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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CORAÇÃO DE UM HIGHLANDER / Emilia Ferguson
CORAÇÃO DE UM HIGHLANDER / Emilia Ferguson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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As lembranças do passado podem ser deixadas de lado por amor?
Um Highlander atormentado...
Com o dever de se vingar, Broderick MacConnaway, filho do Laird de Dunkeld, vive perseguido pela lembrança de Aisling, a esposa que perdera. Fazer uma aliança com a família Lochlann apresenta suas próprias provações, mas se o casamento permitir que ele cumpra sua vingança, então, que assim seja. Mesmo que a culpa pela perda de Aisling o impeça de amar novamente...
O clã Lochlann ...
Com um tio que procura casá-la de forma vantajosa, Amabel du Mas, sobrinha mais velha de Brien, Laird de Lochlann, fica condoída com a situação de Broderick MacConnaway. Ela acreditava que nunca conheceria um homem para o qual olharia duas vezes e muito menos que se casaria. Amabel, no entanto, sabe que haverá um fantasma entre eles. Um fantasma que, talvez, ela nunca consiga ver descansar...
A vingança é um caminho estranho...
Mas quando as intenções sinistras de seu tio aparecem e Amabel é capturada antes que tenha a chance de revelá-las, Broderick é forçado a esquecer os enganos e começar outra campanha de vingança. Com os conflitos entre clãs poderosos aumentando e os planos bem definidos se desenrolando em uma violência sem sentido, Broderick não tem escolha senão trabalhar em conjunto com sua nova esposa para levar os assassinos de Aisling à justiça.
Mas eles conseguirão encontrar o amor?
Broderick encontrará um caminho além das memórias que o atormentam? Ou ele falhará e se arriscará a perder outra esposa?

 

 

 

 

A noite escura, pintada de tinta negra, se iluminou com uma luz flamejante. Broderick MacConnaway abriu os olhos pesados e tentou se lembrar onde estava. A luz do fogo crepitante ondulava os músculos de seu peito, enquanto ele passava uma mão cansada pelo rosto. O que o acordou?

Então ouviu os gritos.

? Senhor! O grande salão está em chamas!

Um guarda irrompeu em seu quarto pessoal, com os olhos arregalados. Broderick olhou para ele um instante, sem entender, depois saltou da cama.

? O quê?

Aisling, a esposa de Broderick, sentou-se puxando as cobertas até ela. Broderick acariciou sua mão. Ele olhou para seus olhos verdes lindos e aterrorizados. Tentou tranquilizá-la, mesmo enquanto seu próprio coração batia.

? Fique calma, querida. Eu irei ver o que acontece.

Ela sorriu brandamente.

? Obrigada, querido. Vá em segurança.

? Eu irei.

Broderick beijou sua esposa em seus lábios macios e rosados, saiu pela porta do castelo e entrou no pátio, chamando seus homens aos gritos. Ele caminhou encontrando um cenário pesado de fumaça, sangue e ardência.

? Meu senhor? ? Um homem de armas1 correu para ele através da fumaça. Quando se deu conta de que não era Adair, o MacConnaway, Laird de Dunkeld, mas seu filho mais velho, ele fez uma pausa. ? Broderick?

? Sim.

? Ajude-nos, meu senhor! Precisamos salvar as pessoas.

? Nós conseguiremos salvar a fortaleza?

? É tarde demais. O inimigo está em toda parte.

Broderick não queria acreditar nisso. Ele observou o pátio, mas não conseguiu ver nada através da fumaça tingida de negro.

A fumaça estava em toda parte. Atingiu seus olhos, assim como o som das chamas comendo a palha atingia suas orelhas. Como os focos de incêndio foram acesos, tão rapidamente, e sem aviso prévio, ele não fazia ideia. Agora, o barulho era alto o suficiente para dominar o restante dos sons. O lugar era um mar de sons de espadas, de escudos, lamentos e gritos de batalha.

Gritos de batalha. O pior ruído. Não por causa do som, pois Broderick era um guerreiro experiente, aos trinta anos, que entendia e ignorava suas intimidações e ameaças. Era o volume, como se não tivessem fim.

Tantos guerreiros.

Eles encheram o pátio, escalando a muralha e além da cidade. Homens vestidos de kilts, ombros largos e portadores da morte. Palavras gritadas, espadas balançando e cortando, incendiando os edifícios. Enquanto observava, ele viu um homem envolto em um tecido xadrez quebrando a porta de um dos quartos. Ele conhecia as cores daquele kilt. O tartan Bradley.

O homem encontrou os quartos dos servos. Broderick ouviu exclamações, gritos... e, então, outros gritos começaram.

Um segundo depois, ao correr em direção ao castelo para evitar aquilo, Broderick viu seu pior pesadelo tomar forma. Aisling, sua esposa, havia chegado.

Seus cabelos, brilhantes por causa da luz flamejante, caíam sobre suas costas enquanto ela corria. Suas costas estavam direitas, pele dourada à luz das labaredas de fogo. Ele então gritou. Gritou para que ela parasse. Para que voltasse. Para que corresse.

Ela também ouviu os gritos e veio salvar as criadas. O mundo inteiro estava em câmera lenta. Broderick a viu correr até o homem que abrira a porta. Ele a ouviu gritar de terror e então, dar seu grito de guerra. Ela apunhalou o atacante mais próximo, enquanto gritava.

Então ele viu o homem com o machado. Ela não o havia visto. De pé nas sombras atrás dela, ele levantou o machado.

? Aisling! ? Ele gritou.

Ela caiu.

O cabelo brilhante caiu na escuridão, coberto de fuligem. Broderick estava imobilizado pelo horror. Ele não conseguia gritar. Não conseguia se mover.

O homem com o machado limpou a lâmina do sangue fresco e correu de volta à porta quebrada. A porta que Aisling morreu para proteger. O homem com machado entrou, tentou saquear e os gritos continuaram. Gritos, sangue, fogo e morte ? Mais morte.

Todas as noites, nos sonhos de Broderick, a mesma cena se desenrolava. De novo e de novo. E cada vez, ela caía. Ao cair, ela matou o coração de Broderick. Toda noite, ele lembrava. Ele também se lembrava de quem era o responsável. O Tartan Bradley.

A família de Broderick reconstruiu quase tudo o que perderam, exceto os soldados. Eles simplesmente não tiveram a força para enfrentar seus inimigos. Não quando eles eram apoiados por aliados poderosos, os MacAdams. Para se vingar, Broderick encontraria um exército.

E a maneira mais fácil de fazer isso seria se casando. Os casamentos significavam alianças e alianças traziam a força.

Sentado em seu quarto, a luz do fogo iluminando as peles na cama com um tom laranja suave, Broderick sabia que nunca mais amaria. Seu coração morreu com Aisling. Não poderia amar sua nova noiva, quem quer que fosse. Amanhã, ele descobriria quem era ela.

Ele havia agendado uma reunião com o Laird de Cawley, o homem mais poderoso da região, que possuia três parentes casadoiras: Amabel, Alina e Chrissie. Se o conde concordasse em aceitar sua oferta, ele teria acesso a toda a força dos homens do Castelo de Lochlann.

Ele viajaria para lá, amanhã.


Capítulo Um

Vestido Para Jantar


? Eu vejo outro pretendente?

Amabel du Mas, revirou os olhos. Ela ouviu a irmã mais nova rir atrás dela e lançou para Alina um olhar inquisitivo.

? O quê? ? Disse Alina brincando. ? Vai ter que ser uma de nós. E, francamente, eu prefiro você do que eu. ? Ela sorriu e ajustou a tiara de prata que segurava seu cabelo escuro longe de sua testa.

Amabel jogou um rolo de fita na irmã, mas não acertou. Ambas riram, no entanto, para Amabel, pelo menos, a alegria desapareceu rapidamente.

As duas meninas estavam na câmara de Amabel no topo do castelo de Lochlann. Elas estavam vestidas para o jantar onde foram informadas naquela manhã, que encontrariam outro pretendente. O quarto em duas semanas.

Amabel o odiava. Ambas odiavam. Mas não havia escapatória. Seu tio Brien, conde de Cawley, dissera que seria assim, e não havia nada que pudessem fazer ou dizer. Amabel olhou pela janela que sobressaia sobre o pátio do castelo. Ela conseguia ver os azulejos e telhados de palha da cidade de Lochlann, que se estendiam além dos poderosos muros do castelo. Sobre a cidade, o céu era cinza e ela desejava, não pela primeira vez, que pudesse descer e voar como os pardais e as andorinhas, escapando daquele lugar para sempre. Ela suspirou.

? Obrigada, irmã, por sua observação. ? Ela se virou para Alina com um sorriso frágil. ? Eu não esperava nenhuma palavra de entusiasmo para a tarefa. Quem quer ser noiva do mais recente ambicioso caçador de fortunas?

Alina parecia triste. ? Exatamente. Você vale mais do que isso, irmã.

Amabel sentiu a garganta estremecer. As palavras de sua irmã fizeram sua dor mais profunda. Mas ela não se deixaria chorar. Agora não. Ela era a senhora do Castelo de Lochlann desde a morte de sua mãe, e ela seria impassível e digna. Inspecionou as unhas, distraída, observando o anel de ouro fundido, com a andorinha de Lochlann. Ele fora de sua mãe, e agora ela sempre o usava. Parecia um emblema estranho, um pássaro delicado, para o poderoso clã de sua mãe. Mas, ela sempre considerou as andorinhas mágicas, então parecia apropriado.

? Bem, eu me oferecerei em seu lugar, ? Chrissie respondeu lá do canto do quarto. Ela acariciou seus cachos brilhantes e emaranhados à volta do rosto, com uma leve carranca. ? Mas eu sou apenas a mais jovem de todas nós, primas, então eu acho que ele não me aceitaria.

Amabel sorriu. ? Agradeço o fato de alguém querer. Mas sou a mais velha, e devo ser eu.

Chrissie, com treze anos, era muito bonita, com um rosto em formato de coração, boca rosada e cachos loiros, era a filha da tia de Amabel, Frances. Amabel e, em particular, Alina, se sentiram fervorosamente protetoras para com ela, desde que Frances morrera deixando-a órfã. Sob a proteção de Lorde Brien, Laird de Cawley, seu ambicioso tio-avô.

? Não se ofereça para casar muito cedo, ? Amabel aconselhou sua jovem prima. ? Tenho certeza de que sua vez chegará, em breve.

? Realmente? ? A menina olhou para ela com olhos arregalados. Ela parecia entusiasmada com a perspectiva e Amabel estava de acordo com ela.

? Não duvide, ? assegurou Amabel.

Os olhos tranquilos de Alina se encontraram com Amabel e as duas mulheres mais velhas compartilharam um olhar mais sério. Ambas entendiam, mesmo que a prima não entendesse, o motivo da insistência de seu tio para casá-la em breve. Ele era um ambicioso irreparável, e sabia o valor das três primas, para ganhos estratégicos e territoriais. Com um coração de pedra, ele concederia a mão delas a quem fosse um bom aliado. Isso deixava todas as três, mais particularmente Amabel e Alina, as mais velhas das sobrinhas, em perigo.

Poderiam ser forçadas a casar com qualquer um. Absolutamente qualquer um: cruel ou amável, simpático ou indiferente, bondoso ou não, à mercê de seu capricho. Qualquer um que, por sua ambição, lhe desse o maior ganho. Elas já haviam escapado de algumas ocasiões bem próximas e não estavam certas de por quanto tempo sua sorte ainda poderia ajudá-las.

? Até agora você já viu três pretendentes somente neste mês? ? Perguntou Alina. Ela foi se juntar a Amabel na janela.

? Sim, ? disse Amabel com firmeza.

? O Laird de Lennoch? ? Perguntou Alina. ? O que aconteceu com ele? Pensei que o nosso tio havia se decidido por ele?

? Ele estava resolvido, ? concordou Amabel. ? Então, ao que parece, ele mudou de ideia. Se eu puder adivinhar, eu diria que descobriu que o Laird não estava tão bem conectado.

? Ah. ? Alina ergueu uma sobrancelha.

Amabel suspirou. Seu tio-avô se envolvera com o rei Alexandre. Tudo o que ele pudesse fazer para fundamentar sua influência na corte, ele faria. A única filha do seu tio, prima Colla, já estava casada com o duque de Athol. Isso deu a seu tio o suficiente para se manter na corte, mas, evidentemente, não bastava para ele. As irmãs se perguntaram se o tio Brien não almejava a coroa.

? Tio Brien é um homem ambicioso, ? foi tudo o que Amabel disse.

Alina assentiu. Ela comprimiu os lábios para esconder um sorriso. ? Quem é esse agora?

? Ele é... ninguém, ? disse Amabel com força. Ela queria muito chorar.

? Ninguém? ? Perguntou Alina. ? Como ele pode não ser alguém?

? Ele é um líder menor de alguma fortaleza obscura, nas fronteiras orientais da nossa terra, ? disse Amabel finalmente.

Alina olhou para ela.

Amabel revirou os olhos. Como o tio Brien poderia considerar esse ninguém? Até chegou a convidá-lo para jantar? O que existe sobre essa pessoa que o interessou?

? O quê? ? Chrissie perguntou com curiosidade. Ela estava observando-as atentamente, ouvindo, enquanto fingia procurar pela caixa de fitas na penteadeira.

? Bem... se quisermos ficar prontas para a hora do jantar e ao mesmo tempo apresentáveis, ? Alina respondeu rapidamente, ? acho que devo desembaraçar essa nuvem de cachos. Ao toucador com você!

Amabel sorriu agradecida. Sua irmã sabia como ela se sentia e lhe dera algum tempo para pensar. Juntando seus dedos, Amabel atravessou o comprido dormitório e se dirigiu até a janela distante. Olhando para os telhados cinzentos e à chuva, ela contemplou o severo decreto de seu tio.

Como ele pode pensar em me casar com alguém sem nada para recomendá-lo? Por que ele faria tal coisa? Amabel estremeceu com o pensamento de se casar com um camponês grosseiro, alguém que mal conseguia contar e certamente não sabia escrever, alguém com modos assustadores. Alguém que morava em algum corredor com as piores comodidades. Ela não só perderia todas as oportunidades de amar, perderia tudo o que mais lhe importava: refinamento, beleza, coisas boas na vida.

Eu queria que minha mãe ainda estivesse viva. Relatos disseram que ela era uma mulher forte. Ela possuia tudo, mas desafiou Lorde Lochlann quando se casou com seu pai, o enviado francês da corte. Ela estava apaixonada, ou, assim contaram para Amabel. Desejava poder ter o mesmo, com todo seu coração.

?... e quando me casar sei o que eu quero! ? Chrissie estava dizendo com orgulho, como se tivesse adivinhado o assunto dos pensamentos de Amabel. ? Eu quero me casar com alguém como Heath.

Heath Fraser era um parente de MacConnells, um pequeno, mas ambicioso clã. Ele era um ano ou dois mais velho do que Chrissie, e ela estava, claramente, apaixonada por ele.

? Tenho certeza de que a família encorajaria esse casamento, ? disse Alina tranquilizadora.

? Será? ? Chrissie franziu a testa, seu rosto bonito enrugado. ? Você acha?

Amabel viu Alina suspirar. ? Sim querida.

? Mas por quê? Por que eu poderia me casar com Heath, mas você ou Amabel precisam se casar com alguém que o tio diz que devem?

Alina passou o pente através de um nó particularmente obstinado. ? Bem, é assim. Amabel e eu somos mais velhas, então, quando nos casarmos, talvez nosso tio se estabeleça na corte.

? Você acha?

? Sim.

Amabel sorriu ao ver sua irmã tão maternal. Alina assumiu o papel de mãe de Chrissie quando Lady Frances morreu há quatro anos, embora houvesse apenas seis anos de idade entre as duas meninas.

? Como você quer que seja seu marido, Alina? ? Chrissie perguntou.

Alina franziu a testa e aproximou-se para ajustar a tiara de prata que mantinha o cabelo para trás. Amabel sabia que ela estava ganhando tempo para pensar.

? Eu não sei, querida, ? ela disse honestamente. ? Eu não penso muito sobre isso.

Chrissie ficou horrorizada. ? Mas, Alina! Você deve! Porque, acho que é tudo o que penso todos os dias!

Todos riram, e Chrissie ficou rubra.

? Eu acho que gostaria de alguém... incomum, ? disse Alina. ? Alguém que eu conheça e que conheça minha mente. Um homem forte, mas não um tipo sem fúria. Um homem que passe seu tempo pensando, como eu. Quem tenha fortes ideais e um bom coração.

Amabel piscou. Essa era uma resposta sábia. Tal homem se adequaria perfeitamente a Alina.

Chrissie parecia surpresa.

? Mas como você quer que ele se pareça?

Todas riram.

? O que foi? ? Chrissie perguntou impaciente.

Alina revirou os olhos para ela e depois a beijou com carinho na cabeça.

? Você nunca se importa. Eu sim. Você está mentindo, isto é, sobre como ele deve parecer. E quanto a ele ser gentil, sábio e justo de coração, não poderia me importar menos. ? Ela terminou os cabelos de sua prima, habilmente enrolando as tranças com uma fita rosa.

Chrissie parecia bastante confusa. Depois de um momento, ela encolheu os ombros e se virou para Amabel.

? E quanto a você? Como você quer que seu futuro marido seja?

? Bem... ? Amabel decidiu ser o mais abrangente possível. ? Eu quero alguém com um cérebro em sua cabeça e botas em seus pés. Alguém que ande e lute, mas que também possa falar com sensibilidade sobre todos os tipos de coisas. Alguém que possua uma inclinação prática, mas que possa comer à mesa sem derramar metade do conteúdo da tigela. Nem possua cintas e correntes que possam me machucar.

As duas mulheres olharam para ela. Então elas explodiram em risadas.

O olhar desconfiado de suas irmãs pousou no dela ao mesmo tempo.

? Eu não acredito em uma palavra. Tenho certeza de que deseja mais de um marido.

Amabel suspirou. Não houve discussão com Alina. Amabel era realmente muito seletiva e, até agora, nenhum dos pretendentes chegou perto de cumprir suas exigências. Eu duvido que este seja diferente.

Uma hora depois, as três mulheres desceram a escada para jantar. Amabel escolheu um vestido de veludo verde escuro, que caia ao chão, enfatizando seu corpo esbelto e alto. Ela era um contraste ao lado de Alina, que possuia olhos escuros, cabelos escuros e usando um vestido de veludo de um azul tão profundo, que poderia ser preto. Chrissie, vestida de linho branco, com os cachos trançados e enrolados em espirais, nas orelhas, caminhava atrás delas, esticando-se para ver sobre os ombros.

Na porta da sala de jantar, Amabel parou.

No estrado, na mesa de Lorde Lochlann, sentava-se uma pequena delegação. Dois homens de armas, um monge. E um quarto homem. O motivo da pausa foi o quarto homem.

Ele possuia olhos escuros, cabelos cortados e uma barba preta bem cortada. Ele usava um colete preto e uma calça, o colete apertado na altura de seus ombros largos, solto na altura de sua cintura. Ela olhou nos olhos dele e viu o olhar admirado, a surpresa escrita em seu rosto, e algo que pareceu medo, ou força ? ela não estava certa de qual deles. Mas mexeu com seu coração.

Um instante depois, a paz foi destruída quando um homem correu, gritando, para dentro da sala.

? Lorde Lochlann! Socorro! Estamos sendo atacados!


Capítulo Dois

Um Ataque Súbito


? Meus senhores! Minhas senhoras! O castelo está sendo atacado!

Broderick MacConnaway, sentado à mesa, ouviu o grito, lentamente, através da névoa, em seu cérebro. Ele se sacudiu, tentando afastar o olhar da mulher que estava em frente a ele. Desde o momento em que a viu, não conseguiu olhar para nenhum outro lugar.

Sua boca rosada e reluzente, seus olhos cinzentos, seu doce corpo. Ela ficou ali como as imagens mais suaves de seus sonhos e olhou para ele, rosada, lábios aveludados, separados. Desde o momento em que a viu, tudo havia desaparecido.

Não pensei que eu me sentiria assim. O estranho aperto em seu peito, sua boca seca... Todos os pensamentos antes de conhecer sua nova esposa foram sobre dever e vingança, não...o que quer que fosse. Seu tio ainda não os havia apresentado, mas ele a reconheceu de um pequeno retrato que seu parente, o duque de Athol, havia mostrado. Foi ele quem sugeriu o casamento quando Broderick foi até ele pedindo ajuda. Tudo o que podia dizer era que as cores e as linhas, ao capturar a aparência exterior dela, não se aproximavam de mostrar sua verdadeira forma. Ela era extraordinariamente linda, e ele não esperava.

Enquanto ele estava sentado lá, lutando para controlar o fogo que ela acendeu dentro dele, os gritos finalmente foram registrados. ? Meu Senhor! O castelo está sob ataque!

Broderick virou-se para o homem na porta, carregava a umidade da garoa, os olhos arregalados.

Lorde Brien já estava de pé.

? Explique esse distúrbio, ? ele exigiu com os olhos brilhando.

? Senhor, a sentinela! Ele viu invasores.

Lady Amabel. Ela poderia estar em perigo. Sem qualquer aviso prévio, Broderick saiu rapidamente do estrado. Ele foi direto para ela e agarrou seu pulso.

Seus pulsos são tão esbeltos quanto os demais ossos. Ele podia sentir o pulso debaixo da pele pálida e suada. Seus olhos se arregalaram em choque. De perto, eles eram cinza e azul, misturados, os cílios longos, os lábios aveludados atraindo.

? Senhor Broderick?

? Vamos, ? ele disse rapidamente.

Ele a arrastou com ele enquanto correu para uma porta, que havia atrás dela. Ele alcançou e empurrou-a.

Ela olhou para ele, o rosto corado, os lábios se separaram. Ela estava brava. ? O que você acha que está fazendo?

? Salvando sua vida, ? ele disse sombriamente. Ela se virou com raiva, com os cabelos vermelhos girando enquanto fazia isso. Ele manteve o aperto em seu pulso e o suave batimento o alcançou através de seus dedos para mexer algo em seu coração.

? Eu não preciso de você para me salvar, ? ela disse com raiva. ? Não em um castelo cheio de soldados!

Ele suspirou. ? Minha senhora, os soldados podem ser dominados. A melhor esperança é correr, agora. Pegue um cavalo e vá embora.

Ela se virou e olhou para o corredor. Broderick olhou com ela.

Ao redor deles, o salão entrou em erupção, com muito barulho, homens perguntando o que estava acontecendo e as damas estáticas em seus lugares, algumas carregando crianças pequenas. Servos correndo, entrando em pânico, nas portas do pátio. Gritos e murmúrios e sons de pés nas lajes, escorregando nos juncos em sua pressa para escapar pelo corredor.

Broderick inclinou-se para ela no arco. Ele sentiu sua coxa fina contra a dele e ficou tenso, tentando controlar seus pensamentos furiosos. Pare com isso! Você acabou de conhecê-la. Nunca sentiu essa conexão instantânea com ninguém. Ele lutou para se controlar.

Deve ser o cabelo dela. Isso me faz lembrar de Aisling. Aisling morreu e desta vez, ele teria a chance de salvá-la.

? Corra, ? ele sussurrou. ? Minha senhora, por você e por mim. Não fique. Corra.

Ela se virou para a porta.

? Corra!

Enquanto ela corria, ele ouviu seu tio gritar.

? Exijo uma explicação. Qual o significado disso?

Amabel parou de correr. Todo mundo no corredor congelou onde estava, esperando para ouvir o que ele tinha a dizer. Broderick queria gritar. Ela quase conseguiu fugir! Uma praga para seu tio.

Amabel hesitou lá onde ela estava no corredor, com os cabelos de ouro vermelho balançando quando ela se virou, como uma asa de cetim. Mesmo que ele quisesse pegar sua mão e puxá-la através da porta, sentiu-se enraizado no local. Ele não precisaria procurar noutro lugar.

Ela era bonita. Pega nesse momento de hesitação, cabelo solto, corpo fino emoldurado na nuvem vermelha. Ela era tão bonita. Seu rosto finamente esculpido, seus olhos cinza-azulados, sua pele pálida, o atingiu no instante em que a viu. Sem mencionar o seu corpo! Ele estava sozinho há cinco anos e a visão de sua forma esbelta incendiava seus pensamentos.

? Corra, ? ele sussurrou, lutando contra seu próprio desejo. Agora, enquanto ainda há tempo! Ela deu dois passos e depois parou mais uma vez. Seu tio havia gritado outra vez.

? Broderick MacConnaway! Por que você fugiu com minha sobrinha mais velha?

Broderick a olhou fixamente. Estava tão atento em sua futura noiva que não percebeu que os convidados e os servos agora estavam, lentamente, retornando à mesa. Ela sentiu suas bochechas queimando.

Ele mordeu o lábio, sentindo-se envergonhado. O que eu fiz?

Amabel voltou para o corredor. Seu rosto estava neutro, mas aqueles olhos cinzas azulados o fulminaram. Curiosamente, ela dirigiu toda a culpa para ele.

Seu tio riu. ? Você colocou suas mãos ásperas na minha sobrinha sem permissão. E então você correu no corredor com ela, como se planejasse levá-la para fora? Este é o tipo de negócios que podemos esperar com o clã MacConnaway?

Broderick ofegou. De todas as coisas que poderiam ter acontecido, esta foi a pior. Ele podia ver como o homem podia interpretar suas ações daquele modo. Mas essa realmente não era sua intenção!

? Lorde Lochlann, ? ele começou escolhendo suas palavras cuidadosamente. ? Meu senhor, eu posso explicar. ? Ele olhou ao redor do corredor. ? Mas não devemos primeiro sair do salão? ? Ele ficou desconcertado. ? Esquecemos a ameaça de ataque?

Seu tio sorriu finalmente. ? Foi um alarme falso, meu senhor. Questionei a sentinela mais de perto enquanto vocês fugiam. Os guardas estão excessivamente excitados após invasões no posto fronteiriço. O homem enfrentará a consequência da minha ira por ter perturbado a nossa refeição. Como você, sem dúvida.

Broderick o encarou. Isso era demais. Ele se sentiu abalado. Foi lhe dada uma repreensão como uma criança receberia. E ainda assim, ele não poderia insultar o tio de Amabel! Sua futura noiva já estava olhando perigosamente para ele, com uma mistura de choque e desgosto em seu rosto, e todo o salão estava olhando para ambos.

? Meu senhor. ? Sua voz estava rouca de emoção e ele estremeceu, limpando a garganta. ? Eu não posso oferecer nenhuma explicação para corresponder às acusações que foram lançadas sobre mim. Mas permita-me dizer apenas isso. Eu não estava com a intenção de levar sua sobrinha.

Alguém pigarreou. Os olhos de Amabel brilharam. Broderick viu lágrimas irritadas em seus olhos. Ela estava, claramente, envergonhada. Ele queria estender a mão para consolá-la, mas ela se afastou dele. Ela olhou para o teto, seu corpo rígido. Ele se afastou dela e procurou o grupo que estava rindo e olhou para baixo. Lentamente, eles pararam.

Bom.

Ele se sentiu, completamente, humilhado e ficou feliz em ver, apesar do horror do que acabara de acontecer, que ainda era Broderick MacConnaway. Ainda recebia um pouco de respeito.

? Bem, isso é o que parecia, ? disse o tio de Amabel, grosseiramente. Todos no salão riram.

Amabel olhou para baixo. Uma lágrima conseguiu escorrer por sua bochecha, então, ela levantou uma mão para secá-la. Vendo ela chorar afrouxou os últimos resquícios da raiva de Broderick.

? Meu senhor, ? ele implorou. ? Eu reconheço que agi errado neste assunto. Mas vamos acabar com isso, agora.

? Como você se propõe a fazer isso?

Broderick desejava que o chão se abrisse e o engolisse, mas ele manteve a compostura. ? Eu farei o que me cabe por minhas ações. Mas agora devemos nos acomodar para comer, ou acabar com esse jantar. Estou certo de que todos nós veremos como bem-vindo um momento para nos acalmarmos.

O velho Laird piscou para ele. ? Eu colocarei a decisão para o salão. Devemos deixar um tempo para nos acalmar, como o senhor exige, ou devemos ficar e comer?

Quando o salão explodiu em risadas felizes e gritou: ? Jantar! ? Broderick fechou os olhos. Ele tentara.

Ao lado dele ouviu Amabel suspirar. Evidentemente, ele falhou. Esperava recuperar a situação, reduzir sua vergonha. Mas, de alguma forma piorou a situação. Silenciosa e régia, ela se virou e caminhou pelo salão, deixando os gritos e as risadas atrás dela.

Broderick sentiu-se absolutamente miserável. Ele a humilhou e claramente, ela o responsabilizou.

Mesmo que seu tio ainda concordasse com o casamento, tenho certeza de que minha noiva me odeia.

Ainda desejando que o chão do salão se abrisse e o mandasse cair na escuridão abaixo, Broderick atravessou os juncos e tomou seu lugar na mesa. Ficou, infelizmente, justamente em frente da cadeira alta do Laird de Lochlann. Ele resistiu ao desejo de olhar para ele, sabendo que, se o fizesse, seria também olhado enquanto ele murmurava algo para o servo que serviu ensopado de veado. O homem encheu o prato dele antes de Broderick, que sentiu água na boca. Estava com fome depois de um dia de cavalgada, mas quase não conseguiria se alimentar agora. Sua garganta estava seca de tristeza.

Você quer que ela goste de você, não é?

Ele suspirou. Era um idiota. Um vergonhoso idiota. Não estava aqui por amor, mas sim por vingança. Isso era tudo o que importava. Aisling possuía seu coração. Ela sempre o possuíra, e o levou com ela para a terra. Ele não poderia amar novamente. Ele não iria. Tudo o que queria era vingança.

Mas ela, com aquele olhar, me lembra de Aisling.

Ele deixou que a raiva na morte de Aisling o preenchesse lentamente. Ouviu uma tosse e olhou para cima. Seus olhos encontraram os olhos da dama em frente a ele. Imaginou que era a irmã de Lady Amabel. Elas eram bastante parecidas, embora houvessem diferenças sutis.

? Você está muito... quieto, meu senhor.

Os lábios escuros de damasco da mulher se comprimiram em uma linha fina. Seus olhos o desafiaram, como se dissesse: ? Você não possui boas maneiras? ? Ela ficou profundamente insatisfeita.

Broderick corou. Ele percebeu que estava sentado em silêncio total, enquanto todo o salão falava.

Ela apenas segurou seu olhar um segundo, antes de se virar. Dirigiu-se ao homem à esquerda e pareceu que decidira ignorar Broderick completamente.

Agora eu fiz sua irmã me odiar também. Não consigo fazer nada certo? Eu terei sorte se Lady Amabel não recusar minha mão depois de tudo isso.

Ele decidiu pegar a dica de Alina e olhou, procurando alguém com quem pudesse conversar, mas todos os convidados perto dele conversavam com outra pessoa. Sentiu-se fora de lugar com aquelas companhias, com seu discurso diferente e suas maneiras mais difíceis. Ele procurou por alguém que não se importasse tanto.

Não havia mais ninguém com quem conversar. Alina estava falando com o homem que se sentava ao lado dela, e a moça muito doce ao lado dela, estava conversando alegremente com um jovem de rosto fino, na mesa. O assento ao lado de Broderick estava vazio, e o senhor à sua direita contava histórias para um companheiro. Ninguém parecia estar interessado nele.

Eu realmente sou um tolo completo.

Ele olhou a mesa. Lorde Brien estava olhando para ele. O homem mais velho estava com uma expressão estranha no rosto. Curiosamente, estava avaliando, não depreciando, o que deu a Broderick alguma esperança. Havia um sorriso à espreita, embora o porque, Broderick não conseguia adivinhar.

Se houver apenas uma pessoa nesta mesa que não me despreze, eu não esperaria que fosse ele.

Tão abruptamente quanto o olhou, Lorde Lochlann quebrou a conexão, virando-se para falar com alguém à sua direita.

Broderick balançou a cabeça, sentindo a esperança crescer dentro dele pela primeira vez naquela noite.

Uma coisa boa sobre ser ignorado era que estava livre para imaginar Lady Amabel. Ele a imaginou com seus longos cabelos soltos em cascata por seus ombros, sua pele pálida estava exposta. Ele estremeceu quando seu corpo respondeu. Ficou chocado, corado e envergonhado com ele mesmo.

Você não pode pensar assim sobre ela. Ela é uma dama, e vai se casar para fazer alianças. Isso não era tudo. Você ama Aisling. Você nunca mais amará ninguém.

Antes que apagasse o tópico de seus pensamentos, ele se lembrou de como os olhos cinza azulados de Amabel suavizaram naquele momento na entrada, quando ela tentou correr.

Talvez ela realmente não me odeie apesar de tudo?

Ele esperava que tivesse a oportunidade de descobrir.

? Meu Lorde?

Broderick saltou. O laird estava olhando para ele.

? Sim, meu senhor?

? Depois do jantar, me encontre no salão. Tenho algo que desejo transmitir.

Broderick passou o resto do jantar tenso e nervoso. Ele não conseguia participar e comer o peixe, a carne de carneiro, presunto, um guisado de cogumelos selvagens ? infinitas travessas que pareciam fluir das cozinhas como uma maré incontrolável. Tudo pesou como chumbo em sua barriga e não queria ver o que aconteceria depois. Quando enfrentasse Lorde Lochlann sozinho.

Ele provavelmente vai me mandar embora como o mendigo vergonhoso que deve pensar que eu sou.

Quando o jantar terminou, Broderick ainda não fazia ideia do que Lorde Lochlann planejava.

Com o coração batendo no peito, ele atravessou os corredores escuros, tentando adivinhar onde o salão poderia estar. Depois de perguntar as instruções para um guarda, ele finalmente chegou ao lugar.

Estava escuro. Entrou pelo arco da porta, esperando que Lorde Lochlann ainda não tivesse chegado.

? Meu Senhor?

? Sim? ? Uma voz áspera falou atrás de seu ombro esquerdo

Ele se virou para encontrar o velho, no escuro, à sua esquerda. O velho sorriu.

Broderick deixou sua mão cair a seu lado, onde alcançou sua espada por instinto. Ele não a estava usando, é claro ? eles haviam se desarmado à entrada do salão de festa por cortesia.

O laird riu suavemente.

? Eu chamei você aqui para negócios, MacConnaway. ? Ele fez uma pausa. ? E estou surpreso ao vê-lo nervoso. Eu sou seriamente uma ameaça para você?

? Não, meu Lorde!

O velho sorriu finamente. ? Bom. Porque eu não me alio com pessoas que me temem.

Broderick piscou. ? Meu Lorde?

Ele olhou para Lorde Lochlann. O velho sorriu para ele, um sorriso sincero, com os olhos que acenderam calorosamente.

? Você não precisa entender isso. Está surpreso? Não sei se isso é bom ou ruim. Em qualquer caso, não guardei as minhas primeiras impressões. Eu decidi aceitar você como um aliado. Bem-vindo à minha família.


Capítulo Três

Notícias Surpreendentes


Amabel deitara o rosto em sua cama, as lindas cobertas de linho ficaram debaixo dela. Estivera chorando. Ainda vestida com a camisola, o cabelo solto sobre os ombros, acordou com o mesmo horror que sentira na noite anterior.

É realmente verdade. Não é um sonho ruim. Ela deitou onde estava e chorou. Naquele momento ouviu uma batida à porta.

? Amabel?

Amabel gemeu: ela não queria ver ninguém. Chrissie, toda inocência e brincadeira, era absolutamente a última pessoa que queria ver. Seu tio, há algumas horas atrás lhe deu a notícia mais perturbadora que recebera desde que lhe disseram que sua mãe estava morta.

Ele quer que eu me case com aquele homem.

Ela soluçou. Como ele poderia pedir a ela para fazer isso? Um desocupado, alguém que era pouco culto. Alguém que a humilhou! Como ele podia? Ela soluçou e colocou uma almofada debaixo da cabeça, dando-lhe uma batida feroz. Ela desejava que a almofada fosse tio Brien. Era o mínimo que ela gostaria de fazer com ele, para fazê-lo sentir a profundidade de sua dor.

? Amabel? Você está aí?

Ela ainda não foi embora. Ela prendeu a respiração. Vá embora. Me deixe em paz.

? Amabel? ? A voz da prima soou no silêncio sepucral. Amabel ouviu seus passos se afastarem lentamente pelo corredor de pedra. Suspirou e rolou, olhando o teto.

Ela pensou que nunca mais choraria, nem falaria. Quando seu tio lhe contou sua decisão, depois do jantar, ela não reagiu nada. Simplesmente olhou para ele. Então inclinou a cabeça em concordância.

O que mais eu poderia fazer?

? Você parece miserável, moça, ? disse seu tio, surpreso.

Ela deu uma risada amarga. Seu tio esperava que ela ficasse satisfeita com seu acordo? Ela odiava a ideia.

O homem é um pouco melhor do que um camponês! Ela queria gritar. Ele agiu sem pensar. Ele assumira algum direito sobre ela, como se fosse seu dono, e ele colocou as mãos sobre ela. Seu pulso ainda carregava as marcas de seus dedos, seu aperto segurando-a forte. Ela olhou para eles, agora uma linha de pequenas contusões. Ele mal conseguia falar e parecia fora de lugar mesmo em um encontro tão básico.

Aquele homem, exótico e grosseiro, deveria ser o marido dela?

Ela então reencontrou sua voz e se virou para seu tio.

? Posso saber a data desta cerimônia? Eu acho que preciso fazer retoques finais no vestido e me arrumar para a viagem.

? Isso é difícil de determinar, Lady Amabel, ? disse ele.

? Como assim?

Ele sorriu então. ? Porque Lorde Broderick precisa se preparar. Para preparar suas tropas e ele próprio, para uma invasão contra os Bradleys.

O quê? Seu tio-avô o enviou para uma incursão? Contra seus inimigos? Já?

Ela não sabia o que dizer, então não dissera nada.

Tio Brien riu. Tomou seu choque, por preocupação, o que era a última coisa que gostaria de dizer.

? Não se preocupe, garota, ? ele disse com condescendência, ? ele vai voltar inteiro e bem.

Ela nunca quis dar um tapa em seu tio, mais do que queria naquele momento. Ela apertou suas mãos em seu quadril, e saiu, para que não fizesse algo que viveria para se arrepender.

A risada zombeteira de seu tio a seguiu.

Assim que estava no corredor, fora de sua vista, ela fugiu para o quarto.

A raiva não havia morrido. Tudo o que ela podia pensar era no quanto odiava seu tio. E Broderick MacConnaway. Ambos.

? Minha senhora?

Amabel fechou os olhos. Sua donzela, Blaine. Por que ela iria me incomodar agora, sem meu chamado por ela? E por que ninguém me deixa? Alina, pelo menos, a conhecia bem para dar-lhe paz.

? Sim? ? Ela suspirou.

A donzela bateu novamente. ? Posso entrar?

? Claro. ? A voz de Amabel era frágil. Ela virou-se para encarar a mulher mais nova quando ela entrou hesitante pela porta.

? Imploro seu perdão, milady. Mas seu tio. Ele está desejando sua presença lá embaixo.

Amabel olhou para ela.

? O que ele quer?

A donzela parecia assustada. ? Eu não sei, milady. Eu só sei que ele disse para você usar algo bonito. O vestido verde, penso eu?

Amabel fechou os olhos. Ela queria controlar sua raiva, mas não estava certa se podia. Lutou pela calma. Não era culpa da criada. Não lançaria sua raiva sobre ela.

? Ele disse que eu deveria ir à sala de entrada?

? Não, milady. Ao salão. Eu não perguntei porquê, como eu disse. Só que ele disse estar lá pelas nove do relógio. E agora falta meia hora para as nove.

Amabel mordeu o lábio.

? Bem, você tem meia hora para me fazer parecer bonita, como você diz. ? Ela se forçou para parecer leve e indiferente, mas, com o olhar no rosto da donzela, conseguiu apenas soar assustadoramente frágil.

? Como quiser, milady, ? a mulher mais nova respondeu. Ela recuperou o vestido, uma túnica e as faixas correspondentes do armário.

Amabel ficou de pé e se deixou vestir.

Ela sentiu-se vazia. Já não me importo com o que acontece. Deixe meu tio fazer o seu pior. Ele não pode me alcançar por trás desse gelo.

Ela se olhou no espelho quando Blaine terminou. Um rosto esbelto e gracioso olhou para ela, um penteado alto esculpido em um rosto pálido, com a boca rígida. Um rosto que parecia quase, exatamente, como o de sua mãe.

A lembrança de Amabel, de sua mãe, era nebulosa: olhos cinzentos, rosto longo e solene. Suas mais recentes lembranças eram todas de uma pintura, em um medalhão, que o pai dela usava sob sua túnica, pintada com tintas preciosas da Itália. Ele havia mostrado para ela, uma noite, em uma de suas raras visitas, quando estava com muito medo de dormir. O rosto que a olhava por trás da superfície prateada do espelho, agora era idêntico ao do medalhão. Mas, diferente pelo fato de que onde os olhos da mãe eram suaves e calmos, os dela eram frios.

Eu não posso me culpar por isso, ela pensou amargamente. Culpo meu tio-avô.

Ela usava seu longo vestido de veludo verde, amarrou sua cintura delgada com um fio prateada. Parecia bonita, distante e régia.

Não muito ruim, ela pensou de forma apreciadora. Uma noiva adequada para o altar da arrogância do tio.

Ele poderia forçá-la a se casar, poderia humilhá-la. Mas ele não poderia ordenar que ela amasse aquele homem.

Somente ela poderia fazer isso.

E seu coração estava contra ele.


Capítulo Quatro

Reunião No Salão


Amabel caminhou, lentamente, subindo as escadas para o salão. Ela podia sentir o frio dos degraus do castelo sob seus pés revestidos com sapatilhas. Ela ignorou isso. Estava flutuando em um mundo próprio, além da sensação da dor. Na entrada do salão fez uma pausa. Ela conseguia ouvir vozes. Uma delas era seu tio-avô.

?... e você estará de frente para o forte da sentinela de Bradley com vinte homens da minha guarda.

? Como você quiser, meu Lorde.

Ela reconheceu a outra voz. Ele. Broderick MacConnaway. Ela ficou tensa.

Mesmo a essa distância, a voz acariciava sua pele como fogo. Ela pensou em ir embora. Como seu tio podia convocá-la, aqui, agora, para falar com o homem! Não pensou que pudesse enfrentá-lo depois do jantar. Ela ficou tão envergonhada. Estava se virando, para se afastar silenciosamente, quando um instinto fez sua aparição. Curiosidade, provavelmente.

Ela permaneceu no corredor fora do salão, ouvindo a conversa atrás da porta meio fechada.

? Bom, ? o tio dela estava dizendo. ? Agora. Eu optei por colocá-los sob as ordens de meu próprio chefe da guarda. Estou certo de que você respeitará seu conhecimento superior sobre nosso terreno.

? Claro.

Amabel ouviu a rigidez da resposta e sentiu uma floração selvagem. Não era ruim ouvir o homem forçado a se humilhar um pouco.

? Agora, quanto à questão do casamento. Isso ocorrerá logo que você retornar. Eu espero que você queira fazê-lo, o mais rápido possível.

? Não, meu senhor, ? a voz era desafiadora.

Não? Amabel piscou. Por que ele diria isso? Ele estava tão relutante quanto ela? Ela ficou tensa, esperando para ouvir o que ele diria.

? Por quê? Minha sobrinha é tão repugnante para você?

Amabel sentiu suas bochechas arderem. Não havia fim para a crueldade de seu tio?

? De modo nenhum. Eu não gostaria de apressar a dama. O casamento deve acontecer quando ela quiser. Não antes.

Amabel ficou maravilhada. Ele realmente se importa? Ele quer que eu escolha quando o casamento acontece? Por quê? Ela sentiu uma batida no braço dela.

? Minha lady?

Amabel se virou e quase derrubou a bandeja da mão de uma criada, de pé, ao lado de seu ombro.

? Oh! ? Ela ofegou. ? Desculpe, Hannah!

A criada parecia tão assustada quanto ela.

? O laird solicitou tortas e cerveja, ? explicou ela sem fôlego. Ela tentou equilibrar a bandeja de prata sobre a qual um jarro e um prato de confeitos estavam.

? Por favor, entre, ? Amabel convidou enquanto se afastava para ela.

Ela esperou até que a donzela tivesse deixado a bandeja de lado, ouvindo a resposta do tio.

?... e eu não me preocuparia com Lady Amabel..., ? o tio estava dizendo.

Amabel entrou.

No instante em que ela apareceu, seu tio parou o que estava dizendo. Ambos se olhavam fixamente, congelando até o local.

Amabel levantou a testa para o tio dela. A boca dele estava aberta e ele a fechou de novo.

? Basta... ? Amabel disse brevemente. ? Eu posso me preocupar por mim mesma. Obrigada, tio, por apontar esse importante fato.

Ela se virou antes que ele pudesse responder e encontrar os olhos de Broderick MacConnaway.

Ele sorriu. Seus olhos castanhos brilharam, e ela conseguiu ver que mordeu suas bochechas, lutando com um sorriso.

? Lady Amabel. ? Ele se curvou para ela.

? Boa tarde. ? Ela soltou sua voz, embora o sorriso a tocasse de maneira que seu coração batesse descompassado. Ela encarou seu tio.

? Você queria me ver, tio? ? Ela falou calmamente.

? Sim. ? Ele se recuperou notavelmente rápido e agora a encarava com seu habitual sorriso suave. ? Eu pensei que você poderia querer se despedir do jovem MacConnaway, antes que ele se arrisque. ? Ele colocou a cabeça de lado. ? O que você diz quanto a isso?

Amabel não sabia o que dizer. Sentindo-se inexplicavelmente encorajada, ela disse o que lhe ocorreu imediatamente.

? Eu digo que estou surpresa. Não tanto com a partida rápida dele, embora isso seja estranho, mas por sua insistência em ter minha despedida. Você parece não ter vontade de se preocupar comigo ou com qualquer outra coisa.

Ela ouviu um som do canto da sala. Em outra situação poderia ter interpretado o estranho barulho como sendo um riso abafado. Mas descartou o pensamento instantaneamente. Ela estava certa de que só imaginara a satisfação de Broderick com seu desafio.

Arriscou um discreto olhar em sua direção.

Ele olhou para ela com uma expressão neutra. Os olhos dele, no entanto, estavam sorrindo. Eles brilharam com uma mistura de admiração e calor. Amabel piscou. Este era o homem que a havia humilhado, que a tratara como propriedade! E, no entanto, ele falou por ela.

Ela suspirou. Ela deveria dizer suas despedidas.

? Meu Lorde, ? ela arriscou timidamente. Atravessou a sala, sentindo a carícia do veludo. Ela o encarou. Sua voz estrangulada, e ela limpou a garganta. ? Meu Lorde. Suponho que devemos nos despedir agora.

Ele ergueu uma sobrancelha. ? Como desejar, minha lady.

Ele deu um passo à frente e estendeu as mãos para ela. Ela hesitou. Não tinha certeza de que queria lhe oferecer sua mão. Não só porque ela não estava certa se estava pronta para perdoar. Ela também não confiava em si para manter a calma se ele colocasse uma mão sobre ela. Não com a forma como seu coração estava batendo.

O que há de errado comigo? Ela balançou a cabeça. Algo em seu olhar a tocava.

Ela olhou para Broderick. Seu olhar de inocência desarmante fez seu coração amolecer. Naquele momento, quando ela estava prestes a responder, alguém gritou atrás deles.

? Meu Lorde?

Todos se voltaram.

O tio de Amabel foi imediatamente para o homem de armas, na entrada.

? Sim, Donald?

? Meu Lorde! O vigia na parede ocidental. Eles desejam sua presença. Algo inconveniente lá fora, senhor. Ele não quer aventurar qualquer hipótese, até o senhor ter visto isso também. Não como Bryce fez ontem... ? Ele parou.

? Basta, ? disse seu tio suavemente. Ele seguiu o homem porta afora, lançando um olhar para MacConnaway e Amabel enquanto ele o fazia, encolhendo os ombros. Ele parecia pensar e decidiu que era seguro deixá-los sozinhos. Então ele saiu.

? Minha lady? ? Broderick disse suavemente. Eles pareciam saber que estavam sozinhos pela primeira vez.

? Meu Lorde? ? Olhou para ele. Ela não percebera o quanto ficava tensa quando ele estava por perto. Agora que seu tio se fora, ela sentiu como se estivesse vendo Lorde Broderick pela primeira vez.

? Lady Amabel, ? disse Broderick.

Agora ele estava rindo. Ele ria, provando que tinha sido aquilo que ela ouvira antes. Doce e calorosa, sua risada encheu a câmara, traçando dedos de fogo por sua pele.

? O quê? ? Ela perguntou com sua voz mais desdenhosa. Ela mordeu o interior de suas bochechas, lutando contra o desejo de sorrir. Não estava pronta para explorar esses novos sentimentos, ainda não estava pronto para perdoar o homem.

? Nada, ? ele suspirou. ? Posso dizer que admiro profundamente você e o que fez agora?

Amabel olhou para ele. ? Você me admira, meu Lorde?

Ele riu. ? Sim, eu admiro, mas porque está surpresa. Você é diferente. Incomum. Eu admiro muito isto.

