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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CORPO E ALMA DE MULHER / Carole Mortimer
CORPO E ALMA DE MULHER / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Mesmo antes de conhecê-lo pessoalmente, Melissa não gostava de Jerome Towers, o ri­co proprietário de terras que pretendia com­prar a fazenda da família dela. Quando, finalmente, ele apareceu, achou-o ainda mais insolente do que imaginava. No entanto, sentiu-se perigosamente atraída por aquele homem bonito e sensual! E Melissa não queria de jeito nenhum que Jerome soubesse do seu passado, quando foi injustamente acusa­da de comportamento indecoroso, no hospi­tal onde trabalhava. Mas não teve jeito: para Jerome, ela não passava de uma devassa, sempre vivendo atrás dos homens... Como fazer para convencê-lo do contrário? Melissa não sabia!

 

 

 

 

Apesar dos protestos da mãe, deitada na cama por causa de um forte resfriado. Melissa não permitiu que ela saísse de casa naquela manhã.

— Você não vai a lugar algum com uma febre destas!

— Mas eu tenho que ir — insistiu sua mãe com voz fanhosa. — Precisamos de dinheiro, você sabe.

É claro que ela sabia que precisavam de dinheiro. Só ouvia falar sobre isso, desde que voltara para casa na noite anterior. Mas estava decidida a não vender sua parte na fazenda por nenhuma quantia que Jerome Towers quisesse oferecer. A propriedade ainda poderia dar lucros à família, se todos trabalhassem bastante. E, agora que Melissa havia sido demitida do hospital, poderia ajudar seu irmão Brian em algum trabalho. A Fazenda Finch, ao lado da propriedade dos Towers, era insignificante, mas para eles representava a própria sobrevivência.

— Eles não sentirão sua falta na casa apenas por uma manhã — disse firmemente à mãe. — Além disso, não gostaríamos que o novo proprietário pegasse o seu resfriado. não é? Afinal, para tramar todas essas negociatas, ele precisa dispor de toda a energia.

— Ele é apenas um homem de negócios, minha filha — disse Emily Finch, enquanto se encostava nos travesseiros.

— Que só quer obter grandes lucros para si, sempre prejudicando os outros! O advogado dele nos ofereceu uma ninharia! — exclamou Melissa revoltada. — E isso depois de todo o tempo que você trabalha na casa dele como empregada doméstica!

— Não é tão ruim quanto parece, Melissa! A sra. Reece, a governanta, é uma pessoa muito boa e quanto a Freda, a cozinheira... — Ela deu uma risada rouca, que se transformou num espasmo de tosse. — Oh querida, não estou me sentindo bem realmente.

— Sei que não — disse Melissa, impaciente. — Agora, fique deitada aí, que vou buscar-lhe uma xícara de chá.

— Mas e quanto ao meu trabalho? — sua mãe perguntou, mostrando-se preocupada.

— O que há de errado? Alguém descascará as batatas para o almoço do grande senhor — disse Melissa ironicamente.

— Não há outra pessoa para fazer isso e ele não come batatas. — Sua mãe sorriu, melancólica.

— Ele não quer se tomar um velho gordo, suponho — murmurou Melissa.

Sua mãe continuava apreensiva. — Mas quem vai preparar o café de Brian? E dar comida às galinhas? Além disso, também é preciso ir ver Berta.

— Berta? — Melissa deu uma risada. — Havia me esquecido que ainda tínhamos a velha Berta.

— É claro que temos. Ela é um animal de estimação.

— Uma vaca, um animal de estimação? — Melissa gracejou.

— Ela não é uma vaca qualquer. Foi o primeiro animal que pudemos comprar quando viemos para cá há dez anos. Quando seu pai faleceu no ano passado, nós tivemos que vender o resto do gado, mas eu me recusei a separar-me de Berta. Ela é mais do que uma amiga.

Melissa sacudiu a cabeça.

— Nunca pensei que você fosse tão sentimental, mamãe — mas se sentia intimamente feliz por Berta ainda estar com eles, pois também era o seu animal predileto.

— Não sou sentimental — disse-lhe a mãe rispidamente. — Nem poderia ser, tendo a responsabilidade de cuidar desta fazenda. Mas Berta é um animal especial.

— Está bem mamãe — Melissa sorriu. — Vou cuidar de Berta e das galinhas e depois do café de Brian.

— E também da casa dos Towers? — sua mãe insistiu.

— Você não espera que eu faça isto também, não é? — perguntou Melissa irritada.

— Bem, se você não fizer, terei que me levantar e ir até lá. Se não trabalho, não sou paga. E, no momento, com você sem emprego, precisamos ainda mais de dinheiro.

Ela sabia que as palavras da mãe não eram propriamente de censura, mas estava consciente de que agora representava mais um peso para a família. Enquanto estivera no hospital, havia mandado dinheiro para casa todos os meses. Mas atualmente, como estava desempregada, as coisas iam ficar mais difíceis financeiramente.

— Está bem, mamãe — suspirou. — Farei isto também.

A preocupação desapareceu do rosto de sua mãe. — Oh, obrigada, meu bem! Geralmente começo às dez.

— Sim mamãe. Mas são apenas oito horas agora. Não se preocupe, não chegarei atrasada. Tenho bastante tempo para fazer todos esses servicinhos que você considera essenciais antes de ir à casa dos Towers.

— Primeiro é preciso preparar o café de Brian — sua mãe avisou-a de novo. — Ele estará aqui em um minuto.

Melissa bocejou.

— A que horas ele saiu?

— Às cinco e meia, como sempre.

— Meu Deus! — ela suspirou. — E eu pensava que levantar às sete horas no hospital já era cedo demais.

— Ele precisa. — Sua mãe deitou-se, fechando os olhos. — Ele trabalha demais para um rapaz de vinte e dois anos.

Melissa realmente notara, na noite anterior, que seu irmão parecia cansado.

— Ele precisa trabalhar tanto assim?

— Bem, não há mais ninguém que trabalhe para nós. Estamos apenas começando a prosperar, fazendo com que a terra produza. Não é fácil mudar do ramo da pecuária para o de cultivo de hortaliças. Mas como você sabe, não tínhamos recursos para repor os animais. — Elas ouviram uma porta bater. — Deve ser Brian.

— Então, é melhor eu ir andando. Vou trazer-lhe uma xícara de chá.

Brian parecia agora ainda mais cansado. Três anos mais velho que Melissa, ele arcava com a preocupação de cuidar da fazenda, sem se queixar.

Seu pai falecera um ano antes e, durante seus últimos meses de vida, contraíra muitas dívidas, devido à sua incapacidade de fazer os serviços necessários na fazenda. Brian ajudara muito. Mesmo assim, foram obrigados a vender o gado para pagar as dívidas. Naquela ocasião. Melissa havia apenas começado seu estágio de enfermagem no hospital local, a vinte quilômetros de distância, e sua mãe insistira para que ela continuasse a carreira. E agora ela havia sido injustamente demitida!

— Olá. Melissa! — Brian se sentou ofegante. — Onde está mamãe?

— Ela não está se sentindo bem esta manhã. Então, ficou na cama repousando.

Os olhos castanhos dele refletiram certa preocupação. Ele era fisicamente muito parecido com a mãe. Baixo e atarracado como ela, tinha também cabelos castanhos. Melissa, ao contrário, tinha os cabelos longos e negros, os olhos bem verdes cravados num rosto pálido, traços que herdara do pai.

— Algo grave? — Ele pegou a xícara de chá que ela lhe ofereceu.

— Apenas um resfriado. — Melissa colocou uma torrada e o chá na bandeja que ia levar à mãe. — Mas acho que ela não pode se descuidar. Vou levar isto para ela e depois preparo o seu café.

— Não se apresse por minha causa — disse Brian. — Não tenho muito o que fazer. O trator está quebrado novamente.

Melissa levou a bandeja para a mãe. Ao voltar à cozinha, começou a preparar ovos com bacon.

— Você tem alguma idéia do que há de errado com o trator? — ela perguntou.

— Não. Você sabe que mecânica não é o meu forte. Liguei para a fazenda dos Towers e pedi a Jeff para dar uma olhada nele.

— Jeff?

— Sim, o novo administrador.

Melissa espantou-se. — O que aconteceu a Ralph Coates?

— Jerome Towers o demitiu. Mas Jeff é um ótimo sujeito e conhece muito sobre mecânica.

— Suponho que ele deva conhecer realmente — ela fez uma careta. — Afinal. Jerome Towers sabe apenas sentar-se atrás de uma mesa para transar negócios altamente lucrativos para si próprio!

— O que você tem contra ele? — Brian riu. — Sei que Jerome fez uma oferta pela nossa fazenda, mas isto não é motivo para odiá-lo. Jeff garante que ele é realmente uma pessoa bastante honesta.

— Bem, Jeff só tem que dizer isto. — Ela bebeu o café, que era tudo o que tomava pela manhã. — Ele é empregado dos Towers! Quanto a mim, dificilmente consideraria honesta a oferta que ele fez por esta fazenda.

— Mas foi muito justa, Melissa! Ele ofereceu um preço bem mais alto do que o valor real da nossa propriedade.

— E por que fez isso?

Ele franziu as sobrancelhas. — Você acha que há alguma coisa por trás dessa proposta?

— Por que ele ofereceria mais? — ela perguntou, revelando suas suspeitas. — Será que Jerome sabe de alguma coisa que não chegou ao nosso conhecimento?

— Por exemplo — Brian riu.

— Bem... talvez uma outra pessoa esteja interessada nas nossas terras e ele quer, então, renegociá-las por um preço astronômico. Ou talvez ele...

Brian sacudiu a cabeça, ainda sorrindo. — Você anda assistindo muitos programas de televisão, senhorita. O sr. Towers quer comprar esta fazenda porque ela está localizada bem no meio de sua propriedade. Papai comprou estas terras de um velho fazendeiro, que, na ocasião, estava vendendo lotes a fim de conseguir dinheiro para administrar o resto da propriedade. Jerome conseguiu reaver a maioria dos outros lotes e gostaria de ter este para completar.

— Não estamos vendendo! — disse Melissa, obstinada. — Só porque ele é milionário, pensa que pode comprar qualquer coisa. Bem, este é nosso lar e estamos estabelecidos aqui.

— Você tem certeza de que quer esquecer aquele problema ocorrido no hospital, não é mesmo? Certamente, começarão a circular rumores por aqui, quando as pessoas perceberem que você está de volta, e não vai demorar muito para que a verdade transpire.

Ela enrubesceu. — Não tive culpa e você sabe disto!

— É claro que eu sei. Mas os outros vão acreditar nas aparências, Melissa! Afinal, não aconteceu apenas uma vez. Foram duas! E na mentalidade de muitas pessoas, especialmente as que vivem numa comunidade como essa, muito unida, um caso desses é um verdadeiro escândalo!

— Eu já lhe expliquei, Brian. A primeira vez, eu estava na ala de internamento e ele me empurrou para dentro do seu quarto, impedindo-me de sair. Na outra ocasião, ele invadiu o meu quarto na ala das enfermeiras.

— Nenhuma porta foi forçada, como constataram.

— Eu estava na cozinha, tomando uma xícara de café, e quando voltei ele já estava me esperando. — Melissa enrubesceu ao lembrar-se da cena.

— Você poderia ter gritado por socorro — disse Brian.

— Eu ia fazer isto. Mas ele sempre pareceu tão simpático e, até então, sempre educado e amigo, e pensei que poderia convencê-lo a sair.

— Mesmo após a investida anterior? — seu irmão riu.

— Eu consegui me livrar daquela vez e, desde então, ele não havia feito nenhuma outra tentativa.

— Não suponho que ele precisasse fazer. Afinal, um dos médicos já havia visto você deitada na cama com ele, com o uniforme todo desabotoado.

— Ele estava agitado demais e tinha a força de dez homens. O dr. Freeman e a irmã Miles acreditaram em mim quando lhes expliquei o que tinha acontecido — Melissa se defendeu.

— Até que ele foi encontrado no seu quarto à meia-noite. Nenhuma de vocês imaginou que a equipe da noite sentiria a falta dele nos seus aposentos? Um hospital não é como um hotel, você sabe, nem mesmo para um paciente particular. Você não pode simplesmente entrar e sair quando quer.

— Eu sei, Brian — disse ela, indignada. — E eu já lhe falei que ele não foi lá a meu convite.

— Oh, acredito em você. Mas duvido que muita gente daqui acredite. Você será o escândalo da vizinhança.

— Desde que você e mamãe acreditem em mim, não me importo com mais ninguém.

— Você se importará. A vida na vila pode tomar-se muito desagradável, quando você é o alvo dos mexericos — ele avisou-a.

— Pode ser que não descubram essa história. Sempre há uma chance. Eu não pretendo contar a ninguém e o rapaz voltará a Londres. Quando adoeceu, ele se encontrava em Redford, visitando alguém.

— Apendicite, não foi?

— Sim. — Melissa fez uma careta. — Mas ele era um paciente particular e, às vezes, agia com prepotência.

— Mas você não havia dito que ele era um rapaz simpático e educado?

— Ele era, na maioria das vezes, mas isto não o impedia de exigir o tratamento especial pelo qual estava pagando.

Brian levantou-se.

— Bem, para o seu bem, tomara que esta história não transpire. E não se esqueça de que Jeff virá até aqui mais tarde para ver o trator.

— Antes das dez, espero. — Ela limpou a mesa. — Tenho que substituir mamãe na casa dos Towers — explicou. — Eu não gostaria que Jeff viesse durante a minha ausência e perturbasse mamãe.

— Acho que ele não virá tarde, pois tem seu próprio trabalho a fazer. O trator está no terreiro. Diga a Jeff que ele não pega. Acho que é alguma coisa relacionada com a saída de gasolina. Estarei no campo, se ele precisar de mim.

— E as chaves?

— Estão no trator. — Brian sorriu. — Duvido que alguém queira roubá-lo.

Enquanto lavava os pratos. Melissa observava o trator através da janela da cozinha. Como o resto da fazenda, aquela máquina também estava em más condições. Sua carroceria vermelha apresentava muitos pontos de ferrugem. Melissa havia notado também que a casa precisava de uma nova pintura. As paredes brancas estavam quase totalmente cinzentas.

Alimentar as galinhas era divertido, pensou Melissa. Aquelas criaturas tão simples bicavam afoitamente a ração o dia todo. Que vida agradável! Ao contrário da sua, ela comparou.

Agora, ela precisava ir ver Berta, depois verificar se sua mãe estava bem e tinha tudo o que precisava. Só então iria à casa dos Towers. O problema foi encontrar Berta. Melissa procurou a vaca por todo canto, mas nada de encontrá-la.

Foi então que ela a viu. Berta estava sendo puxada por um homem que Melissa supôs ser Jeff. Ele era muito simpático e atraente. Ao deparar-se com ele, ficou constrangida a princípio. As roupas que ela usava eram simples demais. Mas resolveu não preocupar-se com isso. Afinal, ninguém podia parecer impecável trabalhando numa fazenda, e Jeff certamente sabia disso.

O único problema era que aquele homem conseguia mostrar-se elegante, mesmo naquela paisagem rústica. Usava calça bege e uma camisa preta que fazia sobressair os músculos perfeitos de seu corpo. Ele era alto. Tinha mais de um metro e oitenta, Melissa calculava. Era pelo menos uns dez anos mais velho que ela. Seus cabelos eram pretos. Em seu rosto moreno e forte se ressaltava um sulco profundo no queixo. Ela não podia distinguir a cor dos olhos dele àquela distância, mas apostava que eram azuis. Em todos os outros aspectos, aquele homem representava o seu ideal masculino, certamente teria olhos azuis.

Melissa parou e observou-o enquanto ele conduzia Berta até ela. Ele se movia com a graça de um felino, ágil e muito seguro, fazendo com que o animal parecesse mais desajeitado ainda.

Para surpresa dela, os olhos do rapaz não eram azuis, mas sim castanhos, e tão profundos que a deixaram impressionada. Só que não pareciam muito amigáveis naquele momento. E Brian havia dito que ele era uma ótima pessoa. Talvez fosse...

— A desaparecida Melissa, suponho — ele falou lentamente. Sua voz rouca era acentuada por um sotaque que revelava que ele não era de Norfolk. Melissa pensou nos motivos que o teriam levado a decidir-se a trabalhar num lugar tão monótono.

— Sim — ela começou a falar, quase gaguejando. — Sim, sou Melissa, e pretendo não desaparecer mais.

Ele contraiu o rosto.

— Pensei que você estivesse estudando enfermagem.

— Eu estava — ela enrubesceu —, mas fiquei doente. Eles acharam que eu não era suficientemente forte para desempenhar uma tarefa tão árdua — mentiu.

— Quem? — ele quis saber.

— Ah. sim, os responsáveis pelo treinamento dos estudantes de enfermagem.

— Entendo. — Ele a observava atentamente, com os olhos castanhos comprimidos. — Então, você voltou para ficar?

— Sim — ela sorriu. — Vou ajudar Brian na fazenda.

— E isto não será uma tarefa bastante árdua também? — ele perguntou ironicamente.

Melissa lançou-lhe um olhar profundo. Será que ele já ouvira falar sobre os motivos de sua demissão? Não. não era possível. Tudo havia acontecido há apenas dois dias. Muito pouco tempo para ela mesma conseguir refazer-se do choque. Seu único consolo cm toda aquela história era o fato de que também haviam pedido a Roddy Meyers, o rapaz que a assediara, para abandonar o hospital. Naturalmente ele já havia se recuperado da doença. Isto já lhe dava alguma satisfação, pois sabia que não havia levado a culpa sozinha.

— Oh, no início farei apenas serviços leves. — Aquela série de mentiras estava ficando cada vez mais embaraçosa. Ela esperava apenas que Brian não fosse tão íntimo daquele homem para lhe contar a verdade. — Além disso, o ar fresco me fará bem — acrescentou.

— Sim, você está um pouco pálida.

Melissa era naturalmente pálida, mas ele não sabia disso. Ela enrubesceu diante do significativo e arrogante olhar daquele homem, sentindo como se ele a desnudasse e explorasse cada curva de seu corpo.

— Vejo que você trouxe Berta de volta — ela bateu afetuosamente no pescoço da vaca. — Onde ela foi parar desta vez? Espero que não tenha ido até a casa dos Towers.

Ele concordou com a cabeça. — Temo que sim.

— Muito bem, Berta, você não deve ser tão velha quanto pensávamos que fosse. — Afinal, a casa dos Towers ficava a quase dois quilômetros de distância, um percurso muito longo para a velha vaca percorrer, Melissa pensou. — Espero que ela não tenha pisado nos canteiros de flores do esnobe sr. Towers.

Teria sido sua imaginação ou ele realmente se irritara?

— Não entendi — ele disse friamente.

— Desculpe-me — emendou Melissa — eu não devia ter falado assim do seu patrão. — E se retraiu involuntariamente quando suas mãos se tocaram, no momento em que ela pegou a corda que prendia Berta e a amarrou num poste. Aquele homem tinha mãos lindas, longas e firmes. Eram as mãos de quem não temia o trabalho pesado e pareciam combinar com o resto de sua aparência severa. — Então, você não o acha esnobe? — ela insistiu.

— Não tenho essa opinião. Mas quem lhe disse que ele é assim? Melissa encolheu os ombros. — Foi apenas a impressão que tive. Bem, não tem importância. O trator está ali — ela mostrou-lhe o veículo parado.

— Trator? — Ele parecia perplexo.

— O trator sobre o qual Brian lhe falou ao telefone esta manhã. — Aquele homem tão atraente não lhe parecia tolo, ela pensou, confusa a princípio. Longe disso, concluiu em seguida. Havia perspicácia nos olhos dele. Seu ar resoluto era acentuado pela boca e pelo queixo firme. Embaraçada, Melissa perguntou: — Então, não foi você quem recebeu o recado?

— Não posso ter recebido — respondeu ele secamente — ou eu saberia a respeito do que estamos falando.

Ela tentou ignorar a frieza daquela voz. Afinal, ele trouxera Berta para casa. E o trajeto deveria ter sido demorado, por causa da lerdeza do animal. Portanto, podia ser mais compreensiva e desculpar o mau humor dele. — Brian telefonou para a casa dos Towers esta manhã, perguntando se você poderia dar uma olhada no nosso trator. Eu pensei que você tivesse concordado.

— Entendo. Bem, talvez você queira levar Berta para o estábulo, enquanto eu examino o trator. — Começou a andar em direção ao veículo. — Você tem idéia do que há de errado? — perguntou.

Melissa vinha voltando do estábulo. — Algum defeito na saída de gasolina, talvez — disse ela vagamente. Não entendia nada sobre mecânica. Uma vez, havia tentado aprender a dirigir, mas desistira após algumas aulas. Tomou consciência de que era uma daquelas pessoas cuja personalidade muda atrás do volante, tomando-se agressivas e intratáveis.

— Obrigado — ele zombou da ignorância dela. — Essa informação será de grande valia. — Levantou a tampa que cobria o motor do trator, antes de se sentar ao volante e tentar dar a partida. O motor, a princípio, começou a funcionar e, em seguida, parou. — O combustível não está circulando — murmurou.

— Você tem alguma idéia do motivo? — perguntou Melissa.

— Ainda não — ele falou, enquanto examinava o motor.

Ela o observou trabalhando e ofereceu-lhe seu lenço, quando percebeu que ele sujara as mãos de óleo.

— Não. obrigado — ele recusou o lenço alvo. — Posso muito bem lavar as mãos quando voltar. — Levou, então, uma das mãos à testa, para limpar o suor.

— Veja o que você fez agora! — exclamou Melissa. — Há óleo esparramado por todo o seu rosto.

Ele se aproximou dela.

— Limpe — ordenou roucamente.

Embora fosse um pedido, aquilo mais parecia um desafio. A proximidade dele, o perfume masculino fizeram com que Melissa estremecesse. Ele a olhou, parecendo conhecer a reação que sua figura atraente suscitava. A boca sensual daquele homem despertou ainda mais a atenção dela. Melissa nunca havia encontrado alguém como ele, com aquela expressão desafiadora e aquele porte altivo.

— E então? — O olhar dele era quase uma carícia.

Melissa já ouvira falar de homens magnéticos como ele, homens que possuíam o carisma de cativar e prender apenas com um olhar. E ela estava com muito medo de ter sido completamente cativada.

— Sim? — perguntou, ansiosa.

— O óleo — ele a lembrou com ar divertido.

— Oh, sim — ela enrubesceu. — Pode abaixar-se um pouco, por favor? Você é tão alto que não consigo alcançar seu rosto.

— É claro! — Ele inclinou a cabeça e encostou sua boca na dela, retendo-a apenas com o toque dos lábios, como uma borboleta presa. Ele não fez qualquer esforço para tocá-la com as mãos. Seus corpos continuaram separados por apenas alguns centímetros.

Quando finalmente ele se afastou, Melissa parecia estar em transe. Ela já havia sido beijada muitas vezes antes, mas nunca daquele jeito. Ela não tinha qualquer dúvida de que ele era realmente um mestre na delicada arte da sedução. E ele sabia exatamente o que despertara nela. Isso se refletia em seus olhos castanhos.

— Bem, Melissa — ele disse suavemente —, parece que agora você também tem óleo no rosto.

— Tenho? — ela murmurou, completamente hipnotizada.

— Sim. — Ele pegou o lenço de sua mão e limpou o rosto dela. — Quer jantar comigo hoje? — perguntou de repente.

— Eu... eu não entendi.

— Jante comigo — ele repetiu, afastando delicadamente os cabelos de seu rosto.

— Eu... eu não posso — ela recusou, relutante. Bem que gostaria de sair com ele, mas não podia deixar a mãe sozinha.

Ele se endireitou, afastando as mãos de seus cabelos: — Um namorado?

Melissa piscou, confusa. — Oh, não — sorriu. — Na verdade, é minha mãe.

— Sua mãe? — Ele ergueu as sobrancelhas. — Você não é suficientemente adulta para escolher sozinha as suas companhias?

Melissa riu. — É claro que sou. Não foi isso o que eu quis dizer. Minha mãe não está passando bem. Um resfriado eu acho.

— Na sua sábia opinião — ele a interrompeu com ironia.

Ela enrubesceu. — Um ano de treinamento me qualifica para alguma coisa. — Sem querer, ela demonstrou sua amargura. Tinha sido uma boa enfermeira, gostava de seu trabalho e tudo aquilo lhe fora retirado por causa de Roddy Meyers. Se ela o encontrasse novamente... Mas não era provável, pois ele deixara o hospital, antes mesmo de Melissa ter saído de lá. — Acho que posso perfeitamente diagnosticar um resfriado — acrescentou secamente.

— E quanto a outro dia desta semana?

— Bem, eu não sei. Tenho que trabalhar na casa dos Towers esta semana e...

— Na casa dos Towers? — ele franziu a testa.

— Sim, mamãe trabalha na cozinha. Sabe nós precisamos de dinheiro e por isso eu farei o serviço dela nesse período. Talvez possamos almoçar juntos um dia. Acho que geralmente mamãe termina suas tarefas à uma hora.

Ele encaminhou-se até o trator para fechar o capô. — Talvez possamos — concordou vagamente. — Acho que seu irmão terá de arrumar outra pessoa para ver isto. Não consigo encontrar o defeito. Ele pode pegar um dos tratores da propriedade dos Towers até que este volte a funcionar. — Então, voltou-se para ir embora.

Melissa o observou enquanto ele se afastava, com uma expressão estranha no rosto.

— Jeff? — ela gritou para ele enquanto corria em sua direção. — Posso chamá-lo de Jeff, não posso? — perguntou insegura.

Ele encolheu os ombros.

— Por que não?

Pela expressão subitamente fria dele, ela deveria ter feito algo que o aborrecera.

— Mas o que aconteceu? Eu não estava me recusando a sair com você — falou apressadamente. — Apenas disse que esta semana vai ser um pouco difícil.

Ele concordou com a cabeça.

— Talvez na próxima semana.

— Ou almoçar... — ela se calou, quando ele se afastou, sem olhar para trás.

Mas afinal, o que ela fizera àquele homem? Ele não podia afastar-se assim de sua vida quando se tomara de repente tão importante para ela. Enquanto pensava nisso, sua figura ia desaparecendo ao fim da estrada. Ele se fora!

E ela também tinha que ir, se quisesse chegar a tempo ao serviço de sua mãe. Eles poderiam ter ido juntos, se ele não tivesse se afastado tão rapidamente. Esperava que ele estivesse mais bem-humorado na próxima vez que o visse.

Melissa levou outra xícara de chá à mãe, antes de sair, assegurando-lhe que todos os encargos já haviam sido cumpridos.

— Ninguém havia me dito como Jeff é bonito. — Ela ajeitou os travesseiros para a mãe.

Sua mãe espantou-se. — Jeff Robins?

— Ele é realmente deslumbrante!

— Bem, se você gosta desse tipo... Então, ele já veio?

— Sim, ele disse que o trator precisa de um mecânico especializado. Diga a Brian que Jeff deu permissão para que ele pegue um dos tratores de fazenda Towers. Só não me falou a respeito do que o sr. Towers achará disso.

Sua mãe lançou-lhe um olhar reprovador.

— Espero que você não tenha se referido desse jeito a ele para Jeff. Ele é muito leal ao sr. Towers.

Melissa suspirou.

— Ele parece não ter gostado nada, quando fiz um comentário sobre o patrão dele.

— Que tipo de comentário? — perguntou a mãe, preocupada. — Você não disse nada insultante, não é. Melissa? Jeff é amigo de Brian, você sabe.

— Não fique preocupada, mamãe. O que quer que eu tenha dito não parece tê-lo aborrecido tanto assim. Logo depois ele me convidou para jantar.

— Jeff fez isso? Mas pensei que ele estivesse saindo com Raquel Saunders.

Aquilo não a surpreendeu. Ele parecia ser mesmo o tipo de homem que tinha namorada. Além disso, Raquel Saunders era muito bonita. Ela e Melissa haviam freqüentado a mesma escola, embora nunca tivessem sido amigas íntimas. Raquel era três anos mais velha. Melissa lembrou-se de que já tivera uma paixão súbita por Trevor Dunn, o rapaz com quem Raquel saía. Mais tarde o namoro fora rompido, mas a antipatia entre elas havia permanecido.

— Bem, eu não vou mesmo. Portanto, isso não tem importância. Agora, vou até a casa dos Towers. Não se esqueça de falar a Brian sobre o trator.

— Não me esquecerei, querida. E diga à sra. Reece que tentarei estar lá amanhã.

— Não vou dizer nada. Você ficará na cama até recuperar-se completamente. Eu não me importo em ir à casa dos Towers, principalmente se tiver a chance de ver Jeff Robbins novamente.

 

A casa da fazenda Towers era um edifício cinzento de pedra, uma construção maciça que abrigava pelo menos quinze quartos. Havia pertencido a Henry Towers até sua morte, no ano passado. Agora, era propriedade do sobrinho dele, Jerome.

"O velho fazendeiro" Towers, como Henry era chamado, havia se endividado por causa dos custos de manutenção da propriedade, recusando-se a pedir ajuda ao sobrinho. Sempre dizia que ele era um ricaço esnobe e pomposo, que se regozijaria com a desgraça do tio. Por isso, o "fazendeiro" resolvera vender lotes de sua propriedade.

Após sua morte, o sobrinho havia comprado novamente todos aqueles pequenos lotes, exceto o deles! Portanto, tinha dinheiro bastante para ajudar o velho Towers. Enquanto Jerome Towers era um milionário, seu tio juntava cada centavo que podia. Seu orgulho de camponês jamais permitiria que ele aceitasse ajuda, muito menos a do sobrinho, a não ser que alguém lhe oferecesse.

Melissa atravessou a entrada de carros, admirando a estranha beleza da casa e dos estábulos vizinhos. Deu a volta e foi bater nervosamente na porta da cozinha. Ela não iria bater na porta da frente. Afinal, era apenas uma criada!

Uma mulher baixa, roliça e de rosto vermelho abriu a porta. Devia ser Freda, a cozinheira.

— Sim, querida? — ela sorriu.

Melissa também sorriu timidamente e explicou o motivo pelo qual viera substituir a mãe.

Freda foi bastante compreensiva com a situação, embora parecesse preocupada com alguma coisa.

— Graças a Deus você está aqui, querida.― suspirou. — Patsy também não veio hoje. Acabei de preparar o café para o irmão do sr. Towers e não há ninguém para levá-lo, a não ser eu mesma. Eu não gosto de andar pela parte principal da casa. Sou uma cozinheira, afinal — ela sorriu alegremente —, e o meu lugar é na cozinha.

— Não é um pouco tarde para o café? — perguntou Melissa, pendurando o casaco atrás da porta. Ela usava uma blusa de lã marrom e uma saia do mesmo tom, pois seu jeans era pouco adequado para trabalhar ali, principalmente se tivesse que andar pela casa levando bandejas de café!

— É, sim. Mas ele está descansando um pouco. Chegou ontem.

Bem, ela também chegara na noite anterior. Mas isto não significava que podia ficar toda a manhã na cama. Na realidade, ela se levantara mais cedo aquela manhã do que habitualmente.

— Não sabia que o sr. Towers tinha um irmão — disse, curiosa.

— Nem nós. — Freda colocou uma torrada na bandeja ao lado de um prato com lingüiça, ovos e tomates. — Até ele chegar...

— Quer que eu leve a bandeja agora? — Melissa ofereceu-se.

— Deixe-me apenas colocar este bule de chá. Ele gosta de chá pela manhã. Aqui está! Isto deverá enganar o estômago dele até a hora do almoço.

Como já era quase hora do almoço, Melissa não ficou muito surpresa.

— Onde fica a sala de jantar? — perguntou.

— Oh, ele não está na sala de jantar, meu bem — Freda sorriu. — Ele está lá em cima, no quarto dele.

— Ah, sim — disse ela, desapontada. É que após sua recente experiência no hospital, ela não estava disposta a aventurar-se a ir ao quarto de qualquer homem.

— Após subir a escada, a quarta porta à direita — explicou Freda, sem notar a relutância de Melissa. — É muito bom que você tenha vindo substituir sua mãe. Ela é uma ótima empregada.

Melissa sabia disto. Sua mãe nunca fora capaz de ficar parada, quando havia trabalho a ser feito. E geralmente havia muito serviço na fazenda...

— O repouso será bom para ela — disse sorrindo. — E eu farei o que puder para substituí-la.

— Tenho certeza, querida. Eu não quis dizer o contrário.

— Sei disso. — Melissa sabia que aquela simpática senhora fizera apenas um elogio à sua mãe. — Vou tentar não me demorar com isto — prometeu.

Ela observou, então, os detalhes daquela decoração luxuosa ao atravessar os aposentos.   A casa da   fazenda Towers   havia   sido completamente redecorada e mobiliada, antes que o novo proprietário se mudasse para lá. Melissa só não quis deter-se para admirar as novas combinações de cores, pois não queria chegar ao quarto com o café frio.

Não que ela achasse que o patrão merecesse aquilo. Afinal, o prepotente Jerome Towers chegara à casa sem ser anunciado e ainda queria ser servido como um príncipe! Café na cama às dez e meia da manhã, francamente!

Ela bateu na porta revestida de madeira, ouvindo um murmúrio como resposta. Bateu novamente.

Melissa ouviu outro murmúrio, um baque como se alguma coisa batesse no chão. Em seguida, a porta se abriu.

— Você! — ela exclamou, horrorizada. A bandeja quase caiu-lhe das mãos.

Parado à sua frente, os cabelos loiros desalinhados, os olhos congestionados pelo sono, vestindo apenas a calça azul de um pijama de seda, estava Roddy Meyers!

