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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DANGEROUS MAGIC / Donna Grant
DANGEROUS MAGIC / Donna Grant

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Com a escuridão segurando firmemente sua alma, Cade sabe que vai para o inferno. Homens como ele não cometem os pecados que ele cometeu - independente de terem sido ordem do rei - e escapam da escuridão...
Solitário, Cade toma o que a terra provê, após ter jurado manter os dois homens que considerava como irmãos vivos e à salvo do grande mal que os persegue. Ele sabe que seu tempo é curto e que o mal o está procurando também, mas ainda lhe resta humanidade suficiente para ajudar seus amigos.
Quando a bruxa de cabelo vermelho o encontra, Cade fica instantaneamente fascinado por sua beleza. Será que ele poderá desistir dela...
Ou vai acabar cedendo ao amor imprudente e impossível que poderia destruí-lo

 


 


CAPÍTULO UM

Bosque próximo ao castelo de Wolfglynn

Verão, 1128

A escuridão arrastou sua alma, exigindo libertação, ansiando por

devastar a terra em sangue e morte. Cada dia ficava mais difícil lutar contra

isso, recordar do homem que estava acostumado a ser.

Mas, novamente, ele sabia o que resultaria de sua batalha desde o

primeiro momento em que a escuridão se filtrou nele.

Cade parou de afiar sua espada e olhou para o mar turbulento

observando o pequeno barco a remos se aproximando do Castelo de

Wolfglynn. Todas as manhãs via o barco levar a formosa e vibrante Francesca

ao castelo, seu cabelo ardente atrai seu olhar como um farol. E todas as noites,

olhava-a retornar à pequena ilha através do mar.

Isso tinha se tornado um ritual, igual a afiar suas armas e espreitar o

bosque por um inimigo que sabia que atacaria logo — muito em breve.

O olhar do Cade se afastou de Francesca quando algo se moveu entre as

árvores. Ele ficou em pé, com a espada na mão, e caminhou em silêncio para o

som, escutando os alertas de que poderia ser ele.

— Cade?

Ele parou e suspirou.

— Cade, por favor, — disse Drogan de onde se encontrava à beira da

vegetação. — Só fale comigo.

Mas Cade não se atreveu. Era doloroso estar tão perto de um homem a

quem tinha chamado de irmão, mas estava disposto a suportar a tortura como

um esforço para salvar a vida de Drogan. Foi só por ele que Cade não foi caçar

o próprio Nigel.

Barão Nigel Creely. Os lábios de Cade se curvaram em uma careta de

desprezo ao pensar nele. O bastardo tinha o tranformou Cade no que era

agora, o mesmo homem que já tinha tentado matar Drogan uma vez.

Drogan ganhou a primeira batalha, mas Nigel não desistiu. Cade sabia

muito bem que uma vez que Nigel quisesse alguém morto, ele não pararia até

conseguir isso. Por isso Cade se escondeu no bosque.

— Cade. Sei que está aí. — Drogan suspirou e passou uma mão por seu

longo cabelo castanho. — O que preciso dizer para que você entre no castelo?

Não há nada que possa dizer, irmão.

A escuridão quase reivindicou Drogan, mas ele conseguiu combatê-la, e

com sua esposa a seu lado, Drogan a derrotou de uma vez por todas. Cade não

queria colocar novamente a escuridão perto de Drogan, não quando era uma

parte tão grande dele que já não conseguia distinguir as duas agora.

Ele chegou tão perto de Drogan quanto se atreveu antes de parar e

observar seu amigo. Cade ainda se lembrava do que lhe foi dito quando o

transferiram para a guarda privada do rei. Cade era jovem, muito jovem, mas

seu talento com uma espada o levou a Gerard e Drogan — dois dos melhores

espadachins de toda a Inglaterra.

Os dois eram alguns anos mais velhos que Cade, mas logo formaram

uma irmandade. Cade aprendeu com entusiasmo tudo o que os homens lhe

ensinaram, e a cada mês sua habilidade só crescia.

O que chamou a atenção de Nigel. Se Cade soubesse, o que sabia agora,

nunca teria permitido que Nigel afundasse suas garras nele.

Drogan se moveu pé ante pé, com a mão no punho de sua espada

enquanto olhava as árvores. — Você sabe que é bem-vindo a qualquer hora,

Cade. Eu gostaria de lhe apresentar meu filho. Serena quer te conhecer

também. E só quero me sentar com você e compartilhar uma refeição como

antes.

Cade fechou os olhos. Sabia que não devia escutar Drogan. Era muito

fácil deixar que as palavras de seu amigo o afetasse. Drogan pensou que sabia

tudo sobre ele, mas não sabia nada. Se tivesse uma ideia do que Cade fez

desde aquela fatídica noite a tantos anos atrás quando sua irmandade havia se

quebrado, ele não o convidaria para seu castelo.

— Eu não vou desistir de você — murmurou Drogan antes de girar sobre

seus calcanhares e avançar para o castelo.

Cade se apoiou contra uma árvore e suspirou. Deus, como sentia

saudades de conversar com Drogan e Gerard. Quando soube dos planos do

Nigel de matar os dois, Cade não hesitou em assegurar a sobrevivência de

seus amigos.

Gerard e sua família estavam novamente em seu castelo, e mesmo que a

ameaça de Nigel não tenha findado, por alguma razão Nigel queria Drogan

antes de Gerard. O mais provável era que Drogan comandava a fraternidade

deles. Drogan era o mais forte deles, o melhor.

Enquanto Cade tinha sido o mais fraco, o pior.

Seus olhos se abriram de repente quando sentiu o cheiro de lilás e a

magia formigou por sua pele. Ele girou para encontrar à bruxa, Francesca, a

vinte passos dele.

Muitas vezes a seguiu no bosque enquanto colhia ervas, embora nunca

tivesse falado com ela. Observava a sua beleza com seu longo cabelo vermelho

pendurado numa grossa trança sobre o seu ombro de pele cremosa, imaculada

e pura.

Os olhos avermelhados o viam com suas sobrancelhas levemente

arqueadas. Seus lábios se curvaram nos cantos, como se soubessem um

segredo que não conhecia. Seu vestido amarelo abraçava seus seios, e o cinto

colorido que lhe rodeava a cintura e os quadris só atraia mais atenção a suas

deliciosas curvas.

As bolas de Cade contraíram em resposta. Desde a primeira vez que a

viu há um ano, não foi capaz de silenciar a luxúria que o golpeava cada vez

que a olhava.

— Nunca falará com ele, meu senhor?

Sua voz era suave, rica e sedutora. Lutou contra o impulso de correr, de

desaparecer nas árvores como sempre fazia quando alguém se aproximava

muito dele. Entretanto, não falou com ninguém em... Meses. E ela estava aqui.

Fazendo-lhe uma pergunta.

— Não me chame de 'meu senhor'. — Sua voz soou áspera e cortante.

Sua cabeça se inclinou para um lado. — Você não é um lorde com título?

Não tem terras e seu próprio castelo?

Cade amaldiçoou internamente. Drogan falou sobre ele. — Você não

deveria estar sozinha aqui fora.

— Você está me protegendo. Como sempre faz.

Quando franziu o cenho, sorriu.

— Posso não te ver, mas sempre te sinto quando estou no bosque. Você

me segue, não é? Protegendo-me?

Cade ergueu os ombros. — Se Drogan não fornece um guarda, alguém

tem que cuidar.

— Não preciso de um guarda.

Poderia discutir com ela sobre esse ponto, mas decidiu que não. Sua

força de vontade era óbvia, e não só porque ela era uma bruxa, ou uma bana-

bhuidseach1, como chamava a si mesma. Ela não era a única bruxa em Wolfglynn, entretanto. A esposa de Drogan, Serena, também era.

— Não vais me dizer por que não fala com Drogan, certo? — Perguntou

Francesca.

Cade sacudiu a cabeça. — Não há nada a dizer.

— Então me diga isto, guerreiro. Por que fica no bosque?

Cade abriu a boca para falar, mas ela continuou.

— Poderia ser porque sabe que Nigel voltará? Eu achei que estivesse do

lado dele, exceto pela dor que vejo em seu rosto cada vez que Drogan te pede

que venha ao castelo.

Cade engoliu e deu um passo longe dela. Francesca sempre o inquietou.

Talvez fosse a forma que seus olhos avermelhados o olhavam, como se ela

visse através de sua alma negra. Talvez fosse sua beleza. Ou talvez fosse

porque quando estava perto, sua magia enfrentava a sua escuridão, cravando

sua pele com... Algo inominável.

Sua testa se franziu. — Você está com medo de mim, Cade?

1 Feiticeira em gaélico

Tinha medo do que podia fazer, mas não ia lhe dizer. — Não é prudente

que esteja tão perto de mim.

Seu olhar se suavizou. — É a escuridão, não? É assim que sempre sei

quando está perto. Eu te sinto.

— Minhas desculpas.

— Não há necessidade de se desculpar. Sei que enquanto estiver por

perto, estarei segura.

Não tinha esperado que ela dissesse isso, nem tampouco esperava o

calafrio que essas palavras causaram.

Ela deixou escapar um profundo suspiro. — Todo mundo precisa de um

amigo. Inclusive você. Todos sabem que Nigel retornará, assim não tem

sentido pensar que deves lutar contra ele sozinho.

— Não deixarei que se aproxime de Drogan e a sua família. Nem de ti.

— Vamos te ajudar então.

Sacudiu a cabeça. — Você sentiu a escuridão em Drogan. A dele não é

nada comparada com a minha.

— Eu sei, — sussurrou ela.

— Está te arriscando muito por estar perto de mim, bruxa.

Durante longos momentos, ela sustentou seu olhar. — Está preocupando

Drogan que estejas aqui sozinho. E se tivesse que apostar nisso, diria que sente

tanta dor, ou mais, que ele.

Cade deu um passo mais longe dela. Drogan podia ter falado dele, mas

Cade o conhecia o suficiente para ter certeza de que ele se manteve muito

reservado. Ninguém precisava saber de seus feitos, especialmente não a bela e

sedutora bruxa em pé diante dele.

Ela o considerava bom apesar da escuridão que o rodeava. Queria que

continuasse pensando que ele era uma pessoa decente pelo tempo que

pudesse. Muito em breve, ela se daria conta do monstro que era.

Os faisões saltaram e içaram voo. Assim que Francesca girou a cabeça,

Cade deslizou de trás de uma árvore. Ela não pareceu surpresa ao vê-lo,

embora seu olhar o buscasse como tinha feito Drogan.

Cade bebeu de sua beleza etérea até que ela se virou e voltou para o

castelo. Passou uma mão por seu rosto e se afundou contra a árvore. Nunca

tinha esperado falar com ela, muito menos que ela o procurasse.

Ele já sentia falta do formigamento em sua pele que desaparece com ela.

Uma vez que estava segura no castelo, caminhou até onde ela tinha estado.

Inalou profundamente e sentiu o suave aroma das lilases.

CAPÍTULO DOIS

Francesca não queria sair do bosque. Tinha cedido finalmente ao

impulso de procurar Cade, e teve a sorte de encontrá-lo.

Juntou suas mãos trêmulas e parou em frente às paredes do castelo. A

dor gravada em seu rosto ao falar sobre Drogan fez seu coração doer. Sua

solidão era evidente, mas ele não deixava que ninguém se aproximasse o

suficiente para ser seu amigo.

Nem sequer Drogan, que afirmava serem mais do que irmãos.

Ela tinha escutado fragmentos do passado que acabou com o grupo

separado, mas Francesca tinha a sensação de que havia muito mais, mais do

que Drogan sabia.

Incapaz de deter-se olhou por cima do ombro para as árvores. Podia

sentir o olhar de Cade nela. Queria se aproximar dele, olhar o azul vívido de

seus olhos, mas a escuridão que o rodeava a empurrou. Ou talvez foi o próprio

Cade.

Ela entrou no castelo e instantaneamente perdeu seu olhar. Lambendo os

lábios seguiu para o salão principal. Ali encontrou Serena sentada em um

banco com seu filho no colo.

— Bom dia, — disse Serena brilhantemente.

Francesca forçou um sorriso e deslizou no assento junto a sua

companheira bana-bhuidseach.

— Drogan disse que uma tormenta está se aproximando, — disse Serena.

Francesca assentiu com a cabeça. — Sim. Terei que ir mais cedo para

chegar à ilha antes que ela nos atinja.

Olhou Serena alimentar seu filho durante um tempo enquanto seus

pensamentos se voltavam uma vez mais para Cade. Depois de Nigel ter

atacado a primeira vez, Francesca tinha retornado ao Wolfglynn todos os dias

para fortalecer o castelo com magia.

— O castelo está tão preparado como pode estar — murmurou Serena

antes de levantar o olhar para Francesca. — Eu gosto de sua companhia,

especialmente depois de pensar que era a última bana-bhuidseach existente, mas

me diga a verdadeira razão pela qual continua retornando.

Francesca não pôde sustentar o olhar de Serena. Ela baixou a cabeça e

recordou o azul vibrante dos olhos de Cade. Havia tanto que queria dizer a

Serena, mas não podia. Ninguém podia saber. Ninguém.

— Francesca?

Ela encolheu os ombros. — Eu gosto de estar preparada.

Serena bufou. — Você está mentindo, e não preciso de magia para saber

isso.

— A câmara está pronta? — Perguntou ela para trocar de assunto.

Serena cerrou os olhos antes de assentir com a cabeça. — Drogan disse

que estaria pronta hoje.

Francesca passou a mão pela madeira lisa da mesa. A câmara foi ideia

sua — um lugar protegido pela magia, onde Serena e seu filho ficariam

quando Nigel atacasse de novo.

— Ele está vindo?

Francesca puxou os olhos em Serena, sabendo que falava de Nigel. —

Sim, mas não posso precisar um dia.

— Estamos esperando a mais de um ano.

— E nesse tempo, ele tem se tornado mais forte. Não esqueçamos que

também atacou Grayson.

— Sabíamos que o faria.

Não era uma pergunta. Francesca suspirou. — Adverti Grayson para que

tomasse cuidado. Sabia que ele seria capaz de cuidar de si mesmo.

Ela não viu que ele também era um bana-bhuidseach. Tinha passado

muitas décadas desde que seu tipo tinha produzido um bruxo homem.

— Quer nos ajudar — disse Serena enquanto abraçava seu filho e lhe

acariciava as costas.

Francesca deixou o bebê envolver sua pequena mão ao redor de seu

dedo. — Grayson está colocando a si mesmo e a Adrianna em perigo.

— Eu sei, mas eu adoraria que a conhecesse. Você pode imaginar nós

três juntas? Francesca sorriu enquanto imaginava às três bruxas no mesmo

castelo.

— Seria maravilhoso.

— Eu superei a maldição, Fran. E Adrianna também. Ainda há esperança

para você.

Não, nem um pingo. — É obvio que sim. Uma vez que este assunto do

Nigel tenha terminado, posso pensar no futuro.

— Vi vários homens te observando. Podes ter uma escolha entre eles.

Francesca colocou sua mão sobre a de Serena antes de levantar-se. —

Espero que algum dia possa acontecer.

O bebê começou a se agitar, dando a Francesca o tempo que precisava

para sair do salão antes que Serena pudesse dizer mais. Estava encantada que

Serena tivesse quebrado a maldição de seu povo, mas Francesca sabia que ela

mesma não teria tanta sorte.

Fechou a porta do castelo atrás dela e parou no topo dos degraus,

deixando seus olhos correrem pelo pátio e pelas muralhas até encontrar

Drogan. Ela levantou a saia e se apressou a descer as escadas e cruzar o pátio

até os degraus que conduziam às muralhas.

Francesca fez uma pausa quando alcançou o topo. Drogan estava

olhando o bosque, e ela não precisava de sua magia para saber que ele pensava

em Cade.

— Não há nada que possa dizer que o atraia para dentro destas paredes.

Drogan a olhou por cima do ombro, seus olhos dourados se chocando

com os dela. Havia dor nas suas profundezas, mas também determinação e

força. — Tem que haver algo.

Francesca se colocou a seu lado. — É porque ele se preocupa contigo e

sua nova família que ele não vem.

— Como sabe disto? — A voz de Drogan se tornou dura, e seu olhar se

estreitou enquanto ele a observava.

— Falei com ele depois de que você saiu do bosque.

Drogan fechou os olhos por um momento antes de encará-la. — Pelo que

sei, ele não falou com ninguém desde o dia que Nigel atacou no ano passado.

— Suponho que tive sorte.

— Por favor. Conte-me o que ele disse.

Olhou às árvores, perguntando-se se Cade os observava. — Espera no

bosque por Nigel. Planeja atacá-lo antes que ele possa chegar até você.

— Tão bom quanto Cade é, ele não terá uma chance contra esse bastardo

sozinho. Preciso trazê-lo para o castelo.

Ela sacudiu sua cabeça. — Sempre que você entra no bosque, ele está por

perto. Observando-te. Escutando enquanto fala com ele.

— E por que não fala comigo?

Desejou saber a resposta. — Não sei. Mas isso lhe causa uma grande dor.

Ele quer falar com você, mas é como se não se permitisse.

Drogan passou uma mão no rosto. — Ele e Gerard eram os irmãos que

nunca tive. Era meu trabalho cuidar de Cade, já que ele era o mais jovem. Eu

falhei Francesca.

— Não sei se o fez ou não, e isso não importa para Cade. Ele se escondeu

no bosque para te proteger.

Drogan se virou para a parede e apoiou as mãos sobre as pedras. — Se

eu tivesse feito às coisas de outra forma. Nossas vidas mudariam para sempre

no espaço de uma batida do coração. Quem me dera saber o que Nigel disse a

Cade para que ele se afastasse de nós.

Francesca virou-se para as árvores e deixou que a brisa do mar a

cercasse. O impulso de retornar ao bosque e procurar Cade era forte. Podia

sentir a escuridão que o rodeava mesmo agora.

— Não ganhará contra a escuridão, certo? — Perguntou Drogan.

— Depende se ele quer ganhar.

Drogan baixou a cabeça. — Temos que fazer com que ele queira ganhar.

Se eu pude, ele também poderia. Não posso perdê-lo, Francesca. Não posso

perdê-lo.

Ela ficou parada durante um longo momento depois que Drogan partiu.

Não havia nada mais a fazer em Wolfglynn. Cada pedra, cada arma tinha sido

preenchida com magia para resistir a um ataque de Nigel. Entretanto, ela sabia

que não seria suficiente. Nunca seria suficiente.

Só havia uma coisa que podia destruir Nigel. Ela só esperava que

nenhum inocente sofresse com isso.

Francesca fechou os olhos e sorriu. Cade a estava observando como fazia

cada manhã e cada noite. Não estava certa de quando passou a esperar essa

sensação de calor, mas agora não podia ficar um dia sem ela. Ela enfrentou

tempestades brutais e o clima duro de inverno só para sentir seu olhar sobre

ela.

Era um jogo perigoso esse que jogava, mas um daqueles que era incapaz

de fugir.

Cade guardava Wolfglynn e seu povo dia e noite. Ninguém jamais o viu

a menos que quisesse ser visto, o que nunca permitia. Não estava certo de

como tinha deixado naquela manhã.

Seus dedos cavaram nas pedras enquanto recordava seus cachos

dourados que caiam por seus ombros em ondas grossas. Sua pele bronzeada

pelo sol, fazendo brilhar seus olhos azuis luminosos. Ansiava correr seus

dedos por sua mandíbula e queixo quadrado até sua boca larga.

Ele era alto e de ombros largos, fazendo sua túnica marrom claro e seu

jerkin2 moldarem seu musculoso peito e braços. Suas calças escuras eram

justas contra suas poderosas pernas. Era um espécime incrível, mas não era ele

e nem a escuridão que o rodeava que lhe tirava o fôlego. Eram suas armas.

Uma grande adaga curvada estava atada a seu quadril, com outra adaga

menor enfiada na parte superior de sua bota direita. Nas costas, as bainhas

entrecruzadas sustentavam espadas diferentes das que já tinha visto.


2

Os cabos eram quase brancos, mostrando as linhas suaves da madeira

cinzenta, e adornadas com punhos e protetores prateados. As lâminas não

eram tão longas como a maioria das espadas e levemente curvadas, mas pela

forma como ele as empunhava, era óbvio que sabia manuseá-las com uma

precisão mortalmente rápida.

Ela respirou profundamente e se tranquilizou ao ver o movimento no

bosque. Seu coração bateu mais rápido, e pensou em ir até ele. Ele permitiria

que ela o encontrasse novamente? Falaria com ela?

Francesca se obrigou a sair de perto das árvores. Ela só faria mal a Cade

se não conseguisse lutar contra o desejo de estar perto dele. Mas, ahhh, a

sensação de excitação que percorreu seu corpo quando o encontrou.

Ela teve medo de se mover, medo de falar e ele sumir. E ele fez, mas não

antes de responder a suas perguntas. Ela ficou tão surpresa quanto ele quando

se encontraram, e a aspereza de sua voz lhe disse que ele não falou em muito

tempo.

Os calafrios percorreram sua espinha. Ele ainda a observava.

E ela adorou.

Não posso.

Mas se pudesse...

CAPÍTULO TRÊS

Cade não podia impedir a si mesmo. Seu olhar procurava Francesca

mesmo sem querer. Ele encontrou-se imaginando o que ela e Drogan falavam

em frente às muralhas. Poderia ser sobre ele?

Ele se perguntava o que a bruxa pensaria dele. Ele a tinha assustado? Ela

não pareceu assustada, mas também não se aproximou dele.

Cade precisava patrulhar o bosque, mas não conseguia afastar o olhar de

Francesca. E logo que ela entrou no castelo, ele tinha digitalizado as muralhas,

com a esperança de uma visão dela.

Sua coragem o surpreendeu. A maioria que se aventurava no bosque

atirava olhares nervosos com a esperança de não vê-lo. Mas não a bruxa. Ela o

procurava. Entretanto, assim como Drogan, não podia permitir-se falar com

ela outra vez. Muito estava em jogo para que ele arruinasse tudo porque sua

beleza e graça o atraiam como nada o fez antes.

Quando ela passou pelas muralhas, desaparecendo de sua vista, ele se

virou e patrulhou o bosque como fazia muitas vezes por dia. Mas mesmo

enquanto fazia isso, sua mente vagava para Francesca. Ela não parecia

perturbada ao falar com ele — era quase como se a escuridão não a afetasse.

Seus passos, lentos e medidos, olhavam para as terras, às árvores e o céu

procurando os sinais de que Nigel tinha chegado. Nigel era um asno ardiloso.

Mandaria espiões antes dele para observar o Wolfglynn antes de atacar.

Cade estava pronto para o ataque há meses. Estava ansioso por uma

batalha, porém mais do que isso, ele queria lutar contra Nigel antes que a

escuridão o tomasse por completo.

Ele fez uma pausa e se ajoelhou para estudar uma pegada no chão. Era

de um lobo, só que maior que o da matilha vivia em Wolfglynn. Uma pontada

de apreensão percorreu sua espinha. Cade precisava encontrar o lobo

rapidamente.

Cade se endireitou e seguiu os rastros durante horas. Os rastros das

patas rondaram o castelo várias vezes. Em alguns lugares, a pegada se

aprofundava, onde o lobo se deteve e olhou fixamente o castelo.

A irritação correu por Cade, fazendo rugir a escuridão querendo se

liberar. Ele cerrou as mãos e aprisionou o mal que residia nele. Estava zangado

consigo mesmo por não ter percebido o lobo antes, mas se não o fizesse, a

escuridão se apoderaria dele e mataria tudo o que tentava proteger.

Cade tomou várias respirações antes de voltar uma vez mais para as

pegadas. Elas desapareceram tão repentinamente como apareceram, e estavam

frescas. Muito frescas. O que significava que o lobo ainda estava no bosque.

Wolfglynn tinha água na parte de trás e colinas que abriam caminho

para o bosque. O bosque em si era mais fechado no lado direito do castelo. E

era enorme, estendendo-se além dos limites da terra de Drogan.

Cade continuou através das árvores, procurando mais pistas. Wolfglynn

tinha uma matilha de lobos. O castelo sempre teve uma, que foi de onde

conseguiu seu nome. Em vários anos, ninguém tinha sido atacado pelos lobos,

e ninguém podia caçá-los. O povo de Drogan deixava ovelhas ocasionais

saírem e eram compensadas por Drogan quando o faziam.

Ao longo das décadas, entretanto, a matilha se tornou cada vez menor

fazendo Cade temer que não houvesse mais lobos na Inglaterra. Seu olhar

pegou um rastro maior ao mesmo tempo em que ele escutou o riso das

crianças.

— Merda, — murmurou enquanto se dirigia para os jovens.

Suas pernas bombearam mais rápido, e seus passos ficaram mais largos.

Passou pelas árvores correndo fazendo o ar assobiar. Seu único pensamento

era chegar aos meninos a tempo, porque não tinha nenhuma dúvida de que o

lobo que estava rastreado tinha sido enviado por Nigel.

A ideia de que os meninos pudessem morrer o empurrou ainda mais

rápido. Viu o grupo de meninos que estava dentro do bosque, com a risada

ressonando em seus ouvidos. Estava quase lá. Ele ia alcançá-los antes do lobo.

E então viu algo a sua esquerda.

Cade olhou e viu o grande lobo negro. Esticou a mão e retirou as

espadas enquanto começava a gritar para os meninos. Uma mulher estava com

eles. Ela levantou os olhos e soltou um grito quando viu o lobo.

Os pulmões de Cade ardiam, mas ele não se atrevia a respirar, porque se

o fizesse isso significaria a morte dos meninos. Não podia acrescentar isso a

sua consciência.

O que é uma morte mais?

Ele encurralou a escuridão que o impulsionava a entregar-se ao mal.

— Não, — ele berrou enquanto se lançava em cima do lobo antes que a

besta saltasse sobre os meninos.

Cade aterrissou duro e ficou de pé. Ele enfrentou o lobo, que estava

grunhindo para ele, suas largas presas gotejando com saliva.

— Você não vai matá-los — disse ao lobo.

A boca do lobo se abriu enquanto grunhia e se encurvava.

Cade sorriu. Era uma briga pela qual tinha estado faminto. A luta

alimentaria a escuridão, mas também diminuiria seu domínio sobre ele

durante uns dias.

Ele girou suas espadas na frente dele. — Quer afundar os dentes em

algo? Prove-me.

O pelo das costas do lobo se erriçaram. Era um animal grande, quase o

dobro do tamanho dos outros lobos nas terras do Wolfglynn. Mas, Cade sabia

quem o tinha enviado. Sabia o que o impulsionava.

O lobo saltou para ele. Cade levantou suas espadas e enfiou no ventre do

animal, se agachando para evitar as garras do lobo. Cade se virou e viu o

animal mancando antes de soltar um grunhido. Desta vez, quando o lobo

atacou, saltou para o rosto de Cade.

Cade girou para um lado, mas não evitou que as garras do lobo

arranhassem suas costas. Cade assobiou e atirou o braço para trás. Sorriu

quando sua espada afundou na pele e o animal soltou um urro de dor.

O lobo o soltou e desviou para um lado. Cade se concentrou na dor de

suas feridas em vez da escuridão que exigia que cedesse à necessidade de

matar. Só uma vez antes tinha cedido, e o ato ainda perseguia seus sonhos.

O animal estava gravemente ferido, mas seguiria lutando até que

morresse. Cade deu um passo para o lobo, mas a besta voltou seu olhar para

os meninos. Cade cometeu o engano de olhar para o grupo. Os meninos se

amontoaram ao redor da mulher, todos eles olhando horrorizados. Mas foi a

beleza de cabelos ardentes por trás deles quem chamou a atenção de Cade.

O vento tinha começado a levantar, e o céu escureceu com a tormenta

que esteve se formando sobre a água durante dias. Ele virou as costas para

Francesca e se concentrou no lobo. Cade girou suas espadas em uníssono e

deu um passo em direção ao animal.

O lobo grunhiu e se lançou contra ele. Cade se inclinou para um lado

enquanto os dentes da besta rasparam sua perna por um triz. Cade se manteve

firme e esperou impaciente para matar o animal. O lobo se lançou de novo, e

desta vez, seus dentes afundaram na coxa de Cade.

Cade deixou escapar um grito e cravou ambas as espadas no lobo. Ele o

soltou instantaneamente, jogando sua cabeça para trás e uivando de dor. Cade

retirou suas armas e cambaleou para trás.

Esperava que voltasse a atacar, mas quando Cade olhou para cima, o

lobo negro estava rodeado pela matilha do Wolfglynn. Seus grunhidos ante o

intruso ferido lhe deixaram saber que o lobo negro não viveria muito mais

tempo. Cade se voltou para o grupo atrás dele.

— Leve-os ao castelo — gritou a Francesca e à outra mulher.

Cade viu Drogan e seus homens cavalgando firmemente para o bosque.

Cade deslizou atrás de um grupo de árvores e se assegurou de que Drogan

estivesse garantindo a segurança das crianças.

Os grunhidos, os latidos e os gritos de dor do lobo negro consumiram o

bosque quando o grupo atacou. O sangue corria pela perna de Cade em

grossos fluxos, e suas costas doíam. Teria que tratar das feridas antes de voltar

a patrulhar o bosque. Porque Nigel nunca enviava somente um.

Cade limpou suas espadas e as devolveu a suas bainhas antes de

começar a fazer seu caminho em direção ao mar. Havia uma caverna que ele

usava para armazenar provisões. Também se mostrou útil quando o clima

ficava muito árduo.

Estava a meio caminho da caverna quando sentiu o arrepio em sua pele.

Francesca.

Ele parou e se voltou para olhá-la. — Não deverias estar aqui.

— Você está ferido. Posso ajudar.

Cade sacudiu a cabeça. — Você tem que voltar para castelo. Não é seguro

permanecer no bosque.

— O lobo está morto. Por favor. Deixe-me cuidar de suas feridas, e então

eu irei.

Ele abriu a boca para responder quando ouviu um cavalo. Cade agarrou

a mão de Francesca e a puxou para ele, encostando-a contra uma árvore.

A luxúria queimou seu sangue ao sentir seu corpo suave contra ele. Uma

de suas mãos se agarrou ao seu ombro enquanto a outra se apoiava sobre seu

coração. Havia se passado tanto tempo desde que tinha tido uma mulher em

seus braços. Mesmo nas vezes em que procurou uma mulher para aliviar seu

corpo, sempre a tomava por trás para que ela se mantivesse distante dele.

Entretanto, agora, a mulher que o hipnotizou estava em seus braços, o

rosto próximo ao seu. A pulsação de seu pescoço acelerou violentamente

quando levantou seu olhar ardente para o dela.

— Cad....

Ele colocou a mão sobre sua boca para deter as palavras. Quem quer que

estivesse no bosque não era amigável, e Cade se negou a permitir que

acontecesse algo a ela.

Sua respiração soprou o dorso de sua mão. Incapaz de deter o desejo que

o bombeava, Cade moveu sua mão até que só seu polegar restasse contra seus

grossos lábios. A necessidade de beijá-la, de prová-la, era... esmagadora e

dolorosa. Não podia recordar a última vez que beijou uma mulher, e não tinha

certeza se ainda sabia como fazê-lo.

Seu polegar acariciou o lábio inferior, fazendo que suas bolas se

contraíssem e o sangue bombeasse em seus ouvidos. Ele a queria com uma

ferocidade que rivalizava com a necessidade de matar Nigel.

Um raio cortou o céu segundos antes de um trovão rugir. A respiração

de Cade ficou presa em sua garganta quando os dedos de Francesca o

seguraram. Ele precisava levá-la ao castelo e escapar da tormenta, mas não

podia mover seu corpo. Agora que sentiu suas curvas suaves, não queria

deixá-la partir.

Beije-a apenas um pouco, só um toque.

Era tudo o que queria. Só um sabor. Baixou a cabeça até que seus lábios

quase se roçarem. Sua magia o invadiu, fazendo sua pele arrepiar e seu

coração acelerar. E então se deu conta de que se sua magia podia afetá-lo, sua

escuridão também poderia afetá-la.

Cade se afastou do abraço.

Sua testa franziu. — Cade?

— Vamos, — disse e tomou sua mão enquanto corria para a caverna.

Conseguiram dar poucos passos quando o céu se abriu e a chuva caiu

em pingos tão grossos que ele não podia ver para onde estava indo. Ele

conhecia o caminho suficientemente bem para fazê-lo com os olhos vendados,

mas diminuiu o passo por conta das rochas e da saia de Francesca.

Quando chegaram à caverna, ambos estavam ensopados. Cade começou

a acender o fogo com uma pilha de madeira que guardava na caverna. Havia

madeira suficiente para durar três dias, mas sabia que não duraria três

segundos tão perto de Francesca.

— A tempestade veio antes do esperado, — disse.

Ele olhou por cima do fogo para vê-la de pé na entrada, com os braços

envoltos em si mesma. Ela estremeceu ligeiramente com a brisa do mar.

Cade levantou e pegou uma das mantas. Caminhou até ela e lhe cobriu

com a manta. — Há mais se precisar.

Ela olhou da manta para seu rosto. — E você?

— Eu ficarei bem.

— Tenho que cuidar de suas feridas.

Ele deu de ombros. — Você tem que tirar a roupa molhada antes que se

resfrie. Drogan e Phineas cortarão minha cabeça.

— O tio de Drogan sabe que posso cuidar de mim mesma.

Cade não tinha nenhuma dúvida, mas não disse nada. Finalmente, ela

pegou a manta e caminhou para a parte de trás da caverna. Custou tudo o que

Cade tinha para dar as costas a ela em vez de olhá-la, ou ajudá-la, a tirar o

vestido molhado.

Ele inalou pela boca e se concentrou em respirar ao invés de pegá-la

entre seus braços e beijá-la, tocá-la... Prová-la. Por Deus, ele nunca tinha

sentido algo tão torturante quanto ter a única que queria, acima de tudo, perto

dele, mas não ser capaz de tê-la.

Se houvesse dito não ao Nigel. Se tivesse encontrado um caminho para a

liberdade, poderia ter sido capaz de tomar Francesca em seus braços e não se

preocupar com a escuridão que lhe afetava. Se pudesse lutar contra a

escuridão assim como Drogan e Gerard fizeram, então talvez pudesse ter um

sabor de felicidade.

Você não merece a felicidade.

E que Deus lhe perdoasse, era a verdade. Nigel não era o único que

precisava morrer. Ele também devia.

Cade ouviu o sussurro do material enquanto Francesca tirava o vestido.

Ele apertou as mãos e olhou sem apreciar a chuva, imaginando seu corpo nu

diante ele. Seus lábios ostentando um sorriso enquanto seus braços se

elevavam para lhe dar boas-vindas.

Ele imaginou seu corpo, quente e disposto e aberto a ele. Ela estaria

molhada, a excitação dela enchendo seus sentidos. Ele deslizaria em seu calor,

empurrando em seu corpo suave até que ela gritasse seu nome quando

alcançasse seu ponto máximo.

O corpo do Cade estava banhado em suor só pensando em Francesca.

Ele estremeceu pelo esforço de continuar olhando o mar, por não tocá-la. Mas,

o que aconteceria se ela se aproximasse dele? E se tentasse tocá-lo? Seria

demais. Ele estava no limite, e ela o empurraria.

"Sim Sim. Sim!" A escuridão clamou. “Deixe-nos livre.”

“Não,” Cade gritou dentro de sua cabeça.

Ele farejou lilases e soube que ela tinha se aproximado dele. Ele desejou

seu toque assim como a terra desejava a da água. Mas não podia render-se. Por

seu bem e pelo dela.

— Há comida e água para você.

— Cade?

Ela estava tão perto. Tudo o que tinha que fazer era se virar, e ele a

encontraria. Ele já tinha cedido e tocado suavemente seus lábios, mas não se

atrevia a fazer mais. Um toque mais lhe tiraria o controle, e o fato de que ela

não usava nada mais que uma manta agora fazia que sua luxúria se elevasse,

fez seu sangue retumbar nos ouvidos.

— Voltarei mais tarde, — disse e enfrentou a chuva antes que pudesse

puxá-la em seus braços.

CAPÍTULO QUATRO

Francesca viu Cade desaparecer na tormenta. O relâmpago continuou

cintilando através do céu, e ela sabia que ele deixou seu único refúgio por ela.

E ela não tinha tratado suas feridas.

Ela apertou a manta mais firmemente ao redor dela. Incapaz de deixar

de tremer dirigiu-se ao fogo e sentou próximo a ele, deixando que as chamas a

esquentassem.

Cade havia dito que havia comida, mas isso não era o que eu ansiava.

Queria Cade. Ela sabia que flertava com o desastre, mas não pôde evitar. Ele

era a força e a coragem e lutava heroicamente contra um mal que queria

devorá-lo.

Era um guerreiro.

A escuridão que o rodeava era evidente enquanto lutava contra o lobo

negro, mas ele a manteu sob controle. Não foi até que lhe tocou os lábios e a

levou para a caverna que ela o viu vacilar contra a escuridão.

Sua reação a seu corpo a surpreendeu. Seus mamilos lhe doíam, e as

borboletas em seu estômago ainda não desapareceu. Seus peitos incharam no

momento em que seu corpo foi pressionado contra o dele. A mão dele em sua

boca tinha sido como leves plumas, e quando o polegar se moveu sobre seu

lábio, a carícia tinha enviado calafrios sobre sua pele quente.

Todos os pensamentos sobre o lobo e o tempo tinham desaparecido

quando ela olhou em seus vibrantes olhos azuis. Ele quase a tinha beijado. Sua

respiração ficou suspensa em seus pulmões enquanto silenciosamente rogava

que ele tocasse sua boca com a dela.

Eu tinha visto Drogan e Serena se beijando. Havia paixão e desejo em

um beijo, mas poderia ser muito mais. E queria que Cade fosse o homem que a

beijasse, o homem que a fizesse sentir como uma mulher.

Francesca apertou as pernas contra o peito e apoiou o queixo sobre os

joelhos. Com a manta envolta ao redor dela e o fogo ardendo, o calor a

envolveu logo. Entretanto, sua mente nunca esteve longe de Cade. Vendo

como ele manuseava suas armas lhe fez saber que Drogan não tinha exagerado

quando disse que Cade era o melhor que já viu. Cade não mostrou medo ao

lutar contra o lobo. De fato, pareceu desfrutar disso.

Ela estremeceu ao imaginar o que teria acontecido se Cade não estivesse

ali para deter o lobo negro. Suas espadas tinham disparado pelo ar como se

fosse uma extensão de seus braços. E seus olhos brilharam com uma luz que

só aumentava à medida que a batalha avançava.

Era a escuridão?

Francesca ficou hipnotizada vendo-o lutar. Cada passo, cada movimento

tinha um propósito letal. Não era de admirar que Nigel quisesse Cade ao seu

lado tão desesperadamente. De algum jeito, Nigel tinha conseguido Cade, mas

a que custo? Quando Cade tinha deixado de servir a Nigel?

Alguns especularam que Cade ainda tinha laços com Nigel, mas

Francesca duvidava disso. Nenhum dos sonhos que lhe deu um deslumbre do

futuro tinha mostrado muito sobre Cade. Ele seguia sendo um mistério, mas

um mistério que ela queria desvendar.

?.?

Cade correu para a árvore onde quase beijou Francesca. Ali ele tinha

ouvido o cavalo. A escuridão empurrou contra ele, e ele amaldiçoou baixo e

com força.

Nigel nunca enviava uma coisa só.

O lobo estava morto, mas o que esperava Cade agora?

Ele desamarrou as facas e sacudiu a cabeça para tirar o cabelo molhado

dos olhos. A magia de Francesca tinha desaparecido, e ele odiava como sentia

falta, desprezava-se por necessitá-la quando se distanciou de todo o mundo

durante tanto tempo. Só estar perto dela era suficiente para que sua magia

apaziguasse a escuridão. Era egoísta de sua parte permanecer perto dela.

Somente os seres sagrados sabiam o que sua escuridão estava fazendo com ele.

Cade se afastou da árvore, seus pés silenciosos enquanto caminhava

através do bosque. A chuva e os trovões amorteciam qualquer som que

pudesse fazer, mas faria o mesmo por seu inimigo.

Seu olhar vagava constantemente ao redor, já que não queria ser pego de

surpresa. Ao menos com a tempestade todo mundo estava resguardado, e

Francesca estava a salvo na caverna. Drogan estaria cuidando de seu povo e

resistiria à tormenta.

Cade escutou o tinido das rédeas e soube que o cavaleiro estava perto.

Semicerrou os olhos através da chuva para poder visualizar o cavalo, mas não

viu nada. Entretanto, isso não o dissuadiu. Ele parou embaixo de um galho

que bloqueava a maior parte da chuva. Era suficiente para lhe dar a vantagem

sobre o cavaleiro encapuzado diante dele à esquerda.

O cavaleiro empurrou o cavalo para frente até que chegou a Cade. Cade

se moveu e ficou de pé em frente ao cavalo, com as facas a postos.

— Sabia que me encontraria.

— Volte para seu mestre, — gritou Cade sobre a chuva.

O cavaleiro riu. — Não antes de terminar o que vim fazer.

— O lobo está morto, e você também estará se não for. Diga a Nigel que

venha se quiser uma batalha.

— Oh, Nigel está a caminho, Cade. Não se preocupe.

Cade odiava não saber quem era o cavaleiro, mas com o capuz de sua

capa empurrada para frente, não podia ver seu rosto.

— Odeia que não saber quem eu sou, certo? — Perguntou o cavaleiro

com voz baixa. — Realmente não importa. De qualquer maneira, todos iremos

para o inferno.

— Porque Nigel te enviou até aqui?

O cavaleiro se moveu na sela. — Eu vim trazer uma mensagem a

Drogan.

— E que mensagem é essa?

— Você vai entender quando encontrar a sua bruxa morta.

A irritação rompeu através de Cade enquanto a escuridão lhe rogava que

cedesse ao ódio e a raiva. — Vá agora. Ou morrerá.

— Poderia ser uma estratégia, Cade. Enquanto luta comigo, Nigel

poderia entrar no Wolfglynn e matar a todos.

— Por que está me dizendo isto?

O cavaleiro deu de ombros. — Você se afastou de Nigel. Quero saber

como o fez.

Cade cerrou os olhos. — Só fui embora.

— Mentiroso.

Havia algo familiar no cavaleiro, algo que continuava incomodando

Cade. — Por que quer saber?

— Nigel... Recrutou-me... Da mesma maneira que a ti. Digamos que eu

poderia ter entrado no castelo enquanto lutava contra o lobo se realmente

quisesse isso.

E era a verdade — Cade sabia. Não estava certo se podia confiar no

cavaleiro, mas com a batalha aproximando-se, Cade precisava de tantos

aliados que conseguisse encontrar. Confiar no cavaleiro poderia ser um

engano, mas era uma oportunidade que ele tinha que aceitar.

— A influência que Nigel tinha sobre mim acabou. Uma vez que

terminou, eu saí — respondeu Cade.

Durante vários momentos, o cavaleiro permaneceu imóvel. — Nigel

eliminou sua influência?

Cade baixou suas armas e mentalmente se encolheu quando as

lembranças enterradas vieram à superfície. — Nigel não os matou.

— E te deixou partir.

— Ele não me permitiu fazer nada. Você vai ter que lutar por sua

liberdade, e estar preparado para ser caçado o resto de sua vida. Nigel não

deixa nada ir. Ele tem sua alma?

O cavaleiro deslocou a cabeça levemente. — Ele já não precisa de

permissão, Cade. Ele cresceu muito, está muito mais forte. Pode tomar

qualquer alma que queira.

— Não acredito. Ele não pode estar tão forte, não desde o ano passado

quando foi quase derrotado.

— Ele não virá sozinho este ano. Ele quer que você e Drogan sejam

mortos. Além das bruxas.

Plural. O que significava que Nigel sabia sobre Francesca. — Quantas

bruxas ele acha que Drogan tem?

— Ele sabe que há duas aqui. Ele planeja assegurar-se de que morram

primeiro.

O coração do Cade se encolheu de medo. — Quem é você?

— Um amigo.

— Eu não tenho amigos.

O cavaleiro inclinou a cabeça para um lado. — E o que são Drogan e

Gerard? Inimigos?

— Eles eram meus amigos. O que sou — o que somos — não deixa que

ninguém se familiarize comigo, porque eu daria a Nigel mais poder. Eu me

recuso a estar sob suas ordens outra vez.

A chuva diminuiu, mas os trovões e os relâmpagos continuaram por trás

dele. Observou o cavaleiro por um momento antes de perguntar de novo: —

Quem é você?

— Me considere um amigo, — disse e retirou sua capa para revelar o

cabelo castanho claro e os olhos negros.

A respiração deixou Cade em um suspiro. — Liam.

— Olá, Cade.

— Nigel me disse que você estava morto.

