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Series & Trilogias Literarias
Elysia 'Sia' Willis vive uma vida solitária. A única pessoa nela é o seu irmão mais velho, Ky, o vice-presidente do infame Hades Hangmen. Ela o ama, mas não tem, absolutamente, nenhum amor pelo clube MC
que ele pertence.
Levada em segredo por sua mãe, Sia cresceu separada do seu irmão e pai ausente. Ninguém nem mesmo sabia da sua existência.
Após o trágico assassinato da sua mãe, Sia se rebela contra as regras dos Hangmen. Uma rebelião com terríveis consequências que agora, anos depois, ela ainda não pode escapar.
À medida que ela vive, mais uma vez em segredo, feliz e por conta própria, em seu rancho isolado, um demônio do seu passado volta a atormentá-la. Um demônio que quer possuí-la mais uma vez e tirá-la da vida simples que ela jamais quer perder.
E ele não vai parar até pegar o que acredita ser dele: ela.
Valan 'Hush' Durand e Aubin 'Cowboy' Breaux finalmente encontram um lar na seção mãe dos Hangmen. Os nobres Cajuns, notoriamente reservados, por enquanto, deixaram para trás o que os perseguia desde sua amada Louisiana. Mas, com ameaças contra o clube crescendo, Hush e Cowboy recebem uma tarefa — proteger Elysia Willis a qualquer custo. Cowboy congratula-se com a tarefa de cuidar da beleza de cabelos loiros e olhos azuis.
Hush luta contra isso.
Marcado profundamente por eventos do seu passado, e um segredo que aflige sua vida diariamente, Hush se recusa a permitir a aproximação de qualquer pessoa. Apenas Cowboy conhece o seu verdadeiro eu. Até que a irmã do vice-presidente do clube começa a derrubar lentamente suas defesas, quebrando as paredes fortemente construídas que protegem sua alma danificada... com seu melhor amigo liderando a investida.
À medida que os corações perdidos e abertos começam a se fundir, afastando-os da dor indescritível para o sentimento de paz nunca antes sentido, o trio recém-reparado deve suportar mais um caminho rochoso.
Só então eles finalmente serão livres dos grilhões do passado.
Só então eles derrubarão os laços que reteve cativa a felicidade de cada um, por tanto tempo.
E há apenas uma maneira de sobreviver nesse caminho... juntos.
Sete anos atrás
México
Corri pelo corredor. Mantive meu rosto para frente enquanto caminhei para a porta do quarto. Meu coração estava batendo tão rápido que roubou meu fôlego. Minha mão se atrapalhou com a maçaneta. Então,
passos pesados começaram a ecoar pelo corredor. Minhas mãos tremiam, o medo tomou-me em suas garras. Mas a porta finalmente abriu.
Eu fugi para o quarto, mas antes que estivesse em segurança, uma mão agarrou meu braço. Juan me virou e me bateu contra a parede. A respiração foi tirada de mim, meus ombros pulsando por causa do contato.
Os olhos escuros de Juan perfuravam os meus. Ele parecia tão perfeito como sempre.
Mas ele não era perfeito... o homem que eu amava... por quem me apaixonei tão rapidamente e profundamente... não era o homem que eu achei que ele era.
Ele era... era mau.
“Por que você me força, Bella?” Eu congelo, e cada músculo do meu corpo enrijece quando Juan passa o dedo pelo meu rosto. Meus lábios tremem, minhas costas se achatam contra a parede.
“Eu… eu sinto muito,” sussurro, a minha voz falha e minha respiração balbucia.
Juan sorri, depois se inclina e pressiona seus lábios nos meus. Eu queria correr. Queria gritar, dizer-lhe para ficar bem longe, mas estava congelada de medo.
“Não quero feri-la,” diz ele, sua cabeça se move, então seu nariz pode correr ao lado do meu pescoço. Sua mão segura minha cintura. Ele ainda cheira tão perfeito como sempre. Ele ainda parece tão bonito
como era no primeiro dia que o conheci. Tudo nele me atraiu. E agora eu estava presa. A garota estúpida enganada pelo sorriso bonito do diabo.
“Você é minha rainha, Bella.” Juan beija meu pescoço, em seguida, segura meu rosto com as mãos. Seus olhos estudam os meus — não sei por quê. Eu tentei sorrir. Para provar que ele podia confiar em mim...
que ele não tinha que me ensinar mais nenhuma lição. Eu não poderia aprender mais lições.
Mas as mãos de Juan apertaram o meu rosto, apertando até que minhas pernas começaram a ceder. Apertei meus lábios, tentando prender o meu grito de dor. Apertei meus olhos bem fechados. “Abra seus olhos,
Bella,” disse Juan, sua boca contra a minha orelha. Estilhaços de gelo frio viajaram pela minha espinha. Mas eu fiz como ordenado.
“Bom,” Juan disse, sorrindo com orgulho. Ele afrouxou o aperto, e eu engasguei com alívio. “Eu escolhi você, Bella. Escolhi você para estar ao meu lado.” Náusea corria através de mim quando ele disse:
“Sua vida poderia ter sido diferente se eu não tivesse visto algo especial dentro de você. Sabe disso?"
“Sim,” respondo. E sabia que ele estava certo. O que eu tinha visto... o que ele fez para eles... sabia que poderia ter sido tão diferente para mim.
Juan me beijou de novo, suave e doce, um completo contraste com a ameaça que ele apenas colocou aos meus pés. “Não posso ficar longe de você, Bella.” Ele beija minha testa. “Você é minha, rosa negra. E
nunca deixarei você ir...”
Capítulo um
Sia
High Ranch, Austin, Texas
Dias de hoje
“Firme... firme...”
As orelhas de Sandy balançam pra frente e para trás enquanto ela me ouve acalmá-la do meu lugar no centro do círculo. Eu mantive a minha mais nova rédea de treinamento frouxa enquanto ela trotava na areia.
Sua pele estava coberta pelo suor; assim como a minha testa. O sol queimava um buraco na minha bunda vestida de jeans.
“Ok, é o suficiente por hoje,” anuncio, tanto para Sandy quanto para mim.
Eu tinha acabado de alimentá-la com feno e água e trancado a porta de sua baia, quando ouvi o som muito familiar de motocicletas rugindo à distância.
Franzindo a testa, eu saio do celeiro dos cavalos. Ando até a frente da minha casa e vejo duas Harleys que se aproximam da minha porta.
Styx e Ky, eu percebo, e dou-lhes um aceno surpreso.
Eles não acenam de volta.
Subo no degrau mais alto da minha varanda quando eles param e tiram seus capacetes. Ky alisa o cabelo comprido e caminha em minha direção. Eu me levanto. “O que vocês estão fazendo aqui?”
Abraço Ky. Ele me segura um pouco demais. Foi estranho. Afasto-me, curiosa, só para ele olhar à distância, verificando ao redor do meu rancho. Eu estava prestes a perguntar-lhe o que estava acontecendo
quando Styx vem em minha direção e me dá um breve abraço com um braço só.
“Ei, Styx. Como estão Mae e Bump?” O lampejo de um sorriso enfeita os lábios de Styx.
“Bem,” ele diz, mas minha atenção volta para Ky quando meu irmão diz: “Vá para dentro, irmã. Nós precisamos conversar.”
Ele agarra meu cotovelo e me guia com força pelos degraus da varanda. “Hey!” Eu digo. Ele puxa mais forte, e não libera meu braço. “Ei! Idiota!” Torço meu braço para trás. Viro no meu calcanhar para me
encontrar com a cara rabugenta do meu irmão. “Que diabos você está fazendo?”
“Pela primeira vez em sua vida, porra, você vai apenas fazer o que eu digo, Sia?” Ky diz, exasperado. Seu rosto está vermelho... na verdade, assim como seus olhos.
Cruzo os braços sobre o peito. “O que está errado? Por que seus olhos estão vermelhos? Por que você parece uma merda?” Eu balanço minha cabeça. “E vamos direto ao ponto, por que você me arrastaria como
uma maldita criança?”
Ky suspira. Seus olhos se fecham, e ele abre a boca para falar. Mas, então, ele não fala..
Styx pigarreia. “Tivemos uns momentos tensos ultimamente.”
“Por quê?” Eu pergunto, e imediatamente entro em pânico. “Lilah está bem? Grace?” Rapidamente verifico meu irmão em busca de feridas, ou... inferno, eu não sei o que mais. Inferno, que tipo de problemas
os motociclistas podem entrar. “Você está bem?”
Meu coração começa a acelerar, um estranho senso de medo escorre pelo meu corpo como um veneno. Ky abre os olhos e assente. “Todo mundo está bem.” Mas eu podia ver através de sua máscara. Eu estava prestes
a dizer que era besteira quando Ky deixa escapar, “Garcia voltou.”
Eu tinha certeza que o vento quente soprava, porque vi fios dos meus cabelos loiros flutuando na frente dos meus olhos, mas eu não senti. A boca de Ky estava trabalhando, dizendo algo que eu deveria ouvir,
mas em meus ouvidos, ele não emitia nenhum som. Eu estava perdida na memória de passos pesados que andavam em assoalhos que rangiam quando ele se aproximava do meu quarto. Memórias de gritos e ordens berradas
açoitam minha mente... e seu toque, seus dedos correndo pelas minhas costas, seus lábios mordiscando minha orelha enquanto acariciava minha carne queimada. Como—
“Sia!” Ky está segurando meus braços, sacudindo-me do meu estupor. Pisco, mas um caroço sufocante obstrui minha garganta. Pisco rápido para me livrar do dilúvio de lágrimas em meus olhos. “Sia,” ele repete,
mais suave desta vez. Olho para o meu irmão, sem palavras.
“Entre.”
Deixo-o me levar para minha casa e para o sofá. Um copo de uísque aparece na minha mão um segundo mais tarde, cortesia de Styx. Bebo tudo de uma vez, saboreando a sensação de queimação que enche meu peito.
Eu estalo o copo na mesa de café e viro para olhar para Ky.
“Você está melhor?”
“Sim,” respondo. “Ele... ele me encontrou?” Minha voz está embargada. Não poderia esconder o meu medo, mesmo se quisesse.
“Ainda não,” Ky me assegura. Ele se levanta e começa a andar. “Algumas merdas aconteceram no Clube há um tempo atrás, e Garcia estava envolvido. O fodido me viu e Styx.” Ky encontra os olhos de Styx. Styx
assente. Ky remove um envelope do bolso do seu colete. Ele o coloca diante de mim. Olho para o papel de carta, obviamente caro, na mesa. Minhas mãos tremem enquanto eu lentamente estendo a mão e o abro.
Uma fotografia Polaroid sai. Quando eu finalmente puxo a imagem e a olho, cada gota de sangue em minhas veias parece escorrer para os meus pés.
Uma única rosa negra.
A rosa negra, em uma cama que eu reconhecia muito bem.
Não havia nenhuma nota. Nenhuma explicação. Mas não preciso de uma. Esta imagem falava mais do que mil palavras jamais poderiam.
“Mi rosa negra.” O eco da sua voz sussurra em minha mente. Seu pesado sotaque mexicano corre em torno das palavras como um lenço de seda delicado envolvido em torno de uma videira cravejada de espinhos.
Todos os cabelos na minha nuca se arrepiam. “Onde...?” Limpo minha garganta. “Para onde isso foi enviado?”
“Ao clube.” Ky senta-se ao meu lado. “Não gosto dessa merda enigmática,” — ele aponta para a fotografia Polaroid — “mas sei que é a sua marca ou algo assim, certo? A que ele forçou em você? E nas garotas
que ele traficou?” Instintivamente eu corro minha mão sobre a camisa xadrez cobrindo meu ombro, onde a pequena rosa negra tatuada profanou a minha pele. Eu ainda posso sentir a cicatriz sob meus dedos,
está fora da vista, mas nunca sumiu. E se eu alguma vez ousasse mostrar minha pele nua ao sol, um contorno branco se formaria quando a área à sua volta fosse bronzeada. Apagada, mas que para sempre espreitaria
a minha própria carne.
Pior ainda, quanto mais olho para essa foto, mais alguém vem à minha mente, um rosto que eu reflexivamente lembro várias vezes ao dia. Imagens breves do que poderia ter acontecido com ela. Mas sempre apenas
o suficiente para me insultar; não sei como desbloquear mentalmente o resto. Onde ela foi—
“Sia!” Ky me chama. Eu pisco para o foco. Meu irmão se ajoelhou na minha frente. “Você virá para casa comigo.”
Balanço minha cabeça. “Não.” Meus braços envolvem meu peito, um escudo para afastar o pensamento de sair. “Eu não quero.” Corro meus olhos em torno da minha casa. O único lugar em que eu já me senti segura.
“Você sabe que não posso sair.” Ky começa a falar, mas o corto antes que ele consiga. “Eu sei que fui para seu casamento e tudo. Não perderia isso por nada no mundo. Mas não posso sair daqui por muito
tempo. Eu... eu...” procuro por mais uma explicação, para colocar em palavras o fluxo de ansiedade que se formou em meu estômago como um buraco negro, roubando toda a minha coragem, minha razão, minha
sanidade, meu próprio ser.
Era irônico: quando eu era adolescente, fiz uma promessa para deixar Austin e cortar todo o contato com os Hangmen.
Então, eu escapei...
Isso é tudo o que precisou para fazer-me desejar que eu nunca tivesse deixado o Texas. Nunca tivesse cortado os laços com os Hangmen.
E um homem...
Um homem, chamado Garcia, me fez desejar por muito tempo os dias preguiçosos no Texas e o som dos cascos dos cavalos na grama do lado de fora da janela do meu quarto antigo.
“Não dou a mínima se você quer vir ou não, Sia. Você virá, e é isso.”
A falta de empatia na ordem definitiva de Ky rompe o nevoeiro mental que protege meus pensamentos. Um incêndio iniciou-se nos gravetos que viviam dentro de mim. Inclino meu queixo para o alto e meus olhos
se estreitam para olhar o meu irmão. “Não se atreva a falar assim comigo, Kyler Willis. Não me confunda com uma prostituta do Clube que saltará ao seu comando.” O rosto de Ky fica avermelhado. Mas não
serei tratada assim. Agora, meu irmão se assemelhava ao homem que me tratou como uma criança errante. O homem que eu culpava por toda a merda na minha vida. “Eu amo Lilah, realmente amo. Mas não sou uma
mulher dócil e submissa que aceitará suas ordens. Sou sua irmã, não a porra do seu cachorrinho.”
Ky fica lentamente de pé. Ele fecha os olhos e respira fundo.
“Ele sabe onde eu moro?” Pergunto ao meu irmão. Ele não responde. “Eu perguntei, Garcia sabe onde estou?”
Os olhos de Ky se abrem. “É só uma questão de tempo.”
Fico de pé, ignorando o tremor em minhas pernas. Corajosamente encontro os olhos de Ky. “Então não sairei do meu rancho. Estou escondida. Estou escondida durante anos. Identidade falsa. Escritura falsa
deste lugar. Pelo amor de Deus, vivo no interior, porra. Ninguém em torno há quilômetros. Ele não me fará deixar a minha casa. Não lhe darei essa satisfação.”
“Pense novamente.” Ky fala mais alto. “Vá ao andar de cima e faça uma mala, diga à jovem cadela que contratamos para ajudá-la que ela terá que tomar conta das coisas por aqui até que você esteja de volta.
Diga-lhe que há uma emergência familiar, ou algo assim.”
Meu coração bate mais rápido. “Eu. Não. Vou. Clara não consegue lidar com tudo sozinha. Temos duas éguas e um potro, dois broncos selados1 que necessitam de formação. Sou necessária aqui.”
Nós discutimos um com o outro, indo de um lado para o outro, vozes e temperamentos aumentam, até que um assobio alto corta a nossa briga. Eu bato meus olhos em Styx, que está de pé diante da lareira. Seu
rosto está como um trovão, e ele parece a porra de um Titan, ele é tão grande. Ele ergue as mãos. “Sia, pegue a sua merda. Você vem com a gente.” Engulo, a derrota se estabelece sobre mim como um banho
de chuva indesejável em um dia ensolarado. “Ky, acalme-se porra.” Ky se vira e sai pela porta da frente da minha casa. Eu vejo meu irmão ir. Tenho uma sensação estranha de que isso — a discussão, o seu
humor de merda — não era tudo por causa de Garcia.
Styx pigarreia. “Vocês dois são muito parecidos. Ambos são uma dor na minha bunda.” Ele faz uma pausa, em seguida, continua, “mais coisas estão acontecendo no clube do que você sabe. Então, que tal você
se acalmar e parar com todos os seus dramas. Eu tenho o suficiente diariamente com os meus irmãos, porra, sem adicionar você na mistura.” Seus lábios estão apertados, e sei que não conseguiria as coisas
do meu jeito. “Você virá com a gente. Não estou lhe dando uma opção. Você é da família Hangmen. E aquele filho da puta está farejando em volta. Arrume sua mala para que a gente possa ir embora, porra.”
Sentindo-me como uma adolescente de mau humor, passo por Styx em direção ao meu quarto, e esbarro nele enquanto caminho. Ele nem sequer se move. “Às vezes eu odeio a família em que nasci. Porcos chauvinistas.
Todos vocês têm um complexo de Deus, porra.”
Styx nem sequer pestaneja com as minhas palavras. “Enquanto esse complexo pertencer ao Senhor das trevas segurando um laço e uma Uzi, estou bem feliz em possuir essa merda. É assim que é. Não vai mudar
porque você não quer,” ele diz. “Você não tem que gostar das minhas ordens, mas vai obedecê-las.” E acrescenta: “Você tem dez minutos,” ele diz antes de sair para ir atrás do meu irmão.
Eu estava muito zangada para dar a mínima para o que estava errado com Ky — provavelmente seria algum ‘negócio clube’ que eu não serei permitida saber, de qualquer maneira — enfio roupas e produtos de
higiene pessoal em uma mala e chamo Clara para pedir-lhe para cuidar do rancho enquanto eu me ausentar e que buscasse ajuda do veterinário se precisasse. Ele me devia um favor ou um milhão pelo cuidado
dos cavalos doentes quando o seu lugar estava cheio.
Dez minutos depois, minha casa foi trancada e eu estava na minha caminhonete, seguindo meus irmãos para o complexo Hangmen. Com cada quilômetro que dirijo me afastando do porto seguro do meu rancho, sinto-me
cada vez menos eu. Ouço a voz de Garcia na minha cabeça, dizendo-me que está vindo para mim. Ameaçando a me possuir de uma vez por todas.
Mas, como Kyler, sou boa em cobrir o que está me incomodando.
Então, vestirei minhas calcinhas de menina grande e ficarei no clube por um tempo. Quando passamos pelo centro de Austin, as luzes da South Congress Avenue iluminam o banco do passageiro da minha caminhonete,
deixo as duas imagens de Hades me guiarem: seu rosto presunçoso segurando um laço me lembra de por que eu fugi naqueles anos atrás.
Este clube é uma areia movediça. Areia movediça em que estou torcendo para não ficar presa.
*****
“Tia Sia!” No segundo em que abro a porta para a casa de Ky, Grace vem correndo e bate em minhas pernas.
“Gracie-Bell!” Respondo, deixando cair minha mala no chão. Pego minha sobrinha e beijo sua bochecha. Eu puxo uma mecha do seu cabelo encaracolado. “Cachos?”
“Mamãe enrolou para mim agora mesmo, antes de dormir.”
“É lindo, querida.” Olho por cima do ombro quando meu irmão passa por nós, e acaricia o cabelo de Grace antes de ir para a sala de estar. “Onde está sua mãe, querida?”
“Na sala de estar.” Vou para a sala e vejo Ky sentado no sofá, beijando sua esposa.
“Estou bem. Você precisa parar de ser superprotetor,” ouço Lilah sussurrar contra seus lábios.
Grace geme e cobre os olhos. “Eles estão se beijando. De novo!”
Sorrio. Ky e Lilah se viram. Lilah se move para levantar-se do sofá, e Ky agarra a mão dela, ajudando-a. Lilah coloca uma mão em seu rosto. “Estou bem, Ky. Relaxe. Não estou doente.”
Ky parece que está prestes a discutir, mas depois fecha a boca. Ele vira os olhos para mim, depois olha de volta para sua esposa. “Vou tomar um banho.”
Lilah se vira para mim, um sorriso enorme se espalha em seus lábios. “Sia!” Ela cantarola quando vem em minha direção. Coloco Grace no chão, e Lilah põe os braços a minha volta. “É tão bom ver você.”
Abraço-a de volta. “Está tudo bem?”
“Tudo está bem,” ela diz e move-se para a cozinha. Ela teve uma cirurgia há um tempo atrás, mas, tanto quanto eu sei, Lilah se recuperou completamente. “Vamos ao ponto, você está bem?” Ela coloca água
no bule de café e se vira para mim. “Eu não sei tudo, mas sei que Ky está preocupado com aquele homem...” ela baixa a voz, e verifica que Grace ainda está jogando na sala de estar. “Do seu passado.”
Engulo em seco, mas concordo. Lilah sorri, e seu cabelo cai sobre os olhos. Lilah conheceu homens como Garcia. Ela viveu com o pior quando criança. No entanto, ela conseguiu ultrapassar para o outro lado.
Na realidade, sei que ainda estou vivendo no purgatório. A verdade é que nunca vivi de verdade desde que voltei para casa a depois do período horrível no México. Lilah não sabe disso, mas ela é minha heroína.
Por passar pelo que ela passou e sobreviver tempo suficiente para receber o seu felizes para sempre depois. É o meu maior sonho. Mas não sou ingênua. Lilah é sortuda. Sou um bem danificado. Nem todos nós
fomos agraciados com o final de conto de fadas.
“Espero que você esteja bem com café descafeinado. É tudo o que temos.”
“Claro,” respondo. Ela senta ao meu lado na mesa. Meu coração aperta com a visão da cicatriz em seu rosto. Isso sempre acontece. Eu tomo um gole do meu café. “O que há de errado com Ky, Li?”
Lilah congela, sua xícara ainda na metade do caminho para a boca. Ela suspira e balança a cabeça. Leva alguns momentos para responder. “Ele só fica sobrecarregado às vezes. Sei que ele pode ser agressivo
e rude, mas está apenas lidando com um monte. O clube, as ameaças. Eu.” Ela ri uma única risada e brinca com a alça da xícara. “Ele sempre se preocupa comigo. Com Grace.” Ela levanta os olhos e acrescenta:
“E você. Não tenho certeza que você saiba o quão protetor ele é com você, Sia. Ky se preocupa muito com você. Tanto que ele quebrou o protocolo do clube e me contou sobre o homem que te machucou, e que
voltou. Isso estava pesando fortemente em sua mente. Ele precisava desabafar comigo.” Lilah aperta minha mão. “Você é sua única família de sangue. Ele te ama tanto.” Uma pausa. Um sorriso terno. “Todos
nós amamos. Grace, seu irmão e eu.” A confissão suave de Lilah faz a raiva que eu estava mantendo em meu peito desaparecer. Nesse momento, não posso falar. Eles são tudo o que tenho também; todos eles
são. O som da Grace rindo chama minha atenção para a sala de estar. Ky acabou de sair do chuveiro, vestido apenas com calça jeans, seu cabelo longo está pingando. Grace grita e corre para o sofá enquanto
ele joga os fios molhados sobre ela.
Lilah ri, o som é o suficiente para puxar o olhar do meu irmão. Ele olha de Lilah para mim, e o sorriso que ele usava para sua filha cai. Dou-lhe um pequeno aceno com a cabeça, feliz por vê-lo feliz. Ky
entra na cozinha e se serve de café.
“Acho que vou descansar,” digo. “Levantar-me de madrugada todos os dias no rancho condicionou-me a ficar cansada muito, muito cedo.” Levanto-me da cadeira. Lilah se levanta também, mas estendo minha mão.
“Por favor, não se levante. Suponho que estarei no quarto de hóspedes?”
“Sim, está tudo pronto para você,” diz Lilah. “Boa noite, Sia. Nós vamos nos ver ainda mais amanhã.”
“Noite, Li,” respondo, e acrescento: “Ky.”
Estou quase fora do alcance da voz quando o ouço responder, “Noite, irmã.” E como sempre, desde o dia em que ele me resgatou do inferno que foi o México, meu coração derrete em direção a ele um pouco mais.
O cara pode ser um infame. Muito parecido com o Grande Pai Willis, se esgueirando, às vezes. Mas dentro dele vive uma gentileza, uma que nosso pai nunca possuiu. A bondade que sei que foi herdada diretamente
da nossa mãe.
A bondade que é impossível não adorar.
Capítulo dois
Hush
AK entrega as armas ao Chechen. Sento-me no assento da minha Harley, Glock na mão e verifico o velho moinho abandonado. Após o show de merda que era a conexão de tráfico sexual da Klan, e toda a merda
com Phebe, eu nunca confiei em qualquer filho da puta.
Na verdade, não confio há muito tempo porra.
Os chechenos dirigem a van se afastando do ponto de parada. AK embolsa o dinheiro, tira um cigarro do seu colete, e volta para sua moto, que está entre a de Viking e Flame. Cowboy está ao meu lado, deitado
em sua Chopper2. O fodido está apenas deitado ao sol.
Uma risada falsa, porra, vem de Viking quando ele olha para o seu telefone. AK olha na direção do irmão. Vike levanta os olhos e ergue as sobrancelhas. “Sangue novo, filhos da puta. Tem uma buceta fresca
hospedada no complexo.”
Cowboy ri e puxa o seu Stetson3 sobre os olhos. Cowboy, o homem mais descontraído que já conheci. Nada o perturba. Ele vive o momento e leva um dia de cada vez.
“Quem?” Pergunta AK.
Viking joga a perna por cima do banco de sua Harley. “Apenas um ovo de ouro, porra.”
Eu levanto uma sobrancelha. “Que porra que isso quer dizer, mon frère4?”
“Isso significa, Hush baby, temos uma inatingível.” Ele pensa por um segundo e depois sorri. “Assim, se você tocá-la as suas bolas serão cortadas somente pelo prazer.”
Espero que ele continue. Vike ama o drama. Mesmo Flame olha para ele quando se inclina para frente e anuncia: “Certa irmã se mudou para o complexo. Certa irmã com longos cabelos loiros, olhos azuis e mmm...”
ele geme e toca o seu pau sobre o jeans. “Aquele corpo, os seios... aquela bunda redonda, suculenta.” Ele abre os olhos. “Sim, a cadela está apenas implorando para um passeio na anaconda. Pelo menos ela
estará, quando eu trabalhar o charme da cobra Viking nela.”
“Que irmã?” Pergunta AK, em seguida, um segundo depois, ri direto na cara de Viking. “Você não está falando sobre a irmã de Ky, certo? Sia?”
Meu corpo fica tenso enquanto espera a resposta. Minhas malditas mãos tremem ao meu lado enquanto eu espero a porra da montanha ruiva falar. “Essa mesma.” Ele sai do banco e aponta para todos nós. “Eu
reivindico a primeira foda. Essa buceta é minha.”
Sia... Vike começa a falar de beijos, sobre como ela o fodeu com os olhos no casamento de Styx. Mas estou congelado, pensando na irmã de Ky. Sinto os olhos de alguém em mim. Olho para cima. Cowboy levantou
o Stetson e está me olhando. Uma única sobrancelha levantada lentamente. Um segundo depois, afasto-me do estupor e deslizo sobre a minha moto. Sintonizo-me novamente na conversa, e ignoro Cowboy, que ainda
está me observando. Sei por que, mas não ficarei com a sua besteira agora.
“Primeiro, não vou olhar para a buceta,” AK responde a algo dito por Viking. “E em segundo lugar, Ky realmente rasgaria seu pau fora neste momento, se você tocasse sua irmãzinha. Você sabe, aquela que
ficou cativa por anos de sua vida.”
Vike olha para Flame. O filho da puta psicopata apenas olhou para ele, então passou a mão sobre seu anel de casamento. Vike revira os olhos. “Eu juro, uma vez que vocês dois filhos da putas ficam amarrados,
nenhum de vocês é divertido, porra. Suas cadelas estão levando suas bolas dentro das bolsas. Apenas acariciando-os como seus filhotes, sempre que querem o dinheiro que vocês, sem dúvida, lhes fornecem.”
Ele olha para mim e Cowboy. “Eu realmente avisaria os dois, mas descobri que não há nenhum ponto. Vocês estão quase no clube, e provavelmente fodendo a bunda um do outro ou comendo o seu peso em pedaços
de abacaxi.” Olho para Cowboy por uma explicação, mas ele apenas ri e balança a cabeça, em silêncio, me dizendo para não me preocupar em perguntar.
“Isso deixa apenas eu,” diz ele alegremente e volta à sua moto. “É hora de Viking bater e pilhar uma buceta.”
“Apenas certifique-se que é Sia desta vez, ok?” AK alerta.
Viking revira os olhos. “Elas têm o mesmo cabelo porra, ok?”
“O que você está falando?” Pergunto a Cowboy, quando ele monta sua Chopper.
“Este filho da puta,” AK aponta para Vike e começa a rir. “Estava tão fodido com Bourbon no casamento de Styx que foi até Sia no bar. Começou a sussurrar no ouvido dela e acariciar seus cabelos, tentou
esfregar seu pau contra suas costas.”
“Eu só estava tentando mostrar-lhe meus bens,” Vike murmura.
Uma onda de ciúme toma conta de mim quando imagino Vike tocando Sia. Ela sentou-se comigo e Cowboy na maior parte do casamento. Eu não tinha visto Vike chegar perto dela. Sia não tinha ficado fora por
muito tempo, optando por voltar para a casa do seu irmão com Lilah —
“Só que não era Sia, não é, Vike?”
Um rubor vermelho reveste as bochechas de Vike. Foi a única vez que já vi o filho da puta com vergonha. Ele desmonta da sua moto, e admite: “Olha, ela e Ky parecem realmente idênticos por trás, ok porra?”
AK e Cowboy começam a rir, e não posso deixar de participar também. Foda-se, mesmo os lábios de Flame se contraem. “Você deveria ter visto o rosto de Ky quando ele se virou e Vike estava todo em sua bunda,”
AK força-se a dizer por entre as lágrimas de riso.
Vike coça o queixo. “Levei um soco no queixo naquela noite. Os punhos do VP são como pedras furiosas.” Vike cruza os braços defensivamente quando todos nós continuamos rindo dele. Quando se acalma, ele
olha para mim e Cowboy e diz: “Seus dois idiotas. Vocês têm que ser honestos; Ky é um irmão de boa aparência, certo?”
Eu balanço a cabeça, ignorando o idiota, mas Cowboy dá de ombros e concorda, “Ele é muito bonito, mon frère.”
“Vejam!” Vike argumenta. “Um erro fácil de cometer.” Ele resmunga. “O cara gay acha isso. Claramente o único fodido com bom gosto.” Todos nós subimos em nossas motos, ignorando-o, precisando montar de
volta para o complexo. Então Vike acrescenta, mais para si mesmo do que para nós, “E, merda, mas o cabelo daquele irmão era tão suave. Cheirava doce de baunilha queimado também... e algodão doce.”
AK balança a cabeça para o seu melhor amigo. Então, pegando o pacote, ele levanta a mão e faz sinal para nós pegarmos a estrada. Quando dirigimos de volta para a estrada, com o vento no meu rosto e Cowboy
ao meu lado, tudo que consigo pensar é nos olhos azuis e longos cabelos loiros de Sia. E seu sorriso.
Merda. A cadela tem um sorriso assassino porra.
É uma vergonha que eu sempre o vi apenas de longe.
*****
“Vocês estão de volta,” Tank anuncia assim que entramos no bar do clube. Tanner está sentado ao lado dele. Olho para os dois como sempre.
Tank não parece tão ruim. Ele conseguiu cobrir a maior parte da tinta Nazi com a merda de Hades. Mas Tanner, a porra do príncipe Branco da Klan, fez-me sentir nada além de raiva. O irmão pode dizer que
mudou seus caminhos, e caiu nas boas graças de Styx. Mas eu nunca confiarei em qualquer membro da Klan. Minha mão esquerda se contrai para retirar minha Glock e empurrar a porra do barril contra seu crânio,
o que ele raspou a maior parte de sua vida para que cada filho da puta soubesse a que ‘pessoas’ ele pertencia. E que ‘pessoas’, pessoas como eu, ele vivia para destruir.
“Você está bem, irmão?” Tank estreita os olhos enquanto eu olho para um de seus melhores amigos. Ao contrário de Tank, Tanner ainda usa a tinta do Poder Branco. Suásticas, o número oitenta e oito para
‘Heil Hitler’, tatuagens celtas de orgulho branco, e qualquer coisa que a porra de um filho da puta racista poderia pensar.
“Tudo bem,” rosno, respondendo em francês Cajun5, então não disse exatamente o que queria falar. Forço um sorriso tenso para os dois ex-skinheads. Mas meu coração bate no peito e minha mão treme ao meu
lado. Sou uma bomba-relógio ao redor de qualquer sinal da Klan, porra. Fui condicionado a sentir um ódio tão forte que me controlo sempre que eles estão ao redor.
Tank e Tanner caminham ao meu lado enquanto eu mantenho minha cabeça baixa e vou para a igreja. “Você teve uma boa corrida?” Pergunta Tanner, tentando iniciar uma conversa. Mantenho meus olhos retos para
frente. Eu balanço a cabeça. Mas não digo nada. Não tenho tempo para o príncipe tentar conversar com um ‘mestiço’, um ‘vira-lata’, ou qualquer um dos outros nomes de merda que tinha sido jogado em meu
caminho por sua raça.
Tomo meu assento na igreja. Styx e Ky tomam os principais assentos. Quando a porta se fecha e os prospects — Lil' Ash, Zane e Slash — trazem o licor, Ky começa a falar.
“Minha irmã ficará com a gente por enquanto.” Styx senta-se e deixa o VP falar. Ky enfia a mão no bolso e joga uma fotografia Polaroid sobre a mesa. Olho para a imagem de uma única rosa negra deitada em
uma cama. “Eu disse há um tempo sobre Garcia.”
“O idiota do México,” AK acrescenta. Posso ouvir o veneno em sua voz. O bastardo esteve a dois minutos de levar sua cadela e seu filho para o México para vender como escravos.
“Sim, aquele filho da puta.” Ky aperta os punhos. Este Garcia quase chegou à filha de Ky também. “Eu disse que ele tinha história com a minha irmã. Agora essa história se repete.”
Styx senta-se ereto e ergue as mãos, e Ky traduz. “Os Diablos receberam a notícia de que Garcia está farejando por perto. Isso vocês sabem. Mas Chávez, o prez dos Diablos, nos chamou hoje para dizer que
Garcia enviou homens para o Texas para encontrar Sia. Por tudo o que ele sabe, ela está vivendo na fodida Austrália. Mas estamos aqui, e ele começou com a gente.”
“Por que diabos você a trouxe se ele vai procurar aqui primeiro? Parece muito contraditório para mim, não?” Pergunto, os olhos metálicos de Ky batem nos meus.
Ele se inclina para frente. “Bem, mon frère, Eu — não, nós — todos podemos protegê-la melhor aqui porra. Onde ela estava vivendo, se a encontrasse, ele poderia chegar até Sia sem que ninguém sequer percebesse
que ele voltou.” Ky range os dentes. “E se Garcia pegá-la novo... se ele tocá-la, caralho...” Ky para em silêncio, em seguida, fica de pé e sai da sala.
Minha testa franze na sua saída abrupta. O irmão estava de cabeça quente, mas normalmente não fica assim, fora de controle.
Styx assente para AK traduzir a linguagem de sinais. AK lê as mãos de Styx e diz: “Nós patrulhamos o complexo em turnos. Estou em contato com os Diablos no caso deles terem mais notícias. Tanner,” Styx
olha para Tanner. “Precisamos de você no computador para fazer qualquer merda que faz lá para ver o que o idiota está fazendo.”
“Entendi, Prez,” diz Tanner. “Vou ver o que posso encontrar. Tenho que dizer, porém, a última vez que olhei para a merda do cartel, era bem guardada.” Eu respiro profundamente. Cowboy deve ter sentido
minha perna saltando, porque ele discretamente deslizou a mão na minha coxa debaixo da mesa. Paro ao sentir a mão e deixo ele me impedir de perder a cabeça. Fecho os olhos e respiro profundamente, dentro
e fora. Eu me concentro em acalmar meu coração acelerado. Em abrandar o meu pulso.
Quando abro os olhos, olho para Cowboy, acenando para que ele soubesse que estou calmo. Viking estava nos observando do outro lado da mesa. Ele ergue as sobrancelhas, fazendo um estúpido movimento de beijo
com a boca, mas como de costume com o irmão, sua atenção está sobre nós por um total de três segundos antes de qualquer outra coisa entrar em sua cabeça. “Prez?” Ele pergunta, os olhos castanhos de Styx
bloqueando no secretário do clube. “Mentes inquisidoras querem saber-”
“Não se preocupe, Vike,” AK se intromete, claramente antecipando que tudo o que Vike diria seria ruim.
Vike ignora. “Mentes inquisidoras querem saber se há rédea livre sobre a irmã de Ky.” Ele estende as mãos. “Você conhece as regras: a buceta está no clube, sem reivindicação de um irmão, então ela é livre
para qualquer pau Hangmen.”
Sinto Cowboy ficar tão tenso quanto eu. E como se soubesse que a temperatura do meu sangue havia chegado a mais de cem graus de merda com o pensamento de Sia sendo buceta livre, sua mão está de volta na
minha perna, agarrando-me com mais força desta vez. Abro a boca para dizer algo, mas Styx rompe com seu silêncio estranho e se inclina para frente.
AK pigarreia, então ele traduz: “Você me escute, e escute bem.” Vike assente, claramente alheio pra caralho à raiva fria por trás das palavras de Styx, quando saem calmamente da boca de AK. “Se chegar
perto de Sia—” Styx olha ao redor da mesa, para cada um dos irmãos, incluindo eu e Cowboy. “— ou qualquer um de vocês filhos da puta tocar um fio de cabelo da cabeça dela, vou levá-lo até o celeiro e fazer
com você o que teria feito para Rider alguns meses atrás.” Seus lábios apertam. “Vou rasgar a carne do seu corpo até você gritar, então vou matá-lo tão lentamente que em breve você desejaria a morte.”
Naquele momento, sei por que Styx era a melhor escolha para ser Prez da sede mãe dos Hangmen. Não apenas porque era sua herança, mas porque não havia nenhuma parte de mim que duvidava do que ele estava
dizendo, e que o filho da puta seguiria com a ameaça, mesmo sem pestanejar. “Ela é minha irmã tanto quanto ela é do Ky. Tenham isso em suas cabeças-duras porra.”
A sala fica em silêncio enquanto AK acaba de falar. Isso até Vike dizer: “Então, só para esclarecer, isso é um não sobre ela ser buceta livre?”
AK agarra Viking pelo colete, puxa-o para fora da sede, e o arrasta para fora da igreja antes de Styx disparar direto no desgraçado onde ele estava sentado. Flame os segue. Styx bate o martelo sobre a
mesa.
Todos saem.
Cowboy segura a minha perna até a sala ficar vazia. “Você está bem, mon ami6?” Ele pergunta, procurando o meu rosto.
Esfrego minha mão sobre as bochechas, sentindo o calor da minha pele. “Oui7.”
“Podemos ir para casa ou precisamos ficar por um tempo?”
“Fique. Não quero montar ainda.” Olho para minha mão. Ela ainda está tremendo.
Cowboy concorda e me segue pelo corredor até o bar. “O que você acha?” Ele quase sussurra.
“Sobre Garcia?”
Ele me para com a mão no meu braço e verifica se ninguém está por perto. Está limpo. Encontrando meus olhos, ele fala em fluente francês Cajun para esconder suas palavras. “Sobre sua irmã. Sobre ela estar
aqui.” Ele cruza os braços sobre o peito. “Não finja que você não se importa. Eu vi sua reação lá.”
Viro-me e caminho até o bar. “Não tenho qualquer pensamento sobre o assunto.” Cowboy suspira, e corre para me alcançar. Nós pegamos uma mesa, e peço água; Cowboy pede uma cerveja. Smiler está no bar, conversando
com Lil' Ash e Slash por trás dele. “Eu ia matá-lo se ele não calasse a boca,” Cowboy afirma, novamente em francês Cajun, acenando para Viking enquanto ele anda atrás de AK. Fecho os olhos e desejo que
ele tivesse seguido em frente e deixado esta porra de conversa. Os dedos de Cowboy se enrolam no meu braço, e eu abro os olhos para encontrar sua cara irritada. “Caralho, não me ignore Val,” ele me alerta,
usando meu nome real. Bem, o meu verdadeiro apelido, pelo menos. Cowboy quer dizer outra coisa, mas em vez disso ele vira os olhos e olha para a entrada do clube. Meu olhar segue o seu, e pousa em um par
de longas pernas finas.
Sia.
O aperto de Cowboy aumenta, até que arranco meu braço para trás e tomo outro gole da minha bebida. Mas, como um ímã, porra, meus olhos são atraídos de volta para o bar. Sia, com toda a confiança que seu
irmão possuía, caminha até o bar. “Lil' Ash, não é?” Diz ela. Ash ruboriza e assente. “Dê-me um uísque e água, sim, querido?”
“Sim, senhora.”
A bota de Sia bate no chão de madeira, mantendo o ritmo de qualquer canção caipira que estava tocando. Lil' Ash dá-lhe as bebidas, e ela se vira. Eu me mexo no meu lugar enquanto seus olhos entediados
percorrem o bar... antes de parar em mim e Cowboy. Um lento sorriso puxa seus lábios; ela sai do bar e se dirige para nós.
Cowboy recosta-se na cadeira e chuta minha perna debaixo da mesa. Ele toca seu Stetson, quando ela para em frente à nós. “Cher8,” diz ele, forçando o seu sotaque para chamar atenção. O rosto de Sia se
ilumina. Isso nunca falha com ela.
“Querido,” ela diz em resposta, ganhando um sorriso de merda do meu melhor amigo. Fucker está caído pela cadela, tudo bem. “Posso sentar com vocês?”
“Claro,” Cowboy concorda, ao mesmo tempo em que termino o último gole da minha água e anuncio: “Estamos saindo.”
Cowboy me olha, e vejo outro flash de aborrecimento — maior desta vez — brilhar em seus olhos. “Podemos esperar um pouco para tomar uma bebida com uma bela senhora, Hush. Pare de ser tão miserável, porra.”
Agarro o meu copo de água vazio apertado. Eu olho para o rosto confuso de Sia, mas, em seguida, dou um sorriso apertado e murmuro, “Claro.”
“Eu posso ir, se quiser. Eu —”
Cowboy chuta o banco à nossa frente. “Sente sua bunda sexy aqui, Cher. Tome uma bebida com os seus residentes Cajuns. Hush aqui só está no seu período, então, está sentindo todos os tipos de merda emocional.”
Sia senta-se na cadeira, rindo desajeitadamente da piada de Cowboy. Ela toma um grande gole do uísque, em seguida, diz: “Você não está bebendo, Hush? Isso é água, não é? Você está se sentindo bem?” Ela
ri. Sinto-me como um saco de merda com o quão nervosa de repente ela se tornou ao meu redor. Sempre fui bom com ela. Ela deve estar confusa pra caralho com a minha súbita mudança de personalidade.
Mas era a maneira que tinha que ser.
“Não bebo muito,” respondo friamente. Cowboy faz uma careta para mim novamente. Posso sentir isso. E nem sequer preciso olhar para confirmar. Eu, sem dúvida, terei a porra de uma palestra mais tarde.
“Ele não pode beber muito, mas eu bebo,” diz Cowboy, ganhando um grande sorriso de Sia. “Agora me diga,” ele pergunta enquanto se inclina para perto “como estão as éguas?”
“Bem.” Ela olha para o conteúdo do seu copo. O seu sorriso cai, e ela calmamente acrescenta: “Não tenho certeza quando voltarei para o meu rancho embora.” Ela termina o resto do seu uísque e faz um gesto
para Lil' Ash dar-lhe outro.
A tristeza em sua voz me faz olhar para ela e parar de olhar para o topo da mesa. “Sim. É uma droga você ter que estar aqui, Cher,” Cowboy concorda. Ele estende a mão sobre a mesa e aperta a dela... então
apenas a deixa lá. Os olhos dela encontram os dele. Suas bochechas ficam rosadas. Cowboy lhe dá um de seus sorrisos imã de buceta.
Eu me levanto. “Estou indo para casa.”
Sia puxa a mão que Cowboy segurava. Meu coração está disparado novamente. Pego as chaves do meu colete e saio do bar. Eu mal tinha chegado à minha moto antes de Cowboy escorregar em sua Chopper ao meu
lado. “Que porra aconteceu com você?”
Eu não respondo; em vez disso, saio do clube e pego a estrada. Quando estaciono no nosso lugar, vou direto para a cozinha e bebo um copo grande de água. Cowboy vem atrás de mim, de pé a poucos metros.
Viro-me e encontro seus olhos. “O quê?”
“Que porra foi aquela?”
“Só cansado. Vou para a cama.”
Quase saio, mas Cowboy agarra meu braço. “Está se sentindo bem? Você está quente? Tem uma febre ou qualquer coisa?”
Dou de ombros fugindo da sua pergunta. “Tudo bem.”
Cowboy exala, mas ele segura meus olhos por uma fração de tempo muito longo. Balançando a cabeça, ele diz, “Está bem.”
Afasto-me dele e vou para o meu quarto.
“Você estava frio esta noite, mon frère.”
Eu paro, mas não me viro.
“Ela gosta de você. E você a fez se sentir como merda. Era visível em seu rosto. Na verdade, você estava sendo rude pra caralho.” Cowboy suspira. “Voltamos a isso? Você quer pressionar o botão de autodestruição
de novo?”
Fico em silêncio por três segundos tensos, querendo dizer mais do que eu fiz. “É melhor, porra, e você sabe disso.”
Cowboy não me segue quando fecho a porta do quarto. Sento-me na beira da cama e corro as mãos pelo meu rosto. “Merda,” sussurro e me deito. Ouço Cowboy andar através da casa, ainda com raiva de mim.
E porra, estou chateado comigo mesmo.
Tento dormir. Mas com olhos abertos ou fechados, não consigo afastar a imagem do sorriso de Sia desaparecendo da minha cabeça.
Sim, fui um bastardo frio para ela. Eu sei. Eu pretendia ser.
Mas quando me inclino e abro a gaveta de cabeceira para olhar a fotografia dentro, sei que tinha que ser. A verdade é que, caralho, eu gosto da cadela. Mas isso só poderá acabar de uma maneira...
Em uma bagunça do caralho.
A cadela vale mais do que aquilo que posso dar.
Capítulo três
Sia
Duas semanas depois…
A risada de Bella ressoa pelo ar enquanto ela conta uma história sobre seu marido. “Ele está com sua mãe, Ruth, agora. Pai está com eles também.” Ela toma um gole de seu chá. “Eu acredito que Solomon e
Samson terão uma reunião hoje com Styx.”
Mae assente. “Eles vieram para nossa casa há duas noites. Estavam no escritório com Styx e Ky por duas horas.”
“Eles estão se juntando aos Hangmen?”, Pergunta Lilah.
Mae se recosta em seu assento e acaricia a barriga. Está ficando grande agora. “Eu não sei o que foi discutido, mas eu acho que é onde isso está indo.”
“Eu também penso assim”, diz Bella. “Mesmo na comuna em Puerto Rico, eles eram rebeldes entre aqueles que já foram consideradas anarquistas da fé. Eles fariam bem aqui, eu creio. São homens bons, fortes
em caráter e dedicados a sua família. Os Hangmen, ao longo dos últimos meses, tornaram-se família para eles.”
“Certamente eles não vão ser prospect com os jovens?”, Pergunta Phebe.
Todas encolhem os ombros. Eu exalo um longo suspiro e afundo mais em meu lugar. Fecho os olhos e imagino o que estaria fazendo agora se ainda estivesse no rancho. Amo essas mulheres. Eu amo. Mas seu modo
de vida não é a maneira que gosto de viver a minha. Ao longo das duas últimas semanas eu passei meus dias com Lilah, Mae, Phebe, Maddie, Bella e Lilah. Elas estavam sempre juntas. E realmente meio que
quebrou meu coração ver quão próximas todas elas são, e saber o que elas tinham passado. Todas falavam em seus estranhos acentos pequenos. Eram mais educadas do que qualquer uma que eu já conheci. Seus
maneirismos eram suaves e delicados. E eu não tinha ilusões a respeito de porque os seus homens as adoravam como faziam. Não havia escolha, além de querer protegê-las. E, ao contrário da maioria das mulheres
modernas, que viviam para servir seus maridos. Elas eram tradicionais de uma forma doce.
Eu não era nada como estas senhoras.
A única que não falava muito era Maddie. Assisto-a agora, — costurando algo à mão que parecia um retrato de uma Harley. Como se sentindo que era observada, ela encontra meus olhos e me dá um sorrisinho
tímido e radiante de volta, decido sentar-me ao lado dela e perguntar: “Então, Madds. Como vai a vida?"
Maddie para a costura do algodão preto que estava fazendo. “Muito bem, obrigada” responde ela e imediatamente volta para o seu trabalho.
“E Flame?”, continuo. “Como está seu marido?”
Os olhos de Maddie se arregalam, e percebo que todas as vozes na sala tinham silenciado. Todos os olhos estavam em mim. “O quê?” Desafio. “Só estou tentando puxar uma conversa.” Eu me viro para Maddie.
“Então Madds? Como está o grandalhão? Tenho que ser honesta, nunca pensei que alguém iria domar aquele cara, pelo que Ky me falou sobre ele no passado. E aqui vem você tão novinha, e doma a fera.”
“Meu marido não é uma fera!” Maddie estala. Eu fico tensa com as palavras dela. Foi a declaração mais agressiva que já tinha ouvido de sua boca.
“Eu... eu não estava.” Eu me inclino para a frente. “É um ditado, querida. Não estava realmente chamando-o de fera.”
Os olhos verdes de Maddie ficam trancados em mim enquanto leem meu rosto. Aparentemente, sentindo que eu estava dizendo a verdade, ela relaxa. “Então ele está bem, obrigada” ela finalmente diz e novamente
volta para a sua costura.
“Não tive a intenção de ofender, Madds. Eu estava simplesmente perguntando como era, estar com ele. Você parece... ambos parecem tão felizes.” Eles eram, pelo que eu tinha visto. Eles ficavam raramente
no bar, mas quando estavam, ela nunca deixava o seu lado. Seu grande braço estava sempre a segurando, como se ela fosse sua âncora. Adorava-a, e ela à ele. Isso realmente era bonito de ver, porra.
Maddie dá um pequeno sorriso, mas continua com sua costura. Sei que era tudo que estaria recebendo dela.
“Mais chá, Sia?” Lilah pergunta quando se levanta da mesa. “Grace volta da escola em breve, por isso vai ter que ser o nosso último, senhoras. Slash estará vindo para me levar para buscá-la.”
Todas as outras concordam, mas eu mal estava ouvindo. Minha mão bate no meu joelho. Não consigo suportar isso. Tenho que sair daqui. Esse redemoinho no meu estômago, tão destrutivo, afunda mais e mais
ao sul até que começa a me consumir. Tento respirar, esforço ao máximo meus pulmões, engolindo o ar dentro deles.
“Sia?” Lilah estava me observando. Incapaz de ficar parada, tentando escapar do sentimento muito familiar de desmoronar, pulo para os meus pés.
“Eu...” esfrego o peito e corro para a porta. "Desculpa. Eu tenho que ir."
Estouro para fora da cabana para a grama. Corro para a floresta que leva ao complexo, apenas no caso de alguém tentar me seguir. Tomo abrigo contra uma grande árvore. Apoiando minhas mãos sobre os joelhos,
tento respirar profundamente ...
“Você vai usar o vestido vermelho, bella. Eu gosto mais de você em vermelho.” Olho para o vestido. Era bonito. Sem dúvida caro. Mas tudo que vi foi uma gaiola. Apenas as barras não eram feitas de ferro,
mas de cetim e renda.
Juan agarrou meu rosto e puxou minha cabeça para encará-lo. Seu aperto era tão forte que choraminguei.
“Você vai usar o vestido. Sim?”, Ele disse, com firmeza.
“Sim.” Eu forcei um sorriso. Seus olhos queimaram na minha submissão. Liberando meu rosto, andou em torno de mim. Agarrei com força o vestido em minhas mãos como uma tábua de salvação. Meus olhos fechados
enquanto ele circulou meu corpo nu até que ele parou nas minhas costas. Estremeci quando seu dedo correu por cima do meu ombro... sobre a tatuagem que ele tinha marcado na minha pele naquela manhã.
“Mmm,” ele murmurou, pressionando um beijo na carne ainda crua. “Minha, bella... mi rosa negra...”
Engulo em seco, tentando sacudir a fodida memória da minha cabeça. Sei que era porque estou longe do meu rancho por muito tempo. Fazer nada além de compras, beber chá, cozinhar, assar, e cuidar de Grace,
não é suficiente para ocupar minha mente cheia. Preciso do trabalho laborioso que o rancho fornece. Preciso estar tão exausta no final do dia que eu caia em um sono profundo o suficiente para garantir
que os pesadelos não retornem.
Passo a mão pelo meu rosto, sabendo que meus olhos tinham olheiras, como se fossem a mais nova moda de Paris. Preciso de meus cavalos. Preciso do conforto que me dão. Eu preciso da familiaridade da minha
casinha da fazenda com rangidos e gemidos. Preciso das dores em meus músculos e o cheiro de sabão e de couro que permeia o ar.
Aqui, eu não tenho sono.
Aqui, eu não me encaixo.
Estou cheia, porra.
Lançando-me em uma corrida constante, corro todo o caminho para o complexo, sabendo que é onde irei encontrar meu irmão. Eu irrompo pela porta do quintal e cambaleio em direção ao bar do clube. Você já
precisou de um Hangman? Se eles não estão em uma corrida ou na igreja, estão bebendo ou fodendo bucetas no clube.
Abro a porta do bar para ver todos os irmãos sentados ao redor. Seus olhos caem sobre mim. “Desculpe, querida”, disse Bull. “Sem cadelas aqui a menos que seja durante os horários permitidos.”
Eu olho o rosto do que parecia ser um Samoano9 de cento e quarenta quilos e inclino a cabeça. “Ah é? Bem, sorte para você, menino grande, que não sou nenhuma cadela do caralho.” Aproximo-me dele com meus
braços cruzados. “A menos que você me irrite. Nesse caso eu posso ser a pior puta que você já viu.”
As sobrancelhas de Bull sobem com surpresa. Ele estava prestes a dizer algo quando ouço a voz habitual do meu irmão, “Sia!”
Ele estava sentado perto do fogo com Styx. Como eu disse antes, não sou uma de suas mulheres. Não aceitaria nenhuma merda deles, mesmo que estivessem no topo da sala como reis escuros em seus tronos fodidos.
“Sai fora, Sia,” Ky diz, sacudindo sua mão com desdém. Isso me fez ver vermelho, o resíduo da ansiedade que tinha saltou sobre mim como um fantasma na noite, fez eu me perder.
Vou até meu irmão, que tinha começado a tomar um gole de sua cerveja, e bato no filho da puta direto na cabeça.
Você poderia ouvir um alfinete cair no bar, tudo ficou em silêncio mortal.
Ky vira a cabeça devagar, os olhos azuis olhando para mim. Seu olhar só ficou mais furioso quando Viking gritou atrás de nós, “Santa porra. Eu acho que estou apaixonado. A cadela pode me bater em qualquer
momento que ela quiser, caralho!”
Estou sem fôlego, ofegante. Como se atrevem, porra, a me tratar desta maneira? Motoqueiros do caralho. Hangmens filhos da puta! Noventa e nove por cento dos idiotas precisavam ter suas bundas peludas chutadas.
De preferência por alguma mulher-montanha que entregaria suas bundas sexistas vestidas de couro a eles em um prato.
“Volta para a cabana, Sia. Agora. Volte para as outras cadelas, e falarei com você quando eu terminar com os negócios do clube.”
Engasgo com uma risada incrédula. “Negócios do clube? Que negócio do clube? Beber às duas da tarde? Porra, coisas realmente importantes estão acontecendo aqui embaixo no QG Hangmen.”
Vermelho explode no rosto de Ky. Ele lentamente se levanta da cadeira, até estava a apenas três centímetros do meu rosto. “Eu não pedirei novamente. Sai fora, obedeça às regras do clube, e falarei com
você mais tarde.”
Sorrio e me aproximo. “Eu não estarei no clube mais tarde, oh sagrado mestre e senhor vice-prez.” O rosto de Ky se contrai com raiva. “Voltarei pra casa. Já acabei por aqui. Eu quero a minha fazenda e
os meus cavalos.” Faço um gesto em torno do bar. “Eu não sou uma puta de merda no Hangmen ou cadela ou qualquer merda de outro nome pejorativo que você quer jogar em mim. Sou uma mulher. Uma fazendeira.
E eu estou fora.”
Viro-me para sair, mas Ky segura meu braço. Ele balança a cabeça. “Você não vai a lugar nenhum.”
“Eu vou, Ky. E você não pode me parar. Eu faço meu próprio dinheiro. Tenho a minha própria vida, e este lugar não tem qualquer parte nela.” Aproximo-me, e desta vez eu incluo o rosto furioso de Styx na
minha audiência. “Os velhos irmãos gostavam desse tipo de coisa, mas eu cresci. Eu não era bem-vinda aqui. Quando queria vir para dias da família e churrascos, para fazer parte do clube, me disseram para
calar a boca e ficar escondida como o 'erro' que eu era. Então, com certeza pra caralho não pertenço a esse lugar agora. Estou indo para casa.”
Eu estava indo embora quando Ky disse: “Ele poderia estar aqui a qualquer momento, e você só quer colocar-se nesse tipo de perigo?”
O rosto de Garcia brilha em minha mente, trazendo meus pés a um impasse. Fecho os olhos, mas logo diante de mim, vejo Hush e Cowboy sentados à minha frente. No entanto, minhas pálpebras se fecham, e de
repente eu estava lá...
O sol mexicano sufocante batia em mim, quando ouvi o fluxo de uma fonte de água perto de onde acordei. Ouvi empregadas correrem, o espanhol rápido, demasiado rápido para eu entender. E então eu sinto o
dedo traçar o comprimento da minha espinha... seu corpo tonificado e alto movendo-se para deitar em cima de mim ...
Suspiro. Uma mão pega meu cotovelo. Eu vacilo e recuo, virando quando quem tinha me pego aumenta seu aperto. Quando levanto meus olhos, vejo os olhos azuis do meu irmão irem da raiva para a tristeza...
então protecionismo. “Sia,” diz ele, de modo que só ele e eu podíamos ouvir. “Você está bem. Sou só eu.”
Eu luto contra a ansiedade aumentando, tentando respirar. Concentro-me em meu irmão perto de mim. Mesmo que seja um babaca, ele me faz sentir segura. Sempre fez, sempre fará.
Quando falo, minha voz soa quebrada e desesperada. “Eu preciso ir, Ky.” Sei que os homens no bar devem ter me ouvido, mas estou muito perturbada para ficar quieta. E, francamente, eu não me importo porra
nenhuma sobre esse fato. Mas eu me odeio quando sinto lágrimas descerem em meus olhos. Eu nunca quis que esses homens me vissem como fraca.
“É perigoso,” Ky adverte.
“É perigoso eu estar aqui também.” Engulo o nó que se formou na minha garganta. “Se ele não desistir de colocar seus olhos em mim de novo, Ky, nada vai impedi-lo.” Um arrepio percorre minha espinha quando
admito o que eu sabia ser a verdade. “O alcance que ele tem pelo cartel Quintana é muito grande e muito forte. Eu...” levanto meus ombros. “Nós sempre soubemos que este dia poderia chegar. Ele era muito
obcecado por mim. Seu orgulho foi muito ferido quando você veio e me pegou. Nós o deixarmos fazer papel de bobo na frente dos seus homens.”
Ky se aproxima de mim. “Não subestime o alcance dos Hangmen, irmã. O cartel Quintana é poderoso. Mas nós também.”
“Eu tenho que ir, Ky,” insisto, implorando-lhe com os olhos por entendimento.
Ele balança a cabeça como se quisesse discutir. Mas em um flash do que parecia ser o entendimento, ele para e diz: “Então você não irá sozinha.”
Enrugo minha testa. “Você é necessário aqui, não é?”
“Não eu.” Ele olha ao redor do bar. Para os olhos que estão nos olhando, e sei que todos tinham ouvido a última parte da conversa.
Ky ainda estava à procura entre seus homens quando Viking levanta-se e diz: “VP, eu gostaria muito de me colocar à disposição.”
“NÃO!” Ky e eu gritamos ao mesmo tempo.
Viking balança a cabeça e senta-se, os braços cruzados sobre o peito saliente. Ky encontra os olhos de AK. “AK, você vai com ela.”
“Ele tem uma senhora em casa, Ky. Você não pode fazer isso.”
“Ela pode ir também. Sua filha também.”
AK tosse. “Saffie... ela não lida muito bem em um lugar novo.”
“Eu podia ir com eles. Ajudo a proteger todos,” diz uma voz do bar. O irmão mais novo de Flame, Ash. AK estreita os olhos na criança, mas balanço a cabeça. Não era certo arrancá-los de suas vidas. E não
quero todas essas pessoas que eu mal conheço comigo.
“Não vou colocar as crianças em perigo, Ky.” Ky parece concordar, e ele volta seu olhar para Smiler. Mas antes que ele pudesse oferecer outro de seus homens, que, sem dúvida, obedeceria o que lhe seria
ordenado, olho para o bar. Não foi intencional, mas meus olhos se voltam para os dois homens que tinham sempre me feito sentir segura aqui no clube. Um lampejo de sorriso cruza a boca daquele que estava
rapidamente se tornando o meu favorito Cajun loiro. Mas quando olho para o homem com a pele de caramelo profundo e com os olhos azuis brilhantes mais penetrantes, não há tal recepção. A boca apertada e
um olhar frio foram direcionados a mim. Fico surpresa com a dor que seu olhar causa ao meu coração.
Mas não conheço o restante como eu os conheço. E antes que pensasse muito sobre a ideia, falo: “Hush e Cowboy.” Ky vira a cabeça de volta para mim. “Se você vai fazer um irmão ou dois virem me proteger
até que seja seguro, escolho Hush e Cowboy.”
Quando minha voz atravessa o bar, Hush e Cowboy falam ao mesmo tempo.
“Bon.”
“Não.”
Cowboy não olha para Hush. Ao contrário, ele se irrita no local, os olhos duros e sua pele com rubor vermelho. Hush levanta-se e se dirige para Ky. “Escolha outra pessoa.”
Cowboy sacode a cabeça. “Nós iremos; o que quiser, VP.” Os punhos de Hush se apertam ao seu lado e ele sacode a cabeça violentamente.
Meu coração rasga um pouco mais com a rejeição pública de Rush.
Os olhos de Ky se estreitam. Eu pensei que ele discutiria. Mas quando olha para mim, vendo o meu rosto e olhos desesperados, ele apenas suspira. “Bem. Eles vão.” Ele olha para Styx, que assente com a cabeça
com aprovação. “Você pode ir amanhã de manhã, não antes. Primeiro eu quero verificar melhor o lugar.” Ele esfrega os olhos. “Além disso, Grace e Li vão querer vê-la antes de você ir. Passe algum tempo
com elas esta noite, sim?”
“Combinado.”
Ky vira-se para Cowboy e Hush... Hush que estava sentado de novo, com seus olhos perfurando o tampo da mesa, com uma expressão venenosa em seu rosto. “Falarei com vocês dois em dez minutos na igreja. Só
vocês dois.” Ky aponta para Styx. “Prez estará lá também. Vamos ter a porra de uma conversa.”
Meu coração bate rápido quando Hush não reage à ordem dura do meu irmão. Cowboy fala por ambos. “Entendido, VP.”
“Volte para a cabana, Sia,” Ky diz, e começo a me afastar. “Ash, leve-a de volta.” Eu fecho meus olhos e respiro fundo.
Irei para casa amanhã.
Ash me leva de volta para a cabana de Lilah e Ky. Quando caminhamos pelo caminho de terra, viro-me para olhar a grande floresta verde que os Hangmen possuem e pergunto ao garoto, “Por que você quer se
juntar aos Hangmen?”
Parecendo assustado com a minha pergunta, Ash me olha com o canto do olho e diz: “Porque eles são a melhor coisa que já me aconteceu, minha senhora.” Um pequeno sorriso puxa seus lábios. “Isso, e meu irmão
está aqui.” Posso jurar que vi os olhos do garoto brilharem, e ele engole forte. “Eles me salvaram. Entendo por que você não gosta muito daqui. Mas, para mim, não há outro lugar que eu gostaria de estar.”
Sinto meu peito quente em quão carinhosamente ele olhava para este lugar. Eu poderia ter sido assim também, se o meu pai não tivesse me abandonado, me mandado juntar minhas coisas e ir para o rancho da
minha tia, na cidade ao lado, o mais longe possível dele, tudo por causa deste clube precioso. Mas depois penso em Styx e Ky, tão jovens na época, mas arriscando tudo para me tirar do México...
Suspiro. “Eles uma vez me salvaram também, garoto.” Olho para trás para fora da janela. Posso aceitar que se não fosse pelos Hangmen eu poderia não estar aqui hoje. E sei que Ky está certo. Foi só por
causa do que o meu irmão fez que eu fui salva. Os Hangmen eram poderosos. Mas meu pai tinha me feito azeda demais para aceitar verdadeiramente este clube. Eu andava sobre uma linha instável. Eu amava e
odiava este lugar. Assim como os homens aqui, eram bons e malignos.
“Nós iriamos salvá-la novamente se precisasse,” Ash anuncia confiantemente, derretendo meu coração machucado.
Quando a caminhonete para, eu olho para a cabana do meu irmão e o pedaço de felicidade que residia dentro de suas quatro paredes. Então, inclinando-me sobre o console, dou um beijo na bochecha de Ash.
“Faça o que fizer, Ash, não perca essa doçura que ainda tem dentro de você. Não deixe o Hades contaminá-lo com o tipo de escuridão que ele pode trazer.”
Ele parece confuso com a minha declaração. Então eu pergunto: “Você tem uma menina, Ash?”
Não entendo por que essa pergunta fez Ash segurar o volante como se fosse a única coisa que mantinha os seus pés no chão. Mas acrescento: “Não foda as vagabundas. Espere por uma garota que você ama. Um
garoto como você vale muito mais do que as prostitutas que infestam este lugar.” Eu não espero para ouvir a resposta. Nem mesmo acho que ele me daria uma. Em vez disso, saio da caminhonete e entro na cabana
vazia para arrumar minha mala antes de Lilah voltar com Grace.
De repente, minha ansiedade se acalmou.
Estou indo para casa.
*****
“Michelle!” Eu tropecei em torno do quarto escuro onde eu tinha acordado. Procurei minha melhor amiga. Minha cabeça estava latejando. Eu nunca tive uma enxaqueca antes, mas pensei que talvez eu estivesse
tendo uma agora. “Michelle?” Meu coração batia em um ritmo louco no meu peito enquanto eu tentava limpar a névoa do meu cérebro. Eu caí contra a parede e coloquei minha mão sobre a cabeça. Tentei procurar
as memórias de ontem à noite. Do que eu tinha visto...
Michelle ...
Meus olhos se abriram, e eu soltei um gemido tenso. Eu deslizo pela parede, minha bunda batendo no chão assim que a porta na minha frente abriu. Eu vacilei com o feixe de luz que escapou de fora. Calafrios
eclodiram ao longo de minha pele, embora o quarto parecesse uma caixa abafada, o ar era espesso pelo calor estagnado.
“Mi rosa negra,” uma voz profunda diz carinhosamente quando alguém entra pela porta aberta para o quarto que é a minha prisão.
Eu empurro a nuvem mental longe o suficiente da minha cabeça para proferir uma palavra: “Juan.”
“Si, bella.” Juan — ou como seus homens e todos nesta pequena aldeia o conheciam, Garcia — veio em minha direção. Ele parou, elevando-se sobre mim, e depois agachou-se. Sua aparência incrível ainda me
tirou o fôlego... mas ele tornou-se feio quando pensei na noite passada, ou qualquer que seja a noite quando eu descobri que ele era... o que ele queria de mim... da minha amiga.
“Você quer nos vender,” sussurrei, minha garganta fechando com essa verdade terrível. “Você atraiu-nos, fingiu ser nosso amigo, mas você estava mentindo... você vende mulheres para o sexo... para serem
escravas.” Um soluço ficou preso na minha garganta. “Por que você fez isso com ela?” Engoli. “Você vai fazer isso comigo também?”
Seus lindos olhos castanhos suavizam-se, como se eu tivesse dito algo sentimental e doce. Ele levantou a mão e, com uma delicadeza que eu não esperava dele, empurrou meu cabelo e beijou minha testa. Suspirando,
ele falou em inglês, “Eu não tive escolha, além de sedar você, Bella. Você estava histérica com o que viu, e isso nunca é uma boa imagem em uma das minhas fêmeas, minhas rosas negras.” Eu me irritei ao
ser chamada assim. Mas ele continuou falando. “Eu sou Juan Garcia, minha Elysia. Não tolero mulheres loucas — emocionais.” Ele sorriu e passou o dedo no meu rosto. “Especialmente da mulher que eu decidi
não vender, mas a escolhi como minha.”
Meus pulmões pararam de funcionar com suas palavras.
“Si, bella. Você é minha. Eu nunca tive uma mulher como minha antes. Mas estou quebrando todas as minhas regras por você.” Então ele me beijou, seus lábios macios deixando uma mancha invisível na minha
boca seca. “E você será feliz ao meu lado. Uma imperatriz para um Imperador.” Ele me levantou do chão e me guiou para fora do quarto. Muito fraca para lutar, eu andei para o sol, o tempo todo me perguntando
em que merda eu me meti. E como diabos sairia disso...
Agarro o meu peito quando salto da cama e fico de pé. Engulo em seco, precisando respirar. Alcançando a mesa ao meu lado, ainda trêmula, eu abro as gavetas e tiro minhas pílulas para ansiedade. Engulo
duas em seco e tento me acalmar. A memória de Garcia em meu pesadelo ainda se agarra a mim como uma doença de pele.
Eu esfrego minhas mãos sobre os braços, arranhando minha pele como se pudesse de alguma forma rasgá-lo da minha mente. Fecho os olhos, mas seu belo rosto está lá. Abro meus olhos e sinto seus olhos castanhos
escuros me olhando do outro lado da sala, como ele sempre fazia. A luz estava acesa. Só consigo dormir assim.
Eu sei que o quarto está vazio, mas minha mente gosta de pregar peças em mim. Ele estava na cadeira no canto da sala, fumando seu charuto cubano, uma tequila na mão. Ele se levanta, seu terno preto e prateado
tão intocado como eu nunca vi, e se move para mim na cama. Estou congelada quando ele se senta ao meu lado e sorriu. “Mi rosa negra,” ele ronrona e me beija. Meus olhos se fecham. Quando ouso abri-los
novamente, estou sozinha no quarto.
Fugindo da cama, eu escapo para fora do quarto e para a cozinha. Encho um copo grande de água e me encosto no balcão. Lá fora, o céu estava se transformando de preto para um rosa obscuro.
O nascer do sol.
Continuo em silêncio e saio para a varanda, fechando a porta atrás de mim. Vou até o parapeito e respiro fundo. Quando o cheiro do tabaco atinge minhas narinas, eu viro minha cabeça para a esquerda.
“Sia,” Ky está sentado no balanço da varanda. Ele está vestido apenas com calça jeans, seu cabelo loiro longo pendurado casualmente sobre os ombros nus. Ele passa as mãos pelas mechas do seu cabelo
“Ky.” Coloco a mão sobre meu peito. “Você quase me deu um ataque cardíaco.” Ele toma um gole da bebida âmbar em seu copo e olha para longe.
Sento-me ao seu lado no balanço da varanda, perguntando-me o que está errado. Enrolo o cobertor da parte de trás do balanço sobre nós dois; o frio da noite fez meus braços nus se arrepiarem. Ky nem sequer
pareceu notar que eu o cobri também. Seguindo seu olhar, observo as primeiras brasas da madrugada começarem a se incendiar, e pergunto: “O que está acontecendo, Kyler?”
Ele não reage à minha pergunta. Quando me viro para olhar seu rosto, eu não tenho certeza que há qualquer luta deixada nele. Isso me assustou mais do que qualquer coisa. Porque meu irmão era uma sirene
no nevoeiro; ele era forte e rude. Mas agora, ele parecia quebrado.
“Você também não conseguiu dormir?” Ele pergunta, sua voz áspera e grossa.
“Não.” Baixo os olhos para as mãos no meu colo. “Só a merda habitual. Sonhos com Garcia. Michelle... aquele tempo.”
Ky toma um gole de sua bebida. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Apenas quando acredito que ele não vai falar, ele sussurra, “Ela está grávida.”
Eu pisco, sem saber se o ouvi corretamente. Minha cabeça levanta, e vejo o que só pode ser descrito como dor primal gravada em seu rosto barbudo.
