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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


COURO E SEDA / Diana Palmer
COURO E SEDA / Diana Palmer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

COURO E SEDA

 

Quando Erin deixou ao Ty Wade, jurou que jamais voltaria. Por culpa dele tinha arruinado sua vida, sua carreira... e tinha perdido ao filho que esperava. A que uma vez foi uma famosa modelo envolta em encaixes de seda, logo que podia realizar a tarefa de reunir os pedaços que ficavam de sua vida.

E agora Ty queria que voltasse. Como obteria ela enfrentar-se ao homem a quem mais odiava no mundo, a um homem com coração de gelo...?

 

A sala de urgências do hospital estava enche, mas o homem que acabava de entrar não via nem aos meninos que choramingavam nem aos inumeráveis adultos que abarrotavam a sala de espera. Levava a camisa ao meio abotoar, e não tinha tido tempo de barbear-se nem de pentear-se.

Deteve-se ante o escritório a um lado da entrada, e bastou sua expressão para que a enfermeira lhe emprestasse atenção imediatamente.

—Sim? —perguntou-lhe com cortesia.

—Chamou-me a polícia para me avisar que trouxeram para meu irmão aqui. Seu nome é Bruce Wade —respondeu ele com voz cortante, incapaz de controlar sua impaciência.

—Levaram-no a cirurgia —respondeu a enfermeira detrás consultar o computador— O doutor Lawson realizou a admissão. Um momento, por favor.

A enfermeira levantou o auricular do telefone, pressionou um botão e murmurou algo, enquanto Tyson Wade percorria de cima abaixo o corredor. A jaqueta de pele o fazia parecer ainda mais alto do que era, e o chapéu de asa larga de cor clara oferecia um vivo contraste com seu rosto que parecia esculpido em couro e pedra. Tudo tinha sido tão normal aquele dia... Estava trabalhando com os livros de contabilidade, baralhando a possibilidade de vender vários de seu puro sangue Santa Gertrudis, quando o telefone soou. Bruce tinha que estar bem, pensou. Tinha esperado muito tempo para fazer as pazes com seu irmão menor, mas seguro que ainda haveria tempo. Tinha que havê-lo.

Um homem vestido de verde entrou na sala, tirando-a máscara e o gorro ao aproximar-se do Ty.

—Senhor Wade? —perguntou-lhe.

Ty deu um passo para ele.

—Como está meu irmão?

O doutor ia começar a falar mas se interrompeu para conduzir Ty a uma pequena habitação vazia.

—Sinto-o —disse então com suavidade—. Havia muitos danos internos. Perdemo-lo.

Ty não moveu nem um só músculo. Tinha anos de prática em esconder e dor, em manter seus sentimentos sempre sob controle. Um homem com um aspecto como o seu não podia permitir o luxo de mostrá-los, assim ficou de pé, imóvel, estudando o rosto redondo do médico enquanto in tentava assimilar o fato de que nunca voltaria a ver seu irmão que a partir daquele momento ficava sozinho, completamente sozinho.

—Foi rápido? —perguntou ao fim.

O médico assentiu.

—Estava já inconsciente quando o trouxeram e em nenhum momento voltou a recuperar a consciencia.

—Disseram-me que houve outro automóvel envolto no mesmo acidente. Há mais feridos?

—Não. O outro veículo era um desses enormes caminhões e logo que teve algumas amolgaduras. Seu irmão conduzia um conversível, e ao dar uma volta, não teve nenhuma possibilidade.

Ty tinha tentado lhe falar com o Bruce do perigo que entranhava esse carro, mas sem êxito. Qualquer conselho que viesse de seu irmão maior era imediatamente rechaçado. Essa era uma das conseqüências do divórcio de seus pais. Bruce tinha sido criado por sua mãe e Ty por seu pai, e as diferenças em sua educação eram aplastantes, inclusive ante os olhos de um estranho.

O médico lhe entregou uma bolsa com os efeitos pessoais do Bruce: a roupa destroçada, um punhado de moedas, algumas chaves E um maço com umas centenas de dólares. Ty os olhou sem vê-los antes de voltar a colocá-los na bolsa.

—Só tinha vinte e oito anos —disse com voz serena.

—Sinto que não tenhamos podido salvá-lo —repetiu o doutor Lawson com sinceridade.

Ty assentiu, perdido em suas próprias lembranças.

—Nem ele mesmo teria podido salvar-se. Automóveis velozes, mulheres fáceis, álcool... Disseram-me que não estava ébrio —acrescentou, fixando seus olhos cinzas no médico.

O doutor Lawson moveu a cabeça.

—Estava acostumado a beber muito —continuou Ty, olhando a bolsa—. Tentei lhe tirar a idéia desse automóvel conversível. O disse mil vezes.

—Se for você um homem religioso, senhor Wade, posso lhe dizer que eu acredito nos atos de Deus, e este foi um deles.

Ty procurou os olhos do médico, e depois de um minuto, assentiu.

 

Seguia chovendo quando saiu. Fazia muito frio para o mês de novembro no Texas, mas Ty nem sequer o notou. Toda aquela pressa, para que? Para chegar muito tarde. Toda sua vida, no referente ao Bruce, tinha chegado tarde.

Não podia fazer-se à idéia de pensar em seu irmão e saber o morto. Os dois se pareciam bastante fisicamente. Ambos tinham o cabelo escuro e os olhos claros, mas os de seu irmão eram mais azuis que cinzas. Era seis anos mais jovem que ele, de menor estatura, mais aventureiro e mais mimada. Para o Bruce todo tinha sido fácil e sempre tinha contado com excesso de atenção por parte de sua mãe. Ty tinha sido educado por seu pai, um rancheiro frio e prático; um homem que considerava as mulheres como uma simples debilidade e que inculcou nele essa mesma idéia. Resultava irônico que tivesse sido precisamente Erin quem tivesse afastado ao Bruce do rancho e dele.

Erin. Ty fechou momentaneamente os olhos, imaginando-a sonriendo, correndo para ele com seu cabelo negro e murcho caindo pelas costas, seu rosto alagado de alegria, seus olhos verdes e brilhantes, e não pôde evitar um gemido. apoiou-se contra o carro para acender um cigarro. Chama-a do acendedor acentuava seus maçãs do rosto já muito marcados, seu nariz aquilino e a proeminência de seu queixo. Não havia nada em seu rosto que pudesse atrair a uma mulher, e ele sabia, e possivelmente fosse essa a razão de que em um primeiro momento tivesse atacado tanto ao Erin. Ela era modelo. Bruce a conheceu perto do Santo Antonio e a levou a rancho a passar um fim de semana. Ty ficou no saguão olhando-a, imóvel, até que a alegria da expressão da moça foi convertendo-se em incerteza e por fim, em desilusão.

Era tão formosa... Uma ilusão convertida em realidade. Todos os sonhos mais secretos do Ty se encontravam nesse corpo perfeito e rosto exquisitamente esculpido. Então Bruce a rodeou pelos ombros, olhando ela adorado, e Ty ficou frio em seu interior. Erin tinha pertencido ao Bruce do primeiro instante, e a luzia como um prêmio que tivesse ganho e que queria lhe esfregar no nariz a seu irmão maior.

Ty aspirou profundamente. Quanto tempo parecia ter passado desde todo aquilo! O primeiro encontro, os largos fins de semana em que Erin ia ao rancho e dormia na habitação de convidados para "guardar as aparências—. Conchita, sua ama de chaves, tinha-lhe tomado simpatia imediatamente e a mimava em excesso, fazendo alvoroço a seu redor corno uma galinha poedeira, e a isso Erin adorava. Seu pai tinha morrido e sua mãe estava em um constante ir e vir entre a Europa e América. Em muitas coisas, pensou Ty, a vida da garota tinha estado tão vazia de amor como a sua própria.

Voltou a levar o cigarro à boca e logo deixou escapar uma espessa nuvem de fumaça enquanto ante seus olhos, cravados no vazio estacionamento, seguiam desfilando as lembranças. havia-se oposto ao Erin desde o começo, chateando-a, fazendo-a senti-lo mais incômoda possível, e ela se deixou enganar por essa aparência até que uma noite fria e obscura Bruce teve que sair a solucionar um assunto urgente. Erin e Ty ficaram sozinhos na casa, e ele voltou a chateá-la.

Recordava com nitidez a expressão dos olhos verdes quando depois que ela o esbofeteasse, ele tomou com brutalidade entre seus braços e a beijou até deixá-la sem respiração. Mas a maior surpresa foi a do Ty quando lhe aconteceu as mãos pela nuca e se pendurou de seu corpo como se fora hera, procurando de novo seus lábios.

Tudo tinha sido como um sonho. Sua boca como um morango amadurecido e carnudo, seu corpo firme contra o seu, as almofadas frente à chaminé, sua respiração profunda e silenciosa ao despi-la e acariciar seus seios... Ela nem sequer tinha tentado detê-lo. Ty recordava o timbre de sua voz lhe sussurrando palavras doces enquanto suas mãos lhe acariciavam as costas.

Apertou os dentes. Não sabia, não pôde ter imaginado que ela era virgem. Nunca esqueceria o matiz atormentado de sua voz, o temor que encontrou em seus olhos ao olhá-la surpreso. Tentou deter-se, embora o desconcerto lhe impedia de pensar, mas ela o impediu. "Não”, tinha-lhe sussurrado. Era já muito tarde para deter-se. O mal já parecia, e ele continuou pondo nisso todo seu cuidado para não lhe fazer mais danifico, mas não foi capaz de lhe dar agradar. antes de poder tentá-lo de novo, antes que tivesse podido lhe mostrar sua ternura, ouviram o carro do Bruce aproximando-se da casa. E então, com a realidade, chegaram todas as dúvidas, todos os temores escondidos e ele pôs-se a rir, atormentando-a pela forma em que se rendeu ante ele. "Parte ”,ordenou-lhe, "se não querer que vá com o conto ao Bruce”. E ela recolheu sua roupa, mudada e tremente. Ty a viu sair da habitação com as lágrimas lhe rodando pelas bochechas e, como em um pesadelo, a dor parecia lhe abrir o peito, mas era muito orgulhoso para dar marcha atrás e desculpar-se, lhe explicar o que havia sentido e a razão de lhe haver mentido sobre seus propósitos. À manhã seguinte, muito cedo, Erin partiu.

Bruce nunca o perdoou. Tinha imaginado ocorrido em sua ausência e seguido ao Erin para lhe tirar a verdade. Ao dia seguinte, também deixou o rancho e foi se viver com um amigo ao Santo Antonio. Erin partiu a Nova Iorque para prosseguir com sua carreira, e a imagem de seu rosto acossou ao Ty das brilhantes capas das revistas.

A lembrança daquela noite também o tinha açoitado após. Tê-la entre seus braços tinha sido o paraíso, mas ao mesmo tempo, lhe teria dado oportunidade ao Erin de dar-se conta de quão vulnerável era ele ante ela. Era tão formosa... muito formosa para fixar-se em um homem tão rude como ele e tão inexperiente no amor. Os conselhos de seu pai soavam uma e outra vez em sua cabeça como uma vingança. Aquela mulher era do Bruce, não dela. Nunca poderia tê-la, assim seria melhor deixá-la partir.

Mas antes de abandonar o rancho, Bruce se desforrou lhe dizendo que Erin o odiava pelo que lhe tinha feito, e que seus "torpes manuseios ao lhe fazer o amor" tinham-lhe dado asco. Ty se sentiu tão humilhado que se bebeu uma garrafa inteira de tequila que o sumiu em uma profunda letargia durante dois dias.

Erin voltou para rancho dois meses depois com a intenção de falar com ele, não com o Bruce. Naquele momento, ele estava tirando uma égua dos estábulos quando a viu aparecer em um pequeno automóvel esportivo, muito parecido ao que conduziria ao Bruce à morte seis meses depois...

 

Tenho que falar contigo —disse a jovem com sua voz suave e clara. —O que poderíamos falar você e eu?

—Se queria me escutar... —continuou ela, olhando-o com um estranho rogo em seus verdes olhos.

Contra sua vontade, Ty se sentia irremediavelmente atraído para o Erin, quem o olhava de pé, vestida com um traje cor verde que se atia tentadoramente a todas suas curvas enquanto o vento acariciava os ombros com seu próprio cabelo.

—Não é uma visão, verdade? —perguntou ele com tom zombador ao tempo que seus olhos escorregavam pelo corpo feminino— Quantos homens tiveste desde que te partiu daqui?

—Nenhum... —respondeu ela com voz tremente, como se não tivesse esperado o ataque— Não houve nenhum, exceto você.

Ty soltou uma gargalhada, mas seus olhos seguiram tão frios como o metal.

—Bom amante te buscou. Te limite a tirar os olhos de cima ao Bruce. Pode ser que meu plano me tenha estalado nas mãos, mas ainda posso evitar que se case contigo. Não quero ter a alguém como você em minha família. Qualquer mulher da rua pareceria uma virgem, comparada com sua mãe, e seu pai não era mais que um vigarista que morreu no cárcere. Adoeceria-me ter que te apresentar em nosso círculo de amizades.

Erin empalideceu, e seus olhos perderam a suavidade.

—Não posso trocar a meus pais, mas você tem que me escutar. Aquela noite...

—O que aconteceu? —perguntou ele, fingindo aborrecimento—. Tinha planejado te seduzir para depois dizer-lhe ao Bruce, mas foi e já não foi necessário, assim, assunto concluído —espetou, enquanto acendia um cigarro para não olhá-la—. Não foi mais que calor de uma noite, carinho. E foi suficiente.

Os olhos da jovem se encheram de lágrimas, e ele sentiu como se lhe cravassem uma faca nas vísceras. Ao fim e ao cabo, ela o havia dito tudo ao Bruce, não?

—Que sacrifício deveu ser para ti —comentou ela em voz baixa e angustiada—. Suponho que fui uma grande desilusão.

—Estou de acordo. Foi um fracasso total. Por que vieste aqui, então? Bruce já não vem, e não me faça acreditar que não sabia.

—Não estou procurando o Bruce —explorou ela— OH, Ty! Não o vi desde que me parti daqui. É a ti a quem vim a ver. Tenho que te dizer algo...

—Tenho que me ocupar dos animais —lhe interrompeu ele—. Parte.

Os olhos verdes perderam a luz por completo, e Erin o olhou durante um instante, mas ao fim deu meia volta e partiu.

—Um momento! —gritou ele.

Ela se voltou com esperança.

—Sim?

Ty sorriu zombador, fazendo um esforço por não debilitar-se.

—Se tiver vindo para ver-me porque queira outra queda no feno, a égua poderia esperar um pouco mais. Pode que tenha melhorado da última vez.

Erin fechou os olhos.

—Como pode me falar assim, Tyson? —sussurrou, e ao abrir de novo os olhos deixou entrever uma angústia tão profunda que Ty teve que apartar a minha enseada—. Como é capaz? OH, Deus, não sabe o muito que eu...!

Ty esteve a ponto de esquecer seu orgulho manchado e correr para ela. Seus pés iniciaram o movimento, mas de repente Erin deu meia volta e saiu fugindo para seu carro, pô-lo em marcha e avançou caminho abaixo a toda velocidade. Ele seguiu ao automóvel com os olhos até que se perdeu de vista. Depois, só ficou o vazio, o frio e a solidão.

 

Aquela foi a última vez que Ty viu o Erin Scott. E agora Bruce estava morto. Teriam seguido vendo-se eles dois? Bruce não o tinha comentado. Bom, a verdade é que apenas se falaram durante aqueles meses. Isso também lhe doía. Ultimamente, parecia lhe doer quase tudo.

Apagou o cigarro com o pé. Tinha que preparar o funeral. Não sabia se o companheiro de apartamento do Bruce se inteirou do ocorrido, assim que se meteu no carro e se dirigiu para ali. Faria-lhe bem falar de seu irmão com alguém que o tivesse conhecido, alguém que pudesse lhe dizer se Bruce o tinha perdoado por afastar ao Erin de seu lado. Era quase uma necessidade de absolvição, mas Tyson Wade nunca o teria admitido. Nem sequer ante si mesmo.

 

O companheiro de apartamento do Bruce, Sam Harris, era um economista tímido, um homem tão agradável como sempre o tinha sido Bruce. Estava tomando uma taça quando Ty entrou no apartamento.

—Sinto-o muito —disse com sinceridade—. Acabo de me inteirar pela televisão. Deus, como o sinto. Bruce era um tipo estupendo.

—Sim —respondeu Ty, e detrás ocultar as mãos nos bolsos de sua calça, jogou uma olhada ao pequeno apartamento. Não havia nada especial que indicasse que Bruce tinha vivido ali, exceto uma pequena fotografia do Erin em traje de banho sobre uma mesinha.

—Pobre homem —comentou Sam, sentando-se no sofá com o copo entre as mãos—. Adorava a essa garota, mas ela nunca o deixou aproximar-se —e assinalando com a cabeça para a cama, acrescentou—: Há uma caixa cheia de cartas que lhe devolveu.

Ao Ty lhe paralisou o coração.

—Cartas?

—Sim —respondeu Sam, tirando a caixa. Havia dúzias, todas do Bruce dirigidas ao Erin. Todas sem abrir. Havia também uma carta dela a ele. Era muito recente, e tinha sido aberta.

—voltei-se louco ao recebê-la —explicou Sam— Eu não me atrevi a lê-la. Depois de inteirar-se de seu conteúdo, trocou. Não fazia mais que te amaldiçoar. Até modificou seu testamento... Estive a ponto de te chamar, mas ao final pensei que não era meu assunto. E já sabe como ficava Bruce quando acreditava que alguém o traía. Era meu amigo, ao fim e ao cabo.

Ty olhou as cartas e o estômago lhe subiu à garganta.

—Também há algumas costure nessa gaveta —indicou Sam, e se voltou a sentar—. Não posso me fazer à idéia de que esteja morto —murmurou, ausente— Tenho a sensação de que em qualquer momento vai abrir a porta.

—Quando tiver tempo, agradeceria-te que empacotasse suas coisas —pediu Ty com serenidade—. Enviarei para as buscar.

—Ocuparei-me disso, não se preocupe. Eu gostaria de assistir ao funeral.

Ty assentiu.

—Pode nos ajudar a levar o féretro se o desejar. Será na igreja presbiteriana depois de amanhã. Não há nenhum outro familiar vivo, exceto eu.

—Bom, sinto-o —repetiu Sam.

Ty duvidou um instante, e depois se encolheu de ombros.

—Eu também. boa noite.

Saiu da casa com as cartas na mão, mais assustado do que nunca tinha estado em sua vida. Dava-lhe medo o que pudesse encontrar nelas.

Duas horas mais tarde se achava no Staghorn, sentado em seu estudo, com meia garrafa de uísque vazia em uma mão e um copo na outra. Seu olhar era frio e amargo, e a dor do descobrimento lhe tinha intumescido os músculos.

As cartas que Bruce lhe tinha enviado ao Erin estavam cheias de amor não correspondido, exultantes de paixão e de planos que os incluíam os dois. Cada uma delas era mais ardente que a anterior, e em todas elas havia ao menos uma frase sobre o muito que Bruce o odiava a ele. Mas a carta que Erin lhe enviou, foi o que lhe destroçou o coração.

"Querido Bruce”, dizia, em uma caligrafia delicada e elegante. "Devolvo-te todas suas cartas, e espero que lhe ajudem a te dar conta de que não posso te dar o que quer de mim. É um homem maravilhoso, e a mulher que se case contigo será muito afortunada, mas eu não posso te querer, Bruce. Nunca o tenho feito, e nunca poderei fazê-lo. Inclusive se as coisas fossem distintas entre nós dois, seria impossível que mantivéssemos qualquer relação por causa de seu irmão". O coração gelou ao Ty ao seguir lendo. "Embora a culpa foi em minha parte, não posso lhe perdoar o que me ocorreu. Sofri duas operações, uma para me pôr um prego na pélvis, que me rompi no acidente e outra para me tirar isso Tenho que andar com muletas e estou cheia de cicatrizes. Mas possivelmente as cicatrizes emocionais sejam até piores, porque também perdi o menino no acidente...”

O menino! Ty fechou os olhos e seu corpo tremeu de angústia. Não pôde terminar a carta. Erin tinha saído disparada do Staghorn, e tinha tido um acidente com o carro, perdendo nele a seu filho e sua carreira. Tudo por sua culpa. E agora Bruce estava morto e Erin estava inválida e amargurada, odiando-o, culpando-o a ele, igual a ele se culpava a si mesmo. Todo isso lhe doía como nada em toda sua vida.

Agora sabia que Erin tinha ido ao rancho a vê-lo ele. Levava seu filho em suas vísceras e ia dizer se o mas ele não o permitiu, mas sim a obrigou a partir, humilhando-a. E por sua culpa, ela o tinha perdido tudo.

Aquilo o perseguiria durante toda sua vida. Nunca tinha tido nada que fosse realmente dele, nada que amar ou que proteger, exceto Bruce, e seu irmão tinha sido muito independente para essa classe de cuidados. Ty tivesse desejado ter alguém a quem mimar, lhe dar coisas e cuidar. Era evidente que Erin tinha pensado ter o menino, seu filho. Agora recordava, e era já muito tarde, a expressão esperançada de seus olhos, a doçura de seu rosto ao anunciar: "Tenho algo que te dizer...”

Deixou que a carta caísse ao chão, serve-se outro copo de uísque e o apurou de um gole, Sentia uma pressão no peito que o álcool seria incapaz de suavizar.

Seguiu olhando a garrafa durante um momento, levantou-se lentamente sem deixar de olhá-la, e com a dor e a ira desfigurando seu rosto, estrelou-a na chaminé, onde as chamas crepitaram.

            —Erin —sussurrou com voz entrecortada— OH, Deus, Erin, me perdoe!

A porta se abriu de repente, mas ele não se voltou.

—Sim? —perguntou com frieza.

            —Senhor, está você bem? —perguntou-lhe Conchita com suavidade. Era uma espanhola de média idade que levava muitos anos trabalhando na casa.

Ty se encolheu de ombros.

—Sim —respondeu.

—Quer que lhe traga algo de comer?

            —Lhe diga ao José que necessitarei cinco pessoas que queiram levar o féretro —respondeu, depois de negar com a cabeça—. O companheiro de apartamento do Bruce será um.

—Sim senhor. Já falou com o sacerdote?

—Fiz-o ao voltar para casa.

—Está seguro de que não quer nada? —insistiu a mulher.

—O perdão — respondeu com voz atormentada— Só isso.

 

Passaram três dias antes que Ty pudesse começar a recuperar-se daquele tortura. O funeral esteve presidido por uma chuva fria, e só assistiram o companheiro do Bruce e os trabalhadores de rancho. Ty tinha pensado na possibilidade de convidar ao Erin, mas se acabava de sair do hospital, não estaria em condições de viajar até ali. Tivesse desejado chamá-la, falar com ela, mas não queria lhe fazer mais danifico. Sua voz evocaria nela—muitos lembranças, abriria muitas feridas. Certamente nem sequer quereria escutá-lo, assim, para que incomodá-la?

Depois do funeral foi à cidade a ver o Ed Johnson, o advogado da família. Tal e como tinham sido as relações com seu irmão, era de esperar que Bruce não lhe deixasse em herança sua metade do Staghorn... uma hipótese que resultou certa.

Ed era um homem que rondava os cinqüenta, calvo, de personalidade cálida e palavra fácil. ficou em pé quando Ty entrou em seu escritório e lhe tendeu a mão.

—Vi-te no funeral —comentou—, mas não quis falar de nada ali. Supus que viria para ver-me.

Ty se tirou o chapéu e se sentou, cruzando-se de pernas. Estava muito elegante com seu traje azul com raias finas.

—Bruce trocou seu testamento três vezes neste último ano —informou o advogado— Uma vez tentou pedir um empréstimo para montar um desses negócios para fazer-se rico em pouco tempo, mas a semana passada cheguei a acreditar que estava voltando-se louco.

A semana passada. Justo depois de ter recebido a carta do Erin. Ty errou os olhos e suspirou.

—Evidentemente, deve me haver excluído de seu testamento —disse.

—Deu no prego —respondeu Ed—. Lhe deixou tudo a uma mulher que vive em Nova Iorque. Acredito que é essa modelo com a que estava saindo faz uns meses —murmurou, sem dar-se conta da expressão surpreendida de e—. Sim, aqui está. Erin Scott. Deixa-lhe tudo, com a condição de que vá se viver ao rancho. Se não cumprir essa condição, até o último penique ira a parar ao Ward Jessup.

Ward Jessup! Ty ficou sem respiração. Ward Jessup e ele eram inimigos desde fazia muito tempo. O rancho do Jessup, que limitava com o Staghorn, estava lotado de perfurações em busca de petróleo, e seu vizinho não ocultava seu desejo de estender seus domínios a parte do Staghorn. Ty tinha sido inflexível em sua decisão de não vender, e Jessup tinha tentado convencer ao Bruce de que lhe vendesse sua parte. Agora, se Erin se negava a ir ao rancho, conseguiria seus propósitos, quer dizer, a metade do Staghorn. "Que vingança tão perfeita”, pensou Ty. Bruce sabia o muito que Erin odiava ao Ty e que preferiria morrer antes que viver sob o mesmo teto que ele, assim que se assegurou de que seu irmão maior não pudesse herdar jamais.

—Suponho que isso é tudo —comentou Ty.

—Não o compreendo —respondeu Ed, olhando-o fixamente através de seus óculos.

—Bruce recebeu uma carta dela a semana passada —lhe explicou Ty, mantendo a calma em sua voz—. Teve um acidente faz um tempo, do que a ficado meio inválida. Estava grávida e perdeu ao bebê. Eu sou o responsável.

—Era o filho do Bruce?

Ty o olhou diretamente aos olhos.

—Não. Era meu.

Ed pigarreou com nervosismo.

—OH... Sinto muito.

—Nunca tanto como eu —respondeu Ty, ficando de pé— Obrigado por me dedicar seu tempo, Ed.

—Espera um momento. Não estará pensando em perder a metade de seu rancho depois de ter trabalhado toda sua vida para tirá-lo adiante, verdade?

—Erin me odeia —respondeu Ty—. É pedir um impossível que tenha a caridade suficiente para querer me ajudar, depois da forma em que a tratei. Ela tem mais raciocine que Bruce para vingar-se de mim, e eu não me sinto com a coragem suficiente para brigar, nem sequer pelo Staghorn. Esta semana foi um inferno para mim —voltou a ficar seu chapéu—. Se Erin quer me cortar o pescoço, vou deixar que o faça. É o menos que posso fazer por ela.

Ed franziu o cenho enquanto o via afastar-se. Aquelas palavras não pareciam próprias do Tyson Wade que ele conhecia. Possivelmente a perda de seu irmão o tivesse trocado. O Ty de sempre teria lutado até perder o fôlego por salvar seu lar.

—Jenny —lhe pediu por telefone a sua secretária—, me comunique com o Erin Scott a Nova Iorque.

Pouco depois, uma voz feminina e agradável soou no auricular.

—Sim?

—Senhorita Scott?

—Sou Erin Scott.

—Meu nome é Edward Johnson. Sou o afogado da família Wade.

—Eu não pedi nenhuma indenização...

—Chamo-a por um assunto completamente distinto, senhorita Scott —a interrompeu ele—. Conhece você a meu cliente, Bruce Wade?

—Houve uma pausa larga.

—Bruce... Ocorreu-lhe algo?

—Faz três dias que sofreu um acidente em seu automóvel. Lamento ter que lhe dizer que resultou fatal para ele.

—OH... Sinto-o muitíssimo, senhor...

—Johnson. Ed Johnson. Chamo-lhe para lhe informar que a nomeou a você sua beneficiária.

—Beneficiária?

—Senhorita Scott, herdou você uma substanciosa quantidade de dinheiro em efetivo, assim como parte do rancho Staghorn.

—Não posso acreditar que tenha feito uma coisa assim —murmurou ela— Não posso acreditá-lo! E o que passa com seu irmão?

—Tenho que admitir que eu tampouco compreendo muito bem a situação, mas seu testamento é inalterável. É você sua herdeira universal. Quer dizer, se cumprir uma pequena cláusula.

—Que cláusula?

—Que se você vá a viver ao rancho.

—Jamais!

Assim Ty tinha razão...

—Esperava essa reação de sua parte —comentou ele—. Mas será melhor que lhe explique a totalidade das condições—. Senhorita Scott?

—Sim... sigo aqui —respondeu ela com voz tremente.

—Se você não cumprir essa condição, sua metade do rancho irá parar à mãos do Ward Jessup.

Houve um comprido silencio.

—É o vizinho do Ty... do senhor Wade.

—Certo. E se me permite acrescentá-lo, também é seu adversário. Quão único ele quer são os direitos para fazer perfurações no Staghorn, e o rancho não poderia sobreviver assim. Há muitas famílias cujos ganhos dependem exclusivamente do Staghorn... um ferreiro, vários jeans, um veterinário, um mecânico...

—Sei... quão grande é o rancho —disse Erin com a voz um pouco mas tranqüila—. Algumas dessas famílias levam três gerações trabalhando para os Wade.

—Efetivamente —afirmou Ed, surpreso do muito que ela sabia do Staghorn.

