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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DESPERTAR DA PAIXÃO / Julie Garwood
DESPERTAR DA PAIXÃO / Julie Garwood

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Inglaterra, 1802
Era só uma questão de tempo para que os convidados do casamento matassem os uns os outros.
O barão Oliver Lawrence tinha tomado todas as precauções, já que o Rei George tinha eleito seu castelo para a cerimônia. Estava atuando como anfitrião até a chegada do Rei da Inglaterra, um dever que tinha aceito com tanto entusiasmo como uma tortura de três dias, mas a ordem tinha sido dada pelo próprio Rei, e Lawrence, sempre fiel e obediente, tinha-a acatado imediatamente. A família do Winchester e os rebeldes do St. James tinham protestado com veemência por sua escolha. Entretanto, seus protestos foram inúteis, já que o Rei estava decidido a fazê-lo a sua maneira. O barão Lawrence compreendeu a razão que havia mais à frente do decreto. Infelizmente, era o único inglês que ainda se relacionava bem com as famílias da noiva e do noivo.
O barão não podia alardear sobre isto durante muito mais tempo. Pensou que sua estadia na terra, poderia ser medida pelos batimentos do próprio coração. Como a cerimônia se levaria a cabo em um campo neutro, o Rei pensou que a audiência se comportaria. Lawrence sabia que não seria assim.
Os homens que lhe rodeavam estavam dispostos a matar. Uma palavra dita com o tom equivocado, uma ação considerada ameaçadora podiam se converter na faísca necessária para acender o banho de sangue. Só Deus sabia o desejo que tinham de brigar. Notava-se em seus rostos.
O bispo, vestido com a roupa de cerimônia branca, sentou-se em uma cadeira com respaldo alto entre as duas famílias inimigas. Não olhou nem para a esquerda, onde estavam os Winchester, nem para a direita, onde estavam localizados os guerreiros do St. James, só olhou para frente. Para entreter-se, o sacerdote tamborilava os dedos sobre o braço de madeira da cadeira. Tinha o aspecto de ter comido uma porção de pescado azedo. De vez em quando emitia um agudo suspiro, um som que, para o barão, era igual ao relincho de um velho cavalo, e logo deixava que o maldito silêncio envolvesse o grande salão outra vez.
Lawrence sacudiu a cabeça em desespero. Sabia que não obteria nenhuma ajuda do bispo quando se desencadeasse o verdadeiro problema. A noiva e o noivo esperavam em quartos separadas. Só seriam conduzidos, ou arrastados, até o salão quando o Rei chegasse. Então seria melhor que Deus os ajudasse, pois certamente se abriria o inferno.
Realmente, era um dia lamentável. Lawrence teve que postar seu próprio contingente de guardas entre os cavalheiros do Rei, com o passar do perímetro do salão como mais uma medida dissuasiva. Nunca tinha se ouvido sobre uma medida assim em um casamento, entretanto tampouco se ouviu que os convidados fossem à cerimônia armados como para uma batalha. Os Winchester estavam tão carregados com armas que mal podiam se mover. Seu atrevimento era vergonhoso, sua lealdade mais do que suspeita. Mesmo assim, Lawrence não condenava completamente os homens. Era verdade, inclusive para ele, que era um desafio obedecer cegamente o seu líder. Levando em consideração que o Rei estava louco, como uma bode.
Todo mundo na Inglaterra sabia que tinha perdido o juízo, embora ninguém se atrevesse a comentar em voz alta. Perderiam suas línguas, ou algo pior, se atrevessem dizer a verdade. O casamento que iria se realizar era mais que um amplo testemunho, sobre qualquer dúvida que os Thomas tivessem a respeito de que seu líder não estava bem. O Rei havia dito a Lawrence que estava decidido que todos se dessem bem em seu reino. Ao barão não foi fácil responder a essa expectativa infantil.
Apesar de sua loucura, George era o Rei, e Lawrence acreditava que os convidados o casamento deviam mostrar um pouco mais de respeito. Sua conduta ofensiva não podia ser tolerada. Dois dos tios maiores dos Winchester estavam acariciando os punhos de suas espadas em uma óbvia antecipação da sangria. Os guerreiros de St. James o perceberam imediatamente e responderam adiantando-se ao uníssono. Não tocaram suas armas, e para na verdade, a maioria dos homens do St. James nem sequer estavam armados. Em lugar disso sorriram. Lawrence pensou que essa ação era, por si só, intimidatória.
Os Winchester superavam o clã do St. James por seis a um. Entretanto, isso não lhes outorgava vantagem. Os homens do St. James eram muito mais agressivos. As histórias sobre os assaltos a campos inimigos eram legendárias.Dizia-se que tinham tirado um olho de um homem porque era vesgo; que gostavam de chutar os testículo do oponente só para escutá-lo gritar; e só Deus sabia o que faziam a seus inimigos. As possibilidades eram muito espantosas para pensar nelas.
Uma comoção proveniente do pátio desviou a atenção do Lawrence. O ajudante pessoal do Rei, um homem de rosto áspero, chamado sir Roland Hugo subiu rapidamente pela escada. Levava uma vestimenta de festa, mas as meias vermelhas e a túnica branca chamavam a atenção sobre sua imponente textura. Lawrence pensou que parecia um galo gordinho. Como era um bom amigo seu, guardou essa desagradável opinião.
Os dois homens se abraçaram em seguida. Logo Hugo deu um passo atrás, e lhe disse em voz muito baixa:
-Adiantei-me. O Rei chegará em uns minutos.
-Graças a Deus -respondeu Lawrence, com um visível alívio. Secou as gotas de suor da fronte com seu lenço de linho.
Hugo olhou sobre o ombro do Lawrence, e depois sacudiu a cabeça.
-Seu salão está tão tranqüilo como uma tumba -sussurrou-lhe-. Teve tempo de entreter aos convidados?
Lawrence o olhou com incredulidade.
-Entretidos? Hugo, para entreter a esses bárbaros seria necessário sacrifício humano.
-Vejo que seu senso de humor, ajudou a superar esta atrocidade -respondeu seu amigo.
-Não estou brincando -replicou o barão-. Você também deixará de sorrir quando perceber em quão frágil se converteu esta situação. Os Winchester não trouxeram presentes, meu amigo. Estão armados para a batalha. Sim, estão-assegurou-o ao ver que seu amigo sacudia com incredulidade a cabeça-,tentei convence-los que deixassem seu arsenal do lado de fora, mas não me escutaram. Hoje não estão muito complacentes.
-Já veremos -murmurou Hugo-. Quando os soldados que escoltam a nosso Rei os desarmarem em seguida. Eu teria que estar louco se permitisse que nosso senhor entre em uma arena tão ameaçadora. Isto é um casamento, não um campo de batalha.
Hugo demonstrou que podia cumprir com sua ameaça. Os Winchester empilharam suas armas em um espaço do grande salão quando o enfurecido ajudante do Rei lhes deu a ordem. A demanda foi respaldada por uns quarenta soldados leais que tomaram suas posições rodeando os convidados. Inclusive os patifes do St. James entregaram suas poucas armas, mas só depois de que Hugo ordenou que os soldados colocassem as flechas em seus arcos.
Lawrence pensou que, se vivesse para contar a história, ninguém acreditaria. Graças a Deus, o Rei George não tinha idéia de que medidas extremas foram tomadas para assegurar seu amparo.
Quando o Rei da Inglatera entrou no grande salão, os soldados baixaram imediatamente seus arcos, embora as flechas permanecessem, caso houvesse um rápido disparo.
O bispo se levantou da cadeira, inclinou-se formalmente ante seu Rei, e logo indicou que tomasse seu assento.
Dois dos advogados do Rei, carregados com documentos, seguiam seus passos. Lawrence esperou até que seu líder sentasse e logo ajoelhou diante Dele. Repetiu seu voto de lealdade em voz alta, com a esperança de que suas palavras envergonhassem os hóspedes e mostrassem igual consideração.
O Rei se inclinou para diante, com suas grandes mãos sobre os joelhos.
-Seu Rei patriota está agradecido, barão Lawrence. Sou seu Rei patriota, campeão de todas as pessoas, verdade?
Lawrence estava preparado para essa pergunta. Fazia anos que o Rei tinha decidido chamar-se assim, e gostava de escutar essa afirmação cada vez que era possível.
-Sim, meu senhor, é meu Rei patriota, campeão de todas as pessoas.
-Esse é um bom menino -sussurrou o Rei. Estendeu a mão e deu tapinhas na cabeça calva de Lawrence. O barão ruborizou-se. O Rei o estava tratando como a um jovem escudeiro. Mas mesmo o barão começava a sentir-se como tal.
-Ponha-se de pé, barão Lawrence, e me ajude a controlar esta importante situação -ordenou o Rei.
Lawrence o fez imediatamente. Quando olhou de perto o seu líder teve que esforçar-se para não mostrar nenhuma reação. surpreendeu-se ao ver o deteriorado aspecto do Rei. George tinha sido uma figura atrativa em seus dias de juventude. A idade não tinha sido amável com ele. Suas rugas eram mais profundas e tinha bolsas de fadiga nas pálpebras. Usava uma peruca branca, com os extremos para cima nas laterais, mas a cor lhe obscurecia a pele.
O Rei sorriu a seu vassalo com inocente expectativa. Lawrence também lhe sorriu. Havia tanta bondade e sinceridade na expressão de seu líder. O barão se sentiu repentinamente mal por ele. Durante muitos anos, antes de que sua enfermidade o acometesse, George tinha sido muito mais que um Rei ideal. Sua atitude para seus súditos tinha sido a de um pai benevolente que cuida de seus filhos. Merecia mais do que estava recebendo.
O barão se colocou junto ao Rei, e logo se voltou para olhar ao grupo de homens que considerava infiéis. Ordenou-lhes com fúria:
-Ajoelhem-se!
Todos se ajoelharam.
Hugo estava observando Lawrence com uma expressão de surpresa no rosto. Obviamente não tinha reparado que seu amigo podia ser tão enérgico. E Lawrence tinha que admitir que até o momento tampouco o tinha feito.
O Rei se sentiu satisfeito pela amostra de lealdade e isso era tudo o que importava.
