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CORAÇÃO DE OBSIDIANA - P.2 / Nalini Singh
CORAÇÃO DE OBSIDIANA - P.2 / Nalini Singh

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

                                     Capítulo 25

Não houve resposta.

A mente de Sahara, no entanto, não foi tão reticente, a pergunta ativou uma chave escondida para desbloquear um cofre mental secreto. Memórias rodavam em seu interior, confusas e obscurecidas pelo tempo e os erros cometidos durante o armazenamento pela menina assustada que ela fora: a menina que, em uma tentativa desesperada de salvar as peças mais importantes der si mesma dos estragos do labirinto, havia trancado o cofre não com palavras... mas com emoção.

A chave pessoal significava que ninguém poderia violar suas memórias, destruir o que ela considera mais preciosa. Mas isso também significava que se Kaleb nunca a tivesse encontrado, se eles nunca tivessem se encontrado novamente, essa parte dela estaria perdida para sempre. Um risco enorme construído sobre a mesma fé selvagem que manteve seguindo por sete anos infernais.

— Sahara! Eu voltarei por você! Sobreviva! Sobreviva por mim!

 

 

 

 

Levaria tempo — dias, talvez semanas — para desvendar as peças, reconstruir o que fora degradado, mas uma memória era cristalina: um jovem Kaleb — dezessete? dezoito anos?— sangrando pelo nariz, os dentes cerrados enquanto finos vasos sanguíneos estouravam em seus olhos e um fio de vinho tinto descia pelo queixo de sua orelha.

— Eu sei que aquele monstro te machucou, — ela disse, sua raiva como uma imensidão dentro dela. — Eu sempre soube disso.— Era um pedaço de conhecimento tão visceral, que ela não podia imaginar como a havia reprimido por tanto tempo . — Eu também sabia que você não podia falar sobre isso.— Foi a tentativa dele de falar que levou à punição agonizante que fez um vermelho escuro nadar pelo negro de seus olhos. — Você está livre para responder a minha pergunta?

Kaleb quebrou o contato para andar para o lado de fora e até a borda da varanda, a floresta era como a cinza neblina da manhã bem cedo, o nevoeiro lambendo ao longo do chão e formando gavinhas entre as árvores. A suavidade daria a toda à cena uma sensação de irrealidade, de um sonho que borrava os limites rígidos a nada, a não ser pela obsidiana irregular do homem que estava olhando para a cinza.

Seu silêncio foi tão longo e tão profundo que os sussurros da floresta os cercavam em um casulo pesado, deixando-os como apenas os dois seres em um universo que prendia a respiração.

— Homens —, ele disse por fim, o corpo imóvel como pedra e a voz sem inflexão, — não deveriam ser estuprados.

Raiva rugiu através dela. — Ele fez isso? — Não, não, não seu Kaleb. Ser machucado dessa maneira, ser subjugado, teria destruído este homem forte.

— Não da forma como o mundo pensa, — Kaleb disse naquele tom morto que ela nunca ouvira falar dele. — Ele não estava interessado em sujar seu corpo com um contato tão básico.

Mas Santano Enrique era um Tc cardeal no auge de seus poderes, enquanto que Kaleb era um menino. — Ele usou suas habilidades para violá-lo, — ela disse, mantendo uma rédea furiosa em sua raiva e dor por ele.

— Sim.— Um som frio, ecoando com o vazio. — Ele estava dentro de mim todos os dias, todas as noites. Eu nunca podia escapar, nunca sabia quando ele ia enfiar mais fundo, me forçar a fazer coisas com o meu corpo, enquanto minha mente lutou contra si mesmo até a loucura para escapar.

Sahara pensou na feiura da violação quando seus próprios escudos foram retirados, e se imaginou uma criança sem labirinto para usar como proteção... e sem esperança. Ela sempre soube que alguém estava vindo por ela, mesmo que tivesse trancado o nome dele para protegê-lo. Kaleb tinha ninguém e nada a que se apegar, seus pais viraram as costas para o filho que trouxeram ao mundo.

Seu ódio por eles era uma queimadura fria, então pegou a mão de Kaleb.

Os dedos deles não se curvaram em torno dos seus, os olhos eram um morto e frio negro olhando para o nada. — Eu fui sua única audiência por um longo tempo. A primeira vez aconteceu quatro meses depois do meu sétimo aniversário—um presente atrasado, — ele disse.

Sahara mordeu o lábio inferior. Ela sabia. Assim que leu sobre o que Santano Enrique fizera, uma parte dela soube, mas foi incapaz de suportar ligar os pontos.

— Eu não era forte então. — Aquela mesma voz morta. — E fui... embora, mas ele me trouxe de volta. Santano sempre me trazia de volta.

Horror em suas veias, ela entreabriu os lábios, mas Kaleb continuou, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. — Eu não podia matá-lo, não podia detê-lo. Não importava o quanto velho e poderoso me tornasse, não podia pará-lo. — Havia raiva agora, mortal e afiada como uma lâmina, de uma força que vinha crescendo há décadas. — Eu tive que assistir enquanto ele cortava a garganta de suas vítimas após torturar cada uma delas por horas, dias.

— Nos últimos anos, ele encontrou diversões em transmitir por telepatia suas atrocidades para mim, era a sua maneira de me dizer que, enquanto eu poderia ter me tornado forte o suficiente para mantê-lo fora da minha mente em todos os outros níveis, eu nunca poderia escapar dele ou da compulsão que plantou em mim. Eu era um empresário poderoso, um temido cardial, e eu não podia sequer falar do que ele estava fazendo, muito menos levantar um dedo contra ele.

A última violação, ela pensou. A pior violação. Mesmo o animal mais humilde tinha o direito de lutar, independentemente do tamanho do seu oponente.

— Foi apenas depois de sua morte que eu finalmente fui capaz de quebrar a compulsão — e foi aí que descobri ele tinha um único canal restante em minha mente, uma pequena porta que lhe permitiu fazer apenas uma coisa: reforçar a compulsão para manter seus segredos e nunca lhe prejudicar. — Uma raiva tão profunda que era uma coisa tranquila e mortal . — Mesmo então, quando eu pensei que estava finalmente livre, ele estava dentro de mim.

Com uma raiva e uma dor cáustica em suas veias, ela envolveu os dedos nos dele e se moveu para sua linha de visão. — Eu sinto muito, Kaleb. — As palavras não eram o bastante, nunca seriam suficientes para o que ele sobrevivera.

— Não sinta. — Uma declaração calma, seus dedos ainda não respondiam ao seu toque. — Ele me fez o que eu sou.

Medo sobrecarregando qualquer outra emoção. — Você não é uma criação dele. Você se fez. — Ele não lhe responder. Ela se perguntava se ele sequer a ouvira falar. — Kaleb.

— Quando eu tinha dezesseis anos, ele disse que era hora de eu me tornar um homem. — A raiva fora temperada por uma frieza sombria que era pior do que o gelo, muito mais perigosa do que a obsidiana. — Ela era uma changeling cisne apenas alguns anos mais velha do que eu, com o cabelo branco com a neve — o sangue quando cortei sua garganta o deixou escarlate.

Seu coração batia forte, uma tempestade dentro do peito, mas Sahara sabia o que ele estava fazendo, e não permitiria que o fizesse. Quebrando a conexão com os dedos que não respondiam, ela colocou as mãos em cada lado do rosto dele. — Você colocou a faca na garganta dela por sua própria vontade?

A escuridão continuou a rastejar sobre suas íris, esfriar sua pele. — Isso importa? Eu a assassinei enquanto ela implorava pela vida.

— Sim, — ela sussurrou, segurando-se a este homem que se via como um monstro. — Importa.

A resposta de Kaleb foi um retrato nauseante da maldade de Enrique. — Ele possuía livre acesso a mim desde que eu tinha três anos, meu escudo era embrionário; bastante tempo para construir inúmeras portas traseiras e interruptores em minha mente. Naquela noite, ele avançou... e levou tudo, enquanto garantia que eu ficasse alerta e consciente de suas acões. — Um vazio frio. — Dava-lhe prazer saber que eu estava gritando por dentro enquanto ele usava o meu corpo para esculpi-la. O meu foi o último rosto que ela viu, minha mão foi aquela que penetrou a faca em sua carne repetidas vezes.

— Basta,— Sahara rebateu, com medo de que ele partisse como fazia quando era criança. — Volte para mim. — Reprimindo as lágrimas, ela se recusou a desviar o olhar. — Aquilo não era você, Kaleb. Você sabe disso. O controle da mente tira vontade, intenção e arbítrio. — Tornava a vítima uma marionete de carne e sangue.

Os cílios de Kaleb desceram e quando levantaram, nada havia mudado, seu Kaleb estava enterrado sob o sangue de uma mulher inocente que nunca soube que o menino que ela viu era mais uma vítima, e não o seu assassino.

— Não, — Sahara disse e, levantando-se nas pontas dos dedos dos pés, apertou a boca na dele.

Kaleb sempre reagira ela... mas não hoje. Seus lábios permaneceram frios, as mãos ao lado do corpo. Recusando-se a ceder a vitória para o assassino em série a quem ela esperava que o inferno fosse uma realidade cruel, ela colocou uma mão em sua nuca e, continuando a envolver sua bochecha com a outro, beijou-o com uma doçura lenta que era um convite, ama persuasão.

Volte, ela mandou por telepatia. Eu preciso de você.

Os dedos dele tocaram seus quadris, as mãos subindo para pressiona suas costas. Uma das mãos se enfiou em seu cabelo um minuto depois, a outra se empurrando para cima sob o preto fino de seu cardigã para se abrir sobre a pele. Um beijo sem fim, seus corpos pressionados incrivelmente perto.

Sem quebrar a ligação íntima, Kaleb a levantou nos braços e a levou para dentro. O edredom era suave contra suas costas quando ele a deitou, o corpo dele era uma musculosa e pesada carga que a fez gemer, os lábios em sua garganta como um calor úmido. — Kaleb. Kaleb, Kaleb. — O canto ofegante era um lembrete para ele do quem ele era — não a criação de Santano Enrique, mas Kaleb, que a tocava com uma paixão primordial e que sempre cumpria suas promessas.

Afundando os dentes em seu lábio inferior quando ele fez seu caminho com beijo até sua garganta e de volta para sua boca, ela o soltou após uma mordida rápida. E quando ela olhou para cima, foi para ver os olhos de Kaleb olhando para os dele. Não havia estrelas, mas a obsidiana brilhava com as cores da meia-noite, bela e misteriosa.

Seus dedos apertaram o calor das costas musculosas dele, o algodão da camisa se amassando sob seu toque. — Você voltou.

Fechando a mão ao redor de sua garganta, ele acariciou delicadamente, com a boca exigente por si própria. Ela afastou as pernas para acomodar seu corpo, seu centro liso e macio. Quando ele puxou seu cardigã, ela estendeu a mão e o puxou por cima da cabeça para jogá-lo no chão. Ele a deixou vestida com um sutiã de renda delicada, os seios forçando os bojos.

Kaleb soltou sua garganta para olhar para seus seios... e as alças do sutiã rasgaram ao meio, o centro do sutiã se rasgando, fazendo a peça de lingerie cair de seu corpo. Foi a primeira vez ele usou sua Tc de um modo tão íntimo, e a surpresa chocada dela se transformou em puro prazer quando — ainda segurando seu olhar — ele passou os dedos levemente sobre seu mamilo.

Desta vez, o nome dele sussurrado de seus lábios foi um gemido suave.

Olhando para cima, o cabelo caindo sobre a testa, ele fechou a mão sobre o seio e acomodou seu peso mais pesadamente sobre ela. Em seguida, ele a beijou. Até suas unhas cravarem nas costas dele e estar tão molhada entre as coxas que seu almíscar perfumava o ar. Por tudo isso, ele a acariciava e mimava seu corpo superior com uma mão acaloradamente possessiva que deixou claro que Kaleb Krychek a considerava dele.

E ainda assim, ele não disse uma palavra.

 

Sahara sob suas mãos, macia, sedosa e responsiva. O toque de Sahara em suas costas, seu gosto na boca, o aroma de sua excitação como uma droga. Sahara que dizia seu nome como se isso significasse tudo. Sahara que era e sempre foi, A maior de fratura em seu Silêncio. — Sahara.

O azul profundo de seus olhos brilhava com uma emoção que ele não podia ler, os dedos roçando seus lábios, então os próprios em um convite silencioso que ele não tinha a intenção de recusar. A boca dela se abriu ao seu primeiro toque, o corpo arqueado e as coxas travadas em torno dele. Ele foi enjaulado por Sahara e foi o confinamento mais dolorosamente prazeroso de sua vida.

Segurando a parte de trás do seu pescoço, ele a provou tão profundamente, que ela nunca esqueceria o gosto dele. Minha, ele pensou, você é minha.

Quando as mãos dela foram para os botões de sua camisa, ele a deixou abri-los até a cintura, deslizar as mãos por dentro... pressionar os lábios em sua pele em um beijo doce e quente que estilhaçou o penúltimo de seus escudos exteriores, as rachaduras saindo em uma teia de aranha que podia desabar a qualquer instante. A parte dele que morava no vazio, uma criatura sem razão ou limites, rugiu com uma raiva sombria por ter sido negado novamente, mas aquela parte — possessiva e violenta e de sua alma — morreria por Sahara num piscar de olhos, e sabia que ele poderia esmagar sua caixa torácica, arruinar seus pulmões se ele perdesse o controle sobre suas habilidades.

Elevando-se nos cotovelos, ele inalou em respirações fortes e fez um esforço inútil para reconstruir os escudos. Impossível com Sahara tão suave e sensual ao redor dele, aceitando-o embora soubesse que o sangue que cobria suas mãos, manchava sua alma. Talvez, a bagunça distorcida e quebrada no vazio disse, talvez ela não se afaste uma vez que se lembre do quarto do hotel, da dor e dos gritos.

— O quão ruim estão os escudos? — Ternura em seus olhos.

— Ruins. — Uma fração mais de sensação e a crueza de suas emoções não apenas seriam expostas na Rede Psy, mas suas habilidades telecinéticas e telepáticas escapariam da coleira. Mas quando Sahara ia relaxar as pernas em torno dele, ele alcançou e as segurou no lugar, a mão flexionando em sua coxa.

Ela fechou seu aperto. — Obsidiana, Kaleb. Foi obsidiana?

— Não. — Os escudos de obsidiana podiam ser impenetráveis e inquebráveis, mas como Sahara sabia, eles também eram absolutos. — Eu vou ser cortado do fluxo de informação na Rede Psy pela duração. — Ele nunca se desconectara da Rede nessa medida, tinha milhares de pedaços de dados fluindo em sua mente a qualquer momento.

Sahara traçou seus lábios com a ponta do dedo, a mais leve das carícias. — Se você não estiver filtrando dados da Rede, você pode desviar essa energia para manter um controle sobre suas habilidades?

Kaleb fez os cálculos, assentiu. — Eu trarei o risco de uma ruptura catastrófica até vinte e cinco por cento. — Não eram grandes chances, mas não eram ruins, também, não com o controle de Kaleb.

— Há qualquer sugestão de algo importante no horizonte?

— Não.

— Você ainda pode ser alcançado por uma chamada telepática?

— Sim.

Deslizando a mão sobre sua nuca, os talismãs da pulseira fria contra a sua pele, ela sussurrou, — Então deixe a Rede Psy cuidar de si mesma por uma hora ou duas, e cuide de mim em vez disso.

Ele não precisava escolher, havia apenas uma opção.

— Não aqui. — Ele não podia ter certeza da segurança.

Sahara ofegou enquanto ele os teletransportava para a cama dele... em seguida, afastou a camisa e se inclinou para colocar os lábios na pele que desnudou. Fechando os escudos de obsidiana alimentados de sua telepatia e aumentados com a energia cinética de sua Tc, ele empurrou as pernas de Sahara para cima para dar mais espaço para si entre as coxas dela — e soltou a coleira.

 

                                 Capítulo 26

Kaleb puxou Sahara para cima com um aperto em seu cabelo, tomando sua boca com uma fúria lenta e concentrada que deixou claro que ela era agora o único foco de todo esse poder implacável, dessa atenção e vontade. Gemendo no beijo, ela se rendeu, abrindo-se a qualquer coisa e tudo o que ele queria.

Botões se rasgaram enquanto ele arrancava sua camisa, e então o calor do peito nu estava esmagando seus seios. Um movimento ligeiro e ele fechou uma das mãos sobre o seio esquerdo, acariciando e apertando com uma posse exposta enquanto sua língua raspava sobre a dela, com a boca inclinada para criar o ajuste perfeito.

Unhas afundando no músculo pesado de suas costas, ela o encontrou beijo a beijo.

Meu Kaleb, meu.

Seu polegar esfregou sobre o mamilo, seus dedos fortes e seguros em sua carne, seu toque de um homem que tinha certeza absoluta de sua acolhida. Quando ele quebrou o beijo para envolver o seio com a mão antes de sugar a parte de cima em sua boca, ela gritou e tentou impossivelmente se aproximar, a sucção quente era um pulso deslumbrante de sensações. Liberando sua carne palpitante depois que ela estava a meio caminho da loucura, ele olhou para a umidade brilhante de sua pele, seu mamilo enrugado em um ponto apertado implorando que ele o puxasse com as pontas dos dedos.

Seu útero se apertou.

Correndo a boca garganta abaixo, sua necessidade por ele era uma coisa selvagem, ela fez uma queixa vocal, quando ele ergueu o corpo para longe dela. Um olhar quente, uma forte mão masculina em seu cabelo enquanto ele a marcava com seu beijo, então, recuou novamente para rasgar o zíper da calça jeans dela, retirando-a. A fivela do cinto dele pressionou seu abdômen quando ele voltou para a sua boca, sua ereção era uma demanda agressiva contra ela que a fez querer se contorcer.

Exceto que ele era deliciosamente pesado, prendendo-a no lugar. Ninguém mais poderia ter sua confiança em tal posição de poder, ninguém além do homem mais perigoso do mundo. Não conseguindo obter o suficiente de seu beijo, da conexão que era um punho perfurando seu diafragma para segurar seu coração, ela trancou os tornozelos na base de sua espinha e espalhou os dedos na parte superior de suas costas.

— Eu quero beijar cada centímetro de suas costas, — ela conseguiu dizer entre beijos.

— Depois. — Enfiando a mão na parte de trás de sua calcinha, ele segurou suas curvas inferiores, tomando o grito surpreso em sua boca, a voz dele era uma perigosa e sedutora lâmina em sua mente. Macia, suave e minha. Sempre minha.

Inspirando em respirações desesperadas quando ele libertou seus lábios para beijar o caminho ao longo de sua garganta antes de voltar para reivindicar sua boca mais uma vez, ela correu as unhas pelas costas dele. Foi mais forte do que pretendia, a boca e as mãos dele fazendo coisas com ela que a deixavam devastada, ele ostentaria as marcas por um dia, pelo menos.

Interrompendo o beijo, ele jogou a cabeça para trás.

Quando aqueles olhos obsidiana encontraram os dela novamente, estavam acompanhados por um sorriso que não continham nada calculado — era letal... de uma maneira que fez seu corpo levantar em direção ao dele. Mas ele já estava se movendo com a graça de um poderoso Tc cardeal, descendo seu corpo aos beijos para arrancar sua calcinha, separar suas coxas, e esfregar o queixo contra a superfície interna ultrassensível de suas coxas.

— Kaleb! — Sua mente explodiu ao bater contra os escudos dele, seu corpo se curvando. — Não pare, — ela implorou, — Não... — Um grito silencioso, suas sinapses fritadas, a boca dele quente e exigente em sua carne úmida, com as mãos um pouco áspera em suas coxas enquanto ele as separava.

Sahara conhecia a mecânica do sexo, embora o Silêncio não incentivasse o ato para procriação ou por prazer, mas nunca em sua educação ela fora ensinada de que havia níveis de intimidade, mesmo no sexo. Isto, o que Kaleb estava fazendo com ela, não era algo que já imaginara, e oh, ela gostava.

Arqueando em sua boca enquanto ele a lambia, sua língua a explorando com uma atenção aos detalhes que deixava claro que ele seria tão implacável na cama quanto era em todos os outros aspectos da vida, ela o segurou com uma mão na seda pesada de seu cabelo. Essa mão se apertou sem sua vontade consciente, quando ele iria mudar sua atenção da escorregadia e pulsante protuberância no ápice de suas coxas.

Erguendo a cabeça, seus olhos como uma tempestade de meia-noite, a sombra daquele sorriso letal em seus lábios, disse ele, — Essa é uma sensação boa?

Seus dedos dos pés se enrolaram.

Assentindo, ela prendeu a respiração quando ele abaixou a cabeça... e deu o que ela queria, fixando a boca em seu clitóris e chupando forte, com as mãos presas em suas coxas para mantê-la aberta para ele. De vez em quando, ele mexia os polegares sobre a carne delicada e sensível, acrescentando ao tumulto de sensações que a fazia segurar os lençóis, o calor musculoso de seus ombros.

Mesmo enquanto ela soluçava seu êxtase, suas terminações nervosas retalhadas pela dor quente e doce do prazer sexual, a voz dele era uma carícia sombria em sua mente. Mais forte? Mais suave? Assim? Ou você prefere isso? Cada pergunta era acompanhada por uma demonstração erótica, o corpo dela como o instrumento de seu amente. Que tal isso? Fortes dentes brancos roçando a carne inchada de seu clitóris... então pressionando uma sutil fração.

Prazer a assolou, deixou-a em ruínas.

Levantando-se para se ajoelhar sobre seu corpo trêmulo, ele curvou a mão ao redor de seu pescoço em um ato de posse que se tornou sombriamente familiar, e inclinou-se para sua boca. O gosto nos lábios dele era o seu próprio, e era uma intimidade que deveria ser chocante, mas nada era chocante, nada era tabu quando se tratava do homem em sua cama.

Um escravo para ele, seu corpo suave com o prazer, ela disse, Deixa-me fazer essas coisas para você.

A mão soltando sua garganta apenas para se fechar sobre ela novamente. Podemos ter que chegar até lá. Mesmo a obsidiana não vai aguentar, se você colocar a boca em mim. Ainda não.

O veludo preto do tom de voz fez a tremer, seu corpo ondulando em direção a ele em uma nova onda de necessidade. Ela esperara tanto tempo por isso, por ele, e, agora, sua carne estava faminta, sua alma gananciosa. Por favor.

Diga-me o que você precisa. Ele moveu a mão de sua garganta para entre suas pernas.

Sahara estremeceu quando o polegar roçou seu clitóris, suas unhas penetrando nos braços dele. É sensível demais. A realização a frustrou — era uma sensação tão boa quando ele a tocava ali que ela só queria experimentar as sensações novamente. Mas havia algo que ela queria ainda mais.

— Você deve conhecer esse prazer, também, — ela sussurrou enquanto ele colocava a mão sobre sua pele úmida, o calor áspero era uma carícia sutil. — Ensine-me o que lhe faz se sentir bem em seu corpo. — Ela ansiava por beijá-lo e acariciá-lo como ele estava fazendo com ela, queimando por ver aqueles olhos cardinais encharcados na mesma tempestade que a sugara.

Assistir você chegar ao orgasmo me dá um prazer extremo, foi a resposta sincera de Kaleb enquanto seus lábios procuravam os dela mais uma vez. Sentir você pegajosa e úmida contra a minha língua, meus dedos, seu corpo macio sob o meu, seus mamilos excitados esfregando contra meu peito, estão são bons sensações.

A respiração de Sahara ficou irregular, os seios subindo e descendo enquanto ela lutava para não se afogar sob o ataque erótico. Até este instante, ela não sabia que palavras poderiam ser tão sensuais, tão excitantes, como toque. Ainda mais quando ela sabia que Kaleb não estava dizendo as palavras com essa intenção — ele estava simplesmente declarando fatos, seu prazer era o dele.

Ele bateu em seu clitóris novamente. Ainda sensível?

Sim, ela conseguiu responder através da picada aguda da sensação.

Vamos tentar isso, em vez disso. Interrompendo o beijo para descer a concentração em seu corpo, a expressão como aço em sua intensidade, ele empurrou o aperto de sua entrada com o dedo, e quando ela tremeu, as mãos caindo para apertar os lençóis, trabalhou o dedo lentamente do lado de dentro. Sim? O cabelo caiu sobre a testa, olhou para cima, seus olhos se encontrando.

Tanto poder, ela pensou, um controle tão inflexível. Deveria fazê-la se sentir em grande desvantagem. Não fazia. Porque este era Kaleb. — Sim. — Um gemido de descoberta enquanto ele deslizava o dedo para fora, então o empurrou de volta igualmente lento. — Sim, por favor.

Um segundo dedo, e de uma vez ela teria o suficiente, seu útero se contraindo com um vazio que doía. Ela poderia nunca ter feito este ato antes, mas o instinto lhe dizia o que a experiência não fazia. — Você, — disse ela, e foi uma ordem. — Eu preciso de você. — Apenas Kaleb.

O beijo dele em resposta foi uma demanda nua, sua língua lambendo profundamente. — Afaste mais as pernas, — ele ordenou, quando libertou sua boca, retirando sua mão e se levantando para se livrar do resto de suas roupas finalmente — para revelar um corpo que fez seu núcleo feminino apertar.

Gloriosamente nu, sua pesada ereção, ele se estabeleceu entre as pernas que ela afastou para ele, uma das mãos em sua coxa, a outra de palma para baixo ao lado de sua cabeça. Seus olhares se encontraram novamente quando ele começou a empurrar dentro dela com a ponta brusca do pênis, a mão na nuca dele, seu corpo liso e pronto, mas ainda tão apertado contra a espessa intrusão dele. Um tipo doloroso de queimação que a fez assobiar um suspiro, mas abaixo disso havia uma necessidade que queria, ansiava.

Você está sofrendo?

Eu quero essa dor.

Suor escorria das têmporas de Kaleb, sua mandíbula uma linha brutal, mas ele manteve o impulso lento e inexorável de seu corpo até que a ereção estava enterrada até o fim dentro dela. Sahara. Maçãs do rosto coradas de paixão e olhos tempestuosos com tanto poder que era semelhante a olhar para o coração de uma trovoada.

Eu me sinto... perfeita. Apertada e preenchida ao ponto que era quase dor e exatamente onde ela estava destinada a estar.

Quando ele estremeceu e tirou uma polegada, ela gritou, o atrito do pênis duro como pedra contra sua carne sensibilizada foi um choque erótico. Kaleb empurrou de volta, apenas para repetir a saída e a reentrada, a mão em sua coxa se deslocando para o quadril para imobilizá-la no lugar enquanto ele abaixava a cabeça para beijar seus seios, chupando um de seus mamilos antes de soltá-los através de seus dentes.

A carícia fez seus músculos internos vibraram em torno dele. O corpo dele ficou rígido, os tendões do pescoço destacando-se nitidamente contra a pele, as veias em seus braços pulsando enquanto seus músculos ficavam tensos. Mas Kaleb aprendera controle em uma prova viciosa — ele não sucumbiu mesmo sob a intensidade das sensações. Beijando-a novamente enquanto ela enganchou uma das pernas sobre seu quadril, ele se tirou totalmente, então empurrou de volta com paciência implacável.

Contorcendo-se debaixo dele, a abrasão dos seios contra seu peito como um contraponto sensual a sua dura posse dura dentro dela, ela gemeu no beijo. Ele engoliu o som e mais uma vez repetiu a lenta e completa retirada e o retorno, esticando os tecidos inchados até seu clitóris palpitar. Lisa como ela estava, seu próprio corpo se lubrificando em ondas turbulentas de paixão, o tamanho dele tornava recebe-lo um esforço — um esforço ardentemente erótico que a fez interromper o beijo para emitir uma demanda feminina sem fôlego. — Mais rápido.

Você tem certeza? Os dedos dele penetravam seu quadril.

— Sim! — Segurando em suas costas, ela tentou arquear o corpo na direção dele... mas ele já estava saindo.

Só para bater de volta. Forte.

Sahara gritou, apertando seu corpo ao redor do corpo de Kaleb em um orgasmo que pareceu como se fosse rasgá-la em pedaços... e foi quando o controle de Kaleb estalou. Não havia nada prático sobre a maneira como ele batia no fundo dentro dela uma e outra vez, nada contido sobre a maneira como ele empurrou sua cabeça para o lado para beijar e chupar sua garganta, nada calculado sobre a maneira como ele inclinou a coxa dela para cima, então afastou mais amplamente para facilitar uma tomada mais profunda.

Era primitivo, era bruto, era espetacular.

Gozando tão forte em torno dele que seus pensamentos não eram nada mais do que fragmentos, ela segurou firme no músculo liso de suor do corpo dele, o coração batendo como um tambor que combinava com o dela e seus dedos apertados de uma forma quase dolorosa na parte inferior da coxa que ele empurrou para cima. Kaleb, meu Kaleb. Era uma reivindicação apaixonada e possessiva enquanto prazer a estraçalhava.

Kaleb gozou em um silêncio violento, sua respiração dura contra sua orelha e o corpo rígido. O calor úmido de sua posse enquanto seu sêmen pulsava dentro dela fez seus músculos eroticamente abusados terem espasmos novamente, apertando forte em torno dele. Empurrando, ele levantou a cabeça, os olhos de obsidiana prendendo os dela enquanto ele recuava uma última vez, então investia passando pelos músculos que se apertavam.

— Minha. Você é minha.

Elas foram as últimas palavras que Sahara ouvido antes do beijo de Kaleb rasgá-la, seu corpo travado com o dela enquanto eles caíam.

 

                                     Capítulo 27

— Nós compartilhamos DNA, — Kaleb murmurou para a mulher que estava deitada em seus braços, sabendo que ele deveria ter lhe dito a feia verdade antes disso, sua única desculpa era que ele não acreditara que ela estava em qualquer lugar perto de aceitá-lo dentro de seu corpo. — Pode haver consequências.

— Não. — Sahara levantou a cabeça em seu peito, os olhos borrados com ecos remanescentes de prazer. — Eu fiz uma visita discreta a um dos M – Psy na clínica quando meu pai — um soluço soltou — foi verificar um paciente na tarde de ontem. Eu conheço a médica desde a infância, e ela fez as mudanças necessárias em minha química corporal sem quaisquer questões intrusiva. — Seus dedos subindo para traçar os lábios dele. — Eu sabia que isso era inevitável.

— Bom. É melhor que meu DNA não seja passado para frente.

— Por que? Você é inteligente, bonito e poderoso.

— Eu também sou mentalmente instável e posso ter tendências para insanidade criminosa.

A suavidade desapareceu da expressão dela. — Kaleb, eu me recuso a chamar qualquer coisa que você fez sob a coerção de Enrique de escolha. Aquela foi a insanidade dele. — Direta, absoluta, desafiando-o a discutir com ela. — Não me falta inteligência. Eu sei que você feriu pessoas quando adulto, mas também sei que você teria feito com um motivo racional, — disse ela, ao vê-lo com uma clareza que era uma navalha.

— Poder, controle, dinheiro, você sempre teve uma razão para suas ações, sendo essas ações justificadas ou não. — Palavras duras, e ainda assim a mão dela continuou aberta sobre seu coração. — Os criminalmente insanos não tem quaisquer razões racionais para a sua ações — o que Enrique fez? Ele encontrava um prazer doentio naquilo. E você?

— Não, mas a semente vive em mim. — Nada poderia alterar o fato impiedosamente biológico disso. — Naquela noite depois que eu matei a cisne, — ele disse, falando a verdade, pela primeira vez em sua vida, — Santano me disse que o nome paterno na minha certidão de nascimento é um mentira.

Indisposto a acreditar em qualquer coisa que o outro Tc disessse Kaleb esperou até ser rico o suficiente para fazer arranjos para testes de DNA anônimos, sua intenção de refutar as palavras de Santano. — Eu confirmei a fraude quando adulto. — Levou dez ciclos de testes para aceitar a verdade de seu sangue contaminado.

Esforçando-se para ficar sobre o cotovelo ao lado dele, Sahara empurrou o cabelo para trás, um franzir marcando sua testa. — Como pode ser isso? O DNA é duplamente comparado ao nascer para se certificar das linhagens genética.

— Dinheiro e poder podem alterar qualquer coisa.

Ele observou Sahara digerir o que dissera, viu o instante da realização. — Santano Enrique, — ela exalou. — Aquele bastardo era o seu pai?

— Em genética. — Kaleb não reivindicaria mais de Enrique do que precisava. — Ele tinha uma teoria sobre como criar filhos de alto gradiente. Ele não iria, no entanto, querem essa criança ligada a ele, no caso do experimento falhar. — Santano Enrique não poderia ter uma criança fraca, não poderia ser nada menos do que perfeito em todos os sentidos.

— Algum tempo depois do meu nascimento, ele tomou a decisão de continuar o subterfúgio — principalmente porque lhe deu um tipo diferente de acesso a mim. — Um pai que tratasse o filho com brutalidade cruel seria visto com desconfiança na Rede, mas um treinador era ativamente encorajado a fazê-lo no caso de uma capacidade ofensiva. A disciplina era tudo quando se tratava de uma criança cardeal Tc — sem ela, até mesmo uma criança pode matar.

— O homem em sua certidão de nascimento? — Sahara afastou o cabelo da testa dele. — Sua mãe?

— Comprados, então silenciosamente assassinados enquanto eu ainda era menor de idade. — Ele não sentiu nada ao pensar nas pessoas que o criaram até os três anos, e então o abandonaram a Santano Enrique. — De baixo gradiente como eram, ninguém notou.

— Certamente, — Sahara disse, — houve suspeitas de um cardeal nascido de dois Psy de baixo gradiente.

— Santano escolheu duas pessoas com os genes recessivos necessários para tornar tal nascimento raro, mas uma possibilidade verdadeira. — Ele estendeu os dedos na parte inferior das costas dela, sua pele delicada e quente, mas com a promessa de músculos macios embaixo, como se seu corpo estivesse se lembrando da dançarina que ela fora uma vez... a dançarina cuja carne fora rasgada por uma faca com uma lâmina lascada. — Eu o carrego em minhas próprias células.

A mandíbula de Sahara se firmou em uma linha teimosa familiar para ele desde sua infância. — Você pode carregar os genes dele, — ela disse, — mas você não é e nunca será filho de Enrique. — A negação apaixonada vibrou com uma fúria fria. — Se você fosse, você não encontraria prazer em me tocar com carinho, somente em me causar dor. — Pressionando os dedos sobre seus lábios, ela balançou a cabeça. — Você é Kaleb. Essa é a sua identidade.

 

Meia hora depois, Sahara estava intensamente consciente de Kaleb observando com olhos silenciosos enquanto ela se movia ao redor de sua cozinha, montando uma refeição para os dois, as extremidades da camisa branca que ela pegou emprestada dele roçando suas coxas. Certas partes de seu corpo formigando com cada movimento, uma lembrança silenciosa da intimidade desinibida que compartilharam na privacidade da cama dele.

Kaleb, vestido apenas com uma calça de moletom preta, o músculo estriado do peito sombreado à luz do início da noite nesta parte do mundo, era um jovem deus, uma estátua grega que ganhou vida. Forte, lindo e remoto.

Exceto que ele não era remoto, não era frio. Não para ela. Nunca para ela.

Ele obteve a mais recente atualização de seu pai minutos antes e se ofereceu para levá-la ao hospital. A única razão que forcou Sahara a esperar foi que Leon Kyriakus permanecia em isolamento, o seu sistema imunológico enfraquecido, como resultado de uma infecção hostil causada pela faca suja que o caçador de recompensas usara. Ela não queria arriscar a introdução de uma contaminação fatal no sistema dele em sua necessidade de vê-lo vivo e bem.

— Seu prognóstico é bom — Kaleb dissera, examinando o relatório médico, quando os olhos dela se umedeceram demais para fazê-lo. — A lesão foi grave, e sua recuperação será lenta, mas com a infecção diagnosticada a tempo, não há motivo para preocupação.

Para qualquer outra pessoa, as palavras poderiam ter soado indiferentes, insensíveis ao medo que torcia suas entranhas, mas para ela, soaram como honestidade. Kaleb nunca mentira para ela, e se ele disse que seu pai ia se recuperar, ele iria. E quando Leon acordasse, ele estaria decepcionado com ela, se, em sua preocupação, falhasse ao fazer a única coisa que ele lhe pediu na noite em que conversaram até o amanhecer.

— Viva sua vida, Sahara. Viva-a tão grande e com tanta cor quanto você possa suportar. Não deixe ninguém ou qualquer coisa — a família, o Silêncio, o peso de sua habilidade, até mesmo a minha necessidade de mantê-la por perto —confiná-la novamente.

Então ela piscou as lágrimas incipientes, olhou para o rosto implacável do homem que fez tudo nela acender — alegria, prazer, medo, raiva, terror, esperança — e deu o próximo passo em sua estrada para uma vida extraordinária.

— Eu preciso te perguntar uma coisa — ela disse, pegando uma colher para misturar a bebida nutritiva que ele insistia em tomar no lugar de qualquer coisa com mais gosto. Ela tentou engolir a pergunta, mas estava azedando seu estômago, deixando-a nervosa, e ele notaria.

Um olhar silencioso que lhe disse para perguntar.

— Onde exatamente você aprendeu o que nós acabamos de fazer? — Saiu mais ousado do que ela pretendida.

— Com a forma como nossos corpos respondem um ao outro, preparação parecia prudente.

— Eu entendo. — A colher bateu no interior do vidro, seus movimentos irregulares.

Movendo-se para se inclinar sobre o balcão ao lado dela, Kaleb envolveu seu queixo. Quando ela se recusou a olhar para ele, ele esfregou o polegar sobre o lábio inferior. — Eu pesquisei intimidade sexual da mesma forma que pesquiso todo o resto. Metodicamente e em detalhes intrincados.

Sahara agarrou a borda do balcão enquanto sua mente era inundada por uma cascata telepática de imagens eróticas, membros emaranhados e dedos penetrando em carne. De olhos arregalados, ela encontrou os dele. — Como você...?

— Sexo — disse ele, esfregando o polegar sobre o lábio inferior novamente, — é algo que as outras raças acham infinitamente fascinante. Encontrar imagens, literatura, e gravações foi brincadeira de criança. Uma simples pesquisa na Internet trouxe milhões de resultados.

Bochechas queimando por parte do que caído em sua mente, Sahara disse, — E a aplicação da teoria em prática? — Se ele compartilhara o corpo com qualquer outra pessoa de qualquer forma, sua raiva seria tão violenta quanto sua dor. Suas lembranças fragmentadas, o desejo de poder e falta de uma bússola moral dele, nada disso importava neste nível mais elementar.

Aqui, ele pertencia a ela.

— A aplicação prática, — ele disse naquela voz fria e calma do Kaleb, — teria sido um exercício inútil, dada a elevada probabilidade de que eu mataria qualquer um que ousasse me tocar de tal maneira. — Outro roçar, os olhos focados em seus lábios. — Com você, no entanto, eu entendo totalmente a preocupação humana e changeling com o sexo. — Desta vez, a imagem que ele lhe mandou teriam dobrado seus joelhos se ela não tivesse o apoio de um telecinético.

A imagem instantânea era dela, como estivera na cama dela há não muito tempo, suas coxas afastadas e as costas arqueadas, do ponto de vista de um homem que tinha ambas as mãos sobre as superfícies internas das coxas naquele momento. Exata em cada detalhe, até o suor que brilhava em sua pele e a maciez entre as coxas, foi apresentada a memória como uma armadilha de aço do cardeal Tc que agora era seu amante.

— Isto, — ela murmurou, — é injusto. Eu não tenho a mesma munição.

A expressão de Kaleb não se alterou, seu tom não se aqueceu, mas as palavras que ele disse não eram nem um pouco do Silêncio. — Eu lhe enviarei alguns arquivos de vídeo. — Então, ele abaixou a cabeça e disse que deveriam praticar os beijos, a voz tão fria como gelo... e os olhos dominados por fogo negro.

Foi depois de um longo período de tempo, os dois de volta ao ninho, que ele enfiou a mão no bolso de seu terno preto — sua camisa de um verde floresta escuro que ela escolhera de seu closet — e tirou uma pequena caixa de joia. —Isto é para você.

Não era seu aniversário, mas Sahara sabia que a caixa continha um amuleto. — Para marcar meu retorno? — ela perguntou suavemente.

— Sim. — Abrindo-a, ele recuperou o amuleto. — No caso de seu pai não ter a chance de dizer, houve uma transferência para sua conta ontem — marcada como o rendimento de um investimento que ele fez para você quando você era criança, com vencimento em seu vigésimo terceiro aniversário. — Uma pausa. — Era para vencer aos dezoito anos, dando-lhe fundos independentes para a educação, mas Leon continuou estendendo a data.

Sahara engoliu o nó em sua garganta. Mais uma vez, seu amante aparentemente distante havia demonstrado sua consciência das necessidades emocionais dela, contando-lhe um fato que outros poderiam ter omitido. Oferecendo o pulso, ela disse: — Você conseguiu uma bainha para a lâmina? — A pulseira dos amuletos brilhava a luz do sol que entrava pela janela.

— É muito cedo para o trabalho ter sido completado. — Os dedos se fecharam em torno de seu pulso, o polegar sobre a vibração de seus batimentos cardíacos. —Você vai ter que esperar pelo próximo ano.

Próximo ano.

Se ela estivesse de pé, poderia ter cambaleou sob a força de seu alívio. — E a estrela solitária?

Olhos de um preto escuro prendendo os seus, as palavras que ele falou apenas uma fração da conversa. — Parece não ter sofrido um dano fatal.

Um equilíbrio tão precário. Tantas vidas pendiam sobre sua sanidade quando sua mente permanecia um caos. — Deixe me ver, — ela sussurrou para este homem que devastaria o mundo em vingança por ela.

Como antes, ela tentou torcer o pescoço, tentou espiar, mas ele bloqueou seu ponto de vista, os ombros largos em um ângulo para mostrar a nuca sob o preto puro do cabelo.

Erguendo a mão livre, ela mal tocou a pele. Um momento de imobilidade, então nada além do calor masculino, os dedos dele segurando seu pulso enquanto ajeitava a pulseira e a deixava ver o mais novo amuleto.

Uma águia em pleno voo, asas abertas ao seu maior comprimento.

Liberdade.

Pure Psy

Os Psy uniformemente cremavam seus mortos. Era a maneira mais eficaz de eliminar um cadáver, e aqueles da raça de Vasquez não tinham necessidade de um túmulo onde eles pudessem ficar de luto. No entanto, Vasquez não cremara o corpo devastado do conselheiro Henry Scott. Ele enterrara Henry em um local isolado nas montanhas Tatra na Europa.

Ele não o fizera porque precisava de absolvição emocional. Seu Silêncio era puro. Não, ele enterrou seu líder assassinado para que pudesse reportar de volta a Henry. Ele o fez ciente de que muitos considerariam essa comunicação um ato irracional, mas como Henry se foi, Vasquez não confiava em ninguém com os seus planos para o Pure Psy. Sentia-se mais... estável falando para o lugar de descanso de seu líder perdido do que dentro de sua própria mente.

Poderia ser, ele pensava agora, olhando para o túmulo coberto por uma fina camada de grama nova, que os seres humanos e changelings tivessem seus motivos neste aspecto das coisas. Vasquez não tinha problema em aceitar que as outras raças possuíam certas qualidades e pontos fortes que poderiam ser úteis a sua — no entanto, eles não estavam, e nunca estiveram, em igualdade com os Psy.

A dele era a raça com a capacidade de afetar as próprias mentes das outras raças. Os Psy podiam escravizar estas mentes, se assim o desejassem, esmagando a autonomia das famílias humanas e dos clãs changeling para apagar a própria sociedade deles. Como tal, não se podia permitir que as raças emocionais ascendessem até o ponto onde se acreditassem os legítimos governantes do planeta.

Também era verdade que a culpa para a presunção infundada recentemente evidenciada igualmente pelos seres humanos e changelings iguais não era deles. Essa responsabilidade pertencia aos fracos na Rede Psy, aqueles que permitiram que as raças inferiores fizessem seu caminho a garras para um poder que não poderiam esperar compreender. Nisto, Henry estava errado em sua decisão de atacar os clã SnowDancer e DarkRiver de forma tão direta.

— Eles são animais, — ele disse calmamente, o respeito por seu líder continuava firme, mesmo neste desacordo. — Eles não conhecem a profundidade das águas em estão brincando. — E os seres humanos? Fracos. Indefesos como bebês. — Nós podemos entrar nas mentes humanas à vontade, alterar a própria realidade de sua existência.

O Silêncio era a sua única resposta, mas ele sentia a paz de saber que estava no caminho verdadeiro. — Nosso lugar de direito é como os cuidadores das raças inferiores, e não como agressores. Disciplina maléfica deve ser punida, é claro, mas apenas para tirá-la dos maus hábitos. — Sangue não precisava ser derramado quando a mente poderia ser ensinada a temer a dor. — Em tempo, eles vão se tornar o que eles sempre foram feitos para ser — nossos servos obedientes, que sabem que nós apenas queremos o que é melhor para eles.

Antes que este estado de graça pudesse vir a acontecer, no entanto, Vasquez primeiro precisava corrigir o desequilíbrio atual de poder no mundo. Para isso, ele tinha que destruir o que havia se tornado uma estrutura de decisão com defeito e em decomposição, dando a sua raça a dádiva de ser capaz de começar de novo.

Seres humanos e changelings seriam e continuariam a ser pegos no fogo cruzado enquanto seus superiores lutavam pelo domínio, mas isto não podia ser evitado. Esta era uma guerra pela sobrevivência da raça Psy. — O dano colateral, — disse ele, pensando na operação que estava prestes a colocar o Pure Psy e a necessidade de Silêncio nos lábios de todo mundo de um lado do mundo até o outro, — é inevitável.

