ele lhe dava e admitiu num sussurro:

— É tudo tão novo para mim...

— Eu sei.

Jace inclinou-se e beijou-a com ternura, provando os lábios macios. Ele respirava forte, enquanto acariciava o pescoço feminino com uma das mãos. E próximo aos lábios dela, declarou: — Oh, Deus, eu poderia passar o resto da minha vida apenas beijando-a.

Ela o enlaçou no pescoço e pediu:

— Não vá ao trabalho hoje...

— Se eu ficar aqui, vou acabar fazendo amor com você— ele murmurou. E depositando um beijo suave nos lábios dela, confessou: — E eu não quero fazer isso ainda.

— Acho que não é uma coisa muito amável para se dizer— ela devolveu.

Ele sorriu.

— Quero fazer tudo certo com você— ele sussurrou. Ela sentiu certo prazer ao ouvir aquelas palavras e imagens começaram a se formar em sua mente fértil. "O corpo másculo e sensual dele contra o seu, sobre lençóis de seda, pouca iluminação ao redor, os lábios dele tocando a pele macia de seu corpo...".

— Está tremendo— ele observou. — Pensando em como seria se fizesse amor comigo?

— Sim— ela admitiu quase sem fôlego.

— Deus...!— ele a puxou contra o próprio corpo e a olhou com um desejo louco, enquanto sua respiração ficava forte e acelerada. — É melhor você sair desse carro, antes que eu a agarre aqui mesmo. Até mais tarde. E não prenda os cabelos, deixe-os soltos, eu prefiro assim.

— Está bem.

Ela fechou a porta do carro e rumou para a casa, sem olhar para trás.

Amanda ficou se arrumando durante a tarde e ficou admirada ao contemplar a própria imagem refletida no espelho, quando se viu no estonteante vestido que Jace comprara. A peça fina e sofisticada ajustara-se perfeitamente às curvas do seu corpo, destacando os seios erguidos e a cintura esbelta. Os detalhes prateados do vestido proporcionavam charme e elegância. Com os cabelos longos e sedosos caindo-lhe sobre as costas e os ombros, ela mais parecia uma modelo do que uma publicitária.

Estava nervosa quando desceu as escadas uma hora depois, para ver Jace, Marguerite e Duncan na sala de estar.

Estavam conversando, mas Jace logo direcionou o olhar para Amanda, assim que ela entrou na sala. Os olhos dele exibiram um brilho de admiração e ela sentiu uma onda de excitação percorrendo-lhe o corpo todo. Ele a olhava orgulhoso, como se ela lhe pertencesse.

Ela também se admirou ao contemplá-lo, vestido com um temo preto e uma camisa branca de seda, tão másculo e elegante que ela sentiu vontade de tocá-lo. Ele era devastador, tão lindo como um príncipe saído de um conto histórico.

Minutos depois, Marguerite e Duncan se viraram para dar atenção a ela.

—Uau!— Duncan exclamou, e erguendo-se da poltrona aproximou-se dela e comentou:                                             — Você está linda! Onde conseguiu esse vestido? Amanda não respondeu e evitou o olhar possessivo de Jace.

— Você está maravilhosa, Amanda. Que vestido adorável!— exclamou Marguerite.

— Obrigada— ela agradeceu de forma recatada. Duncan ameaçou enlaçá-la por um dos braços, sem perceber que Jace já havia se adiantado.

— Com licença— ele declarou ao irmão, olhando-o com repreensão.

— Quem sou eu para discordar?— brincou Duncan e voltando-se para Marguerite, falou: — Vamos?

Marguerite assentiu com um gesto de cabeça e ergueu-se da poltrona.

Amanda nunca estivera tão atenta à Jace, quanto durante o trajeto que faziam à fazenda dos Sullevans. Seus olhos involuntariamente direcionavam-se para ele e ela sentia ondas de excitação invadi-la ao lembrar dos beijos que compartilharam.

Assim que chegaram ao local, Amanda vislumbrou a enorme casa, toda iluminada e quando eles entraram no salão foram recebidos pelo Sr. Sullevan.