Amabel olhou para ele sem graça. ? Qualquer qualidade pode ser boa ou ruim. O tempo ruim é diferente, talvez até mesmo incomum. Eu guardo meu julgamento sobre o seu comentário. Isto poderia muito bem ser um insulto e um elogio.

Desta vez, ele gargalhou. Ele tem uma boa risada. Um bom sorriso e uma boa voz. Pode não ser tão culto quanto ela ou sua família, entretanto, ele começou a chamar a atenção dela.

? Lady Amabel. Eu queria me desculpar. E agora estou feliz por ter feito isso. Estou feliz por ver você. Mas em todo caso, devo me desculpar por meu miserável comportamento ontem.

Amabel suspirou. Ela estudou o rosto dele. Ele parecia envergonhado. Ele realmente queria dizer aquilo. Não era somente por sua dignidade, ou que isso significasse facilitar o seu caminho com sua família. Ele era sincero.

? Eu aceito suas desculpas, meu Lorde. ? Ela fez uma pausa. ? Suas ações foram... estranhas. Todavia, por si só, não deveriam ter causado muito problema. Eu posso encontrar no meu coração um lugar para perdoar sua parte naquilo.

Ele soltou um suspiro, trêmulo. ? Obrigado, minha lady. ? Ele ficou profundamente aliviado.

Ela piscou para ele. Ela não pensou que ele se importasse tanto com a opinião dela. ? Agradeço seu arrependimento, meu senhor, ? disse ela. ? Mas acho que ainda considero isso merecido.

Ele inclinou a cabeça para trás, rindo. Seu pescoço era longo e musculoso e Amabel não conseguiu deixar de olhar. Ela se sacudiu. Comporte-se.

? Eu concordo, ? ele disse quando parou de rir. ? Eu sou um pobre patife.

? É bom que você saiba disso. ? Ela deu um sorriso.

Ela se afastou em direção às janelas, perguntando-se se ele a seguiria. As janelas arqueadas do salão eram seu adorno principal, arcos de pedra que se abriam para o lado direito. Elas eram forjadas no mármore, e ela não estava certa de qual dos seus antepassados as havia adicionado ao Castelo de Lochlann. Ela sabia que não fora seu tio-avô que manteve a maioria das coisas na simplicidade espartana.

Inclinou-se no peitoril da janela e ficou surpresa ao ouvir Broderick segui-la. Ele veio e ficou logo atrás dela. Ela sentiu o calor de seu corpo, e sentiu-se tremer um pouco.

? Você está interessado em nossos jardins, meu Lorde? ? Ela se virou para encará-lo, falando maliciosa.

Ele sorriu. ? Este castelo possui muitas perspectivas belas, minha lady. Estou satisfeito por vê-las mais de perto.

Sentiu sua barriga apertar com suas palavras. Suas palavras deveriam provocar. Elas fizeram isso. Ela estremeceu e olhou para ele. Então ela sorriu.

? As perspectivas devem ser estudadas de longe. Não vejo motivo para chegar tão perto.

Ele estava bem na frente dela. Ela quase podia sentir sua respiração em seu rosto.

? Minha visão não é a mesma que era, ? ele disse. ? O que faz com que eu precise abordar todas as coisas de perto.

Amabel expirou. Ela era alta, e ele era um pouco mais alto, de modo que sua cabeça estava apenas a uma mão abaixo da sua. Se ele se inclinasse para frente, seus lábios se tocariam. Seus olhos escuros estavam olhando para ela, brilhantes e divertidos.

Ele se inclinou para frente.

Seus lábios se encontraram.

Amabel fechou os olhos. Foi o toque mais breve, a dureza firme de sua boca apenas roçando o lábio, mas marcou traços ardentes pela garganta e pela barriga dela. Seus lábios sabiam às tortas que Hannah trouxe e ela se inclinou, querendo mais.

Então ela fez um som, profundo na garganta, e ele se inclinou para ela novamente. Ele se moveu sobre os lábios dela mais firmemente, beliscando-os como peixinhos. Ela deixou seus lábios participarem, surpresos e presos.

O som parecia inflamá-lo ainda mais, pois ele estava mais perto e seus braços estavam ao redor dela, agora, envolvendo-a. Ela sentiu seu corpo pressionar contra o dela, e seu coração batia rápido.

Ele gemeu e se virou.

? Perdoe-me, Lady Amabel.

? Meu Lorde? ? Ela olhou para ele confusa. Sua boca estava quente e seus lábios sentiram-se deliciosamente saqueados, machucados pelo beijo. Seu corpo inteiro doía.

? Desculpe-me senhora. ? Ele não estava olhando para ela. Ele parecia angustiado. ? Você deve estar chocada comigo.

Amabel olhou para ele. Como ele poderia pensar isso? Ela estava longe de ficar chocada. Talvez devesse ter chocado ela. De alguma forma, não chocou. Ela caminhou em direção a ele. Surpresa por sua própria ousadia, ela tocou seu ombro. Ele ficou tenso.

? Meu Lorde?

Ele se virou. Seus olhos continham uma mistura de dor e admiração que fez seu coração doer.

? Sim?

? Você não me chocou.

? Minha senhora... ? Ele parou. ? Você deve me perdoar. Meu comportamento foi... estranho. Não posso me perdoar, mas posso tentar explicar.

? Oh! ? Ela olhou para ele, surpresa.

? Você vê... ? Seus dedos se moveram em sua mão, acariciando-a de uma maneira que fez seu corpo se incendiar. ? O problema é que você me... você me lembra a minha esposa.

Amabel olhou fixamente. ? Você é casado? ? Isso não fazia sentido. Ele estava aqui para procurar uma noiva. Enquanto pensava nisso, ela compreendeu. Seu palpite foi confirmado quando ele olhou para cima, com os olhos cheios de dor.

? Eu fui.

? Oh! ? Amabel olhou para o homem perturbado. Seu coração doía por ele, então. Isso explicou o olhar de dor em seus olhos, quando ele olhou para ela, sua estranheza. Seu ar de tristeza que parecia estar ao seu redor, quando ela o viu pela primeira vez. ? Sinto muito. Você a deve ter amado profundamente.

? Eu amei.

? Posso perguntar quando a perdeu?

? Cinco anos atrás. Muito tempo.

? Nunca é muito tempo quando estamos apaixonados. A lembrança daqueles que amamos é sempre recente.

Os olhos dele se arregalaram. ? Minha lady. Isso é sábio.

Ela engoliu em seco. ? É verdade. ? Ela nunca esqueceria as lembranças de sua mãe, de sua tia Frances. Ela havia perdido pessoas e sabia algo sobre o que o coração sentia por elas.

Suas mãos estavam quentes como as dela e seu coração estava muito perigosamente perto de se tornar dele. Naquele momento, ouviu um movimento na porta. Ela se virou, corando.

? Ah. Vejo que vocês dois se despediram, afinal de contas, ? disse seu tio. ? O que é bom, já que Broderick terá que nos deixar nesta mesma tarde, para uma pequena invasão.

O rosto de Amabel ficou vermelho, e Broderick sorriu gentilmente para ela. ? Até mais, minha lady.

Ela limpou a garganta. ? Adeus.

Ela saiu da sala e caminhou até o quarto, deixando-o para trás. Mas não conseguiu parar de pensar nele. Ele amava sua esposa, que havia morrido cinco anos antes. Ele alguma vez amaria novamente? Após a manhã e as surpresas, tudo o que ela poderia pensar para responder a essa pergunta era: talvez.


Ela se dirigiu para os jardins, sentindo-se inquieta. O castelo estava efervescendo de ação. Percorreu o treinamento dos homens para a invasão, na área de prática e sorriu ao ver Blaine, o jovem chefe da guarda, dando a um dos soldados uma experiência sólida. Ela acenou para ele.

? Boa tarde, milady! ? Ele gritou, limpando uma mecha de cabelo de seus olhos.

? Boa tarde! ? Ela gritou, depois passou por ele em direção ao seu lugar favorito.

Perto das cozinhas havia um jardim perfumado onde as plantas culinárias cresciam. A mãe de Amabel, Joanna, em parte o havia planejado, e estava lindamente projetado, canteiros dispostos ordenadamente, delimitados por pedras. Amabel encontrou seu lugar favorito para se sentar, em um banco cercado de lavandas, onde o sol da tarde aquecia as pedras. Debruçando-se no banco, ela se recostou e fechou os olhos. Seus pensamentos eram para Broderick. A perspectiva deste casamento, afinal, não parecia tão horrível.

Por que a Terra veio sobre mim? Ela balançou a cabeça, sorrindo confusa. Sentiu-se profundamente tranquila e ouviu os sons do castelo ao redor dela, enquanto se deixava relaxar pela primeira vez em dias.

? Alina! É a minha vez! ? Chrissie gritou para a irmã em algum lado do pátio.

Alina deu um suspiro em resposta.

? Você não se cansou das brincadeiras?

Chrissie riu. ? Não! Eu nunca me canso de jogos.

Amabel sorriu quando ouviu o “clank” de um anel de metal contra as lajes.

Alguém aplaudiu e Chrissie gritou: ? Bem feito, Heath!

O sorriso de Amabel se aprofundou. O carinho entre Chrissie e Heath se aprofundava todos os dias, e ela estava certa de que assim que chegassem à idade de casar, ele faria uma oferta por sua mão. E, levando em conta seus próprios sentimentos, surpreendentes, em relação a Broderick, estava quase disposta a esperar que seu tio permitisse o enlace.

Parece que o que ele permitiu para mim não é muito horrível, afinal.

A única nuvem no horizonte era a companhia. Sentindo um arrepio repentino, ela olhou para o céu. Eu deveria ir à capela antes do jantar. Não faria mal rezar pelo retorno de Broderick, com segurança.


Capítulo Cinco

Na Campanha


Os terrenos alagadiços em torno de Lochlann eram escassos e estéreis, estendendo-se no horizonte, abaixo de um céu cinzento e chuvoso.

Broderick, montado em seu castanho e firme Clydesdale2 chamado Brendan, correu resolutamente na frente.

? Eu preciso parar de pensar nela.

? Meu Senhor?

Broderick piscou. Ele não havia percebido que falara em voz alta. Não conseguiu tirar seus pensamentos do corpo doce e do rosto encantador de Lady Amabel. Minha futura esposa.

Rompendo deliberadamente sua fixação, ele se virou para encarar o homem que o interrogou tão abruptamente.

? Nada, Blaine. Eu só estava pensando, ? ele murmurou em resposta.

? Isso é bom, senhor. Pensar sempre é bom.

Broderick lançou um olhar direto para o jovem arrogante. Mas não encontrou nada que pudesse realmente repreender, o que era bastante lamentável. Aos dezoito anos, Blaine parecia muito jovem e muito insolente para estar em qualquer posição de liderança. Mas como ele era o líder da guarda doméstica de sua senhoria. Broderick, o recém-chegado, não teve voz para escolher quem andaria com ele e só precisaria aceitar isso.

? Bem, sim, ? ele disse na defensiva. ? Pensar bem. Eu só espero que seja eficiente nesta invasão.

? Deve ser, ? disse o jovem com um gesto expansivo de ombros. ? Isso e todas essas tropas devem fazer a mágica. Glentower não é uma grande fortaleza.

Desta vez, Broderick lançou-lhe um olhar fulminante. O jovem se enrijeceu. Boa.

? Deveria pensar que seria um bom juiz disso, Blaine MacNeil. Eu tenho lutado desde que tinha sua idade.

? Um longo tempo, milorde. ? O jovem sorriu.

Broderick parou e virou-se para encará-lo. Ele o examinou impassivel e, embora se sentou mais ereto, Blaine não mostrou nenhum sinal de arrependimento. Broderick suspirou. Forte cheio de músculos, com uma larga cicatriz no nariz e olhos castanhos, cor de avelã, Blaine era um jovem bonito, de maneira forte e brutal, e Broderick descobriu que não poderia brigar com ele, apesar do insulto aberto. Se sua senhoria era para ser acreditado, aquele jovem empoado compensava com inventividade o que lhe faltava em boas maneiras, e Broderick não queria fazer dele um inimigo.

? Você observa só o que quer, ? ele disse bruscamente, decidindo ser leve. ? Eu posso ter trinta e cinco anos, mas ainda posso correr com você.

? Você diz isso, ? disse Blaine, ? mas devemos tentar. ? Ele sorriu atrevido.

Broderick deu uma risada sem humor. ? O quê? E ter vinte homens que vêm atrás de nós, pensando que nos dirigimos para algum lugar, por algum motivo? Nós somos seus líderes, Blaine MacNeil. Não podemos simplesmente fazer o que quisermos.

Blaine piscou. ? Sim, senhor. ? Ele se encolheu visivelmente, e Broderick instantaneamente se arrependeu por sua rigidez. Lutador audaz ou não, o jovem completara apenas dezoito anos!

? Quando retornarmos, eu disputarei com você, ? ele prometeu.

Blaine sorriu. ? Eu vou me lembrar de sua palavra.

? Faça isso, ? disse Broderick com uma risada. ? Veremos o que uma década de experiência pode fazer.

? Nós iremos.

Broderick olhou para ele de lado, protegendo os olhos da chuva.

? Desculpe, milorde. Não quis enfrentá-lo. Eu nasci com uma boca que me levará para problemas. Meu avô disse isso. ? Mantenha ela calada.

Broderick riu. ? Seu avô deve ter sido um bom homem.

? Ele era, senhor. Ele era. O temperamento terrível que ele tinha ? é por isso que eu aprendi a andar tão rápido.

Ambos riram e, quando o riso morreu, eles seguiram em um silêncio companheiro, juntos. O dia estava ficando mais escuro e a paisagem esfarrapada tornando-se mais sinistra enquanto avançavam. Era difícil sustentar qualquer conversa amigável enquanto atravessavam as gramíneas escuras e pantanosas e se dirigiam para as ameaçadoras colinas à frente.

Seu objetivo era bastante fácil: encontrar Glentower, uma fortaleza fronteiriça do clã Bradley, e destruí-la. Esta seria a primeira tentativa de Broderick contra seus inimigos, e ele ficou tenso e satisfeito. Com vinte homens atrás dele, estava confiante de que poderiam ter sucesso.

A guarda doméstica de Lochlann era de uma força impressionante. Ricos e poderosos, o conde de Cawley manteve uma equipe de trinta homens para seu uso pessoal. Todos os cavalos de corrida eram da raça Cydesdales, com arreios e com alforges, e vinte homens cavalgavam atrás deles.

Pelo menos eu tenho um amigo aqui, Broderick olhou de soslaio para Blaine. Eu me pergunto o que Lorde Lochlann quer alcançar com essa tarefa para ele?

Broderick estava certo de que não era nada de bom.

Superficialmente, era uma tarefa fácil. Ele tinha certeza de que Bradleys não teria mais de dez homens na posição periférica. Sobreviver deve ser simples, especialmente tão bem fornecido com homens de armas.

Se isso for um teste, por que ele está facilitando? O que Lorde Lochlann estava fazendo não fazia sentido. Ou ele estaria usando Broderick para afetar algumas mudanças importantes para ele, não apenas aproveitar um forte de fronteira, ou, ele deveria ter rejeitado completamente sua proposição. Se isso fosse pensado para ser um cortejo, era estranho. Tomar um forte pequeno não era a ação mais impressionante!

E é uma pena que não seja mais impressionante. Ele queria que Amabel pensasse bem dele. O pensamento o surpreendeu, e sentiu uma vergonha repentina.

Pare de pensar com seus culhões, Broderick MacConnaway!

Ele estava ali para se vingar, por Aisling. Não se apaixonar por Amabel. Mas o pensamento daquela pele pálida, daqueles lábios vermelhos volumosos, naqueles seios tão macios, cheios e pontiagudos, faziam com que um órgão de seu corpo doesse com vontade. Ele apertou os dentes.

? Senhor?

? Hmm? ? Ele se virou para responder a Blaine, lutando pela calma.

? Estamos tentando não sermos avistados, sim?

? Sim, Blaine.

? Bem então. É melhor irmos pela floresta. Um vigia nos enxergará lá de cima.

Broderick congelou. Amaldiçoando sua falta de atenção, ele olhou para onde Blaine apontou. O jovem estava correto. No alto do penhasco havia uma pequena fortaleza ? mais um posto de vigia ? e havia um brilho de metal sinalizador lá. Dois vigias. Será que nos viram?

Broderick poderia ter chorado. Esse momento de desatenção poderia lhe custar o ataque! Ele ergueu a mão e os homens atrás dele pararam, imediatamente. Ele se virou para encará-los.

? Entraremos na floresta. Agora. Lentamente. Vejam lá?

Todos os homens seguiram seu gesto em direção ao penhasco e eles grunhiram em assentimento. O posto de vigilância estava a uma centena de metros de distância, não mais. Eles poderiam ser facilmente ouvidos. Broderick estremeceu, gesticulando para ficarem quietos. Eles se viraram sem palavras e cavalgaram em direção às árvores, entrando silenciosamente e fechando à sua direita. A nuvem pesada lhes deu uma vantagem ? homens cinzentos em um dia cinzento, misturavam-se à sombra.

Os homens se dispersaram em direção às árvores. Broderick observou-os. Ele e Blaine ficaram onde estavam, como sentinelas, observando a torre.

? Eles nos viram? ? Ele sussurrou para o companheiro.

? Dúvido, senhor, ? respondeu Blaine. ? Eles estão muito ocupados observando os falcões lá. ? Ele gesticulou, e Broderick viu que ele estava certo. Agradecendo ao paraíso pelo desvio das duas aves de rapina, atacando os camundongos e ratos, ele se afastou.

? Devemos nos manter na floresta. Atravessarmos e seguirmos para o oeste. Então poderemos seguir a estrada.

? Não na estrada. Senhor?

Broderick revirou os olhos. ? Eu não sou um estúpido, jovem. Não. Vamos nos manter ao lado. Nas ravinas. Atacaremos o posto principal pelos fundos. Tudo claro?

? Como água, senhor.

Broderick assentiu com a cabeça e juntos eles atravessaram a floresta, levando os homens. Quando chegaram à estrada, eles finalmente começaram a conversar novamente.

? Senhor?

? Sim, Blaine?

? Se casará com Amabel, senhor?

? Lady Amabel, sim. Por quê?

? Eu vivo no castelo há sete anos. Eu vi as mulheres de Lochlann crescerem. Ela é uma garota bonita. Mas ela não é a mais bela das damas de Lochlann.

? Oh? ? Broderick sorriu.

? Você conheceu Chrissie Connelly?

Broderick franziu a testa. Ele podia lembrar vagamente de uma garota, talvez de treze anos, que estava no jantar naquela noite. ? Ela é loira?

? Sim. ? Blaine sorriu, e o sorriso disse a Broderick mais do que qualquer outra coisa. O jovem a amava. Se era um cuidado fraternal, ou iria, com o tempo, aprofundar o amor à medida que cresciam, ele não tinha certeza.

? Ela é uma irmã de Amabel? ? Ele não conhecia bem a família Lochlann.

? Ela é sua prima. Ela é uma boa dama, é Chrissie. Muito boa para mim.

Broderick ouviu a amargura na voz do jovem. Ele suspirou. Não podia contradizer isso. Apesar de que Blaine MacNeil era um líder na guarda doméstica e claramente muito talentoso, ele era apenas um homem de armas. Não era um senhor ou um Laird, nem mesmo vagamente, bem conectado. Lorde Lochlann nunca permitiria isso.

? Bem, rapaz, você nunca sabe. Se você se tornar um cavaleiro, você poderia casar com ela. Uma reputação devidamente temível e muito ouro? Isso transforma as cabeças.

Blaine riu. ? Eu poderia esperar, senhor.

Broderick assentiu. ? Você poderia, realmente.

Como todos nós, Broderick pensou arduamente. Quanto mais se aproximavam da fortaleza, mais nervoso ele se tornava.

A noite estava caindo agora, e a chuva agitada de mais cedo estava se tornando um constante gotejar. Usavam capacetes e correntes que fizeram com que os homens esconjurassem e amaldiçoassem enquanto andavam. As roupas encharcadas estavam horrivelmente desconfortáveis ? pesadas e irritantes. Broderick, que usava apenas um colete curto sobre uma túnica, sentia piedade dos homens que cavalgavam ao lado dele.

Eles estão nessa incursão por minha causa. Eles arriscam suas vidas, mas no final, eu sou quem se casará com Amabel.

O pensamento o fez sorrir. Ele casaria com a bela dama, casado com ela, a deitaria. Ao pensar em sua noite de núpcias, sua mente vagou. Imaginou-se tirando lentamente, o vestido de veludo de seus ombros, expondo a carne debaixo. Seus seios enchiam suas mãos apertadas e seus mamilos, que ele imaginava pontudos e rosa pálido, preencheriam seus lábios ansiosos.

Ele se sacudiu bruscamente. Pare com isso, Broderick! Você precisa se concentrar.

Ele piscou. Em frente, subindo pela névoa, havia um muro de pedra. Eles estavam na fronteira e seu cavalo tropeçara na pastagem.


Capítulo Seis

Amor De Irmãs


... E então, eu disse a ele, não. Não até eu ter dezesseis anos pelo menos!

Amabel riu e Chrissie riu. Os ombros de Alina tremiam de alegria silenciosa.

? Oh, Chrissie. O que faríamos sem você?

Amabel deu um tapinha no braço da prima e de Alina.

As três ? Alina, Amabel e Chrissie ? se encontraram em seu quarto de dormir. O fogo estava queimando na lareira, brilhando friamente no chão de pedra cinzenta. Ele esquentava a cena da reunião apesar da escuridão da tempestade.

Cada uma delas se sentava em uma cadeira esculpida, junto ao fogo. O chão entre elas estava cheio de um fino linho espalhado, tão suave que poderia ser seda. Estavam terminando o enxoval do casamento. Alina estava com a cabeça baixa, concentrando-se em fazer pontos delicados para uma bainha. Chrissie estava lutando com um fio embaraçado e Amabel estava enfiando a agulha, cuidadosamente.

?... e assim, quando você se casar, você vai se afastar? ? Chrissie perguntou. Seu rosto pequeno e em forma de coração estava tristonho.

Amabel sorriu. ? Não muito longe, querida. Dunkeld não é longe demais. Ela engoliu em seco e desejou que não tivesse que pensar sobre isso.

? É apenas um dia árduo de caminhada, ? respondeu Alina. ? E acho que isso é fácil para uma senhora de Lochlann.

Amabel sorriu. ? Obrigada por me lembrar, irmã. Não é longe.

? Muito. ? Alina alisou as mãos pelo vestido de veludo azul e olhou por cima de seu trabalho. ? E eu tenho certeza de que você conhece as histórias das façanhas de nossa mãe ao caminhar?

Ela disse isso olhando para Chrissie, que, como o membro mais jovem da família, era a única que, talvez, não tivesse ouvido as histórias.

? Não? ? Chrissie perguntou com expectativa.

? Bem, ? Alina começou limpando a garganta, ? Lady Joanna era uma amazona experiente, assim eles contam. Ela correu para o nosso pai uma vez. Ele estava acostumado a caçar na floresta da França, veja você.

Amabel sorriu. Era uma de suas histórias favoritas.

? E o que aconteceu? ? Chrissie perguntou, olhando com interesse.

? Bem, ? continuou Alina, buscando mais fios para a bainha, ? Joanna estava acostumada com nossas florestas. E eles cavalgaram no pátio, indo à floresta onde os veados vão no inverno. Eles estavam caçando pelos campos, seus cavalos levantando pedaços de terra e relva. E mamãe cavalgou para a floresta...

?... e o papai cavalgou para um galho de árvore! ? Alina e Amabel completaram a história juntas.

Chrissie parecia não acreditar nelas, pois a boca dela estava pendurada de uma maneira diferente. Ambas riram. Amabel sentiu os ombros debilitados enquanto ria.

? O que aconteceu?

? Bem, ? Alina ficou séria, embora ainda risse um pouco, ? era bastante grave na verdade. Ele foi jogado para trás ? felizmente, ele era um cavaleiro bom o suficiente para manter seus calcanhares para baixo, então suas botas deslizaram para fora dos estribos e ele caiu. Ele ficou impressionado com o galho ? apenas um pau, na verdade ? e ele ainda tem a cicatriz até hoje.

? Sim, ele tem. ? Amabel assentiu. Ela lembrou. Um homem bonito com os mesmos cabelos escuros de Alina e os mesmos olhos longos e cheios, ele possuia uma cicatriz na sua bochecha, assinatura daquele dia. Deve ter servido para lembrá-lo do perigo de desafiar uma mulher. Especialmente qualquer nascida em Lochlann.

? Ele ficou em Paris?

? Ele ficou no tribunal. ? Amabel fez uma careta. Como embaixador do rei, seu pai estava quase, constantemente, na corte, mantendo relações positivas entre a França e a Escócia. As próprias meninas quase nunca o viam.

? Então, ele não estará aqui?

? Não, ? disse Amabel. Ela ficou surpresa por não se sentir ferida por isso. Seu pai tinha dias de viagem à frente, mas era o casamento de sua filha. Talvez as filhas esperassem que ele viesse, mas não o tinha visto desde os quatro anos, já que sua mãe faleceu. Ela estava resignada a sua ausência.

? Talvez se o rei morrer, possamos vê-lo! ? Alina disse secamente.

Amabel tentou não rir, pois não se deve rir da morte, mas não conseguia evitar isso. Era divertido que a única razão pela qual seu pai deixaria o tribunal, era se o tribunal o deixasse.

? Bem, tio Brien estará lá, ? Chrissie conversou. ? E tia Aili?

Amabel olhou para cima. ? Provavelmente não.

Aili era a irmã do meio, das três filhas de Fergal, o último conde. Tia Aili morava no castelo. Ela se retirou para a ala leste pouco depois que Frances morreu, e a maioria pensou que ela perdera o juízo. A única pessoa que a via era Alina, com quem possuia um vínculo especial.

? Aili está em retiro, ? disse Alina com gravidade. ? Eu acho que ela fez um voto.

? Ela é uma freira?

Amabel riu. A maioria das pessoas acreditava que Aili estava em aliança inteiramente com outro poder ? os habitantes do inferno, não do céu. ? Não é bem uma freira.

Alina enfiou a linha na agulha calmamente. ? Eu acho que ela está afastada do mundo, ? explicou a Chrissie. ? Ela vai sair quando quiser. Não mais cedo.

? Não, ? concordou Amabel.

Elas ficaram em silêncio durante algum tempo. Amabel olhou para o trabalho delas, ainda não acreditava que estavam fazendo seu enxoval. O casamento ? embora ela esperasse por isso, a maior parte de sua vida ? era bastante repentino.

? E você vai se casar amanhã?

? Um dia depois de amanhã, ? disse Amabel com naturalidade. ? Quando Broderick retornar.

? E eu usarei meu vestido rosa novo! E eu vou ter flores no meu cabelo, ? Chrissie se entusiasmou. ? Mesmo Heath disse que eu ficarei bonita.

Amabel sorriu. ? Eu tenho certeza que ele disse.

? Realmente? ? Chrissie riu.

? Tenho certeza de que ele não será o único, ? disse Alina. ? E não será o último.

Chrissie criou covinhas, depois franziu o cenho. ? Bem, Blaine também pode estar lá.

Amabel olhou para o trabalho dela para sufocar um sorriso. Blaine, o jovem líder da guarda, tratava Chrissie de uma maneira que divertia a todos exceto Chrissie. Rude, grosseiro e atrevido, Blaine claramente não era apropriado. Mas Amabel precisava admitir que era uma pena: o jovem estava apaixonado. Qualquer um poderia ver.

? Todo mundo de Dunkeld também virá, ? disse Amabel, alterando o curso da conversa.

? E assim, vamos encontrar todos os tipos de pessoas novas! ? Chrissie disse alegremente.

? Bastante. ? Novas pessoas eram raras em Lochlann. Delegados de casas nobres visitaram Brien, mas os encontros reais raramente aconteceram. Não era justo para as jovens. Amabel sorriu para si mesma. Apenas ontem, pensaria em si mesma como uma ? pessoa jovem. ? Que estranho!

Eu vou me casar amanhã. Ou no dia seguinte. Assim que Broderick voltar. O pensamento foi incrível. Em um dia, sua vida mudaria. Ela seria uma mulher casada, responsável por sua própria casa. Com um marido a cuidar e a chance de crianças. E tudo o que vem no meio. Amabel sentiu-se vermelha. Ela não sabia nada sobre a cama.

Ela perguntou às criadas sobre isso, mas a maioria delas havia corado, riu e desviou o olhar. Ela recorreu e consultou a parteira, cujo relato parecia tão fantasioso quanto incorreto. Não podia imaginar que homens e mulheres faziam aquelas coisas.

Não podia, especialmente, imaginar fazer aquelas coisas com um homem. Com Broderick. Imaginar seu corpo perto dela, fez seu próprio coração bater. Suas mãos fortes em sua pele, seu peito musculoso contra ela, aquelas pernas fortes perto das suas. Ela não podia imaginar-se desnudar na frente dele. O pensamento a fez ruborizar.

?... e então, vou avisar a cozinha para trazer água de laranjeira.

Alina estava terminando uma frase e Amabel precisou encará-la para ouvi-la. Perdeu quase tudo o que ela estava falando.

? Você quer dizer para o bolo?

Alina sorriu. ? Eu estava pensando na flor de laranjeira, para seu cabelo, ? disse ela, sorrindo. ? Algo me diz que você estava distraída.

Amabel mordeu as bochechas para esconder o sorriso. Ela olhou para Alina, então o sorriso saiu. Ela riu. Elas claramente sabiam o que as outras pensavam. Chrissie, no entanto, estava perdida e olhou de uma para a outra enquanto suas primas mais velhas jogavam um dedal uma na outra e caíram na risada.

Ela deve pensar que os adultos são muito estranhos, pensou Amabel. Naquele momento estava tão feliz por ter sua família por perto. Ela sentiria tanta falta dessas duas quando se fosse.

Só depois, quando deixaram de lado suas costuras, ela parou para se perguntar como Broderick estava.


Capítulo Sete

Campo De Batalha


? Vá! Pela frente. Corra!

Broderick sussurrou com urgência, desejando que pudesse gritar com Blaine para incutir-lhe um pouco de urgência. Ele acenou um lenço ? um sinal improvisado ? para Blaine, que o viu e assobiou em reconhecimento.

Eles dividiram a equipe em duas. A chuva havia parado, felizmente, e a noite era clara e silenciosa. Mesmo assim, não poderiam arriscar nenhum sinal além da bandeira esvoaçante. Precisavam ficar em silêncio.

De repente, a noite explodiu em gritaria. A primeira equipe de oito homens começou um assalto na parte de trás do posto, jogando-se na parede e no portão menor, todos com gritos de batalha e selvagerias. Broderick foi até a frente, gesticulando e gritando como um demônio, fazendo tanto barulho quanto três homens.

As preocupações com a invasão, e o motivo para fazê-la, dissolveram-se enquanto balançava a espada, sorrindo ferozmente para a escuridão. Ele acertou o primeiro golpe naqueles que mataram Aisling. Ele sabia que se sentiria bem, mas não esperava o prazer selvagem que o levou para aquela fortaleza, com intenção mortal.

? Segurem-se, rapazes! ? Ele gritou para os homens quando viu três correrem para os portões, um longo galho na mão para servir como prancha. ? Precisamos mantê-los ocupados.

Isso porque este não era o assalto.

Blaine usou doze homens ? sua principal força de assalto ? na parte da frente. Enquanto Broderick e seus homens os distraiam, concentrando-se na parte de trás, ele e sua equipe capturariam a entrada principal.

Vamos rápido, rapazes. E silenciosos. Broderick queria a equipe maior, e então voltou para a muralha. Um dos homens estava uivando enquanto tentava escalar o muro de pedra diante deles.

? Voltem, pelo amor de Deus! ? Berrou Broderick. Os homens na muralha possuiam flechas e estavam disparando contra eles. Ele realmente não queria que seus homens fossem abatidos. Eles eram uma distração, não uma força de conquista, e não havia sentido na morte desnecessária. O homem piscou, mas recuou.

? Fogo, meu senhor! ? Outro chamado. Ele estava acenando com uma tocha que havia inventado de alguma maneira, e a sua grossa fumaça escura e cheia de cor sujava o ar...

? Sim! ? Gritou Broderick. ? Tragam mais!

Se os defensores pensassem que estavam colocando fogo no portão traseiro, eles redobrariam seus esforços. O homem assentiu, e logo outras três tochas improvisadas foram acesas, derramando fumaça no ar.

? Agite as tochas! ? Comandou Broderick. ? Deixe-os sentir o cheiro de fumaça.

O plano funcionou.

No instante em que os defensores os viram, eles uivaram de raiva. As flechas foram lançadas e Broderick gritou para que os portadores das tochas ficassem longe do alcance. Inclinando-se para pegar uma pedra para jogar, ele examinou a muralha e contou dez homens.

Essa deve ser toda a força. Pelo menos eu espero que sim.

Ele jogou sua pedra e a viu atingir um dos defensores no braço. Boa. Ele se curvou para agarrar outra e correu para o alcance das setas para jogá-la. Gritou, o sangue cingindo em suas veias quando sua raiva foi, finalmente, desencadeada em seus inimigos.

Desta vez, ele bateu em um homem no pescoço e o viu cair para trás bruscamente, agarrando sua garganta.

Nada mal. Lembrou como seu irmão, Duncan, tinha a melhor pontaria. Ele e o irmão mais novo passaram horas como garotos, mirando alvos com seus estilingues. Seu irmão sempre era o único a atingir dez alvos em dez vezes. O próprio Broderick não costumava ser tão bom.

Eu queria que Duncan estivesse aqui. Duncan sempre foi o mais sensível da dupla, ou então, ele disse si mesmo, Eu queria que ele estivesse na fila para ser laird, não eu.

Ele se aproximou da parede e sentiu uma pontada repentina. Olhou para baixo, surpreso, e viu uma flecha em seu braço.

? Merda!

Ele esbravejou e se abaixou no abrigo da porta para inspecionar a ferida. Farpada e perversa, a única maneira de remover uma flecha daquele tipo, se fosse este o caminho, era passar por aquilo. Uma inspeção mais próxima mostrou que a metade da cabeça de metal estava livre.

Broderick rugiu quando a puxou para fora, chocado com a dor súbita que corria por seu braço. Um dos homens o empurrou para fora do caminho, não muito gentilmente, e Broderick estava prestes a gritar com ele, quando percebeu o porquê.

Os defensores tinham saído.

Blaine atravessou o portão.

Ele ouviu os sons de triunfo vindos de dentro da fortaleza, misturados com o choque do aço nos escudos, a pressa e o ruído de batalha nos pavimentos de pedra.

? Vamos!

Ele puxou a espada, uma grande em uma das mãos, e correu para os portões da frente. Agora que os doze homens estavam dentro, eles precisavam apoiá-los.

Troando seu próprio grito de batalha, sem palavras, Broderick atravessou os portões.

A luta foi curta e no final, ele e dezessete homens estavam no forte, esgotados e suados.

De sua equipe, apenas três ficaram feridos. Ele olhou para onde eles estavam sentados, apoiados contra a parede, ofegantes e com o rosto pálido. Podia ver um, pelo menos, que precisaria da atenção de um cirurgião e rápido. Os outros dois tinham feridas superficiais. Ele se virou para Blaine, que estava dobrado, ofegante, seu robusto escudo de madeira caído a seus pés.

? Muito bem, Blaine. Obrigado.

Blaine piscou, os olhos brilhando. ? Não foi nada, milorde. Sua ideia.

Broderick sorriu. ? Você fez isso.

? Nós fizemos isso juntos, senhor. Nós formamos uma boa equipe.

Broderick piscou. De repente ele entendeu, ou pensou que entendia, por que Lorde Lochlann o havia enviado nesta missão. Não como um exercício, ou prova, mas como um meio para apresentá-lo à guarda.

Brien quer que eu lute em suas batalhas e, portanto, ele quer me estabelecer em suas tropas.

Ele balançou sua cabeça. Que raposa velha e ardilosa.

Como aconteceu, o velho astuto também estava o ajudando. A assistência e o apoio do poderoso clã Lochlann eram exatamente o que ele queria.

Isso ajudaria em sua vingança. E ele já havia começado a tomar.

Olhando em volta do pátio de pedra da fortaleza, corpos e sangue espalhados, a fumaça manchando a escuridão e se infiltrando através da cena, ele percebeu que este era o primeiro passo de sua missão de enviar a família Bradley uivando para a morte.

E eu estava pensando em Lady Amabel.

O pensamento o encheu de uma mistura de admiração e vergonha. Admiração, porque a profundidade de seu sentimento e desejo era tão grande depois de uma única visita. E vergonha, porque ele não pensou em Aisling. A vingança era para ela. Foi apenas por causa da vingança que ele veio até aqui, e, agora, cortejava Amabel.

Mas fazia dias que não pensava nessa parte da história. Ele pensava apenas em Amabel.

? Meu Senhor?

? Sim? ? Broderick perguntou cansado.

? O que fazemos agora?

Ele piscou. ? Voltamos.

Quanto mais rápido eles retornassem, mais rápido eles poderiam obter socorro para os feridos. E, pensou ele, com uma expressão frívola e maliciosa, quanto mais rápido ele podia colocar o plano em movimento. Casar com Amabel.

Ele deu seu primeiro golpe contra o inimigo. E no dia seguinte se casaria. Sangrando, cansado, irritado com a fumaça, o braço latejando dolorosamente, ele ainda não estava certo se poderia se lembrar de tal felicidade, desde que Aisling morreu. Ele sorriu para Blaine, e o jovem sorriu de volta, cansado. Juntos, começaram a marcha lenta e exausta para montar acampamento.


Capítulo Oito

Um Casamento Em Castle Lochlann


Eu devo seguir com isso?

Amabel suspirou profundamente. Ela estava sentada em seu quarto enquanto Alina colocava flores em seus cabelos.

Esse era o dia do seu casamento. Broderick voltou do ataque, exausto, mas exaltado, apenas ontem à tarde. Ela mal teve a chance de conversar com ele, passando a maior parte do dia fechado com seu tio, falando sobre suas campanhas militares.

Ela suspirou novamente. ? Suponho que não há um remédio para o último momento?

Alina fez uma pausa na escovação. Amabel olhou para o reflexo dela, imaginando o que ela estava pensando. Seus dois rostos estavam lado a lado no espelho prateado, ovais longos com pele pálida e lábios vermelhos. Sua irmã estava sorrindo.

? O quê? ? Perguntou Crossly.

? Nada.

Ambas riram.

Amabel respirou fundo, deixando seu sorriso gradualmente desaparer. Não havia nada de bom em esconder as coisas de Alina. Alina sempre adivinhou. Sua irmã sabia que seus sentimentos por Broderick eram... não eram tão condenatórios quanto antes.

Se eu for honesta, eu não estou desinteressada.

Amabel sentiu seus sentimentos mudarem após o encontro deles quando se reuniram antes de sua campanha. Ela não odiava mais a Broderick. Na verdade, se ela fosse sincera sobre isso, sentia algo que nunca sentira antes, por ninguém. Alina, observadora e sensitiva, notara sua mudança de atitude. Ela sabia que sua irmã realmente gostava dele. Sabia, provavelmente, que ela se deitou na cama pensando nele, que seu coração batia sempre que se lembrava de seu sorriso, de seu rosto, de suas palavras.

? Você está usando um circlet3 com o véu, certo? ? Alina perguntou tranquilamente. Tendo levantado o assunto dos sentimentos de Amabel por Broderick, agora os ignorou friamente.

? Sim. ? Amabel passou os dedos por suas saias brancas e aveludadas. Ela olhou para si, no espelho, admirando seu vestido.

Ela estava usando uma longa túnica do mais fino linho branco, com um fio de ouro sobre seus estreitos quadris. Ela usava um véu da renda mais delicada, mantido no lugar com um anel de prata, sobre seus cabelos vermelhos. Era do mesmo modelo que a mãe usara, mas com pequenas variações para torná-lo mais elegante. Seu casamento seria assistido por todos os senhores locais, e uma senhora de Lochlann deveria sempre liderar a moda.

Alina franziu o cenho enquanto arrumava o véu. ? Então, uma vez que o circlet vai no topo, deixarei um espaço aqui e colocarei mais flores na frente.

? Sim. Obrigada, Alina.

Alina sorriu novamente. ? É o mínimo que posso fazer, irmã.

Amabel mordeu o lábio. Ela sabia que esta era a última noite que passaria aqui no Castelo Lochlann ? a menos que seu tio-avô escolhesse manter Broderick para um ataque ou dois. Ela quase esperava que isso acontecesse. Não queria perder a irmã. Não tão cedo. Pensar sobre isso fez com que quisesse chorar.

? Você vai me visitar? ? Ela perguntou, ouvindo sua voz vacilar.

A irmã cruzou o braço sem apertar os dedos. Amabel puxou-a ferozmente de volta, sentindo a ameaça de lágrimas tremendo em seus cílios.

? Claro. ? Sua voz estava trêmula, e Amabel podia ver as lágrimas brilhando em seus olhos. Amabel recusou as próprias lágrimas, sentindo-se miserável.

? Eu vou parecer uma verdadeira chorona se continuar assim, ? ela disse grosseiramente. ? E então, o que acontecerá?

Alina sorriu. ? Minha irmã, eu acho que absolutamente nada.

? Nada?

? Acho que seu noivo está muito enamorado, irmã, de certa forma, algumas manchas de lágrima não mudarão nada. A cerimônia de cama será a mais entusiasmada que já vimos no Castle Lochlann em muito tempo.

Amabel olhou para ela. ? Irmã? ? Ela deu uma risada incrédula, cobriu a boca com as mãos. ? Como você pode falar tal coisa? ? O calor invadiu seu corpo, aumentando e preenchendo desde sua cabeça, até os dedos dos pés. Era uma sensação deliciosa. O pensamento da cerimônia de cama fez seu coração bater.

? Bem, com bastante facilidade. Tão fácil como dizer qualquer coisa, irmã.

Ambas riram.

Amabel queria que esse momento durasse para sempre. Ela e sua irmã, vestidas para o casamento ? amigas e confidentes. Mas, muito cedo, ouviu as passadas atrás da porta do quarto. Pesadas e firmes, com uma leve puxada, não havia dúvida sobre o ritmo: tio Brien.

Amabel e Alina se entreolharam e Amabel ficou de pé. Alina franziu a testa.

? Estou bem, Alina, ? Amabel sussurrou. Ela tentou sorrir, mas sentiu uma lágrima balançando na borda de sua pálpebra. ? Estou pronta.

Ela se virou para ela. Uma coluna de linho pálido, o fio dourado enfatizava sua forma esbelta e o decote oval largo e oculto destacou seus seios pálidos. Ela usava o cabelo solto, um símbolo de pureza, e ele caia até a cintura, brilhando como cobre polido. Seu rosto oval era sereno, somente um pouco triste, a pele de alabastro corada de vermelho. Sua irmã estava atrás dela, vestida de azul e de prata.

? Aqui está o véu, ? sua irmã sussurrou. Ela estendeu a mão e deixou cair o circlet de prata no lugar. Amabel sentiu sua visão obscurecida, depois desobstruída, enquanto sua irmã puxava o véu.

Ela se inclinou e abraçou-a e Amabel a segurou ferozmente contra o peito, sentindo o coração de sua irmã contra o seu.

? Sorte e amor, irmã, ? sussurrou Alina. Ela estava chorando, agora, e não escondeu as lágrimas.

? Amor e bênção.

Elas seguravam as mãos e depois se separaram. Amabel inspirou ferozmente, parando as lágrimas com dureza. Então ela se virou e abriu a porta. Deslizando o braço para seu tio Brien, ela o seguiu, na longa caminhada pelos degraus e para a capela que mudaria seu destino.

A capela estava escura, uma única luz caía pela alta e redonda janela acima do altar.

Os olhos de Amabel foram atraídos imediatamente através da escuridão para a parte de trás, para o homem no altar.

Tudo que era real no mundo inteiro era aquela figura, alta e escura, diante dela. Aquele vulto musculoso, aquela cabeça ereta. Aquela postura resoluta. Ela andou pelo corredor frio, sentindo ar frio e cheirando a incenso e sentiu como se flutuasse.

Ela se colocou no seu lugar ao lado dele e sentiu a mão dele se afastar do caminho. Sentiu um ligeiro desapontamento com aquele pequeno ato de deferência. Ela quase teria preferido que ele deixasse sua mão lá, para permitir que seu calor se infiltrasse sobre ela e reprimisse a inigualável sensação daquela manhã. Ela percebeu que estava nervosa, embora não tivesse ideia do porquê. Então a cerimônia começou.

? Em nome Patris et Filii et Spiritus Sancti...

O padre falou em latim, o que Amabel felizmente entendeu. Ela lançou um olhar secreto para o homem a seu lado enquanto a cerimônia continuava.

Broderick estava resoluto ao lado dela, olhos para a frente. Ele estava usando uma túnica de linho pálida, não diferente da dela, e calças verde escuro por baixo dela. Ele estava observando o padre fixamente, um leve brilho nos lábios. Ele é bonito. Amabel estudou o perfil cinzelado, os lábios moldados, a testa alta. Ele parecia bastante assustado.

Provavelmente não entenda o latim. Isso explicaria sua fixação.

Ela tentou se concentrar na cerimônia, apenas no caso de ele ter vacilado. Mas a mente dela continuava a deriva enquanto fazia isso.

A cerimônia de cama.

Ela se perguntou o que sua irmã queria dizer sobre Broderick e a cerimônia de cama. Ela sabia um pouco sobre a cama e o que isso implicava, mas a maioria era formulada em termos desconcertantes que pareciam não ter influência no que ela vira. Ela pensou nas memórias.

Eu vi o pequeno filho de Blaire, uma vez. E uma vez alguns dos jovens, lutando nus no pátio. Uma vez que ambas as amostras da masculinidade haviam acontecido quando ela era menor que a idade de dez anos, ela teve que presumir que as coisas mudavam quando eles amadureciam. As descrições e histórias que ela ouvira não faziam sentido. Pensar sobre isso como uma teoria era completamente diferente do que colocá-la em prática. E com Broderick MacConnaway. Um estranho calor fluiu através de seu corpo, e ela provavelmente estava corando. Mordeu o lábio. Não poderia se desculpar ou parar de ouvir.

Olhe para frente, Amabel. Ouça o padre Padriag. Não pense em Broderick.

Ela tentou valentemente.

Ao lado dela, Broderick estava olhando para o padre. Ele não queria olhar para o lado oposto. Não queria correr o risco de ver sua noiva. Não poderia pensar em nada mais se o fizesse, e nenhum de seus pensamentos, ele tinha certeza, seria adequado quando estava de pé diante de um padre.

Ele arriscou um olhar de soslaio. Ela era uma forma encantadora, o véu envolvendo seu corpo de uma forma que revelava os vestígios dela enquanto ela escondia seu rosto. O tecido fino pendia pelas costas e pelos lados, suavizando os contornos dela. Ainda assim, ele podia ver os contornos de suas pernas longas e firmes, seus ombros magros, suas mãos bem-feitas ao lado dele. Seu cabelo era de fogo pálido, brilhando embaixo da gaze. E ele só sabia que seus seios pressionavam o laço e seu coração batia sob a carne macia...

Controle-se!

Ele apertou a própria mão, deixando que a punhalada da dor de sua ferida o revivesse. Ele não pensaria nela. Não pensaria mais tarde. Não faria...

?... vis accípere Amabel du Mas, hic præséntem, em tram legítimam uxórem, juxta ritum sanctaæ matris Ecclésiæ ?

? Ah? ? Amabel ficou tensa.

? Oh. Volo, ? ele respondeu rapidamente. Eu aceito. Amabel olhou para ele e então o momento passou.

O padre virou o olhar para Amabel, limpando a garganta. ?... Amabel du Mas, vis accipere Broderick MacConnaway, hic præséntern in tuum legítimum marítum juxta ritum sanctæ matris Ecclésiæ?

? Volo.

Sua voz, clara e certeira, atravessou a alma de Broderick.

As palavras ecoaram em torno de sua cabeça. Esta não foi a primeira vez que ele estava assim. Não era a primeira vez que ele dizia aquelas palavras, com uma mulher ao lado dele, prometendo sua vida por ela, por toda a eternidade. Mas parecia que sim. No fundo do coração, sentiu-se assim.

Broderick não estava certo se estava satisfeito com isso, ou se ele se detestava pelo que fez com a memória de Aisling. Mas tudo o que sabia era que não faria nada diferente.

Então o padre os abençoou e ele estava se voltando para Amabel, com os dedos como o gelo, enquanto levantava as mãos.

Ele ergueu o véu.

Seus olhos cinzentos encaravam os dele, brilhantes e verdadeiros.

Então, muito gentilmente, ele colocou seus lábios, nos lábios vermelhos e úmidos dela e a beijou.

O incenso e o cheiro de flor de laranjeira se misturaram nem seu nariz enquanto ele a segurava. Mas ele não fez do beijo um voto sagrado. Isso, estranhamente, fez em seu coração. E ele fez o voto livremente e sem pensar em vingança em sua mente.