Liam levantou um ombro encolhendo-se, seu rosto inexpressivo e seus

olhos sem emoção. — Eu estive morto desde que me uni a ele.

— Ele tem influência contra você?

Liam assentiu com a cabeça. — Eu pensei que era o único.

— Estou começando a achar que é assim que ele recruta todos os seus

melhores lutadores.

Liam trocou as rédeas em suas mãos. — Eu não estava brincando sobre

seu poder. Esteja preparado. Nigel virá até você.

— Aonde você vai? — Agora que Cade tinha encontrado um amigo, não

queria que Liam se fosse.

— Para longe.

— E a sua... Influência?

Liam baixou o olhar. — Era minha esposa. Ela se enforcou quando viu o

que eu tinha feito.

Cade apertou suas facas, com o estomago doendo por Liam. — Sinto

muito.

— Nigel me enviou para matar a bruxa de Drogan, mas não farei o que

ele ordenou. Adeus, — disse e virou seu cavalo.

— Tome cuidado.

Liam levantou a mão em resposta enquanto se afastava.

Cade o observou, a chuva ocultando a visão de Liam bem antes do que

Cade teria gostado. A visita de Liam havia trazido mais perguntas que

respostas, e Cade descobriu que queria falar mais com Liam. Entretanto, sabia

que Liam não lhe daria mais informações.

— Maldito seja — murmurou Cade.

Ele se moveu e estremeceu por causa da ferida em sua perna. Ele tinha

esquecido quando a luxúria tomou conta dele. Então tinha necessitado afastar-

se de Francesca, e logo depois a conversa com Liam. Agora lhe doíam a perna

e as costas. Não estava preparado para voltar para a caverna, mas tinha que

cuidar de suas feridas. Não podia permitir que se infectassem. Não agora, não

quando Nigel poderia chegar a qualquer momento.

Cade piscou a água de suas pestanas e retornou à caverna. Fez uma

pausa na entrada, inseguro sobre estar tão perto de Francesca de novo. Já

podia sentir que sua pele formigava com sua magia. Ele gostava. Talvez muito.

Gotas de chuva corriam por suas costas e pelas marcas das garras.

Apertou a mandíbula ante a dor e entrou na caverna.

Seu olhar encontrou Francesca envolta em uma manta junto ao fogo. Seu

queixo descansava sobre seus joelhos enquanto olhava as chamas. Durante um

longo tempo a observou. Enquanto esteve ausente, ela tinha soltado seu

cabelo, e agora os fios ardentes secavam a luz do fogo.

De repente, levantou a cabeça e o olhou. Seus olhares colidiram

persistentes. Cade desejou saber o que ela pensava enquanto o observava. Viu

o mal que espreitava sob sua pele? Percebeu as ações pelas quais procurava a

absolvição?

Viu o homem que tinha sido?

Ela ficou de pé em um movimento fluido, a manta apertada. — Você se

foi antes que eu pudesse ver suas feridas.

Cade engoliu a chama de esperança que ele sentia cada vez que estava

perto e deu um passo para ela. Ele fez uma careta quando sua túnica roçou

contra os cortes em suas costas.

— Você está com dor. — Sua voz preocupada, fez seu estômago se

apertarem.

— As feridas são superficiais.

Ela bufou. — Eu não diria que a da perna é superficial. Os dentes do

lobo afundaram profundamente.

Cade olhou sua perna. Sua calça estava rasgada onde o lobo o tinha

agarrado e puxado, mas era o sangue fluindo por sua perna e sua bota que o

fez suspirar.

— Deixe-me cuidar de suas feridas.

Ele hesitou. Ele não tinha certeza de por que tinha voltado para ela,

sabendo que estar perto dela o fazia sentir... Quase normal. Ele a colocava em

perigo cada vez que falava com ela.

— Por favor, Cade — ela suplicou.

CAPÍTULO CINCO

Francesca segurou o fôlego enquanto esperava que Cade decidisse deixá-

la ajudar. Tinha pensado que não voltaria. Sua mente se perguntava todo tipo

de coisas que podiam lhe acontecer na tempestade, e então ela sentiu o seu

olhar.

Quando se voltou para vê-lo de pé na entrada da caverna, seu corpo

coberto pelas sombras, teve que lutar contra o desejo de correr para ele.

Cade era como um animal selvagem. Ela teria que ganhar sua confiança

lentamente. Se merecesse isso. Seria melhor para ela se afastar, esquecer de

seus olhos azuis e a forma que ele fazia seu coração acelerar e seu sangue

esquentar.

Ela sabia, mas não poderia fazê-lo.

Por alguma razão, sentiu-se atraída por Cade. Era uma estrada perigosa

essa que eles trilhavam, mas parecia que não podia parar. Nunca em sua vida

tinha sido tão desprovida de autocontrole. Agora, tudo o que queria fazer era

envolver seus braços ao redor dele e segurá-lo contra ela. A agonia de seus

olhos a assustou muito mais que a escuridão que viu refletida em sua alma.

Apertou as mãos sob a manta e rezou para que ele lhe permitisse ajudar

da única maneira que sabia.

— Encontrou a comida? — Ele contornou o fogo, deixando de lado as

duas facas e tirando o jerkin.

Francesca tentou não olhar os rasgões no jerkin dando-lhe um vislumbre

do seu peito liso enquanto sacudia sua cabeça. — Não estou com fome.

— A tempestade não parece estar nos deixando tão cedo.

Abriu a boca para responder quando ele tirou a túnica e ela se esqueceu

de respirar. Seu corpo era cheio de músculos. Seus largos ombros se fechavam

em uma cintura estreita, onde um rastro de pelos dourados desapareciam na

cintura de suas calças. Várias cicatrizes se entrecruzavam em seu peito, e uma

grossa e irregular cicatriz corria de sua lateral para as costas.

Ele sentou-se em uma rocha e tirou as botas antes de pegar a adaga e

cortar suas calças por cima das marcas de mordida em sua coxa.

Francesca lambeu os lábios quando ele arrancou a perna das calças e as

atirou. Ela apertou a manta por cima de seus peitos e se moveu até seu vestido

molhado para arrancar um pedaço de sua saia. Depois caminhou para a

abertura da caverna e rasgou o material. Ela voltou para Cade e se ajoelhou a

seu lado, tratando de ignorar a forma em que seu estômago se agitava por

estar tão perto dele. Limpou o sangue de sua perna.

— Gostaria que tivéssemos ataduras secas, — murmurou.

— Eu ficarei bem se você puder parar o sangramento.

— Precisava de minhas ervas para acelerar a cura. — Ela cometeu o erro

de olhar para ele. Embora todos os bana-bhuidseach tivessem um pouco de

magia para curar, havia muitos, como ela, que necessitavam da ajuda de ervas

para curar adequadamente.

Seu olhar azul a queimou enquanto a escuridão os rodeava. Cade era

perigoso. No entanto, ela também era.

Ela afastou o olhar dele e voltou para sua perna. Sua pele estava quente,

sua perna polvilhada com pelos dourados e cordões de músculos.

— A mordida é profunda — disse enquanto se inclinava para a ferida.

— Ele tinha presas largas.

Ela teria sorrido se a situação não fosse tão grave. — Eu nunca vi esse

lobo antes.

— Ele foi enviado por Nigel.

Ela parou de limpar o sangue e olhou para Cade. — Temos que contar a

Drogan.

— Drogan saberá. Ele conhece cada lobo em sua terra.

— Você voltou a investigar o som que ouviu antes da tormenta, certo? —

Ele assentiu.

Ela esperou que ele lhe contasse o que aconteceu. Eles passaram algum

tempo em silêncio até que a ferida da perna parou de sangrar. Quando ela se

moveu para suas costas, ele rasgou sua túnica ao meio e a envolveu ao redor

de sua perna.

As feridas de suas costas não eram tão profundas como as marcas da

mordida, mas eram largas, marcando quase todo seu lado direito. Ela pegou

um pedaço de sua túnica rasgada e molhou sob a chuva antes de limpar o

pouco sangue que tinha.

— Estas feridas quase não sangram mais.

— Bom.

Ela deixou escapar um suspiro. — Me diga o que você encontrou. Por

favor.

Seus ombros caíram. — Nigel nunca envia só uma ameaça. Sempre vêm

em pares.

— Então havia mais alguma coisa aí fora?

— Sim.

— O que?

— Não é um o quê, e sim quem. Ele chama-se Liam.

— Você o conhece?

Cade assentiu e estremeceu quando ela acertou um ponto sensível em

suas costas. — Eu não o via há muito tempo. Ele está tentando escapar de

Nigel.

— Você acredita nele? — Ela tentou ver seu rosto enquanto limpava as

feridas.

— Eu acredito.

Ele colocou as mãos no colo. — Ele veio te matar.

— Não, — disse ele e se voltou para olhá-la por cima do ombro. — Veio

para matar Serena e você.

— A mim? Não entendo.

Cade se levantou e caminhou para as outras mantas. Ele mexeu nelas e

voltou com mais roupas. Ele vestiu uma túnica de cor azul escura e a olhou

fixamente.

— Você é uma bruxa. Por alguma razão Nigel vê a ti e a Serena como

ameaças. Quer às duas mortas.

Francesca se levantou sobre as pernas tremulas e virou de costas para

que Cade não visse a dúvida em seus olhos. Nigel teve o mesmo sonho que

brincava em sua mente todas as noites? Sabia o que lhe aguardava se ela

sobrevivesse?

O material úmido e sujo de sangue caiu de sua mão enquanto sua mente

corria com possibilidades. Serena e seu filho precisavam estar em segurança,

mas sabia que Serena nunca deixaria a Drogan.

— Não vou deixar ele te machucar.

Ela se virou com as palavras de Cade para descobrir que ele havia

colocado calças limpas.

— Eu prometo, — disse. — Nigel não vai chegar perto de você.

Francesca sorriu ante suas palavras, porque sabia que ele queria dizer

isso. — Obrigada.

— Assim que a tormenta passar, você e Serena precisam chegar a

Phineas e permanecer na ilha até que a ameaça de Nigel termine.

Se ao menos ela fosse capaz de fazer o que ele pediu. — Se Liam está

tentando se desvencilhar de Nigel, ele se juntará a nós?

— Não, — disse Cade, inclinando-se para aproveitar o fogo. — Ele

aproveitou a oportunidade para falar comigo. Nigel não deixa ninguém ir.

Logo estará atrás de Liam.

Voltou a sentar-se junto ao fogo. Drogan nunca soube ao certo se Cade

escapou ou se Nigel o tinha deixado ir.

— Você escapou de Nigel?

Ele se negou a levantar os olhos do fogo, como se estivesse tentando

pensar como responderia. — Você acha que ainda estou com ele — disse Cade

depois de um momento.

Não era uma pergunta. Ela sabia que não importava como respondesse,

ele não acreditaria. — Você nunca disse a ninguém. Nem sequer a Drogan. O

que acha que as pessoas pensariam?

— Não sei. — Ele bufou e se sentou na rocha.

A escuridão que sempre estava perto dele parecia envolvê-lo como um

manto confortável. Ele mesmo o tinha vestido sem saber.

— Por que você fala comigo, mas não com Drogan? — Perguntou.

Seus olhos se fecharam por um ínfimo momento. — Eu gostaria de saber.

Uma emoção a atravessou. Ele poderia ser tão afetado por ela como

estava por ele? Ele quase a tinha beijado, mas isso significava algo? Ela não

tinha experiência com homens além do que tinha observado através dos anos.

E tudo o que isso fez foi confundi-la ainda mais.

— Viu o filho de Drogan?

Algo cintilou nos olhos de Cade. — Não.

— Deveria. Por Drogan.

— É por causa de Drogan que não vou.

— É por isso? Ou é porque teme o que verá em seus olhos?

Cade ficou em pé de um salto e ela instantaneamente se arrependeu de

suas palavras.

— Diga-me que você não sente isso — exigiu Cade, com voz áspera.

Eu queria pensar que ele estava falando sobre o desejo, mas sabia que se

referia à escuridão. — Sinto muito.

Ele fechou os olhos por um momento antes de encará-la. — Se alguém

passar muito tempo comigo, começará a sentir o desespero e angústia. A

escuridão se agarrará neles, lhes causando nada mais que dor até que se volte

para o mal ou tirem sua própria vida. É isso o que quer que aconteça com

Drogan?

— Eu não tinha ideia.

— Eu sinto a sua magia.

Seu coração saltou ouvindo suas palavras murmuradas. — O que você

sente?

— Esperança. Prazer. Felicidade. Fique perto de mim o suficiente, e te

deixarei vazia.

Antes que pudesse responder, ele se dirigiu para a entrada da caverna.

Ela queria ir atrás dele, lhe dizer que estava enganado. Mas, a rigidez que seu

corpo aparentava a manteve em seu lugar. Só queria conhecê-lo melhor, mas

conseguiu afastá-lo ainda mais.

Francesca colocou o cabelo atrás da orelha e ficou de lado. Ela usou seu

braço como seu travesseiro. Uma e outra vez repetiu sua conversa com Cade

sobre Nigel, Liam e Drogan. Entretanto, ela não foi capaz de chegar a uma

resposta que salvaria a vida de todos. Liam era alguém que ela nunca tinha

visto em seus sonhos, e ele poderia ser nada mais que um mensageiro enviado

para dar notícias a Cade.

Mas, e se não fosse?

Cade confiou nele, mas era difícil ela confiar em alguém associado a

Nigel.

Exceto Cade.

Apesar da escuridão ao redor de Cade, havia uma honestidade em seu

olhar que era difícil de perder. Seu amor por seus amigos, e a maneira em que

arriscou sua vida para protegê-los, trouxe-lhe lágrimas aos olhos. Ele estava

sofrendo tanto com a solidão que o consumia, e não sabia o que fazer quando

estava perto de outra pessoa. Isso explicava seu comportamento brusco, mas

não por que se sentia atraída por ele.

Ela sabia que o dia estaria cheio de aventuras por causa do sonho

frenético que tinha tido a noite anterior. Mas ela nunca viu o lobo. Ou Liam.

Ou o quase beijo de Cade.

O que mais ela não viu?

Isso em si a preocupava. Os sonhos nunca lhe mostravam tudo, mas

sempre mostraram as partes importantes. Tudo o que apareceu no sonho de

ontem à noite foi à tormenta. E seu coração acelerado.

A tormenta veio cedo, e mais feroz do que alguém esperava. Os

relâmpagos ainda não tinham diminuído. Mas não era isso que fazia que seu

coração acelerasse. Cade era responsável por isso.

Francesca não queria sentir-se assim por ele. Ele se distanciou de todos

nos últimos anos. Não tinha sentido ela querer aproximar-se de Cade. Ela

tinha um papel importante a desempenhar, e se apegar a Cade só complicaria

as coisas. Mas mesmo sabendo que precisava se afastar dele, seu corpo gritou

por seu toque, seu calor.

Seus olhos se fecharam enquanto recordava a sensação de seu polegar

em seus lábios. Seu fôlego acelerou e seus seios incharam. Como podia fazer

isso? Um simples toque.

Oh, como desejava que a tocasse de novo, a beijasse, a acariciasse. Queria

que ele a empurrasse contra a árvore uma vez mais para que pudesse sentir

sua dura espessura junto a ela.

Francesca fechou os olhos e recapitulou a magia que incutiu no castelo.

Ela tinha feito tudo três vezes, mas uma vez mais não faria mal. Quanto mais

magia rodeasse o Wolfglynn, melhor.

CAPÍTULO SEIS

Horas se passaram e a tormenta não acalmava. O vento diminuiria só

para voltar com mais força que antes. Raios golpeavam árvores e água. As

espessas nuvens negras banhavam a terra na escuridão, e era só meio-dia.

Durante tudo isto, Cade se negou a deixar seu lugar na entrada da

caverna. Não podia estar perto de Francesca. Ela o fazia olhar muito

profundamente em seu coração e desejar coisas que não poderia ter. Ela

atreveu-se a lhe olhar nos olhos enquanto tantos outros se afastavam.

Ela o fazia desejar ser o homem que costumava ser, o que era antes de

Nigel. Esse homem a teria cortejado, a teria tomado em seus braços e a teria

beijado até que estivesse sem fôlego. Ele não deixaria que nada o impedisse de

fazê-la sua. Esse homem lhe daria um futuro.

Não havia futuro para ele. Esperava que morresse na batalha com Nigel.

Mas não antes de matá-lo. Cade ansiava a morte, para aliviar a tortura em sua

alma. Mas antes de ir, planejou dar a Gerard, Drogan, Liam e todos os outros

um pouco de paz e um futuro sem Nigel.

Era o mínimo que podia fazer.

Incapaz de suportar por mais tempo, Cade se voltou para olhar

Francesca. Ele esperou que ela o seguisse, e suas perguntas continuassem.

Entretanto, ela não fez. Ele agradeceu por isso, ao mesmo tempo em que a

amaldiçoou por desistir tão facilmente.

Você quer que ela desista.

Sim, ele queria. Não é?

“Nós podemos transformá-la,” sussurrou a escuridão.

Cade silenciou a voz. Francesca estava de lado, com os lábios

entreabertos enquanto dormia. Cade caminhou até ela antes que soubesse o

que estava fazendo. Agachou-se ao lado dela e levantou um cacho de fogo.

Quase esperava que o queimasse. Mas as tranças vermelhas eram tão

suaves como a seda e tão frescas como a chuva. A luz fraca da fogueira

transformou seu cabelo em dourado.

— Linda, — murmurou.

No entanto, a palavra parecia simples para descrevê-la. Ela era

absolutamente magnífica. Cade queria fazer amor lento e doce com ela

enquanto olhava em seus olhos. Queria ouvi-la gritar seu nome quando

chegasse ao clímax.

E queria abraçá-la, seus corpos entrelaçados enquanto falavam até o

amanhecer.

Cade aceitou a sua vida. Afinal, tinha sido as decisões que tomou que

lhe trouxeram a escuridão. Mas um olhar para Francesca, e ele queria mais.

Muito mais.

— É algo que eu nunca poderia ter, — sussurrou.

Só estava se torturando ficando perto dela. Deveria informar a Drogan

que ela estava a salvo, mas cada vez que saía da caverna, detinha-se.

Era egoísta de sua parte, mas não estava disposto a devolver à bruxa.

Rezou para que a tormenta durasse toda a noite, já que lhe daria mais algumas

horas com ela. Muitas horas mais para que pudesse gravar sua beleza em sua

mente e agarrar-se a isso nas noites frias e solitárias pela frente.

“Tome-a,” insistiu a escuridão. “Ela não te deterá.”

Pare.

"Você a quer. Faça-a sua.”

Chega!

Cade endireitou-se e fechou as mãos enquanto lutava contra a escuridão.

Não faria Francesca sofrer com sua maldade. Ela era muito boa, muito pura.

Ela merecia muito mais do que ele.

Lute contra a escuridão. Lute por ela.

Se ao menos ele pudesse, Cade sabia que a escuridão se tornou muito

forte. Agarrava-se a sua humanidade como um fio fino que desfiava mais a

cada dia. Teria sorte se ainda estivesse em seu juízo perfeito quando Nigel

chegasse.

Cade recolheu mais madeira da parte posterior da caverna e manteve o

fogo aceso. Sentou-se perto do fogo em frente à Francesca e agarrou uma das

pequenas madeiras que sempre levava com ele.

Tirou a pequena adaga de sua bota e começou a esculpir. Nunca sabia o

que ia criar só que adorava fazê-lo. Sua adaga já fez várias coisas, desde gatos

até navios, até mesmo um dragão. Quando mais jovem, tinha esculpido peças

maiores, amando a sensação da madeira em sua mão e vendo-a tomar forma.

A sensação da lâmina cortando a madeira acalmava sua alma. Era uma

das razões pelas quais a escuridão não tomou total controle dele ainda.

Aprendeu o que esculpir fazia por ele e se assegurava de fazê-lo sempre que

podia.

O que era frequentemente.

A peça de madeira não era maior que sua mão, e ele a trabalhava com

facilidade. Momentos depois ele se deu conta de que se converteria em um

lobo. Fazia vários lobos desde que protegia o bosque de Drogan, mas este não

era uma das criaturas belas e selvagens que tinha visto em muitas ocasiões. O

lobo em sua mão era aquele furioso e vingativo que o tinha ferido.

Sabia desde o começo a não tentar parar uma vez que uma forma tivesse

começado. Suas mãos tinham uma mente própria – a necessidade de esculpir

qualquer criatura ou objeto que estivesse ali para lhe dar paz.

Gostando do que esculpia ou não, ele não parava. Deixou que o lobo

tomasse forma com movimentos lentos e precisos de sua adaga. Quando

terminou, o olhar ameaçador do lobo era evidente com seus dentes expostos e

posição agachada. Cade o deixou de lado e olhou para Francesca. Ela ainda

dormia tranquilamente.

Os raios diminuíram, embora os trovões se mantivessem implacáveis. O

vento seguia soprando a chuva, encharcando tudo. Em algum momento

durante a tormenta, o sol se afundou no horizonte, e a noite surgiu.

Cade deslizou pela rocha até que suas costas e sua cabeça descansaram

contra ela. Fechou os olhos, sabendo que não dormiria toda a noite, mas

tentaria encontrar algumas horas de descanso. Parte dele desejava que

Francesca estivesse acordada. Ela tinha uma mente brilhante e um sorriso

sedutor, como se soubesse um segredo que ninguém mais sabia. Ele queria

saber tudo o que havia sobre ela, mas em troca, ela faria perguntas que não

podia e não responderia.

Soltou um suspiro e fechou os olhos.

— Tolo — murmurou para si.

Logo que a tormenta diminuísse, se afastaria o máximo possível de

Francesca. Sem a observar, sem desejar falar com ela, tocá-la. Beijá-la.

Gemeu ao pensar nela nua em seus braços, com a cabeça jogada para trás

enquanto empurrava seu corpo. Seu pênis inchava de necessidade e luxúria.

Agarrou seu pênis palpitante e o tocou para aliviar um pouco a dor. Mas só

piorou.

Deus, como a queria. Queria acariciar seu pescoço e mordiscar a delicada

pele atrás de sua orelha. Queria tomar seus peitos e passar seu polegar sobre

seus mamilos, vendo-os endurecer ante seus olhos. Só então tomaria um em

sua boca, girando sua língua ao redor do pequeno broto.

Cade explodiu em suor frio, seu corpo exigindo liberação. Seu coração

batia impiedosamente em seu peito, e a escuridão o arranhou, desejando sentir

o sabor da doce bruxa próxima ao fogo.

Não.

“Sim,” assobiou a escuridão. "Ela é muito gostosa."

Cade inalou profundamente e afastou de sua mente todos os

pensamentos de Francesca e de seu corpo. Foi à coisa mais difícil de fazer, mas

sabia que, para garantir sua segurança, não tinha outra opção.

Seu corpo estremeceu com o desejo bombeando através de suas veias

enquanto a escuridão continuou a incitá-lo a tomá-la. Momentos, horas ou

dias poderiam ter passado. Quando Cade abriu os olhos, ele estava no controle

novamente.

A escuridão tinha reivindicado outra parte de sua alma, mas foi um

pedaço que Cade cedeu de boa vontade para manter a escuridão longe de

Francesca. Com a mente limpa, fechou os olhos e rezou para que não sonhasse

com uma bruxa com cabelos ardentes e olhos avermelhados.

?.?

Francesca mordeu o lábio para conter seu grito enquanto se sentava,

agarrando a manta sobre seu peito. Enquanto o suor cobria seu corpo, o sonho

se repetiu em sua mente.

Como acontecia a cada noite desde que tinha dez anos, sonhou com

Nigel. Mas desta vez era diferente. Em lugar de ver como ia morrer, viu como

o mundo se tornava negro e misterioso.

Na escuridão estava o mal que se movia a seu redor, arranhando sua

pele. Ela gritava uma e outra vez, mas nenhum som saía dela. Aprendeu a

aceitar e traduzir os sonhos que sua magia lhe deu, mas este sonho deixou um

peso frio em seu ventre.

O fogo se espalhou. Ela se virou e viu Cade na sua frente. O observou

por vários momentos, rezando para que não despertasse. Ela queria saber o

que estava errado, e não podia dizer a ele.

Ela lambeu os lábios secos rachados e tropeçou em seus pés. Usando sua

mão para sustentar as pernas tremulas, caminhou para onde Cade guardava a

comida e viu uma jarra de vinho. Ela a pegou e a levou enquanto cambaleava

para seu lugar.

Seus joelhos cederam antes de chegar ao fogo, e ela se arrastou o resto do

caminho, carregando o vinho com dela. Suas mãos tremiam tanto, que levou

várias tentativas para retirar a rolha da garrafa. Quando finalmente conseguiu

abrir, o líquido escuro derramou de seus lábios escorrendo por seu queixo.

Bebeu profundamente, deixando que o vinho lhe queimasse a garganta

enquanto deslizava para seu estômago. Não demorou muito para que o álcool

começasse a entorpecer seus sentidos. Só em uma necessidade extrema bebia

vinho ou cerveja, mas depois do sonho não desejou nada mais.

Ela limpou sua boca com o dorso da mão e soltou um suspiro trêmulo.

Os efeitos do sonho estavam abrandando. Para ter certeza de que era capaz de

deixar o medo ir, bebeu mais vinho até que o fogo começou a desvanecer. Só

então baixou a garrafa.

Um olhar para baixo mostrou que a manta tinha sido esquecida há muito

tempo. Nenhum homem jamais viu seu corpo. Ela olhou para Cade dormindo

tranquilamente.

E nenhum homem jamais o veria.

Ela odiava a decepção que essa realidade trouxe. Embora não quisesse

voltar a dormir, o vinho tornou impossível manter os olhos abertos.

Aconchegou-se e deslizou a manta sobre ela uma vez mais. Pouco antes de

fechar os olhos, voltou a olhar para Cade.

Só para encontrá-lo olhando-a fixamente.

CAPÍTULO SETE

Cade estava em transe, inseguro do que tinha acabado de testemunhar.

A magia que vibrava ao seu redor o tinha despertado, mas foi à visão de

Francesca tremendo e mal conseguindo se manter em pé, com seu medo

palpável, que o manteve imóvel.

Seu primeiro pensamento foi ir até ela, para ajudá-la, mas logo se

perguntou se ele apenas pioraria ainda mais as coisas. Apertou as mãos e

observou enquanto ela bebia o vinho com tanta pressa que o líquido escorria

por seu queixo e gotejava sobre seus seios.

A necessidade de lamber o vinho de sua pele fez com que suas bolas se

contraíssem. Mas quando a manta caiu, revelando um corpo com o qual só

sonhou, esqueceu-se de como respirar.

Seios cheios e deliciosos balançavam a luz do fogo, seus mamilos pálidos

endureciam sob a fresca brisa marinha. Suas pernas grossas e esbeltas estavam

escondidas debaixo dela, mas ainda vislumbrava um pouco dos cachos

vermelhos entre suas pernas.

Sua boca salivou e seu pênis inchou.

Seu corpo ansiava.

Seu olhar deslizou para ele, franzindo o cenho ao vê-lo. Ele tinha

mantido seus olhos semi-abertos, mas quando ela o tinha olhado para ele com

tanto pesar, tanta dor, ele quase se aproximou dela.

Seus músculos enrijeceram preparados para levantar-se e tomar a única

coisa que encontrou que queria mais que a paz.

Francesca.

Felizmente, ela tinha se deitado e colocado a manta sobre seu corpo

delicioso. Só então Cade abriu os olhos. Seu coração parou quando seus

olhares colidiram, mas então suas pálpebras se fecharam e sua respiração se

acalmou rapidamente.

Cade se sentou e passou uma mão por seu rosto. Ele sempre ouviu dizer

que um homem teria que enfrentar a sua mais dura tentação para conseguir

um lugar no Céu. Parecia que mesmo aqueles que estavam destinados ao

inferno eram obrigados a suportar tal tentação.

Ele levantou e se ajoelhou junto a Francesca. O suor escorrendo brilhava

suavemente sobre sua pele.

— O que você sonhou bruxa?

O que quer que tenha visto a assustou. Ele sabia pouco sobre Francesca e

seus poderes. Talvez ela tivesse pesadelos todas as noites, mas algo dizia a

Cade que isso não era verdade. Em uma de suas visitas ao bosque depois que

Serena quase tinha morrido, Drogan havia dito a Cade o que Serena era. Uma

bruxa, Drogan havia dito. Uma bruxa que tinha magia.

Cade quis fazer tantas perguntas, mas tinha permanecido escondido,

escutando enquanto Drogan falava do poder de Serena em ver a morte das

pessoas.

Drogan nunca havia dito, mas Cade suspeitava que Serena tivesse visto a

morte de Cade. No entanto, não precisava de uma bruxa para lhe dizer como

ia morrer. Sabia exatamente como terminaria seu tempo na terra. E quem o

terminaria.

Se Serena tinha poder, significava que Francesca também. Poderia os

sonhos serem seu poder? Queria saber, mas o instinto lhe advertiu que

perguntasse.

Cade se levantou e se afastou de Francesca. Passou só algumas horas,

mas ele não tentou dormir pela segunda vez. O sono não voltaria para ele, não

está noite. Em vez disso, tomou seu lugar na entrada da caverna e observou a

tormenta.

Foi logo após o nascer do sol que a tempestade finalmente partiu. Cade

estava feliz e triste, porque sabia que já não havia razão para que Francesca

ficasse com ele.

Ela já despertou e ele a ouviu se mover, mas não pôde olhá-la. A

escuridão se levantava de novo nele, e não sabia quanto tempo mais podia

mantê-la na linha. A bruxa foi agradável com ele, confiando nele como

ninguém o tinha feito em muito, muito tempo. Não queria lhe fazer nenhum

dano.

E a escuridão certamente a feriria.

O aroma suave de lilás chegou até ele. Ele inalou sua fragrância, o aroma

que era único. Por mais que odiasse admitir, ia sentir falta do formigamento

em sua pele causado por sua magia, o aroma de lilás, sua voz e a forma em

que seu suave corpo se sentia contra o dele.

— Eu nunca vi uma tempestade tão ruim, — ela disse enquanto se

aproximava dele.

Cade pensou em ignorá-la, mas se deu conta de que não podia. — Ainda

não terminou, mas os raios pararam para que possa retornar ao castelo.

— Vejo mais nuvens sobre a água. Pode ser outra tempestade.

Ele apertou os lábios. Alguém trabalhou nisso, e não eram as bruxas.

Nigel.

"Sim, sim," a escuridão riu.

— Você tem que chegar ao castelo logo — disse Cade enquanto se

levantava e a olhava. — O perigo aqui fora só vai piorar.

Seu olhar avermelhado o observou por um momento. — Você não

acredita que a tormenta seja natural.

— Você mesmo disse que nunca viu uma tão ruim. Relâmpagos e trovões

se mantendo no mesmo lugar apesar do vento?

Ela lambeu os lábios, e ele tentou não olhar para sua boca, mas ele não

podia resistir.

— Há mais nuvens, — ela disse novamente. — Outra tempestade.

Ele forçou seu olhar para o dela. — Possivelmente.

— É Nigel?

— Acredito que sim.

Sua testa se franziu. — Por quê? Por que quer nos manter aqui? Nenhum

de nós tentou partir.

Então Cade se deu conta de por que Nigel havia trazido à tormenta. — A

manterá em Wolfglynn e a mim fora do bosque, ou acredita nisso.

Ela o olhou, mas não antes que ele visse algo passar por seu olhar. —

Sabe de algo, bruxa?

— Talvez Nigel queira garantir que ninguém chegue ao castelo.

Cade cruzou os braços sobre o peito. Os únicos que ele sabia que vinham

a Wolfglynn eram Gerard e Grayson. Como Gerard tinha a sua família, deveria

ser Grayson. Embora Cade não soubesse tudo o que tinha acontecido com

Grayson, Drogan falou o suficiente durante suas muitas viagens ao bosque

para tentar atrair Cade ao castelo.

— Grayson pode ajudar? — Ele perguntou.

Francesca sacudiu a cabeça. — Temo que ele e seus homens acabem

mortos.

— Então talvez seja melhor que a tempestade os mantenha afastados.

— Você não conhece Grayson. Ele é leal a Drogan, completamente.

Cade tamborilou os dedos em seu braço. — Mesmo que agora Grayson

seja um lorde e não mais um cavaleiro de Drogan?

— Embora seja um lorde. Drogan protegeu Grayson, acreditou nele. Mas

o mais importante, Drogan sabia que Grayson guardava segredos e não se

meteu em seus assuntos.

— A esposa de Grayson, é uma bruxa também?

Francesca assentiu com a cabeça. — Adrianna. Serena a conheceu

quando ela e Drogan vieram para Wolfglynn.

Liam havia dito que Nigel queria que as bruxas morressem. Se Grayson

conseguisse entrar, então as três estariam notavelmente perto.

— Quão forte é Adrianna?

Francesca deu de ombros. — Não sei. Todas nós temos algum tipo de

magia. Por quê?

— Liam disse que Nigel queria as bruxas mortas. E se a tormenta não é

para impedir que Grayson ajude Drogan, mas evitar que Adrianna chegue a

você e a Serena?

Francesca abriu muito os olhos. — Por todos os santos.

Cade sabia que só tinha uma escolha. — Você está certa de que Grayson

vem?

— Drogan recebeu uma mensagem dele faz um mês lhe dizendo que

estava a caminho.

Merda.

— Vá para o castelo, bruxa. Faça o que preciso, mas mantenha Drogan e

Serena dentro daquelas paredes.

— Eu usei minha magia. O castelo deveria estar a salvo de Nigel.

— Nada impedirá que Nigel entre no castelo se ele quiser entrar. — Deu-

lhe um último olhar e saiu da caverna. A mão dela se fechou sobre seu braço,

detendo-o imediatamente. Ele a olhou por cima do ombro.

— O que você vai fazer?

— Vou tentar chegar a Grayson e a Adrianna antes de Nigel.

Sua testa franziu. — Você é só um homem, Cade. Não pode lutar contra

um exército.

Com a escuridão com ele, ele era um exército. — Lembre-se do que eu

disse bruxa.

Correu da caverna antes de ceder ao desejo de beijar a bruxa linda,

sedutora e muito tentadora.

Cade saltou sobre as rochas e ignorou suas feridas. A lesão em sua perna

latejou, e ele sentiu um pequeno jato de sangue, deixando-o saber que tinha

reaberto, mas não havia tempo para parar. Já podia ser tarde demais.

Estava arriscando tudo deixando o Wolfglynn para encontrar Grayson e

Adrianna, mas Nigel queria às bruxas mortas porque as temia. Assim foi até

Cade para assegurar-se de que se mantiveram vivos.

Cade saltou sobre poças e árvores caídas. Contornou o castelo pelo

bosque. Um olhar para ele lhe disse que como a chuva diminuía, os homens se

moviam ao redor. Só esperava que Francesca chegasse a Drogan e Serena a

tempo.

?.?

Francesca ficou na caverna olhando enquanto Cade se afastava dela. A

determinação e a fúria em seu olhar a tinham paralisado, mas se deu conta de

que era porque temia que já fosse muito tarde para ajudar Grayson e

Adrianna.

— Tome cuidado, Cade — disse enquanto ele desaparecia no bosque.

Francesca se assegurou de apagar o fogo antes de se dirigir ao castelo. A

chuva havia diminuído, mas quando chegou à entrada da cozinha, estava

encharcada outra vez.

Enquanto passava pelas criadas, pediu-lhes que encontrassem Drogan e

Serena. Então ela foi para o quarto que utilizava nas ocasiões em que ficava em

Wolfglynn. Essas ocasiões eram raras, mas às vezes o clima, como a noite

anterior, lhe impedia de fazer a viagem de volta à ilha.

Phineas, o tio de Drogan, era o senhor da ilha, e embora tenha lhe dito

que não precisava voltar, ela o fazia. Phineas era como um pai para ela. Sabia o

que ela era e a amava por isso. Não explorou seus dons, mas sim ajudou a

ocultar de um mundo que não entendia o que era. Por isso, devia-lhe sua vida.

Então ela retornava a ele todos os dias para jantar e falar sobre seu dia.

Ela suspirou ao chegar ao corredor de seu quarto. Phineas tinha se

protegido da tormenta? Ele parecia mais frágil a cada dia, embora se negasse a

admitir. Ele estava sempre com um sorriso estampado, saudando cada dia

como se fosse o último.

Francesca fechou a porta de seu quarto e rapidamente tirou seu vestido

molhado. Desejava tomar um banho tranquilo, mas não havia tempo.

Abriu o baú em frente a cama e encontrou um vestido de cor verde

escura que se apressou a colocar depois de uma camisa limpa e meias. Ela

calçou os sapatos e ajeitou o cabelo quando bateram na porta.

— Entre, — ela falou.

Drogan e Serena estavam na porta.

— Onde você estava? — Perguntou Serena enquanto corria para

Francesca.

Francesca sorriu. — Eu estava bem. Cade me levou para uma caverna.

— Que Cade? — Perguntou Drogan. — Cade? O mesmo Cade do

bosque?

Francesca assentiu com a cabeça. — Eu vou te contar tudo, mas primeiro,

Cade me fez prometer que ambos permaneceriam dentro do castelo até que

ele volte.

Serena deu de ombros e olhou a seu marido. — Tudo bem.

— Por quê? — Perguntou Drogan. — E como saberemos que Cade

retornou?

Francesca sentou em sua cama e suspirou. Ela sabia que não podia dizer

nada a Drogan até que ele prometesse ficar no castelo. Ele iria atrás de Cade

para ajudar. — Me prometa que ficará no castelo.

Serena deu uma cotovelada em seu marido.

Drogan deixou escapar um suspiro. — Tudo bem. Eu prometo ficar no

castelo até que Cade retorne.

Então ela sorriu porque cumpriu a promessa feita a Cade. Aconteceu

tanto ontem à noite. Tanto que não teve tempo de pensar.

— Fran.

Ela piscou e olhou para Drogan. — Me desculpe. Foi tão... Aconteceu

tanta coisa.

— Quão agitado? — Perguntou com um olhar invasivo.

Tentou tudo o que podia para não rir. — Cade não me tocou. — Isso não

era precisamente certo, mas Drogan não precisava saber tudo.

— Eu vejo.

Foi decepção que viu em seus olhos?

— O que aconteceu? — Perguntou Serena. Ela tinha o cabelo negro em

uma trança que caía sobre seu ombro.

Francesca suspirou. — Você já sabe do ataque do lobo.

— Sim — disse Drogan. — Nenhum dos lobos jamais atacou.

— Cade disse que não era um de seus lobos.

Drogan começou a caminhar. — Era maior. E totalmente negro. Aqui não

existem lobos negros. Isso não significa que um não poderia ter entrado em

nosso bosque.

— Cade disse que veio de Nigel.

Drogan parou de súbito e a olhou fixamente.

Francesca cruzou as mãos sobre seu colo. — Eu vi Cade lutar contra o

lobo, e o segui quando ele se afastou. Queria conversar um pouco mais.

— Não entendo — disse Serena. — Você disse ‘um pouco mais’ como se

tivesse falado com o Cade antes.

— Ela fez, amor — disse Drogan. — Ontem pela manhã ela encontrou

Cade e falou com ele.

Serena sacudiu a cabeça. — Eu mal posso acreditar nisso. Ele nunca

falou com ninguém de Wolfglynn.

— Eu o surpreendi — disse Francesca. — De qualquer forma, eu o segui,

e justo quando ia perguntar pelo lobo, ele ouviu algo.

Drogan agarrou uma das cadeiras em frente à lareira e afundou nela. —

Há mais alguma coisa lá fora?

— Antes que Cade pudesse ver o que era a tormenta começou. Ele me

levou para a caverna que ele usa.

Serena pôs as mãos sobre os ombros de seu marido. — Foi lá que você

esteve toda a noite? Nós estávamos muito preocupados.

— Sim, estive lá. Cade saiu de novo, no entanto. Ele queria saber se havia

algo mais no bosque.

— O que era? — Perguntou Drogan.

— Era um homem. Liam.

Drogan sacudiu a cabeça e encolheu os ombros. — Esse nome não

significa nada.

— Significava algo para Cade. Ele o conhece e confia nele.

Aparentemente este Liam foi enviado por Nigel.

— Para me matar? — Perguntou Drogan com uma careta de desprezo.

Francesca lambeu os lábios. — Não. Para matar a mim e a Serena. Ele nos quer

mortas.

Drogan empalideceu. — Por quê?

— Eu não sei. Liam disse a Cade que estava se afastando de Nigel, e

avisando Cade de que ele queria nos matar.

— Acha que Cade acreditou nele? — Perguntou Serena.

Francesca assentiu com a cabeça. — Eu lhe fiz a mesma pergunta, e ele

acredita.

— Onde está Cade agora? — Perguntou Drogan. — No bosque? Tenho

que falar com ele.

Ela trocou olhares com Serena. Esta era a parte que ela temia. Drogan

não ia reagir bem à notícia de que foi enganado para ficar no castelo.

— Drogan, pare de franzir o cenho — replicou Serena. — Deixe que Fran

termine.

Francesca lhe dirigiu um sorriso de agradecimento. — Cade tinha a

suspeita de que a tormenta não era natural.

— Sim, eu tinha minhas próprias suspeitas — disse Drogan. — Não era

normal.

— E não é a tormenta que está vindo para cá, — disse Serena.

Francesca assentiu com a cabeça. — Também deduzimos isso. Pensei que

fosse uma manobra do Nigel para manter todos nós aqui, mas Cade se deu

conta da verdadeira razão das tormentas.

— Ele está mantendo Grayson longe — disse Drogan, e se levantou em

um salto. Passou uma mão pelo cabelo. — Cade foi atrás de Grayson, não é?

Francesca assentiu com a cabeça. — Ele se deu conta de que Adrianna

corria tanto perigo quanto nós. Está tentando alcançá-los antes de Nigel.

Drogan se virou e golpeou a pequena mesa que estava entre as cadeiras.

Ela se estilhaçou e desmanchou contra o chão.

— Eu deveria estar com ele — a voz de Drogan era áspera, atormentada.

Serena esfregou suas costas como se pudesse lhe tirar a dor.

Francesca ficou em pé. — É porque ele se preocupa tanto com você que

se esforça para te manter a salvo. Respeite o que ele está fazendo.

Drogan levantou seu olhar dourado para ela, seus olhos brilhando com

raiva. — Ele vai se matar. Ele não tem chance sozinho.

Ela sabia disso, mas algo no olhar de Cade lhe disse que ele estaria bem.

Ela tinha que confiar nisso, confiar que ele poderia trazer Grayson e Adrianna

a Wolfglynn com segurança.

— Ele vai morrer. — A voz de Drogan era áspera de emoção.

— Não, ele não vai, — disse Serena.

Francesca dirigiu o olhar para sua amiga. — Você já viu isso? Viu como

ele vai morrer?

CAPÍTULO OITO

Enquanto corria, Cade soltou seu controle sobre a escuridão. Precisava

encontrar Grayson, e a única maneira de fazer isso era com a escuridão. Ele só

rezou para que pudesse controlar o mal.

“Sim” , a escuridão lhe direcionava. “Grayson está cercado. Ele vai morrer!”

Onde?

"Não muito longe. A sua esquerda."

Cade fez uma careta quando a escuridão lutou para controlá-lo, para

convertê-lo no que Nigel queria, precisava. Mas Cade a combateu.

Tropeçou em um tronco caído e caiu duramente. O barro e as folhas

grudaram a sua túnica enquanto levantava em um salto. Seguiu as ordens da

escuridão e virou para a esquerda, enquanto seguia lutando contra o mal.

Cade perdeu a noção do tempo. Estava tão absorto na luta contra a

escuridão que não tinha ideia de onde estava, mas teve que deixar ser guiado

pela escuridão, para encontrar Grayson e Adrianna.

"Sim! Lute. Mate-os!” Gritou a escuridão.

Cade parou e se moveu por trás de uma árvore. Fechou os olhos e lutou

para controlar sua respiração. Sua perna doía sem piedade, e a lateral de seu

corpo e seus pulmões ardiam por seu esforço.

“Junte-se ao exército de Nigel” , insistia a escuridão. "Seja o homem que estas

destinado a ser."

Cade ignorou a voz em sua cabeça e contou os homens de Nigel. De fato,

ele tinha enviado um exército. Os homens avançaram lentamente pelo

acampamento de Grayson, com as espadas preparadas. Cade precisava chegar

a Grayson. Não queria brigar com os homens de Nigel até que Grayson e

Adrianna se dirigissem para Wolfglynn.

Merda!

Cade só tinha uma coisa a fazer, e era quase arriscado DEMAIS para

considerar. Mas ele devia isso a Drogan. E a Francesca.

Fechou os olhos e deixou que a escuridão o rodeasse como uma neblina

sombria. Ficou difícil respirar, pensar. Imaginou Grayson, mas seu rosto

desapareceu rapidamente. Pensou em Drogan, mas mesmo seu amigo mais

próximo se desvaneceu.