-Barão? -disse olhando em direção a Lawrence-. Vá procurar à noiva e ao noivo, já é tarde, e há muito que fazer.
Enquanto Lawrence fazia uma reverência em resposta a essa ordem, o Rei se voltou e olhou a sir Hugo
-Onde estão todas as damas? Não vejo nenhuma. por que, Hugo?
Hugo não queria lhe dizer a verdade ao Rei: que os homens não haviam trazido suas mulheres, porque estavam preparados para a guerra e não para o Casamento. Essa honestidade só machucaria os tenros sentimentos do Rei.
-Sim, meu Rei patriota -respondeu Rude-, Eu também reparei a falta de damas.
-Mas por que? -insistiu o Rei.
A mente do Hugo não tinha nenhuma explicação plausível para essa particularidade. Em seu desespero chamou a seu amigo.
-Por que, Lawrence?
O barão tinha chegado à entrada. Reparou no tom de pânico da voz de seu amigo e se voltou imediatamente.
-A viagem seria muito difícil para damas tão... frágeis -explicou.
Quase se sufocou com suas palavras. A mentira era atroz, já que qualquer um que conhecesse as mulheres Winchester sabia que eram tão frágeis como chacais. Entretanto, a memória do Rei George não andava muito bem para dar-se conta,
O barão se deteve para observar os Winchester. Logo seguiu seu caminho.
O noivo foi o primeiro em responder à chamada. Depois que o alto e magro marquês do St. James entrou no salão se abriu um largo caminho para que passasse.
O noivo entrou no salão como um guerreiro do rei preparado para inspecionar seus súditos. Se tivesse sido grosseiro, Lawrence teria pensado que era um jovem e arrogante Genghis Khan. Entretanto, o marquês não era grosseiro. O cabelo era castanho escuro e seus olhos verdes claros. Seu rosto era magro, anguloso, e já tinha o nariz quebrado por uma briga que, é obvio, tinha ganho. A pequena protuberância fazia que seu perfil áspero fosse mais admirável.
Nathan, como chamavam seus familiares próximos, era um dos nobres mais jovens do reino. Tinha quatorze anos e um dia. Seu pai, o poderoso conde do Wakersfield, estava fora do país cumprindo com uma importante atribuição para seu governo, e portanto não podia estar junto a seu filho nesta cerimônia. Na realidade, o conde não tinha idéia de que este casamento estava sendo levado a cabo. O barão sabia que ficaria furioso quando se inteirasse. O conde era um homem muito desagradável em condições normais e quando lhe provocavam podia ser tão vingativo e perverso como Satanás. Tinha tanta consideração quanto toda a família St. James junta.

Entretanto, embora Lawrence não gostasse do conde, Nathan lhe agradava. Tinha estado em companhia do rapaz várias vezes, e em cada ocasião reparou que Nathan escutava a opinião de outros e depois fazia o que lhe parecia melhor. Só tinha quatorze anos, sim, mas já era um homem completo. Lawrence o respeitava. Também sentia um pouco de pena por ele, já que cada vez que tinham estado juntos nunca o tinha visto sorrir. Pensava que isso era uma pena.
O clã St. James nunca o chamava por seu nome. Referiam-se a ele como a "rapaz", já que para eles ainda tinha que provar seu valor. Havia provas que tinha que superar primeiro. Os familiares não duvidavam do eventual êxito do rapaz. Acreditavam que era um líder natural, sabiam que por sua textura seria um homem muito grande e esperavam que fosse, sobre tudo, tão rude como eles. Pois era parte da família e havia certas responsabilidades que recairiam sobre seus ombros.
O marquês olhou diretamente ao Rei da Inglaterra enquanto se dirigia para ele. O barão o observou atentamente. Sabia que os tios tinham indicado a Nathan que não se ajoelhasse diante do Rei a menos que ele o ordenasse.
Nathan ignorou suas instruções. Ajoelhou-se sobre um joelho, baixou a cabeça e recitou seu voto de lealdade com voz firme. Quando o Rei lhe perguntou se era seu Rei patriota, o esboço de um sorriso suavizou a expressão do rapaz.
-Sim, meu senhor -respondeu Nathan- É meu Rei patriota.
A admiração do barão pelo marquês aumentou dez vezes, e pelo sorriso do Rei, reparou que ele também estava satisfeito. Os familiares do Nathan não estavam. Seus olhares era tão ardentes que poderiam acender uma fogueira. Os Winchester não podiam sentir-se mais felizes. Sorriam com júbilo.
Repentinamente, Nathan ficou de pé com um movimento ágil. Voltou-se e observou os Winchester durante um longo e silencioso momento, e seu olhar frio como o gelo pareceu congelar a insolência dos homens. O marquês não voltou a olhar para o Rei até que a maioria dos Winchester baixou o olhar ao chão. Os homens do St. James não puderam evitar resmungar sua aprovação.
O rapaz não estava prestando atenção em seus familiares. Ficou de pé, com as pernas separadas, as mãos cruzadas nas costas e com olhos fixo a frente. Sua expressão só mostrava aborrecimento.
Lawrence se dirigiu diretamente para Nathan, para poder assentir com a cabeça e lhe mostrar quão grato estava com sua conduta.
Nathan também respondeu assentindo com a cabeça. Lawrence ocultou seu sorriso. A arrogância do rapaz comovia seu coração. Plantou-se frente a seus familiares, ignorando as terríveis conseqüências que certamente se produziriam, e tinha feito o correto. Lawrence se sentia como um pai orgulhoso, uma reação bastante estranha já que o barão nunca tinha se casado e não tinha filhos.
Perguntava-se se a máscara de aborrecimento do Nathan perduraria durante toda a extensa cerimônia. Enquanto pensava nisso foi procurar à noiva.
Quando chegou ao primeiro piso ouviu que ela chorava. O som foi interrompido pelo grito zangado de um homem. O barão bateu na porta duas vezes antes que o conde do Winchester, o pai da noiva, abrisse-a. O conde tinha o rosto vermelho como que queimado de sol.
-Já era hora -bramou o conde.
-O Rei se atrasou -respondeu o barão.
O conde assentiu abruptamente com a cabeça.
-Entra, Lawrence. Ajude-me a desce-la pela escada, homem. Está sendo muito teimosa.
A voz do conde refletia tanta surpresa que Lawrence quase sorriu.
-Ouvi dizer que a obstinação é própria das filhas tão jovens.
-Nunca ouvi isso -murmurou o conde-. Na verdade é a primeira vez que estou a sós com a Sara. Não estou seguro de que saiba exatamente quem sou -adicionou-. Eu disse, é obvio, mas não está com humor para escutar nada. Não tinha idéia de que pudesse ser tão difícil.
Lawrence não pôde ocultar seu assombro ante as afirmações do conde.
-Harold -lhe respondeu usando o primeiro nome do conde-, segundo me lembro tem outras duas filhas maiores que Sara. Não compreendo como pode ser tão...
O conde não o deixou terminar.
-Nunca tive que estar com nenhuma delas -murmurou.
Lawrence pensou que essa confissão era espantosa. Sacudiu a cabeça e seguiu o conde para entrar no quarto. Ao longe pôde ver a noiva. Estava sentada em um banco junto à janela, olhando para fora.
Deixou de chorar logo que o viu. Lawrence pensou que era a noiva mais encantadora que jamais viu. Uma catarata de cachos dourados emoldurava um rosto angelical. Tinha uma coroa de flores primaveris sobre a cabeça e um bocado de sardas sobre o nariz.
As lágrimas rolavam pela face e tinha mais em seus olhos castanhos.
Estava usando um longo vestido branco preso nos punhos e na cintura. Quando ficou em pé o cinturão bordado caiu ao chão.
Seu pai disse uma blasfêmia em voz alta.
Ela a repetiu.
-Já é hora de irmos, Sara -ordenou seu pai, com um tom tão amargo como o gosto do sabão.
-Não.
-Quando chegarmos em casa vai se arrepender disto, mocinha. Por Deus que o farei, espera e o verá.
O barão não entendeu a absurda ameaça do conde e pensou que Sara tampouco o tinha feito.
Ela olhou fixamente para seu pai com uma expressão de enfado no rosto. Logo bocejou e voltou a se sentar.
-Harold, gritando com sua filha não conseguirá nada -assinalou o barão.
-Então lhe darei uma boa bofetada -murmurou o conde. Adiantou-se para sua filha com a mão levantada para lhe dar o golpe.
Lawrence se colocou adiante do conde.
-Não baterá nela-disse Lawrence zangado.
-Ela é minha filha -gritou o conde-. Farei o que seja necessário para obter sua cooperação.
-É um hóspede em minha casa, Harold -respondeu o barão, e reparou que também estava gritando e imediatamente baixou a voz-.Deixe-me tentar.
Lawrence se voltou para a noiva. Sara não parecia nada preocupada com a irritação de seu pai. Voltou a bocejar.
-Sara, tudo terminará em seguida -lhe disse o barão. Ajoelhou-se diante dela, sorriu e a obrigou gentilmente a ficar de pé. Enquanto a elogiava voltou a colocar o cinturão na cintura. Ela voltou a bocejar.
A noiva precisava de um descanso com urgência. Permitiu que o barão a conduzisse para a porta, mas repentinamente retornou ao assento da janela e pegou uma velha manta que parecia três vezes maior que ela.
Logo retornou até o barão e lhe voltou a pegar sua mão.
A manta estava pendurado em seu ombr e caía até o chão como uma montanha.
Seu pai tentou lhe tirar a manta.

Sara começou a gritar, seu pai começou a amaldiçoar e a cabeça do barão começou a doer-Pelo amor de Deus, Harold, deixe que leve essa coisa.
-Não o farei -gritou o conde-. É ofensivo. Não permitirei.
-Deixa que a leve até que cheguemos ao salão -ordenou o barão.
Finalmente, o conde se rendeu. Olhou a sua filha, tomou sua posição frente a eles e começou a descer pela escada.
Lawrence pensou que gostaria que Sara fosse sua filha. Quando o olhou e sorriu com tanta confiança sentiu desejos de abraçá-la. Entretanto, sua disposição sofreu uma mudança radical quando chegaram à entrada do salão e seu pai tentou pegar de volta a velha manta.