Ele estava casado agora, com Amabel du Mas. E ele tentaria mantê-la segura. Sempre.


Capítulo Nove

Noite De Núpcias


Toda congregação os seguiu para o salão de banquetes, gritando felicidades, rindo e tagarelando entre si. Um encontro colorido, eles seriam acompanhados no corredor pelos criados e pelos soldados de Lochlann. Todos celebrariam, juntos, a nova aliança.

Alina veio se juntar a Amabel, quase, imediatamente. Amabel estava agradecida por sua companhia. Mesmo assim, sentia-se gelada e entorpecida. Ela segurou a mão de sua irmã, falando e rindo com entusiasmo, mas sentiu como se a vida dela tivesse sido tirada com aquele beijo. O calor de seu corpo havia fugido, deixando cada polegada dela focada no homem que caminhava ao lado dela, estranhamente silencioso e absorto. Os pensamentos dele estavam concentrados.

O que ele está pensando? Ela tentou adivinhar, mas não conseguiu. Ele pensa em mim? Ou ele está preocupado com alguma grande estratégia?

Era tão difícil de imaginar. Ela olhou de frente para aquela figura alta e bonita. Ele caminhou silenciosamente ao lado dela, dando um sorriso aos amigos que caminhavam ao lado dele. Um homem mais jovem, com cabelos dourados, se juntou a eles assim que saíram da capela. Ele era suficientemente parecido com Broderick para ela adivinhar que era o irmão, recém-chegado no dia anterior.

? Broderick, ? disse o jovem.

? Duncan.

Eles apertaram as mãos e agarraram-se mutuamente em um firme abraço. Amabel sorriu para Duncan, e inclinou a cabeça, corando profundamente. Então ele olhou para Alina e seus olhos não se moveram. Amabel formou um sorriso.

Se esse olhar for alguma coisa e continuar, seremos ligados aos MacConnaways com mais uma aliança em breve.

Eles chegaram ao salão de banquetes. O salão estava coberto com fitas verdes, flores e folhas. O chão estava cheio de juncos e uma chama refulgia na lareira. Os criados haviam polido as fileiras de mesas e bancos e a mesa de carvalho foi colocada no estrado. Seria ali que a família da noiva se sentaria com os noivos.

Amabel subiu os degraus de madeira, sentindo-se completamente nervosa. Seu marido estendeu a mão para apertar seus dedos. Amabel ficou tensa. Seu toque correu por seu braço como fogo e emocionou seu coração. Mordeu o lábio, sentindo uma estranha reação no fundo do ventre.

O que está acontecendo comigo?

Ela não tinha certeza. Tudo o que sabia era que o sentimento não era desagradável. Longe disso.

? Minha senhora?

? Eu quase caí. Me desculpe. ? Amabel riu hesitante e depois mordeu o lábio. Ele vai pensar que você é uma tola! Ela hesitou, então olhou para ele.

Seus olhos escuros estavam sorrindo para ela.

? Meu Senhor?

? Perdoe-me, ? ele tossiu. ? Eu estava distraído. Desculpe-me.

Subiram as escadas e chegaram à mesa. Amabel corou furiosamente, depois sentou-se ao lado de Broderick. Ela olhou ao redor da mesa. Seu tio estava lá, com um homem alto e magro que fora apresentado como o pai de Broderick. Heath e Chrissie estavam sentados mais ao longo da mesa, e Chrissie sorriu para ela, as bochechas coradas de rosa.

? Minha senhora?

Amabel ficou rígida quando Broderick tocou levemente seu pulso.

? Sim?

? Posso servir um pouco de vinho?

Amabel mordeu o lábio. ? Obrigada. Sim.

Enquanto observava suas mãos fortes elevarem o jarro prateada, sentiu uma brusca sensação. Ela sabia disso, em breve, ela ficaria com aquele homem. Ela fazia uma ideia do que isso significava, mas o restante era um vazio estranho e sedutor. Tudo o que ela sabia era que o pensamento daquilo acendeu sentimentos estranhos dentro dela, mas semelhantes às sensações que ela sentiu quando eles se beijaram.

? Amabel! ? Alina sorriu, sentada em frente a ela. ? Parabéns!

Amabel assentiu. ? Obrigada.

O homem que caminhava com eles sentou-se ao lado de Alina. Amabel percebeu, mais uma vez, que ele esgueirou olhares secretos na direção de sua irmã, sempre que pensava que ninguém veria. Ela sorriu.

? Minha senhora?

? Hum? ? Ela se virou para Broderick e corou. Estava pensando em seu calor ao lado dela, pelo jeito com que sua mão descansava na perna, a poucos centímetros de sua mão... Imagine o que alguém pensaria se eles lessem meus pensamentos!

? Permita-me que eu a apresente para meu irmão mais novo, Duncan. ? Broderick indicou o homem amigável, de cabelos castanhos dourados, que vira mais cedo, ele sorriu e curvou a cabeça.

? Um prazer, meu senhor. ? Amabel inclinou a cabeça para ele.

? É um prazer, minha senhora.

Amabel percebeu que Alina estava muito quieta. Ela olhou para a modo como ela se sentou ao lado de Duncan e adivinhou o porquê.

? E posso apresentá-lo a minha irmã, Lady Alina? ? Amabel respondeu.

Os olhos de Alina se abriram, e Amabel teve o raro deleite de vê-la corar.

? Meu senhor, ? disse Alina hesitante. ? É um prazer conhecê-lo.

? Lady Alina. ? Ele pegou a mão dela e levantou-a até a boca, beijando os nódulos. Amabel deu um sorriso.

Isso servirá para Alina melhorar seus pensamentos sobre mim! Ela tinha certeza de que sua irmã gostara do jovem alto e inteligente irmão de seu marido. E ela já havia notado em seu primeiro encontro que ele estava, completamente, entusiasmado por sua irmã mais nova.

Ela se virou para o noivo. Ele estava sorrindo hesitante.

? Minha senhora?

? Mm? ? Ela achou que sua garganta estava seca e tossiu.

? Ao nosso casamento.

Amabel engoliu em seco e ergueu o copo.

? Ao nosso casamento.

Sua voz era fria e mole e ela se odiava por isso. Mas ele não pareceu notar. Tudo o que ele fez foi olhar para ela com aqueles olhos castanhos profundos. O olhar fez sua barriga latejar de uma maneira que nunca sentira.

Tio Brien havia levantado. Ele ergueu os braços para a casa reunida.

? Amigos! Soldados! Aliados. Bem-vindos todos vocês! Estamos aqui para comemorar a união de nossas casas: Lochlann com MacConnaway. Agora, uma vez que este é um momento de grande alegria, não se espere mais! Músicos, nos divirtam!

A sala encheu-se da doce e lírica música de tambores e flautas.

Quando Lorde Brien bateu as mãos novamente, os criados vieram. Movendo-se discretamente de uma mesa para outra, eles distribuíram os primeiros pratos. A cerveja fluía livremente. O salão cheirava a cozidos e especiarias e o aroma doce de juncos limpos no chão. Amabel achou que sua garganta estava muito apertada para comer. Ela notou que Alina também não estava comendo muito, e seus olhos encontraram os olhos escuros de sua irmã. Ela poderia sentir. Ela não conseguiu comer nem uma mordida.

A cerimônia de cama. A próxima cerimônia de cama.

O jantar era uma longa lista de pratos ? peixe ensopado, caça, perdizes, presunto. Queijos, bolos salgados e alho-poró e, finalmente, o marzipã, os bolos de mel e as últimas maçãs da temporada. O ruído no salão aumentou a cada prato. Com toda a casa dentro, a sala estava quente e abafada. Amabel olhou para o salão, um sorriso suave no rosto. Ela se perguntou se o banquete nunca terminaria. Ao fazê-lo, viu seu tio em pé.

Amabel sentiu todo o seu corpo rígido. Quando o senhor saia, era o sinal que o banquete terminava. E a cerimônia da cama viria em seguida.

Ela observou, sentindo uma irrealidade entorpecida, enquanto seu tio se voltou para a multidão, sorrindo para eles.

? Eu vou me retirar agora, ? ele anunciou alto. ? Ossos mais velhos e as cabeças mais sábias desejam descansar. Deixo o espaço para os jovens.

Amabel ficou sentada onde estava, observando. Era como se o seu mundo inteiro de repente tivesse deixado de fazer sentido. Tudo se moveu lentamente, como se estivesse trabalhando através da neve. Sua mente também era mais lenta, não conseguindo entender o que estava vendo.

? Querida?

Os olhos de Amabel se arregalaram quando se virou. Seu marido colocou uma mão gentil em seu ombro. Ele quase não a tocou, mas ela podia sentir a pressão de cada dedo como se ele a agarrasse. Marido dela...

? Mm?

? Eles estão prestes a começar a cantar. Eles vão querer nos escoltar. Devemos sair agora?

? O quê? ? Ela disse, sentindo-se estúpida. ? Ah!

Era uma tradição para os convidados, guarda doméstica e servos colocar o casal nupcial na cama. Geralmente, era um evento turbulento e muitas vezes se tornava grosseiro. Amabel ficou tocada, ele pensou em poupá-la. Ela hesitou e ficou surpresa ao senti-lo ao lado dela, oferecendo uma mão quando ela tropeçou, seu vestido enrolando em torno de seu pé.

Ele esperou que ela alcançasse a escada e a seguiu com cuidado. Estava agradecida pelo seu corpo alto e firme atrás dela, estabilizando-a. Ela se sentiu fraca.

Alguém gritou,

? Está ansioso, Lorde Broderick!

Alguém gargalhou e toda a sala riu.

Amabel sentiu seu rosto vermelho de desgosto e sentiu Broderick ficar tenso. Ele ficou branco e ela percebeu que ele também fora insultado. Ela o observou endireitar-se e sorrir.

? Sim, e se eu estou ou não estou, não é de sua conta, Keith Lennox.

A sala inteira riu de novo, mas desta vez eles estavam rindo do homem insolente. Amabel viu-o se enrolar e sentiu um feroz prazer em ver aquele homem forçado a engolir suas palavras.

Ela olhou para o noivo, surpresa. Ele estava olhando para frente novamente, desapareceu o sorriso falso. Ele parecia tão nervoso quanto ela.

Os músicos estavam tocando, e os convidados estavam dançando. Broderick abaixou-se e, com um gesto de doçura de tirar o fôlego, passou os dedos entre os dela, o polegar acariciando a parte de trás da mão.

Ele sorriu para ela com ternura.

? Devemos ir?

? Sim, meu senhor.

? Bom.

Muito gentilmente, ele a conduziu para longe. Subindo as escadas e ao longo do corredor para a ala ocidental onde sua câmara estava colocada. O excelente quarto de dormir. Sua câmara.

Sentindo seu corpo todo tremendo, Amabel deixou que ele a conduzisse até a porta arqueada. Na entrada fez uma pausa.

Ela olhou para ele, sentindo-se assustada.

Ele olhou para ela.

Então seus lábios desceram sobre os dela, e ela perdeu a consciência de qualquer outra coisa.


Capítulo Dez

Uma Noite De Amor


A cama do quarto parecia aconchegante com a luz do fogo.

Amabel virou-se para encarar seu marido e abriu os lábios. Ele sondou a entrada de sua boca com a língua. Escorregou para dentro, explorando sua boca. Ela sentiu que ele batia suavemente contra a sua língua e ela gemeu. Ele provou a doçura, como o último prato no jantar, e ela sentiu os braços dele, quentes ao redor dela.

Ela pressionou seu corpo contra o dele, impressionada com o quão duro ele era. Ela nunca estivera tão perto de um homem, e ela não pensou que alguém tivesse um corpo tão duro e musculoso. Ela gemeu quando ele a esmagou, e ela o ouviu ofegante. Seus lábios haviam mudado de foco, e agora, eles mordiam os dela, gentilmente, mostrando que estava faminto.

Ela gemeu novamente. Ela podia sentir aquele toque nos lugares mais estranhos, como se sua boca sobre ela acendesse incêndios por toda parte.

Ela apertou-se e ficou surpresa ao descobrir uma estranha dureza contra ela. Estava perto da região do ventre, o que significava que estava em algum lugar do abdome dele. De repente, ela percebeu o que era a dureza e sentia-se envergonhada e ruborizada.

Ele a sentiu tensa.

? O que houve? ? Ele sussurrou. Seus dedos atravessaram o fogo de seus cabelos, empurrando suavemente o véu.

? Nada.

Ele colocou seus braços em volta dela, enterrando sua cabeça em seu pescoço. Então, lentamente, entraram no quarto.

O quarto estava cheio de juncos. Andando sobre eles, Broderick podia sentir o cheiro fresco e penetrante. Nesse instante, ele lembrou a noite de casamento com Aisling. Malditamente, ele afastou aquilo da memória.

Então Amabel gemeu, e ele estava de volta ao presente.

Ele se virou para ela e levantou o véu. Seu cabelo brilhava como cobre. Ele sentiu o cheiro. Lavado e penteado, cheirava a lanolina e água de ervas. Era um cheiro adorável ? um cheiro limpo. Ele passou as mãos pelo cetim de fogo e deixou que seus sentidos se inflamassem.

? Amabel...

Ela fez um pequeno som de gatinho, que o excitou mais ainda. Ele envolveu seus braços ao redor dela, e seu corpo esbelto pressionou o dele.

? Amabel. Amabel. Doce amabel.

Ele estava tremendo, ele percebeu, seu corpo todo tremendo levemente, com calor. Deixou as mãos se mexerem e, antes que percebesse o que estava fazendo, ele percebeu que estava desamarrando seu vestido. O vestido deslizou lentamente, um lado caindo.

Ele a olhou fixamente.

O linho que caía mostrava um ombro redondo, branco pérola. A pele foi rastreada com azul e depois o vestido caiu mais.

Ele olhou para o seio dela.

Era, de fato, cheio e ligeiramente apontado, o mamilo um rubi pálido, rígido pelo ar mais frio.

Ele se inclinou para a frente e gentilmente passou um dedo pelo esterno. Ele ouviu seu gemido, e olhou nos olhos dela. Ela não parecia ter medo, e então ele gentilmente moveu sua mão. Segurou seu seio. Ela ofegou. Seus olhos estavam arregalados de choque. Ele se inclinou para frente e plantou um beijo naqueles lábios vermelhos.

Seu seio estava firme e cheio na mão. Cetim quente e arredondado, como um travesseiro de pelúcia do Oriente. Ele apertou-o e ouviu-a ofegar, depois gentilmente desenhou o mamilo entre os dedos.

Ela ofegou novamente, e seu mamilo se contraiu na mão. Ele sorriu.

? Posso despi-la, minha senhora?

Ela olhou para ele, com os olhos bem cinzas.

? Sim.

Foi um sussurro, mas foi um som maravilhoso. Ele deixou a palavra inflamar sua paixão e, com admiração e ternura, tirou o vestido. Caiu nos quadris, expondo ambos os seios. Eles eram redondos e firmes e cheios na luz, e ele teve que se refrear para não enterrar sua cabeça em sua fragrância.

Deslizou o vestido mais para baixo e deixou-o cair.

Ele se juntou a seus pés.

Ele não conseguia tirar os olhos dela.

? Minha senhora.

Ela sorriu.

Ele se curvou e, sentindo todo o corpo tremendo, sabendo que ele estava perigosamente perto de largar sua semente, ele se curvou e ergueu-a até a cama.

Suas mãos a acariciaram, e ele a ouviu ofegante.

Então toda a restrição desapareceu. Sentindo seu corpo inteiro se incendiou, ele ficou em pé e despiu mais rápido do que ele teria imaginado possível. Então, nu, ele se juntou a ela na cama.

Foi quando ele a viu olhando para ele, assustada.

Segure-se. Vá gentilmente. A moça está aterrorizada.

Não era, afinal, sua primeira noite de casamento.

Foi quando ele pensou, ele desejou que não fosse a primeira noite. O pensamento o fez odiar-se, odiar o que estava fazendo e como ele se sentia. E, no entanto, ele não conseguia mais deter-se porque poderia significar sua morte.

Amabel olhou para o homem ao lado dela na cama.

Tudo o que ela conseguia ver eram músculo. Seus ombros ondulavam, seus braços fortes, as coxas firmes. Sua barriga era uma tábua, seu peito arredondado, as mãos nodosas com músculos.

Ela olhou fixamente, os olhos arregalados.

Então ela olhou para baixo.

Ela precisou morder o lábio para não gritar. Era sobre isso que as histórias eram! A coisa misteriosa a que se referiam as enigmáticas referências que ela possuia. Isso era “masculinidade”. Ela piscou para ele. Sentiu um repentindo estremecimento de medo. Se isso era o que era, certamente, ele iria machucá-la?

Ela ficou tensa. Ele alcançou e acariciou seu corpo.

? Acalme-se, moça, ? ele sussurrou suavemente.

? Broderick?

? Está bem, moça. Eu não vou machucar você.

Sentiu-se derreter, então, sob as mãos dele. Seus lábios se moveram sobre os dela. Sentiu que o corpo dela se moldava, a pele quente que pressionava contra sua pele mais fria, com os braços em movimento para segurá-lo mais forte contra ela. Sua boca explorou a dela e então ele se moveu mais para baixo, movendo seus lábios para a garganta.

Sentiu-se sorrir. A boca quente e agarrada que explorava seu pescoço era quase a melhor sensação que sentira. Ela ofegou enquanto suas mãos se moviam sobre seus quadris e mais baixas ainda.

Seus olhos se abriram em choque quando ele a tocou em um lugar que ninguém nunca tinha tocado. Seu joelho se moveu entre os dela. Ela fechou os olhos.

Ele se moveu para baixo, de modo que seu corpo estava posicionado sobre o dela, a masculinidade palpitante pressionando-a. Seu corpo era um peso sobre o dela ? um peso que ela estava satisfeita por estar descansando sobre ela.

Ele olhou nos olhos dela.

? Amabel, ? ele disse gentilmente. ? Amabel.

Ela fechou os olhos quando ele a beijou. Ela sentiu seu corpo pressionar contra o dele, suas coxas separadas pelas dele.

Ele acariciou seus cabelos. Quando ele falou, sua voz tremia. Mais alto do que ela lembrou. Tenso.

? Moça?

? Broderick?

Ele suspirou. ? Moça. Eu não posso fazer isso. Eu sinto muito.

Amabel franziu o cenho para ele. ? Fazer o quê?

? Eu não consigo... terminar. Não é você. Sou eu. Não consigo esquecer Aisling e o que ela diria se pudesse me ver agora.

Seu rosto estava tenso, e Amabel entendeu.

? Você pode dormir aqui se quiser, ? disse ela gentilmente. Ela acariciou seus cabelos. ? Quieto. Deite-se. Eu não vou machucar você.

Ele olhou nos olhos dela. Os seus próprios estavam úmidos com lágrimas.

? Obrigado, ? ele sussurrou. ? Obrigado, minha lady.

Ela acariciou sua cabeça. ? Não seja tolo, Broderick MacConnaway. Durma um pouco.

Ela se deitou em seus braços e pressionou contra ele, e sua respiração logo desacelerou.

Ela ficou mais chateada do que ele percebeu. Mas ela também ficou feliz por ser poupada do que parecia doloroso. E, além de tudo, ficou satisfeita, mais do que podia dizer, de se encostar aqui ao lado dele. Pensando nisso, logo caiu em um sono profundo e feliz. Ela teria muito a pensar pela manhã, mas, por enquanto, estava contente de simplesmente dormir ao lado de seu homem.

Na manhã seguinte, quando acordou sozinha, sentiu uma dor súbita no seu coração. Seu marido deixara a cama na noite de núpcias e, por mais que ela pudesse perdoá-lo, ela desejou se livrar do pensamento de que ele não a queria como sua verdadeira e legítima esposa.


Capítulo Onze

Um Tempo Tranquilo


?... E então, acho que vou ser mais uma aliada para ele. Uma ajudante. Não exatamente como... como meus pais eram.

Amabel estava sentada em seu quarto de dormir ? aquele que ela compartilhara no andar de cima com Alina, quando eram meninas e que ela mais tarde ocupou, sozinha, antes do casamento.

Alina sentou-se na cama em frente a ela. Ela franziu a testa.

? Amabel? Mas... você não está apaixonada por ele então?

Amabel balançou a cabeça. ? Não é isso, Alina. Quero dizer, eu estou. Eu não estou... Oh, eu não sei!

Alina estendeu a mão. Amabel sentiu a mão em seu braço. Ela ficou tensa, depois amolecida. Ela cobriu a mão de sua irmã com os próprios dedos, com os dedos afilados, quase idênticos.

? Você parece muito boa para mim, irmã, ? disse Alina com entusiasmo. ? E pelo que eu vi, ele adora você.

? Eu acho que ele adora. ? Amabel fungou, soprou o nariz em um lenço e se sacudiu. ? Eu devo simplesmente ser prática agora. Eu não preciso de... um amante, ? ela disse, as bochechas bem vermelhas. ? Eu sou Lady Amabel, e eu vou ser um apoio para ele.

Alina levantou uma sobrancelha. ? Eu nunca tive dúvidas, irmã. Penso que ele é um amante, no entanto. Ele a ama. Não tenho dúvidas disso.

Amabel suspirou e deixou as palavras de sua irmã curarem a dor que espremia seu coração. Ela entendera, quando Broderick havia parado as coisas na noite de núpcias. Ela sentiu pena dele, percebeu o dilema de casar com ela quando desejava apenas vingança para sua esposa. Seu tio informou-a um pouco de sua história, e ela adivinhou a maior parte ou juntou com os boatos.

Mas nada do que ela sabia fazia com que ela se sentisse melhor.

A única coisa que fez, em sua maior parte, foi a rápida decisão de ser sua aliada, não sua esposa. Ela era inteligente; estava bem informada. Poderia ajudá-lo. Poderia aconselhá-lo. Poderia ajudá-lo a triunfar em sua vingança. Então, pelo menos, ela seria parte de sua vida. Não possuía, na verdade, nenhum outro caminho em seu coração.

? Vou tentar não considerar como ele se sente, ? disse Amabel com rigidez. ? Pelo menos, não estou preocupada. Eu sou útil para ele. Nada mais e nada menos. E ficarei feliz.

Alina olhou para ela impotente.

As palavras de Alina, precisa admitir, que a acalmaram muito. Ela queria acreditar nela, verdadeiramente ela fez. Mas não conseguia se deixar fazer isso. Considerar que Broderick a amava, era enfrentar o fato de que a única mulher que ele já amara era sua esposa. Aisling.

E isso significava que ele não a amaria. Não era assim.

O que ela poderia fazer, porém, ele era um bom amigo.

? Amabel?

? Sim irmã?

? Você gostaria de dar uma volta?

Amabel suspirou. ? Eu não sei, irmã. Estou tão confusa com tantas coisas. Eu acho que gostaria de algum tempo sozinha?

Alina inclinou a cabeça. ? Eu sei. Mas eu pensei nisso, já que você vai deixar Lochlann tão cedo, podemos passar algum tempo, juntas, antes... ? Ela cobriu o rosto dela com a mão.

Amabel sentiu-se miserável instantaneamente. ? Minha querida Allie! Claro, eu quero ver você. Nós podemos caminhar se quiser. Mas você não deve dizer que não nos veremos com frequência. Quero ver você todos os meses pelo menos. Ou eu não vou embora.

Alina riu um pouco trêmula. ? Não tenho certeza de que o tio aprove isso, minha querida irmã. E Dunkeld está perto, mas não tão perto que eu poderia fazer a viagem com frequência.

? Absurdo, ? disse Amabel rapidamente. ? Podemos organizar algo.

Alina sorriu e as duas mulheres se abraçaram. Amabel sentiu seu coração ficar um pouco mais pesado com a dor adicionada. Ela acabou de descobrir que ficaria resignada a uma vida de amor insatisfeito com seu marido. E agora precisava enfrentar a separação da única outra pessoa que ela amava mais profundamente do que a vida?

Ela fungou, sentindo as lágrimas derramarem. Alina alcançou um lenço e sentaram-se silenciosamente um pouco.

Depois de um momento, Alina colocou uma mão em seu ombro. Sua voz, quando falou, pareceu a mesma.

? Bem, pelo menos há uma coisa que não posso fazer se estiver tão longe...

Amabel piscou. ? E o que é?

? Perguntar para você sobre os detalhes do que seu marido tem sob sua túnica.

Amabel piscou. Ela cobriu a boca com a mão, chocada. As duas caíram na gargalhada.

Quando Amabel sentou-se finalmente, com o estômago agitado pelas risadas felizes, ela suspirou.

? Eu posso me alegrar disso, irmã. ? Ela disse, a voz fraca com a risada. ? Pelo menos, isso me poupa o problema de ter que inventar exageros ridículos, apenas para tornar as coisas mais interessantes.

Ambas riram impotentes e quando Amabel finalmente parou, lágrimas riscando seu rosto, ela percebeu que as felizes palavras foram um meio de curá-la.

O que aconteceu, no entanto, foi que a rejeição de seu marido a feriu e a perturbou, ela sempre teria Alina para conversar. E ninguém poderia impedir que ela escrevesse cartas.

Ela deixou o quarto se sentindo mais feliz do que durante o dia todo.


Capítulo Doze

Discussão Para Batalha


Broderick fervilhava.

Seu dia começou mal, acordando nas primeiras horas e sendo incapaz de dormir. Ele se sentiu terrível sobre o que fizera com sua esposa, sobre sua incapacidade. Ele sabia que ela ficaria chateada e então saiu da cama cedo e se dirigiu para os estábulos.

Após o café da manhã, seu dia não melhorou. Duncan planejara ir caminhar, e Blaine concordou em acompanhá-lo com uma tropa de homens, todos à procura de fugir dos confins outonais do castelo. Broderick estava bastante animado para participar, mas não era para acontecer. Lorde Brien possuia outros planos.

Agora, Broderick estava em seu escritório. Ele olhou pela janela dos fundos, com atenção. Não queria olhar o velho senhor. Sabia que, se o fizesse, retrucaria. E ele não podia se dar ao luxo de ofender seu mais novo aliado. Se ele o fizesse, pioraria tudo.

? Receio não poder deixar você voltar para casa, ainda. Não até que este ataque final seja realizado.

? Meu Senhor.

As duas vozes saíram da câmara de Lorde Lochlann. A porta era de carvalho sólido e estava meio aberta, deixando um pouco de som sair além do corredor. Broderick percebeu que se cedesse e deixasse vir à tona seu temperamento, todo o castelo saberia disso. O que o conde estava fazendo ? tratá-lo como se ele estivesse em suas mãos ? era insultante e ele não conseguia suportar isso, mas, ao mesmo tempo, precisava abordar todos os assuntos com respeito.

Broderick limpou a garganta. ? Meu senhor, ? ele começou de novo. ? Eu não tenho certeza de que concordo com...

? Silêncio! ? Lorde Lochlann cortou-o.

Quando Broderick o encarou, ele se levantou e foi até à porta do carvalho, puxando-a apressadamente. ? Eu não gostaria de arriscar que as pessoas ouçam, ? explicou Lorde Lochlann suavemente. ? Cuidado nunca é demais. Esse, é um ponto importante.

Broderick inclinou a cabeça, sentindo uma pontada de irritação. Estava com trinta e cinco anos de idade! Ele já havia conduzido incursões. Não era um amador, nem mesmo chefe de guerra de Lochlann! Ele era filho de um Laird e um governante por direito. Achou francamente ofensiva a oferta de fazer incursões sempre que Lorde Lochlann desejasse.

? E então? ? Lorde Lochlann levantou uma sobrancelha. ? Qual é sua resposta?

? Eu concordo, meu senhor, ? ele disse com dureza. A invasão deveria ser contra os Bradleys. Um ataque poderoso, destinado a derrubá-los de uma vez por todas. Ele não podia se recusar a fazê-lo. Era exatamente o que sempre quis fazer. Agora, a chance estava finalmente em suas mãos.

? Bom. ? Lorde Lochlann sorriu.

? Agora, quanto ao ataque, ? disse Broderick rapidamente. ? Você pretende realizá-lo dentro da quinzena?

? Nunca houve um momento melhor...não podemos arriscar a deixar o inverno entrar. Talvez fique muito difícil.

? Concordo.

Eles ficaram um ou dois minutos a mais discutindo a estratégia para o ataque. Embora Broderick estivesse profundamente envolvido deixou sua mente vagando.

Amabel. A esposa dele. Ele acordou esta manhã apenas com pensamentos sobre ela. Ele se odiava por não conseguir realizar a consumação. Estava certo de que ela estava com raiva dele. Mas ela também entendeu. Não fazia idéia do que fazer com ela! Ele a viu no café da manhã ? ou seja, ele a viu chegar com sua irmã e prima, quando estava saindo.

Seu comportamento em relação a ele durante o dia fora uma mistura de reserva e desinteresse. Como se ela tivesse decidido que, já que ele não conseguia atravessar todas as barreiras, ele não cuidaria dela.

? Você está confiante em sua capacidade de tomar uma grande fortaleza? Uma tão grande quanto Loch Craigh?

Loch Craigh. A sólida casa dos Bradley. Tomar sua principal fortaleza foi tudo o que o manteve vivo. Com o pensamento de que, finalmente, percebia que o sonho era realizável. Toda a sua ira contra o conde se dissolveu como o orvalho na grama.

? Sim. ? Ele podia ouvir a resolução plana e fria em sua própria voz e não se surpreendeu que o homem mais velho sorrisse ao ouvi-la.

? Isso é bom. Você está disposto a sair em breve?

Broderick assentiu. ? Sim.

O senhor levantou uma sobrancelha. ? Você acabou de se casar, você sabe.

Broderick mordeu o lábio. ? Sim, meu Lorde.

O conde riu. ? Bem, suponho que se estiver ansioso pela batalha e se preparando para se despedir prontamente, não posso discutir com você. Me agrada.

Ele suspirou. Nunca teve muitas mulheres em sua vida ? não possuia irmãs ou tias e sua mãe havia morrido antes dele ter cinco anos. Ele se casara com Aisling quando estava com vinte e cinco anos e ela fora a primeira mulher com quem realmente conversara. E nada que haviam discutido o preparou para entender sua nova esposa.

Eu não sei o que fazer.

?... e assim, vamos culminar a marcha com a derrocada de Loch Craigh?

? Sim, meu Lorde, ? concordou Broderick, feliz por ter ouvido a última parte do que o homem disse. Ele estava examinando os planos já colocados, e Broderick concordou com eles.

? Bons.

Broderick podia ouvir o homem rindo e tinha certeza de que ele estava ciente de sua distração. Rindo dele!

? Meu senhor, eu tenho um pedido.

? Sim?

? Posso perguntar se Blaine vai me acompanhar novamente? Eu achei sua presença útil.

O homem franziu a testa. ? Eu pensei em enviar o nosso chefe de guerra em vez disso. Blaine MacNeil tem... apenas dezessete anos.

Broderick assentiu. ? Dezoito, senhor, ? ele corrigiu e então queria morder a língua. Ele não estava melhorando seu caso.

? Oh? Bem então. Pior ainda.

? Bem... ? Broderick limpou a garganta. ? O rapaz é jovem, eu concordo, meu senhor. Mas ele é um aprendiz rápido, e sinto que trabalhamos bem juntos.

? Bem, então. ? Lorde Lochlann sorriu finamente. ? Se deseja andar com uma desvantagem, não posso parar você.

Broderick sentiu raiva, mas percebeu que não possuia o status de contrariar o homem mais velho. ? Se eu considerasse ele uma desvantagem não o levaria. Eu prefiro andar com homens que conheço e nos quais posso confiar.

O laird riu. ? Bem dito. Eu vejo que algo acendeu um pouco de fogo em você.

Broderick corou. Ele precisava concordar com isso. E ele sabia o que era.

Amabel.

Seu desejo por ela, possuí-la, segurá-la ? era como fogo. E esta vontade, não importa o quanto ele tentasse tirá-la de sua mente, pior se tornava, até parecer uma fornalha que consumia sua alma. Mas, novamente, a única coisa que amenizou sua fome foram seus pensamentos de vingança. O que era mais forte nele, ele não sabia. Pensamentos sobre sua esposa, ou pensamentos de vingança. Ele ainda não estava certo de qual o dominava.

? Bem, se você não tem mais sugestões, ? Lorde Lochlann disse abertamente, ? então eu sugiro que encerremos.

Broderick assentiu. Ele não poderia ficar naquela sala por muito mais tempo. Ficou em pé abruptamente e empurrou a cadeira para trás.

? Obrigado, meu Laird, pelo seu apoio na minha aventura de vingança. Vou aproveitar este tempo para me preparar antes de começar a treinar com os homens.

? Bom. ? Lorde Lochlann piscou. ? Boa tarde, então.

? Boa tarde.

Broderick virou-se e caminhou ereto pela sala. Seu coração estava em chamas, seus músculos estavam cheios de desejo. Entretanto quanto mais ele sentia isso, mais odiava a si mesmo. Ele fez sua noiva não gostar dele ? novamente. E tudo porque não podia se permitir amá-la.

Não posso quebrar meu voto.

Ele prometeu amar Aisling para sempre. E o fez. Permitir que outra mulher usurpasse seus pensamentos, mesmo por um instante, pareceu-lhe traição.

Mas ainda assim, desde aquele dia no salão ? não, se ele fosse honesto, desde o primeiro encontro deles ? Amabel havia cativado sua alma. E, desde então, ela lhe havia mostrado tanta gentileza e compreensão, tanta bondade, que o fazia se sentir ainda mais profundamente arrasado.

Ela perdoou você até na noite do casamento.

Ele engoliu em seco. Ele sabia que o que fizera fora imprudente.

Agora eu tenho a chance de fazer isso com ela. Ele estava decidido. Iria encontrá-la e deixá-la saber como ele se sentia. Não estava certo se ele conseguiria atravessar a barreira da memória, mas ele tentaria.

Ele precisava mostrar a ela como se sentia.

? Meu Senhor?

Ele deu uma volta. Estava no corredor, descendo as escadas com um plano semi-formado para encontrar Amabel. Mas encontrou Blaine MacNeil na curva.

? Sim? ? Ele suspirou. De todas as coisas que precisava, a companhia de um jovem talentoso, mas irritante, provavelmente era mais baixa em sua lista.

? Lorde Lochlann disse que eu deveria procurar você, senhor. Disse que queria que eu fosse com você no ataque? ? O jovem levantou os olhos, os olhos arregalados e sinceros.

? Sim, Blaine, é verdade.

? Eu queria dizer-lhe. Eu tive uma ideia.

? Hmm? ? Broderick ergueu uma sobrancelha. Ele tentou parecer interessado, mas estava achando difícil. Tudo o que queria era montar até a floresta e gritar. Bastante alto.

? Você me falou sobre pensar, e como isso pode fazer de você um guerreiro melhor, senhor. Então, perguntei ao padre Padriag se ele possuia algum livro sobre guerra, e ele me mostrou um.

? Você sabe ler? ? Broderick disse antes que tivesse tempo de pensar sobre isso. ? Desculpe-me. Eu não deveria ter dito isso. ? Ele não queria insultar o jovem assumindo que ele não soubesse ler, mas era uma suposição natural. A maioria dos homens de armas não sabia ? na verdade, a maioria dos senhores que conhecia não sabia. Ele agradeceu a seu pai por ter recebido aulas, não apenas de guerra.

Blaine corou. ? Sim senhor. Eu sei que não é... o que a maioria dos guerreiros faz. Mas eu da... ele.. um padre. Um sacerdote me ensinou a ler. Por causa da minha alma, ele disse. Não que tenha ajudado.

Broderick sorriu. ? De qualquer forma. Você estava me contando sobre o livro.

? Pedi a Chrissie que me ajudasse a ler, e ? ela disse que ele fala em como sitiar uma cidade. Somente isso.

A sobrancelha de Broderick disparou. Ele olhou para a página que Blaine estava segurando. Em um pedaço de pergaminho, claramente roubado dos monges, como fora usado para praticar escrita, era um desenho.

O desenho mostrava uma estrutura complexa de madeira e cordas e alavancas.

? O que é isso? ? Ele perguntou, já entendendo o que era e ficando entusiasmado.

? Foi descrito por um inventor chamado Julius Caesar4, senhor. Eu não sei quem era. Um idiota inteligente. O padre Padriag disse que era chamado de uma arma de cerco. Parece útil.

Ele assentiu.

Broderick arrepiou o cabelo do rapaz. ? Obrigado, Blaine. Você foi de grande ajuda.

Blaine corou. ? Obrigado, senhor. E obrigado por pedir que eu vá.

? Fico feliz por ter feito isto, Blaine MacNeil. Estou feliz por ter feito.

Porque agora ele estava com a sensação de que talvez sua vingança estivesse ao alcance.


Capítulo Treze

Reunião E Desenvolvimento


Amabel estava caminhando no pátio. Ela ia ali sempre que estava preocupada. Havia um pequeno jardim ao lado da cozinha, um local perfumado onde as ervas cresciam em canteiros, lavanda expirando a fragrância sob o sol gentil. O lugar sempre acalmou sua alma e aliviou seus pensamentos. Era um lugar de paz e tranquilidade e pouco exigente.

Amabel sentou-se em um banco de pedra e olhou para o jardim, pensando.

Ela sabia que estava apaixonada por seu marido. Estava certa de que ele não poderia amá-la de volta. Suspirou e abriu a pequena bolsa que carregava, mostrando fios e agulhas ? costurar sempre a ajudou a se distrair das preocupações. Ela estava fixando os olhos em um pedaço de tapeçaria em que estava trabalhando, quando ouviu pisadas no cascalho.

? Minha lady?

Amabel levantou-se com tanta surpresa que quase se picou com a agulha. Ela deixou de lado seu trabalho, sentindo-se tensa e nervosa.

? Meu senhor? ? Broderick usava um longo manto verde escuro, preso com um broche de prata, longas calças escuras e uma túnica escura. Ele era muito bonito. Ela sentiu seu coração bater. Por que ele estava aqui? Para contrariar sua promessa de que ela o veria como amigo e não amante, seu corpo respondeu no momento em que o viu.

? Minha senhora. Perdoe minha intrusão. Ele olhou para as mãos dela. ? Eu estava na colunata5 e a vi sentada aqui. Eu queria falar com você.

? Você quer? ? Amabel voltou a sentar-se no banco, alcançando sua costura. Seu coração batia em seu peito, e ela tentou permanecer composta. Que tipo de coisa ele poderia dizer a ela? Ele não a queria, ao que parecia, como esposa. Então, por que procurar sua companhia agora? Ela olhou para ele, apertando os olhos por causa do sol.

Ele permaneceu de pé na frente dela, parecendo sério.

? Sente-se, meu Lorde, ? Amabel sorriu e acenou para o banco oposto. ? Não há necessidade de fazer tal cerimônia: é permitido sentar-se.

Broderick parecia um pouco magoado, quase como se esperasse que o convidasse a se sentar ao lado dela no banco. Ela descartou o pensamento como desejo fantasioso. Por que ele gostaria de fazer isso? Ela era sua amiga, não sua amante. Estava quase irritada com ele. Ele havia deixado as coisas claras na última noite! Ele não tinha? Por que estava confundindo-a assim?

Ele inclinou a cabeça e depois foi sentar-se em frente a ela e a olhou, os olhos escuros sérios.

? Minha lady... ? Ele limpou a garganta. ? Eu queria me desculpar.

A mente de Amabel disparou. Por que ele faria isso? O que ela deveria pensar agora? Mesmo quando pensava, notou, de repente, que algo era diferente. Seu sotaque. Ele parecia mais com seu tio, menos como o rapaz rude e áspero que chegara até eles, algumas poucas semanas atrás.

? Não, meu senhor! Você não tem nada para se desculpar. Você não fez nada errado... claro. ? Ela riu levemente e olhou para o tecido, focada para que ele não pudesse ver seu rosto. Se tivesse que olhar para ele, ela não seria capaz de fingir uma indiferença.

? Minha lady? ? Ele pareceu triste, e foi difícil para ela resistir à tentação de olhá-lo, apenas cederia um pouco.

? Se você quisesse me falar sobre a invasão que fará no próximo mês, eu sou toda ouvidos, ? disse ela distante. ? Será um empreendimento longo? Ou uma operação curta?

Ela não olhou para cima, mas o ouviu limpar a garganta.

? Minha senhora... Eu não havia planejado abordar o assunto da invasão. Mas obrigado pelo seu interesse. Será mais curta. Eu pretendo uma quinzena, o mais tardar. Supondo que possamos persuadir sua rendição.

? Estou certa de que você vai, ? ela riu. ? Meu tio planeja enviar toda a guarda?

Broderick piscou. ? Ele não contou tanta coisa para mim.

Amabel olhou para ele.

? Bem, eu o ouvi falar com Fergall no quintal. Agora você é o homem que ele quer do seu lado, meu marido.

Ele estava olhando para ela, os punhos apertados e um olhar desesperado em seus olhos. Ela balançou a cabeça. Sentindo-se irritado. Qual é o problema com ele. Não é o que ele quer de mim? Para ser uma ajudante? Uma companheira e aliada nesta vingança?

? Fergall? ? Ele enrugou a testa. ? Ele é o mestre das armas?

? Bem, ele é o armador. Um velho soldado. Sábio e experiente. Nomeado pelo meu avô, o último conde. Ele esteve conosco por um longo tempo. E ele sabe mais sobre a nossa capacidade de luta do que qualquer homem no castelo. Se você precisar de alguma informação, visite-o primeiro.

Broderick descansou os cotovelos nos joelhos, pensando. ? Obrigado. Eu vou. Ele está no arsenal, não é?

? Sim. ? Amabel chegou ao fim de seu fio de linho e finalizou a costura, cortando-a.

Ele ficou. Amabel assumiu que ele estava indo ao arsenal e o ignorou, mas ele não não voltou pelo caminho por onde havia vindo.

Ele se abaixou no banco ao lado dela e tirou uma pequena adaga de seu cinto.

? Aqui, minha lady, ? ele disse, passando-lhe a faca. ? Deixe-me ajudá-la.

Amabel olhou para ele, entendeu o que ele quis dizer quando apontou seus lábios. Então ela riu. ? Suponho que os hábitos do salão das damas podem ser um pouco difíceis, ocasionalmente. ? Ela passou para ele o quadrado de linho, sorrindo pesarosamente. ? Eu costumo morder os fios. ? Ela sentiu um pouco de vergonha, como se a sua dignidade feminina se abalasse deixando ele ver aquilo.

Broderick sorriu. Ele tirou a tapeçaria dela e cortou suavemente o fio que a agulha fixara. Estava com uma expressão estranhamente melancólica enquanto fazia isso e Amabel se perguntou no que ele estava pensando.

Ele se moveu para um pouco mais perto dela no banco, e ela sentiu seu corpo querendo o dele. Ela desejou que ele se sentasse um pouco mais perto. Desejava que ele a beijasse ou lhe rodeasse o braço, colocasse a mão na perna. Qualquer coisa para mostrar que sentia algo. Mas ele manteve uma distância cuidadosa entre eles.

? O que é, meu Lorde? ? Sua voz era estridente e ela odiava isso. Limpou a garganta. ? Você quer dizer algo para mim?

? Bem, eu deveria dar-lhe essa pequena faca. Pode ser mais útil. Vai te poupar o trabalho dos dentes.

Amabel sorriu. Se fosse uma oferta de amizade, seria bom.

? Obrigada, meu Lorde. ? Ela pegou a faca, e ele se moveu para segurar a lâmina, passando para ela com uma deferência cuidadosa. Amabel fechou os olhos. Era tão repugnante que nem sequer arriscaria encostar em seus dedos? Engoliu em seco, lutando contra o desejo de chorar.

? Foi um prazer. ? Ele se recostou, olhando para ela com aqueles olhos estranhamente nostálgicos.

Amabel fungava.

? Você queria dizer alguma coisa? ? Perguntou novamente.

? Eu... ? Seus dedos tocaram seus lábios pensativamente, e ele parecia que arrumava os pensamentos, mas então suspirou. ? Não era nada, minha senhora. Verdade. Foi injusto que eu perturbasse sua paz. ? Ele ficou de pé. ? Eu vou deixar você agora.

Amabel olhou para cima, com dor no coração. ? Meu senhor? ? Ela podia sentir lágrimas perigosamente perto e mordeu o lábio ? ela não choraria.

? Sim?

Ela ficou de pé para encará-lo. Queria se atirar em seus braços, levantar o rosto para o dele, e sentir sua boca, quente e dura na dela. Mas não podia arriscar sua dignidade. Ficou parada. Em vez disso, colocou uma mão cuidadosa em seu ombro.

? Mantenha-se em segurança, meu senhor? As incursões são perigosas.

Ele olhou em seus olhos um pouco descontroladamente. Então, suavemente estendeu a mão e acariciou seu queixo. Pegou o cabelo vermelho pálido ao lado do rosto. Ele sorriu.

? Obrigada minha dama. Eu me manterei.

Ele curvou-se e levantou levemente seus dedos aos lábios dele. Ela suspirou ao sentir sua respiração, quente e molhada, em sua pele. Seu corpo inteiro estremeceu de desejo. Ela fechou os olhos.

? Eu vou vê-lo no jantar? ? Sua voz era frágil. Ela não queria chorar. Não aqui na frente dele.

? Eu acho que sim, minha lady. ? Broderick sorriu. Seus olhos escuros pareciam brilhar, se arrepender e se importar. Ela achou tão difícil entendê-lo! Estava certa de que nunca poderia.

? Até a hora do jantar, então ? disse Amabel com uma pequena reverência. Ela esperou até ouvir seus passos recuando pelo caminho do cascalho.

Então sentou-se no banco com a luz do sol pálida e chorou.

Isso estava além de suas piores imaginações. Sempre temera que se casasse com um homem que achasse repugnante, mas de quem ela seria forçada a ser esposa, com tudo o que implicava. Estremeceu. Esse seria um destino terrível. Porém isto era igualmente ruim. Amando um homem, querendo um homem, desejando-o. E sabendo que ele não conseguia sentir o mesmo.

Ela tirou o lenço de seu lugar debaixo de sua túnica. Soprou o nariz ruidosamente nele. Não posso dizer-lhe como me sinto. Tudo o que posso fazer é ser uma amiga. E sua amizade será suficiente para mim... terá que ser.


Capítulo Quatorze

Passeio Na Noite


Broderick foi até o arsenal.

Fergall estava ocupado em reparar as espadas. Broderick tentou falar acima do martelar e do silvo de vapor no metal, mas depois de algum tempo, ele desistiu.

Eu voltarei amanhã.

Sentiu como se os zangões o picassem ? a situação com Amabel o deixou miserável, e quanto mais miserável, mais inquieto se sentia. Quanto mais inquieto ele estava, mais criticava as pessoas e mais isolado se sentia. Era um estado que só poderia piorar.

Foi até os estábulos para dar uma volta. Quando chegou lá, só restavam alguns cavalos e dois rapazes parados e sonolentos. Lembrou do porquê ? Duncan e Blaine e metade dos homens de armas saíram.

Merda! Ele quase esconjurou em voz alta, mas pensando na reação dos rapazes ao palavrão ficou com ele em sua língua. Não que eles ficariam chocados. Provavelmente eles esconjuravam pior do que ele, pensou pesarosamente. A postura do pessoal do castelo mudou rapidamente, e ele se surpreendeu com a gentileza deles em seu caminho.

? Os homens disseram quando voltariam?

? Senhor?

? Ele quer saber, quando eles estarão de volta? ? O outro rapaz explicou com cuidado.

? Oh. Eles disseram que bem tarde, milorde.

? Oh! ? Broderick mordeu o lábio. Ele esperava que Duncan voltasse logo. Se alguém soubesse como alterar sua situação, seria ele. Duncan podia ser mais jovem do que ele, mas tinha um bom coração e era, de longe, o mais sensível entre ambos. Pelo menos, ao longo dos anos e depois de todas as brigas em que haviam entrado juntos, Duncan sempre possuia um plano para tirá-los da encrenca.

? E o senhor, voltará antes do anoitecer?

? Sim ? disse Broderick brevemente. ? Obrigado.

Os meninos o encararam como se nunca tivessem ouvido a palavra antes. Provavelmente não, Broderick pensou tristemente quando se afastou. Ele decidiu dar a cada um deles algumas moedas, uma fatia de pão, qualquer coisa concreta quando retornasse, se eles ainda estivessem trabalhando. Aqueles meninos, mesmo com suas miseráveis origens, poderiam ser os cavaleiros de amanhã.

Ele apertou os joelhos e cutucou seu cavalo para iniciar um trote. Juntos, eles atravessaram a paisagem enevoada.

O passeio ajudou a clarear a mente. Acalmando-se e se concentrando no passeio, no terreno, evitando as árvores enquanto seguia a florestas, esqueceu de suas preocupações. Podia sentir o cheiro do ar fresco e sua cabeça lentamente foi se ajustando e ele voltou a pensar com clareza.

Mais um tempo e ele chegou ao fim do caminho. Considerou ir adiante, mas era perigoso. Nunca estivera nessas paragens, e não estava com Blaine, nem nenhum dos homens locais que conheciam o local. Ele não conhecia o caminho. Era fácil se perder nas florestas.

Ele se virou. Estava cavalgando, diminuindo o ritmo, quando começou a pensar novamente em Amabel. O que eu fiz? Não conseguia entender. Falhou com ela, ele sabia. Mas porque ela o achava tão repulsivo agora?