 

Seu olhar sonolento logo se desvaneceu e Roddy Meyers apoiou-se no batente da porta. — Muito bem! — ele exclamou ironicamente. — A pequena Melissa Finch por aqui!

Ela já havia se recuperado um pouco do choque, mas não completamente. Afinal, pensara que nunca mais o veria. — O que você está fazendo aqui? — perguntou ela em tom acusador. Não era possível! Mas essa desagradável surpresa ainda não explicava o motivo da presença daquele homem ali.

A última vez que o vira fora quando alguém o afastara dela, enquanto ela permanecia desamparada na cama. Ele havia acabado de arrastá-la até ali, para tentar violentá-la. Foram descobertos por uma enfermeira-chefe que fazia a ronda na ala das enfermeiras. Embora Melissa declarasse sua inocência, ninguém acreditara em sua história. Roddy Meyers afirmara que ela o havia convidado para ir até seu quarto, dizendo-lhe que se sentira atraída por ele desde o início. Então, naturalmente o primeiro incidente ocorrido no quarto particular dele voltara à tona.

Ela não podia culpar o pessoal do hospital por pensar o pior a seu respeito, não diante daquela evidência. Mas nunca perdoaria aquele homem pela mentira que dissera a seu respeito. Ele era desprezível, e ela o odiava profundamente.

Afastando-se dele, Melissa colocou a bandeja sobre a mesa do quarto. Estava atônita, mas precisava resolver algo muito sério naquele momento.

— Eu lhe fiz uma pergunta. — Ela se voltou para Roddy Meyers. Seus olhos verdes brilhavam furiosamente. — O que você está fazendo nesta casa?

— Pensei que tudo estivesse esclarecido — ele ironizou. — Não deu para notar que estou hospedado aqui?

— O que é isto? — ela gritou. — Um hotel, por acaso?

Ele fitou-a com um sorriso cínico. — Que eu saiba, não. O que você está querendo dizer?

Melissa suspirou. Lembrou-se, então, de que havia sido por causa de sua firme resistência aos avanços daquele jovem, que ele resolveu tentar violentá-la. Era um belo rapaz, de vinte e cinco anos de idade, longos cabelos loiros, olhos azuis. Mesmo assim, ela não se sentira atraída por ele. Quanto a Roddy, era evidente que ficara obcecado por Melissa, desde a primeira vez que se encontraram. A partir daí, em todas as oportunidades que tivera, ele a havia convidado para saírem juntos. Suas recusas constantes haviam sido responsáveis por aquele infeliz desenlace.

— Quero dizer que Jerome Towers parece ter hóspedes demais por aqui. Assim, os criados dificilmente poderão dar conta do serviço — disse ela rudemente.

Roddy franziu as sobrancelhas.

— Rome tem hóspedes?

— Rome?

— Eu sempre o chamei assim — ele explicou.

— Intimidade, hein! — zombou ela.

— Você não gosta dele? — ele perguntou astutamente.

— Eu nunca o vi — ela respondeu — Mas por que você está hospedado aqui?

— Você se esqueceu de que me pediram delicadamente para deixar o hospital? — O sarcasmo dele era inconfundível.

— Bem, pelo menos quanto a você, tudo foi feito de maneira civilizada. Quanto a mim, fui demitida — ela lembrou.

— Bem, foi uma vergonha, mas...

— Uma vergonha! — ela gritou. — Foi mais do que isto para mim. Você arruinou a minha carreira, como sabe. Nunca arrumarei outro emprego num hospital. Nunca saberei como você descobriu qual era o meu quarto.

Ele sorriu com malícia.

— Eu perguntei à sua amiga Tracy.

Perplexa, Melissa arregalou os olhos.

— E ela lhe disse? — Ela sempre considerara Tracy sua melhor amiga no hospital. Havia até prometido manter-se em contato com ela, e verificava agora que Tracy ajudara aquele homem a fazer com que fosse despedida. Aquilo não parecia típico de Tracy.

Roddy sentou-se na cama, afastando os cabelos do rosto.

— Eu disse a ela que você havia me convidado para ir aos seus aposentos. Falei que você estava me esperando e que eu havia me esquecido do número do seu quarto.

— E ela acreditou em você? — gritou Melissa. — Ela sabia que várias garotas introduziam rapazes às escondidas em seus quartos, embora fosse expressamente proibido pelo regulamento do hospital. Mas ela nunca gostou o suficiente de alguém para correr o risco de ser apanhada em flagrante.

Ele sacudiu os ombros

— Ela não tinha nenhuma razão para não me dar a informação que eu estava pedindo. Além do mais, eu lhe contei uma história convincente.

— Oh, sei disto! — ela exclamou, ainda mais irritada.

— Bem — Roddy sorriu maliciosamente. — Que coincidência nós dois estarmos no mesmo lugar!

— Acontece que eu moro aqui — vociferou ela.

— Pelo menos agora sei que não me sentirei mais entediado.

Melissa encarou-o furiosa. — Não conte comigo para diminuir o seu tédio — Ela pegou a bandeja. O café já devia estar frio a essa altura. Teria que descer para buscar outro bule.

Roddy a estava observando.

— Aonde você vai com isso?

— Trocar a bandeja e levá-la à pessoa certa.

— Largue isso — ele ordenou. — Esse é o meu café!

— Mas onde está o irmão de Jerome Towers?

— Sou eu — ele disse em tom divertido,

Ela quase derrubou a bandeja pela segunda vez. — Você é irmão dele? — Era falta de sorte demais!

— Exatamente — Roddy confirmou, rindo. — Meio irmão, na verdade, mas isso nunca teve muita importância.

Se descobrissem que ele era o homem envolvido em sua demissão e que estava hospedado tão próximo à sua casa, nunca acreditariam em sua inocência. — Ele sabe por que lhe pediram para deixar o hospital? — perguntou ela, relutante.

Roddy riu. Tirando a bandeja de suas mãos e servindo-se de uma xícara de chá. — Ele nem mesmo sabe que me pediram para deixar o hospital e muito menos está informado quanto ao motivo.

― Não sabe? — Ela quase suspirou de alívio. Talvez se Roddy Meyers também não tivesse interesse em que o passado se tomasse público, eles pudessem manter o escândalo em segredo.

— Não — ele mordeu um pedaço de torrada. — Eu apenas lhe disse que recebi alta.

— E ele acreditou ?

— E por que não acreditaria? Então, agora você está trabalhando para meu irmão? — Ele lançou-lhe um olhar malicioso.

― Não. Não é isso. Eu só estou ajudando. E agora que sei quem você é, não pretendo mais ficar — disse ela, furiosa. — Vou embora agora mesmo!

Roddy se postou diante da porta para impedir sua saída, segurando-lhe os braços.

— Não faça isto, Melissa. Você esteve contra mim desde o início. Afinal, por que não gosta de mim?

— Talvez você tenha insistido demais — ela se esquivou. — Qualquer que seja a razão, quero que tire as mãos de mim.

— Oh, vamos, Melissa. Ainda estou interessado em sair com você — disse ele em tom lisonjeiro. — E agora que não existe nenhuma relação entre paciente e enfermeira para nos impedir, podemos reatar tudo...

— Não me lembro que isso o tenha impedido antes!

— Não, bem... — ele sorriu — você é bonita, muito desejável. Não pode censurar um homem por ser persistente.

— Eu devia odiá-lo pelo que me fez — disse ela, indignada.

— Mas não me odeia — ele murmurou suavemente, com o olhar fixo em seus lábios entreabertos. — Oh, Melissa, eu...

— Roddy, você vai se levantar para... — disse uma voz que interrompeu a frase bruscamente. A porta fora aberta. E dois olhos castanhos pousaram sobre eles, que se encontravam muito juntos.

Melissa desvencilhou-se do abraço de Roddy Meyers e reparou no olhar de censura de Jeff Robbins, que a fez sentir-se embaraçada. Ela desejava vê-lo novamente, mas não naquelas circunstâncias.

— Estou vendo que já acordou, Roddy — ele falou, enquanto examinava Melissa de modo irreverente. — E também já encontrou companhia, pelo jeito.

Roddy sorriu maliciosamente.

— Eu estava apenas conhecendo a nova empregada.

— Não sou a nova empregada! — Melissa negou, irritada.

— Não, ela não é — concordou Jeff Robins. — A srta. Finch está apenas substituindo a mãe dela — explicou secamente.

— Eu estava tentando convencer Melissa a dar um passeio comigo esta tarde — mentiu Roddy, colocando-a em má situação.

— Ah, sim! — Outra vez os olhos castanhos dele a percorreram. — E conseguiu?

— Ela é um pouco difícil para se comprometer definitivamente com alguma coisa — disse Roddy. — Mas vivo de esperanças.

— E não é o que todos nós fazemos? — falou Jeff.

De repente, a expressão de Roddy alterou-se.

— Por acaso, você também está interessado nela? — perguntou, ressentido.

— Ninguém está interessado em mim! — Melissa interrompeu a conversa, desejando que Roddy Meyers se calasse e que ela tivesse chance de convencer Jeff Robbins que aquela situação fora forjada pelo outro rapaz. Mas ele não parecia propenso a acreditar nela.

— Já estiveram juntos antes?—Jeff quis saber.

— Não! Não é o que está pensando. Eu...

— Bem, Rome... Acho que ela está um pouco embaraçada — Roddy gracejou.

Rome? Então, aquele era Jerome Towers? Que situação absurda! Mas que outra explicação haveria para o fato de ele andar tão livremente pelos aposentos da casa? O administrador da propriedade não teria intimidade a esse ponto. Por que ele não lhe dissera quem realmente era naquela manhã? Não é de se admirar que ele não soubesse nada sobre o trator que supostamente deveria consertar.

Por que ele não lhe dissera a verdade? Será que se divertira vendo-a passar por tola? Sabia agora o motivo por que ele mudara de idéia quanto a sair com ela. Dificilmente ele gostaria de ter um encontro com alguém que estava trabalhando como auxiliar de cozinha em sua própria casa. De repente, tudo o que o velho fazendeiro havia dito sobre aquele homem parecia-lhe a pura verdade: ele era apenas um milionário esnobe.

Ele ainda a observava atentamente, percebendo a sua surpresa. — Talvez você deva vestir alguma roupa. Assim, a jovem se sentirá menos constrangida.

— Melissa está acostumada a ver homens sem roupa — afirmou Roddy.

O desprezo de Jerome Towers por ela pareceu aumentar.

— É verdade? — perguntou, irritado.

— E claro que sim! Afinal, ela é enfermeira, não é?

— Como você sabe disto? Já conhecia Melissa? — Jerome quis saber, mostrando suas suspeitas novamente.

— Ela trabalhava na minha ala, no hospital, não é, querida? — Roddy olhou para ela, esperando confirmação.

Melissa enrubesceu, desejando que ele não revelasse os demais detalhes. — Sim — concordou vagamente.

— Antes que ela ficasse doente, certamente, não é? — perguntou Jerome Towers com frieza. — Se você era paciente dela, Roddy, posso muito bem compreender por que ela não foi suficientemente forte para continuar tratando de você — acrescentou em tom irônico.

Roddy a olhou divertido. — Eu não percebi nada. Fiquei até surpreso com o seu súbito desaparecimento — zombou ele.

Melissa lançou-lhe um olhar ressentido. — Bem, agora você já sabe — completou ela.

— Sim — ele sorriu maliciosamente.

— Não é melhor voltar agora para a cozinha, srta. Finch? — perguntou Jerome Towers secamente. — Estou certo de que Freda precisa de sua ajuda.

Ela enrubesceu ante aquele tom de censura. — Sim, com licença.

— Pois não — ele falou lentamente.

— Melissa? — Roddy Meyers a deteve à porta. — Nosso encontro à tarde está em pé?

Seus olhos brilharam com fúria. — Saia da minha frente!

— Só queria que você me contasse sobre a sua doença — ele acrescentou ironicamente.

Melissa encarou Jerome Towers, sentindo-se inferiorizada ante o desprezo do seu olhar. O que lhe dava o direito de ser tão prepotente?

— Sim, está bem. — Ela concordou com a chantagem de Roddy. Ela aproveitaria a oportunidade para dizer-lhe algumas verdades. — A que horas?

— Às duas e meia?

— Está bem. Eu o encontrarei lá embaixo. — Ela não queria que sua mãe e Brian soubessem do encontro, principalmente o irmão. Se ele descobrisse a ligação deles, provavelmente procuraria Roddy e o desafiaria para uma briga. Nesse caso, não haveria qualquer possibilidade de esconder o passado.

— Eu irei buscá-la em sua casa — ele insistiu.

— Não! — disse Melissa, procurando manter um tom de voz tranqüilo, pois sabia que Roddy poderia criar problemas propositalmente. se descobrisse que ela desejava mantê-lo longe de sua casa. — Prefiro andar um pouco.

— Está bem — ele encolheu os ombros.

Melissa lançou um olhar ressentido a Jerome, antes de sair do quarto, correndo escada abaixo, querendo afastar-se de ambos o mais rápido possível. Mas ouviu uma voz atrás dela:

— Srta. Finch! — Jerome parou a seu lado no hall.

Foi preciso reunir muita coragem para voltar-se e encará-lo, enfrentar a desaprovação estampada em seu olhar. Por que ele tinha que ser tão rígido? Afinal, ele havia mentido para ela, enganando-a. Ela se sentia completamente tola agora, ao pensar na maneira como havia se comportado com ele, nas coisas que havia dito. E ainda permitira que ele a beijasse! Não! Ela havia deixado que Jeff Robbins a beijasse, e não esse estranho arrogante.

— Sim, sr. Towers? — perguntou num tom frio.

— Freda disse que você saiu para levar o café a Roddy há quinze minutos — disse ele secamente.

Ela não esperava por isso. Ficou embaraçada. — Sim?

— Se você deseja continuar substituindo sua mãe até que ela se recupere, eu a aconselho a não passar muito tempo no quarto de meu irmão, não importa qual o relacionamento que tenha existido entre vocês antes.

— O que Roddy lhe disse a respeito? — Melissa perguntou, ansiosa.

— Ele mal teve tempo de me dizer alguma coisa Jerome Towers respondeu secamente. — Mas a sua apreensão confirma que minha suposição é correta. E os outros empregados também chegarão à mesma conclusão, se você levar quinze minutos para entregar-lhe a bandeja de café todas as manhãs.

— Por que você se preocupa com isso?

― Estou lhe avisando apenas para o seu próprio bem — ele interrompeu a explosão de fúria dela. — Depende de você aceitar ou não o meu conselho. — Jerome afastou-se em direção a uma porta, que ela imaginou ser do escritório dele. — E, srta. Finch — ele vacilou, voltando-se mais uma vez — acho que ninguém deve recusar um encontro, recorrendo à doença de sua mãe como desculpa. Você podia dizer claramente que tinha algo com Roddy. A menos, naturalmente, que você estivesse tentando optar pelo irmão mais rico. Afinal, ele sempre seria uma presa melhor. — Então, entrou no escritório, fechando a porta ruidosamente.

Num ímpeto de raiva, Melissa caminhou apressadamente através do corredor, irrompendo no que achava ser o escritório de Jerome. — Agora me ouça, sr. Towers! — ela gritou para o homem que se encontrava junto à porta, como se a esperasse. — Eu quero lhe dizer que...

Suas palavras foram interrompidas bruscamente. Ela sentiu-se impelida; então, contra a rigidez de um corpo masculino. Agarrando-a firmemente, Jerome Towers inclinou a cabeça e a beijou.

— Largue-me! — ela exclamou, quando ele a soltou. Ele a encarou. — Eu sabia que você viria até aqui. Ela arregalou os olhos. — Foi por isso que você...?

— Bem... — ele concordou com a cabeça, olhando fixamente seus lábios entreabertos.

— Seu cafajeste, arrogante!

Voltando-se, ele foi sentar-se à escrivaninha. — Eu não podia tê-la beijado lá no corredor. Alguém poderia ver-nos.

— Você não tinha qualquer direito de me beijar! — exclamou, irritada, sentindo ainda o toque daqueles lábios em sua boca.

— Mas beijei — disse ele calmamente. — Agora, o que há entre você e Roddy?

— Não vou lhe dizer coisa alguma. — Seus olhos brilharam furiosamente. — Concentre-se apenas nos seus negócios sujos! — Ela saiu do escritório, ouvindo ainda o som da risada zombeteira dele.

Freda estava ocupada preparando o almoço quando Melissa entrou na cozinha. A cozinheira perguntou:

— Está tudo bem? Você parece um pouco corada!

— Estou ótima — murmurou Melissa.

— O jovem Roddy quis conquistá-la, não é? — insistiu Freda. — Ele não toma jeito!

— Ele tem o hábito de fazer isso? — Melissa não pôde esconder a curiosidade.

— Bem, ele fez uma porção de tentativas com Patsy, quando esteve aqui da outra vez. Na verdade, não ficaria surpresa se foi por isto que ela ficou doente hoje. Então imaginei que ele tivesse tentado o mesmo com você.

— Não houve nada que eu não pudesse controlar — Melissa interrompeu, imaginando o que diria Freda se soubesse que ela corria mais risco com Jerome Towers do que com seu irmão.

— Então, está tudo bem — Freda sentiu-se aliviada. — Pode ir buscar um pouco de hortelã na horta da casa? — pediu ela.

Melissa dirigiu-se para o quintal, pensando ainda no beijo ardente que Jerome lhe dera. Apesar da sensualidade daquele contato, estava indignada. Afinal, ele não tinha direito algum de beijá-la, sempre que quisesse. Se ele tentasse novamente, ela teria uma reação agressiva. Mas suspirou ao pensar isso. Não seria bem assim. Ela corresponderia ao beijo dele. Sabia, no íntimo, que corresponderia. Por mais que tentasse manter sua atitude de antipatia por Jerome, a verdade é que ele a perturbava demais.

Quando voltou à cozinha, Freda contou-lhe sobre os hábitos moderados do patrão quanto à alimentação.

— Talvez ele esteja com medo de ficar velho — Melissa repetiu o mesmo comentário mordaz que fizera pela manhã à sua mãe, embora agora soubesse que não correspondia à realidade. Jerome Towers era um homem forte. Tinha os ombros largos e vigorosos, a cintura esbelta, as coxas musculosas, o ventre liso e firme. Estava no auge do vigor físico.

— Aos trinta e dois anos? — Freda espantou-se. — Você está brincando!

Concentrada em seu trabalho, Melissa começou a pensar em sua vida. Apesar de ter passado os seus primeiros nove anos na cidade, logo adquirira os modos e os conhecimentos da vida do campo. Ela e Brian haviam sido muito mais felizes ali. Tinham muito espaço para brincar e respiravam ar puro. Eles haviam se mudado para lá justamente por causa do ar puro. A saúde de seu pai piorava muito na cidade.

Sua mãe parecia um pouco melhor, quando ela voltou na hora do almoço. Mas Melissa insistiu para que ela continuasse na cama.

— Como foram as coisas, querida? — perguntou-lhe a mãe.

— Tudo bem. Faltaram alguns empregados hoje. Ofereci-me para trabalhar à tarde, mas a sra. Reece disse que não seria preciso. — Fora um grande desapontamento para Melissa. Se tivesse que trabalhar à tarde, teria uma boa desculpa para não se encontrar com Roddy.

— Foi muito delicado da sua parte, meu bem — ela sorriu. — Como se sentiu com Freda e a sra. Reece?

Melissa encolheu os ombros. — Freda é ótima pessoa, mas tive pouco contato com a sra. Reece, que estava ocupada organizando a limpeza da casa.

― Está muito bonita agora, não é? Os aposentos foram redecorados.

― Ficou linda! — Melissa concordou de má vontade, pois sabia que Jerome Towers fora o responsável pelas reformas sofisticadas. Ao contrário do velho fazendeiro Towers, que se preocupava apenas em que a casa parecesse aconchegante.

— O ambiente da casa é muito agradável agora, Melissa. E será mais ainda quando houver crianças correndo por lá.

Melissa logo imaginou as figuras de um menino e de uma menina, com os olhos e os cabelos escuros como os do pai. Seriam realmente crianças adoráveis, se fossem parecidas com Jerome Towers.

— O sr. Towers está pensando em se casar? — perguntou, tentando manter-se despreocupada.

— Bem, ele tem uma garota em Londres. Ela já esteve na casa dos Towers algumas vezes. É uma moça linda, muito simpática, não muito alta, tipo mignon e de cabelos ruivos.

A descrição a deixou irritada. Por ser bastante alta, Melissa sempre se destacava em meio a outras mulheres. Certamente ela nunca seria o tipo que despertaria o instinto protetor dos homens.

— Brian emprestou o trator dos Towers? — Ela mudou de assunto.

— Acho que sim, querida — disse a mãe vagamente. — Eu lhe dei o recado. Então, ele pediu a Taylor, da oficina, para examinar a máquina.

— Muito bem — Melissa levantou-se. — Vou preparar-lhe o almoço. Bem... eu terei que sair mais tarde. Não vou me demorar — acrescentou rapidamente. Seria apenas o suficiente para dizer a Roddy Meyers que não aceitaria a chantagem dele uma segunda vez.

— Vai sair com algum de seus amigos? — sua mãe perguntou.

— Ah, sim. — Embora dificilmente pudesse considerar Roddy Meyers como um amigo.

— Isso é bom, querida. — A sra. Finch fechou os olhos. — Eu estava me sentindo muito culpada por ficar deitada aqui e deixá-la tão sozinha.

— Não estou aqui passando férias, mamãe — Melissa afirmou. — Estou aqui para trabalhar, agora.

— Você tem certeza de que não existe nenhuma possibilidade de ser readmitida no hospital?

— Não, a menos que o rapaz se digne a dizer-lhes a verdade. E como ele já saiu do hospital, acho que não existe qualquer probabilidade de que isso venha a acontecer.

— Isso é muito triste — comentou sua mãe. — Você sempre quis ser enfermeira.

— Sim — Melissa concordou com tristeza. — Mas, afinal — acrescentou —, não podemos ter tudo o que queremos na vida. E talvez agora que estou em casa eu possa ajudar Brian um pouco.

— O trabalho no campo não é para uma garota, Melissa. Precisamos é de um outro homem.

— Bem, você tem que se arranjar com o que conseguir — disse Melissa, rindo — e, no caso, comigo!

— Você não pensou mais sobre a venda da sua parte na propriedade ao sr. Towers?

Sua expressão se enrijeceu.

— Não preciso pensar no assunto. Não venderia a ele mesmo que necessitasse.

— Não estamos muito longe disso — sua mãe suspirou.

— Não seja tola — disse Melissa asperamente. — Tudo o que precisamos aqui é de trabalho duro e...

— E você não acha que Brian já está fazendo isso? — o temperamento geralmente dócil de sua mãe cedeu lugar à irritação. — Você não acha que ambos temos trabalhado? Mas não é suficiente. Não podemos fazer mais que isso.

— Mas se eu...

— Não é suficiente. Melissa — repetiu a mãe firmemente. — Seu pai deixou a fazenda para nós três, mas não creio que ele pretendesse que isso representasse um sacrifício. Ele sabia que eu sempre teria um lugar na casa de sua Tia Rose, assim que meus dois filhos não estivessem mais comigo.

— Obrigada pelo aviso! — disse Melissa secamente.

— Bem, espero que você se case um dia.

— Eu também espero.

Sua mãe lançou-lhe um olhar impaciente.

— É claro que vai se casar. Afinal, você é uma bela garota.

— Papai sempre dizia que herdei a sua beleza — disse Melissa carinhosamente.

Sua mãe enrubesceu.

— Sim, ele dizia — concordou melancólicamente. — Mas, voltando ao nosso assunto, estou certa de que seu pai pretendia que vendêssemos a fazenda novamente ao sr. Towers. Na verdade, ele falou várias vezes sobre isso antes de morrer. Ele queria que usássemos o dinheiro da venda do jeito que achássemos melhor. Sei que Brian queria tentar trabalhar a terra durante um ano, para ver co­mo se sairia. — Ela suspirou. — Mas agora está claro que ele não con­segue fazer tudo.

— Então você quer vender? — perguntou Melissa de repente.

— Quero — concordou sua mãe. — E acho que Brian também, se pudesse achar um trabalho para ele nesta região. Joyce não gostaria de morar muito longe dos pais.

Joyce era namorada de Brian há dois anos, e eles estavam planejando casar logo. Pelo que Melissa sabia, era devido às condições financeiras da fazenda que estavam retardando seus planos.

— Acho que deve conversar com Brian sobre o assunto, Melissa — aconselhou a mãe.

— Talvez mais tarde eu faça isso, mamãe. — Se Brian realmente quisesse vender a sua parte, ela não teria outra escolha a não ser concordar. Mas não gostaria de negociar suas terras com Jerome Towers, isso não.

Ela ainda estava pensativa ao ir ao encontro de Roddy, mais tarde. O sorriso triunfante que ele ostentava fez aumentar ainda mais a raiva que Melissa sentia.

— Não precisa mostrar-se tão feliz e vitorioso — disse, quando ele a levou até o carro —, não estou aqui por minha vontade — acrescentou com mau humor.

Roddy respondeu cinicamente. — Mas o que importa é você estar aqui. — Acelerou o carro. — Para onde vamos?

— Aqui já está bom, eu acho — ela disse firmemente. — Apenas concordei em vir até aqui para lhe dizer que não serei obrigada a me encontrar com você novamente.

— Obrigada, Melissa? — Ele pareceu espantado.

— Sim, obrigada! Você sabe que eu não quero que seu irmão fique sabendo do problema que tive no hospital. Aliás, não gostaria que pessoa alguma soubesse — acrescentou rapidamente, ao notar o olhar inquisidor dele.

— Mas você mencionou Rome em primeiro lugar. — disse ele, pensativo. — Por que ele especialmente?

— Apenas o mencionei porque ele foi testemunha da sua chantagem — ela falou com embaraço. — Gosto ainda menos de seu irmão do que de você.

Eles ainda estavam andando. A vegetação alta às margens da estrada impedia que eles vissem algo mais do que as pistas. Isto lhes dava uma intimidade que Melissa achou perigosa.

— Você parece ter ficado encantada com Rome — ironizou Roddy. — Ficou com ódio por que ele a viu nos meus braços.

— Fiquei com ódio por estar nos seus braços — ela corrigiu. — A presença de seu irmão naquele momento foi insignificante.

— Você é uma mentirosa, Melissa Finch — disse-lhe Roddy asperamente. — Não sei o que há com Rome, mas todas as mulheres ficam fascinadas por ele.

— Minha mãe me contou que ele tem uma namorada em Londres. — Nesse caso, ela concluiu, Jerome Towers não tinha qualquer direito de convidá-la para sair.

— Acho que sua mãe estava se referindo a Stella — afirmou Roddy calmamente. — Ela é amante de Rome há um ano.

— Amante dele! — Melissa exclamou precipitadamente. — Meu Deus que situação encantadora! — exclamou, irritada.

— Mas verdadeira. Stella não se importa. Ela gosta de desempenhar esse tipo de papel. Provavelmente gostaria de ser a esposa dele também, mas Rome não é capaz de manter relações mais sérias.

— Um ano de convívio parece uma coisa bem séria para mim.

— Para mim também é demais — Roddy sorriu. — Mas um dia Stella acordará e descobrirá que Rome simplesmente já a afastou da vida dele. Então, ela vai ficar implorando por ele, pedindo-lhe que volte. E ele vai apenas ignorá-la, como se nunca a tivesse visto antes. Eu mesmo já agi desta maneira com várias garotas.

— Ele me parece um verdadeiro animal — comentou Melissa.

— Eu sou a única pessoa que não é atingida pela rigidez de julgamento dele — afirmou Roddy com satisfação. — Rome não consegue ver nada de errado no comportamento do irmãozinho.

— O que você está querendo dizer? — perguntou ela, revelando suas suspeitas.

— Mesmo que você lhe conte a verdade sobre o que aconteceu no hospital, ele não acreditará em você. A opinião de Rome a respeito das mulheres não é muito favorável.

— Quer dizer que ele nunca o flagrou numa situação comprometedora? Nunca soube das suas tentativas de levar garotas para a cama à força? — Melissa escarneceu, indignada com o comportamento dos dois. — Nem mesmo Patsy? — perguntou, mais calma.

Ele enrubesceu violentamente.

— O que você sabe sobre ela?

— Sei apenas que ela é uma moça recém-casada e que está com medo de trabalhar nesta casa, enquanto você estiver aqui. O que você fez à pobre garota?

— Nada — respondeu ele com visível mau humor. — Aliás, não sei o que você tem a ver com isso.

Melissa sacudiu a cabeça.

— Por que não escolheu uma mulher que correspondesse aos seus desejos?

— Quem disse que ela não corresponde? — perguntou ele.

— Eu mesma. Patsy está casada há apenas seis meses. Duvido que ela esteja interessada em manter um romance extraconjugal.

A expressão de Roddy alterou-se. — Toda mulher está interessada num romance, seja ela casada ou não.

— O seu problema, Roddy — continuou Melissa —, é que você pensa que toda mulher joga alto para ganhar. Bem, eu não estava interessada nisso e ainda não estou. Agora, façamos um trato: não direi nada a seu irmão sobre você, Roddy, se você não lhe contar nada sobre mim. Acho que devemos manter tudo em segredo.

— Talvez — ele concordou pensativamente. — Quer dizer que você não vai sair comigo?

— Não mais — ela controlou a raiva com dificuldade. — Quero que fique longe de mim. Você já arruinou a minha carreira. Não quero que me prejudique mais. Ninguém sabe, nem minha família ou qualquer outra pessoa, que você é o homem envolvido na minha demissão. Pretendo que as coisas fiquem como estão. Está certo?

— Suponho que sim — ele concordou de má vontade.

Melissa suspirou aliviada. Pelo menos um de seus problemas estava resolvido.

— Bem, agora você pode me levar de volta.

Roddy lançou-lhe um olhar irritado. — Já que está aqui, pelo menos podia ficar comigo.

— Já disse o que queria. Não, talvez não tenha dito tudo. Se você se atrever a contar a alguém a respeito daqueles incidentes no hospital, eu providenciarei para que seu irmão saiba a verdade sobre o meu caso e o de Patsy. Duas mulheres, aos olhos da sociedade, não estarão mentindo a respeito do mesmo fato!

— Como você é esperta!

— É assim que a gente fica quando a nossa reputação está em jogo, quando nem mesmo a nossa família tem certeza de que estamos dizendo a verdade — ela lembrou amargamente da conversa que mantivera com Brian.

— Não se exalte tanto! — disse Roddy. — Eu já lhe falei que sinto muito!

— Não, você não falou — ela respondeu. — Mas mesmo que tivesse dito, isto não tomaria as coisas diferentes. Suas pretensas boas intenções só teriam validade se você contasse a verdade à direção do hospital.

— Você sabe que não vou fazer isso — continuou Roddy. — Tenho certeza de que Rome, ao descobrir tudo, suspenderia minha mesada, entre outras coisas. E isso eu não quero por nada deste mundo.

— Na sua idade, você deveria estar trabalhando e ganhando seu próprio dinheiro, e não ficar explorando seu irmão.

— Como você é antiquada!

— Não está contente porque me recusei a sair com você? — ela prosseguiu com firmeza. — Leve-me de volta para a sua casa. Preciso falar com a sra. Reece, a governanta.

Eles fizeram o caminho de volta em completo silêncio. Após deixar Melissa, Roddy afastou-se em alta velocidade. Ela encontrou a sra. Reece na cozinha tomando chá. Melissa prometera voltar para saber se Patsy iria trabalhar no dia seguinte. Caso contrário, ela ajudaria novamente nos serviços da casa.

— Patsy não virá mais — disse-lhe a sra. Reece com um suspiro. — Donald não quer mais que ela trabalhe.

Afinal Roddy conseguira atemorizar a outra garota. Donald Jones era um rapaz possessivo e não suportava o mais leve sinal de interesse de outro homem por Patsy. Por isso, ele tomara aquela decisão.

— Bem, por alguns dias poderei vir em tempo integral — ofereceu-se Melissa. — Até que arrumem outra pessoa.

— Você pode vir? — A sra. Reece aceitou cheia de gratidão.

— Apenas por enquanto — Melissa concordou com a cabeça.

Nesse instante a porta que levava à parte principal da casa foi subitamente aberta e Jerome Towers parou à frente delas, encarando-as. Melissa levantou-se bruscamente, enquanto a sra. Reece e Freda estavam muito à vontade diante do patrão.

Os olhos castanhos dele percorreram maliciosamente o corpo de Melissa, que se sentiu encabulada.

— Roddy me disse que eu a encontraria aqui — Jerome Towers dirigiu-se a ela.

Então ele já havia voltado! — Vim falar com a sra. Reece — respondeu em tom seco.

— Ele me falou a respeito disso também — Jerome disse lentamente. — Queria apenas que você levasse um recado a seu irmão. Diga que irei vê-lo esta noite. Há algumas coisas que quero discutir com ele.

Melissa ficou furiosa com o tom despótico daquele homem. — Se for algo referente à fazenda, pode discutir comigo — conseguiu dizer-lhe.

A expressão de Jerome Towers alterou-se de repente. — Considero que as mulheres têm suas utilidades — disse-lhe em tom de insulto. — Mas meter-se nos negócios não é uma delas. Diga a Brian que estarei lá aproximadamente às oito e meia. — E saiu tão abruptamente quanto entrara.

 

Melissa deu o recado ao irmão, observando inquieta o ar de preocupação que se estampou no rosto dele.

— Imagino o que ele quer — disse Brian pensativo.

— Eu não faço a menor idéia — respondeu Melissa, revelando seu mau humor. — Ele não me contou.

— Você perguntou a ele?