Nathan se voltou para ouvir o ruído que provinha da entrada. Abriu grandes seus olhos pois não podia acreditar o que estava vendo. Não tinha demonstrado interesse para formular perguntas sobre a noiva, pois estava seguro de que seu pai iria cuidar dos documentos assim que retornasse a Inglaterra, e por essa razão se surpreendeu ao vê-la.
A noiva era um demônio. Nathan não podia manter sua expressão de aborrecimento. O conde do Winchester gritava mais que sua filha. Entretanto, ela tinha muita mais determinação. Agarrava uma das pernas de seu pai e estava tratando de lhe morder um joelho.
Nathan sorriu. Seus familiares não foram tão discretos, suas risadas encheram o salão. Por outra parte, os Winchester estavam completamente consternados. O conde, que era seu líder, tinha afastado sua filha de seu joelho e estava lutando pelo que parecia uma velha manta de cavalo. Mas tampouco estava ganhando a batalha.
O barão Lawrence perdeu os últimos vestígios de sua compostura. Levantou a noiva em seus braços, tirou a manta do pai e se dirigiu para Nathan. Sem maiores cerimônias colocou à noiva e a manta nos braços do noivo.
Tinha que aceitá-la ou deixá-la cair. Nathan estava tentando se decidir quando Sara viu que seu pai se dirigia para ela. Abraçou-se rapidamente ao pescoço do Nathan.
Sara continuou olhando sobre o ombro do Nathan para assegurar-se de que seu pai não a tirasse dali. Quando teve a certeza de que estava segura se voltou para olhar o estranho que a estava sustentando. Olhou-lhe fixamente durante um momento.
O noivo permaneceu tão tenso como uma lança. Sua face começou a tranpirar. Sentia seu olhar sobre o rosto, mas não se atreveu a olhá-la. Podia decidir mordê-lo e então não saberia o que fazer.
Decidiu que teria que superar qualquer desconforto que lhe ocasionasse. Depois de tudo, ele era quase um homem e ela só uma menina.
Nathan continuou olhando diretamente para o Rei até que Sara lhe tocou a face. Finalmente, voltou-se para olhá-la.
Tinha os olhos castanhos mais belos que jamais vira.
-Papai me vai me bater - anunciou com uma careta.
Ele não mostrou nenhuma reação ante essa afirmação. Sara se cansou de lhe olhar. Seus olhos se entristeceram. Ele ficou até mais tenso quando ela se apoiou sobre seu ombro e pressionou o rosto contra seu pescoço.
-Não deixe que papai me bata -sussurrou.
-Não - respondeu.
Repentinamente, transformou-se em seu protetor. Nathan já não podia manter sua expressão de aborrecimento. Apertou em seus braços a sua noiva e relaxou sua postura.
Sara, esgotada pela longa viajem e sua enérgica manha de criança, tomou um extremo da manta e o colocou sob o nariz. Em minutos adormeceu profundamente.
O noivo não soube sua idade até que o advogado começasse a ler as condições da união.
Sua noiva tinha quatro anos.




Capítulo 1

Londres, Inglaterra, 1816
Seria um seqüestro limpo e sem complicações. Ironicamente, o seqüestro seria considerado legal nas Cortes exceto pelos cargos de entrada, mas essa possibilidade não era significativa. Nathanial Clayton Hawthorn Baker, o terceiro marquês do St. James, estava preparado para utilizar qualquer método que considerasse necessário para obter seu objetivo. Se a sorte estivesse do seu lado, sua vítima estaria profundamente adormecida. Se não, uma simples mordaça eliminaria qualquer ruído de protesto.
De um modo ou de outro, legal ou não, ele se reuniria com sua noiva. Nathan, como o chamavam seus amigos mais próximos, não teria que atuar como um cavalheiro, o qual era uma bênção considerando que essas tenras qualidades eram completamente alheias a sua natureza. Além disso, o tempo estava se esgotando. Só faltavam seis semanas para que houvesse uma verdadeira violação do contrato matrimonial.
Nathan não via a noiva há quatorze anos, quando leram os contratos de casamento, mas a imagem que tinha em sua mente não era muito fantástica.

Não tinha muitas ilusões quanto a moça, já que havia visto mulheres Winchester o suficiente para saber que não eram nada extraordinárias. Não eram muito agraciadas em beleza nem em disposição. A maioria tinha forma de pêra, com ossos grandes, os traseiros maiores ainda, e se as histórias não exageravam, apetites gigantescos.
Embora ter uma esposa a seu lado parecesse tão espantoso como nadar a meia-noite entre tubarões, Nathan estava preparado para suportar a prova. Possivelmente, se realmente se dedicasse a solução do problema, poderia encontrar uma forma de cumprir com as condições do contrato sem ter que ficar com a mulher dia e noite.
Durante quase toda vida Nathan estivera sozinho, negando-se a receber conselhos dos homens. Só confiava seus pensamentos a seu amigo Colin. Entretanto, os lucros eram muito para que Nathan os ignorasse. O dote que o contrato oferecia depois de um ano de convivência com lady Sara compensava qualquer repulsão que pudesse sentir ou inconveniente que tivesse que suportar. As moedas que receberia por decreto real fortaleceriam a nova sociedade que ele e Colin tinham formado no verão anterior. esmerald Shipping Company era a primeira empresa legítima que tinham empreendido, e estavam dispostos a fazê-la funcionar. A razão era simples de compreender. Ambos estavam cansados de viver à margem da lei. Tinham entrado na pirataria por acidente e o tinham feito bastante bem, mas já não valia a pena correr os riscos que implicava a profissão. Nathan, atuando como o infame pirata Pagam, converteu-se em uma lenda. Sua lista de inimigos cobriria um grande salão de festas. A recompensa por sua cabeça aumentara tanto que até um santo se sentiria tentado a se transformar em um traidor para obtê-la. Manter em segredo uma outra identidade era cada vez mais difícil. Seria uma questão de tempo para que o apanhassem se permanecesse com suas incursões de piratas, assim finalmente Pagam aposentou.
esmerald Shipping Company foi fundada uma semana depois de ter tomado aquela transcendental decisão. Os escritórios estavam localizadas no coração do distrito ribeirinho. Havia dois escritórios, quatro cadeiras e um só arquivo, tudo sobras de um incêndio anterior. O inquilino anterior não se incomodou em deixá-los, os móveis novos estavam ao final da lista de compras. Primeiro precisavam de navios adicionais para sua frota.
Ambos conheciam as idas e vindas da comunidade de negócios. Ambos tinham graduado na universidade de Oxford, embora como estudantes tinham sido muito diferentes. Colin nunca ia a lado nenhum sem um grupo de amigos. Nathan sempre estava sozinho. Só quando os dois homens se associaram em um jogo mortal de atividades governamentais secretas se formou um vínculo entre eles. Passou muito tempo, mais de um ano, para que Nathan começasse a confiar em Colin. Haviam arriscado suas vidas um pelo outro e por seu amado país só para que seus superiores os traíssem. Colin se surpreendeu quando conheceu a verdade. Nathan não se surpreendeu com nada. Ele sempre esperava o pior das pessoas e nunca se decepcionava. Nathan era um homem cínico por natureza e um lutador por hábito. Era um homem que desfrutava de uma boa briga e deixava que Colin limpasse a desordem.
Caine, o irmão mais velho Colin, era o conde do Cainewood. Há um ano tinha se casado com Jade, a irmã menor de Nathan, e sem saber tinha reforçado a amizade entre os dois. Colin e Nathan se transformaram em irmãos por matrimônio.
Como Nathan era marquês e Colin o irmão de um poderoso conde, convidavam-nos a todas as festas. Colin misturava-se facilmente com a classe alta, e em cada ocasião aproveitava para combinar o prazer com a tarefa de aumentar sua clientela. Nathan nunca ia a nenhuma festa, e Colin o sugeriu que provavelmente essa era a razão pela qual o convidavam. Era um fato que a sociedade não considerava Nathan um homem muito agradável. E Ele não se importava com essas opiniões, e preferia a comodidade de um bar de porto à rigidez de um salão formal.
Na aparência, os dois homens eram muito diferentes. Colin era, como gostava de distinguir de Nathan cada vez que queria lhe incomodar, o belo da sociedade. Colin era um homem atraente, com olhos amendoados e um marcado perfil aristocrático. Tinha o desagradável hábito de mater seu cabelos castanhos escuros longos, uma lembrança de seu tempo de corsário. Embora esse pequeno pecado não diminuisse a perfeição de seu rosto sem cicatrizes. Colin era quase tão alto quanto Nathan, mas de estatura muito mais magra, e tão arrogante como Brummell quando a ocasião o requeria. As damas acreditavam que era um bom rapaz. Colin tinha uma visível imperfeição devido a um acidente, mas isso parecia aumentar sua beleza.
Quanto a seu aspecto, Nathan não tinha tanta sorte. Parecia mais um guerreiro da antigüidade que um moderno Adonis. Nunca se incomodava em prender o cabelo castanho avermelhado com uma tira de couro na nuca como o fazia Colin, mas e sim o deixava cair naturalmente sobre seus ombros. Nathan era um homem muito corpulento, com ombros e coxas musculosas, e sem nada de gracioso em toda sua corpo. Tinha olhos verdes, algo que sem dúvida chamava a atenção, se as damas não estavam muito assustadas para afastar-se com um gesto rápido.
Para os estranhos, os dois amigos eram completamente opostos. Colin era considerado o santo, Nathan o pecador. Na realidade, seus modos de ser eram muito parecidos. Ambos ocultavam muito bem suas emoções. Nathan utilizava o isolamento e um temperamento rude como armas contra o compromisso. Colin utilizava a superficialidade pela mesma razão.
Na verdade, o sorriso do Colin era uma máscara tanto quanto o cenho de Nathan. Traições passadas tinham treinado bem aos dois homens.
Nenhum dos dois acreditava nas histórias de amor ou na tolice de viver felizes para sempre. Só os idiotas acreditavam nessa fantasia.
O mal humor de Nathan era muito evidente quando entrou no escritório. Encontrou Colin sem fazer nada sentado em uma poltrona de respaldo alto com os pés apoiados no batente da janela.