Ela nem queria que ele a tocasse. Ficou tensa. Sentou-se no lado oposto. Mal falou com ele.

Ele balançou sua cabeça. Desejou que pudesse falar com Aisling sobre isso. Aisling.

Quando se lembrou dela, ele se lembrou de sua vingança. Estava aqui por isso. E logo eles cavalgariam. Tomariam a fortaleza. Iriam desarmá-los.

A família Bradley nunca mais atacaria.

Ele se vingaria.

Voltou para o castelo, sentindo sua cabeça mais clara do que no dia todo.

Enquanto andava ouviu o som dos cavalos se aproximando. Não. Um cavalo. Ficou tenso. Um cavaleiro solitário? Nestas paragens?

Ele ouviu. O cavaleiro, quem quer que fosse, estava montando um cavalo mais leve. Um garoto caçando, talvez, não era nenhum dos grandes cavalos da raça Clydesdale, que as tropas cavalgavam, ou os cavaloss massivamente fortes, dos cavaleiros.

Ele esperou. O cavaleiro se aproximou. Quando ele se aproximou o ouviu falar.

?... e então iremos para longe. E moraremos em um castelo, então nós iremos. E você vai dormir em uma cama fina, com muito feno e correr todas as manhãs com os outros.

Ele franziu a testa. A pessoa estava falando com seu cavalo?

? Sim você irá. E vou viver no andar de cima. E irei vê-lo todas as tardes. E nós vamos viajar todas as semanas, nós iremos. Eu prometo.

Ele observou a floresta onde a voz ecoava. Era uma voz leve, mais parecida com uma pessoa jovem. Ou uma mulher.

Ele estava observando, sua mente apenas se recuperando, quando ela entrou na clareira. Amabel.

Ela estava usando uma longa capa de veludo verde, o capuz caindo, pois seus cabelos vermelhos brilhavam na luz. Tudo o que ele podia ver dali era a ponta do nariz pontiagudo e o brilho de seus dentes. Enquanto ele esperava na sombra, ela se virou. Ela olhou para ele.

Seus olhos azuis se arregalaram, talvez em choque. Seus lábios úmidos e cor-de-rosa se separaram. Ela ofegou. Então o reconheceu.

? Oh! ? ela disse, levantando a mão pelo vestido. Ela montava uma sela lateral, sua sela era um dos mais recentes desenhos, o francês, se ele pudesse adivinhar, com um sinete alto, para que pudesse ser segurado enquanto ela andava, embora ele percebesse que ela quase não o tocava, tendo um excelente equilíbrio.

? Lady Amabel. ? Ele inclinou a cabeça profundamente, jogando para trás seu próprio capuz.

? Marido.

Os dois olharam um para o outro. Ele podia sentir uma vontade em seu corpo o corroendo. Queria desmontar e correr para ela, agarrá-la, afastá-la da sela e segurá-la firmemente.

? Você está atrasado. ? Ela comentou. ? Eu pensei que eles fossem para um passeio mais curto.

? Meu irmão e sua comitiva partiram antes de eu ter visto você no jardim. ? ele explicou.

? Ah.

Diga algo, ele implorou. Ele não tinha certeza de quem desejava.

? Você está gostando do seu passeio, Amabel?

? Sim, ? disse ela, engolindo em seco, desconfortavelmente. ? Eu cavalgo frequentemente. Uma vez por semana. Fico mais calma.

? Você fala com seu cavalo, ? ele disse, se lembrando.

? Sim. ? Ela corou e olhou para baixo. ? Se isso o incomoda, eu posso parar. É um hábito tolo, não é?

Parecia amarga, como se esperasse suas críticas. Ele franziu a testa. ? Não, minha lady, eu não entendo assim. Muitos soldados, muitos cavaleiros, falam com seus cavalos. Eu acredito que eles entendam. O sentido, se não as palavras. Um vínculo entre um cavalo e um homem é importante. Pode salvar sua vida, conhecer e confiar no seu cavalo. Não ria.

Então ela sorriu. Ele sentiu o fôlego em sua garganta. Tinha caminhado para o lado dela, quase sem perceber. Estava tão perto que o joelho roçou o dela. Ele ouviu um suspiro.

? Desculpe, minha senhora. ? Sua voz era gelada. Ele engoliu em seco, odiando-se por isso. ? Eu estava distraído.

? Oh! ? ela disse com uma voz baixa e rouca.

? Obrigado por seu... conselho, ? ele acrescentou. Não queria ofendê-la. Ele andava por um gelo perigosamente fino. Não conseguia fazer um cálculo sem errar.

? Conselho? ? Ela estava olhando para ele com olhos cinza azulados e eles estavam molhados. Ela estava chorando. Ele quase gemeu quando viu o lábio inferior tremer. Aqueceria aqueles lábios cor-de-rosa com beijos. Mesmo que a situação fosse grave, ele ainda continuava excitado.

? Sobre o homem de armas. Armorer, ? ele corrigiu rapidamente. Não queria que ela o achasse estúpido!

? Oh, ? ela respondeu. Mais uma vez, aquela pequena voz apertada. O que ele havia feito agora?

? Ele estava ocupado, ? explicou. ? Mas eu voltarei amanhã. Ele é a pessoa que eu preciso.

? Ah! ? disse ela. ? Bem. Espero que ele seja uma assistência adequada.

? Estou certo de que ele vai ser.

Seguiram em silêncio. Enquanto eles seguiram, ele lutava para controlar seu desejo.

? Você vai sair logo? ? Ela perguntou com cuidado.

Ele piscou. Afastou sua mente dos pensamentos de segurá-la, esmagando-a, puxando-a para ele, tomando aquele doce corpo, lentamente, gentilmente, com todo cuidado. ? Sim. ? Sua voz era áspera, e ele limpou a garganta apressadamente. ? Dentro da semana.

? Ah ? ela disse. ? Você está ansioso para isso?

? Estou ansioso para a vingança, minha lady. ? Ele não quis soar tão intenso, mas as palavras foram ditadas com uma satisfação peculiar. ? Eu tenho fome disso há anos. Pela vingança.

? E meu tio-avô lhe empresta braços, ? ela disse.

? Sim, ? Broderick concordou. ? Ele é uma grande ajuda para mim.

? Você deve se alegrar, então, ? disse ela, e quando olhou para cima, seus olhos estavam flamejantes, lágrimas escorrendo, ? se casou com tanta vantagem.

Ele percebeu então, o que havia dito. Chegou à conclusão então, de que acabara de ficar na pior posição.

? Sim, ? ele disse rapidamente. ? É verdade que seu tio me ajudou. Mas... ? ele fez uma pausa. ? Mas essa não é a única razão pela qual estou feliz.

? Estou certa, ? ela disse friamente. Antes de saber o que ele ia dizer, ela havia saído.

? Eu busco vingança, minha senhora! ? Ele a chamou. ? Eu vivi pensando nisso durante muitos anos. Você deve entender.

Ela não disse nada. Deixado na floresta depois do que dissera, Broderick só podia esperar e queria que ela não sentisse tanto, e esperava que qualquer pessoa que passasse não notasse suas próprias lágrimas.


Capítulo Quinze

Preparação


Broderick e Blaine se encontraram frequentemente nos dias seguintes. E, de acordo com o conselho de Amabel, Fergall provou ser um membro inestimável para sua pequena equipe.

Sentados no banco de trabalho, na enorme tenda, os três discutiram seus planos para a campanha. Lorde Lochlann deixara-os com pouco tempo para se preparar, mas os três homens estavam confiantes de que poderiam construir uma arma de cerco, na semana em que invadiriam.

Dois dias depois de sua discussão com Blaine, no jardim, Broderick e Blaine decidiram o projeto final. Fergall examinou os planos, esboçado, cuidadosamente, sobre um pedaço de pergaminho.

? Você possui uma mão muito boa, mestre Blaine, ? disse Fergall para Blaine, que parecia intimidado.

? Lady Chrissie me ajudou com isso, ? ele disse calmamente.

Broderick sorriu. Ele ficou satisfeito pelo fato do rapaz ter coragem para falar com a bela jovem sobre suas aspirações. E com alguma sorte, a arma de cerco funcionaria bem, o suficiente, para que Lorde Lochlann visse as qualidades do rapaz. Se ele oferecesse seu apadrinhamento para ajudá-lo a se tornar um cavaleiro, quem sabe? Ele poderia chegar ao status onde pudesse um dia reivindicar a mão da dama.

? É um bom trabalho, ? ele elogiou, fazendo o rapaz sorrir.

Os olhos de Blaine brilharam. ? Agradeço, milorde.

Broderick sorriu. ? Eu ainda não sou, Blaine. Me dê alguns anos.

? Nenhum de nós está ficando mais jovem. ? Blaine sorriu insolente.

Broderick lhe deu um empurrão brincalhão.

? Nós ainda não conseguimos, ? lembrou ele. Seu próprio braço estava curando bem, e ele confiava que a ferida estaria completamente fechada quando a invasão fosse concluída. Ele se sentiu quase pronto para assumir sua passada juventude, apenas na esperança de ensinar-lhe as maneiras.

? Não, nós não conseguimos.

Fergall olhou de um para o outro com olhos confusos. Então ele encolheu os ombros.

? Eu acho que podemos conseguir uma coisa assim, construída durante esta semana, meu senhor. ? Ele passou a língua pelos dentes da frente. ? Eu vou ver se posso adiantar um pouco nesta tarde. Se quisesse vir ver antes de jantar?

Broderick inclinou a cabeça. ? Obrigado, Fergall. Isso seria uma ajuda.

? De nada, meu Lorde.

Broderick deixou o calor do arsenal pouco depois, indo para o frio do castelo. Ele acenou para os homens de armas que já estavam praticando sua luta no pátio e parou para gritar incentivos para aqueles cujos nomes ele conhecia.

Eu me sinto como se estivesse instalado agora. O pensamento era agradável. Já, mesmo com somente duas semanas de sua chegada, ele lutara uma campanha contra seus rivais, tomando um forte na fronteira. Esse era um prazer selvagem para si mesmo. Se ele pudesse conseguir uma invasão como essa, contra Loch Craigh, em sua cidade, ele ficaria muito satisfeito. Seria a vingança pela invasão em Dunkeld, todos aqueles anos atrás. Não chegaria nem perto do pagamento, pelo que eles haviam feito com ele e com sua família, mas seria próximo o suficiente, uma antecipação do inferno ao qual ele estava certo que encontrariam.

Fico feliz em garantir que eles cheguem lá.

? Oh! Meu Senhor!

Broderick olhou para baixo, assustado. Estava tão perdido em pensamentos, que não viu que havia alguém no corredor à sua frente. Ele olhou para baixo para ver a donzela de Amabel. Forçou sua memória, mas não conseguiu lembrar do nome dela.

? Eu não quis assustá-lo, ? disse ela, contrito. A mulher estava carregando uma cesta debaixo de um braço, uma bandeja com alguns biscoitos e um jarro, do outro lado. Ele adivinhou que eles poderiam ser para Amabel ? ela não comparecera para o almoço, alegando que estava doente. Apenas uma ideia formada em seus pensamentos.

? Eles parecem deliciosos, ? ele disse gentilmente. ? Não posso levar essa bandeja para minha esposa?

A donzela olhou para ele como se tivesse acabado de atravessar a parede. ? Meu Senhor?

Broderick suspirou. Ele sabia o quão pouco convencional era para um Lorde oferecer-se para ajudar com alguma tarefa insignificante. ? Eu estava indo à cama de qualquer maneira, ? ele disse para explicar. ? E parece que você está indo para a lavanderia?

A donzela fez uma reverência. ? Ah, sim, milorde. Eu fui. E seria uma grande ajuda para mim se eu não tivesse que ir até o andar de cima para baixo de novo com uma cesta tão pesada... ? Ela indicou a cesta de lavagem que carregava.

Broderick assentiu.

? Nós acertamos, então. ? Ele pegou a bandeja e subiu as escadas.

À porta do quarto, ele bateu.

? Blaire? É você?

Broderick não disse nada. Ele virou a maçaneta e encontrou a porta destrancada, então entrou.

? Blaire? Oh! ? Sua esposa levantou-se rapidamente.

Ela estava vestida com uma camisola solta de linho branco, seu longo cabelo vermelho caído até sua cintura, e ela estava escovando suas madeixas com um pente prateado. Sua cesta de trabalho estava a seus pés, cheia de fios brilhantes de seda. Seus olhos estavam arregalados e ela parecia assustada, os lábios se separaram de uma maneira que fazia o sangue de Broderick pulsar, descontroladamente, através dele.

? Eu pensei que pudesse servir você, ? disse Broderick, com um brilho nos olhos.

? Ah, ? disse sua esposa com uma voz sumida. ? Eu não quero prendê-lo. Foi... típico de você aliviar minha donzela. Se você pudesse colocar a bandeja lá? Muito obrigada, ? disse ela, mostrando-lhe uma pequena mesa de carvalho no canto junto ao fogo.

Broderick assentiu. Ele nunca vira sua esposa tão fria antes. Sua frieza para com ele lutou com o calor crescente em seu corpo, enquanto a olhava, vestida apenas em seu traje de noite, cabelos longos e soltos sobre sua figura. Mordeu o lábio, tentando não olhar muito para ela. Ele se sentiu quase culpado por seu desejo, quando ela estava tão fria e aparentemente irritada com ele.

? Você esteve falando com Fergall, planejando a campanha? ? Ela deu um passo para trás de uma tela e parecia estar colocando seu vestido.

? Eu estive, ? Broderick repondeu. Ele colocou a bandeja onde ela havia indicado, e então ficou de fora da vista. ? Ele foi muito útil. Ele e Blaine construíram algo que acreditamos que ajudará na campanha. Você fez bem, recomendando-o para mim.

Ela saiu de trás da tela. Havia colocado um vestido verde, de uma cor esmeralda pálido, de um veludo molengo. Sentiu sua boca seca e limpou a garganta.

Ela piscou para ele. Estava a um passo de seu braço, tão perto que podia ver os anéis azuis ao redor do acinzentado de suas íris, mas ainda estavam afastados por sua postura cortês.

? Estou feliz por ser útil, meu Lorde, ? disse ela cuidadosamente. Baixou os olhos, as mãos se agarrando em sua cintura. Era uma postura recatada, e uma que acelerava o coração dele apesar de toda sua inocência.

? Você é. Com sua ajuda, podemos esmagar Bradleys, finalmente, ? disse ele. Mordeu o lábio quando viu seus olhos de repente entristecidos.

? Um bom objetivo, ? disse ela em uma voz baixinha. ? Posso perguntar por que você está tão pronto para ajudar meu tio a lutar contra seus inimigos?

Broderick olhou para ela. ? Os inimigos do seu tio? Eu luto com os meus inimigos! Eu não sou um caçador na coleira do seu tio, para lutar por seu desejo, ? ele disse com muita energia, se sentindo ofendido.

Amabel piscou para ele. ? Esses inimigos são muito importantes para você, eu acho.

? Claro que eles são! ? Ele disse alto. Ele estremeceu quando seu rosto caiu em uma neutralidade cuidadosa. ? Sinto muito, Lady Amabel. Não queria aumentar minha voz.

? Eu não me ofendi, ? disse ela, afastando-se. Ele balançou a cabeça para si mesmo. Ele a perturbou ainda mais, afastou-a ainda mais.

? Se você acha seus inimigos tão importantes, não é da minha conta, tenho certeza.

Broderick suspirou. ? Não foi minha intenção. É só que... essa luta é minha vida.

Lady Amabel fez um som estrangulado com a garganta. Poderia ter sido uma risada. ? Eu vejo, ? ela disse calmamente. Sua voz estava trêmula. Quando ela se virou para encará-lo, seus olhos eram pedaços de tristeza. ? E então, também deve se tornar minha vida?

Isso o confundiu. ? Em que sentido, minha senhora? Eu não fiz nenhum pedido para você. Procuro apenas vingar Aisling.

Ela mordeu o lábio. ? Eu sei, ? ela disse em uma voz baixinha. ? Eu sei.

Então ela se afastou dele. Caminhou até a tela no canto. Quando ela estava atrás, ele ouviu um soluço.

Ele se odiou naquele momento. ? Amabel?

Ela não disse nada. Suas lágrimas caíam mais rápido agora ? ele podia ouvi-la ofegar enquanto o choro se tornava mais intenso.

Ele suspirou. O que poderia fazer? Ele não fazia ideia do que havia feito em primeiro lugar. Não fazia ideia de como começar. Tudo o que ele podia fazer era esperar. Esperar que ela viesse a entender o que o levou a isso.

Sem palavras, ele puxou a porta. Puxou-a fechando silenciosamente. Caminhando tão silenciosamente quanto podia ele se dirigiu às escadas e para o pátio. Talvez um passeio clareasse sua cabeça. Talvez um pouco no quintal com os homens. Talvez uma boa luta. Não sei o que fiz. Tudo o que fiz foi dizer a verdade.

A vingança em Bradleys era tudo para ele. Tudo o que importava. Precisava ser. Se virasse as costas, seria virar as costas para Aisling. E essa seria a coisa mais miserável que ele poderia fazer.


Capítulo Dezesseis

Uma Jantar No Castelo Lochlann


? Você pode me passar o molho, meu senhor?

Broderick piscou. Essa foi a segunda frase que Amabel lhe dirigiu durante toda a noite.

? Claro.

Era a noite antes dele sair na campanha. Estava sentado no salão com a família. Amabel o evitava desde o dia em que ele falou sobre sua vingança.

A reunião era apenas familiar, e isso significava sete deles: Lorde Lochlann, é claro, ele e Amabel, sua nova esposa. Sua irmã e prima também estavam lá. O irmão Duncan que ainda estava no castelo e o rapaz chamado Heath, que foi apresentado como um pupilo. Como seria a última noite antes da partida, Lorde Lochlann declarou que queria um jantar íntimo ? um somente com a família, sem que todos os homens de armas e criados do castelo os observassem. Consequentemente, todos se sentaram para jantar no salão do castelo.

? Isso não é adequado? ? Lorde Lochlann disse com um sorriso. ? Todos nós aqui para nos despedirmos de nossos prestativos aliados.

Ele fez um amplo gesto para Broderick. Duncan sorriu e Heath levantou um copo. A refeição continuou. Até aquele momento, a maior parte da conversa girou em torno de Lorde Lochlann. Broderick e sua esposa se sentaram em um silêncio absluto, comendo suas codornas e pastinacas6 assadas, bebendo clarete7 e sem falar.

Ele passou para ela o jarro de cerâmica com molho, esperando até ela terminar de colocá-lo antes dele e depois sentou-se novamente.

? Obrigado.

Broderick suspirou. Ele não fazia, absolutamente, nenhuma ideia do que fizera para causar essa descortesia, mas desejou conseguir mudar isso. Ela ficara assim desde o seu argumento. Ela deitou na cama antes dele chegar e estava dormindo quando ele escorregou para baixo das cobertas. Ela acordou cedo, deixando-o sozinho na cama. Ele ainda a desejava com uma dor que o queimava, mas, até agora, mantinha uma distância, que sugeria que ela queria que seu relacionamento fosse uma troca cortês de palavras e nada mais.

Ele afastou os olhos dela e olhou em direção ao resto dos comensais, buscando distração de suas dores.

?... e vamos exterminá-los desta vez! ? Lorde Lochlann estava dizendo com entusiasmo.

Broderick assentiu, lembrando o fio da conversa. ? Essa é a minha fervorosa esperança, meu senhor.

Parecia que Lorde Lochlann estava em um estado de espírito particularmente alegre, naquela noite.

? Sim! E a minha, jovem senhor, ? disse Lorde Lochlann. ? Um brinde! Beba por isso!

Broderick fez uma careta, mas ergueu o copo e bebeu. Não fazer isso teria sido grosseiro. Sua cabeça já doía, e ele teve problemas para se concentrar. Sabia que estava bebendo demais e também sabia que não queria estar sóbrio. A sobriedade significava consciência e consciência o lembrava do quanto sua esposa não gostava dele.

Lorde Lochlann bebeu um copo e enxugou a boca com um guardanapo. Ele passou a maior parte da noite falando sobre a campanha, contando o sucesso e as falhas do passado, e histórias engraçadas de quando Broderick e Duncan eram garotos. Os Bradleys, ao que parece, também foram um problema para a família deles. Ele parecia ansioso para finalmente repelí-los.

? Eu acredito que você pretende usar alguma técnica nova, meu senhor? ? Disse Heath, o jovem protegido. Broderick olhou para ele. Um jovem de rosto magro com cabelos escuros e olhos brilhantes, ele parecia inteligente e perspicaz. Broderick gostava dele. Esperava conhecê-lo um pouco melhor antes da partida para a campanha.

? Sim. Isso é verdade, jovem. Devo lhe recordar a história de como isso vai se desenrolar. Todos nós aprenderemos algo dessa campanha, eu entendo.

Lorde Lochlann riu, divertiu-se, ouvindo-os. ? Se esses Bradley aprenderem algo, isso será bom o suficiente.

Broderick levantou uma sobrancelha. ? Espero que sejam eles quem aprenda, meu senhor. Mas em todo o caso, nós também devemos aprender.

Lorde Lochlann parecia achar isso muito engraçado. Ele riu. ? Muito verdadeiro, jovem Broderick.

Broderick suspirou. Ele olhou para seu irmão, que sorriu para ele. A condescendencia do Laird com eles evidentemente o irritava também, porém ele parecia aconselhá-lo de que o ignorasse. Isso fazia sentido. Em um mês, Broderick esperava nunca mais ter que ver o homem. Após sua vingança, ele poderia voltar para casa, à fortaleza de MacConnaway.

E levaria uma noiva com ele.

Broderick mordeu o lábio. Ele nunca havia pensado em ir tão longe. Não havia pensado no depois da vingança, no que aconteceria depois. Ele se concentrou em seu ódio contra os assassinos de Aisling, alimentando-o até que se tornou um vazio cada vez maior dentro dele, corroendo seu coração.

Agora, com uma noiva ao lado daquilo que não queria encarar, percebeu que havia deixado que esse vazio o invadisse completamente. Ele suspirou: era muito tarde para mudar. Não fazia ideia de como suavizar seu coração para ela. Não conseguia nem adivinhar o que havia feito de errado.

Balançando a cabeça para si mesmo, decidiu deixar o assunto descansar por algum tempo. Ele ouviu os acontecimentos e as conversas, olhando sua esposa silenciosa e de costas eretas. Ela sentou-se ali como uma estátua de mármore, pintada em vermelho, branco e verde, uma coisa de beleza requintada, feita de pedra e de gelo. Ela estava olhando para os cães de caça que se concentravam ao lado de seu tio, esperando que ele lhes jogasse os restos. Parecia inteiramente desinteressada dos ocupantes humanos da sala.

Broderick mudou seu olhar para Duncan, que se sentou ao lado de Lady Alina. Ele estava falando com ela com grave seriedade, olhos castanhos escuros e brilhantes.

? Você vai cavalgar na caçada do outono? ? Perguntou ele. Broderick sorriu. Com seus cabelos negros lisos e soltos sobre seus ombros, um vestido de veludo azul escuro que deixava os olhos negros, Alina estava adorável. Quase tão adorável quanto sua irmã.

? Eu vou cavalgar com os caçadores, ? disse Lady Alina calmamente. ? Mas na hora da matança, vou voltar para cá. Não sinto alegria ao ver a morte desnecessária.

Duncan assentiu. ? Minha lady, você é sábia. A morte é uma coisa que não deve ser iluminada.

Broderick engoliu. De fato. Essa era uma coisa com a qual ele concordava completamente. Desejou que seu irmão não precisasse aprender o quão grave era a morte. E como isso não acabava. A presença de Aisling permanecia em seu coração, atravessando tudo como tinta derramada em um tecido, tocando todas as facetas dele.

? Obrigada, Lorde Duncan, ? disse Alina para seu irmão, atrapalhando o devaneio de Broderick. ? Isso é sábio.

Ele viu Duncan corar. ? Oh, não, minha senhora. Isto é somente a forma de dizer isso. ? Ele alcançou o saleiro, claramente se sentindo estranho.

Broderick sorriu. Ele nunca viu seu irmão assim. Nunca o vira realmente atraído por alguém. Eu deveria falar com Lorde Lochlann sobre isso. Tanto quanto ele lembrou, Alina estava com dezenove anos ? um pouco jovem, mas não um partido ruim para Duncan, que estava com vinte e nove. Ele esperava que Lochlann pelo menos considerasse favoravelmente a ideia de uma união entre eles.

A conversa silenciosa foi interrompida por uma risada alta de Lady Chrissie, que estava sentada ao lado de Amabel.

? Oh, Heath! Você é bobo!

Toda a mesa olhou para eles, e Heath corou.

? Não é bobagem, minha lady. ? Ele disse suavemente, mas Broderick podia ver que ele estava chateado.

? Desculpe, Heath! ? Disse a menina, instantaneamente corada. ? Mas foi assim que você disse. Parecia tão... triste, tão seco!

Heath sorriu. ? Minha senhora, peço desculpas. Eu não pensaria em deixá-la triste.

Chrissie riu, as bochechas lindamente coradas.

Broderick observou-os com saudade. Eles eram tão jovens! Eles não sabiam nada da dificuldade e da dor do amor, nada sobre perda ou mal-entendidos. Seu amor estava apenas florescendo, e ele desejou-lhes uma vida de felicidade e inocência. Que eles conheçam a alegria juntos.

? Meu Senhor?

Broderick se virou para encarar sua esposa. ? Sim?

? Eu pensei que o senhor tivesse dito alguma coisa. Eu devo ter me enganado. ? Ela se virou rígida.

Broderick suspirou. Ele não percebera que falara seu desejo por Heath e Chrissie. Ele queria dizer a ela o que ele quis dizer, mas ela já havia se afastado.

Eu deveria me concentrar nessa campanha. Esquecer o que acontecerá depois.

Com isso como sua decisão, Broderick ouviu Lorde Lochlann e suas histórias, mas havia pouca coisa a aprender com eles. Ele fez uma nota mental para procurar Fergall no dia seguinte e aprender tudo o que pudesse com ele.

Lorde Lochlann sorriu quando os criados chegaram para limpar os restos do prato principal. ? É bom jantar com meus novos aliados. Pretendo ansiosamente muitos desses jantares. Muitas campanhas mais, contra o nosso inimigo comum.

Broderick suspirou. Ele esperava usar os recursos de Lochlann para sua própria vingança. Em certo sentido, era justo que Lorde Lochlann procurasse explorá-lo igualmente.

? Bom, meu senhor. De acordo. ? Ele levantou o copo, mas desta vez apenas molhou seus lábios com ele. Sua cabeça já estava nadando, e ele não queria se arriscar e ficar bêbado esta noite.

Os criados trouxeram um prato com nozes e maçãs, uma espécie de torta que cheirava doce e deliciosa, mas Broderick estava com pouco apetite. Ele esperou que a família mais nova terminasse a refeição e depois se retirasse.

? Boa noite, meu Lorde. ? Ele inclinou a cabeça para Lorde Lochlann, que já estava caminhando até a porta.

? Boa noite, sobrinho. Aguardo excelentes notícias quando você retornar do nosso empreendimento.

? Obrigado, meu senhor.

Broderick procurou sua esposa, mas ela estava no canto da lareira, conversando com a pequena Chrissie, que estava rindo e corando. Ele deixou o salão se sentindo miserável. Broderick MacConnaway, você é um idiota.

Não querendo enfrentar a frívola cortesia de Amabel e sua tristeza, ele voltou do jantar sozinho, indo para o seu quarto. Entrecerrou os olhos: não conseguiu discernir o caminho claramente pelo corredor à luz nebulosa e leve das tochas. Mas isso não era o que o irritava com ele mesmo... era sua incapacidade de entender.

Tudo o que ele sabia era que fizera algo tolo e agora sua esposa o odiava.

O que eu fiz de errado?

Ele alcançou a cama e se despiu. Sentindo-se completamente miserável e derrotado, tentou se esquecer da alegria e prazer que sentira nessa cama, há tão pouco tempo atrás. Ele deslizou para baixo das cobertas e logo adormeceu profundamente.

Quando acordou, sentiu Amabel deitada ao lado dele.

Ele rolou. Ela estava dormindo. Olhos cinza azulados fechados, os longos cílios descansando na suave elevação de sua bochecha. Ele olhou para ela.

Ela é tão bonita. Muito bonita.

Ele queria estender a mão e acariciar seus cabelos. Beijar os lábios vermelhos e volumosos. Escorregar a língua na neve branca de sua pele e pegar aqueles mamilos fortes e firmes nos dentes, como ele fiera um pouco mais de uma semana antes. Podia sentir seu corpo respondendo e apertou os dentes, sufocando um gemido.

Não toque nela. Você seria o pior tipo de pessoa se forçar sua esposa.

Ela se moveu e abriu os olhos lentamente. Sorriu. Quando seu olhar o registrou, ele viu seu rosto mudar. Seus olhos se fecharam, e ela apagou o sorriso.

? Boa noite.

Ela se afastou dele. Depois ele ouviu sua respiração voltar para a lentidão do repouso.

Sentindo-se desesperado com o desejo, Broderick deslizou para fora da cama e caminhou até a lareira, olhando para as chamas saltando. Vermelho, ouro e laranja, elas o lembraram, ridiculamente, de Aisling.

? Aisling, ? ele sussurrou para o fogo. Minha amada mais querida. Ajude-me? Eu construí uma parede de ódio dentro do meu coração e me esqueci de como amar.

Concentrou-se em suas lembranças de Aisling, mas tudo o que ele podia recordar com clareza era o tartan Bradley, ondulando no fogo. Ele sentiu uma lágrima rastejar por sua bochecha, fria e úmida. Segurou-a, mas foi seguida por outro. Esqueci-me de tudo, perdido nesta busca pela vingança.

Sentindo-se mais perdido do que nunca, ele se sentou junto ao fogo e permitiu que as lágrimas fluíssem, descontroladas, pela primeira vez desde a morte de Aisling. Me ajude, ele pensou um pouco desesperadamente. Me diga o que fazer.


Capítulo Dezesete

Um Adeus Em Drawbridge


O dia da campanha amanheceu. Broderick estava nos degraus do castelo.

Amabel estava em frente a ele. Ela usava um vestido de linho branco de pescoço alto, caindo suavemente em uma longa ponta. Em sua cabeça, ela fez um penteado alto e cheio de graça, do qual flutuava um véu cintilante. Parecia linda e longínqua, um pilar de gelo.

? Adeus, Lorde Broderick, ? ela disse baixinho. Suas mãos, dedos longos e afilados, na dele, eram como gelo.

? Adeus, minha senhora, ? disse ele rigidamente. Ele se inclinou para beijar sua bochecha. Ela ficou inflexível sob o toque de seus lábios. Sua pele era fria como o mármore debaixo de sua boca. Ele recuou.

? Desejo-lhe um empreendimento abençoado,? disse ela com uma voz alta e clara. ? Que consiga realizar sua vingança há muito procurada.

Broderick assentiu. ? Esse será o meu objetivo.

? Bom.

Ele apertou os dedos sem vida, desejando poder pensar em algo para fazer ou dizer para acalmar a situação. Mas não conseguia pensar em nada. Soltou seu aperto e ela retirou os dedos. Ela olhou para ele nas fileiras dos homens, para a catapulta simples que estava atrás.

? Conte-me tudo sobre isso! ? Heath disse com entusiasmo. ? Eu desejo ouvir uma história completa do trabalho da arma.

Broderick sorriu e arruinou o cabelo preto e grosso do jovem. ? Eu devo ir, jovem. Cuide do castelo na minha ausência.

Lorde Lochlann bufou atrás de uma linha, mas o jovem corou alegremente.

? Eu cuidarei, senhor Broderick!

Broderick sorriu. Ele se virou para o irmão. ? Cuide de Dunkeld para mim, irmão. E certifique-se de que o patife de nosso pai saiba porque estarei ausente por tanto tempo.

Duncan riu. Ele sempre teve um riso fácil, o que o tornava instantaneamente popular. ? Eu farei, irmão. Tome cuidado. ? Ele apertou sua mão. Broderick engoliu. Um adeus de seu sábio irmãozinho sempre foi bastante difícil.

? Você também.

Ele se afastou, rapidamente, sentindo a estranha mistura de inquietação e tristeza que sempre sentia ao dizer adeus a Duncan. Limpou a garganta e olhou para Blaine, que estava mais abaixo da fila.

? Venha, Blaine. Lá vamos nós.

Blaine assentiu e os dois se viraram para montar. Broderick havia recebido um dragrier magnífico, um cavalo que ele sentia que apenas merecia. Treinado pelos melhores treinadores da Normandia, o cavalo era uma montaria que teria agraciado um júri e seria campeão. Ele sentiu-se desesperado e tentou fingir que não estava.

? Venha, Flamme,? ele sussurrou em francês para o cavalo. O cavalo possuia um nome francês e foi treinado naquela língua. Amabel falava francês, pensou com tristeza. Ela teria sido capaz de ajudá-lo a aprender os comandos corretos se tivesse pensado em perguntar.

Blaine se jogou na sela de sua montaria preta da raça Clydesdale, e juntos cavalgaram na frente de mais de oitenta soldados. Broderick queria se virar, acenar. Apanhar algum sinal de que sua esposa se importava se ele vivesse ou morresse. Mas não achava que ela aceitaria gentilmente se ele acenasse.

Ela provavelmente veria isso como uma espécie de insulto para sua dignidade.

Ele desejou entender sua esposa. Ela estava tão pronta, tão perto dele, tão calorosa, gentil e complacente. Mas nas últimas duas semanas, o fosso entre eles cresceu até que quase não falou de um dia para outro ? ele desejou conseguir entender.

? Blaine, ? disse ele depois de terem cavalgado durante quase meia hora. Os homens haviam se cansado de cantar canções monótonas e a marcha desacelerava um pouco quando o dia passava para uma tarde quente e acinzentada.

? Sim senhor?

? Você conhece alguma coisa sobre as mulheres?

Blaine riu e Broderick olhou para ele. ? Eu não quero dizer assim. Você sabe que eu não, ? ele disse atrapalhado.

Blaine mordeu as bochechas para sufocar o sorriso atrevido. ? Eu sei, milorde. Mas, no que diz respeito às mulheres... Não sei muito, senhor. Eu não conheço quem saiba.

Broderick sorriu. ? Eu vou me encantar com isso, Blaine.

Seguiram em silêncio.

? Eu não conheço muitas mulheres, senhor,? disse ele depois de um momento. ? Mas eu conheço as damas de Lochlann. Conheço um pouco de Lady Amabel.

? Oh? ? Broderick piscou.

? Ela está triste, senhor.

Broderick riu secamente. ? Eu acho que notei também. Por quê?

Blaine encolheu os ombros. ? Ela gosta do senhor.

Broderick o encarou. Ele estava bebendo de sua bolsa de água e quase engasgou. ? O quê? ? Ele tossiu. Seus olhos estavam fluindo, e ele se virou para encarar Blaine, totalmente descrente.

Blaine encolheu os ombros. ? Não olhe para mim todo surpreso, senhor. Foi o que eu ouvi. Não é minha culpa se não faz sentido.

Broderick suspirou. ? Você ouviu Chrissie falar, Blaine?

? Sim, senhor. ? Ele se virou na sela, cuspindo no caminho. Sorriu para Broderick.

Broderick sorriu. ? Ela disse que Amabel gosta de mim? Por quê?

Blaine sorriu. ? Não faço ideia, senhor. Ela tem um gosto engraçado, eu acho.

Broderick bateu no ombro dele. ? Isso não. Não é porque ela gosta de mim, você está com medo! Embora eu admito que talvez seja um mistério. Por que ela disse isso?

Blaine fez uma pausa, pensando. ? Falei com Chrissie antes de sairmos, senhor. Ela disse que estava triste porque Amabel estava triste. Ela estava sendo ruim com todos, disse ela. E era por você.

Broderick suspirou. Não fazia ideia de que causara miséria às três mulheres membros da família, e não apenas a uma. Ele se sentiu como o pior tipo de criatura. ? E foi quando ela disse que ela gostava de mim?

? Sim. Perguntei-lhe por que Lady Amabel estava triste com você. Ela disse que era porque Amabel gosta de você, mas você não gosta dela.

Broderick parou de repente, ele quase caiu. Seu cavalo parou, irritado, e ele suspirou. Olhou para Blaine. Ele ficou chocado. ? Ela disse o quê?

? Ela disse que você não é como ela.

Broderick riu. ? Por que, isso é ridículo! Eu fiz tudo para mostrar a ela que eu me importo. Fui atencioso, amável, pensativo...

Blaine apertou os olhos para o superior. ? Não me pergunte. Mas parece que não é convincente para ela.

Broderick suspirou. Blaine estava certo. Tudo o que ele estava fazendo para corrigir era claramente, bastante, pouco convincente. Mas o que ele sugeria era irracional. Como Amabel pensou que ele não gostava dela? Depois de todas as maneiras que ele tentou mostrar...

? Você sabe o que não entendo, Blaine? ? Perguntou ele.

? Diga, senhor?

Broderick abotoou o ombro. Blaine riu.

? Eu não entendo as mulheres, Blaine. Nem um pouco.

? Bem, senhor, isso é muito. Cada duas pessoas uma é uma mulher. Então, essas são muitas pessoas... ? Ele parou quando Broderick o olhou.

? Assim que chegarmos ao acampamento, vamos apostar, ? prometeu Broderick. ? E se perder terá que limpar minha camisa de montaria.

Blaine sorriu. ? Você quer fazer isso?

Broderick riu. ? Vamos ver, jovem. Veremos.

Ainda rindo, os dois cavalgaram por todo o banhado em direção a um céu avermelhado.

Broderick pensou sobre o que ouvira. Era loucura demais para acreditar. Ele estava certo de que Blaine a entendera mal. Como Amabel realmente pensou que eu não gosto dela?

? Pare! ? Ele disse depois de uma hora de viagem. O sol estava se pondo. Ele entrecerrou os olhos para o terreno. Eles estavam a menos de dezoito quilômetros da floresta, que ficava no fundo da inclinação suave que cruzavam agora. Do mapa que Lorde Lochlann mostrou, ele julgou que ainda estavam a dois dias de marcha distantes de Loch Craigh. Eles estavam mantendo um bom ritmo. ? Paramos para o acampamento.

Enquanto os homens resmungavam seus agradecimentos e se dirigiam para seus deveres ? montando tendas, coletando madeira, encontrando água ou tomando posições como sentinelas ? ele desmontou. O pensamento sobre Amabel não o deixara e agora ele possuia mais perguntas do que antes. Ela realmente pensava que ele não gostava dela? Como ele a fez pensar isso? E agora, o que ele poderia fazer para mudar isso?


Capítulo Dezoito

Luz E Sombra


A noite estava escura.

Broderick e seus homens haviam se escondido no bosque desde a tarde. Agora a noite caiu, eles poderiam finalmente se mexer.

? Agradeça o paraíso por isso, senhor. ? Blaine suspirou quando se sentou ao lado de Broderick, sob o abrigo de um pinheiro alto. ? Minhas costas estão bastante doloridas.

Broderick fungava. ? Eu também. No entanto, fique quieto. Nós não queremos que os vigias nos ouçam.

Blaine assentiu. Juntos, eles avançaram lentamente através do bosque escurecido.

Estavam em uma floresta a aproximadamente sessenta metros de Loch Craigh. A fortaleza foi construída à beira de um penhasco alto, com vista para um vale onde Loch estava localizado. Aqui, nesse lado, era o único acesso ao lugar. O que significava, é claro, que eles seriam cuidadosamente observados.

Broderick e Blaine conduziram os oitenta homens através da floresta escura. Não podiam arriscar-se a acender uma tocha, pois as sentinelas no muro as veriam. Como estava a floresta era menos densa nas bordas, e eles poderiam ser guiados pela luz da lua. A lua não estava cheia, mas o lago abaixo refletia a luz e ampliava-a, criando um espelho de prata no fundo do vale.

? Bem, aqui estamos, ? sussurrou Blaine. ? Loch Craigh.

Broderick estava ao lado dele na beira da densa floresta. Ele suspirou. Lá à luz da lua, os altos e suaves muros da fortificação inimiga eram de uma beleza real, bela, branca e elevada. Inatacável. Exceto deste lado.

Os dois olharam para a fortaleza por um momento. Então Broderick acenou para os homens.

Fergall estava com eles, embora ele tivesse tomado a rota através do pântano. A arma de cerco não podia ser escondida nas florestas, e então, eles precisaram esperar que ela tivesse passado por terra sem intercepção ou assalto e estaria lá para encontrá-los quando chegassem às muralhas.

? Vamos, ? Broderick sussurrou.

Juntos, ele e Blaine caminharam às muralhas frescas e altas. A pedra estava prateada ao luar e quando saíram da linha das árvores, mesmo Broderick respirou bruscamente. Ao pé do penhasco, o lago era profundo, ondulando, a superfície viva e prateada sob a luz.

Suspirou. A beleza atingiu seu coração. Ele pensou que estava fechado para tudo, exceto à necessidade de vingança, mas, algumas coisas ainda podiam encantá-lo. Como Amabel.

Deixando os pensamentos de sua esposa de lado, Broderick saiu para os campos abertos.

Esta seria a parte perigosa. Ele precisava conseguir liderar as tropas pela escuridão e nas sombras, do campo até às muralhas. Ele também esperava que Fergall tivesse conseguido e estivesse a uma curta distância.

Ele e Blaine caminharam para a frente e então, quando estavam perto de, talvez, dois metros e meio dos muros, cada detalhe no topo da muralha, cada bloco de pedra, cada entalhe, era claro para os inimigos, ele respirou fundo.

Soltou um assobio alto e claro.

Eles podiam ouvir as sentinelas murmurando na muralha, olhando para baixo, tentando ver o que estava abaixo. Um deles jogou uma pedra neles, na esperança de ver o que estava abaixo. Broderick mordeu o lábio. Não podia arriscar outro assobio. Mas e se eles não tivessem ouvido? O que ele poderia fazer... todo seu plano dependia disso!

Então, quando estava prestes a se arriscar a sair, para ver se ele conseguia ver os homens com a arma de cerco ? um grupo de dez, contando Fergall e seu assistente ? ele ouviu.

Alguém assobiou pelo ar acima de suas cabeças.

Era um som alto, como correr o ar através de uma fenda na ponta de um chifre. E enquanto esperavam, tornou-se mais estridente e alto, um som agudo e gritante.

Então a pedra enorme atingiu a muralha e quebrou o silêncio.

A pedra quebrou o topo da torre, e Broderick gritou para os homens subirem. Antes que eles o fizessem, uma pedra caiu a poucos metros dele, um pedaço de pedra caíra, um pouco maior do que a cabeça dele. Ele olhou fixamente.

Na parede, os homens gritavam, chamando, correndo. Alguém trouxe tochas e eles as mantiveram no alto, tentando ver o que estava acontecendo lá embaixo.

Então a segunda pedra assobiou pelo silêncio.

Broderick assistiu, espantado, enquanto os defensores corriam para fugir ao novo ataque. Ele gritou para seus homens.

? Escadas... a postos!

Eles possuíam cinco escadas. Em face daquela enorme fortaleza, elas não pareciam o suficiente. Contudo. Precisavam ser. Através de sua instrução, os homens com escadas correram para a frente, jogando-as nas paredes.

Os primeiros homens esperaram o comando de Broderick para escalar. Ele fez uma pausa. Este era o momento certo, enquanto os homens ainda estavam confusos na muralha. Mas sentiu-se de repente frio. Ele observou enquanto os defensores se espalhavam caídos, gritando e chamando. Sentiu uma separação súbita, como se uma parte dele observasse a si mesmo.

É para isso que você vive, Broderick MacConnaway? Para causar tal morte e destruição? Essa dor?

Ele se sacudiu. Era verdade. Claro, era. Ele era Broderick MacConnaway, filho de um Laird. Ele era um escocês. O que mais poderia fazer senão vingar o ataque à sua própria fortaleza, à sua família?

Com ordens aos gritos, ele correu para a primeira escada. Se tivesse parado para pensar sobre isso, poderia ter ficado com Blaine. Mas ele não viu nenhum motivo para que mandasse seus homens às escadas como bestas, se ele não fosse o primeiro entre eles.

? MacConnaway! MacConnaway! ? Ele gritou. Deixe os bastardos saberem quem veio por eles, ele pensou sem fôlego enquanto escalava.

Quando alcançou o topo da escada, o grito mudou. Deixe-os saber porque eles morrem. ? Aisling!

Quando ele gritou, agitou sua espada. Escolheu lutar com a grande espada, em vez do punhal e da corrente, sendo mais fácil escalar protegido por um escudo. Ele viu o sangue voar de onde um homem estivera, viu-o cair. Virou-se para a direita dele, enfiando a espada, furiosamente, em um jovem. Ele acertou o braço de outro homem e depois se afastou de sua morte. Ele era veneno nascido humano, uma maré de sangue, morte e dor.

Estava respirando o cheiro de sangue, de fogo, de fumaça, os pulmões pulando com ele, gritando o nome de sua esposa.

Isto é para Aisling. Toda essa morte. Todo esse sangue. Todo esse fogo. Em seu nome. Se eu levar uma centena de cadáveres a seus pés, ela vai me perdoar? Mil? Será suficiente? Será que será suficiente?

? Aisling!

Enquanto ele gritava, grunhindo para agitar sua espada, fez uma pausa. Algo não estava certo. Onde seu inimigo estivera, de repente, estava vazio. Sentindo seus passos devagar, ele tentou se virar. Tentou chegar por trás dele, sabendo que o homem se mexeu. Algo o atingiu forte na parte de trás da cabeça. Perdeu sua consciência quando caiu contra a muralha e, já inconsciente, caiu para trás na ininterrupta escuridão abaixo deles, caiu por dez metros de morte dolorida e silenciosa.


Broderick agitou-se.

Tudo doia. Ele estava a caminho da névoa. Alguém chamou seu nome.

? Brod? Broderick!

Broderick ouviu a voz através da dor em sua cabeça, da dor em suas costelas. Por que tudo estava tão dolorido? Ele reconheceu a voz. Teria reconhecido em qualquer lugar. Abriu os olhos.

Ela estava parada ali, bem na frente dele, igual a anos antes. Usando um vestido branco com o cabelo vermelho, flamejante, solto e longo, como uma nuvem de fogo. Ela parecia uma criatura de ar e fogo, o vento brilhando através dela e ao redor dela, erguendo os fios de seus cabelos.

? Aisling... ? ele sussurrou. Estendeu a mão.

Ela sorriu. Foi um sorriso triste. Seus olhos castanhos estavam cheios de amor profundo e trágico.

Ela suspirou.

? Oh, amado. Tenho o prazer de vê-lo, ? disse ela suavemente. ? Mas... O que você fez ?

? Aisling? ? Ele murmurou com voz rouca. Tentou alcançá-la, mas estava exausto e seu braço caiu para trás, sem vida, para o chão frio e morto embaixo dele.

Ela estava olhando para ele com profunda tristeza. ? Meu doce, ? ela disse gentilmente. ? Por que você está me sufocando? ? A tristeza e o horror também estavam lá para ele ver.

Broderick gemeu. ? Sufocando você?

? Todo esse sangue, Broderick! Por que você coloca isso aos meus pés? Não é meu. Está me afastando de você. Você não se lembra mais de mim. Tudo o que você vê é rios de sangue entre nós.

Broderick olhou-a enquanto ela se afastava dele. Sua forma alta esfumaçou no limite da sua visão.

? Aisling! ? Ele chamou. ? Não. Espere... não vá! Compreendo. Eu faço! Você pode me perdoar?

Então Aisling virou-se e sorriu. Seus olhos brilhavam, seu sorriso quente como o pôr-do-sol. Ela era a bela garota que ele amara, chorou e perdeu. Não havia mais nenhum fosso entre eles. Ela brilhava com uma luz que feria seus olhos. Ela aproximou-se dele.

? Eu posso perdoar qualquer coisa, querido, ? ela disse com um pequeno suspiro. ? Mas você pode perdoar a si mesmo?

Broderick olhou para ela. ? Eu mesmo? Aisling... o que você quer dizer?

Então ela estava ajoelhada por ele. Ela colocou uma mão em seu peito, uma mão pálida que brilhava com fulgor. Ela sorriu com os olhos, triste e amável.

? Você não notou o que você fez na sua própria vida, meu querido? Como você sufocou o amor dentro de si, passando do amor para a raiva, para o ódio e para o sangue?

Broderick olhou para ela. Parecia que sua imagem se perdia, e ele viu diante dele o castelo de Lochlann. Ele viu o quarto da torre que compartilhava com Amabel. Viu-a atrás da tela, de joelhos, soluçando. Os seus gritos soaram, sem nenhuma atenção na sala vazia. Ele viu Alina, sozinha em sua câmara, com uma grande preocupação. Viu a pequena Chrissie, no andar de cima, confusa porque ninguém falava com ela e não entendia o porquê.

Então ele viu Amabel outra vez. Viu as lágrimas correrem por seu rosto. Ouviu a voz dela quando se virou para a prima mais nova. ? Ele não gosta de mim, Chrissie. Não sei o que fiz de errado. Ele não se importa comigo. ? Ela se virou, soluçando, os olhos azuis acinzentados molhados de lágrimas.