O salão possuía elegantes mesas, todas alinhadas e finamente decoradas, objetos de arte de preços incalculáveis e uma iluminação perfeita. Podia se ouvir a música agradável e suave que tocava no ambiente.

— Que lugar fantástico!— Duncan murmurou, observando o ambiente e as pessoas que circulavam pelo local. E olhando para Amanda, comentou: — Por falar em fantástico... você está muito sedutora com esse vestido e ainda não me disse como o conseguiu.

Jace lançou um brilho ameaçador ao irmão e pressionou mais forte a mão de Amanda, num gesto possessivo, enquanto declarava:

— Eu comprei para ela.

O tom de voz que ele usou foi o bastante para alertar Duncan.

— Com licença— ele murmurou dando um sorriso forçado para Amanda, acrescentando em seguida: — Acho que vou procurar as moças bonitas e solteiras, para conversar. Vejo vocês mais tarde.

Amanda sentiu as faces enrubescerem e mal conseguia olhar para Jace.

— Precisava ter falado desse jeito?— ela indagou sentindo certo embaraço.

— Você é— ele devolveu. — E quanto mais cedo ele souber, mais seguro será. Ela ergueu o rosto e o encarou.

— Você faz com que eu me sinta uma mulher sem valor, Jason— ela declarou com voz trêmula.

Ele estreitou os olhos e ao ouvir o comentário sua expressão endureceu, como se não estivesse acreditando no que acabara de ouvir.

— Mas que "diabos" está falando? Eu não a entendo, Amanda. Eu já lhe ofereci tudo o que tinha para oferecer. Agora é melhor pensar direito. É pegar ou largar!

Ela arregalou os olhos e desvencilhando-se da mão dele, caminhou apressada em meio à multidão à procura de Duncan.

Amanda o encontrou sentado ao balcão apreciando uma taça de ponche e juntou-se a ele. Só de olhar a palidez estampada no rosto dela, Duncan percebeu que havia algo errado e entregando uma taça a ela, dirigiu o olhar para Jace, que estava de costas e parado em meio à multidão.

— Você está à salvo agora— ele disse a ela. — Ele não irá fazer nada além de conversar sobre futuros negócios pelo menos durante uma meia hora. Mas... o que aconteceu nesse meio-tempo?

O lábio inferior de Amanda tremia. — Jace disse... Ah! Esqueça Duncan— ela declarou dando um suspiro, aborrecida. — Mesmo porque só o que importa para ele é a droga da carteira dele transbordando dinheiro— e dando um riso irônico, ela acrescentou: — Ele acha que sou "interesseira".

— Você não é esse tipo de mulher— Duncan disse com franqueza. — Coma alguma coisa.

Ela apanhou um salgado em uma grande travessa de prata e indagou:

— Pareço estar faminta?

— Como se quisesse "morder" alguma coisa— ele falou em tom divertido. — Não deixe que ele a aborreça, Mandy, Jace apenas não sabe o que o incomoda, é só isso.

— Eu queria que fosse simples assim...— ela comentou dando um sorriso e sorvendo um generoso gole do drinque.

— O que tem nesta bebida?— ela quis saber.

— Metade do estoque de licor— ele brincou e avisou: — Vá devagar com isso.

— Talvez eu não queira— ela devolveu, sorvendo o restante do líquido. E estendendo a taça vazia na direção dele, pediu: — Mais uma rodada para mim...

— Não acho que seja uma boa idéia— ele a alertou, mas mesmo a contragosto encheu a pequena taça de cristal novamente.

— Também não acho— ela concordou.

— Mas prefiro não pensar em nada, você poderia ter problemas.

Ele a observou atentamente.

— Está sabendo de alguma coisa?

Ela o espiou sobre a borda da taça e perguntou:

— O quê? Ele sorriu.

— Estou começando a gostar que seja minha cunhada.

Lágrimas surgiram nos olhos dela ao ouvir o comentário. Aquilo foi a última gota. O querido Duncan não entenderia. Jason não queria uma esposa, ele queria uma amante, alguém que lhe satisfizesse seus desejos e não alguém com quem pudesse compartilhar sua vida.

