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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DEFINITELY DEAD / Charlaine Harris
DEFINITELY DEAD / Charlaine Harris

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Como uma pessoa com tão poucos parentes vivos, a garçonete da Louisiana Sookie Stackhouse realmente odiava perder um. Mas ela nunca imaginou que aconteceria com sua prima Hadley - uma consorte da Rainha Vampira de Nova Orleans. Afinal, tecnicamente falando, Hadley já estava morta. E agora, como inesperada herdeira dos bens de Hadley, Sookie descobre que a herança definitivamente vem com um risco. Alguém não quer que Sookie olhe muito profundamente no passado de Hadley - ou para essa questão, as posses de Hadley. E eles estão dispostos a fazer qualquer coisa que possam para detê-la. Mas quem? O leque de suspeitos vai dos Lobis que rejeitam Sookie como uma amiga do bando até a própria Rainha, que poderia estar lidando do seu jeito com um tema particularmente vulnerável - o primeiro amor de Sookie, Bill. Quem quer que seja, eles são definitivamente perigosos - e a vida de Sookie está definitivamente por um fio...

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Eu estava envolta nos braços de um dos homens mais belos que eu já vi, e ele estava olhando nos meus olhos. ―Pensa em... Brad Pitt,‖ sussurrei. Os olhos castanho-escuros ainda me olhavam com pouco interesse. Ok, eu estava no caminho errado. Recordei do último amante de Claude, um segurança de um clube de stripper. ―Pense no Charles Bronson,‖ sugerí. ―Ou, hum, Edward James Olmos‖. Fui recompensada pelo início de um brilho ardente naqueles olhos de longos cílios. Em um instante, você teria pensado que o Claude iria levantar minha longa saia, arrancar meu decotado espartilho e me violentar até que eu implorasse clemência. Infelizmente para mim - e para todas as outras mulheres de Louisiana - Claude joga em outro time. Peitos grandes e loiras não eram o ideal do Claude; bruto, rude, e amadurecido, com talvez um pouco de bigode, era o que acendia seu fogo. ―Maria-Star, vá lá e coloque aquela mecha de cabelo para trás,‖ Alfred Cumberland dirigia por trás da câmera. O fotógrafo era um homem negro corpulento com cabelos grisalhos e bigode. Maria-Star Cooper deu um passo diante da câmera para reorganizar um fio de meus longos cabelos louros. Eu estava inclinada para trás sobre o braço direito de Claude, minha invisível (para a câmera, pelo menos) mão esquerda agarrava desesperadamente a parte de trás de sua casaca preta, meu braço direito levantado para descansar suavemente em seu ombro esquerdo. Sua mão esquerda estava em minha cintura. Penso que a pose era para sugerir que ele estava me abaixando no chão para ter seu momento comigo. Claude estava usando casaca preta1 com calça preta até os joelhos, meias brancas e uma camisa branca com babados. Eu estava usando um vestido longo azul com uma saia ondulada e um conjunto de anáguas2. Como eu disse, o vestido estava escasso na parte de cima, com as pequenas mangas abaixadas em meus ombros. Estava contente que a temperatura no estúdio estava moderadamente morna. A grande luz (parecia para os meus olhos como uma antena parabólica) não estava tão quente como eu esperava.  Al Cumberland fotografava enquanto Claude ardia lentamente para mim. Eu fiz o meu melhor para arder em retorno. Minha vida pessoal estava, digamos, sem graça nas últimas semanas, assim eu estava muito pronta para arder. Na verdade, eu estava pronta para entrar em combustão.  Maria-Star, que tinha uma bela pele morena clara e cabelos escuros encaracolados, estava pronta com um grande estojo de maquiagem e escovas e pentes para executar reparos de última hora. Quando Claude e eu chegamos ao estúdio, eu fiquei surpresa ao descobrir que eu conhecia a jovem assistente do fotógrafo. Eu não tinha visto Maria-Star desde que o líder do bando de Shreveport tinha sido escolhido algumas semanas atrás. Eu não tive muita chance para observá-la na época, já que a competição para líder do bando tinha sido assustadora e sangrenta. Hoje, eu tive tempo para ver que Maria-Star tinha se recuperado completamente do atropelamento em janeiro passado.  Lobisomens se curam rapidamente.
1 http://www.formal-hire-london.co.uk/acatalog/frockcoats-black.jpg
2  http://i35.tinypic.com/2nutxdj.jpg
 
Maria-Star tinha me reconhecido, também, e eu fiquei aliviada quando ela sorriu para mim. Minha posição com o bando de Shreveport era, para dizer o mínimo, incerta. Sem exatamente servir voluntariamente para fazê-lo, eu inconscientemente lancei minha sorte com o concorrente perdedor para o trabalho de líder do bando. O filho daquele concorrente, Alcide Herveaux, a quem eu tinha talvez contado como mais que um amigo, sentiu que eu o decepcionei durante a competição; o novo líder do bando, Patrick Furnan, sabia que eu tinha vínculos com a família Herveaux. Eu fiquei surpreendida quando Maria-Star conversou comigo, enquanto ela estava fechando o traje e escovando meu cabelo. Ela aplicou mais maquiagem que eu alguma vez tinha usado em minha vida, mas quando eu olhei no espelho tive que agradecê-la. Eu estava ótima, embora não me parecesse com Sookie Stackhouse.  Se Claude não fosse gay, ele poderia ter ficado impressionado, também. Ele é o irmão de minha amiga Claudine, e ganha a vida tirando a roupa na noite das mulheres no Hooligans, um clube que ele possui agora. Claude é simplesmente apetitoso, 1,82 m de altura, com ondulantes cabelos negros e olhos castanhos grandes, um nariz perfeito, e lábios apenas cheios o suficiente. Ele mantém seu cabelo longo para cobrir suas orelhas: elas foram cirurgicamente alteradas para parecerem arredondadas, como as orelhas humanas, não pontudas como eram originalmente. Se você for conhecedor da forma sobrenatural, irá identificar a cirurgia das orelhas, e saberá que Claude é uma fada. Eu não estou usando o termo pejorativo para a sua orientação sexual. Quero dizer, literalmente, Claude é uma fada.  ―Agora, a máquina de vento,‖ Al instruiu Maria-Star, e depois de um pequeno reposicionamento, ela ligou um grande ventilador. Agora nós parecíamos parados em um vendaval. Meu cabelo ondulou como um lençol louro, embora o rabo de cavalo de Claude tenha ficado no lugar. Depois de algumas fotos para capturar aquele look, Maria-Star soltou o cabelo de Claude e o colocou sobre um ombro, assim sopraria para formar um fundo para o perfil perfeito dele.  ―Maravilhoso,‖ disse Al, e fotografou um pouco mais. Maria-Star moveu a máquina algumas vezes, fazendo a ventania golpear de direções diferentes. Eventualmente, Al disse que eu podia me levantar. Endireitei-me agradecida.  ―Espero que isso não seja muito para seu braço,‖ disse ao Claude, que parecia estar frio e calmo novamente.  ―Não, não há problema. Você tem algum suco de fruta por aí?‖ ele perguntou para Maria-Star. Claude não é o senhor habilidades sociais.  A bonita Lobis apontou para uma pequena geladeira no canto do estúdio. ―Copos estão em cima,‖ ela disse para Claude. Ela o seguiu com os olhos e suspirou. Mulheres frequentemente fazem isso depois que elas, de fato, conversam com Claude. O suspiro era do tipo ―que pena‖. Depois de conferir para ter certeza que seu chefe ainda estava com a atenção voltada para o seu equipamento, Maria-Star me deu um sorriso brilhante. Embora ela fosse um Lobis, o que fazia seus pensamentos difíceis de ler, eu estava apanhando que ela tinha algo que queria me dizer... E ela não estava segura de como eu iria entender isso.  Telepatia não é divertida. A opinião de si mesmo sofre quando você sabe o que os outros pensam sobre você. E telepatia torna quase impossível sair com caras normais. Basta pensar nisso. (E lembre-se, eu saberei - se você está, ou se não está.)  ―Alcide passou por um período difícil desde que seu pai foi derrotado,‖ disse MariaStar, mantendo a voz baixa. Claude ficou ocupado em admirar-se em um espelho, enquanto bebia seu suco. Al Cumberland tinha começado uma ligação em seu telefone celular e se retirou para o seu escritório para manter a conversa.  ―Tenho certeza que ele teve,‖ eu disse. Já que o adversário de Jackson Herveaux o tinha matado, era de se esperar que o filho de Jackson estivesse tendo seus altos e baixos. ―Enviei um memorial3 para o ASPCA (Sociedade Americana para a Prevenção de Crueldade contra Animais), e sei que eles vão avisar Alcide e Janice,‖ eu disse. (Janice é a irmã mais nova de Alcide, que faz dela uma não-Lobis. Eu me perguntava como Alcide tinha explicado a morte de seu pai à sua irmã.) Em reconhecimento, eu recebi uma nota de agradecimento, do tipo que a casa funerária lhe dá, sem uma palavra pessoal escrita nele.  ―Bem...‖ Ela parecia ser incapaz de cuspir tudo o que estava preso em sua garganta. Eu estava obtendo um vislumbre da forma. Dor passou através de mim como uma faca, e então eu a tranquei e coloquei meu orgulho ao meu redor. Eu tinha aprendido a fazer tudo isso muito cedo na vida.  Eu peguei um álbum de amostras do trabalho de Alfred e comecei a virar as páginas dele, quase não olhando para as fotografias de noivas e noivos, bar mitzvahs4, primeiras comunhões, bodas de prata (vinte e cinco anos de casamento). Eu fechei o álbum e coloquei no lugar. Eu estava tentando parecer casual, mas não penso que surtiu efeito.  Com um sorriso luminoso que ecoou a própria expressão de Maria-Star, eu disse, ―Alcide e eu nunca fomos realmente um casal, sabe.‖ Eu poderia ter tido desejos e esperanças, mas eles nunca tiveram uma chance de amadurecer. O momento sempre estava errado.  Os olhos de Maria-Star, um castanho muito mais claro do que Claude, arregalados em admiração. Ou seria medo? ―Ouvi que você poderia fazer isso,‖ disse ela. ―Mas é difícil de acreditar.‖  ―Sim,‖ eu disse cansada. ―Bem, eu estou feliz que você e Alcide estejam namorando, e eu não tenho nenhum direito de me importar, mesmo que eu me importasse. O que eu não me importo.‖ Isso saiu meio que confuso (e não era completamente verdade), mas acho que Maria-Star entendeu minha intenção: salvar a minha cara.  Quando eu não tive mais notícias de Alcide, nas semanas que seguiram à morte de seu pai, eu soube que qualquer sentimento que ele teve por mim estava terminado. Que tinha sido um golpe, mas não fatal. Realisticamente, eu não esperava nada mais do Alcide. Mas, droga, eu gostava dele, e sempre dói quando você descobre que foi substituída com aparente facilidade. Afinal de contas, antes da morte de seu pai, Alcide havia sugerido que vivêssemos juntos. Agora ele estava amigado com esta jovem Lobis, talvez planejando ter filhotes com ela.  Eu parei aquela linha de pensamento na mesma hora. Que vergonha! Nenhum ponto por ser uma cadela (o que, pensando bem, Maria-Star na verdade era, pelo menos três noites por mês). Vergonha em dobro para mim. ―Eu espero que você seja muito feliz,‖ eu disse.  Ela me entregou silenciosamente outro álbum, no qual estava escrito apenas OLHOS. Quando eu o abri, eu percebi que os olhos eram sobrenaturais. Ali estavam fotos de 3  Doação em memória de uma pessoa falecida 4  Cerimônia que insere o jovem judeu como um membro maduro na comunidade judaica.  Quando uma criança judia atinge a sua maturidade (aos 12 anos de idade, mais um dia para as meninas; e aos 13 anos e um dia para os rapazes), passa a tornar-se responsável pelos seus atos, de acordo com a lei judaica. Nessa altura, diz-se que o menino passa a ser Bar Mitzvá (בר מצוה, "filho do mandamento"); e a menina passa a ser Bat Mitzvá (בת מצוה, "filha do mandamento").
Cerimônias que humanos nunca chegariam a ver... Um casal de vampiros vestidos com trajes elaborados, posados perante um ankh5 gigante; um jovem no meio da sua mudança em um urso, provavelmente pela primeira vez; uma fotografia de um bando de lobis com todos os seus membros em forma de lobo. Al Cumberland, fotógrafo do bizarro. Não me admira que tenha sido a primeira escolha de Claude para as suas fotos, já que Claude esperava ser lançado na carreira de modelo de capas6.  ―Próxima tomada,‖ chamou Al, assim que ele saiu do seu gabinete, desligando seu celular. ―Maria-Star, acabamos de receber uma reserva para um casamento duplo nas vizinhanças7 da senhorita Stackhouse.‖ Eu desejei saber se ele estava se comprometendo para um trabalho com os humanos normais, ou para um evento sobrenatural, mas seria rude perguntar.  Claude e eu ficamos próximos e íntimos novamente. Seguindo as instruções de Al, eu puxei a saia para mostrar minhas pernas. À época que meu vestido representava, eu não acho que as mulheres eram bronzeadas ou depilavam suas pernas, e eu estava bronzeada e lisa como um bumbum de bebê. Mas qual o problema? Provavelmente os rapazes não andavam com a camisa desabotoada, também.  ―Levante sua perna como se você fosse envolvê-lo com ela,‖ Alfred conduzia. ―Agora, Claude, esta é sua chance de brilhar. Olhe como se você estivesse a ponto de puxar as calças a qualquer segundo. Nós queremos que as leitoras ofeguem quando olharem para você!‖  O portfólio de fotos de Claude seria usado quando ele entrasse para a competição do Senhor Romance, orquestrado anualmente pela revista Bookclub Romantic Times.  Quando ele compartilhou sua ambição com Al (eu deduzi que se encontraram em uma festa), Al aconselhou Claude a fazer algumas fotos com o tipo de mulher que muitas vezes apareciam nas capas de romances; ele lhe disse que fadas com aparência morena como Claude seriam realçadas por uma loira de olhos azuis. Aconteceu de eu ser a única loira de seios grandes conhecida de Claude que estava disposta a ajudá-lo gratuitamente. Claro, Claude conhecia algumas strippers que teriam feito isso, mas elas esperavam ser pagas. Com seu tato habitual, Claude tinha me dito isso no nosso caminho para o estúdio do fotógrafo. Claude poderia ter mantido esses detalhes para si mesmo, o que teria deixado eu me sentir bem em ajudar o irmão da minha amiga - mas como é típico de Claude, ele compartilhou.  ―Ok, Claude, agora tire a camisa,‖ Alfred pediu.  Claude estava acostumado a ser convidado a tirar a roupa. Ele tem um largo tórax sem pêlos, com uma musculatura impressionante, assim ele parecia realmente muito bonito, sem camisa. Eu estava imóvel. Talvez esteja ficando imune.  ―Saia, perna,‖ Alfred lembrou-me, e eu disse a mim mesma que isto era um trabalho.
                                                
5  Ankh, (Pronuncia-se Anak) conhecida também como cruz ansata, era na escrita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido também como símbolo da vida eterna. Os egípcios a usavam para indicar a vida após a morte. Hoje, é usada como símbolo pelos neopagãos.  No final do século XIX, o ankh foi agregado pelos movimentos ocultistas que se propagavam, além de alguns grupos esotéricos e as tribos hippies do final da década de 60. Em outras situações, está associado aos vampiros, em mais uma atribuição à longevidade e imortalidade.   http://www.yuzzi.no/imgs/AnkhYvonneMetal%20.jpg
6  Para capas de romances. 7  No Original: ―Miss Stackhouse's neck of the woods‖, expressão com significado de área próxima, vizinhança.
 
Al e Maria-Star eram certamente profissionais e impessoais, e você não conseguia ficar mais controlada que Claude. Mas eu não estava acostumada a puxar minha saia na frente das pessoas, e isso é muito pessoal para mim. Embora eu mostrasse muito esta perna quando usava shorts e nunca fiquei constrangida, de algum modo puxar a longa saia para cima estava um pouco mais carregado com sexualidade. Cerrei os dentes e levantei o tecido, dobrando aos poucos para que ficasse na posição certa.  ―Senhorita Stackhouse, você tem que parecer como se estivesse gostando disso,‖ Al disse. Ele me observou atentamente através de sua câmera, a testa enrugada em uma forma definitivamente infeliz. Tentei não ficar emburrada. Eu disse ao Claude que lhe faria um favor, e favores devem ser feitos de boa vontade. Eu levantei minha perna para que minha coxa ficasse paralela ao chão, e apontei meus dedos do pé descalço para o chão em uma posição que eu esperava estar graciosa. Eu coloquei as duas mãos sobre os ombros nus de Claude e olhei para ele. Sua pele estava quente e suave ao toque – sem ser erótico ou excitante.  ―Você parece entendiada, senhorita Stackhouse,‖ Alfred disse. ―Você deveria parecer como se quisesse agarrá-lo8. Maria-Star, faça ela parecer mais... mais.‖ Maria se aproximou para descer mais as pequenas mangas bufantes em meus braços. Ela ficou um pouco entusiasmada, e eu estava contente do corpete estar apertado.  O fato significativo era: Claude poderia mostrar-se belo e nu o dia todo, e eu ainda não o quereria. Ele estava irritado e tinha maus modos. Mesmo se ele fosse hetero, não teria sido meu companheiro de cama - depois que eu tivesse conversado por dez minutos com ele.  Como o Claude mais cedo, eu teria de recorrer à fantasia.  Pensei no vampiro Bill, meu primeiro amor em todos os sentidos. Mas, ao invés da luxúria, eu senti raiva. Bill estava namorando outra mulher já há algumas semanas.  Ok, que tal Eric, chefe de Bill, o Viking? O vampiro Eric tinha partilhado a minha casa e minha cama por alguns dias em janeiro. Não, esse caminho é muito perigoso. Eric conhece um segredo que eu quero manter oculto o resto dos meus dias, embora, desde que teve amnésia, quando ficou hospedado em minha residência, ele não sabe que essa memória existe.  Alguns outros caras entraram em minha mente - meu chefe, Sam Merlotte, o proprietário do Bar Merlotte's. Não, não vamos por aí9, pensar em seu chefe nu é ruim. Ok, Alcide Herveaux? Não, isso era sem chance10, especialmente já que eu estava na companhia de sua atual namorada... Ok, eu estava sem material para fantasiar e teria de recair sobre um dos meus antigos favoritos da ficção.  Mas estrelas do cinema pareciam insípidas depois do mundo sobrenatural, que eu passei a habitar desde que Bill entrou no Merlotte's.  A última experiência remotamente erótica que eu tive, por estranho que pareça, tinha envolvido minha perna sangrando sendo lambida.  Aquilo tinha sido... Inquietante. Mas mesmo sob as circunstâncias, tinha feito as coisas dentro de mim contraírem espasmodicamente.                                                   8  No original: ―want to jump his bones‖, gíria que significa querer ter sexo com aquela pessoa. 9  No original: ―don't go there‖, gíria com significado de desagrado com o rumo de uma conversa, da forma como o assunto está sendo visto.  10  No original: ―that was a no-go‖, gíria com significado de quando não há chance alguma de algo acontecer.
Eu me lembrei de como a cabeça calva de Quinn tinha se movido enquanto ele limpava meu arranhão de um modo muito pessoal, o aperto firme de seus grandes dedos quentes sobre minha perna... ―Faça isso,‖ disse Alfred, e começou a tirar fotos. Claude colocou a mão na minha coxa nua, quando ele sentiu meus músculos começarem a tremer com o esforço de manter a posição. Mais uma vez, tinha um homem segurando minha perna. Claude apertou minha coxa o suficiente para me dar algum apoio. Isso ajudou bastante, mas não estava nem um pouco erótico.  ―Agora algumas fotos na cama,‖ disse Al, justamente quando decidi que eu não aguentava mais.  ―Não,‖ Claude e eu dissemos em coro.  ―Mas isso é parte do pacote,‖ disse Al. ―Você não precisa se despir, sabe? Eu não faço esse tipo de foto. Minha esposa me mataria. Você só irá deitar na cama do jeito que você está. Claude se apóia sobre um cotovelo e olha para você, senhorita Stackhouse.‖ ―Não,‖ disse com firmeza. ―Tire algumas fotos dele em pé, sozinho na água. Isso será melhor.‖  Havia uma lagoa falsa mais no canto, e as fotos de Claude, evidentemente nu, com gotas de água caindo sobre seu tórax, seriam extremamente atraentes (para qualquer mulher que não o conhecia).  ―O que você pensa sobre isso, Claude?‖ Al perguntou.  O narcisismo de Claude apareceu. ―Eu acho que seria ótimo, Al,‖, disse ele, tentando não soar muito animado.  Eu comecei a ir para o vestiário, ansiosa para me livrar da roupa e voltar para o meu jeans comum. Olhei para o relógio. Eu deveria estar no trabalho às cinco e meia e eu tenho que dirigir de volta para Bon Temps e pegar meu uniforme antes de ir para o Merlotte's.  Claude gritou: ―Obrigado, Sookie.‖  ―Claro, Claude. Boa sorte com os contratos de modelagem.‖ Mas ele já estava se admirando num espelho.  Maria-Star me viu indo embora. ―Adeus, Sookie. Foi bom vê-la novamente.‖  ―Você, também,‖ Eu menti. Até mesmo com as avermelhadas passagens confusas da mente de uma Lobis, eu podia ver que Maria-Star não conseguia entender por que eu deixei Alcide para trás. Afinal, o lobis era bonito de uma forma robusta, um companheiro divertido, e um macho de sangue quente da classe heterossexual. Além disso, ele agora possuía sua própria companhia de inspeção e era um homem rico por seu próprio mérito.  A resposta veio à minha cabeça e eu falei antes de pensar. ―Será que alguém ainda está procurando por Debbie Pelt?‖ Eu perguntei, da mesma maneira que você cutuca um dente dolorido. Debbie tinha sido uma amante eventual de longa data do Alcide. Ela era uma pessoa muito complexa.  ―Não as mesmas pessoas,‖ disse Maria-Star. Sua expressão escureceu. Maria-Star não gostava de pensar em Debbie mais do que eu gostava, sem dúvida, embora por razões diferentes. ―Os detetives contratados pela família Pelt desistiram, disseram que iriam leválos a falência se continuassem. Isso foi o que eu ouvi. A polícia não disse exatamente isso, mas eles chegaram a um beco sem saída, também. Eu só encontrei os Pelts uma vez, quando eles vieram para Shreveport exatamente depois que Debbie desapareceu. Eles são um casal muito selvagem.‖ Pisquei. Esta foi uma declaração bastante drástica, vinda de uma lobis.  ―Sandra, a filha deles, é a pior. Ela era doida por Debbie, e é por causa dela que eles ainda estão consultando as pessoas, algumas pessoas com quem ela saía. Eu mesma acho que Debbie foi sequestrada. Ou talvez ela se matou. Quando Alcide a repudiou, talvez ela tenha perdido seu posto social.‖ ―Talvez,‖ murmurei, mas sem convicção.  ―Ele está melhor. Espero que ela continue desaparecida,‖ disse Maria-Star.  Minha opinião era a mesma, mas ao contrário de Maria-Star, eu sabia exatamente o que aconteceu com Debbie; esta era a carga que tinha me separado de Alcide.  ―Espero que ele nunca a veja novamente,‖ disse Maria-Star, seu bonito rosto moreno mostrando um pouco do seu próprio lado selvagem.  Alcide poderia estar namorando Maria-Star, mas ele não confiava nela totalmente. Alcide conhecia o fato dele nunca mais ver Debbie novamente. E isso era minha culpa, certo?  Eu a matei com um tiro.  Eu estava mais ou menos em paz com meu ato, mas a gritante verdade continuava a aparecer. Não há maneira alguma de você poder matar alguém e chegar ao outro lado da experiência inalterada. As conseqüências alteram sua vida. 
 
Dois padres entraram no bar.  Isto soa como a abertura de um milhão de piadas. Mas estes padres não tinham um canguru com eles, e não havia um rabino sentado no bar, ou uma loira, também. Eu tinha visto muitas loiras, um canguru num zoológico, rabinos nunca. No entanto, eu tinha visto esses dois padres muitas vezes antes. Eles tinham um compromisso permanente de jantar juntos a cada duas semanas.  Padre Dan Riordan, limpo, barbeado e rosado, era o padre católico que vinha para a pequena igreja de Bon Temps uma vez por semana, no sábado, para celebrar a missa, e o padre Kempton Littrell, pálido e barbudo, era o sacerdote episcopal que realizava a Sagrada Eucaristia na minúscula Igreja Episcopal em Clarice uma vez a cada duas semanas.  ―Olá, Sookie,‖ padre Riordan disse. Ele era irlandês; realmente irlandês, não apenas de origem irlandesa. Eu gostava de ouvi-lo falar. Usava óculos com armação grossa preta, e ele estava na casa dos quarenta.  ―Boa noite, padre. E oi para o senhor, padre Littrell. O que eu posso lhes trazer?‖ ―Eu gostaria de uísque com gelo, senhorita Sookie. E você, Kempton?‖  ―Ah, eu só vou tomar uma cerveja. E uma cesta de tiras de frango, por favor.‖ O sacerdote episcopal usava óculos com bordas douradas, e ele era mais jovem que o padre Riordan. Ele tem um coração consciencioso.  ―Claro.‖ Sorri para os dois. Desde que eu podia ler seus pensamentos, eu sabia que ambos eram realmente bons homens, o que me fazia feliz. É sempre desconcertante ouvir o conteúdo da cabeça de um padre e descobrir que ele não é melhor que você, e não só isso, ele não está tentando ser.  Já que lá fora estava ficando escuro, eu não fiquei surpresa quando Bill Compton entrou. Eu não pude dizer o mesmo dos padres. As igrejas da América não tinham enfrentado a realidade dos vampiros. Chamar suas políticas de confusas era ser gentil. A Igreja Católica estava neste momento organizando uma convocação para decidir se a Igreja irá declarar todos os vampiros amaldiçoados e excomungar os católicos, ou aceitá-los na congregação de fiéis como potenciais convertidos. A Igreja Episcopal tinha votado contra a aceitação de vampiros como sacerdotes, embora fossem autorizados a tomar a comunhão – mas, uma fatia substancial dos lacaios disse que só sobre seus cadáveres. Infelizmente, a maioria deles não compreendia como isso seria possível.  Ambos os sacerdotes assistiram tristemente quando Bill me deu um beijo rápido na bochecha e se sentou em sua mesa favorita. Bill mal olhou para eles, apenas desdobrou o jornal e começou a ler. Ele parecia sério, como se estivesse lendo as páginas financeiras ou as notícias do Iraque; mas eu sabia que ele lia as colunas de conselhos primeiro, e depois os quadrinhos, embora muitas vezes ele não entendesse as piadas.  Bill estava sozinho, o que era uma mudança agradável. Normalmente, ele traz a adorável Selah Pumphrey. Eu a detestava. Considerando que Bill foi meu primeiro amor e meu primeiro amante, talvez eu nunca fique desligada completamente dele.  Talvez ele não queira que eu fique. Ele parecia arrastar Selah para o Merlotte‘s a cada encontro que eles tinham. Eu imaginei que ele a estava esfregando na minha cara. Não é exatamente o que você faz se você não se importa mais, né?  Sem que pedisse, eu levei para ele a sua bebida favorita, TrueBlood tipo O. Eu coloquei a garrafa impecavelmente na frente dele sobre um guardanapo, e virei para ir embora quando uma mão fria tocou meu braço. Seu toque me sacudia, talvez sempre vá sacudir. Bill sempre demonstrou que eu o excitava, e depois de toda uma vida sem relacionamento e nenhum sexo, eu comecei a andar nas nuvens quando Bill deixou claro que ele me achava atraente. Outros homens passaram a olhar para mim como se eu estivesse mais interessante, também. Agora eu sabia por que as pessoas pensam tanto em sexo; Bill tinha me dado uma educação completa.  ―Sookie, fique por um momento.‖ Eu olhei nos olhos castanhos, que pareciam mais escuros no rosto branco de Bill. Seu cabelo era castanho também, suave e elegante. Ele era magro, de ombros largos, os braços com músculos rígidos, como o fazendeiro que ele tinha sido. ―Como tem passado?‖  ―Estou bem,‖ eu disse, tentando não soar surpreendida. Poucas vezes Bill passava nesta hora do dia; conversa fiada não era o seu ponto forte. Mesmo quando éramos um casal, ele não foi o que você chamaria de ‗falador‘. E mesmo um vampiro pode ser um workaholic; Bill tinha se tornado um viciado em computador. ―As coisas estão bem com você?‖  ―Sim. Quando você vai à Nova Orleans para reivindicar a sua herança?‖  Agora eu estava realmente surpresa. (Isto é possível porque eu não posso ler mentes de vampiros. É por isso que eu gosto tanto de vampiros. É maravilhoso estar com alguém que é um mistério para mim.) Minha prima havia sido assassinada há quase seis semanas em Nova Orleans, e Bill esteve comigo quando o emissário da rainha da Louisiana tinha vindo para me dar a notícia... E me entregar o assassino para meu julgamento.11  ―Eu penso que vou passar pelo apartamento de Hadley algum dia no próximo mês ou algo assim. Eu ainda não falei com Sam sobre tirar alguns dias de folga.‖  ―Lamento que tenha perdido sua prima. Você está sofrendo?‖ Eu não via Hadley há anos, e teria sido mais estranho do que posso dizer, encontrá-la depois que ela se tornou uma vampira. Mas como sou uma pessoa com poucas relações vivas, eu odeio perder uma sequer. ―Um pouco,‖ eu disse.  ―Você não sabe quando poderá ir?‖ ―Ainda não decidi. Você se lembra do advogado dela, o senhor Cataliades? Ele disse que me contaria quando o testamento passasse pela legitimação. Ele prometeu manter o local intacto para mim, e quando o conselheiro da rainha diz que o lugar estará intacto, você                                                 
11  História contada no conto ―One word answer‖
 
tem que acreditar que ficará intacto. Eu não estou realmente muito interessada, para dizer a verdade.‖ ―Eu posso ir com você quando for para Nova Orleans, se você não se importar em ter um companheiro de viagem.‖  ―Puxa,‖ eu disse, com apenas uma pitada de sarcasmo, ―Selah não se importará? Ou você vai levá-la também?‖ Isso propiciaria uma viagem alegre.  ―Não.‖ E ele se fechou. Você simplesmente não consegue nada de Bill quando ele fica segurando sua boca assim, eu sabia por experiência. Ok, fiquei envergonhada.  ―Deixarei você saber,‖ eu disse, tentando entendê-lo. Embora fosse doloroso estar na companhia de Bill, eu confiava nele. Bill nunca me prejudicaria. Ele não iria deixar ninguém me prejudicar, tampouco. Mas há mais de um tipo de dano.  ―Sookie,‖ padre Littrell chamou, e saí às pressas.  Olhei para trás para apanhar Bill sorrindo, um pequeno sorriso com muita satisfação embalado nele. Eu não tinha certeza o que aquilo significava, mas gostei de ver o sorriso de Bill. Será que ele está esperando reavivar nossa relação?  Padre Littrell disse, ―Nós não tínhamos certeza se você queria ser interrompida ou não.‖ Eu olhei para ele, confusa.  ―Estávamos um pouco preocupados ao ver você consorciar com o vampiro por tanto tempo, e tão intensamente,‖ Padre Riordan disse. ―Estava o demônio do inferno tentando trazê-la sob seu feitiço?‖  De repente, seu sotaque irlandês não ficou mais encantador. Eu olhei para padre Riordan de forma zombadora. ―Você está brincando, certo? Você sabe que Bill e eu namoramos por um bom tempo. Obviamente, você não sabe muito sobre diabinhos do inferno se você acredita que Bill é algo parecido.‖ Eu tinha visto coisas muito mais obscuras que Bill em nossa honrada cidade de Bon Temps. Algumas dessas coisas tinham sido humanas. ―Padre Riordan, eu dou conta de minha própria vida. Eu sei da natureza dos vampiros melhor do que você jamais saberá. Padre Littrell,‖ eu disse, ―Você quer mostarda de mel ou ketchup em suas tiras de frango?‖  Padre Littrell escolheu mostarda de mel, totalmente pasmado. Eu fui embora, tentando não fazer caso do pequeno incidente, imaginando o que os dois padres fariam se soubessem o que havia acontecido neste bar há alguns meses atrás, quando a clientela se uniu para me livrar de alguém que estava tentando me matar.  Já que esse alguém foi um vampiro, eles provavelmente teriam aprovado.  Antes de sair, o padre Riordan veio para ‗ter uma palavra‘ comigo. ―Sookie, eu sei que você não está feliz comigo no momento, mas eu preciso te perguntar uma coisa em nome de outra pessoa. Se eu te fiz ficar menos inclinada a ouvir pelo meu comportamento, por favor, ignore e dê a estas pessoas a mesma consideração que você teria.‖ Suspirei. Pelo menos padre Riordan tentava ser um bom homem. Concordei relutantemente.  ―Boa menina. Uma família de Jackson entrou em contato comigo...‖  Todos os meus alarmes começaram a tocar. Debbie Pelt era de Jackson.  ―A família Pelt, eu sei que você já ouviu falar deles. Eles ainda estão à procura de notícias sobre sua filha, que desapareceu em janeiro. Debbie, era o seu nome. Eles me chamaram porque o padre deles me conhece, sabe que eu sirvo à congregação de Bon Temps. Os Pelts gostariam de visitá-la, Sookie. Eles querem falar com todo mundo que viu sua filha na noite em que desapareceu, e temem que se aparecerem à sua porta, talvez você não queira vê-los. Eles têm medo que você esteja com raiva por causa do interrogatório de seus detetives particulares, dos policiais que falaram contigo, e talvez você possa estar indignada com tudo isso.‖ ―Eu não quero vê-los,‖ eu disse. ―Padre Riordan, eu disse tudo o que sei.‖ Isso era verdade. Eu só não havia dito à polícia ou aos Pelts. ―Eu não quero falar mais sobre Debbie.‖ Isso também era verdadeiro, muito verdadeiro. ―Diga a eles, com todo respeito, que não há mais nada para falar.‖ ―Eu vou dizer a eles,‖ disse ele. ―Mas eu tenho que dizer, Sookie, estou decepcionado.‖  ―Bem, eu acho que foi uma noite ruim para mim no geral,‖ eu disse. ―Desperdiçando seu bom julgamento, e tudo.‖  Ele partiu sem outra palavra, que era exatamente o que eu queria. 
 
Na noite seguinte, estava perto da hora de fechar, quando outra coisa estranha aconteceu. No momento em que Sam nos deu o sinal para começar a contar aos nossos clientes que esta seria sua última bebida, alguém que eu pensei que nunca veria outra vez entrou no Merlotte's.  Ele se moveu muito quietamente para um homem tão grande. Ele simplesmente permaneceu perto da porta, procurando por uma mesa livre, e eu o notei por causa do vislumbre rápido da luz ofuscante do bar sobre a sua cabeça raspada. Ele era muito alto e muito amplo, com um orgulhoso nariz e grandes dentes brancos. Ele tinha lábios carnudos e pele verde-oliva e estava usando uma espécie de jaqueta esporte bronze sobre uma camisa preta e calças compridas. Embora ele tivesse parecido mais natural em botas de motociclista, estava usando mocassins polidos.  ―Quinn,‖ Sam disse calmamente. Suas mãos ficaram imóveis, embora ele estivesse no meio da mistura de um Tom Collins12. ―O que ele está fazendo aqui?"  ―Eu não sabia que você o conhecia,‖ eu disse, sentindo meu rosto corar quando percebi que eu estive pensando no careca apenas um dia antes. Ele tinha sido o único que tinha limpado o sangue da minha perna com sua língua - uma experiência interessante.  ―Todos em meu mundo conhecem Quinn,‖ disse Sam, com o rosto neutro. ―Mas eu estou surpreso que você o conheça, já que você não é uma metamorfa.‖ Ao contrário de Quinn, Sam não é um homem grande, mas ele é muito forte, como metamorfos tendem a ser, e seu cabelo encaracolado vermelho-ouro formava um halo em volta de sua cabeça de uma forma angelical.  ―Eu conheci Quinn na competição para líder do bando,‖ eu disse. ―Ele foi o, ah, mestre de cerimônias.‖ Naturalmente, Sam e eu conversamos sobre a mudança de liderança no bando de Shreveport. Shreveport não está muito longe de Bon Temps, e o que os lobos fazem é bem importante se você for um metamorfo de qualquer tipo.  Um metamorfo verdadeiro, como Sam, pode mudar em qualquer coisa, embora cada metamorfo tenha um animal favorito. E para confundir o assunto, todos aqueles que podem mudar de forma humana para forma animal chamam a si mesmos de troca-formas, embora muito poucos possuam a versatilidade de Sam. Metamorfos que podem mudar apenas em um único animal são os homens-animal: homens-tigre (como Quinn), homens-urso, lobisomens. Os lobos são os únicos que chamam a si mesmos simplesmente Lobis, e eles se consideram superiores em resistência e cultura a qualquer outra forma de metamorfos.  Lobis são também o grupo mais numeroso de metamorfos, ainda que em comparação à população total de vampiros, há consideravelmente poucos deles. Há várias razões para isso. A taxa de natalidade dos Lobis é baixa, a mortalidade infantil é superior ao da população geral dos seres humanos, e apenas o primeiro filho nascido de um puro casal Lobis transforma-se num Lobis completo. Isso acontece durante a puberdade - como se a puberdade já não fosse ruim o suficiente.  Metamorfos são muito reservados. É um hábito difícil de mudar, até mesmo ao redor de um humano simpatizante e estranho como eu. Os metamorfos não se revelaram para a opinião pública ainda, e eu estou aprendendo sobre o seu mundo aos poucos.  Até mesmo Sam tem muitos segredos que eu não sei, e eu o considero como um
12  Uma bebida muito conhecida, feita com gin, suco de limão e água com gás.
 
amigo. Sam se transforma em um collie13, e ele sempre me visita dessa forma (às vezes ele dorme no tapete do meu quarto). Eu só vi Quinn em sua forma humana.  Eu não tinha mencionado Quinn quando eu contei para Sam sobre a luta entre Jackson Herveaux e Furnan Patrick para a liderança do bando de Shreveport. Sam estava carrancudo comigo agora, descontente por eu ter guardado isso dele, mas eu não tinha feito de propósito. Voltei e dei uma olhada em Quinn. Ele tinha erguido o nariz um pouco. Ele estava tomando uma amostra do ar, seguindo um cheiro. O que ele estava rastreando?  Quando Quinn foi infalivelmente para uma mesa na minha seção, apesar das muitas mesas vazias da seção mais próxima que Arlene estava trabalhando, eu sabia que ele estava atrás de mim.  Ok, sentimentos confusos sobre isso.  Olhei lateralmente para Sam para ver a sua reação. Eu tinha confiado nele por cinco anos, e ele nunca me falhou.  Agora Sam acenou para mim. Ele não me parecia feliz, entretanto. ―Vá ver o que ele quer,‖ disse ele, sua voz tão baixa que era quase um rosnado.  Eu fiquei mais e mais nervosa à medida que me aproximava do novo cliente. Eu podia sentir meu rosto corar. Por que eu estava ficando tão nervosa?  ―Olá, senhor Quinn,‖ eu disse. Seria estúpido fingir que eu não o reconheci. ―O que eu posso te trazer? Eu lamento que estejamos prestes a fechar, mas eu tenho tempo para te servir uma cerveja ou um drink.‖  Ele fechou os olhos e respirou fundo, como se ele estivesse me inalando. ―Eu reconheceria você em um aposento preto como carvão,‖ disse ele, e sorriu para mim. Era um sorriso largo e bonito.  Olhei para outra direção, contendo o sorriso involuntário que subiu para os meus lábios. Eu estava agindo, tipo... Tímida.  Eu nunca agi timidamente. Ou, talvez, envergonhada fosse um termo melhor, e um que eu não gostava. ―Acho que eu deveria dizer obrigada,‖ arrisquei com cautela. ―Isso é um elogio?‖  ―A intenção foi essa. Quem é o cão atrás do bar, que está me dando um olhar fiqueafastado?‖  Ele quis dizer cão como uma declaração de fato, não como um termo depreciativo.  ―Aquele é meu chefe, Sam Merlotte‖.  ―Ele tem um interesse em você.‖ ―Espero que sim. Eu trabalho para ele há mais ou menos cinco anos.‖ ―Hmmm. Que tal uma cerveja?‖ ―Claro. Que tipo?‖ ―Bud14.‖ ―É pra já,‖ eu disse, e virei para ir. Eu sabia que ele me assistia por todo o caminho até o bar, porque eu podia sentir seu olhar. E eu sabia de sua mente, embora a dele fosse uma mente de metamorfo rigorosamente guardada, que estava me olhando com admiração.  ―O que ele quer?‖ Sam parecia quase... Eriçado. Se ele estivesse em forma de cão, os pêlos em suas costas estariam em pé.
 
13  http://www.escoladecaes.com.br/curiosidade/Collie.jpg
14 http://2.bp.blogspot.com/_AHXuJsjCIwg/SwMngJGchwI/AAAAAAAAAhw/LVicwukCRQ0/s1600/ budweiser_fifa.jpg
 
―Uma Bud,‖ eu disse.  Sam fechou a cara para mim. ―Isso não é o que eu quis dizer, e você sabe disso.‖  Eu dei de ombros. Eu não tinha idéia do que Quinn queria. Sam bateu o copo cheio diretamente no bar perto de meus dedos, me fazendo saltar. Eu lhe dei um olhar fixo para ter certeza que ele notou que eu estava descontente, e em seguida levei a cerveja ao Quinn.  Quinn me deu o valor da cerveja e uma boa gorjeta - não uma ridiculamente alta, que teria me feito sentir comprada - a qual eu passei despercebida para meu bolso. Comecei a fazer a ronda das minhas outras mesas. ―Você está visitando alguém nessa área?‖ Perguntei ao Quinn quando eu passei por ele no meu caminho de volta após acertar a conta de outra mesa. A maioria dos clientes estava pagando e deixando o Merlotte's à deriva. Havia um lugar after hours, que Sam fingiu que não conhecia, num caminho para o interior, mas a maioria dos frequentadores habituais do Merlotte‘s estaria indo para casa dormir. Se um bar poderia ser de ambiente familiar, o Merlotte‘s era.  ―Sim,‖ disse ele. ―Você‖.  Isso me deixou sem ter para onde ir, através da conversa.  Eu continuei andando e descarreguei os copos da minha bandeja tão distraída, que quase deixei cair um. Eu não poderia pensar no porque eu estar tão agitada.  ―Negócios ou pessoal?‖ Eu perguntei, da outra vez que eu estava perto.  ―Ambos,‖ disse ele.  Um pouco do prazer sumiu quando ouvi sobre a parte do negócio, mas fiquei com uma atenção aguçada... E isso foi uma coisa boa. Você precisa de todo o seu juízo afiado quando lidar com os sobrenaturais. Seres sobrenaturais têm objetivos e desejos que as pessoas normais não alcançam. Eu sabia disso, já que passei toda a minha vida sendo a confidente involuntária das metas e desejos dos humanos ―normais‖.  Quando Quinn era uma das poucas pessoas restantes no bar - além das outras garçonetes e Sam - ele se levantou e olhou esperançosamente para mim. Fui até lá, sorrindo brilhantemente, como eu faço quando estou tensa. Eu fiquei interessada em descobrir que Quinn estava quase igualmente tenso. Eu podia sentir a tensão no seu padrão cerebral.  ―Vou vê-la em sua casa, se for agradável para você‖. Ele me olhou sério. ―Se isso a deixa nervosa, podemos nos encontrar em outro lugar. Mas eu quero falar com você hoje à noite, a menos que você esteja exausta‖.  Isto tinha sido educado o suficiente. Arlene e Danielle estavam se esforçando para não olhar - bem, elas estavam se esforçando para encará-lo apenas quando sabiam que Quinn não iria pegá-las - mas Sam tinha virado suas costas para mexer com algo atrás do bar, ignorando o outro metamorfo. Ele estava se comportando muito mal.  Rapidamente eu processei o pedido de Quinn. Se ele fosse para minha casa, eu estaria à sua mercê. Eu moro em um lugar remoto. Meu vizinho mais próximo é o meu ex, Bill, e ele vive totalmente do outro lado do cemitério. Por outro lado, se Quinn fosse um encontro regular meu, eu o deixaria me levar para casa sem pensar duas vezes. Do que eu podia pegar em seus pensamentos, ele não pensa em me causar dano.  ―Tudo bem,‖ eu disse, finalmente. Ele relaxou e sorriu seu grande sorriso para mim de novo.  Eu tirei seu copo vazio e me dei conta que três pares de olhos estavam me olhando com desaprovação. Sam estava decepcionado, Danielle e Arlene não conseguiam entender por que alguém iria preferir-me a elas, embora Quinn até mesmo vacilou por aquelas duas garçonetes experientes. Quinn emitia um sinal de diversidade que deve ser perceptível até mesmo para o humano mais prosaico. ―Terminarei em apenas um minuto,‖ eu disse.  ―Tome o seu tempo.‖ Eu terminei de preencher os retângulos de porcelana chinesa de cada mesa com os pacotes de açúcar e adoçante. Assegurei-me que os porta-guardanapo estivessem cheios e verifiquei os recipientes de sal e pimenta. Logo eu havia terminado. Peguei a minha bolsa do escritório de Sam e me despedi.  Quinn saiu para me seguir em uma caminhonete verde escura. Sob as luzes do estacionamento, a caminhonete parecia nova em folha, brilhando com pneus e calotas resplandecentes, uma cabine estendida, e uma caçamba coberta. Eu apostaria um bom dinheiro que ela estava carregada com opções. A caminhonete de Quinn era o mais extravagante veículo que eu tinha visto em muito tempo. Meu irmão, Jason, teria babado, e ele tem redemoinhos rosa e azul-água pintados na lateral de sua caminhonete.  Eu dirigi para o sul na estrada Hummingbird e virei à esquerda para minha entrada. Depois de seguir o caminho por dois hectares de mata, cheguei à clareira onde a antiga casa de nossa família estava. Eu tinha ligado as luzes exteriores antes de sair, e havia uma luz de segurança no poste elétrico, que era automático, assim a clareira era bem iluminada. Eu dirigi até o estacionamento atrás da casa, e Quinn estacionou bem ao meu lado.  Ele saiu de sua caminhonete e olhou em volta. A luz de segurança mostrou-lhe um quintal limpo. O caminho de acesso estava em excelente condição, e eu recentemente pintei novamente o galpão de ferramentas nos fundos. Havia um tanque de propano, que nenhuma quantidade de paisagismo podia disfarçar, mas a minha avó tinha plantado muitos canteiros de flores para acrescentar aos que a minha família havia construído ao longo dos cento e cinquenta e tantos anos que a família viveu aqui. Eu tenho vivido nesta terra, nesta casa, desde os sete anos de idade, e eu a amava. Não há nada de grandioso sobre minha casa. Ela começou como uma casa de fazenda da família e tem sido ampliada e remodelada ao longo dos anos. Eu a mantenho limpa, e eu tento manter o quintal em bom estado. Grandes reparos estão além das minhas habilidades, mas Jason às vezes me ajuda. Ele não tinha ficado feliz quando vovó deixou-me a casa e a terra, mas ele se mudou para a casa de nossos pais quando completou vinte e um, e eu nunca o tinha feito me pagar por minha metade daquela propriedade. A vontade de vovó parecia justa para mim. Levou um tempo para Jason admitir que isso tinha sido a coisa certa para ela fazer. Nós ficamos mais íntimos nos últimos meses. Abri a porta dos fundos e conduzi Quinn para a cozinha. Ele olhou curiosamente ao redor dela enquanto eu pendurei minha jaqueta em uma das cadeiras empurradas debaixo da mesa no meio da cozinha onde eu como todas as minhas refeições. ―Isto não está terminado,‖ Quinn disse. Os gabinetes estavam descansando no chão, prontos para serem montados. Depois disso, todo o cômodo teria que ser pintado e as prateleiras instaladas. Então eu poderei descansar tranquila.  ―Minha velha cozinha foi incendiada completamente algumas semanas atrás,‖ eu disse. ―O construtor teve um cancelamento e conseguiu este feito em tempo recorde, mas como os gabinetes não chegaram a tempo, ele colocou sua equipe em outro trabalho. Até o momento que os gabinetes chegaram aqui, eles estavam quase terminando lá. Eu acho que eles vão voltar, eventualmente.‖ Enquanto isso, pelo menos eu podia desfrutar de estar de volta à minha própria casa. Sam tinha sido tremendamente amável em me deixar viver em uma de suas casas de aluguel (e caramba, eu tinha desfrutado do chão nivelado e o encanamento novo e os vizinhos), mas não há nada como estar em casa.  O novo fogão estava em casa, assim eu poderia cozinhar, e eu tinha posto uma placa de compensado por cima dos gabinetes de modo que eu pudesse usá-los como um local de trabalho, enquanto eu estivesse cozinhando. A nova geladeira cintilava e zumbia sossegadamente, muito ao contrário de uma que vovó teve durante trinta anos. A renovação da cozinha me surpreendia toda vez que eu cruzava a varanda - agora maior e fechada - para abrir a nova porta traseira mais pesada, com seu olho mágico e fechadura.  ―Isto é onde começa a casa velha,‖ eu disse, indo da cozinha para o corredor. Apenas algumas placas tiveram que ser substituídas no chão do resto da casa, e tudo foi limpo e pintado recentemente.  Não só as paredes e tetos ficaram manchados com fumaça, mas eu tive que erradicar o cheiro de queimado. Eu tinha substituído algumas cortinas, jogado fora um tapete ou dois, e limpado, limpado, limpado. Este projeto tinha ocupado cada momento extra acordada que eu tive há muito tempo.  ―Um bom trabalho,‖ comentou Quinn, estudando como as duas partes ficaram unidas.  ―Venha para a sala de estar,‖ disse, satisfeita. Eu gostava de mostrar para alguém a casa, agora que eu sabia que o estofamento estava limpo, não havia bolas de poeira, e os vidros sobre as fotos estavam simplesmente brilhantes.  As cortinas da sala de estar tinham sido substituídas, algo que eu queria fazer pelo menos há um ano.  Deus abençoe o seguro, e Deus abençoe o dinheiro que eu tinha ganhado escondendo Eric de um inimigo. Eu abri um buraco na minha conta poupança, mas eu tinha quando precisei, e isso era algo pelo qual eu poderia estar agradecida.  A lareira estava pronta para um fogo, mas estava muito quente para justificar uma iluminação. Quinn sentou em uma poltrona, e eu sentei em frente a ele. ―Posso te pegar uma bebida - uma cerveja ou um café ou chá gelado?‖ Eu perguntei, consciente do meu papel de anfitriã.  ―Não, obrigado,‖ disse ele. E sorriu para mim. ―Eu queria ver você de novo desde que eu a conheci em Shreveport.‖  Eu tentei manter meus olhos nele. O impulso de olhar para os meus pés ou minhas mãos foi quase esmagador. Seus olhos eram realmente profundos, marrom púrpura profundo, eu me lembrava. ―Foi um dia difícil para o Herveauxes,‖ eu disse.  ―Você namorou Alcide por um tempo,‖ ele observou, em uma espécie de voz neutra.  Pensei em algumas possíveis respostas. Eu resolvi por, ―Eu não o vejo desde a competição de liderança do bando.‖ Ele sorriu largamente. ―Então ele não é o seu fixo?‖ Eu balancei minha cabeça.  ―Então você está disponível?‖ ―Sim.‖ ―Não serei fura-olho15 de ninguém?‖ Eu tentei sorrir, mas o meu esforço não foi feliz. ―Eu não diria isso.‖ Havia pessoas. Eles não ficariam felizes. Mas eles não têm qualquer direito de estarem no caminho.  ―Eu acho que posso lidar com algum ex descontente. Então você vai sair comigo?‖ 
                                                
15  No original: "No toes I'd be stepping on?‖. A expressão ―stepping on toes‖ significa gostar de /ficar com uma pessoa com quem um amigo seu está namorando. Uma gíria brasileira com esse significado seria o famoso fura-olho =].
 
Olhei para ele por um segundo ou dois, vasculhando a minha mente por considerações. Do cérebro dele eu nada recebia, só esperança: eu não vi nenhum artifício ou egoísmo. Quando examinei as reservas que eu tinha, elas se dissolveram em nada.  ―Sim,‖ eu disse. ―Eu vou.‖ Seu bonito sorriso branco me estimulou a sorrir em troca, e desta vez o meu sorriso foi genuíno.  ―Ora,‖ disse ele. ―Nós negociamos a parte do prazer. Agora, a parte dos negócios, que não está associada.‖  ―Ok,‖ eu disse, e ofereci meu sorriso. Eu esperava que tivesse oportunidade de mudar o curso depois disso, mas qualquer negócio que ele tivesse comigo estaria relacionado com o sobrenatural, portanto, motivo de ansiedade.  ―Você já ouviu falar sobre a cúpula regional?‖  A cúpula dos vampiros: os reis e rainhas de um grupo de estados que se reúnem para deliberar sobre coisas... vampíricas. ―Eric disse algo sobre isso.‖  ―Ele já a contratou para trabalhar lá?‖  ―Ele mencionou que pode precisar de mim.‖ ―A rainha da Louisiana descobriu que eu estava na área, e ela me pediu para solicitar seus serviços. Penso que a oferta dela cancelaria a do Eric.‖  ―Você tem que perguntar ao Eric sobre isso.‖  ―Eu acho que você teria que lhe dizer. Os desejos da rainha são ordens para Eric.‖  Eu pude sentir minha cara cair. Eu não queria falar nada com Eric, o xerife da Área Cinco de Louisiana. Os sentimentos de Eric por mim estavam confusos. Posso assegurar para vocês, vampiros não gostam de se sentir confusos. O xerife tinha perdido sua memória num curto período de tempo que passou escondido na minha casa. Essa lacuna de memória tinha conduzido Eric à loucura; ele gostava de estar no controle, e isso significava estar ciente das suas próprias ações a cada segundo da noite. Assim ele esperou até que pudesse realizar uma ação em meu favor, e como forma de pagamento para essa ação ele exigiu a minha explicação do que tinha acontecido enquanto ele ficou comigo.  Talvez eu tenha levado a coisa da franqueza um pouco longe demais. Eric não ficou exatamente surpreso por termos feito sexo; mas ele ficou chocado quando eu lhe disse que ele tinha oferecido desistir de sua posição conquistada à duras penas na hierarquia dos vampiros e vir viver comigo. Se você conhecesse Eric, saberia que isso foi bastante intolerável para ele.  Ele não fala mais comigo. Ele me encarou quando nos encontramos, como se ele estivesse tentando ressuscitar suas próprias memórias da época, para provar que estou errada. Fiquei triste ao ver que a relação que nós tivemos - não a felicidade secreta dos poucos dias que ele passou comigo, mas a relação divertida entre um homem e uma mulher que tinham pouco em comum, mas senso de humor - não pareceu existir mais.  Eu sabia que dependia de mim dizer-lhe que sua rainha o tinha substituído, mas tenho certeza que não queria.  ―Todo o sorriso se foi,‖ observou Quinn. Ele parecia sério.  ―Bem, Eric é um...‖ Eu não sabia como terminar a frase. ―Ele é um cara complicado,‖ eu disse não convincente.  ―O que devemos fazer no nosso primeiro encontro?‖ Quinn perguntou. Então ele era bom em trocar de assunto.  ―Nós poderíamos ir ao cinema,‖ eu disse, para começar a conversa.  ―Nós poderíamos. Depois disso, nós poderíamos jantar em Shreveport. Talvez no Ralph e Kacoo's,‖ sugeriu ele. 
―Eu soube que seu étouffée de lagostim16 é ótimo,‖ eu disse, mantendo a conversa rolando.  ―E quem não gosta de étouffé de lagostim? Ou nós poderíamos ir ao boliche.‖  Meu tio-avô tinha sido um ávido jogador de boliche. Eu podia ver seus pés, em seus sapatos de boliche, em frente de mim. Estremeci. ―Não sei como.‖  ―Nós poderíamos ir a um jogo de hóquei.‖ ―Isso poderia ser divertido.‖ ―Nós poderíamos cozinhar juntos em sua cozinha, e em seguida, assistir a um filme em seu DVD.‖  ―Melhor colocar isso no fim da lista.‖ Isso soou um pouco pessoal demais para um primeiro encontro, não que eu tivesse muita experiência com os primeiros encontros. Mas eu sei que a proximidade de um quarto nunca é uma boa idéia, a menos que você esteja certo que não se importará se o fluxo da noite te levasse para esta direção.  ―Nós poderíamos assistir ―Os Produtores‖. Está vindo para Strand.‖ ―Sério?‖ Ok, eu estava animada agora. O restaurado teatro de Shreveport, hospedado em Strand, encenava produções em excursão que iam desde peças até balé. Eu nunca tinha assistido a uma peça de verdade antes. Isso não seria muito caro? Certamente ele não teria sugerido se não pudesse pagar. ―Podemos?‖  Ele balançou a cabeça, satisfeito com a minha reação. ―Eu posso fazer as reservas para este fim de semana. E quanto a seu horário de trabalho?‖  ―Eu estou livre na sexta à noite,‖ eu disse alegremente. ―E, hum, ficarei feliz em contribuir com meu ingresso.‖  ―Eu convidei você. Minha conta,‖ Quinn disse com firmeza. Eu poderia ler seus pensamentos e ele pensou que era surpreendente o que eu tinha oferecido. E impressionante... Hmmm. Eu não gostei disso. ―Ok, então. Está resolvido. Quando eu voltar para o meu laptop, pedirei os ingressos on-line. Sei que existem alguns bons à esquerda, porque eu estava verificando as nossas opções antes de vir pra cá.‖  Naturalmente, eu comecei a me perguntar sobre a roupa adequada. Mas eu armazenei isso para mais tarde. ―Quinn, onde você vive na verdade?‖  ―Eu tenho uma casa fora de Memphis.‖ ―Oh,‖ eu disse, pensando que parecia muito longe para um relacionamento de namoro.  ―Eu sou sócio de uma empresa chamada Eventos Especiais. Nós somos um tipo de ramo secreto de Extrema(mente Elegante) Eventos. Você viu o logotipo, eu sei. E(E)E?‖ Ele fez os parênteses com os dedos. Concordei.  E(E)E fez um monte de eventos extravagantes projetados nacionalmente. ―Há quatro sócios que trabalham em tempo integral para Eventos Especiais, e cada um de nós contrata algumas pessoas por meio período ou integral. Já que nós viajamos muito, temos lugares que usamos por todo o país; alguns deles são apenas salas em casas de amigos ou associados, e alguns deles são apartamentos reais. O lugar que eu fico nesta área está em Shreveport, uma casa de hóspedes atrás da mansão de um metamorfo.‖ Eu aprendi muito sobre ele em dois minutos. ―Então, você representa os eventos no mundo sobrenatural, como a competição para liderança do bando.‖ Que tinha sido um trabalho perigoso e que exigiu um monte de parafernália especializada. ―Mas o que há mais                                                  16  Prato tradicional da Louisiana a base de arroz e molho de lagostim, que também pode ser feito com camarões ou carne de caranguejo para fazer? A competição de liderança do bando só pode surgir de vez em quando. Quanto você tem que viajar? Que outros eventos especiais você pode organizar?‖  ―Eu geralmente controlo o sudeste, Geórgia e todo o Texas.‖ Ele se sentou na ponta da sua cadeira, as mãos grandes descansando sobre os joelhos. ―Tennessee ao sul pela Flórida. Nesses Estados, se você quiser organizar uma luta para liderança de bando, ou um rito de ascensão de um xamã ou feiticeiro, ou um casamento vampírico hierarquizado - e você deseja fazê-lo bem, com todas as guarnições - você vem para mim.‖ Lembrei-me das imagens extraordinárias da galeria de fotos de Alfred Cumberland. ―Então há o suficiente para mantê-lo ocupado?‖  ―Oh, sim,‖ disse ele. ―É claro que algo nisso é sazonal. Vampiros se casam no inverno, pois as noites são mais longas. Eu fiz um casamento hierarquizado em Nova Orleans, em janeiro, no ano passado. E então, algumas das vezes as ocasiões estão ligadas ao calendário Wicca. Ou a puberdade.‖  Eu não poderia começar a imaginar as cerimônias que ele organizou, mas uma descrição teria que esperar para outra ocasião. ―E você tem três parceiros que fazem isso em tempo integral, também? Sinto muito. Parece que estou interrogando você. Mas esta é uma forma interessante de ganhar a vida.‖  ―Estou feliz por você pensar assim. Você precisa ter muitas habilidades e ter uma mente para detalhes e organização.‖  ―Você tem que ser realmente, realmente, obstinado,‖ murmurei, acrescentando ao meu próprio pensamento.  Ele sorriu, um sorriso lento. ―Não há problema.‖  É, não parece que a obstinação era um problema para Quinn.  ―E você tem que ser bom em avaliar pessoas, para que você possa orientar os clientes na direção certa, deixá-los felizes com o trabalho que fazemos,‖ disse ele.  ―Pode me contar algumas histórias? Ou há uma cláusula de confidencialidade do cliente com o seu trabalho?‖  ―Clientes assinam um contrato, mas nenhum deles já solicitou uma cláusula de confidencialidade,‖ disse ele. ―Na Eventos Especiais, você não tem muita chance para falar sobre o que você faz, obviamente, uma vez que os clientes, na sua maioria, ainda transitam abaixo da superfície do mundo normal. É realmente um tipo de alívio falar sobre isto. Eu geralmente tenho que falar para uma garota que eu sou um consultor, ou algo falso como isso.‖ ―É um alívio para mim, também, poder falar sem me preocupar se eu estou contando segredos.‖ ―Então é sorte acharmos um ao outro, hein?‖ Novamente, o sorriso branco. ―É melhor eu deixá-la descansar um pouco, já que você acabou de sair do trabalho.‖ Quinn se levantou e se esticou para depois atingir sua altura máxima. Foi um gesto impressionante para alguém tão forte quanto ele. Era possível que Quinn soubesse como era excelente vê-lo quando se esticava. Olhei para baixo para esconder meu sorriso. Eu não me importei nem um pouco se ele queria me impressionar.  Ele alcançou minha mão e me puxou em um movimento fácil. Eu podia sentir seu foco centrado em mim. Sua própria mão estava quente e dura. Ele poderia quebrar meus ossos com ela.  A mulher comum não estaria ponderando quão rápido seu namorado poderia matá-la, mas eu nunca vou ser uma mulher comum. Eu tinha percebido isso, quando tive idade suficiente para compreender que nem toda criança pode entender o que sua família pensava sobre ela. Nem toda menina sabia quando seus professores gostavam dela, ou sentia desprezo por ela, ou a comparavam ao seu irmão (Jason tinha um charme fácil, mesmo assim). Nem toda menina tinha um tio engraçado que tentou levá-la sozinha em cada reunião de família.  Então eu deixei Quinn segurar minha mão, e olhei em seus olhos, seus olhos marrons púrpura, e durante um minuto me dei o prazer de deixar que sua admiração caísse sobre mim como um banho de aprovação. Sim, eu sabia que ele era um tigre. E não me refiro na cama, embora eu estivesse disposta a acreditar que ele era feroz e poderoso lá, também.  Quando ele me deu um beijo de boa noite, seus lábios roçaram meu rosto e eu sorri. Eu gosto de um homem que sabe quando apressar as coisas... E quando não.
 
Eu recebi um telefonema na noite seguinte no Merlotte's.  É claro que não é uma coisa boa receber chamadas telefônicas no trabalho; Sam não gosta, a menos que haja algum tipo de emergência doméstica. Já que eu recebi menos ligações que qualquer uma das garçonetes - de fato, eu poderia contar as chamadas que eu recebi no trabalho em uma mão - tentei não me sentir culpada quando eu gesticulei para Sam que receberia a chamada no telefone de sua mesa.  ―Alô,‖ eu disse cautelosamente.  ―Sookie,‖ disse uma voz familiar.  ―Oh, Pam. Oi.‖ Fiquei aliviada, mas só por um segundo. Pam é a segunda em comando do Eric, e ela era sua criança, no sentido vampírico.  ―O chefe quer vê-la,‖ disse ela. ―Eu estou te ligando de seu escritório.‖ O escritório de Eric, na parte traseira de seu clube, Fangtasia, era bem à prova de som. Eu mal podia ouvir KDED, a estação de rádio de todos os vampiros, tocando no fundo: uma versão de ―After Midnight‖ de Clapton.  ―Bem, que esnobe. Ele é tão soberbo para fazer suas próprias ligações?‖  ―Sim,‖ disse Pam. Essa é Pam – uma mente literal17 era a frase para ela.  ―Do que se trata?‖ ―Estou seguindo as instruções dele,‖ disse ela. ―Ele me diz para chamar a telepata, eu chamo você. Você está convocada.‖ ―Pam, eu preciso de uma explicação melhor que esta. Eu particularmente não quero ver o Eric.‖ ―Você está sendo recalcitrante?‖ Oh-oh. Eu não tive essa no meu calendário Palavra do Dia ainda. ―Eu não tenho certeza se entendi.‖ É melhor apenas seguir e confessar ignorância que tentar fingir por meu modo.  Pam suspirou, uma rajada de resignado som. ―Você está batendo os pés,‖ ela esclareceu, seu sotaque inglês se fazendo conhecido. ―E você não deveria. Eric te trata muito bem.‖ Ela parecia ligeiramente incrédula.  ―Eu não vou renunciar trabalho ou tempo livre para dirigir até Shreveport, porque o senhor superior e poderoso quer que eu pule aí para realizar seu desejo,‖ eu protestei - razoavelmente, pensei. ―Ele pode rebocar seu traseiro para cá, se quiser me dizer alguma coisa. Ou ele pode pegar o telefone ele mesmo.‖ Então é isso.  ―Se ele quisesse pegar o telefone ‗ele mesmo‘ como você diz, ele teria feito isso. Esteja aqui sexta-feira às oito, ele ordena que eu lhe diga.‖  ―Desculpe, não posso ir.‖  Um silêncio significativo.  ―Você não virá?‖ ―Eu não posso. Eu tenho um encontro,‖ eu disse, tentando não deixar nenhum traço de presunção em minha voz.  Houve outro silêncio. Então, Pam riu silenciosamente. ―Ah, isso é delicioso,‖ disse ela, de repente mudando para a língua nativa americana. ―Ah, eu vou amar contar isso para ele.‖                                                  17  No original: ―literal-minded”, que é uma expressão que se usa para pessoas que levam tudo ao pé da letra. 
Sua reação me fez começar a me sentir desconfortável. ―Hum, Pam,‖ eu comecei, me perguntando se eu deveria voltar atrás, ―Ouça...‖ ―Oh, não,‖ ela disse, quase gargalhando, que era muito o jeito Pam de ser.  ―Diga a ele que eu agradeço pelas provas do calendário,‖ eu disse. Eric, sempre pensando em maneiras de tornar o Fangtasia mais lucrativo, surgiu com um calendário de vampiros para vender na pequena loja de presentes. Eric foi o próprio Senhor Janeiro. Ele tinha posado em uma cama e num roupão branco de pele. Eric e a cama estavam contra um fundo cinza pálido com flocos de neve gigantes e brilhantes pendurados. Ele não estava usando o roupão: oh, não. Ele não estava usando nada! Ele tinha um joelho dobrado sobre a cama desarrumada e o outro pé estava no chão, e estava olhando diretamente para a câmera, ardendo. (Ele poderia ter ensinado ao Claude algumas lições.)  O cabelo loiro de Eric desabava em uma cabeleira desgrenhada em torno de seus ombros, e sua mão direita agarrava o roupão jogado sobre a cama, assim a pele branca erguia-se apenas alto o suficiente para cobrir seu equipamento. Seu corpo estava inclinado apenas ligeiramente para ostentar a curva de seu traseiro de primeira classe. Um rastro claro de cabelo louro escuro apontava para o sul do seu umbigo. Praticamente gritando, ―pistola escondida!‖ Acontece que eu sabia que a pistola de Eric estava mais para uma 357 Magnum18 do que uma cano curto19. De alguma maneira eu nunca consegui olhar além de janeiro.  ―Oh, eu vou deixá-lo saber,‖ disse Pam. ―Eric disse que muitas pessoas não gostariam que eu estivesse no calendário feito para as mulheres... por isso estou em um para os homens. Você gostaria que eu lhe enviasse uma cópia da minha foto, também?‖  ―Isso me surpreende,‖ disse a ela. ―Realmente me surpreende, quero dizer, que você não se importe em posar.‖. Eu tive um momento difícil imaginando a participação dela em um projeto que estimularia os gostos humanos.  ―Eric me disse para posar, eu posei,‖ ela disse sem rodeios.  Embora Eric tivesse um poder considerável sobre Pam, já que ele é seu criador, eu tenho que dizer que eu nunca soube de Eric pedir para Pam fazer qualquer coisa que ela não estivesse preparada para fazer. Ou ele a conhecia bem (uma vez que, evidentemente, ele a criou) ou Pam estava disposta a fazer qualquer coisa.  ―Eu tenho um chicote na minha foto,‖ disse Pam. ―O fotógrafo diz que vai vender um milhão.‖ Pam tem amplo gosto em matéria de sexo.  Após um longo momento enquanto eu contemplava a imagem mental que construí, eu disse, ―Eu tenho certeza que vai, Pam. Mas eu irei deixar passar.‖  ―Nós vamos receber uma porcentagem, todos nós, que concordaram em posar.‖  ―Mas Eric vai ter uma maior porcentagem do que o resto.‖ ―Bem, ele é o xerife,‖ disse Pam razoavelmente.  ―Certo. Bom, adeus.‖ Eu comecei a desligar.  ―Espere, o que eu vou dizer para Eric?‖  ―Basta dizer-lhe a verdade.‖ ―Você sabe que ele vai ficar com raiva.‖ Pam não soou assustada. Na verdade, ela parecia alegre. 
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19  http://4.bp.blogspot.com/_k3c5raa18E/SBapWjlpkbI/AAAAAAAAACY/Y3Ovlxg0aAE/s320/REVOLVER%2BTAURUS%2B817%2 BINOX.jpg
 
―Bem, isso é problema dele,‖ eu disse, talvez um pouco infantilmente, e desta vez eu não desliguei. Um Eric irritado seria certamente meu problema também.  Eu tive uma sensação desagradável de ter tomado uma medida grave negando Eric. Eu não tinha idéia do que iria acontecer agora.  Quando eu conheci pela primeira vez o xerife da Área Cinco, eu estava namorando Bill. Eric quis usar o meu talento incomum. Ele simplesmente ameaçou prejudicar Bill de forma cruel20 para me fazer obedecer. Quando eu me separei do Bill, Eric ficou desprovido de qualquer meio de coerção, até que eu precisei de um favor dele, e então eu abasteci Eric com a munição mais potente de todas - o conhecimento de que eu atirei em Debbie Pelt. Não importa que ele tenha escondido seu corpo e seu carro e ele não podia se lembrar onde; a acusação seria suficiente para estragar o resto da minha vida, mesmo que isso nunca fosse provado. Mesmo se eu pudesse chegar a negar isso.  Enquanto eu cumpria meus deveres no bar no resto daquela noite, encontrei-me perguntando se Eric realmente iria revelar o meu segredo. Se Eric dissesse à polícia o que eu tinha feito, ele teria que admitir que tinha tido uma parte nisso, não teria?  Fui surpreendida pelo detetive Andy Bellefleur quando eu estava no caminho para o bar. Conheço Andy e sua irmã Portia toda a minha vida. Eles são alguns anos mais velhos que eu, mas estivemos nas mesmas escolas, crescemos na mesma cidade. Como eu, eles foram, em grande parte, criados pela avó. O detetive e eu tivemos nossos altos e baixos. Andy estava saindo com uma jovem professora, Halleigh Robinson, por alguns meses agora.  Hoje à noite, ele tinha um segredo a partilhar comigo e um favor a pedir.  ―Escuta, ela vai pedir o cesto de frango,‖ disse ele, sem preâmbulo. Olhei à sua mesa para me certificar que Halleigh estava sentada de costas para mim. Ela estava. ―Quando você levar a comida à mesa, tenha certeza que isto esteja dentro, escondido.‖ Enfiou uma pequena caixa coberta com veludo dentro de minha mão. Havia uma nota de dez dólares debaixo dela.  ―Claro, Andy, sem problema,‖ eu disse, sorrindo.  ―Obrigado, Sookie,‖ ele disse, e pela primeira vez ele sorriu de volta, um sorriso simples e descomplicado, e apavorado. Andy estava cem por cento certo. Halleigh encomendou o cesto de frango quando fui para a mesa deles.  ―Faça aquelas batatas fritas extras,‖ eu disse à nossa nova cozinheira quando eu recolhi a comanda. Eu queria muita camuflagem. A cozinheira afastou-se da grelha para me encarar. Nós tivemos uma variedade de cozinheiros, de toda idade, cor, gênero e preferência sexual. Nós tivemos até um vampiro, uma vez. A nossa cozinheira atual era uma mulher de meia idade negra chamada Callie Collins. Callie era pesada, tão pesada que eu não sabia como ela conseguia passar as horas que ela passava de pé na cozinha quente. ―Batatas fritas extras?‖ Callie disse, como se ela nunca tivesse ouvido falar de tal coisa. ―Ah-ham. As pessoas querem batatas fritas extras quando pagam por elas, não porque são amigos seus.‖ Pode ser que Callie fosse tão afiada porque ela tinha idade suficiente para lembrar-se dos maus velhos tempos, quando os negros e brancos tinham escolas diferentes, salas de espera diferentes, fontes de água diferentes. Eu não me lembro de nenhuma dessas coisas, e eu não estava disposta a levar em conta a bagagem de Callie cada vez que eu falasse com                                                
 20  No original: ―over my head‖, expressão que significa brincadeira cruel e imatura, sem graça.
 
ela. 
―Eles pagaram a mais,‖ eu menti, não querendo dar uma explicação direta através da porta de serviço, para alguém que poderia ouvir por acaso ao passar por ali. Eu poria um dólar de minha gorjeta na gaveta, em substituição, para compensar o dinheiro.  Apesar de nossas diferenças, eu desejei o bem para Andy e sua professora também. Qualquer uma que ia ser neta de Caroline Bellefleur merecia um momento romântico.  Quando Callie anunciou o cesto, eu corri para pegá-lo. Deslizar a pequena caixa sob as batatas foi mais difícil do que eu imaginei, precisou de um pouco de rearranjo secreto. Gostaria de saber se Andy entenderia que o veludo ficaria gorduroso e salgado. Oh, bem, este não era o meu gesto romântico, mas o dele.  Eu carreguei a bandeja para a mesa com feliz antecipação. Na verdade, Andy teve que me advertir (com um olhar severo) para deixar meu rosto em linhas mais neutras quando eu servisse a comida. Andy já tinha uma cerveja na frente dele, e ela tinha uma taça de vinho branco. Halleigh não era uma grande bebedora, como convinha a uma professora de escola primária. Afastei-me logo que a comida estava na mesa, esquecendo-me de perguntar se eles precisavam de mais alguma coisa, como uma boa garçonete deveria fazer.  Estava além de mim tentar permanecer imparcial depois disso. Embora eu não tentasse ser óbvia, eu assisti o casal tão perto como eu podia. Andy estava com os nervos à flor da pele21, e eu podia ouvir de seu cérebro, que estava absolutamente agitado. Ele realmente não tinha certeza se ela o aceitaria, e sua mente estava correndo através da lista de coisas as quais ela poderia se opor: o fato de que Andy era quase dez anos mais velho, a sua profissão arriscada...  Eu soube o momento em que ela viu a caixa. Talvez não fosse simpático escutar mentalmente às escondidas um momento muito especial, mas para dizer a verdade, eu nem sequer pensei nisso naquela hora. Entretanto, normalmente eu me mantenho em guarda, estou acostumada a cair na cabeça das pessoas, se eu espiar algo interessante. Eu também estou acostumada a acreditar que a minha capacidade é uma desvantagem, não uma qualidade, assim eu penso que aproveito qualquer possibilidade de diversão que possa ter com ela.  Eu me aproximei deles, limpando uma mesa, o que eu deveria ter deixado para o ajudante de garçom fazer. Então, eu estava perto o suficiente para ouvir.  Ela ficou congelada por um longo momento. ―Há uma caixa na minha comida,‖ disse ela, finalmente, mantendo sua voz muito baixa, porque ela pensou que transtornaria Sam se fizesse um escândalo.  ―Eu sei,‖ ele disse. ―É de mim pra você.‖  Ela soube então; tudo em seu cérebro começou a acelerar, e os pensamentos quase tropeçaram em si na sua ânsia.  ―Ah, Andy,‖ ela sussurrou. Ela deve ter aberto a caixa. Fiz tudo que eu pude para não me virar e olhar junto com ela.  ―Você gosta?‖ ―Sim, é lindo.‖ ―Você vai usá-lo?‖ Houve um silêncio. Sua cabeça estava tão confusa. Metade dizia ‗Oba!‘ e outra metade estava preocupada.                                                  21  No original: ―on pins and needles‖, que significa esperar alguma coisa com muita ansiedade. Uma expressão brasileira que corresponde a ela seria ―com os nervos à flor da pele‖
―Sim, com uma condição,‖ disse ela lentamente.  Eu podia sentir o choque. Seja o que for que Andy tinha esperado, não era isto.  ―E o que seria?‖ perguntou ele, de repente, soando muito mais como um policial do que um namorado.  ―Nós temos que morar em nossa própria casa.‖  ―O que?‖ Novamente, ela surpreendeu Andy.  ―Eu sempre tive a idéia de que você assumiu que permaneceria na casa da família, com sua avó e sua irmã, mesmo depois de casado. É uma casa antiga maravilhosa, e sua avó e Portia são grandes mulheres.‖  Isso foi diplomático. Bom para Halleigh.  ―Mas eu gostaria de ter a minha própria casa,‖ ela disse suavemente, ganhando a minha admiração.  E então eu realmente tive que rebocar meu traseiro dali; eu tinha mesas para cuidar. Porém, enquanto eu estava recarregando canecas de cerveja, limpando pratos vazios e levando mais dinheiro para Sam na caixa registradora, eu estava cheia de admiração pela posição de Halleigh, já que a mansão Bellefleur é mais importante residência de Bon Temps. A maioria das jovens mulheres daria um dedo ou dois para viverem lá, especialmente porque o casarão tinha sido amplamente remodelado e revitalizado com a chegada de dinheiro de um misterioso estranho. Esse estranho era de fato Bill, que tinha descoberto que os Bellefleurs eram descendentes dele. Ele sabe que eles não aceitariam dinheiro de um vampiro, então ele arranjou todo o artifício de uma ‗herança misteriosa‘, e Caroline Bellefleur decidiu gastá-la na mansão com tanto prazer quanto Andy quando comia um cheeseburger.  Andy me alcançou uns minutos mais tarde. Ele me impediu a caminho da mesa de Sid Matt Lancaster, de modo que o velho advogado teve que esperar um pouco mais por seu hambúrguer e fritas.  ―Sookie, eu tenho que saber,‖ ele disse com urgência, mas em um tom muito baixo.  ―O que, Andy?‖ Eu estava preocupada com a sua intensidade.  ―Ela me ama?‖ Havia bordas de humilhação na sua cabeça, por ter que me perguntar isso. Andy era orgulhoso, e queria algum tipo de garantia de que Halleigh não queria seu sobrenome ou a casa de sua família como outras mulheres que ele encontrou. Bem, ele descobriu sobre a casa. Halleigh não a queria, e ele entraria em alguma casa humilde e pequena com ela, se ela realmente o amasse.  Ninguém jamais exigiu isso de mim antes. Depois de todos os anos querendo que as pessoas acreditassem em mim, entendessem o meu talento bizarro, descobri que não gostava de ser levada a sério, afinal de contas. Mas Andy estava à espera de uma resposta, e eu não pude recusar. Ele era um dos homens mais obstinado que eu já conheci.  ―Ela te ama tanto quanto você a ama,‖ eu disse, e ele soltou meu braço. Continuei no meu caminho até a mesa de Sid Matt. Quando olhei para trás, ele estava olhando para mim.  ‗Mastiga isso, Andy Bellefleur, ‘ pensei. Depois eu senti um pouco de vergonha de mim mesma. Mas ele não deveria ter perguntado, se ele não quisesse saber a resposta. 
Havia algo no bosque ao redor da minha casa. Eu tinha começado a me preparar para ir para cama assim que cheguei em casa, porque um dos meus momentos favoritos em cada vinte e quatro horas é quando eu começo a colocar a minha camisola. Estava quente o suficiente para que eu não precisasse de um roupão de banho, assim eu estava vagando em círculos em minha velha e longa camisola azul na altura dos joelhos. Eu só estava pensando em fechar a janela da cozinha, já que as noites em março estavam ficando mais frias. Eu estava ouvindo os sons da noite enquanto lavava os pratos; as rãs e os insetos estavam enchendo o ar com o seu coro.  De repente, os barulhos, que faziam a noite parecer tão amigável e ocupada como o dia, tinham parado, cortados como um meio grito.  Eu congelei, com minhas mãos imersas na água ensaboada e quente. Investigar lá fora na escuridão não ajudaria nem um pouco, e eu percebi como visível eu deveria estar, parada em uma janela aberta com as suas cortinas bem afastadas. O quintal estava iluminado com a luz de segurança, mas além das árvores que cercavam a clareira, a floresta ainda estava escura.  Algo estava lá fora. Fechei os olhos e tentei alcançar com meu cérebro, e eu encontrei algum tipo de atividade. Mas não era suficientemente claro para definir.  Pensei em telefonar para Bill, mas eu o havia chamado antes quando eu estive preocupada com a minha segurança. Eu não poderia deixar isto se tornar um hábito. Ei, talvez o observador na mata fosse o próprio Bill? Ele às vezes passeava à noite, e ele vinha me inspecionar de vez em quando. Olhei mais demoradamente para o telefone na parede no final do balcão. (Bem, onde o balcão ficará quando tudo estiver junto.)  Meu telefone novo era portátil. Eu poderia agarrá-lo, ir para meu quarto e chamar Bill em um estalar de dedos, pois ele estava na minha discagem rápida. Se ele atendesse ao telefone, eu saberia que o que estava na floresta era algo com o que eu precisava me preocupar.  Mas se ele estivesse em casa, ele viria correndo aqui. Ele ouviria minha chamada assim: ‗Oh, Bill, por favor, venha me salvar! Eu não consigo pensar em outra coisa para fazer, a não ser chamar um vampiro grande e forte para vir em meu socorro!‘ Eu me fiz admitir que eu realmente sabia que o que estava na floresta não era Bill. Eu tinha recebido um sinal cerebral de algum tipo. Se o espreitador fosse um vampiro, eu não iria sentir nada. Apenas por duas vezes obtive uma centelha de sinal de um cérebro de vampiro, e que tinha sido como um raio de eletricidade em um apagão.  E perto do telefone ficava a porta dos fundos - que não estava trancada.  Nada no mundo podia me manter na pia após o fato da porta aberta ter me ocorrido. Eu simplesmente corri para ela. Saí para a varanda traseira, arranquei a trava da porta de vidro ali, pulei de volta para a cozinha e tranquei a porta de madeira grande, que eu tinha equipado com uma trava que é apertada com o dedo polegar e um ferrolho.  Apoiei-me contra a porta depois que estava seguramente fechada. Melhor que qualquer um que podia pensar, eu sabia da futilidade de portas e fechaduras. Para um vampiro, a barreira física não era nada - mas um vampiro tinha que ser convidado a entrar. Para um Lobis, portas eram mais importantes, mas ainda assim não eram um problema, com a sua força incrível, Lobis poderiam ir muito bem onde quer que eles escolham. O mesmo acontece com outros metamorfos.  Por que eu apenas não mantinha uma casa aberta?  No entanto, senti-me notavelmente melhor com duas portas trancadas entre mim e o que estava no bosque.  Eu sabia que a porta da frente estava trancada e aferrolhada, uma vez que não ficava aberta durante o dia. Eu não tinha muitos visitantes, e eu normalmente entro e saio pelos fundos.  Arrastei-me de volta para a janela, que eu fechei e tranquei. Eu puxei as cortinas, também. Eu tinha feito de tudo para aumentar a minha segurança. Voltei para os pratos. Eu obtive um círculo molhado na frente da minha camisola, porque eu tive que encostar contra a borda da pia para firmar as pernas que tremiam. Mas eu continuei até que todos os pratos estivessem em segurança no escorredor e a pia tivesse sido esfregada e limpa.  Ouvi atentamente depois disso. Os bosques ainda estavam em silêncio. Não importa como eu escutei com cada sentido à minha disposição, aquele sinal fraco não interferiu em meu cérebro novamente. Ele tinha ido embora.  Sentei-me na cozinha por um momento, o cérebro ainda estava em alta velocidade, mas então eu me forcei a seguir a minha rotina habitual.  Meu ritmo cardíaco voltou ao normal com o tempo, escovei os dentes e quando eu subi na cama, eu quase tinha me convencido de que nada tinha acontecido lá fora, na escuridão silenciosa. Mas eu tenho o cuidado sobre ser honesta por dentro. Eu sabia que alguma criatura esteve em minha floresta; e que a criatura era algo maior e mais assustador do que um guaxinim.  Pouco tempo depois de eu ter apagado minha luz de cabeceira, ouvi os insetos e rãs retomarem seu coro. Finalmente, quando isso continuou sem interrupções, dormi.
 