 

                                     Capítulo 28

Tendo descansado algumas horas após uma noite que começou com uma escalada emocionante, foi devastada por um intruso inimigo, e terminou nos braços de Kaleb, Sahara acordou pouco depois das duas da tarde. A primeira coisa que fez foi ligar para Anthony por uma atualização sobre seu pai, para descobrir que ele permanecia em isolamento, mas que os médicos estavam cada vez mais confiantes em sua recuperação. Kaleb confirmou esta posição quando ela tocou sua mente... e lhe ocorreu que apesar de Anthony ser do seu sangue, era em seu perigoso amante que confiava em não mentir para ela.

Obrigada, ela disse, quase capaz de vê-lo no escritório de Moscou, onde ele disse que estava finalizando um projeto, apesar do adiantado da hora lá, um homem bonito em um terno feito à mão, que poderia muito bem ser uma lâmina de faca; um homem tão complexo que ela sabia que entendia apenas as peças mais básicas; um homem que sobrevivera ao inferno quando uma criança e saiu disso um enigma sombrio.

Ele pertencia a ela de uma maneira que não podia articular, a ligação entre eles era inquebrável, mas Sahara não tinha ilusões sobre Kaleb. As cicatrizes de uma vida ligada a um monstro nunca poderiam ser apagadas — e ninguém, nem mesmo ela, podia prever as decisões que essas cicatrizes o levariam a tomar. Você precisa descansar, ela disse, uma sensibilidade dolorosa em seu interior. Porque não importava o que ele era, ele era dela primeiro.

Em breve.

Gelo negro em sua mente, mas que já não a assustava. O controle gelado dela era tanto uma parte de Kaleb quanto a possessividade sombria de seu beijo, e Sahara compreendeu a necessidade por isto.

O dano externo? ela perguntou, o pulso acelerado com a lembrança de seu choque quando olhou distraidamente pela janela da cozinha após terem compartilhado seus corpos—para ver grandes cortes na paisagem, tanto quanto o olho podia ver, como se o terra tivesse sido rachado como um ovo.

Limitado a um raio de quinhentos metros ao redor da casa. Consertei as rachaduras depois de teletransportar você para o território DarkRiver.

Sahara sabia que deveria estar preocupada com o fato de ter estado na cama com um homem que causava esse tipo de dano com uma momentânea e, segundo ele, pequena perda de controle telecinético durante a intimidade, mas ela sentiu os lábios subirem nos cantos. Então, nós literalmente fizemos a terra se mover?

Uma ligeira pausa, antes de Kaleb dizer, Eu sugiro não nos envolvermos com sexo em áreas povoadas.

O comentário frio a fez cair na gargalhada.

Centrado pela curta interação, ela comeu uma pequena refeição saudável, consciente que não podia se tornar complacente com sua saúde física, então desceu a escada de corda para percorrer seu novo ambiente. Sua intenção, no entanto, não era explorar, mas utilizar a paz salpicada de sol para consertar os rasgos em sua psique. Como resultado, ela logo estava perdida no cofre de memórias entrelaçadas que guardava seus pedaços.

— Parece que você precisa de um cupcake.

Sahara saltou, não tendo ouvido passos, nem mesmo um sussurro de que alguém estava nas proximidades.

— Desculpe, não pretendia te surpreender, — disse a mulher alta com cabelos de um vermelho mais dourados do que os de Faith, os fios puxados para trás em uma trança francesa apertada. Vestida com calça jeans, botas e uma camiseta, ela tinha de fato um cupcake rosa-fosco na mão. — Eu ia comer este, também, — a mulher confidenciou, — mas já comi três e meus quadris estão começando a gemer em protesto.

Sahara não via nada além de músculos flexíveis naqueles quadris. —Obrigada, — ela disse, aceitando o presente inesperado. — Você é um dos guardas? — O andar da mulher a identificava como um changeling felino.

— O nome é Mercy. Sentinela DarkRiver— é meu trabalho garantir que seu perímetro permaneça seguro a todo tempo. — Ela colocou a mão sobre a ligeira curva de seu abdômen em um movimento ausente, os olhos atentos sobre a floresta ao seu redor.

— Você está carregando uma criança, — Sahara deixou escapar, percebendo tarde demais que era rude levantar um assunto tão pessoal.

— De acordo com sua prima, — Mercy disse secamente, e sem indicação de ter se ofendido, — Eu posso estar carregando meia dúzia. Faith se recusa a me dizer se ela viu trigêmeos ou quádruplos, e não vou perguntar — além de que não sei se eu ou meu companheiro podemos aguentar. — Um sorriso. — Os lobinhos gatinhos, sem dúvida, me farão saber aos chutes quando estiverem prontos.

— Lobinhos gatinhos?

A outra mulher riu. — Esta é uma longa história envolvendo um lobo de olhos castanhos muito sexy e licor forte até demais.

Hesitante, mas esperançosa, Sahara sorriu. — Eu tenho tempo. — Ela gostou de Mercy, e diferente de quando era menina, ela não precisava manter distância de alguém que queria como amigo.

Durante a hora seguinte, enquanto atravessavam o verde selvagem das árvores, Mercy falou de seu namoro apaixonado com o lobo que ela claramente adorava e que era o pai dos — lobinhos gatinhos — em seu ventre. Uma e outra vez, os olhos de Sahara caíram sobre os amuletos que Kaleb lhe dera... e ela começou a cavar mais fundo no cofre pela história fragmentada de seu próprio namoro.

 

Havia passado quinze minutos das duas da manhã em Moscou quando Kaleb se deitou para descansar. Ele dormira apenas vinte minutos, quando foi acordado por um pedaço de dados brutos que disparam seus alarmes subconscientes. Ele não sentiu nenhuma sensação de surpresa ao abrir os olhos para descobrir que o Pure Psy atacou uma universidade fortemente frequentada por Psy, devido à sua localização no centro da cidade movimentada que era Denver.

O campus de classe mundial era famoso por seus alunos e disposição progressistas. Discussão sobre eventos atuais deviam ser abundantes. E com isso muitas mentes brilhantes em um só lugar, sem dúvida lados eram escolhidos. Se Kaleb tivesse que adivinhar, diria que a maioria havia decidido contra o Pure Psy — mas uma minoria discordava e um ou mais tinha dúvida sem relatado a “deslealdade” para o grupo de fanáticos.

Puxando as calças cargo, uma camiseta de mangas compridas, e botas de combate, ele se teletransportou para o caos, identificou o indivíduo responsável por evacuar os edifícios que desabaram, e se deixou — e os Arrows que se teletransportaram a seu pedido — a disposição como prontos para ajudar. Por razões ainda não identificadas, o Pure Psy não usou bombas incendiárias desta vez, deixando uma chance muito maior de sobreviventes.

A humana baixa, gorda e de cabelos grisalhos comandando o show não piscou com a chegada deles e começou a usar suas habilidades com uma clareza de raciocínio rápido que significava que ninguém tentou usurpar sua posição. —Quadrante dois, às duas horas, — ela disse quando ele se apresentou depois de ajudar a estabilizar um edifício que ameaçava desabar em cima de sobreviventes feridos e imóveis. — Equipamentos detectando respiração.

Um jovem que se movia com a graça fluida de um changeling, o logotipo da universidade em sua camiseta rasgada, mas não ensanguentada, correu até a seção antes que Kaleb pudesse começar a mover as peças de concreto antigo. — Espere. — Ele estendeu a mão, sua alourada pele marrom na luz da tarde. — Eu posso sentir o cheiro deles.

Kaleb conteve sua Tc. Enquanto ele podia sentir uma série de mentes, suas dores e pânico cobriam a área, o que tornava impossível identificar locais específicos.

Movendo-se com cuidado sobre a seção quebrada, o changeling acenou para Kaleb, seus olhos como o âmbar verde de um grande predador, possivelmente um dos tigres reclusos. — Aqui.

Kaleb moveu o concreto irregular com cuidado. Preso embaixo estava um estudante humano alto, que parecia ter clavícula e tornozelo quebrados. Kaleb balançou a cabeça quando o garoto changeling — e ele era um garoto, não mais do que dezenove anos — iria levantá-la. — Eu alertei os paramédicos. Ela precisa de cuidados em caso de ferimentos na medula.

O próximo resgate vivo foi um par de estudantes Psy, ambos com graves lesões por esmagamento. Mais três se seguiram. Todos os restantes estavam mortos — incluindo uma changeling mais velha cujo jaleco a identificava como professora, e cujos olhos o garoto fechou com dedos trêmulos que viraram garras nas pontas.

— Confirme que não há mais assinaturas de calor! — chamou o cientista humano que estava examinando os destroços com equipamento de radar especializado.

O garoto changeling, seu rosto repuxado, assentiu. — Os cheiros estão confusos... mas tudo o que sinto nas proximidades é morte.

Kaleb examinou por mentes vivas nas imediações, não encontrou nenhuma. — É hora de se apresentar, conseguir uma nova tarefa.

Dois paramédicos Psy correram por eles naquele momento, indo para o quadrante seguinte, um médico humano já em cena, uma enfermeira changeling em seu calcanhar. Kaleb nunca vira essa cooperação entre as três raças — e ele não foi o único que percebeu. Jornalistas de todo o mundo entrevistavam os resgatados que podiam falar, os expectadores que sobreviveram à explosão inicial, os socorristas na reserva por causa do cansaço, seja quem conseguisse ficar parado por alguns minutos.

Kaleb , você deve estar exausto. De acordo com as notícias, você não parou desde que chegou.

Ele estava quase esperando a mensagem telepática. Minhas reservas de energia são maiores do que a da maioria dos cardiais. O fato era que ele não sabia por quanto tempo poderia seguir como adulto, nunca fora forçado ao ponto onde se esgotaria.

Você já comeu?

Sim. Se seu corpo falhasse, não importaria se suas reservas psíquicas se mantivessem elevadas. Não estou mais em perigo de sobrecarga. Como está seu o pai?

Aguentando firme.

Ele esperava que ela se retirasse enquanto continuava a trabalhar, mas ela ficou com ele do começo ao fim, a via telepática aberta, mas silenciosa.

Ninguém além de Sahara já se importou o suficiente com ele para se preocupar.

Não foi até quase vinte horas depois que Kaleb parou de funcionar. De acordo com o equipamento, não havia mais sinais que alguém sobrevivera, e os changelings passaram sobre a área várias vezes com os mesmos resultados. Devido ao número de equipes de resgate na área, os exames telepáticos não eram tão úteis, mas foram feitos, também.

— Sem mais chance de sobreviventes, — foi a decisão da mulher de cabelos prateados que não descansou por todo o tempo. — Obrigada. A todos vocês. Vão para casa agora, e descansem. É hora das equipes de recuperação de corpos assumirem.

Fisicamente esgotado de uma maneira que estivera por mais tempo do que podia se lembrar, Kaleb considerou seu próximo movimento. A cooperação hoje veio na sequência de uma terrível tragédia — não aguentaria se o Pure Psy continuasse a atacar alvos racialmente mistos, especialmente se esses alvos focassem nos jovens.

A maioria das pessoas entendia que o derramamento de sangue resultava de uma divisão radical da população Psy, mas de acordo com os relatos da mídia que fluíam através da Rede Psy, um pequeno elemento estava começando a acreditar de forma diferente: a de que os Psy estavam sacrificando alguns dos seus próprios, a fim de esconder seu verdadeiro objetivo— matar um grande número de seres humanos e changelings, preparando o palco para uma dominação mundial por sua raça.

Se esse elemento reagisse para proteger os seus por ação violenta contra aqueles que consideravam o inimigo, a guerra civil na Rede Psy podia pender para uma verdadeira guerra global. A carnificina resultaria em um mundo rompido, seu povo desmoralizado e sem esperança.

O momento ideal para um novo imperador chegar ao poder.

Pure Psy

Vasquez assistia ao noticiário com um crescente sentimento de inquietação. A situação estava ainda pior do que ele acreditava: jornalistas Psy não estavam apenas elogiando as habilidades e o apoio prestado pelas raças inferiores ao resultado do ataque na universidade, eles estavam chamando de uma nova aurora brilhante na cooperação inter-racial.

Se isso continuar, seu povo iria em breve começar a ver as emoções animais dos changelings e seres humanos de uma forma positiva, e os traidores da Rede teriam outra arma em sua luta para derrubar o Silêncio. Não podia permitir que isso acontecesse — e o próximo ataque do Pure Psy garantiria isso, estilhaçando todas as esperanças de cooperação em um miasma de desconfiança.

O golpe à universidade não foi nada, um chamariz para distrair aqueles que caçavam Vasquez e seus fiéis soldados. A verdadeira mensagem do Pure Psy ainda estava para ser ouvida, seria escrita nos céus em chamas mortais, o campo ômega ficaria na história do mundo.

Havia rumores de um Arrow farejando esse campo, e isto era uma preocupação, mas não o suficiente para fazer Vasquez autorizar um “seguir” prematuro. O fato de que um grande número de Tcs estarem cansados pela operação na universidade desempenhava um papel de maior peso em suas deliberações, mas no final, ele decidiu por paciência.

Se ele detonasse agora, com os preparativos finais não exatamente no lugar, arriscava cometer uma grave injustiça a centenas de horas de trabalho árduo. Seu povo merecia testemunhar a glória do que eles poderiam conquistar — no final, não importa se cada Tc no mundo respondesse ao próximo ataque: ele não podia ser parado, não podia ser minimizado.

— Nós iremos, — ele disse à memória de seu líder perdido, — nos erguer novamente das cinzas do mundo.

 

                                 Capítulo 29

Trinta minutos após a chefe da equipe de resgate na universidade anunciar não haver esperança de mais sobreviventes, Sahara sentiu o arrepio na nuca que era a presença de Kaleb. Ele tinha tomado banho e trocado de roupa desde que o vira na teleconferência e usava calças pretas de camuflagem, uma camiseta de um verde oliva.

Nada em seu rosto traia o esgotamento que ele tinha que estar sentindo, mas Sahara ficara com ele durante as horas brutais, não seria enganada. — Você precisa dormir, — ela disse, pegando sua mão e o puxando para sua cama. — Eu não posso acreditar que você foi estúpido o suficiente para desperdiçar energia se teletransportando até mim.

Quando ela alcançou a parte de baixo de sua camiseta, com a intenção de retirá-la para que ele pudesse dormir mais confortavelmente, mãos fortes se fecharam sobre seus pulsos. — Você gostaria de dormir comigo?

Sahara ficou imóvel frente a pergunta fria. Kaleb Krychek, ela sabia sem perguntar, não confiava em ninguém ao seu lado enquanto ele estava o mais vulnerável possível. — Sim , — ela sussurrou. — Eu estou cansada, também.

Para sua frustração, ele novamente usou a energia que ele deveria estar conservando para teletransportá-los para a casa de Moscou envolta pela noite, mas ela não discutiu. Ele não seria capaz de baixar a guarda o suficiente para descansar de verdade em qualquer outro lugar. Agarrando a camiseta que ele tirou, ela tirou sua própria roupa e puxou o tecido macio sobre a sua cabeça.

A camiseta ainda estava quente de seu corpo, o cheiro de pinho e Kaleb na trama do tecido. Tremendo de prazer tátil, Sahara decidiu que sempre roubaria suas camisetas. Ela desfez sua trança e se arrastou para a cama quando o viu saindo do quarto. — Kaleb?

— Eu voltarei depois de verificar o sistema de segurança.

Sem surpresa, ela puxou o lençol sobre si. O corpo de Kaleb queimava tão quente que não precisava de mais nada. Ela estava meio dormindo quando ele voltou. Vindo para a cama, ele tocou no arco de sua bochecha. — Você está no meu lado da cama. — Foi uma reprimenda calma.

Sahara sorriu, sonolenta e satisfeita, rolando para entregar o local que o colocava entre ela e as portas deslizantes do terraço. — Tudo seguro? — ela perguntou, completamente certa que nada e ninguém jamais a machucaria com Kaleb na vizinhança.

— Sim. — Seu peso na cama, mas sem toque.

O anseio por contato pele-a-pele era um pulsar maçante em cada célula do seu corpo, mas ela mordeu o lábio inferior para abafar o pedido na ponta da língua. As reservas de energia de Kaleb deviam estar no mínimo agora, o que significava que sua capacidade de blindagem...

Ele curvou o corpo para trás do dela, um braço deslizando sob sua cabeça, o outro ao redor de sua cintura, enquanto uma coxa empurrava entre as suas.

— Seus escudos...

— Intactos. Estou apenas cansado fisicamente. Minhas reservas psíquicas estão cheias.

Impossível, Sahara pensou, mas sentindo seu corpo começando a encerrar com a mesma disciplina gelada que ele usava em todos os outros aspectos de sua vida, ela manteve o silêncio e caiu na quietude suave do sono segundos depois de Kaleb.

 

Kaleb acordou primeiro, para descobrir a mão sob a camiseta de Sahara, os dedos curvados sobre o peso quente de um de seus seios. Deixando-o exatamente onde estava, o peso erótico um profundo prazer, ele rapidamente examinou as informações que filtrara em sua mente enquanto dormia; ele encaminhou dois itens de negócios para seu assessor lidar, enquanto tomava nota da crescente inquietação na Rede.

Nada exigia sua atenção urgente.

Fechando os escudos de obsidiana, ele se livrou do lençol, então arrancou sua calça de moletom para pressionar sua nudez contra as curvas cobertas de renda cobertos da parte inferior do corpo de Sahara, a camiseta amontoada na cintura. O que a fez suspirar em seu sono e mexer para mais perto. Cutucando de lado os fios pretos de seda em seu pescoço, apertou os lábios em sua garganta sensível, o abdômen apertando quando suas coxas apertaram a dele.

Ele assistira vídeos de pessoas copulando nesta posição, analisou os mecanismos, enquanto não via razão para escolhê-la sobre qualquer outra. Agora, ele percebia que havia duas razões muito boas — dava ao homem livre acesso a mulher e quase total controle do ato sexual.

Kaleb gostava de controle em todas as coisas.

— Sahara. — Um roçar de dentes no pescoço dela que a fez estremecer. — Acorde.

Ela se espreguiçou sinuosamente contra ele, corpo flexível, sem medo ou surpresa nela ao entrelaçamento íntimo... apenas um aumento na umidade na renda que pressionava contra sua coxa. — Como isso funciona? — Foi uma questão sonolenta, o pé levantando para esfregar a parte de trás de sua panturrilha.

Kaleb vasculhou seus arquivos de imagem para encontrar um que lhe mostrou exatamente o que ele queria. — Assim.

Sahara gemeu, mas tirou a camiseta em aquiescência silenciosa. Jogando-a de lado, ela tirou os cabelos do rosto e então curvou o braço por cima do ombro, até que seus dedos roçassem a nuca dele, os amuletos de sua pulseira frios contra a pele. O que deixava todo o corpo dela exposto para ele tocar, para que possuísse, os seios se levantavam exuberantes e altos no peito para sua inspeção privada. Seu corpo duro como pedra, ele acariciou com sua mão sobre a pele docemente sensível da coxa dela antes de puxá-la para cima e para trás para prendê-la sobre a sua, seus dedos pressionando a carne delicada.

Sua outra mão enrolada delicadamente em torno da garganta dela.

— Você está pronta? — ele perguntou, embora ele pudesse sentir a viscosidade fundida contra sua coxa.

— Sim.

— Mostre.

— Eu — como?

— Use seus próprios dedos.

Cor pulsou sob sua pele.

— Sem tabus, sem regras aqui, — disse ele, querendo-a com ele em todas as etapas desta exploração erótica. — Este é o nosso lugar, a nossa hora. — Finalmente chegou a hora deles.

Sahara molhou os lábios, os olhos de azul meia-noite encharcados de paixão. — Nossa cama.

Espremendo a base de seu pênis com um anel telecinético, ele freou o desejo dominante de investir dentro dela. — E minha Sahara. — Sempre sua.

Sahara estremeceu e moveu a mão para baixo da encosta côncava do estômago para abrir os dedos sobre o umbigo. Quando ela hesitou, ele beijou seu pescoço novamente. — Sem tabus.

A mão dela se aventurou mais baixo, as pontas de seus dedos desaparecendo sob a renda cremosa de sua calcinha. Com a respiração ficando superficial pelos estímulos visuais que atingiam cada um de seus centros de prazer, ele assistiu a mão dela se mover sob a renda enquanto acariciava a si mesma. Seu abdômen estava rígido, o peito apertado, o prazer quase em dor no momento em que ela retirou os dedos, as digitais lisas e brilhantes.

— Faça-me sua, Kaleb.

O pedido gutural, caindo de lábios macios e molhados, estalou o anel de gelo negro. Deslizando a mão sob a coxa dela depois de reposicionar a sua, ele a abriu ainda mais e, rasgando a calcinha com um uso insignificante de sua Tc, investiu para dentro dela. Ela era apertada. Ele foi lento, deliberado. Gemendo, Sahara cravou as unhas em sua nuca, seus seios ruborizados, seus mamilos como contas exuberantes que ele queria para rolar contra a língua.

Desde que não podia saciar a última, ele cobriu um dos seios com uma mão telecinética, descendo a carícia para apertar o mamilo. Ela apertou ao seu redor, a umidade fundida. Demorou um microssegundo para o cérebro de Kaleb fazer a conexão. Dando o seio negligenciado o mesmo tratamento, ele roçou seu clitóris com um dedo fantasma, sem nunca vacilar no ritmo lento e constante da relação sexual que fazia seus testículos se contraírem apertados contra o seu corpo, a dor requintada.

Sentindo seu corpo começar a apertar, ele separou os lábios dela usando telecinese e apertou o clitóris.

— Kaleb! — Sahara convulsionou ao redor de sua ereção, o corpo inteiro tremendo com a força do orgasmo.

Kaleb tinha a intenção de continuar o ritmo lento que era um exercício de controle erótico, mas seu cérebro entrou em curto-circuito no aperto possessivo dos músculos íntimos de Sahara. Deixando-a de frente, com o rosto virado de lado no travesseiro, ele fechou uma mão com força em seus cabelos e a penetrou com um ritmo brutalmente profundo e rápido, o corpo dela apertado e liso e da mulher que era e sempre fora sua. Parecia loucura, rastejando vermelha no horizonte.

Machucando, a parte dele que morava no vazio gritou, Eu estou a machucando!

Seus músculos se bloquearam, sua mente tentando forçar seu corpo a sair dela e falhando. Ele não queria quebrar a crueza da conexão, a pele dela tão lisa pelo suar como o seu, o corpo dela como um quente punho de seda. — Eu estou machucando você, — ele conseguiu soltar.

— Não, você não está! — Batendo seu punho no travesseiro, Sahara ondulou a parte inferior de seu corpo em direção a ele. Mexa-se!

A demanda feminina era a única coisa que ele precisava ouvir. Investindo contra ela, ele viu seus dedos apertarem forte nos lençóis, os lábios se separem em um grito sem fôlego, e então ela estava gozando ao seu redor mais uma vez, os pulsos com mais força, mais violentamente possessivos. Pego em torno de seu prazer, as costas arquearam enquanto um relâmpago branco atravessava sua coluna vertebral.

A cama bateu de volta contra o chão.

Forte.

Assim fizeram todos os outros itens na sala.

 

Sahara estava tentando recuperar o ar, quando um fragmento de memória se desembaraçou do cofre.

— Você roubou isso?

— Não. Eu mereci.

Sua pulseira, ela estava conversando de sua pulseira com o homem cujo corpo musculoso cobria suas costas, ambos respirando como se tivessem correndo uma maratona. Nunca, ela pensou, lhe perguntara o que ele fizera para merecer; esta não era uma escolha que tinha qualquer intenção de alterar. Seja qual fosse o preço que Kaleb pagara pela platina que lhe rodeava o pulso, ele o fizera por ela, e ela iria honrá-lo.

O peito dele deslizou contra suas costas, Kaleb empurrou uma fração. Você consegue respirar?

Não, mas não tem nada a ver com o seu peso. Volte. Flexionando os dedos enquanto ele obedecia, ela soltou uma exalação trêmula e tentou formar palavras com a boca. Levou pelo menos dois minutos. — Eu quero fazer isso de novo.

— Eu não tenho certeza de que nossos corpos podem aguentar.

O tom gelado fez seus dedos se curvarem — ela sabia muito bem que ele só ficava frio assim com ela quando estava lutando consigo mesmo para se refrear. Então ele beijou seu pescoço e ela soube que ele perdera a luta. Para sua surpresa, eles conseguiram fazer sexo novamente, ela de frente, o peito de Kaleb esfregando suas costas, mas ele usou a Tc para diminuir a pressão de seu peso. Desta vez, foi lento e profundo do início ao fim.

— Parece com um beijo de corpo inteiro, — ela sussurrou enquanto seus músculos internos começavam a se apertar em um mais calmo, mas não menos potente prazer.

Lábios em sua garganta, Kaleb a embalou através do orgasmo, então a encheu em uma explosão de calor líquido.

Ambos estavam encharcados de suor e pegajosos com o sexo, mas Sahara não tinha intenção de se mover. Na verdade, ela não tinha certeza se seus ossos não haviam derretido. Então, seu amante que era um cardeal Tc, os teletransportou para o chuveiro.

 

De banho tomado e vestida com jeans limpo e um leve cardigã rosa do closet que ela tinha em seu quarto original, Sahara foi caçar na cozinha enquanto Kaleb se vestia em preparação para uma reunião por teleconferência. O terno cinza carvão se uniu com uma camisa azul aço e gravata carvão que era uma das favoritas dela. Havia algo incrivelmente sensual sobre um homem tão letal que vestido civilizadamente só servia para destacar o perigo, e não diminuí-lo.

Descobrindo um estoque de refeições congeladas que ele deve ter abastecido para uso após uma queima de alto teor calórico, ela colocou várias no dispositivo térmico no canto. Os sabores seriam insípidos para os padrões fora da Rede Psy, mas agora mesmo, ela poderia comer um pequeno mamífero. Estômago vibrando com a lembrança de como exatamente ela usara as calorias, ela estava derramando massa chiando de quente em um prato quando Kaleb entrou, os dedos de sua mão direita encaixando sua abotoadura esquerda.

Cabelo penteado e gravata atada, nenhum traço de paixão em sua expressão, ele era Kaleb Krychek, cardeal Tc e ex-Conselheiro, mais uma vez. A transformação era tão completa que a abalou, deixando-a consciente do nível em que ele podia se compartimentalizar — e deixando-a com a questão preocupante de exatamente quanto de si mesmo que ele já lhe mostrou.

Então, ele tocou o dedo no arco de sua bochecha, e o medo estilhaçou, porque só o seu Kaleb a tocava dessa maneira.

Sentando para comer, nenhum deles falou até quase concluírem a refeição.

— Meu pai acabou de sair do isolamento, — ela disse, depois de ter recebido a atualização, enquanto estava esquentando as refeições, o alívio era uma emoção estremecida dentro dela. — Anthony ligou.

— Eu posso levá-la até ele.

— A sua reunião?

Uma ligeira pausa. — Meu assessor está remarcando agora.

Sahara não estava nem um pouco surpresa que Kaleb a colocara em primeiro lugar. Ele sempre colocou. — Obrigada, — ela disse através da queimadura dolorosa de uma ternura que não tinha certeza que ele um dia aceitaria. — Mas — ela encontrou aqueles incríveis olhos de céu noturno — Eu preciso lhe fazer uma pergunta primeiro.

Kaleb dosou a água dela com um comprimido de vitamina e mineral. — Pergunte.

— Como você pode não ter se esgotado pelo que fez na universidade? — Cardinais podem ser talentosos, mas suas habilidades ainda eram finitas. — Você tinha energia suficiente para teletransportar nós dois para o outro lado do mundo.

Esperando até ela bebesse metade de sua água fortificada, ele disse, — Você conhece o efeito de amplificação?

Ela balançou a cabeça e, porque não gostou da distância em sua expressão, estendeu a mão para enredar seus dedos com os dele.

— Por efeito, — disse ele, não repudiando o toque, — um indivíduo com duas habilidades de nível médio, por exemplo 4,7 em telepatia e 3,9 em psicometria, às vezes pode usar uma para amplificar a força da outra, se colocando em alcance 8 ou superior. — Ele fez uma pausa para terminar um barra de nutrientes de alta energia. — Ninguém jamais considerou se o efeito seria verdadeiro se uma pessoa tivesse duas habilidades em nível cardeal.

Sahara não podia imaginar a tempestade do seu poder. Ser um cardeal era estar fora da escala. Ser um duplo cardeal era incompreensível. — O acontece se você amplificar?

— Meu estado dual-cardeal já me faz mais forte do que outros cardeais, por um fator desconhecido. — Sem arrogância, apenas fatos frios. — Eu acredito que deve haver um baixo nível de amplificação inconsciente, ocorrendo em todos os momentos. Foi por isso que minhas habilidades não ficaram em nível mínimo na universidade, e, de fato, nunca ficaram.

Teletransportando para longe o invólucro da barra de nutrientes, ele disse, — Quando era criança, uma vez eu levantei os destroços de um trem-bala de uma sobrevivente presa — mesmo uma criança cardeal não devia ser capaz daquilo.

Sahara se esforçou para entender o que ele estava dizendo. — Você alguma vez ampliou conscientemente suas habilidades?

— Como um teste, sim. A amplificação afeta minha telecinese, não a minha telepatia. Eu poderia concebivelmente alcançar o núcleo da Terra com o poder resultante, destruir o planeta de dentro para fora.

Ela não tinha palavras, não por um longo tempo, seus dedos entrelaçados com os de um homem que detinha o destino do mundo em suas mãos. — Kaleb?

Ele não resposdeu, mas ela sabia que prendia sua atenção.

— Prometa-me uma coisa.

— Sim?

— Que você não vai destruir a Rede. — Se ele atacasse, ela sabia que não seria contra os seres humanos ou os changelings, mas contra a sua própria espécie; contra os que a levaram — e quase o destruíram.

— Eu lhe disse, — ele respondeu no mesmo tom friamente pragmático usara na totalidade de sua conversa. — Eu decidi contra isso.

— Não foi isso que pedi. — Ela sustentou a obsidiana de seu olhar. — Eu quero que você me prometa que nunca vai destruir a Rede. — Não importa o que aconteça ou não com ela.

Uma pausa cheia de mil palavras não ditas... e as palavras que ele de fato falou, fizeram os minúsculos pelos na parte de trás de seu pescoço levantarem. —Algumas coisas precisam ser quebradas para se tornarem mais fortes.

 

                                             Capítulo 30

— VOCÊ ACHA, — ela sussurrou, — que isso vale para mim?

Ele ficou muito, muito calmo. — Não. Você nunca deveria ter sido ferida.

Alguma coisa naquelas palavras, na raiva morta do tom de voz dele, fez a mente dela abrir a porta para um segundo cofre escondido dentro do primeiro. Ela entrou e vacilou, um mar de viscoso vermelho espalhando-se através de suas íris. A respiração dela ficou presa na garganta, pontos nadaram na frente dos olhos dela... e Sahara percebeu que ela tinha parado de respirar, seu coração perdendo o ritmo.

Uma mão na parte de trás de seu pescoço, um homem com olhos de obsidiana sobre as coxas dele na frente da cadeira dela. — Se foi, está feito. Ele está morto.

Ele está morto.

Os pulmões dela expandiram-se em uma corrente de ar, seu subconsciente entendendo — deleitando-se — nas palavras dele, mesmo que sua mente consciente não. O peito ainda doía, cacos de vidro em suas veias quando ela estendeu a mão para tocar a linha dura da mandíbula dele. — Alguma coisa ruim aconteceu comigo, não é? — Pior do que o cativeiro, pior do que a tortura depois que ela criou o labirinto.

Kaleb sabia que ele tinha cometido um grande erro tático. Mas ele tinha prometido a Sahara que ele nunca mentiria para ela, então ele disse, — Sim, — e esperou.

— Eu não estou pronta ainda. — A mão dela caiu para o ombro dele. —Não forte o suficiente ainda. Mas eu estarei em breve.

Ele não tinha dúvidas sobre aquilo. — Você quer ir para o seu pai agora? — ele perguntou, querendo a mente dela fora do assunto que tinha o potencial de destruir o vínculo entre eles.

Se ela corresse, ele esperava que ela fizesse como ele tinha pedido e se certificasse de não deixá-lo vivo. Porque sem Sahara, o mundo aprenderia o que uma criança torna-se quando seu treinador tece pesadelos na mente dela — de facas cortando a carne, de mulheres implorando por suas vidas — e então, coloca a lâmina em sua mão.

— Este é o meu legado. Você vai continuar o que eu comecei.

— Kaleb. — Os dedos de Sahara no cabelo dele, os olhos dela vendo profundamente. — Não me deixe novamente. Não vá embora.

Ela tinha dito aquelas palavras para ele antes. E a resposta dele era a mesma. — Eu não vou. Eu sempre estarei aqui. Para você. — Só para ela.

Os olhos misteriosos com pensamentos mudos, ela foi para os braços dele quando ele levantou, num abraço feroz. Era a maior das ironias que a única pessoa que já tinha, alguma vez, o segurado como se ele importasse era a única pessoa que não precisava segurá-lo, de forma alguma. Se Sahara chamasse, ele viria.

Sempre.

— Deixe-me levá-la para seu pai. — Usando Leon Kyriakus como o bloqueio, ele completou a transferência.

Eles vieram ao lado da cama onde o pai de Sahara estava cercado por complexas máquinas que regulavam o seu corpo enquanto ele se curava. O rosto amarrotado, Sahara deixou os braços de Kaleb para pegar a mão do homem mais velho, afundando-se numa cadeira colocada ao lado da cama. — Pai.

Olhando para a pequena janela que permitia que o guarda NightStar em vigilância do lado de fora olhasse dentro de vez em quando, Kaleb deslocou-se para fora de vista, posicionando-se contra a parede ao lado da antiquada porta que abria pelo lado de dentro. Se a mulher — quem ele identificou na parte de trás como uma telepata de alto nível especializada em combate mental, o tamanho pequeno dela distintivo entre os seguranças mais confiáveis de Anthony — o tivesse visto durante o teletransporte, Kaleb teria lidado com aquilo. Como ela não tinha, não havia nenhum motivo para aumentar ainda mais o estresse da situação.

A guarda mostrou-se abrindo a porta trinta segundos depois, o ébano de sua pele embotado pelo painel de vidro que ficava entre ela e Kaleb. Claramente reconhecendo Sahara, a mulher armada não contestou seu direito de estar lá, mas perguntou, — O teletransportador que trouxe você?

— Eu tenho acesso telepático direto com ele. Ele vai me levar de volta quando for hora.

Satisfeita com a resposta de voz suave, a guarda fechou a porta atrás de si e assumiu sua posição de sentinela mais uma vez. Kaleb permaneceu nas sombras, pensando na complexidade da mentira que Sahara havia dito — o que não era uma mentira em tudo, simplesmente uma declaração que convidava a guarda para tirar a conclusão de que o teletransportador tinha partido das instalações.

Sahara, com sua inteligência e seu talento para moldar a linguagem para servir as suas necessidades, foi muito mais adiante em sua recuperação do que ela percebeu. Hoje ela tinha recuado da mais sangrenta das lembranças que os conectava, mas o tempo estava passando em rápida velocidade. Corpo e espírito, mente e coração, era improvável de ser muito tempo antes que ela enfrentasse o passado com a mesma teimosa vontade que ela tinha sobrevivido àquilo.

Ele sabia que isso viria, o dia do julgamento final.

O que ele não sabia era se eles iriam sobreviver.

 

SAHARA passou a maior parte dos dois dias seguintes à cabeceira de seu pai, Vasic teletransportando para e de lá. O Arrow realizava a tarefa com eficiência rápida, mas ele fazia Sahara desconfortável, o Silêncio dele era uma geada fria e cinzenta. Kaleb, no entanto, ameaçava causar muito atrito com a família dela, e agora, ela queria o foco em seu pai; ele tinha acordado finalmente, era capaz de falar.

Além disso, Kaleb tinha um item crítico na agenda — caçar Pure Psy.

Sahara abraçou-se enquanto ficava no patamar fora da fortaleza, olhando para a escuridão da noite caindo no final do segundo dia. Fazia um tempo desde que fizera a pergunta que continuava a assombrá-la: Até que ponto Kaleb iria para ganhar o controle da Net?

Tornava-a doente até mesmo considerar que ele trabalharia com Pure Psy, mas se ela olhasse a situação através do filtro da lógica fria e dura, a parceria fazia todo o sentido.

— Algumas coisas precisam ser quebradas para se tornarem mais fortes.

O grupo de fanáticos tinha se provado hábil na destruição e, como evidenciado pela única estrela em sua pulseira, Kaleb não tinha nenhuma lealdade à PsyNet.

Nenhuma.

Ela não podia culpá-lo por isso — como alguém poderia esperar que uma criança tivesse fé em um sistema que o havia deixado à mercê de um monstro? Agora aquela atormentada criança era um homem implacável, e embora Sahara o amasse de uma forma que dilacerava a sua alma, a dor ressonante da velha emoção de se defrontar com a beleza gritante da frágil e nova confiança que tinha crescido entre eles, ela também entendia que as escolhas dele poderiam ser indefensáveis.

No entanto, quando ele veio para ela naquela noite, ela não podia forçar-se a fazer a pergunta. Se ela estivesse errada, iria machucá-lo — e a ferida seria ainda pior porque ele a encerraria em gelo negro e se recusaria a reconhecer o dano. Se ela estivesse certa, a obrigaria a agir de uma maneira que ela nunca quis. Apagar Kaleb do mundo... Não, ela não tinha a força para enfrentar essa escolha.

Um pouco mais de tempo, ela negociou com si mesma. Só mais alguns dias. Pure Psy precisará se reagrupar depois de uma grande operação como o ataque à universidade. Eu ainda tenho tempo para amá-lo.

— Eu drenei a conta de recompensas, — ele disse a ela de sua posição encostado à parede externa da fortaleza, a gravata desamarrada e a camisa branca desabotoada no colarinho. — A informação já terá começado a vazar. Você está segura.

O protecionismo dele apunhalava o coração dela. Se ele tivesse cruzado a linha, se ela tivesse que usar sua habilidade para acabar com ele, isso a quebraria. E desta vez, ela não voltaria. — Isso significa que posso sair da floresta, — ela disse ao redor da pedra em sua garganta. — Ninguém no vasto mundo tem alguma razão para me reconhecer.

Kaleb deslizou uma das mãos no bolso interno do paletó, o tecido de carvão vegetal assentando perfeitamente nos ombros que poderiam ainda carregar as marcas que ela fizera no corpo dele dois dias antes. — Um meio de defesa, — ele disse, tendo recuperado uma pequena arma elegante. — Esta é considerada uma das armas mais perigosas do mundo, porque até mesmo uma criança pode apontar e atirar e acertar seu alvo. — Mostrando a ela os controles, ele entregou-lhe. — Certifique-se de que a trava de segurança está ligada em todos os momentos, a menos que você queira debilitar ou matar.

Sahara obrigou-se a lidar com a peça mortal, sabendo que ele estava certo. A habilidade dela não iria protegê-la se um agressor atirasse nela de longe. — Eu esperava que você tentasse me impedir de sair da zona de proteção dentro da terra DarkRiver.

— Eu disse a você, Sahara, eu nunca vou te machucar.

Dedos trêmulos, ela colocou a mão livre sobre o coração dele. — Obrigada por manter sua promessa, por ter vindo por mim.

A resposta dele foi dobrar o cabelo dela atrás da orelha, a ação tão possessiva quanto suave, o rosto tão sombriamente bonito que roubava o fôlego dela. Nenhum homem deveria ser tão forte, tão bonito como seu Kaleb.

— Há algo mais, — ela disse, a voz rouca. — Você pode me libertar de seus escudos — os meus estão operacionais agora.

Kaleb ficou imóvel, a criatura primitiva que vivia no vazio, rígida na tentativa de manter o controle. — Seu Silêncio está quebrado. Você vai se tornar um alvo para Pure Psy no instante em que você reaparecer na Net. — Ele nunca permitiria que ela estivesse tão vulnerável.

A mão de Sahara espalhou-se sobre o coração dele. —Dê uma olhada em meus escudos.

Ele assim o fez e viu uma mente tão no Silêncio, que não tinha nem mesmo a mais fina linha de fraturas. Intrigado, ele examinou de todos os ângulos e não conseguiu encontrar erros que poderiam entregá-la, nada que faria qualquer um dar uma segunda olhada, a mentira contada com habilidade impecável.

— Este não é o seu trabalho. — Sahara era dotada de muitas coisas, mas a mecânica avançada de um escudo dessa complexidade era um campo altamente especializado que exigia anos de prática. — Sascha Duncan, — ele disse e viu, com os olhos arregalados de surpresa de Sahara, que ele estava certo.

A filha da Conselheira Nikita Duncan não era apenas uma desertora e companheira do alpha de DarkRiver, ela era a melhor técnica em escudos que Kaleb já tinha visto. Ele tinha adquirido alguns de seus truques mais úteis, monitorando-a secretamente enquanto ela tinha sido parte da Net.

— Ela tem melhorado a técnica dela. — Inesperado, dado que Sascha Duncan era infame não muito tempo atrás na Net — ou talvez não. Esta região tinha visto um aumento significativo no número de Psy com o condicionamento fraturado ou suspeito. Aqueles indivíduos que precisariam de uma maneira de se esconder em plena vista.

Inclinando-se para a direita dele, Sahara colocou a pistola no parapeito da janela, e ele podia dizer que ela estava desconfortável com a arma. Contanto que ela usasse quando necessário, aquilo não importava.

— Não é um escudo, mas uma casca, — ela disse a ele, a mão deslizando até a cintura dele enquanto ela endireitava-se, — só funciona para mascarar o meu Silêncio quebrado. Meus escudos protetores naturais estão escondidos embaixo, e eles são mais resistentes do que o da maioria das pessoas. Eles sempre foram.

Sim, os escudos naturais dela eram formidáveis, um efeito colateral de sua habilidade - mas ela tinha tido dezesseis anos e já comprometida por trauma severo quando foi levada prisioneira, enquanto Tatiana tinha sido uma adulta em pleno controle de seu afiado bisturi em telepatia. Uma competição desigual desde o começo. — Restauração total?

Um aceno que enviou o cabelo dela deslizando sobre a mão que ele tinha curvado em torno do lado da coluna esbelta do pescoço dela, os fios frios e pesados. — Sim, mais rápido do que eu previa. Ajudou que ninguém estava arrancando o novo crescimento antes que ele pudesse criar raízes.

Kaleb decidiu que precisava aumentar a miséria da punição de Tatiana. Talvez ele introduzisse insetos no ambiente dela. Era incrível o quanto de terror tão pequenas criaturas poderiam causar.

— O que você está pensando? — Os olhos de Sahara estavam subitamente agudos, como se tivesse vislumbrado a escuridão que vivia nele.

Ele disse a ela, sentiu-a estremecer. — Eu consegui matar todos os insetos, — ele disse, pensando no pequeno, escuro closet em que ele uma vez tinha passado três dias sem nenhuma razão, além de que Santano queria lembrar Kaleb quem detinha o poder, — e eu tinha apenas dez anos.

— Não. — Sahara segurou o rosto dele, o dela própria sombrio com uma raiva que ele sabia que não era dirigida a ele. — Não faça isso, não se torne o legado daquele monstro.

— Você é o meu legado.

— Tatiana é má, — ela continuou sobre o som frio da memória, — e ela vai fazer mais maldade se ela estiver livre, por isso não vou argumentar contra a prisão dela, mas sem tortura. Não do tipo físico e não do mental. Você é forte o suficiente para amarrar a mente dela sem isolá-la como você fez agora.

Kaleb pensou nos sete anos em que ela tinha estado sozinho no escuro, no horror de uma menina de dezesseis anos de idade forçada a aprisionar a própria mente para sobreviver, e disse, — Eu vou considerar isso. — Em deferência ao pedido de Sahara, ele não torturaria Tatiana como ele tinha estado deliberando, mas sete anos teriam que passar antes que ele revisse o estado da prisão mental dela.

Sahara balançou a cabeça, a expressão feroz. — Você acha que eu não te vejo?

— Eu sei que você vê. — Era o maior, mais inexplicável presente da vida dele que ela o visse e não se afastasse. — Essa coisa, — ele disse, — eu não vou te dar. Essa vingança é minha para executar.

Sahara pressionou um beijo prolongado no queixo dele, uma única lágrima escapando das pálpebras fechadas dela. — O que nós teríamos nos tornado, se tivéssemos sido livres?

Kaleb não sabia a resposta para aquela pergunta sussurrada, não poderia imaginar uma existência diferente da que o havia moldado, mas havia um pedido que ele podia honrar.

 

                                 Capítulo 31

OS ESCUDOS OBSIDIANOS ao redor da mente de Sahara deslizaram-se para deixá-la exposta a PsyNet. Ela não tinha estado no plano psíquico por tanto tempo que a pura vastidão da rede mental fez o pulso dela rugir, a boca dela seca.

Sahara. Olhos sem estrelas conectando-se com os dela conforme suas pálpebras se abriram. Eu posso reiniciar minha proteção se você não está pronta.

Não. Ela respirou trêmula, a mão se espalhando sobre o músculo tenso do peito dele. É esmagador... mas, é também liberdade.

Liberdade pode ser intoxicante. Tenha cuidado.

Você não vai me abandonar?

Este canal telepático nunca será fechado. — Devagar e com calma, — ele disse em voz alta, os dedos brincando com o amuleto da águia da pulseira dela. —Você precisa fortalecer suas asas antes que você possa voar.

Segurando-se nele, ela olhou para dentro da Net novamente, cada mente um ponto brilhante de luz na rede psíquica que conectava milhões de Psy em todo o mundo. Nos espaços no meio, finas correntes prata fluíam os dados compartilhados por aqueles mentes até que a paisagem era um mar de prata cintilante, as ondas de fluxo e refluxo de uma beleza que fechou a garganta dela.