—Necessito tempo para pensar —indicou a jovem depois de uma pausa—. Acabo de sair do hospital, senhor Johnson. Logo que posso caminhar, e uma viagem dessa classe seria muito difícil para mim.

—O senhor Wade tem um avião particular —lhe recordou ele.

—Não sei se...

—Os términos do testamento são muito claros, e requerem de uma ação imediata. Sinto-o senhorita Scott, mas preciso ter sua resposta hoje mesmo.

Houve outro comprido silencio.

—lhe diga ao senhor Wade... que irei.

Ed teve que reprimir um sorriso.

—Só há uma coisa mais —acrescentou ela— Quanto tempo terei que ficar ?

—Não se especificou —respondeu ele— Isso se deixa à interpretação dos implicados, mas, me crie, o senhor Jessup dirá que tem que permanecer ali toda sua vida.

—Escutei que é um homem sem escrúpulos... mas já cruzarei essa ponte quando chegar o momento. Estarei preparada amanhã pela tarde, senhor Johnson.

Parecia cansada e dolorida, e Ed se sentiu culpado por ter que pressioná-la, mas esperar era impossível.

—De acordo. Enquanto isso, prepararei os documentos necessários. Agora é você uma jovem bastante rica, senhorita Scott.

—Bastante rica —repetiu ela com voz ausente, e pendurou o auricular.

Estava sentada em um sofá que se afundava quase até o chão, em um apartamento em Queens. Poucas vezes tinha água quente, e a calefação funcionava só de quando em quando. tinha-se envolto em um casaco para proteger do frio; ninguém que a tivesse conhecido seis meses antes a reconheceria.

por que tinha aceito voltar? Ainda tinha muitos dores, e tudo o que tinha sido capaz de fazer esse dia era ir ao banho. A perna a estava matando. Tinham-lhe ensinado uma série de exercícios, e o médico tinha feita insistência em que devia realizá-los duas vezes ao dia se não queria seguir coxeando toda sua vida. "A claudicação não é precisamente uma das qualidades mais apreciadas em uma modelo”, recordou-se. Embora em realidade, já tudo era inútil. Tinha-o perdido tudo. Não tinha nenhum futuro, nada pelo qual viver. Nada, exceto a vingança, e inclusive isso lhe produzia mau sabor de boca. Não podia pensar em deixar a toda essa gente sem trabalho. Ao menos, não no inverno.

Estirou penosamente a perna. Exercícios! Caminhar já era o bastante difícil para pensar em levantar pesos e todas essas coisas. Deixou vagar o olhar através dos cristais. Estava chovendo. Estaria também chovendo no Ravine, Texas? O que estaria fazendo nesse momento Tyson Wade? Estaria lançando maldições como um corsário. tomou-se muito trabalho para assegurar-se de que ela não voltasse a pôr um pé no Staghorn. Não devia saber nada do acidente, e muito menos do menino. Se ao menos pudesse feri-lo tanto como ele a tinha ferido a ela!

Ainda tinha a possibilidade de ficar em Nova Iorque. Podia trocar de opinião e rechaçar as condições da herança. Sim, claro... e também podia voar. Como ia deixar a todas essas famílias na rua?

recostou-se no sofá e fechou os olhos. Já teria todo o tempo do mundo para preocupar-se por isso. Agora, tudo o que queria fazer era dormir e esquecer.

 

Ty... Ela ia correndo para ele com os braços estendidos, e o sorria, esperando-a. Estreitava-a entre seus braços e a beijava com maravilhosa ternura. Ela estava grávida, tinha já o ventre enorme, e ele o acariciava com mãos possessivas e olhos encantados...

Erin despertou com os olhos cheios de lágrimas. Era o mesmo sonho de sempre, com o mesmo final invariável. E sempre despertava chorando. levantou-se lavá-la cara e olhou o relógio. Era já hora de ir-se à cama, assim que ficou a camisola e se tomou uma pílula para dormir. Possivelmente aquela noite conseguisse não sonhar.

À manhã seguinte, preparou cedo sua bagagem e esperou a chegada de quem quer que fosse que Tyson tivesse enviado a recolhê-la. vestiu-se com um traje de ponto bege que lhe tivesse ficado à perfeição seis meses antes, mas que agora parecia pendurar de seus ossos. recolheu-se o cabelo em um coque, e não se maquiou.

Às dois em ponto bateram na porta. Ela sentia uma vaga curiosidade por saber a quem teria mandado Ty do Texas a procurá-la.

—Adiante —respondeu do sofá, e não pôde dar crédito a seus olhos quando apareceu na porta o próprio Tyson Wade.

O se deteve, olhando-a, enquanto ela se levantava pesadamente apoiando-se em sua muleta. O impacto do que ele mesmo tinha provocado foi estremecedor.

Recordava a uma jovem sorridente e alegre, mas o que via ante si era a uma mulher envelhecida e cansada cujos olhos não tinham a mais mínima luz, a não ser uma espécie de resignação dolorosa. Estava muito magra, com o rosto pálido e ojeroso, e o olhava como se fora um estranho. Possivelmente fosse, ou melhor, sempre o tinha sido, porque nunca lhe tinha permitido que se aproximasse o suficiente para conhecê-lo.

—Olá, Erin —saudou com tom tranqüilo.

—Olá, Tyson.

Ty jogou uma olhada a seus redor e seus olhos chapeados não puderam ocultar seu desgosto.

—Levo vários meses sem trabalhar —lhe informou ela—. estive cobrando uma pensão por incapacidade e comi graças à bondade do Estado.

—Agora não terá que voltar a fazê-lo —respondeu ele e seu olhar pareceu atormentada.

—Isso acredito, conforme me há dito o advogado de sua família —repôs ela, esboçando um sorriso—. Suponho que já haveria tentado encontrar a forma de desfazer o testamento.

—Está preparada, Erin? —perguntou ele, olhando-a com atenção.

—Você primeiro. Terá que ir devagar. Ainda não posso me mover com agilidade.

Ty a viu aproximar-se com movimentos lentos e cuidadosos. Obviamente, a perna lhe doía muito.

—OH, Meu deus... —murmurou ele.

—Não me compadeça —protestou ela— Não te atreva!

Ty aspirou profundamente.

—Está muito mal?

Erin se deteve frente a ele.

—Já me arrumarei —respondeu isso fríamente.

Ty se limitou a assentir e lhe abriu a porta. Quando ela passou a seu lado, percebeu seu delicioso aroma a rosas, e teve que fazer um esforço por se separar de sua mente umas lembranças que lhe resultavam insuportáveis.

—Erin... —murmurou.

Mas ela não respondeu. Nem sequer o olhou, mas sim continuou seu doloroso caminhar para o vestíbulo e até a porta da rua. E Ty, depois de observá-la uns segundos em silêncio, recolheu suas malas, fechou a porta e a seguiu.

 

Quão único Ty podia fazer era guardar silêncio enquanto ele e Erin foram caminho do aeroporto. Tinha tantas coisas que lhe dizer, que lhe explicar, que discutir... Queria desculpar-se, mas lhe resultava impossível. Era estranho pensar no sofrimento que o orgulho lhe tinha causado ao longo dos anos. Nunca tinha aprendido a dobrar-se. Seu pai lhe tinha ensinado que o homem não podia fazê-lo e depois seguir sendo um homem.

Acendeu um cigarro e o fumou em silêncio, sentindo o olhar escrutinadora do Erin sobre ele enquanto conduzia no frenético trânsito da cidade.

—Nada te incomoda, verdade? —perguntou ela.

—Não o cria —respondeu ele, voltando-se para olhá-la, enquanto isso esperava que o semáforo ficasse em verde.

—Seis meses —murmurou Erin, com a voz desprovida de emoção como seus olhos—. Podem acontecer muitas coisas em seis meses.

—Sim —respondeu, fixando o olhar no semáforo. Era incapaz de suportar aquela expressão vazia de seu rosto quando houve uma vez que a viu correr para ele, sonriendo...

Erin dava voltas à muleta entre suas mãos. Ty parecia trocado: menos arrogante, menos insensível. Possivelmente a morte de seu irmão tinha provocado essa mudança, pensou, embora Bruce e ele nunca tivessem estado muito unidos, e se perguntou se Ty a culparia de seu distanciamento do Bruce, se é que sabia quão ciumento seu irmão estava dele sem causa alguma.

—Quanto tempo terá que utilizar isso? —perguntou-lhe ele, olhando a muleta.

—Não sei.

Mas sim que sabia. O haviam dito. Se não Praticava os exercícios religiosamente, teria que utilizá-la durante o resto de sua vida. Mas isso acaso importava já? Nunca poderia voltar a trabalhar como modelo, e não havia nenhuma outra costure em sua vida pela que o esforço merecesse a pena.

—Não esperava que aceitasse a cláusula do testamento do Bruce —Comentou ele de repente.

—Não, suponho que não. Mas o que esperava? Que ficasse com meu orgulho enquanto todos seus trabalhadores perdiam seu emprego por minha culpa?

Assim que essa era a razão. Não ficava nenhum sentimento para ele. Só se tratava de ajudar aos menos afortunados. Ele deveu havê-lo imaginado.

—Parece surpreso.

—Não o cria —respondeu enquanto detinha o carro no estacionamento—. Sempre foste generosa... em todos os sentidos.

Erin se ruborizou e teve que apartar o olhar. Não era capaz ainda de recordar... isso.

—Não foi um insulto —acrescentou ele depressa—. Não tome como algo pessoal.

Ela se pôs-se a rir embora as lágrimas lhe brilhavam nos olhos. Parecia um animalillo encurralado olhando-o desde seu assento.

—Que não tome como algo pessoal? me olhe, maldita seja! —gritou-lhe.

Ty estirou uma mão para tocá-la, mas se deteve em seguida e as linhas de seu rosto voltaram a ser tão frite como témpanos. ficou olhando fixamente ao cigarro que tinha entre as mãos, e depois o apagou no cinzeiro.

—Já o fiz —disse, mantendo a voz tranqüila— Não deixei que fazê-lo desde que te recolhi, e quer saber o que vi?

—Que tal um esqueleto consumido? Acredito que é uma definição bastante boa —respondeu ela com tom desafiante.

—Rendeu-te, verdade? Deixou de lutar, de trabalhar e de preocupar-se por nada.

—Tenho todo o direito de fazê-lo!

—É certo, tem todo o direito. Eu seria o primeiro em estar de acordo, mas por amor de Deus, mulher, olhe o que te está fazendo. Quer terminar sendo uma entrevada?

—Sou uma entrevada!      

—Só em sua cabeça. Está convencida de que sua vida terminou; de que pode ir ao Staghorn e te limitar a viver ali em uma espécie de jaula enquanto todo mundo a seu redor prospera. Mas te equivoca, porque isso é algo que não fará jamais. Eu vou fazer que volte a viver. vais recolher os pedaços e a começar de novo. Eu me encarregarei disso.

—É obvio que sim, todo-poderoso senhor Wade!

—Se voltar comigo, tenha por seguro que será assim —afirmou ele, apoiando um braço sobre o respaldo do assento dela e olhando-a desafiante—. Vamos, Erin. me diga que vá ao inferno. me diga que dê ao Ward Jessup a metade de meu rancho e que deixe a toda essa gente na rua.

Ela tivesse querido fazê-lo. OH, Deus, como tivesse desejado fazê-lo! Mas sua consciência não poderia suportá-lo.

—Odeio-te, Tyson Wade! —gritou-lhe, com os olhos agora acesos pela ira.

—Sei... —respondeu ele—, e não te culpo por isso. Tem direito. Eu nunca te tivesse pedido que voltasse.

—Não, você não. Mas se eu não o tivesse feito, estou segura de que tivesse vindo aqui para me levar a força.

—Agora não. depois do que ocorreu, não —assegurou ele, deixando escorregar o olhar por seu corpo.

—Suponho que o senhor Johnson te terá falado do acidente.

—Li a última carta que escreveu ao Bruce —informou Ty, fixando os olhos na muleta e com um gesto atormentado.

Erin sentiu que um soluço lhe atendia a garganta. Podia suportá-lo tudo dele, exceto a ternura. A culpa, a sua, a dela, a do Bruce...

—Oxalá pudesse te dizer como me senti quando soube —murmurou ele, duvidoso—. O que te disse aquele dia...

Erin tragou saliva, tentando manter o controle de si mesmo.

—Era... era o que sentia e pensava, e revivê-lo agora não vai fazemos nenhum bem. Apartou ao Bruce de mim. Isso era tudo o que te importava.

—Não! Isso não é certo —Ty fez gesto de tocá-la, mas ela se apartou rapidamente até que sentiu a porta em suas costas.

—Não me toque! —espetou com voz afogada—. Não te atreva a voltar a me tocar. Se o fizer, sairei pela porta e você e sua gente se irão ao inferno.

A expressão dele trocou. Era a primeira vez que tentava aproximar-se dela, e seu rechaço lhe doía, mas fez um esforço por esquecer-se de seu orgulho ferido e tratar de ver as coisas desde outro ponto de vista. Ele a tinha machucado brutalmente, e passaria muito tempo antes que ela voltasse a confiar nele. Bom, havia tempo de sobra. Nesse momento, o tempo e a esperança de que ela deixasse de odiá-lo algum dia era tudo o que ele tinha.

—Está bem —acordou, quase com ternura na voz— Quer tomar algo antes de abordar o avião?

Erin se removeu incômoda em seu assento.

—Eu... não comi.

—Então vamos comer um sanduíche —indicou Ty. Saiu do carro e lhe abriu a porta, mas não lhe ofereceu a mão para ajudá-la—. Quanto tempo faz que lhe tiraram o prego?

Erin o olhou surpreendida. Não lhe tinha ocorrido que soubesse tanto sobre sua situação.

—Umas quantas semanas.

—Fez alguma classe de terapia depois?

—Uma taça de café não me cairia mal —disse ela, evitando seu olhar.

—A terapia —insistiu— é o único que pode fazer que volte a caminhar sem essa muleta. É que os médicos não lhe hão isso dito?

—Como sabe seu tanto e terapias?

—Quando tinha vinte e quatro anos, rompi-me o quadril em um rodeio. Custou-me meses de terapia me liberar da claudicação. Nunca esquecerei os exercícios, nem como se fazem, nem durante quanto tempo terá que fazê-los cada dia, assim que te ajudarei com eles.

—E eu te ajudarei a chegar ao hospital se o tentar —o ameaçou ela.

—Muito valente —comentou ele, com um sorriso—. Sempre o foste. Desde o começo essa foi a qualidade que mais eu gostei de ti.

—Você não gostava de nada de mim —lhe recordou—. Me odiou do primeiro momento até o final.

—Está segura disso? Acreditei que as mulheres sabiam compreender as reações dos homens por instinto.

—Já averiguou que eu sabia muito pouco sobre os homens... então.

Ty não apartou a vista dela.

—E já averiguou você que eu sabia muito pouco sobre as mulheres.

Erin o olhou aos olhos e se perguntou que ocultaria atrás daquela névoa chapeada. O que ele acabava de dizer parecia uma espécie de confissão, mas não quadrava com o retrato que Bruce lhe tinha pintado dele... um mulherengo.

—Deve ter esquecido mais a respeito das mulheres do que eu saberei em toda minha vida —respondeu ela ao fim—. Bruce me disse isso.

Ty apertou os dentes.

—Bruce te contou muitas coisas, verdade? Pois eu também me inteirei do que você disse por mim "manuseio".

—O que? —perguntou Erin atônita.

—Comentou-me que lhe falou de "meus torpes manuseios" e que o tinha contado com tudo detalhe a ele para rir juntos...

Ela ficou boquiaberta e tão pálida como um lençol.

—Que Bruce te disse... disse-te isso?

—Erin! —exclamou Ty, lançando-se para ela bem a tempo para evitar que caísse ao chão. Sustentá-la entre seus braços o fez sentir-se vivo pela primeira vez desde fazia meses. Reteve-a assim, apoiando a bochecha em seu cabelo e gravitando na angústia agridoce de abraçá-la enquanto a seu redor o trânsito discorria rotineiro e os turistas transitavam indiferentes pelas calçadas—. Carinho —sussurrou, enquanto se sentava no assento do carro levando-a entre seus braços—. Erin...

Ela voltou em si um momento depois, e por um instante, por uns escassos segundos, seus olhos pareceram brilhar cheios de lembranças, mas foi como se um pesado pano de fundo caísse sobre eles assim que o reconheceu.

—Deprimiu-te—disse ele.

Erin o olhou desconcertada, sentindo seu calor e a força de seus braços.

—Ty... —sussurrou.

O coração dele se deteve e seu corpo ecoou imediato dou sua necessidade.

—Está bem? —perguntou-lhe, incorporando-a com rapidez para que não pudesse descobrir sua vulnerabilidade.

—Sinto-me um pouco tremente, isso é tudo.

Ty deixou escorregar a mão por seu cabelo, ardendo todo ele ao senti-la tão perto, desfrutando do aroma de rosas que emanava de seu corpo.

—Bruce não pôde te dizer isso... Não é possível! exclamou, com os olhos cheios de lágrimas.

—Não devi haver lhe contado —murmurou isso ele—. Foi sem querer. Sente-se melhor?

Erin suspirou profundamente. Era mentira. Uma horrível mentira. Nunca lhe havia dito tal costure ao Bruce, e ia explicar se o mas ficou in na eletricidade que de repente se criou entre eles.

—Seus olhos sempre me recordaram o veludo verde —murmurou ele, com voz ausente—. Suaves e profundos à luz, cheios de escondida doçura calor.

Respirar parecia haver-se voltado difícil para o Erin, enquanto deixava vagar seu olhar pelo rosto de facções marcadas, descobrindo pequenas e novas rugas.

—Não encontrará nada bonito embora te esforce —advertiu ele, em um tom que pretendia ser desenvolto.

—Sempre foste tão distinto do Bruce —sussurrou ela—. Distante, solitário, invulnerável...

—Exceto em uma noite —respondeu ele, e a cor voltou para as bochechas do Erin—. Me acreditará no menos se te disser que lamento o que te fiz e que se pudesse daria marcha atrás e o apagaria tudo?

—Lamentar-se pelo passado não trocará nada —respondeu ela e fechou os olhos.

—Sinto muito... sinto o do menino —murmurou com voz carregada de emoção.

Erin o olhou surpreendida.

—Tivesse querido o ter...

—Se o tivesse sabido, não te teria deixado partir.

Houve algo em sua forma de dizer estas palavras que a fizeram acreditar que era verdade. Possivelmente Ty desejasse ter sua própria família, ou talvez tivesse havido alguma mulher... Não é que fora um homem bonito, certamente, mas podia ter sido capaz de amar, de ser tenro e quente. Possivelmente fazia um milhão de anos de todo isso, a julgar pelo muro que tinha ereto a seu redor.

Erin fez um esforço por levantar-se e ele a soltou imediatamente, ajudando-a com umas mãos incrivelmente amáveis. Devia ser a culpabilidade. Ao menos parecia capaz de sentir isso, embora não fora o que ela queria dele.

—Já estou bem —assegurou ela. A proximidade de seu corpo a tinha afetado terrivelmente.

entregou-se a ele aquela noite com tal abandono, com tanta alegria... porque ela o queria, e por um momento acreditou ser correspondida, mas só tinha sido um truque, uma mentira. Poderia esquecê-lo alguma vez?

—Estou cansada —sussurrou—. Tão cansada...

Seu cansaço saltava à vista, e pensar em tudo o que tinha tido que passar-lhe fazia experimentar ao Ty um estranho sentimento de amparo para ela.

—Porá-te bem —respondeu lhe acariciando o cabelo— vou ocupar me de ti. Ocuparei-me de tudo. Vamos. Vamos a casa.

Staghorn não era casa dela, mas estava muito esgotada para discutir. Quão único queria era ter um lugar para descansar e um pouco de paz. Tantas coisas lhe tinham ocorrido que agora sentia os efeitos retardados do golpe. Ainda não podia suportar as lembranças nem a idéia do futuro. Só desejava fechar os olhos e esquecer tudo.

Ty a tirou do braço para conduzi-la para a pista e ela se deixou guiar com um gesto que o comoveu.           

Erin tinha sido uma lutadora, e ele admirou sempre esse espírito, mesmo que uma vez tentou derrotá-la. E agora, vê-la assim, saber que se rendeu, desconcertava-o. Estava quase inválida, tinha perdido o bebê e nunca poderia perdoá-lo por isso. Nem sequer ele mesmo poderia perdoar-lhe Quão único podia fazer era assegurar-se de que Erin partisse do Staghorn recuperada, custasse o que custasse. Estava disposto a lhe infundir de novo desejos de viver, embora isto terminasse por apartar a dele.

 

O avião era um Cessna bimotor, um precioso modelo cômodo e rápido. Havia lugar suficiente para que Erin se recostasse no assento de passageiros, mas ela queria ver aonde foram. Posso me sentar contigo aí diante?

Era o primeiro espiono de entusiasmo que mostrava desde que ele a recolheu em seu apartamento.

—É obvio —assentiu ele.

Erin o observava fascinada enquanto Ty preparava o avião para o vôo e pedia permissão à torre para decolar. Era a primeira vez que ela voava em seu avião particular, porque embora Bruce a tinha convidado a fazê-lo em outra ocasião, Ty se opôs.

O vôo até o rancho transcorreu quase em silêncio, já que ele ia concentrado no tabuleiro de instrumentos.

Staghorn era como ela o recordava: grande e bem distribuído como uma pequena cidade. A casa estava coberta com estuque espanhol de cor amarela, o telhado era vermelho, e a seu redor havia um corredor com formosos arcos adornados com as mais variadas espécies de cactos. A um lado ficavam os ultramodernos estábulos e currais, e um centro de transplante embrionário que não tinha nada que lhe invejar a qualquer dos da zona. A vontade do Ty de utilizar as últimas tecnologias e métodos de produção tinha transformado o pequeno negócio de seu pai em um grande império. Era um homem nascido para os negócios, para gerar dinheiro, e a isso tinha dedicado toda sua vida. Desfrutava responder à provocação que estes lhe expor, como não o fazia com nenhuma outra coisa, incluídas as relações pessoais.

Erin se sentia fascinada pelo pouco que tinha trocado o rancho desde sua última visita. Em seu mundo, a gente aparecia e desaparecia como um torvelinho, mas no rancho do Ty havia estabilidade. Todo o pessoal seguia sendo o mesmo. Conchita e José, seu marido, seguiam ocupando-se de atender ao dono, mantendo tudo em deliciosa ordem tão dentro como fora da casa. Ambos eram de média idade, e seus pais tinham trabalhado para o Norman, o pai do Ty.

Conchita era uma mulher alta e elegante, muito magra, de olhar enérgico e travesso, apesar das cãs que salteavam seu formoso arbusto de cabelo negro. José era de sua mesma estatura e possuía a mesma elegância, mas tinha todo o cabelo cinza, conforme diziam os rumores, devido ao temperamento do senhor Norman. Era de caráter alegre e tinha tão boa mão para os cavalos que Ty estava acostumado a permitir ajudar aos jeans que reuniam a manada.

A casa tinha dois pisos, mas era no primeiro onde estava a habitação do Erin, duas portas além da Ty. Essa circunstância resultava um tanto inquietante, mas ela estava segura de que ele tinha decidido lhe dar essa habitação devido a seu estado.

—Se necessitar algo, há um timbre junto à cama —lhe explicou ele—. Conchita te ouvirá de dia ou de noite. E se não, eu te escutarei.

Erin se deixou cair em uma poltrona junto à janela e fechou os olhos com um suspiro.

Mas Ty não partiu, mas sim se sentou sobre a imaculada colcha branca e a olhou em silêncio.

—Não te encontra bem —disse ao fim.

—Passa duas vezes pelo sala de cirurgia em seis meses e já verá como se sente —replicou ela sem abrir os olhos.

—Quero que te revise o médico da família. Ele poderá te recomendar alguns exercícios para esse quadril.

—me ouça bem, Ty —indicou a jovem, abrindo os olhos— É meu quadril e é Minha vida,

—Não. Enquanto esteja no Staghorn, não. Não tem boa cor, e quero que te atenda.

—Eu não sou tua responsabilidade...

Discutir não ia servir de nada, assim seria melhor ignorar o que dissesse.

—Farei-te uma entrevista com o médico —anunciou ele—. Possivelmente possa te receitar umas vitaminas. Está muito magra.

—Ty...

—te deite e descansa durante um momento. Direi a Conchita que te prepare um chocolate bem quente. Confortará-te e te ajudará a dormir. O termostato está aqui se por acaso sente frio —indicou ele, assinalando o relógio junto à porta.

—Quer deixar de me dar ordens? —gritou ela, exasperada.

—Assim está melhor —disse Ty ao ver como a cor voltava para suas bochechas—. Agora volta a parecer médio humana.

—Não sei por que aceitei vir aqui!

—com certeza que sim sabe. Veio para salvar a minha gente do desemprego —observou ele, abrindo a porta—. Chama se quiser algo.

—Quero... Eu gostaria de ir ver a tumba do Bruce.

A expressão do Ty não trocou, mas suas facções pareceram suavizar-se. Se havia sentimentos atrás de sua fachada, estavam bem escondidos.

—Levarei-te mais tarde, quando tiver tido tempo para descansar.

—O sente falta de?

—Direi ao José que te traga a mala mais tarde —anunciou ele, fechando a porta detrás de si.

Sim, pensou com amargura enquanto cruzava o vestíbulo. Sentia a falta de seu irmão, mas havia outra coisa que jogava ainda mais de menos, e era a vida que pôde ter tido com o Erin. Faltava um mês para Natal e o atormentavam as imagens de como poderia havê-la celebrado se Bruce não o tivesse arruinado tudo. Parecia que tinha passado tão pouco tempo desde que Erin correu para ele rendo, com seu cabelo negro ao vento, e ele se derreteu só vendo-a; ficou-se sem respiração como um adolescente em sua primeira entrevista, e ainda seguia sentindo-se assim, apesar das cicatrizes e a claudicação dela. Em seu coração levava um retrato indelével da jovem, que resistiria o passo dos anos e que a manteria bela e intacta durante toda sua vida. Erin. Que maravilhosa teria podido ser a vida se...

Pigarreou com força e saiu depressa ao alpendre.

 

Bruce tinha sido enterrado em um cemitério local a só dez minutos do Staghorn. Erin se deteve frente a sua tumba enquanto Ty a observava desde seu assento do carro, fumando um cigarro.

"É muito triste", pensava Erin, "a forma em que Bruce terminou sua vida". Nunca lhe tinha parecido um homem imprudente, ao menos durante o tempo que saíram juntos, até que chegou um momento em que ela se deu conta de que ele esperava mais do que podia lhe dar e decidiu afastar-se dele. Naquele momento, não sabia quão competitivo Bruce era com o Ty, nem que a tinha estado utilizando corno uma arma de vingança contra o irmão que o dominava. "Olhe", havia-lhe dito sem palavras, "olhe que beleza traga para casa. E é toda minha".

Erin sorriu com tristeza. Nesse então desconhecia o fato de que os pais do Ty se separaram anos atrás e cada um deles se ficou com um menino. Norman Wade tinha educado ao Ty sem a noção do amor para fazer dele um homem invulnerável. Sua esposa, entretanto, educou ao Bruce protegendo-o inclusive da vida mesma. O resultado em ambos os casos era previsível... mas não para os pais.

A jovem deu uma olhada às lápides junto à do Bruce. Seus pais estavam ali. Norman e Maca Harding Wade. Lado a lado na morte, como tinham sido incapazes de estar em vida. Apesar de todas suas diferenças, compartilharam um amor profundo e duradouro. Nenhum dos dois saiu com ninguém depois de sua separação, e ambos tinham pedido ser enterrados juntos Erin sentiu a ardência das lágrimas nos olhos ao olhar aquela lápide. O amor devia ser uma coisa muito estranha.

Ty, pressentindo suas perguntas, saiu do carro e se aproximou dela. Vestia de novo seu acostumados jeans, suas botas de couro e seu velho chapéu cor nata.

—por que não puderam viver juntos? —perguntou-lhe ela.

Ty se encolheu de ombros.

—O era um homem muito frio e ela uma mulher muito ardente —se limitou a dizer— Isso o explica tudo.

Quando compreendeu o duplo significado daquelas palavras, Erin avermelhou.

—O que te passa? —murmurou ele, esboçando um sorriso— Eu só queria dizer que ele nunca mostrava seus sentimentos e ela levava os seus presos na lapela. Não sei como eram na cama. Nunca o perguntei.

Erin avermelhou ainda mais.

—Quer esquecê-lo? —murmurou.

—E pensei que era eu o antiquado! —exclamou ele, levando o cigarro aos lábios e olhando pesaroso as três lápides— Agora sou o último. Sempre acreditei que Bruce viveria ao menos vinte anos mais que eu. Ele era quem amava o viver.

—E você não?

—Trabalha muito duro tentado ganhar a vida, e depois morre. O resto do tempo, passa-o preocupando-se pelas inundações, as secas, os impostos e as lucros. E isso é tudo.

—Nunca conheci um homem mais cínico que você. Nem sequer em Nova Iorque.

—Sou realista —a corrigiu ele—. Não espero milagres.