Então seus pensamentos se dirigiram a Francesca, seus suaves lábios e

aroma que o deixavam louco de luxúria. Só então foi capaz de recordar quem

era, e o que precisava fazer.

Cade respirou fundo e saiu de trás da árvore. Caminhou entre o exército

de Nigel, nunca sendo visto. Atravessou o perímetro que Grayson tinha

instalado em seu acampamento. Os homens de Grayson tinham as espadas

desembainhadas, porque embora não pudessem ver nada, sentiam o mal do

exército de Nigel.

Ele continuou até que chegar a grande tenda. Só quando estava no

interior, obrigou à escuridão a afastar-se. Por um momento, a escuridão se

rebelou, e Cade pensou que poderia se perder. Com suas mãos fechadas e sua

mandíbula apertada, voltou sua mente uma vez mais para Francesca, rezando

para que ela de algum jeito pudesse ajudá-lo a controlar a escuridão.

Pouco a pouco, a escuridão se apaziguou. Quando Cade abriu os olhos,

encontrou Grayson de pé diante dele com uma espada em sua garganta.

— Quem é você? — Perguntou Grayson.

Cade olhou o guerreiro de cabelo negro com seus olhos prateados.

Grayson teria se encaixado em seu grupo com facilidade, por isso Drogan

tinha se afeiçoado ao homem.

— Você sabe quem eu sou, — respondeu Cade.

Grayson entreabriu seu olhar e jurou. — Cade?

Ele estava impressionado. O guerreiro só o tinha visto uma vez, e isso

tinha sido há um ano. — Sim.

— Como passou por meus guardas?

Cade olhou por cima do ombro de Grayson para ver uma mulher de

cabelo dourado que o encarava fixamente com olhos azuis. Adrianna, ele

supôs. — Não passei somente seus guardas, mas também um exército.

— Maldição. Grayson baixou sua espada e passou uma mão por seu

cabelo. — Você tem razão, Drina.

A mulher sorriu e pôs sua mão sobre o braço de Grayson. — É obvio que

tenho razão — seu olhar se moveu para Cade. — Sinto uma escuridão ao seu

redor.

Cade deu um passo atrás e se voltou para Grayson. — É melhor para

todos se mantiverem distância. Não há muito tempo. Precisa levar a bruxa

para Wolfglynn imediatamente.

— Por quê? O que há aí fora?

— Nigel.

Grayson voltou a jurar e embainhou sua espada. — O bastardo teve a

oportunidade de me matar antes.

— Ele não quer te matar — disse Cade. — Quer que as bruxas morram.

Todas elas.

O rosto da Adrianna empalideceu. — Não temos poder sobre ele.

Cade deu de ombros. — Ele pensa de outra maneira. Já enviou alguém

para matar Serena e Francesca. Eu os detive.

— A tormenta foi cortesia de Nigel — disse Adrianna.

Cade assentiu com a cabeça. — E há outra a caminho.

— Eu sei — disse Adrianna. — Eu sinto o cheiro.

Antes que Cade pudesse perguntar o que queria dizer, Grayson falou. —

Então lutaremos contra o exército.

Cade abriu seus dedos. — Você vai morrer.

— Alguém tem que lutar contra eles.

— Alguém lutará. — Cade não tinha intenção de dizer a Grayson quais

eram seus planos. — Vou criar uma distração no meio do exército de Nigel.

Isso desviará a atenção. Enquanto isso, você precisa levar Adrianna a

Wolfglynn. Não pare. Seja pelo tempo ou qualquer outra coisa que se

interponha em seu caminho.

Grayson assentiu com a cabeça. — Pedirei a meus homens que lhe

ajudem.

— Não. Não quero que seus homens me confundam com alguém de

Nigel. Diga-lhes para ficar, mas que continuem vigiando o acampamento.

Quando estiver claro, podem ir para Drogan.

Adrianna caminhou ao redor de seu marido até que parou diante de

Cade. Seus olhos azuis se fixaram nele como se estivesse procurando sua alma.

— Você pensa em lutar contra todo o exército de Nigel?

— Ele não pode — disse Grayson. — Nunca sobreviverá.

Cade encolheu os ombros. — Isso é um problema meu. Agora, não há

mais tempo para conversa.

Ele levantou a lona e se afastou a passos largos da tenda antes que

pudessem fazer mais perguntas. Rezou para que Grayson fizesse o que lhe

pediu, porque se ele não fizesse, Nigel mataria Adrianna. Apesar de Cade não

ter descoberto por que Nigel queria que as bruxas morressem, ele se

asseguraria a todo o custo que elas vivessem. Qualquer coisa para chatear

Nigel.

Enquanto Cade caminhava pelo acampamento de Grayson, os homens se

voltaram para olhá-lo fixamente. Ele viu o temor, a inquietação que nublava

seus olhos quando o observavam. Precisavam temê-lo. Soltar a escuridão,

mesmo que um pouco, tinha tornado quase impossível para ele tomar o

controle outra vez. Ano após ano, nunca a tinha liberado. Ela lutou e gritou.

Mas nunca a tinha deixado ir.

E agora estava a ponto de desencadeá-la.

Cade gostaria de guardá-la até a batalha com Nigel, mas não conseguiu.

As bruxas precisavam estar seguras. Francesca precisava estar a salvo.

Uma onda de desejo surgiu através dele só em pensar nela. Deveria tê-la

beijado quando teve a oportunidade. Deveria ter provado seus doces lábios,

acariciado suas curvas. Porque uma vez que ele desencadeasse a escuridão,

não haveria volta. Ele se transformaria no que mais temia.

Ele esteve se preparando para morrer desde que a escuridão entrou em

sua alma. Ele simplesmente não esperava conhecer alguém como Francesca.

Caminhando até o limite do acampamento de Grayson, ainda sentia os

olhos dos homens nele. Inquietos, temerosos. Eles tinham direito a lhe temer.

Se soubessem o que estava a ponto de libertar, correriam por suas vidas.

Cade se deteve no perímetro do acampamento, entre dois cavaleiros. Seu

olhar estava nas suaves colinas e no limite do bosque, onde o exército de Nigel

aguardava.

— O que quer que ouçam, ou vejam, não saiam daqui — disse-lhes sem

olhar. — Fiquem aqui e não deixem acontecer nada.

Abriu a mão e desembainhou suas espadas enquanto respirava fundo.

Era estranho que depois de todos estes anos de luta contra a escuridão,

estivesse a ponto de libertá-la. Não gostava do medo que embrulhava seu

estômago ante a perspectiva de se transformar no que mais odiava.

Francesca.

Ele não a conhecia, não entendia o que era, mas de algum jeito ela

conseguiu lhe atingir como nenhuma outra pessoa jamais pode. As bruxas

precisavam manter-se vivas. A qualquer custo. Só desejava saber por que Nigel

as queria tanto mortas.

Cade girou suas espadas enquanto se afastava do acampamento de

Grayson. Os homens de Nigel começaram a mover-se. Cade sorriu ansioso por

sentir sua espada afundar-se em carne.

"Sim! Sim! Sangue. Banhe suas lâminas em sangue," a escuridão insistiu.

— Venham, saiam de onde quer que estejam, — Cade zombou dos

homens de Nigel.

Foi preciso pouco esforço para liberar a escuridão. Em um ponto ele

estava caminhando para o exército, e no seguinte suas espadas voavam, uma

neblina vermelha descendendo sobre seus olhos.

?.?

— Por tudo que é sagrado — murmurou Grayson enquanto via Cade

entrar no meio dos homens de Nigel.

Adrianna agarrou seu braço. — Grayson, temos que ir.

Ele não conseguia desviar os olhos de Cade. Suas espadas se moviam

com tanta rapidez e de uma maneira tão mortal que pareciam borrões. Os

homens de Nigel rodearam Cade, encurralando-o em um círculo, mas ele

continuou cortando e empurrando suas espadas, girando como se não fosse

totalmente humano.

— Você disse que sentia a escuridão — murmurou para sua esposa.

— Sim — disse ela. — Há algo mau, escuro, dentro dele.

— Ele tinha controle sobre isso quando chegou ao acampamento.

Drina suspirou suavemente. — É como se ele estivesse na ponta de uma

adaga, Grayson. Um deslize e a escuridão o reclamará.

Grayson olhou para sua esposa. Sua voz continha um toque de tristeza

que não tinha esperado. Ele voltou-se para Cade e o observou.

— Abriu mão do controle, certo?

— Sim. — A resposta de Adrianna foi apenas um sussurro.

Grayson não gostava da ideia de deixar um grande guerreiro sozinho,

mas Cade tinha sacrificado sua alma para proteger Adrianna. Deu as costas à

batalha e ajustou as rédeas em sua mão.

— Pronta? — Perguntou.

Adrianna assentiu. — Absolutamente.

— Vou te levar a Wolfglynn, meu amor.

— Não duvido — disse ela sorrindo. — Agora vamos, temos outra

tormenta para atravessar.

CAPÍTULO NOVE

Francesca olhou pela janela da torre, esperando um sinal de Cade.

Depois que Serena tinha confessado que Cade não morreria nesta batalha,

tinham tentado fazê-la comer, mas Francesca não podia suportar a ideia de

comer.

Não era só a imagem de Cade lutando contra os homens de Nigel, era o

sonho. O sonho onde o medo e o mal lhe tinham agarrado, rasgando sua pele.

— Achei que te encontraria aqui.

Olhou por cima do ombro para ver Serena caminhar até ela. — Você viu

como Cade morre?

Serena ficou de pé ao seu lado, com as mãos juntas sobre as pedras frias

do castelo enquanto olhavam pela janela. — Por que você quer saber?

Como Francesca poderia lhe explicar? A situação de Cade era algo com a

qual ela não deveria se meter, mas não podia evitar. Ela se sentia atraída por

ele como uma mariposa pela chama.

— Fran?

Ela suspirou e encolheu os ombros. — Eu não sei. Não posso explicar, de

verdade. Se você pudesse olhar em seus olhos e ver sua dor, sua solidão, então

poderia entender.

— Acredito que sei o que quer dizer. É a escuridão, não? Você a sente

quando está perto dele?

Ela assentiu. — Você sentiu a de Drogan?

— Um pouco, mas, no entanto, a escuridão não era tão forte em Drogan

como é com Cade. Fico feliz que ele tenha falado contigo. Cade precisa de um

amigo.

Francesca se virou para Serena. — Ele está arriscando tudo para nos

salvar.

— Eu sei. Isto está deixando Drogan louco. Ele não para de andar pelas

muralhas.

— Você não vai me dizer como Cade vai morrer, certo?

Serena sorriu tristemente. — Eu menti em seu quarto. Nunca toquei em

Cade, então não posso olhar seu futuro para ver sua morte.

Como Francesca podia ter esquecido esse pequeno detalhe? Ela cravou

seus dedos na pedra e tratou de acalmar seu coração acelerado. — Cade pode

morrer.

— É provável que aconteça, e sinto muito por isso. O que eu fiz, foi por

razões egoístas, Fran. Se Drogan suspeitasse que Cade poderia não sobreviver

a esta batalha, prometendo ou não, iria ajudá-lo.

— Eu entendo. Você tem uma família. Está protegendo os interesses de

seu futuro.

— Mas não concorda comigo.

— Não cabe a mim concordar ou discordar. — Ela voltou-se para a

janela, a necessidade de ver Cade crescendo com cada batida de seu coração.

— Eu sinto muito.

Francesca também sentia. Depois de alguns momentos, Serena saiu da

torre. Normalmente Francesca adorava sua companhia, mas havia muito em

sua mente e em seu coração que ela não podia compartilhar. Precisava de

tempo para pensar, para considerar o terrível sonho que tinha vindo até ela na

noite anterior.

E como ele estava ligado a Cade.

Não conseguia identificar a conexão, mas sabia que de algum jeito

envolvia Cade. Antes, ela viu a batalha com Nigel, visto como triunfaria sobre

o mal. Sempre terminava ao mesmo tempo em que sua vida.

Sua morte era algo que sabia desde que tinha dez anos. Nunca temeu

nem se arrependeu de nada. Apesar de seus sonhos nunca a ter ensinado

como lutar com Nigel, mesmo quando ele carregava tanta maldade, ela sabia

que podia acabar com tudo.

E ela o faria.

Nigel era uma praga sobre a terra, e precisava ser dizimado. Por causa

do que o futuro tinha para ela, nunca deixou ninguém se aproximar, com

exceção de Phineas. O velho tinha sido sua rocha, sustentando-a no meio das

noites quando seus sonhos mostravam os horrores dos quais não podia falar.

Phineas nunca lhe perguntou por seus sonhos, só a abraçou, acalmando-

a até que pudesse dormir novamente. À medida que crescia, aprendeu a lutar

com os sonhos, mas sempre soube quando viriam até ela.

Ela apoiou a testa contra as pedras. Por que o sonho mudou? A única

explicação que podia pensar era que algo mais tivesse mudado também. E esse

algo tinha que ser Cade.

Cade fez um esforço para se manter afastado de todo o mundo.

Entretanto, de algum jeito, ela conseguiu encontrá-lo e falar com ele. Poderia

esse pequeno gesto fosse o suficiente para mudar o rumo do futuro?

Ela saberia quando voltasse a sonhar. Passou muito tempo desde que ela

teve medo de dormir, mas a ideia do sonho se repetir a deixou suando frio.

Um estremecimento assaltou seu corpo enquanto recordava a sensação

do mal arrancando a carne de seu corpo, seus gritos silenciosos na escuridão

nebulosa. O desamparo, o terror e o desespero a consumiram. Nunca sentiu

emoções semelhantes. E ela nunca quis sentir novamente.

Um movimento ligeiro de um relâmpago cortou o céu como a batida de

um coração antes do trovão retumbar. Logo em seguida, a chuva começou.

Tal como ontem.

Nigel deve ter um dedo nisso. Para poder controlar o tempo significava

que era muito mais poderoso do que qualquer um deles se deu conta.

— Cade, onde você está? — Sussurrou.

O vento trouxe a chuva até a janela, mas ela não se moveu. Ela

semicerrou os olhos através dela com a esperança de ver Cade movendo-se

pelo bosque. Sabia que era inútil, mas não podia desistir.

— Cavaleiros, — gritou um dos homens da guarita.

Francesca girou a cabeça para o caminho que conduzia aos portões do

Wolfglynn. Podia distinguir dois cavalos, seus cavaleiros agarrados ao pescoço

dos animais enquanto galopavam para a entrada.

— Levante os postões, — a voz de Drogan ressonou sobre a chuva.

Francesca viu uma larga trança loira enquanto os cavalos galopavam

para a muralha. Voltou-se e, agarrando a saia nas mãos, voou pelas escadas.

No momento em que entrou no grande átrio, o casal estava sendo levado

para conseguir roupas secas. Francesca teria que esperar por notícias de Cade.

Ela resistiu ao impulso de chamá-los, de perguntar por Cade. Eles cavalgaram

por uma terrível tormenta, e precisavam secar-se. Ela podia esperar. Teria que

fazê-lo.

De repente, a loira se deteve na escada e se voltou para ela. Seus olhos se

encontraram, e ela sabia que esta mulher era Adrianna. Outra bana-bhuidseach.

Francesca deveria estar muito contente de ter outra bruxa tão perto, mas não

pôde superar sua preocupação por Cade.

— Adrianna — disse Grayson.

Francesca deu um passo para eles.

— Quando saímos, ele ainda estava vivo, — disse-lhe Adrianna.

Francesca assentiu com a cabeça. Não significava que Cade estivesse vivo

agora, mas estava. Ainda poderia estar.

Seu olhar se encontrou com os prateados de Grayson e viu as perguntas

em seus olhos. Ela responderia o que pudesse, mas tinha suas próprias

perguntas.

Francesca se dirigiu ao salão e tomou uma das cadeiras em frente ao fogo

ardente. Parecia errado estar quente e seca, enquanto Cade estava em meio da

batalha com uma tormenta rugindo a seu redor.

— Você tem certeza de que não aconteceu nada entre você e Cade?

Saltou ante o som da voz de Drogan. Ela girou a cabeça para encontra-lo

de pé junto a ela, observando-a atentamente.

— Quando foi à última vez que você o viu?

— Foi no dia que lutamos contra Nigel e Serena quase morreu. Ele me

ajudou a colher as ervas que me mandou procurar. Minhas mãos estavam

muito ensanguentadas e inchadas para arrancar as delicadas flores.

— Você olhou nos seus olhos?

Drogan franziu o cenho. — Eu... não me lembro. Por quê?

— Eu olhei. Há tanta solidão em seu olhar. Ele se mantém sozinho para

evitar que alguém entre em contato com a escuridão, mas ao fazer isso, está se

perdendo.

— O que quer dizer?

— Ele precisa de um amigo.

O rosto de Drogan obscureceu. — Eu sou seu amigo.

— Eu sei. E ele sabe. Estou falando de alguém que não se preocupa com

o mal que lhe rodeia. Você se importa porque lutou sozinho.

Drogan parou em frente a ela. — Não tenho medo de estar perto dele,

Fran. Implorei a ele que viesse para o castelo ou que falasse comigo.

— Eu sei que você iria recebê-lo, mas no fundo da sua mente, se

perguntaria se a escuridão poderia o envolver mais uma vez. E teria todo o

direito de se perguntar. A escuridão que está com ele é muito mais forte do

que a que estava em você. Ela quase levou Cade.

Drogan afundou em uma cadeira e suspirou. — Há algo que possamos

fazer?

— Há algo que eu posso fazer. Posso estar ao lado dele.

— Se ele permitir, você quer dizer — disse Drogan.

— Eu não vou lhe dar uma opção.

CAPÍTULO DEZ

Cade estava preparado, esperando o próximo ataque. Só que não houve

um. Olhou ao redor para os corpos que jaziam no chão, a chuva lavando o

sangue o misturando com a terra.

"Estamos começando" , disse a escuridão.

O corpo do Cade doía, mas a necessidade, a sede de mais sangue o

enviou a procurar entre os corpos por qualquer pessoa que ainda estivesse

viva. Logo que encontrou um, afundou sua espada na carne.

A escuridão riu. "Mais, mais. Mais!"

Cade quis ignorar o estímulo. Ele queria voltar a sua caverna, para tentar

empurrar a escuridão para longe. Mas temia que fosse muito tarde.

"É muito tarde."

Ele levantou seu rosto para a chuva e rugiu enquanto a escuridão o

consumia. Estava impotente para combatê-la, incapaz de fazer outra coisa que

não fosse atender a sede de sangue que bombeava em suas veias.

Seu olhar se voltou para Wolfglynn.

“Sim,” vaiou a escuridão. "Mate-os. Mate-os todos!"

CAPÍTULO ONZE

Francesca saltou quando o relâmpago golpeou uma e outra vez. A

tormenta não tinha diminuído como ela esperava ao contrário se fez mais

forte. Os homens nas muralhas não podiam lutar contra o vento e se retiraram

para a guarita.

Depois de sua declaração, Drogan simplesmente a olhou, como se

estivesse avaliando se ela era digna de Cade. Ela esperava que fosse.

Um calafrio percorreu sua espinha de repente.

— Fran? — perguntou Drogan.

Ela encolheu os ombros. — Só em meus sonhos vejo o futuro.

— Você viu o de Cade?

Olhou os olhos dourados de Drogan e sacudiu a cabeça. — Quem dera

pudesse ver o futuro com a mesma facilidade que Serena, mas não posso.

Drogan suspirou. — Serena só vê a morte. Não acredito que você

gostaria desse dom.

— Não estou certa de que alguém realmente goste de seu dom, a menos

que sejam curandeiros.

Logo que as palavras saíram de sua boca, a sala começou a vibrar com

magia – nova magia. Francesca se levantou e se voltou para as escadas para ver

Adrianna descendendo os degraus seguidos pelo Grayson e Serena.

— Eu sou uma curandeira — disse Adrianna.

Grayson tomou a mão de sua esposa enquanto caminhavam até

Francesca e Drogan. — Isso não é tudo o que você pode fazer.

Adrianna sorriu para Grayson. — Posso ver o futuro, embora só em

pedaços. Sinto os problemas mais do que qualquer outra coisa. O problema

que pode me ajudar ou o que eu tenho que evitar.

— Você evitou o exército de Nigel? — Francesca perguntou.

Grayson suspirou e conduziu Adrianna a uma cadeira. Uma vez que ela

se sentou, ela apoiou seu braço nas costas. — Não. Drina previu a tormenta,

por isso montamos acampamento. Não havia forma de chegar ao castelo antes

da tormenta acabar.

— E Cade? — Perguntou Drogan. — Ele enfrentou o exército?

— Sim — disse Adrianna. — Mas foi... — ela olhou para Grayson.

— Não era a mesma pessoa, — Grayson terminou por ela.

Francesca afundou em sua cadeira e olhou o fogo. Cade não poderia ter

sucumbido tão cedo. Era suficientemente forte para lutar contra a escuridão,

para mantê-la sob controle.

— Cade deixou que a escuridão assumisse — disse Francesca. — Era a

única maneira de conseguir que Adrianna e Grayson chegassem a salvo ao

castelo.

Drogan jurou e entrelaçou seus dedos com os de Serena. — Ele está

seguro, Fran? Você o viu?

— Não, mas não preciso fazer isso. Eu o avisei que não podia lutar

contra o exército de Nigel, mas ele me disse que podia. A única maneira de ter

uma chance de ganhar...

— Era deixando sair à escuridão — disse Serena. — Drogan, eu sinto

muito.

— O que acontecerá com ele agora? — Perguntou Adrianna. — Ele

voltará para o castelo?

Drogan passou a mão por seu rosto. — Cade nunca colocou os pés

dentro do castelo. Duvido que o faça.

— Mas ele está lá fora, — disse Grayson.

Drogan assentiu com a cabeça. — Ele está lá fora.

Francesca levantou o olhar para Drogan. — Você não pode caçá-lo.

— Se eu não o fizer, ele matará a qualquer que encontre.

— Espere — disse Adrianna. — Eu não entendo. O mal que senti no

Cade, estão me dizendo que se apossou dele?

Francesca se negou a responder. Até que olhasse Cade, que visse que a

escuridão o levou realmente, o defenderia.

— Sim — disse Drogan. — Cade... esteve lutando contra a escuridão

durante muitos anos. Para finalmente ceder a ela, ou deixá-la ganhar,

significaria que sua alma também está perdida. Agora não é mais que

maldade.

— Você não sabe com certeza — continuou Francesca enquanto

levantava. — Você não pode dizer isso, não pode ordenar que os homens o

cacem até que o veja.

Os olhos de Drogan mostravam piedade. — Não preciso vê-lo, Fran. Eu

mesmo vivi com a escuridão.

— E a venceu. Então Cade também pode.

— A combati com Serena. Cade está sozinho, como você falou. Você me

disse que ele estava se perdendo. Isso facilita para que a escuridão vença. Não

há esperança para Cade.

Francesca odiava a impotência que sentia, a absoluta falta de controle

sobre a situação. O silêncio tomou conta do salão enquanto os cinco se

olhavam. Ela queria discutir com Drogan para demonstrar que ele estava

errado. Mas não podia, até que encontrasse Cade.

— A tormenta — disse Adrianna. — Está cada vez pior. Algo aconteceu.

Francesca olhou Adrianna para encontrar à bruxa loira olhando para

longe com um olhar distante.

Grayson caiu de joelhos diante dela. — Drina, o que você vê?

— Raiva. A tormenta está destinada a matar.

— Cade, — disse Drogan calmamente. — Cade deve ter destruído o

exército de Nigel.

Grayson assentiu com a cabeça. — Isso explicaria a tormenta e sua raiva.

A esperança floresceu no peito de Francesca. Se Cade venceu o exército

de Nigel, isso significava que ainda estava vivo. Que existia uma chance para

ele.

Uma oportunidade para nós.

Não estava certa de onde veio esse pensamento, mas não podia negá-lo.

Embora fosse contra tudo o que acreditou durante tantos anos, desejava Cade

com um desespero que a assustava. Adrianna piscou e respirou fundo.

Quando abriu seus olhos azuis, eles focaram em Francesca.

— Depois de tudo o que Cade fez por nós, precisamos manter as

mulheres a salvo, — disse Grayson.

Drogan assentiu com a cabeça. — Não entendo por que Nigel as quer

mortas.

— Olhe o que aconteceu quando ele tentou me enfrentar, — disse

Serena. — Eu te dei o amuleto que salvou sua vida. Não tinha como saber

naquele momento, mas Nigel não sabe disso.

— Verdade, — Drogan concordou. — Por isso ele teme as três.

Adrianna cruzou as mãos sobre seu colo. — Se passaram muitos séculos

desde que todos os bana-bhuidseach vivessem juntos. Em certo ponto, o poder

de todas as bruxas poderia ser combinado para matar o mal, mas não sei se

sem uma de nós três poderíamos fazer isso.

— Eu nunca usei meus poderes dessa maneira — admitiu Serena.

Francesca sacudiu a cabeça. — Eu também não. Não saberia nem o que

fazer primeiro.

— Tal como eu esperava, — disse Adrianna. — Eu, tampouco, nunca usei

meu poder dessa maneira. Não acredito que seja possível. A cada morte de um

de nós, nossos poderes diminuíram.

— Isso poderia ser verdade, meu amor — disse Grayson. — No entanto,

não há dúvida de que Nigel as teme. Talvez nunca saibamos a razão, mas me

sentiria muito melhor sabendo que estás viva.

Francesca observou o intercâmbio entre Grayson e Adrianna com a

mesma inveja que olhava Serena e Drogan. Não havia um futuro para ela, e

muito menos um homem que a olhasse com tanto amor em seus olhos.

— Diga-lhes — Drogan pediu.

Grayson olhou dela para Drogan. — Nos dizer o que?

— Francesca teve uma visão em seus sonhos.

Ela lambeu os lábios. — A única maneira de que Serena e seu filho

sobrevivam ao ataque de Nigel é escondendo-se em algum lugar. Em algum

lugar que Nigel nunca seria capaz de encontrá-los. Eu disse a Drogan que ele

precisava estar junto também, mas ele não me escuta.

— Preciso lutar contra Nigel, — argumentou Drogan.

Francesca enfrentou o homem que cresceu para ser mais que um irmão

para ela. — Você acabará morto se não estiver com sua esposa e filho.

— Drogan — disse Serena. — Escute Fran. Seus poderes não a

conduzirão errado.

— Não vou me esconder enquanto meus homens lutam contra Nigel.

Francesca sabia que era uma discussão que poderia durar dias. Olhou

para Grayson e Adrianna. — A câmara está oculta e protegida por minha

magia e a de Serena. É um bom lugar para que Adrianna se esconda também.

— E quanto a você? — Perguntou Adrianna.

— É obvio que estarei na câmara também — mentiu ela com suavidade.

Adrianna assentiu. — Bom. Vou adicionar minha magia a ela também.

— Talvez queira acrescentá-la ao castelo — disse Serena. — Fran e eu

pusemos magia em todo o castelo por precaução.

— Eu farei isso — disse Drina.

Francesca já não podia suportar. Tinha que saber o que Cade disse a

Grayson e Adrianna. — Você falou com o Cade, certo?

— Sim — disse Grayson.

— O que ele disse?

— Só que criaria uma distração que permitiria que eu e Drina

montássemos para chegar a Wolfglynn sem sermos seguidos.

Francesca apertou a saia com os dedos. A necessidade de correr para o

bosque para encontrar a Cade era esmagadora. A única coisa que a deteve

foram os homens a seu lado. Ela sabia que Drogan não a deixaria sair, não

quando temia que Cade se voltasse contra ela.

— Eu nunca vi a alguém lutar como ele, — disse Adrianna. — Agora

entendo como suas espadas se moviam tão rapidamente. Ele não tinha que

liberar a escuridão, mas o fez por nós. Por isso, sempre serei grata.

Grayson assentiu com a cabeça. — Ele fez algo muito corajoso.

— Precisávamos dele para lutar contra Nigel, — disse Francesca, incapaz

de esconder o cansaço de sua voz.

Drogan se colocou a seu lado. — Vamos encontrar uma solução.

— Sim, nós vamos. — Francesca forçou um sorriso. — Quero que cada

um de vocês me prometa que encontrará seu caminho à câmara secreta logo

que Nigel chegue.

— Sim — disseram Serena e Adrianna em uníssono.

Grayson e Drogan trocaram olhares, mas não disseram nada.

— Grayson? Drogan? — Perguntou Serena. — Não vou entrar na câmara

sem você, Drogan.

— Serena, entenda que não posso, e não permitirei que meu povo lute

contra Nigel sozinho, — disse Drogan.

Francesca sabia que Serena e Adrianna iriam falar com seus maridos

sobre a câmara. Elas eram bana-bhuidseach antes de tudo.

— Nigel estará aqui logo.

— Você o viu? — Perguntou Adrianna.

Ela sacudiu sua cabeça. — É só uma sensação, mas vem ficando mais

forte a cada dia que passa.

— Estou de acordo com a Fran — disse Serena. — Não é nada que eu

possa afirmar, mas é como uma ameaça que vem crescendo em minha mente.

— Eu também senti isso — disse Grayson.

Francesca o olhou. — Como eu nunca soube que você é um bana-

bhuidseach?

— Nem eu mesmo sabia — admitiu Grayson.

— Ele pode se curar sozinho — disse Adrianna. — É útil na batalha.

Serena cruzou os braços sobre seu peito. — Estranho você não acha? Que

Nigel queira matar a mim, Fran e Drina, mas não Grayson.

— Não é tão estranho — disse Drina. — Nigel teve a oportunidade de

matá-lo. Eles lutaram, mas Nigel não se deu conta de que o pai de Grayson

não estava morto como ele acreditava.

— Foi a magia de meus pais, combinada com a minha e a de Drina, que

me ajudou a vencer. — disse Grayson.

Drina assentiu com a cabeça. — Isso e o fato de que depois de ter posto a

magia em sua espada, o sacerdote também a benzeu depois que Grayson me

contou o que aconteceu quando Serena deu o amuleto a Drogan.

— Já que estamos todos juntos nisto, tudo tem que ser falado. Fran teve a

oportunidade de falar com Cade. — disse Drogan.

Depois de Francesca lhes contou a respeito de Liam e quão mais forte Nigel

tinha se tornado, ela escapou para longe grupo. Vagou pelos corredores do

castelo, ignorando a tormenta e o medo enquanto ela se preocupava com o Cade.

Ela encontrou-se de pé em uma torre que dava para o mar. A chuva caía

tão forte que não podia ver a ilha. Só com os relâmpagos foi capaz de

distinguir a forma aterrorizante do castelo de Phineas.

— Ele está bem, — disse a voz de Drogan atrás dela.

Ela assentiu, sabendo que ele se referia a seu tio.

— Phineas é um homem forte.

— É que eu raramente passo tantas noites longe dele.

Drogan se aproximou dela. — Para um homem que não teve seus

próprios filhos, ele é um pai para nós dois.

— O único pai que conheço.

— Como eu nunca percebi que você é uma bruxa?

Francesca deu de ombros. — Eu não queria que ninguém soubesse. As

pessoas reagem estranhamente quando descobrem o que sou. Não queria que

me queimassem na fogueira.

— Eu não faria isso, e você sabe que Phineas não deixaria.

Ela sorriu para si mesmo. — Phineas é muito protetor. Acredito que seja

pelo jeito como me encontrou.

— Ele me disse que te encontrou meio afogada. O que aconteceu?

— Eu não sei. Eu era muito jovem. Lembro-me dos braços de minha mãe

ao meu redor, mas as ondas eram tão altas. Arrancaram-me dela. Às vezes

ainda a ouço gritar meu nome em meus sonhos.

— Mas sua mãe foi encontrada — disse Drogan.

— Sim. Foi por causa dela que Phineas veio me buscar.

Drogan assentiu e cruzou os braços sobre seu peito. — Eu me lembro da

sua mãe. Você tem seu cabelo. O que mais lembro é que ela nunca sorria. Ela

se sentava na torre e olhava para longe.

— Ela estava procurando meu pai.

— Ele estava vivo?

Francesca deu de ombros novamente. — Não acredito. Eu era muito

jovem para entender por que ela nunca falava dele, mas a ouvi e a Phineas

falando um dia. Ela disse à Phineas a respeito de uma batalha em que meu pai

estava e como ele foi ferido. Ela tentou chegar até ele, para salvá-lo.

— Não acredita que ele tenha sobrevivido?

— Não. Acredito que ele morreu, e acho que ela jamais se perdoou por

ter falhado com ele.

Durante longos momentos permaneceram em silencio antes de Drogan

voltar a falar. — Fico feliz que Cade tenha falado com você.

Finalmente se voltou para olhar Drogan. — Você desistiu dele.

— Não. — Ele sacudiu a cabeça para pontuar suas palavras. Drogan deixou

cair seus braços e suspirou. — No entanto, estou sendo realista, Fran. Você não

sabe o que é viver com a escuridão, e a de Cade sempre foi pior que a minha. A

única maneira de conseguir derrotar o exército de Nigel era liberá-la. E mesmo

sendo um homem tão forte quanto Cade, não acredito que ele poderia voltar

disso.

— E nem sequer vais verificar, certo?

— Se ele conseguir vencer a escuridão, poderá encontrá-lo.

— E se ele não conseguir?

— Ele matará a tudo o que veja, e procurará por mais.

Francesca engoliu a saliva. — O que aconteceu com ele, Drogan? Por que

a escuridão é tão forte nele?

Os olhos de Drogan mostraram toda a emoção. — Essa é a história de

Cade, Fran. Deve ser ele a te dizer.

— Então me conte sobre Cade. Diga-me como ele era quando se juntou

ao seu pequeno grupo.

Drogan arranhou o queixo. — Nós éramos os executores do rei. Gerard e

eu fomos recrutados por nossa habilidade com as armas. Durante muito

tempo, éramos só nós dois. Então um dia, Nigel trouxe o Cade.

— Éramos somente alguns anos mais velhos que ele, mas vimos tanta

morte que envelhecemos além da nossa idade. Os olhos do Cade estavam

cheios de tanta esperança e fé em seu futuro que quase me matou a primeira

vez que ele trabalhou conosco.

— O que aconteceu? — Perguntou Francesca quando ele fez uma pausa.

— Cade nunca questionou nossas ordens. Ele estava ali para defender ao

rei e ao país, e assumiu que as ordens que recebemos eram do próprio rei e a

pessoa era culpada.

— E nem sempre era assim.

Drogan sacudiu a cabeça. — Gerard e eu sabíamos isso desde o começo.

Nem todas as ordens vinham do rei. Suspeitamos que Nigel forjava as

mensagens, mas nunca poderíamos provar.

— Então Cade fez seu trabalho.

— Sim. Tão bons como Gerard e eu éramos com armas, Cade tem um

dom. Ele fazia coisas que nunca vi antes. Suas armas eram uma extensão dele,

como se ele tivesse algum tipo de poder sobre elas para que fizessem o que ele

desejasse.

Francesca se apoiou contra a parede, a sensação das pedras frescas e

úmidas penetrando em seu vestido. — Eu o vi lutar. É impressionante.

— Isso foi o que chamou a atenção de Nigel. Logo depois ele estava

enviando Cade em tarefas especiais sozinho. Cada vez que Cade retornava, a

esperança que sempre aparecia em seus olhos diminuía até que não restou

nada. Nigel tinha tirado toda sua esperança, todos os seus sonhos. Cade

raramente dormia, e quando o fazia, não era por muito tempo.

— Entretanto, durante esses anos, nós três tínhamos formado um laço

que nada, nem sequer Nigel, podia romper. Nós protegíamos um ao outro.

— Você não contou a Cade sobre o Nigel? — Ela perguntou.

— Sim. Ele sabia.

— E por que ele não se negou a ir? Certamente poderia recusar uma

tarefa.

Drogan bufou. — Se vinha do rei, não. Se vinha de outra pessoa, obvio

que sim. Cade se negou a muitas missões até Nigel lhe passar somente as que

vinham do rei.

— E você sabia que eram falsas.

Ele assentiu. — Nós três inclusive confrontamos Nigel sobre isso. Ele riu

e nos dispensou, mas no dia seguinte mandou chamar o Cade. Não sei o que

Nigel lhe disse, mas seja o que for Cade nunca se negou a outra missão, sem

importar de quem veio.

— Nigel fez algo assim contigo ou com Gerard?

— Nunca. Ele tentou nos fazer seguir sua vontade, mas não podia nos

tirar a terra nem os títulos.

Ela sacudiu sua cabeça. — Não entendo por que não saíram.

— Nós tentamos, — confessou Drogan. — Mas o que Nigel disse à Cade

o impediu de partir, e Gerard e eu nos negamos a deixar Cade.

— Mas o deixaram, não é?

Drogan se apoiou contra a parede e fechou brevemente os olhos.

— Nigel queria que fizéssemos algo. Gerard e eu nos negamos, mas

Cade não tinha opção. Quando Cade saiu para cumprir a missão, nunca

retornou.

— Você o procurou?

— Em todo o canto. Quando não pudemos encontrá-lo, Gerard e eu

retornamos a nossa terra para viver em paz. Ou pensamos assim.

Francesca inalou profundamente. — O que Nigel poderia ter dito ao

Cade para que ele o seguisse?

— Essa é a questão, não é?

E ela tinha a intenção de encontrar a resposta.

CAPÍTULO DOZE

Cade deu boas vindas ao trovão e a chuva torrencial. Ele riu quando um

raio acertou uma árvore ao seu lado.

"Preciso matar. Preciso matar!"

A névoa vermelha que tinha baixado sobre sua visão se foi, mas a

necessidade de sangue não. Suas espadas ainda gotejavam com o sangue de

seus inimigos.

E precisava de mais.

Olhou para Wolfglynn e pensou ter visto um cabelo ardente. Ele ficou

quieto, e seu coração palpitou enquanto tentava enxergar através da chuva.

Certamente tinha se enganado. O aguaceiro era muito espesso para ver algo,

mas tinha certeza que viu Francesca. Ele apostaria sua vida nisso.

Mas nessa altura, a necessidade de matar diminuiu. Foi o suficiente e lhe

permitiu chegar a sua caverna sem ceder ante a ânsia de matar a todos.

Cade tropeçou na caverna, seu joelho batendo em uma rocha. Apertou os

dentes e praguejou quando a dor percorreu seu corpo. Incapaz de se mover

através da dor, tomou respirações profundas e lentas. Apoiou uma mão contra

a parede rochosa da caverna. Ainda podia sentir o aroma persistente de lilás.

Seu estômago se agitava enquanto pensava em Francesca. Como desejava que

ela estivesse ali.

“Para matá-la,” grunhiu a escuridão.

Não!

Cade não permitiria que isso acontecesse. A escuridão só riu em

resposta.

Olhou suas mãos para vê-las cobertas de sangue. Sua túnica, calças e

botas também estavam manchadas. A bíle subiu por sua garganta. Ele tirou a

roupa e as botas antes de correr para a tormenta.

Inconsciente e indiferente, ele mergulhou no mar agitado. As ondas

golpearam seu corpo, puxando-o da superfície até que seus pulmões arderam.

Ele não lutou. Ele queria morrer. Tudo para livrar-se da escuridão.

“Nunca vai se livrar de mim. Sou uma parte de ti, Cade. Agora que me soltaste,

posso ocupar tua mente em qualquer momento.”

Embora não quisesse, sentiu seus braços se agitar na água até que sua

cabeça rompeu a superfície. Cade tomou várias respirações profundas, todo o

tempo odiando no que se transformou.

Mas ele fez isso por Francesca e as outras bruxas. Foi um sacrifício que

faria de novo sem exitar. Apesar do que se tornou, apesar de que agora teria

Drogan e Grayson o caçando para matá-lo, Cade manteve as bruxas seguras.

As ondas o empurraram para a beira. Quando Cade levantou, caminhou

para a caverna enquanto a escuridão continuava cantando sua necessidade de

sangue e morte. Cade não era um tolo. Ele já não estava mais no controle, e

quando o teve, era só por um fio fino. Com o mal liberado, seu tempo em

Wolfglynn acabou.

“Ataque o castelo. Ninguém está a salvo de sua espada. Mate a todos antes de

nos mudarmos para o próximo povoado.”

Cade caiu de joelhos, com os braços erguidos enquanto gritava sua fúria.

?.?

Os olhos de Francesca se abriram largamente, seu peito se encolheu ao

respirar. Embora seus olhos encarassem fixamente o teto de seu quarto, ela não

o viu. Estava revivendo o sonho que teve com Cade. Sua fúria e seu medo

palpitavam em seu corpo.

Ela tirou as cobertas e meteu os pés nos sapatos. Não se incomodou em

trocar a camisola. O tempo era essencial e para ela já poderia ser muito tarde.

Todos esses anos em Wolfglynn provou serem benéficos, já que utilizou

escadas e corredores secundários que a levaram ao salão principal. O salão

estava cheio do povo de Drogan procurando se proteger da tormenta. Os

cavaleiros estavam sentados contra as paredes e descansavam entre os turnos.

Ela tinha tomado o caminho dos fundos para evitar as pessoas. Serena e

Drina saberiam do que se tratava, mas preferiria não ter que dar explicações.

Francesca deslizou pela porta que conduzia às masmorras. Felizmente para

ela, não havia ninguém detido, o que significava que não existiria guardas.

Encontrou a porta secreta com um suspiro.

A porta com apenas um som. Ela correu pelo túnel escuro que conduzia

a uma entrada sob o castelo. Ela ouviu o som das ondas batendo antes de

tropeçar, cortando suas mãos nas rochas.

Francesca ignorou as fisgadas em suas palmas e a chuva que a encharcou

em instantes. Estava perto da caverna de Cade. Depois de limpar os olhos da

chuva, levantou sua saia e andou pelas rochas até a caverna.

O clarão de uma fogueira criou imagens dentro da caverna. Um sorriso

se desenhou em seus lábios porque sabia que Cade estava ali dentro. Ela não

diminuiu seus passos quando entrou. Justo quando separou seus lábios para

chamar por Cade, o metal frio lhe tocou a garganta.

Francesca se deteve e seguiu a lâmina com os olhos até que viu a mão de

Cade, mas o resto dele estava nas sombras.

— Eu poderia te matar agora. — Sua voz era baixa, áspera, como se não

fosse sua. O medo tomou conta de Francesca, mas ela se negou a dar-se por

vencida.

— Então faça.

Ele baixou a arma e se virou. — Vá embora antes que eu mude de ideia.

— Você salvou Adrianna. Ela e Grayson estão no castelo.

Cade fez uma pausa em seu caminho para o fogo. Usava somente calças.

Francesca limpou a chuva de seu rosto e o seguiu.

— Você está ferido? Deixe-me cuidar de você.

Ele girou, seus lábios se mexeram em um grunhido. — Eu disse vá!

Ela ofegou enquanto olhava a cor de seus olhos. Drogan tinha razão. A

escuridão tomou o controle, mas se esse era o caso, por que ele não a matou?

Drogan disse que Cade teria que matar e continuar matando até que alguém o

detivesse.

Francesca sabia que por dentro, Cade estava lutando contra a escuridão.

Ele não se renderia tão facilmente. Ele lutou muito e ferozmente para ceder

uma vez que a escuridão assumiu.

Ela levantou a mão para tocar seu rosto. Os dedos dele rodearam seu

pulso, detendo-a sem lhe fazer danos. Sem vacilar, ela levantou o outro braço.

Cade o segurou também.

— Não faça isso — ele disse.

Ela estremeceu quando uma brisa soprou na caverna. Com o material

úmido de seu vestido, os calafrios percorreram sua pele. Os olhos dele se

moveram de seus olhos para seus seios.

Seus mamilos estavam franzidos e tensos contra o material úmido. Seu

olhar ardia, fazendo que seus seios ficassem mais pesados. A umidade se

acumulou entre suas pernas enquanto seu sangue circulava mais rápido.

Francesca tirou os braços de sua prisão e tomou seu rosto. — Cade?

— Maldição, — ele grunhiu enquanto a apoiava contra a parede.

As rochas cravavam em suas costas, mas ela não sentia nada, não com o

calor de Cade a cercando. Ele pegou seu rosto e pressionou seus lábios contra

os dela. Francesca apoiou as palmas em seu peito nu. Algo perverso e

desenfreado foi crescendo em seu ventre quando ele passou a língua por seu

lábio inferior.

Ele levantou a cabeça por um momento antes de tomar seus lábios em

outro beijo. Um beijo que a queimou, a fez ansiar por mais dele. Logo ele

deslizou a língua por seus lábios. Francesca suspirou. Suas mãos desceram por

seu corpo para deter-se em sua cintura. Ele a atraiu contra ele, pressionando

seus seios contra seu peito. Um calafrio de prazer se apoderou dela quando

sentiu seu pênis duro lhe cravando no estômago.