— Mandy!— Duncan exclamou ao ver a reação dela.

— O que eu seria sua, sendo a amante de seu irmão?— ela sussurrou com o coração partido. — É isso o que ele quer que eu seja!

Ela saiu correndo na direção de um pátio escuro, deixando-o para trás, sem entender nada.

Duncan ficou a observando perplexo, e nem percebeu que havia alguém parado atrás dele.

— Mas que "diabos" você disse a ela?— Jace perguntou. Seus olhos faiscavam de ira.

Duncan piscou por duas vezes ao olhar para o irmão.

— Temo que eu tenha falado demais. Disse a ela que gostaria de tê-la como cunhada. Acho que me precipitei, mas do jeito que vocês se olhavam, era natural que eu presumisse isto.

Jace o olhou com as feições rígidas e apenas declarou:

— Você tem uma boca muito grande!

Duncan ficou um instante em silêncio e em seguida, franziu o cenho e resolveu perguntar:

— Você quer mesmo que Amanda seja sua amante? Jace pareceu não acreditar no que acabara de ouvir.

— Amante?

— É o que ela pensa que você quer. E disse que você pensa que ela é uma mulher interesseira.

Jace fechou os olhos e deu um forte suspiro:

— Ai meu Deus do céu!

— O que foi?— Duncan indagou curioso.

— De novo o mesmo filme— respondeu Jace. Contudo, não estava olhando para o irmão e sim para o extenso pátio à frente. E sem dizer mais nada, começou a caminhar em direção ao pátio escuro.

Amanda enxugava as lágrimas que caíam desenfreadas pelo seu rosto. Seu coração doía tanto que parecia pesar dentro do peito. Só o que ela queria era embarcar em um avião e voar para longe de Casa Verde.

Se ao menos ela pudesse ter ido embora com a mãe... ao menos teria ficado fora do caminho de Jace, distante do sarcasmo dele, longe de todo o desprezo. Ela nunca deveria ter mencionado se entregar para ele. O presente de amor que ela pretendia dar-lhe, apenas fez com que a opinião dele sobre ela, piorasse ainda mais. As lágrimas desciam pelas faces dela, mais uma vez. Ela tinha de fazer isso parar. Tinha de parar de chorar. De alguma forma, deveria voltar ao salão de baile, sorrir e fingir que tudo estava bem. Então poderia pedir a Duncan que a levasse ao aeroporto...

— Está silencioso aqui fora.

Amanda cerrou as pálpebras ao ouvir a voz grave surgir atrás dela.

— Sim— ela respondeu sem nem mesmo virar-se para encará-lo.

Ela o ouviu chegando mais perto e sentir o calor do corpo másculo nas suas costas, sentia a respiração dele suavemente em seus longos cabelos loiros.

Ele tocou de leve os ombros delicados e ela pôde sentir o corpo todo ficar tenso.

— Amanda...— ele suplicou com sua voz forte.

— Vou voltar para a minha casa— ela revelou sem preâmbulos, enxugando o restante das lágrimas com as palmas das mãos. — Vou devolver este vestido, para que possa dá-lo a outra mulher.

— Não existe uma outra mulher— ele devolveu com segurança na voz. — E não existiu desde que você tinha 16 anos e senti seus lábios tocando os meus pela primeira vez.

Amanda ficou paralisada. Será que teria ouvido direito? Ela virou-se devagar para encará-lo.

Jace colocou as mãos nos bolsos dianteiros das calças, com as pernas bem afastadas, o corpo alto e imponente, era o clássico tipo másculo e muito atraente.

— Surpresa?— ele indagou. — É tão inocente para perceber que o motivo de eu estar tão desejoso por você, era porque eu não tenho uma mulher há anos?

— Certamente não por falta de oportunidade— Amanda comentou com a voz embargada.

— Não— ele concordou. — Sou rico. As mulheres, pelo menos a maioria, fazem tudo por dinheiro.

— Algumas delas queriam apenas ter você— Amanda confessou.

Jace deu um meio-sorriso.

— Desejo só de uma pessoa também não é suficiente num casal. Não quero ter ninguém a não ser você.

