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Não é conto, romance ou autônomo, mas uma coleção de cenas escritas por Gordon Andrews como uma parceria para nossa série da Kate Daniels. Estas cenas ilustram o ponto de vista de Curran, o Senhor das Feras de Atlanta, o governante do Bando de metamorfos do Sudeste. Curran e um homem violento e desagradável, mas também é divertido e, como ele se apaixona por Kate, os fãs da série apreciariam seu ponto de vista nisso. Esta coleção é para lhe dar o seu ponto de vista em um pacote conveniente. Basicamente, são fornecidas em gratidão aos nossos leitores por todo o seu apoio.
Eu estava na Unicorn Lane à noite. Um mau momento para estar em um lugar ruim. Tudo podia acontecer aqui, mas nunca era algo bom.
Ninguém estava no comando da Unicorn Lane. Nenhuma das muitas facções sobrenaturais de Atlanta poderia reivindicar domínio sobre isso. Era povoada por aqueles que uma vez foram humanos e aqueles que nunca foram, e eles se escondiam nas ruínas escuras, se alimentando um do outro e executando visitantes indesejáveis. Assim, Unicorn Lane era reconhecida por todos como território neutro, uma terra de ninguém que você entrava por sua conta e risco. O covarde pairava na borda, o estúpido morria não muito longe disso. Eu estava aqui para conhecer alguém, e se ela chegasse longe o suficiente para me encontrar, saberia que ela não era nenhuma dos dois.
Me encostei na parede, sentindo a pedra fria do prédio abandonado nas minhas costas. O luar atravessava os buracos no teto, iluminando uma lacuna na parede. Ela iria passar por ali. As sombras da noite me escondiam, então teria bastante tempo para olhar para ela.
A Unicorn ficou quieta. A noite nunca era verdadeiramente silenciosa, mas agora os monstros se escondiam. Nenhum deles sabia por que eu estava aqui, mas todos reconheciam que não queriam ser o motivo da minha visita.
O que eu sabia sobre a mercenária vinha de informações de Jim, meu chefe de segurança. Ele trabalhou com ela na Associação de Mercenários. Isso me fazia considerar algumas coisas. Jim era um gato e preferia a caça solitária. Era raro para ele deixar qualquer um fora do Bando trabalhar com ele. Disse que ela era rápida para um humano e boa com uma lâmina. Ele também disse que ela falava demais e lutava quando deveria correr. Nada disso era uma vantagem para mim. Mercenários eram sanguessugas. Sem honra, sem integridade, sem lealdade. Eles não valiam nada. Eu não tinha o hábito de conhecer pessoalmente bandidos que queriam ser caras durões. Eu tinha pessoas para isso.
No entanto, estava disposto a arriscar dessa vez desde que Jim tinha a atestado. Jim tinha visto-a sair de situações que deveriam tê-la eliminado, e ele não acreditava que ela estava expondo todo o seu potencial. Provavelmente escondia magia forte, o que significava que tinha uma história por trás. Tudo bem para mim se isso a tornasse útil. Algo estava caçando meu povo, pessoas livres de Atlanta. Nós éramos metamorfos e tínhamos os melhores rastreadores da cidade, mas não estávamos conseguindo rastreá-los.
Normalmente resolvíamos nossos próprios problemas. Mantínhamos essa política no Bando. Os humanos nos viam como aberrações e eu não via necessidade de lhes dar mais munição. Mas os assassinatos foram numerosos demais, e alguns dos vampiros também foram destruídos, o que não é uma grande perda.
Então a Ordem dos Cavaleiros da Ajuda Misericórdia se envolveu. O único humano em quem eu confiava naquela organização de fanáticos, um Cavaleiro-Místico da Ordem, estava investigando o caso e foi morto por causa disso, presumivelmente pela mesma criatura. Tenho pouca simpatia e pouca utilidade para os humanos, mas Greg Feldman morreu nos ajudando, e isso contava com alguma coisa. Incrivelmente, essa mercenária tinha a tutela de Greg e herdara o caso junto com uma posição temporária na Ordem.
Eu encontraria essa coisa que estava matando meu povo. Ficaria sobre ele e sentiria o gosto do sangue, enquanto a luz desapareceria de seus olhos. Nada mudaria isso. Mas com a ajuda da Ordem, o acharia mais rápido. Se a mercenária de Greg estivesse procurando vingança, melhor ainda. Isso significava que ela estaria disposta a assumir riscos que poderiam me ajudar a colocar meus dentes na garganta da criatura.
O vento da noite trouxe uma mistura de aromas para a minha língua. Couro, botas velhas. Um toque de suor, limpo e inconfundivelmente feminino. Uma mistura de alecrim, camomila, lavanda, xampu de ervas, uma fragrância estranha para este lugar úmido e mofado, bom. Um leve traço de cravo e aço, óleo para a espada. Ela estava perto e se aproximando.
Quase não fazia som, estranhamente silenciosa para um humano. Interessante. O que ela era? Finalmente o som fraco de um passo. Chegue mais perto, ratinho, você está quase lá.
As sombras da noite me engoliram. Ela entraria bem na minha frente, era a única maneira de vê-la antes que ela me visse, se eu escolhesse me deixar ser visto. Talvez se ela parecesse tão boa quanto cheirava, daria esse privilégio a ela.
Um leve arranhão de um pé deslizando nas pedras. Me inclinei para frente e dei uma olhada melhor.
O luar das lacunas no teto iluminava a cena enquanto ela passava pela abertura. Entrou de lado, devagar e com cuidado, carregando uma espada. Uma lâmina de aparência estranha, clara. Ela segurava isto como se soubesse o que estava fazendo, mas a fé na sua habilidade para se proteger era equivocada. As pontas das minhas garras, querendo sair causaram coceira debaixo da minha pele. Ela tinha uma espada, mas eu tinha dez garras.
Examinou a área, parou para ouvir, depois avançou de novo, sorrateiramente, como uma dançarina, escondendo-se na sombra mais próxima antes que eu pudesse vislumbrar seu rosto. O esboço trouxe outro aroma de seu cheiro. Ela fez uma pausa e eu sabia que estava olhando para a escuridão, tentando me encontrar. Eu gostava do jeito que ela se movia, equilibrada e leve, nem na ponta dos pés nem rígida. Belo corpo. Venha para mim, ratinha, não tenha medo.
Ela deu um passo à frente e eu a vi de perfil. Traços exóticos e fortes. Não era bonita, mas gostei do que vi.
Passei meus dedos pela terra, raspando o chão um pouco.
Ela girou em um pé, movendo sua espada. Rápida. Sua cabeça virou-se para mim. Olhos escuros olhavam diretamente para mim. Não detectei medo. Em vez disso, era um olhar de desafio. Então não é uma ratinha depois de tudo, mas algo mais. Isso poderia ser interessante. A deixaria dançar na terra um pouco mais. Era divertida de assistir.
Ela se agachou com a mão para fora. O que diabos estava fazendo ...? — Aqui, gatinho, gatinho, gatinho.
Meu Deus! Era uma demente e eu ia matar Jim. Ela piscou e olhou para mim. Viu meus olhos brilharem.
Relaxei, mudando no escuro para a minha verdadeira forma. Se você quer um gatinho, garotinha, eu vou te dar um que você nunca esquecerá.
Entrei na luz do luar. Ela congelou.
Está certa. Sem movimentos bruscos. Caminhei em direção a ela lentamente e a circulei, permitindo que ela entendesse tudo. Você gosta do gatinho agora? Eu podia sentir sua surpresa e medo. Nossos olhares se encontraram. Seus olhos se arregalaram e então ela caiu de bunda.
Hééé ... uma reverência teria sido suficiente.
Recuei para as sombras do canto. Não tinha certeza do efeito que um leão rindo teria sobre ela, e eu não queria que ela desmaiasse. Mudei para a forma humana e coloquei um moletom e uma camiseta. Em qualquer outro momento, poderia ter saído para ela como estava, mas esta era uma reunião de negócios. Melhor manter o momento assim.
Dei a ela alguns segundos para se recuperar. Estava tirando a poeira da calça jeans. — Gatinho, gatinho?
Ela pulou um pouco. Garota esperta. A maioria dos metamorfos não pode mudar de forma rapidamente desse jeito. Não sou qualquer metamorfo. Eu sou o Senhor das Feras.
— É, —ela conseguiu dizer fracamente. — Você me pegou desprevenida. Da próxima vez vou trazer leite e brinquedos de Catnip1.
Brinquedos não seriam necessários. — Se houver uma próxima vez.
Saí e ela virou-se para mim. Parecia quase aliviada por eu não estar nu. A maioria das mulheres tinham a reação oposta. Não sabe o que está perdendo. Bati nela com meu olhar duro. Ela encontrou meu olhar e não desviou ou se encolheu. Pontos para você. Era alta para uma mulher, talvez cinco ou dez centímetros mais baixa que eu. Jovem, mais ou menos que vinte e poucos anos. Ela parecia forte e ágil, como um atleta ou lutadora marcial.
— Que tipo de mulher cumprimenta o Senhor das Feras com 'aqui, gatinho'?
— Uma muito especial.
Ela continuou a segurar meu olhar. Podia não ser tão engraçada quanto achava que era, mas não era covarde. Bom. Eu poderia trabalhar com coragem.
Dei um passo em direção a ela. — Sou o Senhor das Feras Livres.
Me sentei em uma mesa no Fernando's. Não era meu lugar favorito, muito elegante, muito público, mas Myong gostava daqui.
O serviço era bom, a comida era boa, mas as pessoas realmente não vinham ao Fernando's para comer. Eles vinham para ser vistos. A maioria, pessoas arrogantes e narcisistas satisfazendo seus próprios egos. Não era meu povo e eu não me importava de ser visto por eles.
Myong levantou o olhar do cardápio. Ela, por outro lado, se encaixava muito bem no Fernando’s. Era linda e tinha aquela elegância culta que acompanhava a riqueza e o privilégio. Qualquer um dos homens aqui teria adorado tê-la em seu braço. Era quase como se ela fosse uma das recompensas de poder, uma mulher linda adequada para um homem de sucesso, e ela não fazia nada para quebrar essa impressão. Agora eu era esse cara com ela. Estava em um restaurante que não gostava, entre pessoas que não suportava e entediado.
Examinei ao redor. Homens e mulheres sentados em mesas idênticas, murmurando em voz baixa, bebendo seu vinho. Uma mulher caminhava entre as mesas, liderada por um garçom. Ela usava um vestido de cor champanhe, e algo sobre o jeito como se movia, perfeitamente equilibrada, chamou minha atenção. A maioria das pessoas ao entrarem no restaurante se concentraria no garçom, mas ela parecia consciente do que o rodeava, não ansiosa, mas pronta, catalogando os possíveis perigos e analisando as pessoas.
O garçom se virou. A mulher se virou atrás dele e eu vi seu rosto. Kate. Kate Daniels. Aqui no Fernando's. Abaixei meu cardápio.
Onde naquele vestido realmente revelador ela estava escondendo sua espada? Será que estava amarrada na coxa?
Kate continuava deslizando em seus calcanhares. Parecia deslumbrante. Seu cabelo estava solto, emoldurando seu rosto e caindo pelos ombros e pelas costas. O vestido ajustava bem, quase como se tivesse sido feito sob medida para lisonjear sua estrutura magra e forte, exibindo o que todos os jeans e aquelas blusas feias geralmente escondiam. Ela parecia ... bem, feminina. Pernas longas. Flexível. Ombros nus. O vestido a amaciava, mas ela tinha definição em seus braços. Não via isso muitas vezes em uma mulher humana.
No pouco tempo que a conheci, ela me impressionou de muitas maneiras, corajosa, competente, espertinha, mas esta noite ela estava linda. Isso me fez lamentar que ela tivesse recusado minha oferta anterior de se juntar comigo ao tanque de cura.
O garçom levou-a a uma mesa onde um homem estava sentado sozinho. Ela estava em um encontro. E o pobre tolo não estava nem armado. Ele não tinha nenhuma chance.
Kate circulou a mesa, dando-me uma linda vista do traseiro dela. Humm. Ficou ao lado de uma cadeira que a deixaria ver a porta. Há! Eu me perguntei por um momento se ela viraria e se sentaria ao estilo cowboy, com as costas da cadeira protegendo seu estômago.
— Há algo engraçado? —Myong perguntou.
— Não.
O namorado de Kate, um homem bonito em um terno escuro caro, olhou para ela, sua boca ligeiramente aberta. Você e eu, irmão.
O garçom segurou a cadeira para ela. Seu encontro nem sequer levantou. Vamos, rapaz chique, levante-se, diga algo encantador, segure a cadeira para ela. Eles não ensinaram etiqueta na Academia dos Pequenos Lordes?
Kate sentou-se. O rapaz chique continuava olhando.
Deuses! Homem, aja como se você tivesse saído com uma dama antes.
Ele finalmente recuperou-se e disse alguma coisa. Ela disse algo de volta. Ele sorriu. Eles conseguiram se engajar em alguma conversa fiada.
Olhei através da mesa para meu próprio encontro. Myong parecia adorável como sempre em seu vestido preto perfeito. Ela me pegou olhando, e como de costume, olhou para baixo com humildade. Sim, sim, entendi, você não está me oferecendo um desafio. Eu não precisava de um show de submissão toda vez que olhava para ela. Essa encenação da Bela e a Fera estava ficando antiquado.
Onde Kate irradiava força e capacidade de violência, a beleza de Myong era muito mais frágil, como um requintado pássaro de cristal. O contraste era impressionante. Eu olhei para Kate novamente. Se eu andasse até a mesa deles e começasse alguma confusão, Myong iria, apesar de ser um metamorfo, se esconder em vez de arriscar se ferir, possivelmente debaixo da mesa, segurando um garfo como arma. Ela uma vez confidenciou que acha violência, como ela disse? ‘Desagradável’. Eu era muito frequentemente desagradável.
Ainda assim, ela era inteligente e culta, e eu queria sua opinião sobre eles.
— Olhe casualmente para o casal há duas mesas e me diga o que você acha dos dois, por favor.
Myong pareceu surpresa, mas fez o que pedi. Ela os estudou com cuidado e, depois de um momento, falou em voz baixa. — Seu corte de cabelo está na moda e foi caro. O terno é feito sob medida, e a alfaiataria é impecável. Seus sapatos são de couro italiano. Suas mãos são elegantes e bem cuidadas. Eu não acho que ele é um lutador. Não tem calos ou cicatrizes e suas unhas são bem cuidadas. Ele parece à vontade aqui, um homem importante. O garçom parece conhecê-lo, então deve ser um cliente regular. Ela não é. O vestido é adequado, mas raramente usado. Os saltos são apropriados à sua altura e coordenados bem com o vestido, mas ela não gosta de usá-los. Se ela tiver que correr ou lutar, vai tirá-los. —Myong fez uma pausa e se permitiu um pequeno sorriso ligeiramente superior. — Se algo desagradável ocorrer, aposto que pode usá-los como arma.
Um garçom veio à nossa mesa para reabastecer a água de Myong. Ele teve o cuidado de ficar o mais longe possível de mim e olhou para baixo. Parece que mais uma vez alguém me reconheceu e as instruções de como se comportar perto de mim foram enviadas para a equipe. ‘Não provoquem o psicopata líder dos metamorfos, ou ele pode massacrar a todos aqui. O animal violento não consegue se controlar’. Ugh.
— Quem é esse homem duas mesas abaixo? —Perguntei ao garçom.
— Dr. Maximillian Crest, —respondeu.
— Médico?
— Eu acredito que ele é um cirurgião plástico.
O garçom fugiu, sem dúvida grato por escapar ileso.
Crest, o namorado de Kate, tagarelava, enquanto Kate parecia estar apenas ouvindo parcialmente. Eu não podia ouvi-lo claramente, mas podia adivinhar a essência disso.
‘Blá, blá, blá, eu sou bonito, ganho muito dinheiro, esse terno é caro, e meus sapatos são feitos do melhor couro autêntico costurado por virgens sob o luar. Claro, eu poderia ter ido para pediatria, mas para alguém da minha incrível habilidade, a cirurgia plástica era realmente a única opção. A beleza é tão importante, você não acha? Oh, Kate, você é quase tão atraente quanto eu, por que então não deveríamos ser bonitos juntos?’
O jeito que ele olhava para ela me incomodava. Como se ele estivesse estudando seu rosto, procurando pequenas falhas que pudesse corrigir. Kate poderia arranjar coisa melhor.
Pressionei Myong ainda mais. — Qual é a sua impressão sobre eles como um casal?
Sem um momento de hesitação, ela disse: — Ele poderia arranjar coisa melhor.
— Mesmo? —Permiti que um leve desagrado se arrastasse em minha voz.
Ela pareceu se encolher e eu percebi que lamentava a observação. — Meu Senhor, —ela começou.
Toda vez que eu dava um pouco de folga à minha coleira, ela se encolhia e se afastava. Isso não estava funcionando.
— Está tudo bem. Não se preocupe com isso.
Não era culpa de Myong que ela o achasse atraente. Ele era bonito e provavelmente era um ser humano decente. Eu não tinha motivos para não gostar tanto dele, exceto que ele estava na mesa com Kate. Eu tinha oferecido a ela um mergulho no meu tanque de cura. E ela se recusou, mas se vestiu assim para ele.
Crest usava um terno feito sob medida e sapatos caros, enquanto eu por outro lado, usava jeans desbotados e uma camiseta confortável. O interessante era que Kate parecia tão deslocada quanto eu, apesar de seu vestido e sapatos extravagantes. Humm ... Me perguntava o que aconteceria se eu fosse até lá e pedisse para ela explodir esse lugar e pegar um hambúrguer comigo. Ela provavelmente riria. Parecia gostar de chamar atenção. Talvez estivesse gostando de ser o centro das atenções no Fernando's.
Havia homens suficientes olhando para ela. As roupas que costumava usar eram uma porcaria e, pelo que Jim disse, o dinheiro estava apertado para ela. Esta deve ter sido uma rara oportunidade de brilhar e ela aproveitou.
Crest finalmente me pegou olhando e disse algo para ela. Kate se virou. Seus olhos se arregalaram. Surpresa por me ver?
Seu olhar demorou-se sobre Myong e deslizou de volta para mim. Eu sorri abertamente. Sim, meu encontro é quase tão bonito quanto o seu, baby.
Kate gesticulou para o garçom enquanto o menino lindo olhava para mim. Ele estava realmente tentando me encarar. Escondi um sorriso. Caro Doutor, você não quer me provocar. Confie em mim.
Ele continuou olhando. Retornei o olhar. Estava curioso para saber se ele teria coragem de vir e fazer algo sobre isso. Então, novamente, quem sabe, talvez ele só estivesse se perguntando se poderia consertar meu nariz. Acredite em mim, doutor, você não quer ver meu outro rosto. Pensei em dar-lhe uma demonstração rápida. Apenas uma sugestão de uma presa.
Um garçom se aproximou da nossa mesa, carregando uma bandeja de prata com uma tigela. O que agora? O garçom depositou a tigela na minha frente. Leite. Haaa!
— Cumprimentos da senhora naquela mesa, senhor.
Oh, isso era bom demais. Tranquei os olhos com Kate e peguei a tigela. Enquanto ela estava olhando, levantei o prato e o esvaziei. Saúde! A sua ousadia, baby.
Ela sorriu.
Crest estava olhando agora. Jogou o guardanapo na mesa. Uh-oh ... me perguntei se eu deveria desmaiar ou fugir.
Ele desviou o olhar e deixou que se demorasse em Myong. Era para me provocar, mas em vez disso ele apenas olhou para ela, pego de surpresa, como se tivesse acabado de perceber pela primeira vez que ela estava lá e ela era linda. Ele estava se perguntando como ela se pareceria sem seu vestido preto apertado. Seu palpite é tão bom quanto o meu amigo. Toda vez que eu tentava tocá-la, ela fazia a cara de quem iria suportar essa provação bravamente. Não precisava ficar preocupada. Nunca colocaria minhas ‘mãos grandes e ásperas’ sobre ela a menos que eu percebesse que ela desejava. Ela permitiria, mas não me queria, e isso matava meu desejo por ela.
Percebi que realmente não dava a mínima para outro macho estar olhando abertamente para o meu encontro. O que isso diz sobre Myong e eu, exatamente? Que nosso relacionamento nunca iria a lugar nenhum.
Kate tinha aquele olhar em seus olhos que dizia que ela estava pensando em me dar um soco no rosto. Acalme-se, Botão de Ouro. Eu não vou envergonhar o Dr. Barco dos Sonhos na sua frente e arruinar suas chances de entrar nos altos escalões da sociedade.
Dei uma pequena piscadela para Crest, só para ferrar com ele.
Ele desviou e disse algo para Kate. Ela olhou para mim, quase com arrependimento, ou talvez eu estivesse lendo demais nisso. Eles se levantaram. Mais uma vez, não segurou a cadeira para ela. Sério?
Saíram. Logo agora que começamos a nos dar bem.
Para onde diabos eles estavam indo? Ele provavelmente iria tentar impressioná-la com a ópera ou algo assim. Olhei de volta para Myong. Ela sorriu. Muito obediente.
Kate estava saindo com Crest. Possivelmente passaria a noite com ele. E eu estava indo para casa sozinho. Deixaria Myong em sua casa e tentaria salvar o que sobrou da minha noite.
Quando atravessei a porta de entrada do apartamento de Kate, as primeiras coisas que senti foram sangue e veneno. Então fumaça e algo mais salgado, amargo. Como um aquário. O que diabos aconteceu aqui?
A menina estava histérica, chorando e dizendo que Kate estava morrendo. Ela estava quase certa. Esperava que a cena fosse ruim, mas a visão dela me deixou com frio. Kate estava deitada de bruços no banheiro, a pele pálida em contraste com o sangue escuro que parecia estar em toda parte. Suas costas haviam sido rasgadas por algo com força selvagem. Naquele momento, percebi que poderia perdê-la. Eu vi humanos morrerem por menos.
A Fortaleza estava fora de questão. Muito longe. Foi por isso que mandei Doolittle para o escritório do Sudeste antes de vir resgatar a idiota.
A peguei do chão, disse a garota para me seguir e desci as escadas. A pele de Kate estava em chamas. Coloquei-a no banco da frente do Jeep, enfiei a garota no banco de trás e saí de lá com uma das mãos no pulso de Kate. Seu batimento cardíaco estava desaparecendo e eu tinha essa ideia idiota de que, se eu a soltasse, ela morreria. Precisava levá-la para Doolittle.
Entrei no escritório com Kate em meus braços, rugindo para Doolittle. Havia pouca necessidade, ele estava de prontidão. Eu a abaixei gentilmente em uma maca que já estava pronta nos esperando e prendi Doolittle com o meu olhar.
— Você pode salvá-la?
Ele a analisou com um olhar. — Meu Senhor, suas feridas são extensas e sua espécie é ... —O interrompi. — Tente.
Saiu correndo com ela e tudo o que eu podia fazer era ficar lá e vê-la ir.
Encontrei meu caminho para o escritório, peguei uma cópia do Único e Eterno Rei de T.H. White2 da prateleira e pedi que uma cerveja fosse trazida para mim. Li dez páginas, sabia que seria inútil relaxar. Fechei os olhos, me inclinei para trás e esperei a ligação.
Algum tempo depois, o telefone tocou e Doolittle me informou que ela parecia estar se estabilizando. Ele havia limpado seu sistema do veneno e sua febre estava diminuindo.
Alguém disse uma vez que é melhor ter sorte do que ser bom. Seja quem for, deveria ter tido Kate em mente. Com a Magia forte, os já consideráveis poderes de medi-mago do bom médico foram aumentados o suficiente para curar os cortes nas costas e neutralizar o veneno que percorria seu corpo. Eu não sei por que, mas quando ele me disse que ela, com toda a probabilidade, viveria, soltei um suspiro que não sabia que estava segurando. Deveria saber que ela era muito teimosa ou muito estúpida para morrer.
A verdadeira questão era, por que eu estava tão preocupado? Por que eu me importava tanto se essa garota idiota vivesse ou morresse? Ela não era do Bando, não completamente humana, mas nenhum de nós também é. Sempre que ela tropeçava na minha vida acenando com aquele palito de dente dela que chamava de espada, eu sabia que haveria problemas, o tipo que geralmente terminava com um ou com dois de nós gravemente feridos. Ela era arrogante, impulsiva e não reconhecia minha autoridade ou respeitava minha posição. Ela me desafiava na frente do meu povo. Se alguém mais fizesse isso ...
Mas as vezes era engraçada e nunca chata. Deus, quase valeria a pena ver o rosto dela quando percebesse que eu tinha salvado sua bunda novamente.
Na verdade, pensando bem, era uma bela bunda. E que me impressionava era que minha memória da bunda e de sua dona parecia ser notavelmente clara.
Levantei. Parecia que eu tinha sido atacado por dragões.
O que eu precisava era de um banho e de alguma soneca. Seria amaldiçoado se ela me visse cansado ou desgrenhado. Quando ela finalmente acordasse, sentindo-se como se tivesse sido atropelada por um caminhão, eu queria aparecer fresco e limpo, como se não me preocupasse com nada nesse mundo.
Eu não precisei me preocupar. Quase um dia se passou antes que Doolittle ligasse para dizer que sua paciente parecia estar acordando.
— Como ela vai se sentir?
— Ela vai estar com muita dor e provavelmente ...
— Faminta, —imaginei.
— Sim, eu acho que sim. A cura acelerada queima os recursos do corpo. Eu acredito que ela estará voraz.
Sorri. — Doutor, você acha que ela poderia desfrutar de uma boa sopa de galinha quente?