— Bruxa, — ele murmurou entre beijos.

Seus polegares esfregaram a parte inferior de seus seios. Ela gemeu e

inclinou a cabeça para um lado enquanto ele beijava seu pescoço. Sua voz

agora soava mais parecida com o Cade que ela conheceu.

Ele agarrou seus seios, beliscando seus mamilos entre o polegar e o

indicador. Francesca se agarrou em seus ombros enquanto um suspiro

ofegante foi arrancado de seus lábios ante a fome que ardia dentro dela cada

vez que Cade a tocava.

Ela abriu os olhos para o encontrar olhando-a. Agora seus olhos eram

mais cinzas que negro. Antes que pudesse falar, ele agarrou o decote de seu

vestido e o arrancou de seu corpo.

Seus lábios se separaram em antecipação enquanto arrastava o olhar por

seu corpo. Seus peitos lhe doíam por mais de seu toque. O desejo em seu olhar

fez com que seus joelhos ficassem fracos. Ela nunca conheceu tal fome, tal...

necessidade... antes. E ela queria mais.

O corpo do Cade estava ardendo. Por Francesca. Seu beijo foi delicioso,

embriagador como o vinho mais doce. E necessitava mais. Ele precisava dela.

Cada toque e beijo enviaram a escuridão cada vez mais para longe. Sabia que

devia mandá-la para o castelo, de volta à segurança. Mas por uma vez, Cade

fez algo para si mesmo. A paixão em seus olhos avermelhados o impulsionou

a seguir.

Seus olhos percorriam seu exuberante corpo. De seus seios cheios com

mamilos rosados que imploravam por seu toque, sua cintura e seus quadris

deslumbrantes, os cachos vermelhos entre suas longas e magras pernas, ela era

perfeita.

Em todos os sentidos.

Seus lábios, inchados de seus beijos, separaram-se por mais. Ele afastou

as mechas úmidas de seu rosto antes de enfiar a mão em seu cabelo e puxá-la

contra seu corpo. Ele tomou seus lábios em um beijo lento, sensual que

mostrava o quanto a desejava, o quanto sonhou com ela. Ele a ansiava tão

desesperadamente que tremia com a força de seu desejo.

Seu pau saltou ansioso por enterrar-se em seu calor úmido, para

mergulhar nela e empurrar uma e outra vez até que ela gritasse seu nome

quando seu corpo se fechasse ao seu redor. Só então se permitiria gozar.

Ele sabia que não devia beijá-la, muito menos tocá-la. Ele tentou fazer a

escuridão se elevar sobre ele, mas Francesca era uma sedução a qual ele não

podia resistir. Sua boca cobriu a dela uma e outra vez, bebendo de seu gosto e

sua paixão. Suas mãos se agarravam a ele, e seus gemidos arfantes foram sua

destruição.

Quando seus dedos desceram por seu peito para deter-se na cintura de

suas calças, esqueceu-se de respirar. Então sua mão roçou seu sexo pulsante, e

ele rompeu o beijo em um esforço para não a tomar neste momento.

— Cade.

Seu nome sussurrado por seus lábios só impulsionou seu desejo por

mais. Suas bolas se contraíram, e suas mãos tremiam quando ele tomou seus

seios uma vez mais.

— Pelos santos, como eu te quero, — ele confessou. Ela sorriu, em

seguida gemeu quando ele rodeou um mamilo com o dedo.

Cade não tinha nenhuma dúvida de que ela era virgem. Ela merecia algo

melhor que ele, melhor que sua primeira vez no piso de uma caverna. Mas

apesar de saber isso, não podia deixá-la ir. Não era só porque de algum jeito

ela afastava a escuridão, ou a forma que sua magia fazia seu corpo formigar e

desejar mais de seu toque.

Era simplesmente por ela. A forma sedutora de seus lábios quando

sorria, a sabedoria em seus olhos avermelhados e o chamado de seu corpo ao

dele.

Não, Cade não a merecia, mas ele ia aceitá-la.

Sua mão desatou suas calças, e ele a uniu com a dela.

— Não, — exclamou ele. — Isso é a única coisa que me impede de tomá-

la neste momento.

— Mas eu quero que me tome. Agora mesmo.

Cade gemeu. Ele a levantou em seus braços e caminhou para o fogo.

Logo que a pôs de pé, pegou uma das mantas e a estendeu. Com um sorriso,

ele deitou na manta e a olhou.

Se alguma vez tivesse pensado em se afastar dela, ele já não poderia.

Estava hipnotizado por seu olhar, capturado pelo seu corpo glorioso, e

apanhado pelo sabor de seus lábios.

Cade tirou as calças e se deitou junto a ela. Sua mão lhe acariciou o rosto

enquanto o polegar delineava o lábio, como ele mesmo fez um dia antes. Ele

colocou suas mãos sobre o estômago dela e a sentiu tremer. Ele não recordava

a última vez que encarou uma mulher, mas era assim que planejava levar

Francesca.

Sua mão lhe acariciou os quadris e seguiu por sua perna enquanto se

inclinava e lhe beijava o pescoço. Ele deslizou para seus seios até que capturou

um mamilo em sua boca. Ela gemeu seu nome, suas mãos embrenhadas em

seu cabelo. Ela arqueou as costas enquanto lhe dava mais acesso aos seios.

Cade rolou em cima dela e se moveu para seu outro seio, fazendo sua língua

girar ao redor de seu mamilo até que ela estava ofegante, seus quadris moendo

contra ele.

Seus gemidos se converteram em suaves gritos enquanto ele continuava

lambendo seus mamilos, beliscando-os e amamentando-se até que ela estava

desesperada de desejo. Só então ele beijou seu estômago em direção a seu

sexo. O aroma de sua excitação fez com que seu pênis saltasse, e ele não podia

esperar para prová-la. Ele sorriu enquanto as mãos dela cravavam na manta, e

ela o observou estabelecer-se entre suas pernas. Ele engoliu nervosamente, e se

inclinou para sua vagina.

Cade abriu os lábios de sua vagina com os dedos e lambeu sua fenda até

o clitóris. Ela gritou, seu corpo rígido. Sua língua rodeou seu clitóris enquanto

deslizava um dedo dentro dela. Ela já estava tão úmida, tão quente que não

precisava prepará-la. Ela estava pronta para ele.

— Cade, — ela gritou enquanto ele chupava seu clitóris.

Empurrou o dedo com mais força, sentindo a barreira que sabia que ia

encontrar, e tentou ignorar a voz interior que dizia que isso era dele.

Francesca estava no céu. Nunca conheceu tal felicidade, tal paixão, e não

queria que acabasse. A boca de Cade estava fazendo coisas deliciosas com ela

enquanto seu dedo lhe acariciava por dentro. Seus quadris se levantaram por

conta própria para encontrar-se com seus impulsos, seu corpo sabendo o que

viria. Ela mordeu o lábio e arqueou as costas quando algo começou a agitar

dentro dela, aumentando com cada golpe de sua língua e dedo.

Logo ele acrescentou um segundo dedo, estirando-a, preparando-a para

ele. Seu coração pulou uma batida quando ela imaginou seu pênis dentro dela.

Ela o sentiu através de suas calças, mas não era nada comparado a vê-lo em

toda sua glória. Seu pênis era grosso, duro e quente encostado contra sua

perna.

Francesca moeu seus quadris no peito dele e gemeu enquanto seus

dedos aumentavam seu ritmo. O que estava construindo em seu interior a

empurrava para o precipício, prometendo prazer além de seus sonhos mais

selvagens.

E então ela se entregou.

Ela estremeceu seu corpo contraindo-se com a força de seu clímax. As

luzes apareceram por trás de suas pálpebras enquanto Cade continuava

acariciando seu corpo, prolongando seu prazer.

Então, de repente, ele se inclinou sobre ela, beijando seus lábios

enquanto a cabeça de seu pênis esfregava contra sua carne sensível. Francesca

assobiou, sentindo outra onda de prazer avançar sobre ela. Ela observou Cade

se dirigindo para ela. Então, centímetro por centímetro, ele a encheu,

estirando-a.

— Eu não quero te machucar — ele disse com os olhos fechados.

Francesca sorriu e puxou seu rosto para outro beijo. — Meu corpo é seu.

Pegue-o.

Seus olhos se abriram, e ela viu que estava cinza claro agora. Ele se

afastou dela apenas para se afundar mais, empurrando além de sua

virgindade. Ela ficou rígida, sentindo um instante de dor, mas se desvaneceu

tão rapidamente como tinha começado.

Logo que Cade começou a mover-se de novo, a maravilhosa emoção

girando dentro dela se intensificou. Ela envolveu suas pernas ao redor de sua

cintura e encontrou seus impulsos. Ele alternava entre empurrões longos e

lentos, fortes e rápidos, e cada um ajudou na construção de outro orgasmo.

Toda vez que ele a penetrava, se esfregava contra seu clitóris dolorido,

empurrando-a cada vez mais até que ela gritou seu nome em um segundo

clímax. Francesca sentiu que Cade se tencionou sobre ela e abriu os olhos para

ver sua cabeça arremessada para trás, uma expressão de alegria em seu rosto

enquanto sua semente se derramava dentro de seu útero.

CAPÍTULO TREZE

Cade nunca sentiu tanta... paz... em toda sua vida. Olhou para baixo para

encontrar Francesca olhando-o com uma expressão de tanto prazer que lhe fez

pulsar o coração.

Ele se inclinou e beijou seus lábios, ainda surpreso de que ela o desejava,

apesar da escuridão. Ele saiu dela e molhou um pedaço de tecido para limpar

o sangue de sua virgindade entre suas pernas e seu pênis. Uma vez que

estavam limpos, rolou sobre suas costas, puxando-a contra ele para que sua

cabeça descansasse sobre seu peito.

— Seus olhos estão azuis de novo, — ela disse.

Ele não sabia que mudou. — De que cor estava antes?

— Negros. Depois passaram para cinza e agora azuis.

Ele sabia que mudou por causa dela. De algum jeito, foi à própria

Francesca ou sua magia, que afastou a escuridão nesse momento.

— Você está bem?

Ele a olhou e assentiu. — Melhor do que já estive em muito tempo.

— Então tudo o que precisava era uma mulher?

A nota de zombaria em sua voz trouxe um sorriso a seus lábios.

— Não. Tudo o que eu precisava era você.

Seu olhar caiu por um instante. — O que aconteceu?

— Quer dizer com o exército do Nigel?

Ela assentiu e se moveu para apoiar seu queixo em sua mão, que estava

sobre seu peito. — Eu tinha só uma opção que faria Grayson e Adrianna

chegarem ao castelo.

— Hmm. Isso foi muito corajoso de sua parte. Lutar contra a escuridão

por tanto tempo, e então finalmente ceder. O que você sentiu?

— Demônios, — respondeu sem vacilar. — Como se eu não tivesse

controle sobre mim. Em um momento estava de pé em frente ao exército, e no

seguinte, eles estavam espalhados pelo chão. No entanto, minha sede de

sangue aumentou.

Ela suspirou. — Isso foi o que Drogan disse que aconteceria. Como você

a superou?

— Eu não o fiz. Ao menos não sozinho.

— O que quer dizer?

— Tentei de me afogar no mar, — ele confessou. — Eu queria morrer. Era

melhor do que ter o mal insistindo para eu atacar Wolfglynn e matar a todos

dentro dele. Mas, a escuridão não me deixou morrer afogado. Inclusive

quando saí da água, ainda tinha fome de morte e destruição.

Os olhos de Francesca continham dor e compaixão, mas não pena ao lhe

escutar.

— Mas você combateu isso.

— Me esforcei. Eu poderia ter te matado.

— Mas não matou. Não questione isso. Fique feliz por ter conseguido

vencer.

Ele suspirou. — Por agora.

Ele a deixou sair, a libertado. Quanto tempo tinha antes que a névoa

vermelha de sangue voltasse a cair sobre ele?

Ela beijou seu peito, sobre o mamilo.

— Por que você veio?

Ela encolheu os ombros. — Eu tive um sonho com você.

— Um sonho?

— Esse é meu dom como um bana-bhuidseach. Serena vê como a pessoa

morrerá. Adrianna é uma curandeira, e pode ver o perigo aproximando-se

dela. Grayson pode curar a si mesmo.

— Grayson? — Perguntou Cade, interrompendo-a.

Francesca sorriu. — Sim. Parece que ele também é um bruxo. Faz séculos

que nossa espécie teve um macho com magia.

— Eu não entendo.

— Os bana-bhuidseach são uma raça de bruxas em extinção, amaldiçoada

por um dos nossos.

— Conte-me, — ele pediu.

Ela rolou sobre suas costas, a luz do fogo lambendo sua pele, agitando

seu desejo. — Não há muito que contar. Com o tempo e a vida, perdemos a

certeza de onde nosso povo veio antes da Inglaterra. Alguns dizem que

viemos de uma terra de areia e sol, uma terra com monumentos que alcançam

o céu.

Cade rolou de lado, apoiando a cabeça em sua mão. — O que aconteceu?

— Vivemos em harmonia com outros habitantes da terra. Cada bana-

bhuidseach tinha magia, tanto homens como mulheres. Em vez de viver em

pequenos grupos, escolhemos viver em uma grande cidade.

Ele observou o jogo de emoções em seu rosto enquanto voltava a contar

sua história. Isso a fazia triste, mas também viu uma faísca de raiva em suas

profundidades avermelhadas.

— Uma das anciãs da aldeia que mantinha todos unidos tinha um filho

que se apaixonou por Helen. Dizem que Helen era a mulher mais bonita que

andou pela terra. Ela era perfeita em todos os sentidos, nem um só defeito em

seu corpo.

Cade podia argumentar que Francesca era a mulher mais bonita, mas se

calou e a deixou terminar.

— Helen também afirmou que estava apaixonada pelo filho. Os

preparativos para o casamento começaram imediatamente. Então, um dia, um

homem chegou à cidade. Ele não era um de nós. Entretanto, era de sangue

nobre, com montes de moedas e um grande castelo. Helen decidiu que

preferia estar com o nobre e fugiu com ele.

— O filho ficou tão deprimido que o amor de sua vida tinha lhe deixado

que se jogou no rio e se afogou. A anciã lamentou a perda de seu filho, e em

sua dor, amaldiçoou Helen.

— Qual foi à maldição?

Francesca deixou escapar um longo suspiro. — Esse nobre de Helen a

deixaria dentro de três meses depois de que ela lhe desse um filho.

— E ele o fez?

— Eu não sei.

Cade franziu o cenho. — A mulher amaldiçoou Helen, então como

afetou a todos vocês?

— Em sua ira, ela amaldiçoou a todas as mulheres bana-bhuidseach.

Tentou reverter isso depois, mas já era muito tarde. O dano já estava feito.

Cade tamborilou seus dedos sobre a manta. — A maldição não deve ter

funcionado. Drogan continua com Serena, e faz mais de três meses que ela lhe

deu um filho.

— Aparentemente, Serena rompeu a maldição sozinha. Acredito que

Adrianna também. Os pais de Grayson eram ambos bruxos, embora ele nunca

soube até recentemente.

— E seu pai?

Ela lambeu os lábios. — Morreu na batalha três meses depois do dia de

meu nascimento.

— Por tudo o que é sagrado.

— É por isso que estamos desaparecendo.

Cade olhou em seus olhos. — É por isso que nunca se casou?

— Você faria? Saber que sua esposa morreria ou te deixaria dentro de

três meses depois de te dar um filho?

— Serena e Drogan agarraram a chance.

Francesca se voltou e olhou para a caverna. — Quanto tempo acha que a

tempestade vai durar?

Cade a deixou mudar de assunto. — Eu deixei Nigel zangado. Pode

durar dias.

Levantou uma mecha de seu cabelo, amando a cor e a textura sedosa.

Não havia nada em sua vida que lhe faria digno de Francesca.

Ela girou sua cabeça para ele e rolou de lado para que estivessem um

frente ao outro. — Você deixou Nigel, certo?

Drogan tinha feito essa pergunta mil vezes e ele nunca tinha respondido.

Ele nunca teve vontade de responder antes. Agora tinha. — Sim.

Ela estendeu a mão e entrelaçou seus dedos com os dele.

— Drogan disse que você chegou ao seu grupo com esperança em seus

olhos. Deve ter tido grandes sonhos.

— O que qualquer menino sonha, a não ser a honra e a glória?

— Você vai me contar como era estar com Drogan e Gerard?

Por um momento pensou em lhe dizer que não, mas logo decidiu que

isso não causaria danos. — Foi o próprio rei quem me viu em um torneio. Ele

me pediu para que eu me unisse a sua guarda real.

— Que honra — ela disse com medo em sua voz.

— Eu pensei assim. Meu pai morreu no ano anterior, e eu estava

responsável por tudo. Servir ao rei foi a glória que sempre sonhei.

— Você tem família? Uma mãe? Irmãs? Irmãos, talvez?

O peito de Cade ficou apertado lembrando-se de sua família. — Sim, —

foi tudo o que respondeu. — Eu era jovem, o mais jovem na realidade, para

estar na guarda real. Minha habilidade com as armas foi o que também atraiu

a atenção de Nigel. Quando ele pediu que me unisse a um grupo de elite que

servia ao rei, não exitei.

— Drogan e Gerard.

Eu assenti. — Eles não eram muito mais velhos que eu, mas se você

olhasse em seus olhos, pareciam muito mais idosos.

— Você se preocupou com isso?

— Eu deveria ter feito, mas sendo tão jovem, pensei que era invencível.

Drogan e Gerard me trouxeram para o seu círculo. O vínculo que formamos é

inabalável até hoje.

— Eu perguntei a Drogan o que ocorreu entre você e Nigel.

Cade ficou rígido. Era a única coisa que ele não queria que ela soubesse.

Bom, era uma das coisas que ele não queria que ela soubesse.

— Ele me disse que era sua história para contar, — ela disse. Cade

deixou escapar um suspiro. — É tão terrível que não quer que eu saiba?

— Sim — murmurou ele.

— Drogan me disse que vocês eram executores do rei. Eu posso imaginar

o que o mandavam fazer.

Ele baixou o olhar para seus lábios. Se ela soubesse, realmente soubesse

o que ele fez, ela não estaria com ele agora.

— Não, não pode imaginar, bruxa.

Sua unha deslizou levemente sobre sua pele desde seu ombro até seu

quadril. — Então me diga.

— Não posso.

— Por que não voltou com Drogan e Gerard? Eles procuraram por você.

Cade engoliu a saliva e encontrou seu olhar. — Porque a escuridão se

apossou de mim.

— Ela também possuiu Gerard e Drogan.

— Não. Eles a tiveram, sim, mas não era nada como o que estava em

mim. Eu tinha medo de estar com alguém. Tentei ignorá-la, mas o mal sempre

estava ali. Nigel sempre esteve ali.

Ela tomou sua bochecha e sorriu. — Mas você conseguiu se afastar de

Nigel. Assim como Gerard e Drogan.

— A única razão pela qual deixou Gerard e Drogan ir como ele fez foi

porque sabia que eu voltaria para protegê-los. Atacar Drogan da primeira vez

foi à maneira de Nigel me encontrar.

Ela fez uma pausa, a cautela em seu olhar. — Você tem certeza?

— Positivo.

— Drogan sabe?

Cade encolheu um ombro. — Eu duvido. Mas não importa. Nigel está

retornando de qualquer jeito.

— Por ti ou por Drogan?

— Por mim. Ele atacaria Drogan só para me pegar.

Francesca lambeu os lábios. — O que você fez para ele te odiar tanto?

— Não foi o que eu fiz bruxa, mas o que sou. Se ele me capturar, não

serei mais que um peão para ele. Ele governará a escuridão através de mim.

— Santo Deus — sussurrou ela.

Cade levantou uma sobrancelha com sua tentativa de amaldiçoar.

— Eu não deixarei que ele me capture.

— Como vai detê-lo? Nigel é suficientemente poderoso para controlar o

clima. O que mais ele pode fazer?

Cade quase sorriu enquanto observava o fogo em seus olhos. Ela era

encantadora quando estava nervosa, e a ideia de que Nigel ganhasse enviou

seus olhos avermelhados dançando de ira.

— Do que Nigel é capaz? — Ela perguntou de novo.

Mas Cade não queria falar de Nigel nem dos atos horríveis que cometeu

desde que vendeu sua alma ao diabo. Queria mais de Francesca, queria mais

do que suas mãos e lábios em sua pele. Mas mais que isso, ele queria estar

dentro dela outra vez.

Cade pôs sua mão sobre suas costas e a atraiu para ele. Seus olhos se

abriram quando ela sentiu seu pênis duro entre eles. Ele ansiava por outro

sabor dela, para ouvir seus gritos de prazer.

Sua mão se moveu entre eles e ela agarrou seu pênis. Cade suspirou,

sentindo seus dedos suaves fechados ao redor dele. Fechou os olhos enquanto

seu sangue disparava por suas veias, exigindo que ele se enterrasse em seu

calor.

— Você gosta disso? — Francesca perguntou.

— Muito.

— Quero te explorar como fez comigo.

Cade estava a ponto de explodir só pelo inexperiente toque de sua mão.

Se ele a deixasse lamber e lhe sugar como ele tinha feito com ela, não duraria

uma batida de coração.

— Não desta vez. — Agarrou-a e a rolou com ele enquanto se

posicionava sobre suas costas.

Com suas pernas sobre seus quadris, ele esfregou sua vagina molhada

contra ele. — Eu gosto disto.

Cade gemeu. Seu cabelo tinha começado a secar em úmidas ondas de

vermelho que caíam em cascata por suas costas para lhe acariciar as pernas.

Ele sentou-se e enfiou as mãos em seu cabelo enquanto ele tomava sua boca

em um beijo feroz e necessário.

Ela gemeu em sua boca, suas unhas raspando suas costas enquanto ele

aprofundava o beijo. Ele enfiou a mão entre eles e tomou seus mamilos com os

dedos, beliscando os pequenos picos até que seus quadris balançaram contra

ele.

— Devagar, bruxa, — murmurou em seu ouvido antes de tomar o lóbulo

em sua boca e sugar.

— Cade, por favor. Eu preciso de você.

Suas bolas latejaram ante suas palavras. Ele estava mais que certo que

não merecia sua bruxa, mas ele a teria tanto tempo quanto fosse possível.

Sua bruxa.

Ouça, ela é minha.

Cade nunca havia se sentido tão possessivo sobre uma mulher antes,

nunca quis agarrar-se à esperança e um futuro com o que sonhou há tantos

anos. Mas Francesca lhe fez pensar que tudo poderia ser possível de novo.

Sabia que não o era, mas deu ao seu coração a esperança que não teve em tanto

tempo.

Agarrou Francesca pela cintura e a levantou até que sua vagina pairou

sobre seu pênis furioso. Instintivamente, ele sabia que ela seria a única mulher

que poderia acalmar a escuridão.

Seu olhar corado encontrou o dele, um sorriso sedutor em seus lábios

inchados. — Por favor.

Lentamente, baixou-a. Ela estava molhada e deslizou facilmente por toda

sua longitude até que se sentou profundamente. Cade envolveu seus braços ao

redor dela e tomou sua boca em outro beijo.

Quando seus braços lhe rodearam o pescoço, começou a balançar seu

quadril para frente e para trás com as mãos. Ela ofegou e deixou cair sua

cabeça para trás, seus lábios se separaram em um gemido. Cade nunca tinha

visto nada tão sedutor, tão erótico em toda sua vida.

Ele se moveu, e enfiou mais profundo dentro dela. Ela gemeu seu nome,

suas unhas se afundaram em seu ombro, e ela assumiu o movimento de

balanço.

— Apoie seus pés, — pediu Cade. — Então, use suas pernas para me

montar.

Ela mordeu o lábio inferior enquanto fazia o que ele mandava. A

primeira vez que se moveu, um gemido rompeu pela garganta de Cade. Com

seu calor e seu canal estreito a seu redor, não duraria muito. Quando ela

acelerou os movimentos, soube que não demoraria muito para alcançar o

clímax. Levantou a cabeça e a olhou nos olhos. Queria vê-la gozando, queria

experimentar uma proximidade com esta bruxa.

— Cade, — ela sussurrou antes de pulsar ao redor dele.

A sensação dela se apertando ao redor de seu pênis lhe enviou para o

alto. Cade enrijeceu e estremeceu ao chegar ao clímax, com o olhar fixo em

Francesca.

E por um momento, ele pensou ter visto o futuro. Um futuro com ele e

sua bruxa.

CAPÍTULO QUATORZE

Cade abriu os olhos para encontrar o fogo morrendo. Não estava certo de

quanto dormiu, mas com Francesca enroscada contra ele, tinha sido o melhor

descanso que teve desde que se uniu a Guarda Real do rei.

Qualquer um, ou qualquer coisa, poderia tê-lo encontrado, e ele não

saberia. Isso aterrorizou Cade muito mais do que queria.

Ele tirou seu braço de debaixo da bruxa e se levantou para adicionar

lenha ao fogo. Com a chuva, estava úmido e frio na caverna, e ele não queria

que Francesca adoecesse. Uma vez que o fogo começou a arder, se virou para

procurar outra manta. Logo depois de que ele pôs a manta sobre ela, deteve-

se, os cabelos da sua nuca se arrepiaram ao extremo.

Cade colocou as calças e agarrou suas facas. Escondeu-se nas sombras da

caverna perto da entrada e esperou. Alguns momentos depois, uma forma se

moveu na entrada, como Francesca tinha feito antes.

Levou sua espada à garganta do intruso. — É assim que você trata um

amigo?

Cade amaldiçoou e baixou sua arma ao reconhecer a voz de Drogan. —

Vá embora.

— Não até saber o que fez a Francesca.

— A bruxa está bem.

— Eu quero vê-la, — argumentou Drogan, seus olhos dourados

brilhando intensamente.

Cade apertou suas espadas. Não queria que ninguém visse a sua bruxa.

— Eu já te disse que ela esta bem.

Drogan deu um passo para ele. — Se você tiver feito mal a ela...

— O que você fará? Vai me matar como te pedi para fazer no passado?

— Cade, — Drogan grunhiu.

— A bruxa está bem, — disse Cade de novo. — Ela está junto ao fogo.

Drogan olhou por cima do ombro de Cade. Incapaz de resistir, Cade se

voltou para olhar a sua bruxa. Um braço esguio tinha saído da manta. A raiva

ardia dentro dele quando se deu conta de que Drogan a tinha visto.

Quando se voltou, o olhar de Drogan tinha mudado... Um olhar de

incerteza e... Otimismo ardia. — Ela é importante para você?

— Pare de olhá-la — disse Cade entre dentes.

Drogan levantou as mãos e se virou ficando de costas para Francesca. —

Me responda Cade. Você se importa com ela?

— Ela me toca como ninguém.

Drogan o olhou. — A escuridão te reivindicou, não é? — Cade deu um

pequeno aceno com a cabeça. — E Francesca te tranquilizou?

— Ela me deu paz, — admitiu. — Uma paz que não senti há anos.

Drogan deixou escapar um suspiro. — Você voltou da escuridão. É quase

impossível de acreditar. Como foi?

— Você não quer saber.

— Mas não fez mal a Fran.

Cade sacudiu a cabeça. — Eu não podia. Apesar do que a escuridão

queria, não podia lhe fazer mal.

— Mas ela ainda te possui?

— Não neste momento.

Drogan esfregou o queixo, uma expressão de preocupação franziu sua

testa. — Cade, por mais que eu esteja feliz que tenha encontrado um pouco de

paz, eu me preocupo com Fran.

— Quer dizer pela maldição, ou porque vocês dois cresceram como

irmãos?

— Os dois, eu acho, — confessou. — Fran sempre manteve distância de

todo o mundo, incluindo meu tio, a quem ela considera um pai.

— Eu sei que ela precisa ficar longe de mim, — Cade disse. — Eu sei,

mas não posso pensar em nunca mais voltar a vê-la. Nigel está vindo, e nunca

senti tanto medo, tanta raiva como quando penso nele tocando-a.

— Eu sei.

Cade olhou o homem a quem tinha chamado de irmão. — Não há futuro

para a bruxa e para mim. Planejo matar o Nigel.

Drogan se virou para ele, mas Cade levantou uma mão. — Eu sei o que

dirá, e lhe agradeço por isso. Não sei o que seria de mim se você e Gerard não

tivessem estado ali. Devo muito a ambos. Acabar com o Nigel é o mínimo que

posso fazer.

Por mais que Cade tivesse sentido falta de conversar com Drogan, tudo o

que ele queria era que seu amigo saísse para poder voltar para Francesca.

Queria deitar-se a seu lado, sentir suas curvas suaves pressionadas contra ele,

e sua respiração quente soprando sua pele enquanto ela dormia.

Ele a queria.

— O que acontece agora?

Cade encolheu os ombros. — Eu não sei. Esperamos. Eu incitei à ira de

Nigel. Ele pode enviar outro exército, enviar outro lobo, ou pode vir ele

mesmo.

— O rio começou a transbordar depois de toda a chuva.

Cade deixou essa informação afundar. — Você reuniu todo seu povo

dentro das muralhas do castelo?

— Nem todos. Planejo reuni-los amanhã. Alguns estão perto do rio e

podem ficar inundados.

— Não vá — advertiu Cade. — Nunca se sabe o que Nigel planejou.

Drogan cruzou os braços sobre o peito e levantou uma sobrancelha. —

Eu sou o senhor aqui, Cade. Eu cuidarei do meu povo.

— Então estou perdendo meu tempo tentando te proteger? Nigel deixou

você e Gerard ir, porque planejava usá-los como isca para mim. Não faça isto

mais difícil do que é.

— Você está dizendo que todos esses anos quando pensei que tinha

terminado com o Nigel, ele estava simplesmente jogando comigo? Zombando

da minha liberdade?

Cade assentiu a contragosto.

— Você tem que sair daqui — disse Drogan enquanto baixava os braços e

passava uma mão por seu rosto. — Vá embora. Retorne para sua casa e veja a

sua família. Prepare seu próprio castelo. Se você tiver razão e Nigel te quer, ele

me deixará em paz.

Cade não respondeu. Como ele poderia, quando sabia que não havia

nada de sua casa ancestral? Claro, as pedras ainda estavam lá, pelo menos à

maioria estava. Seus arrendatários, seu povo, na sua maior parte, tinha

permanecido e continuava a trabalhando na terra.

Ele garantiu de que tivesse um administrador de confiança para

encarregar-se de tudo para o próximo senhor de Stonelake. Cade não tinha

intenções de retornar. Não tinha por que voltar.

— Cade.

Ele piscou e olhou Drogan para ver suas sobrancelhas juntas, sua voz era

áspera como se o tivesse chamado muitas vezes. — Sim?

— Meu castelo está protegido com a magia das bruxas. Eu estarei bem.

Volte para seu povo.

Cade assentiu, sabendo que Drogan não pararia de discutir o assunto a

menos que pensasse que Cade tinha concordado.

— Bem, — disse Drogan com um suspiro. — Agora, devo voltar para

minha esposa. Ela está muito preocupada com Francesca.

Cade esperou até que Drogan desaparecesse sob a chuva antes de voltar

para sua bruxa. Francesca rolou de lado ficando de frente para ele, a manta

desceu de maneira que um mamilo rosado era visível.

Meu pênis endureceu imediatamente. Ele temeu que, depois de prová-la,

nunca obtivesse o suficiente. Já o pensamento de sua partida, mesmo que fosso

só até o castelo para buscar mais roupas, deixou-o suando frio.

Sua história sobre a maldição foi muito interessante. Ele nunca tinha

dado muito crédito às maldições. Ele acreditava que quanto mais uma pessoa

desse valor à maldição, mais poder ele tinha sobre a pessoa. Os maridos

morreram e acabou. Esse era o caminho do mundo.

Que ocorresse dentro dos três meses do nascimento das crianças é que

parecia estranho, mas ele tinha certeza de que nem todas as bruxas tinham

falado com seus maridos ou morrido para desmentir a maldição. Mas

Francesca acreditava na maldição. E pela luz protetora nos olhos de Drogan,

ele também acreditava.

Cade tirou suas calças e levantou a manta por trás de Fran, seu corpo se

moldou ao dela. Deixou cair seu braço sobre sua cintura enquanto a puxava

contra ele. Ela fez um som suave e gemeu em seu sono e se aproximou mais

dele.

Incapaz de deter seus pensamentos encontrou-se à deriva através das

lembranças de sua casa. Stonelake era pitoresco, tranquilo e nutria sua alma.

Ele tinha sido relutante em deixá-lo e a sua família, mas a perspectiva de

honra e glória foi muito tentadora. Se soubesse que aceitar a oferta de Nigel

como executor lhe impediria de retornar, Cade nunca teria aceitado.

Drogan e Gerard tinham tentado lhe advertir, eles o avisaram sobre

acreditar em Nigel. Mas Cade tinha sido ingênuo. A boa lábia de Nigel disse a

Cade exatamente o que ele queria ouvir, e não tinha como saber que Nigel

estava colocando o mal em sua alma.

Se tivesse conhecido Francesca antes que Nigel pudesse afundar suas

garras nele, talvez visse o que Nigel era.

O futuro que Cade sempre sonhou, com um castelo cheio de crianças e

uma esposa que estivesse a seu lado, tinha desaparecido há muito tempo. Ou

assim ele pensou. Estar perto de Francesca o fazia lembrar essas esperanças e

sonhos.

A família de Cade tinha um bom nome e muita moeda. Ele era um bom

partido para qualquer família nobre.

Seus olhos se fecharam quando pensou em seu pai. Ele foi um homem

sábio e paciente, um homem que tinha incutido em Cade a necessidade de

família e honra. Cade queria deixá-lo orgulhoso. E isso era a última coisa que

seu pai sentiria agora, olhando do céu.

Cade nem sequer seria capaz de ver sua família, porque uma vez que

morresse, sabia que sua alma estava destinada ao inferno. Especialmente

depois do que ele fez a sua mãe e a suas irmãs.

Seu coração acelerou, e ele começou a suar frio cada vez que pensava

naquele dia escuro. Cade enterrou seu rosto no cabelo de Francesca e inalou a

fragrância de lilás.

Quase imediatamente, sentiu uma calma descendo sobre ele. Era a magia

de Francesca, ou a própria mulher? De algum modo, ela dominava a alma de

Cade como ninguém, nem sequer Nigel, tinha sido capaz de fazê-lo.

?.?

— E então? — Perguntou Serena quando Drogan entrou em seu quarto.

Ele sacudiu a cabeça rapidamente e a água pingou por toda parte. Só

depois de tirar a roupa molhada e de subir na cama ao lado dela, soltou um

forte suspiro.

Serena tamborilou os dedos enquanto observava seu marido recostar-se

com as mãos atrás da cabeça e olhar para o dossel.

— Drogan, — ela insistiu.

— Ela está com Cade — ele respondeu finalmente.

Serena fez uma pausa, seu coração pulsava. — Eu sabia. Sei que você fica

feliz pelo Cade, mas...

— Te preocupas por Fran.

— Sim, — ela assentiu. Virou-se de lado e tocou o braço de seu marido.

— Se ela está com Cade, significa que a escuridão não o possuiu como

temíamos?

Os olhos dourados de Drogan se encontraram com os dela. — Não é

verdade, amor. A escuridão o possuiu.

— Eu não entendo. Você me disse que uma vez que ela o possuísse, ele

estaria perdido.

— Eu achei que sim. Parece que Fran tem o poder de livrar Cade da

escuridão. Ele me disse que o mal queria que ele a matasse, insistiu que o

fizesse. Mas ele não pôde.

— Oh. — Serena refletiu sobre suas palavras por um momento. — Você

viu a Fran? Ela está bem?

Ele assentiu. — Eu a vi, embora não tenha falado com ela.

— Por quê?

— Cade quase arrancou a cabeça do meu corpo cada vez que eu a

olhava, e quanto ao por que, ela estava dormindo. Nua sob a manta.

Serena caiu sobre seu travesseiro. — Oh.

— Exatamente.

— Ele estava calmo?

— Ela lhe trouxe paz — disse. — As poucas vezes que vi Cade desde que

ele deixou Gerard e eu, seu olhar estava enfeitiçado. Entretanto, esta noite,

pareceu em paz. Não era precisamente o rapaz que conheci na primeira vez,

com grandes esperanças e sonhos, mas um homem que sabe o que fez e

planeja um futuro.

Serena se moveu para pôr sua cabeça no peito de Drogan, a mão dele

acariciando distraidamente suas costas nuas. — Eu sempre tive a impressão de

que Fran não planeja ter um futuro.

— Cade disse que não tinham futuro, que planejava matar Nigel, que

por sua vez o mataria.

— Fran não vai gostar disso.

Drogan deu de ombros. — Talvez ela saiba.

— Ela esteve aqui todos os dias, não importa o tempo, desde o último

ataque de Nigel. Ela fortaleceu o castelo com magia, e eu a vi ir até no arsenal

protegendo as armas.

— Ela só quer assegurar-se de que estamos protegidos.

Serena deixou escapar um suspiro. — Talvez. Entretanto, eu facilmente

poderia ter protegido o castelo e as armas com minha magia, e o tenho feito.

Eu sinto... Não sei, que talvez ela esteja nos escondendo algo.

— Seu poder são os sonhos. Você acha que ela viu algo?

— Não. Se tivesse visto, nos diria. Tenho certeza disso.

— O que então?

Serena acariciou seu abdômen. — Tentei ver sua morte no outro dia. Ela

nem sequer notou que eu fiz isso, estava tão preocupada procurando por

Cade.

— E o que você viu?

— Eu não pude.

Ele se moveu se apoiando em seu cotovelo e a olhou fixamente.

— Não pôde?

— Não havia nada mais que uma escuridão sem fim.

— A morte é algo que vem para todos nós, amor. Não olhe de novo.

Sempre machuca seu coração mole, e eu não suporto te ver triste.

Serena sorriu. Ela ainda se surpreendia por ter derrotado a maldição,

que ela não só tinha seu filho, mas também tinha Drogan. Um homem forte e

poderoso que lhe deu amor como só tinha sonhado.

— Eu sei — ela admitiu. — Mas eu tinha que olhar. Fran parecia

diferente ultimamente, quase como se estivesse se fechando.

— Ela sempre foi assim. Ela só te conhece há pouco mais de um ano,

amor. Eu a conheço quase toda minha vida. Embora eu estivesse muito fora de

Wolfglynn, Phineas me escrevia frequentemente. Ele estava sempre

preocupado com Francesca.

— Eu nunca pensei que ela estaria interessada em Cade.

Drogan a tomou nos braços e a beijou na testa. — Ninguém sabe o que o

futuro trará. Tudo o que podemos fazer é esperar o melhor. Quanto a Cade e

Fran, eu também não esperava, mas estou feliz pelos dois. Ambos estavam

sozinhos. Agora eles têm um ao outro.

Serena se enrolou contra ele. Drogan tinha razão, mas não podia deixar

de me preocupar. Por Fran, por Cade, por todos. O mal estava vindo, e tinha a

intenção de matar a todos.

CAPÍTULO QUINZE

Francesca despertou lentamente, seu corpo satisfeito de uma maneira

que nunca esteve antes. Ela sorriu enquanto as imagens de Cade brilhavam em

sua mente. Abriu os olhos para ver que a chuva começou a diminuir, o que a

deixava triste.

Não estava pronta para deixar Cade. Não agora, possivelmente nunca.

Inclusive quando teve um novo sonho com Nigel, não ficou tão assustada

como nas outras noites, porque estava nos braços de Cade.

Um dos braços dele estava debaixo de sua cabeça, e as costas dela

encostadas contra sua lateral. Ela se virou surpresa por ele ainda estar

dormido. Ele havia dito que raramente dormia, mas o olhando agora, ele

parecia sereno e quase infantil.

O fogo estava quase morto, embora as brasas ainda brilhassem. O sol

tentou romper as grossas nuvens da tormenta, o que lhe deu luz suficiente

para ver Cade.

Ela passou o dedo por sua bochecha, a barba arranhando sua pele. Seu

olhar percorreu livremente seu corpo. Ela maravilhou-se com seus músculos

esculpidos, a força do corpo e da mente evidentes só em olhá-lo.

Sua mão deslizou por seu peito e sobre seu abdômen plano até a linha

de pelos dourados que corriam para seu pênis flácido. Ele empurrou a manta

de uma perna que era polvilhada com mais de seu cabelo dourado.

Ela sentiu a dor entre suas pernas e sorriu. Cade a tocou como nenhum

outro homem fez, mas foi mais que fazer amor. Ela se abriu completamente

para ele, dado tudo.

E, em troca, ela viu uma parte dele que não esperava.

Por um momento na noite anterior, quando estavam se amando e ele a

olhou, ela vislumbrou o menino que foi. Ele lhe mostrou seu coração. E

quando perguntou sobre maldição, ela não vacilou em contar-lhe. O que era

estranho. Ela nunca falou a respeito dela. Não era como se a ignorasse – ela

simplesmente não queria pensar nela.

Entretanto, depois de falar disso com Cade, de vê-lo aceitar o que ela

disse como real, sentiu-se bem. Possivelmente foram suas mãos peritas e a

forma como ele fez amor com ela, talvez fosse porque se apoiou em Cade em

vez de manter seus problemas para si mesma. Qualquer que fosse a razão,

nunca quis que os sentimentos terminassem. Nunca.

Sua mão parou pouco antes de tocar seu pênis. Na noite anterior, ele

esteve incrivelmente duro, empurrando forte e profundo dentro dela.

Ela rodeou a ponta de seu pênis antes de colocar sua mão sobre ele. Para

sua surpresa, ele começou a endurecer ante seus olhos. A respiração de

Francesca acelerou, a umidade se acumulou entre suas pernas ao sentir seu

calor.

Incapaz de resistir, ela envolveu seus dedos ao redor dele. Não tinha

esperado que fosse tão suave e tão quente.

— Por Deus, bruxa — disse Cade, com uma voz rouca de sono enquanto

seu olhar cravava no dela.

Ela sorriu enquanto movia lentamente sua mão para cima e abaixo de

seu comprimento. Quando ele dizia "bruxa", soava como um carinho, e ela

adorava. — Eu não posso evitar quando se trata de você.

— Você deve estar muito dolorida. Não deveríamos.

Mas o desejo em seu vívido olhar azul lhe dizia que ele queria tanto

quanto ela. Francesca decidiu que as palavras eram inúteis. Em troca, ela

agiria. Lembrando como ele tinha lambido seu sexo, deixando-a louca de

desejo, ela baixou sua cabeça e lambeu a cabeça inchada de seu pênis com sua

língua.

Ele suspirou, suas mãos agarrando seu cabelo. Ficou preocupada que ele

pudesse tentar forçar a cabeça dela a sair, mas em vez disso, suas mãos

pareciam mantê-la ali, quase como se tivesse medo que fosse parar.

Francesca se tornou mais ousada com cada golpe de sua língua. Ela

deslizou seus lábios sobre a cabeça e tomou seu pênis em sua boca. A cabeça

dela se movia de cima para baixo, levando-o mais profundo em sua boca a

cada vez. Seus gemidos a deixavam louca, incentivando a lhe agradar mais.

Ele começou a mover seus quadris, a empurrar para cima cada vez que

ela baixou sua boca. E quando suas mãos se moveram entre suas pernas para

acariciá-la, ela se sacudiu de prazer, seus gemidos se uniram aos dele.

Ela pegou suas bolas, as rodando delicadamente em suas mãos. Ele

gemeu e colocou dois dedos dentro dela. Francesca fechou os olhos enquanto

as sensações a envolviam. De repente, ela estava de costas e Cade entre suas

pernas. Ele levantou uma perna e se afundou dentro dela.

Francesca ofegou com a sensação dele a enchendo. Ele ficou quieto por

um momento, com os olhos fixos nela. O coração dela bateu forte enquanto via

seus olhos azuis. Seus sentimentos por Cade tinham crescido rapidamente nos

últimos dias, e temia que se apaixonasse por ele.

Seria tão ruim dar meu coração a um homem tão valente?

A resposta seria negativa, mas ter que deixá-lo seria impossível. E não

tinha escolha nesse assunto.

— Bruxa? — Ele questionou com preocupação em seus olhos.

Ela pegou seu rosto. — Estou sobrecarregada pelo prazer que você me

dá. Não pare.

Por um momento, não acreditou que ele aceitaria sua desculpa, mas logo

começou a se mover dentro dela. E ela se esqueceu de tudo e de todos além do

homem que tinha lhe mostrado o paraíso.

Francesca arqueou as costas enquanto ele arranhava seu mamilo

ligeiramente com seus dentes antes de sugar o pequeno broto. Ele mergulhou

nela com movimentos longos e lentos que deixaram seu corpo selvagem de

desejo. Ela não podia ter o suficiente dele, não podia se aproximar o suficiente.