— Sim.

Brian sorriu maliciosamente diante da resposta irritada da irmã.

— A propósito, Jeff me contou que não teve tempo para vir examinar o trator esta manhã, mas que o sr. Towers lhe disse para que pegássemos um deles. Como o sr. Towers ficou sabendo do assunto?

Melissa explicou-lhe o engano que cometera, embora omitisse o convite que Jerome Towers lhe fizera para jantar. Conseqüentemente, também não lhe disse que ele havia mudado de idéia ao perceber que ela era sua empregada.

— Foi apenas um engano que qualquer pessoa poderia ter cometido — acrescentou secamente.

— Oh, sim — riu Brian. — Jeff e o sr. Towers realmente se parecem. Jeff é mais ou menos da minha altura e tem cabelos ruivos — gracejou —, enquanto o sr. Towers deve ter mais de um metro e oitenta e cabelos pretos.

— Bem, eu não sabia disso! Não é de se admirar que mamãe tenha ficado surpresa, quando eu disse que achava que Jeff era bonito! Eu não podia imaginar que o famoso sr. Towers viesse pessoalmente trazer Berta de volta.

Brian encolheu os ombros.

— Duvido que alguém mais se dispusesse a fazer isso. Além do mais, todos estiveram muito ocupados durante a manhã.

— Eu não era obrigada a saber de todos esses detalhes — ela murmurou. — Senti-me bastante tola, quando descobri a verdade.

— Vou tomar um bom banho. — Dizendo isto, Brian se levantou da mesa do jantar. — E preciso telefonar a Joyce para dizer-lhe que talvez eu chegue mais tarde esta noite.

Melissa foi buscar a bandeja no quarto da mãe. — Está se sentindo melhor? — perguntou ao entrar.

— Um pouco. Você está me mimando demais, Melissa. Não consigo me lembrar da última vez em que fui tão bem tratada.

— Nem eu. Por isso é que pretendo que permaneça na cama até ficar bem de saúde. Trabalharei em tempo integral na casa dos Towers nos próximos dias, mas poderei vir até aqui preparar o seu almoço — prometeu Melissa.

— Não precisa se preocupar com isso, querida. Posso levantar-me e preparar alguma coisa. Mas, mudando de assunto, você sabe por que Brian está tão contente? — Ele estava assobiando no quarto. — Está tudo em ordem? — perguntou sua mãe, sabendo que Jerome Towers viria até a casa deles aquela noite.

— Sim — Melissa suspirou. — Agora, durma um pouco. Você parece cansada.

Sua mãe mostrou-se preocupada. — Se você lhe servir chá ou café, use a nossa melhor louça.

— Pare de se preocupar, mamãe! — riu Melissa. — Farei tudo para não desapontá-la.

— Não é isto — sua mãe enrubesceu. — Acontece apenas que o sr. Towers é um jovem maravilhoso, sempre bondoso comigo. Simplesmente quero demonstrar-lhe a mesma delicadeza.

— Está bem, mamãe. Serei educada com ele. — Se ele permitir, ela pensou. Afinal, ele parecia disposto a manter-se hostil com ela todas as vezes em que se encontravam.

Apesar de pequena, a casa deles sempre estava impecavelmente limpa e arrumada. Havia flores enfeitando a sala. A lareira, que Melissa havia acendido, também conferia um ar aconchegante à sala-de-estar.

Brian estava telefonando para Joyce quando Jerome Towers chegou exatamente às oito e meia. Foi Melissa quem abriu a porta para ele. Muito elegante e charmoso, Jerome Towers provavelmente tinha bastante noção do impacto que causava sobre as mulheres.

— Quer entrar? — ela convidou.

A expressão dele era de puro cinismo.

— Bem, como já sabe, estou aqui para uma visita — ele falou lentamente, enquanto a acompanhava até a sala, abaixando a cabeça ao passar pela porta.

— Brian já vem. — Sua voz mantinha-se formal, num esforço para mostrar-se educada, pois ele tinha o incrível dom de irritá-la. — Ele está ao telefone na outra sala — explicou.

— Está bem. Posso me sentar? — Ele perguntou secamente.

— Ah, sim. Por favor, sente-se. — Ela o observou acomodar-se num dos confortáveis sofás diante do fogo e sentou-se longe dele. — Minha mãe, meu irmão e eu temos partes iguais nesta fazenda. Por isso, qualquer coisa que deseje conversar com Brian a esse respeito pode muito bem ser discutida comigo também.

― Eu não acho — ele respondeu.

Melissa enrubesceu.

— O senhor pode querer afastar as mulheres dos seus negócios, sr. Towers, mas no que se refere a esta fazenda, a maior parte das terras pertence às mulheres.

— Estou certo de que sua mãe compartilha a opinião de Brian a respeito da venda dessas terras — disse ele friamente.

— Mas eu não! — Seus olhos brilharam. — Esta fazenda é o meu lar.

— Até há poucos dias você não se importava nem um pouco com este lugar. Estava muito feliz morando em Redford — escarneceu. — Nem pensava em voltar para cá.

— Isto não é verdade! — Seus olhos mostraram ressentimento. — Sempre considerei a fazenda como o meu lar.

— Não há razão alguma para que não continue assim. Eu estou apenas interessado nas terras.

— Porquê?

— Por quê? — Ele se mostrou perplexo diante de sua pergunta. — Estou certo de que seu irmão já lhe explicou meus motivos.

— Ele pode ter explicado — Melissa concordou —, mas estou mais interessada em ouvir a sua versão.

— Já lhe disse antes — ele falou em tom aborrecido —, não acho que uma mulher deva meter-se em negócios.

— Seu irmão me explicou qual o lugar que o senhor reserva a uma mulher — disse Melissa melancolicamente.

A expressão de Jerome Towers tomou-se mais descontraída, quase alegre. — Tenho certeza de que você não concordou.

— Não, eu não concordo com o seu modo de agir nestes casos. Você é um...

Brian entrou na sala nesse momento.

— Você deveria ter me avisado de que o sr. Towers estava aqui — disse ele um tanto impaciente. — Eu estava apenas falando com Joyce.

— Estou certa de que ela não gostaria de interromper a conversa bruscamente — Melissa defendeu a futura cunhada.

Jerome Towers levantou-se, apertando a mão que Brian lhe estendeu.

— Podemos ir ao seu escritório para conversarmos? — sugeriu tranqüilamente.

Melissa olhou para ele com uma expressão furiosa.

— Não se preocupem comigo — disse nervosamente. — Estou de saída. Até logo, sr. Towers.

Ele a olhou com arrogância. — Gostaria de conversar com você mais tarde.

— Sinto muito, mas eu tenho que sair.

— Melissa.

— Eu o verei depois — ela interrompeu o protesto do irmão, e rapidamente da sala.

Que situação! Agora teria que sair de casa, apesar de não ter qualquer intenção de fazê-lo. Faria uma visita a Wendy, uma colega dos tempos de escola, e a Paul, o irmão dela, que também era seu amigo.

Wendy e Paul estavam ouvindo música, quando Melissa chegou. Ficaram surpresos ao vê-la de volta, logo após a sua última folga. Ela contou-lhe o motivo por que regressara, embora uma vez mais omitisse o fato de ser Roddy Meyers o homem envolvido.

— Então, temos uma mulher fatal entre nós — Paul brincou. Ele era um rapaz alto de cabelos escuros. Tinha vinte e dois anos, os olhos azuis risonhos e um temperamento indolente. Ele e Melissa freqüentemente saíam juntos, quando ela estava em casa, embora nunca seu relacionamento tivesse se transformado em algo sério. Apenas apreciavam a companhia um do outro.

— Pare com isso, Paul — repreendeu-o sua irmã mais nova, uma bela garota, morena como o irmão. — Não vê que Melissa está aborrecida com o assunto? Você sabe que ela sempre quis ser enfermeira.

— Lembro-me de que eu gostava de brincar de ser paciente dela, quando éramos crianças — gracejou Paul. — Eu costumava inventar alguns ferimentos nos lugares mais curiosos — ele sorriu maliciosamente — apenas para que Melissa pudesse fazer os curativos.

Melissa não pôde deixar de rir.

— Eu percebia os seus truques, e o enfaixava tanto que você nem conseguia se mover.

Ele fez uma careta.

— É isso mesmo! Eu havia me esquecido deste detalhe. Mas por que afinal você se envolveu com um canalha como esse paciente do hospital? Não dava para perceber o que ele estava querendo?

— Sim, eu sabia muito bem. Apenas pensei que pudesse controlá-lo.

— Bem, agora que você está aqui — Wendy sorriu. — Paul pode nos levar a algum lugar para tomarmos um drinque.

— Será que eu poderei afogar as minhas mágoas? — Melissa riu. — Acho que estou precisando disso. Jerome Towers está em casa conversando com Brian — explicou — e acho que ele está aprontando alguma das suas.

— Então, você finalmente o conheceu? — quis saber Wendy.

— Oh, não! — gemeu Paul. — Nem mencione o nome dele — pediu a Melissa. — Senão, Wendy ficará devaneando sobre o homem!

— Nada disso — falou a jovem com visível mau humor.

— Eu a conheço bem — Paul murmurou astutamente. — papo furado. Lá vamos nós!

— Acho que ele é muito sensual — insistiu Wendy.

— Não notei — Melissa respondeu lentamente. Ela havia sentido isso ao encontrá-lo pela primeira vez, mas mudara de opinião ao conhecê-lo me­lhor. Era um verdadeiro animal, e ela definitivamente não gostava dele.

— Você quer dizer que não gostou dele? — perguntou Paul.

— Exatamente, não gostei.

Ele sorriu maliciosamente.

— Até que enfim uma mulher sensível! Você prefere a mim, não é, querida? Ela riu. — Talvez.

Ele fez uma careta. — isso é tudo o que consigo de você: meias promessas.

— Não sei por que Melissa ainda sai com você — Wendy zombou do irmão. — Pensei que ela tivesse mais bom senso.

Melissa ouvia silenciosamente as brincadeiras dele no caminho para o bar. Iam os três apertados no carro esporte de Paul, que estava com o teto arriado para lhes dar mais espaço, apesar do frio que fazia.

Ao entrarem no bar, Paul colocou os braços sobre os ombros de Melissa. Após o desgaste emocional que ela sofrera nos últimos dias, era bom contar com a companhia de alguém tão simples como Paul Carter. Eles se reuniram a vários outros amigos, rindo e divertindo-se até a hora em que o bar fechou.

— Vou para casa com Bill — disse-lhe Wendy. Paul ficou sério de repente. — Bill Pope?

— Sim.

— Está bem — ele concordou. — Acho que ele é digno de confiança. Wendy pareceu indignada. — Mesmo se não fosse, isto não é da sua conta. Eu não faço comentários sobre as pessoas com quem você sai.

— Isto porque saio apenas com Melissa — disse ele, confiante. — E acontece que ela é a sua melhor amiga.

— Oh, você é tão convencido! — Wendy afastou-se.

Melissa riu, lançando a Paul um olhar melancólico. — Um dia desses vocês vão acabar brigando de verdade.

— Eu sei — ele fez uma careta, abrindo a porta do carro para Melissa. — Só que decidi continuar a protegê-la, mesmo que ela não goste.

— Olá, Paul! — Um outro casal, que saía do bar, veio na direção deles, cumprimentando o rapaz. — Pode nos dar uma carona? — perguntou Noel.

— É claro — Paul concordou. — Pena que vocês tenham que se sentar no banco de trás, que não é nada confortável.

— Tudo bem, desde que não tenhamos que andar. — Noel respondeu, e entrou no carro junto com Ginny, sua namorada.

Noel começou a cantarolar algumas trovas populares bem picantes durante o percurso, e logo Paul se juntou a ele. Melissa e Ginny davam gargalhadas.

— Oh, meu Deus! — gritou Paul ao desviar o carro para evitar atropelar alguém ou algum animal que atravessara o caminho.

O carro estacionou com uma freada brusca. Todos saíram e correram para verificar se houvera algum acidente. Viram, então, um homem que saía da margem da estrada. Mesmo à luz fraca podia perceber-se que ele estava furioso. Um cão sentou-se aos pés dele. Estava ofegante, enquanto olhava para o dono em busca de proteção.

— Seus malditos desordeiros! — Jerome Towers exclamou irritado. — Quase atropelaram o meu cão! Vocês podem não ter a mínima noção de trânsito, mas saibam que a velocidade permitida aqui é de sessenta quilômetros por hora, e vocês deviam estar no mínimo a cem. Além disso, estão fazendo barulho suficiente para acordar toda a vila! — acrescentou, irado.

— Neste caso — Melissa deu um passo à frente —, porque não toma conta do seu cão? Deve ter percebido que há muitos carros trafegando por esta estrada.

Os olhos furiosos de Jerome se voltaram para ela.

— Oh, é você! — As palavras soaram quase como uma acusação. — Eu devia saber que você estava envolvida nisto de alguma maneira!

Ela enrubesceu ante os olhares inquiridores dos amigos.

— O senhor pode ser dono da propriedade Towers e da maior parte das terras aqui — ela disse —, mas não é dono desta estrada e, conseqüentemente, temos mais direito de estarmos nela que o seu cão.

A expressão dele era desdenhosa. Depois de encará-la, virou-se para Paul.

— Estou avisando-o, Carter — suas palavras soaram quase como uma ameaça —, se este incidente se repetir, darei parte à polícia. Da próxima vez poderá ser uma pessoa, e você nem terá tempo de perceber. E. antes que me dê outra resposta mordaz, srta. Finch — acrescentou friamente —, tomarei bastante cuidado para que essa pessoa não seja eu.

— Que vergonha! — exclamou Melissa.

— O sentimento é recíproco — ele falou em tom de insulto, afastando-se em seguida. O cão caminhava obedientemente ao lado de seu dono.

— Que incrível! — Paul suspirou lentamente. — Estivemos cara a cara com o próprio senhor das terras!

— Você não escondeu as garras, Melissa — Ginny murmurou, quando estavam de volta ao carro.

— Não consigo suportar esse homem! — ela exclamou.

— Por que não pode suportá-lo? — perguntou Paul, após deixarem o outro casal e estacionar diante da casa de Melissa.

Ela encolheu os ombros.

— Apenas não gosto dele. — Seus olhos revelavam malícia, quando ela olhou para Paul. — Talvez eu prefira jovens peões que jogam rugby no sábado e vão à igreja no domingo.

— E isso que gosto de ouvir. — Ele colocou os braços ao seu redor e puxou-a contra si. — Exatamente o que gosto de escutar — murmurou, antes que seus lábios procurassem os dela.

Melissa sempre gostara dos beijos de Paul. Agora, a sensação não era diferente, mas no seu íntimo prevalecia a lembrança de uns lábios bem delineados explorando os seus com grande habilidade. Paul finalmente afastou-a, sentindo que ela estava preocupada.

— Alguma coisa errada? — perguntou.

— Não, nada — seu sorriso era alegre. — Talvez eu ainda esteja nervosa, por causa daquele homem que tentou me forçar.

— Meu Deus, é verdade! — ele exclamou. — Desculpe-me, querida. Que imprudência a minha!

— De maneira alguma — ela se apressou em tranqüilizá-lo. — Quer tomar um café? — ela convidou, sentindo-se culpada por desapontá-lo. Roddy Meyers a tinha enfurecido, mas com certeza não a havia atemorizado daquela forma.

— Acho uma ótima idéia. — Paul fez uma careta, olhando para o céu bastante nublado. — Está começando a chover.

Eles se molharam, enquanto tentavam erguer a capota do carro, embora Melissa não se importasse. Esperava que Jerome Towers tivesse sido apanhado pela tempestade. Que homem rude, insuportável!

— Vou apenas ver como mamãe está e depois farei café para nós. — disse Melissa ao entrar, dirigindo-se ao quarto da mãe.

Sua mãe estava dormindo. A respiração dela parecia tranqüila. Melissa deixou o quarto silenciosamente.

— Sirva-se. — Ela colocou as xícaras de café na mesa.

— Ótimo! — Paul sentou-se a seu lado no sofá. — Aquele homem, aquele do hospital, ele...

— Oh, não! — Melissa negou rapidamente, sabendo o que ele ia perguntar. — Apenas foi um incidente muito desagradável.

— Ele merecia uma boa surra — murmurou Paul.

Ela riu.

— Você parece Brian!

— Provavelmente sinto o mesmo que seu irmão. E se eu o encontrar... Qual é o nome dele?

— Que pena! — De propósito, Melissa derrubou café na roupa, esperando desviar a atenção de Paul do assunto. Depois que ela limpou a mancha, ele realmente parecia ter-se esquecido.

Paul bebeu o resto do seu café.

— É melhor eu ir embora. Tenho que me levantar cedo amanhã. A não ser, naturalmente, que meu patrão tenha resolvido despedir-me porque me considera muito desordeiro, principal­mente agora que foi desacatado pela minha garota.

— Oh, meu Deus! — exclamou Melissa. — Eu me esqueci de que você trabalha para Jerome Towers.

— Está tudo bem, querida — ele sorriu maliciosamente. — Ele não é do tipo que se deixa influenciar por isso. Eu estava apenas brincando com você. Mas acho que você não pode desgostar de uma pessoa dessa forma...

— Não me diga que você gosta dele agora?

Paul encolheu os olhos.

— Eu não desgosto dele. Apenas estava dizendo que ele é muito...

— Justo! — completou Melissa, indignada. — Alguém já devia ter me dito isto antes.

Eles estavam se beijando quando Brian chegou, e Melissa afastou-se de Paul, sentindo-se culpada. Parecia-lhe estranho que seu irmão a visse beijando alguém.

— Não se preocupem comigo — ele falou maliciosamente, enquanto entrava em casa.

— É melhor eu entrar agora — disse Melissa, meio sem graça. Ela queria safar-se para perguntar a Brian sobre a visita de Jerome aquela noite.

Paul ainda mantinha os braços ao redor de sua cintura. — Você irá ao baile comigo no próximo sábado?

O baile seria uma noite festiva na prefeitura local, com uma orquestra versátil, que tentaria tocar todos os tipos de música, uma vez que participariam pessoas de todas as idades. Tratava-se, na verdade, de apenas um pretexto para que todos os habitantes se reunissem para um papo amigo, uma oportunidade para que participassem de um programa noturno, pois havia poucas áreas de diversão na região.

— Vou pensar no assunto — respondeu Melissa.

Ela encontrou Brian na cozinha, preparando o seu café. — O que o sr. Towers queria?

Seu irmão encolheu os ombros.

— Ele me apresentou uma proposta, muito interessante aliás.

— Que espécie de proposta?

Após tomar um gole de café, ele respondeu com naturalidade.

— Uma proposta bastante razoável. Brian suspirou. — Você quer saber a respeito, não é?

— E claro que quero. Ainda sou um membro desta família, talvez o mais desgraçado no momento, mas...

— Não seja tola, Melissa! — exclamou, Brian irritado. — Eu espero que você não tenha contado nada a Paul a respeito do seu pequeno incidente.

Ela enrubesceu.

— Eu contei a ele, sim. Está tudo bem, Brian — ela garantiu. — Paul não contará a ninguém.

— É melhor que não o faça. Nós seremos felizes, se ninguém ouvir falar a respeito disso.

— É a minha reputação que está em jogo, não a sua — Melissa falou ressentida.

— Sua reputação com o sr. Towers tem que ser muito boa, principalmente após o seu comportamento ontem à noite. Afinal, por que você foi tão agressiva com ele?

— Eu não fui agressiva. Mas se fui — acrescentou em tom lamurioso, ante o olhar cético de Brian — é porque ele foi agressivo comigo primeiro.

— Não seja infantil, Melissa. Você saiu de propósito de casa ontem à noite, porque sabia que ele queria falar com você. Espero que sua atitude não prejudique a intenção dele de nos ajudar.

— Ajudar-nos? — Ela lançou um olhar ferino ao irmão. — Como pode o arrogante sr. Towers nos ajudar?

— De nenhuma forma, se você continuar mantendo essa atitude. Tudo dependerá de sua cooperação e o seu comportamento no momento não vai ajudar em nada.

Melissa olhou-o desconfiada. — Minha cooperação. O que o plano dele tem a ver comigo, afinal?

Brian pegou a sua xícara de café e foi até a porta. — Eu não estou autorizado e dizer-lhe — ele afirmou. — Vejo você amanhã cedo. Mamãe está melhor?

— Sim, ela está bem. Está dormindo no momento. Mas...

— Oh, meu Deus!

— Brian! — Ela correu atrás dele até o último degrau da escada. — Você não pode me deixar assim!

— Estou cansado, Melissa — ele declarou, como se estivesse colocando um ponto final na conversa. — E amanhã tenho um longo dia pela frente.

— Mas, Brian! — Ela repetiu, enquanto andava atrás dele.

— Fale mais baixo. Senão vai acabar acordando a mamãe!

— Mas por que você não está autorizado a me contar?

— O sr. Towers acha que é melhor falar pessoalmente a respeito do assunto com você e eu concordei. Melissa, nós precisamos de qualquer tipo de ajuda que queiram nos oferecer.

Ela encolheu os ombros. — Eu me lembrarei disto.

 

Melissa ainda ficou desperta durante muito tempo aquela noite. Sua mãe estava tossindo muito e ela teve que preparar-lhe uma bebida quente. Esperou, então, que ela pegasse no sono. Na manhã seguinte, preparou o café de Brian ainda com maior presteza. Mas sabia que não conseguiria obter qualquer outra informação com ele. Brian era do tipo de pessoa que é completamente incomunicável pela manhã.

Freda pediu-lhe para arrumar a bandeja de café, assim que ela chegou à casa dos Towers. Melissa ficou com apetite só ao olhar para o prato com salsichas, bacon e ovos fritos.

— O senhor Towers também está atrasado hoje? — ela perguntou, quase agressivamente.

— Oh, não, querida! — Freda colocou as torradas na bandeja. Levantou às seis, como faz todos os dias. Só que ele acha melhor comer a esta hora.

— E Roddy, quer dizer, o sr. Meyers? Ele continua aqui? — Melissa ficou chateada consigo própria por essa gafe cometida.

A sala de café era tão graciosa como os demais aposentos da casa, com as paredes revestidas de madeira. A mesa já havia sido arrumada para duas pessoas

— Jerome e Roddy Meyers, os dois homens que Melissa realmente abominava.

Uma porta abriu-se às suas costas e ela quase tropeçou.

— Oh, é você! — exclamou com ar de pouco caso.

Roddy Meyers aproximou-se.

— É este o jeito de me cumprimentar, querida? — ele estava agora tão junto dela, que Melissa estava se sentindo desconfortável.

— O que você esperava? — ela perguntou, ignorando o tom afetuoso, pois sabia que nele tudo soava falso. — Um beijo?

— Não é uma má idéia — ele disse suavemente, avançando sobre ela e beijando-a com impetuosidade.

— Bem, quando vocês terminarem... — falou uma voz irritada. Melissa tentou escapar, mas Roddy demorou para afastar-se dela.

Então, olhou para o irmão.

— Bom dia, Rome! — ele sorriu. — Você conhece uma forma melhor de começar o dia?

Jerome Tower lançou um olhar de desprezo sobre Melissa, percorrendo todas as curvas de seu corpo, como se a estivesse desnudando.

— Sim, eu penso que é uma bela maneira — seu tom de voz insinuava que as coisas tinham sido ainda mais íntimas. — Mas com todo os homens que a senhorita Frinch já tem em sua vida, duvido que ela seja capaz de me incluir no seu calendário social.

Roddy olhou furiosamente para Melissa.

― Outros homens, Melissa! — exclamou. — E eu pensava que era o único. Os olhos dela fulminaram. — Seus!...

— Talvez você possa trocar o nosso café, senhorita Finch — Jerome Towers pediu secamente e sentou-se à mesa. Estava muito atraente, vestindo uma calça bem justa, que fazia salientar suas coxas musculosas, e uma camisa marrom, que se assentava bem sobre seus ombros largos. ― Infelizmente, você talvez esteja chateada por ter sido arrancada dos braços de meu irmão — ele ironizou.

Melissa afastou-se de Roddy.

— Eu poderia ter me livrado dele facilmente — ela revidou, olhando-o com firmeza.

— Não foi o que você disse ontem à noite — insinuou Roddy. Melissa estava ofegante. — Ontem à noite? Mas eu...

— O café, senhorita Finch! — repetiu Jerome, impaciente.

Ela lançou mais um olhar ferino a Roddy, antes de deixar a sala. O que ele afinal estaria tramando agora?

— Mais café? — Freda perguntou e, então, colocou o bule sobre a bandeja. — Bem forte, como o sr. Towers gosta.

— Posso esperar mais pouco para servir? — Melissa se arrependia a cada instante de ter oferecido sua ajuda por mais alguns dias.

— Oh, não, querida! — Freda sorriu gentilmente. — O sr. Towers não gosta de esperar.

Melissa teve a impressão de que, no pequeno espaço de tempo em que estava ali, o sr. Towers tinha deixado bem claro do que gostava e do que não gostava. Bem no que dizia respeito a ela, podia-se concluir facilmente que ele não a apreciara.

Roddy estava sozinho, quando ela voltou à sala de café.

— Rome foi chamado ao telefone. — Ele explicou a ausência do irmão, ante o olhar intrigado dela.

Melissa deixou o bule sobre a mesa.

— O que você quis dizer sobre ontem à noite? — ela perguntou. — Eu nem mesmo estive com você.

— Bem, você sabe... Rome não aprovaria, se soubesse que estou saindo com uma certa moça daqui.

— Ele também não aprovaria se fosse comigo — ela disse secamente. — Além disso, ele me viu na companhia de outra pessoa ontem à noite.

— Quem? — Roddy quis saber.

— Meta-se com a sua vida!

Ele parecia nervoso. — A que horas Rome a viu?

— Eram umas onze, eu acho.

— Ah, então está tudo bem. Eu voltei às dez. A pessoa com quem saí teve que voltar cedo para casa e Rome sabe a que horas eu cheguei. Você não está interessada em saber com quem saí? Se pedir, sou até capaz de contar.

— Não estou interessada — afirmou Melissa. — Só me interessa o fato de que seu irmão pensa agora que saí com você e Paul na mesma noite.

Roddy estava exultante. — Suponho que sim...

— Muito obrigado.

— Mas o que isso importa? — perguntou ele em seguida.

— É claro que importa. Afinal, por que eu tenho que lhe dar cobertura? Você nunca me fez um favor. Aliás, só me causou problemas desde que o conheci.

— Oh, venha cá, Melissa — ele pediu. — O que importa o que Rome pensa sobre você? Está na cara que você não gosta dele.

— O fato de eu não gostar de Rome — ela gritou — não tem nada a ver...

— O fato de você não gostar de mim, senhorita Finch — Jerome Towers apareceu sorrateiramente na sala — não lhe dá a liberdade de me chamar de Rome — falou em tom sarcástico. — Somente a amigos íntimos e parentes é permitido esse privilégio. — Ele a olhou friamente.

— E você não está incluída em nenhuma dessas categorias.

Os olhos de Melissa o fulminaram

— E nem tenho essa pretensão — ela revidou. — Eu estava apenas conversando com seu irmão. Mas parece que o senhor quer falar comigo, senhor Towers.

— Não, agora — ele respondeu. — Nunca discuto negócios com o estômago cheio. Eu a chamarei mais tarde.

— Sim, senhor — concordou Melissa, irritada. — É só isso, senhor?

— Aquela cortesia forçada era, na verdade, uma tentativa de enfurecê-lo. Seus olhos castanhos permaneceram impassíveis. — É só, senhorita Finch, até mais tarde.

— Sim, senhor. — Ela caminhou em direção à porta. Roddy Meyers estava visivelmente contente, pois a conversa a deixara mal-humorada.

— Mais uma coisa, senhorita Finch — disse Jerome em voz bem alta, fazendo-a voltar-se mais uma vez. — Nunca mais me chame de senhor, se não quiser ser prejudicada.

Melissa bateu a porta e correu para a cozinha.

"Que loucura!", ela pensou. Ele não faria isso, estava apenas tentando irritá-la e tinha conseguido. Seu ressentimento contra Jerome era agora mais forte.

Ela ajudou a sra. Reece a arrumar a casa e estava polindo a prataria, na cozinha, quando Jerome Towers veio chamá-la.

Ele veio pessoalmente. Apareceu na cozinha de repente, como tinha feito no dia anterior, sorrindo para Freda, que estava acabando de tirar do forno um de seus bolos. — Deve estar delicioso como sempre! — ele falou gentilmente. Então, sua expressão endureceu, ao olhar para Melissa.

— Eu tenho tempo para falar com você agora.

— Tenho que acabar de limpar a prataria — disse ela, querendo esquivar-se.

— Oh, isso pode esperar, Melissa — Freda interveio. — Pode ir falar com o senhor Towers.

E então ela saiu atrás dele, sentindo dificuldade em acompanhar seu andar veloz até o estúdio. Depois que ele se acomodou, ela entrou direto no assunto.

— Brian me disse que você tem uma proposta para nos ajudar — ela iniciou, recusando-se a sentar-se.

— Você diz isso como se duvidasse — ele falou.

— Eu não tenho nenhuma razão para acreditar que você queira realmente nos ajudar.

A expressão de Jerome alterou-se. Apesar disso, parecia que sua vitalidade masculina era agora algo ao alcance das mãos naquela pequena sala. — Você também não tem nenhuma razão para pensar o contrário — continuou ele.

— É claro que tenho! — Melissa exclamou com firmeza. — Com as nossas terras, a sua fazenda ficará completa!

— Você parece estar obcecada por essa idéia.

— E você pode negar que é verdade?

— Não vou fazer nenhum esforço para tentar, enquanto você estiver tão convencida a esse respeito!

— Então, qual é a sua proposta? — ela finalmente conseguiu perguntar.

Jerome se ajeitou melhor na cadeira de couro giratória. — É muito simples, senhorita Finch. Seu irmão precisa de alguém para trabalhar na propriedade de vocês...

— Quando minha mãe estiver melhor, poderei ajudá-lo.

Ele a olhou com indulgência. — Perdoe-me por dizer isso, mas parece que você será mais um estorvo do que uma ajuda na fazenda. Eu ofereci a seu irmão um dos meus homens para trabalhar lá. Em troca...

— Eu sabia que haveria uma troca — Melissa ironizou.

— Em troca, você virá trabalhar para mim aqui em casa definitivamente — ele concluiu.

 

— Você deve estar brincando! — ela exclamou ofegante.

— Parece-lhe isto, é? — ele gracejou.

Melissa deu um salto. — Trabalhar para você? — repetiu, atônita. Jerome sacudiu a cabeça. — Sim, este é o plano.

— Por que você decidiu isso? — ela o olhou, desconfiada.

— Já expliquei o motivo. Não me parece que você possa realmente oferecer alguma ajuda a Brian.

— Não me refiro a isso. Desejo apenas saber por que você quer me livrar do trabalho pesado.

— Será esta realmente a minha intenção? — Jerome ironizou. — Nunca havia pensado a respeito disso.

Melissa suspirou diante do tom sarcástico da voz dele. — Então, qual é a sua intenção?

— E a de ficar seguro de que a propriedade de vocês progrida, assim como todo o resto das terras dos Towers.

— Com que objetivo?

Ele sorriu.

— Para que tudo esteja em ordem quando eu a convencer a vendê-la para mim.

— Isso já é demais! — exclamou Melissa, indignada. — Nós jamais venderemos a nossa fazenda, jamais!

Jerome disfarçou sua irritação diante do protesto de Melissa. — Brian e eu já decidimos. Se você estiver de acordo em participar do esquema durante seis meses, nós levaremos as coisas assim. Caso a situação não tenha mudado nesse período, seu irmão vai vendê-la para mim.

— Ele não pode ter concordado com isso — gritou ela. — Trata-se de uma decisão de família.

— Assim será, quando você puder analisar a proposta. Pelo amor de Deus, Melissa! — ele exclamou mal-humorado. — Será que você não vê que dessa maneira seu irmão acabará morrendo de tanto trabalhar, como aconteceu com seu pai?

Melissa empalideceu.

— Meu pai não morreu de tanto trabalhar. Ele já estava doente antes de chegar aqui. Ele...

— Eu sei, eu sei. Desculpe-me por ter dito isto. Eu sei que seu pai veio para cá por motivo de saúde, mas teria sido melhor para ele trabalhar num escritório ou coisa parecida.

Ele queria ser independente — ela argumentou. — Tentou construir futuro para nós. Você não poderia compreender mesmo. — Quando as lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela, Jerome ficou constrangido.

— Eu compreendo, acredite-me.

— Você jamais entenderia. Sempre foi rico, sempre teve tudo o que quis, sempre soube que esta fazenda lhe pertenceria um dia, enquanto nós... Afaste-se de mim! — ela gritou, ao perceber que as mãos dele vinham em sua direção.

— Não — Jerome recusou-se firmemente, puxando-a para junto de si.

— Eu gosto de você nos meus braços, Melissa. E como você mesma disse, eu sempre consigo tudo o que quero. E no momento, quero você!

— Saia da minha frente, seu maníaco sexual! — Suas lágrimas até cessaram e ela o olhou com verdadeiro ódio. — Suponho que você seja um tarado — ela o acusou. — Um desses homens que precisam ter uma mulher duas ou três vezes por semana.

Calmamente, Jerome sentou-se na beira da mesa, parecendo impassível diante daquele ataque verbal.

— Oh, francamente — ele ironizou — ter uma mulher duas ou três vezes por semana significa ser tarado?

As faces de Melissa ficaram sem cor. Afinal, o que ela sabia sobre essas coisas? — Para um homem solteiro, sim — defendeu-se.

— Talvez — ele concordou.