Houve uma pequena pausa antes que Doolittle respondesse. — Meu Senhor, acho que ela gostaria muito disso.
Ah, sim, ela se sentará na cama e comerá a sopa que eu levarei para ela como uma boa garotinha. A melhor coisa será vê-la engolir, sem noção, como de costume, das consequências de suas ações.
Quando entrei na sala, com um dos cozinheiros atrás de mim carregando a sopa em uma bandeja, peguei o final de uma conversa.
— Como eu cheguei aqui?
— Sua Majestade carregou você.
— Ele está queimado ou cortado ou pela metade desta vez?
Sua preocupação era tocante. — Não, —eu respondi.
Seus olhos arregalaram-se. Posso andar em silêncio se eu quiser, sou um gato afinal de contas. Fiz um gesto para o cozinheiro colocar a sopa na mesinha ao lado. Doolittle fez uma reverência e ele e o cozinheiro saíram da sala.
Levei um momento para olhar Kate. Não a via desde que a trouxera. Sua aparência melhorou, mas não muito. Seu rosto estava sem sangue. Círculos escuros pintavam sob os olhos e a pele se esticava sobre o rosto. Ela parecia um fantasma de si mesma. Quase frágil.
Não estava acostumado a vê-la assim e isso me assustou um pouco. — Você parece uma merda. —A honestidade é importante em qualquer relacionamento.
Ela limpou a garganta. — Obrigada, eu faço o que posso.
Frágil e fraca, mas ainda Kate.
Peguei uma tigela de sopa e pensei no que significaria, aqui, neste lugar, se eu oferecesse a ela e ela aceitasse. Ela pode não saber o que isso significava, mas eu sei. Era isso. Quem não arrisca não petisca ...
Segurei a tigela para que ela pudesse sentir o cheiro. Antes que eu pudesse avisá-la, ela segurou com as duas mãos e se queimou.
— Idiota.
Coloquei a sopa na frente dela com uma colher.
— Obrigada. Pela sopa e por me salvar novamente.
— Você é bem-vinda.
Ela realmente me agradeceu. Tudo bem até aqui. Meio que esperava que ela jogasse a sopa em mim. Kate pegou a colher e foi até a sopa. Isso mesmo, coma.
— Você recebeu os mapas? Eles estavam ...
— Na cômoda. Cala a boca e coma sua sopa.
Puxei a cadeira de Doolittle e a observei enquanto ela comia. Isso era legal, estávamos juntos e até agora não havíamos tentado matar um ao outro. Se eu pudesse apenas mantê-la quieta ... talvez se eu continuasse alimentando-a?
— Então esse é o segredo.
Ela parecia levemente chocada. Nenhum retorno espirituoso. Eu a assustei? Não, não assustaria a chutadora de traseiro. — Você está bem? Pareceu um pouco pálida.
— Segredo para o quê?
— Segredo para calar você. —Sorri. — Eu só tenho que bater em você até que esteja meio morta, em seguida dar-lhe sopa de galinha e ... silêncio abençoado.
Ela fez uma careta e voltou para a sopa.
— O que você acha que eu quis dizer?
— Eu não sei. Os caminhos do Senhor das Feras são um mistério para uma mera humilde como eu.
— Não se faça de humilde. —Espertinha combina mais.
Sua tigela estava vazia, então eu lhe entreguei outra. Desta vez nossos dedos se uniram. Segurei e olhei nos olhos dela. Nossos rostos estavam muito próximos. Seus lábios se separaram ligeiramente. Inclinei-me em direção a ela e ... ela pegou a tigela e se afastou, e foi como se um feitiço tivesse quebrado. Pequena ratinha engraçada.
— Por que você me salvou?
— Atendi ao telefone e havia uma criança histérica do outro lado, chorando que você estava morrendo e que os mortos-vivos estavam chegando. Pensei que poderia ser uma conclusão interessante para uma noite chata. —Isso e eu odeio os mortos-vivos.
Ela parecia intrigada. — Como Julie sabia que devia ligar aqui?
— Apertou um botão de rediscagem pelo que eu entendi. Garota esperta. Você vai me dizer no que se meteu dessa vez. —Eu não estava perguntando. Meu povo arrastou-se por todo o lugar no seu apartamento, farejando cada centímetro. Houve três rastros de cheiro desconhecidos, nenhum humano. Nenhum corpo, mas alguma evidência de um incêndio e buracos e manchas na parede. O melhor que conseguiram descobrir foi que ela matou alguma coisa na cozinha, incendiou o segundo atacante e enfiou o terceiro na parede. Derek levou Julie para a Fortaleza. Ele estava interrogando-a, mas ela era uma criança de rua. Não confiava em ninguém e até agora não havia falado nada.
Olhos escuros me olharam do rosto pálido de Kate. — Não.
Talvez ela tenha entendido mal. Passou por muita coisa. — Não? —Dê uma chance a ela.
— Não.
Deus, caramba, não essa merda de novo. Eu cruzei meus braços e dei a ela meu olhar descontente e quis dizer isso. Ela olhou de volta. Isso era demais.
Me inclinei para trás. — Você sabe o que eu gosto em você? Você não tem nenhum senso. Você senta aqui na minha casa, mal consegue pegar uma colher, e você está me dizendo 'não'. Você puxaria os bigodes da Morte se pudesse alcançá-los. —Ela não sabia, mas neste momento estava perto disso. Porra, bem perto. — Vou perguntar mais uma vez, o que você estava fazendo?
— Entendo. Recuperei os mapas que o Bando deixa escapar por entre os dedos e, em troca, você me traz aqui contra a minha vontade, me interroga e me ameaça com danos físicos. Tenho certeza de que a Ordem vai se divertir com o Bando sequestrando seu representante.
— Aha. Quem é que vai dizer a eles? —Sim, o Bando lamenta muito não ter sido capaz de salvar o representante da Ordem. Seus ferimentos eram extensos. Isso seria tão fácil. Traqueia e laringe esmagada? Como alguém a estrangulou? Ninguém sabe.
Ela olhou para mim como se para avaliar a minha intenção. Eu faria isso?
Olhei para ela. Meu olhar disse: ‘Tente-me.’ Não que eu iria machucá-la, mas ela não sabia disso.
— Eu acho que eu vou ter que chutar o sua bunda e sair daqui.
Ha! Talvez se eu tivesse um ataque cardíaco ou um vaso sanguíneo estourado no meu cérebro. Ela me lançou seu sorriso louco.
Mostrei-lhe a borda dos meus dentes. — Nos seus sonhos.
— Nós nunca tivemos nossa revanche. Eu posso ganhar.
Sim, e nesse dia nos reuniríamos com o todo o Bando e faríamos um show no antigo celeiro.
Ela fez uma careta. — Banheiro?
Fiz um gesto para ela mostrando o caminho e ela cuidadosamente saiu da cama, como se não tivesse certeza se poderia levantar sozinha. Quase senti pena. Então eu vi o resto do seu corpo e não pude deixar de sorrir.
— O que é tão engraçado? —Exigiu.
— Sua calcinha tem um laço.
Ela olhou para baixo. Usava uma pequena regata e calcinha azul com um laço de seda. Seu rosto ficou branco e depois vermelho. Sufoquei uma risada.
— O que tem de errado com laços?
— Nada. Eu esperava arame farpado ou uma daquelas correntes de aço.
Ela empinou o nariz. — Sou segura o suficiente para usar calcinha com laços sobre elas. Além disso, são confortáveis e suaves.
É você que está dizendo. — Eu aposto.
Olhos grandes novamente. Ela hesitou. — Eu não suponho que você se importaria de me dar um pouco de privacidade para a viagem.
E perder o desfile de calcinha? — Sem chance.
Ela fez um valente esforço para sair da cama, mas suas pernas a traíram. Mal consegui pegá-la antes que caísse no chão. Segurei-a com força por um momento, apreciando a proximidade. Ela cheirava como Kate. Poderia me acostumar com o cheiro dela.
— Precisa de ajuda, chutadora de bundas?
— Estou bem, obrigada. —Ficou tensa e eu a segurei por mais um momento antes de liberá-la. Ela cuidadosamente se dirigiu para a porta mais próxima.
— É o armário, —apontei para ajudar.
Parecia que ia chorar e cambaleou para o banheiro, deixando-me inclinar para trás e traçar o meu próximo passo.
Quase meia dúzia de meus melhores agentes foram desleais, entre eles meu chefe de segurança, nosso chefe de medi-magia, um jovem lobo e o macho alfa do clã Bouda. Eles haviam quebrado minha primeira lei. Haviam escolhido participar dos Jogos da Meia-Noite e recusaram ordens diretas para comparecer diante de mim e explicar suas ações.
Eu nunca questionei a lealdade de Jim, ele era o alfa do Clã Felino e, para todos os efeitos, o meu segundo no comando. Doolittle desprezava a política do Bando e salvara minha vida com mais frequência do que eu gostava de lembrar. Derek havia se tornado um membro do Bando depois que seu pai ficou loup e matou sua mãe e irmãs. Quando isso acontece, e acontece com mais frequência do que os humanos pensam, o OSM3 costumava matar sobreviventes do sexo masculino, especialmente adolescentes, pois acreditavam-se que tivessem uma pre-disposição genética para o loup. Jim tinha sido a favor de matar Derek. Eu o havia impedido, o que raramente faço. O garoto tinha passado por muita coisa e decidi que ele merecia uma chance. Será que cometi um erro? Que Raphael estava envolvido nisso, não me surpreendia de forma alguma. Se o pequeno pavão de Tia B. pensou que eu não iria bagunçar seu lindo rosto, ele era tão idiota quanto aquelas garotas que o seguiam como cães no cio.
O que poderia fazer com que um gato, um lobo, uma hiena e um texugo de meia-idade se unissem para arriscar minha ira? Não conseguia descobrir o que ou o porquê, mas eu tinha uma boa ideia de quem. Kate Daniels, especialista em foder com a minha vida. Sim, ela era empregada da Ordem, humanos que por acaso desprezavam minha espécie e faziam trabalhos para a Associação dos Mercenários, mas eu juro que sua missão de vida era tornar a minha miserável. Ela me desafiou publicamente, desafiou-me em particular, e Deus me ajude, ela pulou para dentro da minha cabeça como um touro em uma loja de porcelana.
Assim que percebi que algo estava errado, liguei para ela. Em seu habitual modo charmoso e diplomático, ela havia negado todo e qualquer conhecimento do que estava acontecendo, bem como educadamente se recusou a me ajudar de qualquer maneira. Claro que ela estava enfiada nisso até aquela bela bunda dela. Mais tarde, quando comecei a juntar as peças, ligou para dizer que ela e Jim estavam fugindo juntos e até me ofereceu um jantar nua, se eu pudesse encontrá-los em três dias. Kate faz um curto-circuito no meu cérebro. Na minha cabeça, sempre planejo ter diálogos claros e coerentes, mas quando nos encontramos, o que sai é — Kate, faça o que eu digo ou mato você. — Sua resposta padrão é — Foda-se! — E daí para pior.
Mesmo depois que eu tirei a ideia de Kate nua da minha cabeça, toda a situação ainda não fazia sentido. Jim e Kate tinham trabalhado juntos em casos estranhos para os Mercenários, mas nunca percebi uma sugestão de nada mais do que uma amizade construída sobre respeito mútuo. Eu sabia que Jim gostava daquela tigresa vegetariana meio cega. Quem diabos já ouviu falar de um tigre vegetariano? Para completar, a tigresa continuava tentando se matar dirigindo em alta velocidade.
Jim tinha uma alta opinião sobre as habilidades de Kate, o que era uma coisa rara. Kate era habilidosa com essa espada, quase tão boa quanto ela achava que era. Eu continuava tentando decifrá-la: mesmo que eles decidissem fugir juntos, como os Jogos da meia-noite apareceram nessa cena? Eu sabia que Kate lutaria pela diversão ou pelo dinheiro. Eles precisavam do dinheiro para sua nova vida juntos? Como eles conseguiram envolver os outros? Derek trabalhava para Jim e adorava Kate. Se eles tivessem usado ele ... eu não iria perdoar.
Também sabia que a companheira de Raphael era a melhor amiga de Kate. Ele faria qualquer coisa por ela ou apenas para me irritar. Talvez ele achasse que sua mãe poderia intervir em seu nome se ele fosse pego. Eu quase esperava que B. interferisse e se envolvesse. Afinal, ela tem sido um espinho na minha pata por um bom tempo. Seria bom removê-lo. Desde que Mahon não estava envolvido nesse absurdo, poderia lhe dar essa honra. Sabia que ele iria gostar e a fidelidade não deveria ficar sem recompensa. Nada disso, é claro, explicava o envolvimento de Doolittle. Eles o obrigaram a ajudar? Possivelmente, mas ele é um velho bastardo duro e você não cruza o caminho de um texugo sem uma boa razão.
Eu tinha que saber, então eu segui Kate até um dos esconderijos de Jim. Ela estava sozinha, mas eu podia sentir o cheiro dos outros, eles estiveram lá recentemente. Derek estava ferido, eu podia sentir isso. Isso me levou ao limite e eu pulei para ela sem olhar. Direto em uma gaiola de loup.
Quando parei de rugir, Kate explicou tudo. Eu agora sabia sobre o Diamante Lobo e os Rakshasas. Entendi porque Kate se sentiu obrigada a fazer essas coisas. Isso fazia sentido, ela estava tentando ajudar seus amigos e o Bando. O que eu não podia tolerar ou compreender era a maneira que escolheu de fazer isso. Algumas pessoas resolvem os problemas de maneira prática e direta. Kate quebra as coisas e tenta colar as peças juntas com cuspe. Se ela só tivesse vindo a mim no começo ... mas agora pode ser tarde demais.
Quando me sentei no fundo da gaiola loup, esperando que a pele das palmas das minhas mãos se curasse o suficiente para tentar novamente quebrar as barras de prata, diminuí a respiração e analisei as minhas opções. Nenhuma era ótima. Poderia esperar que eles me deixassem sair desta gaiola ou que alguém me encontrasse ... não, isso era inaceitável. Eu era o Senhor das Feras. Não seria engradado e solto como um cachorrinho. Poderia me livrar disso, mas doeria muito, e nessa raiva eu mataria não só Kate e seus companheiros, mas também qualquer um que tentasse me impedir. Tão zangado quanto eu estava, tinha que admitir que não queria fazer isso também.
A essa hora eles já estariam na Arena. Com exceção de ter que massacrar toda a Guarda Vermelha, eu não podia entrar lá para detê-los antes que toda a plateia de fodidos doentes visse membros do Bando participarem dos Jogos. Depois disso, muitas pessoas saberiam e eu não poderia deixar passar. Se eles sobrevivessem, teria que matá-los. Eu mesmo na frente do resto do Bando.
Kate terminou seu discurso e foi embora. Me forcei a relaxar e tentar encontrar uma saída para essa bagunça. Tinha assumido que estava sozinho com meus pensamentos quando ouvi algo se mover pelo corredor. O cheiro era familiar, mas não conseguia identificá-lo. Definitivamente não é Kate, mas ...
Julie, sua gatinha. Tudo o que eu tinha que fazer era convencê-la a me deixar sair.
Fechei meus olhos e escutei ela se esgueirando pela casa. Perto, quase perto o suficiente.
Aqui, gatinho, gatinho.
Fechei meus olhos e me concentrei no som dos passos se aproximando da gaiola. Eles pertenciam a Julie. Ela mostrou potencial, movendo-se bem para uma criança humana, tranquila e cuidadosa, apesar do ambiente obscuro e desconhecido. Kate teria invadido a escuridão, apunhalando as sombras. Eu me perguntei brevemente onde, ou de quem, Julie tinha aprendido a se esgueirar. Ela não sobreviveu nas ruas sendo lenta ou estúpida. Derek parecia apaixonado por ela e era óbvio que Julie estava apaixonada por ele. Para ela, ele era mais velho, mas não muito velho, e de boa aparência.
Derek danificado, deitado em algum lugar agora com seu rosto jovem de boa aparência para sempre arruinado. Será que ela olharia para ele da mesma maneira?
Uma nova onda de raiva e tristeza quase me derrubou, e tive que lutar contra o desejo de rugir em frustração. Não, controle-se. Haveria um tempo para romper a pele e fúria, para o rasgar de carne e o gosto de sangue na língua. Agora não. Respire fundo, mantenha-se equilibrado. Não assuste a gatinha. Convença-a a deixar você sair.
Chegue mais perto, Julie, é isso. Você está quase aqui.
Quando ela estava perto o suficiente para que eu pudesse ouvir sua respiração, chamei-a na minha melhor e não louca voz, — Okay, Kate, você venceu. Eu não consigo sair. Deixe-me ir e te darei os cem dólares que eu te devo. —As crianças gostam de dinheiro, certo?
Julie entrou no quarto e sentou no chão. Uma coisa pequena, pele e ossos, rosto estreito, cabelo claro. — Boa tentativa. Você sabe muito bem que não era ela, e você sabe também que ela se foi agora onde você não pode pegá-la.
Garota esperta. — Olha, garota, eu não quero pegar ninguém. Apenas me deixe sair daqui, por favor.
— Julie. Meu nome é Julie. Por quê?
— Por que o que, Julie?
— Por que eu deveria deixar você sair?
— Porque eu pedi a você muito educadamente, e seria melhor para você e para a sua ... —guardiã psicótica, modelo terrível, influência ruim ... — Kate, se você me libertar.
— Porque você faz isso?
Certo, eu jogaria seu jogo, mas minha paciência estava diminuindo. — Faço o que exatamente?
— Intimida as pessoas. Ameaça-as nessa voz calma, mas assustadora. Eles estão todos com medo de você.
Ridículo. — Eu não ameacei as pessoas. Sou legal. Não grito ou rujo. —Continue com isso, no entanto, e você verá o quão aterrorizante posso ser.
— Besteira. Eles estão com medo de você. Jim, Derek, mesmo que ele admire você. Kate, também, e ela não tem medo de nada.
Isso era interessante. — Primeiro, cuidado com sua boca, criança. Segundo, o que te faz pensar que Kate está com medo de mim?
— Vá se foder. Não sou uma criança e você não é o meu chefe. Ela disse que você invadiu a casa dela e roubou coisas.
Cruzei meus braços no meu peito. A última coisa que eu queria fazer era explicar os rituais de acasalamento para uma garota humana. — Eu sou o Senhor das Feras, não um ladrão.
— Você levou uma torta. Por que faria isso? Você não tem o que, empregados que cozinham para você? Kate não tem muito dinheiro, por que você roubaria sua comida?
— Isso são assuntos de adultos, não vou me explicar para uma criança.
— Foi uma coisa idiota para se fazer.
Sufoquei um grunhido. — Não vou avisá-la novamente. Não fale comigo assim de novo.
— Ou o quê?
Ela me pegou. Por mais puto que estivesse, havia linhas que eu não cruzava. Não machucaria uma criança. Nunca.
Tive que respirar fundo e me afastar da borda. Persuadi-la seria mais razoável. Eu poderia ser razoável.
— Olha, Julie, estou tentando ser um cara legal. Pedi-lhe muito educadamente para me libertar. Poderia sair daqui do meu jeito, mas você não ia gostar de ver, tenho certeza. Isso seria assustador e barulhento e ninguém quer esse tipo de coisa. Esta é a última vez que vou pedir. Por favor, me liberte antes que eu fique com raiva e faça algo que nós dois nos arrependeremos.
— Você vai fazer isso de qualquer jeito. Não sou idiota. Sei que você é louco e sei que se eu te deixar sair, você vai me machucar e tentar me fazer lhe dizer onde Kate está.
— Não. Não machuco gatinhos humanos. Nunca fiz e nunca farei. Dou a minha palavra. —Ela olhou para mim, pensando nisso.
Eu me inclinei para frente. — Sei onde Kate está e por que, mas eu não sei porque ela me deixou nesta gaiola. Eu não a machucaria, e ela sabe disso. —Entrei em seu apartamento, a beijei, e eu aceitei que ela fizesse coisas que nenhum dos meus membros do bando poderia conseguir. Qualquer mulher sensata a essa altura saberia o que estava acontecendo entre nós. Eu nunca machucaria Kate. Poderia rugir e ameaçar, e poderia até atacar quando a ocasião pedisse, mas ela sabia muito bem que nenhuma violência se seguiria.
Mas, novamente, estávamos falando sobre Kate. Nada era sensato sobre Kate. É por isso que eu estava sentado em uma gaiola de loup, tentando tranquilizar uma criança assustada que eu não a rasgaria em pedaços.
Julie puxou os joelhos para o peito. A garota parecia que nunca tinha comido. Um vento forte poderia derrubá-la. — Kate acha que tem que salvar todo mundo. Duh.
— Quem ela está salvando me mantendo aqui, Julie?
— Seus amigos e você de ter que machucá-los. Ela sabe que você vai sofrer se você precisar fazer isso.
— O que você quer dizer?
Ela parou por um momento e depois continuou devagar, — Ela sabe que você está chateado e vai fazer a coisa do Rei Leão, punindo-os por ... —Ela fez uma pausa, considerando suas palavras. — Desobedecer a você. Você irá se arrepender quando se acalmar, mas então será tarde demais. Morto é morto.
— Por que ela pensa que vou me arrepender disso? —Eu estava realmente curioso. Além disso, o que diabos era a minha ‘coisa do Rei Leão’?
— Porque ela gosta de você e acredita que você é um cara legal.
— Ela disse isso? —Um cara legal, huh.
— Não, mas eu posso dizer. O jeito que ela fica quando fala sobre você.
Isto estava ficando mais interessante a cada segundo. — Que jeito?
— Ela parece do jeito que minha mãe costumava ficar quando falava sobre meu pai. E eles estão mortos agora.
— Eu sei, sinto muito.
— Todo mundo sempre diz isso sentir muito, mas isso não significa nada. É como dizer olá ou algo assim.
— Significa alguma coisa, —eu disse a ela. — Meus pais também estão mortos e eu tinha mais ou menos a sua idade quando os perdi.
Julie parecia que estava prestes a chorar e acenou com os braços. — Seja como for. Olha, eu não sou idiota. Eu sei de coisas! Coisas adultas.
— Como o quê?
— Como sexo. Eu sei sobre sexo.
Apenas olhei para ela. Eu não estava abrindo aquela lata de minhocas.
— O ponto é, ela gosta de você. Ela gosta muito, muito de você. Ela ia matar Derek para você se ele fosse a loup, assim você não teria que fazer isto.
Agora tudo estava começando a fazer sentido. Então era isso do que se tratava. Derek era responsabilidade de Jim, e ambos Jim e Derek tinham fodido regiamente. Agora Kate estava presa nessa bagunça. Em sua mente, ela era tão responsável pelo menino como nós. Derek tinha pedido a ela por ajuda, e ela tinha sido incapaz de recusar. Infelizmente, tudo tinha ido para o inferno, como as coisas tendem a ir em nosso mundo, e o garoto tinha se machucado muito. Agora ela se culpava, e a única coisa que podia fazer era ir junto e esperar o melhor. Ela tinha tomado tudo para si mesma, como um alfa faria. Eu tinha que lhe dar crédito por tentar resolver tudo sozinha até o fim, mas deveria ter sido eu. Era meu trabalho saber o que estava acontecendo, para salvar, proteger e matar quando não havia outra maneira, e eu tinha fracassado.
Não poderia desfazer o dano, mas poderia intensificar e assumir o comando. Poderia ter certeza de que enquanto houver respiração no meu corpo, outro do meu povo não seria prejudicado. Se ela percebia ou não, Kate era minha e agora eu iria salvá-la ou morrer tentando. Isso é o que eu faço, eu sou o Senhor das Feras. Levantei-me e travei os olhos com a menina.
— Julie, se você me soltar, juro que não vou prejudicar você, Kate, ou alguém do meu povo.
— Você vai ajudá-los nos Jogos?
— Sim, eu vou.
— Mesmo Derek?
— O que? —O que eu podia fazer por ele que Doolittle não podia?
— Ele está com eles, lutando contra as criaturas que o machucaram. Ele é tão corajoso.
Maldito idiota. — Sim, mas tolo também. —Eu me pergunto se ela sabe toda a história?
Julie fez uma careta. — Sim, eu sei. É sobre a menina. Eu vou cuidar dela mais tarde, mas preciso que você prometa sobre os outros.
— Julie, dou-lhe a minha palavra, vou fazer tudo ao meu alcance para ajudar nossos amigos e punir nossos inimigos.
Ela soltou um suspiro que estava segurando e sorriu finalmente. — Temos um acordo.
Minhas costas doíam como o inferno. Me libertei da gaiola de Kate e a segui até os Jogos. Como de costume, ela fez uma bagunça completa das coisas, e era eu que ia limpar.
Tive que admitir que fiquei impressionado. Ela de alguma forma convenceu alguns dos meus melhores metamorfos a quebrar minha primeira lei. Até mesmo Doolittle se apaixonara por ela. Então era matar todos os envolvidos, ou juntar-se a eles na arena e tentar mantê-los vivos. Realmente não era uma escolha. Sabendo de tudo isso, as feridas que se fechavam devagar nas minhas costas não pareciam nada melhores.
Nossa primeira luta foi fácil: mulher-cobra, espadachim e homem-rato. Dali havia lançado uma maldição, Kate tinha dado uma cabeçada em seu oponente deixando-o inconsciente, e o bisão, grande e burro, tropeçou no meu pé e quebrou seu pescoço. A segunda luta não tinha ido tão bem. Dali se superou. A menina tigre combateu um antigo vampiro. Tenho certeza que depois, em particular, Jim expressaria sua admiração. Eu despedacei um troll, então tive que salvar Kate de um golem que ela estava lutando.
Era um golem de prata.