Ela procurou pelos olhos dele em meio ao silêncio que pairava no ar, apenas quebrado pela música romântica e suave que a banda tocava dentro do salão.

Ele aproximou-se, ainda sem encostar-se a ela, mas perto o suficiente para fazê-la ter de erguer o rosto para encará-lo.

— Droga, será que eu preciso dizer as palavras?— ele lamentou-se.

Amanda dirigiu o castanho dos seus olhos para Jace, surpresa e confusa ao mesmo tempo.

— Eu te amo, Amanda.— Ele declarou em tom macio e profundo, focando somente nela.

Emocionada, Amanda sentiu as lágrimas descerem por seu rosto, em meio ao silêncio, naquele ambiente pouco iluminado. Com os lábios trêmulos, ela tentava encontrar palavras.

Ele não precisou esperar por isso e envolvendo-a em seus braços fortes, inclinou o rosto e começou a beijá-la, enquanto afastava os cabelos longos e deslizava os dedos bronzeados pela nuca de Amanda. Ela pressionava as mãos nas costas amplas de Jace, enquanto dava suaves gemidos ao senti-lo aprofundar-se no beijo, invadindo-a e explorando-a até ela sentir a necessidade de arquear o corpo para ele, numa posição sensual e apaixonada.

— Diga para mim— ele pediu bem próximo dela, com a respiração ofegante.

— Eu também te amo— ela sussurrou quase sem fôlego. Loucamente, desesperadamente...— o restante das palavras fora abafado pelo som de sua própria respiração assim que ele a beijou novamente, de forma gentil, terna como se todas as perguntas que fizesse já estivessem sendo respondidas naquele momento, sem que ela precisasse pronunciar nenhuma palavra mais.

Ele afastou os lábios e começou a beijar o rosto de Amanda até chegar ao lóbulo da orelha esquerda, pressionando as costas contra o seu corpo com a respiração forte, tentando controlar a ânsia de um desejo contido durante anos, enquanto ela correspondia, pois sentia-se da mesma forma.

— Vamos resolver isso de uma vez— ele sussurrou com a voz rouca e em seguida declarou:

— Quando lhe disse que você era minha, quis dizer que queria que fosse para sempre minha. Irei colocar uma aliança em seu dedo para provar o que estou dizendo. Oh, meu Deus, Amanda, quero muito além do prazer que iremos proporcionar um para o outro.

— Desejo compartilhar minha vida com você e que compartilhe a sua comigo. Quero abraçá-la quando estiver magoada e enxugar suas lágrimas, quando chorar. Quero vê-la sorrir quando brincarmos, e vislumbrar o brilho em seus olhos quando fizermos amor. Quero lhe dar filhos e vê-los crescendo em Casa Verde.

— Ele afastou-se um pouco e inclinou a cabeça para olhá-la com um brilho tão apaixonado nos olhos, aquele brilho que ela tanto esperou, tanto rezou para um dia poder ver.

— Eu te amo além do que o amor pode suportar, sabia que só a machuquei porque eu estava machucado. Eu queria você, precisava de você e nunca pude me aproximar, pois você sempre fugia de mim. Não acha que agora já é tempo de parar de fugir?— e puxando-a mais perto, ele pediu: — Case comigo. Viva comigo.

Ela sorriu para ele, contemplando-o através dos olhos nublados pelas lágrimas.

— É o mesmo que sinto por você— ela confessou emocionada. — Tudo o que quero é ficar ao seu lado e dar-lhe todo o amor que tenho.

— Tudo o que quero é o seu coração, meu amor— ele declarou com a voz macia. Inclinando-se, tocou de leve os lábios de Amanda, que tremiam de emoção, e a intensidade com que se beijaram era tão forte e profunda, como se aquele fosse o último beijo que compartilhassem na vida.

Amanda podia sentir as batidas aceleradas do coração dele no seu peito, enquanto ele acariciava suas costas, de forma terna e com um desejo ardente. Ela agarrou os cabelos negros e espessos, fazendo com que ele aprofundasse ainda mais o beijo enquanto sentia o tecido da jaqueta que ele usava, tocando seus braços e a aquecendo.