Seu corpo começou o formigamento familiar que ocorreu quando estava

a ponto de chegar ao clímax. Ela não estava preparada, não queria deter o

desejo de estar com o Cade. Mas seu corpo não escutou.

Quando ele acelerou seu ritmo, seus corpos batendo um contra o outro e

o suor brilhando em sua pele, ela foi impotente em deter o orgasmo. Ela se

agarrou a seus ombros quando onda após onda de felicidade tomava conta

dela, enviando-a para um abismo.

Com seu corpo ainda pulsando pelo poder de seu clímax, abriu os olhos

para ver o corpo de Cade sacudir e estremecer com seu próprio orgasmo. Ele

enterrou a cabeça em seu pescoço e a apertou enquanto seu pênis pulsava

dentro dela, enchendo-a com sua semente.

Sabendo que Nigel chegaria algum dia, selando sua morte, Francesca

deveria estar assustada de ter filhos. Entretanto, a ideia de que o filho de Cade

crescesse dentro dela a encheu de um calor que ela não esperava.

Ela nunca desejou ter filhos. Não até agora.

— Bruxa, — ele murmurou enquanto beijava seu pescoço, sua bochecha,

suas pálpebras, a ponta de seu nariz, e logo sua boca.

Francesca envolveu seus braços ao redor de seu pescoço, ignorando o

fato de que a chuva cessou. Ela não queria ir. Haveria perguntas que não

queria responder, mas não era só isso. Ela não queria deixar Cade.

Ele separou-se dela e suspirou. Depois de um instante ele se levantou,

colocou as calças e alimentou o fogo. Francesca envolveu a manta ao redor

dela contra a fria brisa marinha do mar. Ela sorriu quando ele lhe trouxe

alguns bolos de aveia e uma caneca de água. Eles comeram sua refeição

matinal em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.

Finalmente, Francesca rompeu o silêncio. — Não estou preparada para

que isto termine.

— Mas tem que estar, — ele disse e encontrou seu olhar sobre o fogo. —

Por sua segurança, deve chegar ao castelo e ficar lá.

— E você? Andará pelo bosque até que Nigel chegue?

— Sim.

As lágrimas lhe picaram os olhos. — Não te verei de novo, certo?

— Não pense que estou te enviando para o castelo porque não te quero,

bruxa. Estou fazendo isso porque não posso suportar a ideia de que ele te

machuque.

— E quanto a você? Como acha que vou me sentir no castelo? Sozinha.

Perguntando-me se você está bem, se Nigel já te encontrou e te matou.

Cade suspirou e moveu seu olhar para o fogo. — Não sobreviverei ao

ataque de Nigel. Eu sei desde o começo. Eu vou matar Nigel, ele vai matar a

escuridão dentro de mim.

— E, ao fazer isso, te matar — ela terminou.

Ele encontrou o seu olhar. — A escuridão é uma parte de mim agora.

Não há separação, mesmo que eu desejasse de outra maneira. Nigel precisa

morrer. Preciso morrer para que a escuridão não volte a me dominar.

— Você venceu ontem à noite.

— Só por sua causa. Não sei por que, e não vou tentar entender. Talvez

seja sua magia.

Ela sacudiu sua cabeça. — Drogan sabe que pensa em morrer?

— Sim. Eu lhe disse ontem à noite.

Francesca ficou rígida. — Você me deixou?

— Drogan veio te buscar. Estava preocupado que eu pudesse ter te

machucado. Quando se deu conta de que estava a salvo, foi embora.

— Mas não antes de você lhe contar seus planos.

Cade assentiu. — Todo mundo precisa ficar no castelo. Isso inclui você.

Eu planejei muito e durante muito tempo para que isto dê errado.

— E não vai deixar ninguém te ajudar, certo?

— Ninguém pode me ajudar, bruxa. Sou o único que pode matar Nigel.

Ela não discutiu, embora ela soubesse por um fato que ele estava errado.

Muito errado. E ela ia ter certeza de que ele soubesse no final.

Francesca terminou seu bolo de aveia e ficou de pé. Ela fez uma careta de

dor ante o puxão entre suas pernas. Sua camisola estava inutilizada, rasgada

ao meio. Não estava certa de como voltaria para castelo sem ser vista, ainda

mais por já estar amanhecendo.

— A tormenta passou — disse ela enquanto caminhava para a entrada.

— Ele está a caminho.

Ela olhou para Cade, surpresa por encontrá-lo a seu lado. Não o escutou

se mover. — Você pode senti-lo?

— Sim.

— E a escuridão? Ainda está aí?

Ele virou a cabeça para olhá-la. — Você a tranquilizou, bruxa, mas

continua aqui. Ela vai tentar se levantar logo.

— Deixe-me ficar e te ajudar.

Um lado de sua boca se elevou em um sorriso triste. — Que tipo de

cavaleiro e senhor eu seria se te permitisse ficar e colocar sua vida em perigo?

— O tipo que queria se livrar do mal dentro dele.

Ele acariciou seu rosto com os polegares puxando seu lábio inferior. —

Você é a mulher mais valente que conheço.

Sabia que era inútil discutir. Ele só queria protegê-la. Ela iria, mas

também voltaria. — É melhor eu ir agora, já que não estou vestida

adequadamente.

— Espere. — Ele caminhou para a parte de trás da caverna e voltou com

uma capa larga. — Não é um vestido, mas será melhor que uma manta.

Francesca envolveu a capa ao redor dela e a fechou com as mãos. Teria

que dar pequenos passos para não mostrar suas pernas nuas.

— Esteja segura, bruxa, — disse enquanto se inclinava para beijá-la

brandamente, e muito rapidamente.

Ela se impediu de jogar sua cabeça para trás para outro beijo. Ela não iria

implorar. — Você também. — E assim, virou-se e se dirigiu para o castelo.

Cade sentiu como se alguém tivesse arrancado seu coração. Foi com um

enorme esforço que mandou Francesca de volta ao castelo. Já sentia a sua falta,

do seu aroma, sua magia. Não demoraria muito tempo para que a escuridão

tentasse assumir o controle outra vez. Provou o poder, e não estaria satisfeita

até que o tivesse totalmente.

Ele tirou as calças e pegou uma barra de sabão enquanto caminhava para

a água. As ondas eram como o gelo golpeando suas pernas, mas ainda assim

ele se aprofundou mais e mais. A água gelada esfriou o desejo queimando seu

sangue, que era o que precisava para se afastar de Francesca.

Depois de atravessar a rebentação, esfregou o corpo e o cabelo e nadou

de volta à beira. Ele esfregou a mandíbula e sentiu sua barba e bigode

espetando. Ele nunca gostou da sensação de barba no rosto. Depois de colocar

a calça e as botas, pegou a adaga e se barbeou.

Sua mente vagava, pensando em sua família e em Stonelake. Ele se

perguntou se sua terra estava bonita como costumava ser. Francesca adoraria,

tinha certeza disso. Desejou poder mostrar a ela.

Tolo.

Ele era um tolo. A morte viria. Não havia futuro para ele, nenhuma

esperança de fugir do inferno, nenhuma esperança de ter Francesca para

sempre.

Ele tinha posto em movimento o seu destino aceitando a oferta de Nigel.

Nigel trazia a morte e sangue por qualquer lugar que passasse. Cade tinha

muito medo dele no início, e quando Nigel ameaçou a sua mãe, irmão e irmãs,

Cade cedeu as suas ordens.

Será que Nigel sabia a essa altura que a escuridão, quando se apoderou

pela primeira vez dele era incontrolável, que o levaria a matar sua família? Ele

riu quando soube disso?

Cade fechou os olhos ao recordar o rosto assustado de sua irmã

enquanto o olhava, lhe suplicando que não a matasse. Tentou controlar a

escuridão, parar. Mas não conseguiu.

Foi sua culpa por voltar a Stonelake para início. Mas precisava de sua

família. Se ele soubesse quão poderosa era a escuridão...

Ele estremeceu e tratou de tirar suas mortes de sua mente. Podia culpar à

escuridão tanto quanto quisesse, mas a verdade é que ele era um assassino. Ele

matou todos de sua família, deixando o castelo coberto de sangue.

Mas Nigel foi quem incendiou.

CAPÍTULO DEZESSEIS

Francesca percorreu os corredores na parte de trás do castelo, como fez

horas antes quando saiu à procura de Cade. Seu sonho a tinha feito sair do

castelo, mas ela sabia que ela iria de qualquer modo.

Quando a porta de seu quarto fechou atrás dela, se apoiou e fechou os

olhos, recordando as mãos de Cade, sua boca. Ela estremeceu e tirou a capa.

Uma empregada já tinha estado em seu quarto para preparar seu banho da

manhã.

A água ainda estava quente quando Francesca deslizou na banheira de

madeira. Normalmente, ela relaxava e conseguia limpar sua mente para o dia,

mas esta manhã foi diferente. Esta manhã era preciso agir.

Francesca se lavou rapidamente antes de secar e procurar o seu vestido

creme favorito. As mangas longas, o decote e a bainha eram adornados com fio

de ouro delicado. Uma vez que estava vestida, penteou o cabelo e o trançou.

Precisava falar com Drogan. Provavelmente os homens tinham um

plano, e embora não tivesse nenhuma intenção de lhes dizer tudo, podia

ajudar na batalha.

Francesca encontrou todos no grande salão terminando o café da manhã.

Drogan lhe sorriu e indicou que sentasse. Embora ela normalmente se sentasse

com eles, ela precisava poder ver todos, assim ela escolheu sentar-se em outra

mesa.

— Você dormiu bem? — Ele perguntou.

Grayson olhou quando Drogan fez a pergunta, mas Fran manteve os

olhos fixos em Drogan. — Sim.

— A tormenta passou, — disse Adrianna. — Não sinto outra.

— Nigel está controlando as tormentas, então outra pode chegar a

qualquer momento, — disse Serena. — Precisamos estar preparados.

Drogan assentiu. — Vou ver quanto dano há. Suspeito que há

inundações próximas ao rio.

— E os raios — disse Serena.

Drogan grunhiu em resposta. — Grayson, quer vir comigo?

— Sim, — disse Grayson com a boca cheia de comida.

Francesca respirou fundo e empurrou sua comida ao redor de seu prato.

— Cade ficará zangado porque vão sair do castelo.

— Eu sei — disse Drogan. — Mas preciso ver meu povo.

— Ela tem razão, — disse Adrianna. — Ele arriscou sua alma por nós. O

mínimo que poderíamos fazer seria estar a salvo.

— Ninguém está a salvo de Nigel — disse Drogan com a voz

aumentando a cada palavra. — Ninguém. Vocês acham que eu gosto de me

sentar em meu esconderijo enquanto meu povo e meu irmão estão lutando

sozinhos?

— Não podemos deixá-lo morrer — disse Francesca. Todos os olhares se

voltaram para ela. Ela lambeu os lábios e cruzou as mãos em seu colo

enquanto ela se ajeitou em seu assento para enfrentá-los. — Cade planeja

matar Nigel. Ele acredita que o mal dentro dele morrerá com Nigel, mas

também o matará.

— Merda, — disse Grayson e afastou seu prato. — Você falou com Cade?

De novo?

— Ontem à noite, — respondeu Drogan por ela. — Ambos falamos com

ele, embora ache que ele tenha lhe contado mais.

Adrianna olhou de Francesca para Drogan. — Há mais coisas aqui do

que estão nos dizendo.

Francesca percebeu que todos saberiam a verdade logo. Não gostava de

mentir de qualquer forma, e guardava um segredo grande o suficientemente

para adicionar outro. — Eu estive com o Cade. A noite toda.


— Eu vejo — disse Adrianna com um olhar conhecedor.

Serena sorriu. — Você encontrou a felicidade, Fran. É o que queríamos

para você durante muito tempo.

Francesca olhou para suas mãos. — Cade não me contou todos os seus

planos, mas sei que acredita que Nigel atacará a qualquer momento.

— Qualquer momento? — Perguntou Adrianna.

Grayson tomou as mãos dela nas suas. — Está tudo bem, Drina. Eu te

protegerei.

— Não estará tudo bem, — disse Francesca, ficando de pé. — Eu vi. Em

meus sonhos. A devastação será... catastrófica.

— Por que não me disse isso antes? — Perguntou Drogan enquanto se

inclinava para frente e descansava os antebraços sobre a mesa.

— Por que você acha que estive colocando cada onça3 de magia que

posso neste castelo? Por que acham que eu supliquei que ficassem dentro de

suas muralhas?

Serena se levantou e caminhou ao redor da mesa para tomar as mãos de

Francesca. — Quanto tempo você sabe isso?

— Desde que tinha dez anos.

Adrianna suspirou profundamente, Grayson soltou uma série de

maldições, e Drogan passou uma mão pelo cabelo.

— Você deveria ter nos contado — disse Drogan. — Essa é uma

informação que eu deveria ter.

Fran levantou uma sobrancelha. — A informação que você tem Cade não

o faz. Eu lhe contei isso agora, por que... — Ela fez uma pausa e seu estômago

revirou. — Cade também precisa ser salvo.

— Não sei se poderá ser, — disse Grayson.

Serena olhou para o vazio. — Cade foi possuído pela escuridão ontem,

como todos temíamos.

— Mas, — disse Adrianna, com os olhos muito abertos. — Ele não fez

mal a Fran ou a Drogan.

3 Unidade de medida da época, equivale a um grama.

Drogan apertou as mãos sobre a mesa como se estivesse lutando para

conter sua frustração pela situação. — Cade me disse que de algum jeito Fran

afastou a escuridão, deu-lhe paz. Talvez seja sua magia.

— Não, — disse Serena e Adrianna em uníssono.

Francesca olhou de uma para outra. — Se não foi minha magia, então o

que foi?

— Seu coração — respondeu Serena calmamente.

Ela já sabia que se importava com Cade muito mais do que deveria, e

embora achasse que poderia estar se apaixonando por ele, Fran não tinha

certeza e não admitiria isso.

— Cade se preocupa com ela, —disse Drogan, sem dar-se conta de sua

agitação. — É muito protetor.

— Amor? — Perguntou Grayson.

Drogan deu de ombros. — Talvez.

— Chega, — disse Francesca. — Isto não é sobre meus sentimentos por

Cade, ou seus sentimentos por mim. Trata-se de manter a todos vivos.

Inclusive Cade.

— Eu não tenho certeza se podemos — disse Adrianna. — Não acredita

que Cade seja o único que pode lutar contra Nigel?

O coração de Francesca pulsava em seus ouvidos. Queria lhes dizer, para

garantir que ela podia lutar contra Nigel e ganhar, mas sabia que nem Drogan

nem Grayson a deixariam sair do castelo. E se Cade soubesse o que ela

planejava, provavelmente a amarraria em sua cama para mantê-la longe de

Nigel. Não, era melhor guardar esse segredo para si mesma.

— Sim — disse Serena. — Cade tem a melhor chance de ganhar.

Adrianna ficou em pé e caminhou até o outro lado de Francesca.

— Somos bana-bhuidseach. Nossa magia combinada pode curá-lo, e nos

asseguraremos de que ele não morra.

Francesca sorriu, mas quando se voltou, viu Drogan a observando

atentamente. Se não tomasse cuidado, ele se daria conta de que ela estava

escondendo algo.

Drogan guiou seu cavalo para o bosque. Precisava falar com Cade de

novo, se ele o deixasse ver.

— Você está quieto, — disse Grayson a seu lado.

— Só pensando. Eu não gosto disto. Nada disto.

— Nenhum de nós gosta.

?.?

Drogan examinou as árvores. — Foi bom falar com ele, quase como se os

anos não tivessem passado desde que compartilhamos uma refeição pela

última vez. Cade é um bom homem. Não deveria ter que sofrer tudo isto

sozinho.

— Pelo visto não está. Ele tem Francesca.

— E a maldição? Esqueceu? — Perguntou e olhou para Grayson.

— Não posso esquecer a maldição. Você e Serena romperam, e acredito

que Adrianna e eu também.

— Não acredita que Cade e Francesca possam?

Grayson encolheu os ombros. — Não é isso. Cade acredita que vai

morrer nesta batalha, e havia algo nos olhos de Fran esta manhã. Algo que não

posso decifrar.

— Eu também vi. Ela está assustada, mas não da forma que pensamos.

Ela tem um segredo.

— Isso é o que parece. Ela compartilhou com Cade?

— Talvez devamos descobrir isso.

Grayson bufou. — Francesca não é imprudente. Ela não se colocará em

perigo nem a ninguém com quem se importa. Talvez seja sua preocupação por

Cade. Se Cade for tão protetor como você diz, não permitirá que ela faça nada

que a coloque em risco.

— Não, ele não vai.

— Eu tenho uma grande dívida com ele, — disse Grayson depois de um

momento de silêncio. — Uma que temo nunca poder pagar.

Drogan olhou para Grayson. — Eu devo muito a Cade. Ele sempre esteve

ali para seus amigos. Fomos nós que falhamos com ele quando mais precisava.

Não falharei novamente.

— Me diga o que você está planejando.

— Certo, mas prefiro que nossas esposas não saibam.

Grayson riu entre dentes. — Concordo completamente.

?.?

Cade se ajoelhou junto a uma árvore e estudou o chão. Ele soube o

momento em que Grayson e Drogan entraram no bosque. Seria fácil

desaparecer, mas já era hora de parar de se esconder de Drogan. Os cavaleiros

não demoraram a encontrá-lo. Cade percorreu um trecho do rio quando

Grayson e Drogan apareceram à vista.

— Estou surpreso que você me deixou te encontrar — disse Drogan.

Cade deu de ombros enquanto se levantava. — Eu preferia que ficasse no

castelo como lhe pedi, mas me dei conta de que você iria querer verificar suas

terras. Há uma inundação perto do rio.

— Eu presumi o mesmo. Alguma das cabanas ficou danificada?

— Algumas foram atingidas pelos raios. Eu também contei doze árvores,

uma delas caiu sobre uma casa. Foi bom você ter levado todos para dentro das

muralhas do castelo.

Grayson se moveu sobre seu cavalo. — Você encontrou algo mais?

Cade olhou o cavaleiro alto e de cabelo negro. — Sim. Alguém esteve no

bosque.

Ele se agachou junto à árvore e apontou a pista que tinha encontrado.

Drogan e Grayson desmontaram e se agacharam a seu lado.

— Aqui — disse Cade, e passou o dedo pelo rastro. — É só a metade de

uma pegada, mas é uma bota.

— E grande — disse Grayson. — Definitivamente, um homem.

— É possível que seja um do meu povo — disse Drogan, e se inclinou

perto do chão.

Cade sacudiu a cabeça. — Está muito longe do castelo, e é fresca. Isto

aconteceu ontem à noite durante a tormenta. — Ele se levantou. — Alguém

estava observando o castelo.

— Ou você — disse Drogan enquanto ele também ficava de pé.

Grayson suspirou. — Você checou o resto do bosque?

— Só uma parte — disse Cade. — Isto está suficientemente perto do mar

para que muitos pensem que seria uma boa maneira de conseguir entrar no

castelo.

— Não podem entrar, mesmo que quisessem. — Drogan falou.

Cade olhou suas mãos. — Viu os homens que matei ontem?

— Enviei um grupo para queimar os corpos, se sobrou algo. Demoraria

muito para enterrá-los, e quero que todo mundo retorne para dentro das

muralhas logo que seja possível. Incluindo você.

Cade viu seu sorriso. Ele se sentiu bem por alguém se preocupar com

ele.

Como Francesca?

— Não, — disse Cade. — Não entrarei. Tenho que ficar aqui para lutar.

Grayson deu um passo para ele. — Não pode pensar em lutar contra ele

sozinho. Nigel virá com um exército.

— Eu sei. Estarei preparado para eles.

— Então ajudaremos — insistiu Grayson.

Cade olhou de Grayson para Drogan e voltou outra vez. — Quem me

dera poder, mas não posso. Nigel te usará contra mim.

— Tem razão — disse Drogan. — Mas odeio isso. Não deveria ter que

lutar contra ele sozinho, Cade.

— Sou o único forte. Já liberei a escuridão uma vez, farei novamente. Isso

me permitirá ser o melhor, — disse Cade. — Não me renderei até que esteja

morto. Eu lhe prometo isso.

— Então entenda que Fran tem a intenção de ter certeza que você

sobreviva, — disse Grayson.

O coração de Cade saltou ante a menção de sua bruxa. Queria lhe

perguntar como ela estava, se estava zangada com ele por tê-la mandado

embora. Ele já sentia tanta falta dela que parecia que seu coração foi com ela.

— Ela não entende, — disse Cade finalmente.

Drogan levantou uma sobrancelha. — Acho que talvez sim. Ela não

planeja desistir de você, e ela inspirou a nossas esposas também. Elas estão

juntas agora, determinando como podem combinar sua magia para garantir

que você viva.

O grão de esperança que Francesca tinha plantado em seu peito cresceu,

e ele amaldiçoou sua fraqueza. Queria um futuro, um que incluísse a sua

bruxa, mas sabia que a única maneira de Nigel ser derrotado era se ele desse

tudo ao homem.

Uma vez que o fizesse, tudo teria terminado. Nenhuma magia poderia

mudar isso.

Cade respirou profundamente. — Grayson, seus homens que se

instalaram fora das muralhas estão em perigo.

— Eles já estão se movendo para dentro das muralhas do castelo, —

disse Grayson. — Nunca te agradeci por salvar Adrianna.

— E você também, eu soube — disse Cade.

Grayson encolheu os ombros. — Só tenho magia suficiente para me

curar.

— Ainda assim, é algo especial. Eu me pergunto se Nigel planeja te

matar com as outras bruxas.

Drogan cruzou os braços sobre seu peito. — É uma possibilidade que já

consideramos. Nigel sabe que Grayson tem um pouco de magia.

Cade tocou o punho de sua adaga, seus pensamentos voltando-se para

Nigel e o que o malvado inútil tinha planejado.

— O que está pensando? — Perguntou Drogan.

— As tormentas terminaram.

— Sim. O que está acontecendo? — Perguntou Grayson.

Cade jogou um olhar para o rio, as fisgadas de inquietação correram por

sua pele. — Qualquer senhor que cuida de seu povo estaria verificando sua

terra, assegurando-se de que tudo está bem, e dando assistência aos que o

precisam. Qualquer senhor que se preocupasse poria de lado sua segurança

para proteger seu povo.

— Do que está falando? — Perguntou Drogan.

Cade sacudiu e apanhou suas espadas. — Voltem para o castelo. É uma

armadilha! — Gritou quando a primeira leva de flechas voou ao redor deles.

Grayson tratou de montar seu cavalo, mas uma flecha se alojou em seu

ombro esquerdo. Ele amaldiçoou e caiu de seu cavalo. Cade correu para o seu

lado e o ajudou a montar no animal, se esquivando das flechas que

continuavam chovendo sobre eles.

— Estão nas árvores — murmurou Drogan enquanto estremecia ante

uma flechada em sua perna. Outra cravou no peito de seu cavalo. O cavalo

relinchou e empinou antes de cair de lado, prensando a perna de Drogan sob

seu peso.

— Vá embora. — Cade gritou a Grayson, mas o cavaleiro se negou.

Grayson saltou de seu cavalo e lhe deu uma palmada na anca para que

galopasse para o castelo. A próxima coisa que viu, foi que Grayson estava ao

seu lado, lhe ajudando a liberar Drogan. Cade engoliu um gemido quando

uma flecha afundou em suas costas, no seu ombro. Ele levou a mão e quebrou

a flecha.

— Quantos? — Perguntou Drogan.

Os lábios de Grayson se fecharam enquanto ele puxava Drogan.

— Muitos.

— Deveríamos ter escutado Cade.

Cade apertou os dentes e ignorou a pontada em seu ombro. Quando

Drogan estava finalmente livre, ele e Grayson puseram Drogan entre eles, seus

braços cobriram seus ombros enquanto corriam em direção ao mar se

esquivando de mais flechas.

O rosto de Drogan estava desprovido de cor quando finalmente

chegaram à entrada secreta do castelo. O sangue pingava dos três.

— Tire a maldita flecha antes que Serena a veja, — disse Drogan.

Enquanto Grayson o segurava, Cade tirou a flecha da perna de Drogan.

O sangue escorria da ferida.

— Agora é minha vez — disse Grayson.

Uma vez que Drogan estava apoiado contra as rochas, Cade tirou as

flechas da frente de Grayson e uma da parte posterior de seu braço.

— Pronto — disse Cade. — Entrem. E fiquem dentro.

— Espere, — disse Drogan. — E a sua ferida?

Cade deu de ombros e imediatamente se arrependeu. — Não é nada. Eu

ficarei bem.

Grayson se aproximou dele. — Não vai conseguir tirar a flecha sozinho.

Deixe-me ajudar.

Cade desejou que fosse Francesca com ele, acalmando-o com suas mãos

e seu toque suave. Ela quis cuidar de sua lateral e de sua perna depois do lobo,

e agora desejava tê-la deixado. Essas feridas não estavam completamente

curadas, e agora está nova deixaria muito mais difícil lutar.

Assentiu com a cabeça a Grayson e se voltou para ele poder tirar a flecha.

Cade pôs suas mãos sobre as rochas perto de Drogan e respirou fundo. Em

sua segunda respiração, Grayson o livrou da flecha. Cade caiu de joelhos

enquanto uma de onda de enjoo o assaltou. O sangue saiu da ferida,

ensopando sua túnica. Ele se levantou nas pernas tremulas e se virou para

Drogan e Grayson.

— Se preparem. Nigel está a caminho.

— E os homens no bosque? — Perguntou Grayson.

Drogan sacudiu a cabeça. — Eles já terão partido antes de juntarmos

homens para procurá-los. Eles fizeram exatamente o que lhes ordenaram.

— Nos deixaram preocupados e em dúvida, — disse Cade. — Sem saber

quando nem onde ocorrerá o próximo ataque.

Grayson ajudou Drogan a levantar e se dirigiram para a entrada secreta.

— Está certo de que não quer vir? — Perguntou Grayson. — Adrianna pode te

curar.

— A ferida não é grave. Vão ver suas esposas.

Cade esperou até que se fossem antes de se apoiar nas rochas. Ele

precisou se esforçar muito para chegar à caverna, e mesmo assim, não tinha

certeza se conseguiria fazer uma fogueira.

O sangue não estancou, e tinha que limpar a ferida. Era como se Nigel

tivesse usado algum tipo de veneno ou outro mal para alterar as flechas.

— Merda — murmurou Cade e se voltou para o mar.

O sal na água ajudaria a limpar a ferida, e se tivesse sorte, deteria o

sangramento. Tropeçou e caiu na areia de modo que teve que engatinhar o

resto do caminho até a água. Estava escondido da vista do bosque pelas

rochas, mas Cade não queria afastar-se muito da caverna, por precaução.

Ele entrou fundo o suficientemente na água para poder sentar-se de

frente para o castelo e deixar que as ondas se baterem contra ele. Ele gemeu de

dor quando o sal se encontrou com suas feridas. Seu olhar se dirigiu para o

castelo, perguntando-se o que Francesca estava fazendo e se pensava nele.

Tolo.

“Sim, tolo” choramingou a escuridão. "Tudo poderia ter sido nosso!"

Cade fechou os olhos, negando-se a reconhecer a escuridão. Mas sabia

por experiências anteriores que a escuridão não seria ignorada.

CAPÍTULO DEZESSETE

Francesca parou na porta do quarto de Grayson e Adrianna, onde

Adrianna curava Drogan. Grayson estava se curando sozinho, e Serena estava

repreendendo os dois homens por sair do castelo. Os homens já tinham

terminado sua história de como tinham estado no bosque falando com Cade

quando foram atacados.

— E Cade? — Perguntou Francesca. Seu coração pulsava tão forte que

temeu saltar de seu peito. — Está ferido?

Quando Grayson e Drogan trocaram olhares, a raiva floresceu dentro

dela. — Vocês o deixaram para tratar suas próprias feridas? Vocês o deixaram?

Serena deixou o lado de seu marido e se dirigiu a Francesca. — Estou

certa de que tinham boas razões para não trazer Cade para dentro.

— Sim — disse Grayson. — Ele não quis vir.

— Ele está ferido, não é? — Perguntou Francesca.

Drogan assentiu com a cabeça. — Levou uma flechada na parte posterior

do ombro.

Francesca girou sobre seus calcanhares sem dizer mais nada. Ela ia

procurar suas ervas e ver Cade, sem importar se ele queria vê-la ou não. O

pensamento dele sozinho, ferido e sentindo dor, apertou seu coração.

— Espere — disse Adrianna. — Eu vou com você, Fran.

— Não, — disse Grayson ao mesmo tempo em que Drogan gritava para

que Francesca parasse.

Grayson agarrou os ombros de Drina e a girou para enfrentá-lo. — Não

te deixarei sair e ser ferida.

— Mas permitirá que um homem que lhe salvou, duas vezes agora, fique

sozinho com sua dor! — Gritou Francesca.

Não estava certa do que acontecia com ela. Ela nunca levantou sua voz, e

quando ela estava zangada, ninguém sabia por que escondia isso muito bem.

Entretanto, quando se tratava de Cade, suas emoções estavam fora de controle.

Francesca se voltou para Drogan. — Não se atreva a tentar me impedir

de ir até ele.

Desta vez quando ela se afastou, não houve gritos para que ela parasse.

Ela correu para seu quarto até sua bolsa de ervas. Era uma pena que Adrianna

não pudesse ir com ela. Podia curar Cade muito mais rápido do que as ervas

podiam.

Mas Francesca compreendeu por que Grayson lhe havia dito para não ir.

Só estava cuidando de quem ele amava.

?.?

— Eu nunca a tinha visto tão... Emocional, — disse Serena enquanto

olhava Francesca partir.

— É Cade — disse Drogan. — Há mais do que eles admitem.

Ela voltou-se para seu marido. — Não deveria tê-lo deixado. Ele não

teria lhe deixado.

— Eu não podia forçá-lo a entrar, amor. Estávamos mais feridos que ele,

não podíamos dominá-lo. — Suspirou e olhou para Grayson e a Drina. —

Todos poderíamos ter sido assassinados.

— Caso não tenham entendido isso — disse Grayson secamente. — Nós

quase fomos.

Adrianna respirou profundamente. — Não falei nada antes, porque não

queria incomodar Fran, mas as flechas estavam inundadas em algum tipo de

veneno.

— Não é de admirar que esteja demorando tanto para curar —

murmurou Grayson.

— O veneno não tinha a intenção de matar, mas tinha a intenção de te

paralisar e causar uma grande dor. Preciso ir com Fran. Se Cade está ferido, ela

vai precisar da minha ajuda. Além disso, ele nos salvou.

— Eu sei — disse Grayson.

Drogan ficou de pé. — Vamos todos.

— Vocês não estão completamente curados — disse Drina. — Ambos

devem descansar.

Grayson levantou uma sobrancelha. — Se você for eu vou.

— Eu digo o mesmo, — disse Drogan enquanto olhava Serena.

Serena assentiu. — Então vamos agora. Fran não deveria ter que fazer

isto sozinha.

?.?

Francesca correu do túnel secreto à caverna de Cade só para encontrá-la

às escura.

— Cade, — ela chamou.

A luz do sol só alcançava até a metade da caverna, nem sequer perto de

onde normalmente estava a fogueira. Ela usou suas mãos para tatear seu

caminho ao longo da caverna, chamando Cade enquanto ia. Com cada pulsar

do coração, temia encontrá-lo morto. A cada passo, ela amaldiçoou Drogan e

Grayson por deixá-lo quando estava ferido.

O alívio que sentiu quando não encontrou Cade na caverna foi de curta

duração. Onde ele poderia ter ido? Os homens de Nigel o tinham encontrado

ferido e fraco e o tinham levado a algum lugar?

Ela saiu apressada da caverna para voltar até Drogan e pedir sua ajuda,

mas então viu algo na praia. Seus lábios se separaram em um grito quando se

deu conta de que era Cade, deitados nas ondas da orla. Suas facas estavam

jogadas na areia, e parecia que tinha tentado tirar a túnica.

Seus pés tropeçaram enquanto corria para ele. Ela ajoelhou-se junto a ele,

sem pensar nas ondas ou na areia que a rodeavam. Sua mão tremeu enquanto

se movia para seu peito para ver se seu coração ainda pulsava.

— Graças a Deus — murmurou quando viu que ele estava vivo.

Agora vinha a parte difícil – movê-lo da água até a caverna. Ela ficou de

pé, com sua saia ensopada enquanto se movia para a cabeça de Cade e tentava

levantá-la sob seus braços. Ela não o virou totalmente, mas conseguiu ver uma

parte de sua ferida.

— Ele está na areia — murmurou ao vento.

Tentou levantá-lo de novo. Tinha que colocá-lo dentro da caverna para

poder curar a ferida, mas somente sua determinação não ia mover Cade.

— Deixe-nos ajudar. — disse Drogan parando a seu lado.

Francesca piscou, olhando de Drogan para Grayson. Ela retrocedeu para

encontrar Adrianna e Serena uma de cada lado dela.

— O que todos vocês estão fazendo? — Ela perguntou.

Adrianna sorriu. — Ajudando. Agora, enquanto os homens estão

carregando Cade, me leve a caverna. Vamos precisar de fogo.

Francesca observou Drogan e Grayson apoiando Cade em seus pés para

que Drogan pudesse pegá-lo sobre seu ombro. Grayson cortou a túnica

ensopada de Cade e a atirou para o lado antes de pegar suas as armas

descartadas.

— Fran — sussurrou Serena.

Ela assentiu e se apressou à caverna. Francesca mostrou a Serena onde

estava a madeira enquanto ela estendia as mantas para que Cade se deitasse.

Não passou muito tempo antes que o crepitar de uma fogueira enchesse a

caverna.

Francesca conteve o fôlego, vendo Drogan cair sobre um joelho e

Grayson sustentando Cade pelos ombros enquanto o baixavam à manta. O

rosto de Cade estava pálido, sua respiração superficial.

Ela começou a tirar as ervas da bolsa que tinha caído quando entrou pela

primeira vez na caverna em busca de Cade, mas Adrianna já estava ajoelhada a

seu lado.

— Coloque-o de lado em sua direção — ordenou Drina a Grayson.

Francesca apertou suas mãos, seu coração pulsando tão forte que lhe

doía. Ela deu uma olhada na ferida de Cade. A flecha tinha sido removida, e a

água salgada provavelmente tinha feito bem, mas estava coberta de areia.

Ela ia limpar a areia quando Drina levantou um pano úmido de uma

tigela de água que não tinha visto nas mãos de Serena a seu lado. Drogan tirou

as botas de Cade e Serena ajudou a segurá-lo. Francesca nunca havia se

sentido tão indefesa.

Uma vez que a areia se foi, Drina pôs suas mãos sobre a ferida de Cade e

fechou os olhos. Francesca nunca tinha sentido ciúme do poder de outro bana-

bhuidseach. Até agora. Ela era boa com suas ervas. Boa o suficiente para curar

Cade.

Embora soubesse que era uma tolice, odiava que alguém mais o

ajudasse. Observou Drina com o fôlego suspenso, seu olhar nunca deixando

Cade. Levou mais tempo que a cura de Drogan, mas finalmente a respiração

de Cade voltou ao normal. Drina baixou as mãos e olhou para Grayson.

— Deite-o sobre suas costas devagar, — Drina instruiu.

Logo que Grayson deitou Cade e se afastou, Francesca se colocou ao lado

de Cade. Ela sentou-se a seu lado, odiando como não havia nada que pudesse

fazer.

— Obrigada — disse ela. — A todos vocês. Sei o perigo que foi

abandonar o castelo.

Drina sorriu enquanto Grayson a ajudava a ficar de pé. — Pode levar

algum tempo para ele despertar. Havia veneno nas flechas. Não utilizaram

muito, só o suficiente para causar dor e fazer que as feridas fossem difíceis de

curar.

— Tudo ficará bem agora, — disse Serena.

Francesca assentiu e voltou seu olhar para Drogan e Grayson, que

estavam mais perto da entrada. — Ficaremos até que ele acorde, — disse

Drogan.

Grayson grunhiu. — Eu digo que devemos levá-lo para o castelo.

Drogan sacudiu a cabeça. — Cade nunca me perdoaria por isso. Eu o

respeito por que não querer entrar, e não o obrigarei, embora seja para seu

próprio bem.

Francesca esperou que Serena e Adrianna caminhassem para seus

maridos antes de entrelaçar seus dedos com Cade. Seu olhar se manteve sobre

seu peito, observando-o levantar e cair regularmente. Não gostou do medo

que sentiu quando o viu na praia. Até mesmo do que sentiu por ela mesma,

estava certa de que ele tinha morrido. E o sentimento de vingança que passou

por ela foi violento e aterrador.

Agora que ele estava curado e dormindo, Francesca era incapaz de

manter os olhos abertos. Mas ela não queria dormir e perder o despertar de

Cade. Também desejava que outros fossem embora para poder ficar sozinha

com Cade.

Ele ficaria furioso por ela não estar no castelo, mas não lhe importava. A

vida dele significava mais que a sua. Além disso, não era a sua hora de morrer.

Francesca apoiou a cabeça na parede da caverna e fechou os olhos. Podia

ouvir os outros falando entre eles na entrada. Perguntou-se o que estavam

dizendo, mas não pôde distinguir as palavras.

Então não se importou que o sono a chamasse.

?.?

Cade despertou e se deu conta de que já não estava no mar. Ele se

arrastou até a caverna? Quando verificou seu corpo perto dos ferimentos, não

sentiu nada. Além de uma mão quente segurando a sua. Abriu os olhos para

encontrar Francesca a seu lado, apoiada contra a parede, dormindo.

— Como se sente?

Cade virou a cabeça para o outro lado para encontrar Drogan agachado

junto ao fogo. — Como o inferno, — respondeu. — O que está fazendo aqui?

— Nós viemos ajudar.

No "nós", Cade olhou ao redor da caverna e viu Serena, Adrianna e

Grayson. — Nenhum de vocês deveria estar aqui.

— A flecha estava inundada em veneno — disse Adrianna. — Soube

quando estava curando a Drogan.

Serena pôs suas mãos sobre os ombros de Drogan. — Quando Fran

soube que você se feriu, veio ajudar.

Cade inalou profundamente. — Ela é uma mulher tola. Ela vai se matar.

— Diga-lhe isso — murmurou Grayson.

Cade começou a sentar quando a mão da Adrianna em seu ombro o

deteve.

— Descanse um pouco mais, — ela insistiu.

Ele assentiu com a cabeça e olhou o fogo, seu polegar esfregando

círculos na parte posterior da mão de Francesca. — Obrigado — ele disse.

— Com tudo o que tem feito por nós, é o mínimo que poderíamos fazer,

— disse Serena.

Cade tentou não olhar para Francesca, mas não resistiu. — Vocês

deveriam voltar para castelo. E levar a bruxa com vocês. É muito arriscado

para ela estar aqui.

Drogan sacudiu a cabeça. — Quero ter certeza de que está

completamente curado antes de ir. Até então, está preso conosco.

Cade notou que Adrianna estava olhando Francesca, com a testa franzida

de preocupação. — O que foi? — Ele perguntou.

— Estou surpresa que Fran não acordou enquanto falamos.

Drogan ficou de pé. — Ela passou por muitas coisas nos últimos dias.

Nenhum de nós dormiu bem. Talvez se sente suficientemente segura para

descansar agora.

Cade esperava que ele tivesse razão. A ideia de que alguém fizesse mal a

sua bruxa o fez querer matar.

“Sim” assobiou a escuridão.

Cade apertou a mandíbula. Lutou contra a maré crescente da escuridão,

concentrando-se em Francesca até que voltou a ter o controle. Não estava

acostumado a ter tanta gente ao redor, e isso o deixava nervoso e ansioso para

levantar e caminhar. Qualquer coisa que deixasse ele e sua bruxa em paz.

— Eu conheço esse olhar, — disse Drogan.

— Que olhar?

— O olhar que diz que quer que saiamos daqui.

Cade deu de ombros. — Estou acostumado à minha privacidade.

— Está muito acostumado a estar sozinho.

Cade não discutiu. Era a verdade. Passava tanto tempo sozinho,

protegendo a todos de si mesmo, que já não sabia o que fazer com as pessoas.

Exceto sua bruxa.

Era diferente com Francesca. Tudo era diferente com ela. Cade olhou

Drogan para encontrar seus olhos dourados observando-o.

— Sinto muito, — disse Drogan repentinamente.

Cade franziu o cenho. — Por quê?

— Por não fazer algo naquele dia.

Cade não precisava saber a que dia ele se referia. Foi o dia em que a

escuridão tinha possuído Cade. Ele poderia odiar Drogan por isso, mas a

culpa estava unicamente nos ombros de uma pessoa – ele mesmo.

— Não, — disse Cade. — Não tem que se desculpar.

Drogan passou uma mão por seu rosto e suspirou enquanto se sentava

em frente ao fogo. — Eu deveria ter feito algo.

— Não havia nada que você ou alguém pudesse fazer. Nigel me queria, e

não se deteve por nada para me conseguir.

O olhar de Drogan apanhou o seu. — Com o que Nigel te ameaçou? Não

fomos nós, certo?

— Não, — murmurou ele. Cade quase se negou a dizer-lhe, mas logo se

deu conta de que não adiantava mais. — Ele usou a minha família contra mim.

Minha irmã mais nova, Amelia, tinha-lhe chamado à atenção. Ele ameaçou

fazê-la sua e matar o resto se eu não fizesse o que ele queria.

— Por Deus, — Drogan amaldiçoou. — Por que não nos contou isso?

Poderíamos ter ido ao rei ou tirá-lo do castelo até que pudéssemos matar

Nigel. Ele não tinha o poder que tem agora. Teria sido fácil de matar.

Cade suspirou. Passou esse dia em sua cabeça um milhão de vezes,

perguntando-se como as coisas aconteceriam se tivesse feito algo – algo –

Diferente. No final, deu-se conta de que não valia a pena perguntar-se como

poderiam ter sido as coisas.

— Sabia que se contasse a você e ao Gerard, Nigel também se dirigiria a

suas famílias. Não poderia viver comigo mesmo se algo tivesse acontecido.

Drogan engoliu a saliva. — Eu soube a alguns anos que sua família...

— Morreu, — Cade terminou por ele.

— Talvez isso seja uma bênção, já que Nigel não pode mais usá-los

contra você.

Cade estava aliviado que Drogan não perguntasse como morreram. Era

uma das muitas vergonhas que levaria consigo para o inferno.

— Foi quando você deixou Nigel, certo? — Perguntou Drogan.

Cade assentiu. — Sabia que se ficasse mais tempo, Nigel encontraria

outra coisa para me chantagear. Não podia permitir que isso acontecesse.

— Vamos superar isto, Cade. Você verá.

Cade não discutiu com Drogan enquanto se levantava e caminhava até

os outros na entrada. Empurrou os pensamentos de Nigel de sua mente e

pensou nas muitas – e variadas – maneiras em que queria fazer amor com sua

bruxa.

Ele sorriu, voltando sua cabeça para olhá-la. Sim, logo que estivessem

sozinhos, ia tirar seu vestido creme e beijar cada centímetro de sua pele.

Afinal, poderia ser a última vez que estivessem juntos antes de Nigel

chegar.

CAPÍTULO DEZOITO

Francesca deu um suspiro enquanto contemplava o bosque. Sabia que esta era

uma visão de sonho pela lentidão em que tudo se movia.

Ela estava no alto das muralhas, o vento açoitando-a. Como esta visão não a

envolvia, não só não podia sentir o vento, mas também não podia se mover. O que

deveria ver estava no bosque.

Seu estômago caiu até seus pés quando viu Cade. Tentou desesperadamente se

mover, fugir do castelo e entrar no bosque para ver o que estava acontecendo com ele.

Ele movia-se agilmente pelo bosque, como se tivesse visto sua presa e a caçasse.

Francesca concentrou todo seu poder em Cade, e em um abrir e fechar de olhos,

estava no bosque. Cade parou junto as árvores. Suas espadas estavam nas suas mãos, e

estava se preparando para atacar um grupo de homens.

Cade não reparou o buraco no chão. Seu pé deslizou dentro dele quando saltou.

Houve um forte estalo quando a perna do Cade se quebrou. Ele a agarrou, com a dor

estampada em seu rosto.

E então Nigel estava de pé sobre ele, um sorriso malvado em sua cara de

predador.

O sonho se desvaneceu, só para ser substituído por sua posição em frente a

Nigel, como tinha sonhado durante tantos anos. O vento lhe açoitou a saia, envolvendo

o material ao redor de suas pernas.

Nigel começou a rir e lhe fez gestos para que provasse sua magia sobre ele. Desde

que este sonho a envolveu, Francesca podia mover-se como queria. E ela sentiu tudo

duas vezes tão intensamente como fazia quando estava acordada.