—Possivelmente seja essa a razão de que nunca te tenha ocorrido nenhum —sugeriu ela, olhando a lápide do Bruce—. Seu irmão era um sonhador. Gostava das surpresas e o inesperado. A maior parte do tempo era um homem feliz, exceto quando se lembrava de que sempre ia ser o segundo. É difícil de igualar, e ele nunca se acreditou capaz de medir-se contigo. Dizia que inclusive sua mãe falava mais de ti que dele.

—Não sabia —expressou Ty, arqueando as sobrancelhas—. Parecia me desprezar. Nunca nos entendemos bem.

—Acredito que nunca haverá ninguém que te compreenda —opinou ela com voz suave—. Não dá nada de ti mesmo.

Ty apertou os dentes e seus olhos chapeados a olharam através da nuvem de fumaça que saía de seus lábios.

—Parece-me um comentário muito interessante, vindo de ti.

Erin intuiu o que queria dizer com essas palavras e se recordou a si mesmo em seus braços junto à chaminé, gemendo quando lhe acariciava os seios.

—Não referia a essa classe de... comunicação —disse, incômoda.

Ty voltou a levar o cigarro aos lábios.

—Faz tempo me assegurou que nunca teve nada que ver com o Bruce. É verdade?

            —Sim —respondeu ela sem rodeios—. Lamento que tivessem problemas entre vocês por minha culpa. Eu não lhe contei nada em um princípio, mas ele me fez muitas perguntas e eu estava muito zangada. Não lhe disse nada de... o que ocorreu. O imaginou tudo. Devi lhe parecer uma perdida —acrescentou, com um esboço amargo de sorriso.

—Você não é uma perdida. Fui eu quem te assaltou pela retaguarda, isso é tudo. Quando não resistiu, devi me haver dado conta de que foi muito inocente para saber o que estava passando. Creíste que eu me deteria a tempo.

—É certo que confiei em ti, mas não me violou. Não foi isso.

Ty suspirou profundamente e se aventurou a se separar do pescoço do Erin uma mecha de cabelo, que deixou ao descoberto uma cicatriz da bochecha.

—Foi muito doloroso? —perguntou-lhe com ternura.

—Sim—sussurrou ela com voz tremente e se deu a volta para evitar que ele pudesse ver os sentimentos que ameaçavam transbordando uma segunda vez. Ultimamente só parecia ser capaz de chorar.

Ty se removeu inquieto. Não estava acostumado a ver chorar a uma mulher. A verdade era que não estava acostumado às mulheres em si, e não sabia como dirigir aquela situação.

—Estou-te pondo em um apuro —murmurou a jovem.

O tinha esquecido quão sincera era. Nunca se mordia a língua. Exatamente igual a ele.

—Não estou acostumado às mulheres.

—E então por que me disse Bruce que foi um mulherengo? —perguntou-lhe ela, olhando-o aos olhos.

—Não sabe?

—Não o foi, verdade? —insistiu Erin.

Ty tirou outro cigarro e o acendeu.

—Vá pergunta...

—Não importa, não me responda. É algo que não me incumbe —espetou ela, pondo-se a andar—. Deveria retornar a Nova Iorque e deixar que Jessup fosse se viver contigo!

—Não nos levaríamos bem —replicou ele, alcançando-a—. Não fuma.

Erin não podia dar crédito a seus ouvidos. Humor negro... do Tyson Wade?

—Bruce se tinha mudado, verdade?

—Bruce está morto —a atalhou ele, detendo-se para olhá-la-o que fez ou deixou de fazer, disse ou ocultou já não tem nada que ver conosco.

—Sinto que se foi.

—Eu também, mas por muito que nos lamentemos, não poderemos ressuscitá-lo —e depois de olhar brevemente a lápide, voltou seus olhos para ela— Neste momento, você é minha prioridade. vou conseguir que volte a te pôr em pé.

—Não penso permitir que tome o controle de minha vida! —espetou ela, golpeando o chão com a muleta.

—Claro que vais permitir o. Agora não é mais que um pequeno nubarrón. Não tem a coragem suficiente para discutir comigo.

—Quer apostar?

—Não, eu não jogo. Tome cuidado ou romperá a muleta.

—Então teria que me levar nas costas até a casa, verdade? Quanto tempo terei que ficar aqui?

—Até que cumpra os sessenta e cinco, em opinião do Jessup. Faz o favor de te apoiar um pouco mais nessa perna, carinho. Necessita mas exercício.

—me escute, vaqueiro...!

—Não sou nenhum vaqueiro.

—Quer me escutar?

—É obvio, mas quando disser algo que eu queira ouvir. Vamos ao automóvel; tenho coisas que fazer. O inverno não é tão ocupado como o resto do ano, mas mesmo assim tenho que me ocupar do rancho. Espero que você goste de ler. Morrerá de aborrecimento se não ter algo em que te entreter.

—Posso ver televisão —murmurou ela enquanto lhe ajudava a acomodar-se no carro.

—Não tenho televisão —informou ele e Erin o olhou boquiaberta—. Eu não gosto.

—E o que faz antes de dormir?

—Leão.

Ela deixou cair a cabeça contra o assento. Vá vida maravilhosa a que lhe esperava! além de tomar calmantes para a dor e ver-se obrigada a fazer exercícios com a perna, podia sentar-se e ver ler ao Ty. "OH, Bruce", pensou. "por que teve que morrer e me deixar nesta horrível confusão?"

 

Erin tinha jurado não ir ao médico, mas Ty a meteu no carro quase a trancos e a levou até ali; e para cúmulo, estava empenhado em entrar com ela ao consultório.

Os cochichos vão crescer como a espuma —protestou enquanto seguiam à enfermeira pelo corredor—. por que me faz isto?

—Todo o mando sabe que já está vivendo no rancho —respondeu ele.

Tinha razão, mas isso não a fez sentir-se melhor. Ela odiava ser objeto de falatórios. Seguro que já se teriam informado de que a metade do Staghorn lhe pertencia, e saberia Deus o que a gente imaginaria que tinha tido que fazer para consegui-lo.

—Quer deixar de te torturar? —resmungou ele quando entravam na sala de consultas— Que demônios importa que a gente fale?

—Claro! Como não vai ser sua reputação a que saia danificada!

—Senhorita Scott? Sou o doutor Brodie —disse o médico que acabava de entrar na sala. Primeiro estreitou a mão do Erin e depois a do Ty, antes de sentar-se a examinar os informe que tinham levado sobre a operação. Ty devia lhe haver facilitado previamente o nome do médico que a tinha atendido, porque parecia conhecer todos os detalhes do caso.

—esteve fazendo os exercícios que lhe recomendaram? —perguntou.

Erin se ruborizou ligeiramente e evitou seu olhar.

—Não parecia ter muito sentido...

—Senhorita Scott, posso ser franco com você? —interrompeu-a ele, e sem lhe dar oportunidade de responder, continuou—: A cirurgia pode ajudar só até certo ponto. Poderia voltar a caminhar, mas se não fazer os exercícios tal e como o indicaram, essa perna ficará rígida para o resto de sua vida, e o mesmo ocorrerá com a claudicação. Tenho entendido que era você modelo profissional. Sua profissão faz que ainda seja mais importante que execute os exercícios; quer dizer, se é que quer voltar a exercê-la em um futuro.

Ela não apartava os olhos de suas próprias mãos. Como podia Ty lhe fazer aquilo?

—Podemos levá-la diariamente ao hospital, se o preferir, e que um terapeuta trabalhe com você.

—OH, não, por favor —negou ela— Não poderia suportar que...

—E se eu trabalhasse com ela no rancho? —sugeriu Ty—. Faz tempo me rompi o quadril, recorda?

O doutor pigarreou.

—Claro que o recordo! Primeiro renunciou uma de minhas melhores enfermeiras, e depois, dois terapeutas.

Ty sorriu e Erin o olhou boquiaberta. Muito poucas vezes o tinha visto sorrir daquela forma.

—Posso lhe dar uma lista de exercícios, mas terá que fazê-los duas vezes ao dia durante trinta minutos.

—Fará-os —prometeu Ty antes que a jovem pudesse separar os lábios.

—Agora eu gostaria de examinar esse quadril —acrescentou o médico, chamando à enfermeira.

—A não ser que também queira emitir um diagnóstico, doutor Wade, importaria-lhe sair da habitação? —perguntou Erin.

            —Parece um pouco irritável esta manhã, não? —comentou Ty enquanto se dirigia à porta—. Cuidado —acrescentou, dirigindo-se ao médico—. Remói.

—Eu em seu lugar, vacinaria-me contra a raiva de uma vez —lhe sussurrou ela justo antes que ele saísse.

Era curioso que fossem capazes de falar-se com aquela cordialidade, quando antes nem sequer se dirigiam a palavra. Apesar de tudo o que tinha ocorrido entre eles, Erin seguia sentindo-se atraída pelo Ty. Era o homem mais forte que tinha conhecido, e embora só fora por certo tempo, precisava apoiar-se em alguém, e quem melhor que o homem que tinha sido parcialmente responsável por sua atual situação?

O doutor lhe examinou as cicatrizes, tomou uma radiografia do quadril e lhe deu uma série de instruções, além de lhe receitar umas pastilhas para tomar em caso de que a dor fora muito forte.

            Erin passou todo o caminho de volta ao Staghorn pensando na experiência tão penosa que a aguardava.

—Não quero começar com tudo isto —murmurou—. Tantos dores e cãibras, para que? Sempre vou coxear!

—Se fizer os exercícios, não —replicou Ty, impassível—. Mas é você a que deve querer fazer o esforço. Eu te ajudarei, mas não posso fazê-lo por ti.

—E por que teria que querer me ajudar? —perguntou ela, girando-se no assento para olhá-lo com frieza.

Ty estava fumando e aspirou profundamente antes de responder.

—Porque eu sou responsável pelo que te ocorreu. É como se eu mesmo te tivesse obrigado a chocar.

—De verdade crie que foi você quem causou o acidente? —perguntou-lhe ela sem compreender.

—E não foi assim? Estava meio histérica quando foi do rancho.

—Sim, isso é certo, mas estive um momento sentada no carro para me tranqüilizar. Não sou uma suicida, Ty. Nunca tivesse conduzido nessas condições. Quando ocorreu o acidente, eu já tinha recuperado a serenidade. Inclusive a polícia disse que tinha sido inevitável. O outro carro era conduzido por um bêbado que se saiu da curva e me levou por diante. Morreu no ato.

Ty empalideceu e suas mãos se aferraram ao volante.

—Um homem afortunado —resmungou, e Erin compreendeu o que queria dizer.

—Assim não tem por que te sentir culpado. Quão único queria era apartar a seu irmão de mim, e o conseguiu.

—E isso se converteu em um de meus piores pesadelos —confessou ele—. Arruinei suas vidas.

Erin logo que podia acreditar o que estava ouvindo. Ty parecia angustiado, inclusive amargurado.

—E o que podia ter feito você para trocar as coisas? Eu nunca me teria casado com seu irmão. Não o amava, e ele sabia.

—Possivelmente se eu não te tivesse atacado dessa forma, ele tivesse— tido uma oportunidade.

—Não acredito —replicou Erin com firmeza.

Ty a olhou durante um instante antes de voltar sua atenção à estrada.

—Alguma vez o desejou?

—Fisicamente não. Bruce era um homem muito divertido, uma companhia muito agradável. Eu não queria ter relações esporádicas, e o fato de que tivesse dinheiro não o fez mais atrativo para mim. Eu gosto de fazer as coisas a minha maneira —apoiou a cabeça no respaldo e o olhou com atenção—. Ao menos, nunca suspeitou que fora uma cazafortunas.

Ty sorriu fracamente.

—Ao princípio tentei comprar, se recordar, mas você deu o cheque ao Bruce diante de mim. Isso me esclareceu coisas.

—E te surpreendeu, suponho.

O assentiu.

—Acreditei que tinha solucionado o problema, mas nunca cheguei a te conhecer —virou o automóvel à direita para tomar o caminho que entrava já no Staghorn, flanqueado de mimosas e árvores sem folhas—. Estava convencido de que te tinha deitado com um montão de homens. Aquela noite me levei a surpresa de minha vida.

Erin sentiu que suas bochechas se acendiam. Para ser inimigos, tinham umas lembranças muitos íntimos em comum.

—Erin, por que te rendeu ante mim? —perguntou ele de repente—. Deveu ter imaginado o que ia ocorrer.

Ela o olhou, admirada por como os músculos de seus braços se esticavam ao mover o volante pelo caminho.

—Sim—respondeu ao fim—. O suspeitava.

—E então, por que te rendeu? Seriamente estava tão confiada que não te deu conta do que queria de ti?

—Estava muito fora de mim para me dar conta —respondeu ela, evitando olhá-lo—. Nunca me havia sentido assim com um homem. Não queria que te detivera. Quando por fim me dava conta do que estava acontecendo, era muito tarde para retroceder.

—Me teria detido se me tivesse pedido isso.

—Não teria podido fazê-lo.

Ty deteve o carro frente à escada da entrada e se voltou a olhá-la.

—Sim tivesse podido. Não estive tão fora de mim a não ser até os segundos últimos.

Erin recordava aqueles últimos segundos com incrível precisão, e voltou a avermelhar.

—Você me apertava contra ti —continuou ele com voz rouca e profunda—. Me dava conta de por que seu corpo parecia me rechaçar e tive a intenção de me separar, mas você tomou pelos quadris, me cravando as unhas, e eu me perdi.

Erin tentou falar, mas não pôde, e lhe acariciou os lábios com as gemas dos dedos.

—Não soube te dar agradar —prosseguiu— Tomei, utilizei-te, e deveu me haver odiado por isso, mas não foi assim. Seus olhos eram como veludo, tão suaves que me perdi em suas profundidades. Quis tentar novo, fazê-lo bem, mas comecei a pensar no Bruce e em algumas costure que havia dito... e tive medo de confiar em ti, assim decidi ameaçar dizendo-lhe a ele e te separei de mim.

—Você... desejava-me de verdade, não? —perguntou ela com um fio de voz.

—Foi para mim quase uma obsessão. Foi tão formosa, Erin! Qualquer homem o tivesse dado tudo por te ter.

Então, possivelmente se, pensou ela. Mas já não. Não com aquelas cicatrizes, a claudicação e a falta de confiança em si mesmo.

—Esses dias aconteceram já —disse sem olhá-lo—. Já não sou a mesma.

—Seriamente? Poderia sê-lo se quisesse.

—Com todas minhas cicatrizes? —perguntou ela, apartando-se dele— Me desejou quando era formosa, e porque Bruce também me desejava. Mas agora estou entrevada e dolorida, e sente lástima —por mim. Essa é a única razão, Ty! Foi inimigo do primeiro dia que nos vimos, e inclusive então me olhava como se me odiasse.

Tinha razão. Tinha-a desejado, tinha-a necessitado com tanta força que seu ódio tinha sido uma defesa para evitar ser ferido. Tinha lutado contra ela porque a desejava muito, e no fundo de seu coração sabia que ela jamais quereria a alguém como ele. Mas não podia lhe dizer todo aquilo. Não podia lhe permitir saber quão vulnerável tinha sido.

—É certo que está entrevada —acordou brutalmente—, e dá a impressão de que você gosta de está-lo, porque não faz nenhum esforço para trocar essa situação. Suponho que prefere viver sob meu teto e comer de minhas migalhas para o resto de sua vida, não?

estava-se arriscando muito... suas palavras podiam causar um dano irreparável ao Erin, mas tinha a intuição de que teriam precisamente o efeito contrário.

E assim foi. Os olhos verdes começaram a brilhar, o rosto delicado empalideceu de fúria e Ty tomou pela boneca justo antes que o esbofeteasse, atirando dela para tomá-la entre seus braços.

—Você...

Erin se revolveu furiosa para soltar-se, até que um desses bruscos movimentos lhe causou uma tremenda dor no quadril e não pôde reprimir um gemido.

—Vê o que conseguiu? —repreendeu-a Ty, enquanto a sujeitava com uma mão e com a outra lhe dava uma suave massagem no quadril por cima de suas calças de veludo cotelê—. Te está passando?

—Deixa-o —murmurou ela—. É odioso, Tyson Radley Wade!

—Não sabia que conhecesse meu segundo nome —comentou ele.

—Vi sua ata de nascimento com o Bruce uma noite que estávamos vendo o álbum de fotos da família.

A mão dele tinha deixado de ser terapêutica e agora a acariciava brandamente.

—É estranho que recorde isso, tendo em conta o muito que me odeia —murmurou ele.

—Ty...

—Assim é como pronunciou meu nome a primeira vez que te toquei —sussurrou ele—. O disse em um gemido, igual a agora, e tudo o sangue me subiu à cabeça de repente.

—Eu não gemi —negou a jovem. A boca do Ty estava quase roçando a sua, e seus olhos se ficaram gostados muito dela como hipnotizados. Não queria que a beijasse. Era muito logo. Havia muito dor...

Mas já o estava fazendo. Ela gemeu, aproximando-se dele. Através da roupa podia sentir os músculos firmes do peito masculino e sob seus dedos, o capitalista pulsado do coração. O não lhe dava a opção de responder, embora ela tivesse sido capaz. Estava tomando-a, só tomando-a.

Por fim sua falta de resposta pareceu preocupá-lo e se separou um instante.

—O que estou fazendo mau? —perguntou com voz rouca—. Ensine-me a fazê-lo.

Incapaz de pensar, Erin lhe acariciou a bochecha e o atraiu para si para lhe mordiscar brandamente os lábios sem logo que roçá-los, acariciando-os para poder sentir sua textura.

—Assim? —murmurou ele, imitando-a.

O roce delicado de seus lábios a fez tremer, e Erin moveu o peito contra o dele para que pudesse senti-lo. Ty se estremeceu, abraçando-a com a força de um urso.

—Ty! —exclamou ela—. Não tão forte, por favor!

O a deixou separar-se, respirando com dificuldade.

—Seus seios são muito delicados —sussurrou— Não sabia. Tenho-te feito mal? —perguntou, acariciando-a com delicadeza, como se o corpo de uma mulher fosse um objeto novo e misterioso.

—Estou bem —respondeu ela, agitada.

Ty deslizou a palma da mão até alcançar os seios e Erin viu como suas pupilas se dilatavam ao tempo que ela retinha um gemido de prazer mordendo o lábio.

—Deus, como me excita!—resmungou ele— Verte assim me volta louco —expressou enquanto desenhava a forma dos seios com tanta delicadeza como se nunca houvesse meio doido desse modo a uma mulher.

Erin logo que respirava. As lembranças e a dor se apagaram. Só existia aquele momento, o silêncio do carro fechado, a respiração entrecortada do Ty, o batimento do coração de seu coração.

O a beijava por toda parte com paixão, com urgência, enquanto suas mãos desabotoavam torpemente a blusa e murmurava algo sobre como desabotoar aquele condenado sustento, até que com um gemido irrefreável conseguiu sentir a suavidade dos seios em sua palmas úmidas.

—Ty...

Sua voz soava estranha, indefesa, e Erin ocultou o rosto contra seu peito. O procurou sua boca e a beijou faminto, com uma ternura um tanto áspera, e esteve assim beijando-a e acariciando-a um bom momento antes de apartar a cabeça e olhá-la. Sua pele resultava muito escura junto à dela, e ver sua mão ali, tocando-a tão intimamente, fez-a avermelhar.

—estiveste com alguém depois de mim? —perguntou-lhe ele.

—Não —negou ela.

—Eu tampouco. OH Deus, Erin, é preciosa!

Mas o que estava ela deixando-o fazer? Onde estava seu orgulho? Ty não tinha causado o acidente, mas se a tivesse escutado, tudo pôde haver-se evitado.

Separou-se dele e com um movimento rápido se fechou a blusa.

—Suponho que não devi ter feito isso —disse ele com voz duvidosa.

—Eu não devi haver lhe permitido —admitiu isso ela.

—Será melhor que entremos —sugeriu Ty, secando o suor da frente e dando-se conta pela primeira vez de onde estavam. Menos mal que era a tarde livre do José e Conchita e que todos outros estavam ocupados no celeiro. Estirou seus músculos e os sentiu doloridos. Logo que podia acreditar que Erin lhe tivesse permitido fazer aquilo depois do que tinha ocorrido. Possivelmente ainda houvesse alguma esperança.

—Está bem? —perguntou-lhe ela.

—Dói-me um pouco —respondeu ele com sinceridade, e com uma nova emoção lhe brilhando nos olhos—. Mas não importa. Como está seu quadril?

—Eu... né... não me dei conta. E eu não gosto de ser uma inválida —acrescentou, recordando a origem daquela discussão—. Além disso, estarei encantada de fazer os exercícios se com isso te convence de que não quero viver a tua costa.

—Bem —respondeu ele, esboçando um sorriso—. Eu tampouco quero viver à tua. O que te parece se começarmos esta mesma noite? Acredito que posso aprender a desfrutar te dando massagens nesse quadril.

—Não me estiveste dando massagens, Ty.

—Ah, não? E então o que estive fazendo?

Erin saiu do carro a toda pressa. Tinha tantas vontades de afastar-se desse homem odioso que se apoiou com firmeza sobre sua perna doente pela primeira vez da operação.

 

Aquela foi a primeira noite que Ty não se encerrou a trabalhar nos livros ao terminar de jantar. Tinha bem equipado seu estudo, incluindo um computador onde armazenava toda a informação do rancho. Conforme soube Erin depois, tratava-se de um terminal conectado a um computador central, da que dependiam outras dois terminais: um no escritório do rancho, e outra situada em um escritório que compartilhava com vários criadores de gado com os que tinha criado uma sociedade. Andava metido em muitas coisas, o que lhe garantia bons ganhos.

—Tenho que trabalhar muitas horas se quero manter tudo ao dia —explicou ao Erin enquanto se dirigiam ao salão para tomar o café depois de jantar—. Tenho alguns contadores, mas eu não gosto de confiar meus livros por completo a ninguém. Vi cair muitos negócios pelo simples feito de que seu proprietário não quis que o incomodem com papéis, ou porque sua —gente teve que imaginar o que de verdade queria que fizesse.

—Não confia em ninguém, verdade? —perguntou-lhe ela enquanto se acomodava em uma poltrona frente ao sofá, evitando olhar para a chaminé. Aquele era o lugar onde Ty a tinha seduzido, e as lembranças eram inquietantes.

—Bom, não sei... Acredito que estou aprendendo a confiar um pouco em ti.

—Não é que tenha mais opções, tendo em conta o testamento do Bruce. Imagino que estaria bastante molesto quando se inteirou.

—o do Ward Jessup e eu tem já muita história— Certamente, não dava saltos de alegria ao imaginar os poços petroleiros florescendo entre meu puro sangue.

—Suponho que não, mas, como soube que eu não decidiria ficar na cidade com tal de que isso passasse?

—Não soube —confessou ele. Acendeu um cigarro e se recostou no sofá, e os firmes músculos de seu torso se desenharam por debaixo da camisa. Estava perfeitamente penteado e recém barbeado. Sua aparência era sempre pulcra, até trabalhando com os animais, e apesar de não ser bonito, era o homem mais masculino que Erin tivesse conhecido.

—A verdade é que em um princípio não pensava vir —confessou ela com um tímido sorriso— Mas depois me dava conta de que muita gente ficaria sem trabalho por meu estúpido orgulho.

—Uma liberal de coração brando —brincou ele—. Crie que não tivesse merecido a pena lombriga de joelhos depois do que te fiz?

Erin o olhou aos olhos e sentiu a eletricidade que nunca se extinguiu por completo entre eles.

—Do único que verdadeiramente poderia te culpar é de emprestar atenção às mentiras do Bruce e de não me escutar a mim.

—Isso crie? —perguntou ele, enquanto se servia um brandy. Erin se precaveu de que não lhe tinha devotado a ela. Ty recordava que ela não bebia. Era um homem que esquecia poucas coisas.

—De todas formas, isso já é passado.

—E crie que é tão fácil para mim? —inquiriu, voltando-se para olhá-la fixamente.

—Não compreendo...

—Levava a meu filho em seu interior —lhe recordou ele, em um tom de voz que lhe chegou à alma—. Não pode imaginar como me senti quando li essa carta e me inteirei do que tinha causado.

Erin ficou sem respiração. Era como se uma força estranha que surgia do fundo de seus olhos cinzas a atraíra para suas profundidades; possivelmente era a força dessa estranha vulnerabilidade. Ty lhe tinha parecido sempre um homem incapaz de emocionar-se e entretanto, durante um momento, um instante quase eterno, sua expressão tinha contido tanto dor, tanta perda, que agora ela se sentia incapaz de — mover-se, de falar, inclusive de pensar.

Ty deixou de olhar sua taça de brandy e dirigiu sua vista para a chaminé. Frente a ele havia um quadro com uma cena do Texas que alguém de sua família tinha pintado para quase um século. Era o retrato de uma granja de gado antiga, durante uma tormenta, com um moinho de vento ao fundo.

—Erin... Eu não planejei o que aconteceu aquela noite. Sei que te disse o contrário, mas não era a verdade.

Ela brincava nervosa com o tecido de sua saia quando levantou os olhos para ele. Nunca lhe tinha falado daquela forma, e esperou em silêncio que continuasse.

—Pensei que se te picava, conseguiria te tirar de gonzo e que você terminaria por querer me dar uma bofetada, e assim, quando o fez, encontrei a desculpa que necessitava para te tocar. Isso era o que queria. Estava obcecado contigo. Sua imagem me perseguia em sonhos, e imaginava como seria lhe tocar —se encolheu de ombros e continuou— Quando me beijou, perdi a cabeça, e quase não recordo, como ocorreu. Nem sequer pensei em tomar precauções. Supus que você já o estaria fazendo, já que se supunha que foi uma mulher com experiência.

Aquela confissão a tinha fascinada. Não podia deixar de recordar suas pernas musculosas, seus quadris estreitos...

—Acreditei que o que pretendia era me apartar da vida do Bruce.

—Menti-te. Bruce era a última pessoa em que eu pensava nesse momento.

A jovem começava a sentir-se como um animal apanhado. O estava voltando a tentar dominá-la, possui-la.

—Entretanto, deixou-me partir —recordou ela em voz baixa.

—Tive que fazê-lo, maldita seja! —gritou ele—. Foi dela, e eu o traí. Não poderia viver com essa carga, assim tive que te jogar daqui antes que...

—Antes o que, homem de gelo? Antes que voltasse a perder a cabeça? Tão difícil é admitir que és humano e que pode sentir desejo?

—Sim! —trovejou ele, lançando ao tempo sua taça contra a chaminé.

Erin saltou em seu assento, mas ele nem se alterou, mas sim se limitou a acender um cigarro enquanto ela o observava com certo nervosismo.

—A idéia que meu pai tinha do matrimônio estava por completo distorcida. Via-o como um simples intercâmbio comercial. Sempre me dizia que o sexo era uma debilidade que qualquer homem com guelra devia ser capaz de superar —Ty tinha estado passeando inquieto pela habitação, e naquele momento se deteve frente a ela— Erin, a primeira vez que estive com uma mulher, tinha vinte e um anos e demorei semanas em me sobrepor ao sentido de culpabilidade. Tinha-me rendido ante um desejo que não podia ocultar, e me amaldiçoava por isso. Possivelmente também amaldiçoasse a meu pai por me impor seus próprios princípios. Nem sequer minha mãe tinha podido viver com ele. Ela era normal; uma mulher cálida e carinhosa. Ao final, meu pai nem sequer podia tocá-la.

Ty voltou a cravar os olhos na chaminé e Erin permaneceu imóvel e silenciosa, tentando assimilar aquelas confissões tão íntimas que ele acabava de lhe fazer e que certamente não tinha compartilhado com nenhuma outra pessoa.

—Cada dia me pareço mais a ele —continuou Ty com voz ausente e sem apartar os olhos das chamas—. Não posso trocar. Os muros funcionam de duas maneiras: evitam que a gente entre... mas também evitam que saia.

Erin sentiu como seus próprios problemas pareciam perder importância ao compreender o que Ty acabava de dizer.

—Está sozinho —comentou em voz baixa.

O se deu a volta para olhá-la, e pela primeira vez sua expressão não escondia nada. Pareceu de repente mais velho e cansado, e havia dor em cada uma das linhas de sua cara.

—Carinho, estive sozinho toda minha vida —respondeu com voz profunda e serena—. Minha educação e meu aspecto foram sempre um obstáculo para minha relação com as mulheres.

—Seu aspecto?

—Não dissimule. Sei que não sou uma maravilha.

—Se de verdade pensar que o aspecto é tão importante, o que não é nenhuma maravilha é sua cabeça. Nunca conheci a alguém tão homem como você. Ty abriu muito os olhos como se aquilo o surpreendesse.

—Fiz-te mal... —disse, esquecendo pela primeira vez o cigarro.

—Era virgem —lhe recordou ela brandamente—. Às vezes é difícil para as mulheres a primeira vez. Não teria podido evitá-lo.

—Não é adulação. Eu não gosto do suficiente para te adular.

Ty se pôs-se a rir.

—Incitando ao inimigo, então?

Ela se encolheu de ombros.

—Dá a casualidade de que o inimigo me há devolvido à vida, assim acredito que te devo um par de elogios ou três.

—Não vais pensar o mesmo quando começarmos a trabalhar com seu quadril. Comparados comigo, os sargentos de instrução parecerão meros soldaditos de chumbo.