“Ky...” Sussurro. Sabendo o que ele precisava, eu pego sua mão na minha. Ele fica tenso, mas, em seguida, segura tão firmemente os meus dedos que chega a doer.
Levo um momento para me recompor. “Isto não é uma coisa boa?” Verifico que ninguém está por perto. “Ela fez uma cirurgia para tornar isso uma realidade para ambos. É um milagre, Ky.”
Sua cabeça cai para frente, mas eu pego um pequeno aceno de concordância. “É,” ele diz suavemente. “Mas ela é de alto risco.” Ele se vira para mim, e quase quebro quando vejo uma lágrima cair do seu olho
e deslizar lentamente pelo seu rosto. “Nós sempre soubemos que ela seria se alguma vez ficasse grávida, mas agora que está acontecendo, eu só...” Ky olha novamente para longe. Aperto sua mão com mais força,
deixando-o saber que eu ainda estou aqui para ele.
“Agora que está acontecendo, ela tem que descansar o tempo todo, levar isso com calma, apenas para que possa ter a criança...” Ky balança a cabeça. “Faz o pensamento de...” ele respira fundo. “Perdê-la”
Sua voz falha e sua cabeça cai novamente. O cabelo esconde seu rosto, mas eu sei que lágrimas estavam caindo. Lágrimas caíram dos meus olhos também. Em todos os dias, durante todo o tempo que passei com
o meu irmão, eu nunca o vi assim. Ky sempre foi forte, raramente chorava. Sempre cobria suas emoções com piadas ou ameaças.
“E há Grace também.” Ele segura firmemente a minha mão quando a sua começou a tremer. “Eu amo essa criança até a morte, mas se algo acontecer com Li... eu... eu não seria um bom pai.” Ky inclina a cabeça
para trás, contra o balanço. Sua pele está pálida e manchada pelas lágrimas. Seus olhos estão fechados bem apertados, como se ele pudesse escapar de tudo o que estava sentindo se simplesmente os fechasse.
Eu coloco minha cabeça em seu ombro volumoso. “Eu entendo agora,” ele diz. Olho para cima, sem saber o que ele quer dizer. Encontro seu olhar azul atormentado. “Papai,” ele continua, e sinto meu estômago
virar. “Entendo por que você o odiava.”
Eu respiro fundo. Não confio em mim mesma para abrir a boca, por medo do que posso dizer sobre o nosso falecido pai. Por mais duro que ele fosse com Ky, sabia que meu irmão o amava ferozmente, mesmo que
ele não admitisse.
“A maneira como ele agia com a mamãe.” Ky sacode a cabeça. “A forma como ele tratou você.” Continuou balançando a cabeça. “Agora eu tenho Lilah e Grace... e esse bebê à caminho, eu entendo.” Ky vira e
rapidamente beija minha cabeça. “Ele era um pai de merda, e um pedaço de merda para a mamãe.”
Exalo alto, sentindo sair um peso de mim que eu nunca soube que carregava. Os olhos de Ky se fecham novamente e mais lágrimas caem. “Hey.” Eu sento e seguro seu braço. “Está tudo bem.”
O corpo de Ky relaxa. “Não posso parar de ver seu corpo em minha mente, deitada no portão com uma bala de merda na cabeça e sangue ao seu redor.” Um flash de dor atravessa o meu coração.
Mamãe.
Ele estava falando sobre a nossa mãe perdida.
“Ele não a deixou entrar,” Ky sussurra. “Ele estava na câmera do portão principal, rindo dela em pé lá fora, tentando entrar.” Congelo. “Eu era criança. Que idade eu tinha? Seis? Sete?” Ky balança a cabeça.
“Não sabia que era a mamãe até depois que a bala a atingiu e todos nós corremos para fora. Porra, eu só corri com os irmãos, seguindo tudo o que eles faziam como sempre.” Ele para. “O filho da puta disse
a qualquer irmão que queria ouvir sobre como ele foderia com ela. Como ela diria o quanto o odiava, pois ela o deixou quando estava grávida de você, e ainda faria tudo para ele sempre que ele queria...
como ele tinha o negócio mais doce. Buceta como uma torneira com ela, e as putas que ele tinha todas as noites aqui.”
Raiva como eu nunca senti antes me enche.
“Então a bala a acertou.” A voz de Ky torna-se fria. Mortal. “Eu era um garotinho, mas lembro de tudo naquela noite. O clima. Até mesmo como o ar cheirava depois que choveu.” Agarro-me a cada palavra que
ele diz. Porque eu não tinha memórias de nossa mãe. “Se ele tivesse aberto a porra do portão imediatamente e ouvisse tudo o que ela tinha a dizer, em vez de ficar se gabando para os irmãos, ela não teria
morrido.”
Eu não pude me parar. Estava cansada e com medo, e agora estava com tanta raiva que minha cabeça latejava. Um soluço miserável sai da minha boca e uma torrente de lágrimas cai dos meus olhos. Ky nunca
falou comigo sobre esse dia. Ele nunca falou sobre a mamãe. Eu sempre pensei que era porque ele não se lembrava dela.
Meu pai só me viu algumas vezes depois da morte da mamãe, antes de morrer também. Mas saber que ele deixou minha mãe do lado de fora do clube, como um pedaço de merda, rindo dela... minha tia me disse
que, embora ela o tenha deixado, ela nunca foi capaz de deixá-lo ir. Ela o amava. E sempre tomou qualquer migalha de afeto que ele dava a ela.
O bastardo tirou o máximo proveito dela.
“Eu os vejo,” Ky diz quando meus soluços diminuem. Seguro-o firmemente. Seu rosto estava na minha cabeça. “À noite... eu vejo Lilah, onde mamãe estava, o tiro e o sangue em sua cabeça. Perdendo o bebê
e então nós a perdemos.” Ele respira com dor. “Eu vejo Grace...”
“Ky,” sussurro, agora entendendo por que ele estava tão ruim ultimamente.
“E eu vejo você,” ele diz finalmente. Lentamente levanto minha cabeça. Os olhos vermelhos de Ky estavam me olhando. “Toda essa merda com Garcia. A Klan testando a porra da nossa paciência com sua merda,
e sabendo que Garcia tem o cartel Quintana ao seu lado... é tudo que eu vejo, porra, uma de vocês morta. Assim como a mamãe. E eu, incapaz de fazer qualquer coisa sobre isso.” Ele suspira e inclina a cabeça
para trás. “Vocês são tudo o que tenho, irmã. Sem vocês... que porra eu sou?”
“Um bom marido,” retruco. Ele precisa saber que é a verdade. “Um bom pai.” Ele fecha os olhos. “E um irmão muito bom.” Ky olha para mim então. “Agora eu entendo por que você me queria aqui. Para ter aqueles
que você mais ama em um único lugar, onde você pode nos proteger.”
Ky assente, mas ele não fala. Sei que ele não pode. “Você não é ele, Ky,” eu o asseguro. “Você ama Lilah mais do que qualquer um que eu já vi. Você assumiu Grace de uma situação que ninguém pode compreender,
e essa menina é tão feliz. Ela adora você e você a adora.” Eu coloco minha mão no rosto de Ky e o obrigo a me encarar. “Lilah vai ficar bem. Você, sem dúvida, tem os melhores médicos cuidando dela.” Ky
exala, como se precisasse ouvir essas palavras. “E eu ficarei bem.” Sorrio e balanço a cabeça para tranquilizá-lo. “Hush e Cowboy vão me proteger. E se houver qualquer indício de perigo, eu chamarei. Vá
me checar quando quiser.” Abraço-o com força. “Ficarei bem. Nós todos vamos. Tenha fé, irmão mais velho.”
Volto a me encostar no balanço da varanda, mas mantenho a mão de Ky. Ele fuma e termina o seu bourbon enquanto o sol nasce no horizonte. Quando o céu torna-se uma tapeçaria de laranjas, vermelhos e amarelos,
eu solto sua mão e caminho até a porta. Pouco antes de virar a maçaneta, olho para o meu irmão, sentindo como se eu o compreendesse melhor. “Obrigada. Por me deixar ir para casa. Por entender que preciso.”
Penso em Lilah, sua doce natureza compreensiva. “E diga a ela, Ky. Diga a Lilah como você está se sentindo. Deixe-a entrar. Essa é a mulher mais forte que eu conheço. Ela será a sua rocha, se você deixá-la
ser.”
Ky não responde, mas quando entro na cozinha, eu tenho certeza que o ouvi dizer: “Ela já é.”
Esgotada e drenada do que Ky tinha dito sobre a minha mãe, eu volto para a cama para dormir mais algumas horas, se conseguir. E quando minha cabeça bate no travesseiro, foi com uma oração silenciosa. A
oração para que um dia um homem me ame tanto quanto meu irmão ama Lilah. Que eu sinta tanto amor por outra pessoa. Amá-lo tanto que o simples pensamento de perdê-lo me leve às lágrimas. Porque, apesar
do amor criado dos nossos destroços, nós temos que vencer o deserto estéril que é a solidão absoluta.
Qualquer coisa tem que ser melhor do que isso.
Capítulo quatro
Cowboy
Olho para Hush sentado ao meu lado na caminhonete, olhando para fora da janela. Firmo meu aperto no volante e balanço a cabeça. Eu conheço o filho da puta por anos e ainda não posso acreditar em como ele
se recusa a deixar alguém entrar, além de mim. Desde que Ky nos disse que fomos designados para observar sua irmãzinha, Hush se fechou, como sempre. Porra, ele se trancou dentro da própria cabeça que era
uma maldita fortaleza. E sei o porquê, mas o idiota teimoso é orgulhoso demais para admitir a verdade.
Suspiro e ligo o rádio. Mas leva cerca de dois segundos para eu ficar entediado. Sou um falador, sei disso, e o silêncio mortal da porra do meu melhor amigo está me matando. “Você pegou as coisas que deixei
para você de manhã?” Pergunto. Eu sei que ele pegou. Vi-o embalar, só para ter certeza. Só quero conversar, porra. Quero meu amigo de volta do jeito que ele é.
Os ombros de Hush tensionam, mas, em seguida, ele murmura, “Sim.”
Suspiro em derrota, encostando minha cabeça no apoio do banco. Estamos a cerca de oito quilômetros de onde Sia vive: um pequeno rancho no meio do caralho de lugar nenhum. Faz-me lembrar da minha casa de
infância. Mais rústica e menos refinada, mas um rancho é um rancho.
“Pelo menos há um posto de gasolina por perto no caso de eu precisar de bebidas durante tudo isso, hein, mon frère?”
Hush grunhe, mas mantém a cabeça virada para longe de mim. A porra do meu peito aperta enquanto me lembro do seu rosto esta manhã. Meu irmão está esgotado. E sei que a merda não anda boa para ele. Seu
rosto parece mais pálido do que o normal e seus olhos azuis estão maçantes pra caralho.
Isso desencadeia uma pancada de sinos de alerta dentro da minha cabeça. Ele está pensando demais.
É Sia.
Tudo isso, a apatia, o silêncio, é por causa da cadela bonita dirigindo sozinha a caminhonete à frente. Foda-se, eu mal posso pensar nela sem querer envolver minha mão em seu cabelo comprido e puxá-la
para a porra da minha boca. Provar sua língua, os peitos dela pressionados contra o meu. Olho para Hush pelo canto do meu olho e sei que o irmão quer isso também. Desde que a conhecemos no casamento de
Ky, eu soube na hora que gostava da cadela. Sua maldita boca atrevida, a confiança que escorria de cada movimento seu.
Sua bunda não é muito ruim.
Meu lábio se curva em diversão enquanto eu penso sobre ontem e a conversinha que o VP teve comigo e com Hush...
“Feche a porra da porta atrás de você.” Ky ficou na frente da igreja, de braços cruzados. Styx estava à sua direita, o rosto tempestuoso também. Hush estava tenso quando se arrastou de volta. Ele fechou
a porta. Eu caí em meu lugar e joguei minhas mãos atrás da cabeça. Fiquei verdadeiramente confortável, porra.
Hush puxou sua cadeira. Eu sorri para o seu traseiro, enquanto ele olhava para Ky, esperando pelo nosso VP falar.
Levei o meu olhar preguiçoso de volta a Ky e tive que lutar contra um sorriso pela forma como os olhos de Ky se estreitaram em mim. “VP,” eu disse. “Você queria falar com a gente?”
“Caralho, é certo que eu quero porra.” Ky inclinou suas mãos sobre a mesa, suas palmas para baixo. “Nenhum de vocês chegarão perto da Sia, exceto para protegê-la.” Ky foi direto ao ponto. Senti Hush ficar
mais tenso. Não baixei as mãos da minha cabeça. Eu sabia que isso ia acontecer.
“Vocês vão levá-la até o rancho. Façam turnos para cuidar de quaisquer problemas. Não passará uma hora sem que um de vocês não procure por aquele fodido Garcia. Entendido?”
“Entendi,” confirmei, pouco antes de Hush dizer: “Sim.”
Os olhos de Ky bloquearam em mim. “Ela é minha irmã, porra. Nenhum de vocês dois, idiotas, vão tocá-la de qualquer maneira, entenderam?” Ele rapidamente ficou sério, e então disse, “Ela passou por merda
suficiente nas mãos de um homem. Não vou dizer a merda dos detalhes, mas ela estava totalmente fodida depois desse bastardo. Não teve sequer um encontro desde então. Ela está melhor sozinha.” O sorriso
arrogante que eu usava caiu com aquele pedaço de informação. Ky se inclinou mais para frente até que estava quase no meu rosto. “Eu vou matar qualquer um que a machucar novamente. E isso não é uma ameaça.”
Suas sobrancelhas juntaram. “E certo como a merda que não será qualquer um dos meus irmãos do clube. Especialmente os dois Cajuns de fala doce que têm buceta de vagabunda em seus malditos dedos todos os
dias.”
“Okay, VP,” disse no meu mais grosseiro francês Cajun. Só para ver se eu podia deixar o rosto vermelho de Ky alguns tons mais fortes.
Vi o cara enrolar as mãos em punhos, mas antes que ele pudesse me socar, Hush colocou a mão no meu braço para me dizer para calar a boca, e disse: “Você não tem que se preocupar com isso, mon frère. Nós
não vamos atrás da sua irmã. Entendemos. Ela está fora dos limites.”
Ky olhou para nós. Assim como Styx. Antes de Ky sair da igreja, ele apontou na minha cara. “É melhor você estar ouvindo seu melhor amigo, Cowboy. Você não quer me enfrentar novamente se eu ouvir que você
foi atrás da minha irmã.”
Sorrio para mim mesmo enquanto penso nas veias do VP pulsando em seu pescoço, como se pudesse ler meus pensamentos sobre sua irmã no meu rosto. Hush se vira para mim, suas sobrancelhas franzindo. É uma
maldita característica permanente nesses dias. “Tire essa carranca do rosto, mon frère,” instruo e empurro os dedos contra a testa marcada.
Hush golpeia minha mão. “De que porra você está rindo?”
“Ky. Ontem. Seu discurso de merda. O encanto que ele tentou colocar em nossas bundas.”
Hush balança a cabeça, exasperado. “Estamos de boa aqui no clube. Não vá foder isso por um pedaço de buceta.”
Engasgo com uma risada. “Um pedaço de buceta?” Eu pisco. “Acho que vou dizer a Sia o que você disse quando pararmos. Claro que ela vai querer ouvir.”
As narinas de Hush se alargam, e sua mão vai para sua coxa e aperta. É como ele se acalma. Como eu me acalmo se vejo isso acontecer antes dele perceber que está perdendo a sua cabeça. Especialmente em
público.
Eu rapidamente perco meu sorriso e solto um longo suspiro. “É isso aí, mas, hein, e Val? Ela não é qualquer buceta, é?”
Hush se vira para olhar pela janela novamente. “Ela é, Aub. Isso é o que você parece não conseguir colocar no seu cérebro do caralho.” Ele balança a cabeça. “Você só não vai deixar isso passar, porra.
Todas as piscadelas e o levantar de sobrancelhas, o cumprimento com o seu maldito chapéu Stetson filho da puta a qualquer momento que ela mencionar ou falar com a gente. Eu te disse antes e vou dizer de
novo, não estou interessado. Apenas pare com os joguinhos, porra.” Seus ombros tensionam, “Você a quer tanto assim? Foda ela. Você quer minha permissão por escrito ou algo assim?”
“Foda-se, Hush.” Sou um cara muito descontraído, mas ele falando daquele jeito fez a minha sempre dormente raiva subir do nível 01 para um bom e sólido nível 03 de 10.
“Você quer que eu vá sozinho com ela, mon frère? Pode ser arranjado.” Ele se senta lá, fervendo. Eu deixo. Fodido do caralho, ele é tão teimoso como uma mula. Primeira coisa que eu notei nele quando tinha
dezesseis anos.
Reviro os olhos pelo tratamento de silêncio contínuo de Hush e depois sigo Sia à direita. Nós viajamos alguns quilômetros até estarmos no meio de absolutamente nada. Ela vira à esquerda e os campos de
pastagem protegidos por árvores grossas cercam a caminhonete por todos os lados. Posso ver porque Ky conseguiu esse lugar para ela. A partir da estrada, você nunca saberia que havia um rancho por aqui.
Alguns quilômetros depois, uma pequena casa de rancho vem à tona. No fodido estilo típico rancheiro, com uma varanda circundante. Um celeiro para cavalos e um círculo de treinamento para cavalos estavam
ao lado da propriedade, juntamente com campos e campos de pasto.
Eu respiro o ar fresco. Porra, amo lugares como esse.
“Lembrando-se dos bons e velhos tempos?” Hush provoca ainda com sua atitude de merda. O irmão não tem amor pelo lugar de onde viemos e, especialmente, pelas minhas raízes.
“Calma, não bati em você desde que éramos crianças, mas vou te dizer agora, seu bastardo miserável, se você não parar de me empurrar, eu posso simplesmente explodir e ser forçado a torcer seu braço...
e dizem que minhas torções são realmente dolorosas.” Espero, com um sorriso de merda espalhado em meus lábios. E chamo isso de uma grande e fodida vitória quando vejo seu rosto se contorcer e seu lábio
curvar ligeiramente do lado.
“Cuidado, mon frère,” brincando o advirto, e abro a porta. “Parece que você está prestes a sorrir. Não é uma boa ideia, já que essa aparência chocantemente-bonita-e-bastarda te cai tão bem.” Seguro seu
olhar. “Sia está caindo nessa merda. Não pode tirar os olhos de você... e, é claro, de mim. Mas isso é apenas parte da minha aparência de menino bonito e do meu encanto Cajun.”
Pulo fora da caminhonete e vejo um par de pernas longas vestidas de jeans saírem da caminhonete na frente. Sia caminha para a entrada de cascalho, sua camisa xadrez azul amarrada na cintura e seu cabelo
encaracolado longo jogado por cima do ombro como uma maldita sereia.
“Lugar legal que você tem aqui, Cher,” digo. Sia sorri para mim, seus olhos azuis capturando os meus.
Seu olhar passa por cima da propriedade, e a expressão em seu rosto muda da que ela usava esta manhã, quando partimos do clube, para... pacífica pra caralho, eu diria. Relaxada... é o meu estado corporal
favorito, porra. “Sim,” ela respira. “É meu lar.”
Sia vira-se e estende a mão sobre o console para pegar sua bolsa. Eu sei que não deveria olhar para baixo — código dos irmãos fora da lei e tal — mas não tenho escolha. Eu seguro forte a porta e luto contra
um gemido quando ela leva seus braços mais para frente, a forma da sua bunda apertada totalmente em exibição. Olho para a minha caminhonete, pegando os olhos de Hush. Seus braços estão cruzados sobre o
peito. Eu pisco e sorrio — exatamente o que ele tinha acabado de me dar merda dentro da caminhonete.
Eu não mudarei por ninguém.
“Vou levar isso para você, Cher,” ofereço quando Sia traz a bolsa para fora da cabine.
“Obrigada, Cowboy.” Ela olha por cima do ombro para Hush. Com seus olhos baixos, ela lhe envia um sorriso nervoso antes de entrar em sua casa. Hush me alcança.
“Ela acha que você a odeia,” digo enquanto caminhamos até os degraus da varanda.
“Eu não a odeio,” ele responde e não oferece mais nada. Nenhuma surpresa que ele não a odeia. Ele gosta dela. Sei que ele gosta dela tanto quanto eu.
Hush se arrasta atrás de mim quando nós entramos em sua casa. Sia está no centro de uma sala de estar. Dois sofás ficam em cada lado de uma mesa de café e uma lareira ocupa a parede traseira, com cadeira
ao lado dela. “Eu só tenho dois quartos,” Sia diz e passa a mão sobre a testa. “Um é meu, obviamente.”
“A gente divide.” Coloco a bolsa no chão. Dou um passo para trás e ponho minha mão sobre o ombro do Hush. “Nós não somos tímidos um com o outro, certo, Hush?”
“Está tudo bem,” ele diz. Balanço a cabeça para Sia e lhe dou uma piscadela.
“Nesse caso, é por aqui.” Sia nos leva para cima e mostra duas portas. Ela abre uma. “Meu quarto está ali, em frente,” ela diz e nos deixa entrar. A cama grande fica no centro.
Viro-me para Hush e lhe lanço um enorme sorriso. “Grande suficiente para te abraçar, pelo menos.”
Sia ri e depois bate palmas. “Bem, vou deixar vocês para desempacotar. Preciso verificar meus cavalos.”
Ela mal deu dois passos quando eu digo: “Espere. Vou com você.”
O sorriso dela cai e seus olhos se estreitam em suspeita. “Meu irmão te disse para fazer isso? Nunca sair do meu lado? Porque vou dizer a vocês agora, essa não é a maneira que as coisas vão funcionar por
aqui. Você pode ficar aqui. Dormir aqui. Mas eu faço o que quero, quando quero. Conheço este rancho melhor do que ninguém.” Suas bochechas queimam com raiva.
Eu seguro minhas mãos para cima. “Whoa, não, Cher.” Aponto para o meu Stetson e digo: “Garoto de rancho, lembra? Sei que você não sabe muito sobre mim, mas eu disse que cresci em torno de cavalos. ”
Seus olhos procuram meu rosto. Então seus ombros relaxam. “Sim, você disse.”
Encosto-me na parede ao meu lado e paro de sorrir quando vejo seus olhos piscarem para o meu bíceps e, então, voltar para o meu peito largo. Eu o flexiono. A cadela não me deixou nenhuma outra escolha.
Um rubor reveste as bochechas de Sia, e digo: “Então? Você vai me mostrar a mercadoria?”
Suas sobrancelhas se erguem em surpresa. Eu me aproximo, vou mais perto ainda, até que olho para baixo, para os grandes olhos azuis da Sia. Eles estão enormes com esta proximidade. “Os cavalos, Cher.”
Sia recua, aturdida. “É por aqui.” Caminho ao lado dela até que estamos fora da casa. Ouço passos atrás de nós. Quando me viro, Hush está descendo os degraus da varanda.
“Você vem?” Pergunto, chocado pra caralho.
Hush encontra meus olhos, em seguida, passa rapidamente o olhar para Sia, antes de esfregar uma mão sobre a sua cabeça e murmurar, “Vou verificar o perímetro. Vou tomar o primeiro turno.” Ele observa ao
nosso redor. Solta uma respiração profunda, em seguida, se força a abordar Sia, olhando diretamente em seus olhos. “Ky disse que havia algumas motos aqui em algum lugar. Disse para usarmos elas porque
viemos na caminhonete.”
“As motos do Papai?”
Hush dá de ombros. “Só disse que tinha motos aqui.”
Os ombros de Sia endurecem. “Meu Pai tinha duas motos. Ky as deixou ali.” Ela aponta para a garagem ao lado da casa. “Ky as mantém rodando. Ele aparece na maioria das semanas e não as deixa enferrujar.”
Sia passa por nós para ir até a garagem. Ela pega um molho de chaves do seu cinto e abre a porta. Hush fica ao meu lado e esperamos para ver o orgulho e alegria do famoso Grande Pai Willis. Sia abre a
porta. Ela puxa os lençóis de duas motos que estão estacionadas no meio. Duas Harleys são reveladas. Uma muito nova Fat Boy e um—
“Duo Glide 1960,” Hush diz e se agacha ao lado da motocicleta vintage em reverência. O irmão sempre teve um tesão pelos modelos mais antigos. Eu prefiro uma boa ole Chopper. Nunca tive obsessão por Harleys.
Hush passa a mão sobre o assento de couro. “É linda.”
Não percebo o quão tensa Sia está ao meu lado até que, irradiando um fodido ódio puro, ela sussurra, “Elas deveriam ter sido enterradas junto com o homem que as montava.” Hush lentamente se levanta e parecia
morto aos olhos de Sia.
“Vou pegar a chave para você.” Sia sai para entrar na casa. Movo-me ao lado de Hush.
“Questões com o pai?” Pergunto. Hush dá de ombros.
Sia volta e joga as chaves na direção de Hush. “Os galões de gasolina estão na parede de trás se você precisar. Deve ter o suficiente para cerca de uma semana antes de termos que ir ao posto para conseguir
mais.” Sia poupa um olhar para as motocicletas novamente. “Meu irmão idolatra qualquer coisa do meu pai. Estas motocicletas não são exceção.” Ela olha para mim e, então, para Hush. “Mas vocês todos idolatram,
não é? Veem qualquer coisa desse clube como sagrado e intocável?”
Eu tinha acabado de abrir minha boca para concordar quando Hush diz, “O clube salvou a maioria de nós. Devemos tudo a ele.”
Sia, toda durona e o caralho, caminha até Hush. Meu irmão se mantém firme. Suas narinas se alargam quando a cadela se aproxima, e sei que ele tem um enorme pau duro do caralho por ela ficar frente a frente
com ele. Hush é mais alto que Sia, mas isso não impede a bomba-relógio de dizer: “Sim, mas mais frequentemente do que não, ele toma mais do que dá.” Ela coloca as mãos nos quadris. “Você conheceu o meu
pai, Hush?” Hush sacode a cabeça. “Ele era totalmente um bastardo.”
“Droga, Cher.” Assobio baixo. “Ele morreu pelo clube.”
Sua cabeça vira para mim. “Assim como minha mãe. Só que ela não pediu por qualquer parte disso. O clube era a vida dele. Por causa do seu precioso clube, nunca cheguei a conhecer minha mãe. Minha tia me
disse tanto quanto ela pode. Essa mãe que sempre se rasgava, porra, pelo fato de que meu pai colocava seu pau em qualquer buceta vagabunda que ele podia encontrar, tanto que ela o deixou quando estava
grávida de mim. Ela tentou levar Ky também, mas o Grande Pai Willis nunca a deixaria ter seu filho. Seu herdeiro Hangmen. Meu pai manteve minha mãe enjaulada por seu amor por ele. Manteve-a pateticamente
pendurada por qualquer pedaço de amor que ele jogava em sua direção, apenas para ela morrer porque ele não podia nem mesmo abrir uma porra de portão sem fazê-la implorar por isso também —” ela para por
um momento, com o rosto vermelho brilhante com raiva.
Empurrando a chave da moto em Hush, ela gira em seus calcanhares e sai da garagem. Ela só para na porta para falar sobre seu ombro. “Não tenho muito carinho pelo clube, isso é óbvio. Mas a partir do momento
em que conheci vocês dois, vocês pareciam diferentes da maioria dos idiotas de lá... estou rezando para estar certa. É por isso que pedi para vocês dois virem aqui, comigo.”
Porra, eu paro de respirar até ela entrar na brilhante luz do sol e ir para longe de nós. Volto-me para Hush, que está olhando para ela indo embora, seus olhos azuis acesos pra caralho.
“Nós somos diferentes, hein?”
“Você sabe que nós somos,” diz ele e, então, monta na moto. O motor ruge a vida. Ele rasga para fora da garagem, deixando-me vê-lo ir.
Passo a mão pelo meu rosto e olho para as vigas empoeiradas da garagem. Eu respiro profundamente e, em seguida, corro atrás de Sia. Eu vejo a bunda sexy dela atravessando o estábulo. Consigo acompanhá-la
e falo com ela assim que entramos pelas portas do celeiro. Sia vai direto para os seus cavalos, acariciando o nariz de cada um. Eu caminho ao longo de cada baia para ver todos eles por mim mesmo. Um estranho
tipo de aperto surge no meu estômago enquanto o faço. Isto foi a porra do meu mundo uma vez. Cavalos, rodeios, sem Hush.
Um monte de ignorância sobre quem me rodeava também.
Parecia que outra pessoa tinha vivido aquela vida. Foi a vida que meus pais traçaram para mim. Uma que eu nunca sonhei em me afastar.
Dou um tapinha no pescoço da égua em uma baia que estou olhando. Ela esfrega o nariz no meu ombro.
“Você é bom com ela.”
Sorrio e me viro, e imediatamente penso que eu nunca tinha visto um xadrez azul parecer tão bom, porra. “Sou bom com todas as fêmeas, Cher.” Balanço minhas sobrancelhas para ela e sorrio mais amplamente;
um bufo sai de sua boca, seguido de uma leve risada.
“Isso normalmente funciona para você?” Ela diz, brincando, inclinando a cabeça e colocando as mãos nos quadris curvilíneos.
Bato a mão no meu peito, assustando a égua. “Sia, baby, estou ferido,” pronuncio de forma dramática. Caminho lentamente em sua direção. Ela se endireita ligeiramente, mas mantém meu olhar até nossos peitos
quase se tocarem. Aliso um cacho de seu cabelo que caiu sobre o ombro. Sua respiração engata quando faço isso. “Não tenho palavras bajuladoras para senhoras.”
“Claro que não.” Sia inclina o queixo para mim. “Você é um Hangman. Sei como é a vida do clube, lembra? Ky é meu irmão. Inferno, mas por sangue, Styx também é. Sei o que acontece com vocês. Vagabundas
chupando seus paus. Vocês não têm nenhuma fodida conversa com as mulheres.”
Aperto meus lábios juntos, sabendo que minhas covinhas saíram a toda quando vi os olhos azuis bebê se incendiarem. “Ouch, Cher, que boca.” Sia luta contra seu sorriso. Eu me inclino e sussurro em seu ouvido,
“Eu gosto. Nunca perca essa fodida impertinência, querida.” Pude sentir, ao invés de ver, Sia revirar os olhos. Ela bate no meu peito e faz tsc. Antes que ela possa retirar a mão, eu a pego. Ela vê quando
levanto a mão até minha boca. Fecho meus olhos nos dela e beijo a pele macia do dorso.
Sia retira a mão e empurra uma pá na minha mão. “Você pode ser um galanteador, mas tudo que eu quero saber é quão bom você é em remover merda.”
“O melhor,” digo e começo a limpar as baias enquanto ela coloca os cavalos nos campos para pastar.
Quando foram todos removidos, Sia pergunta, “Você quer montar?” Ela aponta com o polegar dois cavalos: uma égua e um garanhão. “Eles precisam de exercício. Clara, a menina que me ajuda aqui, não teve muita
chance com eles enquanto eu estive fora.” Ela aponta para o garanhão. “E ela não se atreve a montá-lo.”
“Recém-domado?”
Sia assente. “Ainda pinoteia, às vezes.”
A sensação familiar de excitação corre por mim. “Você não sabe que está olhando para o campeão júnior de rodeio de sela americana10 do estado de New Orleans e Louisiana? Três anos consecutivos.”
“Você é um cowboy de sela americana?”
Bato em meu Stetson, e abaixo a cabeça. “Aubin Breaux ao seu serviço, senhora.”
Seus olhos se arregalam. Sua boca se abre. “Meu Deus! Eu vi você!” Sua cabeça balança em descrença. “Eu costumava ver você no Rodeio na TV quando era mais jovem.” Ela se acalma. “Espere, eu tenho apenas
24. Você não era muito mais velho que eu, naquela época.”
“Eu tenho 26.”
“E Hush?”
“Também.”
Ela assente com a cabeça, aparentemente para si mesma, e, em seguida, vem em minha direção. “Aubin Breaux.” Ela parece atordoada. “Seu nome é Aubin Breaux.” Ela sorri. “Agora entendi o seu nome de estrada:
Cowboy. Mas...” sua cabeça inclina para o lado como se ela estivesse tentando me descobrir.
“Pergunte, Cher. ”
“Você estava pronto para os rodeios. Profissionalmente. Por que você parou?” Seus olhos caem para o meu colete. “E como diabos você acabou com os Hangmen?”
Porra, meu estômago torce novamente; essa não era minha história para contar. Volto-me para o garanhão. “Estou mais interessado nesse cara do que em falar sobre meu passado no rodeio.” Corro a mão pelo
pescoço. Sia ainda está me olhando com curiosidade. “Você os cria?”
Ela suspira, vendo que eu não lhe darei mais informações. “Sim, eu os crio.” Sia se move ao meu lado e passa a mão sobre o nariz do garanhão. “Mas eu os treino mais. Corrida de tambor principalmente.”
Ela cutuca meu ombro. “Sela americana também. Basicamente, tudo o que um cavalo pode fazer em um rodeio.” Ela encolhe os ombros. “Sou muito boa no que faço.” Sia deixa cair sua mão. “Teria um grande negócio
se eu não fosse...” os olhos dela caem. “Se eu não vivesse na clandestinidade. Não podemos arriscar com exposição.”
Inclino minha cabeça para o lado. “Você também faz a corrida de tambor?”
“Campeã local,” diz ela, sorrindo. “Ainda detenho o título por aqui.”
“Então por que diabos eu não te vi no circuito?” Aperto os lábios e passo os olhos pelo corpo dela. “Eu teria me lembrado de você, Cher.”
Seu rosto se congela. “Porque, como agora, eu estava escondida. A filha de Grande Pai Willis é boa para atrair inimigos. Então nós estávamos escondidos e eu tive que reduzir meus sonhos. Tive que competir
como amadora em vez de profissional. Ainda participo de algumas competições.” Ela levanta as mãos. “Mas isso é bom, porque é pelo bem do clube, e tudo é sempre pelo clube.” Ela coloca a mão na testa e
me olha. “Desculpa. Eu só fico muito chateada.”
Eu decido deixar essa merda para lá. “Onde estão as selas?”
Sia exala, claramente aliviada que mudei de assunto. Ela traz as rédeas e selas de um quarto no fundo e prepara os cavalos. Ela salta sobre a égua e sorri para mim. “Você ainda se lembra de como montar?
Ou você só pode montar algo com um motor agora?” Ela brinca.
Eu pulo em Triumph, o garanhão, e rapidamente encontro meu assento. Triumph dança no local, bufando pelo nariz. “Vamos ver, não é?” Digo e saio em um galope do celeiro e cruzo o campo aberto. Ouço a gargalhada
de Sia atrás de mim. Viro-me na borda do campo e vejo Sia vindo atrás de mim. Depois de uma corrida ao redor do campo, eu manobro Triumph para um passeio. Sia para ao meu lado, os olhos brilhantes. “Então?”
Pergunto.
“Você está bem,” ela relutantemente admite, depois ri. “Não... você é bom pra caralho, e você é” — ela aponta para mim - “um bastardo presunçoso, e sabe disso.”
Sento-me na minha sela e suspiro. “Sim, mas é bom pra caralho isso ser dito constantemente.”
Sia soca meu braço. Jogo-lhe uma piscadela.
Um motor ruge em segundo plano. Viramos para ver Hush lentamente traçar o perímetro do campo distante. Em um segundo meu maldito humor muda de feliz para frustrado.
“Eu fiz alguma coisa para ofendê-lo?” A pergunta de Sia tira minha atenção do meu melhor amigo para seu rosto ainda corado. “No casamento do Styx e do Ky ele parecia tão legal comigo.” Ela suspira. “Sei
que você e eu fizemos a maior parte da conversa, mas ele falou um pouco também. Agora... nada. Nada além de raiva e olhares frios.” Sia olha para o meu irmão desaparecendo a distância. “Pensei que ele
gostasse de mim.”
“Ele gosta.” Alguns momentos em silêncio se passam antes que eu explique, “Olha, Cher, ele é um cara tranquilo. Sempre foi. Mas...” fecho os olhos e inclino a cabeça para trás. “Não vou entrar em todos
os motivos, porque eu não desrespeitaria o Hush desse jeito.” Posso senti-la me observando. “Ele está te deixando de fora.”
A testa de Sia se enruga em confusão. “Eu não entendo.”
“Se ele te deixa de fora, é porque ele gosta de você. Ele te deixa de fora porque é como ele se protege.”
“De quê?” Ela sussurra.
“De se machucar novamente.”
“Novamente?”
Inclinando-me para onde ela anda ao meu lado, eu digo, “Você não é a única que teve problemas no passado, Cher. Não sei tudo o que aconteceu com você e esse pau do Garcia, mas eu peguei que foi ruim e
que você quer seguir em frente disso.”
“Com Hush é o mesmo,” Sia responde com conhecimento.
“Ele tem seu próprio passado também. Se está te excluindo é porque ele sabe que você pode fazer ele te querer.” Balanço minha cabeça. “Não. O idiota teimoso já te quer. Portanto, ele está ignorando você.
É o seu jeito de se proteger.” Eu suspiro. “O irmão tem mais camadas do que uma maldita cebola.”
Sia parece parar de respirar. Olho em seus olhos chocados. Ela lambe os seus lábios e pergunta, “Ele me quer?”
“Você já se viu?”
Isso a faz sorrir. Antes de o sorriso sumir, ela diz, “E... você?”
Um sorriso lento se espalha em meus lábios. “Eu o quê?”
Ela estreita os olhos para mim, sabendo exatamente o que estou fazendo. “Você me quer,” ela diz, tão petulante quanto eu a amo por ser.
“Porra, sim,” confirmo e assisto seu rubor.
Sia olha na direção onde Hush tinha acabado de estar. “E isso não causaria problemas entre vocês? Que vocês gostem da mesma mulher?”
Meu pau começa a endurecer conforme essa pergunta passa por seus lábios. Porque a porra da imagem pintada em minha cabeça, eu quero que se torne a fodida realidade. “Nós não somos assim, Cher.” Vejo a
confusão no seu rosto. Então explico, “A coisa do ciúme? Não acontece entre eu e Hush.” Deixo-a absorver isso por algum tempo.
Após cerca de dez minutos de silêncio, Sia se inclina e beija o pescoço de sua égua. Percebendo eu observar, ela diz, “Eles são minha terapia emocional.” Ela mal encontra meus olhos antes de olhar para
longe acariciando o pescoço de sua égua. “Meus cavalos. Eu sempre os amei. Sempre estive na corrida do tambor. Mas depois... quando voltei...” ela respira fundo. “Eles se tornaram a minha muleta emocional.
Eles me seguraram quando eu pensei que fosse desmoronar.” Os olhos dela se afastam para olhar fixamente para as árvores à nossa esquerda. “É por isso que eu não podia ficar no clube. Cada dia ficou pior
para mim sem eles... eu...”
Estendo a mão e pego a mão dela. Sia está tremendo. A raiva que não estou acostumado a sentir se constrói em mim pela forma como ela estava assustada pra caralho. E quando seguro sua mão, ela não me afasta;
a cadela segura firme.
Sia não tira a mão da minha e nós percorremos outros dois campos. Quando começamos a voltar, ela diz, “Cowboy?”
“Mmm?”
“Você e Hush...” não posso deixar de sorrir quando ela baixa a cabeça e seu rosto fica vermelho brilhante. Eu fico quieto, deixando que ela pergunte o que quer perguntar. Quando ela olha para cima e vê
o meu sorriso, ela liga o foda-se e diz, “Eu ouvi rumores...”
“Que rumores?”
Ela solta um suspiro exasperado. “Você vai me fazer dizer, não é?”
Sento-me na sela, ficando confortável pra caralho. “Sim, querida. Acho que, porra, eu vou.”
“Você é gay?” Ela deixa escapar, em seguida, pisca como se não pudesse acreditar que ela perguntou isso. “Quero dizer... mas você disse que gosta de mim... então, bissexual, talvez?”
Porra, eu odeio rótulos. Sempre odiei. Nunca me rotulo, caralho. Não aceito isso assim, mas, “Somos próximos,” digo e não me importo. “As pessoas que pensem o que quiserem. Nós apenas fazemos tudo juntos.
Não ligo para como as pessoas chamam isso.”
“Tudo?”
Agora isso chama a porra da sua atenção. “Bem, Hush não anda a cavalo, de modo que não é tudo, tudo.”
“Cowboy!” Sia exclama claramente cansada de eu falar em círculos.
Sorrio. “Mas ele está lá, comigo, quando nós fodemos as putas, então eu diria que somos bem próximos.”
A boca de Sia cai aberta e seu peito arfa. “Vocês fodem as mulheres juntos? Vocês... vocês fazem trios?”
“Sim.” Estudo o seu rosto de perto. Eu quero saber o que a cadela pensa desse pedaço de informação.
“Vocês nunca fodem mulheres sozinhos?”
“Não.”
“Sempre?”
Balanço minha cabeça.
“Com Hush é o mesmo?”
Eu balanço a cabeça. Em seguida, sorrio. Inclinando-me mais perto, pergunto, “O que você acha disso, Cher?” Seus mamilos endurecendo sob sua camisa me mostra exatamente o que ela pensa disso.
“Vocês não se tocam ao fazer?”
“Ah... a pergunta de um milhão de dólares.” Faço-a esperar, um, dois, três segundos, antes de, “Quero dizer, claro que nos tocamos...” seus olhos se arregalam. “Mas nós não afundamos as espadas um no outro,
se é onde você quer chegar.” Eu levanto minhas mãos. “Estritamente afundamos nas cadelas.”
Seu lábio se contrai, e ela balança a cabeça com minha resposta. “Bem... vocês são apenas normais príncipes encantados de trios, hein?”
Engasgo com uma risada, mas eu me inclino para onde ela se senta e olho seriamente para ela. “Não apenas trio, Cher.” Sua respiração engata. “Dupla penetração é a posição escolhida.”
As bochechas de Sia se tornam vermelhas. Mas, segurando firme essa merda, ela sussurra, “Coisas diferentes para pessoas diferentes, eu acho.”
Sorrio e me endireito. “Verdade, Cher.” Dou de ombros. “No meu modo de ver, a vida é muito curta, porra. Viva como você quer viver, ou tem que viver, e foda-se todos os outros.”
“Não posso imaginar Hush fazendo isso com ninguém,” diz ela. “Você, no entanto, depois desta conversa, eu não tenho nenhuma fodida dúvida.”
Sorrio, em seguida, tomo sua mão na minha outra vez, digo, “Não se preocupe, Cher, vamos convencer o Hush juntos. Faremos ele ver as coisas do nosso jeito. Suas paredes são altas, mas eu acho que podemos
passar por elas, se nos esforçarmos o bastante. ”
“Eu... Cowboy... Eu não —” ela tenta argumentar, mas deixo sua mão cair e levo Triumph a um galope. Deixo a cadela ficar com essa imagem por algum tempo. Sobre ter nós dois. Ela, esmagada contra os nossos
peitos. Ambas as nossas bocas em seu pescoço.
Depois de alguns segundos parada, Sia vem correndo atrás de mim. Olho para trás e inclino o meu Stetson para ela. Seu rosto é determinado enquanto ela tenta me alcançar. Dou crédito à cadela. Ela pode
montar, porra.
Ela não me alcança quando entro no quintal. Com seu rosto corado e sem fôlego, ela desmonta e passa por mim, murmurando, “Se isso fosse uma corrida justa eu teria espancado sua bunda Cajun. Da próxima
vez, terei que mostrar o que Sandy aqui pode realmente fazer.”
“Oh, querida,” digo, lambendo meus lábios, e desmonto também. “Uma palmada na minha bunda? Isso pode ser arranjado.” Ela levanta a sobrancelha para mim. “O quê?” Pergunto, fingindo estar chocado. “Eu apenas
claramente disse que sou pervertido.”
Sia agarra as rédeas de Triumph e coloca os cavalos no pasto. Na hora em que tudo no rancho foi feito, a noite já tinha caído e eu estava com uma fome do caralho.
Viro-me para Sia. “Posso ver porque você gosta daqui, Cher.”
Ela move os olhos pela fazenda. “Sim. É o meu refúgio.”
“Ao contrário do clube.”
Ela estreita os olhos e levanta os ombros. “Eu só não gosto de certos aspectos do clube, Cowboy. Claro que eu não o odeio. Apenas... às vezes, eu desejo não ser Elysia Willis, sabe? Você escolheu essa
vida. Eu nasci nela. E mesmo assim, não tenho permissão para estar totalmente 'nela'.” Ela olha para longe.
“No fundo, eu sabia que você não nos odeia,” digo. Ela olha para mim. “Meio difícil pensar que você odeia motociclistas e o mundo em que vivemos quando você nomeia seu garanhão de Triumph.”
A boca de Sia abre e fecha, sem encontrar malditas palavras. Quando ela passa por mim, claramente com a porra de um bufo, eu sorrio. A cadela não odiava motociclistas, afinal. Ela adora Styx e Ky; eu a
vi com eles. E ela gosta de mim, sei disso. E Hush, ela o acha fascinante. Sia odeia o pai. É isso.
Mas então, pelo que ouvi falar do velho VP, porra, quem não odiaria?
*****
Hush entra na casa quando Sia está fazendo a comida. Ele olha para mim, que estou confortavelmente no sofá, com as mãos atrás da minha cabeça e minhas pernas jogadas por cima do braço do sofá. “Hush.”
Baixo um braço para tocar o meu Stetson. “Tudo bem?”
Hush assente. Seus olhos encontram Sia. Ela está olhando para ele do seu lugar no fogão. “Hey, Hush.” Ela aponta para a comida. “A comida está quase pronta.”
“Não estou com fome,” anuncia ele e o sorriso de Sia cai rapidamente.
Levanto-me e agarro seu braço. “Você precisa comer.” Eu olho nos olhos dele. Hush sabe por que estou dizendo isso, e estou certo, porra. Ele ia discutir, mas não tinha nenhuma porra de argumento.
Ao contrário, ele olha para Sia e diz, “Merci.”
Aponto para a mesa e Hush se senta. Ele passa a mão pelo rosto mal barbeado. Sia coloca um copo de água na frente dele. “Obrigado,” ele murmura antes de drenar o copo.
Sia coloca o bife e feijão na nossa frente e se senta. “Parece bom, Cher,” digo, esfregando as mãos. Hush começa a comer.
“Então,” Sia diz, olhando diretamente para Hush. “Como é a moto?”
Hush engole. “É uma boa moto.”
O irmão não diz mais nenhuma merda. Reviro os olhos e depois sorrio para Sia. “Ele monta bem agora, Cher, mas você deveria ter visto a primeira vez que ele tentou.” Os olhos azuis de Hush se fixam nos
meus. Sua mandíbula fica tensa. Não dou à mínima.
“O que aconteceu?” Sia parece aliviada que eu estava falando, porra.
Sento-me no meu lugar. “Eu e Hush estávamos chapados uma noite. Nós tínhamos dezoito anos e estávamos passeando por Nova Orleans.” Eu deixo de fora o fato de que estávamos vivendo nas ruas. Hush me mataria
se eu ousasse incluir qualquer uma dessas merdas. Seus olhos queimam enquanto ele me olha, seu aviso para eu manter a história malditamente simples. Bato minha mão em seu ombro. “Passamos por um bar de
motoqueiros, e Hush aqui, bêbado com a merda do uísque” — inclino a cabeça para um lado — “ou era Slippery Nipples11?”
“Imbecil,” Hush diz, balançando a cabeça. Sia está sorrindo. Imagino que mais pelo fato de que Hush finalmente abriu a porra da boca perto dela do que pela minha piada.
“Beleza, uísque. De qualquer forma, ele viu uma fileira de motos na frente do bar. Pensando, em seu estado embriagado, que uma velha Harley pela qual ele estava obcecado seria legal de andar, ele foi direto
até ela. As chaves ainda estavam na ignição.” Dou um sorriso para Hush. “Deveria ter sido o nosso primeiro sinal para não tocar nela. A moto tinha as chaves na ignição, mas ela estava intocada.”
“De quem era?” Perguntou Sia.
Eu levanto a mão para ela esperar para descobrir isso. “Hush aqui a tirou do estacionamento e, em seguida, a ligou.” Eu começo a rir pra caramba. “Ele só andou cerca de 20 metros antes dele perder o controle
e bater aquela filha da puta na estrada.” Hush termina o último pedaço de seu bife e se recosta em seu assento. Ele mantém os olhos sobre a mesa enquanto eu continuo falando. Sia mantém os olhos sobre
ele. Observo os dois. “Eu corri até onde ele estava caído, então as portas do bar se abriram e um monte de irmãos com coletes vieram correndo.”
“Os Hangmen de Nova Orleans?” Pergunta Sia.
“Os próprios.” Vejo o lábio de Hush se elevar nos cantos, obviamente, lembrando aquele dia. “Acabou que a moto pertencia a Ox, o velho prez.” Eu balanço a cabeça para a memória. “Mas Hush aqui, em vez
de ser intimidado, se levantou e foi de igual para igual com Ox, que estava prestes a nos matar.”
“E você?” Pergunta Sia.
Eu ia responder, mas Hush diz, “Ele ficou ao meu lado. Pronto para lutar também.”
Dou de ombros. “Não podia deixar meu irmão ser morto. Ser morto por um motociclista seria uma fodida forma legal de morrer.” Hush sorri. “Mas então Ox olhou para nós, sujos e cheio de arrogância pra caralho,
e riu. Hush socou, rachando o maxilar do velho... e duas horas depois éramos os mais recentes prospects da sede de Nova Orleans. Ox nos deu uma casa. Um propósito. Uma fodida vida.” Sorrio, o peito apertando
com a lembrança daqueles dias. “Devo tudo a ele.”
Sia está sorrindo grandemente pela história. “Eu amo isso,” diz Sia. Hush baixa os olhos e fica de pé.
“Obrigado pelo jantar.” Ele coloca o prato na pia e sai da sala.
Assisto-o sair. Inclino minha cabeça para trás em frustração. “Ele virá,” garanto a Sia quando ela se levanta para arrumar os pratos.
Espero na mesa até que ela termina, atualizo Styx e Ky através de mensagens de texto. Quando Sia começa a apagar as luzes, eu ando com ela para a porta do quarto. Ela olha para mim e engole. “Noite, Cowboy.
Obrigada por ajudar hoje.”
“Sem problema, querida.” Arrasto-me mais perto. “Eu me diverti.” Sia balança a cabeça, a respiração cada vez mais dura enquanto me aproximo ainda mais. Posso sentir o calor de seu corpo empurrar contra
o meu. “Eu posso ver você praticar a corrida de tambor amanhã, sim?”
“Sim. Tenho um rodeio em poucas semanas. Tenho que treinar se eu quiser manter minha posição.” Sorrio, já duro pra caralho com o pensamento de vê-la em jeans incrustados com diamantes, voando em torno
desses malditos barris, o Stetson em seu cabelo encaracolado selvagem. Seu queixo inclina-se. “Contanto que eu consiga ver você treinar um dos meus cavalos.”
“Oh... você pode contar com isso.”
Sia sorri, e incapaz de resistir, eu mergulho minha cabeça, colocando meu polegar e dedo em seu queixo. Ela respira fundo enquanto eu beijo o lado da sua boca. “Bonne nuit, Cher12,” sussurro contra sua
pele macia, arrastando meu nariz até a bochecha. Então me afasto até minha porta.
Sia fica me olhando por alguns momentos antes de ir rapidamente para o quarto dela. Eu gemo, minha cabeça inclinando contra a porta do nosso quarto. Finalmente consigo me recuperar, então viro a maçaneta
da porta do quarto que Hush e eu estamos compartilhando. Eu acabo de fechar a porta quando Hush diz, “Ky vai assassinar você, seu fodido, se ele souber que você está fazendo essa merda.”
O irmão ouviu tudo.
“Cale a boca, Val. Nós a queremos pela porra de uma eternidade. Não finja que essa merda não é verdade.” Agarro meu pau através do jeans. “E não sou um marica, com medo de ir atrás do que eu quero.”
Pela luz que passa por uma divisão nas cortinas, posso ver meu irmão deitado de bruços na cama. Sua camisa e calça jeans desapareceram. Meus olhos caem para a porra da tatuagem em suas costas, a que tenta
cobrir a queimadura que sempre estaria lá. A tinta fez o seu melhor para fundir a cicatriz no desenho. Mas tudo que eu sempre via, porra, era essa maldita cicatriz.
Hush se senta. Eu tiro minha camisa e jeans e subo na cama ao lado dele. Ele olha para mim. “Aproveitou o seu passeio?” Ele fala em francês Cajun novamente. Sei que é para Sia não saber o que estava sendo
dito se ela ouvisse.
“Sim. Foi bom pra caralho estar de volta na sela.”
Hush cai de volta na cama. “Claro que sim. Ajuda a relembrar sobre os bons e velhos tempos, não é?”
“Foda-se, Val. Não vou te deixar vir para cima de mim só porque você está chateado porque não estava com a gente.”
“Eu estava verificando o perímetro.”
“A tarde toda?”
“Eles podem vir a qualquer momento.”
“Styx e Ky tem irmãos passando por aqui todos os dias para verificar se há algo suspeito. Você está evitando ela, porra.” Hush está quieto. “Ela me lembra você.”
Hush fica tenso ao meu lado. Rolo de costas e olho para ele pelo canto do meu olho.
Hush olha de volta. Eu sei que ele quer saber o que eu quis dizer, mas levou um longo tempo de merda até meu irmão cerrar os dentes e ceder. “Como assim?”
Penso sobre como dizer isso. Finalmente, eu só digo a porra da verdade. “Porque ela está quebrada, Val. Quebrada pra caralho.” Os olhos de Hush se fecham e a porra do meu peito se aperta. “Machucada como
você, irmão. Vocês podiam se ajudar. Ela está sozinha. Ela precisa de alguém, porra.”
Hush abre os olhos, o seu olhar está determinado. “Então seja esse alguém para ela.”
Eu sei a dor que causou ao teimoso filho da puta dizer isso para mim. Então, só arranco o Band-Aid. “Nós podíamos ser esse alguém para ela.” Ele prende a respiração. “Ela sabe sobre nós de qualquer forma.”
Seus olhos se prendem nos meus, exalando rápido. “Sobre a forma como nós gostamos.”
“Por que diabos você disse a ela?”
“Então ela saberia como nós somos. Conheceria a situação.”
Os dentes de Hush batem tão alto que posso ouvi-los. “Então, por uma vez, ignore tudo e apenas foda ela.” Ele se apoia em seus cotovelos e me olha no rosto. “Eu te dou permissão, Aub, ok? Esteja lá para
ela. Contanto que ela queira e precise de você.”
“Nós não fazemos sozinhos. Nunca fizemos.”
Hush cobre o rosto com as mãos. “Sim, mas isso é com putas e vagabundas do clube.”
“E?”
“E ela não é uma! Ela está longe de ser uma puta. Ela é... apenas... mais.”
Hush se afasta de mim. Olho para a lua fora da janela. “Apenas diga a ela, Val. Porra. Sia vai entender. Você está aqui. Viva aqui por enquanto. Ela pode descobrir de qualquer jeito.”
Eu nunca diria isso a ele, mas às vezes guardar o seu segredo era difícil pra caralho. Especialmente quando ele recusava qualquer coisa boa que aparecia no nosso caminho por conta disso. Tudo o que ele
diz é...
“Ela vale mais,” Hush sussurra.
E lá está. O que meu melhor amigo pensa de si mesmo. Que ele não é nada. Um passado fodido lhe condicionou a pensar sempre dessa forma. “Ela merece muito mais.”
“Ela merece você,” argumento, mas sei que não terei resposta. “Ela nos merece.” Viro-me, socando o travesseiro com meu punho.
Fecho os olhos e lembro-me de Sia naquele cavalo hoje, me dizendo como ela precisava dos cavalos para se sentir melhor. Penso no meu irmão idiota teimoso atrás de mim e sei que ele precisa de mim assim
também. Eu me tornei a porra da sua muleta emocional. Mas de jeito nenhum eu me afastaria dele. Não sei como a vida parece sem ele de qualquer maneira. Nós somos assim há tanto tempo que eu estaria perdido
pra porra sem ele. E nem sequer quero pensar como ele ficaria sem mim. Nós sempre andamos juntos, ele e eu. Não necessitando de nenhuma cadela.
Mas posso ver ele com Sia. Posso vê-la conosco. Ambos estão tão quebrados e danificados, mas eu quero estar lá para eles. Com eles.
Não demora muito antes de ouvir a respiração de Hush. Rolo e olho para ele. Eu vejo as cicatrizes e queimaduras que cobrem sua pele escura. Então eu olho para a tatuagem da bandeira confederada no meu
braço.
Suspiro.
Eu só tenho que encontrar uma maneira de fazê-lo pensar do meu jeito. As pessoas podem mudar. Sou a prova disso.
Ele gosta dela.
Eu gosto dela.
Ela gosta de nós dois.
Nós vivemos uma vida estranha, merda, mas com Sia, tenho certeza que há pelo menos uma chance que poderá ser algo mais.
Capítulo cinco
Sia
Duas semanas depois…
“Então...” Levanto a cabeça de preparar Sandy e vejo Clara em pé, ao lado da porta da baia.
“Então o quê?” Aliso minha mão no pescoço de Sandy.
Os olhos escuros de Clara se arregalam. Ela tem apenas vinte anos, mas é a melhor maldita assistente que já tive. Para ser honesta, fora Ky e Lilah — e agora Hush e Cowboy — ela é minha única amiga.
Clara levanta as mãos, e então verifica ao nosso redor. “Então? Então? Sia, não me deixe esperando! Você me diz que está saindo de férias, e então volta com os dois homens mais quentes que eu já vi, eles
apenas estão vivendo com você e brincando de casinha, e você me pergunta então?”
Tiro minha mão de Sandy, vou até a porta da baia e destravo o ferrolho. Clara apenas recua o suficiente para eu sair, antes de me seguir para a sala de trás, enquanto pego os estribos e a sela. Clara me
segue conforme volto para selar Sandy. Suspiro e me ocupo com a tarefa em mãos enquanto tento pensar no que porra dizer.
“Sia!” Clara insiste, realmente irritada.
Eu finalmente olho para cima. “Eles estão apenas cuidando de mim por um tempo.”
“Por quê?”
Quero dizer a Clara o que estava acontecendo, mas Ky me fez jurar nunca divulgar a verdade. Dou de ombros. “Meu irmão recebeu algumas notícias de que houve invasões de domicílio em torno de algumas fazendas.
Ele só quer que estejamos seguras.” Ela sabe que Ky era um motoqueiro. Além disso, ela não sabe mais nada.
Ninguém nunca soube.
“Eu não ouvi sobre isso.” Suas sobrancelhas baixam.
“Como eu disse, ele tem contatos. Não foi à público.” Eu viro o rosto e prendo os meus estribos.
Clara deve ter comprado a minha mentira, porque quando me viro ela estava na baia, parecendo animada. “Bem?” Ela pergunta em voz baixa. “Qual deles você gosta?” Ela levanta uma mão conforme a minha boca
abre para desviar sua atenção. “E não tente protestar. Você esteve andando por aqui com uma mola em seus passos desde que voltei, e sei que ou é por causa dos cento e quatro quilos de pedaço de carne do
cowboy louro ou por causa do deus achocolatado de olhos azuis que vi circundando em torno deste lugar.”
Eu balanço minha cabeça. “Clara, eu te prometo que não quero nenhum deles.” Fico surpresa com quão facilmente aquela mentira em particular deslizou dos meus lábios. Porque apenas imaginá-los, baseada somente
em sua descrição, tinha minhas coxas se apertando juntas; a imagem de estar presa entre ambos, nus e suados, suas mãos por todo meu corpo, enche minha mente.
“Sério?” Ela diz, mão no quadril. “Então por que seu rosto está todo corado agora?”
“Está quente.”
“Vou te dizer o que está quente, o cara com a cabeça raspada e lábios cheios.” Ela morde a língua. “Você já viu olhos azuis assim antes? Eu juro, passei por ele ontem, encontrei seus olhos, e quase derreti
ali mesmo. Se você não gosta dele...”
“Deixe Hush, Clara.” Aviso-a, as palavras deixando minha boca antes que tivesse a oportunidade de perceber que as pronunciei.
Clara começa a sorrir. Ela dá de ombros. “Então estou bem com o loiro. Adoro um Stetson em um cara.”
Aperto meus olhos fechados. “Clara, você vai ficar longe de ambos, certo? Nenhum está disponível para agarrar.”
A boca de Clara congela aberta, e então ela a cobre com uma mão. “Oh merda, Sia. Você está na merda. Você gosta de ambos.”
“Não... não é...” desajeitadamente tento argumentar.
“Você gosta!” Ela exclama, sua voz muito mais alta do que antes. “Inferno, amiga, vejo o por que, mas gostar deles só tornará as coisas muito mais complicadas...”
“Gostar de quem?”
Minha cabeça vira para a entrada do celeiro. Cowboy está em pé contra a porta, braços cruzados e os olhos brilhando. Clara olha para mim, então de volta para ele, olhos comicamente largos. Engulo. “Só
um cara que eu conheci em um bar há um tempo.”
As sobrancelhas de Cowboy baixam. Então ele caminha em minha direção, lentamente, medido, e, aparentemente, completamente irritado.
“Eu tenho que ir.” Ouço Clara dizer atrás de mim. Não afasto o olhar de Cowboy. Nem sequer me movo quando ele abre a porta do estábulo e entra, parando apenas a centímetros de mim.
“Você tem um homem, Cher? Você quer algum idiota de um bar?” Ele diz, e vejo algo que nunca tinha visto em seu olhar antes... ciúme, e uma pitada de raiva. Esses sentimentos parecem estranhos em Cowboy.
Ele é a epítome do homem sulista descontraído.
“Não.” Eu sussurro. Cowboy levanta a mão e a passa suavemente pelo meu braço. Minha pele arrepia com o seu toque.
“Então, de quem vocês estavam falando, querida?” Meus olhos se fecham e respiro fundo. “Cher?”
Sua mão corre subindo e subindo, subindo e descendo, até que não aguento mais e solto, “Você.” Meus olhos se abrem.
Um lento sorriso satisfeito puxa em sua boca. Ele se aproxima. Tão perto que meus seios raspam os duros músculos do seu peito. Inclino minha cabeça para trás para o olhar. Cowboy tira uma mecha de cabelo
do meu rosto. “Apenas eu?” Ele sussurra, seu profundo timbre viajando através do meu corpo mais rápido do que um relâmpago.
“Não.” Eu cedo e vejo seu sorriso aumentar. Sei que estou perdendo ha cabeça. Que mulher deseja dois homens? Então, novamente, que dois homens procuram mulheres juntos? A mesma mulher, sem nenhum ciúme
ou competição?
Nada disso é correto, merda... mas não consigo evitar.
Ou ficar preocupada.
Cowboy se inclina e dá um beijo na minha bochecha. “Isso é muito bom.” Ele demora, então se afasta me deixando sem fôlego, um saco andante de gelatina. “Eu vim para ver você treinar.” Ele morde o lábio
exageradamente e geme. “Não canso de ver você voar em torno desses barris, Cher. Porra, acho que se tornou uma das minhas visões favoritas na vida.”
Forçando-me a me manter composta, pego as rédeas de Sandy e a retiro da baia. Quando passamos pelo novo garanhão que treinarei para ser um bronco concorrente, eu digo, “Pepper aqui precisa treinar hoje.
Ele é um bronco. Você está afim do desafio?” Cowboy ainda tinha que me mostrar seus talentos, mas assim que Clara pegou Pepper ontem, soube que logo conseguiria a minha chance de vê-lo em ação.
O rosto de Cowboy se ilumina. “Você quer me ver montar?” Eu assinto. “Então conte comigo porra.” Ele estica os braços e torce sua cabeça. “Vai ser bom ter um treino duro.”
Cowboy senta-se em cima do muro do círculo de treinamento, enquanto pratico correr ao redor dos barris. O sol queima no meu pescoço enquanto as horas passam, enquanto empurro Sandy, cortando dentro e fora
dos barris, galopando para a linha de chegada. “Dezessete segundos.” Cowboy grita conforme nós cruzamos a linha pela centésima vez. Puxo Sandy a uma parada. Não é o melhor tempo que já fiz, mas é o suficiente
para hoje.
Eu passo com Sandy perto do Cowboy. Seus braços estão nus, com as mangas arregaçadas da camisa xadrez fina. “Pronto para suar?”
Cowboy levanta seu Stetson, penteia o cabelo com os dedos, e pergunta: “Estamos falando de montar o bronco Pepper aqui? Porque realmente espero que estejamos falando de algo diferente.”
Reviro os olhos. “Você sempre pensa em outra coisa?”
“Perto de você?” Ele sorri. Um sorriso largo pra caralho. “Nenhuma maldita chance.”
“Vou encontrá-lo na rampa.” Entrego Sandy para Clara, que me dá uma piscadela conhecedora. Balançando a cabeça, levo Pepper para fora da baia. Cowboy fica me esperando. Faço Pepper parar e aceno para o
galpão. “Calça de montaria e as rédeas do bronco estão ali.” Cowboy entra. Quando ele volta, está usando as calças de couro preto, uma camisa jeans que cobria seus braços e peito, e segura a rédea do bronco
em suas mãos.
“Dê ele aqui.” Cowboy pega Pepper, verifica sua sela e amarra a rédea do bronco no cabresto.
“Dê a ele três dedos e meio.” Digo, me referindo a quantidade de rédea que Pepper trabalha melhor.
Cowboy sorri. “Daria isso de qualquer maneira, Cher. Eu te disse, sou bom pra caralho nisso.”
Viro a cabeça para o outro lado do círculo e vejo Hush parar a moto do meu pai. Ele estava inclinado sobre o guidão, observando seu melhor amigo como um falcão. Perco a respiração quando ele encontra meus
olhos por um segundo. Foi só por um segundo, e então ele rapidamente foca em Cowboy novamente.
Clara e eu levamos Pepper ao interior da rampa, e Cowboy desliza no cavalo. Clara corre para o portão da rampa e espera por meu comando. As narinas de Pepper queimam, seus cascos pisoteando com emoção
a sujeira. Cowboy aperta ainda mais uma mão na rédea e posiciona seus pés.
“Tem certeza que você está pronto para isso?” Eu quero me certificar, tendo uma dúvida momentânea. Sei que Aubin Breaux podia montar. Inferno, ele era o melhor ao redor quando era adolescente, mas não
tenho certeza se ‘Cowboy’ do Hangmen, ainda tem o que precisa para permanecer neste garanhão. E Pepper é um cavalo campeão na tomada.
“Abra a maldita porta, Cher.” Cowboy grita, enquanto me dá uma típica piscadela descontraída e um sorriso.
Olho para Clara. “Você ouviu o homem.”
Clara joga o portão aberto, e Pepper se lança em ação. O bronco chuta como um filho da puta, e meu coração parece parar no peito. Estou fodida. Eu monto a cerca, pronta para correr para Pepper se ele jogasse
Cowboy. Mas meus olhos arregalam e um sorriso se espalha em meus lábios conforme Cowboy joga uma mão no ar e monta o garanhão como se nunca tivesse parado de competir.
Clara me cutuca, e suas sobrancelhas se erguem em surpresa. “Ele é muito bom, garota!”
Depois de permanecer muito mais do que os oito segundos necessários, Cowboy chuta a perna por cima da sela e salta para o chão, correndo para longe do garanhão. Pepper decola, girando no círculo, eventualmente
ele se acalma e para. Clara atravessa o círculo para pegá-lo.
Salto de cima da cerca e corro para Cowboy, que estava pavoneando-se de costas, braços abertos e com um sorriso arrogante no rosto bonito. Eu nem sequer penso na minha próxima ação. Um minuto eu estava
correndo pela terra, a adrenalina de Cowboy montando surgindo através de minhas veias. No próximo eu estava me lançando em seus braços. “Isso foi incrível!” Sinto os braços de Cowboy envolver em torno
da minha cintura... e rapidamente me torno hiper-consciente do fato de que ele estava me segurando.
Ele deve ter me sentido tensa; então lentamente me baixa para o chão. Solto meus braços, mas ele se recusa a soltar.
“Porra, Cher.” Ele diz, voz rouca enquanto fala diretamente em meu ouvido. “Se eu soubesse que pra ter você em meus fodidos braços era preciso isso, teria montado para você no minuto que cheguei.”
Rindo nervosamente, e chocada com a falta de desconforto que senti em seu abraço, inclino a cabeça para trás para encontrar seus olhos azuis presos em mim. “Isso foi incrível pra caralho, Cowboy.” Digo
e corro minhas mãos até seu peito largo. Observo como as palmas das minhas mãos se achatam em seus peitorais duros. Não consigo tirar os olhos das minhas mãos. Estou tocando nele... estou tocando nele.
Fazia tempo pra caralho. Não tinha certeza se alguma vez eu seria capaz de tocar outro homem assim, depois de Juan, depois do que descobri... depois do que ele fez...
Cowboy rosna baixo, levando-me a olhar para cima, puxando-me dos meus pensamentos sombrios. “É bom pra caralho ter você em volta de mim, Cher.” Ele sussurra. Eu imediatamente tiro minhas mãos.
“Você pode ir de novo?” Tento me acalmar. Confusa nem sequer cobre isso agora. Não pensei sobre os homens em uma forma romântica por anos. A aceleração do meu pulso e a corrida do meu coração me disseram
que tudo mudou.
Foi Cowboy. Seus sorrisos. Seu coração gentil.
E foi Hush. O homem fechado misterioso que eu ansiava destravar.
“Sempre.” Ele responde, e me afasto dele. Cowboy me deixa ir. Assim que estou prestes a virar para a cocheira, olho por cima do ombro e encontro um par de olhos azul-gelo me olhando. Eu seguro o olhar
de Hush, tentando decifrar o que no inferno aquele olhar feroz significa. Mas uma mão desliza na minha, me fazendo romper o olhar.
“Vamos.” Cowboy diz, seguindo o caminho da minha atenção. Hush olha para Cowboy, uma conversa silenciosa acontecendo entre eles diante dos meus olhos. Cowboy quebra a conexão primeiro e me leva de volta
para a cocheira. “Eu quero ir novamente.” Quando olho para trás, eu esperava que Hush tivesse partido. Mas ele permaneceu, observando.
Meu coração bate apenas um pouco mais rápido.
*****
“Cowboy!”
O nome de Cowboy soa como uma sereia lamentando na minha boca. Meus olhos se arregalam com horror conforme coloco os olhos em sua mão. Pepper estava dando pulos altos. Cowboy estava tentando desmontar.
Mas sua mão ficou presa. “Ele está pendurado!”
Eu pulo da cerca. Corro para o outro lado do círculo, observando enquanto o corpo de Cowboy é arremessado voando ao redor, conforme ele tenta se libertar do cavalo. Ele cai da sela, suas pernas caindo
no chão. Seus pés raspam ao longo da sujeira, tentando manter-se com o cavalo irregularmente pulando. Mas sua mão ainda está atada à rédea do bronco. Cowboy luta, sua cabeça inclinada para trás em direção
à sela, tentando se soltar. Eu vacilo conforme as pernas de Pepper agitam e chutam, quase pegando Cowboy, enquanto o cavalo gira em círculos cada vez menores.
“Ao redor do outro lado!” Grito para Clara. Clara faz como mandei, balançando para frente e para trás em seus pés para tentar agarrar a rédea solta de Pepper. Ela se lança para frente, envolve a rédea
ao redor do pescoço dele, controla sua cabeça, e consegue pará-lo. Mas os cascos de Pepper ainda pisam freneticamente na sujeira.
“Cowboy.” Chamo, e me movo para sua mão presa. A pele de seu pulso está rasgada e vermelha por causa da rédea. No minuto em que começo a puxar a rédea, Pepper começa a recuar. “Cher. Volte.” Cowboy grita
com os dentes cerrados.
Balanço a cabeça, me recusando a ficar parada, e de repente Hush está ao meu lado. Ele puxa uma faca do cinto e começa a cortar a rédea. Eu cambaleio para trás, deixando escapar um suspiro profundo quando
a rédea solta o suficiente para Hush arrastar Cowboy do caminho. Pepper ainda está assustado com toda a comoção, e Clara o afasta. Ele decola ao redor da arena, resistindo e chutando, fazendo exatamente
o que ele tinha sido treinado para fazer. Eu o observo ir, sangue foi drenado do meu rosto quando percebo que Cowboy poderia ter sido ainda mais seriamente ferido.
Hush está segurando Cowboy contra a cerca. Corro, vendo Clara se aproximar de Pepper para acalmá-lo. Conforme me aproximo de Hush e Cowboy, eu só consigo decifrar uma conversa rápida em francês saindo
de suas bocas. Cowboy está segurando seu braço, seu ombro caído como se ele mal pudesse mantê-lo.
“Cowboy!” Corro para o seu lado.
Ele esboça um sorriso tenso. “É... não é nada, Cher.” Ele não foi exatamente convincente. Sua voz rouca me mostra claramente que ele estava dilacerado pela dor.