Eu disquei o número do telefone celular do meu irmão quando eu me levantei na manhã seguinte. Eu não passei uma noite muito boa, mas pelo menos eu dormi um pouco. Jason respondeu no segundo toque. Ele soou um pouco preocupado quando disse, ―Alô?‖ ―Oi, irmão. Como vão as coisas?‖ ―Ouça, eu preciso falar com você. Eu não posso agora. Eu estarei aí, provavelmente em duas horas.‖ Ele desligou o telefone sem dizer adeus, e soou bastante preocupado com alguma coisa. Bom. Eu precisava de outra complicação.  Olhei para o relógio. Duas horas me daria tempo suficiente para me arrumar e correr para a cidade para ir ao supermercado. Jason estará chegando aqui por volta do meio-dia, e como eu o conheço, ele vai esperar que eu tenha feito o almoço. Puxei meu cabelo em um rabo de cavalo e depois coloquei um elástico em torno dele, fazendo uma espécie de topete. Eu usei o secador sobre minha cabeça para ondular um pouco as pontas. Embora eu tentasse não admitir isso para mim mesma, eu achava que este penteado descuidado parecia divertido e bonitinho. Era uma daquelas refrescantes manhãs frias de março, do tipo que promete uma tarde quente. O céu estava tão brilhante e ensolarado que o meu espírito se elevou, e eu dirigi para Bon Temps com a janela abaixada, cantando junto com o rádio no máximo da minha voz. Eu estava cantado junto com Weird Al Yankovic naquela manhã.  Eu dirigi atravessando bosques, casas ocasionais e um campo cheio de vacas (e um par de búfalos, você nunca sabe o que as pessoas irão construir).  O locutor tocava ‗Blue Hawaii‘22 como um tesouro antigo, e eu me perguntava onde Bubba23 estaria - não meu próprio irmão, mas o vampiro que agora é conhecido apenas como Bubba. Eu não o via a três ou quatro semanas.  Talvez os vampiros da Louisiana o tenham movido para outro esconderijo, ou talvez ele esteja perambulando, como ele faz de tempos em tempos. É nessa época que se vê os longos artigos dos jornais que são mantidos perto do caixa da mercearia.  Embora eu estivesse tendo um delicioso momento de estar feliz e contente, eu tive um daqueles devaneios que você tem em momentos estranhos. Pensei: Que bom seria se Eric estivesse aqui comigo no carro. Ele ficaria tão bonito com o vento soprando os seus cabelos, e ele desfrutaria o momento. Bem, claro, antes que ele queimasse como uma batata frita.  Mas percebi que eu tinha pensado em Eric porque era um tipo de dia que você quer compartilhar com a pessoa que você se importa, a pessoa cuja companhia você mais desfruta. E essa pessoa poderia ser Eric, como tinha sido quando ele foi amaldiçoado por uma bruxa: o Eric que não tinha sido endurecido por séculos de política vampírica, o Eric que não tinha desprezo por seres humanos e seus interesses, o Eric que não tomava conta de muitos empreendimentos financeiros e responsabilidade pelas vidas e rendas de vários humanos e vampiros. Em outras palavras, o Eric como ele jamais seria novamente.  Acorde! A bruxa estava morta, e Eric recuperou sua personalidade como ele é agora. O Eric restabelecido era cauteloso em relação a mim, gostava de mim, e não confia em mim (ou em seus sentimentos) nem um pouco.  Suspirei pesadamente, e a música desapareceu de meus lábios. Quase que meu                                                  22  Música de Elvis Presley 23  Bubba: que é considerado como irmão - termo usado no sul dos EUA  coração foi sufocado, até que eu disse a mim mesma para parar de ser uma idiota melancólica. Eu era jovem, era saudável. O dia estava bonito. E eu tinha um encontro real para a noite de sexta-feira. Eu prometi a mim mesma um grande deleite. Em vez de ir diretamente para o supermercado, eu fui para Tara´s Togs, de propriedade e administração de minha amiga Tara Thornton.  Eu não via Tara há um tempo. Ela tinha saído de férias para visitar uma tia no sul do Texas, e desde que ela voltou tem trabalhado por longas horas na loja. Pelo menos, foi isso que ela disse quando eu liguei para lhe agradecer o carro. Quando minha cozinha queimou, meu carro queimou com ela, e Tara me emprestou o seu carro velho, um Malibu24 de dois anos. Ela adquiriu um carro novíssimo (não importa como) e não tinha obtido retorno para vender o Malibu.  Para meu espanto, cerca de um mês atrás, Tara tinha me enviado o título e a nota de venda, com uma carta dizendo que o carro era meu agora. Eu tinha telefonado para protestar, mas ela se negou a falar comigo, e no final, não parecia haver nada a fazer senão aceitar o presente graciosamente.  Ela concebeu isso como forma de pagamento, já que eu a tinha livrado de uma situação terrível. Mas, para ajudá-la, eu tive que ficar em dívida com Eric. Eu não me importei. Tara tinha sido minha amiga por toda a minha vida. Agora ela estava em segurança e se fosse inteligente o suficiente ficaria longe do mundo sobrenatural.  Embora eu estivesse grata e aliviada por ter o mais novo veículo que eu já tinha possuído, eu estaria mais feliz por ter sua amizade ininterrupta. Eu fiquei afastada, desde que eu assumi que eu a fazia lembrar-se de muitas coisas ruins. Mas eu estava com vontade de tentar quebrar essa barreira. Talvez Tara tivesse tido tempo suficiente.  Tara‘s Togs estava em um shopping center na zona sul de Bon Temps. Havia outro carro estacionado na frente da loja. Eu decidi que seria bom que um terceiro estivesse lá; despersonalizaria o encontro.  Tara estava atendendo a irmã de Andy Bellefleur, Portia quando eu entrei, então comecei a olhar os tamanhos 38, e então os 36. Portia estava sentada na mesa da Isabelle‘s, que era extremamente interessante. Tara é a representante local da Isabelle‘s Bridal, uma empresa nacional que produz um catálogo que se tornou a bíblia de todas as coisas relacionadas a casamentos. Você pode experimentar amostras de vestidos de dama de honra no local, assim pode encomendar o tamanho certo, e cada vestido vem com cerca de vinte cores. Os vestidos de casamento são do mesmo modo populares. Isabelle‘s tem vinte e cinco modelos. A companhia também oferece convites de chá de panela, decoração, ligas, presentes das damas de honra, e qualquer pequeno apetrecho para casamento que você pode imaginar. No entanto, Isabelle‘s era praticamente um fenômeno da classe média, e Portia era definitivamente uma mulher de classe alta.  Posto que ela vivia com sua avó e seu irmão na mansão Bellefleur na Rua Magnólia, Portia havia crescido em uma espécie de esplendor gótico decadente. Agora que a mansão foi reparada e sua avó mais entretida, Portia parecia visivelmente mais feliz do que quando eu a tinha vislumbrado no seu passeio pela cidade. Ela não ia muito ao Merlotte‘s, mas quando ela ia ao bar tinha tempo de sobra para outras pessoas, e ela sorria ocasionalmente. Uma mulher normal que a pouco passou dos trinta. A melhor característica de Portia era o seu cheio cabelo castanho brilhante.  Portia estava pensando em casamento e Tara estava pensando em dinheiro.                                                 
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―Eu tenho que falar com Halleigh novamente, mas acho que vamos precisar de quatrocentos convites,‖ Portia estava dizendo, e eu pensei que meu queixo iria cair.  ―Tudo bem, Portia, se você não se importa de pagar a taxa extra, nós podemos tê-los em dez dias.‖  ―Ah, bom!‖ Portia estava definitivamente satisfeita. ―Claro, Halleigh e eu vamos usar vestidos diferentes, mas nós pensamos que poderíamos tentar escolher o mesmo vestido para as damas de honra. Talvez em cores diferentes. O que você acha?‖  Pensei que eu fosse engasgar com a minha própria curiosidade. Portia ia se casar, também? Com aquele graveto de contador que ela estava namorando, o cara de Clarice? Tara pegou um vislumbre do meu rosto por cima da prateleira de vestidos. Portia estava olhando para o catálogo, então Tara piscou para mim. Ela definitivamente estava satisfeita de ter uma cliente rica, e nós estávamos definitivamente bem uma com a outra. O alívio me inundou.  ―Eu acho que ter o mesmo estilo em cores diferentes - cores coordenadas, é claro - seria realmente original,‖ Tara disse. ―Quantas damas de honra vocês terão?‖  ―Cinco cada uma,‖ disse Portia, sua atenção na página à sua frente. ―Posso levar uma cópia do catálogo para casa? Dessa forma, Halleigh e eu poderemos olhá-lo hoje à noite.‖ ―Eu só tenho uma cópia extra; você sabe, uma das maneiras que Isabelle‘s faz dinheiro é cobrando um braço e uma perna pelo maldito catálogo,‖ Tara disse com um sorriso encantador. Ela pode arranjar um quando precisar. ―Eu vou deixar você levar para casa, se você jurar que vai trazer de volta amanhã!‖  Portia fez o gesto infantil, e enfiou o catálogo grosso debaixo de seu braço. Ela estava usando um de seus ‗trajes de advogada‘, um tweedy acastanhado com saia reta e blazer com uma blusa de seda por baixo. Ela usava meias bege e sandálias de salto baixo, e carregava uma bolsa combinando. Tedioso.  Portia estava animada, e seu cérebro estava girando com imagens felizes. Ela sabia que pareceria um pouco velha para uma noiva, especialmente em comparação com Halleigh, mas por Deus, ela ia ser uma noiva finalmente. Portia começaria sua parte da diversão, os presentes, a atenção, e as roupas, para não falar da confirmação de ter um marido. Ela olhou por cima do catálogo e me descobriu espreitando pela prateleira de calças compridas. Sua felicidade estava profunda o suficiente para me abranger.  ―Olá, Sookie!‖ disse ela, praticamente radiante. ―Andy me disse que você o ajudou, arrumando a pequena surpresa dele para Halleigh. Eu realmente apreciei isso.‖  ―Foi divertido,‖ eu disse, com minha própria versão de um sorriso afável. ―É verdade que as felicitações são para você, também?‖ Eu sei, você não deve felicitar a noiva, só o noivo, mas eu não acho que Portia se importaria. Estava certa, ela não se importou. ―Bom, eu vou casar,‖ ela confessou. ―E nós decidimos ter uma cerimônia dupla com Andy e Halleigh. A recepção será em casa.‖ É claro. Por que ter uma mansão, se você não pode ter a recepção lá? ―Isso vai ser muito trabalhoso, a criação de um casamento para - quando?‖ Eu disse, tentando parecer simpática e interessada.  ―Abril, nem me fale!‖, Portia disse, rindo. ―Vovó está ligando para todo serviço de bufê que conhece para tentar reservar alguém para o segundo fim de semana, e finalmente encontrou a Extrema(mente Elegante)  Eventos porque eles tinham um cancelamento. E tem mais, o cara que administra a Sculptured Forest (Floresta esculpida) em Shreveport está vindo para vê-la esta tarde.‖
Sculptured Forest era o centro principal de planejamento e criação de paisagem na área, pelo menos se você passasse pelos seus anúncios onipresentes. Contratar ambos Sculptured Florest e Extrema(mente Elegante) Eventos significava que este casamento duplo será o evento social do ano em Bon Temps.  ―Nós estamos pensando num casamento ao ar livre na casa, com tendas no quintal,‖ Portia disse. ―Em caso de chuva, vamos ter de movê-lo para a igreja e fazer a recepção no prédio comunitário de Renard Parish. Mas vamos manter nossos dedos cruzados.‖ ―Parece maravilhoso.‖ Eu realmente não conseguia pensar em mais nada para dizer. ―Como é que você vai continuar trabalhando, com todas essas coisas de casamento para fazer?‖  ―De alguma forma eu vou conseguir.‖  Fiquei imaginando o porquê da pressa. Por que os casais felizes não esperam até o verão, quando Halleigh não estaria trabalhando? Por que não esperar, assim Portia poderia ter seu calendário livre para um casamento e lua-de-mel adequados? E não era um contador o homem que ela estava namorando? Certamente um casamento durante a época de impostos era a pior programação possível.  Talvez Portia estivesse grávida. Mas se ela estava no caminho de formar família, ela não estava pensando sobre isso, e eu quase pensei que ela estaria fazendo o contrário. Caramba, se um dia eu descobrisse que estava grávida, eu ficaria tão feliz!  Se o cara me amasse e se casasse comigo, quer dizer - porque eu não era forte o suficiente para criar uma criança sozinha, e minha avó rolaria em seu túmulo se eu me tornasse uma mãe solteira. O pensamento moderno sobre o assunto tinha passado por minha avó completamente, sem mesmo arrepiar o cabelo dela com sua passagem.  Enquanto todos estes pensamentos estavam zumbindo na minha cabeça, eu demorei um minuto para processar as palavras de Portia.  ―Portanto, tente manter o segundo sábado de abril livre,‖ disse ela, tão perto de um sorriso encantador como Portia Bellefleur poderia gerenciar.  Prometi que iria, tentando não engolir minha própria língua com o espanto. Ela deve estar embriagada com a febre do casamento. Por que minha presença é desejada? Eu não era uma grande amiga de qualquer um dos Bellefleurs.  ―Estamos pedindo ao Sam um bartend na recepção,‖ continuou ela, e meu mundo se realinhou em um padrão mais familiar. Ela me queria lá para ajudar Sam.  ―Um casamento à tarde?‖ Eu perguntei. Sam às vezes servia bebidas fora do trabalho, mas sábado era geralmente o nosso dia mais pesado no Merlotte's.  ―Não, à noite,‖ disse ela, ―Mas eu já conversei com Sam esta manhã, e ele concordou.‖  ―Ok,‖ eu disse.  Ela interpretou meu tom e corou. ―Glen tem alguns clientes que ele quer convidar,‖ disse ela, embora eu não tivesse pedido nenhuma explicação. ―Eles só podem ir depois do anoitecer.‖ Glen Vicks era o contador. Fiquei feliz por ter recuperado seu último nome da minha memória. Então, tudo estava encaixado, e eu entendi o embaraço de Portia. Ela quis dizer que os clientes de Glen eram vampiros. Bom, bom, bom. Eu sorri para ela.  ―Tenho certeza que vai ser um casamento lindo, e estou ansiosa para estar lá,‖ disse, ―Já que você foi bastante amável em me convidar.‖ Eu a tinha entendido mal deliberadamente, e como eu tinha previsto, ela corou mais ainda.  Então uma idéia relacionada me ocorreu, uma tão importante que desobedeci minhas regras pessoais.
―Portia,‖ eu disse devagar, querendo ter certeza de que ela pegaria minha intenção, ―Você deveria convidar Bill Compton.‖  No momento, Portia detestava Bill - detestava todos os vampiros - mas quando ela esteve encaminhando uma de suas próprias tramas, saiu brevemente com Bill. Que tinha sido estranho, porque Bill descobriu que Portia era realmente sua tataraneta, ou algo parecido.  Bill tinha concordado com o faz-de-conta do interesse dela por ele. Ao mesmo tempo, ele só queria saber qual era o objetivo dela. Ele percebeu que a pele de Portia arrepiava quando ele estava ao seu redor. Mas quando ele descobriu que os Bellefleurs eram seus únicos parentes vivos, ele anonimamente lhes deu uma imensa quantidade de dinheiro.  Eu pude ‗ouvir‘ que Portia pensou que eu estava propositalmente lembrando-lhe das poucas vezes que ela tinha saído com Bill. Ela não queria ser lembrada disso, e se zangou pelo que eu tinha feito.  ―Por que você está sugerindo isso?‖, ela perguntou com frieza, e eu lhe dei pontos altos não apenas por não sair com arrogância da loja. Tara estava ocupada cuidadosamente sobre a mesa Isabelle‘s, mas eu sabia que ela podia ouvir a nossa conversa. Nenhum problema com Tara escutando.  Eu tive um feroz debate interno. Finalmente, o que Bill queria superava o que eu queria para ele. ―Não importa,‖ eu disse relutantemente. ―Seu casamento, sua lista.‖  Portia estava me olhando como se ela realmente me visse pela primeira vez. ―Você ainda está namorando ele?‖, ela perguntou.  ―Não, ele está namorando Selah Pumphrey,‖ eu disse, mantendo a minha voz plana e vazia.  Portia me deu um olhar ilegível. Sem outra palavra, ela saiu para seu carro.  ―O que foi isso?‖ Tara perguntou.  Eu não podia explicar, então mudei o assunto para um mais perto do coração varejista de Tara. ―Estou muito feliz que você esteja lucrando com o negócio,‖ eu disse.  ―Você tanto como eu. Se ela não tivesse que armar tudo em tão pouco tempo, pode apostar que Portia Bellefleur nunca iria usar Isabelle‘s,‖ Tara disse com franqueza. ―Ela dirigiria correndo em missão para Shreveport e voltaria um milhão de vezes, se tivesse tempo em primeiro lugar. Halleigh está apenas se arrastando ao longo da trilha de Portia, coitadinha. Ela virá esta tarde, e eu vou mostrar para ela as mesmas coisas que eu tenho mostrado para Portia, e ela terá que ceder. Mas isso é bom para mim. Elas estão adquirindo o pacote inteiro, porque o sistema Isabelle‘s pode entregar tudo a tempo. Convites, notas de agradecimentos, vestidos, ligas, presentes das damas de honra, até mesmo os vestidos para as mães dos noivos - também do meu estoque e do catálogo Isabelle‘s.‖ Ela me olhou para cima e para baixo. ―O que te trouxe, a propósito?‖ ―Eu preciso de um traje para um encontro numa peça em Shreveport,‖ eu disse, ―E eu tenho que ir ao supermercado e voltar para casa para cozinhar o almoço de Jason. Então, você tem alguma coisa para me mostrar?‖ O sorriso de Tara se tornou predatório. ―Oh,‖ ela disse, ―Apenas algumas coisas.‖
 
Eu estava contente por Jason ter chegado um pouco tarde. Eu tinha terminado o bacon e estava colocando os hambúrgueres na frigideira quando ele chegou. Eu já havia aberto o pacote de pães e colocado dois no prato de Jason, e colocado um saco de batata frita na mesa. Eu tinha enchido um copo de chá e arrumado ao lado do lugar dele. Jason entrou sem bater, como sempre fazia. Jason não tinha mudado muito, pelo menos aparentemente, uma vez que ele se tornou um homem-pantera. Ele ainda era loiro e atraente, e eu quero dizer atraente à moda antiga; ele era bom de se olhar, mas também era o tipo de homem que todo mundo olha quando entra em um local. Além disso, ele sempre teve uma péssima tendência. Mas, desde a sua mudança, ele tem agido de alguma forma como uma pessoa melhor. Eu não tinha decidido o porquê. Talvez sendo um animal selvagem uma vez por mês satisfazia algum anseio que ele não sabia que tinha.  Já que ele tinha sido mordido, não nascido, ele não mudava completamente, tornou-se uma espécie de híbrido. Na primeira vez, ele ficou desapontado com isso. Mas superou. Ele estava namorando uma pura mulher-pantera chamada Crystal há vários meses. Crystal vivia em uma pequena comunidade a alguns quilômetros no interior – e, deixa eu te contar, o interior de Bon Temps, Louisiana, é realmente interior.  Dissemos uma breve oração e começamos a comer. Jason não estava comendo com seu prazer habitual. Já que o hambúrguer estava gostoso para mim, eu percebi que o que estava em sua mente era importante. Eu não pude ler isso do cérebro dele.  Desde que meu irmão se tornou um metamorfo, seus pensamentos não ficaram mais claros para mim. Sinceramente, isso foi um alívio.  Depois de duas mordidas, Jason largou seu hambúrguer, e sua postura mudou. Ele estava pronto para falar. ―Tenho uma coisa para te dizer,‖ disse ele. ―Crystal não quer que eu diga a ninguém, mas estou realmente preocupado com ela. Ontem, Crystal... ela teve um aborto espontâneo.‖ Fechei os olhos por alguns segundos. Eu tive cerca de vinte pensamentos nesse breve tempo, e eu não conseguia completar nenhum deles. ―Eu sinto muito,‖ eu disse. ―Espero que Crystal esteja bem.‖ Jason olhou para mim por cima do prato de comida que ele tinha esquecido completamente. ―Ela não irá ao médico.‖  Olhei para ele desconcertada. ―Mas ela tem que ir,‖ eu disse razoavelmente. ―Ela precisa de um D & C (dilatação e curetagem).‖ Eu não tinha certeza o que ‗D & C‘ significava, mas sabia que depois que você abortava, precisa ir para um hospital e é isso que eles fazem lá.  Minha amiga e colega de trabalho Arlene teve um D & C após seu aborto, e ela me falou sobre isso várias vezes. Várias vezes. ―Elas entram e...‖ Eu comecei, mas Jason me cortou no meio do caminho.  ―Ei, eu não preciso saber,‖ disse ele, parecendo muito desconfortável. ―Eu só sei que já que Crystal é uma mulher-pantera, ela não quis ir para o hospital. Ela teve que ir quando foi espetada por aquele porco do mato, assim como Calvin teve de ir quando foi baleado, mas ambos melhoraram tão rápido que houve alguns comentários na sala dos médicos, ela ouviu. Então, ela não irá agora. Ela está em minha casa, mas ela... ela não está indo bem. Está ficando pior, não melhor.‖ ―Oh-oh,‖ eu disse. ―Então o que está acontecendo?‖
―Ela está sangrando muito, e suas pernas não funcionam direito.‖ Ele engoliu. ―Ela mal pode se levantar, andar muito menos.‖  ―Você ligou para Calvin?‖ Eu perguntei. Calvin Norris, tio de Cristal, é o líder da pequena comunidade pantera de Hotshot.  ―Ela não quer que eu fale para Calvin. Tem medo que ele me mate por eu a ter engravidado. Crystal não queria que eu falasse para você, também, mas eu tenho que conseguir ajuda.‖  Embora a mãe dela não estivesse viva, Crystal tinha parentes femininos em abundância em Hotshot. Eu nunca tive um bebê, eu nunca estive grávida, e eu não era uma metamorfa. Qualquer um deles poderia saber mais sobre a situação que eu. Eu disse isso ao Jason.  ―Eu não quero ela sentada durante muito tempo para voltar a Hotshot, especialmente em minha caminhonete.‖ Meu irmão parecia tão teimoso como uma mula.  Por um minuto terrível, eu pensei que a grande preocupação de Jason estava em Crystal sangrando em seu estofamento. Eu estava a ponto de pular em sua garganta, quando ele acrescentou, ―Os amortecedores precisam ser substituídos, e eu estou com medo da caminhonete pular naquela estrada ruim fazendo Crystal piorar.‖  Então sua família poderia ir até Crystal. Mas eu sabia que antes que eu falasse Jason iria encontrar uma razão para vetar isso, também. Ele tinha algum tipo de plano. ―Ok. O que eu posso fazer?‖  ―Você não me disse que uma vez, quando você se machucou, havia um tipo especial de médica que os vampiros chamaram para olhar as suas costas?‖ Eu não gosto de lembrar aquela noite. Minhas costas ainda tinham as cicatrizes do ataque. O veneno sobre as garras da mênade quase tinha me matado. ―Sim,‖ eu disse lentamente, ―Doutora Ludwig.‖ Médica para tudo o que era esquisito e estranho, Doutora Ludwig era uma esquisitice. Ela era extremamente pequena - muito, muito pequena.  E seus traços não eram exatamente normais, tampouco. Seria como uma extrema surpresa para mim se a Doutora Ludwig fosse toda humana. Eu a tinha visto uma segunda vez na competição para liderança do bando. Ambas às vezes, eu estava em Shreveport; assim as chances de que a Doutora Ludwig vivesse realmente por lá eram boas.  Já que eu não queria deixar passar o óbvio, eu pesquei uma lista telefônica de Shreveport da gaveta abaixo da base do telefone. Havia um anúncio de uma Doutora Amy Ludwig. Amy? Eu mordi uma repentina gargalhada.  Eu estava muito nervosa sobre estar perto da Doutora Ludwig, mas quando eu vi como Jason estava preocupado, eu não podia fazer um protesto por fazer um telefonema péssimo.  Tocou quatro vezes. Uma secretária atendeu. Uma voz mecânica disse, ―Você conseguiu o telefone da Doutora Amy Ludwig. Doutora Ludwig não está aceitando novos pacientes, segurados ou não segurados. Doutora Ludwig não quer amostras de produtos farmacêuticos, e ela não precisa de seguro de qualquer espécie. Ela não está interessada em investir seu dinheiro, ou doar para instituições de caridade que ela não selecionou pessoalmente.‖ Houve um longo silêncio, durante o qual a maioria dos visitantes presumivelmente desligaria. Eu não. Depois de um momento, eu ouvi outro clique sobre a linha.  ―Alô?‖ perguntou uma pequena voz rouca.  ―Doutora Ludwig?‖ Eu perguntei cautelosamente.  ―Sim? Eu não vou aceitar novos pacientes, você sabe! Muito ocupada!‖ Ela parecia tanto impaciente e cautelosa.  ―Eu sou Sookie Stackhouse. É a Doutora Ludwig que me tratou no escritório de Eric no Fangtasia?‖ ―Você é a jovem envenenada pelas garras da mênade?‖  ―Sim. Vi a senhora novamente algumas semanas atrás, lembra?‖  ―E onde foi isso?‖ Ela se lembrava muito bem, mas ela queria mais uma prova da minha identidade.  ―Um edifício vazio em um parque industrial.‖ ―E quem estava comandando o show lá?‖  ―Um grande cara careca chamado Quinn.‖ ―Ah, tudo bem.‖ ela suspirou. ―O que você quer? Estou bastante ocupada.‖  ―Tenho uma paciente para você. Por favor, venha vê-la.‖ ―Traga-a para mim.‖  ―Ela está muito doente para viajar.‖  Eu ouvi a médica resmungando para si mesma, mas eu não conseguia distinguir as palavras.  ―Ora,‖ disse a médica. ―Oh, muito bem, senhorita Stackhouse. Diga-me qual é o problema.‖ Expliquei o melhor que pude. Jason estava se movendo em torno da cozinha, porque ele estava muito preocupado para se sentar imóvel.  ―Idiotas. Tolos,‖ disse Doutora Ludwig. ―Diga-me como chegar à sua casa. Então você pode me levar para onde a menina está.‖  ―Talvez eu tenha que sair para o trabalho antes de você chegar aqui,‖ eu disse, depois de olhar para o relógio e calcular quanto tempo levaria para a médica dirigir de Shreveport. ―Meu irmão vai estar aqui esperando.‖ ―Ele é a parte responsável?‖ Eu não sabia se ela estava falando sobre a conta para os seus serviços, ou da gravidez. De qualquer maneira, eu disse a ela que Jason definitivamente era o responsável.  ―Ela está vindo,‖ eu disse ao meu irmão, depois de eu ter dado as instruções para a médica e desligado. ―Eu não sei quanto ela cobra, mas eu lhe disse que você pagaria.‖  ―Claro, claro. Como eu vou conhecê-la?‖ ―Você não pode confundi-la com qualquer um que você conheça. Ela disse que teria um motorista. Ela não é alta o suficiente para ver sobre o volante, assim você deverá levar isso em conta.‖  Lavei os pratos enquanto Jason se movia nervosamente. Ele ligou para Crystal para checar como ela estava, parecia tudo bem pelo o que eu ouvi. Finalmente, eu pedi para ele ir lá fora e espantar o ninho de vespas ‗papa-lama‘25 alojado no galpão de ferramentas. Ele não parecia conseguir ficar sossegado, então ele poderia muito bem ser útil.  Eu pensei na situação enquanto eu comecei a encher a máquina de lavar roupa e coloquei meu uniforme de garçonete (calças pretas, camisa branca canoa com Merlotte‘s bordado sobre o peito esquerdo, e adidas preto). Eu não estava feliz26. Eu estava preocupada com Crystal - e eu não gostava dela. Fiquei triste que ela tinha perdido o bebê, porque eu sei que é uma experiência triste, mas fiquei feliz porque eu realmente não queria
                                                
25  http://www.elharo.com/blog/wp-content/uploads/2007/10/pipeorganmuddaubernest.JPG 26  No original: ―I was not a happy camper‖. A expressão ―happy camper‖, significa que a pessoa está feliz.
 
que Jason se casasse com a menina, e eu tenho certeza que ele teria feito se a gravidez continuasse. Eu procurei por algo para me fazer sentir melhor. Abri o armário para olhar para o meu novo traje, o que eu havia comprado no Tara‘s Togs para usar no meu encontro. Mas eu não conseguia obter qualquer prazer nele.  Finalmente, eu fiz o que eu tinha planejado fazer antes de ter ouvido as notícias de Jason: eu peguei um livro e sentei numa cadeira na varanda da frente, lendo algumas frases a cada momento e, entre elas, admirando a árvore de pêra no jardim da frente, que estava coberto de flores brancas e zumbindo com as abelhas.  O sol estava radiante, os narcisos há pouco estavam passando por seu florescimento, e eu tinha um encontro para sexta-feira. E eu já fiz a minha boa ação do dia chamando a Doutora Ludwig. O tumulto de preocupação em meu estômago aliviou um pouco.  De vez em quando, eu podia ouvir sons vagos viajando em meu quintal; Jason tinha encontrado algo para mantê-lo ocupado depois que ele lidou com o ninho. Talvez ele estivesse puxando as ervas daninhas dos canteiros de flores. Me animei. Isso seria ótimo, pois eu não tenho o entusiasmo da minha avó para jardinagem. Eu admirava os resultados, mas não desfrutava de todo o processo como ela.  Depois de verificar o relógio várias vezes, fiquei aliviada ao ver um grandioso Cadillac pérola rompendo para a área de estacionamento dianteiro. Havia uma forma minúscula no banco do passageiro da frente. A porta do motorista abriu, e uma lobis chamada Amanda saiu. Ela e eu tínhamos tido nossas diferenças, mas nós tínhamos separado em condições justas. Fiquei aliviada ao ver alguém que eu conhecia. Amanda, que parecia exatamente como uma mãe doméstica de classe média, estava na casa dos trinta. Seu cabelo vermelho parecia natural, muito ao contrário da minha amiga Arlene.  ―Sookie, ei,‖ ela disse. ―Quando a doutora me disse para onde estávamos indo, eu fiquei aliviada, pois eu sabia como chegar até aqui.‖ ―Você não é a sua motorista frequente? Ei, eu gostei do seu corte de cabelo, a propósito.‖  ―Oh, obrigada.‖ O cabelo de Amanda estava novamente curto, cortado num estilo descuidado, quase juvenil estranhamente adaptado a ela.  Digo estranhamente, porque o corpo de Amanda era definitivamente feminino.  ―Ainda não me acostumei,‖ admitiu, passando a mão sobre o pescoço. ―Na verdade, normalmente é o meu menino mais velho que dirige para Doutora Ludwig, mas ele está na escola hoje, é claro. Trata-se de sua cunhada que está doente?‖  ―Noiva do meu irmão,‖ eu disse, tentando projetar uma boa expressão facial nisso. ―Crystal. Ela é uma pantera.‖ Amanda parecia quase respeitosa. Lobis muitas vezes só têm desprezo por outro metamorfo, mas algo tão formidável como uma pantera conseguira obter a sua atenção. ―Eu ouvi que havia um aglomerado de panteras aqui em algum lugar. Nunca conheci um antes.‖  ―Eu tenho que começar a trabalhar, mas meu irmão vai levar você até sua residência.‖  ―Então, você não é realmente próxima da noiva do seu irmão?‖ Eu fui surpreendida com a insinuação de que eu estava menos preocupada com o bem-estar de Crystal. Talvez eu devesse ter corrido para a sua cama e deixado Jason aqui para orientar a médica? De repente eu vi o prazer dos meus momentos de paz como um insensível desprezo por Crystal. Mas agora não era o momento para me afundar na culpa.  ―Sinceramente,‖ eu disse, ―Não, eu não sou próxima dela. Mas Jason não aparentava pensar que havia qualquer coisa que eu poderia fazer por ela, e a minha presença não seria exatamente tranquilizadora já que ela não é alguém mais aficionada por mim do que eu por ela.‖
Amanda deu de ombros. ―Ok, onde ele está?‖  Jason estava, nesse momento, virando a esquina da casa, para meu alívio. ―Oh, ótimo,‖ disse ele. ―Você é a médica?‖ ―Não,‖ disse Amanda. ―A médica está no carro. Eu sou a motorista hoje.‖  ―Eu vou levar você lá. Eu estive ao telefone com a Crystal, e ela não está conseguindo qualquer melhora.‖  Eu senti outra onda de remorso. ―Ligue para meu trabalho, Jason, e me avise como ela está passando, ok? Posso vir depois do trabalho e passar a noite, se você precisar de mim.‖  ―Obrigado, mana.‖ Ele me deu um abraço e depois pareceu envergonhado. ―Ó, eu estou contente, eu não manteria isso em segredo como Crystal queria que eu fizesse. Ela não pensou que você fosse ajudá-la.‖ ―Eu gostaria de pensar que eu sou, pelo menos, uma pessoa boa o suficiente para ajudar alguém que precisa, não importa se fôssemos íntimas ou não.‖ Crystal seguramente imagina que eu ficaria indiferente, ou até mesmo contente, que ela estivesse doente?  Desanimada, eu assisti os dois veículos muito diferentes começarem a descer a calçada em seu caminho de volta à estrada Hummingbird. Entrei e me tranquei em meu próprio carro em um humor pouco feliz. Continuando o tema de um dia movimentado, quando entrei pela porta dos fundos do Merlotte‘s naquela tarde, Sam me chamou de seu escritório.  Eu fui ver o que ele queria, sabendo de antemão que algumas outras pessoas estavam esperando lá dentro.  Para meu espanto, descobri que padre Riordan tinha me emboscado.  Havia quatro pessoas no escritório de Sam, além de meu chefe. Sam estava infeliz, mas tentava manter uma cara boa. Um pouco para minha surpresa, padre Riordan não estava feliz com as pessoas que o tinham acompanhado, tampouco. Eu suspeitava que sabia quem eles eram. Droga! Não só padre Riordan tinha os Pelts a reboque, mas uma jovem de aproximadamente dezessete anos, que deve ser a irmã de Debbie, Sandra.  As três novas pessoas me olhavam atentamente. Os Pelts mais velhos eram altos e magros. Ele usava óculos e era careca, com orelhas que saíam da sua cabeça como alças de jarro. Ela era atraente, embora um pouco maquiada demais. Ela estava usando uma calça Donna Karan e carregava uma bolsa com um logotipo famoso nela. Saltos, também. Sandra Pelt estava mais casual, calça jeans e T-shirt ajustando sua figura estreita muito firmemente.  Eu mal ouvi padre Riordan apresentar formalmente os Pelts, eu estava tão sobrecarregada com a irritação por eles estarem se intrometendo na minha vida de tal forma. Eu havia dito ao padre Riordan que eu não queria encontrá-los, e aqui estavam eles. Os Pelts mais velhos me comeram com seus olhos ávidos. Selvagens, Maria-Star os chamou. Desesperados, foi a palavra que veio à minha mente.  Sandra estava numa situação diferente e embaraçosa no geral: uma vez que ela era a segunda filha, ela não era - não poderia ser - uma metamorfa como seus familiares, mas ela não era completamente um ser humano normal, também. Mas alguma coisa que peguei em seu cérebro, me fez congelar. Sandra Pelt era uma metamorfa de algum tipo. Eu tinha ouvido descreverem os Pelts como muito mais envolvidos com a sua segunda filha do que com Debbie. Agora, recebendo os pedaços de informações deles, eu vi por que poderia ser. Sandra Pelt poderia ser de menor idade, mas ela era formidável. Ela era uma lobis completa.  Mas isso não poderia ser, a menos que...  Ok. Debbie Pelt, mulher-raposa, tinha sido adotada. Eu aprendi que os lobis eram propensos a problemas de fertilidade, e eu supus que os Pelts tinham desistido de ter seu próprio pequeno lobis, e adotaram um bebê que era, pelo menos, algum tipo de troca-forma, se não da sua própria espécie. Até mesmo uma raposa de raça pura deveria ter sido preferível a um ser humano comum. Em seguida, os Pelts tinham adotado outra filha, uma lobis.  ―Sookie,‖ disse padre Riordan, sua voz irlandesa encantadora, mas infeliz, ―Barbara e Gordon apareceram na minha porta hoje. Quando eu disse para eles que você havia falado tudo o que sabia sobre o desaparecimento de Debbie, eles não ficaram satisfeitos com isso. Insistiram que eu os trouxesse aqui comigo.‖ Minha intensa raiva do padre recuou um pouco. Mas outra emoção encheu o seu lugar. Eu estava ansiosa o suficiente sobre esse encontro inesperado que senti o meu sorriso nervoso se espalhando em toda a minha cara. Eu sorri para os Pelts, peguei o efeito da desaprovação deles.  ―Sinto muito por sua situação,‖ eu disse. ―Sinto muito que vocês desejam saber o que aconteceu com Debbie. Mas eu não sei o que mais posso dizer.‖  Uma lágrima correu pelo rosto de Barbara Pelt, e eu abri minha bolsa para tirar um lenço de papel. Eu o entreguei para a mulher, que bateu levemente em sua face. ―Ela achava que você estava roubando Alcide dela,‖ disse Barbara.  Você não deve falar mal dos mortos, mas no caso de Debbie Pelt, isso era simplesmente impossível.  ―Senhora Pelt, eu vou ser franca,‖ eu disse para ela. Não excessivamente franca. ―Debbie estava noiva de outra pessoa no momento do seu desaparecimento, um homem chamado Clausen, se bem me lembro.‖ Barbara Pelt assentiu, relutante. ―Esse compromisso deixou Alcide em perfeita liberdade para que ele saísse com quem ele gostasse, e nós passamos um tempo breve juntos.‖ Sem mentiras aqui. ―Nós não nos vemos um ao outro há semanas, e ele está namorando outra agora. Então, Debbie realmente está errada no que ela pensa.‖  Sandra Pelt mordeu seu lábio inferior. Ela era magra, com pele clara e cabelos castanhos escuros. Ela usava pouca maquiagem, e seus dentes eram tão brancos até mesmo ofuscantes. Seus brincos de argola poderiam fornecer poleiros para um periquito, de tão grandes. Ela tinha um corpo estreito e roupas caras: topo da cadeia do shopping.  Sua expressão estava zangada. Ela não gostou do que eu disse, nem um pouco. Ela era uma adolescente, e havia fortes impulsos de emoção na menina. Lembrei-me de como minha vida tinha sido quando eu tinha a idade de Sandra, e eu tive pena dela.  ―Como você conheceu os dois,‖ disse Barbara Pelt com cuidado, não entendendo as minhas palavras, ―Você deve ter percebido que eles tinham - eles têm - um relacionamento de amor-ódio forte, não importa o que Debbie faz.‖  ―Oh, isso é verdade,‖ eu disse, e talvez eu não soei respeitosa o bastante. Se havia alguém para quem eu tinha feito um grande favor em matar Debbie Pelt, essa pessoa era Alcide Herveaux. Caso contrário, ele e La Pelt teriam rasgado um ao outro durante anos, se não o resto de suas vidas.  Sam virou-se quando o telefone tocou, mas vislumbrei um sorriso em seu rosto.  ―Nós apenas sentimos que deve haver algo que você saiba, alguma coisa pequena, que iria nos ajudar a descobrir o que aconteceu à nossa filha. Se - se ela encontrou o seu fim, queremos que o assassino vá à justiça.‖ Olhei para os Pelts por um longo momento. Eu podia ouvir a voz de Sam no fundo e como ele reagiu com espanto a algo que ouviu pelo telefone.  ―Sr. e Sra. Pelt, Sandra,‖ eu disse. ―Eu conversei com a polícia quando Debbie desapareceu. Eu cooperei plenamente com eles. Falei com seus detetives particulares quando estiveram aqui, no meu local de trabalho, assim como vocês fizeram. Eu deixei eles entrarem em minha casa. Eu respondi suas perguntas.‖ Só não a verdade. (Eu sei, toda a estrutura era uma mentira, mas eu estava fazendo o melhor que podia.) ―Eu lamento muito pela sua perda e eu simpatizo com a sua ansiedade para descobrir o que aconteceu com Debbie,‖ eu continuei, falando devagar para que eu pudesse escolher as minhas palavras. Eu tomei uma respiração profunda. ―Mas isso tem que acabar. Basta, chega. Eu não posso te dizer uma coisa diferente do que eu já lhe disse.‖  Para minha surpresa, Sam se afastou em torno de mim e entrou no bar, se movendo rapidamente. Ele não disse uma palavra a ninguém na sala. Padre Riordan olhou para ele, assustado. Fiquei ainda mais ansiosa para os Pelts irem. Alguma coisa estava acontecendo.  ―Eu entendo que você está dizendo,‖ Gordon Pelt disse duramente. Foi a primeira vez que o homem tinha falado. Ele não parecia feliz por estar onde estava, ou estar fazendo o que ele estava fazendo. ―Eu percebo que não fizemos isso da melhor maneira, mas tenho certeza que você vai nos desculpar quando pensar sobre o que nós estamos passando.‖  ―Oh, é claro,‖ eu disse, e se isso não fosse uma verdade completa, não era uma mentira completa, também. Fechei minha bolsa e arrumei na gaveta da mesa de Sam, onde todos os funcionários guardam suas bolsas, e eu corri para fora do bar.  Senti a revolta passar por mim. Algo estava errado, quase todos os cérebros no bar estavam transmitindo um sinal que combinava excitação com a ansiedade beirando ao pânico.  ―E aí?‖ Perguntei ao Sam, me movendo para atrás do bar.  ―Eu apenas disse a Holly que a escola ligou. O garotinho de Holly está desaparecido.‖  Senti o frio começando na base da minha espinha e subir. ―O que aconteceu?‖  ―A mãe de Danielle geralmente pega Cody na escola quando ela pega a menina de Danielle, Ashley.‖  Danielle Gray e Holly Cleary foram melhores amigas por todo o ensino médio e sua amizade continuou com o fracasso de ambos os seus casamentos. Elas gostavam de trabalhar no mesmo turno. A mãe de Danielle, Mary Jane Jasper, foi uma salva-vidas para Danielle, e de vez em quando sua generosidade entornava para incluir Holly. Ashley deve ter cerca de oito anos, e o filho de Danielle, Mark Robert, deve ter agora quatro.  Filho único de Holly, Cody, tem seis anos. Ele está na primeira série.  ―A escola deixou outra pessoa apanhar Cody?‖ Eu ouvi dizer que os professores ficavam em alerta para os cônjuges não autorizados pegarem seus filhos.  ―Ninguém sabe o que aconteceu com o pequeno. A professora de plantão, Halleigh Robinson, estava do lado de fora assistindo as crianças entrarem em seus carros. Ela diz que de repente Cody se lembrou que tinha deixado um desenho para sua mãe sobre a mesa, e ele correu de volta para a escola para buscá-lo. Ela não se lembra de vê-lo sair, mas ela não pôde encontrá-lo quando passou para conferir.‖ ―Então a Sra. Jasper estava lá esperando por Cody?‖  ―Sim, ela era a única, sentada em seu carro com seus netos.‖  ―Isso é muito assustador. Eu suponho que David não sabe de nada?‖ David, o ex de Holly, vivia em Springhill e se casou novamente. Eu registrei a partida dos Pelts: uma irritação a menos.  ―Aparentemente não. Holly ligou para o seu trabalho, e ele esteve fora a tarde toda, não há dúvida sobre isso. Ele ligou para sua nova esposa, e ela tinha acabado de voltar após pegar seus próprios filhos na escola de Springhill. A polícia local passou por sua casa e procurou, só para ter certeza. Agora David está a caminho daqui.‖  Holly estava sentada em uma das mesas, e embora seu rosto estivesse seco, seus olhos tinham a aparência de alguém que estava vendo o inferno. Danielle estava agachada no chão ao lado dela, segurando sua mão e falando com Holly com urgência e quietamente. Alcee Beck, um dos detetives locais, estava sentado na mesma mesa. Um bloco e uma caneta estavam na frente dele, e ele estava falando em seu telefone celular.  ―Eles já procuraram na escola?‖  ―Sim, é onde está Andy agora. E Kevin e Kenya.‖ Kevin e Kenya são os dois oficiais de patrulha uniformizados. ―Bud Dearborn está no telefone iniciando um Alerta Âmbar‖ 27.  Tive dó em pensar em como Halleigh deve estar se sentindo agora, ela tem apenas vinte e três ou mais; e este é o seu primeiro trabalho pedagógico. Ela não tinha feito nada de errado, pelo menos que eu poderia dizer, mas, quando uma criança desaparece, ninguém escapa da culpa.  Eu tentei pensar em como eu poderia ajudar. Esta era uma oportunidade única para a minha pequena deficiência trabalhar para o bem maior. Eu me calei por anos sobre todos os tipos de coisas. As pessoas não queriam saber o que eu sabia. As pessoas não queriam estar próximas de alguém que poderia fazer o que eu faço. A maneira como eu sobrevivi foi manter a boca fechada, porque era mais fácil para os humanos ao meu redor esquecerem ou não acreditarem, quando a prova do meu talento estranho não fosse empurrada em suas caras.  Você gostaria de estar perto de uma mulher que sabia que você estava traindo seu esposo, e com quem? Se você fosse um cara, você gostaria de estar perto de uma mulher que conhecia seu secreto desejo de usar roupas íntimas rendadas? Você iria querer sair com uma garota que conhece seus julgamentos mais secretos sobre outras pessoas e todos os seus defeitos ocultos? Não, eu penso que não.  Mas se uma criança está envolvida, como eu poderia me conter?  Olhei para Sam, e ele olhou para mim com tristeza. ―É difícil, não é, querida28?‖, disse ele. ―O que você vai fazer?‖  ―O que tiver que fazer. Mas eu tenho que fazê-lo agora,‖ eu disse.  Ele acenou. ―Vá até a escola,‖ ele disse, e eu parti. 
 
 
27  Informação sobre sequestros e/ou desaparecimentos. 
28  No original, ―Cher‖ termo crioulo da Louisiana que significa "querida". Vem do francês: chéri. 
 
Eu não sabia como executaria isso. Eu não sabia quem iria admitir que eu poderia ajudar. Havia uma multidão na escola primária, é claro. Um grupo de cerca de trinta adultos estavam sobre a grama na rua ao lado da calçada em frente à escola, e Bud Dearborn, o xerife, estava conversando com Andy sobre o gramado frontal. Betty Ford Elementary era a mesma escola que eu tinha frequentado. Por outro lado o prédio estava completamente novo, um edifício simples de tijolos de um único andar com um salão principal contendo os escritórios, jardim de infância, as salas de aulas da primeira série, e o refeitório. Há uma ala para a direita para a segunda série, uma ala para a esquerda para a terceira. Um pequeno prédio de recreação estava por trás da escola no largo playground, alcançável por uma passagem coberta. Era usado pelas crianças nas sessões de exercício em dias de mau tempo.  Claro que havia mastros em frente à escola, um para a bandeira americana e outro para a bandeira da Louisiana. Eu amava passar por elas quando ficavam estalando na brisa num dia como hoje. Eu amava pensar em todas as pequenas crianças lá dentro, ocupadas sendo crianças. Mas as bandeiras tinham sido retiradas neste dia, e apenas as cordas amarradas para baixo se moviam no vento forte. O gramado verde da escola estava salpicado ocasionalmente com papel de bala ou folha de caderno amassado. A zeladora da escola, Madelyn Pepper (sempre chamada de ‗Senhorita Maddy‘), estava sentada em uma cadeira de plástico na frente da porta principal da escola, seu carrinho rolante ao lado dela. Senhorita Maddy tem sido a zeladora há anos. Senhorita Maddy era uma mulher muito lenta, mentalmente, mas ela era muito trabalhadora, e absolutamente confiável. Ela parecia a mesma de quando eu ia para a escola: alta, robusta, e branca, com um longo cabelo tingido de platina29. Ela estava fumando um cigarro. A diretora, Senhora Garfield, travou uma enorme batalha com a Senhorita Maddy durante anos sobre seu hábito, uma batalha que a Senhorita Maddy sempre venceu. Ela fumava do lado de fora, mas ela fumava.  Hoje, a Senhora Garfield estava completamente indiferente ao mau hábito da Senhorita Maddy. Senhora Garfield, a esposa de um ministro episcopal metodista, estava vestida com um terno cor de mostarda, meias lisas e sandálias pretas. Ela estava tão tensa quanto a Senhorita Maddy, e muito menos protegida sobre mostrar isso.  Fiz meu caminho diretamente através da pequena multidão, sem saber ao certo como continuar a fazer o que eu tinha que fazer.  Andy me viu primeiro, e tocou Bud Dearborn no ombro. Bud tinha um telefone celular ao ouvido. Bud virou para olhar para mim. Acenei com a cabeça para eles. Xerife Dearborn não era meu amigo. Ele havia sido amigo de meu pai, mas ele nunca teve simpatia por mim. Para o Xerife, as pessoas caíam em duas categorias: as pessoas que infringiam a lei e poderiam ser presas e as pessoas que não infringiam a lei e não poderiam ser. E a maioria dessas eram pessoas que não tinham sido apanhadas infringindo a lei ainda, que era o que Bud acreditava. Eu caía em algum lugar no meio. Ele tinha certeza de que eu era culpada de algo, mas não conseguia descobrir o que era.  Andy não gostava muito de mim, também, mas ele era um crente. Ele sacudiu a cabeça para a esquerda, quase imperceptível. Eu não pude ver o rosto de Bud Dearborn
29  Branco-prateada
claramente, mas os ombros dele se endureceram de raiva, e ele se inclinou um pouco, a postura de seu corpo inteiro dizendo que ele estava furioso com o detetive dele.  Eu fiz meu caminho para fora do nó de cidadãos ansiosos e curiosos e deslizei em torno da ala da terceira série para a parte de trás da escola. O playground, aproximadamente do tamanho da metade de um campo de futebol, estava cercado e o portão estava fechado normalmente com uma corrente fechada por um cadeado. Ele tinha sido aberto, presumivelmente para a conveniência dos investigadores. Eu vi Kevin Pryor, um patrulheiro magro e jovem que sempre ganhou a corrida 4K no Festival Azaléia, curvandose para investigar o interior de um bueiro do outro lado da rua. A grama no fosso estava alta, e as calças escuras do uniforme dele estavam pulverizadas de amarelo. Sua parceira, Kenya, que era tão rechonchuda como Kevin era magro, estava do outro lado da rua, do outro lado do bloco, e vi seu movimento de cabeça de um lado para outro como se ela estivesse escaneando os terrenos ao redor.  A escola ocupava um quarteirão inteiro no meio de uma área residencial. Todas as casas ao redor eram modestas em terrenos modestos, o tipo de vizinhança onde havia cestas de basquete e bicicletas, cães latindo, e garagens particulares ilustradas com giz nas calçadas.  Hoje cada superfície estava polvilhada em um pó amarelo-claro; era o início da época do pólen. Se você lavar seu carro na área urbana na sua entrada para carros, haverá um anel amarelo em torno do bueiro de drenagem de chuva. As barrigas dos gatos estavam tingidas de amarelo, e os cães altos tinham as patas amarelas. Cada pessoa que você tenha falado estava com os olhos vermelhos e carregando lenços de papel.  Eu notei vários lenços jogados no chão em torno do playground. Havia sinais de grama verde nova e sinais de terra batida, em áreas onde as crianças se reuniam mais. Um grande mapa dos Estados Unidos tinha sido pintado sobre o pavimento acimentado do lado de fora das portas da escola. O nome de cada estado estava pintado com cuidado e clareza. Louisiana era o único estado de cor vermelho brilhante, e um pelicano enchia seu contorno. A palavra Louisiana era muito longa para competir com o pelicano, e tinha sido pintada no lado direito do pavimento, onde estaria o Golfo do México.  Andy emergiu da porta traseira, seu rosto fixo e duro. Ele parecia dez anos mais velho.  ―Como está Halleigh?‖ Eu perguntei.  ―Ela está na escola se debulhando em lágrimas30,‖ disse ele. ―Temos que encontrar esse menino.‖ ―O que Bud disse?‖ Eu perguntei. Entrei pelo portão.  ―Não pergunte,‖ disse ele. ―Se houver qualquer coisa que você possa fazer por nós, precisamos de toda a ajuda que podemos obter.‖  ―Você vai estar correndo risco.‖ ―Assim como você.‖ ―Onde estão as pessoas que estavam na escola quando ele correu de volta?‖  ―Elas estão todas aqui, com exceção da diretora e da zeladora.‖  ―Eu as vi lá fora.‖  ―Eu vou trazê-las para dentro. Todas as professoras estão no refeitório. Tem um pequeno palco em uma extremidade. Sente-se lá atrás da cortina. Veja se você pode obter                                                  30  No original: ―crying her eyes out‖, que significa um choro copioso, sem fim. Abrasileirando, algo como a expressão se debulhar em lágrimas qualquer coisa.‖  ―Ok.‖ Eu não tive uma idéia melhor.  Andy partiu para frente da escola para reunir a diretora e a zeladora.  Entrei no final do corredor da terceira série. Havia fotos brilhantes que decoravam as paredes exteriores de cada sala de aula. Olhei para os desenhos rudimentares de pessoas fazendo piqueniques e pescando, e as lágrimas brotaram dos meus olhos. Pela primeira vez, eu desejei que eu fosse psíquica, em vez de telepata.  Então, eu poderia imaginar o que tinha acontecido com Cody, ao invés de ter que esperar alguém pensar nisso. Eu nunca conheci um sensitivo real, mas eu entendi que era um talento muito incerto para ter, um que não era suficientemente específico algumas vezes, e muito específico em outras. Meu pequeno truque era muito mais confiável, e eu me fiz acreditar que eu poderia ajudar esta criança.  Conforme eu fiz meu caminho para o refeitório, o cheiro da escola provocou uma onda de lembranças. A maioria delas foi dolorosa; algumas foram agradáveis. Quando eu era como esses pequenos, eu não tinha controle sobre minha telepatia e nenhuma idéia do que estava errado comigo. Meus pais me fizeram passar por uma experiência de saúde mental rigorosa para tentar descobrir o que provocava o afastamento de meus semelhantes. Mas a maioria das minhas professoras foi amável. Elas entenderam que eu estava fazendo o meu melhor para aprender - que de alguma maneira eu ficava constantemente distraída, mas não era por minha própria escolha. Inalar o cheiro de giz, limpeza, papéis e livros trouxe tudo de volta.  Lembrei-me de todos os corredores e portas, como se tivesse acabado de sair. As paredes eram de uma cor de pêssego agora, em vez de off-white31 como eu lembrava, e o carpete era uma espécie de pontilhado cinza no lugar do linóleo32 marrom; mas a estrutura da escola não foi alterada. Sem hesitar, eu escorreguei por uma porta atrás do pequeno palco, que ficava no final do refeitório. Se eu lembrava corretamente, o espaço era realmente chamado de ‗sala polivalente‘. A área de serviço poderia ser fechada por fora com portas dobradiças, e as mesas de piquenique arrumadas em fileiras na sala poderiam ser dobradas e ser movidas aparte. Agora, elas estavam levantadas em linhas retas, e as pessoas sentadas nelas eram todas adultas, com exceção dos filhos de algumas professoras, que estavam na sala de aula com as mães, quando o alarme tocou.  Eu encontrei uma cadeira de plástico minúscula e a coloquei atrás das cortinas do palco esquerdo. Fechei os olhos e comecei a me concentrar. Eu perdi a consciência do meu corpo quando eu me fechei a todos os estímulos e comecei a deixar minha mente vagar livre.  É minha culpa, minha culpa, minha culpa! Como eu não percebi que ele não tinha voltado? Ou ele passou escondido por mim? Ele poderia ter chegado a um carro sem que eu percebesse?  Pobre Halleigh. Ela estava sentada sozinha, e o amontoado de lenços de papel próximo dela demonstrava como ela estava gastando o seu tempo de espera. Ela estava completamente inocente de qualquer coisa, então eu retomei minha sondagem.  Oh meu Deus, te agradeço Deus que não é meu filho que está desaparecido...  ... Ir para casa e pegar alguns biscoitos... 
31  Variação de branco com cara de velho, guardado 32  Espécie de tapete ou cobertura do soalho, impermeável, feito de tecido de juta, revestido em um lado de uma mistura de óleo de linhaça solidificado, gomas, pó de cortiça ou madeira e corantes
 
Não é possível ir até a loja e pegar um pouco de carne de hambúrguer, talvez eu deva ligar para Ralph e ele possa ir ao Sonic... Mas nós comemos fast food na noite passada, não é bom...  Sua mãe é uma garçonete, quantos indivíduos de baixo nível social ela conhece? Provavelmente um deles...  Foi assim por diante, uma ladainha de pensamentos inofensivos. As crianças estavam pensando em lanches e televisão, e eles também estavam com medo. Os adultos, em sua maior parte, estavam muito aterrorizados por seus próprios filhos e preocupados com o efeito do desaparecimento de Cody em suas próprias famílias e suas próprias classes.  Andy Bellefleur disse, ―Em apenas um minuto Xerife Dearborn estará aqui, e então vamos dividi-los em dois grupos.‖  As professoras relaxaram. Estas foram instruções familiares, como elas próprias davam frequentemente.  ―Nós vamos fazer perguntas a cada um de vocês, um por vez, e então vocês poderão ir. Eu sei que vocês estão todos preocupados, e temos patrulheiros examinando a área, mas talvez possamos obter algumas informações que nos ajudarão a encontrar Cody.‖ Senhora Garfield entrou. Eu pude sentir sua ansiedade precedendo-a como uma nuvem escura, cheia de trovões. Senhorita Maddy estava bem atrás dela. Eu pude ouvir as rodas de seu carrinho, carregado com sua lata de lixo forrada e cheia com materiais de limpeza. Todos os aromas à sua volta eram familiares. Claro, ela começava a limpeza logo após as aulas. Ela teria estado em uma das salas de aula, e ela provavelmente não tinha visto nada.  Senhora Garfield poderia estar em seu escritório. O diretor da minha época, o Senhor Heffernan, ficava do lado de fora com a professora de plantão até que todas as crianças tivessem ido embora, de modo que os pais tinham a oportunidade de falar com ele se tivessem dúvidas sobre o progresso de seus filhos... ou a falta dele.  Eu não me inclinei de detrás da cortina empoeirada para olhar, mas eu podia seguir o progresso das duas facilmente. Senhora Garfield era uma bola de tensão tão densa que carregou o ar em volta dela, e Senhorita Maddy estava igualmente cercada pelo cheiro de todos os produtos de limpeza e os sons de seu carrinho. Ela estava infeliz, também, e acima de tudo, ela queria voltar à sua rotina. Maddy Pepper pode ser uma mulher de inteligência limitada, mas ela adorava o trabalho porque era boa nisso.  Eu aprendi muito enquanto eu estava sentada ali. Eu aprendi que uma das professoras era lésbica, mas ela era casada e tinha três filhos. Eu aprendi que outra professora estava grávida, mas não disse a ninguém ainda. Aprendi que a maioria das mulheres (não havia professores do sexo masculino na escola primária) era pressionada pelas múltiplas obrigações para com suas famílias, seus empregos, e suas igrejas. A professora de Cody estava muito infeliz, porque ela gostava do menino, embora ela pensasse que sua mãe era estranha. Ela acreditava que Holly estava tentando ser uma boa mãe, e isso compensava o desgosto dela pelos enfeites góticos de Holly.  Mas nada que eu aprendi me ajudou a descobrir o paradeiro de Cody até que arrisquei na cabeça de Maddy Peppers.  Quando Kenya veio atrás de mim, eu estava curvada, minha mão sobre minha boca, tentando chorar silenciosamente. Eu não era capaz de levantar para olhar para Andy ou qualquer outra pessoa. Eu sabia onde o menino estava.  ―Ele me mandou voltar aqui para descobrir o que você sabe‖, sussurrou Kenya. Ela estava tremendamente infeliz sobre sua incumbência, e embora ela sempre tivesse simpatia por mim, ela não achou que eu poderia fazer qualquer coisa para ajudar a polícia. Ela achava que Andy era um tolo por paralisar sua carreira, pedindo-me para sentar ali, escondida.  Então eu peguei outra coisa, algo débil e fraco.  Eu pulei e agarrei Kenya pelo ombro. ―Olhe na lata de lixo, aquela carregada no carrinho, agora!‖ Eu disse, minha voz baixa, mas (eu esperava) urgente o suficiente para acender um fogo em Kenya. ―Ele está na lata, ele ainda está vivo!‖  Kenya não estava apressada o suficiente para pular detrás da cortina, saltar para baixo do palco, e colidir com o carrinho da zeladora. Ela me deu um duro, duro, olhar. Saí detrás da cortina para ver como Kenya faria para descer as pequenas escadas na frente do palco, e ir até onde Maddy Pepper estava sentada, seus dedos batendo contra suas pernas. Senhorita Maddy queria um cigarro. Então ela percebeu que Kenya estava se aproximando dela, e um alarme sombrio soou em seu cérebro. Quando a zeladora viu Kenya realmente tocar a borda da grande lata de lixo, ela saltou para os seus pés e gritou: ―Eu não queria, eu não queria!‖  Todos na sala se viraram para a comoção, e todas as faces vestiram expressões idênticas de horror. Andy caminhou a passos largos, seu rosto endurecido. Kenya estava curvada sobre lata, procurando com afinco, lançando uma nevasca de lenços de papel usados por cima de seus ombros. Ela congelou por um segundo, quando descobriu o que estava procurando.  Ela curvou-se, quase perigando cair dentro da lata. ―Ele está vivo‖, ela gritou para Andy. ―Chame 911!‖ 
―Ela estava esfregando quando ele voltou correndo para a escola para pegar o desenho‖, disse Andy. Estávamos sentados no refeitório sozinhos. ―Eu não sabia se você estava podendo ouvir tudo aquilo, havia muito barulho na sala.‖  Concordei. Eu fui capaz de ouvir seus pensamentos como se ela tivesse falado. Todos estes anos em seu trabalho, e ela nunca teve um problema com um aluno que não fosse facilmente resolvido com algumas palavras fortes da parte dela.  Então, hoje, Cody veio correndo para a sala de aula, pólen por todo o sapato e bainha da calça, atravessando o andar recém-lavado por Maddy. Ela gritou com ele, e ele ficou tão assustado que seus pés escorregaram no piso molhado. O garotinho caiu para trás e golpeou a cabeça contra o piso. O corredor tinha carpete para reduzir o ruído, mas nas salas de aula não, e sua cabeça bateu violentamente sobre o linóleo.  Maddy pensou que o tinha matado, e ela escondeu o corpo dele apressadamente no recipiente mais próximo.  Ela percebeu que iria perder o seu emprego, se a criança estivesse morta, e num impulso tentou escondê-lo. Ela não tinha um plano e nem idéia do que iria acontecer. Ela não tinha imaginado como descartaria o corpo dele, e ela não contava em como miserável se sentiria sobre a coisa toda, quão culpada.  Para manter a minha parte nisso em silêncio, no que a polícia e eu estávamos de acordo de que era absolutamente a melhor idéia, Andy sugeriu a Kenya que ela tinha repentinamente percebido que o único recipiente na escola no qual ela não havia procurado era a lata de lixo de Maddy Pepper. ―Isso é exatamente o que eu pensava,‖ disse Kenya. ―Eu deveria investigá-lo, pelo menos vasculhar e ver se um raptor tinha jogado algo nele.‖ O rosto redondo de Kenya estava ilegível.  Kevin olhou para ela, suas sobrancelhas reunidas, sentindo alguma coisa por baixo da superfície da conversa. Kevin não era bobo, especialmente quando Kenya ficava preocupada.  Os pensamentos de Andy estavam claros para mim. ―Nunca me peça para fazer isso de novo,‖ eu disse a ele.  Ele acenou com a cabeça em concordância, mas ele estava mentindo. Ele estava vendo diante de si um panorama de casos limpos, de malfeitores presos, de como limpo Bon Temps ficaria quando eu lhe contasse onde todos os criminosos estavam e ele encontraria uma maneira de acusá-los por algo.  ―Eu não vou fazer isso,‖ eu disse. ―Eu não vou ajudá-lo o tempo todo. Você é um detetive. Você tem que descobrir as coisas de uma forma legal, para que possa construir um processo judicial. Se você me usar o tempo todo, ficará negligente. Os casos fracassarão. Você obterá uma má reputação.‖ Falei desesperadamente, desamparadamente. Eu não acho que minhas palavras teriam qualquer efeito.  ―Ela não é uma Magic 8 Ball33,‖ disse Kevin.  Kenya pareceu surpresa, e Andy ficou mais que surpreso; ele pensava que era quase uma heresia. Kevin era um patrulheiro; Andy era um detetive. E Kevin era um homem quieto, ouvia todos os seus co-trabalhadores, mas não oferecia um comentário de sua autoria. Ele era notoriamente filhinho-da-mamãe; talvez ele tenha aprendido no colo de sua mãe para não dar opiniões.  ―Você não pode sacudi-la e obter a resposta certa,‖ Kevin continuou. ―Você tem que descobrir a resposta por conta própria. Não é certo tomar a vida de Sookie assim para que você possa fazer seu trabalho melhor.‖  ―Certo,‖ disse Andy, sem convicção. ―Mas eu acho que qualquer cidadão gostaria que sua cidade se livrasse dos ladrões e estupradores e assassinos.‖ ―E sobre os adúlteros e as pessoas que tiram jornais extras dos distribuidores de jornais? Devo fazer esse serviço, também? E sobre aquelas crianças que colam em suas provas?‖ ―Sookie, você sabe o que eu quero dizer,‖ disse ele, com o rosto pálido e furioso.  ―Sim, eu sei que você quer dizer. Esqueça. Ajudei a salvar a vida dessa criança. Não me faça sequer pensar em lamentar isso.‖ Saí da mesma maneira que eu tinha entrado, pelo portão detrás e descendo ao lado da propriedade da escola onde eu tinha deixado meu carro. Dirigi para o trabalho com muito cuidado, porque eu ainda estava tremendo com a intensidade das emoções que tinha fluído através da escola, esta tarde.  No bar, descobri que Holly e Danielle haviam saído - Holly para o hospital para ficar com seu filho, e Danielle para levá-la lá porque ela estava frágil.  ―A polícia teria levado Holly, de bom grado,‖ disse Sam. ―Mas eu sabia que Holly não tinha ninguém além da Danielle, então eu pensei que eu poderia muito bem deixar Danielle ir também.‖ ―Claro, isso me deixa servindo sozinha,‖ eu disse acidamente, pensando que eu estava sendo punida duplamente por ajudar Holly.  Ele sorriu para mim, e por um segundo eu não pude deixar de sorrir de volta. ―Eu chamei Tanya Grissom. Ela disse que gostaria de ajudar, como uma tapa-buraco.‖  Tanya Grissom tinha acabado de se mudar para Bon Temps, e ela tinha entrado no Merlotte‘s imediatamente para candidatar-se. Ela trabalhava como garçonete na faculdade, ela disse para Sam. Ela tirava mais de duzentos dólares por noite em gorjetas. Isso não iria                                                 
33  Brinquedo que profetiza o futuro. http://q8report.com/wp-content/uploads/2010/01/8-ball-front.jpg
 
acontecer em Bon Temps, e eu disse para ela com toda franqueza.  ―Você chamou Arlene e Charlsie primeiro?‖ Eu percebi que tinha ultrapassado meus limites, porque eu era apenas uma empregada de mesa/garçonete, e não a proprietária. Não era para eu lembrar Sam que ele deve chamar as mulheres com mais tempo antes dele chamar a recém-chegada. A recém-chegada era definitivamente uma metamorfa, e eu tinha medo de Sam ser prejudicado em favor dela.  Sam não parecia irritado, apenas sem emoção. ―Sim, eu as chamei primeiro. Arlene disse que tinha um encontro, e Charlsie estava cuidando de seu neto. Ela indicou fortemente que não estará trabalhando muito mais tempo. Acho que ela vai criar o bebê em tempo integral quando sua nora voltar ao trabalho.‖ ―Ah,‖ eu disse, desconcertada. Eu teria que me acostumar com alguém novo. Claro, garçonetes vêem, garçonetes vão, e eu tinha visto várias passarem através da porta de empregados do Merlotte‘s em meus - Deus, agora cinco - anos de trabalho para Sam. O Merlotte‘s ficava aberto até meia-noite nas noites de dia de semana e até uma nas sextas e sábados. Sam tentou abrir no domingo por um tempo, mas o dinheiro não compensava. Então agora o Merlotte‘s ficava fechado aos domingos, a menos que fosse alugado para uma festa privada.  Sam experimentava alternar nossos horários para que todas tivessem a chance de trabalhar no turno da noite, mais lucrativo, então em alguns dias eu trabalhava das onze as cinco (ou seis e meia, se ficássemos extremamente ocupadas) e às vezes eu trabalhava das cinco até o fechamento. Ele experimentou com horários e dias até que nós todos concordamos o que funcionava melhor. Ele esperava de nós um pouco de flexibilidade, e em troca ele era bom em nos deixar fora para funerais e casamentos e outros marcos.  Eu tive alguns outros trabalhos antes que eu começasse a trabalhar para Sam. Ele foi, de longe, a pessoa mais fácil de se trabalhar. Ele tinha se tornado mais do que o meu patrão ao longo do tempo; ele era meu amigo. Quando eu descobri que ele era um metamorfo, não me incomodei nem um pouco. Eu tinha ouvido rumores na comunidade que metamorfos estavam pensando em ir a público, da maneira como os vampiros tinham. Fiquei preocupada com Sam. Fiquei preocupada como as pessoas em Bon Temps iriam aceitá-lo. Será que eles sentirão que ele estava enganando a todos nestes anos, ou eles irão tomar isso sem dificuldade? Desde que os vampiros tinham feito sua revelação cuidadosamente orquestrada, a vida como conhecíamos havia mudado, em todo o mundo. Alguns países, após passar o choque inicial, tinham começado a trabalhar para incluir os vampiros na tendência atual da vida; outros tinham declarado os vampiros não-humanos e encorajado os seus cidadãos a matar vampiros à vista (mais fácil falar do que fazer).  ―Tenho certeza que Tanya vai ficar bem,‖ eu disse, mas eu soei incerta, mesmo para os meus próprios ouvidos. Agindo em um impulso - e eu só posso supor que a onda de emoções que eu tinha experimentado naquele dia tinha algo a ver com isso - eu joguei meus braços em volta de Sam e lhe dei um abraço. Senti o cheiro de pele e cabelo limpos e o leve cheiro doce de um pós-barba, um tom suave de vinho, um bafo de cerveja... o cheiro de Sam. Eu puxei isso para meus pulmões como oxigênio.  Surpreendido, Sam me abraçou de volta, e por um segundo o calor do seu abraço me fez sentir quase tonta com prazer. Então nós recuamos, porque afinal de contas, este era o nosso local de trabalho e havia alguns clientes espalhados. Tanya entrou, então foi bom estarmos longe do agarramento. Eu não quero que ela pense que isso era rotina.  Tanya era mais baixa que meus 1,70 m, e ela era uma mulher de aparência agradável em seus vinte e tantos anos. Seu cabelo era curto e reto e brilhante, um castanho médio que quase combinava com seus olhos. Ela tinha uma boca pequena e um nariz de botão e uma figura agradável. Eu não tinha absolutamente nenhuma razão para não gostar dela, mas eu não estava feliz em vê-la. Eu tinha vergonha de mim mesma. Eu deveria dar a Tanya uma oportunidade justa para mostrar o seu verdadeiro caráter.  Afinal de contas, eu descobriria mais cedo ou mais tarde. Você não pode esconder o que realmente é, não de mim - não se você for uma pessoa humana comum. Tento não escutar, mas não posso bloquear tudo. Quando eu estava namorando Bill, ele me ajudou a aprender a fechar minha mente. Desde então, a vida tinha sido mais fácil, mais agradável, mais relaxada.  Tanya era uma mulher sorridente, eu considerei isso. Ela sorriu para Sam, ela sorriu para mim e sorriu para os clientes. Não era um sorriso nervoso, como o meu, o sorriso que diz ―eu estou ouvindo um barulho dentro da minha cabeça e eu estou tentando parecer normal do lado de fora‖; o sorriso de Tanya era mais um ―eu sou realmente atraente e alegre e irei ser admirada por todos‖ tipo de sorriso. Antes de ela pegar uma bandeja e começar a trabalhar, Tanya formulou uma lista de perguntas sensatas, e eu poderia dizer que ela tinha tido experiência.  ―O que há de errado?‖ Sam perguntou.  ―Nada,‖ eu disse. ―Eu só...‖  ―Ela parece boa o suficiente,‖ disse ele. ―Você acha que há algo errado com ela?‖  ―Nada que eu saiba,‖ eu disse, tentando parecer animada e alegre. Eu sabia que estava sorrindo aquele sorriso nervoso.  ―Olha, Jane Bodehouse está pedindo outra rodada. Nós vamos ter que chamar seu filho novamente.‖  Tanya virou-se e olhou para mim naquele momento, como se ela sentisse meus olhos em suas costas. O seu sorriso se foi, substituído por um olhar firme que minha estimativa de sua capacidade de ação séria imediatamente aprimorou.  Mantivemo-nos por um momento, nos avaliando firmemente, e então ela sorriu para mim e continuou para a seguinte mesa, perguntando ao homem ali se ele estava preparado para outra cerveja. De repente, eu pensei, eu me perguntei se Tanya estava interessada em Sam. Eu não gostei da maneira que me senti quando pensei sobre isso. Eu conclui que o dia estava bastante cansativo, para criar uma nova preocupação. E nenhuma ligação do Jason.  Depois do trabalho, fui para casa com minha mente cheia: padre Riordan, os Pelts, Cody, o aborto de Crystal.  Eu dirigi pelo meu caminho de cascalho por entre os bosques, e quando eu arranquei para dentro da clareira e dirigi por trás da casa para estacionar na porta traseira, o seu isolamento me surpreendeu mais uma vez. Viver na cidade por algumas semanas tinha feito a casa parecer ainda mais solitária, embora eu adorasse estar de volta na velha residência, eu não me sentia mais a mesma de antes do incêndio.  Eu raramente me sentia preocupada por viver sozinha neste local isolado, mas ao longo dos últimos meses, minha vulnerabilidade estava impressa em mim. Eu tinha feito algumas ligações, e intrusos estiveram duas vezes em minha casa esperando por mim quando eu entrava. Agora eu tinha instalado alguns bloqueios realmente bons em minha porta, eu tinha olhos mágicos na porta da frente e na dos fundos, e meu irmão me deu sua espingarda Benelli para me manter segura.  Eu tinha algumas grandes luzes nos cantos da casa, mas eu não gostava de deixá-las ligadas a noite toda. Eu estava considerando a compra de um dessas luzes com detectores de movimentos. A desvantagem era, desde que eu morava em uma grande clareira no meio do mato, bichos muitas vezes cruzavam meu quintal durante a noite, e a luz se acenderia quando qualquer pequeno gambá vagueasse pela grama.  O segundo ponto sobre a luz se acender seria... e daí?  O tipo de coisa que eu estava com medo não seria intimidado por uma luz. Eu seria capaz de vê-lo melhor antes que me devorasse. Além disso, não havia vizinhos que uma luz poderia assustar ou despertar. Estranho, refleti, que eu raramente tive um momento assustador quando minha avó estava viva. Ela tinha sido uma senhora valente para uma mulher na casa dos setenta, mas ela não poderia ter me defendido contra uma mosca.  De alguma forma, o simples fato de não estar só fazia eu me sentir mais segura.  Depois de todo esse pensamento sobre o perigo, eu estava tensa quando eu saí do meu carro. Eu passei por um caminhão estacionado na frente, e eu destranquei a porta dos fundos e atravessei a casa para abrir a porta da frente com a sensação miserável que eu estava prestes a ter que passar por uma cena. O quieto intervalo na minha varanda olhando as abelhas na árvore de pêra parecia ter sido há uma semana atrás, em vez de horas.  Calvin Norris, líder dos homens-pantera de Hotshot, saiu de seu caminhão e subiu a escada. Ele era um homem de barba em seus quarenta anos, e era um homem sério, cujas responsabilidades caiam diretamente sobre seus ombros. Evidentemente que Calvin tinha acabado de sair do trabalho. Ele estava vestindo a camisa azul e calça jeans que todos os chefes de equipe da Norcross usavam.  ―Sookie,‖ disse ele, acenando para mim.  ―Por favor, entre,‖ eu respondi, mas eu estava relutante. No entanto, Calvin nunca tinha sido nada menos que gentil comigo, e ele me ajudou a salvar meu irmão, há alguns meses atrás, quando Jason esteve detido como refém. Pelo menos, eu lhe devia civilidade.  ―Minha sobrinha me ligou quando o perigo passou,‖ disse ele profundamente, sentando no sofá depois que eu acenei minha mão para mostrar que ele era bem-vindo a ficar. ―Eu acho que você salvou a vida dela.‖  ―Eu estou realmente contente de ouvir que Crystal está melhor. Tudo o que eu fiz foi fazer um telefonema.‖ Sentei na minha velha cadeira favorita, e percebi que estava caindo de cansaço. Forcei meus ombros para trás. ―Dra. Ludwig foi capaz de deter o seu sangramento?‖  Calvin concordou. Ele olhou continuamente para mim, seus olhos estranhos solenes. ―Ela vai ficar bem. Nossas mulheres abortam muito. É por isso que nós estávamos esperando... Bem.‖  Eu vacilei, o peso das esperanças de Calvin que eu me acasalaria com ele descansava pesadamente sobre os meus ombros. Não estou certa porque eu me senti culpada; por causa de seu desapontamento, eu acho. Afinal, ele estava mal por minha culpa porque a idéia tinha limitada atração para mim.  ―Eu acho que Jason e Crystal irão se amarrar,‖ disse Calvin sem rodeios. ―Eu tenho que dizer, eu não sou louco por seu irmão, mas não sou eu que vou casar com ele.‖ Fiquei perplexa. Eu não sabia se este casamento era idéia de Jason, ou de Calvin, ou de Crystal. Jason certamente não estava pensando em casamento, nesta manhã, a menos que fosse algo que ele se esqueceu de mencionar no tumulto da sua preocupação sobre Crystal. Eu disse, ―Bem, para ser honesta, eu não sou louca pela Crystal. Mas não sou eu a me casar com ela.‖ Eu tomei uma respiração profunda. ―Eu vou fazer o meu melhor para ajudá-los, caso decidam fazê-lo.... Jason é tudo o que tenho, como você sabe.‖  ―Sookie,‖ disse ele, e sua voz estava muito menos segura, de repente, ―Eu quero falar sobre outra coisa, também.‖  Claro que ele queria. De jeito nenhum eu iria conseguir escapar.  ―Eu sei que algo lhe foi falado, quando você veio a minha casa, que deixou você longe de mim. Eu gostaria de saber o que foi. Eu não posso corrigir, se eu não sei o que está quebrado.‖ Eu respirei fundo, enquanto eu considerava minhas próximas palavras com muito cuidado. ―Calvin, eu sei que Terry é sua filha.‖ Quando eu fui ver Calvin, quando ele saiu do hospital após ser baleado, eu conheci Terry e sua mãe Maryelizabeth na casa de Calvin. Embora elas não vivessem lá claramente, ficou igualmente claro que elas tratavam o lugar como uma extensão da própria casa delas. Então Terry me perguntou se eu ia casar com o seu pai.  ―Sim,‖ disse Calvin. ―Eu teria lhe falado se você tivesse me perguntado.‖ ―Você tem outros filhos?‖  ―Sim. Tenho outros três filhos.‖ ―Com mães diferentes?‖  ―Com três mães diferentes.‖  Eu estava certa. ―Por que isso?‖ Eu perguntei, para ter certeza.  ―Porque eu sou puro-sangue,‖ disse ele, como se fosse evidente. ―Como apenas o primeiro filho de um casal puro-sangue pode vir a ser uma pantera completa, temos que trocar.‖  Fiquei profundamente feliz que eu nunca havia considerado seriamente me casar com Calvin, porque se eu tivesse, eu teria desistido exatamente na mesma hora. O que eu havia suspeitado, depois de testemunhar o ritual de sucessão do líder do bando, era verdade.  ―Então, não é o primeiro filho da mulher, no fim, que acaba sendo um metamorfo de puro-sangue... é o seu primeiro filho com um homem específico.‖ ―Certo,‖ Calvin parecia surpreso por eu não saber disso. ―O primeiro filho de qualquer casal puro-sangue é um metamorfo genuíno. E aí se nossa população fica muito pequena, um macho puro-sangue tem que acasalar com tanta mulher puro-sangue que puder, para aumentar o bando.‖ ―Ok‖ Eu esperei por um minuto, para me recompor. ―Você acha que eu ficaria bem com você fecundando outras mulheres, se nós nos casássemos?‖  ―Não, eu não poderia esperar isso de uma pessoa de fora da comunidade,‖ ele respondeu, naquela mesma voz trivial. ―Eu penso que está na hora de me estabelecer com uma mulher. Eu fiz o meu dever como líder.‖  Tentei não revirar os olhos. Se tivesse sido qualquer outro eu teria rido de modo desrespeitoso, mas Calvin era um homem honrado, e ele não merecia essa reação.  ―Agora eu quero uma companheira para toda a vida, e seria bom para o bando se eu pudesse trazer sangue novo para a comunidade. Você pode dizer que estamos reproduzindo uns com aos outros reciprocamente por muito tempo. Meus olhos dificilmente podem passar por humanos, Crystal leva uma eternidade para trocar. Temos que acrescentar algo de novo para o nosso patrimônio genético, como os cientistas chamam. Se você e eu tivermos um bebê, que é o que eu estou esperando, o bebê nunca seria totalmente um metamorfo; mas ele ou ela pode criar uma nova geração para a comunidade, trazer sangue novo e novas habilidades.‖ ―Por que você me escolheu?‖ Ele disse, quase timidamente. ―Eu gosto de você. E você é muito bonita.‖ Ele sorriu para mim, então, uma expressão rara e doce. ―Eu tenho observado você no bar há anos.
Você é boa para todos, e você é uma trabalhadora, e não tem ninguém para cuidar de você como merece. E você sabe sobre nós; não seria nenhum grande choque.‖  ―Outros tipos de metamorfos fazem a mesma coisa?‖ Eu perguntei tão calmamente, eu mal pude me ouvir.  Fiquei olhando para minhas mãos, apertadas em meu colo, e eu mal pude respirar enquanto eu esperava ouvir sua resposta. Os olhos verdes de Alcide encheram meus pensamentos.  ―Quando o bando começa a crescer muito fraco, é o dever deles,‖ disse ele lentamente. ―O que tem em sua mente, Sookie?‖ ―Quando fui para a competição pela liderança do bando de Shreveport, aquele que ganhou - Patrick Furnan - ele teve relações sexuais com uma jovem menina lobis, embora ele fosse casado. Comecei a me perguntar.‖  ―Eu terei uma chance com você?‖ Calvin perguntou. Ele parecia ter tirado suas próprias conclusões.  Calvin não poderia ser culpado por querer preservar seu modo de vida. Se eu achava os meios de mau gosto, isso era problema meu.  ―Você definitivamente me interessou,‖ eu disse. ―Mas eu sou apenas muito humana para pensar em ter os filhos do meu marido à minha volta. Eu ficaria excessivamente... iria me deprimir o tempo todo, sabendo que meu marido tinha feito sexo com quase todas as mulheres que eu visse no dia-a-dia.‖ Pensando bem, Jason irá se ajustar muito bem na comunidade de Hotshot. Parei por um segundo, mas ele permaneceu em silêncio. ―Espero que o meu irmão seja bem recebido em sua comunidade, independentemente da minha resposta.‖ ―Eu não sei se ele entende o que fazemos,‖ disse Calvin. ―Mas Crystal já abortou uma vez, de um sangue puro. Agora ela abortou o bebê de seu irmão. Estou pensando que isso significa que é melhor Crystal não tentar mais nada para ter uma pantera. Ela pode não ser capaz de ter um bebê de seu irmão. Você se sente inclinada a falar com ele sobre isso?‖ ―Não deveria caber a mim discutir isso com o Jason... deveria ser Crystal.‖ Eu encontrei os olhos de Calvin. Abri a boca para fazer a observação de que se tudo o que Jason queria era filhos, ele não deveria se casar, mas depois percebi que era um assunto sensível, e eu parei antes que eu fosse adiante.  Calvin apertou a minha mão de uma estranha e formal maneira quando ele saiu. Eu acreditei que marcou o fim de seu galanteio. Eu nunca tinha sido profundamente atraída por Calvin Norris, e eu nunca pensei seriamente em aceitar sua oferta. Mas eu seria pouco honesta, se eu não admitir que fantasiava sobre um marido estável com um bom trabalho e benefícios, um marido que chegava em casa logo após o turno e consertava coisas quebradas nos seus dias de folga. Havia homens que faziam isso, homens que não se transformavam em nada além da sua própria forma, os homens que estavam vivos vinte e quatro horas/sete dias da semana. Eu sabia disso a partir de leitura de muitas mentes no bar.  Temo que o que realmente me surpreendeu sobre a confissão de Calvin - ou explicação - é o que ela pode me revelar sobre Alcide.  Alcide tinha despertado meu carinho e meu desejo. Pensando nele me fez pensar como seria o casamento com ele, pensei de uma forma muito pessoal, em oposição à minha especulação impessoal sobre o seguro de saúde que Calvin tinha inspirado. Eu praticamente abandonei a secreta esperança que Alcide havia inspirado em mim, depois que eu fui forçada a disparar em sua ex-noiva, mas algo em mim tinha se agarrado ao pensamento, algo que eu tinha mantido em segredo até mesmo de mim, mesmo depois de eu descobri que ele estava namorando Maria-Star. Como recentemente neste dia, eu tinha negado fortemente para os Pelts que Alcide tivesse algum interesse em mim. Mas algo dentro de mim tinha alimentado uma esperança.  Levantei-me lentamente, sentindo duas vezes minha idade real, e entrei na cozinha para pegar algo do freezer para o meu jantar. Eu não estava com fome, mas eu comeria imprudentemente mais tarde, se eu não corrigisse alguma coisa agora, eu disse a mim com severidade.  Mas eu nunca cozinhei uma refeição para mim naquela noite.  Em vez disso, eu encostei na porta da geladeira e chorei. 
 