—Foi marinhe no exército, verdade? Pois não te faça ilusões, querido. Não vais poder comigo.

Ao Ty gostava dessa atitude de luta. Sempre lhe tinha gostado, mas a mulher que encontrou nesse apartamento de Nova Iorque carecia por completo dela. Por fim tinha conseguido liberar a daquela autocompasión e apatia.

—Está preciosa assim —comentou, reparando na cor de suas bochechas, a profundidade de seus olhos cor esmeralda e a provocadora desordem de seu cabelo—. Com cicatrizes e tudo. dentro de pouco, não saberá nem onde estavam.

—Meu quadril não voltará a ser a mesma se não me fizerem um enxerto —murmurou ela, de volta à dolorosa realidade—. E a verdade é que não quero pensar em mais cirurgias.

—Quando um homem te tenha despido, as cicatrizes de seu quadril serão o último que lhe ocorra olhar.

Erin tinha esquecido que ele a havia visto nua frente a aquela chaminé, e lhe acenderam as bochechas.

—Sim, já vejo que você também te lembra —continuou ele e sua voz soou terrivelmente sensual—. Eu estava aqui, e estive te olhando até que me embriaguei com sua visão. Depois me deixou te tombar no chão.

—Era novo para mim —respondeu ela à defensiva, apartando o olhar.

—Foi um autêntico paraíso, ou o mais perto que esperei estar dali em toda minha vida. Se não tivesse sido pelo Bruce... OH, Deus, nunca o perdoarei!

Eram palavras amargas, mas de uma vez cheias de angústia pela perdida, e sem pensá-lo, Erin ficou de pé e se aproximou dele. Era tão alto que ela tinha que elevar a cabeça para lhe ver o rosto, e o calor e a força de seu corpo a atraíam para ele como um ímã. Tinha sido tão maravilhosa aquela tarde entre seus braços...

—Já não importa —disse ela—. Está morto; deixa-o descansar em paz, Teve tão pouca paz em sua vida, Ty...

—E quanta crie que tive eu? É algo que me corrói por dentro!

Ela o agarrou pelos braços e o sacudiu.

            —O carro veio para mim ao sair-se de uma curva —insistiu—. Ninguém tivesse podido evitá-lo!

O a olhou em silencio durante uns instantes.

—É certo isso?

—claro que sim, além disso ocorreu a uns minutos de minha casa, Ty. Pude ter estado de caminho ao trabalho, a uma entrevista ou a algo. Você não foi o culpado.

—Seriamente? —Ty tomou ar e pareceu dar-se conta pela primeira vez de suas mãos— Teria tido ao menino?

—É obvio —respondeu ela sem vacilar.

—Alguém tivesse terminado por dizer me sussurrou isso ele, acariciando a cicatriz de sua bochecha— Teria ido te buscar para me casar contigo.

—E que classe de vida tivesse sido essa? Nunca tivesse aceito meu trabalho, e possivelmente tampouco minha forma de ser. Nunca quiseste uma mariposa—, você mesmo o disse. E trabalhar como modelo era toda minha vida. Eu gostava das luzes, a gente, luzir roupa bonita... —o sorriso que tinha animado seu rosto se desvaneceu ao recordar o acidente— O perdi tudo. Não posso voltar para isso. Posso aprender outra classe de trabalho, mas nada poderá substitui-lo.

"Exceto você", pensou, mas não se atreveu a dizê-lo. Não podia rebaixar seu orgulho até esse ponto e lhe dizer que ser amada por ele seria uma recompensa mais que suficiente pela carreira que tinha perdido.

Voltou-se para o sofá e se cambaleou um pouco.

—Maldita seja esta perna!

—Sim você não gosta, lhe poderia arrumar isso Faz os exercícios corno te indicou o médico. Se quer voltar a ter sua carreira, ganha a

Erin não podia saber que suas palavras lhe tinham feito muito machuco ao Ty, porque significavam que não lhe importava no mais mínimo. Sabia que o merecia, mas mesmo assim a dor era muito intensa.

—Está bem —respondeu ela, desafiante— O farei.

—Bem —assentiu ele, sorridente—. Agora vá pôr te algo com o que possa fazer exercícios e eu te ajudarei. Tomaremos o café mais tarde.

A primeira sessão foi mais dolorosa do que ela imaginou. Fez os exercícios tal e como estavam descritos nos esquemas que lhe tinha dado o médico, e sob as ameaças do Ty, quem lhe pedia mais do que ela se acreditava capaz.

—Vamos, Erin! Não me diga que não pode empurrar com mais força.

—Não posso! Não sou um homem!

Ty olhou fixamente os seios que se desenhavam sob a roupa de ginástica e sorriu.

—Brindaremos por isso.

—Quer fazer o favor de deixar de me olhar assim?

—Pois a próxima vez te ponha sustento —replicou ele enquanto ela seguia fazendo os exercícios tombada no tapete— Não posso evitar que uns mamilos assim me distraiam.

—Tyson! —exclamou ela, incorporando-se de repente.

—por que fica tão vermelha, carinho? —perguntou ele com ar inocente—. Ou é que não recorda que fez o amor comigo neste mesmo tapete?

—É odioso! —espetou-lhe ela, com os olhos jogando faíscas. O traje esportivo enfatizava sua magreza, mas também se atia a um corpo tão delicioso que os fabricantes de lingerie o tinham disputado para conseguir seus serviços como modelo.

—Não me odeia , o que odeia é o sexo, e isso é minha culpa. Mas um destes dias, possivelmente te faça trocar de opinião.

—Tenta-o se te atreve —o desafiou.

—Está-me provocando, Erin? —perguntou ele e um brilho prateado iluminou seus olhos.

Ela começou a tremer de pés a cabeça. Doía-lhe o quadril, e se sentia de uma vez médio atordoada. Queria apagar aquele sorriso tão arrogante do varonil rosto. Queria fazê-lo vulnerável e ver cair seus muros ante ela.

—Pode que sim —respondeu, arqueando ligeiramente as costas e elevando os seios—. E o que pensa fazer você, cowboy?

Ty estava fumando um cigarro, que naquele momento apagou com deliberada lentidão no cinzeiro.

—Espero que seu quadril suporte um pouco de exercício adicional... —em um abrir e fechar de olhos, estava sentado sobre suas coxas— Muita bem, carinho, o que te parece que façamos agora? Era isto o que tinha pensado? —Perguntou, deslizando uma mão até cobrir com ela um de seus seios.

Erin sentiu que o ar se congelava em seus pulmões. Havia um montão de coisas que estava começando a compreender. A forma em que ele se comportou no carro, faminto mas sem experiência, e o modo em que a acariciava agora, abertamente e sem preliminares, confirmou-lhe que sabia menos ainda sobre mulheres do que tinha confessado. Muito bem, pois aquele jogo o foram jogar os dois. Bom, não é que ela soubesse muito, mas tinha ouvido falar com as de seu gênero.

—Assim não —sussurrou, lhe levantando a mão— Assim...

Erin lhe ensinou como devia acariciá-la até que seu corpo tremeu de necessidade.

—Você gosta assim? —perguntou ele.

—Sim... —sussurrou ela agitadamente—. Excita-me.

Ty logo que podia acreditar que ela queria lhe ensinar o que gostava, que não se queixasse de sua falta de fineza ou que não se riera dele. Ao mesmo tempo se perguntava se Bruce lhe haveria miúdo. Não parecia a classe de mulher que ri da inexperiência, ao menos nesse momento.

—Que mais quer que faça?

Era como estar bebendo vinho. Erin se sentia ébria dele. Esqueceu-se de seu quadril e de todo o resto. Era uma mulher seduzindo a um homem, uma sereia caçando a um pescador com a vertigem de seu próprio poder.

Levou-se as mãos aos suspensórios e, olhando-o aos olhos, deixou seu torso ao nu.

—OH, Deus, que formosa é... —sussurrou ele—. O que quer que faça? —perguntou-lhe quando ela o aproximou brandamente para seu corpo.

—Quero que ponha seus lábios... aqui —indicou roçando-os mamilos.

Ty ficou sem respiração.

—Em seus peitos? Não te farei mal?

—OH, não... —assegurou-lhe ela—. Não me fará mal.

Ty passou as mãos por suas costas nua e quando a roçou com sua boca, Erin começou a tremer como uma folha de árvore durante uma tormenta. Aquela reação infundiu ânimo no Ty, quem explorou os seios com os lábios, acompanhado pelos gemidos dela. Saber que estava fazendo-a sentir tanto prazer o agradava enormemente, e deixou vagar suas mãos pelas delicadas costas, pela cintura, enquanto sua boca seguia gostada muito da inesperada doçura dos seios.

Quando ao fim levantou a cabeça, a expressão do Erin o maravilhou. Tinha os olhos entreabridos, os lábios entreabiertos, as bochechas avermelhadas...

—Quer te tirar a camisa? —perguntou-lhe ela com voz entrecortada.

A verdade era que ele quase não podia. As mãos lhe tremiam incontrolablemente. Jamais tinha estado tão excitado como nesse momento, nem sequer quando fizeram o amor. Quando ao fim se despojou da camisa, sentiu uma pontada de orgulho ao vê-la percorrer seu corpo com aberta admiração nos olhos. Ela levou as mãos até o peito bronzeado, e o coração dele pulsou desenfreado.

Erin se incorporo para ajoelhar-se frente a ele, e cravando ligeiramente as unhas nas amplas costas, apoiou-se contra ele, deixando que seus peitos roçassem o maravilhoso torso masculino.

—Erin... —gemeu ele.

—OH, Ty...

O tomou com força entre seus braços e a beijou com paixão transbordada. Ao Erin gostava de sentir o pêlo do peito masculino contra o seu, e o ritmo de seus corações parecia o mesmo... até que um ruído na porta principal os devolveu violentamente à realidade.

Ty lançou uma maldição antes de ajudá-la a arrumar o traje e estava ainda abotoando-a camisa quando uns passos soaram pelo corredor. Erin olhou para a porta... e se deu conta de que tinham esquecido fechá-la.

—Antes que você viesse, eu estava acostumado a ser um homem muito judicioso —murmurei Ty—. meu Deus, com a porta totalmente aberto! Erin, foi maravilho-so...

—Bom, como você me está ajudando a voltar a caminhar, pensei que o menos que podia fazer era te entreter um pouco.

—Não dissimule, que isto teve pouco de entretenimento —respondeu ele, enquanto a ajudava a ficar de pé, mas em lugar de deixá-la partir, deteve-a frente a ele—. Erin, temos que fazer algo —disse com ar solene—. Quando estou contigo perco o controle, e agora mais que nunca, não quero... não quero te deixar grávida por acidente.

Esse pensamento parecia torturá-lo.

—Sinto-o —respondeu Erin— Não voltarei a fazê-lo. Não sei o que me passou, Ty. ..

—Não —a interrompeu ele, roçando seus lábios com um dedo— Não te desculpe. Conseguiu que voltasse a me sentir como um homem, como um homem completo. .. —Ty pareceu duvidar um instante—. Te desejo —sussurrou, como se fora um terrível secreto.

—Sei —respondeu ela com um suspiro. Pôde lhe haver dito o mesmo, mas tinha medo de lhe conferir essa classe de poder sobre ela. Quando José entrou na habitação, Ty a sujeitava com força dos braços.

—Senhor, é o capataz. Um cão selvagem matou um bezerro. Diz que é o mesmo cão de outras vezes; esse do senhor Jessup.

—Maldita seja —murmurou Ty, e como por arte de magia se transformo de novo no dono do rancho: frio, implacável, indômito... e um estranho—. Tomada meu rifle e me traga uma caixa de munições —ordenou ao José—. E lhe diga ao Grandy que me espere. Depois chama o Ed Johnson e lhe explique o que está passando. Possivelmente tenha que me enfrentar a uma denúncia.

—Sim, senhor —respondeu José, saindo da habitação.

—É o cão do Ward Jessup? —perguntou Erin, enquanto e saca seu armário a jaqueta de couro e ficava o velho Stetson que sempre levava para trabalhar.

—Sim. É um cão metade pastor metade lobo. Já adverti a seu dono várias vezes sobre o animal, e me há dito que não pensa encerrá-lo, mas este é o último bezerro que perco por sua causa.

—E se te denuncia?

—Que o faça. Eu gosto das boas brigas —e enquanto se grampeava a jaqueta, acrescentou—: Descansa bem esta noite. Amanhã você e eu temos que falar —e aproximando-se dela para lhe acariciar o rosto, anunciou—: Talvez volte tarde. Não me espere acordada.

inclinou-se para ela e a beijou na boca com uma nova ternura. Erin sorriu e lhe mordeu brandamente um lábio. Ty se retirou franzindo o cenho.

—Como sabe tanto da arte de beijar?

—Porque até que apareceu você, isso era tudo o que fazia com os meninos. Tome cuidado, né?

—Acaso está preocupada com o inimigo? —perguntou ele, zombador.

—Com quem discutiria se te ocorresse algo?

—Erin.. . —começou a dizer ele, lhe acariciando os lábios com gentileza—. Não. Não posso falar agora. Boa noite.

Deu meia volta e sem olhar para trás, tomou o rifle e as munições. Para ouvir fechá-la porta, Erin sentiu um calafrio. O que era o que tinha estado a ponto de lhe dizer?

 

As lembranças atormentavam aquela noite ao Erin. Não podia deixar de pensar no Bruce e no Ty e em tudo o que tinha passado. Especialmente ia a sua mente a lembrança de uma manhã fria em que Bruce e ela tinham decidido dar um passeio a cavalo.

Ty estava trabalhando com um de seus potros e se deteve só para lhe indicar a irmão que cavalo devia selar para o Erin.

Bruce o olhou desafiante.

—Sei perfeitamente como escolher um cavalo —espetou— Não vou deixar que se faça mal. Ao fim e ao cabo, Erin é minha garota, não a tua.

Ty se tinha ficado mudo, mas seus olhos ao olhar ao Erin brilharam famintos, possessivos. Até com o véu da lembrança, a intensidade daquele olhar ainda a fazia estremecer-se. Até aquele momento, Ty tinha sido abertamente hostil para ela, incomodando-a sempre que podia, burlando-se dela. Mas essa fria manhã, seus olhos revelaram algo excitante e atrativo. ficaram assim, olhando-se, até que Erin pensou que seu coração não ia poder resisti-lo. Se Bruce não tivesse eleito aquele momento para reaparecer com suas arreios, teria podido ocorrer algo.

Durante o passeio, ela não pôde esquecer aqueles instantes, e quando retornaram ao rancho, um dos moços reclamou a atenção do Bruce.

Ela tinha divisado ao Ty ao longe, de pé junto ao cercado, e por uma estranha razão que ainda agora não alcançava a compreender, correu para ele.

Inclusive agora podia ver nitidamente a expressão do rosto varonil, sempre duro e impenetrável: a surpresa mesclando-se com o prazer de vê-la correr para ele, com o cabelo lhe ondeando nas costas e os olhos brilhantes. Os dois se sentaram na parte mais baixa da perto do curral e lhe falou com deleite do passeio, do rancho e do muito que estava desfrutando daquela visita.

E para sua surpresa, ele não se mostrou sarcástico nem áspero, mas sim se limitou a acender um cigarro e a responder todas suas curiosas perguntas; inclusive pareceu desfrutar com aquilo, apesar de que aparecia certa avidez em seu olhar. Entre aquela manhã e a noite junto à chaminé não transcorreu muito tempo. Ainda podia sentir o comichão da palma de sua mão ao esbofeteá-lo, a surpresa dele e o puxão que tinha dado dela para tomá-la em seus braços. O contato com seu corpo, musculoso e firme, evaporou todos os argumentos e a paixão entre eles se desatou com uma força devastadora.

—Ao fim —tinha sussurrado ele com voz rouca— OH Deus, por fim...

Todo o resto ficou esquecido quando a magia de seus lábios fez efeito. Durante muito tempo, ela se tinha proibido a si mesmo recordar aquela noite, mas agora desejava fazê-lo. Voltou a saborear o suspiro do Ty quando ela, em lugar de rechaçá-lo, abraçou-o contra si. O carecia de experiência com as mulheres, mas mesmo assim, cada movimento tinha sido espontâneo. Sentir sua pele, seu calor, sua força... ela tinha desejado senti-lo tudo, sem dar-se conta do que isso significava para um homem. Sua experiência era ainda menor que a dele, assim que o seguinte foi inevitável, tão inevitável como... como o acidente.

Erin se levou as mãos ao ventre enquanto as lágrimas lhe umedeciam as Bochechas. O pior de tudo tinha sido perder ao menino. O mundo lhe tinha desfeito entre as mãos quando Ty se negou a escutá-la. O acidente, o aborto, as operações... um pesadelo.

E agora, a causa precisamente de um novo horror, estava outra vez ali, perto do Ty, começando uma relação que a assustava. Sentiria ele lástima?

Quais eram seus próprios pensamentos? Em um princípio desejou vingar-se dele, para depois cair em uma amarga apatia, Agora estava começando a viver de novo... e tudo por causa do Ty. revolveu-se inquieta na cama. Cada vez que ele a tocava, toda sua determinação se desvanecia. O devia haver-se dado conta já, mas também parecia duvidar.

A influência de seu pai tinha sido decisiva na formação de sua personalidade. Suas idéias sobre o matrimônio e a intimidade estavam distorcidas, e escondia em seu interior uma parte que ela não tinha descoberto. Possivelmente o tinha feito isso, e talvez ninguém o faria nunca.

Erin se incorporou na cama. Se ele só a desejava porque se sentia culpado ou responsável pelo ocorrido, ela teria que tentar rechaçá-lo, já que uma vez que se recuperasse, a culpa do Ty se desvaneceria e com ela o desejo. Quando ela era modelo, ele não parecia sentir atração alguma, a não ser justamente o contrário, e agora que estava cheia de cicatrizes e médio entrevada, parecia atrai-lo muito mais. por que?, perguntava-se. Também havia algo mais, e era o desejo de manter afastado ao Ward Jessup. O melhor seria não aproximar-se muito a ele em nenhum sentido. O som de uma porta de automóvel ao fechar-se rompeu o silêncio, e a jovem conteve a respiração para escutar. Tinha posto uma camisola curta aberta pelo lado das cicatrizes, e não poderia suportar que Ty o visse embora não acreditava que lhe ocorresse entrar.

Justo nesse momento, uns passos se aproximaram por volta de sua habitação e de repente a porta se abriu de par em par.

—meu deus —murmurou Ty enquanto se tirava as luvas e se aproximava da cama—. E eu que acreditava que só podiam ver-se miragens no deserto.

—É mais um pesadelo que uma miragem —respondeu ela, cobrindo-se com os lençóis— A cicatriz me incomoda de vez em quando, e por isso tenho que usar a camisola aberta. Não faz muito que me tiraram os pontos, e além disso, a meu quadril não parece lhe gostar do exercício.

—E você gosta de estar vestida com camisolas transparentes? —brincou ele—, Se eu estivesse em seu lugar, teria um largo bate-papo com ela, já que vais seguir fazendo exercícios todos os dias, e seria melhor que a convencesse para que deixe de protestar.

Aquele não parecia o Ty que ela conheceu meses atrás. Seu humor era divertido, e não zombador ou sarcástico, e inclusive parecia estar fazendo um esforço por aproximar-se dela.

—Pôde apanhar ao cão? —perguntou Erin.

—Não. Esse condenado animal se escondeu no bosque, mas vou fazer que Jessup me pague esse bezerro.

Ty se aproximou mais à cama. desabotoou-se a jaqueta de couro, e o chapéu inclinado lhe dava um ar arrogante.

—Algo te anda rondando pela cabeça? —desafiou-o Erin.

—Sim, e você sabe perfeitamente o que é, verdade? —respondeu ele, golpeando-a palma da mão com as luvas enquanto deslizava os olhos com deliberada lentidão por cima dos lençóis—. por que fez isso?

—Fazer o que?

—te esconder sob os lençóis assim que entrei. Não há nada que eu não tenha visto já.

Erin apartou o olhar.

—Possivelmente, mas não o viu tal e como está agora, e não vou permitir que o faça.

—Isso está por ver-se —disse ele, e em um abrir e fechar de olhos atirou do lençol.

—Não! —gritou ela, mas ele a sujeitou com firmeza, sentando-se ao bordo da cama para subir a camisola até a cintura, deixando ao descoberto a cicatriz.

Não era uma visão agradável. As operações lhe deixaram cicatrizes profundas que só poderiam dissimular-se com um enxerto, mas isso não lhe incomodava. O que lhe chateava era a atitude dela para essas cicatrizes.

Erin fechou os olhos. Não queria ver a expressão do Ty.

—Já está contente?

—Ainda não —respondeu ele, inclinando-se para beijar delicadamente a cicatriz.

—Ty, não o faça! —protestou ela, empurrando-o.

O levantou a cabeça e sorriu; mas foi um sorriso zombador que não suavizou no mais mínimo seus rasgos.

—Está assustada ou o que? Já te vi e não me dá asco, nem me é repulsiva, nem nada pelo estilo. Alguma pergunta mais?

Erin se apoiou nos travesseiros e o olhou.

—É horrível —murmurou— eu não posso olhá-la.     

—Então tem menos valor do que eu pensava, carinho. vivi em um rancho toda minha vida e vi coisas que lhe poriam os cabelos de ponta. Umas quantas cicatrizes são pouca coisa.

—Mas não para mim!

—A julgar pelo estado no que te encontrei em Nova Iorque, já vejo que não —conveio ele, passando os dedos pela cicatriz mais recente. Erin o viu ficar pálido e apertar os dentes, como se estivesse recordando coisas que não queria recordar— Esteve muito tempo no hospital? —indagou Ty.

—Depois do acidente, sim —confessou—. Ty...

—Deveu ser muito doloroso —disse ele entre dentes, olhando as cicatrizes—. E sem ninguém que te cuidasse ou se ocupasse de ti. Meu deus!

Levantou-se furioso da cama, afundou as mãos nos bolsos e se voltou. Erin estava começando a compreendê-lo. Não era que ele não tivesse sentimentos, mas sim os tinha oculto durante muito tempo. Ela recordava o que lhe havia dito sobre suas dificuldades com as mulheres, e supôs que alguém devia haver-se burlado dele por seu rude aspecto.

Quase sem dar-se conta, Erin se levantou da cama e se aproximou dele. Falar não ia servir de nada, assim que ficou em frente e, lhe abrindo a jaqueta, apertou-se contra seu corpo. Ty a sujeitou pelos ombros como se queria apartá-la, mas tê-la ali tão perto, embriagando do aroma de seu corpo foi muito e não pôde fazê-lo, mas sim a deixou aproximar-se e abraçá-lo, apoiando a bochecha contra sua cabeça com um fundo suspiro.

—Assim depois de todo és humano —sussurrou ela— O que passa é que lhe guarda isso tudo e não deixa que ninguém o veja, mas as coisas lhe doem tanto como a mim. Já sei que se sente mau pelo que ocorreu, Ty, e eu já deixei que te odiar por isso. Não sei se isso possa te aliviar.

—Seus olhos chegam muito longe —disse ele, lhe acariciando o cabelo.

—É como me olhar em um espelho. Durante toda minha vida eu também escondi meus sentimentos para que ninguém pudesse ver as feridas. Meu pai morreu e minha mãe começou a sair com um homem detrás de outro, e outros meninos me atormentavam com isso. O que passava era que seus próprios pais se rendiam ante ela. Teve relações ao menos com dois deles.

—Deveu ser muito duro para ti —7dedujo ele, abraçando-a com mais força.

—Um inferno. Não esqueça que cresci perto de Dallas, e não era mais que uma garota de povo quando comecei a trabalhar como modelo. A gente das cidades pequenas são o sal da terra, mas têm idéias antiquadas sobre a moralidade e condenam a quem passa por cima suas regras. Suponho que essa é a razão de que nunca queria saber nada dos homens.

—Ao menos, até que apareci eu —recalcou Ty—. Suponho que teve muitos remorsos de consciência depois.

—Assim é.

—Eu também tive algum que outro problema com a minha. As mulheres que eu havia... com as que eu tinha estado antes não eram vírgens.

—Não te parece muito estranho que tenha ficado grávida a primeira vez?

—diz-se que isso é o que acontece com as garotas boas, Sinto-o muitíssimo carinho —acrescentou—. Lamento não te haver escutado, e não ter ido detrás de ti. Tentei-o, mas então Bruce apareceu me contando aquele montão de mentiras...

Erin levantou a cabeça para olhá-lo aos olhos.

—Nunca lhe falei de nós —negou—. E nunca te acusei de... de me manusear.

—E eu devi havê-lo imaginado, verdade? Ao menos depois de hoje.

—depois de hoje? —replicou ela, sem compreender.

—Se fosse a classe de mulher que ri de um homem, teria-o feito hoje, mas não foi assim. Em lugar de rir de mim, tirou-me da mão e me mostrou como te acariciar.

Erin avermelhou e voltou a esconder a cara em seu peito.

—Os homens não nascem sabendo como excitar a uma mulher —confessou ele sonriendo— Temos que aprender. eu adorei que me ensinasse o que você gosta. Isso nunca me tinha passado antes.

—Alguma vez?

—Nunca. Bruce também contou a ti uma boa fileira de mentiras. Ou é que não te deste conta ainda?

—Refere a sua sórdida reputação e o harém que tem escondido nos estábulos?

—Mais ou menos. Não sou virgem, mas tampouco fui um vividor. Aos homens como eu não lhes resulta tão fácil conseguir garota.

—A que te refere com isso dos homens como você? O que tem de mau?

Ty inclinou ligeiramente, a cabeça para responder.

—Que sou um bruto.

—Também é sexy.

—Eu? —perguntou ele arqueando as sobrancelhas.

—E arrogante, impaciente, resmungão...

—Podia havê-lo deixado em sexy!

—Impossível. Voltaria-te um presumido.

 

—Dói-te o quadril? —indagou ao ver que ela se movia inquieta.

—Incomoda-me um pouco —e sonriendo com malícia, acrescentou—: Serei você melhor amiga se não me obrigar a fazer esses exercícios.

—Não há trato. Vais voltar a caminhar sem muleta, embora tenha que me converter em seu pior inimigo. Vamos—disse, e sem prévio aviso a levantou nos braços para levá-la até a cama.

Erin se deixou levar, rodeando-o pelo pescoço com os braços.

—É muito forte —murmurou.

—Não sou dos que se sintam detrás de uma mesa a contar seu dinheiro. Suei muito para conseguir o que tenho —respondeu ele, e ao deixá-la sobre a ama, seus olhos escorregaram ambiciosos por todo o corpo dela, acariciando-o com o olhar.

Erin não tentou cobrir-se, mas sim o deixou olhar, desfrutando de do prazer que viu brilhar em seus olhos.

—Alguma vez permitiu que um homem te olhasse assim? —perguntou-lhe ele com voz rouca.

—Não.

—Bruce quis fazê-lo, verdade? te olhar e muitas coisas mais.

—Nunca o conseguiu —respondeu Erin, sem apartar os olhos dos seus—. Foi meu amigo até que começou a querer mais do que eu podia lhe dar. Não tinha idéia de que estava obcecado casando-se comigo até o dia que me parti daqui. Bruce não fazia mais que destrambelhar como um louco sobre a forma em que você me olhava. Eu tentei lhe dizer que nem sequer você gostava, mas ele não me escutou. Sinto muito, Ty. Não tivesse criado todos esses problemas entre vocês dois por nada do mundo.

—Bruce e eu nunca fomos unidos. Educaram-nos por separado e ele era seis anos mais jovem que eu. Sempre tentava competir comigo; ansiava ter o carro mais rápido, a roupa mais cara e a melhor casa —se encolheu de ombros— Eu nunca me preocupei por essas coisas. É certo que tenho dinheiro, mas me arrumaria isso perfeitamente se não o tivesse. Prefiro ter um bom cavalo e um dia de trabalho por diante em lugar de me aparecer em algum dos restaurantes de moda a representar o papel de rico fazendeiro.

—Acredito que isso é o que mais eu gostei de ti, inclusive ao princípio. Você não é um esnobe, como Bruce o era.

—O se —disse ele em voz baixa.

—por que se empenhou Bruce em armar toda essa confusão? Se sabia que eu você não gostava, por que inventar essa fileira de mentiras?

—Porque ele pressentia que havia algo sob toda essa aparência de indiferença. Sabia que te desejava.

O coração do Erin lhe subiu à garganta.

—Eu não soube até essa noite —confessou, desviando o olhar—. Sinto te haver desiludido. Não sabia como fazê-lo.

—Não me desiludiu —negou ele, cortante— Foi tudo por culpa das mentiras do Bruce.

—De verdade? —perguntou ela, surpreendida por essa reação tão veemente.

—Foi você a que em realidade se desiludiu. Quão único tirou foi dor e um menino que perdeu por meu mau caráter.

—O do menino foi um acidente —argüiu a jovem, mas o sentia de verdade. O sentimento de culpa do Ty tinha apagado toda sua amargura—. Não pode seguir te culpando toda a vida.

—Você crie? —Algum dia te casará e terá outros filhos.

Ty tirou um cigarro do pacote e o acendeu.

—Sim, claro; sempre poderia pôr um anúncio: Homem rico e feio procura mulher casadera.

—Ty, por que diz...

