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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


COROA DE FERRO / Richelle Mead
COROA DE FERRO / Richelle Mead

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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TREMORES ABALARAM O SOLO, CRIANDO MAIS DAS FISSURAS QUE já o cobriam. Alguns segundos se passaram, e então tudo ficou imóvel.
"Um terremoto?" Eu perguntei hesitante.
"Não", disse Volusian.
Ele estava em sua forma sólida, com duas pernas, olhando ao redor com os olhos apertados. Foi um pouco desconcertante perceber que ele não parecia saber exatamente qual era o problema.
"Então o que nós estamos - "
O chão abaixo de nós, de repente, se abriu. Com apenas a luz do fogo, a minha visão estava ruim, mas eu pensei que tivesse visto uma espécie de forma em espiral emergindo da terra. Não, isto era exatamente como uma forma em espiral, porque um minuto depois, uma cobra gigante subiu e caiu perfeitamente como um caracol. Sua cabeça se elevou sobre Kiyo e eu, ao mesmo tempo em que fazia o reconhecimento com seus brilhantes olhos verdes. A luz deles iluminou uma bifurcada língua em um movimento súbito e o chiado forte que se seguiu foi um tipo de aviso.
Ao meu lado, Kiyo estava mudando para a forma de raposa, e eu decidi que uma arma provavelmente iria me ajudar mais aqui do que a pequena lâmina do athame.
Uma gota de veneno caiu da boca da cobra e chiou quando bateu no chão em frente a mim...

 


 


CAPÍTULO 1

NÃO CONFUNDA RAINHAS FADAS COM FADAS PRINCESAS.

De onde eu venho, garotas que querem ser fadas normalmente sonham com asas
e vestidinhos com babados. Vestidos rosa. Tenho certeza que imitações de diamante
fazem parte da vestimenta também, assim como varinhas fofas com estrelas na ponta
que concedem desejos. Princesas esperam ter adoráveis vidas de luxo e relaxamento,
que envolvem criaturas da floresta realizando todas as suas vontades.

Como uma rainha fada, eu posso admitir que estivesse um pouco mais envolvida
com criaturas da floresta do que se esperaria. Mas o resto? Uma piada total. Fadas ­ do
tipo que eu lido, pelo menos, raramente tem asas. Minha varinha é feita de duras pedras
preciosas amarradas juntas, e eu a utilizo para acabar com a existência das criaturas do
Outro mundo. Eu também acabei com algumas pessoas pelo caminho. Minha vida é de
um tipo sujo, duro e mortal, sem vestidos de babados. Eu uso jeans. E o mais
importante, eu fico horrível de rosa.

Eu também tenho certeza que princesas não têm que lidar com esse tipo de merda
logo de manhã cedo.

"Eu matei... Eugenie Markham".

As palavras ecoavam altas e claras através do salão de jantar cheio, com cerca de
30 pessoas comendo nas mesas de madeira. O teto era em forma abóbada1, e as paredes
de pedra o faziam parecer parte de um castelo medieval... Bem, ele meio que era. A
maior parte dos que jantavam eram soldados e guardas, mas alguns eram oficiais e
servos importantes que viviam e trabalhavam no castelo.

1 Cobertura de curvatura côncava.

Dorian, rei da Terra Oak e meu amado namorado do Outro mundo, estava
sentado na ponta da mesa e olhou do seu café para ver quem foi o corajoso a dizer algo
assim.

"Desculpe, você disse algo?"

Quem havia falado, estava parado do outro lado da mesa, e ficou tão vermelho
quanto o uniforme que ele usava. Ele parecia ter uns 20 e poucos anos humanos, o que
provavelmente significa que ele tinha uma centena em anos de fada ­ ou gentry, o
nome que eu prefiro.

O cara mordeu seu lábio e ajeitou sua postura, fazendo outra tentativa digna
enquanto olhava para Dorian.

"Eu disse que matei Eugenie Markham".

O homem ­ um soldado, ao que parecia ­ olhou ao redor, sem dúvidas, esperando
que a mensagem inspirasse reações horrorizadas. Na maior parte, o que as palavras dele
trouxeram foi confusão, em grande parte porque metade das pessoas reunidas no salão
podia me ver parada no corredor do lado de fora.

"Eu matei a rainha de vocês, e agora suas tropas irão cair. Rendam-se
imediatamente, e vossa majestade imperial, Katrice da Terra Rowan, será
misericordiosa".

Dorian não respondeu imediatamente e não parecia muito preocupado. Ele
delicadamente limpou sua boca com um guardanapo e o recolocou em seu colo.

"Morta? Tem certeza?" Ele olhou para a mulher de cabelos negros ao seu lado.
"Shaya, nós não a vimos ontem?"

"Sim, senhor". Respondeu Shaya, servindo creme em seu chá.

Dorian tirou seu cabelo ruivo do rosto e voltou a cortar o pastel doce que estava
servindo como a refeição mais importante do dia dele.

"Bem, aí está. Ela não pode estar morta".

O soldado de Rowan encarou descrente, ficando cada vez mais e mais incrédulo
enquanto as pessoas continuavam encarando-o curiosamente ou sequer dando
atenção. A única pessoa que parecia levemente preocupada era uma gentry idosa que
estava sentada do outro lado de Dorian. O nome dela era Ranelle, e ela era uma
embaixadora da terra Linden. Ela tinha chegado ontem e claramente não estava
acostumada com as brincadeiras por aqui.

O soldado voltou sua atenção para Dorian.

"Você é tão louco quanto dizem que você é? Eu matei a Rainha Thorn! Veja".
Ele jogou um colar prata em forma de lua. Ele fez barulho contra o chão, e a pálida
e iridescente jóia mal tocou a luz do amanhecer.

"Eu arranquei isso do cadáver dela. Agora você acredita em mim?"

Isso trouxe certo silencio para o salão, até Dorian parou. De fato era meu colar, e
vê-lo me fez tocar distraidamente meu peito nu. Dorian estava com a sua expressão
entediada, mas eu o conhecia bem o bastante para saber que todo tipo de pensamento
passava por trás dos olhos verdes dele.

"Se isso é verdade". Dorian respondeu finalmente. "Então porque você não trouxe
o cadáver dela?"

"Está com minha rainha".

Disse o soldado, achando que finalmente estava o convencendo.

"Ela o tem como troféu. Se você cooperar, ela pode liberá-lo para você".

"Eu não acredito". Dorian olhou para baixo. "Rurik, pode passar o sal? Ah,
obrigado".

"Rei Dorian". Disse Ranelle inquieta. "Talvez você devesse prestar mais atenção
no que esse homem tem a dizer. Se a rainha está morta..."

"Ela não está". Disse Dorian distraidamente. "E esse molho é delicioso".

"Porque não acredita em mim?" Exclamou o soldado, soando estranhamente
como uma criança. "Você achou que ela era invencível? Você achou que ninguém
poderia matá-la?"

"Não". Admitiu Dorian. "Eu só não acho que você poderia matá-la".

Ranelle tentou de novo.

"Meu senhor, como você sabe que a rainha não está...".

"Porque ela está parada bem ali. Podem calar a boca agora para que eu possa
comer em paz?"

A interrupção ­ um fim a essa farsa ­ veio de Jasmine, minha irmã adolescente.
Como eu, ela é meio humana. Diferente de mim, ela é totalmente instável e estava
tomando café com várias algemas de ferro. Ela também estava com seus fones, e o
debate no café deveria estar atrapalhando seu som.

Trinta rostos viraram para onde eu estava parada perto da porta, e houve um
movimento maluco de quase todo mundo empurrando suas cadeiras e tentando se
levantar para uma rápida reverencia. Eu suspirei. Estava confortável inclinada contra a
parede, descansado depois de uma dura jornada à noite, enquanto observa esse
absurdo se desenrolar no meu próprio lar no Outromundo. O show começou. Eu
joguei meus ombros para trás e entrei no salão de jantar, colocando todo o ar de rainha
que eu podia.

"As notícias sobre a minha morte foram exageradas". Eu anunciei.
Tinha a sensação que tinha feito besteira ao fazer minha citação de Mark Twain,
mas nessa multidão, ninguém ia entender a referência mesmo. A maioria pensou que
eu estava simplesmente falando um fato. O que, na verdade, estava.

O rosto corado do soldado de Rowan de repente ficou branco, os olhos dele
esbugalhados. Ele deu alguns passos para trás e olhou desesperadamente a sala. Não
havia lugar pra ele ir.

Enquanto eu andava até meu colar gesticulei para aqueles que estavam em pé e
fazendo reverência para se sentarem. Pegando ele do chão, o olhei criticamente.

"Você quebrou o fecho". Eu o estudei por mais alguns segundos e então olhei
para ele. "Você o quebrou quando o arrancou do meu pescoço enquanto estávamos
lutando ­ não quando me matou. Obviamente".

Eu mal me lembrava de ter lutado com esse cara ontem à noite. Ele era um entre
muitos. Eu o perdi no meio do caos, mas aparentemente Katrice tinha decidido enviá-
lo aqui com uma história depois de capturar essa "evidência".

"Você está incrível para estar morta, minha querida". Disse Dorian. "Você deveria
se juntar a nós e experimentar esse molho que Ranelle trouxe".

Eu ignorei Dorian, tanto porque ele esperava que eu fizesse isso e também porque
eu sabia que não estava incrível. Minhas roupas estavam rasgadas e sujas, e eu tinha
alguns cortes devido à batalha da noite passada. A julgar pelo ponto vermelho que
continuava a ver com o canto do meu olho, eu tinha a sensação que meu cabelo estava
com frizz e jogado para várias direções. Já estava ficando quente, e meu castelo lotado
estava me fazendo suar muito.

"Não". Arfou o soldado de Rowan. "Você não pode estar viva. Balor jurou que viu
você cair ­ ele disse à rainha...".

"Dá para vocês pararem com isso?" Eu exigi, me aproximando dele.

Isso fez alguns dos meus guardas se aproximarem também, mas eu não estava
preocupada. Esse perdedor não ia tentar nada, e além do mais, eu podia me defender.

"Quando sua fodida rainha vai parar de transformar cada rumor sobre a morte de
Dorian ou minha em uma enorme proclamação? Você nunca ouviu falar de habeas
corpus? Esquece. É claro que não ouviu".

"Na verdade". Intrometeu-se Dorian.

"Eu sei latim".

"Não vai funcionar de qualquer modo". Eu rosnei para o cara de Rowan. "Mesmo
que eu esteja morta, isso não vai impedir nossos reinos de aniquilar o seu".
Isso o tirou do seu estado estupefato. Fúria iluminou as feições dele ­ fúria com um
"que" de loucura.

"Sua vadia mestiça! Você é a única que será aniquilada! Você, o Rei Oak, e todos
os outros que vivem suas vidas em suas terras amaldiçoadas. Nossa rainha é poderosa e
incrível! Ela já está negociando com as terras de Aspen e Willow para se unir contra
você! Ela vai triturar você com seu pé e tomar essa terra, tomar e..."

"Posso matá-lo? Por favor?"

Essa era Jasmine. Os olhos cinza pareciam implorar, e ela tinha tirado os fones. O
que deveria ser sarcasmo adolescente, na verdade era muito sério. Eram em dias assim
que eu me arrependia de mantê-la no Outromundo ao invés de mandá-la viver de volta
com os humanos. Certamente não era tarde demais para o reformatório.

"Eu não matei nenhum do seu pessoal, Eugenie. Você sabe que não matei. Deixe-
me fazer algo com ele. Por favor".

"Ele está protegido por uma bandeira de trégua".

Respondeu Shaya automaticamente. Protocolo era a especialidade dela.

Dorian virou em direção a ela.

"Merda, mulher! Eu mandei você parar de deixá-los entrarem com imunidade.
Em tempos de guerra as regras que se danem". Shaya só sorriu, despreocupada com o
ultraje da zombaria dele.

"Mas ele está protegido". Eu disse, de repente me sentindo cansada.

A batalha de ontem à noite ­ na verdade foi mais um combate ­ tinha terminado
em um impasse entre meu exército e o de Katrice. Era incrivelmente frustrante,
fazendo a perda de vidas dos dois lados parecerem totalmente inúteis. Eu acenei para
que alguns dos meus guardas fossem para frente.

"Tirem-no daqui. Coloquem-no em um cavalo, e não o enviem com água. Vamos
esperar que as estradas sejam gentis com ele hoje".

Os guardas reverenciaram de forma obediente e eu virei para o homem de
Katrice.

"E você pode dizer a Katrice que ela está perdendo seu tempo, não importa
quantas vezes ela queira dizer que me matou ­ mesmo se ela realmente tenha feito.
Ainda vamos ver essa guerra continuar, e é ela que vai perder. Ela está em desvantagem
e sem recursos. Ela começou isso como uma guerra pessoal, e mais ninguém vai ajudá-
la com isso. Diga que se ela se render imediatamente, então talvez sejamos
misericordiosos".

O soltado de Rowan me encarou com pura malícia, mas não respondeu. O melhor
que ele conseguiu fazer foi cuspir no chão antes dos guardas o arrastarem. Com outro
suspiro, eu virei e olhei para a mesa do café. Eles já tinham trazido uma cadeira para
mim.

"Tem torrada?" Eu perguntei, sentando.

Torrada não era um item comum no menu dos gentry, mas os servos daqui se
acostumaram com minhas preferências humanas. Eles ainda não conseguiam fazer uma
tequila decente, e Pop-Tarts2 eram totalmente fora de questão. Mas torrada? Torrada
estava entre as habilidades deles. Alguém entregou uma cesta para mim, e todos
continuaram a comer pacificamente. Bem, quase todo mundo. Ranelle estava nos
encarando como se fôssemos loucos, o que eu poderia entender.

2 Kellogg's ® Pop-tarts ® são pastéis totalmente assados e prontos para comer direto da
caixa, ou pode esquentá-los na
torradeira.

"Como pode estar tão calma?" Ela exclamou. "Depois que esse homem acabou de
­ acabou de ­ e você..." Ela parecia impressionada. "Perdoe-me, majestade, mas seus

trajes... você claramente esteve em batalha. Ainda sim, aqui está você, sentada como se
tudo fosse perfeitamente comum".

Eu dei a ela um olhar animado, sem querer ofender nossa convidada ou projetar
uma imagem fraca. Eu tinha acabado de arrogantemente dizer ao soldado de Rowan
que a rainha dele nunca ganharia aliados, mas os comentários dele sobre as
negociações com as terras de Aspen e Willow não tinham passado despercebidos.
Katrice e eu, ambas estávamos procurando aliados nesta guerra. Dorian era o meu, me
dando a vantagem por agora, e eu não queria arriscar o pender da balança ser alterado.

Dorian chamou minha atenção e me deu um dos seus sorrisos arrogantes. Isso me
esquentou, acalmando um pouco da minha frustração. Alguns dias, eu sentia que ele
era tudo que ia me fazer passar por essa guerra que eu inadvertidamente entrei.

Eu nunca quis isso. Eu nunca quis ser rainha de um reino das fadas, o que me
forçava a me dividir entre aqui e minha vida humana em Tucson. Eu certamente não
queria ser o centro de uma profecia que dizia que eu daria luz ao conquistador da
humanidade, uma profecia que tinha incitado o filho de Katrice a me estuprar. Dorian
o matou por isso, algo pelo que ainda não me arrependia, embora odiasse todo o dia a
guerra que tinha seguido a este ato.

É claro, eu não podia dizer nada disso para Ranelle. Eu queria enviar ela de volta a
sua terra com uma imagem de confiança e poder, para que o rei dela pensasse que se
aliar conosco era uma jogada inteligente. Uma jogada brilhante, até. Eu não podia
contar a Ranelle meus medos. Eu não podia contar a ela que Dorian e eu nos
revezávamos visitando os exércitos e lutando com eles ­ e como nessas noites, o que
não estava lutando não dormia. Apesar da petulância dele, eu sabia que Dorian tinha
sentido uma faísca de medo com a alegação inicial do soltado de Rowan. Katrice estava
sempre tentando nos desmoralizar. Tanto Dorian quanto eu temia que algum dia, um
dos soldados dela aparecesse dizendo a verdade. Isso me fazia querer fugir com ele
agora mesmo, fugir para longe de tudo isso e simplesmente me envolver nos braços
dele.

Mas de novo, eu me lembrei que tinha de abandonar esses pensamentos.
Inclinando-me para frente, dei um suave beijo na bochecha de Dorian. O sorriso que
ofereci a Ranelle era tão vencedor e despreocupado quanto o que ele poderia produzir.

"Na verdade". Eu disse a ela. "Esse é um dia bem normal para nós".

A parte triste? É que isso era verdade.

CAPÍTULO 2

SEGUI PARA MEU QUARTO ASSIM QUE A ETIQUETA ME PERMITIU,
caindo na cama no momento que entrei. Dorian me seguiu e coloquei um dos braços
sobre os olhos gemendo.

"Você acha que o que aconteceu vai nos ajudar a convencer Ranelle ou espantá-la
para longe?"

Senti Dorian sentar ao meu lado na cama.

"É difícil dizer. Pelo menos eu acho que isso não vai jogar seu reino contra nós.
Somos muito aterrorizantes e instáveis."

Sorri e retirei o braço, olhando para seus olhos verdes e dourados.

"Se pelo menos essa reputação se espalhasse por todos os lugares. Escutei um
rumor que a terra Honeysuckle3 poderá se unir a Katrice. Honestamente, como alguém
pode nomear seu reino disso e ainda manter um semblante sério é incompreensível."

3 Numa tradução livre, significa Terra dos Beija-Flores.

Dorian se reclinou sobre mim, levemente retirando o cabelo do meu rosto e
passando seus dedos pela minha bochecha.

"Na verdade é adorável. Quase tropical. Quer dizer, não é a terra árida do reino do
deserto, mas não é tão ruim."

Eu já estava acostumada às suas piadinhas sobre meu reino, que quase havia algo
de confortável nisso. Seus dedos seguiram pelo meu pescoço, onde logo foram
substituídos por seus lábios.

"Honestamente, não estou preocupada com esse reino Honeysuckle. Há outros
aliados em potencial para me preocupar. Hey, pare." Seus lábios haviam se movido até
minha clavícula e suas mãos começaram a levantar minha camiseta. Afastei-me. "Não
tenho tempo."

Ele levantou a cabeça, erguendo as sobrancelhas em surpresa.

"Você tem que ir a algum lugar?"

"Na verdade, sim.", Suspirei. "Tenho um trabalho em Tucson. E, além do mais,
estou imunda."

Dorian não se intimidou e retomou a tentativa de tirar minha camiseta.

"Vou te ajudar no banho."

Bati sua mão para longe, mas o puxei contra mim e o abracei. Sabia que ele queria
mais do que só se aconchegar, mas eu não tinha energia. Dado a sua natureza fastidiosa,
fiquei surpresa por ele ter consentido em encostar a sua cabeça contra meu peito, com
minha camiseta suja e esfarrapada do jeito que estava.

"Sem ofensas, mas vou trazer os chuveiros humanos a qualquer dia para não ter
um servente carregando água até uma banheira."

"Você não pode partir sem falar com a Ranelle." Ele lembrou. "E não pode falar
com ela nesse estado."
Fiz uma careta e passei a mão sobre meus cabelos brilhosos.

"Maldição."

Ele estava certo. Eu ainda não era muito acostumada com essa coisa de rainha,
mas eu sabia o suficiente sobre os costumes da nobreza para saber que, se eu realmente
quiser a ajuda do rei Linden, era preciso parecer e soar muito bem. Tanto a fazer. E
nunca há tempo suficiente. Tudo tão desgastante.

Dorian levantou a cabeça e olhou para mim.

"Foi ruim?"

Ele estava se referindo à batalha da noite anterior.

"Sempre é ruim. Ainda não estou de acordo com as pessoas lutando e morrendo
por mim. Especialmente por causa de um insulto."

A população também sofria por causa da guerra. Regularmente há refugiados
vindo até mim atrás de comida e abrigo.

"O reino deles está em perigo." Ele falou. "Seus lares. E isso é mais do que um
insulto. Deixar isso passar faria com que a terra Thorn parecesse fraca ­ uma presa.
Faria ela ficar aberta a invasões, o que seria o mesmo que se render à Katrice. O teu
povo não quer isso. Eles precisam lutar."

"Mas por que o seu luta?"

Dorian olhou para mim como se aquela fosse uma pergunta maluca.

"Por que eu digo para eles lutarem."

Deixei a conversa por isso mesmo e chamei um servente para encher a banheira
no quarto adjacente ao meu. Era uma tarefa tediosa que eu odiava obrigá-los a fazer,
apesar de que o Dorian com certeza discutiria que esse é o dever deles.

A magia que herdei de meu tirano pai, me deu poder sobre os elementos das
tempestades, então eu poderia invocar água diretamente para a banheira, ao invés de
fazer um servente a encher com um balde de cada vez. Mas as terras de Thorn eram tão

secas, que pegar essa quantidade de água utilizando mágica, poderia deixar o ar ao
redor do castelo ainda mais seco e possivelmente matar a vegetação local.

Os serventes possuem sua própria entrada para o quarto de banho, e assim que os
escutamos despejando a água, Dorian sorriu e me puxou de volta para a cama.

"Viu?" Ele falou. "Agora nós temos tempo."

Parei de protestar. E quando nossas roupas caíram e senti o calor dos lábios dele,
tive que admitir que não era avessa ao sexo, não realmente. Essa guerra colocava nossas
vidas constantemente em risco e ele estava preocupado comigo. Ter-me aqui,
fisicamente, parecia assegurá-lo de que verdadeiramente estou bem. Eu também tiro
conforto nisso, estar com esse homem por quem me apaixonei contra todas as razões.
Já odiei e temi os gentry -- e levei um longo tempo para confiar em Dorian.

O sexo foi surpreendentemente calmo para nós dessa vez. Normalmente fazemos
um sexo malvado, excêntrico, que era mais um jogo de poder e controle que eu tanto
amava e me fazia sentir suja.

Agora, sentei sobre ele, enroscando minhas pernas ao redor de seu quadril
enquanto o empurrava para dentro de mim. Um suspiro de prazer escapou dos seus
lábios, e seus olhos se fecharam quando comecei a lentamente mover meu corpo e
montá-lo.

Um momento depois, ele abriu os olhos e olhou nos meus com uma expressão de
afeição e desejo que fez com que um arrepio atravessasse o meu corpo.

Sempre me surpreendo por ele me achar tão atraente. Vi suas antigas amantes --
mulheres sexys e voluptuosas, com curvas e decotes remanescentes das estrelas
clássicas de Hollywood. Meu corpo é magro e atlético devido a toda atividade que
tenho, meus seios possuem um belo formato -- mas dificilmente qualificados para
uma estrela pornô.

Ainda assim, desde que oficialmente nos tornamos um casal, nesses últimos
meses, ele nunca olhou para outra mulher. É a mim que ele observa com seu olhar
faminto, mesmo nos momentos nada românticos.

Aumentei meu ritmo, inclinando-me para frente e me movendo para que mais do
meu corpo esfregasse no dele, me levando mais perto de um orgasmo. Gozei pouco
depois disso, meus lábios se abriram sem som enquanto um doce êxtase percorreu meu
corpo e cada nervo pareceu incendiar-se.

Inclinei-me para frente, beijando-o, deixando sua língua explorar minha boca
enquanto seus dedos brincavam com meus mamilos.

A porta do quarto de banho abriu repentinamente e levantei minha cabeça
quando uma servente entrou.

"Majestade? O banho está pronto."

Suas palavras eram agradáveis e ela desapareceu tão rápido quanto entrou. O fato
de eu estar nua sobre o Dorian não pareceu grande coisa para ela -- e provavelmente
não era.

Os gentry possuem costumes sexuais muito mais livres do que os humanos e
exibições públicas eram muito comuns. Provavelmente teria sido estranho para ela se
não tivesse encontrado seus monarcas fazendo isso imediatamente depois de meu
retorno.

Essa facilidade com a sexualidade não é algo que assimilei e Dorian sabia disso.

"Não, não." Ele falou, sentindo que eu havia parado devido ao choque. Suas mãos
seguraram meus seios e seguiram até meus quadris. "Vamos terminar isso."

Forçando meus olhos da direção da porta, voltei minha atenção para ele e
descobri minha excitação retornando. Ele me rolou na cama, sem se conter agora que
eu havia gozado.
Empurrou seu corpo dentro do meu, o mais rápido e forte que pôde. Momentos
depois, Dorian se estremeceu, seus dedos se cravaram onde seguravam meus braços.

Eu amo ver isso acontecer, amo observar esse rei presunçoso e confiante perder o
controle entre minhas pernas. Quando ele terminou, dei outro longo e lento beijo e
deslizei para deitar ao lado dele.

Ele exalou em contentamento, me olhando novamente com aquela mistura de
fome e amor. Ele não admitiria, mas sei que ele secretamente sonha que de alguma
forma, nossa vida amorosa resulte em uma gravidez.

Já expliquei para ele um milhão de vezes como o controle de natalidade funciona,
mas os gentrys têm problemas em conceber, os fazendo obcecados em ter filhos.
Dorian alega querer um filho apenas por ser comigo, mas a profecia sobre meu
primogênito conquistar a raça humana sempre foi fascinante.

Obvio que eu nunca fui a favor da idéia -- daí minha ênfase nos contraceptivos.
Dorian ostensivamente esqueceu-se desse sonho pelo meu bem, mas há dias em que
suspeito que ele não se importaria em ser o pai do tal conquistador.

Do jeito que está, nossa aliança já nos faz perigosos. Ele me ama, tenho certeza,
mas também deseja o poder. Nossos reinos unidos nos colocam em posição de
conquistar os outros se quisermos.

É difícil deixá-lo, mas havia muito a ser feito. Retirei-me para o banho, lavando o
sexo e a batalha do meu corpo. Vida e morte. A banheira era grande o suficiente só para
mim, mas Dorian parecia perfeitamente feliz em me observar e descansando depois do
prazer.

Ele estava menos excitado sobre minha escolha de vestuário. Como rainha,
possuo um closet cheio de vestidos elaborados, que ele adora me ver usar. Como uma

xamã humana, também certifiquei-me de abastecê-lo com roupas humanas. Ele olhou
para meus jeans e blusa com desdém.

"Ranelle ficaria mais impressionada com um vestido." Ele falou. "Especialmente
um que mostre seu lindo decote."

Revirei os olhos. Estávamos novamente em meu quarto e eu estava me
abastecendo com armas: jóias enfeitiçadas e uma athame de ferro, juntamente com
uma mochila contendo um revólver, uma varinha e um athame de prata.

"Você ficaria mais impressionando com um. E de qualquer maneira, isso seria um
desperdício agora."

"Não é verdade." Ele se levantou da cama, ainda nu e gentilmente me empurrou
contra a parede, consciente da lamina afiada da athame. "Estou pronto novamente."

Pude ver que ele estava e honestamente, eu provavelmente poderia voltar para a
cama também. Se foi luxúria ou relutância em cumprir minhas tarefas, era difícil de
dizer.

"Depois." Falei, tocando meus lábios nos dele.
Ele me olhou suspeito.

"Depois significa muitas coisas para você. Uma hora, um dia?"

Sorri e o beijei novamente.

"Não mais que um dia." Reconsiderei. "Talvez dois." Ri da expressão em seu
rosto. "Vou ver o que posso fazer. Coloque uma roupa antes que as mulheres daqui
entrem em um frenesi."

Ele me enviou um olhar triste.

"Temo que isso vá acontecer com ou sem as roupas minha querida."

Quando finalmente conseguimos nos separar, segui na direção do quarto de
Ranelle, meu bom humor pós-sexo desaparecendo. Uma rápida mágica com o ar
deixou meu cabelo somente um pouco úmido quando cheguei ao quarto. Quando
entrei, encontrei-a escrevendo uma carta na escrivaninha. Ao me ver, ela pulou e fez
uma reverência.

"Majestade."

Sinalizei para ela sentar na cadeira mais próxima.

"Não é necessário. Só quero ter uma conversinha rápida antes de voltar ao mundo
humano."

Com isso o rosto dela se contorceu um pouco, mas seu treinamento como
embaixadora a fez passar rapidamente pela estranheza que deveria estar sentindo. A
facilidade com que pulo entre os mundos não é normal para os gentry.

"Sinto muito pela desagradável apresentação de hoje pela manhã. E por não ter
ficado muito tempo por perto durante sua visita."

"A senhora está em guerra vossa Majestade. Essas coisas acontecem. Além do
mais, o Rei Dorian foi muito hospitaleiro durante sua ausência."

Escondi um sorriso. Ranelle não estava em frenesi, mas estava claro que Dorian a
havia encantado, como fez com tantas outras mulheres.

"Estou feliz. Quando você vai escrever para seu rei?"

Ela assentiu. "Quero enviar minhas noticias imediatamente, apesar de estar
partindo hoje mais tarde."

Mágica preenche o Outromundo e os gentry, e há alguns entre eles com o poder
de enviar mensagens. Um e-mail mágico pode-se dizer. Isso permite que as fofocas se
espalhem mais rapidamente e significa que sua carta irá chegar à sua terra natal antes
que ela chegue. Olhei-a sobre a mesa.

"O que você irá dizer á ele?"

Ela hesitou. "Posso ser sincera Vossa Majestade?"
"É claro." Falei sorrindo. "Sou humana. Ahh, meio humana."

"Simpatizo com você. Entendo seu problema e sei que o Rei Damos também
entenderá."

Ela foi cuidadosa ao evitar os detalhes mais explícitos sobre Leith me estuprar.

"Mas, por mais trágico que seja sua situação... bem, ela é sua. Não acredito que
seja uma que valha a pena arriscar a vida de nosso povo -- perdoe-me majestade."

Entregar as más notícias obviamente a deixava nervosa. Meu pai, honorificamente
referido como Rei Storm, era conhecido por seu poder e crueldade. Eu não sou tão
cruel, mas possuo minha cota de demonstração de poder.

"Não me ofendo." A assegurei. "Mas... Se também posso ser sincera, o seu rei está
em uma situação precária. Ele está ficando velho. Seu poder eventualmente irá
desaparecer. Seu reino ficará aberto para que outros entrem."

Ranelle ficou completamente parada. As terras do Outromundo se unem àqueles
com poder suficiente para conquistá-los.

"Você está nos ameaçando Vossa majestade?" Ela perguntou baixinho.

"Não. Não possuo interesse em outro reino -- especialmente um tão distante."

Distância era relativa no Outromundo, mas a terra Linden leva um pouco mais de
tempo para se chegar do que o restante dos reinos próximo, como as terras de Rowan e
as de Dorian.

"Talvez não." Ela falou incerta. "Mas não é segredo que o rei Dorian quer estender
seu território. É por isso que ele pegou você como sua consorte, correto?"

Agora enrijeci.

"Não. Não é nada disso. Nenhum de nós possuiu interesse em suas terras. Mas
seus vizinhos -- ou as pessoas nas terras -- provavelmente o têm. Pelo que ouvi,
Damos gostaria que sua filha as herdasse."

Ranelle assentiu lentamente. Aqui a hereditariedade depende do poder e não do
sangue -- mas, a maioria dos monarcas, ainda deseja a sucessão familiar, se tiverem
sorte o suficiente para terem filhos. Sorri sabiamente para Ranelle.

"O controle dela sobre as terras dependerá de seu poder, é claro. Mas se Damos
nos ajudar, com certeza posteriormente nós podemos o auxiliar contra qualquer...
usurpador disposto a roubar as terras Linden."

Assassinato, ao invés de guerra. Os métodos eram menos importantes do que o
significado. Ranelle permaneceu em silencio, sem dúvida revirando isso em sua mente.
Seria essa promessa o suficiente para valer seus exércitos? Não sei. Mas com certeza
valeria a pena ser apresentado a seu rei.

"E." adicionei casualmente, seguindo para fora daquele tópico perigoso. "Eu
ficaria feliz em negociar um acordo econômico muito favorável para o seu rei."
O que eu queria dizer era que minha equipe o faria. Detesto os acordos
econômicos e políticos. Mas meu reinado havia literalmente e figurativamente se
tornado um investimento quente. Tê-lo moldado à imagem do Arizona criou
condições duras -- mas também trouxe toneladas de depósitos de cobre. Cobre é o
principal metal em um mundo que não pode trabalhar com o ferro.

Ranelle assentiu novamente.

"Entendo. Vou levar isso a ele."

"Bom." Levantei. "Sinto ter que partir agora, mas avise alguém se tiver algo que
precise. E mande minhas lembranças para Damos."

Ranelle falou que o faria e a deixei, me sentindo insatisfeita comigo mesma. Não
gosto desse tipo de conversa diplomática tanto quanto das econômicas, na maior parte
porque acho que não sou muito boa nisso. Mas essa havia terminado bem e mesmo se
as terras Linden não se unirem a nós, tenho certeza de que as palavras de Dorian
estavam corretas: eles também não lutariam contra nós.

Eu estava caminhando em direção à saída do castelo, pretendendo seguir para o
portal mais próximo e voltar para o mundo humano, quando passei por certo corredor.
Hesitei, olhando para ele, enquanto lutava uma batalha mental. Então, fazendo uma
careta, alterei meu destino e virei à esquina.

O quarto que eu procurava foi fácil de encontrar por causa dos dois guardas
parados na porta. Ambos trabalhavam para Dorian, escolhidos por que, se alguém fosse
o pai do herdeiro do legado Thorn, eles queriam que fosse seu lorde. E todos sabiam
que eu era a mãe que ele queria, e não a ocupante do quarto.

Um dos guardas bateu e abriu uma fresta na porta.

"A rainha está aqui."

Eu não precisava de permissão para entrar no quarto de ninguém em meu próprio
castelo, mas ainda assim esperei por uma resposta.

"Entre."

Fui e encontrei Jasmine sentada com as pernas cruzadas sobre a cama, tentando
fazer algum tipo de bordado. Ao me ver, ela, irritada, o jogou para o lado.

"Isso é a coisa mais idiota do mundo. Gostaria que os brilhantes tivessem coisas
mais divertidas para fazer. Queria andar a cavalo."

A ultima parte foi pronunciada com um tom conhecedor. Jasmine estava presa em
casa e eu não iria permitir uma atividade que poderia dá-la sua fuga dos guardas. Peguei
o veludo verde em que ela estava trabalhando e estudei seus pontos.

"Peixinho dourado?" Perguntei.

"Narcisos!" Ela exclamou.

Larguei rapidamente o tecido. Realmente, considerando as correntes de ferro que
pendiam ao redor de seus pulsos, para controlar sua magia, já era incrível que ela
conseguisse costurar algo.

"Estou voltando para Tucson." Falei. "Mas quero saber como você está."

Ela deu de ombros.

"Estou bem."

Apesar de sua pouca idade, Jasmine queria -- e suspeito que ainda queira -- ser a
mãe do herdeiro do rei Storm. A profecia não havia sido especifica. Apenas dizia que o
primeiro filho seria o conquistador. Isso criava uma corrida entre nós duas -- exceto
que eu não estava competindo. E sua estadia forçada aqui, nos assegura que ela
também não.

Inicialmente ela me odiou por isso, mas se tornou mais civilizada depois que a
guerra começou. Ela considerava as ações de Leith um insulto à nossa família. Era uma
lógica bizarra, mas já que colocou um fim às suas birras, eu aceitei de bom grado.

"Você... precisa de algo?" Perguntei.

Algo estúpido para se perguntar para alguém que deseja a liberdade.

Ela apontou para o iPod ao lado dela.

"Precisa de recarga novamente."

Sempre está precisando de carga. Normalmente, indiferente do tempo de vida das
baterias, o Outromundo interfere nos eletrônicos.

"Livros, revistas ou algo assim. Eu mataria por uma TV".

Sorri. Mas isso estava fora do meu alcance.

"Algumas vezes, quando estou aqui, também mataria."

"Como está tudo com aquela mulher de Linden? Ela vai nos ajudar a derrotar a
Katrice?"

Repentinamente o rosto de Jasmine mudou de triste para decidido. Ela possuía
poderes similares aos meus e, mesmo que não tão forte, eles ainda podem causar

muitos estragos. Se eu a soltasse, Jasmine provavelmente marcharia direto para as
Terras Rowan e tentaria colocar o castelo a baixo.

"Eu não sei. Não estou muito esperançosa."

Os olhos cinzas de Jasmine se tornaram calculistas, fazendo-a parecer mais sábia
que seus quinze anos de idade é capaz.

"Enquanto você e o Dorian ficarem juntos, vocês serão os chefões por aqui --
especialmente você." Surpreendentemente não havia desprezo enquanto ela falava isso.
"Mas você precisa se certificar que Maiwenn não se una com Katrice. Você sabe que ela
vem pensando sobre isso."
Sim, apesar de sua atitude muitas vezes infantil, Jasmine é inteligente.

"Você está certa." Falei. "Mas pensar e fazer são duas coisas diferentes. Você
mesma falou: Dorian e eu somos os chefões. Não acredito que ela vai querer se meter
conosco."

Havia algo confortável em ser capaz de discutir algo com alguém sem precisar usar
os termos lingüísticos convencionais dos gentrys.

"Provavelmente não. Mas ela está apavorada com você ter o herdeiro de nosso
pai." Jasmine me observou com cuidado. "Você não mudou de ideia, não é? Você e
Dorian certamente têm praticado bastante."

"Isto não é da sua conta." Falei, me perguntando se aquela servente já estava
falando sobre o que vira no quarto.

"Diga isso ao Dorian. Ele se gaba sobre isso o tempo todo."

Gemi sabendo que era verdade.

"Bem, independente disso, não pretendo ter filhos tão cedo."

"Você deveria." Jasmine falou. "Ou deixe que eu o tenha. Katrice vai dar para trás."

"E então Maiwenn virá atrás de nós."

Maiwenn governa a terra Willow e é completamente contra a profecia do rei se
tornar realidade. E ela também possuiu algumas outras razões por não gostar de minha
aliança com Dorian -- ou melhor, seus sócios possuem.

"Sim." Jasmine falou. "Mas você ainda poderia chutar o traseiro dela."

Levantei e peguei o iPod o colocando em minha bolsa.

"Vamos nos manter com um traseiro a ser chutado por vez."

Um silêncio constrangedor caiu. Era estranho o fato de acabarmos de ter uma
conversa civilizada. Cresci como filha única, algumas vezes desejando ter uma irmã. E
acabei com uma longe do que eu esperava, mas eu deveria ser grata até mesmo por isso.

"Bem." Finalmente falei. "Vejo você em breve."

Ela assentiu e pegou o tecido, fazendo uma careta como se aquilo a tivesse
ofendido. Eu estava quase na porta quando ela repentinamente falou.

"Eugenie?"

Olhei para trás.

"Sim?"

"Você pode me trazer alguns Twinkies4?"
4 Twinkies é um bolinho americano.

Sorri.

"Claro."

Ela não desviou o olhar do bordado, mas tenho quase certeza que a vi sorrir
também.

CAPÍTULO 3

POSSO ATÉ TER ACEITADO O FATO DE SER A RAINHA DA TERRA
Thorn e é muito difícil não se apegar a um lugar com que se tem uma ligação espiritual.

No entanto, nada que o Outromundo possa oferecer, jamais poderá substituir
minha casa em Tucson. É uma casa pequena, mas em uma ótima vizinhança. Próximo
às montanhas Catalinas ao norte da cidade. Portais entre os mundos existem em todos
os lugares, facilitando a viagem, mas tenho uma "âncora" em minha casa, o que
significa que assim que saio pelo portal na terra Thorn, posso me materializar
diretamente em meu quarto. Uma âncora pode ser qualquer objeto preso à sua
essência.

Meu colega de quarto, Tim, que já não me via há alguns dias, ficou
compreensivelmente chocado quando entrei na cozinha.

"Jesus Cristo, Eug!" Ele exclamou. Ele estava virando panquecas no fogão.
"Temos que amarrar um sino ou algo do tipo ao redor do teu pescoço".

Sorri e tive uma urgência inexplicável de abraçá-lo ­ apesar de saber que isso o
assustaria ainda mais. Depois de todas as loucuras do Outromundo, sua normalidade
era bem vinda.

Bem, `normalidade' pode ser um exagero. Tim ­ alto, moreno e com sua linda
fisionomia ­ tentava representar (muito mal) os Nativos Americanos, para tentar se
dar bem com as mulheres e vender suas terríveis poesias. Ele passou por várias tribos e
eu soube que por ultimo ele se fazia passar por um Tlingit, já que os outros ficavam
menos irritados quando ele vestia as roupas de uma tribo a quilômetros de distancia.

Tim morava em minha casa, livre de aluguel em troca de cozinhar e limpar e fiquei
feliz em vê-lo vestindo jeans normais e camiseta.

"Você está fazendo o suficiente para dois?" Perguntei, seguindo diretamente para
a cafeteira cheia.

"Sempre faço o suficiente para dois. Mas sempre vai tudo para o lixo".

A última parte saiu como um resmungar. Uma vez ele reclamou de ser meu
escravo, mas agora sentia a minha falta.

"Recados?"

"No lugar de sempre".

Quando estou no Outromundo deixo meu celular com o Tim. Isso o força a ser
minha secretária, algo que ele se recente, já que possuo alguém para isso. Na verdade, a
maioria das mensagens rabiscadas no quadro branco da geladeira vinha dela.

.
Terça feira ­ 11h00min ­ Lara: duas ofertas de emprego.
.
Terça ­ 14h30min ­ Lara: um cliente em potencial precisa de ajuda
urgente.
.
Terça ­ 17h15min ­ Lara: ainda quer falar com você.
.
Terça ­ 17h20min ­ Lara: precisa que você termine as papeladas do
imposto.
.
Terça ­ 22h30min ­ Lara: não para de ligar.
.
Quarta ­ 08h00min ­ Lara ­ quem liga a essa hora?
.
Quarta ­ 11h15min ­ vadia.
.
Quarta ­ 11h30min ­ Sam's home Improvement5: interessada em
um novo tapume de vinil?

5 Loja de empreiteiros, e materiais de construção. O Tim faz uma piada sobre essas lojas
que ligam te oferecendo coisas
que claramente não precisa, tipo uma cerca de vinil.

Admiro sua capacidade de detalhes ao anotar os recados ­ deixando de lado sua
frustração com a Lara ­ mas meu coração afundou quando vi quem estava faltando.
Todas as vezes que venho para casa, secretamente espero ver seus nomes aqui.
Algumas vezes, escondido minha mãe pede noticias. Mas meu padrasto Roland? Ele
nunca mais ligou, não depois de descobrir minha aliança com o Outromundo.

Tim, preocupado com sua comida não viu meu rosto.

"Não entendo por que ela continua ligando. Ela sabe que você não pode
responder nenhum dos recados. Por que ela precisa de mais de um? Não é como se um
bilhão deles fossem chegar magicamente até você".

"É apenas o jeito dela". Falei. "Eficiente".

"Isso não é eficiência". Ele declarou. "É quase uma neurose".

Suspirei me perguntando, não pela primeira vez, se deveria deixar os recados
simplesmente caírem na caixa de mensagens. Apesar de nunca terem se conhecido,
Tim e Lara eram inimigos mortais ao telefone. Escutar eles resmungarem um sobre o
outro era desgastante. No entanto, só de olhar para a lista de ligações já ficava cansada.

Uma vez tive um negócio como xamã contratada, expulsando fantasmas e outras
irritantes criaturas sobrenaturais que incomodam os humanos. Agora que eu trabalho
como rainha das fadas, preciso me tornar muito mais seletiva com minha clientela. Não
mais posso dar conta da demanda na vizinhança e me sinto mal por isso. Suspeito que
Roland tenha pegado esses clientes, mas não tenho certeza.
Esperei até depois do café para lidar com Lara. Panquecas, salsichas e café me
deram energia para a nova enxurrada de pedidos. Ao ver meu numero em seu
identificador de chamadas, ela sem dúvida não se incomodou com formalidades
quando finalmente liguei.

"Já estava na hora". Ela exclamou. "Ele te entregou meus recados?"

"Acabou de fazer. Estive fora por três dias. Você sabe que não precisa ficar
incomodando ele por causa disso".

"Quero me certificar que ele entregue meus recados".

"Ele escreve cada um deles. Além disso, meu telefone me diz que você tem
ligado... muito".

"Humpf". Ela deixou escapar. "Bem, você tem sido muito requisitada
ultimamente. Eu já os seleciono, mas você ainda tem que escolher".

Era quase fevereiro. Não estávamos próximos de nenhum sabbat, quando as
atividades paranormais sempre aumentam. Porém, algumas vezes, isso acontece sem
razão aparente. Imagino que agora seja uma dessas vezes ­ justamente quando estou
no meio de uma guerra.

Ou, pensando melhor, pode estar acontecendo por causa dela. Minhas
identidades de rainha e xamã eram bem conhecidas entre muitas criaturas. Talvez eles
esperem poder escapar enquanto estou distraída. Metade deles parece aparecer em
nosso mundo somente por propósitos egoístas; a outra sonha em tomar a terra Storm
para si.

"Tudo bem". Falei. "Vou escutar as prioridades".

"Precisamos terminar os impostos".

"Isso não é uma prioridade. Continue".

"Mulher solteira, perseguida por um fetch".

"Isso é sério. Preciso dar uma olhada".

"Há uma arvore elementar. Na sua vizinhança".

"Sim, ela está aqui por minha causa. Não irá ferir mais ninguém".

"Uma subdivisão infestada com fantasmas".

"Em um cemitério?"

"Sim".

"Marque essa e certifique-se de cobrar o dobro dos construtores. A culpa é toda
deles".

"Faremos isso. Então você tem as esquisitices usuais. Luzes no céu. Possível
UFO6".

6 OVNI é o acrónimo de objecto ou objeto voador não identificado, também conhecido por
UFO (unidentified flying
object, em inglês). Saiba mais em : http://bit.ly/jnl8Cp

7 Pé Grande ­ é descrito como uma criatura na forma de um grande macaco que vive nas
regiões selvagens e remotas
dos Estados Unidos e Canadá. Reivindica-se que seria um animal aparentado do Iéti
tibetano (o "Abominável Homem
das Neves").

"É o Will novamente?"

"Sim".

"Maldição! Você falou para ele que são apenas os militares?".

"Sim. Ele também falou que tem algumas descobertas de Bigfoot7...".

Congelei. "Bigfoot? Onde?"

"Não peguei os detalhes. Pensei que eram suas loucuras usuais. E você não falou
que eles não viviam no Arizona?"

"Eles não vivem. Houve algo estranho nos noticiários? Mortes?"

Houve uma pausa e escutei o barulho de papeis.

"Duas pessoas fazendo trilha morreram em Coronado, próximo à trilha Rock
Rappel. O repórter informou que eles caíram. Levou alguns dias para encontrarem os
corpos. Uma coisa bem nojenta. Alguns animais acharam primeiro".

Eu estava de pé e fora da cadeira em um piscar de olhos, fazendo os pratos sobre a
mesa da cozinha chacoalharem.

Tim, que folheava uma revista, olhou alarmado.

"Ligue para o Will". Falei para ela, tentando colocar uma das botas enquanto
segurava o telefone. "Tente descobrir onde ele escutou sobre essas aparições de
Bigfoot. Se não foi no Coronado, então me ligue. Se for, não precisa ligar".

Will é o meio irmão da Jasmine e evito falar com ele sempre que posso. Uma das
razões é que ele sempre pergunta sobre ela. A outra é ele ser um maluco, paranóico por
teorias conspiratórias. Dessa vez, ele pode ter achado algo.

Lara estava compreensivamente assustada.

"Mas falou que o Bigfoot...".

"Não é um Bigfoot".

"Não se esqueça do seu outro trabalho de hoje à noite".
"Não vou".

Desliguei e consegui calçar o outro pé. Tim me observava preocupado.

"Não gosto quando você está com esse olhar".

"Isso faz dois de nós".

Ele observou enquanto eu seguia para o closet no corredor e pegava um casaco de
couro.

"Você vai até Coronado?"

"Sim".

"Alto?"

"Sim".

Ele suspirou e sinalizou para onde pendurávamos nossas chaves próximas à porta.

"Pegue o meu carro. Vai aguentar melhor se você encontrar neve".

Passei minha bolsa sobre o ombro e sorri para ele agradecida. Ele pediu que eu
fosse cuidadosa, mas eu já estava saindo pela porta com as chaves, seguindo para o
Subaru8 dele.

8 Marca de carro japonesa.

Meus olhos mal focavam a estrada enquanto eu dirigia na direção do Parque
estadual Coronado. Bigfoot. Não, você não vai encontrar Bigfoots por aqui, nem
mesmo nas Catalinas.

Agora, se você me falar que ouve uma descoberta no Noroeste do Pacifico? Ou
em qualquer lugar no Canadá? Sim, ai está aberta a temporada de caça ao Bigfoot. Mas
não seria uma prioridade. Geralmente eles são inofensivos.

Aqui? Quando temos uma descoberta de Bigfoot em Tucson, é um demônio urso.
Sim ­ eu sei. É um nome ridículo, mas aqui há uma verdade sobre eles ­ não há nada de
engraçado neles.

Eles vêm do Submundo e são extremamente letais. Com seus corpos altos e
peludos é fácil entender como olhos destreinados os confundem com imagens
populares dos Bigfoots.

Demônios ursos não brincam em serviço também. Se apenas duas pessoas estão
mortas, é por que esse não está por aqui há muito tempo. Tivemos sorte ­ mesmo que
os escaladores não. Nenhum roedor ou raposa se alimentou naqueles corpos.

Em Tucson estávamos aproveitando um típico dia de inverno ­ em torno dos
vinte graus, se eu tivesse que adivinhar.

Enquanto seguia montanha acima a temperatura caía rapidamente. Logo vi neve
no solo e placas do resort de ski Mt. Lemmon. Outros sinais me direcionavam para as
áreas mais populares de trilhas e escaladas ­ incluindo Rappel Rock, que era uma área
muito popular para pessoas que gostam da natureza. Com sua proximidade com as
áreas de ski, a presença do Demônio é duplamente mais perigosa nessa época do ano.

Finalmente cheguei ao inicio da trilha e estacionei no terreno de cascalho. Apenas
outros dois carros estavam lá, o que era uma pequena benção. Desci do Subaru,
levando um choque pela onda de ar frio que me atingiu.

Não sou acostumada a essas temperaturas. Não nasci para elas. Monstros e
fantasmas? Sem problemas. Mas o frio? Isso é uma fraqueza. Eu poderia usar mágica
para ajustar a temperatura do ar, mas precisava conservar meus poderes.

Ao invés disso, enquanto prendia o arsenal em meu cinto ­ nada confortável, mas
de fácil acesso ­ usei mágica para uma invocação. Falei as palavras do ritual e um
momento depois, uma pequena criatura que lembrava a um macaco apareceu na minha
frente. Ele tinha orelhas pontudas, pêlo macio e escuro como a noite, e riscos
vermelhos como olhos.

"Minha senhora chamou". Ele falou em uma voz sem entonação. "Respondi, sem
duvida para alguma função mundana."

"Vamos atrás de um Demônio urso". Falei me movendo rapidamente na direção
da pista e tentando ignorar o frio. Minha jaqueta não era apropriada para esse clima,
mas era a melhor que eu tinha.

"Uma tarefa mais desafiadora que a maioria".

Ignorei sua condescendência enquanto parava em frente à placa que indicava as
variadas rotas e dificuldades para trilhas e escaladas.

Volusian é um espírito amaldiçoado que subjuguei como escravo. Seus poderes o
fazem um instrumento útil ­ e muito arriscado. Ele me odeia e passa uma boa parte de
seu tempo planejando como me matar, se algum dia eu perder o controle que o prende.

Fechei meus olhos tentando fazer parte do ar, ao invés de uma de suas vitimas.

O mundo era silencioso aqui, salvo pelo farfalhar do vento nos pinheiros, o
conversar dos pássaros e pequenos animais. Deixei meus sentidos se espalharem,
procurando por algo fora do lugar. Minhas habilidades não eram perfeitas, mas
normalmente consigo sentir a presença de algo de fora do nosso mundo.

"Lá". Abri meus olhos abruptamente e apontei próximo a uma trilha marcada
`dificuldade moderada'.

"Você sente alguma coisa?"

Volusian estudou a área, também usando seus sentidos.

"Sim. Mais forte lá".

Ele não apontou para a trilha em si, mas mais para a esquerda, na direção da
floresta. Fiz uma careta, mas sei que os poderes dele são melhores que os meus.

"Fora da rota. Que maravilha".
Seguimos naquela direção. Volusian mudou para uma forma mais fantasmagórica
que flutuou ao meu lado, ao invés de seguir pelos arbustos, como tive que fazer. Não
era nada difícil de lidar, mas tornava a caminhada lenta. Ainda assim, quanto mais eu
me aprofundava na floresta, mais eu sentia a energia.

"Ele vai sentir a senhora também, mestra". Volusian falou, em uma rara amostra
de um comentário não solicitado.

Eu não duvido disso.

"Ele vai vir atrás de mim? Ou vai correr?"

"Fugir? Não. Se esconder? Talvez". Ouve uma pausa calculada. "Mas ele não vai
tentar atacar você sexualmente. O sangue dos brilhantes é muito tentador. Ele vai
simplesmente tentar comer você".

"Que tranqüilizador". Resmunguei. "Vou bani-lo. Você o distrai".

Logo não precisei de sentidos especiais para saber que havíamos atingindo nosso
objetivo. A floresta ficou mortalmente silenciosa. Sem mais pássaros ou outros sinais
de vida. Um forte censo de... Maldade preencheu o ar.

Os mundos estavam sobrepostos: Humano, Outromundo e Submundo. Com a
nossa proximidade, as criaturas do Outromundo podem viajar entre os mundos sem
que eu sinta algo. Mas vir do Submundo não era normal. Destacava-se.

"Estamos próximos". Murmurei. "Estamos praticamente ­ oomphff!".

Um braço maciço saiu de trás de um aglomerado de árvores e me atingiu no
estômago, jogando a mim dolorosamente para trás. Não pude fazer nada para evitar a
queda no chão da floresta com gravetos e rochas, mas consegui pegar minha varinha
enquanto caía.

Uma forma gigante apareceu na minha frente, quase três metros de altura.
Membros longos com pés e mãos em forma de garras, seu corpo musculoso poderia
facilmente ser confundido com um Bigfoot. Suas orelhas ­ parecidas com as de urso ­
eram achatadas contra a cabeça, adicionando uma aparência humanóide. Ele rugiu,
mostrando uma boca cheia de dentes afiados. Olhos negros, cheios de nada mais que
um ódio insano me encaravam.

Volusian compelido por minhas ordens se jogou contra o urso. O poder que
irradiava do corpo do Volusian tinha a força de uma tonelada de tijolos.

A criatura tropeçou para trás, com sua atenção voltando-se para meu escravo. O
fato de Volusian não ter conseguido derrubá-lo era preocupante. Ou eles possuíam
forças parecidas, ou o demônio era ainda mais forte que ele. Isso seria um problema, já
que não sou forte o suficiente para enfrentar Volusian.

Bem, então era isso, não sou forte o suficiente para lutar e bani-lo. Se outra pessoa
conseguisse subjugá-lo poderia mandar o Volusian adiante. Se o demônio tem
condições de vencer Volusian, então eu vou ser brincadeira.

Com sorte, o demônio urso não poderá vencer o Volusian enquanto estava
distraído com outra coisa ­ eu. Pulei de pé, segurando minha varinha como se estivesse
pronta para abrir um portal para o Submundo. Eles continuaram a lutar, sem serem
capazes de matar um ao outro.

Reuni minha vontade, canalizando o poder da minha alma, passando pelo
Outromundo, para o Submundo. Em meu braço, a tatuagem de uma borboleta preta e
branca, sagrada para Persephone, começou a queimar quando toquei seu domínio.

O ar próximo ao demônio começou a se desmaterializar, formando uma abertura
para o Submundo. Agarrando meu athame de prata com minha mão livre, me
aproximei da batalha, consciente de ambos os combatentes e do portal que se formava.

Volusian pairava junto ao demônio, mantendo seus olhos voltados para cima.
Passei despercebida. Com uma velocidade bem controlada, movi a athame,
desenhando um símbolo arcano no peito do demônio. Normalmente banir um
demônio de volta para seu domínio, o impede de retornar. Um marca de amarração
como essa é mais uma garantia. Eu não queria correr nenhum risco.

O rugido ecoou pela floresta e ele se virou para mim. Antecipei seu movimento e
tropecei para longe, ficando fora do alcance.

Eu realmente havia tido sorte na primeira vez que ele me acertou. Ele possui força
suficiente para matar em um único golpe.

Volusian seguiu para frente novamente voltando a chamar a atenção do demônio
­ só que não funcionou. O demônio reconheceu o perigo que eu representava e podia
sentir o portal se abrindo.

Volusian o atacou e voltou a atacar, mas era apenas um incomodo ­ bem
doloroso ­ mas um que o demônio aparentemente podia ignorar enquanto seguia na
minha direção.

"Merda". Falei.

Comecei a retroceder, mas o demônio estava cobrindo a distância rapidamente.
Seus pés maciços podiam esmagar as folhagens rasteiras que tanto me atrasavam.
Trabalhei duramente para ignorar o quanto minha situação havia ficado difícil e tentei
me concentrar no portal.

A porta ficou mais substancial, e logo o poder começaria a invocar seus
pertencentes ­ sugando o demônio de volta. A criatura fez uma pausa. O problema era
que ele também iria puxar o Volusian.

Ordens ou não, ele se afastou para se auto preservar, e eu não posso culpá-lo. Só
que sem meu escravo para bater no demônio, ele agora possuía força o suficiente para
lutar contra o portal e continuar vindo em minha direção. Ele deveria saber que ao
acabar comigo, o portal também desapareceria.

De repente, escutei algo se aproximando, gravetos e folhas estalando sob pés
fortes ­ ou para ser mais precisa, patas. Uma raposa vermelha ­ muito maior que uma
normal ­ pulou nas costas do demônio, cravando seus dentes na pelagem marrom.

Isso o fez gritar ­ e me deu um momento de descanso. Joguei todo meu poder no
portal e empurrei o demônio na direção dele. O demônio se agitou, incapaz de evitar
ser mandado de volta para seu mundo. A raposa teve o bom senso de sair do caminho,
já que seus serviços não eram mais necessários. O demônio deixou escapar um ultimo
grito e desapareceu de vista. Apontei a varinha para onde o demônio tinha estado,

mandando minha energia através das pedras para banir o portal e fechar bem esse
mundo.

A não ser por minha respiração rápida o silêncio era total. Lentamente, os
pássaros começaram a cantar novamente e a floresta voltou ao seu estado natural.
Reclinei-me contra um tronco alto e sem folhas, aliviada. O banimento não havia sido
tão fácil quanto o esperado, mas certamente poderia ter terminado pior ­ como, por
exemplo, com a minha morte.

"Não precisávamos da sua ajuda". Falei. "Estávamos indo bem".

A raposa não estava mais lá, como eu já sabia. Havia se transformado em um
homem alto e musculoso, com escura pele dourada e cabelo preto que mal tocavam
seus ombros.

Ele era um Kitsune, uma raposa japonesa, um metamorfo do Outromundo. Na
verdade, ele era parte kitsune. Sua mãe era Kitsune; e o pai um mortal do Arizona. Mas
para o poder isso fazia pouca diferença.

"Sim". Kiyo falou, cruzando os braços sobre o peito.

Ele não precisava de casaco e usava simplesmente uma camiseta cor de vinho.

"Você parecia ter tudo sob controle".

"Estávamos a ponto de fazer isso". Respondi.

"Na verdade mestre". Volusian falou francamente. "Provavelmente sua morte era
iminente".

"Oh, cale a boca". Retorqui. "Você está dispensado. Volte para o Outromundo".

Volusian desapareceu.

Virei-me para Kiyo.

"Afinal de contas, o que você está fazendo aqui?"

Ele deu de ombros e me esforcei para ignorar o efeito que sua aparência física
exercia sobre mim.

"O mesmo que você. Estou na lista de endereços do Will. Quando ouvi falar
sobre as descobertas de Bigfoots...".

Suspirei e voltei pelo caminho que viemos.

"Não preciso da sua ajuda".

"Não vim para ajudar você". Ele me alcançou facilmente. "Vim matar um
demônio urso. Só que você chegou aqui primeiro".
Considerando o trabalho que Volusian e eu estávamos tendo, duvido que Kiyo
pudesse ter vencido o demônio só com força bruta. Kiyo é forte, sim, mas não super
poderoso. Infelizmente ele é valente. Correndo para dentro de situações impossíveis,
pronto para defender os outros ­ mesmo que isso custe sua vida. Ele sempre parecia
destemido dessa forma ­ exceto por uma vez.

E esse era o coração do nosso problema.

Kiyo e eu éramos namorados, presos em um relacionamento profundamente
romântico e físico. Sua desaprovação com minhas relações no Outromundo
começaram a fraturar as coisas entre nós.

O fim aconteceu depois que Leith me estuprou.

Kiyo veio ao meu resgate, mas se recusou a punir Leith. Ele aconselhou uma ação
mais contida: deixar que a justiça do Outromundo seguisse seu curso.

Dorian, entretanto, optou pela justiça instantânea: ele atravessou Leith com uma
espada.

Kiyo e eu nos separamos pouco depois daquilo.

"Você estava em desvantagem". Falei para Kiyo. "Há bilhões de outras criaturas
correndo soltas no momento. Se você quiser ajudar, vá atrás delas".

"Ah sim. Esqueci". Ele falou. "A antiga vigilante de Tucson está muito ocupada
brincando de princesa".

Parei repentinamente e o encarei.

"Não estou brincando de nada! Controlar a terra Thorn não foi escolha minha e
você sabe disso".

"Isso é verdade. Foi escolha do Dorian ­ uma em que ele enganou você. Ainda
assim, de alguma forma, isso não importa e agora está tudo bem você ficar com ele e
fazer uma guerra".

Comecei a me mover novamente, marchando pela floresta em uma névoa de
raiva. Quando terminamos, Kiyo ficou infeliz e retraído. Com o tempo, ele se
recuperou e agora ­ sempre que nos encontramos ­ ele não hesita em expressar sua
opinião sobre Dorian, a guerra ou qualquer outra coisa que envolva o Outromundo.

"A guerra também não foi escolha minha". Falei finalmente, depois de me recusar
a responder por vários minutos.

"Impedi-la também não está fora do seu controle".

"Então o que você está falando? Que eu deveria simplesmente parar agora e me
render?"

"Não". Sua calma era irritante. "Mas deve haver uma maneira pacífica para acabar
com isso. Negociar algo".
"Você acha que não tentamos?" Exclamei. "Você acha que sou tão faminta por
sangue assim? Todos os diplomatas que enviamos enfrentaram demandas exageradas
ou ameaças de morte".

"Gosto do uso do `nós'. Pergunto-me o quão sério Dorian tem tratado o processo
de paz".

Pude ver o estacionamento através das arvores à nossa frente. Bom. Preciso ficar
longe do Kiyo. Sua presença é sufocante. Mexendo com muitos sentimentos e não
quero lidar com nenhum deles.

"Dorian não está controlando tudo sozinho. Estamos nisso juntos e estamos
tentando resolver tudo com a Katrice".

"E quando isso falhar, vocês irão marchar juntamente com seus aliados, tomar as
terras dela e expandir o império".

Chegamos ao estacionamento e me virei para o Kiyo com ódio, com as mãos nos
quadris.

"Não temos nenhum aliado. Não quero outro reino! E com certeza não quero um
império!"

Ele deu de ombros.

"Diga o que quiser, mas todos sabem que você está procurando por pessoas para
se juntar a você".

"E a Katrice está fazendo o mesmo". Falei calmamente. "Ouvi falar que ela visitou
a terra Willow há pouco".

Ah, isso o quebrou. A fachada calma e presunçosa de Kiyo falseou.

"Não há nada decidido". Ele falou duramente.

"Mas a sua namorada não é fã do Dorian e de mim. Ela nos teme. Por quanto
tempo Kiyo? Quanto tempo até que ela - e você ­ lutem contra nós?"

Eu estava ganhando terreno. Ele estava na defensiva. Kiyo e Maiwenn, a rainha de
Willow, foram amantes uma vez. Eles até mesmo têm uma filha juntos. Nunca acreditei
que eles sejam apenas amigos desde que rompemos.

Kiyo deu um passo para frente, se inclinando sobre mim e me olhando com
aqueles olhos muito escuros.

"Ela não é minha namorada. E estamos nos mantendo neutros".

Dei de ombros tão casualmente quanto ele o fizera anteriormente.

"Se você diz. E gosto do uso do `nós'. Exceto que você não possui igualdade com
ela, não é? Você apenas fica por perto e segue as ordens dela".

"Maldição Eugenie!" Ele fechou os punhos. "Por que você tem que ser tão...".
Ele não pôde terminar e ficamos lá, tão perto, que, mais uma vez, tomei
consciência de seu corpo e das memórias de nosso tempo juntos.

Lembro-me do que aquele corpo pode fazer na cama. Lembro-me da maneira
como ele ri, da maneira fácil como nos conectávamos. O Outromundo consume tanto
de meu tempo ultimamente, mas ainda sou parte humana. E essa parte chama por
outros humanos.

E enquanto ele olhava para mim, a raiva suavizou um pouco, e tive o sentimento
de que ele estava pensando na mesma coisa. Se ele tivesse alguma atração
remanescente, os atributos animais nele teriam deixado tudo duplamente difícil. Minha
aparência física iria desencadear a atração sexual muito mais rapidamente. Até mesmo
meu cheiro poderia excitá-lo.

Ele desviou o olhar.

"Bem. Nada disso importa. Você deve ir para casa. Está congelando aqui".

"Estou bem". Falei automaticamente, como se não estivesse tremendo e toda
arrepiada.

"É claro que você está". Ele voltou a olhar para mim, com um pequeno e irônico
sorriso no rosto. "Tenha cuidado Eugenie".

"Com o que exatamente?" Perguntei.

"Com tudo".

Depois disso, ele voltou à forma de raposa ­ uma de tamanho normal ­ e sumiu
entre as arvores. É claro, ele era muito durão para ter dirigido até aqui.

Repentinamente me sentindo drenada, peguei as chaves do Tim e segui para o
carro. Fiz o que era preciso, era isso que contava. Não queria pensar sobre o Kiyo,
guerra, ou qualquer coisa do tipo. Queria ir para casa e descansar antes do próximo
trabalho.

Um formigamento ao longo da minha coluna me fez largar as chaves, enquanto
sentia a presença de algo do Outromundo atrás de mim. Girei, voltando a pegar minha
varinha enquanto isso.

Ali, bem na minha frente, estava um fantasma. Era uma mulher, aparentando ter
uns trinta e poucos anos quando morreu. Sua forma translúcida drenava as cores, mas
seu cabelo era cacheado e ia até a altura dos ombros, sua roupa era casual.

Ver um fantasma em uma área aberta era uma raridade; eles tendem a se sentir
atraídos por coisas materiais. Ainda assim, a localização não importava. Eles são
perigosos. Apontei minha varinha para ela, com as palavras prontas em meus lábios.

"Não, espere!" Ela gritou, levantando as mãos.

Fantasmas que imploravam não são algo incomum.

"Sinto muito. Esse não é o seu mundo. Você precisa seguir em frente. É o
melhor".
"Por favor. Ainda não. Preciso falar com você, Eugenie Markham".

Fiz uma careta, minha varinha ainda posicionada.

"Como você sabe meu nome?"

"Por que vim pedir a sua ajuda. Preciso descobrir quem me matou

CAPÍTULO 4

DISTRAIR SEUS INIMIGOS DIZENDO COISAS CHOCANTES É UMA
forma clássica de começar um ataque. Se esse fantasma queria me pegar com a guarda
baixa, essa teria sido sua chance. No entanto, ela apenas ficou lá pendurada no ar,
olhando para mim. Eu apertei minha mandíbula e desejei que Kiyo estivesse próximo
para ouvir esse desenvolvimento bizarro.

Finalmente eu falei:

"Isso não é o que eu faço. E de qualquer jeito... Eu quero dizer, tipo, você não
pode meio que, saber? Será que você não viu?"

"Não". Ela disse pesarosamente. "Quem fez isso me deu um tiro na cabeça antes
que eu pudesse ver. Eles fizeram com que parecesse suicídio".

Eu fiz uma careta.

Fantasmas fracos aparecem com frequência em seu estado final, do jeito que
estavam na hora de sua morte. Esta era forte e capaz de aparecer como se lembrava de
si mesma, eu estava grata por isso. Não teria gostado de vê-la depois que a bala a
atingiu.

"Bem, eu sinto muito pela sua... perda". Eu disse a ela, perguntando-me porque
eu não a tinha banido ainda. "Mas trabalhar de detetive particular não é a minha praia".

"Eu não posso ir a um!" Ela chorou. "Ou à polícia. Só você pode me ver e os outros
fantasmas disseram que você era a única a quem eu poderia pedir ajuda".

"Todos os outros -- o que, vocês caras têm um clube ou algo assim?"

"Por favor, Srta. Markham". Ela implorou. Seus olhos eram tão, tão tristes. "Eu
tenho que descobrir. Se há alguém perigoso andando por aí eu tenho que saber. Minha
família tem que saber".

Pelo que eu sabia a família geralmente estava por atrás da maioria dos homicídios.

"Olhe, você está obviamente forte. Você tem que estar em boas condições para se
deslocar como você fez e vir para aqui. Faz sentido. Se você está preocupada com isso
que aconteceu, então você está vinculada fortemente a este mundo, enquanto o, hum,
assassino é incerto. Assim, as chances são de que você provavelmente pode aparecer
pra alguém. Não funciona na maioria dos humanos, mas você pode ter alguém próximo
a você para vê-la e ouvi-la".

"Mas eles acreditariam em mim?" Ela perguntou amargamente. "Eles pensarão
que estão imaginando coisas. Você é a única que sabe que isso é real".

Eu balancei minha cabeça.

"Desculpe. Eu não investigo essas coisas. Certamente não para fantasmas. Você
está recebendo minha melhor oferta aqui. Caso contrário...". Levantei minha varinha.
"Você partirá em paz"

Ela fez uma careta e desapareceu.

Sim, um fantasma muito forte, um que já deve ter ido ao Submundo e ficado aqui
e ali. Eu não devia ter parado para conversar.

Mas o que era mais um fantasma, quando eu já deixava tantos passarem? As
palavras acusatórias de Kiyo voltaram para mim.

Senti como se estivesse fazendo um trabalho meio idiota em ambos os
mundos, dividida para dar toda a minha atenção para cada um.

No entanto, eu passei a maior parte do meu dia em Tucson. Realizei mais três
tarefas para Lara, para seu grande alívio. Tarefa significava dinheiro, que significa que
seríamos pagas.

Ela sugeriu no passado que nossa baixa no trabalho criou problemas financeiros o
bastante para que ela pudesse precisar de um segundo emprego. Isso me deixou
inquieta porque um segundo emprego poderia facilmente se transformar em seu único
emprego.

Encontrar um assistente administrativo que pudesse programar e anunciar
serviços sobrenaturais não era fácil.

Finalmente cheguei em casa, uma casa vazia, com uma nota rabiscada de Tim
dizendo que ele tinha "um show" esta noite e que havia fettuccine na geladeira, caso eu
quisesse. Comendo na frente da TV, eu me senti egoísta e ressentida por que ele tinha
saído em uma das poucas noites que eu estava em casa. Mas porque ele não sairia? Ele
certamente tinha uma vida, uma que eu dificilmente fazia parte. O que realmente me
deixou para baixo foi que, em uma noite como essa, eu já teria terminado de comer o
jantar da minha mãe. Por um segundo fitei meu telefone e considerei tirá-lo do gancho.
Mas, não.

Se ela quisesse me contatar clandestinamente, ela poderia. Ligando agora eu
corria o risco de Roland atender, o qual poderia pular em cima de mim. Ou, mais
provavelmente, não responder.

Frustrada, eu decidi que não ficaria mais em casa. Foi esquisito, especialmente
depois que eu cheguei tão mal mais cedo. Eu me senti como se não fosse bem-vinda em
minha própria casa. Eu tomava banho nos dias que não lutava ­ sem banhos de gentry
para mim. --, então depois liderei a volta para o Outromundo. Eu quase nunca chego e
volto no mesmo dia, mas de repente, meu reino pareceu o único lugar onde eu tinha
amigos no momento.

Eles ficaram surpresos em me ver de volta tão cedo. Eu encontrei Shaya e Rurik
jogando xadrez em uma sala de estar formal, inclinados e rindo enquanto ela planejava
seu próximo passo. Ambos pularam quando me viram.
"Vossa majestade". Shaya disse, eles instantaneamente passaram do modo casual
para o formal.

"Sentem-se vocês dois. Vocês já deveriam saber bem disso". Sentei também,
afundando em uma cadeira preenchida que herdei do antigo dono do castelo.

Shaya e Rurik voltaram para seus assentos, relaxando um pouco. "Nós achamos
que você não voltaria tão cedo". Rurik disse, sempre fechado.

Shaya parecia se contorcer, como se quisesse se levantar, apesar do que eu tinha
dito. "Eu deveria ir para a cozinha preparar o jantar?"

"Não, não, não precisa". Era comum entre os monarcas gentry que, para cada
refeição, fosse feito um banquete farto, especialmente o jantar, onde toda a corte estava
presente.

Com o meu horário e o fato de que eu nem sequer mantinha uma corte, tinha
apenas o essencial, que não era o caso aqui. Meu pessoal da cozinha tinha uma vida
mais fácil e eu certamente não queria que eles entrassem em pânico de súbito por uma
refeição que normalmente teriam iniciado há horas, se soubessem que eu estava ali.