Ela estava sangrando por causa de uma ferida na lateral e parecia precisar de alguma ajuda. Quando eu o agarrei por trás, ele me encheu de pontas de prata, como se eu fosse uma grande almofada de alfinetes cinza. Enquanto eu o segurava, ela enfiou sua espada nos olhos dele. Foi um bom golpe.
Ela não tinha exatamente me agradecido, mas tinha arrancado os espinhos de prata de mim. Doeu como o inferno e levou muito tempo. Kate estava chateada, por que eu pulei no golem, enquanto tirava os espinhos manteve o controle, quando terminou deu uma última olhada para os buracos nas minhas costas e fugiu sem dizer muito mais. Esperei até que eu soubesse que ela estava fora do alcance da voz e, em seguida, alternei entre rosnar e xingar por uns bons cinco minutos. Provavelmente tinha sido ferido pior do que isso antes, mas não me lembro quando.
Agora que eu estava me sentindo melhor, era hora de encontrá-la e conversar um pouco. Havia coisas que precisávamos discutir. Coisas importantes.
Comecei a procurá-la no quarto da equipe. Jim e Dali tinham ido embora, seus beliches estavam vazios. Eu podia ouvir as vozes abafadas de Andrea e Raphael na outra sala.
Derek estava deitado de costas no beliche, o rosto escondido por uma velha brochura que mostrava um homem com algumas tatuagens impressionantes. Doolittle estava sentado em uma cadeira, lendo Casino Royale4.
Ambos olharam para mim. Derek começou a se levantar. — Não se incomode. Que diabos você está lendo?
— Grande Jake, a Serpente e o Esquadrão de Comandos Viper.
Que diabos ...
— Eu tentei fazer com que ele lesse algo decente, —disse Doolittle, — mas ele escolheu esse lixo.
— Você está lendo um romance sobre um britânico esnobe, —disse Derek, tentando claramente provocar Doolittle.
Eu olhei para ele por um tempo. Ele precisava diminuir seu tom. Abaixou a cabeça. — Peço desculpas.
— É um clássico, —disse Doolittle.
Deixei-os e entrei no corredor, analisando a confusão de aromas. Suor, sangue, mais suor ... Kate. O cheiro era doce. Inalei mais profundamente, certificando-me de que eu tinha um bom controle sobre isso. Hora de ir caçar.
O perfume flutuou pelo corredor. Segui e isso me levou pelas portas do ginásio, queimando mais forte, então ficando confuso. Ela deve ter se esticado aqui há algum tempo, mas desde então os idiotas passaram por cima do cheiro dela, deixando suas próprias impressões no ar. Eu me agachei por um longo segundo. Ahh, lá estava.
A trilha atravessou a academia, pelo corredor, até uma porta com um homem da Guarda Vermelha se aproximando.
Havia uma pequena janela na porta. Olhei através disso. Uma banheira de hidromassagem. E longos cabelos escuros. Encontrei você.
Ela ainda podia estar chateada sobre eu ter me machucado, então fui para a sala de recreação, encontrei um par de cervejas, e entrei com elas.
— Oferta de paz. —Uma cerveja gostosa, você sabe que você quer.
Kate estendeu a mão e pegou a Corona da minha mão. Por enquanto, tudo bem.
Tinha que avisá-la por gentileza antes de sair da minha toalha e entrar na banheira de hidromassagem. Eu não queria que ela desmaiasse e se afogasse. Claro, se ela desmaiasse, seria uma honra eu tirá-la e reanimá-la. Parecia não estar usando um top, então só daria uma olhadinha rápida. Era um cavalheiro, não um santo.
— Estou prestes a tirar a toalha e entrar, —eu disse. — Aviso justo.
— Já te vi nu.
— Não quero que você fuja gritando ou qualquer coisa.
— Não fique se achando.
Tirei a toalha e entrei. Ela permaneceu consciente e sentada. Que pena. Estava com tudo pronto para o resgate.
— Como estão suas costas? —Perguntou.
— Está bem, —eu menti. — Obrigado.
— Não a de que.
— Seu lado ferido dói? —Eu sabia que deveria estar, assim como ela sabia que a prata tinha queimado como fogo no meu peito e nas costas.
— Não.
Ela não admitiria mais fraqueza do que eu.
— Você vai demitir Jim? —Perguntou de repente depois de tomar um grande gole de cerveja. Eu dei a pergunta um pouco de pensamento. Por que ela se importava? Ela brigaria comigo?
— Não, —respondi finalmente. Ela estava ouvindo. Gostava de sentar perto dela assim, sem brigarmos. Pela primeira vez ela não estava me chutando ou agitando sua espada na minha cara. E se eu continuasse falando, ficaria assim, relaxada, na banheira de hidromassagem. Topless sob a água. — Admito que se eu estivesse prestando atenção, teria cortado isso pela raiz. Ele nunca deveria ter chegado a este ponto.
— Como assim?
— Jim assumiu a segurança oito meses antes do aparecimento do Estuprador de Red Point. O upir foi seu primeiro grande teste. Ele estragou tudo. Todos nós fizemos. Então houve Bran. Bran roubou os mapas três vezes, entrou e saiu do forte e te atacou enquanto você estava sob nossa custódia e retirou uma equipe de pesquisa, incluindo Jim. Jim considera isso um fracasso pessoal.
O pior era que Kate parecia gostar de Bran. Ele tinha essa coisa de piscar os olhos e sorrir que o fazia charmoso. É fácil ser assim quando você não tem mil e quinhentos metamorfos sob seus cuidados e seu dia não está programado minuto por minuto. Não é suficiente estar sempre pronto para exercer sua autoridade com violência, você tem que considerar que tipo de violência, decidir a intensidade dessa violência, quando usá-la e quando exercitar a paciência. Apesar de as vezes ser visto como um tirano, nunca quis ser um, e garantir que eu não me transformasse em um tomava a maior parte do meu tempo.
Bran era como uma criança. O homem passara por três vidas agindo como um adolescente mimado, arrumando garotas bonitas, entrando em brigas e escapando sem consequências. Se ele se encrencasse era só fugir de volta para sua deusa e seu acampamento de diversão, ou o que diabos ele tinha lá na névoa.
Tudo o que se faz tem consequências e fugir não é uma opção.
Se Kate quisesse alguém como ele, nunca funcionaria entre nós. Mesmo se eu quisesse ser esse tipo de cara descomprometido e que foge diante de seus problemas, e havia raros momentos em que eu desejava ser assim, nunca conseguiria. Não era quem eu era.
Olhei para ela. Ela levantou os ombros acima do nível da água. Definitivamente sem top.
— O cara se teletransportava. Como é que ele ia se precaver contra alguém que aparece dentro e fora da existência?
Afundei um pouco mais na água quente, a tensão saindo dos meus ombros.
— Se eu soubesse o quanto Jim tomou tão duro isso, eu teria apontado isso a ele. Você se lembra de quando ele tentou usar você como isca?
Ela franziu o cenho. — Lembro de querer dar um soco na cara dele.
— Foi o primeiro sinal de problema. As prioridades dele mudaram para 'ganhar a qualquer custo.' Eu achei estranho na época, mas coisas loucas continuaram acontecendo e eu deixei escapar. Ele se tornou paranoico. Todos os chefes de segurança são paranoicos, mas Jim levou mais longe do que a maioria. Começou a ficar obcecado em prevenir futuras ameaças, e quando Derek chegou com o nariz partido e com o rosto esmagado, isso empurrou Jim para o limite, ele não podia suportar ser responsável pela morte de Derek ou por eu ter que matar o garoto, ele tinha que consertar isso a qualquer custo. Basicamente, houve um problema e eu perdi. E ele com certeza não o trouxe para mim.
Eu conhecia Jim há muito tempo e ele era orgulhoso demais para admitir que estava com medo de qualquer coisa, mas se o garoto tivesse se transformado, isso o teria quebrado. Um de nós, provavelmente eu, teria que matar o menino. Me perguntava se isso tivesse acontecido se Kate teria entendido ou teria sido capaz de me perdoar.
— Eu não consigo acompanhar todos o tempo todo, e Jim é aquele que nunca ficou louco comigo. Chegou a sua hora, eu acho. Então, para responder sua pergunta totalmente, não há nenhuma razão para rebaixá-lo. Ele tem um talento para seu trabalho e ele está razoavelmente bem considerando o que ele está enfrentando. Se eu tiver que demiti-lo, eu vou ter que substituí-lo por alguém que tenha menos experiência e vai estragar mais. Esta será uma lição. Três meses arrastando pedras gigantes ao redor irá ajudá-lo a tirar o stress do seu sistema. —O que eu não disse e não precisava, foi que Jim é meu melhor amigo e confiava nele como um irmão.
Ela escutou enquanto eu explicava tudo isso e percebi o quão legal era quando nós apenas conversávamos. Nós sentamos em silêncio juntos, curtindo a companhia um do outro. Seu rosto perdeu a expressão de defesa. Eu entendia essa expressão, ela precisava disso. Se você expressar nos em um corpo que está pronto para lutar, você pode vencer a maioria das batalhas sem dar um único soco. Mas agora, com o cabelo solto e as feições relaxadas, ela estava linda. Me perguntei se ela sabia. Não, provavelmente não. — Então, você não queria me ver ferido?
— Eu não queria que você tivesse que matar Derek, —ela disse, seus olhos ainda fechados.
Espere o que? — E se ele tivesse ficado loup?
— Eu podia ter cuidado disso.
Disse isso como um alfa, sem arrogância, apenas uma questão de fato.
— Exatamente como você estava planejando empurrar Jim de lado? Ele é o alfa mais alto. O dever é dele.
Não só um dever, era mais como uma responsabilidade horrível, uma que era nossa para carregar. Ela realmente teria feito isso? Todos nós sabíamos que ela se importava muito com Derek, e a machucaria muito ter que matá-lo. Me machucaria matá-lo.
Decidi que ela teria feito isso. Talvez ela se importasse comigo o suficiente para querer me poupar dessa dor. De todas as mulheres com quem estive ao longo dos anos, quantas teriam feito isso?
— Pulei o ranking, —ela continuou. — Eu declarei que desde que você tinha aceitado a assistência da Ordem, eu me sobreponha a todos.
— E eles acreditaram em você? —Lentamente me dei conta de que eles a haviam obedecido. Hammm.
— Sim. Eu também olhei ameaçadoramente para dar um efeito a mais.
Ela deu a eles seu olhar alfa. Tentei não rir. Era meio fofo. Gostaria de ter visto isso. Quando eu estava com raiva, meus olhos brilhavam. Também poderia fazer eles brilharem quando eu quisesse. E isso fazia todo mundo querer sair da minha frente. Seu olhar alfa era bom, mas o meu era da liga principal. Era uma boa ferramenta de intimidação.
Ela parecia tão confortável inclinada assim. Comecei a me mover na direção dela através da água. — Infelizmente, não posso fazer meus olhos brilham como os seus, —ela disse.
— Assim? —Perguntei, minha boca a poucos centímetros de sua orelha, meus braços em ambos os lados dela. Estava tão perto, quente e molhada.
Seus olhos se abriram e eu pude ler a surpresa e outra coisa. Poderia ser um convite? — Não me faça quebrar está garrafa na sua cabeça, —ela disse, sua voz suave.
— Não. Você não quer me ver machucado.
Procurei no rosto dela. Sim ou não? Vamos, Kate, dê-me algo para trabalhar.
Ela se aproximou de mim e eu a agarrei. Finalmente. Colocou os braços em volta de mim. Deslizei minhas mãos por seu corpo, sentindo os músculos fortes e lisos. Ela não se deitou e esperou que eu tomasse a liderança. Pressionou-se contra mim, forte e flexível. Emocionante. Ela me queria. Isso não era aceitação passiva, isso era envolvimento ativo.
Eu a beijei. Já estava duro e isso era combustível para o fogo. Deus, eu a queria, talvez mais do que sempre quis alguma coisa. Mas tinha que ter certeza. Você nunca sabe. Eu não queria que ela se arrependesse. Queria que ela me quisesse.
— Só se você quiser ... diga não, e eu vou parar.
— Não, —ela disse suavemente.
Merda. Expire, assuma o controle, recue. Deixe ela ir. Me afastei devagar. Nós nos encaramos.
— Tudo bem, —disse a ela.
Ela colocou a mão no meu peito. Quando me tocou, seus dedos quentes, algo passou entre nós como uma centelha de estática e meu pulso acelerou. Peguei a mão dela gentilmente e trouxe para os meus lábios. Calma garoto, vá devagar.
Ela soltou a mão e se aproximou. Seus lábios brincaram na minha garganta. Estava me deixando louco. Tinha que tê-la.
— O que está fazendo? —Rosnei, me perguntando se ela estava apenas provocando ou se também me queria.
— Puxando os bigodes da Morte, —ela respirou suavemente.
Me beijou novamente. Tinha que deixá-la assumir a liderança. Não a empurre, não a assuste. Se estivéssemos indo mais longe com isso, ela teria que dar o próximo passo. Suas mãos se moveram sobre o meu corpo, peito e ombros, até os meus bíceps. Flexionei um pouco e tentei lembrar de respirar. Ah, sim, isso estava realmente acontecendo.
— Isso é um sim ou não? —Perguntei.
Ela deslizou contra mim e levemente mordiscou meu lábio inferior. Oh sim! É um sim. É definitivamente um sim. — Eu vou levar isso como um sim.
Agarrei-a e puxei-a para cima de mim. Pele nua. Ela não estava usando nada. Eu a beijei novamente, minha língua sondando sua boca. Ela colocou os braços em volta do meu pescoço. Seus seios pressionaram contra o meu peito. Hummm ... tirei o seu cabelo de seu pescoço com uma mão e beijei a delicada curva de sua garganta, segurei sua bunda gostosa e a puxei contra o meu corpo. Estava quase dolorosamente ciente de que ela estava sentada na minha ereção.
Finalmente ...
Do outro lado da porta, a nova voz de Derek, mais como um grunhido, exigiu: — Deixe-me entrar.
Nem fodendo, não agora. Se eles não o mandarem embora, posso simplesmente matá-lo eu mesmo.
Minha mão ainda estava no peito de Kate, esfregando suavemente o mamilo. Eu a beijei novamente. Não ouça as vozes na porta, Kate.
Alguém disse alguma coisa e Derek falou sobre ser um membro da equipe. Não por muito tempo se você entrar aqui.
— Curran, —sussurrou Kate. — Curran!
Não. Eu estava nu, ela estava nua, ela estava sentada em mim, nós estávamos fazendo isso.
A porta começou a se abrir. Não faça isso porra. Não entre aqui ou vou te estrangular. Vire-se, continue andando. Você não precisa falar comigo agora.
Kate me bateu com alguma coisa na parte de trás da cabeça e me fez mergulhar embaixo d'água. Cinco malditos minutos. Eles não me deixariam ter cinco malditos minutos para mim.
Contei até dez e saí do outro lado da banheira. Kate estava sentada do lado dela, parecendo que nada tinha acontecido. Derek estava dizendo algo sobre uma mão em uma caixa. Era uma mão morta. Por que diabos ele tinha que trazer isso para mim logo agora? Essa mão estava indo a algum lugar?
Kate fechou os olhos. Ela parecia exasperada.
— Entregue a mão para a Guarda Vermelha, —eu disse a ele. — Não há nada que possamos fazer até amanhã.
Ele parecia que queria dizer alguma coisa. Olhei para ele. Derek virou-se e saiu sem outra palavra. Garoto esperto.
Olhei para ela do outro lado da banheira de hidromassagem. Onde nós estávamos?
Ela olhou de volta, parecendo desafiadora. A suave e doce Kate foi embora.
— Perdeu sua chance. Eu não vou estar em qualquer lugar perto de você, então você pode também desligar os faróis, —disse ela.
Baby, você não precisa vir até mim. Eu irei até você.
Me movi em direção a ela.
Ela ficou completamente imóvel. — Não. —Eu parei. Droga.
— Você me queria, —eu disse. Nós dois sabíamos disso.
— Sim, eu queria, —ela admitiu.
Veja, foi tão difícil assim?
Ela cruzou os braços. Não estava acontecendo, não está noite de qualquer maneira. — O que aconteceu? —Eu merecia uma explicação, pelo menos.
— Me lembrei de quem eu sou e quem você é. —Certo, bem assim era como era.
— Quem sou eu? —Exigi, embora realmente a questão fosse quem ela achava que eu era. — Esclareça-me.
— Você é um homem que gosta de jogar jogos e odeia perder. E eu sou a idiota que continua esquecendo isso.
Não, eu era o idiota sentado aqui com uma furiosa ereção. — Vire-se, para que eu possa sair, por favor.
Não. Sentei-me e relaxei contra a parede da banheira de hidromassagem. Ela me viu nu, justo é justo. Se quisesse sair correndo, eu poderia pelo menos apreciar a vista.
Ela olhou para mim. Não vou me virar.
Kate exalou e se levantou. Era perfeita. Forte, mas feminina.
Oh, as coisas que eu poderia ter feito com esse corpo. Ela não tinha ideia. Percebi que eu gemi e calei a boca. — Perfeito, —ela disse.
Sim, poderia ter sido. Ainda pode ser, se você voltar para a água.
Ela enrolou uma toalha em volta do corpo nu. Seria tão fácil simplesmente agarrá-la e puxá-la de volta para a banheira. Eu poderia, mas não o faria. Ela saiu com sua dignidade intacta e sua toalha no lugar.
Eu precisava muito mal naquele momento de encontrar alguém e machucá-lo. Fiquei na banheira até que o desejo e outras coisas morressem lentamente.
Ainda não terminamos, nem perto. Eu ainda podia sentir o cheiro dela. Lembrei de como a senti. Qual o seu gosto. Isso não era uma coisa de sexo casual. Isso era um acasalamento. Eu teria Kate como minha companheira. Seja o que for preciso, não importa quanto tempo, ela estaria comigo.
Estava sentado no meu escritório, pensando que minha vida era muito boa. A magia estava em baixa, e eu tinha uma xícara de café quente e Great Big Sea5 no velho CD player. As últimas duas semanas foram terríveis. Bem, isso era um pouco de eufemismo. Os membros do Bando haviam quebrado minha primeira lei e se juntaram a Kate nos Jogos da Meia-Noite. Derek ficou ferido, muito mal. Kate quase morrera e eu nunca senti tanto medo desde que minha família foi assassinada. Senti a mesma sensação de desamparo quando segurei sua forma amolecida. Ainda assim, vencemos, o garoto recuperou sua saúde e sua aparência, e as coisas se acalmaram.
Até consegui colocar aquele maldito pervertido em seu lugar. Tanto desperdício, em vez de se deleitar com o poder de sua verdadeira forma, ele se escondia como um covarde por trás de belas máscaras e jogava jogos de sedução. Saiman era fraco, mas muito vaidoso. Eu tinha picado seu orgulho. Ele provavelmente retaliaria de alguma forma.
Brinquei com a ideia de dizer a Jim para se livrar dele. Seria fácil. Saiman não tinha amigos nem família. Quem sentiria falta dele? Além disso, Saiman lidava com conhecimento e segredos, e eu conhecia um jaguar que adoraria passar algum tempo de qualidade com ele e extrair alguma informação daquela linda cabeça.
Tomei meu café da caneca de metal azul. Quando eu era criança, depois que meus pais morreram, eu vivi na floresta por um tempo e uma vez eu invadi uma cabana de férias. Eles tinham um conjunto de pratos e canecas de metal azul, a louça de acampamento. Eu a roubara e também o café instantâneo deles, bebi sozinho naquela noite por causa do meu fogo escasso. Aquela primeira xícara de café tinha gosto de puro paraíso. George, filha de Mahon, encontrou o mesmo conjunto de pratos e me deu de presente no Natal.
Um cheiro familiar e uma batida na porta me diziam que meu chefe de segurança havia chegado. Pense no diabo ...
— Entre.
Jim atravessou a porta, carregando um arquivo grosso de couro. Pelo menos uma polegada de espessura. Ótimo. Isso levaria uma eternidade.
Jim verificou o corredor e fechou a porta atrás dele. Ele estava usando o rosto de ‘precisamos conversar’, o que era bem diferente do rosto normal de ‘eu sou um cara fodão, não mexa comigo’ que ele achava agradável. Ele não apenas impõe fisicamente, mas também tinha a capacidade de irradiar ameaças. Acho que na maioria das vezes ele nem estava ciente disso. Seria um professor de jardim de infância terrível, mas ele era perfeito em sua posição como Alfa do Clã Felino e meu segundo em comando. O resto dos clãs não gostava necessariamente dele, mas respeitavam seu poder e posição.
— Precisamos conversar, —anunciou sem preâmbulo.
E lá foi meu clima agradável. Eu me preparei. — O quanto isso é ruim? —Com certeza não seria bom.
Ele colocou uma velha imagem de Polaroid na minha frente. Nela, uma menina jovem, talvez doze ou treze anos, com o olho inchado e um lábio partido, olhava para mim desafiadora. Conheceria esses olhos em qualquer lugar.
— Kate, —eu disse. Não era uma pergunta.
— Sim. —Jim sentou-se na cadeira. — O melhor que podemos imaginar é que essa imagem foi feita na Guatemala, há mais de uma década. Ela ganhou um torneio de boxe sem luvas. O resto eram garotos, alguns com dezesseis anos.
— Isso não é agradável, não é?
— Não. Eu acho que deve ser mais agradável assistir brigas de galo.
E os humanos nos chamavam de animais. — Por que você está me mostrando isso?
Ele levantou um dedo. Aparentemente, havia mais. Jim abriu o arquivo em sua mão, tirou outra foto e colocou-a na mesa. Kate estava mais velha agora, com um gládio6 na mão direita e um curativo no ombro esquerdo.
— Rio de Janeiro, —anunciou ele, — dois anos depois. Ela lutou e venceu um torneio de espada em toda a cidade, patrocinado por uma das grandes gangues. Uma maneira de explorar novos talentos, suponho. Os jogos só terminavam quando um dos lutadores estava aleijado. Ela desabilitou a maioria de seus oponentes, mas o último cara, com o dobro de seu tamanho e idade, teve sua garganta cortada em trinta segundos. Eles a chamaram de 'Pequena Assassina' e ainda se lembram dela.
A Pequena Assassina, Kate adoraria isso. Então sua infância foi horrível. Muitas pessoas tinham uma infância menos que perfeita, por que Jim sentiu que isso era tão importante? Tinha que haver mais.
— Eu pensei que ela tinha sido criada por Greg. —Greg era um Cavaleiro da Ordem Misericordiosa e um aliado. Ele morreu há pouco tempo. Foi quando conheci a Kate. Ela veio procurar pelo assassino dele.
Jim sacudiu a cabeça. — Não, isso foi antes de Greg virar seu tutor. Alguns anos depois desse período da foto. —Ele apontou para a primeira e depois a segunda foto. — Olhe de perto. Vê alguma coisa?
Demorei alguns instantes, mas o encontrei, um homem no meio da multidão, encarando Kate com o que poderia ser descrito como orgulho feroz ou aprovação em seu rosto cruel. Ele era grande, superando os homens ao seu redor. Alto, poderoso, bem musculoso, apesar de estar entre os quarenta e cinquenta anos. Seus cabelos grisalhos pendiam soltos até os ombros largos. Suas feições, outrora talvez bonitas, haviam se tornado grosseiras, agravadas pelos tecidos das cicatrizes e pelo tempo. Parecia um velho boxeador que passara muitos dias exposto ao sol e ao vento. Ainda assim, ele não tinha nenhuma semelhança com a jovem Kate nas fotos.
Jim colocou outra foto na mesa. Nesta foto, Kate e o homem sentavam-se em um bar, uma garrafa de algo entre eles, fora de foco demais para ler o rótulo. Kate parecia ter catorze anos.
— Eles viajavam juntos, —disse Jim. — Nunca ficavam em um mesmo lugar por muito tempo. De vez em quando apareciam, participavam de algum tipo de competição marcial ou faziam um trabalho duro, ganhavam, matavam e partiam. Aqui foi em Cuba. Eles foram vistos mais uma vez em Miami, então não os viram novamente. Pelo menos não juntos.
— Você sabe quem ele é?
— Eu tenho uma boa ideia. —Ele puxou uma pasta parda fina etiquetada com ‘Voron’ para fora do arquivo de couro e a abriu na mesa na minha frente.
Dentro havia uma foto do mesmo homem, de aparência mais jovem, talvez por uma década ou mais, em algum tipo de uniforme de combate. Ele segurava um machado preto em uma mão e a cabeça cortada de um homem pelo cabelo em outra. Seu rosto era demoníaco, contorcido pela alegria, revelando-se violento, como uma antiga máscara de batalha. Ele parecia estar rugindo em direção ao céu. Parecia nada mais que um maldito deus da guerra. Invencível e terrível de se ver.
— Por que ele está vestido como um soldado, mas segurando um machado?
— Tecnicamente é um tomahawk7 tático. Era conhecido por ser sua arma de escolha quando ficava sem balas. Nossa informação nos leva a acreditar que esta foto foi tirada há mais de cinquenta anos. Magia estava voltando, mas ainda era fraca e as armas eram mais confiáveis .
— Um sujeito agradável, —observei.
— Você não tem ideia. Segundo todos os relatos, ele era um comandante talentoso, mas propenso a ataques furiosos. No combate corpo-a-corpo, ele seria dominado pela sede de sangue e rasgaria seus inimigos como um animal.
— Quem estava segurando sua coleira?8 —Eu tinha certeza que já sabia.
— Roland.
— O Construtor da Torre e Senhor do Nação.
— Sim.
Merda de merda. Metal gemeu na minha mão. Eu coloquei a caneca azul na minha mesa e sacudi o café da minha mão.