Outra vertente de memória soltou-se do cofre.

— Por que todos chamam isso como campo das estrelas? — Ela fez uma careta. — Isso não faz qualquer sentido.

— Envie-me telepaticamente uma imagem do que você vê, — Kaleb disse, o rosto jovem, a linha de sua mandíbula ainda não refinada na dureza masculina.

Sahara fez aquilo, os pés pendurados do alto galho da árvore na parte de trás do complexo NightStar.

Quando Kaleb virou-se para ela, os olhos dele mantinham uma maravilha que era tão rara que a fez ficar imóvel. — Eu não vejo o que você vê. Eu não acho que qualquer um veja.

— Você quer viajar através disto? — Kaleb perguntou, e o fino fio do passado dela entrelaçou-se com o presente onde aquele bonito menino com um curativo na bochecha tinha se tornado um homem poderoso, a mão espalhada protetoramente na parte inferior das costas dela.

— Posso fazê-lo anonimamente? — ela perguntou, mesmo que uma seção de sua mente continuasse a desembaraçar as memórias dentro dela, desesperada para desvendar o mistério de Kaleb antes que ela fizesse a pergunta que nenhuma parte dela queria perguntar. — Tatiana e Enrique provavelmente esconderam a verdade sobre mim, mas só no caso.

Um conjunto de instruções telepáticas fluiu na mente dela, e dois minutos mais tarde, ela desenhou o que era efetivamente um manto em torno de sua mente vagante e saiu para a PsyNet.

Gostaria de ver uma coisa interessante? Kaleb questionou quase uma hora depois.

Bêbada no prazer de estar livre no plano psíquico, Sahara tinha que ter cuidado para não surfar nos fluxos de dados com muito abandono, para que ela não se perdesse. Sim!

Você pode me ver?

Sim. A presença camuflada dele era uma sombra que ela mal podia decifrar através do filtro psíquico que ele a instruíra a construir em sua própria camuflagem. Agora, ele a levou fundo, para uma parte da Net desprovida de estrelas, mas não menos viva por isso, a prata grossa e calma, como se ela e Kaleb estivessem em uma baía.

Encantada, ela mergulhou um dedo no mar e saiu com flâmulas de informações envolvendo a pele psíquica dela. Os filamentos ondearam como se estivessem em uma brisa, cada um significando um pedaço aleatório de dados. Espantada com a visão, ela enviou a Kaleb um instantâneo daqueles. Eu não podia fazer isso antes!

Fora da fortaleza, a mão dele apertada na parte de trás superior dela, o tecido um fino tricô verde. Tem sido um longo tempo desde que eu vi a Net através de seus olhos.

Ela se aninhou no pescoço dele, os braços ao redor do corpo dele sob o casaco. Este lugar é maravilhoso. Mergulhando os dedos na água de prata no plano psíquico, ela recolheu punhados brilhantes de dados com uma risada alegre, jogando-os para cima para criar uma chuva espumante. Obrigada por me mostrar.

Não é isso. Levando-a para o centro da baía, ele estendeu uma mão psíquica. Você tem que se conectar para que eu possa te passar.

Ela aceitou a conexão sem hesitação, e eles deslizaram através de uma fissura na Net que ela não podia ver, saindo em uma assombrosa escuridão – os dados nesta parte da Net eram tão fortemente comprimidos que se tinha se tornado uma joia facetada.

— Esta é efetivamente a unidade de backup da PsyNet, — Kaleb disse, mudando da telepatia para o discurso com uma confiança que dizia a ela que nada iria vazar deste lugar. — Se a Net alguma vez falhar, os dados podem ser reintegrados vinte e quatro horas após o evento terminal.

Fascinada, ela tentou se concentrar em um único bloco minúsculo de dados, mas era de tal complexidade que era impossível de compreender. — Como você descobriu isso?

— A NetMind me mostrou. — Ele a trouxe para o centro do arquivo de dados e para uma esfera que brilhava com uma mancha em constante mudança de cor, uma miragem iridescente que a lembrava das cores da meia-noite que ela viu nos olhos dele quando ele se soltava da coleira. — Este é o botão de reinício para a Net, destinado a higienizá-la a partir do núcleo.

Horror rachou fraturas negras na admiração dela. — Por que é que isso até mesmo existe?

—Porque eu criei.

 

KALEB desconectou-se da Net nos calcanhares de Sahara, o rosto dela um branco tenso quando ela olhou para ele. — Isso é como você planejava matar todos.

— Originalmente, — ele disse. — Mais tarde, eu escrevi um algoritmo para poupar aqueles com idade inferior a dezesseis. — Ele nunca tivera uma infância; Sahara tinha chegado à feminilidade em uma gaiola. Pareceu encaixar poupar as crianças que eles nunca tinham tido a chance de ser.

Sahara balançou a cabeça em uma recusa muda a aceitar o que ele teria feito.

— Foi concebido como uma última opção. — Para ser iniciado apenas se a tivessem roubado dele para sempre. — Aproveitar o controle da Net será intensamente mais satisfatório.

— Você é a pessoa errada para estar no comando de tantas vidas, — Sahara disse, os braços ainda fechados em torno do corpo dele. — Você não tem nenhuma lealdade à Net.

Kaleb não estava, de forma alguma, insultado pelo julgamento dela. Ele sabia o que ele era, sabia que sua experiência nas mãos de Enrique tinham permanentemente deformado o tecido de sua personalidade. Mas... — Minha lealdade é sua, e você precisa da Net para prosperar.

Enormes olhos escuros, uma das mãos dela vindo ao redor para repousar no coração dele novamente. — O que você está fazendo para mim, Kaleb?

— Alguém, — ele disse, fechando a mão sobre a dela, — tem que tomar as decisões implacáveis ou a Net vai morrer de qualquer jeito. — Ele mostrou a ela imagens dos lugares podres onde nada poderia sobreviver, lembrou-a da infecção que tinha tomado conta no tecido psíquico que ligava todos os Psy do planeta, menos os renegados. — Nossa raça está a beira da extinção.

Os dedos de Sahara flexionaram, sua expressão sombria. — Nosso povo tem voluntariamente se aleijado. É claro que o dano será refletido na Net. A única coisa que pode reverter o — Os olhos dela se arregalaram. — Você está planejando a queda do Silêncio.

— Não pode cair para todos, mas para a maioria deveria. — Se não caísse e a podridão continuasse a crescer, o venenoso retorno biológico equivaleria a uma morte lenta de milhões e milhões.

— Uma queda brusca causará enorme choque psíquico, — Sahara argumentou. — Milhares e milhares poderiam morrer.

— Dano colateral aceitável. — Kaleb não tinha nenhum problema com a perda de um quarto ou até mesmo metade da população. — Aqueles que permanecerem vão ser os mais fortes, mais resistentes.

Sahara balançou a cabeça. — Você não pode dizer isso.

— É uma solução prática. Cortando fora os doentes e os fracos significará que nossa raça tem uma base mais sólida sobre a qual crescer.

— Eu me enquadraria nessa categoria. — Uma resposta feroz que falou com o aço que atravessava o corpo dela. — Eu sou fraca, ainda quebrada de muitas formas.

Ele sabia o que ela estava tentando fazer, mas... — Eu não tenho empatia, Sahara. Eu não posso sentir por aqueles que vão morrer. Seria o mesmo que pedir para um falcão levantar voo quando suas asas tem sido há muito tempo cortadas.

Ele lembrou-se do medo de tremer os ossos que ele tinha sentido como um garoto de três anos lançado no inferno que era o “treinamento” de Santano Enrique. Ele também se lembrou do dia em que ele tinha abraçado o peso total do condicionamento. Melhor não sentir nada, ele tinha pensado com uma pouco natural calma para o menino que ele tinha sido, do que gritar em horror cada minuto de sua existência.

— Você, — ele disse, — é a única exceção a essa regra.— A mais antiga, mais profunda, mais bela falha no Silêncio dele. — Sem você, eu seria um monstro.

 

SAHARA estava na cama horas após Kaleb deixá-la para se reunir com os Arrows, o jeito calmo que ele tinha dito a ela de sua falta de empatia colidindo com os medos dela sobre o possível conluio dele com Pure Psy deixavam-na assustada de uma forma que era tão profunda, que estava em suas próprias células. Não dele. Por ele. Pelo Kaleb dela, que nunca, nunca a deixaria cair.

Não importava que ela não tivesse as memórias para apoiar aquela verdade — ela sabia aquilo da mesma maneira que ela sabia que o céu era azul e a chuva molhava, um fato tão absoluto que estava além de questão.

— Eu vou lutar por você.

Com aquele voto determinado, ela sentou-se e abriu a janela para olhar para a floresta coberta pelo manto da noite, a escuridão pesada tão impenetrável quanto os olhos de Kaleb quando ele queria que eles fossem. Ele estava certo? A capacidade dele de empatia tinha sido destruída durante o pesadelo de sua infância? Ela queria desacreditar dele, assumir que estava simplesmente enterrada profundamente, mas então ela pensou nos danos causados ​​a ela por Tatiana, e, com o coração doendo, considerou as escolhas que um garoto vulnerável poderia ter feito para sobreviver... e aceitou que ele podia estar dizendo a verdade absoluta.

Mesmo enquanto lutava com essa realização, parte da mente dela continuava a puxar fios de memória livres do cofre... e de repente um pedaço inteiro de seu passado se soltou sem aviso.

Ela estava cortando através do parque novamente, sua mochila escolar batendo levemente contra seu quadril. Havia dois alunos mais jovens à frente dela, ambos em bicicletas, mas eles desapareceram na esquina um segundo mais tarde. Sahara retorceu-se para mexer com a alça da mochila, com o objetivo de confirmar que não havia ninguém atrás dela, também.

O caminho estava vazio.

Pegando seu ritmo, ela esperou até que ela estivesse no único ponto cego de vigilância ao longo daquele percurso, então se desviou do caminho para o meio dos arbustos. Levou metade de um minuto de rápida caminhada para chegar ao bosque de árvores à direita do trajeto. Ninguém chamaria aquilo de floresta, mas o pequeno bosque era grosso o suficiente para dar cobertura. Mais importante, estava fora do alcance das câmeras de segurança.

Sahara não achava que ninguém vigiasse as câmeras 24 horas por dia/7 dias por semana. O principal objetivo delas era agirem como um impedimento contra o comportamento antissocial. Se, no entanto, alguém, alguma vez, desconfiasse das ações dela a ponto de monitorar seus movimentos, aquele indivíduo encontraria exatamente nada. Ela chegaria em casa através de uma outra rota, fazendo parecer como se ela tivesse decidido caminhar fora da rota aprovada. Um fato que poderia levá-la a uma palestra severa sobre segurança, mas não carregaria outras consequências.

— Onde está você? — Ela sussurrou quando alcançou a árvore que era deles. Sem ele para levá-la para casa, ela só poderia esperar só por 11 minutos. Aquela era a janela segura em que ninguém sentiria falta dela. Se ele estivesse atrasado...

Mas não, lá estava ele.

Tendo teletransportado-se perto de outra árvore, ele caminhou em direção a ela, os olhos cardeais um brilhante da luz das estrelas que ela via em seus sonhos, o corpo dele alto e de um jovem, não o menino que ela conhecia metade de sua vida. Ele era mais forte do que ela, implacável de uma forma que ela sabia que nunca seria, e o fato de que ele tinha quase vinte e dois anos em relação aos quase dezesseis dela não interferia em nada. Ele tinha estado da mesma forma há seis anos.

Aqui, no entanto, eles eram iguais, e sob a frieza perturbadora que ela vislumbrava nele muitas vezes agora, ele ainda era seu Kaleb. Aquele cujo Silêncio parecia tão intocado quanto o dela própria, enquanto escondia um caos de emoção tão violenta, que ela sabia que ele poderia estar além do perigoso se o controle dele alguma vez escorregasse. Mas nunca com ela. Nenhuma vez com ela.

Soltando sua bolsa, ela correu para os braços dele. Os dele trancaram-se em volta dela, apertando tão forte, que ela mal podia respirar. — Está tudo bem, — ela sussurrou, com as mãos no cabelo dele. — Está tudo bem. — Uma e outra vez, ela disse aquelas palavras, tentando confortar o homem que ela amava quando amor era um crime que poderia levá-los condenados à morte em vida.

No entanto, mesmo enquanto ela falava, ela sabia que não estava tudo bem, que o motivo da mágoa dele era uma armadilha que ele não podia escapar – e seu belo Kaleb nunca tinha sido concebido para uma gaiola. Aterrorizava-a que ele iria muito longe na luta enlouquecedora para sair e ela nunca mais sentiria novamente o aço de seus braços ao redor dela. — Eu estou aqui. Eu estou aqui.

Ele apenas segurou-a, daquela forma que ele fazia durante os piores momentos. Ela não tinha nenhuma necessidade de ouvir os detalhes para saber que ele teve que se tornar ainda mais duro, mais impiedoso simplesmente para sobreviver. Se as coisas se mantivessem dessa maneira, ela pensou, o Kaleb dela estaria, um dia, perdido atrás de uma parede de gelo negro. Dor com raiva fez o aperto dela mais forte, suas emoções proibidas escondidas por trás de escudos que Kaleb tinha aumentado automaticamente para protegê-la da exposição na PsyNet. Ele tinha estado fazendo isso há anos, desde que ele percebera, pela primeira vez, que o Silêncio dela não estava simplesmente vacilando, o gosto psíquico dele tão familiar para ela quanto o dela própria.

Nunca, nem uma vez, ele tinha falhado em protegê-la. Mas ela não podia fazer nada para impedi-lo de ser ferido uma e outra vez, o desamparo uma fúria dentro dela. — Eu estou aqui. — Ela segurou-se ainda mais apertado, recusando-se a entregá-lo para a feiura que era Santano Enrique. Se o gelo preto tomasse forma, ela o quebraria com as mãos nuas. Ele nunca fecharia-se para ela, isolando-se na escuridão. Sahara não permitiria isso.

Hoje, ele a segurou por quase a totalidade do tempo roubado deles juntos, e então ele deu um passo para trás. — Você não deve me encontrar mais. — Sem estrelas no preto, a voz dele morta em sua inexpressividade. — Eu vou te machucar.

Era um pensamento tão incompreensível, que ela não sabia por que ele tinha dito isso, por que ele tinha se ferido daquela forma. — Você nunca me machucaria.

—Não tenha tanta certeza.

 

                                     Capítulo 32

SAHARA CAIU da memória para encontrar as bochechas molhadas e as mãos empunhadas com severidade sem circulação de sangue, a raiva uma lâmina irregular em seu peito. Ela o amara. Tanto. O suficiente para desafiar a sua família. O suficiente para arriscar a psíquica limpeza de cérebro da reabilitação. O suficiente para lutar por ele, mesmo quando ele a tinha avisado.

Ela o amara até que era o fato determinante da existência dela.

Vida, ela pensou esfregando a mão sobre o coração, viera num círculo completo. Porque como a menina que ela tinha sido tinha o amado, também fazia a mulher que ela tinha se tornado, seu coração marcado com o nome dele. Não importava o que o futuro reservava, a terrível escolha que ela poderia ainda ter de fazer, ninguém jamais seria para ela o que Kaleb – Outra desenrolar de memória, arrastando-a ainda mais para o passado.

— Por favor, mostre a Kaleb o terreno em volta, Sahara. — Anthony acenou para o menino que se sentou ereto e inexpressivo em uma cadeira ao lado de um homem que Sahara desgostou a primeira vista. Ela sabia que não devia dizer aquilo, no entanto. Ela tinha apenas sete anos, seu Silêncio frágil, então ela não estaria em grandes apuros por deixar escapar sua aversão imediata e violenta, mas ela ainda estaria em apuros, provavelmente teria que fazer o dobro da sua quota normal de exercícios mentais.

Melhor manter a boca fechada.

O homem que ela não gostava lançou a ela um olhar de olhos cardeais que não eram bonitos como os do menino, mas planos, mortos. — Essa criança, — ele disse, descartando-a como se ela fosse um pedaço de móvel, — é muito jovem para fornecer conversa que vá, de qualquer forma, interessar Kaleb. Ele pode permanecer.

— Eu não conduzo negócios com crianças presentes, — Anthony respondeu em um tom calmo que Sahara sabia que significava que seu tio não estava prestes a mudar de ideia. — Podemos agendar outro compromisso no próximo mês para discutir os serviços de previsão exigidos pela sua empresa.

Estalando os dedos, o homem não legal virou a cabeça para o menino cujo nome era Kaleb. — Vá. Comporte-se.

Para Sahara, as palavras soaram como uma ameaça.

Caminhando com Kaleb em volta do terreno, Sahara apontou as coisas que seu pai tinha dito a ela para apontar para um convidado. —Essa interação social independente com não familiares é uma parte importante de sua educação,— ele tinha dito. — Se a antevisão, eventualmente, levar você a uma carreira na Justiça, você precisará interagir com uma grande variedade de personalidades, tanto Psy quanto não. Eu disse a Anthony que você está pronta para atuar como uma guia para aqueles de sua idade e um pouco mais velhos.

Sahara tinha certeza que o garoto chamado Kaleb caiu fora dessa faixa etária, mas Anthony provavelmente não tinha nenhuma escolha a não ser usá-la, desde que as crianças mais velhas não sairiam da escola por mais uma hora.

Ela estava dizendo a Kaleb sobre o jardim hidropônico, quando ela olhou para cima e viu linhas finas irradiando dos olhos dele, parando na boca. — Meu pai é um M, — ela disse. — Nós podemos ir vê-lo.

Kaleb encarou-a com olhos que haviam perdido suas estrelas. — Por quê?

Sahara tinha certeza de que ele tinha um machucado em algum lugar, mas ela sabia que não era educado dizer coisas desse tipo para alguém que ela não conhecia. Então ela disse, — Ele tem scanners interessantes no escritório.

— Eu vi scanners médicos antes.

Imaginando que Kaleb queria ver seu próprio médico e não um estranho, Sahara disse, — Ok, — e continuou indo... só que ela não andou mais rápido, e ela não o levou até a inclinação para o centro de recreação que os adultos utilizavam para o exercício. Se eles fossem lá, o gerente iria querer que Kaleb utilizasse as novas máquinas, e ela não achava que ele deveria enquanto estivesse ferido.

— Há peixes na lagoa, — ela disse, depois de terem coberto todas as áreas que os visitantes estavam permitidos ver. — Você quer ver?

Kaleb seguiu-a em silêncio, mas caiu sobre um joelho para assistir os peixes laranja no lago no centro do parque dentro do complexo NightStar. — Por que isso foi criado?

Sahara mal parou seu encolhimento de ombros a tempo. Alguém da idade dela, ela tinha sido avisada várias vezes, já deveria ter conquistado o hábito. — Eu ouvi o Pai dizer que foi um “auxílio de meditação aprovada”, — ela repetiu sem entender muito bem as palavras. — Os F-Psy que vivem aqui usam. — Sua prima Faith não vivia no composto. Ela tinha uma casa separada, como todos os videntes realmente fortes.

— Você é uma F?

— Não de verdade. Estou na subdesignação B. Isso significa que tenho visões do passado. — Não era tão interessante como ser um F, mas Sahara pensava que ela poderia gostar de pegar pessoas más para a Justiça. — O que você é?

— Um Tc.

Animada — embora ela tentasse não deixar transparecer, no caso de que ele contasse sobre ela — ela disse, — Você pode fazer algum truque? — Um dos telepatas da classe dela tinha um pouquinho de Tc e podia escrever na placa eletrônica sem sair de seu assento na classe; os professores a faziam fazer aquilo então ela praticaria sua telecinese.

Kaleb não disse nada e Sahara levou alguns segundos para perceber que ela não estava tocando mais o solo, o corpo dela flutuando alguns centímetros fora da grama. Os olhos arregalados, ela levantou-se, com os pés em nada, então, verificando para certificar-se de que ninguém estava olhando, pulou para cima e para baixo, sem nunca bater no chão.

— Isso foi maravilhoso, — ela sussurrou quando ele a colocou no chão, em seguida sentiu-se mal que ela tinha se esquecido da dor dele. — Sinto muito. Doeu-lhe fazer isso?

Balançando a cabeça, Kaleb brincou com um dedo através da água da lagoa, fazendo com que o peixe preguiçoso fingisse se mover. — Seu Silêncio é falho para sua faixa etária.

Repentinamente consciente de que ela tinha se esquecido de fingir Silêncio porque ele era legal mesmo que não falasse muito, Sahara mordeu o lábio inferior. — Você vai contar sobre mim?

—Não.

E ele nunca tinha, Sahara pensou, sentada em um canto da cama, as costas apoiadas contra a parede e os braços em volta dos joelhos enquanto pensava no menino com tanta dor assombrando os olhos dele. Em vez disso, ele a tinha ensinado a ser mais cuidadosa... E ele a tinha visitado.

— Olá.

Surpresa, Sahara olhou para cima do grande toco onde estava sentada. Ninguém nunca viera neste caminho, a casa dela em direção a um grupo de árvores que acabavam na cerca do perímetro. Bonitos olhos cardeais em um rosto inexpressivo encararam os dela.

— Oi! — Sabendo que seu pai estava ocupado em seu estudo do outro lado da casa, ela colocou o mini tablet que continha a lição de matemática desprezada. — Aquele homem está aqui de novo? — Ela hesitou, então disse o que estava em seu coração, uma vez que Kaleb tinha mantido sua palavra e não relatou seu terrível Silêncio. — Eu não gosto dele.

Kaleb balançou a cabeça. — Eu vim para te ver. — Uma pausa. — Eu não conheço nenhuma outra criança que fale comigo.

— Isso deve ser solitário. — Ela quebrou metade de sua barra de nutrição, estendeu-a. — Eu sei que você provavelmente pensa que eu sou um bebê, mas você pode ser meu amigo, se você quiser. — Mexendo-se no tronco quando ele aceitou o lanche, ela abriu um espaço para ele.

— Eu não acho que você é um bebê. — Ele sentou-se ao lado dela. — Acho que você é inteligente e vê coisas que outras pessoas não veem. — Desta vez, a pausa foi mais longa, o olhar dele focado em algo que ela não podia ver. — Eu não gosto dele, também.

Outro fio puxando livre do cofre quase antes que ela tivesse assimilado o último, outra memória, esta tingida com o riso.

Sahara mostrou a língua para o mini tablet no colo dela. Ela podia ter onze e ser muito melhor em fingir o Silêncio em público, mas ela ainda odiava matemática. Ela tinha tentado dizer a seus professores para não colocá-la em aulas aceleradas quando surgiu este assunto, mas eles continuaram apontando o fato de que suas pontuações de QI colocaram sua capacidade de aprendizagem a altura dos talentosos. Segundo eles, tudo o que ela tinha que fazer era tentar mais. — Hah!

Quando Kaleb apareceu ao lado do tronco onde ela sempre fazia o seu dever de casa, ela sorriu aliviada. — Eu tenho que terminar isso até sexta-feira, — ele disse. — Ou eu vou ser colocada em uma tutoria de matemática depois da escola. — Não era a parte da tutoria que a horrorizava — era o pensamento de fazer ainda mais contas!

— Aqui. — Ele sentou-se ao lado dela, uma contusão esverdeada abaixo da curva da bochecha esquerda.

Sahara chutou o calcanhar de volta para o tronco para forçar-se a não perguntar sobre a contusão, o impacto doloroso em sua pele nua. Ela sabia a resposta à sua pergunta e ela sabia que não havia nada que pudesse fazer sobre isso, o conhecimento ácido borbulhante no estômago dela. — O que é isso? — Deixando de lado seu mini tablet e apertando seu abdômen contra a fútil onda de raiva, ela pegou o livro que ele estendeu.

— Você é uma aluna tátil — ele disse, enquanto ela abria as páginas para ver que era um livro de matemática. — Eu pensei que isso poderia ajudá-la a lembrar das equações melhor. — Alcançando o bolso, ele colocou duas canetas entre eles.

— Por que você apenas não me diz as respostas? — ela perguntou alegremente. — Então, podemos falar sobre coisas muito mais interessantes.

Kaleb simplesmente olhou para ela com aqueles lindos olhos de luz das estrelas que estavam muito frequentemente em um vazio negro nos dias de hoje, mantendo uma dormência que fazia o peito dela doer.

Suspirando, mas feliz porque ele não tinha ido embora de novo, ela pegou a caneta azul e começou a fazer as equações na primeira página, certificando-se de escrever seu processo meticuloso inteiro. Quando ela tinha acabado, Kaleb examinou seu trabalho, mostrando a ela onde ela cometera erros de lógica, para que ela não os cometesse novamente.

— Você pode anotar os processos corretos, também? — ela perguntou. — Eu posso usá-los como apostilas, enquanto eu faço o meu dever de casa. — Não importava o que os professores tinham tentado, Sahara nunca aprendeu tão bem na escola como ela fez com Kaleb quando era matemática. Ele sabia exatamente como explicar as coisas para ela.

Balançando a cabeça, ele desceu na página com uma caneta preta, a escrita forte e limpa. — Você tem uma aula de dança hoje?

Ela disse, — Sim — em seguida, correu para o lado da casa para espreitar pela janela do estúdio de seu pai. Ele ainda estava lá, trabalhando em um papel para o Jornal Psy-Med. Sorrindo, ela correu de volta para Kaleb. — Eu aprendi um novo passo. — Bolhas de felicidade no sangue dela. — Quer ver?

Fechando o livro de matemática, ele colocou-o no toco e assentiu. Então, conforme as aves voavam para casa e para seus ninhos e o céu ficava um laranja escuro, ela dançou, a grama suave sob os seus pés descalços e Kaleb sua tranquila audiência.

O coração de Sahara aqueceu-se na inocência da memória, em sua absoluta confiança no menino-se-tornando-um-homem que tinha entendido que, para ela, dançar era como respirar, a amizade deles como um ferro forte. Só tinha crescido mais forte à medida que os anos passaram, mas Kaleb tinha tido que ser tão cuidadoso — Enrique o tinha em uma muito apertada coleira psíquica, mas quanto mais ele cresceu, melhor ele se tornou em escorregar daquela coleira por pequenos períodos de tempo.

Secreto, tudo tinha sido secreto.

O estômago dela se apertou sem aviso ante o pensamento sussurrado, bile revestindo sua garganta.

Cambaleando para fora da cama, ela chegou ao banheiro antes de cair em suas mãos e joelhos para vomitar, seu abdômen e garganta doendo com a força dos tremores convulsivos que atravessavam seu corpo para deixá-la tremendo no chão. Quando ela pode se mover de novo, ela limpou a bagunça, escovou os dentes, e então tomou um banho quente antes de envolver seu corpo em uma toalha e caminhar para sentar-se na cama.

Gotículas de água escorriam sobre o pescoço e entre os seios dela, mas ela não fez nenhum movimento para absorvê-los, a mente sobre seu passado fragmentado. Não era preciso um intelecto de gênio para perceber que a coisa ruim que tinha acontecido com ela estava, de alguma forma, ligada a Kaleb, um evento que a mente dela continuava a se rebelar contra lembrar, independentemente do quanto ela tentasse.

Tudo o que ela tinha era a promessa de outro episódio como o que ela tinha acabado de sofrer.

Frustrada, mas consciente de que ela não poderia esperar recordação absoluta de uma só vez, ela desistiu do exercício inútil depois de 20 minutos e se levantou. Vestindo um par de jeans e um pulôver de cashmere com gola V, em um tom azul-celeste que Faith a tinha presenteado, a textura requintada contra sua pele, ela secou e trançou o cabelo.

Sua próxima tarefa era verificar seu pai. Ouvir que ele estava em um natural e profundo sono a fez sorrir depois que ela desligou o telefone. Ela poderia ter ido para uma caminhada sob o luar, mas o que ela realmente precisava era estar perto de Kaleb, o coração dela gelado pela maldade que pairava sobre ela.

Sua reunião acabou? ela perguntou através da ligação extraordinariamente pura que mostrava a força telepática dele.

Sim. Estou trabalhando de casa — o que você precisa?

Engolindo ante a questão que dizia tanto sobre o que ele sentia por ela, ela enviou-lhe uma resposta. Ir até você.

Kaleb apareceu em seu lado um instante depois, vestido com o mesmo terno que ele tinha estado usando mais cedo, menos o paletó, o colarinho aberto e as mangas arregaçadas. — Tem algo errado?

— Não. — Caminhando para os braços dele, ela segurou firme. — Podemos sentar no terraço?

A pele quente através do fino tecido de sua camisa, ele a levou para casa e sentou-se na espreguiçadeira com ela entre as pernas dele, o corpo dela enrolado contra ele sob a luz solar do inicio da tarde deste lado do mundo. Levou tempo para o calor masculino dele derreter o gelo, para o corpo dela esticar até que ela se deitou com as costas para o peito dele, os braços dele ao redor dela e uma das pernas ligeiramente dobradas na altura do joelho do lado dela.

— Você me fez flutuar ao lado do lago de carpas.

Tensão infiltrou os músculos dele diante das palavras tranquilas. — Você se lembrou.

— Sim. — Ela enrolou a mão ao redor dos bíceps dele. — Como nos conhecemos, como você veio me visitar.

— Você, — ele disse, a tensão se desvanecendo, — lembra o que você me pediu para fazer no seu aniversário de quinze anos?

Saara passou a sacudir a cabeça, mas a memória de repente estava lá, como se tivesse simplesmente estado esperando ela perceber.

 

                             Capítulo 33

A RISADA DE SAHARA FOI luz solar nas veias dele. — Eu pedi que você me beijasse. E você disse que não! — Inclinando a cabeça, ela fingiu uma cara feia para ele. — Eu finalmente tive que dar o primeiro passo.

— Em minha defesa, eu tinha vinte e um frente seus quinze anos. Teria sido inadequado. — Acariciando a mão ao redor da garganta dela, ele inclinou a cabeça dela para que ele pudesse saborear seus lábios. Que ela tivesse vindo a ele, depois do que ele dissera a ela no ninho, era um milagre. O fato de que a mente dela continuasse a reter a verdade sangrenta dela era outra.

— Levei um ano para criar coragem, — ela murmurou contra a boca dele, os lábios curvados e os dedos atados atrás do pescoço dele.

— Sua determinação, — ele disse, empurrando a suavidade do pulôver dela para colocar as mãos sobre o calor sedoso do abdômen, — nunca foi nada menos do que de aço. — Ela o tinha pegado quando ele se inclinou sobre o pulso dela para fixar o pingente de dançarina em sua pulseira. Ele tinha estado tão assustado com o chocante contato íntimo, que ele não o havia rompido, e o gosto de Sahara tinha entrado em sua corrente sanguínea, uma marca que ele usaria para o resto da vida.

Cor pintou as bochechas como resultado. — Dezesseis e vinte e dois não é uma diferença significativa. — Tinha sido uma declaração rebelde. — Mais cinco anos e eu estarei com vinte e um, e serei uma adulta legal com plenos direitos. Podemos apresentar um contrato de concepção e fertilização, e uma vez que tivermos uma criança, podemos concordar com a paternidade conjunta e viver...

— Sim, — ele dissera, interrompendo a corrida de palavras, porque ela não tinha necessidade de convencê-lo a aceitar a confiança de que ele nunca seria merecedor, mas que ele pretendia levar e proteger até a última respiração.

Um sorriso despontou. — Nós vamos ter uma casa, — ela sussurrou, —onde eu possa te beijar tanto quanto eu queira.

Mas aquele tinha sido o primeiro, o único beijo deles. Dois dias depois, Sahara tinha gritado até que sua voz se quebrou, o sangue manchado em sua pele brutalizada.

— Sinto muito, — ele disse, a memória uma que ele levaria para o túmulo, — que eu não sou o homem que você se lembra. Muitas coisas aconteceram enquanto você estava fora. — Se ela tivesse estado com ele por naquele tempo, a luz brilhante no pesadelo, ele poderia ter lutado para manter algumas lascas de sua “humanidade”. Mas eles a tinham roubado dele, roubado o único ser humano no universo que ele se importava, e ao fazê-lo, eles tinham mudado o curso do mundo.

Os dedos de Sahara apertaram o braço dele. — Você é meu.— Simples e calmas palavras que eram um soco no peito. — Eu vou lutar por você, hoje, amanhã e todos os amanhãs por vir.

Na intensidade do silêncio que se seguiu enquanto eles apenas se seguraram um ao outro, como se para mitigar a separação que havia marcado os dois, ele a viu fechar os olhos, a respiração acalmar. Ela tinha dormido em seus braços. A primeira vez que ela fizera aquilo, ela tinha onze anos, o relacionamento deles uma amizade que tinha se tornado parte integrante da sanidade dele.

Cansada de suas aulas de dança, ela tinha se encostado contra ele quando se sentaram na frente do toco, e a próxima coisa que ele soube era que ela estava dormindo. Ninguém nunca tinha mostrado a ele tanta confiança. Ele não tinha ousado mover-se durante todo o tempo que ele foi capaz de passar com ela, acordando-a com a mais gentil chamada telepática quando era hora dele ir embora.

Ele ainda podia se lembrar do azul manchado dos olhos dela quando ela tinha despertado, a forma que ela tinha aceitado a presença dele sem surpresa ou medo. Como se aquele fosse o lugar dele. Com ela. Esfregando os olhos, ela dissera, — Você virá amanhã?

— Sim.

Ele sempre dissera sim a ela, à garota que havia dado a ele um sentido de pertencimento, uma sensação de lar. Conforme ela tinha crescido e percebido aonde ele ia quando ele a deixava, o que era feito com ele, aqueles olhos tinham se tornado feridos. Mas ela nunca tinha se afastado dele, não importava o quão quebrado ele estivesse quando ele ia a ela.

— Eu vou contar, — ela tinha dito aos doze anos, com o rosto determinado. — Ele está machucando você, mesmo que você não diga como, e eu não vou mais ficar quieta sobre isso!

— Você não pode. Não há nenhuma evidência. — Santano tinha se assegurado disso. E se um J-Psy fosse chamado para verificar memórias de Kaleb, — eu vou ter um acidente fatal antes que ele permita qualquer um perto o suficiente para me examinar.

Lágrimas de raiva, o rosto vermelho. — Eu odeio esse monstro! Eu o odeio.

No final, a lealdade dela e o amor por ele custou-lhe tudo. — Sinto muito, — ele disse novamente, tocando com os dedos a pequena cicatriz na bochecha dela. — Ninguém nunca vai te causar dano novamente. — Ele já havia executado três dos guardas que tinham ajudado a prendê-la e torturá-la.

Todos tinham se escondido como os ratos que eram quando eles entenderam que estavam sendo caçados, mas Kaleb era paciente. Ele tinha encontrado todos e cada um. E ele tinha quebrado suas mentes antes de quebrar o pescoço.

 

TRÊS dias depois, Sahara acenou um adeus a seu pai no comunicador e observou-o se virar para chegar ao trabalho. Ele tinha recebido alta um dia antes, e já estava no escritório da clínica examinando arquivos de pacientes, em violação direta às ordens dada a ele por seu próprio médico. Não havia dúvida de onde ela tinha herdado sua força de vontade — uma vontade que Kaleb tinha provocado a um ponto de ruptura na noite anterior.

Depois que ele tinha se sentado distraidamente sem camisa ao lado dela enquanto ela via uma das pesquisas de vídeos dele. De vez em quando, ele tinha erguido os olhos do mini tablet para apontar um aspecto técnico do que as pessoas nuas na tela estavam fazendo, a voz fria e a expressão clínica. Ela tinha durado exatamente 17 minutos antes de atacá-lo.

Enrubescendo em como muito não clinico ele tinha sido com ela, ela desligou o comunicador e desceu a escada de corda para encontrar Faith e Mercy para uma viagem de compras a San Francisco. Era tempo dela explorar sua nova vida, e a ideia de fazê-lo com amigos era docemente maravilhosa. Tanto sua prima quanto a espirituosa e doce sentinela DarkRiver tinham se tornado uma parte importante de sua vida, e ela pretendia cultivar aquele relacionamento, viesse o que vier.

— Eu preciso pensar sobre o que eu vou fazer — ela disse a elas no SUV, virando-se ligeiramente para envolver Faith na discussão. Sua prima tinha insistido para que Sahara tomar o banco do passageiro na frente quando Mercy apanhou-as, uma vez que o cenário seria novo para ela. — Com a minha vida, quero dizer.

— Você não tem que decidir isso agora. — Faith franziu a testa sobre sua xícara de café, o cheiro delicioso o suficiente para fazer Sahara questionar a sua própria aversão ao amargo líquido. — Se alguém merece tempo de inatividade, é você.

— Isso é o que eu pensei — Sahara fez uma careta — mas esta não é a minha personalidade. — Nunca tinha sido. — Agora que estou mais saudável, meu cérebro está indo a cem quilômetros por hora. — Ela já tinha inalado vários livros sobre seus temas favoritos.

Mercy sorriu. — Leopardos, como eles dizem, não mudam suas manchas.

Após o riso, elas falaram de suas opções, se ela poderia querer voltar para a escola ou se preferiria fazer algo menos acadêmico por um tempo. Foi uma conversa valiosa, que deu a ela muita coisa para pensar.

— Eu estava preocupada que eu estaria sobrecarregada, — ela confessou ao chegar à cidade movimentada próxima a água que era San Francisco, — mas eu adoro o barulho e as cores e as pessoas!

Foi um par de horas mais tarde, quando elas estavam caminhando para um pequeno restaurante italiano para o almoço — depois de entulhar suas compras no SUV — que três coisas aconteceram em rápida sucessão. Alguém atirou em Faith e errou, a bala quebrando uma janela; Mercy girou para cobrir Faith com predatória graça enquanto gritava para Sahara se abaixar e mãos ossudas agarraram Sahara em torno de seus braços.

Em seguida, o restaurante tinha ido embora, e ela estava no que parecia ser um pequeno e vazio armazém, partículas de poeira dançando nos raios de sol oblíquos através das placas de madeira velha que compunham as paredes.

— Eu suponho que você está atrás da recompensa? — ela disse em um tom calmo, apesar de seu coração batendo rápido, sufocando seu primeiro instinto — que era chamar Kaleb. Desde que ela não estava morta ou sangrando, significava que o homem atrás dela, as mãos enluvadas já fora da pele dela, a queria viva, então havia uma chance de que ela pudesse resolver a situação sem violência.

O sequestrador deslocou-se para enfrentar Sahara. Ele era magro e relativamente baixo, apenas dois ou três centímetros mais alto que ela, mas ele não só se moveu com uma economia de movimentos que gritava habilidade, ele tinha uma pistola laser preto brilhante na mão. — A recompensa está desaparecida, — ela disse ante o contínuo silêncio dele, sua própria arma confortável no coldre no tornozelo coberto por seus jeans.

— Eu tenho um cliente privado. — Curtas palavras que adicionavam à impressão de um afiado profissional. — Contanto que você coopere, eu não tenho nenhuma intenção de causar-lhe lesões corporais.

Olhando ao redor do armazém, ela viu um engradado virado a um metro de distância. — Posso me sentar?

Um aceno rápido enquanto, mantendo-a em sua linha de visão, ele se moveu para um papel — fino computador portátil configurado no que parecia ser uma mesa de jogo barato.

— Você está verificando para ver se o seu cliente liberou o pagamento?

Nenhuma resposta. Mas enquanto ele a acreditava dócil e resignada a seu destino, Sahara o observou. Logo se tornou evidente que ele estava se movendo com um cuidado deliberado que ela não tinha notado à primeira vista. O homem estava fraco, perto de seu limite — ou ele tinha a teletransportado a uma localização muito fora do alcance dele, ou ele tinha tido que se teletransportar várias vezes em rápida sucessão, a fim de atirar em Faith seguido de agarrá-la.

— Como — ela disse, trabalhando através de suas opções, — você me localizou?

— Esse conhecimento não pode ajudá-la agora.

— Eu gostaria de saber onde falhou a minha segurança. — Verdade, exceto que ela não precisava dele para contar a ela. — Um exercício intelectual.

Uma pequena pausa antes de, surpreendentemente, ele dar a ela uma resposta. — De acordo com meu empregador, era certo que NightStar iria colocá-la em um local seguro. Havia apenas uma chance que você estaria com sua prima, mas eu decidi que merecia 48 horas do meu tempo. Desde que o território DarkRiver é grande, eu decidi vigiar o estacionamento da sede da matilha na cidade com a intenção de espiar Faith.

Chance, Sahara pensou, era uma besta complicada. — A sorte está certamente do seu lado hoje. — Levantando-se, ela deu alguns passos lentos em direção a ele, consciente dos olhos rastreando cada movimento, os dedos dele curvados em torno da arma ao lado. — Posso? — ela disse e acenou à garrafa de água ao lado do computador.

— Aqui. — Ele entregou a ela, confiante da proteção proporcionada por suas luvas.

Esse foi o erro dele e parte do que fazia Sahara tão perigosa.

Uma fração de segundo depois que os dedos dela roçaram os dele, o sequestrador entregou a ela a arma, os olhos embaçados com confusão. — O que estou fazendo aqui?

— Você se perdeu. — Tecendo uma nova memória para ele, ela enviou-o para dormir no chão. Quando ele acordasse, estaria com uma lembrança de uma briga que exigira que ele deitasse por uma semana.

Sahara odiava a ideia de violar a mente de alguém, mas este caçador de recompensas tinha perdido a proteção oferecida por sua aversão à invasão mental quando ele decidiu raptá-la. Entrando e saindo da mente dele como se fosse a sua própria, ela conectou-se ao computador usando a senha dele e apagou tudo referente ao negócio, seja no e-mail ou em contas bancárias. Ajudou que ele era organizado, a mente dele arquivando os dados sobre ela em uma seção discreta, mas ainda levou tempo.

Ao invés de tentar substituir o disco rígido, ela decidiu levar o computador com ela. Isso significava outra inserção de memória onde o oponente fantasma do sequestrador nesta briga jogou a pequena mochila contendo o computador debaixo de um caminhão que passava, as peças que restaram servindo apenas para o reciclador.

Kaleb, ela disse mais tarde, consciente de que era mais de meia-noite em Moscou. Você está acordado?

Sim. O que você precisa?

De você para não matar alguém.

Ele apareceu ao lado dela um segundo mais tarde, obtendo a situação com um único olhar. — Por que eu não deveria matá-lo? — Uma questão gelada.

— Porque eu tenho lidado com isso. Ele é mais útil para nós vivo. — Uma vez que ela tocava uma mente, Sahara poderia escorregar de volta e tomar o controle total independentemente da distância ou o tempo, transformando o indivíduo em um fantoche de carne e sangue, que não tinha sequer uma suspeita de que suas decisões não eram suas próprias.

A ideia de fazer uma coisa dessas a revoltava, mas isso não queria dizer que não era verdade. Resultante de uma mutação genética desconhecida que significava que não tinha nenhuma classificação oficial, a habilidade dela era uma que seria o bicho-papão de sua raça se eles soubessem sobre ela. Nenhuma mente estava a salvo da de Sahara, nenhum escudo impenetrável, nenhuma capacidade ofensiva capaz de pará-la se ela chegasse perto o suficiente apenas uma vez.

Ela não deixou para trás qualquer vestígio de sua interferência, as memórias que ela implantara tão real quanto memórias verdadeiras. E ela era indetectável quando ela trabalhava. Se ela quisesse, ela poderia fazer um Conselheiro dançar sua música, um CEO dar a ela suas propriedades, um homem cortar a própria garganta enquanto sorria. E embora ela nunca tivesse tido motivos para testar quantas mentes ela poderia controlar de uma só vez, a confiável telepata NightStar que havia trabalhado com ela para compreender a habilidade dela quando esta surgiu, havia postulado que estaria em três dígitos.

Era a mais feia das habilidades para ter uma mulher cuja própria mente tinha sido rasgada, mas ela tinha chegado a um acordo com isso durante os períodos de lucidez incorporados ao labirinto. As decisões que ela tinha feito e as regras que ela tinha estipulado para si mesma todas giravam em torno de uma questão central: se ela alguma vez tivesse um filho, ela poderia olhar nos olhos dessa criança sem se sentir envergonhado com o que ela tinha feito?

Nada sobre as ações dela hoje violaram aquele teste.

— Quem o contratou? — Kaleb perguntou, seu olhar sobre o sequestrador, as estrelas eclipsadas por preto letal.

— Eu lidei com isso — ela repetiu em vez de responder à pergunta e, quando ele não mudou seu olhar, decidiu jogar duro. — Se você não respeitar meus desejos, eu simplesmente não vou chamá-lo da próxima vez.

A linha da mandíbula dele permaneceu uma lâmina, mas ele voltou a atenção para fora do caçador de recompensas. — Quem?

— De acordo com as memórias dele, Tatiana.

— Impossível. Ela está exatamente onde eu a coloquei.

— Então alguém na organização dela inteligente o suficiente para descobrir o que eu posso fazer, e arrogante o suficiente para enganar e minar o seu chefe. — Se os rumores sobre a ascensão da outra mulher ao poder estavam corretos, era realmente um caso do que os seres humanos chamavam karma.

Sem perder mais tempo e energia pensando sobre Tatiana, ela olhou para a face do cardeal telecinético que ela sabia que estava tendo que exercer um duro autocontrole para não enviar o homem aos pés deles a uma morte prematura. — Vamos para casa, Kaleb — ela disse, roçando os dedos sobre o queixo dele em uma lembrança silenciosa de quem ele era para ela.

 

                               Capítulo 34

A PRIMEIRA COISA que ela fez uma vez que eles estavam no terraço estrelado em Moscou foi colocar o laptop de lado, pedir o telefone de Kaleb, tendo esquecido o dela no ninho e ligar para Faith. — Estou segura, — ela assegurou sua prima. — Você? Mercy? Os bebês dela?