-Jimbo tem dois carregamentos prontos, Colin - disse Nathan, se referindo a seu comandante de bordo-. Vocês têm que fazer alguma diligencia?
-Você sabe para que são os carregamentos, Nathan. Você e eu vamos até os jardins para ver lady Sara. Esta tarde haverá muita gente. Ninguém nos verá se nos escondemos entre as árvores.
Nathan se voltou para olhar pela janela antes de responder.
-Não.
-Jimbo cuidará do escritório enquanto estivermos ausentes.
-Colin, não preciso vê-la antes desta noite.
-Maldição, primeiro precisa vê-la sim.
-Por que? -perguntou Nathan. Parecia realmente perplexo.
Colin negou com a cabeça.
-Para se preparar.
Nathan se voltou.
-Não preciso me preparar - respondeu-. Tudo está preparado. Já sei qual é a janela do seu quarto. A árvore do lado de fora sustentará meu peso, já verifiquei para saber se é seguro. Sua janela não tem fechadura, e o navio está preparado para zarpar.
-Pensou em tudo, não?
Nathan assentiu com a cabeça.
-É obvio.
-E se ela não passar pela janela? Pensou nesta possibilidade?
Esta pergunta provocou a reação que Colin queria. Nathan parecia surpreso, logo negou com a cabeça.
-É uma janela grande, Colin.
-Ela poderia ser maior.
Se Nathan sentiu desalentado ante essa possibilidade, não demonstrou.
-Então a farei rodar pela escada -disse lentamente.
Colin riu ao imaginar a cena.
-Não sente curiosidade em saber como ela é?
-Não.
-Bom, eu sim -admitiu finalmente Colin-. E como não vou com vocês na lua de mel, é razoável que satisfaça minha curiosidade antes de irem.
-É uma viagem, não uma lua de mel -replicou Nathan.- Deixe de me incomodar, Colin. Ela é uma Winchester, pelo amor de Deus, e a única razão pela qual vamos viajar é para a afastá-la de seus parentes.
-Não sei como vai suportar -disse já sem sorrir e com uma expressão de preocupação-. Deus meu! Nathan, vai ter que dormir com ela para ter um herdeiro se quiser a terra.
Antes de que Nathan pudesse comentar algo, Colin continuou:
-Não tem que acontecer. A companhia vai adiante com ou sem os recursos do contrato. Além disso, agora que o Rei George não está mais oficialmente no poder, o príncipe regente certamente ordenará a anulação do contrato. Os Winchester fizeram uma intensa campanha para que mude de idéia. Poderia dar as costas a isto.
-Não -seu tom foi enfático-. Minha assinatura está naquele contrato. Um St. James nunca quebra sua palavra.
-Não pode está falando sério -respondeu Colin-. Os homens do St. James quebram quase tudo quando estão de mau humor.
Nathan teve que concordar com essa observação.
-Sim. Apesar de tudo, Colin, eu não vou dar as costas para este assunto, como você também não aceitaria o dinheiro que seu irmão ofereceu. É uma questão de honra. Já falamos sobre isso. Já tomei uma decisão.
Apoiou-se sobre o marco da janela e suspirou profundamente.
-Não deixará de insistir até que deixe de ir, não?
-Não -respondeu Colin-. Além disso, irá contar a quantidade de tios Winchester e assim saberá contra quantos terá que brigar esta noite.
Era um argumento mesquinho, ambos sabiam.
-Ninguém vai se interpor em meu caminho Colin.
A afirmação foi feita em um tom suave e estremecedor.
-Conheço bem seus talentos especiais, querido amigo. Só espero que esta noite não haja uma matança.
-Por que?
-Detestaria perder toda a diversão.
-Então venha comigo.
-Não posso -respondeu Colin-. Um favor merece outro, recorda? Tive que prometer à duquesa que iria ao recital de sua filha, que o céu me proteja, se ela encontrou uma maneira de que lady Sara vá a sua festa esta noite.
-Ela não estará lá -respondeu Nathan
O maldito de seu pai não a deixa ir a nenhum evento.
-Ela estará lá. O conde do Winchester não se atreverá a ofender à duquesa. Ela pediu especificamente que lady Sara estivesse na festa.
-Que razão deu?
-Não tenho a menor idéia -respondeu Colin-. Acabou o tempo, Nathan.
-Maldição -depois de dizer isso Nathan se afastou da janela-. Então vamos.
Colin era rápido para tirar vantagem de sua vitória. Saiu em seguida antes de que o amigo pudesse mudar de idéia.
Enquanto atravessavam pela cidade congestionada, Colin se voltou para perguntar a Nathan:
-Não se preocupa em saber como identificaremos Sara?
-Estou seguro de que já pensou nisso-assinalou com frieza.
-Fiz -replicou Colin com tom alegre-. Minha irmã Rebecca me prometeu que estaria perto de Sara durante toda a noite. Mas também tomei minhas precauções.
Esperou um longo minuto para que Nathan perguntasse como tinha feito isso e depois continuou:
-Se Rebeca não puder cumprir com a missão, pedi a minhas outras três irmãs que estivessem preparadas para fazê-lo. Sabe, velho, poderia mostrar um pouco mais de entusiasmo.
-Esta saída é uma completa perda de tempo.
Colin não estava de acordo, mas guardou seu amigo rir.
-Deixe tudo por conta da duquesa -assinalou ao ver os músicos que se encaminhavam para a galeria de abaixo.- Contratou uma orquestra completa.

Nenhum dos dois voltou a falar até que chegaram aos jardins e deixaram de cavalgar. As árvores os ocultavam perfeitamente, embora podiam ver bem os convidados passeando pelos jardins da propriedade da duquesa.
-Maldição, Colin, sinto-me como um menino de escola. Dez minutos, Colin, e irei.
-De acordo -apaziguou Colin. Voltou para olhar seu amigo. Nathan estava franzindo o cenho-. Sabe, ela poderia ter desejado ir com você, Nathan, se houvesse...
-Está sugerindo que envie outra carta? -perguntou Nathan. Levantou uma sobrancelha ante o absurdo dessa possibilidade-. Lembra o que aconteceu da última vez que segui seu conselho, não?
-É lembro-me-respondeu Colin-. Mas as coisas poderiam ter mudado. Poderia ter havido um mal entendido Seu pai poderia...
-Um mal entendido? Enviei a nota numa quinta-feira, e era muito específica, Colin.
-Sei -disse Colin-. Lhes disse que iria buscar sua noiva na segunda-feira.
-Você pensou que teria que ter dado mais tempo para que recolhesse seus pertences? -Opinou.
Colin fez uma careta.
-Devo dizer que nunca pensei que fugiria. Ela também foi rápida, verdade?
-Sim, foi -respondeu Nathan.
-Poderia havê-la seguido.
- Por que? Meus homens a seguiram. Eu sabia onde estava e decidi deixá-la só um pouco mais.
-Um adiamento na execução, acaso?
Nathan riu.
-Ela é só uma mulher, Colin, mas sim, suponho que foi uma suspensão temporária.
-Houve mais que isso, não? Sabia que ela estaria em perigo logo que a reclamasse. Você não vai admitir , Nathan, mas a sua maneira a estava protegendo ao deixá-la sozinha. Tenho razão, certo?
-Disse que não ia admitir -replicou Nathan- por que se incomoda em perguntar?
-Que Deus ajude aos dois. O próximo ano será um inferno. Todo mundo tentará lhes matar.
Nathan encolheu os ombros.
-Eu a protegerei.
-Não duvido.
Nathan negou com a cabeça.
-Ela comprou uma passagem em um dos nossos navios para fugir de mim. Isso ainda me irrita. É uma ironia, não acha?
-Na realidade, não -respondeu Colin-. Ela não podia saber que é o dono do navio. Você insistiu se manter um sócio em segredo na companhia, recorda?
-De outra maneira não teríamos clientes. Sabe bem que os homens do St. James não são bem vistos.-a careta que fez indicou a seu amigo que esse opinião não o incomodava, ao contrário.
-Ainda me parece estranho -assinalou Colin. Fez que seus homens seguissem lady Sara, e também que cuidassem deçla, entretanto não se incomodou em perguntar como ela era.
- Você tampouco perguntou -replicou Nathan.
Colin encolheu os ombros. Voltou a olhar para os convidados que estavam nos jardins.
-Suponho que pensei que tinha decidido que o contrato não valia a pena o sacrifício. Por que apesar de tudo, ela... -perdeu completamente o fio de seu pensamento ao ver que sua irmã se dirigia para eles. Outra mulher caminhava junto dela-. Ali está Becca. Se a ela movesse um pouco mais para a esquerda... -Não terminou a observação. O suspiro de Colin encheu o ar-. Meu Deus... Essa é lady Sara?
Nathan não respondeu. Na verdade, não sabia se podia falar naquele momento. Sua mente estava completamente concentrada na visão que tinha diante dele.
Era encantadora. Nathan teve que sacudir a cabeça. Não, pensou, ela não podia ser sua noiva. A dama gentil que estava sorrindo timidamente para Rebecca era muito bonita, muito feminina e muito magra para pertencer ao clã Winchester.
E entretanto, havia algo parecido com aquela menina de quatro anos que tinha sustentado em seus braços, algo indefinível que indicava que ela era lady Sara.
Já não tinha aqueles cachos cor mel. Tinha o cabelo comprido até os ombros, ainda encaracolado, mas de cor castanha escura. Sua pele parecia macia da distância que os separava, e Nathan se perguntava se ainda teria o nariz cheio de sardas.
Tinha uma altura normal, levando em conta que olhava nos olhos da irmã mais nova de Colin. Entretanto, sua figura não tinha nada de especial. Era arredondada nos lugares certos.
-Olha como se aproximam os abutres -anunciou Colin-. Parecem tubarões rodeando sua presa. Sua esposa parece ser o alvo, Nathan adicionou-. Caramba, normalmente pensaríamos que teriam a decência de deixar em paz uma mulher casada. Mas não posso culpá-los. Meu Deus, Nathan, é magnífica.
Nathan estava ocupado observando os homens ansiosos que foram atrás de sua noiva. Sentia um desejo incontrolável de apagar os afetados sorrisos de seus rostos. Como se atreviam a tentar tocar o que lhe pertencia?