Jim não disse nada, apenas esperou.
— Agora você vai me dizer por que Kate foi criada por esse homem e por que eu deveria dar a mínima. —Por que nada poderia ser simples com Kate? Por que Jim não poderia apenas vir me dizer que ele cumpriu uma missão perfeita ou superou um recorde pessoal? Talvez finalmente propôs para aquela estranha garota tigre.
— Eu gosto da Kate, —disse Jim. — A conheço há anos e até salvamos as vidas um do outro, mais do que algumas vezes. Naquela época eu não me importava muito onde ela cresceu ou com quem ela foi relacionada, porque não era uma questão de segurança para nós. Só me importava que ela era boa com uma lâmina e fazia o que disse que faria. Ela tinha uma boca grande, mas poderia perfeitamente me apoiar e me proteger.
Jim recostou-se. — Só que agora, tudo é diferente. Pessoalmente, eu a admiro. Você pode fazer o que quiser, mas é meu trabalho dizer o que você não quer ouvir. Agora, vou contar uma história e você vai me ouvir porque estou no comando da segurança do Bando e sou seu amigo.
Foda-se você e foda-se sua história. — Prossiga.
— Isso aqui é o que você chama de lenda urbana ou conto de fadas moderno. Envolve um homem muito ruim, rei dos vampiros e todos os tipos horríveis de mortos-vivos. Pessoas como Ghastek e até mesmo este Voron, o reverenciam. Ele pode mantê-los vivos, jovens pelo tempo que quiser. Ele é velho, muito velho, mas velho que a antiga Bíblia. De acordo com alguns, fez o primeiro vampiro. Para a maioria, é uma lenda, como Merlin9 ou Héracles10. Especialistas, estudiosos e acadêmicos dirão que ele é uma parábola ou uma analogia. Os mesmos tipos dirão a você que Cain e Abel é uma analogia sobre as culturas de caçadores e coletores sendo substituídos pela agricultura e a ascensão das cidades. Que Roland representa governantes e suas leis impõem ordem no caos e na anarquia. Que ele é a origem das fábulas ou fundador da cidade. Seja o que for, a verdade é que ele existe realmente. Nós dois sabemos disso. Já o resto da história não é tão fácil de saber. Há muitos contos sobre ele, alguns verdadeiros, outros não. O que sabemos é que todos os seus filhos se rebelaram contra ele. Alguns o rejeitaram, outros menos afortunados tentaram usurpá-lo. Gilgamesh11, por exemplo, partiu e fundou Uruk12. Abraão13 roubou-lhe e perdeu. Tudo ...
Eu o interrompi. — Jim, onde você conseguiu essa merda?
— Fiz uma checagem. Tenho minhas fontes.
— Você perguntou a Dali, não foi?
Ele abriu um sorriso raro. — Sim, ela é muito esperta. Levou um tempo, mas ela cavou a maior parte dessas informações.
— Ela sabe que você gosta dela?
— Não estamos falando de mim. Estamos falando de você e seu ... coelhinho fofo.
— Nesse caso, professor, eu sinto muito por interromper sua palestra fascinante sobre toda essa conversa fiada. Por favor, continue.
Ele encolheu os ombros. — Obrigado, eu vou. Agora, antes de você me interromper, estava explicando que Roland teve má sorte com seus filhos. Muito trágico. Agora, avancemos para cerca de trinta anos atrás. O homem tem uma nova consorte. Ela é linda e todo mundo a ama. Especialmente Roland. Ele está apaixonado, e logo sua dama está grávida. No começo Roland está muito feliz. Faz séculos desde que ele gerou monstrinhos, e ele está todo sentimental. Todo mundo está feliz. Então, do nada, ele muda de ideia e tenta matar a esposa grávida e a criança que está carregando. Ela foge com seu senhor da guerra. É como o rei Artur, mas Lancelot é açougueiro e Guinevere está grávida.
Essa história estava ficando cada vez melhor.
Jim continuou. — Os dois partem para locais desconhecidos. Como qualquer homem faria, Roland vai atrás deles. Acontece que Roland não é qualquer homem e não há nenhum lugar do mundo é seguro para eles. Ele os encontra e a confronta enquanto Voron foge com a criança. Roland mata sua esposa, mas não antes dela tirar seu olho. Ferido e de coração partido, vai embora. Sozinho. Agora Voron, sendo do tipo nada sentimental, cria essa criança para ser um assassino tão mortal quanto ele. Eles viajam, eles treinam, e ele a transforma em uma arma viva, uma arma que ele irá empunhar contra seu ex-mestre quando tiver oportunidade e diz a ela como seu pai tentou matá-la e matou sua mãe e teve que deixar a garota com outro homem. Os caçadores de Roland estavam perto quando ele desapareceu. Seu paradeiro é desconhecido agora.
— Essa é uma ótima história, Jim, mas o que isso tem a ver comigo? —Eu estava desafiando-o a dizer isso.
— Você sabe muito bem o que isso tem a ver com você. Há mais fotos, mais depoimentos de testemunhas, mais lendas. Está tudo aqui. —Ele empurrou o arquivo através da mesa, na minha direção. Mantive meus olhos fixos nos dele até que ele olhou para baixo.
— Sinto muito, —disse ele. — Eu não queria te contar tudo isso e se você a ama, eu ficarei ao seu lado. Do lado dos dois. Mas você tem que saber. Ele vai vir atrás dela. Ele sempre vem.
— Então vamos lutar com ele. —Nenhum homem tiraria o que era meu de mim.
— Sim, nós vamos, mas podemos não ganhar.
— Quem mais sabe?
— Eu, você, Doolittle suspeita, Mahon sabe e não gosta nada disso. Ele a vê como uma ameaça para o Bando e não está errado. Sempre esperou que você terminasse acasalado com uma de suas garotas, George talvez. —Ele sorriu. — ‘Mantenha tudo entre família’, eu acho que essa era a sua ideia. O aborrece um pouco que você escolheu Kate.
— Ele vai superar isso. —George era como minha irmã. Kate ... eu não queria mais ninguém. Apenas a Kate.
Jim assentiu. — Olha, você, Kate, eu entendi. Eu só queria que pudesse ter sido outra pessoa. Se Roland vier ... nós não estamos prontos para ele ainda. Mesmo se vencermos, a maioria de nós não vai conseguir sobreviver essa batalha. Espero que ela valha a pena.
— Roland está vindo de qualquer maneira, —eu disse. — Kate sendo ou não parte do Bando. Ela fez um terço de um exército de demônios se ajoelhar. Ela tem poder e ela será uma vantagem. —E eu a amava.
— E se ela for embora quando o papai aparecer?
Eu olhei para ele. — Kate? Estamos falando da mesma mulher, certo? Enquanto outras pessoas estão fugindo, ela está indo para o meio da luta.
— Roland é muito forte, —disse Jim. — Olha, eu não sei muito sobre como a magia deles funciona, mas pelo que Dali disse, Kate levou essa espada para o intestino porque era feita do sangue do pai dela. Ela não podia controlar isso apenas agarrando-a. Ela teve que dissolvê-la em seu corpo. Isso lhe diz algo.
Dizia-me que Kate tinha um longo caminho a percorrer antes de poder encarar o pai. Ela precisaria de ajuda e eu seria essa ajuda.
— Vou vê-la em uma semana, —eu disse. — Ela está me fazendo um jantar.
— Jim suspirou. — Então você já decidiu.
— Decidi.
— Certo. —Ele analisou isso por um tempo. — Bem, isso tornará minha vida mais fácil. Acho que meu pessoal pode parar de perseguir você quando você vai esgueirar-se em seu apartamento.
Eu simplesmente olhei para ele.
Jim levantou e foi até a porta. — Uma última coisa. Se eu fosse Voron, a treinaria para esconder quem ela é. O homem não era um idiota. Ele teria enfiado na sua mente para se esconder. Ela confia em você o suficiente para lhe dizer quem ela é? Porque se não houver confiança, você sabe que isso não funcionará.
— Então acho que nós vamos descobrir.
Levou um momento para perceber que eu estava acordado e que o toque do telefone não estava apenas no meu sonho. Foi um bom sonho. Sonhava que Kate e eu estávamos nos movimentando para a cama depois do jantar nu. O telefone continuava tocando.
Certo, é melhor que fosse algo bom. Desde que a tecnologia estava em alta, pesei que não poderia ser nada tão terrível.
Rolei, peguei o telefone e rosnei no receptor. — O que foi?
— Você já acordou? —Jim perguntou.
— Estou falando com você.
— Não significa que você está acordado. Significa que talvez você está acordando.
— Jim, se você não me disser o que quer, eu vou te encontrar e tirar isso de você.
— Não há tempo para lutas mal-humoradas. Você tem um café com Bea.
— Você me diz isso agora? —Nada de bom poderia vir de uma reunião com a alfa do Clã Bouda. Sendo uma bouda, ela parecia ter grande prazer em tornar minha vida difícil.
— Eu estou dizendo a você agora, mas já havia lhe dito antes.
— Não lembro. Eu tenho que ir?
— Você só lembra o que quer lembrar, e sim, você tem.
— Por que é o que ela quer? Eu tenho planos para hoje.
— Porque você disse que iria, e eu não sei por que ela quer ver você.
Conversa fiada. — Sim, você sabe. Você tem seus dedos nas tortas de todo mundo.
— Obrigado, eu acho. De qualquer forma, Bea está, como de costume, jogando coisas ao vento, então seu palpite é tão bom quanto o meu.
Normalmente, Jim saberia sobre as coisas antes que elas tivessem chance de acontecer. Mas Bea era um caso especial. Ela não gostava nem confiava em gatos. A verdade é que os boudas não gostavam muito de ninguém.
— Seja lá o que for, é melhor não implicar suborno, orgias públicas ou pedidos de fundos adicionais. É como a música de Warren Zevon14 toda vez que ela quer me ver, acaba sendo 'manda advogados, armas e dinheiro15'.
— Como é que você consegue se lembrar de velhas letras de músicas, mas eu tenho que lembrar a você de merdas significativas o tempo todo?
— Isso lhe dá algo para fazer e faz você se sentir importante. Quanto tempo e onde?
— Uma hora, Casa Dillard. Eu até posso deixar você dormir, mas não terá muito tempo para fazer o seu cabelo.
— Cale a boca, Jim. Quer levantar pesos e treinar um pouco mais tarde?
— Talvez, mas você realmente quer estar cansado do treino e dormir na sua grande festa de calcinha?
— Pelo menos eu vejo calcinha. Como você está no departamento de romance? —Ele não disse nada. — Você sabe, se continuar soprando Dali, ela vai colocar algum tipo maldição de amor vodu asiático em você.
O tom de Jim mudou abruptamente. — Meu senhor, um carro estará pronto em meia hora.
O sinal de desconexão soou no meu ouvido.
Então, Dali deve ser um assunto delicado, ou talvez ele simplesmente não gostava que eu soubesse um dos seus segredos. Boa coisa de se saber. Ele estava muito interessado em minha vida amorosa e eu precisava de algo que o provocasse. Sabia que ele gostava dela. Podia dizer pela maneira como ele falava com ela, olhava para ela quando ele achava que ninguém estava olhando, e acima de tudo, deixava ela escapar sem castigo depois do enésimo acidente de carro. Qualquer outro gato, macho ou fêmea, teria seus braços e pernas quebrados na próxima vez que eles o desobedecessem. Jim não gostava de violência, embora como alfa do Clã Felino, ele estava disposto a usá-lo como uma ferramenta. A dor é um excelente professor. Além disso, nos curamos rapidamente. O que demorava semanas para os humanos, nós poderíamos nos curar em dias ou mesmo horas.
Um banho rápido, a barba feita e as presas escovadas e eu estava pronto, descendo as escadas. Derek, meu guarda-costas e motorista lobo, estava esperando atrás do volante de um Jeep do Bando.
— Meu Senhor, —ele entoou com uma reverência.
— Pare com isso. —Ele era um bom garoto, mas muitas vezes exagerava com a formalidade.
— Como quiser. —Mais uma vez a quase reverência.
— Derek ... —comecei.
Ele sorriu e ergueu as mãos como se para afastar os golpes imaginários. — Tudo bem, Curran. Posso perguntar por que você está se encontrando com os boudas?
Ele conseguiu colocar um pouco de desdém na palavra. Como a maioria dos lobos, Derek considerava as hienas um pouco mais que degenerados perigosos. Ênfase no perigoso. Enquanto seus apetites sexuais eram lendários, eles também eram combatentes implacáveis e mortais. Seus números em comparação com outros clãs eram pequenos, mas se você lutasse contra um bouda, era melhor estar pronto para lutar contra todos eles. Para a morte, era assim que eles rolavam juntos.
— Você está preocupado que haverá problemas?
Ele sorriu um pouco. — Com eles é sempre um problema, mas eu queria saber se vamos ter que lutar.
Ele estava certo em se sentir desconfortável. Jim o treinou para ser cauteloso. — Talvez, mas não faça nada até eu mandar.
— Claro, mas se eles começarem a fazer merda e houver mais de quatro ou cinco deles, incluindo a Tia B, eu posso não ser capaz de protegê-lo.
Derek trabalhava na minha guarda pessoal agora e levava seu trabalho a sério. Era bom para ele. Ensiná-lo-ia a ser observador e a antecipar possíveis ameaças. — Eu aprecio a honestidade, mas tão bom quanto você é, Bea é melhor. Se a merda bater no ventilador, você a deixa para mim e tenta lutar para conseguir ajuda. É improvável, mas apenas no caso dos dentes e ambições de Bea virem à mostra, esteja preparado. —Ele perdeu a referência e eu suspirei. Crianças. — Derek, fique comigo e você nunca mais sentirá fome novamente16.
Ele perdeu essa também.
Em menos de vinte minutos estávamos chegando ao longo e sinuoso caminho asfaltado que levava a um grande edifício de pedra no topo de uma colina. Ali tinha uma história e antecedia a mudança por várias décadas pelo menos. Era um restaurante de estilo familiar e, embora não fosse chique, a comida era boa, serviam carne e em uma quantidade generosa. Eram cinco estrelas para metamorfos.
Bea e sua festa, três fêmeas e seu filho, Raphael, estavam esperando do lado de fora. Ninguém se sentou ou comeu antes do rei, então, sem insultos até aqui. Por enquanto, tudo bem.
Bea me deu um grande sorriso doce. Ela sorria assim antes de apunhalar alguém nas costas com as garras. Raphael acenou para mim. Bea comandava o clã, mas seu filho era o macho alfa. Nós não exatamente nos dávamos bem. Geralmente Raphael evitava reuniões. Por que ele estava aqui?
— O Clã Bouda cumprimenta o Senhor das Feras, e agradece por se juntar a nós para uma refeição. —Bea e seu filho inclinaram a cabeça brevemente. Os outros mantinham a cabeça baixa, os olhos fixos no chão.
Tudo bem, certo. — Por favor, Bea, é muito cedo para tal formalidade. Bom te ver, Raphael. Eu não acho que você vai gostar deste lugar, não é bem o seu estilo.
O pequeno príncipe de Bea favorecia os pratos mais extravagantes, com pessoas bonitas e cintilantes, certificando-se de que fossem vistos. O herdeiro do clã Bouda era cinco centímetros mais alto que eu e cinquenta quilos mais leve. Onde eu era massa e poder explosivo, ele era ágil e rápido, construído para velocidade e mortal com uma lâmina. Se ficasse feio, ele acabaria com Derek em meros minutos e eu ficaria com dificuldade para lidar com ele e sua mãe. Se houver hienas suficientes, elas podem derrubar um leão. Bem, talvez não este leão, mas a maioria dos outros sim.
Raphael manteve o rosto neutro. — A mãe gosta e aqui tem um certo charme rústico.
— De fato, Bea, é um dia tão lindo, por que não comemos no pátio? —Isso me daria espaço para me mover se eles estivessem planejando começar qualquer coisa.
Bea me deu outro sorriso doce. — Uma excelente sugestão. Já está reservada para nós.
Entramos e fomos conduzidos pela parte traseira para um grande alpendre coberto. Uma longa mesa de piquenique já estava arrumada, com uma toalha xadrez vermelha e branca. Duas mesas de buffet ficavam a uma curta distância, uma com grandes panelas de aço inoxidável carregadas com bacon, ovos mexidos, salsichas, panquecas e meu favorito, rabanada, o outro com uma variedade de frutas fatiadas e geladas. Talvez mais tarde, depois de experimentar alguma carne.
Eu não sabia o que eles estavam fazendo, mas tinham espalhado uma grande quantidade de comida e eu nunca fui de recusar uma refeição grátis. Claro, com Bea, nada era de graça. Eles queriam algo e foram muito cuidadosos em me alimentar antes que pedissem. O que quer que fosse, não iria gostar disso.
Todos pegaram pratos e sentaram para comer. Essa é uma das coisas que nos diferencia dos humanos, quando nos sentamos para comer, nós comemos. Não há muita conversa fiada ou brincadeira lúdica. Nos concentramos quase inteiramente na comida. Do lado de fora, provavelmente parece estranho, mas isso era natural para nós. Na verdade, é considerado rude tentar manter uma conversa enquanto estamos comendo.
Depois que todos haviam consumido vários pratos grandes, era hora de começar os negócios. — Obrigado pela comida Bea. Agora, o que posso fazer por você e seu filho?
— De nada, e o que eu gostaria é de um favor, uma indulgência se você quiser, não apenas como um colega alfa, mas como mãe.
Uh-oh ... eu me virei para olhar para Raphael. Onde o pequeno príncipe enfiou seu pau agora? — Você sabe, é claro, de Andrea Nash, a Cavaleiro da Ordem e bestial.
Dane-se tudo para o inferno. Eu sabia que isso ia me morder na bunda. Nenhuma boa ação fica impune.
Nash era uma Cavaleiro da Ordem da Ajuda Misericordiosa, um grupo de fanáticos pró-humanos com quem tivemos, na melhor das hipóteses, uma trégua precária. Eles não eram oficialmente policiais, mas eram bem treinados e financiados. Eles se viam como a última grande esperança da humanidade contra monstros, contra nós. Até agora havíamos coexistido em um estado de desconfiança mútua, mas algum dia o empurrão se aproximaria e eles viriam para a Fortaleza com espadas e tochas acesas.
Como se isso não bastasse, Andrea também era bestial, o resultado extremamente raro de um acasalamento de sucesso entre um humano que se transforma em um animal e um animal que se transforma em um humano. A maioria dos animais possuía baixa inteligência humana. Poucos eram capazes de falar. Alguns Bandos os mantiveram como animais de estimação, alguns os assassinaram.
Normalmente, qualquer criança resultante de tal pareamento é considerada uma abominação. As leis do Bando exigem que sejam mortas no nascimento. De alguma forma, Andrea havia sobrevivido e, como uma adolescente, passara a ser humana o suficiente para se inscrever e se formar com honras na Academia da Ordem. Eu não tinha certeza de como ela conseguiu, mas não poderia ter sido fácil. O que eu sabia dela veio de Kate, e ela insinuou que havia muito abuso no passado de Andrea. Eu não duvidei disso. Nós tínhamos um ditado: um Bando é tão bom quanto o alfa e o alfa é tão bom quanto o Bando. Alguns dos Bandos menores fora do nosso território deixavam-se liderar por idiotas sádicos.
Eu tinha que dar crédito à Ordem, eles treinavam bem os seus cavaleiros. Andrea lutou conosco nos Jogos da Meia-Noite e ela era muito boa com armas de longo alcance, talvez tão boa quanto Kate era com sua espada. Andrea também era um problema em potencial. Ela era um metamorfo não afiliada em meu território, o que era contra a lei do Bando. Ela tinha que se reportar ao Bando e pedir para ser admitida nas fileiras, sair ou pedir uma dispensa especial, nenhuma das quais ela havia feito. Sua única graça salvadora era que seu status de metamorfo era secreto.
Eu me inclinei para trás. — Andrea Nash é uma Cavaleiro da Ordem. — Eu a amo, —Raphael respondeu antes que Bea pudesse dizer qualquer coisa.
— Mesmo? —Não pude esconder minha surpresa. Ele teve uma série de amantes, mas nunca o ouvi dizer isso sobre nenhuma delas.
— Sim.
— Ela sabe?
— Sim. Ela e eu estamos namorando.
Isso é ótimo. Minha vida tinha sido muito fácil ultimamente, e eles decidiram complicar isso. — Bom para você. Ainda não ouvi uma resposta para a minha pergunta, então vou perguntar de novo. O que vocês querem de mim?
Bea cruzou as mãos no colo. — Nós entendemos que Andrea apresenta um problema. O que nós gostaríamos e que humildemente pedimos, meu senhor, é que você não faça nada. Simplesmente pedimos que você negligencie este assunto e nos dê tempo para resolvê-lo de uma maneira que será mutuamente benéfico.
— Eu tenho sido muito paciente com esse caso. Permiti que um metamorfo não afiliado, uma bestial, vivesse dentro do território do Bando. Você sabe por quê?
Fiz uma pausa no caso de eles quererem dizer alguma coisa. Não fizeram.
— É porque ela não tem nenhuma conexão com a gente. Ela está vivendo como uma Cavaleiro humana dentro da Ordem. Ela rejeitou a herança do metamorfo. Conheço a história dela e não tenho nenhum desejo de expô-la ou bani-la enquanto ela permanecer distante. Agora, no entanto, você força uma decisão minha. Se você pretende namorar com ela, ou eventualmente se casar, o fato de que ela é um metamorfo vai aparecer. Terá que ser trazida. Moynohan é certamente um idiota neste mundo. Se ele descobrir que ela está namorando você, ele fará a vida dela um inferno. Se ele descobrir que ela é um metamorfo, ele vai expulsá-la.
— Eu sei disso, —disse Raphael.
— Então você sabe que ela terá que escolher, e em breve, porque não pode ser ambos. Quando ela for descoberta, o Bando vai querer saber se eu sabia e desde quando. Se eu disser que não sabia sobre ela, serie visto como incompetente. Se eu sabia e não fiz nada, serei visto como um fraco. Por que eu deveria me permitir ser visto dessas duas formas?
— Eu vou lutar por ela se for preciso. —Ele segurou meu olhar.
Uau, isso ficava cada vez pior. — Isso é um desafio ou apenas uma loucura de acasalamento? Com quem você está disposto a lutar?
Pense um momento antes de falar.
— Não haverá necessidade disso, —disse Tia B. — Estamos fazendo arranjos para que Andrea seja trazida para o clã. Eu tenho sido um alfa há mais tempo do que você está vivo, e não estou ficando mais jovem. Estou começando a pensar em desacelerar, me aposentar e assistir meus netos crescerem.
Certo. A única coisa que ela amava e valorizava quase tanto quanto Raphael era poder, e talvez foder a minha vida.
— Nash é forte e meu filho a ama. Ele tem a amado desde a noite em que Kate a trouxe para nós. Ele ainda não sabia disso, mas eu sabia. Uma mãe sabe. Percebo que as coisas nem sempre foram simples entre nós. Eu talvez tenha sido o proverbial espinho em sua pata ...
Levantei a mão e a interrompi. — Bea, você se opõe a mim mesmo quando não é do seu interesse fazê-lo, você mina minha autoridade, ainda que sutilmente, e você tem feito isso desde que eu me tornei o Senhor das Feras. Agora você quer um favor meu porque seu pequeno garoto gosta de uma garota do outro lado?
— Você não vai facilitar isso, não é?
— Não. O que obtemos muito barato, estimamos muito levianamente; é apenas a bondade que dá a tudo o seu valor17. —Eu citei.
Derek se moveu atrás de mim e desapareceu no restaurante. Hummm ...
— Bea, a refeição foi deliciosa, adicione a isso o meu humor generoso e maduro de hoje e dessa forma vou lhe conceder esse favor, mas não sem certas concessões de sua parte.
— Nomeie-as.
Peguei você Bea. Hora de descobrir quanto ela estava disposta a conceder ao filho. Decidi botar para quebrar. — É realmente muito simples, eu quero apenas uma coisa. Honestidade.
Bea se inclinou para frente. — Você pode ser mais específico?
— Quando eu tomar uma decisão e você tiver preocupações ou reservas genuínas, você me diz. Se você tiver dúvidas, nós as discutiremos em particular. Mas depois, publicamente, uma vez que uma decisão seja tomada e anunciada, você me apoiará incondicionalmente. Não mais jogos, sem mais comentários sarcásticos, sem piadas mais inteligentes. Eu sei que seu trabalho é duro. Assim como o meu, ser o chefe é uma droga, e discutir comigo é divertido, mas eu preciso de você e Mahon. Eu preciso de seu conselho e sabedoria.
Tomei um gole da minha bebida, deixando as palavras penetrarem. — Você quer o melhor para o seu clã. Eu também quero isso para todos nós. Sei que posso ser um pouco tirano, e quando você pensar que estou errado, diga-me, e quando eu estiver certo, me apoie. Concorde com isso e Nash é sua para fazer o que você quiser. Essa é a oferta, pegar ou largar.
Ela ficou em silêncio por um momento. Pensando nisso ...
Passos leves me disseram que Derek estava voltando. Um momento depois, ele surgiu. Seu rosto estava mais pálido do que costumava ser. Ou a comida dele não tinha descido bem ou algo aconteceu.
Tia B sorriu. — Você finalmente cresceu, querido.
— Eu cresci há muito tempo, —disse a ela. — Você simplesmente não se incomodou em notar.
— Muito bem. Você merece honestidade e respeito também. Tudo o que você teve que fazer foi pedir. —Ela sorriu novamente. — Bem, sem todo o rugido.