“Não é nada.” Abro o portão para ele sair. Ajudo Hush levá-lo até o quintal e sentá-lo em um banco nas proximidades.
“Que porra você estava pensando?” Hush grita para Cowboy. Cowboy revira os olhos para seu melhor amigo. “Você não fez isso em anos, Aub. Esta não é mais a sua fodida vida!” O pânico na voz de Hush faz
meu coração apertar. O terror cru pulsando dele com o fato de que seu melhor amigo estava ferido. Poderia ter sido ferido pior.
“Porra, eu posso montar Val. Fiz isso por todo o maldito dia. Estive fazendo isso desde que eu saí das fraldas.”
Hush acena para seu ombro. “Não parece assim porra...”
“Eu estava pendurado!”
“Ele estava pendurado!”
Cowboy e eu falamos ao mesmo tempo. Mesmo com dor, Cowboy atira-me uma piscadela, mas foi rapidamente seguida por um estremecimento.
“Eu não tenho ideia de que porra isso significa. Mas isso não importa.” Hush retruca. Cowboy fecha os olhos e respira fundo. Faço uma careta conforme seu rosto fica vermelho. “Você precisa de um médico?”
Hush passa a mão sobre a cabeça raspada. Ele estava agitado. Mais do que deveria estar. Hush estava praticamente caindo aos pedaços por Cowboy estar ferido.
“Val,” Cowboy diz lentamente. “Estou bem.” Cowboy me envia um rápido olhar cauteloso, antes de se inclinar mais perto, conseguindo a atenção do Hush. “Acalme-se. Estou ótimo.” Hush toma uma respiração
profunda e longa.
Fico me perguntando o que diabos estava acontecendo entre eles quando Cowboy me distrai dizendo: “Ajude-me a voltar para a casa, Val.”
“Espere!” Eu digo. “Vou pegar minha caminhonete.”
Corro passando por Clara e dando-lhe um polegar para cima para me certificar de que ela tinha tudo sob controle. Clara assente e leva Pepper para uma baia no celeiro. Em menos de cinco minutos, estou na
minha caminhonete e voltando para Cowboy e Hush. Hush se senta ao lado de Cowboy, a mão de Cowboy na coxa de Hush. A cabeça de Hush estava baixa, mas eu podia ver que seus olhos estavam fechados. Parece
que ele estava contando; seus lábios se moviam um pouco enquanto ele dizia algo para si mesmo.
A cabeça de Hush levanta quando saio da caminhonete. “Você pegou a minha carruagem, Cher?” Cowboy pergunta.
“Claro que sim, querido.” Eu me movo para onde ele ainda está sentado, largado no banco. Olho para Hush. “Você está bem? Você não parece tão bem.”
“Bon.” Ele responde e se levanta para Cowboy. “Vamos.” Hush ajuda Cowboy a levantar. Movo-me para o seu outro lado. Cowboy consegue colocar o braço bom sobre meu ombro, e de brincadeira ele diz através
do seu maxilar cerrado, “Qualquer coisa para você me tocar de novo, Cher.”
Reviro os olhos. “Você não tem que se machucar para isso, Cher.” Provoco.
Cowboy sorri. “Bom... saber.”
A testa de Hush franze. Sua atenção estava na caminhonete. Mas sei que seu cenho é uma reação a mim e Cowboy. Eu não consigo entender por que, se o que Cowboy tinha me dito estava certo. Se eles compartilhavam
as mulheres, então o que diabos estava tão errado comigo?
Começo a acreditar que Cowboy estava totalmente errado. Que Hush não estava apenas me mantendo no comprimento do braço porque ele gostava de mim. Mas, na verdade, ele realmente não gosta.
O que era como uma maldita martelada no coração.
Hush ajuda Cowboy a entrar na caminhonete. Eu pensei que ele iria montar de volta na velha Harley do papai, mas Hush entra na cabine também. Conforme acelero para fora do quintal em direção a minha casa,
Cowboy coloca uma mão na minha coxa. Quando olho para ele, vejo que ele tinha feito o mesmo com Hush também. “Bem...” ele consegue empurrar através de sua dor. “Isto é... acolhedor.”
Hush empurra a mão de Cowboy da sua coxa. “Caralho, agora não, Aub.”
Cowboy vira para mim e sorri, nem mesmo incomodado pelo comentário irritado de Hush. Meu peito aquece. Eu nunca conheci ninguém como Cowboy. Nunca conheci ninguém tão espirito livre. Alguém que apenas
parece querer fazer todos felizes.
E eu nunca conheci alguém tão fechado como Hush. Pelo menos para os outros além de Cowboy. Na verdade, com Cowboy ele parecia estranhamente dependente.
Paro na minha casa. Hush abre a porta do passageiro e ajuda Cowboy a sair. Cowboy cambaleia subindo os degraus. Aliso minha mão sobre o celular no meu bolso, quase chamando Ky para enviar um médico. Mas
então, eu não queria que Ky soubesse sobre Cowboy montando o Pepper. Eu não queria dar a ele qualquer desculpa para tirar Hush e Cowboy da minha fazenda e substituí-los com outra pessoa. Meu coração rola
com o pensamento deles partindo. Faz apenas algumas semanas, mas eu tinha me acostumado a eles estarem ao redor. Cowboy com seus flertes fáceis e piscadelas sugestivas. E mesmo Hush com seu silêncio e
carranca permanente.
Eles me fazem sentir segura.
Para mim, isso vale ouro.
Decidindo esquecer a ligação, subo os degraus e entro na minha casa. Cowboy já está deitado no sofá. Hush está ajudando-o a sair da calça de montaria e camisa, deixando-o em seu jeans, regata branca e
colete de couro. Engulo em seco ao ver os hematomas já começando a brotar em seu braço e ombro. Seu pulso estava cru pelas queimaduras de corda. “Cowboy,” sussurro, meus olhos lacrimejando. “Eu não deveria
ter deixado você montar o Pepper. Eu... não estava pensando...”
“Eu queria, Cher.” Ele sorri, apenas estremecendo quando Hush coloca um saco de gelo em seu braço. “Tenho que ser honesto, foi muito bom montar novamente.”
Hush faz um som baixo em sua garganta. Afastando-se, ele anuncia: “Vou pegar a moto.” Hush sai de casa, e não posso evitar, mas suspiro. Estou doente e cansada da sua constante indiferença. Fiz tudo em
meu poder para ser legal com ele. Falar com ele. Mas Hush não quer nada comigo.
Um fato que eu tinha que aceitar... mesmo que o pensamento disso fizesse a dor perfurar o meu coração. Como se Cowboy pudesse ler meus pensamentos, ele diz: “Hush é apenas quieto, Cher. Eu prometo. Não
é nada demais.” Ele aponta para seu braço. “E provavelmente está muito irritado que eu fiz isso para mim mesmo.” Ele dá de ombros. “Faz anos desde que montei um bronco.”
Vou até a cozinha e pego duas pílulas para dor e um copo de água. Entrego-os a Cowboy. Ele os engole, mas então franze a testa para a água. “Você tem algo mais forte do que água, Cher?” Pego uma garrafa
de uísque e um copo do meu armário. “Apenas traga a garrafa, querida.” Ele diz, atirando-me um sorriso largo.
Sorrio. “Esse sorriso faz todas as senhoras aceitarem as suas ofertas, hein?”
Cowboy inclina a cabeça para o lado. “Não sei. Isso vai levá-la desistir do que quer que você tinha planejado esta noite e bancar a enfermeira comigo aqui neste sofá?”
“Não tenho nada planejado, como você bem sabe.” Eu suspiro, balançando a cabeça quando ele dá um tapinha no sofá ao lado dele.
“Bem, então você não tem desculpa.” Sento e o observo tomar um gole do uísque. Ele entrega a garrafa para mim. “Fique bêbada comigo, Sia.”
Pego a garrafa dele, assustada quando ele se move e deitou no sofá, colocando a cabeça no meu colo. Olho para ele, chocada, respirando profundamente. Havia um homem esparramado sobre minhas coxas. Fecho
os olhos, tentando lutar contra a memória da última pessoa que tinha feito isso comigo.
Como se pudesse ver a guerra dentro da minha cabeça, Cowboy pergunta, “você quer que eu saia, Cher?”
Meus olhos abrem. Meu maldito coração derrete com o olhar sincero em seus olhos e o fato de que ele tinha entendido que eu achava isso difícil.
Que ele tinha me dado uma escolha.
“Não.” Sussurro. Cowboy olha para mim. Dou-lhe um sorriso trêmulo e tiro seu Stetson da cabeça. Coloco o chapéu no chão e abaixo minha mão nervosa para sua testa. Cowboy fecha os olhos e suspira.
“Isso é realmente bom pra caralho, Cher.”
Minha mão vacila quando ouço o eco de outra voz na minha mente. “Isso é tão bom, mi rosa...”
Minha respiração acelera, muito perdida na memória do passado. Mas fui guiada do pesadelo quando dedos calejados envolvem em torno dos meus e apertam. “Você está segura, Cher.” A voz suave e lindamente
acentuada de Cowboy me acalma.
Olho para o homem deitado ao meu lado. Era uma questão pequena. Apenas uma pequena fodida coisa, realmente, mas eu nunca pensei que chegaria a este ponto. Depois de tudo o que aconteceu no México, nunca
pensei que seria assim com outro homem.
Algo tão simples como uma cabeça em meu colo parecia como o maior salto que eu já dei.
Sentindo-me corajosa, eu levo a mão livre ao cabelo de Cowboy. “Você tem um cabelo lindo de morrer, querido. Sabe disso?”
Cowboy sorri. “É o que todas as vadias me dizem.” Seu rosto adota uma expressão séria. “Estou pensando em me tornar um modelo de shampoo comercial.” Ele pisca, parecendo nada além do homem inocente que
ele estava tentando bancar. “Acha que tenho o que é necessário?” Eu levemente puxo seu cabelo e dou de ombros. “Maldição, Cher!” Ele balança as sobrancelhas. “Continue fazendo isso e vou esquecer meu pulso
ferido e deixar você puxar outra coisa.”
“Cale a boca.” Digo, fingindo estar irritada. Empurro sua cabeça, mas o idiota teimoso apenas a coloca novamente no meu colo. Não posso deixar de rir, o humor quebrando o grande peso que minhas memórias
brevemente me colocaram.
Os olhos de Cowboy fecham enquanto acaricio os fios loiros com meus dedos. Nós ficamos assim por muito tempo, eu ainda sorrindo como uma tola, até Hush entrar pela porta. Ele congela, seus olhos fixos
em nós.
Minha mão para, e Cowboy abre os olhos. “Eu estava gostando disso, Cher. Não pare.” Ele fecha os olhos novamente, mas meus olhos permanecem bloqueados nos de Hush. Suas bochechas coram, e vejo suas mãos
apertarem em punhos ao seu lado.
Eu libero minha mão de Cowboy para mover o saco de gelo de volta no lugar. Todo o tempo Hush segura meu olhar, como se ele não pudesse olhar para longe da vista do seu melhor amigo e eu no sofá. Mas não
vi ódio ou inveja em seu rosto. Não, na verdade, eu vi o que parecia ser saudade... e meu fodido coração rasga. Hush fica preso ao chão. Ele olha. Eu olho. E pela primeira vez desde que ele veio ficar
no meu rancho, não vejo indiferença ou frieza quando ele me olha. Mas calor. Tal calor escaldante que sinto como se estivesse sentada ao lado de uma fogueira ardente.
Calor por mim... esse fogo era por mim.
“Venha sentar.” Encontro-me sussurrando, quase quebrando o silêncio que tinha coberto a sala. A respiração de Cowboy tinha nivelado. Pensei que ele tinha adormecido, mas quando ele move suas pernas, criando
um espaço para seu melhor amigo, sei que ele podia ouvir cada palavra.
Minha resposta habitual para as coisas era sorrir. Fazer uma piada. Ser uma espertinha. Mas havia apenas algo sobre Hush que faz tudo isso desaparecer. A parte escura e profunda de mim que eu suprimo,
a cada segundo de cada dia, reagiu à presença de Hush. Como se ele estivesse tentando escapar do mesmo tipo de escuridão que vivia em mim também.
Minhas piadas e insolência não cabiam ao redor Hush.
Ele de alguma forma me faz... vulnerável. Algo que eu não estou acostumada a estar com ninguém.
Os olhos de Hush caem para o espaço no sofá. Eu não tenho ideia do que estava acontecendo em sua mente, mas vejo o momento em que ele decide se afastar de nós. O frio gelado, que era um elemento permanente
em seus olhos, estava de volta. “Vou fazer algo para nós comermos.” Ele murmura e se move em direção à cozinha.
Agindo por instinto, pego seus dedos com os meus quando ele passa. Hush para e fecha os olhos. Seu peito sobe e desce, sua respiração lenta. Seus dedos estão tão malditamente frios.
Quero aquecê-los. Quero que ele abra os olhos e sorria.
Eu percebo que só o queria... ponto final.
“Vou ajudá-lo a cozinhar.” Ofereço, minha voz tremendo. Rezo para que ele não me rejeite novamente.
Minha respiração engata quando o dedo de Hush se move e desliza sobre os meus. Não ouso olhar para longe de seu rosto, apenas no caso dele querer olhar para mim. Fazer outra coisa senão careta para mim.
Mas ele mantem seu olhar para frente, eventualmente, deslizando sua mão da minha. Minha mão parece vazia. Fria.
“Fique com ele.” Hush resmunga. “Ele precisa de você agora.” A voz de Hush está tensa. Ele se move para a cozinha.
Sua partida deixou um súbito frio no ar.
Pego a garrafa de uísque e tomo um gole, sentindo o licor descer na minha garganta. Raramente eu bebo, mas agora preciso disso. Fechando os olhos, coloco a cabeça para trás e continuo passando a mão pelo
cabelo de Cowboy. Eu adormeço ao som de Hush mexendo na cozinha...
Quando abro os olhos, a lareira tinha sido acesa e Hush estava em pé diante de mim, segurando uma tigela. Cowboy está sentado ao meu lado, já comendo. Hush atravessa a sala, tão longe quanto pode ficar
de nós, e toma seu lugar junto ao fogo.
“Eu dormi?”
Cowboy assente. “Não se preocupe, Cher. Você ainda parecia bonita pra caralho, mesmo quando estava roncando.”
Reviro os olhos quando ele sorri com a boca cheia de comida. “Em primeiro lugar, vá se foder. E em segundo lugar, como está o seu braço?”
“Ainda aqui.”
Olho para Hush. Ele fica em silêncio, olhando fixamente para as chamas. Elas eram tão intocáveis quanto ele.
Cowboy, por uma vez, não está sorrindo quando segue meu olhar. Naquele momento, enquanto ele olha para Hush, ele também parece... quebrado. Assim como Hush parece quando ficou mais e mais perdido nas chamas
dançando na lareira.
Eu não tenho ideia do que diabos está acontecendo.
“Cowboy?” Estende a mão para tocar seu braço. Cowboy rompe com tudo o que enchia sua mente. Ele me dá um pequeno sorriso. Mas então ele olha para Hush e suspira. Posso ouvir a devastação naquela simples
respiração.
Mesmo sem saber o que os assombrava agora, eu me sinto realmente triste.
Hush enrola-se em si mesmo, em direção ao fogo. Tento resolver o enigma que era este homem. “Ele não fala muito, não é?”
“É por isso que as pessoas pensam que ele se chama Hush13.”
Viro-me para Cowboy, intrigada. “E não é?”
Ele suspira profundamente... tristemente, e depois olha para seu melhor amigo. “Nem mesmo perto.”
Deixo este novo pedaço de informação pairar no ar. Quando apenas o som do crepitar do fogo podia ser ouvido, eu levo uma colherada da comida feita por Hush. Fecho os olhos quando os sabores batem na minha
língua. “Hush,” olho para baixo. Gumbo14. “Isso é delicioso.”
Hush me olha, mas não diz nada. Ele olha para seus pés, e, então abruptamente se levanta da cadeira. “Vou para a cama.” Observo-o ir para o corredor que leva para as escadas, assim como Cowboy.
“Ele pode cozinhar.” Digo, sorrindo para aquela pequena descoberta sobre o homem perpetuamente fechado.
“Seu pai o ensinou essa receita.” Cowboy diz distraidamente, com seus olhos ainda no corredor vazio.
“Ele está na Louisiana?”
Cowboy fica tenso. “Ele não está mais entre nós, Cher.”
O sorriso desaparece do meu rosto. Não me atrevo a perguntar mais nada. A expressão devastadora no rosto de Cowboy me diz que não. Cowboy passa por mim e pega o uísque. Ele toma vários goles antes de entregá-lo
de volta para mim. Faço o mesmo.
“Cuidado, Cher. Você vai ficar bêbada.”
Passo a mão pelo rosto, suspirando. “Estou pensando que pode não ser uma coisa tão ruim esta noite.”
“Então passe a porra da garrafa pra cá, e vou acompanhá-la em sua jornada para a cidade da ressaca.”
Uma hora passa, e uma segunda garrafa de uísque é aberta. A sala começou a se inclinar ligeiramente. “Estou me sentindo tonta.” Digo, uma risada estridente escorregando da minha garganta. Bato a mão sobre
a boca, meus olhos arregalados. “Que diabos foi esse fodido som desagradável que acabou de escorregar da minha boca?” Gemo. “Atire em mim se ele alguma vez sair dos meus lábios novamente.”
Cowboy se aproxima. “Você não pode evitar, Cher. É minha presença exuberante. Faz todas as vadias num raio de 45 metros se transformarem em estudantes risonhas.”
Reviro os olhos, mas, então olho para o perfil de Cowboy. Incapaz de controlar as minhas palavras, digo: “Você é realmente bonito pra caralho. Vou admitir isso.”
Ele sorri, mostrando-me os dentes brancos. “Merci, Cher. De você, isso é um fodido elogio.” Sua língua envolve em torno das palavras em francês, e fecho meus olhos, repassando-as como uma canção de ninar
na minha cabeça.
“Merci, Cher.” Imito, abrindo os olhos quando sua mão sobe na minha perna.
“Você está zombando do meu sotaque?” Cowboy engrossa seu sotaque, as palavras exóticas caindo de sua língua como manteiga derretida.
“Nunca!” Falo brincando. “Mas, falando sério, eu amo como você soa. Como vocês dois soam... é bonito.”
“Sim?” Ele se inclina mais perto, seu braço agora capaz de segurar mais do seu peso do que algumas horas antes. Eu me mexo, calor viajando mais rápido até as minhas pernas e adiante para o meu estômago
quanto mais ele se aproxima. Eu rapidamente fico sóbria.
“Sim.”
Prendo a respiração conforme Cowboy se arrasta em minha direção apenas para pegar a garrafa do meu lado. Solto um suspiro trêmulo. Os braços musculosos do Cowboy flexionam conforme ele levanta a garrafa
aos lábios cheios. Quando ele afasta a garrafa, sua língua sai e lambe uma gota de uísque que estava caindo.
“Diga-me.” Ouço-me dizer. Cowboy me olha. Engolindo, ignoro o calor no meu rosto e digo: “Como é que funciona?” Cowboy parece confuso. Mexo-me no meu lugar. “Com você e Hush... e as mulheres. Como vocês...
fazem isso?” Sinto meu rosto queimar, mas mantenho minha posição. Quero saber. Desde o dia em que ele me contou sobre a forma como eles faziam sexo, eu mal podia pensar em qualquer outra coisa.
A pupilas de Cowboy dilatam. A pergunta fica no ar entre nós. Ele toma outro gole de uísque, e depois vira seu corpo em minha direção. Seus dedos pousam no meu pé, acariciando a pele. “Quer saber, Cher?”
Ele pergunta, a voz rouca do uísque.
“Sim.” Sussurro de volta, minhas coxas se apertando juntas conforme seu leve toque na minha pele envia arrepios pela minha espinha.
“Primeiro, nós a levamos para um quarto.” Ele diz. Meu peito cora, e sei que não era pelo fogo na lareira. Seu rico sotaque dava vida às palavras cotidianas. Cowboy traça seu dedo sobre a parte inferior
do meu jeans e minha canela. “Um de nós a leva para a cama.” Ele circula seu dedo ao redor da minha panturrilha. “O outro segue atrás.” Meu olhar está fixo em sua boca enquanto eu imagino a cena na minha
cabeça. “Lentamente, nós a tiramos de suas roupas. Um item de cada vez, nossas bocas começam a beijar cada centímetro de carne recém despida.” Mudo onde estou sentada conforme seu dedo alcança meu joelho.
Cowboy lambe os lábios. “Seus seios são liberados, e cada um de nós toma um mamilo na boca, fazendo-a gemer.” Meus olhos se arregalam. “Nós devoramos seu corpo, até que um de nós se move entre suas pernas.”
Ele dá de ombros. “Então...” sua mão arrasta ainda mais alto até estar na minha coxa. Aperto minhas pernas juntas e luto contra o gemido que estava ameaçando sair da minha boca com a imagem. Porque não
vejo alguma puta aleatória do clube na minha cabeça.
Eu me vejo.
Eu vejo Cowboy.
Eu vejo Hush.
Engulo em seco, tentando molhar a garganta seca. “Então o quê?”
A boca de Cowboy se move para a minha orelha. “O resto, Cher, vou guardar para mim.”
Exalo um suspiro de frustração e divertidamente lhe dou um tapa no braço. “Você não é divertido!” Cowboy me lança outra fodida piscadela. Quando estou completamente calma, eu pergunto: “Então? Com quantas
você esteve?”
Cowboy desvia os olhos ao observar seu dedo traçando padrões na minha coxa. “Ainda não contei.”
Não sei porque, mas meu estômago afunda com isso. Eu não sei se ele percebe minha decepção, mas Cowboy coloca o dedo embaixo do meu queixo e levanta minha cabeça. Ele fica parado até que ergo os olhos
e encontro os dele. “Mas nenhuma daquelas putas importava para nós.” Pisco, então tento parar o meu coração de explodir, conforme ele acrescenta, “estive procurando por alguém que faça isso real por um
fodido longo tempo.”
“V-você procurou?” Sussurro, me sentindo tonta. O álcool estava claramente fodendo com a cabeça novamente. Cowboy levanta-se em suas mãos e se arrasta para frente até que está metade acima de mim no sofá.
“Oui.”
“E Hush?”
Os olhos de Cowboy se estreitam com o pensamento. “Vou te contar algo sobre Hush, Cher. O irmão não pensa muito de si mesmo.” Sinto uma dor imediata, uma tristeza, o rosto bonito de Hush aparecendo em
minha mente. Cowboy olha para trás em direção ao fogo morrendo. “Ele sente que deve ficar sozinho. Apenas, sempre dependente de mim. Isso é porque eu estava lá quando...” as palavras de Cowboy param ao
nada. “Ele é solitário, Cher. Nós dois somos solitários.”
“Cowboy.” Murmuro, todo o humor esquecido, e coloco minha mão em seu rosto. Ele se vira em minha palma.
“Valan... Hush... tem mais fodidas camadas do que eu posso te explicar. A merda do seu passado, muitas vezes fode com a cabeça dele. Faz ele pensar que não vale nada. Que as pessoas não deveriam querer
estar perto dele.” Ele ri, mas o som era livre de qualquer humor. “Que ele não deve ser amado. Que ficaremos bem sendo apenas nós dois. A forma como tem sido há anos. Porque então ele pode manter o que
o incomoda trancado, sem ter que abrir seu fodido coração enjaulado novamente.”
Um nó bloqueia minha garganta. Quero saber o que deixou Hush desta forma. O que aconteceu que o fez viver sozinho, em vez de procurar ou aceitar o amor de outro. Mas então, sei que sou uma hipócrita. Porque
além de Styx e Ky, ninguém sabe sobre mim. Sobre o meu passado. Eu tinha afastado todos, culpando o clube por toda a merda que eu tinha atravessado. Mas, na realidade, era eu. Bloqueei todos para fora.
Mantive o que tinha acontecido no México dentro de mim e não compartilhei com ninguém mais. Nem mesmo Ky e Styx sabiam a extensão disso.
Minha parte inferior das costas e as minhas coxas foram queimadas. Outro segredo que eu guardei para mim mesma. Ky nunca lidaria com essa verdade... porque eu nunca lidei, e tenho certeza que nunca poderia
ficar nua para um homem novamente.
Eu nem sequer tinha certeza de que poderia fazer isso com Cowboy.
“Cher?” Cowboy pergunta, preocupação em seu rosto.
Olho em seus olhos azuis, tão abertos e confiáveis. “Eu...” desvio o olhar para o fogo morrendo. “Eu apenas estive com ele.” Sussurro, ouço o rachar na minha voz conforme um pedaço de madeira estala no
fogo.
Cowboy torna-se uma pedra sobre mim. Não me atrevo a encontrar seus olhos. Mas agora que abri minha boca e comecei a lançar a verdade, não posso parar. “Ele... depois que voltei do México... eu nunca confiei
em ninguém. Eu...” respiro. “Não deixei ninguém chegar perto.” Conto até três, e então levanto meus olhos para ele. “Até você... e Hush... se ele apenas deixar.”
“Cher.” Cowboy sussurra, dizendo mais nessa única palavra do que um milhão poderiam dizer. Ele levanta a mão e, lentamente, leva-a para o meu rosto. Ele passa o dorso dos seus dedos pela minha bochecha.
“Ele te machucou...” Cowboy não estava fazendo uma pergunta. Sei que Ky tinha contado a eles um pouco da minha história. Só não tenho certeza de quanto.
Uma lágrima escapa pela minha bochecha e aperto os olhos fechados. Cowboy se aproxima, e respiro quando o sinto beijar a maldita gota. Cowboy demora, seus lábios roçando a pele na minha bochecha.
“Vocês dois estão tão quebrados.” Ele sussurra. As lágrimas que combati começam a cair. Cowboy pressiona sua testa contra a minha. Ele segura meu rosto e limpa as gotas com seus polegares. “Desde o momento
em que nos conhecemos, pude ver em você o que vejo nele todos os dias... solidão.” Meu peito aperta com suas palavras. Porque são reais... falavam a verdade. “Duas pessoas que estão perdidas, duas pessoas
que não sabem como escapar da escuridão em que vivem.”
“Cowboy.” Digo com a voz rouca e sinto meu peito começar a rachar com soluços. Ignorando seu ferimento, Cowboy me puxa em seus braços. Caio contra ele e passo meus braços em volta do seu pescoço.
Eu choro.
Eu choro, permitindo que a dor que eu mantive tão profundamente escondida saia. Cowboy me acalma e acaricia minhas costas. Meus olhos ficam doloridos pelas lágrimas, mas eu apenas me agarro à ele. Cowboy
está me oferecendo algo que nunca aceitei desde que voltei: um lugar para me sentir segura. Um lugar sem nenhum julgamento, onde eu posso apenas chorar pra caralho sem precisar explicar o que aconteceu
lá, por que eu fugi, o que descobri, quem eu perdi.
Olho para o relógio acima do fogo e vejo que uma hora tinha passado. Cowboy continua acariciando minhas costas. Pisco, meus olhos secos e arenosos pelas lágrimas. “Melhor?” Ele pergunta suavemente.
Abaixo meus olhos, deixando escapar uma única risada aguda. “Desculpe.”
Cowboy levanta meu queixo com o dedo até que encontro seus olhos. “Nunca, Cher. Nunca se desculpe porra.” Tristeza lampeja em seu rosto bonito. “Sei que você teve uma vida difícil. Eu nunca adivinharia
o quão mal aquele fodido te machucou.” Ele segura a minha mão. Não consigo desviar meu olhar do quão perfeito pareciam juntas. “Mas nós nunca faríamos isso com você.”
Cowboy olha direto nos meus olhos. Não sei o que ele estava procurando, talvez permissão, mas o que quer que fosse, ele deve tê-lo encontrado, porque se inclina para frente, desliza a mão no meu rosto
e me beija. Medo esfaqueia meu peito conforme os lábios de Cowboy ficam nos meus. A escuridão com a qual eu vivi tenta forçar-se em minha mente, entre nossas bocas. Mas pela primeira vez, a primeira fodida
vez em todos os anos em que a deixei me controlar, afastei-a e abri meus lábios.
Cowboy geme e suavemente desliza sua língua dentro da minha boca. Tremendo, coloco minha mão em sua bochecha, sentindo a barba debaixo da minha palma. Sua respiração é quente contra o meu rosto, seus lábios
são suaves, e sua língua dança com a minha. Deixo-o assumir o controle. Fecho os olhos e deixo-me sentir...
Gemo, Cowboy captura o som com sua boca. E ele me beija. Ele me beija e me beija, enxugando a mancha que havia sido deixada sobre esta minha parte há muito tempo. Sinto as cordas do México, dele, começarem
a quebrar. Não totalmente, mas o suficiente para tornar mais fácil para mim respirar. Para eu me mover, sem sentir a sempre presente atração de Juan me puxando de volta para o seu lado. As cicatrizes que
ele tinha deixado em mim se acalmam, suas marcas ardentes esfriando sob as mãos de Cowboy.
Quando ele se afasta, mantenho meus olhos fechados, sentindo-me feliz com a sensação de formigamento do seu sabor doce nos meus lábios. “Agora isso.” Digo e sorrio, meus olhos ainda fechados, “Valeu a
pena a propaganda.”
“Durma, Cher.” Cowboy sussurra, rindo suavemente com as minhas palavras. Ele me deita no sofá. Deixo-o me guiar para as almofadas macias. Não abro meus olhos, mas o sinto deitar o meu lado. Ele acaricia
o cabelo do meu rosto. “Nós vamos cuidar de você agora.”
Ele me enrola contra ele, minhas costas em seu peito, e passa o braço ao meu redor. Suspiro com o contentamento, mais confortável do que me senti há muito tempo. A sala ainda estava quente do calor do
fogo, o cheiro esfumaçado de madeira queimando e enchendo o ar. As respirações sonolentas de Cowboy brincam na parte de trás do meu pescoço.
Estou quase dormindo quando sinto alguém na minha frente. Tento abrir meus olhos, mas uma voz suave me acalma de volta. Um dedo passa por minha bochecha, em um movimento hipnotizante. Então, um hálito
quente flutua sobre minha bochecha, e uma boca suave pressiona um único beijo em meus lábios. Minha respiração prende, meu corpo fica parado, enquanto a boca se muda para minha orelha e gentilmente sussurra,
“Durma, Cher. Durma.”
Abro meus olhos para ver uma costa tatuada recuar em direção ao corredor. Tatuagens decorando uma rica e bonita pele marrom...
Hush, penso, meus olhos pesados me forçam a cair no sono. Hush, suspiro... e adormeço com um sorriso nos lábios e um novo sentido de esperança no meu coração.
Capítulo seis
Hush
Ando com a Harley ao redor do perímetro uma última vez, perseguindo o sol nascente no horizonte enquanto meus olhos examinam cada centímetro da terra. Não vejo nada fora do comum. Sei que devo voltar para
a casa.
Mas não posso.
Dirijo a Harley para parar no meio do campo. Sento no assento, observando o sol crescendo sobre as colinas distantes e respirando fundo. O vento quente sopra no meu rosto.
Estou morto de cansaço. Mas não tenho conseguido dormir.
Havia nenhuma chance de cochilar após a noite passada. Fecho os olhos e ouço a voz de Sia... depois que voltei do México... nunca confiei em mais ninguém. Eu... eu não deixei ninguém chegar perto... até
você... e Hush, se ele apenas deixar.
Um gemido fica preso em minha garganta... e Hush, se ele apenas deixar...
Corro a mão pelo meu rosto e olho para o céu iluminado. “Eu deixaria se pudesse, Cher,” digo em voz alta, para ninguém e todos ao mesmo tempo. Chegando ao meu colete, removo as pílulas e as tomo como faço
todos os dias. Então me concentro em minhas mãos. A pele marrom olha para mim. Não preta, e nem branca. Mas uma mistura.
O meu fodido peito aperta, um maldito pulso de ferro, impossibilitando-me de respirar, quando também ouço as palavras de Cowboy... vocês dois estão tão quebrados... desde o momento em que nos conhecemos,
pude ver em você o que vejo nele todos os dias... solidão... duas pessoas que estão perdidas, duas pessoas que não sabem como escapar da escuridão em que vivem.
Sia estava chorando, tomando consciência das suas palavras. Aperto os olhos e tento tirar as fodidas palavras do meu melhor amigo da cabeça. Sei que ele está preocupado comigo. Sei que ele se importa.
Foda-se, ele é o único que faz.
Paro esse pensamento sórdido... porque agora sei que ele não é o único.
Sia. Filha da Puta Elysia Willis.
Eles não sabiam que eu estava ouvindo. Nenhum dos dois soube que não fui para o quarto; em vez disso, afundei contra a parede no corredor e ouvi todas as malditas palavras. Não consegui deixá-los sozinhos.
Algumas malditas amarras internas me seguraram.
Escutei Sia chorar. Cowboy prometer coisas que não tenho certeza que posso dar. Não posso mais dar isso a ninguém. Sou um mau presságio. Quem está comigo será sempre arruinado. Sempre foi assim. Aperto
os dentes e tento sacudir isso da minha cabeça.
Mas ela não. Lambo meus lábios, ainda a saboreando neles. Ouvi-os caírem no sono. Ouvi a respiração suave vindo de sua boca. E tive que ir. Ela estava bebendo. Chorou até o ponto de exaustão. Mas algo
me chamou, obrigou-me a entrar naquela sala, um maldito imã me puxou. A visão do meu melhor amigo e ela no sofá me atingiu mais do que esperei. Porque eu deveria estar lá com eles. Aquele era o meu lugar.
Toda célula do meu corpo me diz isso. Mas não consegui fazer isso. Ela passou pelo suficiente no passado. Em algum momento, as coisas ruins que me seguem também irão buscá-la. Nunca poderíamos estar juntos.
Nós simplesmente não nos encaixamos.
Não tenho nenhuma porra de ideia de por que Cowboy ficou por perto também. É apenas uma questão de tempo antes de eu arruiná-lo também. Mais do que já fiz, isso é. Fucker é um comilão por maus tratos.
As pessoas pensam que os tempos mudaram. Que as pessoas são mais liberais em seus pontos de vista, não se importam com a raça ou a religião ou com quem você ama. Mas em nosso fodido mundo, isso é uma besteira.
Vi isso.
Vivi isso.
Foda, sou um produto disso.
Seus lábios são tão suaves quanto eu sabia que seriam. Ela também tem o sabor doce pra caralho. Quero envolvê-la em meus braços e dizer que esse maldito Garcia nunca mais a tocará. Mas fui forte. Levantei
e me afastei antes que a pequena voz na minha cabeça me dissesse para deixá-la entrar.
Mas não antes de ter visto Cowboy me observando. Não sei se o filho da puta fingiu dormir ou acordou quando cheguei, mas vi o olhar em seu rosto. Ele queria isso. Ele queria que eu simplesmente superasse
meus segredos, que sempre escondi, e ficasse com ela.
... e Hush, se ele apenas deixar.
“Foda!” Grito para o céu rosado, com a cabeça jogada para trás e os punhos apertados. Corro minha mão sobre meus braços e vejo todas as provas que preciso para saber que não posso ir lá com ela. E merda,
outro pensamento nubla minha mente. Algo que sabia que um dia viria. Mas que temi com todas as fibras do meu ser.
É hora de me separar do Cowboy.
Ele é meu melhor amigo. Praticamente a única pessoa que tenho no mundo inteiro. Mas estou segurando-o. Ele disse a Sia que ela e eu estamos sozinhos. E merda, isso é verdade. Mas sei que ele também está.
Anos me acompanhando, fodendo putas comigo, nunca por conta própria... por minha causa.
Cowboy não precisa de um trio para sair. Cristo, metade do tempo, nem sei se ele gosta disso. Ele faz porque não sabe o filho da puta que sou sem ele.
Vejo o jeito que ele olha para Sia. É diferente. Ele nunca olhou para nenhuma cadela assim. Claro, ele mostrou interesse por outras, mas nunca assim. Soube desde o momento em que a conhecemos, no casamento
de Ky, que ela era uma reviravolta. Há uma faísca entre eles.
Merda, ela também é diferente para mim.
Mas sei que ele sente uma sensação de lealdade comigo. Egoisticamente sei que ele desistiria de sua própria felicidade. É por isso que Cowboy está me empurrando para Sia. Então ele conseguirá estar com
a garota dos seus sonhos e ainda estar lá para o seu melhor amigo fodido louco e codependente.
O som de uma motocicleta retumba atrás de mim a distância. Nem me viro. Sei que é Cowboy. Ele não devia ter deixado Sia sozinha. Mas verifiquei os arredores uma e outra vez nas últimas horas. Não há nada
lá fora. Ela está segura.
Depois da noite passada, sabia que ele viria me encontrar.
Cowboy para a segunda Harley ao meu lado. Mantenho minha atenção para frente, no sol agora quase totalmente no céu. Minhas mãos tremem pra caralho. Tremem com a ideia de deixar Aubin ir. Porque é ele quem
esteve lá para mim. Aubin Breaux. O garoto que conheci ainda adolescente, aquele que ficou ao meu lado quando tudo foi para merda absoluta e a vida me derrubou.
“Eu vi você,” ele diz, descongelando o estranho silêncio que construí ao nosso redor. Não digo nada. Sinto Cowboy puxar meu braço. Ele respira fundo. Quando o olho, ele está segurando as marcas vermelhas
que aquele maldito bronco fez. Elas estão inchadas e parecem horríveis. “Você está me ouvindo?” Cowboy pergunta, sacudindo a dor.
“Não significa nada,”
“Cai fora, Val. Isso significa tudo!”
Aperto meu maxilar. Então, sinto um aperto em meu estômago, e viro para o meu melhor amigo. “Aubin.” Minha boca fica tão seca quanto um deserto.
“Val —” Cowboy inclina-se para frente, pulando para me ajudar como sempre faz. Mas levanto minha mão para cortá-lo.
Respiro fundo. “Acho que você deve tentar fazer isso com ela.”
As sobrancelhas loiras de Cowboy enrugam-se com confusão. “Isso é o que tenho dito. Ela seria boa para nós, Val. Ela —”
Balanço minha cabeça. "Não eu, Aub. Você.”
A boca de Cowboy abre e fecha, sua testa enrugada. “Não entendi.”
“Você.” Olho de volta para as colinas. “Você deve tentar fazer isso com ela." Abaixo meus dedos, apenas para ter algo que fazer com minhas mãos. “Ela gosta de você. Merda, qualquer um pode ver isso.” Abaixo
minha cabeça. “Vejo a maneira como você olha para ela também. Ela é diferente para você.”
“Para nós,” Cowboy argumenta.
“Não importa.”
“Pelo amor de Deus, Val —”
“Não muda como me sinto. Não vejo outra pessoa ser arrastada por mim.” Desta vez encontro seus olhos. Seu rosto está vermelho. Ele está chateado, o que para Cowboy é uma ocorrência rara. “Eu também o arrastei
comigo. Sei que você não vê. Pensa que é só porque você é meu irmão. Mas você não vive bem desde aquela noite há anos. Você dá tudo a todos. Seu futuro. Sua vida pessoal. Seus cavalos. Rodeios. Você fode
as putas comigo porque nunca gostei de fazer isso sozinho.” Bufo uma risada autodepreciativa. “Inferno, você se mudou do Estado que você adorava para ser nômade, depois se mudou para o Texas por minha
causa.” Viro-me no banco, olhando para o patch da seção de Austin em seu colete. “Você mesmo disse ao clube — Styx e Ky — que somos nômades por causa de uma merda que aconteceu com você, o que nós dois
sabemos que não é verdade.”
“Porque sei que você não quer falar sobre isso. Depois de tudo o que você passou, não poderia deixar você explicar toda essa merda para seção de Nova Orleans — mesmo que devêssemos, e ainda devemos. Quero
dizer, quanto pode um irmão ter acumulado em uma vida de merda, não importa em quantos anos?”
“Esse é o meu ponto, Aub,” digo. Cowboy cruza os braços sobre o peito. “É hora de fazer algo por você.” Ele abre a boca para argumentar, mas o corto antes que possa. “Nós dois sabíamos que haveria um momento
em que você encontraria alguém.” A dor que sinto no meu interior em pensar em Sia sozinha com Cowboy me faz sentir doente. “Você merece isso.”
“E você?” Cowboy pergunta. “O que você merece? Estar sozinho, porra?” Ele resmunga de frustração. “Sei que você diz que há muitos motivos para não entrar em nada com a Sia. Entendo por que você acha isso.
Mas um deles, sua condição, não deve mantê-lo para trás, Val. Muitas pessoas tem isso e vivem muito bem.”
“Não em um clube de motoqueiros. Você conhece as regras do clube. Eu seria castigado. Styx não me deixaria perto de uma motocicleta Seu pai fez disso uma regra irônica anos atrás.” Balanço minha cabeça.
“Não vai acontecer, mon frère. Por que diabos eu ficaria sem este clube?”
“Você poderia viver comigo e Sia? Não sei... talvez você seria feliz por uma vez em sua vida, caralho?”
“Você acha que as pessoas não teriam um problema com isso?”
“Foda-se as pessoas,” ele murmura, balançando a cabeça.
Frieza infunde meu sangue. “É o que meus pais pensavam, Aub.” Eu o sinto tenso quando os menciono. Porque nunca falei sobre eles. “Realmente não funcionou para eles, não é?” A simpatia inunda seus olhos.
Realmente odeio a pena do Cowboy acima de tudo. “Um cara branco, um sujeito doente de raça mista, e uma fazendeira cadela branca vivendo juntos não é, porra, normal no livro de ninguém, Aub. Alguém em
algum lugar terá um problema com isso.” Apenas esse pensamento incendeia minha raiva. “E garanto, será com eles que eles terão o maior problema. Sempre é.”
“Nós somos fodidos Hangmen! Ninguém nos dirá nada.”
“Nosso vice-presidente dirá.”
Cowboy deixa cair a cabeça em derrota. “Pensei... eu pensei que depois da noite passada... depois de te ver com ela que você mudaria de ideia.”
“Eu quero a cadela, Aub. Por assim dizer, não posso suportar isso. Mas depois de tudo o que ela passou, como diabos posso colocá-la através de mais problemas? Vou protegê-la com minha vida, mas ela não
sabe sobre minha condição. Meu passado. Minha longa lista de razões. Eu simplesmente não vou chegar com isso, ponto final.” Ligo o motor da moto. Termino com essa conversa.
“Posso apenas contar a ela sobre você. Então você não terá mais desculpas.”
Sua ameaça corre pelas minhas costas, quando digo a ele: “Não, você não contará. Você não é este tipo,” sei que é verdade. “Fique com ela, Cowboy. E quando toda essa merda com Garcia acabar…” respiro e
apenas deixo as fodidas próximas palavras derramarem. “Irei embora. É Tempo de você ter uma vida de merda, livre da minha bagagem.”
*****
Quando caminhamos para o rodeio ao ar livre, em Marble Falls, alguns dias depois, sinto-me completamente fora do fodido lugar. Cowboy ainda não está falando muito — o que é novo. Ele só me jogou algumas
palavras aqui e ali. Parece estranho. Em todos os anos que o conheço, ele nunca se distanciou de mim. Odeio cada minuto, mas sei que é o melhor.
Sia também me dá um largo espaço. Ela me encara muito. Não tenho certeza se ela se lembra de eu beijá-la na outra noite. Talvez pense que foi apenas um sonho.
“Estamos aqui,” Sia diz e vai se registrar. Ela correrá no barril hoje, alguma competição amadora que ela participa só por participar. Cowboy a ajudou a treinar nas últimas semanas. Seu braço ainda está
muito ruim, mas ele a ajudou muito mais nos últimos dias do que me ajudou. Tenho o perímetro verificado. Encontrei Smiler e Bull na minha caminhonete na estrada principal, para fazer o check-in. Nenhuma
notícia do Prez dos Diablos chamou a nossa atenção, e Garcia está quieto.
Não considero isso como uma coisa boa.
Então, estamos aqui hoje. Odeio os fodidos rodeios. Muito sangue ruim caiu na Louisiana nessas malditas coisas. Uma vez especialmente...
Como se me sentisse pensando naquele momento, Cowboy aproxima-se de mim. Ele não diz nada, mas seu braço escova o meu. Ele nunca pode ficar chateado por muito tempo. Embora desta vez tenha marcado um novo
fodido recorde.
Sia caminha até uma mesa a poucos metros de distância e começa a preencher alguns formulários. Ela parece incrível. Seu jeans e sua camisa cor-de-rosa encaixavam tão bem em sua figura que quase sorri para
ela quando saiu do seu quarto esta manhã. Ela estava tão excitante, seus cabelos longos e encaracolados caindo pelas costas, um Stetson branco em sua cabeça. Em vez disso, eu me abaixei e me certifiquei
de que nossa jornada no rodeio seria segura.
Esse é o meu novo plano. Evitá-la a todo custo.
Viking, AK e Flame também circularão na área. Olho para o que estou vestindo: uma camisa branca lisa e jeans. Claro, Cowboy encarnou o personagem, vestido com uma camisa xadrez vermelha, jeans, suas botas
de cowboy e um Stetson marrom.
“Você se parece com seu antigo eu, vestido assim,” digo e assisto um sorriso curvar em sua boca.
“Pensei isso esta manhã, enquanto me vestia. É estranho estar sem um colete, hein? Já faz tanto tempo que você quase pode fingir que os anos antes do clube não são reais.”
Nunca pude pensar nisso, mas é porque esses anos estão tatuados permanentemente no meu cérebro.
“Sim.” Abro minha boca para dizer outra coisa, qualquer coisa, mas Sia vem até nós com os papéis na mão.
“Todos se inscreveram,” ela diz. “Helen Smith está pronta para montar.” Ela ri e balança a cabeça. “Yee-fodida-haw!” Então ela revira os olhos.
Helen Smith. Seu pseudônimo. Ky, anos atrás, ordenou que usasse uma identidade falsa após o México. A escritura de sua fazenda está nesse nome, e ela também compete sob esse nome.
Sia balança desajeitadamente em seus pés sem querer quando eu não rio. Quando nenhum de nós faz. Não é só comigo que Cowboy está distante. Desde a nossa pequena conversa há alguns dias, ele se afastou
de Sia. Ainda está sorrindo – é quem ele é – mas o flerte parou. Não o vi pegando sua mão. Ele mal ri de suas piadas ou se engaja no seu habitual de um lado para o outro. Posso ver que a está matando.
Posso dizer que ela sente sua falta, pelo jeito em que espera uma reação toda vez que diz algo que ele normalmente acharia engraçado.
E entendo o que ele está dizendo. Nós dois estamos nisso ou nenhum de nós está. O idiota é tão obstinado, porra. Mas amigo melhor nunca existirá. “Então, Cher, quando você vai?” Ele pergunta.
“Em uma hora. Sou uma das últimas.” Ela olha para o trailer do seu cavalo. “Clara vai aquecer Sandy para mim.”
Cowboy assente com a cabeça. “Então vamos levá-la para o círculo de treinamento.” Arrasto-me atrás de Cowboy e Sia, procurando os rostos no rodeio. As pessoas começam a entrar. Os peões de touro e cavalos
selvagens puxam as multidões maiores mais tarde.
Nós assistimos Sia treinar sua égua por um tempo antes que seu nome seja chamado. Cowboy coloca a mão no meu ombro enquanto nos movemos para o lado do círculo principal para esperar que Sia monte. Olho
para o meu melhor amigo e vejo seus olhos brilhando com emoção.
Ele costumava viver por essa merda.
O locutor chama “Helen Smith.” Sia segura Sandy de volta ao portão enquanto espera o sinal para ir. Quando ela parte, curvando os três barris que estão dispostos em forma de trevo, eu prendo a respiração.
Cowboy grita e grita enquanto ela corta a sujeira, andando como um morcego do inferno. Quando ela começa a correr para a linha de chegada, suas pernas chutando e as rédeas saindo de um lado para o outro,
olho para a tela para ver que sua corrida a colocou no primeiro lugar.
“Fodido A!” Cowboy grita e vira para encontrar Sia. Nós a encontramos enquanto desmonta. “Cher!” Cowboy pega Sia e a segura em seus braços. Minha garganta aperta com o alívio que vejo no rosto dela. Quando
seus olhos encontram os meus sobre o ombro de Cowboy, seguro seu olhar. Estou orgulhoso da cadela. Eu assinto com a cabeça, para sua óbvia surpresa, deixando-a saber disso.
O sorriso que ela me dá em troca quase me derruba no chão.
“Não deixe que Ky veja você segurando sua irmã assim, cara.” Viro minha cabeça para ver AK e Viking caminhar em nossa direção. Flame segue atrás, olhos negros caindo sobre o lugar. Todos os três estão
vestidos com jeans e camisas. Nenhum rastro de Hangmen foi permitido — ordens de Styx.
Cowboy solta Sia. “Ela apenas cravou os tempos das corridas. Ninguém vencerá isso. Isso merece um maldito abraço de cowboy.”
Sia levanta a mão para o trio. “Ei pessoal.”
Viking dá um passo à frente. “Cadela, esse foi um passeio bom pra caralho.”
“Você viu?” Ela pergunta, radiante.
“Claro.” Vike inclina a cabeça para o lado. “As mentes inquiridoras querem saber se você pode andar bem em outras coisas?”
“Vike,” AK alerta.
“O quê?” Viking reclama, e abre os braços. “Só quero saber se ela gosta de montar coisas... coisas duras... de preferência, grandes bestas selvagens.”
“Vike,” eu também me ouço avisar.
“Eu sei,” Sia diz, fazendo minha cabeça virar em sua direção. Seus braços estão cruzados sobre seu peito enquanto olha para baixo para o Viking. Ou para cima, considerando a enorme diferença de altura.
“Mas nunca montei em nada que me derrubou da sela.” Seus olhos correm sobre o corpo dele. “Nunca tive nada forte ou grande o suficiente para superar o aperto das minhas coxas de aço.”
Viking olha para mim, então, Cowboy, e aponta direto em nossos rostos. “Estamos trocando as tarefas. Certo, agora. Eu vou para casa com ela. Vocês dois terminaram.”
“Nah,” Sia diz, nariz franzido, parecendo muito bonita. “Gosto desses dois. Eles me mantêm em expectativa.” Os olhos azuis dela brilham, e por um segundo ela me lembra Ky, loira e olhos azuis e uma atitude
maldita para combinar. Mas quase fico sufocada quando diz: “Os dois juntos…” ela balança a cabeça. “Meerddaaa... são a melhor corrida da minha vida.”
Meus olhos se arregalam. Cowboy explode rindo. A boca de Viking cai, igual a um maldito peixe. “Eles fodem um ao outro, não cadelas!” Ele diz, parecendo realmente confuso. Reviro os olhos ao ouvir a mesma
história que ouvi um milhão de vezes antes saindo da sua boca.
Sia caminha até o Viking e bate forte no seu peito. “Continue acreditando nisso, grande menino. Acredite em tudo o que o ajude a dormir à noite.” Naquele momento, percebo o quanto Sia baixou sua guarda
perto de nós. Ela é divertida, um fodido espírito livre às vezes. Mas para mim e para o Cowboy, ela também mostra quando está com medo. Ela chora, e ela é vulnerável.
Penso em como ela agia no clube; Sia, aquela que tem Viking perseguindo Cowboy por detalhes sobre nossas aparentes orgias diárias, é o que ela quer que os irmãos vejam. Uma mulher não danificada por seu
pai ausente e a vida longe do clube. Ou a mulher, tão arruinada por um homem chamado Garcia, que não deixou ninguém se aproximar nos anos. Ninguém foi autorizado a tocá-la. Inferno, pelo que posso dizer,
ela não tem amigos senão a garota que era paga para trabalhar no rancho.
Olhando para ela agora, passando por Viking, balançando os pés, o olho esquerdo piscando, você nunca saberia que ela estava tão fodida sozinha.
Meu peito aperta. Assim como eu e Cowboy.
Suspiro, e então, vejo Cowboy ocupado falando merda com o Trio Psico, em seguida, caminho ao lado de Sia. Ela claramente não esperava que fosse eu, porque quando vira a cabeça para mim, ela tropeça. Estendo
a mão e a ajudo a levantar.
“Cuidado, Cher,” digo suavemente e mordo minha língua para parar qualquer outra coisa que saia da minha boca.
Sia pisca para mim, e então seu olhar segue um caminho pelo meu braço até a mão que ainda segura seu cotovelo. Ela engole em seco, e assisto como suas bochechas ficam vermelhas. “Muito obrigada, Hush.”
Ela me olha com aqueles grandes olhos azul bebê.
Puxo minha mão para trás e a empurro no meu bolso. Sia continua andando até chegar ao limite do círculo. Chegamos a tempo de ver a corrida final do barril ao redor da pista. A outra cadela nem se aproximou
do tempo de Sia. Quando Sia vê seu nome no topo da tabela de classificação, ela sorri tanto que quase bloqueia o sol.
É um sentimento estranho, orgulho. Nunca tive muita chance de me sentir orgulhoso de alguém antes. Cowboy toma conta de mim todos os dias. Luta com alguém que até mesmo olha feio para mim. Mas é só nós.
Como vivemos durante tanto tempo, nunca mais percebi isso.
Mas neste momento, estou tão orgulhoso por essa cadela que chegou em nossas vidas como uma águia montando um furacão que não posso deixar de sorrir.
Um segundo depois, a mão de Sia segura o meu pulso, e a boca dela fica aberta em estado de choque. “Hush!” Ela diz de forma dramática. Fixo meu olhar nela. “Você pode sorrir!”
Aceno com a cabeça e passo a mão sobre minha cabeça raspada. “Raras vezes, eu sei. Mas acontece uma vez durante a lua azul.”
Sia me cutuca com seu ombro. “Isso combina com você, querido.” Seus olhos caem, e ela chuta a sujeira com bico de sua bota. “Não me importo de ver isso mais vezes.” Ela me lança uma piscadela. Então sei
que ela pegou isso do Cowboy. “E, você sabe, você é quente pra caralho, ainda mais quando você mostra os dentes perolados na direção desta garota…” meus olhos brilham, e meu interior aperta.
O locutor grita que é hora do rodeio com broncos. Olho atrás de nós e vejo Cowboy se aproximando sozinho, sem ver AK, Vike e Flame. Cowboy está quase onde estamos de pé quando alguém passa por ele, dá
uma dupla checada e depois para subitamente. Meus olhos se estreitam, tentando avaliar o que está acontecendo, quando o cara de calça marrom diz: “Aubin? Aubin Breaux? É você?”
A atenção de Cowboy volta para o homem à sua direita. O sorriso que ele usa desliza de seu rosto. No instante em que vejo quem é, estou dominado por uma raiva tão quente que quase me queima onde estou
parado. Minhas mãos tremem tão rápido que eu, na verdade, olho para os meus malditos dedos para curvá-los nos punhos. Meu peito bate enquanto levanto minha cabeça de volta para o filho da puta que ousou
falar com Cowboy. Estou explodindo. Vou destruí-lo em pedaços. Eu vou —
“Hush?” Sia diz, colocando a mão no meu braço. Mas não consigo responder. Meu coração bate muito rápido em meu peito quando assisto Cowboy reconhecer o homem diante dele. O rosto do Cowboy flameja como
se o próprio diabo possuísse seu corpo.
Cowboy lança um breve olhar para mim. Pisco, meus olhos estreitos se movendo para as tatuagens que estão passando por baixo do colarinho da blusa, as mangas... tatuagens que eu reconheceria em qualquer
lugar.
Sei que sim. Eu sei que eles desceriam por aquela estrada eventualmente.
“Foda-se cara, onde diabos você esteve?” Pierre diz, falando como se toda essa merda não tivesse acabado anos atrás. Digo a mim mesmo para me mexer. Digo as minhas pernas para correr e esmagar o nariz
do idiota em seu rosto, mas nada está funcionando. A raiva pura impede qualquer coisa em meu corpo de funcionar, porra. “Você está no Texas? É aqui que você está escondido? Sei que muita merda aconteceu
há um tempo atrás, mas nunca pensamos que você deixaria a cidade” Pierre franze a testa.
“Seus pais estão procurando por você há anos.” A boca de Cowboy se abre para dizer algo, mas Pierre olha por cima do ombro e sinaliza para alguém.
Sinto como se estivesse assistindo um filme em câmera lenta quando um rosto que nunca desejei ver novamente tropeça entre a multidão. Cowboy vira. Jase Du Pont para enquanto seus olhos caem sobre Cowboy.
Então ele corre pela multidão.
Ele. Aquele filha da puta.
Meu corpo vibra. Sinto a mão de Sia pressionada mais forte no meu braço, mas não posso ouvir nada do que ela está dizendo. Tudo o que posso ouvir é o sangue subindo pelos meus ouvidos. Tudo o que posso
ver é a maldita névoa vermelha que desce sobre meus olhos quando a marca nas minhas costas queima em fogo.
“Aubin?” Jase corre e segura o braço de Cowboy. “Fodido Aubin Breaux!”
Cowboy não responde. Em vez disso, seus olhos se encontram com os meus. Sei que se pudesse ver claramente, eles estariam silenciosamente me dizendo para acalmar a minha cabeça. Mas como posso quando esses
idiotas estão aqui? Na porra da minha casa!
“Você vai competir?” Jase pergunta, claramente não entendendo que o silêncio de Cowboy significa que ele está a um segundo de cortar sua garganta. Porque não há como Cowboy não estar perto de arrebentá-los.
Ele odeia esses putos quase tanto quanto eu. “Estou aqui com meu sobrinho. Apenas começando no circuito jovem.” Ele vira o nariz para cima. “Uma pequena competição de idiotas para você, não é? É ao que
você foi reduzido agora? Rodeios de merda no Texas. Você foi um maldito rei do rodeio uma vez. Melhor do que todos nós.”
Meu sangue cede quando olho para o idiota de cabelos escuros e com sardas. Meu pé avança, ódio puro me estimula. “Hush?” Sia entra na minha frente. Mas mantenho meus olhos nele. Aquele que pretendo matar.
“O que está errado? Você conhece aqueles homens?” A voz de Sia entra em pânico.
“O que diabos você está fazendo no Texas, Breaux? E por favor, me diga que você não tem mais nada a ver com aquele maldito vira-lata, certo? O maldito bastardo arruinou sua chance para o profissional e
lavou seu cérebro. O fodido levou você para longe de nós, o fodido manipulador. Assim como um daqueles fodidos estragaram a festa de um bom homem.” Jase cospe no chão. Sia puxa uma respiração aguda, sua
cabeça chicoteando para Jase. Suas unhas cavam na carne no meu braço. É bem vinda a fodida dor que ela causa. Um incentivo, caralho.
Os olhos de Cowboy batem no meu no instante em que a irritação do idiota é expulsa de sua estúpida boca. Jase, tenta ver o que chamou a atenção do seu velho amigo, ele gira... e seu olhar colide com o
meu.
Meu rosto é como pedra, meus olhos frios trancados sobre ele com tanta força que posso ver um pedaço de tabaco de mascar escapar de sua boca na minha presença. Ele cospe no chão novamente... o líquido
marrom atingindo o bico da minha bota. “Você deve estar brincando comigo!”
Ele puxa o braço do Cowboy. Mas antes que possa lançar outro insulto racial no meu caminho, Cowboy ergue o punho, e assim como na Louisiana quando éramos adolescentes, ele bate na cara do filho da puta.
Jase cai no chão, saltando de volta quando um monte de amigos apareceram correndo. Tirando a mão de Sia do meu braço, eu corro, a minha respiração ecoa em meus ouvidos, e paro onde ele está. Jase passa
por mim no momento em que chego. “Seu maldito mestiço fodido!” Ele sibila, então se move para mim. Jogo meu punho no rosto dele. Uma e outra vez, fazendo o osso quebrar e a carne dos meus dedos rasgarem.
Eu armo um inferno do caralho, as tatuagens do filho da puta aumentam a minha fúria. A marca em minhas costas é o meu maldito combustível.
Poucos segundos depois, escuto: “Bem, bem, que merda nós temos aqui, senhoras?” A voz estrondosa de Viking faz os filhos da puta que eu derrubaria pararem. Por tudo o que fizeram. Por todas as noites que
tiraram de mim. Para aquela noite de merda que eles...
“O que é isso? Outro amante mestiço? Você também gosta da poluição branca e negra, hein?” Jase mal consegue falar, tropeçando, o sangue inundando seu rosto fodido e feio, quando Flame salta para a frente
e derruba o filho da puta.
“Não!” Grito, prestes a jogar Flame fora do caminho quando AK puxa minha camisa. O sangue escorre do meu lábio onde um soco perdido acertou minha boca. “Leve ela pra casa porra.” Luto para me livrar do
seu aperto, precisando chegar a Jase. Precisando terminar o que ele começou há muito tempo. Precisando que o filho da puta sinta o que me fez sentir noite após a noite, até a noite em que fui para o inferno
e nunca mais voltei.
Mas AK me mantém apertado, agarrando minha garganta até eu não poder respirar. Viking também arrasta o Cowboy para longe, Flame toma seu lugar e bate os punhos nos bastardos racistas.
“Estou dizendo! Leve ela para casa agora! A última coisa que precisamos é chamar atenção, caralho.” AK nos afasta em direção a Sia. Cowboy continua olhando os garotos com quem ele cresceu, seus ‘amigos
de rodeio’.
Só os vejo como mortos-vivos andando. Quero voltar. Preciso acabar com todos eles... viro-me para ver AK me encarando. Flame e Viking estão se afastando dos homens espancados, uma multidão começa a se
formar em torno dos que estão no chão. Esses fodidos são como reis nessas coisas. Eu não me importo. Não posso dar uma merda com o que acontece comigo. Puxo minha faca da bota, então –
“Cowboy! Hush!” Sia grita, me parando. Eu me viro para vê-la ainda em pé, seu rosto branco como fantasma na cerca. Minha mão aperta o punho da minha faca. Vejo os olhos de Jase encontrarem os meus através
da multidão. Então o filho da puta sorri e eu –
“Precisamos ir,” Cowboy diz, parando na minha frente. Estou ofegante, respirando por toda a parte, enquanto deixo minha raiva me controlar, dando a Hades a permissão de levar esses idiotas de uma vez por
todas. “Val!” Cowboy cospe, vermelho. “Nós precisamos ir!” Os olhos de Cowboy caem para alguém atrás de mim. Sigo seu olhar, e vejo Sia... assustada como o inferno. Olhos arregalados enquanto me observa,
com a faca na mão. “Não deixe ela ver essa merda,” Cowboy diz apenas para meus ouvidos.
Meu corpo treme dos meus dedos do pé até a minha cabeça. Lançando a cabeça para trás, grito minha frustração, o som navegando sobre o pequeno terreno de rodeio. Ao fechar os olhos, respiro longamente e
coloco minha faca no cinto. Voltando-me para Sia, agarro sua mão, puxando-a para trás. Começo a correr. Cowboy toma a outra mão, e nós empurramos os concorrentes que esperam. Cowboy desliza na caminhonete.
Ele abre a janela quando eu e Sia entramos e grita para Clara, que está esperando no trailer. “Leve a égua de volta ao rancho. Nós já estamos indo.”
Clara parece confusa, mas faz o que dizemos. Cowboy parte para fora do estacionamento dos competidores. Dirige para a estrada e segue para o rancho. Minha perna treme, subindo e descendo. Meu sangue está
correndo por minhas veias à velocidade da fodida luz. Não consigo me acalmar. Apenas continuo vendo aqueles desgraçados na minha cabeça. Toda a merda que eles fizeram... suas fodidas tatuagens.
Sua tatuagem racista filha da puta.
“O que diabos aconteceu?” Sia pergunta, claramente abalada, a sua voz absolutamente quebrada. Sua mão treme enquanto a coloca no meu rosto. Volto a cabeça para trás e observo seus olhos se encherem de
lágrimas. “Hush... as coisas que eles disseram para você…” ela tenta pegar minha mão, mas eu me afasto. Não posso agora. Estou perdendo minha cabeça. Preciso me acalmar. Mas no instante em que penso que
aquele idiota me chamou de um maldito vira-lata, um maldito mestiço, tudo o que lutei tanto para esquecer e deixar no passado vem correndo para a superfície.
É como se eu tivesse dezesseis anos novamente. O maldito alvo que eles bagunçavam e brincavam por fodida diversão até que arruinaram a vida da minha mãe.
“Calma, Val,” Cowboy ordena do banco do motorista. Meus olhos disparam para ele, e tudo o que posso pensar é o tempo em que ele estava com eles. Rindo de mim, observando-os me socarem no chão.
Virando-me para Sia, assobio: “Pergunte ao Cowboy quem eles são.”
A cabine está em silêncio. Apenas quebrado quando Cowboy adverte, “Não. Não foda isso, Val.”
Mas não posso parar. Sei o que ele fez por mim. Sei que ele se afastou daquela merda lá e me escolheu. Foda-se, ele deixou seus pais depois que tudo aconteceu... quando os perdi... quando fiquei despedaçado...
mas não consigo me acalmar. Tudo que posso ver são suas tatuagens racistas; tudo o que posso ouvir são os fodidos insultos racistas que saem das suas bocas tão facilmente quanto respirar. Eles, vivendo
em suas mansões ricas, cavalgando seus cavalos, andando pela cidade como se fossem deuses santos. Enquanto lutamos e economizamos até... até —
Cowboy para a caminhonete na frente da casa de Sia. Saio pela porta, ignorando a tontura que estou começando a sentir. Viro para a direita então à esquerda, sem saber como tirar esses fodidos sentimentos
de raiva da minha cabeça. “Hush,” vejo Sia, as mãos em sua boca, me observando ao lado da caminhonete.
Cowboy se aproxima de mim. “Val. Estou falando sério, porra. Acalme-se. Você está se perdendo. É perigoso!” Cowboy se lança para mim e começa a me arrastar para dentro da casa. Ouço Sia correr atrás de
nós.
“Cowboy! Pare! Você vai machucá-lo!”
Mas Cowboy não para até que coloca a minha bunda no sofá. É a única vez que o vejo ser tão sério. Quando fico assim. Suas mãos pressionam meus ombros. “Calma, irmão. Por favor... acalme-se com essa merda.”
Vejo-o lançar um olhar preocupado para Sia, que está olhando, com o rosto pálido e desconcertado da porta. Mas não posso. Não posso ficar quieto. Afasto suas mãos e me levanto.
Cowboy tenta vir para mim, mas afasto minha mão. A tontura desta vez me faz buscar algo para me impedir de cair. Experimento aquele gosto metálico familiar na minha boca. Viro-me para ver Cowboy se movimentar
para mim, Sia chorando... mas meus olhos voltam para trás, então tudo fica preto.
*****
“Cowboy! Por favor, deixe-me chamar um médico!” Um nevoeiro espesso nubla minha cabeça, uma tempestade arde em minha mente quando o som de vozes mexe em meus ouvidos.
“Não, Cher,” responde a voz de Cowboy. “Ele não precisa de um.”
Escorrego novamente. Na próxima vez que volto, os sons na sala estão mais fortes. Meus olhos parecem pesados enquanto tento abri-los. Meus braços e pernas parecem pesar dez toneladas.
“Val?” Mãos se movem em meu rosto. “Val, estou aqui.” Reconheço a voz de Cowboy. Respiro e respiro até que o peso em meus olhos diminui o suficiente para abrir as pálpebras. Minha visão está borrada no
início, mas então tudo começa a desaparecer.
“Val?” O rosto de Cowboy aparece. Pisco no quarto, minha cabeça nublada e meu corpo esgotado. Estou deitado de lado, uma almofada debaixo da minha cabeça. Cowboy está de joelhos. Sua mão na minha cabeça.
“Ei, mon frère,” ele diz e respiro fundo. Aperto os olhos, tentando lembrar o que aconteceu.
Não consigo lembrar. Tudo está perdido em nevoeiro espesso e não consigo limpar da minha cabeça. Tento me mexer, mas meus braços estão muito fracos. Minha boca seca. Lambo meus lábios, e então eu a ouço.
“Aqui.” Passos se aproximaram de mim e alguém se abaixa no chão. Jeans é a primeira coisa que vejo... então sinto uma mão pressionar contra minha bochecha. Está tremendo. Olho para cima e vejo um belo
rosto olhando para mim.
Elysia, uma pausa em minha mente me diz.
Sia.
“Ei, Cher,” ela sussurra e passa a ponta dos dedos na minha bochecha. Estão tremendo. Algo no meu peito quebra quando as lágrimas começam a cair de seus olhos.
“Ele está bem, Cher,” Cowboy diz. Os olhos de Sia fecham. Sua respiração engata, perfurando um buraco no meu maldito coração. A mão de Cowboy desce sobre o ombro dela. “Ele terá sede. Sempre tem depois.”
Sia abre os olhos e se aproxima. Assentindo com a cabeça, então se aproxima de mim e coloca sua mão debaixo da minha cabeça. Quero fazer isso sozinho, mas não tenho muita energia para mudar. “Eu... eu…”
ela olha para Cowboy.
“Ele não está ferido, querida. Só cansado. Você não vai machucá-lo levantando sua cabeça.” Ouço Cowboy instruir Sia como se estivesse observando a distância. Não presente o suficiente para falar ou me
ajudar, ou diabos fazer qualquer coisa, exceto deixar suas mãos suaves tocarem minha pele, o calor da palma da mão tira a frieza que cobre meu corpo.
Sia se aproxima ainda mais. Ela levanta minha cabeça da almofada e do seu colo. Exala uma respiração longa, sentindo o calor do corpo agir como fogo em meus músculos e ossos que começam a doer. Meu corpo
está tremendo. As consequências do que agora percebo foi uma crise.
Minha consciência começa a voltar, em segundo lugar, trazendo-me de volta ao aqui e agora. Meus olhos rolam para olhar Sia, que simplesmente está acariciando minha cabeça por alguns minutos. Quando meus
olhos se encontram com os dela, ela me dá um sorriso choroso, então, rouba cada pedaço de respiração, seguro meus pulmões, quando abaixa a cabeça e aperta seus lábios contra os meus.
Tudo dentro de mim me diz para afastá-la, para mover e recusar sua ajuda. Mas não me movo. Nem tento. Estou tão cansado de fugir de todos os que tentam me conhecer melhor... estou tão cansado, ponto final.
Então apenas fecho os olhos e me deixo consolar. Deixo as mãos que desejei em mim por muito tempo acariciarem minhas bochechas. E deixo os lábios que eu quero pressionados em toda a minha pele — a cor
que é tão diferente da dela.
E me deixo aceitar que ela agora sabe. Ela sabe o que eu escondia. O que deve me impedir de andar de motocicleta. “Beba, Cher,” ela diz suavemente. Meus olhos se abrem para se concentrarem em seu rosto.
Sia inclina a cabeça para cima. Ela traz o copo para os meus lábios, e suspiro sentindo o líquido frio escorrer em minha garganta seca. Nunca afasto meus olhos de Sia. Os lábios dela tremem enquanto me
ajuda a beber. Quando Sia baixa o copo, olho por cima do ombro para ver Cowboy de pé contra a parede, observando. Seus braços cruzados sobre seu peito. Não consigo ler seu rosto. Mas penso que ele parece...
aliviado?
“Está melhor, Cher?” Sia pergunta. Não consigo encontrar forças para falar, mas posso finalmente mexer a cabeça um pouco. Eu concordo.
“Vamos levá-lo para o sofá," Cowboy diz. Meu melhor amigo vem e me tira do chão. Isso não é estranho. Perdi a conta de quantas vezes Cowboy teve que fazer isso ao longo dos anos. É por isso que não posso
nunca deixá-lo ir.
Por que ele nunca se afasta.
Ele me move para o sofá ao lado da lareira. Ele sabe que fico com frio depois. Cowboy puxa um cobertor sobre mim e se vira para acender o fogo. Sia bate nele por isso. Assisto-a, entorpecido, enquanto
empilha os troncos na lareira aberta. Eu me encolho quando o fogo começa a subir, as chamas alaranjadas e vermelhas lambendo os troncos, estalando enquanto atacam a casca. Cowboy desliza para sentar-se
ao meu lado. Sua mão vem ao meu ombro e o aperta. Não o olho. Muito ocupado ainda lutando com o nó em minha garganta e as lembranças que não tenho energia para lutar.
Meus olhos perdem foco nas chamas e, como sempre, as vozes começam a gritar na minha mente... gritos altos e agonizantes...
Eu pulo para frente, tentando subir as escadas para a porta da frente. O fogo segura meus braços, escaldando a pele em meus braços.
“Não consigo encontrar um caminho para entrar!” Aubin grita... e então eu ouço.
“VALAN!” Atiro minha cabeça para trás e olho para o sótão...
... e meu mundo inteiro se despedaça...
Sou arrancado da memória por um polegar em minha bochecha. Movo meus olhos para Sia e vejo seu rosto ficar pálido, perturbado. Seus olhos estão cheios de lágrimas. “Hush... baby... o que houve?” Cowboy
está sentado na cadeira oposta agora. Ele encontra meus olhos e me dá um sorriso compreensivo. Ele sabe que memória sempre volta para me perseguir após esses episódios. Meu irmão a revive comigo. Fica
ao meu lado.