Ela levantou as mãos para bloquear o mal que Nigel lhe lançou. Até

recentemente, sempre tinha sido capaz de desviá-la e reunir sua magia para matá-lo.

Mas não mais. Agora, o mal a envolveu, afogando-a na escuridão. Ela gritou e tentou

se mover, mas a escuridão a manteve firme enquanto o mal começou a arranhar sua

pele.

Francesca abriu os olhos. Doía-lhe o peito como se tivesse corrido

quilômetros. Dedos fortes se agarravam ao redor de sua mão, e olhou para

baixo para encontrar Cade olhando-a. Ela o tinha chamado ou dado algum

indício da visão que estava tendo?

— É a segunda vez que te vi despertar dessa maneira. São pesadelos? —

Perguntou preocupação enrugando sua testa.

Ela tentou sorrir, mas o medo em suas veias estava solto. — Uma espécie

de pesadelo. Uma visão.

— Não foi uma boa visão.

Francesca sacudiu a cabeça e recordou o som da perna de Cade. Por mais

terrível que fora, era melhor que o mal que a atacava. Não podia entender por

que antes, sempre tinha visto a si mesma lutando com Nigel, mas agora via

ele. Seu poder tinha crescido tanto? Ou o dela enfraquecido?

— Você pode me contar?

Ela engoliu a saliva, desejando com toda sua força que pudesse

compartilhar o que tinha visto. Mas ela sempre manteve para a si mesma as

visões que envolviam Nigel.

— Minhas visões são fragmentos de um sonho. É difícil encaixar tudo, —

ela mentiu, rezando para que ele a perdoasse.

Por um momento, Cade a olhou fixamente. — Se não quer me contar está

tudo bem. Não precisa mentir.

As lágrimas arderam em seus olhos. — Eu gostaria de poder te dizer.

— Conheço bem o sentimento, — ele disse depois de um momento de

vacilo. — Você pode contar a outras pessoas?

Ela sacudiu sua cabeça.

— Não é bom para você carregar esse peso sozinha, bruxa. Deveria

compartilhar com alguém. Com que frequência tem esta... visão?

— Todas as noites.

Ele arqueou as sobrancelhas. — Algum dia ela terminará?

— Quando o que eu vejo acontecer, então, sim, deixará de me perseguir.

Seu polegar lhe acariciou o dorso da mão, lhe dando força. — Você sabe

quando será?

Podia ver pela rigidez de sua mandíbula que ele tinha uma ideia que

tinha que ver com Nigel. De maneira nenhuma ele poderia descobrir o que ela

tinha que fazer. Sabia que ele a deteria de qualquer maneira.

— Não, — disse ela, e não era uma mentira completa.

Felizmente, ele não fez mais perguntas. Francesca olhou para frente da

caverna para encontrar os outros. Ela estava surpresa que eles ficaram.

— Queria que partissem — murmurou Cade. — Você também. É

perigoso aqui.

— É perigoso por toda parte.

Ele grunhiu. Seu olhar desviou para seu peito e abdômen até a cintura

de suas calças. Sim, ela desejava que os outros se fossem também.

— Pare bruxa, — disse ele. — Meu sangue esquenta contigo, e se

continuar me olhando assim, te tomarei aqui mesmo.

Deveria ter ficado surpresa por suas palavras, mas em vez disso, uma

emoção se apoderou dela. Ela olhou seus olhos azuis e viu o desejo ali. Ela

sorriu enquanto o desejo esquentava seu próprio sangue.

— Bruxa, — ele advertiu.

— Eu não posso evitar.

Ele se levantou e caminhou até a parte posterior da caverna até que as

sombras o cobriram. Francesca sentiu sua ausência imediatamente. Ela o tinha

conhecido só há alguns dias, mas era como se seu corpo o conhecesse por toda

a eternidade.

E meu coração.

Seu coração? Ela reprimiu em um gemido. Seus sentimentos por ele

eram fortes, e temia que estivesse se transformando em amor. Francesca usou

as rochas atrás dela para ajudá-la a se levantar. Olhou para as sombras onde

Cade sumiu antes de caminhar para os outros.

— Descansou bem? — Perguntou Adrianna quando ela se uniu a eles.

Francesca assentiu, mas a forma em que Drogan a observava lhe disse

que sabia que tinha tido uma visão. Podia esconder de quase todos, exceto de

Cade e Drogan. Drogan a conhecia desde que era uma menina, assim era

natural que ele sentisse suas emoções.

Mas o que acontecia com Cade?

— Cade quer que voltemos para castelo, — disse Grayson. — Quanto

mais observo a praia, mais me dou conta de quão fácil seria para Nigel nos

atacar aqui.

— Ele não o fará, — disse Cade enquanto se aproximava com uma nova

túnica e suas armas no lugar. — O outro lado do castelo está protegido por

rochas afiadas. Nenhum exército pode passar por lá sem ser visto. O único

caminho é pela parte traseira do castelo que é deste lado, e não os deixarei

passar.

Drogan, com os braços cruzados sobre o peito, olhou o mar.

— Quantos dos homens de Nigel tentaram atacar Grayson e Drina?

Grayson deu de ombros e olhou para Cade.

Cade arranhou distraidamente o ombro. — Cerca de seis dezenas.

— Sessenta? — Repetiu Drina.

Drogan se virou para Cade. — Quantos você acha que Nigel trará com

ele?

— Centenas.

Drogan amaldiçoou, e Serena envolveu suas mãos ao redor de seu braço.

Francesca escutou tudo com interesse. Tinha visto o exército de Nigel em

sua visão.

— Francesca, — disse Drogan-. — Tiveste visões disto? Algo que possa

ajudar?

Manteve o olhar fixo em Cade, mas sentiu que o seu estava nela. Seus

olhos se cravaram nos de Drogan. Odiava mentir para ele, mas não havia outra

maneira. Ainda assim, talvez pudesse lhe dar alguma informação.

— Sim.

Grayson deu um passo para ela, seu rosto transtornado. — Quando ia

nos falar isso.

Cade se interpôs entre eles, com a mão na adaga. — Não fale com ela

dessa maneira.

Queria envolver seus braços ao redor dele e enterrar a cabeça em seu

pescoço, sentir o calor e a força de Cade rodeando-a. Nenhum homem a tinha

defendido antes assim, e descobriu que adorava.

— Grayson tem direito a estar zangado, — disse Drogan.

— Então, ele pode atirar sua ira para mim.

Francesca tocou o ombro de Cade. Ele girou sua cabeça para olhá-la, e

ela sorriu. — Obrigada, mas eles têm direito a estar zangados. Eu deveria ter

lhes contado.

Cade se voltou para ela e moveu sua cabeça para seu ouvido. — Foi isto

o que sonhou? O que te assustou?

Ela assentiu, perguntando-se por que lhe respondeu quando soube que

ele quereria saber mais. Ele suspirou e se endireitou só para mover-se a seu

lado.

Francesca lambeu os lábios. — Nigel trará centenas e centenas de

homens. Eles rodearão o castelo de um lado ao outro. O único lugar onde não

estarão é na água.

— Por que, eu me pergunto? — Disse Serena. — Eu pensei que Nigel

atacaria por toda parte.

— Ele está nos deixando uma saída, — comentou Drogan. — Quer que

entremos na água para que então possa nos matar.

Adrianna estremeceu. — Com outra tormenta?

— Provavelmente — disse Drogan.

Francesca queria poder aliviar seus medos, mas se eles se ocupassem em

encontrar uma forma de se proteger, não se preocupariam com ela. O que lhe

daria o tempo que necessitava para fugir do castelo e enfrentar Nigel.

— Bruxa — sussurrou Cade junto a ela, — me prometa que estará no

castelo com os outros.

Ela o olhou, perguntando-se de novo por que um homem tão bonito a

queria, mas agradecia por isso. — Onde mais eu poderia estar?

— Não sei, mas tem alguma coisa sobre você que me diz que está

escondendo algo. Está deixando algo.

Ela olhou para os outros para vê-los ainda falando dos homens de Nigel.

Ela inclinou-se para Cade e aspirou seu aroma de laranja, sal e homem. —

Você cheira bem.

Ele bufou. — Estou coberto de sal e sangue seco.

— Sempre cheira bem para mim.

— Pare de mudar de assunto. O que tem planejado?

Ela sacudiu sua cabeça. — Não me faça mentir para você. Por favor. Não

vou pôr ninguém em perigo.

— E a si mesma?

— Poderia te perguntar o mesmo.

— Pode me perguntar isso, sabendo o que sou?

— Posso te perguntar isso, sabendo o que é.

Por um momento, pensou que ele a beijaria. Seus olhos brilharam de

emoção antes de baixar seu olhar para sua boca e se inclinar para ela. Seus

lábios estavam separados por um fôlego, seu coração palpitava em seu peito

quando Drogan chamou seu nome.

Cade suspirou e se endireitou. Francesca não teve outro remédio, a não

ser enfrentar Drogan.

— Viu onde Nigel está? — Perguntou Drogan, seu olhar intenso e seu

cenho franzido em concentração.

Grayson assentiu com a cabeça. — Sim. Se pudéssemos localizá-lo e

matá-lo, seu exército se dispersaria.

Francesca engoliu a saliva e sacudiu a cabeça. — Nigel está por toda a

parte. E em lugar nenhum.

— Eu já lhe disse que ele é meu — disse Cade, rosnando ao lado dela

enquanto dava um passo para Drogan.

Drogan levantou uma mão. — Fique tranquilo, Cade. Não me importa

muito como o bastardo morra, desde que ele morra. Você quer fazer isso,

entendi, mas se conseguirmos um tiro limpo, vamos levar.

— Não, — disse Francesca. Eu esperava que Serena ou Adrianna também

falassem, mas nenhuma das duas parecia inclinada a fazer outra coisa a não

ser escutar. — Não.

— Já lhe disse que ficaria dentro das muralhas, Fran — disse Drogan. —

Quer que me esconda como as mulheres e as crianças?

Serena se encolheu ante seu tom. — Mulheres e crianças? Isso é tudo o

que somos para ti?

Grayson suspirou. — Já passamos por isso a primeira vez que Nigel

atacou. A guerra é para os homens. As mulheres não têm capacidade nela.

— Sério? — Adrianna rosnou, seu olhar duro enquanto olhava para seu

marido. — Sinto discordar. As mulheres são tão capazes, se não mais, que os

homens. Quem cuida dos feridos? Quem é que prepara os mortos para o

enterro? Quem é quem cozinha e limpa para os guerreiros que sobreviveram?

Quem é quem abre os braços de noite para que o guerreiro tenha um refúgio?

A mulher. Então não te atreva a me dizer que a guerra não é para as mulheres.

São os homens que fazem a guerra, e nós temos que limpar tudo.

Francesca reprimiu um sorriso ante a ira que brilhava nos olhos azuis de

Drina. Ela era o par perfeito para Grayson em todos os sentidos.

Serena assentiu. — Bem-dito, Drina.

— Todo mundo deve permanecer fora da vista de Nigel, — disse Cade.

— Ele usará todos vocês contra mim e o um contra o outro. Não lhe deem

nenhuma vantagem.

— Eu trouxe cento e cinquenta homens — disse Grayson. — Juntos com

os trezentos de Drogan, podemos lutar contra Nigel.

Cade bufou. — E serão massacrados.

— Ele não pode ter controle sobre todos eles, — disse Drogan. — Não é

verdade?

Cade encolheu os ombros. — Não sei com certeza. Liam não estava sob o

controle de Nigel, mas quem pode dizer sobre outros?

— E os homens que nos atacaram que você matou? — Perguntou

Adrianna.

— Não tinham poder, se isso for que você está perguntando.

Drogan assentiu com a cabeça. — Então é lógico que podemos vencer

Nigel.

Francesca ficou frenética. Se Drogan e Grayson saíssem do castelo com

seus homens, sua batalha com Nigel poderia nunca acontecer. E ela não

poderia matá-lo.

— E se Cade tiver razão? — Ela perguntou. — E se Nigel deu a estes...

Homens... Algum tipo de poder? Eles vão derrotar vocês facilmente. Então,

quem fica para defender o castelo?

Drogan passou uma mão por seu rosto. — Eu sou um guerreiro, Fran.

Isto é o que eu faço.

— Você também é marido e pai, — disse Serena.

Francesca sabia que Drogan estava pensando em tudo o que foi falado.

Queria lutar, assim como Grayson, mas ela sabia que tinha que chegar a Nigel

antes que eles saíssem do castelo. Conhecia Drogan o suficiente para saber que

ele não ficaria atrás de suas muralhas muito tempo. A necessidade de

vingança, pela morte, era forte em todos os homens.

Seu olhar se moveu para Cade para o encontrar a observando. O intenso

azul de seus olhos a mantinha imóvel, seu coração acelerado. Se não tivesse

demorado tanto tempo em encontrar Cade. Se ela tivesse tido os meses

passados que foram perdidos para estar com ele, aprendendo sobre ele,

amando-o.

Arrancou o olhar dele e saiu da caverna até a beira da água. Ela não

queria ter se apaixonado por Cade, mas a partir do momento que ele olhou em

seus olhos, ela estava perdida.

Com os braços envoltos ao redor dela e o vento afastando o cabelo de seu

rosto, Francesca olhou por cima da encosta para o castelo do Phineas.

Havia passado dias desde que ela tinha visto o homem que era seu pai e

protetor. Para sua vergonha, não pensou muito nele, não desde aquele

primeiro encontro com Cade. Precisava checar Phineas, mas com a ameaça de

Nigel se aproximando a qualquer momento, não podia arriscar.

Ela era uma covarde. Deveria contar a todos qual era sua visão, lhes fazer

saber que ela era a chave para derrotar Nigel apesar dos protestos de Cade. Era

ela que tinha tido as visões desde que tinha dez anos. Era ela que tinha o

poder.

Ela era a bana-bhuidseach.

Mas conhecia Drogan, Grayson e inclusive Cade o suficiente para saber

que nunca a deixariam fora das muralhas. Inclusive Serena e Adrianna

podiam detê-la.

Apesar de estar rodeada de tantas pessoas que considerava amigos,

ainda estava sozinha. Em outra vida, outro futuro, poderia ter existido uma

oportunidade para ela e Cade. Poderia ter havido amor e felicidade entre eles.

Entretanto, tudo era ilusão, porque ela estava no presente, e nele estava cheio

de um mal que queria a todos mortos.

CAPÍTULO DEZENOVE

Cade permaneceu na caverna apesar de seu corpo insistir em seguir

Francesca Cade permaneceu na caverna apesar de seu corpo insistir em seguir

Francesca. Seus olhos tinham tido tal tristeza, tal determinação, que sabia que

lhe escondia informação sobre Nigel.

Grayson, Adrianna e Serena saíram lentamente da caverna, deixando só

a ele e Drogan. Cade esperou que Drogan falasse, porque era óbvio que seu

velho amigo já tinha formado um plano.

— Qual é seu plano? — Perguntou Drogan. — Quer esperar Nigel?

— Não. Tenho pensado em atacá-lo.

Drogan arranhou sua mandíbula. — Como vai fazer isso?

— Ele me quer. Ele vem atrás de mim. Estará me observando.

— Eu quero ajudar.

Cade suspirou. — Gostaria que pudesse, mas o vi lutar o suficiente para

saber exatamente o que fará. Estou te pedindo, como amigo, como irmão, que

não deixe que isso aconteça.

— Deixa-me pouca escolha.

— Me dê tempo para lutar com Nigel.

Drogan apertou os lábios. — E se você perder?

— Então você e seus homens podem atacar.

Depois de um momento, Drogan assentiu. — Te dou minha palavra,

darei tempo para atacar ao Nigel... Mas, te aviso Cade, nego-me a te deixar

morrer.

Cade olhou seu amigo andando a largos passos da caverna até os outros

que estavam esperando por ele. Não merecia um amigo como Drogan.

Ou a bruxa.

Seu olhar imediatamente encontrou Francesca, seu cabelo vermelho

como chamas contra o creme de seu vestido e o azul escuro da água. Quanto

mais ficava perto dela, mais difícil era deixá-la ir. Tanto que se deu conta de

que tinha que lhe fazer entender que nunca poderia voltar para ele.

Cade caminhou para sua bruxa. Logo que a alcançou, voltou-se para ela.

Queria tomá-la em seus braços, lhe prometer que tudo ficaria bem. Mas Cade

nunca fez uma promessa que não podia cumprir, e não estava certo de qual

seria o resultado desta guerra.

— A cada hora Nigel se aproxima mais, — ele disse.

— Eu sei. Gostaria de ter uma visão de quando ele chegará.

— Não importaria. Estamos tão preparados quanto podemos estar. Me

dará sua palavra que ficará no castelo, certo?

Ela sorriu e colocou sua mão direita sobre seu coração. — Prometo que

ficarei o mais segura possível quando Nigel chegar.

— Ele vai estar a sua procura. — Cade envolveu sua mão em torno de

seu peito. — Gostaria que pudesse estar ao seu lado para te manter a salvo.

Seus lábios se curvaram em um sorriso lento e sensual. — Não te dá

conta de que sempre está comigo?

Suas bolas latejaram quando seu olhar se moveu para seus lábios. Ele

queria outro beijo, um que duraria mesmo após a sua morte. Um gosto a mais

do paraíso, sem importar quem visse.

Cade tomou a parte de atrás da cabeça dela e baixou a sua. Cobriu sua

boca e ficou quieto por um momento antes de deslizar sua língua por seus

lábios. Ela gemeu e agarrou seu ombro com sua mão livre.

Ele tomou sua boca uma e outra vez, lhe dando todo o desejo, a

esperança, a fome que sentia por ela. Seu pênis pulsava com necessidade

quando finalmente rompeu o beijo.

— Cade, — ela sussurrou.

— Não podes voltar aqui, — disse e aproximou seu rosto do dela. — Não

importa o que escute, o que veja, ou inclusive o que sonhe. Não pode retornar.

Me dê sua palavra.

Ela piscou e lambeu seus lábios inchados. — Você está pedindo muito.

— Peço pela sua segurança. Eu morreria se algo te acontecesse. Por favor,

bruxa. Me dê sua palavra.

Ela assentiu a contragosto com a cabeça. — Eu poderia te ajudar, como

antes, quando a escuridão te possuir.

— Não haverá necessidade de novo.

Cade sabia que obrigá-la a se afastar seria difícil. Simplesmente não

tinha esperado que machucasse tanto.

— Como se sente? — Ela perguntou.

— Melhor. Todas as minhas feridas estão curadas.

Ela afastou o olhar. — Deveria ter me deixado usar minhas ervas depois

do ataque do lobo.

— Adrianna pode ter curado meu corpo, mas você curou minha alma,

bruxa. Nunca esqueça isso.

Incapaz de resistir, envolveu seus braços ao redor dela e a trouxe contra

ele. Ele se sentia tão bem em tê-la perto dele, sentindo seu calor, sua bondade e

sua magia. Ele ia sentir saudades, e por um momento pensou em ir com eles

para o castelo e esconder-se de Nigel.

Mas Cade sabia que era inútil. Nigel nunca se renderia.

Independentemente da esperança que crescia em seu coração, Cade só tinha

uma opção, e não incluía a sua bruxa.

Empurrou-a para longe dele. — Vá. Vá agora, — disse e lhe deu um

pequeno empurrão para Drogan.

Os olhos avermelhados de Francesca sustentaram os seus por um

momento. Ela não lutou contra ele, não resistiu. Ela endireitou seus ombros e

disse: — Lembre-se, Cade, você é um bom homem. Sempre estarei aqui se

precisar. Você só precisa chamar, e eu virei.

Não podia vê-la afastar-se. Já se sentia como se alguém tivesse arrancado

seu coração, seu peito doía tanto. Olhou para o mar. Estava fazendo o correto

ao mandá-la embora, estava certo disso.

Então, por que se sentia tão mal?

Ele ficou tenso quando sentiu que alguém se movia a seu lado. Um olhar

confirmou que era Drogan. — Se as coisas fossem diferentes, eu te pediria que

casasse com ela, — disse seu amigo.

— Se as coisas fossem diferentes, ela já seria minha.

Drogan suspirou. — Como é que isto vai acabar Cade? Minha família e

meu povo estão contando comigo. Eles não têm nem ideia do mal que se

aproxima.

Cade não tinha palavras para consolá-lo, não quando não podia

encontrar palavras para isso. — Tenho um favor a te pedir.

— Peça-o, — disse Drogan e o olhou.

Voltou à cabeça para Drogan. — A mantenha a salvo. Não importa o que,

não deixe que Nigel a encontre.

Drogan assentiu com a cabeça. — Eu juro que Fran será escondida com

Serena e Adrianna.

— Obrigado.

Apertaram as mãos antes que Drogan o puxasse para seu peito e batesse

em suas costas. Cade fechou os olhos enquanto abraçava seu amigo. Era

provável que fosse a última vez que visse algum deles.

Quando retrocedeu, Cade viu Francesca de pé junto à entrada do túnel

secreto do castelo. Os outros já tinham passado, mas ela ficou solenemente

observando-o. Levou toda sua força para afastar-se dela em vez de correr até

ela, puxando-a para seus braços e um futuro juntos.

Cade não parou até chegar à sua caverna, mas por toda parte via

Francesca. Cheirava a lilás e sentia magia em cada pedra da caverna. Sentou-se

diante do fogo e baixou a cabeça entre as mãos. O que tinha lhe acontecido?

Como a bruxa tinha entrado tão rápido em seu coração?

Mas ele sabia a resposta.

Ela era o que sua alma precisava. Ela o tocou como nenhum outro o

tinha feito nunca, e o aceitou como ele era. Tinha lhe dado seu corpo, sua

virgindade.

Cade sabia em seu coração, que se alguma vez pudesse ter um futuro

com qualquer tipo de felicidade, seria com Francesca. Sem dúvida, ele sabia,

sua vida estaria completa enquanto ela estivesse ao seu lado.

A escuridão riu dentro dele, o som malvado e obsessivo. “Não, guerreiro.

Você é meu. O único futuro que você tem é comigo!”

Assustou Cade a facilidade com que se acostumou à quietude da

escuridão quando Francesca estava com ele. A escuridão nunca temeu nada

nem ninguém até ela. O fato de que a bruxa pudesse manter o mal não só

tranquilo, mas também encarcerado profundamente em seu interior, fez que

sua fome por ela crescesse.

A paz não era algo que tinha sentido desde antes de se unir aos guardas

reais do rei. Agora que sentia de novo, não estava preparado para deixar ir. Ele

fechou os olhos e imaginou Francesca na água, com suas mechas ardentes a

lambendo enquanto seu olhar fulminante lhe tirava o fôlego e alimentava seu

desejo.

“Só um tolo teria deixado à bruxa ir” disse a escuridão. "Não há forma de

escapar agora."

Cade não queria escapar dela. Precisaria da escuridão quando lutasse

contra Nigel. Ele não lutou contra a escuridão, mas tampouco deixou que o

mal assumisse o controle. Logo seria o momento de ceder. Até então, tinha as

lembranças de sua bruxa para sustentá-lo.

Minha bruxa.

?.?

Passaram dois dias desde que Francesca viu Cade. Não havia uma hora

do dia – ou da noite – em que não pensasse nele, ou sonhasse com ele. Cade

estava em todas as partes, em tudo o que ela fazia.

Drogan e os outros a vigiavam constantemente desde sua volta ao

castelo. Ela havia lhes pedido espaço, enganando-os para que acreditassem

que ela ficaria no castelo. Eram seus amigos, e odiava os enganar, mas não

tinha opção. A vida de Cade estava em jogo.

Desde que teve a visão dele quebrando a perna, soube que tinha que

chegar ao bosque e encontrar o buraco antes que Nigel chegasse. Esse buraco

seria a morte de Cade, e ela não poderia viver com isso.

Ele sobreviveria ao ataque de Nigel para viver uma longa vida saudável.

Embora não acreditasse, ele era suficientemente forte para vencer a escuridão

dentro dele. E quando o fizesse, encontraria um futuro brilhante esperando.

E uma esposa e filhos.

Ignorou a sombra do ciúme que esse pensamento trouxe. Não havia

razão para que ela tivesse inveja, já que ela estaria morta. Cade não sabia de

seu amor, e ela não tinha nenhum controle sobre isso.

Olhou fixamente a lareira vazia enquanto escutava Grayson e Drogan

discutindo estratégias de seu ataque em voz baixa. Serena e Drina nunca

estavam longe de seus maridos. Inclusive os ocupantes do castelo se

acalmaram com cada dia que passava. Todo mundo sabia que um ataque

estava vindo, mas não sabiam de quem.

O medo tinha envolvido a terra. O pátio onde antes os meninos jogavam

e riam, agora era tomado pelos cavaleiros que se preparavam para a batalha.

As crianças observavam, com olhos selvagens e silenciosos, enquanto as mães

sorriam e garantiam que tudo estava bem. Nada estava bem, e Francesca temia

que nunca mais estivesse.

Sua visão de Nigel continuava com a escuridão levando-a. Antes, ela

sabia que ia derrotar Nigel. Agora, ela não estava tão certa disso. Sua confiança

se converteu em medo.

Olhou os casais a seu redor. Serena segurava seu filho em seu colo,

fazendo caretas para o menino. Ele arrulhou e riu em resposta. Adrianna

olhou à cena com nostalgia. Francesca achava que não passaria muito tempo

antes dela e Grayson serem abençoados com uma criança.

A maneira faminta que ambos os homens olhavam suas esposas a fazia

pensar em Cade. Por ser tão protetor como era, seria um excelente marido e

senhor. Deveria ter retornado a suas terras e ter tomado o controle de seu

castelo em vez de fugir de Nigel.

Ela se deu conta de que Drogan e Grayson tinham parado de falar.

Quando voltou seu olhar para Drogan, seu rosto era uma máscara, sem

qualquer emoção visível enquanto ele devolvia seu olhar.

— Caminhe comigo, — ele disse.

Francesca olhou para Serena, que encolheu os ombros, enquanto

Francesca se levantava.

Saíram do grande salão e caminharam em volta da torre na parte traseira

do castelo que tinha uma vista clara do mar e do castelo do Phineas. Drogan

tinha estado em silêncio, e Francesca soube que tinha algo a dizer.

Frequentemente ia à torre quando precisava pensar. Tinha sido seu lugar

favorito quando era menino quando queria escapar de seu pai cruel.

Uma vez na torre, Francesca se apoiou contra a parede, com as mãos

atrás das costas enquanto esperava. Drogan parou com as mãos apoiadas nas

pedras na beira da janela.

— Tenho notícias de Phineas — disse Drogan finalmente. Sua voz era tão

suave que quase não a ouviu.

Ela se afastou da parede. — Ele está doente, não é? Eu sabia que deveria

ter voltado.

— Ele não está doente.

— Então o que é?

Drogan a olhou e tirou um pergaminho de seu colete. — Isto chegou ao

amanhecer. Há um para ti e outro para mim, de Phineas.

O medo começou a arrastar seus dedos ao redor dela. Tratou de respirar,

mas seus pulmões não funcionavam.

Ele morreu pouco depois de meia-noite de ontem — disse Drogan. —

Disseram-me que sua passagem foi pacífica.

— Ele estava sozinho.

Francesca sempre prometeu que estaria ao seu lado. Phineas sorria e

dava uns tapinhas em na mão e dizia que não se preocupasse com um velho.

Drogan respirou profundamente. — Ele queria te deixar o castelo, já que

ele a considerava sua filha. Já que sou sua única família sobrevivente, o castelo

veio para mim, mas é teu para viver.

Ela encostou-se à parede atrás dela, algo para mantê-la firme em seus

pés. Phineas tinha sido a única constante em sua vida, a única pessoa com a

qual sempre pôde contar.

— Quer que leia sua mensagem?

Francesca sacudiu a cabeça e pegou a carta. Phineas lhe ensinou a ler e

escrever, assim como à aritmética. Ele apaixonou-se por ela, a amou e a

protegeu.

A torre se tornou turva enquanto as lágrimas lhe caíam pelas bochechas.

Não foi até que ela as limpou que se deu conta de que Drogan tinha saído. Ela

segurou o pergaminho enrolado diante dela. E depois de um momento,

rompeu o selo e desenrolou a carta.

Minha querida Francesca,

Enquanto fico aqui, o fôlego do meu corpo se aproximando cada vez mais da

morte, eu estou agradecido pelo tempo que tive com você. Embora você não fosse,

considerei-te minha filha.

Deixaria-te minha ilha se pudesse, mas deve passar a Drogan. Ele já me

assegurou que lhe permitirá viver aqui o tempo que queira. Nunca quero que pense que

não tem uma casa. Fez meus últimos anos os mais felizes que um homem poderia

desejar. Desejo essa mesma felicidade para ti.

Sua mãe me disse uma vez que tinha um grande destino diante de ti. Temo que o

destino seja Nigel. Embora sua mãe nunca me dissesse o que faria, disse que era

importante.

Deus vos acompanhe, minha filha. Deus te mantenha a salvo.

Que a alegria e o amor encontrem o caminho para ti.

P.

Francesca leu a carta mais duas vezes. Sua mãe sabia de sua batalha com

Nigel, sabia e nunca disse nada? Desejava ter podido falar com sua mãe a

respeito disso, mas quando suas visões começaram sua mãe já estava morta.

Olhou fixamente para o castelo longínquo através da janela. — Vá com

Deus, Phineas. Obrigada por tudo.

Francesca enrolou a carta e correu para seu quarto. Drogan assumiria

que estava sofrendo na torre, o que lhe daria o tempo que necessitava para sair

furtivamente do castelo e encontrar o buraco no bosque.

Com o pergaminho escondido em seu baú, Francesca olhou seu vestido

verde escuro. Ele se mesclaria com as árvores. Sabia que a saída secreta perto

do mar estava sendo vigiada por Drogan e Grayson. A única saída era pela

porta dos fundos nas muralhas do castelo.

Bufou e saiu de seu quarto. Usou a escada dos fundos para que não

topasse com Drogan e sairia pela cozinha. Uma vez no pátio, era fácil para ela

permanecer escondida entre todos os cavaleiros. Francesca queria correr, mas

se o fizesse, chamaria a atenção, e não podia permitir isso.

Fez um giro ao redor da muralha, com cuidado de manter a cabeça

baixa. Quando chegou pela segunda vez à porta de trás, deteve-se e olhou a

seu redor para ver se alguém a observava. Logo se virou para abrir a porta

quando uma voz a deteve.

— O que está fazendo?

CAPÍTULO VINTE

Francesca suspirou e se voltou para Adrianna. A mulher de Grayson

ficou olhando-a, com uma sobrancelha loira levantada em questionamento.

— Está tentando te matar? — Perguntou Adrianna. — Drogan quer que

fiquemos no castelo.

— Eu sei o que Drogan quer.

Os olhos de Drina se estreitaram, e ela deu um passo mais perto de

Francesca. — Teve uma visão?

A necessidade de contar a alguém sobre sua visão era muito grande para

ignorá-la. Ela assentiu e se aproximou de Drina. — Vi o resultado desta

guerra. Derrotaremos Nigel.

— Isso é uma notícia maravilhosa. Por que não disse a ninguém antes?

— Porque se houver uma mudança, por menor que seja, poderia mudar

o resultado. Não quero nada mais do que assegurar a Drogan que sua família

e o castelo sobreviverão, mas não posso. Nada pode mudar.

Drina assentiu lentamente. — Por isso não disse o tamanho do exército

de Nigel nem onde atacariam. Grayson ainda está chateado por isso.

— Como deveria estar. Desejaria poder divulgar tudo o que sei, mas é

meu desejo que todos sobrevivam.

— Eu entendo. É por isso que está escapando?

Francesca jogou uma olhada à porta. — Sim. Vi que Cade se machucou e

os homens de Nigel o mataram. Preciso me assegurar de que isso não

aconteça.

— Está arriscando sua vida.

— Ele está arriscando a sua por nós.

Drina deixou escapar um suspiro e sorriu. — Então irei contigo.

— O que?

— Eu amo Grayson com todo meu coração, mas o homem precisa

entender que a guerra envolve as mulheres tanto quanto aos homens.

Francesca riu entre dentes. — Obrigada, mas não. Eu ficarei bem.

— Eu vou, Fran.

Estava perdendo o tempo discutindo com a Adrianna. — Te assegure de

que não nos sigam, — ela murmurou enquanto abria a porta.

Francesca deslizou para fora da muralha, e Adrianna a seguiu muito de

perto. Olhando em todas as direções, correram a curta distância até as árvores.

— Espere aqui e vigie a porta — disse Francesca. — É nosso único

caminho de volta.

Adrianna lhe agarrou a mão quando estava a ponto de partir. — Tome

cuidado. Não quero ter que dizer a Cade que algo te aconteceu.

Sabia que Cade se preocupava com ela, ou o que é mais importante, que

ela era de algum jeito capaz de ajudar a controlar a escuridão dentro dele.

Mas, ele se importaria se ela morresse?

— Cade... Tem o suficiente com o que se preocupar.

— Não te engane — disse Drina. — Vi como ele te olha. Há desejo ali,

mas também há algo mais profundo. Amor, talvez?

Francesca tirou sua mão da mão da Adrianna. — Você pode ter sido

capaz de vencer a maldição, mas eu não o farei.

— Você viu isso?

Francesca permaneceu em silêncio. — E ainda te dá ao Cade?

— Me dou ao Cade porque não posso negar o que meu coração quer.

Não há futuro para nós. Ambos sabemos isto.

Os olhos da Adrianna tinham uma grande tristeza. — Não perca a

esperança.

Francesca assentiu com a cabeça e se dirigiu para a árvore como em sua

visão. Não sabia exatamente onde estava, mas sabia que seria capaz de

encontrá-la se tivesse tempo. Tempo. Algo que não tinha muito.

Com sua saia na mão, correu através das árvores, procurando o carvalho

nodoso, seu grosso tronco grande o bastante para ocultar dois homens

adultos.

— Aí está, — murmurou quando viu a árvore.

Francesca correu até a árvore e procurou ao redor da base até que

encontrou o buraco. Ajoelhou-se junto a ele para examiná-lo melhor. O buraco

tinha duas polegadas de comprimento e uma de diâmetro. O suficiente para

que o pé de um homem afundasse e quebrasse o tornozelo ou a perna.

Ela se levantou e procurou algo para enfiar no buraco. Então enxergou

um grande galho que tinha caído durante as recentes tormentas. Ela o agarrou

e o arrastou até o carvalho, cobrindo com sucesso o buraco para que Cade

tivesse que caminhar ao redor ou saltar por cima do galho. De qualquer

maneira, não entraria.

Francesca limpou as mãos, um sorriso em seu rosto, quando algo voou

por seu rosto para se cravar na árvore. Virou-se e viu uma tocha a centímetros

de seu rosto. Alguém a agarrou por trás e a empurrou contra a árvore.

— Por Deus, bruxa. Está tentando se matar? — Perguntou Cade com os

dentes cerrados.

Francesca abriu a boca para falar quando ele a silenciou com um olhar

que lhe disse que não queria que ela respondesse. Não agora de qualquer

maneira.

— Fique aqui, — ele sussurrou.

Ela assentiu antes dele afastar-se. Seu coração martelava em seu peito, e

suas veias gelaram. Ela girou a cabeça para ver Cade de pé em frente a ela,

seus pés separados e suas espadas nas mãos.

— Alguém quer brigar?

Dois homens se aproximaram dele imediatamente, com suas espadas

longas e largas. Cade desviou facilmente de um e passou por baixo do outro.

Quando os dois homens passaram por ele, aproximou-se com suas espadas e

as afundou nas costas dos homens.

Eles caíram já esquecidos no chão enquanto Cade enfrentava seus

futuros atacantes. Francesca se virou para a árvore e agarrou o tronco. Ele

machucou suas mãos enquanto ela se agarrava desesperadamente, vendo

como Cade manejava suas armas com destreza mortal.

Ele nunca vacilou, e se movia com a agilidade de um gato, a musculatura

de um lobo e a aniquilação de um dragão. Mas seu rosto, uma máscara de

determinação e morte, diferenciava-o de outros. Ele não tinha medo, não

duvidava do que estava fazendo. Utilizou sua habilidade com suas espadas

para cortar a todos e cada um dos homens.

Quando o último caiu, ela contou doze cadáveres. Seu olhar se elevou

para ele para encontrar seus olhos uma vez mais negros. Atirou as espadas no

chão e se dirigiu para ela. A roupa e as mãos salpicadas de sangue enquanto

ele a fazia girar até que suas costas estavam pressionadas contra a árvore uma

vez mais.

A escuridão havia o possuído novamente, mas ela não tinha medo. No

fundo, ela sabia que o homem em seu interior lutava contra o mal, um mal que

tinha deixado sair para protegê-la. Esticou a mão e limpou um pouco de

sangue de sua bochecha. Sua boca cobriu a dela, dura, exigente enquanto a

beijava. Isso não a repeliu – ao contrário pôs seu sangue em chamas.

Seus braços rodearam o pescoço dele, puxando-o para perto enquanto

ele arrancava sua saia antes de levantá-la para que suas pernas se envolvessem

ao redor de sua cintura. Seu corpo ardia por seu toque, para sentir seu pênis

empurrar duro e profundo.

O ar frio encontrou as dobras quentes de seu sexo um segundo antes de

Cade esfregar a cabeça de seu pênis contra ela. Ela gemeu e apoiou seus

quadris contra ele. Ele guiou seu pênis até a sua entrada, e em um impulso,

enterrou-se.

Ele gemeu em seu pescoço, agarrando seus quadris. Ele ficou quieto por

um instante, dois, antes de começar a afundar duro e rápido. Francesca não

pôde fazer outra coisa que se agarrar a seus ombros enquanto ele levava seu

corpo a um frenesi de desejo.

Uma e outra vez bateu contra ela, tocando seu ventre e moendo contra

seu clitóris até que ela estava desorientada de desejo.

Cade não podia ter o suficiente de sua bruxa. Queria marcá-la,

completamente como dele, de modo que nenhum outro homem sonharia em

tê-la.

Cada vez que se afundava nela, podia sentir que a escuridão se movia e

cedia seu domínio sobre ele. Quando suas mãos mergulharam em seu cabelo e

ela sussurrou seu nome um momento antes de ficar rígida em seus braços,

Cade cedeu a necessidade de marcá-la e lhe mordeu o pescoço enquanto sua

semente explodiu dele.

Suas costas se arquearam, e ela ofegou, seus braços se esticaram por um

momento. Finalmente, Cade levantou a cabeça e apoiou sua frente contra a

dela. A vergonha se apoderou dele pelo que tinha feito.

— Não se atreva a se desculpar, — disse ela.

— Eu fui um monstro.

Um sorriso se desenhou em seus lábios. — Foi maravilhoso.

— Eu te machuquei.

— Não.

Ele queria acreditar, acreditar que ela o desejava tanto quanto ele a

desejava. — Ainda posso te sentir dentro de mim, — ela sussurrou.

A paixão em sua voz agitou seu pênis. Poderia havê-los matado levando-

a ao bosque. Não voltaria a ser tão descuidado.

Cade saiu dela e soltou suas pernas. Enquanto ela endireitava a saia, ele

vestiu as calças. — Agora me diga o que estava fazendo aqui. Sozinha.

— Não estou sozinha.

— Sério? Quem está contigo?

— Drina.

Cade amaldiçoou. Duas bruxas. Sozinhas no bosque. Grayson ia cortar

sua cabeça. — Onde está Adrianna?

— Perto do castelo, vigiando a porta de trás.

— Me diga por que vieste aqui? O que poderia ser tão importante para

arriscar sua vida?

— Você.

Isso o deteve de súbito. Procurou seus olhos avermelhados e viu a

verdade disso. — Eu?

— Tive uma visão de que pisava no buraco debaixo da árvore e quebrava

a perna. Os homens de Nigel pularam sobre ti em seguida.

Ele não sabia o que dizer. Ele tocou a ponta de sua trança e questionou as

emoções que formavam redemoinhos dentro dele. — Você poderia ter me dito.

— Eu tinha que ter certeza de que o buraco estava coberto, — ela disse

encolhendo os ombros. — Como sabia que eu estava aqui?

— Lilás — ele murmurou, perdendo-se em seus olhos.

— Lilás?

Ele assentiu. — Eu segui o cheiro.

— E deixou a escuridão assumir.

Sim, tinha-o feito, e o faria de novo se isso significasse que a salvaria. Ela

tornou-se mais preciosa para ele que a salvação de sua alma. — E eu faria de

novo.

Suas mãos lhe acariciaram o rosto, uma ligeira curva em seus lábios. —

Obrigada.

Incapaz de resistir, Cade a puxou contra ele e reclamou seus lábios.

Desta vez o beijo foi lento, sensual e sustentou todos os sonhos de um futuro

que desejava poder ter com ela. Seu corpo, ainda pulsando com desejo, pegou

fogo ao menor contato dela.

Ela gemeu em sua boca, e suas bolas latejaram. Se não conseguisse se

controlar, a tomaria de novo, independente de quem pudesse cair sobre eles

ou do perigo que os rodeava.

Terminou o beijo, e ela apoiou sua cabeça em seu peito. Cade apoiou seu

queixo sobre sua cabeça, contente em segurá-la. Ele tinha compartilhado mais

com ela que com qualquer outra pessoa em anos. Era uma boa coisa que ia

morrer, porque não poderia passar um dia sem ver nem tocar a sua bruxa.

— Phineas está morto — ela murmurou.

Cade sentiu a angústia em suas palavras. — Sinto muito. Sei o quanto ele

significava para ti.

— Ele morreu pouco depois da meia-noite.

— Ele estava doente antes de você sair?

Ela sacudiu sua cabeça. — Estava em boa saúde para um homem de sua

idade.

Cade lhe acariciou as costas. Sua morte deve ter sido um choque para

ela. Ele se perguntou como Drogan estava reagindo à notícia. Phineas tinha

sido uma figura paterna para Drogan também, especialmente depois que o pai

de Drogan morreu.

— Eu não conhecia Phineas, mas Drogan falou muito bem dele — disse

Cade. — Drogan se perguntava frequentemente como dois homens do mesmo

sangue podiam ser tão diferentes como seu tio e seu pai.

Ela suspirou. — Nunca conheci o pai de Drogan, mas Phineas era um

bom homem.

Cade se perguntou se ela diria o mesmo dele. Poderia haver-lhe dito

antes, mas foi algo que ela disse para lhe fazer sentir melhor? Gostaria que ela

dissesse aos outros que você era um bom homem quando se fosse?

Não estava certo de por que estar tão preocupado por isso. Não deveria

importar. Entretanto, descobriu que queria que ela pensasse que ele era um

bom homem. Queria que lhe respeitasse, que o amasse. Seus dedos retesaram.

Não estava certo de onde veio esse pensamento, mas uma vez que relaxou,

descobriu que queria desesperadamente seu amor.

Ele a ama?

Ele se importava muito com ela. Nunca se preocupou com alguém assim.

Ansiava seu contato, sua proximidade. Sonhava com ela e com um futuro que

poderiam ter se as coisas fossem diferentes.

Desejava ver seu ventre inchar com seu filho, estar com ela através dos

anos enquanto seus filhos cresciam. Queria ver seus olhos ardentes se

transformarem em prata. Queria que seus olhos fossem a última coisa que

visse antes de dar seu último suspiro.

Se isso era amor ou não, ele não estava certo.

— Tenho que te devolver a Adrianna antes que ela fique preocupada —

ele disse em seu cabelo.

Francesca elevou a cabeça e o olhou. — Odeio te dizer adeus. Estes dois

últimos dias foram horríveis. Por favor, venha para o castelo. Deixe-me te ver,

estar perto de ti. Coma conosco e ponha sua cabeça sobre um travesseiro de

plumas em lugar da terra dura.

Era tentador, sobre tudo porque sabia que estar perto dela acalmava a

escuridão e lhe dava paz, mas não podia deixar ninguém se machucar.

— Eu não posso.

Ela soltou um suspiro e saiu de seus braços. — É um homem obstinado,

Cade.

— Eu sei. Venha. Deixe-me te levar de volta a Adrianna. — Ele lhe

estendeu a mão.

Quando ela colocou sua mão na dele, uma pequena emoção o

atravessou. Como um pequeno toque, um gesto tão simples podia afetá-lo

assim, ele não sabia. Mas se alegrou por isso.

CAPÍTULO VINTE E UM

Rapidamente, Cade levou Francesca até Adrianna. Ela se sentiu tão bem,

era tão certo estar com ele. Francesca não queria ter lhe contado sobre Phineas,

mas sua dor era ainda muito nova e crua para esconder. Os braços de Cade a

seguraram firmemente, apertando-a para que soubesse que entendia sua dor.

Estar com Cade, mesmo que por pouco tempo, deu-lhe mais força.

Ele cedeu de novo à escuridão. Por ela. Para salvá-la. Tinha posto em

perigo seu desejo de lutar contra Nigel deixando que o mal saísse sem ter

certeza se podia voltar a controlá-lo.