O próximo dia seria sexta-feira; não só seria o meu dia de folga nesta semana, mas eu tinha um encontro, por isso seria praticamente um dia memorável. Recusei-me a estragar tudo ficando deprimida. Embora fosse ainda um passatempo ótimo do mesmo modo, eu fiz uma das minhas coisas favoritas: eu coloquei um biquíni, me untei com óleo, e fui deitar ao sol na espreguiçadeira ajustável que eu comprei no Wal-Mart no final do verão anterior. Peguei um livro, um rádio e um chapéu, fui para o interior do quintal dianteiro, onde havia menos árvores e plantas floridas para incentivar os insetos que mordem. Eu li, cantei junto com as músicas no rádio, e pintei minhas unhas dos pés e mãos. Embora eu estivesse arrepiada no princípio, me aqueci rapidamente junto com o sol, e não havia nenhuma brisa nesse dia para me esfriar.  Eu sei que tomar banho de sol é ruim e prejudicial, e eu vou pagar por isso mais tarde, etc., etc., mas é um dos poucos prazeres disponíveis para mim.  Ninguém veio me visitar, eu não pude ouvir o telefone, e já que o sol estava lá fora, os vampiros não estariam. Eu tive umas horas agradáveis, sozinha comigo mesma. Perto de uma hora, decidi correr para a cidade para comprar alguns mantimentos e um sutiã novo, e parei na caixa de correio fora da estrada Hummingbird para ver se o carteiro já havia passado.  Sim. Minhas contas de TV a cabo e luz estavam na caixa de correio, o que foi deprimente. Mas por trás de uma revista de vendas da Sears estava um convite para o cháde-panela de Halleigh. Bem... caramba. Fiquei surpresa, mas contente. Claro, eu morei ao lado de Halleigh em um dúplex de Sam por algumas semanas, enquanto a minha casa estava sendo reparada após o incêndio, e nos víamos pelo menos uma vez por dia durante esse tempo. Então, não foi um completo exagero ela me colocar em sua lista de convidados. E mais, pode ser que ela esteja aliviada que a situação de Cody tinha sido esclarecida tão rapidamente?  Eu não recebia muitos convites, assim aceitei o adicionado ao meu senso de bemestar. Três outras professoras estavam preparando o chá-de-panela, e no convite designava presentes para cozinha. Que conveniente, já que eu estava no meu caminho para o WalMart Supercenter em Clarice.  Depois de muito pensar, eu comprei uma caçarola de louça de dois quartos de galão da CorningWare. Essas são sempre úteis. (Eu também peguei suco de fruta, cheddar fatiado, bacon, papel de presente, e um sutiã realmente muito azul e calcinha combinando, mas isso não vem ao caso.)  Depois que cheguei em casa e descarreguei minhas compras, eu envolvi a caçarola encaixotada em algum papel prateado e fixei um grande laço branco sobre ela. Eu escrevi a data e a hora do chá-de-panela no meu calendário, e coloquei o convite em cima do presente. Eu estava no controle da situação do chá-de-panela.  Montando alto num cume de virtude, limpei minha nova geladeira dentro e fora depois de eu ter almoçado.  Lavei uma carga de roupa na minha lavadora nova, desejando pela centésima vez que os meus gabinetes estivessem no lugar já que eu estava cansada de procurar coisas na desordem do chão. 
Eu andei pela casa para me certificar que ela se mostrava agradável, já que Quinn iria me apanhar. Mesmo sem me permitir pensar, eu troquei meus lençóis e limpei meu banheiro - não que eu tivesse qualquer intenção de cair na cama com Quinn, mas é melhor estar preparada do que não, certo? Além disso, isso só me fez sentir bem, sabendo que tudo estava limpo e agradável. Toalhas novas em ambos os banheiros, uma varredura leve ao redor da sala e quarto, um circuito rápido com o aspirador de pó. Antes de eu entrar no chuveiro, eu varri as varandas, embora eu soubesse que elas seriam cobertas novamente em uma névoa amarela antes que eu voltasse de meu encontro.  Eu deixei o sol secar meus cabelos, provavelmente recebendo muito pólen, também. Eu coloquei minha maquiagem com cuidado; eu não usava muito, mas foi divertido aplicar para algo mais interessante que o trabalho. Um pouco de sombra, um monte de rímel, algum pó e batom. Então eu vesti a minha nova roupa íntima para o encontro. Isso me fez sentir especial da pele por fora: renda azul escura. Eu olhei no espelho de corpo inteiro para verificar o efeito. Eu dei para mim mesma um sinal de aprovação com o polegar. Você tem que torcer por si mesma, certo?  A roupa que eu comprei da Tara‘s Togs era azul royal e fabricado com algum pesado tecido tricotado que dava um lindo caimento. Eu fechei o zíper da calça e coloquei a blusa. Era sem mangas, envolta em meus seios e amarrada. Experimentei a profundidade do decote, escolhendo finalmente um grau de revelação, que eu tinha certeza de ter ficado na linha entre sexy e vulgar.  Eu peguei a minha echarpe preta do armário, a que Alcide tinha me dado para substituir uma que Debbie Pelt tinha destruído. Eu iria precisar dela mais tarde, à noite. Eu deslizei em minhas sandálias pretas. Eu experimentei as jóias, finalmente decidindo por uma corrente simples de ouro (que tinha sido da minha avó) e brincos de bola sem ornamento.  Ah!  Houve uma batida na porta da frente, e eu olhei para o relógio, um pouco surpresa que Quinn viesse quinze minutos mais cedo. Eu não tinha ouvido a sua caminhonete, tampouco. Eu abri a porta não para encontrar Quinn, mas Eric, parado lá.  Tenho certeza que ele apreciou o meu suspiro de surpresa.  Nunca abra a porta sem checar. Nunca assuma que você sabe quem está do outro lado. É para isso que eu tinha colocado o olho mágico! Estúpida. Eric deve ter voado, já que eu não podia ver um carro em qualquer lugar.  ―Posso entrar?‖ Eric perguntou educadamente. Ele tinha me examinado. Depois de apreciar a vista, percebeu que não tinha sido planejada com ele em mente. Ele não ficou feliz. ―Eu suponho que você esteja esperando companhia?‖  ―De fato estou, e na verdade, eu prefiro que você fique desse lado da soleira da porta,‖ eu disse. Eu dei um passo para atrás assim ele não podia me alcançar.  ―Você disse à Pam que não queria ir para Shreveport,‖ disse ele. Ah, sim, ele estava irritado. ―Então, aqui estou eu, para descobrir por que você não respondeu meu chamado.‖ Normalmente, o seu sotaque era muito leve, mas esta noite eu notei que estava evidente.  ―Eu não tenho tempo,‖ eu disse. ―Eu vou sair esta noite.‖  ―Estou vendo,‖ disse ele, mais calmamente. ―Você vai sair com?‖  ―Será que realmente é assunto seu?‖ Eu encontrei os olhos dele, desafiadoramente.  ―Claro que é,‖ disse ele.  Eu fiquei desconcertada. ―E isso seria por quê?‖ Eu zombei um pouco.  ―Você deveria ser minha. Eu dormi com você, eu tenho cuidado de você, eu tenho... ajudado você financeiramente.‖  ―Você pagou dinheiro que me devia, por serviços prestados,‖ eu respondi. ―Você pode ter dormido comigo, mas não recentemente, e você não mostrou nenhum sinal de querer fazer novamente. Se você se importa comigo, está mostrando de um modo muito estranho. Eu nunca ouvi falar que ‗rejeição total à parte de ordens que vêem de lacaios‘ era uma forma válida de demonstrar carinho.‖ Isso foi uma sentença confusa, ok, mas eu sabia que ele captou.  ―Você está chamando Pam de lacaio?‖ Ele tinha uma sombra de sorriso nos lábios. Então ele voltou a ficar irritado. Eu poderia dizer, porque ele começou a soltar seus espasmos. ―Eu não tenho que passar o tempo com você para lhe mostrar. Eu sou xerife. Você... você está em meu séquito.‖  Eu sabia que minha boca estava aberta, mas eu não pude evitar isso. ‗Capturando moscas, ‘ minha avó tinha chamado essa expressão, e eu senti como se estivesse capturando muitas delas. ―Seu séquito?‖ Eu consegui falar balbuciando. ―Bem, vá para o inferno você e seu séquito. Não me diga o que tenho que fazer!‖  ―Você está comprometida a ir comigo para a conferência,‖ disse Eric, com a boca tensa e os olhos em chamas. ―Foi por isso que eu chamei você à Shreveport, para falar contigo sobre o tempo de viagem e arranjos.‖  ―Eu não sou obrigada a ir a qualquer lugar contigo. Você está se excedendo, amigo.‖ ―Amigo? Amigo!‖  E teria deteriorado ali, se Quinn não tivesse chegado. Em vez de chegar em sua caminhonete, Quinn estava em um Lincoln Continental34. Eu senti um momento de puro prazer esnobe em pensar em passear nele. Eu tinha escolhido calças, de qualquer modo, em parte porque eu pensei que estaria subindo acima em uma caminhonete, mas eu estava contente da mesma forma por deslizar em um carro de luxo. Quinn veio através do gramado e escalou a varanda com uma velocidade despretensiosa. Ele não parecia como se estivesse com pressa, mas de repente ele estava lá, e eu sorria para ele, e ele parecia maravilhoso. Ele estava vestindo um terno cinza escuro, uma camisa roxa escura, e uma gravata que misturava as duas cores em um padrão curvo e colorido. Ele estava usando um brinco, uma argola de ouro simples.  Eric mostrou suas presas. ―Olá, Eric,‖ Quinn disse calmamente. Sua voz profunda retumbava ao longo de minha espinha. ―Sookie, você parece boa o bastante para comer.‖ Ele sorriu para mim, e os tremores ao longo de minha espinha se espalharam para outra área completamente. Eu nunca teria acreditado que na presença de Eric eu poderia achar que outro homem fosse atraente. Eu estava errada em pensar assim.  ―Você está muito bonito também,‖ eu disse, tentando não parecer como uma idiota. Não era legal babar.  Eric disse: ―O que você tem contado para Sookie, Quinn?‖ Os dois homens altos olharam um para o outro. Eu não acreditava que eu era a fonte da animosidade deles. Eu era um sintoma, não a doença. Alguma coisa estava debaixo disso.  ―Eu estive contando a Sookie que a rainha requer sua presença na conferência como sua partícipe, e que a convocação da rainha substitui a sua,‖ Quinn disse categoricamente.                                                  
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―Desde quando a rainha dá ordens através de um troca-forma?‖ Eric disse, desprezo tornando sua voz monótona.  ―Desde que este troca-forma executou um valioso serviço para ela na linha dos negócios,‖ Quinn respondeu, sem hesitação. ―Senhor Cataliades sugeriu a Sua Majestade que eu poderia ser útil para uma capacidade diplomática, e meus sócios estão contentes de me dar tempo extra para executar quaisquer tarefas que ela possa me dar.‖  Eu não estava totalmente certa se estava seguindo, mas eu peguei a essência.  Eric estava inflamado, para usar um bom verbete do meu calendário Palavra do Dia. Na verdade, seus olhos estavam quase jogando faíscas, ele estava tão irritado. ―Essa mulher foi minha, e ela será minha,‖ disse ele, em tom tão definitivo que eu pensei em conferir se meu traseiro tinha uma marca.  Quinn voltou o seu olhar para mim. ―Benzinho, você é dele, ou não?‖ ele perguntou.  ―Não,‖ eu disse.  ―Então vamos apreciar o show,‖ disse Quinn. Ele não parecia assustado, ou mesmo preocupado. Esta foi sua reação verdadeira, ou ele estava apresentando uma fachada? De qualquer maneira, foi bastante impressionante.  Eu tive que passar por Eric no meu caminho para o carro de Quinn. Eu olhei para ele, porque eu não pude evitar. Estar perto dele enquanto ele está irritado não é uma coisa segura, e eu precisava estar em guarda. Eric raramente contradizia assuntos sérios, e minha incorporação pela Rainha da Louisiana - a rainha dele - era um assunto sério. Meu encontro com Quinn estava enterrado na sua garganta, também. Eric tinha apenas que engolir.  Então, nós dois estávamos no carro, com cinto atado, e Quinn fez uma manobra experiente de marcha ré para posicionar o Lincoln de volta à estrada Hummingbird. Eu expirei, lenta e cuidadosamente. Levou alguns instantes silenciosos para me sentir mais calma novamente. Gradualmente minhas mãos relaxaram. Eu percebi que o silêncio estava aumentando. Dei para mim mesma uma agitação mental. ―Você vai ao teatro com frequência, enquanto está viajando?‖ Perguntei socialmente.  Ele riu, e a sonoridade rica e profunda encheu o carro. ―Sim,‖ ele disse. ―Eu vou ao cinema e ao teatro e qualquer evento esportivo que está acontecendo. Eu gosto de ver pessoas fazendo coisas. Eu não assisto muita televisão. Eu gosto de sair do meu quarto de hotel ou do meu apartamento e ver as coisas acontecerem ou fazer as coisas acontecerem.‖ ―Então, você dança?‖  Ele me deu uma olhada rápida. ―Eu danço.‖ Eu sorri. ―Eu gosto de dançar.‖ E eu era realmente muito boa na dança, não que eu tenha muitas oportunidades para praticar. ―Eu não sou boa cantando,‖ eu admiti, ―mas eu realmente, realmente gosto de dançar.‖ ―Isso soa promissor.‖  Eu pensei que nós teríamos que ver como esta noite seria antes que marcássemos qualquer encontro para dançar, mas pelo menos nós sabíamos que ambos gostavam de dançar. ―Eu gosto de filmes,‖ eu disse. ―Mas eu não acho que alguma vez fui a qualquer jogo esportivo ao vivo exceto os jogos do ensino médio. Mas aqueles, eu assisto. Futebol, basquete, baseball... eu vou para todos eles, quando meu trabalho me permite.‖  ―Você jogou um esporte na escola?‖ Quinn perguntou. Eu confessei que havia jogado softball, e ele me disse que tinha jogado basquete, o que, considerando sua altura, não era surpresa de nenhuma maneira.  Quinn era fácil de conversar. Ele ouviu quando eu falei. Ele dirigia bem; pelo menos ele não amaldiçoava os outros motoristas, como o Jason fazia. Meu irmão tendia a ficar impaciente quando dirigia.  Eu estava esperando o momento da verdade35. Eu estava esperando por esse momento - você sabe o que eu quero dizer - o momento em que o seu acompanhante repentinamente confessa algo que você simplesmente não pode tolerar: ele se revela como um racista ou homofóbico, admite que nunca se casaria com qualquer uma senão outra Batista (sulista, morena, corredora de maratona, qualquer que seja), conta para você sobre seus filhos com suas três primeiras esposas, descreve a sua predileção por estar remando, ou relatar as suas experiências da juventude de explodir sapos ou torturar gatos. Depois daquele momento, não importa o quanto divertimento você terá, você sabe que não vai a lugar nenhum. E eu nem sequer tinha que esperar por um sujeito me dizer essas coisas verbalmente; eu poderia ler isto diretamente da cabeça dele antes mesmo de namorarmos.  Nunca popular com os rapazes normais, eu. Se eles admitiram isto ou não, eles não podiam suportar a idéia de sair com uma garota que sabia exatamente quantas vezes eles se masturbavam, se tinham um pensamento luxurioso sobre outra mulher, ou se desejam saber como seria sua professora sem roupa.  Quinn deu a volta e abriu minha porta quando nós estacionamos do outro lado da rua em frente ao Strand, e ele pegou minha mão quando atravessamos a rua. Gostei da cortesia.  Havia muita gente indo para o teatro, e todos eles pareciam olhar para Quinn. Claro, um careca alto como Quinn estaria recebendo alguns olhares. Eu estava tentando não pensar em sua mão; era muito grande e muito quente e muito seca.  ―Estão todos olhando para você,‖ ele disse, enquanto puxava os ingressos do bolso, e eu pressionei meus lábios para não rir.  ―Oh, eu não penso assim,‖ eu disse.  ―Por que eles iriam olhar para outro?‖  ―Em você,‖ eu disse, espantada.  Ele riu alto, aquele riso profundo que me faz vibrar por dentro.  Tínhamos assentos muito bons, bem no meio e na frente do teatro. Quinn encheu o seu assento, não há dúvida sobre isso, e eu quis saber se as pessoas atrás dele poderiam ver. Olhei para o meu programa com alguma curiosidade, descobri que não reconheci os nomes de qualquer um dos atores na produção, e decidi que eu não me importaria de todo jeito. Eu olhei para cima para descobrir que Quinn estava olhando para mim. Senti meu rosto ruborizar. Eu tinha dobrado minha echarpe preta e a coloquei no meu colo, e eu tive o desejo abrupto de puxar minha blusa para cima para cobrir cada centímetro do meu decote.  ―Definitivamente olhando para você,‖ disse ele, e sorriu. Eu abaixei minha cabeça, satisfeita, mas inibida.  Muita gente viu ―Os Produtores‖. Eu não preciso descrever o enredo, exceto para dizer que é sobre pessoas crédulas e patifes amáveis, e é muito engraçado. Eu apreciei cada minuto. Foi maravilhoso assistir pessoas atuando bem a minha frente em tal nível profissional. A estrela convidada, uma a quem as pessoas mais velhas na platéia pareciam reconhecer, vangloriando-se através do papel principal com uma segurança surpreendente. Quinn também riu, e após o intervalo ele pegou minha mão novamente. Meus dedos se fecharam em torno dos dele muito naturalmente, e eu não me senti inibida pelo contato.  De repente era uma hora mais tarde, e a peça estava terminada. Pusemos-nos de pé junto com todos os outros, embora pudéssemos contar que levaria um tempo para o teatro                                                 
35  No original: ―waiting for the other shoe to drop‖, que significa aguardar um evento que se espera venha a acontecer, devido a ser causalmente ligado a outro evento que já foi observado.
 
esvaziar. Quinn pegou minha echarpe e a segurou para mim, e a lancei em torno de mim. Ele lamentou que eu estivesse me cobrindo - eu peguei isso diretamente do seu cérebro.  ―Obrigada,‖ eu disse, puxando sua manga para me certificar de que ele estava me olhando. Eu queria que ele soubesse o quanto eu quis dizer isto. ―Isso foi incrível.‖  ―Eu gostei, também. Você quer ir comer alguma coisa?‖ ―Ok,‖ eu disse, depois de um momento.  ―Você teve que pensar sobre isso?‖  Eu tive realmente uma espécie de lampejo de pensamento sobre vários itens diferentes. Se eu tivesse que enumerá-los, eu teria que falar algo que satisfaça, ele deve estar se divertindo ou não sugeriria mais nada na noite. Eu tenho que me levantar e ir trabalhar amanhã, mas eu não quero perder esta oportunidade. Se vamos comer eu tenho que ter cuidado para não derramar nada na minha roupa nova. Será que está certo gastar ainda mais o dinheiro dele, uma vez que os bilhetes custaram tanto?  ―Oh, eu tive que considerar as calorias,‖ disse, batendo levemente no meu traseiro.  ―Não há nada de errado com você, na frente ou atrás,‖ disse Quinn, e o calor de seus olhos me fez sentir como se me aquecesse. Eu sabia que estava mais curvilínea que o ideal. Eu de fato ouvi Holly dizer para Danielle que qualquer coisa acima do tamanho 40 era simplesmente nojento. Já que no dia que eu entrei num número 40 foi um dia feliz para mim, eu estava me sentindo muito miserável por todos os três minutos. Eu teria contado esta conversa para Quinn se eu não tivesse certeza de que soaria como eu estivesse pescando um elogio.  ―Deixe o restaurante ser meu convite,‖ eu disse.  ―Com todo respeito por seu orgulho, não, eu não vou.‖ Quinn me olhou bem nos olhos para se certificar de que eu sabia que ele falava sério.  Nós tínhamos alcançado a calçada naquele momento. Surpresa com sua veemência, eu não sabia como reagir. Por um lado, fiquei aliviada, já que tenho que ter cuidado com o meu dinheiro. Por outro lado, eu sabia que era certo me oferecer e eu teria me sentido útil, se ele tivesse dito que tudo bem.  ―Você sabe que eu não estou tentando ofender você, certo?‖ Eu disse.  ―Eu entendo que você está sendo equitativa.‖  Eu olhei para ele com dúvidas, mas ele estava sério.  Quinn disse, ―Eu acredito que você é absolutamente tão boa em todos os sentidos como eu. Mas eu te convidei para sair, e eu estou fornecendo o suporte financeiro para o nosso encontro.‖ ―E se eu te convidar para sair?‖ Ele pareceu austero. ―Então eu teria que sentar e deixar você cuidar da noite,‖ disse ele. Ele disse isto relutantemente, mas disse. Olhei para longe e sorri.  Os carros estavam saindo do estacionamento em um ritmo constante. Já que nós tínhamos tomado o nosso tempo saindo do teatro, o carro de Quinn estava sozinho na segunda fila. De repente, meu alarme mental disparou. Em algum lugar próximo, havia um monte de hostilidade e má intenção. Tínhamos deixado a calçada para atravessar a rua até o estacionamento. Agarrei o braço de Quinn e deixei ir assim nós poderíamos limpar o terreno para a ação.  ―Algo está errado,‖ eu disse.  Sem contestar, Quinn começou a varrer a área. Ele desabotoou o paletó com a mão esquerda para que pudesse se mover sem impedimento. Seus dedos enrolados em punhos. Considerando que ele era um homem com uma forte necessidade de proteção, ele pisou adiante de mim, na minha frente.  Então, é claro, fomos atacados por trás. 
 
Em um borrão ou movimento que não pude seguir, e meus olhos não podiam claramente reconhecer, um animal me golpeou contra Quinn, que tropeçou depois de um passo. Estava no chão embaixo do rosnador meio homem, meio lobo, quando Quinn girou e, no mesmo momento, apareceu outro lobis, aparentemente do nada, e pulou nas costas de Quinn. A criatura em cima de mim era um lobisomem novo, tão jovem que ele só poderia ter sido mordido nas últimas três semanas.  Ele estava em tal frenesi que ele tinha atacado antes mesmo de ter concluído sua mudança parcial que um lobisomem mordido pode conseguir. Seu rosto ainda estava se alongando, quando ele tentou me sufocar. Ele nunca iria atingir a forma bela de um lobo puro-sangue. Ele foi ―mordido, não de sangue‖, como os lobis colocam. Ele ainda tinha os braços, ele ainda tinha as pernas, ele tinha um corpo coberto de pêlos, e ele tinha a cabeça de um lobo. Mas era tão selvagem quanto um purosangue. Eu estava presa em suas mãos, nas mãos que estavam segurando meu pescoço com tanta ferocidade. Eu não estava usando minha corrente de prata, hoje à noite. Eu decidi que seria de mau gosto, considerando que meu encontro era um metamorfo. Ser mau gosto poderia salvar a minha vida, pensei rapidamente, apesar de ter sido o último pensamento coerente que eu tive por alguns momentos. O lobisomem estava montado no meu corpo, então levantei meus joelhos bruscamente, tentando dar-lhe uma sacudida grande o suficiente para que ele afrouxasse sua prisão. Houve gritos de alarme dos poucos pedestres remanescentes, e um grito maior e mais penetrante do atacante de Quinn, a quem eu vi voando pelo ar como se tivesse sido lançado de um canhão. Então, uma grande mão agarrou meu agressor pelo pescoço e levantou-o. Infelizmente, o meio animal que tinha as mãos envolvidas em torno de minha garganta não me deixou ir. Comecei a me levantar da calçada, também, minha garganta se fechando mais e mais, sufocada pelo aperto das mãos em mim. Quinn deve ter percebido minha situação desesperada, pois ele golpeou o Lobis acima de mim com sua mão livre, um golpe que acertou a nuca do Lobis e simplesmente o surpreendeu36 tanto, que ele soltou meu pescoço. Quinn, em seguida, agarrou o jovem pelos ombros e atirou-o longe. O rapaz caiu na calçada e não se moveu. ―Sookie‖, Quinn disse, soando quase sem fôlego. Sem fôlego estava eu, estava lutando para obter uma abertura na minha garganta para que eu pudesse engolir algum oxigênio. Eu podia ouvir uma sirene de polícia, e fiquei profundamente grata. Quinn deslizou o braço em meus ombros e me sustentou. Finalmente eu respirava, o ar era maravilhoso, delicioso. "Você está respirando bem?" ele perguntou. Mexi o suficiente para assentir. "Algum osso quebrado em sua garganta?" Eu tentei levar minha mão ao meu pescoço, mas minha mão não estava cooperando no momento.
36  No original: ―knocked him for a loop‖, expressão que significa: a) derrotar. b) confundir, surpreender.
 
Seu rosto encheu meu campo de visão, e na penumbra da luz eu podia ver que ele estava investigando ―Eu vou matá-los se eles te machucaram‖, ele rosnou, naquele momento, era uma notícia boa. ―Mordido,‖ respirei com dificuldade, e ele me examinou horrorizado, com mãos e olhos buscando marcas de mordidas. ―Não eu,‖ disse. ―Eles. Não são nascidos Lobis‖. Suguei uma grande quantidade de ar. ―E talvez drogados,‖ disse. A compreensão apareceu em seus olhos. Essa era a única explicação para tal comportamento insano. Um policial negro corpulento correu até mim. ―Precisamos de uma ambulância no Strand,‖ ele disse a alguém em seu ombro. Não, era um aparelho de rádio pequeno. Neguei com a cabeça. ―Você precisa de uma ambulância senhora,‖ ele insistiu. ―A garota ali disse que o homem te jogou no chão e tentou sufocá-la.‖ ―Estou bem,‖ disse, minha voz rouca e minha garganta inacreditavelmente dolorosa. ―Senhor, está com esta senhora?‖ O policial perguntou a Quinn. Quando ele virou, a luz iluminou seu distintivo; dizia Boling. ―Sim, estou.‖ ―Você... ah, você deteve estes punks?‖ ―Sim.‖ O companheiro de Boling, uma versão branca dele, veio até nós. Olhou Quinn com alguma reserva. Estava examinando os nossos assaltantes, que tinham mudado para forma humana completamente antes que a policia tivesse chegado. Claro, eles estavam nus. ―Um tem uma perna quebrada,‖ nos disse, ―E outro reclama que seu ombro está deslocado‖. Boling deu de ombros. ―Tiveram o que mereceram‖. Poderia ter sido minha imaginação, mas ele também pareceu um pouco cauteloso quando olhou minha companhia.  ―Tiveram mais do que esperavam‖ disse seu companheiro neutramente. ―Senhor? Conhece esses dois garotos?‖ Ele inclinou sua cabeça para os adolescentes, que estavam sendo examinados por um policial de outro carro, um homem jovem com um corpo mais atlético. Os garotos estavam encostados um no outro, parecendo atordoados.  ―Nunca os vi antes,‖ Quinn disse. ―E você benzinho?‖ Ele me olhou interrogativamente. Neguei com a cabeça. Estava me sentindo melhor o suficiente para me sentir em desvantagem por estar no chão. Queria me levantar, e disse isso a meu acompanhante. Antes que os policiais pudessem me dizer outra vez que esperasse uma ambulância, Quinn conseguiu me colocar em pé com o mínimo de dor possível. Olhei para minha bonita roupa nova. Estava realmente suja. ―Como esta a parte de trás?‖ Perguntei a Quinn, e então pude ouvir o medo em minha voz. Estava de costas para Quinn e olhei para ele ansiosa sobre meu ombro. Quinn pareceu um pouco assustado, mas ele devidamente analisou minha parte de trás.  ―Não rasgou,‖ ele relatou. ―Pode haver um local ou dois onde o material ficou um pouco arranhado pela calçada‖. Eu explodi em lágrimas. Eu provavelmente teria começado a chorar, independente do motivo, porque sentia uma reação poderosa pela adrenalina que havia corrido através do meu corpo quando estávamos sendo atacados, mas a oportunidade do momento foi perfeita. A polícia ficou mais amigável, quanto mais eu chorava, e como um bônus extra, Quinn me puxou em seus braços e descansei meu rosto contra seu peito. Ouvi seus batimentos cardíacos quando parei de soluçar. Eu tinha me livrado da minha reação ao ataque e havia desarmado a polícia ao mesmo tempo, embora eu soubesse que eles se perguntavam sobre Quinn e sua força. Outro policial foi chamado de onde estava por um dos assaltantes, o que Quinn havia jogado. Os outros dois policiais foram para verificar o chamado, e ficamos, por um momento, sozinhos. ―Inteligente,‖ Quinn murmurou em meu ouvido. ―Mmmm,‖ disse, me aconchegando contra ele. Ele apertou seus braços ao meu redor. ―Se você chegar mais perto, vamos ter que nos desculpar e procurar um quarto,‖ ele sussurrou. ―Desculpe‖. Fui ligeiramente para trás e olhei para ele. ―Quem você acha que os contratou?‖ Ele podia estar surpreso de que eu pensei nisso, mas não podia dizer isso por sua mente. A reação química, que tinha alimentado minhas lágrimas, tinha feito seu rosnado mental mais complicado. ―Definitivamente vou descobrir,‖ ele disse ―Como está sua garganta?‖  ―Dói,‖ admiti, minha voz rouca. ―Mas sei que não há nada de errado com ela. E eu não tenho seguro saúde. Então eu não quero ir para o hospital. Seria um desperdício de tempo e dinheiro‖.   ―Então nós não iremos‖. Ele se inclinou e beijou minha bochecha. Virei o rosto para ele, e seu beijo seguinte aterrizou exatamente no lugar certo. Depois de um momento suave, acendeu-se algo mais intenso. Ambos estávamos sentindo as consequências da adrenalina correndo. O som de um pigarro trouxe minha mente de volta de maneira tão eficaz como se o oficial Boling tivesse jogado um balde de água fria sobre nós dois. Me desprendi e enterrei minha cara no peito de Quinn outra vez. Eu sabia que não podia me afastar por um minuto ou dois, já que sua excitação estava bem apertada contra mim. Embora essas não fossem as melhores condições para uma avaliação, estava bastante segura que Quinn era proporcional. Tive que resistir a tentação de esfregar meu corpo contra ele. Eu sabia que iria piorar as coisas para ele, do ponto de vista público, mas estava com um humor muito melhor, e acho que estava me sentindo travessa. E brincalhona. Muito brincalhona. Passar por essa provação provavelmente havia acelerado nosso relacionamento ao equivalente a quatro encontros.  ―Você tem outras perguntas para nós, oficial?‖ Quinn perguntou, com uma voz que não estava perfeitamente tranquila. ―Sim, senhor, sim você e a senhora vão para a delegacia, necessitamos tomar seus depoimentos. O detetive Coughlin vai fazer isso, enquanto nós levamos os presos para o hospital‖. ―Bem. Tem que ser esta noite? Minha amiga precisa descansar. Esta exausta. Esta foi uma provação muito dura para ela‖. ―Não irá demorar,‖ o oficial disse mentindo. ―Você tem certeza que nunca havia visto estes dois punks antes? Porque tem a aparência de um ataque realmente pessoal, se não se importa que coloque assim‖. ―Nenhum de nós os conhece‖. ―E a senhora ainda se recusa a ter atendimento médico?‖  Concordei.  ―Bom, então tudo bem, pessoal. Espero que vocês não tenham mais problemas‖.
―Obrigada por vir tão rapidamente,‖ disse, e girei a cabeça um pouco para encontrar os olhos do oficial Boling, Ele me olhou de forma preocupada, e podia ouvir em sua cabeça que estava preocupado sobre minha segurança com um homem violento como Quinn, um homem que podia jogar dois garotos vários metros no ar. Ele não sabia, e esperei que nunca soubesse, que o ataque tinha sido pessoal. Não havia sido aleatório. Fomos para a delegacia em um carro de policia. Não estava certa do que eles pensavam, mas o companheiro de Boling nos disse que seriamos devolvidos ao veiculo de Quinn, sendo assim, estávamos de acordo com o programa. Talvez não quisessem que nós tivéssemos possibilidade de falar um com o outro sozinhos. Não sei por quê; penso que a única coisa que pode haver despertado suas suspeitas foi o tamanho de Quinn e sua pericia em repelir assaltantes. Nos breves segundos que tivemos a sós, antes do oficial sentar no banco do motorista, disse a Quinn, ―Se pensar algo para mim, poderei te ouvir – se precisar que eu saiba algo urgentemente‖.  ―Prático,‖ comentou. A violência pareceu ter relaxado algo dentro dele. Ele esfregou o polegar sobre a palma da minha mão. Ele estava pensando que ele gostaria de ter trinta minutos em uma cama comigo, agora mesmo, ou até quinze; inferno, até dez, mesmo no banco traseiro de um carro, seria fantástico. Eu tentei não rir, mas eu não podia ajudá-lo, e quando ele percebeu que eu tinha lido tudo claramente, ele balançou a cabeça com um sorriso triste. Temos que ir a algum lugar depois disto, ele pensou deliberadamente. Esperei que ele não quisesse dizer que ele ia alugar um quarto ou me levar ao seu apartamento para ter sexo, porque não importa quão atraente eu o achava, não ia fazer isso esta noite. Mas seu cérebro tinha sua maior parte limpa de luxuria, e percebi que o seu propósito era outro. Concordei. Então, não fique muito cansada, disse. Concordei novamente. Como eu ia evitar o esgotamento, eu não sabia, mas eu ia tentar acumular um pouco de energia. A delegacia foi como eu esperava que fosse. Apesar de que há muito a ser dito sobre Shreveport, a cidade tem mais crimes do que merece. Não despertamos muita atenção, até que os oficiais que haviam estado na cena juntaram suas cabeças com outros policiais do edifício, e logo houve alguns olhares furtivos37 sobre Quinn, algumas avaliações secretas. Ele parecia suficientemente formidável para creditar força comum como a fonte de derrota dos dois atacantes. Mas já havia a quantidade adequada de estranheza sobre o incidente, toques bastante peculiares nos depoimentos das testemunhas... e logo meu olho encontrou um rosto familiar. Uh-oh. ―Detetive Coughlin,‖ disse, recordando agora porque esse nome soava familiar.  ―Senhorita Stackhouse,‖ ele respondeu, com quase tanto entusiasmo como eu havia mostrado. ―O que faz aqui?‖ ―Fomos atacados‖ expliquei. ―A última vez que a vi, você estava comprometida com Alcide Herveaux, e você encontrou um dos corpos mais repugnantes que já vi,‖ ele disse facilmente. A barriga parecia ter ficado ainda maior nos poucos meses desde que eu o conheci na cena de um assassinato aqui em Shreveport. Como muitos homens de barriga desproporcional, ele
37  No original: ―were a few stolen glances at Quinn‖, expressão que significa lançar um olhar furtivo sobre alguém.
 
usava calças caquis abotoadas debaixo da saliência, por assim dizer. Desde que sua camisa tinha listras azuis e brancas, o efeito era de uma barraca mal embrulhada. Só balancei a cabeça. Não havia nada a dizer. ―Sr. Herveaux está indo bem depois da perda de seu pai?‖ O corpo de Jackson Heveraux havia sido encontrado meio dentro meio fora de um tanque de água em uma antiga fazenda da família. Embora o jornal houvesse sapateado ao redor de certa quantidade de lesões, ficou claro que os animais selvagens haviam mastigado alguns ossos. A teoria era que o Sr. Herveaux havia caído no tanque e tinha fraturado sua perna quando bateu no fundo. Ele havia conseguido chegar até a borda e sair um pouco, mas nesse momento havia desmaiado.  Como ninguém sabia que ele tinha visitado a fazendo, ninguém veio procurálo, a teoria era que ele morreu sozinho. Na verdade, uma grande multidão testemunhou o fim de Jackson, entre eles o homem ao meu lado.  ―Eu não falei com Alcides desde que seu pai foi encontrado,‖ disse verdadeiramente.  ―Meu Deus, que pena que não deu certo,‖ o detetive Coughlin disse, fingindo que não via que eu estava parada ao lado da minha companhia desta noite. ―Vocês dois faziam um belo casal.‖ ―Sookie é bonita não importa com quem ela está,‖ disse Quinn. Eu sorri para ele, e ele me devolveu o sorriso. Ele fazia todos os movimentos corretos.  ―Então, se você vier comigo por um minuto, senhorita Stackhouse, vamos colocar sua história no papel e poderá ir embora.‖ A mão de Quinn apertou a minha. Ele me advertia. Espera um instante, quem era a leitora de mentes aqui? Apertei a sua mão também. Estava perfeitamente consciente que o detetive Coughlin pensava que eu devia ser culpada de alguma coisa, e ele faria o seu melhor para descobrir o que. Mas na verdade, eu não era culpada.  Nós tínhamos sidos os alvos, peguei isso do cérebro dos atacantes. Mas por quê? O detetive Coughlin me conduziu a uma mesa em uma sala cheia de mesas e pegou um formulário em uma gaveta. A atividade da sala continuou, algumas mesas estavam desocupadas e tinha a aparência de ―fechados para noite‖, mas as outras davam sinais de trabalho em andamento. Havia poucas pessoas entrando e saindo da sala, e a duas mesas de distância um jovem detetive branco de cabelo loiro digitava em seu computador. Eu estava sendo muito cuidadosa, e havia aberto minha mente, então eu sabia que ele estava olhando para mim quando eu estava olhando para outra direção, e eu sabia que ele tinha sido colocado ali pelo detetive Coughlin, ou pelo menos foi estimulado a dar uma boa olhada em mim enquanto eu estava na sala. Eu encontrei seus olhos de frente. O choque de reconhecimento foi mútuo. Eu tinha visto ele na cerimônia de mestre do bando. Ele era um Lobis. Ele atuou como padrinho de Patrick Furnan no duelo. Eu o peguei trapaceando. Maria-Star havia me dito que o castigo havia sido raspar sua cabeça. Embora seu candidato tenha vencido, esta punição foi exigida, e seu cabelo já havia crescido agora. Ele me odiava com o ódio puro dos culpados. O Lobis levantou da cadeira, o seu primeiro instinto era vir até mim e me bater até me deixar inconsciente, mas quando ele absorveu o fato de que alguém havia tentado fazer isso, ele sorriu.  ―Esse é o seu parceiro?‖ perguntei ao detetive Coughlin.
 
―O que?‖ Ele estava olhando para o computador através dos óculos de leitura, e ele olhou para o detetive mais jovem, depois de volta para mim. ―Sim, esse é o meu novo parceiro. O rapaz que estava comigo na cena do crime da última vez que vi você se aposentou no mês passado.‖ ―Qual o nome dele? Seu novo parceiro?‖ ―Por quê? Você vai atrás dele depois? Você parece que não consegue se resolver com um homem, não é senhorita Stackhouse?‖ Se eu fosse um vampiro, eu poderia ter feito ele me responder, e se eu fosse realmente qualificada, ele nem sequer saberia que eu tinha feito isso. ―É mais como se eles não conseguissem se estabelecer comigo, detetive Coughlin,‖ eu disse, e ele me deu um olhar curioso. Ele acenou com o dedo em direção ao detetive loiro.   ―Esse é Cal. Cal Myers.‖ Ele parecia ter encontrado o formulário correto, porque ele começou a me questionar sobre o incidente mais uma vez, e eu respondi suas questões com indiferença genuína. Pela primeira vez, eu tinha muito pouco para esconder. ―Eu queria saber,‖ eu disse, quando tinha concluído, ―se eles tinham tomado drogas.‖ ―Você conhece muito sobre drogas, senhorita Stackhouse?‖ Seus pequenos olhos vieram para mim novamente. ―Não de primeira mão, é claro, mas de vez em quando entra alguém no bar que tomou algo que não deveria. Esses jovens... pareciam definitivamente influenciados por alguma coisa.‖ ―Bem, o hospital terá o sangue deles, e nós vamos descobrir.‖ ―Será que vou ter que voltar?‖ ―Para testemunhar contra eles? Claro.‖ Nenhuma forma de evitá-lo. ―Tudo bem,‖ disse eu, com tanta firmeza e neutralidade quanto eu podia. ―Podemos ir?‖   ―Acho que sim.‖ Ele encontrou meus olhos, com seus pequenos olhos castanhos cheios de desconfiança. Não havia porque culpá-lo, havia algo duvidoso sobre mim, algo que ele não sabia. Coughlin estava fazendo o seu melhor para ser um bom policial. Eu sentia pena dele, de repente, debatendo sobre um mundo que só conhecia a metade.   ―Não confie em seus parceiros,‖ sussurrei, e eu esperava que ele explodisse e chamasse Cal Myers me ridicularizando com ele. Mas algo nos meus olhos ou na minha voz prendeu seu impulso. Minhas palavras soaram em uma advertência que havia estado sondando secretamente em seu cérebro, talvez desde que conheceu o Lobis. Ele não disse nada, nem uma palavra. Sua mente estava cheia de medo, medo e ódio... mas ele acreditava que eu estava dizendo a verdade. Após um segundo, eu me levantei e saí da sala. Para meu alívio total, Quinn estava me esperando no saguão. Um policial - não Boling - nos levou de volta ao carro de Quinn, e ficamos em silêncio durante todo o percurso. O carro de Quinn estava em seu esplendor solitário no estacionamento em frente ao Strand, que estava fechado e escuro. Ele pegou as chaves dele e apertou o botão para abrir as portas, e entramos devagar e cansadamente. ―Onde estamos indo?‖ Perguntei. ―Ao ‗The Hair of the Dog‘‖, disse ele. 
 
O "The Hair of the Dog‖ estava fora da estrada Kings, não muito longe da Universidade Centenary. Era um prédio de tijolos antigos. As grandes janelas que davam para a rua estavam cobertas com cortinas opacas cor nata, notei, quando dobramos para o lado esquerdo do prédio dando uma guinada através de um beco que levou a uma área de estacionamento ao fundo. Estacionamos na pequena vaga, cheio de ervas daninhas. Apesar de estar mal iluminado, pude ver que o chão estava cheio de latas vazias, cacos de vidro, preservativos usados, e coisa pior. Havia várias motocicletas, alguns dos carros compactos mais baratos, e uma ou duas Suburban38. A porta dos fundos tinha um aviso, onde se lia: NÃO ENTRE - SÓ FUNCIONÁRIOS. Embora meus pés estivessem definitivamente começando a protestar contra o desacostumado salto alto, tivemos que escolher o nosso caminho pelo beco em frente à entrada. O frio que passava pela minha espinha aumentou à medida que nos aproximamos da porta. Então, foi como se eu batesse em uma parede, o feitiço agarrou-me repentinamente. Eu parei de repente39. Eu lutei para seguir em frente, mas eu não conseguia me mexer. Eu podia sentir a magia. O "The Hair of the Dog" tinha sido protegido. Alguém pagou a uma bruxa muito boa uma quantidade considerável de dinheiro para cercar a porta com um feitiço de ―vá embora‖. Eu lutava para não ceder à compulsão de virar e ir para outra direção, qualquer outra direção. Quinn deu alguns passos a frente, e virou me encarando com alguma surpresa, até que ele percebeu o que estava acontecendo. "Eu esqueci", disse ele, essa mesma surpresa soando em sua voz. "Na verdade, eu esqueci que você é humana." "Isso soa como um elogio", disse eu, com algum esforço. Mesmo na noite fria, minha testa gotejava com o suor. Meu pé direito avançou uma polegada. "Aqui," ele disse, e me levantou nos braços, até que me sustentou como Rhett levando a Scarlett O'Hara40. Quando sua aura me envolveu, a desagradável compulsão se aliviou. Eu dei um profundo suspiro de alívio. A magia já não podia me reconhecer como humano, pelo menos não de forma decisiva. Embora o bar ainda parecesse pouco atraente e levemente repulsivo, eu poderia entrar sem ficar enjoada. Talvez tenham sido os efeitos nefastos da magia, mas depois que eu tinha entrado, o bar ainda parecia pouco atraente e levemente repulsivo. Eu não diria que todas as conversas cessaram quando entramos, mas houve uma trégua definitiva no ruído que enchia o bar. A jukebox estava tocando "Bad Moon Rising", que era como se fosse o hino nacional dos Lobis e a variada coleção de Lobis e metamorfos parecia reorientar-se. "Os seres humanos não são permitidos neste lugar!" Uma mulher muito jovem pulou através do bar em um impulso muscular e caminhou para frente. Ela estava usando
38  http://www.2010suburban.net/chevrolet-suburban.jpg
39  No original: ―I stopped dead‖, expressão que significa parar de repente. 40  Personagens de ―E o vento levou‖
 
meias arrastão e botas de salto alto, um bustiê de couro vermelho - bem, um bustiê que desejava ser feito de couro vermelho, provavelmente era mais como couro artificial - e uma faixa preta de pano que eu supus que ela chamou uma saia. Era como se ela tivesse colocado um tomara-que-caia e puxado para baixo. Era tão apertado que eu pensei que poderia até rolar tudo de uma vez, como uma persiana. Ela não gostou do meu sorriso, lendo-o corretamente, como um comentário sobre seu conjunto. "Tire sua bunda humana daqui", disse ela, e rosnou. Infelizmente, isso não soou muito ameaçador, pois ela não tinha qualquer prática em ameaçar, e eu podia sentir meu sorriso ampliar. A adolescente de vestido desafiante tinha o escasso controle de impulsos de uma Lobis nova, e ela puxou a mão para me dar um soco. Então Quinn rosnou. O som veio do fundo de seu estômago, e isso foi ensurdecedor, o som profundo dele penetrando em cada esquina do bar. O barman, um tipo do motoqueiro com barba e cabelo de tamanho considerável e tatuagens que cobriam seus braços nus, agachou-se debaixo do bar. Sabia que ele estava pegando uma escopeta. Não pela primeira vez, eu me perguntava se eu não deveria começar a andar armada em toda parte que eu fosse. Em minha vida obediente da lei, nunca tinha visto a necessidade até poucos meses. A jukebox parou logo nesse momento, e o silêncio do bar era tão ensurdecedor como o barulho tinha sido. "Por favor, não pegue a arma," eu disse, sorrindo brilhantemente ao barman.  Eu podia sentir o alongamento dos meus lábios, aquele sorriso brilhante que me fazia parecer um pouco maluca. "Viemos em paz", acrescentei, em um impulso louco, mostrando-lhes as mãos vazias. Um metamorfo, que estava parado no bar riu, um latido bem definido de espantada diversão. A tensão começou a diminuir pouco a pouco. A mão da jovem caiu para o lado dela, e ela deu um passo para trás. Seu olhar cintilava de Quinn para mim e vice-versa. Ambas as mãos do barman estavam agora à vista. "Olá, Sookie", disse uma voz familiar. Amanda, a ruiva Lobis que tinha sido a motorista da Dr. Ludwig no dia anterior, estava sentada em uma mesa num canto escuro. (Na verdade, a sala parecia estar cheio de cantos escuros.) Com Amanda estava um homem rude na casa dos trinta. Ambos estavam abastecidos com bebidas e uma tigela com petiscos variados. Tinham companhia na mesa, um casal sentado de costas para mim. Quando viraram, reconheci Alcide e Maria-Star. Giraram cautelosamente, como se qualquer movimento repentino pudesse provocar violência. O cérebro da Maria-Star era uma confusão heterogênea de ansiedade, orgulho, e tensão. O de Alcide estava simplesmente em conflito. Ele não sabia o que sentir. Isso fazia dois de nós. "Ei, Amanda‖, eu disse, minha voz tão alegre como o meu sorriso. Não deixaria que o silêncio aumentasse. "Estou honrada de ter o lendário Quinn em meu bar", disse Amanda, e eu percebi que, independentemente dos outros trabalhos que ela poderia ter, ela era proprietária do ―The Hair of the Dog‖. "Vocês dois saíram para uma noite na cidade, ou há alguma razão especial para a sua visita?" Já que não tinha idéia de por que estávamos ali, tive que deixar para Quinn uma resposta, o que não me fez parecer muito bem, na minha opinião. "Há uma razão muito boa, embora tenha muito tempo que quero visitar seu bar," disse Quinn em um estilo elegante e formal que tinha saído do nada. Amanda inclinou a cabeça, o que pareceu ser um sinal para Quinn continuar. "Esta noite, a minha companheira e eu fomos atacados em um lugar público, com civis a nossa volta." Ninguém parecia terrivelmente chateado ou surpreso com isso. Na verdade, Miss Fashion-Desafiado encolheu os magros ombros nus. "Nós fomos atacados por Lobis", disse Quinn. Agora nós temos a grande reação. Cabeças e mãos se agitaram e, em seguida, tornaram-se calmos. Alcide levantou-se pela metade e, em seguida, sentou-se novamente. ―Lobis da manada Long Tooth?" Amanda perguntou. Sua voz era incrédula. Quinn deu de ombros. "O ataque foi para matar, então eu não parei para fazer perguntas. Ambos eram Lobis mordidos muito jovens, e por seu comportamento, estavam drogados". Mais reação chocada. Nós estávamos completamente criando a sensação. "Você se machucou?" Alcide me perguntou, como se Quinn não estivesse ali. Inclinei minha cabeça para trás assim o meu pescoço seria visível. Eu não sorria mais. Até agora as feridas deixadas pelas mãos do menino teriam escurecido bastante. E eu tinha um pensamento firme. "Como uma amiga do bando, eu não esperava que nada fosse acontecer comigo aqui em Shreveport‖, eu disse. Achei que meu status como amiga do bando não tinha mudado com o novo regime, ou pelo menos eu esperava que não. Enfim, era o meu trunfo, e eu joguei. "O coronel Flood nomeou Sookie uma amiga do bando", disse Amanda inesperadamente. Os lobis todos se entreolharam, e o momento parecia estar em jogo. "O que aconteceu com os filhotes?" perguntou o motociclista por trás do bar. "Eles sobreviveram", disse Quinn, dando-lhes a notícia importante primeiro. Havia um sentimento geral de que o bar inteiro suspirava, se de alívio ou de pesar, eu não poderia dizer. "A polícia os tem," Quinn continuou. "Como os filhotes nos atacaram diante de humanos, não houve forma de evitar a intervenção da polícia". Nós conversamos sobre Cal Myers no nosso caminho para o bar. Quinn pegou apenas um vislumbre do Lobis policial, mas é claro que ele tinha conhecido pelo que ele era. Gostaria de saber se o meu companheiro iria levantar o ponto da presença de Cal Myers na delegacia, mas Quinn nada disse. E de fato, por que comentar sobre algo que certamente os Lobis já sabem? O bando Lobis estaria junto contra pessoas de fora, não importa o quanto eles estavam divididos entre si. Envolvimento policial em assuntos Lobis era indesejável, obviamente. Embora a presença de Cal Myers na força ajudaria, cada exame minucioso levantaria a possibilidade de que os seres humanos teriam conhecimento da existência de criaturas que preferiam o anonimato. Eu não sabia como eles tinham voado (ou nadado, ou corrido) fora do radar por tanto tempo. Eu tinha a convicção de que o custo em vidas humanas tinham sido considerável. Alcide disse: "Você deve levar Sookie para casa. Ela está cansada." Quinn pôs o braço em volta de mim e me puxou para seu lado. "Quando recebermos a sua garantia de que o bando vai chegar ao fundo deste ataque não provocado, vamos embora." Nítido discurso. Quinn parecia ser um mestre de expressar-se diplomaticamente e com firmeza. Ele era um pouco esmagador, de fato. O poder fluía dele em um fluxo constante, e sua presença física era inegável. "Vamos transmitir tudo isso ao mestre do bando", Amanda estava dizendo. "Ele vai investigar, tenho certeza. Alguém deve ter contratado esses filhotes". "Alguém os converteu para começar‖, disse Quinn. "A menos que o bando tenha se rebaixado a morder punks de rua e enviá-los para revirar lixo?" Ok, atmosfera hostil agora. Eu olhei para o meu grande companheiro e descobri que Quinn estava próximo a perder a paciência. "Obrigado a todos‖, eu disse a Amanda, o meu sorriso brilhante novamente empurrando os cantos da minha boca. "Alcide, Maria-Star, foi bom vê-los. Vamos agora. Longa viagem de volta para Bon Temps". Eu dei ao barman uma breve saudação e a garota rude um aceno. Ele balançou a cabeça, e ela franziu a testa. Provavelmente ela não estaria interessada em se tornar minha melhor amiga. Eu sai do abraço de Quinn e peguei sua mão com a minha. "Vamos, Quinn. Vamos pegar a estrada." Por um pequeno mau momento, seus olhos não me reconheceram. Então eles clarearam, e ele relaxou. "Claro, benzinho". Ele disse adeus aos Lobis, e viramos para sair. Mesmo que a pequena multidão incluísse Alcide, em quem eu confiava na maioria das vezes, foi um momento desconfortável para mim. Não podia sentir medo, nem ansiedade, vindo de Quinn. Ou ele tinha grande foco e controle, ou ele realmente não estava com medo de um bar cheio de lobisomens, o que era admirável e tudo, mas o tipo de coisa... irreal. A resposta correta acabou sendo "grande foco e controle". Eu descobri quando chegamos ao estacionamento escuro. Movendo-se mais rápido do que eu poderia notar, estava contra o carro e sua boca estava na minha. Depois de um segundo de surpresa, eu estava no clima. Perigo compartilhado faz isso, e foi a segunda vez - no nosso primeiro encontro - que estávamos em perigo. Seria um mau presságio? Descartei esse pensamento racional quando os lábios e os dentes de Quinn viajaram até encontrar o local vulnerável e sensível, onde o pescoço encontra o ombro. Eu fiz um ruído incoerente, porque junto com o estímulo que eu sempre senti quando beijada ali, eu senti a dor inegável das contusões que rodeavam meu pescoço. Foi uma combinação desconfortável. "Desculpe, desculpe", ele murmurou em minha pele, seus lábios nunca pararam seu ataque. Eu sabia que se abaixasse minha mão, eu seria capaz de tocá-lo intimamente. Eu não estou dizendo que não fui tentada. Mas eu estava aprendendo um pouco de cautela enquanto eu ia em frente... provavelmente não o suficiente, refleti com o resto de minha mente que não se envolvia cada vez mais com o calor que se elevava do feixe de nervos inferiores para encontrar-se com o calor gerado pelos lábios do Quinn. Oh, Meu Deus! Oh, oh, oh. Eu me movi contra ele. Foi um reflexo, ok? Mas um erro, porque a sua mão escorregou para o meu peito e seu polegar começou a acariciar. Estremeci e tremi. Ele estava um pouco ofegante, também. Foi como saltar para o degrau da porta de um carro que já estava em alta velocidade na estrada escura. ―Ok". Eu respirava, me afastei um pouco. "Ok, vamos parar com isso agora." "Hummm", disse ele em meu ouvido, sua língua passando rapidamente. Eu tremi. "Eu não vou fazer isso", eu disse, tentando parecer definitivo. Então, com minha decisão obtida. "Quinn! Eu não estou vou fazer sexo com você neste estacionamento desagradável!" "Nem mesmo um pouco de sexo?"
"Não. Definitivamente não!" "Sua boca" (aqui ele beijou-a) "está dizendo uma coisa, mas o seu corpo" (ele beijou meu ombro) "diz outra." "Ouça a boca, cara." ―Cara?" "Tudo bem. Quinn. Ele suspirou, se endireitou. "Tudo bem", ele disse. Ele sorriu com tristeza. "Desculpe. Eu não planejava saltar em você assim". "Ir a um lugar onde você não é exatamente bem-vindo, e sair ileso, é algo excitante", eu disse. Ele soltou uma respiração profunda. "Correto", ele disse.  "Eu gosto muito de você", eu disse. Eu podia ler sua mente de forma bastante clara, só neste instante. Ele gostava de mim, também; neste momento, ele gostava muito de mim. Ele queria gostar de mim bem contra a parede. Reforcei minhas barreiras. "Mas tive algumas experiências que foram advertências para ir mais devagar. Não estive indo devagar contigo esta noite. Mesmo com as, ah, as circunstâncias especiais". De repente eu estava pronta para sentar no carro. Minhas costas estavam doendo e eu senti uma cólica leve. Fiquei preocupada por um segundo, então pensei no meu ciclo mensal. Isso foi certamente o suficiente para me esgotar, chegando ao topo de uma noite emocionante, e machucada. Quinn estava olhando para mim. Ele estava pensando sobre mim. Eu não poderia dizer sobre o que era sua preocupação exatamente, mas de repente ele perguntou: "Qual de nós foi alvo do ataque fora do teatro?" Ok, sua mente estava definitivamente fora do sexo agora. Bom. "Você pensa que foi apenas um de nós?" Isso lhe deu uma pausa. "Eu tinha assumido isso", disse ele. "Também temos que nos perguntar quem os incitou a isso. Acho que foram pagos, de alguma forma - com drogas ou dinheiro, ou ambos. Acha que falarão?" "Não acredito que sobrevivam à noite na prisão".
 
Eles nem mesmo estavam na primeira página. Eles estavam na seção local do jornal de Shreveport, na parte de baixo. HOMICÍDIOS NA CADEIA, dizia a manchete. Suspirei.  Dois jovens que aguardavam transporte das celas de detenção para o centro juvenil foram mortos ontem à noite depois da meia-noite.  O jornal era entregue todas as manhã na caixa especial no final da minha entrada para carros, no lado direito de minha caixa de correio. Porém estava escurecendo no momento que eu vi o artigo, enquanto estava sentada no meu carro, prestes a sair para a estrada Hummingbird e ir trabalhar. Hoje eu não tinha me arriscado a sair até agora. Dormir, lavar roupa e um pouco de jardinagem tinha tomado o meu dia. Ninguém ligou, e ninguém tinha me visitado, mais ou menos como os anúncios citados. Eu acreditei que Quinn pudesse telefonar, apenas para checar sobre meus pequenos ferimentos... mas não.  Os dois jovens, levados para a delegacia sob a acusação de assalto e agressão, foram colocados em uma das celas de detenção para aguardar o ônibus da manhã para levá-los para o centro juvenil. As celas de detenção para menores infratores ficam longe do alcance das celas dos infratores adultos, e os dois foram os únicos jovens presos durante a noite. Em algum ponto, os dois foram estrangulados por uma pessoa ou pessoas desconhecidas.  Nenhum outro prisioneiro foi ferido, e todos negaram ter visto qualquer atividade suspeita. Ambos os jovens tinham registros juvenis extensos. ―Eles tiveram muitos encontros com a polícia,‖ disse uma fonte próxima à investigação.  ―Nós vamos investigar isso completamente,‖ disse o detetive Dan Coughlin, que havia respondido à denúncia original e estava encabeçando a investigação do incidente para a qual os jovens foram apreendidos. ―Eles foram presos após supostamente agredir um casal de uma forma bizarra, e suas mortes são igualmente bizarras.‖ Seu parceiro, Cal Myers, acrescentou: ―A justiça será feita.‖  Eu achei especialmente ameaçador.  Jogando o jornal no banco ao meu lado, eu puxei minha pilha de correspondências para fora da caixa de correio e acrescentei a pequena pilha. Eu iria selecionar depois do meu turno no Merlotte's.  Eu estava em um estado de espírito pensativo quando cheguei ao bar. Preocupada com o destino dos dois assaltantes da noite anterior, eu nem mesmo hesitei quando eu pensei que estaria trabalhando com a nova funcionária de Sam. Tanya estava tão atenta e eficiente como eu pensava anteriormente. Sam estava muito feliz com ela; aliás, na segunda vez que ele me disse como se sentia satisfeito, disse-lhe um pouco rispidamente que eu já tinha ouvido isso dele.  Fiquei contente de ver Bill entrar e se sentar em uma mesa na minha seção. Eu queria uma desculpa para ir embora, antes que eu tivesse que responder a pergunta se formando na cabeça de Sam: Porque você não gosta da Tanya?  Eu não espero gostar de todos que conheço, mais do que eu espero que todos gostem de mim. Mas eu costumo ter uma base para não gostar de um indivíduo, e é mais que uma desconfiança não específica e desgosto incerto. Embora Tanya fosse algum tipo de metamorfo, eu deveria ter sido capaz de estudá-la e aprender o suficiente para confirmar ou refutar a minha desconfiança instintiva. Mas eu não podia ler Tanya. Eu pegava uma palavra aqui e ali, como uma estação de rádio que está fora de sintonia. Você pensaria que eu estava contente por encontrar alguém da minha idade e sexo que talvez pudesse se tornar uma amiga. Em vez disso, eu fiquei perturbada quando percebi que ela era um livro fechado. Estranhamente, Sam não disse uma palavra sobre a essência da natureza dela. Ele não havia dito: ―Ah, ela é uma mulher-toupeira,‖ ou ―Ela é uma verdadeira metamorfa, como eu,‖ ou algo parecido.  Eu estava em um estado de espírito perturbado quando eu caminhei para pegar o pedido de Bill. Meu mau humor aumentou quando vi Selah Pumphrey parada na entrada rastreando a multidão, provavelmente tentando localizar Bill. Eu disse alguns palavrões para mim mesma, girei sobre meu calcanhar, e me afastei. Muito pouco profissional.  Selah estava olhando para mim quando olhei para sua mesa depois de um tempo. Arlene tinha ido tomar seu pedido. Eu simplesmente escutei Selah; eu estava em um estado de espírito rude. Ela estava se perguntando por que Bill sempre quer encontrá-la aqui, onde os nativos eram obviamente hostis. Ela não podia acreditar que um homem perspicaz e sofisticado como Bill poderia alguma vez ter namorado uma garçonete. E pelo que ela tinha ouvido falar, eu nem mesmo tinha ido para a faculdade e, além disso, minha avó havia sido assassinada.  Isso me fazia desprezível, eu acho.  Eu tento não levar a sério coisas assim41. Apesar de tudo, eu poderia ter me protegido efetivamente destes pensamentos. Pessoas que escutam escondidas raramente ouvem falar bem delas, não é mesmo? Um velho ditado, e uma verdade. Eu disse para mim mesma (cerca de seis vezes consecutivas) que eu não tinha nada que ouvi-la, que seria uma reação muito drástica ir esbofeteá-la na cara ou arrancar seus cabelos. Mas a raiva cresceu em mim, e eu não conseguia mantê-la sob controle. Coloquei três cervejas em cima da mesa na frente de Bagre, Dago e Hoyt com força desnecessária. Eles olharam simultaneamente para mim com espanto.  ―Nós fizemos algo errado, Sook?‖ Bagre disse. ―Ou é apenas a sua época do mês?‖  ―Você não fizeram nada,‖ eu disse. E não era minha época do mês - oh. Sim, era. Eu tive o aviso com a dor nas costas, o peso no estômago, e os meus dedos inchados. Meu pequeno amigo tinha vindo me visitar, e eu senti a sensação assim como eu percebi o que estava contribuindo para a minha irritação geral.  Olhei para Bill e peguei ele olhando para mim, suas narinas se alargando. Ele podia sentir o cheiro do sangue. Uma onda de intensa vergonha passou por mim, tornando meu rosto vermelho. Por um segundo, vislumbrei a fome nua em sua feição, e então ele esfregou seu rosto limpando toda a expressão.  Se ele não estava lamentando pelo amor não correspondido na minha soleira, pelo menos ele estava sofrendo um pouco. Um sorriso minúsculo de prazer estava em meus lábios quando me olhei de relance no espelho atrás do bar.  Uma segunda vampira chegou uma hora depois. Ela olhou para Bill por um segundo, acenando para ele, e depois sentou em uma mesa na seção de Arlene. Arlene se apressou para pegar o pedido da vampira. Elas falaram por um minuto, mas eu estava muito ocupada  
41  No original: ―with a grain of salt‖, expressão que significa não levar aquilo como verdade absoluta.
 
para investigá-las. Além disso, eu tinha acabado de ouvir a vampira filtrada através de Arlene, uma vez que os vampiros são silenciosos como o túmulo (hehehehe) para mim. A próxima coisa que eu soube, Arlene estava se dirigindo através da multidão até mim.  ―A moça morta quer falar com você,‖ ela disse, não moderando sua voz nem um pouco, e as cabeças se viraram em nossa direção. Arlene não é muito de sutileza - ou tato, por falar nisso.  Depois que eu tive certeza que todos meus clientes estavam contentes, fui à mesa da vampira. ―O que posso fazer por você?" Eu perguntei, no tom de voz mais baixo que eu podia controlar. Eu sabia que a vampira podia me ouvir; a audição deles é fenomenal, e a visão deles não está muito atrás em perspicácia.  ―Você é Sookie Stackhouse?‖ perguntou a vampira. Ela era muito alta, um pouco menos de 1,82 cm, e ela tinha alguma mistura racial que se tornou excessivamente bela. Sua pele era de uma cor dourada, e seu cabelo era cheio e crespo e escuro. Ela tinha tranças ao longo do couro cabeludo, e seus braços estavam sobrecarregados com jóias. Suas roupas, em contraste, eram simples; ela usava uma blusa branca rigorosamente bordada com mangas longas e calças pretas com sandálias pretas.  ―Sim,‖ eu disse. ―Posso te ajudar?‖ Ela estava olhando para mim com uma expressão que eu só poderia identificar como duvidosa.  ―Pam me enviou aqui,‖ disse ela. ―Meu nome é Felicia.‖ A voz dela era tão cadenciada e exótica como a sua aparência. Ela faz você pensar em bebidas de rum e praias.  ―Como vai, Felicia,‖ eu disse educadamente. ―Espero que Pam esteja bem.‖  Já que os vampiros não têm saúde variável, esta foi uma pergunta difícil para Felicia. ―Ela parece estar bem,‖ disse a vampira duvidosamente. ―Ela me enviou aqui para me apresentar a você.‖  ―Está bem, eu conheço você agora,‖ eu disse, exatamente tão confusa como Felicia estava. ―Ela disse que você tem o hábito de matar os atendentes de bar do Fangtasia,‖ disse Felicia, seus adoráveis olhos de corça42 arregalados com assombro. ―Ela disse que eu devo implorar a sua clemência. Mas você só parece um ser humano, para mim.‖  Essa Pam. ―Ela estava apenas caçoando de você,‖ Eu disse tão suavemente quanto eu pude. Eu não pensei que Felicia fosse alguém inteligente. Super audição e super força não são iguais a super inteligência. ―Pam e eu somos amigas, de certa forma, e ela gosta de me envergonhar. Acho que ela gosta de fazer a mesma coisa com você, Felicia. Eu não tenho nenhuma intenção de prejudicar ninguém.‖ Felicia parecia cética. ―É verdade, eu tenho um histórico ruim com os atendentes de bar do Fangtasia, mas isso é apenas, ah, coincidência,‖ eu balbuciei. ―E eu sou realmente, realmente apenas um ser humano.‖  Depois de ponderar aquilo por um momento, Felicia parecia aliviada, o que a fez até mais bonita. Pam devia ter vários motivos para fazer alguma coisa, e eu me encontrei perguntando se ela tinha enviado Felicia aqui para que eu pudesse observar seus encantos - que naturalmente seriam óbvios para Eric. Pam pode estar tentando criar problema. Ela odiava uma vida monótona.  ―Você vai voltar para Shreveport e passar uns bons momentos com o seu chefe,‖ eu disse, tentando soar afável.  ―Eric?‖ a vampira adorável disse. Ela parecia assustada. ―Ele é bom para se trabalhar,
42  http://www.onlinephotographers.org/pics/124_b.jpg
 
mas eu não sou uma amante dos homens.‖ Olhei para minhas mesas, não só conferindo para ver se alguém precisava urgentemente de uma bebida, mas para ver quem tinha pego aquela linha do diálogo. A língua de Hoyt estava praticamente pendurada para fora, e Bagre parecia como se fosse um animal assustado. Dago estava alegremente chocado. ―Então, Felicia, como você acabou em Shreveport, se você não se importar que eu pergunte?‖ Voltei minha atenção novamente para a nova vampira.  ―Oh, minha amiga Indira me pediu para vir. Ela disse que a servidão com Eric não é tão ruim.‖ Felicia encolheu os ombros, para mostrar como ‗não tão ruim‘ que era. ―Ele não exige serviços sexuais, se a mulher não for tão inclinada, e ele pede em troca apenas algumas horas no bar e tarefas especiais de vez em quando.‖  ―Então, ele tem uma reputação como um bom chefe?‖  ―Oh, sim.‖ Felicia parecia quase surpresa. ―Ele não é sentimental, é claro.‖  Sentimental não era uma palavra que você poderia usar na mesma frase com Eric.  ―E você não pode trapaceá-lo. Ele não perdoa isso,‖ continuou ela pensativa. ―Mas contanto que você cumpra suas obrigações com ele, ele irá fazer o mesmo por você.‖ Concordei. Aquilo se encaixa mais ou menos com a minha impressão de Eric, e eu conhecia muito bem Eric em alguns aspectos... embora não em outros.  ―Isto será muito melhor que Arkansas,‖ disse Felicia.  ―Por que você deixou Arkansas?‖ Eu perguntei, porque eu simplesmente não podia evitar. Felicia era a mais simples vampira que eu já conheci.  ―Peter Threadgill,‖ disse ela. ―O rei. Ele acabou de casar com sua rainha.‖ Anne-Sophie Leclerq da Louisiana não era minha rainha de maneira nenhuma, mas por curiosidade, eu queria continuar a conversa.  ―O que há de errado com Peter Threadgill?‖ Isso foi uma pergunta embaraçosa para Felicia. Ela meditou sobre isso. ―Ele guarda ressentimentos,‖ disse ela, franzindo a testa. ―Ele nunca fica satisfeito com aquilo que tem. Não é suficiente que ele seja o mais velho, mais forte vampiro no estado. Quando ele se tornou rei - e planejou durante anos seu caminho para isso - ele ainda não estava satisfeito. Havia algo errado com a situação, sabe?‖  ―Como, 'Qualquer estado que me tiver para um rei não é um estado bom para ser rei?‖  ―Exatamente,‖ disse Felicia, como se eu fosse muito inteligente para pensar em tal frase. ―Ele negociou com a Louisiana por meses e meses, e até mesmo Jade Flower cansou de ouvir sobre a rainha. Então ela finalmente concordou com a aliança. Depois de uma semana de celebração, o rei tornou-se mal-humorado novamente. De repente, isso não era bom o suficiente. Ela tinha que amá-lo. Ela tinha que desistir de tudo por ele.‖ Felicia balançou sua cabeça aos caprichos da realeza.  ―Então não foi um casamento por amor?‖  ―Essa é a última coisa pelo qual reis e rainhas vampiros se casam,‖ disse Felicia. ―Agora ele está tendo sua visita com a rainha em Nova Orleans, e eu estou feliz que estou no outro extremo do estado.‖ Eu não captei o conceito de um casado visitando o par, mas eu tinha certeza que mais cedo ou mais tarde eu iria compreender.  Eu teria ficado interessada em ouvir mais, mas estava na hora de eu voltar para a minha seção e trabalhar. ―Obrigada pela visita, Felicia, e não se preocupe sobre qualquer coisa. Estou contente que você esteja trabalhando para Eric,‖ eu disse. 
Felicia sorriu para mim, uma experiência deslumbrante e cheia de dentes. ―Estou contente que você não tenha a intenção de me matar,‖ disse ela.  Eu sorri para ela, um pouco hesitante.  ―Eu te asseguro, agora que eu sei quem você é, você não vai ter a chance de se aproximar de mim,‖ Felicia continuou. Inesperadamente, a verdadeira vampira olhou pelos olhos de Felicia, e eu tremi. Pode ser fatal subestimar Felicia. Inteligente, não. Selvagem, sim.  ―Eu não planejo me aproximar imprudentemente de qualquer um, muito menos um vampiro,‖ eu disse.  Ela me deu um aceno de cabeça impetuoso, e então deslizou para fora da porta tão de repente como ela entrou. ―O que foi isso?‖ Arlene me perguntou, quando aconteceu de estarmos ao mesmo tempo no bar à espera dos pedidos. Notei que Sam estava ouvindo, também.  Eu dei de ombros. ―Ela está trabalhando no Fangtasia, em Shreveport, ela só queria ganhar meu conhecimento.‖ Arlene me encarou. ―Eles pegam a inscrição com você, agora? Sookie, você precisa evitar os mortos e se envolver mais com os vivos.‖  Eu encarei de volta. ―De onde você tirou uma idéia como essa?‖ ―Você age como se eu não pudesse pensar por mim mesma.‖ Arlene nunca tinha desenvolvido um pensamento como esse em sua vida. O nome do meio de Arlene era tolerância, principalmente porque ela era muito despreocupada para tomar uma postura ética.  ―Bem, estou surpresa,‖ eu disse, precisamente ciente neste momento de como eu tinha avaliado duramente alguém que eu sempre considerei como uma amiga.  ―Bom, eu estou indo à igreja com Rafe Prudhomme.‖  Eu gostava do Rafe Prudhomme, um homem muito calmo na casa dos quarenta anos que trabalhava para a Companhia Pelican State Title.  Mas eu nunca tive a oportunidade de conhecê-lo bem, nunca ouviu seus pensamentos. Talvez isso tivesse sido um erro. ―Que tipo de igreja que ele vai?‖ Eu disse.  ―Ele tem frequentado aquela Irmandade do Sol, aquela nova igreja.‖ Meu coração quebrou, quase literalmente. Eu não me incomodei de salientar que a Irmandade era uma coleção de fanáticos que estavam unidos pelo ódio e medo. ―Não é realmente uma igreja, você sabe. Há uma filial da Irmandade perto daqui?‖  ―Mais ou menos.‖ Arlene desviou o olhar, a própria imagem da culpa. ―Eu sabia que você não iria gostar disso. Mas eu vi o sacerdote católico, padre Riordan, lá. Portanto até mesmo as pessoas ordenadas pensam que é certo. Nós fomos nos últimos dois domingos à noite.‖  ―E você acredita naquelas coisas?‖  Mas um dos clientes de Arlene gritou por ela, e ela definitivamente ficou feliz por não me enfrentar.  Meus olhos se encontraram com os do Sam, e nós parecemos igualmente preocupados. A Irmandade do Sol era uma organização anti-vampiro, anti-tolerante, e sua influência estava se espalhando. Alguns dos enclaves da Irmandade não eram militantes, mas muitos deles pregavam o ódio e medo em sua forma mais extrema. Se a Irmandade tivesse uma lista secreta de movimento subversivo, eu seguramente estava nela. Os fundadores da Irmandade, Steve e Sarah Newlin, haviam sido expulsos de sua igreja mais lucrativa em Dallas porque eu tinha interferido com os seus planos. Eu tinha sobrevivido a algumas tentativas de assassinato desde então, mas sempre havia a possibilidade da Irmandade me encalçar e me emboscar. Eles tinham me visto em Dallas, eles tinham me visto em Jackson, e mais cedo ou mais tarde eles calculariam quem eu era e onde eu morava. Eu tinha muito com que me preocupar. 
 