É por isso que ele nunca deixará você ir, uma voz em minha cabeça me diz. E sei, não importa o quanto o afaste, ele nunca irá embora. Nós passamos por muito.
“Querido?” Concentro-me novamente na doce voz texana de Sia. “Durma. Você está tão cansado.” Desistindo da luta, deixo sua voz suave guiar meus olhos, sentindo sua mão na minha bochecha e seus lábios pressionando
novamente na minha boca.
E, dando-me mais paz do que jamais saberia, ela tira aquilo daquela noite da minha cabeça. Tira a tristeza que me consome tão completamente como aquelas chamas consumiram a casa de madeira frágil que chamávamos
de casa. E ela me acalma para dormir.
Livre do pesadelo.
Pela primeira vez em anos.
Felizmente entorpecido.
Capítulo sete
Sia
A respiração de Hush acalma, seu bonito rosto lentamente perdendo a tensão. Ele está dormindo, mas não consigo deixá-lo. Não posso parar de tocá-lo, certificando-me que está bem. Sua bochecha ainda está
úmida com as poucas lágrimas que caíram... pequenas lágrimas que, embora derramadas em silêncio, gritaram sua dor tanto quanto uma sirene policial numa noite calma.
Cowboy fica calado atrás de mim. Não me diz para largar seu amigo sozinho ou deixá-lo dormir. Ele me deixa ter esse momento. Tocar o outro homem, que como ele capturou completamente meu coração despedaçado.
Um homem que me afasta, mantém-me longe ... e agora sei o porquê.
"Epilepsia?" Pergunto.
"Sim," Cowboy responde. Meu coração doí com simpatia por Hush. Puxo o cobertor sobre seu amplo peito. O sangue ainda mancha sua boca pela briga no rodeio. Quando olho seu rosto novamente, acaricio a barba
que aparece no queixo, ouvindo os insultos do babaca tão alto como se ele estivesse nesta sala. Por favor, diga-me que você não tem mais nada a ver com esse maldito vira-lata... mestiço ... idiota manipulador...
"Como alguém pode dizer coisas tão fodidas?" Sinto uma poderosa onda de raiva e tristeza por Hush ouvir estes insultos.
Cowboy fica em silêncio. Viro a cabeça para olhá-lo. Deslizo a mão na de Hush. Não consigo deixá-lo. Cowboy está tenso. Seus olhos perderam o fogo. Sem me olhar, ele diz: "De onde somos... uma pequena
cidade caipira na Louisiana." Ele suspira, com a mandíbula tensa. "Você conhece o tipo. Não gosta de ninguém que não se encaixe. Cinco estrelas, bom papo e dinheiro velho. Até que a mãe de Hush conheceu
seu pai. Eles se afastaram, sabiam que não podiam ficar na nossa cidade se quisessem estar juntos. Mas depois, anos depois, eles voltaram. Com Hush... "
"E as pessoas não ficaram felizes." Olho para Hush, segurando sua mão mais forte.
"Sim." Cowboy fica em silêncio. Está observando Hush e eu com um olhar estranho nos olhos. Ele balança a cabeça. "Não direi mais nada, Cher." Ele aponta Hush. "É sua história contar... uma sobre a qual
ele nunca fala." Entendo o que ele está dizendo. Que talvez eu nunca saiba. Mas sei que é ruim. É o que posso dizer.
"Então ele não é apenas fechado por causa das crises?"
Depois de alguns segundos pensando, Cowboy diz: "Não." Pergunto-me se ele hesitou porque não quer trair o amigo. Honra, penso. Cowboy é um homem honrado. Não conheci muitos deles na vida.
"Com que frequência elas acontecem?" Pergunto, sorrindo com carinho para Hush. Seu grande corpo relaxado no sono. Não posso deixar de encarar nossas mãos unidas. Sua pele é linda. Sua cor é um caramelo
profundo. Tatuagens cobrem os braços, mas quando corro a mão sobre elas, de vez em quando, sinto uma aspereza. Nesses lugares, a tinta das tatuagens é irregular e desbotada. Encontro vários remendos semelhantes
em seus braços. Então congelo... porque, para mim, isso é mais do que familiar.
"Sempre que ele está estressado, principalmente." A resposta de Cowboy à pergunta me tira dos pensamentos. "Se ele também se irritar." Ele olha para Hush. "A perna pulando é a primeira dica. Isso me diz
que ele está estressando sobre algo. Ele fica tonto, e geralmente antes de acontecer, tem um gosto metálico na língua."
Meu interior aperta. "Ele usa medicação?"
"O que conseguimos no mercado negro. Ele precisa ser avaliado corretamente, mas não o fará porquê..." Cowboy para. Ele corre para a borda do sofá e realmente me olha. "As crises pioram ..." a visão de
Hush atingindo o chão e batendo os braços e as pernas, surge em minha mente. A visão do pesadelo é suficiente para novamente inundar meus olhos com lágrimas. "Mas é o que as crises representam para ele,
Cher. Isso é o que o faz tão fechado. Não estou dizendo que é isso. Estou esperando, porra, rezando, que ele te conte um dia. O lado físico das crises ele pode lidar. O lado mental é mais difícil."
"E elas vão impedi-lo de montar, não?" Adiciono, lembrando que há alguma regra sobre um Hangman não montar se algo está errado com ele, algo que cause problemas de saúde.
Cowboy dá de ombros. "Não acho pessoalmente que Styx dará duas merdas. Ele decidiu levar sua vida assim, então esse é o seu acordo."
Meu interior revira. "Mas Hush pode morrer."
"Nesta vida, Cher, podemos ser mortos a qualquer momento. Você sabe que lidamos com merda errada. Mas Hush se acostumou com os sinais." Ele suspira. "Eu também. É como vivemos até agora sem incidentes.
Se sente algo, ele não monta. "
"É por isso que não se mudou para a terra do clube. Por que não vive lá como o resto deles."
"Sim."
Encontro-me traçando meus dedos em um ponto áspero na pele de Hush. "Cowboy... esses pontos nos braços... onde a tinta das tatuagens não fixou bem..."
"Não é minha história para contar," ele diz com firmeza. Cowboy senta no sofá. "Ele vai dormir por um tempo, Cher. Precisa recuperar a energia. Recuperar seu corpo." Sei que devo me afastar. Deixá-lo dormir.
Mas não consigo me mover. Vê-lo no chão, Cowboy saltando e ficando ao lado dele até que a convulsão parasse, é tudo que enche minha cabeça.
Aproximando-me de Hush, sussurro: "Você pode confiar em mim, baby. Por favor, deixe-me entrar." Coloco a cabeça de volta contra a almofada do sofá e seguro sua mão, beijando cada dedo. Estou determinada
a mostrar que ele pode me deixar entrar.
Ele parece tão solitário... e eu também.
Talvez passamos ficar um pouco menos solitários juntos.
*****
O som de vozes murmuradas me puxa de um sono profundo. Estou muito quente. Chuto a perna para fora de um cobertor que alguém deve ter colocado sobre mim. Rolando, percebo que estou deitada num sofá. Quando
abro meus olhos, vejo que Hush está acordado no outro sofá. Cowboy está sentado na cadeira ao lado do fogo.
"Eu adormeci?" Pergunto. Está escuro lá fora. O fogo ainda queima. Meus olhos se movem do fogo para Hush. Ele encontra meus olhos brevemente e depois desvia o olhar. Meu coração afunda. Não... ele vai
me afastar de novo. Posso ver. A máscara dura que saiu depois da convulsão está firmemente no lugar, uma careta no rosto e os olhos encapuzados.
Seu escudo protetor.
Olho Cowboy. Mas antes que possa encontrar meus olhos, ele levanta do sofá e sai da sala. A porta que leva a varanda fecha. Não consegui ouvir a conversa que tinham quando acordei, mas posso adivinhar
o assunto.
Eu. A rejeição de Hush por mim, mais uma vez.
A atenção de Hush está de volta ao fogo. Levanto e entro na cozinha. Pego um grande copo de água para mim e outro para Hush. Entrego a água, mas não o olho. Não tenho certeza que posso, não agora. Meu
interior está em pedaços ao pensar que ele nunca me deixará segurar sua mão novamente. Ou beijar seus lábios suaves.
Não tenho ideia do que inferno tenho que fazer para passar por ele.
Vou ao banheiro e começo a tomar banho. O fogo na sala de estar misturado com o clima quente faz da casa uma droga de sauna. Não me importo, porque isso é o que Hush precisa. Ainda preciso ajudá-lo a se
recuperar.
Entro no chuveiro e deixo a água fresca escorrer por minha cabeça. Pego o sabonete e começo a esfregar a pele. Enquanto minhas mãos correm por meus ombros e os lados das minhas costas, penso em Hush. Por
uma vez, penso em outra coisa senão Juan nesses momentos. Corro os dedos sobre as marcas que tenho.
Ouço o grito na minha cabeça. Sinto o calor ardente, seguido pelo rápido aparecimento da dor. Repito tudo na cabeça, um par de olhos escuros como a meia-noite assistindo. Dando-me uma lição, ele advertiu.
Então, nenhum homem jamais ia querer o que é dele.
Minhas palmas apertam na parede de azulejos. Subo a temperatura do chuveiro para contra-atacar os arrepios que explodem ao longo da minha pele. Mas enquanto fico lá, balançando a cabeça e respirando pesadamente
para livrar minha mente daquela noite, da noite em que ele me arruinou para sempre, penso em Hush. Penso nele no chão, o corpo tremendo pela convulsão. E penso nas cicatrizes em seus braços. Tão parecidas
com as minhas.
Levanto a cabeça, inclinando meu rosto para o chuveiro. Minhas lágrimas se misturam com o fluxo e descem pelo ralo. Não tenho certeza de quanto tempo fico sob a água - tempo suficiente para me ajudar a
decidir o que farei. Saio do chuveiro e vou ao espelho. Esfrego o vapor do vidro e encaro meu reflexo. Olhos azuis me encaram. Meus cabelos molhados correm pelas costas e ombros. Mesmo depois de todo esse
tempo, ainda é difícil fazer isso. Encarar-me…
Minha, bella. Você me pertence agora... sabe que não me deixará agora que te tenho? Eu lhe darei uma boa vida. Digna de uma rainha...
A pele nas minhas costas arrepia de desgosto. Engolindo o nódulo que se aloja na minha garganta, giro lentamente, sem tirar meus olhos do reflexo. Não olhei minhas costas por meses. Então, quando as cicatrizes
vermelhas aparecem, não consigo conter o suspiro que deixa meus lábios. Não sei o que estou pensando... o que esperava encontrar desta vez. É sempre o mesmo: a feiura, a pele manchada e quebrada, texturizada
em pedaços e lombadas que sempre me lembrarão o tempo em que confiei no maldito diabo.
O diabo que agora me procura por todo o país para levar de volta ao inferno.
Nem posso piscar com o pensamento. Estou entorpecida enquanto olho o espelho, como se estudar a carne arruinada de alguma forma, revertesse o dano.
Deixo meus instintos me levarem. Alcançando a fina toalha rosa no chão, envolvo em volta do meu corpo e abro a porta do banheiro. O vapor escapa, colidindo com o ar fresco do corredor. Desço as escadas,
virando para a sala de estar. Ouço o fogo chiando, e meus passos se agarram no chão de madeira enquanto sigo até a sala. Mantenho os olhos em frente, bloqueando o medo que tenta fechar minha garganta.
"Sia?" Ouço Cowboy chamar. Está sentado no sofá onde adormeci. Ele se arrasta para a beira, mas estendo a mão para ele ficar quieto. Olhando a minha direita, encontro os olhos azuis de Hush. Sua testa
está franzida e os lábios cheios tensos enquanto me olha. Minha visão cintila quando as lágrimas costumeiras começam a escorrer por minhas bochechas. Limpando a garganta, deixo meus lábios se mexerem.
"Quando tinha dezessete anos, eu fugi," anuncio, minha voz quebrada com a dor que a memória traz a cada vez que lembro. Hush para de respirar. Seu grande corpo é uma estátua debaixo do cobertor que o mantem
aquecido. Percebo distraída que ele mais uma vez tem cor nas bochechas e vida em seus deslumbrantes olhos.
Minhas mãos apertam a toalha enquanto a agarro firmemente sobre meus seios. Mas tenho que continuar. "Eu... estava quebrada." Abaixo os olhos para o chão, encarando os grãos no piso de madeira. "Não tinha
um relacionamento íntimo com minha tia. E sempre estava chateada. Furiosa que nunca conheci minha mãe que morreu anos antes." Estremeço quando esses sentimentos voltam a minha mente. "Meu pai era inexistente
na minha vida. Ky... Ky vinha e me via o máximo que podia. Mas a guerra com os Diablos estava crescendo e ocupando a maior parte do tempo." Uma lágrima atinge meu lábio e cai na boca, a água salgada é
a alegoria perfeita para amargura que escorria da minha alma naqueles dias. "Minha tia era uma mulher amável, mas não tinha um amor real por crianças. Ela tinha muitas, e eu..." fungo e deixo meu cabelo
molhado esconder o rosto. "Estava sozinha."
"Cher," Cowboy diz. "Você não precisa ir aí agora."
Estendo uma das minhas mãos e corro o dedo pelo rosto bonito de Cowboy. Ele é dolorosamente lindo. Seus olhos são acolhedores e gentis. Não tenho certeza de ter visto olhos tão amáveis antes. Minha mão
cai. "Eu tinha uma amiga, Michelle." Suspiro. Balanço a cabeça, como se pudesse apagar seu rosto da minha mente. Livrar-me da culpa que sinto quando penso em como ela foi abandonada. Mas dou um sorriso
enquanto penso em seus modos selvagens. "Ela odiava onde vivíamos. Sempre estava me incentivando a fazer coisas loucas..."
Houve uma batida na minha janela. Tirei meu edredom e abri as cortinas. O rosto de Michelle sorria para mim. Abri minha janela e ela entrou. No segundo que me virei, ela sussurrou: "Você. Eu. México. Esta
sexta."
Pisquei de surpresa. "O que-"
"Você quer sair deste lugar. Eu também. Consegui passaportes para nós." Abro a boca para perguntar como, mas ela me cala. "Aquelas fotos que tiramos não eram apenas para merda e risada, garota. Quanto
ao resto... " ela deu os ombros. "Forjar sua assinatura de merda não foi difícil. O resto se ajeitou."
Explodi rindo, meu coração implorando para ter emoção. Michelle me arrastou até a cama. "Tudo está organizado. Tudo o que precisa agora é seu biquíni e óculos de sol."
Pensei em meu pai e como ele não conseguia dar uma merda sobre o que acontece comigo. Ky quase nunca me via, e minha tia estava longe com o trabalho mais do que estava aqui. Eu tinha meu cavalo... mas
quando pensei em fugir... pensei nas praias arenosas e no fato de que não era o maldito Texas, minha decisão foi tomada.
"Eu vou," disse. Michelle gritou e lançou os braços ao meu redor.
"Você não vai se arrepender, Sia. Será a melhor coisa que faremos!"
"Nós fugimos para o México." Fecho os olhos, lembrando de cruzar a fronteira e me sentir louca com a liberdade. Com a ideia de um novo começo fora do clube. Então lembro –
"Eu conheci Juan Garcia dois dias depois da nossa viagem." O rosto dele aparece na minha cabeça. Seus olhos escuros, pele morena e lindos cabelos pretos, curtos nos lados e perfeitamente desenhados no
topo. Dou uma risada sem humor. "Fiquei apaixonada no momento em que o vi." Imaginei seu corpo flexível e magro em calções, caminhando pela praia até onde sentamos para tomar sol. "Eu tinha dezessete anos;
ele tinha vinte e cinco. Nunca me apaixonei antes. Mal tinha namorado. Realmente não percebi quem eu era como pessoa. Como fui protegida pelo meu pai e meu irmão toda a minha vida. E não estava realmente
pronta para enfrentar a merda que sabia estar me esperando em casa. Então, quando Juan me arrebatou, fui voluntariamente."
Minha mão treme enquanto luto para segurar a toalha. "É óbvio que ele ficou tão obcecado comigo quanto eu por ele. Nunca ficávamos separados. Ele me levou a jantares em restaurantes que só podia sonhar
em comer. Os habitantes locais adoravam o chão que ele pisava... e em algum momento, eu também. Eu o amei completamente... até..." Balanço a cabeça. Somente lembrar daquele dia me deixa enjoada. "Apenas
uma semana depois de conhecer Juan, Michelle me deixou uma nota dizendo que ela se mudou para onde deveríamos viajar em seguida. Ela entendeu que achei Juan e queria que eu ficasse com ele. Ela disse que
me veria novamente em algumas semanas." Pisco, vendo a carta tão claramente na minha cabeça. Era sua letra. Reconheci isso. "Era como ela. Deixando-me enquanto ia para a próxima coisa que queria. Típico
de Michelle, então nunca duvidei disso." Um soluço rápido sobe por minha garganta, me pegando desprevenida. "Somente que ela nunca voltou. Pedi ajuda a Juan. Ele era um homem de negócios, um homem rico
com contatos. Mas não havia nada que pudéssemos encontrar sobre onde ela foi." Dou uma inspiração profunda. "Até que um dia fui procurá-lo em seu trabalho." Sorrio sem humor por minha estupidez. "E encontrei...
encontrei..."
"Basta, Cher." Cowboy levanta do sofá. "Você está tremendo. Não faça isso. Você não precisa nos dizer." Viro o rosto para olhar Hush. Sua mandíbula está cerrada e ele segura o cobertor com tanta força
que penso que irá rasgar.
"Eu não pude sair," continuo, a voz quebrando, lembrando toda a merda em que ele me colocou. "Ele me manteve em sua casa. Eu... eu não ousei contrariá-lo. Então, uma vez, eu o fiz. "
Afasto-me de Cowboy. Ele irradia raiva, seus braços grossos mostrando cada veia e músculo sob a pele dourada. Não tenho certeza se minhas pernas me levaram para o centro da sala de estar, onde ambos podem
me ver.
Onde Hush pode ver.
"Eu cometi esse erro uma vez". Respiro fundo. "Só precisou um castigo para me fazer entender que nunca mais poderia traí-lo." Fecho os olhos e quero fazer isso. Por Hush, digo a mim mesma. Penso nele no
chão, a crise tomando o controle de seu corpo. Do seu rosto depois, seus olhos me olhando com tanta necessidade, tanto desespero por conforto. Meu conforto.
Meus dedos afrouxam na toalha e a deixo escorregar até a cintura. Não quero meus seios descobertos. Sei que eles não serão o foco de qualquer maneira. Cowboy sibila atrás de mim. Mas meus olhos encontram
Hush... e seu olhar para minhas costas. "Ácido," sussurro. Sinto meu lábio tremer.
"Você é minha, bella. Vou arruinar você para todos os outros homens, exceto eu." Ele passou a ponta do dedo pela minha carne queimada. Gritei, minha voz ecoando nas paredes do grande quarto onde ele me
forçou a deitar. Meu corpo convulsionava com dor. Estava congelando em todos os lugares. Exceto minhas costas. Minhas costas pareciam estar em chamas. Queimando a pele.
Juan se moveu da cama para se agachar na minha frente. Meus olhos aterrorizados encontraram o dele. Ele passou a mão pelo meu cabelo. "Como fios de ouro," ele murmurou e deu seu sorriso devastadoramente
bonito. "Um médico virá mais tarde para ajudá-la com a dor."
"Por favor," sussurro. Não suportava a dor... não podia continuar sentindo o cheiro da minha carne queimada.
"Não, bella. Devo deixar isso mais um tempo. Só então aprenderá a nunca mais me trair." Ele se inclinou e beijou meus lábios. Sua língua empurrou dentro da minha boca e envolveu-se sedutoramente contra
a minha. Gemi, precisando que ele parasse; ele gemeu, querendo me devorar. Quando se afastou, sorriu para mim. O sorriso que me mostrava como estava obcecado, realmente estava. "Eu te amo, minha rosa negra.
Mas se me desafiar novamente, esse castigo será repetido. Ficou claro?"
"Sim", disse rapidamente. Ele apenas sorriu.
"Bom." Ele beijou minha testa. "Agora, descanse um pouco. Queremos que se cure.” Juan levantou e rodeou a cama. Pude sentir sua mão rodando pelas cobertas. "Bonito," ele disse e beijou o centro das minhas
costas... exatamente onde mais ácido foi derramado. Eu gritei, lágrimas inundando o edredom abaixo de mim. Mas essas lágrimas logo secaram quando pensei no que tinha visto para me fazer correr... o que
ele fez com ela... o que ele fez com todas elas...
Pisco voltando para o aqui e agora. Minha garganta está seca por contar o que ele fez. A sala está em silêncio. Todos olhando minha pele arruinada. Minhas pernas tremem e, quando temo que elas não suportem
meu peso, braços me rodeiam e tiram do chão. Encaro os olhos de Cowboy. Ele me embala contra o peito e me leva para o sofá. Ele me mantém perto, passando os lábios por minha testa. "Nós vamos cuidar de
você, querida," ele sussurra. Quase choro quando envolvo os braços em seu pescoço, segurando-me firmemente... e seus dedos ásperos encontram as cicatrizes do ácido. Congelo. Ninguém, exceto o médico, Juan
e eu, tocou o que mantenho bem escondido.
"Elas são lindas," ele sussurra enquanto afundo a cabeça em seu pescoço. "Porque você é linda, Cher."
Eu o seguro mais forte, inalando seu perfume. Derramo todas as lágrimas que estão presas há anos. Minha pele, que estava gelada, descongela para um tipo de dormência mais nova e quente. Lágrimas secam
para deixar um estado de paz embriagador. Embalada nos braços de Cowboy, sinto-me segura pela primeira vez em anos.
Respirando fundo, solto o pescoço de Cowboy e encontro seus olhos azuis. Ele me dá um dos seus sorrisos e acaricia o cabelo preso às minhas bochechas úmidas. Meus lábios tremem quando sorrio de volta.
"Obrigada, Cher," brinco.
Sua mão vem segurar meu pescoço. Inclino-me para seu toque, meus olhos fecham por um momento, enquanto uma respiração suave deixa minha garganta. Quando os abro novamente, é para ver Cowboy analisando
meu rosto. Então, vendo claramente o que quer que seja, ele roça os lábios contra os meus. No instante em que o provo, a tensão, a agonia e os anos de dor que sufocam meu peito irrompem por minha pele
e desaparecem como fumaça. Minhas mãos ficam penduradas em Cowboy enquanto ele acaricia meus lábios com os seus antes de puxar para trás e pressionar sua testa contra a minha.
Sua mão guia minha cabeça para deitar em seu peito. Suspiro e depois olho pela sala. Hush ainda está no sofá. As mãos ainda apertando o cobertor... mas em seus olhos azuis vejo outra coisa.
Ele me olha de forma diferente.
Seu peito sobe e desce.
Então ele começa a se levantar.
Prendo a respiração enquanto Hush se levanta do sofá. Ele para por um segundo, mas seu olhar nunca deixa o meu. Cowboy me segura no lugar enquanto Hush solta os punhos, atravessa a sala, comigo em sua
mira. Ele para diante de mim e cai de joelhos. Suas narinas abrindo, as veias no pescoço saltadas... então, com um suspiro afiado, ele se inclina para frente, segura minha bochecha e pressiona os lábios
nos meus.
Calor instantâneo explode dentro do meu peito, meu coração tão cheio que tenho certeza de que não serei capaz de lidar com sua batida rápida. As mãos de Hush são fortes e controladas enquanto ele me mantém
no lugar, exatamente onde quer. Seus lábios abrem e a língua desliza na minha boca. Gemo quando sua língua dança com a minha.
No peito de Cowboy, com sua mão correndo delicadamente pelas minhas costas, e Hush me segurando tão ferozmente contra sua boca, estou em casa. A paz toma meu corpo, e recebo isso como o beijo da chuva
após uma seca. Fico no momento, mergulho em cada respiração, toque e suspiro, enquanto Hush me beija. Quando sinto Cowboy deslocar-se debaixo de mim e afastar meu cabelo para pressionar os lábios contra
a parte de trás do meu pescoço, derreto. Eu me dou a eles, deixando-os tomarem as rédeas depois de tantos anos lutando sozinha neste mundo fodido.
Seus pesados peitos pressionam contra mim, Hush contra meus seios e Cowboy contra minhas costas. As palmas de Hush estão quentes, os polegares passando por minhas bochechas. A respiração quente de Cowboy
causa arrepios ao longo da minha coluna vertebral.
É demais, mas não o suficiente. Preciso respirar, mas me recuso a deixar que qualquer coisa me afaste de finalmente ter Hush assim. Beijando-me tão delicadamente e... amorosamente. Percebo que quero isso.
Quero Hush tanto quanto quero Cowboy desde a primeira vez que os vi. Não faz sentido. Nada faz sentido, sobre como nós três engrenamos e nos fundimos num conjunto perfeito. Mas não me importo. Neste momento,
nada mais me interessa senão sentir os dois homens contra mim, afugentando os demônios que me possuem por muitos anos.
Hush se separa da minha boca. Está sem fôlego, respirando pesadamente. Suas mãos ficam nas minhas bochechas enquanto ele me olha nos olhos. Levanto a mão trêmula e coloco em sua bochecha. Ele se apoia
no meu toque, fechando os olhos. Posso ver a guerra que ele trava dentro da sua cabeça escrita por seu rosto. Mas então ele suspira, os ombros caem, e abre os olhos.
Engulo com força, sentindo a respiração de Cowboy no meu pescoço e sussurro: "Faça amor comigo."
Os lábios de Hush se separam e as pupilas dilatam. Cowboy exala atrás de mim. Pego a mão livre e inclino meu corpo até poder ver Cowboy também. Coloco a outra palma em sua bochecha, nós três nos conectando
através de mim. Cowboy pisca, mas depois me beija. A eletricidade surge dele, passa por mim, e finalmente para Hush. Quando Cowboy se separa, a mão de Hush escorrega do meu rosto e se move debaixo dos
meus braços. Ele me levanta do sofá. Meus pés pousam no chão, apenas para Cowboy me pegar em seus braços. Seguro a mão de Hush enquanto nós lenta e absolutamente silenciosos, abrimos caminho para meu quarto.
Cowboy me coloca no centro da cama. Ele fica ao lado de Hush, e minha respiração acalma olhando para ambos. Duas almas bonitas, honestas e puras me encaram.
Sinto a respiração tremendo, nervosa com o que está prestes a acontecer. Nervosa em me entregar a qualquer um depois de ser tão ferida por Juan. O fato de que foi há dois não importa. Tudo o que importa
é a confiança que construí com ambos... eles, e saber do jeito que me sinto sobre eles reflete duas vezes em mim. Quatro mãos para me tocar, quatro braços para me segurar... dois corações para fazer amor
comigo e perseguir a escuridão.
Alcançando a toalha ainda presa na minha cintura, desato o nó e a afasto lentamente. Hush e Cowboy congelam quando ela cai no chão. O ar quente se agarra à minha pele tão segura quanto seus olhares.
Cowboy se move primeiro, meu corpo nu e imperfeito em exibição completa. Ele se ajoelha na cama aos meus pés. Ele sorri a visão me fazendo relaxar. Ele levanta a camisa sobre a cabeça para revelar seu
corpo musculoso e tatuado. Minha respiração vem rápida enquanto move a mão para o cinto e afrouxa o jeans. Cinto desfeito, ele libera os botões e os deixa abertos na cintura.
"Cowboy," murmuro, voltando meus olhos para os dele. Ele sorri mais amplamente e se aproxima. Sua boca encontra a minha, seu pesado peito me guiando para o colchão. Meu coração bate tão rápido que tenho
certeza de que irá se libertar do peito, mas me acalmo quando sinto a batida de Cowboy rápida, sincronizando uma melodia rítmica que traz consigo paz e não medo.
"Sia." Cowboy segue a boca para meu pescoço, rolando o corpo para o lado. Sua mão se move para meu estômago. Pulo com seu toque, mas relaxo quando olho para cima e vejo Hush removendo a camisa. Meus olhos
estão paralisados quando seu peito moreno coberto com tatuagem é revelado. Seu jeans já está desabotoado, o zíper aberto expondo o V tonificado de cada lado de seus quadris e o início do cabelo escuro
que segue para baixo.
"Hush," sussurro e estendo a mão. Ele balança de pé por um segundo, antes de ajoelhar na cama. Como Cowboy fez momentos antes, ele traz seu corpo sobre mim, os lábios nos meus. Gemo, provando-o novamente.
Se Cowboy é doce, Hush é temperado. Cowboy tem um aroma fresco, um musk profundo. O peito nu de Hush pressiona contra meus seios, trazendo um suspiro a minha boca. Simplesmente, mostrando que esta é uma
dança bem praticada para eles, Hush inclina-se para minha esquerda. O corpo de Cowboy sufoca meu lado direito. As mãos procuram minha pele, dedos viajando sobre os vales e mergulhando na minha pele. Bocas
e línguas que deixam arrepios em seu rastro. O fogo me queima enquanto inclino a cabeça para testemunhar Cowboy arrastando a língua por minhas costelas até que ele passa pelo mamilo direito. Minhas costas
arqueiam enquanto ele suga meu mamilo na boca e tremo. Minha mão direita agarra seu cabelo enquanto suas mãos percorrem meu estômago. Ofego, os olhos revirando enquanto seus dedos caminham entre minhas
pernas.
"Cowboy..." grito enquanto eles escorregam entre minhas pernas, subindo e descendo, fazendo com que suor brote na minha testa. Não penso poder suportar mais, mas quando sinto outra boca em meu mamilo esquerdo,
penso que vou morrer. Olho para baixo para encontrar Hush lá também. Pressão se constrói na minha coluna. Dedos, bocas e apenas a visão desses dois homens no meu corpo, adorando-me tão lindamente, é esmagadora.
Cowboy solta meu peito, os dedos escorregando entre minhas pernas. Só tenho um momento antes que os dedos de Hush apareçam em seu lugar. "Hush..." suspiro quando ele move a boca do meu peito e traz os
lábios inchados para os meus. Seu beijo é breve, ocupando-me apenas tempo suficiente para eu levantar o olhar novamente e ver Cowboy... sem jeans e acariciando o longo pau. Minha respiração engata quando
ele sobe na cama e passa a mão livre por minha perna. Ele guia minhas pernas separadas antes de ficar entre elas. As bochechas de Cowboy estão coradas e seus olhos dilatados enquanto me olha.
Ele se senta, então para de se tocar o suficiente para se inclinar e beijar minha boca. "Vou te provar, querida." Gemo, minha língua lambendo os lábios enquanto Cowboy deixa beijo após beijo, tatuando
meu corpo com sua marca enquanto rasteja cada vez mais baixo. Apenas sinto sua respiração no ápice das minhas coxas e sua língua encontrando minha carne, quando olho para a esquerda, gemendo tanto pelas
sensações da língua de Cowboy quanto pela visão que me cumprimenta.
Hush agora está nu, rastejando na cama em minha direção. Cowboy geme enquanto me lambe, o som vibrando e enviando calor para minhas bochechas. Hush acaricia o pau, assistindo Cowboy. Sigo seu olhar, mordendo
o lábio, suspirando enquanto os olhos de Cowboy encontram os meus. A mão de Hush pousa no meu estômago, antes de ir mais baixo até que seus dedos param exatamente onde Cowboy me toca com a boca. Os dedos
de Hush encontram meu clitóris. "Hush", digo, e empurro incapaz de levar o que estão dando. Sua boca pega a minha, a língua deslizando em mim. Ele está sem fôlego, eu estou sem fôlego, enquanto sinto uma
onda de prazer viajar por meu corpo. Estremeço, a boca soltando a de Hush, com a pressão aumentando entre minhas pernas. A língua de Cowboy se move cada vez mais rápido. Minhas mãos apertam o edredom enquanto
Hush beija meu pescoço, rosto e seios. Estendo a mão esquerda, precisando de algo para me ancorar enquanto subo cada vez mais alto. Meus dedos encontram a coxa de Hush, seus olhos azuis em mim e a boca
abrindo para soltar uma respiração. Minhas costas arqueiam, as pernas trêmulas enquanto continuo a subir. Então, me afasto gentilmente envolvendo a mão em torno de seu pau.
"Cher", Hush geme, os olhos fechados e dentes cerrando sob meu toque. Movo a mão, lentamente primeiro, subindo e descendo, fascinada enquanto suas bochechas se contraem e os músculos das pernas pulam.
Então me acalmo. Diminuo, quando Cowboy empurra um dedo dentro de mim. Então, gentilmente, lágrimas brotam em meus olhos com a consideração de seu toque. "Quero estar em você, Cher," Cowboy diz, abaixando
a cabeça para me lamber um pouco mais. Gemo, movendo a mão no pau de Hush.
"Por favor," digo e Cowboy ergue a cabeça. Ele lambe os lábios, as covinhas surgindo nas bochechas. "Leve-me," peço e corro o dedo por seu rosto. "Também quero você." Olho para Hush. "Antes que a noite
termine... quero vocês dois." Minhas bochechas ardem quando as palavras saem por meus lábios. Mas são verdadeiras. Faço uma pausa momentânea, sabendo que uma vez que me arriscar por esta estrada, não há
volta.
Hush se afasta da minha mão, e seu rosto está de repente diante do meu. Ele afasta meu cabelo. "Se não tem certeza..."
"Eu tenho." Pego sua mão e beijo sua palma. "Tenho certeza." Aceno com a cabeça e sorrio, e sinto a verdade por trás da minha confissão. Quero isso. Olho para baixo o corpo forte e bonito de Hush, então
vejo Cowboy, ajoelhado entre minhas pernas. Em sua mão há um par de preservativos. Ele joga um em Hush.
Assisto, borboletas nervosas voando no meu interior quando Cowboy abre o preservativo, então fica entre minhas pernas. Hush deita ao meu lado. Viro a cabeça para ele. "Hush, você não quer?"
Seus lábios pressionam contra os meus, quando Cowboy começa a empurrar para dentro. "É sobre você, querida. Agora, é tudo sobre você." Hush coloca a mão entre as minhas e minha cabeça gira. Prendo a respiração
quando Cowboy me enche. Aperto a mão de Hush com tanta força que sinto medo de quebrar seus dedos.
"Sia," Cowboy geme empurrando todo o caminho e prendendo meu corpo com o dele.
"Estou bem," asseguro, procurando respirar. Movo os quadris, tanto eu quanto Cowboy gemendo com a sensação. Cowboy se inclina e me beija. Quando a língua dele empurra em minha boca, ele move os quadris.
Minha mão livre vai para suas costas, mantendo-o perto. Hush puxa a mão da minha, mas o seguro.
"Não." Trago a mão de Hush para meus lábios, dando um beijo em uma das cicatrizes ocultas. "Também quero você nisso."
Meu coração falha quando Hush baixa a cabeça, então me olha e sorri. É o sorriso mais honesto, lindo e sincero que já me deu.
Cowboy beija meu pescoço e fecho os olhos, apenas sentindo. Ele empurra cada vez mais rápido. Hush move o corpo até que seu peito está contra meu lado. Ele está tão perto de Cowboy que seus braços se tocam.
Mas não parecem se importar. Em vez disso, Hush passa os dedos entre o peito de Cowboy e o meu, indo até parar entre minhas pernas, encontrando meu clitóris. Seus dedos rodeiam, arrancando um grito da
minha garganta quando Cowboy alcança o ponto interno que me faz perder a cabeça.
"Sim..." murmuro, me entregando completamente às sensações de que dois homens causam.
A respiração de Cowboy vem mais rápido, seus gemidos virando grunhidos rítmicos. "Porra," ele sibila, esfregando o pescoço. "Vou gozar, Cher." Cowboy enterra o rosto no meu pescoço, os quadris se empurrando
tão rápido que minhas costas arqueiam me pegando desprevenida quando gozo, luzes dançando na minha frente. Cowboy balança dentro de mim, até que se acalma, depois rola de lado. Meu peito levanta e cai
enquanto tento recuperar o fôlego. Cowboy pega minha boca, doce e suavemente, e quando a língua encontra a minha, sinto Hush levantar minha perna e se empurrar para dentro.
Não estou segura de poder aceitar algo mais. Ambos são grandes, mas Hush é um pouco mais longo que Cowboy. Engasgo quando ele empurra. Cowboy move a boca para meu ouvido e diz: "Veja." Sigo as instruções
e olho Hush.
Seus lábios estão separados, o abdômen tenso e flexionado enquanto ele me enche centímetro a centímetro. "Hush!" Grito, rolando meus quadris enquanto tento levá-lo. Mantendo-se de lado, Cowboy inclina
a cabeça e suga meu mamilo na boca. Minha cabeça vira para encarar Hush, suas bochechas coradas. Ele corre o nariz por minha bochecha. "Pode levar mais, Cher?"
"Sim," sussurro, aninhando minha cabeça em seu pescoço. Hush encaixa sua boca na minha, e quando nossos lábios começam a se mover, ele empurra todo o caminho para dentro. Afasto a cabeça e jogo meu braço
ao seu redor.
Hush grunhe baixo e diz: "Preciso me mover."
"Então se mova," ordeno e seguro fortemente enquanto suas costas flexionam, os quadris movendo enquanto ele sai e me enche de novo. Minha pele está pegando fogo, ainda tentando me acalmar do prazer que
Cowboy causou. Não desejando dar um descanso ao meu corpo, Hush, dentro de mim, começa a me excitar novamente. "Estou perto," digo, meus olhos fechando enquanto Cowboy lambe e acaricia meu mamilo e peito.
"Cher," Hush sussurra, e assim como Hush fez antes, sinto a mão de Cowboy viajar entre minhas pernas para esfregar meu clitóris. Seu pau está duro novamente contra minha coxa. Agarro-o enquanto movo a
mão subindo e descendo e ele geme.
Grito, a cabeça rolando de um lado para outro, segurando dois homens, mantendo-os comigo quando começo a escalar o que me separa do prazer. "Sinta-o", Cowboy sussurra no meu ouvido. "Sinta-o, querida.
Sinta a nós dois." Sua voz falha e sei que está gozando novamente.
"Cowboy," digo exatamente enquanto a boca de Hush se move para minha outra orelha.
"Quero você, Cher."
"Hush ..." digo, lágrimas se formando ao ouvi-lo confessar algo que nunca pensei que diria.
"Eu te quero demais."
As lágrimas caem por minhas bochechas enquanto as palavras desesperadas caem em meus ouvidos. Cowboy beija meu pescoço e Hush assume o controle da minha boca. Muitas sensações me dominam imediatamente
e me afasto, sem saber onde começo e onde Hush e Cowboy terminam. Dois gemidos me cercam, juntando-se ao prazer. Hush se acalma, a cabeça dobrada para trás e o pescoço tenso, enquanto Cowboy geme, gozando
contra minha perna.
Hush colapsa em cima de mim. "Porra," ele sussurra, a língua percorrendo meu pescoço. Afundo no colchão, meus olhos se abrindo para encarar o teto escuro. A lua filtra-se através da janela. As estrelas
são uma massa de diamantes no céu enegrecido. Aqui na fazenda, sempre se vê as estrelas. Sem a leve poluição que esconde o que deveria estar brilhando no céu para que todos vejam.
Preguiçosamente corro as mãos sobre as costas de Hush e Cowboy. Cowboy é o primeiro a levantar a cabeça e me beijar. Ele explora minha boca antes de recuar. Somente para que Hush ocupe seu lugar. Meu peito
está cheio de felicidade... tão contente que estou com medo de não ser capaz de aguentar.
Quando descobri que gostava de ambos, meu maior medo era estar atraída mais por um do que pelo outro. Meu coração foi projetado para permitir apenas um? Mas deitada aqui, beijando os dois homens que capturaram
minha alma, percebo que o coração é infinito. O amor pode se expandir e expandir. Meu coração pode aguentar tanto quanto estou disposta a deixar entrar.
Hush suspira e avança. Os olhos azuis encontrando os meus. "Você está bem?" Ele murmura. Mantenho as pernas ao seu redor, não estou pronta para deixá-lo ir, deixar que um deles se afaste.
"Sim," respondo e fico desolada enquanto recebo outro sorriso deslumbrante. Acaricio seus lábios. "Este é o meu favorito," digo. Hush inclina a cabeça para o lado. "Seu sorriso." Corro o dedo para seus
olhos. "Isso e seus olhos. Tão pálidos, parecem gelo." Olho para Cowboy, cuja cabeça está em meu ombro. "E o seu. Quase turquesa." Balanço a cabeça. "Três olhos azuis, todos diferentes. Todos com histórias
diferentes..." meu coração acelera por estarmos juntos. "São todas as fases da vida - boa, ruim e feia."
Hush pressiona sua testa na minha. Cowboy aperta a sua contra meu ombro. Ficamos assim por vários minutos, até que Hush se afasta. Fico de costas, quase quebrando quando dois braços deslizam sobre minha
cintura na esquerda e na direita.
Respiro a mistura de aromas. E espero... espero o arrependimento aparecer. Que a acusação de que simplesmente dormi com dois homens me encha de medo e vergonha. Mas, não importa o quanto espero e procuro
nas profundezas do meu coração, não encontro nada.
"Eu sinto," digo, quebrando o silêncio que se espalhou sobre nós.
"O que, Cher?" Cowboy pergunta.
Suspiro. "Paz ... eu acho." Hush acalma-se ao meu lado. Quando olho para ele, seus olhos estão fixos em mim. Dou um sorriso. "Nunca senti isso... tranquilidade." Balanço a cabeça. "Não há outra palavra
que possa usar para descrever. Paz. Não acredito que mesmo quando criança já senti."
"Como isso é?" Fico tensa quando Hush fala depois de vários momentos de reflexão. Sua voz profunda cheia de dor, o timbre rouco fazendo minha alma gritar pela agonia em que ele está.
Olho-o nos olhos e me pergunto, pela milionésima vez, o que o assombra tanto. O que causou as marcas em sua pele. O que lhe valeu o nome da estrada. E o que não pode permitir que ele seja feliz.
Sei que meus olhos brilham. Minha visão está borrada o suficiente para me dizer isso. Abaixo e seguro ambas as mãos dos meus caras. Cowboy corre o polegar por cima da minha mão. Hush está me agarrando
pela vida. Tanto contraste, penso. "Feliz." Sei que não é o mais profundo que já saiu da minha boca. Mas não há outra palavra. "Feliz," repito e olhando para o teto trago a mão de Hush aos meus lábios
e a beijo gentilmente.
"O que descobriu? No México..." a pergunta de Cowboy invade a felicidade recém-descoberta em um segundo. Ele acaricia meu ombro e dá um beijo nele. "Para te fazer querer deixá-lo? O que viu?"
Fecho os olhos e, como se tivesse acontecido ontem, estou instantaneamente lá. "Meninas." Balanço a cabeça, tentando apagar os rostos vazios da minha mente. "Muitas meninas tragicamente perdidas..."
"Maria?" Corro pela casa, meus pés tocando o chão de mármore, procurando a governanta. O sol está se pondo e Juan ainda não chegou. Estive o esperando. Tínhamos um encontro previsto para esta noite. Ajusto
a alça do sutiã sob a camisa que usava sobre meu short jeans. Ainda cheirava a ele. Estava a usando o dia todo. Eu amei.
"Sia?" Eu me virei para ver Maria entrando pelo corredor.
"Você sabe onde Juan está?"
Ela balançou a cabeça. "Ele é um homem ocupado, senhorita. Estará em casa quando chegar."
Dei um suspiro. Estava oficialmente cansada do jeito que toda a equipe de Juan falava comigo. Eu tinha dezessete anos. Juan tinha vinte e cinco anos. Sabia que a maioria deles pensava que eu era muito
jovem para estar com ele. Inferior, eu ouvia a maioria deles em espanhol, pensando que não conseguia entender. Eu não era a mais proficiente em espanhol, mas sabia o suficiente para entender o que diziam
nas minhas costas. E os não tão sutis me chamaram de Lolita. Eu nem precisava saber um pedaço de espanhol para pegar a maldita referência.
Voltei para o quarto e esperei mais uma hora. Doente e cansada de esperar por Juan, coloquei meus chinelos e sai pela porta da frente. Ao virar a esquina, vi um de seus homens - Pablo - entrando no Jeep
coberto. Decidindo numa fração de segundo que poderia dar uma volta com ele, entrei na traseira do Jeep. Sorri enquanto ele ligou o carro.
Sabia que Juan trabalhava perto. Nunca estive em seu escritório. Ele gostava de manter a vida profissional e a vida privada longe. Estava em sua casa faz dois meses agora. E nem uma vez estive em seu trabalho.
Eu entendia. Meu pai nunca me deixou ir ao clube. Inferno, Ky nunca falou sobre o clube quando vinha me ver. Estava acostumada a homens terem segredos.
Mas ficar sozinha pela terceira vez este mês me fez estourar.
Cerca de vinte minutos se passaram quando o Jeep parou. Eu me agachei, certificando-me de estar escondida pelo pano caqui do Jeep. Ouvi-o falando. O que soou como uma barreira subindo segundos depois.
O Jeep dirigiu apenas alguns metros mais antes de pararmos e o motor ser desligado.
Pablo deixou o Jeep. Esperei até não haver vozes próximas e sai da traseira. Olhei em volta. Esperava encontrar escritórios. O que me cumprimentou foi uma grande quantidade de terras agrícolas que abrigavam
vários edifícios. Um prédio maior estava no final da longa via. Onde os outros edifícios eram semelhantes a celeiros, o último era duplo. Sorri, sabia ser exatamente onde Juan estaria.
Continuei até os subúrbios sombrios dos edifícios, tentando me manter fora da vista enquanto abria caminho para onde pensava estar Juan. Havia homens com armas que patrulhavam a unidade principal. Eu não
tinha ideia do porquê. Juan me disse que era comerciante. Pelo que sei, tudo acontecia por telefone e computador.
Acabei de passar por um dos edifícios quando ouvi um grito alto vir de dentro. Meu equilíbrio vacilou quando soou novamente. Era a voz de uma mulher. Meu coração acelerou.
Fiquei enraizada no local. Medo e pânico correram por minha coluna. Na visão periférica, vi um guarda caminhando em minha direção. Sem pensar, abri a porta do prédio e entrei. Fazendo uma careta com o
cheiro pútrido vindo de dentro do prédio, passei pela parede até chegar a uma porta. Ouvi o baixo murmúrio de vozes, então uma que conhecia.
Juan.
O espanhol estava baixo e rápido. Afastei meus cabelos dos ombros, abri a porta e entrei.
O que me cumprimentou do outro lado, não esperava ver em um milhão de anos. Meninas. Filas e filas de garotas deitadas em pequenas camas, intravenosas em seus braços.
Um grito chocado escapou da minha boca. Os homens agrupados no meio da sala se voltaram para me olhar. Juan, o homem por quem estava apaixonada, olhou para meu lado.
"Sai," ele disse, uma borda escura na voz. Pressionei-me contra a porta que acabei de entrar. "Que merda está fazendo aqui?" Queria falar. Queria dizer que fui vê-lo, mas meus olhos não deixavam as meninas
nas camas. Elas tinham cores de cabelo, etnias e alturas diferentes... até que meus olhos pousaram em uma no final.
Nem percebi ter atingido o chão até que Juan segurou meu braço e me puxou para meus pés. "Michelle..." sussurrei, minha voz se quebrando quando vi seus cabelos castanhos, agora sem vida e grudado nas costas
suadas ... e seu corpo, nu e morrendo de fome. "Michelle!" Gritei enquanto tentava correr em sua direção.
Fui parada por uma mão acertando meu rosto. Minhas palmas golpearam contra os azulejos. Juan arrastou-me para ele e puxou-me do prédio para dentro do carro, esperando na frente.
"Michelle!" Gritei, mas antes que pudesse abrir o carro e correr para salvar minha melhor amiga, algo puxou meu braço. Olhei Juan. Ele segurava uma seringa. "Você é traficante," acusei. Tontura me atingiu.
Minha visão ficou turva, os batimentos cardíacos mais lentos com o que ele injetou em mim.
Juan me olhou antes de sair com o carro daquele lugar maligno. "Eu sou comerciante, bella. O produto é meramente... semântica."
Posso ouvir o tique-taque do relógio do meu quarto. Lágrimas caem em cascata por meu rosto. "Ele tinha sua amiga?" A voz de Cowboy está com um ódio que nunca ouvi nele antes.
"Ainda a tem, talvez," digo e deixo um soluço rasgar minha garganta. "Não tenho ideia se ele a vendeu, se ainda está lá... se está morta. Quando Ky e Styx me encontraram, não conseguimos chegar até ela.
Não havia tempo. Estavam quase mortos por me pegar. E pior, eles foram sem a permissão do meu pai ou do vice-presidente." Limpo minhas bochechas. "Eles arriscaram as vidas para me resgatar." Olho pela
janela. "Foi tudo minha culpa. Ela pode estar sofrendo todo esse tempo... e é tudo culpa minha." Sorrio sem humor. "Acreditei que tinha ido a outro lugar. Talvez encontrado alguém para amar também. O fato
dela não ter ligado não era um comportamento estranho para Michelle." Abaixei minha cabeça. "Fui uma maldita idiota. Andando como se fosse a dona de sua casa enquanto pensava que minha amiga estava fora
vivendo sua melhor vida. Quando na verdade, eu era apenas sua posse, e ela estava no inferno."
Hush se move sobre mim, seu rosto me encarando. "Não é sua culpa," ele diz gentilmente. Cowboy me olha. "Não mesmo," argumenta Hush. "Realmente não foi culpa dela." Ele vira para mim, deixando-me perdida
sobre o que realmente estão falando. "Vocês foram para o México juntas, viajar. Ele atacou você. É o que o fodido faz."
"Eu vi um desses lugares," Cowboy admite. "Acredite, Cher. Você não teve culpa por Michelle ser tomada. Vejo como essas coisas funcionam. Eles são malditas máquinas bem treinadas. Os Hangman são malditos,
maus para a maioria das pessoas. Mas eles? Foda-se, é outro nível."
"Eu nunca soube," sussurro, imaginando o lindo sorriso de Juan. "Eu me apaixonei por uma mentira ... e ele me fez pagar uma e outra vez."
"Nós estamos com você agora." Hush me puxa para perto, Cowboy se aproxima pelo outro lado. "Nós dois estamos com você agora."
Quero acreditar neles, mas quando fecho os olhos, o cansaço me puxa, tudo o que vejo é a luz negra da Polaroid e a cama onde minhas costas foram queimadas para sempre. E sei que não será assim tão simples.
"Sempre minha," a voz de Juan sussurra insistentemente na minha mente. "Para sempre minha."
Aos olhos de Juan, serei dele para sempre. Não importa quanto tempo passe. Ou que me apaixonei por esses dois homens. Ele ainda virá.
A sensação de paz que senti num instante é destruída em pedacinhos.
"Mi rosa negra," ele sussurra no meu subconsciente, deixando-me determinada a agarrar Hush e Cowboy enquanto puder tê-los.
Pelo maior tempo que possa ser.
Capítulo oito
Cowboy
Duas semanas depois…
“Comporte-se quando chegarmos lá.”
Olho Sia, sentada entre mim e Hush na caminhonete e coloco a mão sobre seu peito. "Quem? Eu?"
Hush sorri, com a mão na coxa de Sia. Sia levanta uma sobrancelha em minha direção. “Bem, não me preocupo com Hush. É você que não pode calar a boca. Sempre ocupada pra caralho.”
Lambo os lábios e olho na direção de sua buceta. Ela segue meus olhos, em seguida, bate em meu braço. “O quê?” Finjo surpresa quando viro para o rancho onde Sia procurou um cavalo hoje. Inclino-me para
perto. “Pensei que gosta da minha boca ocupada.”
“Cowboy!” Sia protesta, fingindo estar chocada, mas ainda assim me dá a porra de um olhar conhecedor. Aquele que diz que a cadela me ama completamente. Hush olha pela janela, o irmão vasculhando a fazenda
como um falcão. Smiler e Tank acabam de verificar o lugar. Parece seguro.
“Falo sério, Cowboy. Não foda com o veterinário, ok?”
“Ele deve manter os olhos longe de você e eu não vou.” Olho ao redor de Sia. “Certo, Val?”
O irmão apenas dá de ombros. “Ele mantém os olhos no cavalo e não teremos problemas.”
“Motoqueiros filhos da puta”, Sia murmura para si mesma, mas quando abaixa a cabeça, vejo um pequeno sorriso de merda no canto da sua boca. A cadela ama que a tenhamos reivindicado. E porra, nós a reclamamos.
Após a primeira noite em sua cama, nunca saímos. Só o tempo que ficou escasso quando o VP nos chamou. E desde que só aconteceu duas vezes, estamos bem.
Mesmo Hush não se afasta mais. Após a primeira noite que a tomamos, tinha certeza que ele encontraria uma desculpa para sumir na manhã seguinte. Em vez disso, acordei com ele fazendo amor com ela novamente,
a boca colada na dela. Juntei-me a ele, tendo minha vez. Achei que seria muito rude não participar.
Embora Hush esteja com ela, o irmão ainda não contou sobre seu passado. Não disse por que somos nômades. Nada. Nem mesmo sobre as cicatrizes. Por que seus olhos são azuis.
Gosto da forma como estamos. E porra, estou me apaixonando pela cadela. Todo dia estou mais perto. Cada porra de noite que passo com ela me acerta mais e mais. Vejo nos olhos de Hush também. Toda vez que
o pego a olhando, fica claro como o dia.
Mas quando o confrontei, perguntando quando ia dizer tudo a ela, ele só me disse para recuar e se afastou.
Volto minha cabeça para o jogo. “Clara me disse que este idiota está sempre farejando você como a porra de um cão no cio.”
“Ele não é assim!” Sia resmunga.
“Sim, bem, é melhor ele recuar se sabe o que é bom,” aviso parando a caminhonete. “Basta lembrar, estamos comprando seu negócio, ajudando-a a expandir. Somos amigos do seu irmão.” Olho para Hush. “Sei
que adora falar, mal consegue manter a boca quieta, mas lembre-se que sou o único que entende de cavalos, por isso tente ficar calado.” Pisco para meu melhor amigo; ele apenas revira os olhos.
Descemos da caminhonete e Sia assume a liderança através do portão para o celeiro. Hush e eu a seguimos. Um filho da puta de cabelos escuros está ao lado do cavalo que imagino ser o que viemos analisar.
“Helen”, ele salta, sorrindo pra caralho. Olho meu irmão e vejo seus olhos estreitos. Bom. Estamos na mesma página do caralho. “Chegou bem?”
Sia assente e abraça o veterinário. Minha pele arrepia. Foda-se, sou descontraído, nada na vida me incomoda, mas ver as mãos do imbecil na minha cadela realmente não está bem. Hush cruza os braços sobre
o peito. “Sentindo uma onda de raiva também?” Pergunto em voz baixa. Hush levanta a sobrancelha para mim. Dou de ombros, mantendo o bastardo presunçoso na mira. “Porra de emoção estranha. Isto é o que
é ser você?”
Antes que meu irmão possa falar, Sia vira e aponta para nós. “Tito, este são Liam e Michael; são investidores recentes do meu lugar. Trouxe-os para ver como fazemos as coisas.”
O veterinário parece surpreso, mas rapidamente recupera o sorriso enorme para Sia. Sinto a merda de um rosnar, mas o engulo. Sia provavelmente me baterá se eu me atrever. Minha cabeça inclina para o lado
com o pensamento. Isso soa mais atraente do que deveria, porra.
“Era hora, Hel. Disse-lhe para expandir há alguns anos atrás.”
Sia dá um sorriso tenso. O veterinário, lembrando das maneiras de bom menino, estende a mão e aperta as nossas. Quero esmagar os dedos do filho da puta, mas penso melhor. Devemos ficar sob o radar. “Tito
Gomez. Tenho um hospital de animais em Spicewood. Estou ajudando Helen nos últimos anos.” Seus olhos correm por nós dois. Sei o que ele vê. Grandes irmãos fodidos, tatuados pra caralho e que podem matar
com uma mão.
“Você está em cavalos?”, Ele pergunta, parecendo em dúvida.
“Mais a minha coisa. Michael aqui é o do dinheiro.” Aponto a égua. “Ela tem origem?” Corro a mão por sua perna e levanto seu casco, verificando tudo para ver se realmente é uma boa compra. Acabo de me
endireitar quando Gomez comenta uma tatuagem no meu braço.
“Um por cento, não é?” Tensiono, sentindo o movimento do Hush ao meu lado. “Algo a ver com motociclistas, certo? 1%?” Gomez me encara. “Você monta?”
Meus malditos olhos estreitam. Balanço a cabeça, fazendo o papel de vítima. “Nah. Homenagem ao meu avô. Ele tentou essa vida por um tempo antes de se estabelecer na criação de cavalos.”
“Sério?” Gomez diz, em seguida, acena com a cabeça. Parece que ele acredita na história. Ele aponta para a égua. “Boa linhagem.” Ele vira para Sia. “Esta será boa para você treinar. Recentemente domada.
Deve ter um bom retorno se vendê-la.”
Sia assente e vai até o cavalo. Quando olho Hush, o irmão observa o veterinário. “Vou levá-la”, Sia concorda. Ela sai com o proprietário para falar de dinheiro. Gomez a segue. Hush e eu nunca o deixamos
fora de vista. O idiota tem um enorme tesão por Sia, isso é certo. Mas, além disso, parece um cara normal.
“O que acha?”, Pergunto a Hush em Cajun francês, apenas no caso.
"Não tenho certeza. Envie seu nome para Tanner e veja o que descobre.” Balanço a cabeça, concordando em fazê-lo quando chegarmos em casa. Claro, serei o único a chamar Tanner. Se Hush tiver que interagir
com o irmão por muito tempo, ele porra perderá a mente. E não tem uma crise faz duas semanas. Este é um bom tempo para Val. E sei que é devido a uma loira mal-humorada.
Sia volta, passando a mão pelas costas da égua recém-adquirida. “Pronta?”, Pergunto.
Sia assente. “Clara pode buscá-la amanhã.”
Hush dá um passo do outro lado de Sia. Voltamos à caminhonete. Quando subimos, vejo Gomez nos vendo sair. O cara parece arruinado. Luto contra um sorriso. Isso mesmo, idiota, quero gritar. Tem dois paus
mantendo-a quente durante a noite. Você não tem nenhuma chance. Em vez disso, bato a porta da caminhonete e aceno quando saímos.
À medida que vamos para o rancho de Sia, digo: “Então? Agora que terminamos, o que diabos vamos fazer o resto do dia?”
Sinto a mão de Sia na minha coxa. Olho em volta e vejo que ela fez o mesmo com Hush. “Nós vamos foder”, digo.
E acelero a caminhonete para casa.
*****
Beijo Sia quando Hush começa a despi-la. Sia geme em minha boca, e suas mãos tentam tirar minha camisa sobre a cabeça. Dou um passo para trás, apenas afastando a boca tempo suficiente para Hush tirar seu
sutiã, antes de tomá-la novamente, gemendo quando seus dedos puxam minha calça para baixo das coxas. Chuto meu jeans, e o corpo nu de Sia encosta no meu. Hush fica atrás dela, beijando seu pescoço, as
mãos cobrindo seus seios. Minha mão corre entre suas pernas enquanto sua mão segura meu pau, acariciando-o de cima a baixo. Quando Hush geme e silva, sei que ela está fazendo o mesmo com o seu.
Começo a nos guiar para a cama. Estamos quase do outro lado da sala, quando uma voz diz da porta. “Sia?” Todos congelamos. Porque conheço essa voz. Foda-se, todos conhecêssemos a voz. Então
“Mani...?” A voz de Ky some, e sei pelos olhos arregalados de Sia que o VP está parado na porta. O rosto de Hush é de pedra, a mandíbula tensa quando olha por cima do ombro. Respirando fundo, viro, e meus
olhos vão direto para Ky.
O irmão irradia pura raiva, o lábio tremendo enquanto o rosto está vermelho.
“Ky-” Sia nos contorna para falar, cobrindo-se rapidamente com o cobertor da cama. Mas Ky a interrompe, avançando e me acertando na mandíbula. O VP vai para Hush, balançando os braços, punhos fechados,
antes de Sia ficar entre nós. Ela bate as mãos no peito do seu irmão, mas o filho da puta continua vindo.
“Filhos da puta!”, ele grita, os olhos selvagens quando avança uma e outra vez. Inclino meu queixo, deixando-o vir. Ele pode me bater quanto quiser. Sim, estou fodendo com sua irmã. Mas é mais do que isso.
Levaria uma surra se isso significasse mantê-la.
“Ky!” Sia grita. Os olhos furiosos de Ky vão para ela.
“Entre na caminhonete”, ele ordena.
“Não é o que pensa”, Sia rosna de volta. "Escute."
“Entre na porra da caminhonete!” Ky vai empurrar Sia do caminho para nos atingir de novo. Mas Sia o empurra. Ky perde o controle, pegando-a pelo braço e arrastando-a pela porta. Ele olha por cima do ombro
para nós, a morte em seu olhar. “Vão ao clube filhos da puta. Direto para a porra da igreja. Lidarei com vocês lá.” Ele para pôr um segundo, balançando no local, em seguida, arrasta Sia da casa. Vou segui-lo
quando Hush, com o rosto pálido e olhos arregalados, diz calmamente: “Basta fazer o que ele diz.”
“Ele não pode tratá-la assim! Ela nos pertence!”
Hush empurra meu peito até que bato na parede. “Só porra faça como eu digo, Aub! Pelo amor de Deus. Pela primeira vez na sua vida de merda, apenas ouça!”
Hush pega sua calça jeans e camisa e coloca as botas. Faço o mesmo, a sensação estranha de sangue fervendo me fazendo convulsionar de raiva. Olho Hush. Seus olhos estão arregalados e sua respiração vem
rápido.
Ele está com medo de sermos expulsos do clube.
“Hush”, digo, querendo afirmar que está tudo bem, mas ele apenas passa por mim para a caminhonete. Corro para a porta, vendo Ky jogar Sia no lado do passageiro da sua caminhonete, em seguida, queimar os
pneus para fora do rancho. Saltamos em nossa caminhonete, e acelero atrás deles.
Sei que meu irmão está rapidamente enlouquecendo, seus medos sobre o clube vindo a superfície. Sua perna salta numa velocidade alucinante. Eventualmente, ele bate com o punho no painel do carro e grita:
“Porra!”
Aperto a mandíbula, e depois sussurro: “Acalme-se, porra.” Quase sorrio da inversão de papéis. Apenas alguns minutos atrás queria foder o rosto de Ky.
Hush vira a cabeça para mim. “Nós seremos expulsos da porra do clube por isso. Sia parecerá uma prostituta. Que porra vamos fazer então?”
Exalo ao som do medo na voz de meu irmão. O clube é tudo para ele. “Tenho certeza que não está nas regras do clube que perdemos o colete por foder a irmã do VP. Quanto ao que acham? Bem foda-se.”
Hush sacode a cabeça. “Ky e Styx são a porra do clube. Eles são o prez e VP de todo o clube, porra, o capítulo mãe. Eles são as fodidas regras!” Hush acerta o painel novamente, os dedos sangrando pela
força. Aperto o volante, mantendo os olhos na caminhonete à frente. Vejo Sia movendo os braços. Sei que a cadela está brigando com Ky. Mesmo neste inferno fodido, não posso impedir, mas sorrio. A cadela
tem atitude. Então olho meu irmão e a expressão que tem. Meu maldito peito aperta. Porque sei que ele irá tomar toda a culpa. Como sempre faz. Sei o que se passa em sua cabeça. Ele está pensando em seus
pais. Não importa o que fazemos. Não importa onde vamos. Sempre volta a eles. O irmão não lida com essa merda. Ele a engole. Agora, deve estar se dilacerando.
Slash está no portão, e quando nos vê chegar, abre o portão. Ky faz uma parada brusca no quintal e entra pelo bar. Ele arrasta Sia, ainda descalça e apenas de robe.
Paro a caminhonete trinta segundos mais tarde e desço, Hush ao meu lado. Surgimos no meio do bar, e um milhão de malditos olhos caem sobre nós. Vejo Styx indo com Ky, e Lilah correndo para alcançá-lo.
Fins de semana no clube; a porra de um dia em família. Passamos pelo bar, indo para igreja, e alguém começa a bater palmas. Olho à minha esquerda e vejo Viking de pé. “Fodidos Hush e Cowboy comeram a irmã
do VP!”, Ele grita. “Isso merece uma porra de aplausos!”
Deixo Viking para trás e abro a porta da igreja. Hush a fecha atrás de nós. O irmão fica ao meu lado, braços cruzados, olhos imediatamente buscando Sia para verificar que ela está bem. Lilah está com ela
e Ky. Styx toma a frente, parecendo um carrasco satânico pronto para arrancar nossas cabeças de merda.
Ky aponta em nossa cara. “Você está expulso da porra deste clube.”
Inclino meu queixo para cima. Não deixarei esse filho da puta me intimidar. Quando olho para Sia, ela tem lágrimas escorrendo pelo rosto que está vermelho beterraba. “Está bem, Cher? Ele te machucou?”
Sia começa a negar com a cabeça, mas Ky rosna. “Não fale com a porra da minha irmã, imbecil!” Desta vez, quando Ky vem para mim, eu estou preparado. Meu punho acerta sua mandíbula. A cabeça de Ky voa para
o lado. Então o filho da puta sorri. Sorri com sangue escorrendo pelo queixo.
“Ky!”, Diz Lilah, fazendo com que o VP a olhe. Mas, em seguida, ele está de volta. Direto para nós.
“Eu avisei para ficar bem longe. Você sabe o que ela passou, mas mesmo assim a fode? Os dois!” Ele ri e olha para Styx. “Você nunca soube os detalhes sobre por que esses filhos da puta se tornaram nômades?”
Cada parte de mim congela quando as palavras saem de sua boca. Styx balança a cabeça; o prez é como gelo, porra de inabalável, mas nos observa com os olhos estreitos.
Não tenho ideia do que ele está pensando.
Ky sorri para nós, um sorriso sádico da porra. “São bastardos traidores, também? Mostraram quem diabos são como nos mostrou?”
Nem sequer vejo o movimento de Hush até que ele está em Ky. Hush acerta o VP, derrubando-o no chão, até Styx bater as mãos contra o peito de Hush e puxá-lo. “Você não sabe nada sobre a merda de lá!” As
costas de Hush acertam a parede, roubando-lhe a respiração. Ele se move para Ky novamente, mas fico na frente, parando-o.
“Controle-se, e dê o fora deste clube!” Ky grita se levantando. Styx o para, seu braço sobre o peito do VP.
“Pare!” Viramos nossas cabeças pela sala. Sia, com lágrimas escorrendo pelo rosto, move-se para ficar na frente do irmão, encarando seus malditos olhos. “Pare, Ky!” Ela balança a cabeça. “Cristo, sou uma
mulher crescida! Se quero foder, então fodo quem quiser!” Os olhos de Sia caem para mim e Hush, e os vejo amolecer. A cadela me atinge mais forte nesse momento do que os punhos de ferro do seu irmão podem
fazer. Porque nós não apenas fodemos. Nós três. Não foi só sexo, e nós três sabemos disso. Então seus olhos vão para Hush, meu irmão está lutando arduamente para se acalmar. Para não mostrar seu segredo
para este clube. Seu lábio treme. “Estou apaixonada por eles”, ela sussurra, e para a porra do meu coração batendo no peito.
Hush fica imóvel debaixo da minha palma. Ouço o irmão soltar um longo suspiro. Apenas para ser arruinado por
“Apaixonada por eles?” Ky rosna, puxando a atenção de Sia para ele. “Você se ouve falar, porra?”
“Por quê?” Sia argumenta. “Porque não posso ter os dois?”
Ky ri, mas não há porra de humor. “Sim, vamos ver isso. Dois irmãos, Sia? Pensei que odiava a porra do clube. No entanto, no momento em que tem dois motociclistas em sua casa, abre as pernas e os deixa
te usar como brinquedinho pessoal.” Ele se inclina para perto. “Não aprendeu a sua lição de foder com bandidos, maninha?”
Tenho que impedir Hush de se lançar em Ky novamente; porra, eu tenho que me parar. Mas não é necessário de qualquer maneira. Sia avança e acerta a bochecha do seu irmão, o som ecoando nas paredes. “Seu
idiota!” Ela rosna, seu corpo treme quando Ky endireita a cabeça e acaricia ao longo da pele vermelha. “Você é igual a ele”, diz ela, veneno escorrendo de suas palavras. “Você só está agindo como nosso
pai. Um bastardo de coração frio que não dá uma merda para mim ou o que me faz feliz, desde que seja em seus termos.” Ela ri na cara dele. “E não vamos esquecer Tiff e Jules, Ky. Lembra delas? O que acha?
As duas putas malditas que usou como seu ‘brinquedinho’ por anos.” Ela aponta para Lilah, que está mortalmente branca, segurando a parede para se sustentar. “Desculpe, Lilah. Não quero feri-la...”
“Cale a boca, Sia,” Ky adverte. “Agora!” Seus dentes cerrados e os olhos duros.
Sia se aproxima. Ela inclina a cabeça para ele. “Deve ser de família, irmão. Gostar de dois na nossa cama. Um traço dos Willis. Porra, sabemos que papai não se prende a uma vagabunda.”
Ky balança, com as mãos abrindo e fechando. “E eu diria que, tanto quanto odiava, pai tinha razão de não a deixar perto deste lugar.” Ele olha para mim e Hush, então diz a Sia, “Você se tornou apenas outra
puta que abre as pernas para qualquer irmão que lhe dá atenção... tal mãe, tal filha.”
Sia tropeça como se Ky tivesse lhe batido. “Ky!”, diz Lilah. “Retire o que disse!”
Mas Ky ignora a esposa.
Deveria saber que é o que quebra Hush. No minuto que Ky chama Sia de puta, deveria ter previsto que meu irmão quebraria.
No minuto que Ky menciona a mãe de Sia... porra, mencioná-la dessa maneira, ele me quebra e vou em direção à Sia. “Não dê ouvidos a ele”, diz ele em francês Cajun. Sia não entende essa merda, mas o irmão
está mostrando que está com ela. Que vai cuidar dela. “Ignore o que ele disse.” Meu maldito peito quebra. Hush sabe o que comentários assim são. “Você não é uma puta. Nem sua mãe.”
Sia agarra os pulsos de Hush como se ele fosse seu salva-vidas. Fico atrás dela, envolvendo o braço em sua cintura. Encontro o olhar furioso de Ky por cima do ombro de Sia. Não me importo mais. “Você não
é nada para mim”, Sia sussurra. Lilah soluça do outro lado da sala. Sia ignora e olha seu irmão. “Não fique perto de mim novamente. Fique longe do meu rancho. Fique a porra longe de mim. O que disse hoje...
sobre mamãe...” ela abaixa a cabeça, e então ergue o queixo, com lágrimas escorrendo pelo rosto. “Nunca vou te perdoar.” Ela pega a mão de Hush, em seguida, a minha. "Vamos."
Vamos nos mover, mas Styx empurra Ky do caminho e ergue as mãos. Não consigo ler sinais, nem consegui aprender. Mas Sia, embora completamente quebrada, traduz: “Ambos estão suspensos do clube. A igreja
será na próxima semana, quando os irmãos decidirão se podem ficar.”
Quando Sia termina as palavras de Styx, ela gira nos calcanhares e sai da igreja. Olho Hush, que empalidece mais a cada minuto. Sei que ele não pode estar num bom lugar. Como se me sentisse olhando, ele
levanta os olhos e assente. Ele precisa estar em casa, e rápido. Ele está muito estressado. Ignoramos a porra das pessoas no bar e entramos na caminhonete. Sia se enrola em Hush quando ligo o motor e acelero
para casa.
Que porra aconteceu?
*****
Sei que esse dia chegaria, penso ao observar Hush andando pela sala de estar. Sempre soube que chegaria o dia em que algo quebraria dentro dele. Quando algo acontecesse em nossas vidas que faria toda a
merda do seu passado voltar com força.
A partir do momento em que vi Sia, percebi como nós dois nos sentimos e soube que ela faria nossas paredes impenetráveis desmoronarem. O irmão não pode desligar as emoções para sempre.
Fico na frente dele e coloco as mãos em seus ombros. “Calma, Val. Você vai se encaixar.”
Seu rosto desintegra. Ele vira e sobe as escadas para o quarto. Sia passa por mim e vai atrás dele. Sigo-o também. Hush está sentado na beira da cama, a cabeça nas mãos. Ele balança para frente e para
trás.
Sia cai de joelhos na frente dele e tira as mãos do seu rosto. “Hush”, ela sussurra. “O que está errado?” Os olhos dela procuram seu rosto. “Isto tudo não pode ser por causa de Ky. Por favor ...” ela implora,
os olhos brilhando. "Conte-me."
Hush olha nos olhos de Sia. Sou uma estátua prendendo a respiração, esperando o que diabos ele fará. Ele abre a boca, mas, em seguida, seu maldito rosto entra em colapso e a cabeça cai.
Meu peito quebra. Porque sei que ele quer dizer a ela, mas por onde diabos começar? Por que Ky chamar Sia de puta fere meu melhor amigo tanto assim? Por que o fato de nós três estarmos juntos e Hush precisa
ser aceito de todo seu coração?