— Nós estamos bem. Mercy comeu os paramédicos vivos quando eu a fiz ter um check-up — Faith disse com uma risada carinhosa. — Então, Riley apareceu e ela decidiu cooperar porque ele estava louco de preocupação — mas ela estava certa. Não havia um arranhão sobre ela e, em sua opinião expert de ex-diabinho-criança, os filhotes gostaram da excitação.

Aliviada, Saara cortou Faith antes de sua prima poder questionar seu exato paradeiro e prometeu estar em casa no momento em que a noite caísse em San Francisco.

— Você precisa comer — Kaleb ordenou quando ela devolveu o telefone, apontando as barras nutricionais de alta densidade que tinham aparecido na pequena mesa ao lado da espreguiçadeira. — Você ainda não está saudável o suficiente para perder as refeições.

— Eu estou morrendo de fome — ela admitiu e sentou-se na borda da espreguiçadeira. Chutando fora os sapatos e removendo o coldre do tornozelo, ela pegou uma das barras nutricionais. — Minha habilidade pode não exigir esforço, mas ela queima energia psíquica. — Também queimava comunicar-se telepaticamente com Kaleb, mas ela já tinha trabalhado naquilo em suas necessidades calóricas.

Inclinando-se de costas contra o corrimão, Kaleb não falou até que ela tinha terminado a barra e se limpado com água. — Você tem se tornado mais confiante em seu poder. — A expressão dele era sombria, a voz gelada com aprovação. — Eu nunca concordei com o seu desgosto com isso.

— Eu era jovem. — Ela sorriu quando uma segunda barra de nutrição flutuou incisivamente na frente de seu rosto. — E você sempre foi super-protetor. — Pegando a barra, ela abriu.

— Você é importante para mim.

Tão simples. Tão honesto. Tão poderoso.

Esfregando uma mão sobre o coração, ela compartilhou seus segredos com a pessoa que nunca a trairia ou usaria. Que ele era o mesmo homem que planejava criar um império que atravessasse o mundo não era uma contradição. — Minha habilidade amadureceu. — Tinha sido errática aos dezesseis anos, uma das razões pela qual Tatiana tinha sido capaz de aprisionar a mente dela. E uma vez presa, Sahara tinha sido incapaz de sair — mostrando que ela podia passar por qualquer escudo, exceto um criado em torno de sua própria mente.

Era a sua maior fraqueza, um equilíbrio natural com o poder que ela exercia.

Ninguém podia tão facilmente sepultá-la agora, mas sete anos atrás, ela tinha sido uma menina assustada e Tatiana uma adulta telepata poderosa treinada em agressão psíquica. Enrique, também, devia ter desempenhado um papel em seu aprisionamento mental — a náusea que agitou em seu estômago ante o simples pensamento dele era prova suficiente daquilo.

— Uma vez que eu estava aprisionada no interior dos escudos que Tatiana que criou, — Sahara disse a Kaleb — ela sufocou minha habilidade, também, exceto por curtos períodos de ‘liberdade’ quando ela queria que eu usasse isso. — O objetivo da outra mulher tinha sido quebrar Sahara até que ela fosse o animal de estimação de Tatiana e pudesse ser confiada a não usar suas habilidades contra a outra mulher.

— Mas a concentração forçada do meu poder — ela continuou, — teve o efeito de acelerar o meu crescimento de uma maneira que Tatiana nunca suspeitou. — Sahara tinha escondido o desenvolvimento no labirinto, consciente de que Tatiana não podia suportar o caos insano. — Eu já não tenho que tocar a pele para o primeiro contato — eu só tenho que estar perto.

— Isso elimina uma vulnerabilidade perigosa — Kaleb disse, o tom tão ártico que ela sabia que ele estava pensando na coisa feia que tinha acontecido com ela. — Antes, se alguém conseguisse incapacitar seu corpo, você se tornaria desamparada, contanto que ele se assegurasse de não tocar acidentalmente sua pele.

Tremendo, ela se abraçou. — Por favor, sente perto de mim. Eu não posso suportar ver você sozinho no escuro.

Ele veio para ela, mas ao invés de sentar na espreguiçadeira ao lado dela, sentou-se em frente dela, de costas contra as pernas dela. Espalhando suas coxas, ela puxou-o para perto, os dedos tecendo entre a seda do cabelo dele.

— Eu estou — ele disse em voz baixa, — mais em casa no escuro do que na luz.

— Eu sei. — Era uma maravilha dolorosa, sentar-se com ele sob um céu cravejado de diamantes e saber que ele era dela. Por este momento, a guerra civil, a consciência quebrada dele, as suspeitas dela das linhas indefensáveis que ​​ele poderia ter cruzado, nada disso importava. Havia apenas a noite de veludo e o calor primordial dele tão perto. — É a solidão que eu não posso suportar.

Pegando uma das mãos que ela tinha colocado em seus ombros, ele a trouxe para sua boca, pressionando um beijo carinhoso no centro da palma da mão. — Eu posso sentir você dentro de mim, sempre.

Com olhos ardentes, ela se inclinou para envolver os braços em volta dele, a bochecha dela beijando a dele. — Eu descobri outra coisa profundamente problemática — ela disse a ele. — A telepata que me ajudou com a minha formação não percebeu isso, e nem eu, possivelmente porque todos os meus testes foram sobre temas dispostos. — Sentando-se, ela começou a brincar com os dedos através do cabelo dele novamente. — Eu não corro riscos quando eu entro em uma mente, saqueio através de memórias e reorganizo ou elimino-as, ou quando eu insiro novas.

Kaleb passou a mão ao longo das costas da panturrilha dela. — Isso não é o porquê Tatiana queria você. Ela pode penetrar escudos por si mesma, embora em comparação com o seu bisturi, ela está trabalhando com um martelo e cinzel.

— Não, era o controle da mente, é claro. — Tatiana poderia fazer isso também, mas para ela significava um compromisso 24 horas por dia, 7 dias por semana que drenava sua energia psíquica e física ao ponto de deixá-la uma concha esquelética. E isso para controlar uma única mente. — Ela planejava me usar para subir cada vez mais na escala de poder.

Traiçoeira como sua habilidade era, significou ainda mais quando Kaleb recostou-se nela acariciando as mãos. Ele nunca havia recuado dela depois que ela admitiu o que podia fazer. Tudo o que ele tinha pedido, ela lembrou conforme suas unhas raspavam suavemente o couro cabeludo dele, era que ela nunca fosse dentro da mente dele.

— Eu não quero que você veja o que eu fiz.

Era uma promessa tão incorporada na psique dela, que ela não tinha sido tentada a quebrá-la mesmo quando ela não tinha reconhecido a si mesma, a confiança de Kaleb uma joia preciosa que jamais poderia ser replicada.

— O que — ele disse agora, os cílios lançando sombras sobre seu rosto, ele tinha relaxado totalmente, — você descobriu?

Um calor enrolando dentro dela, Sahara se inclinou para pressionar um beijo suave e doce na mandíbula dele. — Nos primeiros dias depois da minha abdução, Tatiana me disfarçava, então manipulava uma situação para me ter perto o suficiente de um indivíduo para tomar uma impressão inicial. Então, em algum momento mais tarde, ela me pediria para cair na mente daquele indivíduo e induzi-lo a fazer uma coisa pequena, até mesmo boba. — Ela engoliu em seco. — Eu justificava cada um como sendo um teste inofensivo, a fim de ganhar tempo.

Os olhos de Kaleb permaneceram fechados, a mão deslizando sob a bainha da calça jeans dela para fechar-se em torno do tornozelo nu. — Você fez escolhas que a mantiveram viva. — Estava claro que ele não via razão para que ela se sentisse culpada.

Esfregando o rosto dela contra o dele mais uma vez, ela disse, — O que me levou muito tempo para perceber foi que cada vez que eu voltava para uma mente para controla-la, eu perdia um pedaço de mim. — E ela não tinha como controlar as memórias que seriam apagadas. — Se eu tivesse continuado, eu teria eventualmente acabado uma lousa em branco, uma arma para Tatiana dirigir à vontade. — Estremecendo, ela apertou os braços em torno de Kaleb.

Os cílios dele levantaram-se, olhos de obsidiana impressionantes olhando para os dela. — Você está certa sobre não torturar Tatiana? Eu posso quebra-la para você, fazê-la implorar.

Sahara sabia que aquela era uma séria oferta mortal. Uma pequena parte dela estava tentada — ela não era uma santa, e Tatiana a tinha brutalizado ao ponto em que ela tinha esquecido o que era ser um ser consciente — mas a tentação não era nem de longe da profundidade de seus sentimentos por Kaleb. Ele vivia no escuro, mas ela não permitiria que ele fosse engolido por aquilo, não o usaria como Tatiana tinha intencionado usá-la.

— Sem tortura. — Sentando-se novamente, ela começou a massagear os ombros dele pelo puro prazer de tocá-lo. — Precisamos nos concentrar em descobrir a identidade da pessoa que orquestrou a tentativa de sequestro.

— Eu vou cuidar disso.

— Eu tenho o conjunto de habilidades certas para descobrir a verdade, sem ninguém sendo o mais sábio, — ela disse em resposta a declaração plana de Kaleb. — Estou certa de que deve ser um dos guardas, uma vez que ninguém mais esteve perto o suficiente para descobrir o que eu posso fazer — e eu não tenho problemas em infiltrar-me nos pensamentos deles. — Não dada a participação ativa no mal de Tatiana.

— Não.

Sahara discutiu com calma racional, em seguida, em um temperamento furioso, mas Kaleb estava impassível. — Eu não vou permitir você em qualquer lugar perto de alguém que possa prejudicá-la.

Fazendo sons incoerentes de frustração, ela admitiu, no entanto, que esta era uma batalha que ela tinha bem e verdadeiramente perdido. Kaleb nunca seria um homem que ela poderia controlar, e ela não podia esperar vencer toda discussão — mas houve um ponto em que ela não tinha intenção de se mexer. — Prometa-me que você não vai voltar para o armazém e executar o caçador de recompensas.

— Desde que você não pode tomar o controle dele, sem causar danos permanentes as suas memórias, a sua linha de raciocínio sobre ele ser mais útil vivo não é mais válida.

Isso era o porquê ela tinha que pegar uma promessa. — Esqueça isso. Eu não quero a morte dele em minha consciência.

Uma pequena pausa. — Eu não vou voltar e matá-lo, a menos que ele se prove uma nova ameaça.

— Isso, eu posso aceitar. — A respiração dela ficou presa quando ele mudou ligeiramente de posição, os ombros escovando a pele sensível do interior das coxas delas — assim que o celular dele tocou.

Respondendo, ele ouviu e disse, — Hora? — Uma ligeira pausa. — Eu estarei lá. — Ele deslizou o telefone sem mais palavras.

— Uma reunião? — ela perguntou, usando as mãos para massagear o músculo pesado dos ombros dele novamente, depois de ter percebido o prazer dele no ato antes deles terem começado a discutir. — Deve ser um negócio importante para uma discussão em pessoa.

— Não é negócio — Kaleb respondeu, inclinando o pescoço para o lado para que Saara pudesse chegar a um local apertado. Ele não permitiria ninguém mais tão perto de sua jugular. Mas Sahara? — Mais duro, — ele disse, desfazendo mais dois botões da camisa para que ela pudesse deslizar as mãos dentro do colarinho aberto.

— Desse jeito? — Foi uma questão íntima conforme ela exercia apenas a pressão certa.

— Hmm. — Acariciando o polegar sobre a curva do tornozelo dela, ele deixou os cílios fechados, o corpo lânguido. Era um estado que ele só se encontrara com Sahara, e em todos os casos anteriores, tinha sido depois do sexo.

— Há uma pequena garrafa de óleo no balcão do banheiro no ninho — disse Sahara suavemente, continuando a tocá-lo com possessividade sensual que fez até mesmo a parte que vivia no vazio, escuro e violento, virar-se preguiçosamente em repouso. — Era parte do pacote de produtos de higiene enviado para mim. Você pode obtê-lo?

Capturando a imagem telepática detalhada que ela enviou para ele, da garrafa e de onde exatamente estava em relação ao resto do banheiro, ele pegou-a sem esforço. Um instante depois, um perfume que ele identificou como baunilha derivou para o ar, as mãos de Sahara não mais em sua pele. — Tire a camisa para que eu não derrame óleo sobre ela.

Kaleb não tinha nenhum desejo de se mover, mas fez o que ela pediu. A sensação das mãos quentes dela nele, o óleo tornando mais fácil para ela deslizar sobre a pele, cavando mais fundo em seus músculos, era a recompensa dele. Sensação tátil, ele pensou, tinha certas qualidades viciantes. Mas só quando era Sahara com as coxas enquadradas nos ombros dele, Sahara com a voz que era um murmúrio no escuro, conforme ela dizia a ele do prazer que ela encontrava em tocá-lo.

— Em sua leitura sobre os acontecimentos atuais — ele disse alguns minutos depois, antes que seu aumento de excitação pudesse ofuscar seus sentidos, — você se deparou com referências a um insurgente nomeado Fantasma?

— Você quer falar de política agora, quando eu estou fazendo o meu melhor para seduzi-lo?

A rouca, risonha pergunta o fez puxá-la pelo braço até que ela entendeu a mensagem e deu a volta para ficar em cima dele. — Você não precisa me seduzir. — Ele era dela. Sempre. — O processo, no entanto, é agradável. — Intimidade física verdadeira, ele pensou, tinha muito mais nuances do que ele tinha entendido anteriormente, confundindo automaticamente com o sexo.

Os lábios de Sahara curvaram-se. — Eu vou continuar indo, então. — Um beijo lento tão proprietário quanto as mãos que ela voltou para os ombros dele quando ela recuou. — Quanto à sua pergunta... de acordo com várias edições anteriores do Beacon — ela disse, o rosto moldado em uma expressão pensativa, — antes da dissolução do Conselho, o Fantasma foi responsável por uma série de vazamentos de informações que colocaram os Conselheiros na posição de ter de se explicar.

— Ele também estava — ela disse, passando os polegares pelos tendões do pescoço de Kaleb, — sob rumores de estar envolvido na explosão de um laboratório que estava, supostamente, trabalhando em um chip bioneural para forçar as pessoas ao Silêncio. — Sahara estremeceu, claramente horrorizada com a ideia. — Minha impressão é que ele é responsável por fomentar a dissidência na Net contra toda a Superestrutura do Conselho, fraturando a base de poder deles de dentro para fora – e que o objetivo dele é a queda do Silêncio.

— Sim.— Kaleb não estava surpreso que ela já tinha conseguido reunir tanta informação — Sahara Kyriakus tinha nascido com uma mente sedenta por conhecimento e capaz de processar isso a velocidades elevadas. — O Fantasma é um indivíduo perigoso para quem está no poder.

As mãos de Sahara ficaram imóveis, o azul profundo de seus olhos perturbados. — Kaleb, você não pode ferir essa pessoa. Muitos de seus objetivos estão alinhados com os do Fantasma — esse rebelde está lutando contra a podridão no centro da nossa raça, e você também. Vocês podem trabalhar juntos.

— Não pode haver dois poderes na Net, Sahara. — Apenas fraturaria e dividiria a população. — O Fantasma tem uma suspensão de execução no presente, mas o tempo dele está chegando ao fim.

 

                                     Capítulo 35

SAHARA balançou a cabeça, sua voz sombria. — Se você danificar o Fantasma, corre o risco de incitar uma nova onda de rebelião, desta vez diretamente contra você.

 Mais uma vez, ela demonstrou o quão bem ela o conhecia, usando a lógica ao invés de qualquer apelo emocional para a segurança e o bem-estar de sua raça, um apelo que ela sabia que cairia em um saco roto. — Ele não vai chegar a esse ponto. — A morte do rebelde causaria uma perturbação aguda e violenta no tecido da PsyNet o que Kaleb não permitiria. Não quando a Net em breve lhe pertenceria. — O Fantasma vai simplesmente desaparecer dos holofotes em um determinado ponto inegociável.

 — Desaparecer? — Os dedos de Sahara cavaram seus músculos enquanto ela continuava a acariciá-lo, independentemente de sua discórdia. — Kaleb, tudo o que eu li me diz que esse rebelde sobreviveu anos de ser caçado. Ele não é o tipo de desaparecer em silêncio, mesmo se é você a dar a ordem.

 — Ele vai ouvir a razão. As ações do Fantasma — disse ele sobre o som inarticulado de Sahara de descrença, — mostram que ele é um indivíduo eminentemente racional.

 — Sério? — Foi um comentário repleto de discordância. — Deixando isso de lado, como você vai mesmo propor de encontrá-lo? Ele é uma sombra.

 — Eu já sei a sua identidade e, desde que ele de o seu primeiro passo.

Colocando as mãos em seus ombros, Sahara balançou a cabeça. — Eu não acho que ele vai cair nos seus planos. Este Fantasma parece ser tão implacável e conduzido como — Uma pausa repentina, seus olhos estreitando. — Você — ela sussurrou. — É você!

 — É claro que sou eu — Kaleb disse e tomou o falso soco de Sahara visando sua mandíbula, com a pele suave contra a dele. — Ninguém mais tem acesso à profundidade de dados das mãos do Fantasma, e a capacidade de estar em qualquer lugar do mundo em uma fração de segundo.

 Sahara tentou seu olhar severo, mas ela estava muito feliz pelo fato de Kaleb ter acabado de jogar com ela — com olhos frios e um tom gelado que a tinha cegado para o que ele estava a dizendo. Ele estava certo: o Fantasma não poderia ser ninguém, além do cardeal Tc que a segurava. Além disso, Kaleb o teria eliminado muito antes dos rebeldes se tornarem um adversário tão perigoso na Net. Era uma verdade tão inexorável quanto o poder impressionante em seu comando.

 A única questão que restava e que ela não perguntaria era o por quê.

 Ela sabia a resposta, sabia que estava escrita com sangue e nascida na dor sádica de um talentoso e assustado sobrevivente, que não tinha ninguém a quem pudesse recorrer. — É isso que a chamada era — ela perguntou em vez disso, deixando sua raiva, porque esta noite, era deles. Ela não permitiria que nenhum eco do mal a manchasse. — Você tem companheiros rebeldes?

— Sim — disse ele, puxando-a para frente para um beijo

Abrindo a boca para ele, Sahara decidiu que uma discussão mais aprofundada poderia esperar. Agora, ela só queria se afogar no gosto de Kaleb. Nenhum outro homem jamais poderia igualar a paixão visceral que ele despertou nela, e ela conheceu a sua cota durante o seu tempo com DarkRiver. Sensual e forte, carinhoso e tátil, os machos leopardos riam com facilidade e era considerada uma parte normal da vida. Os soldados que patrulhavam a área foram simpáticos, e alguns que tinham flertado abertamente com ela, teriam ido mais longe se ela tivesse oferecido qualquer incentivo.

Sahara não deu — era só Kaleb que ela queria. — Eu era muito inteligente aos dezesseis anos, — ela murmurou, inclinando-se para lhe beijar a garganta, o aroma de baunilha aquecido contra a sua pele e entrelaçada com o seu próprio perfume natural, deixando-a sem fôlego. — Eu reivindiquei o homem mais sexy do mundo como meu. — Talvez ele estivesse irremediavelmente danificado, marcado até o ponto em que ela teria de destruir ambos, a fim de salvar sua própria raça... mas ela não quis dar esse passo até que toda a esperança estivesse perdida, seu Kaleb fatalmente se fraturou nas mãos cruéis de um louco morto há muito tempo.

— Eu quero sentir sua pele contra a minha — disse ele, seu corpo ainda lânguido de uma forma rara em Kaleb, quando ele arrastou fora seu pulôver e se livrou de seu sutiã.

Depois, quando as estrelas brilhavam em cima e o mundo girou uma hora mais perto do que poderia ser uma guerra global catastrófica, Sahara beijou seu amante. Pressionada contra o músculo estriado dele, suas mãos fortes contra as costas dela, ela jogou a cabeça para trás quando ele foi para sua garganta. Prazer percorreu-a em uma onda sensual, uma estrela cadente que passou por sua visão, um brilho que ela agarrou com as duas mãos.

 Nós ganhamos isso, ganhamos o nosso futuro! Um grito feroz em silêncio. Basta dar-nos o nosso tempo.

 Foi o mais simples dos desejos, mas quando Kaleb tomou sua boca com a procura incessante de sua autoria, uma de suas mãos subindo para o fundo de sua cabeça, ela sabia que também poderia ser um dos mais impossíveis.

 

 Uma hora depois ele a levou sob a luz das estrelas, seu corpo um fluxo de curvas femininas, Kaleb não lutou contra a decisão de Sahara de voltar para o bando. Faith estava, sem dúvida, à sua espera, e Kaleb tinha planos para a noite que Sahara não aprovaria.

 Tatiana estava encolhida febril e suja no buraco onde a tinha deixado, com as mãos enfaixadas com os suprimentos médicos rudimentares. Sangue nas paredes fez parecer que ela tinha tentado escalar o seu caminho para fora, ou talvez ela tivesse perdido o senso da razão e batido no concreto até que rasgou sua carne e arrancou suas unhas.

 Mantendo um olho vigilante sobre seus escudos, ele se encostou na parede em frente a ela. — Eu pensei que você poderia ter um pouco de companhia.

 Olhos planos e viciosos como uma cobra olharam para ele, o Silêncio de Tatiana começa a descamar longe nas bordas. Essa desintegração não impactou sua mente. — Você precisa de alguma coisa. Qual é o negócio?

 — Não há acordo. — Nunca haveria. — Você vai me dizer o que eu quero saber, ou eu vou quebrar um osso em seu corpo. — Isso não conta como tortura para a mente de Kaleb — que seria se ele a estivesse machucando por nenhuma razão, mas para vê-la gritar. — Tenho certeza que a infecção não vai demorar muito para se instalar em suas atuais acomodações úmidas.

 O medo se arrastou ao longo de sua pele. Oh, ela escondeu-o bem, mas a única coisa que ele sempre soube sobre Tatiana era que ela era um valentão. E nunca valentões fazem bem quando não tinham mais a mão superior. Santano aparentemente implorou por sua vida quando os changelings vieram para ele. Um dia, se Kaleb tiver acesso ao material gravado que os bandos tinham da execução, então ele ia sentar e ver até que cada instante de tormento de Santano fosse queimado em seus bancos de memória.

 — Quem mais na sua organização — disse ele à mulher que era como Santano onde se importava —você confiava com o conhecimento da capacidade do Sahara?

 Um toque de lábios. — Alguém está caçando Sahara Kyriakus? Vai ser uma captura fácil. Ela sempre foi muito fraca para realmente usar seu poder como ele é projetado para ser usado.

 Kaleb não discutiu, não negociou. Ele simplesmente quebrou o dedo mindinho da mão direita. Gritando, Tatiana embalou a mão ao peito. — Você está louco, — ela trincou fora depois que ela pudesse falar novamente. — Verdadeiramente louco.

 — O que eu sou — Kaleb disse, — é um homem de palavra. Agora, gostaria de responder a pergunta?

 — Eu não confiava em ninguém. — Logo em seguida, ela era a Tatiana que a Net conhecia, cruel, amoral, e disposta a fazer o que fosse preciso para ganhar. — Eu teria sido uma tola por fazê-lo, dada a tentação em mão, se e quando Sahara recuperasse pleno uso de suas faculdades, um único indivíduo inteligente poderia usá-la para assumir toda a PsyNet. Por que eu iria arriscar a partilha dessa informação?

 Verdade, ele julgou. — Quem no seu emprego é inteligente o suficiente para trabalhar com isso?

 — Havia um guarda — disse Tatiana, seu dedo já inchado. — David Sezer. Ele mostrou muito interesse em Sahara. Eu tinha-lhe transferido depois que ele foi preso na cela com ela contra a minha diretiva pessoal.

 Kaleb sentiu a escuridão fria nele esticar acordada, desenhando a presença ansiosa do Darkmind. — Isso parece extraordinariamente magnânimo de você. — No plano psíquico, ele “acariciou” o Darkmind com paciência que se daria a violência para a qual ansiava.

 — Cheguei à conclusão de que o seu Silêncio era falho e que ele tinha sido atraído pela oportunidade de abusar de uma mulher vulnerável.

 A escuridão cresceu. — Você não fez certo?

 — A penetração do Escudo leva energia e David não era ninguém importante. Como ele não tinha conseguido tocar Sahara e era de outra maneira útil, eu tomei a decisão de mantê-lo em diante. Ele, no entanto, ganhou uma herança um ano atrás, que iria dar-lhe os recursos financeiros para contratar um caçador. — Um sorriso de escárnio. — Se ele acha que pode usar Sahara, ele é delirante. Mesmo pateticamente fraca como ela é, a menina é mais forte do que ele.

 Kaleb vasculhou o banco de dados da PsyNet, com a Darkmind enrolada em torno dele. Ele levou menos de dois minutos para localizar um David Sezer ligado a um ramo secundário da corporação Rika-Smythe. — Alguém mais com o condicionamento “falho” chegou perto de Sahara? — Sahara era pequena, sua força física em nenhum lugar próximo ao de um homem crescido e forte e ela foi drogada, suas habilidades suprimidas em cima disso. Presa fácil.

 — Não.

 Pegando a escorregada nos olhos de Tatiana, ele retrucou em outro dedo. O eco reverberante de seu grito não teve impacto sobre ele. — Quem a machucou?

 Curvada, seu corpo destroçado por estremecimento, quando ela vomitou, Tatiana não poderia responder imediatamente, mas ele foi paciente. — Tínhamos que ganhar sua cooperação. — A voz rouca de dor e medo. — Força foi utilizada.

 Ele não iria matá-la, não importava a provocação. Seria muito misericordioso. — Diga-me onde você guarda os registros do cativeiro de Sahara, e eu vou sair — disse ele em um tom agradável, que ele sabia que perturbava as pessoas em um nível mais profundo. — Caso contrário, vamos passar várias horas juntos. — Ele teletransportou um bisturi — ela não sabia de sua promessa a Sahara, não sabia que a consciência de sua vítima era a única razão pela qual ele não a estava torturando direito neste instante. — Aprendi muitas coisas no colo de Santano.

 

 Temendo um brilho de suor em seu rosto, ela se enrolou para trás em um canto. — A abóbada na PsyNet. Vou ter de ver por telepatia a localização e códigos de passagem.

 Kaleb sorriu, sabendo que ela não estava tão quebrada como ela estava tentando aparecer. — Não, você não vai. Fale.

 Tatiana falou, e quando ela terminou, disse: — Você realmente era o protegido de Enrique, não é? — No tom de alguém fazendo uma descoberta. — Você ajudou a brutalizar as fêmeas changeling que ele assassinou.

 A julgar que ela não estava em perigo de morrer de uma ligeira febre e seus ferimentos leves, ele a deixou sem desperdiçar outra palavra para ela. Localizar o cofre não foi um problema, mas ele teve o cuidado de fazer o download dos dados. Tatiana não o decepcionou - as armadilhas eram inteligentes e pretendiam ser fatais.

 Uma vez que ele tinha os dados, ele pediu ao NetMind para apagar qualquer outro vestígio a partir de sua existência, inclusive a cópia de backup automático no drive PsyNet — que Kaleb tinha nomeado como Arquivo Obsidian. Ninguém jamais saberia o que havia sido feito para a Sahara durante os anos que Tatiana a tinha em uma gaiola. Ele não permitiria que ninguém olhasse para ela com piedade em seus olhos quando ela merecia apenas o orgulho por sua coragem e força.

 Feito isso, ele começou a ler os arquivos, anotando o nome de cada indivíduo envolvido nas sessões destinadas a quebrar a vontade de Sahara. Três deles já tinham sido executados depois de segui-los através de outros métodos, e outro estava ficando devagar terrivelmente louco, graças a habilidade secundária de Kaleb. Os outros dois eram menores jogadores e ele disse ao Darkmind para sufocar em sua negritude e consumir.

 David Sezer foi o único que sobrou, e os pássaros começaram a cantar lá fora quando Kaleb decidiu que era hora de pagar ao outro homem uma visita pessoal. Três horas depois, uma vez que ele tinha tomado banho e se vestido depois de tomar conta do problema, ele foi ao encontro das outras duas pessoas além de Sahara que tinham sua lealdade.

 Não era nada parecido com o que ele sentia por ela, mas foi o suficiente para ele se teletransportar para a sombria noite de San Francisco, as nuvens escondendo a lua minguante de vista. Deslizando para o último banco da igreja onde o padre Xavier Perez saudou todos os que vieram, ele falou em volta do ex Arrow que estava sentado na frente dele. O outro homem nunca tinha olhado para o seu rosto, mas ele sabia que era para Kaleb que ele falava.

 — Você quer discutir Pure Psy — Kaleb tinha adivinhado. Os três —Xavier, Judd, e Kaleb — tinham sido vinculados por um desejo mútuo de colapso da estrutura de poder podre da Net, mas onde Judd e Xavier queriam salvar os inocentes de todas as raças apanhadas na podridão, Kaleb lutava apenas por Sahara.

 Ele ter guardado um número de vidas durante a luta, ajudado alguns desses inocentes, tinha sido uma conseqüência e não um objetivo. Então, novamente, talvez Judd e Xavier tivessem um impacto mais profundo sobre ele do que qualquer um deles creram, afinal, ele havia poupado os filhos em seu plano para limpar o Psy da face do planeta se sua busca por Sahara terminasse com o conhecimento de sua morte.

 Ele contou a ela sobre Judd, sobre Xavier, e sobre os detalhes de sua guerra estratégica, nos minutos tranquilos depois que ele e Sahara tinham tido relações sexuais sob o céu estrelado de Moscou, com o coração batendo no ritmo dela enquanto ela estava quente e saciada contra ele. A única pessoa com quem ele já tinha entendido a amizade e que tinha visto sua relação com os dois homens. Ele aceitou seu julgamento, sabendo que Sahara compreendia muito mais sobre a emoção do que ele jamais faria isso.

 — Não — disse Judd agora. — Não sobre Pure Psy. Preciso de informações sobre Ming.

 Kaleb pensou sobre o porquê de seu colega rebelde precisar de dados sobre o ex-Conselheiro. — Ele se tornou uma ameaça muito grande para Sienna. — A sobrinha de Judd pode ser a única pessoa no planeta tão perigosa quanto Kaleb, mas desde que ela não tinha vontade de interferir em seu território, nem ele nos dela, ele a deixava sozinha.

 Isso, e sua lealdade para com o Arrow caído na frente dele.

 — Ming está obcecado por ela — Judd confirmou. — Ela conseguiu feri-lo da última vez que entrou em contato, e Ming nunca se esquece de uma ameaça. — Ele levantou a mão em um olá em silêncio enquanto Xavier caminhava pelo centro da igreja em direção a eles, enquanto Kaleb recuava para as sombras. Era mais seguro para Xavier não saber sua identidade.

 Ao contrário de Judd, o padre nunca tinha sido treinado para ser letal.

 Deslizando para o banco ao lado de Judd, Xavier disse: — Nós trabalhamos por um mundo melhor todo esse tempo, acreditando que a feiúra que era o Conselho precisava ser extirpado da Net, e agora parece que a Net está fraturando, com fatal resultados. Eu não quero tomar banho com o sangue de inocentes.

 — Inocentes nunca foram nossas metas — disse Judd, suas próximas palavras dirigidas a Kaleb. — O que mudou?

 — Você se lembra quando você me perguntou se havia uma pessoa na PsyNet que importava para mim?

 — Sim.

 — Essa pessoa me pediu para não destruir a rede. — Como as cicatrizes que lhe marcaram, a podridão seria quase impossível erradicar sem antes da higienização da rede. Mas ele sabia que não podia fazer isso e ainda ter Sahara olhando-o do jeito que ela tinha feito no terraço, uma suavidade nela que o fez acreditar que ele pode entender a felicidade. — Seus inocentes estão a salvo de mim.

— Eu estou contente. — Palavras calmas do ex-Arrow.

— Você tentaria me executar se eu tivesse respondido de outra forma? — Enquanto o Tc de Judd não era tão poderoso quanto o de Kaleb, ele era ferozmente inteligente, só poderia ter alcançado seu objetivo.

 — Sim — foi a resposta brutal. — Teria destruído um pedaço de mim para acabar com sua vida, mas eu teria feito isso.

 

                               Capítulo 36

KALEB não experimentou nenhum sentimento de traição, ele sabia a resposta antes de fazer a pergunta. Ele também sabia que o outro homem teria feito tudo ao seu alcance para salvar Kaleb antes de tentar assassiná-lo. Judd, de alguma forma, sobreviveu à vida cruel de um Arrow com sua consciência, se não intacta, então não totalmente destruída.

 Não muito tempo atrás, Kaleb tinha visto o outro homem rir com sua companheira e considerado como uma existência além de sua compreensão ou alcance. Mesmo que ele devesse encontrar Sahara, ele acreditava ser muito danificado para dar a ela o que Judd dava a sua companheira. No entanto, hoje à noite, Sahara havia beijado, lutado com ele, rido, familiarizado com sua risada rouca quando ele não só havia dobrado, mas quebrado cada uma das grades de metal durante o seu lento, preguiçoso sexo sob as estrelas.

 Se Judd e Xavier o tinham ajudado a permanecer são o suficiente para dar a Sahara o que ela precisava, então ele lhes devia uma dívida que nunca poderia ser paga. — Ming — disse ele, — esta na França.

 — Região de Champagne, como antes — acrescentou, depois de ter atualizado os dados do dia anterior, — embora penso que ele mudou sua base de operações. Eu estou no processo de acompanhamento da base, mas ele é taticamente espírito e cuidado. — Ming também sabia como colocar armadilhas com dentes afiados como lâminas.

 — A confirmação de que ele está na região é suficiente. Temos algumas fontes na área.

 — Você não pode matá-lo ainda. Eu preciso estabilizar a Net o suficiente para que sua morte não inviabilize isso. — Mesmo com o Conselho em ruínas, cada um dos ex-Conselheiros processavam tanto poder econômico e psíquico que uma morte violenta ou súbita poderia causar uma onda de choque fatal.

 As ondulações tinham sido menores quando Kaleb assassinou um conselheiro pouco mais de um ano e meio atrás, mas a PsyNet tinha estado estável, e não à beira do colapso. A folga da perda tinha sido absorvida com não mais do que uns poucos incidentes menores. — A onda de choque agora pode ser catastrófica.

 — Vai levar algum tempo para definir as coisas — disse Judd. — Eu vou lhe dar um aviso de vinte minutos antes de avançarmos, para que possa estar em alerta para as deficiências estruturais na Net.

— Como é que você pretende alcançar Ming?

— Da mesma forma que os bandos chegaram a Santano Henrique — foi a resposta fria.

 Kaleb sabia que ele não ia conseguir nada mais. Como a primeira lealdade de Kaleb era Sahara, a de Judd era sua companheira e a matilha de lobos changeling que ele agora chamava de família. Foi a medida da confiança que tinha crescido entre eles que permitiu a Kaleb a matéria para descansar.

 Xavier falou no silêncio. — Nós nos sentamos em uma casa de Deus e falamos de assassinato. O que isso faz de nós?

 — Os homens que entendem que não há mal no mundo — respondeu Judd. — Os dados que passei — eles ajudaram a rastrear sua Nina?

 Nina, Kaleb sabia, tinha sido o amor de Xavier antes que um ataque Psy os rasgasse.

 A respiração do padre estremeceu em seu peito. — A informação aponta para uma pequena aldeia nas montanhas do meu país. Eu estou... com medo de ir para lá. Eu devo reunir a coragem de encarar a verdade, e talvez o ódio da minha Nina.

 Eles falaram de outros assuntos, então, Kaleb saiu uma hora mais tarde, pouco antes de Judd. Esperando nas sombras até que o ex-Arrow estava fora de vista, ele voltou para a igreja para encontrar Xavier onde ele deixou.

 — Eu esperava por você — disse o sacerdote, sem se virar.

 Kaleb se sentou atrás do outro homem. — E você?

 — Um homem que perdeu seu único amor sabe quando ele ouve a mesma perda na voz de outro. — Xavier balançou a cabeça, o preto perto de seu ouro dourado da pele pela luz de velas. — A sua Nina voltou? Ela é a única que lhe pede para ter misericórdia de um inocente?

 — Sim. — Inclinando-se para frente, ele cruzou os braços na parte traseira do banco de Xavier. — Eu não sei como amá-la. — Ele morreria por ela, mataria por ela, mas ele não entendia a emoção que ele sempre sentiu que ela precisava nele, mesmo quando ela estava com dezesseis anos e com olhos brilhantes.

 — O amor é a maior forma de lealdade, que coloca a felicidade do amado sobre a do amante — Xavier disse com uma paz que era um aspecto integrante dele, mesmo em sua confusão. — E você sabe de lealdade.

 — Eu vou — Kaleb disse com as velas queimadas ao redor deles — pensar sobre o que você disse. — Ele fez uma pausa. — Xavier, eu posso levá-lo para sua Nina. — Isso poderia ser feito sem o outro homem já ter vislumbrado o rosto de Kaleb.

 — Obrigado, amigo. — A voz de Xavier balançou. — Mas eu acho que devo fazer isso da maneira mais difícil. Devo ganhá-la.

 Deixando o sacerdote com seus pensamentos, Kaleb foi para Sahara depois que ele saiu da igreja, apenas para vê-la dormir. Para vê-la segura e viva, a necessidade que ele tinha de garantir seu bem-estar nunca iria desaparecer. E embora ele não tenha feito nenhum som, cílios grossos levantaram para revelar olhos de sono azul escuro. — Kaleb? — Se mexendo, ela levantou o cobertor como um convite e murmurou. — Vem cá. Tá frio ai fora.

 Ele não tinha a intenção de ficar, mas ele dormiu aquela noite nos braços da única pessoa no mundo inteiro que se importava se ele estava com frio... e ele pensou que talvez ele pudesse compreender não só o amor, mas a alegria.

 Talvez tenha sido esse pensamento que acendeu os neurônios há muito adormecidos em seu cérebro, mas pela primeira vez em mais de sete anos, ele não sonhou com sangue e dor e crueldade, mas com o dia que uma menina com olhos azuis muito escuros tinha alterado para sempre o curso de sua existência.

 

 Ele sentou-se imóvel na cadeira ao lado Santano, com os pés apoiados no chão e seus olhos treinados para a frente. Ele já tinha observado tudo sobre o escritório de Anthony Kyriakus, particularmente as duas portas e as janelas amplas que derramaram luz solar para o espaço e para as pernas.

 Ele não tinha janelas, em seu quarto no centro de treinamento remoto onde ele morava, e a lógica disse que fazia o escritório vulnerável ao ataque, mas o projeto também tinha pontos positivos. O maior era que Anthony tinha uma visão ininterrupta dos principais portões que guardavam o composto alastrado que abrigava a maior parte do PsyClan NightStar.

 Nos relatórios que Santano tinha dado para Kaleb ler como parte de seus estudos políticos, ele disse que “a forte lealdade familiar” era um traço característico NightStar. Kaleb não tinha família, não tinha entendido o conceito de lealdade na primeira vez que tinha lido sobre isso — mas depois de pesquisá-lo, ele percebeu que significava estar ligado a alguém que se importaria se ele vivia ou morria, alguém que lutaria com ele e por ele, alguém que não queria machucá-lo.

 Ele nunca tinha experimentado nenhuma dessas coisas.

 — Vamos começar? — Santano disse a Anthony, colocando um mini tablet sobre a mesa entre eles. — Eu trouxe uma cópia dos arquivos relevantes.

 — Um momento. — Anthony olhou para a pequena garota que estava na porta principal, as mãos ordenadamente em frente dela. — Por favor, mostre a Kaleb o terreno em volta, Sahara.

 Kaleb não se mexeu, mesmo quando Anthony acenou para ele uma permissão silenciosa. Ele sabia que Santano não iria permitir que ele interajisse com ninguém fora do controle Tc — Kaleb não precisava ser um adulto para saber que era tudo parte da estratégia do seu treinador para quebrá-lo para baixo, apagar a sua vontade. Foi o mesmo motivo que o outro Tc queimou uma grande parte dos minutos da volta de Kaleb antes deles teletransportarem para o composto NightStar.

 Tinha sido — foi — extremamente doloroso, mas Kaleb não tinha feito um único som, sua expressão impassível. Ele tinha aprendido há muito tempo a nunca reagir, o que só alimentou a feiúra que vivia dentro do Conselheiro Santano Enrique, uma feiúra que ninguém mais parecia ver.

 — Essa criança — o outro cardeal agora disse, depois de um olhar desdenhoso para a menina na porta, — é muito jovem para fornecer uma conversa que vai de alguma forma interessar Kaleb. Ele pode permanecer.

 Kaleb esperou que Anthony recuasse. Todo mundo fazia. Santano era um conselheiro, enquanto que Anthony era apenas um chefe de uma família.

 Exceto que Anthony, seu tom de voz tão firme como o seu olhar, disse: — Eu não realizo negócios com as crianças presentes. Podemos marcar outra consulta no próximo mês para discutir os serviços de previsão exigidos pela sua empresa.

 Ao invés de subir para fazer uma partida imediata, Santano juntou os dedos e virou a cabeça para Kaleb. — Vá. Comporte-se. — Um puxão doloroso na coleira psíquica em torno mente de Kaleb, as compulsões que o mantiveram em silêncio sobre as perversões de Santano em pleno vigor.

 Ignorando a dor adicional, Kaleb caminhou até a porta e no composto com a menina chamada Sahara. Eles estavam na horta hidropônica, quando de repente ela disse: — Meu pai é um M. Podemos ir vê-lo.

 Kaleb congelou. — Por quê?

 O rosto de Sahara mostrou uma expressão que ele reconheceu como preocupação, mas ela disse: — Ele tem scanners interessantes em seu escritório — e ele sabia que era um estratagema para levá-lo ao centro médico.

 — Eu vi scanners médicos antes. — Foi uma resposta forçada a sair pelas compulsões.

 Procurando seu rosto, Sahara, finalmente, concordou, — Ok — e continuou.

 Não foi até dez minutos depois que ele percebeu que ela diminuiu o ritmo e ignorou pelo menos uma inclinação... porque ela sabia que ele estava ferido. Ninguém nunca tinha feito nada para ajudá-lo e ele não entendia por que ela o fez, o que ela esperava ganhar.

 — Há peixes na lagoa — disse ela, no final da turnê. — Você quer ver?

 Kaleb acenou para adiar seu retorno ao cargo... e para estender seu tempo com essa garota que viu sua dor quando ninguém mais fez. — Por que isso foi criado? — ele perguntou, uma vez que atingiu o grande lago rodeado de pedras lisas.

 Sahara ajoelhou-se ao lado dele, com um movimento ligeiro de trair seus ombros que dizia que ela estava prestes a dar de ombros. — Eu ouvi o Pai dizer que foi uma “ajuda aprovada para meditação” — ela disse, as calças cor cáqui molhadas por uma gota de água quando ela mergulhou a mão na lagoa e rodou. —Os F-Psy que vivem aqui usam-o.

 — Você é um F? — ele perguntou, ecoando seus movimentos na água.

 — Não exatamente. — Nada em seu tom disse que estava preocupada com sua falta de condição em uma família tão bem conhecida por seus videntes. —Estou na subdesignação B. Isso significa que tenho antevisão.

 Sacudindo a mão seca, ela olhou para ele com olhos de um profundo e distintivo azul vívido contra o cabelo negro grosso contido em duas tranças puras. — O que é você?

 — Um Tc.

 Suas bochechas rosadas, os olhos brilhando. — Você pode fazer algum truque?

 Acessando a parte de sua telecinese que Santano não havia estrangulado quando ele puxou a coleira, Kaleb pensou sobre o que Sahara poderia considerar um bom truque e levantou seu pequeno corpo do chão.

 Os olhos arregalados quando ela percebeu que estava flutuando, ela levantou-se e, depois de olhar furtivamente ao redor, pulou sobre o colchão de ar, o sol deflagrando fios escondidos de vermelho-ouro em seu cabelo. Esperando até que ela sentou-se e ficou estável, ele a baixou suavemente para a grama.

 — Foi maravilhoso — disse ela, seus lábios se curvando em um sorriso antes da preocupação escurecer sua expressão. — Sinto muito. Doeu-lhe para fazer isso?

 Kaleb sacudiu a cabeça ante a pergunta inesperada. Ele tinha ficado sangrando e quebrado em frente Santano e seus médicos animal de estimação, mas nunca ninguém tinha olhado para ele como Sahara fazia, como se ele fosse uma pessoa e não uma coisa. — Seu silêncio é falho para sua faixa etária — disse ele, a água fria sob as pontas dos dedos, quando ele rodou de novo.

 Cruzando os braços, Sahara mordeu o lábio inferior. — Você vai dizer sobre mim?

 — Não. — Ele não tinha nenhuma lealdade a nada nem a ninguém, nada valia a pena trair essa garota que o fez esquecer que ela tinha sido condenada a passar o tempo com ele.

 Quando ela acenou discretamente para ele quando ele saiu, ele decidiu que tinha de voltar, tinha que descobrir o que ela faria se ela estivesse livre para escolher se queria ou não falar com ele.

 Ele levou quase duas semanas para escapar do centro de treinamento. Ele usou a cara de Sahara como um bloqueio de teletransporte, chegando no quintal de uma pequena casa para encontrá-la sentada em um ampla toco. Seus pés estavam descalços e suas tranças bagunçadas, uma carranca de concentração na testa enquanto olhava para um mini tablet.

 — Olá — disse ele, e esperou que ela gritasse que um intruso violou a segurança do composto.

 Com exceção... ela irrompeu em um sorriso enorme. — Oi! — Baixando o mini tablet, ela disse, — aquele homem esta aqui de novo? — O sorriso dela desapareceu. — Eu não gosto dele.