Olhei para a lareira vazia, que não havia sido utilizada desde que eu tinha tomado
o poder. Se a terra Thorn entrasse no inverno, poderíamos precisar dela. As estações
são dobradas à vontade do monarca de reino e, apesar de Tucson estar no inverno,
agora, meu subconsciente, aparentemente, queria verão.

Shaya e Rurik consideraram-me pacientemente, imaginando o que queria,
se não o jantar. Eu mesma não tinha certeza.

Atrapalhei-me para dizer alguma coisa.

"Notícias ou mensagens sobre a frente de guerra?".

"Não", disse Rurik.

Nada surpreendente. Ranelle tinha, provavelmente, acabado de chegar em
casa. Ela provavelmente estaria na festa com o Rei Linden agora.
Eu encontrei os olhos de Shaya. "Provavelmente está na hora do jantar do Dorian,
né? Ou quase".

"Eu imagino que sim, Vossa Majestade".

Ela inclinou a cabeça,pensativa.

Não havia relógios no Outromundo, mas ela tinha uma boa noção do tempo.

"Você acha que ele se incomoda com visitantes surpresa?"

"Você?" Shaya riu. "Dificilmente".

Olhei entre os dois, sentindo um sorriso brotando em meus lábios. "O que vocês
acham? Devemos ir de penetra na festa dele?".
"Penetras em Festas". Pode não ser um coloquialismo entre os gentry,
mas não demorou muito para Shaya ou Rurik descobrirem o que eu quis dizer.

Ambos se foram se preparar para a ação. Eu não podia viajar sozinha durante
a guerra, assim Rurik teve que montar uma escolta militar para nós. Shaya saiu para
alertar os civis que iriam com a gente e foi se aprontar para uma visita real.

Ambos ficaram animados, eu poderia dizer. Os seres humanos e os gentry não
eram tão diferentes, de muitas maneiras.

Uma vez na terra do Dorian, Shaya e Rurik teriam alguns deveres oficiais. Isto
era o equivalente a uma noite do Outromundo na cidade. No meu quarto eu encontrei
minha serva Nia esperando, ansiosamente por mim. As habilidades mágicas dos gentry
variavam muito. Eu podia controlar o tempo. Dorian poderia rasgar a terra.

Nia? Seu talento era embelezar os outros, no cabelo e roupas. Como os meus
cozinheiros, suas habilidades eram muitas vezes subutilizadas.

"Vamos nos preparar". Disse ela.

Seu rosto se iluminou, e ela praticamente correu para o guarda-roupa. "O
que você gostaria Majestade?".

Sua mão pairou perto de um vestido de cocktail preto do mundo humano, então
mudou para um vestido azul transparente. Então, ela hesitou completamente e olhou
para mim interrogativamente.

Não teria sido fora de questão para mim aparecer em uma função de estado no
jeans que eu já usava. Depois da minha solidão de antes, eu estava animada para ver
Dorian, quase desesperada. Ele parecia ser a minha única conexão certa agora, e de
repente eu gostei da idéia de surpreender-lhe.

"Um pêssego". Disse eu.

Nia assentiu com a cabeça, os dedos roçando os vestidos. Não encontrando
nenhum pêssego, ela franziu a testa verificou de novo. Então, seu olhar foi para a outra
metade do meu guarda-roupa, onde estavam pendurados os vestidos de nobreza que
ela e os outros tinham feito para mim. Seus olhos se arregalaram quando ela tirou um
vestido pêssego de seda que ela pensou que provavelmente nunca iria ver a luz do dia.

"Vossa Majestade". Foi tudo o que podia suspirar. Era como uma manhã de Natal
para ela.

Com o cabelo acobreado, eu tinha que tomar cuidado com as cores que eu usava,
mas este era uma sombra quente o suficiente, iria funcionar. O tecido era brilhante e
fluido, como uma coisa viva. Longo, agarrando-se ao redor do tronco e, em seguida,
queimava e caía como a água, da cintura até o chão. Fitas de ouro amarradas nas costas,
decoradas com detalhes verde-azulados. Correias, também feitas a partir de sequências
verde-azuladas, pendiam frouxamente dos meus ombros ao redor de meus braços,
arrastando mais fluxos de seda debaixo e dando a ilusão de mangas. Para todos os
efeitos, era um vestido sem alças, deixando meus braços, ombros e uma boa quantidade
pele, expostos.

"Eu acho que preciso de um sutiã". Disse, olhando a forma como a seda fina ficava
ao redor do meu busto.

"Mas é assim que deve ser usado!" Disse Nia. Gentry, na moda e outras maneiras,
nem sempre compartilham o mesmo gosto que os seres humanos. Nia sabia disso, e eu
podia ver na cara dela, ela estava apavorada de que eu fizesse algo humano para
arruinar esse sonho, que estava se tornando verdade, finalmente, de me vestir
adequadamente.

"Tudo bem". Eu disse. "Mas mantenha meu cabelo caído". Esperançosa de que ele
iria me dar alguma cobertura. A falta de um corte de cabelo fazia com que ele mal
tocasse um pouco depois das minhas omoplatas.

Nia tomou isso como um compromisso aceitável, passando cada mecha de meu
cabelo de forma que ela ficasse lisa e levemente ondulada nas pontas. Presilhas verdes
azuladas (Os gentry amavam jóias também) foram colocadas estrategicamente em
todo o meu cabelo, e ela forçou mais jóias em mim, no mesmo esquema de cores. Após
um pouco de cosméticos, Nia me considerou apta para ser uma rainha. Eu planejava
levá-la a Dorian e estava prestes a dizer a ela que deveríamos ir quando um pensamento
estranho e inesperado veio até mim.

"Nia... você pode aprontar minha irmã também?"

"Sua... sua irmã, Majestade?" Ela estava igualmente surpresa. "Ela irá?".

Eu pensei sobre isso, me perguntando a mesma coisa. Eu nunca permiti Jasmine
deixar o castelo e seus terrenos, para a segurança de todos. No entanto, eu não poderia
afastar o pensamento de como entediada e solitária, ela parecia. Além disso, eu tinha
esquecido os Twinkies dela.

"Sim". Eu decidi. "Ela virá. Seja rápida". Nia assentiu e foi em direção a minha
porta, atrás de qualquer armário, onde ela sempre voltava com uma quantidade
interminável de vestidos e jóias. Jasmine tinha sido ex-amante do rei anterior deste
castelo, por tudo que eu sabia, seu guarda-roupa ainda estava aqui.

"Nia?" Eu chamei. A menina gentry parou. "Mangas compridas".

Nia balançou a cabeça novamente, pegando o sentido. Não era segredo entre os
gentry que a rainha Thorn mantinha a irmã como uma prisioneira. Entretanto isso não
significava que eu queria que ela ostentasse correntes. E quando toda a minha comitiva
reuniu-se para sair, pude ver realmente que Nia era magicamente dotada com a
beleza. Jasmine, que parecia totalmente atordoada por esta inesperada visita de campo,
usava um vestido de veludo verde. Ia até o chão como o meu, mas tinha mangas sino
que faziam um bom trabalho em esconder as correntes. O vestido foi mais modesto do
que o meu também, mas tinha a sensação de que Nia não tinha feito isso para proteger
a modéstia de quinze anos de Jasmine. Provavelmente Nia não queria que a irmã da
rainha chamasse mais atenção do que a própria rainha. A jóias mínimas em Jasmine
provaram isso, e os olhares do meu próprio povo mostraram que eu estava
definitivamente recebendo a atenção. Eu duvidava que eles já haviam me visto vestida
como uma mulher gentry de plenos poderes.

Montando em um cavalo, o vestido causava dor na bunda. Não era a primeira vez
que eu tinha feito isso, e eu estava feliz da saia não ser tão confortável como o topo. Eu
também estava feliz já que o nosso percurso havia sido curto hoje. O Outro mundo
modificava a si mesmo, levando os viajantes por caminhos que pareciam impossíveis,
mas que muitas vezes se mostravam o caminho mais direto. Esses caminhos também
cortam outros reinos--muitas vezes os meus vizinhos. Sabendo disso, nossa comitiva
estava em estado de alerta quando nós montamos, todos tensos. Para meu alívio, a
estrada não nos levou até a Terra Rowan, como muitas vezes fez. A transição entre a
minha terra e a Oak passou apenas por um breve período na Terra Willow. Não é
reconfortante, mas mais seguro do que o território inimigo.

Depois, o castelo de Dorian estava à vista, o humor do meu grupo melhorou, e o
espírito de penetrar na festa retornou. Sua casa era exatamente o que você espera de
um castelo, com torres fortes, e feito de pedra escura, com vitrais. Como sempre, era
outono na Terra Oak, e embora a noite me impedisse de ver as árvores de folhas
laranja, o cheiro de colheita e toque de outono na minha pele reafirmou que estação
era.

Espalhados pelas terras do castelo, eu vi pequenos grupos de camponeses em
torno de fogueiras, nos observando com curiosidade. Como eu, Dorian tinha
refugiados de guerra buscando o apoio de seu monarca. A visão de suas faces torceu
meu estômago, e eu me forcei a olhar para longe.

Servos levaram os cavalos, as pessoas correram com a nossa chegada
inesperada. Os hóspedes apareciam o tempo todo para o jantar - especialmente com
Dorian, mas nós éramos VIPs. Eu andei rapidamente em direção ao salão de
banquetes, enquanto comissários rastejando corriam ao meu lado, prometendo

acomodações apropriadas para os meus companheiros e verificando qualquer outra
coisa que pudesse precisar. Eu fiz uma parada, quando cheguei à porta do
banquete. Até eu com a minha má etiqueta humana sabia que tinha que ser anunciada
em primeiro lugar.

Um arauto abriu a porta, revelando luz, cor e barulho. Dorian tinha cerca de cem
pessoas lá hoje à noite, reunidos em torno de várias mesas, cadeiras e sofás. A maioria
era nobreza gentry. Alguns eram seus soldados. Outros eram criaturas do Outro
mundo, os tipos que eu lutei, quando cruzavam para o mundo humano. Como eu tinha
adivinhado, o jantar já estava sendo servido, com os funcionários correndo ao redor e
os convidados conversando e comendo.

Isso tudo parou, quando a voz do arauto ecoou: "Sua Majestade Real, Rainha
Eugenie Markham, Chamada Odile Dark Swan, filha de Tirigan, o rei Storm, Protetora
da Terra Thorn, Amada da Deusa Tríplice da lua".

Eu nunca iria me acostumar com todos os títulos. A conversa cessou e, em
seguida, houve os habituais rangidos das pernas das cadeiras, quando as pessoas se
levantaram às pressas. Uma vez eu teria me encolhido com isto, mas eu sabia o que era
esperado agora. Comecei a andar em frente, mas parei após dois passos. A maioria dos
meus soldados ficara à porta, e nenhum do resto da minha comitiva seria anunciado já
que eu não tinha alta nobreza comigo. Quase. Olhei para o arauto.

"Minha irmã, anuncie a minha irmã".

Seus olhos saltaram, e eu podia adivinhar a sua confusão. Não só era esse tipo de
pedido estranho vindo de mim, também era difícil para ele, já que Jasmine não tinha
nenhum título oficial. O cara foi rápido, no entanto. Esse era seu trabalho.

"Lady Jasmine Delaney, filha de Tirigan, o rei Storm, irmã de Eugene, a Rainha
Thorn".

Isso conseguiu alguns olhares surpresos. Sorri para o arauto. "Obrigado". Eu disse
suavemente. "Apenas da próxima vez, anuncie o meu nome antes do nome nosso pai".

Ele empalideceu. "S-Sim, Vossa majestade".

Entrei na sala, a frente da minha comitiva, assustada com o que eu disse para o
arauto. De onde foi que veio isso? Uma necessidade de diminuir o rei
Storm? Um desejo de aumentar minha própria importância? Seja qual for à razão, eu já
lamentava as palavras.

Uma longa passagem se esticava pela sala, e da metade para baixo, Dorian emergiu
da multidão e foi ao meu encontro. Cheguei, e ele pegou minha mão, dando-lhe um
beijo longo e lânguido. Entre os nobres, aquele beijo era perfeitamente aceitável para
receber um amante ou um monarca em visita.

"Minha Cara". Ele disse, levantando os olhos. Eles se apossaram de mim dessa
forma inteligente, eficiente dele. Para todos aqueles que estavam assistindo, ele estava

tão calmo e controlado como sempre, seus lábios se abriram num sorriso diabólico de
tome cuidado, normal para ele.

Ainda assim, posso imaginar a sua surpresa. Ele não esperava me ver tão
cedo. Ele certamente não esperava me ver na glória completa de rainha. Eu poderia ter
sido a manhã de Natal para Nia, mas para Dorian, eu estava sendo a sobremesa servida
antes do jantar. "Você e os seus são muito bem-vindos".

Era uma formalidade, os convidados retornaram para os seus lugares o que
declarou que a minha comitiva estava sob a hospitalidade de Dorian, ou seja, ninguém
aqui poderia fazer a nós qualquer dano e vice-versa.

"Eu acho que `em breve' significa todos os tipos de coisas". Ele murmurou. Olhou
para meu decote. "Todos os tipos de coisas".

"Hey". Mantive a minha voz tão baixo quanto a dele. "Você está olhando para
baixo do meu vestido?".

"Minha querida, eu quero fazer muito mais do que olhar para ele. Muito, muito
mais. E eu quero fazer isso agora. Eu não acho..." Ele acrescentou. "Que a sua
transformação veio junto com uma abrangência de muitos dos nossos costumes
superiores?".

Ele estava se referindo, naturalmente, aos casais espalhados pela sala que
prontamente retornaram às atividades amorosas depois que fui anunciada. Pessoas
tirando a roupa, e até fazendo sexo em público com facilidade. Alguns convidados
assistiam, mas a maioria seguiu com sua refeição como se nada fora do comum
estivesse acontecendo.

"Não". Eu disse com firmeza.

"Você tem certeza?", Perguntou ele, inclinando-se mais perto. "Ninguém levaria a
mal. De fato, muitos achariam reconfortante ver seu rei e rainha consumar seu
relacionamento. É um sinal de dominação e poder".
"Estou aqui para o jantar". Eu disse docemente. Debaixo de minha atitude
empertigada, suas palavras e sua linguagem corporal já estavam surtindo efeito em
mim. Você teria pensado que a última relação sexual foi há um ano atrás, mas não, foi
esta manhã. Eu não poderia concordar com seu exibicionismo, mas se eu dissesse que
queria ir direto para o seu quarto agora, ele imediatamente se viraria e iria comigo.

"O jantar, é este". Disse com pesar. "Talvez eu lhe sirva algo especial. E eu tenho
certeza que você vai desfrutar de nossos convidados esta noite".

Levou-me em direção à frente do salão. Seu trono estava assentado sobre um alto
pedestal, e abaixo era a mesa presidencial, onde tinha estado o jantar. Meus olhos
caíram sobre os convidados acima mencionados, e eu quase parei de andar. Em vez
disso, olhei para trás de mim e chamei:

"Rurik?"
Eu tinha dado instruções para Shaya e Rurik (e um punhado de guardas) não
saírem do lado de Jasmine. Eles estavam buscando a sua própria mesa, e mesmo se
estivesse do outro lado da sala, Rurik me ouviu e se virou. Com um aceno agudo de
cabeça. Fiz um gesto para ele se juntar a nós. Ele atravessou a sala rapidamente,
erguendo uma sobrancelha quando viu os convidados do jantar e entendeu porque eu
queria um do meu povo ao redor.

Ali, sentada na cabeça da mesa e me olhando com frios olhos azuis estava a ex-
amante de Dorian, Ysabel...

CAPÍTULO 5

"PORRA". EU MURMUREI PARA DORIAN.

Ele simplesmente apertou minha mão mais forte, seu sorriso crescendo. Eu não
tinha medo de Ysabel, não mesmo. Eu não pensei por um instante que ela poderia
puxar Dorian de volta, e mesmo sabendo mágica, ela não era páreo para mim. Ela
realmente me ensinou a controlar o ar e vento -- a sua especialidade -- e eu
rapidamente a ultrapassei.

No entanto, ela tinha uma língua afiada e eu estava certa de que jantar com ela
seria uma enxurrada de comentários maliciosos e passivo-agressivos. A natureza brusca
de Rurik o fez bom para jogar farpas por conta própria, então eu estava esperando que
ele pudesse me ajudar. Assim que se sentou, porém, logo percebi que Ysabel não era a
única que eu tinha para me preocupar.

Outros nobres de nenhuma importancia estavam lá, mas um novo rosto tinha
superioridade. Seu nome era Edria -- e ela era a mãe de Ysabel. Ela tinha um atrativo
olhar matronal ao seu redor, apesar de seus cabelos e olhos serem escuros. Ysabel tinha
olhos azuis e abundantes cabelos ruivos, o que a fazia deslumbrante.

O corpo de Ysabel era um longo caminho a contribuir para a sua sedução
também. O que as duas mulheres definitivamente tinham em comum era o
comportamento, astuto e manhoso, que me dizia que ambas tinham poucos escrúpulos
quando se tratava de promover os seus próprios interesses.

E ficou claro que o meu estar com Dorian não era do seu interesse.
Em público, a etiqueta gentry dominava e Edria era a imagem da delicadeza.

"Sua Majestade, é uma honra".

"Obrigada".

Eu disse, sentando-me junto a Dorian em um assento muito acolhedor e
ornamentado. Ele apertou-nos juntos, algo que eu sabia que não mentia, enquanto seus
olhos continuavam a se inclinar mais para o meu corpo.

Nossas pernas estavam tão próximas que eu fiz a concessão de deixar a minha
encostar um pouco mais na dele. Nossos assentos foram puxados para cima perto da
mesa, de modo que a longa e pesada toalha de mesa escondeu essa ousadia da minha
parte, bem como a mão que repousava sobre minha coxa.

"Estou surpresa de ver você aqui, Vossa Majestade".

Disse Ysabel recatadamente. De forma com que seus seios quase saíram do
vestido, eu me perguntava como eu poderia ter sido autoconsciente sobre meu corpete
apertado.

"Eu pensei que você estava ocupada manejando a sua terra e suas... coisas
humanas".
"Não é nada surpreendente". Comentou Rurik, pouco antes alcançar uma coxa de
galinha gigante. Ele deu uma mordida enorme, selvagem, mas esperou engolir antes de
continuar com a observação seguinte. Foi uma melhoria nos costumes antigos. "Ela e
meu senhor dificilmente podem ficar longe um do outro".

Sorri ante ao uso de "meu senhor".

Mesmo depois de Dorian ter enviado Rurik para me servir, o soldado ainda
pensava em Dorian como seu mestre.

"É claro". Disse Edria, se adiantando quando a expressão de Ysabel ficou fria. "É
só que, pelo que temos ouvido, você não está interessada nesses tipos de funções. Na
verdade, eu não esperava encontrá-la em trajes tão... encantadores".

"Muito encantadores". Disse Dorian. Ele arrastou os olhos de mim e, no fim,
gesticulou para que enchessem sua taça com mais vinho. Eu não gosto de ter,
necessariamente, a minha aparência discutida, -- mesmo que a discussão seja positiva,
-- mas os elogios a mim deram-me um incentivo na situação.

"Estou surpreso que ficaram surpresos". Disse Rurik, desta vez falando com a
boca cheia. Bem, não podemos esperar muito progresso.

"Todos já ouviram falar o quão bela é minha senhora. Homens de toda parte a
querem, mas é claro, ela só aceita o melhor para o seu consorte. Como o meu senhor".
Vindo de Rurik, isso foi quase charmoso, mas não para a mãe e a filha.

"A meu ver". Disse Edria delicadamente. "É mais do que sua, humm, aparência,
seu recurso também conta bastante. Você e sua irmã são ambas de valor, devido seus
futuros filhos. Já posso ver que ela tem um número de pretendentes".

Eu olhei em toda a sala por Jasmine, sentada ao lado de Pedro. Jasmine tinha um
sorriso verdadeiro no rosto, mas se era por estar fora ou por causa dos homens que
tinha reunido ao seu redor e que pareciam estar despejando-lhe elogios, eu não poderia
dizer. Forcei para longe uma carranca.

"Minha irmã e eu não temos nenhuma intenção de ter filhos". Eu disse, voltando
aos meus companheiros. "Que pena". Disse Edria. Seus olhos dispararam sempre tão

ligeiramente para Dorian. "Porém, é lamentável para todos"."Sua Majestade". Disse
Ysabel. "Você conheceu meus filhos?".

Encolhi-me de surpresa. Eu tinha esquecido que ela tinha filhos. Mãe e filha
poderiam insinuar que a profecia era metade da minha capacidade de atração, mas eu
sabia que Ysabel, após perder o marido, tinha chegado ao tribunal de Dorian
procurando um homem poderoso através do uso de sua beleza e sua fertilidade. Segui o
seu olhar em direção a uma pequena mesa junto à lareira. A maioria dos ocupantes era
jovem. Era como uma mesa de crianças em Ação de Graças. Eu não tinha visto muitas
crianças gentry e poderia fazer um bom palpite de quais eram a prole de Ysabel com
base em seus cabelos ruivos. Ela confirmou a informação.

"Essa é minha filha, Ansonia".

Em anos humanos, eu teria atribuído a Ansonia cerca de dez ou onze anos. Seu
cabelo brilhante foi empilhado em tranças em sua cabeça, e ela estava rindo de um
cachorro que lambia seus pés, sem dúvida, procurando doações. "Ao lado dela está meu
filho Pagiel". Ele era um homem jovem de aparência séria, contrastando fortemente
com a sua risonha irmã. Relativamente falando, ele parecia um pouco mais com
Jasmine. Seu cabelo vermelho era mais escuro do que Ansonia, mais como de Ysabel, e
seus olhos azul-acinzentados consideravam criticamente as palhaçadas do filhote,
como se estivesse decidindo se aprovava.

No último, um leve sorriso apareceu em seu rosto, transformando-o e fazendo um
casal de meninas nas proximidades suspirarem em adoração. Ysabel tinha claramente
apontado seus filhos como uma crítica contra mim, mas eu peguei um carinho sincero
em seus olhos enquanto ela considerava os dois.

Eu sempre pensei que sua vinda ao tribunal para se empurrar para algum cara
beirava a prostituição, mas havia mais na história. Seu marido tinha morrido, deixando
sua família em apuros financeiros. Isso fez suas ações mais compreensíveis, embora eu
ainda achasse que ela era uma vadia.

"As crianças são uma alegria". Disse Edria, olhando Dorian novamente.

Olhei para ele também, enquanto ele olhou para Ansonia e Pagiel. Um longo
estudo havia me ensinado que seus olhos detiam os segredos de seus verdadeiros
sentimentos quando ele usava essa expressão, preguiçoso e misterioso. E agora,
escondido nas profundezas verdes, eu podia ver o brilho de admiração e saudade.

Um sentimento estranho brotou no meu estômago, e pela primeira vez, eu
poderia honestamente acreditar que Dorian queria ter filhos comigo apenas por uma
questão de paternidade e nenhum outro assunto. Eu senti uma inesperada culpa sobre
isso.

Como se lesse meus pensamentos, ele voltou sua atenção em mim. Seu sorriso me
aqueceu, e a melancolia de seus olhos que o traía foi substituída por amor, -- amor
misturado rapidamente com luxúria quando ele deu uma olhada na minha aparência de
novo.

Na verdade, seu desejo parecia ainda mais forte do que era quando entrei pela
primeira vez, e de repente eu me perguntei se ele ia fazer uma séria tentativa de
exibicionismo afinal. Mas não, com uma respiração profunda, que parecia chamar seu
controle, ele respeitosamente olhou de volta para seus convidados.

No entanto, debaixo da mesa, senti a mão na minha coxa apertar, os dedos
deslizando sobre a seda suave do vestido. Arrepios correram sobre a minha carne, mas
eu também educadamente mantive minha atenção sobre os outros.

"Foi surpreendente a facilidade com que Ysabel concebeu os seus filhos".
Continuou Edria. "Se o pobre Mareth tivesse vivido, não tenho dúvidas de que teria
uma dúzia até agora."

Eu considerei apontar que se Ysabel era tão fértil, então ela certamente teria
engravidado enquanto ela e Dorian foram amantes. Pareceu-me de mau gosto para
mim, então eu não disse nada. Tais questões não estavam fora de linha para pequena
nobreza, no entanto, Rurik novamente saltou para defender a minha honra e apontar
exatamente o que eu estava pensando.

"Mas você teve outros amantes desde então". Ele disse. "E você não teve mais
nenhum filho."

A mão do Dorian começou habilmente recolher o tecido da saia do meu vestido
para que se levantasse da minha perna, logo o juntou e expôs minha coxa totalmente,
para que os seus dedos tocassem a pele nua. Eu tive uma sensação de que ele não estava
mais prestando muita atenção à conversa, apesar de uma aparência muito convincente
de interesse, ele mantinha os olhos sobre todos, exceto em mim.

Ysabel encarou Rurik.

"Eu não tive muitos amantes".

Promiscuidade não era um insulto entre nobreza, mas, neste caso, jogando para
baixo, a sua vida sexual se destinava a explicar por que ela não tinha outros filhos.

Enquanto isso, a mão de Dorian havia se mudado para a minha coxa, movendo-se
cuidadosa e lentamente a fim de que ele não mostrasse nada para os outros. Quando
chegou a minha calcinha, seus dedos pararam, como se ponderando este obstáculo. Eu
escolhi algo fino e rendado, principalmente para ser atraente para depois, nas
atividades no quarto, mas, aparentemente, se mostrou conveniente agora. Ele agarrou
as bordas, preparando um momento, e, em seguida, empurrou com tanta força que o
tecido rasgou. Na sala barulhenta, ninguém ouviu, e eu mal engoli um suspiro. Dei-lhe
um pequeno olhar que ele ignorou ou não viu. Eu suspeitava que o primeiro.

"Às vezes os deuses simplesmente esperam a oportunidade certa, ou melhor, o
homem certo". Os olhos de Edria dispararam para Dorian, que sorriu cativante. Seu

queixo descansando sobre a mão que não estava debaixo da mesa, o cotovelo apoiado.
"Claramente, Mareth foi à união certa naquele momento, e tenho certeza que os deuses
vão sorrir com aprovação para o próximo marido de Ysabel." Seu tom e olhar, não
deixaram dúvidas sobre quem seria.Rurik bufou de desgosto.

"Eu acredito que os deuses têm suas mãos em nossos assuntos, mas eles não estão
interessados em todos os detalhes, -- certamente não o que se passa entre os lençóis".

Ou debaixo da mesa, aparentemente. Os dedos de Dorian, agora com acesso
gratuito, deslizaram por todo o caminho entre as minhas pernas. Seja qual era a
desaprovação que eu quis transmitir, foi desmentida pelo molhado que ele encontrou.

O sorriso tolo que ele estava dando a Edria mudou para algo um pouco mais
orgulhoso. Com habilidade bem praticada, um de seus dedos começou a acariciar-me,
imediatamente procurando o local, que acendeu e queimou-me com prazer. Meu ritmo
cardíaco acelerou, tanto da excitação quanto da ansiedade de que alguém notasse.

Então, como que querendo ostentar a sua audácia, ele realmente conseguiu
perfeitamente conversar enquanto continuava a trabalhar para me tirar do sério.

"Bem, se Ysabel quer um novo marido, certamente podemos arranjar isso. Eu
tenho um número de nobres que ficaria feliz em tomá-la como esposa ou até mesmo
um amante, se ela não quiser se amarrar ainda".

Os provocadores dedos entre as minhas pernas já tinham colocado o resto do
meu corpo em chamas. Eu senti os meus mamilos endurecendo e lamentei a seda fina
do vestido. Felizmente, ninguém parecia estar prestando atenção em mim, embora isso
pudesse mudar, ao ver a rapidez com que fui chegando ao orgasmo. A sugestão de
Dorian não era o que Edria queria ouvir, e a expressão grata colocada foi claramente
forçada.

"Você é muito gentil, Sua Majestade. Mas seria tão inútil dar uma mulher tão fértil
para um senhor de menor importância. Certamente um presente como Ysabel
merece... realeza".

A dor, formigamento do êxtase criado por seu toque estava pronto para explodir.
E, para meu desgosto, eu queria isso. Era uma necessidade que eu tinha que ter
terminada. Concluida. Então, foi um choque quando seu dedo se moveu para baixo de
meu clitóris, deslizando dentro de mim em vez disso. Ele criou um tipo diferente de
prazer, mas o movimento foi frustrante, considerando o quão perto eu estava. Eu abro
minhas pernas ligeiramente, dando permissão para que ele voltasse, mas ele continuou
enfiando o dedo em mim. Seus movimentos cresceram mais e mais rápidos, mas
apenas o menor movimento do seu corpo dava qualquer sinal do que estava fazendo, e
ninguém parecia pegar ele no flagra. Havia algo emocionante, algo perigosamente
erótico em saber que ele estava fazendo isso para mim, com tantas potenciais
testemunhas.

"Você está certa". Disse Dorian, o rosto ficando sério, como se ele estivesse
realmente considerando as palavras de Edria. "E eu conheço um casal de reis que
podem estar interessados. Rurik, você se lembra... se o Rei Lotus tem uma
companheira?".

"Eu não tenho certeza". Disse Rurik, claramente se divertindo com o jogo de
Dorian. "Ele é o que tem a faixa cinza no meio da barba, certo? E as orelhas levemente
pontudas?"

"É esse". Respondeu Dorian.
E então, sem aviso, o dedo de Dorian, -- tão molhado agora, -- deslizou para fora
e voltou a esfregar meu clitóris com tanta ferocidade que gozei quase que
instantaneamente.

Eu estava pronta e dolorida, e o toque foi o suficiente para empurrar-me. Meu
corpo se contorceu quando ondas de felicidade irradiavam através de mim, e Dorian
continuou a acariciar-me, muito tempo depois do que era necessário. No último, ele se
afastou e foi mesmo ao ponto de puxar minha saia ordenadamente de volta antes de
retornar a mão no próprio colo. Um sorriso muito satisfeito puxou-lhe os lábios, mas
sua atenção toda estava em Ysabel.

"Deseja-me fazer uma introdução?"Sua expressão era fria, ela foi dura na resposta.

"Você é muito gentil, Sua Majestade. Eu odeio ser inconveniente para você".

Eu não tinha prestado muita atenção a ela, mas agora percebi que estava
prestando atenção em mim. Eu tinha certeza que ela era à única na mesa, que percebeu
o que tinha acontecido, e não estava feliz com isso. "Não há inconveniente em tudo".
Ele disse. "Vou ver o que posso fazer".

Edria saiu a sua maneira da conversa de sua filha estar conectado com alguém que
não era Dorian. Eu mal ouvi nada disso, e quando o jantar terminou finalmente, voltei
com Dorian ao seu quarto. Minha languidez pós-orgasmo deu lugar à raiva quase no
momento em que ele fechou a porta atrás de nós.

"Que diabos você acha que estava fazendo?" Exclamei. "Você não tinha o direito
de fazer isso!"

Dorian fez um barulho de escárnio quando cuidadosamente removeu e dobrou o
pesado manto.

"Você não pareceu se importar. Além disso, você tem sorte disso ser tudo que eu
fiz, depois de aparecer sem aviso nesse vestido".

"Hei, eu não tenho que consultá-lo sobre as minhas escolhas de moda".

"Não, mas você deve esperar conseqüências". Ele se moveu rapidamente em
minha direção, movendo as mãos na minha cintura. "Foi só por respeito ao seu tolo
puritanismo humano que eu apenas não a tomei abertamente. Realmente, você deveria
ser grata".

"Grata". Eu exclamei. Eu parecia indignada, mas, na verdade, a proximidade de seu
corpo estava despertando-me de novo. Jesus. Era como se eu estivesse sempre com
calor.

"Grata". Ele disse, um brilho de fúria nos olhos. "Especialmente depois do favor
que eu fiz para você. Um favor que agora você precisa pagar".

O agarre em minha cintura ficou mais apertado, e ele me derrubou na cama. Eu
poderia facilmente ter resistido, ambos sabíamos quem ia ganhar em uma luta mão a
mão, mas eu estava mais do que disposta a jogar este jogo, especialmente quando ele
rapidamente tirou as calças e mostrou à longa e dura ereção, que estava, sem dúvida,
prestes a explodir no momento em que me viu no vestido.
Eu ainda estava molhada de antes e desesperadamente queria senti-lo dentro de
mim, enfiando mais forte do que com o seu dedo. Mas para minha surpresa, não era
para minhas pernas, que ele foi. Ao contrário, ele veio para frente e ajoelhou-se, uma
perna de cada lado da minha cabeça, e empurrou-se entre meus lábios. Eu fiz um som
de surpresa com isso, um som abafado, enquanto enchia a minha boca e começava a
deslizar dentro e fora.

Ele era tão grande, eu mal podia contê-lo. Ele sabia e parecia exaltar-se, seus olhos,
segurando os meus enquanto ele forçava minha boca para o seu prazer. "Você pode
tomá-lo". Ele disse, bombeando de forma constante. "Você vai tomá-lo. Eu lhe disse:
você me deve".

Foi áspero e feroz, mas ambos sabíamos que não faria objeção enquanto Dorian
bancava o dominante.

Além disso, esta mudança na nossa vida sexual era uma espécie de tara.
Gentry não se opõe ao sexo oral, a penetração quase sempre era preferida por causa de
sua obsessão por crianças. De alguma forma, o pensamento dele explodir na minha
boca, em meus lábios, me deixou louca.

Eu podia sentir o inchaço, ver as linhas de tensão quando o clímax se aproximava.
Seus lábios se separaram um pouco, um pequeno gemido escapou. Então, quando eu
tinha certeza que ele gozaria, ele puxou e deslocou o seu corpo para baixo e habilmente
tirou o meu vestido. Com um apertado controle sobre as minhas pernas, ele empurrou
minha coxa além e enfiou em mim com uma dureza que me fez chorar e arquear o meu
corpo. Foi apenas alguns segundos, duro e rápido, e então ele gozou, todo o seu corpo
com espasmos quando ele lançou-se em mim, provando que ainda tinha o usual
impulso gentry.

Quando ele finalmente acabou, caiu ao meu lado, suado e com a respiração
ofegante. Eu encontrei a sua mão, meu corpo exausto, por diferentes razões que a dele.
Rolei contra ele, beijando seu pescoço e provando o sal da sua pele.

"Pensei que você gozaria na minha boca". Murmurei deixando meu dedo brincar
com seus mamilos.

"Desperdício". Ele murmurou, passando a mão sobre o meu cabelo.

"É?" Eu me empurrei para cima, olhando em seus olhos. Eu mantive minha voz
baixa e perigosa. "Você está dizendo que não gostaria disso? Deixando-se gozar na
minha boca, enchendo-a, obrigando-me a provar você... te engolir? Ou talvez você
queria gozar comigo? Espalhar-se em cima de mim? "

Houve um ligeiro alargamento dos seus olhos, um reavivamento do seu desejo.
Ele me deu um sorriso enigmático. "Talvez. Talvez da próxima vez".

Eu dei-lhe um impulso de brincadeira. "Provocador".

Ele bocejou e tirou a camisa. "Isso vai te dar algo para pensar sobre, e depois algo
mais alegre do que o resultado da batalha".

"Que batalha?" Eu perguntei. Estava cansada demais, mas suas palavras sacudiram
a minha atenção.
"Amanhã". Ele disse. Ele mudou-me de cima de dele para que pudesse puxar as
cobertas sobre nós e depois me levou de volta em seus braços.

"Eu recebi uma notícia anterior sobre uma movimentação de Rowan hoje à noite.
Já enviei um exército para enfrentá-los, e eu vou me juntar a eles na parte da manhã. É
perto da minha aldeia onde o rio dobra. Acho que Katrice espera pegá-los de surpresa,
mas um espião me deu a dica".

"Que exército que você mandou?" Os tivemos divididos em unidades.

"A primeira e a terceira"."Tanto". Eu exclamei. "É enorme".

Ele deu de ombros. "Assim é o dela. Temos de responder na mesma moeda. Além
disso, as aldeias são cruciais. Eles fornecem uma grande quantidade de comida-- para
nós dois."

Eu reprimi um tremor. Estas aldeias estavam cheias de civis também. Civis de
Dorian, agricultores e pescadores que poderiam ter sido saqueados e mortos se ele não
tivesse conseguido o aviso.

Ele e eu éramos aliados, mas, novamente, eu não conseguia afastar a culpa do meu
próprio povo, estando em perigo sobre essa disputa, -- os deixando de lado.

"Eu deveria ir também". Murmurei. "Eu deveria ajudar."

Dorian acariciou meus cabelos. "Não há necessidade de nos colocar ambos em
risco. Além disso, você não tem mais das banais tarefas humanas?"
Sim, eu tinha prometido a Lara mais trabalhos amanhã. "Eles não são tão importantes,
não como isto".

"Apenas um de nós é necessário". Disse com firmeza. "Honestamente,
provavelmente nem isso. Nós temos bons líderes, mas o fato é que um de nós sempre
aparece aumentar a confiança de nossos exércitos, -- e desmoralizar o dela. Ela não

colocou um pé mimoso perto do campo de batalha. Então pare de se preocupar.
Vamos derrotá-los. Nós temos um número maior".

Ele beijou o topo da minha cabeça e levou o meu silêncio como aquiescência.
Logo, senti-o dormir, com a facilidade que tantos homens possuíam após o sexo. Não
eu. Eu tinha uma insônia de longa data, e este era o tipo de coisa que poderia me
manter acordada a noite toda. Estava cansada de pôr em perigo os exércitos. Estava
cansada de pôr Dorian em perigo. Eu queria que o assassinato parasse. Kiyo agiu como
se fosse tão fácil. Se apenas isso fosse verdade.

Depois de um tempo, eu desisti de dormir completamente. Deslizei para fora dos
braços de Dorian e me levantei da cama. Sabendo que minha festa seria pernoite, eu
embalei roupas casuais, mas nada mais. Pesquisando através de seu guarda-roupa, o
dobro do tamanho do meu, encontrei uma túnica grossa de cetim verde. Era muito
grande, mas serviu muito bem para encobrir. Saí do quarto, com a necessidade de fugir
dos meus pensamentos.

As salas do castelo estavam em silêncio agora, todos os foliões deveriam ter ido
para a cama. Eu andava descalça pelo chão de pedra, tentando não tropeçar na orla
muito longa. Os poucos guardas parados balançaram a cabeça quando eu passei,
murmurando. "Sua Majestade".

Eu aprendi há muito tempo que, enquanto alguns dos meus comportamentos
humanos sempre confundiam a nobreza, a maioria das ações de um monarca, --não
importa quão bizarro -- não era questionada. Ninguém pensou muito em mim
vagando com as roupas de Dorian.

Cheguei a um conjunto de portas de vidro que dava para um dos pátios
requintados de Dorian. Eu sabia que estaria frio lá, mas sentar-me lá, de repente,
parecia uma boa ideia. Outro guarda ficou lá vigilante e abriu a porta na minha
abordagem. Eu conhecia este pátio e sabia que uma mesa magnificamente colorida
com mosaico de azulejos estava no canto. Estava tedioso no meio da noite, mas quando
me sentei em uma cadeira, o lugar me deu uma boa vista para o jardim e as espessas
estrelas acima. Oscilantes tochas em postes foram espalhadas ao redor, apenas o
suficiente para orientação, mas não o suficiente para arruinar o encanto da noite.

A beleza e tranquilidade me acalmaram um pouco, mas não pôde abalar a minha
preocupação com a guerra. Passei tanto tempo da minha vida lutando que eu pensei
que era imune ao sangue e matança. Agora eu sabia que havia uma diferença muito
grande entre matar um indivíduo e a morte em massa. Um -- normalmente -- tinha
um ponto. Um indivíduo morto e punem-se os culpados. Exércitos mortos no campo
de batalha, não castigam ninguém, exceto os inocentes.

"Minha senhora Rainha Thorn?"

Eu pulei ante a voz sibilante que me falou da escuridão. No começo não vi nada e
me perguntei se tinha um fantasma na mão. Em seguida, um vulto escuro materializou
por entre algumas árvores. Ele se aproximou, revelando uma enrugada mulher gentry.
Ela era pequena, menor do que o Jasmine, mas seu cabelo branco era espesso e
brilhante, sua roupa abundante. Ela parou diante de mim.

"Quem... quem é você?" Eu perguntei. Minhas palavras saíram duras,
principalmente por causa da minha surpresa. Ela não tomou nenhuma ofensa.
Novamente, os comportamentos de uma rainha não eram questionados.

"Meu nome é Masthera".

Eu tremia, mas não do frio da noite. Havia algo inquietante sobre ela. "O que você
está fazendo aqui?"

"Eu vim falar com você, Sua Majestade. Você está preocupada com a guerra. Você
quer acabar com ela".

"Como você sabe disso?" Ela estendeu as mãos para fora.

"Eu sou uma vidente. Eu sinto como as coisas são, às vezes as coisas que estão para
vir. Eu também ofereço conselhos".

Isto levou um pouco do meu medo para longe. "Vidente" era uma maneira
elegante de dizer "psíquico", tanto quanto eu estava interessada. Quando você lida com
o sobrenatural tão frequentemente como eu fazia, você corre entre um monte de auto
proclamados médiuns. A maioria era fraude, e eu suspeitava que não era tão comum
entre os gentry como era entre os humanos.
"Você veio para me dar conselhos?" Eu perguntei ironicamente.

Masthera balançou a cabeça, rosto grave. "Sim, Vossa Majestade. Eu vim para lhe
dizer como acabar com sua guerra -- sem derramamento de sangue".

CAPÍTULO 6

EU OLHEI DE RELANCE AO REDOR, INQUIETA. EU SABIA QUE TINHA
que ter guardas observando no jardim e me perguntei o que seria necessário para que
eles viessem parar uma velha mulher louca. A menos que ela saltasse abertamente
sobre mim ou algo assim, eu tinha impressão que estava por mim mesma.

"A menos que seu poder se estenda a algum tipo de controle mental sobre Katrice,
não vejo como isso vai acontecer".Eu disse finalmente.

Ela me deu um sorriso torto. "Não, isso não é um presente que os deuses
escolheram dar a qualquer um dos mais brilhantes. Mesmo que eles saibam os limites
dos mortais".

Eu puxei o roupão mais firmemente em torno de mim. Vendo como eu não iria
dormir, eu poderia fazer a vontade dela.

"Então qual é seu plano?"

"Você precisa encontrar a Coroa de Ferro".

"O quê?"."A Coroa de Ferro". Ela disse de alto, e sinistra de um jeito... daquele
que realmente merecia uma câmara de eco9 para dar o efeito completo.

9 É uma maquina - antigamente era grande e em forma de caixa, por isso câmera_ que
reproduz o som idêntico em
maior escala., é utilizada para dar o efeito de eco.

"Ok." Eu disse. "Eu vou morder a isca. O que é a Coroa de Ferro?"

"Um artefato antigo. Usado apenas pelos melhores, mais poderosos líderes na
história dos brilhantes. Líderes temidos por todos, que governaram muitos reinos".

"Eu tenho uma coroa. Algumas na verdade". Apenas uma era minha oficial "coroa
de estado", mas designers criaram outras para combinar com minhas roupas".
"Não é como esta". Disse ela.

"Deixe-me adivinhar. É feita de ferro". Ela assentiu com a cabeça e parecia que
estava esperando que eu ficasse impressionada.

"Desculpe. Como eu disse, tirando poder de controle da mente, eu não estou indo
em busca de algum objeto mágico. Minha vida já é como uma campanha10 Dungeons
and Dragons11".

10 Campanha é o nome dado as aventuras a serem selecionadas no jogo Dungeons and
Dragons .

11
Jogo de RPG de fantasia medieval.

Masthera franziu o cenho.

"Dragões não vivem no Outromundo há séculos".

"Esqueça isso. Obrigado pelos, er, conselhos, mas eu não estou interessada".
Movi-me desconfortável. "Eu realmente deveria ir para a cama".

Masthera inclinou-se para frente, sem se intimidar.

"Você não entende Rainha Thorn". Ela assobiou. "Apenas alguns são capazes de
concluir as tarefas exigidas para conseguir a coroa. A maioria nem sequer seria capaz de
usá-la".
Isso era fácil de descobrir.

"Certo. Porque ela é feita de ferro. Eu não acho que uma habilidade que todos já
sabem que eu tenho por ser humana tonaria isso impressionante".

"Rainha Katrice pensaria assim. Muitos de seu povo desejariam também. Seus
exércitos poderiam se revoltar. Ela mesma ficaria com medo e recuaria".
"Tudo por causa da reputação de uma coroa que não tem nenhum poder?" Eu
perguntei com ceticismo. "Onde ela está?"

"Longe daqui, em um lugar desconhecido".

"Puxa vida! Se ninguém sabe onde ela está, então como é que eu vou conseguir?"

"Isso é parte do desafio. Encontre-a e você acabará com a guerra".

Olhei-a com cuidado. "Se isto é uma grande idéia, porque não a trouxe para
Dorian? Seu rei?"

"Ele sabe disso". Ela concordou. "Ele tem idade suficiente para lembrar-se das
lendas. Mas ele não poderia usá-la. Só você".

Agora, ela me olhou com cuidado.

"Seu pai a procurou e falhou".

Eu endureci, minha voz transformou-se em gelo. "Isto é parte da profecia? Alguma
maneira de marcar-me como a mãe do conquistador? É algo que eu supostamente
deveria dar ao meu filho hipotético?"

"Não." Disse ela. Seu comportamento se voltou humilde, mas os olhos ainda
pareciam astutos. "Ela simplesmente é um meio para ajudar você terminar sua guerra".
"Já ouvi falar bastante dessa coisa ridícula". Eu me endireitei. "Eu vou para a cama".

Masthera começou a chamar depois que eu me afastei porem mordi um pouco de
suas palavras. Eu me perguntei se ela havia aceitado minha recusa ou se simplesmente
temia que os guardas respondessem a isso como uma perseguição a mim.
Voltei para o quarto de Dorian e deitei de volta na cama com ele. Seu braço
inconscientemente encaixou ao meu redor, e embora tenha demorado algum tempo,
minha mente perturbada finalmente se acalmou o suficiente para permitir-me um
breve sono. Foram seus movimentos que me acordaram algumas horas mais tarde.
Sentei-me na cama, assistindo como ele se vestia. Através das janelas, o céu estava num
tom roxo quase rosado.

"Você já está indo se encontrar com os exércitos?" Eu peguntei calmamente.
Ele levantou de uma espreguiçadeira, uma armadura feita de finas correntes de
cobre. Normalmente, ele teria empregados vestindo-o, e eu sabia que ele estava
fazendo isso sozinho para evitar que um grupo de pessoas perambulasse por seu quarto
até me acordar. Assistindo ele tentando prendê-la, eu corri para ajudar.

"As forças de Katrice vão atacar assim que eles tiverem luz suficiente. E pode ser
que eles já tenham. Foi só o terreno estranho que os impediu de fazer isso durante a
noite".

Eu terminei de enganchar a armadura de malha de ferro, tentando não pensar
sobre como era raro ele usar qualquer tipo de armadura. Era um sinal do perigo em que
ele andava, mesmo que evitasse a linha de frente.

"Eu gostaria que você não fosse".

Ele me deu aquele sorriso fácil e descansou as mãos em meus quadris nus. "Eu
também. Eu prefiria voltar para a cama com você. Fique algumas horas. Estou seguro
que voltarei".

Isso trouxe um sorriso a meus lábios, embora eu não sentisse nenhum humor.

"Sim, eu tenho certeza que tudo isso vai passar".

Ele me soltou e se virou para um armário na parede. Abrindo-o, ele revelou uma
série de armas. Uma delas era uma refinada espada feita de cobre, confeccionada por
um ourives, meu empregado chamado Girard. Dorian tocou com reverência, em
seguida, colocou-a em uma bainha e prendeu ao redor de sua cintura. Embora ela fosse
perigosa por si só, a espada possuía uma ameaça extra por causa da conexão de Dorian
com a terra e seus elementos. Ele poderia infundi-la com o poder.

"Dorian..." eu hesitei, receosa em fazer minha próxima pergunta. "Você já ouviu
falar da Coroa de Ferro?"

"Claro". Ele terminou a prendendo a bainha e olhou para trás para mim. "Por
quê?"

"Estive com uma mulher chamada Masthera noite passada, que me contou sobre
ela".

"Ah, Masthera." Disse ele carinhosamente. "Toda corte deve ter uma vidente. Suas
previsões estão certas na metade de tempo, o que é bastante notável. Você deve saber
da farsa de vidente que a Terra Maple tem. Eu seria humilhado por manter alguém
assim por aí".

"Ei, foco". Eu falei. "Esta Coroa de Ferro. Masthera afirma que poderia acabar com
a guerra. Que por ganhá-la e provar o nosso, er, o meu poder, eu poderia fazer Katrice
desistir".
O sorriso se apagou assim que Dorian franziu a testa, olhando profundamente perdido
em seus próprios pensamentos.

"Essa é uma possibilidade muito real. E você poderia usá-la, não poderia?".

Um senso de maravilha iluminou suas palavras. "O ferro não iria incomodá-la. Nas
lendas, alguns brilhantes poderiam usá-la através da força e da vontade. Mas você não
precisaria de nada disso. Isso está em sua natureza."

Eu mal podia acreditar que ele estava falando sério sobre isso. "E você acha que ela
está certa? Esta coroa, com nenhum poder exceto uma reputação, poderia acabar com a
guerra?"

"Bem, não é a reputação da coroa, exatamente". Disse ele. "É a reputação que você
ganha por combater os muitos obstáculos para conseguir ela. Mostre que você pode
fazer isso, e você estará mostrando seu poder".

"Isto é parecido com o que Masthera disse. Se outros a possuíram...".

"Não, há muito tempo". Ele interrompeu.

"Ok, mesmo que tenha sido há muito tempo... porque eu teria que buscá-la? Não
teria o último proprietário apenas a mantido consigo? Passado ela através da família?"

Seu sorriso voltou.

"Não é assim que funciona. A coroa não vai ficar com alguém indigno. Uma vez
que seu proprietário morre ela retorna para seu lugar, um lugar que mata muitas
pessoas que a procuram".

"Você não respondeu à pergunta anterior". Eu apontei. "Poderia acabar com a
guerra? Pacificamente?"

Ele suspirou. "Eu não sei. Talvez. Mas tanto como você teme que eu saia hoje... Eu
me preocuparia ainda mais com você indo atrás desta bugiganga".

Eu peguei e agarrei sua mão. "Você não vai ajudar?" Eu brinquei, embora eu ainda
não estivesse comprando nada.

Sua mão livre fechou em concha no meu rosto. "Se eu pudesse. E talvez eu possa.
Se as lendas forem verdadeiras, você passaria por campos de ferro para chegar até ela.
Dificilmente qualquer um dos gentry poderia fazer isso. Eu poderia ser capaz, com
minhas habilidades... Eu tenho uma chance melhor que a maioria".

Eu não gostei do tom de sua voz. Parecia que ele estava realmente considerando isso.
Ele podia conectar-se com os elementos da terra, mas o ferro ainda estava além dele.

"Eu poderia trazer Volusian". Disse querendo distraí-lo. "Se alguma coisa
acontecesse a ele, não teria nenhum dano não é?"

O rosto de Dorian ficou sério. "Não, as lendas são muito claras. A Coroa de Ferro
é bloqueada ao toque dos mortos".
"Bem, nada disso importa". Eu disse. "A idéia é ridícula".

Seu rosto iluminou, e ele pressionou um beijo suave em meus lábios. "É por isso
que eu vou agora".

Meu coração ficou apertado, sabendo que o inevitável tinha chegado. Eu
rapidamente coloquei minha calça jeans e camiseta para que eu pudesse ver ele e os
soldados que o acompanhavam sair para fora.

Eu sabia que os exércitos que iriam participar eram enormes, mas como eles
partiam em direção ao sol nascente, o grupo parecia assustadoramente pequeno.
Quando eles estavam fora da minha vista, fui chamar o resto do meu próprio grupo.
Era hora de ir para casa.

A maioria tinha apreciado sua "noite fora", mas meu humor naquela manhã logo
deu o tom para a nossa viagem de volta. O único pequeno conforto para minha manhã
escura era que Jasmine não tinha conseguido engravidar. Shaya assegurou-me que
minha irmã não tinha saido de sua visão durante toda a noite e que Jasmine na verdade
não tinha tentando algo ameaçador. Ela tinha simplesmente ficado contente por estar
fora do meu castelo. Olhando seus punhos apertados nas algemas de ferro e as
correntes que ligavam elas, eu senti uma pequena pontada de culpa. Eu rapidamente
bani isso. Essas restrições tinham que ficar.

Depois disso, era hora para outro pulo em Tucson. Eu primeiramente chamei
Volusian e o enviei para o lado de Dorian, tanto para apoio como para conseguir
informações. Eu sabia que Dorian não gostaria de receber meu protegido favorito, mas
ele ter um lutador que não podia ser morto, certamente me fazia sentir melhor. Uma
vez que esse e outros assuntos domésticos estavam resolvidos, eu fui juntar-me à
humanidade.

A cena em minha casa era quase a mesma de ontem. Uma manhã tranquila, com
Tim cozinhando na cozinha. Só que hoje ele estava mais arrumado em seus trajes.

"Você é Lakota12". Eu disse, uma vez que ele tinha se recuperado do choque da
minha chegada repentina. "O que aconteceu com Tlingit13?"

12 Tribo nativa americana, vestimenta: pena ornamentando a cabeça, tranças, roupa de
pele.

13 Tribo nativa do alasca (pertence aos EUA) , vestimenta: cobertores, chapeu com pena.

Ele deu de ombros. "O Tlingit é legal, mas a média esriotipica turística amorosa
espera isto".

Ele usava calças de camurça e uma longa pena como acessorio para cabeça. Seu
peito nu bronzeado parecia que tinha sido oleado, e ele tinha um colar de contas
pendurado nele. Estudando-o, eu reconsiderei. Ele também não era um verdadeiro
Lakota. Apenas alguma fusão de estereótipos, como ele tinha dito. "Por que você está
vestido tão cedo? Uma manhã habitual não iria parar um poeta censurado".
"É sábado, Eug".

"É?" Eu perguntei, assustada. Meu tempo estava todo errado com a minha vida
dupla.
"Há um festival cultural fora da universidade, simplesmente implorando para ouvir as
minhas belas percepções sobre a natureza". Ele virou o lado dourado dos ovos para
cima em um prato com movimentos exagerados.

"Um festival...?" eu gemi. "Tim, as tribos locais estarão lá. Você sabe que eles vão
tentar te bater de novo".

Ele me deu um sorriso de orelha a orelha. "Seja uma amiga. Venha me proteger".

"Não posso. Muitas coisas para fazer".

Uma batida na porta traseira surpreendeu a nós dois. Nós não recebiamos muitos
visitantes. Esperando que isso não fosse um missionário, eu abri a porta e fiquei
boquiaberta com o que encontrei.

Eu não teria ficado mais surpresa se fosse Katrice que viesse chamar. Era Lara. Ela
sorriu para o meu choque. Eu quase nunca a tinha visto em carne e osso. Ela trabalhava
em um escritório em casa, a maior parte da nossa correspondência era tratada por
telefone e e-mail.

"Venha". Eu disse, ainda espantada. Ela entrou na cozinha, tão pequena, loira e
bonita como eu lembrava. Uma grande pilha de papéis estava em seus braços. "Eu não
gosto da aparência disto".

"Isto é seu...".

Lara parou quando viu Tim. Seus olhos se arregalaram. Ele virou seu último ovo
em um prato e olhou para ela. Seus olhos registraram o mesmo espanto.

E nessa encantadora, forma de artista trapaceiro dele, imediatamente caiu no
personagem.

"Uma bela flor juntou-se a nós, suas pétalas brilham e abrem no sol da manhã."

Ele estava usando sua terrível voz 'Como voz de homem branco'. Rapidamente,
ele puxou uma cadeira na mesa da cozinha.

"Junte-se a nós. Vamos festejar e desfrutar da generosidade da Mãe Terra juntos".

Atordoada, Lara foi até a mesa e sentou-se, incapaz de tirar os olhos dele, de seu peito
em particular. "Obrigado".

"É uma honra para mim... Merda! Os pães de canela!".

Tim mergulhou para trás, agarrando uma luva e abrindo o forno, a fumaça estava
saindo em grandes quantidades. Lara se virou para mim conspiratória assim que ele
gemeu sobre o estado de seus assados.

"Eugenie, porque há um chef Nativo Americano quente cozinhando em sua
cozinha?" Ela sussurrou.

"Bem". Eu disse, percebendo de repente que os dois nunca se conheceram.

"Ele não é nem chef, nem um Nativo Americano. Esse é Tim".
"Esse é o que?" Seus olhos azul-bebê abriram ainda mais. "Você tem certeza?"

"Positivo".

Tim, entretanto, estava raspando fora o fundo escurecido fora de seus pães de
canela. Ele segurava um para a minha vistoria.

"Está tudo bem". Eu disse.

Ele se virou para Lara, colocando o seu sorriso de volta. "Peço perdão milhares de
vezes por este indigno banquete que eu preparei antes de você chegar. Como uma
delicada, linda criatura como você merece...".

"Ah, pelo amor de Deus!" Eu exclamei.

"Será que você pode cortar o papo furado, Tim? Esta é a Lara".

"Isto é..." O pão de canela rolou de sua espátula, caindo de volta na panela.

"Você tem certeza?"

Eu suspirei.

Ambos pareciam estar sem saber o que dizer. A boca de Lara se moveu, nenhuma
palavra saiu por vários momentos. Finalmente ela colocou para fora.

"Eu trouxe a papelada fiscal".

Tim engoliu em seco. "Eu... Isso é muito legal."

Eu soltei os últimos suspiros ou gemidos. Agora, eu estava lutando para não bater
minha cabeça contra a mesa.

"Não, não é. Podemos começar com café da manhã?".

"Eu..." Tim finalmente se recuperou. "Claro. Claro que sim". Ele olhou para Lara.
"Você gosta de ovos e pão de canela?"

"Eu adoro ovos e pão de canela".

Ele prontamente fez seu prato e entregou a ela.

"Ei!" eu disse.

Ele me deu uma olhada. "Seja paciente um segundo. Nós temos uma convidada.
Você deve ser mais educada, especialmente desde que ela se deu ao trabalho de fazer
seus impostos"."Eu pago para ela declarar meus impostos."

Lara mordeu um pão de canela. Em seu atordoamento, Tim tinha esquecido-se de
cortar a parte inferior.

"Esta é a melhor coisa que eu já provei. Como isso é mesmo possível?" Ela lhe deu
um sorriso tímido. "Boa aparência e habilidades culinárias".
Ele sorriu de volta, quase deixando cair o prato que ele entregaria a mim. "Eu
tenho todos os tipos de habilidades".

"Oh meu Deus!" Disse eu. Até este momento, pensei que não havia nada mais
irritante do que suas discussões ao telefone. De repente eu queria que eles tivessem um
bate-boca agora. "Além disso". Ele acrescentou, se reunindo a nós com o seu próprio
alimento. "Você tem grandes competências fiscais. Eu nunca poderia fazer isso".

"Isso é porque você não tem uma renda ou realmente precisa declarar seus
impostos". Disse eu.

"Ei!" Ele disparou de volta. "Não julgue. Você obviamente não pode fazer o seu".

"Eu não preciso! É por isso que pago alguém".

Com grande esforço, Lara conseguiu arrastar seus olhos até mim e lembrar-se de
seu trabalho. "Eles estão todos feitos. Eu só preciso que você assine. Eu não tinha
certeza se você daria volta nisso se eu os enviasse".

Eu balancei a cabeça. Tanto para o governo federal quanto o estado do Arizona
estavam preocupados, eu era um empregado independente que fazia reparos em
diversas casas. O que não era tão longe da verdade.

"Isso foi muito gentil da sua parte". Disse Tim. "Tirar um tempo do seu sábado
para isso".

"Eu levo meu trabalho a sério". Respondeu ela. "Além disso, não tinha outros
planos".

"Sério?" Ele se inclinou para frente. "Você quer ir para um festival cultural da
universidade comigo? Eu vou ler poesia lá".

Ela engasgou. "Eu adoraria isso. Eu aposto que seu povo tem idéias realmente
incríveis no mundo".

"Ele não é..." Eu comecei.

Lara se virou para mim, a expressão de negócios em seu rosto. "Certifique-se de
assinar isto enquanto estamos fora. E você sabe a sua agenda para hoje, certo? Três
trabalhos?"

"Sim, sim. Enquanto vocês estão fora visitando bairros pobres com as crianças da
faculdade, eu vou estar lutando pela minha vida".

Tim se levantou e pôs o seu prato mal tocado em cima do balcão. "Nós podemos ir
quando você estiver pronta".

Ela entregou-lhe o prato igualmente intocado. "Eu estou pronta agora. Apenas
deixe-me ir ao banheiro primeiro".

No instante em que ela se foi, Tim virou para mim. "Por que você não me disse
que ela era tão agradavel? Todo esse tempo, você me fez pensar que ela era uma vadia
total".
"Eu já lhe disse cem vezes que ela não era uma vadia! Você foi o unico que
concluiu isso depois de falar com ela ao telefone. Você só pensa que ela é legal agora
porque você a viu e quer levá-la para a cama!".

Tim me deu um olhar grave. "Eugenie, aquela não é o tipo de mulher você tem
por uma noite. Ela é uma deusa entre as mulheres".

"Inacreditável!" Disse eu.

Quando Lara voltou, eu notei que ela estava usando batom e tinha arrumado seu
cabelo.

"Tudo pronto".

Eu fiz uma carranca com os pratos sujos que Tim havia deixado sobre o balcão.

"Não se esqueça de lavar a louça quando você voltar!" Eu falei enquanto eles se
dirigiam para a porta.

"Não se esqueça de ganhar a vida enquanto estamos fora!" ele respondeu de volta.
"Esta hipoteca não se paga sozinha".

"Nem você". Eu murmurei. Mas eles já tinham ido embora, perdidos no meio de
paixão. Considerando todas as coisas que tinham acontecido na minha vida, pensaria
que nada mais poderia me surpreender. Certamente, eu estava errada.

Virando-me, eu comecei a lavar a louça, decidindo que chutar algumas bundas
sobrenaturais era exatamente o que eu precisava.

CAPÍTULO 7

EU ASSINEI A DECLARAÇÃO DE IMPOSTO E DEIXEI UM AVISO ANTES
de sair. Estava pensando: eu devia. Empreendedores individuais sempre devem.

Foi um crédito para Lara ter organizado meus livros tão bem que o montante
diminuiu, mas depois de vê-la brigar com o meu companheiro de quarto, eu decidi que
era uma coisa boa o nosso relacionamento de trabalho não incluir avaliações de
desempenho.

Ela também me deixou um dia bem atarefado, o que acabou sendo benéfico. A
agenda lotada manteve minha mente longe de Dorian (principalmente) e do que
estava transcorrendo no Outromundo.

Eu lutei com ferocidade, como se cada um dos fantasmas ou monstros que eu
derrotei fosse a própria Katrice.

As viagens entre os trabalhos eram duras para mim. Não havia nenhuma ação.
Apenas meus próprios pensamentos.

Meu último trabalho do dia foi o mais difícil, sem dúvida, e foi agendado assim de
propósito para que eu não fosse para os outros cansada e ferida.

É verdade, eu estava me sentindo cansada, mas a preocupação com Dorian
manteve a adrenalina queimando através de mim, o que eu sabia que ia passar depois
deste último trabalho.

No entanto, caminhando até a casa do cliente, eu não conseguia parar de me fazer
as mesmas perguntas em minha mente. Por que Volusian ainda não entrou em contato
comigo? Será que a luta tinha acabado?

Uma mulher jovem de aparência nervosa atendeu à porta, apresentando-se como
Jenna. Foi ela quem fez a chamada, mas não foi exatamente em seu próprio nome.

"Ela está na sala". Jenna sussurrou para mim, deixando-me dentro do foyer. Seus
olhos estavam arregalados de medo. "Está apenas sentada lá. Encarando".

"Ela fala?" Eu perguntei. "Ela responde às suas perguntas?"

"Sim... mas... não é ela. Eu sei que não faz sentido, mas não é. As pessoas no
trabalho, acham que ela está apenas louca. Eu sou a única que ainda fala com ela. Ela
está prestes a perder o emprego, mas ..." Jenna abanou a cabeça. "Eu juro, não é apenas
ela".

"Você está certa". Eu segurei minha varinha com minha mão esquerda e meu
athame prata na direita.

"Ela está..." A voz de Jenna ficou ainda mais baixa. "Ela está possuída?"

"Não exatamente". Lara tinha me avisado sobre isso. Tinha inicialmente soado
como possessão, mas novos dados sugerem que não, infelizmente. A possessão teria
sido mais fácil. "É um fetch. É como se fosse... eu não sei. Sua sósia. Mais ou menos
isso".

"Então... o que aconteceu com Regan?"

Eu hesitei. "Eu não sei".

Eu não queria dizer a Jenna que havia uma forte possibilidade de que Regan
estivesse morta. Este era o destino usual da uma vítima de um fetch. Claro, fetch
normalmente deixam a pessoa, uma vez que tenham sugado toda a energia e a bondade
da mesma. Se este ainda estava aqui, as chances de Regan ainda estar viva eram
marginalmente superiores.

"Se er... quando a encontrarmos, ela pode estar em má forma".

Olhei para o fundo do corredor, onde eu podia ouvir o som de uma TV. Mudei o
meu domínio sobre minhas armas e me preparei.

"O que eu devo fazer?" Perguntou Jenna.

"Espere lá fora. Não volte para dentro até que eu diga - não importa o quê
aconteça".

Uma vez que ela estava longe e em segurança, eu avancei no corredor. Lá, na sala
de estar, eu encontrei uma mulher sentada perfeitamente ereta no sofá, com as mãos
cuidadosamente dobradas em seu colo enquanto ela olhava para a TV. Havia um vazio
em seus olhos castanhos, o que me disse que ela não estava realmente prestando
atenção. Ela nem sequer percebeu a minha chegada. Olhando ao redor da sala, analisei
o seu espaço e seus recursos, avaliando-os para uma luta. Notei também duas fotos na
parede, fotos de grupo com Jenna e uma morena sorridente que parecia exatamente
com a mulher no sofá. No entanto, olhando entre eles, eu sabia que Jenna estava certa.
Isso não era Regan.
"Onde está Regan?" Eu perguntei.

O fetch não olhou para mim. "Eu sou Regan".

"Onde está Regan?" Eu repeti duramente. "O que você fez com ela?" Por favor, por
favor, faça com que ela esteja viva.

Desta vez, o fetch virou a cabeça, seus os olhos frios analisavam a mim e às minhas
armas. "Eu disse a você. Eu sou Regan".

Eu tive um momento de debate sobre o que fazer. Matar o fetch sem saber a
localização de Regan faria a próxima parte deste trabalho ainda mais difícil. No
entanto, como o fetch continuou me olhando, eu sabia que ela reconheceu o que eu era
e que ameaça eu representava. Eu tinha que levá-la para fora agora, baseada no fato de
que os fetches geralmente mantém suas vítimas próximas.

Eu estendi minha varinha e comecei a cantar as palavras que iriam conduzir esta
criatura de volta para o Outromundo. Era de onde os fetches vinham e um banimento
era forte o suficiente para dissuadi-los de volta. Eu apenas teria que envolver o
Outromundo se ela decidisse...

Ela atacou.

O fetch não se transformou em sua forma verdadeira quando ela pulou em cima
mim. Pelo contrário, ela se transformou em algo entre as duas formas. Ela ainda usava
rosto de Regan, mas tinha um tom verde doentio. Seus olhos eram maiores e mais
escuros, e parecia que tinham sido esticados. Suas mãos e pés eram grandes demais ­ e
tinham garras.

Ela veio até mim com sua máxima força, me batendo contra uma parede
misericordiosamente livre de mobiliário. Eu dei uma joelhada no estômago dela,
precisando manter distância entre mim e as garras, que tentavam acertar meu rosto e
meu pescoço. Ela recuou um pouco, não muito, mas o suficiente para me dar mais
margem de manobra. Eu balancei o cabo da lâmina de prata, e ela recuou. Ferro
poderia infligir golpes mortais nos gentry, mas a prata era o metal de escolha para quase
todas outras criaturas.

"Diga-me onde está Regan". Eu disse, avançando para frente. "Diga-me, e eu
simplesmente vou bani-lo de volta para o Outromundo. Torne isto difícil, e você
morre". Eu estava gerenciando este equilíbrio que eu sempre fazia: arma pronta para
atacar, enquanto parte da minha mente estava focada em uma conexão com o
Outromundo. A tatuagem de Hécate, uma cobra no meu braço, começou a formigar.

O fetch decidiu que eu ainda não era uma completa ameaça e atacou-me de novo.
Desviei neste momento, antecipando seus movimentos, com base no último ataque.
Um fetch pode ser capaz de replicar alguém, mas seu estilo de luta era principalmente a
força bruta. Meu athame acertou o braço dela assim que eu me mexi, e ela reclamou de
dor, mostrando as presas que drenavam saliva verde. Isto doeu, mas não a atrasou, já

que ela se jogou de volta contra mim. Eu evitei-a novamente, mas não considerei o que
estava atrás de mim, batendo dolorosamente contra um armário.

Eu estremeci, e ela aproveitou a vantagem, investindo com as garras contra mim.
Eu mal escapei delas, conseguindo esquivar-me e correr para o outro lado da sala. Um
banimento, eu decidi. Eu apenas iria ficar longe e fazer um banimento. Eu só precisava
de um par de minutos - e de permanecer viva. Comecei a entoar palavras de mandá-la a
partir deste mundo, palavras que não têm de seguir qualquer forma usual, desde que o
meu poder e a intenção sejam claros. Ela fez uma breve pausa, percebendo o que eu
estava fazendo, e pareceu considerar suas opções.

Um círculo. Eu deveria ter colocado um círculo de proteção em torno da casa.
Havia uma possibilidade muito real de que ela poderia tentar fugir. Isto e me matar
eram muito bem as suas únicas opções. A primeira seria provavelmente mais fácil para
ela - e poderia libertar Regan. Mas eu não queria este fetch caminhando livremente
pelo mundo. Eu precisava enviá-la.

Poder subiu em mim e através de mim, para fora da varinha e em sua direção. Esta
era sua última chance de correr ou, como se viu, jogar uma mesa de café em minha
direção.

Eu admito, eu não vi isso vindo - literalmente ou figurativamente. Eu deveria, no
entanto. Móveis, objetos, o que seja... Todos eles eram jogo justo em uma luta. O fetch
não teve nenhum motivo para confiar apenas em combate corpo-a-corpo, e meu
athame deu a ela uma boa razão para atacar à distância. A mesa de café era simples, um
bom círculo de vidro com pernas de ferro. Uma com estrutura em madeira teria sido
melhor. O quadro teria atrasado a propagação do vidro. Esta mesa não tinha nada para
detê-la, exceto eu. Eu tentei pular fora de sua direção, salvando a minha cabeça e meu
rosto. Eu não estava longe o suficiente quando ele bateu na parede e quebrou, no
entanto. Ardência e dor atravessaram minhas costas e meu braço esquerdo quando o
vidro arranhou e ­sem dúvida - entranhou-se em minha carne.

Meu senso de auto preservação manteve-me em movimento em meio à dor, mas a
minha ligação com o Outromundo tinha quebrado com o vidro. O fetch sabia disso e
pulou para frente, riscando o athame, na esperança de que eu estivesse muito confusa e
ferida, por causa do vidro, para detê-la.

Eu não estava. Eu nunca deixei o controle de minhas armas, e meu athame estava
pronto e esperando quando ela chegou. Eu mergulhei-o em seu coração e comecei a
bani-lo novamente. Ao longo dos anos, como eu tinha crescido no poder e passei tanto
tempo no Outromundo, esses banimentos se tornaram mais fáceis. Não fácil, mas mais
fácil. Houve um tempo em que eu não poderia ter dado conta de um fetch com o meu
athame e ao mesmo tempo tentar um banimento rápido.

Mas agora, o poder fluía através de mim quando o fetch se puxou da minha
lâmina. Ele não teve tempo para reagir, atacar ou fugir. A magia tomou conta dela, e ela
desapareceu diante dos meus olhos, enfraquecendo em brilhos e depois mais nada. Eu
não sabia a extensão dos danos do athame. Eu poderia ter apenas o enviado de volta
para morrer. Ou, ele poderia sobreviver e vir atrás de mim no Outromundo, como
algumas criaturas tentaram. Eu não estava preocupada. Minhas habilidades
permaneceram consistentes em ambos os mundos, mas a minha magia era um pouco
mais forte por lá, especialmente na Terra Thorn.

Eu dei um profundo suspiro de alívio e prendi as armas de volta em meu cinto
quando eu corri para a porta da frente. Jenna estava sentada no gramado, com o rosto
pálido de preocupação. Ela levantou-se quando me viu.

"O que aconteceu? Ela está bem?"

"Eu não tenho certeza". Disse, enxugando o suor da minha testa. Minha mão
estava vermelha de sangue.

"Nós temos que encontrá-la. Ela tem um porão?"

"Não". Jenna me seguiu para dentro e depois parou. "Oh meu Deus... suas
costas...".

"Não é nada. Eu vou lidar com isso mais tarde".

"Pelo menos..." Ela alcançou um ponto entre o meu braço e meu ombro,
estremecendo quando ela encostou. Eu gritei de dor e vi quando ela retirou um enorme
pedaço de vidro quebrado. "Isso está sangrando... muito...".

"Estou em melhor forma do que Regan". Eu disse bruscamente, tentando ignorar
a dor e a visão do meu sangue por todo o caco que ela tinha tirado. "Nenhum porão.
Armários? Sótão?"

"Ambos".