Sacudiu a cabeça ante sua ilógica reação por sua noiva.
-Ali vem seu encantador sogro -anunciou Colin- Deus, não tinha notado quão encurvadas tem as pernas. Olhe como a segue -continuou-. Não está disposto a perder de vista seu baú do tesouro.
Nathan respirou profundamente.
-Vamos, Colin. Já vi suficiente.
Sua voz não demonstrava nenhuma emoção. Colin se voltou para lhe olhar.
-E bem?
-E bem o que?
-Maldição, Nathan, diga-me o que pensa.
-Sobre o que?
-Lady Sara -Insistiu Colin-. O que pensa
-A verdade, Colin?
Seu amigo assentiu rapidamente com a cabeça.
Nathan sorriu lentamente.
-Ela passará pela janela.




Capítulo 2

O tempo se esgotava
Sara teria que sair da Inglaterra. Provavelmente todos pensariam que tinha fugido outra vez. Ela supunha que começariam a chamá-la de covarde, e embora essa calúnia lhe doesse, estava decidida a continuar com seus planos. Sara simplesmente não tinha outra opção. Já tinha enviado duas cartas ao marquês de St. James pedindo sua ajuda, mas o homem com quem estava legalmente casada não se incomodou em lhe responder. Não se atreveu a tentar contato com ele novamente. Simplesmente, já não tinha mais tempo. O futuro de sua tia Nora estava em jogo, e Sara era única que podia salvá-la.
Se os membros da sociedade quisessem acreditar que estava fugindo do contrato matrimonial que acreditassem.
Nada saía como Sara imaginava. Na primavera anterior, quando sua mãe lhe pediu para ir até a ilha de Nora para ver como ela estava, Sara foi imediatamente. Sua mãe não recebeu nenhuma carta de sua irmã durante mais de quatro meses, e a preocupação por sua saúde começou a preocupa-la. Na verdade, Sara estava tão preocupada com a saúde de sua mãe como a de sua tia. Algo andava mau. Sua tia não tinha o costume de esquecer-se de escrever. Não, o pacote de cartas mensais era tão seguro e inevitável quanto a chuva dos pic nic anuais dos Winchester.
Sara e sua mãe concordavam que nenhuma das duas revelaria a verdadeira razão que havia atrás de sua repentina partida. Diriam que Sara ia visitar sua irmã mais velha Lillian, que vivia nas colônias da América, com seu marido e seu filho.
Sara pensou em dizer a verdade a seu pai, mas logo descartou essa idéia. Embora ele fosse o mais razoável dos irmãos, mesmo assim era um Winchester. Nora não lhe agradava mais que a seus irmãos, embora por respeito a sua esposa não era tão duro em suas opiniões.
Os homens da família Winchester tinham dado as costas a Nora quando se casou com alguém que não era de seu agrado. O casamento tinha acontecido há quatorze anos, mas os Winchester não esqueciam facilmente. Punham grande ênfase na expressão "olho por olho". A revanche era tão sagrada para eles como os mandamentos para os bispos, mesmo que a falta fosse tão leve como um mês de dificuldades públicas. Não só nunca esqueceriam sua humilhação, mas também tampouco a perdoariam.
Sara deveria ter compreendido. De outro modo nunca teria permitido que Nora a tivesse ido visitar. Realmente acreditava que o tempo tinha suavizado as atitudes de seus tios. A triste verdade era justamente o contrário. Não foi um feliz encontro entre as irmãs. A mãe da Sara nem sequer pôde falar com Nora. Na realidade, ninguém o fez, e Nora simplesmente desapareceu uma hora depois de que ela e Sara tinham descido do navio.
Sara estava quase enlouquecida pela preocupação. Finalmente, tinha chegado o momento de pôr em ação seu plano, e tinha os nervos destroçados. Seu medo se converteu em algo quase tangível, que apurava sua determinação. Ela estava acostumada a deixar que outros cuidassem dela, mas o sapato estava no pé equivocado, como Nora gostava de dizer, e Sara precisava se encarregar do assunto. A vida da Nora dependia de seu êxito.
A horrenda simulação que Sara tinha tido que suportar durante duas semanas se converteu em um pesadelo. Cada vez que ouvia o repicar dos sinos da porta estava segura de que eram as autoridades que vinham informar que tinham encontrado o corpo da Nora. Finalmente, quando acreditou que já não poderia tolerar a preocupação nem um minuto mais, seu fiel servente Nicholas descobriu onde seus tios tinham escondido a tia Nora. A amável mulher tinha sido presa no apartamento de cobertura da casa da cidade de seu tio Henry até que se fizessem todos os acertos com a Corte para a tutela. Logo a enviariam ao asilo mais próximo e dividiriam sua herança entre os homens da família.
"Malditas sanguessugas", murmurou Sara. Sua mão tremia quando fechou sua mala. Pensou que era irritação e não medo o que o fazia tremer assim. Cada vez que pensava no terror que devia estar suportando sua tia se enfurecia até mais.
Respirou profundamente para tranqüilizar-se enquanto levava sua mala até a janela aberta. Atirou-a lá embaixo e disse ao criado: "É a última, Nicholas. Se apresse antes de que a família retorne. Boa sorte, amigo."
O criado recolheu a última mala e correu até a carruagem que estava esperando. Sara fechou a janela, apagou a vela e se deitou.
Já era quase a meia-noite quando seus pais e sua irmã Belinda retornaram de sua saída, Quando Sara ouviu os passos no corredor ficou de barriga para baixo, fechou os olhos e fingiu que estava dormindo. Um momento depois escutou o barulho da porta se abrindo e soube que seu pai estava verificando se sua filha estava onde se supunha que devia estar. Pareceu que tinha passado uma eternidade até Sara escutar a porta voltava a fechar.
Sara esperou outros vinte minutos para que a casa se aquietasse. Logo se levantou e tirou de debaixo da cama seus pertences. Tinha que passar desapercebida em sua viagem. Como não tinha nada negro vestiu seu vestido de passeio azul escuro. O decote era um pouco pronunciado, mas não tinha tempo para preocupar-se com esse problema. Além disso, sua capa ocultaria esse defeito. Estava muito nervosa para trançar o cabelo, assim o prendeu na nuca com um coque para que não incomodasse.
Depois de colocar a carta que tinha escrito a sua mãe sobre o penteadeira, envolveu sua sombrinha, suas luvas brancas e sua bolsa na capa. Passou pela janela e subiu no parapeito.
O galho o qual teria que se apoiar estava a sessenta centímetros, mas um metro debaixo dela. Sara rezou uma rápida prece enquanto se aproximava mais da beirada. Ficou ali sentada por um longo momento até que se animou a saltar.
Nathan não podia acreditar no que estava vendo. Ia subir pela gigantesca árvore quando a janela se abriu e começaram a cair vários artigos de mulher. A sombrinha o golpeou no ombro. Esquivou das outras coisas e se ocultou mais nas sombras. A lua brindou com luz suficiente para ver Sara quando se aproximou da beirada da janela. Estava a ponto de gritar, seguro de que quebraria o pescoço, quando ela saltou. Ele se adiantou para tentar alcançá-la.
Sara se sustentou em um ramo grosso, rezou outra prece para evitar gritar. Logo esperou até deixar de balançar para frente e para trás com tanta violência e deslizou lentamente pelo tronco.
-Oh, Deus, Oh, Deus, Oh, Deus -repetiu enquanto descia. O vestido se enganchou em outro ramo, e quando por fim chegou ao chão já tinha subido até a cabeça. Ajeitou o tecido e suspirou aliviada.
-Tudo bem-murmurou-. Não foi tão terrível assim.
Meu Deus, pensou, estava começando a mentir para si mesmo. Ajoelhou-se no chão, recolheu seus pertences, e perdeu preciosos minutos colocando as luvas brancas. Demorou um pouco mais para sacudir a poeira da capa. Depois de colocá-la sobre os ombros, desatou as cordas da bolsa, colocou as tiras ao redor de seu pulso, a sombrinha debaixo do braço, e finalmente se dirigiu para a frente da casa.
Deteve-se abruptamente segura de ter ouvido um ruído atrás dela. Entretanto, quando se voltou não viu mais que árvores e sombras. Pensou que sua imaginação a estava enganado. Provavelmente tinha sido apenas o ruído de seus batimentos cardíacos.
-Onde está Nicholas? -murmurou um pouco mais tarde. Supunha-se que o criado teria que estar esperando-a nas sombras, perto da escada de entrada. Nicholas tinha prometido escoltá-la até a casa de seu tio Henry Winchester. Algo deveria ter acontecido para se atrasar, pensou Sara.
Passaram outros dez minutos antes que Sara aceitasse o fato de que Nicholas não retornaria para procurá-la. Não se atrevia a esperar mais. Corria o risco de averiguassem que tinha saído. Desde que seu pai tinha retornado a Londres há duas semanas, tinha adquirido o hábito de ver se ela estava durante a noite. Haveria um grande escândalo quando averiguasse que tinha fugido outra vez. Sara tremia de só pensar nas conseqüências.
Estava completamente sozinha. Esta convicção voltou a acelerar os batimentos do coração. Ergueu os ombros e se dirigiu para seu destino.
A casa de tio Henry ficava a três quarterões. Não demoraria muito em caminhar até ali. Além disso, era meia noite e certamente as ruas estariam desertas. Os vilãos também precisavam descansar, não? Era o que esperava.
Chegaria bem, pensou enquanto se apressava pela rua. Se alguém tentasse assaltá-la, usaria sua sombrinha como arma para defender-se. Estava decidida a chegar até onde fosse necessário para evitar que sua tia Nora tivesse que passar outra noite sob a sádica supervisão de seu tio Henry.
Sara correu como um relâmpago ao longo de toda a primeira rua. Uma espetada no flanco a obrigou a caminhar mais devagar. Tranqüilizou-se um pouco ao ver que estava segura. Ao que parecia, essa noite não havia ninguém mais nas ruas. Sara sorriu ante essa bênção.
Nathan a seguiu. Desejava satisfazer sua curiosidade antes de pegar sua noiva e colocá-la sobre seu ombro para dirigir-se ao cais. Em um espaço de sua mente tinha o irritante pensamento de que possivelmente estava tentando fugir dele outra vez. Descartou-o como algo tolo, já que ela não podia conhecer seu plano de raptá-la.