 Kaleb sacudiu a cabeça, uma sensação estranha no peito por não ter sido rejeitado. — Eu vim para te ver. — Ele pensou em não adicionar a próxima parte, mas parecia errado mentir para Sahara quando ela confiava nele com seus próprios pensamentos.

— Eu não conheço nenhuma outra criança que fale comigo.

 — Isso deve ser solitário. — Tomando uma barra de nutrição achatada do bolso, ela quebrou-a ao meio e estendeu um pedaço para ele. — Eu sei que você provavelmente acha que eu sou um bebê, mas você pode ser meu amigo, se você quiser.

 Quando ele aceitou a oferta, ela se moveu no toco para dar um espaço para ele.

 Tomando o assento, ele disse, — Eu não acho que você é um bebê. Acho que você é inteligente e você vê coisas que outras pessoas não veem. — Inúmeros adultos o tinham visto depois que Santano o torturou, mas ninguém nunca tinha percebido que ele estava ferido. Pior, ninguém nunca tinha visto Santano pelo que ele era. — Eu não gosto dele, também.

 Sahara mordeu o meio da barra de nutrição e bateu a parte de trás de seus pés no cepo. — Ah, bom.

 Ele não estava ciente de que ele estava prestes a dizer até que as palavras saíram. — Você tem que ser mais cuidadosa. — Se alguém como Santano descobrir o quão ruim o Silêncio de Sahara era para sua faixa etária, ele ia colocá-la em condicionamento intensivo e esmagá-la com a dor até que suas respostas fossem —corretas — Até que ela não fosse mais Sahara. — Você sorriu para mim.

 — Isso é porque eu gosto de você. — Foi uma declaração tão absoluta que ele não poderia não acreditar.

 — Eu posso ajudar a fazer seus escudos na PsyNet mais forte — disse ele, uma sensação dentro dele que ele pensou que poderia ser o início da lealdade. — Então você não ficará exposta lá. — Ele tinha que tomar cuidado, mas as coisas feias que Santano tinha plantado em sua mente apenas relatavam de volta se ele usasse muita energia.

 — Você faria isso? Obrigado, Kaleb! — Ela jogou os braços ao redor dele.

 Foi a primeira vez que ele conseguia se lembrar de se sentir realizado.

 

                                             Capítulo 37

SAHARA ACORDOU E encontrou Kaleb olhando para ela, com os olhos da luz das estrelas. — O que você está pensando? — Ela perguntou em um sussurro íntimo, suas pernas se enroscaram com a dele e um de seus braços agindo como um travesseiro muscular para sua cabeça.

 Ele caiu suavemente sobre suas costas, seu corpo pressionando o dela. — Como você me ensinou a subir em árvores.

 Encantada com a ideia, ela colocou os braços ao redor de seu pescoço. — Eu era uma boa professora?

 — Sim, mas você continuava tentando negociar suas habilidades de ensino a respostas para a sua lição de matemática.

 O comentário legal a fez sorrir e exigir mais histórias sobre sua carreira interrompida como uma chantagista. Ele deu a ela o que ela pediu, e ela esperava que essas lembranças maravilhosas, inocentes e brilhantes, estivessem a salvo no cofre, e que ela, em breve, seria capaz de acessá-las sozinha.

 — Você chegou a fazer uma placa para comemorar a minha primeira escalada bem-sucedida na maior árvore do composto — Kaleb acrescentou. —Está no meu escritório.

 Sahara franziu a testa. — Eu não sei... — Rindo quando ela percebeu que ele estava falando, ela se aninhou em sua garganta. — O pedaço de madeira com o seu nome?

 Dedos passavam em seu cabelo, ele segurou-a para ele. — Você trabalhou nela durante semanas — disse ele, quando uma outra memória relacionada puxou livre da abóbada.

 — Aqui.

 Kaleb tomou o livro pequeno e maltratado de sua mão. — O que é isso?

 — Poesia. — Sahara viu pela sua expressão que ele não tinha idéia do que fazer com isso e apertou as mãos nervosamente atrás das costas. — Eu sei que as linhas parecem sem sentido, mas sempre me fazem pensar.

 Talvez, pensou, com o coração doendo, a natureza pura da perplexidade das rimas iria ajudá-lo a ver que o mundo não era simplesmente cheio de horror e dor, que havia coisas estranhamente maravilhosas também. Preocupava-lhe o quanto a escuridão vinha arrastando com ele no dia a dia, hora a hora, e ela lutaria contra a lenta perda de seu Kaleb de qualquer maneira que podia. Mesmo que fosse com poemas extravagantes sobre criaturas fantásticas.

 — Obrigado — disse ele, abrindo a tampa para ver o cartão de aniversário caseiro que ela colocou dentro. Suas mãos tratavam tanto a placa quanto o livro com cuidado, como se fossem preciosos. Kaleb sempre tratou seus dons tão preciosos.

 — Eu sinto muito que não está em condições muito boas. — Ela tinha comprado com parte do seu subsídio de papelaria, depois de conseguir corrigir um mini tablet quebrado que então ela não teria que substituir.

 Os olhos de Kaleb foram preenchidos com estrelas quando ele olhou para ela. — É perfeito. Mesmo que eu estou certo de que vou ser tão ruim para a compreensão da poesia como você é em matemática.

 Com o desvanecimento da memória, Sahara sorriu para o homem perigoso na cama com ela. — Você leu os poemas que eu te dei? — Ela perguntou baixinho, agradecida pela menina que ela tinha sido por lutar por Kaleb com todas as armas em seu arsenal, não importando quão pequena fosse.

 — Primeiro, eu tive que aprender o francês — disse ele, com uma gargalhada. — Eles ainda eram incompreensíveis. Eu lhe disse isso, e da outra vez, você me deu um romance do século XVII. — Seu cabelo caiu sobre sua testa quando ele abaixou a cabeça. — Você tinha que decifrá-lo para mim.

 Rindo ainda mais, ela segurou seu rosto, suas testas se tocando. Eles conversaram por mais alguns minutos, depois que ela finalmente recuperou o fôlego, até que Kaleb tinha que sair, mas não antes que ele lhe desse um beijo fundido que era como uma promessa. Sentindo-se como se seu corpo fosse um grande sorriso, ela arrumou o ninho, então chamou o pai para uma conversa. Claro, ele já estava no centro médico. — Eu não suponho que você estará indo para casa mais cedo — disse ela, preocupada que ele estivesse exagerando.

 Leon Kyriakus lhe deu um olhar fixo de olhos de um azul profundo. — Não, mas eu me limitei a escrever artigos acadêmicos as tardes. Isso faz você feliz?

 — Sim — disse ela, nem um pouco triste por persegui-lo sobre a sua saúde.

 Depois que ela desligou, Sahara decidiu que era hora de voltar para San Francisco. Ela pretendia ser cuidadosa sobre isso, mas ela tinha ganhado a liberdade e não era um caçador de recompensas que iria roubar isso dela. Ela também queria fazer alguns testes informais para avaliar o desenvolvimento ou a falta de sua habilidade com idiomas.

 Pegando uma carona com Mercy quando a outra mulher balançou após uma verificação do perímetro de rotina, ela esfregou a águia em sua pulseira.

 — Não que eu não aprecie a companhia — Mercy disse quando elas saíram — mas por que você não saiu com Vaughn? Eu o vi saindo quando eu entrei.

 Soprando um suspiro, Sahara fixou a touca feita de malha que escondia seus cabelos. — Ele desenvolveu um traço distintivo de proteção quando se trata de mim. — Não havia como o companheiro de sua prima a ter deixado sozinha na cidade, e isso era algo que ela precisava fazer, para provar para si mesma que podia.

 Mercy, por outro lado, levantou uma sobrancelha quando Sahara pediu para ser deixada perto do cais de pescador, mas não tentou detê-la. — De acordo com minhas ordens, estamos destinados a fornecer um porto seguro, e não aprisioná-la. E se essa arma que vislumbrei em seu tornozelo é o que eu acho que é, você é inteligente o suficiente para não precisar de uma babá.

 — Ainda assim, coloque esse número no telefone. — Ela passou mais um cartão. — Qualquer problema quando você estiver lá, ligue para este e um membro da matilha vira buscá-la, a nossa cidade sede não é longe. — Um sorriso irônico. — Quero dizer, no caso de você não se sentir bem sendo teletransportada pelo homem mais assustador do planeta.

 Sahara ainda estava sorrindo uma hora mais tarde, sua mente persistente no caminho para o homem assustador que tinha se deitado contra seu coração durante a noite, quando percebeu a multidão reunida na frente de um dos telões públicos sobre Pier 39. Ao contrário de um jogo de esportes ou performance musical, o grupo estava num silêncio mortal.

 Um simples olhar mostrou-lhe o porquê.

 A noite drapeada de Hong Kong estava queimando, a fumaça tão espessa, que era uma nuvem turva sobre a metrópole de aço reluzente que era o lar de uma população Psy em maioria e uma minoria de ser humano, seus números combinados perto de quatro milhões.

 Com os arranha-céus tão juntos, e o fato de que as chamas pareciam imunes aos materiais de construção à prova de fogo usados ​​na maioria das áreas do centro da cidade, o número de mortos podia ser de centenas de milhares. Horrorizada, ela levantou a mão à boca, quando um emblema brilhou no lado direito da tela: uma estrela preta com um branco P em seu centro.

 — ...se é ou não é um eco proposital — o repórter Psy estava gritando para a câmera, em um esforço para ser ouvido sobre a cacofonia de veículos de resgate e o rugido voraz das chamas.

 Do outro lado da tela brilhou uma estrela de prata.

 — A estrela de prata é altamente reconhecível como emblema do Conselheiro Kaleb Krychek. Com o seu novo símbolo, Pure Psy parece estar lançando um desafio direto ao homem que parou ou mitigou uma série de ataques recentes.

 — Nossos contatos no salvamento do fogo nos dizem que este fogo é diferente de tudo que já viram. Seus métodos normais estão tendo efeito zero, e o tamanho das chamas significa que é perigoso demais para ser contido até mesmo por uma equipe de Tcs sem a ajuda do Conselheiro Krychek. Ele é a única pessoa que pode ter o poder de conter, se não acabar, este inferno.

 O coração do Sahara parou ao ouvir as palavras finais do repórter.

 A única pergunta que ela não tinha sido capaz de fazer para Kaleb agora queimou em brasa em suas íris, como o medo por ele, porque sabia que, sem dúvida, que ele logo estaria na cidade queimada se ele já não estivesse misturado com terror do que ele poderia ter feito. Ela não podia suportar a ideia de que a sua alma era impiedosa, não podia suportar e aceitar que era tarde demais, o seu coração apertava com tanta força dentro de seu peito que era uma dor física que ameaçava levá-la de joelhos... mas a única coisa que ela não podia evitar, não podia recusar-se a ouvir, era a evidência de suas próprias palavras.

 — Eu não tenho empatia, Sahara. Eu não posso sentir por aqueles que vão morrer. Seria o mesmo que pedir um falcão a voar quando suas asas haviam sido arrancadas.

 

 KALEB tinha planejado ficar de fora do próximo grande ataque Pure Psy. Não seria bom para as pessoas ficarem desconfiadas de seus motivos. A situação em Hong Kong, no entanto, seria tão ameaçadora como catastrófica para exigir uma alteração drástica dos planos.

 Encomendando respostas de suas próprias equipes na região, bem como dando o mesmo comando para todos os Arrows telecinéticos disponíveis, chegou a descobrir que Ming, o único outro ex-Conselheiro com poderio militar pessoal significativo, tinha aparecido com uma equipe Tc. Um movimento interessante para o telepata que normalmente preferia manter o rosto fora da mídia, e que mostrou que Ming estava aprendendo que essa guerra não seria vencida nas sombras.

 Pena que ele já tinha perdido.

 Reconhecendo o outro homem com um aceno de cabeça, Kaleb virou-se para Aden, a explosão de calor do fogo rugindo um quarteirão de distância causando suor em sua testa e colando sua camiseta de mangas compridas em suas costas. Aden empurrou o cabelo úmido de suor antes que ele falasse. Ele já tinha estado na cidade para uma reunião com outros membros do esquadrão com base na região e tinha reagido rapidamente para ligar-se à rede de comunicações.

 — É óbvio que Pure Psy tem uma fonte de alto grau de cargas explosivas militar — o Arrow disse-lhe quando o último dos Tcs estava perto o suficiente para partir sem esgotar-se. — Esta operação tinha que ter sido posta em prática ao longo de meses. Todo o núcleo central da cidade foi extraído para explodir, mas as explosões iniciais só causaram danos menores, é o fogo que é o verdadeiro assalto.

 Kaleb olhou para as imagens que Aden tinha obtido do centro da cidade devastada. As chamas queimavam em brasa com um tom verde anormal.

— Retardador de fogo?

— Sem efeito. — Aden tocou o dedo no ouvido. — Relatório de uma das equipes de fogo do céu diz que gotas de água e retardante, ambos estão falhando.

 Ming, tendo examinado as mesmas imagens, disse: — Eles vão continuar a falhar. Estas chamas são distintas de cargas “queimaduras”, destinados ao uso em apagar alvos isolados, rodeados de grandes áreas de rocha ou deserto ou água. Uma vez acesa, o fogo vai queimar até que cada consumível possível se fosse.

 Ou seja, depois de ter engolido a Ilha de Hong Kong, iria a expandir para o exterior em qualquer direção não marcado por um limite de água. — As pontes e túneis primários para Kowloon, — Kaleb disse, apontando para uma equipe de quatro Tcs. — Reduzam estas, então cuidem das vias de acesso secundárias e todos os links físicos para as ilhas distantes. — As outras pontes não eram tão resistentes, com um menor risco do fogo se rastejar, mas precisava ir tão bem.

 — O esquadrão — Aden disse a equipe de quatro homens à esquerda, — não tem conhecimento de tal arma.

 — Ela foi desenvolvido há duas décadas — Ming respondeu, — e arquivada por causa de sua ferocidade. Dada a sua falta de sutileza, considerou-se de nenhuma utilidade para a equipe.

 E isso, pensou Kaleb, foi por isso que Ming tinha perdido os Arrows. Ele os havia tratado não como homens e mulheres perigosos e altamente inteligentes que eram, mas como seu exército pessoal de assassinos. Este tinha sido um erro fatal.

— Vasic — Kaleb disse ao parceiro, até agora silencioso de Aden, — você fez um teste telecinético? — Nem todo fogo reagia da mesma forma à sua capacidade de manipular as energias destrutivas.

 — Sim. É uma opção viável, mas — os olhos cinzentos do teletransportador trancados com o de Kaleb, — o tamanho da chama significa que ela vai ser imparável, sem a intervenção direta por um Tc de sua força.

 Não respondendo a pergunta não formulada, Kaleb se encarregou de acumular os telecinéticos. Ninguém, nem mesmo Ming, objetou. Como Vasic tinha apontado, Kaleb poderia fazer coisas que não podia nem mesmo um grupo.

— Resgate deve ser um objetivo secundário — disse ele, e foi uma decisão cruel que precisava ser feita. — Se conseguirmos abafar as chamas, as equipes não-Tc podem ir prestar assistência.

 — Este é um mapa da área atualmente em chamas ou sob ameaça — Aden disse, colocando um pequeno dispositivo na estrada onde eles estavam. Um toque de seu dedo e um mapa holográfico surgiu. — O núcleo central é passado, não há esperança de sobreviventes.

 Tinha que estar significativamente mais de mil graus no núcleo, Kaleb pensou. Ninguém poderia sobreviver nesse inferno sem equipamento especializado e roupas, uma única respiração queimando a garganta e os pulmões a cinzas.

 — Esta faixa de casas — Aden marcou um círculo áspero em torno da borda das chamas usando uma caneta holográfica compatível — foi evacuadas com sucesso.

 — Podemos apertar o fogo interior? — perguntou Ming, colocando as mãos juntas como se em torno de um pescoço. — Estrangulá-la de combustível?

 Aden foi quem respondeu, embora Kaleb adivinhasse a resposta de Vasic. — Não com o núcleo queimando tão violentamente quanto está — se nós concentrarmos toda a energia do fogo numa área, temos o risco de criar uma bomba maciça.

 Kaleb concordou com a conclusão de Aden, que deixou uma única opção. — Nós vamos para o exterior — disse ele e puxou um segundo círculo áspero dentro do primeiro, a distância real entre os dois cerca de quinhentos metros. —Uma equipe dentro do fogo, a segunda na zona de evacuação, a fim de comprimir o fogo entre ele e sufocar — A grande área de superfície do anel de forma a atenuar, se não eliminar, o risco de concentração de energia na medida.

 — Eu vou primeiro para o núcleo. — Kaleb vestiu o equipamento à prova de fogo que Vasic tinha transportado para ele, os Arrows já se adequando. — Assim que eu for, eu vou empurrar o fogo para fora. Sua tarefa — ele apontou para os Tcs que estariam posicionados na zona evacuada — é garantir que o fogo não se espalhe mais longe. Ming?

 O telepata assentiu enquanto o resto do grupo começou a entrar em sua engrenagem. — Vou coordenar colocações externas para garantir a cobertura total.

 — O caminho mais fácil para a equipe interna chegar na posição — Aden disse, — é a quinhentos metros do anel externo. — Ficando sem argumentos de suas flechas contra o que seria uma corrida infernal através chama mortal, ele continuou. — Uma vez que Kaleb leve o fogo a este ponto — ele bateu o círculo, —vocês tem que mantê-lo lá. Se vocês não poderem sufocá-la, então vocês deixam queimar. Entendido?

 Um mar de concordância.

 — Se — Kaleb acrescentou, — vocês sentirem que o anel está prestes a falhar, eu quero que todos vocês se teletransportem para o perímetro externo para garantir que o fogo não se espalhe. Eu vou segurar a seção interna. Caso contrário, eu vou ajudar a sufocar as chamas, quando o anel estiver estável. — Olhando ao redor para garantir que a mensagem tinha sido ouvida, ele disse, — Fiquem em posição.

 Os Tcs começaram a teletransportar de saída para os pontos externos usando imagens fornecidas pelos bombeiros e equipes médicas que trabalhavam em torno da cidade.

 Kaleb, no entanto, não tinha nenhuma imagem disponível para começar a usar dentro do núcleo ardente. Razão pela qual Aden e Vasic o levaram em um jet-helicóptero, pairando sobre o centro do fogo. Usando binóculos de alta definição, ele capturou uma imagem mental viável e teletransportou... tal quando o jet-triturador explodia da proximidade do calor.

 Aden?

 Nós estamos bem. Vasic estava monitorando o tanque de combustível.

 Consumido pelo núcleo incandescente, o calor tão violento que chegava ser perigoso mesmo dentro de seu equipamento de incêndio, Kaleb ajoelhou-se em um joelho e estendeu os braços para fora, palmas das mãos empurrando contra as chamas que rastejavam sobre cada centímetro de seu corpo.

 As roupas não vão durar os esperados 60 minutos, disse Aden. Qualquer um que esteja perto terá 40 minutos no máximo.

 Vou avisar os outros.

 Uma única respiração calma das reservas de ar incorporadas ao processo, a sua mente um mar de gelo negro... ele desencadeou a força do poder que vivia nele.

 

                               Capítulo 38

— INCRIVEL.

 Sahara repetiu o anônimo julgamento engasgado no silêncio gelado quando a estação de comunicação se ligava com sucesso em um satélite que tinha ampliado Hong Kong, mostrando a seus telespectadores o que estava acontecendo na metrópole: o impossível. Do núcleo nocivo que os repórteres tinham afirmado que estava queimando em um escalonamento de cinco mil graus pelo menos, de acordo com as mais recentes estimativas de especialistas científicos, as chamas estavam sendo empurradas para fora em uma esfera perfeita, enquanto a borda irregular do fogo permanecia estacionária, como se estivesse em estase.

 O medo apertou o peito, o gelo em suas veias, mas ela mordeu o lábio inferior para lutar contra a vontade de chegar ao homem que ela conhecia que tinha estado nesse caldeirão de fogo até que ele empurrou-o para fora. Distraí-lo agora poderia significar a sua morte. Em vez disso, ela assistiu um evento tão fenomenal, que mesmo os âncoras tinham ficado quietos, os únicos sons que existiam eram dos selos na baía e o voo das gaivotas.

 A escuridão dentro da conflagração continuou a crescer à medida que o fogo foi empurrado cada vez mais longe do núcleo. E então chegou a um impasse, um anel perfeito de fogo no centro da ilha, que queimou um branco violento contra o céu da noite naquela parte do mundo.

 Por dois minutos, nada aconteceu.

 Em seguida, o fogo começou a entrar em colapso sobre si mesmo, lenta mas seguramente, como se estivesse sendo comprimido por paredes invisíveis.

Exatamente 27 minutos depois, a última chama se apagou, as luzes brilhantes fora da zona de fogo fazendo o núcleo escuro fumar muito mais flagrante uma cicatriz.

 Apertando os braços em torno de si, Sahara afastou-se da tela de comunicação e rendeu-se ao necessário, por fim, estendendo a mão em toda a grande distância que os separava, e esperando que Kaleb pegasse seu sinal psíquico com seu alcance muito maior, como ele sempre fazia. Se ele não o fizesse, se houvesse apenas o silêncio... não, ele estava bem. Ele tinha que estar bem. Kaleb? Você está bem?

 

 KALEB levou um segundo para entender a pergunta.

 Ninguém se importava se ele vivia ou morria por mais de sete anos, e ele descobriu que não sabia o que fazer com o conhecimento de que Sahara fazia, como ela sempre fazia. Como se a sua vida valesse a pena separada da dela.

 Travando com o fogo pendurado em seus quadris, sua parte superior do corpo encharcado de suor, ele disse, eu estou ileso, o tempo todo consciente de que Sahara estava errada em sua crença. Sua vida deveria ter sido terminada no berço, o legado genético dentro dele sufocado como o fogo tinha sido, enquanto ele era jovem demais para entender o que ele fez.

 Agora, o único valor que ele tinha era o de manter Sahara segura.

 Você prometeu que nunca mais mentiria para mim, ela disse, as palavras segurando um peso de emoção que ele sentia mesmo através da distância que os separava.

 Eu nunca menti. Era o único ponto não contaminado de honra em sua vida. O que você quer saber?

 A pausa foi longa, ela questionou num sussurro psíquico. Você ajudou a criar esse incidente?

 O gelo negro fraturado estremeceu. Não.

 Sinto muito.

 Não sinta. Era uma questão racional, dada a minha história.

 Mas eu te machuquei, e ninguém tem o direito de fazer isso. Palavras ferozes. Nem mesmo eu.

 Outra fratura no gelo, esta profunda. Os Pure Psy tentaram chegar até mim, mas nossas metas não se alinham. Ele olhou em volta para os escombros da Ilha de Hong Kong, pensando em como Vasquez tinha recusado um encontro face-a-face, suspeitando dos motivos de Kaleb. Ele tinha razão de fazer. Kaleb teria executado o outro homem à vista. Você sabe a minha posição no Silêncio — e eu nunca tive nada contra os seres humanos e changelings.

 Virando-se para o líder dos Arrows quando Aden correu, ele ouviu o relatório de danos e atualização sobre os esforços de resgate. — Sou necessário?

 Ao aceno de Aden, ele retirou o equipamento do fogo e atirou-o na pilha onde os Arrows estavam derramando o seu próprio. Suas calças de carga se foram com o suor embebido assim como sua Camiseta, mas não havia nenhum ponto de mudança. O fogo podia estar morto, mas o calor ainda não tinha escoado para fora das ruínas da cidade.

 Tome cuidado, Kaleb. Um beijo contra sua mente. Iria quebrar meu coração se você fosse ferido.

 A cidade estava devastada em torno de Kaleb enquanto corria na direção que Aden tinha apontado, mas ele só viu os olhos azuis meia-noite da mulher que, com a sua pergunta anterior comprovada, sabia exatamente do que ele era capaz, mas o queria assim mesmo. Sahara sempre o tinha visto. E sempre se recusou a ir embora.

 A última vez, tinha custado seus sete anos de sua vida. Desta vez, ele estava com o próprio mundo a seus pés. Eu vou para você quando tudo isso acabar.

 Eu estarei esperando.

 A promessa o manteve durante as horas sombrias que se seguiram, a sua principal tarefa era auxiliar na manutenção da integridade estrutural dos edifícios, enquanto equipes de resgate, incluindo equipes changeling que tinham vindo via embarcações, farejaram os pisos por sobreviventes, o seu senso de cheiro uma inestimável vantagem. Para cada sobrevivente queimado e quase morto, eles encontravam dez corpos.

 — Nós salvamos milhões de vidas — Vasic disse assim que a tarefa telecinética final tinha sido concluída — e ainda não parece suficiente quando você os vê trazendo corpos recurvados, a pele enegrecida pelo fogo.

 O Pensamento de Kaleb das cinzas era tudo o que restava no núcleo, nenhum corpo, nenhum osso. — Vasquez, esta seria uma demonstração do poder de Pure Psy. — Ele estudou o líder do grupo marginal, sabia como sua mente trabalhava. — É por isso que ele deliberadamente escolheu uma ilha de alto perfil em vez de uma massa de terra maior.

 — Ele sabia que iria recolher as pontes e a água teria agido como um aceiro natural que contém o fogo para dentro da Ilha de Hong Kong. — Vasic assentiu.

— Um plano lógico, mas em vez de provar o poder dos Pure Psy, ele deu-lhe um palco no qual demonstrar o seu.

 Kaleb iria responder a perguntas, justificar suas ações apenas por Sahara. Como tinha dito anteriormente, no entanto, o erro de Ming tinha sido o pensamento dos Arrows como seus servos, em vez de seus parceiros. — Pure Psy — disse ele, dando a Vasic uma resposta oblíqua à sua pergunta não formulada, — devem ser extintos. Diga a Aden que não é mais prioridade dos Arrows, mas apenas um do time.

 Vasic, com seus olhos sobre os restos carbonizados e quebrados de um arranha-céu, disse: — Matar ou capturar?

 — Matar. — Os Arrows podiam acreditar que a intenção de Kaleb era livrar-se do grupo depois de terem sobrevivido a sua utilidade, mas essa não era uma suposição que ele pudesse refutar com qualquer expectativa de ser acreditado. O esquadrão letal faria suas próprias investigações, faria a sua própria mente, a única coisa que eles não encontram mais, é claro, era uma evidência do plano de Kaleb para aniquilar o líquido.

 — Minhas equipes pessoais já tem tido o cuidado de destruir um número de munições Pure Psy e bases de abastecimento. — Ele tinha iniciado a varredura após o bombardeio na universidade e considerou as ações resultantes de sucesso, mas, como esta greve mostrou, o grupo era mais organizado do que alguém já havia imaginado. — Preciso do elenco para colocar extrema pressão sobre sua liderança.

 — Você acha que eles vão cometer erros.

 — Todo mundo não se esforçou o suficiente. — Foi uma lição que ele tinha aprendido em um quarto de hotel barato ao longo de sete anos e nunca esquecido. — Tenho acompanhado três membros de sua liderança em toda a rede com o objetivo de desenterrar Vasquez, estou lhe enviando as informações em um arquivo telepático. Interroguem se possível, caso contrário, execute.

 — Você corre o risco de perder Vasquez.

 — Tornou-se evidente para mim ao longo das últimas 48 horas que ele foi muito, muito cuidadoso em não conectar-se diretamente a qualquer um desses indivíduos. Eu estava com a intenção de buscar outras opções em qualquer caso.

 — Eu passei o arquivo para Aden — disse Vasic. — Estes agentes serão eliminados até o dia seguinte. Também leva os quatro outros.

 Com nenhuma dúvida de que os Arrows iriam cuidar desse assunto, Kaleb virou a sua atenção para outra coisa. — Onde está Ming?

 — Ele saiu minutos depois que o fogo foi sufocado. — Uma pausa. — Ming sabia sobre as acusações de queimaduras, mesmo quando o time não fez.

 Kaleb já havia considerado esse fato interessante. — Se Ming forneceu para os Pure Psy, ele tinha que saber que eu seria o único capaz de deter o ataque. — E o outro homem nunca iria dar a Kaleb uma enorme plataforma para mostrar sua força.

 — Pure Psy pode ter tido um script. A equipe de Ming poderia ter lidado com um fogo menor.

 — Sim. — Kaleb assistiu os dois homens carregarem um corpo para fora do prédio mais próximo. Os mortos que ainda tinham carne em seus ossos estavam sendo processados ​​rapidamente, então a cidade se tornaria uma estufa para as bactérias que se alimentavam de carne necrosante.

 — Mantenha-me informado do seu progresso — Kaleb disse assim que outro corpo foi trazido para fora. — Eu vou canalizar através dos dados que eu desenterrar. — Ele já estava examinando a Net por qualquer pista que pudesse leva-lo ao homem sem rosto na cabeça do grupo fanático. Era hora de Vasquez saber que só poderia haver um poder na Net e a posição já havia sido firmada.

 

 SAHARA sabia que Kaleb não iria mostrar a sua dor, mas também sabia que ele tinha se ferido. Então, quando ele apareceu na varanda 24 horas depois que ele a deixou, de banho tomado, mas com linhas incaracterísticas de tensão estragando suas feições, ela caminhou até ele, tomou seu rosto entre as mãos, e disse: — Perdoe-me.

 — Você nunca tem que pedir. — Ele fechou as mãos sobre seus pulsos, seu cabelo azul-preto no sol da manhã. — Não há nada que você possa fazer que eu não vá perdoar.

 Sahara colocou os braços ao redor de seu pescoço e segurou firme. — E não há nada que você possa fazer que vai me fazer ir pra longe de você — ela sussurrou. — Eu te amo, Kaleb. — E era uma inexorável bela verdade.

 — Você não deveria dizer isso. — Os braços de Kaleb vieram ao redor dela, a espera quase uma punição apertada. — Eu sou capaz de coisas terríveis. Eu teria matado milhões de pessoas se eu não tivesse encontrado você.

 — Eu posso dizer o que eu gosto. — Ela pressionou beijos ao longo de sua mandíbula até a boca. — E só porque eu te amo não significa que eu vou perdoar o insustentável. — Amá-lo não me deixa cega para suas falhas. — Vou continuar lutando para puxá-lo para a luz.

 Os olhos de Kaleb eram belas obsidianas que brilhavam com a cor da meia-noite. — Pode ser uma batalha de anos.

 Seus lábios se curvaram em um sorriso trêmulo. — Tudo bem. Alguém uma vez me disse que eu sou a pessoa mais teimosa que ele conhecia.

 Ele se inclinou até que suas testas se tocaram. — E você tinha apenas nove anos na época. Considero-me avisado.

 Suavemente acariciando a nuca com os dedos, ela falou com os lábios nos dele. — Eu não quero nunca mais me preocupar com algo como isto. — Uma confissão crua. — Eu preciso que você me diga em tudo o que está envolvido, então eu não tenho que pensar, não tenho que adivinhar.

 Kaleb ficou em silêncio por vários minutos antes de dizer: — Eu planejava ter um grupo changeling rastreando-a pelo cheiro, se você corresse de mim.

 Sahara arregalou os olhos quando um sorriso apareceu em seus lábios. — Como é surpreendente. Eu não sabia que você era tão possessivo.

 Ele não respondeu, brincando com ela numa provocação como os homens leopardos faziam, ele reagiu como só Kaleb faria. — Eu teorizava que sua capacidade poderia ser limitada aos da nossa raça.

 — Eu nunca tive motivos para testá-la — disse ela, fascinada novamente pelas complexidades de sua mente, — então você pode estar certo. — Continuando a acariciar sua nuca, ela esperou, sabendo que a pequena confissão tinha sido um teste para ver como ela reagiria ao resto.

 — Eu fiz algo para Tatiana que você não vai ficar feliz em ouvir.

 Ele prometeu-lhe que não a torturaria, e Kaleb não quebraria suas promessas... mas deixou todos os tipos de brechas para uma inteligência tão implacável quanto a dele. — Diga-me — disse ela, aceitando que esta relação nunca ia ser simples. — Conte-me tudo.

 Eles conversaram por horas, em que ele contou a ela sobre Tatiana e sobre muitas outras coisas, incluindo o fato de que ele matou Marshall Hyde, o membro sênior do Conselho na época. — Foi uma operação impecável que nunca ninguém ligou a mim — disse ele, segurando-a perto, onde eles sentaram no chão do ninho com as costas contra a cama.

 — Por que ele? — Perguntou Sahara, não chocada, no mínimo. A Política do Conselho era notoriamente sangrenta, e Kaleb tinha se tornado um conselheiro aos vinte e sete anos. Ninguém fazia isso sem estar pronto para jogar o jogo a sangue frio. — Ming parecia o melhor alvo se ele estava prestes a tomar o controle do Conselho.

 — Não tinha nada a ver com o fato de que ele era um Conselheiro. — A voz de Kaleb gelada. — Marshall sabia o que Santano era, o que ele estava fazendo comigo, que eu não era nada, mas uma espécie de brinquedo que ele havia criado como uma experiência.

 Seus dedos em punhos em seu cabelo. — Apenas tenha certeza de que suas tendências não afetem seus deveres. — Isso foi o que eu ouvi Marshall dizer para Enrique quando eu tinha sete anos, que foi quando eu decidi que iria matá-lo e destruir seu precioso Conselho. A melhor maneira de fazer isso era me tornando parte dele.

 — Se ele sabia e não fez nada — disse Sahara, com tanta raiva que seu corpo vibrava com isso — ele era tão culpado e tão depravado quanto Enrique. Eu o teria matado, também.

 — Não — ele disse, — você não faria isso.

 Sahara balançou a cabeça. — Por que ele fez isso para você? E sim. Eu sou plenamente capaz de apagar as memórias de alguém monstruoso e deixá-lo como um morto-vivo. Eu fiz isso uma vez — disse ela, precisando que ele entendesse que ela não era lírio-branco. — Era um guarda que tinha me machucado muito. — As ordens poderiam ter vindo de Tatiana, mas o homem tinha feito a sua tarefa com um prazer que traiu a verdade nua e crua do seu Silêncio. — Ele chegou muito perto e eu levei tudo, cada memória, cada desejo, cada sonho, deixando-lhe um ser sem passado e sem futuro.

 — Eu sei — Kaleb disse, a aprovação de gelo em seu tom. — Tatiana documentou o incidente em seus arquivos.

 — Então você sabe que eu andei na escuridão — disse ela, a mão com punho em seu coração e sua voz feroz. — Eu nunca vou te julgar por fazer o mesmo. — Ninguém tinha o direito de fazer isso. Ninguém.

 O mundo tinha abdicado esse privilégio quando abandonou uma criança a um monstro. — Eu vou lutar com você eternamente se eu achar que você está errado — disse ela, tomando seus lábios em um apaixonado beijo possessivo —mas eu nunca vou julgá-lo.

 As estrelas voltaram a seus olhos quando ela não se abalou com ele, e ele disse a ela sobre algo que não tinha nada a ver com ódio, mas sim o oposto — como o Fantasma conheceu seu primeiro companheiro rebelde Judd Lauren e Xavier Perez. — Judd acha que eu me aproximei dele porque ele era um assassino treinado que já tinha começado a se rebelar no Silêncio contra o status quo, o parceiro perfeito para o Fantasma.

 — Esse não foi o motivo? — perguntou Sahara, abrindo suas coxas para que ela pudesse vê-lo enquanto ele falava.

 — Foi só um motivo periférico. — Kaleb colocou uma das mãos em sua própria coxa, seu polegar roçando a costura interna da calça jeans. — O motivo real é que ele nunca se esqueceu de sua família. Independentemente dos riscos, ele fez tudo em seu poder para protegê-los.

  Era uma verdade não dita, que Judd não poderia saber — que a recusa do outro homem de desistir de sua família, Kaleb tinha visto como um eco de sua própria caçada implacável por Sahara. — Xavier era a conexão de Judd primeiro — ele continuou, — e eu não via o ponto de trazê-lo quando Judd sugeriu. O que um humano poderia oferecer, afinal?

 Envolvida pela história de como estes três diferentes homens — telecinetico cardeal, assassino e sacerdote — tinham chegado juntos, ela se inclinou para frente, com os braços ao redor de seu pescoço. — O que mudou sua mente?

 — O Fantasma teve uma conversa com o Padre Xavier Perez. — Olhos de obsidiana potente com a memória. — Ele me entende um inferno melhor do que qualquer outra pessoa que eu já conheci. Nós discordamos em como eliminá-lo, mas não discordamos que ele existe.

 — Eu espero tanto que eu possa um dia conhecê-los, disse Sahara, sabendo que ela devia a Judd Lauren e Xavier Perez de uma forma que os dois homens nunca iriam entender. Eles não tinham mantido Kaleb andando sempre sozinho, eles questionaram suas escolhas, e ao fazê-lo, o impediram de se tornar a escuridão que vivia nele. — Você vai continuar mantendo a sua identidade nas sombras?

— Pode vir a ser útil em algumas ocasiões. — Sua mão em torno de seu pescoço, puxando-a mais perto. — O Fantasma é um herói para muitas pessoas, enquanto Kaleb Krychek é uma ameaça. Então, talvez, o Fantasma irá endossar Krychek após um período adequado.

 Rindo do cálculo em seu rosto, ela mordeu o lábio. — Você já pensou em linhas retas?

 — Só quando se trata de você.

 Não foi até que ela estava prestes a adormecer em seus braços que ela percebeu que ele habilmente evitava ir em qualquer lugar perto de um assunto particular, o mesmo assunto que a mente dela ainda mantinha. Sahara tinha uma suspeita escura de que ela sabia o que era, mas, dada a reação do seu corpo a última vez que ela tentou acessar a essa memória particular, ela tomou a decisão de não forçar a questão.

 Essa, ela pensou, quando o sono a levou, ira levar cada grama de sua inteligência para dançar com Kaleb. Espalhando a mão sobre seu coração, ela sorriu e pensou em uma frase que ouvira um dos guardas DarkRiver usar quando estava lançando um desafio amigável para um companheiro de matilha: O Jogo Começou.

 

PSYNET BEACON: BREAKING NEWS

*Fogo em Hong Kong contido. Número desconhecido de vítimas — estimativa de 200 a 300 mil mortos.

 ATUALIZADA ** ** Pure Psy envia carta a todas as grandes redes de comunicação. O texto da seguinte forma.

 

 Tomamos responsabilidade total e absoluta pela greve em Hong Kong. Nunca foi nossa intenção esconder o que fazemos, porque o que fazemos é necessário para despertar o nosso povo para a realidade da nossa sociedade arruinada.

 Nossas ações não poderiam ter sido concluídas com êxito, o mundo tinha estado sob a liderança de um Conselho forte. É o fraco que nos leva agora, e a fraqueza vai destruir a todos nós. O Silêncio é a única maneira de combater o que provou ser uma falha fatal.

 Sem o Silêncio, isto é o que nós iremos ser, um povo sem proteção ou será, um povo que pode ser apanhado pelas raças inferiores até que o mundo seja governado por selvagens. Não permitiremos que tal futuro chegue.

 Esta é uma chamada às armas para todos os que crêem no Silêncio, na superioridade da nossa raça.

Junte-se a nós.

 

PsyNet BEACON: VIVO Netstream

 

A carta é conversa fiada sem sentido. Onde no protocolo é mandado o massacre?

  1. Schulz

 (Munique)

 

Não foram as “raças inferiores”, que planejaram o ataque, mas a nossa própria. Será que isso não nos faz os selvagens?

  1. Gueye

 (Riade)

 

Quaisquer que sejam suas ações, uma coisa é incontestável: Pure Psy não tem medo de falar a verdade. Nós perdemos o nosso lugar como líderes do mundo e a culpa é dos que estão no topo. Embora o Conselheiro Krychek, pelo menos, tenha mostrado um poder significativo. Tal homem poderia governar não só a PsyNet mas o mundo. É minha convicção que, juntos, Conselheiro Krychek e Pure Psy fariam uma junta governante invencível.

  1. Choi

 (Kingston)

 

As ações de Kaleb Krychek em ajudar a salvar vidas em Hong Kong devem ser elogiadas. Como cardeal Tc, ele não tem que se envolver. Isso fala muito de sua capacidade e vontade de proteger as pessoas que ele, sem dúvida, procura governar.

  1. Jantunen

 (Nadi)

 

É claro que Kaleb Krychek está usando esses infelizes acontecimentos, a fim de consolidar sua base de poder. O que leva à questão de saber se ele está, de fato, por trás dos ataques e é o mestre das marionetes que manipulam seqüências destrutivas dos Pure Psy.

 Sem nome dado

 (Hohhot)

 

Nossa raça pode estar no alto hoje, quando o pior aconteceu, nosso povo não recuou. Kaleb Krychek e seus homens devem ser elogiados, como são Ming LeBon e sua equipe.

 Pure Psy, por outro lado, tem de ser erradicado. Eles são uma pústula na face da nossa sociedade.

  1. Oliveira

 (Santiago)

 

Um grande número de pessoas vestidas de preto, com a única estrela sobre seus ombros esquerdos que ajudaram na sequência deste ataque, e de vários anteriores, são rumores de ser parte do sombrio e poderoso Esquadrão Arrow, ao invés de simplesmente forças pessoais de Kaleb Krychek.

 Se assim for, e se eles agora pertencem a Kaleb Krychek, ele já tem a PsyNet ao seu alcance. Como vimos hoje, ele poderia levá-la pela força bruta. Que ele não tenha feito, me faz supor que ele procura uma solução racional, e tal pensamento é algo que eu posso apoiar. Uma coisa que eu não posso suportar é a violência irracional de Pure Psy.

  1. Saowaluk

 (Vancouver)

 

O “Pure” deve ser queimado nos mesmos incêndios que consumiram suas vítimas. Se eles não têm nenhuma razão para esconder suas ações, porque eles não estão em pé na frente de nós, querendo possuir publicamente a sua causa?

  1. Barrie

 (Tasiilaq)

 

Pure Psy

— IDIOTAS. — VASQUEZ SAIU da PsyNet depois de ler uma amostra das milhares e milhares de opiniões dos cidadãos que tinham vindo desde que Hong Kong foi queimada.

 A grande maioria eram Psy anti-Pure, que só mostrava a extensão da decadência corrompendo sua sociedade. Ao invés de ver nos Pure Psy sua chance de redenção, a população viu apenas o que suas mentes fracas tinham sido programadas para ver — Psy que não estavam acompanhando a linha, não estavam sendo as ovelhas que estavam destinadas a ser.

 Ele tinha chegado ao ponto em que o Silêncio de seus fieis estava sendo questionado. Isso não poderia ser permitido...

 Sir! A voz mental de um dos seus adjuntos de confiança, o tom urgente. Eu cai em uma armadilha! Os homens de Krychek estão fechando o cerco.

 Não permita que eles o leve! Vasquez ordenou. Você sabe muito.

 Eu não vou te desapontar, senhor.

 Dois minutos depois, veio uma mensagem — Absolutamente com o Pure — e, em seguida, o nada que indicava que o vice tinha terminado a sua vida ao invés de arriscar a trair a causa.

 Vasquez apagou o nome do homem a partir de sua lista mental. Foi o quarto nome que ele tinha tirado fora nas últimas 36 horas, todos pertencentes a indivíduos de alto escalão na estrutura de comando Pure Psy. Se ele tivesse alguma dúvida de que os Arrows tinham baleado no Pure Psy, ela tinha acabado de ser apagada.

 Havia uma decisão a ser tomada, e não era a que ele tinha pensado em fazer tão cedo, mas seus inimigos estavam chegando muito perto. Para Pure Psy atingir os seus objetivos, era preciso sobreviver para continuar a luta, porque sem a liderança de Pure Psy para liderar a corrida Psy fora da escuridão, seu povo logo estaria extinto.

 O envio de um simples código através de um telefone celular de uso único que ele desmantelou depois, fez o seu caminho para uma unidade comm que ele iria destruir assim que isso fosse feito. Todos os seus adjuntos remanescentes chamados um após o outro no minuto seguinte, cada um utilizando um único comunicador. Ele podia ver seus rostos, mas não podia vê-lo, ou um ao outro, o que significava que não podia entregar seus companheiros soldados se fossem capturados.

 Nenhum falou, ciente de que tinham apenas uma janela de dois minutos.

 — Estamos sendo caçados — disse-lhes. — E o nosso inimigo é forte. É hora de iniciar o Código de Phoenix.

 Homens e mulheres, deram vivos acenos, e ele sabia que a tarefa seria feita. Foi por isso que ele tinha escolhido a dedo cada deputado, confiando neles partes críticas de seu plano. Era a única opção. — Não se atrasem. Vocês já perderam quatro de seus irmãos. Vocês devem colocar suas peças no jogo e desaparecer.

 Conhecendo o calibre dos adversários no seu caminho, ele sabia que a velocidade por si só não seria suficiente. — Eu, juntamente com uma equipe pequena, pessoalmente instigarei um desvio para ajudá-los. Faça uso dele. —Existia a preocupação de que o plano de desvio tinha que ser montado às pressas e sem o reconhecimento necessário, mas as coisas nem sempre saiam conforme o planejado em uma guerra. — Vocês tem suas ordens.

 — Sir.

 

                         Capítulo 39

KALEB TELETRANSPORTOU PARA O inferno.

 Gritos ecoavam pelo ar; crianças empoeiradas, sangrentas, com olhos enormes indefesos, sentadas nos escombros; socorristas que tentavam colocar ordem no caos. Mas não poderia haver uma ordem fácil. À primeira vista, parecia que os Pure Psy, o grupo de fanáticos que já afirmava a responsabilidade tinha perdido qualquer sentido de razão, qualquer sentido de “missão”, e atacou sem nenhum alvo que poderia avançar com sua causa.

 A Worldwide Student Caucus em Genebra era um evento de uma semana, realizado para os melhores e mais brilhantes estudantes de todo o mundo, com idades que abrangem doze a dezoito. Supervisionado e desafiado por professores que eram especialistas em seus campos, eles vieram para discutir os avanços da ciência, da engenharia, das artes, da música e medicina.