Drina rolou os olhos quando os viu caminhando para ela. Ela não disse

nada, só elevou as sobrancelhas.

— Sem mais saída furtiva do castelo — disse Cade antes de olhar para

Adrianna. — Se tiver outra visão, prefiro que venha até mim que tentar algo

assim novamente.

Adrianna ofegou. — Há sangue em ti, Fran.

— Não é meu — ela apressou-se a assegurá-la.

— Houve um ataque — disse Cade. — Nigel enviou batedores até a

minha bruxa.

Francesca mordeu o lábio para não sorrir. Ele a tinha chamado de minha

bruxa. Sim, certamente ela era dele. Agora e para sempre.

— Está ferida? — Perguntou Adrianna.

Francesca sacudiu a cabeça. — Cade chegou a tempo para me salvar.

— É por essa razão que nenhuma pessoa deve sair do castelo.

Cade olhou para trás por onde tinham vindo. — Nigel chegará logo.

Muito em breve. Sinto-o em meus ossos.

Francesca esteva de acordo com ele, mas guardou silêncio.

Adrianna olhou ao redor do bosque. — Temos que voltar, Fran. Viemos

muito mais longe do que deveríamos.

— Vou vigiar até que passem a muralha — disse Cade. — Agora vá.

Francesca ficou na ponta dos pés e lhe deu um rápido beijo. —

Mantenha-se a salvo.

No mesmo instante, uma névoa mágica nublou sua visão. Exatamente

como quando sonhava, sabia que a magia a tinha tomado. Viu Cade, o sol

brilhando sobre sua cabeça dourada. Ele se virou e olhou para alguém por

cima do ombro e sorriu. Em seu olhar, viu desejo e... Amor.

Ela o soltou e tropeçou. As mãos dele a agarraram, estabilizando-a.

— O que foi? — Ele perguntou.

Francesca engoliu a saliva. As visões nunca antes vieram quando ela

estava acordada, mas sabia que estava vendo o futuro de Cade. Deveria estar

feliz por ele ter sobrevivido ao ataque de Nigel. Por que, então, doía-lhe tão

desesperadamente saber que estava com outra pessoa?

— Bruxa?

Ela piscou e negou com a cabeça. — Nada. Estou cansada.

Voltou-se e se apressou a passar por Adrianna antes de ceder ao seu

coração e ficar com Cade. Estava muito emocionada ante o que tinha

acontecido. Sua magia cresceu. Nigel chegaria drasticamente em alguns dias, e

havia coisas que tinha que conseguir antes. Podia sentir os olhos de Cade nela,

ainda podia prová-lo em sua língua, ainda podia senti-lo entre suas pernas.

Temia que Nigel chegasse, mas pelo menos quando chegasse, não teria

que agonizar muito por Cade e o que poderia ter sido.

— Fran, — sussurrou Drina enquanto se apressava a alcançá-la. Agarrou

a mão de Francesca na sua e a apertou. — O que aconteceu?

— Muito. Mas não o bastante.

Elas chegaram ao portão dos fundos, e quando ela o alcançou, ele se

abriu. Francesca deu uma olhada para o bosque para encontrar Cade olhando-

a, uma expressão ilegível em seu rosto. Ela levantou sua mão em um aceno.

Sabia com todo o seu coração que seria a última vez que o veria.

Logo que ele acenou em resposta, ela entrou pelo portão. Uma vez

dentro, Adrianna o fechou.

Francesca se apoiou contra a parede do castelo. — Eu nunca vi Cade em

meu futuro.

— O amor é assim, — disse Drina. — Vem quando menos se espera.

Disse que ganharíamos contra Nigel. Certamente há um futuro para ti e Cade.

Francesca não tinha vontade de discutir. — Talvez.

— O que aconteceu no bosque? Quando tocou Cade?

— Meus poderes cresceram. Vi o seu futuro.

Adrianna elevou as sobrancelhas. — Com apenas um toque?

— Com apenas um toque. Eu nem sequer estava tentando. Simplesmente

aconteceu.

— O que você viu?

Francesca baixou o olhar para o chão enquanto recordava a felicidade

refletida em seu sorriso e o amor refletido em seus olhos. — Ele estava feliz.

Adrianna a rodeou com um braço. — Nós vamos passar por isso, Fran.

Francesca deixou que Drina a levasse de volta ao castelo. Quando

entraram no grande salão, encontraram Grayson andando diante da lareira

vazia, com as mãos postas a seu lado.

Logo que ele viu Adrianna, precipitou-se para ela. Francesca a viu voar

para os braços de seu marido. Nunca antes tinha pensado no amor e no

matrimônio, mas desde que conheceu Cade, isso era tudo em que parecia

pensar.

Estava zangada porque ela era que teria que sacrificar a sua vida pelos

outros. Eles tinham sua felicidade. Por que ela não podia? Logo que a ideia

passou através de sua mente, arrependeu-se. Não era como se fosse egoísta,

mas isso era o que acontecia quando pensava em Cade.

— Onde estiveste? — Perguntou Grayson a sua esposa.

Adrianna olhou Francesca por cima do ombro. — Estive com a Fran. Ela

está de luto, Grayson, e precisava de uma amiga.

A forma em que Grayson olhou para os olhos de Adrianna, Francesca

podia dizer que sabia que sua esposa tinha mentido, mas ele deixou. Ele

sussurrou algo em seu ouvido, e ela assentiu.

Ter esse tipo de confiança, esse tipo de relacionamento com alguém, era

assombroso para Francesca. Durante toda sua vida, não tinha achado possível

que um bana-bhuidseach encontrasse a felicidade duradoura com um homem,

mas as duas mulheres demonstraram que ela estava equivocada.

Francesca caminhou pela sala e ouviu Grayson sussurrar o nome de

Cade e uma maldição. Adrianna a olhou. Francesca não podia culpá-la por ter

contado a seu marido o que tinha ocorrido, só esperava que Grayson

mantivesse segredo.

— Ninguém ficou ferido — murmurou Adrianna.

Grayson amaldiçoou de novo. — Mas poderiam estar.

— Mas não estou. — Ela disse.

Grayson engoliu a saliva, sua expressão dolorida. — Não posso te

perder, Drina. Você é minha vida.

Você é minha vida.

As palavras de Grayson ressonaram na mente de Francesca. Sabia

exatamente como ele se sentia, porque o mero pensamento de perder Cade

fazia que seu peito se sentisse vazio e seu coração como se estivesse

destroçado em um milhão de pedaços.

Francesca voltou ao assento que ocupou antes de Drogan lhe pedir que o

acompanhasse. Era quase como se a hora anterior não tivesse ocorrido, como

se ela não tivesse estado nos braços de Cade e sentisse seu pênis

profundamente dentro dela.

Ela pôs sua mão sobre seu estômago. Com a frequência com a qual

tinham feito amor, havia uma clara possibilidade de que estivesse grávida. Isso

deveria deixá-la histérica, mas ela achou o pensamento calmante e certo.

Não pode estar certo se eu for morrer.

Por mais que estivesse de repente desejando um filho de Cade, sabia que

não podia estar grávida. Seria uma virada cruel do destino. Já tinha

amaldiçoado o destino por lhe dar Cade só para em seguida lhe tirar.

Francesca respirou fundo e virou a cabeça para encontrar Serena e

Adrianna observando-a. Adrianna fez um aceno com a cabeça para as escadas,

e Francesca não teve outra opção que não segui-las. Ela seguiu Serena e

Adrianna, e quando estavam fora do alcance dos homens, as duas mulheres se

viraram para ela.

— O que aconteceu? — Perguntou Serena. — Você parece diferente.

Francesca quis rolar os olhos.

— Seus poderes aumentaram, — respondeu Drina.

Serena levantou as sobrancelhas. — O que?

Francesca deu de ombros. — Toquei em Cade e tive um vislumbre do

seu futuro.

— Você nunca tinha feito isso antes. Não é verdade? — Perguntou

Serena.

— Não. Minhas visões só chegam nos meus sonhos.

Adrianna pôs as mãos em seus quadris. — Poderia ser a escuridão? Você

esteve com Cade uma grande parte dos últimos dias.

— Não é a escuridão — disse Francesca.

Serena franziu o cenho. — Tem certeza?

— Diga-lhe — lhe encorajou Adrianna. — Diga-lhe o que me contou

sobre as visões.

Francesca suspirou e fechou brevemente os olhos. — Eu vi a batalha.

— Eu já imaginava — disse Serena. — Foi o olhar em seu rosto cada vez

que Drogan mencionava isso.

— Você nunca disse nada.

Serena deu de ombros. — Não sou eu quem tem visões, Fran. Supus que

tinha uma boa razão para não nos contar nada.

Adrianna se apoiou contra a parede. — Ela tem. Ou tinha.

— Não podem contar a seus maridos — disse Francesca. — Em minha

visão, ganhamos a batalha contra Nigel, mas tudo deve permanecer em seu

curso atual.

Serena assentiu. — Estou de acordo. Por mais que saiba que Drogan

amaria esta informação, de que podemos ganhar de Nigel. Ele deve ser

derrotado. Estou cansada das noites sem dormir de Drogan enquanto se

preocupa com nossa segurança.

— Nigel morrerá, — prometeu Francesca. Ele vinha vendo isto durante

anos. Apesar das suas visões terem mudado e o medo tomar conta dela, ela

não podia deixar que Nigel vivesse. Pelo bem de seus amigos e Cade, mataria

Nigel.

Os olhos azuis de Adrianna se moveram para ela. — Espero que tenha

razão, Fran.

— Minhas visões nunca estiveram erradas.

— Manteremos isto entre nós — disse Serena. — Quanto a sua magia

cada vez maior, Fran, não sei o que significa isso.

Francesca sabia, no entanto. Significava que estava se preparando para

Nigel. E ele estava perto.

— Poderia ser Cade? — Sugeriu Adrianna.

Ela bufou, cedendo a frustração e ao cansaço. — Não é sua escuridão —

explicou Francesca

Serena negou com a cabeça. — Acho que Drina não quis dizer isso.

Acredito que está falando do que se desenvolveu entre você e Cade.

Francesca permaneceu em silêncio.

— Pode ser — disse Adrianna, — Embora meus poderes não tenham

aumentado quando me apaixonei por Grayson.

— Nem os meu com Drogan, — Serena concordou. — Há algo diferente

aqui, isso é certo.

CAPÍTULO VINTE E DOIS

Cade despertou instantaneamente, suas adagas na mão. O fogo se

reduziu a uma pequena chama, mas lhe deu suficiente luz para ver que estava

sozinho.

Bufou, odiando a decepção de ter aberto os olhos e não ver Francesca.

Estava sonhando com ela, com aquele olhar estranho que tinha passado por

seus olhos avermelhados a última vez que o tinha tocado.

Sua magia tinha brilhado ao seu redor, e ele sabia de algum modo, que

ela tinha vislumbrado seu futuro. Não foi tristeza, e sim dor o que viu no olhar

dela. Ele quis lhe perguntar o que ela viu, mas ela se foi antes que tivesse tido

tempo.

Vislumbrou o monstro que ele se converteria uma vez que a escuridão

tomasse o controle completo sobre ele? Ela já viu como a escuridão o

dominava, mas não sabia da carnificina que ele deixava pelo caminho quando

se entregava a ela.

Cade sentou e colocou suas espadas nas suas costas. O amanhecer

revestia o céu, cinza dando passagem a rosa e laranja. A escuridão tinha

zombado dele toda a noite, alternando entre a mendicância e a urgência.

Jogou água no rosto e pegou um bolo de aveia antes de caminhar para a

boca da caverna. O som das ondas quebrando na orla no silêncio da

madrugada era um dos favoritos de Cade.

Uma vez que terminou sua refeição matinal, sentou-se em uma rocha e

começou a afiar suas armas. Cade tinha acabado de guardar sua adaga depois

de limpá-la quando sentiu que o chão tremer.

Ele levantou com o olhar fixo no bosque.

— Por fim chegaste, — murmurou Cade.

Agora sua redenção estava perto. Apressou-se do bosque, mesclando-se

com as árvores. O vermelho nublou sua visão, mas empurrou a escuridão. Não

era hora de liberar o monstro ainda. O exército de Nigel ainda estava longe,

mas quando chegassem, estaria preparado para eles.

Uma imagem de Francesca brilhou em sua mente. Prometeu mantê-la a

salvo, e Cade se negou a quebrar essa promessa. Encontraria e mataria Nigel.

Por ela.

Sua bruxa.

Minha.

Todo o ódio e a ira de Cade se concentraram em Nigel. Perdeu tudo por

Nigel, porque Cade era bom com uma espada.

Cade não tinha ilusões de que não iria para o inferno. Era onde ele

pertencia depois de todos os pecados que cometeu. Mas se asseguraria de que

Nigel não estivesse vivo para causar mais danos antes de entregar sua alma ao

diabo.

Fechou os olhos e imaginou Francesca.

Só pensar nela o acalmou, aliviou a escuridão dentro dele. Ela era tudo

que era bom e puro no mundo, e ele se atreveu a tocá-la, para manchá-la com

sua alma contaminada.

Jogou uma olhada para o castelo, desejando mais um vislumbre dela,

para ver suas tranças de fogo soprando na brisa. Agradeceu silenciosamente a

Deus por lhe dar uns dias com Francesca. Não foi suficiente, mas inclusive

uma eternidade com ela não seria suficiente.

Cade se perguntou se ela casaria. A ideia de que outro homem a tocasse

lhe fez fechar o punho. Entretanto, ela era uma mulher que merecia um pouco

de felicidade, merecia ser amada.

Desejava poder ser o homem que lhe daria esse amor. Sua mãe teria

amado Francesca, e suas irmãs a teriam trazido rapidamente à família. Até seu

irmão e seu pai a teriam adorado.

— Chega, — murmurou e se virou para o bosque.

Nigel estava em marcha. Seus homens estariam logo à vista, e as espadas

de Cade estariam cobertas de sangue antes que o dia terminasse.

Mas ao cair do sol, Nigel estaria morto.

?.?

O coração de Francesca deu um salto. Nigel e seu exército logo

rodeariam Wolfglynn. Ela despertou no meio da noite depois de outro sonho

da escuridão a engolindo, a risada de Nigel ressonando a seu redor.

Não quis dormir outra vez. Com os primeiros raios do sol, levantou-se e

se vestiu, com a sensação de que hoje era o dia que nunca esteve longe de sua

mente.

E então o estrondo distante começou.

Os cavaleiros do pátio se apressaram a preparar-se. O povo de Wolfglynn

se apressou a esconder-se enquanto os bebês gritavam e as mulheres choravam

lágrimas silenciosas e o mal descia sobre o castelo. Francesca ainda não tinha

saído de seu quarto. Ela ficou de pé junto à janela, olhando o bosque. Cade, ela

sabia, estava no bosque esperando por Nigel.

Só que Nigel não estaria no bosque.

Respirou profundamente e se perguntou quanto tempo tinha antes do

momento de enfrentar Nigel e seu destino. Ela sabia a tanto tempos que este

dia chegaria, e ela tinha pensado que estaria preparada, que poderia enfrentá-

lo com dignidade e força.

Agora não estava tão segura.

O medo nublou sua mente e congelou seu sangue. Quando se virou para

olhar a colina coberta de grama onde ela e Nigel lutariam, sentiu uma pontada

de pânico. Francesca saltou quando alguém bateu em sua porta. Antes que ela

pudesse dizer à pessoa que entrasse, sua porta se abriu. Ela se virou para

encontrar Serena.

— Ele está aqui.

Francesca assentiu com a cabeça. — Eu sei.

— Você tem certeza, Fran? Você viu Nigel sendo derrotado?

Francesca forçou um sorriso.

— Algo acontecerá com Drogan? — Perguntou Serena, retorcendo as

mãos. — Não sei o que eu faria se lhe acontecesse algo.

— Então o mantenha no castelo. Não importa o que tenha que fazer,

mantenha-o por trás dessas portas.

Serena lambeu os lábios. — Drogan me quer e a nosso filho na câmara

secreta agora.

— Eu concordo.

— Ainda há muito que posso fazer. Meu povo está assustado e buscando

tranquilidade.

Francesca caminhou para tomar as mãos de Serena entre as suas. —

Então dê a eles mantendo-se tranquila e confiante. Nós ganharemos hoje.

Serena sorriu e assentiu. — Sim. Ganharemos. Venha, nenhum de nós

deve estar sozinho durante isto.

Ela não teve outra opção a não ser ir com Serena quando tudo o que

Francesca queria fazer era esconder-se em seu quarto e preparar-se para a

batalha com Nigel. Não importava o quão difícil tentasse, entretanto, tudo o

que ela podia pensar era em Cade e se ele estaria bem. Desejava estar com ele

para poder lhe dar um último beijo, sentir seus braços uma vez mais.

Logo que ela e Serena desceram as escadas para o grande salão, ela viu

Grayson e Drogan com os outros cavaleiros, dando ordens. Ambos os homens

usavam as armas entre as túnicas e os coletes de couro, mas tinham optado

pela armadura.

— E agora? — Perguntou Adrianna enquanto caminhava com o bebê em

seus braços. Serena tomou seu filho adormecido em seus braços e olhou para

Drogan.

— Esperamos, — disse Francesca.

— Meu senhor, — gritou um cavaleiro enquanto corria ao vestíbulo. —

Nós os encontramos.

Francesca juntou as mãos a suas costas para que ninguém visse como

tremiam. Drogan olhou para elas antes de assentir com a cabeça ao cavaleiro.

— Não quero ninguém visível para este inútil, — disse Drogan. —

Mantenha a todos fora de vista e tranquilos.

Os cavaleiros se apressaram a cumprir sua ordem. Não levaria muito

tempo para assegurar-se de que estavam todos seguros na câmara secreta.

Francesca de algum jeito teria que escapar sem ser vista. Se Drogan ou

qualquer outra pessoa lhe impedisse de encontrar Nigel, o resultado seria

desastroso.

?.?

Cade esperou nas árvores até que os homens de Nigel passaram junto a

ele. Ele saltou sobre o último homem, estalando seu pescoço com um

movimento rápido.

Os outros se viraram. Ele desembainhou suas espadas e lhes fez gestos.

— O que estão esperando?

— Meu senhor proibiu isso — disse um homem magro e com cabelo

castanho cobrindo seu rosto.

Cade deu de ombros. — Isso é muito ruim.

O grupo não fez nada para deter seu ataque enquanto ele abria caminho

através do exército, deixando os homens caídos no chão um por um. A

escuridão cacarejava de júbilo cada vez que o sangue cobria suas armas. Cade

não tentou segurar o mal. Ele precisava dele hoje.

— Nigel! — Ele gritou.

Quando Cade chegou ao próximo grupo, notou que os homens eram

diferentes, mais fortes e com espadas mais resistentes que as do que acabara

de matar. Uma neblina vermelha começou a cair sobre seus olhos, e desta vez

quando ele atacou, o exército lutou contra ele.

Com cada impulso e balanço de suas espadas, Cade podia sentir a

escuridão crescendo, lhe engolindo. Não parou, não deixou de gritar por

Nigel.

O bastardo tinha que ouvir. Ele tinha que vir atacar Cade em algum

momento. Mesmo que Cade tivesse que abrir seu caminho através do exército

inteiro de Nigel, ele conseguiria.

"Mais. Mais," gritava a escuridão. "Preciso de mais sangue, mais morte para

me alimentar!"

Cade não tinha o poder de parar, mesmo que quisesse. Ele só pensava

em Nigel enquanto continuava matando os homens ao seu redor. Alguns

conseguiram extrair seu sangue, mas além da picada inicial, Cade não sentia

nada.

O ataque mudou novamente. Desta vez, em vez de lutar contra ele,

pareciam detê-lo. Não eram mais homens caindo mortos a seus pés. Eles

ficaram fora do alcance de suas espadas, reunindo-se ao redor dele em um

círculo para bloqueá-lo.

Ele quase sorriu. Nigel estava chegando.

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Francesca se sentou junto a Serena enquanto Adrianna caminhava na

frente delas. Drogan e Grayson foram dar uma olhada no exército das

muralhas. Eles tinham desaparecido muito mais tempo do que o previsto.

Quanto mais Francesca esperava, mais sua ansiedade crescia. Ela poderia

passar pelos portões? Teria coragem de enfrentar Nigel?

Ela haveria de fraquejar?

Ela tentou manter a calma, visualizar seus sonhos onde tinha derrotado

Nigel, mas a cada segundo que passava, tornou-se mais e mais difícil até que

se rendeu a tudo isso.

Drogan correu pelo vestíbulo para Serena. Ele a agarrou pelos ombros

enquanto ela se levantava com seu filho em seus braços. — Pegue o nosso filho

e vá para a câmara.

— Drogan...

Ele sacudiu a cabeça. — Não há tempo. Cade já está atacando o exército

de Nigel.

O coração de Francesca saltou uma batida. — Já? Cade já está atacando?

Drogan beijou a testa de seu filho e depois Serena. — Eu te amo.

— Eu te amo, — sussurrou ela, as lágrimas brilhando em seus olhos.

Francesca estava parada em suas pernas tremulas enquanto Grayson e

Adrianna se abraçavam e sussurravam. Quando Adrianna finalmente recuou,

havia lágrimas em suas bochechas. Estas pessoas eram a única família que

Francesca tinha. Não os veria sucumbir ao mal de Nigel. Independentemente

do que ela quisesse, o que ela ansiava, ela cumpriria seu destino. Eles valiam a

pena.

Cade valia a pena.

— Abra a porta — disse Grayson.

Drogan assentiu com a cabeça. — Mesmo com magia na madeira. — Não

abram para ninguém exceto para nós.

— Fique seguro, — disse Serena.

E com isso, os homens se foram. Francesca olhou ao redor do grande

salão para às outras mulheres e crianças que não estariam fechadas dentro de

uma câmara protegida.

— Protegemos o castelo, — disse Serena como se lesse seus

pensamentos.

Francesca lambeu os lábios. — Eu sei.

— Vamos — disse Adrianna.

Francesca seguiu as duas pelas escadas até a masmorra e a câmara que

tinham preparado. Enquanto elas entravam, Francesca pegou um balde de

água fresca e o trouxe.

Ela colocou-o dentro da câmara e olhou às duas mulheres que eram suas

irmãs de magia. — Estou feliz em conhecê-las. Durante muito tempo, pensei

que eu era a última da nossa espécie.

Adrianna deu um meio sorriso. — Todas nós pensamos que éramos as

últimas.

— O que está acontecendo? — Perguntou Serena, franzindo o cenho.

Francesca quis lhes dizer, e por um momento quase o fez. Ela engoliu a

saliva e disse em troca: — Todos nós temos um destino. O meu me espera.

— Fran, do que está falando? — Perguntou Adrianna.

Serena se levantou de seu assento e entregou seu filho a Drina. Então

enfrentou Francesca, com o olhar fixo. — Eu sabia que você estava escondendo

algo de nós. Pensei que era porque iria ajudar aos homens, mas agora eu

suspeito que foi por causa de algo que você planejou.

Francesca quase riu. — Eu não planejei nada. Isso foi planejado para

mim desde o dia do meu nascimento. Eu estive tendo visões de Nigel e sua

derrota desde que tinha dez anos. Eu soube que este dia viria por anos, e me

preparei para isso.

O rosto da Adrianna estava cheio de confusão. — Fran.

Serena deu um passo para ela, mas Francesca foi inteligente o suficiente

para ficar na porta.

— Sente-se e nos conte sobre as visões. Que parte você acha que tem que

desempenhar? — Perguntou Serena.

Francesca deu um sorriso genuíno. — Diga a Cade que... Eu o amo.

— Diga você mesmo — disse Serena.

— Desejo as duas o melhor.

Quando se virou para sair, Serena estendeu a mão. Francesca sabia que

estava tentando ver sua morte, que era o poder de Serena. Francesca empurrou

sua mão e fechou de repente a porta. Empurrou uma cadeira debaixo da

maçaneta para mantê-las trancadas o suficiente para que ela encontrasse Nigel.

?.?

A cólera consumia Cade. Onde estava Nigel? Por que o bastardo não veio

até ele?

A escuridão era mais fácil de controlar, como se soubesse que Cade

finalmente a deixaria sair. Deixou de tentar lutar contra os homens e deu uma

olhada neles. Seus olhos não tinham emoção, nem vida. Era como se fossem

apenas corpos. E então ele percebeu que Nigel tinha suas almas.

Os homens que ansiavam pelo poder facilmente davam suas almas a

Nigel em troca de força e comando. Sempre assustou Cade a facilidade com

que os homens ofereciam suas almas, condenando-se a uma vida de trevas e

fogo para sempre. Uma vida eterna no Inferno.

Foram desses homens que Nigel ganhou seu poder. Ele pode ter vendido

sua alma ao diabo, mas ele conseguiu sua força das almas de outros. Cade

afundou suas espadas no peito de um homem desalmado. Ele moveu-se tão

rápido que os homens não tiveram tempo de reagir. Eles rugiram raiva ao ver

um dos seus.

Mais uma vez Cade se viu lutando, mas desta vez, os homens que

vinham para ele eram tão fortes, tão rápidos como ele mesmo. Não sentiam

dor, nem medo. Mas morriam igual.

Cade mergulhou sua cabeça em um balanço maldoso só para sentir uma

espada cravar-se em suas costas. Ele urrou de dor, mas seguiu lutando. Ele

moveu-se ao redor do círculo, afundando suas lâminas em tantos corpos

quanto pôde. Quando um o agarrou pelo pescoço, Cade jogou a cabeça para

trás, golpeando o nariz do homem. Houve um grito, e logo Cade foi posto em

liberdade.

As espadas e os machados dos homens eram longos, o que significava

que Cade tinha que aproximar-se para que suas espadas os alcançassem. Mas

ele se sentia muito bem quando suas armas afundavam em seus corpos.

“Nasceste para ser um assassino, Cade,” sussurrou a escuridão, com seu tom

sedutor. “Olhe o que pode fazer. Toma o poder que ofereço e conquistaremos o

mundo.”

Cade odiava o mal, odiava a maneira que ele sabia o que dizer quando

estava na batalha. Ele sempre foi bom em lutar, sempre aprendeu com

facilidade a habilidade com uma nova arma. Sua mãe havia dito que Deus

dava dons às pessoas para que elas o usassem.

Deus tinha lhe dado à capacidade de matar tão facilmente porque queria

que o fizesse? Cade custou muito a acreditar nisso. Além disso, ele não queria

ser um assassino.

Queria a paz.

E Francesca.

"Mate por mim", insistiu a escuridão.

Seria tão fácil ceder à atração do mal, ser apanhado no falso encanto.

A escuridão riu. “De qualquer maneira, você vai para o inferno, Cade. Deixe

que te mostre o que podemos fazer.”

Cade rugiu e cruzou os braços enquanto mergulhava suas espadas no

pescoço de um dos homens sem alma. Ele deu um puxão e a cabeça do

homem rolou para o chão. Ele sorriu, sua visão coberta de vermelho. O sangue

gotejava de suas armas para mesclar-se com a terra. Outra mancha em sua

alma, outra marca contra ele.

O exército de Nigel se afastou um passo de Cade como se acabassem de

dar-se conta de quem – e o que ele era. Mas era muito tarde. Tinha a intenção

de matar a cada um deles.

?.?

Serena empurrou a porta que Francesca tinha batido em seu rosto. Seus

dedos estavam congelados de medo ao ver a morte de Fran.

— Francesca! Deixe-nos sair, — gritou Serena. — Não faça isto.

Seu filho começou a chorar nos braços de Adrianna, e Adrianna

caminhou pelo quarto para acalmá-lo. — Pare Serena. Está assustando seu

filho.

Serena, com as mãos apoiadas na porta, deixou cair à cabeça sobre a

madeira. — Temos que sair daqui.

— Me diga o que acabou de acontecer. Por que Fran nos deixou aqui?

Serena soltou um suspiro e se virou para Adrianna, seu coração

martelando em seu peito. — Eu vi a morte de Francesca quando a toquei.

Nigel lhe tirará a vida. Hoje.

O rosto de Drina ficou pálido. — Por Deus. Tudo faz sentido. Tudo o que

ela tem dito, tudo o que tem feito. Ela sabia.

— Suspeito que ela sempre soube. Suas visões lhe mostraram tudo.

— Temos que detê-la.

Serena se jogou contra a porta. — Ela nos bloqueou de algum jeito.

Adrianna colocou o menino em uma das camas que haviam trazido para

a câmara e se dirigiu à porta. — Não por muito tempo. Empurre.

Elas lutaram, empurrando com todas suas forças, a porta não se mexeu.

— É dolorosa sua morte? — Perguntou Drina.

Serena desejou poder bloquear o terror que viu no rosto de Francesca. —

Sim.

— É assim que ganharemos de Nigel? Com a morte dela?

— Eu acho que sim.

Drina sacudiu a cabeça, sua trança loira movendo-se contra suas costas.

— Nego-me a deixá-la morrer.

Empurraram seus ombros contra a porta grossa, os gritos do filho de

Serena enchendo a câmara. Serena fechou os olhos e empurrou com todas suas

forças. De repente, a porta se abriu. Ela se agarrou a Drina antes que caísse no

chão.

— Agora vamos salvar Francesca — disse Adrianna depois de ficar de

pé. — Nego-me a deixar morrer uma de minhas irmãs.

Serena pegou seu filho e seguiu Drina para fora da câmara. Rezou para

que chegasse a Drogan a tempo de ele deter Francesca. Se não... Serena

estremeceu ao recordar o horror da morte de Fran.

Fran, que tinha acabado de encontrar a felicidade com o Cade. Fran, que

vinha todos os dias para ajudar a fortalecer o castelo com magia. Fran, cujos

olhos guardavam tantos segredos.

Ela não merecia morrer pela mão de Nigel. Tinha que existir outra

maneira de matá-lo. Serena se deteve na escada.

— Adrianna — chamou ela.

Drina se deteve e se voltou. — O que é?

— Cade pensa que vai ser a matar Nigel.

— Mas Fran acredita que é ela.

Serena beijou a testa de seu filho. — Cade não tem nem ideia, certo?

— Depois de ver a forma como ele a olhou, especialmente depois que

voltou a salvá-la ontem, não.

— O que?

— Venha — disse Adrianna. — Contarei isso quando encontrarmos

Drogan.

Serena engoliu a saliva, não gostando da forma que seu estômago se

agitava de medo.

— Peguei Fran saindo da muralha através da porta de trás. Ela me disse

que tinha que salvar Cade, que tinha tido uma visão de que ele era ferido por

um buraco no chão. Então fui com ela.

— Grayson sabe?

Drina assentiu. — Sim. Não está contente comigo.

— O que aconteceu? — Perguntou Serena enquanto chegavam ao

vestíbulo.

— Enquanto Fran cobria o buraco, alguns dos homens de Nigel

atacaram. Cade chegou a tempo de salvá-la. A intensidade de seu olhar, o

olhar de devoção total e o arrependimento em seus olhos quebraram meu

coração. Ele quer protegê-la. Se ele soubesse o que ela planejava, a trancaria na

masmorra.

Serena fez uma careta enquanto abriam caminho através da multidão de

gente e saiam do castelo. — Sim, acredito que o faria. Ao que parece, Fran

também sabia, e por isso nunca contou.

— Lá está Drogan — disse Adrianna quando chegaram ao pátio.

Serena seguiu seu dedo até as muralhas. — Pegue meu filho e procure

Francesca. Certamente ela não saiu ainda.

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Francesca caminhou até a porta e os quatro homens que a guardavam. —

Abram a porta — ela ordenou.

Eles trocaram um olhar antes que o mais próximo a ela falasse. — Sinto

muito, senhora, mas não posso. Lorde Drogan proibiu que alguém saia.

— Você quer morrer?

Ele sacudiu a cabeça.

— Isso é o que vai acontecer se não me deixar sair. Há um homem tão

cheio de maldade que levará um de cada vez. Eu posso detê-lo.

O guarda olhou a seus três amigos. — Não quero morrer, senhora, mas

não sei se acredito que pode matar um homem assim.

Francesca sorriu antes de estender a mão para tocar seu braço.

Imediatamente, sua magia a envolveu. Ela o viu rodeado por sete meninos

enquanto ele se sentava junto a um fogo, uma mulher cantarolando no fundo.

Ela deixou cair sua mão. — Você vai ter sete filhos e uma esposa amorosa

que gosta de cantarolar.

— Meu Deus — sussurrou o guarda. — Você está falando de Mary. Eu

estive a observando durante um tempo.

— Então não espere para cortejá-la. Agora por favor. Abra a porta.

O guarda respirou fundo e, relutantemente, abriu a porta. Francesca

atravessou, e justo antes que a fechasse, viu Serena e Adrianna nos degraus do

castelo.

Tinham saído mais rápido do que ela desejou, mas ao menos estava fora

das muralhas do castelo. Agora, ela poderia enfrentar seu destino e liberar a

todos da espera de Nigel. A vida de Drogan poderia voltar ao normal, e Cade

poderia voltar para suas terras e retomar sua vida.

Francesca se afastou da porta. O primeiro passo foi o mais difícil, mas

depois de pôr certa distância entre ela e a segurança, ficou mais fácil enfrentar

o que estava diante dela. Ela ficou perto da parede, deixando que seus dedos

percorressem as pedras cinzentas enquanto caminhava para frente do castelo

onde seria a batalha com Nigel.

Se ela pudesse escolher, somente o exército de Nigel estaria ali para

testemunhar a batalha. Drogan e os outros estariam observando, ela estava

certa disso. A esta altura, Serena teria encontrado Drogan e lhe contado o que

ela estava planejando. Mas já era muito tarde alguém a deter.

O exército de Nigel encheu o espaço entre o castelo e o bosque, deixando

uns duzentos passos entre a primeira linha e ela. Geralmente as colinas

estavam cheias de crianças correndo e de cavaleiros treinando, desta vez, havia

um exército. Eles se estendiam até onde a vista alcançava, tal como ela havia

previsto em sua visão.

Francesca parou e se encostou novamente na muralha do castelo. Seu

olhar se moveu para sua esquerda e para o bosque onde Drogan havia dito que

Cade já estava lutando. Podia ver uma massa de soldados de Nigel reunidos, e

só podia esperar que Cade tivesse liberado a escuridão e estivesse matando

tudo o que lhe rodeava.

Um movimento no canto do seu olho lhe fez afastar o olhar do bosque. O

exército se separou, e por seus flancos vinha um homem a cavalo. Ele estava

coberto por seu capuz, ocultando seu rosto.

Mas ela sabia que era Nigel. Podia sentir seu olhar maligno nela.

?.?

— Drogan!

Ele se virou quando ouviu sua esposa gritar seu nome. Ela deveria estar

na câmara secreta. Caminhou para ela enquanto subia as escadas até as

muralhas.

— O que em nome de todos os santos você faz aqui acima? — Ele

perguntou.

Ela tomou suas mãos, e ele sentiu que a sua tremia. Sabia que tinha

acontecido algo muito ruim. — O que foi? — Perguntou.

Ela engasgou, seus olhos se encheram de lágrimas. — É Francesca.

— Ela está ferida?

— Não, — disse ela, sacudindo a cabeça. — Ela trancou a mim e a Drina

na câmara para que pudesse sair. Para enfrentar Nigel. Drogan, eu vi sua

morte. Nigel a mata.

Drogan sentiu como se um cavalo tivesse lhe dado um coice no

estômago. Francesca podia ser uma mulher adulta, mas era sua

responsabilidade agora que Phineas estava morto. Ele deveria protegê-la. —

Onde ela está ela?

— Ali — disse Grayson.

Drogan olhou por cima do ombro para ver Grayson apontando para o

outro lado da muralha. Ele caminhou até Grayson e viu Francesca.

— Por Deus. Ela vai se matar, — murmurou Grayson.

Serena chegou do outro lado de Drogan. — Ela pensa que sua morte

terminará com Nigel. Diz que teve visões deste dia desde que era uma menina.

Drogan passou uma mão por seu rosto. — Tenho que buscá-la.

— E o Cade? — Perguntou Grayson.

Drogan olhou para as árvores. Cade lhe pediu que protegesse Francesca.

Seu amigo falharia novamente. E desta vez, Cade nunca o perdoaria.

— Eu tenho que ir, — ele disse.

Serena agarrou sua mão. — Espera — ela sussurrou.

Drogan se deteve e viu um cavaleiro vindo para Francesca.

— Merda, — ele cuspiu.

Era tarde demais. Nigel tinha chegado.

?.?

Francesca ficou quieta, seu corpo nunca mostrando o medo que

transformou seu sangue em gelo e a fez suar frio.

O cavalo branco enorme que Nigel montava se chocou com sua alma

negra. Ele parou na colina a meio caminho entre ela e o exército e desmontou.

Não carregava armas, mas com o poder que emanava, não precisava de uma

espada.

Nigel golpeou o cavalo na parte traseira e o enviou galopando para seu

exército. Por um momento, limitou-se a olhá-la. Francesca se surpreendeu com

o silêncio de Wolfglynn e do exército. Nem sequer os pássaros cantavam.

Quando Nigel se dirigiu para ela, pôde ouvir suas botas ranger no chão.

O único som que escutou foi à batalha no bosque. Reconheceu a voz de

Cade enquanto gritava. Ainda estava vivo, ainda lutando. Quase sorriu ante

essa pequena vitória.

Se de algum jeito falhasse com Nigel, Cade o mataria, mas esperava que

não chegar a isso. Cade merecia sua vingança, mas também merecia um pouco

de felicidade e um futuro brilhante cheio de oportunidades.

— Bem, bem, bem, — disse Nigel enquanto se aproximava. — Eu tenho

visto você em meus sonhos frequentemente.

Francesca se afastou da muralha e deu as costas para as árvores para

poder enfrentar Nigel. Quando ele tinha atacado Drogan, tinha vindo sozinho

e usava uma armadura. Agora, a única coisa que o escondia era um manto.

Entretanto, ela conhecia seus olhos. Eram pequenos, negros e cheios de

malícia e maldade. As pessoas poderiam se perder no ódio dos olhos de Nigel

se não tomassem cuidado.

— Acha que pode me derrotar? — Grunhiu Nigel.

— Eu sei que posso.

— Ah. Coragem. É uma coisa tão pequena comparada ao meu poder.

Quando você acha que vai desmoronar?

— Não o farei — disse com mais convicção do que sentia.

Nigel levantou os braços e jogou para trás o capuz de seu manto. Seu

olhar se cravou no dela. Os olhos negros sem alma que a fitavam não eram

humanos. Seu corpo era o que sobrou da forma alta e esbelta de Nigel, mas

não havia alma dentro dele, só o mal.

— Vamos ver, não é?

Francesca sorriu. As feições afiladas de Nigel eram difíceis de olhar.

Como uma pessoa tão ruim quanto ele, ela não podia imaginar que o rei

confiasse nele.

— Tem alguma coisa engraçada, bruxa?

Seu sorriso se desvaneceu. Cade a chamava a sua bruxa, nunca usando

seu nome, mas tinha feito soar como um carinho. Enquanto que quando Nigel

dizia a fazia soar suja e... má.

Levantou o queixo. — Você é.

— Por que isso?

— É óbvio por que vendeu sua alma.

Ele cruzou os braços sobre o peito e olhou para a muralha. — Você não

sabe nada sobre mim.

— Não foi só o poder o que te fez vender sua alma, Nigel. Você não

consegue nada por sua conta. Nem mesmo as mulheres.

Seus lábios se retraíram em um gesto de desprezo enquanto baixava os

braços. — Não finja que me conhece, bruxa. Você, que teve tudo.

— Seus dias estão contados.

— Eu acredito que não. Você pode pensar que tem poder. Para uma

bruxa. Entretanto, não é nada comparado com o meu.

Ele tinha razão, e Francesca sabia, mas tinha algo pelo que lutar. Tinha

Drogan, Serena e seu filho. Tinha Adrianna e Grayson. E ela tinha Cade. Eles

eram sua família.

Nigel só tinha sua necessidade de poder. Tinha visto de primeira mão o

que o amor podia fazer quando Serena tinha morrido e Drogan a trouxe de

volta. Francesca usou todas as ervas que conhecia, inclusive tinha provado sua

magia, mas o amor de Drogan havia trazido Serena de volta para ele.

— Eu posso romper a maldição — disse Nigel.

Francesca estremeceu.

Nigel sorriu e assentiu com a cabeça. — Sim, eu conheço a maldição. Sei

tudo o que há para saber sobre você, Francesca. É uma lástima que Phineas

não pôde durar mais tempo.

Uma pontada de dor a atravessou. — Você matou Phineas.

— Ele estava velho, já era hora de ir.

Ela sabia que Phineas não estava doente. — Ele não te fez nada.

Nigel deu de ombros. — Eu queria matar alguém, então matei Phineas.

Foi simplesmente isso.

O ódio começou a ferver dentro dela. Ela queria arrancar membro por

membro de Nigel, ver o sangue escorrer de seu corpo e seus ossos se

decompondo em nada.

— Sim, Francesca, deixe o ódio crescer. Como acha que tenho Cade sob

meu controle?

Ela se perguntou quando ele falaria de Cade, mas agora que o tinha feito,

desejou que não tivesse. Não podia pensar em Cade nem em outra coisa além

de Nigel. Tinha que manter seu foco ou falharia.

— Matarei você e as outras bruxas. Quando eu terminar com Wolfglynn,

Cade será meu para controlar.

Ela sacudiu sua cabeça. — Ele nunca foi seu para controlar, e nunca o

será. Ele lutará contra a escuridão. E ele ganhará.

— Sem você, bruxa, Cade cederá ao mal e nunca voltará.

Ele levantou as mãos, as palmas para cima, e uma explosão de poder

disparou contra ela.

Francesca fechou os olhos e levantou suas próprias mãos em defesa,

esperando sentir o mal de Nigel atingindo-a. Só que não houve nada. Abriu os

olhos para ver a luz branca saindo de suas mãos.

Em todas as suas visões, pensou que a luz vinha de Nigel. Sua magia

pulsava dentro dela, golpeando como seu coração e cada vez mais forte com

cada respiração. Ela se abriu à magia, cedeu a sua necessidade de ser liberada.

Ela venceria Nigel. Seria ela quem acabaria com sua vida e libertaria

todos de seu reinado. O medo que tinha encerrado seu coração no gelo

desapareceu e a deixou com uma confiança e uma força que nunca tinha

conhecido antes.

Um sorriso se desenhou em seus lábios enquanto sua magia crescia e

eclipsava sua maldade. Ele vacilou, com as sobrancelhas franzidas ao dar-se

conta de que ela era mais forte do que ele esperava.

— Todos vocês caíram na minha armadilha.

Ela elevou as sobrancelhas. — Como aconteceu isso?

— Todos achavam que eu queria Drogan ou Gerard, quando tudo o que

eu queria era Cade. Poderia ter matado Drogan facilmente. O mesmo com

Grayson.

O sorriso de Francesca caiu.

— Eles deram esperança a Cade, algo que ele não teve em anos. Quando

essa esperança morrer, já não combaterá a escuridão dentro dele. Ele será meu.

— Mentira. — Ela não podia confiar nele. Nigel era mal e recorria à

maldade para conseguir o que queria.

— Consegue sentir, bruxa? Pode sentir a mudança de poder quando

Cade se der conta de que você falhou com ele?

Francesca respirou fundo.

Nigel começou a rir e ela se deu conta de que ele a tinha enganado tarde

demais. Assim que ele tinha tirado sua concentração, ele a dominou. Sua

maldade a rodeava, a cobrindo de negro.

Vagamente, ela ouviu alguém gritando e se deu conta de que tinha sido

ela, gritando por Cade.

CAPÍTULO VINTE E CINCO

Os braços de Drogan rodearam Serena enquanto ela enterrava sua cabeça

em seu peito, sua mão sobre sua boca. Mal podia acreditar no que tinha visto.

Francesca quase tinha vencido Nigel, mas o bastardo lhe disse algo que a tinha

feito perder a concentração.

E Drogan sabia que Nigel falou sobre Cade.

Jogou uma olhada para o bosque para ver o exército, com as armas ainda

em punho, mas silenciosos enquanto rodeavam algo. Cade continuava vivo.

Nigel voltou seu olhar para Drogan antes de retornar a seu exército.

— Você tem que buscá-la — disse Serena enquanto levantava seu rosto

para ele. — Não a deixe lá fora.

— Eu não vou.

Ele se afastou de Serena e fez gestos a seus melhores cavaleiros. Quando

estava na porta, Grayson estava ao seu lado.

— Até o fim — disse Grayson.

— Até o fim. — Ele olhou para seus homens. — Certifiquem-se de que

Grayson e eu não sejamos atacados. Não olhem para eles, — ele advertiu.