Então ele ficou sozinho novamente, olhando para os olhos castanhos escuros de Aisling.

? Aisling? ? Ele chamou.

? Olhe meu marido, olhe a tristeza que você causa quando você se afasta do amor.

? Mas, Aisling! ? Ele protestou. Esta acusação ele poderia responder. ? Eu fiz isso por você! Eu não poderia amar outra, por causa de você! Só por você.

Aisling parecia ter chorado. ? Estou no seu coração, Broderick MacConnaway! Estou com você toda vez que sente alegria. Se você se afastar do amor e da felicidade, você se afasta de mim. Você está me matando, Broderick, amado! Todo dardo que você dispara em seu coração me atinge. Não posso suportar mais nada. Broderick sentiu cada lágrima como se fosse sua.

? Minha Aisling! ? Seus lábios estavam rachados e sangrando, sua voz rouca. ? Não vá. Eu a amo. Eu acabarei com a minha vingança. Eu vou me permitir amar outra vez.

Então, ela sorriu para ele, doce como a chuva da primavera. Ela parou, voltou-se para ele.

? Obrigada, meu bem-amado. Obrigada por atravessar essa ponte, de volta ao seu coração. Agora você estará comigo, sempre.

Ela se inclinou até ele e beijou-o na boca. Ele sentiu seu corpo pressionar contra o dele e a maravilha e a doçura dela o invadiu. Ele queria falar com ela. Quando ela se ajoelhou ao lado dele, teve sentimento mais estranho em seu peito. Uma estranha sensação, como se parte de toda a sua luz, todo o seu brilho, estivesse se mesclando com ele, enchendo seu peito.

? Aisling? ele sussurrou, acariciando o cabelo vermelho flamejante. ? Aisling. Meu amor.

Então ele a ouviu rir, feliz e despreocupada. Um sentimento sufocante cresceu e acendeu. Então, assim, de repente, parou. Ele estava sozinho. Tudo estava escuro. Mas havia luz dentro dele. E a luz era amor. E presente. Ele lambeu os lábios. Seu corpo era uma massa de dor, costelas doendo, cabeça trovejando. Ele tossiu..

? Blaine?

Nenhum som saiu, além de um sussurro, então ele tentou novamente. Onde havia vida, havia esperança. E ele se sentiu, pela primeira vez em cinco anos, plenamente vivo. Ele sabia o que faria com esse presente. Não o desperdiçaria novamente.


Capítulo Dezenove

Assuntos Do Coração


Irmã?

? Sim?

Amabel olhou para Alina, sentindo-se cansada e miserável. Ela estava sentada em sua cama no quarto, ainda vestida em sua longa camisola de noite. Ela não tinha deixado a cama o dia todo, sentindo-se febril e muito fraca para se mover. Já era noite, o dia fora esfriando até o anoitecer. O outono estava progredindo fora da janela, a floresta de folhas largas, mais vermelhas e douradas do que o amarelo e verde, de quando se casou.

? Ele vai voltar, você sabe? disse Alina com tranquilidade. Ela estava serena como sempre, cabelo preto trançado em volta do rosto com um cordão de prata. Usava um vestido preto com prata e seu longo rosto oval estava calmo e sereno.

? Oh, irmã, eu sei que ele virá ? disse Amabel. ? Eu sei que ele vai voltar para o castelo. Eu simplesmente não acho que ele volte... volte para mim, quero dizer.

Alina colocou uma mão em seus cabelos, acariciando sua cabeça febril. ? Minha querida, a única razão pela qual ele não pode retornar ao seu coração é porque ele nunca saiu.

Amabel suspirou tremendo. ? Eu gostaria de poder acreditar em você. Mas eu não posso. Você não o viu. Mesmo quando estivermos sozinhos, lado a lado, de noite, ele não vai olhar para mim. ? Ela olhou para as mãos, sentindo as lágrimas começarem.

Alina sentou-se por um tempo, pensando. ? Você está certa de que ele não se sente inseguro com sua posição?

Amabel olhou para ela. ? Não, irmã! Eu não acredito nisso.

Ela fez uma pausa. Alina era tão sábia, tão composta. Se ela dissesse isso, Amabel sabia que deveria considerar. Mas o que a sábia e inteligente irmã dizia desta vez parecia ridículo!

? Por que ele ficaria inseguro de confiar em mim? ? Perguntou hesitante. ? Eu não lhe dei nenhum motivo para isso.

? Não ? concordou Alina. ? Eu acho que se o homem tivesse senso suficiente para cheirar o pão, ele poderia ter adivinhado que você estava chateada. Mas, como ele parece ter uma cabeça tão vazia quanto um jarro, acho que podemos descartar isso.

Amabel riu. ? Um jarro! Oh céus. Eu amo você, Alina. ? Ela colocou um braço em torno de seu corpo esbelto e a aproximou. ? Promete-me que você sempre me visitará?

Alina sorriu. ? Eu prometo, querida, que vou fazer de mim mesma, um incômodo. Eu prefiro o som de Dunkeld.

Amabel viu o pequeno sorriso quando a irmã a olhou rapidamente. Ela sorriu. ? Irmã...

? O quê?

? Você e Duncan. Você é... Oh, irmã! ? Ela deu um forte abraço envolvente. ? Você gosta muito dele, não é?

? Você não precisa me esmagar... Eu não consigo respirar! ? Alina riu levemente, e quando sua irmã a soltou, ela se virou para encará-la. Os olhos dela acenderam com calor. ? Eu gosto de Duncan, sim. E eu tenho uma indicação de que ele também gosta de mim. Mas eu não sei o que vai acontecer agora.

? Você quer dizer? ? Amabel fez uma pausa.

? Tio Brien ? ambas disseram ao mesmo tempo.

Amabel recostou-se nos travesseiros. ? Aquele velho rabugento! Gostaria de poder fazer algo sobre ele. Talvez quando Broderick tenha conquistado uma fortaleza ou duas e destruído seus inimigos por ele, sua ambição ficará suficientemente satisfeita. Então você será livre para se casar com quem quiser.

Alina sorriu. ? Oh, irmã, obrigada. Você me dá uma esperança preciosa.

Amabel empurrou o ombro dela, gentilmente. ? Você faz o mesmo por mim, querida. Agora, em vez de me sentir tão preocupada comigo mesma, eu deveria estar interessada nas notícias do castelo. Como está Chrissie?

? Mal humorada, ? disse Alina com carinho. ? Ela disse que você foi muito insensível com ela ao dizer que não veria ninguém. E ela está triste de qualquer maneira. Agora que Blaine se foi e Heath está fora, praticando, ela não tem ninguém com quem conversar.

Amabel sentiu uma pontada em seu coração. ? Sinto muito. A pobre menina. Eu havia, esquecido que Blaine e Heath estavam fora. Ela deve estar muito chateada.

? Oh, ela vai resolver facilmente. ? Alina sorriu. ? Se você prometer pentear seu cabelo nesse estilo francês especial que você usa, tenho certeza de que ela irá se animar imediatamente. A menina ama você, seja lá o que você acredite.

Amabel expirou. Sentia-se como se tivesse sido muito egoísta. No entanto, ela não podia se responsabilizar pela negligência: era como se o coração dela tivesse se transformado em gelo a cada dia da presença de Broderick ? cada rejeição minúscula e dolorosa que comprimia seu coração atrás de uma parede. Hoje, com Alina, foi a primeira vez que sentiu como se houvesse vida debaixo do gelo.

? Eu deveria ir buscar Chrissie pessoalmente, ? ela disse com um sorriso. ? Mas primeiro deveria comer alguma coisa. Eu me sinto tão fraca!

Alina assentiu. Foi até a porta para encontrar uma serva. Ela voltou alguns minutos depois, sorrindo.

? Eu enviei Blaire lá embaixo para buscar um pouco de caldo. Você está tão pálida! Precisa de uma refeição saudável para consertar você, ? disse ela, sentada novamente ao lado de sua irmã.

Amabel inclinou-se sobre o ombro dela, pensando. Queria voltar para sua vida diária no castelo, para viver como antes de ter conhecido seu marido. Mas a tristeza e a dor ainda estavam lá, a desconfiança que sentia quando estava com os outros, a persistente dúvida de se ela era digna de amor.

? Irmã?

? Hmm?

? Por que Broderick se afasta de mim? Ele parece se importar e, no entanto, ele não quer se aproximar de mim! Ele age como se minha presença fosse perigosa, um veneno horrível do qual ele poderia morrer se me tocasse. Eu sou tão horrível?

Alina suspirou. ? Eu não sinto que saiba o suficiente para opinar, minha irmã. Tudo o que sei é que pode não ser verdade. Você é tão amável. Ninguém pensaria que você é repugnante.

Amabel fungava. ? Mesmo?

? Realmente é verdade.

Ela suspirou. ? O que devo fazer?

Alina acariciou sua mão. ? Já disse que não sinto segura para falar. Mas talvez você possa pedir para tia Aili? Ela é sábia. Ela é mais velha que nós duas. Certamente saberia o que fazer.

Amabel respirou fundo. Ela não pensara nisso. Não estava sozinha em sua dor. Possuia tantas pessoas para perguntar. Alguém saberia.

? Essa é uma boa ideia, irmã. ? Ela se recostou nos travesseiros, sentindo-se cansada. ? Amanhã vou encontrar tia Aili. Tenho certeza de que os homens retornarão em breve, e eu quero saber antes que eles retornem.

Alina riu e empurrou o braço dela. ? Isso é bom.

As duas se sentaram em uma contemplação silenciosa por um tempo, observando o sol se afundando, lentamente, como uma brasa brilhante, o céu acima pintado em uma cor malva. Os pássaros voaram pelo céu, chamando estridentemente.

Eu sei que algo pode ser feito para arrumar isto. Amabel sentiu-se mais animada do que na semana passada.

Ela e Alina assistiram que o dia lentamente se acomodasse no crepúsculo e depois entrasse a noite.

Amanhã, Amabel decidiu, ela procuraria sua tia e descobriria o que realmente estava acontecendo.


Capítulo Vinte

Reunião Na Ala Oriental


Tia Aili?

Amabel chamou na escada escurecida diante dela. Era tarde, mas de alguma forma aquela parte do castelo estava cheia de pesadas sombras.

Amabel fez uma pausa. Ela se lavou e se vestiu com cuidado, escolhendo um vestido cinza com quase a cor da pedra, que combinava com seus olhos. Completou todas as tarefas naquela manhã e depois dirigiu-se para a Ala Leste. Qualquer visita ali exigia alguma preparação especial ? alguns disseram que estava se aventurando na cova da feitiçeira. A única irmã viva de Lochlann, Aili, acreditava na maioria dos poderes mágicos. Amabel estava determinada a não acreditar na conversa fantasiosa, mas não podia ter certeza, e a escolha da moradia de sua tia era desencorajadora.

A ala oriental do castelo estava quase desocupada. Os registros diziam que era uma área perigosa, o Cerco de Lochlann, havia um rumor que era amaldiçoada. Poucos iam lá agora e estava escuro e sempre frio. Amabel prendeu a respiração, sentindo uma lufada de ar gelado lhe atingir, vindo das escadas. Ela balançou a cabeça. É apenas uma brisa, Amabel. Quieta. Toda a ala leste estava coberta de escuridão, ruínas e negligência.

Da família Lochlann, apenas a tia Aili escolheu ficar aqui. Amabel estremeceu, pensando nisso. Ela não conseguia entender o porquê. Certamente, ela ficaria mais feliz no calor e na segurança do corpo do castelo? O cenário estranho da ala leste, fez os rumores que cercavam sua tia se tornarem acreditáveis. Amabel bateu à porta de madeira escura.

? Tia Aili?

Ela tentou escutar por trás da madeira escura, com a orelha pega à porta.

? Entre.

Amabel estremeceu. A voz, distorcida pelo vento frio e pela espessa porta, possuia um tom sobrenatural, uma completa falta de humanidade. Ela respirou profundamente, apoiou-se na alça da porta e entrou.

O quarto além da porta não poderia ter sido menos parecido com o exterior. A sala do lado de dentro era incrivelmente quente, espessas tapeçarias cobrindo suas paredes, cortinas fechando a noite escura. Iluminado com um brilho avermelhado, tudo dentro era animado e convidativo..

Os quartos da ala leste eram pequenos, não tendo sido modernizados desde os tempos de Brian O Construtor, o distante ancestral de Amabel, que havia construído as primeiras fortificações há mais de dois séculos. Mas este quarto era acolhedor e confortável devido à sua pequenez.

? Entre, ? uma voz chamava. Amabel olhou para o assento que estava na parede dos fundos e sorriu para a mulher que estava sentada diante do fogo.

Ela possuia um rosto forte, com maçãs do rosto altas e um coque de cabelo branco, puxado para trás de seu crânio, em um estilo severo. A semelhança da família estava lá, onde o rosto da mãe de Amabel tinha sido muito amável, o rosto desta mulher estava longe de ser ruim. Seus olhos eram quentes e amigáveis, suas bochechas, um rosto que lembrava um pouco o de Chrissie, apenas envelhecido, aquecido e suavizado. Eram olhos cinza azulados, quase a mesma cor dos seus, mas mais pálida e cheia de vida. Eles brilharam para Amabel.

? Bem-vindo, sobrinha! ? A mulher mais velha levantou-se lentamente e caminhou para a frente. ? Meu Deus, mas você se parece com sua mãe. Linda e amável.

? Tia Aili. ? Ela se inclinou para abraçar a mulher, que cheirava a água de rosas e gardênia.

? Oh, pare de cerimônia, amável Amabel. Me chama de Aili, se quiser. Não observamos rigorosa cortesia neste lugar. ? Ela se virou e bateu palmas. ? Vamos! Temos visitantes. Vamos trazer à dama Amabel alguns bolos e cerveja. Nós não esquecemos todos os nossos costumes, mesmo que vivamos fora dos constrangimentos do castelo Lochlann.

Amabel sorriu e viu um servo idoso aparecer aparentemente do nada e se apressar a cumprir a solicitação de sua tia.

? Então. Você veio para visitar sua velha tia? ? Aili sorriu, mudando o sotaque para o velho dialeto escocês.

Amabel revirou os olhos para ela e riu. ? Oh, tia! Que bom ver você.

? Absurdo! É bom ver você, querida. ? Aili sorriu. Ela se sentou em uma pequena mesa, esculpida e bem polida, estremecendo quando curvou o joelho. ? Eu ouço pouco do mundo exterior, mas não sinto nem um pouco. Lamento não poder participar do seu casamento. Não consegui sair da minha cama.

Amabel alcançou a mão da mulher mais velha. Dedos que estavam dobrados e engrossados pela artrite descansavam sobre a mesa, chegando a segurar os de sua sobrinha.

? Eu sabia que você estava comigo de coração, se não de corpo, ? respondeu Amabel.

Sua tia sorriu.

? Eu estava, querida. Agora, você veio me perguntar sobre seu marido? Ou Alina está me perguntando sobre o dela? Aquele que ela quer.

Amabel olhou para ela. Os rumores, ela tinha certeza, eram, quase, verdade. Certamente, havia algo estranho com sua tia. ? Como você sabe?

Sua tia riu. ? Eu não sei, querida. Tenho um palpite. Mas se for verdade, devo apostar nas corridas nas feiras da primavera, mas, isso não funciona tão bem para mim. ? Ela riu.

Amabel balançou a cabeça admirada. ? Eu queria lhe perguntar sobre ele, tia. Sim.

? Bom? disse Aili alegremente. ? Oh, aqui temos. Coloque-os sobre a mesa? Obrigada.

A donzela apareceu com um jarro de cerveja, duas taças e um prato de tortinhas de geléia. Amabel pegou uma delas, sorrindo enquanto mordeu a geleia de groselha vermelha intensamente doce. Aili serviu cerveja para elas e sorriu.

? Agora, querida. O que quer que seu marido esteja fazendo, ele está fazendo isso por alguma razão equivocada dele mesmo. Não é culpa sua.

Amabel sentiu como se alguém tivesse aberto uma pequena porta em seu coração e deixasse entrar a luz. ? Realmente? ? Ela engoliu um pedaço da tortinha, olhando sua tia com espanto.

Aili riu. ? É claro querida. Lembro-me do meu querido Alec. Completamente tolo às vezes, que ele descanse em paz, mas sempre que ele se tornava difícil era resultado de algo que o preocupava.

Amabel suspirou. ? Isso torna as coisas mais claras.

Aili sorriu. ? E seu marido é uma alma problemática, não é verdade? Ele é assombrado. Tantos demônios. Dever, honra, culpa...é uma maravilha ele conseguir dormir à noite.

Amabel olhou para ela. ? Isso é verdade. ? Ela teria ficado assustada, se não conhecesse Aili toda a vida e a habilidade de ver as coisas. Conhecendo-a, ela simplesmente estava agradecida por suas habilidades. ? Obrigada.

Aili riu. ? Qualquer hora querida. E você deve pedir a Alina para me ver quando ela tiver uma chance. Essa garota poderia ser uma curandeira talentosa, se ela se permitisse. Tenho muito a dizer para ela.

Amabel sentiu sua testa levantar. Minha irmã é uma curandeira? Isso fazia sentido. Ela podia imaginar. E se Aili dissesse alguma coisa, ela sabia que estava certa. ? Eu vou, tia. Estou certa de que ela também quer conversar com você.

Aili sorriu. ? Oh, não tenho dúvidas, minha querida. O coração da sua irmã está preocupado. Ela vai me procurar quando for a hora. Ela sempre faz.

Amabel assentiu. Ela ergueu o copo e deixou passar a cerveja através dela, aquecendo seu sangue. Não fez nada para aquecer o arrepio que se arrastou sobre ela. Aili era... desconcertante. Ela sempre foi.

? E então, esse seu homem não está aqui agora? ? Perguntou Aili interrogativamente. ? Eu soube que há uma invasão?

? Sim. Há sim. Você ouviu as paredes?

Aili riu. ? Impossível perder as notícias neste castelo. Não importa onde eu estivesse quando eles saíram.

Amabel ficou com a impressão desconfortável de que Aili não precisava obter informações de fontes humanas. ? Sim, tia.

Tia Aili riu. ? Bem, tudo o que posso dizer é que seu homem esteja lutando no lado direito. Parece-me que há mais para incursões do que as necessárias. Há mais a culpa do que quem está fazendo.

Amabel franziu o cenho para ela. Isso não fazia sentido. Mas ela conhecia Aili, e sabia que com o tempo entenderia.

? Sim, tia.

Aili levantou a testa. ? Não diga “sim, tia”, ? disse a tia. ? Eu sei muito bem, você acha que eu falo bobagem, jovem. Mas mente para si mesma. Entenderá um dia um dia.

Amabel engoliu em seco. ? Eu sei. Eu confio em você.

Sua tia riu. ? Bom.

Ela a olhou com aquele olhar de pedra cinzenta. Então, muito abruptamente, ela desviou o olhar.

? Eu queria lhe perguntar, querida... quando você for na cidade, você acha que poderia me trazer um tecido? Só queria colocar uma tapeçaria naquela parede lá. Eu estava pensando, talvez, em veludo cinza?

Amabel piscou. Da profecia e do enigma à terra comum, num instante? Tia Aili. Ela era uma querida, adorável tia, um momento conversando, e depois uma adivinhação espinhosa, até a próxima vez. Amabel não tinha certeza se amava Aili, ou se ela estava aterrorizada com ela.

Tudo o que sabia, com certeza, era que ela estava certa, sempre.

Ela ficou por mais uma meia hora, conversando e compartilhando fofocas de aldeia e notícias do castelo, e então voltou ao seu quarto.

Em seu quarto enrolou-se na cama, tremendo. Ela ficou aliviada, assustada e desconcertada ao mesmo tempo. Tinha muito a dizer a Broderick quando ele chegasse em casa.


Capítulo Vinte E Um

Voltar À Vida


Broderick se sentou

? Senhor! Senhor!

Ele gemeu. Tudo doeu. A sua cabeça. As costas. Seu peito. Suas pernas. Até suas mãos doeram quando tentou flexionar os dedos. E ele estava frio. Tão frio! Abriu os olhos.

Ele podia ver tudo cinza. Paredes cinzentas, piso cinzento. Um teto acinzentado que havia sido caiado há muitos anos atrás e agora estava manchado de fuligem e mais escuro do que deveria ser.

Ele lambeu os lábios. ? Onde estou?

Ouviu alguém suspirar. ? Oh, graças ao céu!

Blaine.

Ele virou a cabeça lentamente, e sentiu como se tivesse sido espancado com paus. Isso machucava.

Encontrou-se olhando os olhos escuros e sombrios de Blaine MacNeil. Os olhos do rapaz brilhavam.

? Senhor! ? Ele sorriu. ? Eu disse que você voltaria. Eu sabia que você não estava morto. Eles não podem matá-lo assim.

Broderick sorriu. O lábio repuxou e quando ele o moveu provou sangue. Suspirou.

? Onde estamos?

? No mosteiro! ? Blaine explicou, entusiasmado. ? Nós trouxemos os feridos para cá. Foi minha ideia. Estamos todos aqui. Eu e Fergall, Al, Cam, Douglas...

? Estamos todos feridos? ? Broderick perguntou com incredulidade. Ele examinou a sala. Podia ver montes brancos de linho e adivinhava que para servirem de camas para homens feridos.

? A maioria de nós. ? Blaine sorriu alegremente. ? Eu não estou. Fergall está, embora ele não admita isso...

? Sim, jovem! ? Uma voz surgiu por trás deles. ? Eu vou lhe mostrar ferido! Você viu seus dedos?

Fergall. Broderick sorriu. Seu coração estava quente de alegria. Todos sobreviveram. Ele se virou para Blaine, que estava sorrindo e, surpreendentemente, com os olhos tão brilhantes que ele teria pensado que o rapaz estava prestes a chorar.

? Ganhamos a fortaleza? ? Ele quase não quis saber. Eles estavam vivos. Ele estava vivo. E Blaine, Fergall, Al e todos os outros, eles também estavam vivos. Foi, por enquanto, o suficiente.

? Sim senhor!

Broderick deitou-se. Ele olhou para o teto. Toda a tensão o drenou. Eles haviam tomado a fortaleza. Eles ganharam.

Estranhamente, tudo o que sentiu foi um alívio. Não sentiu alegria, nem glória, nem mesmo satisfação. A vingança havia morrido dentro dele e com isso havia morrido o desejo de sangue. Tudo o que lhe importava, agora, era o fato de ele e seus amigos estarem vivos. Que eles ainda teriam o presente precioso que era viver, sentir. Amar.

? Nós conseguimos, ? foi tudo o que ele disse. Ele sentou e pegou o ombro do rapaz e segurou-o brincando. ? Muito bem, jovem.

Blaine ergueu a mão e esfregou furtivamente em suas bochechas.

? Oh, pare, senhor. Ou vou buscar os monges para lhe dar remédio para dormir, novamente.

Blaine estava rindo, a voz áspera com lágrimas presas, e Broderick também riu. Suas costelas doeram e então ele parou.

Ele se recostou contra os travesseiros e olhou para o teto. A sala era estranhamente pacífica. Se ele respirava, podia cheirar o cheiro de incenso, ervas e resina e adivinhou que os monges os haviam acendido. Se ele ouvisse, ele podia ouvir o barulho lento de seus pés calçados em sandálias, na parte de fora da janela, enquanto eles seguiam pelo caminho da capela para orar.

Permaneceram no mosteiro durante quinze dias.

No final, Broderick podia sair para os jardins e, muito lentamente, negociar os trajetos. Blaine, ileso e cheio de vivacidade juvenil, tornou-se seu companheiro e guia, conversando animadamente enquanto caminhavam pelos jardins.


Uma noite, duas semanas depois de ter acordado, Blaine e Broderick caminharam pelos longos caminhos entre as ervas perfumadas.

? Você pode ver o vale daqui, senhor! ? Disse Blaine. Eles chegaram ao canto onde o jardim terminava, deixando um olhar fixo através da água azul.

Broderick respirou. ? É bonito, não é.

Blaine assentiu.

Broderick sentiu que o tornozelo começava a doer.

? Eu vou me sentar lá, ? ele disse decididamente. Apoiando-se no bastão que um monge havia esculpido para ele mancou em direção ao banco.

? Você está todo estropiado, senhor ? disse Blaine de forma encorajadora.

Broderick meneou sua cabeça. ? Obrigado, Blaine. Vou me lembrar disso.

Riram e se sentaram juntos no banco. Eles se tornaram bons amigos. Blaine possuia a idade para ser filho de Broderick, e de alguma forma, eles haviam caído no padrão, sem querer.

Blaine conversava com Broderick todos os dias. A partir dele, Broderick conheceu a história de sua própria quase-morte.

Ele havia caído da muralha da fortaleza deitado de costas. Os monges disseram que havia quebrado as costelas, um braço e uma perna machucada. Eles disseram também que seu tornozelo estava torcido, e ele teve sorte de não ter quebrado as pernas. Eles colocaram os ossos nos lugares e esperavam que ele morresse ? por causa das feridas em seus braços e ombros. Mas ele vivera.

Broderick passou a mão em seu couro cabeludo, questionando-se. Ele vivera. Contra toda a expectativa, ou até mesmo probabilidades, ele havia vivido. E agora valorizava aquela vida. Usaria isso como o presente que sabia que era.

Ele estava voltando para casa. Para Amabel. E faria as coisas bem difrentes.

? Blaine? ? Disse depois de um momento. Eles estavam observando insetos na lavanda de floração tardia, ouvindo o zumbido deles enquanto voavam suavemente para buscar o néctar. Era um momento pacífico.

? Sim?

? Reúna os homens para mim, você pode?

Blaine assentiu, com uma pequena carranca retorcendo seu rosto. ? Sim, senhor...

Ele pareceu cauteloso. Broderick empurrou o ombro dele. ? Se você está pensando que eu vou cair, pode apostar um soberano sobre as chances.

Blaine sorriu. ? Eu não sou bobo, senhor. Eu trabalharia para pagar minha dívida até que eu ficasse velho.

Broderick riu. ? Exatamente. Chame os homens, seu jovem patife. E diga-lhes que vamos para casa amanhã.

Blaine olhou para ele, os olhos brilhando.

Broderick sorriu. Ele se inclinou para trás, deixando o sol de outono aquecer suas costas e ombros.

Ele estava indo para casa. E desta vez, ele sabia mais do que quando partiu. Ele sabia amar. E ia fazer isso, profundamente, sem medo e sempre. Enquanto houvesse respiração nele.


Capítulo Vinte E Dois

Voltar Ao Castelo


Todos os incursores estavam retornando. Amabel estava no telhado do castelo, sentindo o vento balançar o linho fino de seu vestido. Ela estava usando um longo vestido de linho creme, amarrado com um fio rosa pálido. Seu manto vibrou com um lenço de chiffon rosa. Alina estava ao lado dela. Ela agarrou o braço de Amabel.

? Eles estão aqui.

Amabel esforçou-se para vislumbrá-los onde Alina apontou. Ela seguiu a linha de sua visão até as colinas distantes. Na distância, serpenteando entre as colinas baixas, eram uma linha esbranquiçada. Enquanto observavam, eles se aproximavam e, lentamente, se transformavam em minúsculas figuras de homens, marchando pela luz nebulosa.

Amabel inclinou-se lentamente sobre o imenso merlão8 de pedra atrás do qual ela estava. Observou enquanto a linha serpenteava sobre o pátio verde acinzentado. Quando se aproximaram, ela conseguia ouví-los cantar.

Seus olhos se arregalaram. Eles estavam cantando e batendo tambores, e quando eles se aproximaram, ela ouviu risos flutuando sobre eles.

Ela se virou para olhar para Alina, os olhos brilhando.

Os olhos escuros de sua irmã olharam tranquilamente para trás.

? Alina! ? Amabel sussurrou. ? Eles estão aqui! Eles venceram!

Alina sorriu. Ela segurou o braço de Amabel. ? Estou feliz por você, irmã, ? ela sussurrou.

Juntas, observaram a linha se aproximar.

Abaixo delas, eles conseguiam ver Lorde Lochlann parado nas muralhas. Vestindo uma longa túnica de linho branco, cabelos brancos escovados criando uma bruma brilhante que caia nos ombros, ele parecia relaxado.

Amabel olhou para ele, indiferente. Ele estava sorrindo, rindo, brincando com seus homens de armas e Lordes visitantes. Como se todos os dias enviasse homens para a morte, e todos os dias eles ganhassem batalhas por ele.

Se um cabelo no meu homem estiver danificado, você pagará por isso. Seus olhos cinza azulados o fuzilaram quando ele olhou para ela.

Heath estava de pé ao lado dele, com os olhos brilhantes, o que significava que Chrissie estava lá também. Enquanto observava, viu a menina avistar os homens. Ela bateu palmas, enamorada. ? Tio! ? Ela disse com entusiasmo. ? Eles estão aqui! Eles estão aqui! Isso não é maravilhoso?

Amabel sorriu. Ela viu Heath envolvê-la com carinho pelo ombro e a viu sorrir para ele com carinho. Ela observou enquanto eles estavam juntos, olhando pelos campos. Como se todo o grupo na muralha tivesse desaparecido e eles estivessem sozinhos juntos, perdidos em sua proximidade.

Observando-os, sentiu uma pequena punhalada de melancolia. Meu marido voltou. E desta vez, vou perceber que tudo o que está errado com ele, não é minha culpa. Eu o amarei como eu quiser. É minha escolha amá-lo.

Ela sorriu para o jovem casal e acenou.

Chrissie virou-se para gritar para ela e para Alina.

? Eles estão aqui! Ele está voltando!

Não era fácil de gritar, ou Amabel teria gritado uma saudação para ela. Em vez disso, ela acenou alegremente e olhou para a linha de manifestantes.

Eles estavam mais próximos, agora.

Ela se inclinou para frente, agarrando a mão de Alina, que descansava ao seu lado. ? Eles estão aqui. Ele está aqui! Alina...

Ela entrecerrou os olhos, procurando nas fileiras. Ela sentiu uma emoção selvagem e pungente no coração. Ele está aqui! Ele não está? Por favor, deixe-o estar lá... Se ele estivesse lá, ele não estaria bem na frente?

Ela procurou as linhas dos rostos, sentindo um pânico crescente. Por favor, deixe-o sobreviver. Deixe ele ter voltado! A profundidade da dor a surpreendeu. Ela não sabia que ela sentia tão profundamente por ele. Não sabia que o amava.

Ela estava apertando a mão de sua irmã e não percebeu que estava fazendo isso. Alina reclamou.

? Oh, desculpe! ? Amabel ofegou. Ela olhou para a mão pálida e fina de sua irmã. Os crescentes vermelhões mostraram onde seus dedos haviam apertado. Ela cobriu a boca com a mão dela em estado de choque.

? Ele está lá, ? sussurrou Alina. ? Tenho certeza de que ele está lá.

Amabel mordeu o lábio e retomou sua busca frenética. Ele não estava no cavalo na primeira fila. Ele não estava na segunda fila. Não na terceira...

? Lá!

Cobriu a boca com a mão. As lágrimas fluíram por suas bochechas enquanto o alívio a percorreu. Ela se apoiou em Alina, que a abraçou. Juntas, as lágrimas em silêncio, elas observaram como a linha das tropas serpenteava pelo lamaçal e chegavam mais perto do portão.

Ele estava lá. Ela podia ver seus cabelos escuros, a barba escura, o jeito que suas costas estavam sempre eretas. Ele estava andando na terceira fila, o que a surpreendeu. Ainga carregava o belo dragão branco, mas parecia tão diferente do homem que havia deixado o castelo.

Ele estava mais leve, de alguma forma. Parecia mais suave, olhos brilhantes. Parecia satisfeito, orgulhoso e... feliz. Era a única palavra que ela conseguia pensar. Ele irradiava um ar confiante que não possuia antes. Antes estava coberto de um orgulho frágil e ferido. Agora ele estava em paz.

Broderick! Ela queria gritar, chamar, chorar! Ela olhou para os campos e depois ao céu. Uma andorinha mergulhou entre as nuvens de outono e depois outra. Ela sorriu e sentiu novas lágrimas caírem. Era como se sua mãe as tivesse enviado como uma mensagem, para dizer a ela que tudo estava bem.

Chorando, se inclinou contra a muralha, sentindo que seus joelhos se curvavam. Tudo o que ela queria fazer era correr e vê-lo.

Lá embaixo, eles estavam baixando a ponte levadiça. Conseguia ouvir homens gritando, rindo, saudando. Em algum lugar dentro do castelo, um gaiteiro começou a tocar. Ouviu os cascos enquanto os primeiros cavalgavam sob a ponte.

Olhou para baixo quando Broderick olhou para cima. Ela viu o rosto dele mudar, um sorriso refletiu em seus traços.

Pela primeira vez em mais de um mês, ela sentiu como se seu coração estivesse cheio de luz. O momento foi apenas um segundo, pois ele desviou o olhar e desapareceu sob o arco, dirigindo-se às ruas do pátio e dali para o grande salão.

Em apenas um momento, ela o veria.

Ouviu seu tio levando a turma para dentro, para que eles estivessem prontos para receber os homens que retornavam. Ela se virou para Alina. Alina sorriu para ela.

? Venha! ? Ela disse com um sorriso conspirador. ? Vamos descer.

Elas desceram.

O grande salão foi preparado para um banquete. As mesas foram polidas, gemendo sob o peso da comida. Amabel quase não notou os candelabros brilhantes, os bancos brilhantes, os brotos frescos espalhados no chão. Tudo o que ela notou foi o estrado, onde seu tio estava sentado.

Duncan estava lá, e Heath, seu rosto magro e esperto envolto em sorrisos. Chrissie já estava lá, sentada em frente a ele, brilhando com o rosto entusiasmado.

Amabel segurou a mão de Alina enquanto subiam ao estrado. Ela tomou o assento ao lado de seu tio, Alina do outro lado. Ao lado de Duncan, observou Amabel, sorrindo.

Depois de um momento ou dois, seu tio bateu nas tábuas da mesa, sinalizando o silêncio.

? Nossas tropas vitoriosas chegaram! ? Ele gritou com um toque.

O resto dos homens de armas explodiu: torcendo, batendo palmas, batendo nas tábuas.

? Wel-come, haim ! Wel-come haim !

Bem-vindo a casa. Bem-vindo a casa.

Broderick entrou. Olhou para ela. Ele sorriu. Seus olhos brilhavam com uma luz que Amabel nunca vira lá.

Ela parou. Sentia-se flutuando e sem nem mesmo perceber que fez isso, ela levantou o copo de prata.

? Bem-vindo a casa!

Toda a sala explodiu em brindes e assobios. Broderick deu os passos seguintes para o estrado, onde estavam as escadas. Ele a alcançou e, com um gesto, a tomou em seus braços.

Seus lábios sobre os dela estavam quentes e com fome, e Amabel sentiu seu corpo derreter, sua alma voava.

? Eu o amo, Broderick MacConnaway, ? ela sussurrou em seu ouvido. Seus dedos acariciaram seus cabelos enquanto o outro braço o segurava.

? Eu a amo, minha doce Amabel. Com todo meu coração. Agora e sempre.

Ele estava chorando e não se importava. Ambos estavam chorando, sorrindo rindo.

Eles se viraram para o salão. Os homens estavam gritando, batendo palmas, festejando. A música começou a tocar, a banda fazendo uma festa. Todos estavam felizes.

Amabel segurou seu homem bem perto, sentindo seu coração batendo lentamente e observando que ela conseguia sentir o próprio coração dele, golpeando sua túnica, ao lado dela.

Ela sorriu para ele e ele sorriu de volta. Juntos, eles compartilharam o vinho inebriante, manchando suas duas bocas.

O desejo estava aumentando em Amabel e o pensamento a fez corar com uma excitação deliciosa. Ela não fazia ideia de como se sentiria, tornando-se a esposa de Broderick na verdade ? o que isso significaria para ela, para eles. Ela só sabia que era uma aventura e queria, mais do que qualquer coisa, embarcar nela.

O que o futuro teria para eles ? vivendo sob a ambição implacável de seu tio, que, sem dúvida, usaria Broderick para cumprir suas ambições militares ? ela não conseguia imaginar. Tudo o que sabia era, que, naquele momento, seu corpo estava pedindo pelo dele e ela desejava ser sua esposa na verdade. Para experimentar tudo o que imaginou, e ouviu falar, mas ainda não sentira.

Eles se sentaram juntos e compartilharam a melhor refeição que Amabel havia comido em meses.


Capítulo Vinte E Três

Mais Perto Do Que Nunca


Mais tarde, quando o jantar acabou, Amabel subiu as escadas.

A porta de seu quarto estava aberta, as palhas frescas, o fogo alto.

? Broderick ? ela sussurrou.

Ele empurrou as costas dela contra o pilar e sua boca explorou a dela. Molhada e com fome, sua língua lambeu os lábios, saboreando-a. Ela empurrou a cabeça para trás para deixá-lo ir mais adiante, mordendo o lábio para incentivá-lo a continuar.

Ela o ouviu gemer.

? Amabel.

Ele afastou a mantilha e enrolou os dedos em seus cabelos. Ela havia descartado a capa que ficou pendurada, solta sobre o corpo dela até a coxa.

Podia sentir a mão dele acariciando seu pescoço. Seus dedos faziam cócegas, e ela se recostou, sufocando uma risadinha contra a boca dele. Sentia como se os pequenos pés de criaturas atravessassem sua pele.

Ele suspirou e voltou. Seus olhos, quando a olharam, ficaram embaçados de desejo, como os seus próprios, sem dúvida.

Ela sorriu. Sentiu que ele puxava os laços na parte de trás de seu vestido e se virou alegremente, levantando os cabelos longos para ele.

? Amabel. ? Ele sussurrou admirado e ela suspirou.

Ele moveu o vestido por seus ombros, gentilmente deixando-o deslizar para a frente. Ela sentiu que caiu em seus seios. As mãos dele se moveram para baixo. Ela se inclinou contra ele enquanto ele segurava um seio em uma mão. Apertou-o suavemente, depois provocou o mamilo, puxando-o. Ela sentiu o toque em caminho dentro dela, doendo em sua barriga.

A outra mão acariciou sua cintura. Ela sentiu o toque se mover para baixo, fazendo com que ela risse e estremecesse.

? Broderick.

Ele sussurrou em seus cabelos. ? O quê?

Ela riu.

Sem aviso, ele se moveu, virando-a e apertando-a em seus braços. Ele a levantou e a deixou cair na cama. Ela se deitou.

? Broderick.

Ele olhou para ela. Era tão bonita. Estava deitada de costas, a luz do fogo brincando sobre suas curvas e brilhando como gemas polidas em sua pele. Ele poderia ter olhado para ela o dia todo. A curva de seus seios, a curva da cintura, as coxas e a forma entre elas.

Ele se juntou a ela na cama. Suas mãos correram o corpo dela, acariciando-a. Ela gemeu. O som incendiou o interior dele. Ele a queria. Procurou se colocar sobre ela. Procurou seus braços ao redor dele e sua boca na dele e seu corpo contra ele.

Ele acariciou-a, respirando fundo enquanto seus dedos deslizavam entre suas coxas. Seus olhos se abriram. Ele sorriu.

? Sim?

? Sim.

Gentilmente, ele deslizou a mão entre a pele quente, sentindo a umidade almiscarada dela. Ele gemeu. Seu corpo estava tremendo agora, grandes espasmos incontroláveis que ele sabia que significavam que derramaria sua semente logo. Mordeu o lábio. Faria isso, mas lentamente.

Moveu sua mão, acariciando-a. Podia sentir o nódulo quente e duro na seda e notou com admiração que seus dedos escorriam sobre ele. Ela estava tão pronta.

Ele se recostou. Ainda olhando para ela rapidamente despiu-se.

Ela o observou. Ele viu seus olhos se arregalarem e depois fecharem novamente. Veio para se juntar a ela na cama.

? Eu não vou machucá-la, querida, ? ele disse gentilmente.

Ela sorriu.

? Eu confio em você.

Ele mordeu o lábio. O batismo dela doeria. Ela confiou nele. Não tinha certeza de merecer essa confiança. Tudo o que sabia era que, agora que a possuia, faria seu melhor para nunca perdê-la. Nunca.

Ele se curvou e beijou-a. Lentamente. Ele se virou para que seu corpo estivesse ao lado dela.

Muito gentilmente esfregou o corpo contra o dela, sentindo sacudidas de fogo por ele enquanto sua masculinidade rastreava sua pele. Estava tremendo de novo, arrepios que o atrapalhavam. Ele se inclinou para a frente e gentilmente abriu seus joelhos.

? Sim?

? Broderick. Sim.

Ela estava olhando-o nos olhos enquanto ele se movia e, suavemente, muito gentilmente, deslizou dentro dela.

Todo o seu corpo se derreteu em um fogo de sensações quando entrou nela. Ele expirou de forma explosiva e a ouviu gemer. O gemido o acendeu.

Amabel sentiu-se preenchida. Houve um momento em que sentiu uma dor súbita, mas não era como esperava. Foi uma dor aguda, e que foi imediatamente seguida por um maravilhoso sentimento de preenchimento. Maravilhosamente completa. Ela nunca sentira nada assim antes, gemeu e puxou-o enquanto ele entrava nela, de novo, de novo e de novo, preenchendo-a com a plenitude que se movia dentro dela, esfregando-se contra ela, fazendo-a envolver suas coxas sobre ele, estremecer, agitar e mexer...

? Oh... oh!

Ela gritou em voz alta. Todo o seu corpo parecia derreter, atingindo um local com sensações tão intensas que não conseguia conter, mas a fazia flutuar, sonhar e viver, em uma onda maravilhosa.

Um segundo depois, ela o ouviu fazer o mesmo. Ele gemeu alto e todo o seu corpo ficou rígido. Então ele entrou em colapso.

Ele estava bombeando dentro dela, seus movimentos ainda fortes que serviram para fazê-la sentir-se mais preenchida ainda.

Ela suspirou e apertou os braços.

Deitada com ele em seu peito, seu corpo quente e feliz, ela adormeceu.


Capítulo Vinte E Quatro

Um Novo Dia


Amabel acordou com calor delicioso. Abriu os olhos e sorriu. Rolou. Broderick estava ao lado dela na cama. Ela se moveu para se deitar ao lado dele.

Ele colocou o braço em volta dela, e ela se acomodou contra ele. Juntos, eles se deitaram e viram a sala mudar de cinza para colorida, quando o sol se elevava para brilhar na tela da janela.

Amabel podia sentir a mão dele acariciando sua cintura. Ela moveu a mão para descansar no centro do peito dele. Ali, ela conseguia sentir seu coração batendo. Fechou os olhos e deixou as lembranças da noite voltarem. Sorriu.

? Bom dia, meu querido. ? Ele se inclinou e beijou sua bochecha.

? Bom dia, doce Amabel.

Ele acariciou seus cabelos gentilmente, sorrindo no rosto dela. Ela se aconchegou mais perto, e juntos descansaram e ouviram os pequenos sons do castelo despertando.

? Eu senti sua falta quando estava ausente, ? murmurou Broderick. E acariciou seus cabelos.

Ela se virou e olhou para cima, com os olhos brilhando. ? Senti sua falta.

Ele riu e segurou sua bochecha com a mão. ? Sinto muito.

Ela apertou seu abraço ao redor dele. ? É melhor você sentir.

Ele riu. ? Eu prometo que não vou fazer novamente. Não se eu puder evitar.

Amabel ficou tão surpresa que ela se sentou, olhando para ele com olhos azuis.

? Mesmo?

Ele acariciou o ombro que estava exposto abaixo da cortina de cabelo.

? Sim. Eu prometo a você, minha Amabel. Nunca mais deixarei que a luta e a guerra sejam mais importantes do que o amor.

Amabel piscou rapidamente, sentindo as lágrimas surgindo. Ele não percebera o quanto isso significaria. Quanto significava para ela que o amor deles valesse mais do que vinganças.

? Oh, Broderick, ? disse ela.

Sua garganta se fechou e ela chorou. Grandes soluços que sacudiram seus ombros, embora estivesse sorrindo.

Broderick sentou-se e colocou-a em seus braços. Ele a segurou, balançando-a para frente e para trás.

? Está bem, minha querida. Está bem. Eu prometo. Eu prometo. Sinto muito.

Eles se sentaram assim, juntos, ela chorando e ele balançando-a, até que seu choro diminuiu.

Ela fungou.

? Desculpe, meu querido. Eu não percebia o quanto isso significaria para mim... que você se preocupa comigo. Que eu sou importante ? que nós dois somos importantes ? mais do que a guerra.

Broderick acariciou seu cabelo. Suspirou. E se inclinou para frente beijando o topo de sua cabeça.

? Eu também sinto muito. Fui um tolo cego e arrogante. Não vi o que estava fazendo. O que eu estava perdendo. ? Ele riu. ? Você sabe?

Ela piscou. ? Sabe o quê?

? Eu pensei que você me odiava.

Ela cobriu a boca, sentindo-se rir. ? Broderick! Você... você não poderia ter! Por que você pensou... ? Ela parou, incrédula.

Broderick riu. ? Você preferiu dar essa impressão, você sabe. Eu pensei que não queria me tocar, ou não me queria perto de você. Que você me achou desagradável de alguma forma.

? Broderick! Eu pensei que você fizesse isso! Eu pensei que você me queria apenas como uma ajuda! Eu pensei que era repulsiva para você.

Broderick estava olhando para ela. ? Repulsiva! ? Ele quase gritou. ? Moça! Moça. Como seria isto nesta Terra?

Amabel estava rindo e chorando. Ela pegou o lenço e tampou o rosto. ? Porque... você preferiu dar essa impressão, você sabe!

Broderick também riu, e os dois começaram a gargalhar felizes.

Eles ficaram abraçados por um momento, se consolando com a presença um do outro.

? Broderick? ? Perguntou Amabel. Ela estava acariciando seu ombro.

? Sim? ? Ele rolou e os dois trocaram um beijo.

Amabel podia sentir seu corpo pegando fogo enquanto ele a tocava. Ela lutou pela calma. Precisava dizer isso primeiro. ? Você acha que está lutando contra as pessoas certas?

Broderick olhou nos olhos dela. Seus olhos castanhos estavam nivelados, um pequeno franzido acima deles.

? Por quê moça? De que forma?

? Eu só pensei... bem... Eu sei um pouco da história da invasão, ? ela disse com cuidado. Duncan contara a ela uma noite durante o jantar, mas não mencionou isso, não querendo que o homem estivesse em apuros. ? Eu me perguntei... quantos Bradley você contou na invasão?

Broderick pensou por um momento. ? Eu não poderia lhe dizer, moça. Uma coisa que eu sei, com certeza, é que havia centenas de homens. O suficiente para acabar com nossa guarda doméstica sem muito esforço.

Amabel rolou. Ela olhou para ele, franzindo o cenho. ? E o Bradley tem uma grande fortaleza perto de Dunkeld? E uma grande equipe para comandar?

Os olhos de Broderick se abriram. Ele assentiu. ? Eles têm uma fortaleza perto de Dunkeld, sim. Mas é pequena. Eu diria que não conseguiriam mandar mais do que quarenta homens. Talvez cinquenta?

Os olhos de Amabel brilharam. ? Bem então! Pode não ter sido Bradleys que você viu, então?

Broderick fez uma pausa. Ele mordeu o lábio, pensando. ? Talvez não tenham sido os Bradleys, você está certa. Pelo menos, não poderiam ter sido somente os Bradleys. Eles não possuem uma equipe tão grande. Você está correta. ? Ele se sentou. ? Mas eles têm aliados fortes. O MacAdams... ? Ele parou.

? Eles têm uma grande fortaleza perto de Dunkeld? ? Amabel persistiu.

Broderick fechou os olhos. Quando os abriu, sua expressão era séria. ? Não perto, não. Eles estão muito mais longe. Mas ainda... ? Ele fez uma pausa. ? Não há nada que os impeça de marchar por esta terra, não é?

? Não ? concordou Amabel. ? Além do fato de alguém conseguir vê-los, não é?

Broderick mordeu o lábio. ? Isso é verdade. Mas, moça, por quê? Por que alguém procuraria todos esses problemas? Por que pretender fazer que parecessem os Bradleys a fazer a incursão? Não faz muito sentido.

Amabel franziu a testa. Ela se lembrou. ? Há mais culpa naqueles que estão fazendo.

Broderick franziu a testa para ela. ? O que é isso?

Amabel balançou a cabeça. ? Eu não sei? disse ela, sentindo-se confusa consigo mesma. Por que ela não conseguia resolver este mistério?

Juntos, se deitaram na cama. Amabel aconchegou-se, enfiando uma almofada debaixo da cabeça. Broderick inclinou-se e puxou suas costas para perto dele.

? Moça, ? ele disse suavemente, acariciando suas costas de uma maneira que a fez tremer. ? Eu prometo. Seja quem for que fez isso... eu prometo, que vamos descobrir... Eu não vou mais me vingar. Meu coração é luz sem isso. Eu estou livre.

Amabel se aconchegou no braço dele. ? Você está. ? Ela se inclinou contra ele. ? Você é livre e eu também. Nós somos livres para amar.