Nós verificamos os armários sem sorte, e Jenna enfiou a cabeça no minúsculo
espaço do sótão. Ainda nada.

"Merda". Eu disse. Não deveria ter deixado o fetch ir sem descobrir a localização
de Regan. E se Regan não estivesse por perto? E se o hábito dos fetches tinha mudado e
ele escondeu sua vítima longe da casa?

Jenna parecia se sentir tão derrotada quanto eu. Sua cabeça virou bruscamente. "O
galpão. Há um galpão nos fundos".

Estávamos do lado de fora da porta traseira em um flash, empurrando a porta
aberta para um pequeno galpão no jardim, que estava misericordiosamente
destrancado. Lá, deitada no chão, em posição fetal, estava Regan. Jenna soltou um grito
abafado, e nós duas caímos no chão. Jenna apoiou Regan enquanto eu gentilmente a
sacudia.

"Regan, Regan. Acorde. Por favor, acorde".

Por alguns momentos, eu temi o pior. Então, os olhos de Regan se abriram, sua
expressão estava assustada e confusa. Sua respiração veio em curtas puxadas, e ela
inutilmente tentou sentar-se sozinha. Sua falha não me surpreendeu. Quando um fetch
assume a vida de alguém, ele coloca sua sósia em uma espécie de coma mágico. Isto
não exigia cordas ou mordaças, ele simplesmente deixava para trás uma vítima em
silêncio e imóvel. A capacidade de Regan acordar confirmou que o fetch se fora, mas a
mulher passou vários dias sem comida, água e sem usar seus músculos.

"Ela está desidratada". Eu disse. Estudando o estado de Regan, eu sabia que isso ia
além de alguns copos de água. "Vamos levá-la a um hospital".

Jenna dirigia, com Regan alojada cuidadosamente no banco de trás. Ela falou
pouco, apenas fazendo algum ocasional gemido. Enquanto isso, no banco do
passageiro, eu tentava me limpar com lenços umedecidos e retirar os pedaços de vidro
das minhas costas. O sangue no meu rosto estava limpo quando chegamos ao ER,
assim como a maioria do meu corpo, mas eu não quis responder às perguntas sobre o
que tinha acontecido comigo. Eu pedi a jaqueta jeans de Jenna, percebendo que os
poucos arranhões no meu rosto não eram suficientes para atrair a atenção.

Nós falamos aos enfermeiros que Regan estava depressiva e ficou sem comer. Não
mencionamos sobre o motivo de não a termos visto durante dias e falamos que
tínhamos apenas a encontrado esta noite. Como não havia sinais aparentes contusões
ou de amarras, eles acreditaram na nossa palavra e correram para conectá-la aos fluidos.
Nós também, provavelmente, a encaminharíamos para uma terapia, mas isto não era
uma grande preocupação agora.

Esperei com Jenna do lado de fora do quarto de Regan assim que a enfermeira
terminou de conectar os tubos apropriados e um médico realizou um exame mais
aprofundado.

Quando terminaram, disseram-nos que poderíamos ir, e que Regan iria se
recuperar, uma vez que seu corpo tinha alimento de novo. Eu não tinha intenção de ir
com Jenna. Agora que Regan estava a salvo, meu plano era pegar um táxi de volta para
o meu carro e ir para casa me limpar antes de um salto para o Outromundo. Lara
poderia cobrar essa mulher depois.

"Espere". Disse Jenna, quando o médico e a enfermeira estavam prestes a sair.
"Minha amiga está machucada. Ela quebrou uma janela para entrar na casa de Regan e
se cortou".

Eu balancei minha cabeça. "Não, realmente, eu estou bem..."

Eu fechei minha boca quando eu segui todos os olhares. Até eu podia ver que a
manga esquerda do casaco estava encharcada de sangue. Havia poucos argumentos
para dizer depois disso. Jenna ficou com Regan, e fui conduzida para um cubículo no

ER. A enfermeira fechou a cortina, e tirei minha camisa. As sobrancelhas do médico
levantaram-se.

"Você quebrou uma janela? Com o que, todo o seu corpo?" Ele chamou outra
enfermeira, que começou a ajudar os outros com a remoção de vidro e a limpeza do
ferimento.

"Eu joguei uma pedra". Eu disse. "Não fiz um buraco muito grande, mas eu não
tinha tempo para torná-lo maior. Eu só tinha que chegar até Regan".

"Nobre". Disse o médico, cuja atenção estava na corte maior do ombro. "E
estúpido".

Alguém com uma melhor compreensão da física poderia ter percebido que a
minha lesão não estava muito de acordo com o fato de ficar rastejando através de um
buraco irregular em uma janela. Felizmente, o talento deste grupo estava em outro
lugar. A grande quantidade de arranhões e cortes foi tratada por curativos antissépticos
e dolorosos. O grande corte precisou de um bom número de pontos.

Eu estava inquieta o tempo todo, querendo apenas voltar e ver o que tinha
acontecido com Dorian. A equipe médica estava completa no seu trabalho, no entanto.
Eu decidi que eu deveria apenas ser grata que eles estavam me deixando ir e não
forçando uma estadia mais longa. Eu era uma ambulante ferida, em má forma, mas não
correndo perigo de vida.

"Aqui". Disse o médico, pouco antes de me deixar ir. Ele rabiscou uma receita e
entregou-me, juntamente com as resmas de papel para o tratamento das feridas e para a
limpeza. "Os antibióticos. Obtenha o suficiente para esta noite".

"Eu vou". Eu disse sem hesitar.

Ele me deu um olhar de advertência. "Isto é o que eu quero dizer. Eu conheço seu
tipo. Você acha que é invencível, mas qualquer um poderia ser infectado. Tome a
prescrição. Limpe e troque as bandagens dos cortes".

Ele estava certo que eu achava que era invencível. Eu já tive pontos e feridas antes,
e meu sangue gentry geralmente acelerava a cura. Mas eu assenti humildemente,
prometendo que obedeceria.

"Bom". Disse ele, seguindo-me para a sala de espera. "Consulte-se com o médico
da sua família em uma semana. Acho que a sua carona está logo ali".

"Minha carona...?"

Olhei ao redor da sala, congelando quando eu vi um rosto familiar.

"Mãe?"

Ela estava encostada em uma parede, seus olhos ansiosamente estudavam todos
na sala. Ao distinguir-me, ela praticamente passou por meu olhar, olhando para minhas
bandagens em alarme. Eu estava sem o casaco, e a minha blusa de alcinha mostrava as
feridas da batalha. "Eugenie! Você está bem? O que você fez agora?"

Por alguma razão, isto fez o médico dar uma gargalhada antes de se afastar. "Estou
bem". Eu disse a ela automaticamente. "O que você está fazendo aqui?"

"Eu sou o seu contato de emergência. E não está nada bem".

Eu ainda estava atordoada por vê-la. Parecia que tinha sido há tanto tempo. Anos.
"Agora está". Eu disse atordoada. "Está tudo com curativos. E eu tenho todas essas...
coisas". Eu acenei para minha pilha de papel.

Ela tirou seu cabelo escuro do rosto, sua expressão estava tanto cansada como
distraída quando fomos para seu carro. "Isto nunca fica mais fácil. Nem com você, nem
com ele".

Eu dei-lhe um olhar de soslaio. "Ele sabe que você está aqui?"

"Não". Disse ela, pegando as suas chaves. "Não faria diferença se ele soubesse.
Nada poderia ter me impedido de vir quando eles me chamaram. Eu pensei... Bem, eu
nunca sei o que pensar...".

Eu não conseguia olhar para ela quando eu me sentei no carro cuidadosamente.
Meus olhos se enchiam de lágrimas. Eu sentia falta dela, bem, da mamãe coruja. Muita
gente se preocupava comigo, mas não era o mesmo. Além disso, me senti horrível por
ter feito ela se preocupar. E por causa de mim, Roland estava novamente fora e se
pondo em perigo também.
Eu rapidamente passei a mão sobre os olhos e me virei para ela quando saímos do
estacionamento. "Quando você começou a usar óculos?" Eu perguntei, surpresa.
Delicadas armações de arame repousavam sobre um rosto muito semelhante ao meu. A
nossa cor que era diferente. Meu cabelo vermelho e olhos violetas tinham vindo do Rei
Storm.

"Há algumas semanas atrás. Eles são apenas para dirigir à noite".

Eu desviei o olhar, temendo que as lágrimas fossem retornar. Óculos. Uma coisa
tão estúpida. Houve um tempo, porém, que eu saberia cada pequeno detalhe de sua
vida. Havia tanta distância entre nós agora. Minha agitação e pensamentos de culpa só
foram interrompidos quando ela parou em uma farmácia a poucos quarteirões do
hospital.

"Mãe, não! Eu tenho que voltar para o meu carro e...".

"Você pode voltar a pôr a sua vida em perigo novamente em breve. Aqui, deixe-me
vê-los".

"Não é minha farmácia habitual". Eu disse com petulância.

Ela foi deslizando as instruções de cuidado da ferida. "Sim, bem, eu tenho certeza
que deve ter umas ataduras duplas escondidas em algum lugar".

"Você é como uma mãe".

Ela olhou para cima, um pequeno brilho nos olhos dela me fez lembrar como as
coisas costumavam ser entre nós. "Eu sou sua mãe".

Segui-a, carrancuda, enquanto esperávamos a prescrição, e ela me forçou a pegar
uma cesta cheia de gazes, ataduras e outros materiais de primeiros socorros. Eu já tinha
um monte deles, mas ela não iria descansar até realmente vê-los em minhas mãos.

"Eu realmente aprecio você ter vindo". Eu admiti como esperávamos. "É... é bom
vê-la".

A expressão dela suavizou. "É bom ver você também, querida. Eu senti sua falta".

"Eu não acho que Roland tenha me perdoado não é?"

"É mais complicado do que isso". Ela me disse. "Ele ainda a ama. Realmente. Mas
ele está preocupado. E ele não gosta de você estar... lá. Nem eu".

Desviei meus olhos novamente. Eu sabia que ela não gostava - e ela tinha um bom
motivo. Minha concepção foi o resultado de seu estupro e cativeiro no Outromundo.

Ela passou anos mantendo esse conhecimento longe de mim, esperando me
proteger, tanto da minha herança como da agonia que ela acreditava que o local
causava.

"Bem, isso é complicado demais. Eu tenho que estar lá, mãe. Eu sei que vocês não
aprovam, mas há pessoas que contam comigo. Eles não são todos assim como você
pensa. Eu não posso decepcioná-los. Eles estão... eles estão morrendo por causa de
mim".

"Existe um homem envolvido?"

Eu considerei uma observação leviana, mas escolhi a honestidade. "Sim".

"O problema óbvio à parte... eu iria gostar dele?"

Eu tentei imaginar a minha mãe encontrando Dorian e não pude reprimir um
pequeno sorriso. "Provavelmente não".

"Você nunca mais falou com o com Kiyo?"

Eu desviei o olhar rapidamente, meu sorriso desapareceu. "Acabou entre nós. Ele
me decepcionou. Você sabe disso. Esse outro cara... ele não irá".

Fui salva de mais conversa quando meu nome foi finalmente chamado. Eu
adicionei a receita à minha bolsa portátil de hospital e me senti grata que minha mãe
não prosseguiu mais com o tema da minha vida amorosa. Fiquei igualmente grata
quando ela me levou de volta à casa de Regan. Não teria me surpreendido se ela me
deixasse sem carro e aos cuidados de Tim.

Deixar minha mãe agitou sentimentos contraditórios em mim. Depois de sentir
tanta falta dela, parte de mim queria ficar e olhar para ela, mergulhar nessas
características que eu tanto amava. Eu queria que ela me abraçasse, que fosse a minha
mãe e cuidasse de tudo. E ainda... Sempre o Outromundo estava me pressionando. Eu
não tinha o luxo de ser uma menina agora. Eu não tinha o luxo de ser sua filha.

"Obrigado". Eu disse, dando-lhe um abraço tão cuidadoso quanto podíamos
controlar. "Obrigado por... Não sei. Tudo".

Ela me segurou por alguns instantes e depois deu um beijo na minha testa. "Não
há nada que me agradecer. Basta ter cuidado". Ela quebrou o abraço. "Faça o que o
médico disse. E pelo amor de Deus, não acabe lá novamente. Eu não quero outra
chamada".

"Eu vou tentar". Disse. Isso nos fez sorrir largamente, principalmente porque nós
sabíamos que a minha tentativa de ficar fora de perigo era muito fútil. "E diga a
Roland..." Eu não poderia terminar, mas ela balançou a cabeça.

"Eu sei".

Deixei-a em seguida, carregando minha pilha de papéis em meu próprio carro e
dirigi para casa. Regan não morava muito longe de mim, apenas cerca de dez minutos.
O tempo voou. Eu tinha tantas coisas para pensar que, quando eu estacionei na minha
casa, eu mal sabia como eu tinha chegado lá. O carro do Tim estava estacionado em
frente - assim como o da Lara. Arrastei-me para fora da minha própria auto-piedade,
inquieta, me perguntando o que eu iria encontrar lá dentro. Ver os dois nus na minha
mesa da cozinha, não seria legal.

Em vez disso, eles estavam abraçados no sofá da sala, assistindo a um filme. Todos
pareciam inocentes, mas alguma vibe me fez suspeitar que eles não tivessem estado
efetivamente assistindo muito do filme. Balancei minha cabeça, exasperada.

"Como essa pode ser a minha vida?" Murmurei, colocando a minha bolsa sobre o
balcão.

"Você disse alguma coisa?" Perguntou Tim. A sala de estar e a cozinha eram
abertas uma para a outra. Ele colocou o filme no mudo.

"Nada importante".

"Nós imaginamos que você passaria a noite fora". Disse ele. Eu tinha certeza que
havia um tom de acusação em sua voz.

Abri os armários, procurando por comida. De repente, eu estava morrendo de
fome. "Bem, fique tranqüilo. Eu vou embora logo, depois do jantar".

Lara se virou e olhou para trás do sofá. "Pop-Tarts não são - oh meu Deus! O que
aconteceu com você?" Tim agora também notou as minhas ataduras. Ele não parecia
tão chocado quanto ela - ele me viu chegar em casa depois de muitas lutas - ,mas
preocupação substituiu o seu sarcasmo.

"O que você esteve fazendo?"

"Ganhando a hipoteca". Coloquei duas Pop-Tarts de blueberry14 na torradeira.
"Não é isso que você me disse para fazer?"

14 Mirtilo, planta silvestre cujo fruto é de um azul quase preto, pequenino, usado em
geléias, compotas, licores, etc.

"Jesus, Eug. Eu não...".

"Esqueça". Eu disse a ele. "Está tudo bem. Mas você vai ter que enviar a conta para
Jenna Benson, Lara. Eu não estava em condições de receber na hora".

Lara balançou a cabeça sem dizer uma palavra, ainda espantada ao ver como era a
minha vida real. Eu derramei um pouco de água e devorei um dos antibióticos
enquanto esperava as Pop-Tarts. Assim que estavam prontas, fui para o meu quarto,
comendo rapidamente enquanto trazia junto comigo minha bolsa de pernoite.
Enquanto estava a arrumando, meus olhos permaneciam em um quebra-cabeça semi-
acabado na minha mesa. Eu suspirei. Há quanto tempo atrás eu tinha começado este?
Um mês? Eu adorava quebra-cabeças. Eu costumava fazer um por noite.

Eu estava quase terminando de arrumar - eu incluí também o material de
primeiros socorros, graças a alguma culpa residual da minha mãe - quando a
temperatura caiu. Uma presença perturbadora, e ao mesmo tempo familiar, preencheu
a sala, e logo depois Volusian apareceu diante de mim. Eu quase deixei cair à bolsa.

"Senhora". Disse ele com um arco de simulação. "Eu vim para lhe informar sobre a
batalha".

CAPÍTULO 8

HOUVE UMA LONGA PAUSA ENQUANTO ESPEREI ANSIOSA.
E percebi que Volusian estava gostando daquilo. Ele não iria elaborar nada até que
eu perguntasse, porque queria aumentar a agonia.

"Maldição! Diga o que aconteceu!"

Volusian tinha uma expressão de contentamento no rosto que suspeito ser o mais
próximo que ele já chegou de um sorriso. "O Rei Oak está..." Prendi minha respiração.
"... vivo".

"Graças a Deus". É claro, pensando em meus próprios ferimentos "vivo" pode não
significar muito. "Ele está ferido?"

"Ele está bem e não se feriu".

Afundei-me agradecida em minha cama, sabendo que estava deixando todas as
minhas emoções transparecerem em meu rosto. Odeio demonstrar algo assim na
frente do Volusian. Quero manter uma imagem de poder. Mas essa situação é muito
importante. O medo e a preocupação com Dorian e com a batalha formavam um nó
dentro de mim, um que somente agora me atrevi a soltar.

"E quanto aos outros? Quem venceu?"

"Suas forças, mestra".

Novamente, alívio percorreu meu corpo. Nós vencemos. Dorian estava bem.
"Baixas?"

"Inevitáveis, é claro". Volusian não parecia particularmente preocupado, mas,
então, ele nunca se importava muito. "Mortos e feridos em ambos os lados. As terras do
Rei Oak e cidades permaneceram intocadas".

A última parte era uma boa notícia. Mas mortos e feridos? Não, eu não gosto
disso. Queria saber os números, mas por agora isso era irrelevante. Uma morte já era
demais. Logo terei todas as informações pelo Dorian. Comecei a agradecer Volusian,
mas essa não é a forma como nosso relacionamento funciona.

"Volte para Oak Land. Diga ao Dorian que em breve estarei lá".

Volusian assentiu mostrando que compreendeu. Eu esperava que ele
desaparecesse imediatamente, mas ele fez uma pausa, seus olhos levemente fechados.
"Minha mestra também esteve em uma batalha hoje à noite".

Remexi-me consciente das bandagens cobrindo meu ombro e costas.

"Sim, lutei contra um fetch".

"Que lhe infringiu grandes ferimentos".

"É o que parece, não é?"

"Mas não o suficiente para matá-la". Meu olhar foi resposta o suficiente. "Pena".
Ele falou e desapareceu.

"Maldição". Resmunguei. Fiquei onde estava, olhando para o nada. Logo teria que
seguir para as terras do Dorian, mas por agora, permiti a noticia se infiltrar em minha
mente por mais alguns instantes. Mas sei bem o que a distração pode fazer.

A mágica do Outromundo percorreu meu corpo antes de uma voz falar. "Você
poderia facilmente encontrar seu fim, sabia?"

Pulei da cama enquanto o fantasma das montanhas aparecia em minha frente. No
momento me amaldiçoei por não ter pegado minhas armas. Desde minha coroação
minha casa não foi mais atacada, me deixando com o falso senso de segurança. É
preguiça minha. Idiotice. Sem me importar com os itens cuidadosamente guardados,
virei minha bolsa jogando tudo para fora. Agarrei minha varinha, esperando o fantasma
atacar.

Mas ela apenas ficou pairando no ar, seu rosto sem expressão. "Você não deveria
ter voltado". Falei com a varinha apontada para ela e pronta. Mesmo cansada do jeito
que estava à mágica formigava em meu corpo.

"Você deveria ter ficado longe".

Ela permaneceu parada, sem se preocupar com a ameaça que eu representava. "Já
falei, não posso. Preciso da sua ajuda".

"E já disse que não posso ajudar você".

"Eu posso ajudar você". Ela falou. "Posso ajudá-la á encontrar a Coroa de Ferro".

A magia se formando dentro de mim fez uma pausa e então abaixei a varinha.
Olhei para ela desconfiada. "Como você sabe sobre isso?"

Ela deu de ombros fracamente. "Estou seguindo você".

Comecei a bani-la novamente, rapidamente trabalhando com as palavras. É claro
que ela podia me seguir. Sendo um fantasma forte, um que provavelmente podia se
mover entre esse e o Outromundo com a mesma facilidade com que a vejo se movendo
aqui. A magia do Outromundo, que esconde tantos espíritos, a deixaria difícil de
detectar. Seguir e espionar ­ seria uma coisa fácil.

"Vamos acabar com isso". Falei. O poder se formou na varinha. Ainda assim, ela
não se moveu.

"A Coroa de Ferro". Ela repetiu. "Eu sei onde está. Posso ajudá-la".

Novamente parei com o banimento e recordei algo que Dorian falou. "O caminho
é bloqueado para os espíritos".

"Sim". Ela concordou. "Mas sei por onde começar. Você não sabe nem ao menos
isso. Posso levá-la até lá e você pode seguir o restante do caminho sozinha".

"Não acredito em você. Não tenho razões para isso. Você pode apenas me
envolver em sua investigaçãozinha e depois desaparecer".

Isso finalmente trouxe alguma emoção. Raiva brilhou em seus olhos pálidos.
"Investigaçãozinha? Isso é minha família! A vida deles! Eles significam tudo para mim".
"Significavam". Corrigi. "Você precisa cortar as amarras com esse mundo".

Os lábios dela se achataram em uma fina linha, enquanto acredito que ela lutava
para controlar seu temperamento. "Levo você lá primeiro. Depois que conseguir a
coroa você me ajuda. Serei eu que terei que confiar na sua palavra. Você não terá nada a
perder".

"Nada exceto minha vida". Resmunguei. "Uma coroa que não faz nada além de
me levar em uma jornada letal é uma aposta alta. Não acredito na lógica insana da
Masthera".

"Outros espíritos contaram que podem fazer o que ela falou". O fantasma disse.
"Eles são velhos. Lembram bem".

Bem, pelo menos isso responde uma das minhas perguntas. Deixando de lado a
natureza duvidosa da coroa, não entendo como um fantasma como ela pode saber algo
tão ancião como isso. A dor que a prende á esse mundo a deixa forte, mas ela me parece
um fantasma recente, um que dificilmente poderia saber algo sobre um artefato
legendário.

"Isso é ridículo". Falei. "É hora de você ir".

"É sim". Ela concordou. "Pense sobre minha oferta. Chame-me quando estiver
pronta. Meu nome é Deanna".

Tão facilmente quanto chegou, ela desapareceu, destruindo com meu banimento.
Tenho que admitir que isso aconteceu mais por culpa de minhas dúvidas do que
habilidade em magia. As palavras dela haviam atingindo algo em mim. Uma pequena
fagulha de admiração, a impressão de que talvez haja uma maneira maluca de terminar
com essa guerra. Se as lendas forem verdadeiras. Se Deanna não estiver mentindo. Se
eu não morrer sozinha durante a perigosa jornada.

Balançando a cabeça, mais uma vez me puni por deixá-la ir. Da próxima vez. Da
próxima vez vou enviá-la para o Outromundo no momento em que ver o rosto dela.
Por agora, preciso ir para junto do Dorian. Já desperdicei muito tempo.
Apressadamente recoloquei tudo na bolsa e segui meu caminho.

Tim e Lara ainda estavam sentados na sala. Reconhecendo o que a bolsa
significava, Tim novamente baixou o som da TV, com uma incomum expressão de
preocupação no rosto.

"Eug... você não acha que seguir para a Terra do nunca é uma má idéia depois de
ter seu traseiro chutado hoje?"

"Você deveria ver o outro cara". Arrumei a bolsa com cuidado para mantê-la sobre
meu ombro bom e longe das minhas costas. "Além do mais, por mais triste que seja,
acho que estarei mais segura lá do que aqui".

Ele suspirou e não pude evitar sorrir. Olhei para a Lara. "Volto assim que puder".

O rosto dela estava tão grave quanto o do Tim. "Acho que não estamos ganhando
o suficiente".

Eu ri. "Provavelmente não".
Os deixei através de um portal que se abria próximo ao Dorian. Eu possuía uma
âncora no castelo também e ao cruzar ela me puxou para lá. Apareci em uma câmara
pequena e vazia, que ele reserva somente para isso.

Mesmo ferida não tive dificuldade em fazer a transição. Há muito tempo atrás eu
nem ao menos conseguia cruzar em forma humana. Atravessava como meu totem
espírito: um cisne negro. Agora vir aqui é tão fácil quanto atravessar uma porta. Meus
poderes realmente haviam crescido, algo que Kiyo e meus pais temiam.

Não cheguei muito longe do hall adjacente até ser parada por um servente.

"Vossa Majestade!" Ele gaguejou, conseguindo fazer uma cortesia desajeitada. "O
rei está a sua espera".

"Então me leve até ele". Falei.

O jantar há muito havia terminado e Dorian estava em uma de suas luxuosas salas
de estar, cercado por um punhado de conselheiros e generais. Para minha surpresa
Masthera também estava lá, sentada em um canto de onde observava sem participar da
reunião. O rosto do Dorian estava calmo e concentrado enquanto conversava com os
outros, mas sua expressão se quebrou um pouco quando me viu.

"Eugenie!"

Em poucos passos ele atravessou a sala. Algo também se quebrou dentro de mim,
algo que estava muito, mas muito feliz em vê-lo vivo e bem. Apesar do relatório do
Volusian eu precisava ver o Dorian em pessoa. Meu coração se apertou e esqueci
minha aversão aos costumes gentry. Larguei a bolsa e passei meus braços ao redor do
pescoço dele, procurando por seus lábios antes mesmo que ele pudesse colocar as
mãos em mim. Ele apertou meu quadril enquanto nos beijávamos, o poder daquele
beijo correu por meu corpo e o encheu de calor enquanto me apertava contra ele.
Naquele momento era fácil entender por que os gentry algumas vezes sentem
necessidade de fazer sexo em publico.

Mas não tive essa opção por que as mãos do Dorian subiram pela minha cintura,
parando quando tocaram as bandagens. Ele se afastou abruptamente, me olhando com
espanto. Eu ainda usava minha blusa de tiras o que dava uma visão completa do
trabalho feito no hospital.

"Oh, por favor, mulher". Ele exclamou. "O que aconteceu?"

Dei de ombros despreocupada como ele o faria. "Estive em uma briga. Com um
fetch".

Ele deu de ombros.

"Ela jogou uma mesa em mim".

Dorian olhou para o servente que havia me levado até a sala. "Vá buscar um
curandeiro".

"Não". Falei. O cara hesitou, olhando para nós dois, dividido entre seus dois
comandantes. "Você precisa dos curandeiros para o exército. Isso parece pior do que
é". O que não era inteiramente verdade. Os anestésicos estavam começando a perder o
efeito, deixando os arranhões doloridos e coçando. Não pude esquecer as palavras do
Volusian sobre mortos e feridos. Não iria retirar nenhum dos curandeiros dos
soldados. Dei um olhar de aviso para Dorian. "Está tudo bem".

Ele devolveu o olhar, nos deixando em uma breve batalha de vontades. "Ótimo".
Ele repetiu. E olhou para o servente. "Ela falou que está tudo bem. Longe de mim,
questionar minha Senhora. Venha se juntar a nós querida. Presumo que seu desprezível
animalzinho de estimação tenha lhe falado sobre o essencial?"

Rapidamente uma cadeira foi colocada para mim e me juntei à reunião. Os
detalhes dela eram um borrão. Não sou estrategista, não para esse tipo de guerra.
Batalhas corporais são o meu negócio. Na maior parte eu escutei o grupo, nem sempre
entendendo, enquanto estudávamos mapas e discutíamos melhoramentos para o
exército e alvos estratégicos. Fronteiras e áreas com recursos ­ como minhas minas de
cobre ­ pareciam ser a prioridade na proteção, o que foi a única parte em que tive total
compreensão.

A pior parte foi à recapitulação da batalha. Ela foi longa, mesmo que com nosso
número superior de soldados tenham garantido a vitória desde o início. As cidades e
nossos alimentos estavam salvos. O numero de perdas foram recontados rapidamente.
Dorian e seus conselheiros pareciam satisfeitos com eles, os considerando baixos.
Suponho, até onde as porcentagens chegaram ao meu exército, de que eles estavam
certos. Ainda assim... Pessoas foram mortas. Gentry ou não, isso não importa. Eles
possuem famílias, pessoas que os amavam. Pessoas que irão sofrer por eles. Fiquei
enjoada.

A reunião foi encerrada com os planos sobre nosso novo movimento, planos que
concordei automaticamente quando consultada. Todos partiram, seguindo para suas

camas, exceto eu, Dorian e Masthera. O olhar lacônico e satisfeito que Dorian estava
usando com seu time desapareceu assim que a ultima pessoa saiu de vista. Ele se virou
para mim, com ultraje em seus lindos olhos.

"No que você estava pensando? Eu é que deveria ter enfrentado um exercito hoje.
Não você".

"Não enfrentei". Discordei. "Foi somente um fetch. Cheguei a mencionar a
mesa?"

"Você está fazendo piadas com isso".

"Não mais do que você normalmente faço". Fiz uma careta. "E isso não é nada...
nada comparado ao que você e os outros enfrentaram".

Sua expressão de orgulho retornou. "Tivemos uma ótima vitória".

"Temos idéias diferentes de vitórias". Falei tristemente. Meus olhos repousaram
sobre Masthera, que nos observava com interesse. "O que você está fazendo aqui?"

Ela pareceu entender minha pergunta como um convite para se sentar em uma
cadeira próxima. "Espero por você Majestade. Pressenti que você viria hoje".

"Volusian veio e disse que eu viria". Zombei.
O comentário não a incomodou. "Você veio discutir sobre a Coroa de Ferro".

"Dificilmente". Ainda assim, me encontrei fazendo uma careta diante dos
pensamentos malucos que se retorceram em minha cabeça. Dorian ergueu uma
sobrancelha, surpreendido.

"Isso é verdade? Você deixou bem claro seus sentimentos da ultima vez".

"Eles não mudaram exatamente". Admiti. "Ainda não vejo isso como um final
conveniente para tudo. Exceto... bem, um fantasma me procurou hoje".

"Você sempre está vendo fantasmas".

"Sim, sim. Mas essa declarou que pode me levar até a coroa. Ou melhor, o lugar
que a cerca. Ela precisa de um favor e ofereceu a informação como pagamento".

Os olhos de Masthera se arregalaram e ela se inclinou. "Então é isso! O que vi.
Isso vai levá-la até a coroa".

"Presumindo que esse fantasma não faça parte de algum plano elaborado para me
matar". Falei. "Não seria a primeira vez".

"Não, não". Ela falou. "Isso é real. Posso sentir. Tive uma visão de você com a
coroa".

Dorian olhou para ela. "Já chega. Não importa se esse fantasma está falando a
verdade. Não vou enviar Eugenie em uma jornada de pesadelos".

"Hei, você não me manda para lugar nenhum". Respondi.

Ele revirou os olhos. "Por favor. Não comece a fingir indignação e orgulho ferido
sobre sua capacidade. Você é uma ótima guerreira; aceito isso. Você derrota fetchs,

mesas e todos os tipos de demônios. Mas isso... não. O risco é grande demais e não
poderei ajudar você".

"Mas Majestade!" Masthera exclamou. "Você vê a oportunidade. Um final para a
guerra. O poder. O medo que isso iria inspirar aos outros".

"Meus próprios medos são mais do que o suficiente, obrigado". Ele falou
secamente.

Um fim para a guerra. Um pensamento incrível me atingiu. "Os Gentry sofreriam
nos campos de ferro... mas não sou a única meio humana. Posso levar Jasmine comigo".
Jasmine era quase tão imune ao ferro quanto eu. Tocá-lo não lhe causa dor e suas
algemas precisavam estar apertadas aos seus pulsos para diminuir a magia. Mas pelo
que sei, o ferro não faz nada com seu poder estando somente perto.

"Não". Dorian falou rapidamente. "Absolutamente não. Não permitirei que sua
irmã instável chegue perto daquela coroa".

"Porem a rainha está certa". Masthera falou. "A filha mais nova do Rei Storm
poderá ser protegida por seu sangue humano".
Esperei outra recusa do Dorian, mas ele permaneceu em silencio. Ele estava
realmente considerando aquilo, percebi. Jasmine poderia ser uma companhia segura ­
ou não.

"Não". Ele finalmente repetiu. "Se ela de alguma forma retornar com o controle
da coroa... bem, não vou querer ver isso. Ela deseja muito o poder".

"Achei que a coroa não possuísse poder sozinha". Falei desconfiada.

"Não tem ­ mas se ela a possuir, os outros irão acreditar que ela é a filha que eles
devem temer. No momento, você carrega essa honra. E quero manter as coisas dessa
forma. Você não pode ir com uma companhia tão perigosa".

"Vossa Majestade". Masthera tentou novamente.

"Já chega". Dorian falou, levantando. "Está tarde. A discussão acabou e quero ir
para a cama. Você está dispensada".

Masthera pareceu irritada, mas não contradisse seu lorde. Depois de uma breve
cortesia para cada um de nós, ela se retirou. Nós também saímos, permanecendo em
silêncio enquanto caminhávamos pelo corredor passando pelos guardas. Assim que
estávamos sozinhos no quarto do Dorian me virei para ele.

"Você tem muita coragem! Nunca mais fale comigo daquela maneira na frente de
alguém ­ como se tivesse poderes sobre mim. Somos iguais aqui, lembra?"

Ele sorriu e retirou a capa e a camisa. "É claro que somos. E iguais algumas vezes
trocam poderes. Quando se trata de você fazer uma escolha estúpida eu exerço meu
poder".

"Quando se trata de fazer escolhas estúpidas, eu... esqueça. Olhe se tivermos uma
chance de acabar com a guerra com o mínimo de derramamento de sangue possível, eu
quero".

"Assim como eu". Ele parou na minha frente e passou os dedos gentilmente pelo
meu pescoço. "Mas não ao custo da sua vida ou reputação. Encontre uma opção
melhor e você poderá ir". Ele moveu as mãos mais para baixo e pegou a bainha da
minha blusa, cuidadosamente a passando por minha cabeça sem tocar as bandagens.

"Ai vai você novamente". Rosnei. "Agindo como se controlasse isso".

"Eu controlo. Assim como controlo isso". Ele agarrou minha cintura e me puxou
para ele, seus lábios esmagando os meus em um beijo ardente, do tipo que me deixou
arfando quando consegui me afastar.

"Você não controla nada". Falei. Ainda assim, aquele beijo e a proximidade dele
me deixou doendo de excitação. Talvez fosse minha raiva ou a adrenalina residual por
toda aquela luta hoje. Talvez só alívio por vê-lo, não importando o quanto ele me
irritasse agora. De qualquer forma eu havia retornado da batalha e sexo é a maneira que
posso verdadeiramente confirmar que estou viva e em segurança. Hoje eu divido isso.
Ele está vivo. Eu o quero e ele sabe disso.

"Você viu?" Os lábios dele se moveram para o meu pescoço e senti seus dentes
rasparem. "Eu tenho o poder aqui... e você gosta disso...".

"Eu... isso é..." Formar palavras coerentes era difícil por razões obvias. A boca dele
era muita distração, assim como o restante do seu toque.

Ele moveu os lábios para perto da minha orelha, suas mãos tocando meus seios.
Empurrei as calças dele para baixo, sentindo o quanto ele estava excitado, enquanto
minhas mãos deslizavam sobre ele. "Conheço você Eugenie. Sei o que você quer... e
aqui? Você me quer no controle. Na verdade, esses ferimentos que você insiste em
esconder, são a única coisa que me impedem de te jogar contra a parede ou a cama".

O restante das nossas roupas caiu, peça por peça, enquanto ainda tentávamos
manter algum tipo de conversa. "Acho que você não está tão no controle quanto
pensa". Falei. Nós estávamos pressionados um contra o outro, pele contra pele.
Conseguimos permanecer assim enquanto seguíamos para a cama.

As mãos dele deslizaram por meus seios, parando brevemente em meus mamilos.
Então ­ novamente evitando as áreas com ferimentos ­ ele segurou meus ombros e
esperei ele me jogar na cama de qualquer forma. Ao invés, ele me fez ajoelhar com
minhas costas á apenas centímetros do colchão e parou bem na minha frente. A ponta
de sua enorme e inchada ereção estava bem em frente aos meus lábios, como da ultima
vez que estivemos juntos, só que daquela vez eu estava de costas.

"Ainda estou no controle. Posso obrigar você a fazer todos os tipos de coisas". Ele
murmurou. "Agora, você vai fazer isso? Ou vou ter que te obrigar?"

Não era preciso nenhum tipo de coesão. Abri os lábios e o tomei em minha boca.
Como da ultima vez em que fizemos sexo, ele parecia tão largo e longo que mal
consegui colocá-lo na boca enquanto chupava e deslizava meus lábios ao longo do
pênis. Ele percebeu que eu estava me controlando e fez um som de desaprovação.

"Você pode fazer melhor que isso". As mãos dele estavam enroladas em meus
cabelos e ele me puxou para mais perto, forçando mais dele dentro da minha boca,
mais do que pensei ser capaz de aceitar quando o senti tocar o fundo da minha
garganta. "Mais..." Ele arfava. "Aceite mais... ou vou forçá-la...".

Aumentei a velocidade e intensidade enquanto o tomava em minha boca sem
parar. Era o máximo que eu podia fazer e ele sabia, mas não importava. Isso era um
jogo de poderes. Decidir aonde vou e com quem luto? Não. Ele não podia fazer isso.
Mas aqui? Ele podia brincar de mestre.

"Ainda não é o suficiente". Ele falou. Ele tomou o controle e como da ultima vez,
empurrou contra minha boca, com a mesma força e velocidade com que o faz entre
minhas pernas. Suas mãos em meu cabelo me forçavam a olhá-lo nos olhos, assim
como escolhia o quanto dele eu receberia em minha boca.

"Gostaria de ter feito isso no andar de baixo. Deveria ter tomado você... no
instante em que entrou na sala..." ele ainda tinha aquele tom de voz macio e
controlado, mas que começou a se quebrar aos poucos de acordo com que o prazer ia
tomando o controle. "Gostaria que toda a corte visse isso. Você é tão linda... tão linda
com sua boca em mim... mais linda ainda quando despejo minhas sementes em você...".

Estremeci, deixando escapar um pequeno gemido de desejo. Ele estava
empurrando com mais força agora, quase desconfortável para mim, ainda assim aquilo
me excitava.

"É isso... o que você... queria. Não é? Da ultima vez?" A voz dele estava baixa e
contida, todo seu corpo se tencionou repentinamente. "Isso?"

Ele gozou e o liquido quente explodiu em minha boca. Apesar de ter diminuído,
ele ainda continuava deslizando para dentro e para fora enquanto se entregava para
mim. Então se afastou, terminando seu orgasmo sobre meus lábios e seios. Tossi e ele
deslizou um dedo por meus lábios.

"Engula". Ele rosnou. "Engula tudo".

O fiz, surpresa por ele ter conseguido gozar tanto em minha boca como em mim.
Os dedos brincaram com meus lábios, meu rosto e até meus seios, esfregando o sêmen.
Quando seus dedos retornaram para meus lábios, eu sabia o que ele queria. Os
coloquei em minha boca e lambi os dedos, sugando até não sobrar nada deles.

Sorrindo ele me ajudou a deitar na cama e se ajeitou ao meu lado, onde continuou
a massagear meios seios.

"Desperdício". Ele falou por fim. Eu sabia que era uma grande concessão para ele
esquecer o ato sexual. "Desperdício, mas agradável".

"Já que era isso o que eu queria, talvez eu é que tenha o poder por aqui afinal de
contas". O provoquei.

"Silêncio mulher". Ele me avisou bem humorado. Ele me virou novamente, para
que minha cabeça descansasse contra seu peito. Suas mãos deslizaram pelo meu corpo,
seus dedos se moveram entre minhas coxas tão hábeis como em baixo da mesa. Ele
gemeu quando sentiu o quanto eu estava molhada. "Desperdício. Falei".

Ri, mudando de posição para beijá-lo. "Já falei para você antes, isso não ­ ah...".

Os pensamentos coerentes se desvaneceram e logo tudo o que me consumia eram
seus dedos me tocando rápidos e com força. Ele levou seus lábios de volta aos meus,
então estávamos presos em um beijo quando gozei. Prazer agonizante irradiou pelo
meu corpo ao toque dele e meus gemidos foram engolidos pelo beijo. Ele me soltou
somente depois que os tremores pararam e minha respiração se acalmou, novamente
me fazendo descansar contra o peito dele. Com uma das mãos massageando meu
cabelo enquanto a que havia me dado o orgasmo se movia para descansar em minhas
costas.

Ambos suspiramos de contentamento e fechei meus olhos, a exaustão das batalhas
do dia finalmente tomando conta. Eu estava quase dormindo - e achei que ele também
estava ­ quando suas palavras calmas me trouxeram de volta a consciência.

"Masthera está certa. A coroa poderia resolver muitos problemas".

Sim, agora definitivamente eu estava acordada. "Achei que você não acreditava
nisso".

"Oh, não. Acredito que ela possa acabar com a guerra. Que fará com que Katrice
se encolha de medo". Ele suspirou. "Só não quero arriscar você. Não posso lidar com
sua perda".
Meu coração se apertou com as palavras dele. Sem saber o que falar simplesmente
passei meus lábios contra seu peito.

"E vocês estão certas". Ele continuou. "Que se eu não posso ir com você... então
um acompanhante meio humano seria a escolha ideal".

Agora eu estava realmente surpresa. Levantei minha cabeça com dificuldade de
acreditar no que escutava. "Então, o que você está falando? Que devo levar a Jasmine?"

"Não. Essa ainda é uma idéia terrível. Mas não tão terrível quanto a que eu vou
dar". Ele suspirou novamente, no que parecia estar lhe causando dor. "Você deveria
levar o Kitsune".

CAPÍTULO 9

APOIEI-ME PARA QUE EU PUDESSE OLHAR DORIAN NO ROSTO.
mesmo na penumbra, pude ver que ele estava falando sério.

"Quem, Kiyo?" Perguntei com espanto.

"Não, outro kitsune irritante em sua vida".

"Por que você... por que você iria sugerir uma coisa dessas?"

"Boa pergunta". Ele murmurou. Sua testa franziu-se com o pensamento, então
relaxou, em resignação. "Porque o seu sangue humano poderia protegê-lo e ­ deixando
de lado a minha opinião pessoal -- ele é um bom recurso em uma luta. O mais
importante, ele não teria interesse na coroa. Não seria de qualquer utilidade para ele".

Cada uma dessas coisas era verdade. Mas havia um problema óbvio. "Kiyo não iria
me ajudar. Não mais. Jasmine seria mais fácil de aceitar -- apenas por uma chance de
escapar". A discussão que Kiyo e eu tivemos nas montanhas ainda estava fresca na
minha cabeça.

Isso trouxe um sorriso aos lábios de Dorian, e ele arrastou seus dedos pelo meu
braço. "Você duvida de seus próprios encantos. O kitsune irá ajudá-la, se você pedir-lhe
gentilmente. Ele não está tão afastado de você quanto você pensa. E ele também iria
agarrar a chance de algum modo temerário para acabar com esta guerra".

"Imprudente... Você foi para lá e para cá sobre a utilidade da coroa a si mesmo. E
agora você está disposto a..." Eu quase disse: 'permitir', mas recordei das minhas
palavras anteriores. Dorian não dita a minha vida. "Aceitar o fato de eu ir com meu ex-
namorado?"

"Esta é uma solução aceitável. Ainda que perigosa... mas eu acredito que vocês
dois poderiam administrá-la. E eu confio em você". Dorian disse simplesmente. "Assim
como você confia em mim".

Fiquei olhando em seus olhos, escuros na lanterna bruxuleante, embora a forma
marcante de seu rosto e pele clara brilhassem como uma obra prima em mármore. "Eu
confio em você".
Ele sorriu de novo. "Ótimo. Nós vamos fazer planos no período da manhã. Mas,
por agora..." O sorriso deu lugar a um bocejo. "Eu preciso dormir. Foi um longo dia".

Era verdade. Ele participou de uma batalha épica e depois fizemos amor -- ou
como você desejar classificar essa merda não convencional -- como um profissional.
Meu dia tinha sido muito cheio também, para dizer o mínimo. Eu abaixei minha
cabeça, acondicionando-me contra ele, e logo dormi, apesar da sugestão chocante que
ele tinha acabado de fazer.

Quando acordamos, no entanto, a coroa se tornou nosso tópico imediato do café
da manhã. Nós tínhamos optado por uma refeição privada em uma pequena mesa na
sala adjacente ao seu quarto. Depois de ouvir sobre o meu devaneio acerca de seu robe
muito longo, ele tinha feito o meu próprio para estas festas de pijama: veludo branco
com bordados de ouro. Era um pouco mais elaborado do que eu preferia, mas achei
legal contra a minha pele nua. As feridas certamente apreciaram as roupas largas
também.

"Convide-o para ir ao seu castelo". Disse Dorian. Totalmente descansado, ele
mudou completamente para o seu modo ardiloso, mal tocando as arrumações
elaboradas dos doces e carnes, que seus servos colocaram diante de nós. "Os deuses
sabem que ele não virá aqui".

"Ou Tucson". Sugeri depois de engolir uma versão gentry de um rolinho de
canela. Talvez eu pudesse pegar a receita para o Tim. "Ele provavelmente iria à minha
casa lá".

Dorian considerou. "Não. Traga-o a este mundo, ao seu domínio, para que vocês
possam ir o mais rápido possível. Acima de tudo, você não deve, sob nenhuma
circunstância, permitir que ele volte para Maiwenn e consulte-a sobre isso".

Engoli outra mordida e sorri. "Você acha que ela ficaria com ciúmes?"

"Esse é o menor dos nossos motivos". Ele prendeu um entre seus dedos. "Lembre-
se: ela tem medo de você. De nós. Ela não veria isso como um fim para a guerra. Ela
veria como você lutando pelo poder. E, quem sabe? A coroa pode não ter nenhum uso
para o kitsune, mas ela poderia convencê-lo a trazê-la para ela".

"Ela não está disputando o poder, que eu saiba. Além disso -- a grande coisa é
ganhar a coroa, certo? Se fosse apenas dada a ela, ninguém iria respeitá-la por isso. Se é
que pode ser dada... eu pensei que ela voltasse para casa quando está longe do seu
dono".

Dorian não respondeu imediatamente. "Verdade. Mas, então, isto ainda manteria
a coroa longe de você. E não podemos esquecer que ela poderia simplesmente falar
com ele sobre isso por causa do simples interesse por sua vida". O tom de Dorian
continha uma preocupação mesquinha. "Não, não lhe dê uma chance de falar com ela.
Convide-o e pergunte -- implore, se for necessário -- pela sua ajuda. Qualquer motivo
de urgência vai funcionar. A necessidade de acabar com a guerra. Elabore algum
ultimato do fantasma".

Eu abaixei o rolinho e toquei o meu copo de água distraidamente. Isso tudo estava
começando a fazer-me sentir estranha. "Há muita chantagem nisso".

"Na política sempre há. Na guerra. Mesmo no amor. Mas isso pode nos ajudar,
mais do que você pode imaginar. Devemos colocar nossa fé no velho ditado de que os
fins justificam os meios".

Eu suspirei. "Ok, então. Vou fazê-lo. Quando?"

"Tão logo quanto possível. Katrice está se reagrupando. Podemos tirar proveito
disso". Que bom, o cálculo do ar desbotado. "Ainda que eu odeie te perder".

"Hey". Alcancei o outro lado da mesa e coloquei minha mão sobre a dele. "Não
pense nisso como uma 'perda`. É apenas como se eu estivesse indo para Tucson por
alguns dias".

Ele fez uma careta. "Exceto que seus pequenos trabalhos humanos não exercem
tais riscos. Sem incluir os fetches. Eu gostaria que você deixasse que meus curandeiros
cuidassem dessas feridas antes de você ir".

O corte costurado coçava, mas o resto não estava me incomodando. Eu testei a
amplitude de movimento do meu braço esquerdo. Foi difícil, mas se moveu. "Deixe
seus curandeiros continuarem trabalhando aqui. Talvez Shaya conserte isso". Ela não
possui a habilidade de um curador de boa-fé, mas poderia fazer algumas correções
rápidas.

Dorian não gostou, mas deixou o assunto morrer. Nós terminamos o café da
manhã, relembrando o pouco que ele sabia sobre o caminho para a Coroa de Ferro. Eu
substituí meu robe pelas minhas roupas normais, após um dos seus servos ter limpado
e trocado o curativo das minhas costas. Minha mãe ficaria orgulhosa, vendo-me seguir
as ordens do médico.

Nós não sabíamos onde kiyo estava exatamente, aqui ou no mundo humano, mas
Dorian enviou um mensageiro à corte de Maiwenn, convidando-o para a minha.
Ninguém da nossa terra seria recebido de braços abertos em seu território, mas ela iria
permitir que um mensageiro entrasse e se Deus quiser nos deixaria saber se ele não
estava atualmente no Outromundo. Eu também enviei Volusian a Tim e Lara,
advertindo que eu ficaria fora por um tempo e para cancelar todos os meus
compromissos. Lara não gostaria disso, mas eu sentia que esta seria a menor das suas
preocupações quando encontrassem com Volusian pela primeira vez.

Quando chegou a hora de eu ir embora, Dorian não conseguia esconder seus
sentimentos conflitantes. A parte dele que sempre buscava vantagem e controle queria
a coroa. A parte dele que me amava preocupava-se com o que eu estava me metendo.

"Vai ficar tudo bem". Eu disse, passando os braços em torno dele. "Eu sou filha do
rei Storm, lembra? Isto vai ser como um bolo. E ei, se esse fantasma está mentindo, eu
estarei de volta esta noite".

"Eu não sei se prefiro isso ou não". Ele meditou. Ele colocou a mão por trás do
meu pescoço e me deu um longo beijo. "Tenha cuidado, Eugenie. Lute duramente, mas
tenha cuidado. E tome isso". De um bolso escondido em sua capa, ele produziu algo
brilhante e me entregou.

Segurei-o. Era um anel pendurado em uma corrente fina. Ambos eram feitos de
ouro. Um diamante ladeado por safiras destacava-se no anel, que foi feito para se
parecer com um círculo de folhas.
"Isto é mágico?" Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça. "Só uma coisa para lembrar-se de mim. Apenas algo para se
pensar".

Olhei-o atentamente. O casamento acontece entre os gentry, embora não tão
freqüentemente como entre os humanos. Considerando a nossa taxa de divórcio, talvez
fosse inteligente. Eles não davam anéis de noivado como os seres humanos faziam, mas
ele sabe o costume do meu mundo. Este anel de repente deixou-me inquieta.

"É uma coisa bela". Disse ele, vendo minha reação. "Para uma pessoa bela. Eu
sabia que você não iria usá-lo em seu dedo, então o mantenha na corrente".

Eu balancei a cabeça. Às vezes, um presente era apenas um presente,
principalmente quando alguém estava com medo de sua amada ser morta logo. Beijei-o
novamente. "Obrigado".

Eu tinha vindo sozinha através do mundo humano, então ele enviou uma escolta
comigo para voltar a Terra Thorn. Ninguém, exceto Dorian e Masthera sabia o que eu
ia fazer, mas o grupo podia sentir que algo grande estava prestes a acontecer. Tensão
crepitava em torno de nós enquanto viajávamos. Como tantos outros, estes soldados
consideravam Dorian e a mim, uma casa de força. Eles mal podiam esperar para ver o
que iria acontecer a seguir.

Kiyo não estava esperando por mim na Terra Thorn, não que eu esperasse
resultados tão rapidamente. Nenhuma recusa tinha vindo de Maiwenn, o que eu tomei
como um bom sinal.

"O que você e meu senhor estão planejando?" Rurik perguntou quando me viu.
"Você tem esse olhar".

"Que olhar?" Eu perguntei, curiosa. Ele me lembrou o Tim.

"O olhar que diz que você está planejando alguma coisa".

Revirei os olhos. "Eloqüente como sempre Rurik".

"Eu devo organizar combatentes?" Ele perguntou, ignorando o meu comentário.
Shaya se juntou a nós em seguida, com rolos de pergaminho em seus braços.

"Não. Eu farei isso sozinha. Bem, não exatamente. Kiyo virá comigo. Eu espero.
Ele deve aparecer por aqui hoje". Falei com mais confiança do que eu sentia. Apesar das
certezas de Dorian, eu ainda não tinha certeza se Kiyo ajudaria ou não. Rurik e Shaya

trocaram olhares. "Parem com isso". Disse-lhes. "É perfeitamente sem interesses.
Dorian sugeriu isto".

Parecia que Rurik ainda tinha algumas coisas a dizer sobre isso, mas Shaya
interrompeu. "O Rei Linden escreveu de volta. Ele não vai se juntar a nós, mas ele
também não vai lutar contra nós".

"Não é a melhor notícia, mas também não é a pior. Vamos ver se ele vem
rastejando, quando seu poder estiver em disputa". As palavras saíram com mais veneno
do que eu esperava. Rurik parecia aprovar. Shaya folheou mais papéis.
"Caria, a rainha Laurel, gostaria de encontrá-la e discutir sobre a guerra,
entretanto".

Eu não sabia nada sobre essa terra. "Alguma vez nós já a contatamos?"

"Não". Disse Shaya, dando-me um olhar significativo. "Mas o seu reino faz
fronteira com a Terra Linden".

"Ah". Sorri. Meu comentário para Ranelle de que outros ficariam de olho na terra
de seu rei quando o seu poder se fosse era verdade. Ao recusar a minha oferta para se
defender contra isso, eles permitiram a alguém me solicitar para o outro lado dessa
disputa futura. "Ele vai se arrepender mais tarde pela sua neutralidade. Veja se Caria irá
encontrar-se com Dorian enquanto eu estiver fora". Dorian entenderia perfeitamente a
situação.

Eu percebi que isto era tudo e comecei a sair. "Há mais uma coisa". Acrescentou
Shaya, torcendo uma trança preta, um hábito nervoso dela. "Girard gostaria de vê-la".

Sua inquietação me fez pensar que algo ruim estava por vir, mas Girard era uma
das poucas pessoas que raramente dava más notícias. Ele geralmente entregava
presentes, sempre chegando com alguma peça nova e maravilhosa de artesanato.
Algumas peças -- como a espada do Dorian e as algemas da Jasmine -- eu havia
encomendado especificamente. Às vezes, porém, a inspiração vinha do artista, e ele
apresentava algum colar ou diadema primorosamente trabalhado, que eu tinha certeza
que estava além da habilidade humana. Ele podia até tocar o ferro em quantidades
muito pequenas.

"Tenho certeza que ele fez alguma coisa grande, mas eu não estou de bom humor
hoje". Disse a ela. "Eu quero ver Jasmine".

"Ele não está aqui para lhe mostrar algum trabalho. Ele quer apresentá-la à sua
irmã". Ela me olhou com expectativa e pareceu surpresa pela minha falta de reação.
"Você nunca ouviu falar dela? Imanuelle de la Colline? "

Eu balancei minha cabeça. "Eu deveria?"

Shaya encolheu os ombros. "Talvez não. Mas eu acho que você vai achá-la...
interessante. Isto só vai tomar um minuto".

Era verdade que eu estava com pressa, mas a atitude de Shaya me intrigou. Fomos
até a oficina de Girard, nos quartos que eu tinha dado a ele na borda exterior do
castelo, em função de seu trabalho sempre corresponder a alguma coisa no fogo. Ele
estava debruçado sobre uma mesa, com os dedos magicamente trabalhando num
conjunto de metais e jóias.

"Outra coroa?" Eu perguntei, alegre. Elas pareciam ser seu trabalho favorito.

Girard olhou para cima, assustado, e fez uma reverência. "Não, Majestade. É algo
que o Senhor Rurik solicitou. Se você quiser outra coroa...".

Acenei-lhe em silêncio. "Não, não. Deus sabe que eu tenho muitas. Embora isto
dificilmente pareça o estilo de Rurik".
Girard não comentou. Confidencialidade dos clientes, eu supunha. Virando-se,
ele apontou em direção ao outro lado de sua oficina, e eu fiquei boquiaberta. Uma
mulher estava lá, e de alguma forma eu não a tinha notado quando entrei, o que parecia
impossível. Ela e seu irmão compartilhavam a mesma pele escura e cabelos pretos, bem
como o gosto por roupas brilhantes. O vestido que ela usava era de uma seda
deslumbrante, com um corte mais curto do que a maioria dos vestidos gentry. Alguma
coisa sobre ela me deu a impressão de que ela o usava com alguma utilidade, e não
sensualidade.

"Sua Majestade". Disse ela, varrendo-me com o olhar. Assim como Girard, um
sotaque levemente francês fazia suas palavras soarem atadas.

"Esta é minha irmã, Imanuelle". Disse ele. Assim como Shaya, ele parecia esperar
que eu soubesse quem a sua irmã era.

"É um prazer lhe conhecer". Disse a ela. Quando ninguém disse nada, eu me movi,
impaciente para ir embora. Vendo isto, Imanuelle avançou, com seus passos graciosos
e líquidos.

"Sua Majestade". Disse ela. "Eu vim para oferecer os meus serviços a você, se você
quiser me contratar".

Olhei para as outras faces, buscando mais informações, mas não recebia nada. "O
que você faz?" Eu perguntei. "Você trabalha o metal como Girard?"

Um sorriso malicioso passou pelo rosto de Imanuelle. Ela percebeu que eu
realmente não sabia quem ela era e parecia gostar disso. "Não. Meus talentos são de
uma natureza diferente...".

Eu vi um pequeno gesto de sua mão e, de repente, o vestido de seda azul-petróleo
ficou amarelo. Um momento depois, ele mudou de forma completamente,
transformando-se em um vestido de veludo. Então, ela não era mais a Imanuelle. Um
clone de Shaya estava diante de mim. Depois de deixá-la dissipar-se, Imanuelle voltou
para a sua forma original. Inclinou a cabeça, como se tivesse apenas realizado um show
em um palco.

"Eu sou uma ilusionista". Disse ela. "Eu posso fazer as pessoas verem coisas que
não estão lá. Mas o mais importante, eu posso fazer de mim algo que eu escolha".

Era um dos poderes mais legais dos gentry, mas eu não via inteiramente como isto
seria útil para mim. "Então, eu finalmente posso estar em dois lugares ao mesmo
tempo?" Eu brinquei.

Isso trouxe outro sorriso. "Eu suponho... mas eu aperfeiçoei outras habilidades
necessárias para acompanhar esta. Alguns muitos monarcas acham úteis. Eu... Livro-me
dos problemas".

Aparentemente, adivinhando a minha confusão, Shaya suspirou e baixou a
formalidade usual. "É melhor você não dançar em torno do assunto. Minha rainha
prefere franqueza". Ela virou para mim. "Imanuelle é uma assassina, Sua Majestade". O
sorriso de Imanuelle apertou um pouco. Eu acho que ela preferia uma descrição mais
florida.

"Essa é uma palavra feia para um conjunto de habilidades formidáveis".
Levei um tempo para compreender. "Então, você está aqui para -- espera. Você
acha que eu vou contratar você para, o quê, assassinar Katrice?"

Imanuelle encolheu eloqüentemente, e seu irmão falou por ela. "Alguns podem
ver isso como uma maneira rápida de acabar com a guerra, se é que posso ser tão
ousado". Girard tinha percebido que eu não gostei dessa idéia e ficou
compreensivelmente nervoso. Ele valorizava a sua posição comigo.

"É uma maneira suja e sorrateira para acabar com uma guerra!" Exclamei. "Isto
não me faria melhor do que Katrice e seu filho bastardo".

"Isto eliminaria Katrice diretamente". Disse Imanuelle. "Até porque ela é a fonte
de seus problemas. Eu poderia disfarçar-me como alguém em seu castelo. Rápido, fácil.
Nenhum outro inocente precisa ser ferido".

Por um segundo, suas palavras quase faziam sentido. Então eu balancei a cabeça
enfaticamente. "Não. Eu não vou abaixar-me a esse nível".

O comportamento agradável de Imanuelle desapareceu. "Há monarcas que
dariam metade de seu reino por meus serviços! Eu sou muito seletiva. Estou te fazendo
uma grande honra".

Eu estreitei os olhos. "Você está me fazendo uma honra?"

Ela hesitou, percebendo que estava se dirigindo a uma das rainhas mais
formidáveis no Outromundo. Novamente, Girard pulou para salvá-la.

"Perdoe a nossa presunção, Sua Majestade. Nós só queríamos oferecer isto como
uma opção".

"Já foi oferecido". Eu disse sem rodeios. "E recusado. Obrigado pela `honra'. Você
é bem vinda a visitar o seu irmão, é claro, mas eu prefiro que você fique aqui não mais
que o absolutamente necessário".

Virei dramaticamente para longe deles, percebendo a indignação no rosto de
Imanuelle, e caminhei para fora. Shaya correu ao meu lado.

"Falou como uma rainha". Disse ela.

"Preciso me preocupar com essa mulher querendo me matar agora?" Eu
perguntei. "Será que ela vai pular em você e puxar uma faca contra mim?"

"Tenho certeza que você ia reagir de forma tão eficiente como você faz com
outros ataques contra você". Disse Shaya secamente. "Suas ilusões não são infalíveis
para todos. Eu acho que Volusian pode ver através delas, se ela estiver por perto. Mas,
sinceramente... apesar de seu orgulho ter sido ferido -- ela não tem mais essa
reputação -- eu suspeito que ela vá simplesmente segui-la e deixá-la agir por si só,
mesmo que seja apenas por causa do irmão".

"Bem, isso é bom. Menos uma pessoa tentando me matar". Passei a mão pelo meu
cabelo. "Há qualquer outra coisa com a qual eu precise lidar?"

Aquela era uma pergunta capciosa, é claro. Shaya tinha mais algumas questões
para eu olhar antes que eu pudesse finalmente ver Jasmine. Eu não tinha falado com ela
depois do jantar na terra do Dorian e senti que ela seria uma boa distração enquanto eu
esperava para ver se Kiyo viria. Encontrei-a fora, em um dos jardins, sentada à sombra
de uma árvore de algaroba15 como o sol estava alto e o calor aumentou. Seus guardas
estavam estoicamente nas proximidades, e suas correntes finas brilhavam na luz. Com a
minha abordagem, ela olhou por cima de um livro. Petulante e uma adolescente
sedenta de poder que ela provavelmente era, mas também era uma ávida leitora,
usando a fantasia para escapar de sua existência mundana, quando ela ainda vivia entre
os humanos. Este livro foi um que eu trouxe, recentemente, o primeiro de uma série
que está na moda.

15 Árvore da familia das leguminosas.

"É bom?" Eu perguntei, sentando-me frente a ela.

"Não é ruim". Disse ela, jogando. Um momento depois, ela quebrou a frieza. "Há
mais desta série?"

"Mais três, eu acho".

Ela não disse nada, mas sorriu enquanto pousava o livro ao seu lado.

"Você se divertiu na terra de Dorian?" Eu perguntei.

"Sim. Foi bom estar fora". Seus olhos desviaram-se, focando-se em nada
especificamente. "Eu acho que a melhor parte foi assistir Shaya assustar todos os caras
que estavam dando em cima de mim". Ela se virou para mim. "É assim com você o
tempo todo?"

"Não desde que eu estou junto com Dorian. Eles pararam -- e Shaya não os
assustava. Ela me abandonava".

Jasmine sorriu novamente. "Dorian é louco por você. Obcecado".

"Isto é uma observação extrema".

"É verdade". Ela tirou o cabelo de seus olhos. A luz do sol transformava-o em ouro,
tornando-me um pouco invejosa; eu herdei o vermelho verdadeiro de nosso pai, ao
invés de morango loiro. Ela podia vestir rosa. "É bom". Continuou ela. "Sua obsessão.
Essa vadia, Ysabel o quer, você sabe. E ela te odeia. Assim como sua mãe".

"Sim, eu meio que percebi isso".

Ela encolheu os ombros. "Bem, então, mantenha Dorian por perto".

"Eu não estou preocupada".

"Ysabel tem filhos, e você não lhe dará nenhum".

Eu estava tão farta de ouvir falar de mim e da minha procriação. "Muitas mulheres
gentry têm filhos. Você está dizendo que eu deveria me preocupar com todas, Pequena
Miss Love Guru?"

"Nem todas se parecem com você. Quero dizer, não exatamente como você... mas
eu acho que Dorian foge das ruivas. Talvez ele ache vai ter filhos de cabelos vermelhos
desta maneira. Eu não sei. Mas, sei lá. Eu só estou dizendo que Ysabel está esperando
você cometer um deslize com Dorian. E eles já estiveram juntos antes. Ela tem um
peito maior do que você, também".

"Hey". Eu disse indignada. "Isso é irrelevante. Além disso, ele esteve com ela -- e
ela o irritou. Irritava. E eu não vou cometer um 'deslize'. Ele não vai a lugar nenhum".
Eu fiz uma careta, surpresa com as minhas palavras a seguir, que eu realmente disse a
ela. "É do Kiyo que eu tenho que ficar perto".

Os olhos cinzentos de Jasmine arregalaram-se em estado de choque. "Ele? Ele não
serve para você... a não ser, oh Jesus. Vocês não estão planejando um relacionamento a
três, não é? Quer dizer, eu sei que você e Dorian participam de alguns...".

"Não!" Exclamei. "Não é nada assim. Preciso de um favor de Kiyo, isso é tudo. Um
dos grandes. Um perigoso. Eu não tenho certeza de como vou convencê-lo". Eu sorri
fracamente, lembrando a expressão de Dorian quando eu apareci no vestido apertado
gentry. "Eu saberia o que fazer se fosse com Dorian".

Jasmine zombou e me deu um olhar arrasador. "O quão estúpida você é? Até eu
sei o que fazer se você quer bajular o Kiyo. Pareça humana".

"Eu sou humana. Quem é a idiota agora?" Desgraça. Nós tínhamos avançado para
uma discussão arrogante. Estávamos nos tornando verdadeiras irmãs mais e mais a
cada dia.

"Você é metade humana. Dorian gosta disso, porque ele acha que pode derrubá-
la... mas o resto? Ele quer que você seja uma rainha. Uma das mais brilhantes. Kiyo não.
Ele odeia tudo isso. Ele não quer você em qualquer lugar perto disso. Você estava
ligada antes de estar em todas as coisas do Outromundo. Mais ou menos isso".

Olhei para ela, assustada, porque ela tinha um excelente ponto. "Eu pareço
humana agora?"

Jasmine me estudou criticamente. Eu estava vestida com jeans e uma camiseta,
meu cabelo estava puxado de forma descuidada em um rabo de cavalo. Minhas botas
eram resistentes, feitas para caminhadas. Planas.

"Sim". Ela disse, parecendo surpresa. "Bagunçada e humana. Ele vai perceber isso.
Exceto pelo anel. É de Dorian, certo? Coloque-o sob sua camisa".

Eu toquei o anel pendurado no meu peito, depois de ter esquecido o assunto.
"Como você sabia que era dele?"

"Porque você não iria comprar para si mesma, e mais ninguém iria te dar. Ele
também tem folhas de carvalho".

Eu olhei para o anel. Com certeza. Eu não tinha percebido as folhas antes. Segui
seu conselho, escondendo-o sob a camisa. Ela olhou com aprovação, e em seguida,
parecia que realmente tinha notado a minha camisa.

"Quem é M.tley Cr.e?"

Eu fui salva de uma palestra sobre o rock clássico, quando um servo correu para
nós, dizendo-me que Kiyo estava aqui. A facilidade que eu sentia com Jasmine
desapareceu. Levantei-me, forçando a calma, meio que me perguntando se eu deveria
levá-la depois de tudo. Não. Kiyo era a escolha certa.

"Boa sorte". Disse Jasmine, pegando seu livro. "E lembre-se: seja humana".

Segui o servo, envergonhada por estar recebendo conselhos de uma louca de
quinze anos de idade. Exceto... Eu sabia que ela estava certa. Eu tive certeza que meu
modo de andar era casual, nada soberano. Então, dispensei o servo, decidindo que seria
melhor encontrar Kiyo eu mesma, ao invés de me aproximar com uma escolta, não
importa o quão insignificante.

Ele estava esperando no interior da sala de visitas, sem sentar. Eu sabia o quão
desconfortável eu o deixei, e não tinha dúvidas que este convite o tinha colocado em
guarda. Eu observei-o despercebida por um momento, admirando aquele corpo
musculoso, sabendo que era errado fazê-lo. Aprontar com ele era impossível, no
entanto. Ele poderia sentir o cheiro em mim. Meu suor e minha pele teriam me
denunciado, mesmo com o protetor solar de baunilha e perfume de violeta que eu
também usava.

"Eugenie". Disse ele, virando-se. "Prazer em vê-la". Ele parecia impassível, mas
seus olhos me fizeram pensar que ele realmente gostou de me ver, fisicamente, pelo
menos.

"Desculpe o pedido abrupto". Eu disse. "Você provavelmente estava visitando
Luisa, hein?"

A menção de sua filha suavizou a sua expressão um pouco. "Sim, ela está... Ela
cresce a cada dia. É incrível". Ele voltou para o modo de alerta. "Mas não é por isso que
você me chamou aqui".

"Não". Eu estabeleci-me numa das cadeiras, cruzando as pernas e esperando
parecer casual e despretensiosa. "Eu preciso de sua ajuda".

Ele continuou em pé. "Isso é inesperado".

"Bem, eu recebi uma oferta inesperada. Você ainda quer que eu saia desta guerra?"

"Claro". Ele fez uma careta. "Oh, Eug. Por favor, me diga que você não me quer
para negociar ou algo assim".

Eu sorri, tanto pela sugestão quanto ao uso do apelido. "Não, eu preciso de você
para algo que é mais sua especialidade. Eu suponho que você nunca ouviu falar da
Coroa de Ferro?"

Kiyo não tinha. Eu dei um breve resumo, explicando como a pessoa que lutasse
por ela e vencesse supostamente poderia inspirar medo e temor.

"E isso é o suficiente para fazer Katrice recuar?". Ele perguntou cético.

"Assim eles dizem". Dei de ombros. "É estranho para mim também, mas todos
com quem falei disseram que vai intimidar Katrice e seus exércitos". Melhor não falar
que "todos" eram Dorian, um fantasma, e uma vidente louca. "Isto vai provar o quão
suprema eu sou. E se isto forçá-la a fazer um acordo de paz..." Eu o deixei tirar suas
próprias conclusões.

"É uma aposta". Disse Kiyo. Ele ainda parecia duvidoso, mas não havia uma
rachadura ali. Ele queria o fim da guerra. Ele me queria fora disso. "Mas por que pede a
mim? Por que não Dorian?"

"Porque ele não poderia sobreviver à busca. O caminho é forrado com ferro. Seria
preciso um gentry insanamente forte ou pessoas com sangue humano, como você e eu.
Além disso, eu confio em você".

Eu não sabia se a solidariedade humana tinha me levado a algum lugar, mas ele
definitivamente estava considerando isso, mais e mais. Eu também queria saber se
admitir a confiança nele causou alguma coisa. Parte do que tinha nos separado foi a
minha acusação de que ele não se importava o suficiente comigo para punir Leith.

"Eu gostaria de ajudá-la". Kiyo disse finalmente. "É uma loucura -- mas não mais
louco do que metade das coisas por aqui. Porém, eu deveria falar com Maiwenn em
primeiro lugar".

Você não deve -- sob-hipótese alguma -- permitir que ele volte para Maiwenn e
consulte-a sobre isso.

"Não há tempo". Eu disse, apressadamente correndo pela lista de desculpas que
Dorian me deu. "Temos que ir agora. O fantasma que vai me ajudar ameaçou voltar
atrás se eu não agisse logo. E nós estamos atualmente em espera com Katrice. Se eu

pudesse voltar com a coroa antes da próxima batalha, seria... bem, isso seria incrível.
Sem mais derramamento de sangue".

Eu podia vê-lo vacilar, mas ele não estava muito convencido. Realmente, eu não o
culpo. Se eu tivesse uma aliada que pudesse aconselhar-me sobre algumas questões
bizarras, eu ia querer muito falar com ela antes de me meter nisso.

"Você pode falar com ela, se quiser". Eu disse. "Mas eu tenho que sair agora. Eu
não posso ficar esperando. Só irei sozinha".

Isso encravou o punhal. Não importa o quão esboçada a lógica era, não importa o
quão inteligente seria obter os conselhos de Maiwenn... O medo de que eu corresse por
perigos desconhecidos era muito grande. Ele olhou para mim por vários momentos
pesados, com sua expressão ilegível.

Finalmente, ele suspirou.

"Agora?" Ele perguntou.

"Agora". Eu disse.

"Então vamos".

CAPÍTULO 10

DEANNA VEIO RAPIDAMENTE QUANDO EU A CONVOQUEI, O QUE
me fez pensar que ela estava por perto, invisível, desde nossa última conversa.
Independente disso, ela não mencionou o falso ultimato, assim, deixando Kiyo
continuar a acreditar que estamos com o tempo apertado. Chamei também Volusian,
pensando que não seria má idéia ter a proteção dele ao viajar até o atalho para
fantasmas. Os dois espíritos não interagiram enquanto viajávamos, o que não é
surpresa, visto que eles tinham pouco em comum.

Deanna estava presa aos vivos, devido a assuntos inacabados e o amor por outros.
A alma de Volusian estava condenada para toda a eternidade, forçada a vagar por causa
de seus crimes -- a não ser que eu o envie para o Submundo.

Deanna não tinha sido capaz de dar uma estimativa de tempo de quanto levaria
para alcançar o covil da coroa (como eu estava começando a chamá-lo). O terreno
distorcido do Outromundo sempre tornou difícil de estimar a duração de uma viagem,
ademais, espíritos podem se mover mais rápido que nós. Eu não me importaria em
andar, todavia as desconhecidas variáveis me fizeram viajar a cavalo. Kiyo fez o mesmo
por cortesia a mim, embora ele pudesse correr diversas milhas, sem cansar, na forma de
raposa. A única coisa de que eu tinha certeza era que esta não seria uma viagem diurna.
Kiyo e eu estávamos tão silenciosos quanto os fantasmas, embora quando
ultrapassávamos as terras adjacentes á minha, ele me dissesse, ocasionalmente, onde
estávamos. Eu nunca tinha me aventurado tão profundamente no Outromundo e isso
me deixou inquieta, ainda que a ciência de estar longe da terra de Rowan era um alívio.
Até Kiyo, neutro como ele se considerava, ficou tenso no território de Katrice.