— Bem, eu não pretendo aumentar a sua cota semanal...

— É que nos últimos dias você já teve muitos homens para satisfazer o seu próprio desejo sexual.

— O que? — exclamou ela, indignada. — Como se atreve a dizer essas coisas a meu respeito? — Melissa voltou-se e dirigiu-se para a porta. — Eu não vou trabalhar para você por nenhum dinheiro deste mundo!

Jerome balançou a cabeça. — Você não receberá mesmo nenhum dinheiro. O trabalho de Paul na fazenda será o seu pagamento.

— Paul? — Ela ficou surpresa. — Paul Carter irá ajudar Brian?

— Sim — ele confirmou. — Mas isso não significa que você possa pas­sar todo o tempo com ele. Paul estará ocupado nos serviços da fazenda e vo­cê também terá muito o que fazer aqui. Se eu soubesse antes que ele era um dos seus amiguinhos — Jerome falou em tom de insulto — teria escolhido outra pessoa. Infelizmente, eu sugeri o nome dele a Brian e ele concordou.

— Que bom! — Melissa riu, revelando o seu contentamento ante a raiva de Jerome. — Paul é um ótimo trabalhador!

— Eu sei — Jerome prosseguiu com voz sombria. — Mas não se preocupe. Eu pretendo também de você um ótimo trabalho.

Melissa enrubesceu ante o tom autoritário dele. — Neste caso, deixe-me acabar de limpar a prataria.

— Eu quero que você entenda de uma vez por todas — ele falou, impedindo-a de sair — que o seu serviço não inclui visitas ao quarto do meu irmão. Na realidade, preferia que você não saísse mais com ele também.

— Realmente? — ela perguntou com voz suave. — Bem, eu não acho que isto seja da sua conta. Infelizmente, você incluiu isso também como parte da barganha.

Ele apanhou o abridor de cartas, de ouro, que estava sobre a mesa e ficou olhando-o firmemente. — Isto não faz parte da barganha, Melissa. É apenas um pedido pessoal meu.

— Pedido negado — ela afirmou, irritada consigo mesma por estar fascinada, observando as belas mãos dele, onde sobressaíam dedos longos e sensíveis. Sem dúvida, ficaria maravilhada se aquelas mãos acariciassem seu corpo. Melissa enrusbesceu de repente, diante de seus próprios pensamentos. Mas ainda assim conseguiu encará-lo com expressão desafiadora. — Continuarei saindo com quem eu quiser — exclamou altivamente. Contudo, quase perdeu a respiração ao olhar novamente aquelas belas mãos, que depositavam o abridor de cartas sobre a mesa.

— Tenho certeza disso — prosseguiu Jerome. — Dois homens numa noite! Você realmente acredita em números!

— Sim, quanto mais melhor — ela ironizou. — Enquanto isso não interferir no meu trabalho, não vejo razão para você reclamar.

— Não — ele deu um sorriso forçado. — Suponho também que eu deva ficar lisonjeado por você ter me encaixado na sua agenda tão lotada para almoçar aquele dia.

— Só aceitei porque pensei que fosse Jeff Robbins. Se soubesse quem você realmente era, nunca teria feito isso — ela respondeu agressivamente.

— Talvez eu tenha intenção de repetir o convite — ele falou em tom de desdém.

— A resposta será não.

— Não fique preocupada, pois não é essa a minha intenção — ele riu ante a expressão de raiva dela. — Acho que vou gostar de trabalhar com você.

— Comigo? — Melissa olhou-o, surpresa. — Eu vou trabalhar para você e não com você. Ou você pretende ficar me seguindo pela casa com um espanador na mão? — perguntou ironicamente.

— Deus me livre! — ele riu. Seus olhos castanhos estavam tão brilhantes como da primeira vez em que eles se encontraram. Sua expressão se mostrava extremamente jovial. — Não, eu não pretendo fazer isso! Talvez não tenha lhe explicado muito bem sobre as suas funções. Durante a tarde, você ajudará nos serviços de casa sim. Mas, no período da manhã, nós trabalharemos juntos aqui, para responder a minha correspondência e tratar dos meus compromissos sociais, que são muitos.

Ela estremeceu.

— Nós vamos trabalhar juntos aqui?

— Sim — Jerome confirmou. — Faz muito frio agora para trabalharmos fora, no jardim. Por isso, ficaremos aqui no estúdio.

A idéia de trabalhar na intimidade do estúdio de Jerome, junto com ele, era totalmente inaceitável para Melissa. Ela não podia permanecer na companhia dele sequer por dois minutos, que sua temperatura já se alterava, ou porque se sentisse furiosa, ou o que era pior, por saber o quanto ele era atraente.

— Tem certeza de que iremos trabalhar juntos aqui? — ela insistiu.

— Sim. — Jerome estava ficando impaciente. — Eu tive essa idéia junto com seu irmão. Meu plano era para que você trabalhasse em período integral na casa, mas quando Brian me contou que você tinha estudado datilografia e taquigrafia, tive a idéia de sugerir que me ajudasse a manter a correspondência em dia.

— Aprendi um pouco na escola, mas...

— Há muito tempo, é o que vai dizer. —Jerome continuou. — Brian me disse que você tinha dezenove anos, então, você deixou a escola há apenas três anos. Duvido que tenha esquecido tudo em tão curto espaço de tempo — ele concluiu.

— Não, eu não esqueci — ela concordou, irritada.

— Então, o acordo está feito. — Jerome foi sentar-se atrás da escrivaninha. — Você tem até segunda-feira para se acostumar à idéia. Eu estarei em Londres até o fim de semana.

— Com Stella? — Melissa não pôde resistir.

Ele ficou perplexo.

— O que Roddy contou exatamente a você a respeito dela?

— Apenas que ela é sua amante. E que é tão substituível quanto as outras amantes suas.

— Não queira fazer julgamentos a respeito de minha moral, Melissa — Jerome irritou-se. — Meu relacionamento com o sexo oposto dura uma eternidade em relação ao que o seu parece durar.

— Um ano não é exatamente uma eternidade — ela ironizou.

Ele parecia zangado. — Parece que meu irmão lhe contou muitas coisas a respeito de minha vida pessoal!

— Isso é tudo, senhor Towers? — ela perguntou com a voz altiva. — Eu tenho trabalho a fazer.

— É tudo por ora. Parece que sua mãe voltará a trabalhar na segunda-feira, se você puder continuar a ajudar Freda na cozinha até lá.

— Ah, sim, mamãe. Estou maravilhada de que você se preocupe tanto com a saúde dela — disse, irritada.

— Sua mãe estava se sentindo muito melhor hoje — ele a informou gentilmente. — Ela realmente queria retomar ao serviço amanhã, mas eu lhe disse que estaria fora até a próxima semana.

— Como? — Melissa arregalou os olhos. — Você viu minha mãe hoje?

— Sim, esta manhã.

— Oh! — Ela se sentiu indefesa diante daquela informação.

— Também fui ver Patsy Jones. Ela se desculpou, dizendo que seu marido acha que o serviço aqui é demais para ela, deixando-o com os nervos à flor da pele.

O assédio de Roddy Meyers para seduzi-la era algo que realmente poderia afetar a sensibilidade de qualquer mulher. Melissa concordou com a cabeça. — Lembro-me de que nos tempos da escola ela já era nervosa.

— Então, você pode concluir que eu não sou o bicho-papão que julgava. Esteja aqui às nove horas na segunda-feira — disse Jerome secamente, dispensando-a.

 

A mãe de Melissa sentiu-se bem disposta para se levantar um pouco aquela noite. E estava sentada numa poltrona, quando Brian chegou para o jantar.

— Você parece melhor. — Ele se inclinou para beijar a mãe no rosto.

— E estou mesmo — ela sorriu. — Quero saber sobre o trato que você fez com o senhor Towers. Melissa me contou a respeito.

Brian lançou a Melissa um olhar inquietante, mas o rosto dela permaneceu inexpressivo.

— Agora vou tomar um banho. Depois falaremos sobre o assunto.

Melissa já havia servido frango cozido e salada, quando Brian voltou do banho, observando com satisfação que sua mãe estava com apetite.

— Então o sr. Towers conversou com você hoje? — perguntou ele cautelosamente.

— Sim — respondeu, Melissa enquanto se servia.

— Ele também falou a respeito do assunto comigo — confessou a mãe. Mas, na minha opinião, é Melissa que deve decidir o que fazermos. Ela é única entre nós obrigada a fazer um sacrifício. Trabalhar na casa dos Towers não é exatamente o que ela havia planejado.

— Não será para sempre, mamãe. — Melissa assegurou-lhe rapidamente.

— Quer dizer que você está de acordo? — perguntou Brian, querendo uma confirmação.

Ela encolheu os ombros.

— Acho que vale a pena tentar.

— ótimo! — exclamou ele entusiasmado.

— Mas o que acontecerá se ao fim de seis meses você tiver que vender a fazenda ao sr. Towers? — perguntou. — Onde iremos viver então?

— Aqui mesmo — disse Brian alegremente. — O sr. Towers não quer a casa. Ele está interessado apenas nas terras.

— Está bem — ela concordou. — Mas serão os seis meses mais longos de minha vida. Eu não suporto Jerome Towers!

— Ele acha que você é muito amiga do irmão dele. Melissa dirigiu um olhar ferino a Brian.

— Ele lhe disse isso?

— Apenas mencionou. Imagino que vocês dois se conheceram no hospital.

— Sim, é verdade. — Ela afastou o prato, sem quase ter provado a comida.

— Por acaso, ele não estava lá quando aconteceu o escândalo, não é? — perguntou Brian, preocupado. — Era só o que nos faltava! — exclamou. — Termos o irmão de Jerome Towers como uma testemunha dos fatos que levaram à sua demissão.

Melissa não queria que Brian soubesse que Roddy tivera participação ativa no caso. Se a verdade viesse à tona, suas chances de negociar com os Towers diminuiriam, pois seu irmão provavelmente iria exigir satisfações de Roddy.

— Não, ele já havia saído quando aquilo aconteceu. — ela respondeu, após ponderar a situação.

— Então, se ele é seu amigo, você deve convidá-lo para vir aqui — sugeriu-lhe a mãe.

— Oh bem, acho melhor não, mamãe. O sr. Towers não aprovaria que seu irmão saísse com a empregada — ela respondeu.

— Melissa! — exclamou a mãe. — O sr. Towers simplesmente não é tão esnobe quanto você pensa. Convide o sr. Meyers para o chá no domingo.

— Esta semana, não, mamãe — Melissa se esquivou. — Vamos esperar até que você esteja completamente recuperada.

— Mas eu...

— Esta semana, não. — Ela se levantou e beijou afetuosamente a mãe.

— Agora, volte para a cama. Você já está abusando demais por hoje. Depois de ajudar a mãe a se deitar, Melissa encontrou Brian à sua espera. — Pensei que tivesse ido ver Joyce — ela comentou.

— Queria apenas me certificar de que está tudo bem com você — ele explicou. — Você parece não gostar da idéia de trabalhar com Jerome Towers. Se realmente não pode suportar isso, então podemos planejar outra coisa.

— Não seja tolo — ela forçou um sorriso. — Eu tenho mesmo que trabalhar em algum lugar e a casa dos Towers é um lugar tão bom como qualquer outro.

— Você tem certeza?

— Sim. De qualquer maneira, não consigo me imaginar levantando de madrugada para trabalhar na lavoura — ela sorriu.

— Acho que você seria uma péssima ajudante! — ele riu.

— Brian, o que você vai fazer, se isso não der certo?

Ele pareceu imperturbável.

— O sr. Towers disse que tem um trabalho para mim na propriedade.

A expressão de Melissa alterou-se.

— Ele tem sempre tudo planejado, não é?

Brian encolheu os ombros.

— Ele sabe o que quer e tenta conseguir.

— Já notei isto — disse ela secamente. — Tem certeza de que não é preferível vender a fazenda para ele agora?

— Talvez eu prefira. Mas devo a papai outra tentativa. Seis meses não vão acabar conosco.

— Suponho que não.

Melissa desejava poder realmente acreditar naquilo. Tentou convencer-se a respeito, nos dias seguintes, longe da presença de Jerome Towers. Seis meses passariam rapidamente, ela pensava, mas no fundo sabia que aquilo representava uma vida inteira. Se tudo pudesse ser tão agradável como naqueles dias sem a presença dele! Mas assim que Jerome voltasse, seu ressentimento contra ele certamente renasceria, ao lado da violenta emoção que ele lhe suscitava.

No sábado à tarde, ela encontrou sua amiga Tracy, funcionária do hospital. Juntas, percorreram as lojas em Redford. Tracy ficara muito aborrecida ao entender que, através da informação que ela mesma prestara, Roddy Meyers encontrara o quarto de Melissa naquela noite fatídica. Melissa assegurou-lhe então que ele teria descoberto seu quarto de qualquer maneira, pois estava decidido a levar adiante os seus planos.

 

Paul foi vê-la naquela noite, elogiando a sua aparência.

— Certamente, você não está assim tão bonita para ir ao baile? — ele gracejou.

Constrangida, Melissa olhou para o vestido marrom justo e para as sandálias de salto alto que usava, ressaltando a beleza de suas pernas.

— Será que vou chamar muita atenção? — perguntou.

— No que me diz respeito, não — ele sorriu maliciosamente, abrindo a porta para ela. — Mas acho que vai chocar algumas das velhas fofoqueiras que estão por lá.

— Isto não agradará muito a mamãe — disse Melissa. — Após o episódio no hospital, ela está observando de perto o meu comportamento.

As pressas, antes que Melissa saísse, sua mãe decidira fazer uma visita à irmã no fim de semana. Ainda tossia um pouco, mas estava quase restabelecida. Antes de sair, apenas recomendou à filha que não mencionasse a ninguém os fatos que haviam acontecido no hospital.

— Você apenas provocará algumas expressões carrancudas — Paul lhe assegurou. — Quanto aos homens, eles certamente me invejarão!

O salão estava lotado, quando eles chegaram. Brian estava ao lado de Joyce e os pais dela. Raquel Saunders também se encontrava ali, junto com um jovem atarracado de cabelos ruivos que Melissa presumiu ser Jeff Robbins. Não era de admirar a surpresa de sua mãe quando ela o identificara como um rapaz bonito. Apesar de simpático, ele não era um tipo atraente.

Melissa e Paul pegaram seus drinques no bar e depois foram circular entre os amigos. Patsy e Donald Jones também estavam lá. A bela Patsy parecia mais nervosa que nunca.

— Acho que aquele homem é Roddy Meyers — Paul murmurou subitamente ao seu ouvido.

Melissa voltou-se, suspirando ao ver que Roddy caminhava na direção deles. Mas o que ele estaria fazendo num lugar humilde como aquele?

— Ele é ainda pior que o irmão! — ela comentou.

— Então, ele deve ser muito mau — disse Paul secamente, com o olhar furioso, como se estivesse desafiando o outro homem.

— Querida Melissa! — Roddy cumprimentou-a afetuosamente, fazendo-a retrair-se. — Que bom vê-la aqui!

— Você acha mesmo? — ela perguntou friamente, ao perceber o antagonismo de Paul.

— Mas é claro — Roddy sorriu, completamente indiferente ao seu desprezo. — É bom encontrar alguém que conheço. — Ele olhou para Paul. — Não vai nos apresentar, Melissa?

Ela os apresentou de má vontade.

Roddy estendeu a mão.

— Então, você é Paul — disse em tom afável.

Paul ignorou a mão estendida.

— Muito prazer — ele cumprimentou secamente. — Desculpe-nos, Melissa e eu temos que falar com alguns amigos...

— Sim, claro — Roddy aceitou tranqüilamente o ato de rejeição e retirou a mão. — Dançarei com você mais tarde, Melissa.

— Só se for sobre o meu cadáver — murmurou Paul, enquanto eles se afastavam. — Que verme!

Melissa riu, ao ver a expressão dele.

— Eu o avisei.

Ela evitou deliberadamente Roddy o resto da noite, permanecendo com seu grupo de amigos, embora notasse que várias vezes ele dançou com Patsy Jones. Patsy parecia ainda mais nervosa, lançando olhares temerosos para o marido que os observava com ódio visível. E Donald sempre fora um homem possessivo e era claro que se sentia ofendido diante do interesse de Roddy por sua esposa.

Paul havia ido ao bar, quando Roddy veio convidar Melissa para dançar. Um momento conveniente, ela pensou. Roddy devia ter notado, pela atitude de Paul em direção a ele, que não seria bem-vindo nem mesmo para conversar com ela.

— Não, obrigada — ela recusou delicadamente o convite.

— Não? — Roddy ergueu uma sobrancelha. — Por quê?

— Porque não gosto de você. Pensei que havíamos concordado em ficar fora um do caminho do outro.

Roddy encolheu os ombros.

— É apenas uma dança.

— Talvez mais tarde — ela recusou novamente.

— Agora! — Ele a puxou com força até a pista de dança.

Para não causar um escândalo, Melissa nada pôde fazer a não ser dançar com Roddy, mas ela prometeu odiar cada segundo em que permanecesse nos braços dele. Só que Roddy dançava muito bem, arrastando-a num abandono realmente fascinante. Algumas pessoas até pararam de dançar para observar o verdadeiro show que eles estavam dando, enquanto outras lhes lançavam olhares maliciosos.

Melissa podia distinguir o rosto furioso de Paul observando-os, mas não conseguia interromper seu próprio prazer pela música. Seu corpo se movia levemente, sua expressão era de puro arrebatamento. Era muito divertido estar com Paul, mas ele não tinha ritmo algum para dançar.

— Não olhe agora — Roddy sorriu, cinicamente —, mas meu irmão também está nos observando!

Melissa pareceu sair do seu transe, voltando-se com uma expressão de culpa para o lugar onde Jerome Towers se encontrava, olhando-os com desdém. Ao lado dele, estava a mulher mais bonita que Melissa já vira em sua vida. Tinha o rosto perfeito, o corpo escultural e cabelos ruivos muito sedosos. Melissa deduziu tratar-se de Stella, a amante de Jerome Towers.

— Meu Deus! — ela exclamou, desvencilhando-se rapidamente de Roddy, quando a música terminou.

Então, correu apressada para fora do salão, sentindo os olhares lançados em sua direção. E ela prometera à mãe que se comportaria discretamente! Todos se lembrariam de seu comportamento àquela noite por muito tempo.

Afinal, por que Jerome Towers estava no baile? Ele não se encontrava no salão quando Roddy a forçara a dançar, tinha certeza disso. Ele devia ter voltado de Londres mais cedo, trazendo a bonita amante consigo.

— Melissa! Melissa! — Ela podia ouvir Paul chamando-a. Refugiou-se, então, atrás do edifício, pois naquele momento não queria encarar ninguém.

Ele a procurava, com uma expressão preocupada no rosto. Finalmente, desistiu e entrou novamente no salão. Melissa parou imediatamente ao ouvir, em surdina, a conversa de um outro casal, escondido atrás de uma cerca de arbustos. Curiosa, descobriu quem eram os dois, sentindo-se extremamente chocada.

— Não gosto que você fique com ela — disse em tom arrogante a voz feminina, a voz de Patsy Jones!

— Você não gosta dela? — gracejou seu parceiro. Para sua surpresa, ele era Roddy Meyers!

— Eu gosto de Melissa — respondeu Patsy. — Mas você me ama, Roddy. Pelo menos, você disse que me amava...

— Eu te amo — ele a tranqüilizou. — Mas a impetuosa Melissa Finch está servindo como uma camuflagem muito boa para nós. — O tom de voz dele era irônico. — Não queremos que ninguém saiba sobre nós. Portanto, é melhor que todos pensem que existe alguma coisa entre mim e Melissa. Você não pode entender isto?

— Acho que sim. Mas Roddy! — ela sussurrou, interrompendo o que ia dizer. — Oh, Roddy!

Olhando por cima da cerca, Melissa pôde vê-los bem agarrados num beijo apaixonado, Patsy e Roddy! Melissa sentiu-se mal. Como Patsy podia fazer aquilo? Ela estava casada há apenas seis meses. Certamente era muito pouco tempo para ter-se cansado do marido e sair em busca de outro homem. E justamente quem! Roddy Meyers era a pessoa mais egoísta que ela conhecia. E agora parecia que ele também gostava de romper casamentos.

— Muito bem! — exclamou uma voz familiar — Eis aqui a minha pequena secretária-empregada!

Melissa voltou-se e deu de cara com Jerome Towers, enrubescendo fortemente ante o desprezo que ele não fazia qualquer esforço para disfarçar. Ela precisava fazer com que Jerome saísse dali. Não podia deixar que ele visse o outro casal. Não que estivesse preocupada com Roddy, pois não se importava nem um pouco com ele, mas até que conseguisse uma oportunidade de conversar com Patsy, preferia que ninguém mais soubesse daquele romance. Apenas o fato de saber que Melissa conhecia o seu segredo talvez fosse suficiente para que Patsy parasse de se encontrar com Roddy.

Donald ficaria furioso se soubesse que sua esposa o estava traindo. Talvez ele já suspeitasse de alguma coisa, já que proibira Patsy de voltar a trabalhar na casa dos Towers.

— Boa noite, sr. Towers. — Jerome cumprimentou-a secamente. E Melissa percebeu que ele estava se aproximando perigosamente dela! Quase perdeu o equilíbrio, mas conseguiu dar um passo à frente, ostentando um sorriso radiante nos lábios. — Vamos dançar, sr. Towers? — convidou.

Ele mostrou-se surpreso.

— Não é prerrogativa do homem fazer tal convite?

— Nunca ouviu falar em igualdade, sr. Towers? — continuou ela calmamente.

— Já ouvi falar, sim. — A contrariedade no rosto dele revelava qual era a sua opinião a respeito. — E renunciarei ao prazer de dançar com você, se não se importar. Há alguém esperando por mim lá dentro.

— Ah, sim, Stella.

— Como soube que era ela?

— Porque ela é a tal boneca de que já ouvi falar. — Melissa se sentiu até capaz de escarnecer dele naquele momento, pois ao olhar furtivamente para trás, percebeu que o outro casal havia ido embora. Graças a Deus! Como Patsy podia ser tão estúpida, comportando-se daquela maneira num lugar onde qualquer pessoa poderia vê-la com Roddy? — Pelo menos, foi como ouvi minha mãe descrevê-la — ela explicou ao olhar interrogativo de Jerome Towers.

— E qual é a sua opinião sobre Stella?

Melissa encolheu os ombros.

— Ela é bonita, tem cabelos ruivos... O que mais posso dizer?

— O que mais, realmente? Desculpe-me — ele falou enquanto se afastava —, vim apenas pegar o casaco de Stella. Ela está com frio.

— O senhor não foi capaz de pensar em outra maneira de aquecê-la?— gracejou Melissa.

Ele a olhou friamente.

— Nem todos têm a sua mania de exibicionismo. Estou certo de que você e Roddy estão querendo que eu me vá para poderem terminar o espetáculo que começaram na pista de dança. Portanto, não tomarei mais o seu tempo. — Então, ele voltou-se e saiu.

De repente, ela percebeu o quanto era importante que ele não acreditasse em tais futilidades, que julgava fazerem parte da sua personalidade.

— Sr. Towers! — chamou. — Por favor.

— Sim? — ele respondeu secamente, sem mesmo se preocupar em se virar para olhá-la.

— Oh, nada.

Jerome se voltou, então, com a expressão distante.

— Tomo a repetir o que disse sobre você e Roddy. Não quero saber de romances na minha casa. Se eu os pegar juntos, transformarei a sua vida num inferno, srta. Finch.

— E já não fez isso? — ela perguntou melancolicamente. — Não consigo imaginar nada pior do que trabalhar para o senhor.

— Mas existem coisas muito piores. E você saberá se me contrariar — avisou-a antes de se afastar.

Paul estava furioso quando Melissa voltou ao salão e sugeriu que fossem embora imediatamente.

— Desculpe-me — murmurou Melissa. Paul não havia dito uma única palavra durante todo o caminho.

— Por que motivo? — ele perguntou, irritado. Ela suspirou. — Você sabe por quê.

— Você me fez totalmente de idiota — falou furiosamente. — Afinal, o que é que Meyers significa para você?

Melissa parecia perplexa.

— Ele nada significa para mim, mal o conheço.

— Não foi esta a impressão que eu tive.

— Ele apenas dança bem, Paul. Isto é tudo.

— Dança? Aquilo não era dança! Era...

— Está bem — ela interrompeu — sei o que era. Talvez eu tenha me deixado levar pela música, mas...

— Bela desculpa! — ele disse, furioso. — Foi simplesmente obsceno! Eu me senti um tolo. — explodiu Paul, enquanto estacionava o carro diante da casa de Melissa. — Você foi ao baile comigo, mas agiu como se estivesse acompanhada por ele!

— Por favor, Paul — ela colocou sua mão sobre a dele. — Já disse que sinto muito. Quer entrar para tomar um café? Estaremos a sós — ela insinuou. — Mamãe viajou e Brian ainda não voltou para casa.

— Está bem — ele relaxou um pouco. — Você me convenceu.

Alguns minutos depois, Paul estava se sentindo mais à vontade, com seu orgulho masculino novamente intacto. Eles estavam sentados juntos no sofá. Melissa tinha a boca completamente borrada de baton e os cabelos em completo desalinho.

— Agora sei que você é a minha garota— Paul suspirou satisfeito.

— Alguma vez duvidou disto? — Ela se aproximou mais, contente por ter feito as pazes com ele.

— Por um momento esta noite eu duvidei. — E a beijou novamente.

— Meu Deus! — ele exclamou, quando um carro parou diante da casa.

— Deve ser Brian.

Melissa olhou para o relógio e levantou-se. — É um pouco cedo para ele. — Ela fez uma careta. — Só se estiver de volta para me censurar.

Paul procurou arrumar os cabelos desalinhados. Ela suspirou e foi abrir a porta. Jerome Towers estava ali. Sua figura alta e sombria era de certa maneira atemorizadora. Imediatamente, Melissa se pôs na defensiva. — O que quer? — perguntou friamente.

— Não pensei que você se encontrasse em casa. Estava tudo escuro.

— Ele a examinou lentamente, atento para a sua boca sem baton e seus cabelos desarrumados. — Vim apenas ver como está passando sua mãe.

— Ela está bem melhor, obrigada — Melissa conservou a porta meio fechada. — Ela viajou neste fim de semana.

— Entendo. Nesse caso...

— Melissa, está tudo... Ah! — Paul veio até a porta, em completo desalinho como ela. — Boa noite, sr. Towers — cumprimentou polidamente.

A boca de Jerome Towers se contraiu quando ele olhou para os dois. — Carter — falou secamente. — Desculpe-me por tê-los interrompido.

— Bem, sim... Eu... eu direi à minha mãe que o senhor veio vê-la — falou Melissa, embaraçada, tendo noção das conclusões que ele tirara daquela situação.

— Ótimo — Jerome concordou abruptamente. — Boa noite. Atônitos, os dois também se despediram dele. Melissa pôde ver a bela Stella quando Jerome Towers abriu a porta do carro e a luz se acendeu automaticamente.

Paul fez uma careta. — Posso imaginar o que ele pensou.

Melissa também podia, só que a situação a constrangia demais...

 

Muito nervosa, Melissa aguardava a chegada de Jerome Towers no escritório dele, naquela manhã de segunda-feira. Não tinha a menor noção da maneira como ele iria tratá-la. Mas, após os acontecimentos da noite de sábado, ela era capaz de imaginar cenas deploráveis.

Brian tinha ficado furioso com ela e a havia censurado, ao voltar para casa. Ela já se sentira suficientemente punida durante todo o fim de semana. Brian, muito prudentemente, não mencionou nada à mãe.

Melissa se assustou visivelmente, quando Jerome Towers entrou. Enrubesceu, sentindo-se culpada, quando ele lhe lançou um olhar superficial, antes de se sentar à escrivaninha. Tinha uma pilha de cartas na mão e as colocou sobre a mesa diante dele.

— Não vou perguntar se passou um bom fim de semana, a saudação comum de uma segunda-feira pela manhã — ele ironizou. — Pelo que sei, você teve um fim de semana muito excitante.

Melissa estava confusa. — Ora, eu...

— Acho melhor esquecermos sobre o fim de semana — ele interrompeu asperamente. — Será melhor, você não acha?

— Sim — ela não podia nem mesmo enfrentar o olhar dele.

— Então vamos tratar da correspondência em primeiro lugar.

Eles trabalharam firmemente durante a hora seguinte. Melissa tinha uma pilha de cartas para datilografar. Ela não imaginava que houvesse tantos papéis necessários à administração de uma propriedade daquele porte, embora Jerome parecesse resolver tudo com pulso firme.

Finalmente, ele inclinou-se para trás, jogando fora alguns folhetos de propaganda. — Agora temos que tratar dos meus compromissos sociais — suspirou.

Melissa mostrou-se perplexa. — Certamente isso não exige a minha colaboração, não é? — Lembrando-se da bela amante que ele tinha, achava que a vida social de Jerome era um assunto estritamente particular.

— Em alguns casos, como esse, sim — ele pegou uma carta que havia deixado de lado antes. — Estão solicitando que eu dê uma festa de Nata| para todas as crianças daqui.

— Oh, sim — ela se lembrou rapidamente de que o velho fazendeiro Towers sempre promovia uma festa de Natal anual para as crianças. — Nesse caso, o senhor terá que ser Papai Noel — disse despreocupadamente, voltando a pensar no peru assado, nos doces e nos sorvetes.

Jerome Towers parecia não ter entendido bem.

— Como?

Melissa riu, sentindo-se relaxada pela primeira vez desde que começaram a trabalhar juntos.

— Papai Noel — sorriu. — O velho fazendeiro Towers sempre representava este papel.

Ele suspirou.

— Terei realmente que fazer isto?

— Bem, depende do senhor, naturalmente, mas é o que todos esperam.

Ele fez uma careta.

— Então, acho que terei de fazer o mesmo que ele. Você pode ir buscar café para nós, enquanto me recupero do choque. Depois me dirá exatamente o que deverei fazer nesta festa.

— Bom dia, querida — Freda a cumprimentou alegremente. — Sua mãe está lá em cima com a sra. Reece, limpando os quartos. — Enquanto falava, continuava a enrolar a massa.

— Na verdade, eu vim buscar um cafezinho para o sr. Towers e para mim mesma — disse Melissa, arrumando as xícaras na bandeja.

— Como você está se saindo? — perguntou Freda.

— Oh, muito bem. — E, por mais estranho que parecesse, ela estava muito bem. Jerome Towers parecia ter deixado de lado a raiva que sentia por ela. Sugerira até que se esquecessem de seu comportamento no fim de semana. — O sr. Towers toma café com açúcar? — Melissa hesitou em colocar o açucareiro na bandeja, pois ela própria não usava açúcar.

— Não.

Ela sofreu um impacto, ao encontrar Roddy do lado de fora do escritório. Mas agora se sentia no direito de olhá-lo com franca hostilidade.

— E como vai a minha bela parceira de dança esta manhã? — ele perguntou.

— Não sei — ela retrucou. — Como está ela?

A expressão dele alterou-se. — O que você está querendo dizer? Melissa o encarou acusadoramente. — Você sabe de quem estou falando: Patsy Jones. Roddy não pareceu perturbar-se. — Então você sabe sobre mim e ela.

— Sim! Você devia ter vergonha de si mesmo. Ela é uma mulher casada, e você...

A porta se abriu atrás deles subitamente, e Melissa quase sobressaltou-se ao encontrar o olhar glacial de Jerome Towers. — Achei que tinha ouvido vocês dois conversando aqui fora — disse ele.

— Estamos apenas nos cumprimentando — Roddy sorriu maliciosamente para ele.

Jerome pegou a bandeja das mãos trêmulas de Melissa. — Bem, vamos para algum lugar mais privado.

Stella saiu do escritório atrás de Jerome, muito elegante e bonita como sempre. — Ah, café — ela sorriu deliciosamente. — Ótimo! Obrigada, srta... Ah, Rome, você não nos apresentou. — A voz dela era baixa e sensual, seus gestos simpáticos.

Aquela mulher o chamava de Rome! Melissa sentiu-se como uma estranha. Mas essa sensação cedeu lugar a um certo ressentimento por ter que dar sua xícara de café à outra mulher.

— Esta é Melissa Finch, Stella — Jerome apresentou secamente. — Minha nova secretária. Melissa, Stella Mitchell.

— Muito prazer, srta. Mitchell — cumprimentou Melissa.

— Oh, por favor, chame-me de Stella — disse a outra mulher afetuosamente. — Lembro-me agora; você estava no baile sábado.

— Sim. — Melissa evitou olhar para Jerome.

— Foi divertido, não foi? — Stella Mitchell sorriu.

Melissa examinou aquele belo rosto à procura de algum sinal de ironia, mas nada encontrou. — Tenho certeza de que está acostumada a divertimentos mais sofisticados — disse intencionalmente.

— Bem, acho que Londres tem mais a oferecer neste aspecto. — Stella pendurou-se no braço de Jerome. — Mas Jerome está em Norfolk — e sorriu alegremente para ele.

— Podemos tomar o café antes que esfrie? — ele sugeriu. — Pode nos trazer um pouco de açúcar, srta. Finch? Parece que está faltando na bandeja.

— Oh, mas o senhor... Ah, sim, a srta. Mitchell gosta de açúcar.

— Eu tenho realmente um paladar doce — a outra mulher admitiu com um sorriso.

Mas não parece, pensou Melissa, esperando que quando chegasse aos trinta anos também tivesse aquele corpo fantástico.

Stella deu um sorriso alegre. — Acho que vou me dar bem com você, srta. Finch.