—Já te hei dito que sou realista. Jamais uma mulher vai apaixonar se por mim, a não ser por meu dinheiro, assim, por que não pôr as cartas sobre a mesa desde o começo?

—Muito bem. Já que está decidido a te derrubar em autocompasión, vou unir me a ti —disse ela, irada— Já não sou virgem, estou cheia de cicatrizes e aleijada, assim agora que minha economia melhorou poderia pôr um anúncio igual ao teu.

O cigarro do Ty ficou a meio caminho para seus lábios.

—Essas cicatrizes não importarão a nenhum homem que seriamente te queira.

—E meu passado? E minha claudicação? —perguntou ela. A camisola tinha escorregado de um de seus ombros, mas estava muito zangada corno para dar-se conta.

Mas Ty se o notou.

—E esses preciosos seios são teus? —murmurou.

—Ty! —exclamou ela, desconcertada ante a expressão de seu rosto.

—São deliciosos, Erin, e não pode imaginar o esforço que tenho que fazer para seguir aqui de pé fumando este cigarro, assim me faça favor de subir essa camisola antes que me equilibre Y...

Erin obedeceu enquanto suas bochechas pareciam despedir fogo por décima vez.

—Seriamente quer te equilibrar sobre mim, a pesar do aspecto que tenho?

—Especialmente por isso —respondeu ele, esboçando um sorriso—. Ainda me chateia ter tido que te deixar quando Grandy veio a me buscar pelo do cão. Escolheu o momento mais propício para vir.

—Ah, sim?

—É obvio. Tendo em conta que você não torna a pílula e eu não tinha nada que me pôr, foi providencial.

—Acreditei que os homens sempre estavam preparados.

Ty soltou uma gargalhada.

—Acaso estive preparado a outra vez? Mas, Erin, é que não te deste conta de quão pequeno é Ravine? No único sítio onde vendem preservativos é na loja de ultramarinos da senhora Blake, que me conhece desde que tinha dez anos. Imagina sua expressão se fosse a sua loja a comprar sabendo como sabe que sou solteiro e que você está vivendo aqui comigo?

—OH...!

—OH...! —imitou-a ele— Agora compreenderá por que há tantos embaraços inesperados por aqui, mas como você e eu não somos dois adolescentes e conhecemos muito bem as conseqüências...

—Eu não tinha planejado... fazê-lo contigo —gaguejou.

—Eu tampouco. Mas os dois nos desejávamos e estávamos sozinhos. Devi te haver protegido, e o tentei, mas era muito difícil. Tinha esperado muito tempo e te tinha convertido em uma obsessão para mim.

Aquela confissão era surpreendente. E muito interessante.

—Muito tempo?

O sorriu a contra gosto.

—Uns dois anos, se te interessa sabê-lo. Já te disse que tinha complexos.

Erin se sentiu agradada e não pôde evitar sorrir.

—Pois eu nunca...

—Já me dava conta.

—Há... após

—Já te disse que no carro não. E tampouco o desejei —Ty terminou o cigarro e o apagou—. Não desejei a ninguém mais. Preferia manter a lembrança daquela noite que ter a qualquer outra mulher.

Erin não pôde evitá-lo e as lágrimas rodaram por suas bochechas enquanto o olhava, incapaz de falar.

—Anda, anda, deixa de chorar —pediu ele, lhe enxugando os olhos torpemente—. Além disso, a única forma que me ocorre de te consolar não seria muito judiciosa, te tendo com essa camisola transparente.

—Pode apostar o que quiser; ao menos nesse sentido —Ty, entregou-lhe o lenço e tomou suas luvas—. Erin, o que disse no consultório do médico... a sério lhe incomodam as falações que possa haver sobre nós?

Erin o olhou surpreendida.

—É que de verdade está falando de nós?

—Isso temo. Um dos trabalhadores mencionou algo que tinha ouvido.

O que não lhe disse foi que o homem, que tinha bebido alguma taça de mais, o havia dito a ele mesmo, e que Ty, depois de propinarle um murro, despediu-o imediatamente.

—Bom, não nos poder fazer nada —respondeu ela, depois de uma pequena pausa—. Tal e como estão as coisas, sou proprietária da metade do rancho. Não posso partir sem que minha decisão afete a muita gente.

—Há uma coisa que sim podemos fazer —disse ele olhando-as botas cheias de pó.

—O que?

—Já nos pusemos de acordo em que posso me fazer velho procurando uma mulher que me aceite feio que sou, e você não parece ter confiança em encontrar um homem. Além disso, nenhum dos dois dormiu com ninguém mais desde aquela noite —Ty se decidiu ao fim a olhá-la aos olhos—. Possivelmente pudessem aprender a nos levar bem se nos esforçarmos. O testamento não nos deixa muita eleição. Terá que ficar aqui para sempre.

Erin sabia o que ele ia dizer. Podia rechaçar sua proposição, seria a decisão mais judiciosa, mas uma parte dela se sentia profundamente atraída por ele. Nunca tinha desejado a outro homem, e embora ele não a amava, ao menos se ocuparia dela. Possivelmente com o tempo as coisas começassem a funcionar entre eles. Poderiam ter meninos...

—Quereria ter filhos? —perguntou-lhe com seriedade.

—Se te referir a que te dê um filho para substituir ao que perdeu, sim, posso fazê-lo, embora ainda não. Não está em condições de ficar grávida. Mas podemos ter filhos se é que o deseja.

Não parecia muito entusiasmado com a idéia. Desejaria de verdade ter uma família? Ou possivelmente desejasse tê-la, mas tinha medo uma vez mais de mostrar seus sentimentos por temor a ser ferido?

—Está apanhada aqui, graças a sua inocência —recordou ele—. Assim pode levar meu nome igual à metade de meu rancho.

—Muito obrigado! —respondeu ela em tom cortante— Que maravilhosa proposta de matrimônio!

—Pois toma-a ou deixa-a! —replicou ele—. Eu tampouco estou encantado, mas é a única solução que vejo.

—Não penso dormir contigo!

—Por mim, dorme no maldito celeiro! —espetou ele com olhos cintilantes.

Os lábios do Erin tremeram e atirou ainda mais dos lençóis.. Como tinham chegado tão de repente a aquela situação?

—Se te casar comigo, terá que ser pela igreja —advertiu ela—. Não estou disposta a fazê-lo pelo civil.

—Acaso lhe pedi isso? —perguntou, arqueando as sobrancelhas.

—E tampouco quero uma grande festa. Quero umas bodas pequena. E não quero que venha minha mãe. Converteria-o tudo em um circo.

Ty pareceu relaxar-se um pouco.

—De acordo.

—E não quero chegar ao altar tendo que arrastar esta perna.

—depois de umas quantas semanas de exercícios, já não terá que arrastá-la. Melhorará, mas vais necessitar tempo e esforço.

—Tirano... —murmurou ela—. Está bem, farei-o, embora me mora de dor.

Quando? —perguntou ele com uma voz que soou profunda.

—Quando quer você?

—A semana que vem.

Erin ficou boquiaberta e então ele acrescentou:

—Bom, não há mais remedeio que seja assim, a não ser que queira que saia nos periódicos. Apesar de ser feio, sou bastante conhecido.

—Quer fazer o favor de deixar de te desacreditar? —pediu-lhe ela exasperada.

—Farei-o se você deixar de falar de sua perna.

—Trato feito.

—Quer um brilhante?

—Não. Só uma aliança de ouro.

—De acordo —assentiu ele e deu meia volta para a porta.

—E já está? —exclamou ela, atônita— Isso é tudo?

—Que mais quer? Se me puser de joelhos com o chão tão frio talvez fique enrijecido até a primavera. E te beijar para selar o compromisso tampouco seria muito judicioso, estando você nua.

—Não estou nua!

Se o estivesse, assim estou fazendo o melhor, como seu prometido que sou. Não fique acordada—até muito tarde. Temos que começar com os exercícios amanhã pela manhã. Que durma bem —saiu da habitação.

Erin ficou pasmada olhando a porta. Vá proposição de matrimônio! Vá noivo ardente! Tivesse desejado ter algum vaso à mão para jogá-lo contra a porta, mas como não era assim, meteu-se na cama, cobrindo-a cabeça com os lençóis.

Ty caminhava pelo comprido corredor para sua habitação assobiando alegremente, com uma estranha luz lhe iluminando os olhos, e de repente rompeu a rir. Tinham por diante um comprido caminho, mas acabavam de dar o primeiro passo. ia compensar ao Erin de todo seu sofrimento. ia curar a de todos seus maus. Abriu a porta de sua habitação e entrou. Sabia que demoraria muito em dormir, mas não lhe importou no mais mínimo.

 

ERIN tinha esperado que o fato de estar comprometido trocasse ao Ty, mas não foi assim. Seguia sendo exatamente igual a antes, incluindo a forma tão dominante em que lhe ordenava fazer os exercícios, sem lhe tirar a vista de cima nem um segundo.

—por que não os faz você também? —sugeriu ela uma manhã.

—M quadril está perfeitamente bem —replicou ele— um pouco mais alto, carinho. Não está estirando-a-o suficiente.

Nunca antes usou palavras carinhosas, mas agora a chamava "carinho", cada vez que podia. Bom, possivelmente tivesse trocado um pouco. Parecia mais depravado, mais acessível. Ela o estudava enquanto fazia seus exercícios sobre a bicicleta. Certamente, não o encontrava feio nem muito menos. Era um homem com um corpo impressionante, e tinha umas mãos Preciosas, de dedos largos, magras e elegantes, ligeiramente bronzeadas como todo ele.

—Pode tomar uma fotografia —disse ele quando se deu conta de que o observava—. Espantaria aos corvos com ela.

—Não estava te criticando; admirava seu físico.

—Você tampouco está mal —murmurou ele, sonriendo ao inspecionar seu corpo com os olhos—. Isso que veste fica muito bem.

—Obrigado —respondeu ela, surpreendida pelo completo.

—O que te vais pôr para as bodas? —perguntou ele entre sorvos de café.

Erin se secou um pouco o suor do rosto antes de responder.

—Bom... Tenho um vestido comprido cor bege...

—Ao demônio —a interrompeu ele.

—O que acontece? —perguntou ela sem compreender.

—Branco. Isso é o que passa —respondeu Ty, deixando a taça e aproximando-se dela—. Branco. Nem bege nem verde nem cinza. Casará-te com um vestido branco.

—Não tenho direito a levá-lo —objetou a jovem.

—Foi comigo —assinalou ele, tentando manter a calma na voz, apesar de que seus olhos jogavam faíscas—. Recordo exatamente como foi para ti. Quando ocorreu, estava te olhando aos olhos. Inclusive recordo como me senti: branco.

—Branco —repetiu ela, agitada pela paixão de sua voz.

—Nenhum outro homem teve uma virgem mais ou c que você. Nenhum homem desfrutou que uma iniciação tanto como eu desfrutei daquela. Nunca houve outro homem que eu para ti, e aos olhos de Deus isso nos casou melhor que qualquer sacerdote possa fazê-lo, e ninguém vai envergonhar te porque leve um vestido branco. Nem sequer sua consciência puritana.

Erin fez um esforço por sorrir.

—Às vezes é encantador.

—Não tenho muita prática nisso —confessou ele lhe acariciando o ombro—. Cresci sozinho, e assim é como estive a maior parte de minha vida. Ainda tenho algumas dificuldades para me relacionar com a gente.

Era tão distinto naqueles estranhos momentos... Erin tomou a mão com ternura e acariciou a superfície da palma.

—Manchas de nicotina —observou reparando na mancha amarelada que tinha o dedo indicador e o meio—. por que fuma tanto?

—Só o faço quando estou alterado ou nervoso. Assim é como você me, faz me sentir.

—Não posso imaginar a ninguém te pondo nervoso, e muito menos a mim.

—Isso crie? Olhe —disse ele e estendeu a mão no ar para que ela pudesse ver que tremia quase imperceptivelmente.

Erin o olhou aos olhos surpreendida e viu neles umas chamas consumindo-se com lentidão. de repente o compreendeu tudo.

—OH, Ty...

—Essa é a razão pela que não deve perambular pela casa com essas camisolas transparentes —murmurou ele—. Quando te tenho tão perto, perco o controle.

Tampouco era fácil para ele. Sua consciência não lhe perdoava o que tinha passado: a perda do menino, a morte do Bruce... E apesar de tudo, obrigou-se a ir procurar a para levá-la ao Staghorn, estava-se esforçando por obter que voltasse a sentir, que voltasse a preocupar-se com sua saúde, e ela não tinha feito mais que pôr dificuldades. A origem daquela situação se achava no amor equivocado e o ciúmes sem motivo do Bruce, mas tinha chegado o momento de esquecer do passado e em como teriam resultado as coisas se Bruce não tivesse interferido.

—Quando nos tivermos casado... —disse, escolhendo cuidadosamente as palavras e sem apartar o olhar dele—... serei sua mulher em todos os sentidos.

Ty sentiu um estremecimento em todo o corpo.

—Não sabe o que está dizendo.

—até agora, você foste o que pôs mais em tudo isto. perdeste ao Bruce e parte de sua herança, além de ter que me suportar a mim. conseguiste que recupere as vontades de viver e acredito que chegou o momento de que eu seja a que comece a dar.

Ty apertou os dentes e ficou de pé.

—Isso é algo que teremos que tratar em outra ocasião.

—Já te incomodou de novo —suspirou Erin—. OH, Ty, é que alguma vez vais aprender a não explorar cada vez que menciono algo pessoal?

—Claro. Quando deixar de me oferecer esmolas. Não quero seu corpo como pagamento a ter um teto sobre sua cabeça.

—Não é isso o que eu queria dizer!

—Não estou disposto a aceitá-lo. Não como se fora um sacrifício.

—Me vais voltar louca, Ty. Quando acredito que começo a compreender. Está bem. Há o que queira. Dormirei no celeiro com os ratos.

—Não há ratos no celeiro —informou ele com voz ausente.

—Sério?

—Porque minha jibóia vive ali e as come.

Erin tragou saliva.

—Então retiro minha oferta de dormir no celeiro.

—É uma serpente muito velha. Não te fará mal.

—Em minha família todos lhes temos medo às serpentes. A meu bisavô o comeu uma. Era correspondente de guerra e desapareceu na Sudamérica. Anos depois disseram que tinham encontrado seu esqueleto dentro de uma monstruosa pitón.

—Um final horripilante, mas as jibóias não comem gente.

—Isso é o que você diz —replicou ela, fazendo uma careta ao mover-se. O quadril seguia lhe doendo— Condenados exercícios! Cada dia me custam mais trabalho.

—Em uma semana mais ou menos, já verá o que melhoras. me acredite.

—E por que tenho que seguir? —protestou ela— Nunca poderei voltar a trabalhar como modelo, sobre tudo se me caso.

Ty a olhou sem compreender.

—Ah, não? por que?

—Deixaria-me trabalhar? —perguntou ela, surpreendida.

—É um ser humano, não uma pulseira —assinalou ele— Eu não acredito nisso de encadear à mulher à pata da cama e tê-la sempre grávida. É livre de fazer o que quiser, exceto te deitar com outros homens.

—Não quero me deitar com outros homens.

Ty soltou uma gargalhada.

—Não, suponho que não. Comigo já teve mais que suficiente desilusão —disse, e dando meia volta, acendeu um cigarro e saiu da habitação .

Erin demorou uns segundos em reagir, mas quando o fez, levantou uma das botas dele e a lançou contra Ty. Não lhe atinou, mas conseguiu chamar sua atenção.

Ty ficou olhando a bota como se acabasse de encontrar um peixe sobre o tapete, e logo depois de tomá-la com dois dedos, voltou-se para o Erin.

—Arrojaste-me uma bota?

—Claro que te arrojei uma bota.

—E queria lhe dar à parede?

—Não, queria te dar na cabeça.

—Pois deveria praticar sua pontaria.

—Não acredito. Com o tamanho de pé que tem, poderia apontar à parede e mesmo assim te dar a ti se o tentar.

—Eu não tenho os pés grandes.

—Os patos tampouco.

Com a bota na mão, Ty se aproximou dela com uma expressão muito pouco amigável.

Erin ficou de pé com rapidez, tentando interpor uma barreira entre eles

—Vete! —gritou— Estou inválida!

—Ainda não —murmurou ele—. Mas é uma possibilidade.

—Ty! Não te atreva a me golpear!

—Ah, não? —ameaçou-a ele, sujeitando-a pela cintura e levantando-a—. Pensa me dar batalha?

—Baixa me e o verá.

—Deixa de te retorcer ou te soltarei de repente. Sempre tiveste os olhos tão verdes? —inquiriu, olhando a de perto.

—Isso acredito.

—Têm a cor das folhas na primavera... —murmurou ele—... justo depois que o rocio as umedece...

—Os teu som chapeados quando te enfurece.

Ty baixo devagar o olhar até sua boca.

—Inclusive tão magra como um aspargo, é preciosa.

—Não o sou, mas obrigado de todas formas —Erin sentia sua respiração nas bochechas e a reação de seu corpo foi imediata, Eu gosto de sua boca quando me beija —murmurou— A sinto firme e um pouco...

Gemeu ao sentir a boca masculina sobre a sua. Arqueou o corpo contra ele e o sujeitou com força pelo pescoço.

Voltava-a louca ter esse corpo musculoso junto ao dele e deixar-se embriagar por seu aroma tão varonil. Ty começou a tremer e Erin sentiu uma pontada de culpabilidade por incitá-lo, mas a verdade era que resultava excitante saber o que tinha esse poder sobre ele.

—Sinto-o —sussurrou, enquanto lhe acariciava as bochechas e o cabelo—. Não posso evitá-lo. Quando me toca, perco a cabeça.

—Parece-me que nos ocorre o mesmo aos dois. Quando fazemos o amor, converte-te em uma selvagem. Nunca sonhei que fosse tão desinhibida comigo.

—Eu tampouco —confessou ela, roçando a bochecha dele com os lábios—. Quero... fazer as coisas—mais escandalosas contigo.

—Estou desejando-o —disse ele, lhe mordiscando um lábio.

—Eu também —respondeu ela, apertando-se contra seu peito.

—Erin, se não nos separarmos neste instante, já não poderemos fazê-lo. Nem sequer a noite que fizemos o amor estava tão excitado como agora.

—Nem eu —confessou ela com voz tremente—. E isso que só nos beijamos.

—Isso crie. Volta a mover seus seios como o fez faz um momento.

Erin obedeceu, e em troca sentiu a masculinidade rígida do Ty contra seu ventre.

—Desejo-te —sussurrou, fechando os olhos quando ele a apertou contra seus quadris.

—Eu também, mas não podemos satisfazemos. Assim não. É muito arriscado.

Erin suspirou.

—Suponho que tem razão.

—Não é meu corpo quem diz isso. Só minha cabeça.

Erin começou a rir e a tensão se suavizou um pouco.

—Casaremo-nos na terças-feiras, assim suponho que poderemos sobreviver até então —acrescentou ele.

—Suponho que sim —Erin ficou olhando um dos botões de sua camisa que parecia frouxo. Quando se casassem, poderia ocupar-se melhor dele. lhe costurar os botões, engomar suas camisas e lavar sua roupa... essas coisas tão íntimas lhe pareceram nesse instante muito importantes. Poderia dormir em seus braços...

—Poderá dormir comigo sim quer, depois que nos casemos —sussurrou ele, como se lhe tivesse lido o pensamento.

Uma quebra de onda de calor a percorreu.

—Seriamente? —perguntou, com uma voz quase inaudível.

—Sempre. Poderei ver como lhe nuas e você poderá lombriga a mim. Poderemos nos acariciar e fazer o amor.

—Com a luz acesa? —perguntou ela, tremente.

—Com a luz acesa —sussurrou ele—. falaste com o médico sobre anticoncepcionais?

—Sim. Eu... —Erin pigarreou. Causava-lhe acanhamento falar de coisas tão íntimas—. Terá que começar a tomá-los em um momento determinado, e eu... comecei faz dois dias.

Ty sorriu.

—Sou boiadeiro —lhe sussurrou ao ouvido— Sei tudo sobre ciclos, ovulações e "esses dias do mês".

—OH... —resmungou ela, avermelhando até a raiz do cabelo.

—Erin, isso é algo natural —assinalou ele, obrigando-a a olhá-lo—. Não deve haver tabus em um matrimônio. Nada do que não se possa falar. O que mais espero de ti é sinceridade. Eu nunca te mentirei, e espero que você tampouco o faça. Não quero que tenha medo de me contar algo que se preocupe.

—Nunca tive a ninguém com quem pudesse falar de sexo —sussurrou ela como se se tratasse de um escuro secreto—. Minha mãe o fazia todo o tempo, mas se sentia morta de calor ao falar disso comigo. Tudo o que aprendi foi através de outras garotas e de revistas.

—E comigo —acrescentou ele, lhe acariciando o cabelo.

—E contigo. Foi tão íntimo...

—me fale disso —lhe insistiu ele—. Não lhe guarde isso.

O fazia parecer tudo tão fácil. Ela jogava com o botão frouxo de sua camisa. Era um objeto bonito, cor marrom.

—Sinto que aquela noite tenha tentado te apartar no último momento.

—Não esperava que te doesse tanto.

—Não. Ninguém me disse isso. Acreditei que só seria molesto.

—E certamente assim teria sido se eu não tivesse estado tão faminto de ti. As mulheres precisam excitar-se muito antes, mas minha educação nessa disciplina deixa bastante que desejar. Saber qual é o mecanismo é uma coisa, mas levá-lo a prática é outra muito distinta. Digamos que sei ter relações sexuais, mas não sei como fazer o amor —confessou, olhando-a aos olhos—. São duas coisas completamente distintas.

—Nunca sentiu... alguma vez desejou fazê-lo com outras mulheres?

Ty sorriu e lhe respondeu negando com a cabeça.

—Me alegro —disse ela, sonriendo timidamente.

—E você alguma vez desejou que um homem te fizesse o amor?

—Sim —afirmou ela—. Desejei a ti do momento em que te vi, mas nunca me atrevi a lhe dizer isso porque nem sequer você gostava.

—Ao diabo! —exclamou ele bruscamente— Te desejava desesperadamente.

—Mas se foi insuportável comigo!

—É certo, mas não acreditei que te detivera olhar uma cara como a minha.

Assim tinha sido isso... pôs-se à defensiva, tal e como seu pai lhe tinha ensinado, e um bom ataque era a melhor defesa.

—Bruce me disse que me odiava —expressou ela, olhando-o aos olhos.

—Sei. Li as cartas, mas não era verdade —e tomando a mão, acrescentou—: O me disse que te tinha rido de mim, da forma em que me tinha comportado contigo.

—Essa foi a mentira maior de todas —assinalou ela.

—Lamento muito te haver feito mal. Apesar das aparências, era o último que queria fazer.

—Não esteve mal —respondeu Erin. sentia-se como uma adolescente, tudo acanhamento e excitação—. Eu gostei de muito te acariciar.

Ty recordou como suas mãos tinham explorado todo seu corpo lentamente, sem inibições, e sentiu um calafrio.

—Ty ...

—Vêem aqui —ordenou ele, abraçando-a com todas suas forças—. te Aproxime. Dizem que ajuda se te abraçar até que o desejo se esfuma.

Erin fechou os olhos e pouco a pouco a ansiedade foi diminuindo. Nesse momento, recordou um livro no que tinha lido que se uma mulher não, tinha ficado satisfeita, a ansiedade passaria se a abraçavam com força. Ty devia havê-lo adivinhado.

—Tem lido livros sobre sexo? —perguntou.

—Claro. Você não?

—Não muitos. Aprendi mais escutando a algumas de meus amigas.

—Miúdas vidas sexuais devem levar.

—Nem lhe imagina!

—Sente-se melhor?

—Mmm... —murmurou—. E você?

—Sobreviverei —assegurou ele, soltando-a quase a contra gosto—. Vá mudança —acrescentou, olhando seus olhos brilhantes e cheios de vida— do fantasma que me encontrei naquele apartamento de Nova Iorque.

—A vida tinha poucos estímulos para mim naquele momento.

—Eu vou compensar te por tudo isso —sussurrou ele, tomando o rosto entre as mãos.

—Ty ...

—Agora o que tem que fazer é te dar um banho de água bem quente. Eu devo fazer algumas costure no rancho, e depois iremos ao Ravine a comprar o anel de bodas.

—De acordo.

Que rápido estava trocando tudo!, dizia-se Erin enquanto o via afastar-se. O que tinha começado sendo uma dura prova, estava-se transformando na maior alegria de sua vida.

Se ao menos pudesse acreditar que Ty sentia realmente algo por ela, algo mais que lástima, desejo e necessidade de compensá-la pelo que lhe tinha feito. Era tão difícil lhe ler o pensamento... O a desejava, isso era indubitável, mas ela queria algo mais. Queria que a necessitasse porque... porque ela o necessitava a ele. Havia outro sentimento mais profundo, mas. ainda não se atrevia sequer a pensar nisso. Se as coisas seguiam pelo bom caminho, possivelmente o faria depois.

Pela primeira vez, ficou a fazer seus exercícios sem que ninguém tivesse que dizer-lhe Tinha que voltar a caminhar, a sentir-se inteira. Tinha que lhe demonstrar a ele que podia valer-se por si mesmo, e se então Ty seguia voltando-se para ela, quando a lástima e a culpabilidade tivessem desaparecido, caberia a esperança de que um pouco mais profundo crescesse entre os dois.

 

Ty e Erin contraíram matrimônio em uma pequena igreja presbiteriana onde duas gerações da família Wade tinham acudido regularmente ao serviço religioso.

Erin levava um vestido branco e comprido. Tinha crédulo em não ter que usar a muleta, mas lhe resultava muito difícil caminhar sem ela.

Ty se tinha vestido com um impecável traje de três peças que lhe conferia um ar mundano e elegante. A diferença de altura entre ele e Erin era notável, apesar de que ela se pôs seus sapatos de saltos mais altos, mas ainda assim s e sentia pequena e vulnerável a seu lado.

A cerimônia foi presenciada por um punhado de pessoas, incluindo o capataz do Ty, Stuart Grandy, Conchita, José e uns quantos vizinhos, e durou só uns minutos. Quando Ty deslizou o magro aro de ouro em seu dedo e a beijou com rapidez nos lábios, Erin teve que morder o lábio para não chorar, mas ele deveu dar-se conta de sua agitação de emoções, porque lhe tendeu um lenço enquanto as felicitações proliferavam a seu redor.

—Bom, alguém tinha que chorar em minhas bodas —se desculpou ela, enxugando-os olhos—, e quem melhor que eu?

—Eu também choraria se me tivesse casado com ele —comentou Rede Davis, um dos ajudantes do Ty.

—Acaba-te de ficar sem presente de Natal —o ameaçou Ty.

Rede sorriu. Era um jovem de uns veintitantos anos com um grande senso de humor.

—Ah, se? Então espera a ver o que passa esta noite, chefe.

—Se vir um só de seus pés aparecer no alpendre, cargo o Winchester.

—Reverendo Bill! ouviu o que acaba de me dizer? —exclamou Rede, chamando a atenção do bojudo ministro—. Diz que vai me dar um tiro!

—Eu não hei dito isso! —protestou Ty.

O reverendo se uniu a eles entre risadas.

—escutei a conversação desde o começo, Rede, e se puser um pé em seu porche,seré, eu mesmo quem com muito gosto lhe enviarei balas para seu rifle.

Rede moveu a cabeça pesaroso.

—Não lhe dá vergonha?

—E a ti? Não te dá vergonha?

Ty tomou a mão de sua esposa enquanto recebiam as congratulações de todos os assistentes. Ela não se sentia muito cômoda com ele em público, com todas as cicatrizes e a confiança em si mesmo pelos chãos, mas se apoiou no Ty em lugar de em sua muleta e se obrigou a sorrir.

Pouco depois, voltaram para o Staghorn para a recepção. Conchita se tinha ocupado de todos os detalhes, e inclusive tinha contratado os serviços de um restaurante especializado para o banquete. Ao Erin estava parecendo uma cerimônia interminável, e para cúmulo, Ty se havia enfrascado em uma conversação com vários vizinhos sobre o número crescente de perfurações petroleiras na zona.

Não é que estivesse bem zangar-se, mas muito antes que se acabasse o último pedaço de bolo ela estava já raivosa, assim decidiu desaparecer na cozinha e ajudar a Conchita a esfregar os pratos.

—Isto não está bem —protestou a empregada—. Lavar pratos não é o que deveria fazer no dia de suas bodas.

—Tem razão —acordou Erin—, assim entre nessa habitação e diga-o a meu marido.

—Eu não —respondeu Conchita—. eu gosto de meu trabalho.

—Você e eu vamos fazer uma estupenda comédia sobre a rotina de lavar pratos. Faríamo-nos ricas.

—Acredito que tem febre —disse a mulher maior, olhando-a fixamente.

—O que vou ter febre!

—Não? —repetiu Conchita sonriendo.

Erin se ruborizou e tomou um trapo.

—Eu seco os pratos.

—Como quero, senhora.

Ty as encontrou ali quase uma hora mais tarde.

—Vá forma tão divertida de passar o dia de suas bodas! —exclamou da porta.

—Pois sim —replicou Erin, com um sorriso sibilina—, é estupenda. Conchita e eu vamos representar esta comédia no teatro. Seguro que ganharemos algum prêmio.