"Esta é a terra Honeysuckle". Ele disse, quando a estrada nos levou a uma
paisagem quente, notoriamente colorida. Flores cresciam por toda parte, até mesmo as
árvores estavam cobertas de botões de flores. Arizona é conhecida por todos os seus
beija-flores, mas aqui, eles pareciam um enxame de moscas.

"Dorian estava certo". Pensei. "É lindo". Era difícil imaginar um exército saindo
deste lugar. Parecia mais um lugar em que as pessoas andariam felizes, em poucas
roupas, tambores e se engajando em amor livre. Bom, já que eles eram gentrys, amor
livre era inerente à sua existência.

"Dorian deve saber". Disse duramente Kiyo, com os olhos focados à sua frente.
"Estou surpreso que ele a tenha deixado vir comigo".

"Dorian não diz o que posso ou não fazer". Eu retruquei bruscamente. "Se você
vai continuar com isso o tempo todo, eu...".

"Você o quê?" Perguntou Kiyo, divertindo-se, quando não continuei. "Vai
mandar-me de volta? Encarar sozinha situações com perigo de vida?"

"Eu a escoltaria de volta com prazer, se for sua escolha". Disse Volusian a Kiyo.

Eu suspirei. "Por favor, só não fique falando no Dorian o tempo todo, ok? Ele quer
que isso acabe. Foi idéia dele, pedir sua ajuda. Ele está preocupado, acredite em mim".

"Nisto". Disse Kiyo seriamente. "Eu consigo acreditar. Não confio nele. Nem
acredito que a aliança dele com você é tão direta quanto parece, mas acredito que ele se
importe com você".

O terreno repentinamente se moveu ao redor de nós, tornando-se um deserto
rolante de areia branca. Ele continuava sob um forte sol, refletindo de uma maneira que
doía os olhos.
"Urgh". Eu disse, focando meus olhos na estrada. "O que é isso?"

"A terra Myrrh". Disse Kiyo.

Mesmo com meus olhos desviando o olhar, eu sabia que ele estava sorrindo.

"Imaginei que você gostaria deste lugar. Você deveria fazer amizade com o rei.
Eles têm alguns lutadores durões".

"Grande diferença entre o deserto Sonora e isto". Eu disse.

Embora duro e escaldante, o deserto em que cresci era cheio de vida. Este lugar
era desolado e morto. Felizmente, logo saímos dele para um vasto brejo, coberto em
neve. Tirei da mochila minha jaqueta de couro. Trouxe-a sabendo que poderíamos
viajar por terras que estariam em inverno. Ainda não protegia muito e me dei conta de
que poderia ter mandado um dos meus servos arranjarem algo mais adequado. Sem
dúvida seria ao estilo gentry, provavelmente uma capa. Pareça humano, Jasmine disse.
Eu aparentava principalmente ser fria. Kiyo identificou este lugar como a terra Birch.

Cruzamos para a terra Honeysuckle novamente, o que era típico do Outromundo.
Outros lugares também se repetiam. Quando a estrada nos levou através de um terreno
que me lembrava do norte do Texas, Kiyo não tinha nada para dizer.

"O que é isso?" Perguntei.

"Eu não sei". Admitiu.

"É a terra Pecan16". Disse Volusian.

16 É um tipo de noz, chamada de noz pecã.

17 Tradução literal Terras de ninguém.

"Soa delicioso". Brinquei.

Tivemos algumas paradas e havíamos comido a maior parte das provisões de
viagem.

"Eu comeria uma torta de noz pecã agora".

Kiyo não respondeu. Ele parecia perdido em seus pensamentos, sua expressão se
tornando mais sombria à medida que continuávamos pelo terreno que ele não
conhecia. Ele parecia conhecer os nomes, contudo, e não gostava deles.

"Você está nos levando para as Terras Unclaimed17". Ele disse para Deanna.

Estava perto do fim do nosso dia, o céu estava rubro.

"Eu não sei". Ela disse, simplesmente. "Estou apenas indo aonde fui mostrada".

"Volusian?" Perguntei.

"É claro que estamos indo para as terras Unclaimed". Disse ele, soando
ligeiramente aborrecido por minha estupidez. "Estamos quase nelas. Onde você
esperava que um objeto cobiçado estivesse escondido?"

Olhei para Kiyo. "Arrisco-me a dizer, estes são reinos os quais ninguém controla?"

"Reinos nem é a palavra certa". Ele disse. "Ninguém vive aqui".

"Por que não?" Perguntei.

O cenário mudou novamente. A textura do chão era como lama recém secada,
coberta por um padrão de trincas que me lembrava meus quebra-cabeças. Estranhos
buracos estavam espalhados aqui e ali. Esta sombria atmosfera se estendia além de
onde a visão alcançava. Não muito longe de nós -- dez milhas no máximo -- a terra
subia bruscamente, ao longo dos lados da estrada trincada, formando altos penhascos
rochosos que se curvavam em seus topos, como mandíbulas. Rajadas erráticas de vento
sopraram pelo túnel que elas formavam. O sol poente tornou tudo vermelho sangue.

"Adivinhe". Disse Kiyo. "Porque chegamos".

Olhei ao redor, estudando o terreno deprimente. Sua aparência superficial
significava pouco, realmente. Qualquer grupo que tomasse o controle dele poderia
moldar a forma desta terra à sua vontade, imediatamente tornando-a bonita. Então,
uma estranha sensação caiu sobre mim. Não fui capaz de defini-la. Não me deixou
doente ou desorientada. Apenas não parecia certo. Cerrei os olhos mirando os
penhascos, absorvendo suas irregularidades. Pela bruma vermelha, podia ver que
muitas das rochas soltas eram cinza com listras laranja. Metal oxidado. "Ferro".
Percebi. "Estamos cercados de ferro. Não estamos nem no local da coroa ainda. Não
podemos chegar ao covil sem passar pelo ferro".

"Você pode senti-lo?" Perguntou Kiyo.

"Sim..." Essa era a sensação estranha no meu estômago.

"Isso é a gentry em você. Mesmo com seu sangue humano, você não pode evitar
que a afete. Há muito ferro aqui".

"Não me sinto fraca". Disse pasmada que o ferro me afetasse.

"Ou doente ou com dor". Eu vi gentrys gritarem ao terem um mínimo contato
com ferro. Invoquei a mágica dentro de mim, deixando-a tocar o ar e a umidade
invisível, mas não a usei ativamente.

"Não acho que esteja prejudicando minha mágica, tampouco".

"Bom". Disse Kiyo. "Você é forte, então não estou surpreso. Você deve
simplesmente ter uma simples percepção da existência de ferro aqui".

Pensei um momento a respeito e percebi outra coisa.

"Você não é afetado nem um pouco por isso, é?"

Ele balançou a cabeça. "Não".

Eu sempre pensei em Kiyo e eu sendo parecidos, crianças nascidas de ambos os
mundos. Esta parte era verdade, assim como nossa herança meio-humana. Mas meu
sangue "Outromundano" vinha dos gentry. Somente eles eram afetados por ferro, e
kitsunes não tinham conexão arrebatadora com ele. Tal como o urso demoníaco e a
aparição, a perdição de um kitsune é a prata. Pelo menos, um kitsune puro. Eu já vira
Kiyo lidar com objetos de prata; seu sangue humano o protegia; e o meu, a mim. No
final das contas, ele era um companheiro mais útil que eu havia percebido. Imaginava
se Dorian tinha percebido isso.

"Cruzaremos nenhuma outra terra até que você volte senhora". Disse Volusian.

"Então este é o fim do mundo. O fim do Outromundo, ao menos". Voltei-me para
Deanna, que flutuava ao nosso lado. "Chegaremos à entrada antes de anoitecer?"

Ela pensou a respeito e me preparei para outra resposta vaga.

"Não. Se você não parar, alcançá-la-á pela manhã".

Kiyo e eu trocamos olhares, ambos pensando a mesma coisa. Chegar à coroa mais
cedo ou descansar? Olhei para Volusian. "Você disse que não haverá outras terras, mas
o terreno desta terra mudará?"

"Não".

"O que acha?" Perguntei a Kiyo. "Não quero estar cansada quando enfrentarmos
o que quer que esteja guardando a coroa, mas este não é exatamente um bom lugar
para acampar".

"Não". Ele concordou. Seus olhos varreram o terreno que nos circundava, capazes
de enxergar mais longe que eu, na luz esvaecendo. "Lá. Há uma pequena formação
rochosa que bloqueará a maior parte do vento. O suficiente para manter um fogo
aceso. Espero".

Eu não podia ver o local de acampamento, mas confiei nele. "Acamparemos,
então". Prendi os cavalos enquanto ele fazia uma fogueira. Olhávamos preocupados
para ela, enquanto o vento abruptamente ia e vinha. O fogo diminuía e balançava, mas
parecia forte o suficiente para sobreviver à noite.

"Eu posso segurar o vento um pouco". Eu disse.

"Não precisa". Disse Kiyo, acomodando-se ao lado da chama. "Guarde sua
mágica. Isto agüentará".

Fiquei pensando se ele realmente estava preocupado com que eu guardasse minha
força ou se queria que eu evitasse mágica em todos os momentos. Ele nunca gostou
dela. Não o questionei, contudo, e sentei também, mais porque o frio estava
começando a me afetar. Abotoei minha jaqueta de couro, o que adiantou pouco. Nosso
jantar consistia de outro prato de viagem: carne seca, granola e algum pão que
provavelmente estaria mofado pela manhã.

"Imagino que você não possa usar suas habilidades na selva para nos caçar algo
fresco, não é?" Perguntei.

Ele sorriu, enquanto a fogueira fazia sombras estranhas em sua face, agora que a
noite tinha finalmente chegado. "Eu faria isso, se tivesse algo vivo por aí. Somos apenas
nós". Ele me olhou, percebendo que eu estava tremendo. "Você não tem um casaco
mais quente?"

"Onde vou achar um casaco-edredon em Tucson?" Indaguei.

"Nesta época do ano? Qualquer loja esportiva. Para os esquiadores. Lara pode
pedir um para você, se não quiser se incomodar com isso".

"Acho que Lara e Tim estão apaixonados". Disse abruptamente, lembrando
aquele desenrolar bizarro.

"O quê?" Perguntou Kiyo, tão surpreso quanto eu ficara. "Você tem certeza?"

"Bom, eles sentem afeto um pelo outro, ao menos. Volusian, eles estavam juntos
quando você voltou?"

Meu criado estava nas sombras, somente seus olhos vermelhos visíveis. "Sim,
senhora. Eles estavam na cama, seus corpos nus e...".

"Ok, ok, pare". Exclamei. "Não preciso ouvir o resto".

"Quem diria". Disse Kiyo. Enquanto ficamos, ele foi testemunha das batalhas
deles pelo telefone. "Mas acho que coisas mais estranhas já aconteceram".

"É". Concordei. "Olhe pra nós. Estamos sentados em um terreno férreo, liderados
por um fantasma até um objeto mítico, que -- se realmente existir -- pode ou não me
tornar assustadora o suficiente para acabar uma guerra".

"Tem razão". Disse Kiyo, sorrindo. Ficamos sentados, em um silêncio de
companheirismo. Era uma boa mudança do clima de animosidade e tensão que nos
tinha cercado por tanto tempo. Eu o perdi, percebi. "Eugenie?".

"Hmm?" Olhei pra cima, envergonhada de meus pensamentos.

"Por que você não trouxe Roland? Ele poderia lutar sem ser afetado. E Deus sabe
que ele não quer poder gentry".

Desviei o olhar daqueles olhos escuros, para o coração azul do fogo.

"Ele não quer que eu tenha poder gentry também".

"Sim, mas ele esqueceria isso se soubesse que você está andando para...".

"Ele não sabe nada". Disse bruscamente. Minha voz, então, ficou mais suave. "Não
estamos mais nos falando".

"Como..." Kiyo pausou, certamente tentando assimilar isso. "Como isso é
possível?".

Eu dei de ombros. "Ele me cortou. Descobriu que eu estava escondendo a verdade
dele, sobre a terra Thorn e tudo mais... bem, desde o que aconteceu com Leith, ele se
recusou a conversar comigo ou aceitar minha presença".

"Mas sua mãe...".
"Fala comigo ocasionalmente. Ela está no meio disso, e eu não quero tornar mais
difícil que já é pra ela. Ela não deveria ter que ir contra seu marido".

A confusão de Kiyo estava se tornando raiva. "Sim, mas você é a filha dela! Ela
deveria ser capaz de...".

"Esqueça, ok?" Aproximei meus joelhos ate meu tronco e os abracei, para me
aquecer. "Não quero falar sobre isso".

"Eug, sinto muito".

Mantive-me quieta. Não havia o que dizer. Ele limpou a garganta.

"Imagino que você não trouxe outra coisa para aquecê-la? Cobertores?
Suprimentos de acampar?"

"Não pensei a respeito de pernoitar fora". Disse, grata pela mudança de assunto.
"Tenho uma muda de roupas como esta, comida, armas e suprimentos para primeiros
socorros".

"Você trouxe coisas para primeiros socorros?" Ele parecia impressionado. "Não é
do seu feitio, pensar à frente. Ahm quero dizer, você geralmente não se preocupa
com...".

"Eu sei o que você quis dizer". Disse, com um sorriso cansado. "E não se
preocupe. O universo é o mesmo. Não pensei à frente. É para lesões atuais".

"Atuais?"

"Fui acertada por uma mesa".

Pode haver milhões de razões para Kiyo e eu não sermos certos um para o outro,
mas uma coisa legal era que, quando eu falava algo como isso, ele não questionava.

Ainda estava congelando quando chegou a hora de dormir, forçando Kiyo a uma
sugestão corajosa. "Venha dormir aqui, entre o fogo e eu. O frio não me incomoda
tanto, e posso bloquear o vento".

"Kiyo..."

"É, eu sei. Dorian. Mas se ele me queria aqui para protegê-la, então aqui está a
chance perfeita. E também, todos sabemos que você pode me encher de porrada se eu
tentar algo".

Eu não disse ou fiz nada. Quando isto continuou por um minuto ele suspirou e
deitou de lado, de costas para o vento. Tentei o mesmo, após ordenar Volusian ficar de
guarda, mas mesmo com o calor do fogo, ainda estava com frio. Sou durona. Sou
durona. Repeti essas palavras na minha mente, não querendo admitir uma fraqueza.
Após quinze minutos, desisti e rastejei até o lado de Kiyo, entre ele e o fogo. Não houve
um "Eu te disse". Ele simplesmente deu espaço para mim, mas ficou surpreso quando
me posicionei virada para ele.

"Pensei que você iria querer suas costas viradas pra mim".
"Não posso". Disse. "É onde as lesões estão".

"Da mesa".

"Certo".

Ele poderia ter tentado ser justo e virar suas costas para mim, mas isso colocaria
sua cara contra o vento. Ele não merecia isso. Mexi-me para chegar mais perto, me
ajeitando contra seu corpo, e apoiando minha cabeça sobre seu peito. Com o tamanho
dele, ele quase me cobria por completo. Seu corpo todo ficou imóvel enquanto eu me
fazia confortável, por seu total espanto ou para facilitar pra mim. Uma vez que eu estava
bem encaixada, ele relaxou um pouco e tentou colocar seus braços ao meu redor. Ele
de repente se atrapalhou e os trouxe para si de novo, raspando em meu seio ao fazer
isso. Não sei se ele percebeu, mas eu certamente sim.

"Espere. Onde você está machucada?"

"Costas. Ombro esquerdo".

Experimentalmente, ele tentou de novo e abraçou minha cintura. "Assim está ok?"

"Uhum".

Segurando-me, ele trouxe seu corpo para perto, pressionando nossos corpos para
manter o calor. "Assim?"

"Bom".

Ele relaxou de novo e expirou. Comprimida contra ele, não podia ver seu rosto,
mas tinha a suspeita de que eu não dormiria muito esta noite. Em termos de
sobrevivência, o plano era ótimo. Eu estava até (um pouco) quentinha agora, protegida
e aquecida por ele. Mas eu também estava pressionada contra um corpo que eu
conhecia intimamente, um que se movia dentro do meu com uma ferocidade

possessiva. Dorian me conquistou com jogos mentais e ações diferenciadas de
dominação. Kiyo sempre o fez por meio de força e ferocidade, um animal pegando sua
parceira. Mordi meus lábios e fechei meus olhos, torcendo para cair no sono se eu
enumerasse mentalmente as razões para nosso término. Porém, principalmente, pensei
na mão dele tocando meio seio de leve. O sono finalmente me pegou, todavia demorou
pra chegar. À medida que eu caía no sono, indagava como ele estava agüentando. Isso
provavelmente nem o afetava. Se ele realmente não estava transando com Maiwenn de
novo, ele devia estar pegando mulheres o tempo todo. Kitsunes tinham uma espécie de
poder sobrenatural de atração, e Deus sabe que ele fora muito persuasivo na noite em
que nos conhecemos. Acordei aproximadamente duas horas antes de o sol nascer -- e
não por escolha. O aviso de Volusian veio apenas segundos antes do terreno sob nós
começar a tremer. Estava de pé em um segundo, mas como já era esperado, Kiyo já
estava de pé quando me levantei. Eu tinha ido dormir com armas, por mais
desconfortável que tenha sido. Não sabia o que precisaria aqui, exceto que não
precisaria da athame de ferro, uma vez que essa era uma zona livre de gentry. Eu tinha
minha arma (trava de segurança ligada) e o athame de prata. Ambos estavam sacados
enquanto Kiyo e eu ficávamos costa-a-costa, olhando para o redor de nós. Os tremores
balançaram o chão, dificultando a movimentação e criando ainda mais trincas nele.
Alguns segundos mais se passaram e tudo parou.
"Um terremoto?" Perguntei, incerta.

"Não". Disse Volusian. Ele estava em sua forma sólida, bípede, olhando ao redor
com olhos cerrados. Era um pouco desconcertante que ele não soubesse exatamente
qual era o problema.

"Então o que...".

O chão abaixo de nós se partiu de repente. Apenas com a luz do fogo, minha visão
era ruim, mas eu vi o que parecia ser uma forma de serpente, porque um momento
depois, uma porra de uma cobra gigante saltou e aterrissou perfeitamente enrolada
como uma bobina, sua cabeça mais alta que Kiyo e eu, enquanto nos olhava com olhos
brilhantes verdes. A luz deles iluminava uma língua partida se movimentando
subitamente, e o alto silvo que veio a seguir explicava o que sucederia.

"Volusian". Gritei. Meu servo rapidamente agiu. O toque mortífero das suas mãos
fez a cobra sacudir, surpresa. Além de mim, Kiyo estava se transformando em raposa, e
eu decidi que a arma me seria mais útil que a curta lâmina da athame, aqui. Uma gota
de veneno caiu da boca da cobra, queimando ao tocar o chão na minha frente.
Encantador.

Ainda assim, eu estava confiante de que nós três conseguiríamos cuidar desta
coisa. Pelo menos até o chão tremer de novo e outra cobra aparecer, logo seguida por
uma terceira.

"Filha da puta". Deliberei, pensando se força conjunta em uma só cobra era a
melhor alternativa. Não, eu deixaria Kiyo e Volusian cuidarem da primeira. Gritei um
aviso a Kiyo, que a cobra era venenosa, mas era difícil dizer se ele entendeu. Voltei-me
para as duas novas cobras. Mesmo com parte dos corpos delas enrolados, suas cabeças
ficavam uns bons três metros acima da minha. Mais veneno caiu diante de mim.
Decidindo não escolher uma favorita, mirei minha arma e atirei duas vezes em cada
uma. Tive a antevisão de carregar balas de prata, mas não parecia que a arma mataria as
cobras tão cedo -- pelo menos sem mais cinqüenta tiros. Principalmente, as balas
pareciam deixá-las mais emputecidas.

Ainda assim, fiquei atirando, pois isso parecia manter as cobras a uma distância.
Acabou sendo uma solução de curto prazo, uma vez que minhas balas logo acabaram.
Peguei outro pente. Conseguia carregar a arma rapidamente, mas essa pausa deu uma
abertura para uma das cobras. Ela tentou dar um bote em mim, dando-me uma visão
bem próxima das suas grandes presas. Estava pronta para tal ataque e pulei para evitá-
lo, apenas para ser atingida pelo rabo da outra. O ataque me jogou alguns metros para
trás, me fazendo deixar cair o pente. Ele desapareceu na noite, e eu caí com força no
chão. Minhas costas e ombro gritavam em agonia, mas não tinha tempo pra isso. Havia
dois outros pentes em meu cinto, mas quando outra cobra veio me atacar de novo,
minha mão foi para o athame, afinal. A cobra que havia me atingido inclinou seu rosto
e mandíbula gotejante a centímetros de mim. Em vez de correr novamente, saltei para
frente e cravei a lâmina em seu olho. Ela gritou de dor, sofrendo com a prata, assim
como qualquer criatura do Outromundo faria. Bom, na verdade, qualquer criatura com
uma faca em seu olho provavelmente sofreria, mágica ou não.

Tive a noção de chacoalhar meu athame até tirá-lo dela, já que não o queria
perder nem ser puxada quando a cobra recuasse. O sofrimento de sua parceira fez a
outra cobra manter sua posição. Nesses momentos, guardei novamente o athame no
cinto, uivando de surpresa. Aparentemente o olho da cobra também era venenoso, e o
líquido que tinha ficado na minha lâmina comeu meu jeans e queimou minha pele.
Não obstante, consegui carregar outro pente. Sem hesitar, virei e o descarreguei na
cabeça da cobra. Não fui precisa o suficiente para acertar o olho, mas todas aquelas
balas tiveram seu efeito. A cobra balançou no ar, sangue misturando-se com veneno em
sua pele, e com seu último silvo de dor, tombou e caiu com força sobre o chão.
Imaginando porque a outra cobra não tinha vindo me atacar, virei e vi Volusian e Kiyo
a atacando. Acreditei que a primeira estava morta e carreguei meu último pente. O
toque de Volusian estava queimando a pele da cobra, e Kiyo estava simplesmente a
rasgando com seus dentes. Optando pelo que parecia ter se provado certo, atirei na
cabeça da cobra novamente. Nós três juntos logo derrubamos a cobra.

Fiquei lá, tensa e pronta, arma descarregada em uma mão e athame em outra. O
mundo estava em silêncio exceto pelo vento e ocasional espasmo da terceira cobra,
enquanto morria. Momentos depois, Kiyo mudou de volta à sua forma humana,
dando-me uma visão melhor de seus ferimentos, agora que ele não estava coberto de
pêlo. Ele fez careta e cuspiu no chão algumas vezes, todavia, aparentemente morder a
cobra não tinha destruído seu rosto ou boca. Uns dois vermelhões no braço dele me
fizeram pensar que ele também tinha sido atingido pelo veneno. Fora isso, ele parecia
estar bem. Ele suspirou e passou uma mão em seu cabelo preto, que estava
encrespando um pouco, por causa do suor.

"Sabe". Ele disse. "Acho que nunca mais conseguirei assistir Duna de novo".

CAPÍTULO 11

"BONITO". FALEI.

Kiyo virou, me avaliando da mesma maneira que fiz com ele. "Você está bem?"

"Um pouco envenenada e provavelmente estarei dolorida amanhã".

Ele assentiu aliviado e então ficou tenso. "Você está sangrando".

"Estou?" Perguntei quase tão surpresa quanto ele.

Ele correu na minha direção. "O seu ombro".

"Oh merda". Falei, virando a cabeça para olhar. "É o machucado da mesa".

"Tire sua camiseta. E nem comece com alguma lengalenga sobre modéstia". Ele
acrescentou, ao me ver começar a protestar. Eu sabia que ele estava certo e
cuidadosamente levantei a camiseta. Ele me ajudou em parte do caminho, evitando
que eu levantasse muito meus braços. Examinando a camiseta vi que ela estava
ensopada de sangue.

"Ruim?" Perguntei.

"Vou saber assim que retirar as bandagens. Por favor, diga que você trouxe mais e
não vamos precisar reutilizar essas".

"Tenho mais. Falei que trouxe suprimentos".

Com cuidado, ele retirou as camadas de gaze e as jogou no chão. Na luz
avermelhada do amanhecer, pude ver que o tecido estava completamente vermelho de
sangue.

"Você rompeu alguns pontos". Ele falou parecendo cansado. "Não tenho as
ferramentas para concertar isso". Antigamente a idéia de ele usar suas habilidades de
veterinário para remendar ferimentos de batalhas, me incomodava, mas agora
simplesmente não ligo.

"Deixando de lado a dor, isso vai importar?" Perguntei.

"Você vai sangrar mais, mas vou enrolar o melhor que puder. Você está arriscando
á ficar com uma cicatriz também, se não refazer os pontos. Assim que terminarmos essa

loucura, posso fazer isso quando estivermos de volta á Tucson, se você quiser poupar
explicações para os médicos".

"Meus médicos já meio que estão acostumados com isso". Falei.

Ele bufou. "Já imaginava".

Peguei minha mochila e ambos sentamos no chão. A luz estava aumentando,
facilitando o trabalho dele, enquanto amarrava as ataduras em minhas costas. As velhas
bandagens foram jogadas fora e gemi quando ele limpou os ferimentos com lenços
antisépticos.

"Achei que o perigo não iria começar até chegarmos à caverna da coroa".
Resmunguei.

"Como normalmente acontece mestra, você fez uma suposição incorreta".
Volusian falou. "As lendas falam que o caminho até a coroa é perigoso. Nós estamos
nesse caminho. Seu teste começou".

"Fantástico. Ai!"

"Estou poupando você de uma infecção", Kiyo me xingou. Por sorte aquele
parecia ser o fim da limpeza e a partir dali ele começou a aplicar as gazes e prender com
fita. O que ele estava fazendo não era nada erótico, mas me surpreendeu como suas
mãos podiam ser gentis e estáveis depois de vê-lo em uma batalha selvagem.

Olhei para Deanna, que havia simplesmente observado a luta. Ela não falou nada,
mas achei ter visto um lampejo de alivio em seu rosto. Minha morte teria colocado um
final em nossa barganha.

"Quanto tempo até chegarmos á entrada? Quando vamos nos afastar de vocês?"
Perguntei. Irritante ou não, Volusian faria falta -- especialmente se as cobras foram
apenas um aquecimento.

"Algumas horas", Deanna falou.

Fiz uma careta, insegura se deveria temer o momento ou não. Nós perderemos
nosso apoio, mas também estaríamos próximos ao final dessas anti-férias.

"Suponho que seja esperar demais que você tenha trazido analgésicos?" Kiyo
perguntou, ainda me amarrando nas bandagens. Senti como se tivesse um cobertor
sobre minhas costas.
"Vicodin provavelmente não é a melhor escolha para uma batalha eminente".

"Estava pensando em algo como aspirina".

"Não". Mas aquilo lembrou que eu precisava de outra dose de antibióticos. De
forma arrogante pensei que não precisaria deles, mas agora estou feliz pela vigilância da
minha mãe. Não que eu fosse admitir algo assim para o Kiyo. O problema de namorar
um médico é que ele estava sempre no meu pé para que cuidasse melhor da minha
saúde. Eu não queria escutar um ­ eu te avisei ­ agora. E é claro, havia mais conselhos
por vir.

Ele terminou de colocar a ultima fita e me ajudou a colocar uma camiseta limpa
que havia levado. "Eugenie esses curativos são um incomodo, mas qualquer curandeiro
poderia ter consertado isso enquanto dormiam. Dorian possuiu ótimos curandeiros.
Por que não ordenou que um deles cuidasse de você? Ele deveria agir com mais
sabedoria".

Virei para poder olhar no rosto dele. "Como isso se transformou na culpa de
Dorian? Por que ele é responsável por todos os males? É claro que ele me ofereceu um
curandeiro. Mas recusei, por que achei que os soldados iriam precisar mais deles". E
esqueci totalmente de pedir á Shaya.

A expressão do Kiyo relaxou e ele realmente sentiu muito. Ele olhou para o lado.
"É claro que você recusou. Sinto muito".

"Sente por acusar o Dorian ou por esquecer que sou uma tola altruísta?"

Kiyo se virou com um pequeno sorriso nos lábios. "O que você acha? Há muito
pouco pelo qual peço desculpas quando se trata do Dorian, especialmente quando
ainda acredito que ele queira ser o pai do herdeiro do Rei Storm."

Sorri em resposta. "Também tenho certeza de que ele quer. Mas é uma batalha
perdida. Ainda tomo as pílulas de controle de natalidade. Ainda não quero filhos.
Minha vida é estressante o suficiente". Tardiamente lembrei-me da adoração dele por
Luísa. "Sem querer ofender".

"Não ofendeu". Ele falou ainda sorrindo. "Realmente... eu deveria confiar mais em
você. Mas continuo pensando..." O sorriso diminuiu um pouco.

"Pensando sobre o que?"

"Não sei. Que um dia tudo isso vai tomar conta de você. E não estou me referindo
ao Rei Storm. Falo de tudo. Você vai se entregar totalmente para esse mundo. Vou
perder a Eugenie que conheço".

Peguei a mão dele sem pensar e a apertei. "Hei pare com isso. Você mesmo falou:
confie em mim. Sou a mesma Eugenie. Ainda dividida entre identidades... mas nada
pode mudar isso".

"Eu sei". Ele continuou a segurar minha mão. O toque de seus dedos, que havia
sido estritamente profissional há alguns minutos, agora tomara um novo sentido... Algo
mais quente. Algo que fez meu corpo se sentir estranho enquanto aqueles olhos
escuros continuaram fixos em mim. Encontrei-me atraída por eles como costumava
fazer, caindo naquelas profundezas sexys, escuras...

Levantei rapidamente, quebrando o contato perigoso. "Bem". Falei
desajeitadamente. "Como já amanheceu e estamos acordados, podemos muito bem
continuar a viagem. Café da manhã na estrada?"

Kiyo também levantou, parecendo confuso. "Claro. Quanto antes começarmos,
mais cedo deixamos para trás a ameaça das cobras".

Enquanto empacotávamos e seguíamos de volta aos cavalos, me perguntei se não
estaríamos cavalgando em direção há algo muito pior que cobras. Não me entenda
mal: elas foram ruins. Mas luto contra criaturas sobrenaturais o tempo todo. Há tanta
expectativa sobre a coroa. Será que isso vai simplesmente envolver um banquete de
monstros?

Mantive esse pensamento em segredo enquanto viajávamos, já tendo o suficiente
para me preocupar. Meu café da manhã magro. A presença do Kiyo. A dor nas minhas
costas. O significado dos buracos espalhados pelo terreno.

A estrada seguia como em qualquer outra parte do Outromundo. Perguntei-me
até onde. Seria ela infinita? Ou um viajante simplesmente cairia ao chegar ao final,
como naqueles mapas de quando as pessoas acreditavam que o mundo era plano?

"É aqui".

A voz da Deanna, apesar de suave, pareceu severa na vastidão ao nosso redor.
Paramos e olhei para os lados, a procura do que ela encontrou. Por fim, avistei uma
pequena e escura abertura encrustada em uma das montanhas de ferro.

"É isso? Parece tão... pequeno".

"Daqui parece". Kiyo falou. "Não sabemos o que há no interior... exceto que vai
nos enclausurar no ferro. Lembre-se que isso mata a maioria dos Gentry. É um teste
que você tem sorte de pular. Espero".

"Verdade". Murmurei. Ainda não sentia nenhum efeito vindo daquele lugar, mas
o que aconteceria dentro das montanhas?

"Não posso entrar". Deanna falou. "Vou esperar aqui".

"Também devo esperar". Volusian falou. "Com a esperança de que você possa
encontrar a morte e apenas seu espirito retorne, então poderei atormentá-la por toda a
eternidade".

Controlei o desejo de mandá-lo embora. Mesmo sem poder nos seguir me sentia
melhor o tendo por aqui, para nos defender quando saíssemos. E nós iriamos sair. Não
havia um `se' nessa situação.

Deixei minha bolsa e arma do lado de fora, já que não havia me sobrado mais
munição. Malditas cobras. Vasculhando o restante do arsenal, deixei o athame de ferro
no cinturão, segurando o de prata em minha mão direita e a varinha na esquerda. Olhei
para o Kiyo.

"Pronto?"
Ele assentiu. "Vou entrar primeiro".

Era um ato muito viril. O deixei liderar e a distância escutei Deanna nos desejando
boa sorte. A caverna estava completamente escura e era apertada. Havia espaço
suficiente para que eu pudesse caminhar e Kiyo precisava seguir com as pernas
levemente curvadas. Seguimos as curvas e desvios, raspando nossos corpos contra as

paredes ásperas. Falávamos apenas para checar nossa localização, e algumas vezes eu o
tocava nas costas. Quanto mais profundo nós seguíamos, mais eu podia sentir o ferro
ao nosso redor. Novamente, não tive nenhuma indicação de fraqueza... Apenas o
sentindo.

"Luz". Kiyo falou de repente.

Pisquei. Ele estava certo. Não consegui ver a origem da luz, mas algo mais adiante
a estava irradiando pelo túnel. Começou com uma fraca iluminação, apenas o
suficiente para ver a silhueta do Kiyo. Logo, a luz aumentou... Assim como o calor. Um
rugido chegou até meus ouvidos.

"Tenho um mau pressentimento sobre isso". Falei.

Viramos uma esquina e minha mandíbula quase caiu. O caminho estava
bloqueado pelo fogo. Para ser mais precisa, havia uma folha contendo o fogo
precisamente no local, dando a impressão de gigantescas lâminas ­ particularmente
por estarem pendendo do teto. Magicamente achatadas ou não, as chamas queimavam
intensamente e o calor que irradiava pelo corredor não deixava duvidas que aquelas
bastardas poderiam nos incinerar.

"Acho que vi isso em um videio game". Resmunguei.

O olhar do Kiyo estava fixo nas lâminas de fogo. Havia cinco delas. Seu rosto
estava em branco, mas a concentração em seus olhos me dizia o que ele estava fazendo.
Ele as estava cronometrando, estudando o padrão.

"Elas estão escalonadas de uma maneira que podem nos deixar passar". Ele falou.
"Só precisamos observar o tempo".

"Você pode passar. Mas não sei se consigo". Eu não estava sendo pessimista;
apenas estava atestando uma verdade. Kiyo possuía reflexos diferentes dos meus. Eu
poderia sentar aqui por horas e provavelmente não iria conseguir aprender o padrão
como ele.

Ele fez uma careta. "Talvez eu possa segurar a sua mão. Ou colar você nas minhas
costas".

"O que? Não. Isso é ridículo. Irá afetar a sua velocidade ­ tirar o seu equilíbrio".
Estudei as chamas, hipnotizada pelas laminas balançando. Havia espaço entre elas.
"Talvez eu consiga passar uma por vez".

"Agora essa é uma ideia ridícula". A frustração marcou seu rosto.

"E em pensar que eu faria qualquer coisa por um pouco de calor na noite passada.
Deveríamos ter acampado aqui..." Minha piada se esvaiu quando a ideia apareceu.
"Vou apenas caminhar através delas".

O olhar dele não requeria palavras para expressar sua opinião.

"Sério". Falei. Larguei minhas armas e mergulhei em minha magia. O ferro não
estava me afetando. Brinquei com os elementos do ar e água, os provando e movendo
como uma manta. Kiyo pode sentir a mudança de temperatura ao nosso redor.

"O que você está pensando?"

"Posso me proteger". Falei. "A caverna é úmida o suficiente ­ tirando as laminas ­
para que eu absorvesse agua. Vou criar um escudo e usar o ar para soprar contra o
fogo".

"O ar pode alimentar o fogo".

"Não se eu fizer do jeito certo".

Nossos olhos se encontraram. Ele não gostava nem um pouco da ideia. "Vai
funcionar". Falei. "Sei que de fato vai funcionar".

"Com certeza huh? Ainda acho que devo carregar você".

"E ainda penso que isso é burrice. Você precisa confiar em mim Kiyo. Posso fazer
isso. Sinto que posso".

Ele não respondeu imediatamente, mas soube que o havia convencido. "Se eu
tiver que observar você sendo queimada viva, não vou ficar feliz".

"Volusian vai ficar feliz". Falei. "Pelo menos alguém consegue o que quer".

"Eugenie!"

"Desculpe". Sorri de uma maneira que esperei ser de confiança. "Vai funcionar.
Você vai primeiro".

Ele hesitou por um momento e então se transformou em uma raposa. Para lutar
ele normalmente opta por um animal maior que o normal. Agora, ficou pequeno e
rápido como uma raposa comum. Ele se virou na direção das chamas, sua parte
humana ­ e provavelmente a selvagem também ­ novamente cronometrando o tempo.
Então pulou para frente.

Comecei a listar palavras de apoio, mas minha respiração prendeu na garganta
enquanto o observava. Ele correu sem parar, chegando ao final, do outro lado depois da
quinta lamina. Voltando à forma de Kiyo e espiou entre os espaços, preocupado.

Sorri confiante novamente, torcendo para que meu argumento fosse verdadeiro.
Encarei as chamas, não para cronometrá-las, mas simplesmente para aumentar minha
coragem. A mágica brotou dentro de mim enquanto a umidade se acumulava ao redor
do meu corpo, criando uma proteção parecida com um ciclone ­ instantaneamente me
ensopando. Isso era a última das minhas preocupações. Então, invoquei o ar, o
puxando em minha direção e o forçando a soprar para longe do meu corpo.

Enquanto caminhava, minha mente repentinamente correu por centenas de
outros cenários. Talvez eu devesse apenas ter sugado todo o oxigênio e extinguido as
chamas. É claro, que provavelmente me deixaria inconsciente também. E física mortal

funcionaria contra um fogo magico? Essa questão surgiu depois, juntamente com a
realização de que essas chamas poderiam igualmente ser imunes ao ar e á água.

Woosh!

Eu não possuía a mesma rapidez do Kiyo. A primeira lâmina de fogo passou por
mim ­ e ao meu redor. O efeito ventilador ao meu redor a empurrou para o lado e o
calor escaldante que ainda teria me queimado foi mitigado pela agua. Aumentei meu
ritmo, caminhando através do segundo de forma semelhante. Por sorte consegui
driblar o terceiro. O quarto me atingiu ­ ou teria atingindo ­ e então consegui passar
por pouco pelo quinto.

Parei ao lado do Kiyo e larguei à mágica. "Três dos cinco, nada mal". Falei alegre.
Para minha surpresa ele me abraçou apesar das minhas roupas e cabelo ensopados.

"Jesus Cristo, isso foi assustador Eug. Quando vi você caminhando através da
primeira lâmina...".

"... você achou que foi bem legal?"

Ele se afastou e balançou a cabeça, observando enquanto eu torcia a água da
minha camiseta. "Você anda fazendo um monte de piadas ruins sobre assuntos muito
importantes".

"Hei, foi você que fez a referencia à Duna". Suspirei e deixei minhas mãos caírem
ao meu lado. "Além do mais, se eu não estivesse fazendo piadas, provavelmente
pensaria melhor e voltaria direto para a Terra Thorn". Puxei o ar para mim, trazendo
junto com ele parte do calor, para tentar secar minhas roupas. Parei quando estava
quase seca, não querendo desperdiçar a magia.

"Entendo". Ele falou. Gentilmente tocou meu braço, sorriu fracamente e então
inclinou a cabeça na direção á escuridão á nossa frente. "Pronta para mais?"

Assenti, o seguindo mais uma vez. Afastamos-nos cada vez mais das chamas,
perdendo a luminosidade enquanto o fazíamos. Um estranho flashback apareceu para
mim, uma viagem no Underworld onde caminhei através de cavernas similares e
enfrentei testes para recuperar a alma do Kiyo. Como pude quase ter esquecido sobre
aquilo? Eu o amava tanto, que encarei a própria morte. Como um amor como aquele
pode mudar?

Mais túneis seguiram e eu pensei se aquele não era um teste de claustrofobia. Mas
gradualmente, o túnel começou a expandir cada vez mais até terminar abruptamente
em uma sala cavernosa. Igual ao túnel, tudo ali era simplesmente rocha com aparições
ocasionais de ferro. Algumas tochas iluminavam a câmara, revelando seu centro: um
elegante pedestal de mármore com uma coroa de ferro sobre ele.

"Sério?" Falei.

Kiyo e eu paramos próximos a entrada da sala, cautelosos. Ainda assim, quando
olhava para a coroa, não era nenhuma armadilha em potencial que enviava arrepios
pela minha coluna. Outro teste em minha viagem pelo Underworld repassou em minha
mente: fui forçada a usar a coroa do meu pai, apesar dos meus protestos. Aquela coroa
era de platina, mas ela e a que está em minha frente possuíam um brilho dourado muito
semelhante e eram adornadas por joias roxas. Ambas possuíam um austero tom
marcial. A da minha visão havia sido um pouco mais delicada, com um toque mais
artístico. Essa também havia sido bem planejada, com os círculos de joias se alternando
em tamanhos, mas senti que ela havia sido feita para impressionar, não pela beleza.

"É uma ilusão". Eu falei para Kiyo. "Ainda não podemos tê-la alcançado, quando
não fizemos nada".

Ele não tirou os olhos da coroa enquanto falava. "Cobras e caminhar através do
fogo não são nada?"

"Bem, não. Mas eu esperava mais considerando todas as expectativas".

"O ferro". Kiyo me lembrou. "Você usou mágica para passar pelo fogo. Muitos
gentry também o fariam ­ mas imagine como seria para eles com todo esse ferro. Se ao
menos chegassem tão longe. Você... não está trapaceando, mas ultrapassou muitos
desafios aqui".

"Se os desafios foram feitos para os gentrys, então talvez a coroa também seja.
Talvez eu seja muito humana para reclamá-la". Cara isso era uma droga.

"Só há uma forma de descobrir".

Olhei para a coroa, notando que ela refletia pouco a luz. O que era isso? Posso
simplesmente ir até lá e pegá-la? Hora de descobrir. Dei alguns passos para frente... E a
sala abruptamente ficou gelada. Um sentimento escuro, de poder e puro mal
preencheu o pequeno espaço. Como o mal é sentindo? Você apenas sabe.
Rapidamente voltei para o lado do Kiyo, mas era tarde demais.

A figura de um homem apareceu á nossa frente, usando uma bonita veste púrpura,
bordadas e costuradas de uma maneira que o próprio Dorian teria invejado. O cabelo
do cara era quase tão bonito quanto sua roupa, um louro pálido que brilhava na luz das
tochas e que chegava até seus ombros. Sim, definitivamente uma figura
impressionante. A única coisa que destoava daquilo tudo era o fato dele ser um
esqueleto.

"Oh merda". Falei.

"O que foi?" Kiyo perguntou se aproximando.

"Um lich. Como um... eu não sei. Um necromante desmorto ou um mago". Minha
mente estava girando desesperadamente. Liches usam mágica depois de mortos, para
propositadamente se manterem longe do Submundo. O que os torna muito difíceis de
banir de acordo com o Roland. Somente escutei histórias sobre eles.

"Como um zumbi?"

"Não. Mais esperto. E eles também podem ­ abaixe!"

Kiyo sempre mais rápido do que eu, já havia se abaixado me levando com ele
enquanto o lich enviava uma bola de fogo azul em nossa direção. Ela atingiu a parede
atrás de nós, se dispersando e nos atingindo com o calor, mas não nos ferindo. Mais
daquele fogo já estava se formando nas mãos do esqueleto e eu sabia que dessa vez ele
iria mirar mais para baixo.

Kiyo se transformou em uma raposa grande e pulou na direção do lich, o atacando
da melhor maneira que sabia. Sua mandíbula começou a se fechar ao redor da perna do
lich, mas um pequeno gesto da criatura o mandou voando para longe. Ele atingiu a
parede, se sacudiu e rosnou, planejando o que fazer a seguir diante desse novo
acontecimento.

Durante o combate dos dois que durou meio segundo, tive tempo o suficiente
para enviar meus sentidos á procura da varinha. Toquei o Submundo na tentativa de
criar uma conexão. A borboleta em meu braço queimou como o veneno de uma cobra,
mas não consegui abrir o caminho. Era como bater em uma porta muito bem fechada.
Um esforço maior poderia me ajudar a passar, mas não tive chance de tentar antes que
outra bola de fogo viesse em minha direção. Desviei e rolei para fora do caminho.

Ao ver como o lich se livrou facilmente do ataque do Kiyo, um ataque com a
athame também não ajudaria muito.

O lich pareceu tomar conhecimento dos meus problemas e riu, um som baixo e
gutural que ecoou de forma sobrenatural na câmara. "Você não vai usar a coroa. Você
não possui o poder para usá-la".

Eu estava pronta para desviar de outra bola de fogo, mas um mover das mãos do
lich me jogou contra a parede. Nem se quer tive tempo de processar a agonia que
aquilo causou aos meus ferimentos, por que a força invisível que me prendia no lugar,
doía demais. Era como milhões de agulhas invisíveis perfurando minha pele, passando
por meu corpo e se alojando na parede para me manter no lugar. Gritei de dor e Kiyo
instantaneamente correu novamente na direção do lich. Quanto maior a raposa, mais
animal ele se tornava e tive o pressentimento que aquilo era mais uma reação instintiva
ao me ver ser atacada.

O lich se livrou dele mais uma vez com seu poder invisível ­ só que com mais
força dessa vez. Kiyo se chocou contra a parede, deslizando até o chão da caverna.
Fracamente ele tentou levantar nas quatro patas, mas estava muito desorientado e
ferido. O lich voltou a se virar na minha direção e vi morte em seus olhos. Eu realmente
tinha brincado sobre isso ser fácil? O único que poderia achar isso fácil era o lich. Ele
nos derrotou com apenas alguns feitiços e agora eu iria morrer. Era por isso que aqueles
que possuem a coroa são temidos. Se puder sobreviver a isso, pode superar de tudo.

"Você não irá usar a coroa". Ele repetiu, levantando as mãos para um feitiço final.
"Você não é merecedora".

Invoquei minha mágica apesar da dor. Uma lufada de vento explodiu contra ele, o
fazendo tropeçar para trás. Então. Ele não era completamente impassível à força física.
Invocar a mágica era difícil, mas quando Dorian me treinou, praticamos os feitiços em
inúmeras posições desconfortáveis. Aumentei a força do vento, empurrando o lich um
pouco mais para trás. A coroa não se moveu, mas o vento prendeu Kiyo contra a
parede, perto de achatá-lo. Quase hesitei, temendo machucá-lo. Ele ainda estava vivo
apesar do último golpe. Com certeza ele conseguiria suportar isso.

E aquela força a mais foi uma boa idéia. Aquilo distraiu o lich e quando
mentalmente lutei contra seu feitiço, ele não pôde mantê-lo. Os pinos invisíveis
desapareceram e deslizei para o chão, aterrissando tremendo, mas bem. Eu ainda sentia
dor e cansaço, mas me mantive forte em minha mágica. Mantive o lich a distancia, mas
também não consegui jogá-lo contra a parede da maneira como ele fez conosco. Seu
rosto esquelético mantinha um sorriso perpétuo, deixando tudo ainda mais irritante.

"Você não possui o poder". Ele falou, vendo que eu não conseguia fazer muito
mais com o vento. "Você não merece a coroa".

Luz branca começou a brilhar entre as mãos dele. Nada de bolas de fogo dessa
vez. Era um raio. Aquilo voou de suas mãos em uma velocidade incrível ­ digamos,
como na velocidade da luz ­ mas a evitei quase sem esforço. Raios estão entre minhas
habilidades. Meu corpo estava em sintonia com eles, capaz de antecipar e evitá-los com
a mesma rapidez.

No entanto, o raio destruiu metade de uma das paredes da caverna e o trovão que
o acompanhou quase me deixou surda. Rochas foram engolidas pela minha ventania,
voando ao redor da sala como estilhaços. Alguns deles me atingiram. Um cortou o meu
braço. Apesar disso tudo, ri, soando um pouco maluca até mesmo para mim.

"Você vai lutar comigo com raios?" Gritei acima do vendaval, o qual consegui
aumentar um pouco, afinal de contas. "Você sabe quem eu sou?"

"Sei que você nunca vai possuir a coroa". O lich respondeu, invocando outro raio.

Suas palavras se cravaram em mim e não somente por que minha vida estava em
risco. Era o significado por trás daquilo. Você não é digno. Uma diminuição. De mim,
do meu poder. Ele realmente não sabia com quem estava lidando. Ele não fazia ideia do
poder que eu podia exercer, mesmo nessa masmorra de ferro. Ninguém diria isso
diretamente, mas começo a suspeitar que eu seja a mais poderosa dos usuários de
magica desde meu pai. E esse lich bastardo está prestes a descobrir.

Ele vai enfrentar meu poder. Vou destruí-lo e pegar a coroa.

"Você chama isso de raio?" Gritei, depois de desviar de outro. Meus sentidos
mágicos tocaram as moléculas da sala, as cargas positivas e negativas. O cheiro de
ozônio estava por toda à parte. "Isso é raio".

Não precisei das minhas mãos. Posso criar raios do ar. Ele se chocou contra o lich
e deveria tê-lo desintegrado. Mas infelizmente ele continuou intacto, mas pela maneira
como ele balançava e como não foi instantaneamente criar outro raio, me disse que eu
havia feito um progresso.

A magia queimou dentro de mim, preenchendo cada grama do meu ser enquanto
mantive o ar ao nosso redor sob controle. O vento ainda soprava, os íons continuavam
prontos. No centro disso tudo estava à coroa, ela que iria sair desse lugar comigo. Vou
parar essa guerra e mostrar para Katrice e a todos os outros para não brincarem
comigo.

Mas primeiro preciso terminar isso. Considerei continuar acertar o lich com raios,
mas outra ideia surgiu em minha mente. Vou levar tudo isso a um fim rápido.
Cientistas há muito vem discutindo a existência dos raios globulares, mas sei que são
reais. Nunca realmente os usei de uma maneira mais séria do que um experimento.
Alguns dos princípios de sua formação são iguais aos dos raios `regulares', mas alguns
desvios é que o fazem tão único ­ e tão difícil de estudar.
Sei como invocá-los. Sei o que ele poderá fazer aqui. Apesar dos raios
magicamente criados que o lich e eu estávamos jogando um no outro serem moldados
e controlados, os raios globulares são gigantescos e radiantes. Vai preencher a caverna,
incinerando o lich. Não ficarei surpresa se derreter as paredes. E a coroa? A coroa
sobreviverá ­ assim como eu, sendo sua mestra na magia.

O poder explodiu de meu corpo, o raio formando um orbe na caverna que
detonou para fora, cegando até mesmo meus olhos. As paredes tremeram, o calor
correu por meu corpo e um rugido encheu meus ouvidos. Escutei o lich gritar, um som
arranhado e horrível. Não larguei o feitiço até escutar os gritos cessarem. O raio
globular desapareceu instantaneamente, quase como começou. Meu controle sobre
tamanho poder me surpreendeu um pouco.

Meus ouvidos zumbiam no silêncio. A coroa permanecia intocada como o
esperado. Mas a pilha de ossos que eu esperava ver, não estava lá. Ao invés disso um
homem pequeno e encarquilhado estava na minha frente, vestindo as mesmas roupas
purpuras. Estendi a mão e preparei a mágica contra essa nova ameaça. Mas ele não se
moveu.

Para minha surpresa ele sorriu e fez uma rápida cortesia.

"Parabéns". Ele falou. Gesticulando para a coroa. "Você a merece ­ se puder usá-
la, é claro. E algo me diz que você pode, se já sobreviveu a todo esse ferro".

Olhei dele para a coroa, sem acreditar. "Eu não... mas eu venci. Ganhei a coroa.
Derrotei o lich... é, você... ou seja, o que for".

"Certamente o lich faz parte do teste. É preciso muito poder para se derrotar um.
Mas o teste era mais do que seu poder". O velho falou sabiamente. "Era sobre sua

determinação. Sua força de vontade. Sua perseverança em conseguir a coroa, não
importando os custos".

Ele saiu do caminho, acenando para o outro lado da caverna. Kiyo ­ em sua forma
humana ­ jazia recostado contra a parede. Seus olhos escuros estavam abertos e não vi
nenhum ferimento obvio. Ele estava simplesmente observando a interação. Corri para
seu lado, me ajoelhando.

"Oh meu Deus. Você está bem?" Perguntei, o ajudando a sentar. Sua respiração
estava normal, apesar dele parecer um pouco confuso. "Por favor,... fale comigo. Kiyo
você está bem?"

"Sim, sim..." Ele tocou a testa levemente e fez uma careta. "Uma maldita dor de
cabeça".

Mal pude respirar. Senti todo meu corpo amortecido. "Você não deveria ter
sobrevivido". Sussurrei. "Deveria estar morto".

O raio irradiou a sala. Esse havia sido meu plano afinal de contas. Destruir tudo
exceto eu e a coroa ­ e tudo teria incluído Kiyo. No momento esqueci tudo sobre ele.
Estive tão concentrada na coroa, em provar ao lich quem é que mandava por aqui. Kiyo
não importou no momento e isso não tinha nada a ver com nosso relacionamento
complicado. Tive o terrível sentimento de que não teria importado quem estivesse na
sala.

"Oh Deus". Falei novamente, puxando a cabeça dele contra meu peito. Lagrimas
queimavam meus olhos. "Oh Deus, Oh Deus. Eu sinto muito. Sinto muito mesmo.
Não sei o que... não sei no que estava pensando..." Uma terrível voz falou dentro da
minha cabeça. Você não sabia mesmo?

"Hei Eug, fique calma". Kiyo falou, dando batidinhas na minha cabeça. "Estou
bem, não se preocupe. Você conseguiu. O derrotou".

Ele não entendeu. Ele não sabia o que eu havia feito ­ ou quase fiz. Claramente,
qualquer que seja a magia poderosa que está envolvida aqui, o protegeu em nome do
teste. Mas se não o tivesse feito...

"É sério". Kiyo falou, ainda não entendendo meu nervosismo. "Estou bem. Só fui
jogado de um lado para outro muitas vezes. Agora vá pegar a coroa. Ele falou que ela é
sua". Afastei-me e olhei nos olhos do Kiyo e eles estavam cheios de afeição e orgulho.
Eu não merecia aquele olhar, mas precisávamos da coroa e também sair da caverna.

Levantei instável e caminhei até o pedestal. A coroa estava em seu altar
sinistramente e olhei para o velho. Ele assentiu encorajadoramente. Se você puder usá-
la. Acredito que aquilo seja mais um teste, um que posso falhar. Quando meus dedos
tocaram a coroa, não senti nada, apenas o frio metal. A levantei cuidadosamente, quase
com medo do que estava fazendo. Ela era pesada ­ muito mais pesada do que minha
coroa do estado ou as de enfeites. Ainda assim, serviu perfeitamente em minha cabeça,

o que era estranho. Quando a vi pela primeira vez, fiquei surpresa com seu tamanho. E
tive certeza que ela passaria direto por minha cabeça.

O velho sorriu e voltou a se curvar. "E agora ela é sua. O poder é seu. Você poderá
fazer exércitos tremerem. Poderá arrancar as terras e subjugá-las. O mundo poderá ser
seu".

Esperando já ter provado meu valor, removi a coroa. "Só espero que ela termine
uma guerra".

Kiyo se levantou ainda tremendo. Ele não mais sorria. "O que você quis dizer com
ela pode arrancar as terras?".

O velho abriu as mãos. "Esse é o poder da coroa".

"A coroa não possui poderes". Falei fazendo uma careta. "É um premio, um
símbolo de status por ter suportado tudo isso".

"Um prêmio?" As sobrancelhas do velho se ergueram e ele deu uma gargalhada.
"Você acredita que tudo aquilo foi só por um prêmio? Por uma bugiganga?"

Kiyo e eu trocamos olhares preocupados. "Então o que isso faz?" Perguntei.

"A Coroa de Ferro permite que você quebre a ligação entre o monarca e seu reino.
Se você possuir a força então poderá reclamá-la". O velho deu de ombros. "Por que,
com poder suficiente, você poderá controlar metade dos reinos desse mundo".

CAPÍTULO 12
HOUVE UM MOMENTO DE SILÊNCIO.

"Isso é impossível", disse Kiyo por último. "A menos que você esteja dizendo que
ela deve matar todos os reis?"

"Não precisa", respondeu o velho.

"Até eu sei como isto funciona". Argumentei. "A única forma de reivindicar a terra
é se seu monarca anterior morrer ou ficar muito fraco para segurá-la. Caso contrário,
eles estão unidos. O monarca e a terra são um só".

"Você não está ouvindo?" Perguntou ele. "A coroa muda isso. A coroa quebra esse
vínculo. Não importa o quão forte eles são. Sem mortes -- a menos que você queira. A
terra é liberada, permitindo a você capturá-la se você for suficientemente forte e
ambiciosa, o que, naturalmente, você tem que ser até mesmo para possuir a coroa".

Suficientemente ambiciosa.

Suas palavras me fizeram lembrar de nossa luta, quando eu quase matei Kiyo em
minha raiva. Fiquei olhando para a coroa, com desgosto. "Eu não quero isso. Eu não
quero esse tipo de poder. Isso nunca foi minha intenção".

O detentor da coroa agora parecia tão perplexo quanto Kiyo e eu tínhamos ficado
momentos atrás. "Então por que você veio procurá-la?"

"Eugenie". Disse Kiyo inquieto. "Eu não acho que você deveria deixá-la.
Independentemente do que ela realmente faz... bem, o plano original ainda se mantém.
Você realmente não tem que usá-la. Apenas tendo isso ainda pode ser o suficiente para
assustar Katrice e estabelecer a paz, especialmente se ela souber o seu verdadeiro
poder".

Ergui os olhos para a coroa, olhando distraidamente para fora das paredes
chamuscadas da caverna. "Claro que ela sabe. Assim como Dorian. Ele sabia o tempo
todo".

Era um sinal de tato e autocontrole de Kiyo, ele não fez comentários críticos sobre
Dorian.

"Você tem que tomá-la". Exclamou o velho, olhando para frente e para trás entre
os nossos rostos. Ele parecia chocado e até mesmo ofendido por eu estar pensando
seriamente em deixá-la. "Você passou no teste. Ninguém que tenha feito isso recusou a
coroa".

A sensação de mal estar na barriga cresceu. Ele sabia. Dorian sabia.

"Você não tem que usá-la". Reiterou o Kiyo. "Mas Katrice não sabe disso".

"Eu fui uma idiota". Eu murmurei. "Uma idiota por pensar que era apenas um
prêmio de guerra. Se eu aceitá-la... o que acontece se alguém a toma? Se for roubada?"
Depois de experimentar tantas tentativas de estupro, eu estava bem ciente da extensão
da ambição do Outromundo.

"A coroa só vai funcionar para o seu atual proprietário". Disse o zelador. "Só vai
ficar com o digno. Se for tomada, ou se você morrer, ela vai voltar para cá, e vamos
aguardar o próximo adversário".

"Espera". Disse Kiyo. "Você só espera aqui o tempo todo? Quantos anos você
tem?"

Eu não esperava por uma resposta. Senti-me tonta em meus pés e, assim, tão
cansada, mentalmente e fisicamente. Eu queria sair desse lugar. "Vamos". Eu disse.
"Vamos pegar a coroa".

O velho sorriu. "Excelente. Estou ansioso para ouvir sobre suas vitórias".

Eu fiz uma carranca e movi-me em direção à saída. Esta não era uma situação para
despedidas acaloradas, então Kiyo e eu simplesmente saímos sem mais conversa,
porém eu podia sentir o olhar do vigilante queimando em minhas costas. A caminhada
para fora da montanha foi bem tranquila e parecia ir muito mais rapidamente. As
barreiras de fogo foram embora.

Quando finalmente surgiu, a luz e o ar dessa paisagem árida pareciam mais doces,
mais refrescantes do que nunca. Volusian e Deanna estavam exatamente onde os
deixamos. A expressão de Deanna se iluminou. A de Volusian aparentemente não
mudou ostensivamente, mas eu senti algum desânimo.

"Você o fez!" Exclamou Deanna. "Agora você pode me ajudar e descobrir...".

"Não". Eu interrompi, indo direto para o meu cavalo. "Agora não. Nós não vamos
lidar com isso ainda".

Seus olhos pálidos ampliado. "Mas você prometeu...".

"Ainda não". Eu rosnei.

Algo sobre o meu tom e olhar, deve ter sido bastante intimidador, porque ela
desapareceu sem mais comentários. Eu sabia que ela voltaria, no entanto. Olhei para
Kiyo, que já estava em seu cavalo, com rosto perturbado.

"Pensando se aquelas cobras são residentes regulares ou apenas uma parte do
teste?" Eu perguntei.

Ele olhou ao redor, analisando os buracos espalhados no chão. "Eu não acho que
podemos assumir que elas se foram".

Eu que certifiquei que a minha mochila estava segura, com a coroa dentro dela.
"Então vamos sair daqui. Nós não vamos parar até que estejamos fora das terras
Unclaimed".

O rosto de Kiyo estava alinhado com preocupação. "Eugenie..."

Mas eu já estava avançando com o meu cavalo na estrada, na direção de onde
tínhamos vindo. Nosso passeio inicial tinha sido rápido, mas ainda conservando
energia. Agora, eu não tinha nada a perder. Eu deixei o cavalo correr tão rápido quanto
pôde, suspeitando que ela queria sair deste lugar maldito, tanto quanto eu. A
velocidade e a corrente de ar eram quase o suficiente para me distrair do que tinha
acontecido e o que estava por vir. Quase.
Kiyo facilmente manteve o meu ritmo duro, e a velocidade tornou qualquer
conversa difícil. Perdi a noção do tempo, mas tive a sensação de ter andado por horas
enquanto o sol se movia no céu. Eu caí em tal calmaria rodeada pela paisagem sombria
que rodeava a passagem de volta para as regiões reivindicadas do Outromundo, o que
era como um espirro de água no rosto. Emergimos na terra Honeysuckle e fomos
subitamente cercados pelo calor e pela cor.

Kiyo desacelerou seu cavalo. "Eugenie, temos que parar". Quando eu não reagi,
gritou mais duramente, "Eugenie!".

Ele agarrou-me, e eu também desacelerei, o que acabou trazendo o meu cavalo a
um impasse. O cavalo dele trotou até nós.

"Eugenie, é quase noite. Nós temos que acampar aqui. Estaremos seguros, agora
que estamos fora daquele lugar".

"Seguros? Eu sou uma líder de guerra. Este lugar não está do nosso lado ainda.
Eles poderiam ter uma grande vantagem se eles me encontrassem e me capturassem".

"Isso é apenas uma desculpa". Disse ele. "Isso não vai acontecer, e você não
consegue acompanhar esse ritmo sem descanso. Os cavalos certamente não podem".

Eu não sabia muito sobre animais, mas Kiyo sabia. Esses dois não parecem
aparentemente esgotados, mas estavam respirando um pouco mais pesado do que
quando tínhamos iniciado a viagem. Eu acariciava a cabeça da égua como um pedido
de desculpas. Eu não queria parar, mas Kiyo estava certo.

A terra exuberante e bonita era melhor do que qualquer lugar de acampamento. O
truque era encontrar um lugar escondido que nos mantivesse perto da estrada. Se
desviássemos muito, a natureza do Outromundo poderia muito bem mudar-nos para
outro local. E, apesar de suas palavras confiantes, acho que Kiyo se preocupava um

pouco sobre a Rainha Thorn ser descoberta neste reino. Pelo menos tínhamos
Volusian para vigiar.

Nós finalmente nos estabelecemos em uma pequena clareira que era quase
impossível ver através das árvores sem que você estivesse dentro dela. Não muito
longe, havia uma pequena lagoa com pedras afiadas. Eu estava imunda da luta, mas não
tinha energia para banhar-me plenamente, então lavei as mãos e o rosto. No entanto,
de volta ao nosso acampamento, que era realmente apenas um lugar para dormir, já
que não precisava de fogo aqui, Kiyo insistiu em mudar o meu curativo de novo.

"Você rasgou mais pontos na luta", disse com desânimo. "Nós podemos manter a
perda de sangue baixa, mas você tem que tratar isto logo".

Eu concordei sem ouvi-lo, minha mente ainda estava envolta em torno do que eu
aprendi. Assim que ele puxou a minha camisa de volta, eu me virei e encarei-o. "Dorian
sabia, Kiyo. Dorian sabia o que essa coroa poderia fazer. É por isso que ele a queria. Eu
não ficaria surpresa..." Me matava por dentro dizer as próximas palavras. "Eu não ficaria
surpresa se ele tiver combinado desde o início com Masthera".

Eu mais uma vez esperava zombaria de Kiyo, mas seus olhos escuros estavam
graves e cheios de simpatia. "Eu não ficaria surpreso também. Sinto muito".
Era verdade o que eu disse na caverna: Eu sou uma idiota. Eu deveria ter escutado
meu instinto inicial, os que disseram que um prêmio de batalha não era o suficiente
para acabar com uma guerra. Um prêmio que pode retirar do reino Katrice dela? Yeah.
Isso acabaria com uma guerra, é verdade, mas Dorian deveria ter me dito. Ele deveria
ter me dito que ameaça real seria à coroa.

E então você não teria feito isso, uma voz na minha cabeça apontou. Eu sabia que
era verdade. Eu não teria arriscado a minha vida -- ou a do Kiyo -- para ir atrás de
algum artefato que me colocaria a um passo de ser a conquistadora que todos
esperavam que eu fosse.

"Dorian sabia". Eu repeti. "Dorian deixou-me arriscar a minha vida por isso".

Kiyo permaneceu em silêncio por alguns instantes, olhando para as árvores que
escureciam rapidamente ao nosso redor. "Você disse que ele resistiu no início, no
entanto. Até que ele percebeu que eu poderia ir".

"Porém isto foi um ato?" Eu descansei minha testa em minhas mãos, duvidando
de tudo o que eu tinha passado a acreditar sobre Dorian. Eu queria tanto, queria tanto
confiar nele. "Ele fingiu estar hesitante, sabendo que eu suspeitaria se ele fosse
agressivo?"

"Por todos os seus defeitos... Eu não sei. Ele se importa com você, Eugenie. Eu não
acho que ele descuidadamente lançaria você ao perigo. Ele pôde ter seriamente
esperado até que ele soubesse que podia ir com ajuda".

Eu suspirei e levantei minha cabeça. "Você está dando uma enorme quantidade de
crédito para alguém que você odeia".

Um pequeno sorriso cruzou os lábios de Kiyo. "Eu não o odeio, não exatamente.
Eu não confio nele. Eu não gosto dele. E... bem, eu certamente carrego um rancor por
ele ter te tirado de mim".

Eu estreitei meus olhos, uma centelha de raiva queimava em mim. "Ninguém me
`tomou'. Eu não sou algo que você pode apenas passar adiante!"

"Desculpe, desculpe". Disse ele apressadamente. "Eu não quis dizer isso assim.
Acabei de dizer que depois que nos separamos, tem sido difícil vê-la com ele. Isso é
inveja mesquinha, eu admito. Mas eu também odeio que sua ação grande e impetuosa
ganhou você e enfiou a estaca final no nosso relacionamento".

"Sua `ação grande e impetuosa'? Quer dizer matar Leith? Eu nunca vou me
arrepender que ele tenha feito isso". Eu disse ferozmente.

Apesar do quão escuro estava ficando aqui fora, eu podia ver os olhos irritantes de
Kiyo para mim. "É isso que você quer dizer, Eugenie? A sua vingança pessoal vale por
todas as pessoas que já morreram desde então?"

Eu desviei o olhar. "Ele mereceu. Você não entende".

"Eu entendo perfeitamente o que ele fez. E se eu poderia ter feito? Eu teria feito
muito mais do que introduzir uma espada pelo meio dele. Realmente, o que era quase
misericordioso em relação ao que ele merecia. Mas as conseqüências...".
"Eu sei". Suspirei novamente. "Eu sei o que eu causei, todas as perturbações neste
mundo". Um pensamento estranho ocorreu-me subitamente. "Maiwenn..."

Kiyo tencionou-se, não seguindo o meu salto em pensamentos. "O que tem ela?"

"Dorian sabia disso! Ela sabe o que a coroa faz, estou certa disso. É por isso que ele
me dizia para não deixar você falar com ela!" Eu atirei para cima, cheia de fúria agora.
"Maldição! Ele brincou comigo. Ele sempre brincou comigo! Não importa se ele me
ama. É de sua natureza. Ele não pode amar sem usá-lo para sua vantagem. Maldição!"
Meu grito ecoou na noite vazia quando eu me irritava mais e mais.

Em segundos, Kiyo estava de pé também, agarrando-me em seus braços. "Ei, ei.
Acalme-se. Ele pode ter te enganado, mas ele não pode fazer você fazer qualquer coisa
que você não queira com a coroa. Você está no controle. Nenhum dano foi feito".

"Nenhum dano?" Exclamei. "Kiyo, quase matei você! Você entende? Você
entende o que eu quase fiz? Eu perdi o controle! Como é que eu vou me perdoar por
isso?"

Puxou-me em seus braços. "Eu te perdôo por isso, e isso é tudo que você precisa
se preocupar. Não se martirize com a culpa".

Cerrei os punhos. "O mais louco de tudo é que o outro cara, o falso lich pensou
que o que eu fiz foi uma coisa boa. Eu deixando os meus amigos de lado pelo poder.
Isso é o que a coroa representa. Isso é o que eu irei me tornar".

"Eu não vou deixar você". Disse Kiyo ferozmente.

"Está no meu sangue". Eu disse fracamente. "Eu percebo isso agora".

"Talvez. Eu não sei. Eu pensava... bem, eu pensava que era apenas alguma decisão
mais fácil que você poderia tomar. `Faça isso, não faça isso'. Isso foi estúpido da minha
parte. É mais do que isso, esse conflito em você. E eu não ajudei -- não da forma que
você precisava -- eu irei agora, se você deixar".

Eu olhei para ele, confuso. "Por quê? Depois de tudo que eu fiz?"

"Porque eu..." Kiyo desligou-se. Eu mal podia vê-lo agora, mas a sensação de suas
mãos estava quente na minha pele. "Porque isso não importa. Porque eu estraguei
tudo. Porque nunca deveríamos ter terminado. Eu tenho vontade de te dizer uma coisa
há algum tempo. Nós deveríamos...".

Eu corri e saí do outro lado da clareira. Eu não podia ouvir isto. Eu não podia
ouvir uma proclamação de amor, não quando meu coração ainda estava quebrado com
a traição de Dorian. Eu confiava nele. Eu confiava nele, apesar de todas as evidências de
que ele faria isso por um poder extremo. Eu pensei que o amor por mim seria mais forte
que a ambição. Eu estava errada. Mesmo que ele me amasse, seu coração sempre
estaria dividido entre mim e sua ânsia pelo poder. Era a sua natureza, assim como
minha própria natureza era estar dividida entre humana e gentry.

"Eu preciso dormir, Kiyo". Eu disse asperamente. "Eu não posso ouvir isso agora".

"Mas Eugenie..."
"Boa noite". Virei às costas para ele -- eu sabia que ele podia ver na escuridão -- e
me enrolei na grama. Era dificilmente uma cama confortável, mas em comparação com
o desconforto da noite passada, eu me senti como o céu.

Kiyo não disse mais nada, e eu finalmente ouvi-o sossegar. Volusian tinha sido
posto de vigia, ou seja, nem Kiyo nem eu tínhamos que ficar acordados. No meu caso,
isso não importava. O sono não vinha, não importa o quanto eu quis que ele viesse.
Fiquei a maior parte da noite, olhando para o céu claro e o brilho das estrelas. O
Outromundo tinha as mesmas constelações que o mundo humano, o que certamente
representava algum tipo de dilema físico, o qual eu não tive tempo para pensar agora.

Dorian sabia.

Essa coroa. Essa coroa de merda. Parte de mim queria agarrar a minha bolsa,
pegar a coroa, e jogá-la fora, para nunca mais ser vista novamente. O que o velho disse?
Ela ia voltar para sua casa? Nenhum dano feito. Nenhum dano, exceto a perda do meu
potencial para roubar a terra Katrice - dela e de qualquer outro que se opusesse a mim.

Era isso que Dorian queria? Ele teria tentado convencer-me que essa era a única
maneira de ganhar a guerra? E eu teria acreditado? Talvez. Eu estava disposta a arriscar
muito pela paz que vinha depois da coroa. Talvez isto tivesse sido a "porta de entrada"
para o eventual plano de Dorian para a conquista.

No final, não importava qual era o seu plano. O que importava era que ele tinha
me traído. Eu me abri com ele, o amava. Isto tinha acabado agora.

Foi esse pensamento, o pensamento e a raiva que queimava dentro de mim, que
me fez levantar e andar ao redor logo cedo quando amanheceu. Kiyo - que
aparentemente havia dormido - de imediato, acordou quando me ouviu me mexendo.

"Deixe-me adivinhar". Disse ele. "Você não dormiu".

"Não".

Tirei um pouco da comida do meu saco de viagem, encolhendo-me quando os
meus dedos roçaram a coroa. Kiyo se levantou e se espreguiçou, e então saiu na
folhagem. Ele voltou alguns minutos depois, com algumas mangas em seus braços.

"Para suplementar seu café da manhã". Disse ele, atirando-me uma. Inclinou-se
contra uma árvore e mordeu uma das suas. Eu balancei a cabeça em gratidão, mas a
doçura da fruta estava perdida em mim. Nada tinha qualquer gosto. Eu estava ciente,
de longe, dos olhos de Kiyo em mim, mas ignorei-os.

"O que você está pensando?" Ele perguntou finalmente.