 O Caucus tinha sido criado pelo ramo educacional de um grupo de lobby, mas agora recebeu financiamento de governos de todo o mundo. Cada país enviou pelo menos um estudante, muitos com bolsas de estudo financiadas por grandes empresas que esperavam um dia atrair algumas dessas mentes brilhantes para sua força de trabalho. Nenhuma dessas empresas, no entanto, foi autorizada a influenciar o currículo cuidadosamente escolhidos por um organismo independente de educadores. Kaleb sabia de tudo isso, porque Sahara tinha sido convidada para o Caucus aos quatorze anos.

 Considerado muito divisiva na busca de conhecimento puro, os dois temas que não estão na agenda eram política e religião. Não poderia ter havido nenhuma discussão formal aqui que ameaçava Pure Psy. No entanto, de acordo com estimativas de campo, mais de um quarto dos alunos e professores foram mortos, a maioria do resto ferido ou preso.

 Eles não foram os únicos mortos — a explosão tinha chegado ao meio do meio-dia, quando centenas de pessoas das torres de escritórios nas proximidades tinha estado nos restaurantes do calçadão que cercava o centro de convenções , alguns com crianças pequenas que tinham pego de creches ligadas aos seus locais de trabalho.

 Kaleb já estava mudando destroços para descobrir sobreviventes presos quando ele chegou no massacre. Nos primeiros cinco minutos, ele trabalhou, ele ouviu Francês, Alemão, Inglês e russo, bem como um número de línguas que não podia identificar... e percebeu que Pure Psy tinha como alvo a bancada por uma razão muito racional: para criar um incidente que afetaria todos os países do planeta.

 Se a situação não fosse imediatamente contornada, alguém, em algum lugar, iria interpretar isso como um ataque pessoal e lançar um contra-ataque contra os Psy. A guerra que se seguiria engoliria cada país, cada raça, cada indivíduo. E quando a poeira finalmente baixasse, eram os sobreviventes que iriam criar o novo mundo.

 — Algumas coisas precisam ser quebrados para ficar mais forte.

 O fato de que os Pure Psy estavam trabalhando na mesma cartilha que ele mesmo tinha feito, não passou despercebido. Mas Kaleb não permitiria que ninguém semeasse as sementes da destruição, e não agora, quando Sahara lhe pedira para encontrar outra maneira de criar um mundo melhor. E os filhos... as crianças devem sempre estar fora da agenda.

 Como ele deveria ter ficado. Como Sahara deveria ter ficado.

 Aden, disse ele, depois de estabelecer ao Arrow uma tarefa particular, você tem a informação?

 Eu examinei um dos dispositivos que não conseguiu detonar. São melhorias padrão — não para aumentar o alcance ou vítimas. A colocação dos dispositivos também foi casual, senão estaríamos lidando com o triplo ou o quádruplo das vítimas.

 Pode ser um sinal dos Pure Psy desmoronando sob a pressão dos Arrows que Kaleb tinha colocado sobre eles nos dois dias desde que os fogos de Hong Kong foram contidos, mas parecia um resultado muito rápido. Por que o grupo sacrificaria um alvo de tão alta visibilidade com uma greve desajeitada? Aden estava certo — na direção certa, todo o centro de convenções poderia ter sido recolhido aos delegados, e com a convenção, tendo começado no dia anterior, Pure Psy teriam tido mais quatro dias para colocar seus planos em prática.

 Espere, Aden disse. As estimativas de mortalidade iniciais estão sendo revistas para baixo por um grau significativo. Cinqüenta por cento dos delegados estavam fora do centro de convenções para um dia programado de visitas a laboratórios, museus e empresas especializadas.

 Metade de suas metas fora de alcance? Ele deixou centenas de potenciais vítimas, mas Pure Psy tinha ido sempre para o máximo dano. Este foi também um grande erro. E, dada a inteligência e a formação de Vasquez, isso significava que não era um erro. Esta é uma diversão, destinada a ocupar nossa atenção enquanto eles criam algo maior, disse ele, levando uma menina ferida diretamente para a estação de triagem em uma extremidade da zona de explosão. Preciso de trackers agora. A equipe que colocou isso em prática deve ser um esqueleto com poucos recursos. Nós precisamos leva-los para baixo, e desta vez, eu os quero vivos para um interrogatório.

 Eu estou puxando Abbot e Sione, Aden respondeu. Eles são os melhores trackers no momento.

 Kaleb concordou com essa avaliação, mas encontrar o time de ataque Pure Psy não era o único problema. Relatórios já estavam escorrendo na PsyNet, Pys comuns sendo assediados em países ao redor do mundo, exaltados gritavam por vingança pelo sangue dos seus jovens, esquecendo que os Psys também haviam perdido uma série de seus próprios jovens. Se ele fosse evitar uma guerra mundial, ele teria que fazê-la agora, e de tal forma que ninguém seria deixado em dúvida que Pure Psy era um elemento franja e não representavam a raça Psy como um todo.

 Entrando na PsyNet, ele gravou a mensagem que seria ouvida em todos os cantos da rede psíquica, levada pela onda violenta de seu poder

 PURE PSY SÃO ASSASSINOS EM MASSA SEM REIVINDICAR O SILENCIO E SÃO OS FUGITIVOS MAIS PROCURADOS DO MUNDO. SE VOCÊ SOUBER DE QUALQUER PESSOA COM UMA FILIAÇÃO AO PURE PSY, DEVE INFORMAR A UM MEMBRO DO ESCRITÓRIO PESSOAL DO CONSELHEIRO KALEB KRYCHEK.

A SENTENÇA PARA QUALQUER ENVOLVIMENTO NESSES ATAQUES SERÁ A MORTE. A SENTENÇA DE ABRIGAR PURE PSY SERÁ DE REABILITAÇÃO TOTAL DE TODA A UNIDADE FAMILIAR. NÃO HAVERÁ MISERICORDIA CONCEDIDA PARA CRIMES QUE NÃO PODEM TER NENHUMA RAZAO NEM NO SILENCIO NEM NA EMOÇÃO.

Ele transmitiu ao vivo imagens dos corpos quebrados das crianças, ele continuou levando para os médicos ou para morgues, e ele encerrou a transmissão com uma estrela de platina brilhante que não podia ser duplicada ou apagada.

 Se Pure Psy queria desafiá-lo, eles tinham que estar preparados para pagar o preço.

 Silver, disse ele, caindo para fora da rede. Alerte os escritórios.

 Já está em andamento. Uma pausa. Sir. Minha família está enviando nossos telecinéticos para Genebra em airjets de alta velocidade, para atuar sob sua autoridade. Eles não são capazes de teletransportar, mas eles podem assumir parte do trabalho de resgate para os Arrows e suas equipes podem se concentrar na caça aos fugitivos.

 Compreendido. Kaleb enviou as informações para Aden, continuando a falar com Silver. Mais equipes médicas serão necessárias. Genebra enviou um grande grupo para ajudar no tratamento de vítimas de queimaduras em Hong Kong, assim como um número de outras regiões nas proximidades. Todos esses médicos estariam esgotados e incapazes de ajudar aqui, mesmo que Kaleb tenha desviado Tcs para buscá-los.

 O problema, claro, é que uma grande porcentagem de Tcs mais fortes do mundo também estavam exaustos depois de Hong Kong, deixando uma lacuna perigosa. Descubra quem tem peças médicas perto o suficiente para ser útil, e traga-os aqui de qualquer maneira que puder.

 A União M- Psy esta me enviando uma lista, Silver respondeu . Eu também estou coordenando com os principais grupos changeling e a Aliança Humana para obter todo o pessoal útil para Genebra.

 Eu não sabia que você tinha um contato no seio da Aliança.

 Eu não tenho — o chefe de segurança deles só fez o contato. Uma pausa de vários minutos. Senhor, a Aliança ouviu falar sobre a sua transmissão e de ter jogado o seu apoio público por trás da chamada para apreender Pure Psy.

 Bom. Isso aumentaria cada vez mais a ira do mundo, se eles vissem as raças trabalhando juntos para caçar os criminosos.

 Eles também têm um grande armazém médico menos de uma hora de vôo de distância, Silver continuou. Um airjet já está no ar com o equipamento e as drogas necessárias.

 Mudando canais telepáticos quando sentiu o toque de Sahara, ele ouviu quando ela disse, Eu ouvi sua mensagem, e eu pedi que Vaughn lhe chamasse. Ele diz que está pra ser comunicado a todos os grupos com os quais o bando tem qualquer tipo de link.

 Kaleb sabia que ele não tinha necessidade de explicar a importância da comunicação dada a posição estratégica do DarkRiver, nem a Sahara, sua amante com sua mente brilhante.

 O bando tem um homem na área, acrescentou cinco minutos depois. Ele confirmou que os trackers e changeling locais estão felizes em trabalhar com equipes Psy para encontrar os bombardeiros. Changeling resgate e cura /equipes médicas também devem alcançá-los dentro de 20 minutos.

 Concentrando-se em levantar um pedaço enorme da parede exterior que tinha caído para dentro, ele levou um segundo para responder. A linha direta de Silver está no celular que eu te dei . Encaminhe para ela todas as comunicações que tratam de resgate e médicos para que possa coordenar os recursos disponíveis.

 Vou pegar o número. Ela desapareceu por um minuto antes de retornar. Kaleb, a Esquecida também tem alguém na área que pode ser capaz de ajudar. Ela vai entrar em contato com o macho DarkRiver e com solicitações de que ninguém a siga na tentativa de ver como ela funciona.

 A Esquecida, depois de ter caído da PsyNet no início do Silêncio, tinha sido casada com seres humanos e changelings para acasalamento por mais de cem anos. Como resultado, Kaleb estava bem consciente de que tinha algumas novas habilidades muito interessantes em sua linha genética, as habilidades que eles preferiram manter sob o radar. Ninguém interfere com ela.

 Vendo uma criança sangrando, mas respirando enrolado em uma cavidade formada por pedaços de escombros que tinha guardado seu pequeno corpo de ser esmagado, Kaleb chamou por um paramédico. Um minuto depois, e dois pés mais profundos, ele encontrou uma criança que não tinha sido tão sortuda, seus olhos olhando cegamente para a morte, grãos através de sua íris. Indo para baixo em um joelho, ele trouxe as pálpebras para baixo, em um ato que ele sabia que vinha da voz no vazio.

 Todo o tempo, ele podia sentir Sahara contra a sua mente, ficando com ele como tinha feito na universidade, e no rescaldo do inferno que havia engolido a Ilha de Hong Kong.

 Nunca mais, pensou, ele estaria sozinho no escuro.

 

 O CORAÇÃO DE SAHARA doía com a emoção indefinível que sentiu de Kaleb através de sua ligação telepática. Ele iria falar com ela sobre isso quando ele estivesse pronto, ela não tinha uma única dúvida em sua mente. Seu amante perigoso estava aprendendo que ela tinha se tornado ainda mais teimosa do que ela era com dezesseis anos — ela havia afirmado a Kaleb que não iria se virar, não importando o quê.

 Agora, ela encontrou os olhos de gato verde do alfa DarkRiver. Lucas Hunter tinha aparecido em seu ninho logo após a notícia do atentado ao vivo, com os olhos brilhando contra a escuridão da manhã deste lado do mundo. O bando, ele disse a ela, não tinha ninguém ligado à Net, e por isso ela era a sua fonte de informação quando ele veio para o que estava acontecendo no plano psíquico.

 — Estou ligando para a assessora de Kaleb, Silver — disse ela, e ele acenou para ela de onde ele estava falando no telefone com o líder dos Esquecidos, as quatro linhas cortando no lado direito de seu rosto, um lembrete silencioso do predador que vivia debaixo de sua pele.

 A assessora loira gelo de Kaleb, com o cabelo em um coque impecável, estava esperando sua chamada. — Será que os grupos aos quais você tem acesso — disse Silver, sem mais delongas — tem tradutores dispostos a ajudar os médicos? — Podemos colocá-los em Comm — com o número de tradutores on-site mortos ou gravemente feridos, não há o suficiente para ajudar os médicos e manter os sobreviventes calmos. Vários idiomas necessários, alguns deles esotéricos.

 — Eu sou uma tradutora — disse Sahara. — Todas as línguas. — Parecia uma reivindicação bastante segura, dadas as provas que ela estava rodando em si mesma quando saia nas ruas na cidade. Sempre que ela ouvia uma língua estranha, que ela escutava... ela entendia, mesmo sem nunca ter ativado sua capacidade.

 Fosse o que fosse que ela pudesse fazer, trabalhava no nível subconsciente. — Um dom psíquico menor — explicou para Silver. — Não designação oficial.

 Os olhos da assessora afiada. — Isso é útil o suficiente para que eu possa justificar o desvio de um Tc para buscá-lo.

 — Eu vou assumir como elemento de ligação — disse Lucas, entrando no quadro comm para Silver poder vê-lo. — Nos dê um par de minutos para organizar uma imagem sua para que o teletransportador possa usar como chave.

 Logo depois, Sahara estava nas árvores a uma curta distância de seu ninho, e Lucas estava amarrando uma corda de cores vivas em torno do tronco de uma forma indescritível de pinheiro — só porque o bando queria ajudar não significava que eles tinham a intenção de dar a um Tc estranho uma imagem permanente de dentro do seu território.

 Tirando uma foto com o celular, ela enviou a Silver, quando Lucas disse: — Boa sorte — seus olhos sombrios.

 Vasic foi o Tc que a teletransportou para dentro - não era surpreendente, dada a distância e, como resultado, ela estava em Genebra segundos depois.

 — Graças a Deus — o homem responsável pelo hospital de campanha disse quando ela contou o que ela poderia fazer. Tapando o símbolo da Pedra Rosetta em seu ombro, ele apontou para ela a direção de um rapaz em uma maca cerca de dez metros de distância. — Língua materna obscura. Ele deve ter algo de um dos principais idiomas do mundo, mas ele está perdido no choque.

 Demorou a Sahara meio minuto para compreender o que o rapaz estava dizendo. — Está tudo bem — ela assegurou-lhe, quando ele começou a chorar ao perceber que ela o entendia. — Você não está mais sozinho. Agora, você precisa dizer ao médico algumas coisas para que ele possa ajudá-lo.

 Essa foi a primeira de muitas conversas semelhantes que ela teve durante as horas que se seguiram, enquanto Genebra passava de claro a escuro, as estrelas no céu brilhante. Alguém trouxe uma refeição quando ela começou a fadigar, que a manteve até as primeiras horas da manhã. Decidindo descansar por uma hora para evitar um colapso, ela enrolou-se em uma das camas criadas para o pessoal de resgate. Você já comeu? ela perguntou ao cardeal Tc que, ela sabia, não iria dormir.

 Eu tive barras nutricionais entregues para mim durante todo o dia.

 Ninguém, pensou ela, queria perder nenhum dos já esgotados telecinéticos, mas Kaleb era uma liga própria. Tome cuidado com os danos estruturais. Algumas das zonas são realmente instáveis.

 Embora ele deveria saber muito melhor do que ela, ele não rejeitou sua preocupação. Serei cuidadoso.

 Você vai me acordar em uma hora?

 Sim. Descanse agora.

 

 — CONSELHEIRO.

 Voltando à voz, Kaleb encontrou uma mulher mais velha segurando uma garrafa da bebida energética que ele tinha tomado duas vezes por hora para abastecer seu corpo. — Obrigado.

 — Eu posso trazer a garrafa uma vez que você estiver pronto. — Uma oferta bastante educada, mas seus olhos não se moviam para fora da garrafa em sua mão.

 Os instintos de Kaleb entraram em alerta imediato. Fixando o corpo da mulher no local usando telecinese e comprimindo o queixo para mantê-la em silêncio, ele tirou a garrafa para dar uma fungada. Não cheirava a nada. Vasic, um segundo.

O Arrow andava na esquina logo depois. Eu estou perto da Extinção. Vou precisar descansar por três horas, pelo menos, antes que eu possa continuar.

 Kaleb assentiu. — Você pode rapidamente testar isso?

 Segurando seu braço esquerdo, Vasic deslizou a pequena tela do dispositivo computronic fundido ao seu corpo. — Uma gota.

 Kaleb colocou a amostra na superfície de teste.

 

                                       Capítulo 40

— É UM COMPLEXO veneno — disse Vasic em menos de um minuto, —teria te incapacitado quase imediatamente. — Seus olhos se voltaram para o suposto assassino. — Nesse ponto, ela teria te matado com o garrote em sua pulseira. — Removendo a pulseira, ele arrebentou o fio de metal fino projetado para cortar o suprimento de ar de um alvo com eficiência silenciosa.

 — Quem te mandou? — Perguntou Kaleb, liberando o queixo da mulher, para que ela pudesse responder.

 — Faça o que quiser, Conselheiro Krychek — foi a resposta de gelo. —Minha mente está definida para implodir a qualquer tentativa de intrusão.

 — Interessante. — Já tendo dito a Darkmind para prendê-la para que ela não pudesse se conectar a qualquer pessoa no plano psíquico, ele beliscou um nervo que fez sua queda ao chão, então pediu a outro de seus homens em cena para vendar e amarrá-la. — Coloque-a em algum lugar fora do caminho. Eu vou lidar com ela mais tarde.

 Ele moveu a bebida venenosa para dentro de um recipiente de risco biológico no local, quando Vasic disse, — Os explosivos utilizados neste recipiente foram rastreados até um depósito do Conselho na Europa sob o controle de Ming.

 Kaleb sempre acreditou que Ming era o mentor marcial atrás de Henry Scott durante o tempo que o conselheiro, agora morto, dirigia Pure Psy, mas este tipo de violência indiscriminada não se encaixava no modus operandi de Ming. Nem a agenda racial de Pure Psy. Era muito irracional e Ming não era nada se não racional, que era parte do que o fazia tão perigoso.

 No entanto, Ming também era plenamente capaz de jogar um jogo profundo, Pure Psy era provavelmente nada mais que um peão para ajudar ainda mais na agenda da qual o grupo de fanáticos não sabia de nada. — Eu vou ter um dos meus homens puxando esse segmento — disse ele a Vasic — ver o que vem dele. Eu quero que o time permaneça no Pure Psy.

 Não foi até seis horas mais tarde, depois de ter feito tudo o que podia para ajudar na busca por sobreviventes, que Kaleb teve tempo para lidar com a mulher que tinha tentado envenená-lo. Mas primeiro ele queria ver Sahara. Olhando para sua imagem, ele a encontrou sozinha na tenda que tinha funcionado como uma cantina para os sobreviventes e aqueles que trabalhavam no hospital de campanha. Ela estava arrumando os detritos, numa zona tranquila e calma.

 De suas conversas telepáticas com ela durante as últimas horas ele sabia que a maioria dos sobreviventes agora estavam em hospitais em Genebra e cidades próximas. Cada um também teve o apoio de pelo menos um indivíduo a partir de seu próprio país, os representantes multilíngues tinham sido trazidos de todo o mundo em jatos de alta velocidade, cortesia de uma companhia aérea controlada por Nikita Duncan.

 A ex-conselheira não era famosa por ser humanitária, mas ela era inteligente o suficiente para saber que a ação iria pintá-la de uma forma positiva quando a poeira baixasse. Era um movimento calculado e inteligente, digno da mulher que durou mais de uma década no Conselho. Nikita, pensou ele, teria sempre encontrado uma maneira de sair viva do outro lado.

 Anthony Kyriakus também havia deixado sua marca. Um não identificado NightStar vidente tinha visto uma visão de novos atentados em Luxemburgo e em Paris com especificidade suficiente para ser evitado. — É lamentável que nós não poderíamos fazer o mesmo para outras tragédias recentes — foi a declaração do assessor de imprensa NightStar quando questionado pela imprensa no rescaldo. — Previsão não comerciais é uma nova área para NightStar, e estamos aprendendo que nem todos os eventos podem ser previstos ou evitados.

— Algumas coisas, Kaleb pensou quando Sahara olhou para cima e o viu, tiveram que sobreviver.

 — Kaleb! — Ela voou em seus braços.

 Segurando-a perto, seu hálito quente em seu rosto, seu corpo esguio mas forte contra o dele, ele sentiu como se tivesse voltado para casa. Ele não sabia quanto tempo eles ficaram presos juntos, mas quando eles estavam à parte, ele manteve sua promessa de não esconder nada dela e disse a ela sobre a tentativa de envenenamento.

 Sahara assobiou uma respiração, com os olhos incandescentes e com fúria. — Leve-me até ela. — Ninguém te machuca.

 — Somente uma tentativa Sahara — disse ele, segurando-lhe o queixo. —Nada mais, nada que afete suas memórias. — Eu preciso que você se lembre de mim.

— Ela não vale um pedaço da minha vida. — Um julgamento severo. —Agora me leve até ela.

 Desta vez, ele fez como ordenado. Sahara não falou, simplesmente se aproximou o suficiente para que sua mão estivesse a um centímetro do rosto da mulher com os olhos vendados, em seguida, acenou para ele. Ele os transportou diretamente para a casa de Moscou. Se suas habilidades de linguagem fossem necessárias novamente, ele a levaria de volta, mas os voluntários não especialistas foram capazes de lidar com a limpeza.

 — Essa mulher é uma das pessoas de Ming — disse ela, indo para a cozinha, para obter para ambos os suplementos energéticos. — Um operatório de baixo nível que estava na área. Não foi uma operação bem planejada, mas uma chance, uma oportunidade que Ming decidiu utilizar.

 — Ele sabe que estou na iminência de assumir a Net.

 Sahara misturou o aroma de cereja em sua bebida, depois de passar-lhe um copo. — O que você vai fazer com ele?

 — Nada. — Vendo sua descrença aberta, ele traçou a forma de seu lábio superior com o dedo. — Há outras pessoas que têm queixas profundas contra Ming. Isto vai ser resolvido.

 — Kaleb, você não confia em ninguém além de mim... e seus dois amigos. — Sahara cutucou nele para terminar a sua bebida. — É este Arrow caído que tem a pretensão antes?

 — Não Judd sozinho. Ele é simplesmente o único com quem eu tenho uma conexão. — Kaleb pousou o copo vazio. — Eu ficaria muito surpreso se Ming não acabasse dilacerado por garras e dentes changeling.

 Sahara parou com a sua própria bebida a meio caminho de sua boca. — Changelings?

 — A sobrinha de Judd é alguém que Ming quer morta ou em seu controle. Ela também está acasalada ao alfa dos SnowDancer, considerado o bando changeling mais perigoso do mundo. — Kaleb bateu seu copo até Sahara levantou a boca. — Um homem como esse não vai descansar até que esteja erradicada a ameaça contra a sua mulher. — Kaleb se perguntou se o lobo alfa ficaria surpreso ao descobrir que ele tinha algo em comum com Kaleb Krychek. — Com fome?

 Sahara torceu o nariz. — Banho em primeiro lugar.

 Eles tinham acabado de chegar ao quarto, quando seu celular tocou. Era Aden na outra extremidade. — Vasquez está provando sua inteligência — foram as palavras de abertura do Arrow. — Toda a sua equipe se separou depois de Genebra e se espalhou em diferentes direções. Nós capturamos um, dois outros se suicidaram quando encurralados. Há sinais de mais dois que continuam foragidos.

 Um resultado impressionante, mas ambos sabiam que não era suficiente. —Vasquez?

 — Os sinais apontam para ele estar aqui, mas ele fugiu. — Embora a voz de Aden não o traísse em nada, seu nível de frustração tinha que ser alto — de jeito nenhum qualquer Arrow erra o seu alvo. — O interrogatório do prisioneiro nos deu um pedaço dos dados, ele foi designado para o lado de Luxemburgo com um membro da equipe que ainda não foi capturado. Luxemburgo e Paris, no entanto, eram também para ser distrações.

 — O prisioneiro não sabia porque Pure Psy necessitavam de distrações, não é? — Vasquez era esperto, inteligente o suficiente para manter as informações sobre a necessidade de tomar conhecimento das mesmas.

 — Não — Aden confirmou. — Mas seja o que for, estará acontecendo em breve, e é importante o suficiente para que um tenente que estávamos prestes a capturar se jogasse para fora de um edifício, em vez de se render.

 Nenhuma organização pode se dar ao luxo de perder toda a sua liderança, e agora não só tinha Vasquez arriscado sua exposição, suas principais pessoas estavam se sacrificando para proteger seu segredo. — Deixe as equipes que têm ligações ao vivo no campo — disse ele para Aden. — Eu quero que você descanse, juntamente com uma equipe de resposta rápida. Nós movemos as superfícies instantâneas de Vasquez ou Pure Psy fara um movimento.

 — Concordo.

 Desligando, ele transmitiu a informação a Sahara. — Vasquez poderia ter ido abaixo — disse ele, — mas as suas opções para o porto seguro são limitadas e estão encolhendo a cada minuto.

 Queríamos proteger o nosso povo. Nós não queremos o sangue de crianças em nossas mãos.

 Era um refrão que Kaleb tinha visto uma e outra vez nos relatórios que Silver tinha enviado a ele de jogadores menores que tinham ou se entregada após sua advertência através da Net ou se transformado em outro. — A população não é tão silenciosa — disse ele, observando a pele de Sahara fora de sua camiseta, —para não estar horrorizada com as atrocidades em crescimento.

 Ela deixou cair a camiseta para o chão e tirou os sapatos. — Faz-me ter esperança — disse ela suavemente, — que temos dentro de nós a capacidade de construir um futuro melhor.

 Kaleb não entendia a esperança, mas sabia que ele faria tudo em seu poder para dar a Sahara o futuro que era um sonho frágil em seus olhos enquanto ela caminhava em sua direção, nua. Alcançando-o, ela levantou sua camiseta preta de mangas compridas e, em seguida, soltou o cinto.

 — Eu vou esperar por você no chuveiro — ela sussurrou, pressionando um beijo no centro do peito. — Eu acho que, depois de tantos anos, ninguém pode invejar-nos por roubar um pouco de tempo.

 Seus olhos acariciavam cada centímetro seu enquanto se afastava dele com a graça da bailarina que ela sempre tinha sido... e ele sabia que ela estava se curando na mais profunda das maneiras. Arrancando o resto de sua roupa, ele entrou no chuveiro atrás dela, com as mãos em seus quadris. A água quente bateu em cima deles, mas a batida de seu coração era mais alta, mais profunda e mais forte.

 Inclinando a cabeça para o pescoço dela, beijou-a, suas mãos subindo para seus seios. Ela arqueou contra ele com um estremecimento, as mãos escorregadias em suas coxas, sua Sahara que nunca se afastou dele. Levantando seus braços, ele trouxe-os ao redor do seu pescoço e, em seguida, derramou um pouco de sabão líquido nas mãos. Ela mudou-se com a sensualidade sinuosa contra ele enquanto ele alisava o sabonete sobre a pele, a espuma escorrendo por suas pernas.

 — Coloque as mãos na parede.

 Ela obedeceu sua ordem tranquila, com um sorriso que era ao mesmo tempo sensual e possessivo. — Você ficou obsidiana? — As mãos espalmadas sobre o azulejo, ela gemeu quando ele acariciou o sabonete sobre as costas e para as curvas de suas nádegas.

— Sim. — Ele tomou o seu tempo com a tarefa, antes de descer em suas pernas traseiras para levar o sabonete sobre as pernas dela.

 Seu beijo em sua parte interna da coxa a fez suspirar e virar. Puxando-o a seus pés, ela deixou o spray atingir suas costas e estendeu a mão para o sabão. — Você esta sujo também.

 De alguma forma, essas palavras simples tomaram uma nuance muito diferente neste contexto. Curvando a mão ao redor de seu pescoço, ele deu um beijo naqueles lábios macios, molhados, sua língua quente em sua boca e seu corpo pressionado contra sua ereção. Quando ela quebrou o beijo, foi para apertar as mãos em torno de sua dureza pulsando, seu aperto tanto firme como possessivo como seus olhos tinham sido.

 — Eu — ela sussurrou, movendo as mãos em movimentos apertados que lhe tinha rangendo os dentes — tenho feito alguma pesquisa por mim mesma.

 Sua mente ameaçou ficar em branco quando ela desceu na frente dele, os seios molhados, suas mãos estendidas sobre as coxas... e sua boca quente enquanto ela o levou em seu interior. Prazer o engolfou em uma onda, escura e cruel, e ele sabia que desta vez, o seu Tc não só iria rasgar os campos fora.

 

 VINTE minutos e uma tempestade de prazer mais tarde, Sahara empurrou o cabelo úmido do rosto, onde ela estava deitada de bruços na cama e passou a mão sobre o peito do homem que estava ao seu lado, sua respiração áspera. — Acabei de verificar a PsyNet — disse ela, sua própria respiração não exatamente a mesma. — Essa região apenas experimentou um terremoto de médio porte.

 Kaleb virou a cabeça no travesseiro. — Foi localizado no subsolo, tenho a certeza disso. Nenhum dano real.

 Deveria ter sido surreal, deitado na cama com um homem que tinha acabado de causar um terremoto, mas este era Kaleb e ele era dela. — Os pobres cientistas — disse ela, — vão estar coçando suas cabeças sobre a atividade sísmica súbita nesta região ao longo das próximas décadas.

 Os lábios de Kaleb não fizeram curva, mas ela viu o sorriso malicioso em seus olhos quando ele disse: — Você me pegou de surpresa.

 — Bom. — Relaxada e saciada, sua mente no controle de seu poder, ela foi perguntar a ele como ele o tinha controlado como uma criança, então percebeu que ela estaria trazendo isso para esta cama, o sangue e o horror a um evento que eles tanto recusaram a enfrentar. Corpo e mente, ela estava pronta para lidar com isso, mas não hoje, quando Kaleb pareceu tão jovem quanto ela já tinha visto.

 Em vez disso, ela desenhou um projeto em seu braço com o dedo e disse: — Comida, em seguida, descansar. — O sol da tarde pode ser brilhante para além do terraço, mas nenhum deles tinha tido bastante sono nos últimos dois dias. Mais, eles precisavam manter sua força.

 Ela não tinha que ser um F para saber a guerra ainda não havia terminado.

 

 KALEB acordou no meio da noite para uma saraivada telepática de Aden. Um indivíduo que acreditamos ser Vasquez foi rastreado pela Califórnia por uma equipe de Arrows e de forma independente pelo rastreador esquecido de seu companheiro changeling. A experiência do passado faz com que seja altamente provável que San Francisco é o seu destino e o seu alvo.

 Sim. A cidade tornou-se um ponto focal para os Psy que estavam fraturados, tornando-se um anátema para Pure Psy. Ainda mais provocante é o fato de que os changelings, humanos e Psy na região tenham trabalhado juntos para repelir o último ataque do grupo de fanáticos. Envie-me todos os dados.

Digitalizando-o quando ele entrou, ele olhou para a mulher que dormia com a cabeça em seu peito, seu cabelo caindo sobre o braço que ele tinha em torno de sua cintura. — Sahara.

 — Mmm. — Flexionando uma mão contra ele, ela passou o pé sobre sua canela antes de se aconchegar e voltar a dormir.

 Ele sentiu algo dentro dele que era tão suave que chegava a ser doloroso, algo que despertou apenas por Sahara. Talvez fosse a emoção chamada ternura. Passando a mão em cima da linha de sua coluna, ele se curvou sobre sua nuca. — É hora de se levantar.

 — Não. — Apesar do resmungo mal-humorado, seus cílios piscaram contra ele. — Por quê?

 Ele viu o último resquício de sono em seu rosto quando ele disse a ela. —Mas — disse ela, sentando-se — de tudo que li, Pure Psy sofreu uma derrota decisiva na região no momento em que eles tinham um exército. Por que eles iriam arriscar um retorno com uma equipe tão desorganizada?

 — Há duas opções — Kaleb respondeu, seus olhos sobre a bela mulher que se sentou nua ao lado dele em uma indicação silenciosa de confiança no fundo dos ossos, os lençois agrupados em sua cintura.

 — A primeira — ele curvou sua mão ao redor de seu quadril — é que Pure Psy tem um exército esperando nas asas, e este é o grande golpe que já vem planejando. — Faria sentido, a derrota anterior, uma causa de vergonha para o grupo. — No entanto, tenho mantido um olho sobre a região, não há sinais de qualquer força ofensiva ou em torno da área.

 — Então isso nos deixa a segunda opção. — Sahara franziu a testa, os dedos correndo distraidamente ao longo dos cumes de seu abdômen. — Esse Vasquez quer causar o maior caos possível para cobrir esta sua desconhecida outra ação?

 Kaleb cerrou os músculos do estômago, com a mão dela a deriva inferior. — Um homem que trabalha sozinho — disse ele, acariciando a curva de seu quadril uma vez antes dele se forçar a sair da cama — ou apenas com uma pequena equipe secreta, pode criá-lo em larga escala, principalmente se levarmos em conta a formação de Vasquez.

 Puxando um par de calças de moletom preto que pendia sobre seus quadris, ele considerou a situação e a resposta necessária. — Precisamos encurralar Vasquez na cidade, mas entrando em território changeling sem um convite arrisca criar uma situação política — fato que Vasquez poderia estar contando pra adiar qualquer exercício — então nós temos esse convite. Entrarei em contato com Judd.

 

                               Capítulo 41

— ANTHONY — DISSE SAHARA, colocando seu cabelo atrás das orelhas. — Eu posso chamá-lo. Ele vai ser capaz de aconselhar Nikita — eles dois deixaram claro que os Pure Psy são indesejáveis em sua região, e eles podem ter dados que você não pode acessar.

 Ao aceno de Kaleb, ela virou-se para fazer uma chamada apenas de áudio no comm móvel ao lado da cama, enquanto ele usava seu telefone celular para um contato com Judd e, pela primeira vez, a conversa não foi entre o Fantasma e um ex-Arrow, mas entre Kaleb Krychek e o tenente SnowDancer. Quando o outro homem terminou a conversa, foi falar com o seu alfa, ter a palavra do leopardo alfa. — Eu vou chamá-lo de volta em cinco minutos — disse ele, e desligou.

Nesse ínterim, Kaleb contatou o comando central da Execução nos Estados Unidos e pediu-lhes para emitir boletins atualizados aos seus funcionários na Califórnia e nos estados vizinhos. — Avise-lhes para não se aproximar de Vasquez se ele for avistado — disse Kaleb. — Ele é um telepata de alto nível treinado em combate corpo-a-corpo e é um atirador graduado.

 — Será que este pedido vem através do Conselho? — perguntou o comissário.

 — Não. O Conselho se foi. Isso vem diretamente de mim, eu confio que a Execução não terá dificuldade com isso.

— A Execução não tem nenhum problema em cooperar na caça ao criminoso Andrea Vasquez. Uma futura cooperação, no entanto, vai depender das circunstâncias.

— Muito bem, Senhora Comissária. — Kaleb tinha tantos infiltrados dentro da Execução que ele poderia conseguir o que quisesse a qualquer momento, mas ele não viu nenhuma razão para não ser civil.

Desligando, ele olhou para Sahara. — Anthony foi entrar em contato com Nikita — disse ela, fechando um moletom com capuz sobre o jeans e camiseta que ela puxou. — Ele não disse, mas eu estou supondo que ele também vai se conectar com os outros da região, changeling e humanos. — Um olhar interrogativo. — E o convite?

 Kaleb começou a se vestir. — Pendente. — O fato era, ele estaria indo com ou sem ele. Vasquez era uma ameaça muito grande para deixar até mesmo nas mãos hábeis dos bandos.

 Seu telefone tocou na esteira desse pensamento. — Você e o Arrow estão liberados. — Judd disse a ele. — Reunião de estratégia no HQ dos DarkRiver de Chinatown em 20 minutos.

 Desde que o bando SnowDancer estava a alguma distância daquele local, Kaleb adivinhou que Judd e o lobo alfa seriam teletransportados para a reunião. — Eu estarei lá. — Desligando, ele acabou trocando as roupas indistinguíveis dos uniformes de combate pretos usados ​​pelo Esquadrão Arrow, as roupas feitas de material à prova de balas que também repeliam um certo nível de fogo laser.

 Sem o conhecimento de Sahara, todos os seus jeans, assim como o moletom com capuz que ela estava usando atualmente, tinham as mesmas propriedades que o equipamento de combate. Ele não tinha sido capaz de trocar as camisetas e outros tops ainda, mas uma de suas empresas estava atualmente trabalhando em uma versão superfina do tecido de combate mais duro, mais pesado. — Mantenha essa roupa em toda parte — ele disse a ela, e quando ela sorriu para ele, ele percebeu que ela já tinha descoberto o que ele tinha feito.

 Sua inteligência sempre foi uma das coisas mais interessantes sobre ela.

 — Você pode me levar para um local como esse, ela perguntou quando ele se sentou na cama para colocar as botas, enviando-lhe uma imagem de uma multidão agitada, com as pessoas se movendo em todas as direções. — Eu acho que eu poderia ser capaz de ajudar a reunir informações.

 O que ela estava propondo, ele entendeu quando ela enviou-lhe outra imagem, seria semelhante a ficar de pé no meio dos fluxos de dados da PsyNet, exceto que no plano físico. Ela ia pegar centenas, milhares de pensamentos aleatórios enquanto as pessoas passavam.

— Isso está próximo de cruzar a linha moral — disse ela com uma expressão solene — mas isso pode significar salvar inúmeras vidas. E já que eu não tenho nenhuma intenção de tomar o controle das mentes que passem por mim, essa é uma decisão que eu posso conviver.

 — Você tem certeza? — A consciência de Sahara era uma força poderosa, que poderia esmagá-la de dentro para fora se ela tomasse o caminho errado.

 Ela assentiu com a cabeça. — Eu tenho que ter essa habilidade por uma razão e essa consciência também. Eu tenho que confiar em mim mesma e minha intenção não é de fazer mal nenhum. — Soltando um suspiro, ela disse: — Isto pode acabar sendo um exercício inútil de qualquer forma.

 — Isto representa tanto uma chance de sucesso como qualquer outra. — Vasquez era um homem treinado para ser uma sombra, e San Francisco era uma cidade de milhões. — Você precisa de proteção. Vou organizar um Arrow para escolta. — Kaleb não iria confiar sua segurança a ninguém que ele não pensasse ser capaz de repelir Vasquez.

 Mas Sahara, com os dedos trabalhando no cabelo para tecer uma trança, sacudiu a cabeça. —Um Arrow vai se destacar em tal cidade, eles, os changeling — podem ser treinados em operações secretas, não há dúvida de que eles são letais e colocam as pessoas instintivamente na borda. Vi isso em Genebra.

 Ele chegou a seus pés. — Você quer um guarda changeling.

 — É mais seguro. As pessoas vão assumir que eu sou um membro humano da matilha — ressaltou. — Eu não olho, atuo, ou sou como a imagem estereotipada de Psy.

 Era um argumento inteligente e mais do que plausível. — Você corre o risco de expor suas habilidades para os changelings. — Quanto mais as pessoas te conhecem, maior a chance de um vazamento.

 Sahara passou um laço elástico em torno do fim de sua trança. — Eu não vou dizer a eles o que eu estou fazendo. Eu vou dizer que estou me colocando em uma posição privilegiada para ter um útil flash do passado.

 A parte dele que morava no vazio, possessivo e obsessivo por proteção, queria indicar uma negativa vocal para seu plano... mas, paradoxalmente, essa mesma parte lutaria até a morte por sua liberdade. — Ao mínimo sinal de problemas me chame.

 — Feito. — Erguendo-se na ponta dos pés, com as mãos em seus ombros, ela pediu por um beijo, e viu seu olhar. — Eu não vou subestimar Vasquez.

 Confiando em sua promessa de uma forma que ele não confiava em ninguém mais, ele disse: — Segundo o último relatório de Aden, Vasquez já está no terreno. A estação central skytrain é uma opção melhor para você do que o aeroporto.

 

 QUINZE minutos após a conversa com Kaleb, Sahara olhou para o homem loiro que estava com ela. Ambos inclinaram casualmente contra uma das colunas grossas que corriam ao longo do centro da estação maciça, apenas outros dois viajantes à espera de uma ligação de longa distância. Somando-se essa impressão estavam com as mochilas a seus pés, o tecido espancado postava um reflexo áspero por causa do brilhante sol da tarde derramado através das clarabóias maciças.

 — Você é bonito demais para isso — disse ela para Vaughn. Era feliz acaso que ele já tinha estado na HQ DarkRiver quando ela pediu uma escolta. — Aquela mulher quase perdeu seu skytrain, ela estava tão ocupada comendo-o com seus grandes olhos castanhos. — Sahara bateu as pestanas como a morena infeliz tinha feito. Vaughn lançou-lhe um olhar sisudo, mas ela viu a diversão que rondava por trás dele. — Vamos trabalhar, Sra. Kyriakus.

 — Eu preciso de um pouco de tempo para ligar o meu zen, como Mercy diria. — Ela cutucou seu braço com o ombro, confortável com ele de uma forma que ela estava com muito poucos homens, além de Kaleb. — Como vai Faith? A anônima NightStar vidente que viu Luxemburgo e Paris?

 Um pequeno gesto, a postura preguiçosa de felino de Vaughn atraindo um outro olhar de admiração para a qual ele parecia alheio, embora soubesse que os olhos do jaguar-ouro não perdiam nada. Como Kaleb, provavelmente tiraria o pescoço de qualquer outra mulher que tentasse tocá-lo sem convite, ela sabia que Vaughn iria responder com garras e dentes. Privilégios de pele, ela pensou, não eram para ser assumidos levianamente com homens deste calibre.

 — Melhor para a NightStar lidar com a pressão que implica um F sob o seu comando — Vaughn acrescentou, — do que chamar a atenção mais específica para Faith. — Estendendo a mão, ele puxou a frente de seu boné um pouco mais abaixo.

 Tinha-lhe dado o boné quando ele a encontrou com Kaleb no corredor de serviço desertado que Kaleb tinha usado como um bloqueio para o teletransporte. Segundo ele, o boné, marcado com o logotipo do time campeão de beisebol local ajudaria a atrair muito menos atenção, mesmo que ela passasse horas na estação. Uma vez que ela já tinha visto uma série de outras pessoas com o mesmo boné, ela não podia argumentar.

 — Como está o Leon?

— Bem. Muito bem. — Sahara falou com seu pai todos os dias e já tinha planejado uma visita nos próximos dias, não importando o quê. Mas primeiro, ela tinha que fazer o que podia para ajudar a parar uma nova onda de violência. —Ok — uma profunda respiração — Eu estou pronta.

 Era a primeira vez que ela tentava algo dessa magnitude, e pelo que ela ouviu de telepatas que havia permitido cair os escudos em situações semelhantes, ela tinha que preparar-se para uma explosão de ruído quando mil mentes diferentes colidiram com ela própria. Noventa e nove por cento dos indivíduos, Psy, humano ou changeling, tinha uma mente “pública”, um nível superior de pensamento inconseqüente que raramente era blindado, o que seria ruim o suficiente, mas Sahara pretendia digitalizar o próximo layer para baixo.

 Aqui vou eu, ela disse ao Tc que era seu.

 Eu não vou deixar você se afogar.

 Segurando-se a essa promessa, ela abriu os sentidos numa fração menor, pronta para fechar tudo no instante em que ela batesse em sobrecarga. Exceto que...

 Oh!

 Não era a mesma coisa como era com os telepatas. Sua habilidade era única, sua mente criada para filtrar dados de outras mentes de uma forma simplificada. Os pensamentos dos transeuntes eram claramente delineados, sua mente visualizando cada indivíduo como uma vertente compreensível, separada... prata cintilante para Psy, um assombro azul luminoso para os seres humanos, e um impressionante verde selvagem para changelings.

 Era um mar multicolorido tão extraordinariamente bonito quanto a PsyNet.

 Não sentindo o menor stress, ela expandiu seus sentidos pouco a pouco e teve que morder a parte interna da bochecha para abafar sua excitação. Seu alcance não tinha apenas dois a três centímetros em torno de seu corpo. Era muito, muito mais amplo. Aos cinquenta por cento da força, ela poderia entender os pensamentos de cada indivíduo que passa dentro das paredes da estação... incluindo as do changeling ao lado dela, e escudos changeling eram feitos para serem impenetráveis.

 O que ela pegou a fez querer sorrir — Vaughn estava cantarolando uma melodia absurda com a clara intenção de ofuscar seus pensamentos. Funcionou, e isso disse a ela que Faith tinha suas suspeitas sobre as habilidades de Sahara. Isso não a preocupou. Sua prima nunca iria traí-la. Agora, depois de conscientemente bloquear a mente de Vaughn, começou a digitalizar e descartar pensamentos em uma velocidade que virava as costas para a jetstream prata- azul vibrante, com faíscas de verde selvagem.

 

 KALEB não se teletransportou para dentro do HQ DarkRiver depois de deixar Sahara e Vaughn na estação. Ele entrou pela porta, num gesto de boa vontade que o fez receber um breve aceno de boas-vindas do leopardo alfa. O homem de olhos verdes tinha cerca da altura de Kaleb, com os elegantes músculos tão comum nos changelings felinos.

 — Krychek. Você chegou primeiro que Anthony aqui.

 O chefe dos NightStar entrou dois minutos mais tarde e Lucas fez um gesto para que o seguissem a uma grande sala de reunião dominada por uma mesa oval que atualmente detinha sete pessoas. Kaleb chamou a atenção de Judd, observando o outro homem sentado ao lado do lobo alfa, Hawke. Ao lado de Hawke estava um macho que Kaleb identificou como Nathan Ryder, tenente mais antigo dos DarkRiver.