Na manha seguinte, Tanya apareceu em minha casa. Era domingo, e eu estava de folga, e eu me sentia muito feliz. Depois de tudo, Crystal estava se curando, Quinn parecia gostar de mim, e eu não tinha ouvido nada sobre o Eric, então, talvez, ele fosse me deixar em paz. Eu tento ser otimista. Minha avó adorava dizer essa passagem da bíblia, ―Basta a cada dia o seu mal43‖. Ela havia explicado que isso queria dizer que não se preocupasse com o amanhã, ou com as coisas que não podemos mudar. Tentei praticar essa filosofia, embora a maioria dos dias tenham sido difíceis. Hoje foi fácil.  As aves piavam e cantavam, os insetos zumbiam, e o ar carregado de pólen estava cheio de paz como se fosse emissão de outra planta. Estava sentada na frente da casa com meu robe rosa, tomando meu café, escutando Car Talk no Red River Radio, e sentindo-me realmente bem, quando um pequeno Dodge Dart44 apareceu na minha entrada de acesso. Não reconheci o carro, mas reconheci o motorista. Toda minha tranquilidade desapareceu em uma nuvem de suspeita. Agora que eu sabia da proximidade de um conclave novo da Sociedade do Sol, a curiosa presença de Tanya parecia ainda mais suspeita. Não estava feliz em vê-la na minha casa. A cortesia habitual me proibiu de colocá-la para fora, sem mais provocação do que eu já tinha, mas não dei nenhum sorriso acolhedor quando coloquei meus pés na varanda e parei.  ―Bom dia, Sookie!‖ Ela falou quando saiu de seu carro. ―Tanya,‖ disse, simplesmente, para retribuir a saudação. Ela parou a meio caminho da entrada. ―Hum, tudo bem?‖ Não respondi. ―Eu deveria ter avisado primeiro, né?‖ Ela tratou de parecer simpática e arrependida. ―Isso teria sido melhor. Não gosto de visitas não anunciadas.‖ ―Desculpe, prometo que avisarei da próxima vez.‖ Ela recomeçou a subir as escadas. ―Tem outro copo de café?‖ Violei uma das regras básicas da boa hospitalidade. ―Não, não esta manha,‖ disse. Fui até o alto da escada para bloquear seus passos até a varanda. ―Bommm... Sookie,‖ disse ela, sua voz incerta. ―Você realmente é uma rabugenta pela manha.‖ Olhei para ela firmemente.  ―Entendo porque Bill Compton esta saindo com outra pessoa,‖ Tanya disse rindo um pouco. Ela percebeu imediatamente que havia cometido um erro. ―Desculpe‖, acrescentou rapidamente, ―talvez não haja café suficiente. Não deveria ter dito isso. Essa Selah Pumphrey é uma vaca, uh?‖ Muito tarde agora, Tanya.                                                   43  Mateus 6:34 – ―Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.‖
44  http://www.seriouswheels.com/pics-1970-1979/1973-Dodge-Dart-Swinger-lime.jpg
 
Eu disse, ―Pelo menos você sabe onde está pisando com Selah.‖ Isso foi bastante claro, não? ―Verei você no trabalho.‖ ―Ok, ligarei da próxima vez, ouviu?‖ Ela me deu um brilhante, sorriso vazio. ―Eu ouvi.‖ A observei voltar para o carro. Ela me deu um aceno alegre e, com uma grande quantidade de manobras adicionais, ela virou o carro e voltou para a estrada Hummingbird. Eu assisti ela ir embora até que o som do motor tivesse morrido completamente antes de voltar a sentar. Eu deixei meu livro na mesa de plástico ao lado da minha cadeira e bebi o resto do meu café sem o prazer que tinha acompanhado os primeiros poucos goles. Tanya estava tramando alguma coisa. Ela praticamente tinha um sinal de néon piscando acima de sua cabeça. Eu desejava que o sinal fosse suficiente para me dizer o que ela era, e para quem ela trabalhava, e qual poderia ser seu objetivo, mas imaginei que teria que descobrir isso sozinha. Eu estava atenta para ouvir sua cabeça a cada chance que eu tivesse, e se isso não funcionasse e - às vezes não funciona, não só porque ela era uma sobrenatural, mas também porque você não pode fazer as pessoas pensarem sobre o que você precisa a seu pedido - eu teria que tomar medidas mais drásticas. Não que eu tivesse certeza do que seria isso. No ano passado, de alguma forma eu tinha assumido o papel de guardiã do sobrenatural no meu cantinho do nosso estado. Eu era a garota-propaganda da tolerância entre espécies. Eu aprendi muito sobre o universo deles, os que cercavam a (maior parte do tempo ignorante) raça humana. Foi de certa forma interessante saber de coisas que outras pessoas não sabiam. Mas complicou a minha já difícil vida, e isso me levou a atalhos perigosos entre os seres que queriam desesperadamente manter sua existência em segredo. O telefone tocou dentro da casa, e me despertou de meus pensamentos infelizes para atendê-lo. "Oi, benzinho," disse uma voz quente na outra extremidade. "Quinn,‖ disse eu, tentando não soar muito feliz. Não que eu estivesse emocionalmente investindo neste homem, mas tenho certeza que precisava de algo bom acontecendo agora, e Quinn era ao mesmo tempo formidável e atraente. "O que você está fazendo?" "Oh, sentada na minha varanda tomando café com meu roupão." "Eu queria estar aí para tomar uma xícara com você." Hummm. Desejo vão, ou um perigoso "pergunte-me mais"? "Há bastante na cafeteira", eu disse cautelosamente. "Eu estou em Dallas, ou eu estaria aí num piscar de olhos", disse ele. Murchei. "Quando você partiu?" Perguntei por que essa pareceu a pergunta mais segura e menos indiscreta. "Ontem. Recebi um telefonema da mãe de um cara que trabalha para mim de vez em quando. Ele desistiu no meio de um trabalho que estávamos fazendo em Nova Orleans, semanas atrás. Fiquei bastante chateado com ele, mas eu não estava exatamente preocupado. Ele era um tipo de cara freelancer,45 tinha muitos trabalhos46, que o levavam
 
45  O profissional autônomo, que se auto-emprega em diferentes empresas ou, ainda, guia seus trabalhos por projetos, captando e atendendo seus clientes de forma independente.
46  No original: ―irons in the fire‖, que significa muitas atividades ou projetos em andamento.
 
por todo o país. Mas sua mãe diz que ele ainda não tinha aparecido em lugar nenhum, e ela acha que alguma coisa aconteceu com ele. Eu estou olhando ao redor de sua casa e passei seus arquivos para ajudá-la, mas eu estou em um beco sem saída. A pista parece ter terminado em Nova Orleans. Eu vou dirigir de volta para Shreveport amanhã. Você estará trabalhando?‖ "Sim, no turno mais cedo. Eu vou sair por volta das cinco". "Então, posso me convidar para jantar? Vou levar os bifes. Você tem uma churrasqueira?" "De fato, eu tenho. É muito velha, mas funciona." "Tem carvão?" "Eu tenho que verificar." Eu não cozinhava fora desde que minha avó morreu. "Não tem problema. Vou levar um pouco". "Ok‖, eu disse. "Cuidarei de todo resto." "Nós temos um plano." "Vejo você às seis?" "Seis está bom.‖ "Ok, então adeus". Na verdade, eu teria gostado de falar com ele mais tempo, mas eu não estava certa sobre o que dizer, pois eu nunca tinha tido a experiência de tagarelice ociosa com homens. Minha carreira amorosa começou no ano passado, quando eu conheci Bill. Eu tinha muito que recuperar. Eu não era como, digamos, Lindsay Popken, que tinha sido Miss Bon Temps no ano que me formei no ensino médio. Lindsay foi capaz de reduzir os meninos a babões idiotas e mantê-los se arrastando atrás dela como hienas atordoadas. Eu olhava para ela muitas vezes e ainda não conseguia entender o fenômeno. Ela nunca me pareceu que falasse sobre nada em particular. Eu mesmo ouvi do seu cérebro, mas foi, sobretudo, cheio de ruído branco. Técnica de Lindsay, eu tinha concluído, foi instintivo, e foi baseado em nunca dizer nada sério. Oh, bem, chega de recordações. Entrei em casa para ver o que eu precisava fazer para tê-la pronta para a visita de Quinn amanha à noite e fazer uma lista de compras. Era uma maneira feliz de passar uma tarde de domingo. Eu ia fazer compras. Entrei no chuveiro contemplando um dia agradável. Uma batida na porta me interrompeu, uns trinta minutos depois, quando eu estava colocando batom. Desta vez, eu olhei pelo olho mágico. Meu coração se afundou. No entanto, fui obrigado a abrir a porta. Uma familiar limusine preta estava estacionada na minha porta. Minha única experiência anterior com a limusine me levou a esperar notícias desagradáveis e problemas.47 O homem – o ser - que estava na minha varanda era o advogado e representante pessoal da rainha vampira de Louisiana, e seu nome era Sr. Cataliades, a ênfase na segunda sílaba. Eu conheci o Sr. Cataliades quando ele veio me contar que minha prima Hadley havia morrido, deixando seus bens para mim. Não só Hadley morreu, ela tinha sido assassinada, e os vampiros responsáveis haviam sido punidos diante de meus olhos. A noite foi cheia de choques múltiplos: descobrir que não só Hadley havia deixado este mundo,
47  Referência ao conto já citado anteriormente.
 
mas ela deixou-o como uma vampira, e ela foi a favorita da rainha, em um sentido bíblico48. Hadley havia sido um dos poucos remanescentes da minha família, e eu senti sua perda e, ao mesmo tempo, eu tive que admitir que Hadley, em sua adolescência, tinha sido a causa de muito sofrimento para a mãe e muita dor para minha avó. Se tivesse vivido, talvez ela tivesse tentado compensar isso, ou talvez ela não fosse. Ela não teve a chance. Eu respirei fundo. Abri a porta. "Sr. Cataliades", eu disse, sentindo o meu sorriso ansioso esticar convincentemente meus lábios. O advogado da rainha era um homem composto de círculos, o seu rosto redondo e sua barriga redonda, os olhos redondos e circulares e escuros. Eu não acho que ele era humano, ou talvez não totalmente humano, mas eu não tinha certeza de que ele poderia ser. Não era vampiro, lá estava ele, em plena luz do dia. Não era um lobis, ou um metamorfo, nenhum zumbido rodeando seu cérebro.   "Senhorita Stackhouse", disse ele, sorrindo para mim. "Que prazer vê-la novamente." "A você também", eu disse, mentindo através de meus dentes. Eu hesitei, sentindo dores e nervosa. Eu tinha certeza que o Sr. Cataliades, como todos os outros ―Sobres‖, saberia que eu estava naqueles dias do mês. Que maravilha! "Você não vai entrar?" "Obrigado, minha cara," ele disse, e eu fui para o lado, cheia de dúvidas, para que esta criatura entrasse em minha casa "Por favor, sente-se", eu disse, decidida a ser educada. "Você gostaria de uma bebida?" "Não, obrigado. Você parece estar a caminho de algum lugar." Ele estava encarando a bolsa que eu tinha jogado na minha cadeira no caminho da porta. Ok, tinha algo que eu não estava entendendo, aqui. "Sim", eu disse, levantando as sobrancelhas interrogativamente. "Eu tinha planejado ir ao supermercado, mas posso demorar uma hora ou coisa assim." ―Você não está se arrumando para ir à Nova Orleans comigo?" ―O que?‖ "Você recebeu minha mensagem?" "Que mensagem?" Olhamos um para o outro, mutuamente desanimados. "Eu enviei um mensageiro para você com uma carta do meu escritório de advocacia", disse Cataliades. "Ela deveria ter chegado aqui quatro noites atrás. A carta foi selada com magia. Ninguém a não ser você poderia abri-la." Eu balancei minha cabeça, minha expressão em branco dizendo o que eu precisava dizer. "Você está dizendo que Gladiola não chegou aqui? Eu esperava que ela chegasse aqui, o mais tardar, quarta-feira. Ela não teria entrado em um carro. Ela gosta de correr." Ele sorriu com indulgência por apenas um segundo. Mas, então, o sorriso desapareceu. Se eu tivesse piscado, eu teria perdido. "Na noite de quarta‖, ele me guiou.
48  A expressão: "conhecer no sentido bíblico", quer dizer já ter feito sexo com alguém. Isso porque, na maior parte do Velho Testamento foi escrita em hebreu, em que a palavra "conhecer" (yo-day-ah) é usada em diversas situações diferentes, podendo significar "conhecer intimamente, de maneira próxima". Em alguns casos, conhecer intimamente pode significar manter relações sexuais com uma pessoa e daí é que vem a expressão.
 
"Essa foi a noite que eu ouvi alguém fora da casa", eu disse. Eu tremia, lembrando de como eu estava tensa naquela noite. "Ninguém veio até a porta. Ninguém tentou quebrar as dobradiças. Ninguém me chamou. Havia apenas a sensação de algo se movendo, e todos os animais estavam em silêncio." Parecia impossível para alguém tão poderoso como o advogado sobrenatural ficar tão confuso, mas ele parecia muito pensativo. Após um momento ele se levantou pesadamente e se inclinou para mim, apontando para a porta. Voltamos para fora. Na varanda da frente, ele se virou para o carro e acenou. Uma mulher muito magra deslizou de trás do volante. Ela era mais jovem do que eu, talvez em seus vinte anos. Como o Sr. Cataliades, ela era apenas parcialmente humana. Seu cabelo vermelho escuro estava arrepiado, a maquiagem era exagerada49. Mesmo a roupa marcante da menina do ―The Hair of the Dog‖ perdeu o brilho em comparação com esta jovem mulher. Usava meias listradas, alternando faixas de rosa choque e preto, e suas ankle boots50 eram negras de salto muito alto. Sua saia era transparente, preta e rodada, e sua blusa rosa era sua única vestimenta superior. Ela me fez perder o fôlego. "Oi comovai?" ela disse brilhantemente, o seu sorriso revelou seus afiados dentes brancos que fariam um dentista se apaixonar, logo antes dele perder um dedo. "Olá," eu disse. Estendi a mão. "Sou Sookie Stackhouse." Ela cobriu a distância entre nós, muito rapidamente, mesmo nos saltos ridículo. Sua mão era pequena e ossuda. ―Prazeremteconhecer‖ disse ela. "Diantha". "Nome bonito", disse, depois que eu descobri que não tinha outra frase "Obrigada". "Diantha," Mr. Cataliades disse, "Eu preciso de você para realizar uma busca para mim." "Para encontrar?" "Tenho muito medo que nós estejamos procurando os restos mortais de Glad" O sorriso caiu do rosto da menina. "Não me diga isso," disse muito claramente. "Não, Diantha", afirmou o advogado. "Não me diga você." Diantha sentou na escada e tirou os sapatos e sua calça listrada. Não parecia incomodá-la que, sem as calças, a saia transparente não deixava nada para imaginação. Mas a expressão do Sr. Cataliades não se alterou em nada, eu decidi que poderia ser mundana o suficiente para ignorá-lo, também. Assim que ela aliviou-se, a menina correu para fora, passando rente ao chão, farejando de uma forma que me disse que era muito menos humana do que eu já tinha previsto. Mas ela não se movia como os lobis que eu tinha observado, ou os homenspantera. Seu corpo parecia dobrar e transformar-se em uma forma que simplesmente não era dos mamíferos.  Sr. Cataliades assistia, as mãos cruzadas na frente dele. Ele ficou em silêncio, assim como eu também estava. A menina lançou-se em torno do quintal, como um beija-flor demente, quase visivelmente vibrando com uma energia sobrenatural.  Com todos esses movimentos, eu não podia ouvir nenhum som. 
49  No original: ―laid on with a trowel‖, expressão que significa muito exagerada 50  Tipo de bota: http://z.about.com/d/shoes/1/0/J/W/cuffed_ankle_boots.jpg
 
Não demorou muito para que ela parasse em uma moita de arbustos bem na borda da floresta. Ela estava curvada olhando para o chão, completamente imóvel. Então, não olhando para cima, ela levantou a mão como um aluno que tinha descoberto a resposta correta.  "Vamos ver", disse Cataliades sugerindo, e em sua maneira deliberada, ele atravessou o caminho de acesso, em seguida, a grama, para um aglomerado de árvores na borda da floresta. Diantha não olhou para cima quando nos aproximamos, mas manteve-se focada em algo no chão atrás dos arbustos. Tinha o rosto coberto de lágrimas. Eu respirei fundo e olhei para o que prendeu a atenção dela.  Esta menina tinha sido um pouco mais jovem que Diantha, mas ela também era magra e leve. Seus cabelos foram tingidos de ouro brilhante, em contraste com sua pele chocolate com leite. Seus lábios tinham recuado com a morte, dando-lhe um rosnar que revelavam dentes brancos e afiados como os de Diantha. Curiosamente, ela não parecia tão ruim como eu tinha esperado, dado o fato de que ela poderia estar aqui apodrecendo por vários dias. Havia apenas algumas formigas caminhando sobre ela, mas não com a atividade habitual do inseto... E ela não parecia tão má para uma pessoa que tinha sido cortada em duas na cintura.  Minha cabeça zumbiu por um minuto, e eu tive medo de cair de joelhos. Eu tinha visto algumas coisas ruins, incluindo dois massacres, mas eu nunca vi ninguém dividida como esta menina tinha sido. Eu podia ver suas entranhas. Elas não se parecem com vísceras humanas. E parecia que as duas metades haviam sido cauterizadas separadamente. Houve pouca perda de sangue "Cortaram com uma espada de aço", Sr. Cataliades disse. "Uma espada muito boa".  "O que vamos fazer com seus restos mortais?" Eu perguntei. "Eu posso trazer um cobertor velho." Eu sabia, mesmo sem perguntar, que não iríamos chamar a polícia.  "Temos que queimá-la", Sr. Cataliades disse. "Lá, no cascalho do seu estacionamento, senhorita Stackhouse, seria o mais seguro. Não estamos esperando alguma visita?"  "Não", eu disse chocada em muitos níveis. "Sinto muito, porque ela deve ser queimada...?"  "Ninguém vai comer um demônio, ou até mesmo meio demônio como Diantha ou Glad", disse ele, como se explicasse que o sol nasce no leste. "Nem mesmo os insetos, como você pode ver. O chão não vai digeri-la, como faz com humanos." "Você não quer levá-la para casa? Para seu pessoal?"  "Diantha e eu somos a sua família. Não é nosso costume levar os mortos de volta ao lugar onde eles estavam vivendo."  "Mas o que a matou?"  Sr. Cataliades levantou uma sobrancelha.  "Não, claro que ela foi morta por algo cortando sua cintura, eu estou vendo isso! Mas quem empunhou a lâmina?  "Diantha, o que você acha?" Sr. Cataliades disse, como se ele estivesse conduzindo uma classe.  "Algo realmente muito, muito forte e silencioso‖, Diantha disse. "Ele chegou perto de Gladiola, e ela não era nenhuma tola. Nós não somos fáceis de matar."  "Eu não vi nenhum sinal da carta que ela carregava, nada." Sr. Cataliades inclinouse e olhou para o chão. Então ele se endireitou. "Você tem lenha, Senhorita Stackhouse?" 
"Sim senhor, há um bom bocado de carvalho cortado lá atrás do galpão." Jason tinha cortado algumas árvores que a tempestade de neve havia derrubado. "Você precisa fazer as malas, minha cara?"  "Sim", eu disse quase constrangida demais para responder. "O que? Para quê?"  "A viagem a Nova Orleans. Você pode ir agora, não pode?"  ―... Eu acho que sim. Vou ter que pedir ao meu chefe."  "Então Diantha e eu vamos cuidar disso aqui, enquanto você pede permissão ao seu chefe e faz as malas", Sr. Cataliades disse, e piscou.  "Tudo bem,‖ eu disse. Eu não parecia ser capaz de pensar muito claramente.  "Então temos de partir para Nova Orleans,‖ disse ele. "Eu pensei que eu iria encontrá-la pronta. Achei que Glad tinha ficado para ajudá-la.‖ Eu arranquei meu olhar do corpo para olhar o advogado. "Eu só não consigo compreender isso", Eu disse. Mas eu me lembrei de algo. "Meu amigo Bill queria ir para Nova Orleans, quando eu fosse limpar o apartamento de Hadley,‖ eu disse. "Se ele puder, se ele puder se organizar, tudo bem para você?" ―Você quer que Bill vá", ele disse, e havia uma ponta de surpresa em sua voz. "Bill desfruta do favor da rainha, então eu não me importaria se ele fosse". "Ok, eu vou ter que entrar em contato com ele quando estiver escuro", eu disse. "Espero que ele esteja na cidade." Eu poderia ter chamado Sam, mas eu queria ir para algum lugar longe do funeral estranho na minha garagem. Quando eu saí, o Sr. Cataliades estava carregando um corpo flácido e pequeno para fora da floresta. Ele tinha a metade inferior. A silenciosa Diantha enchia um carrinho de mão com madeira.
 
"Sam", eu disse, mantendo minha voz baixa, "Eu preciso de alguns dias de folga." Quando eu bati na porta de seu trailer, fiquei surpresa de descobrir que ele tinha convidados, embora eu tenha visto os outros veículos estacionados próximos da caminhonete de Sam. JB du Rone e Andy Bellefleur estavam sentados no sofá de Sam, com cerveja e batatas chips habilmente colocados na mesinha de centro. Sam estava envolvido em um ritual de unão masculina. "Assistindo esportes?" eu acrescentei, tentando não soar surpresa. Eu acenei sobre o ombro de Sam para JB e Andy, e eles acenaram de volta: JB entusiasmado, e Andy menos feliz. Se você pode chamar um gesto de ambivalente, foi isso que ele fez. "Hum, sim, basquete. A LSU51 está jogando… oh, bem. Você precisa da folga agora?" "Sim", eu disse. "É meio que uma emergência." "Você pode me contar sobre isso?" "Eu tenho que ir a Nova Orleans para esvaziar o apartamento da minha prima Hadley", eu disse. "E isso tem que ser agora? Você sabe que Tanya ainda é nova, e Charlsie acabou de sair, diz ela que para sempre. Arlene não é tão confiável como costumava ser e Holly e Danielle ainda estão muito instáveis desde o incidente na escola." "Desculpe", eu disse. "Se você quiser me deixar ir e arranjar outra pessoa, eu vou entender." Partiu meu coração dizer isso, mas para ser justa com Sam, eu tinha que fazer. Sam fechou a porta do trailer atrás dele e saiu para a varanda. Ele parecia magoado. "Sookie", ele disse, após um segundo, "você tem sido completamente confiável nos últimos cinco anos. Você só pediu alguns dias de folga talvez duas ou três vezes no total. Eu não vou despedi-la porque você precisa de alguns dias." "Oh. Bem, certo." Eu podia sentir meu rosto ficar vermelho. Eu não estava acostumada a ser elogiada. "A filha de Liz pode ser capaz de ajudar." "Vou ligar para a lista", ele disse brandamente. "Como você vai para Nova Orleans?" "Eu tenho uma carona." "Com quem?" ele perguntou, sua voz suave. Ele não queria me deixar com raiva por estar se metendo em minha vida. (Eu poderia dizer que muito.) "O advogado da Rainha", eu disse em uma voz ainda mais calma. Apesar de tolerantes com os vampiros em geral, os cidadãos de Bon Temps podem ficar um pouco excitados se eles soubessem que seu Estado tem uma Rainha vampira, e que seu governo
51  Time da Universidade do Estado da Louisiana
 
secreto os afeta de vários modos. Por outro lado, dado o descrédito da política da Louisiana, eles podem apenas pensar no assunto como costumeiro. "Você vai esvaziar o apartamento de Hadley?" Eu tinha contado para Sam sobre a segunda, e final, morte de minha prima. "Sim. E eu tenho que descobrir o que ela me deixou." "Isso parece realmente repentino." Sam parecia preocupado. Ele passou uma mão pelo seu cabelo encaracolado vermelho-dourado até que ficou sobre sua cabeça em um halo selvagem. Ele precisava de um corte de cabelo. "Sim, pra mim também. Sr. Cataliades tentou me contar antes, mas a mensageira foi assassinada." Eu escutei Andy gritar com a televisão, quando alguma grande jogada despertou seu entusiasmo. Estranho, eu nunca pensei em Andy como um cara dos esportes, nem JB, no que diz respeito a esse assunto. Eu nunca tinha somado todo o tempo que eu tinha escutado os homens pensando sobre assistências e cestas de três pontos quando as mulheres com eles falavam sobre a necessidade de novas cortinas para a cozinha ou as más notas de Rudy em álgebra. Quando eu fazia isso, eu me perguntava se o propósito do esporte não era dar aos homens uma alternativa segura para as questões mais espinhosas. "Você não deveria ir", Sam disse imediatamente. "Isso soa como algo que pode ser perigoso." Eu dei de ombros. "Eu tenho que ir", eu disse. "Hadley deixou isso pra mim; eu tenho que fazer isso." Eu estava longe de estar tão calma quanto eu tentava mostrar, mas não me parecia fazer nenhum bem chutar e gritar sobre o assunto. Sam começou a falar, então reconsiderou. Finalmente, ele disse, "Isso é sobre dinheiro, Sook? Você precisa do dinheiro que ela deixou pra você?" "Sam, eu não sei se Hadley tinha um centavo em seu nome. Ela era minha prima e eu tenho que fazer isso por ela. Além disso,…" eu estava prestes a dizer a ele que a viagem para Nova Orleans tinha que ser importante de alguma forma, já que alguém estava tentando tanto me impedir de ir. Mas Sam tende a ser muito preocupado, especialmente se eu estiver envolvida, e eu não queria chateá-lo, quando nada que ele dissesse poderia dissuadir-me de ir. Eu não penso em mim como uma pessoa teimosa, mas eu esperei que essa fosse a última assistência que eu poderia desempenhar por minha prima. "Que tal levar Jason?" Sam sugeriu, pegando minha mão. "Ele era primo de Hadley também." "Evidentemente, ele e Hadley estavam em desacordo no fim", eu disse. "Foi por isso que ela deixou suas coisas para mim. Além disso, Jason já tem muita coisa com que se preocupar agora.52" "Quê, algo além de mandar Hoyt em todas as direções e transar com cada mulher que ficar parada por tempo suficiente?" Eu encarei Sam. Eu sabia que ele não era um grande fã do meu irmão, mas eu não sabia que sua aversão fosse tão profunda. "Sim, realmente", eu disse, minha voz tão fria e gelada quanto uma caneca de cerveja. Eu não iria explicar o aborto da namorada do meu irmão, enquanto estava parada na porta, tendo em conta especialmente o antagonismo de Sam.                                                  52 No original: ―got a lot on his plate‖, algo como ter muito em seu prato, já ter muito problema com os quais lidar.
Sam olhou para longe, balançou a cabeça com desgosto de si mesmo. "Sinto muito, Sookie, realmente sinto. Eu só pensei que Jason poderia prestar mais atenção na única irmã que tem. Você é tão leal a ele." "Bem, ele nunca deixaria nada me acontecer", eu disse desconcertada. "Jason me defenderia53."  Antes de Sam dizer, "Claro", eu peguei a centelha de dúvida em sua mente. "Eu tenho que ir fazer as malas", eu disse. Eu odiei dar o fora. Não importa os sentimentos dele sobre Jason, Sam era importante para mim, e deixá-lo com essa infelicidade entre nós, me abalou um pouco. Mas eu podia ouvir o rugido dos homens dentro do trailer por alguma jogada e eu sabia que tinha que deixá-lo voltar para seus convidados e seu prazer da tarde de domingo. Ele me deu um beijo na bochecha. "Ligue se precisar de mim", ele disse, e pareceu como se ele quisesse dizer muito mais. Fiz que sim com a cabeça, me afastei e desci os degraus para meu carro.
"Bill, você disse que queria ir para Nova Orleans comigo quando eu fosse fechar a propriedade de Hadley?" Finalmente estava completamente escuro e eu podia ligar para Bill. Selah Pumphrey tinha atendido ao telefone e chamou Bill para conversar comigo em uma voz muito fria. "Sim." "Sr. Cataliades está aqui e ele quer partir realmente em breve." "Você poderia ter me contado mais cedo, assim que você soube que ele estava vindo." Mas Bill não parecia verdadeiramente com raiva, ou mesmo surpreendido. "Ele mandou uma mensageira, mas ela foi assassinada na minha floresta." "Você encontrou o corpo?" "Não, uma garota que veio com ele encontrou. Seu nome é Diantha." "Então foi Gladiola que morreu." "Sim", eu disse surpresa. "Como você sabe?" Bill disse, "Quando você entra em um estado, é simplesmente educado se registrar com a Rainha ou o Rei se você for ficar por um tempo. Eu via as garotas de vez em quando, já que elas trabalham como mensageiras da Rainha." Eu olhei para o telefone em minhas mãos com tanta atenção, como se fosse o rosto de Bill. Eu não pude evitar ter todos esses pensamentos em uma rápida sucessão. Bill vagava por minha floresta… Gladiola foi morta em minha floresta. Ela foi morta sem barulho, eficiente e primorosamente, por alguém bem versado no conhecimento sobrenatural, alguém que soubesse usar uma espada de aço, alguém forte o suficiente para passar uma espada através de todo o corpo de Gladiola. Essas eram características de um vampiro - mas um grande número de criaturas sobrenaturais poderia fazer o mesmo. Para conseguir chegar perto o suficiente para manejar a espada, o assassino tinha que ser super rápido ou parecer completamente inofensivo. Gladiola não tinha suspeitado que fosse ser assassinada. Talvez ela conhecesse o assassino. E o modo como o pequeno corpo de Gladiola foi deixado, descuidadamente jogado no bosque… o assassino não se importava de eu achar o corpo ou não, embora a falta 
53  No original: ―Jason would stand up for me‖. A expressão ―stand up for‖, significa defender, apoiar, lutar por.
 
demoníaca de putrefação, naturalmente, teve um papel nisso. Seu silêncio era tudo que o assassino queria. Por que ela foi morta? Sua mensagem, se eu peguei toda a história do pesado advogado, era simplesmente para eu me preparar para a minha viagem para Nova Orleans. Eu iria, de qualquer forma, mesmo que ela não tivesse a chance de me entregar a mensagem. Então, o que foi conquistado com seu silêncio? Dois ou três dias de ignorância de minha parte? Isso não parecia pra mim uma grande motivação. Bill estava esperando eu terminar a longa pausa em nossa conversa, uma das coisas que eu sempre gostei nele. Ele não tinha a necessidade de preencher pausas nas conversas. "Eles queimaram ela na entrada para carros", eu disse. "Claro. É a única forma de eliminar qualquer coisa com sangue de demônio", Bill disse, mas distraidamente, como se estivesse pensando profundamente em outra coisa. "Claro? Como eu deveria saber disso?" "Pelo menos agora você sabe. Insetos não mordem eles, seus corpos não são corrompidos e sexo com eles é corrosivo." "Diantha parece tão alegre e obediente." "Claro, quando ela está com seu tio." "Sr. Cataliades é o tio dela", eu disse. "Tio de Glad também?" "Oh, sim. Cataliades é predominantemente demônio, mas seu meio-irmão Nergal é um demônio completo. Nergal teve muitas crianças meio-humanas. De diferentes mães, obviamente." Eu não tinha certeza do porque disso ser tão óbvio, e não iria perguntar isso a ele. "Você está deixando Selah escutar tudo isso?" "Não, ela está no banheiro tomando banho." Ok, ainda sentindo ciúmes. E inveja: Selah teve o luxo da ignorância, enquanto eu não. Como o mundo é mais legal quando você não sabe sobre o lado sobrenatural da vida. Óbvio. Então você só tem que se preocupar com a fome, a guerra, serial killers, AIDS, tsunamis, envelhecimento e o vírus Ebola. "Cala a boca54, Sookie", eu disse para mim mesma e Bill disse, "Perdão?" Estremeci. "Escuta, Bill, se você quer ir para Nova Orleans comigo e o advogado, esteja aqui nos próximos 30 minutos. Do contrário, eu vou assumir que você tem outro assunto mais importante55." Eu desliguei. Gostaria de ter todo o caminho para Nova Orleans56 para pensar sobre tudo isso.  "Ele estará aqui, ou não, nos próximos 30 minutos", eu avisei da porta da frente para o advogado. "Bom ouvir isso", Sr. Cataliades falou de volta. Ele estava em pé perto de Diantha, enquanto ela lavava com mangueira a mancha preta em meu cascalho. Eu andei de volta para meu quarto e guardei minha escova de dente. Eu repassei minha lista de checagem mental. Deixei uma mensagem na secretaria eletrônica de Jason, eu perguntei a Tara se ela se importaria de sair para pegar minhas correspondências e meus jornais todo dia, eu reguei minhas poucas plantas domésticas. (minha avó acreditava que plantas, assim como pássaros e cachorros, pertenciam ao lado de fora; ironicamente, eu
54  No original: ―Can it‖, expressão que quer dizer cala a boca.
55  No original: ―have other fish to fry‖, expressão que significa ter outras coisas mais importantes a tratar. 56  No original: ―the Big Easy‖, forma de chamar a cidade de Nova Orleans.
 
peguei algumas plantas domésticas quando ela morreu, e eu estava me esforçando para mantê-las vivas). Quinn! Ele não estava com seu celular, ou não estava atendendo, de qualquer forma. Eu deixei uma mensagem de voz. Era somente nosso segundo encontro e eu tinha que cancelar. Eu descobri que era difícil imaginar exatamente o quanto contar a ele. "Eu tenho que ir a Nova Orleans para esvaziar o apartamento da minha prima", eu disse. "Ela mora em um apartamento na Rua Chloe, e eu não sei se lá tem telefone ou não. Então, eu acho que eu vou ligar pra você apenas quando eu voltar? Sinto muito que nossos planos mudaram." Eu esperava que ele pelo menos fosse capaz de dizer que eu realmente lamentava que eu não pudesse jantar com ele. Bill chegou exatamente quando eu estava levando minha mala para o carro. Ele tinha uma mochila, o que me pareceu engraçado. Eu suprimi meu sorriso quando eu vi seu rosto. Até para um vampiro, Bill parecia pálido e cansado. Ele me ignorou. "Cataliades", ele disse, com um aceno de cabeça. "Eu vou pegar uma carona com você, se isso lhe convier. Lamento por sua perda." Ele acenou para Diantha, que estava alternando longos e furiosos monólogos, em uma língua que eu não entendia, com um tipo de olhar congelado, que eu associei ao profundo choque. "Minha sobrinha morreu de forma prematura", Cataliades disse, em seu modo deliberado. "Ela não ficará impune." "Claro que não", Bill disse, em sua voz fria. Enquanto Diantha alcançava o portamalas, Bill se moveu para a traseira do carro para arremessar sua mochila em suas profundezas. Eu tranquei a porta da frente atrás de mim e desci apressadamente as escadas para colocar minha mala dentro com a dele. Eu peguei um vislumbre de seu rosto antes dele notar minha aproximação, e esse vislumbre me chocou. Bill parecia desesperado.
 
Houve momentos na estrada sul na qual me senti como se eu compartilhasse todos os meus pensamentos com os meus companheiros. Sr. Cataliades dirigiu durante algumas horas, e em seguida Diantha pegou o volante. Bill e o advogado não tiveram muita conversa fiada, e eu tinha muitas coisas em minha mente para um bate-papo social, assim nós éramos um grupo silencioso.  Eu estava tão confortável como eu nunca estive em um em um veículo. Eu tinha a parte traseira do banco toda para mim, enquanto Bill e o advogado sentaram-se à minha frente. A limusine era a última palavra em automóvel de luxo, pelo menos para meus olhos.  Estofados em couro e acolchoados à enésima potência, a limusine ostentava muito espaço para as pernas, garrafas de água e sangue sintético e uma cestinha de lanches. Sr. Cataliades era realmente fã de Cheetos57.  Eu fechei meus olhos e pensei por um tempo. O cérebro de Bill, naturalmente, era nulo para mim, e o cérebro do Sr. Cataliades era quase assim. Seu cérebro emitia um zumbido de baixo nível que era quase reconfortante, enquanto a mesma emanação, do cérebro de Diantha, vibrava num nível mais alto. Eu estava à beira de um pensamento quando eu conversava com Sam, e eu quis prosseguir enquanto eu ainda podia agarrá-lo pela cauda. Uma vez que eu tinha resolvido o pensamento, decidi compartilhá-lo.  ―Sr. Cataliades‖, eu disse, e o grande homem abriu os olhos. Bill já estava olhando para mim. Alguma coisa estava acontecendo na cabeça de Bill, algo estranho. ―Sabe aquela quarta-feira, a noite que sua menina supostamente apareceria na minha porta, eu ouvi algo nos bosques.‖  O advogado fez que sim com a cabeça. Bill também.  ―E então nós supomos que foi a noite que ela foi morta.‖ Novamente com a dupla concordando. ―Mas por quê? Quem fez isso tinha que saber que mais cedo ou mais tarde você me contataria, ou vinha me ver, para descobrir o que havia acontecido. Mesmo se o assassino não soubesse a mensagem que Gladiola estava trazendo, eles teriam calculado que sentiriam falta dela cedo ou tarde.‖ ―Isso é razoável,‖ disse o Sr. Cataliades.  ―Mas na noite de sexta-feira, eu fui atacada em um estacionamento em Shreveport.‖
 
57  http://scrapetv.com/News/News%20Pages/Everyone%20Else/images-3/cheetos-crunchy.jpg
 
Eu aposto meu dinheiro nessa afirmação, posso te dizer. Se eu tivesse prendido ambos os homens a máquinas de eletrochoque e lhes dado um choque, a reação não poderia ter sido mais dinâmica.  ―Por que você não me contou?‖ Bill exigiu. Seus olhos estavam ardendo com raiva, e suas presas estavam para fora.  ―Por que eu deveria? Nós não namoramos mais. Nós não vemos um ao outro regularmente.‖ ―Então este é o seu castigo pelo meu namoro com outra pessoa, escondendo algo tão sério de mim?‖ Até mesmo nas minhas fantasias mais selvagens (que tinha incluído tais cenas como Bill rompendo com Selah no Merlotte‘s, e sua confissão pública subsequente para mim que Selah nunca havia alcançado meus encantos), eu nunca tinha previsto tal reação. Embora o interior do carro estivesse muito escuro, eu pensei ter visto Sr. Cataliades rolar seus olhos. Talvez ele pensasse que isso havia passado do limite, também.  ―Bill, eu nunca tive a intenção de castigá-lo‖, eu disse. Pelo menos eu não achava que tinha. ―Nós apenas não mais compartilhamos os detalhes de nossas vidas. Na verdade, eu estava fora, em um encontro, quando o ataque ocorreu. Eu acredito que eu estou acostumada a nós não fazermos mais parte do cenário.‖ ―Quem foi seu encontro?‖ ―Isso não é realmente da sua conta, mas é pertinente para o resto da história. Estou namorando Quinn.‖ Tínhamos tido um encontro e planejado outro. Isso conta como ―namoro‖, certo?  ―Quinn, o tigre‖, disse Bill inexpressivamente. ―Tiramos o chapéu para você, mocinha!‖ Sr. Cataliades disse. ―Você é corajosa e perspicaz.‖  ―Eu realmente não estou pedindo aprovação‖, disse tão neutralmente quanto eu pude administrar. ―Ou desaprovação, no que diz respeito ao assunto.‖ Eu agitei minha mão para mostrar que o tema estava fora de cogitação. ―Aqui está o que eu quero que vocês saibam. Os agressores eram Lobis muito jovens.‖  ―Lobis‖, Sr. Cataliades disse. À medida que aceleramos pela escuridão, eu não consegui decifrar sua expressão ou sua voz. ―Que tipo de Lobis?‖  Boa pergunta. O advogado foi astuto. ―Lobis que mordem‖, eu disse. ―E eu acredito que eles estavam drogados, também.‖ Isso lhes deu uma pausa.  ―O que aconteceu durante o ataque e mais tarde?‖ Bill disse, quebrando um longo silêncio.  Eu descrevi o ataque e as suas consequências.  ―Então, Quinn te levou ao ‗The Hair of the Dog‘‖, disse Bill. ―Ele achou que foi uma resposta adequada?‖ Eu poderia dizer que Bill estava furioso, mas como sempre, eu não sei por quê.  ―Isso pode ter funcionado‖, disse Cataliades. ―Considere. Nada mais aconteceu a ela, então aparentemente a ameaça de Quinn enraizou.‖  Eu tentei não dizer ―Hein?‖, mas eu adivinho que os olhos de vampiro de Bill poderiam vê-lo no meu rosto.  ―Ele os desafiou,‖ disse Bill, soando ainda mais frio que o habitual. ―Disse-lhes que você estava sob sua proteção, e que se causarem danos a você eles estarão em perigo. Ele os acusou de estar por trás do ataque, mas ao mesmo tempo lembrou-lhes que mesmo que eles não soubessem disso, eles eram responsáveis por trazer o que planejou isso à justiça.‖
―Entendi tudo isso imediatamente,‖ falei pacientemente. ―E penso que Quinn os estava advertindo, não os desafiando. Grande diferença. O que não entendi foi... nada deveria acontecer no bando sem o conhecimento de Patrick Furnan, correto? Já que ele é o altíssimo grande líder agora. Então por que não ir diretamente ao Patrick? Por que ir ao bar local?‖ ―O que é uma questão muito interessante,‖ Cataliades disse. ―Qual seria sua resposta, Compton?‖ ―A única que me vem à mente... Quinn poderia saber que ali há uma rebelião fomentando-se contra Furnan. Ele está adicionado combustível nisso permitindo que os rebeldes saibam que Furnan está tentando matar uma amiga do bando.‖ Não estamos falando de exércitos aqui. Poderia haver trinta e cinco membros do bando, talvez um pouco mais com soldados da Base Aérea de Barksdale incluídos. Levaria só cinco pessoas para fazer uma rebelião. ―Por que eles simplesmente não o tiram?‖ Eu perguntei. Eu não sou politicamente inteligente, como eu acho que você pode dizer.  Sr. Cataliades estava sorrindo para mim. Estava escuro no carro, mas eu percebi isso. ―Tão direta, tão clássica‖, disse ele. ―Tão americana. Bem, senhorita Stackhouse, é assim. Os Lobis podem ser selvagens, ah sim! Mas eles têm regras. A penalidade por matar um líder do bando, exceto pelo desafio aberto, é a morte.‖ ―Mas quem teria, ah, decretaria essa penalidade, se o bando guardar em segredo o assassinato?‖ ―A menos que o bando esteja disposto a matar a família Furnan inteira, acho que a família Furnan ficaria satisfeita por informar à hierarquia Lobis do assassinato de Patrick. Agora, talvez você conheça os Lobis de Shreveport melhor que a maioria. Existem entre eles assassinos cruéis que não se importariam de assassinar a esposa de Furnan e seus filhos?‖ Eu pensei em Amanda, Alcide, e Maria-Star. ―Isso é uma situação estranha totalmente diferente. Eu entendo isso.‖ ―Agora vampiros, você encontrará muitos outros que foram para esse tipo de traição‖, disse o advogado. ―Você não crê que sim, Sr. Compton?‖ Houve um silêncio curioso. ―Vampiros têm de pagar um preço se eles matarem outro vampiro,‖ Bill disse duramente.  ―Se eles são afiliados a um clã‖, Sr. Cataliades disse suavemente.  ―Eu não sabia que vampiros tinham clãs‖, eu disse. Aprender alguma coisa nova o tempo todo, essa era eu.  ―É um conceito relativamente novo. É uma tentativa de regularizar o mundo dos vampiros para que fique mais agradável para os seres humanos. Se o modelo americano se tornar popular, o mundo dos vampiros se assemelhará mais a uma enorme corporação multinacional que um grupo governado por sanguessugas malévolos.‖ ―Perder parte do colorido e tradição, ganhar parte dos lucros‖, murmurei. ―Como Wal-Mart contra a loja de ferragens Dad‘s no centro da cidade.‖ Sr. Cataliades riu.  ―Você está certa, senhorita Stackhouse. Precisamente. Há esses em ambos os grupos, e a cúpula a que nós iremos estar presentes em algumas semanas terá este item no topo da pauta.‖ ―Deixando de lado algo que vai acontecer daqui a semanas e retornando a algo um pouco mais no tema, por que Patrick Furnan tentaria me matar? Ele não gosta de mim, e ele sabe que eu ficaria ao lado de Alcide se eu tivesse que fazer uma escolha entre eles, mas e daí? Eu não sou importante. Por que ele planejaria tudo isso - encontrar os dois garotos que fariam isso, mordê-los, enviá-los para pegar a mim e Quinn - se não houvesse alguma grande compensação?‖ ―Você tem um talento especial para fazer boas perguntas, senhorita Stackhouse. Gostaria que minhas respostas fossem tão boas.‖ Bem, eu poderia também manter meus pensamentos para mim mesma se eu não fosse conseguir qualquer informação de meus companheiros.  A única razão para matar Gladiola, pelo menos a única razão que esta humana claramente podia ver, estava em impedir o recebimento da mensagem que eu precisava para estar pronta para partir para Nova Orleans. Além disso, Gladiola teria providenciado algum pára-choque entre mim e algo que veio atrás de mim, ou pelo menos ela teria sido mais alerta para o ataque.  Supostamente, ela jazia morta nos bosques quando eu tinha tido meu encontro com Quinn. Caramba! Como os lobos jovens sabiam onde me encontrar? Shreveport não é tão grande, mas você não pode vigiar cada estrada na cidade numa possibilidade de eu aparecer. Por outro lado, se um Lobis tinha reconhecido eu e Quinn indo para o teatro, teria sabido que eu estaria lá por algumas horas, e que era tempo suficiente para organizar algo.  Se este conspirador tivesse sabido ainda mais cedo, teria sido até mais fácil... Se alguém, digamos que, tivesse sabido de antemão que Quinn tinha me convidado para ir ao teatro. Quem soube que eu tinha um encontro com o Quinn? Bem, Tara: contei para ela quando eu comprei minha roupa. E eu mencionei ao Jason, eu pensei, quando eu liguei para ele para perguntar por Cristal. Eu disse para Pam que tinha um encontro, mas não me lembro de ter dito a ela onde eu estava indo.  E então havia o próprio Quinn. Eu estava tão aflita por esta idéia que eu tive que reprimir as lágrimas. Não era como se eu conhecesse Quinn tão bem ou pudesse julgar seu caráter baseada no tempo que eu havia passado com ele... Eu tinha aprendido ao longo dos últimos meses que você não poderia realmente conhecer alguém rapidamente, que conhecer o verdadeiro caráter de uma pessoa poderia levar anos. Tinha me abalado profundamente, visto que eu estou acostumada a conhecer as pessoas muito bem, muito depressa. Eu os conheço melhor do que eles alguma vez suspeitam. Mas cometer erros sobre o caráter de alguns sobrenaturais tinha me pegado desprevenida, emocionalmente. O uso de minha telepatia permitia uma avaliação rápida, eu tinha sido ingênua e descuidada. Agora eu estava rodeada por tais criaturas. Eu me aconcheguei em um canto do largo assento e fechei meus olhos. Eu tinha que estar em meu próprio mundo por um tempo, com mais ninguém permitido dentro. Adormeci no carro escuro, com um semi-demônio e um vampiro sentados na minha frente e uma meio demônio no banco do motorista.  Quando acordei, eu tinha minha cabeça no colo de Bill. A mão dele estava acariciando meu cabelo suavemente, e o toque familiar de seus dedos me trouxe paz e uma agitação desse sentimento sensual que Bill sempre foi capaz de despertar em mim.  Levou um segundo para me lembrar onde estávamos e o que estávamos fazendo, e então me sentei, piscando e com o cabelo desgrenhado. Sr. Cataliades ainda estava no banco oposto, e eu pensei que ele estava dormindo, mas era impossível ter certeza. Se ele fosse humano, eu teria sabido.  ―Onde estamos?‖ Eu perguntei.  ―Quase lá‖, disse Bill. ―Sookie...‖ 
―Humm?‖ Espreguicei e bocejei e ansiei por uma escova de dente.  ―Eu vou ajudá-la a vasculhar o apartamento de Hadley se você quiser.‖ Eu tive um sentimento que ele mudou de idéia sobre o que ia dizer, no último minuto.  ―Se eu precisar de ajuda, sei para onde ir‖, respondi. Isso deve ter sido ambíguo o bastante. Eu estava começando a ter um forte mau pressentimento sobre o apartamento de Hadley. Talvez a herança de Hadley para mim estivesse mais para um tipo de maldição que uma bênção. E ainda ela havia excluído Jason explicitamente, porque ele a tinha abandonado quando ela precisou de ajuda, então pelo que se pode entender Hadley destinou sua herança para ser um benefício. Por outro lado, Hadley havia sido uma vampira, deixou de ser humana, e isso a teria transformado. Oh, sim.  Olhando pela janela, eu podia ver postes de luz e alguns outros carros que se deslocam através da escuridão Estava chovendo, e era quatro da manhã. Eu me perguntei se havia um IHOP58 em qualquer lugar próximo. Eu estive em um, uma vez. Tinha sido maravilhoso. Tinha sido na minha única rápida viagem para Nova Orleans, quando eu estava na escola no ensino médio. Nós tínhamos ido ao aquário e ao museu dos escravos e à Igreja na Avenida Jackson, a Catedral de St. Louis. Tinha sido maravilhoso ver algo novo, pensar sobre todas as pessoas que tinham passado pela mesma área, como eles pareciam nas roupas de sua época. Por outro lado, uma telepata com escudo fraco não vai se divertir com um bando de adolescentes.  Agora, meus companheiros eram muito menos fáceis de ler, e muito mais perigosos. Estávamos em uma rua residencial tranquila quando a limusine se aproximou de um meio-fio e parou. ―O apartamento de sua prima,‖ Sr. Cataliades disse enquanto Diantha abriu a porta. Eu estava fora na calçada, enquanto Sr. Cataliades mudou sua posição para sair, e Bill ficou preso atrás dele. Eu estava de frente para um muro de 1,80 metros com uma abertura para a entrada de automóveis. Era difícil dizer, no brilho incerto de um poste de luz, o que havia dentro, mas parecia ser um pequeno pátio com uma entrada circular muito apertada. No meio da entrada havia uma explosão de folhagens, embora eu não conseguisse distinguir as plantas individualmente. No canto dianteiro direito havia um galpão de ferramentas. Havia um prédio de dois andares formando um L. Para aproveitar a profundidade do lote, o prédio estava direcionado com o L invertido. Na porta ao lado havia um edifício similar, pelo menos tanto quanto eu poderia dizer. O prédio de Hadley estava pintado de branco, com janelas verdes escuras.  ―Quantos apartamentos há aqui, e qual é o da Hadley?‖ Eu perguntei ao Sr. Cataliades, que estava fervendo atrás de mim.  ―Há o andar inferior, onde mora a proprietária, e o piso superior, que é seu agora pelo tempo que você quiser. A rainha está pagando o aluguel até que a propriedade seja legitimada. Ela não acha justo que a herdeira de Hadley deva fazê-lo.‖ Mesmo para o Sr. Cataliades, este foi um discurso formal.  Minha reação foi silenciada pela minha exaustão, e eu só pude dizer: ―Eu não posso pensar por que ela não apenas colocou as coisas de Hadley dentro de um armazém. Eu poderia ter ido buscá-los em algum desses locais de aluguel.‖ ―Você vai se acostumar ao modo como a rainha faz as coisas‖, disse ele. 
58  Internacional House Of Pankcakes: restaurante para café da manhã (http://www.ihop.com)
 
Não se eu tivesse algo a dizer sobre o assunto. ―Por agora, você pode apenas me mostrar como chegar ao apartamento de Hadley, de modo que eu possa desarrumar as malas e dormir um pouco?‖ ―Claro, claro. E o amanhecer está vindo, então o Sr. Compton precisa ir para a sede da rainha para ganhar abrigo para o dia.‖ Diantha já tinha começado a subir as escadas, o que eu apenas poderia compreender. Elas dobraram até a parte curta do L, que ficava na parte traseira do lote. ―Aqui está sua chave, senhorita Stackhouse. Assim que Diantha descer, vamos deixá-la nele. Você pode encontrar a proprietária amanhã.‖ ―Claro,‖ eu disse, e subi com dificuldade as escadas, segurando o corrimão de ferro forjado. Isto não era o que eu tinha imaginado de nenhuma maneira. Pensei que Hadley tinha um lugar como um dos apartamentos na Kingfisher Arms, o único edifício de apartamentos em Bon Temps. Isso era como uma pequenina mansão.  Diantha tinha enfiado minha bolsa esportiva e meu grande saco de viagem por uma das duas portas no segundo andar. Havia uma ampla passagem coberta no corredor abaixo das janelas e portas do segundo andar, que proporcionaria sombra para as pessoas sentadas no interior do piso térreo. Magia tremulou em torno de todas as janelas francesas e as portas. Eu reconhecia o cheiro e a sensação disso, agora. O apartamento tinha sido selado com mais que trancas.  Hesitei, a chave na minha mão.  ―Ele vai reconhecê-la‖, o advogado avisou do pátio. Então eu abri a porta com as mãos desajeitadas, e empurrei a porta aberta. O ar quente saiu correndo para me encontrar. Este apartamento estava fechado há semanas.  Perguntei-me se alguém tinha entrado para arejá-lo. O cheiro não estava ativamente ruim, apenas velho, então eu soube que o sistema de controle de clima havia sido deixado ligado. Eu tateei até o interruptor de luz mais próximo, uma lâmpada sobre uma base de mármore com tampo, à direita da porta. Ela lançou uma piscina de luz dourada no piso brilhante de madeira dura e alguns móveis antigos falsificados (pelo menos eu estava supondo que eram falsificados). Dei outro passo para dentro do apartamento, tentando imaginar Hadley aqui, Hadley que tinha usado batom preto para sua foto de graduação e comprava seus sapatos no Payless59. ―Sookie,‖ disse Bill atrás de mim, de um jeito que me deixou saber que ele estava parado fora da porta de entrada.  Eu não disse que ele poderia entrar. ―Tenho que ir para a cama agora, Bill. Eu irei te ver amanhã. Tenho o número de telefone da rainha?‖ ―Cataliades colocou um cartão em sua bolsa enquanto você estava dormindo.‖ ―Oh, excelente. Bem, boa noite.‖ E eu fechei a porta na cara dele. Fui grosseira, mas ele estava vacilando, e eu simplesmente não estava pronta para conversar com ele. Tinha me abalado, encontrar minha cabeça em seu colo quando despertei; foi como se ainda fôssemos um casal. Depois de um minuto, escutei seus passos voltarem escadaria abaixo. Eu nunca estive mais aliviada por estar sozinha em minha vida. Graças a pernoite em um carro e o breve sono que eu tinha tido, eu me senti desorientada, despenteada, e precisava desesperadamente de uma escova de dente. Tempo para sondar o lugar, com ênfase no descobrimento do banheiro.  
59  Rede de lojas com preços bem acessíveis e populares
 
Olhei ao redor cuidadosamente. O segmento mais curto do L de cabeça para baixo era a sala de estar, onde eu estava agora parada. O cômodo sem divisórias incluía uma cozinha contra a parede da extrema-direita. Em minha esquerda, formando o comprido lado do L, estava um corredor alinhado com janelas francesas que abriam diretamente sobre a extensa passagem coberta. A parede que formava o outro lado do corredor estava pontuada com portas. Bolsas em mão, passei pelo corredor, observando atentamente cada porta aberta. Eu não encontrei o interruptor que iluminaria o corredor, embora devesse haver um, já que havia instalações em intervalos normais no teto. Mas fluiu luar suficiente através das janelas dos quartos para me permitir ver tanto quanto precisava. O primeiro quarto tinha um banheiro, graças a Deus, embora depois de um segundo eu percebi que não era o de Hadley. Era muito pequeno e muito limpo, com um estreito box, um vaso sanitário e uma pia; sem cosméticos, sem desordem pessoal. Passei por ele e percorri o olhar na próxima entrada, descobrindo que abria para um aposento pequeno que provavelmente tinha sido programado como o quarto de hóspedes. Hadley havia montado uma mesa de computador carregado com utensílios do computador, não são artigos de grande interesse para mim. Além de um estreito sofá-cama, havia uma estante repleta com caixas e livros, e eu prometi a mim mesma que eu passaria por ela amanhã. A porta seguinte estava fechada, mas abri para olhar para dentro por um segundo. Era a porta para um estreito, profundo, closet apertado demarcado com prateleiras cheias de artigos que eu não gastei tempo em identificar. Para meu alívio, a porta ao lado era do banheiro principal, aquele com o chuveiro e a banheira e uma pia grande com uma penteadeira embutida. A superfície que circundava estava suja de cosméticos e um cacheador de cabelo elétrico, ainda ligado. Cinco ou seis frascos de perfume postos em fila em uma prateleira e toalhas enrugadas no cesto, marcado com manchas escuras. Aproximei meu rosto até elas; ao alcançá-las, elas emitiram um fedor alarmante. Não pude entender por que o cheiro não havia se estendido pelo apartamento inteiro. Agarrei o cesto inteiro, abri as janelas francesas do outro lado do corredor, e o coloquei para fora. Deixei acesa a luz no banheiro, porque tinha a intenção de voltar a ele em breve. A última porta, fixada em ângulo reto com todas as outras e que formava o fim do corredor, conduzia para o quarto de Hadley. Era bastante grande, embora não tão grande quanto o meu quarto em casa. Tinha outro grande armário, lotado com roupas. A cama estava feita, não é uma marca registrada de Hadley, e eu quis saber quem tinha estado no apartamento desde que Hadley havia sido morta.  Alguém tinha entrado antes que o lugar tivesse sido selado por magia. O quarto, claro, estava completamente escuro. As janelas tinham sido cobertas por painéis de madeira lindamente pintados, e havia duas portas para o quarto.  Havia apenas espaço suficiente entre elas para uma pessoa parada. Coloquei minhas bolsas no chão perto da cômoda de Hadley, e fucei ao redor até que encontrei minha bolsa de cosméticos e meus tampões de algodão. Me arrastando de volta ao banheiro, desprendi minha escova de dentes e minha pasta de dentes da bolsa pequena e tive o deleite de escovar meus dentes e de lavar meu rosto. Me senti um pouco mais humana depois disso, mas não muito. Apaguei a luz do banheiro e puxei para trás as cobertas sobre a cama, que era baixa e larga. Os lençóis me surpreenderam tanto que me levantei dali com meus lábios torcidos. Eles eram repulsivos: cetim negro, pelo amor de Deus! E nem sequer era cetim verdadeiro, mas de algum material sintético. Dê-me percal ou 100 % algodão, qualquer dia. No entanto, eu não irei caçar outro conjunto de lençóis a esta hora da manhã. Além disso, e se isso era tudo o que ela tinha? Subi para a cama king-size - bem, eu deslizei para a cama king-size - e depois de uma inquieta agitação ou duas para me acostumar com a sensação deles, eu consegui adormecer muito bem entre aqueles lençóis. 
 
Alguém estava apertando meu dedo e dizendo: "Acorde! Acorde!" Rugi de volta à consciência em uma pressa aterrorizada, abrindo os olhos no quarto não familiar fluindo com a luz do sol. Uma mulher, que eu não sabia quem era, estava ao pé da cama. "Quem diabos é você?" Eu estava irritada, mas não com medo. Ela não parecia perigosa. Ela parecia ser da minha idade, e era muito bronzeada. Seu cabelo castanho era curto, os olhos de um azul brilhante, e ela estava usando short cáqui e uma camisa branca aberta que pendia sobre um top coral. Ela adiantou um pouco a estação. ―Sou Amelia Broadway. Sou proprietária do edifício.‖ "Por que você esta aqui me acordando?" "Eu ouvi Cataliades no pátio noite passada, e eu percebi que ele te trouxe para esvaziar o apartamento de Hadley. Eu queria falar com você".  "E você não podia esperar até que eu acordasse? E você usou uma chave para entrar, em vez de tocar a campainha? O que há de errado com você?" Ela ficou definitivamente assustada. Pela primeira vez, Amelia Broadway olhou como se ela percebesse que poderia ter agido de forma diferente. "Bem, veja, eu estava preocupada", disse ela de forma controlada.  "Jura? Eu também", disse eu. "Junte-se ao clube. Estou muito preocupada agora. Agora saia daqui e me espere na sala, ok?"  "Claro", ela disse. "Eu posso fazer isso."  Eu deixei o meu ritmo cardíaco voltar ao normal antes que eu deslizasse para fora da cama. Então eu fiz a cama rapidamente e peguei algumas roupas da minha mala. Me arrastei até o banheiro, dando uma olhada rápida na minha convidada, não-convidada, quando passei do quarto para o banheiro. Ela estava espanando a sala de estar com um pano que parecia como uma camisa de flanela masculina. O-kay.  Tomei banho o mais rápido que pude, botei um pouco de maquiagem, e sai descalça, mas vestida com jeans e uma camiseta azul.  Amelia Broadway parou sua limpeza e olhou para mim. "Você não se parece com a Hadley‖, disse ela, e eu não podia decidir por seu tom, se ela achava que isso era uma coisa boa ou ruim. "Eu não sou nada como Hadley, em nenhum aspecto", disse categoricamente.  "Bem, isso é bom. Hadley era muito terrível", disse Amélia inesperadamente. "Ops. Desculpe, eu não sou delicada." "Sério?" Eu tentei manter o meu nível de voz, mas um traço de sarcasmo pode ter escapado completamente. "Então, se você souber onde fica o café, você poderia me apontar a direção?" Eu estava olhando para a área da cozinha, pela primeira vez na luz do dia. Tinha tijolos expostos e cobre, uma área de aço inoxidável para preparar alimentos e uma geladeira combinando, e uma pia com uma torneira que custavam mais que a minha roupa. Pequena, mas chique, como o resto do lugar.  Tudo isto para um vampiro, que realmente não precisa de uma cozinha, em primeiro lugar. "A cafeteira da Hadley está logo ali", Amélia disse, e eu a localizei. Ela era negra e do tipo que mistura dentro, Hadley sempre foi uma fascinada por café, então, eu percebi que, mesmo sendo uma vampira, ela tinha mantido um suprimento de sua bebida favorita. Abri a porta em cima do pote, e ali estavam duas latas de Community Coffee60 e alguns filtros. O selo prateado estava intacto no primeiro que abri, mas o segundo estava pela metade. Eu inalei o cheiro do café maravilhoso com prazer. Parecia incrivelmente fresco. Depois que eu fixei a jarra da cafeteira e apertei um botão para definir o café, eu encontrei duas canecas e as ajustei ao lado. O açucareiro estava perto, mas quando eu o abri, encontrei apenas um resíduo endurecido. Eu lancei o conteúdo na lata de lixo, que estava alinhada, mas vazia. Ela havia sido esvaziada após a morte de Hadley. Talvez Hadley tivesse algum pote de creme em pó na geladeira? No Sul, as pessoas que não o usavam com frequência mantinham os potes guardados lá.  Mas quando eu abri a geladeira de aço inox brilhante, eu não encontrei nada além de cinco garrafas de TrueBlood. Nada tinha trazido para mim tão fortemente o fato de que minha prima Hadley tinha morrido como uma vampira. Eu nunca tinha conhecido alguém antes e depois. Foi um choque. Eu tinha tantas lembranças de Hadley, algumas delas feliz e algumas delas desagradáveis, mas em todas essas lembranças, minha prima estava respirando e seu coração estava batendo. Eu estava com meus lábios comprimidos, olhando para as garrafas vermelhas, até que me recuperei o suficiente para fechar a porta muito delicadamente. Após uma busca em vão pelos armários por Cremora61, disse a Amélia que eu esperava que ela tomasse seu café preto. "Sim, tudo bem", disse Amélia empertigada. Ela estava, obviamente, tentando se comportar melhor, e eu só poderia agradecer por isso. Ela estava empoleirada em uma das espreguiçadeiras de Hadley. O estofamento era muito bonito, um material impresso de seda amarela escura com flores vermelhas e azuis, mas eu não gostei do estilo frágil do mobiliário. Eu gosto de cadeiras que parecem puder suportar pessoas grandes, pessoas pesadas, sem ranger ou soltar um gemido. Eu gosto de móveis que parecem que não serão arruinados se você derramar uma Coca-Cola sobre eles, ou se o seu cachorro pular em cima para tirar uma soneca. Eu tentei me estabelecer no sofá em frente à senhoria. Bonito, sim. Confortável, não. Suspeita confirmada. "Então o que você é Amelia?" "Perdão?" "O que você é?" "Oh, uma bruxa." "Imaginei". Eu não tinha percebido o sentido do sobrenatural que eu recebo de seres cujas células tinham sido alteradas pela natureza do seu ser. Amélia tinha adquirido sua ―diversidade‖.  "Você fez as magias para lacrar o apartamento?" "Sim", ela disse que sim com orgulho. Ela me deu um olhar de total avaliação. Eu tinha percebido que o apartamento estava protegido por  magias, eu sabia que ela era um                                                 
60  Marca de café
(http://www.communitycoffee.com/ccc/images/content/coffee_club.jpg).
61  Marca de creme em pó
(http://www.creativemag.com/images2005%5CnpbordenCREMORA.jpg).
 
membro do outro mundo, o mundo oculto. Eu poderia ser um ser humano normal, mas eu sabia de tudo. Eu li todos esses pensamentos tão facilmente como se Amélia tivesse falado para mim. Ela era uma emissora excepcional, tão clara e limpa como a sua pele. "A noite que Hadley morreu, o advogado da rainha me telefonou. Claro, eu estava dormindo. Ele me disse para fechar este apartamento, pois Hadley não voltaria, mas a rainha queria que o apartamento se mantivesse intacto para seu herdeiro. Eu entrei e comecei a limpeza na manhã seguinte.‖ Ela tinha usado luvas de borracha, também, pude ver em sua imagem mental de si mesmo na manhã seguinte que Hadley havia morrido. "Você esvaziou a lixeira e arrumou a cama?" Ela parecia envergonhada. "Sim, eu fiz. Eu não percebi que 'intacto' significava ‗não tocar‘. Cataliades cheguou aqui e deixou fazê-lo. Mas eu estou satisfeita, eu coloquei o lixo para fora daqui, de qualquer maneira. É estranho, porque alguém revirou a lata de lixo, naquela noite, antes que eu pudesse colocá-la para a coleta‖. "Imagino que você não saiba se eles levaram alguma coisa?" Ela me lançou um olhar incrédulo. "Não é como se eu tivesse o inventário do lixo", ela disse e acrescentou, relutantemente, "Ela tinha sido tratada com um feitiço, mas eu não sei que feitiço foi.‖ Ok. Notícias ruins. Amelia não vai sequer admitir isso para si mesma, ela não queria pensar na casa sendo alvo de ataque sobrenatural. Amelia estava orgulhosa por seus feitiços realizados, mas ela não tinha pensado em defender uma lata de lixo. "Oh, eu tenho todos os seus vasos de plantas lá fora. Eu movi eles lá para baixo para facilitar que eu cuidasse dele também. Então, se você quiser levá-las com você para buraco de onde veio, sinta-se a vontade." "Bon Temps," Eu corrigi. Amelia bufou. Ela tinha o típico desprezo do morador de cidade grande com os que nasceram em cidades pequenas. "Então, você é dona do prédio, e alugou o andar de cima para Hadley quando?"  "Cerca de um ano atrás. Ela já era uma vamp", Amélia disse. "E ela já era namorada da rainha, havia sido por muito tempo. Então, eu imaginei que estava segura, sabe? Ninguém vai atacar a queridinha da rainha, certo? E ninguém vai invadir o lugar, ninguém."  Eu queria perguntar como é que Amélia poderia ter recursos para um lugar tão agradável por si mesma, mas era muito rude deixar passar pelos meus lábios. "Então, o negócio de bruxa te sustenta?" Perguntei ao invés, tentando soar apenas levemente interessada.  Ela encolheu os ombros, mas parecia satisfeita que eu tivesse perguntado. Embora a mãe tivesse deixado um bom dinheiro, Amelia tinha o prazer de ser auto-suficiente. Eu a ouvi tão claramente como se ela tivesse falado em voz alta. "Sim, eu ganho a vida", disse ela, tentando soar modesta, mas não tendo sucesso. Ela trabalhou duro para se tornar uma bruxa. Estava orgulhosa do seu poder. Isso era como ler um livro. "Se as coisas estão devagar, eu ajudo um amigo que tem uma loja de magia fora da Avenida Jackson. Eu leio a sorte lá", ela admitiu. "E às vezes eu faço uma viagem mágica por Nova Orleans para os turistas. Pode ser divertido, e, se eu os assusto o suficiente, fico com grandes gorjetas. Então, entre uma coisa e outra, eu me viro bem." "Você realiza mágicas sérias‖, eu disse, e ela concordou alegremente. "Para quem?" eu perguntei. "Já que o mundo normal não admite que isso seja possível". "Os sobre pagam muito bem", disse ela, surpresa que eu tive que perguntar. Eu realmente não precisava, mas era mais fácil de dirigir seus pensamentos para a informação certa se eu perguntasse em voz alta. "Vamps e Lobis, especialmente. Quero dizer, eles não gostam de bruxas, mas, especialmente os vampiros, querem cada pequena vantagem que possam ter. O resto não é tão organizado." com um aceno de mão, ela descartou os mais fracos do mundo sobrenatural, os homens-morcegos e os metamorfos e assim por diante. Ela ignorou os poderes de outros sobres, o que foi um erro. "E as fadas?" perguntei curiosa "Eles têm o suficiente de sua própria magia", ela disse, encolhendo os ombros. "Eles não precisam de mim. Sei que alguém como você pode ter dificuldade em aceitar que há um talento que é invisível e natural, um que desafia tudo que foi ensinado por sua família." Eu abafei um bufar de incredulidade. Ela não sabe nada sobre mim. Eu não sabia o que ela e Hadley haviam conversado, mas, com certeza, não tinha sido sobre a familia de Hadley. Quando essa idéia me passou pela cabeça, um sino tocou lá no fundo me dizendo que essa idéia de pensamentos devia ser explorada. Mas deixei isso de lado para depois. Agora, eu precisava lidar com Amélia Broadway. "Então, você diria que você tem uma forte capacidade sobrenatural?" eu disse. Eu podia sentir ela sufocar uma onda de orgulho. "Eu tenho alguma habilidade", disse ela com modéstia. "Por exemplo, eu coloquei um feitiço anti-cheiro sobre este apartamento quando não pude terminar de limpá-lo. E embora ele estivesse fechado há um bom tempo, você não sente cheiro de nada, não é?" Isso explica a ausência de odor flutuando pela casa por causa do pano manchado. "E você faz bruxaria para seres sobrenaturais, você lê a sorte fora da Avenida Jackson e, ás vezes, você acompanha grupos de turistas. Não é exatamente um emprego comum de escritório‖, eu disse. "Certo". Ela acenou, feliz e orgulhosa. "Então, você faz a sua própria agenda", eu disse. Eu podia ouvir o alívio saltando pela cabeça de Amélia, alivio que ela não tinha mais que ir a um escritório, embora ela tivesse tido uma breve passagem pelos correios por três anos, até ela se tornar uma bruxa completa. "Sim". "E então, você vai me ajudar a esvaziar o apartamento de Hadley? Eu ficarei feliz em te pagar." "Bem, claro que eu vou ajudar. Quanto mais cedo todas as coisas dela estiverem fora, mais cedo eu posso alugar o lugar. Quanto a você me pagar, porque não podemos esperar para ver quanto tempo eu posso ajudar? Às vezes eu tenho chamadas de emergência.‖ Amélia sorriu para mim, um sorriso adequado para um anúncio de creme dental. "Mas a rainha não tem pagado o aluguel desde que Hadley morreu?" "Sim, ela tem. Mas isso me dá calafrios, pensando em todas as coisas que Hadley fez aqui. E tenho algumas tentativas de invasão. A última foi apenas há dois atrás." eu desisti de qualquer pretensão de sorrir. "Pensei, num primeiro momento", Amelia resmungou sobre, "que poderia ser como quando alguém morre e seu anúncio funebre está no jornal, e ocorrem entradas forçadas durante o enterro. Evidentemente, eles não imprimem obituários de vampiros, eu acho que é porque eles já estão mortos ou porque os outros vampiros não enviam um para o jornal... seria interessante, para ver como eles tratariam o assunto. Por que você não tenta enviar algumas linhas sobre Hadley? Mas você sabe como são fofocas vampirescas, então acho que algumas pessoas dirão que ela estava definitivamente morta, morta pela segunda vez.
Especialmente depois que Waldo desapareceu do tribunal. Todo mundo sabe que ele não gostava de Hadley. E então, também, vamps não tem funerais. Então eu acho que o arrombamento não estava relacionado. Nova Orleans possui um índice de criminalidade muito alto.‖  "Ah, você conhecia Waldo", eu disse, para interromper o fluxo. Waldo, antigo favorito da rainha - não na cama, mas como um lacaio eu achava - se ressentia de ser substituído pela minha prima Hadley. Quando Hadley permaneceu em favor da rainha por um tempo sem precedentes, Waldo a atraiu ao Cemitério Número um de St. Louis, com a astúcia de fingir que estava indo elevar o espírito de Marie Laveau, a famosa rainha do vodu de Nova Orleans. Em vez disso, ele matou Hadley e responsabilizou a Sociedade do Sol. Sr. Cataliades tinha me indicado a direção certa, até que eu descobri a culpa de Waldo, e a rainha tinha me dado a oportunidade de julgar Waldo – essa era a idéia que a rainha tinha de um grande favor. Eu tinha passado sobre o assunto. Mas ele estava, finalmente, definitivamente morto agora, assim como Hadley. Estremeci.  "Bem, eu o conheço melhor do que eu gostaria", disse ela, com a franqueza que parecia ser uma característica que definia Amelia Broadway. "Ouvi você usando o tempo passado, no entanto. Posso me atrever a esperar que Waldo tenha ido a seu destino final?" "Você pode", eu disse. "Atreva-se, é que é". "Oo-wee", disse ela alegremente. "Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus." Pelo menos eu iluminei o dia de alguém. Eu podia ver nos pensamentos de Amélia quanto ela desgostava o vampiro mais velho, e eu não a culpo. Ele tinha sido repugnante. Amelia era um tipo de mulher de um proposito só, o que deve fazer dela uma bruxa formidável. Mas agora ela deveria ter pensado em outras possibilidades me envolvendo, e ela não estava. Há uma desvantagem de estar focado em um só objetivo. "Então você quer esvaziar o apartamento de Hadley, porque você acha que assim o seu prédio não será mais um alvo? Desses ladrões que souberam da morte de Hadley?‖ "Isso aí", ela disse, tomando um gole final de seu café. "Eu meio que gosto de saber que outra pessoa está aqui, também. Tendo o apartamento vazio só me dá arrepios. Pelo menos vampiros não podem deixar para trás os fantasmas". "Eu não sabia disso", disse eu. E eu nunca tinha pensado nisso, nem um pouco. "Sem fantasmas vamp", Amelia disse alegremente. "Nenhum. Tem que ser humano para deixar um fantasma para trás. Ei, você quer que eu faça uma leitura em você? Eu sei, eu sei, é assustador, mas eu juro, eu sou boa nisso!" Ela pensava que seria divertido me dar uma emoção tipo turística, pois eu não estaria em Nova Orleans muito tempo, ela também acreditava que quanto mais agradável ela fosse comigo, mais rápido eu esvaziaria o apartamento de Hadley, para que ela pudesse dar outra utilidade a ele. "Claro", eu disse lentamente. "Você pode fazer uma leitura, agora, se você quiser." Este poderia ser um bom cálculo de quão dotado de bruxaria Amelia realmente era. Ela certamente não tem qualquer semelhança com o estereótipo de bruxa. Amelia parecia limpa, brilhante e saudável, feliz como uma dona de casa suburbana com uma Ford Explorer62 e um Setter irlandês63. Mas, rápido como um piscar de olhos, Amelia tirou um baralho de Tarô de um bolso do seu short e se inclinou sobre a mesa de café para arrumá-lo. Ela fez isso de uma maneira rápida e profissional que não fazia nem um pouco de sentido para mim. 
62  http://www.theautochannel.com/media/photos/ford/1998/98_ford_explorer_sport.jpg
63  http://www.tocadosbichos.vet.br/fotos/Setter%20Irland%C3%AAs.jpg
 
Após se debruçar sobre as cartas por um minuto, o olhar fixo deixou de focar os naipes e fixou sobre a mesa. Seu rosto corou, e ela fechou os olhos como se estivesse se sentindo mortificada. Claro, ela estava. "Tudo bem", disse ela, finalmente, sua voz calma e monótona. "O que você é?" "Telepata". "Estou sempre fazendo suposições! Porque eu não aprendo!" "Ninguém pensa em mim como tão assustadora", eu disse, tentando parecer gentil, e ela estremeceu. "Bem, não vou cometer esse erro novamente", disse ela. "Você parecia mais bem informada sobre os sobres que as pessoas comuns." "E aprendo mais a cada dia." Mesmo para mim, minha voz soou desagradável. "Agora eu vou ter que dizer à minha orientadora que eu estraguei tudo", a minha caseira disse. Ela parecia tão sombria quanto era possível para ela. Não muito. "Você tem um mentor...?" "Sim, uma velha bruxa que é um tipo de monitora do nosso progresso nos primeiros três anos como profissional". "Como você sabe quando você se tornou uma profissional?"  "Oh, você tem que passar no exame", explicou Amélia, colocou os pés no chão e foi até a pia. Rapidamente64, ela tinha lavado a cafeteira e o aparelho de filtro, colocou-os ordenadamente no escorredor, e limpou a pia. "Então, nós vamos começar a embalar o material amanhã?" eu disse. "O que há de errado com agora?" "Eu gostaria de ver as coisas de Hadley por mim mesma primeiro", disse eu, tentando não soar irritada. "Ah. Bem, claro que você gostaria." Ela tentou olhar como se já tivesse pensado nisso. "E eu acho que você tem que ir ver a Rainha esta noite, hein?" "Eu não sei". "Oh, eu aposto que eles estão esperando por você. Havia um vampiro alto, moreno e bonito, lá fora, com você, na noite passada? Ele parecia familiar." "Bill Compton," eu disse. "Sim, ele vivia em Louisiana por anos e ele tem feito alguns trabalhos para a Rainha." Ela olhou para mim, seus olhos azuis claros surpresos. "Oh, eu pensei que ele conhecia sua prima.‖ "Não", eu disse. "Obrigada por me acordar para que eu pudesse começar a trabalhar, e obrigada por estar disposta a me ajudar". Ela estava contente que ela estava saindo, porque eu não tinha sido o que ela esperava, e ela queria pensar em mim um pouco e fazer alguns telefonemas para irmãs no ofício na área de Bon Temps. "Holly Cleary, eu disse. "Ela é a única que conheço bem". Amélia suspirou e disse um tchau bem instável. Ela saiu de forma inesperada assim como tinha chegado. Senti-me velha de repente. Eu tinha acabado de me exibir, e eu tinha reduzido uma confiante jovem bruxa feliz em uma mulher ansiosa, no espaço de uma hora. Mas como eu tenho um bloco e lápis – exatamente onde deveria estar, na gaveta mais próxima do telefone - resolvi o meu plano de ação, eu me consolava com o                                                 
64  No original: ―In New York minute‖, expressão que significa depressa, já que em NY, tudo é mais depressa.
 
pensamento de que Amélia precisava de um tapa mental. Se ele não tivesse vindo de mim, ele poderia ter vindo de alguém que realmente a quisesse mal.
 