Broderick se endireitou. Ele olhou nos olhos dela e beijou-a. Sua boca a tocou de uma maneira que enviou fogo atravessando por ela. Quando suas mãos se moviam em seus ombros, acariciando mais embaixo, ela pensou que realmente poderia morrer de prazer. Seus dedos passeavam por sua coluna enquanto sua outra mão passeava ao longo do seio, atingindo seu mamilo.

Ela riu e rolou, dando-lhe acesso a todo o seu corpo. Ele se inclinou e pegou seu mamilo nos dentes, trabalhando nele.

O castelo se levantou e acordou sobre eles e o dia passou.

Nenhum dos dois deixou a câmara até o meio dia.

Broderick contou a Amabel as histórias de todas as suas cicatrizes, e Amabel contou a Broderick as histórias do castelo e de sua infância. Eles se aconchegaram nos braços um do outro, se beijaram e fizeram amor.

Se alguém no salão notou seus sorrisos quando finalmente saíram para o jantar, corados e rindo, ninguém pensou em fazer um comentário.

Aquele jantar foi um momento feliz, de paz, alegria e risos.


Capítulo Vinte E Cinco

Notícias De Lugares Distantes


Amabel atravessou o mercado se sentindo feliz. Ela acordara ao lado de seu homem, e eles fizeram amor, conversaram e contaram mais histórias. Estavam mais próximos do que alguma vez pensou ser possível e já haviam estado desde o seu retorno.

Ela aspirou, sentindo os aromas de porcos assados, peixe e vegetais. Amava o mercado.

? "... Você não tem uma porção de ovos?”. Uma mulher estava dizendo, ficando perigosamente perto de uma vendedora de ovos frescos, que os vendia em pequenas cestas.

? Não! Não tenho cozidos. Apenas dez crus em uma cesta.

Amabel sorriu quando ela se afastou, esperando que o guarda do mercado fizesse algo se o debate ficasse muito animado. Vagou até parar em uma barraca de pura lã crua.

? Lã fina, milady! ? O homem atrás da mesa chamou alegremente. ? A melhor lã.

Amabel sorriu. ? Tenho certeza que é.

Ela sentiu, esfregando os pedaços oleosos entre os dedos. Era lã fina, ao contato era densa e macia. Estava quase tentada a comprar alguma para pedir a Blaire ajuda para fiar e tecer. Mas não havia tecido durante anos e escolheu não fazer.

Parou em uma barraca de seda, pensando. Queria encontrar um presente para sua tia. Enquanto esperava lá, ouviu uma conversa na barraca onde um homem vendia nozes. Ela ouviu interessada.

?... e eu ouvi que eles estão se mudando para Dunkeld!

? Não! ? A mulher moveu sua mão até a boca em estado de choque. ? Não é possível.

? É! ? Insistiu o homem. ? Eu escutei que é.

Amabel parou em sua andança. Quem estava se mudando para Dunkeld? Aquela era a casa de Broderick.

? Onde você ouviu isso?

O homem indicou alguns jovens que estavam colocando uma barraca à direita. ? Deles ? disse ele. ? Eles são lenhadores. Eles disseram que os viram na floresta, indo para lá.

A mulher ergueu uma sobrancelha. ? Como eles sabem para onde eles planejam ir?

O homem encolheu os ombros. ? Não me pergunte, beleza. Eu não sei. Se quiser saber, eles são as melhores pessoas para isto.

Amabel olhou enquanto a mulher olhava para os meninos, como se decidisse se perguntaria alguma coisa. Naquele momento, ambos pareceram notá-la. Eles ficaram quietos e pararam, olhando-a, com nervosismo.

? Lady! Venha comprar algumas nozes ou castanhas? Frescas e assadas, quentes ou frias.

Amabel sorriu para o homem. Ela aceitou uma bolsa de nozes e pagou uma moeda. Ela mordeu uma, sentindo o calor delicioso preencher sua boca. As castanhas assadas eram as suas favoritas. Abanando o vapor com gesto da mão delicada, ela tomou uma decisão. Atravessou a feira até os jovens que quase terminavam de levantar sua barraca.

? Saudações ? ela disse, tentando suavizar ligeiramente seu sotaque, para que eles não adivinhassem que era uma dama. Ela não tinha certeza de porque acreditava que isso ajudaria ? estava usando um dos seus velhos vestidos, mas ainda era a melhor lã e se destacava no mercado como uma moeda caída nos paralelepípedos.

Todos olharam para ela.

? Olá, senhorita ? um deles, o mais velho, Amabel presumiu, disse com voz rude. Ele parecia ter quatorze ou quinze anos de idade.

? Ouvi dizer que vocês estavam cortando madeira perto de Dunkeld? ? Ela perguntou alegremente.

Os meninos se olharam. Pareciam assustados com ela, e Amabel simpatizava com eles. Uma dama ? provavelmente uma das próprias ladys de Lochlann ? aparecendo em sua barraca e fazendo perguntas estranhas, provavelmente era bastante assustadora.

? Sim, lady ? disse um dos meninos. Ele enxugou o nariz na parte de trás da mão e ficou em pé. Os outros meninos seguiram o exemplo, limpando suas mãos furtivamente.

Ela sorriu.

? Ouvi que vocês viram homens na floresta?

Novamente, a consultoria silenciosa entre eles. O mais velho falou. ? Nós vimos um exército, milady.

? Oh! ? Amabel ergueu a testa. ? Por que você diz um exército?

? Bem... ? O menino fez uma pausa. ? O que vimos não era um exército. Vimos alguns amigos vagando. Nós estávamos com Gylas. Ele é o pai dele ? acrescentou, apontando para um dos meninos mais novos do grupo, ? e ele nos disse para ficarmos quietos. Ele disse que eles pareciam batedores.

? Batedores?

? Como os precursores de um exército ? disse o menino mais novo ? o filho de Gylas. ? É por isso que ele nos disse para ficarmos quietos, veja. Eles não deveriam saber que os vimos.

? Havia cinco deles, ? o primeiro garoto acrescentou de forma útil. ? Então, deve ser um grande exército, ter tantos batedores, não é? ? ele colaborou, claramente satisfeito em demonstrar seu conhecimento.

Amabel olhou fixamente. ? Isto é verdade?

O garoto coçou a cabeça.

? Ela quer saber se o você está falando e verdade? Ou é mentira?

? Nae! Eu não sou um ? mentiroso! ? Você sabe tão bem quanto eu que não minto.

Amabel suspirou. ? Muito bem. Então, cinco de vocês viram batedores na floresta perto de Dunkeld. Sim?

? Sim ? o menino respondeu.

? Bom ? disse Amabel no que ela esperava que fosse um tom encorajador, embora seu coração batesse. ? E você sabe de onde eles vieram?

? Do norte. ? um menino respondeu.

Amabel piscou.

? Como você sabe disso?

? Porque é dali de onde eles estavam vindo, senhora ? ele disse. Ele olhou para ela como se estivesse falando de um ponto incrivelmente óbvio.

Ela suspirou.

? Bom. Se você adivinhasse o clã a que pertenciam, o que você diria?

Ela prendeu a respiração enquanto os meninos coçavam a cabeça, pensando. A referência ao norte já a fazia pensar que era o MacAdams: sua principal fortaleza era para o leste, ela sabia.

? MacDowell! ? O menino disse imediatamente.

Ela olhou para eles. Ficou tão chocada que quase deixou cair o saco de nozes que segurava. Quando os garotos viram aquilo eles olharam para ela como se ela jogasse fora o ouro. Ela suspirou.

? Você tem certeza de que foi o MacDowells? Por quê?

? Eu não sei, senhora. ? Porque eles estavam vindo daquela direção?

Amabel assentiu. Isso fazia sentido. ? Obrigada, ? disse ela educadamente. ? Algum de vocês poderia comer algumas nozes? ? Ela acrescentou. ? Eu não gosto disso e...

Os meninos se aproximaram, com gritos clamorosos de ? Nozes! ? Ta! ? Obrigado, milady.

Ela sorriu e entregou-as ao líder, depois se afastou enquanto eles discutiam. Dirigiu-se aos vendedores de tecidos e selecionou um comprimento de tecido cinza pálido aveludado. Pagou por ele e depois dirigiu-se de uma vez para o castelo.

Olhou para cima, notando que estava prestes a chover. Acelerando o ritmo, ela voltou para o castelo.

Enquanto caminhava pela encosta que levava ao portão, sentindo que as primeiras gotas de chuva começavam a cair, ela se perguntou: Existe alguma coisa verdadeira no que aqueles garotos estavam dizendo? Ou isso é simplesmente conversa fiada?

Colocando o veludo debaixo do braço, decidiu que havia apenas uma maneira de descobrir. Perguntaria a tia Aili. Se alguém soubesse, seria ela.


Capítulo Vinte E Seis

Conversa Com Um Amigo


Olá?

Amabel bateu à porta. A torre leste estava fria e ventava como na última vez que estivera ali. Desta vez caminhou apressadamente pelos degraus, sem hesitar.

Ela fez uma pausa. Quando não houve resposta, bateu de novo.

? Olá?

? Entre.

Desta vez, a voz e a estranha distorção da porta não a incomodaram tanto. Abriu a porta e entrou.

Como na vez anterior, o quarto estava bastante quente, o fogo mantinha tudo muito aquecido. Amabel ficou no limiar, tirando o manto, rapidamente no calor.

Aili estava lá sentada, no mesmo canto. Ela riu.

? Entre, sobrinha. É bom vê-la, e com tal espírito!

Amabel sorriu. ? Eu estou bem, obrigada.

Sua tia gargalho. ? Oh! E eu posso imaginar que ele é um bom marido. Estou satisfeita por você. Venha! Devemos comer nossos bolos e cerveja.

Como ela fez na última vez, o criado correu para fazer o que Aili lhe pediu. Desta vez, os bolos e a cerveja apareceram mais rápido, de modo que, quando a tia se levantou da cadeira e se acomodou na mesa, a donzela estava de volta.

? Tia, ? disse Amabel, decidindo abordar o assunto imediatamente: ? Eu estava no mercado hoje...

? E você me trouxe um presente. Obrigada querida. Minhas tapeçarias também penso eu?

Amabel sorriu. ? Sim, tia. Eu trouxe. O presente está na cesta, na porta, se a sua donzela puder pegar?

Quando Aili chamou a donzela, Amabel se recompôs.

? Tia ? ela disse quando a criada havia desaparecido na parte de trás da sala, levando o presente com ela, ? eu ouvi sobre o MacDowells. Acredita-se que eles estão se preparando para atacar Dunkeld.

Aili sorriu. ? Aqueles homens astutos. Sim! Perguntei-me quando Neil quebraria seus laços e viria para isso. Tudo faz sentido.

Ela estava balançando a cabeça, mastigando um pequeno bolo pensativamente.

Amabel franziu a testa.

? Então, é provável que os MacDowells estejam declarando guerra à fortaleza?

? Inevitável, minha querida. ? A resposta foi dada através do bolo, sem querer.

Aili engoliu em seco e tampou os lábios.

? Mas... tia? Por que os MacDowell?

? Bem... ? Sua tia tirou a massa da boca e tomou a cerveja, pensando. ? Já não está claro? Os MacAdams e MacConnellys já estão nas gargantas um do outro! Dois grandes inimigos. Inimigos de MacDowell ambos. Por que não agora? É o momento perfeito.

Amabel olhou fixamente. Sentiu-se como se alguém tivesse finalmente concedido sua visão. Ela estivera cega!

Tudo fazia sentido. Sentido absoluto, completo e total.

? Então... ? Ela fez uma pausa, apertando as mãos enquanto preparava os pensamentos. ? Então, os MacDowell são os inimigos de longa data do MacConnelly, e os nossos também?

Aili assentiu. ? Esse Neil, o Laird deles. Eu o conheci desde que ele era um menino. Não é coisa somente de liderança, não é. Ele nos odeia. Sabia que ele viria para nós algum dia. Eu sempre soube.

Amabel piscou. ? E eles são inimigos de MacConnelly e sempre foram?

? Isso é verdade, ? concordou Aili.

? E então... eles procuraram nos colocar todos uns contra os outros. Isso é verdade?

Aili riu. ? Certeira como a chuva, minha querida. ? Lá fora, a chuva caiu.

Amabel estremeceu.

? Então, os invasores, não eram os Bradley. Estou certa?

Sua tia riu. ? Certamente.

Amabel olhou para ela. Baixou o copo, lentamente, sabendo que sufocaria se tentasse beber alguma coisa nesse ponto.

? Então, tudo foi uma artimanha, ? ela começou lentamente. ? A invasão. Os Bradleys. Os feudos entre eles?

? Exatamente, ? concordou Aili imediatamente.

? Então, Aisling morreu porque... por causa de...

? Nada, querida, ? disse Aili com dureza. ? Ela morreu por causa de nada. Um capricho. Uma fantasia. Uma ideia. E sobretudo, por uma ambição perigosa. O desejo pelo poder. Isso foi tudo. Poder. Ah! O que as pessoas fazem por isso. Eles correm em pequenos círculos e se tornam marionetes. Ser um fantoche é poder? Eu não sei! E você?

Amabel olhou para ela. Pensou em Brien, seu tio-avô. Aili estava claramente pensando nele também.

? Eu concordo, tia ? disse Amabel calmamente.

Aili riu. ? Bom para você!

Sentaram-se silenciosamente por um tempo. O fogo era o único som, sibilante e estalando na grelha, um ser com respiração.

Depois de um momento, Amabel limpou a garganta.

? Aili?

? Sim querida?

? O que podemos fazer?

Aili suspirou. ? O que podemos fazer é com você, minha filha.

Amabel franziu a testa. ? O que eu devo fazer?

? Essa é uma questão diferente. Uma que só você pode responder. Não há necessidade, minha querida. Acontecerá, mas, se você quiser mudar isso, há uma maneira.

Amabel olhou para ela. Claro, ela queria! Imaginou o horror que era, mesmo agora, eles marchando para a fortaleza de Dunkeld. A miséria, a dor que causaria. E a vingança que daria para as gerações sucessivas. Ela já vira o suficiente sobre a vingança e a miséria que provocava para nunca mais querer ver. Mas ainda não estava certa de que Broderick acreditaria nela. Ainda não. Ela precisava de provas.

? Eu quero fazer algo. Me ajude a saber o que fazer.

Aili sorriu. ? Segure minha mão, querida.

Amabel obedeceu sem hesitar.

Surpreendentemente, tudo o que Aili fez foi segurar suas mãos.

? Você tem coragem. E amor. É tudo o que precisa. O que eles lhe dizem para fazer?

Amabel fechou os olhos. O que eles disseram a ela para fazer? Enquanto estava sentada lá, pensando, uma ideia começou a se formar em sua mente. Ela sabia que não deveria envolver Broderick. Ainda não. Não até que soubesse mais.

? Eu quero ir. Para avisá-los. Para expor as mentiras, de uma vez por todas.

? Bem, então. ? Aili sorriu para ela. ? Isso é o que você deve fazer.

? Eu acho... ? Amabel mordeu o lábio. ? Eu acho que sei como.

Aili sorriu. ? Se você quiser me dizer, eu estou ouvindo, criança. Caso contrário, desejo-lhe bênçãos.

Amabel respirou profundamente. ? Eu desejo lhe contar.

? Então, faça isso.

? Bem, então. ? Amabel fez uma pausa. ? O que eu planejo é isso...

Ela falou com Aili até o pôr do sol e a donzela voltou. Quando Aili a convidou para ficar e jantar com ela, ela recusou educadamente. Não porque ela não gostasse de sua companhia ? ela gostava ? mas, porque prometeu estar no jantar naquela noite.

Ela disse suas despedidas e caminhou rapidamente pelas escadas e para a porta, e voltou para o corpo do castelo. Enquanto caminhava, pensou muito sobre tudo o que aconteceu. Tudo o que planejou.

Ela teve uma ideia. E a colocaria em prática.

Era perigoso. Mas precisava experimentar.

Era o único plano que possuia para impedir que a guerra total os envolvesse completamente. Ela precisava fazer alguma coisa e, tanto quanto sabia que amava Broderick, sabia que ele não acreditaria nela, antes de ter mais provas. Esta era uma maneira de reuní-las ? a única maneira que ela conhecia.


Capítulo Vinte E Sete

Notícias Estranhas


? Cam ... salte!

Broderick balançou a espada nas duas mãos com uma facilidade vinda da pratica. Ele sorriu para o jovem que estava de frente para ele, suando com o esforço.

? Venha, Cam. Você terá a prática em breve.

Cam, o jovem, deu-lhe um olhar incrédulo. Broderick sorriu. Estava cansado. Estava treinando com o guarda desde a manhã e podia sentir o dano no braço. Lutar no meio, empunhando uma espada com as duas mãos, precisava de uma enorme força. E essa força precisava ser mantida pela prática constante. Sentindo-se cansado e sujo de suor e poeira, Broderick se afastou no corredor.

Eu deveria pedir a Duncan para voltar. Se ele vier só por mais alguns dias, eu poderia fazer dele um parceiro de treinamento. E sua vinda tornaria a estadia mais agradável.

Dunkeld não estava a mais de um dia de viagem do castelo Lochlann, e Broderick estava ansioso para o momento em que finalmente faria a incursão na floresta, levando sua noiva com ele. Lorde Lochlann parecia satisfeito com a sua realização e tinha certeza de que poderia voltar para casa qualquer dia desses.

? Ainda mancando, Lorde Broderick?

Uma voz jovem e insolente saudou Broderick do arco do grande salão. Broderick viu Blaine lá e sorriu.

? Como você vê. ? Ele suspirou. ? É pior depois do dia todo. Mas, estou de volta na prática agora, jovem. Então, já que você abriu a boca. Nós vamos testar esta perna algum dia. Você e eu.

Blaine sorriu. Ele cortou a maçã tardia que estava segurando, engolindo o bocado antes de responder. ? Certo, ? mas eu vou me tornar Sir.

Broderick sacudiu o cabelo vigorosamente. ? Não tenho certeza disso, jovem.

Blaine sorriu despreocupadamente. ? Nós podemos ver. ? Então ele bocejou. ? Eu vou lá fora.

Broderick assentiu. ? Vá com segurança.

? Pode deixar, ? Blaine falou por cima do ombro enquanto se dirigia para os estábulos.

Broderick suspirou. Atravessou o corredor até as escadas. O que realmente queria era um banho. Então se dirigiu ao salão para ver se Amabel ainda estava costurando.

Amabel. O pensamento fez suas partes dorem, e seu coração bateu em seu peito. Ele sabia que seu corpo já estava pronto para ela, e sorriu pesarosamente.

Och, mon! Imagine se alguém vê você agora! Ele acariciou a frente de sua túnica, conscientemente, para que não houvesse algo que aparecesse lá. Satisfeito de que não havia nada, ele se dirigiu ao andar de cima, para o salão.

Fez uma pausa antes de entrar. Podia ouvir altas risadas e as mulheres conversando umas com as outras. Ele escutou com curiosidade.

?... e então, eu disse a ela que não precisaria de ajuda para isso ? disse Amabel. Alina estava rindo muito.

? Não ? Alina conseguiu entre as risadas. ? Eu não posso imaginar.

?... o homem é tão incansável quanto um ogro ? disse Amabel, rindo.

? Mas nada como olhar, eu acho.

? Não! Nada parecido com isso.

Broderick sentiu seu rosto ruborizar, com um sorriso. O pensamento de que sua proeza era um assunto de conversa entre as mulheres era uma fonte de orgulho e espanto.

E os homens pensam que as mulheres são tímidas e hesitantes!

A menos que ele pedisse conselhos a seu irmão, ele próprio, jamais mencionaria suas aventuras noturnas. O fato de que duas damas o discutiam ativamente e, desse jeito, o faziam corar calorosamente.

Ele esperou na cama enquanto a donzela buscava água morna para o banho. Então escorregou, saboreando a sensação da água limpando sua pele.

Acabava de sair quando ouviu uma leve risada no corredor. Seu corpo ficou tenso.

? Olá! ? Sua voz era tão pastosa como se ele tivesse lambido o sal.

? Broderick? ? Ela apareceu na porta, toda lânguida, cabelos vermelhos soltos e sorrindo. Estava usando um vestido de linho e cheirava a flores.

Broderick a esmagou contra ele, sentindo a delicada suavidade de seu corpo se moldar ao dele.

? Amabel, ? ele sussurrou em seus cabelos. ? Minha querida Amabel.

Amabel sorriu e olhou nos olhos dele, fazendo provocações com os olhos cinza azulados.

? Você parece com fome, meu senhor? Devo enviar Blaire para a cozinha?

Broderick sorriu. Ele se abaixou e a beijou nos lábios, sentindo seu coração bater mais rápido.

? Estou com fome, mas só uma coisa me satisfaz, ? disse ele grosseiramente.

Amabel sorriu, provocando. ? E o que poderia ser isso, meu senhor?

? Eu posso lhe mostrar.

Amabel piscou os longos olhos cinza azulados para ele. ? Estou esperando pacientemente.

Ele riu e puxou-a mais perto, fechando a porta atrás dela com um clique.

No quarto caiu sobre ela, puxando o vestido para baixo e para fora com pressa apaixonada. Ele a jogou na cama e se juntou a ela lá, plantando pequenos beijos pela pele.

Quando ele alcançou o abdômen parou. Ele olhou para ela, provocando. Seus olhos estavam abertos, seus lábios se separaram. Ele sorriu.

? Oh, sim... ? ela gemeu quando ele se curvou mais para baixo.

Abriu as coxas dela, suavemente e, com muita delicadeza, passou a língua ao longo de suas dobras sedosas. Ela gritou e estremeceu e, ainda assim, manteve a calma.

Quando ela finalmente gemeu em voz alta e, tremendo, entrou em colapso debaixo dele, ele se deitou por um momento, e encostou-se contra as pernas dela.

? Você me surpreende, ? ela sussurrou enquanto ele se arrastou para deitar-se ao lado dela.

Ele sorriu. ? Não mais do que você a mim, ? ele disse enquanto se aproximava para mais perto dela.

Ela sorriu e beijou-o e eles se deitaram, contentes.


Broderick acordou ao sentir Amabel acariciando sua testa.

? Hmm? ? Ele disse suavemente.

? Broderick? ? Ela arriscou.

? Sim?

Ele abriu os olhos e percebeu que ela estava olhando para baixo, franzindo a testa.

? Eu queria perguntar... ? Ela hesitou. ? Você não vai fazer campanha para o meu tio novamente, você vai?

Broderick suspirou. Ele estendeu a mão e abraçou seus ombros. ? Eu não sei.

Amabel franziu a testa. ? Ele pediu para você?

? Ainda não. ? admitiu Broderick. ? Mas eu o ouvi falar com o Laird de Coverly e suspeito que ele está planejando algo.

Amabel fechou os olhos. ? Por favor, não vá?

Broderick se sentou. Ele acariciou seus cabelos, olhando para seus olhos cinza azulados. Ela parecia triste. Ele faria qualquer coisa para tirar aquela tristeza. Mas não podia recusar ajuda a um aliado ? não se eles se aproximassem dele diretamente.

? Eu posso tentar, ? ele disse gentilmente. ? Eu posso tentar não ir. Não posso recusar.

Amabel sorriu, embora parecesse triste. ? Tente por favor.

Ele riu suavemente. ? Por quê, moça? Você acha que alguma coisa acontecerá comigo? Eu ainda sou forte, mesmo depois das minhas feridas.

Amabel balançou a cabeça com energia. ? Não! Não é isso. É... ? Ela mordeu o lábio. Quando ela olhou para cima, seus olhos estavam nadando em lágrimas.

? O quê, moça? ? Broderick atraiu-a para um abraço, segurando-a contra seu peito enquanto beijava seus olhos lacrimejantes.

Ela se afastou depois de um momento e olhou-o nos olhos. Com a pele pálida e os cabelos vermelhos, ela parecia um fogo humano. Ele estremeceu admirado.

? Eu acho que haverá uma guerra em suas terras.

Broderick se levantou, sentando-se tão rápido que bateu a cabeça na parede e gemeu. ? Por quê, moça? Você ouviu alguma coisa?

Amabel mordeu o lábio. ? Eu não quero preocupá-lo com rumores ? ela vacilou. ? É apenas...

? Apenas o quê?

? Eu ouvi algo quando eu estava no mercado hoje. Algo sobre o MacDowells, em movimento. Em direção a Dunkeld.

Broderick olhou para ela. ? MacDowells? Em Dunkeld?

Amabel desviou o olhar. ? Eu não sei. Eu ouvi... talvez seja mentira.

Broderick estendeu a mão e agarrou seu braço. ? Se acalme. ? Ele disse gentilmente. ? Eu não estava dizendo que não acredito em você. Quem disse isso?

Ela fungou. ? Rapazes. No mercado. Cortadores de madeira.

Broderick piscou. Ele não costumava ouvir os mercadores, mas se Amabel estava convencida, eles deviam ter sido convincentes. ? O que eles disseram? Conte-me.

? Eles disseram que viram um exército de homens. Na floresta. Perto de Dunkeld.

? De onde eles vieram? Eles disseram?

? Do norte ? respondeu Amabel. ? Eu perguntei e...

? Garota inteligente! ? Broderick disse encorajadoramente. ? Então, depois você chegou ao MacDowells?

? Sim. ? Amabel assentiu. ? Parecia a única explicação adequada.

Broderick pensou sobre isso. ? Eu concordo que eles estão bem armados. Mas por quê, moça? Por que MacDowell?

Amabel suspirou. ? Eu não sei, Broderick. Mas pensei em algo.

Ele olhou para ela, interessado. ? O que você pensou?

? Lembre-se de que dissemos... disse que o ataque talvez não fosse dos Bradleys? Havia muitos homens?

? Sim?

? Bem, imagine se não fossem os Bradleys, mas pessoas que fingiam ser. Imagine se nosso feudo é alimentado por outra pessoa, um terceiro clã que ganhe mais?

? Você quer dizer que alguém nos colocou uns contra os outros? Esperando se beneficiar?

? Exatamente! ? Amabel assentiu vigorosamente. ? E quem odeia os Bradleys e os MacAdams?

Broderick olhou fixamente. ? Os MacDowells.

Amabel inclinou a cabeça. Ela não disse nada.

Broderick deu um assobio baixo.

? Eu não sei, querida! Parece exagerado...

Amabel suspirou. ? Talvez seja.

Broderick deitou-se, olhando para o teto. ? Talvez seja. Mas faz sentido.

Amabel deitou-se. Juntos, mantiveram um silêncio, cada um perdido em pensamentos.

Quando finalmente ele falou, sua voz era grave.

? Eu preciso ir a um lugar. Verifique algumas coisas. Não sei se isso pode estar certo. Eu quero enfrentar o MacDowell.

Amabel ficou tensa. De todas as soluções, essa era a mais perigosa. Se o líder de MacDowell tivesse a mínima ideia de que Broderick conhecia seu ardil, ele faria tudo para acabar com ele.

? Querido? ? Ela perguntou suavemente.

? Sim?

? Você precisa ir, não é? Não posso dizer que não.

Broderick riu. Olhou para o rosto dela, acariciando-o com a mão. ? Se alguém pudesse me dizer que não, eu a ouviria, ? ele disse calmamente. ? Você tem meu coração. Mas devo ir.

Amabel mordeu o lábio. Ela não podia deixar seu marido sair sozinho em missão tão perigosa! Quando ouviu sua respiração lenta e ele gentilmente dormiu, ela elaborou um plano.

Havia duas coisas que poderia fazer. Poderia persuadi-lo a pelo menos consultar com Tio Brien antes de partir, ou poderia fazer algo mais perigoso.

Quando se deitou ao lado dele no quarto escuro, ela fez seus planos. Eles eram selvagens, eram perigosos, eram muito perigosos. Mas poderiam funcionar, e isso era tudo o que ela queria.


Capítulo Vinte E Oito

Planos Na Obscuridade


?... e então, acho que a melhor maneira é abordá-los.

? Eu também acho, irmã.

Era tarde, o crepúsculo estava se instalando no castelo. Amabel e Alina estavam sentadas no quarto do andar de cima que era de Alina. A longa e arqueada janela mostrava o céu violeta, onde as formas flutuantes das andorinhas se precipitavam.

Elas estavam discutindo o plano.

Alina suspirou. Ela se recostou contra a parede, com os olhos fechados. Parecia cansada. Enquanto Amabel a olhava, ergueu uma mão magra e esfregou os olhos cansados.

? Eu não deixaria você ir sozinha, irmã.

Amabel mordeu o lábio. ? Eu deveria. É perigoso.

Alina pegou sua mão. ? Não sei exatamente porque não.

Amabel fungava e riu. ? Eu suponho que você está certa.

? Claro que estou.

As duas se sentaram juntas, pensando no plano. Quando Amabel contou à sua irmã sobre sua preocupação, ela consultou a tia Aili. A mulher mais velha sugeriu convidar Bradley para vir ao castelo. Mas Amabel não conseguia imaginar isso.

? Nós não poderíamos convidá-lo ? disse ela para Alina.

? Estou de acordo. Então, continuemos.

Essa foi a essência do plano. Elas iriam até a fortaleza de Bradley. A outra, a vinte quilômetros da fortaleza que Broderick capturou. Lá iriam confrontá-los com sua versão dos eventos. Se elas pudessem reunir provas de que eles não faziam parte do ataque a Dunkeld...

? Ele precisará acreditar em nós ? disse Amabel.

Alina assentiu. ? Estou certa de que ele vai. Mas primeiro precisamos de uma desculpa para ir.

Amabel mordeu o lábio. Ela não pensara nisso. Uma viagem de ida e volta demoraria vários dias, e ela não queria que a guarda estivesse na floresta. Eles precisavam de um motivo para uma semana de ausência de Lochlann.

? Nós poderíamos visitar nossa prima ? perguntou Alina. Ela quis dizer Colla, filha do tio Brien.

Amabel mordeu o lábio. ? Nós ficaríamos longe mais de uma semana se fizéssemos isso. Alguém poderia adivinhar.

Alina assentiu. ? Isso é verdade, irmã. Bem então. Alguma razão para irmos? Eu poderia estar colhendo ervas, visitando os pedestres...

Amabel pensou nisso. ? Isso funcionaria. E quanto a mim?

Alina franziu a testa. ? Talvez estivéssemos curando você? ? Perguntou

Amabel olhou para ela. ? Alina? Essa é uma boa ideia!

Alina riu. ? Você tem certeza disso? Sobre o quê?

Amabel podia sentir um plano tomando forma em sua mente. Ela contou a Alina excitada, quando conseguiu elaborá-lo. ? Broderick e eu gostaríamos de uma criança. Estou preocupada com isso. Então, nós duas visitaremos a Abadia de Lochgrier.

Alina olhou para ela. ? Essa é uma excelente ideia!

Amabel olhou para baixo, modesta. ? Nós vamos dizendo que queremos dar graças lá no santuário. Para Santa Margarete. Para um parto seguro.

Os olhos de Alina brilharam com prazer. ? Esse é um plano maravilhoso.

Amabel engoliu em seco, sentindo-se estranhamente tímida. ? Obrigada.

Alina riu. ? Bem, então! ? Devemos ir para baixo para jantar. Acho que estou com muita fome depois desse planejamento.

Amabel assentiu. Seu apetite voltou. Possuia um plano. Ela e Alina partiriam logo. Eles descobririam.

Lá embaixo, Amabel e Alina entraram no salão. O jantar foi colocado, mas seu tio parecia ter saído cedo, para se encontrar no salão, com enviados do leste. Amabel tomou seu lugar à mesa e olhou para a irmã.

Alina sentou-se ao lado de Chrissie, que parecia estar empenhada em decifrar enigmas com Heath. Os dois estavam rindo como crianças.

Broderick, observou Amabel, também havia partido. O lugar ao lado dele fora recentemente limpo e ainda podia ver um pouco de umidade onde o copo de vinho estivera. Seu coração bateu.

Ele está discutindo com o tio? Eles estão planejando alguma campanha?

Ela descartou o pensamento, tentando manter a calma.

Alina chamou sua atenção. ? Tente comer ? ela incentivou.

Amabel assentiu. Ela se esticou para o centro da mesa para pegar um pedaço de pão crocante, mastigando distraidamente enquanto ouvia a conversa em torno da mesa.

?... e um dia eu serei uma dama, e, então, eu poderei dançar tanto quanto quiser, ? afirmou Chrissie. Sua risada iluminou o espaço pequeno e aconchegante e o tornou mais quente.

Heath sorriu. ? Minha dama, é chocante que alguém se restrinja isso. Você é uma boa dançarina.

Chrissie corou. ? Obrigada, Heath, ? ela murmurou, olhando para o jantar dele. ? Você também não é ruim.

Heath riu e Alina sorriu. Amabel olhou-a e piscou.

Se a vida fosse sempre tão pacífica. Ela passou uma sopeira, distraidamente, para o caçador que estava sentado atrás de sua cadeira. Tão gentil e inocente, cheio de prazeres simples.

À medida que a luz das velas flutuava no encontro alegre, Amabel se viu memorizando tudo. A maneira como o vestido escuro de Alina brilhava à claridade das velas. Seu sorriso sereno e angélico. A risada alegre de Chrissie. A calma reservada de Heath.

Pare Amabel. Você retornará para eles. Mas no fundo do coração, ela não tinha certeza.


Capítulo Vinte E Nove

Preparando A Jornada


Amabel estava no quarto de dormir,

Os olhos estavam fechados, observando a luz do fogo tocar nas pálpebras fechadas quando ouviu a porta se abrir. Prendeu a respiração sorrindo e contando, quando o marido entrou tropeçando um pouco enquanto atravessava o espaço.

E três. E quatro...

? Ouch!

Amabel riu enquanto ele caminhava em direção à cama. Ele fez uma pausa, esconjurando em voz baixa. Então, ela o ouviu tirar as roupas e deslizar na cama.

Ela rolou.

? Marido.

? Hmm ? ele respondeu com sono. Beijou sua testa e rastejou os dedos longos por suas costas.

Ela sorriu e aconchegou-se mais perto. ? Você estava em uma reunião?

Ele suspirou. ? Eu conversei com seu tio. Falamos de ataques. Desculpe querida. Eu vou lhe contar pela manhã. Agora, posso esquecer? Ele sorriu e puxou-a para dentro de seus braços.

Amabel mordeu o lábio. Ela já podia adivinhar o que ele diria. Alina concordou com ela que o tio não descansaria com aquela vitória. Se ele visse uma chance de eliminar seus inimigos, ele faria. E, seguindo a campanha bem-sucedida, ele gostaria de concluir a vitória por completo.

? Você não precisa dizer ? disse ela suavemente. ? Eu posso adivinhar.

Ela estava olhando nos olhos dele, acariciando seu pescoço.

Ele assentiu. Inclinou-se e aproximou-se dela. ? Você sabe que eu vou. ? ele sussurrou suavemente. ? Mas você sabe que eu não desejo.

Amabel assentiu. Ela fechou os olhos. Era o seu pior medo.

? Você vai até MacDowell?

Ele balançou sua cabeça. ? As notícias de Dunkeld são boas. Meu irmão não relata incursões na fronteira do norte. Acho que essa ameaça é outra coisa. Seu tio concorda.

Ela mordeu o lábio. ? Ele acha que é o MacAdam?

Broderick assentiu. ? É uma conclusão sensata. Nós sitiamos seus aliados. Nós os derrotamos. Claro, eles marcham para nós.

Amabel assentiu. Talvez fosse correto. Fazia mais sentido.

? Você não pensa...

? Pare. ? ele disse gentilmente. ? Eu tenho meus pensamentos. Mas não posso recusar ajuda a Brien. Ele é meu aliado.

Amabel piscou rapidamente. ? Mas... e Dunkeld?

? É por isso que luto, ? ele disse suavemente. ? Talvez eu tenha tirado da minha cabeça as minhas ações durante o cerco. A melhor maneira de protegê-lo é juntando-me ao seu tio. Esmagando Bradley e MacAdam.

Amabel queria dizer mais. Mas sabia que não poderia argumentar. Podia ser verdade. Eles ainda não podiam saber. Não antes de perguntar ao Bradley.

Ela acariciou seus cabelos. ? Eu acredito em você ? disse baixinho.

Broderick riu. ? Eu não acredito nisso. Estou meio convencido por mim mesmo. Mas o que mais posso fazer? Dunkeld não consegue resistir a um grande ataque.

Amabel assentiu. Ela entendeu. Mas não permitiria que essa aventura acontecesse sem algum esforço.

? Querido?

? Hmm? ? Ele perguntou, virando-se para se deitar ao lado dela, suas costas contra ele. Ele apertou-a ainda mais.

? Eu estava pensando ? disse ela, virando-se para encará-lo.

? Pensando? ? Ele perguntou, acariciando seu cabelo gentilmente.

? Sobre uma criança.

Broderick olhou para ela. Seus olhos escuros se estreitaram, depois se arregalaram. ? O quê?

Seu rosto estava tão cheio de alegria que Amabel não conseguiu deixar de rir.

? Sim. Isso é o que geralmente acontece. Quando você... ? Ela corou.

Broderick rugiu com gargalhadas. ? Sim, eu ouvi isso.

Ambos riram.

? Você não pode saber ainda? ? Broderick ficou boquiaberto com ela.

Amabel balançou a cabeça com força. ? Não. Ainda não. Ainda não vou saber por um mês. Finalmente. E é por isso que... ? Ela parou, olhando as mãos dela.

? O quê doçura?

? Que eu quero orar? disse ela. ? Na Abadia de Lochgrier.

? Há um santuário lá?

? Sim. A santa padroeira da gravidez ? ela é homenageada lá.

? Minha querida ? disse Broderick, inclinando-se para a frente para beijar sua testa, ? é claro que você deve ir.

Amabel sorriu. ? Obrigada querido.

Broderick riu. ? Eu não posso proibi-la. Mas ficaria mais feliz se você fosse embora antes de eu partir?

Amabel assentiu. Isso era perfeito. ? Eu gostaria disso também.

? Bom.

? Talvez amanhã? ? Amabel sugeriu.

? Amanhã! ? Broderick pareceu chocado. ? Eu suponho que você... ? Ele fez uma pausa. ? Não posso dizer não. Preferiria um dia depois. E eu gostaria que você levasse uma escolta. Por favor querida?

? Vou levar Fergall ? ela prometeu. ? Se você vai poupá-lo?

Broderick assentiu prontamente. ? Não confio em mais ninguém.

Eles ficaram lado a lado por um tempo.

? Você tem certeza de que é seguro? As estradas são perigosas.

Amabel sorriu. ? Eu preferiria não viajar sozinha.

? Boa! Por favor, procure uma companheira.

? Eu pensei em levar minha irmã ? disse Amabel imediatamente. ? Ela, também, gostaria de orar lá.

Broderick expirou. ? Bem então. Isso é perfeito.

Amabel sorriu calorosamente. ? Sim.

Ela se aconchegou em seus braços e os dois se deitaram calmamente um pouco, então, gentilmente, começaram uma lenta exploração. Quando Amabel se sentiu inflamada sob seu toque, ela fechou os olhos.

Por favor, deixe-me estar segura. Não posso virar as costas para este amor.

Foi seu último pensamento até muito mais tarde quando, feliz e com sono, deitou-se em seus braços e juntos eles se abraçaram para dormir. Amanhã seria um dia de ações.


Capítulo Trinta

Preparando O Caminho


? É muito bom ver você.

Broderick sorriu maravilhado para o irmão Duncan, e se sentaram juntos na sala da torre, à tarde ? a luz do sol atravessando o arco atrás deles.

? É bom vê-lo? concordou Duncan. Passou a mão por seus cabelos dourados. ? Eu precisava trazer a notícia.

? Sim. Você acredita que há perigo?

Duncan soprou suas bochechas em um suspiro. ? Eu realmente não posso dizer.

? Mas os madereiros viram alguma coisa?

Duncan suspirou. ? Sim. Apenas alguns batedores. Ou quem eles pensavam ser batedores. Pode ser que tenha sido um mal-entendido.

Broderick recostou-se contra a parede, lutando pela calma. Seu irmão chegou naquele dia, respondendo à mensagem que Broderick havia enviado dois dias antes. Ele pensou, então, que seu futuro era claro: um passeio de volta para casa. Uma festa de boas vindas. Uma vida simples.

Isso foi antes que esses rumores de um vasto exército começassem. Duncan aceitou o convite de Lochlann com o propósito expresso de discutí-los. Até agora, eles não tinham nenhuma prova disso ? apenas o rumor de que alguns batedores foram vistos na floresta. Eles haviam enviado batedores por conta própria, mas até agora dois thaviam retornado. Disseram que viram traços de cavaleiros, mas nenhuma força maior. Os outros três, que seguiram mais longe, ainda não haviam retornado à fortaleza. Duncan evidentemente acreditava em seus homens de que algo estava em andamento, e Broderick estava convencido.

? E são os MacAdams? ? Broderick perguntou cuidadosamente.

Duncan suspirou. Ele parecia absolutamente cansado. ? Faz sentido.

Broderick grunhiu o consentimento. ? Eu também acho que são.

Seu irmão virou-se para encará-lo, um olhar franzido em torno de olhos castanhos. ? Existe outro suspeito?

Broderick bufou. ? Ainda não posso dizer.

? Conte-me.

? Minha esposa ouviu recentemente que os MacDowells estavam chegando ? ele arriscou lentamente.

? Para a nossa casa? ? A testa de Duncan disparou. ? Mas por que? Não somos inimigos.

? Exatamente. ? Broderick expirou. ? Foi o que eu disse.

? Deve haver algum erro ? Duncan concordou. ? Quero dizer, posso ver porque Bradley chamou por minha ajuda. Você fez uma bagunça com eles.

Broderick bufou. ? Eu suponho. E, ao fazê-lo, desenhei esse exército. ? Ele olhou nos olhos de seu irmão, seu próprio olhar perturbado. ? Não fui inteligente, hein?

Duncan suspirou. Ele apertou o braço do irmão suavemente. ? Não é sua culpa.

Broderick suspirou. ? Certamente, parece isso.

? Apenas para você. O resto de nós pensa que teria acontecido de qualquer maneira.

Broderick fechou os olhos. ? Espero que sim, irmão. Por enquanto, você vai se juntar a mim? Isto é o que devemos fazer...

Broderick delineou seu plano. Era atrevido, envolvia montar o conselho de Lochlann Fyrd ? os inquilinos e os servos que deviam fidelidade ao castelo ? e liderar toda a força contra a fortaleza de MacAdam. Enquanto isso, eles enviariam uma força menor, sob os cuidados de Blaine, ao redor do exército que se aproximava. Duncan lideraria um anexo no próprio Dunkeld. A ideia era cercar as tropas próximas, cortando suas saídas.

Duncan recostou-se, os dedos tocando seu queixo. ? Um bom plano, Broderick.

Broderick sentiu-se sorrir. Ele o olhou estranhamente, não querendo mostrar ao irmão o quanto isso significava para ele.

? Obrigado.

Duncan apertou o ombro dele. ? Devemos descer ? ele observou lentamente. ? Já é hora de jantar. E eu gostaria de ver sua linda esposa e sua irmã também.

Broderick olhou para ele, sorrindo. ? Oh!

Duncan corou e empurrou seu irmão brincando. ? Você sabe que estou interessado.

Broderick riu. Juntos ficaram de pé. ? Sim, eu o conheço. E você é um homem afortunado. As irmãs Lochlann são excepcionais.

? Elas são ? Duncan concordou. ? Em beleza e em mente.

Broderick assentiu. ? Já reparei.

Ambos sorriram.

? Desejo-lhe sorte, irmãozinho ? disse Broderick, batendo o irmão no ombro.

? Igualmente. ? Seu irmão concordou, então ele se cheirou. ? Porém, mais do que a sorte, preciso de um banho. Estou fedendo depois da longa viagem.

Broderick riu, divertido. ? Eu não percebi, irmão.

Duncan deu-lhe um sorriso. ? Isso, irmão, é porque você é um bárbaro.

Broderick rugiu. ? Então, sou um bárbaro. Não posso negar isso.

Duncan segurou-o pelo ombro. ? Nós dois.

Broderick o empurrou e juntos desceram as escadas até os aposentos arrumados para os visitantes. Quando Duncan alcançou seu quarto, eles se separaram lá ? Duncan para um banho, Broderick para mudar sua túnica.

? É bom ter Duncan aqui ? Broderick suspirou. Pelo menos com a presença de seu irmão em Lochlann, ele teria alguns dias para planejar a campanha, finalizando detalhes, antes que seu irmão voltasse para a fortaleza para agir.

Broderick imaginou que estariam prontos até o final da semana. Então marchariam contra seu inimigo e acabariam com aquele assunto.

Enquanto se dirigia para o quarto, Broderick encontrou-se esperando que Amabel estivesse dentro. Ele não podia deixar de lembrar que ela partiria, do castelo, no dia seguinte para sua peregrinação. Pelo menos, se ela sair agora, elas estarão de volta antes dele ir à campanha.

A abadia que desejava visitar não era mais do que um dia de condução confortável, o que significava que estariam de volta com muito tempo para a partida.

E quanto mais cedo eu sair, mais cedo eu volto.

E quanto mais cedo ele voltasse, então mais cedo, ele e Amabel poderiam começar sua vida.

Ele tirou a túnica e trocou por uma nova de lã não branqueada, passando um pente pelo cabelo curto e escuro para arrumá-lo. Pensou em Amabel em Dunkeld. Havia tanto para mostrar! Eles podiam andar na floresta, tomar refeições no salão, compartilhar sua cama.

Suspirou. A vida estava preparada para ser feliz. Tudo o que precisava fazer era amarrar as últimas extremidades soltas.

Ainda sorridente desceu as escadas para jantar.

No salão, a família se reuniu. Amabel estava lá, sua prima e sua aia, Lorde Brien e Lady Alina. Broderick tomou seu lugar ao lado de sua esposa, apertando sua mão.

? Onde está Duncan?

? Ainda não está aqui ? explicou Amabel.

Broderick sorriu, pensando que seu irmão estava demorando muito para se preparar.

Ele deve realmente gostar de Lady Alina.

Com certeza, ele apareceu um momento depois, vestido com uma túnica de tons terrosos que lhe acentava admiravelmente e uma capa longa caindo de seus ombros largos. Ele se curvou para Lorde Brien e tomou um lugar ao lado de Alina.

? Eu confio que este lugar esteja vazio? ? Sua voz soou rouca.

? Sim ? ela disse, quase um sussurro.

Amabel e Broderick sorriram um para o outro.

Enquanto observavam o irmão e a irmã conversarem com alegria, trocaram sorrisos felizes.

Fico feliz que meu irmão também tenha encontrado a felicidade.

Ele estava tão satisfeito em sua própria vida que desejava que todos encontrasse o amor.

Alina é uma boa mulher, pensou, observando-a e notando como o fogo cintilava em seus cabelos pretos. Mas estou tão feliz com meus amados. Então, muito feliz.

Ele se recostou, sentindo-se profundamente feliz enquanto a conversa se elevava e caia ao redor deles, desejando com todo o coração que nunca tivesse que sair para aquela campanha.


Capítulo Trinta E Um

Configurações


Amabel e Broderick subiram a escada.

Amabel mordeu o lábio.

? Você deve ir, não é?

Broderick assentiu. ? Eu devo. Você sabe disso.

Amabel balançou a cabeça. Sabia que ela e Alina possuiam um plano para resolver esse problema, mas desejava que esperassem! Levaria dois dias de qualquer forma para chegar às terras de Bradley. E quando elas chegassemm lá, seria apenas cortesia permanecerem a noite. Quando voltasse com a prova, Broderick e seu irmão teriam ido embora.

? Você pode não demorar? ? Ela colocou os olhos azuis acinzentados sobre ele, esperando persuadi-lo com sua tristeza. ? Sinto muito por perder sua partida.

Broderick sorriu e acariciou sua bochecha. ? Não se preocupe, querida. Só estará fora por três dias! Tenho certeza de que não vou sair antes de você retornar.

Amabel sentiu uma irritação repentina. Se ao menos não tivesse que mentir para ele.

? Não espere que eu volte tão cedo. ? Ela disse com firmeza.

Broderick piscou.

? Por quê, querida? Você não deseja me ver? ? Ele sorriu, os olhos enrugando nos cantos.

Amabel tentou resistir à vontade de gritar com ele. Ela não esperava que ele estivesse um pouco desconfiado de que elas se dirigiam para outro lugar. Como sempre, ele estava sendo ridiculamente protetor ? ela teve dificuldade em convencê-lo a não colocar um punhado de soldados para acompanhá-los.

? Eu posso me demorar mais ? ela disse com cuidado.

? Por quê? ? A testa de Broderick se enrugou. ? Vocês desejam ficar algum tempo na reclusão?

Amabel mordeu o lábio. Paciência, paciência. Ela desejou que Alina estivesse aqui. Ela poderia pensar em alguma saída neutra. Ela fechou os olhos, estendendo o cérebro.

? É uma possibilidade, ? ela arriscou. ? Alina e eu desejamos nos purificar, banhar-nos nas fontes sagradas lá.

Broderick balançou a cabeça.

? O quê? ? Amabel perguntou, sentindo seu temperamento vir a tona.