Os cavaleiros murmuraram de acordo, e com um aceno de Drogan, os

guardas abriram os portões. Assim que eles passaram, os portões se fecharam

por trás deles.

Drogan correu ao redor do castelo até onde Francesca jazia na grama, o

sol brilhando sobre ela. Ele a levantou em seus braços enquanto Grayson

estava ao seu lado, com a espada em punho.

— Vá — disse Grayson.

Drogan a levantou pelo meio e voltou para os portões. Esperava que

Nigel atacasse, mas não houve nada.

— Isso foi estranho, — disse Grayson quando estavam uma vez mais

dentro da muralha. — Ele teve a oportunidade perfeita de nos matar.

— Não acredito que ele queira a nós.

Serena e Adrianna estavam a seu lado em um instante. Serena tirou uma

mecha de cabelo vermelho de Francesca de seu rosto. — Onde ela está ferida?

— Não vejo nenhuma ferida, — disse Grayson.

Adrianna aproximou-se segurando o menino. — Sua respiração está

fraca. Posso curá-la se nos apressarmos.

— Leve-a para seu quarto — disse Serena.

Drogan seguiu sua esposa para o castelo, enquanto desejava que Cade

estivesse com ele. Cade precisava saber sobre Fran, mas mais do que isso, Fran

precisava de Cade.

?.?

Cade jogou suas espadas ao redor, seu olhar se moveu cara a cara. A

escuridão dentro dele tinha fome de sangue, mas Cade a controlava. Ainda

não era hora. Nigel não apareceu ainda. De repente, os homens a seu redor

retrocederam, abrindo o círculo e separando-se. A escuridão ergueu sua

cabeça, percebendo o mal se aproximando.

Nigel.

Logo que viu seu inimigo, a visão de Cade ficou vermelha. Tinha

esperando o dia em que pudesse lutar contra Nigel e acabar com a maldade

que ele espalhava pela terra.

— Olá, Cade — disse Nigel enquanto parava o círculo se fechava a seu

redor.

Cade cerrou os lábios em uma careta de desprezo. Não haveria tempo

perdido com conversas. Era hora de morrer, e era Cade aquele que tiraria a

vida de Nigel neste dia.

— Faz um longo tempo.

Cade semicerrou os olhos. — Chega de falar. Lute comigo.

— Ainda não, — disse Nigel e cruzou os braços sobre seu peito.

— Sim. Agora.

Nigel soltou uma risada e sacudiu a cabeça. — Você sempre foi tão

teimoso. Se você tivesse me deixado tomar o controle sobre você há muito

tempo, não teria que sofrer com o que fez nestes últimos anos.

— Você está com medo de lutar comigo? — Perguntou Cade. — O

poderoso barão Nigel Creely, que vendeu sua alma a Satanás.

O rosto de Nigel estava salpicado de vermelho. — Eu poderia tomar sua

alma agora.

Cade mal podia olhar para seu rosto estreito e os olhos brilhantes. Ele

odiou Nigel no primeiro momento em que o viu, e o ódio só cresceu ao longo

dos anos.

— É uma ameaça vazia, — ele disse a Nigel. — Se pudesse tomar a

minha alma, já a teria.

Nigel respirou profundamente, suas feições uma vez mais calmas e sem

emoção. — Sou mais poderoso do que pensa.

— Eu vi seu poder, mas não acho que seja tão grande como quer que

todos acreditem. Se você pode tomar a alma de alguém, por que não pegou a

de Drogan?

— Ah, Drogan — disse Nigel e deixou cair os braços. — Perguntava-me

quando você falaria dele. Vou lhe explicar isso como fiz com Francesca.

Cade estremeceu quando ouviu seu nome. — Quando você falou com

ela?

Um sorriso lento e maligno encheu a cara do Nigel. — Há pouco, na

verdade. Receio que não foi tão bom.

A escuridão rugia dentro dele, mas não era por sangue, mas sim por sua

bruxa. Cade se virou e empurrou os homens que o rodeavam. Viu Drogan e

Grayson e uma mecha de cabelo vermelho antes que desaparecessem ao redor

da muralha do castelo.

O medo se agarrou ao estômago de Cade e lhe cortou, aliando-se com a

escuridão e exigindo vingança, exigindo sangue. O sangue de Nigel.

— Quer saber o que aconteceu? — Sussurrou Nigel por trás dele.

Cade se virou, sua espada na garganta de Nigel. — Eu poderia te matar

agora.

— Não, não pode. Antes que faça algo tão tolo, aconselho-te que visite

sua bruxa. Então falaremos.

Nigel desapareceu logo que as últimas palavras saíram de seus lábios.

Cade olhou o lugar agora vazio, sentindo-se perdido e inseguro. Francesca

estava ferida, disso ele sabia. Mas quão mal?

A neblina vermelha tinha desaparecido, substituída pelo conhecimento

de que poderia ter perdido Francesca.

Ela nunca foi sua.

Mas poderia ter sido. Ela que fosse. E ele a tinha perdido. Que tolo tinha

sido. A melhor coisa que já lhe aconteceu nunca poderia ser dele.

Não poderia. Ainda não pode.

Isso era certo. Ele não tinha direito de se apegar a Francesca. Sua vida

estava chegando ao fim. O que, exatamente, aconteceria com a de Nigel

mesmo que ele não soubesse ainda. Mas, Cade tinha a intenção de ter certeza

disso.

Cade limpou suas armas e as embainhou enquanto saía do bosque para

o castelo. A cada passo, sua mente gritava que parasse que ele não podia

entrar pelos portões. Qualquer coisa poderia liberar a escuridão, e Cade

mataria a todos.

Mas tinha que arriscar. Por Francesca.

Minha bruxa.

Olhou para os homens de Nigel que rodeavam o castelo. Não atacaram,

ficaram preparados, observando. E Drogan estava em uma desvantagem de

cinco por um, e Nigel sabia. Então, qual era o jogo de Nigel? O que Nigel

queria?

Cade parou em frente dos altos portões. Ouviu alguém gritar o nome de

Drogan. Pelo canto do olho viu Drogan inclinar-se sobre as muralhas antes de

ordenar que abrissem os portões. Houve um estalo quando eles o abriram o

suficiente para que ele pudesse passar e fecharam rapidamente. O peito de

Cade estava apertado, como se um cavalo estivesse sentado sobre ele,

espremendo sua respiração, sua vida, seu corpo.

— Cade, — disse Drogan enquanto corria para ele.

Mas Cade não tinha tempo para isso. Já podia cheirar as lilases. Ele

alargou os passos até que correu. Ouviu Drogan atrás dele, mas não se deteve

enquanto corria pelo grande salão e subia as escadas de três em três.

Continuou seguindo o perfume de Francesca que o conduziu por um

corredor até uma porta. Cade parou em frente à porta e olhou para dentro

vendo Francesca deitada na cama, seu rosto pálido e seu ardente cabelo

espalhado sobre o travesseiro.

Serena estava perto da cama enquanto Adrianna tentava curar Francesca.

Logo que o notaram, afastaram-se da cama. Cade entrou no quarto e viu

Grayson em pé de um lado.

Cade se ajoelhou junto à cama, com o coração na garganta. Ele estendeu

uma mão para tocar o rosto de Francesca, logo notou o sangue e os cortes em

suas mãos. Não queria danificar sua formosa pele com o sangue, mas tinha

que tocá-la.

Afastou uma mecha de cabelo de seu rosto e orou em silêncio para que

ela abrisse os olhos.

— Eu tentei curá-la — disse Drina. — Usei toda a minha magia, mas ela

não abre os olhos.

Serena deu um passo até a cama. — Não podemos encontrar onde ela

está ferida, Cade.

— O que aconteceu? — Ele perguntou.

Serena engoliu a seco e olhou para a porta. — Ela me trancou e a Drina

na câmara. Disse-nos que era seu destino matar Nigel, que tinha tido visões

deste dia desde que era menina.

Cade apertou os olhos. Por que ela não contou a ele?

— Ela estava fora do castelo antes conseguirmos chegar a Drogan —

disse Adrianna. — Tudo o que podíamos fazer era olhar enquanto

caminhavam um para o outro.

— Ele falou com ela? — Perguntou Cade.

— Sim, — respondeu Drogan. — Não conseguimos ouvi-los, mas

falaram.

Ele olhou por cima de seu ombro para Drogan. — O que aconteceu

depois?

— Nigel levantou as mãos. Fran levantou as suas também, e uma luz

branca começou a envolver Nigel. Pensávamos que ela ia ganhar. Poderíamos

vê-lo enfraquecendo.

— Mas então ele falou algo, — disse Grayson. — Ela vacilou e logo

gritou.

— Nigel se afastou e nos apressamos a buscá-la — disse Drogan.

Cade se sentou sobre seus calcanhares e cobriu a mão dela com a sua,

baixando sua testa em suas mãos. — Não conseguirão acordá-la.

— O que quer dizer? — Perguntou Drogan.

— Nigel levou sua alma.

Uma mão apertou seu ombro. Não precisava levantar os olhos para saber

que era Drogan.

— O que podemos fazer? — Perguntou Grayson.

— Nada. Já vi isto antes. Seu corpo se desfará enquanto olhamos. A

menos que sua alma seja devolvida, ela morrerá.

Cade respirou fundo e ficou de pé. Olhou o rosto de Francesca, odiando-

se pelo que lhe aconteceu, odiando que não a protegeu como prometeu.

— Vamos lutar ao teu lado, — disse Grayson. — O bastardo tentou levar

minha alma e não foi capaz.

Cade tentou sorrir para Grayson. Apreciava sua oferta, mas Cade não

podia permitir que ninguém fosse com ele. — Não há nada que possam fazer.

Nigel me quer.

— Cade, — disse Drogan se movendo para ficar ao seu lado.

Cade sacudiu a cabeça. — Não. Tenho fugido há muito tempo.

Serena tomou sua mão. — Fran me pediu que te dissesse algo.

Só escutar seu nome fez seu coração saltar uma batida.

— Ela me pediu para te dizer que ela te ama.

Se Cade estava ferido antes, não era nada comparado com a dor em seu

coração agora. Sentia como se alguém o tivesse rasgado em dois.

— Eu vou recuperar sua alma, — prometeu. — Não deixarei que Nigel a

mantenha.

Drogan parou na frente dele quando tentou se mover. — Vamos

encontrar uma maneira, Cade. Não se entregue a Nigel, não depois de lutar

contra ele durante todos esses anos.

— Olhe para ela — ele gritou e apontou para Francesca. — A cor do

cabelo dela já está desvanecendo. Ela estará vazia em dias, Drogan. Não posso,

e não vou permitir que isso aconteça. Ele me quer.

— Ele é um monstro.

Cade soltou um suspiro. — E eu também. Se ele pudesse ter tomado

minha alma, já teria feito. A escuridão dentro de mim é muito grande. Ele não

pode tomar sem meu consentimento, não importa o quão poderoso seja.

Trocou seu olhar de Drogan para Serena. — Eu fui um tolo. Deveria ter

lhe dito que ela tinha meu coração. Não vou ter essa chance agora.

— Vou ter certeza que ela saiba, — disse Serena, piscando as lágrimas.

— A mantenha segura, Drogan.

Drogan assentiu. — Você tem minha palavra.

— Quando... Quando me entregar a Nigel, ele me enviará aqui. — Era

difícil dizer isso, ainda mais imaginar, mas conhecia Nigel o suficiente para

saber que o bastardo desfrutaria de dois amigos se matando.

Drogan pôs uma mão no ombro do Cade. — Estarei preparado.

— Não me deixe... — Cade nem sequer pôde terminar a frase.

— Não deixaremos — afirmou Grayson enquanto avançava.

Com um aceno a Serena e Adrianna, inclinou-se e beijou Francesca. Sua

bruxa. Com um suspiro, endireitou-se e girou sobre os calcanhares.

Drogan soltou um profundo suspiro e fez um breve assentimento a

Grayson. Não queria matar Cade, mas não tinha escolha. Parecia que Nigel os

colocava constantemente em situações onde não tinham outra opção.

— Isto está errado — disse Adrianna. — Sinto a escuridão ao redor de

Cade, mas não vejo o mal como faço quando Nigel e seus homens estão ao

redor.

— Sempre foi errado, — disse Drogan.

O olhar estampado no rosto de Cade quando viu Francesca deitada na

cama ficaria com Drogan para sempre. Se alguma vez houve um homem que

merecia a felicidade, era Cade. Ele seguiu Cade do castelo até o pátio. Todos

lhe deram um amplo espaço, encolhendo-se de medo quando ele se

aproximou. Drogan olhou para seu amigo e viu que seu rosto endurecia, a ira

brilhando em seu olhar.

Pararam em frente ao portão. Finalmente Cade estava dentro do castelo,

e a pessoa que conseguiu fazer isso foi Francesca. Seu amor por ela era

profundo. Parecia injusto que Cade perdesse seu futuro e sua vida por causa

de Nigel.

— Gostaria de poder ir com você.

Cade sacudiu a cabeça, seu cabelo dourado movendo-se sobre seu

pescoço. — Não. Você não pode. Inclusive se eu conseguir vencê-lo, a

escuridão se soltará completamente.

— A alma de Francesca estará livre depois da sua morte, certo?

— Sim.

— Então ela deve ser capaz de te acalmar como antes.

Cade sacudiu a cabeça, outra vez. — Antes, eu achei que tinha me

deixado dominar completamente, mas não o tinha feito. Desta vez... Desta vez

será para sempre.

Drogan engoliu em seco, desejando que houvesse alguma maneira de

ajudá-lo.

Cade ergueu seus ombros e desembainhou suas espadas. As lâminas

brilharam quando o sol surgiu por trás de uma nuvem. Cade segurou as

espadas em sua frente, com as lâminas seguindo seus braços como uma

extensão.

— Lembre-se da sua promessa, — disse enquanto os portões se abriam.

— Eu lembrarei meu irmão. Foi um privilégio te conhecer.

Cade se deteve e olhou para Drogan. — Eu nunca mereci sua amizade.

— Você merecia muito mais do que conseguiu.

— Se você soubesse as coisas que eu fiz.

— Eu ainda te chamaria de irmão.

Cade fechou os olhos e respirou fundo. Quando os abriu de novo,

estavam vermelhos. A escuridão formava redemoinhos ao seu redor,

ameaçadora e má. Afastou-se de Drogan, sem olhar para trás. Drogan apertou

os punhos, desejando ver à vida de Nigel se esvair enquanto o afogava. Nigel

tinha arruinado tantas vidas.

— Adeus. Irmão, — sussurrou Drogan quando o portão se fechou.

CAPÍTULO VINTE E SEIS

Francesca abriu a boca para gritar enquanto as garras arrancavam a

carne de seu corpo uma e outra vez. A agonia cegava, a tortura era implacável.

Tentou ver entre a escuridão um rastro de luz, mas não havia nada, e se deu

por vencida. Mantinha os olhos fechados, os lábios entreabertos em um grito

silencioso. Se pudesse se mover, fazer algum tipo de som.

Mas ela podia ouvir tudo. As criaturas cacarejando de júbilo, as garras

afundando em sua pele, e o som de sua carne sendo arrancada de seus ossos.

Era um pesadelo do qual sabia que nunca despertaria. Ela poderia

enlouquecer se deixando levar. Então ela pensava em Cade. Imaginou que

seus vivos olhos azuis a olhavam com desejo. Recordou a sensação de seus

lábios sobre os dela e a maneira em que ele roubou seu fôlego cada vez que a

beijava. Ela sentiu suas mãos sobre ela, guiando seu pênis dentro dela.

Mas então ela se perderia na dor, esquecendo-se de quem era, do que

amava. — Francesca — disse uma voz.

A tortura parou, e por um momento não houve dor, só o silêncio a

cercando. Ela reconheceu a voz, entretanto. Nigel! Então recordou como tinha

fracassado, como tinha sido apanhada.

— Abra os olhos, Francesca — ele pediu.

Ela sacudiu sua cabeça.

— Abra os olhos ou chamo os demônios de volta. — Sua voz endureceu,

e ela não tinha nenhuma dúvida de que ele a mandaria de volta à agonia.

Francesca respirou fundo e abriu os olhos. A luz inundou-a no alto da

pequena colina. Ela levantou o braço para proteger os olhos, se dando conta de

que era capaz de se mover.

— Onde estou?

Houve uma risada a seu lado. Ela olhou para Nigel, ainda com a capa, de

pé com as mãos atrás das costas.

— É lindo, não?

Francesca voltou sua atenção para o castelo que estava diante dela. Não

era tão grande como Wolfglynn, mas sustentava torres impressionantes, e uma

muralha resistente e um portão de entrada. As colinas cheias de flores

silvestres trouxeram uma serenidade ao castelo, uma calma. Ao longe havia

um pequeno bosque. Um pequeno grupo de homens a cavalo correu para as

árvores, perseguindo um cervo.

Sabia que Nigel a trouxera para este lugar para lhe mostrar algo, e

quanto mais o olhava, mais queria sair. Era um lugar lindo, e sua presença só o

destruiria.

— Chama-se Stonelake, — ele disse.

Ela avistou à beira do lago do outro lado do castelo. — Por que estamos

aqui?

Ele sorriu, deixando-a gelada. — Eu quero que veja algo.

Francesca piscou, e estavam dentro do castelo no grande salão. Uma

mulher com compridos cachos dourados começando a raiar com branco estava

sentada perto da lareira, costurando. Tinha o mais doce sorriso, as mais

delicadas mãos enquanto olhava a garota que tinha a seu lado.

Bastou um olhar para as duas e Francesca soube que eram mãe e filha.

Não foi até que a filha levantou seu rosto e ela se viu olhando fixamente para

olhos azuis vividos que ela se deu conta de onde estavam.

A casa de Cade.

Mais duas moças entraram no salão. As pequeninas, com cara de

querubim e tranças loiras escuras, corriam atrás da mais velha, que tinha um

sorriso travesso e cabelo castanho claro.

Todos tinham os mesmos olhos de Cade.

Francesca engoliu em seco, com medo de olhar, mas incapaz de afastar a

vista.

Era uma cena feliz, uma família desfrutando do dia e o amor entre eles.

De repente, a porta do castelo se abriu. Cade estava de pé na porta, seu cabelo

até os ombros jogados pelo vento. Estava coberto de poeira com um olhar

selvagem em seu rosto.

Bastou olhar em seus olhos para ver que a escuridão o consumia. Um

sentimento nauseante se centrou em seu estômago enquanto suas irmãs

corriam para ele, lançando seus braços ao seu redor. Elas gritaram seu nome

enquanto ele ficou ali, seu rosto uma máscara de medo e confusão.

Ele não as tocou, e quando finalmente se afastaram, dirigiu-se a sua mãe.

Ela tinha as sobrancelhas franzidas, preocupada com seu rosto.

— Cade, — ela disse e se levantou. — O que foi? Por que voltou tão

cedo?

Ele cambaleou para frente, e ela estendeu a mão para ajudá-lo. Ele se

afastou dela como se tivesse sido picado. — Não me toque, — ele rugiu.

Suas irmãs se encolheram, seus olhos se abriram de medo.

— Garotas, vão para seus quartos, — ordenou sua mãe. Logo que elas

saíram, ela enfrentou Cade. — Esse não é você, filho.

Ele riu, o som sem alegria e derrotado. — Não. Não sou.

— O que eu posso fazer?

Ele se afundou na cadeira perto dela e enterrou seu rosto em suas mãos.

— Eu pensei que vir aqui ajudaria. Eu estava enganado.

— Cade? Você está me assustando.

Ele levantou o rosto para olhá-la. — Corra mãe. Pegue minhas irmãs e

corra. Corra tão longe de mim quanto puder.

— Não. Eu sou sua mãe. Posso te ajudar.

Ele ficou em pé de um salto. — Ninguém pode me ajudar!

Um segundo depois, ele agarrou sua cabeça e caiu de joelhos.

Sua mãe estava ao seu lado em um instante, seus braços ao redor dele.

Francesca não podia respirar. Tinha a sensação de que sabia o que ia acontecer,

e partiu seu coração ver Cade sendo rasgado pela escuridão.

— Cade, — sua mãe acalmou e tirou o cabelo de seu rosto.

Quando ele levantou seus olhos, agora vermelhos, para ela, ela ficou de

pé e se afastou dele. — O que você fez com meu filho, demônio?

O rosto de Cade se contorceu em agonia. — Sou eu, mãe.

— Lute Cade. Lute por nós.

Ele enrijeceu a mandíbula. — Não posso. Não sou suficientemente forte.

Sua mãe deu um passo mais longe dele, seu rosto pálido de medo. — Eu

te amo, Cade. Nunca se esqueça disso.

— Pare! — Ele gritou e agarrou sua cabeça novamente. — Por favor,

Deus, pare.

Francesca não podia dizer se ele falava com a escuridão ou com sua mãe.

A dor em que ele estava trouxe lágrimas aos seus olhos.

Lentamente, ele deixou cair suas mãos e levantou a cabeça. — Por favor,

vá embora, — ele suplicou.

— Não, — disse sua mãe. — Eu te conheço. Você é forte. Pode vencer

isto.

Ele sacudiu a cabeça e desembainhou sua espada. — Eu estou tentando.

Cade a apoiou no piso. Sua mãe se manteve firme, seu amor brilhando

através de seus olhos azuis. — O que quer que esteja dentro de meu filho, saia.

Ainda assim Cade avançou sobre ela. E levantou a espada.

— Encontre uma maneira de lutar contra isto, Cade, — ela disse pouco

antes dele afundar sua espada nela.

Francesca tentou afastar o olhar, mas seus olhos se dirigiram a Cade.

Uma lágrima correu por seu rosto enquanto ele se virava para encontrar suas

irmãs na porta. Seus olhos brilhavam, e foi como se ele tivesse se perdido na

escuridão enquanto matava as três.

Quando a última caiu, Cade ficou parado olhando-as, lágrimas rolando

por seu rosto. Sua espada escorregou de seus dedos, e ele caiu de joelhos,

levantando a mais jovem em seus braços. Sacudiu-a de um lado a outro,

murmurando em seu cabelo. Houve um ruído no salão, e quando Cade olhou

para cima, havia um homem diante dele.

Francesca cobriu a boca com a mão. O homem era mais jovem que Cade,

com os mesmos olhos, mas aí foi onde as semelhanças terminaram. Era menor

que Cade, onde os músculos de Cade eram pronunciados. Seu cabelo era de

uma cor marrom clara, e seu rosto não tinha a beleza de Cade.

— O que você fez? — Perguntou o homem.

Os olhos de Cade tinham começado a voltar para a normalidade, mas

com a chegada de seu irmão, o vermelho uma vez mais se fez presente. Ele

agarrou sua espada e se levantou.

— Cade? — Indagou seu irmão e desembainhou sua espada. — Você

matou a nossa família!

Seu irmão se lançou contra ele. E Cade facilmente desviou do golpe. O

irmão levantou seu braço para atacar de novo, e Cade se aproximou dele, sua

espada afundando-se em seu peito.

Com um grunhido, seu irmão deixou cair sua arma e se agarrou a ele. —

Cade? — Ele questionou, seu rosto uma máscara de confusão.

Quando a vida se esgotou de seu irmão, os olhos de Cade voltaram para

a normalidade outra vez. Quando viu o que o que fez, tirou sua espada de seu

irmão e a jogou para longe. Logo, um a um, tirou sua família do castelo e os

enterrou.

Ninguém o deteve. Ninguém ajudou.

Francesca não pôde deter suas lágrimas. Não era de se admirar que Cade

levasse tanto peso sobre seus ombros. Depois do que a escuridão lhe tinha

obrigado a fazer, era um milagre que fosse capaz de controlá-la novamente.

— Ele deveria ter sido meu então — disse Nigel.

Francesca afastou o olhar de Cade, que estava de pé sobre as tumbas de

sua família enquanto o sol se punha, voltando para Nigel. — Você fez isto, não

é?

Nigel deu de ombros. — Eu ajudei.

Cade não retornou ao castelo. Simplesmente se afastou, sem olhar nunca

para sua casa ou sua família. — Mas ele não foi teu. Depois de matar a sua

família, ele lutou contra a escuridão. E ganhou.

Nigel apertou a mandíbula. — Assegurei-me de que não tivesse nada

para o que voltar. Queimei o castelo e comecei a caçar e matar a todos que

Cade tinha conhecido e querido.

— Por que está me mostrando isto? — Ela perguntou.

— Quero que veja o tipo de poder que eu tenho. Eu tenho sua alma,

minha querida bruxa. Posso te controlar para sempre.

Ela engoliu em seco, esperando que o tremor de medo que a atravessava

não fosse notado. — Lutarei com você. Assim como Cade lutou contra a

escuridão.

— Você é tão ingênua. Agora posso controlar seu corpo. Se quisesse,

poderia afundar a escuridão em você como fiz com Cade, Drogan e Gerard.

Você não é forte o suficientemente para dominar tal maldade.

— O que você quer?

— Cade, — ele respondeu sem vacilar. — Não vai demorar muito até que

eu o tenha também.

— Me leve no lugar dele.

Seu sorriso cresceu. — Eu já tenho você.

— Então, o que eu tenho que posso te dar em troca de Cade?

Nigel a rodeou, olhando-a. — Sua magia.

— Minha magia? Você é suficientemente poderoso para tomar minha

alma. Por que precisa da minha magia?

— Um filho — disse ele, com o olhar fixo em seus peitos. — Preciso de

um filho.

A ideia de se dar a Nigel a fez querer cortar sua garganta, mas se isso

salvasse Cade... — Em troca de Cade?

Ele sacudiu a cabeça. — Cade seguirá sendo meu, mas te dou minha

palavra de que o libertarei uma vez que cumpra o seu dever.

— Você não está me dando nada em troca?

— Eu não tenho que te dar nada. Seu corpo é meu para comandar.

Ela sorriu então, dando-se conta de por que ele precisava do seu

consentimento. — Você pode tirar uma criança do meu corpo, mas não terá

minha magia. Não, a menos que eu o dê livremente. Se quer minha magia,

deixe que Cade se vá. Agora.

Nigel jogou a cabeça para trás e riu. — Acho que não, bruxa. Uma vez

que viu no que Cade se transformou, me pedirá que leve sua magia em troca

de libertá-lo.

Ele estalou os dedos, e ela estava outra vez na escuridão. Ela tinha

tomado só uma respiração quando ouviu o tilintar de uma pata vindo em sua

direção.

Cade!

CAPÍTULO VINTE E SETE

Cade saiu de Wolfglynn, sua raiva, frustração e dor pelo fracasso de

Francesca pesando sobre ele. Queria a morte de Nigel, e embora tenha dito a

Drogan que a alma de Francesca estaria livre se Nigel morresse, ele não sabia

com certeza.

Caminhou para o bosque. Drogan e outros estariam observando, e ele

não queria que o vissem transformar-se em um monstro. Sua mãe tinha lhe

implorado que lutasse contra a escuridão, e embora ele não pudesse ter

evitado que o mal se apoderasse dele na época, agora conseguia controlá-lo.

Desde que matou sua família, tinha renunciado a qualquer tipo de

prazer. Ele não merecia. Tinha estado muito fraco para tomar o controle da

escuridão. Todos esses anos, ele tinha esperado a oportunidade de

desencadear a escuridão em Nigel. Ele pensou que poderia controlar ele,

Drogan e Gerard com a escuridão. Aprendeu muito tarde que não era assim.

Era por isso que ninguém mais a levava dentro de si. Nigel tinha

aprendido a lição rapidamente.

A escuridão exigia vingança por Francesca, mas Cade negaria isso a ela e

a ele mesmo. Para libertá-la, não podiam arriscar-se a matar Nigel.

Ele se transformaria no monstro que sua família tinha visto no dia de sua

morte, e Cade orou para que Drogan e Grayson o matassem rapidamente.

Uma vez que o mal fosse liberado, a morte o seguiria rapidamente onde quer

que ele fosse.

— Como ela está?

Cade parou bruscamente e se virou para ver Nigel apoiado contra uma

árvore. Seus poderes tinham crescido tanto que ele podia mover-se pelo

espaço e o tempo a seu gosto.

— Já sabe como ela está — respondeu Cade.

Nigel deu de ombros e se afastou da árvore. — Ela ficará assim pelo

tempo que eu quiser, mas não quero que desapareça. Tenho outros planos para

seu... corpo.

A visão do Cade instantaneamente ficou vermelha. Sabia exatamente o

que Nigel queria com sua bruxa, e não ia deixar que isso acontecesse.

— Você não a tocará — disse Cade entre dentes.

Nigel começou a rir. — Vou fazer muito mais que tocá-la. Aliás, estive

lhe mostrando alguns fragmentos de seu passado.

Era como se ele tivesse lhe jogado um balde de água gelada. Sabia sem

perguntar o que Nigel mostrou a Francesca: o dia em que matou a sua família.

Seu estômago se torceu dolorosamente ao imaginar como Francesca

reagiu. Ela poderia ter professado seu amor por ele, mas depois de ver o que

ele fez, no que se transformou nesse dia fatídico, ela não iria querer mais

nenhuma parte dele.

Se ele pudesse afastar seu coração dela, mas não podia. Ela o havia

tocado como ninguém tinha feito, ela lhe deu tudo sem pestanejar. Ofereceu o

paraíso. O mínimo que podia fazer era libertá-la.

— Você me quer Nigel?

O sorriso caiu da cara do barão. — Você sabe que sim.

— Então deixe Francesca ir, e de boa vontade te acompanharei.

Nigel semicerrou seus olhos para Cade. — Se eu deixá-la ir agora posso

consegui-la de volta.

— Não. Deixe a ela e a todos os bana-bhuidseach em paz.

— Ou o que? — Perguntou Nigel. — Você vai se recusar? Não acredito

Cade. Eu te vi com ela. Seu amor por ela fará você se sacrificar.

— Por que você a quer?

— Se refere a seu corpo? Preciso de um herdeiro.

A mente de Cade correu. Por que Francesca? Por que agora? E então se

deu conta – sua magia. — Ela não te dará sua magia.

Nigel deu de ombros. — Ela dará eventualmente.

Cade ergueu os ombros. A única forma que Francesca se renderia seria

para salvá-lo. Se houvesse alguma maneira de lhe fazer saber que Nigel nunca

o libertaria.

— Está tentando encontrar uma forma de salvá-la? — Perguntou Nigel

com uma careta de desprezo. — Ela está fazendo o mesmo. Bom, estava. Estou

certo de que agora está gritando de dor.

A ira explodiu em Cade. Tudo ficou vermelho, e ele se lançou em Nigel.

Ele tinha que morrer. Nigel nunca o deixaria em paz, nem a Francesca. Nunca.

As espadas de Cade se moviam à velocidade de um raio. Ele atacou tão

rápido, que Nigel não teve oportunidade de escapar. Uma e outra vez Cade

cortou Nigel. Cada uivo de dor lhe trazia um sorriso aos lábios.

Nigel o jogou para longe com um empurrão poderoso. Cade bateu duro

de lado com seu braço debaixo dele e ouviu algo se quebrar. Uma costela,

talvez, mas não tinha tempo para deixar que a dor inundasse sua mente. Tinha

um objetivo: matar Nigel.

Quando a escuridão gritou para ser solta, Cade jogou seus braços e sua

cabeça para trás com os olhos fechados.

— Você não pode me vencer, — gritou Nigel.

Cade podia sentir o poder dentro dele, sentir a escuridão empurrando

para se libertar. Isso deveria tê-lo assustado. Antes, tentaria controlar a

escuridão. Mas não agora.

Um sorriso surgiu nos lábios de Cade. O poder era estimulante quando

tomava conta. Ele esqueceu onde estava, e quem era. Até que abriu os olhos e

olhou para Nigel.

Cade riu quando Nigel deu um passo para longe dele. — Algo errado?

Nigel sacudiu a cabeça. — Eu tenho mais poder que você.

— Talvez. Vamos averiguar isso, tudo bem?

— Eu tenho a sua bruxa, Cade. Você deveria pensar nisso antes de tentar

me causar algum dano. Com um só pensamento, eu poderia matá-la.

Cade tomou uma respiração profunda, desejando que a cólera lhe

servisse de combustível. — Você não devia ter mencionado isso.

— Cade. Vamos falar sobre isso.

— O tempo para falar terminou.

Cade formou redemoinhos com suas espadas ao seu redor enquanto

avançava para Nigel. O barão levantou as mãos, as palmas para fora. Cade riu

quando desviou da explosão do poder. Ele veio por trás de Nigel.

— Seu tempo acabou.

Nigel girou, com os olhos muito abertos. Abriu a boca para falar, mas

Cade já tinha cravado suas espadas através do pescoço de Nigel.

Os lábios do barão se moveram, mas em vez de palavras, só o sangue

saiu pelos cantos antes que sua cabeça se inclinasse para trás e rolasse para o

chão. Um segundo depois, seu corpo murchou ao lado.

O fôlego de Cade saia em grandes explosões. Ele sorriu para o cadáver

de Nigel, sabendo que tinha conseguido matar o mal. Quando se afastou, o

exército de Nigel o rodeou.

Ele fechou seus lábios em desprezo. — Quem quer se juntar a ele? —

Disse e apontou para Nigel.

Os homens olharam para Nigel, sem saber o que fazer. De repente, uma

luz explodiu ao redor deles, atirando Cade contra uma árvore. A dor lhe

invadiu a cabeça. Ele lutou através de um mar de náuseas e palpitações

enquanto tentava levantar-se e encontrar suas espadas antes que os homens o

atacassem.

Justo quando sua mão se fechou sobre uma de suas espadas, ele caiu

para o lado, inconsciente.

CAPÍTULO VINTE E OITO

Francesca abriu os olhos para encontrar Drogan, Serena, Grayson e

Adrianna a olhando fixamente.

— Fran? — Perguntou Drogan. — Como se sente?

Ela separou os lábios para falar quando recordou tudo o que tinha

acontecido, da tortura até ver o passado de Cade. Demorou um momento para

dar-se conta de que estava livre.

— Onde está Cade? — Perguntou ela.

Cada um deles se negou a olhá-la. O terror a encheu. Jogou a manta para

longe e se levantou da cama.

— Fran, por favor, — chamou Drina. — Você precisa descansar.

Mas Francesca não escutava. Correu de seu quarto e saiu do castelo. Não

foi até que ela estava na muralha que uma mão grande agarrou seu braço e a

obrigou a parar.

— O que está fazendo? — Perguntou Drogan.

— Cade me libertou.

Drogan afastou o olhar. — Eu sei.

— Você falou com ele?

— Sim. Ele veio ao castelo.

Seus joelhos ameaçaram ceder. — Ele entrou no castelo?

— Por você, Fran. Ele veio por você.

As lágrimas nublaram sua visão. — Eu não quero perdê-lo.

— Nem eu, mas acho que o perdemos. Ele foi procurar Nigel.

Francesca olhou para o portão. — Eles estarão no bosque.

— Eu prometi a Cade que te manteria a salvo.

Não havia maneira de tirar Drogan da frente do portão, e ele não a

deixaria longe de sua vista por medo que ela escapasse. — Não posso

abandonar Cade. Ele vai precisar de mim.

— Fran, — começou Drogan, só para deter-se quando um cavaleiro

chamou por ele. — O que foi?

— Há homens saindo do bosque e deixando cair suas armas.

Francesca pegou seu olhar antes que ambos subissem as escadas para as

muralhas. Com o coração palpitando no peito, ela ficou de pé junto a Drogan e

observou enquanto os homens se afastavam das árvores.

— O que significa isso?

Drogan encolheu os ombros. — Eu não sei.

— Talvez Cade tenha vencido.

Drogan a olhou. — Ele estava com medo de lutar contra Nigel, com

medo que se ganhasse sua alma não seria devolvida. Ele foi se entregar a

Nigel.

Ela agarrou as pedras com tanta força que seus nódulos ficaram brancos.

— Você deve ter se enganado.

Uma hora mais tarde, eles ainda estavam nas muralhas. Os homens

tinham parado de sair das árvores, e não havia mais movimento no bosque.

— Temos que ver — disse Francesca. — Por favor, Drogan. E se ele

estiver ferido?

— E se ele for o monstro que acreditava ser?

Ela levantou o queixo. — Então eu o salvarei.

Drogan estava cedendo, ela percebeu. Ele olhou para Serena, que tinha

unido a eles.

— Não saberemos até que vejamos — disse Serena. — Leva seus homens

com você.

Drogan assentiu com a cabeça. — Tudo bem.

Francesca passou junto a ele, mas ele a deteve com uma mão em seu

braço. — Nem pense em me manter aqui — ela o ameaçou. — O homem que

eu amo está lá fora, e nada me impedirá de ir até ele.

Drogan suspirou e a soltou. Dez minutos mais tarde, estavam sobre os

cavalos, correndo para as árvores. Francesca não sabia o que encontraria, mas

rezou para que de algum jeito, apesar de todas as probabilidades,

encontrassem Cade.

Eles de separaram pelo bosque, mas Drogan a fez ficar perto dele.

Serena, Grayson e Adrianna também estavam com eles em caso de Cade

precisar ser curado.

— Aqui — gritou alguém.

Francesca não esperou por Drogan. Ela esporeou seu cavalo na direção

da voz e se embrenhou entre as árvores. Quando ela parou o cavalo,

encontrou-se olhando o cadáver sem cabeça do Nigel.

— Pelo sangue de Deus — murmurou Grayson.

Francesca sorriu. —Cade conseguiu. Cade o derrotou.

— Onde está Cade? — Perguntou Drogan.

Ela desceu do seu cavalo. Um momento depois, Drogan e Grayson

fizeram o mesmo, cada um amaldiçoando sob suas respirações. Ela não se

importava, entretanto. Tudo o que importava era Cade.

Não foi até que ela rodeou uma árvore que ela o viu. Ele estava deitado

de lado, com sangue escorrendo de um corte na testa. Seu sangue congelou em

suas veias enquanto se ajoelhava a seu lado. Ela pôs sua mão sobre seu coração

e o sentiu pulsando.

— Ele está vivo — ela disse entre lágrimas.

Ela lhe deitou de costas e ele gemeu.

— Chega para trás, Fran — Drogan lhe advertiu. — Você não sabe o que

Cade será quando abrir os olhos.

E ela não se importava. Cade era dela. Ela se inclinou e colocou seus

lábios nos dele. Seus olhos se agitaram e se abriram, mostrando íris azuis em

vez de vermelho.

Ele levantou a cabeça e passou a mão pelo rosto.

— Eu pensei que tinha te perdido.

— Francesca?

Ela fechou os olhos por um segundo e sorriu. — É a primeira vez que me

chama por meu nome.

— Eu tenho feito isso um milhão de vezes em minha mente.

— Você está ferido?

— Nada que não possa ser curado por sua presença.

— Cade, eu... — ela começou, mas ele a deteve com um dedo sobre seus

lábios.

Seu rosto se fechou. — Eu sei o que Nigel te mostrou. Não precisa fingir

que me quer.

Seu coração se partiu em dois ao som da resignação em sua voz.

— Você acha que meu amor é tão superficial que não pude ver sua dor?

Que não podia dizer como quase te matou por não ser capaz de lutar contra a

escuridão? Que não podia sentir sua agonia tão claramente como a minha?

Esperança saltou a seus olhos, e mais lágrimas caíram por suas

bochechas. — Apesar da escuridão que há dentro de ti, eu te amo, Cade.

Seu rosto se torceu de angústia. — Você não pode dizer isso. Eu não

mereço.

Francesca o beijou outra vez e encostou sua testa na dele. — Você merece

o amor mais do que ninguém.

Por um momento, ele não se moveu. Então seus braços a rodearam e ele

esmagou sua boca contra a dela, beijando-a como se não houvesse amanhã. O

beijo foi frenético e cheio de amor e luxúria.

Francesca gemeu quando o beijo terminou.

Cade olhou para os olhos claros e flamejantes de sua bruxa. Ela o amava,

apesar de tudo. Ela realmente o amava. Estava ali em seus olhos, em seu toque,

para que todos vissem. Ele nunca tinha estado tão agradecido em sua vida.

— Eu te amo. — Ele finalmente disse as palavras, sabendo que a tinha

amado desde aquele primeiro beijo.

Ela riu, o som celestial e perfeito.

— Eu gostaria de deixá-los sozinhos, mas Cade está ferido — disse

Drogan, com uma voz divertida.

Cade olhou para cima para ver não só Drogan, Serena, Grayson e

Adrianna os olhando, mas também os cinquenta cavaleiros que Drogan havia

trazido com eles.

Francesca se afastou dele, e com a ajuda de Drogan e Grayson, Cade

ficou de pé. Ele estremeceu quando tentou respirar.

— O que aconteceu com sua cabeça? — Perguntou Drina enquanto se

aproximava.

Cade deu de ombros e viu Drogan enviar seus homens para o castelo. —

Eu me lembro de ter matado Nigel e enfrentado seus homens, e logo houve

está luz. Ela me jogou para trás, e não lembro mais nada depois disso.

— Você realmente o matou, — disse Francesca. — Eu deveria ter feito

isso.

Ele franziu o cenho. — Ele quase te matou.

— Eu vi isso todas as noites em minhas visões, Cade. Eu o derrotei todas

às vezes.

— Então, o que ele te disse para te fazer vacilar? — Perguntou Serena.

Francesca sorriu enquanto o olhava. — Ele ameaçou Cade. Eu sabia que

ele faria isso, e pensei que podia suportar qualquer coisa que ele dissesse. Mas

estava enganada.

Cade tirou as mãos de Drina das suas e puxou Francesca em seus braços.

— Não volte a arriscar sua vida assim.

— É obvio que farei se você ou alguém que amo estiver em perigo e eu

puder salvá-los.

Ele não sabia como conseguiu viver sua vida sem ela, mas sabia que não

podia fazer isso novamente.

— O que? — Sussurrou ela. — O que foi?

— Nunca pensei que amaria tanto alguém assim.

Ela sorriu e pegou seu rosto. — Eu também não.

— Eu sei que não sou digno de ti, mas eu te quero. Para sempre, bruxa.

— Então eu sou tua. Para sempre.

— E a maldição?

Ela deu de ombros. — Eu sobrevivi a Nigel. Além disso, se os pais de

Grayson, Serena e Adrianna conseguiram quebrar a maldição, eu também

posso.

— Podemos quebrar a maldição, — ele disse.

— Sim, nós podemos quebrar a maldição.

Beijou-a de novo, longa e lentamente. — Você vai se casar comigo? —

Sim, meu senhor. Casarei-me contigo.

EPÍLOGO

Quatro meses depois

Cade estava ao lado de Francesca enquanto olhavam para Stonelake, a

casa que tinha pensado nunca voltar a ver.

— É lindo, Cade. Simplesmente impressionante.

Ele sorriu e passou os braços por sua esposa. Ele não tinha hesitado em

se casar. A escuridão tinha lhe deixado, assim como todas as almas tinham

retornado a seus donos depois da morte de Nigel.

Cade não estava certo de como, nem lhe importava. Ele estava feliz pela

escuridão ter desaparecido e mais uma vez ser ele mesmo. Ele queria voltar

para casa antes, mas passou algum tempo com Drogan. Isso também deu a seu

administrador tempo para preparar as coisas para sua chegada a Stonelake.

Agora que estava aqui, entretanto, não estava seguro de poder entrar. —

Você ficará bem, — disse Francesca.

Cade não estava tão certo disso. Talvez os fantasmas de sua família

estivessem lhe esperando para torturá-lo.

— Eles sabiam que não era você naquele dia, Cade. Eles sabiam.

Ele entrelaçou seus dedos nos dela e sorriu. Eles empurraram seus

cavalos em trote, e ele não pôde evitar olhar para o estômago arredondado de

Francesca. Ela estava de quase quatro meses. Saber que tinha encontrado o

amor, uma esposa, e que estava retornando para sua casa para criar seu filho

parecia surreal. Francesca lhe deu esperança, uma esperança que o consumiu.

Os sonhos de seu futuro encheram de novo sua mente. Tinha sua casa e

terras e uma esposa, uma linda mulher a seu lado. Teria que recuperar a

confiança de seu povo, mas não tinha nenhuma dúvida que com Francesca a

seu lado, conseguiria isso.

Quanto à maldição que tinha assombrado o povo de Francesca, já não a

dominava mais. Tal como lhe havia dito, a maldição era tão poderosa como as

pessoas permitissem.

— Está pronta? — Ele sussurrou enquanto se aproximavam da guarita

de onde os guardas olhavam para eles.

Dentro do pátio, podia ouvir às pessoas gritando que ele tinha voltado, e

não era o medo que escutava em suas vozes. Era esperança.

Ele puxou o braço de Francesca até que ela se inclinou para poder beijá-

la. — Estou pronta.

— Então vamos encarar nosso futuro.

— Juntos.

Ela sorriu enquanto cavalgavam sob o portão principal. — Juntos.

 

 

                                                   Donna Grant         

 

 

 

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