—Pois não seria eu quem comprasse uma entrada.

—O que passa é que tem inveja porque o que não venderia nenhuma entrada é a conversação do senhor Hawes, o senhor Danson e você sobre petróleo e gado.

—Assim é isso —murmurou ele.

—É a primeira amostra de como funciona a natureza feminina —lhe informou Conchita, deixando a um lado seu trapo—. Agora poderão brigar tranqüilamente. José vai levar me a cidade para fazer as compras de Natal, assim terão toda a casa para vocês sozinhos.

Erin e Ty aguardaram em silêncio que Conchita saísse da cozinha.

—Não estou disposta a fazer as pazes contigo —espetou Erin, furiosa.

—Pois fique aqui a choramingar se quer —respondeu ele—. Eu sempre posso descarregar meu mau humor com meus empregados.

—Me alegro! por que não começa já a briga? Para isso sim se poderiam vender entradas!

Furioso, Ty deu meia volta, ficou o chapéu e com uma portada, saiu da casa.

Erin tomou o primeiro que viu a mão, um prato, e o lançou contra a porta. Por desgraça era inquebrável e não fez o ruído desejado, assim que ela se agachou para recolhê-lo e esfregá-lo de novo, com as lágrimas lhe rodando pelas bochechas.

Ty esteve fora o resto do dia. Quando José e Conchita voltaram, encontraram-no fora com os homens e a ela encerrada em sua habitação.

Para quando obscureceu, Erin se tinha dado um bom banho e se colocou na cama com duas novelas. Às oito e meia, Conchita entrou na habitação com uma bandeja com sopa e um bom tigela de café quente; Erin fez caso omisso das recomendações bem intencionadas que a empregada lhe fez, mas esqueceu fechar a porta com chave quando ficou sozinha. tomou a sopa, bebeu-se o café, e quando terminou de ler a primeira novela, tinha dor de cabeça e o quadril lhe dava umas espetadas terríveis. sentia-se fatal. Não deveu ter conhecido ao Ty jamais, Estava segura de que esse homem tão odioso não podia suportá-la. Entre soluços, ficou dormida.

O entrou na casa a meia-noite, sujo, despenteado e de mau humor, e a encontrou dormida. Contemplou-a uns minutos, antes de fechar de novo a porta e dirigir-se a sua própria habitação para passar uma noite quase em branco.

À manhã seguinte, Erin se levantou antes da hora do café da manhã para fazer seus exercícios no salão. ia ensinar lhe a esse cretino quem era ela! Voltaria para seu trabalho como modelo, ganharia uma fortuna e teria montões de homens revoando a seu redor! Este pensamento lhe infundiu energia, e quando Ty entrou na habitação fumando um cigarro, ela estava suando pelo esforço.

—bom dia —disse ele.

—bom dia —respondeu ela docemente—. Espero que tenha acontecido uma noite infernal.

—Assim foi, obrigado. E você?

—Quase não dormi.

—Pois estava como um tronco quando voltei.

—OH! Assim ao final te dignou voltar? O que considerado!

—Foi você quem começou.

—Não foi você quem me ignorou durante horas diante de todo mundo, deixando que me pusesse a lavar os pratos o dia de minhas bodas.

Ty aspirou profundamente.

—Olhe, Erin, passei trinta e quatro anos solteiro, e além te recordo que esta não é a clássica discussão de apaixonados. Casamo-nos para sossegar as falações, não? Ou é que há alguma outra causa que eu desconheço?

Era certo. Sua relação não tinha nada que ver com a idília fantasia que ela tinha criado em sua mente.

—Sinto-o —disse ao fim, apartando o olhar—. Não tinha direito a me zangar assim. Ao fim e ao cabo, casamo-nos só pelas falações.

Ty se arrependeu de suas palavras ao ver como os olhos de sua esposa ficavam sem vida. Todo o brilho e a excitação que lhes tinham dado no dia anterior tanta beleza, esfumaram-se. O não tinha considerado as coisas do ponto de vista dela, e lhe ocorreu que possivelmente Erin esperava que ele se comportasse como... bom, como seu marido. Tinha estado tão empenhado em não assustá-la, que se passou da raia, e agora ela acreditava que não lhe importava no mais mínimo.

—Desejava-me ontem à noite? —perguntou ele em voz baixa.

—Não.

Ty se ajoelhou junto a ela e lhe levantou o queixo com delicadeza.

—Sim... —murmurou ela.

—E por que não o disse?

—E o que queria que fizesse? Que me plantasse em meio de uma discussão sobre inseminação artificial para te dizer que queria fazer o amor? Estou segura de que a seus vizinhos tivesse parecido uma situação do mais interessante.

Ty quase sorriu.

—Suponho que sim. O que ocorre é que não sei como ser um bom marido. Terá que me suportar até que aprenda.

—Possivelmente eu espere mais do que está disposto a me dar —comentou ela, olhando-o aos olhos— As coisas nunca foram o que se diz normais entre nós dois. Eu me hei sentido sempre tão confundida...

—E tão ferida. Dá a impressão de que sou incapaz de evitá-lo, e te fazer danifico é quão último desejo, Erin.

—E lástima é quão último desejo eu. O que passa também é que este quadril me incomoda muito e estou um pouco irritável —era certo. Doía-lhe quase constantemente—. Sinto te pôr as coisas tão difíceis. Prometo-te que não te causarei mais problemas —se afastou de seu lado, sem dar-se conta da expressão surpreendida do Ty—. O que Conchita disse ontem me recordou que eu tampouco tenho feito as compras de Natal. Não é que me atraia muito caminhar, mas preciso comprar umas quantas coisas. Pode lhe dizer a algum dos meninos que me leve ao Santo Antonio?

A expressão do Ty se endureceu.

—Posso te levar eu mesmo —respondeu com secura—. Quando quer ir?

—na sábado estaria bem.

—De acordo —assentiu ele e saiu da habitação sem dizer nada mais. Erin tentou não procurar o motivo. Não estava disposta a lhe rogar sua atenção. Se não lhe importava o suficiente, aprenderia a viver assim. Não sabia como, mas aprenderia.

Foi uma semana muito larga, durante a que se encontraram só na mesa. Ela procurou coisas nas que manter-se ocupada ao igual a ele, e se falaram só o necessário. Conchita se limitava a mover a cabeça e a murmurar entre dentes, mas não se atrevia a dizer nada. Ty estava de um humor dos mil demônios. Lhe ouvia dar gritos no curral, recriminando a todo mundo por algo. Erin se sentia responsável, e tentava se manter-se separada dele quanto podia.

Por fim chegou na sábado e Ty estava preparado, tal e como tinha prometido, para levar a sua esposa ao Santo Antonio. Parecia um homem rico e importante com sua jaqueta clara e seu chapéu, e Erin se sentia um pouco desconjurado com seu vestido de lã cinza. Tinha pouca roupa, e não estava disposta a gastar dinheiro em comprar objetos novos. Ainda não se sentia com direito a sua metade do rancho, a pesar do testamento e de tudo o que lhe tinha ocorrido por culpa dos Wade. Nunca poderia esquecer o que Ty lhe havia dito no carro a respeito de que ela queria viver a sua costa, embora em realidade não isso fora o que ele quis dizer.

—Você gostaria de ir— a algum sitio em particular? —perguntou Ty muito educadamente quando estavam já perto da cidade.

—Dá-me igual —murmurou ela, com a vista posta na paisagem.

Apesar de que Santo Antonio contava com pouco menos do milhão de habitantes, as casas estavam muito disseminadas pelos arredores.

—É uma cidade grande —comentou Ty— Seria mais fácil se soubesse que classe de coisas quer comprar. vais comprar te roupa nova?

—por que? É que te parece que a necessito?

—Sempre leva o mesmo vestido quando saímos —comentou ele—. Estou começando a me cansar dele.

—Então terei que comprar outro —respondeu ela com frieza.

—Muito bem! Agora tome o como algo pessoal —disse ele, sem apartar o olhar da estrada—. Não, melhor ainda, por que não te joga no chão e começa a chorar? Com. isso conseguiria que me sentisse pior do que já me sinto.

Erin se mordeu o lábio enquanto pelas calçadas desfilavam os pedestres ante seus olhos.

—Não tive dinheiro para gastar em roupa.

—Tem idéia do valor que tem Staghorn no mercado? —perguntou ele, mal-humorado.

—Não penso gastar seu dinheiro em roupa. Utilizarei o que fica de quando trabalhava.

—Por amor de Deus, Erin!, mas que demônios ... ?

interrompeu-se ao divisar um estacionamento, moveu bruscamente o volante e deteve o carro no primeiro sítio livre.

—me olhe, Erin —ordenou, colérico. Mas quando a obrigou a voltar-se para ele, viu o brilho das lágrimas nos olhos verdes e sua fúria se esfumou como por arte de magia. Decidiu então tomar a mão com a que Erin tinha aprisionado com força a bolsa. Estava muito fria, e seu pulso pulsava rapidamente na boneca.

—Poderíamos ir de compras de uma vez, por favor? —pediu ela, apartando a mão de um puxão.

—Sim, acredito que já é hora de que o façamos —murmurou ele— Além disso, conheço o sítio perfeito.

Tomou pelo braço para conduzi-la a um elegante hotel de fachada antiga rua abaixo. Erin o olhou boquiaberta enquanto ele assinava no livro de registro e falava em um compartimento com o gerente. Um minuto depois, tomou uma chave e conduziu a sua esposa ao elevador.

A habitação era antiga mas elegante, grafite em um suave tom verde.

—O que estamos fazendo aqui? —perguntou ela.

Ty se tomou seu tempo para fechar a porta com chave, deixar esta depois sobre a mesita e voltar-se por volta dela com uns olhos tão profundos e misteriosos como um dia de inverno.

—Vou te dar uma pista —disse, aproximando-se dela.

Erin ficou sem respiração. Não podia mover-se, e lhe tirou a bolsa de entre as mãos e começou a despi-la.

—Você e eu nos necessitar intimidade —indicou, deixando a roupa a um lado—. No rancho não a tivemos, mas aqui a teremos.

Ela tragou saliva.

—Vamos A... A...?

—Sim —respondeu ele, beijando-a nos lábios—. Não deve ter medo, Erin. Esta vez não vou fazer te danifico.

—Mas... mas é que é de dia.

—Temos que começar a acostumamos o um ao outro —raciocinou ele—. Além disso, as cortinas estão corridas, assim não há muita luz —argüiu, enquanto tentava lhe desabotoar o prendedor. Quando o conseguiu, deixou-o a um lado e seus olhos escorregaram lentamente por todo o corpo feminino antes de decidir-se a lhe tirar o último objeto.

Erin se sentia um pouco insegura pelas cicatrizes, mas a ele não pareciam lhe importar, assim que ela tratou de relaxar-se e permitiu que ele a levasse a cama.

—te coloque sob os lençóis —indicou ele com ternura, como se soubesse quão difícil era para ela—. Não tem que me olhar se não querer. Temos todo o tempo de mundo para acostumamos o um ao outro. Agora —sussurrou quando esteve sob os lençóis junto a ela—, agora e aqui é onde começa nosso matrimônio.

Apartou os lençóis para lhe olhar os seios e acariciá-los. Erin viu os dedos largos percorrendo sua pele, descobrindo sua textura com delicioso cuidado. Agora Ty era seu marido, e todos os velhos tabus tinham desaparecido.

—Estamos casados —disse ele como lhe lendo o pensamento, Tenta não esquecer que isto que estamos fazendo está bem.

—Tentarei-o... —Erin se sentiu de repente atraída por seu peito amplo e bronzeado—. Trabalha sem camisa no rancho?

—Sim.

—É que estou tão branca comparada contigo.

Ty se colocou em cima dela sem deixar de olhá-la nem um segundo.

—Agora aparta os lençóis —indicou—, e me olhe.

Com um tremor que percorria todo seu corpo, Erin obedeceu sem pensar, apanhada em um torvelinho de erotismo crescente.

—OH, Ty ...

—me rodeie com seus braços pelos quadris —sussurrou ele—, e me aperte contra ti.

Ela gemeu quando ele voltou a beijá-la, enquanto sentia todo o peso e o calor de seu corpo. Sua língua se abria passo com decisão e os dois se estremeceram.

—É minha mulher, Erin —murmurou Ty, ao tempo que a incitava a mover os quadris contra ele—. É minha mulher.

Ela gemeu pelas deliciosas sensações que a sacudiam.

—Doce —murmurou Ty, separando as coxas do Erin—. OH, Deus, é tão doce, tão doce...

Ouviu-a gemer, sentiu-a retorcer-se, e a cabeça pareceu lhe estalar com a incontenible urgência de seu próprio corpo. Começou a mover-se febrilmente contra ela, sentindo como o recebia com um mínimo espasmo de protesto.

Erin se pendurou de seu pescoço, mas antes que pudesse começar a sentir algo, tudo tinha terminado, e Ty se amaldiçoou por sua maldita impaciência; Erin não havia sentido nada.

—Não faça isso —pediu ele quando, ao olhar a à cara, ela tentou sorrir—. Não finja. É que crie que não me dei conta de que não pôde sentir nada? Não te dava tempo suficiente.

—Não passa nada, Ty...

—Como que não passa nada? Carinho, sinto-o muitíssimo —sussurrou, beijando-a nos lábios com ternura—. O sinto, Erin, não sei como... Não se como fazê-lo! —exclamou e escondeu o rosto em seu cabelo.

Um momento depois, levantou-se e tomou um cigarro, acendeu-o e, aproximando-se da janela, ficou de pé em silêncio olhando por entre as cortinas.

—Ty...

—estive com muito poucas mulheres, Erin —confessou ele—. Era só sexo, nada mais. Só uma necessidade que queria satisfazer, assim nunca aprendi a suscitar esse mesmo prazer em meu casal. Acreditei que aprenderia com o tempo, mas não é assim.

Erin se entristeceu por ele. Orgulhoso que era, essa confissão devia lhe haver flanco muito; assim que ela ficou de pé e lhe aproximou.

—Não sei como explicá-lo —começou, sem atrever-se a olhá-lo aos olhos—, mas acredito que a experiência não é tão importante, se duas pessoas sentem... sentem a necessidade de sentir prazer mutuamente. Me alegro de que não se preocupasse pelas demais mulheres, porque é como se eu fora a primeira mulher para ti.

—É a primeira... em todos os sentidos importantes.

—Então, talvez...

—Pode me ensinar? Farei tudo o que queira, tudo o que seja necessário para que possa sentir prazer —prometeu ele, acariciando-a—. Eu não desfruto se souber que você não está desfrutando de comigo.

—Não posso estar te olhando e te ensinar —disse ela com acanhamento.

—Não terá que fazê-lo —respondeu ele, apagando o cigarro e levantando-a sem dificuldade em seus braços—. Esta vez me controlarei. O que quer que faça?

Erin arqueou as costas, sentindo a magia que despertava seu ardente olhar.

—Você já sabe.

—Sim, acredito que sim —assentiu ele, inclinando-se sobre seu mamilo ereto.

Ela gemeu, esticando os músculos, enquanto Ty a saboreava. Indicou-lhe onde acariciá-la, como lhe dar agradar com mãos e boca. Quando seus dedos alcançaram a região mais sensível, Erin tremeu como uma folha ao vento.

Seus gemidos enlouqueciam ao Ty, mas se concentrou em controlar a febre de seu próprio corpo enquanto seguia beijando-a, acariciando-a. Quando ao fim voltou a chegar a sua boca, Erin chorava.

O se colocou de novo sobre ela, lentamente nesta ocasião, e a sentiu arquear-se sob seu peso enquanto o abraçava pelos quadris.

—Doce... —murmurou Ty, perdido naquela imagem.

Erin tinha os olhos entreabridos e os lábios entreabiertos, até que de repente abriu os olhos de par em par.

—Ssh... carinho, não tenha medo —disse ele, acariciando-a também com a voz— Vamos, carinho, me deixe fazê-lo. Assim, assim... Não te mova agora. me deixe entrar. me deixe te ter.

Ela gritou e abriu desmesuradamente os olhos, aferrando-se aos barrotes da cama, retorcendo-se sob seu corpo, gemendo, até que o prazer começou a crescer dentro dela.

de repente, sentiu a necessidade de juntar seus quadris às dele com todas suas forças, enquanto todos seus músculos tremiam incontrolablemente e as bochechas lhe empapavam de lágrimas.

—Abre os olhos, Erin! —gemeu ele, e Erin obedeceu, mas só pôde ver suas facções um instante, porque se sentiu lançada a um universo distinto, brilhante, colorido...

Depois, chegou a calma.

Passaram séculos antes que Ty recuperasse a consciencia de seu próprio corpo, do suor, do tremor de seus braços e pernas e dos soluços do Erin.

—OH, Meu deus! Tenho-te feito mal? Erin, tenho-te feito mal?

—Não —negou ela com voz quase inaudível e se abraçou a ele—. OH, Ty, nunca tinha sonhado... eu... foi estremecedor!

—O que?

—Foi como se me voltasse louca. Não sabia nem o que fazia nem o que dizia. Comecei a tremer e não podia me controlar, e então... então foi como uma explosão e senti como se fora a morrer de prazer.

—A pequena morte. Assim é como o chamam os franceses. Eu também o hei sentido, e foi a primeira vez em minha vida.

—É um bom nome. Poderia um morrer de verdade. Vêem, volta a te tombar sobre mim. Quero sentir seu peso.

—Assim? —perguntou ele, tremente—. E se te esmagar?

—Não me importaria —respondeu ela lhe acariciando as costas. Quando chegou a seus quadris, teve que estreitá-lo contra ela e começar a mover-se debaixo dele—. Ty, sinto muito. Não posso evitá-lo.

—Eu estou tão ardente como você —confessou ele— Vêem —disse e lhe separou as coxas para voltar a possui-la—. Não feche os olhos. Esta vez, quero verte.

—Já? Tão logo?

—A este passo sairemos no livro dos recordes... OH, Deus! —voltou a gemer.

—Eu também quero verte —gemeu ela.

—Sim...

Sua respiração se fazia mais entrecortada enquanto seus corpos se moviam ao uníssono, em um ritmo rápido, forte e devastador.

—Ty... Ty!

—Sente-o! —gritou ele—. Sente-o! Quero verte! Quero ver como te desfaz debaixo de mim...

Erin começou a tremer violentamente e suas pupilas dilatadas pelo desejo cobriam quase por completo o verde de sua íris, até que lançou um grito que ele imitou apertando depois os dentes e esticando até o último músculo de seu corpo. Erin se pendurou dele com todas suas forças, enquanto o mundo se cambaleava como um ébrio a seu redor.

—Um dia destes vamos matamos com este ritmo —sussurrou ele quando por fim foi capaz de articular palavra.

—Não me importa —disse ela, brincando com o pêlo do peito masculino, Está empapado.

—Você também. Meu Deus, não posso acreditar o que cheguei a sentir.

—Eu tampouco —respondeu Erin, incorporando-se na cama para olhá-lo por fim com tranqüilidade.

Ty abriu os olhos e sorriu ao ver sua expressão.

—Algum comentário?

Erin negou com a cabeça sem deixar de sorrir.

—Acredito que me tenho quebrado as costas —comentou ele—. Erin! —exclamou, incorporando-se—. Seu quadril!

—Está bem. Só me arde um pouco. Além disso, o médico me recomendou fazer exercício.

—Não sei eu se esta for a classe de exercício a que se referia. Crie que —deveríamos lhe perguntar?

Com as bochechas avermelhadas, Erin lhe deu um golpe no centro do peito, o que desencadeou uma tremenda batalha, que é obvio ela perdeu, deleitada por aquela nova intimidade.

—Recordarei-o todo a próxima vez —prometeu ele, percorrendo suas sobrancelhas com a gema dos dedos—. Não terá que voltar a me ensinar.

—É incrível —comentou ela, ainda mais ruborizada.

—Você também. O que te parece se agora vamos às compras?

—Sempre que puder me apoiar em minha muleta... Estou muito fraco para caminhar —acrescentou ela, sonriendo.

—Então, vamos —disse ele, levantando a da cama em braços.

—me diga Ty, o de vir ao hotel, foi um impulso ou o tinha planejado?

—Um impulso. Não podia suportar mais noites como as passadas. Tomar banho com água fria em pleno inverno não é muito saudável. Além disso, tinha a impressão de que você estava tão inquieta como eu. tivemos muitos problemas e muito pouca intimidade, assim pensei que seria uma boa idéia tentá-lo.

Erin se aproximou e o beijou brandamente nos lábios.

—Posso dormir contigo a partir de agora?

—Acredito que será o melhor —respondeu ele, rendo—. Faz muito frio de noite para andar de uma habitação a outra. E agora vamos vestir nos. Tenho trabalho—quehacer com os livros no rancho quando terminarmos as compras.

—É um desmancha-prazeres!

—quanto antes termine com esses livros, antes poderemos ir à cama —assinalou ele enquanto ficava os jeans.

—E pode saber-se então por que anda perdendo o tempo? Date pressa!

Ty se pôs-se a rir, olhando-a. Pela primeira vez o futuro parecia prometedor.

 

Erin ia caminhando como em uma nuvem de algodão tirada do braço do Ty enquanto percorriam as lojas. O a sujeitava posesivamente, como se tivesse medo de perdê-la, e ela se apertava contra ele, imersa na novidade se soubesse poseída.

Ty necessitava um relógio novo, assim que se detiveram frente à cristaleira de uma joalheria. Uma vez que o escolheu, o dependente o convenceu de que se provasse um precioso anel com um diamante, e embora Ty não pareceu entusiasmar-se muito, ao Erin lhe ocorreu uma grande ideia. Não sabia o que comprar como presente de Natal, e não estava segura de que gostasse ou aceitasse usar um aliança de casamento. Tinha umas centenas economizadas de dólares, e já que conhecia sua medida, obsequiaria-lhe uma aliança com brilhantes que o tinha visto olhar com a extremidade do olho. Quando o joalheiro chamou o Ty para lhe ajustar o bracelete do relógio, Erin se aproximou do dependente e lhe indicou o que queria. O jovem, depois de olhar ao Ty, respondeu com um leve movimento afirmativo de cabeça e um sorriso de aprovação. Erin preencheu com rapidez um cheque e lhe pediu ao empregado que pusesse o anel em um bote de líquido limpador de jóias.

—O que está fazendo? —perguntou Ty—. Eu já estou preparado.

—Necessitava um limpiametales —disse ela— Já está. Obrigado —disse, dirigindo-se ao dependente.

—foi um prazer, senhora.

—Que jóias precisa limpar? Quão único leva é o aliança de casamento.

—E isso quando não o extravio! Esta manhã acreditei que o tinha perdido. Deixei-o sobre o lavabo e quando fui recolhê-lo, tinha desaparecido. Entretanto, quando voltei a olhar, ali estava. Devo estar me voltando louca.

—Não acredito que seja para tanto. Talvez não procurou bem.

Erin se encolheu de ombros.

—Deve ser.

depois da joalheria, continuaram com as compras. Enquanto foram de uma boutique a outra, Ty sorria porque Erin olhava antes os preços, que o objeto em si.

—Por amor de Deus, Erin, já sabe que não é necessário que faça isso —lhe indicou—. Não tem por que olhar os preços. A metade do Staghorn é teu, e além disso, nesta loja em concreto, tenho uma linha de crédito. Pode te levar o que queira.

Ela sorriu. Sabia que ele não ia incomodar se porque ela comprasse um vestido ou dois, inclusive três se chegava o caso, mas para ela era importante manter sua independência. Além disso, ainda não se sentia com direito a utilizar sua herança. Estava segura de que Bruce lhe tinha deixado sua metade do Staghorn simplesmente por ferir o Ty, e lhe resultava impossível utilizar aquele dinheiro sem que sua consciência se inquietasse. Por outro lado, Ty não sabia que ao comprar o anel para ele, ela se tinha ficado sem um céntimo.

—A verdade é que não vi nada que eu goste. De todas formas, eu adoro olhar cristaleiras.

—Erin, não tem muita roupa —assinalou ele com suavidade.

—Mas se não sair do rancho, Ty. Não a necessito; além disso, a roupa é algo que já não me importa.

O pareceu ter intenção de dizer algo, mas ao final se encolheu de ombros e guardou silêncio.

A última parada que Erin quis fazer foi em uma loja de artigos natalinos.

—Temos que comprar uma árvore, Ty. Sem árvore não há Natal.

O a estudou um momento antes de responder.

—Conchita está acostumada pôr um nascimento...

—Eu quero uma árvore... —insistiu ela.

—vais terminar destroçada —murmurou ele, vendo-a apoiar-se na muleta—. Não tem que ser hoje, ou sim?

—Quero uma árvore, Ty.

O estacionou o carro frente a uma tiendecita ao ar livre.

—Mulheres... —resmungou quando descia do carro.

—Homens... —replicou ela, sorridente.

A árvore que escolheu foi um precioso pinheiro com raízes bem caiadas para poder plantá-lo depois.

—Não chateie, Erin! vou ter que pô-lo em um vaso e plantar o depois de Natal?

—Não posso matar uma árvore a sangue frio.

—Que não pode o que?

—Não posso matar uma árvore a sangue frio só para que decore a casa uns quantos dias. Não é justo.

—Isto tampouco o é —replicou ele, olhando ao homem que tomava sorridente o dinheiro.

—Se não me permite pôr a árvore, colocarei um de seu puro sangue no salão e o adornarei com bolas de cores —o ameaçou ela.

Ty olhou primeira à árvore, logo a ela e depois ao vendedor.

—Anda, vamos —disse, levantando a árvore.

—Além disso, não terá que me ajudar a decorá-lo —informou Erin, um vez que estiveram acomodados no carro e com a árvore no bagageiro.

—Que bom.

—Acostumará-te.

Ty a olhou e sorriu, e Erin apoiou a cabeça em seu ombro.

—Assim está melhor —disse ele, arrulhando-a.

Erin desfrutou durante a viagem como não o tinha feito em toda sua vida.

 

detiveram-se frente à casa, mas antes de que descesse do carro, Ty a beijou nos lábios de uma forma completamente distinta a como o tinha feito antes. Foi mais tenro; possivelmente mais que um beijo, foi uma carícia.

—Acredito que poremos a ti na parte mais alta da árvore —sussurrou ele—. É mais bonita que qualquer anjo.

Erin sorriu e lhe devolveu o beijo.

—vou procurar um vaso para a árvore —disse ao sair.

—Que o faça Rede. Você tem que deixar descansar essa perna antes que lhe rompa isso. Já caminhaste muito por hoje.

—Sim, senhor —murmurou ela.

—E com o que o vais decorar?

—É certo! Me esqueceu. Pode que a Conchita lhe ocorra algo.

Enquanto Erin entrava na casa, Ty foi em busca de Rede, indicou-lhe o que queria que fizesse com a árvore e lhe colocou um bilhete de vinte dólares no bolso para que fora a comprar adornos.

Rede o olhou atônito.

—Que compre o que?

—Adornos. Para a árvore de Natal.

—Árvore de Natal?

—Acaso te tragou um louro? Ela quer uma árvore e deseja decorá-lo, comprei a árvore, mas não tenho adornos, assim vê e traz algo que lhe pôr.

Rede lançou um assobio e se baixou o chapéu à altura dos olhos.

—E logo falam de terremotos... —murmurou.

—Você sim que vai ou seja o que é um terremoto se não te largar agora mesmo.

—Sim, senhor.

 

—Que o senhor vai pôr uma árvore? dentro da casa?

—Uma árvore de Natal —l explicava Erin a Conchita—. Para adorná-lo.

—Isto é incrível —murmurou Conchita—. Jamais tinha querido uma árvore, nem adornos nem nada. Dizia que o Natal era para o resto da gente, e agora vai e compra uma árvore. Digo-lhe que este não é o mesmo homem para o que levo muitos anos trabalhando. Agora ri, elogia meus cafés da manhã... Um milagre! —exclamou, elevando as mãos. Logo desapareceu para lhe contar a notícia a seu marido e Erin ficou de pé, imóvel e surpreendida, no meio do vestíbulo.

—Acreditei que te havia dito que se sentasse —comentou Ty da porta.

—É que...

Ty a elevou em braços como quem levanta uma pluma e a levou até o salão, onde o fogo crepitava na chaminé.

—Não posso permitir que te faça mal no quadril. Tenho outros planos para ela.

—Ah, sim?

O se acomodou em uma poltrona junto à chaminé, envolvendo ao Erin com seus braços.

—Conchita me contou que não estava acostumado a pôr árvore de Natal —comentou ela.

—Desde que meu pai morreu não tornamos a pô-lo. Deprimia-me.

—Gostava do Natal a seu pai?

Ty se apoiou no respaldo do sofá e Erin apoiou a cabeça em seu ombro.

—Muito —respondeu, sonriendo ao recordar— Era como um menino grande. Um ano antes que morrera, lhe dei de presente um trem elétrico, e se passava horas jogando com ele. Uma vez me contou que quando ele era pequeno, sua família era tão pobre que o presente de Natal consistia em frutas e nozes; nunca teve um brinquedo comprado.

—Pobre homem —sussurrou ela—. Suponho que ao menos foi um menino querido por seus pais.

—Não acredito. Tiveram que casar-se porque minha avó tinha ficado grávida. Nunca lhe perdoaram que tivessem tido que casar-se por causa dele.