— Obrigado, Bea. Vou tentar lembrar disso. Agora, se você nos der licença.
— Claro, meu senhor. Sei que você tem uma noite bem planejada com a deliciosa senhorita Daniels.
E como diabos ela sabia disso?
O sorriso da Tia B ficou mais largo. — Não faça nada que não faríamos.
Eu me perguntei brevemente o que exatamente isso poderia ser, mas era incapaz de imaginar algo tão perigoso ou depravado. Esperei até chegarmos ao carro e sair do alcance das boudas. — Bem, o que foi? —Perguntei uma vez que estávamos dentro.
— Jim ligou para o restaurante enquanto você negociava com a Tia B. Boris está morto.
— Grande Boris? Boris, o Javali?
Derek assentiu.
Uau. — Um edifício caiu sobre ele? —Boris, o Javali, era um velho bastardo durão. Se eu tivesse que lutar com ele, levaria Mahon comigo.
— Assassinado. Ele não morreu facilmente. Jim disse que havia muito sangue no local, muito para ser tudo dele.
Sem dúvida. Teria que ter muitos deles e eu apostaria que alguns não tinham saído vivos.
Duas horas depois, estava na cabana de Boris no bosque a noroeste da Fortaleza. Dois do pessoal de Jim estavam de guarda na porta. Outros circulavam com cuidado do lado de fora e olhavam de perto alguma pista no chão. Não era uma cena de crime, mas um pesadelo. O sangue estava em todo lugar. Paredes, teto, a maior parte no chão. Móveis arrebentados enchiam a cabana. Quase tudo foi quebrado ou derrubado. O lugar parecia um bar depois de uma briga, como você se vê em um dos filmes de cowboy antigos.
Exceto que isso não era um filme sombrio antigo, essa era a casa de alguém que eu conhecia. Visitei Boris depois que ele se mudou. Sua casa era arrumada e limpa. Lembro-me dele dizendo que ‘nunca poderia suportar uma casa bagunçada’. Ele odiaria isso aqui agora se estivesse vivo. E ele não estava, por um bom tempo.
Olhei para o corpo na minha frente. Ou melhor, o que restou dele.
Lembrei de uma frase de um livro que eu li. Dizia: ‘O cara estava morto como o inferno’. Parecia se encaixar. Boris não tinha simplesmente morrido, ele foi rasgado por alguém ou algo forte. Inteligente também. O assassino, ou assassinos, quase pintaram o lugar todo com o acônito, cobrindo seus rastros. Ainda assim, se você soubesse o que estava procurando, havia pistas. Golpes profundos nas paredes de madeira e no chão da cabana testemunharam o poder do atacante. Alguém grande. Clã Ágil e os Ratos estavam certos. O lugar não era grande o suficiente para caber uma quantidade de atacantes que precisariam para derrubar Boris. Os lobos eram uma possibilidade.
Eles tiveram um problema com Boris antes. Eu podia pensar em um par de lobos que poderia ter tido uma chance, mas não eram Daniel e Jennifer. Eles estavam se concentrando em suavizar sua vida familiar. Além disso, se aqueles dois estivessem envolvidos, Derek teria ouvido alguma coisa e dito a mim ou a Jim.
A última vez que eu vi Boris, ele estava trabalhando em uma enorme mesa de carvalho, a parte de cima tinha pelo menos cinco centímetros de espessura.
Agora seu corpo golpeado jazia nas ruínas dela. Quem era poderoso o suficiente para derrubá-lo na maldita coisa ou através dela? Alguém do Clã Heavy, talvez, Eduardo seria forte o suficiente, mas algumas das marcas no chão diziam garras, não cascos. Além disso, não era seu estilo. Ele tinha um pavio curto e não se importava de lutar, mas quando ele perdia a paciência atacava imediatamente. Ele não planejaria um ataque, não esperaria o momento certo. Bisões não precisam se esgueirar ou apunhalá-lo pelas costas. Ainda assim, eu colocaria meu dinheiro em alguém de Heavy, mas quem era forte e estúpido o suficiente para matar o amigo mais antigo de seu alfa?
— Então, o que você acha? —Uma voz familiar perguntou por cima do meu ombro. — Ele está morto, Jim.
— Você não é tão engraçado quanto pensa que é. —Jim fez uma careta. — Eu sei que você não fez isso porque eu te vi ontem, e você não estava todo fodido.
— Obrigado pelo voto de confiança. Então, quando você acha que isso aconteceu?
Jim encolheu os ombros. — Não muito tempo atrás, alguns dias no máximo, a julgar pela decomposição e atividade de insetos. Mesmo com a nossa cura acelerada, o assassino ainda fez parecer como se estivessem em uma briga infernal. Quantas pessoas você sabe que poderia ter feito isso?
— Não muitas. —Não foi um loup. Metamorfos no loup fediam e não usavam acônito.
— Muitas mordidas, mas nenhum sinal de alimentação, —disse Jim. — Acônito indica premeditação e planejamento. Eles sabiam que teriam que matá-lo, e sabiam que viríamos farejando.
— Derek, olhe ao redor e diga-nos o que você pensa. —Vamos ver o quanto ele aprendeu.
— Boa ideia, nos impressione, —Jim disse. — Comece do lado de fora e nos acompanhe através dele.
Derek assentiu, saiu por um momento e entrou de novo. Ele balançou sua cabeça. — Sem perfume, sem pegadas. É acônito e depois pneu de borracha e cheiro de carro. Eles dirigiram até uns cinquenta metros e depois vieram a pé. Cuidadosamente, não deixaram rastros. Loups não dirigem, não planejam. Além disso, a cabana não tem cheiro de loup.
Ele afundou um pouco de veneno em suas palavras. Enquanto o acônito mascarava o cheiro de um humano ou metamorfo, loups tinham um cheiro inconfundível, partes iguais de fome e loucura. O menino tinha sido uma vítima e testemunha de ambos, assim como eu, mas de uma maneira diferente. Eu tinha visto meu pai ser abatido por vários deles. O pai de Derek havia se transformado em loup, estuprando, matando e canibalizando sua mãe e irmãs.
Derek apontou para a porta. — Não há sinais de entrada forçada. Ele os deixou entrar ou talvez entraram enquanto ele estava fora e esperaram por ele. Embora improvável, quando ele chegasse próximo teria sentido o cheiro deles e não entrado. Talvez alguém que ele conhecesse.
— Não nos diga talvez, —disse Jim. — Leia os sinais, diga-nos o que a cena e o corpo dizem que aconteceu.
Derek assentiu, fez uma pausa e recomeçou. — Houve uma briga nesta área. Do lado de fora, as árvores estão danificadas onde Boris as marcou como seu território, mas essas ranhuras não são frescas como as daqui. Garras. —Ele se agachou e estendeu a mão nas profundas fendas no chão de madeira. — Este não é de um lobo. Três profundas fissuras aqui. —Ele cavou os dedos nos recortes. — Cortes mais leves nas laterais. Algo estava de quatro e foi empurrado para trás. Forçado.
Ele deu dois passos largos de volta para a parede ao lado da porta e apontou para um ponto sobre dois metros e meio para cima. — Aqui, sangue e cabelo. Alguém teve a parte de trás da cabeça dele batendo na parede. Com uma quantidade tremenda de força.
Ele colocou a mão na própria cabeça, levantou-se na ponta dos pés e levantou o braço. As pontas dos dedos mal roçaram a borda da mancha de sangue. — Eu tenho um metro e oitenta. A mancha é pelo menos meio metro mais alta. Alguém alto.
Afastando-se da parede, ele indicou outro conjunto de marcas no chão, perto do centro da sala. — Essas pegadas são diferentes. Sulcos profundos no chão de pinho, feitos por dedos arredondados e sem cortes, consistentes com nossa vítima. Boris atacou seu oponente e foi então empurrado ou puxado para trás, possivelmente ambos, o que indicaria vários atacantes. Meu senhor, se você ficar aqui ... —Ele indicou um ponto contra a parede, sob a mancha. Mudei-me para onde ele apontou.
Ele colocou os pés nas marcas que acreditava-se serem feitas por Boris e entrou em uma espécie de postura de artes marciais. Eu olhei de lado para Jim, que deu de ombros levemente. Era o show do garoto.
Derek olhou por cima do ombro. — Jim, você poderia por favor ficar atrás de mim na outra parede. —Jim mudou-se para o lugar. Agora nós estávamos em uma fila: Derek de frente para mim, com Jim atrás dele. — Certo, então eu sou Boris. —Derek encolheu os ombros. — Vamos passar por isso em câmera lenta. —Ele olhou para mim. — Se você estiver pronto, eu vou em sua direção. Você pode entrar em um meio agachamento?
Eu fiz. Ele veio para mim em uma corrida exagerada em câmera lenta.
— Nós colidimos, rebatemos um no outro, você levanta, eu venho em você novamente e golpeio você naquela parede. —Ele empurrou contra mim e eu fingi saltar contra a parede.
— Você bateu com a cabeça lá. Nós brigamos um pouco. Agora, Jim, você me agarra por trás e puxa enquanto Curran empurra.
Jim se arrastou com uma lentidão exagerada e ficou atrás de Derek, segurando as mãos como duas grandes patas. Sim, ele estava pensando no que eu estava pensando. Ele enfiou os braços sob os de Derek e colocou-o num golpe completo, deslizando os braços por baixo do de Derek e juntou as mãos na parte de trás da cabeça.
— Arraste-me de volta.
Jim puxou e eu empurrei e nós meio que o levamos direto para os restos da mesa e o soltamos.
— De alguma forma, principalmente com força bruta, vocês dois me levantam e me esmagam através da mesa. Estou atordoado com a força do impacto, então eu simplesmente fico lá por um segundo ou dois. Vocês dois começam a morder minha cabeça e pescoço. Estou lutando, mas estou de costas e vocês dois estão no topo, rasgando-me e arranhando. Observe os ferimentos defensivos ainda visíveis nas mãos e braços da vítima. Para proteger o rosto dele. O respingo de sangue na parede adjacente à mesa está na clássica forma de lágrima. O poder dos golpes o faz começar a voltar para a forma humana. Aqui em um pedaço da mesa há uma marca de mão sangrenta, presumivelmente da vítima, quando seu o corpo começou a reverter para humano como resultado do choque e da perda de sangue. Eles o derrubaram e o sangraram até que ele não pudesse mais lutar, e então eles terminaram.
Ele era bom. Eu não pude realmente criticar sua análise.
— Jim, é assim que você acha que aconteceu? Seria mais fácil se fosse vampiros.
— Sim, seria, mas ele está certo. —Jim olhou para Derek. — Tudo bem, agora que sabemos o como, diga-nos quem?
Ele olhou para nós dois, talvez com medo de dizer o que todos nós estávamos pensando. — Ursos.
Sim, tinha que ser. No momento em que vi a mancha na parede, soube que devia ser um urso em suas patas traseiras. Ninguém mais ficava tão grande.
— Mahon sabe? —Eu perguntei.
— Só se ele fizesse ou tivesse mandado fazer isso. A filha de Boris veio checá-lo, encontrou-o assim e nos chamou, —disse Jim. — Eu disse a ela que não tocasse em nada e esperasse por nós, mas ela disse que tinha que ir para casa.
— O que você achou dela?
— Você acha que ela fez isso e depois nos chamou para que ela não parecesse um suspeito? —Jim franziu o cenho. — Não, parecia muito chateada. O marido diz que ela está em choque. Além disso, não é uma lutadora, estritamente civil. O marido também, mas ele poderia ser forte. Ele tem muito controle, tanto quanto o meu pessoal. Acho que ele tem meia forma, mas nega, diz que ninguém lhe ensinou e ele é velho demais para aprender. Esse foi o acordo que Boris fez com Mahon, ele luta, eles não. Eles podem viver suas vidas como quiserem. São membros do Bando, mas não são realmente ativos.
— E se ele acabasse morrendo, como de fato aconteceu? O que aconteceria com eles?
— Eu não sei, —disse Jim. — Talvez o velho bastardo nunca tenha pensado que morreria. Teríamos que perguntar a Mahon.
Ninguém espera morrer. Ele lutou uma boa briga embora. Talvez melhor que qualquer um de nós pudesse fazer. — Tudo bem. Vou falar com a filha dele e preciso fazer isso agora, antes que o Velho Urso saiba disso. —Mahon e Boris eram amigos há muito tempo. Mahon não seria exatamente racional. — Fale com Mahon e me consiga algum tempo. Precisamos ver se alguém em Heavy está desaparecido ou seriamente ferido.
— Ele não vai ficar feliz. Boris era seu amigo e vai querer alguma vingança.
— É por isso que eu disse para me conseguir algum tempo. Continue fazendo perguntas. Ele não tem que gostar, só tem que responder. Você está no comando desta investigação. Puxe sua posição se precisar, mas mantenha-o contido por quanto tempo puder. Nós não precisamos dele rugindo e esmagando os crânios das pessoas em sangue e ossos. Ele pega alguém que acha que fez e esse alguém estar morto. Quem fez isso irá enfrentar a justiça do Bando, não a fúria de Mahon. Enquanto você estiver conversando com ele, vou ver a filha. Ela pode saber de alguma coisa.
Buttercup Creek era um subúrbio calmo de classe alta média em North Cobb. A maioria das casas era de dois andares e de tijolos. Casais mais jovens com dinheiro e filhos, casais mais velhos que haviam comprado as casas de volta um dia e ficaram. Gramados bem cuidados, bons carros nas calçadas, grades sólidas nas janelas e portas reforçadas. Casas seguras e confortáveis para pessoas que trabalhavam em bons empregos e pessoas que se aposentaram deles.
Derek parou lentamente na calçada em frente à casa e, depois de parar, esperamos alguns instantes para que todos pudessem nos reconhecer. Eu sabia que Jim tinha pelo menos cinco pessoas fora da vista, mas mantendo um olho na casa. Quem ou o que quer que fosse depois que tivesse matado Boris poderia querer atacar sua família também. Talvez os atacantes estivessem procurando por algo em sua casa, talvez eles não o tivessem encontrado, talvez o tivessem feito, ou talvez só o quisessem morto. Muitos talvez. Eu precisava de respostas. Aqui estava um bom lugar para começar como qualquer outro.
A residência de Paul e Joan Parker não era diferente das outras na rua, exceto que ficava ao lado de um terreno arborizado cercado. Ainda muitos vizinhos para o meu gosto. A casa contrastava com a cabana simples e isolada de Boris. Eu acho que dependia de como você se relaciona com as pessoas, se você era uma abelha ou um urso. Alguns se sentiam mais seguros tendo outros ao redor e se sentiam vulneráveis por conta própria. Abelhas se reunindo em uma colmeia. Isso é o que o bairro me lembrava, um favo de mel. Todas as casas eram parecidas. Se eu soubesse o layout18 de uma delas, por exemplo, tinha certeza de que poderia andar em qualquer uma das outras no escuro, sem problemas. Perfeito para as abelhas. Os ursos, por outro lado, eram territoriais e desfrutavam da solidão de suas cavernas. Não se entra simplesmente na caverna de um urso. Boris era como um urso, e foi por isso que ele se deu bem com Mahon. Sua filha era uma abelha ou ela simplesmente se casou com uma?
Nós andamos até a porta, Derek um passo atrás e examinando a rua. Duas portas, uma de tela e uma de madeira resistente com vidro colorido no centro. Bati na porta de tela.
Sem resposta.
Tentei o trinco. Desbloqueado. Abri e bati com mais força na porta da frente de madeira. Sabia que eles estavam em casa. Se eles saíssem, eu teria sido informado sobre isso. Parte de mim queria que eles tivessem fugido e eu não teria que interrogar uma mulher que perdeu seu pai. E inferno, poderia a sua fuga até ter sido uma pista.
Não tive essa sorte. Senti movimento e um homem alto de cabelos cor de areia abriu a porta, olhos muito azuis por trás de seus óculos de aro de metal. Ele me encarou por um momento sem reconhecimento, e então o atingiu.
— Meu Senhor. —Ele abaixou a cabeça. — Por favor entre.
Eu fiz e fechei a porta atrás de mim.
— Seu amigo não vai entrar? —Ele perguntou.
— Não, ele vai ficar do lado de fora e vigiar o carro, diz que em um bairro sombrio como este alguém pode roubá-lo. —Brinquei. Não tenho certeza porque eu estava brincando com o cara. Algo sobre ele me incomodava.
— Estamos em perigo? —Ele escolheu ignorar minha piada. Talvez Jim estivesse certo sobre eu não ser tão engraçado. Nãooo!
— Isso é o que estou aqui para tentar descobrir, mas não, não no momento. Temos pessoas vigiando a casa para mantê-la segura. —E para evitar que vocês se esgueirassem pelas costas, que eu sabiamente não quis adicionar.
— Sr. Parker, como era o seu relacionamento com o seu sogro? Vocês dois se davam bem? —Não há necessidade de ser sutil, eu bati nele com uma pergunta difícil e medi sua reação.
Parker fez uma cara como se tivesse provado algo azedo. — Ele era um homem difícil de gostar. Sempre me disse que ele não tinha utilidade para a maioria das pessoas. Eu acho que isso me incluía. Tinha ideias muito específicas e rígidas sobre o que os homens deveriam saber e fazer, achava que todo homem deveria trabalhar com as mãos e lutar.
— Você não faz? —Eu não especifiquei se eu quis dizer o saber ou fazer.
— Não, nunca fui uma pessoa muito física, mas sou inteligente. Tenho uma educação, uso meu cérebro para alimentar minha família e colocar um teto sobre nossas cabeças. Preciso mexer em um telhado ou construir um cômodo, pago um profissional para fazer isso, ele nunca entendeu, disse que eu deveria fazer isso sozinho em vez de ter estranhos na minha casa. Outros homens não deveriam estar perto da minha família. Seu pensamento era medieval dessa forma. Não importa que essas pessoas tenham que ganhar a vida também, ou que eu não saberia o que fazer com uma serra circular, se a minha vida dependesse disso. Aquela cabana dele, ele mesmo construiu, fez todo o trabalho nela. Estava todo orgulhoso disso.
Uau, acho que toquei em um nervo. — Você o visitou na cabana?
— Algumas vezes ... sempre com Joanie e as crianças. Era um filho da mãe malvado, mas amava seus netos, dou isso a ele. Estragava-os a todo momento.
— Como exatamente?
Ele acenou com a mão. — Oh, você sabe, brinquedos e jogos. Dava-lhes dinheiro. Deixou os garotos correrem pela floresta como animais selvagens, caçando, pescando e dormindo lá fora. Eles adoravam.
— Eles estão com quantos anos?
— David tem quinze anos, Daniel tem treze anos, ambos nascidos em junho como eu. Estranho, né?
Paul, David e Daniel? Eu estava sentindo uma tendência aqui. Talvez eles fossem religiosos.
— Nós ainda não contamos a eles. Receio que não iram aceitar bem. Ele era o único avô que já conheceram. Meu pai morreu quando eu era um pouco mais velho do que eles são agora. Mamãe costumava dizer que ele trabalhou até a morte, mas não foi o trabalho, foi a bebida.
Isso era interessante. — O que você quer dizer? —Todo mundo tem uma história se você quiser ouvir.
— Papai era um pedreiro na Flórida. Depois que a magia voltou, um bom pedreiro poderia viver muito bem. O problema era que ele gastava mais do que ganhava, às vezes antes que minha mãe pudesse pagar as contas. Ele era o que agora é comumente chamado de alcoólatra de alto desempenho19. Todo mundo gostava dele, dizia que era um cara engraçado, um grande amigo. Eu não lembro disso, lembro da minha mãe chorando porque ele gastou o salário dele no bar. —Ele respirou fundo, exalou. Estava olhando para o espaço, revivendo memórias dolorosas. — Eu não acho que mamãe gostava muito dele, e eu sinto como se não o conhecesse de verdade. Quando tinha dezesseis anos, eles encontraram o corpo dele no Corkscrew.
— Isso é um bar na Florida?
Olhou para mim e sorriu um pouco. — Não, é um pântano, como uma reserva, ao sul de Fort Myers20. Papai ia caçar pelo menos uma vez por mês. Você sabe.
Ele deixou ficar pendurado lá.
— Estava orgulhoso de ser uma pantera, ia ver seu povo, um pequeno Bando no Pântano. Nunca nos levou com ele. Minha mãe me disse uma vez que ela achava que ele tinha uma outra mulher lá. Dava seu dinheiro, nosso dinheiro. Então eu vou ser honesto com você, eu nunca gostei do meu pai. Eu nunca gostei de Boris também.
— Parece que você teve uma situação difícil. —Apontei para indicar a casa. — Mas você está bem agora.
O local era agradável, impecável e decorado com móveis de alta qualidade e pinturas caras na parede. Nada para indicar que dois adolescentes moravam lá. Era quase estéril. Preferia a cabana.
— Sim, nós estamos bem. Como disse, tenho o meu diploma e trabalho como um elo entre as companhias de seguros e empreiteiros. Certificando de que eles não cobram demais pelo trabalho. Joanie trabalha para advogados em Buckhead. Seu pai odiava isso, —disse. —Para ele eu deveria fazer o suficiente para ela ficar em casa, disse que um homem de verdade age como chefe de família e provê para a família dele, e a esposa deveria ficar em casa e cuidar das crianças, ele achava que deveríamos educar as crianças em casa, mas ao contrário do que ele queria os meninos estão em uma excelente escola particular.
Realmente ele não gostava do velho javali. Decidi fazer mais perguntas. Talvez me dissesse algo que eu pudesse usar. — E quanto a Boris? Ele foi para boas escolas?
— Eu não sei muito sobre sua educação. Como disse, nós não éramos próximos. Joanie poderia dizer a você, mas ela ainda está muito abalada. Nós realmente temos que fazer isso agora?
Cheirei suor e medo. Há algo sobre medo. Deve ser o leão em mim. Eu sinto isso, sinto o cheiro, provo. É quase tangível para mim, e quando percebo o cheiro, o mundo fica cristalino.
Olhei diretamente nos olhos dele. Sabia que meus olhos tinham ficado dourados e ele sabia o que aquele ouro significava. Olhou para o chão. Assim é melhor.
Eu me aproximei até meros centímetros que nos separavam e continuei em voz baixa, — Sim, senhor Parker, nós temos que falar sobre isso. Alguém assassinou o pai de sua esposa. Não foi uma morte rápida ou fácil. Ele sofreu antes de morrer. As pessoas que o mataram queriam algo, e nós não sabemos o que foi ou se eles o encontraram. Estou aqui fazendo perguntas porque quero pegar quem é responsável e levá-los à justiça. Eu governo o Bando, faço as leis, e puno aqueles que as quebram. É quem eu sou, é o que eu faço. Entendo que este é um momento difícil para sua família e você está de luto, mas responderá minhas perguntas e não dificultará essa investigação.
Sua expressão mudou, seus ombros caíram, e com uma voz trêmula ele disse baixinho: — Ela não está aqui. Eles à têm.
E aí estava.
— Por favor, os garotos não sabem. Disseram que eles a machucariam se algum de vocês aparecesse.
— Quem?
— Acho que eles estavam falando de você ou os homens que estão se escondendo lá fora e o rapaz ao lado do carro.
Respirei fundo. Precisava dele vivo e conversando. Rugir com ele apenas o faria se calar. — Eu quis dizer quem tem sua esposa e quando eles a levaram?
— Há pouco tempo atrás. Ela foi ver o pai, chegou em casa chorando, então ficou brava. Tão furiosa quanto eu já a vi. Ela me perguntou se eu tinha feito ou mandado fazer. Eu disse que ela estava louca, ela disse que era minha culpa que eu lhes devia dinheiro e que eles mataram o pai dela para obtê-lo. Não é verdade, não o matei, nem mandei matar. Pedi-lhe o dinheiro, apenas um empréstimo. Ele riu de mim. Disse que era um fraco.
— Quem levou sua esposa?
As palavras continuavam saindo dele como se fossem bolinhas de gude de um saco rasgado. — Sim, eu disse a eles que ele tinha um esconderijo, mas eu juro que não sabia que eles o matariam. Eu meio que esperava que Boris os matasse. Depois nós brigamos, ela foi para vê-los, disse que não tinha medo de sua espécie. Mais tarde, eles chamaram e disseram que se eu quizesse vê-la novamente era para levar o que eu devia. Por que ela faria isso? Por que ela iria confrontá-los? Agora eles a têm e eu não tenho o dinheiro que eles querem.
Já era o suficiente. — Senhor Parker, se não me der um nome nos próximos cinco segundos, eu prometo que irei pessoalmente tirá-los de você.
— Os meninos de Irvine? —Mahon franziu a testa. — Sim, eu os conheço. Mick e John, vieram de Michigan com o pai deles depois que os pais se separaram. Isso há a quase 20 anos atrás. Eles eram apenas crianças, adolescentes, mas eram fortes e começaram logo a trabalhar. Agora cada um tem seu próprio negócio, Mick faz prédios e John faz praticamente todo o resto ou emprega alguém que pode fazer restauração e renovações totais, fizeram um trabalho muito legal na casa de Raphael, tiraram o tapete da escada. Você sabe que ele odeia, coloca madeira por toda parte. Você deveria ver a cozinha dele. É toda com eletrodomésticos de aço inoxidável, piso de cerâmica e bancada de mármore. Por que, você está pensando em contratá-los para algum trabalho?
— Não. Eu ia pedir a eles que soltassem Joanie Parker e respondessem por matar Boris, seu pai. —Eu dei a ele um momento para processar isso.
Mahon ficou perfeitamente imóvel. Eu podia sentir Jim ficando tenso ao meu lado, sem saber como o grande homem reagiria.
— Eles mataram Boris? —Eu assenti.
— Tem certeza?