"O quanto eu odeio o Dorian".

"O que você vai fazer?"

Isso era algo que eu tinha pensado por um tempo, então eu tinha uma resposta
sólida. "Ir até ele. Chamá-lo para fora. Dar uma nota com classe. Dizer a ele que acabou
tudo. Nós. A nossa aliança".

As sobrancelhas de Kiyo levantaram-se. "Você não pode querer ser tão precipitada
sobre essa última".

"Como posso estar em uma parceria com alguém assim?" Exclamei.

"Você pode estar em um negócio com pessoas que você não gosta. Eu não iria
jogar fora o seu apoio militar, no meio dessa bagunça".

"Eu não preciso de sua ajuda". Eu disse obstinadamente. "Especialmente se
Katrice fizer uma trégua por causa da coroa".

"E se ela não fizer?"

"Eu não sei". Levantei-me e esfreguei as mãos grudentas em meu jeans. Kiyo era a
última pessoa com quem eu esperava ter essa discussão. "Aonde você quer chegar? Eu
devo perdoá-lo? Deixar isso tudo passar e voltar para a cama dele?"

"Não. Absolutamente não". Kiyo andou até mim, quase espelhando as nossas
posições de ontem à noite, quando ele estava prestes a dizer-me algo romântico. No
entanto, eu já tive tempo para chegar a um acordo com a minha raiva e poderia

realmente focar agora em Kiyo, a preocupação em seus olhos e o jeito como o corpo
dele sempre fez o meu se sentir. "Mas eu não acho que Dorian vai sair da guerra, não
importa o que acontecer entre vocês. E você deveria aceitar essa ajuda".

"Eu tenho medo..." Até que essas palavras saíssem da minha boca, eu não sabia o
que queriam dizer. "Tenho medo que quando eu o vir, quando eu falar com ele... ele vai
fazê-lo novamente. Ele vai me convencer, eu não sei. Seja qual for seu plano. Ele irá
justificá-lo e irá me atrair de volta".

Kiyo pegou o meu rosto em concha entre suas mãos. "Você não precisa fazer nada
que você não queira. Você é forte. E eu vou com você, se você quiser".

Eu olhei nos olhos de Kiyo, sentindo-me perdida em suas profundezas e confusa
com o que vi neles. "Eu quero você".

Inclinando-se para baixo, ele me puxou para perto e beijou-me quase antes que eu
percebesse o que estava acontecendo. Havia calor nos seus lábios, calor e fome, e essa
paixão animal crua que assim o definia. Meu corpo pressionou-se contra o dele, e fiquei
surpresa com a excitação que o beijo acendeu dentro de mim, eu, que 24 horas atrás
tinha sido empossada e selada para Dorian. Agora, o desejo dentro de mim era todo
para Kiyo, um desejo que era, provavelmente, a vingança contra Dorian e um
ressurgimento de meus sentimentos por Kiyo, em partes iguais, e a simples luxúria
desencadeada por estar com alguém que eu achava tão atraente.

Eu me afastei dele, e não foi fácil. Aquele beijo me consumiu, assumiu o meu
raciocínio. Eu senti que eu estava a segundos de distância de rasgar sua roupa e atirar-
me para ele. Alguma parte irritantemente racional de mim dizia que eu não deveria
fazer isso até que eu soubesse ao certo se seria porque eu ainda me preocupava com o
Kiyo ou porque eu queria me voltar contra o Dorian.

"Não, não. Eu não posso". Eu disse, dando alguns passos de distância. "Eu não...
Eu não estou pronta...".

Eu sabia que ele podia dizer que não era exatamente verdade. Ele seria capaz de
sentir o desejo em mim, feromônios e outros sinais físicos que diziam que eu queria.
Mas minha cabeça e meu coração? Não, eu não tinha certeza sobre isso.

"Eugenie..." Sua voz era rouca, cada grama de sua obscura e primordial
sexualidade irradiando, a qual sempre me atraiu.

"Eu não posso". Eu repeti. "Por favor,... não faça isso de novo...".

Eu corri cegamente para a floresta, ignorando galhos e folhas que chicoteavam
contra mim. Eu não precisei ir muito longe porque algo me disse que Kiyo não me
seguiria. Ele me deixaria em paz por agora. Eu afundei no chão, apoiando minha cabeça
contra a casca lisa de uma árvore que eu não reconheci. Meu coração batia forte em
meu peito, com a agitação dos avanços Kiyo.

Eu suspeitava que ele ainda se importava, especialmente vendo como a separação
foi mais minha idéia do que dele. Ele admitiu a sua sabedoria, é verdade, mas eu sempre
soube que ele queria que as coisas fossem diferentes. Inferno, o que fazia dois de nós.
Eu exalei e fechei os olhos. O que eu faço com isso? O que eu fiz com os sentimentos
por Kiyo? O que eu fiz com meus próprios sentimentos?

Porque na essência de tudo isso, meu coração ainda estava furioso sobre Dorian.
Eu realmente quis dizer o que eu disse ao Kiyo: eu estava decidida a voltar e dizer ao
Dorian que tudo tinha acabado. Eu estava decepcionada com o Kiyo -- ainda, um
pouco -- sobre ele não ter agido diretamente contra Leith. No entanto, tanto quanto
ele tinha me machucado, Kiyo foi franco e aberto sobre suas razões para isso. Era
melhor do que alguém dizendo verdadeiras mentiras para você. Mentiras. Dorian
estava cheio delas, e não apenas sobre a coroa. De repente, vi-me questionando por que
ele mesmo sugeriu que Kiyo viesse nesta missão, ao invés de Jasmine. Talvez Dorian
tivesse pensado que esta seria uma maneira conveniente de se livrar de alguém que ele
sempre viu como um rival potencial.

Eu não sabia. A única coisa que eu tinha certeza era que eu estava ficando mais e
mais elaborada quando eu sentei lá. Um toque leve assustou-me com o meu turbilhão
emocional, e eu abri meus olhos. Nenhum grito de alerta veio de Volusian no
acampamento, e, um momento depois, eu percebi o que estava acontecendo. Subindo,
dirigi-me para a piscina no coração da clareira.

Certa o bastante, achei Kiyo nadando para frente e para trás. A lagoa era cristalina,
brilhando no sol da manhã, e cantava para os meus sentidos mágicos. Eu me perguntei
se ele estava lá para se limpar da batalha de ontem ou para jogar fora sua frustração
sobre mim. A julgar pelas marcas no seu rosto, talvez ambos. Eu o vi por um minuto,
sabendo que as oportunidades para pegá-lo inconsciente eram raras. A água e seu
humor o tinham distraído; ele normalmente teria cheirado e ouvido um observador.
Depois de um pouco mais, eu tomei a minha decisão. Eu comecei a tirar minhas
roupas. Kiyo virou-se e reparou em mim quando eu caí na água, descendo através da
borda de pedra.

"Eugenie... o que você está fazendo? Você está embebendo as ataduras".

Nadei até ele, no lado mais distante da piscina. "Estou aqui nua com você, e essa é
a sua maior preocupação?"
Ele me olhou com cuidado. "Bem, esse foi o nosso último lote delas".

Eu coloquei minhas mãos em seu peito. "Nós vamos estar em casa logo".

Quando eu trouxe meus lábios aos seus, unindo-nos em um beijo profundo, eu
senti a mesma resposta que anteriormente. Ele respondeu-me com fome, com os
braços envolvendo minha cintura como se pressionadas juntas. Agora, porém, foi Kiyo

quem nos separou, apesar da excitação em seus olhos. Tive a sensação de que havia
uma guerra do humano contra o animal acontecendo dentro dele.

"Espere". Ele disse. "Mais cedo... você me disse que não podia..."

"Eu mudei de idéia. Eu posso fazer isso". Eu disse. "Precisa ser mais do que isso
agora?". Eu ainda iria dizer a Dorian que eu estava terminando com ele, mas eu não
precisava para fazer isso. Eu estava mentalmente terminada com ele. Eu estava livre
para fazer o que quisesse. Eu me movi para Kiyo novamente, caminhando lentamente
em direção à beira da água. Nossas metades superiores emergiram, com ar da manhã
um pouco frio contra a minha pele molhada.

"Eu não confio porque você está fazendo isso". Disse Kiyo. Mas quando eu o
atraía mais, ele não recuava. "Eu acho que você está dando o troco no Dorian".

Beijei-o duramente, cortando qualquer lógica dos argumentos que ele poderia
tentar. "Talvez eu esteja". Eu disse depois. Ele estava ofegante, um pouco surpreso com
a intensidade. Senti-me poderosa, cheia de luxúria pelo Kiyo e - sim - de raiva do
Dorian. "Mas é com você que eu estou fazendo. Isso não significa alguma coisa?"

Houve uma pausa nos escuros e esfumaçados olhos de Kiyo, me estudando
intensamente. "Sim". Com um movimento rápido, ele me virou, empurrando seu corpo
contra o meu. "Significa. Isto é como deveria ter sido de qualquer maneira". Prendi a
respiração enquanto ele beijava meu pescoço, seus dentes roçando na minha pele. "E
eu vou ter de volta o que é meu".

Meu corpo queimava, tanto pelo seu toque como pelo tom perigoso na sua voz.
Em seguida, o pleno significado de suas palavras me atingiu. Eu comecei a me virar,
mas suas mãos estavam sobre mim, prendendo-me contra a borda em torno da água.
"Ei, eu não sou sua". Eu rosnei. "Eu pensei que tivesse deixado isso bem claro".

"Você está certa". Disse ele. "Mas você também não é dele. Não mais. Você nunca
deveria ter sido. Nós nunca deveríamos ter nos separado. E se você quiser isso, se você
quiser fazer isso, você tem que me dizer que você sente algo por mim. Eu não posso
acreditar que isso é um simples sexo por vingança".

"Kiyo..."

As mãos que me seguravam deslizaram para frente, para os meus seios, a aspereza
do seu toque enviou ondas de choque pelo meu corpo. "Diga-me". Soprou em meu
ouvido, suas mãos deslizavam ao longo do meu estômago e para baixo entre as minhas
coxas. "Diga-me você ainda sente algo por mim".

Seu corpo fechou o minúsculo espaço que havia entre nós, empurrando-me
direito na pedra. Senti-o duro e pronto.
"Eu..." Fechei meus olhos, perdida na maneira que as suas mãos me tocavam e
atiçavam a tensão sexual que estava crescendo entre nós há alguns dias. O que eu
sentia? Por um momento, eu estava em conflito. Talvez isso não estivesse certo. Talvez

eu devesse acabar as coisas formalmente com o Dorian antes de deixar as minhas
emoções fugirem de mim. "Eu..."

"Sim?"

Ele se inclinou sobre mim, com as suas mãos segurando minha cintura e, de
repente, ele estava deslizando para dentro de mim, um gemido baixo escapou de seus
lábios quando ele encheu-me. Eu dei um pequeno grito com o ato inesperado, o que se
transformou em um gemido de prazer quando ele começou a se mover dentro e fora de
mim.

"Diga-me que ainda há algo, qualquer coisa..." Ele resmungou. "Se não, vou parar e
deixar isso pra lá. Basta dizer isso".

"Eu...".

Novamente, eu não poderia convocar as palavras. Desta vez, era simplesmente
porque eu estava muito perdida em como ele se sentia. Eu tinha esquecido como era
com ele, a maneira como ele sempre gostava de me pegar por trás, impulsionado pelo
instinto animal. No entanto, havia mais do que isso para ele. Flashes de imagens
passavam por mim, do jeito que ele lutou ao meu lado, a compaixão, quando ele viu o
quão eu estava ferida pela decepção com Dorian.

"Diga-me". Ele disse novamente, uma selvagem e faminta nota em sua voz. "Diga-
me você me quer, me diga que ainda há algo entre nós. Que você não quer que eu
pare".

Ele sentia-se tão bem, tão forte e duro. "Não..."

"Não o quê?"

"Não... não pare... há... é claro que ainda há alguma coisa...".

Eu realmente quis dizer isso. E assim, o animal dentro dele foi libertado. Eu gritei
quando ele me deu toda a força de seu corpo, meus braços empurrando-o duramente
para evitar que eu fosse empurrada contra a borda. O som dos nossos corpos juntos
ecoou em torno de nós quando ele empurrou incansavelmente, tendo-me mais e mais
enquanto ele recuperava o meu corpo.

"Eu senti sua falta, Eug". Ele conseguiu dizer. "Senti falta de fazer sexo com você.
Senti falta de fazer amor com você. Mas, especialmente... especialmente senti falta de
foder você".

Suas palavras estavam pontuadas com um golpe particularmente forte, que me
alcançou duro e profundo enquanto ele se inclinava sobre mim ainda mais. Gritei
novamente, mas isto era êxtase, não era dor. Kiyo sempre tinha sido capaz de me fazer
ficar desse jeito, e agora não era uma exceção. Eu senti os nervos do meu corpo
explodirem, cada parte de mim tremia. Ainda assim, ele continuou se movendo em
mim com essa necessidade primordial, empurrando-me em uma sobrecarga sensorial.
Ele havia desistido das palavras, simplesmente emitia pequenos grunhidos enquanto os
nossos corpos se conectavam.

Logo em seguida, seu corpo alcançou o ponto de ruptura, empurrando-me da
forma mais forte que ele era capaz, ao atingir o seu clímax. Ele me abraçou forte, meu
corpo lá para satisfazer sua necessidade quando ele veio para mim, gemendo e tendo
espasmos até que ele finalmente me deu tudo que tinha.

Ele saiu de mim, e eu me virei, minha própria respiração estava superficial e
rápida. "Isso... talvez não devêssemos ter feito isso...".

Kiyo pôs um braço em volta da minha cintura e me puxou para ele. Seus lábios
pousaram nos meus. "Você soa como um cara na manhã seguinte. Você é a única que
ME atacou, lembra?"

"Verdade". Eu admiti. Com o meu desejo saciado, eu estava me sentindo um
pouco mais coerente. Mas só um pouco. Seu corpo nu ainda estava exatamente contra
o meu, e isso era perturbador.

"Dê-me mais alguns minutos". Ele murmurou. "Alguns minutos mais e podemos
fazer isso de novo...".

"Nós provavelmente estamos apenas criando mais problemas".

Ele beijou meu pescoço. "O que é mais um problema entre todos os outros que
temos? Uma vez mais, Eugenie. Eu senti muito a sua falta. Vamos fazer só mais uma
vez".

Eu podia sentir que ele realmente estava quase pronto de novo. Eu levantei uma
das minhas pernas, meio que o enrolando quando o meu corpo decidiu que estava
pronto de novo também. "E depois?"

"Depois?" A boca do Kiyo se moveu para a minha. "Depois nós vamos ver o
Dorian".

CAPÍTULO 13

A JORNADA DE VOLTA FOI TRANQUILA, A COISA MAIS NOTÁVEL
era o brilho entre kiyo e eu ­ algo que, agora, eu questionava se tinha sido uma decisão
certa. Minhas palavras tinham sido verdadeiras: Nunca parei de me importar com ele.
Mas ele também estava certo: o que aconteceu entre nós na clareira foi por causa da
minha revolta e necessidade de me vingar de Dorian. Isso não era uma boa razão para
iniciar um relacionamento. Não era nem uma realmente boa razão para sexo casual, e,
pra ser sincera, não sabia qual era meu status com Kiyo no momento. Deanna
reapareceu e seguiu tão quieta e obedientemente, que eu finalmente decidi quebrar o
silêncio para reassegurar a ela de que manteria minha parte do acordo. Seu rosto
aborrecido iluminou-se, e tenho de dar crédito a ela por não forçar a situação até que
eu concluísse meus outros assuntos. Kiyo e eu fomos direto à casa de Dorian, uma vez
que cruzamos territórios mais familiares.

Meu plano era lidar com ele primeiro e então pular para o mundo humano. Pensei
que seria mais seguro manter a coroa lá. Os guardas de Dorian sorriram ao me ver, e
mesmo surpresos por verem Kiyo, a maior parte deles parecia saber que eu estava em
uma missão secreta. Voltar viva era um ótimo sinal. Assim que entramos no castelo,
mandei um mensageiro ir a Katrice e a informar que eu agora possuía a Coroa de Ferro
e que se ela quisesse conversar a respeito de se render, eu seria toda ouvidos. Como
companheira de Dorian, eu tinha poder de dar ordens à sua equipe -- mas tinha um
pressentimento de que isso acabaria logo.

Kiyo e eu fomos admitidos à presença exaltada de Dorian em um pátio, onde ele
estava fazendo um cortesão já muito atormentado, chamado Muran, tocar a harpa. Eu
sabia que Muran tinha tido somente uma aula, e Dorian parecia se divertir muito o
vendo ter tanta dificuldade. Este tipo de coisa era um dos passatempos preferidos de
Dorian, e, geralmente, ainda que eu me sentisse um pouco mal, por Muran, isso
também me dava alguma diversão. Hoje eu não sentia diversão alguma. Quando
entramos no pátio, Dorian deu uma olhada para nossos rostos e rapidamente mandou

todos saírem -- até mesmo seus guardas. Ele ainda tinha aquele pequeno,
despreocupado sorriso, mas percebi uma mudança sutil nas linhas de seu rosto. Ele
sabia que algo estava acontecendo. Sua astúcia o tornava um ótimo líder.

"Bem, aqui está". Ele disse, se reclinando no equivalente aristocrático de uma
cadeira para gramado. Exceto claro, nunca vi a Home Depot18 vender algo tão ornado e
dourado. Normalmente quando eu chegava, Dorian me beijava, mas sua precaução o
deve ter feito se segurar. "Tão bela quanto sempre, minha querida, ainda que um pouco
abatida. Suponho que isso signifique que tiveram sucesso ou escaparam com vida por
pouco?".

18 `The Home Depot' é uma espécie de "Disneylândia" para os interessados em reformas
domésticas, grupo (de lojas)
muito expressivo nos Estados Unidos.

A "Tivemos sucesso". Disse. "Tenho a coroa".

Novamente -- aquele sorriso não mudou, mas uma luz ansiosa brilhou nos olhos
de Dorian. Ele se inclinou para frente. "Sabia. Sabia que você conseguiria". Ele me
estudou de cima a baixo, seu olhar finalmente focando a bolsa que trazia sobre meu
ombro. "Posso vê-la?".

"Não". Disse abruptamente. "Ninguém irá vê-la. Será escondida onde não poderá
ser usada para tomar as terras de todos".

As sobrancelhas de Dorian levantaram, e ele começou a falar. Já podia imaginar
uma centena de variações do que sairia da sua boca, algo como "Do que você está
falando, minha querida?".

Dei um passo para frente, perdendo o controle ao cortá-lo. "Não comece! Nem
tente enrolar e negar. Você sabia desde o início o que a coroa poderia fazer! Você sabia
que assustaria Katrice porque significaria que e eu -- e, por conseguinte, você --
poderia tomar o reino!"

Dorian hesitou e, de novo, podia imaginar os pensamentos girando em sua
cabeça. Negação ou dar um passo para trás? Ele finalmente seguiu a última opção.

"E que melhor maneira de forçá-la à paz?" Ele disse, afinal. "O propósito de uma
guerra como esta é eventualmente marchar e subjugar alguém. De qualquer maneira,
não é muito mais fácil e rápido alcançar este objetivo por outro meio?"
"Um meio que rouba as terras dela!" Exclamei. "E me força a ter outra porra de
reino!" Dei outro passo para frente e tive de me conter para não chegar mais perto.
Estava tão, tão brava. Tão brava porque este homem, com quem eu me importava, faria
isto comigo. Estava quase mais brava com ele que do com Katrice, no momento. Dela,
pelo menos, eu esperaria traição. "E é isso é o que você queria fazer ­ não só assustá-la.
Você acharia algum jeito, alguma justificativa para tomar esse passo drástico, assim
como você me fez ir atrás desta coisa, pra começar".

Muito do sorriso tinha sumido do rosto de Dorian, agora. "E você teria ido atrás
dela, se você soubesse?"

"Não".

Ele deu de ombros. "Então, aí está".

Estava horrorizada. "É assim? Como diabos você pode estar tão relaxado sobre
isto? Como você pode agir como se fosse normal me enganar desde o início ­ você e
aquela vagabunda? Como você pode alegar que me ama e mentir pra mim?"

"Eu te amo". Ele disse. "Mais que você imagina. Fiz isso para o seu próprio bem".

"Você fez isso para o seu próprio bem". Repreendi. "Não acredito que caí nessa de
novo. Já fez isso no passado, e agora pra mim chega. Chega de você. Chega de tudo
isso. Não preciso mais de sua ajuda. Acabarei sozinha esta porra desta guerra".

"Eugenie". Avisou Kiyo, gentilmente. Ele não me contradisse. Não na frente de
Dorian, mas entendi as entrelinhas. Foi o ponto que ele tentou argumentar antes: não
tratar com desprezo a ajuda militar de Dorian.

Dorian zombou, compartilhando desse sentimento. "É claro que você precisa de
mim. Se você conseguir pensar além de seu orgulho ferido, verá que estamos juntos
nisto. Use a coroa como quiser, mas seja razoável, para que nós dois possamos terminar
esta guerra".

Minha voz estava grave e perigosa quando falei. Estava furiosa que ele pudesse ser
tão condescendente, que ele achasse que poderia me fazer esquecer tudo que
aconteceu. "Não há mais `nós'".

"Agora você está exagerando". Ele disse. "Precisamos terminar essa guerra juntos,
e precisamos ficar juntos. Ponto. Estamos destinados a ficar juntos".

"Não". Eu disse. "Terminamos. Acabou".

Podia ver no rosto dele que ele não levava minhas palavras a sério. Ele não
entendia. Seu ego não o permitia. Antes que ele pudesse responder, Kiyo levemente
tocou meu braço. "Cuidado. Veja o que você está fazendo".

Olhei ao redor. O vento estava subindo e descendo, fazendo as macieiras
balançar. Nuvens escuras começavam a se aglomerar acima. Não era incomum que
minhas emoções afetassem o tempo, mas que eu pudesse fazer isso em uma terra sob o
controle de outra pessoa era uma demonstração do quanto meu poder tinha crescido.
Se Dorian quisesse tempo ensolarado, deveria ficar desse jeito. A percepção de que eu
poderia fazer isso era inebriante.
Não obstante, acalmei-me e dissipei as nuvens de tormenta. Mas Dorian não
estava nem aí para isso. A atenção dele tinha focado em um pequeno gesto: o toque de
Kiyo em meu braço. Não sei como Dorian sabia -- talvez pelo modo como Kiyo e eu
estávamos perto um do outro -- mas naquele momento, Dorian percebeu o que havia
acontecido entre Kiyo e eu. E isso, mais que qualquer dos argumentos apresentados

aqui, finalmente mexeu com a atitude relaxada dele. Seu rosto se transformou em
pedra. "Oh". Disse ele para Kiyo, sem qualquer emoção. "Entendi. É sua vez de novo".

Enchi-me de revolta com a insinuação de que eu pudesse ser passada de mão em
mão -- um sentimento tal qual o que Kiyo expressou. Dorian não me deu uma chance
de retrucar.

"Bem, se é assim que é, então é assim que será. Você pode estar certa ao dizer que
não existe mais um `nós', porém ainda estamos juntos nesta guerra. Meus exércitos
estão muito envolvidos, não posso deixar Katrice pensar que estou recuando. Dareth!"

A voz de Dorian ecoou alto o suficiente para um dos guardas atrás da porta de
vidro ouvir. Ele rapidamente abriu as portas e entrou.

"Sua majestade?"

"Por favor, escolte a rainha Thorn e seu animal de estimação daqui. Hospitalidade
será negada a eles. Não os deixe entrar de novo. Se algum de sua casa vier, eles podem
ser admitidos à minha presença".

Seus olhos viraram-se para mim.

"Mande Rurik como seu representante para todos os assuntos militares. Ele já
faria o trabalho mesmo".

A atenção de Dorian voltou-se para seu guarda. "Você tem suas ordens".

Dareth não conseguiu esconder o choque. Eu já tinha me tornado da casa aqui, e
era tratada quase como Dorian. Após alguns momentos, ele se recompôs, sua lealdade
ao rei sobrepujando qualquer descrença que ele poderia sentir. Ele se virou para mim,
sua expressão, formal. Fez gesto para que entrássemos. "Sua majestade".

O respeito estava lá, mas a mensagem era clara. Eu estava sendo mandada embora
e podia ver Dareth praticamente implorando que eu não resistisse. Não o fiz, e mesmo
com uma dúzia de despedidas de Dorian enchendo minha cabeça, eu as ignorei. Ele
adorava esse tipo de atenção. Faria apenas com que se sentisse mais importante, e eu
queria deixar claro que não queria mais nada com ele -- ainda que a percepção do que
estava acontecendo quebrasse meu coração.

Kiyo e eu seguimos Dareth sem falar, mas aí eu pausei. Levando minha mão até
meu pescoço, arranquei o colar que eu usava que continha o anel de Dorian, e joguei
aos seus pés, encontrando seu olhar com uma mensagem que eu esperava que
entendesse. Ele entendeu. Com uma fúria verde, disse: "Eu disse pra saírem daqui".

Virei-me, deixando Dareth nos escoltar aos portões do castelo. Assim que
estávamos do lado de fora, ouvi o dando instruções sobre a revogação de hospitalidade
para nós. Imaginei os outros guardas também ficando chocados, mas andei sem olhar
para trás. Uma vez que Kiyo e eu tínhamos andado o suficiente para alcançar o reino de
Maiwenn, ele se virou para mim.

"Você está bem?" Perguntou, com preocupação naqueles olhos negros.

"Sim". Disse sem emoção. Estava confiante que minha raiva tinha sido
justificada... Mas deixar Dorian ainda doía. Ele se livrou de mim tão facilmente, quando
percebeu que eu tinha transado com Kiyo. Esperava algo... Algo mais emocional, eu
acho. Algum sinal de que eu tivesse significado algo mais que apenas uma parceria útil.
Eu já deveria saber. "Vamos voltar para Tucson".

Mantive Volusian e Deanna longe enquanto falava com Dorian, mas os trouxe de
volta agora. Disse a Deanna que fosse até minha casa amanhã e que, então,
começaríamos a trabalhar no problema dela. Para Volusian, dei ordens de voltar a terra
Thorn. Ele diria a Rurik pra ir até Dorian e então esperar até que Katrice desse uma
resposta. Não tinha dúvida de que meu banimento da terra de Dorian se espalharia
rapidamente; não queria ver a reação de meu povo quando isso acontecesse. Kiyo e eu
voltamos para o Arizona em um portal próximo dali, indo para sua casa em vez da
minha, para que ele pudesse refazer meus pontos. Ele era tão bom quanto qualquer
médico `de verdade' e eu não queria ter que explicar meus cortes e arranhões pra mais
ninguém. Vários cães e gatos me cumprimentaram quando entrei em seu apartamento,
me fazendo ficar estranhamente nostálgica.

"Tem certeza de que você está bem?" Kiyo perguntou depois. Eu estava deitada,
de barriga para baixo, em sua cama, enquanto sua agulha trabalhava no corte. Minha
bochecha descansava em um travesseiro, minha única visão sendo a cômoda dele
enquanto eu tentava ficar imóvel.

"Sim".

"Você fica dizendo isso, mas o que aconteceu lá foi bastante sério". Conseguia
imaginar ele franzindo a testa. "Eu não esperava que ele fosse retirar a hospitalidade".

"Ele sabe que transamos". Eu disse. "Caras ficam chateados quando namoradas
fazem isso". Eu tinha terminado com Dorian, em minha cabeça, no segundo que
descobri sobre a enganação, mas até onde ele sabia, eu o traí. Talvez eu tenha. Mas trair
alguém que a tinha enganado não parecia muito uma traição.

"Sim". Disse Kiyo. "Eles ficam". Ele amarrou a sutura e colocou gaze sobre ela.
"Por favor, não tire isso de novo. O fato de não ter infeccionado é um milagre".

"Não farei isso". Eu disse, sentando e cuidadosamente colocando minha camisa.
"Não planejo entrar em nenhuma briga por um tempo. Ficarei fora do Outromundo
até que eles realmente precisem de mim, e investigar o assassinato de Deanna deverá
apenas envolver fazer perguntas. Na verdade, estou torcendo pra passar essa tarefa para
outra pessoa".

"Ela não gostará disso".

"Eu resolverei a situação". Disse. "Ela gostará disso. Provavelmente mais rápido
do que se eu fizesse pessoalmente".

Comecei a me levantar, mas Kiyo pegou em minha mão e me fez ficar sentada.
Sua expressão mudou ligeiramente. "Você quer ficar um pouco?"
Chacoalhei minha cabeça, sorrindo levemente. "Tenho coisas para fazer. Além do
mais, não é porque fizemos o que fizemos que as coisas novamente voltaram a ser o que
eram".

Seu sorriso malandro sumiu. "Você está certa. Muita coisa foi atropelada. Acho
que devíamos... não sei. Você quer sair comigo?"

"Um encontro?" Ri, apesar de mim mesma. Isso parecia tão fora das coisas que
aconteceram nos últimos dias. Comum demais. "Jantar e cinema?"

"Algo assim. Eu poderia pegar você mais tarde, depois que cuidar das suas coisas.
Ou amanhã, se precisar de mais tempo".

Um pouco mais tempo? Talvez eu precise de muito mais tempo. Realmente não
sabia. Eu podia ter pulado na cama -- figurativamente falando -- logo depois que meu
relacionamento com Dorian tinha acabado, mas como falei, isso não queria dizer que
eu estava pronta para ter um relacionamento com Kiyo novamente. Eu tinha transado
com Kiyo durante meu acesso de raiva; tinha mais para pensar agora que tinha esfriado
a cabeça -- e visto o rosto de Dorian. Minha cabeça me dizia que tínhamos acabado,
mas meu coração já sentia falta dele. "Amanhã". Eu disse.

Kiyo acenou com a cabeça. "Justo. Eu provavelmente deveria dar uma passada na
clínica, também". Sinceramente não entendia os termos empregatícios do Kiyo. Com
suas constantes visitas ao Outromundo, ele não parecia ter um horário fixo na clínica
veterinária em que ele trabalhava. Ele só aparecia quando queria. Era mais conveniente
que meu próprio trabalho, para manter uma existência dupla entre mundos.

Com sentimentos confusos ou não, o deixei me beijar ao se despedir. Havia uma
parte de mim que queria poder ficar com ele, me esconder na cama dele e evitar o resto
do mundo. Mundos. Mas eu tinha muito para fazer.

A primeira coisa era ir pra casa e trocar de roupa. Cheguei a o que parecia ser uma
casa vazia, mas os carros na entrada mostravam que isso não era verdade. Mais ou
menos um minuto depois de entrar, ouvi a porta do quarto de Tim abrir. Ele apareceu,
vestindo apenas uma calça jeans, seu cabelo preto todo bagunçado.

"Oi, Eug. Não esperava te ver de volta".

"Aparentemente não. Presumo que Lara esteja aí?"

Ele teve os bons modos de ficar acanhado. "Ah, bem..."

"Oi, Eugenie". Lara apareceu na cozinha ao lado dele, seu cabelo tão bagunçado
quanto o dele.

Suas roupas ­ incluindo a camiseta `West Coast Pow Wow 2002'19 do Tim ­
mostravam sinais de se vestir ás pressas.

19 Cruzeiro de luxo para nativos americanos, com bailarinos e artistas de dança nativa.

Ela estava vermelha, mas sua vergonha se transformou em surpresa quando ela
parou para olhar minha aparência. Ela ainda não estava acostumada a me ver na vida
real.
"Dia difícil?"

"Dias". Disse.

"Oh... não imagino... não imagino que esteja a fim de ouvir sobre algumas ofertas
de trabalho?"

Foi a primeira vez que ela hesitou ao falar de trabalho. Acho que ela estava
finalmente começando a entender a natureza desgastante da minha vida e que
trabalhos um atrás do outro não eram tão fáceis quanto marcar itens em uma lista.

"Na verdade não. Não por alguns dias".

"Alguns..." Ela mordeu os lábios e suavemente acenou com a cabeça. Desviei
deles e me encaminhei para o meu quarto.

"Tenho coisas para fazer". Falei pra eles "Então vocês podem voltar para... o que
quer que vocês estavam fazendo".

Na verdade, eu não queria fazer a tarefa que pairava sobre mim. Queria descobrir
que guloseimas Tim tinha escondido na cozinha e dar aquela dormida que eu queria
ter dado na casa do Kiyo, mas, não. Tinha feito uma promessa a Deanna, uma que eu
tinha que honrar, não importa o quanto o resto da minha vida estava uma bagunça.

Então, depois de me limpar e me trocar, sentei na ponta da minha cama e peguei
meu celular. Fiquei olhando para ele um longo tempo, correndo meus dedos por suas
bordas, demorando. Finalmente, disquei um número da memória e esperei. Havia uma
boa chance de ninguém atender. Estava ligando para o celular da minha mãe, contudo,
o que me dava mais chances do que se ligasse para seu telefone de casa. Eu sabia que
Roland a tinha pedido pra se manter longe de mim, mas depois de me ver no hospital,
minha mãe provavelmente resistiria qualquer pedido para fazer isso, mesmo que fosse
só por medo de eu ter perdido algum membro ou algo assim.

"Alô?" Respirei, e quase não consegui falar. Só aquela palavra... O som da voz dela.
Veio uma avalanche de emoções, que me forçou a me lembrar da missão aqui.

"Mãe?"

"Genie? Você está bem?" Ela perguntou rapidamente. Como suspeitei, ela temia
alguma perda de membros.

"Sim, sim. Estou bem. Como vai você?"

"Bem. Preocupada com você ­ como sempre".

"Estou bem". Disse. "Sério. Mas eu preciso... Eu, ahm, preciso falar com Roland".
Longo silêncio.

"Eugenie...".

"Eu sei, eu sei. Mas preciso da ajuda dele com algo. Só uma pergunta. Por favor".

Ela suspirou. "Oh, bebê, eu queria poder, mas ele deixou claro... você sabe o que
ele acha de tudo...".

"É uma coisa de humanos". Eu disse, mentindo apenas parcialmente. "Um
trabalho neste mundo. Por favor, mãe. Só pergunte pra ele se ele falará comigo um
minuto?"

Mais silêncio, e outro suspiro. "Espere".

Esperei, nervosamente mexendo no tecido de meu edredom. O que aconteceria?
As duas opções eram que minha mãe simplesmente me avisaria de sua recusa ou eles
simplesmente desligariam na minha cara. Mas não, foi à voz de Roland que eu ouvi a
seguir.

"Sim?" Frio e preocupado.

Após tudo que tinha me acontecido no Outromundo, ouvir sua voz quase me
quebrou. Eu queria chorar e implorar por seu perdão. Implorar que ele me amasse de
novo. Minha mãe, sem dúvida, já tinha feito isso. Ela claramente não tinha tido sorte.
Não tinha razão para acreditar que eu teria mais sorte, então fiz meu tom ficar igual ao
dele, engolindo minhas lágrimas. Apenas negócios aqui.

"Preciso de uma indicação". Disse bruscamente. "Para um I.P20. Um que não fique
assustado com as coisas com as quais nós lidamos. Presumi que você deve conhecer
alguém".

20 Investigador Particular

"Você precisa de um IP pra lidar com algum monstro?" Ele disse duramente.

"Não, não. Na verdade deve ser bem mundano ­ apenas coisas humanas. Mas
considerando o que fazemos... bem, achei que seria melhor ter alguém preparado caso
as coisas fiquem estranhas". Eu não tinha nenhuma razão para Deanna interagir
diretamente com o IP ­ ou mesmo de mencioná-la ­ mas eu queria garantir.

"Bem". Disse Roland. "Vamos deixar algo claro. Não fazemos as mesmas coisas".

Com grande esforço, contive as respostas que queriam explodir de dentro de
mim. Queria explicar pela centésima vez que eu nunca tinha esperado ­ ou desejado ­
possuir este nível de envolvimento com o Outromundo. Novamente, optei por ser
direta.

"Por favor, Roland". Disse, simplesmente. "Isto é para uma família humana.
Esqueça-me por um minuto". Quando ele não respondeu, tinha certeza de que
desligaria a seguir. "Enrique Valdez". Ele disse afinal. "Você deve conseguir achar o
número dele. Ligarei também e o deixarei avisado".

"Oh, Roland. Muito obrigado...".

Click.

É. Aí estava. Segurei o telefone em minha frente de novo, encarando-o, pensando
que ele era culpado por todos os meus problemas. Alguns momentos depois, o joguei
no chão.
Raiva me acometeu, rapidamente transformado em tristeza. Meus olhos se
voltaram para minha mochila de viagem, no canto, a mochila contendo a Coroa de
Ferro. Ela ­ e tudo que ela representava ­ eram a fonte de meus problemas. Caí em
minha cama, olhando para as estrelas que brilham no escuro, em meu teto. Roland,
Dorian... Eu estava perdendo os homens em minha vida. Por quê? Por que Dorian
tinha feito aquilo? Por que tinha deixado eu me apaixonar por ele, só pra brincar
comigo? Era isso que amor era pra ele? Era assim que funcionavam todos os
relacionamentos dele? Ele me machucou, me machucou tão terrivelmente, e a voz
mesquinha sombria que vive dentro de mim falou que se dormir com Kiyo machucaria
Dorian, não era mais do que ele mereceria.

Kiyo.

Kiyo era tudo que eu tinha agora, e eu não sabia se eu podia confiar nele também.
Antes que eu pudesse ruminar muito nessa aflição em particular, uma presença fria
preencheu o quarto. Sentei rapidamente, colocando minha autopiedade de lado
enquanto Volusian se materializava na minha frente. "Senhora?" Ele disse.

"Volusian". Respondi. "O que há?"

"Vim com uma mensagem, como você requisitou". Como sempre, suas palavras
não tinham emoção, ainda assim passavam uma sensação de que ele ressentia todas
elas. "A rainha Katrice respondeu à sua notícia acerca da Coroa de Ferro". Isso foi
rápido, até mesmo para o Outromundo.

"E?"

"Ela concordou com uma trégua temporária".

Levantei rapidamente. "Você tem que estar brincando". Volusian não respondeu.
Tinha aprendido há tempo que qualquer comentário meu sobre ele brincar ou fazer
piadas era tratado retoricamente. Volusian não brinca ou faz piada.

"Funcionou". Murmurei, mais para mim que para ele. "Não acredito. Dorian
estava certo".

"De fato. Mas presumo que minha mestra não voltará a ter relações carnais com
ele".

Fiz uma careta. Se havia alguém com quem eu odiava discutir minha vida sexual
mais que com Jasmine, era Volusian.

"Não, não importa que ele esteja certo. Ele mentiu pra mim para fazer acontecer.
Deveria ter me contado a história toda. Ele usou de meias verdades para alcançar seus
objetivos".
Volusian acenou solenemente com a cabeça. "Eu disse isso há você muito tempo
atrás. Que o Rei Oak tinha uma própria agenda, a qual sempre viria primeiro. Assim
como a do kitsune. Mas, não de maneira surpreendente, minha mestra escolhe ignorar
o único conselho correto dado a ela, optando por ouvir aqueles que usam afeto para
seus próprios propósitos".

A palavra `afeto' foi dita com um veneno especial.

"Kiyo e Dorian não ­ Olhe. Fique fora disso, ok? Nunca pedi esse seu `conselho
correto'. Volte a Katrice. Como essa trégua funciona, exatamente?"

"Hostilidades cessarão até que todos os envolvidos possam discutir a situação
atual. Como tal discussão acontecerá será definido, de antemão, por mensageiros. Você
e o Rei Oak podem encontrá-la pessoalmente ou podem mandar representantes".

Tentei me imaginar em uma sala com Dorian e Katrice. Lindo.

"E onde isso aconteceria? Não vou à terra Rowan. Sem chance".

"Isso também será discutido durante esta trégua". Ele disse. "Um reino neutro é a
escolha provável. Shaya gostaria de discutir com você tão logo quanto seja
conveniente".

"Tenho certeza que ela gostaria. Volte e diga a ela que confio nela para fazer
quaisquer preparativos que se façam necessários. Se eu tiver de ir eu mesma... então
irei. Falarei com ela em breve, mas volte se qualquer coisa acontecer neste meio
tempo".

Volusian esperou, até que eu fizesse um gesto para mandá-lo embora. "Vá".

Ele sumiu, e eu caí na minha cama. Meus olhos recaíram novamente sobre a
Coroa de Ferro escondida na mochila, e eu me perguntei se algo de bom tinha saído de
toda essa confusão.

CAPÍTULO 14

"ISTO NÃO É O QUE EU TINHA EM MENTE QUANDO EU DISSE QUE
deveríamos sair em um encontro".

Levei alguns dias para encontrar Enrique Valdez, e Kiyo decidiu me acompanhar.
Enquanto aguardava a minha nomeação, verifiquei diretamente com a Terra Thorn,
apenas para ficar ciente de toda a experiência frustrante. Embora ninguém tivesse dito
isto abertamente -- bem, exceto por Jasmine -- todos eles pensavam que romper com
Dorian foi a pior idéia de todas. Aprendi também que os arranjos de Shaya para uma
reunião de guerra iam por ladeira a baixo.

Dorian insistiu que todos os três monarcas se encontrassem pessoalmente.
Katrice queria enviar seu sobrinho. Havia também a questão de qual reino sediaria
porque vários outros queriam, provavelmente na esperança de ficar na boa com um ou
todos nós. Eu disse a Shaya que não se preocupasse com os detalhes e simplesmente
fizesse o que fosse necessário para terminar a guerra rapidamente.

Quando Kiyo e eu chegamos ao endereço de Enrique, descobrimos que era em
um pequeno prédio de escritórios, de aparência entristecida, em uma das áreas mais
degradadas do centro da cidade de Tucson. Olhei para ele de soslaio enquanto nós
ficamos do lado de fora e esperamos que ele atendesse a campainha.

"Eu não entendo por que levamos três dias para conseguir para conseguir isso".
Disse. "Realmente, não parece que ele tenha muitos negócios".

A porta zumbiu, e Kiyo abriu-a. "Talvez isto seja uma fachada". Disse ele. Subimos
ao segundo andar, onde o escritório de Enrique ficava localizado. "Talvez ele queira
esconder o quão bem sucedido ele é".
"Isso é ridículo...".

Eu parei quando a porta do escritório abriu antes que nós batêssemos. Mesmo
com Enrique de pé na porta, eu podia ver o bonito, e caro mobiliário.

"Bem, eu serei condenada". Murmurei, entrando ao gesto de Enrique.

Ele era menor que eu, com a pele profundamente bronzeada e cabelos negros que
começavam a ficar cinza. Eu o coloquei em algum lugar em meados de quarenta e
tantos anos. Seu traje não era totalmente de acordo com a opulência do escritório. Na
verdade, parecia roupa PI estereotipada de algum velho filme de detetive noir, com um
chapéu.

"A garota Markham, hein?" Ele perguntou, a voz atada com um leve sotaque
espanhol. Seus olhos caíram sobre Kiyo. "E um guarda-costas?"

"Um amigo". Eu disse rapidamente. "Eu não preciso de um guarda-costas".

"Certo". Enrique não soou como se acreditasse nisso. Ele apontou-nos a algumas
cadeiras de couro de pelúcia, enquanto ele se sentava em outra ainda maior à nossa
frente. Uma mesa enorme cor de cerejeira estava situada entre nós. Ela brilhava em
vermelho escuro, à luz do fim da tarde e não parecia o tipo de coisa que você
encontraria na IKEA21. Eu olhei em volta para o resto do escritório, ainda espantada
com o quanto contrastava com o exterior. Livros, variando muito de Moby Dick para
estados do Arizona -- alinhados em prateleiras que combinavam com o escritório, e
pequenas peças de arte -- pinturas, estátuas, etc, adornavam o quarto.

21 é uma companhia privada de origem sueca, controlada por uma série de corporações
sediadas nos Países Baixos,
especializada na venda de móveis domésticos de baixo custo.

"Então". Começou Enrique. "Qual é o nome dele, e porque você acha que ele está
te traindo?"

"Eu... Hein?" Puxei minha cabeça de uma escultura que parecia um deus maia e
olhei com espanto para Enrique. "Do que você está falando? Foi isto que Roland lhe
disse?"

"Não, ele não me disse nada. Eu só achei que era por isso que você estava aqui.
Isso é geralmente pelo que as mulheres vêm".

Kiyo fez um pequeno som ao lado de mim que eu acho que foi uma risada. "Isso é
ridículo". Exclamei, sem saber se devia ou não estar ofendida. "Eu preciso que você
investigue um assassinato".

Enrique arqueou uma sobrancelha. "É isso que a polícia faz".

"Eles já investigaram. E na verdade, eles declararam que foi um suicídio".

"E você precisa de mim por que...?"

"Porque eu não acho que foi". Disse eu. "Eu acho que foi um assassinato e que a
família da vítima pode estar em perigo".
Enrique não fez qualquer tentativa para ocultar seu ceticismo. "Você tem alguma
evidência para apoiar esta teoria...?"

Eu respirei fundo, esperando Roland estivesse certo sobre esse cara. "Hum da
vítima, seu fantasma disse que ela não se matou".

"Seu fantasma". Repetiu ele. Como se na sugestão, Deanna se materializaria no
quarto, embora Enrique não pudesse vê-la.

Kiyo e eu poderíamos com os nossos sentidos do outro mundo, mas nenhum de
nós deu qualquer indicação de sua chegada.

Eu balancei a cabeça. "Roland disse que você...".

"Sim, sim". Disse Enrique. "Eu sei com que Hocus Pocus ele trata. Eu também
estou supondo que o suicídio foi tão traumático que depois, talvez o fantasma tenha
bloqueado o que ela realmente fez".

"Isso não é verdade". Exclamou Deanna.

Eu acho que ele estava fora do reino da possibilidade, mas eu exploraria todas as
outras opções primeiro. "Eu não acho que é o caso. Eu acho que ela realmente foi
assassinada. Se isso for verdade, precisamos ter certeza que ninguém na sua família se
machuque".

"Se ela foi assassinada". Respondeu Enrique. "Então as estatísticas dizem que
alguém da sua família, provavelmente o fez".

"Isso não é verdade também!"

Eu ignorei segunda explosão de Deanna e fiquei fixada em Enrique. "Bem, de uma
forma ou de outra, eu preciso saber".

Ele se recostou na cadeira, colocando os pés em cima de sua mesa e cruzando os
braços atrás da cabeça. Se ele me chamasse de 'louca', eu não me surpreenderia. "A
polícia leva tudo isso em consideração, você sabe. O que faz você pensar que eu
encontraria algo que eles não?"

"Eu pensei que caras como você fossem mais espertos que a polícia". Disse Kiyo.
"Pensei que você tinha conexões e canais acima da lei. Que você não jogasse pelas
mesmas regras".
"É verdade". Disse Enrique, parecendo satisfeito com o elogio. Eu juro que ele
também estava levando Kiyo mais a sério do que eu. "Eu posso olhar por isto, eu
suponho. Mas não é como se eu fosse fazer isso de graça, só porque você é bonita". Isto
foi dirigido de volta pra mim. Eu reprimi uma carranca.

"Eu não esperava que você fizesse. Posso pagar".

Ele considerou isto e, finalmente, deu um aceno de cabeça, ajeitando-se para trás
em sua cadeira. "Tudo bem. Diga-me o que sabe, e eu vou chegar até isto quando eu
puder".

"O que?!" Gritou Deanna.
"Isto é uma espécie de momento delicado". Disse eu. Principalmente porque não
tinha certeza quanto mais de Deanna eu poderia suportar.

Enrique apontou para uma pilha de pastas sobre a mesa. "Então, são essas. Eu
estou me afogando em papelada. Não é possível manter a metade destes em linha reta".

"Nós vamos pagar para que você possa acelerá-lo". Disse Kiyo.

Eu atirei-lhe um olhar de espanto, não contente que ele falasse por mim --
especialmente considerando que o meu rendimento foi menor do que costumava ser.
No entanto, ele chamou a atenção de Enrique.

"Agilizarei isto, então".

Eu dei-lhe todos os detalhes que eu soube recentemente a partir de Deanna, e
para seu crédito, Enrique diligentemente escreveu tudo e fazia perguntas pertinentes
que reafirmaram a minha fé na sua legitimidade. O preço que ele cobrou não me
animou tanto, mas não havia nada a ser feito sobre isto. Quando Kiyo e eu finalmente
nos levantamos para sair, eu não pude resistir a perguntar o óbvio. "Você parece estar
indo muito bem... então porque o seu escritório é em um lixão como este?"

Enrique não pareceu ofendido, no entanto, enquanto desdenhosamente eu lhe fiz
essa pergunta ridícula. "Você sabe quanto está o aluguel de escritório ultimamente?
Estou economizando toneladas de dinheiro".

"Talvez você devesse colocar esse excedente em uma secretária, em vez de
estátuas". Eu indiquei, balançando a cabeça em direção à torre de pastas.

"Eu não confio em ninguém". Disse ele sem rodeios. "Especialmente quando
clientes fantasma aparecem". Ele abriu a porta. "Entrarei em contato".

"Encantador". Eu disse, uma vez que Kiyo e eu estávamos na estrada novamente.
"A única coisa que eu estou convencido é de que o cara pode ajudar na regressão dos
direitos das mulheres".

Kiyo tentou esconder um sorriso e não conseguiu. "Ele estava certo sobre você ser
bonita, no entanto. E eu não sei... Algo me diz que, apesar da atitude, ele é muito
competente. O piso em construção ao lado, ele não poderia pagar esse serviço se ele
não conseguisse resultados. Além disso, Roland não recomendaria qualquer
incompetente".

"A menos que ele estivesse tentando sabotar-me".

O sorriso de Kiyo desvaneceu-se. "Você realmente acha que ele faria isso com
você?"

Eu olhei para fora da janela do assento do passageiro. "Não. Ele não faria isso".

"Eu sinto muito, você sabe. Eu realmente sinto. Sobre Roland".

"Eu não quero falar sobre isso". Eu disse. Meu humor despencava cada vez que o
nome de Roland aparecia.
"Ok, então. Você quer salvar este 'encontro' e almoçar?"

Eu não tinha fé na mudança de assunto. Eu não acho que alguma coisa poderia
realmente me distrair, certamente não no restaurante mexicano para onde Kiyo nos
levou.

"Você está falando sério?" Eu perguntei. Fiestaland's Felipe22 era o restaurante
pobre da cidade, figurativamente falando. Em um lugar como Tucson, onde você
poderia obter incrivelmente autêntica cozinha do sudoeste, Felipe era para os turistas e
os suburbanos que não conheciam nada melhor.

22 Restaurante mexicano.

23 Musica mexicana.

"Você está dizendo que uma margarita não lhe faria bem?", Perguntou ele, saindo
do carro.

"Eu nunca diria isso. Mas existem lugares melhores com margaritas melhores".

"Eles ainda usam tequila na deles. Não é isso o que realmente importa?"

"Justificado".

Fomos recebidos por uma recepcionista que parecia que tinha feito um semestre
de espanhol no ensino médio. Pi.atas pendiam do teto, e uma música mariachi23 ruim
explodia nos alto-falantes. Examinei o menu de bebidas, logo que nos sentamos, e
estava pronta quando o garçom apareceu.

"Eu vou querer sua Margarita Dupla Platina Extra Premium". Eu disse a ele.

"Grande ou super grande?" Perguntou o garçom.

"Super".

Kiyo parecia impressionado. "Eu vou querer o mesmo". Quando ficamos
sozinhos, ele perguntou: "O que é isso exatamente?".

Eu apoiei o cotovelo na mesa, descansando o meu queixo na minha palma. "Eu
não tenho certeza, mas parecia que tinha mais álcool nele. Lugares como esse tendem a
afoguear suas bebidas em misturadores".

"Falou como um profissional".

"Afirmando o óbvio. Você e eu sabemos que o Roza24 tem as melhores
margaritas".

24 Restaurante estadunidense.

Kiyo sorriu, piscando-me um olhar caloroso e sábio. Eu tive uma sensação de que
ele estava pensando em uma memória que tinha chegado a mim também, de volta a
quando nós saíamos. Nós tínhamos ído para o Roza -- que realmente tem as melhores
margaritas na cidade -- e ficamos tão bêbados que nenhum de nós poderia dirigir para
casa.
Então, a gente tinha usado o carro para a única coisa que podia: sexo. Duas vezes.

As bebidas chegaram e eram aproximadamente do tamanho de aquários. Elas
também eram meio-misturadas, como eu suspeitava, mas, pelo menos, ainda deixava
uma razoável quantidade de álcool. Eu bebi o meu rapidamente, enquanto
esperávamos por nosso alimento. Álcool anestesiava meus poderes xamânicos um
pouco e às vezes deixava-me esquecer dos meus problemas. Nem tanto hoje.

"Você acha que Henrique pode estar certo?". Eu perguntei. "Que Deanna cometeu
suicídio e bloqueou-o?" O fantasma tinha nos deixado uma vez que partimos do
escritório.

"Eu não sei. Eu não sei se ela acredita nisto, mesmo que isso pareça de um filme ou
algo assim".

Eu fiz uma careta e bebi mais da bebida. "Espero que não. Não é nada que eu
queira ver. Estou cansada de derramamento de sangue".

"Eu sei". Disse ele gentilmente. "E não importa o que eu disse antes... E como eu
estava chateado, quando a guerra começou... Bem, eu tenho que admitir. Você tem

lidado com isso o melhor que pode. A palavra corre. Eu sei que você fez algumas
mudanças táticas para minimizar as vitimas, e não apenas para seu próprio povo".

"'Tácticas. 'Vitimas". Sacudi a cabeça, olhando para a minha margarita abaixo.
"Esses são termos que eu nunca pensei que iria usar. E realmente, eu não tenho muito a
ver com esse planejamento. Rurik fez".

"Mas você dá o ok". Kiyo apontou. "Poucos governantes fazem. A maioria faria o
que fosse preciso para esmagar seus inimigos rapidamente".

"Eu certamente queria". Dorian esteve bem, e as poucas discordâncias que
tivemos durante a nossa parceria durante a guerra havia sido sobre civis e danos
colaterais. "Podemos falar sobre algo que não seja o Outromundo? E não seja sobre
suicídio?"

"Claro". Nosso garçom apareceu de repente com a bandeja de Mile High Muy
Bueno Nachos25 que tínhamos pedido. Kiyo me lançou um sorriso.

25 Algo como muito alto e muito bom.

26 Feliz aniversário em espanhol

"Ela vai querer outra margarita. Além disso, é seu aniversário".

Eu atirei ao Kiyo um olhar de horror quando o garçom saiu. "Está fora de sua
mente? Você não pode dizer algo assim em um lugar como este!"

Mas era tarde demais. Porque, numa questão de minutos, todos os garçons do
Fiestaland's Felipe haviam cercado a nossa mesa. Alguém colocou um sombrero na
minha cabeça e um pedaço de pudim à luz de velas na minha frente. Todo o grupo
começou a cantar junto uma na interpretação de "Cumplea.os Feliz"26, sendo algo
igualmente ruim e fora da batida e do ritmo. Olhei para Kiyo o tempo todo e formei
com a boca eu vou te matar. Isto só fez crescer o seu sorriso.

"Você não parece um dia mais velha". Ele me disse, uma vez que a multidão se
dispersou.

"Eu não posso acreditar que você fez isso". Eu tirei o sombrero e mergulhei na
nova margarita. "Você sabe quão é humilhante é isto?"

"Ei, teve a sua mente longe de tudo, não foi? Além disso, vamos. Pudim grátis".

Eu apaguei a vela e hesitante e cutuquei a massa gelatinosa abaixo. "Parece que
não tem feito nada de útil há um tempo".

"Não se preocupe". Disse ele, puxando o prato para o seu lado da mesa. "Com
todos os conservantes, eu tenho certeza que ele está bom".

"Eu vou te dar o troco por isso". Avisei, estreitando os olhos.

O olhar que ele me deu era conhecido. "Espero que sim", disse ele. "Eu certamente
espero que sim".

Só posso culpar às margaritas pelo que aconteceu depois, porque assim que nós
pagamos nossa conta e estávamos de volta ao carro, nós atacamos um ao outro.

"Vê?" Disse ele, tentando puxar minha camisa sobre a minha cabeça. "Quem
precisa de Roza?"

"Lá era escuro, no entanto". Eu lembrei a ele, as minhas próprias mãos desastradas
em suas calças.

"Nós estamos no fundo do terreno". Argumentou. "E o sol está sumindo".

Ele tinha um ponto, e quando ele trouxe um de meus mamilos na boca, eu meio
que deixei o assunto morrer. Nós realmente estávamos fora de vista, e havia assuntos
mais importantes para cuidar. Nós nos reclinamos e empurramos o banco traseiro até
onde dava, e finalmente consegui tirar o jeans dele. Eu trouxe meus quadris para baixo,
levando-o para mim.

"Vê?" Eu engasguei. "Você está arrependido agora".

"Muito". Ele conseguiu dizer.

Nosso posicionamento estranho manteve meus seios bem perto de seu rosto, e ele
estava se aproveitando disto com as mãos e boca. Quanto a mim, eu estava apenas
empolgada com a sensação de estar em cima dele. Depois de jogar sempre submissa
com Dorian, subitamente me exaltei nesta sensação de poder -- especialmente já que
Kiyo tinha sido definitivamente o único no controle da última vez que tivemos relações
sexuais. Agora, isto era tudo meu, e eu levei uma quantidade razoável de satisfação
insultando-o, alternadamente, aumentando a velocidade de meus movimentos e então
diminuindo a velocidade quando ele chegava perto de ir.

"Eugenie". Ele pediu por último. "Chega. Por favor,... faça isso...".

Inclinei-me para ele o quanto pude e beijei-o -- e em seguida, puxei para trás
quando seus lábios procuraram os meus. Com um sorriso, eu endireitei-me tanto
quanto eu podia e, finalmente deixei-o ter a versão que ele pediu. Seu corpo se contraiu
até que ele chegou, com as mãos segurando firmemente meus quadris como se eu
podusse sair antes dele terminar.

Depois disso, eu acho que nós estávamos em uma espécie de namoro novamente.
A próxima semana se passou em um teste padrão fácil. Eu vi Kiyo quase todos os dias e
deslizamos de volta para nossa velha rotina. Comecei a tomar mais trabalhos, para

grande alívio de Lara, enquanto Kiyo alternadamente trabalhava na clínica veterinária e
checava o Outromundo. À noite, ele e eu estávamos sempre juntos, seja na minha casa
ou na sua. Meu corpo começou a se lembrar do que era estar em um relacionamento, e,
lentamente, meu coração estava também.

Eu só cruzei para o Outromundo, uma vez durante esse tempo, tanto pela
recuperação da Terra Thorn quanto pela curiosidade sobre o processo de guerra.
Nenhum progresso estava sendo feito com Katrice. Fiquei grata pela falta de luta, mas a
tão esperada conversação de paz ainda parecia uma forma distante. Foi frustrante.

"Ela está sendo difícil". Disse Shaya, quando eu perguntei sobre isso.
Compreensivelmente, ela parecia cansada. "Essas são questões delicadas. Elas levam
tempo".

Deixei por isso mesmo, sentindo-me impaciente, mas percebi que ela sabia mais
do que eu. De volta a Tucson, eu também tinha atualizações esporádicas de outro tipo:
De Enrique. Para seu crédito, ele ligou quase todos os dias para relatar o que tinha feito
ou investigado. No início sua atitude permanecia a mesma, cheio de ousadia e
irritabilidade que dizia que isso era um desperdício de seu tempo. Então, um dia, as
coisas mudaram.

"Eu acho". Disse ele. "Que você pode estar certa".

Eu não sei quem ficou mais surpreso com isso: ele ou eu. Eu sinceramente
comecei a acreditar que ele não iria tornar qualquer coisa como prova qualquer de um
suicídio ou um assassinato. Eu agarrei o telefone com força.

"O quê? Que alguém a matou?"

"Sim... eu encontrei algumas coisas. Você sabia que o marido dela tem uma
namorada?"

"Deanna me disse. Ela parecia bem com o seguir em frente dele". Faz alguns meses
desde sua morte, demasiado cedo para começar a namorar, em minha opinião, mas
ainda assim era um tempo semi-respeitável. De acordo com Deanna, ele começou a ver
alguém há algumas semanas.

"Sim, bem, ele se mudou antes que ela estivesse morta. A namorada? É o álibi
dele".

Eu fiz uma careta. "Sério?" O marido da Deanna havia sido retirado da suspeita,
porque ele tinha um sólido testemunho de seu paradeiro, quando ela foi morta. Ele
tinha estado no escritório de um agente imobiliário, o agente foi ajudá-lo com uma casa

de férias para sua família. "Talvez o seu relacionamento se iniciou após Deanna
morrer..."

"Não, se a testemunha que encontrei é confiável. Eu também poderia ter uma
pista que comprova que Deanna não foi à pessoa que comprou a arma".

"Se isso é verdade..." Eu não pude terminar de imediato. Deanna adquirir a arma
que a tinha levado a sua morte era uma das peças mais contundentes de prova para o
suicídio. "Se você puder provar isso, então isto poderia definir tudo".

"Sim". Disse Enrique tratando o assunto com naturalidade. "Sim, pode. Entrarei
em contato".

Nós desligamos, e de repente eu desejava que ele não tivesse sido tão bom em seu
trabalho. Se ele estava certo sobre tudo isso e aparecessem as provas que precisava...
Bem, alguém ia ter que dar a notícia a Deanna que seu marido tinha a assassinado. E
esse alguém seria eu. Atualmente, ela acreditava que algum louco assassino tinha feito,
um que estava atrás de sua família agora. O pensamento de tudo me nauseou.

Enquanto eu me sentei em meu quarto, uma presença do Outromundo fez a
minha pele formigar. Por meio segundo, eu pensei que Deanna estava aparecendo sem
ser convocada -- algo que eu não estava preparada para lidar Eu essencialmente havia
dado a ela uma `não me chame, eu vou te chamar'. Mas, não. Não era ela. Era Volusian,
com seus vermelhos olhos malévolos como sempre. Ultimamente, sua aparência
significa notícias do Outromundo. Eu esperava que fosse bom.

"O que houve?" Exigi.

"Shaya pede sua presença imediatamente".

Algo de bom enfim. "As conversações de paz?"

"Não. Ela precisa de você, porque o Rei Oak está em seu castelo, querendo vê-la".

CAPÍTULO 15

EU TIVE DUAS REAÇÕES IMEDIATAS PARA ISSO.

Uma era que Dorian poderia esperar para sempre, ele não tinha o direito de exigir
nada de mim. Minha outra reação foi o ultraje que ele poderia vir passear na minha casa
enquanto eu era proibida na dele. Evidentemente, aquilo foi minha própria culpa. Eu
não tinha colocado todas as regras de hospitalidade para mantê-lo fora. Como tal, ele
seria recebido como qualquer outro não -- inimigo-monarca -- especialmente pelo
meu povo. Eu considerei simplesmente enviar Volusian para revogar a hospitalidade,
mas depois deixei essa idéia de lado. Eu cuidaria disto eu mesma.

Eu dirigi até o portão da minha casa o mais rápido que pude sem levar uma multa
e depois cruzei através da âncora para dentro do meu castelo. Uma vez lá, corri pelos
corredores, alheia aos olhares dos criados assustados. Eu sabia onde Dorian devia estar.
Meu povo o teria recebido na câmara mais agradável, o merecimento a qualquer
visitante monarca.

Pura verdade. Dorian estava sentado dentro da sala, descansando em uma cadeira
central, com Shaya, Rurik, e outros sentados ao seu redor. Parecendo como se ele
estivesse segurando a sua corte em seu próprio castelo. Minha raiva duplicou. Todos,
menos ele pularam diante da minha aproximação repentina, dando arcos precipitados.

"Saiam". Eu atirei. "Todos vocês. E fechem a porta".

Minhas palavras não deixaram dúvidas sobre quem exatamente eu queria. Dorian
não se mexeu, mas o resto correu para obedecer minhas ordens. Eu vi Shaya e Rurik
trocarem olhares entre si, sem dúvida, preocupados com o que ia acontecer com os
dois monarcas que amavam.

Uma vez que estávamos sozinhos, eu foquei em Dorian. "Que diabos você está
fazendo aqui?"

Ele me olhou com frieza, o rosto perfeitamente à vontade. "Visitando, como é
meu direito. Não há nada que diga que eu não posso. A menos que você esteja
revogando a minha hospitalidade?"

"Eu deveria". Disse, avançando com os punhos cerrados. "Eu deveria ter meus
guardas arremessando você sobre o seu rabo".

Ele bufou e distraidamente alisou um pedaço de seu cabelo comprido. "Boa sorte
com isso. Eles jogariam você em primeiro lugar, se eu der a ordem".

"É por isso que você está aqui? Para começar uma rebelião em meu próprio
reino?"

"Não. Eu estou aqui para lembrá-la de suas responsabilidades para com o seu
reino, que você claramente se esqueceu".

"Sério?" Cruzei os braços sobre o peito, em um esforço para me impedir de fazer
algo estúpido. "Eu acho que você esqueceu o que eu tenho feito pelo meu reino. Digo,
como, salvando o do desastre. E arriscando minha vida por essa coroa fodida para que
pudéssemos finalmente ter paz".

"Se a memória não me falha, você que causou o desastre, quando você criou um
deserto inóspito". Sua voz ainda estava terrivelmente calma. "E essa coroa não está
fazendo nenhum bem a você".

"Não está me ouvindo? Nós temos paz. Os combates pararam".

"A luta foi interrompida temporariamente. Katrice está jogando com você, e você
está deixando-a. Ela está arrastando os pés, utilizando-se deste atraso de negociação
para figurar uma forma de sair desta. Se você quiser realmente acabar com a guerra de
uma vez por todas, você precisa se envolver e deixar que ela saiba que você está falando
sério. Mova a coroa ao redor. Desafie-a para chamar seu blefe. Mostre a ela que está no
controle e pare tudo isso de verdade".

Eu dei uma risada áspera. "Isso é tão típico de você. Tentando puxar as cordas,
como de costume. Você não tem nem a coroa, mas você está me dizendo o que fazer
com ela".

Dorian atirou-se da cadeira, os finos traços quebrando em aborrecimento. "Eu
estou te lembrando o que significa ser um rei. Eu não estou fugindo e deixando que
outros lidem com as coisas que parecem muito difíceis".
"Certo". Eu disse, mantendo um olho na distância entre nós. "Conseguir a coroa
foi fácil. O qual é o porquê, naturalmente, de você próprio ter estado lá fora comigo".

Ele estreitou os olhos. "Você sabe que eu estaria se eu pudesse. Então fiz a única
coisa que podia: Eu tive você lá fora atrás disso".

"Está mentindo!" Exclamei. Eu tentei manter minha voz forte, deixar a raiva sendo
a única emoção a escorrer, mas o sofrimento me rachou um pouco. "Ao criar uma
elaborada armação com Masthera na esperança de eu conseguir mais terras para nós.
Por que você não vê o quão errado foi isso?"

"Foi?" Seu volume estava começando a combinar com o meu próprio. Eu
raramente via a emoção se apossar dele, e isto era ambos, tão terrível e tão belo. "Você
acha que as nossas pessoas acham que está errado? Aqueles cujas casas já não estão em
perigo? Os que estão vivos por causa disso? A coroa comprou isto, e você vai estragar
tudo se você não forçá-la a falar! Não só isso, por não agir, você está deixando o que
Leith fez para você ficar impune".

"Oh, ele foi punido". Eu disse.

"Sim". Concordou Dorian friamente. "Por mim. Algo que parece ter esquecido,
agora que você já pulou de volta na cama com esse animal".

"Kiyo não é parte disso. E o que você fez não é suficiente para me obrigar a ficar
em um relacionamento com alguém que sempre me engana".

Dorian se virou, colocando de costas para mim. De alguma forma, isto foi mais
ofensivo do que todos os olhares do mundo. "Eu só posso supor que esta é a lógica
humana. Alcançar a paz, dobrando a verdade é enganoso. O maior pecado do mundo.
Mas a infidelidade é moral e justa".

"Não é! E eu não estava -- eu não estava traindo você. Tanto quanto eu estava
concernida, onde nós estávamos. Eu estava livre para fazer o que eu queria".

"Obviamente".

Eu não queria mostrar fraqueza alguma na frente dele, mas a coisa era, parte de
mim ainda se questionava se ter relações sexuais com Kiyo na volta da floresta tinha
sido certo ou não. Eu mesma senti o conflito no momento. Deixei meus impulsos
vencerem, usando a lógica confusa para satisfazer tanto o meu desejo quanto a
necessidade de vingança.

"Olha". Eu disse, tentando me acalmar. "Eu não quis ferir seus sentimentos".

Ele virou-se tão drasticamente que as minhas palavras caíram. Eu não tinha medo
de Dorian, não com o meu poder e minha casa, mas algo em seus olhos me fez dar um
passo para trás. "Rainha Eugenie". Disse ele formalmente. "Não se incomode mais
sobre meus `sentimentos'. A substituição de você na minha cama não é difícil. Você
tem uma opinião muito elevada de si mesma a esse respeito".

Aquelas palavras me deram um tapa no rosto, apesar de todas as partes do meu
cérebro razoável estarem gritando para mim que isso não importava. Eu não tinha
motivo para me preocupar com o que ele havia feito. Não há razão para se preocupar
com ele.
"Então". Disse eu, igualando o seu tom. "Ysabel tem um lugar para vender suas
habilidades novamente".

"Muito boas". Ele concordou. "A questão agora é se você usará as suas. Coloque
Katrice em seu lugar. Busque-a para negociar, para que possamos obter as concessões
que nós merecemos. Pare de agir como um humano".

"Eu sou humana. Você continua se esquecendo disto".

Ele me estudou de cima a baixo, me dando a oportunidade de fazer o mesmo com
ele. Você não se importa, você não se importa, eu disse a mim mesma, tentando colocar
de lado o quanto eu amava aquele rosto lindo.

"Não". Ele disse por ultimo, desespero em sua voz. "É impossível esquecer. Você
está agindo como um agora, se recusando a fazer a coisa certa só porque eu lhe pedi.
Você está indo contra pelo seu rancor". Ele caminhou em direção à porta. "Se não
agirmos logo, você vai se arrepender".

Eu não gostei dele ser o único a terminar esta conversa. Era mais dele sempre ter o
poder. "Você está me ameaçando?"

Dorian meteu a mão na maçaneta da porta e me olhou por cima do ombro. "Não.
Eu não sou a ameaça. Katrice é. E enquanto você continuar se detendo sobre isso e
sobre o quanto eu te fiz mal, e menti para você, eu posso dizer com certeza absoluta
que o que eu acabei de dizer é a verdade".

"Notável". Apressadamente, eu fiz uma tentativa de agir como a rainha por aqui.
"Você pode ir agora. E não voltar".

Isso me rendeu um meio sorriso, embora não havia muito humor nele. "Você está
revogando a minha hospitalidade?"

Eu hesitei. "Não. Estou acima disso. Eu vou assumir que você vai fazer a coisa
certa e ficar bem longe de mim".

"Notável". Respondeu ele, imitando meu tom mais cedo. Ele abriu a porta e saiu
sem outro olhar. Olhei para o espaço vazio onde ele tinha estado, imaginando quem
estaria no topo daquele argumento.

No momento em que sai e encontrei Shaya, Dorian já tinha deixado o meu castelo
para sua própria terra. Ela me não perguntou nada sobre o que havia acontecido com
ele, mas a preocupação estava escrita em todo o seu rosto.

"Quão perto estamos?" Exigi. "Quão perto estamos de sentar com Katrice e
redigir um tratado?"

Shaya empalideceu, e eu percebi que tinha atirado a minha raiva em Dorian sobre
ela. "Nem tão perto quanto eu gostaria. Ela concordou... Ela concordou que ela viria
em pessoa, mas apenas se as conversações forem realizadas na Terra Willow. Rainha
Maiwenn concordou, mas Do... Rei Dorian diz que é inaceitável. Ele sugere a Terra
Linden ou a Terra do Maple. Katrice recusa".

Linden e Maple. Reinos ambos ferrenhamente neutros. Maiwenn teoricamente
era demais. Ela sempre se colocou sob o pretexto de amizade, e eu estava certa que
Kiyo apoiaria sua hospitalidade. Mas alguma coisa me inquietava. Eu não queria apoiar
Dorian... Mas então eu percebi que o instinto veio exatamente no que ele me avisou:
querendo se opor a ele apenas por despeito. Nossas bagunças pessoais de lado, ele era
meu aliado. Terreno neutro era melhor para nós.

"Reiteramos a posição de Dorian". Eu disse. "Linden ou Maple. Vou voltar a
Tucson. Deixe-me saber o que acontece".

Shaya abriu a boca para protestar ou pedir ajuda, eu não poderia dizer. As palavras
Dorian voltaram para mim. Sendo ativamente envolventes. "Mova a coroa e faça
Katrice concordar com nossos termos". Não. Nisto, eu não podia concordar com ele.
Eu não usaria essa coroa, como ele queria me usar também, mesmo como uma ameaça.

"Isso é tudo". Eu disse para Shaya. Ela assentiu com a cabeça, obediente como
sempre. O olhar em seu rosto quando eu a deixei me fez sentir um pouco culpada.
Talvez eu pudesse tornar as coisas mais fáceis para ela. Talvez eu pudesse agilizar tudo
isso. Mas por agora, não havia literalmente nenhum dano a ser feito. O que poderia
Katrice alcançar estando estagnadar? Se ela iniciasse as hostilidades, novamente, ela
corria o risco de enfrentar a coroa, ela obviamente temeria. Meu povo estava salvo. A

espera era frustrante, mas tinha que acabar em breve. Eu disse a Dorian que eu era
humana, e é isso que eu pretendia ser. Eu iria para casa, começar a seguir no emprego, e
deixar os gentry lidarem com esta burocracia até que eu fosse absolutamente
necessária. E foi exatamente o que eu fiz.