 Nikita estava no outro lado da mesa, ao lado de Max Shannon, seu chefe de segurança. De acordo com informantes de Kaleb, a esposa de Max, Sophia, uma ex -J com uma enorme rede de contatos também tinha silenciosamente se tornado uma das conselheiras de maior confiança de Nikita. Sua confiança no casal era um fato que muitos na organização de Nikita se esforçavam para entender, já que Max e Sophia estavam aparentemente tão frequentemente em conflito com Nikita como eles estavam de acordo.

 Kaleb compreendia. Ele não empregava fracos também.

 Agora Max Shannon pegou seu olhar e balançou a cabeça em um silencioso agradecimento.

 Kaleb pensou em dizer ao outro homem da dívida que ele um dia poderia cobrar, mas não pelo mesmo motivo por ele ter ajudado a salvar a vida de Sophia de um louco mais de meio ano atrás. Ele não tinha sido capaz de ajudar a uma mulher que era tudo para ele, sua mente um lugar de trevas com raiva, mas em salvar Sophia, ele tinha ganhado, se não uma redenção, mas um instante de graça na escuridão.

 Sahara, ele pensou, teria ficado orgulhosa dele por suas ações naquele dia.

 Aceitando os agradecimentos com a menor inclinação de sua cabeça, ele voltou sua atenção para Teijan, alfa dos Ratos e cabeça da melhor organização de espionagem na região. Em frente ao alfa bem-vestido estava um homem que Kaleb não conseguiu identificar imediatamente, até que ele percebeu que o homem de pele cobre havia cortado seu cabelo comprido: Adam Garrett, dos falcões Windhaven.

 — Sua ajuda — disse ele ao falcão quando ele sentou-se, — pode ser inestimável para identificar possíveis alvos. — Um falcão pode voar mais baixo do que qualquer aeronave, seguindo movimentos suspeitos na virada de uma asa.

 — O meu povo já esta fazendo varreduras — Adam respondeu: —trabalham em parceria com as equipes em terra. Nada até agora.

 O vice-comissário da Execução para a cidade entrou na sala logo em seguida e sentou-se. A mulher Psy de meia-idade, sua pele num tom incomum como papel branco, foi seguida por um homem humano idoso de origem asiática identificado como Jim Wong, representante dos lojistas no labirinto de Chinatown, estendendo seu alcance em toda a cidade através de uma rede de familiares, amigos e clientes. Em seus calcanhares vinha um homem negro alto, o alfa DarkRiver apresentando-o como o elo de ligação da Aliança Humana.

 O silêncio era tenso, como os de pessoas que normalmente nunca foram aliados e que encontraram-se frente a frente numa mesa de madeira lustrosa. Era, Kaleb meditou, uma visão que iria inflamar os Pure Psy.

 — Todo mundo está aqui — Lucas Hunter disse depois de fechar a porta, as marcas selvagens em seu rosto ecoaram pelo olhar em seus olhos. — Vamos direto ao ponto — é preciso diminuir a lista de possíveis alvos.

 — Os escritórios do prefeito — disse o vice-comissário sugerindo.

 Kaleb balançou a cabeça. — Isso não tem tanto valor de choque como uma escola, uma creche ou um hospital. — Pure Psy quer causar dor, perdas, e raiva que iriam voltar os seres humanos e changelings contra o Psy. — Vasquez tem a intenção de provocar uma guerra que irá deixar apenas os “puros” de pé.

 Foi Hawke que falou em seguida, seus olhos azuis gelo e cabelo prata e ouro do predador — um predador que agora tinha Ming em sua mira. — Eu tenho que concordar com Krychek — disse o lobo alfa. — Mas nós já colocamos todas as instituições obviamente vulneráveis ​​em alerta máximo, reforçamos a segurança, e Vasquez deve ter percebido que isso iria acontecer. Acho que ele vai para um alvo mais fácil.

 — Hawke esta correto. — O alfa Rato inclinou-se sobre a mesa, seus olhos escuros rápidos e vigilantes. — Nós não pegamos nada que sequer insinue que Pure Psy tenha conseguido se infiltrar em San Francisco como fizeram em Hong Kong — Eu tenho fé suficiente no meu povo para afirmar categoricamente que Vasquez está trabalhando sem alicerces. Tudo o que ele está planejando vai ser rápido e sujo.

 — As acusações de queimaduras usadas ​​em Hong Kong — disse Judd, evidenciando suas conexões. — Até mesmo um número limitado pode causar sérios danos à cidade.

 — Eles são muito instáveis ​​para o transporte sem recipientes adequados: especificamente caixas revestidas de chumbo. — Kaleb sabia disso porque ele fez questão de acessar os arquivos ocultos nas acusações. — Todos os avistamentos do que acreditamos ser Vasquez apontam para que ele está se movendo com nada além de uma pequena mochila. Ele poderia, no entanto, ter acesso a outras armas, se ele fosse inteligente o suficiente para ter um pequeno esconderijo na cidade, em algum momento do passado — como um armário público contratado sob outro nome, por exemplo. — Nada que poderia passar um sinal de alarme, mesmo com o forte esquema de segurança dos bandos.

 — Então — a voz de Lucas Hunter era sombria quando ele falou — alvo fácil, alta possibilidade de baixas, intensa precipitação política, esses são os parâmetros.

 — Aeroportos e estações de skytrain se enquadram — disse Nikita — e devem ter sido alertados pela minha equipe de segurança — um aceno de confirmação do Max — mas estes são mais difíceis de controlar, devido ao tráfego de pedestres constante.

 Kaleb. A voz telepática de Sahara vibrou com raiva e medo juntos. Algo está prestes a acontecer aqui. Eu só peguei um pensamento sobre o calendário — de purificação — para hora do rush.

 Você identificou o indivíduo em causa?

 Não. Parece que este nível de percepção tem um custo. Eu posso entender os pensamentos de todos na estação, mas com meus sentidos estendidos para cobrir uma área tão grande, eu não posso mudar o foco rápido o suficiente para zero em uma mente enquanto um pensamento particular está em andamento. No entanto, quem quer que fosse estava pensando especificamente sobre o layout da estação e como conseguir — impacto estratégico máximo.

 

                                 Capítulo 42

— A ESTACAO CENTRAL SKYTRAIN é um alvo — Kaleb disse em voz alta, interrompendo a conversa em andamento. — Hora do rush hoje.

 Nikita virou os olhos frios em sua direção. — Se concentrarmos nossos recursos em um alvo ou alvos errados, corremos o risco de expor outras localidades vulneráveis.

— A informação é altamente confiável. — Ele mudou a sua atenção para o leopardo alfa. — Você tem número suficiente de pessoas para evacuar calmamente as escolas e os hospitais afim de evitar ameaças? Não podemos arriscar perder nossa mão.

— Isso já está sendo feito. Anthony e as equipes de Nikita estão trabalhando com os bandos da rede e do Sr. Wong. — Lucas olhou para a mesa. — Vice-comissário, é a Execução que esta varrendo os shoppings e cinemas?

Ela verificou o mini tablet na frente dela. — Nenhuma ameaça detectada ainda. Não podemos, no entanto, limpar estes locais e ajudar com a estação central skytrain.

— Os Arrows podem lidar com a estação. — Kaleb já tinha enviado a ordem para equipe de resposta rápida a Aden.

 Os alfas changeling olharam um para o outro, uma comunicação silenciosa passando entre eles antes de Lucas dizer: — Concordo, mas nós vamos dar-lhe alguns de nossos rastreadores. Se o ataque não é baseado em nada químico, eles podem ser capazes de sentir o cheiro.

 Kaleb sabia que esses rastreadores também estariam de olho nele e nos Arrows, mas isso era de se esperar. Aderindo à estipulação com um aceno de cabeça, ele disse, nós estamos em nosso caminho, para a mulher que estava no centro do que poderia se tornar uma zona de morte.

 

 SAHARA viu Kaleb entrando na estação, mas ele estava usando um boné de beisebol, óculos de sol, e um moletom da UC Berkeley. Roupa bonita, ela brincou imediatamente bloqueando sua mente de seus scans continuados.

Meu rosto é bem conhecido, mas as pessoas não vão ver o que elas esperam ver.

E ninguém, pensou ela, esperava ver Kaleb Krychek em uma estação de skytrain no centro da cidade, muito menos vestindo uma camiseta velha e um surrado boné.

 Ouça qualquer indício de alarme, ele disse a ela. Os Arrows são melhores em se misturar do que você imagina, porem Vasquez é treinado para detectar agentes secretos.

 Eu vou, no instante em que sentir qualquer coisa. Ela não poderia falhar em sua tarefa. Se esse prédio cair, não só centenas de pessoas inocentes morreriam, Kaleb também poderia morrer.

Somente dez minutos depois ela ouviu falar dele novamente. Os changelings não estão farejando os explosivos químicos. As bombas podem ser pequenas e bem escondidas, ou podemos estar olhando para algo mais silencioso; Pure Psy era conhecido por usar gás venenoso. 

A ligação entre eles abriu, ouviu-o dar ordens telepáticas para que todas as conduções de fluxo de ar fossem verificadas. Estou verificando os principais alvos, ele disse a ela. Eles estão do lado de fora, no alto do prédio, mas eu tenho uma linha de visão.

 O suor umedeceu as palmas das mãos com a idéia de que ele poderia estar teletransportando para o perigo. Tenha cuidado. 

Sempre.

Ela teve que forçar-se a permanecer na alcova onde tinha estado escondida pela última meia hora. Quando ela olhou para o leopardo que havia estado em sua companhia por toda parte, foi para pegar um olhar impaciente em seu rosto. — Eu sinto muito que você tenha que cuidar de mim. Eu sei que você preferiria estar fazendo outra coisa.

 Para sua surpresa, seus lábios se curvaram. — Eu não estou impaciente sobre a sua vigia, estou frustrado porque eu não posso cheirar algo que possa nos dar uma pista.

É o ar. A voz de Kaleb cortou em sua mente. Uma dose concentrada de gás venenoso ligado à conduta seguindo um dos principais alvos e programado para sair na hora do rush.

 A garganta de Sahara ficou seca, sua mente vendo a estação ocupada ir em silêncio enquanto as pessoas caíram onde estavam. Você a teletransportou para fora?

Não. É muito habilmente manipulada. Há o risco de se dispersar antes do transporte estar completo. Eu preciso de uma tecnologia, os lobos têm uma fêmea habilidosa que veio com sua equipe de monitoramento — ela esta no HQ dos DarkRiver ajudando nas informações de coordenadas. Pergunte a Vaughn se pode entrar em contato com ela.

 A técnica estava no telhado com Kaleb logo depois, portada para lá por um telecinético moreno que Sahara não tinha encontrado antes, mas adivinhou ser Judd Lauren do qual Kaleb tinha dito de sua fidelidade aos lobos. Um minuto depois, Vaughn recebeu um telefonema e pediu-lhe para segui-lo até o próximo conjunto de banheiros públicos.

 — Qualquer um feminino — ele perguntou.

 Espreitando, ela balançou a cabeça.

 Vaughn entrou e foi através dele cabine por cabine. — O de mulheres Oeste 2 estão limpos — disse ele em seu telefone celular, assim que uma mulher mais velha com bochechas vermelhas empurrou a porta.

 — Desculpe-me. — Ela fungou. — Eu sei que vocês jovens gostam de seus “ambientes incomuns”, mas francamente. — Com isso, ela se apressou em uma das cabines e bateu a porta de metal fazendo um grande estrondo.

 Sahara manteu a boca fechada até que Vaughn liberou o banheiro dos homens e indicou que eles tinham de passar para o próximo jogo. — “Ambientes Incomuns” — ela murmurou, fazendo seu melhor para parecer inocente. — Será que ela quis dar a entender algo sexual? Onde, além do quarto, que as pessoas trocam privilégios íntimos de pele?

 — Converse com Faith.

 — Ela não está aqui.

 — Você é como uma irmã mais nova irritante, você sabe disso? — A tristeza em sua voz, em seus olhos, era velha e desgastada. — Sempre fazendo perguntas.

Vendo o sorriso que equilibrava a tristeza, Sahara decidiu não recuar. —Então?

 O sorriso cresceu com sulcos mais largos e profundos que se formaram em seu rosto. — Então, fale com Faith.

 Tendo chegado ao seu destino, Sahara verificou para garantir que o caminho estava livre. Só que desta vez, ela apertou sua mão contra a porta quando estava lá dentro para se certificar de não iria inadvertidamente chocar em ninguém. — Você está verificando pequenos dispositivos incendiários?

Um aceno de cabeça. — Os Arrows encontraram um na outra extremidade da estação — barato e fácil de fazer, pequenas iscas mas grande barulho. Vasquez poderia ter semeado a estação com eles para enganar as pessoas a acreditar que o lugar inteiro estava minado a estourar.

 — Para atrasar os esforços de resgate quando as pessoas começarem a entrar em colapso a partir do gás. — Inteligente na mais psicopata das maneiras.

 — Si... — o súbito silêncio de Vaughn lhe disse que tinha encontrado algo. — Fique atrás da parede até que eu libere todo o lugar.

 Sahara não discutiu, bem consciente de que, protetor como ele se tornou com ela, Vaughn não seria capaz de se concentrar se ela desrespeitasse o seu comando. Anteriormente, ele empurrou uma barra de chocolate na mão dela com a ordem para ela comer a coisa toda. — Músculos psíquicos usando energia — ele disse. — E nem sequer tente argumentar. Faith não vai longe sem isso e nem você.

Sahara tinha tomado um grande prazer em apontar que ele estava agindo exatamente como Kaleb. Seu rugido teria levantado todos os pelos em seu corpo, se ela não tivesse sorrindo e comendo o chocolate na hora.

— Pronto — disse ele agora, três minutos depois de pedir para ficar atrás da parede. Colocando os restos do dispositivo em sua mochila, ele se levantou. —Vamos.

Eles tinham acabado de sair quando -

— Pode ter sido comprometida. Empurre, vá!

 Sahara já estava falando com Kaleb quando a última palavra ecoou em sua mente. Eles sabem! Kaleb! Tão perto do veneno, ele nunca iria sobreviver a exposição.

 Uma pausa minúscula que enviou seu coração em sua garganta antes de Kaleb dizer: Está tudo bem. Nós desativamos a bomba de veneno. Eu estou no processo de teletransporte do recipiente agora.

 Houve três pequenas explosões nos saltos das palavras de Kaleb, mas que fizeram as pessoas hesitarem, olhando em torno por respostas, mas ninguém entrou em pânico. Atuando como planejado no caso de uma possível situação de pânico, os Arrows abaixaram a cabeça e foram incorporados pela enxurrada de pessoas na estação, assim como as equipes changeling se mudaram para isolar as áreas danificadas.

 Desde que Vaughn era um desses changelings, ela o ouviu alimentar essa curiosidade com uma história sobre adolescentes brincando com fogos de artifício proibidos. A explicação não foi totalmente plausivel, mas os viajantes, independentemente da raça relaxaram assim que perceberam que os changelings tinham a situação sob controle. Isso deu a Sahara um vislumbre do quanto exatamente San Francisco se tornou um cidade changeling — especificamente cidade dos leopardos.

No final, o único dano feito naquele dia era que Vasquez, sem rosto e não identificável, manteve-se como vento. Aceitando a oferta de teletransporte de Kaleb, os rastreadores changeling usaram o perfume fraco encontrado no ventilador para começar a sua caça, cada changeling acompanhado por um Arrow que poderia procurar e bloquear possíveis ataques psíquicos.

 Não forte ou rápida o suficiente para manter-se, Sahara decidiu ficar na estação. — No caso de Vasquez e seus homens decidirem circular de volta — disse ela a Kaleb. 

Ele balançou a cabeça, seus olhos se conectaram com Vaughn. — Tome cuidado com ela.

O jaguar macho respondeu com um aceno tranquilo, o sombrio olhar que ele colocou sobre o Sahara após Kaleb sair foi, no mínimo, inesperado. — Ele não é o tipo de homem que você quer estar envolvida.

Sahara fez uma careta para ele. — Isso seria problema meu.

— Desculpe, não é assim que funciona. — Cruzando os braços, inclinou-se contra a parede, com os olhos totalmente jaguar. — Você é da família agora, irmãzinha.

— E veja o quão seguro você é — disse ela, com as mãos nos quadris. —Sinto muito, qualquer pessoa que se transforma em um gato predatório com dentes grandes e garras não pode exatamente jogar pedras.

Vaughn estreitou os olhos para ela. — Eu vou machucá-lo se ele colocar um único machucado em você.

— Você não precisará — Sahara disse suavemente. — Ele ia acabar com si mesmo antes de me fazer mal. — Como ele uma vez quase fez... seu belo Kaleb havia sangrado tanto que ela pensou que ele iria ter danos permanentes no cérebro.

— Não! Não faça isso! Kaleb, pare!

 

FOI um longo dia que se fundiu em uma noite mais longa ainda. Kaleb ficou com os rastreadores changeling... e Sahara ficou com ele. Ela deixou a estação, quando a noite se tornou tranquila e tinha ido para a HQ dos DarkRiver, mas manteve-se ligada a Kaleb no plano telepático. Era um lembrete silencioso que ela se importava, que alguém iria perdê-lo se ele fosse embora.

À frente dele, um dos rastreadores, um lobo chamado Drew, levantou a mão. Kaleb fez uma varredura da área e identificou uma série de mentes Psy na vizinhança, mas não havia nada que lhe dizesse que pertencia ao indivíduo que tinha deixado o cheiro, nem mesmo que tivesse sido Vasquez ou um de sua equipe de esqueletos. Em seguida, um tiro ecoou na garagem de quatro níveis para a esquerda e ele tinha uma área muito menor para digitalizar.

Incapaz de se teleportar para o local sem um visual claro, correu para um veículo na frente da estrutura, em seguida, estendeu a mão para ambos Judd e Aden com sua mente. Preciso de cobertura.

Vá. Um fogo laser irrompeu por todos os lados, intercalados com os mais duros sons de tiros.

Eu posso trazer mais pessoas, ele disse a Judd uma vez que suas costas atingiram o interior da parede da garagem. Não há inimigos neste nível.

Nós vamos ficar aqui, chamar a sua atenção. Parece ser um único atirador.

Kaleb já estava em movimento, tomando cuidado extra para garantir que seus passos não ecoassem. Ele estava quase no quarto nível quando o mundo ficou em silêncio. Judd, atualização.

Ele parou sem aviso prévio. Deve ter percebido que você está lá.

Kaleb aumentou sua velocidade, consciente que Vasquez — se fosse o líder do Pure Psy, e não um de seus subordinados - tinha a habilidade de descer de rapel ao lado da estrutura e, mais uma vez iludir uma captura. A bala saiu do nada, olhando para fora de seu braço. Rangendo os dentes contra a dor das contusões, ele rolou para trás para a maior proteção de um reluzente veiculo preto de sistema de tração total.

Kaleb!

Ele não soube como Sahara sentiu o golpe. O tecido à prova de balas fez o seu trabalho. Eu estou bem. Seu braço continuava funcional.

Arriscando um olhar ao virar da esquina, ele torceu para trás enquanto outra bala passou batida por sua cabeça, mas o vislumbre rápido combinado com a trajetória da bala deu-lhe o que ele precisava sobre a localização do atirador. Ele se pôs de cócoras quando o veiculo levou vários tiros de ambas armas de projétil e laser, vidros de segurança em cascata ao redor dele. Balançando, ele estendeu as mãos, palmas para fora, e empurrou todos os carros neste nível da garagem para a frente em uma onda letal que deixou o atirador sem nenhum lugar para ir.

 As armas foram à loucura quando o atirador tentou tirar Kaleb para baixo e cortar o fluxo de seu poder telecinético. Kaleb facilmente evitou as balas... até que uma ricocheteou um sinal de metal na parede dando um soco em sua coxa quando o impacto lhe disse que tinha sido projetado para penetrar tecido à prova de balas. E ela fez. A dor violenta poderia ter interrompido a concentração de outro Tc, mas Kaleb tinha aprendido a trabalhar com o pior quando menino.

Rangendo os dentes, ele bateu os carros na parede do fundo, a raspagem de metal ao longo dos lados da garagem como instrumentos cortantes profundos. Em seguida, veio o silêncio. Total e possivelmente perigoso. Varrendo com seus sentidos telepáticos, ele encontrou uma mente Psy viva, mas vacilante, por falta de uma palavra melhor, gravemente ferido. Ele teve que passar três carros esmagados para chegar ao atirador, que estava amassado entre a parede e os destroços retorcidos de metal, suas armas esmagadas, a sua parte inferior do corpo pegajosa e vermelha, ossos em lascas.

A única maneira de Kaleb saber se este homem fisicamente banal era Vasquez seria rasgando sua mente. Mas, mesmo com o acúmulo de sangue grosso e escuro ao redor da parte inferior de seu corpo, o homem tinha um olhar em seus olhos que disse a Kaleb que sua mente estava apta a ser manipulada a entrar em colapso se violada.

Removendo a faca do homem e qualquer outra coisa que ele poderia usar para acelerar a sua própria morte, Kaleb transportou para Sahara depois de enviar-lhe uma mensagem de aviso, puxou o capuz da camiseta por cima da cabeça para sombrear o seu rosto, e transportou novamente com ela.

Sons começaram a ecoar pela garagem no momento em que chegou, o resto da equipe fazendo uma varredura nível por nível para se certificar de que não havia ninguém escondido na estrutura.

— Sem perguntas? — O homem gravemente ferido raspou em seu retorno, o sangue borbulhando fora dos cantos de sua boca.

 A perna de Kaleb estava sangrando muito agora, o líquido viscoso tendo embebido no tecido duro da calça e escorria em sua bota, mas ele iria acabar com isso. — É improvável você respondê-las.

O homem veio de cílios para baixo, instalou-se, em seguida, levantou para mostrar que ele ainda estava vivo e consciente. — Então você vai ficar lá e me ver morrer, sem nem mesmo tentar uma retratação? — Desprezo em suas palavras.

 É Andrea Vasquez, Sahara disse ao longo de seu familiar caminho telepático. Mas este não era o seu ataque final. Isso é o que ele chama de o Código de Phoenix: ele está dividindo Pure Psy em várias células, cada uma com o objetivo de entrar em colapso tanto quanto possível na PsyNet, até permanecer apenas os “puros” seu sistema de crença, assim como as de seus seguidores, alterou tanto que agora eles realmente acham que aqueles que são “puros” são mais fortes. Qualquer pessoa que morrer, portanto, não era puro.

 A tautologia dessa crença fez mais para refutar a retórica “racional” do Pure Psy do que qualquer argumento fundamentado.

 Genebra, Sahara continuou, Luxemburgo, Paris, San Francisco, todos eles foram destinados para dar ao seu povo tempo para se espalhar e esconder profundamente, apenas para surgir de novo, uma vez que a poeira baixasse. Embora seu objetivo de livrar a Net do impuro seja fundamental, o objetivo secundário é instigar uma guerra mundial, que vai eliminar os fracos e “inferiores”.

 Seu legado, como ele pensa sobre isso, é uma organização com tantas cabeças que será impossível decapitar: uma verdadeira hidra.

 

                       Capítulo 43

O PLANO DE VASQUEZ ERA ainda mais terrível pela sua simplicidade. Era muito ruim para o líder de Pure Psy que, na última contagem, os Arrows tinham derrubado setenta e cinco por cento dos tenentes deles e agora estavam se movendo para a próxima camada. Mesmo uma hidra[1] com várias cabeças precisava de algum tipo de estrutura de comando, e Kaleb não tinha nenhuma intenção de permitir que os tenentes restantes configurassem qualquer tipo de base de poder.

Quanto aos membros mais fracos – eles podiam ser problemáticos, mas apenas na medida em que um inseto é para um dragão. Eventualmente, todos seriam esmagados.

— Você sentenciaria sua raça à aniquilação — ele disse a Vasquez, e não era um julgamento. Como poderia ser quando ele já havia considerado destruir a PsyNet? Não, era uma pergunta, uma que Vasquez compreendeu.

— Vamos ressurgir como a fênix das cinzas. Melhor, mais forte, mais puro. — Os olhos dele se encontraram com os de Kaleb, a esclera[2] vermelha com células de sangue saltando. — Você entende.

— Sim. — E porque ele entendia, porque ele via em Vasquez quem ele poderia ter sido sem Sahara, ele agachou-se para pegar a mão do outro homem para que ele não tivesse que ir para a morte tão sozinho quanto ele tinha estado na vida. Nem disse a Vasquez que o plano pelo qual ele tinha se sacrificado para executar nunca viria a ser concretizado.

Era a única paz que ele poderia oferecer.

O líder de Pure Psy tossiu espuma sangrenta, a voz um sussurro cru conforme os dedos lisos de sangue apertaram os de Kaleb. — Os Psy tem sido, sempre feitos, para governar. Quando acabar, nós seremos o único poder que permanece. — Um estremecido suspiro final, os olhos dele desvanecendo para encarar o nada da morte.

Andrea Vasquez estava morto e com ele, o sonho de um mundo escravizado pelos Psy.

Fechando as pálpebras do homem, Kaleb levantou-se para puxar Sahara perto. — Podemos ter ganho esta batalha, mas agora vem uma muito mais difícil – reconstruir uma sociedade que está tão fundamentalmente quebrada que começou a canibalizar a si própria.

— O que você precisa estar vivo para fazer — veio a resposta furiosa. — O colete à prova de balas fez o seu trabalho? — Ela estava olhando para a coxa dele enquanto ela repetia a garantia anterior dele.

Só para Sahara ele se explicaria. — Esse foi um tiro anterior.

Ignorando-o, ela virou-se conforme o primeiro da equipe superior limpava o nível. — Judd pode...

— Não. — Ele teletransportou-os diretamente para um centro médico privado, composto por aqueles que não ousariam trair Kaleb, não só porque ele os pagava muito bem, mas porque a punição agonizante envolvida se eles contassem os segredos dele fazia não valer a pena.

Empurrando para trás seu capuz, Sahara começou a emitir ordens para os médicos. Fique parado, foi o estalado comando telepático dela para ele quando a responsável M-Psy chegou com um scanner.

Kaleb obedeceu.

— Arma de projétil. A bala não saiu. — A M-Psy colocou o scanner de lado para escolher uma ferramenta cirúrgica. — Senhor, você pode querer enfraquecer seus centros de dor.

Kaleb tinha feito aquilo quando ele fora baleado. — Vá.

A M-Psy começou a trabalhar com uma eficiência que era uma prova silenciosa do porquê ela estava entre os empregados de Kaleb. Estendendo a mão, Sahara moveu-se como se fosse escovar o cabelo de Kaleb para fora de sua testa, então deixou cair a mão depois de um rápido olhar para a médica. Desculpe.

Está tudo bem. Não existe risco aqui.

Fique quieto. Cruzando os braços, ela ficou dura, silenciosa e vigilante conforme a médica colocou a bala recuperada em uma bandeja e utilizou outro equipamento para acelerar o processo de cicatrização.

— Este procedimento está concluído, senhor — a M-Psy disse algum tempo depois. — Você pode ter leve sensibilidade na área, mas não deve durar mais de um dia ou dois. — Ela olhou para cima depois de baixar a ferramenta que ela estivera usando. — Você está ferido em outro lugar?

— Verifique o meu braço esquerdo. — Era possível que o impacto da bala tivesse causado ferimentos de que ele não tinha conhecimento.

— Sem rasgos ou fraturas — a M-Psy disse depois que a verificação estava concluída, — mas contusões significativas. Eu posso trabalhar nelas...

— Não, está bom. — Kaleb mal sentia a lesão e ele queria ficar sozinho com Sahara.

— Sim, senhor. — Removendo as luvas para deixá-las na bandeja, a médica saiu sem mais palavras.

Notando da postura inalterada de Sahara que ela não estava com disposição para conversar, ele teletransportou-os diretamente para o que havia se tornado o quarto deles na casa de Moscou. Ele já tinha descartado seu suéter rasgado e sujo no mesmo incinerador hospitalar que enviara o equipamento médico com sangue que ele usara, e agora arrancou a manga longa com o colete à prova de balas em preparação para um banho, depois de chutar suas botas e meias.

Não dizendo uma palavra, Sahara pegou o braço dele para examinar o local onde a primeira bala o roçara. A pele estava começando a tornar-se de um sombreado que denotava que seria uma contusão pesada, mas sem danos, de outra maneira. Ela não disse nada. Em vez disso, ela estendeu a mão para puxar de lado o tecido das calças cargo dele, onde a médica havia cortado para trabalhar sobre a ferida.

Delicado como o ar, os dedos dela dançaram sobre o local. — Dói?

Uma sensação estranha sussurrou nas veias dele, agora que ela tinha falado com ele novamente. — Não. Não era uma má ferida.

O olhar que ela deu a ele era assassino... mas, ele viu o lábio inferior dela tremer.

Por fim ele entendeu, percebeu que ele a tinha feito ficar com medo. — Eu sinto muito.

Engolindo em seco, ela levantou-se na ponta dos pés para envolver os braços ao redor do pescoço dele. Ele inclinou-se para tornar mais fácil para ela segurá-lo, aprisionando-a em seus braços. — Sinto muito — ele disse de novo, lembrando o que tinha feito a ele perdê-la, e vendo na resposta dela o mesmo terror de entorpecer os ossos.

— Se a bala tivesse atingido sua artéria femoral, você estaria morto. — A voz trêmula, lágrimas úmidas contra a pele dele. — Um quarto de uma polegada para o...

— Não — ele disse, necessitando fazer isso direito. — Eu teria me teletransportado imediatamente para os médicos nesse caso. — Mudando o seu aperto, ele levou-a para a cama e sentou-se com ela em seu colo, sem se importar com o sangue seco nas calças dele.

Segurando-o apertado, ela enterrou o rosto contra ele. Ele não sabia mais o que fazer, como confortá-la, então ele simplesmente segurou-a, segurou a única pessoa no mundo que tinha, alguma vez, chorado por ele.

A primeira vez tinha sido seis meses após o primeiro encontro deles, quando ela tinha notado os hematomas preto azulados em um dos braços dele, depois que ele tinha se esquecido deles e empurrado as mangas da camiseta. Não tendo nenhuma ideia do que fazer, ele alertou-a que ela estaria em apuros se fosse pega chorando, mas não importava o que ele dissesse, ela continuou chorando em lágrimas silenciosas e afagando o braço dele.

— Eu não posso te consertar. Sinto muito. Eu não posso.

Ela estava afagando-o daquele jeito de novo, a mão acariciando gentilmente o local machucado na parte superior do braço dele. Então, ele disse a mesma coisa que tinha finalmente parado as lágrimas dela naquele dia. — Por favor, pare de chorar. Se você parar, eu vou fazer você voar.

— Eu vou fazer você voar.

Memória atingiu Sahara num único soco fechado, e tudo de uma vez, ela estava sentada na beira de um pequeno e escondido lago no canto mais distante do terreno NightStar, coloridas carpas movendo-se preguiçosamente sob a superfície clara e o sabor do sal nos lábios dela.

— O quê? — ela sussurrou para o garoto que estava sentado a um pé de distância dela, o braço dele dizendo-lhe uma história que a voz dele nunca iria.

— Veja. — Ele levantou a bela pedra azul que ela havia dado a ele depois de encontrá-la na pequena caixa de pedras que o pai dela lhe dera como uma ferramenta educacional. Ele tinha dito a ela para procurar as propriedades das pedras, mas Sahara também tinha lido sobre os significados não-científicos. Lápis-lazúli, o texto que ela tinha acessado dizia, era uma pedra que pretendia representar a amizade.

Agora a pedra azul subiu para o alto no ar. — Desse jeito.

Sorrindo, Sahara pegou a pedra, enxugando as costas das mãos sobre as bochechas, e memória transformou-se para a realidade.

Afastando-se para olhar nos olhos que estavam como o ébano, ela segurou o rosto dele. — Esse foi um dia divertido, não foi? — Ele a tinha feito voar, depois que eles esconderam-se em uma seção isolada onde ninguém iria vê-los.

— Você queria sentar-se no galho mais alto do maior pinheiro na floresta.

Sahara riu através dos restos de suas lágrimas. — Você me deixou. —Encantada, ela tinha se sentado ali, sem nenhum cuidado no mundo, pernas penduradas para fora dos lados enquanto ela acenava para Kaleb. — Eu acho que você estava com medo de que eu cairia.

— Talvez eu tenha estado... incerto de seu equilíbrio.

A risada de Sahara desapareceu conforme outras memórias entraram em claro foco, outras vezes que ele tinha estado ferido e tentara escondê-lo dela. —Como — ela sussurrou, — você conseguiu conter todo esse poder como um menino sem os controles de dor? Por que o monstro nunca esteve com medo de que você iria atacá-lo?

Kaleb ficou imóvel, e ela queria revogar suas palavras, sufocá-las como tinha feito antes, mas alguns segredos eram venenosos, e era hora deles enfrentaram a noite sangrenta que tinha marcado os dois. E aquela noite começou em uma infância que tinha sido um pesadelo de dor e solidão e horror.

— Juntos — ela sussurrou, dizendo que ele não estava sozinho na escuridão, jamais estaria sozinho. — Agora e para sempre.

Os olhos eram de um negro impenetrável naquele rosto bonito, mas o braço dele deslizou ao redor da cintura dela, a mão quente na parte inferior das costas, mesmo através do suéter. — Santano colocou o equivalente telepático a uma coleira asfixiante na minha mente — ele disse, por fim. — Como um cardeal, ele podia contrair aquela coleira a qualquer momento para cortar o meu poder.

Sahara manteve um aperto vicioso na raiva dela. — Você quebrou isso quando ficou adulto?

— Foi mais um caso de a coleira se desintegrando sob a força da minha energia conforme minhas habilidades amadureceram... mas não rápido o suficiente. — A mão dele fechou-se sob as costas dela. — E mesmo quando eu pensei que estava livre, eu não estava; ele sempre poderia me fazer assistir.

Sahara poderia apagar aquelas memórias, curar a dor dele pelo menos, mas ao fazê-lo, ela mancharia para sempre a confiança indefinível entre eles. — Ele tentou quebrá-lo — ela disse, feroz em seu orgulho, — mas você não apenas sobreviveu, você prosperou para se tornar um poder diferente de qualquer outro que o mundo já viu.

Beijado pela fúria apaixonada dessa mulher que o amava o suficiente para lutar contra os demônios dele, Kaleb sabia que tinha que terminar isso, tinha que contar tudo a ela. — Você não imagina como ele descobriu sobre você? Quando nós éramos tão cuidadosos? — Quando Kaleb tinha estado mortalmente certo de que ele tinha construído um compartimento secreto em sua mente que Santano não podia alcançar.

Saara não vacilou, não se afastou. — Uma criança não tem escudos e ele era um cardeal — ela disse, o azul profundo dos olhos dela uma infinita meia-noite. — Não há culpa.

— Você não entende.

— O quê? — A mão sobre o coração dele, ela disse, — Que ele fez comigo o que fez com que muitas mulheres changeling?

Ele congelou, cada célula tão dura como gelo. — Sim. — Com aquela confirmação brutal, ele a colocou suavemente para o lado, levantou-se e empurrou as portas que davam para o terraço.

Lá fora, o céu estava preto com nuvens pesadas de chuva; o ar, cinza; o vento frio batendo contra a metade superior nua dele. Caminhando para as grades de metal quebradas, ele começou a arrancá-las com precisão metódica, empilhando os restos em um canto do terraço. Ele estava ciente de Sahara em pé na porta, com os olhos sobre ele, mas ela não disse nada até que ele terminou a demolição do muro que ele tinha colocado no lugar.

Caminhando até a borda do terraço, ele olhou para a escuridão. — Acontece que Santano sabia sobre você por anos — ele disse, o barulho dos pés dela na madeira conforme ela se encaminhava até ele como marteladas contra as costelas dele, — mas ele não interferiu. Ele me disse mais tarde que você me mantinha estável, de modo que era útil. — Útil. A coisa mais linda da vida dele tinha sido útil para o Conselheiro Santano Enrique. — Por causa de mim, ele sabia que você existia.

A mão de Sahara pousou nas costas dele. — Você me avisou para ter cuidado — ela disse com uma confiança que disse a ele que a memória era nítida, clara. — Você disse que eu nunca, jamais, deveria ficar sozinha com aquele monstro. Kaleb, você estava sangrando tanto naquele dia, eu estava com medo de que você tivesse causado sérios danos ao seu cérebro — você lutou contra as compulsões tão forte por mim.

Kaleb assistiu rochas desabando no desfiladeiro e sabia que ele era a causa, a raiva dele buscando uma saída. — Não foi o suficiente. Não quando ele cavou mais fundo em minha mente e percebeu a sua verdadeira habilidade — e quão rapidamente você estava aprendendo a discipliná-la. Não era simplesmente que você podia ser capaz de ver todos os segredos dele em um dia breve, mas que você tinha os contatos que ouviriam.

Kaleb tinha implorado para Enrique não tocá-la, a única vez em sua vida que ele tinha, alguma vez, implorado. Ele tinha estado disposto a desistir dos pedaços irregulares finais de sua alma, se aquilo fosse preciso, mas Enrique tinha outros planos. — Ele me disse que estava na hora de ele me lembrar de quem me possuía.

Sahara abraçou-o por trás. — Ele queria que você me machucasse.

 

                                   Capítulo 44

KALEB CONTINUOU A encarar a escuridão, cada músculo em seu corpo endurecido, até que ele estava feito de pedra. — Você se lembrou de tudo sobre aquela noite.

— Quase — ela disse, dando um beijo nas costas dele. — Está vindo para mim em pedaços ao longo das últimas vinte e quatro horas. Eu tenho mais disso agora.

— Por que você não está com medo de mim, se você se lembra? Por que você ainda está aqui?

— Porque você é meu.

A pedra fraturou, as mãos dele subindo para fechar sobre as dela. — Ele sabia que se eu te machucasse, quebraria o desafio que me mantinha Kaleb ao invés de uma criatura dele.

— Corte-a. — A faca sendo empurrado na mão dele. — Você é igual a mim, sempre foi igual a mim. Faça o que vem naturalmente.

Sahara virou-se para encará-lo, descuidada de sua segurança. Quando ele puxou-a da borda com uma forte censura, ela sorriu e disse, — Eu sabia que você não me deixaria cair. — Alcançando o braço esquerdo dele conforme a confiança dela quebrava a pedra em pedaços, ela traçou a marca no interior do antebraço. — É quase como um estigma — ela murmurou. — Ou uma queimadura que nunca foi tratada, e o design, é familiar.

— É a insígnia do antigo radiador de parede no quarto de hotel que Santano escolheu para aquela noite.— Ele ousou tocar com a mão livre o cabelo dela, e sentiu o gelo dentro dele derreter quando ela virou o rosto para a carícia, os lábios dela pressionando um beijo doce no centro da palma da mão dele. — O quarto era barato e isolado e centenas de quilômetros longe de sua casa. Estava, também, coberto de DNA no momento em que ele terminou. É por isso que ele ateou fogo depois de limpar o lugar inteiro com água sanitária.

Meticuloso, o outro Tc tinha sido a pior combinação de inteligência e patologia mortal. O fogo naquela noite poderia ter sido ignorado como vandalismo... exceto que, depois Santano teletransportou Sahara para um local secreto, enquanto sufocava as habilidades de Kaleb para ir até ela, a coleira ainda segurando, ele tinha teletransportado para o quarto o corpo de uma menina changeling que ele tinha matado três semanas antes e mantido em gelo.

— Diverte-me assistir os ratos perseguindo sua cauda — ele dissera com a arrogância de um homem que tinha estado impune pelas mortes por anos, suas vítimas espalhadas por cada canto do mundo. — Vamos jogar a eles este osso e ver o que eles fazer com isso.

O dano por fogo causado ao corpo da menina havia descartado identificação por DNA — Execução tinha finalmente a identificado usando os registros dentários, graças à dedicação do detetive no comando. Aquele detetive também tinha ligado o assassinato a duas outras vítimas de Santano através das marcas deixadas no osso pela faca que Santano tinha usado naquele ano, e porque, naquele momento, o monstro tinha estado “experimentando” a decapitação.

Embora o fato de que era Santano Enrique que tinha estado por trás dessas três assassinatos não era de conhecimento público, muita gente suspeitava do envolvimento dele com os ainda não resolvidos crimes, que havia uma possibilidade de que alguém, algum dia, faria a ligação entre a cicatriz no braço de Kaleb e aquele quarto de hotel queimado. O pesado radiador de ferro, afinal, tinha sido uma das poucas peças que sobreviveram sem grandes danos. Sua distinção pode ter sido a razão pela qual os jornalistas usaram, repetidamente, a imagem quando falavam dos crimes, o tiro tendo vazado a partir de arquivos da Execução.

Era por isso que Kaleb nunca descobria o antebraço em público.

Ele não tinha nenhuma preocupação em ser marcado como aprendiz de um serial killer. Quando ele tinha entrado para o Conselho, teria sido problemático, à luz da recente execução de Santano, poderia ter levado a um desafio a partir dos outros. Ele tinha precisado estar no Conselho então. Aquilo não mais se aplicava; ninguém podia tocá-lo. Agora, ele só se preocupava com o que a exposição pública faria à Sahara. Ninguém tinha qualquer direito, mesmo sem saber, de empurrar aquele pesadelo a ela.

— Eu vou retirá-lo amanhã — ele disse, e sabia que era hora de admitir seu fracasso. — Eu não poderia fazer isso até que eu encontrasse você, até que eu te protegesse como eu não fiz antes. — Ela tinha sido ferida diretamente na frente dele, uma e outra vez.

— Enrique fez algo com o radiador — Sahara murmurou, os dedos suaves nas bordas elevadas da queimadura. — Com a energia cinética dele. Aquilo brilhava vermelho-quente — A cabeça dela se sacudiu. — Ele segurou seu braço contra essa insígnia tanto tempo que seu braço parou de funcionar, a queimadura era tão profunda.

— Não doeu. — Entorpecendo seus receptores de dor, ele não tinha feito um som, nenhum pouco disposto a dar a Santano essa satisfação. — Nada machucou, exceto ser obrigado a observá-lo cortá-la e não ser capaz de mover nem um músculo. — Santano tinha o feito incapaz de vir em auxílio de uma pessoa que era seu tudo, a única pessoa que nunca o havia desapontado, a única pessoa que achava que havia algo de bom nele.

Aquilo tinha o quebrado... em seguida, tinha feito dele um pesadelo.

Não foi o resultado que Santano tinha pretendido.

— Kaleb. — Sahara beijou a marca no antebraço dele, os lábios como borboletas macias. — Você sabe o que eu vejo quando eu olho isso? Eu vejo um homem que lutou tanto por mim que ele assustou um monstro. Você sabe que eu estava destinada a morrer naquela noite.

Sahara podia ouvir a voz de Enrique sussurrando em seu ouvido, feia e animada conforme dizia ela sobre seus planos de fazer Kaleb tirar a vida dela. Exceto, que Kaleb tinha se recusado a vergar sob as compulsões que Enrique havia plantado nele. — Você o acertou com um golpe telecinético, duro o suficiente para batê-lo contra a parede.

— Não — Kaleb disse categoricamente. — Eu não fiz nada para impedi-lo. — A mão dele tremia onde tocava o cabelo dela. — Eu machuquei você... eu ainda posso ouvi-la gritando para eu parar.

— Você feriu Enrique, não eu! — Sahara agarrou os braços dele, incapaz de suportar que ele tinha acreditado em tal mentira, que penetrava a alma, por sete longos anos. — Você chegou perto de matá-lo.

Vendo total incompreensão nos olhos de preto sem fim, que tinham perdido o seu belo brilho de obsidiana, ela segurou o rosto dele e lhe enviou as imagens — claras, reais — a partir da memória dela. Depois de ter sido trancada dentro do cofre em que ela tinha escondido seu senso de si mesma, em um esforço para proteger isso dos estragos do labirinto, a memória estava preservada, cada detalhe daquele pesadelo de quarto selecionado em intrincados detalhes.

 

SAHARA tentou não gritar quando Santano Enrique cavou sua lâmina na parte superior da curva do peito dela, sabendo que sua dor estava afetando Kaleb. O monstro o tinha preso contra a parede, usando algemas telecinéticas invisíveis, forçando a cabeça dele para a cama para que ele não pudesse deixar de ver Enrique torturá-la.

Kaleb poderia ter fechado os olhos, chutado o horror, mas ele não fez. Ela sabia que ele não iria, mesmo quando ela silenciosamente implorou-lhe para olhar para longe. Seu Kaleb nunca a deixaria sozinha com um monstro.

O grito saiu dela, apesar de cada tentativa de contê-lo, seu corpo incapaz de lutar contra a dor depois de tantos cortes, que sua pele era uma mancha de vermelho na luz dos dois abajures destacavam o mal de Enrique. Ele esperou o grito desaparecer antes de continuar a cortar. — Você sabe por que eu escolhi esse lugar? Barato como é, os quartos são todos à prova de som — e até mesmo se eles não fossem, não há outros hóspedes nesta época do ano.

Sahara tinha deduzido aquilo muito antes. — Por favor, pare — ela murmurou, a garganta em carne viva.

Enrique cavou sua lâmina mais profunda. Ele pensou que ela estava implorando para cessar. Ela não estava. Suas palavras eram para Kaleb, seu belo e forte Kaleb que sustentava o olhar dela com uma violência silenciosa que era uma raiva negra, seus próprios olhos sangrando enquanto ele lutava para quebrar a compulsão que amarrava os poderes dele, lutava para chegar a ela.

Ela sabia que ele estava colocando pressão mortal em seu cérebro, mas ele não queria ouvi-la — e ela não conseguia alcançá-lo com sua mente, Enrique tendo feito algo com os dois para bloquear a telepatia deles. Ele só continuou a lutar com uma intensidade brutal, com o rosto uma máscara de sangue.

— Pare — ela sussurrou de novo, tentando, em vão, chegar a ele com as mãos que Enrique tinha limitado com Tc. — Não faça isso. — Ela não podia suportar vê-lo se machucar, não podia suportar pensar que ele poderia causar danos fatais. Como ela poderia existir em um mundo sem Kaleb?