Aonde ia?, perguntava-se enquanto tratava de segui-la.
Ela tinha iniciativa. Isto lhe pareceu surpreendente já que era uma Winchester. Entretanto, já lhe tinha dado uma amostra de verdadeira valentia.
Ouviu-a gritar de medo quando pulou da beirada da janela. Logo ficou agarrada no galho e rezou em voz baixa enquanto descia, o que lhe fez sorrir. Quando estava naquela indecorosa posição viu as longas e bem formadas pernas, e teve que conter-se para não rir.

Era evidente que Sara ainda não tinha percebido a presença do Nathan. Ele não podia acreditar na sua inocência. Se tivesse tido a preocupação de olhar para trás uma única vez o teria visto.
Mas ela não o fez. Sua noiva virou na primeira esquina, passou rapidamente por um beco escuro, e logo voltou a diminuir seu passo.
Não tinha passado inadvertida. Dois homens corpulentos, com suas armas preparadas, deslizaram-se de seu lar temporário como serpentes. Nathan ia atrás deles. Assegurou-se de que lhe ouvissem quando se aproximava, logo esperou até que se voltassem para encará-los antes de lhes golpear as cabeças.
Nathan voltou a jogá-los no beco, enquanto continuava observando Sara. Pensou que a forma que sua noiva caminhava pela rua devia ser proscrita. O balanço de seus quadris era muito tentador. Então viu outro movimento entre as sombras. Correu para salvar Sara mais uma vez mais. Ela girou na segunda esquina quando Nathan golpeou com o punho na mandíbula de seu segundo possível atacante.
Teve que voltar a intervir para salvá-la antes de que ela chegasse a seu destino. Nathan supôs que ia visitar seu tio Henry Winchester quando ela se deteve na entrada de sua residência e observou as janelas escuras durante um longo momento.
Nathan achava que Henry era o mais desprezível de todos os familiares de Sara e não encontrava uma só razão lógica pela qual ela iria querer ver o bastardo.
Ela não estava ali de visita. Nathan chegou a essa conclusão quando se dirigiu para os fundos da casa. Seguiu-a, e depois ficou apoiado contra a porta lateral para manter afastados outros intrusos. Cruzou os braços sobre o peito e relaxou sua postura enquanto a observava lutar para abrir caminho entre os arbustos e assim poder entrar na casa por uma janela.
Era o roubo mais inepto que já tinha observado.
Sara demorou dez minutos para abrir a janela. Entretanto, essa simples atividade foi uma curta vitória. Estava a ponto de subir no beiral quando rasgou a prega do vestido. Nathan a escutou exclamar aborrecida e depois observou que se voltava para olhar o vestido. A janela voltou a fechar enquanto Sara lamentava o dano.
Nathan pensou que se ela tivesse agulha e linha à mão teria sentado se perto dos arbustos para costurar o vestido.
Finalmente, retornou a seu objetivo. Ela pensou que era muito ardilosa quando utilizou a sombrinha para abrir a janela. Ajustou as tiras de sua bolsa a seu pulso antes de saltar para chegar até a janela. Teve que fazê-lo três vezes antes de obter êxito. Entrar por uma janela era mais difícil que sair. Quando por fim conseguiu entrar não o fez com muita graça. Nathan ouviu um golpe forte e pensou que sua noiva tinha caído sobre sua cabeça ou traseiro. Esperou um ou dois minutos e em seguida subiu silenciosamente atrás dela.

Nathan se adaptou à escuridão rapidamente. Entretanto, Sara não o fez tão rápido. Ouviu um ruído que parecia vidro quebrado, seguido por uma interjeição muito pouco feminina.
Ela era muito ruidosa. Nathan dirigiu-se ao salão de entrada e viu que Sara subia pela escada para o primeiro piso.
Então Nathan viu um homem alto e magro como uma tábua e imaginou ser um dos criados. O homem tinha um aspecto ridículo. Usava uma longa camisola de dormir branca até os joelhos, um candelabro esculpido em uma mão e um grande pedaço de pão na outra. O criado levantou o candelabro sobre sua cabeça e começou a subir atrás da Sara. Nathan lhe tocou a parte traseira do pescoço, estendeu a mão para tomar o candelabro de maneira que não fizesse ruído quando caísse ao chão, e logo arrastou-o até uma quarto escuro que se encontrava junto à escada. Permaneceu junto à figura encolhida durante um longo minuto enquanto escutava todos os barulhos provindos cima.
Sara nunca seria uma boa assaltante. Escutou os ruídos das portas que se fechavam e soube que sua noiva era quem as golpeava. Ia despertar um morto se não se tranqüilizasse um pouco. E o que era que procurava?
Um grito rasgou o ar. Nathan suspirou aborrecido. Dirigiu-se para a escada para voltar a salvar à tola mulher, mas se deteve quando ela apareceu no patamar. Não estava sozinha. Nathan retrocedeu por volta da quarto e esperou.
Compreendeu a razão de todas suas moléstias. Sara sustentava pelos ombros encurvados uma outra mulher e a estava ajudando a descer pela escada. Não podia ver o rosto da outra mulher, mas por seu andar lento e vacilante podia afirmar que estava muito fraca ou dolorida.
-Por favor, não grite, Nora -sussurrou Sara. Tudo vai sair bem agora. Eu vou cuidar de você.
Quando as duas chegaram ao salão de entrada, Sara tirou a capa e a colocou à mulher sobre os ombros, logo se inclinou para beijá-la na fronte.
-Eu sabia que viria por mim, Sara. Nunca duvidei. Sabia que encontraria uma forma de me ajudar.
A voz da Nora falhou de emoção. Secou-se os olhos com a mão. Nathan observou os hematomas escuros nos pulsos. Reconheceu as marcas. Obviamente, a anciã tinha estado amarrada.
Sara estendeu as mãos para arrumar os cachos do cabelo de sua tia.
-É obvio que sabia que viria por você -sussurrou Sara-. Te amo, tia Nora. Não permitirei que aconteça nada com você. Já está tudo bem -adicionou com um tom mais alegre-, Já tem o cabelo arrumado outra vez.
Nora tomou a mão a Sara.
-O que eu faria sem você, menina?
-Essa é uma preocupação tola -respondeu Sara, com um tom de voz tranqüilo, pois sabia que sua tia estava a ponto de perder o controle. Na realidade, Sara estava nas mesmas condições.

Quando viu os hematomas no rosto e nos braços de sua tia tinha sentido vontade de chorar.
-Retornou a Inglaterra porque eu lhe pedi-recordou Sara-. Pensei que seria um feliz encontro com sua irmã, mas estava enganada. Esta atrocidade é minha culpa, Nora. Além disso, deve saber que sempre poderá contar comigo.
-É uma menina adorável -respondeu Nora.
A Sara tremia a mão quando tratou de abrir a porta.
-Como me encontrou? -perguntou-lhe Nora atrás dela.
-Agora não importa -lhe respondeu Sara, e abriu a porta-. Já teremos todo o tempo do mundo para conversar depois de subirmos ao navio. A levarei de volta a casa, Nora.
-Oh, ainda não me posso sair de Londres.
Sara voltou para observá-la.
-Ao que se refere quando diz que ainda não pode partir de Londres? Tudo está acertado, Nora. Comprei as passagens com minhas últimas reservas. Por favor, não me diga que não com sua cabeça. Não é o momento de se fazer difícil. Temos que ir esta noite. Sua permanência aqui é muito perigosa.
-Henry pegou meu anel de casamento - explicou Nora. Voltou a negar com a cabeça. O coque prateado que tinha sobre a cabeça se inclinou imediatamente para um lado-. Não sairei da Inglaterra sem ele. Meu Johnny, Deus guarde sua alma, ordenou-me que não o tirasse quando nos casamos há quatorze anos. Não posso ir para casa sem meu anel, Sara. É muito valioso para mim.
-Sim, devemos encontrá-lo -respondeu Sara ao ver que sua tia começava a soluçar outra vez. Também estava preocupada com a respiração difícil da mulher-. Tem idéia de onde tio Henry poderia tê-lo escondido?
-Essa é a verdadeira blasfêmia -respondeu Nora. apoiou-se sobre o corrimão da escada para aliviar a dor de seu peito, e logo respondeu:- Henry não se incomodou em escondê-lo. Usa-o no dedo mindinho. O usa como um troféu. Se pudermos saber onde seu tio está bebendo esta noite poderemos recuperá-lo.
Sara assentiu com a cabeça. Começou seu estômago começou a doer ao pensar no que teria que fazer.
-Eu sei onde está. Nicholas o esteve seguindo. Pode caminhar até a esquina? Não me atrevi a ordenar que a carruagem esperasse na porta por temor que o tio Henry retornasse mais cedo para casa.
-É obvio que posso caminhar, Sara -respondeu Nora. afastou-se do corrimão. Seu andar era rígido enquanto se dirigia lentamente para a porta-. Deus do Céu, se sua mãe pudesse vê-la agora, morreria de vergonha. Vou dar um passeio a meia-noite de camisola e com uma capa emprestada.
Sara sorriu.
-Mas não vamos contar a ela, não é verdade?, -emitiu um som entrecortado ao ver que sua tia fazia um gesto de dor-. Está sentindo dores, não está?
-Bobagem -respondeu Nora-. Já me sinto melhor. Vamos -ordenou com um tom mais enérgico-, Não devemos demorar aqui, menina -agarrou do corrimão e começou a descer-. Será preciso mais que um Winchester para terminar comigo.
Sara começou a fechar a porta, mas logo mudou de idéia.
-Acredito que deveria deixar a porta bem aberta para que alguém entrasse e tomasse as posses do tio Henry. Embora não seja muito provável - adicionou-. Ao que parece esta noite não há ladrões nas ruas. Quando vinha caminhando para cá não vi nenhum.
-Meu deus, Sara, Veio caminhando? -perguntou-lhe a tia Nora realmente horrorizada.