Voltei para minha antiga vida. Kiyo e eu continuamos namorando, e estar com ele,
restabelecendo a nossa ligação de tempo e vida sexual, foi um bom caminho para
bloquear as imagens belas de Ysabel, voluptuosa na cama de Dorian. Minha carga de
trabalho aumentou, assim como a minha renda, embora o meu trabalho tenha me
cansado mais do que eu estava acostumada. Isso me assustou. Isso me fez pensar sobre
o que significa ser humano e gentry. Eu lutava para manter o meu lado humano
dominante. Era a parte gentry tentando assumir? Minimizando minhas habilidades
xamânicas? Não, firmemente decidi. Isto era stress, puro e simples.

Nas duas semanas que se seguiram, porém, eu tive que admitir para o meu lado
gentry ocasionalmente. A Terra Thorn me chamava, então eu continuei a minhas
rápidas visitas, mantendo a terra forte e -- não importa o quanto eu odiava admitir isto
-- fortalecendo a mim mesma. Infelizmente, eu tive pouca alegria a partir disto, porque
nenhuma boa notícia veio do Outromundo. Katrice manteve-se alternando. Sim, ela
concorda com a Terra Maple -- não, ela mudou de idéia. Linden. Mas só se os
embaixadores fossem primeiro, depois os monarcas. Não --ela não iria. Mas isto estava
de volta a Terra Willow. Ou talvez algum lugar completamente diferente? E sobre a
Terra Palm?

Dorian não fez nenhuma tentativa de contato direto comigo, mas não havia
necessidade. Quando eu fui para a cama todas as noites, eu podia ver seu rosto. Mova a
coroa, mova a coroa. Felizmente, o meu agressivo trabalho me cansava o suficiente
para adormecer rapidamente.

Boas notícias de sorte finalmente chegaram um dia quando Kiyo e eu estávamos
caminhando. A temperatura tinha disparado para cima, anunciando a primavera, e eu
dei boas vindas a uma pausa do trabalho. Perambular pelo calor era algo que Dorian
certamente nunca faria, especialmente no deserto. Mas, como eu, Kiyo apreciava a
beleza agreste e o calor da terra. Eu senti falta dessas excursões com ele. Suas
sobrancelhas se levantaram quando meu celular tocou. "Você consegue sinal aqui?"

"Aparentemente".

Eu estava tão surpresa quanto ele. Olhando para o ID, eu vi o nome de Enrique
surgir. Seus relatórios recentes, que surgiam após breve notícia promissora, tinham
sido grampeados e vagos: simples lembretes de que ele ainda estava trabalhando nas
coisas.

Eu respondi ansiosamente. "Por favor, me diga que você encontrou algo".

"Eu encontrei". Disse ele. Enrique tinha aquele tom presunçoso desde quando
nos conhecemos. Tinha sido chato, mas agora, eu achei encorajador. "Eu finalmente
rastreei abaixo da loja de armas e...".

Eu não ouvi o resto porque uma queda brusca na temperatura e formigamento no
ar anunciava a chegada do Volusian. Aparentemente, eu poderia ter um sinal do
Outromundano aqui também. Meu servo, ordenado para relatar todas as notícias
urgentes, superou qualquer coisa que Enrique tinha a dizer.

"Hey". Eu interrompi. "Eu te ligo de volta".

"O que...".

Desliguei, não lhe dando a chance de terminar a sua indignação. Ele
provavelmente não estava acostumado a ser deixado em espera. Virei-me para
Volusian, que esperou com paciência e silenciosamente por mim. Ele era um ponto de
escuridão sobre o dia ensolarado, parecia sugar a luz do mundo.

"Por favor". Implorei. "Por favor, me diga Katrice finalmente cedeu, de modo
que podemos conversar".

Volusian permaneceu em silêncio alguns momentos. Juro que era por causa do
drama, e eu senti vontade de sufocá-lo. "Não". Disse ele. "A Rainha Rowan não
concordou com a negociação ainda, mas... ela tem agido".

Kiyo e eu trocamos olhares. Não havia nenhuma maneira que isso pudesse ser
bom. Eu também estava certa que Volusian estava gostando de entregar esta notícia.

"Ela seqüestrou sua irmã". Disse ele. -- "E tem uma lista de exigências a serem
cumpridas, se você quiser ver Jasmine viva de novo".

CAPÍTULO 16

KIYO NÃO FEZ PERGUNTAS QUANDO EU LIGUEI DE VOLTA A
Enrique e disse a ele que eu estaria fora da cidade e fora de contato por um tempo --
mas que eu confiava nele para continuar. Realmente, Kiyo disse pouco para todos nós
quando correu de volta para minha casa. Dentro de minutos, eu tinha uma mochila
pequena embalada, e em seguida partimos para a travessia do Outromundo. Não
importa os altos e baixos que ocorreram em nosso relacionamento, ele me conhecia
bem. Ele sabia que eu tinha de agir sobre isto imediatamente.

As perguntas começaram quando cheguei ao meu castelo.
"Como no inferno". Comecei, "Isso aconteceu?"

Eu estava em uma das salas de recepção, Kiyo ao meu lado enquanto eu olhava
para Shaya e alguns dos soldados que trabalhavam nas terras. Rurik estava com eles, o
que gerou uma mistura de sentimentos. Eu estava feliz, que ele estava de volta por
Dorian. Eu confiava mais nele do que em qualquer outro cara militar por aqui. Dito
isto, houve uma pequena parte de mim que o definiu como responsável. Como pode
alguém tão capaz quanto ele deixar isto acontecer?

Ele fez uma careta, como se adivinhando meus pensamentos.

"Um pequeno grupo invadiu nossas terras, dominaram os guardas... e levaram-na."
Ele hesitou. "Ela tinha apenas dois com ela, Vossa Majestade. Como você se lembra,
sua escolta foi aliviada. Mesmo assim. Não é desculpa".

Eu não tinha presenciado esse tipo de diplomacia e respeito de Rurik desde...
Bem, na verdade, eu nunca tinha presenciado isso. Com Dorian? Sim. Não comigo. O
rapto de Jasmine tinha realmente atingido Rurik, sem dúvida. Eu tinha certeza que ele
estava levando para o lado pessoal. Mas eu também peguei o significado ligeiro em seu
comentário sobre ela cuidadosamente ter a escolta aliviada. Essa tinha sido a minha
ordem. Eu tinha feito isso devido seu bom comportamento e deixei-a sair mais. Eu

sabia que era um potencial risco na segurança, mas não que envolvesse saídas contra
sua vontade.

"Nós estamos em guerra". Disse. "Independentemente de sua guarda, todo esse
lugar deveria ter sido lacrado".

Ele balançou a cabeça, rosto cada vez mais severo. "Como eu disse, não há
desculpa. Assumo plena responsabilidade". Acenei com a mão com desdém.

"É muito tarde agora. Eu sei que você está fazendo seu trabalho. Não pegue para
você mesmo a matança. Volusian disse que havia uma nota?"

Shaya me entregou um pedaço de pergaminho enrolado. Kiyo se inclinou sobre
meu ombro enquanto eu lia-o silenciosamente para mim mesma:

Para Eugenie, Usurpadora Rainha da Terra Thorn, Filha de Tirigan Storm, o Rei:

Como você sem dúvida já sabe, eu tenho sua irmã sob minha custódia. Se você
deseja que ela volte com vida, você e o Rei Oak irão se entregar incondicionalmente a
mim. Você vai cessar as hostilidades imediatamente, retirar seus exércitos, e ceder suas
terras. Além disso, você vai entregar o legado da Coroa de Ferro para mim.

Se você não concordar com estes termos, sua irmã será executada ao meio-dia,
três dias a contar da recepção dessa presente carta. Por enquanto, ela está viva, e eu dei-
a para os cuidados de Cassius, meu sobrinho.

Aguardo a sua resposta.

Sinceramente,
Katrice, rainha da Terra Rowan,

Amada dos Deuses

Eu olhei para os muitos olhos me assistindo. "Dada para os cuidados de Cassius,
meu sobrinho. Isso significa que o que eu acho que significa?".

Shaya fez uma careta. "Esse é o sobrinho que queria se casar com você."

"Por que executar Jasmine então?" Exigi. "Por que não casar ela com Cassius? Isso
não é um desperdício de uma das filhas do Rei Storm?".

"Katrice te odeia". Disse Kiyo suavemente. "Neste momento, ela provavelmente
nem sequer se preocupa com a profecia. Ela quer se vingar de você, te magoar, e se isso
significa matar Jasmine, então provavelmente é uma perda aceitável -- especialmente
se ela tentar dar-lhe então para Cassius depois desta "rendição".

"Então eu continuaria viva?"

Kiyo encolheu os ombros. "Longo sofrimento".

"Por que escolhê-la como refém?" Eu não sei por que eu estava discutindo a lógica
aqui. Nada disso importava. Apenas o resultado. "Todo mundo sabe que nós não nos
damos bem".

"Todo mundo sabe que isso provavelmente também mudou um pouco". Disse
Kiyo. "Você a trouxe para Dorian".

"E". Acrescentou Shaya. "Um membro da família real habitualmente faz o melhor
refém nessas situações".

Essas situações. Por um momento, eu quase balancei em meus pés, querendo
fechar meus olhos e desmaiar. Não tinha nada a ver com o calor. Era isso. Tudo isso.
Esta situação sempre se repetindo. Eu e Jasmine, amaldiçoadas por nosso sangue,
sempre sendo usadas e capturadas como posses em um jogo maior.

Eu odiava Aeson, mas pelo menos ele tinha seduzido Jasmine em alguma
pretensão de amor antes de tirar vantagem dela. Mas e sobre este Cassius?
Ele não seria nada gentil. Isso era tudo sobre punição e vingança, afinal. Ele já tinha
estuprado Jasmine? Ele estava fazendo isso agora? Uma memória doentia de Leith me
veio à mente, uma nítida e clara, apesar do estado drogado que eu estava durante a
minha provação com ele. Que, logo depois, foi substituído por uma imagem do rosto
de Cassius impondo-se sobre uma encolhida Jasmine...

Eu empurrei minha fraqueza de lado, equilibrando-me e trazendo o mundo de
volta ao foco. Virei-me para Rurik.

"Quão distantes nossos exércitos estão? Em quanto tempo poderíamos juntar
todos e marchar? Eu quero arrasar as terras daquela puta e queimar seu castelo até o
chão! Eu quero ver a porra da ira da chuva do céu descer sobre ela e--" Desliguei-me,
quando minhas palavras assustaram os outros. Da onde essa raiva tinha vindo? Bem, a
situação, obviamente. Eu não gostaria que ninguém descartasse o sobrinho de Katrice
antes de enfrentar a execução. Mas me ocorreu naquele momento que minha reação foi
também... Pessoal. Em algum lugar, nos altos e baixos de nossa família disfuncional, eu
me preocupava com Jasmine. Minha raiva veio da perda dela.

"Devagar, Eug". Kiyo disse, descansando a mão no meu braço. Havia um tom
nervoso em sua voz, espelhando as expressões dos outros.

Uma vez me foi dito que quando eu estava com raiva, eu lembrava meu pai. Eu
respirei fundo e empurrei para trás todas as explosões posteriores.

"Liderar um exército maciço -- mesmo merecido -- não seria..." Rurik ainda
estava indo com calma, escolhendo cuidadosamente as palavras. "Bem, Katrice já está
em modo de guerra, fortemente armada. Após isso? As terras fora de sua casa
provavelmente têm o triplo da guarda que tinham antes."

"Mas se a nossa força for grande o suficiente..." Eu comecei.

Rurik assentiu. "Verdade. É possível. Especialmente se... Especialmente se o
exército do meu senhor Dorian estiver envolvido". Ele parecia desconfortável em citar
Dorian, mas eu podia ver um olhar de consideração no rosto de Rurik. Eu tive o
sentimento que compartilhamos o mesmo enigma. Será que Dorian emprestaria suas

forças para me ajudar? Possivelmente não, não se sua ira anulasse qualquer devoção
para comigo. Por outro lado, Dorian ainda estava nesta guerra, e eu o conhecia bem o
suficiente para pensar que ele poderia receber uma marcha completa em seu castelo.
Rurik também sabia disso. "Com suas forças, é possível". Rurik, disse finalmente. "Mas
Katrice está se defendendo. Será sangrento. Será feio".

Ele não parecia estar contra isso, por si só. Ele era um militar; batalhas feias eram o
caminho do mundo. Mas todos nós sabíamos que não era o ideal. Minha cabeça girava.
Parte de mim queria aquela grande força para vencer Katrice porque eu pensei que ela
merecia. Isso era mais do que vingança, no entanto. Tratava-se de Jasmine. Eu
precisava ir com o plano em que houvesse a maior probabilidade de resgatá-la, e um
exército invasor não faria isso. Levaria um grupo menor, assim como ela com certeza
enviou para cá, um que poderia facilmente se infiltrar. Nós estávamos fortemente
vigiados, mas com os diversos peticionários e refugiados sempre indo e vindo, não era
nenhuma maravilha que os seqüestradores de Jasmine tinham conseguido se infiltrar.
Katrice, sem dúvida, tinha um fluxo similar de pessoas vindo a ela nestes tempos, mas
ela provavelmente estaria em alerta máximo com eles também.

"Imanuelle". Eu disse, percebendo que muitos minutos de silêncio se passaram.
"Você pode me trazer Imanuelle?"

Foi isto, finalmente, que tirou os olhos do grupo para longe de mim, porque todos
eles trocaram olhares surpresos. O rosto de Kiyo cresceu com problemas.

"Este é seu plano?" Kiyo perguntou. "Assassinar Katrice? Eugenie, você é melhor
do que isso". Ele aparentemente ouviu sobre Imanuelle.

"Eu sou". Eu concordei. "E mais inteligente. Busque-a para mim". Isso foi para
Shaya, que balançou a cabeça e, em seguida, disparou um olhar para um servo
pairando. Ele deu um assentimento apressado com a cabeça e correu para fora da sala.
"Pronto para repetir a história?" Eu perguntei Kiyo. "Será como invadir Aeson
tudo de novo".

"Você vai... Não. Eugenie, você não pode ir lá".

Fiz um gesto para Rurik e comecei a caminhar para a saída. "Você ouviu. Não
podemos entrar com uma grande força, não é fácil."

"Sim, eu entendo". Disse Kiyo, seguindo atrás de mim. "Mas você não pode ir".

"Eu tenho que ir". Repliquei.

Rurik tinha se apressado atrás de nós. "Ele está certo. Envie outra pessoa. Eu vou.
Vamos entrar e pegá-la".

Eu parei abruptamente, quase causando que os homens passassem por mim. "Eu
estou indo. Esta é a minha responsabilidade. Além disso, quem mais por aqui pode
corresponder a mim magicamente?".

Eu olhei para trás e para frente entre os seus rostos, desafiando-os a desafiar-me.

"Mesmo assim". Disse Rurik. "Se você for descoberta, você estará em
desvantagem. E você é uma rainha inimiga. Em tempo de guerra. Caminhando direito
para o reduto inimigo. Não posso permitir isso."

"Não é o seu lugar me permitir fazer qualquer coisa!" Eu bati. "Ou você também".
Virei-me para Kiyo, adivinhando suas palavras.

"Nós não seremos descobertos. Não se Imanuelle for tão boa quanto alega". Eu
estava tão cansada dos homens dizendo o que eu podia e não podia fazer.
Deixei-os e sai pelo corredor em direção ao meu quarto.

Nenhum me seguiu de imediato, mas eu ainda ouvi Rurik murmurar para Kiyo.

"Bem, se ela for capturada, ela vai ter um enorme exército caindo sobre Katrice,
pelo menos.Meu senhor Dorian não permitiria nada menos".

A falha no meu plano, como se viu, estava em esperar Imanuelle. Depois da nossa
última reunião, ela deixou meu reino, e encontrá-la não era fácil. Você não pode
simplesmente chamar abertamente um assassino famoso. Girard estava na minha corte,
no entanto, e aparentemente tinha meios secretos de enviar mensagens para sua irmã.
Eu não fiz nenhuma pergunta sobre os meios, desde que ela aparecesse.

Esperar por ela nos deu tempo para planejar uma estratégia. Uma vez que os meus
conselheiros relutantemente aceitaram que eu iria pessoalmente -- e uma vez que
Rurik aceitou que ele não me acompanharia, -- eles formaram uma linha para reunir os
conhecimentos que tinham sobre o castelo de Katrice. Eu brinquei anteriormente com
Kiyo sobre este ser como o nosso assalto para Aeson... Mas realmente, era verdade.
Desta vez, não tivemos pessoalmente um guia para nos levar para dentro. Tivemos que
confiar no conhecimento de relatos de quem estava lá e poderia nos dar os melhores
palpites sobre onde Jasmine poderia estar mantida. E isso, presumindo que Katrice
realmente a manteria em sua mão. Talvez a parte mais surpreendente de tudo isso foi a
aquiescência de Kiyo. Eu esperava protestos sobre a minha segurança ou talvez uma
solução diplomática.
Mas, não. Ele percebeu a importância de salvar Jasmine. E ele também sabia que
esta era provavelmente a nossa melhor chance, -- pelo menos em tão pouco tempo.
"Você deve saber". Rurik nos disse depois. "Que você não poderá trazer Volusian". Ele,
Kiyo, Shaya, e eu estávamos no meu quarto, onde eu tinha feito minha sede de guerra
improvisada.

"Por que não?" Eu perguntei. Isso era uma surpresa. Estava contando com o seu
músculo, algo que eu tinha que admitir que perdi enquanto lutava pela coroa. Qual era
o ponto de um lacaio morto-vivo se eu não poderia colocá-lo em bom uso?

"Ele pode ir invisível com a gente".

Rurik balançou a cabeça. "Todo mundo sabe sobre ele. Katrice sabe. Ela vai ter
gente que pode senti-lo. Ela provavelmente também tem alguns com o poder de bani-
lo. Vários juntos poderiam fazer".

"Você tem muita fé nela". Eu disse secamente. Volusian era difícil de ser banir. --
Eu não poderia fazê-lo -- mas Rurik tinha um ponto. Reúna suficientes usuários de
magia juntos, e eles poderiam, eventualmente, expulsá-lo.

Ele me deu um sorriso torto. "Ela não é estúpida. E ela tem assessores. Não são tão
bons quanto os seus, é claro, mas eles teriam pensado sobre tudo antes de seqüestrar
Jasmine".

Uma batida na porta interrompeu qualquer resposta que eu poderia ter feito, e
depois que disse para entrar, um servo revelou Imanuelle. "Finalmente". Eu disse. Ela
adentrou, vestindo calças vermelhas de seda esvoaçante e um correspondente top que
mostrava a barriga. A assassina levantou uma sobrancelha e me deu um olhar divertido,
quando ela colocou as mãos nos quadris.

"Eu não fico esperando por cada ordem sua, Rainha Thorn. E da última vez que
conversamos, você deixou bem claro, você não me quer por perto. Você finalmente
encontrou a razão? Pelo que ouvi, agora é um momento muito bom para se livrar de
Katrice". Imanuelle pausou cuidadosamente. "Apesar de que, se livrar dela antes deste
momento teria sido melhor. Teria salvado você e sua irmã de um monte de
problemas."

Mordi quaisquer comentários sarcásticos. "Nós não podemos ter Katrice morta.
Tenho certeza que, no instante em que seu povo a encontrasse morta, Jasmine seria a
próxima. Eu preciso que você entre e tire Jasmine de lá".

O sorriso arrogante de Imanuelle caiu. "Isso não é o que eu faço. Eu mato. Não
resgato".

"Eu vou fazer o resgate. Você só precisa por eu e Kiyo dentro. Disfarce-nos com
este tal poder que você tanto se gaba. Ou mascarar mais de uma pessoa está fora de seu
conjunto de habilidades?".

"Eu posso fazer isso". Ela disse, apertando os olhos. "Mas vai custar".

"Nós podemos permitir isso". Eu disse, tentando ignorar o olhar triste passando
no rosto de Shaya enquanto ela sem dúvida adicionava nos mentais livros contábeis.
Imanuelle não disse nada por alguns momentos enquanto ponderava tudo.
"Só vocês dois?"

"Sim. E você, é claro". Eu acrescentei.

"Você tem alguma idéia de onde você está indo?" Ela perguntou.

Kiyo e eu trocamos olhares. "Mais ou menos". Eu disse.

"Mais ou menos". Imanuelle bufou. "Tudo bem. Vou fazê-lo. Mas eu só estou lá
para disfarçar vocês. Eu não vou lutar, se você for pega".

"Você não precisa". Assegurei-lhe. "Nós te protegeremos."

Isso trouxe outro sorisso de zombaria em seu lábio altivo. "Se eles nos detectarem,
eu posso me tirar de lá, acredite. Você estará por conta própria."

CAPÍTULO 17

APRENDEMOS MAIS SOBRE A EXTENSÃO DA CAPACIDADE DE
Imanuelle enquanto Kiyo e eu fizemos nosso caminho com ela a cavalo para a Terra
Rowan. Suas ilusões eram tão boas quanto ela demonstrou no primeiro dia, e eu assisti
com admiração rancorosa como ela transformou Kiyo em Girard, Shaya, e -- arg --
Dorian. As ilusões eram perfeitas e perigosas.

Comecei a compreender por que razão ela era uma ótima assassina. Ela realmente
poderia ser quem ela quisesse, deslizando em locais de alta segurança sem ninguém
saber. Fiquei um pouco chocada quando alguma parte do meu cérebro foi direto para
detê-la depois de contratá-la. Parte do meu cérebro disse que me livrar dela seria mais
seguro para mim no futuro, e eu imediatamente castiguei-me pela a idéia. Prender
potenciais inimigos era algo que o Rei Storm teria feito.

"Isto não é todo-poderoso". Disse ela em um ponto. Acho que ela estava apenas
puxando uma conversa fiada agora, não tendo idéia das minhas preocupações. Nós
tínhamos cruzado a Terra Rowan, e ela jogou seus truques no Kiyo, fixando-se em
ilusões de camponeses sujos para todos nós. "Fazer isto para três pessoas exige mais
poder. E mesmo para mim, eu não posso segurar os disfarces para sempre". Ela fez uma
careta. "Se eu pudesse, eu seria uma espiã em lugar. Muito menos confuso".

Eu não disse nada, mas troquei um breve olhar com Kiyo pelas costas dela. Ele
também tinha de ter analisado as implicações de suas habilidades. Eu também estava
pensando que quando nós tentamos resgatar Jasmine de Aeson na primeira vez, nosso
plano tinha falhado, porque um espião traiu-nos. Havia muitas possibilidades agora
que Imanuelle pudesse fazer o mesmo, e me perguntava se eu tinha sido muito rápida

em confiar tanto em uma desconhecida. Eu só podia esperar que o amor por seu irmão
fosse mantê-la fiel ao seu empregador.

Assim que viajamos mais ao longo das estradas que se aprofundavam no reino de
Katrice, as cerejeiras deram lugar a outras plantas e árvores- incluindo rowans27. Eles
eram menores do que eu esperava e carregadas com suas frutas próprias. Esta terra era
realmente muito boa, temperada e agradavelmente quente, com belas paisagens verdes.
Seria uma vergonha se eu tivesse que destruí-la.
27 Uma árvore chamada sorveira, cuja fruta chama-se sorva. (http://1.bp.blogspot.com/-Y-
M4SNBZbKY/Ta2UiybDGsI/AAAAAAAAAWQ/BpEmZU2d_p0/s1600/Sorveira-brava-
Sensibilidade.jpg)

Vimos sinais do castelo de Katrice muito antes do próprio castelo. Outros
viajantes se juntaram a nós na estrada, aqueles cujas cidades tinham sido pegas no fogo
cruzado da guerra e agora buscavam alimento e abrigo de seu monarca. A maioria
estava a pé, e passamos por eles rapidamente, pelo o que eu estava contente. Eu não
precisava de culpa nesta jornada. Nós também começamos a ver os soldados, sem
dúvida, parte do aumento da segurança que Rurik havia previsto. Alguns iam e vinham
do castelo. Alguns estavam estacionados ao longo do caminho, observando
cuidadosamente aqueles de nós que passavam. Prendi a respiração a cada vez,
esperando que as ilusões Imanuelle nos traíssem. Junto com o reconhecimento dos
limites do seu poder, ela também nos contou que alguns gentrys eram sensíveis ao seu
tipo de mágica e podiam ver através de suas magias. Ela nos disse isto no meio da
jornada. Era esse tipo de informação que teria sido útil, antes de sair.

Mas, embora nós tenhamos sido parados, os soldados nos permitiram passar, e em
pouco tempo, o castelo entrou em exibição. Parei por um instante, admirando-o,
apesar de tudo. Dorian e eu tínhamos castelos escuros, de pedra maciça, como
fortalezas Norman que deixavam a paisagem árida e de aparência Inglesa. A casa de
Maiwenn era elegante e fantasiosa, sempre me lembrando um filme da Disney. O
castelo de Katrice, no entanto, poderia ter sido saído diretamente de um cartão-postal
da Bavária. Tinha fortes, linhas retas retangulares, seus lados brancos e cobertos com
janelas. Essas eram simples e resistentes e eram compensadas por altas torres graciosas
no centro, quase delicadas, olhando sobre seus telhados que pareciam pretos. A terra
tinha se levantado à medida que viajei, então não foi surpresa ver que o castelo ficava
no alto de uma das colinas que conduzia às bonitas montanhas cobertas de neve. Ele
tinha uma ampla visão da área onde nós estávamos nos aproximando, e um muro
resistente rodeava-o totalmente.
Chegamos a uma parada junto com os outros que procuravam a admissão.
Formamos uma longa, e concentrada fila, o que me deixou nervosa.

"Por que a checagem? Eles estão recusando as pessoas?" Eu perguntei baixinho.
"Nós geralmente não temos muito disto em nossas portas".

Kiyo olhou em frente, seus olhos afiados viam o que não podíamos. "Não, eles
estão deixando-os, apenas fazendo uma quantidade justa de perguntas, o que está a
atrasando as coisas. E você está certa -- você nunca teria esse número, porque suas
terras não foram tão atacadas".

Bom e mau, pensei. Eu mantive a minha própria gente segura, mas a guerra que eu
estava travando estava devastando casas. Ocorreu-me que eu poderia não ter que lidar
com Katrice. Se essas pessoas descobrissem que eu estava entre eles, eu poderia muito
bem ser derrubada por uma multidão enfurecida.

"Fácil". Murmurou Imanuelle. "Não pareça nervosa. Eu não consigo esconder as
suas expressões". Eu me eduquei com a neutralidade, esperando que eu parecesse em
branco e exausta. Depois de quase uma hora de espera inquieta, chegou a nossa vez.
Quatro guardas interrogaram-nos, e nós estávamos com as respostas rápidas. Para a
nossa reportagem de fachada, nós tínhamos escolhido uma aldeia que ficava perto de
onde havia tido uma batalha e os exércitos de Dorian tinham lutado com os de Katrice.
A maioria dos moradores tinha saído antes da luta, mas uma grande parte da aldeia
havia sido destruída.
"Nossa casa foi queimada até o chão". Disse Imanuelle. Ela nem mesmo precisava
da ilusão de uma mulher velha, vestida com trapos para ser patética. Seu
comportamento e voz foram preenchidos com desespero, perfeito e convincente.
"Nossas plantações foram destruídas".

Depois de um pouco mais de interrogatório, eles permitiram-nos, enviando-nos
para o que era essencialmente uma fila de gentry pobres. O recinto interior do castelo
Katrice estava cheio de pessoas -- a maioria soldados -- e tivemos que achar a nossa
maneira através da multidão para chegar a esquina onde as massas de pessoas pobres
situavam-se.

Muitos pareciam ter feito do pátio a sua casa temporária. Parecia um
acampamento bem utilizado. No entanto, a comida estava à mão e fiquei aliviada que
estas vítimas da guerra estavam sendo atendidas. Nós pairamos perto da linha de
alimentos de forma a não levantar suspeitas, ao mesmo tempo avaliando a área. Em

particular, a minha atenção descansou no portão principal para o castelo em si. Era o
local mais bem guardado de todos, e eu sabia que um ataque imediato teria sido
realmente longo e sangrento.

Outros soldados atravessavam a porta com pouco questionamento, que era o que
esperávamos. Encontramos um canto relativamente obscurecido entre uma alta
barraca e uma parede, que nos desviou para fora da vista e deixou Imanuelle trabalhar
em seu feitiço seguinte. Ela fechou os olhos e respirou fundo. Um arrepio correu-me, e
o mundo desfocou. Quando eu pude me concentrar em meus companheiros de novo,
eu me vi olhando para os guardas que nos havia admitido.

"Ei, espere". Eu disse, assumindo que eu provavelmente parecia com um dos
soldados do portão também. "Você não acha que poderemos ter alguns problemas se
nos encontrarmos com nossos clones? Por que não nos fez parecer como incógnitas ao
acaso?"

"Porque, se os outros guardas não nos reconhecerem, teremos mais
questionamentos". Imanuelle explicou. Ela estudou as mãos criticamente, um pequeno
sorriso mostrando orgulho em seu trabalho.

"Eu não acho que aqueles que estão no portão deixaram seus cargos. Não
devemos ir de encontro a eles". Falei com confiança, mas eu tive uma sensação de que
ela estava secretamente pensando que eu esperasse. Todo mundo estava muito
preocupado com seus assuntos próprios para perceber que três camponeses tinham se
esquivado, e três soldados haviam surgido. Quando os refugiados nos viram, no
entanto, eles saíram rapidamente para fora do nosso caminho. Nenhuma pressão neste
momento. Nenhum de nós precisava de lições sobre como se comportar.
Considerando que a nossa entrada inicial tinha sido fracos e sujos, eu agora andava
com a confiança e a força daqueles que moviam este lugar. Nós quase não hesitamos,
enquanto nos movíamos para a entrada do castelo, e os de guarda afastaram-se sem
comentário.

Estar dentro se mostrou um pouco mais confuso. Nós tínhamos recebido algumas
informações sobre o formato do castelo, mas não sabíamos exatamente onde Jasmine
estava sendo trancafiada. Não poderíamos fazer uma pausa para deliberar, no entanto.
Nós tínhamos que continuar andando como se tivéssemos finalidade ou então
atrairíamos a atenção.
Soldados e agentes vinham ao nosso redor, e nós caímos em caminho com alguns
por um corredor aleatório. Kiyo, sempre pensando rápido, parou um jovem soldado
solitário. "Hey", disse Kiyo bruscamente. "Tivemos relatos de que alguém poderia
tentar resgatar a irmã da Rainha Thorn".

Os olhos azuis do soldado se arregalaram. "O quê? Devemos alertar".

"Não, não". Kiyo interrompido. "Mantenha-o para si mesmo. Não quero levantar
suspeita. O guarda fora já sabe e está em observação. Precisamos saber se ela foi
movida ou não. Havia rumores de que ela tinha sido".

Eu tentei não morder meu lábio. Kiyo Parecia que sabia o que estava falando, mas
este era um momento perigoso. Como eu estava preocupada antes, Jasmine podia até
não estar presa aqui. Houve também uma chance de que esse guarda não soubesse sua
localização, e teríamos de continuar a jogar este jogo com os outros. Quanto mais
pessoas falássemos, mais a nossa missão se tornaria arriscada.

"Não que eu tenha escutado". Disse o soldado. "Ela ainda está no calabouço".

Eu respirei um suspiro de alívio. Eu meio que esperei que ele dissesse que ela
estava no quarto de Cassius. Os calabouços não eram grandes também, mesmo assim...
Não era tão diferente de como eu inicialmente a tratei.

Eu esperei Kiyo demandar mais detalhes -- quantos guardas estavam com ela,
onde os calabouços eram, etc. Em vez disso, ele deu ao soldado um breve aceno de
cabeça e voltou a advertir-lhe que estivesse em alerta, mas para não compartilhar seu
conhecimento.

"Nós precisávamos de mais informações". Eu assobiei para Kiyo quando nós
continuamos a caminhar pelo corredor. Não importando suas falhas, Katrice tinha um
bom design de interiores. Pinturas florais penduradas nas paredes, e plantas elaboradas
saíam de vasos. A beleza se perdeu em mim, no entanto. "Por que você o deixou ir?"

"Porque os guardas reais poderiam saber alguma coisa se perguntássemos".
Respondeu ele. "Perguntar onde as grutas estão poderia definitivamente ser um indício
de que algo estava acontecendo".

"E eu já sei onde estão". Disse Imanuelle.

Ambos Kiyo e eu olhamos para ela surpresa.

"Lá embaixo". Acrescentou.

"Calabouços estão sempre lá embaixo". Eu apontei.

"Você já esteve neles?" Perguntou Kiyo.

Ela assentiu e entortou um sorriso. "Poderosos líderes não são os únicos com
preços em suas cabeças. Às vezes, os prisioneiros importantes precisam desaparecem
também".

Eu fiz uma careta com sua diversão, mas estava grata quando ela nos fez meia-
volta. Com o propósito claro, eu ficava cada vez mais tensa. Era isso.
O que nós encontraríamos? Ninguém nos deu uma segunda olhada aqui, mas nas
masmorras, nós atraímos a atenção -- especialmente quando nos deparamos com um
de seus prisioneiros.

Nossos castelos poderiam ter sido diferente, mas Katrice e eu possuíamos
masmorras semelhantes. Escuras. Lúgubre. Muros de pedra cinzenta e tochas. Era
como um estereótipo, mas eu acho que isto ajudava a amortecer as esperanças de todos
os presos.

Imanuelle levou-nos confiante para lances de escadas abaixo e em um corredor
longo e largo. A cela de Jasmine era fácil de identificar porque seis guardas estavam fora
dela -- de novo, me lembrando de suas condições anteriores em minha casa.

"Boa sorte". Disse Imanuelle, indo para trás. Ela estava, aparentemente,
mantendo-se fiel à sua palavra de que isto era tudo por nossa conta. Os guardas de
plantão estavam atentos e, naturalmente, perceberam nossa aproximação, mas nenhum
deles reagiu com cautela ou alarme. Um par despertou curiosidade, imaginando, talvez,
se as ordens haviam mudado, mas era isso.

Kiyo e eu tínhamos discutido várias estratégias em nossa jornada e, finalmente,
decidimos que uma força rápida e surpreendente seria o caminho a percorrer. Quando
estávamos ainda vários metros de distância, eu mandei a minha magia além, puxando o
ar como uma respiração profunda e jogando de volta para os guardas, sob a forma de
um vendaval digno de um vento. Isto arrepiou nosso cabelo e escovou nossa pele, mas
a explosão, literalmente, jogou a guardas fora de seus pés. Houve gritos de choque, e
dois desceram para a direita então e bateram fortemente contra fim do corredor.

Os outros quatro estavam em seus pés, três espadas de cobre desenhadas. Fogo
apareceu nas mãos do quarto. Eu deveria ter esperado que Katrice colocasse usuários
de magia com Jasmine, juntamente com a força bruta. Não havia nenhum outro
momento a ponderar, no entanto, porque de repente o cara atirou uma bola de fogo
em nós. Eu instintivamente desenhei no ar ao redor de novo, junto com sua umidade,
desintegrando o fogo com pouco esforço. Kiyo avançou, então, atacou um dos guardas.

Corri para frente a minha atenção focava no outro guarda, enquanto eu criava um
vácuo em torno dele, puxando todo o ar para longe. Seus olhos se arregalaram quando
ele respirou fundo e agarrou sua garganta, tentando recuperar uma impossível
respiração.

Eu segurei a magia enquanto um dos seus colegas tentou me atacar. Desviei a
espada, principalmente porque o punhal de ferro na minha mão estava fazendo o
manter a sua distância. O cara de servo da minha magia finalmente sucumbiu à falta de
oxigênio, e eu o soltei, deixando-o inconsciente e colapsado no chão. Antes que eu
pudesse lidar com o outro soldado, Kiyo pulo e atacou-o no chão. Eu achei que isso
significava que o primeiro adversário de Kiyo estava fora de serviço, deixando-me com
o usuário de magia.

Não tendo aprendido alguma coisa alguma da primeira vez, ele atirou outra bola
de fogo para mim. Eu admirava seu controle; muito teria incinerado todos no salão.
Mas com minha magia, golpeando o fogo longe foi um pensamento tardio para mim.
Ele não tinha arma e dei um passo à frente, empurrando meu athame à sua garganta.
Ele gritou na picada do ferro, não oferecendo nenhuma luta quando eu comecei a
afastar seu oxigênio também. Uma realização brilhou em seus olhos. Ilusão ou não, ele
deve ter descoberto quem poderia manipular o ar e a água tão facilmente -- e segurar
em ferro.

"Rainha Thorn..." Ele disse ofegante, quando o último de seu ar o deixou. Eu vi a
inconsciência agarrá-lo, mas apenas antes que acontecesse, ele conseguiu uma fraca
vibração de sua mão.

Nenhum fogo veio, mas eu senti uma intensa onda de calor se espalhar. Ele não
me machucou, mas houve um poder físico dentro dele, que ondulava no ar e fez tremer
as paredes ligeiramente pouco antes de ele também cair no chão. Kiyo e eu estávamos
lá entre os corpos, vivos ou mortos, eu não sabia, e nos entreolhamos e ao nosso
ambiente com cuidado. Imanuelle ainda permanecia para trás, mas parecia
impressionada.

"Que diabos foi isso?" Eu perguntei.

"Estou certa de que seja um alarme". Disse ela.

"Foda-se".

Eu me virei para a cela de Jasmine e a viu encolhida no canto mais distante, me
olhando com olhos grandes e cautelosos. A água era a sua especialidade na verdade, ela

só tinha controlo ligeiro sobre o ar. No entanto, ela teria sentido a força da magia que
eu tinha usado.

Assim como o guarda, ela sabia que havia poucos que poderiam fazer o que eu
tinha feito, mas sua visão disse a ela que não era eu ali. Eu ainda estava sob a ilusão de
Imanuelle. Kiyo já estava procurando corpos e logo encontrou uma chave. Nós
abrimos a célula, mas Jasmine não se mexeu. Ela não parecia muito pior pelo desgaste,
mas eu sabia que alguns dos comportamentos mais terríveis raramente deixavam uma
marca. Houve um pequeno rasgo em seu vestido e uma contusão no braço que
pareciam ser sinais de luta, provavelmente durante a sua captura inicial. Também notei
que haviam deixado as cadeias de ferro fino que Girard havia criado, para impedir sua
mágica. Minha própria salvaguarda, sem dúvida, tinha sido útil para seus captores. Fiz
um gesto para a porta, apreensiva sobre o que tinha dito Imanuelle sobre um alarme.
"Jasmine, vamos lá. Somos nós. Eu e Kiyo".

"E por mim". Disse Kiyo, apontando em minha direção. "Ela quer dizer Eugenie".

Jasmine hesitou, olhando entre os nossos rostos. "Como isso é possível?"

Imanuelle, que estava assistindo a entrada do hall, virou-se apressadamente para a
cela. "Como você acha? Com mágica. Olhe para si mesma".

As características de Jasmine ondularam, e logo, nós estávamos olhando para
outro soldado Rowan. Jasmine estudou as mãos com espanto. As ilusões não
apresentavam correntes, mas ela ainda seria capaz de senti-las.

"A lista de músicas do seu iPod é uma porcaria". Eu disse quando ela continuou a
hesitar. "Será que um guarda gentry diria isso?"

"Vamos". Insistiu Imanuelle. Ela estava confiante de que ela poderia ter-se fora de
qualquer perigo aqui, mas as chances eram melhores se ela não estivesse em um salão
que poderia ser facilmente bloqueado se um regimento viesse correndo em direção à
entrada. Jasmine deve ter decidido que este empreendimento não poderia ser pior do
que o seu destino atual. Ela levantou-se e deixou o celular, seguindo enquanto o resto
de nós ía para as escadas. Chegamos ao andar principal, sem oposição, mas uma vez lá,
tudo era caos. Os soldados estavam correndo na direção que nós vínhamos, e eu
perguntei quanto tempo eles iriam levar a perceber que éramos os únicos que não
íamos em direção às masmorras.

Exceto... Descobriu-se que não era o caso. Na confusão, ninguém nos impediu de
sair pela porta da frente, mas os fundamentos internos foram preenchidos com

soldados. Eles estavam conduzindo os refugiados aterrorizados a uma seção bem
guardada, e as portas dos muros exteriores tinham sido fechadas.

"Foda-se". Eu disse novamente. Isto ainda parecia ser a única forma adequada para
resumir a situação.

"Podemos saltar para o mundo humano". Disse Kiyo. "Imanuelle pode sair por
conta própria".

Eu considerei isso. Era verdade. Imanuelle poderia mudar em um camponês ou o
que quisesse e escapar da detecção até que uma oportunidade para escapar aparecesse.
As habilidades de Kiyo lhe permitiam fazer a transição com relativa facilidade através
dos mundos, sem um portão. Eu poderia fazê-lo, mas não sem dificuldade. E eu
precisava utilizar uma âncora para chamar-me de volta. Eu tinha um casal de volta em
minha casa, mas Jasmine não tinha nada disso. Ela provavelmente não poderia saltar
aleatoriamente a partir do Outromundo. Eu não tinha certeza se poderia, com uma
âncora e as cadeias de ferro fazia ainda pior. Nós poderíamos ambos acabar fazendo
sérios danos a nós mesmos.

"Nós não podemos". Disse eu. "Nós só temos que a esconder". Virei-me para
Imanuelle. "Como você está fazendo? Você pode tornar-nos todos camponeses de
novo? "

Ela assentiu com a cabeça. "Temos de sair da visão, embora".

Sua confiança era uma pequena benção, pelo menos. Imanuelle estava mantendo
quatro ilusões agora, e sua força tinha sido uma preocupação em todo este processo, de
que alguém que fosse capaz de ver através de...

"É ela! É a Rainha Thorn!"

A voz estridente que de repente atraiu todos os olhares para nós não veio dos
soldados. Ela veio de uma velha encolhida entre os refugiados. Ela me lembrou de
Masthera, com cabelos brancos e olhos selvagens. Ela estava apontando para nós, e
havia algo em seu olhar... Algum brilho de conhecimento que me fez acreditar que ela
pudesse ver-nos através das ilusões.

"Maldição". Disse Imanuelle. Havia tanto medo quanto orgulho ferido em sua
voz. Embora essa tivesse sido uma possibilidade, eu sabia que ela sentia secretamente
que seus poderes eram fortes demais para a detecção. Talvez os quatro de nós haviam
estendido sua fina magia.

Honestamente, eu não teria pensado que uma mensagem seria suficiente para
puxar a atenção para nós, não no caos lá fora. No entanto, a voz da mulher trouxe
silêncio para os próximos. Eles se voltaram para olhar para nós e, em breve, outros que
não tinham ouvido falar dela notaram as reações e ficaram em silêncio também.

"Silencio". Agarrou um guarda, finalmente quebrando o silêncio confuso. Ele era
um dos mantinham os civis fora do caminho. "Nós não temos tempo para isso".

A velha abanou a cabeça com firmeza. "Você não consegue ver? Você não pode
vê-los? É a rainha Thorn e sua irmã! Elas estão ali!".

O rosto do guarda escureceu. "Eu te disse, nós...".

Seu queixo caiu, porque foi quando os guardas que estava de plantão portão
anteriormente se aproximaram. Eles chegaram a um impasse, olhando-nos com choque
completo. Se não tivéssemos entrado em pânico durante o alarme, um de nós
provavelmente teria pensado em mudar a ilusão de modo que parecêssemos ser
soldados inconscientes, e não teríamos que passar por isto mais uma vez. Foi um
descuido, um engano, e agora todos podiam ver-nos e nosso espelho imagens. O
guarda gritando com a velha podia não saber o que estava acontecendo, mas ele sabia
que algo estava acontecendo. "Prenda-os". Disse ele. Ele olhou desconfortavelmente
para seus colegas de verdade e decidiu cobrir as suas bases. "Prenda-os também".

Outros soldados se aproximaram de nós inquestionavelmente. Eu contei os
números. Estávamos bem, mas eu não acho que Kiyo e eu poderíamos tomar muitos
no corpo a corpo. Jasmine chegou a essa mesma conclusão.

"Exploda-os". Disse ela. "Podemos explodi-los do nosso jeito de sair daqui".

Por 'nós', ela queria dizer 'eu', e eu sabia que ela estava falando sobre tempestades,
não explosões. Uma parte de mim já sabia que era a resposta. Mal percebendo isto, eu
convoquei toda minha mágica, fazendo o belo e ensolarado dia na Terra Rowan
rapidamente desaparecer. Pretas e roxas nuvens tombaram pelo céu em velocidades
impossíveis, relâmpago piscaram tão perto de nós que o chão tremeu. Umidade e
ozônio encheram o ar, o vento subia e descia.

Isto tinha vindo aproximadamente em questão de segundos, e os soldados que
aproximavam pararam. A acusação da velha louca não era tão louca a luz desta a magia.
Eles todos foram percebendo que não importa o que os seus olhos diziam, a
possibilidade agora era muito boa de que Eugenie Markham realmente estava diante
deles. E eu poderia ser uma inimiga de guerra, uma que eles precisavam capturar, mas

eu também era a filha do rei Storm, o que não era um título de deixava os ânimos leves.
Eles sabiam o que eu podia fazer, e foi o suficiente para congelar até anos de
treinamento.

"Deixem-nos passar". Eu disse. Comecei a me mover lentamente em direção ao
portão, os meus três companheiros me seguindo logo atrás. "Vamos passar, ou eu vou
deixar essa tempestade explodir aqui. Ela já está no limite. Uma respiração, e posso
deixá-la ir". Trovões e relâmpagos crepitavam acima de nós, dirigindo para casa o meu
ponto. Havia pequenos gritos de alguns da multidão. "Você sabe o que esse tipo de
tempestade vai fazer em uma área pequena? Para todos vós?"

"Isso vai matá-los". Disse uma voz de repente. "Horrível".
Eu olhei em direção à entrada do castelo e vi Katrice ali. Os guardas correram para
flanco, mas ela levantou a mão para parar eles. Tinha sido um longo tempo desde que
eu a tinha visto. Todos os nossos contatos antagonistas tinham sido através de
mensagens e cartas. Ela tinha a aparência do nosso último encontro, cabelo preto
misturado com prata e olhos escuros que examinavam tudo ao seu redor. Ela estava no
modo real completo também, em cetim cinza-prata e uma pequena tiara de pedras
preciosas. Mas não... Quando eu estudei-a, eu vi uma pequena diferença. Ela parecia
mais velha do que a última vez que nós estivemos juntas. A morte de Leith e esta guerra
tinham tomado seu pedágio.

Olhei-a diretamente nos olhos, a minha adversária, a causa de tanto sofrimento
recente na minha vida. Eu não precisava de nenhuma tempestade em torno de mim,
porque uma estava quebrando por dentro, os ventos de fúria e raiva que rodando em
torno e dentro de mim.

"Solte a magia". Eu disse a Imanuelle, sem olhar para ela. Eu queria estar cara a
cara com Katrice, e honestamente, não era como se a minha identidade fosse um
segredo. Eu senti outra vez um formigamento, e alguns suspiros me disseram que eu
usava a minha própria forma agora. Um pequeno sorriso cruzou os lábios apertados
Katrice.

"Sim". Ela continuou. "Você poderia desencadear uma tempestade aqui. Você
pode destruir uma grande parte deste muro, este castelo. Você pode certamente
destruir todas as essas pessoas -- que é no que você é boa, certo? Você se colocou
nesta pose imponente sobre a proteção de vidas, mas de alguma forma, a morte sempre

te segue. Você os deixou em seu velório, assim como Tirigan fez. Mas pelo menos ele
não tinha ilusões sobre o que estava fazendo".

A comparação com o meu pai aumentou a raiva em mim. O clima refletiu a minha
reação, o céu mais ficou escuro e a pressão do ar se intensificou.

"Vá em frente". Disse Katrice. "Mostre-me sua tempestade".

"Você não tem que matá-los". Disse Jasmine ao meu lado, a voz baixa. "Só ela".

Ela estava certa? Era tudo o que levaria? Eu poderia matar Katrice, sem dúvida.
Uma queda inesperada de um raio, e ela tinha ido.

Se a memória servia, a sua magia era semelhante à de Shaya: uma conexão e
controle com a vida das plantas. Como uma rainha, alguém com a capacidade de
controlar a terra, Katrice possuía poderes em níveis que tornavam Shaya uma anã. Era
provavelmente por isso que as árvores e plantas aqui eram tão bonitas. Era também,
provavelmente, por isso que nós não tínhamos sido atacadas ainda. Este pátio ao redor
do castelo era inocentado terra dura, cheia de sujeira que facilitava a viagem para os
guardas, comerciantes e outros visitantes. Se estivéssemos fora dos muros, eu
provavelmente teria tido uma floresta marchando sobre mim até agora.

"Você pode fazer isso também". Disse Katrice, ainda tentando me fisgar. Eu não
poderia dizer se ela estava simplesmente tentando prolongar a sua vida ou tentando
apanhar-me fora guarda para algum outro ataque. "Mate-me a sangue frio. Assim como
você fez com meu filho. Está na sua natureza".

"Não há sangue frio em tempos de guerra". Eu rosnei. "E seu filho merecia. Ele era
um canalha, covarde fraco que teve que mentir e drogar mulheres para obter o que ele
queria".

Isso fez com que ela recuasse um pouco, mas ela não hesitou em voltar à seta.
"Mas ele conseguiu o que queria. Ele te pegou. Ele não poderia ter sido um fraco".

Essas palavras picaram, mas antes que eu pudesse responder, um jovem
escorregou no lugar ao lado dela. Sua semelhança era tão forte com ela e Leith que
havia poucas dúvidas de sua identidade: Cássio, seu sobrinho. A raiva dentro de mim
duplicou. Vê-lo me lembrava do que tinha provavelmente feito para Jasmine. Minha
razão estava escorregando, sendo substituída por pura fúria.

"Você deveria ter deixado isso ir". Eu disse a Katrice, minha voz perfeitamente
nivelada. "Você deveria ter aceitado a morte de Leith, como punição pelo que fez. A
mesma ardósia. Vidas foram perdidas por causa de você. Mas acabará agora".

Um raio. Um raio e ela estava morta. Inferno, eu provavelmente poderia levar
Cassius com isto também. "Eugenie". Disse Kiyo. "Não. Não faça isso".

"O que mais eu devo fazer?" Eu respirei, longe dos ouvidos dos outros.

"Eu avisei antes que haveria conseqüências. Por favor, me escute neste momento".
Ele implorou. "Haverá outra vez".

"O que você espera que eu faça?" Minha voz era mais alta. Eu não me importava
que a ouvissem. "Isso é uma guerra. Eu mato o seu líder. Eu ganho. Caso contrário,
deixo solto o inferno aqui, e essas pessoas morrem. O que você quer, Kiyo? Aja -- ou
então encontre outro caminho".

Ele não respondeu, mas o sorriso apertado Katrice cresceu a ver a dissidência
dentro de minhas fileiras. "Sem opções além da morte. Você é filha de Tirigan. Eu estou
agora contente de que Leith não teve uma criança com você. Seu plano parecia sábio
num primeiro momento, mas é melhor a minha linhagem não se confundir com a sua,
embora os deuses saibam o quanto Leith tentou. Ele me contou sobre isto. Muitas
vezes. Ah, bem. Eu suponho que nós vamos saber em breve como Cassius se saiu...".

Seu olhar demorou um pouco sobre Jasmine ao meu lado. Imanuelle tirou todo o
nosso disfarce.

"Eugenie". Jasmine tentou falar, mas eu não queria ouvir.

"Você está tentando ser morta?" Eu exigi de Katrice. Cada palavra foi dura, quase
impossível de sair. Eu estava mudando minha opinião sobre o relâmpago. Eu estava
lembrando de como eu tinha matado Aeson, literalmente destruindo-o, tirando a água
de seu corpo. Havia muitas maneiras de matar ela, tantas maneiras de levá-la à
humilhação.

Katrice deu de ombros, e apesar de que a atitude presunçosa, eu vi uma pontada
de arrependimento em seus olhos. "Eu tenho um sentimento que eu vou morrer de
uma forma ou de outra hoje. Eu só quero que todos saibam a verdade sobre você antes
de eu fazer".

Eu congelei. Eu disse a Kiyo para me dar outra opção, e ele não tinha nenhuma.
Mas havia outra.
"A verdade". Eu disse lentamente, indo em direção a minha mochila. "É que você
não vai morrer hoje. Mas você vai preferir ter".

Só posso supor que o que aconteceu a seguir foi criado a partir da pura emoção,
fora a raiva e o desespero que suas palavras sobre mim e Jasmine tinham evocado. A

adrenalina da situação provavelmente desempenhou um papel também, e... Bem, talvez
houvesse alguma coisa em meus genes, afinal.

Eu puxei a Coroa de Ferro da minha mochila. Katrice ficou pálida, toda a
petulância havia ido. Aqueles que reconheceram a coroa exibiram medos semelhantes,
audíveis e visíveis. Outros simplesmente olharam com curiosidade.

"Não". Ela ofegou. "Não. Por favor, não".

Acho que até aquele momento, ela não tinha realmente acreditado que eu tinha a
coroa. Eu também acho que se eu exigisse, ela poderia ter nomeado quaisquer termos
de rendição que quiséssemos. Mas eu não queria simples entrega. Eu queria
sofrimento. Eu queria que ela sofresse, como eu. Tantos caminhos para trazer a
humilhação...

Eu coloquei a coroa na cabeça, e de alguma forma -- talvez tenha sido parte de
sua magia -- eu sabia exatamente o que fazer. O athame de ferro ainda estava na minha
mão, e eu o abaixei. Katrice caiu de joelhos também, mas foi em súplica.

"Por favor". Ela pediu novamente, com lágrimas nos olhos. "Qualquer coisa. Vou
fazer o que quiser".

"Você está certa". Disse eu. "Você vai".

Bati a lâmina para baixo e atingi o coração da terra.

CAPÍTULO 18

REALMENTE SENTI COMO... COMO SE ESTIVESSE MATANDO UM SER
vivo. E de certa forma, eu estava. Estava destruindo a ligação da terra com Katrice. A
terra e seus monarcas são um só. Um conceito meio esotérico... Mas, bem, é a verdade.
Eu certamente sentia isso na Terra Thorn. Era por isso que eu não poderia jamais ficar
longe do meu reino por muito tempo. Ele me chamava. Era parte de mim.

E assim, eu era essencialmente uma coisa viva cortada em dois. Poder branco e
quente queimou através de mim quando fiz a magia da coroa, conectando-a a mim, e
expulsando a sujeira para fora. Eu tinha pouco sentido do que me rodeava, só ouvia
Katrice gritando. Abaixo de mim, em uma espécie de caminho espiritual, eu podia
sentir a terra resistindo à primeira vista. Não querendo quebrar os seus laços. No final,
ela não tinha escolha. A magia da coroa era muito forte. Segundos, minutos, horas... Eu
não sei quanto tempo levou, provavelmente quase uma hora em tudo. Mas, de repente,
isso foi feito. O poder da coroa desapareceu de mim, e as terras ali estavam abertas e
reclamando. Sensível e ferida.

Como uma neblina mágica desgastada, o resto do mundo voltou lentamente ao
meu foco. Eu olhei em volta para as pessoas e para Katrice, encolhida e chorando. Eu
pensei que ela tivesse envelhecido antes, mas não era nada comparado com agora. Ser
cortada da terra havia devastado ela. Seu cabelo escuro estava quase todo cinza agora,
seu rosto magro e enrugado.

E tudo ao redor... Tudo ao redor, a terra estava inquieta. Eu podia sentir sua
energia, chamando... Chegando... Ansiando por um novo mestre. Dificilmente
qualquer uma das pessoas que estavam reunidas mostrou qualquer tipo de
reconhecimento sobre isso. Eles ainda estavam assistindo o drama entre mim e Katrice.
Poucos espectadores tinham olhares confusos sobre seus rostos, como se eles também
pudessem ouvir a terra.

Era porque eles eram poderosos o suficiente para levá-la, eu percebi. A terra já

estava buscando aqueles que possuíam a força para se juntar a ela, e olhando para cima,
vi na cara de Cassius que ele podia sentir isso. Katrice e o filho não tinham o poder de
invocar um reino, mas o seu sobrinho tinha.

Assim, para o meu próximo ato impulsivo do dia, coloquei minha mão no chão.
Assim como na última vez, o solo que começou difícil e árido em breve pareceu macio
e quente. Minha mão afundou na terra, e fui recebida, como se alguém estivesse
segurando a minha mão em troca. O calor encheu meu corpo, um calor reconfortante
muito diferente do calor escaldante da coroa. Fechei os olhos, me esforçando para ficar
com esse propósito, para mostrar que eu era digna. Parte de mim já estava entregue a
Terra Thorn. Eu tive que lutar para reivindicar esta terra também.

Então, eu senti... Eu senti a terra me aceitar. E, quando fez, o chão começou a
tremer. No início, eu pensei que era apenas um pós-efeito, um pouco da magia, mas
então me lembrei do que tinha acontecido quando a Terra Thorn tinha se entregado a
mim. A terra tomou a forma que tinha a minha alma, que foi natural e correto para
mim. O antigo reino Aeson tinha se transformado no deserto de Sonora, a terra de meu
nascimento. A Terra de Rowan estava tentando fazer a mesma coisa.

Não, não! Não outra vez. Um reino semitropical se transformando em um deserto
havia causado estragos para os seus residentes. Nós tínhamos enfrentado a fome, a
seca, a pobreza... Foi apenas recentemente que o reino havia tomado novamente seu
lugar, se tornando próspero e autossustentável. Eu não iria passar por isso novamente.
Freneticamente, eu tentei pensar em alguma outra forma. Mas o quê? Eu quase nunca
saí do sudoeste dos Estados Unidos. Uma imagem rápida das Montanhas Catalina
brilhou em minha mente, as leves encostas cobertas de pinheiros como no dia em que
eu e Kiyo tínhamos lutado com o demônio. Eu podia sentir a terra começando a aderir
essa imagem, e eu arranquei fora. Esse reino tinha algumas pequenas montanhas, mas
isso era uma pequena porcentagem de seu terreno. Eu não poderia transformar este
lugar na Suíça ou no Nepal.

Permaneça a mesma, permaneça a mesma, eu implorei a terra. Pelas razões de
seus ocupantes, a paisagem precisava se manter inalterada. Porém, foi difícil. A terra
queria se ligar a mim, para o que estava entranhado na minha alma. Lembrando da
minha viagem aqui, eu tentei imaginar as filas e filas de cerejeiras ao longo da estrada.
Lembrei-me do sol brilhando através de outras árvores de folhas caducas e flores que
crescem em cachos. Eu pensei sobre o trecho de árvores de Rowan. Permaneça a
mesma, permaneça a mesma.

Aos poucos, a terra em volta de mim começou a abrandar a sua agitação e
finalmente parar, exceto por um ponto. Não muito longe de onde eu descansei minha
mão, o chão se abriu e folhas e galhos romperam. Eu olhei de volta, prestando atenção
no tremor, quanto eu vi pela primeira vez uma rajada de uma árvore mágica em pleno

crescimento desfraldando suas folhas no passar de segundos. Prendi a respiração,
imaginando qual seria esta árvore que ditaria meu novo reino.

Isto era... Uma árvore de Rowan.

Eu não era a única que achava isso estranho. "Você não a clamou?" Jasmine
perguntou intrigada. Levantei-me, ficando em pé ao lado dela, tirando a poeira do meu
jeans.

"Eu..." Se eu tivesse? Essa era uma árvore de Rowan, se espalhando por toda a terra
de Rowan. Que é o que já tinha sido. Talvez não funcionasse. Talvez a coroa não tenha
feito o que eu esperava. Talvez Katrice tenha ganhado a terra de volta de alguma forma.

Mas, não. Lá estava ela. Eu sentia isso. A terra. A Terra. As rochas. Cada folha e
flor. Os cheiros, as cores... Todas elas eram mais nítidas e mais intensas. Se eu me
abrisse, eu podia sentir cada pedaço desta terra. Ela cantarolava. Ela tocava. A energia
era vertiginosa, e eu me forcei a fechá-la por um momento.

"Não". Disse para Jasmine, pensativa. "É minha". Olhei para a árvore, mais perfeita
do que qualquer uma real poderia ser, suas bagas cor de laranja brilhante contra as
folhas verdes balançando ao vento. Estendi a mão e acariciei uma das folhas, vagamente
consciente de Katrice ainda soluçando. Um arrepio de poder correu através de mim.
"Ainda é a Terra Rowan... exceto que é a minha Terra Rowan".

As coisas ficaram um pouco estranhas depois disso.

Os soldados já não estavam tentando me prender, mas eles também não estavam
prontos para pular a cada ordem minha. Meus companheiros eram de pouca utilidade.
Imanuelle, por sua natureza, se contentou em sentar e ver a bagunça que eu havia
encontrado. Kiyo usava um olhar de desaprovação em seu rosto, e eu temia ganhar um
sermão depois. Jasmine ainda parecia estar em choque. A única vez que ela voltou a si
foi quando eu discuti o que iria fazer com Katrice e Cassius. Não é novidade, a sugestão
de Jasmine era matá-los.

"Confine-os em seus aposentos". Eu pedi, esperando alguém me obedecer.
"Guarda os acom..." Isso era um tipo de prejuízo. Teoricamente, a aristocracia sabia
como isso funcionava. Quem controlava a terra governava, mas eu não estava
inteiramente certa que os guardas em volta estariam tão entusiasmados com a detenção
da mulher que os governava até dez minutos atrás. Volusian, pensei. Agora que eu
estava no controle, eu poderia convocá-lo sem medo. Então, eu percebi que precisava
dele para coisas mais importantes. Olhei suplicante para Kiyo, não necessitando de
palavras.

Ele balançou a cabeça. "Eu vou assisti-los". Ele se virou abruptamente, instigando
os precedentes direitos de acesso de um par de guardas, que tinham decidido subir
imediatamente a bordo comigo. Kiyo estar de guarda serviu a dois propósitos. Eu
poderia confiar nele para fazer um bom trabalho, e ele faria, mas eu estava segura de sua

desaprovação.

Então eu falei as palavras para trazer Volusian para mim, vê-lo assustou aqueles
que já me olhavam com terror. Eu ia deixar a tempestade se dissipar, mas a escuridão
ainda parecia estar em torno de meu servo, seus olhos vermelhos me avaliaram, a
Coroa de Ferro, e a árvore.

"Inesperado". Ele disse.

"Vá para Rurik". Eu disse a ele. "Explique o que aconteceu, e para ele trazer uma
força de ocupação aqui imediatamente". Eu não sabia o que significava exatamente,
mas eu sabia que o controle militar seria indispensável aqui se estivéssemos querendo
proteger a terra. Rurik saberia o que fazer. Governar viria depois. "E então..." Agora eu
hesitei. "Faça com que Shaya contate Dorian e conte o que aconteceu. Depois, volte
para mim".

Volusian fez uma pausa, esperando alguma coisa que eu poderia acrescentar.
Quando nada mais veio, ele desapareceu, o sol parecia estar um pouco mais brilhante.
Agora era um jogo de espera, e eu olhei em volta para os residentes ainda atordoados
da Terra de Rowan.

"Bem... é isso. Sigam em frente, como de costume. Guardem os portões. Ninguém
sai. E vocês... vão pegar sua sopa ou... o que estiverem comendo". Isso foi para os civis.
Quando ninguém se moveu, eu endureci a minha expressão e repeti minhas ordens,
mais alto. Medo brilhou nas faces dos cidadãos de Rowan, e eles entraram em ação.

Este pátio era enorme, e eu localizei um lugar desocupado, perto de alguns carros
que deviam ser as versões mais antigas. Fui até eles, seguindo Jasmine, e me sentei no
chão. Era um lugar estranho para uma rainha, eu sabia, mas eu queria descansar
enquanto aguardava Rurik. Além disso, ainda tinha que ficar de olho nesta situação
delicada e perigosa. A maior parte dos guardas estava aqui, e eu não acho que um
motim ainda estava fora de questão. As pessoas estavam em movimento após os meus
mandamentos, mas era mais para se reunir em grupos ansiosos e discutir o que havia
acontecido.

Jasmine suspirou e inclinou a cabeça para trás contra a parede. "Eu quero ir para
casa". Ela disse.

"Nós vamos. Tão logo Rurik chegar aqui, vamos voltar para o castelo e deixá-lo
para lidar com isso".

"Não". Sua voz era pequena. "A minha antiga casa. No mundo humano".

Eu virei para ela com espanto, arrastando o meu olhar de alguns camponeses que
foram pedir aos guardas para deixá-los saírem. "O quê? Mas você odeia isso, o mundo.
Você sempre disse que este é o lugar onde você se encaixa".

"É". Ela concordou. "Mas eu só quero... Eu quero ficar um tempo longe de tudo
isso. De magia. E castelos. E... o que quer que seja. Eu quero ver TV. Talvez eu queira

ver Wil. Eu quero carregar o meu iPod. E a minha lista de compras".

Não pude deixar de rir. "Eu meio que quero todas essas coisas também. Iremos
em breve. Vamos... Temos que cortar as correntes. Eu sinto muito, eu não tenho a
chave comigo".

Ela encolheu os ombros. "Está tudo bem".
"Kiyo vai ficar chateado com tudo isso". Murmurei, surpresa por estar confiando
nela.

"Você fez a coisa certa". Jasmine disse. "Quero dizer, exceto não matar Katrice e
Cassius. Mas você ainda pode fazer isso".

Qualquer sorriso residual deixado em meus lábios desapareceu. "Cassius..."

"Eles estavam mentindo". Ela disse sem rodeios. "Ele não fez nada".

"Jasmine..."

"Eu estou falando sério". Ela olhou para mim, seu olhar azul-cinzento em nível
constante. "Ele falou um monte de coisa, quando ele veio me ver... Tocou-me um
pouco. Mas foi isso. Acho que só queria me assustar".

Ela não entrou em detalhes sobre o toque. Eu não pedi. Eu estava aliviada que ela
não tinha sofrido o que eu sofri. "Sinto muito". Eu disse a ela. "Eu sinto muito por não
tê-la protegido direito".

Agora, ela sorriu. "Você fez bem. E, hey, você terminou a guerra, certo? Você
ganhou".

Afastei-me, olhando para o espaço. "Eu acho que eu sim".

Nós não conversamos muito depois disso. Eu estava cansada, exausta de toda a
magia. Aparentemente, usar um artefato antigo e poderoso não era tão fácil como
parecia. Nem estava provando o seu domínio sobre um grande pedaço de terra. Eu me
senti dizimada pela última vez, mas tinha saído da Terra Thorn o mais rápido possível.
Agora, sentada aqui, eu estava presa na Terra Rowan, ainda consciente de cada
sensação. Essa intensidade poderia desaparecer, tal como tinha acontecido com a Terra
Thorn, mas por agora, era como um martelo batendo dentro da minha cabeça,
exigindo atenção.

Eu praticamente voei para a porta quando Rurik chegou. Uma vez admitido, ele e
as forças por trás dele parou. Estudando a situação, ele teve uma reação semelhante à
de Volusian.

"Sério?"

"As coisas aconteceram como um tipo de jejum". Eu admiti.

"Foi bem feito. Possuir esta terra foi uma idéia muito melhor do que
simplesmente derrotar Katrice na batalha".

Eu fiz uma carranca. "Bem, você pode possuí-la agora?"

Ele sorriu. "Com prazer".

Se afastando de mim, ele fixou um olhar duro sobre aqueles recolhidos. "Vocês
agora são súditos da Rainha Eugenie, filha do Rei Tirigan Storm". Ele latiu. "Ajoelhem-
se".

Eu olhei imperiosamente como eles obedeceram. Eu sabia que isso era necessário
para estabelecer o nosso controle. Nenhuma fraqueza, nenhuma hesitação. Fomos
vencedores. Eu tinha conquistado a Coroa de Ferro, mas desejaria ter capturado minha
própria coroa. Ah, bem. Não era como se eu pudesse ter previsto isso quando vi a
embalagem.

Todo mundo no lugar caiu de joelhos, com a cabeça baixa. Nós os deixamos assim
por alguns segundos, enquanto meu estômago se afundou. Finalmente, eles foram
autorizados a subir, e Rurik falou no modo lei marcial completa, que exige uma
avaliação de todos os soldados e a emissão de regras para os funcionários e os
refugiados.

Ele tinha algumas tarefas para mim, mais ações que me fazia rainha, antes de
finalmente declarar que eu poderia sair.

"Eu vou resolver os problemas imediatos". Ele me disse em voz baixa. Meus
próprios soldados estavam agora fora de casa, estabelecendo a ordem. "Vamos
bloquear este lugar, começar a tomar as medidas imediatas na área, peneirando quem
se pode confiar". Fez uma pausa eloqüente. "Eu provavelmente terei que jogar uma
grande parte desses seus militares no calabouço".

"Faça o que tiver que fazer". Eu disse. Tive a sensação de que ele, eventualmente,
queria falar sobre execuções, mas estava se segurando agora. Imaginei que eu parecia
tão cansado como eu me sentia.

"E você simplesmente quer aprisionar a ex-rainha agora?" Ele perguntou.

"Por enquanto".

Jasmine zombou do meu lado, e a expressão de Rurik mostrou que ele
compartilhou da sua opinião.

"Bem, não fique longe muito tempo". Ele disse. "Você precisa fazer sua presença
ser sentida. E você precisa se conectar com a terra".

"Eu sei, eu sei". Eu resmunguei. Eu tinha evitado a Terra de Thorn antes, mas ela
se manteve me chamando de volta. "Eu sei como isso funciona".

Ele arqueou uma sobrancelha, com aquele sorriso sarcástico em seu rosto. "Você?
Você sabe o que aconteceu?"

Eu joguei minhas mãos, gesticulando em volta. "Fiquei presa com outro reino".

"Você sabe quantos outros monarcas controlam mais de um reino?"

Eu balancei minha cabeça, presumindo que quem fez deve viver longe de mim.

"Ninguém". Disse Rurik.

"Eu... O quê? Não". Dorian havia mencionado que conquistou mais de uma terra,

me fazendo pensar no que deveria acontecer agora e depois. O objetivo da Coroa de
Ferro, qual será o objetivo disso. "Deve haver alguma outra pessoa".

"Ninguém". Rurik repetiu. "Você é a única. A única em anos... bem, exceto pelo
Rei Storm".

O mundo oscilava em torno de mim novamente. Eu mais uma vez, só queria ir
para algum lugar e me deitar. Minha reação trouxe um grande sorriso ao rosto de Rurik,
mas eu jurava que havia um pouco de compaixão em seus olhos também.

"Parabéns". Ele disse. "Parabéns Eugenie -- rainha de Rowan e Thorn".

CAPÍTULO 19

DEMOROU ALGUM TEMPO ANTES DE KIYO, JASMINE E EU
podermos voltar a tucson. Tivemos que ir para a Terra de Thorn é claro, onde Shaya e
os outros me fizeram todos os tipos de perguntas sobre o que havia acontecido e o que
eu queria fazer. Kiyo, e até Jasmine, forneceram a maioria das respostas por mim,
porque, honestamente, eu não tinha certeza do que eu queria agora. A única coisa que
eu tinha a sensação real de querer fazer era exigência fundamental de Jasmine e
desbloquear suas correntes. Ela olhou para elas, e libertou as mãos interrogativamente,
acariciando seus pulsos. Eu quase deixei as correntes e a chave no castelo, mas logo
reconsiderei e as levei comigo para o mundo humano.

Ela nunca tinha visto antes a minha casa, e a encarou com aprovação quando
entramos. Tudo estava calmo, e a casa vazia me fez ficar confiante de que não
encontraria Tim e Lara enfurnados no meu quarto novamente. Evidências de seu
"amor", que ainda eram óbvias.

"Malditos". Eu disse, tirando cautelosamente um sutiã de renda vermelha do sofá
e o jogando para fundo do corredor, para o quarto de TIM. "Eu vou ter que desinfetar
esta coisa. Provavelmente, todas as outras peças do mobiliário do também".

"Você tem Pop-Tarts28!" Jasmine não tinha ido para a sala. Ela tinha parado na
cozinha, abrindo todas as gavetas e armários que ela encontrava. "E Apple Jack29!
Manteiga de amendoim, molho ranch30, e saltines31..."

28 http://graemethomasonline.com/wp-content/uploads/2010/05/poptart.jpg

29 http://trekmovie.com/images/st09/kelloggs/AppleJacks.jpg

30
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31
http://1.bp.blogspot.com/_xTBFpSCmrhQ/SxMbn6HwxFI/AAAAAAAAAkU/Pp1htBLYBz8/s4
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32 Uma tela (que registra ainda a grafia écran) é uma superfície esticada, feita com tecido
ou vidro, utilizada para cobrir
um vão ou projetar uma imagem sem impedir a passagem de
luz.(http://www.techpowerup.com/img/08-10-
24/p221w_rt_300_cmyk.jpg )

Fiquei abismada como este ultimo a excitou tanto, depois de alguns anos
comendo comida da nobreza, mesmo a cozinha do mundo humano era provavelmente
emocionante.

"Oh!" Exclamou. "Posso pegar um pouco de leite?"

"Claro. Pegue o que quiser".