— Vou buscar o açúcar — falou Melissa.

— Eu a estarei esperando na sala — disse-lhe Roddy.

Sua expressão endureceu ao olhar para ele. — Sim — concordou asperamente.

Freda dirigiu-lhe um olhar inquisidor, quando ela pegou novamente o açucareiro. Melissa apenas encolheu os ombros, voltando apressadamente ao escritório.

— Obrigado, srta. Finch — disse Jerome secamente. — Esteja de volta em quinze minutos — acrescentou.

— Foi ótimo conhecê-la, Melissa. — Stella Mitchell sentou-se no braço da poltrona de Jerome, colocando o braço sobre os ombros dele e acariciando-lhe os cabelos escuros na nuca.

Melissa queria apagar a visão daquelas unhas vermelhas acariciando Jerome, pois descobrira que não gostava daquilo.

Por que a cena não lhe agradava, afinal? Estaria ela se apaixonando por Jerome Towers? Não era possível, realmente não era.

— Melissa!

Ela olhou para cima, percebendo que Roddy a observava impacientemente da porta da sala.

— Desculpe-me — ela afastou aqueles pensamentos — Eu estava a quilômetros de distância.

A expressão dele era desencorajadora.

— Eu percebi. Venha cá.

Ela foi fechando a porta.

— Isso tem que parar, Roddy — Melissa foi diretamente ao assunto. — Se Donald pegar vocês...

— E como você descobriu?

— Eu os vi juntos no sábado à noite, fora do salão.

Ele suspirou. — Eu a avisei para conversar comigo sozinha. Ela não ia ao baile, mas quando cheguei lá já a encontrei com Donald.

— E por que não? É o marido dela.

— É mesmo? — falou ele em tom cínico.

Melissa ficou atônita.

— O que você quer dizer com isto? Ele voltou-se. — Nada. Não é importante.

— É, sim — ela insistiu. — O que você quis dizer com tal observação?

— Não é problema meu e sim de Patsy. Se quiser saber sobre o casamento dela, terá que perguntar a ela mesma. Pessoalmente, acho que isto não lhe diz respeito, a não ser que você esteja com ciúme. — Então, ele lhe dirigiu um olhar inquisidor.

— Ciúme? — ela ironizou. — Não estou com ciúme, apenas não gosto de ser usada para encobrir esse romance.

— E quem a está usando? — ele perguntou calmamente.

— Você. Eu o ouvi, Roddy. E não quero ser usada dessa maneira. Não vou ajudá-lo a encobrir o seu romance com Patsy. Você terá de encontrar outro meio para isso. Uma idéia melhor seria acabar com o relacionamento entre vocês.

— Se eu parar de me encontrar com Patsy, você sairá comigo?

— Não!

— Então, as coisas vão ficar como estão.

— Deus, você me faz sentir mal. Patsy é uma mulher casada! Se você não parar de se encontrar com ela, vou contar tudo ao seu irmão — ela ameaçou.

Ele pareceu indiferente.

— E se você fizer isto, eu direi a ele por que você foi demitida do hospital.

— Por sua causa — disse Melissa amargamente. — Apenas por sua causa.

— Jerome achará isto ainda mais desagradável. Ele gosta de você, como sabe — disse-lhe Roddy asperamente. — Ele fica possesso toda vez que algum homem se aproxima de você.

Melissa enrubesceu.

— Não seja ridículo! Seu irmão me despreza em grande parte por sua causa.

— Você também gosta dele! — afirmou Roddy. — Bem, Melissa, você está num beco sem saída. Eu posso concordar em pegar os restos dele, mas ele nunca pegará os meus.

— Isto não me surpreende!

Ele ficou furioso.

— Você se acha muito inteligente, não é? — falou rispidamente. — Bem, logo descobrirá que é melhor me ter como amigo do que como inimigo!

Melissa sentiu um arrepio percorrendo-lhe a espinha. Sabia que era muito perigoso enfurecer uma pessoa como Roddy Meyers. E sem dúvida alguma ele já dera prova disso.

— Você não me assusta — disse corajosamente. — Apenas quero que esse romance com Patsy Jones termine.

— Eu já disse que isso não é da sua conta!

A porta se abriu ruidosamente e Jerome apareceu. Sua expressão era de fúria.

— O que está havendo aqui, afinal? — Ele irrompeu violentamente na sala. — Suas vozes podem ser ouvidas por toda a casa! Roddy — ele se dirigiu ao irmão com olhar faiscante —, o que há?

— Apenas uma pequena desavença — murmurou o outro.

Jerome suspirou.

— Srta. Finch?

Ela enrubesceu.

— Eu... Bem, seu irmão...

— É só uma briguinha de namorados — interrompeu Roddy, movendo-se para colocar o braço nos ombros de Melissa. — Acalme-se, querida — disse ele, quando ela começou a se debater, enterrando fortemente os dedos nos braços dele. — Melissa está aborrecida porque dei um pouco de atenção a Patsy Jones no sábado à noite — explicou.

— Eu... — sua voz ficou sufocada.

O olhar de Jerome era sarcástico.

— Patsy é uma mulher casada, srta. Finch e, dificilmente, uma possível candidata ao seu ciúme. Agora, será que podemos voltar ao trabalho? — disse ironicamente. — Já avisei a srta. Finch sobre o que lhe acontecerá se isto se repetir. Quanto a você. Roddy, pode voltar imediatamente para Londres.

— Mas a minha operação...

— Não parece tê-lo impedido de qualquer uma das suas atividades — falou lentamente Jerome. — Se não se importar, srta. Finch, vamos recomeçar as nossas tarefas? — acrescentou com exagerada polidez. abrindo a porta para que ela saísse.

Melissa sentiu a força daquele olhar de censura, enquanto se dirigia ao escritório. Ficou feliz, contudo, ao constatar que Stella Mitchell não estava mais lá. Sua humilhação seria ainda maior se a outra mulher tivesse testemunhado a punição que sofrera. Ela parou desajeitadamente no meio da sala, esperando pela reprimenda do patrão.

Ele se sentou à escrivaninha, com ar grave.

— Espero que não haja uma repetição desta cena todos os dias — ele a encarou friamente.

— Mas...

— Deixe-me terminar, srta. Finch — continuou no mesmo tom de reprovação. — Já a avisei várias vezes sobre o seu comportamento com meu irmão. Não quero mais que isto continue, entendeu?

— Bem...

— Roddy sabe a respeito de Carter? — ele a interrompeu. Melissa ficou desconcertada. — Paul? Mas ele...

— E Carter, por acaso, sabe a respeito de Roddy? — ele não a deixou terminar.

— Não! — ela estremeceu.

— Meu Deus! — Jerome caminhou furiosamente pela sala, parando à sua frente e olhando-a de cima a baixo. — O que há em você? Parecemos abelhas ao redor de um pote de mel...

— Parecemos? — ela repetiu, perplexa.

— Sim, nós! — Ele a puxou contra si. — Todos os homens disponíveis nesta região parecem achá-la fascinante, inclusive eu. Você deve ser realmente muito especial — murmurou, com o olhar ardente fixo em seus lábios entreabertos. — Talvez eu deva descobrir o quanto você é especial.

— Sr. Towers! — Melissa estava chocada, aterrorizada.

— Rome — ele sugeriu suavemente, enquanto abaixava a cabeça. — Chame-me de Rome — Foram suas últimas palavras e a boca de Jerome finalmente encontrou a de Melissa.

Assim que seus lábios se tocaram, Melissa teve a certeza de que estivera esperando por aquele momento, ansiando pelos beijos dele, desde a primeira vez que o encontrara, quando ele trouxera Berta de volta à fazenda.

O desejo de um pelo outro manifestou-se como um vulcão em erupção. Melissa estremeceu ao sentir a rigidez das coxas dele contra seu corpo. Aquelas mãos que tanto admirara percorriam agora seus quadris e seus seios. Suavemente, ele conseguiu desabotoar sua blusa, antes de abaixar a cabeça e mover os lábios quentes sobre sua pele sensível.

Ainda não estava satisfeito. Jerome levou uma das mãos até suas costas para desabotoar rapidamente seu sutiã.

Para Melissa, aquele parecia um instante de sonho. Sentia-se completamente fora de si. Então Jerome recostou-se contra a escrivaninha, puxando-a ainda para mais perto, enquanto abaixava a cabeça até prender entre os lábios a ponta rosada de um de seus seios, mordiscando delicadamente a carne que latejava.

Mas as sensações que ele lhe despertava não eram um sonho. Aquele prazer que fazia com que cada partícula do corpo de Melissa vibrasse era muito real. Jerome a puxava cada vez mais para perto de si, fazendo com que seus corpos se fundissem num só. Meu Deus, Melissa ainda conseguiu pensar; não se importaria em morrer naquele momento!

Ele ergueu a cabeça. — E então? — perguntou suavemente.

— Oh, Rome! — ela suspirou, completamente perdida de paixão por aquele homem.

De repente, ele a afastou, abotoando a camisa, que segundos antes ela abrira febrilmente. Jerome contorceu a boca.

— Agora eu sei por que todos os homens desta região a desejam — escarneceu cruelmente.

Confusa, Melissa sentia-se desolada, sem os braços dele ao seu redor.

— Você sabe?

— Oh. sim — ele a encarou com frieza. — Você é tão fácil, que todos querem entrar na fila para levá-la para a cama.

Ela engoliu em seco, sem quase entender o que estava ouvindo.

— O que você disse?

Ele deu uma gargalhada cruel.

— Acho que você me ouviu bem. Abotoe sua blusa, Melissa. Você parece exatamente a devassa que é, toda desalinhada desse jeito.

Consciente de sua nudez, Melissa enrubesceu violentamente, ao tentar abotoar o sutiã. A tensão era tanta, que ela não estava conseguindo. Finalmente, Jerome afastou as mãos dela, levantando sua blusa e abotoando ele mesmo o sutiã. Melissa estava atônita com a frieza dele, após aquele momento em que pensara estarem eles vivendo uma paixão recíproca.

— Por que fez isto? — perguntou confusamente. — Por que me beijou?

— E por que não? — ele encolheu os ombros. — Todos os outros fazem o mesmo. Agora, quanto a esta festa...

— Festa? — Melissa repetiu surpresa. — Que festa?

— A festa de Natal para as crianças — ele explicou pacientemente. ― Você saberá organizá-la?

Ela tentou colocar as idéias em ordem. Como podia ele mudar de estado de espírito tão rapidamente, a ponto de discutir os detalhes de uma festa para crianças, quando ela se sentia ainda completamente arrebatada? Ele não se mostrava nem um pouco abalado pela cena apaixonada que acabaram de participar. Devia ter feito o mesmo com centenas de outras mulheres, enquanto que ela experimentara pela primeira vez aquela forte emoção sexual, aquele desejo louco, que ansiava pela explosão maravilhosa que certamente viria com a entrega total.

E Jerome a estava acusando de ser uma devassa! Talvez não tivesse agido como a amadora que na verdade era, pois sentira um desejo incontrolável de tocá-lo, de acariciá-lo e de beijá-lo tão intimamente como ele fizera com ela. Mas ela era uma amadora, uma ingênua. No fundo, porém, sabia que bastaria apenas um novo toque daquelas mãos experientes para que sentisse aquela febre novamente.

— Rome — ela recuou ante a fúria dele. — Jerome não, não, sr. Towers, eu...

— Abotoe sua blusa, pelo amor de Deus! — ele gritou. — Ou quer que eu faça isto também?

— Eu... Não! — Suas mãos se moveram automaticamente para os botões. — Apenas...

— Foi uma experiência, Melissa. — Ele foi até a escrivaninha e sentou-se novamente. — Você realmente gosta disto, não é? — perguntou em tom de insulto. — Você fica excitada até mesmo com homens dos quais particularmente não gosta.

A mágoa estampou-se no rosto dela.

— Não... — ela sacudiu a cabeça.

— Sim! — insistiu ele. — Eu já havia ouvido falar de garotas como você, mas nunca tinha conhecido uma. Você gosta tanto de sexo, sente tanto prazer, que a identidade do seu parceiro não faz a menor diferença. Tudo o que você quer dele é que seja um homem, que saiba como tratá-la na cama.

Seguindo um impulso irresistível, Melissa o esbofeteou no rosto. Sim, agora ela o odiava com todas as forças. Não dirigiu um olhar para ele, ao sair da sala com a cabeça erguida.

— Voltou para tomar seu café, meu bem? — Freda sorriu para ela. — Meu Deus, como você está pálida! Sente-se, vou pegar o café para você. — Ela se sentou à mesa da cozinha, no lado oposto ao de Melissa. — Você trabalhou demais, não é?

Melissa estava fora de si. Jerome Towers pretendera apenas humilhá-la como mulher e conseguira. De repente, passou a desejar que homem algum a tocasse novamente. Sentia-se suja e violentamente degradada. As experiências que tivera com os homens da família Towers eram suficientes para afastar qualquer outro de sua vida.

— Você parece doente — Freda estava preocupada. — Talvez seja melhor ir para casa.

— Não! — Ela não daria essa satisfação a Jerome. — Logo estarei bem. — Ela possuía a personalidade obstinada do pai. Nenhum deles jamais havia fugido à luta. — Pronto, já me sinto melhor — sorriu alegremente.

— Você tem certeza? Ainda está pálida!

— Daqui a pouco estarei ótima, Freda, realmente. Preciso apenas de um café.

— A srta. Mitchell tomou o seu?

— Sim — ela admitiu melancolicamente. — Bem, acho melhor voltar ao trabalho agora.

Melissa hesitou junto à porta do escritório. Finalmente, retesou os ombros, antes de virar a maçaneta da porta e entrar. Jerome Towers levantou lentamente a cabeça, observando-o pegar o caderno de anotações e dirigir-se à escrivaninha, na frente da janela. Melissa não disse uma só palavra, mas começou a datilografar as cartas que ele havia ditado antes.

— Srta. Finch — ele finalmente chamou-a em voz alta.

Ela interrompeu o serviço que estava fazendo.

— Sr. Towers? Pois não — e olhou-o surpresa.

Jerome levantou-se.

— Da próxima vez em que entrar nesta sala, bata primeiro! — Então, ele se retirou, batendo a porta.

Melissa teve muita sorte ao encontrar Patsy Jones aquela noite, quando as duas saíam de uma pequena mercearia.

— Patsy! — ela chamou a garota que já ia se afastando. — Eu estava mesmo querendo vê-la. Você tem um tempinho para conversarmos?

Patsy a fitou com olhos apreensivos.

— Sobre o quê? Melissa suspirou. — Estou certa de que Roddy já lhe disse qual é o assunto.

Os olhos azuis dela falsearam.

— Ah sim. Roddy, quer dizer, o sr. Meyers? — Patsy corrigiu rapidamente. — O que tem ele a ver com a nossa conversa?

— Então, não lhe contou nada a respeito?

Patsy fez uma expressão de surpresa

— Sobre o quê?

— Que eu sei sobre vocês dois. Você é louca, Patsy? — Melissa exclamou exasperada. — Não percebe o risco que está correndo por causa daquele...

— Você está com ciúme! — Patsy a interrompeu furiosamente. — Roddy me falou a seu respeito, sobre a maneira com que o persegue, até mesmo no hospital. Mas ele não quer você. Ele quer a mim!

— Há um engano! Eu não o quero — afirmou Melissa com firmeza. — Acho que ele é o pior sujeito que já conheci. E se você é suficientemente tola...

— Ora, cale-se! — respondeu Patsy nervosamente. — Cale-se! Você é como o resto das pessoas,sempre tentando me dizer o que devo fazer. Eu verei Roddy quando quiser, portanto me deixe em paz! — E afastou-se correndo.

— Patsy...

Ela se voltou com a expressão furiosa.

— Deixe-me em paz!

Melissa encolheu os ombros. Em seguida, caminhou vagarosamente para casa. Se Patsy não queria ajuda, então ela não via o que mais podia fazer a respeito. Mas era uma vergonha. Ela sabia que para Roddy tudo não passava de uma brincadeira, mais interessante talvez pelo fato de Patsy ser casada. Infelizmente Roddy era do tipo de homem que gosta mais do ato de caçar em si do que da presa. Melissa concluiu que não levaria muito tempo para que ele se cansasse da doce e simples Patsy.

— Você trouxe o pão, querida? — sua mãe veio ao seu encontro, ao perceber que ela havia chegado.

— Sim — Melissa o entregou para ela.

— Convidei Paul para jantar.

— Está bem.

Sua mãe estranhou tamanha falta de entusiasmo.

— Achei que seria bom. Como foi o seu dia?

Melissa encolheu os ombros, como se não se importasse com nada, embora se sentisse muito tensa. Afinal, tentara trabalhar normalmente o dia todo, quando tudo o que desejava era fugir e se esconder. Após sair do escritório, Melissa vira Jerome uma vez mais, passeando de carro com Stella.

Ela descobrira, ao ajudar a sra. Reece em seus serviços caseiros, que os quartos de Jerome e o de sua amante ficavam um defronte ao outro no corredor. Não era necessário um esforço de imaginação muito grande para concluir que apenas um daqueles quartos seria ocupado à noite.

— Você detestou tanto assim o trabalho? — Sua mãe parecia preocupada.

— Não foi pior do que pensei que seria. — Melissa se esquivou. — A que horas os rapazes virão para o jantar? — ela mudou de assunto.

— Já devem estar chegando. É melhor eu voltar para a cozinha e cuidar das panelas.

— O que teremos para o jantar?

— Galinha assada. — Sua mãe sorriu. — O prato predileto de seu pai. Melissa ficou melancólica. — Você ainda sente falta dele, não é?

— Bem, naturalmente que sinto — concordou a mãe. — Alguns casamentos se desgastam, tomando-se uma rotina, mas isto nunca aconteceu conosco. Fomos felizes juntos e sempre dizíamos um ao outro que gostaríamos que você encontrasse esse tipo de casamento.

— Ainda não achei o homem certo, mamãe — disse Melissa com certa nostalgia.

— Pensei que Paul...

Melissa sacudiu lentamente a cabeça.

― Ele é um amigo e gosto de estar com ele, mas... bem, falta algo no nosso relacionamento. — Faltava excitação sexual, ela tinha certeza disso! Após aquela manhã nos braços de Jerome, sabia com toda a honestidade que não poderia casar-se com Paul. Ele nunca fora capaz de suscitar nela aquela emoção vulcânica, nunca a fizera se sentir tão viva e desejosa. Ela havia desejado Jerome aquela manhã, e ele também a desejara, não importando quão cruelmente a tivesse rejeitado depois.

— Paul tem sérias intenções a seu respeito — disse-lhe a mãe. — Recuse-o gentilmente, Melissa querida.

A oportunidade para fazer aquilo veio mais cedo do que ela esperava, naquela mesma noite. Brian fora ver Joyce, sua mãe saíra para visitar uns amigos e Paul voltara para apanhar Melissa, após haver trocado de roupa.

— Assim é mais confortável — Ele estava com o braço em seus ombros e a puxou para mais perto de si.

Melissa suspirou profundamente.

— Paul...

— Sua pele tem um sabor delicioso! — ele sussurrou, enquanto a beijava ternamente no rosto.

— Paul! — Ela se desvencilhou dele.

Ele pareceu magoado.

— O que há de errado, querida? Você está diferente esta noite.

— Desculpe-me. Acho que estou muito cansada.

— Mas você disse que o seu primeiro dia não havia sido difícil demais.

— Eu disse apenas que não houve muito trabalho — ela corrigiu — e não que tenha sido fácil.

— Você ainda detesta o sr. Towers?

— Eu... eu não antipatizo mais com ele. Ele trabalha muito na propriedade. Ninguém pode negar isto. Estou surpresa por ele achar tempo para tratar, inclusive, dos outros interesses.

Paul concordou.

— Ele tem realmente uma incrível capacidade de trabalho. Gosta de enfrentar desafios. E também é assim com as mulheres; ele sempre gosta de vencer.

Melissa enrubesceu, pois conhecia pessoalmente a necessidade que Jerome Towers tinha de conquistar tudo o que queria.

— Você parece ter inveja — ela gracejou, tentando disfarçar a dor que sentia.

— Eu não — Paul sorriu maliciosamente. — Embora admita que seria ótimo ter aquele charme fatal dele. Mas prefiro me acomodar para passar o resto de minha vida com você.

O coração de Melissa se apertou.

— Paul...

— Quando vamos nos casar? — Ele não parecia ter notado seu rosto pálido. — Não há razão para esperarmos, agora que você não vai mais continuar seu estágio.

— Paul! — Dessa vez, sua voz soou ainda mais pungente.

— Na páscoa será ótimo — ele propôs. — Não concorda comigo? Melissa mordeu o lábio. — Não me lembro de você ter me pedido em casamento antes — observou gentilmente.

— Não? Bem, eu... — ele enrubesceu. — Você se casará comigo, não é?

— Eu... — Ela foi interrompida por uma batida forte na porta da frente. — Quem poderá ser? Já são mais de dez horas.

Paul levantou-se.

— É melhor que eu vá ver. Você não deve atender a porta para qualquer pessoa a esta hora.

Melissa seguiu-o pelo corredor e arregalou os olhos ao ver Jerome Towers parado na soleira da porta. Estava completamente molhado. Com certeza, havia apanhado muita chuva.

— Entre — ela convidou apressadamente. A fúria nos olhos dele era visível.

Jerome fez uma careta.

— É melhor eu não entrar. Estou pingando e há muita lama nas minhas botas.

— Pelo amor de Deus, entre — disse ela impacientemente, puxando-o para dentro. — Mas o que o levou a vir até aqui a pé com este tempo?

— Sua maldita vaca me levou a isto! — ele exclamou, irado. Melissa ficou perplexa. — Berta, novamente?

— Você tem alguma outra? — perguntou Jerome com sarcasmo.

— Ela foi até a sua propriedade outra vez?

— Como você é inteligente! Sim, ela foi até a minha propriedade e derrubou uma das cercas que estava sendo construída.

— Ela está aí fora?

Jerome lançou-lhe um olhar mal-humorado. — Bem, acho que eu dificilmente teria vindo aqui sem ela.

— Vou colocá-la no estábulo — Paul falou pela primeira vez, colocando a mão no ombro de Melissa. — Tudo bem, querida? — perguntou suavemente.

Ela ficou satisfeita, porque ele não iria testemunhar a cena que Jerome certamente estava preparado para fazer.

— Obrigada, Paul. Você sabe onde ela vai ficar, não é? — Melissa observou-o colocar o casaco e sair na chuva. — Venha para a sala, sr. Towers — convidou polidamente. — Lá está mais quente.

— Minhas botas...

— Tire-as, se isto o preocupa — ela falou com impaciência, dirigindo-se à sala sozinha.

Segundos depois ele a seguiu, sem as botas e o casaco molhado. Dirigiu-se até a lareira, esfregando as mãos diante do fogo. De repente, virou-se para Melissa. — Isto não pode continuar, você sabe.

— Sinto muito. Provavelmente Berta está procurando o resto do rebanho. Nós o vendemos para o senhor. Acho que ela sente falta deles.

Jerome a olhou de modo irônico.

— Ela sente falta deles? Melissa enrubesceu. — Bem, é possível. Ela também tem alguns sentimentos, o senhor sabe.

— Tenho certeza que você a conhece suficientemente bem para perceber o que há de errado com ela.

— Não precisa ser tão sarcástico!

— Eu não sabia que estava sendo. E quando disse que isto não podia continuar, não estava me referindo aos passeios de Berta.

A expressão dela tomou-se desafiadora.

— Ao que se referia, então?

— Acho que você sabe bem o que está fazendo com meu irmão e com Paul Carter. Sondei Roddy esta noite e evidentemente ele não faz a mínima idéia de até onde já foram as coisas entre você e o seu amigo Paul.

Melissa ficou furiosa. — Minha amizade com Paul não lhe diz respeito!

— Nem mesmo quando ele também está dormindo com você?

— Ele não dorme comigo! — gritou, Melissa.

Jerome sacudiu a cabeça, com uma expressão de contrariedade. — Você vai se dar mal, Melissa. Não sei como consegue mantê-los sem que um saiba do outro. Roddy chegou em casa há uma hora aproximadamente. O que você fez? Disse, por acaso, que estava com dor de cabeça para afastá-lo, a fim de que Carter pudesse vir até aqui?

— Eu não vi Roddy esta noite — ela afirmou com convicção. — Provavelmente ele estava com...

— Verdade? — ele a interrompeu.

— Ele não estava comigo — repetiu ela. — Pergunte a Paul. Estivemos juntos a noite toda.

— Não tenho nenhuma intenção de perguntar qualquer coisa a Carter — ele prosseguiu. — Posso imaginar muito bem o que ele pensaria se eu demonstrasse tamanho interesse. Não serei outro dos seus homens, Melissa. Talvez pudesse ter entrado no rol, se tivesse aceito aquele seu convite para almoçar.

— Seu sujo! Eu me ofereci para almoçar e não para ir para a cama com você!

— No que lhe diz respeito, uma coisa parece levar à outra — disse Jerome com a intenção de insultá-la. — Duvido que Roddy fique ferido com a sua ambigüidade, mas Carter, sim. Por que você não termina com Paul, para que ele encontre uma garota decente para se casar?

— Ele quer se casar comigo! — confessou-lhe Melissa em tom de desafio.

Os olhos castanhos de Jerome se comprimiram. Ele estava curioso a respeito.

— Ele a pediu em casamento?

— Sim — ela sentiu prazer em confirmar.

— E a sua resposta? Não, não se preocupe em me dizer — escarneceu.

— Você não vai se casar com ele. Você nunca poderá ficar com um único homem.

— Eu, bem... — Ela desejava dizer que ia aceitar, que ia se casar com Paul. Mas não podia usá-lo daquela maneira. Afinal, Melissa não tinha intenção de se casar com Paul e ele poderia apenas magoar-se com uma resposta falsa. — Não vou me casar com ele — admitiu secamente. — Mas não pelo motivo que o senhor está apontando. — Seus olhos faiscaram.

— É hora de ir embora. — Jerome foi buscar o casaco e as botas. — Carter nunca saberá a sorte que teve ao sair desta — acrescentou para humilhá-la ainda mais.

— Eu te odeio! — ela gritou com toda a força.

— Não mais do que eu te odeio, certamente. Só que te desejo também.

— Ele admitiu como se fosse obrigado. — Você percebeu tudo esta manhã, não é? É claro que sim — ele respondeu à sua própria pergunta.

— Você sabe exatamente como o instinto sexual de um homem é facilmente despertado. Bem, posso não ser um puritano em matéria de mulheres, mas não gosto de adquirir mercadoria usada, especialmente quando foi usada tantas vezes como você. Não faça isso! — ele conseguiu segurar a mão dela, antes de ser esbofeteado. — Você teve sorte por eu não ter revidado da primeira vez. Mas fique avisada! Não abuse da sua sorte!

Paul entrou exatamente naquele momento e Melissa afastou-se de Jerome. — Está tudo bem? — Sua voz estava trêmula, seus nervos em frangalhos.

— Tudo bem. Deixe-me levá-lo para casa, sr. Towers — Paul ofereceu-se imediatamente. — Ainda está chovendo muito.

Jerome se endireitou. — Não gostaria de afastá-lo de sua... amiga.

Melissa lançou um olhar inquieto a Paul, para constatar se ele havia percebido a insinuação, mas ele parecia não ter notado. Olhou depois para Jerome, odiando seu ar de sarcasmo.

— Eu não mandaria nem um cão para a rua com um tempo deste — seu tom de insulto era inegável. — É claro que Paul deve levá-lo.

Imediatamente depois que eles saíram, lágrimas copiosas começaram a escorrer pelo seu rosto. Melissa acabara de dizer ao homem que amava que o odiava e estava mais claro do que nunca que o ódio que ele sentia por ela era forte demais.

 

Melissa teve que reunir muita força de vontade para ir trabalhar no dia seguinte. Como podia ter-se apaixonado por Jerome Towers? Ela estava realmente enlouquecendo! Afinal, ele tinha a pior opinião a seu respeito!

— Bom dia, beleza — Roddy entrou no escritório. — Soube que você conversou com Patsy ontem — disse, entrando direto no assunto.

Jerome ainda não chegara. Caso contrário, Roddy não estaria tão seguro de si, Melissa pensou. Jerome sabia como acabar com os ímpetos de arrogância do irmão.

— Eu tentei — disse ela na defensiva.

— Bem, daqui para a frente fique fora disto —- ele ordenou. — Patsy é suficientemente adulta para tomar suas próprias decisões e agir por vontade própria.

— Assim como eu? — ela ironizou. — Não foi por minha vontade que você invadiu o meu quarto no hospital, também não foi por minha decisão que fui demitida.

— Como você gosta de falar sobre esse assunto — ele queria humilhá-la. — Pelo amor de Deus, não foi o fim do mundo.

Melissa empalideceu.

— Foi o fim da minha carreira! Mas você não se importa nem um pouco com isto, não é?

— Não particularmente — ele encolheu os ombros. — Você não parece ter qualquer dificuldade para arrumar emprego. — Os olhos dele revelavam uma ponta de malícia. — Ainda conserva aquela paixão por Rome?

Ela enrubesceu.

— Nunca fui apaixonada por ele! — Pelo menos, preferia pensar assim, para não se sentir tão insegura. Mais cedo ou mais tarde teria que dominar seus sentimentos em relação a Jerome.

— Prove — desafiou Roddy.

A expressão dela alterou-se, revelando surpresa.

— Como?

— E muito fácil. — Ele deu então, um passo em sua direção, puxando-a contra si e esmagando-lhe a boca com um beijo, antes mesmo que ela tivesse tempo de protestar.

Melissa sentiu uma forte náusea e se debateu contra a investida de Roddy. Finalmente, conseguiu dar-lhe um pontapé na canela. Um brilho de satisfação surgiu em seus olhos, quando ele se afastou, gritando de dor,

— Sua idiota! — Ele ergueu a mão para esbofeteá-la com fúria.

— Oh não, você não vai fazer isso! — Jerome segurou a mão de Roddy, empurrando-o para longe de Melissa. — Mas o que você pensa que vai fazer? — Os olhos dele faiscaram de raiva ao encarar o irmão.

— Melissa estava...

— Não estou perguntando sobre Melissa. Estou perguntando a respeito da sua atitude! — A expressão de Jerome era desafiadora. — Nós estávamos discutindo — explicou Roddy.

— Isto me pareceu muito claro — continuou Jerome, em tora irônico.

— Mas afinal esta briga era tão séria, a ponto de você precisar bater nela?

— Eu não bati nela.

— Mas ia bater. Por quê?

Roddy parecia zangado.

— Ela me deu um pontapé.

— Eu vi. Também vi por que ela deu um pontapé em você. Saia daqui, Roddy. Você já me aborreceu demais!

Assim que Roddy os deixou, Melissa caiu sobre uma cadeira, ainda sentindo fortes náuseas.

— Abaixe a cabeça — ordenou uma voz firme. Ela sentiu uma mão delicadamente pousada em sua nuca, procurando ajudá-la a reabilitar-se.

— Abaixe bem — encorajou Jerome. Depois de alguns minutos, ela já era capaz de se sentar normalmente, embora sua cabeça ainda estivesse latejando levemente. — Eu... eu estou bem agora — e deu um sorriso débil.

— Você está mortalmente pálida. — Ele se agachou ao lado dela. — Você realmente não gostou que ele a beijasse, não é?

— Eu detestei!

Jerome franziu as sobrancelhas.

— Mas eu pensei... Bem, quer dizer que você não gosta realmente de Roddy, não é?

— Eu o odeio!

Ele sacudiu a cabeça, confuso.

— Então, por que sai com ele?

— Eu já lhe disse que nunca mais saí com ele.

A expressão de Jerome tomou-se mais sombria.

— Então, se não é você, com quem ele está saindo? É claro que é com alguém que Roddy não quer que eu saiba.

Melissa assustou-se. Ela não queria envolver Patsy.

— Eu não sei — disse com voz trêmula.

Jerome segurou seu queixo, forçando-a a olhar para ele.

— Acho que você sabe quem é a garota dele. Não negue — aconselhou suavemente.— Sinto que você sabe.

— Se quiser saber alguma coisa a mais sobre isto, terá que perguntar a Roddy.

— Eu pretendo perguntar. E vou querer algumas respostas. Ele me enganou de propósito. Sinto muito — a voz dele era firme. — Parece que eu a julguei erradamente.

Melissa olhou para ele timidamente.

— Apenas parece?

Apesar de confuso, Jerome ainda conservava certo ressentimento no olhar.

— Será que eu a julguei realmente de forma errada? — corrigiu ele. — E quanto a Paul, Carter?

— Um amigo — ela respondeu sem hesitar.

— Mas ele gostaria de ser mais que isto?

— Sim.

— Mas você não está interessada?

— Não.

— Então, não havia ninguém — ele resmungou. — Interessante. Vista o seu casaco. Melissa, nós vamos sair — disse-lhe alegremente.

— Sair? Mas...

— A negócios, Melissa — ele ironizou. — Posso ter eliminado os dois homens que pensei predominarem na sua vida, mas não estou suficientemente convencido a ponto de presumir que agora você gostaria de sair comigo. Além disso...

— Rome — Stella Mitchell apareceu à porta.

— Olá! — ela deu um sorriso malicioso.

— Desculpe-me, eu me esqueci que estava com a sua secretária. Vim para tomar um café com você.

Então, era por causa dela que Jerome tinha titubeado no final da conversa! Stella Mitchell era a mulher da sua vida há mais de um ano. Melissa não tinha motivo algum para supor que ele gostaria de substituir sua amante. E, mesmo que ele quisesse, não estava certa de desejar manter aquele tipo de relação transitória com alguém.