-Sim -lhe respondeu Sara, com um pouco de tolerância na voz-. Mantive a guarda alta, é obvio, assim pode deixar de franzir o cenho. Tampouco tive que usar minha sombrinha para me defender de alguém com más intenções. Oh, Deus, deixei minha linda sombrinha na janela.
- Deixe-a - ordenou sua tia ao ver que Sara voltava a subir pela escada de entrada-. Se ficarmos mais tempo aqui estaremos arriscando nossa sorte. Agora, me dê seu braço, querida. Sustentarei-me em você enquanto dou este pequeno passeio. Realmente veio caminhando até aqui, Sara?
Sara riu.
-Para falar a verdade, acredito que corri a maior parte do caminho. Estava muito assustada, Nora, mas fiz o trajeto sem contratempos. Sabe, acredito que todos os comentários sobre a insegurança de nossas ruas são um exagero.
As duas damas deram os braços se afastaram pela escura e estreita rua. A risada de Sara as seguia. A carruagem as estava esperando na esquina. Sara estava ajudando sua tia para que subisse no veículo quando apareceu um assaltante. Nathan interveio colocando-se simplesmente à luz do luar. O homem o olhou e voltou a ocultar-se nas sombras.
Nathan pensou que a anciã o tinha visto, pois olhou sobre seu ombro quando ele se adiantou, mas decidiu que sua vista devia estar nublada pela idade, já que se voltou sem dizer nada a sua sobrinha.
Sara não tinha percebido sua presença, pois mantinha uma acalorada discussão com o condutor sobre o preço da viagem, até que finalmente consentiu em pagar a exorbitante soma e subiu ao veículo. A carruagem já tinha partido quando Nathan saiu do corrimão e subiu na parte traseira. O veículo balançou pelo aumento de peso antes de tomar velocidade outra vez.
Certamente, Sara estava facilitando seu rapto. Nathan a tinha escutado dizer a sua tia que iriam para Londres de navio. portanto supôs que seu destino seria fácil. Então a carruagem girou em uma das ruas laterais próxima à ribeira e se deteve abruptamente frente a um dos botequins mais conhecidos da cidade.
Ela atrás do maldito anel de matrimônio, pensou Nathan irritado. Nathan saltou da carruagem E se colocou na luz pois queria que os homens que estavam na frente do botequim o vissem bem. Separou as pernas para brigar, colocou a mão direita sobre o látego que tinha ao cinturão, e franziu o cenho.
O grupo percebeu sua presença. Três dos menores retornaram ao botequim. Os outros quatro se apoiaram sobre a parede de pedra e olharam para o chão.
O condutor desceu, recebeu ordens e entrou rapidamente no botequim. Retornou um minuto depois, murmurando que teria que receber mais dinheiro por todos os problemas que tinha que suportar, e retornou a seu assento.
Passaram uns minutos mais e a porta do botequim voltou a abrir. Saiu um homem com rosto anti-social e um grande abdômen. Usava uma roupa enrugada, suja e muito usada. O estranho tirou o cabelo gordurento da testa em um lamentável intento para arrumar-se enquanto se aproximava com arrogância da carruagem.
-Meu amo, Henry Winchester, está muito bêbado para sair -anunciou-. Vamos a esta parte da cidade quando queremos que ninguém saiba - adicionou- Vim em seu lugar, senhora. Seu chofer disse que uma mulher precisava de algo, e acredito que sou o homem que precisa.
O desagradável sujeito tocou na virilha enquanto esperava a resposta a seu oferecimento.
O aroma fedido do homem entrou pelo guichê. Sara quase desmaiou. Colocou o lenço perfumado no nariz, voltou-se para sua tia e lhe sussurrou:
-Conhece este homem? -É obvio que sim -respondeu sua tia-. Seu nome é Clifford Duggan, Sara, e é o que ajudou a seu tio.
-Golpeou-lhe?
-Sim, querida, -respondeu Nora-. Em realidade, várias vezes.
O criado em questão não podia ver o interior escuro da carruagem. Inclinou-se para diante para ver melhor a sua presa.
Nathan se aproximou da lateral da carruagem. Sua intenção era destroçar o homem por ter atrevido a olhar lascivamente para sua noiva. Deteve-se ao ver que um punho com luva branca voava através do guichê e golpeava ruidosamente o nariz do homem.
Clifford não estava preparado para o ataque. Emitiu um grito de dor, cambaleou para trás e caiu de joelhos. Enquanto dizia uma maldição atrás de outra, tratou de ficar diligentemente de pé.
Sara aproveitou sua vantagem. Abriu com violência a porta da carruagem e golpeou o vilão no meio de seu corpo. O criado quase deu um salto mortal antes de cair na sarjeta de costas.
Os homens que estavam apoiados contra a parede gritaram em sinal de avaliação pelo espetáculo que estavam observando. Sara ignorou seu público enquanto descia da carruagem. Voltou-se para entregar a bolsa a sua tia, tirou as luvas e também as entregou pelo guichê, e finalmente, dirigiu-se ao homem que estava esparramado no chão.
Estava muito enfurecida para preocupar-se. Colocou-se sobre sua vítima. Tremia a voz de fúria quando disse:
-Se alguma vez voltar a maltratar uma dama, Clifford Duggan, juro, por Deus que terá uma morte lenta e agonizante.
-Nunca maltratei a uma dama -se queixou Clifford. Estava tratando de recuperar o fôlego para equilibrar-se sobre ela-. Como sabe meu nome?
Nora apareceu pelo guichê.
-É um grande mentiroso, Clifford -gritou-. Vai queimar no inferno por seus pecados.
Clifford abriu grandes os olhos.
-Como saiu...?
Sara interrompeu a pergunta lhe dando um chute. Ele voltou a olhar com uma expressão insolente.
-Acredita que tem força para me machucar? -perguntou com um gesto depreciativo. Olhou para os homens que estavam apoiados contra a parede. Na realidade, o criado estava mais humilhado que ferido pelo ataque da Sara. As risadas eram mais hilariantes que a bofetada-. A única razão pela qual não respondo é porque meu amo irá querer te dar uma boa surra antes de entregá-la a mim.
-Tem idéia do problema em que está metido, Clifford? -perguntou-lhe Sara-. Meu marido vai se inteirar desta atrocidade, e ele sim se desforrará. Todo mundo teme o marquês do St. James, inclusive os porcos ignorantes como você, Clifford. Quando eu contar o que fez, Ele lhe fará o mesmo. O marquês faz o que peço -se deteve para estalar os dedos-. OH, vejo que consegui monopolizar toda sua atenção com essa promessa -adicionou assentindo com a cabeça ao ver que Clifford tinha mudado sua expressão. O homem parecia aterrorizado. Já não tentava ficar de pé mas sim se arrastava para trás sobre seu traseiro.
Sara estava confiante em si mesma. Não tinha dado conta de que Clifford tinha visto o gigante que estava a três metros atrás dela. Pensou que tinha atemorizado o servente mencionando a St. James.
-Um homem que golpeia a uma dama é um covarde -anunciou - Meu marido mata os covardes como se fossem mosquitos. E se tiver alguma dúvida, lembre-se que ele é um St. James.
-Sara, querida -a chamou Nora- Quer que eu a acompanhe até lá dentro?
Sara não deixou de olhar a Clifford quando respondeu sua tia.
-Não, Nora. Não está vestida para esta ocasião. Não demorarei.
-Então, depressa - gritou Nora-. Se não vai pegar um resfriado, querida.
Nora continuou inclinada no guichê, embora seu olhar estivesse dirigido para Nathan. A saudou assentindo energicamente com a cabeça e voltou a observar sua noiva.
Nora percebeu rapidamente como o homem corpulento mantinha os homens afastados. Seu tamanho era intimidador. Não demorou em se dar conta de que estava protegendo Sara. Nora pensou em avisar sua sobrinha, mas logo descartou a idéia. Sara tinha problemas suficientes para se preocupar. Esperaria para mencionar seu salvador, quando terminasse com sua importante missão.
Nathan mantinha sua atenção em Sara. Certamente, sua noiva era cheia de surpresas. Custava-lhe aceitá-lo. Tinha visto quanto covardes eram os Winchester. Os homens da família sempre faziam seus trabalhos sujos na escuridão ou quando um homem dava as costas. Entretanto, Sara não estava atuando como uma Winchester. Atuava com valentia para defender à anciã. E estava furiosa.
Nathan pensou que não se surpreenderia se ela tivesse uma pistola e atirasse em sua vítima entre os olhos. Estava terrivelmente zangada.
Sara passou pelo criado, deteve-se para o olhar bem, e logo entrou rapidamente no botequim.
Nathan se aproximou imediatamente de Clifford. Puxou-lhe, levantando no ar e logo o jogou contra a parede de pedra.
O público se dispersou como se fossem ratos para evitar que os golpeasse. Clifford bateu contra a parede e caiu desacordado.
-Bom homem? -chamou Nora-. Acredito que seria melhor entrar. Minha Sara precisará outra vez de sua ajuda.
Nathan voltou para olhar com o cenho franzido à mulher que se atrevia a lhe dar uma ordem. Então os assobios e as risadas provenientes do interior do botequim monopolizaram sua atenção.
Com um grunhido de frustração pelo que considerava uma inconveniência desenrolou seu látego e se dirigiu para a porta.
Sara localizou seu tio, que estava curvado sobre sua cerveja em uma mesa redonda, no centro do estabelecimento. Abriu caminho entre a multidão de homens para chegar até ele. Pensou que utilizaria a vergonha e a razão para recuperar o anel da tia Nora. Entretanto, quando viu o anel de prata em seu dedo sua mente ficou vazia de todo argumento razoável. Havia uma taça cheia de cerveja negra sobre a mesa. E antes de poder conter-se, Sara pegou a taça e a esvaziou na cabeça calva de seu tio.
Ele estava muito bêbado para reagir rapidamente. Gritou, arrotou e logo tratou de ficar em pé. Sara tinha tirado o anel do seu dedo antes que pudesse detê-la.
Demorou bastante para olhá-la. Sara colocou o anel no dedo enquanto esperava.
-Meu Deus... Sara? O que está fazendo aqui? Acontece algo errado? -o tio Henry balbuciou as perguntas com ostentação. O esforço custou a pouca força que restava. Voltou a sentar e a olhou com os olhos injetados de sangue. Henry se deu conta de que a taça estava vazia-. Onde está minha cerveja? -gritou ao taberneiro.