— Tem certeza de que meu coração é tudo o que quer?— ela sussurrou contra os lábios sensuais dele, sentindo uma onda de felicidade irromper em seu íntimo pela sensação de amar e ser amada e de pertencer e ser do homem que tanto amava.

Jace sorriu exibindo um brilho matreiro e apaixonado nos olhos acinzentados.

— Mais ou— — ele admitiu. —A única coisa que a está salvando no momento é que não posso fazer amor com você neste lugar.

Ela mordiscou o lábio inferior dele, provocando-o de forma sensual.

— Pode me levar para casa...

— Pretendo fazer isso— ele murmurou sorrindo travesso. — Mas não irei até que minha mãe e Duncan fiquem fora de casa por uns dias. E isso não irá acontecer até o dia do casamento da Sra. Carson, se bem conheço minha mãe.

Ela olhou para ele admirada e com um sorriso matreiro, comentou:

— Bancos traseiros de carros são muito populares...

— Não o do meu carro— ele informou a Amanda.

— Há motéis...

Jace ergueu uma das sobrancelhas e olhando para o rosto radiante dela, falou:

— Está tentando me seduzir, Amanda? Ela sentiu um leve rubor corar suas faces.

— De certa forma, sim. Ele a envolveu ternamente.

—Você chegou bem perto disso na noite passada— ele recordou e mirou o decote do vestido dela. — Irei carregar aquela lembrança comigo do mesmo jeito que carreguei uma foto sua em minha carteira durante os últimos sete anos.

Amanda arregalou os olhos, surpresa.

— Você tem uma foto minha?

Ele confirmou com um gesto de cabeça.

— Uma foto instantânea que Duncan tirou de você, com os cabelos soltos contra o vento e o tecido da saia esvoaçando... sorrindo com a luz do sol refletida em seu rosto. Meu Deus, tão linda e inocente, não consegui me conter e roubei a foto do quarto dele. Fiquei me sentindo culpado por uma semana.

Ela sorriu, incrédula.

— Mas por que você apenas não pediu a foto?

— Ele iria saber o porquê de eu querer a foto.— Jace beijou de leve os lábios macios dela e declarou:

— Eu a tenho amado por tanto tempo. Mesmo quando eu dizia a mim mesmo que a odiava, quando eu intencionalmente a insultava, era apenas porque eu me sentia machucado. Toda vez que você fugia, eu me magoava ainda mais. E depois você falou aquilo sobre Duncan, no dia em que fez o curativo em meu ombro, eu deveria ter feito de tudo para tirar a verdade de você, eu não conseguia viver com o pensamento de que ele a havia tocado do jeito que eu desejava tocá-la.

— Você me beijou— ela o lembrou e deu um sorriso amável, aliviando a tensão momentânea.

— E foi bom como a sensação de estar voando— ele disse gentilmente, procurando o olhar dela. — Abraçá-la, tocá-la... esperei por isso durante anos e cada um desses anos valeram a pena, até eu deixar que as dúvidas me atordoassem de novo. Nunca confiei muito nas mulheres e foi difícil aprender a confiar novamente— ele acariciou as costas dela com suavidade.

— Eu nunca o traí— ela disse com franqueza. — Você é tudo o que eu sempre quis, Jason, apesar de minha mãe...

Ele a silenciou com um beijo e declarou:

— Iremos ao casamento dela, você gostaria disso?— ele indagou de forma direta.

— Amanda, se você fosse casada, eu gostaria de pensar que nem mesmo tocaria em você, mas eu não sei. Não tenho certeza se conseguiria. Talvez fora assim com sua mãe— ele encolheu os ombros e continuou:

— Eu nunca havia percebido que esse sentimento era tão forte até o dia em que você e Duncan voltaram tarde do vôo que fizeram a Nova York. Eu rezei como nunca tinha feito na vida, e quando você voltou e estava à salvo, senti vontade de gritar para que o mundo inteiro ouvisse.

— Mas você foi ao meu quarto— ela sussurrou, enrubescendo com a lembrança.