Eu precisava de caixas, isso era fato. Portanto, eu também preciso de fita crepe, muita fita, e um marcador65 e, provavelmente uma tesoura. E, finalmente, eu precisaria de um caminhão para levar tudo o que eu salvasse de volta para Bon Temps. Eu poderia pedir ao Jason para levar, ou eu poderia alugar um caminhão, ou eu poderia perguntar ao Sr. Cataliades se ele sabia de um caminhão que eu poderia pegar emprestado. Se houver muitas coisas, talvez eu alugue um carro e um reboque. Eu nunca fiz tal coisa, mas quão difícil poderia ser? Já que eu não tinha uma carona agora, não havia nenhuma maneira de obter o material. Mas eu poderia muito bem começar a triagem, uma vez que quanto mais cedo eu terminar, mais cedo eu poderia voltar ao meu trabalho e para longe dos vampiros de Nova Orleans. Fiquei feliz, em um canto da minha mente, que Bill também tinha vindo. Ainda que muitas vezes eu me sentisse irritada com ele, era familiar. Afinal, ele tinha sido o primeiro vampiro que eu conheci, e isto ainda parecia quase milagroso para mim da forma como tinha acontecido. Ele entrou no bar, e eu estava fascinada com a descoberta de que eu não podia ouvir seus pensamentos. E, mais tarde na mesma noite, eu o resgatei de drenadores. Eu suspirei, pensando em como tinha sido bom até que ele tinha sido chamado por sua criadora, Lorena, agora também definitivamente morta. Me sacudi. Este não era o momento para uma viagem pela minha memória. Este era o tempo de ação e decisão. Decidi começar com as roupas. Depois de quinze minutos, percebi que a roupa ia ser fácil. Eu descartaria a maior parte delas. Não era só o meu gosto radicalmente diferente do gosto da minha prima, mas seus quadris e seios eram menores e suas cores muito diferentes das minhas. Hadley gostava de preto, roupas dramáticas, e eu era de modo geral uma pessoa mais discreta66. Gostei de uma ou duas blusas e algumas saias pretas, mas quando eu as coloque, fiquei parecida com um dos fangbangers que andavam no bar de Eric. Não é a imagem que eu queria mostrar. Coloquei apenas um punhado de tops e um par de shorts e calças de dormir na pilha de "guardar‖. Achei uma caixa grande de sacos de lixo e os usei para embalar as roupas para guardar. Quando terminei de guardar, as coloquei na varanda para manter o apartamento com um visual limpo e organizado Era meio-dia, quando eu comecei a trabalhar, e as horas passaram rapidamente depois que eu descobri como mexer no tocador de CD de Hadley. Várias das músicas que ela tinha eram de artistas que nunca estiveram no topo da minha lista, nenhuma grande
                                                
65  No original: ―Magic marker‖, que são aqueles pincéis atômicos, também chamados de piloto ou marcador. http://www.ebenhewitt.com/images/black-marker.jpg
66  No original: ―lower-key person‖, expressão para pessoa mais comedida, mais discreta.
 
surpresa, mas era interessante ouvir. Ela tinha um monte de CDs: No Doubt, Nine Inch Nails, Eminem, Usher. Eu começava com as gavetas do quarto exatamente quando começou a ficar escuro. Parei por um momento para ficar na varanda no anoitecer suave, e assistir a cidade acordar para as horas escuras. Nova Orleans era uma cidade da noite agora. Ela sempre foi um lugar com uma vida noturna intensa e descarada, mas agora era um centro de mortos-vivos e toda sua característica havia modificado. Uma grande quantidade do jazz na Bourbon Street era tocada estes dias por mãos que tinham visto a luz do sol pela última vez há décadas atrás. Eu poderia pegar uns fracos respingos de notas no ar, a música distante se revelava. Eu sentei em uma cadeira na varanda e ouvi por um tempo, e eu esperei poder ver uma parte da cidade enquanto eu estava aqui. Nova Orleans não é como nenhum outro lugar na América, tanto antes da chegada dos vampiros, como depois deles. Suspirei e percebi que estava com fome. Claro, Hadley não tinha nenhuma comida no apartamento, e eu não estava prestes a começar a beber sangue. Eu odiaria pedir a Amelia qualquer outra coisa. Hoje à noite, quem quer que venha me pegar para ir ver a rainha, poderia estar disposto a me levar ao supermercado. Talvez eu devesse tomar banho e me trocar?  Quando me virei para voltar para ao apartamento, vi as toalhas emboladas que eu coloquei para fora na noite anterior. Cheiravam tão mais forte que me surpreendeu. Eu pensei que o cheiro já teria diminuído. Em vez disso, minha respiração sentiu o odor desagradável no fundo da minha garganta quando peguei o cesto para trazê-lo para dentro. Eu tinha a intenção de lavá-los. Em um canto da cozinha, havia um desses conjuntos de lavadora e secadora67, com o secador em cima. Como uma torre de limpeza. Tentei sacudir as toalhas, mas tinham secado em uma massa dura enrugada. Exasperada, eu empurrei a borda saliente de uma toalha, e com um pouco de resistência, os grumos de material que ligavam as pregas cederam, e o veludo azul médio separou-se diante dos meus olhos. "Oh, droga", eu disse em voz alta no apartamento silencioso. "Oh, não". O fluido, que tinha secado e aglutinado na toalha, era sangue. "Oh, Hadley‖, eu disse. "O que você fez?" O cheiro era tão terrível quanto o choque. Sentei na pequena mesa de jantar na cozinha. Flocos de sangue seco haviam tomado o chão e grudaram nos meus braços. Eu não podia ler os pensamentos de uma toalha, pelo amor de Deus. Minha condição era absolutamente de nenhuma ajuda. Eu precisava... de uma bruxa. Como a que eu tinha castigado e mandado embora. Sim, exatamente uma como essa.  Mas primeiro eu precisava verificar o apartamento inteiro, ver se ele tinha mais surpresas.  Oh, sim. Ele tinha. O corpo estava no closet no corredor. Não havia odor forte, embora o cadáver, um homem jovem, provavelmente tivesse estado lá durante todo o tempo em que minha prima esteve morta. Talvez este jovem tivesse sido um demônio? Mas ele não se parece em nada com Diantha ou Gladiola ou Sr. Cataliades, de qualquer forma. Se as toalhas tinham começado a cheirar, você pensaria oh... bem, talvez eu tivesse sorte. Isso era algo que eu teria que encontrar a resposta, e eu suspeitava que estivesse no andar debaixo.
67  http://homeappliances.files.wordpress.com/2009/03/performance-series-washer-dryer-maytag500.jpg
 
Bati na porta de Amelia. Ela respondeu imediatamente, e vi por cima do seu ombro que o seu apartamento, embora, é claro, projetado exatamente como o de Hadley, estava cheio de cores claras e energia. Ela gostava de amarelo, creme, coral68 e verde. Sua mobília moderna e fortemente acolchoada, e os pedaços de madeira foram polidos à enésima potência. Como eu suspeitava, o apartamento de Amelia estava impecável. "Sim?" ela disse, numa espécie de voz moderada. "Ok,‖ eu disse, como se eu oferecesse um acordo de paz69. "Eu tenho um problema, e eu suspeito que você, também." "Por que você diz isso?‖, perguntou ela. Sua face de aberta foi para fechada agora, como se ao manter a sua expressão vazia me mantivesse fora de sua mente. "Você pôs um feitiço de estase70 no apartamento, certo? Para manter tudo exatamente como era. Antes de protegê-lo contra os invasores?" "Sim", ela disse com cautela. "Eu disse isso a você." "Ninguém foi ao apartamento desde a noite que Hadley morreu?" "Eu não posso dar minha palavra sobre isso, porque suponho que uma boa bruxa ou assistente poderia ter quebrado o meu feitiço", disse ela. "Mas pelo que sei ninguém jamais esteve lá." "Então você não sabe quem fechou um corpo lá dentro?" Eu não sei o que eu esperava como reação, mas Amelia foi muito legal sobre isso. "Tudo bem", disse ela com firmeza. Ela pode ter engolido em seco. "Tudo bem. Quem é?" Suas pálpebras flutuaram para cima e para baixo algumas vezes mais. Talvez ela não estivesse tão bem assim. "Eu realmente não sei", disse com cuidado. "Você tem que vir ver." À medida que subia as escadas, eu disse: "Ele foi morto lá, e a bagunça foi limpa com toalhas. Elas estavam no cesto." Contei a ela sobre a condição da casa. "Holly Cleary me disse que você salvou a vida do filho dela‖, Amelia disse. Isso me pegou de surpresa. Fez-me sentir estranha, também. "A polícia teria encontrado ele," eu disse. "Eu apenas acelerei um pouco." "O médico disse a Holly que se o menino não tivesse chegado ao hospital naquele momento, o sangramento em seu cérebro não poderia ter sido parado a tempo", disse Amelia. "Isso é bom, então," eu disse, desconfortável ao extremo. "Como está Cody?" "Bem", disse a bruxa. "Ele vai ficar bem." "Entretanto, temos um problema aqui", eu lembrei a ela. "Ok, vamos ver o cadáver." Amelia trabalhou duro para manter seu nível de voz. Eu meio que gostava dessa bruxa. Levei-a para o armário. Eu tinha deixado a porta aberta. Ela entrou. Ela não fez barulho. Ela voltou com um tom ligeiramente verde para seu bronzeado brilhante e se encostou à parede.
                                                
68  Espécie de vermelho mais claro. http://rlv.zcache.com/background_color_coral_photocardp2439096128802011332l5uw_400.jpg
69  No original: ―as if I were laying down an olive branch‖, que seria estender um ramo de oliveira. Esse gesto é um meio tradicional de oferta de paz desde os tempos antigos, e a folha de oliveira é símbolo de paz e prosperidade ainda hoje.
70  Estase: 1 Med Estagnação do sangue ou dos humores em qualquer parte do corpo. 2 Paralisação, entorpecimento. 3 Biol Parada de qualquer fluido circulante.
 
"Ele é um lobis", disse ela, um momento depois. O feitiço que ela tinha colocado no apartamento tinha guardado tudo fresco, como parte da forma como ele funcionava. O sangue começou a cheirar um pouco antes de o feitiço ter sido lançado, e quando eu tinha entrado no apartamento, o feitiço havia sido quebrado. Agora, as toalhas cheiravam a decadência. O corpo não tinha odor ainda, o que me surpreendeu um pouco, mas achei teria a qualquer minuto. Certamente, o corpo se decompõe rapidamente, agora que ele tinha sido libertado da magia de Amelia, e ela obviamente não tentou apontar o quão bem havia trabalhado. "Você o conhece?" "Sim, eu conheço", disse ela. "A comunidade sobrenatural, mesmo em Nova Orleans, não é grande. É Jake Purifoy. Fez a segurança para o casamento da rainha." Eu tive que me sentar. Me retirei do closet e deslizei pela parede até que eu estava sentada encostada, enfrentando Amelia, que se sentou contra a parede oposta. Eu mal sabia por onde começar a fazer perguntas. "Isso seria quando se casou com o Rei do Arkansas?‖ Lembrei-me de que Felicia tinha dito, e eu tinha visto as fotos do casamento no álbum de Al Cumberland. Havia sido a rainha, embaixo daquele elaborado penteado? Quando Quinn tinha mencionado que fez os arranjos para um casamento em Nova Orleans, será esse o casamento que ele citou? "A rainha, de acordo com Hadley, é bi", me disse Amelia. "Então, sim, ela se casou com um cara. Agora, eles têm uma aliança." "Eles não podem ter filhos", disse. Eu sei, isso era óbvio, mas eu não estava entendendo essa coisa da aliança. "Não, mas a menos que alguém os estaque, eles vão viver para sempre, então, passar as coisas adiante não é um grande problema", disse Amelia. "É preciso meses ou até anos, de negociações para decidir as regras de semelhante casamento. O contrato pode ter sido longo. Então ambos têm que assiná-lo. Essa é uma grande cerimônia, realizada exatamente antes do casamento. Eles não têm realmente que passar a vida juntos, você sabe, mas tem que se visitar algumas vezes por ano. Do tipo visita-conjugal.‖ Fascinante como era, não vinha ao ponto agora. "Então esse cara no armário, ele fazia parte da força de segurança." Se ele tivesse trabalhado para Quinn? Quinn não tinha dito que um dos seus trabalhadores tinha desaparecido em Nova Orleans? "Sim, eu não fui ao casamento, é claro, mas eu ajudei Hadley com seu vestido. Ele veio para buscá-la." "Jake Purifoy veio pegar a Hadley para o casamento." "É. Estava bem vestido naquela noite." "E isso foi na noite do casamento." "Sim, a noite antes de Hadley morrer." "Você os viu indo embora?" "Não, eu... Não. Eu ouvi o carro parar. Eu olhei para fora da minha janela da sala e vi Jake entrar, eu já o conhecia, meio que por acaso. Eu tinha uma amiga que costumava sair com ele. Voltei ao que eu estava fazendo, assistindo TV eu acho, e eu ouvi o carro sair depois de um tempo.‖ "Então ele pode não ter ido de qualquer modo." Ela olhou para mim, os olhos arregalados. "Poderia ser", disse ela, finalmente, soando como se sua boca estivesse seca. "Hadley estava sozinha quando ele chegou para buscá-la... certo?
"Quando eu desci do apartamento dela, a deixei lá sozinha." "Tudo o que eu vim fazer", eu disse, principalmente para os meus pés descalços, "foi limpar o apartamento da minha prima. Eu não gostava muito dela de todo jeito. Agora eu estou presa a um corpo. A última vez que me livrei de um corpo‖, eu disse a bruxa, "eu tive um ajudante grande e forte, e ele envolveu o corpo em uma cortina de banheiro‖. "Você fez?" Amelia disse baixinho. Ela não parecia muito feliz por ser o recipiente dessas informações. "Sim". Eu assenti. "Nós não o matamos. Só acabamos tendo que nos livrar do corpo. Pensávamos que íamos ser responsabilizados pela morte, e eu tenho certeza que teria sido assim". Olhei para a minha polida unha do pé mais uma vez. Tinha ficado um ótimo trabalho quando estava novo, um belo rosa brilhante, mas agora eu precisava atualizar o esmalte ou removê-lo. Eu parei de tentar pensar em outras coisas e recomecei minha contemplação sombria do corpo. Ele estava deitado no armário, estirado no chão, embaixo da prateleira menor. Ele tinha sido coberto com um lençol. Jake Purifoy tinha sido um homem bonito, eu suspeitava. Ele tinha o cabelo castanho escuro, e uma ótima construção muscular. Muitos pêlos no corpo. Embora estivesse vestido para um casamento formal, e Amelia tinha dito que ele parecia muito bem, agora ele estava nu. Uma questão menor: onde estavam as roupas? "Nós poderíamos apenas chamar a rainha", disse Amelia. "Afinal, o corpo está aqui, e Hadley o matou ou escondeu o corpo. De jeito nenhum ele poderia ter morrido na noite em que ela saiu com Waldo para o cemitério." "Por que não?" Eu tive um pensamento repentino, horrível. "Você tem um celular?" Eu perguntei, levantando os meus pés enquanto eu falava. Amelia assentiu. "Ligue para a residência da Rainha. Diga a eles para mandar alguém agora." "O quê?" Seus olhos ficaram confusos, até que seus dedos estavam perfurando os números. Olhando para o armário, eu podia ver os dedos do cadáver tendo contração muscular. "Ele está se levantando", disse calmamente. Levou apenas um segundo para ela conseguir. "Aqui é a Amelia Broadway na Chloe Street! Envie um vampiro velho aqui agora", ela gritou ao telefone. "Vampiro novo acordando!" Ela estava de pé agora, e estávamos correndo para a porta. Nós não fizemos isso. Jake Purifoy foi atrás de nós, e ele estava com fome. Como Amelia estava atrás de mim (eu tinha tido uma boa partida), ele mergulhou para pegar seu tornozelo. Ela gritou quando caiu, e eu girei para ajudá-la. Eu não pensei direito, porque se eu tivesse, eu teria continuado saindo pela porta. Os dedos do vampiro novo estavam enrolados ao tornozelo nu de Amelia com uma algema, e ele foi puxando-a para si no piso laminado de madeira. Ela estava arranhando o chão com os dedos, tentando encontrar algo para impedir o seu progresso em direção a sua boca, que estava aberta com os dentes alargado a mostra, oh Deus! Agarrei os pulsos dela e comecei a puxar. Eu não tinha conhecido Jake Purifoy na vida, então eu não sabia como ele tinha sido. E eu não consegui encontrar nada de humano em seu rosto, nada a que eu pudesse apelar. "Jake!" Eu gritei. "Jake Purifoy! Acorde!" É claro que isso não serviu para nenhum maldito bem. Jake se transformou em algo que não era um pesadelo, mas uma diversidade permanente, e ele não poderia ser despertado disso: era ele. Ele estava fazendo uma espécie de ruído tipo gnarr-gnarr-gnarr, o som mais faminto que eu já tinha ouvido, e então ele mordeu a panturrilha da perna de Amelia, e ela gritou. Era como se um tubarão tivesse segurando ela. Se eu a puxasse mais, ele poderia arrancar com seus dentes a parte que estava presa. Ele estava chupando o ferimento na perna, e eu chutei a cabeça dele com o meu calcanhar, amaldiçoando a minha falta de sapatos. Eu coloquei tudo que eu tinha nisso, e não perturbei o vampiro novo nem um pouco. Ele fez um ruído de protesto, mas continuou chupando, e manteve a bruxa gritando de dor e choque. Havia um candelabro na mesa atrás de um dos sofás, um castiçal de vidro alto muito pesado. Eu arranquei a vela dele, agarrei-o com ambas as mãos, e trouxe-o tão forte quanto eu poderia sobre a cabeça de Jake Purifoy. O sangue começou a correr a partir de sua ferida, muito lentamente, que é como os vampiros sangram. O castiçal se desfez com o golpe, e eu fiquei com as mãos vazias e um vampiro furioso. Ele ergueu o rosto manchado de sangue para olhar para mim, e eu espero nunca mais receber outro olhar como esse mais uma vez na minha vida. Seu rosto mostrava a raiva irracional de um cachorro louco. Mas ele deixou o pé de Amelia, e ela começou a correr para fora. Era óbvio que ela estava ferida, e então ela corria lentamente, mas ela fez o esforço. As lágrimas corriam pelo seu rosto e sua respiração estava por todo lado, áspera no silêncio da noite. Eu podia ouvir uma sirene se aproximando e eu esperava que fosse chegar aqui. Embora, fosse muito tarde. O vampiro lançou-se no chão para me derrubar, e eu não tinha tempo para pensar em nada. Ele mordeu meu braço, e eu pensei que os dentes tinham penetrado no osso. Se eu não tivesse jogado o braço, os dentes teriam agarrado o meu pescoço, e isso teria sido fatal. O braço pode ser uma opção melhor, mas neste momento a dor era tão intensa que eu quase desmaiei, e era melhor eu não fazer isso. O corpo pesado de Jake Purifoy estava em cima de mim, e suas mãos estavam apertando o meu braço livre contra o chão e as pernas em cima da mim. Outra fome acordou no vampiro novo, e eu senti suas provas pressionando contra a minha coxa. Ele libertou a mão para começar a arrancar a minha calça.  Oh, não... isso seria tão ruim. Eu morreria daqui a poucos minutos, aqui em Nova Orleans no apartamento da minha prima, longe dos meus amigos e da minha família. O sangue estava por toda a face do vampiro novo e mãos. Amelia rastejou desajeitadamente pelo chão em direção a nós, arrastando sua perna deixando um rastro de sangue atrás de si. Ela deveria ter saído, já que ela não poderia me salvar. Não havia outro castiçal. Mas Amelia tinha outra arma, e ela estendeu a mão, sacudindo violentamente para tocar o vampiro. "Utinam hie sanguis in ignem commutet!" ela gritou. O vampiro recuou, gritando e arranhando seu rosto, que foi subitamente coberto por pequenas chamas lambendo azul. E a polícia veio através da porta. Eram vampiros também. Por um momento interessante, os policiais pensaram que tínhamos atacado Jake Purifoy. Amelia e eu, sangrando e gritando, fomos empurradas contra a parede. Mas, ao mesmo tempo, a magia que Amelia tinha lançado sobre o vampiro novo perdeu a sua eficácia e ele pulou sobre o policial fardado mais próximo, que era uma mulher negra com as costas orgulhosamente retas e um grande nariz pontudo. A policial sacou seu cassetete e usou-o com um desrespeito imprudente contra os dentes do vampiro novo. Seu companheiro, um homem muito baixo, cuja pele era da cor de caramelo, tratou de abrir uma garrafa de Trueblood que estava presa no cinto, como outra ferramenta. Ele mordeu a ponta, e colocou a garrafa na boca de Jake Purifoy. De repente, tudo ficou em silêncio enquanto o vampiro novo sugava todo o conteúdo da garrafa. O resto de nós estava arfando e sangrando. "Ele vai ficar quieto agora", disse a policial feminina, a cadência de sua voz me deixou saber que ela era muito mais do que Afro-americana. ―Eu acho que nós o distraímos." Amelia e eu afundamos no chão, após o policial masculino acenar para que pudéssemos saber que estávamos fora de perigo. "Desculpe, fiquei confuso sobre quem era o cara mau," disse em uma voz tão quente como manteiga derretida. "As senhoras estão bem?" Foi uma coisa boa a voz dele ser tão reconfortante, uma vez que seus dentes estavam à mostra. Eu acho que a empolgação do sangue e da violência desencadeadou a reação, mas era uma coisa desconcertante em um oficial da lei. "Acho que não,‖ eu disse. "Amelia aqui está sangrando muito, e eu acho que também estou." A mordida não doeu tanto quanto parecia. A saliva dos vampiros tem um pouquinho de anestésico, juntamente com um agente de cura. Mas o agente de cura foi feito para selar o buraquinho de presas, e não para grandes rasgos reais em carne humana. "Nós vamos precisar de um médico." Eu conheci um vampiro no Mississipi que poderia curar feridas grandes, mas era um talento raro. "Você duas são humanas?" ele perguntou. A policial feminina estava cantando em uma língua estrangeira para o novo vampiro. Eu não sei se o ex-lobisomem, Jake Purifoy, poderia falar a língua, mas ele reconheceu segurança quando ele ouviu. As queimaduras em seu rosto curaram, enquanto estávamos sentadas lá. "Sim", eu disse. Enquanto aguardávamos os paramédicos chegarem, Amelia e eu inclinamos uma contra a outra em silêncio. Este foi o segundo corpo que eu tinha encontrado em um armário, ou o terceiro? Eu me perguntava por que eu ainda abria portas de armários. "Nós deveríamos ter reconhecido", disse Amelia cansada. "Quando ele não tinha tido cheiro algum, nós deveríamos ter sabido". "Na verdade, eu percebi isso. Mas foi apenas trinta segundos antes dele acordar, não fez a mínima diferença", disse. Minha voz era tão vacilante quanto a dela. Tudo ficou muito confuso depois disso. Fiquei pensando que seria um bom momento para desmaiar se eu estivesse já preste a fazer, porque este não era realmente um processo pelo qual eu queria passar, mas eu não poderia simplesmente desmaiar. Os paramédicos eram homens muito simpáticos que pareciam pensar que estávamos festejando com um vampiro e ele tinha perdido a cabeça. Imaginei que nenhum deles chamaria Amelia ou eu para um encontro tão cedo. "Você não quer se meter com nenhum vampiro, cherie71", disse o homem que estava trabalhando em mim. No seu crachá lia-se DELAGARDIE. "Eles devem ser muito atraentes para as mulheres, mas você não iria acreditar em quantas pobres meninas nós tivemos que consertar. E essas eram as sortudas", disse Delagardie severamente. "Qual é o seu nome, moça?" "Sookie," eu disse. "Sookie Stackhouse". "Prazer em conhecê-la, senhorita Sookie. Você e sua amiga parecem boas garotas. Vocês precisam sair com pessoas melhores, pessoas vivas. A cidade está infestada de mortos, agora. Era melhor quando todo mundo aqui estava respirando, para ser honesto.                                                
 71  Querida em francês
 
Agora vamos para o hospital para te costurar. Eu apertaria sua mão se você não estivesse tão ensanguentada‖, disse ele. Ele me deu um breve sorriso, de dentes brancos, e encantadores. "Eu estou te dando um bom conselho grátis, moça bonita." Eu sorri, mas foi a última vez que eu ia fazer isso por um bom tempo. A dor estava começando a se fazer sentir. Muito rapidamente, fiquei preocupada com o enfrentamento. Amelia foi uma verdadeira guerreira. Seus dentes estavam cerrados como se ela lutasse para manter a si mesma, mas ela seguiu forte todo o caminho até o hospital. A sala de emergência parecia estar lotada.  Por uma combinação de sangrar, ser escoltadas por policiais, e o amigável Delagardie e seu parceiro intercedendo por nós, Amelia e eu fomos colocadas em cubículos cobertos por cortinas imediatamente. Nós não estávamos uma ao lado da outra, mas nós estávamos na fila para consultar com o médico. Eu estava agradecida. Eu sabia que iria ser rápido, para uma sala de emergência urbana.  Enquanto ouvia a agitação em torno de mim, eu tentei não blasfemar a dor em meu braço. Em momentos quando não latejava tanto, eu me perguntava o que havia acontecido com Jake Purifoy. Teriam os policias levado o vampiro para uma cela de vampiro na cadeia, ou foi tudo desculpado desde que ele era um tipo vampiro novo sem orientação? Havia uma lei sobre isso, mas eu não conseguia me lembrar os termos e limitações. Era difícil para mim estar tão preocupada. Eu sabia que o jovem foi vítima de seu novo estado, que o vampiro que lhe tinha feito deveria ter estado lá para guiá-lo através de seu primeiro despertar de fome. O vampiro culpado era, provavelmente, minha prima Hadley, que não esperava ser assassinada. Apenas o feitiço de estase de Amelia, no apartamento, tinha mantido Jake sem despertar por meses. Era uma situação estranha, provavelmente sem precedentes, mesmo nos anais vampirescos. E um lobisomem que tinha se tornado um vampiro! Eu nunca tinha ouvido falar de tal coisa. Ele ainda poderia mudar?  Eu tive um tempo para pensar sobre isso e algumas outras coisas, já que Amelia estava longe demais para uma conversa, mesmo se ela estivesse terminando com isso. Após cerca de vinte minutos, tempo durante o qual eu fui perturbada apenas por uma enfermeira que anotou algumas informações, eu fiquei surpresa ao ver Eric olhar ao redor da cortina. "Posso entrar?" perguntou ele com firmeza. Seus olhos estavam arregalados e ele falava com cuidado. Percebi que para um vampiro, o cheiro de sangue na sala de emergência foi encantador e penetrante. Eu peguei um vislumbre de suas presas. "Sim", eu disse, intrigada com a presença de Eric em Nova Orleans. Eu não estava realmente em um clima de Eric, mas não havia nenhum objetivo em dizer ao antigo Viking que ele não podia entrar. Este era um edifício público, e ele não precisava de minhas palavras. De qualquer forma, ele poderia simplesmente ficar de fora e falar comigo através do pano até que ele descobrisse o que ele veio descobrir. Eric não era nada menos que persistente. "Que diabos você está fazendo aqui na cidade, Eric?" "Eu desci para negociar com a rainha os seus serviços durante a conferência. Além disso, Sua Majestade e eu temos que negociar quantos dos meus eu posso levar comigo." Ele sorriu para mim. O efeito foi desconcertante, com os dentes e tudo mais. "Nós estamos quase chegando a um acordo. Posso levar três, mas quero negociar até quatro." "Oh, pelo amor de Deus, Eric," eu gritei. "Essa é a pior desculpa que já ouvi. E a invenção moderna, conhecida como o telefone?" Mexi inquieta na cama estreita. Eu não poderia encontrar uma posição confortável. Cada nervo do meu corpo estava tilintando em conseqüências do medo do meu encontro com Jake Purifoy, novo filho da noite. Eu esperava que, quando eu finalmente visse um médico, ele ou ela me daria um excelente analgésico. "Deixe-me sozinha, ok? Você não tem direito sobre mim. Ou uma responsabilidade sobre mim." "Mas o faço." Ele teve a ousadia de olhar surpreso. "Nós temos um laço. Eu tive o seu sangue, quando você precisava de força para libertar Bill no Jackson. E nós fizemos amor, muitas vezes, de acordo com você." "Você me fez dizer", eu protestei. E se eu soei um pouco chorona, bem, caramba, eu considerei que era certo lamentar um pouco. Eric tinha feito um acordo de salvar um amigo meu do perigo se eu lhe contasse a verdade. Isso é chantagem? Sim, eu penso assim. Mas não havia qualquer forma de desdizer a ele. Eu suspirei. "Como você chegou aqui, afinal?" "A rainha monitora o que acontece com vampiros em sua cidade, bem de perto, claro. Pensei em vir dar apoio moral. E, claro, se você precisar de mim para limpa-la do sangue..." Seus olhos brilharam enquanto inspecionava o meu braço. "Eu ficaria feliz em fazê-lo." Eu quase sorri, com muita relutância. Ele nunca desistiria. "Eric", disse a voz fria de Bill, e ele deslizou ao redor da cortina para se juntar a Eric na minha cabeceira. "Por que não estou surpreso de ver você aqui?" Eric disse, numa voz que deixou claro que estava descontente. A raiva de Eric não era algo que Bill poderia ignorar. Eric era superior a Bill, e ele olhou para baixo de seu nariz importante para o jovem vampiro. Bill tinha cento e trinta e cinco anos: Eric tinha mais de mil. (Eu tinha perguntado a ele uma vez, mas ele sinceramente não parecia saber.) Eric tinha a personalidade para a liderança. Bill era mais feliz ficando na sua. A única coisa que eles tinham em comum era que eles tinham feito amor comigo, e nesse momento, ambos eram um pé no saco. "Eu ouvi pelo canal da polícia no rádio, na sede da rainha, que a polícia vampiresca tinha sido chamada para subjugar um vampiro novo, e eu reconheci o endereço", disse Bill explicando. "Naturalmente, eu descobri que Sookie tinha sido trazida para cá, e cheguei aqui tão rápido quanto pude." Fechei os olhos. "Eric, você está a cansando", disse Bill, sua voz ainda mais fria que o habitual. "Você deve deixar Sookie sozinha." Houve um longo momento de silêncio. Carregado com alguma emoção grande. Meus olhos se abriram e passou de um rosto para o outro. Pela primeira vez, eu gostaria de ler mentes de vampiros. Tanto quanto eu poderia ler sua expressão, Bill estava lamentando profundamente as suas palavras, mas por quê? Eric estava olhando Bill com uma expressão complexa e composta de determinação e alguma coisa menos definível, desapontamento, talvez. "Eu entendo muito bem porque você quer manter Sookie isolada, enquanto ela está em Nova Orleans", disse Eric. Seu ―r‖ tornou-se mais pronunciado, como acontecia quando ele estava irritado. Bill desviou o olhar. Apesar da dor pulsante no meu braço, apesar da minha irritação geral com ambos, algo dentro de mim se sentou e tomou nota. Havia um significado inconfundível no tom de Eric. A falta de resposta de Bill foi curiosa... e ameaçadora. "O quê?" Eu disse, meus olhos se mexendo de um lado para outro. Eu tentei me apoiar no meu cotovelo e resolvi por um braço quando o outro, o da picada, deu um grande pulsar da dor. Apertei o botão para levantar a cabeceira da cama. "O que são todas essas grandes insinuações, Eric? Bill?" "Eric não deve te deixar agitada, quando você já tem muito com o que lidar," Bill disse, finalmente. Embora nunca tenha o conhecido pela sua expressividade, o rosto de Bill foi que a minha avó teria descrito como "Travado mais apertado do que um tambor". Eric cruzou os braços sobre o peito e olhou para ele. "Bill?" Eu disse. "Pergunte por que ele voltou para Bon Temps, Sookie," disse Eric tranquilamente. "Bem, o velho Sr. Compton morreu, e ele queria recuperar a sua..." Eu não conseguia nem descrever a expressão no rosto de Bill. Meu coração começou a bater mais rápido. Pavor reunido em um nó no estômago. "Bill?" Eric virou-se para longe de mim, mas não antes que eu visse uma sombra de piedade cruzar seu rosto. Nada poderia ter me assustado mais. Eu posso não ser capaz de ler a mente de um vampiro, mas neste caso a sua linguagem corporal disse tudo. Eric foi se afastando, porque ele não queria ver a faca deslizar para dentro. "Sookie, você iria descobrir quando visse a rainha... Talvez eu pudesse ter mantido isso longe de você, porque você não vai entender... mas Eric cuidou disso." Bill deu a Eric um olhar que poderia dar um furo através do coração de Eric. "Quando a sua prima Hadley estava se tornando a favorita da rainha..." E de repente eu vi tudo, sabia o que ia dizer, e me levantei da cama do hospital com um suspiro, uma mão no meu peito, porque eu senti meu coração quebrar. Mas a voz de Bill continuou, apesar de eu balançar a cabeça violentamente. "Aparentemente, Hadley falou muito sobre você e seu dom, para impressionar a rainha e manter seu interesse. E a rainha sabia que eu era originalmente de Bon Temps. Em algumas noites, eu quis saber se ela mandou alguém matar o último Compton e apressar as coisas. Mas talvez ele realmente tenha morrido de velhice." Bill estava olhando para o chão, não viu a minha mão esquerda estendida para ele em um movimento de ―pare‖. "Ela me mandou voltar para minha casa humana, para me colocar em seu caminho, para seduzi-la se fosse preciso..." Eu não conseguia respirar. Não importa como minha mão direita pressionava contra o peito, eu não conseguia parar a dizimação do meu coração, a lâmina da faca afundava mais fundo em minha carne. "Ela queria seu dom explorado para seu próprio uso", disse ele, e ele abriu a boca para dizer mais. Meus olhos estavam tão turvos de lágrimas que eu não conseguia ver corretamente, não pude ver o que era a expressão em seu rosto e não importou de qualquer maneira. Mas eu não podia chorar, enquanto ele estava perto de mim. Eu não faria. "Saia", eu disse, com um esforço terrível. Seja lá o que mais tiver acontecido, eu não podia suportar que ele visse a dor que me causou. Ele tentou me olhar diretamente nos olhos, mas os meus estava muito cheios. Tudo o que ele queria transmitir estava perdido em mim. "Por favor, deixe-me terminar", disse ele. "Eu nunca mais quero te ver, nunca em minha vida", eu sussurrei. ―Nunca‖. Ele não falou nada. Seus lábios se moviam, como se ele estivesse tentando formar uma palavra ou frase, mas eu balancei a cabeça. "Saia", eu disse, numa voz tão cheia de ódio e angústia que não soou como a minha. Bill virou-se e passou pela cortina para fora da sala de emergência. Eric não se virou para ver o meu rosto, graças a Deus. Ele chegou a tocar no meu pé antes de sair, também.
Eu queria gritar. Eu queria matar alguém com as minhas próprias mãos. Eu tinha que ser forte por mim. Eu não podia deixar ninguém me ver sofrer tanto. A dor foi amarrada com uma raiva tão profunda que eu nunca tinha sentido. Eu estava doente de raiva e mágoa. A mordida de Jake Purifoy não tinha sido nada comparada a isso. Eu não podia ficar quieta. Com alguma dificuldade, sai cuidadosamente para fora da cama. Meus pés ainda estavam nus, é claro, e eu notei com uma parte estranhamente separada da minha mente que eles estavam extremamente sujos. Eu cambaleei para fora da área de triagem, vi as portas da sala de espera, e me guiei nesse sentido. Andar era um problema. Uma enfermeira apressou-se para mim, com uma prancheta na mão. "Senhorita Stackhouse, um médico vai estar com você em apenas um minuto. Eu sei que você teve que esperar, e eu sinto muito, mas..." Eu me virei para olhar para ela e ela se encolheu, deu um passo para trás. Eu me mantive em direção às portas, os meus passos incertos, mas o meu propósito claro. Eu queria sair de lá. Além disso, eu não sabia. Eu fui para as portas, as empurrei e então eu estava me arrastando pela sala de espera repleta de gente. Me misturei perfeitamente com os doentes e familiares à espera de ver um médico. Alguns estavam mais sujos e sangrando mais do que eu, e alguns eram mais velhos e alguns eram muito mais jovens. Apoiei-me com a mão contra uma parede e continuei me movendo para as portas e para o exterior. Eu fiz isso. Estava muito quieto lá fora, e estava quente. O vento estava soprando, só um pouco. Eu estava descalça e sem dinheiro, de pé sob a luz ofuscante das portas de entrada. Eu não tinha idéia de onde eu estava em relação à casa, e nenhuma idéia se era pra lá que eu estava indo, mas eu não estava mais no hospital. Um homem desabrigado deu um passo à minha frente. "Você tem um trocado, irmã?" ele perguntou. "Eu estou por minha conta, também." "Eu pareço que tenho alguma coisa?" Perguntei-lhe, numa voz razoável. Ele parecia tão nervoso quanto a enfermeira. Ele disse, "Desculpe", e se afastou. Dei um passo atrás dele. Eu gritei, "NÃO TENHO NADA!" E então eu disse, numa voz perfeitamente calma, "Veja, eu nunca tive nada para começar." Ele tagarelava incoerentemente e tremia e eu ignorei. Eu comecei a minha caminhada. A ambulância virou à direita entrando, então eu virei à esquerda. Não conseguia me lembrar quanto tempo a viagem durava. Eu estava conversando com Delagardie. Eu tinha sido uma pessoa diferente. Andei e andei. Eu andei debaixo das palmeiras, ouvi o ritmo rico da música vindo das descascadas persianas do conjunto de casas da logo acima da calçada. Em uma rua com alguns bares, um grupo de rapazes saiu exatamente quando eu estava passando, e um deles agarrou meu braço. Virei sobre ele com um grito, e com um esforço chocante eu o balancei contra uma parede. Ele ficou ali, atordoado e esfregando a cabeça, e seus amigos retiraram ele de lá "Ela é louca", um deles disse calmamente. "Deixe-a." Eles se afastaram em outra direção. Depois de um tempo, eu me recuperei o suficiente para me perguntar por que eu estava fazendo isso. Mas a resposta foi vaga. Quando caí em algumas calçadas quebradas, raspando o joelho o suficiente para fazê-lo sangrar, a nova dor física me chamou de volta para mim mesma.
"Você está fazendo isso para que eles sintam pena de te machucarem?" Eu me perguntei em voz alta. "Oh meu Deus, pobre Sookie! Ela saiu do hospital sozinha, louca pela dor, e ela vagou sozinha pelas ruas perigosas de Nova Orleans, porque Bill a deixou tão louca!" Eu não quero o meu nome cruzando os lábios de Bill novamente. Quando eu era mais eu mesma - apenas um pouco -, a profundidade da minha reação começou a me surpreender. Se ainda fossemos um casal, quando eu descobri o que eu descobri esta noite, eu teria matado ele, eu sabia disso, com clareza cristalina. Mas a razão que eu tinha que ir embora do hospital foi igualmente clara, não podia ter ficado para lidar com qualquer pessoa no mundo naquele momento. Eu tinha sido surpreendida com o conhecimento mais doloroso: o primeiro homem a dizer que me amava, nunca havia me amado de verdade.  Sua paixão foi artificial.  Sua procura por mim tinha sido coreografada.  Devo ter parecido tão fácil para ele, tão crédula, tão pronta para o primeiro homem que dedicou um pouco de tempo e esforço para me ganhar. Ganhar a mim! A frase fez a dor muito pior. Ele nunca pensou em mim como um prêmio.  Até que a estrutura tinha sido demolida em um único momento, eu não tinha percebido quanto da minha vida no ano passado tinha sido construído sobre o fundamento do amor falso de Bill e seu respeito.  "Eu salvei a sua vida", disse, surpresa. "Eu fui para Jackson e arrisquei a minha vida pela dele, porque ele me amava." Uma parte do meu cérebro sabia que não era totalmente exato. Eu fiz isso porque eu o amava. E eu fiquei espantada, ao mesmo tempo, ao perceber que a força de sua criadora, Lorena, tinha sido mais forte do que as ordens de sua rainha. Mas eu não estava com vontade de esmiuçar a emoção. Quando pensei em Lorena, outra realização me socou no estômago. "Eu matei alguém por ele," eu disse, minhas palavras flutuando na densa e escura noite. "Oh, meu Deus. Matei alguém por ele."  Eu estava coberta de arranhões, manchas negras, sangue e sujeira, quando eu olhei para cima e vi um letreiro CHLOE STREET. Era onde era o apartamento de Hadley, percebi lentamente. Virei à direita, e comecei a andar novamente.  A casa estava escura, de cima a baixo. Talvez Amelia ainda estivesse no hospital. Eu não tinha idéia de que horas eram, ou quanto tempo eu tinha andado.  O apartamento de Hadley estava trancado. Desci e peguei um dos vasos que Amelia colocou perto de sua porta. Eu subi as escadas e bati em um vidro na porta. Eu alcancei o interior, destranquei a porta, e entrei. Nenhum alarme soou. Eu tenho certeza que a polícia não saberia o código para ativar o alarme, quando tinha deixado o apartamento depois de fazer o que fosse que tinha feito.  Eu andei pelo apartamento, que ainda estava virado de cabeça para baixo por causa luta com Jake Purifoy. Eu tinha um pouco mais de limpeza na parte da manhã, ou sempre que... sempre que a minha vida recomeçava. Eu fui para o banheiro e tirei a roupa que eu estava vestindo. Segurei-as e olhei, por um minuto, o estado em que estavam. Então eu andei pela sala, destranquei a janela francesa, e joguei as roupas sobre o parapeito da varanda. Eu queria que todos os problemas fossem facilmente eliminados, mas ao mesmo tempo a minha real personalidade foi acordada o suficiente para desencadear uma sensação de culpa por sair de uma confusão que alguém teria que limpar. Aquele não era o caminho Stackhouse. Essa sensação não era forte o suficiente para me fazer descer as escadas para recuperar as vestes sujas. Então não. 
Depois que eu tinha firmado uma cadeira por baixo da porta que eu tinha quebrado e depois de redefinir o sistema de alarme com os números que Amelia tinha me ensinado, entrei no chuveiro. A água pinicava nos meus muitos arranhões e cortes, e a mordida profunda em meu braço começou a sangrar novamente. Bem, merda. Minha prima era uma vampira e não precisava de qualquer material de primeiros socorros, é claro. Eu finalmente encontrei algum algodão circular que ela provavelmente utilizava na remoção de maquiagem, e eu vasculhei um dos sacos de roupa, até que encontrei um lenço ridiculamente alegre com estampa de leopardo. Coloquei o algodão desajeitadamente e comecei a morder o lenço apertando o suficiente.  Pelo menos os lençóis desprezíveis, eram a menor das minhas preocupações. Entrei dolorosamente na minha camisola e deitei na cama, orando por esquecimento. 
 
Eu acordei esgotada, com aquela sensação horrível de que daqui a pouco eu me lembraria de coisas ruins.  A sensação foi precisa72.  Mas as coisas ruins tiveram que ficar em segundo plano, porque eu tive uma surpresa para começar com o dia. Claudine estava deitada ao meu lado na cama, apoiada em um cotovelo, olhando para mim com compaixão. E Amelia estava no pé da cama em uma poltrona confortável, sua perna enfaixada apoiada sobre um pufe. Ela estava lendo.  ―Como foi que você chegou aqui?‖ Perguntei para Claudine. Depois de ver Eric e Bill na noite passada, eu desejei saber se todos que eu conheço me seguiam por toda parte. Talvez Sam chegasse à porta em um minuto.  ―Eu disse a você, eu sou sua fada madrinha,‖ Claudine disse. Claudine normalmente era a fada mais feliz que eu conhecia.  Claudine era tão atraente para uma mulher como seu gêmeo Claude era para um homem; talvez mais atraente, porque sua personalidade mais agradável resplandecia através de seus olhos. Seu tipo era o mesmo que o dele; cabelos pretos, pele branca. Hoje, ela estava vestindo calça capri azul pálido e uma túnica coordenada em preto e azul. Ela parecia atraente de forma etérea, ou pelo menos tão etérea como você pode parecer com calça capri.  ―Você poderá me explicar logo depois de eu ir ao banheiro,‖ disse, lembrando de toda a água que eu havia entornado, quando eu cheguei à pia na noite anterior. Todas as minhas perambulações me deixaram com sede. Claudine virou graciosamente da cama, e eu a segui desastradamente.  ―Cuidado,‖ aconselhou Amelia, quando tentei me levantar muito depressa.  ―Como está sua perna?‖ Perguntei a ela, quando o mundo se endireitou por si mesmo. Claudine manteve um aperto em meu braço, só para garantir. Era bom ver Claudine, e eu estava surpreendentemente alegre de ver Amelia, mesmo mancando.  ―Muito machucada,‖ disse ela. ―Mas ao contrário de você, eu fiquei no hospital e tive a ferida tratada adequadamente.‖ Ela fechou o livro e o colocou sobre a mesa perto da cadeira. Ela parecia um pouco melhor do que eu suspeitava, mas ela não era a bruxa radiante e feliz que tinha sido no dia anterior.  ―Tivemos uma experiência educativa, não é?‖ Eu disse, e na mesma hora contive meu fôlego quando recordei precisamente o quanto tinha aprendido.  Claudine me ajudou a entrar no banheiro, e quando garanti a ela que eu poderia me cuidar, ela me deixou sozinha. Fiz as coisas necessárias e sai me sentindo melhor, quase humana. Claudine tinha tirado algumas roupas de minha bolsa esportiva, e havia uma caneca na mesa de cabeceira com vapor subindo dela. Sentei-me cuidadosamente contra a
72  No original: ―was right on the money‖, expressão que significa que a informação está correta, mais ou menos, como ―acertar na mosca‖
 
cabeceira da cama, minhas pernas cruzadas na minha frente, e segurei a caneca no meu rosto de modo que eu pude aspirar o aroma. ―Explique a coisa da fada madrinha,‖ eu disse. Eu não queria falar sobre qualquer coisa mais urgente, não por enquanto.  ―Fadas são em sua base seres sobrenaturais,‖ disse Claudine. ―De nós vêem elfos e duendes e anjos e demônios. Espíritos das águas73, homens verdes, todos os espíritos naturais... todos são algumas formas de fadas.‖ ―Então você é o quê?‖ Amelia perguntou. Não tinha me ocorrido de Amelia ter partido, e pareceu estar tudo bem com Claudine, também.  ―Estou tentando me tornar um anjo,‖ Claudine disse suavemente. Seus enormes olhos castanhos pareciam luminosos. ―Depois de anos sendo... bem, uma boa cidadã, eu acho que é como vocês chamam, eu tenho uma pessoa para defender. A Sook, aqui. E ela realmente me mantém ocupada.‖ Claudine parecia orgulhosa e feliz.  ―Você não deveria impedir a dor?‖ Eu perguntei. Se for assim, Claudine estava fazendo um trabalho de má qualidade.  ―Não, eu gostaria de poder.‖ A expressão no rosto oval de Claudine estava abatida. ―Mas eu posso te ajudar a se recuperar de desastres e, às vezes, eu posso impedi-los.‖ ―As coisas seriam piores sem você por perto?‖ Ela balançou a cabeça vigorosamente.  ―Eu irei aceitar seu compromisso com isso,‖ eu disse. ―De que modo eu avalio uma fada madrinha?‖  ―Eu não estou permitida a dizer,‖ Claudine disse, e Amelia revirou os olhos.  ―Nós não estamos aprendendo muito, aqui,‖ disse ela. ―E tendo em vista os problemas que tivemos ontem à noite, talvez você não seja a fada madrinha mais competente, hein?‖  ―Oh, certo, senhorita Eu-Selei-O-Apartamento-Então-Ele-Ficaria-Todo-Limpo,‖ respondi, irracionalmente indignada com este ataque à competência da minha madrinha.  Amelia se afastou de sua cadeira, sua pele vermelha com raiva. ―Bem, eu o selei! Ele teria ressurgido dessa forma não importa quando ele se levantou! Eu apenas atrasei um pouco!‖ ―Teria ajudado se soubéssemos que ele estava lá!‖  ―Teria ajudado se a vadia da sua prima não o tivesse matado em primeiro lugar!‖  Nós duas gritamos para uma interrupção em nosso diálogo. ―Você tem certeza que foi o que aconteceu?‖ Eu perguntei. ―Claudine?‖  ―Eu não sei,‖ disse ela, com sua voz tranquila. ―Eu não sou onipotente ou onisciente. Eu apenas entro para intervir quando eu posso. Você se lembra daquela vez que você dormiu ao volante e eu cheguei lá no momento de salvá-la?‖  E ela quase me deu um ataque cardíaco no processo, aparecendo no banco da frente do carro em um piscar de olhos. ―Sim,‖ eu disse, tentando soar grata e humilde. ―Eu me lembro.‖
73  Elementais das águas: representados pelas ninfas, ondinas, espíritos das águas e náiades, são responsáveis por retirar energia do sol para transmití-la à água. Os espíritos das águas vivem em rios, fontes, lagos e pântanos. Assemelham-se a belas donzelas, muitas vezes com caudas de peixe; gostam de música e dança, e têm o dom da profecia. Embora possam ajudar eventualmente os seres humanos, estes têm de se acautelar com tais espíritos, que podem ser traiçoeiros e afogar pessoas.
 
―É realmente, realmente difícil chegar a algum lugar tão rápido,‖ disse ela. ―Só posso fazer isso em uma emergência real. Quero dizer, uma emergência de vida ou morte. Felizmente, tive um pouquinho mais de tempo quando a sua casa estava pegando fogo...‖  Claudine não ia nos dar nenhuma regra, ou mesmo explicar a natureza do criador de regras. Eu tinha apenas recebido confusão através do meu sistema de crença, o qual me ajudou toda minha vida. Devo pensar a respeito disso, se eu estava completamente errada, não queria saber. ―Interessante,‖ disse Amelia. ―Mas nós temos mais algumas coisas para falar.‖  Talvez ela estivesse sendo tão pretensiosa porque ela não tinha sua própria fada madrinha.  ―Do que quer falar primeiro?‖ Perguntei. ―Por que você deixou o hospital na noite passada?‖ Seu rosto estava tenso com ressentimento. ―Você deveria ter me dito. Eu me arrastei até as escadas ontem à noite para te procurar, e você estava lá. E você tinha bloqueado a porta. Então eu tive que descer as malditas escadas novamente para pegar minhas chaves, e entrar pela janela francesa, e me apressar - sobre esta perna - para desligar o sistema de alarme. E então esta desgraçada estava sentada à sua cama, e ela poderia ter feito tudo isso.‖ ―Você não podia abrir as janelas com magia?‖ Eu perguntei.  ―Eu estava muito cansada,‖ disse ela com dignidade. ―Eu tive que recarregar minhas baterias mágicas, por assim dizer.‖ ―Supostamente,‖ eu disse, minha voz seca. ―Bem, ontem à noite, eu descobri...‖ e eu parei. Eu simplesmente não podia falar sobre isso.  ―Descobriu o que?‖ Amelia estava irritada, e eu não poderia dizer que a culpasse.  "Bill, seu primeiro amante, foi plantado em Bon Temps para seduzi-la e conquistar sua confiança", diz Claudine. ―Ontem à noite, ele admitiu isso na cara dela, e na frente de seu único outro amante, outro vampiro.‖  Como uma sinopse, ficou impecável. ―Bem... que saco,‖ Amelia disse fracamente.  ―Sim,‖ eu disse. ―É.‖ ―Ui.‖ ―Sim.‖  ―Não posso matá-lo para você,‖ disse Claudine. ―Eu teria que dar muitos passos para trás.‖  ―Tudo bem", eu disse para ela. ―Ele não merece que perca seus pontos de duende.‖  ―Oh, eu não sou uma duende,‖ explicou Claudine gentilmente. ―Eu achei que você tinha entendido. Eu sou uma fada de sangue puro.‖ Amelia estava tentando não rir, e eu olhei para ela. ―Apenas deixe estar, bruxa.‖ eu disse.  ―Sim, telepata.‖ ―Então, o que mais?‖ Eu perguntei, em geral. Eu não falaria mais nada sobre meu coração partido e minha auto-estima demolida.  ―Nós vamos imaginar o que aconteceu,‖ a bruxa disse. ―Como? Chamando CSI74?‖
74  Série dramática muito popular do canal norte-americano CBS. A série é centrada nas investigações do grupo de cientistas forenses do departamento de criminalística da polícia de Las Vegas, Nevada.
 
Claudine parecia confusa, então eu adivinhei que as fadas não vêem televisão.  ―Não,‖ disse Amelia, com elaborada paciência. ―Nós faremos uma reconstrução ectoplasmática.‖ Eu estava certa que a minha expressão combinou com a de Claudine, agora.  ―Ok, deixe-me explicar,‖ disse Amelia, toda sorridente. ―Isso é o que fazemos.‖  Amelia, no sétimo céu nesta exposição de seu maravilhoso poder de bruxa, contou a Claudine e a mim com alguma minúcia sobre o procedimento. Consumiria tempo - e energia -, ela disse, o que era a razão de não ser feito com mais frequência. E você tinha que reunir pelo menos quatro bruxas, ela estimou, para cobrir a quantidade de metragem quadrada envolvida no assassinato de Jake. ―E eu precisarei de bruxas reais,‖ disse Amelia. ―Trabalhadores de qualidade, não uns Wiccans‗cercas-viva‘‖. Amelia deixou de gostar de Wiccans por um longo bom tempo. Ela desdenha dos Wiccans (injustamente) como posers abraçadores-de-árvores – isso saiu dos pensamentos de Amélia com suficiente clareza. Lamentei o preconceito de Amelia, já que eu conheci alguns Wiccans impressionantes.  Claudine olhou para mim, sua expressão duvidosa. ―Eu não tenho certeza de que deveríamos estar aqui para isso,‖ disse ela.  ―Você pode ir, Claudine.‖ Eu estava pronta para experimentar qualquer coisa, só para tirar minha mente do grande buraco no meu coração. ―Eu vou ficar para ver. Eu tenho que saber o que aconteceu aqui. Existem muitos mistérios em minha vida, agora mesmo.‖ ―Mas você tem que ir à rainha esta noite,‖ disse Claudine. ―Você perdeu a noite passada. Visitar a rainha é uma ocasião para vestir-se com elegância. Eu tenho que levá-la para fazer compras. Você não quer usar as roupas de sua prima.‖  ―Não é como se meu traseiro pudesse entrar nelas,‖ eu disse.  ―Não é como se seu traseiro devesse querer,‖ disse ela, igualmente áspera. ―Pode cortar essa agora mesmo, Sookie Stackhouse.‖  Eu olhei para ela, deixando-a ver a dor dentro de mim.  ―Sim, eu entendo,‖ disse ela, sua mão me acariciando suavemente na bochecha. ―É uma total decepção. Mas você tem que desconsiderar. Ele é só um cara.‖ Ele tinha sido o primeiro cara. ―Minha avó lhe serviu limonada,‖ eu disse, e de alguma forma aquilo provocou as lágrimas novamente.  ―Ei,‖ disse Amelia. ―Dane-se ele, certo?‖  Olhei para a jovem bruxa. Ela era bonita e obstinada e uma doida de pedra, pensei. Ela estava bem.  ―Sim,‖ eu disse. ―Quando você pode fazer a coisa ecto?‖  Ela disse: ―Eu tenho que fazer algumas ligações, ver quem eu posso reunir. A noite é sempre melhor para a magia, é claro. Quando você irá saldar sua visita para a rainha?‖ Eu pensei por um instante. ―Apenas em plena escuridão,‖ eu disse. ―Talvez por volta das sete.‖ ―Deve levar cerca de duas horas,‖ disse Amelia, e Claudine assentiu. ―Ok, eu irei pedir para que eles estejam aqui às dez, para ter um pouco de flexibilidade e opções. Sabe, seria genial se a rainha pudesse pagar por isso.‖  ―Quanto você quer cobrar?‖
―Eu faria isso por nada, para ter a experiência e ser capaz de dizer que eu tinha feito um,‖ Amelia disse francamente, ―mas os outros necessitarão de alguns dólares. Digamos que, cerca de trezentos cada, mais materiais.‖ ―E você irá precisar de mais três bruxas?‖ ―Eu gostaria de ter mais três, apesar de que se eu posso receber o que eu quero neste curto prazo... bem, farei o melhor que eu puder. Dois poderiam fazer. E os materiais devem ser...‖ Ela fez alguns rápidos cálculos mentais. ―Em algum lugar estimado em sessenta dólares.‖  ―O que eu preciso fazer? Quero dizer, qual é a minha parte?‖ ―Observar. Eu farei o trabalho pesado.‖ ―Pedirei à rainha.‖ Eu tomei uma respiração profunda. ―Se ela não for pagar por isso, eu vou.‖ ―Confirmado, então. Estaremos preparados.‖ Ela mancou para fora do quarto com muita alegria, contando coisas nos seus dedos. Eu a ouvi descer as escadas.  Claudine disse, ―Eu tenho que tratar do seu braço. E depois nós precisamos ir e encontrar algo para você vestir.‖  ―Eu não quero gastar dinheiro em uma visita de cortesia para a rainha vampira.‖ Especialmente já que é possível que eu tenha que pagar a conta para as bruxas.  ―Você não precisa. É o meu convite.‖ ―Você pode ser minha fada madrinha, mas você não tem que gastar dinheiro comigo.‖ Tive uma revelação repentina. ―Foi você quem pagou a minha conta no hospital em Clarice.‖ Claudine encolheu os ombros. ―Ei, foi dinheiro que chegou do clube de strip, não do meu trabalho regular.‖ Claudine co-proprietária do clube de strip em Ruston, com Claude, que faz toda a administração cotidiana do lugar. Claudine era uma pessoa de atendimento ao cliente em uma loja de departamento. As pessoas esqueciam as suas queixas uma vez que eram confrontadas com o sorriso de Claudine.  Era verdade que eu não me importava de gastar o dinheiro do clube de strip tanto quanto eu teria odiado gastar as economias pessoais de Claudine. Não lógico, mas verdadeiro.  Claudine tinha estacionado seu carro no pátio da entrada circular, e ela estava sentada nele quando eu desci as escadas. Ela tinha tirado um estojo de primeiros socorros do carro, e tinha enfaixado meu braço e até me ajudado com algumas roupas. Meu braço estava ferido, mas não parecia estar infectado. Eu estava fraca, como se eu tivesse gripe ou alguma outra doença envolvendo febre alta e grande quantidade de fluidos. Então, eu estava me movendo lentamente. Eu estava vestindo calça jeans e sandálias e uma T-shirt, porque era isso que eu tinha. ―Você definitivamente não pode visitar a rainha nisso,‖ ela disse, gentilmente, mas de modo decisivo. Se ela estava muito familiarizada com Nova Orleans ou apenas tinha bom carma para compras, Claudine dirigiu diretamente para uma loja no Garden District. Era o tipo de loja que eu teria dispensado como sendo para mulheres mais sofisticadas com muito mais dinheiro do que eu tinha, se eu tivesse feito compras sozinha. Claudine entrou diretamente no estacionamento, e em quarenta e cinco minutos tínhamos um vestido. Era de chiffon, de manga curta, e tinha muitas cores nele: turquesa, cobre, marrom, marfim. As sandálias de tiras que eu usaria com o vestido eram marrons.
Tudo que eu precisava como membro do country clube.  Claudine tinha se apropriado da etiqueta de preço. ―Basta usar o seu cabelo solto,‖ Claudine aconselhou. ―Você não precisa de um penteado extravagante com esse vestido.‖  ―Sim, há muita coisa acontecendo nele,‖ eu disse. ―Quem é Diane von Furstenburg75? Isso não é realmente caro? Não é um pouco desnudo para a estação?‖ ―Você pode ficar com um pouco de frio usando ele em março,‖ Claudine concedeu. "Mas será bom usá-lo a cada verão por anos. Você ficará formidável. E a rainha saberá que você tomou tempo para vestir algo especial para encontrá-la.‖ ―Você não pode ir comigo?‖ Eu perguntei, me sentindo um pouco triste. ―Não, é claro, você não pode.‖ Vampiros se agitam em torno de fadas como os beija-flores em torno da água doce.  ―Eu não poderia sobreviver,‖ disse ela, conseguindo soar envergonhada de que tal possibilidade iria afastá-la do meu lado.  ―Não se preocupe com isso. Afinal, o pior já aconteceu, certo?‖ Eu estendi minhas mãos. ―Eles costumavam me ameaçar, sabe? Se eu não fizesse dessa forma ou algo semelhante, eles teriam mantido Bill fora. Ei, adivinha só? Eu não me importo mais.‖  ―Pense antes de falar,‖ Claudine aconselhou. ―Você não pode responder grosseiramente para a rainha. Mesmo um duende não pode responder grosseiramente para a rainha.‖ ―Eu prometo,‖ eu disse. ―Eu realmente aprecio a sua vinda até aqui, Claudine.‖ Claudine me deu um grande abraço. Era como um abraço com uma árvore suave, já que Claudine era tão alta e magra. ―Eu desejo que você não precise mais de mim,‖ ela disse. 
 
A rainha tinha um bloco de edifícios no centro de Nova Orleans, talvez três quadras da orla do bairro francês. Isso te diz que tipo de dinheiro ela adquiriu, ali mesmo. Jantamos cedo - percebi que estava realmente com fome - e, em seguida, Claudine me deixou a dois quarteirões de distância, porque o tráfego e o congestionamento de turistas estavam intensos perto da sede da rainha. Embora o público não saiba que Sophie-Anne Leclerq era uma rainha, eles sabiam que ela era uma vampira muito rica, dona de uma grande quantidade de imóveis e que gastou muito dinheiro na comunidade. Além disso, seus guarda-costas eram interessantes e tinham recebido autorizações especiais para portar armas nos limites da cidade. Isto significava que seu escritório/moradia estava na lista de coisas pra ver dos turistas, especialmente à noite.  Embora o tráfego circundasse o edifício durante o dia, à noite o quarteirão em torno dele estava aberto apenas para pedestres. Os ônibus estacionavam a uma quadra, e os guias turísticos guiavam os de fora da cidade além do edifício alterado. Excursões e bandos de turistas independentes incluíam o que os guias chamavam de "Sede dos vampiros" em seus planos.  A segurança era muito evidente. Este bloco seria um alvo natural para os bombardeiros da Sociedade do Sol. Alguns estabelecimentos de propriedade de vampiros de outras cidades foram atacados, e a rainha não estava disposta a perder a vida-após-amorte dessa maneira.   Os guardas de plantão eram vampiros, e eram assustadores como o diabo. A rainha tinha sua própria equipe SWAT76 vampira. Embora os vampiros fossem simplesmente letais por si mesmo, a rainha achava que os humanos prestavam mais atenção se eles encontrassem a silhueta reconhecível. Os guardas não estavam apenas fortemente armados, mas eles usavam colete negro a prova de balas sobre uniformes pretos. Era letal-matador chique.  Claudine tinha me preparado para isso durante todo o jantar e, quando ela me deixou aqui, me senti plenamente informada. Eu também me senti como se eu fosse à festa no jardim da Rainha da Inglaterra com todo meu novo refinamento. Pelo menos eu não precisava usar um chapéu. Mas meus saltos marrons eram uma proposta arriscada sobre esse piso irregular. "Observem a sede da vampira mais famosa e evidente de Nova Orleans, SophieAnne Leclerq," um guia turístico estava dizendo a seu grupo. Ele se vestia alegremente em uma espécie de roupa colonial: chapéu de três bicos77, calções, meias, sapatos de fivela.
                                                
76  SWAT é um acrônimo em inglês para Special Weapons And Tactics (Armas e Táticas Especiais).  Nos Estados Unidos, SWAT é o nome dado a uma unidade de polícia altamente especializada nos departamentos das grandes cidades. Mas, SWAT na verdade é um conceito baseado na premissa de um grupo seleto, altamente treinado e bem disciplinado, formado por policiais voluntários, são especialmente equipados e treinados para poderem reduzir o risco associado a uma situação de emergência.
77  http://images.buycostumes.com/mgen/merchandiser/21662.jpg
 
Meu Deus! Como eu parei para ouvir, seus olhos cintilaram em mim, notou minha roupa, e afiou-se com interesse.  "Se você é chamada por Sophie-Anne, você não pode ir de forma casual", ele disse ao grupo, e apontou para mim. "Essa moça está vestindo roupa apropriada para uma entrevista com a vampira... um dos vampiros mais proeminentes da América." Ele sorriu para o grupo, convidando-os a apreciar a sua referência.  Há cinqüenta outros vampiros tão proeminentes.78 Talvez não publicamente familiarizado ou exuberante como Sophie-Anne, mas o público não sabia disso. Ao invés de ser cercado com o ar adequado de exótica letalidade, o ―castelo‖ da rainha parecia mais uma macabra Disneylândia, graças aos vendedores de souvenir, os guias turísticos, e os curiosos observadores79. Havia até mesmo um fotógrafo. Quando me aproximei do primeiro anel de guardas, um homem pulou na minha frente e bateu uma foto minha. Eu estava congelada pelo flash de luz e olhei na direção dele - ou no que eu pensava que era a sua direção -, enquanto meus olhos se ajustavam. Quando eu fui capaz de vê-lo claramente, eu vi que ele era um homem pequeno e sujo com uma câmera grande e uma expressão determinada. Ele se apressou imediatamente ao que adivinho ser o posto ao qual estava acostumado, um canto no lado oposto da rua. Ele não se ofereceu para me vender uma imagem ou me dizer onde eu poderia comprar uma, e ele não me deu qualquer explicação. Eu tive um mau pressentimento sobre esse incidente. Quando eu falei com um dos guardas, minhas suspeitas foram confirmadas. "Ele é um espião da Sociedade do Sol", disse o vampiro, balançando a cabeça na direção do homem pequeno. Ele localizou o meu nome em uma lista presa a uma prancheta. O guarda era um homem robusto, com pele morena e um nariz curvo como um arco-íris. Ele nasceu em algum lugar no Oriente Médio, uma vez em algum tempo. O nome anexado com velcro ao capacete dizia Rasul.  "Estamos proibidos de matá-lo", disse Rasul, como se estivesse explicando um costume popular um pouco inoportuno. Ele sorriu para mim, de uma forma um pouco desconcertante, também. O capacete negro cobria até em baixo no seu rosto e sua queixeira80 era do tipo que realmente arrodeava seu queixo, então, eu só podia ver um pouco de seu rosto. No momento, esse pouco era, principalmente, de dentes afiados e brancos. ―A Sociedade fotografa todos que entram e saem daqui, e não parece ter algo que possamos fazer contra isso, pois queremos manter a benevolência dos seres humanos‖. Rasul supôs corretamente que eu era uma aliada dos vampiros, pois eu estava na lista de visitantes, e estava me tratando com uma camaradagem que eu achei relaxante. "Seria fascinante se algo acontecesse com sua câmera", sugeri. "A Sociedade já está me caçando.‖ Embora eu me sentisse muito culpada, pedindo a um vampiro para organizar um acidente com outro ser humano, eu gostava bastante da minha própria vida para querer me salvar. 
                                                
78  Referência aos 50 estados americanos, cada um com seu Rei ou Rainha. 79  No original: ―gawkers‖, que significa algo como um espectador que olha algo estupidamente sem consciência inteligente.
80  https://kdsport.sslaccess.com/shop/images/helmet_chin_strap.jpg
 
Seus olhos brilharam quando passamos por um poste. A luz capturada neles, por um momento, brilhou avermelhada, como acontece, às vezes, com os olhos das pessoas, quando o fotógrafo utiliza um flash.  "Estranhamente, algumas coisas já têm acontecido com suas câmeras", disse Rasul. "Na verdade, duas delas foram esmagadas sem ter conserto. O que é mais um acidente? Eu não estou garantindo nada, mas vamos fazer o nosso melhor, adorável senhora.‖   ―Muito obrigada", eu disse. ‖Qualquer coisa que você puder fazer será muito apreciado. Depois de hoje à noite, eu posso falar com uma bruxa que poderia cuidar desse problema para você. Talvez ela possa fazer todas as fotos saírem danificadas, ou algo assim. Você deveria chamá-la.‖  "É uma excelente idéia. Aqui está Melanie", disse ele, quando chegamos à porta principal. "Eu vou passá-la para ela, e retornar ao meu posto. Vou ver quando você sair, pegar o nome da bruxa e endereço?‖   ―Claro", eu disse.  "Alguém já lhe disse que você cheira encantadoramente como uma fada?" Rasul disse.  "Oh, eu estive com a minha fada madrinha", expliquei. "Ela me levou para fazer compras.‖  ―E o resultado foi maravilhoso", disse ele galantemente.  "Seu adulador." Não pude deixar de sorrir para ele. Meu ego tinha tomado uma pancada no plexo solar81 na noite anterior (mas eu não estava pensando sobre isso), e uma coisa pequena, como a admiração do guarda, era exatamente o que eu precisava mesmo se realmente o cheiro de Claudine que tenha desencadeado.  Melanie era uma mulher delicada, mesmo na roupa da SWAT. "Nham, nham, você tem cheiro de fadas", disse ela. Ela consultou sua própria prancheta. "Você é a mulher Stackhouse? A rainha esperava você a noite passada." ―Eu me machuquei.‖ Eu segurei meu braço para fora, mostrando o curativo. Graças a um monte de Advil82 a dor tinha baixado para um fraco pulsar. "Sim, eu ouvi sobre isso. O novato esta tendo uma grande noite hoje. Ele recebeu instruções, ele tem um mentor, e ele tem um doador voluntário. Quando ele se sentir mais com seu autocontrole, ele poderá nos dizer como ele chegou a ser transformado‖.  "Oh?" Ouvi a minha voz falhar quando eu percebi que ela estava falando sobre Jake Purifoy. "Ele não pode se lembrar?"  ―Se for um ataque de surpresa, às vezes eles não se lembram por um tempo", ela disse, e encolheu os ombros. "Mas sempre volta, mais cedo ou mais tarde. Entretanto, ele vai ter um almoço grátis". Ela riu do meu olhar inquisitivo "Eles se inscrevem para o privilégio, você sabe. Humanos estúpidos." Ela encolheu os ombros. "Não há nenhuma graça nisso, uma vez que você conseguiu superar a excitação da alimentação em si. A diversão estava sempre na caça." Melanie realmente não estava satisfeita com a nova política dos vampiros alimentando-se apenas de seres humanos dispostos ou do sangue sintético. Ela claramente sente a falta de sua dieta anterior. 
                                               
 81  O terceiro chacra (conhecido como Chakra do Plexo Solar) localiza-se na região do umbigo ou do plexo solar, e está relacionado com as emoções. Quando muito energizado, indica que a pessoa é voltada para as emoções e prazeres imediatos. Quando fraco sugere carência energética, baixo magnetismo, suscetibilidade emocional e a possibilidade de doenças crônicas 82  Analgésico.
 
Eu tentei parecer educadamente interessada.  "Quando a vítima faz o primeiro adiantamento, apenas não é o mesmo", ela grunhiu. "Pessoas de hoje em dia." Ela balançou a cabeça em uma irritação cansada. Desde que ela era tão pequena que seu capacete quase oscilava na sua cabeça, eu podia me sentir sorrindo.  "Então, ele acorda e vocês arrebanham o voluntário? Como deixar cair um rato vivo em um tanque de cobra?" Eu trabalhei para manter meu rosto sério. Eu não queria que Melanie pensasse que eu estava tirando sarro de seu pessoal.  Depois de um momento suspeito, Melanie disse: "Mais ou menos. Ele está sendo ensinado. Existem outros vampiros presentes."   ―E o voluntário sobrevive?"  ―Eles assinam uma liberação com antecedência", disse Melanie, com cuidado.  Estremeci.  Rasul tinha me acompanhado desde o outro lado da rua à entrada principal para o domínio da rainha. Era um prédio de três andares, talvez datando dos anos cinquenta, e estendendo-se por um quarteirão inteiro. Em outros lugares, o subsolo teria sido o retiro dos vampiros, mas em Nova Orleans, com seu lençol freático elevado, era impossível. Todas as janelas tinham recebido um tratamento diferenciado. Os painéis que cobriam foram decorados com o tema do Mardi Gras83, então o prédio de tijolos foi decorado com desenhos rosa, roxo e verde sobre fundo branco ou fundo preto. Havia manchas iridescentes84 sobre as persianas, também, como esferas Mardi Gras85. O efeito era desconcertante.  "O que ela faz quando ela dá uma festa?" Eu perguntei. Apesar das persianas, o trivial escritório retangular não era festivo.  "Oh, ela possui um antigo mosteiro", disse Melanie. "Você pode obter um folheto sobre o assunto antes de ir embora. Esse é o lugar onde todas as funções do Estado são mantidas. Alguns dos antigos não podem ir para a antiga capela, mas outras como esta... ela tem um muro alto ao redor, por isso é fácil de patrulhar, e a decoração é agradável de verdade. A rainha tem apartamentos lá, mas é muito inseguro para se viver o ano inteiro.‖  Eu não conseguia pensar em nada para dizer. Eu duvidava que eu visse a residência da Rainha do estado. Mas Melanie parecia entediada e inclinada a conversar. "Você era a prima de Hadley, que eu ouvir falar?‖ perguntou ela. ―Sim.‖  "Estranho, pensar em ter parentes vivos." Por um momento, ela olhou para longe, tão melancólica como um vampiro pode olhar. Então, ela parecia tipo se agitar mentalmente. "Hadley não era mau para alguém tão jovem. Mas ela parecia tomar a sua longevidade vampira como certa um pouco demais."  Melanie sacudiu a cabeça. "Ela nunca deveria ter passado por cima de alguém tão velho e astuto como Waldo".  "Sem dúvida alguma", disse.
 