? Você pode optar por ir mais de uma vez, ? disse ele. ? Eu estou prestes a correr perigo. E você diz que não vai me ver?

Amabel desviou o olhar. O que mais ela poderia dizer? Ela estava começando a ficar desesperada. Ela decidiu que a melhor maneira seria perder a paciência.

? Broderick, ? disse ela calmamente. ? Eu preciso viajar para a abadia. Passarei lá o tempo que for necessário.

? Muito bem, ? ele disse com um suspiro. ? Se é isso que você deseja. ? Sua voz era tensa e distante. Amabel sentiu vontade de chorar ouvindo isso, mesmo que o resto dela se alegrasse.

Amabel fechou os olhos. ? Sim, ? ela disse em uma voz baixinha. ? É o que eu desejo, Broderick.

? Bem, então, ? disse Broderick. ? Eu devo dizer adeus.

Amabel mordeu o lábio, sentindo como se estivesse prestes a chorar.

? Sim, ? ela conseguiu dizer.

? Tenha uma viagem segura, ? ele disse formalmente. Curvou-se sobre a mão dela. ? Tanto para você quanto para sua irmã. Que suas orações sejam ouvidas.

Amabel apertou os olhos. Ela não devia se entregar agora. Ela queria que ele pensasse que ela estava brava, desafiadora. Então ele não a seguraria de volta.

? Obrigada, ? ela disse igualmente formalmente. ? Rezo assim.

Broderick apertou a mão e olhou nos olhos dela. Então, suspirando deixou seus braços caírem nos seus lados. E se virou.

? Adeus, esposa, ? ele disse, virando suas costas. Parecia ferido.

Amabel ficou tensa. Ela precisou resistir ao impulso de correr atrás dele e beijá-lo. Para dizer-lhe que estava mentindo, que estava planejando uma longa viagem. Que nunca o deixaria se houvesse outra maneira.

Mas ela não devia dizer nada a ele. Fazer isso seria arriscar seu plano cuidadoso.

Preciso ir agora. Se eu não sair hoje, não há chance de informá-los antes que as forças se envolvam.

E depois disso, não haveria volta. Se MacDowell vencesse, Dunkeld ficaria perdido e Lochlann danificado. E seu tio, acreditando que seus inimigos eram os Bradleys e os MacAdams, gastaria suas forças em uma guerra desnecessária. Somente para tornar todas as suas terras alvo para as mãos de MacDowell.

? Até, ? ela disse em uma voz baixinha.

Com a cabeça erguida, atravessou o corredor até à porta. Alina estava no andar de cima, dizendo as suas despedidas. Enquanto esperava, ela ouviu sua irmã soprar as velas.

? Irmã. ? Ela apertou a mão de Alina e, juntas, saíram pela porta do castelo até o portão, onde a carruagem de Lochlann as aguardava.

? Aqui está, Lady Amabel, ? disse o cocheiro, ajudando-a a entrar na escuridão da carruagem. Alina em seguida. O baú com a bagagem foi amarrado ao telhado, Fergall iria atrás como uma escolta, a carruagem rodou lentamente pela estrada.

Amabel recostou-se no assento, fechando os olhos. Ela não queria chorar. Mas podia sentir uma lágrima deslizar por sua bochecha. Outra a seguiu. Ela se virou.

? Irmã? ? Amabel sentiu seu pulso agarrado por dedos magros.

? Alina. ? Ela agarrou a mão de sua irmã e, juntas, ficaram sentadas em silêncio, ouvindo o silvo das rodas, o clap dos cascos e a voz alta do vento sibilando sobre a grade das janelas.

Estava escuro na carruagem, a janela coberta por uma rede que permitia uma luz irregular, mas protegia da chuva. Amabel sentiu-se preocupada para dormir.

? Você está preocupada, não é? ? Disse Alina calmamente.

? Sim, ? Amabel sussurrou de volta.

? Vamos voltar com segurança, ? disse sua irmã solenemente. ? Eu sei isso.

Amabel assentiu lentamente. Alina viu verdade. Desde que eram crianças, ela era dada a flashs e se Alina acreditava que elas estariam seguras... ela sabia que era verdade.

? Obrigada, ? disse Amabel em voz baixa. ? Mas esse não é o problema.

? Oh! ? Alina pareceu um pouco surpresa.

? Não. O problema é meu marido. Ele acha que eu não me importo com ele.

Amabel sentiu as lágrimas começarem e não ficou envergonhada quando elas escorreram pelo rosto. Ela cobriu o rosto com as mãos e deixou-se chorar.

Quando olhou para cima, fungando, Alina, sem falar, passou um lenço para ela.

? Tonto! ? disse Alina com leveza. ? Você não. Ele.

Amabel sorriu. ? Você acha?

Alina riu. ? Minha querida? Você está prestes a arriscar sua vida para poupar sua casa. Você está interessada apenas em encontrar a verdade. Ele está interessado apenas em agir como um menino pequeno em sua primeira caçada.

Amabel riu da imagem. Era bastante apropriada.

? Pedi a Duncan que fique de olho, ? continuou Alina. ? Ele disse que sim. Broderick é sempre impulsivo.

Amabel sorriu. Ela ficou satisfeita ao ouvir que sua irmã e seu cunhado estavam próximos. ? Ele ficará?

? De fato. Ele disse que manteria o cabeça quente do irmão, fora de perigo, mesmo se ele tivesse que andar atrás dele como uma sombra para fazê-lo.

Ambas riram e Amabel sentiu o alívio de compartilhar sua preocupação, enquanto as duas se aproximavam da fortaleza de seus inimigos de longa data.


Capítulo Trinta E Dois

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Broderick e Duncan cavalgavam juntos. A manhã estava fria, o primeiro sinal de inverno. Flocos de geada assentaram rígidos, mas foram espalhados pelos cascos do cavalo.

? Duncan?

? Sim?

Broderick suspirou. ? Algo está errado.

Duncan levantou uma sobrancelha, seu rosto bem parecido ao dele, mostrando sua diversão. ? Estamos andando por um território potencialmente hostil, deixando a maior parte de nossa principal força. Ainda não estamos seguros de quem enfrentamos, e podemos enfrentar uma emboscada. Estamos indo para casa, com um plano de defesa em formação, que se baseia no fato de que papai repeliu todos os ataques em nossa ausência. Sim, você pode dizer que está errado.

Broderick soltou uma risada. ? Eu sei, ? ele suspirou. ? Estamos assumindo riscos.

Duncan sorriu. ? Só um pouco.

Seguiram em silêncio. Então Broderick limpou a garganta. ? Ainda não é isso.

? Oh!

? Não é isso que parece errado. Não o que eu pensei.

? O que está preocupando você, irmão?

Eles diminuíram a velocidade para que pudessem ouvir um ao outro conversando acima do barulho dos cascos e de pés marchando.

? É Amabel, ? ele disse hesitante.

Duncan franziu a testa. ? Como é?

? Bem, ? começou Broderick. ? Eu senti como se ela estivesse escondendo algo de mim. Não é típico dela. Ela estava tão distante.

Duncan suspirou. ? Agora que você mencionou isso, ? ele começou com cuidado, ? Alina também estava estranha.

Broderick olhou-o fixamente. ? O que você quer dizer?

? Bem, ? Duncan limpou a garganta. ? Ela também estava diferente. Parecia preocupada. Ela estava franzindo o cenho e parecia nervosa. Ela geralmente não está nervosa.

Broderick assentiu. ? Ela sempre está tão calma.

? Exatamente.

Os dois irmãos se entreolharam.

? Você acha que...

? Elas vão realmente peregrinar?

? O quê? Desculpe, Duncan. Ele limpou a garganta. ? Mas o que você quer dizer?

? Bem... ? Duncan ergueu uma sobrancelha. ? Eu acho que Alina estava escondendo algo. Amabel também. Talvez seja assim. Talvez não se dirijam à abadia depois de tudo. Mas para outro lugar.

Broderick franziu a testa. ? Mas para onde mais elas iriam?

? Eu não sei.

Os dois homens andaram em silêncio por um tempo.

Depois de um momento, Broderick teve uma ideia.

? Blaine está na retaguarda?

Duncan virou-se. A coluna dos oitenta higlanders se estendia muito para trás, dezesseis filas de cinco homens cada. Na parte de trás, ele podia apenas discernir Blaine, montando uma égua castanha mal-humorada. Acenou para Blaine.

? Ele está chegando agora, ? Duncan respondeu uniformemente. ? Por quê?

? Eu quero saber se Chrissie lhe contou qualquer coisa. Certamente, se as mulheres estavam indo para algum lugar, elas também poderiam ter contado a ela?

Duncan encolheu os ombros. ? Vale a pena tentar.

Os dois esperaram até ouvir os cascos se aproximarem ao lado deles.

Broderick virou-se.

? Blaine?

? Sim senhor?

? Como você está com os segredos?

? Depende, senhor. ? Ele sorriu. ? Estratégia? Eu sou completamente inarticulado.

? Outros segredos?

? Eu tenho uma boca como uma panela com vazamento, senhor.

Broderick rugiu. ? Bom. Assim. Se Chrissie confiou algo a você, você poderia contar?

Blaine ficou pálido. ? Não necessariamente.

? Se isso pudesse significar vida ou morte?

? Depende, ? disse ele. ? Se for sua vida, então eu salvaria. Não há dúvida, senhor.

Broderick sorriu severamente. ? E a de minha esposa? Ou a de Alina?

? Claro. ? Seus olhos castanhos estavam preocupados. ? O que houve senhor?

? Você sabe para onde elas estavam indo... onde elas disseram?

Blaine franziu a testa. ? Chrissie pensou assim, ? ele disse hesitante. ? Mas ela também disse que elas levaram alguns bons vestidos. Para estarem apresentáveis.

Os três homens se olharam. A abadia era um lugar simples e austero. Levar qualquer adorno seria insultar as irmãs e os irmãos que ficaram lá.

Não havia nenhuma chance de as damas se dirigirem à abadia.

Broderick olhou em volta, sentindo os primeiros traços de medo pelas costas.

? O que houve senhor? ? Blaine mordeu o lábio. ? Qual é o problema?

Broderick e Duncan olharam para trás.

? Precisamos encontrá-las, ? disse Broderick, decididamente.

? Sim, ? disse Duncan.

? Amabel? ? Broderick suspirou. ? Amada, onde você está?

Ele não fazia ideia. Só esperava que ela estivesse onde ele pensava, e não fosse em outro lugar.


Capítulo Trinta E Três

Terror Na Estrada


A carruagem chocalhava através da paisagem, indo para o noroeste. Amabel estava cansada. Sua cabeça doia. O céu além do painel da janela era escuro, mostrando através dos buracos na rede de proteção a escuridão ainda mais forte dentro do veículo.

Amabel estava levemente adormecida. Ela se sentou. Por que eles estavam diminuindo?

Ela olhou para Alina, que se deitara calmamente. Estava dormindo.

? Alina?

? Sim?

Não demorou muito para que sua irmã estivesse bem acordada.

? Qual é o problema?

? Eu não sei. Eu acho que estamos diminuindo. Por quê?

Alina olhou para ela. Na escuridão, Amabel viu apenas os olhos.

? Eu não sei.

Amabel balançou a cabeça. ? Eu não gosto disso.

Seu plano era continuar até chegarem a uma fazenda que Fergall conhecia. Tinha sido difícil fazê-lo concordar com seu plano, mas decidiram contar, pelo menos parte. Ele acreditava que estavam visitando um parente para tentar negociar a paz.

Amabel ouviu os sons à sua volta. Ela podia ouvir o silvo de rodas, o barulho de cascos. Então ouviu o som que a perturbou. Ela ouviu um grito.

Ficou tensa.

? O que foi isso?

Alina não disse nada, apenas pegou sua mão.

Amabel mudou de posição. Não viu nada. Tudo o que conseguia ver era o esboço vago da grade sobre a janela, e uma luz pálida.

Tomou uma decisão. Em pé na carruagem, bateu no telhado. ? Douglas?

Ela gritou o nome do cocheiro até que ele a atendeu.

? O que houve, milady?

Amabel suspirou. Ela moveu a grade para que pudessem ouvir melhor.

? Ouvi um grito. Devemos parar aqui.

? Eu também ouvi, milady. Talvez alguém esteja machucado.

? É terrivelmente tarde, ? gritou Amabel. ? Devemos parar.

? Nós podemos parar na fazenda, milady, ? Douglas gritou de volta. ? Não falta muito agora.

Amabel suspirou. Estava cansada do pressuposto de que qualquer preocupação dela fosse menor. Se ela ouviu um barulho e estava preocupada, ele deveria acreditar. Era a neta do Conde de Cawley! Sobrinha do Conde atual. Sua palavra não devia ser descartada tão facilmente.

? Douglas! ? Ela disse claramente. ? Eu exijo que você pare.

Naquele momento, ouviram cascos. Um rugido horrível. Amabel respirou fundo. O que estava acontecendo?

Um instante depois, elas ouviram gritos. Gritos pedindo-lhes para parar. Ameaças e assobios.

Amabel fechou os olhos. Ela e Alina se sentaram juntas quando a carruagem parou bruscamente.

Bandidos, pensou Amabel, mordendo o lábio. Ela os havia esquecido. De todos os perigos que enfrentaram, ser abordadas por bandidos foi a última coisa que considerou.

Amabel e Alina sentaram-se na parte de trás. Amabel sentiu Alina inclinada para a frente, de modo que seus joelhos e mãos tocaram. Suas testas também se encontraram.

Suavemente, com urgência, as duas mulheres começaram a orar.


Capítulo Trinta E Quatro

Encontrando A Verdade


Broderick e Duncan cavalgaram em silêncio. Este era o segundo dia desde a partida. Ainda não tinham notícias do castelo.

Enviaram dois homens, Keith e Walter, de volta com instruções explícitas. Eles deveriam ir até à abadia e, se a carruagem de Lochlann não estivesse lá, deveriam voltar.

? Levará um dia para chegar à abadia, ? Duncan assegurou a Broderick. ? Não podemos esperar nenhuma novidade até amanhã o mais cedo possível.

? Eu sei, ? Broderick suspirou. ? Não consigo deixar de me preocupar.

Duncan franziu a testa. ? Eu sei. Eu também.

Broderick mal dormiu quando pararam durante a noite. Durante a noite, ele se castigou. Como ele poderia simplesmente ter ido embora? Deixado ela ir? Como poderia ter pensado que ela não estava mentindo para ele? Deveria ter sabido que sua raiva repentina era um sinal.

Se ela estiver em perigo...

Se ela estivesse em perigo, ele era o culpado. Acreditara nela mesmo quando a deveria ter interrogado mais rigorosamente. Ele a fez acreditar que ela precisava mentir, quando deveria ter sido capaz de lhe confiar a verdade. Onde elas estavam indo? Ele fazia a ideia de que ela deveria estar indo a algum lugar perigoso. Por que não confiar nele dando-lhe a informação?

? Irmão? ? Duncan sussurrou.

? Sim? ? Broderick torceu, sua autoflagelação interrompida pela pergunta.

? Existe alguma razão pela qual ainda não vimos nenhum homem?

Broderick fez uma careta. ? Possivelmente.

Quanto mais eles cavalgavam em direção ao bosque Dunkeld, mais ele começava a acreditar nas histórias falsas. Não viram nenhum sinal de um grande exército. Não havia quase ninguém na estrada, exceto alguns vendedores ambulantes. E nenhum distúrbio visível. Eles passaram por pequenas casas de campo e fazendas de gado com fumaça nas chaminés, tudo calmo e comum.

Se alguém planejasse sitiar Dunkeld, eles certamente teriam feito um melhor trabalho ao devastar a paisagem circundante?

? Devemos ver em breve, ? continuou Duncan. Estavam quase entre as árvores. Se não vissem ninguém ali, podiam ter certeza de que as histórias eram falsas. Ou o inimigo se mudou.

? Nós devemos. ? Concordou Broderick. Eles estavam quase fora das árvores agora, indo em direção a Dunkeld. Se ele realmente se esforçasse achava que conseguiria ver as muralhas de pedra se erguendo.

? Meu Lorde!

Broderick girou. Ele conseguia ouvir os cascos na terra dura.

Ele e Duncan procuraram o cavaleiro que se aproximava.

Ele cavalgou para o lado de Broderick, com o cavalo respirando com dificuldade. Broderick reconheceu Walter, um dos homens que havia enviado de volta. Franziu a testa. Por que havia retornado?

? Walter?

? Meu senhor! ? Ele disse. ? Eu encontrei a carruagem.

? O quê? ? Broderick olhou para ele. ? Mas... Walter! Como? ? A abadia estava a dois dias atrás deles. Ela fora embora há um dia. Como ele poderia tê-los alcançado tão cedo. A menos que...

Duncan assentiu lentamente. ? Você encontrou a carruagem, ? ele disse calmamente. ? Onde?

? Na estrada, milorde.

Broderick sentiu seu coração congelado como se a geada o tocasse. ? O quê? Onde? Quem...?

Walter se inclinou, tossindo. Ele cuspiu, então enxugou a boca, claramente exausto. ? Um dia de viagem de volta, meu senhor, ao longo da rota que elas teriam tomado.

? Elas estavam dentro? ? Broderick perguntou, já temendo sua resposta.

? Não.

Broderick agarrou as rédeas. Ele olhou para Duncan, que havia empalidecido.

? Duncan?

? Broderick.

? Nós não podemos ficar aqui. Nós precisamos voltar.

Duncan balançou a cabeça com cautela. ? Espere. O que mais, Walter?

? Milorde, ? o homem olhou ao redor, claramente assustado, ? eu não quero lhe dizer isso. Mas...havia pegadas em todos os lugares.

? Pegadas?

? Cascos, senhor. Cavalos ? cerca de uma dúzia deles. Devem tê-las parado.

Broderick o encarou. ? Você viu para onde as pegadas foram?

Ele já estava virando o cavalo, voltando o caminho até o mensageiro. Duncan olhou para ele.

? Eu não poderia dizer, milorde, ? disse o homem, coçando a cabeça. ? Exceto que eles foram para o norte.

? Norte. Não é para o leste?

? Não, milorde. Na direção de...

? Do MacDowells.

Broderick sentiu todo seu cabelo arrepiar. Ele deveria saber. Ela contou a ele. Ele deveria ter ouvido!

Virou-se para encarar Duncan, os olhos pretos, o rosto branco.

? Eu preciso voltar. Eu preciso encontrá-las. ? Broderick sabia disso, como irmão mais velho, ele deveria ficar e liderar seus homens. Mas em Dunkeld, seu irmão sempre assumiu a mesma carga de tarefas, assumindo naturalmente a tarefa quando Broderick não voltara a se casar. Seu dever para com seu pai e seu irmão entraram em doloroso confronto com seu dever para com sua esposa. Ele olhou para Duncan, o rosto distorcido pela indecisão. ? Duncan? O que devo fazer?

Duncan não hesitou. ? Eu irei até nosso Pai, ? ele disse imediatamente. Inclinou a cabeça na direção da fortaleza. Direi a ele o que planejamos. Ele pode conduzir a defesa como você conduziria. Eu desempenharei seu papel. Blaine os cercará.

Broderick engoliu em seco. ? Obrigado, irmão. Obrigado mais do que posso dizer. No entanto eu deveria ficar. Eu sei disso.

? Você conhece as irmãs Lochlann melhor do que eu, irmão. Você tem mais chances de adivinhar onde elas foram. Encontre Alina, irmão. ? disse Duncan com firmeza. ? Isso é tudo o que eu quero.

Broderick engoliu. Seu coração doía. ? Vou fazer o meu melhor, ? disse ele tremendo. ? Eu prometo.

Os dois irmãos apertaram as mãos, então Broderick virou-se e voltou ao longo das tropas, Walter seguindo atrás. De volta pelo caminho que eles vieram. Antes que fosse muito tarde.


Capítulo Trinta E Cinco

Confrontando Um Inimigo


Estava escuro. Negro, escuro do tipo que tornava impossível ver uma polegada na frente do rosto. O quarto frio cheirava a pedra e poeira.

? Onde estamos? ? Alina sussurrou.

? Eu não sei, ? respondeu Amabel. Falaram francês para que não fossem entendidas.

Elas foram levadas a cerca de uma hora de distância de onde a carruagem foi parada. Amarradas, desorientadas e assustadas, foram retiradas grosseiramente dos cavalos em que haviam sido conduzidas e levadas por um corredor escuro.

Amabel mordeu o lábio. Não via quase nada na frente dela. Nada além da luz de uma tocha distante. Piscou nervosamente através dos corredores e Amabel estremeceu. Ela sentiu a mão de sua irmã ao lado dela e apertou-a, tanto para sua própria garantia como por qualquer outra pessoa.

? O Conde. Ele ainda está acordado?

Seu captor parou perto de uma porta alta e arqueada. De dentro da sala, a luz flamejante cintilava, lançando sombras misteriosas nas paredes. Amabel sentiu um entorpecimento que foi além do medo. Onde quer que estivessem, essas pessoas estavam claramente ligadas ao mal.

? Sim. Ele está lá dentro, ? o porteiro respondeu. ? Disse que não deve ser perturbado.

O homem riu. ? Ele vai querer ser perturbado por isso. Você conhece MacDowell. Isso significará um grande negócio para ele.

Amabel virou-se para Alina, e Alina fechou os olhos por um momento. Ambas estavam aterrorizadas. Não faziam ideia de onde estavam, exceto que estavam no norte e seja quem for que as tivesse levado era bem hostil. Agora elas sabiam. Os seus piores temores foram confirmados. Estavam com os MacDowells. E eles eram tão hostis quanto elas pensavam que eram. Amabel fechou os olhos. Ela queria ter razão, mas não esperava que a provação fosse tão aterradora.

? Venham comigo, ? disse o homem, e deu um empurrão no ombro de Amabel.

Ela tropeçou para frente e Alina ficou tensa ao lado dela, ereta e régia, e dirigiu um olhar selvagem para o guardião. Amabel estava meio receosa que sua irmã golpeasse o homem, ou o amaldiçoasse e estendeu uma mão restritiva. Alina pegou sua mão e deu-lhe um breve apertão.

Elas seguiram o homem no corredor, os passos ecoando pelas altas e arqueadas portas.

? Quem entra aqui? ? Uma voz soou.

O captor deu um passo à frente, empurrando o peito para pedir desculpas.

? Meu Lorde. Lamento incomodar sua paz. Mas temos cativas que podem interessá-lo.

? Elas devem ser muito interessantes, Gylas.

A voz era grossa e ameaçadora. Ele emergiu como uma forma escura na frente do fogo que rugia.

A forma se transformou, tornando-se um homem coberto de xadrez. Alto e moreno, a luz do fogo o deixou vermelho, negro e assustador. Possuia um rosto áspero com um nariz longo, que fora quebrado pelo menos uma vez, e olhos profundos. Ele franziu a testa para elas.

? Por que você trouxe duas damas, Gylas? Estou à procura de prisioneiros militares.

Gylas engoliu em seco. ? Meu Senhor. Temos razões para acreditar que essas damas são do Castelo de Lochlann.

O homem pareceu desinteressado. ? Mas, estranhamente, não tenho nenhum negócio com Lochlann. Para que elas servirão para mim, além de fomentar problemas onde não deveria haver nenhum?

Amabel notou Gylas trêmulo. Não é um bom sinal. Se seus próprios homens estão aterrorizados, então...

? Meu senhor, ? Gylas fez uma pausa, puxando sua túnica nervosamente. ? Você não ouviu que MacConnaway... casou-se com uma garota Lochlann? Um mês ou mais atrás?

O homem ficou rígido. Ele sorriu.

Amabel sentiu aquele sorriso rastejar por sua coluna vertebral como um calafrio repentino. Havia algo muito, muito perturbador sobre esse homem. E ele estava olhando para elas com interesse renovado. Ele era, claramente, o verdadeiro inimigo de Broderick. Mais uma vez, ela desejou ter errado, apesar de tudo.

? Oh! ? Ele olhou para baixo, e então sorriu para Gylas. ? Obrigado, Gylas. Você e seus homens serão recompensados. Agora, acho que vou precisar de algum tempo sozinho. Com nossas prisioneiras.

Gylas engoliu em seco, depois assentiu. ? Claro, milorde. Estarei de guarda.

? Obrigado. Você pode ir.

Amabel viu o guarda caminhar lentamente. Quando fechou a porta atrás dele, seu coração começou a bater. Quase desejava que Gylas tivesse ficado. Pelo menos os seus captores eram apenas descuidados e desajeitados. Este homem era aterrorizante

? Senhoras. ? Ele sorriu. Seu sorriso alcançou seus olhos, que eram como os de uma raposa, visando sua presa. Amabel estremeceu. Ela sentiu Alina endireitar-se e sabia que estava dirigindo um olhar de desprezo ao homem.

? Nós pedimos que você nos liberte, ? disse Amabel, voz bamboleando. Ela engoliu em seco, desejando que pudesse parecer mais destemida.

? Não temos valor como prisioneiras, ? acrescentou Alina. Parecia bastante calma. ? Somos duas damas indo para o santuário de St. Andrew. Nós não oferecemos nenhum perigo.

O homem riu. ? Um lindo conto, minha dama. Mas duvido disso. Você é a mulher Lochlann, não é?

Amabel piscou. Ela se perguntou se deveriam mentir. Olhou para Alina, que assentiu fracamente.

? Você não tem nenhum problema com Lochlann, ? disse ela. ? Você disse isso antes.

? Nosso tio agradecerá o nosso retorno seguro, ? acrescentou Amabel. ? E punirá quaisquer feridas.

O homem riu secamente. ? Não tenho dúvidas de que seu tio ficaria feliz por seu retorno. Mas ele é nominalmente meu aliado, não é?

? Ele não é seu inimigo, ? concordou Amabel. ? Ainda não, ? ela acrescentou amargamente.

O homem riu. ? Oh, eu gosto de mulheres que lutam. São muito mais... interessantes. ? Ele avançou e acariciou uma mecha de seu cabelo. Amabel recuou e lutou contra o desejo de cuspir nele.

Ele riu de sua reação, depois se virou. ? Eu não estou aqui para aplacar minha luxúria corporal, o que você pensa de mim.

Amabel ficou tão chocada quanto aliviada por isso.

? Você nos libertará ilesas, ? disse sua irmã pacientemente. ? E nosso tio irá recompensá-lo.

? Poderia sim, ? respondeu MacDowell sem rodeios. ? Mas, o que seu tio diria se eu me casasse com você?

Alina olhou para ele. Ela ficou branca. Amabel pegou sua mão, mas Alina puxou bruscamente.

? O quê? ? Alina sibilou. ? O que você poderia conseguir com isso?

Ele sorriu. ? Poder, minha lady. Você é a porta de entrada para Lochlann. Seu tio não possui herdeiros, não estou certo? Um homem sensato faria de tudo para se tornar seu herdeiro no momento em que a oportunidade lhe fosse concedida. E eu tenho essa oportunidade.

Alina estava com o rosto branco. Amabel queria poder fazer algo.

? Alina poderá recusar, ? disse ela corajosamente.

O homem riu secamente. ? Eu não tenho dúvidas. É por isso que devo me mover rápido. Não teria mais ninguém para falar por mim.

Amabel olhou para ele. ? O que faz você pensar que Lochlann seria seu?

? Estratégia, minha lady. Seu tio é velho. Até agora, não há herdeiros do sexo masculino para Lochlann. Um excelente sobrinho, indispensável no campo, seria o sucessor ideal para o conde. Algo que ela compreendeu imediatamente.

Amabel engoliu em seco. Ele não estava completamente errado nisso. E uma coisa era certa ? seu tio não se importaria se Alina estivesse casada com um monstro, desde que fosse útil. Ela olhou em volta. selvagemente, esperando fugir.

Ele riu. ? Eu posso ver você pensando em correr. Você daria dois passos antes de eu a parar. Incrível o que faz um punhal na perna.

Amabel olhou para ele. ? Você não...

? Claro. ? Ele deu de ombros, como se imobilizar pessoas fosse algo que fizesse todos os dias. Poderia ser assim, por tudo o que elas sabiam.

Alina deu um passo à frente então. ? Você é um ser sem honra. ? Era alta, e quando o encarou, ela olhou nos olhos dele. ? Você é ambicioso, mas por dentro é um sapo covarde. Eu maldigo você por sua própria maldade.

Ela cuspiu em seus pés, mas antes que pudesse completar a ação, ele agarrou seu braço torcendo-o dolorosamente. Amabel gritou com horror e correu em direção a sua irmã.

? Minha senhora ? ainda não sei seu nome, mas acredito que teremos um longo conhecimento. Você será minha esposa a essa hora, depois de amanhã. Espero que uma noite encarcerada lhe ensine boas maneiras.

Ele empurrou Alina para longe e virou-se para Amabel.

? Você, minha lady, vai deixar este castelo nesta mesma noite. Você é a esposa de MacConnaway, não é?

Amabel considerou mentir, mas à vista de Alina ser prejudicada, toda resistência havia diminuído.

? Sim, ? ela suspirou. ? Você sabe disso.

Ele sorriu para ela. ? Eu não tinha certeza, na verdade. Eu acreditava que existia outra além de vocês, mas acredito que ela seja mais nova. Então, devia ser você. Agora provou isso.

Amabel balançou a cabeça cansada. Ela se sentia miserável, aterrorizada e preocupada. Queria se sentar. Sentiu os joelhos se dobrarem e entraram em colapso.

? Guardas? ? O homem chamou. Enquanto esperava que os guardas chegassem, ele se virou para Amabel. Ficou de pé sobre ela.

? Para você, eu tenho um plano especial planejado. Você é a esposa de Broderick MacConnaway, não é? Ele perdeu a primeira para o Bradley, ou isso ele pensa. Era eu, é claro, mas muito mais conveniente se meus inimigos se guerrearem.

? Foi você? ? Amabel expirou.

Ele riu. ? Claro que fui. Estou surpreso que ninguém adivinhou. Posso chamar a maioria das tropas em meu auxílio. Bradley provavelmente pode juntar somente trinta. Estou quase exultando que o truque funcionou. ? Ele fungou.

Amabel olhou para ele. ? Você matou a esposa dele?

? Não pessoalmente, não, ? disse ele, olhando para as mãos. ? Mas, como aconteceu, funcionou perfeitamente. O homem continuará a lançar todos os seus recursos nas tropas de Bradley e MacAdam, paralisando-se enquanto luta com meus inimigos por mim. E eu simplesmente assistindo.

Amabel estava olhando para ele. ? Você é monstruoso.

Ele riu. ? Uma escolha de palavras interessante. Fui chamado de muitas coisas. Essa é uma nova adição.

Amabel engatinhou para trás nas lajes, um plano se formando em sua mente. Se ela pudesse ficar longe o suficiente, poderia chegar à porta e pedir ajuda. Quando pensou nisso, entraram novos guardas, pararam dois ou três ao redor da porta. Ela olhou para baixo, sentindo sua última esperança desvanecendo.

? Você pagará por isso. Meu tio vai ouvir sobre isso.

Ele riu. ? Como? Sua irmã será Lady MacDowell, então porque ela contaria? E você vai se afastar deles.

Amabel olhou para ele. ? O quê? ? Ela sentiu um verdadeiro horror. Ele a mataria? Ela olhou em volta selvagemente.

Ele riu. ? Oh! minha dama. Não vou matá-la... não eu próprio. Mas acho que seria oportuno dar-lhe uma morte memorável. Para inspirar mais vingança.

Amabel fechou os olhos. Não podia acreditar no que ouvia. ? Você não pode, ? ela disse em um sussurro estrangulado.

? Não, provavelmente não posso, ? ele concordou suavemente. ? Eu desejo morrer com mãos impecáveis. E além disso, se eu a matar agora, a bagunça seria assustadora. Não. Você vai morrer, mas não por mim.

Amabel estava chorando. Lágrimas de pânico. Ela não conseguia acreditar que aquele homem estava discutindo sua morte tão friamente. Ela olhou para Alina, que também estava chorando, lágrimas silenciosas caindo. Queria correr e abraçá-la. Ela se levantou.

? Alina, ? ela sussurrou. Ela agarrou-se a sua irmã. Queria memorizá-la, lembrar-se do cabelo sedoso, do corpo alto e magro, dos olhos negros e do cheiro doce e limpo que sempre a impregnava.

? Amabel.

As duas irmãs estavam em um abraço, sem palavras. Alina colocou as mãos nos braços da irmã, segurando-os ferozmente. ? Você não vai morrer. ? Seus olhos estavam fechados, e ela parecia estar em transe. Amabel estremeceu. Ela sabia que sua irmã tinha momentos de profecia. Queria acreditar que este fosse um.

? Você não vai morrer, ? repetiu Alina. Ela fez um ruído alto e agudo, um zumbido lento que fez todo o cabelo no pescoço de Amabel arrepiar. Sabia que sua irmã estava buscando algum canto antigo de proteção e queria chorar. Precisava de toda a proteção que conseguisse!

? Mate-o quando você tiver a chance, ? Amabel sussurrou em francês. ? Uma facada no peito ou no olho.

Alina abriu os olhos, limpou a névoa. Ela sorriu. ? Irmã, ? riu trêmula. ? Obrigada.

? Graças a você. ? Amabel sorriu. Estava chorando, lágrimas caindo pelo rosto. Ela as alcançou para limpá-las.

? Levem-na, ? o homem gritou e os guardas obedeceram.

Quando Alina foi afastada, com as costas eretas, calma, Amabel sentiu-se colapsar. Ela soluçou, o rosto preso em suas mãos. Chorou até que pensou que estava vazia de lágrimas e ainda mais, vieram.

? Alina, ? ela soluçou. ? Broderick. Chrissie. Duncan. Nunca mais os verei.

Seria o pior. Sua própria morte seria terrível ? muito horrível para considerar verdadeiramente. Mas a pior parte foi saber que ela nunca veria seus entes queridos envelhecerem e felizes, não os veria viver juntos.

O homem a observou um momento, contemplativo. Então ele convocou os guardas para levá-la.

? Amanhã, ? ele disse claramente, ? vou decidir o seu destino.

Amabel não disse nada. Não havia nada a dizer.

Enquanto os guardas a levavam, Amabel sabia que estava além da esperança. Tudo o que podia pensar, estranhamente, era no rosto de Broderick seu sorriso caloroso e intrigante e os olhos negros.

Nunca mais o verei vivo.


Capítulo Trinta E Seis

Um Choque Terrível


A manhã seguinte, amanheceu gelada e fria. Amabel acordou deitada no chão, seu corpo inteiro doia. Ela não sabia como conseguira dormir ? a sala estava gelada. Mas o desespero tem seu próprio poder para drenar o corpo, e então ela dormiu.

Ela sentou, gemendo com rigidez, e olhou em volta. Estava em uma pequena sala de um sótão, as paredes de pedra nua, madeira no chão e uma pequena janela, que dava para uma queda impossível. Estava muito exausta para se mexer. Ela se perguntou o que a acordara.

Ouviu uma batida na porta.

? Lady Amabel?

Amabel suspirou. Era Malcom, o guarda. Ao menos, ele fora amável na noite anterior. Ela pensou em pedir-lhe café da manhã, mas estava certa de que não receberia nenhum.

Um segundo depois, ele apareceu.

? Milady. Lorde Thomas a convoca.

Amabel mordeu o lábio. Ela supôs que deveria ter esperado isso. Queria ficar de pé, mas achou que suas pernas estavam completamente entorpecidas.

? Eu não consigo, ? disse ela.

O guarda franziu a testa. ? Vamos, milady! ? Ele balançou a cabeça e levantou-a. Depois que conheceu aquele homem, na noite passada, ela pensava que seus homens eram claramente muito mais gentis.

? Obrigada, ? ela sussurrou. Ele corou e olhou para baixo.

Juntos, com Amabel encostada em seu ombro, eles desceram.

As escadas pareciam infinitas ? talvez porque era a primeira vez que ela não entrava em uma absoluta escuridão. Eventualmente chegaram a um corredor de pedra.

? Aqui estamos, milady, ? disse o homem. Ele a conduziu pelo corredor. Eles precisaram ir devagar ? Amabel estava cansada com fome e horrorizada.

Ele chegou à porta e entrou.

Lorde Thomas estava lá. Estava vestido como anteriormente, com uma túnica xadrez escura, longas e escuras calças. Seu cabelo preto estava impecavelmente escovado, o rosto enrugado era solene.

? Ah. A prisioneira.

Amabel não olhou para ele. Ela se concentrou na plataforma onde ele estava, o tapete, a cadeira. Ela não encontrou seu olhar.

? Então. Não há últimos pedidos?

Amabel olhou para ele. ? Sim. Deixe minha irmã ir.

Ele riu. ? Desculpe-me. Eu recuso.

Amabel queria cuspir. Ela se segurou. Malcom partiu, deixando-os sozinhos. Amabel desejava poder se sentar, mas não havia onde se sentar, então ficou parada, seu vestido azul escuro coberto de poeira e palha.

? Bem. Você não está disposto a falar comigo? Eu esperava uma última mensagem com a qual atormentar nosso amigo. Não há nada que você diria a Broderick MacConnaway agora?

Amabel fechou os olhos. Havia tantas coisas que desejava que pudesse dizer a Broderick. Mas ela não faria.

? Não.

Ele riu. ? Eu estou surpreso. Pensei em vocês como um casal maravilhoso? Talvez vocês não sejam?

Amabel não respondeu. Ela olhou para o chão. Desejava que pudesse pensar em algo a fazer, uma fuga súbita que poderia, de alguma maneira, salvar a Alina, se não a si mesma. O casamento com MacDowell seria pior do que a morte, ela considerou.

? Bem então. Suponho que ainda deva acreditar que ele reivindicará vingança. Sim?

Amabel olhou para ele. ? Broderick MacConnaway vale uma centena de você.

Dentro dela não sabia com certeza o que Broderick poderia fazer. Ele certamente procuraria vingança por sua morte. Mas como ele se sentia sobre ela? Ela fora tão distante a última vez que se viram. Então, ela desejou poder ter conseguido a paz.

Ele riu. ? Tocante. Não vou transmitir isso. Se você não se importar?

Amabel olhou para baixo.

? Bom ? disse ele. ? Agora. Não está ansiosa para saber o que temos para você?

? Não.

Ele deu uma risada. ? Oh! me perdoe. Eu deveria ter me casado com você. Você tem espírito. Mas prometi isso a sua irmã. E além disso, eu precisaria ter uma anulação do seu casamento se eu não desejasse ofender o Santo Padre. O que, suponho, seria difícil. Você já concebeu?

Amabel olhou para ele. ? Como?! ? Isso é demais. ? Você deve, gentilmente, abster-se de se intrometer em meus assuntos.

Ele riu novamente. ? Você tem uma sensibilidade exacerbada. Elas tornarão isso mais difícil.

? O quê?

Ele sorriu. ? Hoje, você vai sair do meu castelo. Para algum destino desconhecido. No meio do pântano, eu diria. Você vai andar. Vai correr. Morrerá devagar. Mas você vai morrer, em qualquer caso. E continuarei irrepreensível.

Amabel olhou para ele. Estar à deriva nos pântanos era o destino dos criminosos. Era a morte certa.

Mil pensamentos passaram por sua mente. Ela morreria de fome. Congelaria à noite. Seria morta por bestas. Se ela não soubesse onde estava, nunca encontraria seu caminho de volta. E ninguém saberia.

? Você não se atreveria.

Ele sorriu. ? Discordo. ? É a única maneira que eu ousaria ? não gostaria de matar você com minhas mãos. Qualquer outra coisa seria... crime. E gostaria de me manter ao lado da igreja. Você nunca sabe quando os bons padres da igreja podem ser úteis.

? Você é monstruoso. ? ela sussurrou novamente.

Havia um pequeno conforto nela. Se simplesmente desaparecesse, sua morte não atormentaria Broderick. Isso a surpreendeu. Se sua intenção era ferir seu marido e provocá-lo na guerra, por que ele escolheria matá-la assim?

? Oh, não ? eu não sou monstruoso, ? ele disse, sorrindo. ? Mas, quando seu corpo for encontrado envolvido com o manto dos Bradley, preso com seu broche, certamente ele os achará monstruosos.

Amabel franziu o cenho para ele. Ele observou a expressaõ calma que ela mostrava. ? Mas eu não estou morta, ? disse ela, esquecendo seu medo em confusão.

? Não, agora, não, ? ele concordou. ? Mas eu tenho rastreadores especializados entre meus homens. E os melhores caçadores. Você pode se perder, mas nós a encontraremos. E nós entregaremos seu corpo com toda a devida cerimônia a sua senhoria, usando o que usava quando caiu.

Amabel olhou para ele. ? Como pode dormir, com tais ações perversas pesando sobre você? ? O homem era bastante descontrolado, disso ela estava certa. Uma coisa era matar homens na batalha, sob ordens. Outra coisa diferente era planejar esquemas tão elaborados e se aproveitar deles.

Ele suspirou e se afastou dela. ? Estou cansado agora, ? disse com as costas para ela. ? Guardas?

Dois homens entraram no limiar. Estes não eram os protetores gentis da noite anterior, mas homens de aparência vazia e indiferente. Amabel instintivamente deu passos para trás. Eles possuiam os rostos rígidos e os olhos brancos, dos assassinos, traídos pelo massacre de décadas.

? Sim, senhor?

? Levem-na. Joguem-na fora. Façam o que decidimos.

Amabel gritou, mas um dos guardas a atingiu na cabeça enquanto o outro a levantava. Ela parou de lutar, com a cabeça pulsando com as estrelas. Então veio outro golpe.

Desta vez, o mundo inteiro de Amabel desapareceu.


Mais tarde. Amabel viu uma luz fraca.

Manteve os olhos fechados e tentou discernir onde estava. Ela estava com frio. Através da parte de trás de seu vestido podia sentir uma umidade. Mexeu os dedos, notando que eles ainda se moviam. Moveu os dedos dos pés. Suas pernas eram como gelo.

Ela lembrou. O pântano. Lorde Thomas. Morte.

Ela se sentou.

? Ai...

Sua cabeça doeu, pulsando, batendo e latejando. Quando a acariciou, o sangue havia coagulado e já estava seco, começando a se misturar com o lodo onde estava deitada.

? Ele quer me matar, ? disse Amabel em voz baixa. ? Então, não vou morrer.

Ela precisava sobreviver. Para salvar Alina do casamento. Para expor a mentira. Para contar a Broderick sobre aquilo.

Broderick.

Sentiu seu nome e o de sua irmã como um canto, então rolou. Rastejando com as mãos e os joelhos alcançou um tronco de árvore.

Broderick. Alina. Broderick. Alina.

Mordeu o lábio e levantou-se. Suas pernas tremulavam perigosamente. A perna esquerda desmoronou. Seu pé estava entorpecido.

Sibilando e ofegante, Amabel ficou de pé. Ela se inclinou, apoiando seu peso na árvore, ofegante. Sua energia estava quase esgotada.

? Não vou... morrer, ? ela ofegou. ? Preciso... viver. Encontrar Broderick.

Ajustando a mandíbula, ela pisou com o pé direito e começou o caminho lento e dolorido em direção à floresta.

O progresso foi lento. Amabel não fazia ideia de onde estava. Ela sabia que havia um pântano a cerca de quinze metros da estrada. Se ela pudesse discernir onde estava a estrada, e de alguma forma deduzir a distância, poderia encontrar a estrada. Isso ainda a deixava a quilômetros e quilômetros de distância da aldeia mais próxima, em terras hostis.

? Vou... voltar, ? ela disse em voz baixa. Olhou para o céu, julgando a direção. Riu sem humor. MacDowell evidentemente presumiu que uma dama não teria nenhuma habilidade. Mas fora criada no Castelo de Lochlann, essencialmente uma órfã. Ela e sua irmã passavam horas na floresta ou conversavam com os camponeses. Sabia, tão bem quanto qualquer deles, como julgar a direção pelo posicionamento do sol. E, ainda havia tia Aili.

Ela nos ensinou mais do que a maioria dos meninos provavelmente aprende.

Sussurrando seus nomes como uma salvaguarda novamente, ela deu um passo à frente na floresta. Broderick. Aili. Alina. Broderick. Aili. Alina. Broderick...

Caminhou por mais uma hora.

? Não consigo fazer isso. Não consigo...

Cansada, sentou-se. O chão estava encharcado a seus pés, e seus pés estavam começando a doer. Estava tão cansada. Ela não havia comido desde a tarde anterior, e seu corpo estava começando a sentir e ceder.

Olhou para o céu, descansando contra o tronco de uma árvore.

Mãe. Alina. Broderick. Ajude-me.

Ela ficou onde estava, apoiada na árvore. Deve ter dormido, pois quando acordou novamente, era noite. Através da abertura nas copas das árvores conseguia ver o céu. Era violeta com o crepúsculo. Enquanto observava, as andorinhas voavam.

E enquanto ela olhava, fascinada, viu a estrela.

Amabel sentiu seu rosto sorrir. Somente ontem, ela notou aquela estrela. Era ao leste da estrada, se ela se virasse para enfrentar a Cruz do Norte...

A Cruz do Norte! A estrela Polar!

De repente, lembrou-se de algo que seu pai falou, quando era pequena e não conseguia dormir. Ele havia lhe mostrado o céu através da janela da torre. Havia apontado para a Estrela Polar.

Onde essa estrela estiver, é sempre norte.

Para chegar em casa, ela devia ir para o sul. E a estrada estava no sudeste dos pântanos.

? Preciso encontrar uma abertura entre as árvores.

Amabel sorriu. Ela conseguiria! Se pudesse ver o céu, ela poderia encontrar o caminho. Conseguiria encontrar o caminho através dos pântanos e da estrada. De volta para casa. Ela poderia contar a verdade. Salvar Alina. Avisar Broderick.

Tudo o que precisava fazer era andar.

? Eu posso fazer isso. Eu posso. Eu posso...

Amabel levantou-se, suando e tremendo.

Ela deveria ter uma hora talvez antes da noite cair. Precisava partir antes de ficar muito frio para andar. Precisava ver as estrelas.

Voltou pelo cminho por onde havia vindo. Isso não foi difícil, já que ainda podia ver as marcas de sua própria passagem sobre os musgos úmidos, e ainda poderia rastrear.

Mais tarde, alcançou onde pensava que fora deixada.

Devo estar perto daqui. Há as árvores, tenho certeza. Conheço esse ramo...

Ela tropeçou em direção a ele. Haveria uma compensação.

Um minuto depois, começando a se sentir desesperada, chegou ao lugar.

Olhou para cima.

Lá, alta, bem acima, bela e prata, estava a estrela que conhecia. Em frente a ela, brilhando na escuridão, estava a Estrela Polar.

Amabel riu. Estava suja, exausta e gelada. Estava com fome, cansada e esgotada. Mas não estava mais perdida.

? Eu posso fazer isso!

Ainda sorridente, os braços para as estrelas, Amabel virou para a direita e para trás. Ela foi para o sudeste. Essa era a direção da estrada! Conseguiria fazê-lo!

Atravessou a escuridão. Sabia para onde estava indo. Ela poderia viver e ver Alina e Broderick mais uma vez.


Capítulo Trinta E Sete

Procurando Um Plano


Amabel!

Broderick andava ao longo da estrada como um louco. Mal descansara desde que deixou seu irmão quase aos portões da fortaleza.

Isso foi um dia atrás. Voltou pelo caminho, onde Walter havia encontrado a carruagem. Keith o alcançou um dia depois, mas não tinha nada a relatar ? ele fora até a abadia e depois para o sul, procurando a carruagem.

Juntos, eles examinaram o veículo vazio.

Quando olhou para ele, todos os pressupostos de Broderick em torno do desaparecimento, morreram.

? Assaltantes. ? disse Broderick.

Ele olhou para as marcas de cascos, profundas e indeléveis ao redor da carruagem. Um grupo de talvez oito homens, ele adivinhou, não mais. As trilhas levavam ao norte.

Broderick sentiu então, uma profunda e dolorida tristeza. Sabia que, se ele se entregasse choraria em voz alta, um som de agonia que tinha certeza que nunca cessaria. Em vez disso, ele decidiu transformá-lo em raiva ? uma tradição consagrada.

Gritando sem palavras, ele chutou o lado da carruagem.

? Encontre os cavalos, ? disse a Keith. ? Leve-os de volta a Dunkeld com uma mensagem para Duncan. Diga-lhe que vou vingar Alina e minha esposa.

Keith piscou cautelosamente. ? Como quiser, senhor. ? Ele partiu para a frente da carruagem onde os cavalos, há muito tempo, haviam se soltado. Olhando para as trilhas diferenciou os cavalos da carruagem mais pesados e os cavalos de caça mais leves.

? Aqui estão eles, ? ele murmurou. ? Estão indo naquela direção. Pela estrada.

? Eles levaram os cavalos, ? comentou Broderick. ? Então, certamente foram lutadores. ? Ele não quis aceitar que Amabel e Alina foram levadas por exécitos, embora não parecesse outra possibilidade. Isso seria pior do que qualquer coisa que ele pudesse imaginar.

? Porém de onde? ? Keith entrecerrou os olhos para ele. ? De lá?

Ambos olharam pelas trilhas que se dirigiam para o norte, entrando e saindo da estrada como para confundir os rastreadores potenciais.