— E nós compartilhamos do amor um com o outro -— ele sussurrou de volta, inclinando-se para tocar seus lábios num beijo sensual.

— O doce, ingênuo e suave amor que eu conheci somente com você. A nossa primeira vez será dessa maneira— ele murmurou, fitando os olhos dela e contemplando o embaraço que ela exibia, pois suas faces estavam coradas. — Passarei uma noite inteira com você.

— Jason!— ela exclamou e apoiou a cabeça sobre o peito másculo para esconder o rosto enrubescido, enquanto ouvia as fortes batidas do coração dele.

— Farei com que seja uma noite mágica e inesquecível para você— ela sussurrou, embalando-a em um abraço.

— Toda vez que me toca, já é um momento mágico.— ela disse com a voz doce, e fechando os olhos, declarou: — Eu te amo tanto, Jason!

— Apenas nunca pare de me amar— ele murmurou, abraçando-a com mais força. — Nunca pare.

Agora posso dizer a Amanda que ficarei feliz em tê-la como minha cunhada?— o tom bem-humorado de Duncan surgiu atrás deles.

Jace deu uma risada, deixando Amanda virar-se para encarar o irmão, mas segurando-a num abraço possessivo.

— Deixarei até que você seja o padrinho— prometeu Jace.

Duncan deu um largo sorriso e comentou:— Nossa mãe já está até planejando o casamento. Ela, hum... viu vocês daquela janela que dá vista para esse pátio há alguns minutos atrás.

— Você a arrastou até aqui, melhor dizendo — Amanda comentou dando risada.

— Não exatamente...— ele protestou. — Foi mais como... guiá-la até aqui. De qualquer maneira, quando vocês irão oficializar?

— Em cinco minutos— falou Jace, sentindo a tensão de Amanda. — Antes que ela mude de idéia.

— Isso quer dizer, nunca— ela prometeu e derreteu-se ao contemplar o brilho prateado dos olhos de Jace.

Duncan deu um riso discreto e comentou:

— Estava justamente me lembrando de como era antigamente— ele relatou atento aos olhares confusos dos dois. — Quando Amanda o chamava de caubói e você a chamava de dama. Irônico.

— Ela é uma dama— murmurou Jace, sorrindo para ela.

Digo isso sem ironizar desta vez.

— E ele um caubói— ela devolveu. — Que irá cavalgar comigo pelo resto da vida.

— Bem, se me dão licença, acho que vou para o salão fazer um brinde com aquela moça atraente, parente dos Sullevans. Ah, é melhor ficarem longe daquela janela, a propósito.— Duncan declarou dando um sorriso matreiro e antes de sair falou ao irmão: — Acho que nossa mãe ainda está lá.

— Duncan!— Amanda chamou.

Ele virou-se e perguntou em um tom divertido:

— Pois não, cunhada?

— Por que você pediu para que eu viesse aqui com Terry? Por que procurou nossa agência?

Duncan deu um largo sorriso e revelou:

— Porque depois que você partiu daqui a última vez, há seis meses, comecei a notar o mau humor crônico de Jace e toda vez que pronunciávamos seu nome, ele praguejava. Entendi que ele precisaria de uma ajudinha e improvisei uma desculpa. Então telefonei para o seu sócio — ele olhou para ela e depois para o irmão e finalizou:

— E dizem que cupidos carregam arcos e flechas. Não é bem assim. Eles carregam telefones e assim podem unir os casais. Vejo você depois, irmão— Duncan despediu-se piscando para Jace.

Ele sorriu para o irmão, e Amanda viu, não pela primeira vez, a real afeição que existia entre Duncan e Jace.

— Entendendo as novas revelações agora?— Jace perguntou próximo ao ouvido dela.

— Quero dizer a todos que você me pertence.

Ela virou-se para ele e sussurrou de volta:

— Eu sempre pertenci a você.

Ele puxou-a mais próximo com delicadeza e a beijou com intensidade e todo o amor que sentia.

Da janela, dentro do salão de festas, Marguerite sorria repleta de felicidade, já pensando nos preparativos que faria para organizar uma bela e inesquecível festa de casamento.

 

                                                                                Diana Palmer  

 

                      

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