— Implorar não vai fazer nenhum bem a você — o monstro disse. Jogando a mão aleatoriamente sobre a carne brutalizada, os dedos dele espalhando sangue fresco sobre o seco, Enrique inclinou-se para perto. A ela, a respiração dele era fétido, repugnante como a mente dele, conforme ele sussurrou, — Você marca o rito final de passagem dele. Será a mais doce morte da vida dele, uma superior que ele sempre vai tentar recriar.

Dor assolou Sahara, seu coração quebrando pelo menino, tornando-se um homem, que tinha feito tudo ao seu alcance para mantê-la segura desde o dia em que se conheceram. — Está tudo bem — ela sussurrou tão baixo que Enrique não ouviu quando ele saiu da cama e se moveu para Kaleb.

Mas Kaleb ouviu, ele entendeu, os olhos dele negras piscinas do nada, duro e morto, e de raiva.

— Está tudo bem, Kaleb — ela repetiu mais uma vez, mas aqueles olhos de duras pedras repudiaram as palavras dela, o sangue começando a escorrer dos ouvidos dele conforme o cérebro foi esmagado entre as forças gêmeas de sua incrível vontade e malevolência de Enrique.

— Corte-a — Enrique ordenou, empurrando a faca ensanguentada na mão de Kaleb e forçando os dedos dele para fechar sobre o instrumento de tanta dor. — Você é como eu, tem sempre sido como eu. — Um olhar astuto sobre o ombro para Sahara, antes que ele se voltasse para Kaleb. — Faça o que vem naturalmente.

Os dedos de Kaleb flexionaram-se num espasmo irregular, a lâmina caindo no tapete com um entorpecido baque.

A mudança no rosto de Enrique ocorreu dentro de uma fração de segundo, a astúcia substituída por algo que Sahara sabia era pura maldade. Viveu dentro do monstro sempre, e estava escondida pela fachada do Silêncio impecável. Não havia fachada agora, nenhuma barreira entre Kaleb e a feiúra que era Santano Enrique conforme o monstro disse, — Você acha que pode me desafiar?

Sahara gritou quando Kaleb bateu de joelhos com tanta força que a cama vibrou com o impacto. Um instante depois, o braço vestido com a camisa foi pressionado no antigo radiador na parede ao lado dele. No início, ela não entendeu o que ela estava vendo... então, o radiador brilhou vermelho-quente.

— Não! Não! — ela tentou gritar quando o metal derreteu através da camisa dele e na carne... e o sangue começou a escorrer de seu nariz . — Kaleb, pare! — Ele estava matando a si mesmo na frente dela. — Por favor, Kaleb. Por favor!

A voz dela era tudo, menos clara, mas os olhos dele fecharam-se nos dela, a cabeça se movendo na menor vibração negativa. Ela não precisava de telepatia para compreendê-lo, entender o que ele estava pedindo a ela para fazer. De tudo o que tinha acontecido naquela noite, isto era o mais difícil, mas ela engoliu as lágrimas que queimavam seus olhos, até que se tornaram um doloroso nó dentro do peito dela, e ela parou de falar.

Se Kaleb poderia ser silencioso conforme o cheiro de carne queimada enchia o ar, e o sangue dele pingava sobre o branco da camisa, então ela poderia manter suas lágrimas longe de cair. Santano Enrique poderia ter derramado o sangue deles, poderia até tirar suas vidas, mas o monstro não obteria mais de sua dor. Golpeou e feriu o coração dela quando Enrique chutou Kaleb no peito com uma bota, duro o suficiente para que algo rachasse e Kaleb tossisse sangue, mas ela manteve o rosto voltado para Kaleb para que ele não estivesse sozinho, e ela não chorou, mesmo quando sua visão começou a vacilar pela perda de sangue.

Foi quando Enrique olhou para ela... e o radiador parou de brilhar, o braço de Kaleb pendurado inerte ao seu lado. — Desde que você rejeitou a minha oferta — o monstro disse, — eu vou ter o prazer de acabar com a vida de sua Sahara — e a hora, ao que parece, deve ser agora. Ela está ficando mais fraca e seria um desperdício se ela não sentisse a morte dela. — Ele pegou a faca. — É uma pena a nossa festinha não poder continuar por mais tempo.

— Pare — Kaleb disse, tossindo mais sangue para inspirar uma respiração duramente conquistada. — Eu vou dar-lhe o que quiser, se você libertá-la. Completa obediência, nenhum desafio.

Ele estava barganhando a alma dele pela vida dela. Sahara queria dizer-lhe que não, que ela jamais aceitaria esse negócio, mas ela estava tendo dificuldades para formar palavras.

— Tudo? — Santano perguntou. — Você rastejaria? Se tornaria meu animal complacente?

Kaleb respondeu sem hesitação. — Sim.

A risada do monstro foi um som áspero que arranhou a mente dela. — Quão tocante. — Torcendo a cabeça de Kaleb com uma mão telecinética, ele disse, — Mas, desta vez, eu vou declinar. Eu disse a você — é hora de você se lembrar que eu possuo você. — Girando em seu calcanhar, Enrique encarou a cama. — Eu vou cortá-la peça por peça, enquanto você assiste. — Um olhar de volta em Kaleb. — Vai ser muito mais satisfatório quebrá-lo com o estrangulamento do que ter sua submissão.

Tão fraca agora que o mundo ameaçava desaparecer na frente de seus olhos, Sahara mordeu a língua para manter-se longe da inconsciência. Aquilo poderia igualar uma morte mais fácil, mas ela não deixaria Kaleb assim, iria lutar até a última batida de seu coração, o último suspiro de ar em seus pulmões.

Olhos ardendo com a dor da ferida auto-infligida, ela trouxe o mundo de volta em foco para ver Kaleb encarando Enrique conforme o outro Tc caminhava até a cama. Os tendões do pescoço de Kaleb destacaram-se em relevo forte, os ossos em seu rosto empurrando contra a pele, as lágrimas de sangue que caíam a partir dos cantos dos olhos dele mais espessas agora, mais viscosas enquanto ele respirava em suspiros rasos através de costelas quebradas.

Alcançando-a, Enrique subiu na cama, com cuidado para não tocar a pele dela. — Eu acho — ele murmurou, — que eu vou cortar os seus lábios primei...

O cardeal mais velho foi subitamente jogado através da sala para esmagar-se contra a porta. Um osso quebrou com um estalo audível, e ela pensou que poderia ter sido o seu ulna entrando em contato com a maçaneta da porta. Enquanto ele lutava, ele foi batido novamente, a cabeça batendo contra a madeira, o som duro e molhado, ao mesmo tempo.

As ligações telecinéticas dela vieram livres.

Tão fraca que não conseguia sentir as pernas, ela tentou se arrastar para fora da cama, a pulseira que Kaleb tinha dado a ela revestida em tons de ferrugem sangrento quente contra sua pele. Se ela pudesse tocar qualquer parte do corpo do monstro com o dela...

Mas Enrique, o ombro pendurado de uma forma que disse a ela que tinha sido deslocado ou quebrado, empurrou para fora a mão boa e de repente o corpo dela estava sendo dobrado para trás na metade, os músculos e os ossos torcidos ao ponto de ruptura. O joelho dela estourou, os tendões rasgaram e as trevas acenavam no horizonte, ela gritou em agonia silenciosa.

— Sahara!

Não, ela queria dizer a Kaleb, não deixe que ele te distraia! Mas já era tarde demais. Chupando em respirações irregulares conforme Enrique a soltou de volta na cama, ela viu em horror como Kaleb foi batido até o teto, então de volta para baixo, as duas pernas dele quebrando com o impacto e sangue saindo de sua boca. Ele convulsionou por um período de cinco infernais segundos e quando ele parou, ela sabia que o monstro tinha vencido a sangrenta batalha psíquica, enjaulado seu inteligente, bonito e forte Kaleb, mais uma vez.

Ela tentou ir até ele, mas apenas seus dedos se contraíram, o batimento cardíaco dela tão lento, ela sabia que ela estava morrendo.

— Não! — Kaleb gritou, rastejando para ela, apesar de suas pernas quebradas e fraturadas costelas, apesar do fato de que seus olhos eram um mar de vermelho, conforme ele lutava contra o mal que o monstro tinha feito à mente dele e sua capacidade de vir a ela, todos os movimentos uma prova da vontade dele. — Não desista!

Os dedos dela avançaram na direção dele em um último e teimoso surto de força. — Eu não vou — ela prometeu em silêncio enquanto sua visão começava a desvanecer-se. Qualquer outra coisa iria machucá-lo e ela nunca machucaria Kaleb. — Eu não vou. — As pontas dos dedos dele escovaram os dela quando ele agarrou a borda da cama, o sangue dele correndo contra o dela própria.

Em seguida, ela estava sendo levantada e levada para longe dele com força telecinética bruta, e o monstro estava dizendo, — Eu mudei de ideia — através de respirações duras assobiadas. — Eu acho que vou fazê-la meu animal de estimação em seu lugar.

— Sahara! — Um som de raiva. — Eu virei por você! Sobreviva! Sobreviva por mim!

Aquelas foram as últimas palavras que ela ouviu antes que sua mente ficasse preta.

 

                                   Capítulo 45

— VOCÊ VIU? — ela perguntou. — Ele estava tendo dificuldade para respirar, Kaleb. Você quebrou algo dentro dele e a única razão pela qual ele foi capaz de agarrar o controle é que você tentou me proteger.

Kaleb não rejeitou as memórias dela, mas disse, — Eu posso ouvi-la gritar, sentir a faca contra a palma da minha mão, o sangue espalhado em meus dedos, ver Santano pegando você e teletransportando para longe. Não há nada no meio disso.

— Você me disse que ele tinha portas traseiras em sua mente — Sahara disse, lutando para ele acreditar na verdade. — Ele era claramente capaz de fazer alguma coisa para fazer você esquecer a parte mais importante daquela noite.

Continuando a manter o rosto dele entre as mãos, ela disse, — Você o assustou. — Ela vividamente lembrava o tom na voz de Enrique naquela noite, o choque de que alguém tivesse o poder de causar mal a ele. — Essa é a única razão pela qual ele decidiu me deixar viver. — Com aquelas palavras, ela compreendeu a terrível e dolorosa verdade. — Ele me usou como uma coleira extra para ter certeza que você ficaria na linha, não foi? Contanto que você não lutasse contra a compulsão, enquanto você permanecesse como a audiência dele, ele não iria arrumar as coisas para a minha morte.

Quando ele não respondeu, ela tentou sacudi-lo. — Fale comigo! — Mas, neste ponto, Kaleb não abriria a boca. Ela não precisava que abrisse. Ela sabia. Ela sabia. — Você permitiu que aquele monstro estuprasse sua mente durante anos para me proteger — mesmo quando você tinha que saber que tudo podia ser para nada, que eu poderia já estar morta. — Afastando as lágrimas com uma mão impaciente, ela disse, — Como você se atreve a dizer que você não fez nada! Você fez tudo.

— Não foi o suficiente. — Finalmente os olhos dele se encontraram com os dela novamente. — Você estava presa e ferida até que você teve que enterrar a sua mente para sobreviver. — Raiva em cada respiração, as mãos em punhos no cabelo dela. — Eu quero mutilar e torturar cada pessoa no planeta que, de qualquer forma, suportou Santano ou Tatiana, quebrá-las até que implorem e rastejem. Então eu quero dizer a eles que isso nunca vai acabar.

Sahara enterrou os dedos nos braços dele. — Não faça isso — ela disse, e foi uma ordem. — Não deixe aquele monstro destruir a vida que vamos ter juntos. Você é meu, não dele. Você sempre foi meu.

A reivindicação era tão absoluta, que o desafiava a lutar. Kaleb não tinha nenhuma intenção de lutar. Tremendo, ele esmagou-a contra ele. — Sim — ele disse, lutando contra a raiva, porque se ele se desse para isso, ele perderia Sahara. — Eu sou seu. Eu sempre serei seu.

Os lábios dela no queixo dele, na bochecha, em um amor feroz. — Lembre-se disso. Cada ação, cada ação que você tomar, tem o meu nome.

Quando a boca dela tocou a dele, ele segurou o queixo dela para beijá-la com uma violência que ele poderia ter se preocupado que a aterrorizaria, exceto que as unhas dela estavam cavando na nuca dele conforme ela lutava para se aproximar ainda mais. Quebrando o zíper do suéter dela, ele puxou-o para fora, rasgando a camiseta para descobrir a pele dela. O sutiã teve o mesmo destino.

— Kaleb, Kaleb, Kaleb. — Era uma rouca e viciante ladainha quando ela o beijava onde quer que ela alcançasse, os seios esfregando contra o peito dele, sem se importar com o suor e o sangue que marcavam o corpo dele. — Eu quero você. Eu te quero tanto.

Ele rasgou o resto da roupa dela em pedaços usando telecinese. A dele mesmo não durou muito mais tempo. Levando-a para a madeira polida do terraço, ele virou-os de modo que ele era o que ficou no chão. Ela subiu em cima dele, uma deusa ungida pela chuva que tinha começado a cair em um sussurro abafado, o cabelo que tinha caído em cascata sobre as mãos dele quando ele tirou o elástico, como seda sensual. Mãos apoiadas sobre o peito dele, os pingentes da pulseira dela escovando a pele dele, ela levantou-se sobre ele, os seios escorregadios com a chuva que perolava nos mamilos.

— Eu posso — ela sussurrou, — precisar de um pouco de ajuda. — Um sorriso tímido, sensual, que o convidava a brincar com ela. —Esta pode ser uma das técnicas mais avançadas.

Agarrando a carne em pedra dura dele com uma mão, ela o guiou para dentro dela, o escaldante calor dela fazendo as costas dele se arquearem, a chuva parecendo transformar-se em vapor quando atingia a pele. Sahara fez um som intensamente feminino de prazer, conforme ela o levou ao limite, as curvas do corpo dela macias contra ele, a respiração irregular. Quando ele acariciou as mãos subindo pela coxa até segurar as nádegas, os dedos dele cavando dentro da sedosa carne molhada, ela tremeu e começou a preparar-se.

Percebendo que os joelhos dela estavam empurrando contra a madeira da varanda, ele deu a ela uma almofada telecinética, querendo-a ali, sob o céu tempestuoso. Sua amante não parou o que estava fazendo, o doce e escorregadio aperto do corpo dela sobre ele uma agonia a que voluntariamente se rendeu... em dois golpes. Agarrando a cintura dela, ele segurou-a em baixo, moendo seu corpo contra a carne delicada dela, até que ela apertou convulsivamente ao redor da parte dele que ela segurava possessivamente dentro, o prazer dela como mel derretido.

—Kaleb.

Ele virou-a de costas naquele gemido ofegante, certificando-se de que ela nunca tocasse a madeira. As pernas dela travadas em torno dos quadris dele, os braços ao redor do pescoço, a paixão dela tão selvagem quanto a chuva que tinha ficado pesada, batendo contra as costas dele. Tomando a boca dela, saboreando-a com a língua, ele quebrou o beijo para empurrar dentro e fora dela em um ritmo de condução, a água escorrendo dos cílios dele para acertar as bochechas dela.

— Tudo, Kaleb — ela suspirou, as unhas na mais doce dor nos ombros dele, — me dê tudo.

— Você tem isso. — Todos os segredos dele, qualquer coisa que ela quisesse. Mesmo o cicatrizado e mutilado coração dele. — Eu te amo.

Olhos de um profundo, profundo azul trancaram-se nos dele, uma única lágrima escorrendo pelo rosto dela. — Eu sei — Sahara disse, o coração dela quebrando por ele ter dito as palavras para ela. Ferido e brutalizado além da crença, sem ter visto nem um pingo de amor, até que eles se conheceram, ela não teria se surpreendido se ele se acreditasse incapaz da emoção.

Ela sabia que ele era mais do que capaz daquilo, sentia aquilo em cada respiração dele, a cada toque, cada uma das promessas dele. Que ele soubesse que tinha a capacidade para aquilo... era tudo. — Diga de novo.

Ambos os braços sob o corpo dela, as mãos curvadas sobre os ombros enquanto ele a abraçava no lugar para profundos, duros golpes que faziam os músculos íntimos dela apertarem-se em puro prazer, ele fez uma pausa, os cabelos escuros contra a testa, os olhos segurando as cores do crepúsculo, e o corpo uma escultura da beleza masculina. — Eu te amo. Eu sempre vou te amar.

Relâmpagos, irregulares, perigosos e bonitos, brilharam acima quando ele começou a mover-se novamente, a boca procurando a dela para fechá-los juntos. Ao redor deles, a chuva era um trovejante casulo deles como um mundo privado. Beijo após beijo, golpe após golpe, eles não podiam obter o suficiente, nunca obteriam o suficiente.

Ele estava tão forte e quente e fora de controle, uma das mãos agora na garganta dela em uma carícia que o corpo dela instantaneamente associou com a posse erótica. Ela sentiu o orgasmo se aproximando, tentou combatê-lo, porque ela queria mais daquilo, não queria que aquilo acabasse, mas já era tarde demais, o prazer rasgando através dos dois em uma onda de sensação tão selvagem quanto os relâmpagos que dividiam os céus.

Só que desta vez, não se limitou aos corpos dele. As mentes colidiram-se no plano psíquico, os pensamentos batendo juntos em uma fragmentação de cor surpreendente que a fez chorar lágrimas que se tornaram chuva conforme ela via todos os pedaços dele. — Eu te amo, Kaleb.

 

A MÃO DE KALEB estava enroscada no peso úmido do cabelo de Sahara, enquanto ela estava deitada meio em cima, metade fora do peito dele, as pernas deles entrelaçadas e cada centímetro de pele escorregadia com chuva. Nem um deles queria ir para dentro, apesar de a chuva continuar um aguaceiro, mas ele tinha colocado um pesado escudo telecinético sobre eles para proteger Sahara do que era, de fato, água gelada.

No interior do escudo, a temperatura era consideravelmente mais alta, a habilidade de Kaleb para criar e manipular energia cinética sendo usada de uma forma que a maioria dos treinadores consideraria desperdício. Não era. Não se mantivesse Sahara aquecida.

— O que foi aquilo? — ela perguntou, o peito subindo e descendo enquanto os pulmões dela se esforçavam para pegar ar. — No final?

— Nossas mentes se conectaram. — Foi uma experiência que ele nunca esqueceria, o amor de Sahara e o espírito de uma intensa luz dentro dele, uma chama de vela que iluminava o vazio. Danificada, torcida e cicatrizada além de toda a esperança de reparação, a parte dele que era o vazio tocou a chama da vela em admiração, espantada de que era para ele.

Para ele. Para Kaleb.

Isto era puro, essa coisa dolorosamente bela que Sahara sentia por ele, e era uma verdade que os Pure Psy nunca compreenderiam. Mas — Eu sinto muito pelo que você deve ter visto.

— Eu vi beleza selvagem e perigosa. Vi devoção. Eu vi você. — Levantando a cabeça do peito dele, ela empunhou uma mão contra o coração dela. — Eu posso sentir você lá no fundo, uma estrela da meia-noite tão incrivelmente forte e amorosa e minha. — A voz dela tremeu. — Estou tão feliz que você é meu. Eu nunca vou deixar você ir.

Desta vez, foi Kaleb quem disse, — Eu sei — devastado ante ser tão querido. — Você é apenas um pouco possessiva.

Sahara riu, os olhos dela molhados conforme, dentro dele, a chama da vela continuava a queimar, a luz um quente e duradouro ouro. Mas havia mais. No plano psíquico fora das mentes deles, uma linha fina de meia-noite, distinguível do preto da Net só pelas brilhantes facetas de obsidiana dela, havia se tecido intimamente com uma linha da luz dourada, o laço indo da mente dele para a de Sahara. — Estamos vinculados. — Olhe.

Os olhos de Sahara viraram-se para dentro, o sorriso dela luminoso. — Kaleb. — Rindo em aberto prazer, ela pressionou beijos ao longo da mandíbula dele, parando apenas quando os dedos de uma das mãos roçaram a cicatriz no antebraço dele. — Você está determinado a apagar isso?

— Eu não vou arriscar você. — Ele mandou telepaticamente a ela as razões e o porquê conforme a chuva transformava-se lentamente em uma neblina, a conexão entre as mentes deles tão clara que estava além, até mesmo, da força telepática dele. — E o que quer que você veja nisso, eu nunca vou ver mesmo. — Para ele, seria sempre uma lembrança do dia em que ele a perdeu.

— Tudo bem. — Gotículas cintilantes nos cílios dela, estrelas capturadas em transição. — Mas você vai substituí-lo por algo para mim?

— Qualquer coisa. — O corpo dele era dela.

Escovando com os dedos os lábios dele, ela disse, — Você me deu uma águia. Eu quero dar uma a você, também. — Um beijo macio pressionado contra a cicatriz. —Quero que voemos juntos.

— Você me viu, tudo de mim — ele disse, arrastando-a até a boca ele. — Você sabe que eu nunca vou ser bom. — Depois de assumir o controle da Net, ele faria o que fosse necessário para mantê-la. Ninguém e nada, nunca mais, iria prender qualquer um dos dois.

— Um homem bom — ela disse, os lábios contra os dele, — não teria sobrevivido ao que você sobreviveu, não teria sido capaz de me encontrar. Para combater o mal, você tem que entender a escuridão. Nós dois entendemos.

— Você vai ter que ser a minha consciência. — Ele conhecia as falhas dele, e ele conhecia partes dele que estavam irrevogavelmente quebradas. — A minha não vai voltar a crescer.

Empurrando os fios molhados de cabelo da testa dele, Sahara sustentou o olhar. — Alguma vez que já deixei qualquer coisa passar? Isso não vai mudar. — Um sorriso lento. — Eu pretendo ter mil brigas com você.

Ele pensou em uma vida tendo a vontade obstinada de Sahara todos os dias e soube que ela era a sua recompensa por sobreviver.

— Kaleb? — Quando ele encontrou o olhar dela, ela tocou uma das finas cicatrizes prateadas no corpo dela, e a ira dele acendeu de novo, raiva girando nas veias. — Não — ela sussurrou com um aceno de cabeça. — Não pense nele quando você ver essas. Pense em mim. Uma lutadora, uma sobrevivente, sua amante. — Era uma ordem... e uma que ele percebeu que não teria nenhuma hesitação em seguir; as marcas dela, medalhas de honra.

Inclinando-se, beijou uma no ombro dela como ela tinha beijado a cicatriz no braço dele. — Só você — ele disse, aquele voto, um final. — Minha feroz, inteligente, linda Sahara que cuspiu no olho de um monstro.

— Kaleb.

Eles ficaram perdidos um no outro nos minutos que se seguiram, tocando e acariciando, simplesmente ficando juntos.

— Nosso vínculo — ele disse depois de um tempo, — vai ser visível na Net se eu deixar cair o escudo que eu coloquei sobre ele. — Tinha sido um ato instintivo da mente dele, a resposta feroz para proteger algo indescritivelmente precioso. — Vinte e quatro horas — esse é o tempo que eu pretendo manter o escudo no lugar.

Preocupação sombreou o sorriso de Sahara e ele sabia que ela entendera o que ele pretendia fazer. — O povo está pronto?

— Alguns nunca estarão prontos, mas está na hora. — A doença apodrecendo a estrutura da Net estava ficando mais forte, mais virulenta a cada hora que passava. — A única outra opção é uma morte lenta.

Sahara pensou nos lugares escuros que Kaleb tinha mostrado a ela, os lugares mortos, e soube que ele estava certo. — Você precisa de um tempo para falar com os Arrows, não é?

— Sim. Eu tenho que descobrir se eles vão brigar comigo ou me apoiar quando eu anunciar a queda do Silêncio. Eu não quero executar homens e mulheres que são mais parecidos comigo do que qualquer outro na Net, mas eu vou, se necessário.

Se o esquadrão lutasse contra ele, Sahara pensou, o conflito resultante seria muito mais devastador do que qualquer coisa que Pure Psy tinha feito. — Os Arrows são inteligentes; eles devem ver que o Silêncio é podre por dentro.

— É difícil lutar contra mais de um século de tradição inflexível.

As palavras de Kaleb fizeram Sahara pensar no teletransportador com os olhos cinzentos frios. Poderia um homem como Vasic existir em um mundo sem Silêncio? Poderia ser uma demanda impossível. O coração dela doeu por ele, pelas escolhas que ele nunca teve, e ela desejava que houvesse uma resposta fácil, alguma forma de dar a ele um caminho para fora da escuridão.

Em seguida, a estrela da meia-noite pulsou dentro dela, e foi um lembrete silencioso de que a vida não era fácil. Às vezes, exigia sangue do coração e dava em retorno apenas dor insuportável. Às vezes, quebrava você. — Quando você está quebrado — ela sussurrou para o homem que salvaria o mundo para ela, — você não pode ver a esperança. Nós devemos ser a esperança deles.

Kaleb abraçou-a mais perto enquanto ela enfiava a cabeça sob o queixo dele. — Você quer que eu deixe cair a blindagem em torno do nosso vínculo quando eu falar com eles.

— Vai ser um risco, eu sei. Eles podem virar-se imediatamente contra nós, mas, Kaleb, aqueles poderíamos ter sido nós em outra vida. — A ideia de nunca conhecer Kaleb, nunca amá-lo, fez o coração dela bater em um ritmo de pânico. — Você é tão letal quanto qualquer Arrow, mas você fez isso. Deixe-os ver que a vida não é só dor e sobrevivência.

— Mesmo se eles se juntarem a nós, não vamos salvar todos eles.— Era uma triste verdade.

— Então — Sahara disse, os dedos de uma mão segurando firmemente os de Kaleb, — vamos salvar os que pudermos. Juntos.

— Sempre.

 

                                     Capítulo 46

ADEN ESTAVA DE PÉ sob uma pesada lua do deserto, as dunas desoladas ondas de prata e sombra, quando Kaleb apareceu ao lado dele. Ele tinha percebido há muito tempo que, como Vasic, o cardeal poderia ir tanto para pessoas como para lugares, mas o outro homem nunca antes tinha sido tão conflituoso sobre a habilidade dele. Ele tinha, pensou Aden, estado cortejando os Arrows.

Claramente, o cortejo tinha acabado.

— Vasic está praticando a capacidade de armas da luva de ferro dele? — Krychek perguntou, os olhos sobre a areia revolvida em torno parceiro de Aden, Vasic tendo escolhido uma posição meio caminho para baixo da duna que era o ponto de vigia de Aden.

— Sim — ele disse, e recusou a oferta telepática de Vasic de assistência ao mesmo tempo. Se Krychek tivesse vindo com intenção hostil, ele já teria atacado. — É projetado para integrar-se com a base de força telecinética dele, mas há falhas.

Vasic teletransportou-se dentro e disparou um pequeno e pessoal míssil laser em um alvo que eles tinham criado em outra duna há uma centena de metros de distância. O míssil não só saiu da rota, como dobrou de volta na direção do teletransportador. Não mostrando qualquer indicação de estar preocupado, Vasic pressionou algo na luva de ferro e o míssil explodiu no ar.

— Eu diria que as falhas são significativas — foi a fria avaliação de Kaleb. — Ele não deveria ter implantado o dispositivo se está a este nível de desenvolvimento. A utilidade não compensa o risco.

Aden encontrou-se na posição incomum de ser pego desprevenido. Porque Kaleb tinha apenas repetido o próprio argumento de Aden quando ele tentou falar com Vasic sobre o voluntariado para o procedimento arriscado. — Não havia nenhuma maneira — ele disse depois de uma pequena pausa, — para os cientistas progredirem sem implantá-lo em um sujeito vivo.

— Pode ser removido?

— Não, está fundido muito profundamente no corpo dele. — Aden observou enquanto Vasic lançava outro míssil. — Você não nos rastreou para assistir a prática ao alvo de Vasic — ele disse conforme aquele míssil fazia exatamente o que fora projetado para fazer, areia explodindo em um jorro prata.

— Por que você está aqui? — Kaleb perguntou ao invés de responder à pergunta implícita. — Não há nada que você possa fazer para impedir um acidente.

Aden não tinha nenhuma intenção de responder com a verdade. — Eu estou aqui para acompanhar os testes, fornecer uma conta de backup dos resultados.

Kaleb ficou em silêncio por um longo tempo, os dois assistindo o arco de chama azul das armas de fogo enquanto Vasic testava outra configuração com a luva. Quando ele falou, Kaleb novamente disse o inesperado. — Você está aqui para que, se algo der errado, Vasic não morra sozinho. Ele está tão perto da borda que você não está certo de que ele não vai engendrar um acidente fatal.

Havia poucas pessoas no mundo que conheciam Vasic tão bem. Kaleb Krychek não era um deles e, ainda assim, ele tinha chegado à conclusão certa. Voltando-se para o homem que estava vestido com calças pretas de combate e uma camiseta preta, um grande e fino curativo da cor da pele no interior de seu antebraço esquerdo e botas gastas nos pés, Aden disse, — O que você quer?

Kaleb deslocou-se para encará-lo. — Saber se eu vou ter que deixá-lo morto nas areias do deserto.

— O que te faz tão certo de que você poderia?

As estrelas brancas nos olhos do cardeal Tc brilhavam tão duras como diamantes. — Você poderia me incapacitar ou me matar se tivesse o elemento surpresa, mas na força bruta, eu não tenho iguais.

— Vasic tem um bloqueio em sua posição. — O parceiro dele tinha tomado aquela ação no instante em que Kaleb apareceu. — Ele pode ter uma arma na sua cabeça no espaço entre um fôlego e o próximo. E eu não sou médico. — A única razão pela qual ele disse aquilo a Kaleb era porque ele estava certo de que o outro homem já conhecia a verdadeira natureza das habilidades dele.

Ao contrário de Ming, Kaleb não acreditava em nada a primeira olhada, especialmente não um médico de campo que tinha a lealdade de todo o esquadrão. — Ser complacente na presença de um cardeal Tc de objetivos opacos e fidelidade fluida — Aden acrescentou, — seria estúpido ao extremo.

— É por isso que eu prefiro não matá-lo — foi a resposta de Kaleb. — É fácil o suficiente encontrar um assassino treinado — um lutador inteligente, capaz de prever as coisas, e flexível o bastante para alterar seus planos dadas as circunstâncias, é uma coisa muito mais rara. — Girando nos calcanhares, o cardeal começou a descer a duna. — Há algo que seu parceiro precisa ver.

Aden seguiu em silêncio, incapaz de prever o que Kaleb faria em seguida. Quando o cardeal pediu tanto a Aden quanto a Vasic para encontrá-lo na PsyNet, eles fizeram-no sem argumentar. Uma vez lá, o outro homem disse, — Eu preciso que vocês entrem na primeira camada de meus escudos.

Mais uma vez, nenhum deles hesitou; os escudos de Krychek eram bizantinos, mas Aden e Vasic eram mais do que capazes de romper aquela camada, sem problemas. Aden tinha, na verdade, quebrado dentro daquilo quando o esquadrão tinha começado a considerar mudar a lealdade para Kaleb — em um sentido estritamente limitado que deixasse claro que os Arrows não eram cachorros de colo de ninguém.

Então, ele não tinha visto nada, a camada mais externa da blindagem de Kaleb nada além de uma redundância que agia como um sinal de alarme em caso de incursão. Hoje, ele viu um vínculo psíquico que passava da mente de Kaleb para outra que ele não reconheceu, as cores do vínculo obsidiana facetada e um ouro luz radiante.

Força, coerção, manipulação, indícios de fraude psíquica, ele procurou por qualquer dica daquilo na ligação que quebrava todas as regras do Silêncio, e não encontrou nada. Era uma construção orgânica, crescendo de duas mentes que alcançavam a outra através do vazio, a luz abraçando a escuridão, a escuridão de proteção em torno da luz.

Quase antes de Aden entender o que ele estava vendo, Vasic e ele foram empurrados por uma onda de poder nu, escudos de obsidiana impenetrável batendo sobre a mente de Kaleb e aquela do outro não identificado.

— Você está emocionalmente ligado a alguém — Aden disse de volta no deserto, balançado o suficiente com o que ele tinha visto que as palavras derramaram-se através das, normalmente hermeticamente fechadas, defesas dele.

Aquilo era real? Vasic perguntou, ao mesmo tempo, como se estivesse desconfiado de sua própria percepção.

Sim.

— Minha verdadeira lealdade — Kaleb disse na esteira da resposta telepática de Aden, — nunca foi fluída.

Foi Vasic quem falou a seguir, o vento do deserto tão quieto em torno deles que não perturbava nem um único grão de areia. — Esse vínculo não pode existir em um mundo do Silêncio.

— Não.

Enfim, Aden entendeu por que Kaleb tinha chegado hoje à noite, porque o cardeal precisava saber se ele teria que banhar as areias com o sangue deles. —Os Arrows — Aden começou, — foram criados no início do Silêncio, o nosso mandato em proteger o Protocolo a todo custo.

Kaleb não disse nada, com o rosto tão distante, que era impossível acreditar que ele tinha a capacidade de se vincular a alguém.

— Ao primeiro Arrow — Aden continuou, — foi dito que o Silêncio era a única esperança da raça Psy, que sem ele, cairíamos na loucura e insanidade até que nosso povo não fosse nada além de uma memória terrível. Zaid acreditou. Nós todos acreditamos.

— Não era uma mentira total. — O olhar de Kaleb encontrou o de Vasic. — Nem todos de nós teriam sobrevivido até a idade adulta, ou mantido uma espécie de sanidade, pelo menos, sem algum nível de condicionamento.

— Não — Vasic disse, — não era... não é... uma mentira total, mas o núcleo é podre.

— É por isso que deve ser extirpado. — A proclamação cruel de um homem que tinha sempre parecido a personificação do Protocolo: frio, poderoso, sem vínculos de qualquer tipo. — O Silêncio deve cair. Os Arrows vão cair com ele?

— O Esquadrão Arrow — Aden disse, — deve sempre existir. — Para aqueles como Vasic e Judd — e Kaleb. Os que eram demasiados perigosos para viverem no mundo comum; os que o resto das pessoas temeria, se estes fora da curva de poder não fossem treinados a esconder a sua letal natureza, os que seriam sempre necessários para proteger o seu povo. — Ele não pode cair.

A resposta de Kaleb foi contundente. — Então, ele deve se adaptar.

Seria o caminho mais difícil que qualquer Arrow já tinha tomado, e Aden sabia que alguns seriam estilhaçados antes que aquilo tudo acabasse. Mas, seus homens e mulheres estavam prontos. O esquadrão tinha sabido que um dia poderiam ter que quebrar o Silêncio, da Net em si – embora a Net fosse a força vital deles, uma casa psíquica que eles tinham lutado para proteger por mais de uma centena de anos... mesmo conforme os matava.

Arrow atrás de Arrow tinha sido perdido como resultado de decisões tomadas por aqueles que os viram como descartáveis e prefeitos soldados, que eram expulsos no instante em que se tornaram muito fraturados para serem úteis. O esquadrão não queria abandonar o seu povo, mas eles tinham sido forçados a isso, a desertar, para proteger aqueles dentre eles que ainda não estavam fatalmente danificados.

Depois de ter visto a vida que Judd tinha feito para si mesmo, Aden tinha cautelosamente esperado que, dada a oportunidade, os jovens Arrows — os ainda no lado certo do abismo — poderiam ser capazes de construir o mesmo: uma vida que não envolvesse apenas a morte e isolamento e uma existência para sempre nas sombras. No entanto, se Kaleb Krychek tinha sido capaz de se relacionar com outro ser vivo... Talvez Aden tivesse imaginado pouco para seus Arrows. Talvez a salvação poderia vir mesmo para o mais quebrado entre eles.

— Nós vamos adaptar — Aden disse, a pesada lua guardando sentinela acima, — mas uma coisa nunca vai mudar — nós apenas vamos seguir as ordens com as quais concordamos. — O tempo para obediência cega, para fé em um líder que não era um deles, tinha passado. — E você nunca deve tornar-se uma ameaça para o esquadrão, nós vamos ataca-lo sem hesitação.

— Eu não esperaria nada menos. — Kaleb deslizou as mãos nos bolsos de suas calças de combate. — Você entende que se este último acontecer — ele acrescentou, — eu não vou mostrar nenhuma piedade.

Vasic disse as palavras na língua de Aden. — Os Arrows não esperam misericórdia de ninguém.

Não houve discussão mais aprofundada, o negócio feito, o futuro irremediavelmente alterado.

Olhando para a faxia de luz que marcou a passagem de um avião no céu noturno estrelado, Aden pensou no frio daquela altitude. Glacial, hostil à vida. Mas foi naquele mesmo ambiente hostil que os flocos de neve formavam sobre as janelas de embarcações mais lentas, criações de delicada filigrana... beleza que nascia no amargo frio.

 

NAS horas que se seguiram a reunião de Kaleb com os Arrows, um número muito seleto de pessoas receberam a visita de Kaleb Krychek – e dois homens receberam uma do Fantasma, a reunião deles localizada nos dois últimos bancos de uma pequena igreja da Segunda Reforma, as luzes desligadas naquela seção. Nem Judd nem Xavier ficaram surpresos com a notícia da futura revolução na Net.

— A onda — Judd disse, — tem atingido um cume. Nadar ou se afogar, essas são as duas únicas opções.

As palavras de Xavier eram mais calmas, tinham mais preocupação. — Então, nós alcançamos nosso objetivo — o Conselho não existe mais, e o Silêncio está prestes a cair. E, ainda assim, acho que a tarefa está apenas começando. —Observando quando um paroquiano entrou, Xavier levantou-se para falar com o frágil homem idoso, enquanto Kaleb virou o rosto mais fundo nas sombras.

— Não é seguro para Xavier ser conectado a Kaleb Krychek — Judd disse uma vez que o padre estava longe o suficiente de forma que ele não iria ouvir as palavras, — mas ninguém vai piscar um olho ao fato de que Judd Lauren conhece outro Tc. Se você precisar de mim, eu estarei lá.

— O mesmo se aplica a você. — Kaleb não entendia muito bem como ele tinha chegado a ter a lealdade destes dois homens, mas ele sabia que guardaria a confiança dele com a própria. — Eu vou ter certeza de que Xavier permaneça seguro. — Ele fez uma pausa. — Fiz uma visita tranquila — desconhecida, invisível — para a aldeia de montanha onde a Nina dele deveria estar. — Foi um ato como qual Kaleb não ganharia nada, mas ele pensou que ele tinha feito aquilo por amizade, para poupar Xavier da dor se fosse uma pista falsa.

A risada de Judd foi suave. — Eu fiz o mesmo.

— Devemos dizer Xavier?

— Não, ele vai para as montanhas amanhã. Eu acho que, algumas coisas, um homem deve experimentar para acreditar.

Kaleb pensou na chama da vela no vazio, no vínculo bonito e inquebrável, e soube que Judd falara a verdade.

 

QUANDO voltou para casa, finalmente todas as peças no lugar, foi para encontrar Sahara de pé na frente da casa, os olhos nas pastagens beijadas pela luz cinza pérola do tempo antes da verdadeira luz do dia, a névoa ainda lambendo o chão. Vestindo um bonito top branco e uma saia fluída até os tornozelos de um amarelo verão salpicado com pequenas flores em tons inumeráveis, a saia embelezada com duas camadas de babados criados a partir do tecido, ela parecia um pedaço do sol correndo à frente da madrugada.

— Kaleb. — Ela correu para os braços dele.

— O que você está fazendo aqui fora? — Ele não falou das reuniões que ele tinha participado; ela tinha estado com ele em todos os lugares, exceto a igreja — denominando aquilo como uma discussão com amigos. Foi Sahara quem tinha sabido que Vasic estava perto de quebrar; como Aden, ela concordou com Kaleb que o telepata era um homem que poderia tornar-se um poderoso aliado se eles pudessem ganhar a confiança dele.

— Eu estava esperando por você. — Dedos movendo-se através do cabelo dele, ela puxou-o para um beijo que lembrou a ele que ele era dela e de mais ninguém.

O passado, ela disse a ele a cada toque, não tinha mais direito sobre nenhum deles.

Quebrando o beijo quando ele teria a aproximado mais perto, ela disse, — Não me tente — e empurrou-o para uma cadeira que ela devia ter trazido de dentro da casa. — Estive trabalhando em algo que eu quero que você veja. Ainda temos tempo, não é?

— Meia hora — ele disse. — Mas primeiro — ele levantou o braço, o curativo fora, a pele sem mais marcas vermelhas graças a dois minutos com um M-Psy — Eu fiz isso algumas horas atrás. — A mesma M tinha retirado a queimadura original com uma habilidade que tinha deixado Kaleb com apenas uma leve cicatriz, agora obscurecida por tinta preta. Quanto a médica, já que ela tinha mantido silêncio em todo os anos de seu emprego, ele não teve dúvidas de que ela faria o mesmo agora.

Sahara traçou a tinta com um dedo trêmulo antes de se curvar para pressionar os lábios na tatuagem, o toque suave, os olhos escuros com emoção. — Eu marquei você.

— Você fez isso há muito tempo atrás.

— Eu fiz, não foi? — Uma lágrima que ele beijou para fora do rosto dela, uma das mãos dele curvando-se ao redor da garganta dela.

— Eu disse a você — ela sussurrou contra os lábios dele, — eu era muito inteligente aos dezesseis anos. Agora sente-se.

Quando ele o fez, Sahara recuou, estendeu os braços... e, em seguida, ela estava dançando, os membros fluindo com uma graça e uma beleza que fazia parecer que ela tinha asas. Ele não conseguia respirar, não tinha certeza de que seu coração batia até que ela parou e desceu de joelhos na frente da cadeira, as mãos sobre as coxas dele.

— Isso é tudo o que tenho até agora. — Foi uma confissão risonha. — Eu sei que estou enferrujada.

O peito doendo, ele disse, — Você estava linda. — Forte e completa e luminosa em repúdio a tudo o que os monstros tinham tentado fazer para ambos. — Mais uma vez. Por favor.

A névoa girava em torno dela em serpentinas frágeis conforme ela concedia o pedido dele, o corpo dela aparentando leveza. Quando ele deu a ela um colchão de ar, como ele tinha feito quando ela tinha sido uma menina, os olhos dela brilharam e ela voou mais alto, o cabelo como a chuva da meia-noite nas costas, a Sahara dele, por quem ele teria queimado uma civilização inteira... exceto que ela tinha pedido a ele para salvar tal civilização.

— Kaleb! — Peito arfante, ela estendeu as mãos, a voz persuadindo. — Uma dança.

— Eu não posso dançar — ele disse, mesmo enquanto se levantava para andar até ela.

— Eu vou te ensinar. — Pegando uma das mãos dele, ela colocou-a no quadril dela. — E... — uma esbelta mão no ombro dele, os dedos da outra entrelaçada com os dele — Eu não vou nem mesmo tentar obter respostas para problemas de matemática.

Beijando o sorriso dela até que estava no sangue dele, ele processou as instruções telepáticas com o cérebro de uma Tc para quem o movimento era como respirar e deu os primeiros passos. Saara engasgou em delírio, e então ela era relâmpago líquido nos braços dele, seus corpos formando uma única unidade conforme se moviam através da grama.

No horizonte, os primeiros raios de um amanhecer deslumbrante salpicavam o céu com cor.

 

                                                             Amanhecer

 

QUANDO ALVORECEU um novo dia, o ex-Conselheiro Kaleb Krychek, a mente ligada a uma misteriosa mulher identificada como Sahara Kyriakus, disse à PsyNet que o Silêncio já não era mais o protocolo de orientação da raça deles.

Os Arrows, os guardiões do Silêncio por mais de um século, estavam com ele.

Os remanescentes desgatados da Pure Psy, espalhados por todo o planeta, prometeram lutar contra a queda até a morte, a destruir o mundo e semear um melhor.

Centenas de milhares de Psy fraturados caíram de joelhos, seus corações quebrando ante a liberdade de ser o que sempre foram destinados a ser. Outros se amontoaram em confusão, à espera de alguém que lhes dissesse o que fazer. E os mais fracos, eles lutaram para não quebrar sob uma onda de mudança que ameaçava afogar.

Haverá aqueles que procurarão explorar este momento de mudança, dizia o decreto que brilhava com uma única estrela de platina no topo, suportada por dois emblemas menores representando Nikita Duncan e Anthony Kyriakus, e sublinhado por uma seta preta, mas vamos responder com força letal contra qualquer pessoa, independentemente de status, posição, ou habilidade, que tente assumir o controle de qualquer parte da Net.

Nosso povo sobreviveu a uma guerra civil. Uma segunda não será permitida.

A declaração de autoridade, de controle, era um farol não só para os fracos e os confusos, mas para aqueles que esperavam por um futuro melhor. Dava a eles uma estrutura para se agarrar, a violência do poder de Kaleb Krychek, paradoxalmente, uma força estabilizante. Ninguém,sussurraram homens e mulheres de uma extremidade do mundo à outra, ousaria levantar-se contra ele.

Para outro povo, tal conhecimento poderia tê-los feito temer por sua liberdade, mas como aves que tiveram suas asas cortadas para não poderem voar, não importando quão grande fosse o céu, às pessoas presas em cativeiro por mais de cem anos não poderia ser dada total liberdade sem um custo fatal. Estrutura, poder, disciplina, isso era o que eles precisavam, a mão de aço de Kaleb a única coisa que parou uma onda mortal de choque de acabar com a vida de milhões.

A transição não será fácil, encerrava o decreto, e não será sem custo. Mas não somos covardes para nos escondermos dos poderes que nos definem. Somos Psy e somos capazes de grandeza.

É hora de sair do escuro.

 

 

[1] Um monstro mitológico que quando lhe cortavam uma cabeça nasciam duas no seu lugar

[2] Camada branca do olho

 

 

                                                                  Nalini Singh

 

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