83  Mardi Gras é uma festa carnavalesca que ocorre todo o ano em Nova Orleans, Estados Unidos, sendo um dos mais famosos Carnavais do mundo. Conhecido por suas máscaras de gesso, colar de continhas e paradas com bandinhas durante todo mês antes do Carnaval, na "terça-feira gorda" — que significa Mardi Gras em francês. As cores típicas do Mardi Gras são: o dourado, que significa poder; o verde, que significa fé; e o roxo, que significa justiça.
84  Que reflete ou mostra as cores do arco-íris.
85  http://badexample.mu.nu/archives/mardi%20gras%20beads.jpg
 
"Chester", Melanie chamou. Chester era o seguinte na linha de guarda, e ele estava com uma figura familiar vestida com o (que eu vinha a pensar como) traje SWAT usual.  "Bubba!" Exclamei ao mesmo tempo em que o vampiro disse: "Senhorita Sookie!" Bubba e eu nos abraçamos, para diversão dos vampiros. Vampiros não apertam as mãos, no curso normal das coisas, e abraçar era exagerado em sua cultura.  Fiquei contente de ver que não haviam o deixado ter uma arma, basta o equipamento dos guardas. Ele estava bem no equipamento militar, e eu disse isso a ele. "Preto fica muito bem com seu cabelo," eu disse, e Bubba sorriu seu sorriso famoso. "Agradável você dizer isso", ele disse. "Muito obrigado".  Um dia, todo mundo tinha conhecido a face e o sorriso de Bubba. Quando ele tinha sido levado para um necrotério em Memphis, um assistente de vampiro tinha detectado o menor sopro de vida. Uma vez que o atendente era um grande fã, tinha assumido a responsabilidade de trazer o cantor à vida, e uma lenda tinha nascido. Infelizmente, o corpo de Bubba estava tão saturado com as drogas e males físicos, que a conversão não foi totalmente bem sucedida, e o mundo dos vampiros passava Bubba de um para o outro como o pesadelo de relações públicas que ele era.  "Há quanto tempo você está aqui, Bubba?" Eu perguntei.  "Oh, algumas semanas, mas eu realmente gosto‖, disse ele. "Muitos gatos vadios."  ―Certo," eu disse, tentando não pensar nisso também graficamente. Eu realmente gosto de gatos. Assim como Bubba, mas não da mesma maneira. "Se um humano pega um vislumbre dele, eles pensam ser um imitador", Chester disse calmamente. Melanie tinha voltado ao seu posto, e Chester, que tinha sido um garoto de cabelo cor de areia interiorano com dentição pobre, quando ele foi tomado, agora estava cuidando de mim. "Isso é bom, na maioria das vezes. Mas algumas vezes, chamam-lhe pelo que era seu nome. Ou então pedem a ele para cantar.‖ Bubba canta muito raramente hoje em dia, embora de vez em quando ele possa ser persuadido a cantar uma ou duas canções familiares. Essa foi uma ocasião memorável. Na maioria das vezes, porém, ele negou que pudesse cantar uma nota, e ele geralmente fica muito agitado quando é chamado pelo seu nome original.  Ele ficou atrás de nós, enquanto Chester me levava ainda mais para dentro do prédio. Havíamos virado e subido um andar, encontrando mais e mais vampiros - e alguns humanos - posicionados aqui e ali, com um ar decidido. Era como qualquer edifício de escritórios ocupado em dia da semana, exceto que os trabalhadores eram vampiros e o céu lá fora estava tão escuro como sempre é o céu de Nova Orleans. Enquanto caminhávamos, reparei que alguns vampiros pareciam mais à vontade do que outros. Eu observei que os vampiros mais cautelosos vestiam o mesmo broche ligado a seus colares, broches no formato do estado de Arkansas. Estes vampiros deviam fazer parte da comitiva do marido da rainha, Peter Threadgill. Quando um dos vampiros de Louisiana esbarrou em um vampiro de Arkansas, o de Arkansas rosnou e por um segundo, pensei que teria uma luta no corredor por um pequeno acidente.  Céus, eu ficaria feliz em sair daqui. O clima estava tenso. Chester parou diante de uma porta que não parecia diferente de todas as outras portas fechadas, exceto por ter dois vampiros grandes fora dela. Os dois poderiam ter sido considerados gigantes na sua época, pois pareciam ter 1,90m. Pareciam irmãos, mas talvez fossem apenas o seu tamanho e porte, e a cor de seus cabelos castanhos, que provocou a comparação: grandes como rochas, barbudos, com rabos-de-cavalo que arrastavam por suas costas, os dois pareciam como carne nobre para o circuito de luta livre profissional. Um deles tinha uma enorme cicatriz em seu rosto, adquirida antes da morte, é claro. O outro tinha alguma doença de pele em sua vida original. Eles não eram apenas itens de exibição, eram absolutamente letais.  (A propósito, alguns promotores tiveram a idéia de um circuito de luta livre de vampiros alguns anos atrás, mas ela foi por água abaixo86 imediatamente. Na primeira partida, um vampiro tinha rasgado o braço do outro fora, ao vivo na TV. Vampiros não conhecem o conceito de luta de exibição.)  Estes dois vampiros estavam armados com facas, e cada um tinha um machado em seu cinto. Eu acho que eles perceberam que se alguém havia penetrado tão longe, as armas não iam fazer muita diferença. Seus próprios corpos eram armas.  "Bert, Bert", Chester disse, acenando para um de cada vez. "Essa aqui é a mulher Stackhouse, a rainha quer vê-la."  Ele virou e foi embora, me deixando com os guarda-costas da rainha.  Gritar não parecia uma boa idéia, então eu disse: ―Eu não posso acreditar que ambos tenham o mesmo nome. Certamente, ele cometeu um erro?‖ Dois pares de olhos castanhos focaram em mim atentamente. "Eu sou Sigebert", disse o com cicatriz, com um sotaque que não consegui identificar. Ele disse seu nome como See-ya bairt87. Chester estava usando uma versão muito americanizada do que deve ser um nome muito antigo. "Este é meu irmão, Wybert".  Este é o meu irmão, Way-bairt88? "Olá", disse eu, tentando não estremecer. "Sou Sookie Stackhouse‖.  Eles não pareceram impressionados. Nesse momento, um dos vampiros com broche passou espremido, lançando um olhar de desprezo mal velado aos irmãos, e a atmosfera no corredor tornou-se letal. Sigebert e Wybert assistiram o vampiro, uma mulher alta em um terno de negócios, até que virou uma esquina. Em seguida, voltaram sua atenção para mim.  "A rainha está... Ocupada", disse Wybert. "Quando ela a quiser em seu quarto, a luz vai brilhar." Ele indicou uma luz redonda na parede à direita da porta.  Então, eu estava presa aqui por um tempo indeterminado - até que a luz brilhasse. "Os seus nomes têm um significado? Eu estou supondo que é, um, Inglês antigo?‖ Minha voz definhou.  ―Nós éramos saxões. Nosso pai foi da Alemanha para a Inglaterra, como você chama agora‖, disse Wybert. "Meu nome significa Batalha Brilhante".  ―E o meu Vitória brilhante‖, Sigebert acrescentou. Lembrei-me de um programa que eu tinha visto no History Channel. Os saxões tornaram-se eventualmente os anglo-saxões e, posteriormente, foram dominados pelos Normandos. "Então, vocês foram criados para serem guerreiros", disse eu, tentando parecer inteligente.  Eles trocaram olhares. "Não havia mais nada", disse Sigebert. O fim de sua cicatriz mexeu quando ele falou, e eu tentei não olhar. "Nós éramos filhos do líder da guerra‖.  Eu poderia pensar de uma centena de perguntas para perguntar-lhes sobre as suas vidas como seres humanos, mas de pé no meio de um corredor de um prédio durante a noite não parecia o momento de fazê-lo. "Como aconteceu de vocês tornarem-se vampiros?" Eu
86  No original: ―went down in flames‖, que significa que fracassou imediatamente. 87  Pronúncia em inglês, não tem como traduzir. 88  Mesmo caso do anterior, pensem na pronúncia em inglês.
 
perguntei. "Ou isso é uma questão delicada? Se for, basta esquecer que eu disse alguma coisa. Eu não quero pisar em nenhum pé89‖.  Sigebert realmente olhou para seus pés, então eu tive a idéia de que o Inglês coloquial não era seu forte. "Essa mulher... muito bonita... ela chegou até nós na noite antes da batalha", disse Wybert hesitante. "Ela disse... que seriamos mais fortes... se ela nos tomasse.‖  Eles me olharam interrogativamente, e eu assenti para mostrar que entendi que Wybert dizia que a vampira tinha deixado implícito o seu interesse em estar na cama deles. Ou eles tinham entendido que ela quis dizer sangrá-los? Eu não poderia dizer. Eu pensei que teria sido uma poderosa vampira ambiciosa para tomar estes dois seres humanos, ao mesmo tempo. "Ela não disse que só lutaríamos à noite, depois disso," Sigebert disse, encolhendo os ombros para mostrar que houve um problema que eles não tinham entendido. "Nós não fizemos muitas perguntas. Somos muito ansiosos!" E ele sorriu. Ok, nada tão assustador como um vampiro apenas com suas presas. Era possível que Sigebert tivesse mais dentes na parte de trás da boca, que eu não podia ver da minha altura, mas os dentes abundantesembora-tortos de Chester tinha parecido excelentes em comparação. "Isso deve ter sido há muito tempo atrás", disse eu, porque eu não conseguia pensar em mais nada a dizer. "Há quanto tempo vocês trabalham para a rainha?‖  Sigebert e Wybert se entreolharam. "Desde aquela noite," Wybert disse surpreso que eu não tinha entendido. "Somos dela.‖  O meu respeito para a rainha, e talvez o meu medo da rainha, aumentou. SophieAnne, se esse era seu nome real, tinha sido corajosa, estratégica, e ocupada em sua carreira como líder dos vampiros. Ela os trouxe para cá, e os mantinha com ela, em uma ligação que - aquele cujo nome eu não ia falar para mim mesmo - tinha explicado para mim, era mais forte do que qualquer outro laço emocional, para um vampiro.  Para meu alívio, a luz verde brilhou na parede.  Sigebert disse: "Vá agora", e empurrou a porta pesada. Ele e Wybert me deram acenos de despedidas, enquanto eu atravessava a soleira da porta para dentro de um cômodo que era como qualquer escritório executivo comum. Sophie-Anne Leclerq, Rainha de Louisiana, e um vampiro do sexo masculino estavam sentados em uma mesa redonda amontoada de papéis. Eu conheci a rainha antes, quando ela veio a minha casa para me contar sobre a morte da minha prima. Eu não tinha percebido então, quão jovem ela deveria ser quando ela morreu, talvez não mais de quinze anos. Ela era uma mulher elegante, talvez quatro centímetros mais baixa do que a minha altura de 1,70m, e ela estava arrumada até o último cílio. Maquiagem, vestido, cabelo, meias, jóias, todos os seus recursos90.  O vampiro na mesa com ela era sua cópia masculina. Ele usava um terno que teria pagado a minha conta da TV a cabo por um ano, e ele estava barbeado e perfumado e bem cuidado, até que ele não era mais um cara. No meu meio, eu não via muitos homens tão arrumados. Pensei que esse era o novo rei. Eu me perguntei se ele tinha morrido em tal                                                  89  No original: ―step on any toes‖, expressão que significa se meter nos assuntos dos outros, podendo ofender ou incomodar. Não pudemos mudar para uma expressão brasileira, porque perderia o sentido da ação do guarda no parágrafo seguinte =[. 90  No original: ―the whole nine yards‖, expressão da 2° Guerra Mundial, referindo-se a um piloto de caça utilizando-se toda a sua munição tentando derrubar um avião inimigo. Significa usar todos os seus recursos para alcançar o objetivo.
Estado, na verdade, eu queria saber se a casa funerária tinha limpado-o assim para o seu funeral, não sabendo que a sua descida abaixo do solo era apenas temporária. Se fosse esse o caso, ele era mais jovem do que sua rainha. Talvez a idade não fosse à única exigência, se você pretende ser da realeza.  Havia duas outras pessoas na sala. Um homem baixo cerca de três metros atrás da cadeira da rainha, as pernas afastadas, as mãos entrelaçadas na frente dele. Ele tinha cabelo loiro branco curto e olhos azuis brilhantes. Seu rosto não tinha maturidade, ele parecia uma criança grande, mas com os ombros de um homem. Ele estava vestindo um terno, e ele estava armado com um sabre e um revólver. Atrás do homem na mesa estava uma mulher, uma vampira, vestida toda de vermelho; calça, camiseta, Converses91. Sua preferência era inadequada, porque o vermelho não era a sua cor. Ela era asiática, e eu pensei que tinha chegado do Vietnã, apesar de que provavelmente teria sido chamado de outra coisa então. Ela tinha unhas curtas sem pintura, e uma espada terrível amarrada a suas costas. Aparentemente, seu cabelo tinha sido cortado na altura do queixo com uma tesoura enferrujada. Seu rosto era um estrago do que Deus lhe dera.  Já que eu não tinha um manual sobre o protocolo correto, eu inclinei minha cabeça à rainha, dizendo: "Bom te ver de novo, minha senhora", e tentei parecer agradável para o rei, enquanto fazia a coisa de inclinar a cabeça novamente. Os dois espectadores de pé, que deviam ser assessores ou seguranças, receberam acenos menores. Eu me senti como um idiota, mas eu não queria ignorá-las. No entanto, eles não tinham problema em me ignorar, uma vez que tinham me dado uma total avaliação de ameaça.  "Você teve algumas aventuras em Nova Orleans", disse a rainha, uma introdução segura. Ela não estava sorrindo, mas depois tive a impressão de que ela não era uma espécie de garota sorridente.  ―Sim, senhora‖. "Sookie, este é o meu marido. Peter Threadgill, Rei do Arkansas." Não havia um rastro de afeição em seu rosto. Ela poderia muito bem ter me dito o nome de seu animal de estimação. "Como está‖, eu disse, e repeti a minha inclinação de cabeça, acrescentando, "Senhor", apressadamente. Ok, já estava cansada disso.  "Senhorita Stackhouse," disse ele, voltando sua atenção para os papéis à sua frente. A mesa redonda era grande e completamente cheia de cartas, relatórios de computador, e uma variedade de outros papéis – extratos bancários?  Enquanto eu estava aliviada por não ser um objeto de interesse para o rei, eu estava pensando exatamente o porquê de eu estar lá. Eu descobri quando a rainha começou a questionar-me sobre a noite anterior. Eu disse a ela o mais explicitamente como pude o que tinha acontecido.  Ela olhou muito sério quando eu falei sobre a magia de estase de Amélia e o que tinha feito com o corpo.  "Você não acha que a bruxa sabia que o corpo estava lá quando ela lançou o feitiço?" a rainha perguntou. Notei que, embora o rei tivesse o olhar sobre os papéis na frente dele, ele não tinha movido um deles desde que eu tinha começado a falar. Claro, talvez ele fosse um leitor muito lento.  "Não, senhora. Eu sei que Amélia não sabia que ele estava lá."
91  http://3c.img.v4.skyrock.net/3c5/lulu-converses/pics/472371029.jpg
 
―Com a sua capacidade telepática?  "Sim, senhora".  Peter Threadgill olhou para mim, e eu vi que seus olhos eram de um cinza frio incomum. Seu rosto estava cheio de ângulos agudos: um nariz como uma lâmina, lábios finos e retos, maçãs do rosto altas.  O rei e a rainha estavam ambos com boa aparência, mas não de uma forma que atingiu toda a emoção em mim. Eu tinha a impressão de que o sentimento era mútuo. Graças a Deus.  ―Você é a telepata que minha querida Sophie quer trazer para a conferência‖, disse Peter Threadgill. Desde que ele estava me dizendo algo que eu já sabia, eu não senti a necessidade de responder. Mas a prudência ganhou da pura irritação. "Sim, eu sou."  ―Stan tem um", a rainha disse a seu marido, como se vampiros colecionassem telepatas como os criadores de cães colecionam springer spaniels92.  O Stan eu só sabia que era um vampiro cabeça em Dallas, e o único outro telepata que eu já conheci tinha vivido lá. A partir das poucas palavras da rainha, eu imaginei que a vida de Barry havia mudado muito desde que eu o conheci. Aparentemente, ele trabalhava para Stan Davis agora. Eu não sabia se o Stan era xerife ou mesmo um rei, uma vez que naquele momento eu não estava a par do fato dos vampiros terem algo semelhante. "Então agora você está tentando igualar sua comitiva com a de Stan?‖ Peter Threadgill perguntou à esposa, em um modo distinto não carinhoso. Das muitas pistas jogadas em meu caminho, eu tinha enxergado a imagem que este não era um casamento com amor. Se você me pedisse para sugerir, eu diria que não era sequer um jogo de luxúria. Eu sabia que a rainha tinha gostado da minha prima Hadley de uma forma luxuriosa, e os dois irmãos de guarda tinha dito que ela abalou seu mundo. Peter Threadgill estava longe de ambos os lados desse espectro. Mas talvez isso só provasse que a rainha era Pansexual93, se essa fosse uma palavra. Eu iria procurá-la quando fosse para casa. Se algum dia eu chegasse em casa.  "Se Stan pode ver a vantagem em empregar tal pessoa, eu posso certamente considerá-la, especialmente uma vez que é facilmente disponível." Eu estava em choque.  O rei encolheu os ombros. Não que eu havia formado muitas expectativas, mas eu teria antecipado que o rei de um belo, pobre e pitoresco estado como Arkansas seria menos sofisticado e popular, com senso de humor. Talvez Threadgill fosse um aventureiro da cidade de Nova Iorque. Vampiros tendiam a ser de todo o mapa, literalmente, por isso era impossível dizer de onde eram.  "Então o que você acha que aconteceu no apartamento de Hadley?‖ A rainha perguntou-me, e eu percebi que tínhamos voltado ao assunto original.  ―Eu não sei quem atacou Jake Purifoy‖, eu disse. ―Mas na noite que Hadley foi ao cemitério com Waldo, o corpo de Jake drenado pousou em seu armário. Quanto à forma como chegou lá, eu não poderia dizer. É por isso que Amélia está querendo fazer essa coisa ecto esta noite.‖
                                                
92  Raça de cão. http://static.gotpetsonline.com/pictures-gallery/dog-pictures-breeders-puppiesrescue/welsh-springer-spaniel-pictures-breeders-puppies-rescue/pictures/welsh-springer-spaniel-0006.jpg
93  Atração por diversos gêneros, quando se aceita a existência de mais de dois gêneros.
 
A expressão da rainha mudou, ela olhou realmente interessada. "Ela está querendo fazer uma reconstrução ectoplasmática? Eu já ouvi sobre isso, mas nunca presenciei um‖.  O rei parecia mais que interessado. Por uma fração de segundo, ele parecia extremamente irritado. Eu forcei minha atenção de volta para a rainha. "Amelia queria saber se você teria o cuidado de, ah, financiá-la?" Gostaria de saber se deveria acrescentar: "Minha senhora", mas eu simplesmente não podia fazer isso. "Isso seria um bom investimento, já que nosso novo vampiro poderia ter colocado todos nós em uma grande encrenca. Se ele tivesse se soltado sobre o povo... Eu vou ficar feliz em pagar.‖  Respirei de alívio. "E eu acho que vou assistir também", acrescentou a rainha, antes que eu pudesse exalar.  Isso soou como a pior idéia do mundo. Eu pensei que a presença da rainha desanimaria Amelia até que toda a magia tivesse fora. No entanto, não havia nenhuma maneira de eu dizer à rainha que ela não era bem-vinda.  Peter Threadgill olhou pra cima bruscamente quando a rainha anunciou que iria assistir. "Eu não acho que você deva ir", disse ele, sua voz suave e autoritária. "Vai ser difícil para os gêmeos e André protegê-la fora da cidade, num bairro como aquele.‖  Gostaria de saber como o Rei do Arkansas tinha alguma idéia de como era o bairro de Hadley. Na verdade, era uma zona calma de classe média, especialmente em comparação com o zoológico, que era a sede central do vampiro, com o seu fluxo constante de turistas e fanáticos com câmeras. Sophie-Anne já estava se preparando para sair. Essa preparação consistiu em olhar no espelho para certificar-se que a fachada impecável ainda estava impecável e deslizar para seus altos saltos, que estavam sob a beirada da mesa. Ela tinha estado sentada com os pés descalços. Esse detalhe, de repente fez Sophie-Anne Leclerq muito mais real para mim. Havia uma personalidade no seu brilhante exterior. "Eu suponho que você gostaria de Bill para nos acompanhar", a rainha disse para mim. "Não", eu rosnei. Ok, havia uma personalidade e era desagradável e cruel.  Mas a rainha parecia genuinamente assustada. O marido dela estava indignado com a minha grosseria – a sua cabeça lançou-se para cima e seus estranhos olhos cinzentos se fixaram em mim com uma raiva intensidade - mas a rainha estava simplesmente surpresa com minha reação. "Eu pensei que vocês fossem um casal", disse ela, na mesma perfeita voz.  Eu engoli a minha primeira resposta, tentando lembrar com quem eu estava falando, e disse quase num sussurro: "Não, não somos." Eu respirei fundo e fiz um grande esforço. "Peço desculpas por ser tão abrupta. Queira desculpar-me."  A rainha, simplesmente me olhou por alguns segundos a mais, e eu ainda não consegui o menor indício de seus pensamentos, emoções ou intenções. Era como olhar para uma bandeja de prata antigo, uma superfície brilhante, um padrão elaborado, e duro ao toque. Como Hadley poderia ter sido ousada o suficiente para ir pra cama com esta mulher era simplesmente além da minha compreensão.  "Está desculpada", disse ela finalmente.  "Você é muito branda", disse o marido, e sua superfície, pelo menos, começou a atenuar um pouco. Seus lábios torcidos em algo que se aproximava de um grunhido, e eu descobri que eu não queria ser o foco desses olhos luminosos por mais um segundo. Eu não gostava da maneira como a menina asiática de vermelho estava olhando para mim, também. E cada vez que olhava para seu corte de cabelo, dava-me calafrios. Deus, mesmo a senhora idosa que tinha feito permanente na minha avó, três vezes por ano, teria feito um trabalho melhor do que o Louco Cortador de Grama.  "Estarei de volta em uma ou duas horas, Peter," disse Sophie-Anne, muito precisamente, em um tom que poderia ter cortado um diamante. O homem baixo, seu rosto infantil em branco, estava ao seu lado num instante, estendendo o braço para que ela pudesse ter a sua assistência ao se levantar. Achei que era o André.  A atmosfera era palpável. Ah, eu queria muito estar em outro lugar.  "Eu me sentiria mais à vontade se eu soubesse que Jade Flower está com você", disse o rei. Ele apontou para a mulher de vermelho. Jade Flower, uma ova94: ela se parecia mais com serial Killer. O rosto da mulher asiática mão se alterou nem um pouco com a oferta do rei.  "Mas isso seria deixá-lo com ninguém", disse a Rainha.  "Dificilmente é verdade. O prédio está cheio de guardas e vampiros leais", disse Peter Threadgill.  Ok, acho que peguei isso. Os guardas, que pertencem à rainha, foram separados dos vampiros leais os quais, acho, foram os que Peter tinha trazido com ele.  "Então, obviamente, eu ficaria orgulhosa de ter uma lutadora como Jade Flower me acompanhando."  Eca. Eu não poderia dizer se a rainha falava sério, ou tentava apaziguar seu novo marido, ao aceitar sua oferta, ou estava se divertindo muito com sua estratégia para garantir que seu espião estivesse na reconstrução ectoplasma. A rainha usou o interfone para chamar abaixo - ou acima, pelo que eu saiba - para o aposento seguro onde Jake Purifoy estava sendo educado ao modo dos vampiros. "Mantenha guarda extra sobre Purifoy", disse ela. "E deixe-me saber no minuto em que ele se lembrar de alguma coisa." Uma voz servil assegurou que ela seria a primeira, a saber.  Eu me perguntava por que Jake necessitava de guarda extra. Eu achava difícil tornar-me sinceramente preocupada com o seu bem-estar, mas, obviamente, a rainha estava.  Então aqui fomos nós; a rainha, Jade Flower, André, Sigebert, Wybert, e eu. Eu acho que eu já estive em companhia tão variada, mas eu não poderia dizer quando. Depois de passar por muitos corredores, entramos em uma garagem vigiada e entramos em uma limusine. André apontou com o polegar a um dos guardas, indicando que este era o guarda que deveria dirigir. Eu não tinha ouvido o vampiro com cara de bebê proferir uma palavra, até o momento. Para o meu prazer, o motorista foi Rasul, que eu sentia como um velho amigo em comparação com os outros.  Sigebert e Wybert estavam desconfortáveis no carro. Eram os vampiros mais inflexíveis que eu já conheci, e me perguntei se a sua estreita associação com a rainha não tinha sido sua ruína. Eles não tiveram de mudar, e mudar com os tempos era a técnica de sobrevivência chave antes da grande revelação. E assim permaneceu em países que não aceitaram a existência de vampiros com a tolerância que América tinha mostrado. Os dois vampiros teriam sido felizes vestindo peles e panos tecidos a mão e teriam parecido perfeitamente à vontade em botas de couro feitas à mão, carregando escudo em seus braços. "Seu xerife, Eric, veio falar comigo na noite passada", me disse a rainha.                                                   94 Nessa frase ela faz uma relação com o sobrenome de Jade Flower, flor.
"Eu o vi no hospital," eu disse, esperando que eu soasse igualmente sem interesse.  "Você entende que o novo vampiro, aquele que era um lobis – ele não tinha escolha, você entende?"  ―Estou familiarizada com os vampiros," disse, lembrando todas às vezes no passado, quando Bill tinha explicado as coisas, dizendo que ele não se conteve. Eu acreditei na hora, mas eu não tinha tanta certeza de mais nada. Na verdade, eu estava tão profundamente cansada e infeliz que eu mal tinha coragem de continuar a tentar terminar com o apartamento de Hadley, seus bens e seus casos. Eu percebi que se eu fosse para casa em Bon Temps, deixando negócios inacabados aqui, eu teria apenas ficado ansiosa e preocupada, quando eu chegasse lá.  Eu sabia disso, mas no momento, era difícil de enfrentar.  Era hora de uma de minhas conversas comigo mesma. Eu disse a mim mesma firmemente que eu já desfrutava de um momento ou dois naquela noite, e poderia aproveitar mais alguns segundos de cada dia, até que eu construiria a volta ao meu contente estado anterior. Eu sempre gostei da vida, e eu sabia que voltaria. Mas eu teria que trabalhar duramente por um monte de trechos ruins para chegar lá.  Eu não acho que tenha sido uma pessoa com um monte de ilusões. Se você pode ler mentes, você não tem muitas dúvidas sobre o quão ruim mesmo as melhores pessoas podem ser.  Mas tenho certeza que não tinha visto o que estava vindo.  Para meu horror, lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Enfiei a mão na bolsinha, tirei um lenço de papel, e acariciei meu rosto enquanto todos os vampiros olhavam para mim, Jade Flower com a expressão mais identificável no rosto: o desprezo. "Você está com dor?" a rainha perguntou, indicando o meu braço.  Eu não acho que ela realmente se importava, eu tinha certeza de que ela havia se instruído para dar a correta resposta humana por tanto tempo que era um reflexo.  "Dor do coração", eu disse, e me arrependi de ter dito.  "Oh," ela disse. "Bill?"  ―Sim", eu disse, e engoli, fazendo o meu melhor para parar a exibição da emoção.  "Eu sofri por Hadley", disse ela inesperadamente.  "Foi bom que ela tivesse alguém para cuidar dela." Depois de um minuto eu disse, "eu teria ficado feliz em saber que ela estava morta assim que aconteceu", que foi tão cuidadosamente quanto eu poderia expressá-la. Eu não tinha descoberto que a minha prima tinha morrido até semanas após o fato.  "Havia razões para que eu esperasse antes de enviar Cataliades para lá", disse Sophie-Anne. Seu rosto suave e olhos claros eram tão impenetráveis como uma parede de gelo, mas eu tenho a impressão de que ela desejava que eu não tivesse levantado o assunto. Olhei para a rainha, tentando pegar alguma pista, e ela deu uma pequena sacudida do olho em direção a Jade Flower, que estava sentada à sua direita. Eu não sabia como Jade Flower poderia estar sentada na sua posição relaxada com a espada longa amarrada a suas costas. Mas eu definitivamente tinha a sensação de que por trás de seu rosto sem expressão e os olhos vazios, Jade Flower estava escutando tudo que acontecia.  Para estar no lado seguro, eu decidi que não iria dizer nada, e o resto do caminho passou em silêncio.  Rasul não quis levar a limusine para o pátio, e eu me lembrei que Diantha tinha estacionado na rua, também. Rasul voltou a abrir as portas para a rainha, e André saiu primeiro, olhou ao redor por muito tempo, então assentiu com a cabeça que era seguro para a rainha sair. Rasul ficou de prontidão, com um rifle nas mãos, varrendo a área visual para atacantes. André era muito vigilante.  Jade Flower escorregou para fora do banco de trás ao lado e acrescentou os seus olhos àquela varredura da área. Protegendo a rainha com seus corpos, eles se moveram para o pátio. Sigebert saiu depois, com o machado na mão, e esperou por mim. Depois que eu me juntei a ele na calçada, ele e Wybert me levaram através da porta aberta, com menos cerimônia que os outros tinham tomado a rainha.  Eu vi a rainha na minha própria casa, sem proteção de ninguém a não ser Cataliades. Eu tinha visto a rainha em seu próprio escritório, protegida por uma pessoa. Eu acho que eu não sabia até aquele momento, o quão importante era a segurança para Sophie-Anne, quão instável a segurança no poder deveria ser. Eu queria saber contra quem todos esses guardas estavam protegendo ela. Quem queria matar a rainha da Louisiana? Talvez todos os governantes vampiros estivessem em grande perigo, ou talvez fosse apenas Sophie-Anne. De repente, a conferência dos vampiros pareceu algo muito mais assustador que antes.  O pátio estava bem iluminado, e Amélia estava em pé na calçada circular com três amigos. Para o registro, nenhum deles estava com vassouras. Um deles era um garoto que parecia um missionário mórmon: calça preta, camisa branca, gravata escura, sapatos pretos polidos. Havia uma bicicleta encostada na árvore no centro do círculo. Talvez ele fosse um missionário mórmon. Ele parecia tão jovem que eu pensei que ele poderia ainda estar crescendo. A mulher alta ao lado dele estava na casa dos sessenta, mas ela tinha um corpo atlético. Ela estava vestindo uma camiseta apertada, calças de malha, sandálias e um par de brincos de argola enorme. A terceira bruxa tinha por volta da minha idade, próximo dos trinta anos, e ela era hispânica. Tinha bochechas cheias, lábios vermelhos brilhante, e cabelos ondulados preto, e ela era pequena e tinha mais curvas que uma volta em S. Sigebert a admirava especialmente (eu poderia dizer isso pelo olhar), mas ela ignorou todos os vampiros, como se ela não pudesse vê-los.  Amélia poderia ter sido surpreendida pelo afluxo de vampiros, mas ela lidava com introduções com calma. É evidente que a rainha já tinha se identificado antes de eu me aproximar. "Sua Majestade", Amelia estava dizendo: "Estes são os meus co-praticantes". Ela girou a mão mostrando eles, como se ela estivesse mostrando um carro para a platéia. "Bob Jessup, Patsy Sellers, Terencia Rodriguez - Terry, como a chamamos."  As bruxas se entreolharam antes de acenar brevemente para a rainha. Era difícil dizer como ela tomou essa falta de respeito, seu rosto era tão suave, mas ela acenou de volta, e a atmosfera ficou tolerável.  "Estávamos nos preparando para nossa reconstrução", disse Amélia. Ela parecia absolutamente confiante, mas eu notei que suas mãos tremiam. Seus pensamentos não estavam nem perto de ser tão confiáveis quanto à voz dela, tampouco. Amelia estava recapitulando sobre seus preparativos em sua cabeça, freneticamente discriminando as coisas mágicas que ela tinha reunido ansiosamente reavaliando suas companheiras para convencer a si mesma que elas foram até o ritual, e assim por diante. Amelia, eu percebi tardiamente, era uma perfeccionista.  Eu me perguntava onde estava Claudine. Talvez ela tivesse visto que os vampiros vinham e, por prudência, tenha fugido para algum canto escuro. Enquanto eu estava olhando procurando por ela, eu tive um momento em que à mágoa que eu estava guardando simplesmente me atacou. Era como os momentos que eu tive depois que minha avó morreu, quando eu estava fazendo algo familiar, como escovar os dentes, e de repente a escuridão me esmagava. Demorou um minuto ou dois para me recompor e nadar de volta a superfície novamente. Seria por pouco tempo, e eu só tinha que cerrar os dentes e aguentar.  Eu me fiz tomar conhecimento dos que me cercam. As bruxas tinham assumido suas posições. Bob se acomodou em uma cadeira de jardim no pátio, e eu olhava com um pequeno surto de interesse, enquanto ele retirava material em pó de pequenos sacos Ziploc95 e tirou uma caixa de fósforos do bolso em seu peito. Amelia subiu as escadas para o apartamento, Terry estacionou no meio da escada, e a bruxa alta e mais velha, Patsy, já estava de pé na varanda, olhando para nós.  "Se todos querem assistir, provavelmente aqui seria melhor," Amelia chamou, e eu e a rainha subimos as escadas. Os guardas se reuniram em um aglomerado no portão para que eles estivessem tão longe da magia quanto pudessem estar; mesmo Jade Flower parecia respeitar o poder que estava prestes a ser posto em prática, mesmo que ela não tenha respeitado as bruxas como pessoas.  Naturalmente, André acompanhou a rainha subir as escadas, mas achei que houve uma inclinação menos entusiasmada em seus ombros.  Foi bom para focar em algo novo, em vez de remoer minhas misérias, e eu ouvia com interesse Amélia, que parecia que iria jogar vôlei de praia, em vez disso deu-nos instruções sobre a magia que ela estava prestes a lançar.  "Nós ajustamos o tempo para duas horas antes que eu vi Jake chegar", disse ela. "Então, vocês podem ver um monte de coisas chatas e irrelevantes. Se ficar cansativo, eu posso tentar acelerar os eventos."  De repente, tive um pensamento que me cegou por sua pura simplicidade. Eu pediria para Amelia voltar a Bon Temps comigo, e aí eu iria pedir para ela repetir este procedimento no meu quintal, então eu saberia o que tinha acontecido à pobre Gladiola. Eu me senti muito melhor uma vez que eu tive esta idéia, e eu me fiz prestar atenção ao aqui e agora.  Amélia gritou "Começar!" e imediatamente começou a recitar as palavras, acho que em latim. Eu ouvi um eco distante vindo das escadas e do pátio, quando as outras bruxas se juntaram.  Nós não sabíamos o que esperar, e foi estranhamente chato ouvir o canto continuar depois de alguns minutos. Comecei a imaginar o que iria acontecer comigo se a rainha ficasse muito aborrecida.  Então minha prima Hadley entrou na sala.  Eu fiquei tão chocada, eu quase falei com ela. Quando olhei por apenas um segundo a mais, eu poderia dizer que não era realmente Hadley. Tinha a forma dela, e se movia como ela, mas esta imagem tinha pouca cor. Seu cabelo não era um escuro verdadeiro, mas uma impressão de brilho escuro. Parecia cor de água, andando. Você podia ver o brilho da superfície. Eu olhei para ela ansiosamente: tinha sido há tanto tempo desde que nós tínhamos visto uma à outra. Hadley parecia mais velha, é claro. Ela parecia mais dura também, com um sarcasmo fixo na boca e um olhar cético nos olhos. 
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Alheia à presença de alguém na sala, a reconstrução foi até o sofá, pegou um controle remoto fantasma, e ligou a televisão. Eu realmente olhei para a tela para ver se ela iria mostrar algo, mas é claro que não.  Senti um movimento ao meu lado e olhei para a rainha. Se eu estava chocada, ela estava excitada. Eu nunca tinha pensado que a rainha realmente amou Hadley, mas agora vi que ela amou, tanto quanto ela era capaz.  Nós assistimos Hadley olhar para a televisão de vez em quando, enquanto ela pintava as unhas dos pés, bebia um copo fantasma de sangue, e fazia um telefonema. Nós não podíamos ouvi-la. Só podíamos ver dentro de um alcance limitado. O objeto que ela tocava só aparecia na hora que sua mão o tocava, mas não antes, assim você só podia ter certeza de que ela tinha pegado quando começasse a usá-lo. Quando ela se inclinou para frente para substituir o copo de sangue em cima da mesa, e sua mão ainda estava segurando o copo, nós víamos o vidro, a mesa com os seus outros objetos, e Hadley, de uma só vez, todos com a aura brilhante. A mesa fantasma foi fixada sobre a mesa real, que ainda estava quase exatamente no mesmo espaço que havia estado naquela noite, apenas para torná-lo estranho. Quando Hadley deixou o copo, o copo e a mesa deixaram de existir. Os olhos de Andre estavam arregalados e olhavam fixamente, quando olhei para trás para ele, e foi a maior expressão que eu tinha visto em seu rosto. Se a rainha estava de luto e eu fascinada e triste, André estava simplesmente apavorado.  Ficamos por mais alguns minutos nisto, até Hadley claramente ouvir uma batida na porta. (Sua cabeça virou em direção à porta, e ela olhou surpresa.) Levantou-se (o sofá fantasma, talvez dois centímetros para a direita do real, tornou-se inexistente) e caminhou através do chão. Ela pisou através do meu tênis, que estavam descansando lado a lado perto do sofá.  Ok, isso foi estranho. Essa coisa toda era estranha, mas fascinante.  Presumivelmente, as pessoas no pátio tinham visto a pessoa que bateu subir a escada exterior, já que eu ouvi um alto xingamento de um dos Berts - Wybert pensei. Quando Hadley abriu uma porta fantasma, Patsy que estava parada do lado de fora, na varanda, empurrou a porta real para que pudéssemos ver. Pela cara de desapontamento de Amelia, eu poderia dizer que ela não tinha pensado nisso com antecedência. Parado na porta estava Waldo (fantasma), um vampiro que tinha estado com a rainha durante anos. Ele tinha sido muito castigado nos anos antes de sua morte, o que tinha o deixado com a pele permanentemente enrugada. Considerando que Waldo tinha sido um albino ultra magro antes desta punição, ele parecia terrível na única noite que eu o conheci. Como uma criatura fantasma aquosa, ele parecia bem melhor.  Hadley pareceu surpresa ao vê-lo. Esta expressão foi forte o suficiente para ser facilmente reconhecível. Então ela olhou enojada. Mas ela o deixou entrar. Quando ela caminhou de volta à mesa para pegar o copo, Waldo olhou em volta, como se para ver se alguém mais estava lá. A tentação para avisar Hadley era tão forte, era quase irresistível.  Depois de alguma conversa, que naturalmente não podíamos entender, Hadley encolheu os ombros e pareceu concordar com um plano. Presumivelmente, essa foi a idéia que Waldo me contou na noite que ele confessou o assassinato da minha prima. Ele disse que tinha sido idéia de Hadley ir ao Cemitério Número 1 de St. Louis para ressuscitar o fantasma da vodu Marie Laveau, mas a partir desta evidência parecia que Waldo foi quem sugeriu a excursão. 
"O que é isso na mão dele?" Amelia disse o mais calmamente que pôde, e Patsy interveio da galeria para checar.  "Folheto", ela disse a Amélia, tentando usar tons igualmente silenciosos. "Sobre Marie Laveau".  Hadley olhou para o relógio em seu pulso e disse algo a Waldo. Foi algo cruel, a julgar pela expressão de Hadley e a de sua cabeça, quando ela indicou a porta. Ela estava dizendo "Não", tão claramente como a linguagem corporal podia fazê-lo.  E ainda assim na noite seguinte, ela tinha ido com ele. O que aconteceu para mudar sua mente?  Hadley voltou para seu quarto e a seguimos. Olhando para trás, vimos Waldo deixar o apartamento, colocando o folheto sobre a mesa perto da porta quando ele saiu.  Parecia estranhamente voyeurista96 estar no quarto de Hadley com Amélia, a rainha, e André, assistindo Hadley tirar um roupão de banho e vestir um vestido muito chique.  "Ela usou isso para a festa na noite anterior ao casamento", a rainha disse calmamente. Era um vestido vermelho, colado ao corpo, curto, adornado com lantejoulas vermelho-escuras e maravilhosos saltos de jacaré. Hadley estava vestida para fazer a rainha lamentar o que estava perdendo, evidentemente.  Nós assistimos primeiro Hadley no espelho, fazendo o cabelo dela de duas maneiras diferentes, e meditando a sua escolha de batons por um tempo muito longo. A novidade estava ficando cansativa, e eu estava disposta a avançar, mas a rainha apenas não podia se cansar o suficiente de ver sua amada novamente. Tenho certeza que ninguém iria protestar, especialmente sendo a rainha que estava pagando a conta. Hadley girou frente e costas, diante de seu espelho de corpo inteiro, parecia satisfeita com o que viu, em seguida, explodiu em lágrimas.  "Oh, minha querida", a rainha disse calmamente. ―Eu sinto muito.‖ Eu sabia exatamente como Hadley se sentia, e pela primeira vez senti o nosso parentesco que tinha se perdido ao longo dos anos de separação. Nessa reconstrução, era a noite antes do casamento da rainha, e Hadley tinha que ir a uma festa e vê a rainha e seu noivo como um casal. E na noite seguinte ela teria que assistir ao seu casamento, ou assim pensou. Ela não sabia que ela estaria morta até então, finalmente, definitivamente morta.  "Alguém chegando," falou o bruxo Bob. Sua voz flutuava pelas janelas abertas francesas para a varanda. No mundo fantasmagórico, a campainha deve ter tocado, porque Hadley firmou-se, deu uma última olhada no espelho (direto através de nós, pois estávamos na frente dele) e visivelmente se preparou. Quando Hadley andou pelo corredor, ela tinha um familiar balanço nos seus quadris e em seu rosto aquoso apareceu um frio meio sorriso.  Ela abriu a porta. Uma vez que a bruxa Patsy havia deixado a porta aberta depois de que Waldo "tinha chegado", podíamos ver isso acontecendo. Jake Purifoy estava vestido com um smoking, e ele parecia muito bem, como disse Amélia. Olhei Amelia quando ele entrou no apartamento, e ela estava olhando o fantasma infeliz.  Você poderia dizer que ele não gostava de ser enviado para pegar o pão de mel da rainha, mas ele era muito político e muito cortês, ao ter que sair com Hadley. Ele esperou pacientemente enquanto ela pegava uma bolsa minúscula e dava uma penteada final no cabelo, e então os dois foram para fora da porta.
 
96  Voyeurismo é uma prática que consiste num indivíduo conseguir obter prazer sexual através da observação de outras pessoas. Essas pessoas podem estar envolvidas em atos sexuais, nuas, em roupa interior, ou com qualquer vestuário que seja apelativo para o indivíduo em questão, o voyeur.
 
"Descendo lá pra fora", chamou Bob, e nós fomos para a porta e atravessamos a varanda para olhar sobre a grade. Os dois fantasmas entraram em um carro brilhante e dirigiram para fora do pátio. Foi aí que a área afetada pela magia chegou ao fim. Como o carro fantasma atravessou a área de entrada, ele piscou para fora da existência perto do grupo de vampiros que se agrupou na passagem. Sigebert e Wybert ficaram com os olhos arregalados e solenes, Jade Flower pareceu descontente, Rasul olhou vagamente divertido, como se ele estivesse pensando nas boas histórias que ele teria para contar na sala de jantar dos guardas  "Hora de avançar rápido", chamou Amelia. Ela estava cansada, e me perguntei como um grande esforço de coordenação de um ato de bruxaria como esse era colocado em uma jovem bruxa.  Patsy, Terry, Bob, e Amelia começaram a dizer outra magia em uníssono. Se houvesse um elo mais fraco neste esforço de equipe, era Terry. A bruxa de rosto redondo pequeno suava profusamente e tremia com o esforço de se manter até o final da magia. Eu me senti um pouco preocupada quando vi a tensão no seu rosto.  "Calma, calma!" Amelia estimulou sua equipe, depois de ter lido os mesmos sinais. Então todos retomaram a cantar, e Terry parecia estar se sentindo um pouco melhor, ela não parecia tão desesperada.  Amelia disse: "Mais devagar... agora...", e passou a cantar em um ritmo mais lento.  O carro apareceu novamente na porta, neste momento atravessando Sigebert, que tinha dado um passo a frente, eu suspeitava, para assistir Terry melhor. Ele balançou bruscamente e parou metade para dentro, metade para fora da abertura.  Hadley se atirou para fora do carro. Ela estava chorando e, a partir da aparência de seu rosto, ela tinha chorado durante algum tempo. Jake Purifoy saiu ao seu lado e ficou ali, com as mãos no topo da sua porta, falando através do teto do carro com Hadley.  Pela primeira vez, o guarda-costas pessoal da rainha falou. Andre disse: "Hadley, você tem que superar isto. As pessoas vão notar e o novo rei fará algo sobre isso. Ele é o tipo ciumento, sabe? Ele não se preocupa com..." Andre perdeu a discussão, e sacudiu a cabeça. "Ele se preocupa em manter sua imagem."  Estávamos todos olhando para ele. Ele estava canalizando?  O guarda-costas da rainha mudou seu olhar para o ectoplasma de Hadley. Andre disse: "Mas Jake, eu não aguento. Eu sei que ela tem que fazer isso politicamente, mas ela está me mandando embora! Eu não agüento".  Andre podia ler lábios. Mesmo lábios ectoplasmáticos. Ele começou a falar novamente.  "Hadley, suba e vá dormir. Você não pode ir ao casamento, se você está indo para criar uma cena. Você sabe que vai envergonhar a rainha, e estragar a cerimônia. Meu chefe vai me matar se isso acontecer. Este é o maior evento em que já trabalhou.‖  Ele estava falando de Quinn, eu percebi. Jake Purifoy foi o funcionário que Quinn me disse que tinha sumido.  "Eu não posso suportar isso", Hadley repetiu. Ela estava gritando, eu poderia dizer da forma como sua boca se movia, mas felizmente André não viu necessidade de imitar isso. Foi estranho ouvir tantas palavras saírem de sua boca. "Eu fiz uma coisa terrível!" As palavras melodramáticas soaram muito estranhas no monótono André.  Hadley correu até as escadas, e Terry automaticamente saiu do caminho para deixála passar. Hadley abriu a porta (já aberta) e invadiu o apartamento dela. Nós viramos para ver Jake. Jake suspirou, endireitou-se e se afastou do veículo, que desapareceu. Ele abria um telefone celular e digitou um número. Ele falou ao telefone por menos de um minuto, sem pausa para uma resposta, por isso era seguro assumir que tinha deixado uma mensagem de voz.  Andre disse: ―Patrão, tenho que dizer que acredito que será um problema. A namorada não será capaz de controlar-se no dia.‖ Oh meu Deus, me diga que Quinn não matou Hadley! Eu pensei, sentindo-me absolutamente enjoada com o pensamento. Mas, mesmo com a idéia totalmente formada, Jake retornou para a traseira do carro, que apareceu novamente quando ele encostou nele. Ele passou a mão carinhosamente ao longo da linha do porta-malas, chegando cada vez mais perto da área fora do portão, e de repente uma mão estendeu e o agarrou. A área das bruxas não se estendia além das paredes, por isso o resto do corpo estava ausente, e os efeitos de uma mão materializando do nada causaram apreensão dos desavisados e era tão assustador quanto qualquer coisa em um filme de horror.  Isso era exatamente como um daqueles sonhos onde você vê o perigo se aproximando, mas você não pode falar. Nenhuma advertência da nossa parte poderia alterar o que já aconteceu. Mas estávamos todos chocados. Os irmãos Bert gritaram, Jade Flower puxou a espada sem que eu a visse se mover, a boca da rainha caiu aberta.  Podíamos ver apenas os pés de Jake batendo violentamente. Então eles pararam.  Ficamos todos de pé, olhamos um para outro, mesmo as bruxas, oscilando a sua concentração até que pátio começou a encher com névoa.  "Bruxas!" Amelia chamou áspera. "De volta ao trabalho!" Em um momento, tudo tinha desaparecido. Mas os pés de Jake estavam quietos, e em um momento, seu contorno se voltou mais inconsistente; desvanecia-se como todos outros objetos sem vida.  Em poucos segundos, porém, minha prima apareceu na varanda acima, olhando para baixo. Sua expressão era cautelosa e preocupada. Ela tinha ouvido alguma coisa. Nós registramos o momento em que ela viu o corpo, e ela desceu as escadas com a velocidade vampírica. Ela pulou o portão e se perdeu a visão, mas, em um momento, ela estava de volta, arrastando o corpo pelos pés. Enquanto ela estava tocando, o corpo era visível como uma mesa ou cadeira poderia ter sido. Então ela se inclinou sobre o cadáver, e agora podíamos ver que Jake tinha uma ferida enorme no pescoço. A ferida era revoltante, mas eu tenho que dizer que os vampiros assistindo não olharam enojados, mas encantados.  A Hadley ectoplasmática olhou em volta, esperando por ajuda que não veio. Ela olhou desesperadamente incerta. Seus dedos nunca deixaram o pescoço de Jake enquanto ela sentia o seu pulso.  Finalmente, ela inclinou-se para ele e disse algo a ele.  "É a única maneira", Andre traduziu. "Você pode me odiar, mas é o único modo." Nós assistimos Hadley morder seu pulso com as suas próprias presas e, em seguida, colocou seu pulso sangrando na boca de Jake, observou o gotejamento de sangue para dentro, observou ele reviver o suficiente para agarrar seus braços e puxá-la até ele. Quando Hadley fez que Jake a soltasse, ela parecia exausta, e ele pareceu como se estivesse tendo convulsões. "Os lobis não fazem um bom vampiro", Sigebert disse em um sussurro. "Eu nunca tinha visto um antes".  Com certeza foi difícil para o pobre Jake Purifoy. Eu comecei a perdoar o horror da noite anterior, vendo seu sofrimento. Minha prima Hadley o pegou e o levou para os degraus acima, parando de vez em quando para olhar ao seu redor. Segui ela mais uma vez, a rainha vindo logo atrás. Nós assistimos Hadley tirar a roupa rasgada de Jake, enrolar uma toalha em volta do pescoço até o sangramento parar, e arrumar-lo no armário, cobrindo-o com cuidado e fechando a porta para o sol da manhã não queimar o vampiro novo, que teria que ficar no escuro por três dias. Hadley jogou a toalha sangrenta em seu cesto. Então ela enfiou outra toalha no espaço aberto na parte inferior da porta, para que Jake estivesse protegido do sol.  Então ela se sentou na sala e pensou. Finalmente ela conseguiu seu telefone celular e ligou para um número.  "Ela chama por Waldo", disse Andre. Quando os lábios de Hadley começaram a se mover novamente, Andre disse: "Ela marca o encontro para a noite seguinte. Ela diz que precisa falar com o fantasma de Marie Laveau, se o fantasma realmente aparecer. Ela precisa de um conselho, diz ela." Depois de conversar um pouco mais, Hadley fechou seu telefone e se levantou. Ela recolheu as vestes rasgadas e sangrentas e selou em um saco.  "Você deve pegar a toalha, também", avisei, num sussurro, mas minha prima deixou no cesto para que eu encontrasse, quando eu cheguei. Hadley pegou as chaves do carro no bolso das calças e, quando desceu as escadas, ela entrou no carro e foi embora com o saco de lixo. 
 
―Vossa Majestade, temos que parar,‖ disse Amelia, e a rainha fez um leve movimento com sua mão que pode ter sido um consentimento.  Terry estava tão exausta que estava apoiada pesadamente contra o corrimão da escada, e Patsy parecia tão cansada quanto na varanda. O nerd Bob parecia inalterado, mas então ele sabiamente sentou-se em uma cadeira, para começar. A um sinal silencioso de Amelia, eles começaram a desfazer o feitiço que tinham lançado, e gradualmente a atmosfera sinistra diminuiu. Nos tornamos um grupo heterogêneo de pessoas bizarras em um pátio em Nova Orleans, ao invés de testemunhas impotentes para uma reconstituição mágica.  Amelia foi ao galpão de armazenamento do canto e tirou algumas cadeiras dobráveis. Sigebert e Wybert não entenderam o mecanismo, de modo que Amelia e Bob ajustaram as cadeiras.  Depois que a rainha e os bruxos se sentaram, havia um assento sobrando, e eu o tomei após um silêncio recíproco entre mim e quatro vampiros.  ―Então, nós sabemos o que aconteceu na noite passada,‖ eu disse, com ar cansado. Eu estava me sentindo um pouco idiota no meu vestido extravagante e sandálias de salto alto. Seria bom colocar minhas roupas habituais.  ―Ó, perdão, talvez você, mas o resto de nós não, e nós queremos saber,‖ disse Bob. Ele parecia desatento ao fato de que ele deveria estar tremendo de medo na presença da rainha.  Havia algo um tanto amável sobre o bruxo nerd. E todos os quatro tinham trabalhado tão esforçadamente; se eles queriam saber o resto da história, não havia qualquer razão pelo qual não poderiam ouvi-la. A rainha não levantou qualquer objeção. Mesmo Jade Flower, que tinha desembainhado sua espada, parecia ligeiramente interessada.  ―Na noite seguinte, Waldo atraiu Hadley para o cemitério com a história do túmulo de Marie Laveau e a tradição vampírica que os mortos podem ressuscitar os mortos - neste caso, a sacerdotisa vodu Marie Laveau. Hadley queria que Marie Laveau respondesse suas perguntas, já que Waldo tinha dito a Hadley que o fantasma poderia responder, se o ritual correto fosse seguido. Embora Waldo tenha me dado uma razão, pela qual Hadley concordasse em fazer isso, na noite que eu o conheci, agora eu sei que ele estava mentindo. Mas eu posso pensar em várias outras razões pelas quais ela poderia ter concordado em ir com Waldo para o cemitério de St. Louis,‖ eu disse. A rainha concordou em silêncio. ―Acho que ela queria saber o que Jake seria, quando ele se levantasse,‖ eu disse. ―Eu acho que ela queria saber o que fazer com ele. Ela não podia deixá-lo morrer, vocês viram isso, mas ela não queria revelar para ninguém que tinha criado um vampiro, especialmente um que tinha sido um Lobis.‖ Eu tinha uma boa quantidade de ouvintes. Sigebert e Wybert estavam agachados um a cada lado da rainha e estavam envolvidos na história. Isto deve ser como ir ao cinema, para eles.  Todos os bruxos estavam interessados em ouvir os bastidores dos eventos que tinham acabado de presenciar. Jade Flower tinha os olhos fixos em mim. Apenas Andre parecia imune, e ele estava ocupado fazendo o seu trabalho de guarda-costas, constantemente analisando o pátio e o céu por ataques.  ―É possível, também, que Hadley pode ter acreditado que o fantasma poderia lhe dar conselhos sobre maneiras de recuperar o afeto da rainha. Sem ofensa, senhora,‖ eu acrescentei, lembrando tarde demais que a rainha estava sentada a 91 cm de distância de mim em uma cadeira de tecido dobrável com a etiqueta de preço do Wal-Mart ainda pendurado na alça de plástico.  A rainha agitou sua mão em um gesto negligente. Ela estava afogada em pensamentos, tão profundamente que eu não tinha certeza de que ela me ouviu.  ―Não foi Waldo que drenou Jake Purifoy,‖ disse a rainha, para meu espanto. ―Waldo não poderia ter imaginado que, quando ele teve êxito matando Hadley e relatou a morte para mim, culpando a Irmandade do Sol, esta bruxa inteligente iria obedecer à ordem para selar o apartamento muito literalmente, incluindo um feitiço de estase. Waldo já tinha um plano. Quem quer que tenha matado Jake tinha um plano distinto - talvez culpar Hadley pela morte de Jake e seu renascimento... que a condenaria à prisão em uma cela de vampiros. Talvez o assassino achasse que Jake mataria Hadley quando ele se levantasse em três dias... e possivelmente, ele teria.‖ Amelia tentou parecer modesta, mas foi uma batalha difícil. Deveria ter sido fácil, visto que a única razão que ela teve para lançar o feitiço foi impedir que o apartamento cheirasse como lixo quando ele finalmente fosse reaberto. Ela sabia disso, e eu sabia disso. Mas tinha sido uma bela obra de bruxaria, e eu não estava prestes a ser a estraga-prazeres97.  Amelia estragou tudo sozinha.  ―Ou talvez,‖ disse ela alegremente, ―alguém pagou ao Waldo para tirar Hadley de cena, de um meio ou de outro.‖ Eu tive que bloquear meus escudos imediatamente, porque todos os bruxos começaram a transmitir tanto sinais fortes de pânico em torno deles que ficou insuportável. Eles sabiam que o que Amelia tinha dito iria perturbar a rainha, e quando a rainha da Louisiana ficava perturbada, aqueles ao redor dela tendem a ficar ainda mais agitados.  A rainha disparou de sua cadeira, de modo que todos ficamos em pé, às pressas e desajeitadamente. Amelia tinha suas pernas dobradas justamente embaixo dela, por isso foi especialmente difícil para ela querer endireitar-se. Jade Flower afastou-se alguns passos do resto dos vampiros, mas talvez ela quisesse mais espaço, em caso de ter que movimentar sua espada. Andre foi o único que observou isso, além de mim. Ele manteve o olhar fixo na guarda-costas do rei.  Eu não sei o que teria acontecido a seguir se Quinn não tivesse dirigido pela entrada.  Ele saiu do grande carro preto, ignorou o quadro tenso, como se nem mesmo existisse, e atravessou o cascalho até mim. Ele casualmente envolveu um braço sobre meus ombros e se inclinou para me dar um leve beijo. Eu não sei como comparar um beijo com outro. Todos os homens beijam de modo diferente, não é? E isso diz algo sobre seu caráter. Quinn me beijou como se estivéssemos tendo uma conversa.  ―Benzinho,‖ disse ele, quando eu tinha dito a última palavra. ―Cheguei aqui num bom momento? O que aconteceu com seu braço?‖ O ambiente abrandou um pouco. Eu o apresentei às pessoas que estavam no pátio. Ele conhecia os vampiros, mas não conhecia os bruxos. Ele se afastou de mim para
97  No original: ―burst her bubble‖, que significa tirar a felicidade de alguém, ser o estraga-prazeres.
 
conhecer e cumprimentar. Patsy e Amelia obviamente tinham ouvido falar dele e tentaram firmemente fingir não estarem muito impressionadas por conhecê-lo.  Eu tinha que tirar o resto das notícias da noite do meu peito. ―Meu braço foi mordido, Quinn,‖ comecei. Quinn esperou, seus olhos atentos no meu rosto. ―Fui mordida por um... eu receio que sabemos o que aconteceu com o seu funcionário. Seu nome era Jake Purifoy, não era?‖ eu disse.  ―O que?‖ Nas luzes brilhantes do pátio, vi que sua expressão estava cautelosa. Ele sabia que algo ruim estava por vir; como era de se esperar, vendo os visitantes reunidos, qualquer um poderia supor. ―Ele foi drenado e deixado aqui no pátio. Para salvar sua vida, Hadley o transformou. Ele se tornou um vampiro.‖ Quinn não compreendeu, por alguns segundos. Eu assisti como a concretização clareou, conforme ele captou a atrocidade que havia acontecido a Jake Purifoy. O rosto de Quinn tornou-se inflexível. Encontrei-me esperando que ele nunca me olhasse assim.  ―A mudança foi sem o consentimento do Lobis,‖ disse a rainha. ―É claro que um Lobis nunca aceitaria se tornar um de nós.‖ Se ela soou um pouco irritada, eu não ficaria muito surpresa. Lobis e vampiros cumprimentam uns ao outros com repulsa mal dissimulada, e só o fato de estarem unidos contra o mundo normal impedia que a repulsa explodisse uma guerra aberta. ―Eu fui à sua casa,‖ me disse Quinn, inesperadamente. ―Eu queria ver se você tinha voltado de Nova Orleans antes que eu dirigisse até aqui para procurar por Jake. Quem queimou um demônio em sua garagem?‖  ―Alguém matou Gladiola, a mensageira da rainha, quando ela veio para me entregar uma mensagem,‖ eu disse.  Houve um rebuliço entre os vampiros à minha volta. A rainha tinha conhecimento da morte de Gladiola, é claro; Sr. Cataliades teria ido contar-lhe obviamente. Mas ninguém mais tinha ouvido falar no assunto. ―Muitas pessoas morrem em seu quintal, benzinho,‖ Quinn me disse, embora seu tom estivesse ausente, e eu não o culpei por ser colocada em segundo plano98.  ―Apenas duas,‖ disse defensivamente, após um rápido resumo mental. ―Eu dificilmente chamaria isso de muito.‖ Claro, se você adicionar as pessoas que morreram em casa... eu rapidamente desliguei essa sequência de pensamento.  ―Quer saber?" Amelia disse em uma alta, voz artificialmente social. ―Acho que nós bruxos iremos neste momento dar no pé até aquela pizzaria na esquina da Chloe com a Justine. Portanto, se você precisar de nós, estaremos lá. Certo, pessoal?‖ Bob, Patsy, e Terry se moveram, mais rápido do que eu pensei que eles fossem capazes, para o portão de entrada, e quando os vampiros não receberam qualquer sinal de sua rainha, eles se puseram de lado e os deixaram passar. Uma vez que Amelia não se incomodou em recuperar sua bolsa, eu esperei que ela tivesse dinheiro em um bolso e suas chaves no outro. Tanto faz99.  Eu quase desejei ir me arrastando atrás deles. Espera um minuto! Por que eu não poderia? Olhei ansiosamente para o portão, mas Jade Flower entrou na abertura e me encarou, seus olhos de buracos negros em seu rosto redondo. 
98 No original: ―being on his back burner‖, que quer dizer ficar em segundo plano por algo mais importante. 99  No original: ―oh, well‖, que significa não se importar com o que está falando.
 
Essa era uma mulher que não gostava de mim nem um pouco. Andre, Sigebert e Wybert poderiam definitivamente me aprisionar ou me largar, e Rasul deve pensar que eu não seria uma má companhia por uma hora na cidade - mas Jade Flower apreciaria golpear minha cabeça com sua espada, e isso era um fato. Eu não podia ler as mentes dos vampiros (exceto por um pequeno vislumbre de vez em quando, que era um grande segredo), mas eu podia ler a linguagem corporal e eu podia ler a expressão nos olhos dela.  Eu não sabia o motivo desta hostilidade, e neste momento eu não acho que isso tivesse a mínima importância. A rainha estava pensando. Ela disse, ―Rasul, iremos voltar para a casa muito em breve.‖ Ele se curvou e caminhou até o carro.  ―Senhorita Stackhouse,‖ ela disse, girando seus olhos sobre mim. Eles brilhavam como lâmpadas escuras. Ela pegou minha mão, e subimos as escadas para o apartamento de Hadley, Andre rastejando atrás de nós como algo amarrado à perna de Sophie-Anne com corda. Eu contive o impulso insensato de puxar minha mão da rainha, que naturalmente estava fria, seca e forte, mas ela tomava cuidado para não pressionar. Estar tão perto da antiga vampira me fez vibrar como uma corda de violino. Eu não entendia como Hadley tinha aguentado isso. Ela me conduziu para o apartamento de Hadley e fechou a porta atrás de nós. Eu não acho que, mesmo os ouvidos excelentes dos vampiros abaixo de nós, poderiam ouvir a nossa conversa agora. O que tinha sido seu objetivo, porque a primeira coisa que ela disse foi, ―Você não dirá a ninguém o que eu estou prestes a lhe dizer.‖  Eu balancei minha cabeça, muda com apreensão.  ―Eu iniciei minha vida no que se tornou o norte da França, cerca de... mil e cem anos atrás.‖ Engoli em seco.  ―Eu não sabia onde me encontrava, é claro, mas eu penso que foi Lotaríngia100. No último século, eu tentei encontrar o lugar que passei meus primeiros doze anos, mas eu não pude, mesmo se minha vida dependesse disso.‖ Ela deu uma risada latida na virada da frase. ―Minha mãe era a esposa do homem mais rico da cidade, o que significava que ele tinha dois porcos a mais que qualquer outro. Meu nome naquele tempo era Judith.‖ Tentei fortemente não parecer chocada, parecer apenas interessada, mas foi uma luta. ―Quando eu tinha uns dez ou doze anos, eu acho, um mascate veio até nós, proveniente da estrada. Não tínhamos visto um rosto novo em seis meses. Nós estávamos animados.‖ Mas ela não sorriu ou pareceu como se ela se lembrasse da sensação daquele entusiasmo, só pelo fato. Seus ombros subiram e desceram, uma vez. ―Ele transmitiu uma enfermidade que nunca tinha vindo até nós antes. Penso agora que foi algum tipo de gripe. Dentro de duas semanas da sua estadia em nossa cidade, todos nela estavam mortos, com exceção de mim e um rapaz um pouco mais velho.‖
100  A Lotaríngia foi um reino da Europa ocidental resultante da divisão do Império Carolíngio no Tratado de Verdun e que consistia numa estreita faixa de terra ao longo dos rios Reno e Ródano. Este reino compreendia as regiões que hoje são a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo, a Renânia do Norte-Vestfália, a Renânia-Palatinado e o Sarre (estados da Alemanha), e ainda a Alsácia e a Lorena – que herdou o nome do antigo reino.
 
Houve um momento de silêncio embora tenhamos pensado sobre isso. Pelo menos eu pensei, e suponho que a rainha estava se lembrando. Andre poderia estar pensando sobre o preço das bananas na Guatemala.  ―Clovis não gostava de mim,‖ disse a rainha. ―Eu esqueci o porquê. Nossos pais... não me lembro. Poderia ter sido diferente se ele tivesse cuidado de mim. Aparentemente, ele me estuprou e depois me levou até a cidade próxima, onde ele começou a me oferecer. Por dinheiro, é claro, ou alimento. Embora a gripe viajasse através da nossa região, nunca ficamos doentes.‖ Eu tentei olhar para qualquer lugar, exceto para ela.  ―Por que motivo você não encontra meus olhos?‖ ela reclamou. Seu fraseado e seu sotaque mudaram enquanto falava, como se ela tivesse acabado de aprender inglês.  ―Eu me sinto mal por você,‖ eu disse.  Ela fez um som que envolvia colocar seus dentes superiores no lábio inferior e fazendo um esforço extra para a entrada de algum ar, então ela podia soprá-lo para fora. Soava como ‗fffft!‘ ―Não se incomode,‖ disse a rainha. ―Porque o que aconteceu a seguir foi, fomos acampar na floresta e um vampiro o pegou.‖ Ela parecia contente com a lembrança. Que viagem pelo caminho da memória. ―O vampiro estava com muita fome e começou com Clovis, porque ele era maior, mas quando ele terminou com Clovis, ele pode ter um minuto para olhar para mim e achou que seria bom ter uma companheira. Chamavase Alain. Por três anos ou mais eu viajei com Alain. Vampiros até então estavam ocultos, é claro. Existiam somente em histórias contadas por mulheres mais velhas ao redor do fogo. E Alain era eficaz em manter isto desta forma. Alain tinha sido um padre, e ele gostava muito de surpreender sacerdotes em suas camas.‖ Ela sorriu com a recordação.  Descobri minha compaixão diminuindo.  ―Alain prometeu e prometeu me transformar, porque é claro eu queria ser como ele era. Queria a força.‖ Seus olhos viraram para mim.  Fiz que sim com a cabeça entusiasticamente. Eu podia entender isso. ―Mas quando ele precisasse de dinheiro, de roupas e comida para mim, ele faria comigo a mesma coisa que Clovis, me venderia por dinheiro. Ele sabia que os homens notariam se eu estivesse fria, e ele sabia que eu iria mordê-los se ele me transformasse. Eu cresci cansada da negligência de sua promessa.‖ Balancei a cabeça para mostrar a ela que eu estava prestando atenção. E eu acenava, mas na minha mente eu me perguntava onde diabos esse monólogo estava sendo conduzindo e porque eu era a receptora de uma história tão fascinante e deprimente.  ―Então numa noite chegamos a uma aldeia onde o líder conhecia Alain pelo o que ele era. O estúpido do Alain tinha esquecido que ele tinha passado por ali antes e drenado a esposa do chefe! Então os aldeões o amarraram com uma corrente de prata, o que era surpreendente de se encontrar numa aldeia pequena, eu posso te dizer... e eles o jogaram em uma cabana, planejando mantê-lo ali até que o sacerdote da aldeia retornasse de uma viagem. Então eles pensaram em colocá-lo no sol em alguma cerimônia da igreja. Era uma aldeia pobre, mas em cima dele eles empilharam todas as moedas de prata e todo o alho que as pessoas possuíam, em um esforço para mantê-lo subjugado.‖ A rainha deu uma risada.  ―Eles sabiam que eu era humana, e sabiam que ele tinha abusado de mim,‖ ela disse. ―Então eles não me amarraram. A família do líder discutiu em me tomar como uma escrava, já que eles tinham perdido uma mulher para o vampiro. Eu sabia como isso seria.‖ A expressão em seu rosto era ao mesmo tempo de cortar o coração e absolutamente assustadora. Me mantive muito silenciosa.
―Naquela noite, eu retirei algumas tábuas frágeis da parte traseira da cabana e engatinhei para dentro. Eu disse ao Alain que quando ele me transformasse, eu o libertaria. Nós negociamos por um bom tempo, e então ele concordou. Cavei um buraco no chão, grande o suficiente para meu corpo. Planejamos que Alain me drenaria e me enterraria sob a cama de palha que ele estava deitado, alisando o chão de barro o melhor que ele pudesse. Ele poderia se mover o suficiente para isso. Na terceira noite, me levantaria. Eu quebraria a sua corrente e arremessaria o alho fora, embora fosse queimar minhas mãos. Escaparíamos na escuridão.‖ Ela riu alto. ―Mas o sacerdote retornou antes dos três dias terminar. No momento em que eu arranhei a minha saída do barro, Alain era cinzas enegrecidas no vento. Foi na cabana do sacerdote que eles guardaram Alain. O velho sacerdote foi quem me disse o que tinha acontecido.‖ Eu tive uma sensação que conhecia o final desta história. ―Ok,‖ eu disse rapidamente, ―Eu acho que o padre foi a sua primeira refeição.‖ Eu sorri alegremente.  ―Oh, não,‖ disse Sophie-Anne, em tempos passados Judith. ―Eu disse a ele que eu era o anjo da morte, e que eu o estava levando, já que ele tinha sido tão virtuoso.‖ Considerando o estado de Jake Purifoy quando ele se levantou pela primeira vez, pude apreciar o esforço angustiante que deve ter sido para a nova vampira.  ―O que você fez em seguida?‖ Eu perguntei. ―Depois de alguns anos, eu encontrei um órfão como eu; perambulando nos bosques, como eu,‖ disse ela, e se virou para olhar para seu guarda-costas. ―Estamos juntos desde então.‖ E finalmente vi uma expressão no rosto sem marcas de Andre: devoção absoluta.  ―Ele estava sendo forçado, como eu tinha sido,‖ disse ela suavemente. ―E eu cuidei disso.‖  Senti um arrepio frio correr minha espinha. Eu não poderia ter escolhido algo a dizer se você tivesse me pagado.  ―A razão que eu tenho entediado você com minha história antiga,‖ disse a rainha, balançando-se e sentando-se ainda mais reta, ―é dizer-lhe porque eu coloquei Hadley debaixo da minha asa. Ela, também, havia sido molestada por seu tio avô. Será que ele a molestou, também?‖ Eu assenti. Eu não tinha idéia que ele tinha abusado de Hadley. Ele não tinha progredido para a penetração real, mas só porque meus pais tinham morrido e eu tinha ido morar com minha avó. Meus pais não acreditaram em mim, mas eu convenci a minha avó que eu estava dizendo a verdade, no momento em que ele teria percebido que eu estava pronta, quando eu tinha uns nove anos. Claro, Hadley era mais velha. Tínhamos muito mais em comum do que eu jamais pensei. ―Me desculpe, eu não sabia,‖ disse. ―Obrigada por me dizer.‖ ―Hadley falou sobre você, muitas vezes,‖ disse a rainha. Sim, obrigada Hadley. Obrigada por me colocar disponível para o pior... não, espera, isso era injusto. Descobrir sobre a enorme decepção do Bill não foi a pior coisa que aconteceu comigo. Mas também não estava longe em minha lista pessoal.  ―Isso foi o que eu descobri,‖ eu disse, minha voz tão fria e nítida como uma vara de aipo101.  ―Você está chateada porque eu enviei Bill para te investigar, para saber se você poderia ser útil para mim,‖ disse a rainha.
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Eu tomei uma respiração profunda, obrigando os meus dentes a destravar. ―Não, eu não estou chateada com você. Você não pode evitar ser do jeito que é. E você nem mesmo me conhecia.‖ Outra respiração profunda. ―Estou chateada com Bill, que me conhecia e seguiu adiante com seu plano completo de uma maneira muito meticulosa e calculada.‖ Eu tive que afastar a dor. ―Além disso, por que você se importa?‖ Meu tom estava beirando à insolência, o que não era sábio, quando você está lidando com uma vampira poderosa. Ela tinha tocado em um ponto muito dolorido.  ―Porque você era muito querida para Hadley,‖ disse Sophie-Anne inesperadamente.  ―Você não poderia saber disso pela forma como ela me tratou, depois que se tornou uma adolescente,‖ eu disse, tendo aparentemente decidido que a honestidade imprudente era o caminho a seguir.  ―Ela estava triste por isso,‖ disse a rainha, ―uma vez que ela se tornou uma vampira, particularmente, e descobriu o que era ser uma minoria. Mesmo aqui em Nova Orleans, há preconceito. Conversamos sobre a vida dela muitas vezes, quando estávamos sozinhas.‖ Eu não sabia o que me deixou mais incômoda, a idéia da rainha e minha prima Hadley fazendo sexo, ou tendo uma conversa de travesseiro sobre mim posteriormente. Eu não me importo se os adultos têm relações sexuais consentidas, não importa no que consista esse sexo, desde que ambas as partes acordarem previamente. Mas eu não preciso ouvir necessariamente todos os detalhes, também. Qualquer interesse lascivo que eu poderia ter tido foi submerso ao longo dos anos com as imagens das mentes das pessoas no bar.  Isso estava se transformando em uma longa conversa. Eu queria que a rainha chegasse ao ponto.  ―A questão é,‖ a rainha disse, ―eu estou grata que você - através dos bruxos - me deu uma idéia melhor de como Hadley morreu. E também por você ter me deixado saber que há uma mais ampla conspiração contra mim do que apenas o coração ciumento de Waldo.‖ Eu deixei? ―Portanto, estou em dívida com você. Diga-me agora o que eu posso fazer por você.‖  ―Ah. Enviar um monte de caixas para que eu possa empacotar as coisas de Hadley e voltar para Bon Temps? Conseguir alguém para levar as coisas que eu não quero para um posto de coleta de donativos para a caridade?‖ A rainha olhou para baixo, e eu juro que ela estava sufocando um sorriso. ―Sim, eu penso que eu posso fazer isso,‖ disse ela. ―Eu vou enviar alguns humanos amanhã para fazer essas coisas.‖ ―Se alguém puder amontoar as coisas que eu quero dentro de um furgão e conduzilas até Bon Temps, seria muito bom,‖ eu disse. ―Talvez eu possa viajar de volta nesse furgão?‖ ―Também não é um problema,‖ disse ela.  Agora o grande favor. ―Eu realmente tenho que ir com você para essa coisa de conferência?‖ Eu perguntei, eu sabia que era uma espécie de abuso.  ―Sim,‖ ela disse.  Ok, jogarei defensivamente lá.  Ela acrescentou, ―Mas eu irei lhe pagar generosamente.‖  Me animei. Uma parte do dinheiro que eu tinha recebido por meus serviços vampíricos anteriores ainda estava em minha conta poupança, e eu tinha adquirido uma  grande oportunidade financeira quando Tara me ―vendeu‖ seu carro por um dólar, mas eu estava tão acostumada a viver perto do osso financeiro, que um recheio era sempre bemvindo. Eu estava sempre com medo de fraturar minha perna, ou da biela102 do meu carro quebrar, ou da minha casa queimar... espera, isso já tinha acontecido... bem, que algum desastre acontecesse, como um forte vento que eliminasse o estúpido telhado de estanho103 que minha avó tinha insistido pôr em cima, ou algo assim.  ―Você quer algo de Hadley?‖ Perguntei a ela, minha linha de pensamento precisou se desviar do dinheiro. ―Você sabe, uma lembrança?‖  Algo brilhou em seus olhos, algo que me surpreendeu.  ―Você tirou as palavras da minha boca,‖ disse a rainha, com um indício de um adorável sotaque francês.  Ops! Não poderia ser bom que ela tenha ativado o encanto.  ―Eu pedi a Hadley para esconder algo para mim,‖ disse ela. Meu contador de papo furado estava apitando como um despertador. ―E se você se deparar com ela em seu empacotamento, eu gostaria de tê-la de volta.‖ ―Ela se parece com o que?‖ ―É uma jóia,‖ disse ela. ―Meu marido me deu como um presente de noivado. Acontece que eu tive que deixá-la aqui antes de me casar.‖ ―Você é bem vinda para olhar na caixa de jóias de Hadley,‖ eu disse imediatamente. ―Se ela te pertence, é claro que você tem que tê-la de volta.‖ ―Isso é muito gentil de sua parte,‖ disse ela, seu rosto voltando para a sua normal uniformidade apática. ―É um diamante, um grande diamante, e está preso a um bracelete de platina.‖ Eu não me lembro de nada assim nas coisas de Hadley, mas eu não tinha olhado com cuidado. Eu tinha planejado embalar a caixa de jóias de Hadley intacta, assim eu poderia escolher sem interrupções no meu tempo livre em Bon Temps.  ―Por favor, olhe agora,‖ eu sugeri. ―Eu sei que seria uma gafe perder um presente de seu marido.‖ ―Oh,‖ ela disse suavemente, ―você não tem idéia.‖ Sophie-Anne fechou os olhos por um segundo, como se estivesse ansiosa demais para palavras. ―Andre,‖ disse ela, e com essa palavra ele partiu para o quarto - não precisou de nenhuma direção, eu reparei - e enquanto ele se afastava, a rainha parecia extraordinariamente incompleta. Eu me perguntava por que ele não a tinha acompanhado em Bon Temps, e num impulso, perguntei-lhe.  Ela olhou para mim, seus grandes olhos cristalinos e pálidos. ―Eu não havia pressuposto que iria viajar,‖ disse ela. ―Eu sabia que, se Andre se mostrasse em Nova Orleans, todos iriam supor que eu estava aqui, também.‖ Gostaria de saber se o inverso seria verdadeiro. Se a rainha estava aqui, todos iriam assumir que André estava também? E isso despertou em mim um pensamento, um pensamento que tinham ido antes que eu pudesse agarrá-lo e retê-lo completamente.
                                                 102  Num motor a energia mecânica gerada à custa da queima do combustível é transmitida aos êmbolos que efetuam movimentos alternativos. Esse movimento alternativo tem de ser transformado em movimento rotativo. O elemento mecânico que transforma o movimento alternativo em rotativo é a cambota. A biela não é mais do que o componente mecânico que serve de ligação entre o êmbolo e a cambota.
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Andre voltou naquele momento, o ínfimo balançar de sua cabeça dizendo à rainha que ele não tinha encontrado o que ela queria recuperar. Por um momento, Sophie-Anne pareceu muito infeliz. ―Hadley fez isso em um minuto de raiva,‖ disse a rainha, e eu pensei que ela estava falando consigo mesma. ―Mas pode ser que ela me derrube para além do disfarce.‖ Em seguida seu rosto relaxou em seu estado impassível habitual.  ―Manterei um olho aberto pelo bracelete,‖ falei. Eu suspeitei que o valor da jóia não estivesse em sua estimativa. ―Será que o bracelete foi deixado aqui na última noite antes do casamento?‖ Eu perguntei cautelosamente.  Eu suspeitava que minha prima Hadley houvesse roubado o bracelete da rainha por mera provocação por a rainha estar se casando. Isso parecia ser uma coisa que Hadley faria. Se eu soubesse sobre o bracelete oculto pela Hadley, eu teria pedido aos bruxos para que retrocedesse o relógio na reconstrução ectoplasmática. Poderíamos ter visto onde Hadley escondeu a coisa. A rainha deu um aceno curto. ―Eu tenho que tê-lo de volta,‖ disse a rainha. ―Você entende que não é o valor do diamante que me preocupa? Você compreende que um casamento entre governantes vampiros não é uma união de amor, onde muito pode ser perdoado? Perder um presente de seu esposo, isso é uma ofensa muito grave. E nosso baile de primavera está previsto para duas noites a partir de agora. O rei espera me ver usando seus presentes. Se eu não estiver usando...‖ Sua voz foi embora, e até mesmo Andre parecia quase preocupado.  ―Eu estou entendendo sua questão,‖ eu disse. Eu observei a tensão já rolando pelos corredores do quartel-general de Sophie. Ali haveria consequências desagradáveis, e Sophie-Anne seria a única a pagar. ―Se ele estiver aqui, você vai recuperá-lo. Está bem?‖ Eu estendi minhas mãos, perguntando se ela acreditava em mim. ―Tudo bem,‖ disse ela. ―Andre, eu não posso gastar mais nenhum tempo aqui. Jade Flower apresentará um relatório do fato de que eu vim até aqui com a Sookie. Sookie, devemos fingir que tivemos relações sexuais.‖ ―Desculpe, qualquer um que me conhece sabe que eu não faço com mulheres. Eu não sei o que você espera do relatório da Jade Flower...‖ (É óbvio que eu sabia, e que seria o rei, mas não parecia educado dizer ‗sei qual é o seu negócio, ‘ naquele momento). ―Mas se eles têm feito algum trabalho de casa, isso é apenas um fato sobre mim.‖  ―Talvez você deva ter relações sexuais com o Andre, então,‖ ela disse calmamente. ―E você me deixou assistir.‖ Pensei em várias questões, sendo a primeira, “Esse é o procedimento usual com você?” seguido de, “Não é legal perder um bracelete, mas tudo bem em bater pélvis com outro alguém?” Mas eu segurei minha boca fechada. Se alguém estivesse segurando uma arma na minha cabeça, eu teria na verdade que escolher ter sexo com a rainha em vez do Andre, não importando a minha preferência sexual, porque Andre me causa calafrios em grande escala. Mas ainda que estivéssemos apenas fingindo...  De uma maneira eficiente, Andre tirou a gravata, dobrou-a, a colocou no seu bolso, e desabotoou um pouco os botões da camisa. Ele acenou para mim com uma curva de seus dedos. Aproximei-me dele cautelosamente. Ele me tomou em seus braços e me segurou perto, apertada contra ele, e abaixou a cabeça no meu pescoço. Por um segundo eu pensei que ele fosse morder, e eu tive uma crise de pânico absoluta, mas ao invés disso ele inalou. Isso é um ato deliberado para um vampiro.  ―Ponha sua boca no meu pescoço,‖ ele disse, depois de outra longa baforada de mim. ―Seu batom transferirá.‖
Fiz o que ele me disse. Ele era frio como gelo. Isto foi como... bem, isso foi simplesmente estranho. Pensei na sessão de fotografia com Claude; eu passei recentemente muito tempo fingindo ter sexo.  ―Adoro o cheiro de fadas. Você acha que ela sabe que tem sangue de fadas?‖ ele perguntou para Sophie-Anne, enquanto eu estava no processo de transferência de meu batom. Minha cabeça estalou em seguida. Olhei diretamente nos olhos dele, e ele olhou de volta para mim. Ele ainda estava me segurando e eu entendi que ele estava garantindo que eu cheiraria como ele e ele cheiraria como eu, como se tivéssemos realmente feito a ação. Ele definitivamente não foi para a coisa real, o que foi um alívio.  ―Eu o quê?‖ Eu não tinha ouvido bem, eu tinha certeza. ―Eu tenho o quê?‖  ―Ele tem um olfato para isso,‖ disse a rainha. ―Meu Andre.‖ Ela parecia vagamente orgulhosa.  ―Eu estava andando por aí com minha amiga Claudine no início do dia,‖ eu disse. ―Ela é uma fada. É de onde o cheiro está vindo.‖ Eu realmente precisava tomar banho.  ―Você permite?‖ Andre perguntou, e sem esperar por uma resposta, ele apertou meu braço ferido com a unha, logo acima da atadura.  ―Ai!‖ Eu disse em protesto.  Ele deixou um pouco de sangue gotejar sobre seu dedo, e ele colocou em sua boca. Ele rolou ao redor, como se fosse um gole de vinho e, finalmente, ele disse: ―Não, esse cheiro de fada não é da companhia. Está no seu sangue.‖ Andre olhou para mim de uma forma que era para me dizer que suas palavras conseguiram um negócio finalizado. ―Você tem um pequeno traço de fada. Talvez a sua avó ou o avô foram meio-fadas?‖  ―Eu não sei nada sobre isso,‖ eu disse, sabendo que eu soava estúpida, mas não sabendo o que mais dizer. ―Se algum de meus avós foram outra coisa que cem por cento humanos, não passariam essa informação adiante.‖  ―Não, eles não iriam,‖ disse a rainha, sem rodeios. ―A maioria dos humanos descendentes de fadas escondem o fato, porque realmente não acreditam nisso. Eles preferem pensar que seus pais são loucos.‖ Ela encolheu os ombros.  Inexplicável! ―Mas esse sangue poderia explicar porque você tem pretendentes sobrenaturais e não admiradores humanos.‖ ―Eu não tenho admiradores humanos, porque eu não os quero,‖ eu disse, definitivamente irritada. ―Eu posso ler suas mentes, e isso simplesmente os chocam deixando-os fora do páreo. Se eles não estavam desconcertados por causa da minha reputação de esquisitice, começam,‖ acrescentei, voltando para meu esquema honestidadedemasiada.  ―É um comentário triste sobre os humanos que nenhum deles é tolerável para quem pode ler suas mentes,‖ disse a rainha.  Penso que essa foi a palavra final sobre o valor da capacidade de ler mente. Eu decidi que seria melhor parar a conversa. Eu tinha muito no que pensar.  Descemos as escadas, Andre conduzindo, a rainha depois, e eu me arrastando atrás. Andre tinha insistido que eu tirasse meus sapatos e meus brincos, assim poderia dar a dica que eu tinha me despido e deslizado o vestido de volta.  Os outros vampiros estavam esperando obedientemente no pátio, e recuaram em consideração, quando começamos a descer. O rosto de Jade Flower não mudou de modo algum, quando ela leu todos os sinais que nós tínhamos trazido da última meia hora, mas pelo menos ela não pareceu cética. Os Berts pareciam saber, mas estavam desinteressados, como se o cenário de Sophie-Anne assistindo seu guarda-costas praticar sexo (com uma estranha virtual) fosse muito mais um negócio de rotina.  Como ele estava na porta esperando por novas instruções, a cara de Rasul expressava um pesar moderado, como se ele quisesse estar incluído na ação. Quinn, por outro lado, estava pressionando sua boca em uma linha tão desgostosa que você não poderia alimentá-lo com um alfinete. Havia um problema pra ser resolvido.  Mas à medida que saímos do apartamento de Hadley, a rainha me disse especificamente em não compartilhar sua história com mais ninguém, com ênfase em NINGUÉM. Gostaria de pensar em uma maneira de deixar Quinn saber, sem deixá-lo saber.  Sem qualquer discussão ou conversa social, os vampiros se amontoaram em seus carros. Meu cérebro estava tão cheio de idéias e conjecturas e tudo no meio que eu me senti embriagada. Eu queria chamar meu irmão, Jason, e lhe dizer que ele não era tão irresistível afinal, era o sangue de fadas nele, só para ver o que ele diria. Não, espera, Andre tinha insinuado que os humanos não eram afetados pela proximidade de fadas como os vampiros eram. Ou seja, os humanos não querem comer fadas, mas eles a achavam sexualmente atraentes. (Eu pensei sobre a multidão que sempre cercava a Claudine no Merlotte's.) E Andre havia dito que outros seres sobrenaturais eram atraídos pelo sangue de fadas, também, não exatamente da maneira como os vampiros. Não ficaria Eric aliviado? Ele ficaria tão contente em saber que ele não me ama de verdade! Foi o sangue de fadas o tempo todo! Eu assisti a limusine real ir embora. Enquanto eu estava lutando contra uma onda combinada de cerca de seis emoções diferentes, Quinn estava lutando com apenas uma. Ele estava bem na minha frente, seu rosto irado. ―Como ela te influenciou, Sookie?‖ ele perguntou. ―Se você tivesse gritado, eu teria ido direto lá pra cima. Ou talvez você quisesse fazer? Eu teria jurado que você não era deste tipo.‖ ―Eu não fui para a cama com qualquer um esta noite,‖ eu disse. Eu o olhei diretamente nos olhos. Afinal, não estava revelando qualquer coisa que a rainha havia me dito, estava apenas... corrigindo um erro. ―Tudo bem se os outros pensam assim,‖ eu disse cuidadosamente. ―Apenas não você.‖ Ele olhou para mim por um longo momento, seus olhos procurando os meus como se ele estivesse lendo algum escrito na parte de trás do meu globo ocular.  ―Gostaria de ir para a cama com alguém hoje à noite?‖ ele perguntou. Ele me beijou. Ele me beijou por um longo, longo tempo, como se estivéssemos colados um ao outro no pátio. Os bruxos não retornaram; os vampiros permaneciam longe. Somente os carros que passavam de vez em quando na rua ou uma sirene ouvida ao longe me fez lembrar que estávamos no meio de uma cidade. Isso foi tão diferente de ser segurada pelo Andre como eu poderia imaginar. Quinn estava quente, e eu podia sentir seus músculos se movendo sob sua pele. Eu podia ouvi-lo respirar, e eu podia sentir seu batimento cardíaco. Eu podia sentir a agitação de seus pensamentos, que estavam agora centrados principalmente na cama que ele sabia que devia estar em algum lugar lá em cima no apartamento de Hadley. Ele adorava o meu cheiro, o meu toque, da sensação dos meus lábios... e uma grande parte de Quinn estava confirmando este fato. Essa grande parte estava prensada entre nós neste exato momento.  Eu tinha ido para a cama com outros dois homens, e ambas às vezes não tinham terminado bem. Eu não sabia o suficiente sobre eles. Eu agi por impulso. Você deve aprender com seus erros. Por um segundo, eu não estava me sentindo especialmente inteligente.  Felizmente para minha capacidade de tomar decisões, o telefone de Quinn escolheu aquele momento para tocar. Deus abençoe esse telefone.  Eu fiquei bem próxima de atirar minhas boas resoluções diretamente para fora da janela, porque eu fiquei assustada e sozinha no decorrer da noite, e considerava Quinn relativamente familiar e ele me queria muito. Quinn, no entanto, não estava seguindo o mesmo processo de pensamento - longe disso - e ele amaldiçoou quando o telefone tocou pela segunda vez. ―Me desculpe,‖ disse ele, com fúria em sua voz, e respondeu o maldito telefone. ―Tudo bem,‖ disse ele, depois de ouvir por um instante a voz do outro lado. ―Tudo bem, eu estarei aí.‖ Ele fechou o minúsculo telefone. ―Jake está perguntando por mim,‖ ele disse. Eu estava tão desnorteada, com uma estranha combinação de prazer e alívio que me tomou um tempo para ligar os pontos. Jake Purifoy, empregado de Quinn, estava experimentando sua segunda noite como um vampiro. Tendo sido alimentado por alguns voluntários, ele voltou a si o suficiente para querer falar com Quinn. Ele ficou em animação suspensa dentro de um armário por semanas, e havia muito que ele precisaria pôr em dia.  ―Então você tem que ir,‖ eu disse, orgulhosa que minha voz estava praticamente firme como uma rocha. ―Talvez ele lembre quem o atacou. Amanhã, tenho que te contar sobre o que vi aqui esta noite.‖ ―Você teria dito sim?‖ ele perguntou. ―Se não tivéssemos sido perturbados por mais um minuto?‖ Considerei por um minuto. ―Se eu tivesse dito sim, eu poderia ter lamentado por ter feito,‖ eu disse. ―Não é porque eu não te quero. Eu quero. Mas eu abri meus olhos nos últimos dias. Eu sei que eu sou muito fácil de enganar.‖ Tentei soar prática, não patética, quando eu disse aquilo. Ninguém gosta de uma mulher chorona, muito menos eu. ―Eu não estou interessada em começar algo com alguém que só estava com tesão no momento. Nunca tive a intenção de ser uma mulher do tipo que faz sexo casual. Eu quero ter certeza, se eu tiver sexo com você, é porque você quer estar perto por um tempo e porque você gosta de mim por quem eu sou, não pelo o que eu sou.‖ Talvez um milhão de mulheres aproximadamente houvesse feito o mesmo discurso. Eu quis dizer isso tão sinceramente quanto qualquer uma desse milhão. E Quinn deu uma resposta perfeita. ―Quem iria querer apenas uma noite com você?‖ disse ele, e então saiu.
 