Jerome sorriu afetuosamente.

— Esta manhã não, Stella. Melissa e eu temos que sair. — Ele vestiu o casaco.

— Se preferir que a srta. Mitchell vá com o senhor... — falou Melissa, nervosa.

O olhar dele tomou-se agressivo.

— Já lhe disse que vamos sair a negócios. Ainda que Stella possa ter muitas qualidades, a taquigrafia não é uma delas.

Ela se levantou.

— Vou pegar o meu casaco.

— Está bem. — Ele se virou e beijou Stella levemente na boca. — Eu a verei mais tarde. Estou esperando lá fora, Melissa — disse Jerome com voz autoritária.

Ela pegou o casaco na cozinha, correndo em seguida pelo corredor, pois não queria enfurecer Jerome, fazendo-o esperar.

— Você vai pagar por isto — disse-lhe Roddy em surdina.

Melissa voltou-se e o viu no topo da escada, sentindo um arrepio de medo. Mas nada respondeu e saiu correndo.

Sentado num Range Rover verde-escuro, Jerome esperava que ela terminasse de apertar o cinto de segurança, antes de sair.

— O que aconteceu ao Jaguar? — Melissa quis iniciar uma conversação, pois o silêncio que se abatera entre eles era opressivo.

— Nada. Apenas é mais fácil dirigir um Range Rover pela fazenda, especialmente em estradas esburacadas.

Ela arregalou os olhos.

— Não pensei que iríamos andar pela fazenda.

— Preciso olhar as cercas. O acidente de Berta ontem me fez lembrar que não as tenho verificado ultimamente.

Melissa enrubesceu à menção do acidente de Berta.

— Nós lhe pagaremos pela cerca. É só nos mandar a conta.

— Não será necessário. A cerca não ficou tão estragada quanto pensei. Apenas necessita de alguns reparos para ficar nova.

— Os reparos...

— Não ouse mais se oferecer para pagar por eles! — ele ameaçou. — Ou a colocarei nos meus joelhos e lhe darei uma surra.

— Oh, oh, ótimo! — Melissa reagiu como se estivesse com um de seus amigos. — Desculpe-me — ela enrubesceu. — Eu queria apenas dizer...

Jerome riu alegremente.

— Sei o que você queria dizer. Eu também já fui jovem.

— Ainda é!

— Obrigado — ele se curvou, com um olhar afetuoso.

— Não é obrigação de Jeff Robbins verificar as cercas danificadas? — ela perguntou para disfarçar seu embaraço.

— Sim. Mas Jeff vai sair no fim do mês...

— É mesmo?

— É que ele foi contratado por seis meses e resolveu não renovar o con­trato. Ele e Rachel vão se casar, como você sabe. E, como o pai de Rachel vai se aposentar no fim do ano. Jeff vai cuidar da fazenda para ele.

— E quem vai cuidar da sua propriedade?

— Eu, até Brian assumir.

Melissa o olhou perplexa.

— É este o serviço que o senhor estava arranjando para ele?

— Sim — ele confirmou.

— Ele sabe disso?

— Não. E não quero que lhe conte. Seu irmão merece todas as chances para recuperar a sua própria fazenda.

— De modo que ela esteja em boas condições quando o senhor quiser fazer sua última oferta para comprá-la.

Ele a encarou seriamente. — Você ainda acredita nisto?

— Não — ela admitiu com voz emocionada. — O senhor vai realmente fazer de Brian o seu novo administrador?

— Sim. Ei, olhe para aquela cerca! — Em seguida, Jerome preparou uma lista de coisas que desejava que fossem feitas ou mudadas. Assim sendo, na hora do almoço, Melissa tinha várias anotações sobre assuntos que deveria solucionar.

— Almoço? — Jerome sorriu para ela.

Ela olhou para o relógio, surpresa ao ver que já era uma hora.

— Estou com fome — admitiu.

— Que tal "O Homem Verde"?

— Oh, eu... eu não esperava que fosse me convidar para o almoço. Pensei que voltaríamos à The Towers.

Ele ficou confuso.

— Então, não quer almoçar comigo?

— Sim. Não! Eu... eu gostaria — confessou timidamente.

— Ótimo. — A mão dele tocou ligeiramente a sua. — Sinto muito sobre ó que aconteceu ontem — disse ele.

— Bem, eu...

— Não diga nada, Melissa — ele pediu, quase suspirando. — Vamos almoçar. A gente nunca sabe — deu um leve sorriso —, poderemos até mesmo acabar sendo amigos.

— É verdade — ela concordou.

— Mas duvida disso.

Ela sabia que nunca poderia ser amiga daquele homem, porque intimamente o desejava como amante, não como amigo.

O almoço foi agradável. Mantiveram a conversação em tom polido e impessoal. Melissa concluiu que talvez aquela fosse a melhor maneira para evitar discussões entre eles.

— Tenho que visitar os Jones — disse Jerome no caminho de volta. — Tam Jones sofreu um ataque cardíaco há alguns meses e geralmente vou visitá-lo umas duas vezes por semana, para ver como está passando. Você está bem?

— Sim, ótima. — Ela demonstrou seu espanto. — Você demonstra um interesse especial pelas pessoas daqui, mais ainda que o velho fazendeiro Towers...

— Você não esperava isso de mim?

— Bem... não — respondeu Melissa honestamente.

— Desapontada? — ele gracejou.

— Agradavelmente surpresa.

— Tenho certeza de que está desapontada. Na primeira vez em que nos encontramos, você já revelou os preconceitos que tinha contra mim.    

— Na ocasião pensei que o senhor fosse Jeff Robbins — disse ela, tentando desculpar-se.

Jerome sorriu.

— Pelo menos descobri o que você pensava a meu respeito. Quem lhe deu essa impressão?

— Seu tio sempre dizia que o senhor...

— Ah — ele concordou. — Sim, meu tio. Sei que ele dizia que eu era um esnobe pomposo e arrogante, com idéias superiores.

Melissa o olhou atônita.

— Então sabia o que ele dizia a seu respeito? Ele riu ante a sua surpresa. — Ele não tinha o menor escrúpulo em dizer isso na minha cara.

— Entendo — ela mordeu o lábio. — Bem. seu tio o chamou assim várias vezes, mas não me lembro dele dizendo algo a respeito de suas características intelectuais. Por que ele se ressentia a seu respeito?

— Ele simplesmente não gostava de mim, Melissa — Jerome corrigiu. — Meu tio teria deixado a propriedade para qualquer outra pessoa, se pudesse. Mas, infelizmente para ele. ela sempre esteve vinculada e sempre passou para o herdeiro masculino mais velho.

— Por que ele não gostava do senhor?

— Isso significa que agora já não me acha um esnobe pomposo e arrogante?

Ela enrubesceu. — Sabe que não.

— Espero que não. Meu tio não gostava de mim porque minha mãe era italiana. Tio Henry detestava estrangeiros — Jerome confessou. — Mesmo assim, estranhamente essa antipatia não se dirigia também a Roddy — ele encolheu os ombros. — Talvez porque Roddy seja mais bonito. Mas, por qualquer razão, ele não gostava de mim. Você sabe em que estado se encontrava toda a nossa propriedade quando ele morreu? Bem, eu me ofereci para ajudá-lo. Afinal de contas seria minha herança, mas ele recusou. Sabe por quê? Porque eu ia lhe emprestar dinheiro de minha mãe, que herdei quando ela morreu. Desde que meu pai se casou com minha mãe, tio Henry nunca mais falou com ele.

Melissa tivera uma opinião até então totalmente errada a respeito daquele homem! Ela aceitara o que outras pessoas lhe haviam dito sobre ele e tirara suas próprias conclusões, sem mesmo lhe dar uma chance de provar que os outros estavam enganados.

— Você pode esperar aqui, se quiser — Jerome desceu do Range Rover. — Ficarei com Tam apenas alguns minutos.

Conhecendo o temperamento gaulês explosivo de Tam Jones, Melissa optou por ficar no carro. Tam jamais teria paciência para aceitar a sua doença e talvez não gostasse que ela o visse naquele estado. Ela reconheceu Donald no quintal alguns minutos depois que Jerome saiu. Resolveu então ir conversar com ele. Talvez conseguisse descobrir o que havia de errado no casamento dele com Patsy. Sabia que ele era tão taciturno como o pai, mas podia deixar escapar alguma coisa sem perceber.

— Olá, Donald — ela cumprimentou alegremente.

— Melissa — ele acenou com a cabeça, continuando a carregar o furgão com materiais de construção. Ele e o pai estavam no negócio juntos, cuidando de todos os pequenos serviços que precisavam ser feitos. Talvez fosse este o problema, talvez com o pai doente, ele estivesse sobrecarregado de trabalho, negligenciando Patsy.

— Muito serviço? — ela perguntou.

— Bastante. Foi o sr. Towers que eu vi entrando em casa?

— Sim — concordou Melissa. Por que nunca notara o respeito de todos ao falarem sobre Jerome ou com ele? Mas agora seus olhos estavam abertos, e a dor de amá-lo era ainda pior do que quando não gostava dele. — Ele veio ver seu pai — explicou.

Donald não pareceu surpreso com essa informação.

— Papai deve voltar ao trabalho em breve. Mais algumas semanas, disse o médico.

— Suponho que você ficará aliviado — comentou Melissa alegremente. — Não deve ser muito fácil para você e Patsy.

Ele encolheu os ombros.

— Eu estou bem, e Patsy tem mamãe por companhia quando não estou por perto.

— Sua mãe?

— Você não sabia? Patsy e eu estamos morando aqui desde que papai sofreu o ataque. Não é a situação ideal para um casal de recém-casados, pois temos que dormir na sala todas as noites, mas logo poderemos voltar para a nossa casa. Achei que seria melhor ficar aqui por enquanto, pois minha mãe precisava de mim.

Então, era isso! Não era de se admirar que Patsy tivesse se voltado para outro homem! Ela e Donald estavam casados há apenas poucas semanas, quando Tam adoecera. E, sabendo como aqueles chalés eram pequenos e apertados, Melissa podia entendê-los. Eles não desfrutavam de nenhuma privacidade. Além disso, o irmãozinho de Donald, que ocupava o segundo quarto da casa, era um molequinho travesso. Provavelmente encontrava grande prazer em arreliar o jovem casal. E, no estado de nervos em que se encontrava Patsy, aquela situação podia ser desastrosa para o relacionamento deles.

Ela suspirou ao ver Patsy saindo do chalé, com um olhar furioso.

— Por que você não entrou, Melissa? — perguntou com voz insegura. — Podia ter tomado um cafezinho, enquanto esperava pelo sr. Towers.

Melissa sorriu.

— Teria sido ótimo, mas o sr. Towers disse que não iria demorar.

— Ele é um homem ocupado. — Donald colocou o resto do cimento dentro do furgão. — Enfim, é bom que ele faça essas visitas. — Inclinou-se e beijou levemente Patsy na boca. — Vejo você mais tarde, amor. Até logo. Melissa.

— O que você estava contando a ele? — perguntou Patsy, furiosa, assim que Donald se afastou.

Melissa ficou confusa.

— Contando a ele? Ah... entendo — ela fez um gesto de compreensão. — Eu não disse nada a ele, Patsy; Afinal, não é da minha conta.

— Pensei que você gostaria de fazer isso. Seria a sua vingança.

— Vingança? — Melissa sacudiu a cabeça perplexa. — Por que eu iria querer me vingar de você?

— Por causa de Roddy, porque ele prefere a mim. ― Melissa ficou chocada. — Mas eu não o quero!

— Mentirosa! Ele me contou tudo, sobre como você perseguia os homens do hospital, sobre como ficou aborrecida porque ele não estava interessado.

— Não estava... o que, Patsy?

— Roddy ainda não está interessado em você — os olhos dela faiscaram. — Portanto, fique longe dele!

— Patsy!

— Eu a entendo muito bem. Você está de olho no sr. Towers agora? Não é capaz de achar um homem da sua classe?

Melissa se retraiu diante do ódio estampado no rosto da moça.

— Você não se contenta com o que tem? — ela perguntou irritada, percebendo que o bom senso não iria levá-la à parte alguma com a exaltada Patsy.

— Donald? — Patsy enrubesceu. — Eu... ele não entende.

— Isto não me surpreende! Duvido que algum homem entendesse o adultério cometido pela própria esposa, principalmente quando se trata de recém-casados.

— Eu não cometi adultério! — Patsy se sentiu ultrajada. — Roddy e eu somos... amigos.

— Este não é o nome para esse tipo de relacionamento — corrigiu Melissa.

— Nós somos amigos! — disse Patsy, furiosa. — Pergunte a Roddy, ele...

— Ele parece pensar que você vai ser bem mais que isto muito em bre­ve. — Melissa aproveitou-se da insegurança demonstrada por Patsy, obser­vando sua expressão preocupada, o brilho de incerteza nos olhos dela. — Ele se vangloriou disto para mim ainda ontem. Insinua que você vai para a cama com ele de qualquer forma. Patsy — disse Melissa de propósito.

— Não! — Patsy mordeu o lábio. — Não... não acredito em você. Ele e eu... nós somos apenas amigos. Amigos!

— Não acredito nisso, Patsy e nem Donald acreditará, se descobrir que você anda se encontrando com Roddy.

Os olhos de Patsy se estreitaram.

— Você vai contar a ele? — perguntou, desconfiada.

Melissa sacudiu a cabeça.

— Não sou chantagista, Patsy. Mas afinal o que a levou a se envolver com ele? Donald é um ótimo rapaz, muito trabalhador e a ama muito.

— Eu sei — disse Patsy, constrangida. — E eu o amo também. Mas... tem sido tão desagradável morar aqui. Tam sofreu o ataque cardíaco apenas três semanas após o nosso casamento e Donald resolveu que iríamos nos mudar para cá para ajudar a mãe dele em tudo o que pudéssemos. Na ocasião, concordei, pois era a única coisa razoável a ser feita. Mas agora. bem... Tam toma-se impaciente à noite e fica andando pelo chalé. — O rosto dela estava vermelho. — A coisa chegou ao ponto em que eu não me atrevo a deixar que Donald me toque, com medo de que o pai dele apareça.

— E foi por isto que você se voltou para Roddy? — Era bem típico dele tirar vantagem de tal situação!

— Sim — Patsy suspirou. ― Ele me corteja, me faz sentir bem.

— Mas será que vale a pena perder Donald?

— Não! — Patsy quase gritou, mostrando-se amedrontada. — Você está certa — confessou com dificuldade. — Tenho me comportado estupidamente. Mas nunca houve mais que alguns beijos entre nós. Você acredita nisto?

— Acredito — afirmou Melissa.

— E não vai contar a Donald?

— Já lhe disse que não. Mas se você for sensata terá que parar de se encontrar com Roddy. E não vou lhe dizer que é porque tenho ciúmes — acrescentou rapidamente. — Eu realmente não estou interessada nele.

Patsy estava confusa. — Mas ele disse...

— Posso imaginar o que ele disse — Melissa interrompeu-a secamente. — Roddy gosta de pensar que pode ter a garota que quiser. Quando percebeu que eu não estava interessada, ele ficou com ódio de mim.

— Mas ele disse que você foi demitida do hospital. Contou-me que você foi encontrada no seu quarto, na cama com um paciente.

Melissa empalideceu.

— Ele disse isto?

— E verdade? — Patsy parecia incrédula.

— Não! Bem... parcialmente é verdade. Só que o homem não havia sido convidado, ele tentou me forçar. Infelizmente ninguém acreditou na minha versão dos fatos.

— Então, você foi demitida...

— Sim. — Melissa confirmou. Ela se virou ao ouvir Jerome se despedindo do velho Jones. — Agora, prometa-me que vai terminar com Roddy.

— Eu prometo.

— Esta noite — ela pressionou, ao ouvir os passos de Jerome atrás dela.

— Sim — Patsy concordou com um gesto de cabeça, também percebendo a chegada dele.

Melissa olhou para Jerome e deu um sorriso fascinante.

— Vamos embora agora?

Ele a observou atentamente.

— Se você estiver pronta...

Melissa se sentia bastante satisfeita consigo mesma no caminho de volta para a propriedade dos Towers. Pelo menos havia persuadido Patsy a parar de ver Roddy.

— Você esteve conversando com Patsy por um longo tempo — observou Jerome casualmente.

— Nós estivemos juntas na escola.

— Ótima garota e muito bem casada.

— Sim — Melissa estava preocupada, imaginando como aquela história ia acabar. Ele não havia percebido que Patsy se encontrara secretamente com Roddy, ou será que tinha? Oh, ela esperava que não, não agora que tudo ia terminar.

Jerome ergueu uma sobrancelha.

— E ela quer que tudo continue assim, presumo.

— Sim, claro! — Sua resposta foi dada com muita firmeza.

— Fazendo você desistir?

— Desistir? O que quer dizer com isto? — Não era possível! Ele sabia de tudo!

Na expressão dele transparecia uma certa mágoa.

— Nunca pensei que, quando você eliminasse Roddy e Paul de sua vida, ainda houvesse um outro homem interessado... e não estou me referindo a mim.

Melissa ofegou.

— Então, quem?

— Donald Jones! — concluiu ele furiosamente. — Era por causa dele que Roddy estava tão furioso esta manhã?

— Você entendeu tudo errado, Jerome! — ela sacudiu a cabeça confusamente.

— Não, acho que finalmente entendi tudo — ele corrigiu em tom ríspi­do, abrindo-lhe a porta para que saísse, quando chegaram à casa dos To­wers. — Suma de minha frente! — ele gritou. — Você me causa náuseas!

— Jerome... — Melissa saiu do carro, um segundo antes que ele pisasse no acelerador. Ela observou melancolicamente o veículo afastar-se da casa.

 

Stella Mitchell apareceu, assim que Melissa entrou em casa.

— Oh, pensei ter ouvido Rome chegar — ela tentou disfarçar o desapontamento, atrás de um sorriso simpático. — Você sabe para onde ele foi? — perguntou alegremente.

— Acho que ainda tem que verificar algumas coisas na fazenda. Ele me trouxe porque eu devo ajudar a sra. Reece esta tarde. Se me der licença, srta. Mitchell — disse Melissa, ansiosa para escapar.

— Oh, sim — Stella sorriu novamente. — Desculpe-me se a atrasei. Melissa saiu apressadamente. Todas as vezes que a outra mulher chamava Jerome de Rome, ela conseguia ressaltar a diferença mantida nos relacionamentos de ambas com ele. Stella Mitchell podia ter a intimidade de chamá-lo por seu apelido familiar, enquanto que ela ainda o tratava por sr. Towers. Como isto a magoava!

Melissa parou com a mão estendida para empurrar a porta da cozinha que se encontrava entreaberta, quando ouviu uma conversa atrás da porta.

— Mas Roddy disse que Melissa...

— Sr. Roddy para você — Freda interrompeu duramente a tagarelice da jovem criada. — E não quero saber o que ele lhe contou. Melissa é uma ótima garota. Não me importo com o que o sr. Roddy lhe disse. Ele deve ter entendido mal.

— Então, por que ela saiu tão rapidamente do hospital? — perguntou Connie.

— Talvez ela não gostasse de lá — respondeu Freda secamente. — Tenho certeza de que ela não foi despedida e principalmente pelo motivo que você acabou de dizer.

— Mas...

— Pare de tagarelar, Connie, e continue o seu trabalho. E não quero ouvir mais fofocas a respeito de Melissa, entendeu? Ela é uma boa garota e o sr. Roddy está enganado sobre a presença daquele homem no quarto dela.

Melissa estava mortalmente pálida. Roddy dissera que ela iria pagar e parecia que a vingança dele já começara. Ela imaginou quanto tempo levaria para que Jerome soubesse a respeito dessa sua lastimável, mas inverossímil, falha de caráter. Não demoraria muito tempo, é certo, se Roddy realmente quisesse prejudicá-la ainda mais.

 

Na manhã seguinte, muito nervosa, Melissa aguardava a chegada de Jerome. Uma vez mais, ele estava atrasado. Ela nada tinha a fazer por enquanto. Jerome jamais a deixaria abrir a correspondência dele. Portanto, sentou-se no sofá diante da lareira, sentindo-se mais como uma aluna esperando punição na sala da diretora, do que simplesmente uma secretária aguardando o patrão.

O dia anterior fora um desastre do começo ao fim, assim como o fato dela ter dito a Paul que não desejava casar-se com ele.

— Sonhando, srta. Finch? — perguntou uma voz familiar.

Melissa desviou o olhar do fogo e levantou-se rapidamente. — Eu não sabia o que fazer — respondeu.

Jerome parecia distante e inatingível. Melissa apanhou, então, o caderno de anotações com os dedos trêmulos.

— Freda não a avisou que eu me atrasaria? — Ele se sentou à escrivaninha, abrindo a correspondência.

— Sim. Mas o senhor já me advertiu para não tocar na sua correspondência. — Ele dissera aquilo no primeiro dia, para grande aborrecimento seu. Parecia que não confiava nela.

Jerome a olhou sombriamente. — Viajarei para Londres esta manhã e ficarei lá por alguns dias. Portanto, você terá que tratar da correspondência. O que não puder resolver, deixe de lado, que eu verei quando voltar.

Melissa arregalou os olhos.

— O senhor vai embora?

— Vou voltar para Londres com a srta. Mitchell — ele confirmou friamente. — Deixarei o número do meu telefone, caso precise entrar em contato comigo.

Mas seria Stella Mitchell a única a atender a tal chamado? Ou Jerome vivia com outra mulher, quando estava em Londres? Certamente que sim.

— Muito bem — Melissa concordou altivamente.

— Como estão os preparativos para a festa de Natal? — ele perguntou.

— Já telefonei para o viveiro, para encomendar a árvore e providenciei para que os fornecedores arrumassem a mobília necessária. Parece que a própria Freda quer preparar os pratos.

Jerome mostrou-se preocupado.

— Não é trabalho demais para ela?

Melissa encolheu os ombros. — Foi o que eu disse, mas ela insistiu. E a sra. Reece me garantiu que Freda adora fazer isto, que espera ansiosamente por esta oportunidade todos os anos.

Ele encolheu os ombros.

— Bem... se ela deseja assim.

— Também já encontrei a roupa que o senhor deverá usar — disse ela, parecendo divertir-se com a situação.

— Não posso me imaginar como Papai Noel — ele fez uma careta. — Será que outra pessoa não pode fazer isto?

— É claro que não! Faz parte da tradição que o proprietário da fazenda Towers desempenhe esse papel. Vamos ter que usar algumas almofadas para que o senhor fique um Papai Noel mais autêntico — Melissa apontou para a barriga dele, lisa e firme. — O velho fazendeiro Towers nunca precisou disso — ela lembrou com um sorriso.

— Você gostava dele, não é? — perguntou Jerome.

— Era um pouco impertinente, mas eu gostava dele. Costumava visitá-lo aqui. Tudo era diferente naquela época, os tapetes puídos, a mobília gasta...

A expressão de Jerome alterou-se.

— O velho deixou Ralph Coates roubá-lo cegamente — murmurou ele, meio zangado.

— Ralph Coates? O último administrador?

Ele concordou com a cabeça.

— Meu tio confiava muito naquele homem. Ele retribuiu, falsificando os livros fiscais.

— Foi por isto que o senhor o despediu? Não pensei que Ralph fosse desse tipo.

— Sei que você imaginou que eu o demiti sem motivo. Não fique aborrecida, Melissa; a antipatia honesta é uma coisa sadia.

Ela olhou para as próprias mãos.

— Não se for injusta.

— Está dizendo que posso estar errado a seu respeito?

O olhar de Melissa era desafiador.

— O senhor também não poderia?

— Não — disse ele enfaticamente. — Eu mesmo a beijei, Melissa. Sei como você reage. Não se trata de um comportamento típico de uma jovem virgem tímida.

Melissa estava bem consciente de que havia agido como uma devassa nos braços dele, mas nunca tinha se comportado daquela maneira com ninguém mais.

— Eu não disse que era tímida — ela acrescentou propositalmente.

— Nem é virgem também! — exclamou Jerome, irritado. — Vamos ver logo essa correspondência — acrescentou, mudando de assunto bruscamente. — Tenho que partir logo.

Melissa o encarou.

— O senhor sentou-se aí, me insultou e agora me propõe calmamente que tratemos da correspondência? — Levantou-se furiosa. — Vá para o inferno, sr. Towers! Nosso trato esta desfeito. Não vou mais trabalhar para o senhor!

Jerome se moveu rapidamente, fechando a porta que ela abrira. Encostou-a contra a porta, olhando-a friamente.

— Você é realmente uma mulher egoísta...

— Está bem, insulte-me mais ainda! Não tenho meios para me defender; sou obrigada a ficar aqui agüentando esta situação.

― Você também pode suportar isto — Ele abaixou a cabeça rapidamente à procura dos lábios de Melissa.

Encostou seu corpo no dela, mostrando assim o quanto estava excitado. Melissa queria ser beijada por ele, desejava ser envolvida por aqueles braços fortes, queria sentir aquela paixão que somente ele podia despertar nela.

— Seus seios — sussurrou Jerome, enquanto lhe desabotoava a blusa com os dedos febris. — São a coisa mais bonita que eu já vi. Deus, até sonhei com você esta noite! — Com a língua, ele acariciava um dos seios de Melissa. — As coisas que imaginei fazendo com você! Você dá o mesmo prazer a todos os seus homens? Será que todos se excitam observando o seu andar, a maneira,com que se movimenta, imaginando a forma perfeita dos seus seios insinuada por debaixo da blusa?

— Jerome, por favor! Não diga estas coisas — ela suplicou, fazendo movimentos inúteis para afastá-lo. — Eu não procuro chamar a atenção dos homens sobre mim.

— E nem precisa — disse ele roucamente. — Sei que no exato momento em que você entra num ambiente reservado, fica imediatamente excitada. Agora, por exemplo, você está louca para fazer amor, como eu também estou. — Ele a beijou levemente nos lábios, enquanto abotoava sua blusa. — Mas por que sempre escolhemos o escritório para as nossas cenas de amor? Eu prefiro o conforto de uma cama, pois sei que ninguém virá nos perturbar.

— Tenho certeza de que tem muita prática no assunto — disse ela asperamente.

— Regra número um, Melissa — ele acariciou levemente seu rosto. — Não vou me intrometer no seu passado, se você não se intrometer no meu. De acordo?

— A srta. Mitchell não representa exatamente o seu passado!

— Mas passará a representar a partir de amanhã, garanto-lhe. Regra número dois: não gosto de dividir. Stella sai de minha vida, e Donald, Paul, Roddy e qualquer outro homem que eu não conheço saem da sua.

— Eles não estão na minha vida! — protestou ela alterada. — Jerome, o que significam essas regras, afinal?

Ele a olhou de maneira irônica, enquanto arrumava a gravata.

— Nunca recebeu uma proposta tão direta antes? Acho que você não me achará mesquinho. Além disso, não vou exigir muito tempo seu... apenas algumas horas por semana. Acha que pode manter a linha?

— A linha? — ela repetiu estupidamente. — Não sei sobre o que está falando.

— Eu te desejo. Melissa Finch, e quero tê-la!

Ela olhou atônita para ele.

— Mas ontem o senhor me disse que eu deixava um gosto ruim na sua boca!

— Bem, você não faz muita discriminação. Nunca ninguém lhe disse para não se envolver com um homem casado? Numa vila pequena como essa, Patsy certamente descobrirá sobre você e Donald.

— Sr. Towers...

— Rome — ele corrigiu. — Quando eu voltar de Londres, vamos nos tomar muito íntimos. Acho que vai descobrir que o meu apetite sexual exige mais do que três vezes por semana — acrescentou para humilhá-la ainda mais.

Melissa enrubesceu violentamente.

— Está sugerindo... está me pedindo para me tomar sua amante?

— Esta é a era da igualdade. Amante é uma palavra que soa muito subserviente. — Ele a olhou afetuosamente. — E subserviência é a última coisa que eu desejo de você.

— Quando resolveu ter um caso comigo? — Ela estava estupefata com a audácia dele.

— Quando percebi que era por causa do ciúme que eu me tomava tão furioso com você — admitiu de má vontade.

— Ciúme?...

— Sim — ele sorriu. — Uma palavra fundamental, suficiente para me induzir a levá-la para a cama.

— E como conduziremos este romance? Registrando-nos em algum hotelzinho de baixa categoria na noite em que você sentir desejo de me possuir? — o tom de Melissa era amargo.

— Onde geralmente você vai para a cama com os seus homens? Oh, naturalmente, Você tinha um quarto no hospital. — Ele respondeu à própria pergunta. — Muito conveniente para você.

— Muito — ela conseguiu murmurar. — Exceto que não era permitida a presença de homens na ala das enfermeiras.

— Duvido que isso os detivesse. Olhe, tenho de ir agora. Resolvemos os detalhes quando eu voltar. Mas asseguro-lhe que não vamos nos encontrar num hotel.

— Eu não... — Alguém estava tentando abrir a porta! Melissa ficou em pânico, olhando para Jerome, pedindo sua ajuda. — Que faremos? — perguntou desesperadamente.

— Deixe entrar, é claro — disse ele calmamente. — Talvez seja Stella. Eu disse que partiríamos lá pelas dez e já está na hora.

— Mas eu... Meu Deus, devo estar horrível! — Ela tentou ajeitar os cabelos.

— Acabe com esses temores. Você está muito bonita, muito desejável.

— Esta é a última coisa que desejo parecer! Não quero que a srta. Mitchell saiba que nós...

— Ela já sabe. Melissa. Não fique assim — Jerome a tranqüilizou. — Ela não vai brigar com você. Tive de inventar uma desculpa para não compartilhar a cama dela desta vez. Ao contrário de você eu acho difícil dormir com uma pessoa, enquanto se deseja outra. Na verdade, acho impossível.

— Ao contrário de mim?... — ela repetiu, sem entender.

— Você e eu estamos nos desejando desde a primeira vez em que nos encontramos, mas você continuou a se encontrar com outros homens. Isto tudo tem que acabar quando eu voltar. Gosto de saber que tenho direitos exclusivos durante o tempo em que durar o meu interesse por você.

— Você é...

— Rome? — chamou Stella Mitchell do outro lado e a porta foi forçada novamente. — Rome, você está aí?

Ele afastou firmemente Melissa para o lado e abriu a porta.

— Entre. Stella. Melissa e eu estávamos discutindo sobre a minha volta. Está pronta para partir?

Stella olhou para os dois, observando o rosto corado de Melissa e o olhar de Jerome.

— Sim, estou pronta — disse alegremente.

— Tenho apenas que ver Jeff antes de partirmos. Espere por mim aqui — ele instruiu.

— Oh, mas... — Melissa olhou cheia de culpa para Stella Mitchell, embora não soubesse por que tinha de se sentir assim. — Bem... eu não sabia que você ia voltar para Londres hoje — falou confusamente, imaginando o que Jerome dissera à outra mulher a respeito deles.

— Foi tudo muito repentino — ela concordou. — Estou certa de que você sabe por quê.

— Bem, a verdade é que...

— Está tudo bem, Melissa — Stella sorriu. — Eu sempre soube que era uma comodidade substituível na vida de Rome. Já fiz muita coisa para que durasse tanto.

Melissa ficou surpresa com aquela confissão.

— Mas você não se importa? Eu odiaria isto — ela estremeceu.

— Não existem laços entre nós. Quando conheci Rome, eu estava acabando de me recuperar de um divórcio muito desagradável e a nossa relação, sem exigências, do ponto de vista emocional, era exatamente o que eu precisava. Agora acho que talvez já esteja pronta para amar novamente.

— Mas não Rome?

Ela sacudiu a cabeça.

— Ele não me agradeceria por isto. O amor é algo para o qual ele não dispõe de tempo suficiente. Acredito que permaneci todo esse tempo em sua vida porque Rome sabia que não havia perigo algum de eu me apaixonar por ele. Muitas das mulheres que ele teve se apaixonaram, você entende, e foram afastadas imediatamente. A expressão dela era suave e simpática. — Não o deixe perceber que você o ama, Melissa. O amor é um laço que ele não aceita.

— Mas tem certeza de que não o ama? — perguntou Melissa. — Você fala como se o amasse.

Stella enrubesceu.

— Bem... talvez um pouco. Eu sempre o amarei, mas não estou apaixonada por ele. Eu poderia estar, não nego isso, mas Rome nunca deu qualquer mostra de que sentia o mesmo a meu respeito. E, quando o amor não é correspondido, acaba morrendo. O amor tem que ser estimulado, encorajado e eu nada consegui a esse respeito com Rome. Ele me afastou do lado íntimo da sua vida agora, mas continuaremos amigos. Posso lhe assegurar que ele nunca mais dormirá comigo novamente.

— Não vou viver um romance com ele, srta. Mitchell — disse Melissa com voz tensa. — Não vou viver um romance com Rome, não importa que ele possa pensar o contrário.

Stella lançou-lhe um olhar inquisidor.

— Quando Rome mostra aquela determinação no olhar, ninguém é capaz de impedi-lo de conseguir o que quer, e ele deseja você.

— Mas ele não vai conseguir! — garantiu Melissa, furiosa.

— Você vai perder, Melissa! — disse Stella gentilmente. — É melhor ceder com dignidade.

— Nunca!

Jerome surgiu à porta e encarou as duas mulheres.

— Tudo bem? — perguntou, curioso.

Naquele momento, Melissa percebeu que Jerome a deixara sozinha com Stella de propósito, querendo provar-lhe que a outra mulher não guardava rancor. Seria ela submetida também à mesma humilhação, quando ele resolvesse substituí-la dentro de alguns meses? Ela nunca poderia ser tão complacente ao perder Jerome, como Stella estava sendo.