Há razões para tudo.
Vejo como Hush tenta se controlar para contar a ela. Sua perna está saltando, e sei que se continuar neste caminho, ele irá ter uma convulsão.
Então, endireito meus ombros e começo, “Conheci Hush quando tinha dezesseis anos.” Hush congela, mas Sia vira-se para me olhar, os olhos arregalados. Os olhos de Hush focam no chão, perdidos no que estou
prestes a dizer, tenho certeza. Porra, não quero que ele volte a esses dias. Mas Sia merece saber.
Nós apenas fomos suspensos do clube. No momento em que tomamos Sia tínhamos conhecimento de que poderíamos perder nossos patches. Não dissemos em palavras, mas no minuto em que tudo acabou na cama, fizemos
nossa escolha.
É hora de deixá-la entrar.
Cruzo os braços sobre o peito. Meus músculos doem de tão tensos. Respiro fundo e continuo. “Eu lhe disse antes que somos de uma pequena cidade no meio do nada em Louisiana. Um lugar onde todo mundo é exatamente
igual. Principalmente bem-sucedido, dinheiro velho...” dou de ombros. “Brancos”. Corro a mão pelo cabelo e olho meu braço, para uma tatuagem de Hades. Porque sei o que estava lá antes.
“Aub, você tem que conseguir isso, homem”, disse Jase, depois de termos competido em outro rodeio. Ele me dá um tapa nas costas. “Serei profissional aos dezoito anos, sei disso. Todos nós vamos. Essa é
a nossa fodida vida!”
Balanço a cabeça e sento na cadeira do tatuador, dando-lhe o braço. O Skinhead debruça-se sobre nós, coberto de merda nazista, e começa a espalhar a tinta na minha pele. Vejo enquanto ele marca a cruz
celta no meu braço. Jase, Pierre, Stan, e Davide já tem as deles. Davide está na lanchonete do outro lado da estrada.
As mãos de Jase estão em meus ombros, mas de repente, elas congelam. Sigo o que chama sua atenção. O novo garoto, Valan ou alguma merda, está saindo da lanchonete com seu pai. “Mestiço do caralho”, Jase
diz, os dedos afundando em meus ombros. Valan e seu pai vão para o carro. O rosto de Valan era como um trovão. Seu pai parece quebrado olhando o filho.
“Não posso acreditar que eles estão nesta cidade”, diz o tatuador, sem mover os olhos de minha pele. “Os fodidos em breve saberão que não aceitamos sua espécie, ou a puta traidora que se casou com aquele
bastardo preto e teve essa abominação de criança.”
O carro de Valan derrapa para longe, assim que Davide cruza a estrada, olhos neles. Ele irrompe pela porta, hambúrgueres na mão. “Você deveria ter visto essa merda!” Davide coloca na mesa nossa comida.
“Viu os macacos que entraram no restaurante?”
“Nós vimos,” Jase confirma.
“O fodido entrou tentando conseguir uma mesa.” Ele balança a cabeça. “Não faço ideia do que diabos pensavam. Mas Bastien recusou. Ficaram sentados ali, recusando-se a ir. Bastien ameaçou-os com a polícia,
até que finalmente levantaram e saíram.” Ele ri. “Melhor entretenimento que já vi em muito tempo, porra.”
Fico olhando a tatuagem que começa a se formar. Uma hora mais tarde tenho minha nova tatuagem. Terminamos e vamos para casa.
“Você era do poder branco?” Sia ofega, os olhos arregalados, e talvez um pouco traída, quando me encara.
Balanço a cabeça. “Não.” Mas então olho Hush e lembro do seu rosto naquela noite, ao sair do restaurante. A memória me corta onde estou. Ouvi meus velhos amigos rindo na loja de tatuagem. Sinto meu sangue
começar a ferver.
Sia aproxima-se de Hush. A mão treme em sua bochecha. Ela beija sua cabeça. “Desculpe, querido”, ela sussurra, e vejo os olhos do meu irmão fecharem. Sua pele ainda está pálida e sei que ele não está indo
bem.
“Simpatizante”, digo, chamando a atenção de Sia para mim. Sei que ela está me olhando, mas mantenho meus olhos em Hush. “A cidade não era toda da Klan. Apenas alguns estavam a fundo. Mas dizer que todos
nós compramos a ideologia é justo. Acreditávamos que branco é melhor. Nunca interagindo com ninguém de cor.”
“Cristo”, Sia exclama. “Que tipo de lugar preso no tempo é esse?”
"Exatamente isso. Uma cidade isolada no fundo de tudo.” Deslizo pela parede, minha bunda acertando o chão. Inclino a cabeça contra a parede. “Negros nunca ficavam lá, e se o fizessem, eram expulsos muito
rápido. Ódio por alguém diferente foi passado de geração em geração. Sei que não é uma grande desculpa, mas é o que é. Não se muda de mentalidade quando não se é desafiado... até Hush e seus pais mudarem
para lá.” Hush estremece e prende a respiração. “Mas eles eram piores, porque-”
“Minha mãe era branca,” Hush termina, a voz quebrada e cheia de dor. Ele levanta a cabeça, e minha garganta engrossa com a dor crua em seu rosto.
“As famílias negras eram uma coisa em nossa cidade.” Encontro os olhos do meu melhor amigo. “Mas se um casal vem para a cidade e são mestiços, um preto e um branco, é a pior merda que poderia acontecer.”
“Especialmente quando ela é enteada do homem mais poderoso da cidade. O homem mais racista.”
“Seu avô.” Sia aperta a mão de Hush. Hush olha a mão dela, e sei que ele vê. Pele morena na branca. O mesmo crime que destruiu seu mundo. Hush corre o dedo sobre o dorso da mão de Sia, então, com a respiração
instável, ele a traz para sua boca, e diz: “O amor não vê cores. Somente os corações são puros.”
Os olhos de Sia se arregalam de surpresa quando as palavras saem de sua boca. Então, quando meu irmão levanta a cabeça, sei que ele vai falar.
Finalmente. Fecho os olhos por um breve momento, sentindo o peso de ser o único que sabe seus segredos começando a diminuir.
Capítulo nove
Hush
A mão de Sia treme na minha. Sua pele é branca, levemente bronzeada pelo tempo no sol.
“Que língua é essa?”, diz ela. Meu coração começa a acelerar no peito.
“Sueco”, respondo e engulo o nó na garganta. Encaro os olhos azuis de Sia, me observando de perto. “Minha mãe era sueca.”
Ela toca meu rosto. “É onde herdou esses olhos lindos.”
Balanço a cabeça, imaginando minha mãe. “Ela era...” minha respiração para. Mas tento controlar minha merda. “Ela era típica em sua aparência, acho.” Sorrio. “Longos cabelos loiros. Olhos azuis. Pele pálida.
Ela era pequena, magra.”
“E seu papai?” Sia se inclina para beijar minha mão, que ainda está na dela. Não consigo afastar os olhos delas. Dois tons, dois tons que aos olhos de muitas pessoas nunca deveriam se tocar. Nunca deveriam
se misturar, porque levam a alguma noção preconcebida de que uma cor de pele é melhor. Mais importante. Melhor para este mundo já fodido.
“Meu pai era negro. Um músico do Mississippi.” Fecho os olhos e imediatamente ouço o som do trompete.
“Toque novamente”, digo quando Papai senta na minha cama e toca uma música que sua banda irá apresentar no show daquela noite.
Papai se inclina e verifica a porta. “Sua mãe vai me matar se não fazê-lo dormir.”
Agarro o braço dele e digo: “Por favor, só mais uma. Então prometo que vou dormir.”
Papai me beija na cabeça e depois segura meu queixo com os dedos. “Não me venha com estes olhos, rapaz. Sabe que não posso lutar com os olhos da Mamãe.” Eu sei. É como sei que ele fará do meu jeito. Meu
pai traz o bocal do trompete aos lábios e começa a tocar. Deito na cama, observando-o. Vejo o movimento na porta. Minha mãe fica ali, assistindo meu jogo com papai e sorrindo. Ela sempre finge estar brava
com ele quando demora na hora de dormir, mas então sempre a vejo na porta, escutando.
Como faz todas as noites quando sabe que a vi, ela coloca o dedo nos lábios para eu ficar quieto. Balanço a cabeça, então me aconchego no travesseiro e ouço Papai.
Ele sempre me faz dormir.
Minha visão está turva quando volto ao presente. Polegares suaves enxugam os olhos.
“Ela o amava”, Sia sussurra.
Balanço a cabeça, e viro a cabeça para ver Cowboy contra a parede, as pernas dobradas, braços sobre os joelhos, escutando. Vejo o olhar arrasado em seu rosto. Porque ele sabe que ela o amava... e o que
aconteceu por causa desse amor.
“Ela amava”, digo, a voz falhando nas duas palavras. "Mais do que tudo."
“Exceto você,” Sia acrescenta, correndo as mãos por minha cabeça raspada.
"Exceto eu."
“O que disse antes? Em sueco?”
Sinto a mão fantasma da minha mãe na minha. “O amor não vê cor. Só o coração puro.” Minha boca se move e enquanto digo a Sia, ouço a voz da minha mãe na minha cabeça. “Ela me disse depois ...” suspiro.
“Depois que eu e meus amigos o perseguimos por três quilômetros em nossas caminhonetes enquanto corria por uma estrada, acertando-o com pedras por ser mestiço.” A cabeça de Sia vira a Cowboy. Sua mão treme
na minha. Desta vez não há tristeza; é raiva.
“O quê?”, ela sussurra.
Posso ver o jeito que ela olha Cowboy agora. Como ele não é a pessoa que ela acreditava ser. E é besteira. Ele é a melhor pessoa que já conheci. Mas na verdade começou muito mal.
“Deixe-me explicar,” pego-me falando, mesmo que esteja cansado, sentindo a sensação familiar de desmoronar num lugar onde sei que minhas crises estão. Mas neste momento, não me importo, porque ela precisa
saber. Sia disse à Ky que está se apaixonando por mim e Aub. Mas a verdade é que tenho certeza que eu já a amo.
E ela precisa saber. Tenho que dizer. Estou cansado. Exausto de levar esse fardo por anos. E não a deixarei brava com Cowboy quando até ela entrar em nossas vidas, ele foi tudo que eu tinha.
Subo na cama. Sia vem deitar ao meu lado. Olho pelo quarto e Cowboy nos observa. Mas ele não se mexe. “Aub,” digo asperamente. “Venha aqui também.” Eu o vejo em guerra com o que fazer quando olha Sia.
Sia o encara, e, em seguida, estende a mão. Cowboy lentamente se levanta e atravessa a sala. Deita atrás de Sia e coloca o braço sobre sua cintura, abraçando-a. Encontro seus olhos; ele assente.
Sia pega minha mão, a cabeça no meu ombro. Olho para o teto e, em seguida, fecho os olhos, falando: “Meu avô conheceu minha avó na Suécia. Ele estava lá a negócios. Para encurtar a história, ele usou seu
charme Cajun e ela se apaixonou loucamente.” Balanço a cabeça. “Ela não sabia disso na época, é claro, mas ela foi seu maior sonho acontecendo. Um verdadeiro ariano. Meu avô a trouxe para a Louisiana...”
outro rosto surge na minha cabeça. “Com sua filha a reboque. Aia... minha mãe. Seu verdadeiro pai morreu de câncer quando ela tinha apenas um ano.”
“Aia... um nome tão bonito.” Sia corre a mão por meu peito.
Balanço a cabeça. “Ela era bonita também.” Sorrio, lembrando-me dela me contando histórias infantis de sua casa. Um país que nunca viu novamente. “Ela cresceu na Louisiana, e a família tornou-se a mais
importante por lá. Mamãe tinha apenas três anos quando se mudou. Ela era Cajun, mas minha avó sempre falou em sueco, para que ela nunca esquecesse de onde ela é. Meu avô é um homem de negócios bem-sucedido.
E agora tinha uma esposa e uma bela enteada de cabelo loiro e de olhos azuis,” os olhos de Sia estão enormes.; ela deve ter ouvido a amargura em meu tom. “Não me importa sua cor, Sia. Não significa nada
para mim.”
“Ok”, ela diz suavemente. Preciso sentir seus lábios. Preciso que ela saiba que quis dizer o que eu disse. Então pressiono os lábios contra os dela e a beijo. Ela suspira contra minha boca. Quando recuo,
falo novamente.
“Quando minha mãe tinha dezoito, ela fez uma viagem a New Orleans. Entrou num bar de jazz...” meu peito aperta. “E lá ela conheceu Dominic Durand.”
“Seu pai.”
Balanço a cabeça. “Meu pai era um músico.” Lágrimas ardem em meus olhos quando penso na nossa antiga casa, praticamente caindo e cheia de problemas. Mas não vejo isso. Só vejo a porra da minha casa. Meu
refúgio onde ninguém diz nada sobre a minha pele ou sobre meus pais. Um lugar onde sorrio, e ouço meu pai tocar sua música que eu e minha mãe dançamos.
Caminho para casa, dolorido, minhas costas ainda feridas pelas pedras que jogaram semana passada. Eles me pegaram com uma de suas caminhonetes. Em seguida, deixaram-me na estrada até eu poder levantar
e ir para casa. Levou dias para a dor amenizar. Fiquei chateado. Tão irritado com o mundo e todos nele que praticamente pulsava com ódio. Então, quando viro a esquina em direção à minha casa, paro bruscamente.
Meus pais estão na varanda, de mãos dadas. A cabeça da minha mãe em seu ombro enquanto olham os pântanos a distância. Eles estão conversando, mas não posso ouvir o que dizem. Não importa. Porque minha
mãe sorri tão grande que sei que o que quer que seja, a faz feliz.
“Puta,” aqueles caras ofenderam minha mãe. “Vagabunda imunda. Cadela.” Cerro a mandíbula. "Mestiço. Vira-lata,” eles xingaram ao me derrubar.
“Eles se apaixonaram.” Tento não desmoronar com a lembrança deles na varanda. Como estavam felizes... ao contrário da última vez que os vi. “Minha mãe ia para Nova Orleans ver meu pai, mas meu avô a impediu
quando era hora dela casar com outra pessoa. Alguém que ele escolheu.” Sorrio amargamente. “Ele não tinha ideia de que ela ia ver um homem negro.”
“Ele escolheu alguém branco para ela casar,” Sia supõe.
Balanço a cabeça. Então sorrio. “Meu pai, teimoso como é,” limpo a garganta, “era, foi encontrá-la depois de um telefonema desesperado. Ele deixou tudo e veio buscá-la. Chegou a essa cidade caipira e caminhou
até sua porta e pediu para vê-la.” Sorrio, imaginando este dia. “Meu avô quase teve um ataque cardíaco. Mas quando minha mãe o viu...” sorrio, lembrando-me de todas as noites onde me contaram esta história.
Quando estava doente, isso me fazia sentir melhor. Quando estava triste, isto me animava. Agora? É só uma merda que me destrói, saber que foi o começo do fim para eles. Tudo porque se amavam.
“Eles fugiram.” Seguro uma mecha do cabelo de Sia e brinco com ela entre meus dedos. “Eles fugiram e se casaram. Mamãe tinha apenas dezoito anos. Meu pai tinha vinte.”
“Eles fizeram isso.” Um enorme sorriso surge em sua boca. “Eles ignoraram todos os outros e fizeram isso.”
Balanço a cabeça. “Nós ficamos próximos, não podíamos nos dar ao luxo de ir muito longe.” Suspiro. “Em retrospectiva, acho que a verdadeira razão foi que minha mãe simplesmente não conseguia se afastar
de sua mãe. Acho que ela sempre esperava o dia onde se encontrariam e seria aceita de volta na família. E, claro, meu pai teria feito qualquer coisa por ela, embora, na verdade, devêssemos ter ido para
Nova Orleans com sua música.” Tenho que sorrir um pouco com isso. “Meu pai teve trabalho onde pode. Ele cuidou de nós. Embora estivéssemos numa terra pobre, ele trabalhou. Eu amava minha vida. Dinheiro
não era nada para nós.” Uma bola de chumbo se forma no meu estômago. “Quando tinha dezesseis anos, soubemos que minha avó teve um acidente vascular cerebral.” Lembro do rosto de minha mãe naquele dia,
e o telefone caindo de sua mão.
“Temos que voltar”, meu pai disse enquanto minha mãe chorava em seus braços.
Então o fizemos.
Sia dá um beijo na minha bochecha, e sei que ela entende que este é o momento onde a história não fala sobre o amor vencendo tudo. “Eu tive convulsões desde os onze anos. Apenas começou num dia, e nunca
parou. Sei que o diagnóstico de epilepsia destruiu o coração da minha mãe, mas ela queria o apoio de sua mãe. Mas quando voltamos, meu avô não a deixou vê-la.” Balanço a cabeça e cerro os dentes. “A cidade
era rica, e nós não. Meu pai tentou conseguir um emprego, mas ninguém quis contratá-lo. Meu avô deixou essa porra bem clara. Então ele tinha que viajar quilômetros a cada semana apenas para tocar em bares
e lugares que não davam a mínima para seu talento.”
Respiro fundo tentando me acalmar. “Nossa casa era uma piada, mas era nossa. Longe da cidade, mas perto o suficiente para podermos ir lá. Mamãe me ensinou em casa. Mas havia um grupo de crianças, filhos
dos ricos mais bastardos e fascistas que já existiram...”
Com o canto do olho, vejo Cowboy apertar Sia. Ele encontra meus olhos, e posso ver uma dor do caralho e arrependimento me encarando. Sia respira rápido, e sei que ela pode dizer que isso é onde Cowboy
aparece.
“Homens de rodeio.” Imagino Jase, Stan, Davide e Pierre. “Esses filhos da puta me odiaram desde o momento em que me mudei para a cidade. Mestiço, vira-lata e tudo mais que pudessem achar, era jogado em
mim sempre que nos víamos.” Sinto uma mão na minha coxa e sei sem olhar que é Cowboy. Ouço a borda na minha voz. Sinto o sangue escaldante correndo por minhas veias. Sei que ele tenta me impedir de perder
o controle e ter uma convulsão.
Mas não me importo.
“Eles regularmente me encontravam andando para casa da cidade-”
Sia olha Cowboy. “Você estava lá também?”
“Sim.” Cowboy encontra seus olhos. "Quase o tempo todo."
“Você...” ela engole em seco e consegue perguntar: “Você o chamou desses nomes?”
“Às vezes”, ele murmura, e vejo o choque no rosto de Sia.
“Não tanto quanto o resto”, digo, vindo em sua defesa. E é verdade. Ele não fez.
“Mas eu fiz.” Cowboy abaixa a cabeça. “Não é desculpa, eu sei, mas não conhecia nada diferente. Ouvi por toda a vida que branco é a única cor de valor. Nunca estive em torno de pessoas de cor. Meus pais...”
ele solta uma respiração rápida. “Agora sei que não são boas pessoas. Não são maus. Só ignorantes e em seu próprio mundo e dinheiro. Eles não foram os melhores pais, mas eram tudo que eu tinha. Eu os ouvia.
Confiava neles.” Ele levanta a cabeça, um pedido de desculpas em seu olhar que vi um milhão de vezes. “Eu acreditava naquela merda. Fiz amizade com filhos de seus amigos que tinham os mesmos valores. Não
percebi até mais tarde que o que fazia era errado.” Ele suspira. “Sempre apenas fui com o fluxo. Mas com Jase e os outros, esse caminho seguiu a direção errada, porra.”
Cowboy para de falar, então continuo de onde tinha parado. “Eu tinha um trabalho de tempo parcial numa fazenda fora da cidade, e todas as noites esses filhos da puta me insultavam por seis quilômetros
enquanto caminhava para casa, gritando de suas caminhonetes. E toda noite eu tinha uma convulsão. Eles nunca souberam, é claro. Então, uma noite...” fecho meus olhos. "Uma noite…"
“Tudo mudou,” Cowboy diz. “Eles foram longe demais.”
E assim, volto ao passado...
Minha respiração fica difícil enquanto corro. Corro pela floresta. Posso ver os faróis me perseguindo enquanto tento fugir. Mas é inútil: há duas caminhonetes, uma de cada lado. Corro até que mal sinto
minhas pernas. Saio através das árvores e vejo um celeiro abandonado.
Olho em torno, tentando encontrar uma maneira de fugir, mas não há. As caminhonetes param, e as dores aumentam. Recuo até que não posso fazer nada além de me defender. Jase vem primeiro. “Bem, bem, olha
o que temos aqui, rapazes. Apenas pegamos um mestiço.”
Eles estão todos lá. Todos, menos Aubin Breaux. Meu coração acelera no peito, minhas pernas tremem, mas não os deixo verem. Nunca darei aos idiotas esse prazer.
Davide e Stan vem para mim, agarrando meus braços. Luto para fugir, chuto, mas eles me seguram firme. Jase vem até mim, seu Stetson na cabeça como sempre. Então, sorrindo, ele levanta o punho e atinge
meu rosto. Minha cabeça cai para o lado, e sangue se acumula na minha boca. Rolo a cabeça de volta para Jase, que me encara. Ele cruza os braços. “Huh.” Ele se inclina para estudar meu rosto. “Eles sangram
vermelho. Quem porra diria isso?”
Davide e Stan riem e esperam que seu líder decida o que fazer. O rosto de Jase se transforma com ódio, e ele diz, “Amarrem-no.”
Pierre, que esperava numa caminhonete, pega uma corda e coloca numa árvore. Davide e Stan me arrastam para lá. Luto com eles novamente, mas é inútil. Jase pega a corda de Pierre. Ele a olha, depois para
mim. “Meu pai contou sobre os bons e velhos tempos. Linchamentos. Ouviu falar deles?”
Sinto o sangue escorrer do meu rosto. Sei que o filho da puta deve ter visto meu medo, porque ele se aproxima. E sorri. Ele joga a corda de volta para Pierre. “Amarre-o a árvore.”
Davide e Stan me jogam contra a árvore fina e estendem meus braços. Jase chuta minhas pernas e caio de joelhos. A casca da árvore machuca meu rosto, cortando o lábio. Alguém amarra minhas mãos para que
abracem a árvore.
Perco o foco enquanto olho a floresta, sentindo alguém rasgar minha camisa e expondo minhas costas. Ouço mais do que posso ver. Ouço o som do tilintar de metal perto das caminhonetes. Ouço um som que eu
não posso identificar... então seus passos voltando para mim. Vejo botas pretas primeiro. Em seguida, minha cabeça é virada por alguém. Jase está perto... e em seus braços está um ferro em brasa. O tipo
usado para marcar gado. Começo a lutar contra a corda quando vejo a ponta laranja.
O som de antes tinha que ser um maçarico.
“Cai fora”, rosno.
Jase vira a ponta do ferro em minha direção... e vejo a marca no final. “N.” Meu corpo começa a tremer. Jase, sem outra palavra, fica atrás de mim... e então eu grito. Mordo a língua, tirando sangue, quando
o ferro é pressionado nas minhas costas. Meu corpo treme; minha pele parece ser incendiada. Meus braços lutam e minha mandíbula quebra de quão forte a aperto. Meus olhos reviram enquanto luto pela consciência.
Ouço vozes, em seguida, motores partindo.
Cada parte minha treme enquanto mergulho na escuridão. A madeira do celeiro ao meu lado range, balançando levemente no vento. Minha visão está turva, e sinto-me desmaiar. “Não”, sussurro, sentindo o que
sei ser um ataque vindo. Tento mover as pernas, só para fazer algo. Para tentar me libertar, mas cada vez, minhas costas lançam uma dor tão excruciante através do corpo que quase desmaio.
De repente, uma luz brilha a minha volta. Ouço o som de uma caminhonete. Tento lutar para me levantar, pensando que voltaram. Tento virar a cabeça, a vertigem ficando pior e pior, então ouço, “Que porra
é essa?” Passos vem em minha direção, e um rosto aparece.
Aubin Breaux, meu cérebro diz enquanto o gosto metálico familiar da convulsão enche minha língua. Tento abrir minha boca, tento dizer-lhe para ir embora, mas tudo fica escuro ...
O silêncio na sala é ensurdecedor quando paro. Ouço uma fungada, e quando olho para baixo, Sia está chorando, agarrando meu braço. “Vire”, ela pede, com a voz embargada.
Eu sei o porquê. E por mais que não queira que ela veja, quero que ela entenda...
Olho pela janela como Sia levanta minha camisa. Seus dedos se movem por minha pele, e sei que quando ela encontra a cicatriz que nunca sumirá, sob a tatuagem dos Hangmen. Ela traça o lugar perfeito “N”
nas minhas costas. Não há necessidade de explicar o que representa. Ela sabe. E não quero dar-lhe o poder, dizendo essa merda em voz alta.
Estou prestes a rolar quando sinto a boca de Sia dando beijos na pele arruinada, subindo e descendo, seguindo a forma da letra. Quando ela para, viro-me para deitar novamente. Segurando seu cabelo, eu
a puxo para um beijo. Os lábios dela tem gosto de sal pelas lágrimas.
“Está tudo bem, querida”, sussurro contra seus lábios, em seguida, dou beijo após beijo ao longo de sua face.
“Não, porra não está.”
Tenho que sorrir. Mesmo dilacerada por ouvir a merda que passei, ela ainda é tão mal-humorada como sempre.
“Mas já passou.”
Seus grandes olhos azuis me encaram. "O que significa? A palavra que me chamou?”
A porra do meu peito aperta. “É um termo sueco de carinho. O que diz a alguém que cuida.” Dou um pequeno sorriso. “Minha mãe sempre disse para meu pai.”
"É lindo."
“Então se encaixa.”
Cowboy senta na ponta da cama, costas retas, a cabeça entre as mãos. Ele foi levado para longe de nós. “Aub,” chamo. Suas costas tensionam.
Ele não diz nada. Sia vira e coloca a mão em suas costas. Seus músculos se movem. “Você o ajudou, não é?”, ela pergunta.
Espero meu melhor amigo falar. Quando não o faz, nem sequer se vira, eu digo: “Acordei em sua caminhonete.” Olho para Cowboy. “Eu estava deitado apoiado em meu peito. Não tinha ideia de onde estava em
primeiro lugar. Estava numa caminhonete, viajando para algum lugar. Eu não conseguia juntar nomes ou rostos, por causa da convulsão. Mas vi um cara dirigindo e usando um Stetson. Pouco a pouco as minhas
memórias voltaram...”
Meus músculos tensionam quando lembro de Jase... lembro da marca. Gemo quando a queimadura nas costas me atinge com tanta dor que não posso ver direito.
“Merda”, diz o rapaz, em seguida, vira o rosto. Pânico misturado com fúria me atinge. Aubin Breaux está me levando a algum lugar. Quebro a cabeça tentando lembrar se ele estava lá. Vejo cada um dos rostos
dos babacas... mas o seu está faltando.
Tento me mover. O que eles farão comigo agora?
“Valan”, ele diz, virando a cabeça brevemente em minha direção, enquanto tenta manter os olhos na estrada. “Vou levá-lo para casa. Não vou te machucar. Vou levá-lo para casa.” Sei que meus olhos estão
arregalados quando ele me encara. “Eu juro.” Ele engole em seco. “Eu não sabia que ele ia fazer essa merda, ok? Fiquei preso no rancho, não recebi a mensagem de Jase para encontrá-los mais tarde. Eu...”
olho pela janela quando fazemos uma curva. O balanço ds caminhonete num caminho irregular me faz apoiar a cabeça no assento apenas para aguentar a dor. “Eu não sabia que tinham planejado isso. Não pensei
que iriam tão longe.” Aubin para a caminhonete e estreita os olhos. “Esta é sua casa?” Não posso ver. Seu rosto fica vermelho; posso vê-lo à luz da caminhonete. “Casa de madeira pequena. Ao lado dos pântanos?”
O fodido está envergonhado por descrever minha casa.
Antes que possa responder, ouço a batida de uma porta e pés cruzando a terra. “Val?” Fecho os olhos, ouvindo a voz de minha mãe.
Aubin sai da caminhonete. “Senhora, houve um incidente. Ele está machucado.”
“O quê?”, ela diz, a voz estridente. A porta da caminhonete abre atrás de mim, mas fecho os olhos. “Valan ...” minha mãe para de falar, lágrimas cortando suas palavras. "Meu Deus! O que fizeram...?”
Braços gentilmente me levantam. Grito de dor quando sinto meu pai me segurar. “Está tudo bem, filho.” Ele me puxa para seu peito. Estou suando, meu corpo inerte e exausto.
Pego os olhos de Aubin Breaux quando passo por ele. Seu chapéu está na mão, e os dedos correndo através do cabelo. Minha mãe corre para mim e beija minha cabeça. Lágrimas escorrem por seu rosto. Sua mão
está sobre a boca. “Eles o amarraram a uma árvore”, explica Aubin. Minha mãe o olha enquanto meu pai me leva para a casa. “Quando cheguei lá... depois... quando o encontrei.” Aubin para de falar. Ele encontra
meus olhos quando meu pai me leva. “Algo estava errado com ele. Ele desmaiou, e seu corpo começou a tremer.”
Minha mãe estende a mão para Aubin. “Obrigada, filho. Você é um bom rapaz."
Ele não é, quero discutir. Ele é um deles. Mas meu pai me leva para dentro antes que eu possa ...
Sia fica de joelhos e envolve os braços ao redor de Cowboy por trás. “Você é um bom homem, Cowboy.”
“Eu não sou.” A porra do meu coração cai ao ouvir sua voz. “Eu deveria ter colocado um fim a essa merda antes de chegar a esse ponto. Nunca deveria tê-los deixado fazer absolutamente nada com ele.”
“Você mesmo disse, você não sabia. Mas ajudou quando importa,” digo, e desta vez, meu irmão vira a cabeça e me olha. “Então ele voltou. Depois de alguns dias, houve uma batida na porta. Minha mãe esperava
ser a polícia. Nós denunciamos, é claro, mas nada foi feito. A polícia naquela cidade pertencia a essas famílias.”
"Então o que?"
“Minha mãe entrou no meu quarto, me dizendo que tinha uma visita.” Balanço a cabeça. “Eu não tinha amigos, então não tinha ideia de quem diabos era.” Aponto para Cowboy. “Então ele entrou, cheirando a
cavalos, com um olhar fodido no rosto para eu me atrever a expulsá-lo.” Bufo uma risada. “Deveria saber que ele ficaria me rodeando para sempre.”
Cowboy sorri de volta, mas não é seu sorriso habitual. “O imbecil me disse para dar o fora.” Cowboy baixa a cabeça com culpa. “Eu merecia, mas-”
“Minha mãe o deixou ficar. Ela fechou a porta do quarto. Eu ainda só era capaz de ficar apoiado em meu peito. Eu o observei como um falcão quando ele sentou na minha mesa.”
“Que porra você quer?” Meu pulso está acelerado, coração voando quando Aubin Breaux entra na minha casa, olhando para o que seus amigos fizeram.
Ele brinca com o chapéu. “Queria verificar se estava bem.”
“Saia,” digo novamente.
Ele me dá um olhar arrogante. “Sua mãe disse que posso ficar.”
“Por quê?” Rosno, estremecendo enquanto minhas costas vibram de dor quando tento me mover. "Por que quer saber?"
Aubin dá de ombros. “Não sei.” Ele baixa a cabeça. “O que há de errado com você?” Ele olha minhas paredes, as fotos das Harleys antigas. “Prefiro Choppers.”
“Isso explica muita coisa,” rosno. Mas o filho da puta sorri, e meus olhos se estreitam. Não sei o que fazer com isso.
Sua expressão fica séria. “Realmente... Valan...” meu nome soa estranho vindo de seus lábios. "O que tem?"
Viro para olhar pela janela. Mamãe teve que mantê-la fechada pelos últimos dias. A brisa parece lâminas de barbear, uma vez que atingem minha carne crua. Meu quarto parece muito abafado agora. Mas estou
preso aqui.
“Valan?”
"Por quê se importa? Então pode voltar para seus amigos e dizer-lhes? Assim, pode usá-lo contra mim?”
“Eu não os vi”, diz ele, em seguida, corajosamente encontra meus olhos. Ele suspira. “Não sei se vou continuar com eles.” Levanto a sobrancelha. “Não tenho certeza se posso, não depois do que fizeram.”
"Por quê se importa?"
“Não sei.” Ele dá de ombros. “Só não parece bem para mim. Não sabia que iria me incomodar tanto assim até que o fizeram.”
Minha mãe abre a porta e traz algumas bebidas. “Aubin”, diz ela e entrega-lhe um copo.
“Obrigado, senhora.”
“Então, Aubin? Qual é seu sobrenome, querido?”, pergunta minha mãe.
“Breaux, senhora. Aubin Breaux.”
O rosto de Mamãe perde a cor. “Eu conheço seus pais.” Ela força um sorriso. “Eles são melhores amigos do meu.”
“Os Moreaus.”
Mamãe assente. “Eu sou sua filha.”
"Sr. Moreau disse estar morta para ele.”
O rosto de Mamãe empalidece, mas ela força um sorriso. "Não, querido. Não importa o que ele diz, ainda estou aqui. Ainda sou sua filha.” Ela rapidamente sai da sala. Quero ir atrás dela.
Aubin ainda está franzindo a testa. Então ele me encara. “Então você é neto do Sr. Moreau?”
"Sim."
“Será que ele sabe que está aqui? Que você existe? Ele nunca te mencionou.”
“Sim”, digo, mais firme. Mais irritado. “Mas não ficaremos.” Aubin pareceu surpreso. “Estamos nos mudando. Assim que minhas costas cicatrizarem e meu pai encontrar trabalho em outro lugar.”
Mal posso esperar
Aubin se levanta. Assim que ele está prestes a ir, eu digo, “Epilepsia”. Ele congela, e depois me olha. “Eu tenho epilepsia. Tenho convulsões... isso é o que aconteceu na outra noite.” Não sei por que
conto a ele. Ele é a primeira pessoa fora meus pais que sabe.
Aubin coloca o chapéu na cabeça e diz. “Até mais tarde, Valan.”
Então, ele sai...
“Ele voltou todos os dias depois disso”, digo. Cowboy deita na cama novamente.
“Você nunca mais viu seus amigos? Os que feriram Hush?”, pergunta Sia.
Cowboy sacode a cabeça. “Eles não sabiam porquê. Até me verem com Val, quando ele se curou. Eles não disseram nada no momento. Mas quando cheguei em casa naquela noite, fui recebido por meu pai. ‘É uma
amante de pretos agora, rapaz?’ Ele gritou. Eles eram pais idosos. Não acreditavam poder ter filhos, até que vim e foi... uma surpresa total.” Ele balança a cabeça. “Ele poderia ser mais velho, mas era
um fazendeiro e muito bom com os punhos.”
“Ele te bateu.”
Cowboy assente. “Tão mal que não pude me mover.”
“Quando conseguiu, ele se esgueirou e veio até nós.” Suspiro. “Não o tinha visto em dias. Nesse ponto já o via em todos. Eu...” abaixo a cabeça e tento não parecer patético. “Eu meio que me apoiei nele.
Com minhas crises... nunca gostei de sair muito. Estar muito em público no caso de acontecer.” Aponto para Cowboy. “Ele, com a boca grande e essa porra de atitude, me ajudou.” Olho Cowboy, sabendo que
a gratidão que sinto por ele é pouco para retribuir como ele me salvou. “Em uma cidade onde as pessoas só me viam como o menino mestiço que estaria melhor morto, uma poluição, uma abominação, ele não o
fez. Ele me viu como seu melhor amigo. Fizemos tudo juntos, porque ele sabia que eu precisava dele.”
“Além disso, estava começando a superar minha educação muito rápido... eu simplesmente não me importava mais. Val era a melhor pessoa que conheci.” Seus olhos lacrimejam. “Ele, e sua família. As pessoas
que me acolheram, quando meu pai quase me espancou até a morte. Pessoas que...” ele desvia o olhar.
O nó na garganta é sufocante.
“Eles te defenderam?”, pergunta Sia.
Cowboy assente. A parte da história que não tenho certeza se posso contar chega. Olho minhas mãos para ver que estão tremendo. Sinto as manchas de queimaduras em meus braços como se fosse ontem.
“Ele foi enfrentá-los”, sussurro, lembrando do meu pai saindo de casa. Sinto uma mão no meu ombro, apertando em apoio. Cowboy senta ao meu lado. Sia fica do outro. Mantenho os olhos no edredom. “Primeiro,
ele foi para os pais de Cowboy. Disse-lhes o que pensava. Então, ele foi para os meus avós.” Calafrios me dominam. “Acabou que minha avó, melhorou gradualmente e não tinha ideia de que estávamos na cidade.
Meu avô não contou a ela. Ela estava acamada desde o acidente vascular cerebral.” Fecho os olhos e respiro fundo. “Ela pediu para ver Mamãe na noite seguinte, pedindo ao meu pai para fazer o convite. Ela
queria ver sua filha primeiro. Então, ela queria me conhecer.”
“Você a conheceu?”, diz Sia, cautela em sua voz.
Agonia toma conta do meu rosto. Essa porra corta cada centímetro meu. “Não”, sussurro, minha voz quase inaudível. Fecho os olhos e inclino a cabeça para trás, quando aquela noite volta a me assombrar mais
uma vez. A que não quero lembrar, mas sempre volta. A noite apenas entra em minha mente ...
“Eu não sou bem-vindo lá”, digo.
“Quem dá a mínima?” Aubin argumenta. Ele joga seu braço sobre meus ombros. Seu olho ainda preto da surra do seu pai. Seu lábio está dividido. E ele está muito ferido na parte superior do corpo. Duas costelas
quebradas. “É o maior rodeio. Os verdadeiros profissionais.” Aubin não montou desde que seu pai chutou sua bunda. "É enorme. Uma feira grande. As chances de nos encontrarmos é pequena.”
Vejo a emoção no rosto de Aubin. Eu sei que ele ficará magoado se eu disser não. Mas ele vive por isso. "Bem. Nós iremos."
Aubin esfrega minha cabeça com os nós dos dedos. “Sabia que ia fazê-lo gostar de cavalos, eventualmente.”
“Não vá tão longe.” Levanto e pego meu casaco.
“Onde vai?” Meu pai pergunta entrando na cozinha. Caixas estão espalhadas pelo quarto. Finalmente estamos saindo dessa porra de lugar. Em poucos dias, iremos embora.
“Rodeio” Aubin diz alegremente. Meu pai levanta uma sobrancelha.
“Você levará meu filho para assistir pessoas em bois?” Ele coloca a mão na minha cabeça. “Está se sentindo bem, Val?” Minha mãe ri quando dou de ombros. “Bem, apenas certifique-se de estar de volta esta
noite. Sua Mãe irá ver sua avó, o que significa que vai ficar comigo. Filme, comida de merda. Soa ideal.” Ele olha Aubin. “Você fica esta noite, Aubin?”
Aubin abaixa a cabeça. “Minha mãe ligou muitas vezes na verdade. Disse que iria encontrá-la no jantar. Ela quer me ver.”
Meu pai esfrega a cabeça de Aubin. “Se precisar de mim, é só chamar.”
"Sim senhor."
Saímos da casa para a caminhonete de Aubin. Percorremos os trinta e dois quilômetros até o rodeio. No momento em que chegamos, é fim da tarde. Assim que vejo o estádio, meu estômago revira.
“Você vai ficar bem”, Aubin tranquiliza, lendo minha mente. Ele coloca a mão na minha perna. “Acalme-se.” Ele se tornou bom nisso. Saber quando estou começando a entrar em pânico. Estresse e raiva são
os dois maiores gatilhos para minhas crises.
Respiro fundo e, em seguida, exalo. Vinte minutos depois estacionamos e entramos. Meu coração bate forte no peito enquanto passamos através da multidão. Espero merda dessas pessoas, mas nunca vem. Pegamos
um refrigerante e um cachorro-quente e observamos os bois.
“Olha Lucious”, diz Aubin. Ele aponta para um cara que está ao lado. “Treinei com ele. Vamos dizer um oi depois.” Lucious foi bem o suficiente para passar para o segundo dia, mas não está no topo da classificação.
Sigo Aubin em torno das barracas. Está tranquilo; a maioria das pessoas veem o show principal. Mal passamos as barracas quando ouvimos: “Você tem que estar me gozando.”
Volto a cabeça para minha direita, e medo imediatamente enche todos os meus ossos quando vejo Jase e todo o resto dos velhos amigos de Aubin caminhando em nossa direção. Aubin passa por mim, ficando na
frente.
“Sai fora, Jase,” Aubin adverte. Puxo o braço de Aubin e fico ao seu lado. Se o problema aparecer, ficaremos lado a lado.
Jase ri. “Você é um amante agora, Aubin? Ouvi os rumores. Porra, você caiu num flash. Mas nunca esperei que fosse verdade.” Jase aponta para a tatuagem de Aubin. “Mestiços não eram seu tipo, há alguns
meses.”
“Sim, bem, as coisas mudam.”
Jase aponta diretamente para meu rosto. “Você quase nos levou a merda.” Ele gesticula para os outros que estão ao seu redor. “Tentou nos entregar para a polícia.” Ele balança a cabeça. “Some daqui mestiço.”
Começo a tremer, a raiva tomando conta. Jase avança, os três comparsas atrás, e corro para o imbecil. Jogo o punho em seu rosto. Aubin está ao meu lado, brigando também. Mas quatro contra dois nunca é
um bom jogo. Não demora muito antes de estarmos no chão. Olho Aub; ele está os empurrando para fora de seu rosto se curando, mais uma vez golpeado e ferido.
“Hey!”, uma voz diz das barracas. Jase e os outros saem correndo.
Olho o teto, as vigas começando a inclinar. “Aub,” resmungo, estendo a mão para ele. Sinto minha língua enrolar na boca. “Gosto de metal.”
“Aubin Breaux? É você?"
Pisco, voltando ao presente. Estou em algum assento. Olho em volta, mas não reconheço nada. Posso ouvir vozes baixas. Tento mover meu braço, mas dói.
Consigo virar a cabeça para olhar para o lado. Vejo estrelas e a lua. A noite nos rodeia. Pisco de novo e de novo, até ver Aubin. Um cara está ao lado dele... um cara de cabelos castanhos.
Lucious? O que vi montando.
O rosto de Aubin enche minha vista. “Ei, Val. Sente-se melhor?"
Minha boca está seca. Aub me ajuda a sentar e entrega uma garrafa de água. Bebo-a, em seguida, respiro ofegante. Sinto-me fraco. Um olhar para o rosto de Aubin me fez lembrar a briga.
Corro a mão pelo rosto. "Que horas são?"
“Oito horas”, ele responde. “Você acordou pouco depois, mas depois desmaiou. Lucious me ajudou a levá-lo de volta para descansar.”
Olho em volta. Estou numa Kombi. “Tenho que ir para casa.” Tento levantar. Aubin me ajuda, e caminhamos para sua caminhonete. “Meu celular?”, pergunto.
“Quebrado na luta.”
"Merda. Meus pais ficarão preocupados.”
“Eles vão entender.” E sei que vão. Ninguém entende melhor do que eles a merda que caiu em nosso caminho desde que chegamos a essa merda de cidade onde fui alvo desde que mostrei minha cara “mestiça”.
Ficamos em silêncio, ao voltar para casa. Que porra há para dizer? Não podia esperar para deixar este lugar. Quando estamos a um quilômetro ou menos da minha casa, Aubin estreita os olhos e pergunta: “O
que é isso?”
Puxo meus olhos cansados para o para-brisa. Um brilho laranja está atrás das árvores altas. As árvores que rodeiam minha casa. Meu estômago despenca, levando meu coração com ele e quebrando-o no chão quando
vejo a fumaça espessa subindo acima das copas das árvores.
Meu corpo tensiona. “Minha casa,” engasgo. Pânico me domina, tomando o controle de tudo o que sou. Aubin pisa no acelerador. Mas quanto mais perto chegamos da estrada de terra até a casa de madeira, mais
clara as chamas são. Laranja e vermelho, subindo mais e mais à medida que estende a mão para o céu.
Quando Aubin vira a caminhonete a direita, perco a respiração. Minha casa está em chamas. Encontro a maçaneta da porta da caminhonete e puxo. Aubin está ao meu lado.
“Meus pais ...” digo, a voz falhando.
“Sua mãe saiu para a mãe dela. Seu pai deve ter saído também,” Aubin me assegura. Mas ouço a dúvida em suas palavras.
“Mãe!” Grito, rezando para que ela não esteja aqui, procurando um caminho através do fogo furioso. “Papai!” Avanço, tentando chegar até as escadas para a porta da frente. Fogo atinge meus braços, escaldando
a pele em meus braços.
“Não posso encontrar um caminho!” Aubin grita ... e então ouço.
“Valan!” Viro a cabeça e olho o sótão. A janela está presa, alguém empurrando o quadro. Limpo a água dos meus olhos e vejo minha mãe.
“Mãe!” Corro até estar debaixo da janela. Suas mãos batem no painel. Então vejo outro conjunto de mãos. “Papai”, sussurro num grito abafado. “Não!” Balanço para esquerda e direita, tentando com tudo que
tenho escalar a parede em chamas.
“Aubin!”, grito.
Ele está ao meu lado num instante, com as mãos na cabeça. Mas não consigo tirar os olhos dos meus pais. Minha mãe está chorando, seus olhos azuis em mim. Meu pai está atrás dela, mas há um olhar triste
de aceitação em seu rosto. “Não!” Grito novamente, então paro quando meu pai vira minha mãe e passa os braços nela, segurando-a contra o peito. O calor das chamas queima meu rosto; o cheiro de cabelo queimado
atinge meu nariz. Mas não consigo afastar os olhos. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e vejo meus pais morrerem.
Minha mãe vira o rosto para mim mais uma vez e murmura, “Eu te amo.” Não consigo sentir minhas pernas. Ouço um estalo alto, e o sótão, onde meus pais estão cede e cai nas chamas abaixo.
“NÃO!” Pulo para a frente e corro para a casa. “NÃO!” Grito, mais e mais até que minha voz some. Corro, tentando de alguma maneira entrar na casa. Eles ainda podem estar vivos. Eles podem só estar feridos.
Mas antes de sequer tentar, Aubin envolve os braços em mim e me puxa. Luto para fugir, mas caio no chão. Assim que caímos, a casa explode, uma nuvem de chamas que aumenta rapidamente acima das ruínas.
Incapaz de me mover, congelado no purgatório da dor instantânea e choque, vejo o restante da casa ser devastada pelo fogo. Choro até não haver mais nada. No momento em que os bombeiros chegam, ela é apenas
uma pilha de cinzas. Mas eu sei... sei que em algum lugar entre os escombros, há um casal abraçado, mesmo na morte. Porque a partir do momento em que se encontraram, eles lutaram por seu amor. Lutaram
por seu amor quando todos disseram ser errado.
E morreram por esse amor. Morreram porque as pessoas não podiam ver além das cores de pele diferentes e admirar os corações entrelaçados por baixo ...
... porque o amor não vê cor. Só o coração puro...
Caio para a frente, a cabeça contra meu peito. Lágrimas escorrem de meus olhos e meu peito treme com soluços. Soluços tão altos quanto os daquela noite, anos atrás.
“Hush”, Sia sussurra, chorando junto comigo. Sua mão agarra a minha, e eu porra a seguro. Seguro como se fosse a única coisa que me mantém à tona. Uma mão aperta meu ombro; sei que é Cowboy. A ação repete
o que senti naquela noite. Não me atrevo a olhá-lo no rosto. Não tenho certeza que posso. Não consigo olhar a única outra pessoa que testemunhou o fogo. Viu-os, mãos estendidas, pedindo ajuda... porque
ousaram se apaixonar.
“Foi...” sussurro. “Foi tudo por minha causa.” Meu corpo é drenado de energia. Sia guia-me para deitar. A sala começa a girar. Ela se enrola em meu peito, as mãos apertando a minha. Vejo Cowboy sentado
na ponta da cama, olhos desfocados, enquanto encara a janela.
“Não foi, baby.” Sia passa a mão por meu rosto molhado.
“Mas foi.” Fecho meus olhos. “Ficamos num motel até tudo ser resolvido.” Faço um gesto para Cowboy. “As autoridades disseram que foi um acidente. Uma besteira sobre o forno.”
“Viu?”, ela diz, tentando me acalmar.
“Mas nós recebemos uma nota. Sob a porta do quarto do motel—” minhas palavras somem, meus membros pesando como chumbo. Sei o que está por vir. Só que desta vez, estou relutante em lutar contra.
“Foi a Klan.” Tensiono ao ouvir Cowboy terminar por mim. Porque é o que ele sempre faz. Pega as peças que não posso levar. Mantenho meus olhos fechados, lendo a nota na minha mente. “Disse que era porque
casaram fora de sua raça.” Cowboy diz, revoltado com o preconceito. “E por trazerem uma abominação de mestiço ao mundo, eles tinham que servir de exemplo.”
“Eu ...” digo com voz rouca. “Eles morreram porque eu nasci.”
“Não”, Sia puxa minha mão. “Não faça isso consigo mesmo.”
“Eles a chamaram de prostituta branca. Uma traidora da raça ariana.” Lambo meus lábios secos. “Eles a chamaram de puta amante de pretos.”
O rosto de Sia suaviza, em seguida, sua expressão muda para entendimento. “Ky ...” ela sussurra. “É por isso que bateu nele como fez.”
“E eles morreram por causa das minhas crises.” Minha língua está seca demais para falar, mas consigo forçar a saída, “Ela não deveria estar lá... deveria ter sido eu em vez disso... mas ela ficou, esperando-me
voltar para casa porque tive uma convulsão. Ela esperou para ter certeza que eu estava bem.” O quarto roda. “Eles... eu estraguei tudo...”
Sia agarra meu braço. Meus olhos vidram, e começo a sentir o sabor metálico na língua. “Cowboy”, digo, quando uma batida forte vem de fora. Sia salta, e Cowboy se levanta. Não! Tento gritar, mas não sai
nada da minha boca. Luto pela consciência, luto para sair da cama. Mas não posso me mover.
“Mantenha-o escondido!” Cowboy diz.
Sia tenta me mover. “Não consigo levantá-lo!”
Devo ter desmaiado, porque quando acordo, estou num quarto escuro em algum lugar. Ouço o murmúrio suave de vozes lá fora, então o som de portas de carro fechando e um grito estridente. Confuso, tento descobrir
onde estou. Tento entender o que está acontecendo. Mas a escuridão me atrai de volta antes que possa.
E não consigo lutar mais.
Capítulo dez
Hush
Meus olhos se abrem. Está escuro como breu. Eu me pergunto onde diabos estou... em seguida, pedaços fragmentados de memória perdida começam a inundar a minha mente. Eu balanço a cabeça com o som de palavras
espanholas profundamente faladas circulando acima da minha cabeça... passos pesados nas tábuas de madeira... berros, gritos... e o som de tiros sendo disparados.
Não... eu me mexo para levantar. Minha cabeça bate em alguma coisa imediatamente acima de mim. Olho para cima. Luz vem através de algumas ripas. Minha mão bate na madeira em cima de mim. Ela se move um
pouco, mas mesmo assim está fechada. Empurro e empurro, usando o pouco de força que ainda tenho para forçá-la a se abrir. Com um piscar de olhos, a madeira cede; Era uma porta, embutida no chão do armário
de Sia, no andar de baixo.
“Sia!” Grito enquanto saio, minha voz calma e rouca — as sequelas da apreensão. Preciso de água. Minha boca está seca. Mas meus pés me levam através da casa em vez disso. Verifico cada quarto, meu coração
batendo mais rápido a cada passo. “Aubin!” Meu peito aperta. Cada quarto que vou está uma bagunça, móveis jogados para todos os lados. “Não,” sussurro, minha pele está manchada pelo suor.
Eu saio correndo pela porta da frente. Corro o mais rápido que posso para o estábulo de cavalos. Vejo o sangue vindo dos estábulos antes de até mesmo acender a luz.
Não me incomodo de olhar, sabendo que todos os cavalos premiados da Sia foram mortos... então meus pés param quando vejo uma mão no chão, sangue acumulado em volta dos dedos, pois está deitada mole no
concreto.
Estou preso no local. Porque era uma mão feminina. “Sia,” sussurro. Minhas pernas tremem, mas eu as faço se mover. Não consigo respirar enquanto viro a esquina. Cada parte de mim está preparada para encontrar
ela morta. Então, quando o cabelo escuro entra em vista, eu solto uma respiração rápida e pulo para o lado da menina. “Clara,” falo suavemente e verifico seu pulso. Mas eu não preciso... seus olhos estão
olhando para o teto, congelados, a mão de Hades agarrando-a firmemente em seu aperto de morte.
Uma ferida de bala através do centro do seu coração.
Merda. Fico de pé, procurando a minha volta, tentando descobrir o que diabos fazer. Corro de volta para a casa. Abro a porta da garagem e subo na velha Harley. Saio da fazenda para as estradas secundárias
que me levariam aos Hangmen.
A cada quilômetro que a minha moto come, tento pensar em quanto tempo eu fiquei fora... e quem diabos me colocou sob o assoalho. E mais do que isso, por que diabos não foram lá também?
Clara estava quente, mas abaixo da temperatura normal do corpo, o que me dizia que ela estava lá há algum tempo. “Porra!” Grito para o vento batendo no meu rosto.
Garcia. Tem que ser.
“Porra!” Grito de novo e viro à direita em direção à propriedade. Minhas mãos tremem no guidão. Meu corpo quer descansar, mas não há nenhuma maneira de merda que isso aconteça.
Aubin.
Sia.
Porra!
Zane e Lil' Ash estão sentados no portão. Paro em um impasse. Vejo-os olharem um para o outro, obviamente preocupados. “Abra a porra do portão!” Grito, acelerando o motor.
Eles olham um para o outro novamente. Estou suspenso. Eles receberam ordens para não deixar eu ou o Cowboy perto deste lugar. “É uma emergência!”
Zane vai para o celular, mas os olhos de Lil' Ash encontram os meus. Claramente vendo algo no meu rosto, ele me deixa entrar. O portão mal é aberto quando rasgo através dele. Eu praticamente jogo a moto
para parar e pulo dela. Corro, balançando levemente, e invado o bar. No minuto que eu faço isso, meus irmãos saltam de pé, as mãos sobre as armas.
AK revira os olhos. “Porra, Hush. Pensei que estávamos sendo invadidos.” Seus olhos de atirador se estreitam, e ele empurra Viking para perguntar, “O que há de errado? Você parece uma merda.”
“Eu preciso ver —”
“Que porra você está fazendo aqui?” Ky sai do escritório do Prez e vem direto para mim. Seus olhos azuis de merda, os mesmos olhos de Sia, estão vermelhos e cansados... mas cheios de raiva.
“Eles a pegaram,” respondo. Ky para no caminho. Sinto meu rosto se contorcer de medo e raiva. “Eles pegaram a porra dos dois.”
A cor some do rosto de Ky. O irmão não se move. Styx passa por ele e chega ao meu rosto. Suas mãos voam em sinal, mas as poucas palavras que eu consigo entender são um borrão enquanto luto para me concentrar,
ainda sentindo os efeitos da apreensão.
“Eu não sei o que você está dizendo!” Grito.
AK dá um passo para o lado de Styx, mantendo os olhos em suas mãos. “O que aconteceu? Quem os pegou?”
Eu balanço minha cabeça, meus pés precisando se mover, para ir atrás deles. Mas não sei onde diabos eles estão.
“Garcia, eu acho...” aperto os olhos fechados, curvando a cabeça por algum tipo de memória. “Eu ouvi espanhol...” abro os olhos para encontrar os olhos de Styx perfurando os meus. Baixo meu olhar para
o chão. Minha mão passa por cima de minha cabeça raspada, uma e outra vez, só para que eu tenha a porra de alguma coisa para fazer com ela. “Eles mataram todos os seus cavalos.” Sinto a tensão crescendo
no quarto. “E sua ajudante... Clara. Porra, a cadela era tão jovem. Deram um tiro em seu coração.”
“Onde você estava?” AK faz a pergunta, mas eu sei que veio de Styx. Fico mudo, a necessidade de manter minhas crises escondidas fecham meus lábios.
“Onde diabos você estava?” A voz de Ky é como a própria morte. Eu mantenho minha cabeça abaixada, a porra do meu coração chutando. Duas mãos batem no meu peito e me jogam para trás. Bato em uma mesa e
cadeiras. Mantenho os pés no chão, mas mais uma vez as mãos de Ky estão no meu colete, me puxando para colidir contra seu peito. “Por que minha irmã e o Cowboy foram levados e você não? Você estava lá,
protegendo-a! Por que diabos ela foi, mas você está aqui?” Ele rosna, em seguida, acrescenta “É porque você é um maldito marica? Porque você viu aqueles fodidos chegando e se salvou? Eu nunca deveria ter
deixado você perto dela. Você não é a pessoa certa para ela. Salvou-se, e —”
“Porque sou epilético, filho da puta!” Tiro suas mãos do meu colete e o empurro para trás. Estou cheio. Tão cheio. Farto de tudo isso. De todos esses filhos da puta que ficam dizendo que esse não é o meu
lugar. Estou farto caralho! “Sou epilético e tive a porra de uma crise.” Vou até ele novamente, mas mãos me agarram pela cintura. Olho para baixo, vendo o caralho do Nazi segurando o meu colete, e então
vejo vermelho. Viro e esmago o meu punho na mandíbula de Tanner. Sua cabeça vai para trás. Tank mergulha para frente e puxa Tanner de volta dos meus punhos voadores.
Viro-me, ofegante, e olho para Ky. “E eu sou dela, porra. Dos dois!” Lágrimas de raiva crescem atrás dos meus olhos. Se o Cowboy estivesse aqui, estaria me dizendo para me acalmar. Mas ele não está. Eles
o levaram... levaram Sia... e eu estou aqui sozinho porra.
“Vamos falar a porra da verdade, irmão. É porque eu sou negro. Você não queria sua irmã com um mestiço de merda, certo? Um vira-lata?” Eu sei que deveria calar minha boca, mas não consigo parar agora que
comecei. “O negro falhou em proteger a sua irmã — a sua irmã que você simplesmente jogou aos malditos lobos, sem proteção no rancho, porque ela estava assustada pra caralho. Se tivesse sido só o Cowboy,
você não teria dado a mínima. Mas porque eu estava lá também, tornou-se a porra de um problema real para o seu eu ariano. Certo, VP?” Ky abre a boca, mas não posso parar. “Esta porra de clube! Vocês são
simplesmente como todos os outros! Você só começaram a deixar qualquer um de cor entrar há dez anos. Só tinham irmãos brancos até então.”
Olho para o relógio na parede. Meu estômago revira com medo. “Quatro horas,” eu imagino, e sinto meu maldito coração despedaçar. “Faz cerca de quatro horas desde que eles foram levados.”
“Não é porque você é negro.” A voz de Ky é como um trovão na sala silenciosa. Eu me esforço para respirar. Tento acalmar meu pulso. Eu só faço o que posso para não cair aos pedaços quando meu melhor amigo,
a porra do meu irmão, e a cadela por quem estou apaixonado pra caralho... os únicos que eu já permiti entrar... foram levados por um traficante. Um bastardo sádico que quer ser o dono de Sia... e provavelmente
mataria Aubin pela inconveniência dela amá-lo também.
As botas de Ky entram na minha visão periférica. “Não dou a porra mínima que você é negro. Porra, você poderia ser rosa neon, ou até ruivo —”
“Ei!” Ouço Vike protestar.
“Mas não é porque você é negro,”
“Você tem convulsões?” AK pergunta. Olhando para cima, vejo que as mãos de Styx estavam trabalhando.
“Vou para o México. Não vou ficar para trás. É a minha cadela e o meu melhor amigo que eles levaram. Não vou ficar parado. E se eu não for com você, irei sozinho. Eu tive uma porra de crise, e eles me
moveram. Esconderam-me, por isso não fui levado. Não sei por que eles não se esconderam também.” Engulo o caroço na minha garganta. “Acordei na porra de uma carnificina, e eles desaparecidos.”
A mandíbula de Styx trava. Ele ergue as mãos. “Não vamos recriminar você,” AK diz, traduzindo. O irmão, imperturbável, vem ficar ao lado de Ky. “Você deveria ter nos dito,” AK continua, seguindo as mãos
de Styx.
“Como os traremos de volta?”
“Igreja, agora,” Ky ordena, e todos nós seguimos.
Ky fala, traduzindo para Styx. “Nós sabemos onde ele mora. Já estivemos lá antes.” Lembro-me de Sia, a forma como ela disse que conseguiu sair. Styx olha para Ky, e para o resto de nós, e diz, “Eu estive
em contato próximo com Chávez, o prez dos Diablos. Ele concordou em ajudar, se a merda fosse para o sul com Garcia.”
Styx faz uma pausa, e Ky, desta vez, fala para si mesmo. “Garcia faz parte do cartel Quintana. Quando fomos antes, ele tinha uma pequena operação; agora é enorme. Alfonso Quintana, o chefe do cartel, investiu
pesado nos negócios de Garcia.” Ky fecha a mão em punho sobre a mesa. “Ele não apenas trafica cadelas agora. Ele mexe com armas e pó.”
Styx suspira e Ky diz, “Eles têm se intrometido no território do Diablo. Pó, principalmente. Chávez está puto.”
Ky olha para Styx. “Sia é minha irmã. Então vou entrar nessa. Styx também.” Ele olha para mim. “Hush estará. Cowboy está lá também. Não sei o que vão fazer com ele... se ele sequer chegará ao México. É
minha irmã que ele quer.”
O meu coração quebra. Minha mão começa a tremer com o pensamento de Aubin desaparecido. Minha perna balança. Ouço a porra da sua voz na minha cabeça. Acalme-se, mon ami. Eu não acreditarei que ele está
morto, até ver o caralho do seu corpo frio.
Eu serei incapaz de funcionar se isso acontecer.
“A Klan trabalha com eles também.” Ky olha para Tank e Tanner. Tanner está mais pálido do que o habitual. Suas mãos estão segurando a borda da mesa, e seus olhos estão desfocados. “Eles já estão em nossas
gargantas. E Chavez ouviu que se formos contra o cartel...” Ky olha para Styx. Styx assente. “Nós iremos para a guerra.”
O quarto mergulha em um silêncio tenso. Passo os olhos ao redor da mesa. Os irmãos estão todos parados, alguns olhando para os outros, conforme as palavras de Ky pairam no ar. Guerra. Eu nunca estive em
guerra pelo clube. Este capítulo esteve contra os Diablos apenas alguns anos atrás, mas a seção de Nova Orleans nunca foi chamada para ajudar. Eu sei que a maioria desses irmãos lutaram naquela guerra.
A guerra que custou a Styx o seu pai. E custou a Ky e Sia ambos os pais.
Minha atenção permanece em Tanner. Porque não será apenas uma guerra para ele; será contra a sua família. Não tenho certeza que sua lealdade ao clube sobreviverá ao ir contra seu pai, tio e irmão mais
novo.
Eu levanto. “Estou dentro.”
Smiler fica de pé também. “Estou dentro.”
AK levanta. Flame e Viking seguem um segundo mais tarde. Tank, Bull... e finalmente, Tanner levantam. Ele levanta os olhos azuis e diz “Estou dentro.”
Ky levanta, seguido por Styx. Styx assente. Suas mãos levantadas. “Então vamos.”
A porra do meu peito incha. Ky olha para mim. “Alguém disse para aquele filho da puta, Garcia, onde você estava.”
Balanço a cabeça, tentando pensar... “O veterinário,” percebo, e tento lembrar o nome dele. “Gomez. Tito Gomez.” Balanço a cabeça, mais do que chateado comigo mesmo, percebendo que nunca tive uma chance
de pedir a Tanner para verificar seu passado por causa de tudo o que aconteceu com Ky.
Ky acena para Tanner. Tanner acena de volta, em seguida, sai da sala, sem dúvida, para conseguir o que puder sobre o cara.
Styx levanta as mãos. “Partimos em trinta. Façam qualquer merda que vocês tenham que fazer. Temos uma irmã e um irmão do clube para trazer de volta.”
“E alguns fodidos nazistas e mexicanos para travar uma guerra” Viking acrescenta. Ele sorri. “Meu tipo de dia do caralho!”
Os irmãos saem. Quando vou sair, Ky estica o braço, parando-me. “Ela é forte,” diz ele. Ouço toda a dor na voz do meu VP. Como diabos poderia não haver? A última coisa que Sia disse a ele foi que ela não
queria nada mais com ele.
“Eu sei.” Afasto seu braço. “Ambos são.”
Saio para o bar e tiro os remédios do meu colete. Eu os engulo e vou para o arsenal de armas. A cada segundo que passa, imagino os rostos deles na minha cabeça. A cada respiração que dou, deixo os anos
de xingamentos, o caralho dos socos que eu levei e as contusões que ganhei crescerem dentro de mim até que sou uma bola de raiva. E trinta minutos depois, conforme chego na moto do pai da Sia, Ky me olha
sobre ela como se estivesse vendo um maldito fantasma, e nós saímos da propriedade.
Temos um veterinário para visitar.
*****
Sangue respinga contra a parede do filho da puta conforme Ky bate outra vez o punho contra a boca dele. A cabeça do Tito fodido Gomez vai para trás... então o puto sorri. Sangue preso em seus dentes brancos.
A camisa branca de Ky está vermelho brilhante. Styx está atrás do VP, resignado. Mas posso ver em seus olhos castanhos que ele está pronto para matar esse desgraçado.
“Você vai quebrar,” Ky insiste, tirando seu colete e camisa. Seu corpo nu, musculoso, em exibição. Ky gira seu pescoço e estala os dedos. Ele pega uma faca e a passa para baixo no peito do filho da puta.
“Tem um primo no cartel Quintana, hein?” Disse o VP, como se ele estivesse tão calmo como a porra do céu depois de uma tempestade de verão. Seus olhos contam uma história diferente. Ele é todo trovões
e furacões.
Ky pega a lata de gasolina que ele trouxe e derrama direto sobre o novo corte de Gomez. Ele grita, mas mantém sua boca fechada. Seus dentes batem com a dor, e seus dedos estão brancos enquanto agarra a
cadeira em que está amarrado.
“Trabalha com Garcia,” Ky prossegue, dando outro golpe no braço do puto.
Eu fico em pé ao lado, tremendo, precisando descarregar o inferno neste fodido. Como se me sentindo, ele vira a cabeça. “A tatuagem do seu amigo te entregou.” Eu congelo. “Eu não ouvia do meu primo há
muito tempo. Não o vejo há anos. Quando ele me disse quem ele estava procurando, eu sabia que a Elysia Willis do Garcia tinha que ser Helen Smith. A tatuagem do seu namorado confirmou isso.”
Tanner irrompe pela porta, o celular de Gomez na mão. “Tenho uma ligação do celular deste idiota. O primo dele está definitivamente trabalhando com Garcia. Falei com o presidente dos Diablos. Os Diablos
sabem para onde ir uma vez que estivermos lá. O sargento de armas dele é um ex-cartel Quintana. Ele fez alguns trabalhos com Garcia há um tempo atrás. Já confirmou que ele ainda está no mesmo lugar de
anos atrás.” Tanner dá de ombros. “O irmão é bom pra caralho em extrair informação pelo que diz Chávez. E melhor ainda, conhece Garcia e seus filhos da puta muito bem.”
Ky vira-se para Gomez. Ele pega a faca alemã de Styx e passa no peito do filho da puta. Conforme Gomez grita, Ky puxa a faca e olha para cima. Eu posso ver a guerra em seu rosto, mas ele diz, “Você quer
o último golpe?”
Vou em frente antes de sequer respirar. “Ela confiou em você, porra,” rosno para seu rosto fodido.
Vejo algo que parece um flash de pesar em seus olhos. “Se eu não tivesse desistido dela... se eu tivesse escondido sua identidade, eles teriam vindo atrás de mim ao invés disso.”
“Bem, agora você tem que lidar conosco,” cuspo, não sentindo nenhuma simpatia pelo fodido covarde. Segurando firme o cabo, eu levanto a faca, prestes a atacar quando Gomez diz, “Foi... sua culpa.” Ele
tosse, espalhando sangue em seu peito. “Você e o cowboy a entregaram.” Ele sorri. “Se eles morrerem... é culpa sua.”
Antes mesmo de terminar a última palavra, eu enfio a faca no seu coração e vejo seus olhos nublados com a morte e sua cabeça cair. Limpo o sangue da faca e a entrego para Styx. Parece que ele quer dizer
alguma coisa, mas antes que possa, eu me afasto do corpo do traidor e subo na minha moto, pronto para ir para a fodida Laredo15 e chegar aos Diablos.
Porque eu sei que o que ele disse é verdade.
Eles serem levados... foi tudo minha culpa, porra.
*****
Chávez nos encontra dentro do complexo. Nós de um lado, doze Tejanos16 olhando para nós do outro. Styx dá um passo à frente com Ky. Chávez faz o mesmo. Um cara musculoso magro, que parece estar em seus
vinte e tantos anos, com longos cabelos negros e olhos castanhos claros, está ao lado de Chávez.
Styx aperta sua mão. Eu ouvi as histórias. Nosso antigo prez, o velho do Styx, perdeu sua esposa para o antigo prez dos Diablos – o pai de Chavez. Styx cresceu sem sua mãe. Ambos os pais morreram na guerra.
O do Ky também. Então, quando ele assumiu, Chavez recusou o nome do bom e velho pai, Sanchez, em favor do nome de sua mãe de nascimento, Chavez. As questões do pai escorriam pelos poros do filho da puta.
É tudo tão fodido neste mundo fora da lei.
Eles nos ajudaram a pegar Phebe de volta do Meister, então lhe devíamos um favor. Desta vez, é pessoal. Chavez aponta para o seu sargento de armas. Os braços tatuados do cara estão cruzados sobre o peito.
“AK?” Ouço Vike sussurrar. “O fodido é bonito, hein?”
Reviro os olhos para o gigante ruivo que nunca mantém a porra da sua boca fechada. O Diablo em questão vira seus olhos para o nosso tesoureiro... e o filho da puta sorri, revelando um anel de prata em
sua língua.
“Ele tem uma barbicha. Legal,” Vike diz em aprovação. AK deve ter lhe dito para calar a boca; faz-se silêncio.
“Este é Shadow,” diz Chavez. Shadow inclina seu queixo em saudação. “Ele irá levá-los.” Chavez faz uma pausa. “Alguns de vocês. Não todos.”
“Eu vou.” Movo-me para ficar atrás de Ky.
Shadow me olha. Styx ergue as mãos e suspira. Ky traduz. “Eu e Ky, Hush.” Styx olha para trás. “Tanner. Você será necessário também.” A cabeça de Tanner levanta com surpresa. O filho da puta fica branco.
Mas concorda. Styx estreita os olhos. “Está bem?”
Tanner se mexe no local. “Sim.”
“Você tem o conhecimento técnico. Podemos precisar dele.” Finalmente, Styx olha para AK. “Você está na função de franco-atirador. Você vem, mas vai ficar atrás.” Ele encontra os olhos do resto dos irmãos.
“Vocês vão observar a estrada para quando nós voltarmos. Munição, facas, tudo o que tiverem.”
“Vocês têm a nós também,” diz Chavez. Styx avalia o prez Diablo com os olhos apertados. Ele passa a mão pelo rosto mal barbeado. O olhar de Chavez vai para Tanner e Tank, seu lábio ondulando em desgosto.
Ele se dirige a Styx novamente. “No minuto em que Quintana e Garcia juntaram forças com a Klan, eles entraram no nosso radar. E quando eles os apoiaram na tomada do nosso território aqui no Texas, nós
os cortamos. Você precisa do nosso apoio e terá isso. É egoísmo. Não é um favor a vocês, putos.”
“Justo o suficiente,” Ky concorda. “Nós podemos trabalhar com isso.” Ele olha para Shadow. “Você é o ex-membro do cartel que pode nos fazer entrar?”
“Conheço esse lugar como a palma da minha mão. Passei quatro anos trabalhando lá. Eu vou colocá-los para dentro e tirá-los de lá.”
“Se você quer chegar a algum lugar sem ser visto, ele é o seu homem,” diz Chavez.
“Quando partimos?” Pergunto.
Shadow olha para um relógio invisível em seu pulso nu. “Eu diria que muito rápido. Amanhã é dia de descarregamento. A carga vai a leilão. Ocupados. Os homens estão ocupados. É nossa melhor chance, ou teremos
de esperar mais uma semana.”
Carga. Putas. Contanto que uma delas não seja Sia, eu não dou a mínima.
“Fui educado com aqueles para quem estamos indo. Eu tenho uma ideia de onde eles estarão.” Shadow sorri. “Será uma maldita brisa.” Ele levanta uma sobrancelha. “Mas haverá matança, certo?”
“Certo,” Ky confirma, sua voz grossa com raiva.
Shadow sorri novamente. “Exatamente o que eu queria ouvir.”
Capítulo onze
Sia
Eu ouço o tiro ao mesmo tempo em que Cowboy. Hush ainda está na cama, com os olhos começando a abrir. “Cowboy!” Eu grito, meu coração batendo forte no peito, enquanto olho pela janela que Cowboy estava
perto. Vejo luzes ao longe... e meu estábulo estava iluminado.