Seus olhos estavam arregalados quando ela rasgou o pacote, e Kiyo e eu assistimos
ela com sorrisos em nossos rostos, como pais orgulhosos na manhã de Natal. Apesar de
não soar muito bem agora, Milky Ways era normalmente a minha escolha em barra de
chocolate. Do jeito que ela estava consumindo a barra, Jasmine parecia compartilhar
esse traço familiar. Ela terminou sua corrida do açúcar com uma lata de Coca-Cola e,
em seguida, se esticou no sofá. Pegando ansiosamente o controle remoto, eu decidi que
era melhor não mencionar as atividades amorosas que provavelmente havia ocorrido
quando ela não estava. Ela folheou os canais, espantada e continuou. Era o primeiro
entretenimento em anos, e as emoções em seu rosto eram transparentes, quando ela
sorria mostrando novas e antigas expressões.

"Você quer que eu encontre algo para você vestir?" Eu perguntei. Ela poderia ter
regredido facilmente para os comportamentos humanos, mas ela ainda usava um longo
e fluido vestido da nobreza.

"Claro". Ela disse, sem tirar os olhos do ecrã32.

Kiyo me seguiu para o meu quarto. "Você acha que ela está segura lá?" Ele
perguntou. "Sozinha?"

"Sim, está sim". Jasmine e eu não éramos do mesmo tamanho, mas eu encontrei
alguns shorts de amarrar que provavelmente se encaixariam. "Eu não sei por quê... Mas
eu sinto que eu posso confiar nela".

"Tenha cuidado". Ele advertiu, sentado na borda da cama. "Pelo que sabemos, ela
estava feliz em ser capturada e ter Cassius se atirando para ela".

"Ele não fez nada". Eu encontrei a menor T-shirt que eu poderia ter, sua largura
era mais fina do que eu.

"Assim diz ela".

Eu suspirei e o encarei. "Kiyo, você tem que confiar em mim. Eu não posso
explicar, mas ela está dizendo a verdade. Será que ela vai se transformar em uma
adolescente normal e esquecer sobre seus planos para ter o herdeiro do Rei Storm?
Improvável. Mas, por enquanto, ela está em estado de choque e não é perigosa".

"Se você pensa assim. Basta ter cuidado, Eugenie. Você foi enganada por pessoas
que você confiava antes".

"Surpresa, surpresa. Um ponto para Dorian". Cruzei os braços, segurando as
roupas no meu peito. "Em breve você me dará um sermão sobre a apreensão da Terra
de Rowan". Eu estava me preparando para isso desde que tudo aconteceu, mas durante
o controle de danos que se seguiu, ele tinha travado. Eu gostei disso, mas ainda temia o
inevitável.

"Na verdade". Ele disse, "não".
"Não?" Eu comecei a dar um passo em direção à porta e congelei.

Ele riu, mas não havia muito humor nele. "Não".

"Mas eu pensei... bem, depois da última vez... Você não ficou muito feliz sobre a
Terra de Thorn...".

Esse pequeno sorriso desapareceu. "Não. E não estou feliz com isso. Mas a
verdade é que você achou uma maneira relativamente sem sangue, para acabar com
tudo isso. Quando estávamos lá fora, você me perguntou qual outra solução poderia
consertar as coisas. Eu não tinha uma resposta. Você fez. Não é grande... Mas não
matou Katrice, ou aquelas outras pessoas. Não te capturaram". Ele deu de ombros.
"Não é o ideal, mas é melhor do que as alternativas".

Debrucei-me contra a parede, ainda chocada com a reação dele. "Se isso faz você
se sentir melhor, não é como se eu quisesse isso também. Eu queria entrar, pegar
Jasmine e sair".

Ele balançou a cabeça, mas não havia um olhar penetrante em seus olhos. "E ainda
assim, você trouxe a coroa". Eu não tinha mencionado, para ele, quando defini pela
primeira vez invadir a Terra de Rowan.

"Sua nota dizia que não acreditava o que eu tivesse feito isso! Eu estava esperando
que se deixasse isso passar poderia fazer algo para nos ajudar". Ele ficou em silêncio.
"Não olhe para mim assim! Você não pode acreditar que eu planejei usá-la".

"Eu acredito em você". Ele se aproximou de mim e descansou as mãos sobre meus
ombros. "E eu vou te ajudar em qualquer coisa que você precisar".

Algo dentro do meu peito balançou, e eu me inclinei para ele, levando em conta o
conforto do seu calor e a segurança que ele oferecia. "Obrigado. Eu definitivamente
vou precisar de você".

Kiyo deu um beijo na minha testa. "Estou aqui". Senti um pequeno sorriso puxar
meus lábios, apesar de, como o riso de antes, eu realmente não tinha achado a situação
engraçada.

"Eu suponho que se houver uma fresta de esperança aqui talvez eu possa fazer um
bom trabalho governando a terra de Rowan melhor que ela. Fazendo algum bem
maior".

Para minha surpresa, o seu aperto sobre mim enrijeceu, e ele recuou. O sorriso
que ele me ofereceu parecia duro. "Talvez".

Nós voltamos para Jasmine, que ainda estava fascinada com a TV. O único
reconhecimento que tivemos foi quando eu lhe entreguei as roupas, e ela as examinou.
"O que 'The Clash'33 quer dizer?"

33 The Clash foi uma banda inglesa de punk rock formada em 1976 como parte da primeira
onda do punk rock britânico.
Além do punk, experimentou outros gêneros musicais, como reggae, ska, dub, funk, rap e
rockabilly.
Eu ignorei a blasfêmia e o divertimento óbvio de Kiyo com a minha dor. "Se você
quiser tomar banho, tudo que você precisa está no banheiro. Toalhas, shampoo".

Isso também teve sua atenção. "Um chuveiro... oh, cara. Eu senti falta de
chuveiros".

"Será que vocês duas vão ficar bem?" Perguntou Kiyo, todos os sinais de seu
desconforto anterior desapareceram. "Eu preciso cuidar de algumas coisas".

Eu balancei a cabeça. "Nós estamos bem. Você vai voltar em breve?"

"Assim que eu puder". Ele me beijou novamente, desta vez em meus lábios. Devo
ter usado outra expressão de dor porque ele cobriu meu queixo, com seus olhos
marrons cheios de amor e compaixão. "Vai ficar tudo bem, Eugenie. Tudo vai ficar
bem".

Eu balancei a cabeça mais uma vez e o vi tristemente ir embora. Queria seus
braços em volta de mim de novo, para me abraçar e me tirar dessa bagunça. Uma
pequena parte de mim não queria armas, Dorian, ou o espírito de qualquer um. Eu me
sentei ao lado de Jasmine, cuja atenção estava de volta em algum reality show.

"Ele está correndo para Maiwenn, você sabe". Seu olhar não se mexeu. "Para
informá-la sobre o que aconteceu".

Minha ira começou a subir com a sua acusação, exceto... Eu tive uma sensação de
que ela estava certa. Mesmo que não houvesse mais romance entre eles, ele ainda era
dedicado a ela. Os recentes desenvolvimentos estavam revirando o Outromundo, e ela
desejaria saber a história, direto dele. Eu me perguntava como ela encararia isso, ela
sempre tinha temido que eu me tornasse como o meu pai.

"Provavelmente". Eu admiti. Esfreguei os olhos. "Deus, estou tão exausta. Sinto
que eu poderia cair".

Nesse momento Jasmine se virou para mim. Não era exatamente simpatia em seu
rosto, mas algo surpreendentemente próximo. "Não me diga. Você só roubou um reino
e assumiu o controle".

"Parece tão feio quando frase é colocada dessa maneira".

Ela encolheu os ombros e olhou para a TV. "Você provavelmente vai fazer um
trabalho melhor". Suas palavras ecoaram o meu comentário anterior para o Kiyo.
"Você sabe". Ela adicionou em tom de conversa "Todos falam como o nosso pai era um
bastardo, como se ele só quisesse mais poder. Quero dizer, ele era, mas você sabe o que
Aeson me disse? Ele disse que o Rei Storm estava sempre falando sobre como ele

poderia fazer um trabalho melhor, que os outros monarcas não eram tão bons. Ele dizia
que estava fazendo um favor ao povo".

Eu congelei, incapaz de responder. Foi por isso que Kiyo reagiu daquela forma
anteriormente. Ele tinha ouvido sobre as `boas intenções' do Rei Storm, eu percebi. Eu
expressava exatamente o sentimento igual ao do meu pai. Jasmine não notou o efeito
de suas palavras e pulou do sofá, me olhando rapidamente. "Ei, você acha que poderia
deixar Wil vir para cá? Eu quero vê-lo".
"Claro". Eu murmurei automaticamente. Minha mente ainda estava perdida com
suas palavras anteriores. "Claro".

Wil ficou surpreso ao ouvir minha voz na manhã seguinte, mais surpreso ainda
quando eu lhe disse o motivo pelo qual eu estava o chamando. Ele disse que chegaria
em cinco minutos. Jasmine havia pedido que ele viesse sozinho depois que eu
mencionei que ele agora tinha uma namorada. Ainda assim, ela estava curiosa. "Sério?
Como ela está?"

Lembrei-me de meu encontro com a namorada de Wil. Uma vez eu tinha banido
os monstros que viviam em sua casa, ela não parou de falar sobre conspiração, teorias e
como o governo encobria coisas. "Exatamente como ele", eu respondi a Jasmine.

O reencontro entre irmão e irmã foi estranho. Ficaram sem jeito, tanto olhando
um para o outro e avaliando todas as maneiras que eles tinham mudado. Então, sem
comunicação, eles se abraçaram. A face de Jasmine estava cheia de emoção, e pela
primeira vez, Will não parecia como o cara louco e paranóico que ele geralmente era.

"Você está bem?" Ele perguntou, com a voz trêmula. "Eu tive tantas saudades de
você".

Jasmine foi engolida naquele abraço, e eu tinha certeza que havia lágrimas em seus
olhos. "Eu... eu tive de você também." E era a verdade. Ela me disse uma vez que ela não
se preocupava com este mundo ou sobre o meio-irmão, que ela tinha deixado. Mas ela
se preocupava. Nesse tempo todo, apesar de seus planos de dominação do
Outromundo, ela sempre o amou.

As coisas foram ficando cada vez mais bizarras quando se tornou óbvio que os
dois não sabiam muito bem o que fazer um com o outro. Wil não ia castigá-la pela sua
ausência, e por último, ela simplesmente me perguntou se ele podia ficar e assistir TV.
Acho que foi em parte porque ela proporcionou uma atividade concreta e em parte
porque ela se tornou obcecada em compensar o tempo perdido da TV.

Eu mantive minha distância, mas não consegui evitar um sentimento pequeno e
invejoso quando eles se sentaram no sofá. Jasmine inclinou a cabeça dela contra o
ombro do seu irmão mais velho e eu fiquei ciente do vazio na minha própria família. Eu
não tinha ouvido falar da minha mãe ou de Roland desde o que aconteceu com
Enrique. O mais próximo que eu tinha que qualquer ligação familiar eram os malditos

reinos que eu dominava. Assim como a Terra Thorn sempre me chamou, a Terra
Rowan agora também me chamava, convocando uma dor dentro de mim, que
praticamente me fazia sentir náuseas. Rurik tinha razão. Eu não seria capaz de ficar
longe. Mas as coisas importantes primeiro. Pensar em Enrique me lembrou de que ele
me devia uma atualização. Recuando para o meu quarto, eu disquei o seu número e
esperei que ele não demorasse a atender.

"Miss Markham". Ele disse depois de apenas um toque. O identificador de
chamadas não me deixou surpresa. "Sempre um prazer".

"Eu tenho certeza. Você está com algum caso agora?"

"Nenhum".

"Nenhum!" Eu exclamei. A irritação aumentou dentro de mim. Eu não estava lhe
pagando para se sentar e ficar parado, especialmente depois de ter chegado tão perto.

"Não". Ele disse alegremente. "Está fora das minhas mãos. Eu achei que eu
precisava sair, Deanna Jones provou que não sabe comprar armas. Pelo que ouvi, a
polícia está procurando direto o número da casa da Jones, para interrogá-la. Longe de
mim, ficar no caminho dos bons homens de azul".

Finalmente, uma boa notícia... Bem, pelo menos o caso estava progredindo. Não
seria fácil para Deanna saber a verdade sobre seu marido. "E as mulheres", disse. "Há
provavelmente mulheres de azul lá também".

"Se você pensa assim".

"Obrigado Enrique. Eu realmente aprecio isso. Eu honestamente não acho que
poderia ser feito".

"Não com todo esse lado emocional", ele disse, era essa forma que ele vivia. "Pelo
menos não até você se dar conta".

Nós desligamos. Com atitude ou não, Enrique tinha sido uma boa chamada por
parte de Roland... O que mais uma vez trouxe a tristeza do meu relacionamento com
meus pais. Bem. Nada que eu pudesse fazer, no momento, não com todos os meus
outros problemas. E de qualquer maneira, eu tinha uma ponta solta que poderia ser
embrulhada agora.

Pegando a minha varinha, eu fechei os olhos e lancei um feitiço simples de
convocação, chamando a Deanna. Eu não tinha controle sobre ela, mas ela tinha
respondido ao meu chamado antes, principalmente porque ela estava sempre
esperando por ele. Após vários minutos não houve resultados, eu desisti, infelizmente,
ela suspeitou e não veio porque ela já sabia a verdade. Tão ansiosa quanto ela tinha
estado por obter respostas, não teria me surpreendido se ela tivesse seguido Enrique,
enquanto ele trabalhava. Ela pode ter descoberto por si mesma o que o marido havia
feito. Se assim for, eu esperava que ela agora passasse para o outro mundo e buscasse a
paz, em vez de ficar inquieta e triste neste mundo. Como se não bastasse o sofrimento

que ela tinha passado aqui.

Eu tentei tão duramente quanto poderia nos dias seguintes ficar longe do
Outromundo. Wil visitava e via TV com Jasmine e eu comecei a fazer atividades
mundanas agradáveis, como assistir a filmes e a comprar roupas para ela. Tim e Lara
apareceram muitas vezes, ainda no auge de seu amor, e Kiyo retornava com relatórios
sobre o Outromundo, me tranqüilizando sobre o meu reino, a Terra Rowan estava
progredindo bem. E a noite ele veio até minha cama, e eu achei que o retorno de nossa
intensa vida sexual foi um longo caminho no sentido de tirar da minha mente a minha
longa lista de problemas.

Mas enfim, eu tinha que voltar. O chamado das minhas terras era muito forte, e
mesmo Kiyo admitiu que com as minhas frágeis realizações na Terra de Rowan, eu era
necessária para visitar e estar em contato com ela para reforçar a nossa ligação. Por esse
ponto, eu não precisava exortar. Meu corpo estava me dizendo isso. Eu ainda me sentia
fraca e drenada, meus sonhos eram assombrados por cactos e árvores de cereja. Levei
Jasmine comigo. Nosso relacionamento estava muito bom, mas não o suficiente para
eu deixá-la sozinha. Ela não quis ir para Rowan, mas, no entanto, insistiu que queria
ficar na Terra Thorn até meu retorno. Eu não tive nenhum problema com isso,
sabendo que ela estava segura lá. Kiyo ainda foi comigo, e Shaya nos pegou antes que
pudéssemos sair.

"Há algumas coisas que você provavelmente deve saber". Ela disse com
dificuldade. Seu nervosismo era provavelmente devido ao fato de que eu odiava ser
incomodada com o dia-a-dia de um reino, neste caso, os reinos. Algo sobre o medo nos
olhos dela me disse que ela também sabia que eu não gostaria de saber que ele tinha
para dizer.

Eu suspirei. "Vá em frente".

"Eu... eu ouvi sobre Rei Dorian um número de vezes".

Kiyo se mexeu desconfortavelmente perto de mim, e eu senti um formigamento
familiar de raiva correr pela minha espinha. Todas as memórias de Dorian, mentiras e
traições voltaram para mim. Doeu tanto e pior, porque no final, ele tinha conseguido
exatamente o que queria: a Coroa de Ferro fez o seu trabalho. Ele provavelmente
queria que eu tomasse ainda mais terras.

"O que ele quer?" Eu exigi. "A guerra acabou. Não temos mais uma parceria".

"Bem, é isso mesmo. Como vocês eram aliados na guerra, ele diz que merece
alguns dos despojos de sua vitória".

"Ele... o quê?" Minha fúria aumentou. "Ele não merece nada. Eu fui à única que
ganhou e usou a coroa".

Ele assentiu, ainda olhando como se desejasse estar em outro lugar. "Sim... mas ele
alega que ele foi o único que a enviou para obter a coroa. E que seus exércitos perderam
tantas vidas como o seu".

Esse último ponto me silenciou. Seus soldados lutaram com os meus. As famílias
de seu povo lamentaram as mortes, tanto quanto as minhas... E para quê? Para lutar
com uma estrangeira que não tinha nada a ver com eles, não realmente. Eu não devo
nada Dorian, ele estava certo, mas eu estava em débito com o seu povo. Quando eu não
respondi, Shaya continuou. "Alguns de seus soldados também estão ajudando a segurar
a Terra Rowan".

"Ah, eles estão?" É claro que Dorian iria mergulhar dentro "Eu nunca pedi isso".

Ela balançou a cabeça. "No entanto, você precisa dele. Muitos ainda estão tendo
dificuldades para aceitar suas regras. Há muito ressentimento fervendo. A violência não
eclodiu ainda, mas em grande parte devido à presença considerável de Rurik, que foi
enviado para manter o controle. Dorian está ajudando com isso".

Eu meditei com a Terra Thorn, logo que eu cheguei, o que me fez me sentir um
pouco melhor sobre as complicações, mas a pressão continuou e a política já estava me
drenando. Eu não vim para isso. "O que ele quer? Metade do reino?"

"Não. Comércio. Tributos. A Terra Rowan é uma grande produtora de alimentos,
e ele quer parte disso".

"Isso não soa tão ruim". Eu disse timidamente.
"Eu estou supondo que ele quer baixa nos preços", disse Kiyo, falando pela
primeira vez.

Shaya balançou a cabeça. "Ele quer. E ele tem direito a isso, de certa forma. Mas
suas demandas atuais são muito extremas e pode comprometer a economia da Terra
Rowan. Talvez isso não seja um problema. Tudo depende do que você deseja para
eles".

Eu pensei sobre os refugiados que estavam nas portas. O que eu quero para essas
pessoas? Eu queria que eles pudessem prosperar. Queria que as coisas voltassem ao
normal. "Você pode negociar com ele, para alguma coisa no meio disso?" Eu perguntei
a Shaya.

"Provavelmente".

"Então faça isso".

Ela inclinou a cabeça em reconhecimento, e eu sabia que ela já tinha sabia o que
iria ser feito. Ela estava simplesmente me lembrando das minhas dívidas como rainha,
atravessando os movimentos e lembrando a todos que, em último caso, eu ainda dava
as ordens por aqui. Quando Kiyo e eu finalmente chegamos a Terra Rowan, senti o
alívio da terra e fomos bem-vindos. Sua energia queimava em mim, me fortalecendo.
No castelo, vimos um pequeno sinal militar, mais só havia soldados meus e de Dorian.
Eles estavam estacionados em todo lugar, mantendo a ordem, Shaya havia me falado
sobre isso. Eles se curvaram quando me viram, suas ações foram seguidas pelos

cidadãos do reino. Só que, os sujeitos de Katrice não se curvaram em respeito, a
diferença era que havia medo nos olhos de alguns, confusão nos de outros, e uma
mostra evidente entre alguns poucos que suas ações foram forçadas.
Rurik ainda estava na residência, supervisionando pessoalmente a ocupação.
Senti-me segura com o seu controle e ouvi quando ele explicou o que precisava ser
feito em seguida. Eu entendia um pouco melhor agora do que quando Shaya explicou
confusamente sobre a economia, o ponto principal era que eu precisaria de um
representante aqui, e em breve. Escolher o pessoal, que seria um problema. Shaya era
uma em um milhão, mas ainda sim não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Vendo meu desespero, Rurik, hesitante, acrescentou que Dorian tinha oferecido as
pessoas para o trabalho. Minha expressão deu a Rurik tudo o que ele precisava.

A energia da Terra Rowan continuou a fluir em mim quando eu saí para a minha
sessão de meditação com ela. A meditação e a relação com a natureza eram
semelhantes as que eu tinha com a Terra Thorn, mas sentir o reino foi totalmente
diferente. A Terra Thorn era dura, cheia de vida, sim, mas as pessoas que viviam lá
lutaram ferozmente contra os elementos para a sua sobrevivência. A Terra Rowan era
mais suave, a vida explodia facilmente e irradiava através das suas muitas árvores e
plantas.

"Eugenie". Disse Kiyo, me seguindo para um pequeno jardim por trás do castelo.
"Olhe".

Fiz uma pausa e olhei para trás. Enquanto eu andava, flores se abriram, pequenas e
vermelhas espalhadas por toda a grama. Ajoelhei-me inalando o seu perfume
inebriante. "O que está acontecendo?"

"Você é a Rainha. Você está dando vida e energia para a terra".
Pensei em como estar aqui me fez sentir um pouco melhor. "Isso me fortalece...
mas isso não acontece na Terra Thorn. Eu não tenho esse tipo de efeito".

"Você acha?", Ele brincou, um sorriso malicioso no rosto. "Você faz chover...".

Uma lembrança me veio de quando a Terra Thorn ficou na seca. Durante a
conexão com a terra, eu tinha tido relações sexuais com Kiyo, e a energia dessa união
teve poderes sobre reino, quebrando o feitiço seco e enviando a chuva tão necessária,
que fez o povo e as plantas florescerem.

Eu sorri para ele. "Parece que não temos que nos preocupar com isso hoje. Esta
terra não precisa de muita ajuda".

Ele passou o braço em volta da minha cintura e me puxou para ele, com a voz
rouca. "Mas imagine os resultados se nós fizemos. Crédito extra".

Inclinando se para baixo, ele trouxe seus lábios para os meus, empurrando sua
língua em minha boca com uma paixão bruta. Senti meu corpo responder, e por um
momento, a oferta era tentadora. Imaginei como seria fazer amor entre todas as

hortaliças, aqui na luz do sol. Será que uma cama de flores vermelhas iria preencher o
solo abaixo de nós? Mais uma vez... Eu meio que queria saber, mas eu também não
estava confortável neste reino ainda. Eu não quis arriscar ser descoberta na minha vida
sexual, mesmo não sendo uma grande coisa para os gentry. Relutantemente, eu me
afastei dele.

"Outro dia".

Depois de mais alguns protestos, ele me deixou sair. Sentei-me no chão enquanto
esperava, fechando meus olhos e me abrindo para o mundo ao meu redor. Somos um,
eu assegurei a terra. Eu estou aqui. Senti sua resposta, senti o calor se espalhando
através de mim e perdi a noção do tempo. Quando terminei, fiquei surpresa com
quanto o sol tinha se movido através do céu. Kiyo estava sentado no chão com as
pernas cruzadas, sorrindo para mim quando ele me viu.

"Merda". Eu disse, dando um pulo. "Sinto muito. Eu não quis dizer para te fazer
esperar tanto tempo".

Ele estava tão bem. "Não é nenhum problema. Você precisava. Você precisava
muito". Eu sabia que ele estava certo. Eu estava mais fortalecida, e a terra se sentiu forte
e rejuvenescida. Depois de mais uma seleção com Rurik, Kiyo e eu voltamos para a
Terra Thorn. Aqui, ele se despediu de mim, mais uma vez para "cuidar de algumas
coisas". Ele me assegurou que ele estaria de volta em Tucson, logo que pudesse, mas eu
vi o olhar que Jasmine me deu quando ela ouviu. Eu podia adivinhar seus
pensamentos: mais relatórios para Maiwenn.

Jasmine estava impaciente para ir a Tucson, mas antes de sair, eu impulsivamente
parti sozinha para onde eu conversava com a Terra Thorn. Por ser uma parte distante,
era um dos meus lugares favoritos, à sombra de uma árvore algaroba. Seu perfume
rivalizava com o das flores de Rowan, que se situavam em torno dos cactos de todas as
formas e tamanhos, alguns deles pequenos e enrolados e outros, altos e agourentos
como sentinelas.
Quase todos eles estavam florescendo. Um arrepio percorreu minha espinha
enquanto eu olhava para as flores dos cactos. Elas formaram um perímetro de cores
brilhantes em torno de onde eu tinha estado meditando, com pétalas de todas as
formas e tamanhos. As flores eram lindas. Requintadas. E nenhuma delas tinha estado
lá antes.

CAPÍTULO 20

EU NÃO SABIA O QUE AS FLORES SIGNIFICAVAM. NADA DISSO
tinha acontecido quando eu meditava na Terra Thorn. Ao longo dos próximos dias, eu
apenas fiquei pensando sobre o que Rurik havia dito, que nenhum outro monarca,
salvo meu pai, tinha governado mais de um reino na historia recente. Tinha tomado
um grande poder e magia para eu poder exercer meu domínio sobre as terras... Elas
estavam alimentando isso de volta para mim em troca? Eu certamente me senti mais
forte com elas, mas eu nunca esperava qualquer tipo de manifestação física
inconsciente. O que mais eu era capaz de fazer? O que eu poderia mandar a terra fazer?

Eu não mencionei o assunto com ninguém, nem mesmo para Kiyo. Ele tinha visto
as flores vermelhas e apenas ignorado-as. Se eu dissesse a ele sobre a Terra Thorn, eu
temia que ele ficasse chateado com o pensamento da minha magia aumentando. Ele
aceitou relutantemente o que eu já possuía, mas ainda temia que me transformasse em
meu pai, não necessitaria nenhum herdeiro.

E embora eu me sentisse fisicamente melhor no Outromundo, eu fiquei fraca
novamente depois de um dia ou mais de volta a Tucson. Eu não mencionei isso a Kiyo
também, mas Jasmine estava ao redor o suficiente para perceber isso. "Elas estão
chamando por você novamente?" Ela perguntou no café da manhã um dia. Ela estava
devorando um Pop-Tarts, outro amor que, aparentemente, compartilhávamos. Eu
estava muito preocupada para ter apetite e simplesmente observei. "Você parece uma
porcaria".

"Eu não sei", Disse tamborilando meus dedos contra um copo de água. "Não há
procedentes para isso... Pelo menos não mais. Ninguém sabe o que esperar de mim
tendo dois reinos".

"Eu aposto que Dorian saberia".

Eu aposto que ele saberia também, mas balancei minha cabeça. "Ele não é
onisciente, não importa o quanto ele quer ser". Eu repliquei. "E eu terminei com ele".

"Tudo bem". Ela não lutou contra isso. Por um tempo, ela continuou dizendo que
eu tinha cometido um erro rompendo com Dorian, mas Kiyo vinha crescendo em seu
conceito. Eu ainda não tinha certeza se ela aprovava, mas pelo menos eu não tinha que
ouvir mais os conselhos adolescentes sobre minha vida amorosa. "Mas você tem que
voltar logo. Quero dizer, pense nisso. Você está comprometida com duas terras no
Outromundo. Não são as terras e o monarca um? Parte de você está lá. Faz todo
sentido você ter que estar lá em dobro".

Eu estremeci com a idéia, pois ela tinha estado em minha mente também. "Se eu
estivesse mais lá, estaria morando permanentemente".
Ela engoliu a última casca. "Você pode não ter uma escolha".

Seu tom superficial me irritou. "Sempre há uma escolha. Eu os governo. Eles não
governam a mim". Levantei-me abruptamente e fiquei brevemente tonta. Eu senti
como se as terras estivessem zombando de mim. Droga, eu pensei. Vocês não me
chamarão de volta tão rapidamente. Vou ficar neste mundo por um tempo. Vou ir e vir
quando eu quiser. "Eu só preciso parar de pensar sobre isso. Vou ver se a Lara
conseguiu algum trabalho".

"Sim". Disse Jasmine secamente. "Isso vai resolver tudo".

Lara tinha um trabalho para mim, vários na verdade. Mesmo ela vivendo com
Tim, em minha casa, ela ainda mantinha os arquivos meticulosos e pegava todas as
minhas ligações. Ela parecia desapontada que eu apenas aceitei um de sua lista
crescente de empregos, um pequeno: uma simples assombração que provavelmente
levaria cerca de cinco minutos. Ela não disse nada, mas eu sabia que ela se preocupava
que se eu não ganhasse nenhum dinheiro, ela também não ganharia. Assim, lembrando
do comentário de Enrique sobre a necessidade de ajuda, mas não ser capaz de confiar
em ninguém, eu dei a ela sua ficha com a sugestão de ela considerar trabalhar meio
período.

"Você está me despedindo?" Ela perguntou.

Eu sorri, enquanto reunia todas as minhas armas. "Não, mas eu quero que você
tenha um plano substituto no caso de ser".

Seus olhos arregalaram-se em alarme com a piada. Ou, eu de repente me
perguntei, era mesmo uma piada? Eu trouxe Jasmine comigo para o trabalho porque eu
ainda me sentia desconfortável deixando-a sozinha. Além disso, ela estava finalmente
começando seu abastecimento no mundo humano, e eu tinha o sentimento que sua
insistência em meu retorno para o Outromundo era parcialmente egoísta. Mais tarde,
depois que eu tinha terminado o trabalho, eu meio que lamentei trazer uma
testemunha.

"Uau". Ela disse enquanto voltávamos para casa. "Você teve o seu traseiro
chutado".

"Não tive".

"Demais".

Bem. Isso era como ter uma irmã. "Eu bani ele, não é? Você viu que ele foi para o
Submundo".

"Sim". Ela admitiu, "mas com certeza levou muito tempo. Eu senti como se eu
pudesse ter feito isso, e eu nunca bani nada antes".

Rangi meus dentes, contendo-me de comentar que eu ainda tinha suas correntes.
A coisa estava incomodando, eu tenho achado um saco. Eu não tinha estado em
nenhum perigo real... Não com um fantasma tão pequeno... Mas ele tinha me batido
bem mais do que deveria. Eu estava fora do meu jogo, um pouco mais lenta, um pouco
mais fraca. Eu saí com algumas contusões, e agora notei enquanto dirigíamos que meu
ombro coçava. Por um momento, eu pensei que o fantasma deve ter me batido lá, mas
não havia nenhuma dor. Os pontos. Eu quase tinha esquecido deles, agora que eles
finalmente tinham sido capazes de curar. Minha pele tinha provavelmente começado a
crescer sobre as linhas. Eu precisava deles fora.

Ninguém estava na minha casa, para meu grande desapontamento. Eu esperava
que Kiyo tivesse passado e pudesse retira-los. Tentando ser otimista, eu decidi que ele
estava puxando uma mudança no hospital veterinário e não estava com Maiwenn. Até
agora, eu não ouvi nenhuma palavra oficial dela sobre meu novo estado de rainha
dupla. Outros monarcas tinham ponderado, no entanto. Alguns tinham respondido
cumulando-me com presentes de congratulações e rebaixando-se. Outros tinham me
deixado saber, em uma maneira amável, sobre outros monarcas que faziam parceria
com monarcas com grandes exércitos. Acontece que todo mundo tinha medo da
Coroa de Ferro.

Eu liguei para o meu medico regular, na esperança de obter uma consulta esta
semana como substituta, no caso de Kiyo ficar ausente. Para minha agradável surpresa,
eles tinham tido um cancelamento naquela tarde e poderia retirar os pontos
imediatamente. Foi uma boa notícia para mim, mas um aborrecimento para Jasmine,
quem já estava confortável no sofá.

"Ah, vamos lá". Ela disse alongando-se. "Acabamos de chegar em casa. Você não
pode me deixar aqui? Prometo não conquistar o mundo ou ficar grávida enquanto você
estiver fora".

"Você sabe". Eu disse, "Lara e Tim faziam sexo exatamente onde você está
deitada". Ela deu um pulo. Meia hora depois, chegamos ao consultório do meu médico.

Eu deixei Jasmine na sala de espera, considerando-a segura suficiente com seu
Ipod e revistas durante os cinco minutos que levariam para remover meus pontos.
Talvez ela lesse alguns panfletos de contracepção para passar o tempo.

"Eles fizeram isso em um pronto socorro?". A médica perguntou quando eu entrei
em uma sala de exame e tinha tirado minha camiseta.

Eu estava vendo a Dra Moore por vários anos agora. Ela era agradável, uma
mulher em meados dos seus quarenta, que tinha, eventualmente, aprendido a não
perguntar muitas questões sobre minhas lesões. Ela pensou que eu era uma empreiteira
que praticava artes marciais nas horas vagas.

"Não exatamente". Eu disse. "Eu rasguei os que o pronto socorro fez, então, meu
namorado teve que refazê-los".

Ela pegou uma pinça e um minúsculo par de tesouras e inclinou-se. "Bem, seu
trabalho é limpo, e não infeccionou. Se eu tivesse visto isso quando aconteceu, eu teria
confinado você em sua cama. Eu teria pensado melhor antes de assumir que você
rasgasse estes rapidamente".

"Sim, eu realmente pulei sobre o outro médico".

Ela bufou uma pequena risada e começou a tirar os pontos. Eles picavam onde
eles puxavam a pele, mas sinceramente, não era nada comparado ao meu desgaste
normal.

"Aí está você", ela disse dando um passo atrás. "Terá uma cicatriz".
Coloquei minha camiseta de novo e a encarei. "Troféu da batalha".

Ela revirou os olhos, encostando-se à parede com os braços cruzados. "Você não
deveria brincar com isso".

"Desculpe". Peguei minha bolsa, mas sua expressão dizia que não tínhamos
terminado.

"Eugenie... Não quero fazer muitas perguntas, não mais do que eu preciso para
tratar você, mas estou preocupada com a freqüência que você vem com estes tipos de
lesões".

Se ela soubesse quantas. "Eu..."

"Não, não", ela interrompeu. "Eu não preciso saber todos os detalhes de sua vida.
Eu tento não julgar, mas você pode precisar. Há empregos lá fora que são de natureza
física. Assim é a vida. Mas o que seja que você esteja fazendo... Talvez você deva
reavaliar isso. Para ser franca, você está horrível hoje".

"Oh, isso". Merda. Eu dificilmente poderia explicar que eram resíduos dos efeitos
colaterais de uma batalha mágica no Outromundo, durante a qual eu lutei pelo
domínio de um Reino de fadas e tornei-me sua nova mestra, duplicando assim o meu
reinado. "Estou só, uh, abatida com alguma coisa. Apenas um pouco cansada, você
sabe".

Ela arqueou suas sobrancelhas.

Merda dupla.

"Então vamos fazer alguns testes de sangue e urina rapidamente". Ela disse
endireitando-se. "Verificar seus eletrólitos, tireóide..."

Eu gaguejei uma desculpa. Eu nunca estive confortável com estes tipos de testes
desde que descobri que tinha sangue gentry. Eu tinha certeza que a medicina humana
não poderia detectar esse tipo de coisa, mas não queria correr nenhum risco. "Eu não
tenho tempo. Minha irmã está me esperando no saguão".

"Tenho certeza que ela está bem". Disse a Dra Moore. "Isso vai levar cinco
minutos".

"Tudo bem". Sentei-me à mesa derrotada. "Mas você pode mandar alguém para se
certificar de que ela ainda está lá fora? Ela é mal-humorada".

A enfermeira da Dra Moore voltou para me levar até o banheiro e depois extraiu
sangue quando eu voltei. Ela estava no meio de me dizer que eles enviariam os testes a
um laboratório, quando a Dra Moore enfiou sua cabeça dentro. "Podemos conversar
um momento?" Ela perguntou.

A enfermeira discretamente nos deixou, e, uma vez que estávamos sozinhas, me
concentrei para outra palestra sobre meu estilo de vida. "Eu realmente tenho que voltar
para minha irmã", eu disse a ela. "Você não sabe do que ela é capaz".

"Eugenie". A voz da Dra Moore foi gentil, mas firme. "A maioria destes testes
temos que esperar, mas alguns que fazemos aqui com urina".
"E?"

"Você está grávida"

Eu pensei nisso por um momento e em seguida eu informei a ela. "Não, eu não
estou".

Aquelas sobrancelhas levantaram novamente. "O teste deu positivo. Agora, não
podemos dizer o quão longe está apenas de um teste de urina, mas com base...".

"Seu teste está errado!" Saltei da mesa. Meu mundo estava começando a enrolar
de novo. "Eu não posso estar grávida!"

Para seu crédito, ela aceitou minha explosão calmamente, mas que era
provavelmente parte do seu treinamento.

"O teste é muito preciso, e isso explicaria por que você não está se sentindo bem".

"Não posso estar grávida". Eu repeti determinada. Houve um erro aqui. Um
terrível, terrível erro, e ela precisava entender isso. Até que ela fizesse eu me recusava a
processar o que ela estava dizendo. "Eu tomo minhas pílulas anticoncepcionais. Todo
dia. Mesmo horário. Assim como era suposto. Eu não vou mentir: eu faço coisas
estúpidas o tempo todo. Mas não com pílulas. Eu tomo-os perfeitamente. Eu fiz com os
antibióticos também. Eu me descuidei com os pontos, mas não com prescrições".

Aquela expressão calma mudou para surpresa. "Antibióticos? Quando foi que
tomou antibióticos?"

Eu apontei para meu ombro. "Quando eu fiz isso. O médico do pronto socorro
me deu uma receita". Eu franzi as sobrancelhas. "O quê? Por que você está me olhando
assim? Eu disse a você: eu tomei-os corretamente, todos eles".

"Antibióticos podem anular anticoncepcionais", ela disse. "Você não sabia disso?"

"Eu... O quê? Não. Isto não é... Não". Um erro. Um terrível, terrível erro.

"Mulheres que tomam ambos precisam usar alguma outra forma de contracepção
até os antibióticos seguirem o seu rumo".

Uma terrível sensação de frio começou a se espalhar sobre mim. "Como eu iria
saber disso?" Eu perguntei em voz baixa.

"O farmacêutico deve ter dito a você quando você começou os antibióticos. A
interação deveria ter aparecido em seus registros".

Lembrei-me daquela noite, como minha mãe e eu tínhamos parado no local mais
próximo do hospital. "Eu não fui para minha farmácia usual..." E eu tinha saído de lá o
mais rápido que pude, não me preocupando em falar ao farmacêutico porque eu tinha
tomado antibiótico muitas vezes na minha vida. Eu certamente não tinha me
preocupado com os folhetos inclusos.

Dra Moore parecia pensar que ela tinha chegado até mim. "Agora, podemos
descobrir o quão longe está sua gravidez, se você sabe quando foi seu último
período...".

"Não!" Eu exclamei. "Não, não, não. Eu não posso estar grávida. Você não
entende? Não posso estar. Eu não posso ter um bebê. Não posso!". Eu estava gritando
novamente e me perguntei se aquele lugar tinha segurança.

"Calma", Dra Moore disse. "Tudo vai ficar bem".

Não, não ficaria. Tudo não ficaria certo. Náusea brotou em mim, a náusea que eu
senti por semanas ou algo assim... E que não tinha nada a ver com herdar a Terra
Rowan. Depois de todo esse tempo, depois de todo planejamento e conversa sublime,
depois de todos os meus medos sobre Jasmine, foi eu. A medicina humana tinha me
ferrado. Não, eu tinha me ferrado mais. Eu tinha fodido tudo. O meu próprio descuido
tinha trazido isto. Tudo o que já tinham dito sobre a profecia do Rei Storm começou a
correr pela minha mente. De mim, do primeiro neto do Rei. Uma invasão do mundo
humano. Liderado por sua mãe. Dominação e sangue. E eu, eu estava trazendo isso...
Eu era o instrumento.

"Eugenie!" Dra Moore estava me sustentando, e eu tinha um sentimento que ela
tinha dito meu nome algumas vezes. Ela olhou para a porta e abriu sua boca, pronta
para chamar sua enfermeira.

"Não!" Eu agarrei em seu casaco branco. "Não. Ouça-me". Minha voz era rouca e
desesperada. "Eu não posso. Não posso ter um bebê. Você não entende?"

Ela me espreitou através de seus óculos, conscientemente sobre mim. "Então você
não precisa. Há opções...".

Você não pode ter um menino, uma voz interior me disse. E se for uma menina?
"Espere", eu a interrompi. "Quando você pode dizer o sexo?"

Isso ganhou um olhar chocado. "Você faria um aborto com base no sexo?"

"Eu, não, espere". Droga. Eu não conseguia pensar. Eu estava em pânico,
assustada e confusa. Eu precisava ter minha cabeça no lugar. O que eu fiz? Eu tinha que
me livrar deste bebê, simples e fácil. As pessoas faziam isso o tempo todo. Era fácil
nesses dias e idade, certo? "Eu quis dizer... Quanto tempo até que você possa dizer o
sexo e se... Se há alguma coisa errada". Eu procurava por algo razoável, algo que não me
faria parecer como uma mulher sem coração que mataria seu filho. "Você pode fazer
estes testes, certo? Como, teste genético? Eu... Eu tenho tanto medo de ter um bebê e
ter algo de errado. Minha família tem um histórico ruim. Meus primos tiveram bebês
com defeitos congênitos, e eu não posso... Eu não posso lidar com isso. Eu tenho que
saber. Eu tenho que saber... Agora mesmo... O mais cedo possível, porque, caso
contrário, eu vou...". As mentiras rolaram facilmente dos meus lábios. Qualquer coisa.
Qualquer coisa para saber o sexo.

Dra Moore me estudou novamente. Eu ainda soava dispersa e louca, eu sabia, mas
um pouco menos do que antes. "Quando foi sua última menstruação?" Ela perguntou
calmamente.

Virei-me para seu calendário na parede. Os números nadavam diante de mim.
Não conseguia me concentrar. Como inferno eu poderia me lembrar disso quando o
destino do mundo estava no caminho? Eu pensei sobre minha última menstruação e
tentei ligá-la a algum evento, algo que poderia disparar uma data. "Ali", eu indiquei.
"Começou no dia cinco".

Ela acenou, fazendo cálculos mentais. "Que se alinha com os antibióticos. Você
está quase ao longo de nove semanas, conforme a avaliação, embora tecnicamente
apenas sete desde a concepção".

Sete. Sete semanas.

"Você está quase no alcance para a biópsia de vilo coriônico34". Ela disse.
Coriônico o que? "Eles não gostam de fazê-lo a menos que seja necessário, no entanto.
Há riscos para o feto. Eles quase nunca fazem para alguém de sua idade, que está com
boa saúde...".

34 Período indicado para detectar possíveis distúrbios nos cromossomos, tais como a
Síndrome de Down.

"Mas isso pode me dizer?" Eu disse urgentemente. "Dizer o que preciso saber?"

"Pode lhe dizer muito. Nenhum teste pode dizer tudo, mas pode lhe dar paz de
espírito... Especialmente se você realmente tem um histórico familiar ruim".

Eu nunca tive. "Eu tenho", eu disse. "Por favor".

Eu segurei minha respiração sabendo que ela estava hesitando aqui. Finalmente
ela se virou para seu armário de arquivamento, vasculhando até que encontrou uma
forma de carbono. Ela rabiscou algo em caligrafia de médico sobre e me entregou.
"Aqui".

Era uma indicação a um escritório de OB-GIN35 perto. O formulário tinha meu
nome, algumas caixas marcadas, e algumas palavras ilegíveis. Eu compreendi CVS36 e
emergência. "Emergência?" Eu perguntei. Quer dizer, era, mas fiquei surpresa que ela
tinha marcado isso.

35 Obstetrícia e ginecologia

36 Centro de Vigilância Sanitária.

"Significa que você será agendada imediatamente. A maioria destes testes é
apoiada porque não são feitos tão cedo. Dê isso a minha enfermeira quando sair". Ela
estava escrevendo outra coisa enquanto falava. "Ela vai ligar pra eles e agendar, mas
você precisa estar ciente que eles podem recusar quando você estiver lá, com base em
seus julgamentos. Eu quis dizer: isso não é rotina".

Minhas próximas palavras foram hesitantes. "Então porque você está fazendo
isso?"

"Porque eu acredito que na gravidez, a saúde da mãe supera qualquer coisa".

Saúde da mãe. Eu não gosto de pensar em mim como mãe. Foda-se. Isso não
deveria ser um problema em questão. Deveríamos estar discutindo o aborto. Por que
eu me preocupo com o sexo? Eu não queria um bebê. Eu não estava pronta para um
bebê. Certamente não aquele quem iria cumprir uma profecia de conquistar o mundo.

"Nesse caso". Disse a Dra Moore. "Sua saúde mental é especialmente
preocupante. Que é o que este se destina". Ela me entregou outro pedaço de papel. Era
uma indicação para um psicólogo.

"Eu não preciso...".

"Eugenie, o choque sobre uma gravidez não planejada é normal. Esperado. Mas é
claro... Você tem questões muito sérias sobre isso".

Ela não tinha idéia.

"Tenho minha enfermeira para telefonar para o teste. Então agende você mesma
um terapeuta e um retorno comigo".

Não havia nenhuma maneira de dizer a ela que não tinha intenção de ir a uma
terapia. Eu não tinha nem mesmo certeza sobre o retorno. Mas eu tinha conseguido
algo, e eu sabia disso. Eu balancei a cabeça humildemente. "Obrigada". Saí antes que

ela pudesse mudar de idéia. O rosto de Jasmine estava cheio de irritação e impaciência
quando eu finalmente voltei.

"Isso durou uma eternidade". Ela disse arremessando uma revista para o lado.
"Quão profundo eram aqueles pontos?".

"Não tão profundo". Eu murmurei. Caminhei em direção ao meu carro em piloto
automático, ainda atordoada. "Ela estava preocupada sobre o quão cansada eu estava,
isso é tudo".

"Bem, você pode reparar isso quando voltarmos para o Outromundo".

Eu liguei o carro, olhando para o espaço por alguns pesados momentos enquanto
os números flutuavam em minha cabeça. Nove semanas, sete semanas. Dois dias. Esse
era o tempo até o meu teste. Dois dias. Eu me reconcentrei ao meu redor assim eu não
nos levaria a um acidente. "Nós não iremos ao Outro Mundo tão cedo", eu respondi.

Jasmine me atirou um olhar que claramente expressavam seus sentimentos sobre
isso, mas deve ter havido alguma coisa em meu próprio rosto que respondeu de volta
porque ela não lutou mais a questão.

Quando voltamos para casa, coloquei minha bolsa e documentos em meu quarto
antes da sessão com Jasmine em seu lugar habitual no sofá. A estúpida TV de repente
parecia uma ótima idéia, exceto, bem, ela não fazia um trabalho muito bom levando
minha mente longe dos problemas. Grávida. Conquistador dos mundos. Herdeiro do
Rei Storm. Eu. Era tudo em mim: o que tinha acontecido e o que estava por vir. Nós
não estávamos em casa por muito tempo quando Kiyo apareceu.

Ele me deu um sorriso alegre e usava seu casaco branco de trabalho, significando
que ele não deve ter estado aproximando-se de Maiwenn. Pequena benção. Seu sorriso
era suficiente para fazer Jasmine sorrir de volta, mas eu não poderia reunir um. Não
havia nada para sorrir agora. Nada de bom neste mundo. Não de bom no Outromundo
também. Ele se juntou a nós no sofá, esmagando-me entre ele e Jasmine e agarrou
minha mão.

"Ei, como você está?", Perguntou. Ele olhou para minha cara, mesmo que eu não
estivesse olhando enfaticamente para ele. "Você está bem?"
"Bem". Eu menti. "Cansada".

O primeiro neto do Rei Storm conquistará o mundo humano.

"Ela está assim o dia todo", disse Jasmine. "Ela precisa voltar para o Outromundo,
mas não quer".

"Isso é verdade?" Ele perguntou.

"Eu não acho que você tenha problemas com isso". Eu falei. "Você sempre quis
que eu ficasse longe".

"Sim, mas não se isto está afetando você assim. Você realmente parece doente,
Eug".

"Ela também foi espancada por um fantasma", disse Jasmine.

"Ei!" Eu a encarei. "Não fui".

Kiyo riu e me puxou perto. "Pare de jogar duro. Vá ao Outromundo amanhã. Eu
irei com você, assim não será tão ruim". Ele relaxou e houve uma finalização em sua voz
que eu não gostei. Eu não gostava de sua presunção. Eu também não estava
inteiramente certa que eu deva ir para o Outromundo, em sinal dos recentes
acontecimentos.

Flores. Flores por toda parte, em cada lugar que eu piso. Eu sou a terra, e a terra
sou eu. Onde eu trago vida, a terra faz também... Ou a morte. Eu poderia trazer a morte
também. Era minha escolha. Mais e mais. As palavras em minha cabeça eram tudo o
que eu ouvia. Eu não ouvi a TV, ou os comentários ocasionais de Jasmine e Kiyo. Eu
realmente não ouvi quando Kiyo disse que faria o jantar e foi deixar sua bolsa em meu
quarto. Mas eu ouvi quando ele veio furioso de volta para a sala, acenando meu
formulário de referência ao CVS no ar.

"Eugenie!" Sua voz era um rugido, que fez Jasmine encolher-se e arregalar seus
olhos. "Que diabos é isso?"

Eu olhei para ele calmamente, surpresa que eu poderia estar tão calma em face
daquele ultraje, especialmente após o abalo emocional que eu tinha passado todo o dia.
Meu próprio desespero e choque nunca tinham deixado, mas agora eu fui capaz de
empurrá-los e encontrar os olhos de Kiyo, enquanto eu me permiti finalmente
reconhecer o outro pensamento que tinha sido formado em minha mente. Porque
junto com as escolhas que eu tinha e as conseqüências que eu enfrentei, havia outra
questão a considerar. Eu olhei para os números. Para o calendário. Eu considerei as
datas, os antibióticos, o que tinha sido feito, ou talvez, mais importante, o que não
tinha sido feito. Era tudo muito claro. Não havia novela aqui. Nenhum mistério de talk-
show.

"Parabéns". Eu disse a Kiyo. "Você será papai. Novamente".

CAPÍTULO 21

POR ALGUNS MOMENTOS, FICAMOS CONGELADOS NO TEMPO. FOI
Jasmine que finalmente colocou as coisas em movimento novamente.
"Oh". Ela disse. "Uau".

Os punhos de Kiyo ficaram apertados, e por um segundo, eu temi que ele
amassasse ou rasgasse os formulários. Em vez disso, ele deixou cair no chão e caminhou
na minha direção, mais rapido e feroz como seu alto ego predatório. Senti a mudança
de Jasmine, ela chegou para, mas perto de mim.

"Você tem certeza?" Perguntou, com uma voz baixa e mortal.

"Sobre qual parte?" Eu rebati. "Que eu estou grávida? Ou que ele é seu?"

"Ambos".

Eu senti meus olhos se estreitarem e eu continuei me sentindo irritada e defensiva.
"Sim. Ambos".

Fez-se silêncio. Então:

"Quando você vai se livrar dele?". Ele questionou.

"Cristo. Você vai sempre direto ao ponto".

"Você sabe o ponto!" Exclamou. "Você sabe o que sempre foi! Você tem certeza?
Você está realmente grávida?"

Eu tinha feito as mesmas perguntas para o Dr. Moore e me encontrei repetindo a
sua resposta. "Sim. Os testes são muito precisos. Além disso, você acha que eu me
programei para isso?" Eu apontei para o encaminhamento caído no chão. Ele pode
trabalhar com animais, mas ele ainda sabe sobre testes de gravidez. Jasmine, no
entanto, não fez nada. Ela escapuliu, lhe dando um amplo espaço, e recuperou o papel.
"O que é um... coriônico...".

"É um teste para detectar defeitos," eu disse. Eu dei uma olhada Kiyo. "E o sexo".

"É um desperdício de tempo". Argumentou. Ele engoliu seco e tentou uma
conversa mais clara, mais razoável comigo. "Eugenie, você sabe o perigo. Você não

pode desperdiçar mais um dia. Se alguém no Outromundo descobrir...".

"Eu sei, eu sei! Você acha que eu sou idiota? Você acha que eu de alguma forma
esqueci as tentativas constantes de estupro, e o estupro real que e o sofri com base
nessa profecia? Porra, eu sei melhor do que ninguém o que isso significa! Mas eu não
posso, não posso fazer um aborto até eu saber o que é. Se for uma menina ou um
menino".

"E então o quê?" Ele perguntou. "Você vai mantê-lo se for uma menina? Você
sempre disse que não tinham certeza de que queria ter filhos".

"Eu ainda não tenho". Admiti, com a minha voz tremendo. Um bebê conquistador
do mundo, ou não, nunca tinha estado na minha agenda. "Mas eu tenho que saber".

Sua expressão escureceu, ficando sombria. "É melhor se você não saber. É melhor
manter anônimo de todos, melhor não pensar nisso como uma pessoa. Fique
ignorante. Basta fazer o aborto, é só isso".

Jasmine não se moveu de seu lugar, os olhos indo e voltando, enquanto observava
meu voleio verbal com Kiyo. "Puxa". Ela disse. "Você não parece muito preocupado
sobre matar a sua própria filha". Eu estava pensando a mesma coisa. Seu desligamento
frio me chocou.

Ele se encolheu e cerrou os dentes. "Eu nunca disse que eu não estou chateado".

"Mas você está apenas preocupado com o que isso irá significar para a profecia".
Eu apontei. O estudei com cuidado, pegando todas as suas reações. "Você não está
acreditando inteiramente que é seu".

"Você me culpa?" Ele perguntou.

"É seu". Eu disse com firmeza. A última vez que eu estive com o Dorian, tínhamos
feito sexo oral. Talvez eu não tivesse tomando as pílulas anticoncepcionais direito, mas
eu sabia quem era o pai. "Eu sei, sem dúvida".

Isso fez Kiyo fazer uma pausa, como se ele realmente tivesse verdadeiramente
refletindo sobre a realidade de perder seu filho. "Eu lhe disse: Nunca disse que eu não
estou chateado com isso. Mas temos que lidar com isso. Como você pôde deixar
acontecer?"

"Ah, legal", eu disse. "A culpa é minha. Se você estivesse tão afim de cautela, talvez
você não devesse te me fodido naquela gruta".

Os olhos de Jasmine se arregalaram.

"Ok, esqueça". Ele disse firmemente. "Esqueça o seu teste. Basta fazer o aborto,
enquanto ainda é fácil. Você não pode estar tão bem".

Eu atirei as mãos para cima. "Embora ainda seja mais fácil? Como você sabe! Não
é você que tem que passar por isso!"

"Por que você está lutando comigo sobre isso?" Ele exclamou, incrédulo. "Você
sempre disse que ia fazer isso. Você quer que a profecia se torne realidade? Você quer

ter um filho que traga os exércitos do Outromundo para conquistar e escravizar?"

"Claro que não! Você sabe disso".

"Então pare de perder tempo! Olha, se você está com medo de começar... você
não tem que fazê-lo aqui".

"Ah? Posso checar outra clínica de Planejamento Familiar?"

"Não". Ele disse cansadamente. "Mas há opções. Maiwenn poderia ajudar.
Juntamente com a cura, ela pode trabalhar todos os tipos de magia médica".

"Tenho certeza que ela pode". Eu não conseguia esconder a amargura na minha
voz. "E eu tenho certeza que ela ficaria mais que feliz".

"Eugenie".
"Olha". Eu interrompi. "Aqui é coisa. Eu não gosto da sua atitude. Eu não gosto
que você dite isso para mim como se eu fosse estúpida ou algo assim. Eu sei das
conseqüências, ok? E você sabe onde eu estou na profecia. Mas eu só tenho que saber
exatamente o que está em mim em primeiro lugar. Dois dias. Nós só temos que esperar
dois dias para o teste".

"E então, quanto tempo até que os resultados?", ele questionou. "Mais tempo
passa. Todo dia é perigoso".

"Mas e se for uma menina?" Isto veio de Jasmine. Ambos, Kiyo e eu viramos para
ela. "E se Eugenie puder tê-la? Você está sempre falando sobre como Luisa é
impressionante. Será que você não quer outro, especialmente com a sua namorada
atual?"

"Não é...". Kiyo terminou suas palavras e se virou para mim. Aqueles olhos escuros
me estudaram, e eu senti minha raiva se dispersar a medida que eu sentia o seu amor, e
sabia de tudo isso vinha do pânico, dos seus temores sobre a profecia finalmente se
tornando realidade. "Dois dias". Ele disse finalmente.

"Dois dias". Repeti. "E então eu vou fazer a coisa certa". Eu não tinha certeza de
que a "coisa certa" seria se eu tivesse uma menina, visto que a maternidade realmente
ainda não tinha sobressaído em mim. Mas isso não importa agora. O que importava era
que eu tinha uma escolha.

Então, de repente e sem aviso, Kiyo envolveu seus braços em volta de mim, me
esmagando contra seu peito. "Eu amo você". Ele disse, com voz trêmula. Foi a primeira
vez que ele falou aquelas palavras, uma vez ele quase tinha falado, quando voltamos, e
isso rasgou algo dentro de mim. "Mas eu só estou com medo".

"Eu sinto muito". Eu disse, sentindo as lágrimas encherem meus olhos. Fodidos
hormônios. "Tudo vai ficar bem".

Quando ele me soltou, eu finalmente compreendi que realmente Jasmine tinha
presenciado tudo isso. O fator dramático provavelmente não estava abaixo do que ela
poderia encontrar na TV. Seu rosto era uma máscara em branco agora, o que me

inquietava. O que ela estava pensando sobre tudo isso? Por muito tempo, ela quis ser a
única a ter o herdeiro. Supus que ela tinha tido tudo para fazer um aborto. No
entanto... Talvez ela tivesse tão interessada na profecia de nosso pai, que ela estaria
animada em cuidar do seu neto, e, além disso, ela poderia ter o poder com a gente.

"Eu preciso que você fique com Jasmine amanhã". Disse a Kiyo mais tarde,
quando estávamos deitados na cama. "Eu gostaria que ela não tivesse descoberto sobre
isso. Talvez eu esteja exagerando, mas eu estou preocupada que ela possa dar alguma
informação. Eu poderia chamar Volusian e o mandar ficar de olho neal... Eu geralmente
convoco ele para esse tipo de vigilância... Mas eu me sentiria melhor com você lá".

Kiyo desenhou as capas à nossa volta. "Aonde você vai?"

"Onde você acha?"

Ele gemeu. "Eugenie, você não pode voltar para lá, até essa confusão seja
resolvida. Se eles descobrem, se alguém descobre, bem... Todo o inferno vai cair, a
partir daqueles que estão a favor da profecia e os que estão contra ela".

"Eu preciso". Eu disse. "Eu percebo agora que a maior parte do meu ser doente é
por que... Bem, você sabe. Mas as terras estão me afetando muito. Eu apenas preciso
fazer um check-in". Não sessões de meditação mais completa, no entanto. Eu não poso
arriscar quaisquer sinais mais reveladores da minha gravidez a partir dessa intensa
comunhão. Eu tinha acabado de fazer o mínimo necessário. "E não só com a magia da
terra. Eu preciso manter um olho sobre a transição da Terra Rowan".

Eu temia a reação dele, especialmente depois de sua explosão anterior. Em vez
disso, ele deu um beijo nos meus lábios. "Tenha cuidado. Seja rápida".

"Eu vou". Joguei meus lábios para trás, o beijando com mais paixão. Mudei o meu
corpo para mais perto dele, envolvendo nossas pernas juntas. Eu estava aterrorizada
com o que estava acontecendo, aterrorizada com o que eu poderia estar carregando.
Mas agora, com Kiyo do meu lado, me senti segura. Gostaríamos de passar por isso
juntos, e de repente eu queria manter contato com ele e sentir seu amor ao meu redor.

Ele respondeu de imediato o beijo, uma de suas mãos jogou minha cabeça para
trás, a fim de consumir mais dos meus lábios. Sua outra mão agarrou o meu braço
superior, levemente, suas unhas arranhando a minha pele, uma luxúria animal começou
a assumir. Então, de repente, ele parou e se afastou.

"O que há de errado?" Eu perguntei. Comecei a dizer que ele não precisava se
preocupar, sobre eu ficar grávida, mas que parecia um tipo de piada inapropriada.

"Nada... estou só... eu só estou cansado". Ele me beijou novamente, mas desta vez
foi na minha bochecha. "Tem sido um longo dia. Só não essa noite... Mesmo, mas você
está muito sexy como sempre".

A leveza naquelas últimas palavras parecia forçada, e eu estava feliz que ele não
podia ver minha carranca na escuridão. Eu tinha acabado de ser rejeitada, por que... Por

quê? Fazer sexo durante a gravidez não era prejudicial. Eu estava repulsiva? Foi o
pensamento que eu estava carregando o herdeiro do Rei Storm que o fez desanimar?
Seja qual for à razão, eu não acreditava que ele "estava cansado." Nós tínhamos estado
pressionados a momentos atrás, e seu corpo tinha dado sinal de que queria tanto
quanto eu.

Uma noite sem sexo era o menor dos meus problemas e, embora nenhum de nós
falou, eu sabia que ele dormiu tão mal quanto eu. Nós virávamos na cama, os nossos
movimentos perturbavam um ao outro como as nossas preocupações individuais.
Ambos tinham os olhos vermelhos quando acordamos. Eu me dirigi para o
Outromundo, logo que foi possível, após o almoço, ou bem, depois que passou o
almoço para mim. Meu apetite ainda estava baixo. Jasmine não ficou feliz quando eu
lhe neguei o pedido para vir comigo, mas a presença de Kiyo e Volusian era muito forte
para ela se atrever a me enfrentar.

Senti a energia acolhedora da Terra Thorn quando atravessei, mas felizmente, ela
não revelou nada sobre meu estado maternal. Minha equipe também ficou feliz em me
ver, em especial Shaya, que parecia pensar que eu não ia mais voltar. Não era um medo
totalmente injustificado. Ela e eu nos sentamos sozinhas em uma das salas, enquanto
ela me atualizou sobre a situação.
"Rurik sente que a Terra Rowan está estável o suficiente para instalar um órgão do
governo. Há ainda alguma inquietação, e ela vai permanecer por um tempo, mas a
maioria tem aceitado as suas regras. É a maneira que as coisas estão. Ele também
sacrificou os militares de Rowan e sente que pode confiar em quem está à esquerda".

Eu tentei não fazer careta, não querendo saber o que seu "sacrifício" havia
implicado. "E Katrice e Cassius?"

Ela encolheu os ombros. "Ainda presos. Aguardando o seu veredicto".

"Eu realmente não quero fazer nada com eles", Admiti. "Eu não sei o que fazer
com eles".

"Honestamente? Com Katrice? Você poderia libertá-la, e isso não importaria.
Privar ela de sua terra. É a mesma coisa que tirar a sua razão de viver. Ela é inofensiva.
Sem esperança. Mas Cassius..." Shaya fez uma careta. "Ele é perigoso. Ele não pode
lutar com você pela a terra, mas ele tem poder suficiente para criar problemas. Dorian
já está escreveu, aconselhado a execução".

Eu zombei. "Tenho certeza que ele escreveu".

"Dorian também forneceu uma lista de pessoas que ele gostaria de ver instaladas
na Terra Rowan. Resolvemos dividir os recursos, mas ele acha que merece algum
controle por lá".

"Controle acionário? A terra Rowan não é um presente!" Exclamei. "Escreva para
ele e deixe claro, muito, muito claro que sua ajuda não é necessária ali. Eu não quero.

Ele não tem direito a ela. Diga a ele tudo isso".

Shaya hesitou, aflita e brincando com uma de suas tranças pretas. "Não importa o
quão diplomaticamente irei falar isso... Bem, o antagonismo ainda estará
completamente presente. Isto vai irritá-lo".

"Bom". Eu respondi. Dorian era um alvo seguro para as minhas emoções
produzidas no momento, e Deus sabia que eu precisava de algum tipo de tomada. "Ele
pode ficar com a raiva que quiser. Tenho certeza que ele não vai declarar guerra contra
mim".

Foi algo que eu descobri recentemente. Dorian tinha sido um defensor do uso da
Coroa de Ferro para assustar outros monarcas, mas isso já tinha passado, agora que não
estávamos mais juntos, ele tinha que perceber que ela poderia ser usada contra ele
também. Eu realmente não tinha que dar crédito para o seu `espólio de guerra' e sua
raiva. Isso tinha sido uma gentileza da minha parte, e ele sabia disso. Eu não tinha que
temer Dorian. Eu não precisava mais dele.

"Muito bem". Respondeu Shaya. Seu tom era obediente, mas eu sabia que ela
temia a carta. Ela nunca perdeu a sua devoção a ele, e eu a estava forçando a dividir sua
lealdade. "Mas nós precisamos de alguém para administrar a Terra Rowan... a menos
que você faça isso pessoalmente".

"Não". Eu disse rapidamente, não precisava de mais isso. Ela já sabia que eu não
tinha interessea. "Você tem alguém em mente?"
"Sim... Eu".

Eu não estava exatamente surpreendida por ela querer essa tarefa. Fiquei surpresa,
no entanto, que ela não parecia particularmente preocupada com isso. Talvez ela
gostasse de desafio. "Eu estou bem com isso". Eu disse. "O inferno, depois como você
cuidou daqui, eu sei que você pode manter Rowan em forma. Mas... quem vai cuidar
das coisas por aqui?"

"Eu estava pensando, Nia podia".

"Nia?" Eu perguntei, assustada. "Minha cabeleireira?"

Shaya me deu um sorriso torto. "O que você acha que ela faz quando você não
está por perto? Ela está me ajudando e aprendendo... Eu acho que ela faria isso muito
também. E haveria outros para ajudá-la, e, claro, ela sempre pode me contatar".

Ainda era uma escolha inesperada, mas Shaya parecia confiante. E, suponho, a
gente colocou a Terra Thorn em boa forma e ela agora está funcionado bastante bem.
"Ok". Eu disse no passado. "Vamos fazer isso acontecer. Quando você planeja colocar
em movimento?"

"Hoje". Ela disse. "Eu vou quando você for. Minhas coisas estão prontas".

Não pude deixar de rir. "Você sabia que eu concordaria. E você sabia que eu ia
recusar Dorian".
Shaya ficou séria, mas seus olhos brilharam. "Sim, Vossa Majestade".

Eu andei pela Terra Thorn antes de voltar, tempo suficiente para tranqüilizar à
terra que eu estava lá, e elevar o moral dos soldados que guardavam o meu castelo. Não
que eles precisassem. Fomos vitoriosos, e eles ainda estavam comemorando. Eu
coloquei a minha coroa de ouro para a viagem a Terra Rowan, e os meus homens me
olhavam com adoração, gritando vivas à sua coragem, a toda poderosa rainha. O que
fariam se soubessem? Eu me perguntava. O que eles fariam se eles soubessem que eu
estava carregando um guerreiro em potencial? De alguma forma, isso não era mistério.
Eles iriam aplaudir mais. Eles me adoram e se divertem com a possibilidade de alargar a
nossa terra.

Isso me deixou ansiosa para ir para a Terra Rowan, onde eu era temida e não
adorada. Claro, eu não sabia o que era melhor. Se essas pessoas soubessem que eu
estava carregando neto do rei Storm, seria simplesmente intensificador o seu medo e
iria convencê-los mais do que nunca que elas estavam sob o controle de uma rainha
tirana. Kiyo estava certo, eu percebi. Ninguém no Outromundo poderia saber sobre a
minha gravidez. Qualquer reação seria muito poderosa. Quanto antes eu saísse,
melhor.

Os soldados emprestados da Terra Thorn ainda eram a maioria da guarda no
antigo castelo de Katrice, e suas expressões se espelhavam as dos seus colegas que
estavam voltando para casa. Eu fiz o papel, sorrindo enquanto caminhava entre eles
com confiança, sem coragem de mostrar o medo e a insegurança que sentia. Como a
Terra Thorn, a energia da Terra de Rowan zumbia em torno de mim. Só eu sentia, é
claro, mas uma vez, quando eu parei e falei com um guarda durante vários minutos, eu
vi uma pequena flor vermelha crescer onde eu estava. Ninguém notou, e eu
rapidamente me dirigi para o castelo, pensando que nada poderia brotar em muros de
pedra.
Rurik nos cumprimentou feliz, já sabendo sobre a nova posição de Shaya. Quando
todos nos reunimos, vi flash de alguma coisa entre eles, algo que me surpreendeu.
Afeto. Mais do que carinho amigável. Foi então que eu também notei um bracelete que
Shaya usava, feito de esmeraldas e pérolas. Eu tinha visto isso antes. Girard tinha
estado trabalhando nele quando eu conheci Imanuelle. Era a peça que Rurik tinha
encomendado. Eu tentei não abrir a boca com a verdade que me atingiu. Shaya e Rurik.
Eles tinham um relacionamento em andamento, algum romance, provavelmente um
que vinha crescendo na minha frente que eu fui muito relapsa e não percebi. Era por
isso que ele não se importava em assumir a administração de um reino conquistado
através de meios pouco ortodoxos.

Ninguém mais pareceu notar ou talvez todos já sabiam sobre eles, mas como eu
estava lá, ouvi tudo mais, e senti uma pontada no meu peito. Era como Tim e Lara, e

não porque os dois casais estranhamente combinavam. Não, as semelhanças vieram e
era tão fácil para todos eles. Basta se apaixonar e ir com ele. Não tinha maquinações
políticas e motivações. Nenhum mundo que se alteraria por uma profecia que iria
estragar as coisas. Eu me separei de Dorian por causa das intrigas e com certa
quantidade de sofrimento, mas as coisas com Kiyo agora estavam irremediavelmente
alteradas. Não importa o quanto a minha gravidez tenha causado isso, mesmo que
tivesse um final tão feliz quanto poderia, eu sabia que as coisas entre mim e ele nunca
mais seriam as mesmas. Eu nunca iria ter um relacionamento fácil.

Enjôo brotou em mim, e eu não me incomodei tentando descobrir qual das
inúmeras razões poderia estar causando isso. Debrucei-me contra a parede, e Rurik
continuou falando sobre o posicionamento das tropas. Mesmo que não fizesse parte da
terra, o muro e a fundação do castelo tocou a terra, e eu senti a magia quente me
confortar. Eu tomei uma respiração profunda. Eu poderia fazer isso. Tudo ficaria bem,
como eu disse a Kiyo. Eu saberia o sexo do meu bebê em breve. Então eu saberia o que
fazer.

Minha intenção era de permanecer por mais tempo e ter a certeza que Shaya
resolveria tudo, mas eu logo decidi que precisava voltar. Os outros pareciam querer que
eu ficasse mais um pouco, mas eles também já sabiam do meu lado `humano' e como
eu me sentia. Eu assegurei a todos eles que eu tinha a maior fé neles, lembrei a Shaya
para repreender Dorian, e depois voltei para Tucson, logo que pude.

Quando cheguei em casa e analisei como eu estava me sentindo hoje, me ocorreu
que as transições de um mundo para o outro estavam me deixando doente.

A transição não era uma tarefa fácil, em geral, alguns não poderiam nem mesmo
fazê-la. Eu tinha ficado boa nisso, mas agora, ela tinha seu preço, mesmo com a ajuda
de um portal. Eu compreendia o suficiente sobre gravides para saber que estes
sintomas irritantes duram apenas um curto período de tempo, mas que não negava a
sua contrariedade. Eu não queria nada me atrasando. Eu não queria ser prejudicada.
Meu corpo estava se voltando contra mim, e Kiyo pedindo apenas para interromper a
gravidez começou a parecer como a melhor idéia. Quem fazia questão sobre o sexo? Eu
não estava preparada para isso.

Ele ficou aliviado a me ver mais cedo e me envolveu em outro grande abraço.
"Está tudo bem?" Ele perguntou com a voz baixa. "Ninguém ficou sabendo?"

Eu balancei minha cabeça. "Não. E eu não irei para lá até que... Até que isso seja
resolvido. Eu também estou começando a pensar...".

"O quê?" Ele solicitou.

"Que você estava certo. Que o sexo não importa. O teste está tão próximo,
embora... Eu ainda vou fazê-lo. Mas. Bem. Como eu disse, isso não importa".

O alívio inundou suas feições. "Estou contente, Eugenie. É a coisa certa a fazer".

Ele me abraçou de novo, e o abraço foi preenchido com mais intensidade. "Você pode
cancelar o teste".

"Não, eu vou fazê-lo. Especialmente depois que eu insisti com o médico".

"Eu queria ir com você". Ele disse melancolicamente. "Mas eu não tenho certeza
se posso. Estou trabalhando dois turnos seguidos".

Está? Ou você está correndo para Maiwenn?

"Está tudo bem". Eu disse. "Você não seria capaz de descobrir alguma coisa
naquele dia mesmo".

"Mas você vai me deixar saber o momento que você souber?" Ele perguntou, me
olhando com força.

"Claro, no momento".

Kiyo pode não ter sido capaz de ir comigo... Mas Jasmine ia.

Aparentemente, eu me disse que era porque ela não podia ficar sozinha. No
entanto, no fundo, quando eu realmente olhei para o meu coração, eu sabia a verdade.
Eu não queria passar por isso sozinha. Eu sabia o que o teste envolvia, e mesmo não
tendo as respostas hoje, ainda era um passo, para mais perto do que poderia ser um
grande evento.

"Você pode fazer isso, você sabe". Jasmine disse para mim.

Eu a deixei entrar na sala de exame comigo. Era mal iluminada pelo equipamento
de ultrassom, com o médico e a enfermeira que tinha saído para que eu pudesse me
trocar. Despir-me na frente de Jasmine parecia estranho, por isso fiquei de costas para
ela quando eu coloquei o vestido do hospital.

"Fazer o quê? Este teste?"

"Não. Quero dizer, sim, seja qual for, você vai ficar bem. Mas quero dizer, ter o
bebê. Seja o que for. Mesmo um menino. Você pode cumprir a profecia de nosso pai".
Houve um zelo na voz dela que eu não tinha ouvido por um tempo e um que eu
esperava ter ido embora.

Vestida, eu me virei. "Não. Isso está fora de questão. Se ele for um menino... bem,
eu não posso ter. Fim da história. Uma menina... Eu não sei. Eu provavelmente não vou
saber o que fazer. Eu não poderia ajudar, não saberia ser mãe: Além disso, eu pensei
que você queria ser a mãe do herdeiro".
Seu rosto era sério e mortal enquanto ela considerava as minhas palavras. "Eu sei.
Mas talvez eu não queira ser".