Eu dormi o sono dos mortos. Bem, provavelmente não, mas tão perto quanto um humano poderia chegar. Como num sonho, ouvi os bruxos voltarem farreando para o pátio. Eles estavam ainda felicitando uns aos outros, com a vitalidade lubrificada pelo álcool. Eu encontrei alguns verdadeiros lençóis, de algodão genuíno, entre a roupa de linho (Por que eles ainda são chamados de linho? Você alguma vez já viu um lençol de linho em toda sua vida?). E eu tinha jogado os de seda negros na lavadora, então foi muito fácil voltar a dormir.
 Quando me levantei, já passavam das dez da manhã. Houve uma batida na porta, e eu cambaleei pelo corredor para destrancá-la, depois de eu ter me enfiado em uma calça de ginástica de Hadley e uma blusa rosa. Eu vi as caixas através do olho mágico, e abri a porta me sentindo realmente feliz.
 "Srta. Stackhouse?" disse o jovem negro que segurava as caixas desmontadas. Quando eu olhei, ele disse: "Eu tenho ordens para trazê-la tantas caixas quanto você desejar. Trinta caixas está bom para começar?"
 "Oh, sim", eu disse. "Ah, isso será ótimo."
 "Eu também tenho instruções", disse ele, precisamente, "para trazer-lhe qualquer coisa relacionada à mudança que você precisar. Tenho aqui fita para empacotamento104, fita adesiva, alguns marcadores, tesoura, e etiquetas autocolantes."
 A rainha tinha me dado um assistente de compras.
 "Você quer identificadores coloridos? Algumas pessoas gostam de colocar as coisas da sala em caixas com um identificador laranja, as coisas do quarto em caixas com um identificador verde, e assim por diante."
 Eu nunca tinha me mudado, a menos que você contasse levar alguns sacos de roupas e toalhas para o duplex mobiliado de Sam após minha cozinha ter pegado fogo, assim, eu não sabia qual seria a melhor maneira de fazer isso. Eu tinha uma intoxicante visão de filas de caixas arrumadas com etiquetas coloridas de cada lado, para que não pudesse haver nenhum erro independente do ângulo. Então retornei bruscamente à realidade. Eu não levaria muito disso de volta a Bon Temps. Era difícil estimar, uma vez que este era um território desconhecido, mas eu sabia que não queria muito dos móveis.
 "Eu não acho que precisarei de identificadores, de qualquer forma obrigada", eu disse. "Eu começarei trabalhando nestas caixas, e então eu posso chamá-lo se eu precisar de algo mais, ok?"
 "Eu vou armá-las para você", disse ele. Ele tinha o cabelo muito curto e os cílios mais curvados que eu já vi em alguém. Vacas também tinham cílios bonitos assim, às vezes. Ele estava vestindo uma camisa pólo e calças cáqui com cinto de bom gosto, junto com tênis de cano longo.
 "Me desculpe, eu não entendi o seu nome", eu disse, no momento em que ele sacou um rolo de fitas para empacotamento de um desajeitado saco plástico de compras. Ele começou a trabalhar.
104  http://www.papelariacambui.com.br/images/fita%20para%20empacotamento%20marron%20%20adelbras.jpg
 
"Oh, me desculpe", disse ele, e foi a primeira vez que ele soava natural. "Meu nome é Everett O'Dell Smith."
 "Prazer em conhecê-lo", eu disse, e ele fez uma pausa em seu trabalho para que pudéssemos apertar as mãos. "Como você veio parar aqui?"
 "Oh, eu estou na Escola de Administração de Tulane, e um de meus professores recebeu um telefonema do Sr. Cataliades, que é como O advogado mais famoso na área dos vampiros. Meu professor especializou-se em direito dos vampiros. Sr. Cataliades precisava de uma pessoa do dia, quer dizer, ele pode sair durante o dia, mas ele precisava de alguém para ser seu office boy". Ele já tinha terminado três caixas.
 "E em troca?"
 "Em troca, posso sentar-me no tribunal com ele em seus próximos cinco casos, e eu consigo ganhar algum dinheiro, o que não me cai mal."
 "Você tem tempo esta tarde para me levar ao banco de minha prima?"
 "Claro que tenho."
 "Você não está perdendo uma aula agora, está?"
 "Oh, não, eu tenho duas horas antes de minha segunda aula".
 Ele já tinha estado na aula e juntou todas estas coisas antes mesmo que eu levantasse. Bem, ele não esteve até a metade da noite vendo sua prima morta andar por aí.
 "Você pode levar esses sacos de lixo com roupas para o posto mais próximo da Legião da Boa Vontade ou ao Exército da Salvação". Isso desobstrui o corredor e me faz sentir produtiva, ao mesmo tempo. Eu tinha examinado as peças de roupa cuidadosamente para ter certeza de que Hadley não tinha escondido nada nelas, e eu me perguntei o que o Exército de Salvação faria delas. Hadley tinha estado em Colado e Sumário, essa era a melhor forma de expressar isso.
 "Sim, senhora", disse ele, pegando um bloco de anotações e rabiscando nele. Então ele aguardou atenciosamente. "Mais alguma coisa?" ele me perguntou.
 "Sim, não há comida em casa. Quando você voltar, esta tarde, você pode me trazer algo para comer?" Eu podia beber água da torneira, mas eu não podia criar comida do nada.
 Neste momento, uma chamada do quintal me fez olhar sobre a grade. Quinn estava lá com um saco de algo gorduroso. Minha boca começou a salivar.
 "Parece que a parte da comida foi coberta", eu disse a Everett, acenando para Quinn subir.
 "O que posso fazer para ajudar?" Quinn perguntou. "Me ocorreu que sua prima não podia tomar café ou comer, por isso eu trouxe algumas rosquinhas105 e um café tão forte que vai fazer crescer pêlos em seu peito."
 Eu já tinha ouvido isso algumas vezes, mas ainda me fez sorrir. "Oh, esse é meu objetivo", eu disse. "Traga-o. Na verdade tem café aqui, mas eu não tive a chance de fazer porque o Everett aqui é como um tipo de cara faz-tudo."
 Everett sorriu por cima de sua décima caixa. "Você sabe que não é verdade, mas é bom ouvir você dizer isso", ele disse. Eu apresentei os dois homens, e depois Quinn me entregou meu saco, e começou a ajudar a montar as caixas de Everett. Eu sentei na mesa de jantar de tampo de vidro e comi todas as migalhas das rosquinhas que estavam no saco e bebi cada gota do café. Eu tinha polvilhado açúcar em cima de mim, e eu não me importei nem um pouco. Quinn olhou para mim e tentou esconder o sorriso. "Você está vestindo sua comida, benzinho", ele disse.                                                 
105  http://altopower.files.wordpress.com/2007/07/beignets.jpg
 
Olhei para baixo para a regata. "Nenhum cabelo em meu peito, entretanto," eu disse, e ele disse: "Posso verificar?"
 Eu ri e fui para a parte de trás, escovar meus dentes e cabelos, ambas as tarefas essenciais. Eu verifiquei as roupas de Hadley, nas quais eu tinha me contorcido. A calça de ginástica preta chegava até a coxa. Hadley, provavelmente, nunca tinha usado, porque ela teria ficado muito grande para seu gosto. Em mim, ela era muito confortável, mas não o confortável que Hadley gostava, o que você poderia considerar... oh, não importa. A regata rosa choque deixava as alças do meu sutiã rosa pálido aparecendo, para não mencionar alguns centímetros de minha cintura, mas graças ao Peck‘s Tana-Lot (localizado dentro do Peck‘s Bunch-o-Flicks, uma locadora de vídeo em Bon Temps), a cintura estava legal e bronzeada. Hadley teria colocado uma jóia no umbigo. Eu me olhei no espelho, tentando me imaginar com um pendente de ouro ou algo assim. Nah. Eu deslizei meus pés em umas sandálias decoradas com contas de cristal e me senti deslumbrante por cerca de trinta segundos.
 Comecei a falar com Quinn sobre o que eu pretendia fazer naquele dia, e ao invés de gritar, saí do quarto para a sala com minha escova e meu elástico de cabelo. Curvei-me pela cintura, escovando meus cabelos enquanto eu estava com a cabeça pendurada, e recolhi-o em um rabo de cavalo no topo da minha cabeça. Eu tinha certeza que estava centrado, pois os movimentos eram absolutamente automáticos após todos estes anos. Meu rabo de cavalo caiu passando meus ombros agora. Eu prendi o elástico, apertei completamente o rabo de cavalo, e o endireitei, o rabo de cavalo voando por cima dos meus ombros terminando na cintura. Quinn e Everett tinham parado suas tarefas para olhar. Quando olhei para trás, para eles, os dois homens apressadamente voltaram para suas tarefas.
 Ok, eu não percebi que eu tinha feito alguma coisa atraente, mas parece que eu fiz. Dei de ombros e desapareci no banheiro principal para passar alguma maquiagem. Depois de outra olhada no espelho, me ocorreu que talvez alguma coisa que eu fiz nestas roupas foi bastante atraente, se você fosse um cara perfeitamente normal.
 Quando eu saí, Everett tinha partido e Quinn me deu um pedaço de papel com o número do celular de Everett nele. "Ele disse para ligar quando você precisar de algumas caixas a mais", disse Quinn. "Ele levou todas as sacolas de roupas. Parece que você não precisa de mim de qualquer modo."
 "Sem comparação", eu disse, sorrindo. "Everett não me trouxe gordura e cafeína, esta manhã, você sim."
 "Então, qual é o plano, e como eu posso ajudar?"
 "Ok, o plano é..." Eu não tinha algo mais específico que "pegar estas coisas e classificá-las", e Quinn não podia fazer isso por mim.
 "O que acha disso?" Eu perguntei. "Você tira tudo dos armários da cozinha, e coloca onde eu possa ver tudo, e eu decidirei 'guardar ou jogar'. Você pode empacotar o que eu quiser guardar, e colocar no corredor o que eu quiser jogar fora. Espero que a chuva permaneça afastada." A manhã ensolarada foi rapidamente encoberta. "Enquanto nós trabalhamos, eu vou lhe contar sobre o que aconteceu aqui na noite passada."
 Apesar da ameaça de mau tempo, que permaneceu durante toda a manhã, pedimos uma pizza para o almoço, e retomamos o trabalho na parte da tarde. As coisas que eu não queria foram colocadas em sacos de lixo, e Quinn promoveu seu desenvolvimento muscular carregando todos os sacos de lixo para o pátio e colocando-os no pequeno galpão que tinha guardado as cadeiras do gramado, ainda montadas na grama. Tentei admirar seus músculos apenas quando ele não estava olhando, e eu acho que fui bem sucedida. Quinn estava muito  interessado em ouvir sobre a reconstrução ectoplasmática, e nós conversamos sobre o que isso tudo poderia significar, sem chegar a nenhuma conclusão. Jake não tinha inimigos entre os vampiros, que Quinn conhecesse, e Quinn pensou que Jake devia ter sido morto por causa da vergonha que isso causaria para Hadley, ao invés de algum pecado do próprio Jake.
 Eu não vi nenhum sinal de Amelia, e eu perguntei se ela tinha ido para casa com Mórmon Bob. Ou talvez ele tivesse ficado com ela, e eles estavam tendo um bom momento no apartamento de Amelia. Talvez ele fosse realmente quente dentro daquela camisa branca e das calças pretas. Olhei ao redor do pátio. Sim, a bicicleta de Bob ainda estava encostada na parede de tijolos. Uma vez que o céu foi ficando mais escuro a cada minuto, eu coloquei a bicicleta no pequeno galpão, também.
 Estar com Quinn durante todo o dia deixava meu fogo mais quente a cada momento. Ele estava usando regata e jeans, e eu me perguntei como ele ficaria sem isso. E eu não acho que eu era a única a conjecturar sobre como as pessoas parecem nuas. Eu podia captar um flash da mente de Quinn de vez em quando, enquanto ele estava carregando a bolsa para baixo ou embalando potes e panelas em uma caixa, e os flashes não eram sobre seus e-mails ou lavar roupas.
 Eu tive bastante presença de espírito para ligar uma lâmpada quando ouvi o primeiro estrondo do trovão à distância. Nova Orleans estava prestes a ser encharcada.
 Em seguida, voltei a flertar em silêncio com Quinn, — certificando-me de que ele tinha uma boa visão quando eu estiquei para pegar um copo nos armários de baixo ou quando me inclinei para baixo para embrulhar o copo no jornal. Talvez uma parte de mim estivesse constrangida, mas o resto de mim estava se divertindo. Diversão não tinha sido um grande fator na minha vida recentemente, — bem, nunca foi — e eu estava curtindo meu pequeno passeio pelo lado selvagem.
 Lá embaixo, eu senti o cérebro de Amelia estalar, de certo modo. Eu estava familiarizada com esta sensação, por trabalhar em um bar: Amélia estava de ressaca. Sorri para mim mesma quando a bruxa pensou sobre Bob, que ainda estava dormindo ao lado dela. Além de um básico, "Como eu pude?" o pensamento mais coerente de Amelia foi que ela precisava de café. Ela precisava muito. Ela não podia nem acender uma luz no apartamento, que estava escurecendo progressivamente com a aproximação da tempestade. Uma luz feriria muito seus olhos.
 Virei com um sorriso nos lábios, pronta para dizer a Quinn que poderíamos saber de Amelia em breve, apenas para descobrir que ele estava bem atrás de mim, e seu rosto estava atento, com um olhar que eu não tinha como confundir. Ele estava pronto para algo completamente diferente.
 "Diga-me que você não quer me beijar, e eu me afastarei", disse ele, e então ele me beijou.
 Eu não disse uma palavra.
 Quando a diferença de altura tornou-se um problema, Quinn apenas me pegou e me colocou na ponta da pia da cozinha. Um trovão soou fora, enquanto eu separava os joelhos para deixá-lo chegar tão perto de mim quanto pudesse. Eu envolvi minhas pernas em torno dele. Ele puxou o elástico do meu cabelo, não é um processo totalmente indolor, e correu os dedos através dos emaranhados. Ele pegou meu cabelo na mão e respirou profundamente, como se fosse extrair o perfume de uma flor.
"Isso está bem?" ele perguntou entrecortadamente, conforme seus dedos encontraram a borda inferior de trás da minha blusa e se esconderam sob ela. Ele examinou meu sutiã com o tato e descobriu como abrí-lo em tempo recorde.
 "Bem?" Eu disse confusa. Eu não tinha certeza se eu exprimia, "bem? Inferno, sim, se apresse!" ou "Que parte deste está bem você quer saber?", mas Quinn, naturalmente, tomou isso como uma luz verde. Suas mãos empurraram o sutiã de lado e seus dedos deslizaram em meus mamilos, que já estavam duros. Eu pensei que explodiria, e apenas a certa antecipação de que coisas melhores viriam me impediu de me perder ali mesmo. Eu me insinuei ainda mais para a borda do balcão, de modo que o grande volume na frente do jeans de Quinn foi pressionado contra o encaixe de minha calça. Simplesmente fantástico como eles se encaixavam. Ele apertou contra mim, liberando, pressionando novamente, o volume formado pela parte do jeans sobre seu pênis batendo no ponto exato, tão fácil de alcançar através da fina e elástica calça. Uma vez mais, e eu gritei, segurando nele, através do cego momento do orgasmo, quando eu poderia jurar que eu tinha sido lançada para outro universo. Minha respiração era mais parecida com um choro, e eu me envolvi em torno dele como se ele fosse o meu herói. Nesse momento, ele certamente era.
 Sua respiração ainda estava irregular, e se moveu contra mim de novo, em busca de sua própria liberação, uma vez que eu tão ruidosamente tive a minha. Eu chupava seu pescoço enquanto minha mão desceu entre nós, e acariciei-lhe através de seu jeans, e de repente ele deu um grito tão áspero, quanto o meu tinha sido, e seus braços apertaram em torno de mim convulsivamente. "Oh, Deus", ele disse, "oh, meu Deus." Com seus olhos bem fechados, com a sua liberação, ele beijou meu pescoço, meu rosto, meus lábios, mais e mais. Quando sua respiração — e a minha — estava um pouco mais uniforme, ele disse, "Benzinho, eu não gozei assim desde que eu tinha dezessete anos, no banco traseiro do carro do meu pai com Ellie Hopper".
 "Então, isso é uma coisa boa", eu murmurei.
 "Pode apostar", disse ele.
 Ficamos parados por um momento, e eu percebi que a chuva batia contra as janelas e as portas, e o trovão estava aumentando à distância. Meu cérebro estava pensando em desligar para uma soneca, e eu estava preguiçosamente ciente de que o cérebro de Quinn estava igualmente sonolento, enquanto ele recolocava meu sutiã em minhas costas. Lá embaixo, Amelia estava fazendo café em sua cozinha escura e Bob o bruxo estava acordando com o cheiro maravilhoso e imaginando onde estavam suas calças. E no pátio, subindo silenciosamente as escadas, os inimigos estavam se aproximavam.
 "Quinn!" Exclamei, no exato momento em que sua audição afiada captou o ruído dos passos. Quinn entrou em modo de combate. Uma vez que eu não estava em casa para verificar os símbolos do calendário, eu tinha esquecido que estávamos perto da lua cheia. Havia garras nas mãos de Quinn agora, garras de pelo menos oito centímetros de comprimento, ao invés dos dedos. Seus olhos se inclinaram e tornaram-se completamente dourados, com negras pupilas dilatadas. A mudança nos ossos do rosto o fizera estranho. Eu tinha feito uma forma de amor com esse homem nos dez minutos anteriores, e agora eu não o teria reconhecido se eu passasse por ele na rua.
 Mas não havia tempo para pensar em nada, exceto em nossa melhor defesa. Eu era o elo mais fraco, e eu estaria melhor dependendo da surpresa. Eu deslizei pelo balcão, passando apressada por ele para a porta, e tirei o abajur de seu pedestal. Quando o primeiro lobis irrompeu através da porta, bati nele em cima da cabeça, e ele cambaleou, e aquele que veio logo após tropeçou em seu antecessor caindo, e Quinn estava mais do que pronto para o terceiro.
 Infelizmente, havia mais seis.
 
Foram necessários apenas dois para me dominar, e eu estava chutando e gritando, mordendo e batendo, com cada gota de energia que eu tinha. Foram necessários quatro para Quinn, mas esses quatro só foram bem sucedidos porque usaram uma arma de choque106. Caso contrário, tenho certeza, ele poderia ter tido 6 ou 8 deles fora de combate, no lugar dos três que ele cuidou antes deles o pegarem. Eu sabia que seria dominada, e eu sabia que poderia me salvar de alguns machucados e talvez um osso quebrado, se eu apenas concordasse em ser levada. Mas eu tinha meu orgulho. Mais praticamente, queria ter certeza que Amelia ouvisse o que estava acontecendo acima dela. Ela faria alguma coisa. Não tenho certeza o que, mas ela agiria. Eu estava sendo empurrada pelos degraus, meus pés mal tocando neles, por dois homens robustos, que nunca tinha visto antes. Esses mesmos homens tinham prendido meus pulsos juntos com uma fita adesiva107. Fiz meu melhor para conseguir uma pequena folga, mas receava que eles tivessem feito um bom trabalho nisso.  ―Hum, cheira como sexo‖, o mais baixo disse, enquanto apertava minha bunda. Ignorei seu olhar malicioso e grudento e tive alguma satisfação em observar o machucado que deixei em sua bochecha com meu punho (o qual, a propósito, estava dolorido e ardendo nas juntas. Você não pode bater em alguém e não pagar as consequencias por isso.) Eles tiveram que carregar Quinn e não foram delicados sobre isso. Ele foi jogado sobre os degraus e, então, o deixaram cair uma vez. Ele era um cara grande. Agora, ele era um cara grande ensanguentado, já que um dos golpes cortou a pele acima do seu olho esquerdo. Ele teve o tratamento com fita adesiva também, e eu imaginava como o pêlo reagiria à fita. Não estávamos sendo contidos lado a lado no pátio, brevemente, e Quinn olhou para mim como se precisasse desesperadamente falar comigo. O sangue estava escorrendo por sua bochecha do ferimento acima de seu olho, e ele parecia grogue pela arma de choque. Suas mãos estavam voltando ao normal. Eu disparei em sua direção, mas os Lobis nos mantiveram separados. Duas vans entraram na entrada circular, nas quais estava escrito em suas laterais BIG EASY ELETRICIDADE. Eram brancas, compridas e sem janelas na parte traseira, e as logomarcas na lateral foram cobertos com lama, o que parecia muito suspeito. Um motorista saiu da cabine de cada van, e o primeiro motorista abriu as portas traseiras do primeiro veículo. Enquanto nossos captores empurraram Quinn e eu para aquela van, o resto do grupo de ataque estava sendo trazido pela escadaria. Os homens que Quinn conseguiu machucar estavam piores do que ele, estou feliz em dizer. Garras podem fazer uma incrível quantidade de danos, especialmente com a força que um tigre pode exercer. O cara em quem eu bati com o abajur estava inconsciente, e o que agarrou Quinn primeiro estava
106  http://noliquidificador.files.wordpress.com/2009/11/stun-gun-ch.jpg
107  No original, ―duct tape‖, aquela fita cinza. http://www.rotblotts.com/template/images/ducttape.jpg
 
provavelmente morto. Ele estava certamente coberto de sangue e havia coisas expostas à luz que deveriam estar guardadas organizadamente em sua barriga.  Eu sorria com satisfação quando os homens estavam me segurando, me empurraram para dentro do fundo da van, a qual eu descobri estar lotada de lixo e absolutamente imunda. Aquela era uma operação de primeira qualidade. Havia uma ampla tela entrelaçada entre os dois bancos da frente e a parte aberta atrás, e as prateleiras no fundo foram esvaziadas, para nossa ocupação, eu supunha. Eu fui comprimida dentro do estreito corredor entre as prateleiras, e Quinn foi empurrado depois de mim. Eles tiveram que trabalhar duro, porque ele ainda estava muito atordoado. Minhas duas escoltas fecharam com força as portas traseiras sobre nós, enquanto os Lobis fora de combate foram carregados para dentro da outra van. Eu estava supondo que as vans tinham sido estacionadas na rua rapidamente, então nós não poderíamos ouvir os veículos parando na garagem. Quando ficaram prontos para nos atacar, nossos captores tinham entrado no pátio. Mesmo as pessoas de uma cidade barulhenta como Nova Orleans, notariam alguns corpos espancados sendo carregados em vans... Na chuva torrencial. Eu esperava que os Lobis não pensassem em apanhar Amelia e Bob, e rezei para que Amelia pensasse inteligentemente e se escondesse, ao invés de fazer alguma impulsiva e corajosa coisa de bruxa. Eu sei que é uma contradição, certo? Rezar por uma coisa (pedindo um favor a Deus), enquanto, ao mesmo tempo, esperar que seus inimigos sejam mortos. Tudo que eu posso dizer é que tenho a sensação de que os Cristãos vinham fazendo isso desde o início dos tempos - pelo menos os ruins, como eu.  ―Vai, vai, vai‖, berrou o homem mais baixo, que pulou para o banco da frente. O motorista obedeceu com um completamente desnecessário cantar de pneus, e nós saímos abruptamente do pátio como se o presidente acabasse de levar um tiro e tivéssemos que levá-lo ao Walter Reed108. Quinn voltou a si completamente quando nós viramos na Rua Chloe, indo para o nosso destino final, onde quer que ele fosse. Suas mãos estavam presas atrás dele, o que era doloroso, e ele não tinha parado de sangrar pela cabeça. Eu esperava que ele continuasse grogue e abalado. Mas, quando seus olhos focaram em meu rosto, ele disse, ―Benzinho, eles te bateram muito.‖ Eu não devia parecer muito bem. ―É, bem, você parece estar no mesmo barco‖, eu disse. Eu sabia que o motorista e seu parceiro podiam nos ouvir, e eu não dava à mínima. Com uma tentativa horrível de sorriso, ele disse, ―Que defensor eu me tornei.‖ Na opinião dos Lobis, eu não era muito perigosa, então, minhas mãos foram presas na frente. Eu me contorci até ser capaz de pressionar o corte na testa de Quinn. Isso deve ter machucado ainda mais, mas ele não disse uma palavra de protesto. O movimento da van, os efeitos da surra, e o constante movimento e cheiro de lixo ao nosso redor combinaram para tornar os próximos dez minutos bem desagradáveis. Se eu fosse muito esperta, eu poderia dizer para que lado estávamos indo - mas não estava me sentindo muito esperta. Estava impressionada como, numa cidade com tantos restaurantes famosos como Nova Orleans tinha, essa van estivesse lotada de embalagens da Burger King e copos do Taco Bell109. Se eu tivesse a chance de inspecionar os restos, eu poderia encontrar algo útil.
108  O Walter Reed Army Medical Center (WRAMC) é o emblemático centro médico do Exército dos Estados Unidos, localizado em Washington. 109  Taco Bell é uma cadeia norte-americana de restaurantes de comida rápida, inspirada pela cozinha mexicana.
 
―Quando estamos juntos, somos atacados por Lobis‖, Quinn disse. ―É minha culpa‖, eu disse. ―Eu sinto muito por arrastá-lo nisso.‖ ―Oh, é‖, ele disse. ―Sou conhecido por sair com um grupo muito perigoso.‖ Nós estávamos deitados frente a frente, e Quinn meio que me cutucou com sua perna. Ele estava tentando me dizer alguma coisa, e eu não estava entendendo.  Os dois homens no banco da frente estavam conversando sobre uma garota bonita que estava atravessando a rua no semáforo. Apenas ouvir a conversa era quase suficiente para fazer você desistir dos homens, mas, ao menos, eles não estavam nos ouvindo. ―Lembra quando nós conversamos sobre minha condição mental?‖ eu disse cautelosamente. ‖Lembra o que eu lhe disse sobre isso?‖ Ele precisou de um minuto, porque estava com dor, mas ele pegou a dica. Levantou o rosto, como se ele estivesse prestes a quebrar algumas tábuas no meio ou alguma outra coisa que exigisse toda sua concentração, e, então, o seu pensamento se impulsionou dentro da minha cabeça. Celular no meu bolso, ele me disse. O problema era que o telefone estava no seu bolso direito, e ele estava deitado daquele lado. Mal havia espaço para ele se virar. Isso solicitaria de muita manobra e eu não queria que nossos captores vissem isso. Mas arranjei, finalmente, um jeito de colocar os dedos no bolso de Quinn, fazendo uma nota mental para avisá-lo que, sob essas circunstâncias, seus jeans estavam muito apertados (sob outras circunstâncias, nenhum problema com o modo como se ajustavam). Mas desprender aquele telefone, com a van balançando, enquanto nossos Lobis assaltantes nos verificavam a cada minuto ou menos, era difícil. Quartel general da rainha na discagem rápida, ele me disse, quando sentiu o telefone saindo de seu bolso. Mas aquilo era inútil para mim. Eu não sabia como acessar a discagem rápida. Levei alguns instantes para fazer Quinn entender isso, e ainda não tenho certeza de como eu consegui, mas finalmente ele pensou o número do telefone para mim e eu, desajeitadamente, disquei e apertei ligar. Possivelmente nós não tínhamos pensado naquilo durante todo o caminho, porque quando uma vozinha disse ―Alô?‖, os Lobis ouviram. ―Você não o revistou?‖, o motorista perguntou ao passageiro, incrédulo. ―Não inferno, eu estava tentando colocá-lo nos fundos e me tirar da chuva‖, o homem que tinha me beliscado rosnou de volta. ―Encoste, droga!‖ Alguém teve o seu sangue? Quinn me perguntou silenciosamente, embora, dessa vez, ele podia ter falado, e, após um precioso segundo, meu cérebro funcionou. ―Eric‖, eu disse, porque os Lobis estavam saindo pela porta e correndo para abrir as portas traseiras da van. ―Quinn e Sookie foram levados por alguns Lobis‖, Quinn disse no telefone que eu segurava na sua boca. ―Eric Northman pode rastreá-la.‖  Eu esperava que Eric ainda estivesse em Nova Orleans e esperava ainda mais que, quem quer que tenha atendido ao telefone no quartel general da rainha, realmente entendesse110. Mas, nesse momento, os dois Lobis puxaram com força as portas da van e nos arrastaram para fora, e um deles me socou, enquanto o outro batia em Quinn no abdômen. Eles arrancaram o telefone dos meus dedos inchados e arremessaram dentro da densa vegetação ao lado da estrada. O motorista tinha estacionado ao lado de um terreno baldio, mas, subindo e descendo a estrada, havia casas amplamente espaçadas sobre palafitas em um mar de grama. O céu estava nublado demais para eu determinar nossa direção, mas eu tinha certeza agora que dirigíamos para o sul, para dentro dos pântanos.
110  No original, ―on the ball‖, que significa entender realmente algo.
 
Consegui ver o relógio do nosso motorista e fiquei surpresa ao descobrir que já passava das três da tarde. ―Clete, seu estúpido de merda! Para quem ele estava ligando?‖, gritou uma voz da segunda van, que estacionou ao lado da estrada, quando nós estacionamos. Nossos dois captores olharam um para o outro, com idênticas expressões de choque, e eu estaria rindo, se não estivesse com tanta dor. Era como se praticassem para parecerem estúpidos. Dessa vez, Quinn foi revistado muito cuidadosamente, e eu também, apesar de eu não ter bolsos ou nenhum outro lugar para esconder algo, a menos que eles quisessem fazer uma inspeção das cavidades do corpo. Pensei, por um segundo, que Clete - Sr. BeliscaBunda - ia fazer isso, quando seus dedos empurraram o tecido de lycra111 em mim. Quinn pensou também. Fiz um barulho horrível, um ofego estrangulado de medo, mas o som que veio da garganta de Quinn foi além de um rosnado. Era um som profundo, gutural e tossido e era absolutamente ameaçador. ―Deixe a garota em paz, Clete, e vamos voltar para a estrada‖, o motorista alto disse, e sua voz tinha aquela irritação de ―Terminei com você‖. ―Eu não sei quem esse cara é, mas não acho que ele se transforme em um ratão-do-banhado112.‖ Imaginei se Quinn os ameaçaria com sua identidade - a maioria dos Lobis parecia conhecê-lo, ou saber sobre ele - mas já que ele não contou seu nome, eu não falei. Clete me arremessou de volta na van com um bocado de resmungos no caminho, como ―Quem morreu e te fez Deus? Você não é meu chefe‖, e assim por diante. O homem mais alto claramente era o chefe de Clete, o que era uma coisa boa. Eu precisava de alguém com cérebro e um pouco de decência entre mim e os dedos sondadores de Clete. Eles tiveram muito trabalho colocando Quinn dentro da van novamente. Ele não queria ir e finalmente dois homens da outra van vieram, com muita relutância, para ajudar Clete e o motorista. Eles prenderam as pernas de Quinn com uma daquelas coisas plásticas, do tipo que você coloca a ponta através de um buraco e então torce. Nós usamos algo similar para fechar a embalagem, quando assamos o peru no último Dia de Ação de Graças. A amarra que usaram em Quinn era preta e de plástico, e realmente travava com algo que parecia uma chave de algema.  Eles não prenderam minhas pernas. Eu gostei de Quinn ficar com raiva pelo tratamento deles comigo, raiva suficiente para fazer um grande esforço para se libertar, mas o resultado final foi que minhas pernas estavam livres e as dele não - porque eu ainda não representava uma ameaça para eles, pelo menos em suas mentes. Eles provavelmente estavam certos. Eu não conseguia pensar em nada para fazer para impedi-los de nos levarem aonde quer que fôssemos. Eu não tinha uma arma e, embora estivesse preocupada com a fita prendendo minhas mãos, meus dentes não pareciam ser fortes o suficiente para causar um ponto fraco. Descansei por um minuto, fechando os olhos cansadamente. A última pancada abriu um corte em minha bochecha. Uma grande língua raspou meu rosto ensangüentado. E de novo.                                                  111  No original spandex, também chamada de elastano ou lycra, é uma fibra sintética conhecida por sua excepcional elasticidade. É mais forte e mais duradouro do que a borracha, a sua maior concorrente nãosintética. 112 É um grande roedor da família dos miocastorídeos, encontrado na América do Sul meridional. Pelagem marrom-avermelhada, cauda longa e grossa, revestida por escamas e pêlos ralos, vivendo em banhados, lagoas e rios. Também é conhecido pelos nomes de caxingui, nútria e ratão-d'água. 
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―Não chore‖, disse uma voz estranha e gutural, e eu abri meus olhos para me certificar que aquilo, realmente, vinha de Quinn. Quinn tinha tanto poder que ele podia parar a mudança mesmo que já tivesse começado. Suspeitei que ele pudesse desencadeá-la também, embora eu tenha notado que lutar podia fazer isso com qualquer metamorfo. Ele precisou das garras durante a luta no apartamento de Hadley, e elas quase inclinaram a balança a nosso favor. Já que ele ficou tão enfurecido com Clete durante o episódio ao lado da estrada, o nariz de Quinn estava achatado e largo. Eu tive uma visão de perto dos dentes em sua boca, dentes que se transformaram em pequenos punhais. ―Por que você não muda completamente?‖, perguntei num pequeno sussurro. Porque não haveria espaço suficiente para você aqui, benzinho. Depois que me transformo, fico com dois metros e quinze de comprimento e peso cerca de duzentos quilos. Aquilo faria qualquer garota engolir em seco. Só podia ser grata por ele ter pensado à frente. Olhei mais um pouco para ele. Não está com nojo? Clete e o motorista trocavam recriminações sobre o incidente o telefone. ―Nossa, vovô, que dentes grandes você tem‖, sussurrei. Os caninos superiores e inferiores eram tão longos e afiados, que eram realmente assustadores (eu os chamei de caninos; para os felinos isso deve ser um insulto). Afiados... Eles eram afiados. Eu coloquei minhas mãos próximas da boca dele, e implorei com os olhos para que ele entendesse. Tanto quanto eu podia dizer de seu rosto alterado, Quinn estava preocupado. Da mesma forma que nossa situação despertou seus instintos de defesa, a ideia que eu estava tentando vender excitava outros instintos. Vou fazer suas mãos sangrarem, ele me avisou, com grande esforço. Ele era agora parcialmente animal, e os processos de raciocínio animais não percorriam necessariamente os mesmos caminhos dos humanos. Eu mordi o meu lábio inferior para evitar ofegar, enquanto os dentes de Quinn mordiam a fita adesiva. Ele tinha que exercer muita pressão para que os caninos de quase oito centímetros furassem a fita, e isso significava que os incisivos curtos e afiados mordiam minha pele também, não importando quanto cuidado ele tomasse. Lágrimas começaram a rolar por meu rosto numa corrente sem fim, e eu o senti titubear. Sacudi as mãos atadas para encorajá-lo, e, relutantemente, ele voltou a sua tarefa.  ―Ei, George, ele está mordendo ela‖, Clete disse do banco do passageiro. ―Posso ver a mandíbula dele se mexendo.‖ Mas nós estávamos tão próximos e a luz era tão fraca, que ele não conseguia ver que Quinn estava mordendo a amarração de minhas mãos. Isso era bom. Eu tentava firmemente encontrar coisas boas na qual me segurar, porque, naquele momento, estava parecendo como um triste, desolado mundo, deitada numa van, viajando sob chuva por uma estrada desconhecida em algum lugar no sul da Louisiana. Eu estava zangada, sangrando, dolorida e deitada sobre meu já machucado braço esquerdo. O que eu queria, o que seria ideal, era eu estar limpa e enfaixada numa boa cama com lençóis brancos. Certo, limpa e enfaixada em uma camisola limpa. E, então, Quinn estaria na cama, completamente em sua forma humana, e estaria limpo e enfaixado também. E teria descansado um pouco e não estaria usando absolutamente nada. Mas a dor de meus braços cortados e sangrando estavam se tornando exigentes demais para serem ignorados por mais tempo, e eu não conseguia me concentrar o suficiente para me apegar ao adorável devaneio. No momento em que eu estava à beira do choro - ou talvez apenas gritar alto - senti meus pulsos se separarem. Por alguns segundos, eu só fiquei ali deitada e ofegante, tentando controlar minha reação à dor. Infelizmente, Quinn não podia mastigar as amarras de suas próprias mãos, já que estavam presas atrás dele. Ele finalmente conseguiu se virar para que eu pudesse ver seus pulsos. George disse, ―O que eles estão fazendo?‖ Clete olhou para nós, mas eu estava com as mãos juntas. Como o dia estava escuro, ele não conseguia ver muito claramente. ―Não estão fazendo nada. Ele parou de mordê-la‖, Clete disse, soando desapontado. Quinn conseguiu fisgar a fita adesiva prateada com uma garra. Suas garras não eram afiadas na curvatura, como uma cimitarra113; seu poder se concentrava na ponta perfurante apoiada pela enorme força de um tigre. Mas Quinn não conseguia encontrar apoio para exercer aquela força. Então isso levaria tempo, e eu suspeitava que a fita fizesse um som de rasgar, quando ele conseguisse cortá-la. Nós não tínhamos muito tempo sobrando. A qualquer minuto, até um idiota como Clete notaria que nem tudo estava bem. Comecei a difícil manobra de descer as mãos para os pés de Quinn, sem revelar o fato de que elas já não estavam mais presas. Clete olhava de relance, quando ele vislumbrava minha movimentação, e eu mergulhei contra as prateleiras vazias, as mãos unidas em meu colo. Tentei parecer sem esperança, o que era terrivelmente fácil. Clete ficou mais interessado em acender um cigarro, após um ou dois segundos, me dando a chance de verificar a tira de plástico prendendo os tornozelos de Quinn. Apesar de lembrar o prendedor que usamos no ultimo Dia de Ação de Graças, este plástico era preto, grosso e muito resistente, e eu não tinha uma faca para cortá-lo ou chave para destrancá-lo. Eu achava que Clete tinha cometido um erro ao colocar a retenção, no entanto, e me apressei para tentar tirar vantagem disso. Os sapatos de Quinn ainda estavam lá, claro, e eu os desamarrei e os tirei. Então segurei um pé apontando para baixo. Este pé começou a deslizar dentro do círculo da tira. Como eu suspeitei, os sapatos mantiveram os pés separados e permitiram alguma folga. Apesar de meus pulsos e mãos estarem sangrando sobre as meias de Quinn (as quais eu deixei de modo que o plástico não o arranhasse), eu estava manobrando muito bem. Ele estava impassível a respeito do ajuste drástico em seus pés. Finalmente ouvi seus ossos protestarem ao serem torcidos numa posição estranha, mas seu pé deslizou para fora da restrição. Oh, graças a Deus. Tinha levado mais tempo para pensar do que fazer. Pareciam ter se passado horas. Puxei a restrição para baixo, arremessei no meio dos escombros, olhei para Quinn e acenei. Sua garra presa na fita a rompeu. Um buraco apareceu. O som não foi muito alto, e eu recuei totalmente ao lado de Quinn para camuflar a atividade. Prendi meus polegares no buraco da fita e puxei, conseguindo muito pouco. Existe uma razão para fitas adesivas serem tão populares. São substâncias confiáveis. Tínhamos que sair da van antes que ela alcançasse seu destino, e tínhamos que fugir antes que a outra van pudesse parar atrás da nossa. Engatinhei ao redor, entre as
113  A cimitarra é uma espada de lâmina curva, mais larga na extremidade livre, com gume no lado convexo, utilizada por certos povos orientais, tais como árabes, turcos e persas, especialmente pelos guerreiros muçulmanos. É a espada mais típica do Oriente Médio e da Índia muçulmana.
 
embalagens vazias de chulapa114 e caixas de papelão de batatas fritas no chão da van e, finalmente, num pequeno espaço entre o piso e a lateral, encontrei uma chave de fenda Phillips esquecida. Era comprida e fina. Olhei para ela e respirei fundo. Sabia o que tinha que fazer. As mãos de Quinn estavam presas e ele não podia fazer isso. Lágrimas rolaram por meu rosto. Eu estava sendo um bebê chorão, mas não conseguia deixar de fazer isso. Olhei para Quinn por um momento e suas feições eram como aço. Ele sabia tão bem quanto eu o que precisava ser feito. Nesse momento, a van diminuiu e virou numa estrada distrital, razoavelmente bem pavimentada, que parecia ser uma trilha de cascalho para a floresta. Uma garagem, eu tinha certeza. Estávamos próximos de nosso destino. Aquela era a melhor chance, talvez a última que teríamos. ―Estenda seus pulsos‖, murmurei, e enfiei a ponta da chave de fenda no buraco da fita. Ele ficou mais largo. Enfiei de novo. Os dois homens, sentindo meus movimentos frenéticos, estavam se virando, quando eu atingi a fita isolante pela última vez. Enquanto Quinn se esforçava para rasgar as amarras perfuradas, eu me coloquei de joelhos, agarrando a divisória de treliça com minha mão esquerda, e disse ―Clete!‖ Ele virou e se inclinou entre os assentos, perto da divisória, para ver melhor. Respirei fundo e, com a mão direita, dirigi a chave de fenda entre as hachuras do metal. Atingi-o bem em cheio na sua bochecha. Ele gritou e sangrou, e George mal conseguiu encostar rápido o suficiente. Com um rugido, Quinn separou seus pulsos. Então se moveu como um relâmpago e, no minuto em que a van bateu com força no estacionamento, eu e ele saímos pela porta dos fundos, e corremos para a floresta. Graças a Deus ela estava bem ao lado da estrada. Sandálias de couro com contas não são boas para correr na floresta, só queria dizer, e Quinn estava só de meias. Mas cobrimos alguns metros e, no momento em que o assustado motorista da segunda van conseguiu encostar e os passageiros puderam pular para fora em perseguição, nós estávamos fora da visão da estrada. Continuamos correndo, porque eles eram Lobis e podiam nos rastrear. Eu tinha arrancado a chave de fenda da bochecha de Clete e estava com ela na minha mão, e lembrei-me de pensar que era perigoso correr com um objeto pontudo nas mãos. Pensei nos dedos grossos de Clete sondando entre minhas pernas, e não me senti tão mal sobre o que eu fiz. Nos segundos seguintes, enquanto eu pulava sobre uma árvore caída escondida em algumas trepadeiras espinhentas, a chave de fenda escorregou de minha mão e eu não tive tempo para procurar por ela. Após corrermos por um tempo, nós chegamos a um pântano. Pântanos e baías são abundantes na Louisiana, é claro. Eles são ricos em vida selvagem, e podem ser lindos de observar e talvez passear numa canoa ou algo assim. Mas entrar dentro deles a pé, na chuva torrencial, é muito ruim.  Talvez do ponto de vista do rastreamento, esse pântano fosse uma coisa boa, porque uma vez que estavamos aqui, dentro da água, nós não deixaríamos qualquer cheiro. Mas do meu ponto de vista pessoal, o pântano era horrível, porque era sujo e tinha cobras, jacarés, e Deus sabe mais o quê.  Tive que me firmar para entrar na água atrás de Quinn, pois a água estava escura e fria já que ainda era primavera. No verão, seria como entrar numa sopa quente. Num dia tão                                                 
114  Prato da cozinha mexicana. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b1/Chalupas_%28food%29.jpg
 
nublado, uma vez que estávamos debaixo das árvores pendentes, seríamos quase invisíveis para nossos perseguidores, o que era bom; mas as mesmas condições significavam que qualquer animal selvagem à espreita seria visto só quando pisássemos ou fôssemos mordidos por ele. Não é tão bom.  Quinn sorria largamente, e me lembrei que alguns tigres tinham um bocado de pântanos em seu habitat natural. Pelo menos um de nós estava feliz.  A água foi ficando cada vez mais profunda, e logo estávamos nadando. Novamente, Quinn nadou com uma enorme elegância que foi meio intimidante para mim. Eu estava tentando com todas as minhas forças apenas ficar quieta e furtiva. Por um segundo, eu estava tão fria e amedrontada, que comecei a pensar que... não, não seria melhor ainda estar na van... mas era uma coisa perto disso, só por um segundo.  Eu estava tão cansada. Meus músculos tremiam por causa adrenalina surgida durante a nossa escapada, e depois de ter passado correndo através da floresta, e antes disso a luta no apartamento, e antes disso... oh, meu Deus, eu tinha feito sexo com Quinn. De certa forma. Sim, definitivamente sexo. Mais ou menos  Nós não tínhamos conversado desde que saímos da van e, repentinamente, lembrei de ter visto o braço dele sangrando, quando fugimos da van. Eu o atingi com a chave de fenda, pelo menos uma vez, enquanto estava o libertando.  E aqui estava eu, chorosa. ―Quinn‖, eu disse. ―Deixe-me ajudá-lo.‖  ―Me ajudar?‖ ele perguntou. Não pude decifrar seu tom e, já que ele estava avançando através da água escura na minha frente, não pude ler seu rosto. Mas sua mente, ah, essa estava cheia de confusão rosnada e raiva, que ele não conseguia achar lugar para colocar. ―Eu ajudei você? Eu a libertei? Eu a protegi contra os fodidos Lobis? Não, eu deixei aquele filho da puta cravar seu dedo em você, e assisti, e não pude fazer nada.‖  Oh. Orgulho masculino. ―Você deixou minhas mãos livres‖, apontei. ―E pode me ajudar agora.‖  ―Como?‖, ele se virou para mim, e estava profundamente chateado. Percebi que ele era um sujeito que levava sua proteção bem a sério. Era um dos desequilíbrios misteriosos de Deus, que homens fossem mais fortes do que as mulheres. Minha avó dizia que era seu modo de equilibrar a balança, já que mulheres eram mais duronas e flexíveis. Não tenho certeza se isso é verdade, mas eu sabia que Quinn, talvez porque ele ser um homem grande e formidável, e talvez por ser um homem-tigre, que podia se transformar nesse animal fabulosamente belo e letal, estava em pânico, porque não tinha matado todos os nossos atacantes e me salvado de ser maculada pelo toque deles.  Eu mesma teria preferido bem mais esse cenário, especialmente considerando nossa situação atual. Mas os eventos não aconteceram desse modo. ―Quinn‖, falei, e minha voz estava tão cansada quanto o resto de mim. ―Eles devem estar por algum lugar aqui perto. Em qualquer lugar nesse pântano.‖  ―É por isso que nos desviamos‖, ele disse, concordando. Vi uma cobra enroscada num galho de árvore pendendo sobre a água bem à sua frente, e meu rosto deve ter parecido tão chocado quanto eu me sentia, porque Quinn virou mais rápido do que eu poderia pensar, pegou a cobra na mão e a mordeu uma, duas vezes, até o animal estar morto e flutuar para longe na água barrenta. Ele pareceu se sentir bem melhor depois disso. ―Não sabemos para onde estamos indo, mas com certeza é longe deles. Certo?‖, ele perguntou.  ―Não há outros cérebros funcionando no meu alcance‖, falei, após um instante checando. ―Mas eu nunca medi o tamanho do meu alcance. É tudo que posso dizer. Vamos tentar sair da água por um minuto, enquanto pensamos, tudo bem?‖ Eu estava tremendo toda.  Quinn atravessou a água e me pegou. ―Coloque seus braços ao redor do meu pescoço‖, ele disse.  Claro, se ele queria fazer aquela coisa de homem, tudo bem. Coloquei os braços ao redor de seu pescoço e ele começou a se mover pela água.  ―Seria melhor se você se transformasse num tigre?‖, perguntei.  ―Posso precisar disso depois, e hoje já mudei parcialmente duas vezes. É melhor conservar minha força.‖  ―De que tipo você é?‖  ―Bengala‖115, ele respondeu, e então o tamborilar da chuva sobre a água parou.  Ouvimos vozes chamando e paramos na água, ambos nossos rostos virados para a fonte do som. Enquanto permanecíamos parados ali sem ação, ouvi algo grande deslizar para dentro da água à nossa direita. Virei os olhos naquela direção, aterrorizada com o que veria - mas a água estava quase parada, como se algo só tivesse passado. Eu sabia que havia passeios nos pântanos ao sul de Nova Orleans, e sabia que os nativos tinham um bom lucro ao levar pessoas para fora da água escura e deixá-las ver os jacarés. A coisa boa era que esses nativos faziam dinheiro e os estrangeiros viam algo que nunca veriam de outro modo. A ruim era que, às vezes, os locais jogavam iscas para atrair os crocodilos. Imaginei que os jacarés associassem humanos à comida. Deitei minha cabeça no ombro de Quinn e fechei os olhos. Mas as vozes não chegaram mais perto e não ouvimos os latidos dos lobos, nem nada mordeu minha perna para me puxar para baixo. ―É isso que os crocodilos fazem, sabe‖, falei para Quinn. ―Eles te puxam para baixo, te afogam, e levam para algum lugar onde possam comê-lo.‖  ―Benzinho, os lobos não vão comer a gente hoje, nem os crocodilos.‖ Ele riu, um ruído baixo e profundo no seu peito. Fiquei tão feliz de ouvir aquele som. Após um momento, começamos a nos mover pela água novamente. As árvores e pedaços de terreno tornaram-se próximos, os canais estreitaram e, finalmente, saímos numa porção de terra grande o suficiente para conter uma cabana. Quinn estava me apoiando parcialmente, quando cambaleamos para fora da água. Como abrigo, a cabana era bem pobre. Talvez a estrutura tenha sido um esplêndido acampamento de caça, com três paredes e um telhado, não mais do que isso. Agora era uma ruína, meio caída. A madeira tinha apodrecido e o telhado de metal dobrado e torcido, enferrujando em alguns pontos. Fui até o móvel feito por um homem sob medida para empilhar material e procurei cuidadosamente, mas não parecia existir nada que pudéssemos usar como arma. Quinn estava ocupado, arrancando os restos de fita dos seus pulsos, sem pestanejar, quando um pouco de pele vinha junto. Eu trabalhei no meu mais gentilmente. Então apenas desisti. Desmoronei miseravelmente no chão, minhas costas contra um carvalho raquítico. Ela descascou imediatamente, começando a fazer marcas profundas em minhas costas. Pensei em todos os germes na água, micróbios que com certeza invadiram meu sistema no momento em que tiraram proveito da entrada através dos cortes em meus pulsos. A mordida não curada continuava coberta por uma atadura agora imunda, que tinha, sem dúvida, recebido sua cota de partículas desagradáveis. Meu rosto estava inchando por causa 
  115  http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/49/Panthera_tigris_tigris.jpg
 
do soco que levei. Eu me lembrei de ter olhado no espelho no dia anterior e perceber que as marcas deixadas pelos Lobis mordidos, em Shreveport, tinham finalmente quase desaparecido. Quase nada de bom isso fez pra mim. ―Amelia já deve ter feito algo, neste meio tempo,‖ falei, tentando me sentir otimista. ―Ela provavelmente ligou para o QG vampiro. Mesmo que nossa ligação não tenha alcançado ninguém que possa fazer algo a respeito, talvez alguém esteja nos procurando agora.‖ ―Eles teriam que mandar os empregados humanos. Tecnicamente ainda está à luz do dia, apesar de o céu estar tão escuro.‖ ―Bom, pelo menos a chuva parou‖, eu falei. Nesse momento, começou a chover novamente. Pensei em dar um ataque, mas, francamente, não parecia valer à pena gastar a energia. E não havia nada a fazer a respeito. O céu continuaria a chover não importa quantos ataques eu tivesse. ―Sinto muito por você estar envolvido nisso‖ falei, pensando que tinha um muito pelo que me desculpar. ―Sookie, eu não sei se você devia estar me dizendo que você sente muito.‖ Quinn enfatizou o pronome. ―Tudo aconteceu quando estávamos juntos.‖ Isso era verdade, e tentei acreditar que tudo isso não era minha culpa. Mas estava convencida que, de algum modo, realmente era. Repentinamente, Quinn disse, ―Qual é o seu relacionamento com Alcide Herveaux? Nós o vimos no bar semana passada com alguma outra garota. Mas o policial, o de Shreveport, disse que você foi noiva dele.‖ ―Aquilo foi papo-furado‖, eu disse, caindo sentada na lama. Aqui estava eu, mergulhada profundamente em um pântano do sul da Louisiana, a chuva caindo sobre mim... Ei, espera um minuto. Encarei a boca de Quinn se mexendo, percebendo que ele estava dizendo alguma coisa, mas esperando o final de um pensamento fugaz para me prender em alguma coisa. Se houvesse uma lâmpada sobre minha cabeça, estaria piscando agora. ―Jesus Cristo, Pastor da Judéia‖, disse respeitosamente. ―Isto é quem está fazendo isso.‖ Quinn se agachou na minha frente. ―Você está escolhendo quem está fazendo isto? Quantos inimigos você tem?‖ ―Pelo menos eu sei quem mandou os Lobis mordidos, e quem nos raptou‖, eu disse, me recusando a ficar desviando do assunto. Agachados juntos no aguaceiro, como um casal de pessoas das cavernas, Quinn ouviu, enquanto eu falava. Então, discutimos probabilidades.  E fizemos um plano.
 
Uma vez que ele sabia o que estava fazendo, Quinn foi implacável. Já que não poderíamos ficar mais miserável do que já estávamos, ele decidiu que poderíamos muito bem nos mover. Enquanto eu conseguia pouco mais do que segui-lo e ficar de fora do seu caminho, ele começou a vasculhar a área em busca de cheiros. Finalmente, ele cansou de se agachar, e disse: "Eu vou mudar". Ele se despiu rapidamente e eficientemente, embrulhou a roupa em um compacto (mas ensopado) pacote e me entregou para que eu levasse. Cada conjectura que eu tinha sobre o corpo de Quinn era absolutamente certa, tive o prazer de notar. Ele começou a tirar suas roupas, sem uma única hesitação, mas depois que ele percebeu que eu estava olhando, ele se manteve quieto e me deixou olhar. Mesmo no escuro, ensopado da chuva, ele valia à pena.  O corpo de Quinn era uma obra de arte, apesar de uma obra de arte marcada. Ele era um grande bloco de músculo, de suas panturrilhas até o pescoço.  "Você gosta do que vê?" ele perguntou.  "Oh, Deus!‖ eu disse. "Você parece melhor do que um Mc Lanche Feliz para uma criança de 3 anos.‖ Quinn deu-me um sorriso largo e satisfeito. Inclinou-se para agachar no chão. Eu sabia o que estava por vir. O ar em torno de Quinn começou a brilhar e tremer, e, então, dentro dessa capa, Quinn começou a mudar. Músculos ondularam e deslizaram e modificaram, ossos remodelaram, pêlo cresceu de algum lugar dentro dele - mesmo que eu soubesse que não podia ser real, era essa a ilusão. O som era terrível. Era um tipo de um som pegajoso e espesso, mas com notas duras, como se alguém estivesse mexendo um pote de cola dura que estava cheio de paus e pedras. No fim, o tigre estava à minha frente. Se Quinn era um homem lindo nu, era um tigre igualmente belo. Sua pele era um alaranjado profundo, cortado com listras pretas, e havia toques de branco na barriga e no rosto. Seus olhos oblíquos eram cor de ouro. Tinha talvez 2 metros e quinze de comprimento e pelo menos 90 centímetros de altura sobre quatro patas. Fiquei impressionada com o quão grande ele era. Suas patas estavam completamente desenvolvidas e tão grandes como um prato. Suas orelhas arredondadas eram simplesmente lindas. Ele andou até mim em silêncio, com uma graça incomum em tal forma maciça. Ele esfregou a cabeça enorme contra mim, quase me derrubando, e ele ronronou. Ele soou como um feliz contador Geiger116. Seu pêlo denso era oleoso ao toque, então eu percebi que ele estava muito bem impermeabilizado. Ele deu um rugido forte, e o pântano ficou em silêncio. Você não pensaria que os animais selvagens da Louisiana reconheceriam o som de um tigre, certo? Mas aconteceu, e eles fecharam a boca e se esconderam. Nós não temos os mesmos requisitos especiais de espaço com os animais como o que nós temos com as pessoas. Ajoelhei-me ao lado do tigre, que tinha sido Quinn, e de alguma forma mágica ainda era Quinn, e eu coloquei meus braços em volta do seu pescoço, e o abracei. Foi um pouco perturbador que ele cheirasse como um tigre real, e eu forcei a
116  O contador Geiger (ou contador Geiger-Müller ou contador G-M) serve para medir certas radiações ionizantes (partículas alfa, beta ou radiação gama e raios-X, mas não os nêutrons).
 
minha mente em torno do fato de que ele era um tigre, que Quinn estava dentro dele. E partimos através do pântano.  Foi um pouco surpreendente ver o tigre marcar seu novo território, - isso não é algo que você espera ver seu namorado fazer -, mas eu decidi que seria absolutamente ridículo pensar sobre isso. Além disso, eu tinha o suficiente para pensar, mantendo-me com o tigre. Ele estava procurando por cheiros, e nós cobrimos uma parte do terreno. Eu estava ficando cada vez mais exausta. Minha sensação de espanto desbotou, e eu estava simplesmente molhada e com frio, com fome e irritada. Se alguém estivesse pensando bem debaixo dos meus pés, eu não tenho certeza que minha mente teria pegado os pensamentos.  Então o tigre congelou, testando algo no ar. Sua cabeça se moveu, suas orelhas contraíram-se, para procurar em uma determinada direção. Ele se virou para olhar para mim. Embora os tigres não possam sorrir, eu tenho a sinal definitivo do triunfo do enorme gato. O tigre virou a cabeça de volta para o leste, girou a cabeça enorme para olhar para mim e virou a cabeça para o leste novamente. Siga-me, nitidamente.  "Ok‖, eu disse, e coloquei minha mão em seu ombro.  E lá fomos nós. A viagem através do pântano durou uma eternidade, mas depois eu estimei que a ―eternidade‖, neste caso, foi, provavelmente, cerca de trinta minutos. Aos poucos o terreno tornou-se mais firme, a água escassa. Agora estávamos na floresta, não no pântano.  Eu percebi que tínhamos chegado perto do destino dos nossos sequestradores, quando a van tinha desligado na estrada lateral. Eu estava certa. Quando chegamos à borda da clareira em torno da pequena casa, fomos para o lado oeste da casa virando ao norte. Pudemos ver seu jardim e quintal. A van, que nos manteve em cativeiro, estava estacionada na parte de trás. Na pequena clareira da frente havia um carro, algum tipo de sedan GMC117.  A pequena casa em si era como um milhão de outras casas na América rural. Era um cubículo: de madeira, pintada de bronze, com persianas verdes nas janelas e colunas verdes para apoiar o telhado sobre a varanda minúscula. Os dois homens da van, Clete e George, estavam amontoados no espaço de concreto, por causa do pequeno pedaço abrigo, no entanto, foi insuficiente.  A estrutura correspondente na parte traseira da casa era um pequeno deck fora da porta traseira, quase grande o suficiente para ter uma churrasqueira a gás e um esfregão. Estava aberta aos elementos. A propósito, os elementos estavam realmente indo para a cidade.  Eu arrumei as roupas e sapatos de Quinn ao pé de uma árvore de mimosa118. Os lábios do tigre foram para trás, quando ele sentiu o cheiro de Clete. Os longos dentes eram tão assustadores como os de um tubarão.  A tarde de chuva baixou a temperatura. George e Clete estavam tremendo no frio úmido da noite. Ambos estavam fumando. Os dois lobis, em forma humana e fumando, não teriam um sentido de olfato melhor do que as pessoas normais. Eles não mostraram nenhum
 
117  A GMC é a divisão de caminhonetes e caminhões da General Motors. http://blog.niot.net/blogimages/chicago-2008-gmc-denali-xt-four-door-flex-fuel-hybrid-ute.jpg
118  Mimosa L. é um gênero botânico pertencente à família Fabaceae. Inclui mais do que 400 espécies de ervas e arbustos com folhas bipinuladas par. A espécie mais conhecida é a Mimosa pudica, chamada comumente dormideira ou sensitiva. http://biosabermais.files.wordpress.com/2008/02/mimosa1.jpg
 
sinal de estar cientes de Quinn. Eu imaginei que eles iriam reagir muito dramaticamente se sentissem o cheiro do tigre no sul da Louisiana. Caminhei próximo às arvores para chegar mais perto da van. Andei ao redor do carro e me arrastei até o lado do passageiro. A van estava destrancada, e eu podia ver a arma de choque. Esse era o meu objetivo. Eu respirei fundo e abri a porta, esperando que a luz que vinha de dentro do carro não fosse interessante para qualquer um que pudesse ver pela janela traseira. Eu agarrei a arma de choque da bagunça entre os assentos dianteiros. Eu fechei a porta tão silenciosamente como uma porta de van pode ser fechada. Felizmente, a chuva parecia abafar o ruído. Eu dei um suspiro de alívio quando nada aconteceu. Então eu caminhei agachada de volta para a borda da floresta e me ajoelhei perto de Quinn.  Ele lambeu meu rosto. Apreciei muito o gesto de carinho, embora não a respiração do tigre, e eu cocei sua cabeça.  (De algum modo, beijar seu pêlo não tinha nenhum atrativo.) Feito isso, eu apontei para a janela oeste esquerda, que deveria pertencer a uma sala de estar. Quinn não acenou ou me deu um aperto de mão, os quais teriam sido atípicos gestos para um tigre, mas eu acho que eu esperava que ele me desse algum tipo de luz verde. Ele só olhou para mim.  Colocando os meus pés com cuidado, saí para o pequeno espaço aberto entre a floresta e a casa, e com muito cuidado eu fiz meu caminho para a janela iluminada.  Eu não queria aparecer como um boneco de mola saindo de uma caixa, de modo que abracei o lado da casa, e avancei para os lados até encontrar um ponto da janela que eu pudesse olhar. Os Pelts mais velhos, Barbara e Gordon, estavam sentados em um "antecipado sofá de dois lugares americano‖, que datava da década de sessenta, e sua linguagem corporal claramente proclamava a sua infelicidade. Sua filha Sandra caminhava para frente e para trás na frente deles, embora não havia muito espaço para uma exposição como esta. Era uma sala para uma família pequena, uma sala que seria confortável se você tivesse uma família de um. Os Pelts mais velhos pareciam como se fossem sair em uma sessão de fotos da Lands' End119, enquanto Sandra estava mais aventureira, vestindo calça cáqui e um suéter listrado brilhante de mangas curtas. Sandra estava vestida para pescar homens bonitos no shopping, em vez de torturar um casal de pessoas. Mas tortura era o que ela estava planejando fazer. Havia uma cadeira no canto e ela tinha correntes e algemas já anexadas.  Em uma nota familiar, havia um rolo de fita adesiva colocada bem ao seu lado. Eu estava bem tranquila até que vi a fita adesiva.  Eu não sabia se podia contar com o tigre, mas eu levantei três dedos no caso de que Quinn estivesse assistindo. Movendo-me lentamente e com cuidado, eu agachei e me movi para o sul até que eu estava abaixada na segunda janela. Eu estava me sentindo muito orgulhosa da minha capacidade de infiltração, o que deveria ter me alertado para um potencial desastre. A soberba precede a queda.  Embora a janela estivesse escura, quando me coloquei em posição, eu estava olhando através do vidro direto para os olhos de um pequeno homem moreno, de bigode e cavanhaque. Ele estava sentado em uma mesa bem perto da janela, e ele estava segurando um copo de café na mão. Em seu choque, deixou cair à mesa o copo e o liquido quente bateu em suas mãos, no peito e no seu queixo.  Ele gritou, embora eu não tivesse certeza de que ele estava usando as próprias palavras. Eu ouvi um barulho na porta da frente e na sala da frente.                                                  
119  Loja de roupas para família. http://www.landsend.com/
 
Bem... Aff. Eu estava virando a esquina da casa e subindo os degraus para o pequeno deck mais rápido do que você poderia dizer Jack Robinson120. Eu escancarei a porta de tela e empurrei a porta de madeira, e saltei para a cozinha com a arma de choque. O cara pequeno ainda estava afagando o seu rosto com uma toalha, enquanto eu atirava, e ele caiu como um saco de tijolos. Wow!  Mas a arma de choque tinha que ser recarregada, eu descobri isso quando Sandra Pelt, que tinha tido a vantagem de já estar em seus pés, chegou até a cozinha com os dentes arreganhados. A arma de choque não fez nada para ela, e ela foi para cima de mim como um - bem, como um lobo enfurecido.  No entanto, ela ainda estava sob a forma de uma menina, e eu estava desesperada e desesperadamente irritada.  Eu vi pelo menos duas dezenas de brigas de bar, que vão desde socos desanimados a rolar no chão mordendo, e eu sei como lutar. Agora eu estava disposta a fazer o que fosse. Sandra era má, mas era mais leve e menos experiente, e depois de alguma luta e socos e puxões de cabelo, que passou num piscar de olhos, eu estava em cima dela e ela estava colada ao chão. Ela rosnava e batia, mas não conseguia alcançar o meu pescoço e eu fui preparada para dar uma cabeçada nela se eu tivesse que fazer.  Uma voz no fundo gritou: "Deixe-me entrar!" e eu poderia supor que era Quinn atrás de alguma porta. "Venha, agora!" Eu gritei em resposta. "Preciso de ajuda!"  Ela estava se contorcendo debaixo de mim, e eu não ousava soltar ou mudar a minha garra. "Escute Sandra," Eu ofegava "Fique calma, maldição!"  ―Foda-se", disse ela amargamente, e seus esforços redobraram.  "Isto é realmente excitante", disse uma voz familiar, e eu olhei para cima para ver Eric olhando para nós com grandes olhos azuis. Ele parecia imaculado: impecável em sua calça jeans com vinco e uma camisa engomada listrada azul e branca. Seu cabelo loiro brilhava limpo e (aqui foi à parte mais invejável) seco. Eu o odiava. Senti-me desagradável à enésima potência.  "Eu poderia ter alguma ajuda aqui", eu rosnei, e ele disse: "Claro, Sookie, mas eu estou me divertindo com isso. Largue a menina e levante-se."  ―Só se você estiver pronto para a ação", eu disse, minha respiração irregular com o esforço de segurar Sandra no chão. "Estou sempre pronto para a ação", disse Eric, com um sorriso brilhante. "Sandra, olhe para mim."  Ela era muito inteligente para isso. Sandra fechou seus olhos apertados e lutou ainda mais. Em um segundo, ela libertou um dos braços e balançou-o de volta para obter impulso para socar. Mas Eric caiu de joelhos e segurou a sua mão antes que ela pudesse voar na minha cabeça.  "Já chega", disse ele em um tom completamente diferente, e seus olhos se abriram de surpresa. Embora ele ainda não pudesse pegá-la com os olhos, eu achei que ele tinha o comando sobre ela agora. Eu sai de cima da Lobis e deitei de costas no que restava do chão da cozinha minúscula. O senhor Pequeno e Escuro (e Queimado e Atordoado), que eu imaginei ser o proprietário dessa casa, estava amassado perto da mesa. 
120  Foi um jogador de beisebol norte-americano, que foi o primeiro jogador afro-americano da Major League Baseball na era moderna.
 