Stella sorriu afetuosamente.

— Sim, tudo bem. Esperarei lá fora no carro.

— Obrigado. Stella — Jerome observava atentamente a reação de Melissa. — Em que está pensando agora? — perguntou suavemente, assim que ficaram sozinhos.

— Rome..eu... Jerome — corrigiu firmemente. — Você não está falando sério, não é?

— Não seja absurda — ele disse asperamente. — Sabe muito bem que estou falando sério. Nós dois somos adultos, Melissa. Quanto a mim, já não tenho idade para brincadeiras infantis. Eu te desejo, você me deseja; portanto, temos que seguir o curso lógico para nos satisfazermos. — Os olhos dele se comprimiram. — Você não gosta do fato de ter que se afastar dos seus outros homens, não é isso? Mas eu não vou dividi-la com ninguém, Melissa. Isso não faz parte de minha natureza.

— Não é isto — ela falou indignada. — Você acha que Stella está completamente feliz por sair assim de sua vida?

— Nós não fizemos promessas um para o outro — ele admitiu arrogantemente.

— E suponho que você espera que eu aceite uma substituição futura tão tranqüilamente assim? — Seus olhos brilharam de cólera. — Quando você estiver cansado de mim, é claro.

Jerome deu uma gargalhada.

— Eu não espero que você aceite qualquer coisa. É a sua natureza impetuosa que me atrai em primeiro lugar. Nós trataremos do fim do nosso relacionamento quando chegar a hora, se chegar. — Ele beijou levemente seus lábios, afastando-se dela com relutância. — Telefonarei para você de Londres. Talvez você até possa se encontrar comigo lá no fim de semana.

— Mas até lá você já não terá voltado?

— Duvido. — Ele pegou a maleta. — Está ocorrendo uma greve em uma das minhas fábricas. É melhor eu tratar pessoalmente da situação. Só que a solução dos problemas pode levar semanas. Você irá até Londres, se eu tomar as providências necessárias?

— Para começar o nosso romance?

Ele encolheu os ombros, mostrando-se impaciente para partir. — Há alguma coisa que nos impeça?

— Sim, há um problema! Não tenho intenção alguma...

— Preciso ir agora, Melissa. Telefonarei para você.

O protesto de Melissa de que não haveria nenhum romance entre eles foi ignorado por Jerome.

— Como estão as coisas? — Melissa perguntou a Brian mais tarde naquela noite, aliviada porque o irmão voltara sozinho. Uma outra cena com Paul era a última coisa que ela desejava no momento.

Ele encolheu os ombros.

— É muito cedo para dizer, embora nós dois juntos estejamos conseguindo alguma coisa com certeza.

— Eu vi que o nosso trator já está aí. O conserto ficou muito caro?

— Não muito — Brian encolheu os ombros.

Melissa olhou para ele atentamente.

— Mas nós tínhamos dinheiro suficiente para pagar?

— Aqui está a conta — ele mostrou. — Você pode ver que está carimbado "pago". Bem, vou tomar um banho e trocar de roupa, antes de ir me encontrar com Joyce.

— Mas Brian... — Tarde demais, ele já havia desaparecido.

Melissa verificou, preocupada, o preço do conserto. Tinha a certeza de que não possuíam aquela quantia de dinheiro. Portanto, quem teria pago? A resposta não foi agradável.

— Brian — ela o deteve, quando ele ia saindo de casa, — foi o sr. Towers quem pagou esta conta?

— Como ele poderia? O sr. Towers não se encontra em Londres hoje?

— Sim, mas nós não temos tanto dinheiro assim, eu sei disto. Se não foi o próprio sr. Towers, então ele providenciou para que o conserto fosse pago. Estou certa?

Seu irmão suspirou.

— Completamente — admitiu.

— Oh, Brian! Não gosto de ficar devendo a ele.

— Eu não tinha outro jeito para pagar, Melissa. — A voz dele soava em tom quase suplicante. — O sr. Towers se ofereceu e... eu vou pagá-lo assim que conseguir juntar dinheiro.

— E quando será isto?

— Não faço a menor idéia. Mas ele não se importa em esperar.

— Estou certa que não. Nós já lhe devemos demais, Brian. Não é bom dever muito a uma única pessoa.

— Ele não vai pedir o dinheiro de volta, assim tão de repente, Melissa — disse Brian. — Nem mesmo sentirá falta daquelas insignificantes libras. Preciso ir agora, eu a verei mais tarde.

Melissa continuou de mau humor, olhando o fogo da lareira, depois que o irmão saiu. Jerome talvez não pedisse o dinheiro de volta, mas poderia querer seu corpo como pagamento. Ela não poderia recusá-lo, principalmente agora, quando deviam tanto a ele. Mais tarde, naquela noite, bateram na porta. Melissa levantou-se meio sonolenta da cadeira e foi atender.

Roddy Meyers afastou-a da porta e entrou.

— Você está sozinha? — perguntou, furioso.

Ela não gostou da expressão dele e tentou dizer-lhe que havia mais alguém na casa. — Bem. eu...

— Está? — Os dedos dele apertaram o braço de Melissa com força.

— Sim! — Ela estremeceu por causa da dor que estava sentindo.

— Ótimo, então poderemos conversar sem sermos interrompidos. — Ele se atirou no sofá.

Melissa o acompanhou, acendendo a luz principal, impedindo assim um ambiente mais íntimo na sala.

— O que você deseja, irrompendo aqui desta maneira? — ela quis saber. — Eu não o quero aqui. Por favor, vá embora — e lhe apontou a porta aberta.

Roddy a ignorou, mostrando os olhos cheios de cólera.

— Você não podia ter me deixado em paz, não é? — ele falou irritado. — Tinha que interferir, não é?

Melissa estava perplexa.

— Não sei sobre o que está falando.

— Sobre Patsy — ele vociferou. — Ela acabou de me dizer que não quer me ver mais, que ela e o marido vão voltar para a casa deles.

— Que bom para Patsy! — Melissa sorriu satisfeita.

— Por que você interferiu? Foi por causa do seu ciúme?

— Ciúme? De quem?

— Dela. Preferia que fosse você a sair comigo?

Ela deu uma gargalhada.

— É claro que não!

Roddy empalideceu.

— Então por que interrompeu o nosso romance?

— Pelo bem dela, não pelo seu.

— Pois então vai pagar por isso! — ele exclamou furiosamente.

Roddy não fazia ameaças em vão. Melissa sabia que ele era um homem muito perigoso.

— Como? — perguntou, apreensiva.

— Use a sua imaginação, Melissa — ele falou cinicamente. — As coisas estavam indo muito bem com Patsy. Você pôs um fim em tudo. Portanto, agora você pode tomar o lugar dela.

— O que? Roddy, acho que você está louco! Não tenho nenhuma intenção de vê-lo novamente.

— Bem, é uma pena, porque eu tenho intenção de vê-la muitas vezes.

— Não, se eu não quiser — ela falou, segura de si.

— Nem se eu ameaçar contar tudo a Donald Jones sobre o romance que tive com a esposa dele? — perguntou Roddy calmamente.

Melissa ficou atônita.

— Você não faria isso!

A atitude dele parecia extremamente desafiadora.

— Tente me deter, então! — disse ele, fechando a porta.

 

Transtornada, Patsy chorava e soluçava, quando apareceu na casa de Melissa, uns dez minutos depois de Roddy ter saído dali.

— Oh, Melissa! — ela caiu em seus braços, cambaleando pela casa.

— Meu Deus, não sei mais o que fazer! — exclamou, como se pedisse auxílio.

Melissa ajudou-a a acomodar-se e sentou-se junto dela. — A primeira coisa que terá que fazer é acalmar-se — procurou tranqüilizar a amiga. — Vamos, Patsy, temos que encontrar uma solução, mesmo que a situação seja a pior possível.

— É Roddy — Patsy confirmou seus temores. — Pensei muito sobre o que você falou e então eu... disse a ele que achava melhor que não nos víssemos mais. Ele ficou furioso, mas já esperava por isso. Em seguida ele se mostrou muito calmo, como se compreendesse tudo de repente. Fiquei tão aliviada que não questionei a reação dele. Mas agora há pouco me telefonou — ela começou a tremer. — Roddy foi vil demais, Melissa!

— Patsy exclamou, indignada. — Não sei como pude me sentir atraída por ele.

— Continue — encorajou-a Melissa.

— Bem, fiquei estupefata. Ele me telefonou diretamente na casa dos pais de Donald. Tam atendeu ao telefone. Eu disse que era meu irmão, embora não saiba se meu sogro acreditou nisso.

— O que Roddy tinha a dizer?

A expressão de Patsy estava alterada. — Uma porção de coisas, mas a principal é que ele pretende contar a Donald sobre nós.

Melissa lançou-lhe um olhar profundo. — Como pode ter tanta certeza?

— Donald e eu... nós não estamos muito bem ultimamente. Bem, eu lhe contei como era a situação. Eu não consigo corresponder a Donald quando estamos naquela casa. — Ela enrubesceu. — Donald andou insinuando nas últimas semanas que talvez eu tenha outro homem e por isso não estou interessada nele.

— Entendo — Melissa suspirou. As coisas estavam piorando. — Mas você disse que era apenas uma insinuação. Tenho certeza de que Donald não acredita realmente nisso.

— É claro que não. Mas ele está preocupado comigo. Até mesmo me impediu de continuar trabalhando na casa dos Towers, porque disse que era pesado demais para mim. Fiquei furiosa na ocasião, mas agora estou contente por ele ter decidido assim. Se eu tivesse permanecido lá, provavelmente teria mais a lamentar agora. — Patsy admitiu timidamente. ― Por que veio me procurar, Patsy?

— Porque você é a única pessoa a quem posso recorrer, a única pessoa com quem posso falar. Não importa que eu e Roddy não tenhamos mantido relações sexuais. Se Roddy contar a Donald... Bem, tenho certeza de que, depois de surrar Roddy. Donald me porá para fora de casa. Posso ter sido estúpida, Melissa, mas não quero perder Donald.

— Você não vai perdê-lo — disse Melissa firmemente. — Falarei com Roddy por você.

— Oh, você faria isso?

— Sim. Estou certa de poder fazê-lo voltar à razão. Provavelmente ele apenas esteja se sentindo irritado por você ter mudado de idéia. Talvez ele volte atrás.

— Você acha mesmo? — Patsy queria ser tranqüilizada.

— Sim, creio que sim. Agora, fique mais calma e volte para casa. Não há motivo para despertar as suspeitas de Donald agora. Vá ao banheiro e lave seu rosto — sugeriu Melissa.

Maldito Roddy Meyers! Quando aceitara o desafio dele, não pensara que ele agiria assim. Ele estava realmente com todas as cartas na mão.

— Está melhor agora? — Melissa perguntou alegremente a Patsy, quando ela voltou.

— Muito — a garota sorriu. — Obrigada, Melissa. Você está sendo realmente maravilhosa comigo.

— Talvez você possa fazer o mesmo por mim algum dia. — Melissa falou carinhosamente. — E não se preocupe mais com Roddy. Eu me entenderei com ele.

— Donald e eu vamos voltar para o nosso próprio chalé amanhã. Tam está bem melhor, portanto Donald concordou em sair de lá.

Melissa apertou-lhe a mão.

— Espero que tudo dê certo para você. E. Patsy — ela a deteve na saída —, nada mais de Roddy Meyers, está bem?

— Nunca! — Patsy prometeu. — Fui tola apenas uma vez. — Ela parecia um pouco mais contente ao sair.

Quando o telefone tocou, um pouco antes das dez, Melissa pensou que fosse Roddy.

— Alô — ela atendeu com voz ríspida.

— Quem está perturbando você? — perguntou uma voz carinhosamente familiar.

— Rome! — exclamou aliviada.

— Melissa... — ele suspirou. — Deus, por que você não pode pronunciar o meu nome desta maneira quando estamos juntos?

Ela ficara aliviada ao ouvir aquela voz suave.

— Como vão indo as coisas? — perguntou interessada, ansiando pelo retomo dele.

— Um pouco paradas — ele confessou. — Assim, como o nosso relacionamento...

Após uma pausa, Melissa continuou confusa.

— Então, as negociações não estão indo bem? — Ela ignorou a referência pessoal a respeito deles.

Jerome deu uma risada, percebendo claramente sua omissão.

— Não tão bem quanto eu esperava. Eles me dizem o que desejam, eu lhes digo o que podem ter. Então, nós retrocedemos cada um para o seu ponto de vista e começamos a brigar.

— Será que vai ser uma longa luta? — ela perguntou com desânimo.

— Posso me atrever a pensar que você sente a minha falta? Muito mais do que ele pensava! — Talvez — Melissa se esquivou.

— Vejo que você também está retrocedendo — ele falou ironicamente. — Acabei de voltar de uma reunião que durou o dia todo. Foi uma grande perda de tempo. Portanto, eu me sentiria grato se não tivesse outro contratempo agora.

— O que esses homens desejam, afinal?

— O que geralmente querem — ele suspirou. — Dinheiro.

— E você não pode lhes dar?

— Se eu ceder esta vez, eles vão esperar que eu ceda todas as vezes que decidirem que querem um aumento. Eu lhes ofereci dez por cento, eles pediram vinte, e todos nós sabemos que entraremos em acordo com uma porcentagem intermediária.

Ele parecia muito cansado. Melissa sentiu-se comovida. — Bem, se sabem disto, por que não chegam a um acordo agora?

— É fácil falar assim, quando não se entende de negócios! Mas as coisas não são feitas desta maneira.

— Mas por que não?

— Não pergunte a mim — ele suspirou. — Pergunte a eles. Tudo o que posso dizer é que a situação não é oportuna para mim. Não consigo me concentrar nas negociações, quando só tenho você nos meus pensamentos. Por falar nisto, você já tem uma resposta sobre este fim de semana?

Ela nem tivera tempo de pensar. Mesmo assim, já sabia a resposta. — Sim, já decidi.

— Você virá, não é mesmo? — perguntou Jerome, ansioso.

— Não.

— Então, voltarei para casa.

— Não!

— O que você está querendo dizer? — ele perguntou irritado. — Antes de partir...

— Eu estava lisonjeada com a sua corte — Melissa admitiu honestamente. — Afinal, que mulher não ficaria? Você é um especialista no assunto, Jerome, e eu sou tão suscetível quanto as outras. Mas acho que não posso ser mulher de um único homem, nem mesmo pelo curto período de tempo em que você me quiser.

— Eu não disse que seria por pouco tempo — ele acrescentou.

— Bem, certamente não poderia durar um ano como aconteceu com Stella — Melissa falou em tom irreverente. — Não é bem essa a minha idéia de diversão.

— E você gosta de se divertir, não é? — Ele parecia furioso.

— Quem não gosta? — Ela riu alegremente. — Talvez ainda possa ter Stella de volta, se você se apressar.

Seguiu-se uma pausa longa e tensa.

— Eu não quero Stella! — ele explodiu finalmente.

— Nunca lhe disseram que você não pode ter tudo o que quer? — ela escarneceu. — Agora, com licença, acho que estão batendo — Melissa mentiu.

— A esta hora da noite?

— Ainda é bem cedo.

— Quem será? Donald. Roddy ou Paul? — perguntou Jerome, irritado.

— Oh, é Roddy certamente.

— Roddy! Mas você disse...

— É uma prerrogativa das mulheres mudar de idéia — ela interrompeu. — Roddy parece ser bastante... divertido.

Melissa não se surpreendeu ao ouvir o telefone ser desligado violentamente do outro lado. Jogou-se sobre uma cadeira, soluçando. Jerome certamente a odiaria agora. Era o que ela pretendia, embora isto não fizesse com que se sentisse melhor.

Resolveu dar uma volta. Talvez o ar fresco da noite a ajudasse a raciocinar melhor: Além disso, tinha que ver Roddy o mais rápido possível e ela duvidava que ele já tivesse ido dormir. Aquele era um momento tão próprio quanto qualquer outro.

Roddy estava na sala, ouvindo música e não se mostrou surpreso, quando ela entrou na sala.

— Sente-se — ele convidou, como se estivesse à sua espera.

— Prefiro ficar em pé.

— Sente-se!

Lançando-lhe um olhar furioso, Melissa se acomodou.

— Você sabe por que estou aqui — ela começou. Ele contorceu a boca. — Não é preciso muita imaginação.

— Você é um verdadeiro animal!

— É isso mesmo!

— Meu Deus, você se orgulha disto?

Roddy sorriu.

— O poder é uma emoção violenta. Você deve tentar obtê-lo algum dia.

— Você se esqueceu de que ainda posso contar a seu irmão sobre o que aconteceu no hospital?

Ele sacudiu a cabeça.

— Eu não me esqueci de maneira alguma. Mas em vista do seu comportamento recente, você acha que Rome acreditaria mais facilmente em você do que as autoridades do hospital?

Ela enrubesceu.

— E quanto ao seu comportamento?

— Eu diria que combinamos bem — ele sorriu.

Melissa estremeceu diante de tal comparação.

— Percebeu, por acaso, o quanto magoou Patsy?

— Ela mereceu isso — afirmou Roddy, irritado. — Afinal, ela me manteve ao alcance das suas mãos durante meses.

— Ela não pretendia que o relacionamento de vocês fosse mais longe.

— O que sabe sobre isto?

— Tudo — disse Melissa friamente. — Agora, o que quer de mim?

— Não quero nada de você, apenas quero você.

Ela enrubesceu.

— Vá para o inferno!

Roddy deu uma risada suave.

— Você realmente não devia deixar que a sua antipatia por mim se mostrasse tão evidente — ele escarneceu. — Eu gosto muito de você. Além disso, Rome também te deseja.

Melissa arregalou os olhos.

— E você não quer que ele me tenha?

— Não! — ele protestou. — Ele já tem tudo o que quer. E agora não vai conseguir a única coisa que eu realmente desejo.

— Eu?

Os olhos dele faiscavam.

— Sim, você! Rome tem todo o resto, mas você é minha. Entende, sou apenas o irmão mais novo, que tem de depender de Rome para cada centavo que gasto.

Melissa estava indignada.

— Você nem mesmo gosta dele, não é?

— E claro que gosto dele. Afinal, é meu irmão! Mas não vou deixar que ele a tenha.

Melissa ficou atemorizada. Roddy não era simplesmente vingativo e cruel, era doente. E se ele ferisse Jerome... a culpa seria dela. Roddy estava obcecado por tê-la e se Jerome se interpusesse entre eles, certamente tomaria uma atitude terrível!

Ou talvez ela estivesse enganada, exagerando muito a respeito da situação. Talvez Roddy não tivesse intenção de ferir o próprio irmão.

Roddy a olhou desconfiado.

— O que está pensando?

— Nada. Então o que vai acontecer agora? Serei obrigada a sair com você?

― É claro! Irei buscá-la para jantar amanhã. Quem sabe você aprende a gostar de mim! E fique longe de meu irmão. Ele pode desejá-la, mas não vai conseguir você.

Melissa suspirou.

— Ele já sabe disto. Vou-me embora agora. Só quero a sua garantia de que deixará Patsy e Donald em paz.

— Sim, enquanto você continuar a sair comigo.

Melissa caminhou lentamente pela escuridão, até chegar ao tronco de árvore caído ao lado do riacho, seu lugar favorito para meditar. Estava muito frio, mas ela precisava ficar sozinha ali. Que loucura! De um lado Jerome a desejava, e ela também o queria e, de outro, Roddy estava determinado a tê-la a qualquer custo. Mais uma vez sentiu uma forte apreensão.

Já passava de meia-noite. Melissa caminhava de volta à fazenda, quando de repente os faróis brilhantes de um carro vindo em sua direção ofuscaram-na, obrigando-a a dar um pulo para não ser atropelada. O motorista freou bruscamente o veículo e voltou na direção dela.

A porta do Jaguar se abriu.

— Entre — ordenou Jerome, furioso.

Ela obedeceu, olhando-o perplexa.

— O que está fazendo aqui?

Ele lhe lançou um olhar ferino.

— Não é óbvio? Você sabe muito bem que eu precisava vê-la.

O veículo foi se afastando velozmente.

— Para onde vamos? — perguntou Melissa.

— A algum lugar onde possamos conversar — disse Jerome secamente.

Para surpresa de Melissa, ele dirigiu o carro até o local onde ela estivera até há pouco. Jerome desligou o motor. Eles permaneceram na escuridão por longos minutos, em silêncio.

— O que Roddy queria? — Jerome quis saber

— O que você acha?

— Você não gosta dele, eu sei que não.

Melissa encolheu os ombros.

— Você é quem está afirmando.

— Está mentindo, Melissa! Roddy não está tentando forçá-la a nada, não é?

— Posso lhe assegurar que nenhum homem tem tamanho poder sexual sobre mim.

A expressão dele era de arrebatamento.

— É impressionante! Você não pode esperar por mim? Afinal, ficarei fora apenas algumas semanas! E Deus sabe como te desejo! — E a puxou para junto dele, entreabrindo-lhe os lábios com um beijo.

O êxtase da paixão tomou novamente conta deles. Melissa sentiu que poderiam fazer qualquer coisa naquele momento, que ela não se importaria. Eles poderiam... Mas a fria realidade se intrometeu. O toque de um telefone os interrompeu!

— Um telefone? — ela saiu dos braços impetuosos de Jerome. — Num carro? — perguntou, surpresa.

Ele suspirou.

— Um mal necessário, mas que pretendo dispensar após esta noite. — A expressão dele era de angústia, a chama do desejo ainda continuava brilhando nos seus olhos castanhos escuros. — Provavelmente é Bob, meu assistente. Pedi-lhe que me telefonasse se houvesse alguma novidade. Sim? — Jerome atendeu de má vontade. — Está bem! Está bem, estarei aí o mais rápido possível. É claro que irei depressa, não seja estúpido! — Ele desligou o telefone furiosamente.

— O que aconteceu? — Melissa estava ansiosa.

— Eles se retiraram da reunião — Jerome revelou em tom irritado, enquanto abotoava rapidamente a camisa. — Disseram que conversarão apenas comigo e com ninguém mais. Não voltarão à reunião enquanto eu não estiver lá. Eles me deram três horas para voltar.

— Oh, meu Deus. É minha culpa, não é?

— Não, é minha. Estou tão excitado por este seu maravilhoso corpo, que não me importo com mais nada. Tente dormir um pouco. Melissa,

— Dormir...? Mas eu não posso! Tenho que ir para casa.

— Você vai comigo — disse ele firmemente.

— Não, eu... Por favor, Rome. Roddy não gostará.

— Roddy! — Os lábios dele empalideceram. — Você vai comigo e sem discutir. Não vou deixá-la aqui com o meu querido irmãozinho.

— Mas o que vou dizer à minha família?

— O que quiser. — Ele lhe passou o telefone, enquanto discava o número da casa dela. — Diga que a minha secretária foi embora e que eu preciso de você para fazer anotações durante aquelas reuniões. Diga qualquer coisa, mas você vai comigo.

Parecia que Melissa não tinha outra escolha. A arrogância de Jerome nunca deixava de surpreendê-la, embora dessa vez ele tivesse ido longe demais.

— O que você está fazendo é um rapto.

— Não se preocupe! Garanto-lhe que a sua prisão não será muito desconfortável — ele afirmou ironicamente.

Melissa estava transtornada. Então, ela ouviu a voz de Brian ao telefone.

— Brian.

— Melissa! — A ansiedade em sua voz era perceptível. — Onde você está?

— Bem, eu... — ela se mostrava hesitante, até que Jerome lhe tirou o telefone das mãos.

— Ela está comigo — respondeu ele. — Sim, está bem. Entendo que você e sua mãe tenham ficado preocupados. Foi tudo por minha culpa. Não dei tempo para que Melissa deixasse um recado para vocês. Preciso dela em Londres. Sim, está havendo uma greve lá. Sim, sim. Boa noite!

― Ele desligou o telefone. — Bem, a maior parte da história era verdadeira — disse a Melissa. — Não lhe dei tempo para deixar um recado. Está havendo uma greve realmente. E eu preciso de você.

— E de que maneira você precisa de mim? — ela perguntou timidamente.

— Na minha cama, é claro — ele exclamou, afoito. — Não sei quanto tempo durará essa reunião, mas quando eu sair dela, quero saber que você estará à minha espera.

— Pronta para satisfazer o seu prazer? — perguntou Melissa amargamente.

— Se você quer colocar as coisas desta maneira, que o faça...

— Você não se importa com os desejos ou necessidades dos outros, só com os seus, não é? Não é conveniente para mim ir até Londres agora. — Melissa tremeu ao pensar nas coisas que Roddy faria, ao descobrir que ela havia partido com seu irmão.

— Seus desejos e necessidades me dizem respeito — afirmou Jerome. — Acho que sou suficientemente experiente para saber o que uma mulher espera de mim. Durma um pouco, Melissa! Esta será uma longa viagem.

— Está bem, eu vou com você.

— Já se deu conta de que está concordando com tudo o que quero? Melissa não se importava mais. Ela o amava. Admitia até que estava surpresa com sua decisão, mas não sentia vergonha alguma, apenas uma alegria tranqüila. — Acho que vou dormir um pouco, sim — ela sorriu satisfeita. — Creio que vou precisar de um bom repouso — acrescentou maliciosamente.

 

Já passava das três da tarde, quando chegaram a Londres. Jerome havia telefonado para o seu assistente, pedindo-lhe que marcasse a reunião para as quatro e meia.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Você ficará bem durante a minha ausência?

— Aborrecida, provavelmente — Melissa suspirou. — Mas não se preocupe, que não farei nada de errado. Você tem que sair já?

— Mais ou menos. Vou tomar um banho, trocar de roupa e depois irei para a reunião. Você ficará no hotel.

Ela enrubesceu.

— Terei que ficar hospedada aqui com você?

— Você não quer?

— Oh, sim — ela não fez qualquer esforço para esconder seus sentimentos. — Apenas pensei...

— Tenho uma suíte, querida. Ninguém virá nos perturbar, pode ficar certa disto.

Era uma confortável suíte, com uma sala grande, três dormitórios e três banheiros. Melissa olhou todos os aposentos com admiração. Um pequeno vaso de flores atenuava o toque impessoal do quarto principal. Havia apenas algumas roupas jogadas pelo chão.

— Desculpe a bagunça — disse Jerome, enquanto buscava roupas limpas na cômoda. — Não tive tempo para arrumar nada hoje.

— Tudo bem. — Ela apanhou uma camisa do chão, sentindo o perfume masculino do corpo dele.

Jerome a observava da porta do banheiro, com o olhar temo.

— Você vem tomar banho comigo?

— Bem, não... Agora não — suas faces estavam coradas. — Na verdade, não há tempo — Melissa se esquivou. — Talvez mais tarde.

Ele ficou desapontado.

— Você está certa, não deve haver pressa entre nós. Eu a verei em poucos minutos. — Deu um sorriso, antes de fechar a porta.

Segundos depois Jerome saiu do banheiro, completamente nu vestindo as roupas limpas apressadamente. Melissa o observou fascinada, sem demonstrar qualquer embaraço, diante da naturalidade dele. Aliás, com toda a razão, pois ele tinha o corpo perfeito, esbelto, musculoso e bonito.

Jerome abotoou a camisa e, enquanto vestia a calça, perguntou:

— Tem certeza de que ficará bem sem mim?

— Sim. — Ela parecia estar permanentemente enrubescida. — Talvez eu vá dormir um pouco.

— Está bem. — Ele a beijou levemente na boca. — Melissa... — sussurrou.

Ela o abraçou, seus corpos pareciam estar se fundindo num só. — Oh, Rome, você não pode mesmo ficar aqui?

— suplicou.

Ele ficou sombrio.

— Eu sinto o mesmo que você, estou impaciente, mas tenho que ir, querida. Já está na hora. — Beijou-a impetuosamente, afastando-se depois com relutância.

Quando Jerome saiu, Melissa tomou banho. Finalmente, caiu na cama de casal, sem tempo para pensar em mais nada, a não ser no fato de que estaria dividindo aquela cama com Rome logo, logo...

Foi despertada por uma batida na porta. Ouviu uma chave na fechadura.

— Trouxe o seu café, srta. Finch.

Ela piscou os olhos, ainda sonolenta.

— Ah sim... — Espere um momento. — Melissa, então, saiu da cama, vestindo rapidamente um roupão de Jerome.

Um empregado estava à sua espera com uma bandeja nas mãos. — Seu café, srta. Finch — repetiu.

— Sim. Venha por aqui — ela abriu a porta da sala. — Por favor, ponha a bandeja sobre a mesa. Quem pediu isso?

— O sr. Towers mandou que trouxesse para a senhorita.

Com todas as preocupações que tinha, Jerome ainda havia pensado em providenciar o café para ela. Talvez imaginasse que ela se sentisse muito embaraçada para fazer isso.

— Obrigada — Melissa sorriu timidamente para o rapaz.

— Se precisar de alguma coisa é só pedir.

Depois de comer, ela tomou outro banho e vestiu-se, lembrando-se de que só trouxera as roupas do corpo. Se fosse ficar ali por algum tempo, teria que providenciar algumas roupas novas.

Dirigiu-se, então, até a recepção. Queria comprar um livro.

— Melissa!

Ela se virou e viu Stella Mitchell, aquela figura exuberante de sempre.

— Srta. Mitchell — cumprimentou-a confusa.

— Rome me pediu para vir encontrá-la. Ele achou que você talvez estivesse se sentindo sozinha — explicou Stella. — Vamos fazer algumas compras.

Elas voltaram no fim da tarde, após terem comido algo num pequeno restaurante. Não havia nenhum recado de Jerome para Melissa. Por isso, ela concluiu que ele ainda estava em reunião. Mas havia dois outros recados para ela um de Brian... e outro de Roddy. Resolveu ligar primeiro para o irmão. Talvez ele já estivesse em casa àquela hora.

— Melissa — ele parecia ansioso. — Estive esperando o seu telefonema a tarde toda.

— Desculpe-me — e ela explicou que fora fazer compras.

— Mas pensei que você estivesse ajudando o sr. Towers...

Melissa enrubesceu.

— Eu estou, só que ele não precisou de mim esta tarde.

— Bem, entendo. Recebi dois telefonemas para você e ambos importantes, embora não entendesse bem o significado deles.

— Quem telefonou para mim?

— Primeiro foi Tracy sua amiga do hospital. Ela disse que a srta. Pryce, sua chefe, está reconsiderando a sua demissão.

— É mesmo? — Melissa mostrou-se surpresa.

— Tracy disse-lhe algo que a fez pensar se não teria julgado mal o seu caso. A srta. Pryce quer falar agora com o paciente envolvido.

O coração de Melissa sofreu um sobressalto. Roddy nunca iria admitir nada.

— Oh, bem — ela conseguiu dizer. — Vamos esperar para ver, não é ? Qual foi a outra pessoa que me telefonou?

— Foi Patsy Jones, que me pediu para lhe dizer que contou a verdade a Donald e que tudo vai ficar bem.

Melissa suspirou aliviada.

— Graças a Deus! — Agora, Roddy não tinha nenhum poder mais sobre ela.

— Quando você vai voltar para casa?

— Ainda não sei. Assim que terminar a greve, eu suponho. Estou precisando de algumas roupas, Brian.

— Isto já foi providenciado. Roddy Meyers veio visitá-la esta manhã. Falou alguma coisa sobre um encontro que teriam esta noite. Quando eu lhe contei que você estava em Londres com o sr. Jerome, ele se ofereceu para levar-lhe algumas roupas.

— Então, ele está vindo para cá?

— Exatamente. Aliás, já deve estar chegando.

— Está bem. Obrigada, Brian — despediu-se preocupada. — Manterei contato com vocês.

— Certo, um abraço. Mamãe está lhe mandando um beijo.

— Diga que estou retribuindo.

Melissa nem teve tempo de pensar como agir diante da visita de Roddy. Apenas desligara o telefone, ele já estava ali. Ela se levantou lentamente, encarando-o.

— O que você quer?

— Surpresa em me ver? — ele ignorou a pergunta, colocando sua mala no chão, aos seus pés. Sua expressão era a mais desagradável possível.

— Nem tanto — Melissa respondeu altivamente.

— Ah, seu irmão avisou você? O que está fazendo aqui com Rome? — ele entrou direto no assunto.

Melissa enrubesceu. — Bem. o que acha?

— Eu a avisei...

— Patsy contou tudo a Donald — disse ela triunfante.

— Entendo. E você acha que isto muda as coisas entre nós? Melissa pareceu desconcertada com a postura fria de Roddy. — É claro que muda.

— Não concordo com você — O olhar dele percorreu seu corpo com volúpia. — Estamos sozinhos, não é?

Melissa começou a se sentir nervosa, inquieta.

— Estamos num hotel.

Ele sorriu -de modo desafiador.

— Mas esta é a suíte de Rome. Ninguém virá até aqui, a não ser que peçamos. E agora vou me aproveitar da situação. — E avançou em sua direção.

— O que você quer dizer com isto? — Melissa começou a se afastar.

— Uma vez eu lhe disse que Rome nunca se interessaria por uma mulher que eu já tivesse possuído, e isto ainda continua válido.

— Como você sabe que nós já não... — Ela se calou, quando ele apertou seu braço, fazendo-a sentir dor. — Roddy, você está me machucando!

— Você já esteve com Rome?

— Não! — Ela rangeu os dentes.

Ele a apertou mais ainda.

— É verdade?

— Sim! Roddy, por favor... — Ela sentiu uma dor lacinante e, de repente, perdeu os sentidos.

Ao despertar, Melissa já estava deitada na cama, com Roddy sobre ela beijando-a. enquanto as mãos dele afagavam febrilmente seu corpo. Começou a sentir náuseas. — Roddy, por favor...