Erin recordou de repente o menino que tinha perdido, e parte de sua alegria se esfumou.

—Não olhe atrás —disse Ty, lhe acariciando o pescoço, como se lhe adivinhasse o pensamento— Não podemos trocar o passado.

—Suponho que não —conveio ela suspirando.

—Mandei a Rede à cidade para que compre adornos para a árvore.

—OH, Ty! Que bem!

—Pareceu-me que seria uma vergonha pôr uma árvore nua em meio da casa. A gente o olharia sem compreender.

—É certo —e acurrucándose mais contra ele, perguntou—: Crie que poderíamos nos esquecer de meus exercícios por hoje?

—Não —negou ele e a beijou.

—Mas, Tyson, se tiver estado caminhando todo o dia.

—Isso está muito bem, mas não é o que te indicou o médico, e você quer voltar a caminhar como se deve, verdade?

—Sim —admitiu ela com uma careta—. Está bem. Já vou.

—Essa sim que é minha garota!

E o curioso do caso é que ela de verdade se sentia sua garota. As coisas mais simples estavam agora impregnadas de uma nova ternura. Aquela mesma noite, durante o jantar, lhe retirou a cadeira para que se sentasse, acrescentou-lhe açúcar a seu café, e logo a observou com atenção e uma expressão realmente curiosa. Ela se sentiu protegida como nunca se sentou em sua vida.

—Vem sua mãe alguma vez a verte? —perguntou ele enquanto tomavam a segunda taça de café.

—Nunca estivemos unidas, já sabe —respondeu ela.

—por que não me falou Bruce do acidente?

Erin duvidou um instante. A resposta ia fazer lhe danifico, sabia.

—por que? —insistiu ele.

—Ty, não é que Bruce —fora deliberadamente cruel —explicou ela escolhendo cuidadosamente as palavras e lhe acariciando a mão— Era muito possessivo... estava obcecado comigo. Oxalá me houvesse eu dado conta antes, mas não foi assim. Possivelmente teve medo de lhe dizer isso ou simplesmente pensou que não te importaria.

—Sabia que me importava. Quando me disse o que opinava de mim como amante, embriaguei-me durante dois dias, e José o contou.

—OH, Ty...

—Não me ocorreu nada —disse ele, com expressão mais dura que nunca—. Mas estive te odiando vários dias. Se me tivesse falado do accidente,~ então eu... —ficou olhando, seu rosto, seus olhos cor esmeralda e seu cabelo negro como o azeviche, e a ira desapareceu—. Demônios! A quem acredito que vou enganar? Teria chegado ao hospital tão rápido,, como uma bala. Teria atravessado o mesmo inferno se tivesse sabido que estava doente e necessitava a alguém.

E assim teria sido, pensou Erin, mas o que não tinha acrescentado Ty era que teria feito o mesmo por qualquer outra pessoa. Ela sabia quão generoso era. Conchita lhe tinha contado das boas obras que ele fazia desinteresadamente.

—Disseram-me que quando entrei no hospital, chamava-te em sonhos. Era muito tarde para salvar ao menino, mas me sentia tão vazia, tão só e tão assustada...

Ty apertou os punhos e se levantou da mesa.

            —Será melhor que me ponha a trabalhar com os papéis —disse em um tom de voz áspero e dolorido.       

Pôde haver-se mordido a língua!, pensou Erin. Quão único tinha conseguido era erigir mais barreiras entre eles.

—Ty...

—E será melhor que você comece a adornar a maldita árvore —indicou ele, sem olhá-la—. Pode fazer os exercícios mais tarde.

Erin lançou o guardanapo sobre a mesa e ficou de pé.

—Não estava tentando te ferir—disse—Tomadas tudo o que digo ao pé da letra.

—Ah, sim? E crie que o faço sem razão? Não me perdoaste pelo que ocorreu. Em seu interior me culpa por seu estado e por ter perdido ao menino, e possivelmente eu mesmo também me culpe. Bruce fez mau, mas eu lhe acreditei, e você também. Talvez nenhum dos dois queira dar o passo de confiar no outro. Eu não tenho mais prática que você em confiar na gente, ás que possivelmente seja melhor retroceder e analisar tranqüilamente tudo isto ante de nos comprometer mais.

A cabeça dava voltas ao Erin. Nunca o tinha ouvido lançar um discurso tão largo e não conseguia compreender seu significado. Estava lhe dizendo que não queria nenhum compromisso com ela? Pretendia só esperar a que ficasse bem e lhe facilitar as coisas para que pudesse partir e deixá-lo sem sentir remorsos?

Ela quis interrogá-lo, mas Ty se afastava acendendo outro de seus malditos cigarros, e ela ficou olhando-o sem falar. Depois voltou a levantar-se e se foi ao salão. Todo o otimismo e a magia do dia acabavam de desvanecer-se.

Erin estava cansada, e lhe custou muito esforço manter-se de pé para decorar a árvore. Conchita lhe estava ajudando, falando animadamente sobre outros Natais quando o pai do Ty vivia, e lhe relatando com todo detalhe as festas que tinham dado na casa.

—Já não tornamos a ter festas após —suspirou—. Ao senhor Ty não gosta da gente.

—Especialmente a do sexo feminino —murmurou Erin, olhando distraída o que tinha nas mãos.

—Sim, isso é certo. Acredito que é por seu físico. Parece-me que pensa que nenhuma mulher poderia sentir-se atraída por ele porque não é o que se diz um modelo publicitário—. Conchita moveu a cabeça e sorriu—. É uma lástima, porque não é o aspecto de um homem o que atrai a uma mulher, a não ser o que é. O senhor Ty é muito homem... já sabe, como meu José. Será sempre o homem da casa, e assim é como deve ser.

Erin pôde haver dito algo a respeito, mas preferiu guardar silêncio. Já tinha muitos problemas.

Ty não disse nenhuma palavra sobre a árvore quando entrou no salão um momento depois. Erin estava fazendo seus exercícios, e ele se sentou junto a ela uns minutos para ajudá-la, mas não estava concentrado nisso.

—vou poder dormir contigo esta noite, ou sigo confinada no barraco do cão? —perguntou ela ao fim.

Ty se limitou a olhá-la como se não pudesse dar crédito a seus ouvidos. E a verdade é que assim era. Tivesse jurado que ela não ia querer saber nada dele, e agora Erin o fazia proposições. O esteve refletindo até que chegou à conclusão de que as mulheres sentiam as mesmas necessidades que os homens, sobre tudo depois de conhecer a satisfação, assim que ela podia desejá-lo fisicamente sem sentir nada por ele, o que supunha um duro golpe, porque ele se deu conta de que a parte física não era precisamente o que necessitava. Em algum momento tinham despertado nele outros desejos, necessidades emocionais.

—Quer dormir comigo? Agora que o provaste, não pode viver sem isso, não? É isso?

Foi como uma bofetada em plena cara. Erin não podia adivinhar a insegurança ou desilusão dele.

—Acredito que melhor conectarei a manta elétrica —disse depois de um minuto—. Posso viver sem sexo, obrigado.

Ty ia dizer algo, mas trocou de opinião e, de duas pernadas, saiu da habitação, deixando-a com os olhos cheios de lágrimas. Ela não podia suportar aquela mudança só porque tinha tentado lhe dizer que o queria. E o queria de verdade, possivelmente sempre. Ao princípio, tratou-se só de atrair sua atenção, mas depois, em algum momento, tinha surto algo mais forte. Durante todos aqueles meses de tortura físico e angústia mental, sua lembrança a tinha mantido viva. Muitas vezes quis lhe chamar, contar-lhe tudo. Mas Bruce as arrumou para convencer a de que seu irmão a desprezava, de que não queria saber nada dela, especialmente estando inválida, e ela se encerrou em sua carapaça e se empenhou em odiar ao Ty pelo que lhe tinha ocorrido. Mas era um ódio fictício, porque bastou vendo-o uma vez para sentir desejos de lhe abrir seu coração e estar com ele, perto dele. Mas agora, ao tentar lhe dizer que o queria, só tinha conseguido afastá-lo, e a possibilidade de que as velhas feridas cicatrizassem parecia mais longínqua que nunca.

Conforme passavam os dias, as coisas foram de mal em pior. Ty a ignorava por completo, mas seus homens não tinham essa mesma sorte; estava de um humor diabólico e até o José e Conchita estavam começando a sofrer suas conseqüências: que se a comida não sabia bem, que se o café não era o bastante forte, que se o carro não estava bem limpo ou as escadas se achavam cheias de pó. E quando não se queixava, encerrava-se em seu estudo com os livros. Não havia tornado a tocar a sua esposa desde que foram ao Santo Antonio, e ela se sentia abandonada.

 

Uns dias antes de Natal, Erin começou a reparar na grande mudança que tinha experiente desde sua chegada ao Staghorn. Tinha seguido fazendo os exercícios religiosamente, apesar de que Ty já não se ocupava dela, e tinha começado a caminhar sem apoiar-se na muleta. Seu rosto tinha recuperado seu brilho e tinha subido um pouco de peso. Cada vez se parecia mais a modelo que Bruce tinha levado uma vez ao rancho, e quanto melhor estava, mais anti-social se voltava seu marido.

O estava voltando a vê-la tal e como era: uma princesa que podia ter ao homem que quisesse em qualquer momento. Assim que estivesse recuperada de tudo, partiria do Staghorn, voltaria para sua antiga vida e ele ficaria sozinho. Maldita seja! Era algo que sabia desde o começo, não? Era ele quem se proposto conseguir que voltasse a caminhar para compensá-la pela dor que lhe tinha causado. Mas já não podia suportar estar perto dela. Seu coração era muito vulnerável. Se não se andava com cuidado, perderia-o quando Erin partisse a Nova Iorque. Fazia enormes esforços por não preocupar-se com ela, mas estava chegando ao limite de sua resistência. Aquele dia no Santo Antonio, quando deu rédea solta a suas emoções, não foi mais que um perrito mulherengo em lugar de um homem, dançando a seu redor. Essa debilidade lhe resultava insuportável, e a voz de seu pai ressonava em seu subconsciente exortando-o, lhe dizendo que nenhuma mulher devia ser capaz de pô-lo naquela situação.

Por fim, uma manhã decidiu que tinha chegado o momento de atacar, de enfrentar-se ao Erin e a si mesmo. Quando chegou ao salão, onde sabia que ela estaria fazendo seus exercícios, deteve-se na porta para olhá-la.

Erin se levantou quase sem dificuldade e se jogou o cabelo para trás.

—Queria algo? —perguntou como dirigindo-se a um estranho.

Ty se levou o cigarro aos lábios e a olhou como nos primeiros dias: com um sorriso depreciativo que lhe pôs os pêlos de ponta.

—Não está mal —disse—. Está recuperando sua figura.

—Não te burle de mim —respondeu ela, tentando manter a voz serena—. Não posso melhorar meu aspecto.

—Nisso estamos iguais.

Erin se apoiou na poltrona e o olhou com fixidez. Estava um pouco mais magro e tinha várias rugas mais na cara.

—Ocorre algo? —perguntou, surpreendendo-o—. E não refiro a entre nós dois.

—por que? É que o parece? —inquiriu ele, envolto em uma nuvem de, fumaça.

—Parece preocupado.

—Tenho alguns problemas financeiros —revelou ele depois de uma breve pausa—. Ou deveria dizer temos, senhora Wade?

—É grave?

—O suficiente. Investi uma forte quantidade de dinheiro em compra grão para alimentar aos animais durante o inverno. O silo era de um corporação que quebrou. O grão foi confiscado e isso me obrigou vender parte do gado quando o preço do mercado estava bastante baixo. Nos negócios, como no dominó, uma perda causa outra. Talvez saiamos, talvez não. vai ser necessário lhe dar muitas voltas ao assunto. Podemos chegar a perder a metade do que temos.

—Bom, a metade não é tão terrível, tendo em conta o tamanho d Staghorn, não?

—você poderia viver com o meio corpo?

—Não é isso o que estive fazendo?

E como se aquelas palavras tivessem sido uma espécie de conjuro, Ty deu meia volta e desapareceu. Se ao menos fosse capaz uma só vez de ficar e discutir as coisas!

Erin não acreditava ter tido jamais um Natal tão triste. Tinha dissimulado o tamanho de seu presente envolvendo-o em um montão de caixas para pô-lo sob a árvore, mas não podia deixar de preocupar-se com qual seria a reação do Ty ao abri-lo. Seu matrimônio estava quase destroçado, e lhe tinha comprado um aliança de casamento muito caro. Tinha pensado em devolver o, mas seu coração o impediu. Enquanto houvesse a mais mínima oportunidade de que um dia ele chegasse a preocupar-se com ela, não podia render-se.

O dia de Natal se levantou cedo. Quando chegou ao comilão, Ty já se achava sentado à mesa, muito elegante com suas calças nova e uma camisa a raias. Estava perfeitamente penteado e recém barbeado e Erin sabia que o tinha feito por ela, mas não podia lhe dar as obrigado. A tensão entre eles seguia sendo muito forte, e só estando em sua presença se sentia muito incômoda.

—Feliz Natal —disse muito educadamente.

—Feliz Natal —respondeu ele, levantando-se de sua cadeira e lhe indicando que se sentasse frente a ele. deu-se conta de que caminhava já sem a muleta e quase sem coxear. O vestido que se pôs era da mesma cor que seus olhos. Levava o cabelo solto, que emoldurava seu rosto brandamente maquiado.

—Preciosa —murmurou, e quando ela o Miro. surpreendida, acrescentou—. Me refiro à decoração da árvore.

Erin se voltou a olhar a árvore e viu o pé de este um pacote novo junto aos que já sabia que eram do José e Conchita.

—Comprou algo para mim? —perguntou, olhando-o.

—Bom, sim...

—Eu também comprei algo para ti.

As duas caixas eram muito grandes e Erin se perguntou se ele teria feito quão mesmo ela. Muita coincidência, pensou.

serve-se uma taça de café do precioso serviço de prata que Conchita tinha disposto na mesa, tomou um pãozinho e se acomodou em uma poltrona.

—Já caminha muito melhor —comentou seu marido, apoiando-se no respaldo de sua cadeira com uma taça de café na mão.

—estive trabalhando duro.

—Uma grande mudança, comparado com seus primeiros dias no rancho.

—Sim. Uma boa mudança.

—Quer abrir os presentes? —perguntou ele, logo depois de tomar um sorvo de sua taça.

—Muito bem —Erin se aproximou da árvore, cambaleando-se um pouco ao ajoelhar-se, enquanto Ty chamava o José e Conchita.

O matrimônio entrou muito sorridente na habitação, tomaram seus presentes e entregaram os seus. Erin encontrou em sua caixa um xale precioso que Conchita tinha tecido à mão, e Ty uma gravata. O ama de chaves descobriu uns lenços bordados do Ty e uma pequena cajita de prata do Erin, e José uma gravata e uma carteira.

—Muito obrigado —disse Conchita, sorridente—. Lhes importa que vamos agora a casa de minha irmã até a hora do almoço?

—Claro que não —respondeu Ty.

—Voltaremos logo. Obrigado por tudo isto —disseram, e fecharam a porta ao sair.

Erin e Ty voltaram a ficar sozinhos, completamente solos pela primeira vez desde dia que compraram a árvore.

 

Erin se terminou sua taça de café com certo nervosismo. Oxalá pudesse voltar para os primeiros dias de sua estadia no Staghorn e recuperar aquela magia, desejou. Agora parecia haver uma barreira infranqueável entre eles que mantinha ao Ty sempre à defensiva, possivelmente por seu próprio sentimento de culpabilidade. Uma barreira que ela era incapaz de sortear.

Ty fumava constantemente, assim também devia estar nervoso.

—Será melhor que terminemos com isto —disse, aproximando-se da árvore para recolher os presentes.

Erin, sentada no sofá com o seu ao lado, sentia-se realmente incômoda. O que pensaria ele quando visse o anel? zangaria-se? surpreenderia-se?

Ty foi abrindo as sucessivas caixas até que tirou a última e a abriu. Erin desejou que a tragasse a terra quando viu sua expressão.

—Sinto-o —se apressou a desculpar-se, aproximando-se dele— foi uma estupidez. Não queria que...

—Toma —interrompeu ele, tomando-a pela boneca— Ponha me pediu isso com um estranho tom de voz.

Erin tirou a jóia da cajita com mãos trementes e a pôs a seu marido no dedo. O tamanho era perfeito. Então Ty a olhou aos olhos sem piscar.

—Não te importa? —balbuciou ela.

O tomou o rosto entre as mãos e a beijou nos lábios com uma ternura maravilhosa.

As lágrimas lhe brilharam nos olhos ao Erin ao sentir aquele roce. Fazia tanto tempo que ele não a tocava nem a beijava, que sentiu desejos de rodeá-lo com seus braços e não deixá-lo apartar-se, mas era muito logo. Havia numerosos equívocos entre eles e uma grande dor. Não estava segura dele, de que não estivesse tentando encontrar uma forma nova de atormentá-la, assim que se apartou com suavidade.

Ty pressentiu suas dúvidas. Agora era ela quem se parapetaba depois de um muro, e por culpa de seu próprio mau gênio, lhe ia resultar muito difícil evitá-lo.

—Obrigado—disse. Tivesse querido acrescentar que esse anel iria com ele até o dia de sua morte, mas não se atreveu.

—De nada. Comprei-a o dia que fomos ao Santo Antonio.

Ty recordava esse dia muito bem; não tinha podido tirar-se o da cabeça.

—E com o que o comprou? —perguntou de repente—. Não me permitiste te dar nenhum dinheiro.

Erin se moveu inquieta.

—Eu... tinha um pouco de dinheiro economizado.

Ty voltou a olhar o anel. Diamantes, diamantes genuínos engastados em ouro.

—Deveu custar muito —murmurou.

Erin parecia cada vez mais incômoda.

O suspirou enquanto ela abria seu presente. Era bastante menos caro que o dela. Não se tinha atrevido a lhe dar de presente um anel, assim que o devolveu e em seu lugar escolheu uma esmeralda; era uma pedra muito pequena rodeada de vários brilhantes que pendurava de uma cadeia de ouro. A jóia lhe tinha recordado a sua esposa: brilhante, delicada e preciosa.

—Tivesse querido comprar outra coisa —se desculpou.

—Eu gostarei.

O tinha utilizado a mesma camuflagem que ela, assim quando por fim chegou à última caixa, Erin ficou quase sem fôlego.

—OH, Ty! É preciosa! —exclamou—. É uma maravilha!

Tirou-a do estojo com cuidado e a acariciou brandamente, com os olhos lhe brilhando de alegria, e Ty se sentiu aliviado por não lhe haver comprado algo mais caro. Parecia agradada de verdade.

—Obrigado —disse ela, ficando ao pescoço a delicada cadeia. Seu rosto era tão formoso quando sorria, que ele esteve a ponto de tomá-la em seus braços para rodar com ela pelo tapete.

Erin captou o desejo em seus olhos e, timidamente, aproximou-se dele para beijá-lo nos lábios.

—Muito obrigado —sussurrou.

Ty tentou dissimular quão vulnerável era ante ela. Antes ela o tinha rechaçado e isso lhe doeu, assim não queria arriscar uma segunda vez. Erin estava preciosa, mas sob seus olhos havia umas sombras escuras, uma tristeza da que ele se sentia responsável, além de muitas coisas mais. Ela possivelmente o perdoasse algum dia, mas ele não poderia absolver-se jamais. O dano que lhe tinha causado foi produto de sua dor, mas não podia dizer-lhe Era muito orgulhoso.

—Me alegro de que você goste de —disse ao fim, levantando-se para caminhar pela habitação.

—melhorou a situação financeira? —perguntou Erin depois de uma breve pausa.

Ty se encolheu de ombros enquanto acendia um cigarro.

—Quase nada.

Erin se mordeu o lábio pensativa. Estava fazendo muitos progressos com a perna, e dentro de pouco caminharia sem dificuldade. As cicatrizes da cara também se foram esfumando, e dispunha do talento e os contatos para voltar a trabalhar como modelo. Possivelmente pudesse fazer o suficiente dinheiro para lhe ajudar.

—estive pensando... que cada dia melhora meu quadril. Em pouco tempo posso estar o bastante bem para voltar para Nova Iorque e me pôr a trabalhar com minha agência.

Ty ficou paralisado. O momento temido por fim tinha chegado. Erin começava a sentir falta de sua vida passada e queria partir. Necessitava... como o havia dito ela?... a luz e o movimento, e possivelmente um homem não tão arisco como ele. Ty riu amargamente para si. Ao menos não se feito iluda dos sentimentos dela para ele. que o desejasse fisicamente não queria dizer nada.

—Se isso for o que quer, adiante —disse com voz neutra—. Ao fim e ao cabo, pode que seja uma boa idéia.

Erin tinha esperado aquela resposta, mas mesmo assim, não pôde evitar a sensação de que todo se ia a rivalidade.

—Ainda não posso partir. Necessitarei mais tempo.

—Espera até a primavera se quer —sugeriu ele tentando parecer indiferente, mas seus olhos o traíam.

—Não necessitarei tanto. Só umas semanas mais.

—Como quer.

Ty se levou de novo o cigarro aos lábios e contemplou o anel de seu dedo. adorava a sensação que lhe produzia, seu simbolismo. Ao menos no momento de comprá-lo ela deveu haver sentido certa ternura para ele, e essa lembrança teria que lhe durar toda a vida, todos os anos que ficassem sem ela e sem seu amor. Erin lhe havia dito que se havia sentido só e vazia quando perdeu ao menino. lhe doía imaginá-la no hospital sem ninguém que se ocupasse dela e se perguntou...

—Quis morrer, verdade? —falou com voz fica, olhando-a com uma intensidade quase inquisitiva.

—O que? —perguntou ela piscando várias vezes.

—Depois do acidente. Quis morrer.

Como o tinha sabido? Ela não queria falar disso. Cada vez que tocavam esse tema as coisas pioravam e Ty se voltava mais distante, mais inacessível.

—Acreditei que minha vida tinha terminado, e suponho que houve um momento em que não me importou viver nem morrer.

Ty a examinava com cuidado. Tinha ganho peso, seu cabelo tinha recuperado seu magnífico brilho e seus olhos tinham voltado para a vida.

—Suponho que cada vez que te lembrava de mim, te revolvia o estômago.

—A verdade é que quis te chamar —confessou ela com as bochechas rosadas.

O ficou boquiaberto, incapaz de mover-se.

—Que quis o que?

—Quis te chamar. Estive a ponto de fazê-lo —revelou ela, olhando-o com serenidade—. Mas Bruce me convenceu de que não me serviria de nada e que você nem sequer quereria falar comigo.

—Entretanto, você sabe que teria ido.

Erin tentou sorrir.

—Dava-me conta disso mais tarde, mas de todas formas me alegro se soubesse. Foi terrível te haver odiado pelas falsidades que Bruce me contou, mas já vê, acreditei-lhe.

—Suponho que tinha suficientes raciocine para não questionar o que Bruce te contava —observou ele—. Atuei com uma crueldade desumana contigo.

Erin procurou seu olhar. O tinha uma opinião tão pobre de si mesmo... como poderia ela lhe explicar que lhe parecia o homem mais sexy sobre a face da terra, e que se sentia tão tímida corno uma menina de colégio cada vez que estava perto dele?

—por que? —perguntou-lhe—. Só porque me desejava?

—O que outra razão poderia ter havido? —replicou ele, apartando-se dela.

Uma vez, uma só vez tinha sido ela capaz de tirar o de sua armadura, de aturdi-lo, e se perguntou o que ocorreria se se desabotoasse o vestido ante ele.

Ty se aproximou da porta, mas antes de sair se deteve.

—Há um potro nascido no estábulo —anunciou sem voltar quer vir a vê-lo?

Esse convite inesperado adorou.

—Sim, claro que eu gostaria.

—Ponha o casaco. Faz muito frio hoje.

Erin o seguiu pelo corredor tentando não coxear. sentia-se orgulhosa de seus progressos e queria lhe mostrar o que tinha avançado. Quando Ty lhe tendeu um casaco, ela se pôs-se a rir. Era enorme; devia ser dele.

—Me vou perder aí dentro —protestou.

—Parece-me que não tem casaco de inverno —comentou ele—. Não encontrei nenhum em seu armário faz uns dias.

Erin sorriu.

—Antes tinha um casaco de visom quase até os pés, mas o vendi depois de... depois de que eu... Não Ty, por favor! Não vá. O outro dia me disse que o passado era o passado e que não podíamos trocá-lo, e assim deve ser.

—Oxalá pudéssemos. Daria algo por poder trocá-lo.

—Toma —disse ela, lhe devolvendo o casaco—. me Ajude a me pôr isso Tentarei não tropeçar com ele.

A risada do Ty resultou quase forçada.

—De acordo. Coloca os braços.

Fazia frio fora, havia um pouco de névoa e o céu estava tão cinza como os olhos do Ty.

Todo o pessoal tinha o dia livre, e a maioria deles tinham saído do rancho a visitar a família para celebrar o Natal. Erin seguiu a seu marido dentro do enorme e moderno estábulo, e esperou a que ele fechasse a porta. Depois, avançaram por um amplo corredor franqueado a ambos os lados por casinhas com o chão coberto de palha, das quais só umas quantas estavam ocupadas.

—Não tem muitos cavalos? —perguntou ela, curiosa.

—Temos —corrigiu ele— poucos. Mas aqui só trazemos para as éguas prenhes.

—Pelo frio?

—Sim. Aqui é —disse ele, detendo-se frente a uma das casinhas—. Nasceu ontem à noite.

Era um cavalo árabe, completamente negro, com a cabeça pequena dos puro sangue. Ainda lhe tremiam as patinhas, que pareciam muito magras para sustentá-lo enquanto sua mãe, orgulhosa, lambia-o e olisqueaba.

—A maioria das éguas são muito boas mães —comentou Ty, sonriendo ao pequeno—. dentro de um mês não o conhecerá, quando puder sair ao cercado a galopar.

—você adora os animais, verdade? —perguntou-lhe sua esposa, apoiada na parede da casinha.

—É fácil querê-los —respondeu ele—. Não podem te fazer danifico, salvo fisicamente, e isso só ocorre se abusar deles.

—Ao contrário da gente.

—Isso o aprendi quando era pequeno. Os meninos atacam ao que seja diferente a eles.

—Tão distinto foi?

—Pés grandes, orelhas grandes, uma cara que só uma mãe poderia querer e mau gênio. Já te deste conta.

—Pelo que sim me precavi é do mau gênio.

—Quando? —perguntou ele, esboçando um sorriso—. Ultimamente nem te aproxima de mim.

—E como quer que o faça se você me evita? Só te faltou me pedir que me parta.

—Não posso fazê-lo. É proprietária da metade do Staghorn, e minha mulher.

—Só de nome.

—Desde dia do Santo Antonio, não —replicou ele, e a lembrança lhe ardeu nos olhos.

—É certo —respondeu ela, interpretando-o mal deliberadamente—. Após não. Nenhuma só vez —acrescentou, enquanto deixava escorregar por seus braços o casaco ante o olhar atônito dele.

—Que demônios faz? —perguntou Ty quando Erin começou a desabotoar o vestido.

—ganhei um pouco de peso, e acreditei que você gostaria de comprová-lo por ti mesmo.

Sem dar-se tempo a pensar, ela escapou o último botão e o vestido escorregou brandamente para baixo. Como a malha era grossa, ela não se incomodou em ficar sustento, assim que seus seios ficaram nus e firmes para mostrar-lhe ao Ty sem reparos, enquanto seu coração parecia um potro desbocado dentro do peito.

—Erin ...

lhe gostou da expressão arrebatada dele, suas pupilas dilatadas e sua acelerada respiração, assim que lhe aproximou para lhe tirar o casaco ante seu olhar surpreendido. Devagar, foi desabotoando a camisa até que o varonil peito ficou ao descoberto para que pudesse acariciá-lo.

—OH, Ty... —gemeu, abraçando-o pela cintura.

—Deus... —murmurou ele, rodeando-a pelos ombros para sentir os mamilos excitados contra seu peito—. Te arde a pele, Erin.

—A ti também —respondeu ela, arqueando as costas para poder olhá-lo. Seu rosto estava aceso de sensualidade—. Te desejo.

—Sim, sei —respondeu ele com uma voz que resultou quase irreconhecível pelo áspera—. Eu te desejo tanto como você a mim.

—Podemos... aqui?

—Acredito que teremos que poder —respondeu ele, tomando-a em braços e beijando-a.

—Por favor, agora —sussurrou ela—. Por favor, Ty...

—Ssh... Só um minuto. Só um minuto mais.

separou-se um pouco dela para tirar o resto da roupa. Ao menos tinha um bom corpo, e gostava de como o olhava a garota com olhos famintos e preguiçosos.

Quando voltou junto a ela, Erin o abraçou para apertar-se contra ele.

—Ainda não —disse ele, acariciando-a enquanto ela gemia—. Ainda não. Quero que esta vez me peça isso. Quero verte chorar.

—Por favor...

Suas bocas voltaram a unir-se e Ty procurou novas formas de acariciá-la, alargando os minutos de deliciosa ternura. Erin se sentiu perdida naquele insofrível prazer.