Um ruído doloroso veio da direção da cama. O corpo de Hush começa a sacudir. “Convulsão,” digo sem fôlego. Apresso-me para rolar Hush para o lado como eu vi Cowboy fazer antes. Cowboy corre para o meu
armário e pega sua arma.
“Esconda-o!” Ele instrui, e coloco minha mão sobre a cabeça suada de Hush. Ele está tremendo, seus braços e pernas se contraem com a força da convulsão. Ouço outro tiro, eu tento levantá-lo. Ele é muito
alto. Muito pesado.
“Eu não posso!” Eu choro, e Cowboy se afasta da janela. Ele coloca a arma no cinto e levanta Hush. Eu sigo rapidamente atrás dele. “O porão!” Digo e o levo para o andar de baixo. Levanto a escotilha secreta
no chão do armário.
Cowboy olha para mim. “Precisamos entrar também.”
Eu balanço a cabeça, preparando-me para seguir, enquanto Cowboy entra com Hush no pequeno espaço que foi construído na casa há anos. Não é visível. Sempre me fez sentir segura, saber que eu tinha um lugar
para me esconder.
Cowboy me dá a mão, seus olhos azuis frenéticos. “Vamos!” Ele insiste. Pego sua mão... mas meus dedos deslizam através dela quando ouço outro tiro, em seguida, o som horrível de um cavalo com dor. Eu viro
abruptamente minha cabeça para a porta da frente, sentindo-me ansiosa. “Sandy...” sussurro, assim que outro tiro foi disparado. O mesmo grito de partir o coração de outro cavalo ruge, e então... “Não...
Clara está lá...”
Antes que eu perceba, minhas pernas correm para a porta. “Sia!” Cowboy grita atrás de mim. Mas eu não posso parar. Clara estava nas baias. Ela está trabalhando até tarde para mim esta noite. Eu atravesso
rapidamente a porta da frente e corro pelos campos. Ouço a porta da frente abrir atrás de mim, Cowboy chama meu nome. Mas eu não posso parar. Lágrimas dos meus olhos encontram o vento e caem.
Eu vejo o movimento nas baias. Vejo homens caminhando pela lateral do estábulo, tiro após tiro disparam como se estivessem atirando no meu coração. Meus cavalos... as criaturas que me mantiveram sã...
mantiveram-me segura...
Alguém sai da frente do celeiro. Ele tem cabelos escuros, e a pele bronzeada. Mexicano, penso. Minhas pernas tremem, fazendo-me tropeçar. Ele olha para cima... e um sorriso cresce em seus lábios.
“Clara!” Grito. Ele me vê. Não há necessidade de silêncio. Eles vieram por mim. Eu sei que meus dias estão contados. “Clara!” Grito novamente... e então paro de repente.
“Sia,” uma voz familiar diz em saudação. Viro a cabeça para ver Pablo, o braço direito de Juan, saindo de uma van com vidros escurecidos.
Um tiro soa atrás de mim. Eu vacilo, e depois viro para ver Cowboy disparar contra os homens vindo do estábulo. Cowboy me alcança e me agarra pelo braço. Homens nos rodeiam. Aperto os olhos, olhando para
o estábulo. Um soluço escapa da minha garganta quando vejo poças de sangue formando pequenos cursos no chão de concreto.
“Não!” Eu grito, minhas pernas perdem as forças quando o sangue segue para a grama.
Pablo verifica suas abotoaduras, como se ele não tivesse nenhuma preocupação. Ele acena uma mão para alguns dos seus homens. “Leve-a.” Cowboy me pega e me puxa para o seu peito.
“Ela não vai a lugar nenhum.” Ele aponta a arma para os homens que se aproximam.
“Cowboy.” Eu encosto de leve meus dedos sobre seu braço. “Não.”
“Eu cuido disso, querida.”
"Não,” digo. “Eles vão matá-lo. Há muitos.” Quando a última destas palavras sai da minha boca, um baque surge atrás de nós. O corpo pesado de Cowboy cai, arrastando-me para o chão com ele. Com esforço
saio debaixo do braço dele. Cowboy está frio. Envolvo meu braço em torno dele. Pablo se aproxima de nós.
“Onde está o outro?”
Meu pulso acelera e sinto-me ansiosa. Hush. Ele está falando de Hush. “Ele saiu.”
Os olhos de Pablo se estreitam. “Você espera que eu acredite nisso?”
“É verdade.”
Pablo estala seus dedos para um dos seus homens. “Procure na casa. Se ele estiver lá, pegue-o e siga atrás. O cara negro.” Ele sorri. “Não deve ser muito difícil de detectar.” Ele olha para o outro. “Coloque
esses dois na van. Vamos embora.”
“Clara?” Pergunto, minha alma gritando para mim o que já sabia.
Pablo se abaixa. Seus olhos verificam meu rosto e corpo. “Você parece ainda melhor mais velha,” diz ele em Inglês. Seus lábios se curvam. “Juan vai gostar disso. Ele não tolera mulheres envelhecendo vergonhosamente.”
Ele se levanta, então, olha para mim por cima do ombro, e diz, “Se você está se referindo a sua amiguinha...” ele faz uma pausa, deixando a respiração suspensa com suas palavras. “Ela está morta.” Ele
balança a cabeça. “Puta tola pensou que podia apontar uma arma para nós. Acusando-nos de ser invasores do rancho... o que não somos.” Ele resmunga. “Ela deveria reconhecer o cartel se nos visse. Pessoas
no México nunca confundem a família Quintana com criminosos comuns.”
“Então você a matou?” Eu sussurro, náuseas invadem minha garganta.
“Já matei por menos.”
Mãos me agarram e me arrastam para longe de Cowboy. Eu luto sem parar até que um punho bate no meu rosto. Eu tento manter a consciência, mas quando o segundo golpe vem, é inútil. A última coisa que me
lembro de ver é Cowboy sendo arrastado atrás de mim... e uma luz na casa, com sombras em busca da segunda parte do meu coração.
Por favor, encontro-me implorando a Hades. Não deixe que eles o encontre. Ele já passou por muita coisa. E quando a porta da van fecha e a escuridão me envolve, acrescento, Ky... por favor deixe Ky nos
encontrar novamente.
*****
Abro os olhos, sol brilhante me faz olhar para o lado. Minha cabeça dói, meu queixo lateja como se tivesse sido atingido. Tento afastar a névoa do meu cérebro. Visões e imagens começam a surgir na minha
mente como um rolo de filme solto em um cinema. Hush... Clara... cavalos... Pablo... Garcia... Garcia... Garcia...
Levanto-me, e sento-me onde estive deitada. Minha cabeça gira ao redor da sala. Paredes brancas, azulejos brancos, e uma cama branca familiar.
Minha mão bate no peito. Eu luto para respirar. Meus pulmões falham ao receber o memorando que eu precisava de ar. Minhas mãos caem para frente e batem no colchão. O cheiro de sândalo.
Juan...
Desço da cama, estremecendo com uma dor no meu braço. Olho para ele e vejo um sinal de agulha no meu bíceps. Drogas. Eu fui drogada. Então meus olhos seguem para o resto do meu corpo.
Engasgo com um grito desesperado. Vermelho. Estou vestida com um vestido vermelho. “Eu gosto de você em vermelho, bella,” disse Juan no nosso primeiro encontro. “Você estava usando um biquíni vermelho
na praia. Foi o que me atraiu para você.” Ele sorri e brinca com a alça do meu vestido. “O vermelho é a cor de uma mulher confiante. Não vejo muitas desse tipo na minha linha de trabalho.” Ele se inclina
e me beija, roubando meu fôlego. Quando se afasta, ele diz, “Eu me tornei bastante fascinado por você, mi rosa negra.” Ele me beija novamente. Então sorri contra os meus lábios. “Eu acho que vou mantê-la
sempre em vermelho.”
Agarro as alças. Eu apenas as desço pelos meus braços quando uma porta se abre atrás de mim. Eu congelo, meus olhos fixos em uma pintura na parede, de uma casa em algum lugar no interior do México. A porta
se fecha e, quando os passos se aproximam, eu sei que eles pertencem a um par de sapatos Prada, brilhantes à perfeição. Eu sei que o homem neles tem um metro e noventa e três de altura, cabelo grosso,
curto e escuro, e tem os olhos e sorriso mais bonito que eu já vi.
E sei que o homem é o diabo encarnado.
A cama afunda, e eu congelo. Nem sequer pisco quando sinto o hálito quente soprar sobre o meu ombro. Quando sinto cheiro de sândalo... e quando as mãos pegam as alças que estavam penduradas nos meus braços
e as coloca de volta no lugar.
Começo a tremer, um membro de cada vez. Onde quer que ele toca torna-se uma massa de arrepios, minha força sucumbe em sua presença pesada. “Bella,” ele sussurra. Fecho os olhos. A voz que assombrou meus
pesadelos por anos de repente está viva. “Você ainda tem o mesmo cheiro.” Ele esfrega suas bochechas cobertas por uma barba curta por todo meu pescoço na parte de trás. Cada fio de cabelo que eu tenho
fica em pé.
Suas mãos acariciam meus braços. Em seguida, ele respira fundo e firmemente diz, “Vire a cabeça.”
Muito congelada para me mover, eu não posso fazer o que ele pede. Cansado de esperar, Juan gira em torno de mim. Eu mantenho meus olhos para baixo, e ouço o sorriso em sua voz. “Olhe para cima, bella.
Não me obrigue a te machucar.”
Seu forte sotaque mexicano é como espinhos penetrando em meus ouvidos.
No entanto, eu levanto os olhos. Puro medo corre por minhas veias quando seu rosto aparece. Prendo a respiração que pensei que nunca soltaria. Ele sorri, seus olhos estão vidrados. Eu conheço aquele olhar.
É o olhar que ele me deu quando o conheci na praia.
Mas eu estava hipnotizada por seus olhos quando tinha dezessete anos. Por seu sorriso, por seu corpo magro e tonificado, seu sotaque, que, na época, eu acreditava ser o mais belo sotaque no mundo... até
que ouvi o francês da Louisiana vir da boca dos dois homens cujos sorrisos são genuínos e puros. Um livre, um secreto, mas ambos relâmpagos em minha alma.
“Onde ele está?” Inclino meu queixo em desafio.
O sorriso de Juan desaparece. Sua cabeça inclina para o lado, avaliando-me. Ele passa a língua sobre os dentes e balança a cabeça. “Entendo,” ele diz e sai da cama. Eu mantenho meus olhos sobre ele. Não
os mudando de direção. Sei como ele trabalha. Num momento ele é bom; no outro, um verdadeiro monstro. Juan tira o pó da sua jaqueta. “Eu suponho que você está perguntando sobre o motoqueiro usando um Stetson?”
É como se o meu coração parasse de bater enquanto eu espero ouvir sobre Cowboy. Enquanto eu espero, observo os olhos de Juan por qualquer sinal de mentira, para descobrir se Cowboy está vivo. Balanço a
cabeça, e espero... Juan se inclina para frente, e o diabo disfarçado com boa aparência e ternos de grife surge. “Está preso por agora...” ele se levanta e ajeita a gravata. “Mas não estará respirando
por muito mais tempo.”
Antes que perceba o que estou fazendo, eu pulo da cama e levanto a mão para bater em seu rosto. Juan pega meu pulso em sua mão e começa a apertar. Eu grito, meu corpo vacilando com a dor. Ele me deixa
de joelhos, exatamente onde ele gosta de manter as mulheres. Seus olhos brilham. Ele me vira, e eu grito quando a parte de trás do meu vestido é rasgada em dois. Grito quando seu dedo traça as minhas queimaduras...
“Você me desafiou,” ele diz quando me deita sobre minha barriga na pequena cama. Estou tremendo quando ele esfrega as mãos pelos meus pulsos. E então eu pulo, em pânico, quando duas algemas estão presas
no lugar, mantendo meus braços amarrados à cama. Eu tento escapar me movimentando descontroladamente, mas Juan corta o meu vestido, expondo minhas costas. Balanço minha cabeça de um lado para o outro,
tentando ver o que ele está fazendo. Minutos passam, eu caio sobre a cama, meu rosto para o lado, peito e braços esgotados. Sinto um líquido atingir minha pele... então dor, tanta dor excruciante que eu
grito. Grito tão alto que ouço murmúrios chocados das pessoas do lado de fora. Eu agarro a cama, com necessidade de me mover, mas cada movimento que faço provoca mais a minha pele. Eu grito até que Juan
se agacha, seu rosto encarando o meu. Ele passa a mão pelo meu rosto enquanto grito, até que sinto como se meus olhos tivessem saltado fora da minha cabeça. Enquanto eu respiro, ele diz, “Tente me deixar
novamente, e vou mergulhar você completamente nisso.” Lágrimas derramam-se em meu rosto, meu corpo começando a convulsionar. Minha temperatura despenca enquanto meu corpo se contorce com a dor. Eu agarro
o lençol branco que cobre a cama, tentando respirar através da dor.
Ele me arruinou.
Ele me arruinou, então eu nunca o deixaria.
Ele me arruinou para qualquer outra pessoa...
Sua mão se move para o meu ombro. Sua boca vem até minha orelha. “Você tentou apagar?”
A rosa negra. A marca que ele usa em todas as suas garotas. Sua marca, como um fazendeiro marca seu gado. Em suas ‘garotas’ a tatuagem é feita no quadril. Em mim, ele fez grande o suficiente e visível
o suficiente para que todos soubessem a quem eu pertencia.
“Eu não quero nada do que você deixou em mim. Não quero nenhum vestígio deste lugar... do inferno na terra que você criou. Seu império construído sobre a dor.”
Ele ergue as sobrancelhas e depois se inclina perto. Sua mão traça minhas cicatrizes das queimaduras, em seguida, suas unhas se enterram. Eu abafo um grito. Recuso-me a dar ao filho da puta doente o prazer
da minha dor. “Tarde demais,” ele sussurra, e no simples ato de arranhar a minha pele profanada, ele me lembra quão profunda a cicatriz estava na minha alma.
Juan se levanta e caminha em direção à porta. “Onde ela está?” Pergunto, virando-me para encará-lo.
Ele para e olha para mim por cima do ombro. “Por perto.” Uma onda de alívio atravessa meu corpo.
Ela ainda está viva... depois de todo esse tempo.
“E onde ele está?” Minha voz falha.
Juan fica tenso e, em seguida, vem em minha direção. Ele se agacha, parecendo tão impecável como sempre. “Diga-me, Sia.” Seu tom é frio e cruel. “Você me deixou porque se recusou, como você diz, ser puta
de um criminoso.” Ele deixa essas palavras penduradas entre nós, até que inclina a cabeça para o lado. “Eu tenho certeza que você é agora a prostituta de dois homens, e motoqueiros, não menos.” Tão rápido
como uma víbora, Juan segura minhas bochechas em sua mão. Eu estremeço, grito quando a dor atravessa minha mandíbula. “Motoqueiros, Sia... algo que você esqueceu-se de me dizer? Que é uma princesa, não
é, bella?”
Puxo meu rosto para trás e cuspo em seu olho. “Tão fodidos como eles são, como minha família é, eles não negociam mulheres para o tráfico. Eles não vendem escravos por lucro.”
“Apenas dão a sua irmã para um bastardo preto e um caipira que fodem um ao outro, assim como eles fodem você.” Ele dá um beijo com muita força nos meus lábios. Eu o empurro de volta. “Se eu soubesse a
puta que você é, poderia não ter sido tão delicado com você.” Juan suspira. “É algo que vou aproveitar ao máximo a partir de agora.” Ele ia se levantar, mas antes de fazê-lo, ele acerta o dorso da mão
no meu rosto. Minha cabeça vai para o lado com a força do golpe inesperado. Eu me afasto, com medo dele vir para mim novamente. “Isso é por cuspir na minha cara.” Ele se afasta. Quando a porta se fecha,
eu fico de pé ainda sem firmeza no corpo. Corro atrás dele, para a porta que uma vez usei para escapar.
Não havia nenhuma maneira de sair dali.
Caindo no chão, minhas queimaduras esfregam contra a porta de madeira, penso em Cowboy, sobre o que Juan faria com ele. Penso em Hush, perguntando-me se ele está bem. E eu penso em meu irmão, e o que pode
ter sido a nossa última conversa.
Só então, eu deixo as lágrimas caírem.
*****
Foi no dia seguinte, antes de alguém entrar no meu quarto. Estou deitada na cama, com os olhos fixos na porta, quero saber o momento exato em que ele voltará para mim. Porque sei que ele voltará. Estou
morrendo de fome, sede, e meu corpo inteiro dói. O que quer que seu povo injetou em mim estava mexendo com os meus músculos.
Quando a maçaneta da porta gira, eu me empurro para cima e preparo-me para Juan. Um homem que eu não reconheço está na porta. “Por aqui,” ele ordena. Ele é grande e intimidante – como a maioria dos homens
de Juan. Ele veste um terno preto com gravata prata. Eu hesito, o suficiente para o homem estreitar os olhos. “Eu não vou pedir novamente. Se você não se mover, vou pegá-la eu mesmo.”
Com meus membros tremendo, levanto da cama. Eu me sinto como Bambi17 quando caminho, meus pés dão passos hesitantes enquanto sigo até a porta. Quando chego perto do homem, ele segura meu braço e me leva
através de corredores que trazem de volta muitas memórias ruins: dos meus primeiros passos após a queimadura ácida, a dor excruciante quando a minha pele ferida esticava com o movimento das minhas pernas,
a noite que fugi de casa e segui para a floresta que me manteve escondida... correndo até Ky e Styx me encontrarem.
Rezo para alguém me encontrar agora.
Eu sou forçada a entrar em um carro. Envolvo o vestido vermelho rasgado em torno de mim. Está quente, mas estou congelando enquanto seguimos até o lugar que eu nunca desejei ver outra vez.
Minha respiração acelera. Minhas mãos começam a suar e meu corpo treme. O homem estaciona em frente a um edifício. Dezenas de homens estão por ali. Carro após carro deixa este lugar fodido. Náuseas dominam
meu estômago quando eu percebo quem estaria naqueles carros. E pior, onde eles iriam. Leilões, vendê-las para homens e mulheres, seus novos donos, pessoas que poderiam transformá-las em escravas para fazerem
tudo o que quisessem.
Bile sobe em minha garganta quando o último carro passa por nós. O lugar fica tranquilo... estranhamente tranquilo. Uma vez que o portão está fechado, o homem que Juan enviou para me pegar sai do carro
e vem à minha porta. Agarrando o meu braço, ele me puxa violentamente do banco traseiro. Meus pés descalços encontram a sujeira da areia. Eu tropeço atrás do homem, quando ele me puxa através do edifício,
seguindo pelos corredores úmidos e frios, até que chegamos a uma porta no final.
Ele bate na porta. Outro homem sem rosto, sem nome, abre. Eu sou entregue sem cerimônia. O novo homem me leva para dentro do quarto, uma única lâmpada pendurada no teto. Estreito os olhos, permitindo que
os meus olhos se ajustem ao escuro... e eu vejo alguma coisa. Uma cadeira, com um homem sentado nela.
Meu coração começa a bater tão rápido que eu tenho certeza que ele explodiria para fora do meu peito. “Não,” eu sussurro, observando o estado da pessoa caída na cadeira. A familiar camisa xadrez rasgada
em tiras, revelando partes de sua pele. Sem chapéu, e seu cabelo loiro está tingido de vermelho pelo sangue que eu imagino ser do seu rosto. Suas mãos estão amarradas atrás das costas, e os tornozelos
foram amarrados às pernas da cadeira.
“Cowboy,” eu sussurro, minha voz carregando o ar mofado da pequena sala.
Ele ergue o queixo, lentamente, como se o movimento lhe causasse muita dor. Eu grito, soluçando quando seus olhos me encontram. Eles estão machucados e inchados.
Eu preciso segurá-lo.
Tento me afastar do homem, mas ele me puxa para trás e bate com a mão no meu rosto. Minhas pernas vacilam, ainda fracas pelo sequestro, desidratação e os efeitos das drogas.
Cowboy solta um rosnado intenso, sua cadeira move-se no chão de concreto. O homem me levanta e me amarra a uma cadeira em frente a Cowboy. Eu mantenho meus olhos nele, ignorando o latejar da minha bochecha.
Lágrimas irritam minha pele, mas eu mantenho meus olhos em Cowboy. Mesmo ao ser espancado e ferido, Cowboy sorri o melhor que pode e me dá uma piscadela.
Uma única risada aflita escapa dos meus lábios, antes de endireitar meus ombros. Eu me recuso a deixar que esses idiotas me destruam. O homem sai, fechando a porta, deixando-me sozinha com Cowboy. Eu verifico
se ninguém mais está por perto.
“Cowboy...” eu sussurro, minha voz baixa ecoando na caixa quadrada que é a sala. “Diga-me que está tudo bem...” fecho os olhos. “O que eles fizeram com você...” não era realmente uma pergunta. Meu lindo
Cowboy. Eles o machucaram, muito, tudo porque ele está comigo.
Cowboy tenta falar, mas cospe sangue. Espero que seja de dentro da sua boca, e não de algo que tinham feito com ele por dentro. “Eu estou bem, Cher,” ele responde fracamente; e tenta sorrir novamente.
A pele do seu lábio inferior se abre quando ele faz esse movimento.
Eu tento puxar minhas mãos das amarras que me prendem, mas não posso. Olho para Cowboy, e o vejo me observando. “O que vamos fazer?” Pergunto. Nós não somos ingênuos; nós fomos trazidos para esta sala
por uma razão. Depois da maneira como eu falei com ele, imagino se ele me trouxe a este edifício só para me matar. Juan Garcia é um homem que nunca perde. Fugi antes que ele tivesse se cansado de mim.
Em seus olhos, era o começo de um jogo de gato e rato.
Eu sou o rato.
E eu fui pega.
Olho para as paredes que nos cercam. Os restos de sangue estão impregnados no interior do material de textura áspera. Luto para respirar. Este quarto tem um propósito. Abrigar aqueles prestes a morrer.
“Sia,” Cowboy fala, chamando minha atenção. “Hush vai nos tirar daqui.” Eu não ouso ter essa esperança. Especialmente quando a porta se abre novamente e outro homem entra. Um homem que, eu posso dizer
instantaneamente, pertence aos mais novos associados da empresa de Juan, um homem com a cabeça raspada e com um olhar confiante e tatuagens nazistas que adornam sua pele. Em sua mão está uma faca. Ele
caminha pela sala, os olhos em nós dois.
Meu coração começa a acelerar quando ele nos circula, antes de parar na minha frente. “Saia de perto dela,” Cowboy diz. Eu nunca ouvi sua voz tão venenosa antes. O Nazi olha o Cowboy por cima do ombro.
“Só queria dizer olá,” ele responde e depois volta para a porta. Ela abre, e o Nazi arrasta mais alguém para dentro. Eu posso ver um vestido vermelho, semelhante ao meu. Mas então, eu respiro com dificuldade
quando o rosto e o corpo da garota surge por completo. Um ruído de simpatia pura vem do fundo da minha garganta quando vejo sua pele. Seus olhos estão baixos, mas não tenho certeza se poderia realmente
ver. O Nazi abandona a garota no meio do chão, sob a única lâmpada, e sai da sala.
Seu corpo se curva, mas então, ela levanta a cabeça. Estremeço, meu coração rasgando em dois quando vejo seu rosto. Cada centímetro de sua pele parece com as minhas costas.
Ácido, penso imediatamente. Eles derramaram ácido por toda sua pele. Mesmo sua cabeça foi atingida, sem cabelo exceto por uma única moita na parte de trás. Seu cabelo era castanho. Um de seus olhos é cego,
uma tonalidade leitosa turva, sufoca a íris. Mas o outro parece intacto. Olhos castanhos. Olhos gentis. Olhos de cor semelhante ao...
Engasgo, recusando-me acreditar que é verdade. Recuso-me acreditar nos meus olhos. Que esta é
“Sia?” A garota congela.
Mesmo com elas amarradas, sinto minhas mãos tremerem. Meus olhos se arregalam quando a garota se arrasta em direção a nós, seus dentes rangendo com a dor que ela está claramente sentindo. Quando chega
aos meus pés, eu quero virar. Não posso suportar ver como ela está. Como ela mal consegue se mover, a pele por todo o corpo danificada além do reparo.
O que ele fez...?
“Sia,” ela repete sem fôlego, como se tivesse tomado toda a sua energia se deitar perto dos meus pés.
“Mi-Michelle?” Eu consigo perguntar.
Ouço a respiração rápida de Cowboy. Mas eu não interromperia meu olhar com o dela. Eu não poderia... ela é minha amiga.
Se minhas mãos estivessem livres eu colocaria uma palma em sua bochecha e prometeria que tudo ficaria bem. Mas presa, tudo que eu posso fazer é dizer, “O que fizeram com você?”
Michelle funga. Esforço-me para ver a lágrima que cai de seu olho danificado e viaja pelo seu rosto cheio de cicatrizes. “Uma e outra vez...” ela diz. Então olha para Cowboy e se afasta, aproximando-se
mais dos meus pés.
“Ele nunca a machucaria,” eu asseguro a ela, mas depois me sinto tola. Tudo o que ela já conheceu foram homens maus. Por que ela acreditaria em qualquer promessa? Olho para seu vestido vermelho. Eu sei
exatamente qual desses homens maus é responsável por isso.
“Eu tentei escapar,” ela continua, os lábios trêmulos sem carne. Fico imóvel. “Ele me pegou.” Ela direciona seu olho em mim depois de volta para o chão. “Não muito tempo depois que você conseguiu.”
Eu espero. Espero, com o coração na boca. Michelle respira com dificuldade. “Ele me fez vestir como vestia você.” Ela balança a cabeça, evidentemente, repetindo aqueles dias em sua mente. “Mas eu não sou
você. Não importa o que ele fez para mim... tudo o que ele queria, ou fez, para você.” Meu rosto empalidece. Ele a estuprou. Juan a estuprou, porque eu não estava lá para ele foder. “Ele começou derramando
ácido nas minhas costas. Mas não lhe agradou. Então, ele continuou. A cada mês, era outra coisa, outra parte do meu corpo que ele destruía.” Fecho os olhos e tento extrair a montanha de culpa que está
crescendo em mim. “Até que não havia mais nada de mim para tirar.”
Michelle inala, estremecendo. Ela estende a mão. Eu soluço quando seus dedos ásperos seguram minhas mãos e aperta. “Eu nunca pensei que a veria novamente,” ela diz com voz rouca. Então olha para mim. “Eu
quero ir para casa, Sia. Tudo dói muito.” Aperto seus dedos, não muito forte a ponto de causar-lhe mais dor.
“Vou leva-la até lá,” eu prometo. Ela lentamente levanta a cabeça e tenta sorrir. O olhar de desespero no rosto dela é a coisa mais triste que eu já vi. “Eu vou,” falo mais firme, tentando ajudá-la. Dando-lhe
esperança.
Ela fecha os olhos. “Eu quero ver os campos verdes. Há muito deserto aqui. Muita escuridão.”
Meus olhos se levantam para encontrar os olhos de Cowboy. Seu rosto é como uma pedra enquanto ouve Michelle relembrar sua casa. “Michelle?” Ele diz. Michelle vira a cabeça para encará-lo. Cowboy olha para
a porta. “Eu tenho uma faca na bota,” ele sussurra, mal olhando para longe da porta para qualquer coisa, ou quem, pudesse entrar por ali. Ele balança um de seus pés.
Michelle olha para mim. “Você pode confiar nele,” eu digo. “Ele está comigo.” Michelle se arrasta através da sala e até os pés de Cowboy.
“Do lado. Está escondida em minha meia.”
Michelle alcança, o tempo todo lançando olhares desconfiados de volta para mim. Eu balanço a cabeça, tentando dar-lhe incentivo. Ela puxa a faca. Exalo com alivio, assim como Cowboy. Cowboy move as mãos
atrás da cadeira. “Solte-me,” ele instrui, ainda observando a porta.
Mas Michelle começa a recuar.
“Michelle?” Eu questiono, enquanto ela olha para mim. Suas mãos tremem e seus lábios também. “Michelle?” Eu digo, com pânico na minha voz. Lágrima após lágrima desce pelo olho esquerdo de Michelle... então
ela olha para Cowboy e sussurra, “Obrigada...”
Meu coração rasga ao meio com o tom final dessa única palavra. Eu abro minha boca para dizer algo, qualquer coisa para tentar tirá-la de sua desesperança, mas sou interrompida por dois cortes rápidos da
faca afiada em seus pulsos.
“NÃO!” Eu grito, a rouquidão da minha voz faz com que minhas palavras acabem em nada. Michelle deixa cair a faca no chão, o metal bate no concreto. Suas pernas muito finas cedem e ela cambaleia de volta
para a parede atrás dela. O sangue escorre para o chão à sua volta. Ela cai deslizando contra a parede, um sorriso brincando em seus lábios. “Michelle,” eu sussurro, quando a casca contendo minha melhor
amiga encontra meu olhar, nunca afastando seu olhar do meu enquanto a luz em seus olhos desaparece.
O cheiro metálico de sangue infunde no ar. Eu olho para Michelle no chão, de olhos abertos, ainda desaparecendo. Um grito escapa do meu corpo. E então eu grito. Grito tão alto. Tão alto para o idiota que
fez isso a outro ser humano.
Eu o odeio. Eu odeio Juan Garcia com tudo o que sou. Tudo o que ele faz e tudo que ele fez.
A porta da sala se abre e o Nazi entra. Raiva substitui a dor que estou sentindo. Minhas mãos tremem na cadeira. “Onde ele está?” Rosno.
Os olhos do Nazi se arregalam quando ele vê Michelle. “Você estragou tudo,” ele diz. “O chefe tinha planos para ela.” O pulso em minha garganta lateja. Ele encolhe os ombros, e então olha para Cowboy.
“Só será você que ele usará.”
Congelo e olho para Cowboy. Sua mandíbula está apertada. Eu sinto o sangue fugir do meu rosto. Ele vai matá-lo. Juan vai matar Cowboy, lentamente, na minha frente. Assim como ele ia fazer com Michelle
antes dela tirar sua própria vida cheia de miséria.
“Não toque nele,” eu resmungo com raiva enquanto o Nazi se aproxima de Cowboy. Ele tem a faca em sua mão novamente.
“Oh, eu vou tocá-lo.” O Nazi para em frente ao Cowboy. “Fiquei decepcionado quando descobri que eu só tenho você.” Ele gira a faca na mão. “Disseram-me que eu ficaria com um vira-lata.” Meu sangue se transforma
em gelo. As mãos amarradas de Cowboy cerram os punhos atrás dele. O Nazi nota. Ele olha para mim, depois para Cowboy e lhe pergunta, “Você é um marica, bem como um coon-lover18?”
Fogo queima nos olhos azuis de Cowboy. “Sim,” responde desafiadoramente. “Adoro chupar um pau tanto quanto adoro lamber uma buceta.”
O lábio do Nazi se curva com desgosto. “Ser uma bicha não é ruim o suficiente, você escolheu chupar um pau negro.”
Cowboy sorri, um verdadeiro sorriso, o sangue derrama de suas feridas e escorre pelo queixo. “Tentei branco,” O Nazi congela. “eles não eram grandes o suficiente para encher a minha boca como eu quero.”
“Cowboy,” sussurro, implorando-lhe para não responder a essa provocação.
O Nazi se inclina e estende-lhe a faca. “Você gosta de foder a raça corrompida e fraca... então vamos deixar todo mundo saber disso.” Meu coração está na minha boca quando o Nazi se move atrás de Cowboy
e corta seu colete, em seguida, sua camisa, expondo seu peito. O Nazi empurra a cabeça do Cowboy para frente e aproxima a faca no topo da sua coluna vertebral.
“Não!” Eu grito, pensando que ele o esfaquearia. Em vez disso, o filho da puta sádico começa cortar. “Saia de perto dele!” Eu grito quando os olhos de Cowboy brilham e seus dentes apertam juntos quando
a faca é enfiada em sua carne. As mãos do Nazi, suas tatuagens de ‘SS’ e ‘88’ estão manchadas com o sangue do Cowboy.
Cowboy treme quando a dor se torna claramente demais. O Nazi se afasta um pouco e admira seu trabalho. “Vou passar a mensagem ao seu clube que ninguém fode com a gente.” Ele encolhe os ombros. “Seu corpo
vai garantir isso.” Ele dá um sorriso torcido e frio. “Este ‘23/2’ marcado em suas costas mostra que você ama os pretos.” Ele balança a cabeça, em seguida, cospe na ferida. “Raças não devem se misturar.
O sangue branco é enfraquecido pelos negros.”
Cowboy ia falar, mas eu não quero que este idiota o machuque mais, então o interrompo. “Então é melhor você me marcar também.”
O Nazi olha para mim. Eu levanto meu queixo. “Sia,” Cowboy adverte.
“Estou apaixonada por um homem de raça mista.” Eu posso dizer pelo rosto de Cowboy que ele está chateado com o que eu acabei de fazer. Mas eu olho para ele também. “E estou apaixonada por você também.”
“Cher,” ele diz com sua voz áspera.
Olho para o Nazi. “Se você marcá-lo com qualquer merda que esse número significa, então é melhor fazer o mesmo comigo.” Eu sorrio.
O Nazi vem em minha direção. “Eu tenho ordens para fazer a marca de Garcia em você.” A rosa negra. O Nazi encolhe os ombros. “Posso fazer as duas coisas.”
Ele vem atrás de mim e empurra minha cabeça para baixo. Mordo a língua, saboreando o sangue na minha boca, quando o primeiro corte é feito. Eu seguro o olhar furioso de Cowboy enquanto a dor quase me faz
vomitar. E imagino a cara de Hush. Como se a solidão que vivia dentro dele por tanto tempo fosse suspensa quando ele estava conosco. Onde é o seu lugar. Conosco. Sua casa.
“Vinte e três,” diz o nazista quando meu corpo começa a tremer, adrenalina corre solta pelo meu corpo. “É o número alfabético para ‘W’, que significa branco19. Dois é o número alfabético para-”
“B,” eu grito, quando uma respiração reprimida escapa de mim.
“É para o preto,20” completa. “23/2, para aqueles que fodem a raça inferior. Misturando sangue e criando aberrações que nunca deviam ter nascido.”
Penso em Hush e como ele não é nenhum monstro. Como ele não é uma abominação ou um vira-lata ou um mestiço. Em vez disso, ele é perfeito. Um dos homens mais honrados que já conheci, mas atacado por idiotas
como esse nazista. Danificado, com tão pouca autoestima que a minha alma chora por tudo o que ele passou... o ódio diário que ele suportou por apenas existir.
O Nazi se afasta de mim, dando-me uma pausa da dor lancinante da lâmina. Engulo com dificuldade procurando por ar, o meu corpo imediatamente perde toda a energia. O Nazi segue para a porta e sai. Minha
cabeça abaixa, mas quando eu olho para o chão, vejo Michelle, ou a menina que costumava ser Michelle, deitada sem vida. Ergo os olhos para ver Cowboy, machucado e quebrado, seu rosto pálido, mas o queixo
ainda levantado. Desafiante até ao fim.
“Cher,” ele diz roucamente. “Eu sinto muito.” A agonia de me assistir ser machucada está evidente em sua voz. Olho para aquele homem, metade de dois que mudaram minha vida, mudando minha noite constante
para doces dias únicos de verão. E eu sinto a força que tentei tanto transmitir deslizar como manteiga em uma faca quente.
Porque este homem, este Cajun descontraído com uma boa conversa e piscadela atrevida, seria tirado de mim. Roubado de sua vida por causa de um homem que conheci quando tinha dezessete anos. Um homem que
não pode perder, e fará qualquer coisa para ganhar.
“Eu sinto muito.” Olho para a porta, perguntando quanto tempo eu tenho antes do Nazi ou o próprio Garcia voltar para matar Cowboy, e com ele, metade do meu coração.
“Cher,” Cowboy começa. Sua voz é forte, corajosa. Mas eu vejo seus olhos brilharem. Ouço sua respiração falhar quando ele vê minha expressão.
“Eu te amo,” eu sussurro. Sorrio, minhas lagrimas com sabor amargo explodem na minha língua enquanto escorrem pelo meu rosto. Foi surpreendente a rapidez com que meu coração o reivindicou tanto quanto
reivindicou o Hush. Como se estivesse procurando por eles, analisando os poucos que encontrei, sonolento, até que foi acordado por um Cajun falante usando um Stetson e uma alma danificada com olhos azuis
cristalinos. “Eu... eu só quero que você saiba,” digo suavemente, “que... que... eu te amo.” Sorrio, sentindo falta do outro terço que faz o nosso triângulo peculiar completo. “E Hush,” acrescento, as
palavras presas na minha garganta.
Cowboy abaixa a cabeça, e depois, a levanta e diz, “Je t'aime, Cher21.” Ele limpa a garganta. “E sei que o Valan também te ama.” Seus olhos estão foscos mais possuem algo que parece ser uma forte determinação.
“Você não está considerando o fato de que ele está lá fora. Que ele te ama tanto quanto eu. Se você perder a fé, se...” seu olhar encontra Michelle. Seu nariz dilata e seus olhos fecham por uma fração
de segundo. “Não importa o que ele fizer para você. Espere um pouco.” A porta se abre e o Nazi aparece de novo, uma luz em seus olhos que não estava lá antes.
Ele caminha determinadamente para Cowboy. Prendo a respiração, preparando-me para a onda de devastação que eu tenho certeza que está prestes a chegar. Mas não sei como encontrar um suporte. Como diabos
você se prepara para o seu coração ser retirado do seu peito e rasgado em mil pedaços?
Cowboy endireita as costas, as mãos e os pés tensos em suas amarras quando o Nazi fica de pé diante dele. Eu quero chorar com a dignidade que uma pessoa pode reunir ao enfrentar a morte certa. Cowboy olha
diretamente nos olhos do seu assassino. Minha visão fica turva quando lágrimas como eu nunca tinha derramado antes, inundam meus olhos. Meu coração bate em um ritmo desleixado, descompassado, em meu peito.
O tempo para. A faca é levantada no ar. Engulo com dificuldade uma inspiração calma de ar, sabendo que cada respiração após a faca descer seria trabalhosa e pesada para meus pulmões. Então, assim que fico
imóvel, esperando a minha alma ser rasgada em duas, uma figura grande passa na minha frente e esfaqueia o pescoço do Nazi.
Que diabos?
Um homem, vestido todo de preto, cabelo preto longo passando por seus ombros, vira-se e sorri. Eu respiro rápido, meus olhos arregalados, perguntando o que estava acontecendo, e, em seguida, uma voz fala,
soando como o próprio céu. “Querida.”
“Hush,” eu sussurro com descrença. Hush entra apressado no quarto. Ele corre para mim e coloca as mãos no meu rosto. Ele procura meus olhos, seu olhar azul quente como o sol. Minhas mãos estão de repente
livres, assim como meus tornozelos. Minhas mãos dormentes encontram o caminho para as bochechas de Hush, sabendo exatamente onde elas pertenciam. Meus dedos tremem em seu rosto. Hush segura meus pulsos,
os olhos se fechando como se em oração silenciosa. Uma mão cai sobre seu ombro. Hush inclina a cabeça para trás, seus olhos se fecham pela segunda vez em poucos segundos. Hush vira-se e puxa Cowboy em
seu peito. Cowboy grunhe, e Hush imediatamente recua.
Hush olha para suas mãos... suas mãos agora ensanguentadas. Ele vira Cowboy ao redor, e eu observo sua face sem cor. Então ele olha para mim novamente. O homem que matou Nazi está me ajudando a ficar de
pé. Olho para o emblema tatuado em seu braço, afastando minha mão quando vejo o patch dos Diablos. Um lampejo de raiva me domina. Eles mataram minha mãe.
Mas Hush me afasta disso quando gentilmente me vira. Eu não quero. Eu sei o efeito que isso tem sobre ele. Sei que isso seria apenas outra facada em seu coração já perfurado e sangrando.
Eu sei quando ele viu os cortes. Hush respira fundo. Quando eu viro de volta, é como uma persiana sendo puxada; seu rosto adota a mesma máscara que ele usava quando chegou a primeira vez no rancho.
“Hush.” Pego sua mão. Hush vira-se e, em seguida, para. Ele olha para o corpo de Michelle. Cowboy coloca a mão no ombro de Hush. O Diablo vai até o Nazi para se certificar de que ele está morto. Eu oscilo
onde estou de pé, meu corpo começando a entrar em estado de choque.
“Garcia fez isso,” Cowboy diz a Hush, apoiado em seu melhor amigo para ficar de pé.
Uma mão de repente envolve meu pescoço e me arrasta para trás. “Um dos meus melhores trabalhos, mesmo eu assumo isso.”
Hush, Cowboy e o Diablo viram-se juntos. A faca está na minha garganta. O braço de Juan envolve meu corpo, e eu o agarro simplesmente para ficar em pé. Eu sei que se me mover, seu eu cair, a lâmina irá
dividir minha garganta.
“Ah.” Juan beija meu rosto. “O terceiro membro do seu pequeno trio.” Os olhos de Hush estão focados em Juan. Garcia olha para o Diablo. “Bem, bem, Angelo. Parece que encontrou um novo lar.”
O Diablo levanta uma sobrancelha e sorri. “Parece que sim.”
“Nós sempre quisemos saber para onde você foi.” Juan encolhe os ombros, todo arrogante enquanto olha para três homens que poderiam matá-lo em um piscar de olhos. Mas então, ele sabe que eles não atirariam.
Eles não podiam atingi-lo sem me atingir também. “Nós ainda poderíamos usar um homem com suas habilidades, se você quiser retornar.”
Angelo inclina a cabeça.
“Nós podemos perdoá-lo por ter abandonado o cartel para a piada Tejana que é a sua pequena gangue de motoqueiros.”
Angelo balança a cabeça. Hush aproveita a oportunidade para tentar se mover para a esquerda. “Eu não faria isso,” Juan avisa. Ele empurra a lâmina em minha garganta, e eu grito quando sinto a ponta afiada.
Não me atrevo a engolir. Hush fica imóvel. A boca de Juan descansa na minha bochecha. Eu seguro um grito na minha boca quando seu peito esfrega contra a minha ferida. “Ele merecia morrer,” Juan diz sobre
o Nazi. “Eu sou o único que profana esta pele.”
Fecho os olhos. Quando abro novamente, eu olho para Hush e Cowboy. “Por favor...” seus olhares encontram o meu. “Vão.” Eles não se movem. Mas eu sei que Garcia tem alguém para ajudá-lo ou ele não estaria
ameaçando minha vida. Eles podem sair. Eu sempre soube que acabaria aqui novamente. “Vão,” eu imploro.
“Não,” Hush responde com firmeza. Cowboy balança a cabeça. Eu fecho os olhos e sinto minhas lágrimas encontrarem o ouvido de Juan.
Abro-os novamente. “VÃO!” Grito, o esforço provoca ondas de dor pelo meu corpo. Eu respiro através da dor. “Por favor,” sussurro. “Salvem-se.”
Hush e Cowboy mantém seus olhos em mim. Eu encontro os dois tons de azul que eu adoro tanto e sinto uma estranha sensação de realização. Eu posso tê-los perdido, e fui empurrada de volta para este inferno
com Juan, mas pelo menos eu amei. Pelo menos eu senti a adoração e bondade que eu só tinha visto em filmes.
Sorrio fracamente. Eles foram perfeitos para mim. Nós teríamos sido perfeitos juntos.
De repente, um som de sufocamento sai da boca de Juan. Sua mão escorrega para longe. Hush agarra meu braço e me puxa em direção a ele. Minhas pernas vacilam, e Hush me pega antes de cair. O som de um objeto
pesado batendo no chão ecoa pela sala. Eu rapidamente viro minha cabeça para testemunhar Juan caindo no chão, sua garganta cortada e sangrando. Então olho para cima e
“Oi, mana.”
“Ky,” eu sussurro em surpresa, assim que Styx e Tanner entram na sala. Styx tem sua lâmina alemã na mão, sangue sobre seus braços e bochechas. Ele me dá um leve sorriso, seus ombros largos relaxam quando
ele encontra meus olhos.
“Temos que ir,” Angelo diz. “Temos cerca de trinta minutos antes dos carros voltarem e estaremos tão fodidos como as cadelas que eles roubam para vender.”
Hush me segura em seus braços. Ky vem para o meu lado, com os olhos em chamas quando olha as minhas costas.
“Sia.” Ele passa a mão pelo meu braço. A dor agonizante que atravessa seu rosto quase me faz chorar. Mas então Hush me carrega rapidamente pelos corredores vazios. Angelo nos guia para fora por uma porta
dos fundos e entramos em outro edifício. Mantemo-nos nas sombras. A cada passo que Hush dá, eu cerro os dentes contra a dor dos movimentos espasmódicos enviados para minhas costas. Olho atrás de mim. Styx
está sustentando Cowboy de pé, com o rosto inchado e já roxo.
Nós tínhamos acabado de dobrar a esquina quando ficamos cara a cara com um homem na porta de saída. Olho para a porta, sabendo que era nossa fuga para a liberdade. Então olho para o homem que sacou sua
arma, surpresa escrita em seu rosto. Suas tatuagens são os mesmos símbolos racistas que o Nazi esculpiu em nossas costas. Hush fica tenso e me segura mais perto.
De repente, Tanner dá um passo adiante. Os olhos do homem se arregalam. “Tanner Ayers?” O Nazi pergunta em estado de choque, e então seus olhos se estreitam. Ele levanta a arma. “Fomos informados que você
desertou da causa para aderir a este grupo impuro, porra.” Ele abre a boca novamente, mas Tanner pega uma arma de seu colete e acerta uma bala direto na cabeça do nazista. Seu corpo cai no chão.
“Foda-se,” Angelo diz, em seguida, rapidamente nos leva até a porta. Nós corremos para uma van esperando. Quando todos nós entramos, Angelo para e diz, “Eu volto em um minuto.” Ele se esquiva, deixando
as portas da van abertas.
Eu sobressalto quando uma súbita explosão de calor invade a van. Luz cega meus olhos, fazendo-me estremecer. Estrondos altos e estalos ensurdecedores parecem ecoar em torno da van como se nós estivéssemos
no meio de um fogo cruzado.
“Que porra é essa?” Ky rosna, apressando-se para a entrada da van. Os prédios que abrigavam as garotas estão acesos. Vejo as chamas subirem cada vez mais altas enquanto devoram as estruturas esquecidas
por Deus. Adrenalina me invade, e eu tento sair da van.
“Michelle!” Eu choro freneticamente, minha voz muito calma para ser ouvida de fora da van. “Ela ainda está lá dentro!” Alguém me segura. Eu agarro seus braços. “Deixe-me ir!” Grito, meu sangue corre em
minhas veias. “Michelle! Eu preciso pegar a Michelle!” Mas os braços não me deixam ir. Eu chuto e balanço meu corpo, tentando me libertar. Olho para trás para ver o rosto serio de Ky. “Ky! Solte-me, porra!”
Minha cabeça vira-se para o edifício. “Não!” Eu choro. O lugar é um maldito inferno. Não há mais um edifício intacto. Tudo está em chamas.
Solto-me nos braços de KY, não estou mais sentindo minhas pernas, toda a minha força foi roubada pelas chamas diante de mim. O calor do edifício chega até o meu rosto e começo a suar. Eu nem sequer noto
que Ky me afastou das portas, colocando minhas costas contra a parede da van, até Cowboy colocar uma mão suave no meu braço. Olho cansada, entorpecida, para seus olhos machucados. “Ela queria ir para casa,”
eu imploro, com minha voz embargada. “Para os campos verdes do Texas.” Engulo com dificuldade. “Seus pais merecem tê-la de volta...”
O olhar de Cowboy está cheio de simpatia, a luz do incêndio reflete em seus olhos azuis. “Não como ela está,” ele diz suavemente. “Eles não poderiam lidar com o que ela passou. Nós vamos avisá-los, mas
vamos poupar-lhes a verdade. Ninguém pode lidar com sua filha ser submetida a isso.”
Eu seguro a mão de Hush firmemente. Cowboy acaricia seu polegar ao longo do meu rosto. Posso sentir Ky nos observando. Mas eu não tenho energia para ele agora. Encosto-me em Hush novamente, deixando-o
me embalar em seus braços quentes. Cowboy se inclina para Hush, a sua última energia parece desaparecer.
Angelo, ou como Ky o chamou, Shadow, vem até a porta. Ele está um pouco sem fôlego, e sorri, fazendo o seu rosto de tirar o fôlego. “Não foi possível foder esse lugar quando eu trabalhei aqui. Sonhei incendiá-lo
desde que saí.”
A porta se fecha, mergulhando-nos na escuridão. AK abre a trava entre a cabine e a parte de trás da van. “Quantos?” Tanner pergunta.
“Quinze,” AK responde.
Tanner assente e, em seguida, baixa os olhos para algum dispositivo iPad. “A estrada está limpa. Os irmãos estão todos em guarda e nos esperando.” Ele suspira. “Uma hora desobstruída.” Olho para Hush para
vê-lo observando Tanner como um falcão. Mas quando a van começa a se mover, eu permito o sono que estava chamando me levar.
E faço uma oração ao Hades para acolher Michelle de braços abertos na vida após a morte. Seu belo rosto, mais uma vez intacto, com um largo sorriso nos lábios enquanto ela dança através dos Campos Elísios22.
Mas Juan... o filho da puta pode queimar no Tártaro.
Capítulo doze
Hush
Entramos pela porta do nosso apartamento. Eu deveria dar um grande suspiro de alívio. Em vez disso, o entorpecimento que me possui desde o México permanece. Se alguma coisa, está ficando mais forte, seu
peso começa a me fazer dobrar.
Estivemos na casa dos Diablos por três dias. Os médicos tinham suturado Sia e Cowboy. Mas a marca neles... a que eu reconheci em um instante, ainda pode ser vista.
23/2... a marca da Klan para pessoas que são um casal de raça mista. Eu sei, porque três dias depois de me mudar para a cidade quando adolescente, ela foi pintada com spray em nossa casa. Branco e preto.
Inaceitável. Proibido. Errado. Pior, aos seus olhos... punível com a morte.
A mão de Sia pousa nas minhas costas. Ela está melhor ? ainda pálida e com dor, mas a injeção e as pílulas que o médico dos Diablos lhe deu ajudou. Cowboy também. Olho para ele e o encontro me olhando.
Estudo os hematomas e cortes no seu corpo. Ele levou uma surra porque achavam que estava comigo também. Algo que ele nunca nega, é claro, apenas para foder as pessoas.
Suspiro e tomo um copo de água. Nós saímos há um tempo, e voltamos em silêncio. Sia está excepcionalmente calada, sem dúvida pensando em Michelle. Cowboy, que sempre fala, também está quieto. Continuo
pensando que estão olhando para mim... colocando a culpa em meus pés.
Porque eu deveria estar com eles. Se não tivesse tido a convulsão, eu estaria. Teria ajudado a defender o rancho. Talvez, se eu estivesse lá, nada disso tivesse acontecido. Sia nem sequer pensa em voltar
para o rancho; muitos pesadelos a aguardam. Clara. Seus cavalos... tudo o que ela construiu foi destruído.
Ela senta-se ao lado de Cowboy no sofá. Ele coloca um braço ao seu redor e a puxa para perto. Percebo que ambos prendem a respiração quando seus pontos puxam, mas depois relaxam. Observá-los faz algo estranho
dentro de mim. Ambos loiros. Ambos de olhos azuis... ambos combinam em todos os sentidos como eu não faço.
“Vou tomar banho,” anuncio e saio para o banheiro. É apenas o meio da tarde, mas eu preciso fugir. Ligo o chuveiro e fico de pé, observo meu reflexo no espelho. Levanto o braço e corro meus dedos pela
minha pele. A pele que causou tanto sofrimento na minha vida. Olho meus olhos azuis, um legado da minha mãe. Os olhos que gritam para as pessoas que não sou um nem outro. Nem preto nem branco, mas ambos.
‘Nunca vi ninguém tão bonito como você, querido,’ minha mãe dizia quando eu era criança e beijava meus olhos. O melhor de nós dois.
Como um garoto de olhos brilhantes, eu acreditava nela. Então, todos os anos, quando fui derrubado mais e mais no chão por palavras disfarçadas de balas, punhais disfarçados de punhos, o elogio lentamente
foi manchado.
E quando a casa que eu tanto amava foi queimada diante dos meus olhos, levando meus heróis para dentro das chamas, eu percebi que era tudo besteira.
Mesmo este clube não poderia me dar a aceitação que prometeu. Quando nosso antigo Prez de Nova Orleans morreu de um ataque cardíaco repentino, o Vice-prez assumiu o comando. O Vice-prez, que foi o único
irmão a votar contra eu receber um patch de membro. Não Cowboy, só eu. Desde o momento que ele recebeu o martelo, eu fui um alvo. Sempre enviado para as corridas ruins. Alvo de todas as piadas e, finalmente,
a merda da mentira que eu roubei do clube. ‘É bem do seu tipo fazer algo assim,’ Titus acusou. ‘Nenhum irmão branco jamais teria traído seu irmão assim.’
Tornamo-nos nômades antes que a situação pudesse chegar à igreja. O idiota concordou em um segundo. Qualquer coisa para conseguir o negro fora do seu clube e uma desculpa para onde o dinheiro foi parar.
Aposto que o filho da puta lhes disse que minha decisão de ser nômade tinha culpa escrito por toda parte.
Cowboy, como sempre, disse a qualquer irmão que conhecemos na estrada que saímos por causa dele. Isso é típico do Cowboy. Cuidar de mim, em toda porra de hora. Ele me seguiu por todos os Estados até chegarmos
a Austin.
Titus se recusou a receber qualquer prospect que tentou se juntar à seção de Nova Orleans que tinha até uma grama de cor em sua pele. Caramelo, marrom, preto... qualquer coisa que não fosse uma sombra
do branco radiante. Em vez de confrontar o buceta racista, eu acabei saindo. Pensei que poderia me afastar daquela merda, mas, assim como todo o resto, isso me acompanhou de qualquer maneira.
Não pareço pertencer a nenhum maldito mundo.
Tiro minhas roupas. Nu, olho as tatuagens que cobrem a pele que desejo nunca ter tido. Eu não pertenço a ninguém. Não tenho nenhuma família maldita, a não ser Cowboy.
Eu não sou negro o suficiente.
Não sou suficientemente branco.
Nunca é o suficiente, caralho.
Toco a cicatriz que terei para sempre. O “N” marcado em mim aos dezesseis anos. Eu tenho vinte e seis agora, e as pessoas ainda não mudam. Mal progrediram.
E estou cansado. Estou exausto pra caralho de lutar com essa merda.
Corro os dedos pelo meu braço novamente, raspo minhas unhas ao longo da pele. Escavo cada vez mais na carne até o sangue começar a escorrer das marcas. Eu ofego, quero derramar quem diabos eu sou. Mudar
para outra coisa. Alguém que não foi uma praga a todos os que deixei entrar.
Mamãe, eu listo na minha mente. Papai... Aubin... Sia.
Os nomes jogados se repetem em minha cabeça. Circulam, pulam como tubarões. Mordem a minha fodida alma, até que tudo que resta é o cadáver sangrento da pessoa que eu poderia ser, se as coisas fossem diferentes.
Se eu tivesse sido diferente. Se as pessoas não tivessem me expulsado. Se não tivessem me empurrado e empurrado. Espancando-me e afugentado até que não houvesse nada.
Nada.
Uma palavra que me resume.
Meus pés me levam ao chuveiro. Abaixo minha cabeça, deixo o spray escaldante molhar meu corpo. Minhas palmas pressionam contra a parede. Aumento a temperatura da água cada vez mais alto até o máximo. Minhas
mãos lisas em punhos enquanto a água bate como um milhão de mãos na minha pele.
Imagino meus pais na minha cabeça. Eu os vi na janela do sótão. Vi a mão da minha mãe no painel da janela. Abro os olhos, olho minha mão na parede. O calor sobe, o vapor rouba minha respiração. Pergunto-me
o que sentiram naquele momento... pergunto o que viram quando me olharam de pé na grama, observando o fogo subir cada vez mais alto, varrendo os seus pés.
E me pergunto o que aconteceu antes de eu chegar lá. Nunca soube como aconteceu. Nunca soube se eles viram seus assassinos. Eu nunca soube se homens com capuzes pontiagudos apareceram à sua porta para
entregar sua sentença.
Meu corpo treme, incapaz de tolerar a temperatura. Engasgo e bato o controle para esfriar. Minha testa bate no azulejo. Aperto os olhos.
Finalmente, me deixo fazer a pergunta que sempre espreitou minha mente, mas que nunca me permiti fazer. Pergunto-me se eles achavam que valeu a pena. Pergunto-me se eu valia a pena. Se me ter foi um arrependimento.
Para os fanáticos que os atacavam diariamente, não era apenas o fato de terem se apaixonado e jurado ser tudo um para o outro. Era o fato de que eles me criaram.
Eu era a abominação que ofendia tanto os membros da Klan em Louisiana que eles ignoraram a colocação das cruzes ardentes na terra dos meus pais, ao invés disso, os prenderam em sua casa em chamas, assassinando
seu amor e qualquer felicidade que ousei esperar um dia.
Não tenho certeza de quanto tempo estou debaixo do spray de água. Saio e me enxugo. Escorrego em minha cueca boxer e saio do banheiro. As cortinas no quarto do Cowboy estão fechadas. Ouço o som de choro
antes de vê-los. Cowboy está na cama, ele segura Sia em seus braços quando ela desmorona. Soluços derramam da sua boca. Ela está vestida com uma camisola. Cowboy também está em sua boxer. Ele me vê na
porta.
“Estamos exaustos. Decidi vir para a cama e esperar por você. Acho que podemos recuperar o sono.” Ele limpa os olhos de Sia. Ela se vira para me olhar, os olhos vermelhos e o rosto manchado com tristeza.
“Mas ela não pode se perdoar.” Cowboy explica. Observo o rosto de Sia abatido e ela volta sua cabeça para o peito de Cowboy. Os seus soluços aumentam. As famílias de Clara e Michelle foram informadas que
elas morreram. Não é a verdade, é claro. Os policiais foram pagos por esse luxo. Mas pelo menos souberam que elas foram embora. Os funerais seriam feitos. Os entes queridos poderiam seguir em frente.
Fico congelado na porta. Sia está melhor com o Cowboy. Ele sempre sabe o que dizer. Ele é bom pra ela... ele é destinado a ela. Percebo isso agora. Ignoro o corte em meu peito que essa determinação causa.
Estou prestes a me virar e sair quando Cowboy diz, “Val, ela precisa de nós.”
A ideia de ir para outro lugar é detonada quando Sia, com a cabeça ainda enterrada no peito de Aubin, estende a mão pra mim. Eu olho seus dedos, agitados, tremendo... chamando-me.
Preso a sua necessidade, encontro-me caminhando em direção à cama e subo ao lado deles. Deito no travesseiro e fecho os olhos, exalo quando Sia envolve seus braços em volta de mim. E eu a seguro. Envolvo
meus braços em volta dela e me seguro.
“Não é culpa sua,” murmuro. Sia chora mais. Imagino sua amiga na minha cabeça. Um vislumbre do que teria acontecido se Sia não tivesse saído. Minha mão se move debaixo da camisola para pressionar contra
sua cicatriz, os restos da queimadura de ácido que foi seu castigo original. Eu a seguro tão forte que me preocupo que ela não possa respirar. Minha mão move-se para o norte, perto da ferida mais nova.
Mas eu paro de tocá-la. Minha mão se acalma. A mão de Cowboy vem em cima da minha. Fucker está tentando nos impedir de desmoronar. Ou talvez ele realmente precise de conforto também. Ele é tão bom em cuidar
de mim, e não tenho certeza se eu realmente já estive lá pra ele.
Outra coisa que eu fodi.
O choro de Sia se acalma até que penso que ela está dormindo. Fecho os olhos, e ouço Cowboy respirar ao meu lado. Sia se move até que fica entre nós. Uma mão no meu peito, uma em Aubin. No meio de nós
dois. O Sol e Lua para nossa fodida Terra. Então, sua mão se move, e no completo silêncio do quarto, ela sussurra, “Faça amor comigo.” Seguro minha respiração. Sia não move o olhar para nenhum de nós.
“Vocês dois. Juntos. Apenas... façam-me sentir outra coisa, apenas... isso...” sua voz quebra na última palavra e leva meu maldito coração junto.
Cowboy foi o primeiro a se mover. Pela primeira vez, ele não fala. Eu assisto meu melhor amigo rolar em seus cotovelos, olhar para Sia com uma expressão que não vi em seu rosto antes. Esse olhar maldito...
é o que sei que uso quando olho para ela também.
Ela entrou entre nós. Tornando-se parte de nós, como éramos um com o outro. Não houve piscadelas ou sorrisos estúpidos quando ele a olha. Com o rosto ferido e cheio de cortes, ele afasta o cabelo do seu
rosto e se inclina. Ele a beija. Porra, um beijo após o outro, sua mão desliza em seu cabelo. Meu coração acelera enquanto eu assisto, a mão de Sia começa a mover-se no meu peito. Sempre nos conectando,
nunca deixando um de fora, uma mão ou uma boca sempre assegura ao outro que estamos juntos.
Incapaz de ficar longe, eu me viro para trás e beijo o lado do seu pescoço. Fecho os olhos e vou para baixo, evito a ferida... evito a zombaria que me encara em suas costas. Sia soluça enquanto meus lábios
roçam sua pele marcada. Levo minha mão sobre qualquer parte que meus lábios não estão tocando. “Perfeita,” sussurro. Sia estremece quando a palavra escapa dos meus lábios.
Beijo suas costas até chegar ao seu ombro. Saindo da boca de Aubin, Sia vira a cabeça e fecho meus lábios em torno dela. Ela geme na minha boca, sua pele começa a aquecer. Sinto Aubin tirar as alças da
sua camisola. Movo-me enquanto ele tira o material do seu corpo. Pele nua toca meu corpo. Abaixo minha mão e tiro minha cueca boxer.
Sia rola em meus braços e prende suas mãos em volta do meu pescoço. Eu a beijo de novo, a ponta dos seus dedos corre pelo meu peito, me fazendo perder o maldito fôlego. Ela segura meu pau, suas pequenas
mãos acariciam subindo e descendo. Eu gemo. Sinto Cowboy beijar seu pescoço e depois mover seu corpo. Ela agarra meu pescoço mais apertado quando Cowboy beija suas costas. Olho para baixo e vejo Cowboy
entre suas pernas. Deito-a de costas. Cowboy a abre e lambe. Ela agarra seus cabelos enquanto solta um suspiro.
Beijo seu pescoço, ao longo do seu ombro e abaixo até que minha língua alcança o seu mamilo. Eu brinco e o toco, ouço enquanto sua respiração falha. Circulo seu mamilo e movo minha mão entre suas pernas
até encontrar seu clitóris. Ela está quente e molhada pela língua de Cowboy. Circulo seu clitóris, cubro sua boca enquanto Sia grita, caindo para trás. Eu a beijo quando ela goza, até que treme em meus
braços.
Minha garganta está apertada com o quanto eu quero isso... preciso disso. Estar aqui, assim, está fodendo tudo. Mas não consigo parar. Afasto esse pensamento da minha cabeça. Isso não pertence ao aqui,
ao agora.
Cowboy beija suas coxas e continua subindo. Deixo sua boca e me movo descendo, até encontrar-me entre suas pernas. Sentado em meus pés, eu a abro, passo meu polegar sobre seu clitóris. Eu gemo, me inclino
e lambo sua buceta. Meus olhos se fecham enquanto Sia treme debaixo de mim. Circulo meu dedo sobre seu clitóris e, em seguida, empurro para dentro dela. Tão sensível por já ter gozado uma vez, Sia vai
ao limite em minutos. Ela ofega, e acaricia minha cabeça.
Sento-me de volta, meu pau está tão duro que preciso estar nela. Cowboy me dá um preservativo, e eu coloco. Subo sobre Sia, seus braços me aguardam. Ela passa a mão pelo meu rosto e olha para Cowboy para
sussurrar, “os dois.”
O desespero em seus olhos me destrói. Ela engole em seco, e uma lágrima cai de seus olhos. “Façam-me esquecer,” ela exige e depois olha nossos olhos por sua vez. “Façam amor comigo.” O pedido teve mais
peso do que nunca. Eu ainda observo seu rosto. Um sorriso doloroso curva seus lábios. Ela traz meus dedos para sua boca e beija-os. “Eu amo você,” ela diz e completamente ofusca meu coração. Esqueço como
respirar. Sia vira-se para Cowboy, e diz, “Eu também te amo.”
Bato minha boca na dela. Pego sua língua. Repito suas palavras uma e outra vez... mas uma guerra estoura em mim sobre como elas me fazem sentir. Desespero e arrependimento lutam por dominância. Antes que
eu possa lutar com os dois, Cowboy levanta Sia em cima dele. Eu me ajoelho atrás dela, levando seu corpo magro em meus braços. Beijo seu pescoço, sua bochecha e sua boca, até que seus lábios estão inchados.
Com a mão suavemente colocada em suas costas, abaixo-a até que a boca de Cowboy está sobre ela. Acaricio sua coluna e coloco meu dedo entre suas pernas. Movo-me através de sua buceta molhada, e então movo
meu dedo para sua bunda. Sia fica tensa. “Vamos cuidar de você, Cher,” Cowboy sussurra.
Cowboy alcança a gaveta e me entrega um frasco. Aperto o lubrificante na mão e, beijo seu pescoço, começo a abri-la com o dedo. Cowboy brinca com seu clitóris. Sia geme, um longo suspiro escorrega da sua
boca. Eu adiciono outro dedo, certificando-me de que ela pode me levar.
Quando Sia está pronta, eu olho para Cowboy. Ele se move, e assisto quando ele entra em sua buceta. Ele geme. Sia enfia sua cabeça entre o pescoço e o ombro dele. Eu acaricio suas costas, pergunto-me como
diabos eu tenho tanta sorte de ter essa vez com ela. Antes que eu possa me deixar pensar em qualquer outra coisa fora desse momento, avanço e começo a empurrar dentro dela. Aperto os dentes, e fecho os
olhos quando escorrego. Sia grita, sua cabeça volta para trás. Cowboy vira sua cabeça ligeiramente para o lado para poder ver o rosto dela. É uma imagem que estará para sempre enraizada na minha memória.
Seus olhos vibram fechados, sua boca levemente separada, as bochechas coradas e arqueadas. “Querida,” sussurro enquanto a encho completamente. Eu paro, e Cowboy se move quando minha cabeça cai para trás
e apenas sinto tudo.
Sempre tive uma maldita tempestade dentro de mim. Uma que se enfurece, mas nunca se acomoda. Eu sempre precisei continuar em movimento. Precisei deixar minha mente longe do pensar, porque se eu pensasse,
tudo se tornaria muito fodido e eu não poderia aguentar isso. Mas aqui, dentro de Sia, minhas mãos em seu corpo, a porra da tempestade se acalmou. Os ruídos que eu não conseguia acalmar em minha cabeça
ficaram em silêncio. Tudo o que ouço é ela, eu e Cowboy.
Mas sei que esse silêncio não durará.
Não pode. Então eu o seguro enquanto tenho essa porra de chance.
Sia suspira, e me arrasto para frente, meu peito cai em suas costas. Beijo seu pescoço. “Querida,” eu murmuro e começo a me mover. Começo lentamente, viro o rosto de Sia até eu poder beijar sua boca. Quando
sua língua rola contra a minha, Cowboy move seus quadris. Sia joga a cabeça para trás e geme. Coloco as mãos de cada lado dela, minhas palmas no colchão. Cowboy mantém seu rosto em suas mãos, observa cada
expressão que ela faz. Seus lábios se separam quando ele a observa, pura adoração. Quero poder ver seu rosto também. Como se ouvisse meu pensamento, ele inclina sua cabeça novamente até que eu possa vê-la.
Ela é tão bela. Nunca vi uma cadela tão perfeita.
Abaixo minha cabeça contra seu pescoço enquanto vamos mais rápido. Sia alterna entre beijar-me e beijar Cowboy. Eu gemo, sinto todas as fodidas partes disso. Nós tínhamos fodido cadelas assim antes, muitas
vezes para contar. Mas nada foi assim. Fecho os olhos, e me permito saborear esse momento, bloqueio todos os fantasmas escuros que ameaçam invadir minha cabeça.
“Hush,” ela murmura. “Cowboy.” Então, ofuscando-me, ela sussurra, “Valan,” seguido de “Aubin.”
Cowboy geme tão alto quanto eu, quando nossos nomes reais saem de seus lábios. Trabalho meu quadril mais e mais rápido, sinto que a pressão começa a se construir em minhas pernas. Afasto-me das costas
de Sia, preciso ir ainda mais rápido. Cowboy guia Sia para cima, com as costas arqueadas até cair contra meu peito. Coloco um braço em volta da sua cintura, o outro em volta do seu peito. A cabeça de Sia
cai no meu ombro. As mãos de Cowboy estão em seus quadris. Seus olhos estão vidrados, e sei que não demorará muito para ele gozar.
Giro o meu quadril mais rápido, a boca da Sia se abre. Uma mão agarra a minha, a outra segura Cowboy enquanto sua respiração se torna irregular. “Eu vou gozar,” ela sussurra, seu rosto se contorce quando
ela fica tensa, então grita o seu orgasmo.
Cowboy rosna e goza também. Eu continuo fodendo Sia, então, deixo minha cabeça cair em seu ombro, e gozo tão forte que meu maxilar dói pelo quão forte eu aperto meus dentes.
Sia respira. Cowboy respira. Eu respiro. A condensação escorre nas janelas. Sia recosta-se para me beijar. Dessa vez é suave. Fecho meus olhos, e sinto tudo, memorizo seu gosto, como seus lábios são.
Então, cedo demais, ela se separa. Inclina-se e beija Cowboy. Removo o preservativo e o jogo fora. Eu deito ao lado de Sia, e ela se enrola contra meu peito. Seguro-a, sinto os efeitos secundários do que
acabou de acontecer escorregar. Baixo o olhar e vejo meu braço sobre o dela. Vejo o de Cowboy sobre sua cintura. Meu estômago cai, sei que sou uma peça do quebra-cabeça que nunca vai caber.
“Eu amo tanto vocês dois,” Sia murmura, sua voz pingando com o sono. Minhas narinas abrem, e tenho que trabalhar duro para não me desfazer. Não posso dizer isso de volta. Sei o que está por vir. Se eu
disser essas palavras, nunca farei o que tenho que fazer.
“Amo você também, Cher,” diz Cowboy.
Faço uma pausa, deixo as palavras não ditas juntarem-se as deles. Abro a boca e sussurro em sueco, “Eu queria que as coisas fossem diferentes.”
“Isso é bonito,” Sia diz, e fecha os olhos cansados. Ela não pensaria que são palavras bonitas se tivesse me entendido. Sinto os olhos suspeitos de Cowboy em mim.
“Você está bem?” Ele pergunta.
Aceno com a cabeça e fecho os olhos também.
Quando dois pares de respiração se nivelam, e o sol do final da tarde foi bloqueado pelas pesadas cortinas, deslizo silenciosamente da cama, vou ao meu quarto e me visto. Abro a gaveta da mesa lateral
e olho para a imagem antiga dentro. A borda externa estava queimada. Trago-a ao nariz, cheiro aquela noite como se estivesse de pé na grama, um inferno à minha volta.
Olho para a foto e passo a mão sobre as duas pessoas que mostra. “Nunca funcionaria,” eu sussurro e vejo uma lágrima cair sobre o casal sorridente. Uma lágrima que não era forte o suficiente para extinguir
o fogo. Um casal perfeito que o mundo não queria.
Coloco a foto no meu bolso. Meus medicamentos me olham da gaveta. Eu não preciso deles para onde estou indo. Fecho a gaveta e pego minha jaqueta de couro. Caminho para o quarto de Cowboy e olho para dentro.
Fico de pé na porta e olho para o casal na cama. Ambos de pele clara, ambos loiros. Ambos de olhos azuis, ambos perfeitos para o outro... eles pertenciam um ao outro, não seriam cuspidos na rua simplesmente
por estarem de mãos dadas.
Luto contra o nódulo na minha garganta, enquanto olho para eles. Sia murmura enquanto dorme e se vira, seus braços à procura de Cowboy. Ele a aproxima, até dormindo Cowboy sente que ela é dele. Enquanto
rolam para enfrentar um ao outro, eu vejo as cicatrizes idênticas nas costas. Todos os meus músculos ficam tensos. Preto e branco. Eles foram punidos por minha causa. Porque estavam comigo. As facas cicatrizaram
permanentemente suas peles porque eles ousaram me amar. Eu soube desde o momento em que conheci Sia, no momento em que me apaixonei pela cadela, que isso nunca funcionaria.
Fui fraco. Deixei meu coração dominar minha cabeça. Não fui inteligente. Estava apenas sendo egoísta. E agora os machuquei.