Eric, que estava tendo quase tanto problema com a Sandra quanto eu tive, pegou muito mais do espaço disponível. Exasperado com a Lobis, ele adotou uma solução simples. Apertou a mão que ele tinha pegado, e ela gritou. E calou a boca e parou de lutar.  "Isso não é justo", disse eu, lutando contra uma onda de cansaço e dor.  "Tudo é justo", disse ele calmamente.  Eu não gostei do som disso. "Do que você está falando?" Eu perguntei. Ele balançou a cabeça. Eu tentei de novo. "Onde está o Quinn?  ―O tigre esta cuidando de seus dois sequestradores", disse Eric, com um sorriso desagradável. ―Gostaria de ir ver?‖  "Não em particular," eu disse, e fechei os olhos novamente. "Acho que eles estão mortos?"  "Tenho certeza de que gostariam de estar", disse Eric. "O que você fez para o homem no chão?"  "Você não acreditaria se eu dissesse," eu disse.  "Tente".  "Eu o assustei tanto que ele derramou café quente sobre si mesmo. Então eu o acertei com uma arma de choque que eu peguei da van.‖  "Oh". Havia um tipo de som soprado, e eu abri meus olhos para ver que Eric estava rindo silenciosamente.  "Os Pelts?‖ Eu perguntei.  "Rasul os tem cobertos", disse Eric. "Você tem outro fã, ao que parece."  "Oh, é por causa do sangue de fadas", disse irritada. "Você sabe, não é justo. Caras humanos não gostam de mim. Eu sei de cerca de duas centenas de caras que não iriam querer namorar comigo mesmo se eu viesse com uma caminhonete Chevy. Mas por causa dos sobres serem atraídos pelo cheiro de fadas, recebo acusação de ser um imã para esses caras. Quão errado é isso?"  "Você tem o sangue de fadas", disse Eric, como se sua própria lâmpada tivesse acabado de se iluminar. "Isso explica muita coisa."  Isto feriu meus sentimentos. "Oh não, você não pode apenas gostar de mim", eu disse, cansada e ferida além da coerência. "Oh não, Deus, tem que haver uma razão. E não vai ser a minha personalidade brilhante, oh não! Vai ser o meu sangue, porque é especial. Não, eu não sou especial..."  E eu teria ido à diante, se Quinn não tivesse dito, "Eu não dou a mínima para as fadas." Qualquer espaço disponível à esquerda na cozinha desapareceu. Eu arrastei-me sobre meus pés. "Você está bem?" Eu perguntei com uma voz vacilante.  "Sim", ele disse, em seu mais profundo ronco. Ele era completamente humano novamente, e completamente nu. Eu teria o abraçado, mas me senti um pouco envergonhada de abraçá-lo por completo, na frente de Eric.  "Deixei suas roupa lá fora, na floresta", disse. "Eu vou pegá-la."  "Eu posso".  "Não, eu sei onde elas estão, e eu não posso ficar mais molhada." Além disso, eu não sou sofisticada o suficiente para ficar confortável em uma sala com um cara pelado, um rapaz inconsciente, uma menina realmente horrível, e outro cara que foi meu amante. "Foda-se, vadia", a encantadora Sandra gritou comigo, e gritou de novo, já que Eric deixou claro que ele não ligaria para os insultos.  "Logo depois de você", eu murmurei, e marchei para fora na chuva. 
Oh, sim, ainda estava chovendo.  Eu ainda estava remoendo a coisa do sangue de fadas quando eu peguei a trouxa de roupa encharcada de Quinn. Seria fácil escorregar por uma vala de depressão se eu pensasse que a única razão para que alguém alguma vez tenha gostado de mim fosse por eu ter sangue de fadas. Claro, sempre haveria um vampiro estranho que teria sido ordenado a me seduzir... Eu tenho certeza de que o sangue de fada tinha sido apenas um bônus, nesse caso... Não, não, não, não iria por ai.  Se eu olhar para isso de uma forma razoável, o sangue era tanto uma parte de mim como a minha cor dos olhos ou a espessura do meu cabelo. Ele não tinha feito nada para minha avó metade fada, supondo que o gene tenha chegado a mim através dela, e não um dos meus outros avôs. Ela se casou com um homem humano que não a tinha tratado de forma diferente do que ele teria se o seu sangue tivesse sido de um simples ser humano. E ela foi morta por um homem que não sabia nada sobre o seu sangue, exceto a cor dele. Seguindo a mesma premissa, o sangue de fadas não fez nem um pouco de diferença para o meu pai. Ele nunca em sua vida encontrou um vampiro que possa estar interessado nele por causa disso ou se o tinha, ele o manteve extremamente secreto. Isso não parece provável. E o sangue de fadas não tinha salvado o meu pai da enchente que tinha levado o carro dos meus pais para fora da ponte e no córrego inundado. Se o sangue tinha chegado a mim através da minha mãe, bem, ela morreu no carro também. E Linda, a irmã da minha mãe, morreu de câncer em seus mais de trinta, não importa que tipo de herança que ela tinha.  Eu não acredito que esse sangue de fadas tenha feito tudo muito maravilhoso para mim, também. Talvez alguns vampiros tenham ficado um pouco mais interessados em mim e amigáveis comigo do que teria sido caso contrário, mas eu não podia dizer que tinha sido uma vantagem.  De fato, muitas pessoas diriam que a atenção dos vampiros tinha sido um grande fator negativo na minha vida. Eu poderia ser uma dessas pessoas. Especialmente desde que eu estava aqui na chuva torrencial segurando a roupa molhada de alguém e me perguntando o que diabos fazer com elas.  Tendo feito círculo completo, eu andei de volta para casa. Eu podia ouvir um monte de gemido vindo do jardim da frente: Clete e George, presumivelmente. Eu deveria ter ido ver, mas eu não poderia juntar mais energia.  De volta à cozinha, o homem pequeno e escuro estava se mexendo um pouco, seus olhos abrindo e fechando e sua boca se contraindo. Suas mãos estavam amarradas para trás. Sandra estava amarrada com fita, o que me animou um pouco. Parecia um pedaço de pura justiça poética. Ela ainda tinha um retângulo puro diretamente na boca, que eu presumi foi obra de Eric. Quinn tinha encontrado uma toalha para colocar ao redor de sua cintura, então ele parecia muito... Preparado.  "Obrigado benzinho", disse. Ele pegou sua roupa e começou a torcer sobre a pia. Eu pingava no chão. "Eu me pergunto se há uma secadora?‖ ele perguntou, e eu abri outra porta para encontrar uma despensa pequena / despensa com prateleiras em uma parede e na outra um aquecedor de água e uma pequena máquina de lavar e secar roupa.  "Passe pra cá‖, eu chamei, e Quinn veio com suas roupas. "As suas necessitam ir para lá, também, benzinho", ele disse, e notei que ele parecia tão cansado quanto eu me sentia. Mudar para a forma de tigre sem a lua cheia, em um espaço tão curto de tempo, deve ter sido muito difícil. "Talvez você possa encontrar-me uma toalha?" Eu perguntei, arrancando as calças molhadas com grande esforço. Sem uma única piada ou olhar sinuoso, ele foi ver o que ele poderia encontrar. Voltou com algumas roupas, eu assumi que era do quarto do homem pequeno: uma camiseta, short, meias. "Isto é o melhor que eu pude fazer", ele disse.  "É melhor do que eu esperava", disse. Depois que eu tinha usado a toalha e eu tinha colocado a roupa limpa e seca, eu quase chorei de gratidão. Eu dei um abraço em Quinn e então fui descobrir o que iríamos fazer com os nossos reféns.  Os Pelts estavam sentados no chão, algemados de forma segura, na sala, vigiados por Rasul. Barbara e Gordon pareciam tão calmos quando eles vieram ao Merlotte's se encontrar comigo no escritório de Sam. Hoje eles não pareciam mais tão calmos. Fúria e malícia estavam estranhamente em seus rostos suburbanos.  Eric trouxe Sandra também, e jogou ela perto de seus pais. Eric estava em uma porta, Quinn em outra (que um olhar mostrou-me que levava ao quarto do homem pequeno e escuro). Rasul, arma em mãos, relaxou sua vigilância um pouco agora que ele tinha um apoio tão formidável. "Onde está o cara pequeno?" ele perguntou. "Sookie, eu estou contente de ver que você esta muito bem, apesar de o seu semblante estar abaixo de seus padrões habituais."  Os shorts eram folgados com bolsos, a camisa era grande, e as meias brancas eram o chamariz. "Você realmente sabe como fazer uma garota se sentir bonita, Rasul," eu disse, juntando talvez um meio sorriso para lhe oferecer. Sentei-me na cadeira de canto e perguntei Barbara Pelt, "O que vocês iam fazer comigo?"  ―Trabalhar em você até você nos dizer a verdade, e Sandra ficaria satisfeita", ela disse. "Nossa família não pode ficar em paz enquanto não souber a verdade. E a verdade está em você, eu sei."  Eu estava incomodada. Bem, mais que incomodada. Porque eu não sabia o que dizer a ela ainda, eu olhei de Eric para Rasul. "Só vocês dois?" eu perguntei.  "O dia que dois vampiros não puderem lidar com um punhado de Lobis é o dia em que eu me tornarei humano novamente", disse Rasul, com uma expressão tão arrogante que eu estava tentada a rir. Mas ele estava exatamente certo (embora, naturalmente, ele tinha a ajuda de um tigre). Quinn estava apoiado na porta parecendo pitoresco, embora apenas no momento a sua grande extensão de pele lisa não me interessava nem um pouco.  "Eric," eu disse, "o que devo fazer?"  Eu acho que eu nunca pedi a Eric seus conselhos antes. Ele ficou surpreso. Mas o segredo não era só meu.  Depois de um momento, ele balançou a cabeça.  "Eu vou te dizer o que aconteceu com Debbie‖, eu disse para os Pelts. Eu não pedi a Rasul e Quinn para sair da sala. Eu estava me livrando disso nesse momento, tanto a culpa persistente e quanto o poder que Eric tinha sobre mim.  Eu pensei sobre essa noite tantas vezes que as minhas palavras saíram automaticamente. Eu não chorei, porque todas as minhas lágrimas tinham sido derramadas meses antes, em particular.  Depois que eu terminei a história, os Pelts se sentaram e olharam para mim e eu olhei de volta.  "Isso soa como a nossa Debbie‖, disse Barbara Pelt. "Isto tem o anel da verdade."  "Ela tinha uma arma", disse Gordon Pelt. "Eu dei a ela no Natal há dois anos." Os dois lobis entreolharam.  "Ela era... proativa", disse Barbara, após um momento. Ela virou-se para Sandra. "Lembra quando nós tivemos que ir ao tribunal, quando ela estava na escola, porque ela colocou super cola na escova de cabelo daquela líder de torcida? A que estava namorando o ex-namorado dela? Isso soa como Debbie, hein?" Sandra concordou, mas a fita não permitia que ela falasse. Sandra tinha lágrimas escorrendo pelas bochechas.  "Você ainda não se lembra de onde você a colocou?" Gordon perguntou a Eric.  "Eu lhe diria se eu lembrasse", disse Eric. Não que eu me importasse, implícito em seu tom. "Vocês contrataram os dois filhotes que nos atacaram em Shreveport", disse Quinn.  "Sandra o fez", admitiu Gordon. "Nós não soubemos sobre isso até que Sandra já tinha mordidos eles. Ela prometeu-lhes..." Ele balançou a cabeça. "Ela mandou eles para Shreveport em sua incumbência, mas eles deveriam ter retornado para casa para recolher a sua recompensa. Nosso chefe em Jackson teria matado eles. Mississipi não permite lobis mordidos. Matam eles à vista. Os rapazes teriam nomeado Sandra como sua criadora. O chefe teria abjurado ela. Bárbara se envolveu com bruxaria, mas nada do nível que teria fechado a boca dos meninos. Contratamos um lobis de fora do estado para controlá-los quando encontrássemos eles. Ele não podia detê-los, não podia evitar sua prisão, então ele teve que ser preso e ir para o sistema de prisão com eles, para cuidar do problema.‖ Ele olhou para nós, abanando a cabeça com firmeza. "Ele subornou Cal Myers para colocá-lo na cela com eles. É claro que punimos Sandra por isso."  "Oh, você tira o telefone celular durante uma semana?" Se eu soei sarcástica, eu penso que tinha o direito de ser. Mesmo cooperativos, os Pelts eram horríveis. "Nós dois ficamos feridos," eu disse, apontando para Quinn, "e aqueles dois garotos estão mortos agora. Por causa de Sandra".  "Ela é nossa filha", disse Barbara. "E ela acreditava que iria vingar sua irmã assassinada.  ―E então vocês contrataram todos os lobis que estavam na segunda van, e os dois lobis deitados no jardim da frente. Eles vão morrer Quinn?  "Se os Pelts não os levarem a um médico de Lobis, eles podem. E eles certamente não podem ir a nenhum hospital humano."  As garras de Quinn teriam deixado marcas distintas.  "Vocês vão fazer isso?" Perguntei cética. "Levar Clete e George a um médico de lobis?"  Os Pelts se entreolharam e deram de ombros. "Pensámos que ia nos matar", disse Gordon. "Você vai nos deixar ir embora? Com que garantias?"  Eu nunca conheci alguém como os Pelts antes, e era mais e mais fácil de ver onde Debbie tinha adquirido a sua personalidade encantadora, adotada ou não.  "Com a garantia de que nunca ouvirei sobre isso de novo", eu disse. "Nem eu nem Eric".  Quinn e Rasul estavam escutando silenciosamente.  "Sookie é uma amiga do bando de Shreveport", disse Quinn. "Eles ficaram muito chateados de ela ter sido atacada em sua própria cidade, e agora sabemos que vocês são os responsáveis por esse ataque." ―Nós ouvimos que ela não era favorita do novo líder do bando." A voz de Barbara mostrou um traço de desprezo. Ela estava voltando para sua própria personalidade, uma vez que ela já não temia a própria morte. Eu gostava mais quando eles estavam com medo. 
"Ele pode não ser líder do bando por muito tempo", disse Quinn, na voz dele uma ameaça silenciosa. "Mesmo se ele permanecer no cargo, ele não pode rescindir a proteção do bando, uma vez que foi garantido pelo líder anterior. A honra do bando seria destruída."   ―Nós vamos fazer reparações para o bando de Shreveport," Gordon disse cansadamente.  "Vocês enviaram Tanya a Bon Temps?‖ Eu perguntei. Barbara parecia orgulhosa de si mesma. "Sim, eu fiz isso. Você sabia que nossa Debbie era adotada? Ela era uma mulher-raposa. Eu assenti. Eric olhou interrogativo; eu não acho que ele conheceu Tanya.  "Tanya é um membro da família de nascimento de Debbie, e ela queria fazer algo para ajudar. Ela pensou que se ela fosse para Bon Temps e começasse a trabalhar com você, você poderia deixar escapar alguma coisa. Ela disse que você estava muito desconfiada para se interessar por sua oferta de amizade. Eu acho que ela poderia ficar em Bon Temps. Compreendo que encontrar o tão atraente dono do bar foi um bônus inesperado‖.  Era uma espécie de gratificação descobrir que Tanya era tão desonesta como eu suspeitava. Eu me perguntava se eu tinha o direito de dizer a Sam toda esta história, por meio de aviso. Eu teria que pensar sobre isso mais tarde.  "E o homem que é dono desta casa?" Eu podia o ouvir chiando e gemendo na cozinha.  "Ele é um amigo antigo que fez segundo grau com Debbie," Gordon disse. "Nós perguntamos se poderíamos pegar emprestada sua casa para essa tarde. E nós pagamos a ele. Ele não vai falar depois que sairmos."  "E sobre Gladiola?" Eu perguntei. Lembrei-me as duas partes de corpo queimando em minha garagem. Lembrei-me da face do Sr. Cataliades, e dor de Diantha.  Os três me olharam sem expressão. "Gladiola? A flor?" Barbara disse, olhando realmente intrigada. "Não é ainda a época certa para glads121, agora."  Isso era um beco sem saída.  "Vocês concordam que estamos quites sobre isso?" Eu perguntei sem rodeios. "Eu machuquei vocês, vocês me feriram. Mesmo?"  Sandra balançou a cabeça de um lado para o outro, mas seus pais a ignoraram. Agradeço a Deus pela fita adesiva. Barbara e Gordon acenaram um para o outro.  Gordon disse: "Você matou Debbie, mas nós acreditamos que a matou em legítima defesa. E a nossa filha viva usou métodos extremos e ilegais para atacá-la... Vai contra a minha natureza dizer isso, mas eu acho que nós temos que concordar em deixá-la em paz, depois desse dia."  Sandra fez um monte de barulhos estranhos.  "Com essas determinações." A face de Gordon de repente parecia dura como uma rocha. O homem suburbano deu lugar ao Lobis. "Você não virá atrás de Sandra. E você vai ficar longe do Mississippi."  ―Feito", eu disse imediatamente. "Você pode controlar Sandra o suficiente para fazê-la manter este acordo?" Foi um pouco rude, mas uma pergunta válida. Sandra tinha peças suficientes para um exército, e eu duvidava muito que os Pelts tinham realmente algum controle sobre qualquer uma das suas filhas.  "Sandra", disse Gordon à sua filha. Seus olhos brilharam para ele de seu forçado rosto mudo. "Sandra, essa é a lei. Nós estamos dando a nossa palavra a esta mulher, e a 
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nossa palavra é obrigatória para você. Se você me desafiar, eu vou desafiá-la na próxima lua cheia. Vou derrubá-la na frente do bando".  Mãe e filha pareciam chocadas, Sandra mais do que a mãe dela. Os olhos de Sandra se estreitaram, e depois de um longo momento, ela balançou a cabeça.  Eu esperava que Gordon vivesse um longo tempo e gozasse de boa saúde, enquanto ele vivesse. Se ele ficasse doente, ou se ele morresse, Sandra não se sentiria obrigada por este acordo, eu tinha certeza absoluta disso. Mas quando eu saí da casinha no pântano, eu pensei que tinha uma chance razoável de não ver os Pelts novamente na minha vida, e isso estava absolutamente bem pra mim. 
 
Amelia estava inspecionando através de seu apertado armário. Era apenas depois do anoitecer no dia seguinte.  Repentinamente os cabides se soltaram, deslizando além da prateleira para o fundo do armário. ―Acho que tenho um,‖ ela exclamou, parecendo surpresa. Eu esperei que ela surgisse, sentada à beira da sua cama. Eu tive pelo menos umas dez horas de sono, um banho meticuloso, alguns primeiros socorros, e me senti cem vezes melhor. Amelia estava radiante de orgulho e felicidade. Não apenas o bruxo mórmon Bob tinha sido maravilhoso na cama, eles tiveram tempo de assistir o meu rapto e de Quinn e de ter a brilhante idéia de ligar para a mansão da rainha vampira em vez da polícia comum. Eu não lhe disse ainda que Quinn e eu tínhamos feito a nossa própria ligação, porque eu não sabia qual foi mais eficaz e eu gostava de ver Amelia tão feliz. Eu não quis ir para o baile da rainha de modo algum após minha viagem ao banco com Sr. Cataliades. Depois que eu retornei ao apartamento de Hadley, reiniciei o empacotamento das coisas de minha prima e ouvi um barulho estranho, quando eu coloquei o café em uma caixa. Agora se eu queria evitar o desastre, teria que ir para a festa da primavera da rainha, o evento sobrenatural do ano. Eu tentei entrar em contato com Andre no quartel-general da rainha, mas uma voz me disse que ele não devia ser perturbado. Me perguntei quem estava respondendo os telefones na Central dos Vampiros naquele dia. Poderia ser um dos vampiros de Peter Threadgill?  ―Sim, eu tenho!‖ Amelia exclamou. ―Ah, é um pouco ousado. Eu fui a dama de honra em um casamento exagerado.‖ Ela emergiu do armário com seus cabelos desgrenhados, seus olhos iluminados com triunfo. Ela rodou o cabide para que eu pudesse obter o efeito completo. Ela tinha prendido o vestido no cabide porque era muito pequeno para pendurar. ―Uau!‖ eu disse, constrangida. Feito principalmente de chiffon122 verde-limão, ele tinha um corte em V profundo quase até a cintura. Uma faixa única e estreita corria em volta do pescoço.  ―Foi um casamento de estrela de cinema,‖ Amelia disse, parecendo como se ela tivesse um monte de memórias da cerimônia religiosa. Uma vez que o vestido era também decotado nas costas, eu perguntava como essas mulheres de Hollywood mantinham os seus seios cobertos.  Fita adesiva dupla-face? Algum tipo de cola? Como eu não tinha visto Claudine desde que ela desapareceu do pátio antes da reconstrução ectoplásmica, eu tive que aceitar que ela tinha voltado para o seu trabalho e sua vida em Monroe. Eu poderia estar em condições de usar seus serviços especiais justamente agora. Tinha que haver um feitiço de fadas que faria o seu vestido ficar parado.  ―Pelo menos você não precisa de um sutiã especial para usar abaixo disso,‖ disse Amelia prestativa. Isso era verdade; não era possível usar um sutiã de nenhuma maneira. ―E eu tenho os sapatos, se você puder usar um 36.‖ 
                                               
 122  O chiffon é um tecido extremamente leve e fino, produzido pelo ligamento de fios bem torcidos, o que lhe dá um toque creponado. Pode ser feito de várias fibras, tais como: a seda, a lã, o poliéster, a poliamida, entre outras. http://www.scarves-shawls-bags.com/images/chiffon_scarves.gif
 
―Isso é uma grande ajuda,‖ eu disse, tentando parecer satisfeita e agradecida. ―Eu suponho que você não pode fazer o cabelo?‖  ―Não,‖ disse Amelia. Ela ondulou uma mão em seu próprio cabelo curto. ―Eu o lavo, o escovo, e isso é o suficiente. Mas eu posso chamar Bob.‖ Seus olhos brilhavam alegremente. ―Ele é um cabeleireiro.‖ Eu tentei não parecer tão estupefata. Em uma casa funerária? Eu pensei, mas eu era esperta o suficiente para manter isso para mim. Bob apenas não parecia de jeito algum com qualquer cabeleireiro que eu já tinha visto. Depois de algumas horas, eu estava mais ou menos dentro do vestido, e completamente produzida. Bob tinha feito um bom trabalho com o meu cabelo, embora ele tenha me lembrado várias vezes para me manter muito tranquila, de um modo que tinha me deixado um pouco nervosa. E Quinn apareceu na hora em seu carro. Quando Eric e Rasul tinham me deixado por cerca das duas horas da manhã, Quinn tinha pegado seu carro e ido embora para onde quer que ele esteja hospedado, embora ele tenha aplicado um leve beijo em minha testa antes de eu começar a subir as escadas. Amelia tinha saído de seu apartamento, toda feliz que eu estava voltando em segurança, e eu tinha que retornar uma ligação do Sr. Cataliades, que quis saber se eu estava bem, e queria que eu fosse para o banco com que ele para finalizar os assuntos financeiros de Hadley. Já que eu tinha perdido minha chance de ir com Everett, eu estava agradecida.  Mas quando eu tinha retornado ao apartamento de Hadley depois da ida ao banco, eu encontrei uma mensagem na secretária de Hadley me dizendo que a rainha esperava me ver na festa de hoje à noite no antigo mosteiro. ―Eu não quero que você deixe a cidade sem me ver novamente,‖ o secretário humano da rainha mencionou que ela disse, antes de me informar que o traje era formal. Depois da minha descoberta, quando eu percebi que teria que estar presente na festa, eu tinha descido as escadas até Amélia em pânico.  O vestido causava outro tipo de pânico. Eu era mais provida que Amelia, entretanto um pouco mais baixa, e eu tinha de estar realmente ereta.  ―O suspense está me matando,‖ disse Quinn, de olho em meu peito. Ele parecia maravilhoso em um smoking. Minhas bandagens nos pulsos ressaltavam contra o meu bronzeado como estranhos braceletes, uma delas estava intensamente desconfortável, e eu estava ansiosa para tirá-la. Mas os pulsos tinham que ficar cobertos por um tempo, embora a mordida no meu braço esquerdo pudesse permanecer descoberta. Talvez o suspense sobre meus seios desviasse os atendentes da festa do fato de que meu rosto estava inchado e desbotado de um lado.  Quinn, é claro, parecia como se nada tivesse acontecido com ele. Ele não só tinha a carne que cura mais rápido que a maioria dos metamorfos, mas um homem de smoking escondia uma grande quantidade de lesões.  ―Não me faça sentir mais embaraçada do que eu já estou,‖ eu disse. ―Por cerca de dez centavos, eu rastejaria de volta para a cama e dormiria por uma semana.‖ ―Estou pronto para isso, embora eu reduzisse o tempo de dormir,‖ disse Quinn, sinceramente. ―Mas, para nossa paz de espírito, eu acho que é melhor fazermos isso primeiro. A propósito, minha expectativa era sobre a ida ao banco, não seu vestido. Eu imagino que, com seu vestido, é uma situação de ganho mútuo. Se você permanecer nele, ótimo. Se não, melhor ainda.‖
Desviei o olhar, tentando controlar um sorriso involuntário. ―O passeio ao banco.‖ Que parecia ser um tema seguro. ―Bem, não tinha muito na sua conta bancária, o que eu imaginei que seria o caso. Hadley não tinha muito juízo com o dinheiro. Hadley não tinha muito juízo, ponto. Mas o cofre...‖ O cofre continha a certidão de nascimento de Hadley, uma licença matrimonial, e uma sentença de divórcio datado de mais de três anos atrás - ambos nomeados pelo mesmo homem, eu estava contente de ver - e uma cópia plastificada do obituário da minha tia. Hadley tinha conhecimento de quando sua mãe tinha morrido, e ela se importou o suficiente para manter o recorte. Havia fotos da nossa infância partilhada também: minha mãe e sua irmã; minha mãe e Jason, eu e Hadley; minha avó e seu marido. Havia um belo colar de safiras e diamantes (que o Sr. Cataliades havia dito que a rainha havia dado a Hadley), e um par de brincos combinando. Havia mais algumas coisas que eu gostaria de pensar a respeito.  Mas o bracelete da rainha não estava lá. Foi por isso que o Sr. Cataliades quis me acompanhar, eu acho; ele meio que esperava que o bracelete estivesse ali, e ele pareceu muito ansioso quando eu segurei o cofre para que ele próprio pudesse ver o seu conteúdo.  ―Eu terminei o empacotamento do material de cozinha esta tarde após Cataliades me levar de volta ao apartamento de Hadley,‖ eu disse a Quinn, e observei sua reação. Eu nunca mais irei tomar o desinteresse dos meus companheiros como garantia. Eu encontrei a mim mesma razoavelmente convencida que Quinn não tinha me ajudando a embalar no dia anterior, para tornar possível a procura por alguma coisa, depois eu vi que sua reação estava perfeitamente calma.  ―Isso é bom,‖ disse ele. ―Desculpe eu não consegui chegar a tempo para ajudá-la hoje. Eu estava fechando os negócios de Jake com a Eventos Especiais. Eu tive que ligar para os meus sócios, lhes deixar saber. Eu tive que ligar para a namorada de Jake. Ele não está estável o suficiente para estar com ela, se ela ainda quiser vê-lo novamente. Ela não é uma amante de vampiro, para dizer o mínimo.‖ No momento, eu não era também. Eu não conseguia entender a verdadeira razão da rainha me querer na festa, mas eu tinha encontrado um motivo para vê-la. Quinn sorriu para mim, e eu sorri para ele, desejando que algo de bom pudesse sair desta noite. Tive que admitir para mim mesma que eu estava um pouco curiosa em ver a festa de celeiro da rainha, por assim dizer - e eu também estava contente por me arrumar e ficar bonita depois de toda a caminhada difícil no pântano.  À medida que nós dirigimos, eu quase iniciei uma conversa com Quinn pelo menos três vezes - mas em todas as ocasiões, quando se chegava a um ponto, eu mantinha minha boca fechada.  ―Estamos chegando perto,‖ ele me disse, quando nós tínhamos alcançado um dos mais antigos bairros de Nova Orleans, o Distrito Garden. As casas, localizadas numa área bonita, deveriam custar muitas vezes o que até a mansão Bellefleur deveria valer. No meio dessas casas maravilhosas, chegamos a um muro alto que se prolongava por um quarteirão inteiro. Este era o mosteiro que a rainha usava para entretenimento.  Talvez existam outras portas na parte de trás da propriedade, mas hoje todo o tráfego estava se movendo pela porta principal. Estava fortemente protegida com os guardas mais eficiente de todos: vampiros. Gostaria de saber se Sophie-Anne Leclerq era paranóica, ou sábia, ou simplesmente não se sentia amada (ou segura) em sua cidade adotiva. Eu tinha certeza de que a rainha também tinha os meios normais de segurança - câmeras, detectores de movimento por infravermelho, arame farpado, talvez até mesmo os cães de guarda. Havia segurança ostensiva aqui, onde a elite de vampiros ocasionalmente festejava com a elite humana. Hoje à noite a festa era de sobrenaturais apenas, a primeira grande festa que os recém-casados davam desde que se tornaram um casal.  Três dos vampiros da rainha estavam no portão, juntamente com três dos vampiros de Arkansas. Todos os vampiros de Peter Threadgill usavam um uniforme, embora eu suspeitasse que o rei chamasse aquilo de libré123. Os sanguessugas de Arkansas, masculino e feminino, estavam vestindo ternos brancos com camisas azuis e coletes vermelhos. Eu não sei se o rei era ultrapatriota ou se as cores foram escolhidas porque estavam na bandeira do estado de Arkansas, também como na bandeira dos Estados Unidos. Seja o que for, os trajes estavam além do cafona e em algum hall de moda da vergonha, tudo por conta própria. E Threadgill tinha sido vestido de forma tão conservadora! Era esta alguma tradição que eu nunca tinha ouvido falar? Caramba, até eu conhecia mais do que isso, em bom gosto, e eu comprei a maioria das minhas roupas no Wal-Mart.  Quinn tinha o cartão de visita da rainha para mostrar aos guardas no portão, mas ainda assim eles ligaram para a casa principal. Quinn parecia pouco à vontade, e eu esperava que ele estivesse tão preocupado quanto eu estava sobre a extrema segurança e o fato de que os vampiros de Threadgill tinham trabalhado tão duro para se distinguir dos adeptos da rainha. Eu estava pensando seriamente sobre a necessidade da rainha em oferecer aos vampiros do rei uma razão para qual ela subiria comigo ao apartamento de Hadley. Pensei na ansiedade que ela revelou quando perguntou sobre o bracelete. Pensei na presença de ambos os vampiros partidários no portão principal. Nenhum dos dois monarcas confiava no cônjuge para fornecer proteção.  Pareceu um longo tempo até que nós fomos autorizados a passar. Quinn estava tão quieto como eu enquanto esperávamos.  Os terrenos pareciam belamente ajardinados e conservados, e estavam certamente bem iluminados.  ―Quinn, isso é simplesmente errado,‖ eu disse. ―O que está acontecendo aqui? Você acha que eles nos deixarão sair?‖ Infelizmente, parecia que todas as minhas suspeitas eram verdadeiras. Quinn não parecia mais feliz do que eu. ―Eles não nos deixarão sair,‖ disse ele. ―Temos que ir agora.‖ Agarrei minha bolsa de noite pouco mais perto de mim, desejando que houvesse algo mais letal nela do que alguns pequenos itens como um pó compacto e um batom, e um tampão. Quinn nos levou cuidadosamente até a entrada sinuosa de carros à frente do mosteiro.  ―O que você fez hoje, além de trabalhar em sua roupa?‖ Quinn perguntou.  ―Eu fiz um monte de ligações,‖ eu disse. ―E uma delas teve sucesso.‖ ―Ligações? Para onde?‖  ―Postos de gasolina, ao longo de toda a rota de Nova Orleans à Bon Temps.‖ Ele se virou para olhar para mim, mas eu apontei ainda em tempo para Quinn usar os freios.                                                   123  Uma veste usada por criados em casas nobres. Significado: do francês livrée: liberada, isto é veste entregue a um servo ou criado, do latim vestis libera ou vestis concessa, é um tipo de capa sem mangas, com aberturas nas cavas, por onde passam os  braços e na frente, onde é presa apenas no colarinho, deixando aparecer a veste inferior, na sua parte do peito. É usada pelos membros de confrarias quando participam de alguma função religiosa solene, e pelos membros de algumas cortes, no exercício de suas funções. As cores e o modelo da libré variam conforme os usos e costumes de cada corte.
Um leão passeava através da entrada de carros.  ―Ok, o que é isso? Animal? Ou metamorfo?‖ Eu ficava mais tensa a cada minuto.  ―Animal,‖ disse Quinn.  Apague a idéia de cães perambulando no cercado. Eu esperava que o muro fosse alto o suficiente para manter o leão dentro. Estacionamos em frente ao antigo mosteiro, que era um grande edifício de dois andares. Não tinha sido construído com o intuito de beleza, mas sim para utilidade, por isso era uma estrutura predominantemente muito sem graça. Havia uma pequena porta no meio da fachada, e pequenas janelas instaladas repetidamente. Mais uma vez, absolutamente fácil de defender.  Do lado de fora da pequena porta estavam parados mais seis vampiros, três em roupas pomposas, mas inadequadas - certamente sanguessugas da Louisiana - e mais três de Arkansas, nos seus trajes berrantemente chamativos.  ―Isso é simplesmente feio ao extremo,‖ falei. ―Mas fácil de ver, mesmo no escuro,‖ disse Quinn, parecendo como se ele tivesse tendo um pensamento profundo, pensamentos significativos.  ―Não brinca!‖ eu disse. ―Essa não é a intenção? Então eles irão instantaneamente... oh.‖ Eu ponderei sobre isso. ―Sim,‖ eu disse. ―Ninguém usaria qualquer coisa próximo a isso, de propósito ou por acaso. Sob quaisquer circunstâncias. A não ser que fosse realmente importante para ser imediatamente identificável.‖  Quinn disse, ―É possível que Peter Threadgill não seja devotado a Sophie-Anne.‖  Eu dei uma risada aguda justo quando dois vampiros da Louisiana abriram as portas do nosso carro em um movimento tão coordenado que devia ter sido ensaiado. Melanie, a vampira guarda que eu tinha conhecido no quartel-general da rainha no centro da cidade, pegou minha mão para me ajudar a sair do carro, e ela sorriu para mim. Ela parecia muito melhor sem a opressiva roupa da SWAT. Ela usava um bonito vestido amarelo com saltos baixos. Agora que ela não estava usando um capacete, eu podia ver que seu cabelo era curto, intensamente encaracolado e castanho claro.  Ela tomou uma profunda, e dramática respiração quando eu passei, e depois fez uma cara de êxtase. ―Oh, o aroma de fada!‖ exclamou ela. ―Isso faz meu coração cantar!‖ Eu dei um tapinha nela divertidamente. Dizer que fiquei surpresa seria um abrandamento. Vampiros, de modo geral, não são conhecidos por seu senso de humor.  ―Gracioso vestido,‖ disse Rasul. ―Um tanto ousado nos decotes, hein?‖ Chester disse, ―Não consegue ser muito ousado para mim. Você parece realmente apetitosa.‖ Eu pensei que não poderia ser uma coincidência que os três vampiros que eu havia conhecido no quartel-general da Rainha fossem os três vampiros na função de porteiros hoje à noite. Eu não imaginava o que poderia significar, no entanto. Os três vampiros de Arkansas ficaram em silêncio, observando atentamente de um lugar para o outro entre nós com olhos frios. Eles não estavam no mesmo clima descontraído e sorridente como seus companheiros.  Há algo definitivamente anticonvencional aqui. Mas com a aguda audição dos vampiros ao redor, não havia nada a dizer sobre isso.  Quinn segurou meu braço. Nós andamos por um longo corredor que parecia percorrer quase o comprimento do edifício. Uma vampira de Threadgill estava de pé na porta de uma sala que parecia servir como uma área de recepção. 
―Você gostaria de guardar a sua bolsa?‖ ela perguntou, obviamente irritada por ter sido rebaixada a uma guardadora de chapéus.  ―Não, obrigada,‖ eu disse, e pensei que ela iria arrancá-la debaixo do meu braço.  ―Eu posso examiná-la?", perguntou ela. ―Nós separamos as armas.‖  Olhei para ela, sempre uma coisa arriscada de fazer com um vampiro. ―Claro que não. Eu não tenho armas.‖ ―Sookie,‖ disse Quinn, tentando não soar alarmado. ―Você tem que deixá-la olhar em sua bolsa. É o procedimento.‖ Olhei furiosa para ele. ―Você poderia ter me dito,‖ eu disse rapidamente.  A guarda da porta, que era uma esbelta vampira jovem com uma imagem que competia com o corte das calças brancas, agarrou minha bolsa com um ar de triunfo. Ela a virou sobre uma bandeja, e seu pequeno conteúdo tiniu na superfície de metal: um pó compacto e um batom, um pequeno tubo de cola, um lenço, uma nota de dez dólares, e um tampão em um aplicador de plástico rígido, completamente embalado em plástico.  Quinn não era ingênuo o suficiente para ficar vermelho, mas ele desviou discretamente o olhar. A vampira, que tinha morrido muito antes das mulheres carregarem tais itens em suas bolsas, me perguntou a sua finalidade e acenou com a cabeça quando eu expliquei. Ela arrumou minha pequena bolsa de noite e me entregou, indicando com um gesto de mão que nós deveríamos avançar pelo corredor. Ela virou-se para as pessoas que vinham atrás de nós, um casal de lobis em seus sessenta anos, antes mesmo de termos saído do aposento.  ―O que você está tramando?‖ Quinn perguntou, em voz mais calma possível, quando nos movemos ao longo do corredor.  ―Temos de passar por mais segurança?‖ Eu perguntei, em uma voz abafada da mesma forma.  ―Eu não sei. Eu não vejo nenhum adiante.‖ ―Eu tenho que fazer algo,‖ eu disse. ―Com licença, enquanto eu encontro o toalete feminino mais próximo.‖ Tentei dizer a ele, com meus olhos, e com a pressão da minha mão em seu braço, que em poucos minutos tudo estaria bem, e eu esperava sinceramente que essa fosse a verdade. Quinn claramente não estava feliz comigo, mas ele esperou do lado de fora do banheiro feminino (Deus sabe o que tinha sido, quando o edifício foi um mosteiro), enquanto eu mergulhava em uma das celas e fiz alguns ajustes. Quando eu saí, eu joguei o recipiente do tampão dentro da pequena lixeira na cabine, e um dos meus pulsos tinham sido enfaixados novamente. Minha bolsa estava um pouco mais pesada.  A porta no final do corredor levava para a sala muito grande que tinha sido o refeitório dos monges. Embora o aposento fosse ainda murado com pedra e grandes pilares sustentando o telhado, três à esquerda e três à direita, o resto da decoração estava consideravelmente diferente agora. O meio do aposento estava desimpedido para dança e o piso era de madeira. Havia um palco para os músicos perto da mesa de bebidas, e outro palco na extremidade oposta do aposento para a realeza. Ao redor das laterais da sala havia cadeiras em grupos de conversação.  O cômodo inteiro estava decorado em azul e branco, as cores da Louisiana. Uma das paredes tinha murais representando cenários de todo o Estado: uma cena do pântano, o que me fez estremecer; uma montagem da Bourbon Street, uma área a ser arada e madeira sendo cortada; e um pescador içando uma rede na Costa do Golfo. Todas estas cenas representavam seres humanos, eu pensei, e quis saber que raciocínio estava por trás disso. Então eu me virei para olhar para a parede que circundava a entrada que eu acabara de entrar, e eu vi o aspecto da vida dos vampiros da Louisiana: um grupo de vampiros felizes com violinos sob seus queixos, tocando; um oficial de polícia vampiro patrulhando o Quarteirão Francês; um guia turístico vampiro conduzindo turistas através de uma das Cidades dos Mortos. Nenhum vampiro lanchando humanos, nenhum vampiro bebendo qualquer coisa, eu notei. Esta era uma demonstração de relações públicas. Gostaria de saber se eles realmente enganavam alguém. Tudo o que você tinha que fazer era sentar em uma mesa de jantar com os vampiros, e você tinha que ser lembrado de como diferentes eles eram, certamente.  Bem, não era isso que eu tinha vindo fazer. Procurei ao redor pela rainha, e eu finalmente a vi parada perto do seu marido. Ela usava um longo vestido laranja de seda com mangas, e ela parecia fabulosa. Mangas compridas pareciam talvez um pouco estranhas na noite quente, mas vampiros não reparam essas coisas. Peter Threadgill estava vestindo um smoking, e ele parecia igualmente impressionante. Jade Flower estava atrás dele, a espada presa à suas costas, embora ela estivesse usando um vestido vermelho enfeitado com lantejoulas (no qual, a propósito, ela parecia horrível). Andre, também completamente armado, estava no seu posto atrás da rainha. Sigebert e Wybert não podiam estar longe. Eu os avistei em ambos os lados de uma porta que me levou a supor que conduzia aos apartamentos privados da rainha. Os dois vampiros pareciam intensamente desconfortáveis em seus smokings, era como ver ursos que tinham sido obrigados a usar sapatos.  Bill estava na sala. Eu peguei um vislumbre dele num canto distante, na direção oposta da rainha, e eu tremi com nojo.  ―Você tem muitos segredos,‖ se queixou Quinn, seguindo a direção do meu olhar.  ―Eu ficarei contente de te contar um pouco deles, em breve na verdade,‖ Eu prometi, e nos juntamos ao fim da fila da recepção. ―Quando alcançarmos a realeza, você vai à minha frente. Enquanto eu estiver conversando com a rainha, você distrai o rei, ok? Então eu irei te contar tudo.‖  Chegamos ao Sr. Cataliades primeiro. Eu acho que ele era uma espécie de secretário de estado da rainha. Ou talvez procurador-geral fosse mais adequado?  ―Bom te ver novamente, Sr. Cataliades,‖ eu disse, no meu tom social mais correto. ―Eu tenho uma surpresa para você,‖ acrescentei.  ―Você pode ter que guardá-la‖, disse ele com uma espécie de cordialidade cerimoniosa. ―A rainha está prestes a ter a primeira dança com o seu novo rei. E estamos todos ansiosos para ver o presente que o rei lhe deu.‖  Olhei em volta, mas eu não vi Diantha. ―Como está sua sobrinha?‖ Eu perguntei.  ―Minha sobrinha sobrevivente,‖ disse ele inflexivelmente, ―está em casa com a mãe.‖  ―Isso é uma pena,‖ eu disse. ―Ela deveria estar aqui esta noite.‖  Ele olhou para mim. Logo ele se viu interessado.  ―Certamente,‖ disse ele.  ―Eu ouvi dizer que alguém daqui parou para pegar gasolina na quarta-feira da semana passada, em seu caminho para Bon Temps,‖ eu disse. ―Alguém com uma espada longa. Aqui, deixe-me guardar isso no seu bolso. Eu não preciso mais dele.‖ Quando eu saí de perto dele e encarei a rainha, eu tinha uma mão sobre o meu pulso ferido. O curativo tinha desaparecido.  Estendi a mão direita, e a rainha foi obrigada a tomá-la em suas próprias mãos. Eu contei com a gentileza da rainha em seguir o costume humano de apertar as mãos, e eu fiquei muito aliviada quando ela apertou. Quinn passou da rainha para o rei, e ele disse: ―Sua Majestade, eu tenho certeza que você lembra de mim. Eu fui o coordenador do evento em seu casamento. As flores ficaram como você queria?‖  Um pouco assustado, Peter Threadgill voltou seus olhos grandes para Quinn, e Jade Flower manteve seus olhos para o que seu rei olhava. Tentando com toda força manter meus movimentos rápidos, mas não convulsivos, eu pressionei a minha mão esquerda que estava sobre o pulso da rainha. Ela não hesitou, mas eu acho que ela imaginou a respeito. Ela olhou para o pulso para ver o que eu tinha colocado nele, e seus olhos se fecharam em alívio.  ―Sim, minha cara, nossa viagem foi adorável,‖ disse ela, ao acaso. ―Andre a desfrutou muitíssimo, assim como eu.‖ Ela olhou por cima do ombro, e Andre apanhou sua pista, e inclinou sua cabeça para mim, em tributo ao meu suposto talento no roubo. Fiquei tão contente de conseguir concluir a provação que eu sorri para ele radiante, e ele parecia se mostrar aos poucos sorridente. A rainha levantou levemente seu braço para que ele se aproximasse, e sua manga rolou. Rapidamente, Andre estava sorrindo tão amplamente como eu estava.  Jade Flower foi distraída pelo movimento apressado de Andre, e seus olhos o seguiram. Eles arregalaram, e ela não ficou muito sorridente. Na verdade, ela ficou furiosa. Sr. Cataliades estava olhando para a espada nas costas de Jade Flower com um rosto completamente inexpressivo.  Então Quinn foi liberado pelo rei e foi a minha vez de prestar homenagem a Peter Threadgill, rei de Arkansas.  ―Eu ouvi que você teve uma aventura nos pântanos ontem,‖ disse ele, sua voz fria e indiferente.  ―Sim, senhor. Mas tudo deu certo, eu acho,‖ eu disse.  ―Bom que você veio,‖ disse ele. ―Agora que você já embrulhou os bens de sua prima, tenho certeza que você retornará para sua casa?‖ ―Oh, sim, tão rápido quanto puder,‖ eu disse. Era a absoluta verdade. Eu iria para casa com a condição de que eu poderia sobreviver a esta noite, embora no momento as chances não parecessem muito boas. Eu tinha contado, tão bem quanto eu era capaz em uma multidão como essa. Havia pelo menos vinte vampiros na sala vestindo o traje brilhante de Arkansas e, talvez, o mesmo número de amigos próximos da rainha.  Afastei-me, e o casal lobis, que entrou depois de Quinn e eu, tomou meu lugar. Eu pensei que ele fosse o Vice-governador da Louisiana, e eu esperei que ele tivesse um seguro de vida bom.  ―O que?‖ Quinn exigiu.  O levei para um local contra a parede, e delicadamente o manobrei até que suas costas estivessem nela. Mantive meu rosto longe de qualquer leitor de lábios na sala. ―Você sabia que o bracelete da rainha estava perdido?‖ Eu perguntei.  Ele balançou a cabeça. ―Um dos braceletes de diamantes que o rei lhe deu como presente de casamento?‖ ele perguntou, abaixou sua cabeça para despistar qualquer observador.  ―Sim, perdido,‖ eu disse. ―Desde que Hadley morreu.‖  ―Se o rei soube que o bracelete estava perdido, e se ele conseguiu forçar a rainha a confessar que ela tinha dado a uma amante, então ele teria motivos para o divórcio.‖ ―O que ele ganharia, então?‖ 
―O que ele não ganharia! Foi um casamento vampiro hierárquico, e você não obterá mais ligação do que isso. Acho que o contrato de casamento era de trinta páginas.‖  Eu entendi bem melhor agora.  Uma bonita vampira bem vestida usando um vestido cinza-esverdeado com flores prateadas resplandecentes espalhadas levantou seu braço para chamar a atenção da multidão. Gradativamente, as pessoas reunidas silenciaram-se.  ―Sophie-Anne e Peter dão as boas-vindas para a sua primeira ocasião festiva em comum,‖ disse a vampira, e sua voz era tão suave e musical que você gostaria de ouvi-la por horas. Eles deviam levá-la para fazer o Oscar. Ou a cerimônia de Miss América. ―Sophie-Anne e Peter convidam todos vocês para terem uma noite maravilhosa de dança, comida e bebida. Para abrir o baile, o nosso anfitrião e anfitriã irão valsar.‖ Apesar de sua fachada pomposa, eu pensei que Peter poderia ficar mais confortável dançando uma quadrilha, mas com uma esposa como Sophie-Anne, era valsa ou nada. Ele avançou sobre sua esposa, seus braços prontos para recebê-la, e em sua carregada voz de vampiro ele disse, ―Querida, mostra-lhes os braceletes.‖ Sophie-Anne varreu a multidão com um sorriso e levantou seus próprios braços para fazer com que as mangas retrocedessem, e um bracelete combinando com outro em cada pulso brilhou sobre os convidados, os dois enormes diamantes cintilando e piscando como luzes no candelabro.  Por um momento Peter Threadgill ficou absolutamente imóvel, como se alguém tivesse atirado nele com uma arma de congelar. Ele modificou sua postura à medida que se moveu para frente depois disso, e tomou uma das mãos dela em ambas as dele. Ele olhou para um bracelete, então libertou a mão dela para tomar a outra. Aquele bracelete, também, passou por seu exame silencioso.  ―Maravilhoso,‖ disse ele, e se foi dito através de suas presas você só pensaria que elas se estenderam porque ele estava com tesão por sua linda esposa. ―Você está usando os dois.‖  ―Claro,‖ disse Sophie-Anne. ―Meu querido.‖ Seu sorriso foi tão sincero como o dele.  E eles dançaram, embora alguma coisa sobre a maneira como ele a balançava me deixou saber que o rei estava deixando seu temperamento tirar o melhor dele. Ele tinha tido um grande plano, e agora eu o tinha estragado... Mas felizmente, ele não sabia da minha parte. Ele só sabia que de alguma forma Sophie-Anne conseguiu recuperar seu bracelete e salvar a sua cara, e ele não tinha nada para justificar o que ele tinha planejado fazer. Ele teria que recuar. Mais tarde, ele provavelmente terá que pensar numa outra maneira de arruinar a sua rainha, mas pelo menos eu estaria fora da briga.  Quinn e eu escapamos para a mesa de bebidas, localizada ao lado sul da grande sala, ao lado de uns grossos pilares. Bandejas estavam ali com facas de trinchar para raspar presunto ou rosbife. Havia pãezinhos para amontoar a carne nele. Eles cheiravam maravilhosos, mas eu estava nervosa demais para pensar em comer. Quinn me trouxe um copo de cerveja de gengibre do bar.  Olhei para o casal dançando e esperei o teto desabar. ―Eles não parecem adoráveis juntos?‖ Uma mulher bem-vestida de cabelos grisalhos, disse. Eu percebi que ela era a pessoa que vinha atrás de mim.  ―Sim, eles parecem,‖ eu concordei.  ―Eu sou Genevieve Thrash,‖ disse ela. ―Este é meu marido, David.‖ 
―Prazer em conhecê-la,‖ eu disse. ―Eu sou Sookie Stackhouse, e este é meu amigo, John Quinn.‖ Quinn pareceu surpreso. Gostaria de saber se esse era realmente seu primeiro nome. Os dois homens, tigre e lobis, apertaram as mãos enquanto Genevieve e eu assistíamos a dança do casal um pouco mais.  ―Seu vestido é muito bonito,‖, disse Genevieve, dando todas as indicações de que ela estava falando com sinceridade. ―É preciso um corpo jovem para realçar um vestido assim.‖ ―Eu aprecio sua declaração,‖ eu disse. ―Eu estou mostrando um pouco mais desse corpo do que eu estou confortável, assim você me fez sentir melhor.‖ ―Eu sei que seu namorado o aprecia,‖ disse ela. ―E o mesmo acontece com aquele jovem ali.‖ Ela balançou a cabeça sutilmente, e olhei na direção que ela estava indicando. Bill. Ele parecia muito bem em seu smoking, mas até estar no mesmo aposento fez algo dentro de mim torcer com dor.  ―Eu acredito que seu marido é o Vice-governador?‖ Eu disse.  ―Você está absolutamente correta.‖ ―E como você se sente sendo a Sra. Vice?‖ Eu perguntei.  Ela contou algumas histórias engraçadas sobre as pessoas que ela conheceu quando ela seguiu a carreira política de David. ―E o que faz o seu jovem homem?‖ perguntou ela, com aquele interesse ansioso que deve ter ajudado o seu marido a subir de condição social.  ―Ele é um coordenador de eventos,‖ disse, após um momento de hesitação.  ―Que interessante,‖ disse Genevieve. ―E você, você tem um emprego?‖  ―Oh, sim, senhora,‖ eu disse. ―Eu sou uma garçonete.‖ Isso foi um pouco surpreendente para a mulher do político, mas ela sorriu para mim. ―Você é a primeira que eu já tenha conhecido‖, disse ela alegremente.  ―Você é a primeira esposa de vice-governador que eu já tenha conhecido,‖ eu disse. Droga, agora que eu a tinha conhecido e gostado dela, eu me sentia responsável por ela. Quinn e David estavam apenas conversando, e acho que eu estava pescando o seu tópico.  ―Sra. Thrash,‖ eu disse, ―Eu sei que você é uma lobis e isso significa que você é valente como pode ser, mas eu vou te dar um conselho.‖ Ela olhou para mim zombeteiramente.  ―Este conselho é ouro puro,‖ eu disse.  Suas sobrancelhas saltaram. ―Está bem,‖ disse ela, lentamente. ―Estou ouvindo.‖  ―Algo muito ruim está para acontecer aqui na próxima hora mais ou menos. Vai ser tão ruim que pode ter um monte de pessoas mortas. Agora você pode ficar e se divertir até que aconteça, e então irá se perguntar por que não me ouviu, ou você pode sair agora depois de agir como se estivesse doente, e você pode salvar a si mesma de uma grande infelicidade.‖  Seu olhar estava decidido. Eu podia ouvi-la perguntando se era para me levar a sério. Eu não parecia ser uma pessoa estranha ou uma louca. Eu parecia uma mulher normal, jovem e atraente com um pedaço de um namorado bonitão.  ―Você está me ameaçando?‖ perguntou ela.  ―Não, senhora. Estou tentando salvar o seu traseiro.‖ ―Nós vamos começar uma dança em primeiro lugar,‖ disse Genevieve Thrash, tomando uma decisão. ―David, amor, vamos dar uma volta ao redor da pista de dança e então apresentar nossas desculpas. Eu tenho a pior dor de cabeça que você jamais sentiu.‖
David gentilmente interrompeu sua conversa com Quinn para levar sua mulher para o espaço livre e começar a valsa junto com o casal real vampiro, que pareciam aliviados por terem companhia.  Eu estava começando a relaxar a minha postura novamente, mas um olhar de Quinn me lembrou em manter a posição muito reta.  ―Eu amo o vestido,‖ ele disse. ―Vamos dançar?‖  ―Você sabe valsar?‖ Eu esperava que o meu queixo não caísse longe demais.  ―Sim,‖ disse ele. Ele não perguntou se eu sabia, embora na verdade eu estava observando os passos da rainha atentamente. Eu sei dançar - não sei cantar, mas eu amo uma pista de dança. Eu nunca tinha dançado uma valsa, mas imaginei que eu saberia dançar.  Foi maravilhoso ter os braços de Quinn em torno de mim, movendo-se tão graciosamente em torno do piso. Por um momento, eu simplesmente esqueci tudo e desfrutei olhar para ele, sentindo o que uma garota sente, quando ela está dançando com um cara que espera que vai fazer amor com ela, mais cedo ou mais tarde. Os dedos de Quinn tocando minhas costas nuas me fez formigar. ―Cedo ou tarde,‖ disse ele, ―nós vamos estar em um quarto com uma cama, sem telefones, e uma porta que irá travar.‖  Eu sorri para ele e vi os Thrashes retirando-se com cuidado pela porta. Eu esperava que o carro deles estivesse por perto. E esse foi o último pensamento normal que tive por algum tempo.  Uma cabeça voou acima do ombro de Quinn. Ela se moveu rápido demais para eu conseguir reconhecer de quem aquela cabeça era, mas ela parecia familiar. Um spray de sangue criou uma nuvem avermelhada no rastro da cabeça.  Eu fiz um som. Não era um grito ou um suspiro, mais como ―Eeeeep.‖ Quinn parou de repente, embora a música não, por um longo momento. Ele olhou em todas as direções, tentando analisar o que estava acontecendo e como poderíamos sobreviver. Eu tinha pensado que uma dança seria bom, mas deveríamos ter ido com o casal lobis. Quinn começou a me puxar para o lado do salão de baile, e ele disse, ―Costas contra a parede.‖ Nós saberíamos de qual direção o perigo estava chegando: bom raciocínio. Mas alguém colidiu violentamente contra nós e o aperto de Quinn na minha mão foi quebrado.  Houve muita gritaria e muita movimentação. Toda a gritaria era dos lobis e outros metamorfos que tinham sido convidados para a festa, e o movimento era principalmente dos vampiros, que estavam procurando por seus aliados em meio ao caos. Isto foi quando os horríveis trajes usados pelos próprios seguidores do rei entraram. Era fácil ver de imediato quem pertencia ao rei. Claro, que os tornava um alvo fácil, também, se você por acaso não gostar do rei e seus subordinados.  Um magro vampiro negro com dreadlocks tinha sacado uma espada com uma lâmina curva do nada, aparentemente. A lâmina estava ensanguentada e eu pensei que os Dreadlocks estavam na cabeça cortada. Ele vestia um terno horrível, então ele era alguém que eu precisava me desviar. Se eu tivesse qualquer aliado aqui, não era qualquer um que trabalha para Peter Threadgill. Eu tinha chegado por trás de um dos pilares que sustentam o teto da extremidade oeste do refeitório, e eu fiquei tentando calcular o caminho mais seguro a partir da sala quando o meu pé esbarrou em algo que se mexeu. Eu olhei para baixo para ver a cabeça. Pertencia ao Wybert. Eu me perguntei por uma fração de segundo se ela iria se mover ou falar, mas decapitação é bastante definitivo, não importa qual espécie você é. 
―Oh,‖ gemi, e decidi que seria melhor me segurar em mim mesma, ou eu iria parecer exatamente como Wybert, pelo menos em um aspecto importante.  Combate irrompeu pela sala. Eu não tinha visto o que precipitou o incidente, mas em algum pretexto o vampiro negro atacou Wybert e cortou sua cabeça. Já que Wybert foi um dos guarda-costas da rainha e Dreadlocks era um dos criados de Peter, a decapitação foi um ato bastante decisivo.  A rainha e Andre estavam de costas no meio do chão. Andre estava segurando uma pistola em uma mão e uma faca longa na outra, e a rainha tinha adquirido uma faca de trinchar do bufê. Havia um círculo de paletós brancos em torno deles, e quando um caía, outro tomava seu lugar. Aquilo era como a última resistência de Custer124, com a rainha na posição do General George Armstrong Custer. Sigebert estava igualmente cercado no palco, e a orquestra, parte lobis ou metamorfos e parte vampiros, tinham se separado em seus vários componentes. Alguns estavam unidos no combate, enquanto outros tentavam escapar. Aqueles que estavam fazendo o seu melhor para sair do inferno estavam obstruindo a porta que conduzia para o longo corredor. O efeito era um bloqueio causado por acúmulo de toras nos rios.  O rei estava sob o ataque de meus três amigos Rasul, Chester, e Melanie. Eu tinha certeza que iria encontrar Jade Flower às suas costas, mas ela estava tendo seus próprios problemas, eu fiquei contente de ver. Sr. Cataliades estava fazendo o seu melhor para - bem, parecia que ele estava apenas tentando tocá-la. Ela estava aparando as tentativas dele golpeando com força com sua grande espada, a espada que tinha cortado Gladiola em duas, mas nenhum deles parecia desistir a qualquer momento em breve. Naquele momento eu fui arremessada no chão, perdendo meu fôlego por um minuto. Eu golpeei, só para ter a minha mão presa. Fui esmagada sob um corpo grande. ―Te peguei,‖ disse Eric.  ―Que diabos você está fazendo?‖  ―Te protegendo,‖ ele disse. Ele estava sorrindo com a alegria da batalha, e seus olhos azuis estavam brilhantes como safiras. Eric amava uma briga.  ―Eu não vejo ninguém vindo atrás de mim,‖ eu disse. ―Parece-me que a rainha precisa mais de você do que eu. Mas eu aprecio isso.‖  Levado por uma onda de entusiasmo, Eric me deu um beijo longo e firme e em seguida pegou a cabeça de Wybert. ―Boliche para vampiros,‖ disse ele feliz, e arremessou o objeto asqueroso no vampiro negro com uma precisão e força que golpeou a espada para fora da mão do vampiro. Eric foi lá com um grande salto, e a espada girou sobre o seu dono com força mortal. Com um grito de guerra que não se ouvia em mil anos, Eric atacou o círculo em torno da rainha e Andre com uma selvageria e abandono que era quase belo ao seu modo.  Um metamorfo tentando encontrar outro caminho para sair do aposento, bateu contra mim com força suficiente para deslocar-me por trás de minha posição relativamente segura. Inesperadamente, havia muitas pessoas entre mim e o pilar, e o caminho de volta foi bloqueado. Maldição! Eu podia ver a porta que Wybert e seu irmão estiveram vigiando. A porta estava do outro lado da sala, mas era a única passagem vazia. Qualquer passagem
124  George Armstrong Custer, conhecido como General Custer (New Rumley, Ohio, 5 de dezembro de 1839 — rio Little Bighorn, Montana, 25 de junho de 1876) foi um militar estadunidense. Na Guerra de Secessão destacou se como um agressivo oficial de cavalaria da União, sendo brevetado Major-General antes da conclusão do conflito. Teve um papel de destaque em Gettysburg, a maior batalha daquela guerra.
 
para sair desta sala era uma boa passagem. Comecei a andar de lado em torno das paredes para alcançá-la, então eu não teria que atravessar os perigosos espaços abertos.  Um dos casacos brancos saltou na minha frente.  ―Esperávamos encontrar você!‖ ele gritou. Ele era um vampiro jovem; havia indícios, mesmo em um momento desses. Este vampiro tinha conhecido os confortos da vida moderna. Ele tinha todos os sinais - dentes super retos que tinham conhecido aparelho dentário, uma enérgica constituição de nutrição moderna, e ele tinha ossos grandes e altos.  ―Olha!‖ Eu disse, e puxei um lado do meu corpete para fora. Ele olhou, que Deus o abençoe, e eu o chutei nas bolas tão forte que eu pensei que elas sairiam pela sua boca. Isso vai deixar um homem no chão, não importa qual seja sua natureza. Este vampiro não foi exceção. Apressei-me em volta dele e alcancei a parede leste, a que tinha a porta.  Talvez eu tivesse a um metro para partir, quando alguém pegou meu pé, e eu fui para baixo. Eu escorreguei numa poça de sangue e cai de joelhos nela. Era sangue de vampiro, eu podia dizer pela cor.  ―Cadela,‖ disse Jade Flower. ―Puta.‖ Eu não acho que eu tenha alguma vez ouvido ela falar antes. Eu poderia ter ficado sem isso agora. Ela começou a me arrastar, alternando suas mãos, em direção a suas presas. Ela não iria se levantar para me matar, porque uma de suas pernas estava ausente. Eu quase vomitei, mas fiquei bem mais preocupada em escapar do que em vomitar. Minhas mãos arranharam no piso de madeira lisa, e meus joelhos tentaram conseguir um ponto de apoio assim eu poderia me afastar da vampira. Eu não sei se Jade Flower iria morrer dessa ferida terrível ou não. Vampiros podem sobreviver de tantas coisas que matariam um ser humano, o que obviamente era uma grande parte da atração... Ajuste-se, Sookie! Disse para mim mesma ferozmente.  O choque deve ter chegado até mim. Eu lancei minha mão e consegui agarrar a moldura da porta. Eu puxei e puxei, mas eu não consegui escapar do aperto de Jade Flower, e seus dedos escavavam a carne do meu tornozelo. Em breve ela iria quebrar os ossos, e então eu não seria capaz de andar.  Com meu pé livre chutei a pequena mulher asiática no rosto. Eu chutei de novo e de novo. Seu nariz estava sangrando, e seus lábios estavam também, mas ela não me deixaria ir. Eu não acho que ela tenha sequer sentido. Então Bill saltou sobre as costas dela, aterrissando com força o suficiente para romper sua espinha, e o seu aperto no meu tornozelo relaxou. Me afastei para longe, enquanto ele levantou uma faca de trinchar muito igual a que a rainha tinha. Ele a afundou no pescoço de Jade Flower, repetidas vezes, e depois sua cabeça estava afastada e ele estava olhando para mim. Ele não falou, só me deu aquele longo olhar escuro. Então ele levantou e partiu, e eu tinha que dar o fora daqui. Os apartamentos da rainha estavam escuros. Isso não era bom. Além de onde a luz penetrava no salão de baile, quem sabia o que poderia estar à espreita? Tinha que ter uma porta de saída por aqui. A rainha não iria deixar a si mesma contida. Ela teria uma maneira de sair. E se eu lembrava a orientação do edifício, eu precisava andar para frente para alcançar a parede correta.  Conclui comigo mesma e decidi que eu tinha simplesmente que caminhar em linha reta e sem interrupção. Não mais de esquivar-se ao redor da parede.  Ao diabo com isso. E para minha surpresa, funcionou, até certo ponto. Eu passei por um cômodo - uma sala de estar, eu imaginei - antes de eu parar no que deve ter sido o quarto da rainha. Um sussurro de movimento no quarto reiniciou meu dispositivo de medo, e me atrapalhou ao longo da parede para a luz. Quando eu o alcancei, descobri que eu estava no quarto com Peter Threadgill. Ele estava diante de Andre. Uma cama estava entre eles, e na cama estava a rainha, que tinha sido gravemente ferida. Andre não tinha sua espada, mas nem tampouco Peter Threadgill tinha. André tinha uma arma, e quando eu acendi a luz, ele disparou no rei diretamente em seu próprio rosto. Duas vezes.  Havia uma porta além do corpo de Pedro Threadgill. Tinha de levar aos terrenos em volta da casa. Comecei a andar de lado em torno do quarto, minhas costas pressionadas contra a parede. Ninguém me prestou um pouco de atenção.  ―Andre, se você matá-lo,‖ disse a rainha absolutamente calma, ―Eu terei que pagar uma multa enorme.‖ Ela tinha uma mão pressionando sua lateral, e seu belo vestido laranja estava escuro e úmido, com seu sangue.  ―Mas não valeria a pena, senhora?‖ Houve um silêncio pensativo por parte da rainha, enquanto eu destrancava cerca de seis fechaduras.  ―No geral, sim,‖, disse Sophie-Anne. ―Afinal de contas, o dinheiro não é tudo.‖  ―Oh, excelente,‖ disse Andre feliz, e levantou a arma. Ele tinha uma estaca na outra mão, eu vi. Eu não fiquei na área para ver como Andre executou o trabalho.  Eu saí do outro lado do gramado em meus sapatos de festa verdes. Surpreendentemente, os sapatos de noite ainda estavam intactos. Na verdade, eles estavam em melhor forma que o meu tornozelo, o qual Jade Flower feriu terrivelmente. Eu estava mancando após dar dez passos. ‗―Tome cuidado com o leão,‖ gritou a rainha, e eu olhei para trás para ver que Andre a estava carregando para fora do edifício. Gostaria de saber de que lado estava o leão.  Então o grande gato apareceu na minha frente. Em um minuto minha rota de fuga estava clara, e no seguinte estava preenchida por um leão. As luzes exteriores de segurança estavam apagadas, e à luz do luar o animal parecia tão bonito e tão mortal que o medo arrancou o ar para fora de meus pulmões.  O leão fez um som baixo, gutural. ―Vá embora,‖ eu disse. Eu não tinha absolutamente nada para lutar com um leão, e eu estava no final do meu limite. ―Vá embora!‖ Eu gritei. ―Saia daqui!‖ E ele escapou para dentro dos arbustos.  Eu não acho que é um típico comportamento de leão. Talvez ele cheirou o tigre vindo, porque um ou dois segundos depois, apareceu Quinn, movendo-se como um enorme silencioso sonho através da grama. Quinn esfregou sua grande cabeça contra mim, e fomos juntos até o muro. Andre deitou sua rainha e saltou no topo com graça e facilidade. Para sua rainha, ele arrancou em fragmentos o arame farpado com as mãos somente forradas com o seu casaco rasgado. Então ele desceu em seguida e cuidadosamente levantou Sophie-Anne. Ele se concentrou e ultrapassou a parede em um salto.  ―Bem, eu não posso fazer isso,‖ eu disse, e até mesmo para meus próprios ouvidos, eu soei mal-humorada. ―Posso ficar em suas costas? Vou tirar meus saltos.‖ Quinn se acomodou contra a parede, e eu corri com o meu braço pelas tiras da sandália. Eu não queria ferir o tigre colocando muito peso em suas costas, mas eu também queria sair de lá mais do que eu queria qualquer coisa, agora mesmo. Então, tentando pensar em coisas leves, me equilibrei sobre o dorso do tigre e me empurrei, finalmente, para o topo do muro. Eu olhei para baixo, e parecia um caminho muito longo até a calçada. 
Depois de tudo que eu tinha enfrentado esta noite, pareceu estúpido recusar cair a poucos metros. Mas me sentei no muro dizendo para mim mesma que eu era uma idiota, por vários longos momentos. Então eu manejei para estar sobre meu estômago e me deixei escorregar tanto quanto eu poderia, e disse em voz alta, ―Um, dois, três!‖ Então eu caí.  Por alguns minutos eu fiquei deitada lá, atordoada como a noite tinha terminado.  Aqui estava eu, deitada em uma calçada na histórica Nova Orleans, com os meus seios para fora de meu vestido, meu cabelo desmoronando, minhas sandálias no meu braço, e um grande tigre lambendo meu rosto. Quinn tinha saltado com relativa facilidade.  ―Você acha que seria melhor voltar como um tigre, ou como um grande homem nu?‖ Eu perguntei ao tigre. ―Porque de qualquer forma, você poderá atrair alguma atenção. Acho que você terá uma melhor chance de levar um tiro se você for um tigre, comigo.‖ ―Isso não será necessário,‖ disse uma voz, e Andre apareceu acima de mim. ―Eu estou aqui com a rainha em seu carro, e vamos levá-la para onde você precisa ir.‖  ―Isso é muito agradável de sua parte,‖ eu disse, quando Quinn começou a mudar.  ―Sua Majestade sente que lhe deve,‖ disse Andre.  ―Eu não vejo isso dessa forma,‖ eu disse. Por que eu estava sendo tão franca, agora? Eu não poderia ficar de boca fechada? ―Afinal, se eu não tivesse encontrado o bracelete e devolvido, o rei teria...‖ ―Começaria a guerra hoje à noite de qualquer maneira,‖ disse Andre, ajudando-me a ficar de pé. Ele estendeu a mão e muito impessoalmente empurrou meu seio direito sob o escasso tecido verde-limão. ―Ele teria acusado a rainha de quebrar a sua parte do contrato, o qual inclui que todos os presentes devem ser guardados em honra como símbolos do casamento. Ele teria entrado com uma ação contra a rainha, e ela teria perdido quase tudo e teria sido desonrada. Ele estava pronto para ir por qualquer caminho, mas quando a rainha esteve usando o segundo bracelete, ele teve que partir para a violência. Ra Shawn começou a briga pela decapitação de Wybert por colidir contra ele.‖. Ra Shawn tinha sido o nome de Dreadlock, eu presumi.  Eu não tinha certeza de ter entendido tudo isso, mas eu estava igualmente certa que Quinn poderia me explicar num momento em que eu tivesse mais células cerebrais de reserva para a informação.  ―Ele ficou tão desapontado, quando viu que ela tinha o bracelete! E era o certo!‖ Andre disse alegremente. Ele estava se transformando em um rio de tagarelice, esse Andre. Ele me ajudou a entrar no carro.  ―Onde estava?‖ perguntou a rainha, que estava estirada em um dos assentos. Seu sangramento havia parado, e só o jeito que ela estava apertando seus lábios indicava a dor que estava sentindo.  ―Estava na lata de café que parecia selada,‖ eu disse. ―Hadley era muito boa com artes e trabalhos manuais, e ela abriu a lata com cuidadosa prática, atirando o bracelete em seu interior, e selando com uma pistola de cola.‖. Havia muito mais para explicar, sobre o Sr. Cataliades e Gladiola e Jade Flower, mas eu estava cansada demais para oferecer informação.  ―Como você passou pela revista?‖ a rainha perguntou. ―Tenho certeza que os inspetores estavam procurando por isso.‖  ―Eu tinha uma parte do bracelete debaixo do meu curativo,‖ eu disse. ―O diamante se destacava muito, entretanto, então eu tive que arrancá-lo. Eu o coloquei em um portatampão. A vampira que fez a revista não pensou em retirar o tampão, e ela realmente não sabia como isso supostamente deveria parecer, já que ela não tinha uma menstruação em séculos.‖ ―Mas foram colocados juntos,‖ disse a rainha.  ―Ah, eu entrei no banheiro feminino, depois que eu tive a minha bolsa revistada. Eu tinha um pequeno tubo de super-cola na minha bolsa, também.‖ A rainha não parecia saber o que dizer. ―Obrigada,‖ ela me disse, depois de uma longa pausa. Quinn havia subido na parte de trás com a gente, completamente nu, e eu encostei contra ele. Andre entrou no lugar do condutor, e nós saímos.  Ele nos deixou no pátio. Amelia estava sentada na calçada em sua cadeira de jardim, um copo de vinho na mão.  Quando emergimos, ela pôs o copo com muito cuidado no chão e depois nos olhou da cabeça aos pés.  ―Ok, não sei como reagir,‖ disse ela, finalmente. O grande carro deslizou para fora do pátio, quando Andre levou a rainha para algum abrigo seguro. Eu não perguntei, porque eu não queria saber.  ―Eu vou te dizer amanhã,‖ eu disse. ―O caminhão de mudanças estará aqui amanhã à tarde, e a rainha me prometeu pessoas para carregá-lo e dirigir. Eu tenho que voltar para Bon Temps.‖ A perspectiva de ir para casa parecia tão doce que eu poderia prová-la na minha língua. ―Então você tem muitas coisas para fazer em casa?‖ Amelia perguntou, quando Quinn e eu começamos a subir as escadas. Imaginei que Quinn podia dormir na mesma cama. Estávamos ambos muito cansados para precipitar em alguma coisa; esta noite não era a noite para começar um relacionamento, se eu não tivesse começado um. Talvez eu tivesse.  ―Bem, eu tenho um monte de casamentos para ir,‖ eu disse. ―Eu tenho que voltar ao trabalho, também.‖  ―Tem um quarto de hóspedes vazio?‖  Parei na metade do caminho até as escadas. ―Talvez eu tenha. Você estaria precisando de um?‖  Era difícil dizer à luz fraca, mas Amelia poderia parecer envergonhada. ―Eu tentei algo novo com o Bob,‖ disse ela. ―E não deu exatamente certo.‖ ―Onde ele está?‖ Eu perguntei. ―No hospital?‖  ―Não, ali mesmo,‖ disse ela. Ela estava apontando para um anão de jardim.  ―Diga-me que está brincando,‖ eu disse.  ―Eu estou brincando,‖ disse ela. ―Este é Bob.‖ Ela pegou um gato preto grande com um peito branco que estava enrolado em uma semeadeira vazia. Eu ainda não tinha reparado nele. ―Ele não é fofinho?‖  ―Claro, traga ele junto,‖ eu disse. ―Eu sempre gostei de gatos.‖ ―Benzinho,‖ disse Quinn, ―Eu estou contente de ouvir você dizer isso. Eu estava cansado demais para mudar completamente.‖  Pela primeira vez, eu realmente olhei para Quinn.  Agora ele tinha uma cauda.  ―Você definitivamente dormirá no chão,‖ eu disse.  ―Ah, benzinho.‖ ―Eu falo sério. Amanhã você será capaz de ser todo humano, né?‖ 
―Claro. Eu tenho mudado muitas vezes ultimamente. Eu só preciso de algum descanso.‖ Amelia estava olhando para o rabo com os olhos arregalados. ―Te vejo amanhã, Sookie,‖, disse ela. ―Nós teremos uma pequena viagem. E então eu vou ficar com você por um tempo!‖  ―Teremos muita diversão,‖ eu disse cansadamente, marchando até o resto da escada e me sentindo profundamente feliz por ter enfiado a chave da porta na minha roupa íntima. Quinn estava cansado demais para me assistir recuperá-la. Deixei o resto do vestido voltar ao lugar, quando eu abri a porta. ―Muita diversão.‖  Mais tarde, depois que eu tomei banho e enquanto Quinn estava no banheiro, eu ouvi uma batida hesitante na porta. Eu estava bastante decente em minha calça de pijama e regata. Embora eu quisesse ignorar mais do que qualquer coisa, eu abri a porta.  Bill estava parecendo bem para alguém que tinha lutado em uma guerra. O smoking nunca seria funcional novamente, mas ele não estava sangrando, e qualquer corte que ele poderia ter sofrido já cicatrizou.  ―Eu tenho que falar com você,‖ disse ele, e sua voz era tão calma e fraca que eu dei um passo para fora do apartamento. Sentei-me no chão da galeria, e ele sentou comigo.  ―Você tem que me deixar dizer isto, apenas uma vez,‖ disse ele. ―Eu amei você. Eu amo você.‖ Eu levantei a mão para protestar, e ele disse: ―Não, me deixe terminar. Ela me enviou lá, é verdade. Mas quando eu te conheci - depois que eu vim a conhecer você - eu realmente... amei você.‖ Quanto tempo depois que ele me levou para a cama veio esse suposto amor? Como eu poderia acreditar nele, já que ele tem mentindo de forma tão convincente, desde o momento que eu o conheci - interpretando desinteressado porque ele podia ler minha fascinação com o primeiro vampiro que eu já tinha conhecido? ―Eu arrisquei a minha vida por você,‖ eu disse, as palavras saindo numa sequência hesitante. ―Eu dei ao Eric poder sobre mim para sempre, por sua causa, quando eu tomei o sangue dele. Matei alguém por você. Isso não é algo que eu recebi por concordância, mesmo se você... mesmo se essa for o tipo de vida cotidiana para você. Não é para mim. Não sei se alguma vez eu possa não te odiar.‖  Me levantei, lenta e dolorosamente, e para meu alívio, ele não cometeu o erro de tentar me ajudar. ―Você provavelmente salvou minha vida esta noite,‖ eu disse, olhando para ele. ―E eu te agradeço por isso. Mas não venha para o Merlotte‘s nunca mais, não fique andando à toa em minha floresta, e não faça qualquer outra coisa para mim. Eu não quero ver você de novo.‖  ―Eu te amo,‖ disse ele teimosamente, como se esse fato fosse tão surpreendente e um verdade tão inegável que eu deveria acreditar nele. Bem, eu tinha, e olha para onde isso tinha me trazido.  ―Essas palavras não são uma fórmula mágica,‖ eu disse. ―Elas não vão abrir meu coração para você.‖  Bill tinha mais de cento e trinta anos, mas naquele momento senti que eu poderia me comparar com ele. Arrastei-me para dentro, fechei a porta atrás de mim e a tranquei, e me obriguei ir ao fundo do corredor para o quarto.  Quinn estava se secando, e ele se virou para me mostrar suas nádegas musculosas. ―Livre de pelagem,‖ disse ele. ―Posso compartilhar a cama?‖ 
―Sim,‖ eu disse, e engatinhei para dentro. Ele entrou pelo outro lado, e em trinta segundos estava dormindo. Após um minuto ou dois, eu deslizei sobre a cama e coloquei minha cabeça em seu peito.  Ouvi o seu batimento cardíaco. 
 
"Qual foi a história com Jade Flower?‖ Amelia perguntou no dia seguinte. Everett estava dirigindo o U-Haul125 e Amélia e eu seguíamos em seu pequeno carro. Quinn saiu na manhã seguinte, na hora que eu tinha acordado, me deixando uma nota dizendo que ele ia me ligar depois que ele contratasse alguém para substituir Jake Purifoy e após seu próximo trabalho, que seria em Huntsville, Alabama - um Rito de Ascensão, disse ele, embora eu não tinha ideia do que era isso. Ele terminou a nota com um comentário muito pessoal sobre o vestido verde-limão, que eu não vou repetir aqui.  Amelia teve suas malas feitas no momento que eu me vesti, e Everett estava coordenando dois homens corpulentos no carregamento das caixas que eu queria levar de volta para Bon Temps. Quando ele voltasse, ele levaria os móveis que eu não quis para Goodwill126. Eu lhe ofereci, mas ele olhou para as antiguidades falsas e educadamente disse que não eram do seu estilo. Eu joguei minhas coisas no porta-malas de Amélia, e saímos. Bob, o gato, estava em sua gaiola no banco de trás. Era forrado com toalhas e também havia uma tigela de água e comida, o qual estava uma bagunça. A caixa de areia de Bob estava no chão.  "Minha mentora descobriu o que eu fiz", disse Amelia melancolicamente. "Ela está muito, muito chateada comigo."  Não fiquei surpresa, mas não parecia delicado dizer isso, ainda mais que Amelia tinha sido de grande ajuda para mim. "Ele está perdendo sua vida agora", eu indiquei tão suavemente como eu poderia dizer.  "Bem, é verdade, mas ele está tendo um inferno de uma experiência", disse Amélia, na voz de alguém determinado a olhar para o lado bom. "Vou fazer as pazes com ele. De alguma forma."  Eu não tinha certeza de que isso era algo que poderia "compensar" a alguém. "Eu aposto que você pode trazê-lo de volta a si em breve", eu disse, tentando parecer confiante. "Existem algumas bruxas realmente boas em Shreveport, que poderiam ajudar." Se Amelia pudesse vencer seu preconceito contra os Wiccans.  "Ótimo", a bruxa disse, olhando mais alegre. "Entretanto, o que diabos aconteceu ontem à noite? Diga-me em detalhes."  Calculei que isso já devia estar por toda a comunidade sobrenatural hoje, então eu poderia muito bem abrir a boca127. Eu disse a Amelia toda a história.  "Então, como Cataliades soube que Jade Flower matou Gladiola?" Amelia perguntou.  "Hum, eu lhe disse," eu disse, minha voz baixa.  ―Como você soube?‖  "Quando Os Pelts me disseram que não haviam contratado ninguém para vigiar a minha casa, pensei que o assassino era alguém enviado por Peter Threadgill para atrasar meu recebimento da mensagem de Cataliades. Peter Threadgill sabia o tempo todo que a
125  U-Haul International é uma companhia Americana de aluquel de equipamento, baseada no Arizona. A companhia aluga caminhões, trailers e peças de equipamentos, entre outras coisas. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/UHI_DC5692.JPG
126  Uma ONG que faz caridade e recebe doações. http://www.goodwill.org/
127  No original: ―spill the beans‖, expressão que significa contar um segredo.
 
rainha tinha perdido a pulseira para Hadley. Talvez ele tivesse espiões entre as próprias pessoas da rainha, ou talvez um de seus seguidores mais burro, como Wybert, tenha deixado escapar. Não seria difícil de observar os movimentos das duas meninas demônio que a rainha usou como mensageiros. Quando uma delas veio me entregar a mensagem da rainha, Jade Flower a seguiu e a matou. O ferimento foi muito drástico, e depois que eu vi a espada de Jade Flower e vi ela sacá-la tão rápido que eu não podia vê-la passar, eu percebi que ela era uma candidata muito provável para o assassino designado. Mais, a rainha havia dito que se Andre estivesse em Nova Orleans, todos tinham que assumir que ela estava também... então o inverso deve ser verdade, né? Se o rei estava em Nova Orleans, todos assumiriam que Jade Flower também estava. Mas ela estava do lado de fora da minha casa, na floresta." Estremeci toda com a memória.  "Eu descobri com certeza depois de procurar um monte de postos de gasolina. Eu conversei com um cara que definitivamente lembrouse de Jade Flower".  "Então, por que Hadley roubou o bracelete?"  ―O ciúme, eu acho, e o desejo de colocar a rainha em uma situação ruim. Eu não acho que Hadley tenha entendido as implicações do que tinha feito, e no momento que ela fez, já era tarde demais. O rei tinha previsto seus planos. Jade Flower assistiu Hadley por um tempo, agarrou a oportunidade de pegar Jake Purifoy e matá-lo. Esperavam que fossem culpar Hadley. Qualquer coisa que pudesse desacreditar Hadley poderia desacreditar a Rainha. Eles não tinham como saber que ela iria transformar ele.‖  "O que vai acontecer com Jake agora?" Amelia parecia perturbada. "Eu gostava dele. Ele era um cara legal."  "Ele ainda pode ser. Ele é apenas um vampiro legal agora."  "Eu não tenho certeza que há uma coisa dessas", minha companheira disse calmamente.  "Alguns dias, eu não tenho certeza também." Seguimos por um tempo em silêncio.  "Bem, fale-me sobre Bon Temps", disse Amelia, para nos tirar do nosso marasmo de conversação.  Comecei a contar-lhe sobre a cidade, e o bar onde eu trabalhava, e o chá de panela que eu tinha sido convidada a participar, e todos os próximos casamentos.  "Parece muito bom", disse Amélia. "Ei, eu sei que eu meio que me convidei. Você se importa, quero dizer, realmente?"  "Não", eu disse, com uma velocidade que surpreendeu a mim mesmo. "Não, vai ser bom ter companhia... por um tempo", eu acrescentei cautelosa. "O que você vai fazer sobre a sua casa em Nova Orleans, enquanto você ficar fora?"  "Everett disse que não se importaria de viver no apartamento superior, porque sua mãe estava ficando meio difícil de suportar. Como ele tem um trabalho tão bom com Cataliades, ele pode pagar. Ele vai cuidar das minhas plantas e outras coisas até que eu volte. Ele sempre pode me mandar um e-mail.‖ Amélia tinha um laptop em sua mala, assim, pela primeira vez que haveria um computador na casa Stackhouse. Houve uma pausa, e então ela disse, com voz hesitante: "Como você está se sentindo agora? Quero dizer, com o ex e tudo?‖.  Eu considerei. "Eu tenho um grande buraco no meu coração", disse. "Mas ele vai fechar." 
―Eu não quero soar todas Dr. Phil128", disse ela. "Mas não deixe que a cicatriz sele a dor dentro, ok?"  "É um bom conselho", disse. "Eu espero que eu possa gerenciá-lo."  Fiquei fora por alguns dias, e eles foram agitados. À medida que se aproximava de Bon Temps, eu me perguntava se Tanya tinha conseguido que Sam lhe pedisse para sair. Gostaria de saber se eu preciso dizer a Sam sobre o papel de Tanya como espiã. Eric não tinha que estar mais confuso sobre mim, desde o que nosso grande segredo foi revelado. Ele não tinha poder sobre mim. Será que os Pelts manteriam a sua palavra? Talvez Bill saísse em uma longa viagem. Talvez uma estaca fosse cair acidentalmente em seu peito enquanto ele tivesse ido.  Eu não tinha ouvido falar de Jason, enquanto eu estava em Nova Orleans. Gostaria de saber se ele ainda estava pensando em se casar. Eu esperava que Crystal tivesse se recuperado. Gostaria de saber se a Dra. Ludwig aceitou o pagamento do seguro. E o casamento duplo dos Bellefleur deve ser um evento interessante, mesmo se eu estiver trabalhando, enquanto eu estiver lá.  Eu tomei uma respiração profunda. Minha vida não era tão ruim, eu disse a mim mesma, e eu comecei a acreditar que era verdade. Eu tinha um namorado novo, talvez, eu tinha uma nova amiga, com certeza, e eu tinha eventos para aguardar com interesse. Isso tudo era bom, e eu deveria estar grata. E daí que eu era obrigada a assistir a uma conferência de vampiro, como parte da comitiva da rainha? Ficaria em um hotel chique, me vestiria muito bem, assistiria a reuniões muito chatas, se tudo que as outras pessoas me contaram sobre conferências fosse verdade. Deus, quão ruim pode ser? Melhor não pensar sobre isso.

 

 

                                                                                                    Charleine Harris

 

 

 

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