— Sim.
— Onde eles estão agora? —Disse, sua voz baixa e ameaçadora.
— Engraçado você perguntar. Eu estava pensando a mesma coisa. Quando foi a última vez que você os viu?
Mahon endireitou os ombros. — Vou lidar com isso, é o meu clã e meu amigo que foi morto. Vou encontrá-los, vamos conversar um pouco, e se o que você diz for verdade, vou trazer suas cabeças. Bom o suficiente?
— Não desta vez. Eles têm a filha de Boris e provavelmente vão matá-la se você for lá. Além disso, nós não sabemos onde é 'lá'. Vamos fazer isso do meu jeito. O pessoal de Jim estão com o marido em casa, quando os meninos de Irvine ligarem, ele lhes dirá que tem o dinheiro, mas que não se sente seguro, quer que a bolsa seja trocada em algum lugar público, com muitas pessoas. Virão para a Fortaleza, para o canteiro de obras do Sul, e nós estaremos esperando por eles. Eles vão ser julgados por isso, Mahon.
Eu poderia dizer pelo seu rosto que ele não gostou. — Por que quer lavar nossa roupa suja?
— Porque é assim que fazemos as coisas, —eu disse.
— Você acha que eles são estúpidos, que não vão sentir o cheiro de uma armadilha?
— Não, eu acho que estão desesperados e precisam do dinheiro para sair do nosso território. Olha, se eles forem considerados culpados, você ainda pode matá-los. De qualquer maneira que você quiser. Isso vai funcionar?
— É o jeito. E você tem certeza que foram eles?
— Você fica questionando isso, —disse Jim.
— Eu conheço o pai deles, —Mahon fez uma careta. — Sim, eles tiveram alguns problemas. Deram um pouco de trabalho, mas assassinos?
Balancei a cabeça para Jim, que se adiantou com uma folha de papel. — Problemas? Essa é uma maneira estranha de colocar isso. Eles estão fora de controle. Tenho nada menos que nove incidentes documentados de assalto e danos materiais envolvendo-os. Há um padrão: eles bebem, são mesquinhos e as pessoas se machucam. Não escolhem muito com quem eles lutam, já participaram de três lutas com os caminhoneiros neste ano. Se eles não puderem encontrar outras pessoas burras o suficiente para brigar, eles brigam entre si. No ano passado, Mick roubou um dos caras de John para trabalhar em sua equipe. Quando a família se reuniu, Mick atacou John e ambos acabaram hospitalizados. E então Doolittle os colocou para fora de sua enfermaria porque eles começaram a fazer merda com outros pacientes. Ele não vai mais tratá-los. São homens crescidos. Você precisa parar de protege-los.
— Ou o quê? —Mahon se aproximou de Jim.
Isso estava ficando fora de controle, então me coloquei entre eles. — Ou nada. Sabe muito bem como isso deve terminar, e você não está realmente bravo com Jim. Ele não matou seu amigo ou sequestrou a filha de Boris. Você quer consertar isso? Nos ajude a captura-los. Deixe-os se defender, contar o lado deles, isso ou nós podemos caçá-los como animais.
Nem todo mundo vive na Fortaleza. Há sempre uma certa quantidade de pessoas e alguns alojamentos, mas é mais um lugar para administrar coisas, se reunir para ocasiões especiais e se esconder quando a merda bater no ventilador. Quando esse dia chegar, e vai, eu quero ser capaz de manter todo mundo lá dentro, assim como o Bando continua a crescer, estou também perpetuamente expandindo a Fortaleza. Quero as paredes mais altas e mais grossas, outra torre aqui, cortar as árvores lá atrás, ampliar a zona de destruição, qualquer coisa que torne mais difícil de invadir. Como nunca consigo parar de construir, uma área ao sul da Fortaleza é designada como uma zona de construção e uma área de preparo para suprimentos, pedras, madeira e ferramentas que preciso para tornar o local maior e melhor. Foi lá que organizamos para que Paul se encontrasse com os homens que haviam tomado sua esposa.
Paul disse que ele havia pegado o dinheiro emprestado do Bando e os encontraria perto da Fortaleza, para que pudesse se sentir protegido caso as coisas corressem mal. A ideia era que, se eles o atacassem, ele poderia gritar e o barulho traria os guardas.
Eu me agachei nos arbustos. Mahon sentou-se ao meu lado. O resto do Conselho do Bando havia se organizado ao nosso redor, fora da vista, mas ao alcance da voz. Nós estávamos a favor do vento, mas como era nosso canteiro de obras, cheirava a metamorfos de qualquer maneira.
Na nossa frente, Paul andava entre as pilhas de sacos de argamassa e cargas de blocos de pedra. Pálido e abatido, parecia um homem que acabara de sair do fim de semana de uma bebedeira sem saber ao certo onde estava ou por que estava ali, entrando em pânico, porque nada parecia familiar.
Eu tinha convidado alfas e betas, porque queria que tudo fosse as claras. O devido processo funciona melhor quando há testemunhas do processo e nenhuma aparência de impropriedade. Tudo isso era um ponto discutível se os meninos de Irving não aparecessem. Eu imaginei que eles iriam. Que escolha eles realmente tinham?
O pessoal de Jim havia vasculhado a casa que eles ainda compartilhavam e parecia que os Irving tinham empacotado algumas coisas e se separado. Se eles estivessem planejando correr, precisariam de dinheiro. Se eles planejassem ficar, precisariam de dinheiro. E havia apenas um lugar onde eles poderiam conseguir. Teriam que trazer Joan e trocá-la com Paul pelo resgate.
Se não tivessem feito um refém, eu estaria inclinado a deixá-los ir e caçá-los no nosso tempo livre, mas nós devíamos a Joan fazer tudo o que pudéssemos para recuperá-la em segurança. Se aparecessem logo e as coisas corressem bem, eu ainda poderia ter meu jantar com Kate. Claro, poderia estar um pouco atrasado, mas pretendia fazer as pazes com ela.
Nós não tivemos que esperar muito. Em menos de uma hora, o barulho de um poderoso motor nos alertou sobre a aproximação dos irmãos Irving. Assim como eu pensava. Eles haviam tomado a estrada de acesso ao canteiro de obras. Esperava que eles tivessem Joan com eles. Se chegassem sem ela, as coisas ficariam consideravelmente mais complicadas. Nós teríamos que tentar subjugar o par e tirar sua localização deles. Morta ou viva, precisávamos saber onde ela estava.
Paul nos encarou e olhou para a floresta. Não olhe para nós, seu idiota.
Em poucos minutos, as luzes brilharam através das árvores, então apagaram, mas o barulho me disse que o veículo continuava em nossa direção. Idiotas. O motor deles parecia um pequeno tornado. Me perguntei o que eles estavam pensando. Ei, Mick, como podemos ser imperceptíveis? Bem, John, nós apagamos as luzes. Ninguém vai saber que estamos chegando.
Ao meu lado, Mahon revirou os olhos. Nós não estávamos lidando com gênios criminosos. Os irmãos Irving não planejaram mais do que algumas horas à frente, e olhe lá. Pelo menos isso estava a nosso favor. Eles provavelmente nem sequer consideraram a possibilidade de um cruzamento. Na cabeça deles, isso era uma estrada reta: apareça, pegue o dinheiro.
Paul endireitou os ombros e levantou a mochila que tínhamos enchido com pacotes de café. Quando colocados dentro do saco, eles pareciam pilhas de dinheiro.
Os Irvings estacionaram a cerca de cem metros do local e saíram. Mesmo à luz da lua, eu podia distinguir duas formas grandes com uma menor entre elas. Oh bom. A trouxeram viva. Ela parecia estar andando, mas a mantinham entre eles e eu não conseguia ver seu rosto.
Talvez Mahon estivesse certo e eles fossem apenas mocinhos que tinham sido pegos em uma situação ruim.
— Parker, nós trouxemos sua porca, —um deles gritou. — É melhor você ter o dinheiro ou vamos estripá-la na sua frente antes de morrer.
Ou não.
— Certo. —Paul levantou a bolsa. — Eu tenho, deixe ela ir, por favor.
Eu podia sentir seu medo e tensão, mas era por ele ou por sua esposa?
— Jogue o dinheiro, —disse o outro irmão Irving. — Se estiver tudo lá, você pode tê-la. Ela não está machucada. Muitos de nós poderíamos ter feito pior por toda a merda que você nos fez passar.
— Que os fiz passar? —A voz de Paul tremeu. — Você pegou minha esposa! Pelo que, pelo dinheiro que você acha que te devia?
Ah, aqui estava. Se esperássemos, sairia tudo.
— Besteira, —disse o irmão maior. — Você nos disse que eles pagariam. Nós fizemos o trabalho, seu filho da puta. A companhia de seguros pagou? Não! Nós construímos para eles uma casa nova em folha, pisos de azulejos, bancadas de granito, armários personalizados, novos eletrodomésticos ... nós tivemos que comprar toda essa merda, e então nada. Estamos devendo oitenta mil dólares, porra.
— Os proprietários não podem pagar, —o irmão menor grunhiu. — Mal conseguimos cinquenta mil deles. Sentimos falta de uma folha de pagamento, Dom desistiu, o cara do encanamento desistiu, e nosso representante está fodido agora. Ninguém vai nos contratar depois disso. Você nos deve, por tudo isso.
— Não é minha culpa! —Paul largou a bolsa. — O pagamento foi aprovado e, em seguida, eles saíram do negócio. Como eu poderia saber que o proprietário iria desaparecer com todo o dinheiro e sua secretária?
— Você deveria saber, é para isso que nós o pagamos, —rosnou o irmão maior. — Foi um bom show, tudo que você teve que fazer foi ir e voltar com o representante, obter o pagamento aprovado. Você se senta em seu pequeno e bonito escritório executando os números enquanto fazemos o trabalho real. Nós sempre lhe demos a sua parte. Você acha que é melhor que nós porque nunca suja as mãos, acha que pode nos foder e nada vai acontecer?
— Eu disse que sentia muito. Tentei conseguir o dinheiro. Eu até lhe disse onde consegui-lo, mas vocês não podiam fazer isso direito, poderiam? Vocês deveriam pegar o dinheiro do velho, não matar ele.
— Bem, como diabos você acha que conseguiríamos o dinheiro, seu estúpido bastardo? —O Irving maior perguntou. — Você achou que nós três nos sentaríamos para tomar chá e depois ele nos daria o dinheiro?
Eu balancei a cabeça para Derek. O garoto avançou, acendeu um fósforo e o jogou no braseiro de metal. O combustível no interior se acendeu e as chamas subiram, iluminando o local, Paul, os irmãos Irving e Joan com um pedaço de fita adesiva na boca. À direita e à esquerda, mais três braseiros ganharam vida.
Eu saí e em voz alta perguntei: — Isso é o que todos nós queríamos saber. Vocês planejaram matar Boris?
Os grandes homens congelaram por um momento. Um pequeno drama nunca doía.
Joan aproveitou a chance e se separou deles, arrancando a fita de sua boca. Ela tinha um lábio cortado e uma contusão embaixo de um olho. Eles a agrediram e fizeram isso no caminho até aqui, provavelmente pouco antes de saírem do carro, porque Vírus-L teria curado os ferimentos se tivesse batido nela mais cedo.
Joan correu em direção ao marido. Ele abriu os braços para abraçá-la e ela deu um tapa nele. Duro, em frente ao rosto. Ele cambaleou para trás, parecendo atordoado.
Ela estava respirando com dificuldade, mas entre respirações conseguiu espremer quatro palavras. — Eu quero o divórcio.
— Concedido, —eu disse. Parecia justo nas circunstâncias.
Ao meu redor, membros do Clã Heavy saíram da floresta em direção aos irmãos Irving. — Bom, —ela disse entre os dentes cerrados. Um sorriso aterrorizante se espalhou em seu rosto enquanto ela avançou em seu agora ex-marido.
— Você fez isso, —ela sussurrou. — Os enviou para matar meu pai. Ele estava certo sobre você ser um covarde. Sabia o que eles tinham feito e me deixou ir vê-lo sozinha. Que tipo de homem faz isso?
— Sustentei você! —Paul latiu. — Fiz uma vida para você e os meninos. Você gostou, a casa bonita, a boa vizinhança. O que vai fazer, alugar um pequeno apartamento, colocar os meninos na escola pública? Vai rastejar de volta, ou vai se oferecer a um daqueles advogados que você 'trabalha' para cuidar de você?
— Aaaargh! Ganho o mesmo que você, imbecil. Tenho dinheiro guardado. Acha que é muito melhor do que eu e as pessoas com quem trabalho, mas não tenho que enganar ninguém e nem lidar com bandidos idiotas como esses dois.
— Ei! —Um dos Irvings começou a protestar. Eles foram cercados por vários membros do Clã Heavy, sob a direção de Mahon. Não iam a lugar algum.
— Cale a boca, —sugeri. — Você terá sua vez.
O casal feliz precisava resolver isso. Anos de amargura e ressentimento estavam sendo arrastados, e parecia um pouco voyeurística21 ver a vida deles se desmanchar.
— Inferno, eu te fiz um favor! —Paul gritou. — Agora você vai herdar a cabana e o dinheiro dele. Achava que ele viveria para sempre?
Por um momento, Joan não disse nada. Ela apenas ficou perfeitamente imóvel. Uh-oh — Pedido de custódia total das crianças, —ela finalmente perguntou em voz alta. — Concedido, —eu disse.
Ele se virou para mim. — O quê, por quê? Eles são meus filhos também. Você só vai deixar essa vagabunda tê-los? Deixe-os decidir com quem eles querem viver.
A risada de Joan era amarga. — O que você acha que eles vão dizer, Paul, quando descobrirem que você matou o avô deles? O homem que os amava e cuidava deles e lhes ensinava coisas interessantes. O homem que os levou para acampar e pescar. E por que você fez isso? Por um pouco de dinheiro. Eles saberão que tipo de homem você é, e eles vão te odiar por isso.
— Você ... prostituta! —A pele de Paul Parker se dividiu. Pele derramada, rápida e torcida para cobrir novos ossos e músculos. Três do pessoal de Jim pularam nele. O agarraram, mas de repente se transformou em sua meia forma de pantera, sibilando e cuspindo, lutaram para segurá-lo. Isso estava ficando fora de controle.
Joan apenas o observou por um momento e depois encolheu os ombros. — Tudo bem. Se é assim que você quer, tudo bem. Solte-o.
O pessoal de Jim olhou para mim. Eu concordei. Nós esperamos até que ela mudasse, então paramos para dar espaço a eles.
Onde antes havia uma pequena mulher loira de trinta e tantos anos, agora havia um enorme javali22 fêmea. Todos nós éramos maiores em nossa forma de animais do que os animais normais, mas os membros do Clã Heavy eram gigantes. Ela tinha que ter mais de quinhentos quilos de ossos duros e músculos poderosos. Pelo cinza escuro eriçou-se ao longo das costas largas. Seus olhos eram pequenos e cheios de malícia. Ela estava louca como o inferno.
Paul deu um passo à frente. Joan superava-o em quase duzentos quilos, mas Paul em forma de guerreiro ainda era um monstro de trezentos quilos, uma massa de músculo e pele manchada com presas e garras enormes. E ela não tinha as presas do pai.
O homem-pantera se agachou. Seus lábios tremeram e um meio rosnado, meio grunhido ondulou de sua boca. Eu tinha a sensação de que essa luta já estava acontecendo há muito tempo.
A javali respondeu ao desafio com um grunhido profundo. Bateu no chão com um enorme casco e correu. Quinhentos quilos de javali selvagem furiosa passaram por mim como um trem desgovernado. Sua cabeça estava levantada. Ela tentou arremessá-lo, mas a pantera saltou sobre as juntas maleáveis e caiu de costas. Enterrou as garras da frente nos ombros da javali e mordeu o focinho com força. Sangue derramado.
Joan gritou de raiva e mergulhou para a frente em um rolo. Todo o seu peso caiu sobre o homem-pantera, e ela rolou sobre ele como um rolo compressor achatando a calçada. O homem-pantera soltou o focinho do javali e saltou para longe. Ela girou para encará-lo, respirando com dificuldade. Arranhões fundos esculpiram seu focinho, seu rosto uma máscara molhada de carmesim. Ficaram parados por um momento, imóveis. Então, de repente, ela atacou novamente.
Desta vez, em vez de encontrá-la de frente, o grande homem-pantera se esquivou para o lado e pulou nas costas do javali, com os dentes trincando selvagemente em seu pescoço. Joan correu ao redor da clareira, correndo como se sua vida dependesse disso. Não ajudaria ela. Ele a deixaria seca com o derramamento de sangue. Paul se agarrou às costas dela, rasgando-a.
Joan inclinou-se rapidamente, virando-se e atirando-se contra a pilha de enormes blocos de pedra que esperavam para se tornar uma parede. O homem-pantera gritava com quinhentos quilos de javali selvagem movendo-se a cinquenta quilômetros por hora, golpearam a pedra, com ele amortecendo sua queda. Ossos trituraram. A javali rolou para o lado dela de novo e de novo até que finalmente levantou com as pernas tremendo, jorrando sangue, mas agora aliviada pela pantera. Paul se esparramou no chão, sua respiração superficial. Suas costelas pareciam fora do lugar. Estava preso entre os escombros. Em vez de permitir que ele se recuperasse, Joan correu para ele, com os cascos esmagou os músculos e os ossos em mingau. Ela caiu de joelhos e trouxe a cabeça grande para o peito dele. O peito de Paul estalou e seu pescoço rolou para o lado. Estava morto. Ela começou a usar seus enormes dentes caninos para arrancar sua garganta.
Era o suficiente. Soltei um rugido para chamar sua atenção. — Joan, pare. Ele se foi.
Ela me olhou, sangrenta, mas invicta, e pensei que ela poderia me atacar. Em vez disso, a enorme javali abaixou a cabeça. A carne fluía quando ela mudou de volta, e mais uma vez uma pequena mulher loira ficou na grama, mas agora estava nua, imunda e sangrando de uma dúzia de cortes profundos e arranhões sérios. Um corte profundo no pescoço dela estava se fechando.
— Leve-a para Doolittle e tire esse corpo daqui.
Bea saiu do ringue que havia se formado em torno dos combatentes e colocou um cobertor em volta de Joan. — Venha comigo, querida. Vamos consertar tudo. —Sua voz era suave, mas ela segurou com força os ombros de Joan e começou a levá-la embora.
A viúva parou e se virou para mim. — E eles? —Gesticulou para os Irvings, ainda presos pelo pessoal de Mahon. — Eles mataram meu pai.
— Eu sei, e sinto muito pela sua perda. Nós vamos ouvi-los e então eles serão julgados pelo Conselho e punidos. Será o suficiente?
— Eu quero ver.
Bea virou Joan para encará-la e disse em voz baixa, mas firme. — Não, querida, você realmente não quer ver.
Por um segundo ficaram olho a olho, e então Joan abaixou a cabeça. Lágrimas se formaram e deslizaram por suas bochechas.
Bea a puxou para perto. — Você está uma bagunça. Vamos limpá-la.
Joan assentiu e começou a chorar. Fiz contato visual com Bea e balancei a cabeça em direção à Fortaleza. Bea gentilmente a levou embora, acariciando suas costas.
— Cadela louca!
Era o mais novo dos irmãos Irving. Mahon bateu na cabeça dele e ele caiu. Difícil. O outro lutou contra seus captores, sem sucesso.
— Deixe-me ir, seus filhos da puta, nós não fizemos nada. Isso não é justo.
— Foi justo quando vocês dois mataram Boris? Ainda estamos esperando para ouvir o que aconteceu. Por favor, diga-nos por que vocês não deveriam ser responsabilizados por assassinar o velho?
— Não foi assim. Falamos com ele e pedimos que nos desse o dinheiro. Poderíamos ter mencionado algo sobre ele não querer que nada de ruim acontecesse com sua linda filha e seus netos. Então ele ficou louco. Juro que nunca o tocamos até que ele se virou e me empurrou de volta. Me jogou de volta em uma parede e então Mick o agarrou por trás, você sabe, só para arrastá-lo de cima de mim, e ele se virou para ele. Ele que começou, nós não queríamos matá-lo, mas não nos deu escolha. Foi legítima defesa.
— Não funciona assim. Você não pode ir para a casa de um homem velho e querer roubá-lo e depois reivindicar a autodefesa quando ele luta de volta. Você ameaçou as únicas pessoas com quem ele se importava no mundo. O que você esperava que ele fizesse?
— Ele deveria apenas ter nos dado o dinheiro. Isso é tudo culpa dele. Agora todos vocês vão ficar contra nós e não é justo, nada disso.
Ele gostava muito dessa palavra. — Tudo bem John, o que você acha que seria justo? Sabe que não podemos simplesmente deixá-los ir, mas como devemos resolver isso?
— Um contra um, vou lutar com qualquer um de vocês. Se eu ganhar, você nos deixa ir. Vou lutar com qualquer um, até você, não tenho medo de nenhum de vocês.
Na verdade, ele deveria ter, mas eles mataram Boris, então talvez realmente durões. — Isso é um desafio? —Ele precisava dizer isso.
— Sim, é. Venha, só você e eu. Prometa que se eu começar a ganhar esses bastardos não vão pular dentro.
— Ninguém vai interferir, esta é uma luta até a morte. Se você me matar, eu dou a minha palavra que você e seu irmão terão passagem livre fora do território do Bando. Se eu ganhar, porém, Mahon irá punir seu irmão. Você tem certeza de que quer fazer isso? Mulheres e velhos parecem mais a sua praia.
— Você ainda está latindo? Você está planejando falar comigo até a morte ou vamos lutar?
Balancei a cabeça para Mahon, que fez um gesto para que John Irving fosse solto. Sem mais delongas, ele explodiu em sua forma completa de urso. Se levantou em suas patas traseiras e soltou um rugido ensurdecedor. Ele era grande, sem dúvida, um macho adulto pardo. Derek tinha acertado, mais de dois metros e meio de raiva e poder. Não é tão grande quanto Mahon, mas ainda era enorme.
As pessoas que achavam que os ursos eram lentos e desajeitados não haviam visto lutarem. Sabia que se eu o deixasse colocar aquelas grandes patas em mim, ele tiraria a minha cabeça. Minha melhor saída seria fazê-lo sangrar. Minha forma de guerreiro era a melhor opção, uma boa mistura de velocidade e força, e eu poderia usar meu treinamento e esperar que minha habilidade compensasse a diferença de tamanho.
Ele caiu pesadamente de quatro e começou a caminhar em minha direção. Nós nos circulamos, cada um de nós cautelosos e nenhum querendo fazer o primeiro movimento. De repente, se lançou em minha direção, desviei da pata enorme e lancei uma rajada rápida de meus próprios golpes: direto de direita, gancho de esquerda, novamente à esquerda. Acertei o nariz e deixei cortes profundos ao longo dele. Ele recuou e começou a me rodear de novo, procurando uma abertura. Quando se ergueu e tentou envolver seus grandes braços em volta de mim, me abaixei ficando fora do seu alcance. Não ia deixar ele me puxar para um abraço esmagador. No caminho, arranhei seu peito e barriga, mas sua pele era tão espessa que fez muito pouco dano. Ele cresceu em cima de mim e eu rolei para fora dele e para o lado antes que pudesse trazer todo o seu peso para baixo, mas passou perto. Se ele me prendesse eu estava ferrado.
Frustrado agora, me cercou. Era um estranho tipo de bamboleado, abaixou a cabeça e começou a balançar para trás e para frente quando se arrastou em minha direção. Planejava me bater e ao mesmo tempo proteger seus olhos vulneráveis e nariz. Esperei até que ele ficou dentro de um bom alcance, e evitando seu peso agarrei sua pata dianteira esquerda e mordi sua orelha. As garras de minha mão direita foram enterradas na pele e na gordura de suas costas, sentia seu sangue quente e salgado na minha língua.
Tentou me sacudir, mas eu tinha boa aderência em suas costas e minhas mandíbulas estavam trancadas em sua orelha. Ele balançou a cabeça para o lado para me derrubar, mas ao invés disso eu usei a oportunidade para balançar minhas pernas e ao redor de seu pescoço, apertando-o em um movimento de tesoura. Oops, um de nós treinou seu jiu-jitsu. Ele resistiu como um touro tentando arremessar um vaqueiro, mas eu tinha uma boa posição e estava usando todo o meu peso, assim como os músculos das minhas pernas, para apertar sua garganta. Depois do que pareceu uma eternidade, ele começou a desacelerar e tropeçar. É isso mesmo, garoto grande, apenas durma. Está quase acabando. Bem, isso não foi tão ruim.
Algo bateu em mim. Que porra foi essa? Me bateu de novo e John e eu caímos em conjunto, e de alguma forma John acabou em cima de mim. Eu estava segurando seu peso morto com minhas pernas, mas não sei quanto tempo poderia mantê-lo. Ele estava começando a acordar e, em alguns momentos, ele estaria consciente e arranhando meu rosto. De repente, o peso nas minhas pernas pareceu dobrar. Filho da puta! Mick deve ter pulado em cima de seu irmão, trazendo o peso combinado dos dois ursos para baixo em minhas pernas.
A carga era demais e minhas pernas estalaram como galhos. A dor era insuportável. Gritei de dor e raiva. Quando John veio em cima de mim, tranquei em sua garganta com minhas garras. Minha única esperança era esmagar sua traqueia. Me agarrei com todas as forças e mordi tão duro quanto eu poderia. Fui recompensado pelo som satisfatório da cartilagem tireoide23 e osso hioide24 triturando entre meus dentes. John convulsionou em cima de mim, em seguida, ficou mole, e eu sabia que ele tinha ido embora.