E poderia ter sido muito pior.
Entre nós, onde ninguém poderia julgar, funcionamos corretamente. Mas lá fora, no mundo real, não seríamos aceitos. Sempre haveria fodidos olhando para nós. E seriam suas palavras que machucariam. Isso
seria como alcatrão e penas, sufocando-nos um por um, até que não houvesse mais espaço para respirar.
Eles se pertenciam. Era hora de libertar Aubin. Proteger Sia... e aprender a andar sozinho.
Eles não são meus.
“Au revoir23,” sussurro e saio pela porta. Pego minha motocicleta e lanço-me na estrada até o som do motor não poder ser ouvido no apartamento.
Monto no banco, passo a mão pelo lugar onde está minha foto. Quando saio para a estrada aberta, deixo minha motocicleta me levar para um lugar que não tenho ido há muito tempo. Com os olhos vítreos e as
mãos tremendo, eu monto forte.
Para enfrentar os demônios do meu passado.
E juntar-me a eles no inferno, se é assim que tem que ser.
Capítulo treze
Hush
As luzes de Nova Orleans passam como um borrão. Minhas articulações estão brancas enquanto eu agarro o guidão. Eu mal parei. Meu coração batendo me manteve seguindo em frente. É incrível a aceitação. Liberta
tudo em sua mente. Liberta as pessoas que você ama de te carregar como o fardo delas. O peso que eu carreguei por tanto tempo se dissipou, deixando apenas um entorpecimento determinado.
Sem Sia, sem Cowboy, eu não tenho nenhuma família restando, ninguém perto de mim que importa. O clube nos suspendeu. Mesmo depois de irmos para o México, eu não tinha ilusões, depois de tomar Sia como
nossa, pois ainda fomos cortados da vida do clube por Ky. O México não vai nos ajudar a manter o nosso patch.
A foto dos meus pais queima no meu bolso. Cada fodida memória que eu tenho da pequena cidade caipira veio correndo para a superfície. De marica após marica me baterem, me xingarem, jogando besteiras em
meus pais enquanto eles mantinham a cabeça erguida e desafiadoramente atravessavam aquela cidade intolerante de mãos dadas.
Virei em estradas rurais até que um edifício entrou em vista. Pego o caminho de trás que eu sei que não era observado, desligo o farol e sigo o caminho para o clube que uma vez foi o meu santuário.
Meus olhos perdem o foco enquanto atravesso a porta e desço o corredor até o bar. Já é tarde, meia-noite, mas eu conheço esses filhos da puta. Todos ainda estariam aqui, bebendo e fodendo. Titus tem este
lugar como uma fodida casa de fraternidade. Ox nunca toleraria essa merda.
Eu abro a porta. A sala é uma nuvem de fumaça e prostitutas. Procuro os rostos de meus velhos irmãos, até que ouço uma gargalhada e fixo meu olhar sobre o único que eu procurava.
“Hush?” Ouço o eco ao meu redor. “Hush? Que porra?” Outros cospem enquanto eu empurro através das putas dançando e caminho até o filho da puta que eu quero ver. Minhas mãos apertam. Minha pele parece pálida.
Eu não verifiquei um espelho, mas sei que pareço ruim. Eu mal dormi. Mal comi... e deixei meus remédios para trás.
Eu diabos não me importo. Apenas raiva e o entorpecimento viciante me controlam agora.
Parece bom pra caralho deixar ir. Permitir que os meus vinte e seis anos de raiva controlem cada movimento meu. Movimento-me sem pensar, sem caminho direto, apenas farei qualquer porra que a minha alma
me disser para fazer.
Agora ela está gritando para eu fazer isso. Para sentir isso.
Paro na mesa de Titus, e não espero por ele me ver. Jogo meu punho em seu fodido rosto presunçoso, sentindo meus dedos se rasgarem conforme eles batem em seu queixo. Sua cabeça estala para trás e ele se
põe de pé.
Irmãos, alguns eu conheço, alguns não, se reúnem ao meu redor. Música metal, do tipo que explode através de seu coração, bate seu ritmo e ecoa pela sala. No minuto que Titus vê que sou eu, um lento e fodido
sorriso puxa seus lábios. Eu jogo meu colete no chão, meu patch ‘Austin, seção mãe’ aparece em meu colete. Eu sabia que seu olhar o encontraria.
“Está de volta, traidor?” Ele cospe. Meu sangue começa a ferver. Estreito meus olhos. Ele é um saco de merda mentiroso. Eu sei disso. Ele sabe disso. Mas conforme pego os olhos selvagens dos meus ex-irmãos
reunidos, sei que todos eles acham que eu sou o saco de merda que os roubou bem debaixo de seus narizes.
O irmão negro. Claro que tinha que ser eu o responsável pelo dinheiro roubado.
O lábio de Titus se enruga. Ele joga a puta que estava arranhando seu braço para trás por sua cabeça. Ele é um grande filho da puta. E quando seu punho voa contra mim, batendo direto no meu rosto, eu deixo
a dor viajar através de mim. Deixo essa merda se estabelecer em meus ossos... e o deixo tomar posse.
Deixo o filho da puta queimar.
Parece realmente bom pra caralho.
Virando a cabeça de volta para o meu velho Prez, sorrio, provando o sangue que derramou quando o seu punho cortou meu lábio. Mas eu não ataco. Não estou aqui para isso.
Estou aqui para ser quebrado. Estou aqui para ser dilacerado. Estou aqui para esquecer quem diabos eu sou.
Estou aqui para ser destruído.
Quero levar isso. Quero acolher tudo o que este idiota pode dar. Eu quero seus punhos, seus socos, seus chutes... e até mesmo daria boas vindas a sua lâmina.
Anseio por sua arma.
Outro punho de ferro bate em meu rosto. Punho após punho bate em mim, até que eu já não posso sentir meu rosto. Até meus olhos borrarem de suor, ou sangue, ou ambos. E todo o tempo eu continuo sorrindo.
Não falo merda nenhuma, conforme o rosto de Titus se torna mais e mais vermelho. Conforme o imbecil tem uma ereção por bater no vira-lata que ele jogou fora de seu antro com mentiras e besteiras racistas.
Outro golpe me tira de meus pés e eu caio no chão, mas não seguro minhas costelas com os braços. Em vez disso eu estou deitado no chão, esperando ser massacrado. O barulho do bar silencia conforme os dedos
do pé cobertos de aço de Titus chutam minhas costelas. Punhos e pontapés chovem em mim.
“Hush!” Uma voz distante grita. Fecho os olhos, estimulando o sangue que estava sendo derramado a infiltrar-se no chão. Meus olhos rolam. Meu corpo se tornou tão insensível que eu nem sabia mais que parte
de mim era espancada.
Mas sinto duas mãos agarrarem o meu colete e me arrastar para fora da sala. Desta vez eu luto. Não quero ser salvo, porra. Eu quero sentir isso. Fisicamente sentir tudo o que me assombrou durante os últimos
nove anos. “Não!” Tento protestar, engasgando com o sangue que escorre pela minha garganta.
O som do bar desaparece a um zumbido distante. Alguém me levanta e me coloca em uma caminhonete. Eu entro e saio da consciência conforme nós dirigimos a algum lugar. Quero voltar. Quero deixar Titus terminar
o que começou.
O veículo para. De repente, estou em um sofá. Meus olhos tentam abrir quando água espirra pelo meu rosto. “Que porra, Hush?” Uma voz estala. “Que porra você está pensando? Por que você voltou? Você tem
um fodido desejo de morte, irmão?”
Meus olhos se fecham novamente. Rezo para que Titus consiga o que negociei com Hades, que eu nunca acordaria.
*****
O cheiro de café bate no meu nariz primeiro. Tento respirar, mas a dor atravessa minha cabeça conforme eu tento, sinto como se um pé de cabra raspou o meu crânio. Abro meus olhos, um de cada vez. A luz
brilhante da janela machuca meus olhos. Eu gemo quando tento me mover. Minha mão se move para segurar minhas costelas.
Sinto o sangue na minha boca. Olho ao redor da sala. “Bom. Você está acordado.” Diz uma voz, com um forte sotaque da Louisiana atado nas palavras.
Um rosto que eu não vi em um realmente fodido longo tempo veio à tona: cabelo bagunçado preto como piche, pele bronzeada e olhos castanhos. Olhos que, para muitos, eram a última fodida coisa que viram,
os olhos que entregavam a morte.
“Crow.” Eu murmuro, vejo meu velho VP, e tusso o que tinha de ser um galão de sangue. Ele empurra algumas toalhas de papel em minhas mãos. Limpo a boca e Crow me arrasta para eu me sentar ereto. “Porra.”
Assobio, respirando através dos meus dentes cerrados.
“Sim, filho da puta. Isso é o que acontece quando você começa uma briga com um filho da puta desprezível como o Prez, e, em seguida, fica lá e o deixa chutar sua bunda.”
Decepção me atravessa. Eu ainda estou aqui.
Não quero estar aqui, porra.
“Vou dizer de novo.” Ele me entregou um uísque. Não bebo muito por causa da epilepsia. Agora, não dou a mínima. Engulo o licor e estendo meu copo para outro. “Você tem um desejo de morte, irmão?” Crow
completa, e enche copo. Ele suspira e balança a cabeça, tomando a bebida diretamente da garrafa. “Não faço ideia do que diabos você estava pensando. O idiota te odeia. Disse que te mataria se alguma vez
você voltasse.”
“Eu apostei nisso.”
Crow pega de volta meu copo. Ele me passa um copo de água. “Sim, bem, este bom samaritano aqui te arrastou para fora antes que você acabasse como carne moída no chão do clube.” Ele pausa conforme eu esvazio
o copo de água. “Onde está Cowboy?”
“Texas.”
Ele franze a testa. “Ele ficou para trás, enquanto você decidiu voltar e ter uma reunião estilo Manson24?” Ele balança a cabeça. “Não acredito nisso por um segundo. Ele não sabe que você está aqui, não
é?”
Aperto minha mandíbula, coloco o copo vazio sobre a mesa antes de esmagar o filho da puta em minhas mãos. “Ele está melhor sem mim.” Olho ao redor do lugar de Crow. Eu não reconheço essa merda. “Você se
mudou?”
Crow passa as mãos pelo cabelo. Em seu bíceps, a tatuagem enorme de um corvo com olhos vermelhos se move com seus braços, parecendo como se estivesse levantando voo. “Consegui um lugar que ninguém conhece.”
Minhas sobrancelhas tentam abaixar, mas meu rosto machucado não deixa. “Certo.” Eu digo. Realmente não me importa.
Crow abruptamente se levanta. Minha mente deriva para Austin. Cowboy e Sia saberiam que eu saí até agora. Meu peito é uma fodida jaula de ferro. É a primeira coisa que eu sinto em horas. Eu bloqueei isso
rapidamente da minha mente. Apaguei seus rostos, então eu não tenho que pensar.
Estou porra doente e cansado de pensar.
“Quando toda essa merda aconteceu com você e Titus, simplesmente não parecia certo.” Olho para o copo vazio, deixando palavras de Crow afundar em meus ouvidos. “Comecei a procurar sobre o seu passado.”
Eu fico tenso, meus olhos encaram os dele. Crow olha para mim. Ouço o sangue correndo em meus ouvidos. “Eu só estava no clube dois anos antes de você e Cowboy. Você sabe que nós sempre fomos rigorosos.
Mas, na realidade, eu sabia a porra toda sobre você. Você nunca mencionou seu passado. Porra, você quase não falava nada.” Ele se senta na borda da mesa.
Ele tira os dados que mantinha no bolso e os rola em suas mãos. Crow ficou famoso por lançar os dados. Ajuda-o a decidir como, quem quer que seja, deve morrer. ‘A escolha de Hades’, ele resmungava pouco
antes de arrancar os olhos com sua faca de caça ou qualquer outra fodida punição que ele planejava em sua mente fodida.
“Quando Titus te acusou de roubar, eu sabia pela sua reação que não foi você.” Uma pequena parte da parede que eu tinha construído em torno de mim se desintegra quando essas palavras saem da sua boca.
“Comecei a manter um olho sobre o dinheiro que conseguíamos pelas armas.” Ele me entrega a garrafa de uísque e alguns comprimidos. “Tome-os. Eles vão tirar a queimadura em suas costelas.” Eu não hesito.
Tomo mais do uísque, minha cabeça começando a sentir um zumbido bom pra caralho. “Tínhamos menos dinheiro do que deveríamos. Você já tinha partido há muito tempo, e eu confiava em todos os outros filhos
da puta na seção. Isso só deixava uma pessoa.”
“Titus.” Digo.
“Titus.” Crow concorda. “Eu consegui este lugar quando ele continuou fazendo a fodida operação. Eu precisava de um lugar sobre o qual ele não soubesse. Um lugar onde eu pudesse obter uma fodida tonelada
de provas sobre ele. Merda o suficiente para que eu pudesse ir ao Styx.” Ele puxa seu cabelo, e depois rosna alto. “Eu sei que é ele, mas não consegui as provas. E se eu começar a fazer perguntas, ele
vai começar a farejar. Se ele descobrir que estou fazendo isso, ele irá encontrar uma maneira de se livrar de mim, como ele fez com você.”
Concordo. Ele faria. É como Titus opera. Crow foi a um armário e voltou com uma pasta. Seus olhos escuros fixos em mim. O rosto cheio com algo que parece simpatia. Então meu coração morto começa a correr
em algum tipo de batida irregular em meu peito, quando ele diz, “Eu não sou nenhum hacker. Mas conheço algumas pessoas que podem conseguir algumas coisas para mim.” Não estou respirando, como se de alguma
forma eu soubesse que toda a porra que ele diria mudaria minha vida para sempre. “Quando eu estava procurando em seu passado...” ele joga a pasta na minha frente. Olho para a pasta marrom como se fosse
uma fodida bomba atômica.
Sua voz fica mais baixa. Grossa... simpática. “Eu não sabia sobre seus pais.” Cada célula do meu corpo congela. Crow cruza os braços sobre o peito. Ele aponta para os meus olhos. “Eu assumi pelos seus
olhos que você tinha algo branco em você. Você é claro demais para ser totalmente negro.” Ele passa a mão pelo rosto. “Eu quis conseguir isso para você. Mas eu não sabia onde você estava até recentemente.
Você está aqui agora, então penso que você deve querer saber.” Minha boca fica realmente seca enquanto a pasta olha de volta para mim da mesa.
“Se isso ajuda.” Crow diz, “Eu não tenho o melhor passado também.” Olho para ele fixamente. Ele encolhe os ombros. “A meu ver, nenhum de nós nesta vida tem. Você está no Hangmen por uma de três razões:
Um, você é um pirralho motociclista, nascido na vida do colete. Dois, como nós, algo realmente fodido te trouxe aqui. E três...” ele ri e contorna a mão sobre sua tatuagem de corvo. “Você é apenas um fodido
psicopata que absolutamente ama matar, e foder uma puta diferente a cada noite.” Ele sorri. “Ou como eu, eu suponho que você pode ser uma mistura confusa do dois e três.”
Ele aponta para uma porta fechada. “Vou cochilar um pouco. Observei sua bunda toda a noite, no caso de você decidir se engatar num passeio antecipado ao River Styx25. Decidi que isso não aconteceria no
meu turno. Tão descontraído como o irmão é, eu não quero enfrentar o Cowboy se sua outra metade morrer no meu sofá.” Crow caminha até a porta, e para, apenas para dizer: “Há algumas fotos fodidas lá. Os
idiotas documentaram a coisa toda para o seu boletim de notícias ou alguma merda. Se você olhar, basta estar preparado... é uma merda fodida.”
“Crow.” Sussurro conforme ele vira a maçaneta. Ele olha por cima do ombro. “Obrigado...” não digo pelo quê. Ele assente, então caminha para o quarto. Quando ouço a cama ranger, eu pego a pasta.
Minhas mãos tremem enquanto eu a trago para o meu colo. Corro meus dedos sobre a superfície, deixando manchas de sangue sobre a parte dianteira em branco. Engulo em seco, estendendo a mão para o uísque
que está meio cheio em cima da mesa. Engulo uma fodida tonelada, então abro a pasta.
Engasgo com a queimadura residual do uísque, fogo infernal surge através de minhas veias quando meus olhos pousam em uma imagem. Capuzes. Pessoas vestindo capuzes de todas as cores, de pé em torno de uma
casa... minha casa. Meu lar. Meu coração bate mais rápido enquanto eu olho para a janela na varanda.
Meus dentes raspam sobre o meu lábio inferior partido. Eu seguro um gemido aflito quando vejo quem estava vendo a Klan de dentro da casa.
“Mamãe.” Eu passo meu polegar sobre o rosto aterrorizado, deixando uma marca sangrenta. Freneticamente, esfrego o sangue do rosto dela com minha camisa. A maior parte saiu, mas não pude retirar tudo.
Assim como a memória daquela noite no meu cérebro.
Vermelho turvou os pontos mais delicados de seu rosto. Características que tinham começado a desvanecer da minha memória com o passar do tempo. Características que eu não podia manter não importa o quão
duro eu tentei.
Homens com capuzes brancos seguravam tochas flamejantes em suas mãos. Alguns tinham placas. Meus olhos fecharam quando vi o que estava escrito nelas... 23/2... imagens de uma mulher branca e um homem negro
com uma cruz vermelha através deles. Viro a imagem, apenas para ler o que tinha acontecido...
Lágrimas caem dos meus olhos inchados e rolam em minhas bochechas cortadas. Eu viro minha cabeça, olhando fixamente para a cozinha nua na minha frente. Um fodido grito se aloja na minha garganta.
Minha mãe era para estar fora de casa... o fogo foi feito para mim e meu pai, ‘o negro e seu vira-lata’. Eles estavam lá para ‘salvar a irmã branca do laço de seu marido negro e a abominação que é seu
filho’.
A próxima imagem mostrava o fogo. Os rostos de quem incendiava o alpendre de madeira não eram claros. Então o sangue drena do meu rosto. A próxima página mostra todos os autores. Corro meu dedo sobre os
rostos de todos que estavam lá naquela fodida noite. Homens que eu conhecia da cidade. O mecânico. O dono da lanchonete. Mesmo a polícia... a lista continuava.
Fúria incandescente cai sobre mim como um cobertor, quando vejo quem foi iniciado naquela noite: Jase, Pierre, Stan, e Davide.
Jase acendeu o fogo. Nós o vimos no rodeio. A percepção aparece. Ele sabia o que estava prestes a fazer naquela noite, quando ele me olhou diretamente nos olhos. Enquanto ele lutou comigo até que eu tive
uma convulsão. Ele sabia que, naquela mesma noite, ia me matar.
Eu não tenho certeza que podia continuar, mas havia uma página restando. Tomo outro gole de uísque e leio. O rosto do meu avô olha para mim do papel. Traição como nada que eu já senti assume cada fodida
parte de mim. Aquele imbecil. Aquele maldito filho da puta. Minhas mãos tremem. Meu corpo vibra conforme as palavras saltam da página. Ele ordenou o fogo. Meu avô. O pai da minha mamãe ordenou o fodido
ataque na casa dela... em nós. Ele pagou ao Grand Wizard local para matar eu e meu pai. O pai de Aubin o afastou naquela noite para atender a mãe dele, então ele estaria fora de casa... eu engasgo com
o fodido ar. Como ele pôde fazer isso com sua filha? Para sua fodida família?
E, porra! Os pais de Aubin sabiam também.
Mas deu errado.
Por minha causa... porque eu tive um ataque epilético.
Jogo a pasta do outro lado da sala, e me levanto. Olho ao redor do apartamento, sem saber aonde ir ou que porra fazer. Minhas pernas ficam fracas conforme eu visualizo essas imagens em minha mente: as
tochas, os capuzes... e minha mãe olhando para fora da janela, vendo-os em seu gramado, todos lá por ela.
Ela deveria ter ido. Saído da casa... mas eu tive um fodido ataque epilético. Um fodido som dolorido, borbulhante, corta a minha garganta enquanto eu atravesso a sala e recolho a pasta. Saio correndo do
apartamento e vou para fora, para o que deve ser a caminhonete de Crow.
Deixo a adrenalina e o ódio me guiarem, então acelero para fora do estacionamento. Leva cinco minutos para descobrir onde eu estou. A chuva cai como um lençol de água caindo do céu. O caminho à frente
fica borrado enquanto as lágrimas correm pelo meu rosto. Buzinas tocam e freios guincham conforme eu corto as ruas e rodovias.
Eu dirijo e dirijo até que passo a placa de bem-vindo para a cidade que eu queria rasgar até a porra do chão. Corto pelas ruas que abrigavam os homens que assassinaram minha família, que tiraram tudo de
mim em um único golpe.
No momento em que me aproximo da minha antiga casa, noto que não há malditos pássaros nas árvores. Eu sempre notei que as aves não cantavam quando a morte pairava perto. O único som era o barulho do motor
da caminhonete.
Meu coração bate muito rápido enquanto eu dobro a esquina e os restos da minha infância aparecem. Dor, como nada que eu jamais senti antes, bate em meu peito. Ela carrega o peso de uma bola de demolição,
uma vez que quebra minhas costelas e achata meu coração. Eu derrapo até parar, os pneus deslizam na lama molhada. Poças de água da chuva se espalham sobre o que costumava ser o caminho para o alpendre.
A chuva limpa a visão do para-brisa muito rapidamente. Com minhas mãos tremendo, abro a porta e entro na tempestade. Um trovão racha à frente. Um relâmpago bifurca na distância. Nuvens de tempestade rolam
acima, e conforme olho para o céu tempestuoso, tudo que eu consigo pensar é por que não choveu naquela noite?
Meus pés tropeçam no chão escorregadio conforme eu caminho para a podre pilha de madeira, tudo o que restou da minha casa. A chuva e o vento batem no meu rosto, atacando minha pele quebrada como chicotes
de couro. Eu mal mantive o equilíbrio enquanto subo no chão áspero. Luto para ver à frente, mas minha visão da casa está desfocada. Eu não tenho certeza se é pela tempestade ou pelas lágrimas inundando
meus olhos.
Não sei para onde eu caminho, ou onde vou parar, mas essa escolha foi tirada de mim quando escorrego e caio de joelhos no chão.
Meu corpo cai para frente. Minhas mãos afundam na terra, meus dedos afundam na lama misturada com cinzas. Fecho meus olhos, e respiro. Apenas, porra, respiro conforme memória após memória se repete em
minha cabeça. De tempos mais felizes. De tempos tristes, e da noite que este lugar queimou como um inferno na terra. Um inferno cheio de ódio do desconhecido, o diferente e o mal compreendido.
“Mamãe.” Sussurro para o vento impetuoso. “Papai.” Minha voz é abafada por um trovão. “Eu sinto muito.” Digo asperamente, minhas lágrimas caem fundidas com as gotas do céu.
Olho para a madeira queimada. Eu não vi seus corpos. O legista disse que tudo o que restou deles eram ossos. Meu avô levou os restos da minha mãe e os enterrou em sua terra. Meus dedos se enroscaram mais
apertado na lama conforme a raiva faz punhos das minhas mãos. Meu pai foi enterrado comunitariamente. Eu não tinha um único dólar. Nada para pagar um funeral.
Meus pais, que tinham suportado tudo juntos, lutado juntos, amado juntos, morreram juntos, não conseguiram a única coisa que era seu direito divino.
Descansarem juntos.
Nenhuma sepultura para eu conversar com eles. Nenhuma mão dada enquanto caminhavam ao barqueiro e cruzavam para os Campos Elíseos. Apenas ossos queimados e dentes, separados, rasgados, em desafio ao segundo
que minha mãe tinha visto meu pai através daquele bar de jazz em Nova Orleans.
“Eu sinto muito.” Baixo minha cabeça para o chão, uma fodida oração silenciosa. Uma oração para que onde quer que estivessem, eles pudessem me ouvir. Ouvir quão arrependido seu filho estava por sua doença
fazer com que eles morressem, tudo porque ele estava atrasado para chegar em casa. “Estou tão arrependido, porra.” Grito mais alto, levantando os olhos, para ver nada além de madeira queimada e pregos
carbonizados. Arrastando-me, vou para frente e procuro através dos escombros. Pego todos os pedaços de madeira que ainda estão intactos e os empilho aos meus pés. Reúno tantos pregos quanto posso. Eu não
penso; apenas deixo minhas mãos começarem a construir. Usando uma dura tábua pequena como meu martelo, eu coloco um grande pedaço no chão. Então coloco outro na horizontal, uso a tábua para martelar os
pregos em uma cruz improvisada. Eu faço o mesmo com o segundo, e ignoro meus cortes se abrindo e vertendo sangue.
Sem fôlego e fraco, sento-me para trás e olho para as cruzes de madeira enegrecidas. Eu luto contra o caroço em minha garganta quando tiro a faca do meu colete e começo a entalhar a madeira. Engasgo com
o fodido rugido dolorido que sai da minha boca com cada letra.
Minha faca cai no chão, e me sento para trás e olho para as palavras. ‘Mamãe’ gravado em uma. ‘Papai’ gravado na outra. Sob ambos os seus nomes, eu rabisco, ‘Amor não vê cor. Só o coração puro.’
“Amo vocês.” Estendo minha mão e corro os dedos pela madeira irregular. Fecho os olhos. “Sinto muito a falta de vocês.” Meu rosto se contorce. “Eu não sei como fazer isso.” Puxo um longo fôlego. “Como
diabos estarei com eles quando há filhos da puta do mundo como os que fizeram isso com vocês.” Engulo. “Não posso salvá-los da Klan. Do poder branco... de pessoas que nunca entenderão, que não querem entender.
Eu não sei como diabos tirar tudo isso da minha cabeça...” minha cabeça cai junto com meus braços. Estou exausto. Inspiro e expiro, e, então admito, “Eu não sei como ser eu. Não tenho nenhuma ideia de
quem diabos eu sou.”
O silêncio responde de volta; e a tempestade ressoa acima. Balançando com cansaço até os ossos, eu deito na frente da única família que eu tive no mundo. Fecho os olhos e cedo à escuridão.
Eu nem sequer sinto a chuva.
Nem sequer sinto o frio.
Não sinto nada, a não ser o reconfortante sentimento morto de desesperança. E uma sensação de que com estas duas cruzes e seus nomes escritos na madeira, não estou sozinho.
Eu apenas não posso mais continuar sozinho.
Capítulo catorze
Cowboy
O sol me acordou, seus raios me fazendo recuar. Gemo, meu corpo dói por causa dos últimos dias e meu estômago ronca por comida e café. Um corpo quente está pressionado contra mim. Sorrindo, abro os olhos
e olho para a cabeça no meu ombro. Sia ainda está dormindo, sua mão no meu peito, sua respiração soprando no meu pescoço. Olho o relógio na mesa atrás de mim. Droga. Nós dormimos do fim da tarde até a
noite. Isso é o que um sequestro para o México faz com você.
Olho por cima para ver se Hush está acordado. Franzo a sobrancelha quando vejo que ele não está lá. Um sentimento estranho se estabelece em meu estômago, sobre como ele estava ontem, como ele parecia depois
que nós fodemos com Sia. O irmão estava claramente incomodado por alguma coisa. O jeito que ele pairou na porta do quarto enquanto Sia chorava, em vez de ir pra cama e ter certeza de que ela estava bem.
Gentilmente levanto o braço de Sia de cima de mim, e saio da cama. Ela geme, quase acordando, mas então volta para os lençóis. Meu peito se expande quando olho pra ela. Incapaz de me afastar, abaixo-me
e beijo seu ombro. A marca de faca em sua nuca estava curando. Mas os números ainda eram tão visíveis quanto o momento em que foram gravados. Os meus também.
Como a maioria das coisas na vida, eu não dava a mínima. O fodido achou que poderia nos envergonhar com esses depreciativos números da Klan. Eu usaria essa merda como uma maldita medalha militar.
Com orgulho pra caralho.
Visto minha calça jeans e vou para cozinha. Nada está ligado. Verifico a cafeteira onde fizemos o chá de chicória. Está fria. Franzindo a testa, vou para o quarto de Hush. Vazio, a roupa de cama ainda
intocada. Começo a me virar, mas noto que sua mesa de cabeceira estava um pouco aberta. Verifico se não há alguém atrás de mim, só pra ter certeza que Hush não está por perto. Tudo está silencioso, há
só os barulhos suaves de Sia dormindo na minha cama.
As tábuas rangem sob meus pés conforme ando até a gaveta. Abro-a, e sinto um grande nó se formando em minha garganta quando vejo o que está faltando. “A foto dele,” digo para mim mesmo… então meu coração
despenca como uma pedra quando vejo seus remédios.
Saio do quarto e olho os outros. Nada. Merda! Corro para fora e vou até a garagem.
“Droga!” Grito. A moto dele não está lá. Com o coração martelando, corro de volta para as escadas. Sia está indo ao banheiro, com o lençol enrolado em seu corpo.
“Cowboy? O que houve?” Ela pergunta, ainda pálida, limpando o sono dos olhos. Não culpo a cadela. Ela passou por muitas coisas nessas últimas semanas.
“Ele foi embora.” Passo por ela até o banheiro e visto minha camisa. Sia me segue.
“Embora?” Ela pergunta, ainda confusa.
“Hush.” Corro até o quarto dele e pego seus remédios e os coloco no meu colete. Volto para a entrada e vejo que Sia estava se vestindo.
“Cher,” digo. “Vou leva-la para a casa do Ky. Preciso sair e procurar o Hush.” Porque sei exatamente para onde ele foi. O único lugar que ele pode ir sem mim. Nossa maldita casa. Eu sempre soube que um
dia ele voltaria. Ele guardou muito para si mesmo por tempo demais. Com quanto um irmão pode lidar até que exploda? Ele nunca falou sobre seus amigos. Ou aquela noite. Hush manteve tudo dentro da sua cabeça,
deixando tudo se construir até que se tornou muito pra lidar.
Vejo a marca 23/2 de Sia. Gelo me atravessou como se eu tivesse mergulhado no meio do atlântico. Eu o vi olhando para as nossas feridas. Vi quando ele cerrou os punhos, o rosto pálido enquanto encarava
as feridas.
Entro em pânico. E se ele tivesse feito algo muito estúpido?
“Eu vou,” Sia diz, tirando-me dos meus pensamentos. Foco nela. Abro a boca pra falar, mas ela acrescenta, “Se ele foi embora. Se ele estiver machucado,” ela estremece, como se apenas o pensamento disso
a matasse. “Então, eu vou.” Sia pega minha mão. “Nós somos um time. Você, eu e Hush. Não ficarei de fora só porque tenho uma vagina.” Meu lábio contrai. Sia beija minha bochecha. “Eu o amo. E amo você.
Preciso estar lá… para onde quer que precisamos ir.”
Pego as chaves da minha moto e a mão dela. “Espero que saiba montar, Cher. Porque será um longo percurso. E não planejo parar.”
Ela puxa minha mão, fazendo-me parar. “Eu sou uma cadela motoqueira, Breaux. Estive na traseira de motos antes de aprender a andar.” Pisco, e sorrio da sua insolência que esteve perdida há muito tempo,
e a arrasto do apartamento. Tranco a porta e vou para a estrada. Sia segura firme.
Nós tínhamos um maldito encontro com a Louisiana.
*****
Eu cruzo como um relâmpago as ruas antigas. O restaurante em que comi todos os dias. A loja de tatuagens onde recebi minha primeira tinta... do poder branco. Aperto meus dentes apenas com a lembrança disso.
Lembrando-me de ver Hush e seu pai serem forçados a sair do restaurante como se fosse os anos sessenta e negros e brancos não pudessem se misturar. Suponho que essa cidade é um lugar que o tempo esqueceu.
Preso no passado. Mentes pequenas e até tolerâncias menores para qualquer coisa fora da norma.
Sia aperta minha cintura, como se soubesse que eu estou lutando comigo mesmo. Eu sou um morcego do inferno quando rasgo o asfalto e pego as estradas traseiras que me levariam onde sei que meu irmão está.
O chão estava molhado. Acabamos de perder uma tempestade. Meu corpo fica tenso ao ver um conjunto familiar de árvores à distância.
“É aqui?” Sia pergunta, sua boca perto da minha orelha.
Concordo. Por um momento, não posso falar. Tudo o que vejo são os fantasmas daquela noite. Vejo o brilho laranja das chamas que rasgou o mundo do meu melhor amigo enquanto ele se sentou atrás de mim na
caminhonete. Fui eu quem o levei ao rodeio naquele dia. Se eu não tivesse… se ele tivesse ficado…
Então eu o teria perdido.
Balanço minha cabeça. Porque tanto quanto eu amei seus pais, vi o que perdê-los fez à ele... não teria conseguido lidar com a perda dele. Hush pensava que ele era codependente de mim. Faltaria uma maldita
parte de mim se ele não estivesse comigo.
O medo me cobre quando entro na estrada que eu costumava percorrer todos os dias. Fica frio de repente. Dirigir por essa estrada faz a minha pele se arrepiar e o gelo escorre pela minha espinha. Sentindo
novamente, Sia beija a parte de trás do meu pescoço... bem em cima dos números que causaram tanta dor.
Eu seguro minha respiração enquanto entramos na propriedade dos Durand. A primeira coisa que vejo é a pilha de madeira que costumava ser sua casa. As mãos de Sia apertam meu colete. Minhas mãos apertam
meu guidão. Há uma caminhonete estacionada ao lado.
Então, noto um par de botas familiares ao lado da casa. Salto da minha moto; Sia me segue logo atrás. Meus pés param quando eu dobro a esquina.
A porra das lágrimas irritam meus olhos quando vejo a cena diante de mim. Hush, no chão, espancado e coberto de lama, tremendo... entre duas cruzes improvisadas.
Amor não vê cor…
Viro minha cabeça por um segundo e passo a mão pelo meu cabelo. Eu luto com o maldito punho de ferro que acaba de bater no meu peito e coloca um aperto de morte no meu coração.
“Hush,” Sia chora, sua voz como um maldito sussurro. “Deus, querido, o que você fez?” Ela se abaixa e passa as mãos pelo rosto machucado. Suas lágrimas salpicam suas bochechas. Então ela congela. Sigo
o que chamou sua atenção. Em sua mão, Hush manteve uma foto. A única imagem que conseguimos salvar dos escombros antes de pegar carona em uma caminhonete que passava e saímos da cidade.
Ouço a respiração de Sia ficar presa. Ela tira a foto da mão de Hush e leva-a ao peito. Seus olhos fechados enquanto chora. Sia chora por um casal que ela nunca conheceu. Suas mãos apertadas colocam a
imagem com segurança em seu bolso.
Sia quase me destrói. Porque os Durand a amariam. Eles a pegariam como um membro da família do mesmo jeito que fizeram comigo. Ela também os ganharia como família.
E Sia os amaria.
“Hush,” ela sussurra e beija seus lábios. A perna de Hush se move. Chego mais perto, esperando que ele se mova de novo. Meu sangue parece gelo em minhas veias. Por favor, acorde. Por favor. “Hush?” Sia
tenta novamente. Um gemido baixo deixa a boca de Hush. Ele está coberto de lama. Seus lábios estão azuis. Eu não tenho certeza se foi pela agressão que ele sofreu, ou pelo frio, ou por ambos. A raiva me
atravessa onde estou, enquanto penso em quem poderia tê-lo machucado. Pergunto-me se ele procurou Jase e o resto daqueles fodidos de merda. Então...
“Sia?” Uma voz familiar grunhe.
É como voltar pra casa.
Sia assente, incapaz de falar através das lágrimas. Ela coloca a cabeça dele em seu colo. Meus olhos se movem do meu irmão para as cruzes que foram marteladas na terra profanada. Um barulho maldito deixa
a minha garganta quando vejo o que ele esculpiu. Mamãe. Papai.
Hush nunca viu o túmulo de sua mãe. E não tínhamos ideia do que foi feito com o pai dele. Jogaram-no com outras pessoas que não tinham ninguém para reivindicá-las.
“O que aconteceu com você, baby?” Sia sussurra. Os olhos de Hush estão abertos. Vermelhos, entorpecidos e cansados.
Ele tenta se levantar, mas tem que segurar suas costelas. Sia me olha, seu rosto deslumbrante cheio de tristeza pelo meu irmão quebrado. Vou para frente. Abaixo-me na lama em que ele está deitado. Seus
olhos azuis me encontram, então ele quebra. Sia o segura mais apertado. O irmão nem se queixa se ela está machucando-o. Em vez disso, ele se agarra à ela como se fosse a única coisa que o mantém vivo.
Sia chora enquanto o segura. Ela o segura no lugar que é o seu maldito inferno na terra.
Então uma mão vem para mim. Fechando os olhos, estendo a mão e aperto a mão de Hush e a seguro.
Hush finalmente se afasta de Sia. Ele deixa cair minha mão. Movo-me atrás dele e o ajudo a se sentar. Não há uma parte dele que não está coberta de lama. A respiração de Hush é superficial e dolorida.
Seus olhos desorientados de repente começam a procurar por todos os lados.
Sua fotografia.
“Sia a pegou,” digo, e ainda o observo. Ele suspira aliviado.
“Precisamos te limpar e secar,” Sia diz.
Hush encontra seus olhos, mas ele está em branco. Morto... isso me aterroriza pra caramba.
Eu me agacho ao lado de Sia. “Val.” Seus olhos azuis caem em mim. De perto posso ver o estado do seu rosto. Seu corpo inteiro está maltratado e ferido. “Precisamos movê-lo.”
Lágrimas começam a vir dos olhos de Hush. Ele olha para trás, para as cruzes. “Não tenho pra onde ir.”
Sia se acalma, agarrando seus braços. Ela olha para mim, seus olhos arregalados em alarme óbvio. Eu me arrasto mais perto. Hush estava apenas olhando as cruzes. “Val-”
“Eu vi as fotos.” Ele sufoca um soluço. “Estavam por toda parte. Cercando-os. E a mamãe…” ele respirou fundo, o ar sibilando em seu peito. “Ela estava na janela.” Ele apontou para onde a janela costumava
estar. “Ela os viu...” ele sussurrou. “Ela estava observando-os com suas tochas flamejantes e sinais que lhe diziam que ela não deveria estar com meu pai... que ela nunca deveria ter me tido.”
“Hush,” Sia diz fracamente.
Ele pisca. Então olha para mim. “Jase... Pierre... Stan... Davide... foi a iniciação deles na Klan.” Meu sangue corre frio quando eu finalmente entendo o que ele diz. Balanço a cabeça, mas Hush não terminou.
Ele olha nos meus olhos. “Eles vieram para mim e para o meu pai.” Hush tenta se mover, como se tivesse que fugir das palavras que ele tentava forçar de sua boca. Sia recua e o deixa se mover. Hush corre
para as cruzes, segurando a que ele fez para sua mãe. Suas mãos correm pelo nome e pela inscrição que ele esculpiu. “Mas eu tive uma maldita convulsão,” continuou. “Então ela ficou... e tomou meu lugar.”
Ele grita. Grita pra caralho no ar. Uma e outra vez até que sua garganta fica rouca. “Deveria ter sido eu,” ele sussurra e entra em colapso na base da cruz.
Sia se arrasta para frente e o abraça por trás. Hush olha para cima. “Não tenho ninguém. Nenhuma família.” Meu fodido peito dói quando ele fala essas palavras. Porque ele nos têm.
Ele nos têm.
O som do rugido de uma moto me faz olhar para a estrada. Puxo a arma do meu cinto. “Fique com ele,” falo com Sia. Uma Harley troveja em direção à casa. Levanto minha arma e me pergunto quem diabos pode
ser.
O motoqueiro para e desce da moto, e um rosto que eu conheço bem aparece. “Crow?” Falo, confuso. Ele caminha ao meu encontro e vê Hush no chão, Sia protegendo-o com seu corpo como escudo.
“Obrigado merda!” Crow explode. “Achei que o encontraria morto.” Ele balança a cabeça. “Ele quase fez um bom trabalho com Titus.”
Sinto meu rosto empalidecer. “O quê?”
“Ele foi ao clube e deu um soco no Prez.” Crow sacode a cabeça com descrença. “Então, apenas deixei Titus acabar com ele. Afastei Hush e o trouxe para o meu lugar. Eu...” ele me dá um olhar estranho. “Eu
descobri algumas coisas sobre como seus pais morreram.” Crow passa a mão pelo seu rosto. “Eu deveria saber que ele não estava com a mente boa para ouvir. Ele ficou louco. Antes de chegar ao clube, estávamos
bebendo todo o dia. Eu fui para a cama, e o deixei com todas as informações sobre seu passado. Acordei algumas horas atrás para vê-lo, e minha caminhonete tinha desaparecido. Eu me lembrei de onde ele
morava e dirigi como louco para chegar aqui. Passei por este lugar algumas vezes antes de trabalhar fora, era onde ele costumava viver.”
Olho de volta para Hush. Ele está sentado. Mas seus olhos ainda estão perdidos. Completamente desprovido de qualquer tipo de vida. Isso me assusta mais do que qualquer coisa. “Foi seu avô,” disse Crow.
Volto para o meu antigo VP. “Ele é quem conseguiu que a Klan começasse o fogo.” Ele se aproxima, voz ainda baixa. “Queria que ele e seu pai morressem.” Crow hesita, olhando-me estranhamente, e diz: “Seus
amigos também sabiam, cara. Não estavam intimamente envolvidos... mas eles sabiam que algo estava acontecendo. Pensei que você devia saber.”
O sangue em meus ouvidos é como uma inundação. Minhas mãos tremem ao meu lado.
“Hush tem uma lista dos que estavam aqui. Quem queimou o lugar.” As palavras de Crow estão penduradas entre nós. Entendo o que ele está dizendo alto e claro. Eles não andariam nessa terra por muito mais
tempo. Código de irmãos Hangmen. Crow aponta o polegar para o sul. “Há um motel na próxima cidade. Pegue seu garoto e...” ele olha para Sia.
“Sia,” digo. “Nossa Old Lady.”
Crow acena com a cabeça, mas seus olhos escuros se fixam em mim, como se estivesse tentando ler algo nos meus olhos. “Ela entende a vida do clube?”
Sorrio, embora não há qualquer humor. “Ela é a irmã de Ky.”
Os olhos de Crow se abrem com a surpresa e depois caem em Sia, que está observando atentamente. Eu sabia que ela podia ouvir cada palavra. “Ky tem uma irmã? Desde quando?”
“Longa história.”
“Ele sabe que você pegou a irmã dele como sua cadela?”
“Sim, ele sabe,” Sia responde. “E essa cadela não pode se importar menos sobre o que seu irmão pensa sobre nós.”
Crow sorri. Uma porra de raridade para o irmão sádico. “Agora vejo a semelhança familiar.” Crow coloca a mão no meu ombro. “Vou te escoltar por um tempo. Há alguns paus nesta cidade que me chamaram a atenção.”
Sua mão entra no bolso. Eu sei que ele está brincando com seus dados. “Vá ao motel. Dê um banho nele. Eu tenho algumas calças jeans e outras merdas na caminhonete e você pode pegar. Chego mais tarde por
lá.”
Quando ele volta para a sua moto, eu digo, “Por que está nos ajudando? Se Titus descobrir, ele vai matar você.”
“Vou deixar seu irmão te dizer.” Crow vai embora. Eu vou para Hush. Pego-o do chão e empurro seu braço em volta do meu pescoço. Sia vai para o outro lado, refletindo minha ação. Sei que ele não quer ir,
mas é uma merda difícil. Ele tem uma família. Ele tem pessoas que o amam.
E era hora dele deixar essa poça. Porque não iremos a lugar algum.
Pelo menos, a nenhum lugar em que ele não venha também.
*****
Eu seguro Hush no banheiro quando Sia entra com ele, limpando o sangue, a lama e as cinzas do seu corpo. Ele treme, suas pernas lutam para mantê-lo de pé. Eu fiz com que ele tomasse seus medicamentos no
momento em que entramos no quarto do motel. Hush caiu em meus braços quando Sia o limpou, seguindo cada golpe da toalha de banho com um beijo em sua pele, onde ela acabou de lavar. Demorou mais do que
um banho normal, mas, eventualmente, ele estava limpo o suficiente para descansar. Sua pele estava cortada e ferida, especialmente suas costelas. Pego as roupas extras de Crow na caminhonete e as coloco
em Hush; Ele e Crow tinham um tamanho semelhante. Deito-o na cama e Sia permanece ao seu lado. Os olhos de Hush se fecham em um instante. O irmão cheira a uísque. Ele precisa dormir.
“Vou pegar alguma comida,” anuncio enquanto Sia o abraça. O irmão pode lutar contra isso – sobre ficar conosco, com Sia – com tudo o que tem, mas seu corpo sabe mais. Quando Sia deita-se ao seu lado, seu
braço a envolve e puxa mais perto. Seus lábios foram para a sua testa, e eu assisto enquanto a cadela sorri, fechando os olhos e cochilando também.
Olho para eles por um tempo. Duas pessoas que não tinham nada além de merda em suas vidas. Sia, que desejava que alguém – ou algumas pessoas – a amasse. E Hush, que afugentava todos, porque tudo o que
ele já viu foi duas pessoas apaixonadas serem destruídas porque algumas pessoas achavam que eles escolheram errado.
Eu vi os paralelos. Nós três. Uma mistura de branco e preto. Dois homens e uma mulher. Muitas pessoas teriam um problema conosco, por mais do que apenas a cor da nossa pele. Não consigo me importar. Mas
eu sei que ele se importaria. O irmão ganhou o direito de simplesmente ser feliz. De não lutar com idiotas que acham que é direito dado por Deus à eles julgar as pessoas que eles amam.
Suspirando, passo pela porta, e a tranco atrás de mim. Pisco e vejo minha Chopper estacionada na frente do motel. Eu sei que de alguma forma Crow fez isso. Precisando sentir o vento contra o meu rosto,
escolho a minha moto em vez da caminhonete e apenas a piloto. Dirijo por um longo tempo antes de parar em uma lanchonete. Pego a comida e volto ao motel.
Enquanto atravesso a porta, eu congelo. Hush está acordado, olhando para Sia enquanto acaricia seus longos cabelos loiros. Ele se vira para me olhar, e eu encontro seus olhos. A última vez que os vi eles
estavam vazios e vazios. Agora, estavam cheios de tanta dor, raiva e tristeza, todos se transformaram em um, e eu me pergunto como ele não quebrou antes disso.
“Na caminhonete.” Ele aponta para fora. Não sei o que ele quer dizer, mas coloco a comida para baixo e vou para a caminhonete de qualquer forma. Procuro na cabine até encontrar a pasta cheia no porta-luvas.
Volto para dentro. Hush não se moveu.
Sento-me à mesa e começo a pensar nisso. Eu nunca soube que uma pessoa podia sentir tanta raiva e ódio quando eu virei e li cada página... e estudei todas as fotos. Quando li a seção sobre os meus pais,
eu quis rasgar algo — ou alguém — foda-se. Eles foram informados por Moreau para me afastar de Hush naquela noite. E nem sequer questionaram isso. Apenas seguiram como os malditos devotos que eram.
Idiotas.
Levanto-me e empurro as mãos pelo meu cabelo, agarrando os fios e quase os rasgando do meu maldito couro cabeludo.
Quando posso respirar novamente, Hush encontra meus olhos. Seus ombros caem e ele desvia o olhar em direção à janela. As cortinas estão fechadas. Ele estava olhando para o nada. Pego a comida para ele.
“Coma.” Hush parece querer discutir, mas ele precisa comer. Por causa da sua epilepsia.
Felizmente, Hush pega o hambúrguer e fritas de mim e começa a comer.
Sia acorda e sorri para Hush, e depois para mim. Hush acaricia seu cabelo novamente antes de beijar seus lábios. Sia come a comida em silêncio. Todos nós o fazemos. Quando tudo foi comido, deito-me na
cama atrás dela. Sua mão está no peito de Hush, a ponta dos dedos sobre suas tatuagens.
Hush é o primeiro a falar. “Nunca vou entender por que alguém se importa com quem o outro ama.” Sia fica tensa sob meu braço. Eu a seguro mais apertado. A voz de Hush quase desaparece, o estresse dos últimos
dias tirando sua energia e som.
“Hush,” Sia o acalma, passando a mão em sua bochecha.
Hush coloca a mão na dela para detê-la. “Eu não quero uma vida para você, onde você é julgada por estar comigo. Pode não acontecer hoje ou amanhã, mas alguém em algum lugar vai dizer algo, um dia. Pode
até ser mais do que palavras. Eu...” ele balança a cabeça. “Não posso fazer isso com vocês dois.”
“O mundo está mudando,” Sia argumenta.
“Não rápido o suficiente.”
“Então vamos criar um mundo só nosso,” ela diz desafiadoramente e se ajoelha de frente para ele. Os olhos tristes de Hush caem sobre ela, e Sia segura sua mão.
Então ela segura a minha.
“Em nossa casa. Será o nosso mundo. Não teremos que dar uma merda sobre os que estão lá fora. Eu amo tanto vocês dois.” Ela segura o olhar de Hush. “Você sabe disso?”
“Sim,” Hush diz, com sua voz falhando.
O rosto de Sia relaxa e seus ombros caem. Ela se inclina para frente e beija seus lábios feridos. Ele a puxa para trás, e coloca a sua testa na dela. “Você tem família,” ela sussurra. Sia leva minha mão
aos seus lábios. “Somos uma família.” Ela solta um suspiro. “O clube...” ela hesita, então, relutantemente, acrescenta, “eles também são nossa família.” Ela passa a mão pelo rosto de Hush. “Você não está
sozinho. Mas você tem que nos deixar entrar.” Um sorriso se espalha em seus lábios. “Eu sei que você é ‘Hush’. Seu nome de estrada se adequa a você, porque você nunca se abriu para mim, então me deixe
chegar perto.” Ela olha para mim, e novamente para Hush. “Eu nem tenho certeza se você realmente deixou Cowboy também.”
Ele não deixou. Não completamente.
“Há anos que aguento acordar dia após dia para ver se você foi embora.” Falo. Hush não olha para mim. Seus olhos se perdem enquanto ele encara os lençóis. “Eu sempre soube que havia uma parte fechada de
você. Uma que você nunca lidou.”
Eu odeio dizer isso, mas... “Seus pais. Como eles morreram.” Olho nos seus olhos, até que Hush não tem escolha senão retornar o meu olhar. “Não foi sua culpa, Val. As ações desses idiotas racistas nunca
poderiam ser colocadas aos seus pés. As vítimas nunca são responsáveis por seus próprios assassinatos. É o mal que é o verdadeiro responsável.” Pego sua mão e a aperto. “É hora de perdoar a si mesmo. Porque
do jeito que eu vejo, temos uma verdadeira boa vida à nossa frente.” Sorrio. “Nós só precisamos aceitar isso.”
Sia se aproxima mais do seu lado. “Eu não me importo com o que alguém pensa de nós. Mesmo o meu próprio irmão. Eu quero isso... quero isso tanto que dói.” Ela beija suas costelas feridas. “Eu preciso disso...
nunca soube o quanto até que pensamos ter perdido você.” Ela se apoia em seu cotovelo. “Por que importa o que isso parece, ou a quem isso envolve? Se é amor, devemos agarrá-lo com as duas mãos.” Seus olhos
caem. “Eu não tenho pais. Você também está sozinho, Hush.” Ela beija os meus dedos. “E você, Cowboy, é a luz que persegue a mais profunda escuridão dentro de nós quando ela começa a rastejar.”
Hush fica em silêncio por tanto tempo, que penso que ele ainda discutiria. Mas então ele me olha. “Eu tenho que resolver isso,” ele reconhece, e vejo seu rosto desmoronar. Ele abaixa a cabeça. “É sufocante.
Eu não posso... não consigo respirar com isso pesando tanto sobre mim.” Quando ele olha novamente, sei o que ele quer.
Ele precisa se vingar daquelas pessoas loucas que levaram sua família.
Concordo. Ele sabe que eu ficarei bem ao seu lado.
Ficamos novamente em silêncio, até que alguém bate na porta. Abro-a para encontrar Crow. Ele entra no quarto, e Sia levanta-se da cama. “Vou tomar banho,” ela diz.
“Você disse a ele?” Pergunta Crow a Hush. Hush balança a cabeça e depois me conta sobre as suspeitas de Crow em relação a Titus.
“Tudo o que você precisar,” digo a Crow. “Seja o que for, para levar justiça a esse idiota.”
Crow me dá um tapa nas costas. “Então? Quando você está disposto a fazer uma ótima visita ao seu Vovozinho?”
Olho para Hush. Ele se arrasta da cama. Posso ver a raiva e a determinação no seu rosto. “Esta noite,” Hush diz. Eu assinto. “Então nós pegaremos os outros.”
Crow sacode a cabeça. “Nah, irmão. Eu pego eles.” Uma lâmpada acende em seus olhos. Nunca conheci alguém que tem uma queda tão maldita por matar como Crow... exceto, talvez, Flame. Esses dois juntos seriam
algo como um fodido filme de terror.
“Eles são meus,” Hush argumenta.
“Você pega o mestre das marionetes, deixe as marionetes para mim,” Crow diz. Hush balança a cabeça. “Nós somos família, Hush.” Os olhos de Hush se arregalam e seus lábios se separam. Não acho que em todos
os anos em que estivemos com os Hangmen, ele já se deixou sentir como se fossem realmente nossa família.
O merda do Titus não ajudou. E agora Ky estava ameaçando os nossos patches por causa de Sia. Mas mesmo que tudo isso fosse uma dor nas bolas, os Hangmen eram nossa família. Hush nunca esteve sozinho. Eu
sempre estive lá, mas havia mais, os seus irmãos... irmãos que ele nunca deixou entrar.
É hora dele começar.
“Você cometerá uma série de assassinatos e correrá o risco de ser pego.” Crow esclarece. “Eu tenho reforços chegando. Você pega o vovô. Vamos limpar tudo.” Ele dá o sorriso mais fodido que já vi. “Então,
o dado de Hades e eu, vamos nos divertir um pouco...”
“Tudo bem,” Hush finalmente concorda. Eu vejo algo, uma expressão que nunca vi antes, se instalando em seu rosto. Aceitação. E talvez um pouco de alívio.
Crow fica de pé. “Vou aguardar sua ligação.” Ele sai do quarto do motel e Sia sai do banheiro. A preocupação está escrita em seu rosto. Eu sei que ela estava ouvindo.
“Precisamos sair por um tempo,” afirmo. Sia assente. Hush sai da cama e beija Sia na boca. Ele pega o seu colete, depois eu vou até Sia. Seus olhos estão nos implorando para voltar seguros. “Voltaremos
em breve, Cher,” asseguro-lhe e beijo seus lábios.
Abro a porta, Hush segue atrás, quando ele para de repente e vira-se para Sia. “Eu me chamo Hush, não porque sou quieto, mas porque eu era um bebê ‘silencioso’. Ninguém me queria.” Ele sorri, mas está
tenso. “Exceto meus pais. O resto da minha família se recusou a reconhecer a minha própria existência.”
Sia fica enraizada no local, mas seus olhos brilham. “Obrigada,” ela sussurra para Val. “Obrigada por me deixar entrar.” Hush suspira, e vejo outro tijolo dos seus altos muros cair por terra.
Quando chegamos à caminhonete de Crow, eu sei que, depois desta noite, uma seção inteira de paredes se transformaria em entulho. Hush solta uma respiração e depois assente. Levo isso como meu sinal, saio
do estacionamento do motel e vou para os Moreaus.
O vovô Moreau tinha um compromisso com Hades.
*****
O portão para a grande propriedade estava aberto quando quebramos as lâmpadas e lentamente abrimos o caminho para a mansão. Eu mantenho os olhos abertos para os homens da propriedade, a segurança, quem
quer que eles pudessem ter contratado. Mas não havia nada. Posso ver Hush procurando o mesmo. O irmão continua a verificar a Glock e a faca em sua bota, esperando que alguém venha até nós. Para nos questionar.
Qualquer coisa.
Quando colocamos a caminhonete sob a cobertura de algumas árvores, o lugar é aparentemente uma cidade fantasma, digo um nome como explicação, “Crow.” Hush assente, olhando para a grande mansão branca.
Ele respira fundo. “Você está bem?” Pergunto.
“Ela cresceu aqui.” Hush aponta para a casa. Ele balança sua cabeça. “Como ela pode ter sido feliz em nosso barraco?”
“Porque ela tinha você e seu pai.” Eu olho as colunas brancas e a varanda em volta. “Eu conheci seu avô,” digo. Lembro-me dos muitos jantares neste local. As atitudes abafadas, a conversa racista... e
como sua avó sempre estava em silêncio. Hush tinha mais em comum com ela do que ele pode imaginar.
“Você está pronto?” Pergunto, consciente de estar aqui por muito tempo. Crow só poderia manter as pessoas longe por certo tempo. Uma chamada para a polícia e eles rastejariam por todo esse lugar em segundos.
Hush abrindo a porta da caminhonete era toda a resposta que eu precisava. Ele mancava, inclinando-se para o lado devido à dor em suas costelas. Mas havia uma determinação acesa em seus olhos. Inferno,
com esse fogo olhando para mim, ele poderia ter passado pelo próprio Hades.
Caminho ao lado de Hush enquanto subimos os degraus e atravessamos a porta da frente. No momento em que passamos por lá, não éramos Hush e Cowboy, mas Aubin e Valan, aqui para fazer o que deveria ter sido
feito anos atrás.
A casa parecia um museu enquanto caminhamos pelos corredores. Até que chegamos a esquina para a biblioteca... e encontramos o velho Moreau sentado atrás de sua mesa. Ele parece assustado quando passamos
pela porta, um ao lado do outro. Seus olhos se arregalam. Ele tenta apertar algo sob sua mesa — talvez um alarme? Mas nenhum som veio.
Tenho muito para agradecer a Crow.
Sorrio e dou um passo à frente. Hush está congelado no local. “Sr. Moreau.” Sento-me na cadeira em frente à ele e coloco os pés sobre a mesa. “Você se lembra de mim?”
Ele me encara um pouco, depois sua boca cai. “Aubin Breaux?”
Eu toco o meu Stetson. “Ao seu serviço.”
Então seus olhos vão para Hush, de pé atrás de mim. O homem velho engole. “E eu sou a abominação,” Hush diz com frieza. Ele se inclina para ficar ao meu lado.
Fico de olho na mão de Moreau, no caso dele tentar pegar sua arma. Como esperado, sua mão desaparece debaixo da mesa. Eu puxo minha arma e aponto diretamente na cabeça do maldito. “Mãos onde eu posso vê-las,
imbecil.” Quando ele não faz o que exijo, eu clico a trava de segurança. Suas mãos pousam na mesa em um instante. “Val?” Chamo, dando espaço a Hush.
Hush não perde tempo. E chega logo ao maldito ponto. “Você ordenou a morte do meu pai e eu através dos seus amigos da Klan.” Moreau empalidece, mas o bastardo mantém a cabeça erguida. Ele não responde.
Ele não pode negar isso. “Mas você a matou em vez disso. Matou ambos por estarem apaixonados.”
Moreau quebra, sua mandíbula ficando tensa. “Ela trouxe vergonha a esta família,” ele sibila. “Nunca, em trezentos anos, essa família foi poluída, então ela o trouxe para esta casa.” O olhar que Moreau
dá a Hush estava atado com desgosto. “E então eles tiveram você.” Ele ri. “Ela nem mesmo era biologicamente minha, mas ela era a ariana perfeita e carregava o meu nome. Ela foi arruinada pelo homem que
você chama de pai.” Ele volta a sentar-se na cadeira. “Você deveria estar lá, não ela. Eu a queria longe da influência do seu pai, de você.” Ele encolhe os ombros. “Mas em retrospectiva, eu percebi que
não teria ajudado.” Um frio brilho de vitória surge em seus olhos. “Conto agora como um erro feliz que ela também morreu. A vergonha do nome Moreau morreu com ela.”
Em um segundo, seus lábios se moviam. No próximo, um tiro de bala soou e uma bala correu entre os olhos dele. Balanço meus pés de volta ao chão enquanto o sangue se acumula sobre a mesa. Quando fico parado,
Hush permanece olhando para seu avô morto. Ele solta uma respiração rápida, depois me olha. Seus olhos estavam arregalados. Eu estava prestes a falar quando ouço um suspiro da entrada.
Nós dois viramos para ver uma mulher mais velha com cabelo loiro grisalho e olhos azuis... olhos exatamente iguais aos de Hush. E, como Hush, um deles estava rodeado por hematomas.
“Ei, Sra. Moreau,” cumprimento. Ela me poupa um olhar, mas seus olhos só buscam Hush. Sinto o meu irmão tenso, e sei o que ele via. Ele estava vendo sua mãe, como teria sido quando ela fosse mais velha.
A Sra. Moreau entra na biblioteca. Sua caminhada é lenta, resultado do seu acidente vascular cerebral anos atrás. Sua boca torta para um lado inclina-se ligeiramente para baixo. Mas isso não impede que
ela chegue ao seu neto.
A mão de Hush, que ainda segurava a arma, sacode. Lentamente, ele a baixa. Assim que o faz, a mão da Sra. Moreau se move para sua boca e um soluço fraco escapa de sua garganta. Ela para aos pés de Hush,
olhando para ele. Ela era uma mulher pequena; ele se elevava sobre ela. Lágrimas rastreiam suas bochechas. Pela reação de Hush, não pensei que ele estivesse longe de quebrar.
“Valan?” Ela sussurra, seu sotaque sueco sem esforço envolveu o nome.
A boca de Hush abre. Ele assente. Olho para o braço nu e vejo um hematoma desbotado. Parece que o velho Moreau era mais idiota do que sabíamos.
A mão da Sra. Moreau cai de sua boca e se move para a bochecha de Hush. Sua mão treme, assim como sua voz quando ela diz, “Você parece exatamente com ela.” Seus dedos foram para o lado do seu olho ferido.
Ela nem mencionou que meu amigo estava maltratado e ferido. Tudo o que ela via era Hush, e através dele, sua filha.
“Ele a tirou de mim,” ela sussurra, sua voz fraquejando. “Ele nunca me disse se você estava vivo ou morto.” Seus olhos apertam. Quando abrem, ela diz, “Eu nunca me importei.” O olhar de Hush se alarga.
“Eu não queria saber com quem ela se casou... eu só queria que ela fosse feliz.” Ela soluça e se vira. Quando se recupera, ela continua, “E eu nunca consegui encontrar meu amado neto.” Ela sorri, sua mão
ainda no rosto de Hush, como se não pudesse tirá-la.
Hush estava tão imóvel quanto uma estátua, até que ele ergue a mão e suavemente segura seu pulso. “Prazer em conhecê-la... Mormor26.”
A Sra. Moreau não se aguenta ao ouvir aquelas palavras e envolve seus braços em torno de Hush. Ela parece pequena agarrando-se à cintura de Hush. Os olhos de Hush se fecham, então ele a abraça. Suas bochechas
se contraem, seus lábios apertam... então vejo uma lágrima cair em sua bochecha. Ele a mantem mais apertada, e posso ver que ele está lutando para não quebrar completamente.
Movo-me para ficar de pé junto à parede, mantendo os olhos em qualquer movimento da casa. Apenas olho para trás quando a Sra. Moreau diz, “Eu sabia que você voltaria um dia. Era o destino. Não se pode
fazer algo tão hediondo e não voltar para eles.” Tive a impressão de que ela estava falando mais do que o fogo. Ela olha para o marido e uma expressão gelada aparece no rosto. “Mas você deve ir.” Ela passa
a mão pelo rosto de Hush. “Um intruso entrou, tentando entrar em nosso cofre.” Ela endireita seus cabelos. “Eu estava no andar de cima quando ele atirou nele. Eu estava escondida, então desci para encontrá-lo
aqui, morto.”
Hush puxa algumas respirações instáveis, depois concorda. “É melhor irmos,” insisto. Hush não consegue tirar os olhos de sua avó. Ele está preso no momento. “Val?”
Ele finalmente olha para mim e assente. Ao passar por sua avó, ela diz, “Quando tudo isso acabar... gostaria muito de vê-lo.”
Hush para, respira fundo e depois se vira. “Eu gostaria disso também.” Meu coração quebra por ele.
“E você deve voltar e ver sua mãe,” ela diz. Hush se acalma. Mais lágrimas derramam dos olhos da Sra. Moreau. “Ela está no nosso jardim.” Hush assente, mas eu sabia que ele não seria capaz de falar, sabendo
que ele está andando no mesmo terreno que sua mãe. Como se isso não bastasse para o irmão ouvir, ela diz, “E eu também o levarei para ver seu pai.”
Hush lentamente se vira. “O quê?” Sussurra em descrença.
Sua avó se aproximou. “Ele nunca soube,” ela diz confidentemente, gesticulando para Moreau caído no balcão. “Mas eu paguei o legista escondido dele. Eu tinha umas economias que ele nunca soube.” Ela sorri
tristemente. “Estava guardando em segredo para voltar para a Suécia… esperando encontrar Aia, seu pai, e você primeiro e levar todos comigo. Para começar uma nova vida longe dele. Mas…” ela para de falar.
Todos sabíamos o final. “Quando os restos mortais dele foram recuperados, e meu marido se recusou a dá-lo um túmulo, eu paguei por um em segredo.” Sua respiração engata e sua voz fica rouca. “Eu conhecia
minha filha, e sabia que ela amou aquele homem mais do que a própria vida. Eles deveriam descansar juntos, mas não pude… ele teria…”
Ela baixa a cabeça, sem dúvida com vergonha, mas Hush estava do outro lado da sala em um segundo, abraçando a mulher mais velha em seu peito. “Obrigado,” ele sussurra, então diz algo pra ela em sueco que
eu não entendi.
A Sra. Moreau ouve e segura seu neto mais próximo. “Sinto muito, Valan,” ela chora. “Sinto muito que ele fez o que fez. Sinto falta da minha menina… sinto muita falta dela. Como se uma parte do meu coração
foi tirado de mim.” Ela se afasta e dá um fraco sorriso. “Mas ver você… o quanto se parece com ela… hoje, deu vida para minha alma.” A Sra. Moreau ri. “Você é tão bonito, querido.”
Finalmente, Hush coloca um beijo na testa da sua avó. Ela suspira. “Agora vá. Deixe a cidade para onde quer que você viva agora. Vá para longe e não olhe pra trás. Não vou deixar você ser punido por uma
coisa que é merecida.”
Seguro o cotovelo de Hush e o guio para fora da casa. Nós corremos, Hush olha para trás, para ver sua avó na varanda nos observando. Voltamos para a caminhonete e rapidamente tiro o carro. Hush observa
a casa e sua avó até que ambos se desvanecem da vista.
“Você está bem?” Pergunto ao chegar à estrada que nos levaria de volta à Sia.
Hush solta a respiração. Eu sempre pensei que Hush tinha tomado uma inspiração profunda quando seus pais morreram. Acho que não percebi que até agora, com o suspiro pesado que escorria de seus lábios,
ele nunca expirava.
Hush vira-se para mim, uma luz da estrada iluminando seu rosto. “Vamos buscar a nossa Sia.” Ele sorri quando se senta de costas contra o assento. Ele olha para a estrada à frente. “Eu quero ir para casa.”
Mas então ele franze a testa, algo claramente ainda em sua mente. “E quanto a sua família?”
Ódio, grosso e puro, corre pelo meu sangue. “Estão mortos para mim,” digo e vejo Hush fechar os olhos por um breve momento. Quando eles se abrem novamente, dou uma piscadela e meu sorriso de marca registrada,
toco a ponta do meu Stetson e digo, “Vamos para casa, mon ami... vamos para a nossa maldita casa.”
Capítulo quinze
Sia
Paro minha caminhonete na frente da cabana de Lilah e Ky. Minhas mãos apertam firmemente o volante. Eu não falei com meu irmão desde o México. Não tivemos a oportunidade de conversar no lugar dos Diablos
em Laredo, e então fui para casa com Hush e Cowboy e estive com eles desde então.
Não tenho certeza se ele ainda está chateado comigo. Mas preciso falar com ele. Depois da Louisiana, depois de ver Hush tão quebrado sobre sua família, e depois tão diferente... feliz. Quando ele me contou
sobre sua avó, tudo que consegui pensar era em Ky.
Ele era minha única família.
A porta da cabana abre. Lilah estreita os olhos enquanto tenta ver quem estava à sua porta. No segundo em que ela me vê, um sorriso muito aliviado cai em seus lábios. Nervosismo gira no meu estômago,
mas saio da caminhonete. “Ei, garota,” digo e aceno. Caminho até a cabana, e ouço imediatamente as outras Old Ladys lá dentro. Lilah me puxa para ela mais forte do que nunca.
“Ei,” digo suavemente e beijo sua bochecha. “Estou bem.” Lilah recua a cabeça e me olha. Então, ela me vira e meu coração começa a bater contra o peito. Fecho os olhos, e me preparo. Eu uso um top de costas
baixas de propósito. Eu não me envergonharia mais das minhas costas. Da cicatriz que, para muitos, era um sinal de inferioridade. Eu decidi tomar a posse dessa merda e usá-la com orgulho. E não me envergonho
das queimaduras do ácido. É hora de abraçá-las como uma fodida parte de mim.
“Estou muito orgulhosa de você,” sussurra Lilah. Eu me viro e vejo a cicatriz em seu rosto. Aquela que lhe dá uma sensação de paz que só ela pode realmente entender.
“Obrigada.” Pego a mão esticada de Lilah, e ela me leva para dentro da casa.
Chego à esquina e vejo suas irmãs, e Beauty e Letti. Eu aceno de novo. “Sia!” Então Old Lady atrás de Old Lady vêm até mim, abraçando-me. Eu as abraço de volta, um enorme nódulo se forma em minha garganta.
Sento-me e observo essas mulheres. Todas diferentes, com diferentes estilos de vida, todas doces. É engraçado; eu sempre quis ficar longe desse clube, acreditando firmemente que era um inferno hedonista
tóxico. Mas com essas mulheres, ou em casa com Hush e Cowboy — em nossa cama, fazendo tarefas incrivelmente comuns como cozinhar, andar de moto — eu percebi que simplesmente estava errada.
Como eu ouvi Crow dizer quando estava no banheiro do motel na Louisiana, era uma família. Uma que eu perdi, que me foi negada.
Não importa o que Ky diga, não deixarei essa merda acontecer novamente.
“Como você está, garota?” Pergunto a Beauty enquanto ela caminha para mim. Eu gosto da Beauty. De todas as Old Ladies sinto um parentesco com ela. Ela tinha visto um monte de coisa na vida, mas ela era
feliz e cheia de audácia. Ela era minha inspiração.
Beauty verificou se alguém estava olhando. Realmente não dando a mínima se estivessem. Ela tomou o café que Lilah tinha acabado de colocar na minha mão e colocou pouco de bourbon do frasco que ela havia
escondido em seu colete ‘Propriedade do Tank’. Olho para Lilah para vê-la franzindo o cenho. Uma risada alta cai dos meus lábios.
“Estou bem.” Pela primeira vez em muito tempo, eu quis dizer isso. “Tem sido um caminho difícil, mas estou chegando lá.”
“E Hush e Cowboy?” Bella pergunta. Eu vejo a simpatia em seus olhos. Como eu, ela está com um homem, ou no meu caso, com homens, que o clube considerou traidores, ou agiram contra as regras do clube. No
entanto, ela ama Rider até a morte. Ela o ama com muito orgulho.
Sorrio. “Estão bem.” Isso também é verdade. Cowboy está em seu habitual eu arrogante novamente, quase totalmente recuperado de seus ferimentos. Hush ainda está meio machucado e maltratado. Mas a maior
mudança nele tinha sido... ele. Hush está sorrindo e, roubando meu coração, e está falando.
Ele sempre será quieto; essa é apenas sua natureza. Mas ele fala comigo. Eles sempre estão me beijando, fazendo amor comigo... amando-me. Eu nunca estive tão feliz na minha vida inteira. Só quero que o
clube os receba de volta. Não há nada além de silêncio desde o México.
“Eles aparecerão.” Levanto a cabeça. Estou perdida em meus pensamentos, e com os olhos fixos no café em minha mão. Mae foi a única a falar. Ela está embalando sua barriga, esfregando sua protuberância
que já aparece. Não demoraria muito para que Styx se torne pai.
Styx como pai. Eu ainda estou tentando envolver minha cabeça em torno disso. Dou-lhe um sorriso fraco. “Espero que sim.” Olho pela janela, procurando por qualquer sinal de Ky. “Eles pertencem a este clube.
É a vida deles.” Uma súbita e protetora corrida de raiva toma conta de mim. “Só porque eles estão comigo não deve significar merda nenhuma. Então o quê? Eu quero ambos. Amo ambos. Quem se importa? Por
que alguém deveria se importar enquanto eles me tratam direito? E eles fazem. Tão bem. Não posso acreditar em quão sortuda eu sou.”
Paro de falar quando sinto minha pressão sanguínea subir. Sorrio sem humor. Minha voz foi brusca, mas ainda consigo dizer, “Eu os amo. Tanto que dói. Eu... eu não quero ser o motivo pelo qual seu clube,
sua família, o motivo pelo qual vivem, são tirados deles.”