Por fim Ty a tendeu sobre a roupa e se colocou em cima dela, acariciando os seios firmes e os mamilos eretos. Erin tremia inverificado, lhe cravando as unhas nos quadris.

—Devagar —sussurrou ele com voz tremente, e quando começou a entrar nela, Erin se sacudiu—. Devagar... —repetiu, observando como as pupilas dela se dilatavam e como seu corpo adquiria um ritmo suave e demolidor—. Não feche os olhos —lhe ordenou, tomando-a pela nuca—. Não feche os olhos, carinho, que quero verte. Assim, forte, empurra, empurra... sente-o. Sente-o comigo... vamos... OH, Deus, Erin, me... faz-me sentir... é tão... doce Erin! Erin!

Erin arqueou as costas sob seu peso, sacudindo-se de prazer, sentindo-o, deixando-se arrastar por uma espécie de desejo terrível e intenso que parecia consumi-lo tudo em sua tempestade de sensações.

Ty lhe sussurrava algo ao ouvido enquanto ela se estremecia sob seu corpo com as lágrimas lhe umedecendo as bochechas.

—É tão doce, Erin —murmurou ele, lhe lambendo as lágrimas com ternura—. Foi como se me lançasse ao infinito.

—Não sabia que pudesse ser assim —choramingou ela, abraçando-o com força e mordendo-o no ombro e no pescoço, em uma forma delicada e possessiva.

—Pode voltar a ser assim —deu ele—. Pode ser... dentro de um momento.

Voltou a possui-la e Erin se deixou levar de novo para esse universo maravilhoso de foguetes, mais devagar esta vez, até que se sentiu vibrar como a corda de um arco depois de disparar a flecha.

—Se não tivesse tomado precauções —sussurrou ele passados uns minutos—, esta vez teríamos engendrado um filho.

—Sei —assentiu ela, abraçando-o com força—. OH, Ty, nunca tínhamos feito o amor desta maneira!

—foi fazer o amor, verdade? Não foi sexo. Erin, volta-me louco.

—E você a mim, Ty. por que seguimos nos castigando pelo que ocorreu? por que não posso dormir contigo? por que não podemos ter um matrimônio autêntico?

Ty apoiou a bochecha sobre seu ombro.

—É isso o que quer realmente? Acreditei que pretendia voltar para sua carreira.

Erin se mordeu o lábio. Esse parecia um bom momento para lhe dizer o que sentia: que não queria deixá-lo, e que mais que nada no mundo desejava ser mãe de seus filhos e envelhecer a seu lado.

—Ty... poderia deixar de tomar a pílula —disse com voz tremente—. Poderíamos engendrar outro filho.

Ele quase deixou de respirar. Seria isso o que de verdade queria ela? Seria culpabilidade ou lástima por ele, ou simplesmente se estava afeiçoando a fazer o amor? Poderia conformar-se com ele quando tinha sua carreira de novo ao alcance da mão? O desejava aceitar sua oferta. Desejava aceitá-la quase com desespero, mas tinha que lhe dar a oportunidade de voltar para sua vida anterior. Ela tinha tido um terrível acidente e suas lembranças eram amargas. Estaria ele aproveitando-se de uma debilidade momentânea se aceitava, uma debilidade que Erin lamentaria quando estivesse completamente recuperada?

—Ainda não —disse ao fim, olhando-a aos olhos—. Ainda não é o momento. Dormiremos juntos se for o que quer. Deus sabe bem que isso é o que eu também desejo, mas nada de meninos nem de compromissos. Primeiro deve voltar para Nova Iorque umas quantas semanas a seu antigo mundo, e depois, quando o tiver saboreado bem e eu tenha solucionado meus problemas financeiros, tomaremos nossas decisões.

Seria isso uma oferta ou uma retirada?, perguntou-se Erin. Acaso procurava ele recuperar sua liberdade, ou seria sozinho lástima? Se pudesse ela ler seus pensamentos!

—De acordo—respondeu ao fim. Possivelmente o que tinham fosse suficiente no momento. Ty a desejava, e esse desejo com o tempo poderia converter-se em duradouro.

Iria a Nova Iorque e depois retornaria ao rancho para lhe demonstrar que seu aspecto não lhe importava no mais mínimo, que por muitos homens sofisticados e atrativos que visse seguiria prefiriéndolo a ele.

—te olhe —disse Ty, examinando seu corpo—. Em pleno inverno, frio que faz...

—E você o que, vagabundo?

—É tua culpa. Seduziu-me —a acusou ele, sonriendo—. Se te tira o vestido e fica com esses maravilhosos seios ao ar, não posso fazer outra coisa, embora minha vida dependa disso.

—Pois sim que pudeste esperar o suficiente para me fazer sofrer —lhe reprovou ela, ruborizando-se ligeiramente ao recordar como tinha tido que lhe rogar.

—Não pode imaginar como me senti para te ouvir suplicar —respondeu ele, lhe mordendo brandamente os lábios.

—Meu pobre orgulho! O que terá sido dele?

—Não seja mentirosa. Também você adorou —murmurou ele, beijando a de uma forma íntima, doce e faminta—. OH, Deus! —exclamou, deixando cair a cabeça sobre seu ombro—. Eu gostaria de continuar, mas não posso. Estou tão cansado...

Erin sorriu.

—Eu também —disse, e com um suspiro de satisfação, fechou os olhos—. Posso dormir contigo esta noite?

—Claro que pode!

—Não me levantaria daqui por nada do mundo.

—Eu tampouco, mas talvez apareça alguém, e então sim que seria a vergonha a que não nos deixaria nos mover —advertiu ele e se levantou para admirar seu corpo nu—. Poderia estar te olhando assim durante toda a eternidade e não me cansar.

Erin sorriu.

—Você tampouco está nada mal.

—Assim é como me sinto agora mesmo —confessou ele, sonriendo—. Será melhor que te vista antes que...

—Adulador! —disse ela enquanto se vestia.

Ty terminou de ficá-la roupa antes que ela, e entre beijo e beijo, ajudou-a a vestir-se.

—por que tendeu nossa roupa? —perguntou com curiosidade.

Ty se agachou para tomar um punhado de feno e lhe mostrar as sarças mescladas entre a palha.

—O feno nunca é só feno. Está acostumado a haver sarças e rosas silvestres mescladas. Imagine como te tivesse ficado as costas com isto e meu peso sobre ti.

Erin avermelhou, e Ty sorriu antes de aproximar-se e beijá-la na frente.

—eu adoro verte ruborizada, e eu adoro saber que não houve outro homem mais que eu.

—E eu gosto de saber que não te foste à cama com a metade das mulheres da zona. Estive a ponto de me deprimir quando no Santo Antonio me contou que não tinha feito antes o amor de verdade.

—Pois a outras mulheres não teria parecido tão maravilhoso.

—É que eu sou sua mulher —lhe recordou ela olhando-o aos olhos.

—Sim —disse ele, inchando-se de orgulho, É minha esposa, minha mulher.

Erin se abraçou a ele, saboreando sua força e o novo afeto que surgia entre os dois. Se ao menos fora duradouro!

"OH, Senhor!", rezou em silêncio. "Por favor, permite retê-lo a meu lado esta vez. Se me deixa lhe amar, e que ele me ame, não necessitarei nenhuma outra coisa deste mundo."

 

A um ficava um rincão interior no Ty ao que Erin era incapaz de chegar. Faziam o amor maravilhosamente e todas as noites ela dormia entre seus braços, mas essa proximidade durava só na cama; o resto do tempo ele seguia sendo o homem frio e taciturno que ela tinha conhecido em um princípio; além disso, estava acostumado a olhá-la com o cenho franzido, como se estivesse preocupado. Ela seguiu fazendo seus exercícios e recuperou —, suas forças, até que chegou o dia de voltar para Nova Iorque; não era que ella,quisiera ir, mas Ty insistiu em que devia provar-se a si mesmo que podia voltar a trabalhar, embora Erin não se atrevia a perguntar-se se era que simplesmente já estava cansado dela ou se o sentimento de culpabilidade tinha terminado por ser superior a todo o resto.

O mesmo a levou a aeroporto, e ela teve que fazer um enorme esforço por reter as lágrimas durante todo o caminho. Ty lhe levou a mala até o terminal e esperou a que a registrasse. Quando ela terminou, voltou-se para ele; seus olhos verdes se obscureceram, mas Ty não se atreveu a ler nada naquele olhar. Ela devia sentir pena por ele, pensou. ia voltar para a vida que ela queria e se sentia agradecida porque ele se havia moles em tirar a da apatia em que tinha cansado depois do acidente. Mas não que sua piedade ou sua gratidão, nem sequer a magia de seu corpo ardendo seu unto na escuridão. Queria amor. Só isso.

Erin se aproximou dele, e vagamente se deu conta de que desde aquela manhã no celeiro, ela tinha tido que iniciar todos os movimentos Todas essas noites, ele se tinha convexo na cama junto a ela, mas não havia meio doido a não ser que lhe demonstrasse que o desejava. Era uma relação muito estranha. Ty lhe dava tudo o que ela queria, desde vestidos até sexo mas só se ela o pedia.

—vais jogar me de menos? —perguntou Erin com um esboço de som nos lábios.

—A cama vai estar muito fria.

—Enviarei-te uma bolsa de água quente —brincou ela.

Ty lhe acariciou brandamente a bochecha.

—Se alguma vez me necessitar, me chame. Estarei aí no primeiro avião.

Erin sorriu. Gostava da nota possessiva de sua voz.

—Recordarei-o —prometeu. Então chamaram por última vez aos passageiros de seu vôo e ela o olhou assustada.

—Tudo sairá bem —assegurou ele—. Agora é forte. Fará-o bem.

—Você crie? —perguntou ela, tentando não chorar—. me Dê um beijo, Ty —sussurrou.

O a sujeitou pelos ombros e a beijou com rapidez nos lábios.

—Sei uma boa garota.

—O que outra coisa posso ser se não te tenho perto? OH, Ty...

pendurou-se de seu pescoço e o beijou com todas suas forças, alheia aos outro passageiros, e o reteve até que ele. retirou-se de repente, com o desejo lhe brilhando nos olhos. Erin teve que respirar profundamente para não perder e equilíbrio.

—me chame quando chegar ao hotel —indicou ele.

—Farei-o —respondeu ela. sentindo-se já só—. te Cuide, Ty.

—Você também.

Não podia lhe dizer adeus, assim que se esforçou por sorrir e se afastou sem olhar atrás.

 

A maior parte do tempo que durou o vôo o passou chorando. A perna já quase não lhe incomodava ao caminhar, mas ele coração era outra coisa. Queria estar com o Ty, e entretanto, ele parecia não querer tê-la já a seu lado.

Quando chegou à suíte do hotel que ele tinha insistido em lhe reservar, chamou-o por telefone, mas a conversação foi muito breve, pois ele parecia ter muita pressa. Durou justo o suficiente para lhe recordar que se necessitava algo o chamasse e encontrar uma desculpa para pendurar.

Erin ficou olhando o auricular quando ele se despediu. sentia-se rechaçada, abandonada, e esteve chorando até que o sonho a venceu. À manhã seguinte, sentia-se furiosa com ele porque não tivesse ido rapidamente a procurá-la para levá-la a casa, mas ao momento se deu conta de sua própria estupidez. Ty nunca faria uma coisa assim. O não necessitava a ninguém, disse-se.

Essa mesma manhã visitou sua antiga agência e falou com seu representante, quem se mostrou maravilhado do bem que se recuperou, e à semana seguinte já tinha conseguido trabalho.

Os dias passavam com aborrecida regularidade. A vida que uma vez lhe tinha parecido excitante, agora não era para ela mais que um penoso trabalho. Não podia deixar de pensar no rancho e no Ty. Sentia falta do som do gado nos pastos, a paz e a tranqüilidade do campo, o alegre falatório da Conchita e as flores frescas com que adornava as mesas todos os dias. Mas sobre tudo sentia falta do corpo do Ty na escuridão, seu calor e seus braços rodeando-a, seu peito firme e suave sob sua bochecha. Tinha saudades caminhar pelo rancho, ouvir sua voz profunda e de acento suave, o som de suas botas ao entrar em casa para jantar. Sentia saudades seus escassos sorrisos e o tom faminto de sua voz quando faziam o amor. Inclusive sentia falta de suas facções desiguais e marcadas. E se lhe escrevesse lhe dizendo que era o homem mais atrativo do mundo? Certamente acreditaria que era puro sarcasmo.

Ela se obrigava a trabalhar sem descanso para chegar exausta de noite e poder dormir. Cada dois ou três dias chamava o rancho, mas Ty sempre parecia ter pressa. Nunca lhe contava nada, exceto nimiedades sobre o tempo ou o trabalho. Tampouco lhe perguntava quando ia voltar, nem sequer se ia voltar algum dia. Parecia não lhe importar.

Então foi quando Erin começou a preocupar-se. Possivelmente tinha decidido que a vida lhe resultava mais fácil estando sozinho que com uma mulher a que em realidade não queria. Talvez tinha chegado à conclusão de que a piedade e a culpabilidade não são suficientes para manter em pé um matrimônio. Chegou a lhe dar tantas voltas a esse pensamento, que em meio de uma sessão fotográfica não pôde evitar que lhe escapassem as lágrimas. O fotógrafo deteve o trabalho e enviou a alguém para lhe buscar um café e algo doce de comer acreditando que tinha fome. E em efeito a tinha... mas não de comida.

Erin esteve suportando aquela situação umas quantas semana até que a primavera começou a derreter a neve e a fazer brilhar o azul do céu; até que a indiferença do Ty a pôs realmente furiosa.

Um dia, abordou o primeiro avião que encontrou assim que terminou uma sessão fotográfica. Já estava bem. Já tinha suportado suficiente indiferença Se Ty queria o divórcio, o concederia, mas ia ter que pedir-lhe à cara e com palavras. Não estava disposta a permitir que a seguisse ignoram dou.

Entre eles tudo tinha começado da forma equivocada e por umas razões equivocadas, mas em certa medida já não o culpava por todos o problemas que tinham tido. Era ela quem não deveu ter escutado ao Bruce. Deveu acudir diretamente ao Ty e esclarecer tudo desde o começo. E o dia em que voltou para rancho deveu havê-lo obrigado a que a escutasse, em lugar de aceitar seu mau caráter sem mais. Se tivesse conseguido sua atenção, talvez ele a tivesse tomado entre seus braços para lhe pedir que se casasse com ele, teriam tido ao menino...

Agitou a cabeça. Todo isso formava parte do passado e não podia trocá-lo. Agora tinha que seguir adiante, com ou sem ele, embora sabia que sem ele, a vida deixaria de ter sentido. Nunca poderia haver outro homem... amava-o muito.

Ninguém sabia que ia chegar, assim não encontrou a ninguém esperando-a no aeroporto. Alugou um carro e tomou a auto-estrada do Ravine sem deter-se até chegar ao Staghorn, onde se estacionou diante da casa. O Lincoln do Ty se achava ali. O podia estar em algum dos rodeios da primavera, mas ela tinha a impressão de que andava por ali.

Desceu do carro e olhou para o cercado. Havia vários homens subidos nos madeiros lançando gritos de ânimo a alguém que domava um cavalo.

Sem pensá-lo duas vezes se aproximou, sabendo a quem ia ver em cima do cavalo. Quando chegou ao cercado, viu seu marido montando ao animal. Levava postos uns jeans, talheres por uns zahones de couro e o velho Stetson de sempre. Seu rosto estava exultante de orgulho masculino enquanto o animal seguia dando saltos e coices, feito coro pelas vozes dos homens do rancho que animavam ao cavaleiro. Por fim, o resistente animal se rendeu e começou a trotar docilmente, ofegando e talher de suor.

Ty se baixou com agilidade da cadeira e acariciou ao animal antes de dar-lhe a um dos homens para que lhe desse de comer e o asseasse. Erin observava com as mãos metidas nos bolsos da saia. Fazia tanto tempo que não o via, que seus olhos o devoravam com ânsia.

de repente Ty se deu a volta e ao vê-la, ficou paralisado.

—E bem? —perguntou ela, antes que ele pudesse abrir a boca—. Pelo menos poderia me dizer "olá", embora não seja bem-vinda. Ah, e antes de nada, quero te dar as obrigado por todas suas postais e suas chamadas telefônicas. eu adorei as receber.

Ty saltou a perto e se aproximou dela, enquanto detrás dele os homens se olhavam uns aos outros e se davam cotoveladas... uma boa briga era sempre uma boa briga.

—Bem-vinda a casa, senhora Wade —disse Ty em tom zombador, embora seus olhos a percorriam com soma ternura. Fazia tanto tempo... Estava preciosa, mas também um tanto distinta, muito atrativa com aquele conjunto vermelho e branco. O pulôver branco lhe cobria parcialmente a saia de malha vaporosa que se formava redemoinhos ao redor de suas pernas ao caminhar, e o tinha apertado com um cinturão de macramé. O cabelo lhe tinha crescido e levava uma maquiagem muito suave que embelezava mais seu rosto.

Quantos homens a teriam cuidadoso como ele e a teriam desejado?, perguntou-se Ty. E ela? Teria desejado a algum desses homens? ia perder a, assim... que demônios, podia ao menos ajudá-la a partir, convencendo a de que já não tinha por que sentir pena por ele. A culpabilidade tinha desaparecido quase por completo.

—Olá —respondeu Erin, cortante. Certamente, Ty não parecia alguém que não tivesse podido dormir pelas noites de tanto jogar a de menos.

—tornaste para recolher suas coisas? —perguntou ele, depois de acender um cigarro.

—Pode ser. Já vejo o bem-vinda que sou.

—O que esperava? Uma banda de música? vivi toda minha vida só na casa, o que resulta bastante lhe gratifiquem, a verdade seja sorte.

—Pois em Nova Iorque tampouco me foi mau. Passei-a que maravilha! trabalhei todos os dias, e convidaram a numerosas festas.

—encontraste a alguém, verdade? —perguntou ele com aparente indiferença—. Espero que seja rico. Deve ser muito cara de manter.

—Como se te houvesse flanco um só penique, Tyson Radley Wade! —espetou ela.

—Radley? —repetiu Rede Davis do cercado.

Ty se deu meia volta com os olhos jogando faíscas.

—Davis, a seu trabalho! —ordenou.

Rede fez um gesto, mas não se moveu de seu sítio.

—Isso! —proferiu Erin—. Agora lhe grite a ele! Aqui ninguém pode dar sua opinião, exceto você.

—E pode saber-se por que tem você que gritar nossos segredos?

—OH! seu acaso segundo nome era um segredo? —perguntou ela com ar inocente, olhando aos homens da cerca, Bom, pois já não o é.

—por que não faz de uma vez sua maldita bagagem?

—Não pode esperar a te desfazer de mim, verdade? Então, por que te incomodou em te casar comigo?

—Porque não queria que Ward Jessup enchesse meu rancho de buracos —respondeu ele com Essa frieza foi a única razão. Isso, e certa lástima. Parecia um asco quando te encontrei!

—E agora, graças a ti, tenho ante mim um maravilhoso futuro —replicou ela, irônica—. Me volta louca viver sozinha! eu adoro empregar minha vida em ir de passarela em passarela enquanto mulheres do tamanho de um hipopótamo tentam imaginar-se a si mesmos com uns vestidos que não ficariam nem em uma só perna! eu adoro que os desenhistas comam com os olhos, que sempre haja alguém me pressionando e que os fotógrafos me incomodem constantemente enquanto os diretores dos anúncios me atormentam com seu perfeccionismo! É fantástico chegar a um apartamento vazio e me passar os fins de semana vendo campeonatos de patinação e luta livre!

Os espectadores estavam tentando não rir e Ty não saía de seu assombro. Nunca a tinha visto assim.

Erin apertou os punhos e seus olhos lançaram autênticas labaredas.

—É odioso! —gritou-lhe—. Estou farta de esperar que soe o telefone e de olhar vinte vezes a rolha para ver se houver cartas que nunca chegam! Ofereceram-me uma semana no Saint Tropez para fazer um anúncio de trajes de banho e vou aceitar o! O diretor é francês, alto, bonito e sexy, e gosta, e vou!

—O que te acreditaste você? —explorou ele, atirando o cigarro ao chão com 'rabia—. Você não vais largar te ao sul da França com nenhum maldito francês!

—por que não? Você não me quer! Não sou mais que uma carga para ti, uma inválida que tem pendurada da consciência!

—Vá inválida —murmurou ele, estudando-a.

—Oxalá tivesse uma perna de madeira para te dar um bom chute!

Ty foi esboçando lentamente um sorriso.

—Está um pouco excitada, não?

—Excitada? Excitada! vou ensinar te.

Erin tomo o objeto mais próximo, um cubo vazio, e o arrojou. Ty se agachou, assim que ela tomou uma brida que pendurava da cerca e a lançou, seguida depois de uma parte de madeira.

Os homens afogavam a risada no fundo, e Ty lhes jogou uma furiosa, olhar detrás esquivar o lenho.

—me mandar como um fardo asa cidade! —balbuciava Erin enquanto procurava outro projétil que lhe lançar—. me Deixar assim, a mercê de qualquer. Vá forma de tratasse sua mulher!

—Você nunca quis ser minha mulher —a acusou— Te casou comigo para me fazer danifico.

—claro que sim! — gritou ela, tomando uma brida — Para te fazer pagar por me ignorar, por me atormentar constantemente, por sua indiferença. Mas é que não entende nada, pedaço de animal? Quero-te! —gritou, lhe lançando a brida—. Te quis desde dia que te conheci e você não tem feito mais que me fazer a vida impossível!

Aquela vez, Ty não se moveu para esquivar o golpe. O objeto o golpeou metade do peito, mas ele nem sequer se moveu. Tinha os olhos muito abertos e o olhar sem pestanejar. Teria ouvido bem?

—Não era ao Bruce a quem eu queria! —gritou-lhe ela—. Era a ti! A ti! Preocupava-me tanto por ti, e eu nem sequer você gostava. Odiava-me!

Tinha ouvido bem, e algo dentro dele pareceu estalar. Erin seguia destrambelhando, lhe gritando algo como que o odiava porque era mais parvo que um cacto, mas ele já não a escutava, mas sim começou a caminhar para ela quase como em transe.

Erin o queria! Sim, estava em seus olhos, em sua cara, em todo seu corpo. E agora ela ia deixar o, ferida e cansada, para ser uma famosa modelo...

Ty a abraçou com força para beijá-la nos lábios. Não foi um beijo áspero, embora tinham sido tantos dias de ausência que requeria um grande esforço controlar-se.

Erin murmurou ainda algo antes de render-se ante sua boca e pendurar-se de seu pescoço, ante as brincadeiras e as risadas dos homens, que eles não chegaram para ouvir. Ty a levantou em braços e caminhou com ela para a casa sem deixar de beijá-la.

—Senhora! —exclamou Conchita ao abrir a porta do estudo—. Bem-vinda a casa.

—Mmm... —murmurou Erin, saudando-a lánguidamente com uma mão enquanto Ty entrava e fechava a porta com o pé. O pareceu que ia seguir caminhando, mas se deu a volta e fechou com chave.

Erin sentiu o sofá sob suas costas e depois o peso do corpo dele sobre ela.

—Ty ...

—Está cega, louca e surda? —perguntou ele com voz agitada—. Olhe —disse, levantando a mão em que levava o anel que lhe tinha agradável—. É que isto não te diz algo, ou prefere as palavras? lhe posso dizer isso todas, mas quando começar não vou ser capaz de me deter.

Erin lhe tocou os lábios com a gema dos dedos.

—Não me importaria —sussurrou, olhando-o aos olhos.

—Quero-te, Erin —declarou dava, tomando a cara entre as mãos—. Te quis desde dia que te partiu pela primeira vez daqui, e me doeu tanto que acreditei morrer. Não me dava conta... e escutei a meu ego em lugar da meu coração. OH, Deus, Erin, qui-te tanto que não acreditei que você pudesse me querer a mim. fui cruel contigo porque tinha tanto medo de te perder...

—me perder? Como se pudesse fazê-lo! Adoro-te, Ty. Adoro todos os rincões e cada uma das gretas desta cara —sussurrou, lhe acariciando as bochechas enquanto Ty fechava os olhos, lhe agradecendo a Deus que o amor fosse cego—. Te quero com toda minha alma, e não há homem sobre a face da terra mais atrativo, mais sexy ou mais tenro que você. Quererei-te toda minha vida, e ainda mais.

O a apertou contra seu corpo com os olhos fechados, estremecendo-se.

—Ty —sussurrou ela, procurando seus olhos—. deixei que tomar a pílula.

—Seriamente? —perguntou ele, enquanto lhe desabotoava o cinturão de macramé, para depois lhe desabotoar o pulôver.

—Poderia me deixar grávida se...

—lhe diga-o pediu ele, olhando-a aos olhos.

Erin separou os lábios tremendo, porque sabia o que ele queria que dissesse. Era o momento adequado ao fim para curar todas suas feridas, para a última expressão do amor que sentiam o um pelo outro.

—Tenhamos um menino, Ty —sussurrou com toda sua ternura—. Esta vez, deixemos que ocorra.

O se inclinou de novo sobre ela e a beijou com uma doçura capaz de curar todas as feridas e de abrir novas portas ao futuro, e o que compartilharam depois foi tão profundo, tão exquisitamente doce e completo, que Erin não pôde evitar chorar de puro êxtase nos braços do homem que amava.

Ty lhe apartou as mechas de cabelo úmido do rosto com mãos trementes.

—Quero-te —sussurrou.

—Se não me houvesse isso dito antes, saberia agora. Nunca tínhamos feito o amor como esta vez. Nem sequer aquele dia no estábulo.

—Então não estava seguro de ti, e tentei que me dissesse o que sentia por mim, mas não o consegui.

—Não podia me ler o pensamento, mas em meu interior lhe estava gritando isso.

—me ocorria o mesmo. Volta para casa, Erin. Sinto-me sozinho.

—Eu também —confessou ela, sonriendo—. Mas nunca voltarei a está-lo, você tampouco.

 

ED Johnson jogou uma olhada por última vez ao conteúdo de sua carteira antes de bater na porta do Staghorn. Conchita abriu e o fez passar com um sorriso de orelha a orelha.

Parece um gato que tivessem deixado sozinho com o canário ele—. O que acontece?

—Senhor Johnson, terá que vê-lo para acreditá-lo. ocorreram tantísimos mudanças nesta casa! Venha, o mostrarei!

A senhora o conduziu à porta do estudo e Ed se deteve ali. Wade estava convexo de barriga para cima sobre o tapete com um bebê risonho e gordinho no abdômen, e sorria igual a Conchita.

—bom dia —saudou sem levantar-se do tapete.

Um segundo bebê apareceu detrás dele tomando-se de seu cabelo para incorporar-se.

—Está trabalhando de canguru? —perguntou Ed.

—Erin está acima —respondeu Ty—, mas sou insuperável trocando fraldas. Traz os papéis?

—Aqui os tenho __dijo o afogado, dando uns golpecitos a suas pastas—. Recuperaste que maravilha. O ano passado por estas datas estava ao bordo da bancarrota.

—tive um forte incentivo. Uma mulher grávida e uns gêmeos. Parece-te pouco?

—Que idade têm agora? —perguntou Ed, ajoelhando-se junto ao Ty para apertar a manecita roliça de um dos pequenos.

—Cinco meses. Às vezes nos sentamos frente a eles a olhá-los para nos convencer de que são de verdade.

Ed recordou o bebê que Erin tinha perdido e sorriu.

—Dois meninos, dobro bênção —murmurou.

—Graças a Deus. Se você sustentar o documento, lhe tentarei assinar isso

—Não é necessário —disse Erin, quem acabava de entrar na habitação, sorridente—. Eu me ocuparei dos meninos enquanto você faz as honras.

—Só uma coisa mais —acrescentou Ty enquanto Erin se ocupava do Jason e Matthew—. Se ao Ward Jessup lhe ocorre perfurar sob uma só de minhas vacas...

—Não o fará, e além disso, prometeu perfurar só o necessário. É curioso como chegaram a limar suas diferenças. A briga começou quando você logo que foi um adolescente.

—Não tão curioso —replicou Ty, olhando ao Erin, quem sustentava aos bebês em seus braços e estava tão preciosa que o deixava sem respiração—. Não é tão curioso, Ed.

O afogado seguiu a direção de seu olhar e sorriu, perguntando-se se Erin seria consciente da grande mudança que só com sua presença tinha obrado no outrora taciturno rancheiro.

Nesse momento ela levantou a vista e lhe sorriu. Sim, sim que sabia.

Ed recolheu os contratos, e se despediu deles, quando se voltou a olhar da porta, viu o Erin lhe entregando um dos meninos a seu marido com tanto amor que ele se sentiu quase um intruso. Fora o ar estava impregnado da fragrância do verão, e Ed aspirou profundamente. Possivelmente o do matrimônio não estivesse tão mal. Talvez tinha chegado o momento de que ele também começasse a procurar. Ter meninos era maravilhoso, e ele já não era nenhum jovencito. Enquanto abordava seu automóvel, ouviu o som das risadas que provinham da casa. Quando chegou à saída, viu os cactos florescentes. Às vezes, pensou, as novelo mais feias dão as flores mais formosas.

 

                                                                                Diana Palmer  

 

                      

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