Alguém estava puxando John de cima de mim, graças a Deus. Infelizmente era Mick. Ele estava de pé em cima de mim com assassinato em seus olhos. Isso não era bom. Ele começou a chover golpes em cima de mim, e eu cobri minha cabeça e tomei a maior parte do impacto sobre meus braços. Minhas pernas eram inúteis, eu não estaria levantando. Tinha que acabar com isso antes que me batesse até a morte. Me arrisquei, tomei um dos golpes, tranquei meus braços nos dele e o puxei para mim. Quando ele estava bem perto, soltei o braço dele, agarrei os lados de sua cabeça, forcei minhas mandíbulas a se expandir e apertei seu nariz. Foi uma boa mordida e parte do seu nariz saiu na minha boca. Cuspi na frente dele. Foi o suficiente para Mick, o choque e a dor foram demais.
Ele se virou e começou a fugir.
De fora do anel da luta, Mahon entrou em seu caminho. Os dois corpos enormes colidiram um com o outro. Quase instantaneamente eles estavam de pé e tinham os braços entrelaçados e pareciam lutar.
O urso maior torceu, jogou o oponente sobre o quadril e o jogou no chão. Mick mal tinha caído antes de Mahon descer sobre ele. Com a pata esquerda, colocou seu peso no peito de Mick, com a direita, ele a levantou, em seguida, a enorme pata bateu com força na cabeça do urso menor, esmagando-o como um melão maduro. Era o movimento de assinatura de Mahon. Já tinha visto esse golpe antes, mas ainda era impressionante. Não acho que teria algum dia que lutar com Mahon, mas se acontecesse, ficaria longe daquele grande canhão de garras que ele carregava.
— Quando alguém quiser me ajudar, isso seria ótimo. —O feitiço lançado pelo sangue e pela violência pareceu se quebrar, e Jim e Derek me arrastaram entre seus ombros.
— Meu senhor, isso foi incrível ... você venceu ambos. —Derek estava impressionado.
— Sim, sobre isso. Quem quer explicar por que diabos o outro foi capaz de saltar sobre mim?
Desta vez foi Jim. — Bem, enquanto nós estávamos assistindo você, pensamos que ele estava preso. Ele conseguiu se libertar, quebrou o nariz de Eduardo, e agarrou George para ficar solto. Desesperado, acho. Mas eu sabia que você ia ficar bem.
— Sim ... que tal isso não acontecer de novo? Porra, me leve para Doolittle. Eu preciso dele para me arrumar, tenho um grande encontro hoje à noite. Estou atrasado o suficiente e Kate vai ficar chateada. Nesta condição, ela pode ser capaz de me dár uma surra.
Não demorou muito para chegar à Fortaleza e depois para a enfermaria. Doolittle me olhou de cima a baixo, depois mandou que Jim e Derek me colocassem em uma mesa de exame.
— Que tipo de tolice você fez? Parece que lutou contra um deslizamento de terra.
— Ursos, na verdade. Dois deles.
— Por que diabos você faria isso?
— Pareceu uma boa ideia na hora.
— Parece uma maldita tolice para mim. Você não tem assassinos fortes como esses dois para esse tipo de serviço? —Ele acenou com a cabeça para indicar Jim e Derek. — Por que sente que tem que lutar contra cada maldita alma em Atlanta está além de minha compressão.
— Se eu disser que você está certo, vai me curar? Tenho lugares para estar. —Doolittle levantou uma sobrancelha.
— Hoje à noite? Você acabou de lutar com dois ursos e tem um lugar para estar? Você sabe que ambas as suas pernas estão quebradas, não é?
— Oh, então o som que ouvi era isso. Percebi que elas adormeceram.
— Não venha dar um de espertinho para cima de mim. Sempre te curei e vou fazer novo, mas não há necessidade de você ser assim.
O mundo estava ficando meio confuso. — Que tal você parar de mandar em mim e apenas me consertar, droga.
— Qual é a pressa? —Doolittle começou a examinar minhas pernas. Sua voz vinha de longe, como se ele estivesse falando de um fundo de uma escadaria profunda. — O que é tão importante?
Palavras vieram devagar. — Eu tenho que encontrar uma garota.
— Ela é especial?
— Sim.
— Então ela vai entender.
O mundo girou, piscou, e então a escuridão me pegou em sua boca e mordeu. Ela iria entender. Eu explicaria e ficaria tudo bem.
Tenho sido o Senhor das Feras de Atlanta por metade da minha vida. Sou responsável pela vida de várias centenas de pessoas. Alguns dirão que estar no comando significa dizer a outras pessoas o que fazer. Isso é apenas uma parte disso. Liderança significa fazer o que você sabe ser a coisa certa. Na minha experiência, raramente envolve fazer o que você quer ou gosta.
Esta noite não era exceção. Eu estava participando de uma reunião entre o Conselho do Bando, os alfas de todos os clãs e a Nação, navegadores necromantes que pilotavam os mortos. O restaurante Bernard era um campo neutro, um santuário onde todos os jogadores de Atlanta eram vistos e se sentiam importantes.
Violência era estritamente proibida. Não há problema, podemos nos vestir e brincar com os filhos da puta de Nataraja. Por enquanto, não havia necessidade de um conflito aberto entre o Bando e a Nação. Mas a paz não duraria para sempre, e um dia eu veria a luz sair dos olhos de Nataraja enquanto o Casino queimava ao redor dele.
Empurrando aquele pensamento agradável de lado, entrei no andar principal. Jim estava esperando lá com os outros alfas. Balancei a cabeça para ele liderar o grupo no andar de cima. Eu tinha começado a segui-los quando detectei um cheiro familiar. Não pode ser. Por que ela estaria aqui?
Ela invadiu minha casa, destruiu meus pesos da academia e até colocou catnip na minha cama. Em retaliação, eu tinha colado aquele lindo traseiro dela em sua cadeira de escritório. Em suma, estávamos fazendo a dança do acasalamento.
Por um tempo pensei que a tinha perdido para sempre, mas em nosso próprio jeito fodido engolimos nosso orgulho e estendemos a mão um para o outro. Nós dois sabíamos que nunca seria fácil, mas estávamos dispostos a tentar. Eu sabia que Kate não era universalmente amada pelo Bando, mas eles me deviam. Eu sangrava por eles, mediava suas pequenas discussões. Eu lhes dei tudo, eles me dariam uma coisa. Ou eu iria dividir o Bando.
Quando cheguei ao topo da escada, vi Jim discutindo com um dos seus colegas mercenários, um novo idiota. Que porra é essa? Talvez ela estivesse aqui. Kate era um problema e me perguntei o que ela tinha feito para irritar Jim. Talvez esta noite não seja completamente chata depois de tudo. Eu só esperava que não entrasse em uma sala cheia de meus alfas com suas bundas coladas em seus lugares.
Entrei no salão e procurei por ela. Estava ao lado de uma mesa à esquerda e, por um momento, acho que esqueci de respirar. Kate parecia incrível, seu cabelo estava solto, usava maquiagem e aquele vestido ... ele era cortado na frente e se encaixava como se fosse feito sob medida.
Ela estava ao lado de Saiman.
Estava aqui com ele. Estava usando esse vestido para ele. Parecia incrível, mas para ele. Foi como se algo tivesse me atingido no estômago. O resto da sala deixou de existir. Havia apenas eu e ele e a distância entre nós. Por que ele, por que aqui? Ela queria me ferir da maneira mais pública possível?
Jim estava ao meu lado, tentando me dizer alguma coisa. Olhei para eles, tentando fazer algum sentido. O filho da puta sorriu para mim e disse algo para ela que eu não conseguia entender. Me esforcei e peguei sua voz convencida através do barulho ... ‘significaria guerra. Ele não pode fazer nada aqui’.
Quase sorri. Ele achou que estava seguro. A voz de Jim quebrou minha concentração. — Aqui não. —Eu sabia que ele estava certo, mas isso não importava.
— Posso fazê-lo desaparecer, —Jim disse ao meu lado. — Ninguém nunca vai encontrá-lo. Posso trazê-lo para você em correntes, ou em pedaços. Apenas espere. Não faça isso na frente dela. Podemos fazer isso a qualquer momento. Não temos nada além de tempo.
Virei meu olhar para ela e ela olhou de volta. O olhar era desafiador. Não, ia ser aqui e agora. Ela poderia tentar me impedir, inferno, todos eles podiam, mas ela ia me assistir despedaçá-lo. Eu pintaria o chão e as paredes com o sangue dele antes que ele morresse.
A aberração riu. — Nós não somos diferentes, Curran e eu ...
Eu tive que ouvir isso.
... ambos somos vítimas da luxúria. Ambos guardamos o nosso orgulho e sofremos de ciúme. Nós dois empregamos nossos recursos para conseguir o que queremos: Eu uso minha riqueza e meu corpo e ele usa sua posição de poder. Você diz que eu quero você apenas porque você me recusou. Ele quer você pelo mesmo motivo. Eu me lembro de quando ele se tornou o Senhor das Feras. O rei menino, o adolescente perpétuo, de repente à frente da cadeia alimentar, com acesso a centenas de mulheres que não sabem dizer não. Você acha que ele as força a sua cama? Ele deve ter feito isso pelo menos algumas vezes ...
O que? Aquele filho da puta viscoso estava dizendo a ela que eu era um estuprador. O cara que iria foder uma cobra se pudesse encontrar alguém que a segurasse. Nunca, jamais forcei alguma mulher.
Kate, diga a ele que não é verdade. Diga a ele que você não acredita. Diga a ele. Ela não disse nada.
Eu a queria e achei que ela me queria. Tudo bem, esperei. Esteve na Fortaleza, fraca e ferida, mas eu nunca a toquei. Ele diria ou faria qualquer coisa. Ele a usaria e jogaria fora quando se cansasse dela. Quase morri durante os Jogos da meia noite por ela.
Ele se inclinou para ela.
Eu poderia limpar a distância entre nós em três saltos. Dois segundos e eu poderia torcer a cabeça de seus ombros e jogá-la a seus pés.
Ele levantou a voz. — Você é toda minha esta noite. Beije-me, Kate ...
Não.
Ele estendeu a mão, mas ela se afastou.
Algo dentro de mim estalou, e então eu estava me movendo em direção a ele. Ele não deixaria este lugar vivo. Não podia fazê-la me amar, mas ela não queria as mãos dele nela. Essa porra doente nunca mais a tocaria.
Ela deu um passo à frente dele. Ele estava tão bêbado ou estúpido que ainda não sabia o que estava acontecendo.
... Ele não vai me machucar. Aqui não ...
Eu estava quase lá, podia sentir o cheiro do álcool em seu suor. Ela pegou uma garrafa de uma mesa próxima e se aproximou de mim. Boa tentativa, mas não seria suficiente. Talvez se ela tivesse sua espada ...
— A Nação cumprimenta o Senhor das Feras.
Nataraja. Levou tudo o que eu tinha, mas parei. Se eu matasse Saiman agora, seria guerra. Naquele momento, teria jogado minha vida fora para sentir o crânio de Saiman se romper entre as minhas mandíbulas, mas ele não valia a vida dos meus alfas. Saiman nunca saberia, mas aquele idiota careca Nataraja salvou sua vida. Por agora.
Olhei para Kate e murmurei uma única palavra. — Mais tarde.
Ela olhou para mim, seus olhos claros. — A qualquer momento.
Respirei fundo, virei de costas para ela e, numa voz calma, gritei: — O Senhor das Feras cumprimenta a Nação.
Flutuei por toda a eternidade em um mar de agonia. Às vezes, me concentrava e bloqueava a dor, podia ouvir sua voz de longe. Concentrei-me nesse som, desejando lentamente ir em direção a ele. Finalmente, depois de quanto tempo eu não sabia, cheguei mais perto e a vi, e podia ouvir um pouco do que ela estava dizendo ... — Ele parece um cara decente ... agora eles estão presos ...
Ele já tinha outra companheira, ela já tinha outro companheiro, ninguém falava e Kate não sabia o que fazer. Ela parecia cansada e machucada. Ainda assim, nunca na minha vida vi alguém mais bonita. Nem nunca estive mais feliz por estar perto dela. Por alguma razão, a resposta para o seu dilema veio-me muito mais fácil do que todas as coisas que eu realmente queria dizer.
— Você tentou a Lei da Segunda Chance? —Eu perguntei suavemente. Seus olhos ainda não se abriram ... talvez estivéssemos compartilhando um sonho. Expliquei o melhor que pude e abracei-a o máximo que pude.
Finalmente ela olhou para mim.
— Você ficou comigo, —sussurrei. Ela disse algo que não consegui entender, mas não importava, com tanto que ela estivesse aqui. Sorri e caí no sono novamente. Sono real desta vez, sem neblina vermelha, apenas a escuridão. Eu sabia que ela estaria lá quando eu voltasse para o mundo. Não importa o que acontecesse. Eventualmente eu acordei de novo, algo estava no meu braço e eu queria fora. Quando localizei a fonte da minha irritação, Kate entrou no quarto carregando o que cheirava a sopa. — Que merda é essa? —Exigi quando puxei a agulha do meu braço.
— Ele te manteve vivo por onze dias, —ela me informou.
Quase duas semanas! Fiquei assim por quase duas malditas semanas, e ela ficou comigo.
Não foi o IV que me manteve vivo. A verdade disso me surpreendeu.
Ela me entregou a sopa, mas eu a coloquei de lado e puxei Kate para perto. Nós nos abraçamos por um tempo. Logo, no entanto, a batida familiar de Derek quebrou nosso devaneio e reunião de curta duração.
— Kate, —ele perguntou baixinho, claramente pedindo permissão para cruzar o limiar.
Com uma autoridade em sua voz que eu nunca tinha ouvido, ela o instruiu a entrar. O belo rapaz de outrora fez isso e informou-a de outro lobo que exigia uma audiência, citando alguma ‘emergência’.
... — Ele diz que é uma emergência. Provavelmente outro desafio ...
Desafio? Para mim? Todos os músculos do meu corpo ficaram tensos. Realmente, eles eram doidos? Eu quase morri e eles estavam na fila para pegar um pedaço do que restou de mim. Olhei para Kate e seu rosto dizia tudo. Ela usava uma expressão de resignação cansada, e as peças fraturadas se encaixaram. Não a mim, eles estavam desafiando-a. Claro, porra que não, essa merda ia parar agora.
Percebendo o perigo repentino, Derek olhou para mim e abruptamente ficou em silêncio. Antes que ele pudesse se recuperar, ordenei que ele fizesse o desafiante entrar, mas que não informasse de que eu havia despertado. O jovem lobo fechou a boca, virou-se e partiu rapidamente para cumprir o meu comando. Ele sempre foi um garoto inteligente.
Kate me ajudou a ficar de pé, eu seria amaldiçoado se eles me vissem deitado na cama como um fraco. — Hoje é quarta-feira?
— Sim, —ela disse.
Dia do Conselho do Bando. Perfeito. Peguei a tigela.
Enquanto tomava a sopa que ela trouxe antes, Jaime Alicia entrou na sala como se fosse o dono. Muito ansioso para atacar a minha companheira e tomar o que era meu. Um dos melhores lutadores do Clã Lobo, um boxeador em sua juventude, ele era alto e bem construído. Eu já tinha visto ele lutar, sabia que ele era forte e rápido. Também tinha certeza de que Kate poderia cortá-lo em pequenos pedaços antes da sopa ficar fria. Nunca iria admitir isso, mas ela era muito boa com a sua espada. Não que ela precisaria usá-la agora, ele estaria morto antes que a tocasse.
Nenhum deles nunca mais iria machucá-la novamente. Estariam todos mortos primeiro.
Jaime olhou para mim, sua mandíbula caiu.
Terminei minha sopa e falei. — Sim?
O lobo se agachou e olhou para o chão. Se ele tivesse hesitado por um segundo sequer, eu teria puxado seus pulmões para fora através de seu peito. Alcance, garra, arranque. Seria fácil e teria gostado imensamente. Podia sentir o medo dele. Eu queria rugir para ele.
— Você tem algo a dizer?
Com os olhos ainda firmemente fixados no chão, ele balançou a cabeça negativamente. Agora nós sabíamos mais uma vez quem era quem e o que era o quê. A ordem precisava ser restaurada e o resto deles precisava ser lembrado por que eu era o Senhor das Feras.
— O Conselho deve se reunir em três minutos. Desça e lhes diga para esperar por mim, e posso esquecer que você esteve aqui. —Pelo seu bem, eu esperava que ele nunca esquecesse o quão perto tinha chegado a uma morte selvagem e dolorosa, porque eu não lhe daria uma segunda chance.
Depois que ele saiu, perdi o equilíbrio e Kate tentou me firmar, mas sua perna cedeu e nós caímos juntos no sofá. Estávamos muito longe da na nossa melhor forma física, mas teríamos que enfrentar. Juntos, mesmo em nosso estado atual, éramos mais fortes de que qualquer um deles. Bem, até onde eles sabiam.
Quase como se soubesse o que eu estava pensando, Kate perguntou: — Você tem certeza que está pronto para uma reunião do Conselho?
Eu me virei para ela, desejando que meu rosto fosse uma máscara de determinação e ameaça. — Tenho certeza. É melhor que estejam prontos para mim.
Nós tínhamos que demonstrar força. Não poderíamos continuar a ser vistos como nada menos que o Senhor das Feras e sua Companheira, senhores indiscutíveis do Bando.
É da natureza de nossa espécie valorizarmos o poder e a violência acima de tudo, explorando impiedosamente qualquer fraqueza. Autoridade deve ser exercida em todos os momentos ou então é perdida. Eles não tinham que amar ou até gostar de mim, mas, por Deus, eles me obedeceriam. Se tivessem esquecido por que sou temido, eu os lembraria. Se vesse que matar alguns como exemplo, então que seja.
Fiz meu caminho para o banheiro, caindo pelo menos uma vez, mas a minha força começou a voltar e, alguns minutos depois, estava pronto para ir para a sala do Conselho sozinho. No caminho, Barabas, um dos advogados do Bando e um dos causadores de problemas favoritos de Bea, veio atrás de nós e acompanhou o ritmo.
Eu parei. — Barabas, você veio me desafiar também? —Já sabia que um desafio vindo dele era improvável, mas não custava perguntar. Barabas era um pouco louco e podia ser insubordinado às vezes, mas ele não era estúpido.
Seu olhar habitual de diversão evaporou, substituído por um choque completo e descrença. — Não, meu senhor, sou leal e sirvo a Consorte.
Aparentemente, o lugar inteiro tinha ido para o inferno enquanto eu dormia. Me virei para Kate e esperei por algum tipo de explicação.
Ela encolheu os ombros. — Fiz um acordo com Bea, e ela o deu para mim como uma espécie de conselheiro. Vou contar tudo sobre isso depois.
Eu não tinha certeza se queria saber, Bea nunca fazia nada por altruísmo somente. Ela queria alguma coisa. Vagamente me lembrei de Kate me contando sobre isso, mas os detalhes me escaparam. Ela ajudou Kate de alguma forma? Um pensamento me surpreendeu. — Barabas, quantos membros do Bando desafiaram minha companheira enquanto eu dormia?
Ele fez uma pausa, claramente tentando se lembrar, e finalmente se virou para Kate e perguntou: — Vinte e dois? —Ela assentiu silenciosamente.
— Quantos alfas?
— Só os Chacais, meu senhor. Os outros eram oficiais treinados dos outros clãs, nem mesmo betas.
Claro, você não chegava a ser um alfa sendo burro. Depois que os Chacais foram mortos, os outros alfas se contentaram em deixar seus subordinados a esgotarem. Mahon poderia ter parado, mas não o fez. Ele nunca fez segredo de sua desaprovação a Kate, mas ficar de lado e permitir que ela se machucasse na minha ausência? Teríamos uma conversa depois disso. Talvez tenha chegado a hora de meu pai adotivo se aposentar.
O resto eu lidaria com o Conselho em breve. Quando nos aproximamos da porta, podia ouvi-los resmungando e sussurrando dentro do salão. Estavam entediados? Irritados? Poderia consertar tudo isso. Respirei fundo, abri a porta e rugi para os meus súditos como se tivesse toda a intenção de terminar suas vidas nos próximos segundos. O silêncio repentino foi ensurdecedor. É isso aí, papai está em casa e não está feliz. O recreio acabou.
Enquanto meus alfas sentavam em silêncio atordoados, puxei uma cadeira para minha companheira e então me sentei na cabeceira da mesa. Ninguém falou. Examinei a mesa, procurando um desafio. Nenhum deles teve a coragem de encarar meu olhar. Todos sabiam que um exemplo teria que ser dado e nenhum estava ansioso para ser o primeiro.
Inclinei-me para a frente e, num tom tão calmo quanto pude, exigi: — Expliquem-se.
Silêncio.
— Estou esperando por um de vocês para me dizer por que ficaram parados e não fizeram nada enquanto minha companheira era agredida diariamente.
Finalmente, Jim falou. — Ela tinha que provar que pertencia ao Bando.
— Sim, —disse Mahon. — Não sabíamos que erámos obrigados a permiti-la se sentar ao seu lado sem derramar sangue, meu soberano.
Sim, na verdade achei que isso estava claro. A última vez que verifiquei, eu estava no comando por aqui. Era hora de gentilmente lembrá-los disso.
Me inclinei para frente e repeti: — Permiti-la? —Deixei sair.
A percepção disso os atingiu. Eles tinham acabado de me dizer o que eu tinha permissão para fazer. Ouvi o alfa dos Chacais respirar fundo e segurar o ar.
Olhei para eles. — Direi isso apenas uma vez. Eu sou o único que permite. Permito que todos vocês vivam e permito que vocês governem seus próprios clãs como bem entenderem. Se continuarei a fazê-lo ou não, dependerá somente do que vocês digam e façam nos próximos momentos. Tenham muito cuidado.
Foi a Tia B quem falou em seguida. — O clã Bouda forneceu à Consorte ambos os conselheiros e proteção contra os desafios ilegais. Ninguém que responda a mim a prejudicou. —Ela olhou para Daniel e sua companheira. — O mesmo não pode ser dito dos cães, no entanto.
Claro. Ela não teria levantado um dedo para impedir que os lobos cavassem seu próprio túmulo. O ódio entre as boudas e os lobos era um longo caminho sem volta. Lobos tinham números maiores, mas boudas jogam melhor o jogo.
— Nós não quebramos nenhuma lei —protestou Daniel. — Todo mundo sabe que a alfa do Clã Bouda fez um acordo com a companheira do Senhor das Feras.
Jennifer, sua companheira, assentiu. — Sim, porque a alfa queria status especial para seus degenerados.
Um lento sorriso apareceu nos lábios de Bea. — Todos nós sabemos o quanto o alfa do Clã Lobo ama sua companheira. Por curiosidade, quantos de seus lobos ele estava disposto a sacrificar para satisfazer os caprichos da sua alfa?
— A humana tinha que ser colocada a prova como todos nós, —disse Daniel. — É a lei. É justo.
— Justo, sério? —Perguntei. — Quem entre vocês enfrentou vinte e dois desafios em duas semanas? —Nenhum tinha, claro. Nem mesmo Mahon, nosso Executor, havia matado tantos tão rapidamente.
— Falando em lei ... —me dirigi diretamente a Jennifer. — Se bem me lembro, Daniel, apesar de ter sido escolhido após a aposentadoria de seus antecessores, enfrentou com sucesso uma série de desafios antes de escolher você como sua companheira. No entanto, você nunca foi desafiada. Você sabe por que, Jennifer? A lei que vocês dois gostam tanto de citar, diz que quem quer que desafie você também terá que lutar contra Daniel. Os alfas lutam como um só. Se um dos alfas está machucado, tem sido uma cortesia não dita entre o Bando esperar até que ambos estejam em pé antes de um desafio ser emitido. É uma questão de honra. Se você for tomar o lugar de outro, deve vencê-lo de forma justa. Vocês não deram a minha companheira a mesma cortesia.
— Ela matou minha irmã! —Jennifer gritou.
Bom, vamos colocar tudo em pratos limpos. Acertar as coisas de uma vez por todas. — Verdade, sua irmã ficou loup e a atacou. Mas Kate não foi responsável de sua irmã ir a loup, muito pelo contrário, Kate matou a responsável. Sua raiva é injustificada. Na verdade, ela te fez um favor. Se você fosse algum tipo de alfa de verdade, saberia que sacrificar sua irmã era sua responsabilidade. Era seu fardo para carregar. Você é a parente mais próxima.
Jennifer apertou os dentes. Medi cada palavra com cuidado. Não podia desafiá-la, porque o desafio tinha que vir do membro de baixo escalão do Bando. Mas se eu dissesse o suficiente, ela me desafiaria.
— Minha companheira assumiu o fardo que era seu, Jennifer, e em vez de oferecer sua gratidão, você a odeia por isso. Ela é uma lembrança constante de sua fraqueza. Você quer lutar contra ela, mas não pode. Em vez disso, incita outros a fazer o que você não pode fazer. É o seu maior fracasso. No entanto, porque sou misericordioso e justo, vou lhe oferecer uma chance de se redimir.
— Não vou me desculpar ou me curvar a ela. Vou morrer primeiro antes que isso aconteça. —Jennifer soltou o ar como um cachorro louco.
Bom, podemos providenciar isso então. — Mais uma vez, você entendeu mal. O que ofereço é uma chance para a vingança que você procura, mas desta vez corretamente. Desafie-nos. Casal contra casal, como deveria ser.
Dei ao resto um olhar de advertência. — Ninguém vai interferir. Apenas vocês dois contra nós dois.