? Sim, ? Broderick concordou. ? O que é estranho. Não há ninguém por lá. Exceto por... ? De repente, percebeu. A mente o conduziu. ? Exceto MacDowells!

Ela estava certa. Amabel tinha razão. Quanto mais ele olhava o casco da carruagem e as marcas, mais ele parecia entender. O plano de Amabel e Alina para visitar o santuário era uma artimanha, como Duncan havia suspeitado. Se ele tivesse ouvido a sugestão de Amabel, ela não teria se dirigido para algum plano perigoso. Ela estava indo para o MacDowells, para encontrar provas para fazê-lo acreditar nela.

E agora ela havia sido capturada.

? Keith, ? ele disse rapidamente.

? Sim, senhor? ? O homem parecia preocupado.

? Eu quero que você volte para Dunkeld. Diga ao meu irmão que estou na fortaleza de MacDowell. Diga-lhe para se juntar a mim. Com tropas. Tantas quanto ele puder encontrar. Tornem-se o mais intimidadores possível. E diga a ele... não importa. Diga-lhe que venha imediatamente. ? Keith assentiu. Impulsivamente, Broderick tirou um anel do dedo. Ouro ligado com bronze, não era o mais bonito que possuía, mas compraria um bom pedaço de terra. ? Pegue isso. Mantenha-o. ? Keith, um fazendeiro, era leal ao máximo, ele olhou o anel como se estivesse sonhando. Então ele olhou para Broderick.

? Agradeço, senhor. ? Parecia espantado.

? De modo nenhum. Cavalgue agora!

Sem esperar por uma resposta, ou para verificar se seria obedecido, Broderick se virou.

Correu para seu cavalo e montou, então seguiu pela estrada. Dirigindo-se para o norte. Para encontrar a amado de seu irmão, e a dele mesmo.

Amabel.

Enquanto cavalgava, a ira se dissolveu e as lágrimas caíram.

Por que não acreditou nela?

? Eu precisava ter acreditado, ? ele gritou. ? Nunca mais a deixarei.

Com a visão embaçada, ele atravessou a terra fria e arborizada para alcançar a fortaleza de MacDowell antes que fosse tarde demais.

? Amabel, ? ele sussurrou. ? Amabel!

Desejava ter percebido o quanto a amava. Percebendo isso, ele não sabia como não conseguira vê-lo. E não estava certo de que seu coração não quebraria.


Capítulo Trinta E Oito

Encontrando Um Novo Caminho


O dia começou gentilmente.

Amabel sentiu que a luz tocava suas pálpebras. Estava enrolada no chão, uma cobertura de folhas foi puxada sobre ela. Amontoada em sua capa estava mais quente. Ainda assim, tudo doia.

Ela se sentou.

Piscando com a luz do sol olhou através das árvores. Ainda estava indo para o sudeste ? havia verificado isso quando a noite caiu. Havia andado dois dias até agora. E estava certa de que estava se aproximando.

O chão estava menos úmido aqui. As árvores mais estabelecidas.

Esta era a borda do pântano. Ela estava certa disso.

Hoje vou encontrar a estrada.

Amabel estendeu a mão. Havia recolhido algumas plantas comestíveis no dia anterior ? as hastes e raízes longas do hibisco, que a tia Aili disse que eram boas para dor de garganta e estômago dolorido. Ela estendeu a mão para mastigar uma, repuxando um pouco o rosto. Eram amiláceos9 e não eram desagradáveis. Restauraram sua força.

? Eu conseguirei, ? disse Amabel, sentindo-se mais positiva. Ter um estômago cheio ? ou, pelo menos, não um completamente vazio ? tendia a fazer isso. Pegou a última das raízes e deu um passo à frente. Rumo ao sudeste.

Enquanto caminhava, Amabel se viu cantando.

? “Duas damas foram ao mercado” ...

O ritmo da música a levou para frente. acompanhou o ritmo e as notas e a cadência a fizeram se sentir forte.

? “E ? e então elas retornaram” ...

Ela olhou para frente. As árvores estavam largamente espaçadas.

Ela piscou. Não parecia possível. Estava no final da floresta?

Com o coração batendo, Amabel acelerou o ritmo.

Ela parou. Todo o seu corpo entrou em colapso de alívio. Estava de pé debaixo de um carvalho, olhando para uma longa extensão de terra. A terra era um terreno sólido, uma planície que se estendia em direção às colinas, com ervas ondulando. E na distância, ela conseguia ver a estrada.

Ela queria chorar. Queria dançar. Para agradecer.

Caiu de joelhos, dizendo orações a todos e a tudo o que acreditava. Então, rindo e chorando descansou.

Deitou alguns minutos, até sentir frio.

Eu preciso continuar.

Se ficasse imóvel congelaria. Aqui, ao ar livre, o vento era gelado. E ela não podia se dar ao luxo de ser vista.

Abraçando sua capa bem perto dela, olhando para a frente, dirigiu-se à estrada.

Quando iniciou a caminhada viu as andorinhas.

Livres, desceiam abruptas, dançando sobre a terra.

Ela sorriu.

Levando os braços para o céu, agradecendo sem palavras, ela sentiu que as lágrimas lavavam seu rosto. Então caminhou, braços aos seus lados.

Em direção à estrada.

?... “e as damas voltaram ao mercado mais uma vez” ... ? ela cantou, voz alta e vacilante.

À distância, viu algo.

Era uma mancha. Uma pequena mancha em movimento. Estava a caminho da estrada. Mais rápido e rápido, veio.

Um homem? Um caçador?

Quando se aproximou, ela conseguiu ver que era um cavaleiro. Ela estava a apenas cinquenta passos da estrada. Logo, ele estaria perto o suficiente para vê-la.

Queria fugir, mas não possuia forças. Pensou em se deitar, mas se deixar esfriar em suas roupas molhadas era cortejar as febres. E ela não estava certa de que conseguiria caminhar de novo.

Cobriu o cabelo com o manto, esperando que fosse um disfarce adequado. Então continuou caminhando.

?... “e o fazendeiro concordou com elas! O fazendeiro disse sim, sim!”

Ela cantou, sua voz a guiando através do cansaço e da dor. Estava quase inconsciente. Mas continuou andando.

O espectro tremeu, cresceu no horizonte. Revelou-se num cavaleiro. Um cavaleiro que usava uma longa túnica escura e um manto verde. Um cavaleiro com cabelos pretos cortados e olhos escuros.

? Amabel?

Na parte de trás do cavalo de caça castanho, Broderick olhou para a planície.

Ele conseguia ouvir algo. Uma voz. Alta, fina e doce. Isso lembrou-o de de algo. De repente, ele estava em uma igreja, trocando votos. No corredor, ouvindo duas mulheres. No quarto de cama, sorrindo enquanto sua esposa cantava e escovava cabelos longos e brilhantes.

Amabel?

Ele fez uma pausa. Apertando os olhos olhou para a figura. Era uma mulher ? alta e esbelta, coberta pela capa. Ela estava caminhando para mais perto e cantando.

?...” e... então... as damas... foram... na...na frente ... rindo, elas disseram...”

Ele olhou fixamente. Conhecia a voz. Ao aproximar-se, viu o rosto oval, cheio de barro e cansado, viu a figura longa e esbelta.

? Amabel! ? Ele gritou, alegria transbordadndo-o com energia. Então ele se dirigiu para a frente.

Amabel parou de caminhar. Ouviu alguém gritando. Através da dor martelando na cabeça, ela não conseguiu discernir as palavras. Era o nome dela.

? Amabel!

Ela parou. Olhou fixamente. O cavaleiro estava vindo direto para ela.

Ele virou da estrada e lançou seu cavalo em sua direção. Estava andando rápido e perigosamente. Usava um longo manto verde que ondulava com o vento.

? Broderick!

Ela gritou antes que sua mente conseguisse acreditar. Mas era ele. Ela sabia que era.

? Broderick!

? Amabel.

Ele parou de repente. Antes de o cavalo ter parado devidamente se jogou da sela. Correu para ela.

Jogou seus braços ao redor dela ao mesmo tempo que ela se atirou em seus braços.

Ele estava rindo, chorando, beijando-a.

? Amabel. Amabel! Minha querida. Minha querida esposa...

Amabel riu. ? Broderick! Você está aqui! Você me encontrou.

Eles ficaram juntos, rindo e chorando, beijando e traçando as feridas, a sujeira das sobrancelhas, os membros doloridos.

Então Amabel recuou.

? Broderick. ? Ela estava balançando e sabia que estava prestes a entrar em colapso.

? Sim? ? Instantaneamente preocupado, ele pegou sua mão.

Ela balançou a cabeça. ? Não se preocupe comigo. Não nesse momento. Alina. Nós precisamos... encontrar Alina.

Ela se inclinou. A mensagem e o encontro tomaram todas as suas forças.

Broderick inclinou-se para segurá-la. Ele ergueu-a e, cuidadosamente, levantou-a na sela, esperando até ela agarrar a sela.

? Alina? ? Seus olhos, olhando para os dela, estavam muito cuidadosos. ? Onde ela está? Ela está aqui?

? Alina está... em perigo. Ela foi sequestrada!


Capítulo Trinta E Nove

Seguindo Em Frente


Broderick e Amabel cavalgaram em direção à cidade. Enquanto cavalgavam, Amabel tentou explicar. Quando chegou à parte sobre Thomas MacDowell e o que ele pretendia para ela, sentiu Broderick tenso.

? O quê? ? Sua voz era perigosamente baixa.

? Não, Broderick, ? ela disse calmamente. ? Não fique nervoso. Devemos agir primeiro. Há tempo para resolver isso depois.

Broderick inclinou-se para a frente, cansado. ? Você está certa, querida. Primeiro, devemos salvar Alina. Ele se casaria com ela, você acha?

? Eu não sei. ? Amabel sentiu que começava a chorar. ? É possível. Ele disse... ele disse amanhã. E...

? E isso foi um dia atrás, ? disse Broderick calmamente. ? Podemos estar atrasados.

Amabel afundou-se. Ela sentiu lágrimas começarem a cair. ? Devemos nos apressar, Broderick.

Ela o ouviu suspirar. ? Sim. Você está certa. Devemos andar.

Enquanto cavalgavam, ele contou-lhe o que tinha planejado. Que os enviara para Dunkeld. Que pediu a Keith para buscá-los e trazer um destacamento de homens. Juntos, eles poderiam invadir a fortaleza de MacDowell.

? É muito pequena, você diz.

? Eu não sei... ? Amabel queria chorar. Ela estava cansada. Estava com fome. Estava aterrorizada. ? Eu vi somente uma vez, através de uma janela. Pode ser pequena. Ou não. Eu não sei.

Broderick colocou a mão sobre a dela. Ele desmontou, para poupar o cavalo e ela assentiu com a cabeça e deixou-o ajudá-la a deslizar ao lado dele.

? Me desculpe, docinho, ? ele sussurrou. ? Sei que você está cansada. Sou um idiota. Eu deveria ter esperado.

Ela riu cansada. ? Não, não devia, Broderick. Mas eu estou cansada.

? Você está cansada, sim. E estamos quase lá.

Enquanto caminhavam, levando seu cavalo para poupar suas forças, Amabel notou que estavam se aproximando de uma cidade. Era apenas uma pequena aldeia ? algumas casas de campo e um celeiro, um cercado para cabras. Mas era quente.

Haveria comida lá e fogo. E abrigo.

Sentindo as lágrimas derramarem em suas bochechas silenciosamente, ela olhou para ele e sorriu.

Ela estava salva.

Logo, eles enfrentariam os MacDowells. E resgatariam Alina. E então poderiam ir para casa.

Amabel sentiu-se deslizar para a frente, cansada de súbito alívio.

Broderick a pegou em seus braços e juntos, com cuidado, deram os últimos passos para a aldeia. E calor e abrigo.


Amabel acordou algum tempo depois. Estava deitada diante de uma fogueira. Alguém mudou suas roupas e estava vestida com uma simples roupa de algodão que cheirava a poeira e alecrim, mas estava quente e seca. Ela rolou. Estava quente. Tão quente.

Estendeu a mão e seus dedos passaram pela palha seca. Alguém empilhara palha para ela se deitar em uma pequena cama. Estava deitada diante do fogo, seu calor derretendo o gelo dentro dela.

Ela se sentou, sentindo seu rosto corado de calor.

? Brod... ? chamou. Sua voz era um grito vacilante. Não conseguiria mais alto se tentasse. Abriu os olhos.

Olhou através do fogo e para onde ele já estava olhando-a por cima.

? Querida? Você está bem? ? Ele perguntou, movendo-se para o lado dela.

Amabel sorriu. ? Estou cansada, querido. Mas estou bem.

? Bom.

Ele a ajudou a se sentar e, enquanto a inclinava contra o peito, pegou uma tigela de caldo. Ele segurou para ela e ajudou-a a colhê-lo em sua boca, limpando todos os vestígios do queixo como se ela fosse muito pequena. Estava exausta.

A dona da casa, uma mulher pequena com olhos brilhantes, cintilantes e um rosto magro, estava observando-os com cuidado. Quando viu Amabel sorrir e conseguir comer a sopa, ela gesticulou alegremente.

Uma criança apareceu, uma menina com não mais do que dez anos. Ela trouxe alguns biscoitos de aveia. Amabel sorriu. Queria chorar.

? Obrigada.

Conseguiu comer o biscoito que pegou, um bocado de cada vez, lentamente. Enquanto comia, a força retornava para ela. Olhou em volta.

? Onde estamos?

Broderick franziu a testa. ? À fronteira da terra dos MacDowell. Essas pessoas são agricultores livres, não seus inquilinos. Não são um perigo. Eles não nos trairão.

Amabel assentiu. Mesmo que essas pessoas fossem seus inquilinos, ela não tinha a menor dúvida de que eles não os trairiam a menos que fossem ameaçados. Um senhor como Thomas MacDowell não inspirava lealdade.

? Nós temos notícias de Duncan?

Broderick balançou a cabeça. ? Ainda não. Espero por ele esta noite. Aguardarei na estrada.

? Eu deveria ir com você.

? Não, ? disse ele, balançando a cabeça. ? Eu não posso deixar você ir.

Amabel levantou uma sobrancelha. ? Não vou morrer. Pareço bastante forte. Você poderia ter notado?

Broderick riu. ? Minha querida, eu não quero arriscar você. Você enfrentou tal... ? Ele parou. ? Um dia, você me lembrará de não ser tão arrogante. Venha comigo. Não posso evitar isso. Por favor, use minha capa sobre a sua. Não quero arriscar que fique gelada.

Amabel sorriu. ? Querido. Estive no pântano por dois dias. Estarei bem...

Como ele disse, sentiu-se de repente esgotada. Enquanto adormecia, ela olhou para ele, dando-lhe um sorriso.

? Eu sou pouco convincente.

Broderick a beijou. Então, depois de agradecer ao proprietário e a sua família, ele se deitou ao lado de Amabel. Cobrindo os dois com o manto, logo ficou profundamente adormecido. Amabel dormiu em seus braços. A partir desse momento sabia que não gostaria de se afastar por tanto tempo outra vez.


Capítulo Quarenta

Encontrando O Laird


Ele foi esfregando os dedos gelados pelo corpo de Amabel, pegando seu manto e esfregando-o contra ela.

? E você diz que a entrada está à direita?

Amabel virou-se para Broderick, sussurrando com urgência. ? Eu acho que sim. Nós fomos para a esquerda em direção ao grande salão, que deve estar no centro da fortaleza.

Duncan, silencioso e atraente, olhou para ela. ? Minha dama. Se alguma coisa aconteceu com sua irmã... eu juro que não vou descansar até que esta fortaleza seja um entulho.

Amabel ouviu a raiva em seu tom. Ela chegou até ele. ? Ela está segura. Nós precisamos saber disso. Ele não se arriscaria a prejudicá-la. Por medo do que meu tio faria em retaliação.

Duncan bufou. ? Bem, agora ele tem Lochlann e MacConnaway para lutar.

Amabel assentiu. Broderick assentiu, também.

? E isso, de acordo com o que Amabel disse, é a última coisa que ele deseja.

? Bem, ele conseguiu, ? grunhiu Duncan. ? Agora. Por que estamos esperando?

Amabel riu. Ela não conseguiu evitar. Quando viu o vazio, a dor, nos olhos de Duncan, ela se arrependeu.

? Precisamos esperar até Keith retornar, ? Broderick lembrou. ? Ele está explorando o caminho.

Duncan suspirou. Ele se manteve em seu cavalo, embora Amabel pudesse ver o esforço com que fez isso. Ele estava doido para invadir o lugar. Mas precisavam esperar.

Um momento depois ouviram uma pisada suave e depois uma chamada.

? Keith? ? Broderick entrecerrou os olhos. Keith aproximou-se.

? Tudo claro, milorde, ? disse Keith calmamente. ? Apenas cinco guardas lá. Dois na muralha. Eles estão em nossas costas agora. Dois na porta. Um na frente.

Broderick assentiu. Ele gesticulou com um dedo e cinco homens se destacaram da força principal, por trás deles.

? Donald, Artair, Cam, Alisdair, Grier. E Keith.

? Sim senhor?

? Desarmem os guardas. Eliminem os vigias.

Os homens assentiram, alguns susspirando. Eles se afastaram, rápidos e silenciosos. Como o resto dos homens, cobriram os cascos de seus cavalos com trapos para se aproximarem, quase silenciosamente.

O resto do destacamento esperou enquanto os homens se afastavam. Duncan virou-se para eles. ? Eu irei. Keith virá comigo quando voltar. Encontraremos Lady Alina. Aguarde o nosso sinal. Então, irmão, você liderará?

Broderick assentiu brevemente.

Amabel olhou para ele. ? Duncan?

? Sim? ? Ele virou-se para encará-la, com os olhos encapuzados.

? Você não conhece o interior do castelo. Eu conheço. Pelo menos, eu melhor que você. Conheço o caminho. Eu irei.

Duncan sacudiu a cabeça. ? Não, milady. Eu não posso deixar você ir.

Broderick parecia preocupado, também, mas quando viu o rosto de Amabel, ele balançou a cabeça.

? Não podemos detê-la.

Amabel deu-lhe um amplo sorriso. ? Obrigada, meu querido.

Ele balançou sua cabeça. ? Está certa. Você é a única que conhece o caminho. Não gosto de arriscar você, mas não posso argumentar.

Amabel sorriu. ? Que bom.

Sentindo-se melhor do que antes, Amabel apertou sua mão. Então ela se virou para Duncan.

? Vamos lá, agora?

Duncan mordeu o lábio. ? Assim que os batedores retornarem.

Os três ficaram de pé e esperaram. A brisa era fina e gelada, e Amabel estremeceu aproximando seu manto.

Enquanto esperavam, os batedores voltaram. Amabel ouviu os cascos primeiro, batendo na terra congelada.

? Eles se foram?

Um dos cavaleiros, um homem alto e de rosto sombrio com uma cicatriz ao lado do rosto, limpou a garganta e inclinou a cabeça. ? Sim, milorde.

Duncan virou-se, olhando para Amabel. ? Minha senhora?

? Sim.

Broderick apertou sua mão. ? Fique em segurança, minha querida.

Sua voz fraquejou quando ele disse aquilo, e Amabel mordeu o lábio. Ela não podia acreditar que estava fazendo isso.

? Eu vou. Você também.

Ela olhou por cima do ombro enquanto caminhava para o lado das muralhas e ergueu uma mão, um gesto que respeitava sua coragem e não a coibia. Ela sorriu e seguiu em frente.

? Você diz que foi mantida no quarto da torre?

? Sim. Eu acho que poderia lhe mostrar o caminho do corredor principal.

? Bom. Devemos nos apressar. Os guardas serão descobertos.

Amabel assentiu. Eles desmontaram na sombra das árvores e depois deslizaram seus corpos entre as sombras mais profundas, até o portão.

Duncan abriu a porta e entraram. Amabel não olhou para os guardas de Keith e seus homens se dispersaram.

Seu coração batendo no peito, Amabel e Duncan entraram na fortaleza escurecida.

? Deve ser por aqui, ? Amabel sussurrou. Ela se sentiu perdida. Precisava acreditar que conhecia o caminho. Parou e ouviu. Se apurasse os ouvidos, pensou que podia ouvir vozes longe, vindo da esquerda. Ao se aproximarem, a confiança dela cresceu. Esse era o grande salão. Eles estavam no hall de entrada. deviam ir à direita e encontrar as escadas.

? Para lá.

Duncan pegou sua mão e juntos subiram a escada.

? Eh! Sean! Cuide da passagem...

Uma risada. ? Eu sei o que fazer, Alec. Haud Yer wheesht!

Amabel congelou. Havia guardas acima deles. Descendo as escadas.

Ela olhou descontroladamente para Duncan. Ele olhou para trás um instante e então pegou o pulso e caminhou levemente de volta pelas escadas. Os dois ficaram em uma alcova, escondidos nas sombras. Duncan fechou os olhos para evitar o brilho e Amabel fez o mesmo.

? Não passou muito da noite

? Bom! Sua senhoria pensou que haveria barulho, mas não vejo perturbação à vista.

Os dois homens estavam a centímetros de distância agora. Amabel se encolheu em direção à parede e manteve os olhos fechados, respirou devagar e baixinho.

? Você conhece Lorde Thomas... ele não diz as coisas por nada.

Uma risada. ? Você poderia dizer isso, Alec. Você poderia realmente.

Ambos os homens riram e desceram as escadas, indo para a frente do prédio. Se a guarda mudasse, eles teriam alguns minutos antes que os outros viessem para tomar seu lugar. Duncan avançou e acenou para Amabel e, juntos, fugiram pelas escadas, indo para o topo da torre.

Quando chegaram a uma janela, Duncan fez uma pausa. ? Você pode procurar uma tocha? ? Ele sussurrou para Amabel. ? Precisamos sinalizar.

Amabel assentiu. Ela olhou em volta e notou uma tocha em um suporte no último andar. Correu para buscá-la. Mantendo-a afastada de seus cabelos para evitar se queimar, ela passou para Duncan, que a segurou pela janela, rodou-a duas vezes e a deixou cair.

Ele se virou para Amabel. ? Nós temos alguns minutos. Melhor corrermos.

Amabel assentiu. Ela tinha certeza de que eles estavam quase no sótão. Um daqueles quartos devia manter Alina.

Chegaram ao sótão. Amabel olhou em volta. Havia cinco portas. Eles estavam em escuridão quase total, todo o piso iluminado por uma única tocha na entrada.

? Alina! ? Amabel sussurrou alto. ? Alina...

Ela bateu na primeira porta. Não fazia ideia de qual hospedava Alina e não podia arriscar-se a gritar seu nome. Ela ouviu alguém se mover lá dentro e um segundo depois, apareceu uma cabeça. Era uma serva.

? É você, Jessie?

Amabel congelou. Ela alcançou seu acento mais amplo. ? Não. Estou aqui procurando por Jimmy. Você sabe onde ele está?

A mulher tossiu. ? Não. Eu não sei. Verifique a casa de guarda. Por que você está aqui? ? Ela riu severamente. Então, enquanto Amabel prendia a respiração, ela fechou a porta e Amabel a ouviu se arrastar para a cama.

Respirou, o alívio desativando-a por um momento. Se ela tivesse julgado mal, e ali fosse onde os criados dormiam, sua busca poderia levar horas!

Naquele momento, Duncan, que estava de guarda na escada, correu para trás. ? Apresse-se!

Ao dizer isso, Amabel ouviu o que ele ouvira. Pés, subindo as escadas. Havia sons distantes também ? batendo e gritando e o choque de metal. Broderick estava atacando a fortaleza. E os guardas estavam chegando.

Amabel girou ao redor. Estava desesperada. Ela se atirou na fila de portas até entrar naquela da tocha. ? Alina! ? Ela gritou desesperadamente, toda a necessidade de sigilo a abandonado em sua pressa.

? Amabel?

Ouviu um grito da segunda sala. Ao fazê-lo ouviu os passos chegarem às escadas e Duncan desembainhou sua espada.

Ela tentou a maçaneta da porta. Estava trancada. Não sabia mais o que fazer. Estava desesperada. ? Alina?

? Amabel! Irmã? ? Podia ouvir que sua irmã estava quase chorando. Ela também queria chorar. Estava tão perto dela! E, no entanto, tão incrivelmente longe.

? Eu estou aqui. Estamos aqui.

? A chave da porta está com ele. O Laird, ? Alina estava gritando. ? Ele a tem no cinto...

Naquele momento, outro som encheu o corredor.

? Vá busca-la, maldito! Agora.

Amabel congelou. Era ele. Ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Até nos pesadelos se ela escolhesse ouvir. Lorde Thomas.

Ela se virou.

Lorde Thomas, o rosto bonito, torcido de raiva, estava no topo da escada. Duncan virou-se para encará-lo. Amabel viu Lorde Thomas retroceder e desembainhar a espada.

? Guardas! ? Ele berrou, gritando por cima do ombro.

Duncan puxou a espada rapidamente. Amabel o olhou fixamente, deslumbrada. Ela não conhecia bem Duncan, mas precisava admitir que nunca vira alguém lutar tão bem como Duncan agora estava lutando. O rosto dele era uma máscara de frieza, ele estava completamente, desfigurado. Lorde Thomas, no entanto, fora ofendido e estava enfurecido, e ele lutava com essa loucura. Cortando e brandindo a espada descontroladamente, seu estilo não era compatível com Duncan.

? Miserável invasor ...

Duncan não disse nada. Ele puxou sua espada para baixo com um golpe que teria reduzido a metade o homem, se ele não tivesse falhado. Amabel prendeu a respiração enquanto as espadas criavam faíscas.

Conseguia ouvir a luta arrasando o andar de baixo, onde os guardas de Lorde Thomas lutaram contra Keith e os outros. Ela lutou contra o desejo de correr para Broderick, que devia estar lá embaixo com eles. Precisava salvar Alina! Sua atenção foi atraída para a luta, por Lorde Thomas, cuspindo insultos para Duncan para quebrar seu foco.

? Você luta como minha avó...

Duncan estava ignorando cada insulto, lutando como se estivesse em transe.

Amabel os observou. Ela respirou fundo quando viu Duncan sangrando. A espada havia cortado seu ombro e o sangue corria. Ela podia ver que ele estava cansando.

? A chave.

Ela falou em voz alta quando o pensamento chegou a ela.

Lorde Thomas não a notou. Toda a sua atenção estava em Duncan, que estava fazendo o melhor para segurar o homem na cabeceira da escada. Se ao menos pudesse alcançar a chave. Mas como entrar entre os dois homens lutadores?

Lorde Thomas estava grunhindo com o esforço. Ele teve sua espada empurrada contra Duncan, segurando o golpe que ameaçou cortá-lo ao meio. Os dois homens estavam lutando, totalmente concentrados um no outro. Amabel teve uma ideia. Havia apenas espaço suficiente para que ela passasse por Duncan até Lorde Thomas, para o desequilíbrar. Ela hesitou apenas um instante.

? Agh!

Gritando um grito sem palavras, ela correu para o lado dele. Viu seus olhos se arregalarem e ele tropeçou. Isso era tudo que Duncan precisava. No instante em que a pressão em sua lâmina diminuiu, ele a derrubou. Atingindo o ombro do homem.

Enquanto ele abaixava o braço, o rosto branco e o sangue jorrando ao longo da ferida, Amabel chamou Duncan.

? Levante-o! A chave! Ele tem a chave.

Duncan com o rosto brilhante com transpiração, virou-se para ela.

? Chave?

? Passe para mim! ? Amabel gritou desesperadamente.

Duncan, estava claramente no fim de sua resistência, teve apenas força suficiente para agarrar o homem desarmado e puxá-lo, tropeçar e resistir. No último passo ele desabou no chão.

Amabel correu.

Ele viu que era ela e seus olhos se arregalaram, depois se estreitaram.

? Você está morta, ? ele disse sem rodeios. ? Eu sei que você morreu.

Amabel piscou. ? Não, eu não morri. ? Ela se abaixou, sentindo raiva repentina. Este era o homem que quase arruinou a vida de sua irmã! Que tentou assassiná-la pelos meios mais sujos. Que matou Aisling por sua ganância.

? Me dê a chave, ? ela sussurrou.

Ele riu. ? Você está me ameaçando?

? Não, ? disse ela. ? Não faço ameaças.

Odiando-se por fazê-lo, agarrou seu braço ferido e o torceu.

Ele sibilou um sopro de dor e olhou para ela com um grande desconcerto. Continuou torcendo, mesmo quando ele grunhiu e lutou contra ela. Apegar-se era quase impossivelmente difícil. Mas Duncan estava lutando contra o primeiro guarda que tentava subir as escadas e ele estava mais exausto do que ela. Presiva fazer alguma coisa. Precisava ser forte como ele era. Lorde Thomas estava batendo com sua mão boa, grunhindo, lutando com ela, tentando ganhar. Amabel ouviu alguém cair da escada e não queria olhar para cima. Enquanto o homem lutava contra ela, ela estava tentando procurar a chave. Estava no cinto, sabia. Ela iria encontrá-lo.

Sua mão estava lutando procurando sua garganta. Quando ela se torceu e procurou a chave sentiu os dedos se fecharem em volta do pescoço. Ela tossiu.

Conseguiu se sentir sufocada. Ela quase podia ouvir os ruídos que fazia, mas seus ouvidos estavam cheios do gotejar de seu próprio sangue, fluindo. Sua visão estava nublada.

Eu vou desmaiar. Quando sentiu sua visão escurecer, ela encontrou-a. Seus dedos fecharam-se em algo frio e chato. Puxou. Ele pela força do puxão a largou.

Amabel foi empurrada para trás com força, pelo súbito empurrão, e isso soltou o aperto em sua garganta o suficiente. Ela recuou, vendo estrelas. Então se moveu para a direita.

Agarrando as saias, a chave na mão, ela correu.

? Amabel!

? Alina! Estou chegando.

Ela atrapalhou-se com a chave. Virou-se.

Alina estava na porta. Ela estava cinza, pálida. Amabel não tinha certeza se havia sido alimentada com qualquer coisa desde a sua captura. Ela quase desabou. Amabel agarrou-a e Alina mordeu o lábio, endireitando-se.

Naquele momento, houve outra caida da escada.

? Vamos.

Alina sussurrou e Amabel a seguiu. Juntas, correram para as escadas.

Elas quase chegaram até as escadas.

Quando Amabel passou pela alcova, algo saiu e agarrou Alina.

Lorde Thomas.

Ele conseguiu ficar de pé. Estava pálido de morte, mas estava com uma adaga na mão. Ele a segurou contra o esterno de Alina.

Estava branco, o sangue gotejava pela boca. Seus olhos queimavam.

? Você pensou que poderia me matar! ? Ele disse descontroladamente. Cuspiu e uma saliva cheia de sangue manchou as tábuas. ? Agora você vai sofrer. Todos vocês, abaixem suas lâminas.

Amabel gritou. Ela se virou, mas Duncan estava acabado. Ele era uma massa de cortes e contusões. Enquanto ela observava, o guarda se aproximou dele. O golpe caiu no braço dele e ele girou a espada, mas o movimento foi lento. O próximo golpe foi no braço, abaixo do que estava lá. Ele empurrou, mas não deu outra resposta.

Amabel sentiu a esperança morrer. A pequena tropa quase conseguiu. Mas eles foram derrotados.

Alina ofegou e a primeira linha de sangue brotou no pescoço dela. Amabel gritou.

Lorde Thomas estava sorrindo.

? Não, ? ela sussurrou. ? Por favor.

? Como você, eu não faço ameaças, ? disse ele finamente. ? Você sentirá a pior dor ? a dor de ver sua irmã morrer.

? Nãoo!

? Qual o significado disso?

Alta, rouca, a voz parou o caos e se fez silêncio. Amabel se virou.

Broderick estava lá.

Ele estava na escada, com os olhos brilhando. Sua espada estava na mão dele. Amabel nunca o vira assim. Brilhando, como um cavalo de corrida, irradiando força, ele encheu o espaço. E estava indo para Lorde Thomas.

Ela viu o homem se encolher. Mas ele segurou Alina, cuja garganta já estava sangrando livremente. Outro corte assim a mataria. Amabel recuou e fechou os olhos. Ela não podia assistir isso. Qualquer coisa que Broderick quisesse fazer custaria a vida de Alina. Ela não conseguiu ver uma saída para isso.

? Você vai soltar a dama. ? A voz de Broderick era fria e irritada.

Uma risada vazia. ? Tente. Eu vou cortar a garganta dela e você também a matará. Você tem o hábito de causar a morte de mulheres, Lorde Broderick.

Amabel respirou fundo.

Broderick estremeceu como se tivesse sido abalado.

? O que você sabe de mim?

? Eu sei que você ficou de pé e deixou sua esposa morrer. Onde estava seu heroísmo então, Lorde Broderick? Você nem pensou nela. Você a deixou lá para os invasores a torturarem. Não é um protetor. Você a traiu.

Amabel viu os olhos de Broderick cintilarem apenas um instante. E naquele momento, viu Thomas levantar a faca.

? Não!

Ela queria gritar, mas sua respiração foi um sussurro alto. Não viu a sombra na escuridão.

Lorde Thomas recuou. Estava claramente tentando gritar, mas nenhum som estava saindo. Ele largou Alina, que desabou no chão. Broderick a pegou quando ela caiu.

Amabel olhou, paralisada, enquanto Lorde Thomas se curvava, como se estivesse tendo uma convulsão. Seus olhos se voltaram e o sangue escorreu de sua boca.

Então ela percebeu o porquê. Viu Duncan, deitado atrás dele. Viu a espada que desaparecera nas costas do homem, perfurando um pulmão.

Ela ouviu, incrédula, enquanto Lorde Thomas ofegava e tossia, respirava sibilante num peito que não conseguia puxar ar. Foi uma maneira terrível de morrer e ela se virou quando ele entrou em colapso, enquanto o corpo se contraiu enquanto lutava desesperadamente para respirar.

Duncan estava quase morto. Amabel podia ver isso. Ele estava encostado na parede. Seu rosto estava branco e estava sangrando por uma infinidade de feridas. Seus olhos estavam abertos, mas enquanto ela observava, eles se nublavam.

? Irmão! ? Broderick virou-se para o irmão dele. Os sons que ele fez não eram humanos ? pequenos gemidos de dor animal. Ele se ajoelhou ao lado dele, balançando Duncan para frente e para trás. Amabel sentiu as próprias lágrimas escorrendo pelo rosto.

Enquanto ouvia, o lugar ficou quieto. Ela podia ouvir o estranho clique metálico, como uma espada cortando para despachar um homem já propenso a ir, mas, de outra forma, o castelo estava em silêncio.

No último andar no sótão, o único som era de extrema respiração. Broderick estava completamente exausto. Duncan mal estava respirando. Lorde Thomas ainda estava morrendo.

Alina estava deitada nos braços de Amabel. Sua garganta ainda sangrava, embora mais fraco agora, e Amabel gentilmente abaixou-a no chão para que ela pudesse cuidar disso. Os vasos que ele havia cortado não eram as grandes veias. Mesmo assim, a lesão era grave e estava longe de ser verdade que Alina viveria: ela havia perdido muito sangue. Amabel tirou uma tira de sua anágua e amarrou a ferida o melhor que conseguiu. Os olhos de sua irmã se abriram e ela olhou, sem contato, para o teto.

? Não... morto, ? ela sussurrou. Então desmaiou.

Amabel acariciou os cabelos pretos com ternura, com dor no coração. Elas tinham visto tanta morte! Lorde Thomas ? um vilão, mesmo que fosse, mas morrer daquela maneira era horrível, não importa quem fosse ? os guardas. Agora, Duncan.

Ela olhou para Broderick. Seus olhos estavam escuros e vazios.

Pegou um movimento à sua esquerda, vendo a porta dos criados se abrir. Quando ela olhou, a porta se fechou. Eles estavam sozinhos.

Amabel inclinou-se para levantar sua irmã, mas ela era muito pesada para que a movesse.

? Espere...os guardas, ? Broderick ofegou. Ele se ajoelhou onde estava, uma mão em Duncan, olhando para Amabel. Ambos estavam cansados de lutar. Tudo o que podiam fazer era respirar e sofrer.

? Meu Senhor?

Um guarda ? um de seus próprios homens ? apareceu na escada.

? Vá. Nós precisamos de ajuda. Para Duncan.

O guarda viu a figura deitada e seus olhos se arregalaram. Ele empalideceu.

? Sim, meu senhor.

Com imenso respeito, ele se ajoelhou e, junto com outro companheiro, levantaram o corpo, um nos braços, um nos joelhos.

Broderick se levantou e viu enquanto levavam seu irmão.

Então ele deslizou lentamente pela parede.

? Broderick!

Amabel correu para ele e sentiu seu pulso. Ainda estava lá, mas lento. Ela correu até o alto da escada, lutando para ficar em pé. Dois guardas a viram.

? Levem-no para baixo? ? Disse ela. ? E também Lady Alina.

À medida que os guardas apareceram e levaram suavemente seu amado marido e irmã para longe, Amabel finalmente permitiu-se entrar em colapso.

O último pensamento que ela teve ao sentir Keith levantá-la e levá-la para fora era: deixe-os viver.


Capítulo Quarentae Um

Despertando


Amabel se sentiu mexendo para a consciência.

Tudo doia. Seu corpo inteiro era uma dor maçante. Ela sentiu como se tivesse caído pelas escadas e quebrado cada osso em seu corpo. Tentou sentir os pés, hesitante, mexendo os dedos. Eles pareciam estar entorpecidos..

Ao retornar lentamente para o presente procurou a memória. Derramou lentamente a névoa que a cobria.

Alina. Ela estava segura. Eles haviam invadido a fortaleza e a resgataram. Sua mente lhe enviou uma imagem de sua irmã, branca e esgotada, seus olhos escuros fechados. Uma concha de beleza completa, congelada como um açafrão no gelo.

? Alina...

? Silêncio, ? ela ouviu uma voz gentil. ? Eu estou aqui.

Amabel abriu os olhos. Ela a olhou fixamente. Conseguia ver a luz do fogo. Seus olhos doeram e então ela viu um rosto.

Um rosto oval pálido, o rosto, o mesmo formato de sua mãe. Por um momento era ela, grave e sorridente. Amabel se perguntou se estava morta, e era a mãe dela que estava sentada à beira da cama. Então tornou-se outro rosto. Um com uma testa ligeiramente mais longa, um nariz mais fino. Olhos pretos largos como piscinas de mistério. Os olhos estavam sorrindo. Tal como os lábios cheios e sujos com a comida.

? Alina!

Sua irmã sorriu. Seu rosto corou. ? Sim irmã. Sou eu.

Amabel arrastou-se para se sentar contra os travesseiros. Estava chorando e sorrindo, e estendeu os braços sem palavras. Alina inclinou-se para a frente em seu abraço.

? Irmã! Você está viva!

? Claro, eu estou, sua tola querida. Claro que estou. Eu estava preocupada com você...

Ambos estavam rindo, lágrimas escorrendo pelos rostos. Amabel aspirou seu aroma de alecrim e lavanda, flores secas e incenso.

? Eu a amo, irmã. Nunca me deixe de novo...

? Eu também a amo, irmã.

Amabel não podia acreditar nisso. Ela se recostou nos travesseiros. ? Eu pensei que você estava morta, ? sussurrou.

Alina sorriu. ? Temos uma curandeira nesta família.

? Na verdade, duas curandeiras. Quando você vai acreditar em mim? Uma voz exausta suspirou.

? Aili! ? Amabel sentiu seu rosto se dividir com um sorriso. Ela se virou para ver a mulher mais velha de pé ali.

? Sim. ? Aili sorriu. ? Sou eu. Sua tia. Mas você estava febril. Alina não deixou o seu lado desde que ela acordou.

Amabel olhou para onde a garganta de Alina ainda estava ligada. A ferida deve ter sido limpa, pois não conseguiu ver nenhuma vermelhidão ou inchaço para sugerir qualquer infecção. Ela suspirou.

? Obrigada, Aili, por seus dons.

? Não pense em me agradecer, ? Aili resmungou, pensou que ainda sorria. ? Não vem de mim.

Amabel assentiu. ? Obrigada mesmo assim.

Aili sorriu e se virou.

A memória voltou para Amabel. Ela não queria perguntar se Duncan estava vivo. Estava quase certa de que ele estava morto. Alina era inescrutável como sempre ? se quisesse saber não ouviria isso dela.

Aili estava ocupada preparando algo ? ela podia ouvi-la moendo ervas no canto perto do fogo.

? Esta sala parece mais como uma festa do que uma câmara de doente, ? ela estava resmungando. ? Sempre pessoas aparecendo. E aqui vem outra...

Enquanto falava, Amabel viu Alina se virar. Ela olhou para a porta, com as costas direitas, com o corpo tenso.

? Amabel?

Amabel respirou fundo.

? Duncan!

Duncan caminhou lentamente até a cama. Ele estava ao lado de Alina, apoiando uma mão em seu ombro. Alina o segurou. Juntos, eles sorriram para ela.

Duncan franziu a testa. ? Amabel. Não posso agradecer pelo que você fez. Mas queríamos dar a você um presente.

Amabel olhou para ele. ? Duncan?

Ele alcançou as costas dela, rosto cheio de sorrisos. Ele deu para ela uma escultura. Ela olhou-a, franzindo a testa. Então, sua visão se aclarou ao reconhecer o que era.

? Duncan?

Alina sorriu. ? É uma placa para a cama.

Amabel assentiu, sem palavras. Era a cabeceira da cama, para um berço.

Mas isso significava... isso significava...

? Amabel?

A voz dele. Ela conhecia aquela voz. Ela virou-se para a porta.

Broderick estava lá. Ele estava sorrindo. Sua presença preencheu o quarto, e ela sentiu seu coração tão cheio que pensou que poderia estourar.

? Broderick! Você está vivo.

? Sim. ? Seus olhos cintilaram. ? Eu estou, aparentemente. E você também está. O que era muito menos esperado.

Seu rosto ficou rígido, e Amabel percebeu o quanto ele devia estar preocupado.

? Broderick!

Ele fechou os olhos. Estava tentando não chorar. Amabel sentiu sua própria garganta se fechar e se afastou sem palavras. Duncan e Alina olharam um para o outro, e juntos eles caminharam para fora da sala. Aili já havia saído.

Eles estavam sozinhos.

Broderick afundou ao lado de sua cama. Amabel olhou para ele. Ela estendeu a mão. Passou a mão pelo rosto quente e vivo. Ela estava rindo e chorando de uma só vez.

Os olhos dele, escuros e largos, examinaram os dela. Estava chorando, embora sorrisse para ela. Ele estendeu a mão e pegou a mão dela segurando-a com ferocidade.

Durante muito tempo, eles simplesmente olharam um para o outro. Amabel deixou a imagem de seu rosto se afundar em seus sentidos. Ela pensou que não o veria vivo novamente. Não acreditava em seus olhos.

Ele se inclinou para a frente. Suavemente, com ternura, a beijou.

Amabel fechou os olhos e deixou que as sensações selvagens passassem por ela. Estava exausta, mas seu toque e sua proximidade ainda acendiam dentro dela, fazendo com que seu corpo desejasse o dele.

Sentaram-se juntos, a mão dela apoiada no peito, a mão dele no ombro dela.

? Amabel, ? ele disse suavemente. ? Eu nunca me perdoarei por não ter acreditado em você.

Amabel o olhou fixamente. Então ela sorriu. ? Broderick?

? Não, querida. ? Ele balançou a cabeça. ? Eu sou miserável. Você estava tentando me dizer que eu estava lutando contra sombras. Você sabia quem era meu inimigo. Eu me recusei a acreditar. Nunca vou descartar o que você disser, novamente.

Amabel ainda estava sorrindo. ? Meu querido. Estou mais contente de podermos confiar uns nos outros. Mas não posso dizer que estou com raiva. Eu não estou.

Ele sorriu, embora seus olhos estivessem tristes. ? Você deveria estar.

? Broderick. Você foi criado para seguir apenas o seu próprio conselho. Você aprendeu a confiar nos outros. Essa é a parte boa. O que aconteceu não foi sua culpa.

? Não, ? ele disse devagar.

? Você me salvou. Você salvou Alina. E nós sabemos a verdade.

? Sim, ? ele disse devagar. ? Nós sabemos.

Ele a pegou em seus braços e eles se sentaram bem perto, por um longo tempo. Ela respirou o aroma almiscarado dele e fechou os olhos.

? Amabel, ? ele sussurrou.

? Broderick.

? Eu a amo.

Amabel suspirou. Seu coração se derreteu. ? Broderick MacConnaway. Eu também o amo. Com todo meu coração. Agora e sempre.

Ainda se abraçando, sentaram-se juntos até que os últimos raios do sol escorressem através das cortinas abertas e viraram os brilhos da chama.


Epílogo


? Amabel?

? Hum?

Broderick virou-se para sua esposa, levantando as sobrancelhas. Eles estavam sentados em seu lugar favorito ? fora do castelo, no pátio, onde o sol caia sobre lavanda e ervas e brindava-os com o ar perfumado. Foi uma bela noite, emprestada pelo verão, para o final gentil do outono.

? Eu estava me perguntando. O que você acha da sala do fim do corredor?

? Você se refere ao antigo quarto de Duncan? ? Perguntou Amabel. Eles se mudaram para Dunkeld há uma semana, e ela já estava mudando pequenas coisas aqui e ali.

? Sim. Ele vai se mudar para a ala oeste em qualquer caso.

? Hm. ? Amabel sorriu. Broderick acariciou seu cabelo. Em preparação para o casamento com Alina, eles sabiam. Broderick lhes concedera toda a ala oeste. Seu pai, Lorde Adair, havia concedido o senhorio do lugar a Broderick e se aposentou na ala norte. Ele concordou prontamente que Duncan e sua futura esposa se mudariam para a ala oeste da fortaleza.

O que deixou um quarto na ala leste aberto.

? Bem... ? Amabel recostou-se em seu ombro, fechando os olhos no sol da tarde. ? Eu acho que nós poderíamos fazer algo com aquilo. Com algumas boas tapeçarias para proteger a janela, e uma nova configuração para a lareira, quase pode ser apresentável.

Broderick riu. ? Eu adoro o seu gosto, minha querida.

Amabel se inclinou e beijou-o. ? Você não é exatamente um bruto.

Ele riu. ? Estou satisfeito por você pensar assim.

Amabel se inclinou e beijou-o. Estava sentindo aquela sensação tão conhecida na sua barriga, o que significava que o queria. Ele se inclinou e a beijou de volta. Quando ele se afastou, estava ofegante, olhos arregalados de desejo.

Amabel acariciou seus cabelos e ele segurou sua bochecha.

Amabel inclinou-se em seus braços e ele se aproximou. Ela fechou os olhos, sentindo como se flutuasse em uma nuvem de felicidade.

? E há um bom espaço oposto à janela do berço, ? disse Broderick com sono.

? Hmm ? concordou Amabel. Ela também estava quase adormecida. ? Mas acho que no canto em frente ao fogo seria melhor. Ele poderia ficar gelado.

Broderick virou-se para que ela pudesse vê-lo. Ele sorriu.

? Ele? Por que não ela?

Amabel corou. Seus olhos estavam escuros e provocantes e ela podia sentir-se desejando-o. ? Bem... ? Ela engoliu em seco e riu. ? Ela, então. Ele ou ela.

? Exatamente.

Broderick se inclinou e beijou seus cabelos, passando os dedos pelo pescoço dela, de uma maneira que fez corpo dela estremecer.

 

 


Notas

 

[1] O homem de armas era um soldado do período da Alta Idade Média até o Renascimento. Ele era bem versado em vários tipos de armas, como lança, espada, faca, arco e flecha, além de diversos tipos de combate, a pé ou montado num cavalo, sempre de armadura completa (leve ou pesada).
[2] O Clydesdale é uma raça de cavalo de tração pesada, desenvolvida no início do século XIX pelos agricultores no Lanarkshire, condado escocês banhado pelo rio Clydesdale, daí o nome da raça. Cavalos pesados foram originalmente desenvolvidos para uso na guerra, para levar cavaleiros com armaduras pesadas e armamentos pesados para a batalha.
[3] Circlet: uma faixa circular, tipicamente feita de metal precioso, usada na cabeça como ornamento.
[4] Na Grécia no Reinado de Dionísio, Julius Caesar inventou a catapulta, conhecida arma de cerco.
[5] Colunata, na arquitetura clássica, é uma longa sequência de colunas ligadas em entablamentos, que frequentemente constituem um elemento autônomo.
[6] A cherovia ou chirívia ou pastinaca é uma raiz que se usa como hortaliça, relacionada com a cenoura, embora mais pálida e com sabor mais intenso do que esta.
[7] Clarete era o apelido para um certo tipo de vinho de Bordeaux, lá nos séculos 13 ou 14. Eram vinhos de cor rosa pálida, produzidos pela fermentação conjunta de uvas de pele escura e de pele clara, de variedades já extintas
[8] O merlão (do francês "merlon"), em arquitetura militar, é a parte saliente do parapeito de uma fortificação, entre duas seteiras ou ameias. Refere-se a cada um dos intervalos dentados das ameias de uma fortaleza.
[9] Os alimentos amiláceos são aqueles considerados fontes de amido (carboidratos).

 

 

                                                   Emilia Ferguson         

 

 

 

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