— Você gosta disto, não é? — ele deu-lhe uma forte mordida no pescoço. — Confesse-me que gosta, Melissa.

— Roddy...

De repente, ele foi puxado para longe dela, sendo jogado contra a parede com um poderoso soco. Jerome estava furioso. Seus olhos mostravam-se ardentes no rosto pálido, o corpo tenso pela cólera.

Melissa começou a chorar.

— Oh, Rome, graças a Deus você está aqui! — ela falou, estendendo a mão na direção dele.

Ele a ignorou, voltando a olhar para o irmão.

— Levante-se! — ordenou furiosamente.

Roddy esfregou a cabeça.

— Para que você me dê outro soco? Não, obrigado!

— Levante-se!

— Ela não vale nada, Rome. Vagabundas como ela são...

Jerome o segurou pela camisa, levantando-o. Esmurrou o queixo de Roddy com toda a força, derrubando o jovem novamente. Roddy parecia realmente atemorizado.

— Saia daqui! — Jerome deu-lhe as costas.

— Rome! — Melissa chamou por ele. Seu rosto estava pálido.

— Assim que virei as costas, você o introduziu aqui — acusou-a furiosamente. — E estava até mesmo fazendo amor com ele na minha cama!

— Rome, não! — Melissa protestou. Ele estava me obrigando, fazendo isto contra a minha vontade. — Ela olhou para Roddy. — Diga-lhe — implorou — que eu não o queria aqui. Diga-lhe a verdade, maldito! — ela gritou estridentemente.

Roddy levantou-se lentamente.

— Esqueça isso, Melissa. Você terá apenas que seguir o meu caminho.

— Nunca — ela estremeceu. — Você me causa nojo!

Jerome se virou para o irmão falando com firmeza.

— Por acaso, você conhece a reputação dela? Segundo os rumores, Melissa também foi demitida de seu último emprego por levar homens aos seus aposentos.

Melissa arregalou os olhos.

— Isto é verdade? — Jerome insistiu.

Ela engoliu em seco. — Eu...

— É verdade — interrompeu Roddy.

— Como você sabe disto?

Roddy encolheu os ombros.

— Pergunte a Melissa.

— E então? — Jerome perguntou a ela.

— Eu... — ela queria recompor-se, mas estava nervosa demais. — Você entende...

— Eu fui um desses homens — Roddy a surpreendeu com sua declaração.

— Um desses homens? — repetiu Jerome asperamente.

— Isso mesmo.

— Melissa?

Ela começou a se sentir mal, sem conseguir mais controlar a náusea. Então, levantou-se e correu para o banheiro, chegando lá exatamente na hora certa. Pálida e fraca, depois que a náusea passou, ouviu o ruído de uma porta batendo. Isso indicava que um deles havia saído. Ela esperava que fosse Roddy!

Mas Roddy estava sozinho no quarto quando ela voltou. Tinha um sorriso triunfante no rosto.

— Ele me deixou ficar com você — anunciou. Melissa engoliu em seco. — Ele disse isso?

Ele sorriu maliciosamente. — Disse coisas ainda piores, que não posso repetir.

— Oh, meu Deus! — Ela se jogou sobre a cama. — Por que você tem que destruir e ferir, Roddy? Por que não pode deixar ninguém ser feliz?

— E por acaso, você acha que poderia ser feliz com Rome? — ironizou.

— Eu ia tentar.

— Mas, no fim, teria que admitir a derrota, como meu pai fez com a mãe de Rome. Minha mãe nunca o amou, entende. — Roddy havia se retirado para uma espécie de inferno particular. — Meu pai a amava e, durante todo o tempo em que estiveram juntos, ela ainda amava o pai de Rome.

— Mas ele já estava morto!

— Não importa. Ainda assim, ela ainda o amava. Meu pai era o segundo melhor, assim como eu. Rome sempre esteve em primeiro lugar, sempre! — Ele cerrou os punhos. — É assim que a família Towers é, você compreende. Eles conseguem amar apenas uma vez. E Rome é orgulhoso demais para se apaixonar por alguém como você. — Roddy fez menção de sair.

— Aonde você vai? — perguntou Melissa secamente.

— Voltarei para a fazenda dos Towers. — Ele fez uma careta. — Acho que Londres não é suficientemente grande para mim e Rome neste momento.

— Posso ir com você? — Ela estava cansada demais para continuar a lutar, sabendo que havia perdido Jerome para sempre.

Roddy arregalou os olhos.

— Tem certeza de que quer ir?

Ela se levantou, apanhando o casaco.

— Por que não? Não tenho mais nenhum outro lugar para ir.

Melissa estava entorpecida. Nem atentou para a velocidade com que o carro esporte de Roddy percorria a estrada entre Londres e Norfolk.

— Você sempre me surpreende, Roddy — ela escarneceu. — Eu diria que o odeia.

— Não. Eu gosto de Rome.

— Mas tem ciúme dele.

— Suponho que sim — admitiu. — Agora tenho mais motivos ainda para sentir ciúmes, não é? Afinal, você está apaixonada por ele.

Ela olhou para Roddy. —

E por que isso o faz sentir ciúme?

— Você acreditaria que eu te amo?

— Não, não posso acreditar! — Melissa riu melancolicamente. — Nenhum homem apaixonado me trataria como você faz.

— Se soubesse que você não estava interessada, sim.

— Pare de mentir, Roddy. Estou muito cansada para qualquer brincadeira. Você pode agir honestamente, não há mais necessidade de mentiras.

— Não é mentira. Melissa. Se você pudesse ter-me amado... Acho que realmente agi como um louco nestas últimas semanas. Eu me apaixonei por você à primeira vista e você me rejeitou. Uma outra rejeição eu já não podia aceitar.

— Mas você tentou me forçar.

Ele suspirou. — Eu queria você. Eu a segui até Norfolk, na esperança de que você se interessasse por mim.

— Depois de fazer com que eu fosse demitida! — Melissa exclamou, irritada.

— Eu não pretendia ir tão longe. Não queria que você fosse demitida, Melissa. acredite-me.

— E o seu envolvimento com Patsy?

— Foi uma tentativa de minha parte para deixar você com ciúme.

— Oh, Roddy! — Melissa sacudiu a cabeça.

— Eu sei... fiz uma confusão do começo ao fim. Mas, agora, se quiser, eu a levarei de volta a Rome.

— Não, Roddy. Jerome não está mais interessado em mim.

— Ficará, se eu contar toda a verdade a ele.

— Você acha que eu o quero desta maneira? — Ela sacudiu a cabeça. — É melhor assim. É melhor que eu admita a derrota agora, antes de me tomar demasiadamente envolvida.

— Poderia ficar ainda mais envolvida do que já está? — Roddy perguntou delicadamente.

— Oh, sim, sim eu poderia! — Depois que se entregasse a Jerome, não haveria mais salvação para Melissa. Então, teria que permanecer na vida dele até que Jerome se cansasse dela ou encontrasse outra melhor para substituí-la. — De certa maneira sou grata a você, Roddy. Eu estava a ponto de fazer um papel de tola. Sinto muito por não poder amá-lo. Eu nunca pretendi magoá-lo.

Ele suspirou.

— Eu também nunca quis magoá-la, apenas não conseguia me controlar.

Melissa estava sonolenta. Mas, de repente, ela despertou, sentindo que havia algo de errado. Abriu os olhos, exatamente a tempo de ver as luzes de um outro carro vindo diretamente na direção deles. Ela gritou ao perceber que não iam conseguir safar-se do perigo, tendo a noção precisa de que os dois veículos iam colidir.

— Abaixe-se, Melissa! — Roddy se jogou sobre ela no momento da colisão. O terrível ruído do ranger dos metais foi a última coisa que ela ouviu antes de desmaiar.

 

Soube depois que Roddy morrera durante o acidente, procurando protegê-la. Melissa permaneceu em estado de choque nos dias que se seguiram, apesar de seus ferimentos serem apenas superficiais. Mas apenas o fato de saber que Roddy havia perdido a vida por sua causa já bastava para feri-la demasiadamente.

A primeira pessoa que viu ao abrir os olhos num leito do hospital foi Jerome. Ele estava sentado ao lado da cama, segurando-lhe a mão. Muito pálido, tinha os olhos marejados de tristeza.

— Sinto muito por Roddy — ela sussurrou.

— Como você está se sentindo?

Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Como posso estar me sentindo, sabendo que Roddy morreu por minha causa? — Sua voz estava embargada pela emoção. Então, puxou a mão. — Ele fez isso porque me amava. Oh Deus! — Ela enterrou o rosto no travesseiro. — Deixe-me. Por favor, deixe-me. Vá embora!

Uma semana depois, Melissa teve alta do hospital. Recebera inúmeras visitas, embora não tivesse visto Jerome a seu pedido.

Não teve também permissão para ir ao funeral de Roddy, embora sua mãe e Brian tivessem participado dele. Sua mãe lhe contara então que Jerome estava com um aspecto terrível, o rosto magro, muito desolado.

Embora fisicamente recuperada, Melissa caiu numa profunda letargia. Roddy estivera apaixonado por ela e aquele amor fazia com que ele afastasse todas as coisas do seu caminho, numa tentativa inútil de conquistá-la, não importando o que ou quem ele destruísse para conseguir aquilo. Roddy estava doente. O amor que ele sentira era quase uma enfermidade. Mas isto não servia de conforto para ela. Nada podia atenuar sua culpa por não ter sido capaz de amá-lo.

Melissa sabia que seu comportamento estava preocupando sua família. Tentou mostrar-se alegre, mas não conseguiu.

Um dia Paul foi visitá-la. Sua mãe aproveitou a oportunidade para ir a uma reunião de uma associação de mulheres a que pertencia. Paul entregou-lhe algumas revistas.

— Foi Wendy quem mandou. Ela virá até aqui amanhã. Você amava muito Roddy? — perguntou em seguida.

A expressão dela alterou-se.

— Roddy? Quem disse que eu o amava? — perguntou, indignada.

— Todo mundo. Isso é conseqüência da maneira com que você vem agindo, do modo como se fechou em si mesma — ele encolheu os ombros. — É muito evidente.

Não para ela! Melissa apenas estava aborrecida e magoada com a morte de Roddy, mas nunca o amara.

— Você vai voltar a trabalhar no hospital?

— Não vou, não — disse com a voz trêmula. — Eu... eu não poderia, não agora. — Ela havia recebido uma carta aquela manhã, relatando que seu caso fora reconsiderado pelas autoridades do hospital, que diziam que ela poderia voltar quando quisesse. — Não vou voltar!

— Vai voltar a trabalhar na casa dos Towers, então? — insistiu Paul.

— Não! — Melissa empalideceu. Não podia nem mesmo pensar em voltar a ver Jerome novamente. Ela o odiava agora e também desprezava a opinião dele a seu respeito. — Não estou certa de ainda ter emprego lá — acrescentou friamente.

Paul quis saber mais detalhes.

— O sr. Towers a despediu?

— Não acho que ele tenha feito isto. Nós fizemos um trato. Você trabalha para nós e eu trabalho para ele. Brian também tem me perguntado a respeito disto todos os dias.

— Ele está preocupado com você, como todos nós estamos. Você não pode ficar aqui mofando pelo resto da vida — ele afirmou. — Precisa sair e enfrentar o mundo.

— Por favor, Paul — ela levou a mão à testa. — Não quero ouvir mais nada.

— Você está sentindo alguma coisa?

— Apenas uma dor de cabeça. Mas acho que é melhor eu me deitar agora. Se você não se importa...

— É claro que não. Sinto muito, Melissa, eu estava apenas tentando animá-la.

— Eu sei — ela sorriu debilmente.

— Não se esqueça de que Wendy virá aqui amanhã. — Ele a beijou levemente na testa.

Melissa se sentou, permanecendo na escuridão do quarto, depois que Paul saiu. Por que não a deixavam em paz? Ela não queria voltar a trabalhar no hospital e menos ainda na casa dos Towers. Afinal, Jerome estava lá. Jerome, o homem que ela ainda amava, apesar de ter sido tão cruelmente rejeitada por ele, que não lhe havia dado a menor chance de se defender, condenando-a imediatamente.

De repente, levantou-se, muito inquieta. Sentia uma necessidade de fugir... Deus sabe para onde! Então, pegou o casaco e saiu para andar um pouco.

— Melissa...

Pensou que estava sonhando, até que Jerome apareceu diante dela. Com um grito abafado, Melissa voltou-lhe as costas e afastou-se.

Jerome a segurou, enquanto ela se debatia para escapar de seus braços.

— Fique quieta, Melissa! — ele ordenou em tom austero e, em seguida, a soltou. — Como está você? — perguntou.

Ela se mostrou irritada. — O que você acha?

— Terrível — ele admitiu de má vontade.

— Você também — magro demais, seu rosto estava cheio de sulcos e os olhos tristes. — Sinto muito por não ter ido ao funeral de Roddy — ela se desculpou. — O médico não me deixou ir.

— Eu entendo, Melissa...

— Agora eu me vou. Eles ficarão preocupados se chegarem em casa e não me encontrarem.

— Quando você vai voltar para o trabalho? Tenho recebido vários telefonemas que só você pode resolver. Querem saber sobre a festa de Natal.

Ela arregalou os olhos.

— Você vai levar aquilo adiante? Ele suspirou.

— Sim. Afinal, as crianças não compreendem coisas como a morte.

— Eu não vou voltar. O hospital me ofereceu o meu emprego de volta.

Os olhos de Jerome se comprimiram.

— Por quê?

— Porque chegaram à conclusão de que eu não tinha culpa de nada. Roddy... ou seja, o homem que encontraram no meu quarto não estava lá a meu convite.

Ele a segurou pelos braços novamente.

— Você disse Roddy. Foi ele o homem, afinal?

— Você já sabia que ele esteve no meu quarto. Ele mesmo lhe contou a respeito.

— Ele foi o único?

— Sim! Você não entende, Rome? Ele estava apaixonado por mim.

— Eu sei — afirmou Jerome —, ele me contou sobre isso naquela última noite. Então, posso esperá-la em casa? — ele mudou de assunto. — Nós fizemos um trato, Melissa — afirmou friamente.

— Mas... eu ainda não estou liberada para trabalhar.

— Quando estiver em condições de voltar, você sabe o caminho. — Ele lhe deu as costas e afastou-se.

Somente duas semanas depois é que o médico decidiu que Melissa estava completamente boa para voltar ao trabalho. Foi preciso munir-se de muita coragem para caminhar até a casa dos Towers.

Faltavam apenas três semanas para o Natal agora, duas semanas para a festa programada. Ela gastaria todo o seu tempo em completar os preparativos.

— Oh, que bom ver você, querida — Freda a cumprimentou afetuosamente. — Vá até a lareira e se aqueça. Enquanto isso, prepararei um café para nós, está bem?

Era exatamente o bálsamo de que Melissa estava precisando para recuperar o ânimo. Freda não fez nenhuma pergunta a respeito dos acontecimentos. E, depois de duas xícaras de café, Melissa começou a se sentir mais normal. Não queria ser mais objeto de piedade, como se sentira desde que havia saído do hospital.

O telefone estava tocando quando ela entrou no escritório onde Jerome examinava alguns papéis.

— Atenda, por favor! — Ele nem mesmo a olhou.

Era um telefonema sobre o fornecimento de chapéus de papel para a festa e Melissa resolveu tudo de maneira rápida e eficiente. Quando desligou o telefone, Jerome estava olhando para ela como se não acreditasse no que via.

— Você está aqui afinal! — ele exclamou.

— Você me disse para vir.

— Ótimo. A correspondência está muito atrasada. Com o seu auxílio, poderemos colocar quase tudo em dia, hoje.

Exausta, Melissa almoçou em casa naquela manhã. Quando voltou para a casa dos Towers, encontrou Jerome na cozinha.

— Você pode me ajudar no escritório novamente agora à tarde? — perguntou. — Temos que resolver muitos assuntos.

Melissa encolheu os ombros.

— Não tenho nenhuma objeção. — Afinal de contas, a solicitação fazia parte do trato.

— Precisamos conversar, Melissa. — Ele se levantou da escrivaninha e caminhou até ela. — Você sabe disto, não é?

Melissa o olhou friamente.

— Nada temos a conversar. — Ela apanhou o caderno de anotações. — Vamos continuar o trabalho?

— Não, não podemos! — Ele lhe arrancou o caderno das mãos e jogou-o sobre a mesa, fazendo com que ela se levantasse também.

— Melissa — ele sussurrou —, me ame. Pelo amor de Deus, me ame — ele pediu, abraçando-a.

Ela se tornou lívida. Seu corpo enrijeceu ao abraço dele. — Tire as mãos de mim! — gritou.

— Não posso! Eu preciso de você, Melissa. Não fique assim comigo, querida. Não posso suportar isto.

— E eu não posso suportar as suas mãos sobre o meu corpo. Não estou mais interessada, Jerome, não mais. Deixe-me ir. Seu toque não me agrada!

Imediatamente ele a soltou.

— Você não pode estar falando a verdade — insistiu.

— Posso — disse ela friamente. — Seu irmão morreu há apenas um mês e você já está atrás de mim novamente. Vou-me embora agora, sr. Towers, e não voltarei mais. Pode fazer o que quiser a respeito do nosso acordo, que também envolve Brian, eu não me importo mais. Explicarei a meu irmão que a culpa foi minha.

Jerome se virou.

— Não será necessário. O trato continua.

— Está bem — ela encolheu os ombros. — Mas eu não voltarei mais.

— Eu sei. Acertarei tudo com Brian. E não me aproximarei mais de você.

— Isto é tudo o que quero.

Melissa estava sozinha em casa quando Brian chegou.

— Mamãe foi fazer algumas compras — ela disse.

— O que você está fazendo em casa?

— O sr. Towers não falou com você?

Brian a observava atentamente.

— Sim, falou. Mas eu queria saber o seu lado da história.

— Ele quis me conquistar, e, então, eu disse que não trabalharia mais para ele — explicou friamente. — Você não acredita em mim?

— Francamente, não. Não acho que quando duas pessoas se sentem atraídas uma pela outra, isso possa ser encarado de maneira tão negativa.

— Eu não...

— Não negue, Melissa! — exclamou ele gentilmente. — Posso não ser muito inteligente, mas também não sou estúpido. Sei muito bem que você foi para Londres apenas para ficar com Jerome Towers. Você é suficientemente adulta para tomar suas próprias decisões sobre esses assuntos. — Ele encolheu os ombros. — Talvez não tenha dado certo e então vocês discutiram. Creio que este foi o motivo de você estar com Roddy quando aconteceu o acidente. Mas qualquer que tenha sido a causa da discussão, o sr. Towers parece desejar esquecer tudo. Por que você não faz o mesmo?

― Eu... eu não poderia. Sinto muito, Brian. — Ela saiu correndo da sala e foi para o seu quarto.

Foi a primeira vez que Melissa chorou desde que acontecera o acidente. Até então, seus sentimentos pareciam estar embotados. E que sua dor era muito profunda para transparecer.

Roddy havia morrido por sua causa. Ele a amava. Mas ela amava Jerome, que não amava ninguém. Era uma situação desgastante demais.

Melissa não sabia o que ia acontecer com eles. Toda a sua família dependia de Jerome. Após sua decisão de sair do emprego, ela achava que ele não estaria disposto a ser generoso.

Mas estava errada em seu julgamento. Jerome havia provado ser um homem justo. Mantivera a promessa de fazer de Brian seu administrador. O irmão de Melissa já estava trabalhando com Jeff para aprender o serviço.

Eles todos haviam discutido a situação racionalmente. Brian concluíra que não conseguiria administrar a fazenda da família sozinho e que, portanto, não valia mais a pena mantê-la.

Assim, Brian oferecera as terras a Jerome. Melissa sentiu-se bastante aliviada, pois sabia que sua mãe também estava satisfeita. Sua mãe atualmente estava viajando. Tinha ido até a casa da irmã dela para se aconselhar sobre o casamento de Brian e Joyce. Melissa estava preocupada com o jovem casal. Afinal, parecia que todas as decisões tinham sido arrancadas das mãos deles.

Melissa nunca mais vira Jerome, embora freqüentemente Brian falasse sobre ele. Ela sabia que a greve na fábrica de Jerome havia se resolvido satisfatoriamente, apesar do processo ter se atrasado um pouco por causa da obstinação de Jerome.

Ela passara a trabalhar no jardim de infância local, embora não fosse paga por seus serviços. Mas precisava fazer alguma coisa e achava a naturalidade das crianças muito tranqüilizante.

Naquela manhã, sua atenção concentrou-se num garotinho que aguardava ansioso a chegada da mãe.

— Vou perder a festa — de repente ele choramingou, fitando-a com os olhos cheios de lágrimas.

Melissa o abraçou.

— Tenho certeza de que ela chegará logo — ela o confortou.

— Mas eu vou perder a festa!

— Que festa, Davy?

— A festa de Natal. — Ele estava em prantos. — Eu quero ver Papai Noel — suplicou.

Melissa queria ajudá-lo.

— Você ia à festa na casa dos Towers?

— Sim. Mamãe ia me levar, — De repente, o telefone tocou. — Aposto que é minha mãe! — exclamou o garoto.

Era a mãe dele realmente. Ela estava com um probleminha com o bebê e pedia a Melissa que levasse Davy à festa.

Um olhar para o rosto de Davy, cheio de lágrimas, foi suficiente para que ela não se recusasse.

— Está bem, sra. Cooper — Melissa concordou. — Mas a senhora terá que pedir a alguém para ir buscá-lo, pois eu não vou ficar lá.

Davy foi pulando e cantando por todo o caminho. Seu sorriso irradiava uma felicidade completa. Como era bom ser criança, ela pensou.

Mesmo olhando de fora, o ambiente da casa dos Towers parecia muito animado. Como ninguém veio atender quando Melissa bateu na porta, ela entrou. Logo viu que a sra. Reece e os outros criados faziam esforços no sentido de colocar as coisas em ordem. Havia crianças por todos os cantos. Melissa temeu pela louça chinesa de Jerome. embora ele não parecesse estar por perto para protegê-la. Talvez estivesse em Londres, bem longe de toda aquela confusão, e ela não podia censurá-lo.

Resolveu ajudar a cuidar das crianças.

— Que tal um jogo? — ela propôs.

Algumas crianças pararam para ouvi-la.

— Que tipo de jogo? — uma delas perguntou.

— Que tal o "passa-anel"? — Ela olhou para eles esperançosa. Todos pareciam indecisos. — Quero todos vocês na sala — falou alegremente. — Todos vocês!

Surpreendentemente, eles obedeceram e logo a brincadeira começou, após uma breve explicação sobre as regras do jogo.

— Graças a Deus você chegou! — a sra. Reece deu um sorriso que não disfarçava seu cansaço. — Pensei que todos eles haviam se transformado em verdadeiros diabinhos. Mas o sr. Towers insistiu em que os deixássemos à vontade.

Melissa estava surpresa.

— Nem mesmo o velho fazendeiro fazia tantas concessões. De qualquer maneira, tudo parecia maravilhoso! As salas estavam decoradas com balões e enfeites de papel. Havia uma imensa árvore enfeitada num dos cantos da sala, com luzes coloridas e muitos pratos dispostos sobre uma mesa imensa.

Ela inventou mais alguns jogos, mas percebeu que as crianças estavam ficando impacientes. — Que faremos agora? — ela sussurrou para a sra. Reece, esquecendo-se completamente de que devia ir embora depois de deixar Davy.

— O sr. Towers deve chegar a qualquer momento, ele se atrasou em Londres — explicou a governanta.

— Quer dizer que ele virá à festa? — Melissa empalideceu.

— É claro. Olhe, aí está ele — a sra. Reece suspirou aliviada. Melissa mal podia acreditar no que via. Era difícil acreditar que Jerome estivesse dentro daquelas largas roupas de Papai Noel. O enorme saco que ele trazia às costas atraiu muito a atenção.

Ela sentiu um nó na garganta, quando as crianças se amontoaram ao redor dele. Cada uma recebeu um presente com seu nome gravado no pacote.

Jerome estava se comportando muito gentilmente. Melissa tinha que admitir.

— Melissa voltou, Melissa voltou! — as crianças começaram a gritar de repente.

Ela engoliu em seco, ao sentir aquelas mãozinhas empurrando-a para a frente. Jerome a olhou surpreso, quando as crianças a deixaram frente a frente com ele.

— Você também quer se sentar sobre os meus joelhos e me dizer o que quer ganhar de Natal? — ele a convidou suavemente.

Ela enrubesceu.

— Acho que não.

— Mas deveria. — Ele a fez sentar-se sobre seus joelhos. As crianças estavam curiosas a seu redor. — O que você gostaria de ganhar, Melissa? — Jerome perguntou.

Ela estava respirando com dificuldade. Estava emocionada demais. — Você — conseguiu dizer finalmente.

Podia sentir que Jerome estava tenso. — Eu?

— Sim — ela confirmou ansiosamente.

— Você quer me encontrar nos seus sapatos na manhã de Natal? Melissa estava hipnotizada pelo olhar dele. — Acho que você merece estar num lugar mais confortável — murmurou.

— Então você me ganhou — Jerome se levantou, afastando-a. — Sirva a comida, sra. Reece — disse suavemente. — Melissa e eu vamos até lá em cima e, se precisar de nós, é só chamar.

Melissa se deixou arrastar pela escada, pensando que havia ficado completamente louca. Assim que o vira novamente, o passado parecia não importar mais. A sensibilidade e o amor que Jerome demonstrou em relação às crianças eram uma prova de que ele era verdadeiramente um homem generoso.

— Espere aqui, enquanto me desfaço destas roupas — Ele a jogou sobre a cama, antes de ir ao banheiro da suíte.

Toda a insegurança de Melissa veio à tona, quando se viu sozinha. Afinal, o que estava fazendo ali? Nada havia mudado. Jerome queria simplesmente dormir com ela. Então, se levantou, correndo para a porta.

— Oh, não, você não vai! — Jerome a puxou de volta, abraçando-a com força. — Você não vai a lugar algum — disse ele com a voz rouca.

— Eu devo ir. — Ela não se atreveu a olhar para ele. — Foi um erro, foi tudo um erro.

— O único erro é que eu devia ter feito isto antes.— Ele a beijou apaixonadamente. — Melissa, eu te amo — murmurou.

Ela mal podia acreditar em suas palavras.

— Você me ama?

— O que se passa? — O olhar dele era de expectativa. — Você não crê em mim?

— Rome... — ela conseguiu murmurar afinal, após encará-lo com uma expressão de arrebatamento.

Ele suspirou.

— Você não acredita em mim? Eu te amo, Melissa, sempre te amei. Por que acha que todo homem que se aproxima de você se toma uma ameaça? Por que acha que eu reagi tão violentamente ao encontrar Roddy no hotel com você? Acredite-me, eu normalmente não costumo lutar por mulheres.

— Foi por isto que me deixou com ele, porque me amava? — ela aproveitou para desfazer suas dúvidas.

— Eu não a deixei com Roddy. Você é que partiu com ele.

— Mas você me disse para ir — ela acusou-o.

— Eu disse para Roddy ir embora — ele corrigiu. — Quando voltei à suíte, você também tinha partido. Por que foi para Londres comigo, se amava Roddy? — ele parecia agoniado.

— Eu não o amava. No fim senti pena dele, mas nunca o amei.

— No hospital...

— Não vale a pena revolver o passado, não vai ajudar em nada. Roddy pensava que eu tinha uma paixão secreta por ele. Mas isso nunca foi verdade.

— Você não o amava?

— Não.

— Você não o ama agora?

― Não, eu nunca o amei. Mas sinto muito por ele ter morrido. Foi culpa minha. Ele estava tentando me salvar.

— Se você morresse, eu gostaria de morrer também.

— Rome... — ela murmurou.

— Só não posso entender uma coisa — ele continuou. — Você e Roddy estavam sempre juntos murmurando alguma coisa.

— Bem. certamente não estávamos falando que nos amávamos — Melissa desviou o olhar.

De repente, a expressão de Jerome alterou-se.

— Você me disse uma vez que havia alguém na vida de Roddy, alguém que ele não queria que eu soubesse. Eu não sei... Meu Deus, Patsy Jones! Era ela, não era? Foi por isto que subitamente você se envolveu com a família Jones?

— Foi por causa de Roddy — ela se apressou a explicar. — Ele pensou que aquele jogo me faria ficar com ciúme. O amor que Roddy sentia por mim era obsessivo.

— Como o do pai dele por minha mãe — revelou Jerome tranqüilamente. — Ele também agia assim. Finalmente, chegou ao ponto de ela não agüentar mais e, então, ela o abandonou. Frank se suicidou em seguida.

— Não me diga isso!

— Sim, é verdade! — Jerome suspirou. — Minha mãe nunca mais se recuperou. Mas você vai se recuperar — disse ele impetuosamente. — Eu lhe garanto.

— Roddy não bateu o carro de propósito — Melissa insistiu. — Foi um acidente.

— E eu fui para o inferno por causa disto — ele continuou. — Parece que vivo num inferno desde que a conheci. Ficava aterrorizado, suspeitando de todos os homens que se aproximavam de você. Cheguei a um beco sem saída por sua causa há muito tempo, tanto física como mentalmente.

— Mas você me deixou para Roddy. — Ela não podia esconder a amargura. — Roddy me machucou muito aquele dia. No fim, desmaiei. Ele estava furioso porque eu havia ido a Londres com você. Ele foi para o hotel com a intenção de fazer amor comigo. Eu estava acabando de recuperar a consciência após o meu desmaio, quando você apareceu. Você... você fez acusações vis — ela lembrou nervosamente.

— Mas eu não queria que você se fosse! Eu fui atrás de você. Você sabe disso.

Melissa arregalou os olhos, sem poder acreditar. — Você foi?

— Como acha que cheguei ao hospital tão rapidamente? Eu não estava muito atrás de vocês. Quando vi o carro de Roddy completamente destruído e soube que alguém havia morrido no acidente, quase fiquei louco. Ao chegar ao hospital, me disseram que você estava viva. Então, eu me sentei e chorei. Pouco depois, você acordou e me disse para ir embora, que nada mais tinha a ver comigo.

Melissa engoliu em seco. — Sim eu pensei...

— Você pensou que eu ainda queria manter um romance fútil com você. E continua a pensar assim.

— É isso o que você quer? — ela o desafiou.

— Sim, um amor que dure a vida toda — ele admitiu, com a voz emocionada.

— Por acaso, você está me pedindo em casamento? — ela perguntou quase sem fôlego.

— Estou implorando — Jerome examinou atentamente seu rosto em busca de algum indício da resposta à sua proposta. — Estou pedindo para que você tente me amar — acrescentou em tom suplicante.

— Mesmo apesar de achar que tive outros amantes?

— Eu os odeio! — Jerome exclamou, irritado. — Nunca percebi o quanto eu era possessivo até me apaixonar por você. Será que você poderá vir a me amar?

Melissa não gostou da cena. Aquele homem arrogante não deveria estar ali, suplicando pelo seu amor.

— No dia em que nos conhecemos, você mudou de idéia a respeito de sair comigo. Por quê?

— Pensei que você poderia se sentir constrangida por ter que trabalhar na minha casa e encontrar-se comigo ao mesmo tempo. Acredite-me, assim que sua mãe voltasse ao trabalho, eu iria convidá-la para sair comigo. Mas então você fez questão de mostrar-me que não gostava de mim. Daí, surgiu a idéia de fazer o trato com Brian, como um meio de mantê-la junto a mim.

Melissa sorriu. Sua última dúvida estava desfeita.

— Minha mãe uma vez me disse que sua casa precisava ser agitada por um casal de crianças, para se tomar um verdadeiro lar. Mas não creio que pensasse que seriam netos dela.

Os olhos dele brilharam. — Você me ama?

— Apaixonadamente — ela riu. — Mas preciso que me convença do seu amor por mim.

— Oh, eu a convencerei — prometeu Jerome enquanto dava um passo em sua direção.

Melissa estava visivelmente nervosa. — Há algo mais que você deve saber — ela deu um suspiro profundo — antes de nos casarmos. Jerome ficou apreensivo. — O que é?

— Você pode não gostar.

— O que é?

— Eu não tenho nenhuma experiência sexual, Rome. Nunca tive um amante e não sei como começar.

Ele encarou longa e profundamente aquele rosto delicado e inocente. Depois, abraçou-a suavemente.

— Como eu a julguei mal! — murmurou. — Que idiota tenho sido!

— Você não se importa com isso? — ela o olhou espantada.

— Estou simplesmente maravilhado! Oh. Melissa! — ele a carregou e a girou no ar. — Ei, acabo de ter uma idéia! Já sei qual vai ser o presente de casamento de sua mãe. Berta! — ele revelou sorridente. — Foi ela quem nos uniu, nada mais justo que fique com o resto do rebanho de que sente tanta falta.

Melissa estava visivelmente feliz. — Acho que é uma idéia maravilhosa. Mamãe vai morar com tia Rose depois que Brian se casar e realmente não existe nenhum lugar para Berta na fazenda agora. Bem... acho que é melhor descermos. Afinal, a festa é sua.

De repente, Jerome ficou sério. — Eu preferia uma festa privada aqui. Além disso, se começarmos agora, talvez o nosso próprio filho possa participar no próximo ano.

— Rome! — ela fingiu estar chocada, mas, no íntimo, sentia-se maravilhada com a idéia.

— E então? — Ele acariciou sua orelha com um beijo ardente.

— Eu... Bem, nada. — Com uma volúpia irresistível, Melissa se entregou ao homem que tanto amava, sabendo que o futuro deles se resolveria por si mesmo. Naquele momento, o presente era suficiente... mais do que suficiente.

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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