Kate ficou tensa ao meu lado. Debaixo da mesa, dei um aperto gentil na mão dela para assegurar-lhe que estava apenas blefando e que tudo ficaria bem. Na verdade, não tão bem assim, mas eu estava confiante de que, mesmo machucados, poderíamos vencê-los, e todo o resto se fosse necessário. Enquanto eles acreditassem que poderíamos lutar sem problemas, não precisaríamos lutar de verdade, assim esperava.
Quando Jennifer começou a levantar-se, ela realmente era idiota ou maluca, Daniel segurou seu braço, quase rápido demais para ver, e puxou-a de volta. Ela caiu em sua cadeira com força. Abriu a boca e ele deu-lhe um olhar seguro até que ela fechou a boca e baixou o olhar. Seu rosto ficou vermelho. Daniel não estava disposto a deixá-la jogar fora sua vida ou a dele.
O Alfa Lobo inclinou a cabeça em um leve aceno. — O Clã Lobo implora à Consorte por seu perdão. Lamentamos sinceramente por qualquer ofensa que possamos ter causado. Queremos expressar nossa lealdade e obediência contínuas ao Senhor das Feras e a sua Companheira.
Boas palavras. Talvez houvesse esperança para ele depois de tudo.
— E o resto de vocês? —Meu olhar permaneceu por um momento nos alfas do Clã Rato. Thomas e Robert Lonesco balançaram a cabeça em uníssono. Thomas, o mais velho e maior do casal, falou. — Não temos interesse em uma luta. —Ele sorriu um pouco, mostrando os dentes brancos e uniformes. — Não apoiamos sua companheira porque não sabíamos o suficiente sobre ela.
Kate se inclinou e sussurrou para mim: — Depois que matei os Chacais, eles me mandaram chocolate.
Bom, na verdade eu realmente gostava dos dois e teria me arrependido de tê-los matado. Olhei para os substitutos alfas dos Chacais citados por Kate. A fêmea, Tracy, falou. — Não temos nenhum problema com a Consorte. Somos gratos a ela por nossa posição atual.
Eu esperava mais problemas. Tudo o que restou foram os Clã Ágil e Heavy de Mahon. O velho urso eu lidaria em particular. Clã Ágil era uma espécie de anomalia na sociedade dos metamorfos. Seus alfas, um casal asiático mais velho, governavam não porque eram os mais fortes, mas porque sua idade e sabedoria eram altamente respeitadas por seus súditos. Não doía, é claro, que seus devotos betas fossem um par vicioso temidos pelo resto do clã e muitos no Bando. Eles evitavam que os mais velhos se machucassem e entendia-se que ficariam no lugar como alfas quando chegasse a hora.
O alfa do Clã Ágil levantou, subindo à sua altura total, e, em seguida, curvou-se profundamente, seu olhar nunca me deixando. Ele segurou a reverência, então se endireitou, e num tom muito formal proclamou: — Clã Ágil recorda o acordo que Sua Majestade nos deu e nunca se desonraria ao retribuir essa gentileza com traição ou deslealdade. A Consorte lutou admiravelmente e conquistou um lugar de respeito ao lado de nosso Senhor.
Ceeerto, um simples ‘estamos com você’ teria sido suficiente, mas se ele se sentia mais confortável com formalidade, então que assim seja.
— Nós respeitamos o Clã Ágil e mantemos a sua amizade em alta estima. —Ahh, isso o pegou, ele quase sorriu, curvou-se mais uma vez, e sentou-se novamente.
Quase pronto.
— Então, está tudo resolvido. A menos que haja outra coisa, vocês podem ir em paz. Mahon, você fica, —ordenei. O resto saiu tão depressa quanto podiam, mantendo uma aparência de dignidade.
Kate virou-se para mim. Seus olhos me perguntaram: Você quer que eu fique?
Silenciosamente eu balancei a cabeça. Não, você não quer estar aqui para a próxima parte.
Assisti o Conselho do Bando correr da sala com seus rabos entre as pernas. Um por um, fugiram, tomando cuidado para não olhar para mim ou para o urso. Finalmente, os últimos metamorfos passaram pela porta. Eram apenas nós dois.
Olhei para Mahon da mesma forma que um alfa olha para um sujeito rebelde. Mahon cruzou seus braços maciços. — Chegamos a isso, então?
Eu não respondi.
— Já estava na hora. Estou esperando por isso, garoto. Precisa ser resolvido.
Bom, nos entendemos. — Você quer resolver isso aqui, velho, ou você tem algum outro lugar em mente?
Mahon considerou por um longo momento. — Vamos precisar de espaço. Isso é muito pequeno.
— Na varanda do quarto andar, então.
A varanda, um terraço de uma das torres menores, era uma praça de pedra, cerca de vinte por cinquenta metros. Na primavera e no verão, usávamos para refeições e reuniões ao ar livre, mas no inverno estava deserta. Isso nos forneceria bastante espaço e nos dava um pouco de privacidade também.
Essa coisa entre Mahon e eu não seria uma exposição. Também não era uma luta até a morte, mas se algum dos membros do Bando testemunhasse isso, ela se tornaria uma. Eu teria que matar Mahon e não queria fazer isso. Mahon não era meu pai, mas eu era seu filho. Isso era entre nós dois e, quando terminássemos, saberíamos de uma vez por todas quem era o mais forte. Andei pela porta. Ele seguiu. Fora do quarto, Derek me viu e se afastou da parede. Olhei para ele, disse: — Siga-me, —e continuei andando. O garoto ficou um passo atrás de nós.
Precisaríamos de um guarda para impedir que o resto do Bando enfiasse seus narizes onde eles não eram chamados, e não poderia ser Jim ou Kate. Jim era meu melhor amigo. Ele iria interferir. Kate ... isso era algo que eu não queria que Kate visse. Derek faria o que lhe foi dito e manteria o resto de fora. Nós três fizemos o nosso caminho para o quarto andar. Uma porta de madeira maciça guardava o caminho para a varanda.
Olhei para Derek. — Você fica aqui. Ninguém passa para o outro lado desta porta. —Segurei seu olhar por outro longo momento para ter certeza que eu tinha a atenção dele. — Ninguém.
— Sim, meu Senhor.
Abri a porta e Mahon e eu saímos. O ar frio atingiu meus pulmões. A porta se fechou atrás de nós. A escuridão havia caído. O céu era negro e vasto, e as pequenas luzes das estrelas perfuravam-no com uma luz fria. Atrás de nós, as torres cinzentas da Fortaleza bloqueavam a lua, mas estava lá, derramando luz sobre a clareira coberta de neve ao redor da Fortaleza. Além disso, madeiras negras se erguiam.
A varanda se estendia diante de nós, coberta de neve branca intocada. Antes que isso acabasse a pintaríamos de vermelho.
— Como você quer? —Mahon perguntou.
— Não assim, e sua meia forma é uma droga, —disse a ele. — Eu quero você no seu melhor. É melhor você aguentar.
— Nesse caso, é melhor você vir até mim em sua forma de guerreiro. Isso lhe dará uma chance melhor.
— Não preciso, —respondi.
Ele colocou a mão no meu ombro e disse baixinho: — Meu filho, se você hesitar ou se segurar, eu vou te quebrar.
Você pode tentar, velho. — Não há mais conversa.
Deixei ir. Calor me inundou. Houve um tremendo calor. Era como ser esticado em uma prateleira enquanto era incendiado. E então tudo puxou: ossos, tendões, músculos, pele, todos esticados. O véu nebuloso que eu não notei caiu e de repente o mundo ficou dolorosamente claro. Senti o cheiro de tudo, o vento do céu gelado, o toque de fumaça da cozinha da Fortaleza, a pedra seca, a neve limpa e a pele de um enorme urso esperando para quebrar minhas costas.
Urso. Aroma familiar. Seguro. O mesmo perfume que eu cheirava anos atrás quando não tinha lugar para ir e Mahon me disse que eu tinha uma casa. Ele era enorme então, grande e áspero, mais alto que eu por quase meio metro. ‘Você pode ficar aqui, garoto. Nós vamos tratá-lo como se fosse nosso. Você não tem que me chamar de pai. Apenas Mahon.’
Do outro lado da varanda, o Kodiak25 balançou a cabeça. Ele era enorme, quase três metros e meio de altura e pesava quase uma tonelada. Ir de igual para igual com ele estava fora de questão. Balancei, testando a mudança. Tudo havia se encaixado. Eu não estava no poder total, mas tudo bem. Estava muito chateado e isso me daria um combustível na briga.
A fera gigante desgrenhada subiu em suas patas traseiras e rugiu para mim. Isso mesmo, mostre-me essa sua barriga grande e macia. Eu abri minha boca e rugi de volta, afogando-o. Traga isso, garoto gordo.
Minha melhor aposta seria sangrar ele. Atacar, morder ou usas minhas garras, depois sair rapidamente antes que as patas grandes possam se conectar comigo. Não deixar que ele pegue ou me segure. Se ele puder, Mahon me puxará para um abraço e esmagará minha cabeça entre suas mandíbulas. E se eu tiver muita sorte, ele virá para mim assim, nas patas traseiras, estômago para fora. Cavei na neve, testando o chão. Minha pata encontrou gelo nas pedras. Liso. Venha, urso. Venha até mim.
Ele caiu de quatro e se arrastou em minha direção com a cabeça abaixada. Droga. Se eu deixasse, ele tentaria me empurrar para o chão. Na minha primeira luta real eu matei um urso parecido, e ainda era uma das batalhas mais difíceis da minha vida.
Mahon continuou se movendo, de cabeça baixa, entrando, balançando de um lado para o outro. Uma grande bagunça de urso. Parecia desajeitado, mas deixava que ele usasse a grossa camada de pelo e gordura que embainhava seus quadris como um escudo. E um ataque de lado não ficaria impune. Desajeitado ou não, ele era rápido.
Nós nunca brigamos, não assim, mas eu o observei matar nos últimos quinze anos, e sabia que ele usaria aquela cabeça grande como uma marreta. Ser acertado por um urso era como ser chutado por um cavalo. Ele me derrubava e colocava todo esse peso em mim.
Era hora de dançar. O deixei chegar a um metro e meio de mim. Mahon se lançou. Eu me esquivei para o lado e enterrei minhas garras em sua cabeça e pescoço. Principalmente o que eu consegui foi pele e gordura, mas isso o machucou. O urso tremeu, tentando me arremessar. Me pendurei e dei uma grande mordida no ouvido dele. O gosto familiar de sangue inundou minha boca.
Mahon gritou de dor.
Sim, isso vai deixar uma marca.
De repente, minhas patas deixaram o chão e então nos movemos. Ele me levou de volta, como um martelo que ataca um prego. Deus, ele era forte pra caralho.
Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser deixar ir. Soltei meu aperto. Muito tarde. A parede bateu nas minhas costas e a massa grossa do urso bateu em mim.
Ai!
A parede tremeu. Do outro lado da parede, Curran estava sendo abatido e ele me trancou e deixou o garoto maravilha em posição perto da porta para ter certeza de que ela ficaria fechada. A sala estava cheia de metamorfos. Os alfas, os betas, qualquer um com qualquer tipo de patente havia entrado.
Jim apareceu sobre Derek. O menino tinha crescido, mas Jim ainda tinha cerca de três centímetros de altura nele, e ele espremeu tudo o que podia dele. — Mova-se.
Derek não respondeu. — É uma ordem.
Derek olhou para frente. A mensagem era clara. Jim teria que matá-lo antes de deixar a porta abrir. Isso era inútil. Empurrei meu caminho para fora do quarto e para o corredor. Barabas saiu do quarto atrás de mim. Eu me arrastei pelo corredor, longe da multidão. Minha perna estava pegando fogo. Pela primeira vez desejei ter trazido a bengala estúpida para poder me mover mais rápido. Nós viramos a esquina.
— Existe outro caminho para a varanda? —Sussurrei.
— Chegar, não. Ver, sim.
— Leve-me até lá.
— Há escadas, —advertiu Barabas.
— Leve-me até lá ou vou jogar você pela janela.
— Sim, Alfa.
Mordi a ponta do nariz de Mahon. Bem-vindo às mandíbulas do leão. Ele rosnou de dor e caiu de volta.
Eu caí na neve e recuei, colocando alguma distância entre nós. Minhas costelas doíam. Calor fluiu, tricotando os ossos fraturados juntos. Nenhum dano maior, mas mais um assim e eu estava acabado.
Tinha que sangrar ele. Dentro e fora. O Vírus-L repararia o dano, mas não antes de Mahon sangrar.
Precisava provoca-lo, assim seria muito mais fácil de lidar com ele.
O urso tropeçou. Eu corri para cima, garras prontas.
Cinquenta milhões de fodidas escadas, cada passo disparando uma explosão de dor no meu quadril, até que eu queria arranhar minha perna sangrenta para chegar à fonte da dor.
Vamos, Kate, empurre. Empurre.
— Desculpe por isso, —disse Barabas.
— Desculpe pelo quê?
Ele me pegou e subiu as escadas. Dois segundos depois, saímos numa pequena porta de ferro e entramos na minúscula sacada de pedra. Estávamos em uma das torres laterais, a um ângulo de noventa graus em relação à torre principal. Dois andares abaixo de nós, um enorme urso e meu leão estavam na neve sangrenta.
Oh, Curran. Seu estúpido e idiota. Barabas me abaixou no chão.
Mahon estava respirando com dificuldade. Seus flancos desgrenhados subiam e desciam enquanto ele expelia nuvens de vapor úmido pelo nariz. O sangue encharcava seus lados. Curran mancava um pouco, favorecendo a pata traseira esquerda.
Curran se lançou, um borrão. Segurei minha respiração. Ele dançou perto, cortou o rosto de Mahon e retirou-se, evitando um golpe da colossal pata de urso por um fio de cabelo.
Curran estava tentando sangrar Mahon, mas o Vírus-L estava curando-o mais rápido do que ele poderia machucá-lo.
Mais cedo ou mais tarde, Mahon o pegaria. E uma hora antes, Curran estivera inconsciente em sua cama. — Leve-me até a varanda, —eu disse.
— Eu não posso, —disse Barabas. — É muito longe.
Eu não conseguiria pular a distância, não com a perna machucada. — Jogue-me.
— Há cinquenta metros entre nós e eles, sem mencionar a queda de nove metros, —disse Barabas. — Seu corpo quebrado iria pousar entre um urso enfurecido e um leão louco de sangue. É meu dever ajudá-la de qualquer maneira que eu puder, mas o suicídio não está no cardápio.
Meu joelho cedeu. Eu caí no trilho de pedra e observei Curran lutar. Era tudo que podia fazer.
Ele ia me pegar. Meu lado doía como o inferno e minha visão estava um pouco embaçada. Mahon tinha golpeado minha cabeça com a pata duas vezes. Parecia que tinha sido atropelado por um carro. Eu não aguentava mais nada na cabeça. Tinha que derrubá-lo e acabar com isso.
Mahon passou para mim. Bati nele e recuei. Precisava incitá-lo a entrar em uma fúria de urso. Se ele subisse nas patas traseiras, eu teria uma chance.
Senti o cheiro de Kate. Ela estava aqui. De alguma forma, estava aqui. Se eu tirasse meus olhos de Mahon, ele me espancaria. Por que ela não podia fazer o que lhe foi dito, uma maldita vez, apenas uma maldita vez?
Mahon atacou.
Eu me esquivei da esquerda, direto para a parede. Ele pensou que tinha me fechado, enorme, rápido e imparável. Bati na parede, capotei e aterrei em cima dele. Olá, meu velho. Perfurei sua pele e cortei sua carne com todos os quatro conjuntos de garras, descascando-o de sua cabeça para sua bunda grande e desgrenhada.
Mahon gritou de dor.
Pulei livre e mordi seu focinho. A pata do urso pegou meu lado. Tomei o golpe, doeu como o inferno, e golpeei o nariz dele, cortando-o. Um, dois, três. Novamente. Novamente.
Ele me atacou de novo, com a cabeça abaixada. Virei para a direita, fechei minhas mandíbulas no ouvido ferido e mordi o resto. O urso rugiu de dor e fúria.
Cuspi a orelha para fora e bati na direção dele com a minha pata. Não, você pode ficar com sua orelha. Não gosto dela. Ótimo. O enorme Kodiak berrou como uma sirene de nevoeiro e levantou.
Sim, era isso, agora ele estava bem chateado.
Com um rugido de sacudir a terra, ele se arrastou em minha direção, todo urso, nenhum pensamento humano ou estratégia agora, motivado por pura raiva e dor. Seria sua ruína ou minha.
Mahon levantou-se em suas patas traseiras. Curran saiu mancando. Seu lado estava sangrando, um mau sinal. O Vírus-L não estava acompanhando os reparos.
Mahon continuou se movendo. Curran recuou para a beira da varanda. Nenhum lugar para ir.
Se eu o perdesse aqui, para essa briga idiota, depois de ter lutado por ele e o protegido por duas semanas, depois que chorei e pensei que ele estava morrendo, eu o encontraria na vida após a morte e o mataria novamente.
Mahon balançou, muito. Curran se abaixou sob as enormes garras, chocantemente rápido, e enfiou as próprias garras na perna esquerda do urso e mordeu com força.
Eu sabia quanta pressão aquelas mandíbulas poderiam liberar. Ele mordeu a pele e o músculo, e então a perna de Mahon se dobrou como um palito de dentes quebrado quando as presas enormes felinas esmagaram seus ossos.
Curran torceu e chutou para fora com as pernas de trás, um movimento que nenhum leão jamais pensaria sem um cérebro humano dirigindo. Seu corpo golpeado balançou e suas costas bateram na perna não machucada de Mahon. Por meio segundo, o urso permaneceu de pé por pura força de vontade, e então ele caiu, caindo para trás como um gigante com as pernas cortadas.
Meu Deus.
Curran saiu do caminho antes que o enorme volume pudesse esmagá-lo. Quando Mahon estava deitado de costas, Curran colocou as patas dianteiras e o peso no peito. A enorme cabeça leonina mergulhou. Curran abriu a boca. Suas mandíbulas fecharam-se no pescoço de Mahon e seguraram-no, de leve, quase suavemente.
Uma enorme pata marrom subiu e caiu. Tinha acabado. Curran havia vencido.
Eu me deitei na neve, exausto. Meu corpo fluiu para a forma humana familiar. Tudo doía. Meu corpo estava muito quente, como se eu estivesse queimando de dentro para fora.
— Boa luta, garoto, —Mahon falou de algum lugar a direita. — Estou orgulhoso de você.
— Cale a boca. —A neve estava derretendo ao meu redor. O líquido gelado ficava bem na minha pele. Bem, isso era absolutamente agradável. Eu poderia ficar aqui por um tempo enquanto não tivesse que me mexer.
— Ainda acha que ela vale a pena? —Mahon perguntou baixinho. — Claro. Ela é minha companheira.
Mahon suspirou. — Então você decidiu.
— Você acha que estaríamos aqui sangrando na neve se eu não tivesse certeza?
— Bom ponto.
Peguei um punhado de neve e coloquei no meu rosto. Mmmm ... isso é legal. — Esperava que ela fosse uma de nós, —disse Mahon.
— Bem, você não pode sempre conseguir o que espera. Eu esperava que meu próprio povo não tentasse matar minha companheira enquanto eu estava morrendo.
— Nunca chegou perto desse risco, —disse Mahon. — Ela é mais forte do que qualquer um de nós, saiba disso.
— Eu sei.
— Imaginei. —Mahon suspirou novamente. — Ela nunca vai nos entender completamente.
— Não é sempre sobre você. Desta vez é sobre mim. Ela me entende e isso é suficiente.
Algum tipo de comoção estava acontecendo atrás da porta. — Nunca mais vamos fazer isso de novo, —disse Mahon.
— Isso depende de você. Sempre que precisar de mim, estaria aqui para lembrá-lo ... —Mahon riu.
— Eu te criei muito bem.
A porta voou das dobradiças e deslizou pela neve, Derek pregado a ela. Bem, não posso dizer que o garoto não tentou.
Martha invadiu a varanda. — Oh-oh, —Mahon murmurou.
A esposa de Mahon olhou para nós. Suas mãos foram para seus quadris. — Qual de vocês dois idiotas querem me explicar o que diabos está acontecendo?
Com grande esforço, levantei o braço e apontei na direção geral de Mahon. — Foi ele. —Kate apareceu na porta.
— O que você fez com o menino? —Martha exigiu.
— O que eu fiz para ele? Olha o que ele fez comigo!
Kate se ajoelhou ao meu lado. Eu levantei minha mão e toquei sua bochecha. — Você é um idiota, —ela me disse.
— Eu sei. Martha já disse isso.
— Resolveram o que tinham para resolver? —Martha exigiu. Não parecia destinado a mim, então não respondi. — Sim, —disse Mahon.
— Bom. Levante-se.
Houve algum movimento e, em seguida, os dois saíram cambaleando de volta para a porta e para a luz da Fortaleza. Quando eles passaram por nós, Mahon baixou a cabeça. — Senhor. Senhora.
Então eles foram embora. Derek os seguiu, carregando a porta. — Você quer ir? —Kate perguntou.
— Ainda não.
Ela sentou-se na neve ao meu lado. Coloquei meu braço ao redor dela, puxando-a para perto. Derek colocou a porta de volta no lugar. Nós ficamos sozinhos. Apenas nós, a neve e as estrelas.
— O salto para trás foi uma boa jogada, —disse ela.
— Você viu?
— Eu vi.
Eu sorri. — Chutei a bunda dele.
— Sim, você fez. Precisa de ajuda para levantar, chutador de bundas?
— Essa é a minha fala.
Ela riu baixinho. — Não posso carregar você, sabe disso.
— Dê-me mais cinco minutos. Deverei ser capaz de andar.
Nós nos sentamos na neve e observamos as estrelas. Amanhã eu teria que lidar com todas os problemas de novo. Mas esta noite era nossa. Nós a ganhamos.
Já que vocês estão brigando muito por mais histórias escritas na visão do Curran, nós pensamos em escrever uma coisa engraçada. Não há twitter em Atlanta de Kate Daniels, mas e se houvesse …
Mensagem direta de Raphael para Curran:
Raphael: Você está aí?
Curran: Sim.
Raphael: Estou em um leilão imobiliário. O pervertido está aqui. Ele está tentando comprar o edifício Wilson.
Curran: Qual o lance?
Raphael: Seiscentos mil.
Curran: Lance contra ele.
Raphael: Entendi.
Curran: O que diabos é o edifício Wilson?
Raphael: Me bata.
Mensagem direta de Curran para Jim:
Curran: Por que a Saiman quer comprar o edifício Wilson?
Jim: Olá para você também, Sua Majestade.
Curran: Você pode apenas responder a maldita pergunta?
Jim: Deixe-me verificar isso.
Rafael: 700 mil.
Curran: Ele está dentro?
Raphael: Oh sim, ele está dentro.
Curran: Continue os lances.
Mensagem direta de Kate para Curran:
Kate: Onde você está? Pensei que nós tínhamos uma hora de treino.
Curran: Aconteceu algo.
Kate: Ah, é mesmo?
Curran: Estarei aí. Me dê dez minutos.
Rafael: 900 mil.
Curran: Mantenha os lances.
Kate: O que você está fazendo?
Curran: Nada.
Kate: Você parece suspeito.
Curran: Como você pode dizer que pareço suspeito pelo Twitter?
Kate: Estou indo para o nosso quarto.
Raphael: Um milhão. Curran, isso é muito dinheiro ...
Raphael: Curran?
Curran: Desculpe, tive que me mudar para o banheiro. Mantenha os lances.
Curran para Jim: Alguma informação?
Jim: Estou checando.
Rafael: 1.200.000, mais do que isso são muitos zeros. Muitos deles.
Curran para Jim: continue fazendo os lances.
Curran para Raphael: é para hoje.
Raphael: Eu não entendi isso.
Jim: Continue fazendo lances sobre o que?
Kate: Eu sei que você está no banheiro. Posso ver sua sombra na abertura embaixo da porta.
Curran para Kate: investigadora treinada.
Kate: Está tudo bem aí?
Raphael: 1.400.000 Puta merda, eu nem sei se podemos cobrir isso.
Curran: Mantenha os lances.
Curran pata Jim: O QUE TEM NO EDIFÍCIO WILSON?
Jim: Alguém tem um temperamento ...
Raphael: US $ 1.600.000. Curran, Curran, isso é ruim, isso é muito ruim.
Kate: Eu posso ouvir você digitando no seu telefone.
Curran: Não, você não pode.
Jim: Saiman quer porque é ao lado do Red Room, um casino subterrâneo.
Raphael: US $ 1.750.000 Pai nosso que estais no céu ...
Jim: A área tinha sido nivelada por um furacão no mês passado.
Raphael: Santificado seja o vosso nome ...
Jim: Wilson é o único lugar intacto o suficiente para converter em um hotel num raio de cinco quilômetros.
Curran para Raphael: Solte-o. Dê a ele.
Raphael: Oh Deus. Meu Deus.
Curran para Raphael: Ele comprou?
Raphael: Ele fechou por US $ 1.800.000. Ele parece verde.
Curran para Jim: Acabei de fazer Saiman pagar US $ 1.800.000 por um prédio de US $ 600.000.
Jim: Há algo de errado com você, cara.
Curran para Kate: Hei baby. Que tal um treino?
Kate: Você sabe que em vez de Twitar, poderia simplesmente abrir a porta.
Um encontro para jantar depois de um dia duro de trabalho deve ser celestial. Claro, os encontros entre o Senhor das Feras e Kate Daniels nem sempre saem como planejado. Mortos-vivos enlouquecem, cabeças são cortadas, advogados são desdobrados com preconceito extremo, e vikings bêbados chamam as pessoas para fora.
Ilona Andrews
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