A equipe voltou e me deitei na mesa de exame, enquanto Jasmine recuou para um
canto. Apresentaram-se: Dr. Sartori e Veronica, a enfermeira. Eles explicaram o
procedimento para mim, embora eu já tivesse lido sobre ele várias vezes. O médico ia
usar uma agulha em mim para coletar as células e usaria ultrassom para guiá-lo. Ele fez
que eu entendesse o risco do tal teste. Uma pequena porcentagem de mulheres

abortaria. Secamente, eu lhe disse que estava disposta a aceitar isso.

Veronica levantou o vestido mostrando a minha barriga nua. Enquanto esfregava
gel nela, eu olhei para baixo pensativa. Honestamente? Ela não parecia diferente do que
sempre foi. Eu sempre fui magra, e com a minha falta de apetite, provavelmente eu não
estava ganhando muito peso. Se não fosse por meus sintomas e Dr. Moore como o
"teste é muito exato", eu nunca teria adivinhado o que estava dentro de mim. E o que
estava dentro de mim? Meu estômago assumiu uma fisionomia estranha, sinistra.
Novamente, tive aquela sensação de traição do meu corpo. Ele estava fazendo coisas
fora do meu controle.

"Tudo bem". Verônica disse, movendo o aparelho no meu estômago. "Vamos dar
uma olhada".

Tanto ela quanto o Dr. Sartori assistiram o monitor preto que tinha o meu nome,
aniversário, e algumas outras estatísticas, na parte inferior da tela. Quando o aparelho
fez contato, a tela piscou, mostrando a confusão indecifrável cinza e branco que eu
sempre vi quando as pessoas faziam ultrassom na TV. Isso poderia fazer nenhum
sentido e eu não vi nada parecido com um bebê, mas o som imediatamente
acompanhado de imagens, ruídos repetitivos balançando, uma espécie de ondas. Pelo
menos eu sabia o que aquilo significava.

"Essa é a batida do coração, não é?" Eu perguntei, um sentimento estranho
rastejando sobre mim. O batimento cardíaco. Coração de outra criatura dentro de
mim. O médico não respondeu imediatamente. Dr. Sartori franziu a testa,
curiosamente, e Veronica mudou a posição do aparelho para obter uma visão melhor.

"Huh". Disse o médico.

Duas possibilidades imediatas vieram a minha mente. Uma delas foi que o meu
sangue gentry se misturou com o sangue Kitsune de Kiyo e tivesse criado uma espécie
de monstro. O outro pensamento que de repente, ofereceu um mundo de segurança
era de que tinha havido um engano. O teste não foi preciso, e eu realmente não estava
grávida. "Não é o batimento cardíaco?"

"São gêmeos."

CAPÍTULO 22

NINGUÉM SABIA ME DIZER COMO AS COISAS HAVIAM FICADO TÃO
complicadas. Jasmine suspirou confirmando muitas das minhas realizações e
especulações. "Duas placentas". Verônica disse, pausou e digitou algo com uma mão
enquanto a outra ainda estava segurando o aparelho.

"O que... O que isso significa?" Eu perguntei.
"Isso significa que eles podem ser idênticos ou fraternais". Disse Dr. Sartori. "Uma
placenta seria idêntica, com certeza".

Engoli em seco. O ruído, aquele som ondulatório... Foi me afogando. Meu
batimento cardíaco, outra batida do coração, e outra ainda... Como era possível? Como
pode haver tanta vida em um corpo?

"Ainda é possível fazer o teste?" Eu gaguejei.

Dr. Sartori que estava segurando a agulha se moveu, mas seus olhos voltaram ao
monitor. "Eu posso... Mas não é recomendado nesta situação. Com gêmeos, os riscos
são maiores".

"Eu não me importo". Eu disse com firmeza. "Eu ainda quero. Tenho que saber.
Com a história da minha família...".

Orei para que ele não exigisse muitos detalhes além do que o Dra. Moore havia
enviado. Ele e Verônica discutiram algumas coisas, usando a língua de médicos37 que
eu não podia acompanhar. Ela usou aparelho para verificar todos os ângulos, fazendo
medições no seu computador quando ele ocasionalmente apontava alguns detalhes.

37 Termos técnicos, aquelas palavras complicadas que os médicos usam no hospital, que
agente quase sempre não
entende nada.

Finalmente, após mais um alerta contra o procedimento, ele concordou em fazê-
lo.

Doeu tanto quanto você esperaria que uma agulha gigante doeria ao espetar você.
Suas mãos eram sobre humanas e estáveis, enquanto seus olhos se mantinham firmes

ao monitor para que ele pudesse ver o progresso da agulha. Eu ainda não conseguia
entender muito as imagens, mas sabia que o desafio era espetar a placenta sem tocar no
feto. Placentas, no presente caso. Eles tiveram que arranjar outro kit de teste, utilizando
outra agulha, a fim de pegar a amostra de ambos os bebês.

Bebês.

Eu ainda não conseguia acreditar. Eles me ajudaram, quando terminou o exame, a
me levantar e Jasmine me ajudou com as instruções do pós-tratamento para reduzir
tanto o risco de eu me machucar acidentalmente, quanto o risco de aborto.

Será que isso importa? Eu pensei friamente. Um aborto levaria a decisão para
longe de mim. Ela estaria fora das minhas mãos. Por agora, um pequeno problema se
apresentou: voltar para casa. Fiquei com dores e não me sentia bem. Na verdade, eu
tinha sido aconselhada a não dirigir. Jasmine prestativamente se ofereceu.

"Eu sei que você não tem uma licença". Eu disse a ela. Estava encostada no meu
carro, o calor da luz do sol era bem-vindo.

"Não, mas eu posso dirigir. Vamos lá, não é tão longe. E você certamente não
pode. O que você quer fazer? Chamar Tim para ele saber o que está acontecendo?" Ela
desafiou.
Eu queria a minha mãe, eu percebi. Eu queria que a minha mãe viesse e me levasse
para sua casa. Eu queria que ela cuidasse de mim e falasse comigo como ela sempre
falou. Eu queria que ela consertasse tudo isso.

Eu pisquei rapidamente e virei minha cabeça, não querendo ver Jasmine sorrir.

"Tudo bem". Estendi as chaves. "Se conseguirmos chegar em casa, você terá que
tirar a sua licença".

Para seu crédito, ela dirigiu de forma responsável, e ela estava certa, não era longe.
Inclinei o meu banco para trás um pouco, querendo dormir pelos próximos dias ou
independentemente do tempo que levaria para sair os resultados. Eu não queria
suportar a espera. Eu não poderia suportar a espera. O silêncio do carro quase me fez
dormir até em Jasmine falou.

"Então". Ela disse, a questão com naturalidade. "Se eles forem meninos, você vai
fazer um aborto. Se eles forem meninas...".

"Então eu não sei". Eu não tinha percebido que eu tinha feito a minha decisão até
aquele momento. Quando eu ouvi os batimentos cardíacos... Bem, não importa se a
maternidade e as modificações corporais drásticas me assustam como o inferno. Se eu
tivesse duas filhas, alheias a qualquer profecia, eu as teria. Eu as teria. "Se eles forem
meninas, eu vou mantê-las".

Ela assentiu com a cabeça e não disse mais nada até que estávamos virando a
minha rua. Sinceramente, fiquei surpresa que ela esperou tanto tempo, porque eu já
sabia o que ela estava morrendo de vontade perguntar.

"Eugenie?"

"Sim,Jasmine?"

"O que você vai fazer se for um menino e uma menina?"

Eu olhei para frente da minha casa. De repente eu não queria dormir só nos
próximos dias. Eu queria dormir nos próximos nove meses. Ou sete meses. Ou algo
assim. Eu não queria responder a sua pergunta.

"Eu não poderia ter um filho". Disse no passado. "Você sabe disso. Isso é tudo que
existe pra mim".

CAPÍTULO 23

EU DECIDI QUE SERIA MELHOR NÃO MENCIONAR A COISA DOS
gêmeos para Kiyo. Já que eu estava tendo um momento difícil o bastante para
processar a notícia. Gêmeos.

Gêmeos?

Este era o último "quando chove, chove a cântaros". Eu tinha engravidado através
de descuido idiota, me colocando bem na linha da profecia que eu tentei evitar por
tanto tempo. E agora, quando eu tinha conseguido colocar tudo sob controle, fui
jogada em uma situação que eu nunca, nunca poderia ter previsto.
Kiyo estava certo. Eu deveria ter encerrado a gravidez no momento em que
descobri, antes que eu soubesse mais sobre ela. Ela estava se tornando real agora. Cada
detalhe que eu aprendia se tornava mais importante, dando mais vida ao que eu
carregava dentro de mim. Não é tarde demais. Você não tem que esperar pelos
resultados. Talvez seja melhor se você não souber.

Eu disse a Jasmine corajosamente que eu queria esperar que talvez os gêmeos
fossem meninas, mas a realidade era dura. Como eu poderia criar dois filhos? Eu não
sei se eu poderia lidar com um. Como eu poderia administrar a maternidade, quando
metade da minha vida era gasta no Outromundo? Como eu poderia até continuar
trabalhando? Eu poderia pagar uma babá ou pedir para alguém cuidar dos meus filhos,
como Tim ou minha mãe? Esta última me pareceu bastante improvável. E depois,
claro, fui confrontada com o maior problema mundano de todos.

Dinheiro.

"Você vai estar em sérios problemas se você não começar a trabalhar novamente, e
em breve". Lara me disse um dia depois que eu vim do médico. Ela passou a noite
novamente aqui e estava sentada na mesa da cozinha comigo. Na frente dela, um
laptop mostrou uma série de planilhas. "Você ainda está com tudo certo... mas isso não
vai durar. Parte do seu dinheiro vai para a conta comercial, uma conta que eu tenho

pagado. Os outros lucros vão para suas economias. O primeiro está funcionando muito
baixo... E se for esvaziado...".

"Vamos para a minha poupança". Eu terminei.

Ela assentiu com a cabeça. Seu rosto estava triste, muito longe da alegria que ela
tinha mostrado quando ela e Tim tinham tropeçado fora da cama esta manhã. A parte
amarga de mim pensou que talvez pudesse pegar um dinheiro extra, cobrando o
aluguel. Eu dispensei essa idéia, é claro. Nada disso era culpa dela.

"Eu sei que há coisas... acontecendo, Eugenie, mas porque você não começa a
pegar mais serviços? Você diminuiu a carga de trabalho que você tinha antes, e ainda
continuou tudo bem, mas agora... Não há quase nada. Suas economias não podem
resistir por muito mais tempo. E o que diabos Enrique anda fazendo que custou tanto
assim?"

Eu ignorei isso e simplesmente olhei para os números na tela, com o meu coração
afundando.

"Eu posso hipotecar a casa".

"O quê?" Sua boca ficou aberta. "Você arriscaria sua casa em vez de apenas pegar
mais trabalho?"

A terrível imagem veio à minha mente: eu, presa em algum pequeno apartamento
com dois bebês gritando. Fim, basta acabar com isso. "É apenas uma opção". Eu
apontei. "Uma rede de segurança. E por falar nisso... Você falou com o Enrique?"

Lara balançou a cabeça. "Eu falei. Vou fazer um pouco do trabalho administrativo
para ele".
"Bom". Uma coisa a menos para me sentir culpada. "Você vai ficar bem então".

"Isto não é sobre mim! Eu não entendo. Porque você não pode simplesmente
pegar dois trabalhos? Eu tenho alguns pedidos! Não são tão fáceis como o do fantasma
do outro dia".

Eu tentei esconder o meu desânimo com isso. "Eu não venho me sentindo bem,
isso é tudo. E isso é uma espécie de linha física de trabalho".

Os olhos azuis de Lara me examinaram por alguns segundos. "Então talvez você
precise começar a procurar outro emprego".

"Não!" Exclamei. "Isto é o que eu faço. É a única coisa que eu faço".

"Mas se você está doente...".

"Eu estou bem. Eu estou indo o médico amanhã e depois..." Eu hesitei. E depois?
"E então eu vou ficar bem. De volta ao trabalho. Tenho compromisso ao meio-dia,
assim, inferno, você pode programar alguma coisa no final da tarde. Encontre para mim
um troll ou um banshee."

Ela suspirou. "Eu não queria incomodá-la".

"Eu não estou chateada". Mas era uma mentira. Meu volume tinha aumentado
sem que eu percebesse, e eu me senti liberada.

Lara se levantou, fechando o laptop e pegou seu prato. "Basta, até você se sentir
melhor. Podemos falar sobre isso depois. Você precisa de uma carona ou qualquer
coisa amanhã?"

"Eu não estou tão doente". Eu disse a ela. E, claro, eu poderia ter sempre a minha
irmã para dirigir sem licença na adolescência. "Estaremos de volta aos negócios de
novo em breve, você vai ver".

Lara me deu um sorriso tenso, tentando esconder sua preocupação, mas não
conseguiu. Ela se afastou para o quarto de Tim, e Jasmine se sentou no sofá, onde tinha
ouvido tudo. "Essa é uma boa idéia, você sabe", ela disse. "Vendemos este lugar. Basta
morar no Outromundo".

Eu comecei a repreendê-la, mas fiz uma pausa. Era uma opção. Eu teria uma
creche no castelo e um conjunto de babás. Minhas filhas seriam tratadas como a
realeza. Elas eram livres. Mas, as levar para lá significava que provavelmente qualquer
humanidade que estivesse nelas seria perdida. Eles seriam gentry para todos os intentos
e propósitos. Era isso que eu queria? Isso já estava acontecendo comigo.

"Eles podem ser meninos". Eu lembrei Jasmine. "Então, de volta ao trabalho".

Kiyo me chamou naquela noite, querendo saber se eu já tinha descoberto alguma
coisa. Eu lhe disse que era cedo demais para os resultados, mas que eu ia deixá-lo saber
quando o médico me chamasse. Foi uma pequena mentira. Como eu falei para Lara, eu
estava voltando para o consultório para pegar os resultados. Gêmeos. Era uma gravidez
de alto risco, aparentemente, e quando entregam o resultado para a pessoa, eles pedem
para fazer outro ultrassom. Eu não queria Kiyo em torno de mim, obviamente, mas eu
não queria ter visto o espírito dele naquela noite. Eu queria o contato, o amor. Mais
importante, eu queria sentir como se ele não sentisse repulsa por mim no meu estado
atual.

Ao meio-dia do dia seguinte, fui como quem vai para seu próprio funeral. Minha
mente estava em branco, incapaz de se concentrar com nada, e provavelmente teria
sido mais seguro Jasmine dirigir. Ela veio junto, não tinha havido nenhuma discussão.
Nenhuma de nós falou quando o cd acabou, e eu podia ver que ela também estava
tensa. O que estava acontecendo iria ser grande.

"Logo", eu murmurei enquanto caminhávamos para dentro "Em breve isso vai
acabar, de uma forma ou de outra".

Ou não tão cedo.

O consultório era no corredor de atrás, e era como a continuação de uma piada
cósmica. Eu estava contando os segundos até este momento, e agora a espera era por
tempo indeterminado enquanto o Dr. Sartori pegou a sua programação. Na verdade,
eu nunca senti raiva de médicos quando eles demoravam a fazer alguma coisa. Achei

que só significava que eles estavam dando o tempo necessário para os cuidados de seus
pacientes. Talvez ele descobriu que uma mulher havia descoberto que ela estava tendo
um monstro que iria conquistar o mundo.

"Eugenie?" O som do meu nome me fez recuar. A enfermeira sorriu para mim
serenamente. "Estamos prontos para você".

Foi uma repetição da anterior, se transformando em um vestido e ficando na mesa
de exame. Então é isso. Dr. Sartori estava de volta, mas ele usou hoje uma assistente
diferente. Seu nome era Rute, e ela tinha um amável ar quase de avó que era
tranqüilizador. Como se ela talvez pudesse consertar tudo isso.

Dr. Sartori tinha um arquivo de documentos, começou a folhear quando Ruth
lubrificou o meu estômago. Novamente, eu olhava, ainda tendo um momento difícil
para acreditar que dois seres estavam vivendo aqui dentro.

"Bem", Disse ele. "Eu tenho uma boa notícia".

Jasmine fez um som que quase soava como uma risada. Uma amarga risada foi o
que pareceu. Como eu, ela sabia que havia pouco que ia ser bom aqui.

Na verdade, as coisas logo pioraram.

Uma batida soou na porta, e a enfermeira que eu tinha visto anteriormente enfiou
a cabeça dentro "Me desculpe interrompê-lo". Ela disse. Seus olhos caíram sobre mim.
"Há um homem aqui que diz ser seu namorado e que está atrasado para o exame".

Minha boca ficou seca. "Kiyo?" Eu consegui falar.

"É ele. Eu vou buscá-lo".

Ela tinha tomado a minha identificação do Kiyo como confirmação e aceitação.
Abri a boca para protestar, mas ela se foi. Eu comecei a dizer para parar, mas a essa
altura, Ruth tinha começado. A tela mostrou novamente os vultos, e o som dos rápidos
batimentos cardíacos encheram a sala.
"Lá estão eles". Disse Sartori. "Podemos esperar o seu namorado chegar para dar o
resultado".

"Não, nós..."

A enfermeira voltou com Kiyo, que foi todo encantador e sorriu quando se
apresentou. "Desculpe o atraso. Eu errei o horário. Lara me corrigiu".

Essa última parte foi para mim, e apesar da expressão agradável no seu rosto, eu vi
um olhar duro em seus olhos. Ele não gostou da decepção. Eu tinha escondido isso
dele, falando que ainda tinha que pegar o resultado.

Como ele me encontrou? Lara sabia a hora, mas não o lugar. Por um momento,
pensei Jasmine pudesse tê-lo feito, mas seu rosto apresentava choque e desconfiança
por sua chegada. Ela estava tão surpresa quanto eu. O encaminhamento, eu percebi.
Ele tinha lido isso antes e sabia quem era o médico.

"Bem, então", continuou o Dr. Sartori. "Agora que estamos todos aqui, podemos

superar tudo. Você pode ficar tranqüila sobre seu histórico familiar. Nenhum traço de
anormalidade em nenhum deles. Em ambos os testes dos fetos, a genética estava boa".

Era um sinal de controle de Kiyo sobre si mesmo, ele não disse uma palavra, mais
eu podia jurar que a palavra "ambos?" estava em seus lábios. Sua única reação que era
nítida para mim, sua crescente expressão ficou mais escura quando ele percebeu que eu
estava escondendo. O médico e a enfermeira estavam assistindo o monitor, de modo
que só Jasmine viu o que eu fiz.

"E você sabe... você sabe o sexo?" Eu perguntei.

Dr. Sartori assentiu. "Você realmente não pode vê-lo no ultrassom agora, mas
Ruth, dê um close, agora... é uma menina". Eu sorri ficando calma, e ainda... De alguma
forma, eu sabia que as palavras seguintes seriam quando Ruth mudou para o aparelho
para o outro lado. "E este é um menino".

Um silêncio frio e pesado caiu, e eu não podia acreditar que nenhum dos
funcionários do consultório notou a falta de alegria que aquela notícia estava
recebendo.

"Uma menina". Disse Kiyo. "E um menino".

Dr. Sartori assentiu com a cabeça, folheando algumas páginas. "Baseado no que
você nos disse e que podemos ver, estamos colocando a sua data de nascimento em
torno para o final de outubro. Embora, com os gêmeos, você está com um maior risco
de parto prematuro, por isso vamos te ver com mais freqüência do que em uma
gravidez normal. E enquanto este teste nos dá muita informação, mas não diz tudo,
então você vai ter que fazer outros em breve. Você não teve nenhuma dor desde o
CVS, não é? Qualquer reação?"

"Não". Eu disse categoricamente. Meus olhos estavam sobre essas imagens, o meu
mundo dominado pelos batimentos cardíacos.

"Ótimo. Você tem que ir com calma para evitar qualquer risco de aborto".
Ele falou sobre algumas questões mais, me disse quando deveria voltar, e depois
perguntou se tínhamos alguma dúvida. Eu e Kiyo estivemos pensando em pedir um
aborto, em seguida, e ali, mas ele ainda estava mordendo as suas palavras. Ia ser uma
conversa para mais tarde, eu sabia.

Ruth me limpou e, em seguida, se retirou com o médico. Ele gesticulou para Kiyo
ir junto com ele. "Está lotado", disse Sartori, bem-humorado. "Você pode ficar na sala
de espera para agendar a próxima consulta".

"Sim". Disse Kiyo, furando os olhos em mim. "Nós vamos conversar lá fora".

Forcei um sorriso triste, ansiosa e Jasmine virou para mim no segundo em que a
porta foi fechada. "Ele está chateado". Disse ela.

"Eu sei. Você não tem que me dizer".

Tirei minhas roupas, minhas pernas estavam pesadas. "Oh Deus. Eu não posso
acreditar que isso está acontecendo. Por quê? Por que eu desafiei as probabilidades?
Era uma em cada três a chance. Uma em três!" Minha voz estava ficando histérica,
enquanto eu pedia essa garota adolescente respostas. "Ambas meninas. Ambos
meninos. Ou era mais provável que isso. Por que não foi com um desses? Por que não
poderíamos fazer isso mais fácil?"

A face de Jasmine era solene. "Mas você pode fazer. Você disse que se fosse com
qualquer garota, você ainda teria um aborto. Você disse que iria fazê-lo". Houve um
desafio em sua voz.

Acabei ficando em silêncio, mas eu ainda podia ouvir as batidas do coração na
minha cabeça. Peguei os sapatos e olhei para longe dela. O monitor estava preto, eu
poderia fazer um aborto para garantir que a profecia não fosse cumprida, eu estaria
levando uma vida inocente. Minha filha, esse conceito ainda era louco para mim, não
tinha nenhuma parte no presente. Não era culpa dela, que seu irmão estava destinado
para o sangue e destruição. Realmente, era culpa dele mesmo? Não havia quase nada
para ele ainda. Apenas uma sombra. E num piscar de olhos poderia desaparecer. Como
você pode ditar o futuro de alguém que nem nasceu? Como você pode saber o que ele
irá virar? O futuro de alguém realmente estava gravado na pedra?

E como eu poderia ser a única a matar esse futuro? Como eu poderia silenciar
esses batimentos cardíacos? Qualquer um deles.

"Eugenie?" A voz de Jasmine estava confusa. "Você vai fazer isso, certo?"

Ergui os olhos dos meus pés. "Eu... Eu não sei".

"Você tem'".

Uma nova voz falou na sala. Minha pele se arrepiou e, de repente, Deanna se
materializou diante de nós. Eu pulei. Com tudo o que estava acontecendo na minha
vida, ela tinha ficado fora do meu radar. Eu a deixei nas mãos de Enrique e supus que
tudo tinha sido resolvido com ela quando ela não respondeu a minha convocação.

"Que diabos?" Exigi. "O que você está fazendo aqui?" Tanta coisa para ela seguir
em frente. Deanna olhou como sempre fazia, usando um olhar desolado que tantas
vezes os fantasmas tinham.

"Você tem". Ela repetiu, ignorando minhas perguntas. Sua expressão ficou mais
sombria. "Se você não se livrar de seus filhos, Kiyo vai te matar".

CAPÍTULO 24

"O QUÊ?" EXCLAMOU JASMINE.

Eu não partilhei da sua preocupação. "Dane-se. Eu deveria ter banido você a
primeira vez que te vi. Eu não tenho tempo para isso, não com tudo o que está
acontecendo. Você devia estar no submundo agora. Kiyo não vai me matar".

"Eu estou falando sério!" Deanna disse, tão frenética como um fantasma poderia
ser. "Você está em perigo!"

Eu balancei minha cabeça. "Olha, eu sinto muito sobre seu marido... realmente, eu
sinto. Mas nem todo indivíduo é homicida. Não transfira isso para mim".

"Eu não estou! Isso é real. Eu estava indo seguir em frente depois... Depois... Bem,
depois que meu marido foi preso..." Houve uma pausa triste. Sua história finalmente
chegou ao fim, mas não teve um final feliz. "Eu queria dizer um adeus formal e estava
procurando por você... Mas encontrei Kiyo em vez...".

Eu coloquei minhas mãos em meus quadris, desejando ter trazido a minha
varinha. Eu não precisava de um fantasma delirante, não com tudo agora. "E então ele
disse que ia me matar?"

"Não. Ele disse isso para a outra rainha, que ele poderia..." Isso cortou meu
comentário me deixando sem palavras por um momento.

"Que outra rainha?" Exigiu Jasmine.

"A loira. A Rainha Willow".

Jasmine e eu trocamos olhares. De repente, as declarações loucas de Deanna
haviam se tornado um pouco menos loucas.

"O que exatamente você ouviu?" Eu perguntei calma.

"Ele disse que você estava grávida e que ia fazer um aborto se fosse um menino

mas que ele estava preocupado. Ele estava preocupado porque vocês não tinham
conversado." Deanna olhou para trás e para frente entre os nossos rostos, desesperada
por qualquer uma de nós acreditar nela. "Ele disse que provavelmente foi apenas o
choque e que você vai' fazer a coisa certa ', mas que se você não... Bem, Maiwenn disse
que teria que te fazer perder o bebê. Ou... se isso não funcionar... que Kiyo iria matá-la".

"Isso é loucura", eu disse. "Kiyo não iria me matar".

"Kiyo não quer que a profecia se torne realidade". Jasmine disse. "Não é tão
insano".

Virei-me para ela. "Ele me ama. Toda essa idéia... É ridícula".
"Por que eu iria mentir?" Disse a cientista. "Você me ajudou. Eu estou ajudando
você, te avisando antes de avançar para o próximo mundo. Eu estou lhe dizendo, eu
ouvi. Kiyo jurou que faria, por que a profecia não poderia ser cumprida".

"Kiyo. Me. Ama".

"Dorian te ama muito". Destacou Jasmine. "E olha o que ele fez. Quando você
pensa sobre isso, Kiyo é do tipo que acha que uma perda trágica vale a pena para salvar
muitos. Ou algo estúpido como isso".

"Ele faria". Admitir isso me surpreendeu, e, no entanto... Com o significado das
palavras de Deanna, afundei mais e mais, me lembrando do meu primeiro encontro
com Kiyo. Ele me falou um monte de coisas sobre Maiwenn. Eles não sabiam que tipo
de pessoa que eu era, se eu queria cumprir a profecia ou não. Ele nunca disse isso
explicitamente, mas a minha impressão era de que ambos estavam dispostos a recorrer
a meios extremos para não deixar herdeiro do rei Storm de nascer. Nosso
relacionamento obviamente tinha mudado desde então, mas talvez... Talvez algumas
coisas não tinham...

"Mas ele não iria tão longe". Eu terminei.

"Você quer tomar essa chance?". Perguntou Jasmine suavemente. "Talvez ele
realmente não iria matá-la, mas você ouviu o que ele disse sobre Maiwenn, sobre
'abortos' mágicos".

O que Deanna tinha me contado? Kiyo e Maiwenn tinham planejado me fazer
interromper a gravidez se ela não agradasse a eles?

"Nós só precisamos conversar". Eu disse, esperando que as minhas palavras
soassem convincentes. Minhas próximas palavras me surpreenderam. "Em algum lugar
que eu saiba que estou segura".

"Kiyo está na sala de espera". Disse Jasmine, vendo que eu estava finalmente
levando isso a sério. "Este é um lugar seguro?"

"Provavelmente não". Eu tinha acabado de me vestir. "Deve haver uma porta nos
fundos. Há sempre uma porta nos fundos. Vamos... Nós vamos para casa. Vou buscar
as minhas armas, e depois vamos para o Outromundo. Ele e eu podemos falar sobre

isso razoavelmente na Terra Thorn. Eu vou estar segura lá".

"Você nunca vai chegar lá". Disse Deanne. Eu tinha praticamente esquecido dela.
"Ele pode segui-la. Assim que você sair daqui, ele vai saber e ir atrás de você".

"Como ele poderia...".

Eu toquei levemente meu braço, no local onde as unhas de Kiyo mal tinha
arranhado na outra noite. Eu tomei uma respiração profunda e agitada. "Ele me
marcou" Eu afirmei. Ele me arranhou na primeira noite que nos conhecemos, deixando
por um tempo uma ferida que lhe permitia me controlar para onde eu fosse. Esta era
menor, mas poderia funcionar muito bem.

Jasmine já estava se movendo em direção à porta, tão cheia de tensão e de efeito,
que ela parecia muito mais velha. "Vamos ir direto para o Outromundo, então. Você
estará segura lá. Onde está o portal mais próximo?"

Quebrei a cabeça, pensando em nosso local. "No Morriswood Park. Mais longe do
que eu gostaria".

"Bem, nós temos que ir em breve. Se ficarmos aqui por mais tempo, o doutor vai
vir perguntar o que está errado". Jasmine disse. "E não podemos deixar Kiyo nos
encontrar no estacionamento".

"Você nunca vai chegar no parque a tempo". Lamentou Deanna. Eu fiz uma
carranca, mas ela estava certa. Jasmine olhou para mim interrogativamente. Por um
momento, eu pensei em chamar Volusian, mas felizmente ele poderia matar Kiyo e
afirmaria que foi em minha defesa. Eu não estava preparada para isso.

"Eu sei onde podemos ir". Eu disse. "Vamos".

Saímos da sala de exame, saindo para o corredor. Virei-me com um sentido,
oposto a sala de espera nós entramos. Esta nos levou mais profundamente para dentro
da clínica, passado por mais salas de exame e seu laboratório. Um casal, membros da
equipe passou por nós, mas nós andamos com confiança suficiente para ninguém nos
parar. Eles provavelmente assumiram que estávamos indo para algum lugar. Enquanto
isso, meus olhos estavam em busca de algum um sinal de saída. Tinha que haver uma
porta dos fundos. Onde profissionais de saúde certamente hipócritas saiam para fumar.

"Ali".

Eu balancei a cabeça em direção a um sinal de saída, rezando para não nos levar a
uma porta corta-fogo, o que não seria de qualquer utilidade para nós. Não. Era apenas
uma porta comum, provavelmente usada para a manutenção ou transferências. Alguém
nos notou então e começou a perguntar o que estávamos fazendo, mas então, nós
estávamos fora, e atrás do edifício.

"Eugenie, para onde estamos indo?" Jasmine perguntou ansiosamente. Deanna
tinha desaparecido, talvez agora, finalmente, deixando este mundo após cumprir o que
ela acreditava que era o seu dever passado. À medida que caminhávamos rapidamente

em direção ao meu carro, uma parte de mim continuava querendo pensar que ela
tivesse mentido. Mas por quê? Como ela disse, ela não tinha nenhum motivo. Ela se
manteve fiel a mim antes.

E a cada segundo, eu ficava cada vez mais conflituosa, perguntando no que eu
deveria acreditar. Kiyo me amava. Ele tinha saído de seu caminho para ficar comigo...
Mas, ele estava firmemente confiante na proteção do mundo humano. A qualquer
custo? Nós veríamos. Deanna estava enganada, ela tinha que estar. Meu pior destino
seria, provavelmente, Kiyo me falando de morte.

Nós entramos no carro, e eu considerei brevemente tentar fazer uma pausa no
Morriswood Park e a sua porta para o outro mundo. Afinal, o que Kiyo estava
querendo fazer? Entrar em uma perseguição de alta velocidade com agente? A coisa
era, com essa marca, ele seria capaz de me acompanhar. Ele provavelmente poderia
sentir eu me afastando nesse momento. Se formos para perto do parque e ele poderia
descobrir. Ele vai tentar nos vencer lá, ou simplesmente nos pegar do outro lado. Não,
eu tinha que ir para outro lugar. Para algum lugar com a proteção. Para algum lugar que
eu poderia ter certeza que era seguro até que toda a loucura fosse resolvida.

A cara Jasmine cresceu, cada vez ficando mais conturbada quando fomos embora
do consultório do doutor. Ela ficava olhando para trás, como se esperasse ver Kiyo
atrás do nosso carro. Quando se transformou em um bairro suburbano, sua
preocupação passou para confusão.

"O que é isso?"

"Casa". Eu respondi, entrando na garagem de uma casa bem cuidada cercada por
árvores e flores. Uma cerca fechava o quintal, mas não conseguia esconder que alguém
tinha feito um esforço para transformar um quintal de Tucson em algo viçoso e verde.

O portão da cerca foi desbloqueado como se soubesse que eu viria. O estaleiro foi
desocupado, para salvar os pássaros e insetos. A porta da casa tinha o vidro aberto,
coberto apenas por uma tela que deixava entrar o ar da tarde. Ela também seria aberta.

"Kiyo realmente não vai fazer isso", Eu murmurei, quando abri a porta. "Talvez ele
esteja chateado... Mas nós podemos discutir sobre isso. Deanna exagerou. Estamos
exagerando".

Entramos na hora do almoço, na cozinha e adjacentes, um homem se virou. Meu
coração disparou quando o vi. O rosto, e o tipo familiar. Os cabelos grisalhos. As
tatuagens de verticilos e peixes. Parecia uma vida desde nosso último encontro.
Roland.

Eu tinha ido para a casa dos meus pais. A reação de Roland era a de um homem
que passou anos lutando e treinando, mas mesmo isso não o preparou para a visão de
nós. Espanto encheu seus olhos, rapidamente dando lugar à indignação.

"Eugenie! O que você está...".

"Pegue suas armas". Eu pedi, lançando um olhar inquieto atrás de mim. Jasmine
me seguiu, enquanto eu caminhava na direção dele. "Tudo o que tem na casa".

Ele não se moveu. "Você sabe que nós não estamos...".

"Pegue!" Exclamei. "Nós não temos tempo para isso!"

Eu não sei o que o olhar estava no meu rosto, mas foi o suficiente para perfurar as
paredes de mágoa e raiva que ele tinha construído entre nós desde a aprendizagem e do
meu envolvimento com o Outromundo. Eu tinha tomado um risco ao vir aqui, uma
aposta que não importa o que aconteceu, Roland iria me proteger. E eu estava certa.
Ele se transformou diante de meus olhos, de repente, virando padrasto que tinha me
dado carinho que eu considerava como pai.

"Qual é...".

Antes que ele pudesse terminar, o barulho mostrou que uma porta se abriu. Kiyo
estava ali, com a cara escura e tempestuosa.

"Que diabos você está fazendo?" Ele perguntou. "Por que você foi embora?

"Você primeiro". Eu disse, dando um passo para trás para Roland. "O que você
está fazendo?" Jasmine foi para o meu outro lado. Meus olhos estavam sobre Kiyo, mas
eu poderia sentir Roland se preparando para a batalha. Talvez ele não soubesse o que
estava acontecendo, mas qualquer um poderia ver o quão perigoso Kiyo era.

"Eu queria falar com você, e você sumiu!" Kiyo avançou um pouco, mas parou,
reconhecendo que Roland e eu éramos uma força, e sim, com Jasmine também do meu
lado.

"Falar? Se é tudo que você queria fazer?".

"Sim. Claro que sim". Kiyo olhou para todos nós. "Você prometeu, Eugenie. Você
prometeu que se fosse um menino, você iria se livrar dele".

"Há uma garota também!", Exclamei. "Você não pode se livrar de um sem o
outro".

"Não importa", Ele disse. "As conseqüências são muito grandes".

"Não posso matar um inocente. Ela não fez nada".

"Não diretamente. Deixá-la viva significa que ele vive. E não há nada de inocente
lá. Ele não pode viver. Eugenie, você sabe disso. Eu não estou tentando ser cruel. Por
favor. Faça o que é certo".

Jasmine e Roland permaneceram em silêncio como se este drama fosse alheio a
eles. Enquanto isso, eu percebi o quão doente era toda essa questão, ele queria se livrar
do menino. Ele não poderia viver.

"Você é tão rápido para matar seu próprio filho". Eu disse, incrédula, ecoando o
que Jasmine havia dito alguns dias antes. "Você não sente nenhum remorso? Você sabe
melhor do que eu como é ser pai!"

"Sim". Ele disse, cerrando os punhos. "Eu sei. E é surpreendente. Eu queria que
você soubesse como é...".

"Mas eu não posso? Eu não posso ter a mesma chance que você e Maiwenn
tiveram?"

Kiyo balançou a cabeça. "Você não é igual á Maiwenn. Você não pode ser nunca".

Foi como um soco no estomago. Eu estava atordoada, em silêncio, e um pouco de
sua ferocidade diminuiu. Eu acho que ele leu a minha reação como aceitação. "Olha, eu
não entendo isso". Ele falou. "Eu não entendo porque você está resistindo a tudo isso
depois do que você disse! Você nunca quis um bebê, qualquer bebê. Se você mudou
sua mente, então... Bem, tente novamente. Você não pode simplesmente tê-los".

"E então? Eu aborto e mato a menina também? Que tipo de um bastardo doente é
você?" Andei para frente, sem perceber, minha raiva explodindo. Roland colocou a mão
no meu braço, me puxando de volta. Não era carinho. Era um aviso. Era estratégia
defensiva, para nos manter juntos.

"Eu estou tentando proteger o mundo humano". Kiyo disse. Ele não tinha
chegado mais perto, mas ele estava pronto, como estávamos, seus reflexos ainda mais
rápidos. "E você deve também".
"E o que acontece se eu não fizer o que você quer?" Eu perguntei calma. Aqui
estava ele, o momento da verdade.

Ele suspirou. "Eu não quero chegar a isso".

"Chegar onde?" Minha voz se levantou agudamente, a angústia dentro de mim
prestes a explodir. "O que você vai fazer?"

"Vou levá-la para Maiwenn, pela força. E depois... E depois ela vai cuidar dele".

"A merda que você vai". Eu disse. Droga, gostaria de ter uma arma. Quase sempre
viajo com elas, mas não para o consultório médico. Com o canto dos meus olhos, eu vi
algo no balcão e enrolado em torno de algo. Uma varinha. Ele tinha sua varinha na
cozinha. Mas é claro que ele teria. Ao contrário de mim, ele não havia se descuidado.
"Eu nunca vou deixar isso acontecer. Vocês não vão fazer experimentos em mim!"

A face de Kiyo exibia uma mistura de emoções. Havia tristeza e decepção. Ele se
importava. Ele não queria essa luta entre nós, mas ele também acreditava no seu bem
maior. Ele acreditava que tinha de fazer alguma coisa para impedir a profecia, e eu sabia
que Deanna tinha falado a verdade. Idealmente, ele só não queria que a gravidez fosse
até o fim. Se isso não fosse possível, então era eu que precisava ser eliminada.

"Como você pode fazer isso?" Ele perguntou, sua voz tanto uma ameaça como um
fundamento. "Como você pode arriscar tudo isso só para salvar uma vida?"

Foi só nesse momento, quando as palavras deixaram meus lábios, que eu aprendi
uma verdade sobre mim, que eu estava segurando lá no fundo. A coisa de menina e
menino não importa. Apenas os batimentos cardíacos faziam, os minúsculos e rápidos
batimentos soando em meus ouvidos...

"Eu não estou". Eu disse a ele. "Estou salvando duas vidas".

Eu selei o meu destino com isso. Kiyo mudou tão rápido que eu não estava
preparada para o ataque. Ele pulou na minha direção, mudando de forma ficando em
sua gigante forma de raposa, com dentes, e rosnando. Uma rajada de vento o diminuiu,
mas não parou o seu salto, dando tempo suficiente para Roland me empurrar para fora
do caminho. A magia do vento não veio de mim. Tinha sido Jasmine, razão pela qual a
energia tinha sido fraca. Ela não estava acostumada a usar magia, ela estava ofegante,
mas tinha sido suficiente para nos comprar uma fuga breve.

Roland me puxou para fora da cozinha, nós tínhamos mais espaço de manobra na
sala de estar. Kiyo nos seguiu sem hesitação, usando brutalidade, força e velocidade.

"Ele pode ser banido". Eu disse ofegante para Roland. "Assim como um gentry."

Roland deu um aceno rápido de reconhecimento. Ele já sabia disso, mas com a
repentina rajada, ele não tinha o preparo necessário para fazer um banimento
completo. Kiyo chegou até nós, atirando-se sobre mim e me empurrando para longe de
Roland. Eu caí dura no chão, o peso de Kiyo me prendendo lá. Como rapidamente ele
virou raposa, ele transformou-se novamente em um homem. Ainda exibindo uma
velocidade incrível, ele me puxou pelo braço. Eu não sabia se as suas intenções eram
simplesmente me tirar da casa e levar para o carro, ou a tentativa de me levar para o
Outromundo em seguida, mas eu não lhe dei a chance. Eu recuperei meus sentidos e
tomei conta da minha magia. O ar ficou mais grosso, e uma rajada de vento digno de
um furacão o soprou para longe, juntamente com uma parte substancial do mobiliário
dos meus pais. Kiyo fez uma careta quando ele recuperou o equilíbrio e, agonizante,
deu um passo de cada vez para mim.

"Maldição!" Ele gritou por cima do rugido do vento. "Pare com isso!"

"Você que vai parar com isso!" Eu gritei de volta. A magia queimando em meu
sangue, e não importa o quão irritante a gravidez afetava, o meu poder não tinha
diminuído muito. "Nós nem sequer sabemos se essa profecia é real! Já conheci uma
falsa vidente. Poderia ser tudo por nada".

Roland e minha mãe tinham me dito uma vez que as profecias eram um centavo
de uma dúzia no Outromundo, e eu vi em certa medida. Até agora, eu nunca quis
aproveitar a oportunidade que a minha se tornasse realidade.

"Mas nós não sabemos!" Kiyo anulou. Eu podia ver a irritação em seu rosto. Eu
estava mantendo uma tempestade em torno de mim, enquanto esperava Roland
começar o banimento. "Nós não podemos arriscar. Por favor. Por favor, volte comigo
para Maiwenn. Nós vamos corrigir isso".

Eu não respondi e em vez disso continuei a tempestade. Meu olhar ficou em Kiyo,
mas eu sentia o formigamento da magia xamânica, magia humana começou como um
lampejo. Roland estava realmente realizando um feitiço de banimento.

Kiyo se transformou em uma raposa novamente, e com aquela força extra,
conseguiu vencer o escudo de tempestade em torno de mim e me fez cair no chão
novamente. Ele permaneceu como uma raposa desta vez, agarrada a força. Seus dentes
a poucos centímetros da minha camisa, e do meu ombro, e eu gritei de dor. Minha
magia vacilou, e para minha surpresa, ele começou a me arrastar lentamente por toda a
sala. Seu progresso foi interrompido quando uma pequena extremidade bateu em suas
costas. Eu lhe digo, essas coisas são letais. Instintivamente, ele se ergueu contra a sua
atacante: Jasmine. Ele a empurrou para longe, e ela cambaleou para trás. Rosnando,
Kiyo voltou para mim, e eu tinha a sensação desconfortável de que minhas chances
estavam ficando piores como se ele tivesse querendo me enfiar no carro ou
simplesmente me matar. Ele pode segurar os pensamentos humanos em forma de
raposa, quanto mais ele fica transformado, mas ele fica influenciado pelas as reações
dos animais.

De repente, ele olhou para longe de mim, os olhos de ouro em Roland, que estava
firmemente plantado em toda a sala com a varinha estendida. Eu senti o banimento
mais cedo por causa da minha formação. Agora, com a magia em pleno vigor, Kiyo
podia sentir isso também. Abandonando-me, e indo para a nova ameaça, Kiyo correu
em direção a Roland. Eu gritei em meio a todo o poder, o animal se chocou com o meu
padrasto, o prendendo contra a parede. A varinha voou de mão de Roland. O feitiço de
banimento se desintegrou.

Kiyo voltou para a forma humana de novo, ainda prendendo Roland. Roland era
forte, mas não conseguiu se igualar a força de Kiyo. Lutar era inútil.

"Pare com isso". Kiyo gritou. "Você tem que parar".

Seu braço apertou contra o pescoço de Roland. Roland conseguiu um suspiro
como o punho cortando o ar. Imediatamente, eu deixei a magia de tempestade ao meu
redor cair. Quando eu fiz, senti que Jasmine tinha emprestando a sua força para mim
sem eu sequer perceber. Ela também deixou o seu lugar e lutou para vir para onde eu
havia sido derrubada, chegando a ficar comigo mais uma vez. A sala ficou
estranhamente quieta.

"Deixe-o ir". Eu rosnei, me movendo ligeiramente para frente. Eu sabia que não
poderia vencer o Kiyo em uma luta física, mas eu também não podia deixá-lo fazer mal
a Roland. "Isso não é sobre ele. Não o machuque".

"Acredite em mim". Kiyo disse. "Eu não quero". Seus olhos eram escuros e
humanos novamente, mas ainda havia algum brilho feroz lá. "Venha comigo, e eu vou
libertá-lo".

"Vamos com você". Eu disse categoricamente. "Para Maiwenn, certo?"

"Você vai me agradecer depois". Kiyo disse.

Minha mente correu freneticamente. Roland estava lutando para respirar. Quanto

tempo ele tem? Será que Kiyo realmente iria matá-lo? Eu me perguntei se eu poderia
criar outra explosão de magia. Outro ataque de vento? Raio? Eu poderia criar um
parafuso dentro da sala e controlar, mas provavelmente iria matar os dois homens. E se
eu for com Kiyo... Deixar ele me levar para Maiwenn... bem. Não haveria a obtenção do
mesmo, sem escapatória.

Roland parecia prestes a desmaiar. Seus olhos azuis estavam fixos em mim e, em
seguida, rapidamente, ele olhou para os meus pés. Eu pensei que ele estivesse a ponto
de perder consciência, mas depois eu vi o fim em seus olhos. Sua varinha estava perto
dos meus pés, de fácil acesso. Eu não mostrei para Kiyo que eu tinha notado. Roland
voltou os olhos para mim, alguma mensagem lá.

"Por favor". Implorei, me perguntando freneticamente o que Roland queria que
eu fizesse. "Deixe-o ir". Eu não poderia atirar um feitiço de banimento. Não tinha
tempo suficiente. Kiyo liberaria Roland, é verdade, mas depois eu ia ser a pessoa
atacada novamente. Eu honestamente não sei por quanto tempo Kiyo iria jogar pelo
seguro. Ele estava tentando ser `razoável': forçar-me a ir para Maiwenn, chantagem
com Roland, e etc... Cedo ou tarde, se ele realmente acreditava que a profecia fosse
uma ameaça, ele simplesmente iria me eliminar.

Roland ainda estava olhando para mim, ainda querendo que eu fizesse algo que
ele achava que ia nos salvar. Ele me treinou. Certamente eu poderia descobrir. Eu tinha
que fazer. O que poderia fazer com uma varinha? Lançar feitiços. Banir criaturas, as
enviando para fora deste mundo...

Eu senti meus olhos se arregalarem. Eu sabia que ele estava me dizendo para fazer.
Fazê-lo iria salvá-lo, eu estava certa, porque Kiyo iria liberá-lo e ir depois de mim... Para
o Outromundo. Roland queria que eu abrisse um portal para mim. Eu poderia fazê-lo.
Era um feitiço rápido, que eu tinha o poder para fazer. Forçar outra pessoa a passar por
um portal aqui é o que levaria muito tempo e esforço. Mas abrir o portal e entrar nele?
Isso poderia ser feito rapidamente.

Se eu conseguisse fazer. Entrar seria fácil. Passar pelos mundos desassistida é que
seria difícil, e eu ainda tinha dificuldade de passar por portais, físicos, recentemente no
meu estado debilitado. Fazer uma transição, cega poderia até não ser possível para
mim. Eu tinha feito isso antes, e sabia que era necessário muita energia. Meu Deu seu
eu conseguisse ir, embora... Eu ia ficar longe de Kiyo, e Kiyo iria soltar Roland, a fim de
me perseguir no Outromundo. Isso poderia me comprar o tempo para fugir para a
segurança.

A única coisa que poderia tornar possível era que eu tinha âncoras no
Outromundo mundo para ajudar me puxar para dentro. Se eu pular sem um destino
sólido, eu poderia acabar presa entre os mundos, a minha essência iria se desintegrar. O
que ainda pode acontecer, seria uma âncora reduzir a probabilidade. Eu não sabia onde

eu estava em relação ao layout do Outromundo, a âncora mais próxima que poderia me
puxar, se isto funcionar.

Eu não tinha tempo para descobrir.

Com a velocidade que Kiyo usou, eu peguei a varinha e depois agarrei a mão de
Jasmine. Fazendo apenas a minha tarefa mais difícil, mas eu não iria deixá-la para Kiyo.
Com a varinha, convoquei a magia necessária e abri um portal para o Outromundo.
Kiyo percebeu o que estava acontecendo e libertou Roland, tentando me atingir, mas já
era tarde demais. Atirei-me na abertura, me agarrando a Jasmine, e soube que ia fechar
imediatamente atrás de nós, simplesmente porque eu não conseguia abrir e segurar um
portal pessoal por muito tempo.

Parecia tão doloroso como da última vez, como se eu estivesse batendo contra o
chão de um edifício. Baixo, baixo, baixo. Quebra, quebra, quebra. Cada camada era
mais angustiante do que a anterior, e com cada golpe, eu senti como se estivesse sendo
dilacerada. Era provável que eu tivesse sendo, e eu iria destruir Jasmine comigo,
rasgando nossas almas de nossos corpos.

Então, senti um puxão. Minha alma se virou para ele, e eu senti meu corpo se
quebrando, e até mesmo em queda livre, a sensação dolorosa continuou. Então, havia
apenas um impacto direto: um real. Jasmine e eu batemos em um chão de pedra dura.
Meu corpo gritava de dor. Uma dor física. Eu já estava doida de tanto lutar com o Kiyo,
e agora, pulando através dos mundos a dor tinha tomado novas proporções.

Náuseas brotaram em mim, e eu lutei muito para não vomitar. Eu podia ouvir
Jasmine choramingando, mas a visão em torno de nós era um borrão, a minha mente
desorientada tentou entender o que estava acontecendo. Finalmente, o mundo entrou
em foco, as cores e as formas se acentuaram, mais uma vez. Um fraco murmúrio de
magia no ar, que esteve sempre presente, me disse que eu tinha ido intacta para o
Outromundo. E Dorian estava olhando para mim.

CAPÍTULO 25

"OW".
Eu apertei meus olhos quando outra onda de náusea rolou através de mim. Controle,
controle. Algumas respirações profundas depois, abri os olhos e encontrei o olhar de
Dorian.

"Inesperado". Ele disse dessa sua forma seca. "E não desejado".

Sentei-me na base do seu trono na sala do banquete, que estava lotada. Deve ter
sido hora das refeições, mas ninguém estava prestando atenção ao alimento. Eles
estavam todos de pé, olhando para o entretenimento da noite que tinha literalmente
caido no meio deles. Eu olhei ao redor, perguntando como eu tinha sido atraído por
este local e, em seguida, encontrei -- o Slinky que eu tinha deixado aqui a minha
âncora. Isso uma vez tinha estado em seu próprio quarto pequeno, mas agora sentado
em uma mesa ao lado do trono de Dorian, uma que ele mantinha pequenos tesouros e
badulaques para diverti-lo enquanto explorava o tribunal. Estranha colocação.

Não houve tempo para ponderar, no entanto. Virei-me para Jasmine que parecia
tão desorientada e doente como eu me sentia, mas não pareceu ter sofrido nenhum
dano permanente. Seu corpo e alma estavam intactos, o que era o que contava. Eu olhei
para trás, para Dorian e tentei levantar, mas minhas pernas cederam abaixo de mim. Eu
comecei a cair e agarrei seu manto instintivamente. Jasmine, com uma velocidade
surpreendente, mudou-se para pegar meu braço e me firmar.

"Hospitalidade". Eu disse ofegante. "Por favor".

O comentário indesejado de Dorian foi um lembrete de que eu atualmente não
tinha a hospitalidade e que eu estava tecnicamente invadindo e totalmente vulnerável
aos ataques dentro de suas paredes. No entanto, o fato de eu já não ter sido removida
era um bom sinal, e embora a sua expressão mais ou menos se manteve inalterada,
houve uma centelha de curiosidade nos olhos. Ele não podia ignorar-me de joelhos,

implorando-lhe proteção. Ainda não. Não importava o quanto ele estava com raiva de
mim, esse tipo de novidade era demasiado irresistível para a sua natureza.

Ele começou a falar, sem dúvida com alguma espirituosa piada pronta, mas foi
interrompido quando Jasmine o agarrou e acrescentou seus apelos ao meu.

"Por favor. Dê-nos a sua proteção. Depressa!"

Dorian franziu a testa, já não conseguindo esconder a sua curiosidade e surpresa.
"As filhas do Rei Storm, estão implorando por ajuda depois de uma deixar bem claro
que não queria me ver novamente. Diga-me porque eu não deveria tê-la jogada para
fora ou prendê-la." Fez uma pausa, pensativo. "Ou pedir resgate de volta ao seu próprio
povo. Um bom lucro, eu imagino".

"Dorian..." Eu comecei.

De repente, houve um tumulto na entrada do salão. Um grupo de guardas de
Dorian apareceu --com Kiyo entre eles. Não me surpreendeu que ele aparecesse tão
rapidamente. Minha marca teria o levado direto para mim, e enquanto ele não poderia
ir diretamente para o castelo de Dorian, ele provavelmente atravessaram em frente dos
portões.

"Senhor". Disse um dos guardas. "Ele procurou entrar...".

Kiyo usou aquela feroz expressão, e ninguém naquela sala poderia ter qualquer
dúvida de que ele estava lá pronto para a batalha. Os guardas de Dorian certamente o
tinha pegado, e eles cerraram fileiras enquanto caminhavam para a frente. Eu tive um
sentimento que Kiyo queria lutar através deles, mas a razão e o autocontrole o
prenderam -- por agora. Enquanto isso, na visão dele, eu consegui fazer minhas pernas
funcionar novamente e me mexi para os meus pés. Jasmine agarrou a minha mão, me
ajudando a subir, e como uma só, voltamos em pé apoiadas ligeiramente de modo que
ficamos em linha com Dorian. O mundo vacilou um pouco, mas me recusei a mostrar a
minha fraqueza. Eu não iria desmaiar.
"Livrem-se dele". Disse eu, tentando não parecer histérica. "Negue-lhe
hospitalidade e jogue-o para fora".

"Ela não é bem vinda aqui". Resmungou Kiyo, os punhos cerrados. "E isso não tem
nada a ver com você. Mande-a embora".

A tensão e o silêncio preencheu o espaço entre todos nós, e todos os olhos se
viraram para Dorian. Nem Kiyo nem eu, nem Jasmine, aliás, tinham hospitalidade e
proteção no âmbito doméstico de Dorian no momento. Nós não tínhamos garantias de
segurança. Inferno, se Kiyo decidice atacar-me agora, ninguém iria intervir. Seria um
grande show de jantar.

Eu me perguntava quão boas eram as defesas que eu poderia arquitetar para
Jasmine, se seria suficiente para nos dar uma chance de escapar à minha própria terra se
Dorian não nos ajudasse.

Eu podia adivinhar os pensamentos de Dorian, -- ou melhor, a sua confusão. Isso
de Kiyo estar à beira de me matar não fazia sentido. Perguntando por que iria contra o
destino natural, e onisciente de Dorian. Além disso, Kiyo e eu não estavamos em sua
colocação de pessoas favoritas agora. Ceder a qualquer um de nós significava uma
concessão que Dorian não queria fazer.

"Saudações a você!"

Uma inesperada voz rouca me fez pular e até mesmo Dorian hesitou um pouco.
Da multidão, Masthera surgiu, seus cabelos brancos puxados atrás dela e os olhos tão
grandes como nunca. Ela veio para frente com o propósito -- e para meu total espanto,
-- caiu sobre seus joelhos diante de mim. Ela olhou para mim, e eu esperava o olhar
sempre disperso e louco. Em vez disso, eu vi espanto e arrebatamento. Mesmo,
adoração.

"Salve, Rainha de Rowan e Thorn. Salve, portadora da vida. Eu vejo isso, eu vejo a
vida que cresce dentro de você, a mãe que irá cumprir a profecia!"

Ela estendeu uma mão esquelética em direção ao meu estômago, e eu me afastei
de suas mãos.

"Não me toque!" Exclamei.

"Eu vejo". Ela chorou. "Você brilha, Rainha de Rowan e Thorn. Você carrega o
herdeiro. Você brilha com ele".

"Dorian". Exclamou Kiyo, chamando a nossa atenção de volta. Sua expressão já
estava escura com as palavras de Masthera. A divulgação completa era à última coisa
que ele queria. "Dê ela para mim! Fique fora disso!".

Novamente olhei suplicante para Dorian. "Ele vai tentar me matar". Eu disse. "Se
você me jogar para fora, ele e Maiwenn virão atras de mim. Por favor, dê-nos a sua
hospitalidade".

Dorian, -- como a maioria de todos na sala -- estava boquiabertos pela
proclamação da Masthera. Ele forçou seu treinado rosto de volta para a neutralidade,
mas o olhar que ele deu para mim era tão forte e penetrante que eu estava quase caindo
de joelhos novamente.

"É verdade?" Ele perguntou em voz baixa que, provavelmente, só Jasmine ouviu.
"Você está grávida?"

Não havia sentido mentir ou fingir. Dei um aceno rápido. Sua próxima pergunta
quase quebrou meu coração. Ele tentou arduamente manter seu nível de voz forte, mas
ouvi ela se quebrar com saudade e o desespero. "E há... Há alguma chance... De ser...".

Ele não pôde terminar, mas não precisa. Ele queria saber se ele era o pai. Um
milhão de pensamentos correram pela minha cabeça. Será que as coisas teriam sido
diferentes se tivéssemos realmente tido relações sexuais a última vez que estivemos
juntos? Eu teria ficado grávida de seu filho, em vez de Kiyo? Talvez. Talvez não. Sexo

nem sempre levava a gravidez, especialmente com os gentry. Eu ainda poderia ter
acabado com os bebês de Kiyo e ter deixado um show de disputa de paternidade digno.
Se Dorian tinha sido o único a me engravidar, o meu futuro teria sido assinado e selado.
Ele teria movido céus e terra para me manter segura. Como era, eu provavelmente
poderia ter mentido agora. Os gentry não tinham testes de paternidade. Isso teria
simplificado as coisas, mas eu não poderia fazê-lo.

"Não". Eu disse suavemente.

As características de Dorian se acalmaram, e uma onda surpreendente de pesar e
tristeza encheu-me em resposta à enxurrada de emoções que tinha que estar passando
por ele também. Ele não tinha motivos para me ajudar, não depois que ele viu a minha
traição. E, certamente, não comigo carregando a criança de outro homem.

"Por favor". Disse Jasmine. Seus olhos azul-cinza eram grandes e desesperadas. Eu
nunca a tinha visto tão humilde e mansa. E eu certamente não esperava ver em meu
nome. "Por favor, nos ajude. Por favor, dê-nos a sua hospitalidade. Sua Majestade".

Meus olhos ainda estavam focados em Dorian, meu coração ainda quebrando
sobre a dor que eu lhe causei. Do outro lado, ouvi Kiyo alertar Dorian novamente:
"Isso é entre mim e Eugenie. Dê-a para mim, e isso acaba. Se você não fizer isso,
Maiwenn e Deus sabe quem mais vão se envolver".

"Sinto muito". Disse a Dorian, minha voz quase inaudível. "Eu sinto muito".

"Por favor". Jasmine repetiu, quase à beira de lágrimas agora. "Hospitalidade".

O mundo todo dependia de Dorian. Ninguém respirava. Então, de repente, ele se
afastou de mim.

"Certo". Ele disse secamente. "As filhas do Rei Storm estão sob minha proteção.
Retire o kitsune, e não permitam a entrada dele de novo".

Os guardas estavam em movimento antes que Dorian terminasse de falar. Mais
guardas tinham escorregado para a sala no último minuto, e era uma coisa muito boa.
Kiyo lutou contra todos eles, quando eles colocaram as mãos sobre ele e começaram a
arrastá-lo para trás. Eles fizeram pouco progresso, tão grande era a sua luta Ele era
forte, tão incrivelmente forte, e isso me assustou a pensar o que teria acontecido se eu
tivesse ficado com ele no meu estado debilitado.
"Dorian!" Rugiu Kiyo, ainda lutando contra o aperto dos guardas. "Não faça isso!
Você vai se arrepender!"

Dorian tinha retornado à sua persona normal lacônica. "Você vai me chamar de
'Rei Dorian' ou 'Sua Majestade'". Respondeu ele.

"E você não vai desobedecer minhas ordens dentro da minha casa".

O chão tremeu, e ouvi um suspiro das pessoas reunidas. Inquieta, lembrei-me de
um comentário ocioso que Dorian tinha feito uma vez, sobre como ele poderia trazer o
castelo ao chão à nossa volta se ele quisesse. As paredes ficaram intactas, no entanto,

mas uma grande parte do chão de pedra se arrancou, provocando mais gritos de medo.
Diante dos meus olhos, a laje de pedra se transformou e esticou, então voou pelo ar em
direção Kiyo. Ele envolveu-se em torno de seu torso, colocando seus braços em uma
espécie de colete de forças mágicas. Kiyo, sem surpresa, parou de se debater, mas seus
gritos não cessam.

"Eugenie! Você não sabe o que você está fazendo! Isso não acabou! Eugenie!".

"Tirem-no". Disse Dorian friamente. "Agora. Se ele resistir de novo ou mudar de
forma, matem-no".

Os guardas se apressaram a obedecer enquanto Kiyo continuou gritando sua
indignação para mim, Dorian, e para o mundo. Eu esperava que eles se movessem
rápido porque Dorian tinha um ponto. Se Kiyo se transformasse em uma raposa, ele
escaparia de sua prisão de pedra. Claro, ele teria que se transformar em uma pequena
raposa, que faria pouco mal, mas ainda. Seria muito melhor para todos nós uma vez que
Kiyo estivesse fora dos muros.

Os guardas devem ter tido sucesso porque não havia mais tumulto. Jasmine virou-
se para Dorian.

"Você deveria tê-lo matado de qualquer maneira". Ela disse secamente. Sua
resposta padrão.O fantasma de um sorriso cintilou através dos lábios de Dorian,
embora seus olhos ainda eram duros.

"Você é quase tão deliciosa como a sua irmã". Observou. "Não importa como eu
estou descontente com as duas de vocês agora, eu admito, as coisas certamente serão
divertidas com você por perto. E isto vai se tornar muito interessante em breve". Isso
foi direcionada a mim. "Se você pensa que você trouxe uma guerra antes, você não viu
nada ainda, minha querida. Você me causou um pouco de problemas".

Eu apenas ouvi-o. A adrenalina foi desaparecendo do meu corpo, e toda a dor de
lutar com Kiyo e depois fazer a transição forçada começou a retornar. Senti-me doente,
e minha volta estava girando mais uma vez.

"Desculpe". Eu consegui dizer para Dorian, pouco antes de entrar em colapso.

CAPÍTULO 26

"ENTÃO, DEIXE-ME GARANTIR QUE EU ESTOU SEGUINDO ISSO
corretamente".
Eu suspirei e desloquei-me na cama, sabendo que Dorian estava repetindo essa
conversa principalmente porque ele gostava de ver o meu desconforto.

"Sua 'tecnologia' pode dizer se você está tendo um menino e uma menina, quando
for conveniente, e permitir que você ouça seus batimentos cardíacos". Continuou ele.
"Mas alguns remédios inexplicavelmente neutralizam totalmente o outro que você
tomava para evitar a gravidez".

"Isso". Eu murmurei. "Já que é meio que inútil agora".

Dorian se recostou em uma poltrona de pelúcia, face expressando uma dramática
ponderação. Após desmaio, eu tinha sido levada a um quarto de hóspedes condizente
com o meu estado, um bom sinal, já que `hospitalidade' simplesmente significava
proteção e de forma alguma relacionada com as acomodações. Não era tão boa quando
o quarto de Dorian, claro, mas o colchão era grosso e fofo, e as cobertas de veludo
verde combinavam com o pesado lençol da cama. Tão doente como eu sentia,
sinceramente teria ficado satisfeita em me enrolar no chão em algum lugar. Eu tinha
estado acordado por cerca de uma hora agora, sozinha no grande quarto com exceção
de Dorian.

"Que fascinantemente e estranha virada de eventos," Ele pensou, coçando o
queixo. "Se você pensou que a Coroa de ferro assusta as pessoas, espere até que esta
notícia se espalhe. O que, claro, já aconteceu".

Eu estendi uma mão sobre a minha testa. "Não é ruim o bastante que eu estou
carregando uma criança conquistadora do mundo da profecia? Por que toda a
precipitação política?"

"Porque você está carregando uma criança conquistadora do mundo da profecia".
Respondeu ele. "É o tipo de coisa que as pessoas tendem a ter fortes sentimentos".

"Eu pensei que quase todo mundo queria conquistar o mundo humano".

"A maioria". Ele concordou. "Mas não todos. Especialmente aqueles que --
depois de observar o seu registro até o momento -- talvez estejam com medo de você
conquistar esse mundo primeiro".

Virei para o meu lado, me dando uma melhor visão dele. Desde o espetáculo
anterior, Dorian teve mascarado os independentemente sentimentos pessoais que ele
tinha sobre a minha gravidez, mudando para o modo de governante astuto. "Mas você
não," Eu disse. "Você sempre foi a favor disso -- o cumprimento da profecia".

"Eu nunca fiz segredo disso". Ele concordou. "A partir do momento que nos
conhecemos".
Isso era verdade, pelo menos. Ele sentou-se no desejo de que enquanto nós estávamos
envolvidos, mas eu sempre soube que estava à espreita.

"Você só guardou outros segredos, em vez". Eu disparei.

Ele não me respondeu imediatamente, mas aqueles olhos verde-ouro pesavam em
mim pensativos.

"Sim. Sim, eu tenho. Segredos que eu agora lamento".
Isso me silenciou por alguns momentos. Eu não esperava nenhum tipo de
desculpa. Algo em mim abrandou para com ele. "Sério?",

"Se eu não tivesse te enganado sobre a Coroa de Ferro," Ele explicou, "nós ainda
estaríamos juntos".

Eu só podia olhar. O pedaço de mim que nunca tinha parado de amá-lo
provisoriamente na sua cabeça. Era difícil acreditar que ele estava aqui confessando
seus sentimentos, admitindo que aquilo que tinhamos tido tinha sido mais importante
do que suas intrigas. Ela me deu uma nova visão dele, uma que surpreendeu... Ainda
me agradou.

"E se tivéssemos ficado juntos," Ele continuou, "eu teria sido o beneficiário de
sorte da falha desses medicamentos".

Tanto para uma nova visão. Eu gemi e me virei. "Claro que sim. É claro que essa é
a verdadeira fonte de seu arrependimento. Você não consegue conduzir a revolução".

Ouvi-o levantar e sentar na cama ao meu lado. Poucos segundos depois, ele
realmente teve a audácia de se deitar. Eu mexi mais para deixar espaço.

"É mais que uma revolução," Ele disse. "Eu também disse na primeira vez que a
conheci, que eu teria um filho com você, independentemente de qualquer profecia".

"Eu não estou convencida de que a parte 'comigo' é tão relevante".

Dorian tocou minha bochecha e virou o meu rosto para o dele. "Você realmente
acredita nisso? Você realmente acredita que meus sentimentos por você eram tão
pequenos que você ser a mãe do meu filho não teria significado o mundo para mim?"

Comecei a corrigi-lo com os mundos, mas parecia insignificante. "Eu não sei o que
eu acredito". Eu disse honestamente. "Eu nem sei se tenho a energia ou a motivação

para analisar nosso relacionamento quando eu tenho isso acontecendo." Eu descansei
minha mão na minha barriga.

Os olhos de Dorian seguiram esse movimento, completamente fascinado. "Apesar
de suas tolas escolhas de paternidade, isso..." Ele alcançou em direção ao meu
estômago e, em seguida, puxou para trás. "Isto é um milagre. Isto é uma profecia
cumprida. Isto é vida. E realmente, Kiyo não é mais relevante. Ele entregou quaisquer
reclamações a essas crianças. São vocês e vocês sozinhos agora".

Meus dedos apertaram meu estômago, não dolorosamente, mas mais um tipo de
forma possessiva. O meu olhar desfocado cresceu. "Eu ainda não consigo acreditar
nisso. Eu não posso acreditar que ele dispensou seu próprio filho com tanta facilidade.
Que ele ia me dispensar com tanta facilidade...".

"Duvido que foi fácil. Vocês não são tão fáceis de superar". Uma pequena nota de
amargura estava lá. "Mas a sua oposição à profecia era muito grande. Assim como o
meu apoio é grande o suficiente para acolhê-la -- apesar de sua traição -- e embarcar
na loucura que virá".

Traição? Eu comecei a dizer que ele era o último que deveria acusar alguém disso
-- mas me segurei. "As pessoas vão pensar que você está louco por fazer isso?".
"Dificilmente". Ele resmungou. "A maioria acha que eles são meus filhos de
qualquer forma, ironicamente". Ninguém, exceto Jasmine tinha ouvido minha breve
troca de paternidade com Dorian no corredor.

Eu fiz uma careta. "Eu acho que às vezes Kiyo também".

"Eles podem ser."

Minha primeira reação foi a de que esta era uma brincadeira dele, mas todo o
humor desapareceu de seu rosto. "Eu não acho que você compreende totalmente a
genética".

"Eu entendo que a parentalidade é mais do que apenas sangue". Ele disse, ainda
mortalmente serio. "E como eu disse: ele renunciou a quaisquer reclamações. Você está
no controle, e se até ele e outros questionam a filiação das crianças, então melhor. Basta
declarar-me como o pai. Tê-lo registrado, e por nossas leis, as crianças vão ser minhas
para todos os efeitos e propósitos".

Algo sobre isso desencadeou alarmes. "O que quer dizer para os efeitos e
propósitos?".

Ele deu de ombros -- um pouco casual. "Títulos. Prestigio. Proteção. Herança --
se for forte o suficiente para garantir o meu reino. Que, de acordo com a profecia, seu
filho deverá ser".

"Eu não sei". Eu disse. Pode haver alguns benefícios de segurança para esse tipo de
`adoção' gentry, mas eu tinha a sensação de que Dorian não estava me dizendo todos
eles --especialmente coisas que o beneficiavam sozinho. Ele ainda estava com raiva de

mim. Ele não gostava de Kiyo. Não havia razão para que eu pudesse ver o porquê disso.
"Eu tenho que pensar".

"Pense rápido". Disse Dorian. "As coisas vão estar em movimento em breve,
especialmente quando chegarmos de volta à sua própria terra".

"Por quê?" Eu perguntei.

"Por que você quer reclamar o filho de outro alguém? Quero dizer, eu sei o seu
desejo de ver a profecia se realizar, mas você não tem que dar esse passo extra".
"Talvez as crianças de alguém sejam melhores do que nenhuma criança ao todo". Disse
ele.Foi outra estranha declaração dele, uma surpresa. Filosófica e tocante. No entanto,
eu ainda acreditava que havia um engano aqui. Isso não era por amor a mim. Não mais.
Sua mão se moveu em direção ao meu estômago de novo e ele não a afastou desta vez,
embora ele fez questão de manter-se longe da minha mão.

"Deixe-me lhe fazer uma pergunta," Ele disse quando não lhe resposdi. "Por que
você escolheu manter essas crianças? Você tem medo do procedimento ímpio que seu
povo usa para acabar com a vida? Você não conseguiria viver com o sangue de seus
filhos em suas mãos?"

Minha mente rebobinou de volta para aquele dia no médico. Que dia? Inferno.
Tinha sido hoje, mais cedo. Tanta coisa aconteceu desde então que semanas poderiam
ter passado. Meu horrível calvário com Kiyo tinha borrado as memórias, mas agora, o
ultrassom voltou para mim, as imagens e sons tão reais e vívidos como se eu estivesse
vivenciando tudo de novo.

"Eu ouvi seus batimentos cardíacos". Disse por fim. "E eu os vi". Bem, mais ou
menos. Essas manchas ainda não pareciam algo para mim, mas o ponto era irrelevante.
"E quando eu fiz..." Eu tateava para explicar os meus sentimentos. "Eu só... Eu só os
queria. Ambos. Ninguém mais importava".

Um sorriso lento e estranho se espalhou pelo rosto de Dorian. "Isso". Declarou
ele. "É a coisa mais gentry que eu já ouvi você dizer".

Normalmente, eu teria zombado dele por usar `gentry' em vez de `os brilhantes'.
Foi um deslize, que ele às vezes fazia ao meu redor. O teor de suas palavras, no entanto,
foi de maior importância. "Isso é ridículo".

"Não é. Humanos pensam demais nas coisas. Eles jogam fora a vida sem perceber.
Honestamente, após todo esse tempo, eu estava começando a pensar que você fosse
mais humana do que um brilhante".

"Eu odeio dizer, mas eu sou". Disse.

Dorian fez-se mais confortável, e a mão na minha barriga moveu de modo que seu
braço estava sobre mim, quase -- mas não completamente, -- um abraço. Era
possessivo, como se eu fosse um prêmio que havia caído em seu colo. "Você é, minha

cara? Você está expressando filosofias muito parecidas com as minhas. Você está
carregando uma criança que supostamente conquistaria o mundo humano -- um
mundo que você não pode voltar por um tempo, vendo como isso daria ao kitsune uma
borda. Você está mais segura aqui neste mundo onde eu gostaria de adicionar, você
não reina em um reino, mas em dois reinos. Isso". Ele declarou triunfante. "Faz com
que, pelos meus cálculos, seja mais como uma gentry que um ser humano".

Eu desviei o olhar, não encontrando seus olhos, -- porque tinha um sentimento louco de que ele estava certo.

 

 

                                                   Richelle Mead         

 

 

 

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