A sala fica em silêncio, até que uma voz baixa diz, “Você me perguntou há algumas semanas o que sentia...” levanto minha cabeça para ver Maddie do outro lado da sala. Ela tinha um rubor em suas bochechas,
seus olhos verdes longe de estar no centro das atenções. “Como é estar com Flame.” Um pequeno sorriso cai em seus lábios, um que faz meu coração inflar no peito. “Paz.” Ela suspira e gentilmente assente.
“Não posso descrevê-lo como algo diferente de paz. Com ele, juntos, estou em paz depois de anos de ser tão desesperadamente infeliz.”
Maddie levanta-se do assento e vem até mim. Ela hesita quando alcança minha mão. Então coloca a sua palma na parte de trás da minha mão e a aperta. “Se é assim que seus homens te fazem sentir, então você
deve lutar por eles.” Seus enormes olhos verdes se aborrecem diante dos meus. “O que é o amor de qualquer maneira? Nunca é simples, e nunca possui exatamente as mesmas regras para todas as outras pessoas
que estão apaixonadas. O nosso amor pode, para muitos, parecer incomum. Mas ele me salvou.” Sua respiração engata. “E eu o salvei. Se você salvou seus homens e seus homens te salvaram, então vocês pertencem
uns aos outros.”
“Obrigada,” respondo, meus olhos brilhando e meu lábio inferior treme com gratidão. Maddie volta para o seu assento. Mae segura sua mão e a aperta.
Beauty dá um tapa na cadeira. “E foda-se, querida, é o maldito século vinte e um! Diga ao clube para sair da maldita idade das trevas e junte-se ao novo amanhecer onde,” ela finge estar ofegante, “uma
mulher pode estar com dois homens.” Ela cobre a boca e coloca seu melhor sotaque do sul. “Oh meu Deus! Você pode acertar meu assento de ménage à trois onde estou de pé.” Ela revira os olhos. Sorrio. “Fique
com os seus Cajuns.” Ela balança as sobrancelhas. “Eles são lindos. Muitas cadelas queriam se encaixar entre aqueles tórax duros.”
“Para nós,” diz Phebe e gesticula para as senhoras que haviam sobrevivido ao culto, “a ideia de um homem e uma mulher era realmente mais chocante do que o que você está vivendo. O amor é subjetivo, não?”
Ela sorri. “Eu diria que essa vida é muito diferente do mundo fora das terras Hangmen. Nós já estamos vivendo um modo de vida alternativo. Sua vida amorosa não é tão estranha nesses muros.”
“E ajuda que os irmãos e as cadelas como eu literalmente matariam qualquer um que tivesse um problema com isso.” Sorrio da Letti quando ela encolhe os ombros, como se matar alguém fosse apenas uma ocorrência
diária em sua vida.
Beauty concorda com o seu comentário ao cantar, “Aleluia, irmã!”
“Sia?” O som da voz de Ky atrás de mim me faz pular. Eu me viro para ver meu irmão de pé na entrada.
Então me levanto. “Ei.” Abaixo meus olhos. Não sabia mais o que dizer. É tão estranho.
A sala fica em silêncio. Então, “Venha comigo.” Levanto minha cabeça para ver Ky saindo da cabana. Eu olho de volta para Lilah. Ela me dá um sorriso encorajador.
Saio pela porta. Ky está subindo em sua moto. Ele bate na banco. “Suba, irmã.” Eu subo atrás da moto, inalando o cheiro de couro. Sempre me lembra de Ky. Quando eu era mais jovem, ele me levava para passear
na moto. Às vezes por horas, apenas na estrada aberta.
Nós montamos em torno dos vários hectares do Hangmen até chegarmos a um riacho. Ky recosta o estribo e desliga o motor. Saio da moto e estico meus braços e pernas. Ky se senta no banco próximo ao riacho.
O som da água gotejante é calmante enquanto sento em meu lugar ao lado dele.
Antes mesmo de dizer uma palavra, Ky se vira para olhar para a parte de trás do meu pescoço. Ouço o pequeno som irritado que deixa a sua garganta. Eu puxo para trás e pego minha retaliação em primeiro
lugar. “Não tenho vergonha.” Vejo os olhos furiosos do meu irmão. “Estou orgulhosa de tê-la.”
Ky respira fundo pelo nariz. Ele abaixa a cabeça e passa as mãos pelos longos cabelos loiros. Quando ergue a cabeça, ele observa: “Você está fodendo os dois, Sia?” Eu tive que me segurar para não lhe dar
um sorriso bem aberto. Porque não há maldade em seu tom. Ky me olha pelo canto do olho. Ele balança sua cabeça. “Eu sei o que eles tomaram por você.” Escuto enquanto assisto um pato pousar no riacho. “Cowboy,
defendendo você até que também foi levado.” Ele respira fundo. “E Hush...” ele ri. “Chegou aqui como o próprio Hades, exigindo que procurássemos você.” Ele fica tenso e continua, “Disse-me que não queria
que você estivesse com eles porque ele era preto. Ou uma raça mista ou qualquer outra coisa que ele disse.” Fecho os olhos, imaginando o que deve ter passado pela cabeça de Hush. “Disse-lhe que não era
sobre isso. Não posso dar a mínima sobre isso.” Ky aperta os punhos. “É o pensamento daqueles merdinhas foderem você juntos é que me faz ver vermelho.”
“Ky!” Eu gaguejo e bato no braço dele.
“O quê?” Continua com toda a seriedade. “Você é minha irmãzinha e caralho. Agora você está na cama não com um, mas dois irmãos, que muito honestamente podem estar fodendo um ao outro também. Tudo o que
vejo na minha cabeça sempre que vocês três são mencionados é uma dança conga de buceta, paus e bundas. Isso está fodendo com minha cabeça!”
“Ky, eu amo muito você. Mas nunca mais fale coisas assim pra mim ou vou cortar a sua língua quando você dormir.”
"Você não pode fazer isso, irmã.” Ele dá de ombros. “Li não pode viver sem essa língua.” Reviro os olhos e faço um som de engasgo. Ky coloca a mão no meu pulso. “Sério. Nunca mais mencionarei a dança conga
se você nunca fizer esse som. Agora eu consigo uma fodida trilha sonora de como você soa ao chupar um pau.”
Sorrio e éi tão bom quando Ky sorri também. Deito minha cabeça no seu ombro, o aroma do couro no meu nariz. Senti falta disso. Odeio brigar com ele. “Como está Lilah?”
Olho para ver o sorriso de Ky. “Ela está melhor. Incrivelmente forte.” Ele passa as mãos sobre suas coxas. “Ela fez exame de sangue na semana passada. Ela está no início da gravidez, mas queriam verificar
uma quantidade de coisas.” Ele limpa sua garganta. “Perguntou se queríamos saber o sexo do bebê.” Meus olhos se arregalam, ele respira fundo e depois acrescenta, “Ela terá um menino.” Levanto a cabeça,
e sorrio grande. “... e uma menina.”
Minha boca cai. “Gêmeos?”
“Sim. Li disse que é do lado do seu pai,” ele respira fundo, os olhos arregalados como os de um cervo nos faróis. “Outra garota. Terei cabelos brancos antes que eu tenha trinta e cinco.” Sua cabeça cai
em suas mãos. “E um menino. Merda,” ele diz. “Eu só posso imaginar o puto do caralho que esse garoto será.”
Eu cutuco seu braço. “Bem, você é o pai dele.”
“Sim.” Ele assente. "E com uma tia fodendo dois homens, ele vai achar que tem direito a todas as bucetas que ele pode conseguir.”
Expiro, então pergunto, “Ky? O que você fará sobre Cowboy e Hush e o clube?”
“Negócio do clube, Sia. Você sabe disso.”
Olho ao longo do fluxo borbulhante. “Eu estava em Louisiana na semana passada.” Ky me olha, um olhar intrigado em seu rosto. “Eu conheci Crow.”
“Tudo bem,” ele diz devagar.
“Eu preciso contar algumas coisas. E estou aqui meio que por trás das costas de Hush e Cowboy para te contar. Mas quero que você saiba. Quero que você entenda por que Hush é do jeito que ele é. Por que
ele está tão quebrado.” Ky lambe o lábio inferior, virando-se para olhar para o rio. Mas sei que ele está ouvindo todas as minhas palavras. “E há algumas coisas sobre o Prez de Nova Orleans, que acho que
você deve saber.”
Suas sobrancelhas baixam quando começo a contar-lhe sobre Hush e Cowboy. Como eles se conheceram, o que aconteceu com os pais de Hush, como ele nunca teve a chance do adeus e por que ele nunca deixou
que os Hangmen realmente fossem sua família. Então eu falei sobre Titus, o que ele fez com Hush no passado e depois apenas alguns dias atrás. E o que ouvi Crow e Hush falarem a Cowboy quando eu não deveria
estar ouvindo.
Quando termino, Ky é uma estátua no banco. Suspiro, sentindo o peso de tudo o que passamos, levanto meus ombros. “Se você os afastar por algo tão estúpido como se apaixonarem por mim...” Ky levanta cabeça
para mim. “Eles me amam,” sussurro. “E eu os amo muito.” Dou-lhe um sorriso irônico. “É a primeira vez que algum de nós realmente sente isso, Ky. Eu estou...” penso em Maddie. “Estou em paz agora. Com
eles. Finalmente estou feliz e encontrei a paz.”
Levanto e tiro a sujeira seca do meu jeans. Ky espera alguns minutos mais, sem dúvida, pensando. Então ele levanta. Eu caminho até sua moto, quando ele agarra meu braço e me puxa para o seu peito. Dou
um gemido com a surpresa, mas então sinto meu coração derreter enquanto os braços de Ky me rodeiam e me apertam. Sinto que as lágrimas que começaram a se formar, apenas pioram quando ele beija o topo da
minha cabeça e diz, “Eu não teria conseguido passar por isso se Garcia a tivesse roubado de mim.”
A sinceridade de sua voz profunda me corta. Eu seguro Ky com tudo o que tenho. “Eu amo você,” sussurro e quero dizer essas palavras.
“Também te amo, irmã,” ele responde e me segura por alguns segundos mais.
Quando nos separamos, eu tenho certeza que vi seus olhos brilhando, mas, quando montamos na moto, não sei se imaginei ou não. Envolvo meus braços em volta da sua cintura. “Quer fazer uma verdadeira viagem?”
Ky Pergunta.
Sorrio, me sentindo como a irmãzinha que eu realmente sou. “Sim.” Seguro apertado quando entramos na estrada aberta. Não sei se é um sinal do céu, talvez da minha mãe, mas senti uma quietude se estabelecer
em mim que nunca senti antes. E sei que é porque seus dois bebês finalmente encontraram o caminho de volta um para o outro. Com esse pensamento na minha cabeça, eu fecho meus olhos quando as luzes da cidade
de Austin passam... e simplesmente o seguro.
*****
Entro no apartamento e encontro Cowboy esticado no sofá. Ele se levanta e vem direto para mim. Ele me ergue em seus braços e me segura no peito. “Senti sua falta, Cher,” ele diz no meu cabelo.
Sorrio. “Eu só estive fora por uma tarde.”
Cowboy me derruba. Ele coloca uma mão em seu peito. “Cher, é tempo demais para eu estar sem você,” ele diz em seu melhor acento dramático. Sorrio na cara dele.
"Você é tão idiota,” falo e aperto minha boca contra a dele. Cowboy geme, suas mãos segurando minha cintura. Ele pode ter brincado antes, mas esse beijo me mostra que ele queria dizer todas essas palavras.
Quando ele deixa minha boca, estávamos respirando rapidamente. Sinto seu pau duro contra a minha coxa. Engulo. Olho para cima e vejo Hush sobre o ombro de Cowboy. Ele está limpo pelo banho, observando-nos
enquanto se apoia na entrada. Uma toalha está vagamente enrolada em torno da sua cintura, seu corpo tatuado e tonificado dá um show. Gotas de água correm sobre seu abdômen e desaparecem sob sua cintura
na toalha.
Cowboy se move, sua boca na parte de trás do meu pescoço. Meus olhos permanecem em Hush, o azul-gelo de suas íris se estreitam em torno de suas pupilas dilatadas. A respiração morna de Cowboy faz arrepios
correrem pela minha coluna. Minha pele queima com o calor. Aperto minhas coxas juntas apenas para encontrar algum tipo de alívio.
Hush lentamente levanta a mão para mim. “Vá até ele,” Cowboy sussurra. Meus pés obedecem, cruzando a cozinha até eu envolver minha mão na de Hush. Como sempre, ele olha para nossos dedos unidos. Mas antes,
eu via medo em seu rosto, ansiedade sobre as diferentes cores e o que isso poderia significar para nós. Como se seu passado entrasse em erupção espontaneamente no presente. Agora, quando olho os nossos
dedos - branco e marrom - eu vejo apenas amor e carinho em seu olhar. Sei que sempre haveria uma parte dele que se preocuparia. Mas eu espero que os anos felizes à frente derrubem lentamente seus medos.
Chego mais perto de Hush, minha mão livre corre pelo seu peitoral e abdômen. Outra gota de água corre pelo seu peito. Inclinando-me, lambo a gota. Hush sibila e segura a parte de trás da minha cabeça com
a mão. Eu olho para cima, nossos olhos colidem, e ele bate sua boca na minha. Eu gemo, sem fôlego, quando sua língua escorrega para encontrar a minha. Ele pega minha boca, forte e rápido, mas tão incrivelmente
doce ao mesmo tempo.
Eu gemo mais alto quando duas mãos mais escorregam em minha cintura. Cowboy me beija ao lado e na parte de trás do meu pescoço. Meus olhos se agitam com a sensação de tanta afeição. Eu alcanço atrás de
mim para encontrar Cowboy nu. Minhas mãos correm sobre seus quadris e coxas musculosas.
Cowboy empurra seus quadris contra a minha bunda, empurrando-me para Hush, que também está tão duro. Eu saio do beijo e busco por ar.
Cowboy me guia para frente, em direção ao quarto. Minhas mãos encontram a toalha em volta da cintura de Hush, assim como minha boca encontrou seus lábios novamente. Nós somos um mar de bocas e mãos e pele
quando entramos no quarto. Eu quase não respiro quando Cowboy levanta a minha blusa sobre minha cabeça.
Hush desabotoa meu jeans; e fica de joelhos quando puxa minha calça e afasta meus pés, arrastando minha calcinha junto. As mãos de Cowboy fazem um trabalho rápido com meu sutiã... e então estou nua, cicatrizes
e tudo... e nunca me senti mais bonita em toda a minha vida.
“Je t'aime27,” Cowboy sussurra em meu ouvido enquanto sua boca percorre o comprimento do meu pescoço. Levanto minhas mãos acima da minha cabeça e as envolvo no pescoço de Cowboy. Eu gemo quando a língua
de Hush começa a se arrastar pelas minhas coxas, aproximando-se da minha buceta. Cowboy segura meus pulsos quando Hush abre minhas pernas e lambe minha buceta. “Hush!” Eu grito e arqueio as costas, me
entregando a ele. Tiro uma mão de Cowboy e a movo para trás, até que as costas dos meus dedos correm o comprimento do seu pau. Cowboy geme em meu ouvido, empurrando-se contra minha palma. Pego-o suavemente,
acariciando o comprimento subindo e descendo.
Meus olhos flutuam, presos entre os dois homens que roubaram meu coração. O calor corre sobre meu corpo como um incêndio. Agarro os cabelos de Cowboy enquanto a minha outra mão o bombeia lentamente, excitando-o
gentilmente. Os dentes dele beliscam meu pescoço, meu ombro, minha orelha.
Hush levanta uma das minhas pernas e a coloca sobre o ombro, abrindo-me até a sua boca. Eu não respiro antes dele voltar, sua língua atada ao meu clitóris, seu dedo empurrando para dentro de mim. Eu grito
quando a sensação de seus toques por todo o meu corpo me sobrecarrega. Cowboy geme em meu ouvido. Hush geme quando continua me lambendo entre minhas pernas. Pressão se reúne em minhas coxas. Fecho os olhos
e me perco na sensação. Quando as mãos de Cowboy me rodeiam para encontrar meus seios, é tudo o que eu precisava para explodir. As chamas e o calor e o vapor parecem derramar-se de mim quando Hush toma
todos os gemidos que dou.
Minhas pernas se curvam. Cowboy me levanta, colocando-me na cama antes de eu cair, dois grandes corpos se deitam ao meu lado. Bocas tomam um mamilo cada uma, sem me dar um segundo de indulto. Mas eu desejo,
preciso de suas bocas e suas mãos acariciando minha pele. Em todo lugar, me possuindo, me dizendo a quem pertenço. Sinto as mãos se moverem para a minha buceta, girando meu clitóris. Não sei quem é, e
não me importo. Assim, livres na cama, nós somos um. Subo cada vez mais alto até que explodo novamente. Eu jogo minhas pernas, incapaz de receber mais.
Lábios descem sobre os meus. Não preciso abrir os olhos para saber que é Hush. Seus lábios são diferentes. Seus gostos são únicos. Hush quebra o beijo, apenas para que Cowboy tome o seu lugar. Eu me afasto
de Cowboy, e me movo de joelhos. Cowboy move-se atrás de mim, suas mãos esfregando minha parte inferior das costas. “Vou provar a buceta,” ele diz com sua voz rouca. Movo-me sobre Hush, seus olhos azul-gelo
me observando como se eu fosse um presente que ele luta para se acostumar a ter em sua vida.
Eu sinto exatamente o mesmo sobre ele.
Sobre ambos.
Abaixo-me e seguro o pau de Hush. Eu beijo a ponta, rolando minha língua em torno da sua cabeça. Mantendo meus olhos fixos em Hush, levo-o na minha boca, enquanto Cowboy corre sua língua ao longo do meu
clitóris. Eu gemo enquanto Hush rola seus quadris, e envolve a mão no meu cabelo.
“Querida,” ele murmura, uma e outra vez. "Querida, querida, querida…”
Chupo até ele afastar minha cabeça. Suas bochechas estão vermelhas e sua respiração difícil. Pressiono minha testa contra a sua coxa enquanto Cowboy me prova, enquanto ele me lambe e me lambe até que não
consigo falar e nem pensar. Seu dedo entra na minha buceta, fazendo-me perder a cabeça. Então, quando outro se move para minha bunda e entra, eu gozo. Eu caio sobre Hush, sentindo seus braços protetores
me envolvendo e puxando contra seu peito. Ele me beija por todo o meu rosto. “Eu amo você,” ele murmura, trazendo lágrimas aos meus olhos. Não há mais emoções escondidas por trás de silêncios estoicos.
Suas palavras são dadas gratuitamente e tão bem-vindas ao meu coração.
Eu quase não tive tempo para abrir meus olhos quando Cowboy abre minhas pernas, e ligeiramente me senta. Hush vem entre nós, mantendo seus olhos em mim e coloca-se na minha entrada. Não há nenhum preservativo
agora. Não há necessidade. Eu sou deles, e eles são meus. Engasgo com um grito quando Hush começa a me encher. A mão de Cowboy corre pela minha espinha, deixando uma linha de fogo em seu rastro.
Hush geme, passando o polegar sobre meu lábio inferior quando ele está completamente sentado. Precisando sentir a completa plenitude de Hush, abaixo meu quadril, arrepios correm por toda a minha pele.
Ouço uma garrafa ser aberta. Então eu sinto o líquido nos dedos de Cowboy enquanto ele os empurra para dentro da minha bunda. Meus lábios se separam quando o sinto entrando em mim. Hush fica imóvel, mantendo-me
no lugar, deixando-me sentir cada momento com seu melhor amigo. Sem egoísmo. Sem ciúmes. Apenas amor.
"Cher,” Cowboy geme, suas mãos em meu quadril. Eu grito quando ele me enche completamente. Seu peito é forte em minhas costas. Viro minha cabeça, e Cowboy captura minha boca em um beijo suave. Hush se
move primeiro, então em um ritmo ele alterna seus movimentos, assim como o Cowboy. Não há tempo para recuperar o fôlego. Sem interrupção, apenas me sinto em uma altura tão impossível que nunca quero voltar
para a Terra. Sou beijada por suas bocas, a minha língua e lábios inchados formigam quando os beijos profundos são dados sem limites.
Eu sou adorada.
Fui feita para me sentir digna.
Eu gemo enquanto sinto que não aguento mais. Minha pele está tão lisa de suor, escorregadia como manteiga entre dois corpos pesados e musculosos. Enjaulada pelos dois homens que amo. Dois homens que foram
até os confins da Terra para me salvar. Arriscaram suas vidas para que pudessem me ter.
O ritmo aumenta, as respirações ficam mais difíceis. Minha buceta e minha bunda começam a apertar, arrancando gemidos raivosos de ambos os meus homens. Meus braços tremem, minhas mãos no colchão de cada
lado de Hush enfraquecem com o prazer. “É tão bom,” murmuro, minha voz quebra com um grito. “Estou...” engasgo, procurando por ar. “Estou gozando,” grito e depois acalmo, Hush e Cowboy aceleram seus ritmos
enquanto me fodem. Dois baixos gemidos soam um após o outro, então sou preenchida pelo calor, tanto calor que me sinto viva com as chamas. O peso de Hush e Cowboy em meu corpo me apertam enquanto eles
gemem e respiram, gozando dentro de mim.
Caio em cima de Hush. Ele passa as mãos pelo meu cabelo, me mantendo perto da sua pele úmida. Respiro até que meu coração acelerado começa a acalmar. Cowboy se curva em minhas costas, suas mãos em minha
cintura.
Um silencio confortável reina, envolvendo-nos como um casulo. Como eu disse a Hush na Louisiana, dentro dessas paredes, não há besteira de ninguém sobre como nos amamos. Sem julgamento ou censura.
Este mundo é nosso. Nosso próprio pedaço do céu, aqui na terra.
As respirações se acalmam, mas sei que nenhum de nós está dormindo. Hush e Cowboy ainda estão acariciando meu corpo. Eles nunca me deixam em paz, um ou ambos sempre me seguram ou me beijam ou passam os
dedos pela minha pele. Não sabia que um amor assim poderia existir. E eu não tinha ideia do que fiz para merecer isso, mas nunca levaria isso como garantido. Todos caminhamos por uma estrada escura para
chegar a este lugar de luz.
Sorrio, o calor do corpo deles me rodeando. Fecho os olhos, contentando-me apenas em estar... então, Hush, com os dedos no meu cabelo, diz, “A primeira puta que peguei foi no Hangmen, quando éramos prospects
em Nova Orleans.” Abro os olhos e respiro fundo. Hush estava se abrindo de novo. Ele fazia isso frequentemente nos últimos dias. Toda vez que ele fazia, sinto outro peso sair de seus ombros. Quando ele
exorcizasse tudo o que feriu, sua alma seria livre e mais sorrisos se estenderiam pelo seu rosto. Mais risadas se derramariam de seus lábios.
E mais acelerado o meu coração ficaria.
“Eu... eu não podia fazer isso.” Ele solta uma risada autodepreciativa. “Eu estava preocupado pra caralho com minhas convulsões. Com pânico que pudesse ter uma no meio de uma foda e então o Prez descobriria
e me chutaria pra fora.”
Beijo sua pele quente. “Continue.”
Hush suspira. “Cowboy descobriu, é claro. Ele soube que algo estava errado e não calou a boca até que eu disse a ele.” Ele ri, desta vez de verdade. "E, assim como o Cowboy que nós conhecemos e amamos,
ele escolheu uma vagabunda que o fodeu com os olhos a noite inteira e me arrastou para o quarto com ele. A puta aceitou.” Ele balança a cabeça. “Eu estava aterrorizado. Mas...” ele suspira. “Eu fiz isso.
Consegui. E na época, para o meu eu de dezessete anos de idade, era como uma vitória pessoal.” Seguro-o mais forte, alcançando a mão de Cowboy na minha. Trago-a para minha boca e agradeço-lhe com um beijo.
“Nunca mais consegui fazer isso depois. Era minha cruz para suportar. Mas, novamente, Cowboy sabia disso, e nunca me deixou voar sozinho.”
Cowboy encolhe os ombros contra as minhas costas. “Quanto mais, melhor,” ele brinca. Mas sei que era realmente porque ele é um bom homem. E ninguém jamais encontraria um amigo melhor do que ele.
Altruísta. Cowboy era a pessoa mais fiel que eu já conheci.
“Estou feliz.” Aninho-me mais perto. “Porque trouxe ambos para mim. E eu nunca poderia escolher entre vocês dois.”
Cowboy se move sobre mim e beija a minha bochecha. “Você nunca precisará.”
Olho para Hush. Seus olhos brilham de felicidade. “Você nunca precisará.”
Não tenho certeza do que o futuro reserva para nós, mas enquanto eu segurar as duas mãos na minha, as mãos com cicatrizes, machucadas e cheias de tanta luz, sei que será o nosso tipo de perfeição.
Porque viveremos... juntos.
Capítulo dezesseis
Hush
“Continue, querida.”
Espero na minha moto enquanto Sia sobe atrás do Cowboy. Eu mal posso esperar para tê-la na parte de trás da minha moto também, mas até que minha epilepsia fique sob controle, não quero arriscar. Fui ver
Rider. Conversar com meu ex-irmão. Ele está estudando para se tornar um médico de verdade agora na Universidade do Texas, e não ser apenas o que a seita fez dele. Ele me apontou na direção certa. Agora
que estou tomando novos remédios já me sinto melhor. Mas até saber que tenho um verdadeiro controle da minha epilepsia, não posso ter Sia comigo.
Em breve. Ela montará comigo como antes.
Como se adivinhasse o que está passando pela minha mente, ela estende sua mão. Eu aceito, e ela aperta a minha.
“Pronto para ouvir qual o veredicto?” Cowboy pergunta.
Respiro fundo, e balanço a cabeça. Ky me chamou ontem. Eles estão reunidos na igreja hoje, votando se nós vamos ficar com o clube ou não. Não estou certo sobre o que diabos farei se eles votarem e nos
deixarem de fora. Mas, quando o meu olhar encontra Sia e Cowboy, meu irmão fazendo-a rir de algo que ele disse, sei que de alguma forma tudo ficará bem.
“Pronto?” Eu pergunto. Cowboy assente, e nós saímos do complexo de apartamentos. Bebo cada pedaço do caminho para o complexo Hangmen, apenas no caso do veredicto ser negativo.
Porra, eu amo Austin. Louisiana seria sempre de onde eu vim, mas minha casa agora é aqui, no Estado da Estrela Solitária28. Sia me disse várias vezes, sempre que meus demônios vinham para me insultar sobre
o nosso relacionamento, que Austin era a porra de um refúgio hippie liberal. Ninguém dá a mínima para casais inter-raciais, ou no nosso caso, um Ménage à Trois.
E ela estava certa.
Estou em casa porra.
Cowboy anda ao meu lado, Sia segurando em seu colete. Olho para a sua jaqueta de couro. Eu não queria mais nada além de ver um colete em suas costas com a inscrição “Propriedade de Hush e Cowboy” costurado
na parte de trás. Meu pau fica duro só de pensar sobre isso. Alguém para chamar de meu. Algo que nunca pensei que teria nesta vida.
Entramos nas terras Hangmen e paramos na casa de Lilah. Sia ficará com sua cunhada, enquanto seu irmão e meio irmão decidem o nosso destino. Sia escorrega do banco de Cowboy e o puxa para um beijo.
Vejo todas as Olds saindo da casa de Lilah, à espera de Sia. É a primeira vez que alguém fora do clube nos vê todos juntos. Sia termina com Cowboy e vem até mim. Ela sorri, e destrói meu fodido coração.
Ela pega minha mão e, em seguida, pressiona seus lábios nos meus. Coloco minha mão na parte de trás de sua cabeça e a mantenho em minha boca.
Sia suspira e relutantemente se afasta. “Eu te amo,” ela sussurra. “Agora, vá ver o meu irmão.”
Sia entra na casa. Lilah acena. Dou um aceno de volta, e então olho para Cowboy. “Está pronto?”
Cowboy pisca. “Sempre.”
Saímos da casa e vamos para o clube. O lugar é uma cidade fantasma. Ky nos disse para ir direto para a igreja. Passamos pelo bar vazio e seguimos direto para o nosso destino. Bato na porta.
“Foda-se, entrem logo!” A voz familiar de Ky grita.
A mão de Cowboy desce no meu ombro. Eu respiro fundo e passo pela porta. Faço uma careta quando vejo somente Ky e Styx, sentados em seus lugares habituais. “Sentem-se, seus fodidos,” Ky ordena e aponta
para os nossos lugares na mesa.
Sentamo-nos. Cowboy me lança um olhar de lado. Estou tão confuso. Ky olha para nós, Styx não parece muito melhor. Eventualmente, ele se inclina para frente, com os braços sobre a mesa, e fala, “Não é contra
as regras do clube foder a irmã de um irmão,” ele rosna. “Mas é, porra, uma merda no meu livro.” Ky olha rigidamente entre mim e Cowboy. “Seria ruim o suficiente um só de vocês filhos da puta, mas o fato
que é vocês dois, está realmente me irritando porra.” Ky cerra os punhos.
O silêncio paira pesadamente sobre a sala, então eu respondo com a verdade. “Nós a amamos.”
Ky se acalma. O corpo de Styx fica tenso. Lentamente, Ky levanta a cabeça. Seu rosto está vermelho beterraba, e posso ver que meu irmão não está lidando bem com toda essa merda. E, em seguida, Ky fala
uniformemente, “A única razão que vocês não estão embalando suas merdas é porque Sia ama vocês também, seus idiotas.” Meu coração começa a correr. Cowboy se mexe na cadeira.
“Nós não seremos expulsos?” Cowboy pergunta.
Styx balança a cabeça. Ky aponta para a parede. “Cala a boca.” Eu me pergunto o que diabos está acontecendo. Ky fica de pé, com uma carranca e espera. Pelo que, eu não tenho nenhuma ideia do caralho.
Nós ficamos de pé e olhamos para a parede. Ky fica diante de nós. Ele olha para nós dois com a morte nos olhos. “Como seu vice-prez, eu não posso chutá-los por essa merda sobre Sia.” Um sorriso frio puxa
seus lábios e ele estala os dedos. “Mas eu posso reorganizar suas caras feias como o irmão mais velho dela.” Seu soco atinge o outro lado da minha mandíbula. Minha cabeça vira para o lado, recuando a tempo
de testemunhar-lhe dar o mesmo para Cowboy.
“Que porra é essa, Ky?” Cowboy fala, descontraído como nunca.
Ky agarra os nossos coletes, e nos arrasta para frente. “Vocês nunca farão qualquer coisa para machucá-la. Vocês nunca ousem levantar a mão para ela, porra, ou a fazer chorar, ou prometo que vou cortar
os seus paus e fazer vocês uns eunucos do caralho. Entenderam?”
“Claramente, Ky,” Cowboy diz, esfregando sua mandíbula.
Ky levanta uma sobrancelha. “A única razão que não vou fazer isso agora é porque, por alguma porra de razão, ela ama vocês. E Sia já passou por merda o suficiente em sua vida e eu quero que...” ele morde
o lábio, como se a parte seguinte o estivesse matando. Finalmente, ele consegue, “...vocês, seus fodidos, a façam feliz.”
Ele não diz muito em tudo, mas eu entendo o subtexto, ele está agradecendo a nós.
Cowboy estende os braços. “Merda, VP. Será que isso nos faz irmãos de verdade?”
Ky olha para o meu melhor amigo. Ele aponta violentamente em nossos rostos. “É melhor que ela tenha um colete nas costas dela até o final de semana caralho. Vocês vão aguentar essa merda, e matarão qualquer
um que tenha um problema com isso.”
“Vamos,” prometo. Ky move-se para mim.
“Eu entendo, você não teve a melhor vida também.” Ele faz uma pausa, e sinto meu coração bater mais rápido. Penso em Sia. O que ela disse? “Se você entrar em problemas, tiver merda para lidar com o passado
ou mesmo com o presente, então venha para nós.” Ele aponta o polegar para Styx, que está silenciosamente observando tudo isso sendo jogado. Ele está olhando para minhas contusões e cortes. “Temos um velho
rancho que pertencia a um dos irmãos que morreu há alguns anos atrás. É perto daqui.” Ele sorri. Entendi. Ele nos quer por perto, para manter um olho em nós com sua irmã. “Darei a Sia. Vou vender seu antigo
lugar — há muitas memórias ruins lá. Não está nas terras do complexo, mas está tão perto quanto pode estar. Ela é parte deste clube agora também. Tarde pra caralho, eu sei. Mas agora ela está aqui. E quero
que ela fique perto de mim.” Ele passa a mão pelo cabelo. “Sem dúvidas, vocês fodidos viverão lá também.”
“Sim,” digo.
Ky vira, então, olha para nós, e diz, “Se eu ouvir uma palavra sobres vocês fodendo a minha irmã. Você ou qualquer irmão—” ele para no meio da frase e se corrige. “Se vocês ousarem dizer a Vike porra,
então eu começarei a reorganizar suas caras de verdade. Combinado?”
Cowboy ri, mas rapidamente concorda, “Combinado.”
“Combinado,” respondo.
Styx levanta. Ele ergue as mãos e acena. Ky traduz. “Lado de fora. Agora.” Ky anda um passo atrás dele.
“Onde diabos nós vamos?” Cowboy sussurra.
Balanço minha cabeça. Eu não sei.
Styx sai pela porta dos fundos, a porra da luz do sol me cega. Eu faço uma sombra nos meus olhos com a mão, e congelo quando vejo o que está na minha frente.
“Merda,” Cowboy raspa atrás de mim.
Os meus irmãos.
Todos os meus irmãos, esperando em suas motocicletas. Prontos, e em formação. Olho para o lado para ver Sia em pé com Lilah e todas as outras Old Ladys. Ky e Styx se viram e olham para mim.
Styx levanta as mãos. “Você é verdadeiramente um membro dos Hangmen da seção mãe, em Austin.” Eu noto quatro motos vazias na frente dos meus irmãos — Styx, Ky, a minha e a de cowboy. Vike está descansando
sobre o guidão da sua moto, um fodido sorriso enorme em seu rosto. AK e Flame estão ao lado dele. Smiler, Tank, Tanner, a Bull... todos esperam, me observando. A mão de Cowboy cai no meu ombro, me ancorando,
como sempre.
As mãos de Styx se movem novamente. A voz de Ky explica, “Nós somos sua família. E a família cuida uns dos outros.”
Styx cruza os braços sobre o peito e olha para frente, quando Ky encontra meus olhos e continua: “E a porra da família monta, quando um ou mais dos nossos membros caem.” Eu respiro fundo, e meu corpo congela.
“Seus pais merecem ser homenageados do jeito Hangmen.” Eu começo a tremer, meus malditos olhos começam a encher de água quando olho para os meus irmãos novamente... todos eles estão usando braçadeiras
negras em torno de seus bíceps.
Abaixo minha cabeça.
A mão de Ky vem ao redor da minha cabeça, e ele me puxa para o seu peito. Beija o topo da minha cabeça. “Você monta na frente hoje, por seus pais.” Eu luto contra a porra do nó na garganta. “Hoje, você
mostra a porra do mundo que eles não foram esquecidos. Que todos nós, porra, nos lembramos deles.”
Viro-me, saindo do caminho de Ky, e coloco minha mão na parede atrás de nós. Cowboy vem para o meu lado, e então eu reconheço a mão de Sia tomando a minha. Eu mal posso respirar porra, não consigo me segurar.
Família, Styx tinha assinalado. Família.
Quando finalmente consigo me recompor, eu me viro e vejo que Styx e Ky tomaram seus assentos em suas motos... atrás da minha e do Cowboy. Estou na frente. Cowboy um pouco atrás, mas ainda lá bem ao meu
lado caralho.
Eu ando até a minha moto. Enquanto sento no meu banco, Lil' Ash traz mais uma braçadeira preta para mim, e Zane leva uma para Cowboy. Ash amarra ao redor do meu braço. Não consigo tirar os olhos daquele
tecido preto. Para o que isso significa. O que realmente representa.
Os assobios altos de Styx me tiram dos meus pensamentos. Olho para trás, vendo a mão de Styx no ar. Ligo meu motor. Pouco antes de sairmos, eu vejo os olhos do Cowboy... eles também estão brilhando. Ele
acena com a cabeça para mim.
Olho para os meus amigos e, em seguida, para Sia. Lágrimas caem pelo seu rosto enquanto ela segura a mão de Lilah firmemente. Ela beija seus dedos. A paz que nunca conheci até este momento me enche, adormecendo
os demônios que me negaram descanso por um tempo longo pra caralho.
Então, levo-nos para fora do complexo e para as estradas abertas. O rugido dos motores são a trilha sonora para este momento. E quando nós dirigimos através do centro, toda a Congress Avenue para e vê
quando os Hangmen montam por um irmão e irmã caídos, e não poderia estar mais orgulhoso de usar o patch Hangmen.
Porque eles são minha família.
Eu finalmente faço parte... depois de todo esse tempo.
Depois de lutar contra meus demônios por tanto tempo, eu me deixo aceitar a verdade...
Eu faço parte.
*****
Um mês depois…
Igreja tinha sido transferida para o bar. A sala está cheia com cada Prez e VP de todos os estados do sul. Styx senta-se à frente da sala, Ky ao lado dele. Trouxeram uma grande mesa, grande o suficiente
para acomodar o mar de homens. Estou na parte de trás com o resto dos membros de Austin. Apenas o Prez e VP tem um lugar à mesa. Fomos os únicos não líderes permitidos aqui hoje.
Cowboy está ao meu lado, mas seus olhos não estão em Styx, eles estão olhando para o cara do outro lado da mesa. Titus sentou-se ao lado de Crow. Crow encontrou os nossos olhos quando ele chegou aqui.
Ele balançou sua cabeça. Ainda é completamente um babaca.
O martelo bate sobre a mesa. Todos os olhos se movem para Styx. Ele ergue as mãos e, como sempre, Ky fala por ele. “Vou direto para a porra da perseguição.” Styx encontra os olhos de todos na sala, por
sua vez. “Tivemos alguma merda no clube há várias semanas, com o cartel Quintana. Sabíamos, quando tudo aconteceu, que a chance de guerra era alta.” Ele faz uma pausa, e Cowboy olha para mim. Eu respiro,
entendendo agora por que esse encontro estava acontecendo. Sinto a tensão escorrer de meus irmãos em torno de mim. A adrenalina está começando a crescer. “Há cinco dias o cartel Quintana declarou guerra.”
O silêncio na sala torna-se grosso e pesado. “A Klan está em parceria com a família Quintana. Eles declararam guerra contra nós também.”
Minha respiração se torna mais rápida, amargura, ódio e tudo que eu mantive contra esses filhos da puta por anos vem a superfície.
“Claro que sim,” Vike murmura. Eu posso ouvir Flame rosnando atrás de mim, posso ouvir o aperto de seus punhos e a respiração rápida pela emoção.
“Nós estamos em alerta máximo,” Styx assinala e Ky fala. “Eu só peço aos estados do sul. Se esta guerra ficar muito confusa, que todas as seções venham para o Texas até que termine completamente.” Styx
suspira, em seguida, acrescenta, “A última guerra levou muitas vidas.” Ele deixa isso ser assimilado por todos nós. Olho para Cowboy. Ele olha para mim, nós dois sentimos a gravidade das palavras de Styx.
Eu enfrento Styx novamente. “Não espero que essa seja diferente.” Styx olha ao redor da sala. “Alguns de nós não voltará de onde diabos esta guerra nos levar.”
“Se nós cairmos pelo clube, será a merda de uma honra,” Suede, o Prez da seção do Arkansas, diz com orgulho. Irmãos concordam. Styx assente com aprovação.
“Temos que ser fortes,” Styx acena, Ky como seu porta-voz. “Somente os irmãos mais dedicados lutarão.” Styx olha para Tanner. Franzo minha testa. Que porra está acontecendo? Tanner sai da sala. Então Styx
olha para Titus. Eu me acalmo. Cowboy estende a mão e agarra meu braço.
Titus olha ao redor da mesa. Ele dá seu habitual sorriso arrogante do caralho. “Você olhou para mim, Prez?”
Styx inclina a cabeça para o lado. “Você tem algo a dizer?” Ky traduz. “Qualquer coisa para... confessar?”
As sobrancelhas de Titus abaixam. Mas o filho da puta se mexe desconfortavelmente na cadeira. Ouço a porta abrir atrás de mim. Tanner entra na sala novamente, com uma pasta nas mãos. Ele para ao lado de
Tank.
“Não,” Titus responde à pergunta de Styx.
Ky assume a liderança neste momento. “Nós fizemos algumas escavações.” Ele acena com a mão para Tanner. Tanner anda ao redor da mesa e joga a pasta... bem na frente de Titus. Titus olha para a pasta. “Notei
que estava chegando pouco dinheiro da seção de Nova Orleans.” Ky dá seu sorriso estilo Hollywood, mas está atormentado com fúria. “Acontece que um pequeno Prez com sonhos de poder branco o usou para financiar
o seu pequeno movimento com a Ku Klux Klan.” Ky fala, quando a sala incha com a tensão. “E isso simplesmente não está jogando pelas nossas regras.”
Titus joga a pasta de volta sobre a mesa. “Isso é besteira!”
“Você não deixou ninguém de qualquer cor entrar na seção, exceto os brancos.” Ky recosta-se na cadeira, cruzando os braços. “Então, culpou pelo roubo o único irmão negro e o baniu do seu clube.” Meus olhos
se arregalam. Titus vira a cabeça para mim. Seus lábios se curvam com desgosto. Crow olha também, e posso ver a porra de uma luz iluminar o seu rosto.
“Tem alguma coisa a dizer, filho da puta?” Ky pergunta docemente, em seguida, deixa cair seu sorriso. “Você tem a palavra.”
Titus fica de pé. Seus olhos se estreitam e percorrem toda a sala. “Esta porra de clube costumava representar algo. Nós éramos brancos. Apenas permitindo membros brancos.” Ele cospe do outro lado da mesa,
apontando para mim. “Então vocês começaram a deixar pretos e pardos e qualquer tipo de outras merdas inferiores que vocês podiam encontrar. O clube rapidamente entrou em uma porra de queda livre.” Titus
olha para Ky e Styx. “Quando seus pais estavam no comando, pelo menos no início, eles fizeram direito. Somente malditos soldados usavam o patch Hangmen.” Ele olha para Styx. “Então o retardado gago entrou
e assumiu. Tossindo e cuspindo as palavras, falando com as mãos como um maldito marica. Fazendo-nos a porra de uma piada em todos os clubes do um por cento29 nos Estados —”
Styx salta da sua cadeira, tão silencioso como a porra da noite, e agarra Titus pelo colete. Ele o arrasta para frente da sala, chuta suas pernas, e atira direto através da porra crânio dele.
Styx joga o cadáver ainda quente de Titus no chão, parando apenas para rasgar seu patch “Prez” do seu colete e o bate no peito de Crow. Enfiando a arma de volta para seu jeans, ele fala: “Parabéns, você
é o Prez agora.”
Styx se senta e, como se não houvesse um homem morto na porra do chão, acumulando sangue a seus pés, ele assinala: “Qualquer outro filho da puta desleal com quem eu tenho que lidar?” Cabeças balançam.
Styx respira. “A guerra está chegando. Então fodam suas Old Ladys, bebam tanta merda de Bourbon quanto vocês possam tomar, e comecem a ficar prontos... porque os dias de alguns de nós estão contados.”
Styx levanta o martelo, chamando a atenção na igreja. No minuto que o martelo atinge a madeira, as portas se abrem atrás de nós. Nós viramos a tempo de ver um cara alto e loiro passar através da porta.
Seu cabelo está arrumado para o lado, como se ele pertencesse a porra da década de quarenta. A barba curta emoldura seu rosto. Ele sorri. “Faz tempo que não nos vemos, seu bando de babacas ianques!” Seu
sotaque britânico viaja como um relâmpago pela sala.
“Sim!” Vike grita, saltando de sua cadeira, passando através dos irmãos para pegar o cara do chão e girar em torno dele. “Inferno do caralho! Sim! Porra Barnaby Rudge!”
“Vike!” O cara o cumprimenta com um sorriso largo na porra do rosto. “Como está o meu parceiro de crime?”
“Em êxtase do caralho agora que você está aqui.”
Ky passa pela multidão. Ele geme e revira os olhos. “Rudge, o que diabos você está fazendo aqui?”
Rudge joga o braço em torno de Vike, suas alturas maciças correspondentes. Com um sorriso de merda, ele explica, “Eu estava lutando em um circuito amador. Soube que havia uma reunião dos Prezs e VPs aqui
no bom e velho Texas.” Ele sacode o queixo. Meus olhos caem para seu colete. Ele é da seção de Londres, na Inglaterra.
“Sim, VPs e Prezs,” Ky confirma, deixando a frase pendurada. Rudge claramente não é qualquer um.
Ele encolhe os ombros. “Sim, amigo. Mas sou eu. A porra do poderoso Juiz! Sabia que você ia me querer aqui, se soubesse que eu estava perto.”
“Você sabe disso!” Vike bate nas costas de Rudge com sua mão gigante.
“Então?” Rudge pergunta, seus olhos cinzentos encontram Ky. “Que merda está acontecendo por aqui?”
“Nós estamos indo para a guerra,” Vike fala com entusiasmado. “Cartel e Klan juntos.”
Rudge geme, os olhos rolando para trás em sua cabeça. Ele morde o lábio. “Foda-seeeeeeee... quase gozei.” Ele se inclina perto de Vike. “Diga-me isso de novo, menino grande... sujo pra caralho.”
“Guerra,” Vike sussurra e solta seu próprio gemido falso.
“Sim,” diz Rudge. “Simplesmente aconteceu. Sujei toda a porra da minha boxer.” Rudge anda para Ky e joga um braço ao redor dele. Ele deve ter uns vinte e poucos anos, talvez, e porra, o cara tinha muitos
cortes pelos braços.
Eu sei disso porque Vike levanta a camisa e fala: “Merda, Rudge, você ainda está todo fodido.” Uma bandeira maciça do Reino unido foi tatuada em seu peito, junto com um buldogue britânico fumando um cachimbo
em seu estômago.
“Sempre.” Ele joga alguns socos rápidos no ar em Vike. “E ainda mato pessoas com um soco.” Rápido pra caralho. Ele parece um bom lutador. “Você tem um quarto para mim, garotão?”
“Foda-se, sim,” Vike fala, e eles desaparecem entre os irmãos que se deslocam para o bar para beber.
“Porra. Se chover, eles se derramam,” Ky murmura quando vai encontrar Styx.
Quando todos se afastam da mesa, meus olhos caem sobre o corpo ainda no chão. Uma mão vem ao meu ombro. Alguém fica do meu outro lado. Olho para cima para descobrir que é Crow e Cowboy. “Preciso adivinhar
qual de vocês fez isso?” Crow diz.
Eu balanço minha cabeça. Cowboy faz o mesmo... então encontro os olhos de Cowboy e sei que ambos pensamos a mesma coisa.
Sia.
“Bem,” Crow olha para o patch em sua mão. “Parece que eu tenho a porra de um clube para comandar.”
“Parabéns, você merece isso,” digo sinceramente. Cowboy aperta sua mão.
“Você é bem-vindo para voltar,” Crow diz. “De volta para casa. Há sempre um lugar para você na minha mesa.”
Encontro os olhos de Cowboy e sei que ele sente o mesmo que eu. “Minha casa é o Texas agora, Crow. Mas obrigado de qualquer maneira.”
Ele assente. “Pensei muito, mas queria que você soubesse isso de qualquer maneira.” Ele continua a se afastar, mas pego seu braço.
“Você...” eu limpo minha garganta. “Você cuidou de...?” Eu paro, nem mesmo querendo dizer seus nomes.
O sorriso de Crow não era nada, mas maldoso pra caralho quando se espalha em seus lábios. “Oh, meu amigo, eu cuidei de todos eles porra.” Ele fecha os olhos e geme. “Na verdade, eu repito essa merda na
minha cabeça todas as noites apenas para me fazer dormir.” Ele sai, e dou um suspiro rápido. Jase e os outros filhos da puta tinham desaparecido.
A justiça foi feita.
A última corda que tinha me puxado desde aquela noite finalmente me libertou. Cowboy joga o braço em volta do meu ombro, beija minha cabeça, e pergunta: “Bebidas?”
Balanço a cabeça, prestes a ir com ele quando Tanner vem e fica ao meu lado. Ele balança desajeitadamente em seus pés. “Podemos conversar?”
Meus olhos se estreitam, mas sinto um aperto encorajador de Cowboy no meu braço, então eu concordo. Sigo Tanner para fora, para o banco com vista para o mural de Hades e Perséfone.
Tanner se senta. Ele espera até eu me sentar ao seu lado. Pega um cigarro do seu colete e o acende. Puxando uma longa baforada, e a sopra, em seguida baixa a cabeça. “Eu entendo agora,” ele fala, sua voz
áspera pra caralho. Na verdade, agora que olho para Tanner, ele parece uma merda. Sua pele está mais pálida do que o normal, e tem olheiras rodeando seus olhos.
Ele se vira para me olhar. “Eu entendo por que você teve problema comigo.” Ele ri, mas não tem nenhum humor porra. “Quero dizer, eu sei que você provavelmente olhou para mim com as minhas tatuagens do
poder branco e, como você é...”
“Um mestiço?” Assobio, ainda encontrando um pouco de raiva em mim.
O rosto de Tanner cai. “Eu teria chamado você assim há algum tempo. Ou pior. Teria feito da sua vida um inferno.” Ele respira fundo, em seguida, admite com tristeza: “E teria sancionado o que foi feito
a seus pais... eu poderia até mesmo estar lá.” Fico de pé, com as mãos apertadas. Viro para ele, pronto para chutar a merda fora dele. O filho da puta está esperando, braços para baixo e pronto para receber.
Isso me faz parar. Tanner engole tão forte que posso ver seu pomo de Adão subir e descer. “Vá em frente,” ele murmura, jogando o cigarro no chão. Eu respiro, tentando me acalmar. Quando não me movo, ele
repete, “Vá em frente. Porra, eu mereço.”
"Porque você saiu?"
Tanner fecha os olhos com a minha pergunta. Ele se senta novamente no banco. “Apaixonei-me por uma cadela mexicana.” Sei disso. Mas não acredito que foi a única razão. Olhando para ele agora, sei que não
conseguirei mais do que ele está oferecendo. Ele passa a mão pelo rosto. E ri sem alegria novamente. “Ela é a filha de Quintana.”
“Estamos em guerra com Quintana.”
Aquele riso magoado novamente. “Eu sei.”
Olho para ele. “Estamos em guerra com a Klan.”
Ele acalma. “Eu sei.”
Naquele momento o meu ódio por ele some. Eu tenho Sia e Cowboy. Olhando para Tanner, o corpo do grande ex-nazista caído em derrota no velho banco de madeira, sei que ele está em um mundo de dor.
Ele estava sozinho.
Eu estive lá. Porra, eu quase não sobrevivi a isso.
Sento ao lado dele no banco. “O que você vai fazer?”
Tanner acende outro cigarro, mas ele nem sequer o leva aos lábios. Apenas deixa aquele cigarro filho da puta queimar em suas mãos. “Lutar,” ele fala, com sua voz grossa. Ele olha para mim. “Eu não estava
mentindo quando me juntei aos Hangmen. Esta é a minha casa agora. Meu lugar. E vou ficar contra meu pai, tio, e até mesmo o meu irmão se eu tiver que fazer isso.” Ele balança a cabeça. “O que eles estão
fazendo é errado. Entendo isso agora. Então vou lutar.”
Levanto minha mão, e hesito. Tanner deve ter visto o gesto, ele fica tenso. Então, respiro através das memórias daquela noite, das imagens, dos capuzes e as tochas, deixo essa merda ir... e coloco minha
mão em seu ombro. E aperto. “Você tem um caminho difícil pela frente, irmão.”
“Eu sei,” ele sussurra.
Eu levanto. E quando abro a porta do bar, ele diz, “Eu mantenho as tatuagens como um lembrete.” Minha mão aperta a maçaneta. Olho para Tanner, mas ele mantém a sua atenção para frente, no mural. “Para
me lembrar das vidas que destruí por uma causa que acabou por significar merda nenhuma.” Ele respira profundamente. “Elas não me deixam esquecer. Esquecer o babaca que fui a maior parte da minha vida.”
Ele vira a cabeça e encontra os meus olhos. “Elas não deixam, não porque eu não apoio o poder branco. Mas porque eu os odeio.”
Naquele momento, não sinto pena por Tanner Ayers. Porque ele está prestes a passar pelo inferno durante esta guerra. Deixo-o sozinho e entro no bar.
Cowboy acena ao lado Vike. Enquanto ando em direção a eles, Vike joga o braço em volta do meu pescoço e fala para Rudge, “Rudge, este é Hush, meu irmão chocolate ao leite de olhos azuis.”
Rudge aperta minha mão. “É bom conhecer você, companheiro.” E com isso, dose após dose foi derramada. Irmãos de todo o sul se uniram para uma boa noite antes da guerra nos chamar e todos nós pegarmos nossas
armas.
Como irmãos.
Como uma família.
Como um fodido Hangmen.
Epílogo
Hush
Ouço um carro estacionar em frente. Limpo as mãos gordurosas no meu jeans e abandono minhas ferramentas. Eu estava trocando o óleo da minha moto, enquanto Sia e Cowboy estavam fora do rancho. Havia uma
tonelada de trabalho a ser feito em nossa casa nova, mas era o nosso lar.
E eu amo isso.
Eu paro de repente quando vejo que não é Sia e Cowboy. Um táxi está estacionado em frente da nossa casa. Quando a porta se abre, eu prendo a respiração. Descendo do carro, vestida com um vestido branco,
está minha avó.
Estou congelado. Sem palavras, enquanto seus olhos encontram os meus e um sorriso aparece em seu rosto. Olho para baixo. Estou sem camisa, vestido com calça jeans manchada de óleo. Mas posso ver pelo olhar
em seu rosto que ela não dá a mínima. Ela diz algo para o motorista e fecha a porta. O táxi não se move; o motor continua ligado.
Finalmente, meus pés começam a se mover quando ela começa a andar, ainda com certa dificuldade, em minha direção. Estendo a mão para pegar a dela. Ela sorri, e meu peito quase entra em colapso. Porque
aquele sorriso... era da minha mãe.
“Vovó.” Inclino-me para beijar sua bochecha. Ela cheira a perfume. Quando se afasta, vejo que o rosto dela está livre de contusões.
“Valan,” diz ela, e, assim como quando a conheci naquela noite na Louisiana, vejo lágrimas inundar seus olhos. Acho que nós dois vemos minha mãe um no outro. Eu acho que nós dois ainda sentimos em nossos
corações que nunca estaremos completos desde que ela se foi.
“O que... o que você está fazendo aqui no Texas?”
Minha avó olha para o táxi. “Estou indo para casa.” Sinto tristeza imediatamente, porque sei que ela não está falando da Louisiana. Engulo em seco, tentando mover o nó em minha garganta. Eu ainda não tive
a oportunidade de conhecê-la. Tenho feito como ela disse. Fiquei longe da Louisiana até o caso de meu avô ser encerrado. A polícia acreditou em minha avó, pelo menos, não tinham nenhuma evidência para
provar qualquer outra coisa.
Eu quero visitar minha mãe.
Eu quero visitar meu pai.
“Suécia,” sussurro.
Seu rosto se ilumina. “Sim,” ela diz baixinho. Respira tranquilamente. “Finalmente, estou indo para casa.”
Balanço a cabeça, mas desvio o olhar, sentindo aquele nó na garganta começar a me sufocar. Acabei de consegui-la de volta na minha vida. Não tenho certeza que posso deixá-la ir – ainda. Ela aperta minha
mão. “Eu queria vê-lo primeiro. Vou partir de Austin então eu poderia vê-lo antes de ir embora.”
Concordo com a cabeça.
Sua mão acaricia meu rosto. Ela usa luvas brancas. Tento me afastar, sabendo que ela as sujaria de óleo. Ela não me deixa. Não se importa. “Eu tenho uma casa em Estocolmo. Você deveria vir e visitar com
os seus amigos.” Balanço a cabeça, sentindo como se tivesse levado um soco no estômago. “E vou ligar para você, tudo bem?”
“Sim,” digo asperamente.
“Eu quero te conhecer, Valan. Tudo sobre você. Sua vida... o bom e o ruim.” Balanço a cabeça novamente. E me pergunto por que acho tão difícil quando eu mal a conheço. Mas quando olho para seu rosto e
vejo minha mãe olhando de volta, eu sei. Não tenho certeza que posso dizer adeus novamente.
Os lábios da avó tremem, e sua mão também. “Não posso mais ficar aqui, Valan...” ela funga e olha para longe para se recompor. “Eu tenho alguns familiares me esperando na Suécia... mas é principalmente
por que...” ela respira fundo. “Porque eu não posso viver no lugar que me roubou de forma tão cruel a minha filha... meu genro... os que poderiam ter amado você.”
E entendo isso; eu também jamais poderia voltar para a Louisiana para viver. Eu também precisei deixar isso para trás.
“Prometa-me que virá me visitar,” diz ela e beija minha bochecha.
Meus olhos se fecham. “Eu vou,” digo, então me corrijo. “Nós vamos.”
Ela me dá um sorriso fraco e me beija novamente. “Eu devo ir, Valan. Mas espere um telefonema em breve.” Ela ri, e o som aquece meu peito. “Vou ligar tantas vezes que você ficará enjoado de mim.”
“Esperarei ansioso,” sussurro e a observo entrar no carro. Sua mão fica na janela aberta pela metade enquanto passa por mim, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. O táxi para, e minha avó abaixa a janela
completamente. “Aubin e Elysia estão esperando você no campo norte.” Ela sorri. “Vá encontrá-los agora.”
Eu faço uma careta, imaginando o que ela quer dizer, e o carro sai do nosso rancho em direção ao aeroporto. Viro-me para pegar minha moto, mas eu paro de repente. O sangue desaparece do meu rosto. Minha
mãe. O túmulo da minha mãe está em sua terra... e ela foi embora.
Meu celular vibra no bolso. Uma mensagem de Cowboy:
Encontre-nos. Campo do Norte. Agora.
Corro para a minha moto. Verei o que Cowboy quer, então, vou atrás da minha avó, para saber mais sobre o túmulo da minha mãe... sobre onde meu pai foi enterrado. Eu preciso vê-los. Preciso vê-los só mais
uma vez.
Preciso vê-los em repouso, em paz.
Corto os campos, seguindo as cercas brancas recém-construídas. Eu sigo a estrada ao redor até que vejo Sia e Cowboy em uma pequena curva do campo norte. Estão no pequeno conjunto de árvores. Cowboy tem
os braços ao redor da cintura de Sia por trás.
Estaciono minha moto. Abro a boca para dizer-lhes sobre a minha avó, mas Cowboy pergunta, “Ela está bem?”
Fecho a boca em confusão. “Sim...” respondo lentamente. “Ela quer que a gente vá para a Suécia vê-la.”
Sia sorri. “Eu nunca fui para a Europa.” Então seu sorriso desaparece, e uma expressão nervosa domina seu belo rosto. Ela estende sua mão. Cowboy a solta.
Pego a mão dela. “O que está acontecendo?”
Sia me puxa para mais perto dela e fica na ponta dos pés para me dar um beijo. Seus lábios tremem. Eu seguro seu rosto em minhas mãos.
“Sia?” Pergunto, e olho para Cowboy.
“Estive falando com sua avó por um tempo,” ele diz.
“Você falou?”
“Sim,” ele responde, com a voz embargada.
“Aubin... o que houve?”
“Venha com a gente.” Sia me puxa com ela. O sol está brilhando e o tempo está quente. Sigo-os ao redor do pequeno aglomerado de árvores. Então... eu paro de andar, vendo o que está me encarando debaixo
da sombra de uma figueira.
Minhas mãos tremem, e eu sei que lágrimas estão caindo dos meus olhos enquanto olho para o chão... em duas lápides de mármore branco. Uma escrita, ‘Aia Durand, esposa amorosa e mãe’. A outra está escrito,
‘Dominic Durand, pai amoroso e marido’. Um som de dor sufocado escapa da minha garganta quando eu aproximo e vejo a imagem... minha foto deles, a que eu mantive na minha gaveta por tantos anos; foi gravada
em cada uma das lápides.
‘O amor não vê cor. Só o coração puro’, foi gravado na parte inferior de cada lápide, abaixo das datas de seus nascimentos e mortes.
Minhas pernas não podem suportar mais. Eu caio de joelhos. Estendo minha mão e passo os dedos sobre as lápides. Uma de cada vez, vendo seus rostos na minha cabeça enquanto faço esse movimento. Mas os vejo
sorrindo. Não naquela noite. Vejo-os perfeitamente. Vejo-os quando dançavam na cozinha, quando ninguém estava olhando. Sentados na varanda, no balanço, de mãos dadas... e vejo mamãe observando da porta
enquanto meu pai tocava seu trompete para mim enquanto eu caia no sono.
“Como?” Eu pergunto, as fotos borrando com as minhas lágrimas.
“Sra. Moreau e eu conversamos,” diz Cowboy. “Ela concordou que você, filho deles, deveria tê-los onde você estiver.” Olho para a foto, o meu maldito coração tão inchado que eu penso que estouraria do meu
peito. “Nós exumamos seus túmulos e os trouxemos aqui, para o Texas... para você.”
“Para nós,” Sia adiciona, e meus olhos fecham.
Minha cabeça pende para frente e minhas mãos se apoiam na grama sob meus dedos. Nove anos. Durante nove anos, eu senti falta deles. Senti a injustiça que na morte eles não estavam juntos, quando eles juraram
nunca se separarem. Um voto que mantiveram até que a escolha foi tirada de suas mãos.
E então Cowboy e Sia, as pessoas que eu mais amo no mundo inteiro, os trouxeram para mim, para dormir lado a lado por toda a eternidade.
Finalmente juntos no final. Sem ódio. Sem dor... simplesmente a paz, e um ao outro. Minha garganta está obstruída, e não acho que sou capaz de falar. Mas eu consigo sussurrar, “Obrigado.” E sei que, embora
fosse baixo, eles ouviram.
Sia abaixa ao meu lado primeiro. Puxo-a em meus braços. Ela me abraça também, as lágrimas caindo sobre meus ombros nus. Coloco minha testa na dela. “Obrigado, querida,” eu murmuro. Então pressiono meus
lábios nos dela e a beijo. Beijo-a uma e outra vez até que ela entende o que isso significa para mim.
Sinto Cowboy sentar ao meu lado também. Olho para o meu melhor amigo, e ele concorda. “Já era tempo,” diz ele. “Era hora deles voltaram para nós novamente.” Ele encolhe os ombros e diz com voz rouca, “Eu
sinto falta deles também... todos os dias.” Ele desvia o olhar para longe. “Eles eram meus pais também, no final...”
Envolvendo minha mão ao redor de seu pescoço, eu o puxo para perto. “Merci.” Sinto-o esfregar a minha cabeça. Quando se afasta, Sia se aconchega mais ao meu lado. Eu a abraço forte, apenas vivendo o momento.
Enquanto olho para os túmulos de meus pais, eu entendo por que eles fizeram isso. Como eles sobreviveram todos esses anos ao ódio e abuso. Nunca perderam seus sorrisos, seu amor... nunca perderam a esperança.
Porque a maneira como eles se amavam merecia a luta, com tudo o que eles eram... e mereciam ser vitoriosos contra aqueles que só tinham ódio em seus corações.
Eles amaram e viveram por si mesmos, e ninguém mais. Quando senti Cowboy e Sia em ambos os lados, eu soube que tinha isso também. E se alguém não pudesse nos aceitar, então eu lutaria também. Apesar de
anos de não acreditar, agora eu sei com certeza que mereço isso. Eu mereço a minha Sia e meu melhor amigo para sempre ao meu lado.
Então eu juro que viverei para os meus pais que não tiveram a oportunidade de envelhecerem juntos.
E eu amaria.
Eu seria feliz.
Porque finalmente eu estava... feliz pra caralho.
Capítulo Bônus
Crow
Louisiana
“Bem vindo!”
Eu mantenho meus braços bem abertos quando o último idiota, Jase Du Pont, passa pela porta. Seus olhos se arregalam, em seguida, o mesmo instinto de correr o domina como todos aqueles que eu matei antes.
A porta é fechada antes que ele possa escapar, cortesia do meu irmão, Thunder, do lado de fora. Meu irmão, como sempre, me ajudou neste novo jogo ‘A escolha de Hades’.
A cabeça de Du Pont vira. Eu observo, meu pau ficando realmente duro, enquanto seus olhos encontram os seus amigos. Ele cambaleia para trás, e eu coloco minha mão no bolso e esfrego os dedos sobre os meus
dados de mármore.
“Que porra é essa?” A horrível voz de Du Pont oscila enquanto ele tenta empurrar a porta.
Eu faço uma careta, em seguida, olho para seus amigos. “O que você quer dizer?” Pergunto. “É uma reunião da Klan. É por isso que você está aqui, não é?” Nós sabíamos que os idiotas nunca perdiam uma boa
reunião da Klan. Foi muito fácil trazê-los aqui.
É decepcionante por ser tão fácil.
Du Pont fica em silêncio, seus olhos seguindo de mim para seus amigos. Vou até onde eles se sentaram e tiro o capuz branco de uma das suas cabeças. Eu me agacho, estudando seu rosto. Meus olhos se estreitam.
Olho para Du Pont, e digo, “Davide está aqui, vê?” A respiração de Du Pont fica difícil, até que ele move a cabeça e vomita no chão. Encolho os ombros, em seguida, coloco o capuz branco de volta na cabeça
de Davide. “Acho que é difícil compreendê-lo agora.”
Levanto-me e aproximo de Du Pont. Ele encosta mais contra a parede. Quando chego mais perto, ele congela, seus olhos como um cervo cego por faróis.
“Quem é você?” Seus olhos seguem para meu colete. “Hades Hangmen? Quem diabos são vocês?”
Dou a porra de um sorriso frio. O nariz de Du Pont dilata enquanto ele olha para mim... olha-me por inteiro. Olho-o também, vendo o sangue em meus braços. Eu sei que está no meu rosto também. Posso sentir
o cheiro. “Você se incomoda pelo sangue?” Pergunto. Du Pont contorna a parede do velho celeiro, tentando ficar longe de mim. Sigo-o, acompanhando-o com os olhos onde quer que ele tentou ir. Eu esfrego
o sangue no meu braço. “Ele pertence aos seus amigos.” Du Pont para. Eu aponto meu polegar para a parede traseira. “Davide, Pierre, Stan. Seus amigos, certo?”
“Que porra é essa que você fez com eles?” Ele pergunta, sua voz rompendo com medo.
Porra eu adoro o cheiro do medo.
Minha cabeça inclina, e eu sorrio. “É isso, então?” Faço um gesto em torno do antigo celeiro.
“O quê?”
“Onde vocês amarraram meu irmão.” Eu aponto para a porta. “Bem ali. Amarraram a uma árvore.”
Du Pont balança a cabeça. “Que porra você está-” ele para no meio da frase, em seguida, olha de volta para seus amigos. Como eles morreram. Os dados de Hades escolheram a maneira de matá-los.
“Marcando um ‘N’ em suas costas e então o deixaram para morrer... lembra alguma coisa?”
Du Pont começa balançando a cabeça. Um sorriso desesperado – meu tipo favorito de sorriso – surge em seus lábios. “Valan?” Ele ri. “Nós estávamos apenas brincando. Éramos crianças.”
Meu sangue engrossa nas minhas veias enquanto o idiota continua a falar, tentando escapar da culpa. Eu não sei o que diabos ele disse. Minha mente se afastou com o pensamento de cortar a língua deste idiota
e enviá-la ao seu Grand Wizard30 em uma caixa de presente de prata brilhante.
E enviar seu pequeno pau decepado a sua esposa no aniversário dela.
Sentindo os dados de Hades quentes no meu bolso, eu interrompo e dou um soco direto na mandíbula do filho da puta. Ele cai no chão, com seus olhos aturdidos e a cabeça caindo em seu peito. Arrastando-o
pelo colarinho, eu o jogo em uma cadeira no centro do celeiro, ao lado de um tambor velho virado. Amarro seus braços e pernas na cadeira e espero em um banquinho do lado oposto do barril.
Fecho os olhos e inalo. Os dados queimando, esperando para serem lançados. O cheiro da pele queimada encontra meu nariz.
É um cheiro muito bom.
A respiração rápida vem do outro lado. Eu sorrio antes de eu mesmo abrir os olhos.
É hora de jogar.
“Hades tem um jogo,” eu digo e lentamente abro meus olhos. Os olhos atônitos de Du Pont me encontram, tentando se concentrarem. Eu me inclino para frente, os antebraços nas minhas coxas. Minha perna contrai
quando adrenalina aumenta dentro de mim... esperando o jogo começar. Eu rolo meu pescoço, meu pau fica duro com o que eu sei que virá. Olho para a tatuagem do corvo que cobre meu braço. Seus olhos vermelhos
olham para mim quando eu levanto meu cotovelo.
O cheiro de morte que se aproxima, enche o local.
“Hades?” Pergunta Du Pont, tentando escapar das amarras. “Que porra você está falando, seu psicopata?”
Enfio a mão no bolso e tiro os meus dados. Eu os giro na mão, os cubos de mármore dançando sobre meus dedos. Os olhos de Du Pont seguem para eles. Ele engole em seco. O suor escorre da sua testa.
“Você matou os Durand.” O rosto de Du Pont fica branco quando essas palavras escapam da minha boca. Ele puxa mais contra as amarras.
Meus dados rolam cada vez mais rápido pelas minhas mãos. Eu posso ouvir a respiração difícil do filho da puta daqui.
Isso é música para meus ouvidos.
“O Lorde das Trevas decide se você vive ou morre,” eu balanço os dados na minha mão fechada, pairando acima do barril virado para cima. “A escolha de Hades.” Du Pont observa minha mão. Minha cabeça inclina
para o lado. “O que eu vou rolar?” Seus olhos procuram os meus rapidamente. “O número que eles mostrarão?”
Du Pont balança a cabeça. “Você não pode estar falando sério.”
“Escolha,” eu falo irritado, balanço mais forte os dados. Eu me inclino para frente, o sangue de seus amigos mistura com uma gota de suor da minha testa. O fodido a observa cair no chão. Os olhos de Du
Pont seguem para seus amigos, e seu rosto se desintegra, sem dúvida, vendo o que seu futuro seria se ele escolher errado.
“Seis,” ele fala.
Eu libero os dados e vejo quando eles caem no barril. Quando os dados param de rolar, os olhos de Du Pont encontram os meus. “Não existem números neles!” Ele sussurra, em pânico. “Eles estão em branco!”
Eu sorrio e prendo meu olhar no seu. “Hades diz que você perde.”
Abandono o banco em segundos, os dados de Hades de volta no meu bolso. Du Pont começa a gritar atrás de mim. Eu pego a lata de gasolina que trouxe. Agito, ouvindo o quanto tem dentro. “Chega,” eu digo
e me viro para Du Pont.
Ele está tremendo em seu assento, os olhos arregalados. “Você não vai conseguir escapar disso,” diz ele, sua respiração ficando mais rápida quando olha para seus amigos. Nenhum daqueles filhos da puta
era reconhecível.
“Escapar disso?” Sorrio e derramo a gasolina sobre sua cabeça. O líquido escorre por seu corpo, e o derramo até não existir um centímetro dele sem. Jogo a lata para o lado, me inclino para seu ouvido e
digo, “Hades sempre escapa dessas coisas.” Eu respiro fundo. “É você quem vai pagar. Você fodeu com Valan. Ao matar seus pais...” faço uma pausa para o efeito dramático. “Por ser um idiota fascista e racista
que você escolheu ser.”
Eu acendo um fósforo e vejo a chama perseguir o seu caminho até a madeira. Du Pont observa também. Ele encontra meus olhos, e quando olha para mim, meus olhos é a última coisa que o filho da puta verá,
eu deixo cair o fósforo em seu colo... e o idiota é imediatamente consumido pelas chamas.
Eu fico exatamente onde estou, seus gritos são como uma maldita sinfonia para meus os ouvidos. Eu fico ao lado dele, deixando meu rosto ser a última coisa que ele vê antes de seu corpo cair morto... e
a justiça de Hades foi servida.
Chutando o corpo do filho da puta para se juntar aos seus amigos, eu jogo um capuz branco sobre sua cabeça ainda escaldante e deixo-os para seus parentes da Klan os encontrarem.
Assim que saio do celeiro, eu rolo os dados em minhas mãos, a sede de Hades por sangue está satisfeita por agora. Thunder me acompanha, e nós pegamos nossas motos.
Quatro vidas idiotas negociadas pelas duas que tiraram do meu irmão. Eu sorrio, o ar da noite bate no meu rosto ensanguentado enquanto eu dirijo. Porque sei que não demoraria muito tempo antes de Hades
decidir jogar novamente.
E ele mataria qualquer idiota que tentasse foder com seu Hangmen.
Eu tenho certeza disso.
Tillie Cole
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