Sara estava completamente desgostosa com seu tio. Embora acreditasse que logo não ira recordar nenhuma palavra de seu sermão, estava decidida a dizer o que pensava de sua conduta pecaminosa.
- Se acontece algo? -repetiu sua pergunta com tom de brincadeira-. É desprezível, tio Henry Se meu pai souber o que você e seus irmãos estavam fazendo à tia Nora, estou certa que chamaria às autoridades e o levaria à forca.
-O que está dizendo? -perguntou-lhe Henry. Esfregou a testa enquanto tratava de concentrar-se na conversa-. Nora? Está gritando comigo, por essa mulher imprestável?
Antes que Sara pudesse responder a essa vergonhosa observação, ele continuou:
-Seu pai estava informado do plano desde o princípio. Nora é muito velha para cuidar de si mesmo. Nós sabemos o que é o melhor para ela. Não tente fazer uma cena comigo, menina, pois não lhe direi onde ela está.
-Vocês não sabem o que é melhor para ela -gritou Sara-. O que você quer é sua herança, e essa é a verdadeira razão. Todo mundo em Londres conhece suas dívidas de jogo, tio. Encontrou uma forma fácil de pagar, não é? Levariam Nora para um asilo, não é assim?
Henry olhava alternadamente para sua taça de cerveja vazia e a expressão violenta de sua sobrinha. Finalmente, compreendeu que ela tinha derrubado a cerveja em sua cabeça. Tocou o colarinho da camisa para assegurar-se e quando sentiu a umidade pegajosa ficou lívido. Necessitava de outra cerveja desesperada mente.
-Vamos afastar à bruxa, e não pode fazer nada a respeito. Agora vá para a casa antes que eu bata em seu traseiro.
Sara ouviu uma risada atrás dela, voltou-se olhou para um paroquiano.
-Beba seu refresco, senhor, e não se meta nisto -só voltou a olhar para seu tio depois de que o estranho baixou o olhar para sua taça-. Está mentindo sobre meu pai. Ele nunca participaria de uma crueldade dessas. E quanto a me bater, faça e terá que sofrer a ira de meu marido. Eu contarei -ameaçou assentindo com a cabeça.
Sara esperava que sua ameaça vazia sobre os métodos de represália de seu marido tivessem o mesmo êxito que tinha tido com o criado Clifford.
Era uma esperança vã. Henry não se intimidou nada.
-Está tão louca como Nora se acredita que um St. James sairia em sua defesa. Olhe, Sara, poderia espancá-la e ninguém se importaria, muito menos seu marido.
Sara se manteve firme. Estava decidida a obter a promessa de seu tio de deixar Nora em paz antes de retirar-se do fedido bar. Temia que ele ou algum de seus irmãos enviasse alguém para segui-la a traze-la de volta para a Inglaterra. A herança do patrimônio do pai de Nora era importante o suficientemente para que valesse a pena o esforço.
Estava tão exasperada com seu tio que não percebeu que alguns dos homens do bar estavam se aproximando lentamente para perto dela. Nathan sim, percebeu.
Um dos homens que parecia o líder do grupo lambeu os lábios antecipando-se o bocado que acreditava que logo devoraria.
Sara compreendeu repentinamente a futilidade de seu plano.
-Sabe, tio Henry, estava pensando em algo que o fizesse prometer deixar Tia Nora em paz, mas compreendo agora que é uma tolice. Só um homem de honra cumpriria com sua promessa. Você é um porco para cumprir com sua palavra.
Seu tio estendeu a mão para esbofeteá-la. Sara esquivou facilmente. Deixou de retroceder quando se chocou contra algo bastante sólido, voltou-se e viu que estava rodeada por vários homens de aspecto desagradável. Imediatamente percebeu que todos precisavam de um bom banho.
Todos estavam tão deslumbrados pela bela dama que não perceberam a presença de Nathan. Estavam muito ansiosos para ser precavidos. Um momento depois compreenderam seu engano. Nathan se apoiou contra a porta fechada e esperou a primeira provocação.
Produziu-se com a velocidade de um raio. Quando o primeiro infiel tocou no braço de Sara, Nathan rugiu enfurecido. O som foi profundo, gutural, ensurdecedor. E também efetivo. No botequim todos ficaram parados... Todos exceto Sara. Ela saltou e girou em direção ao som.
Teria gritado se não tivesse fechado a garganta. Realmente custava respirar. Quando viu o enorme homem apoiado na porta, tremor tomou conta dos joelhos e teve que se sustentar na mesa para não cair. O coração acelerava dentro do peito e tinha a sensação de que morreria de medo.
O que era ele? Não, que não, corrigiu-se, a não ser quem. Ele era um homem... sim, um homem... mas o maior, o de aspecto mais perigoso, o mais... OH Deus, estava-a olhando fixamente.
Chamou-a com um dedo.
Ela negou com a cabeça.
Ele assentiu com a cabeça.
Todo o lugar começou a dar voltas. Sara teria que voltar a confiar em seu intuito. Tratou desesperadamente de encontrar algo no gigante que não fosse tão aterrador. Então percebeu que alguém a estava tocando no braço. Sem deixar de olha-lo tirou a mão de seu braço, com uma palmada.
O gigante parecia limpo. Isso já era o bastante. Seu cabelo também parecia limpo. Era de cor bronze escuro, tão bronzeado como seu rosto e seus braços. Deus santo, pensou, seus braços e seus ombros eram tão... musculosos. Também suas coxas. A calça ajustada marcava a arma que levava. Mas era uma calça limpa. Geralmente, os vilãos levam calças enrugadas e fedorentos, não? portanto, raciocinou com lógica, Ele não podia ser um vilão. Essa conclusão a fez sentir-se melhor. Já podia respirar. Muito bem, pensou, ele não é um vilão; é só um chefe guerreiro, decidiu depois de realizar uma completa inspeção, possivelmente um guerreiro viking pelo comprimento de seu cabelo. Sim, era simplesmente um bárbaro que de alguma maneira tinha viajado no tempo.

O guerreiro de olhos verdes voltou a pedir que se aproximasse dele. Ela olhou para trás para assegurar-se de que não estava chamando outra pessoa. Não havia ninguém ali. Referia-se a ela. Pestanejou, mas ele não desapareceu. Sacudiu a cabeça para apagar essa visão do inferno. Voltou a chamá-la com um dedo.
-Venha aqui.
Sua voz era profunda, imperativa, arrogante. Que Deus a ajudasse... começou a caminhar para ele
Então se abriu o inferno. O som do látego no ar, o grito de dor do homem que tentou tocá-la quando ela passou junto a ele, retumbaram nos ouvidos de Sara. Não olhou em torno. Seu olhar estava fixo no o homem que estava destruindo metodicamente o botequim.
O fazia parecer tão fácil. Um simples movimento, que não parecia lhe custar o menor esforço, deixava uma impressão perdurável em seu público.
Sara também percebeu que, quanto mais se aproximava dele, Nathan franzia mais o cenho.
Obviamente, o guerreiro não estava de bom humor. Decidiu que lhe agradaria até que pudesse recuperar sua compostura. Logo correria para fora, subiria na carruagem com Nora e escaparia.
Era um bom plano, pensou. Mas o problema era, primeiro, tirar ao viking da porta.
Percebeu que tinha se detido quando ele voltou a indicar que se aproximasse. Sentiu que uma mão a segurava pelo ombro, olhou-a e ouviu o estalo do látego.
Sara sentiu que voava. Correu para ele, antes que lhe falhasse o coração.
Deteve-se diante dele, inclinou a cabeça para trás, e olhou aqueles penetrantes olhos verdes até que ele por fim a olhou. Sara estendeu impulsivamente a mão e lhe tocou o braço para assegurar-se de que não era um produto de sua imaginação.
Ele era verdadeiro. Sua pele parecia de aço, mas um aço quente. O brilho daqueles lindos olhos a salvaram da loucura. A cor era hipnotizante, intensa.
Era estranho, mas quanto mais o olhava mais se sentia segura. Sorriu aliviada. Ele reagiu levantando uma sobrancelha.
-Sabia que não era um vilão, viking.
Repentinamente Sara se sentiu sem peso, como se estivesse flutuando através de um túnel escuro para o bronzeado viking.
Nathan a sustentou antes que caísse no chão. Sua noiva estava completamente desmaiada quando a colocou sobre seu ombro. Examinou o bar para ver se tinha ficado algo. Havia corpos sobre todo o chão de madeira. Isso não era suficiente, pensou. Sentiu a necessidade de marcar o tio covarde que estava escondido debaixo da mesa. Podia ouvir os soluços entrecortados do homem.
Nathan chutou a mesa para ver sua presa.
-Sabe quem sou, Winchester?
Henry estava em uma posição fetal. Quando negou com a cabeça, esfregou o queixo contra as tábuas de madeira.
-Olhe para mim, desgraçado.
Sua voz soou como um trovão. Henry o olhou.
-Sou o marquês do St. James. Se alguma vez voltar a se aproximar de minha esposa ou daquela anciã, o matarei. Entendido?
-Você é... ele?
Henry sentiu subir a bílis à garganta e quase não pode falar. Nathan o empurrou com a ponta da bota e logo saiu do estabelecimento.
O taberneiro espiou do seu esconderijo atrás da churrasqueira e observou a devastação que o rodeava. Naquela noite escura não venderia mais cerveja, já que quase nenhum de seus clientes estava em condições de beber. Cascas de nozes cobriam o chão como. Era uma cena que não esqueceria. Queria lembrar de cada detalhe para poder contar a seus amigos o que tinha acontecido. Também sabia como contaria o final. O cavalheiro Winchester chorando como um menino faria rir seus futuros clientes.
Um ruído de arcadas distraiu ao taberneiro de suas meditações. O capitão Winchester estava vomitando sobre o chão.
O grito zangado do taberneiro fundiu com a exclamação entrecortada de medo da Nora. Quando viu sua sobrinha sobre o ombro do estranho colocou a mão sobre o peito.
-Sara está ferida? -exclamou. Imaginava o pior.
Nathan negou com a cabeça. Abriu a porta da carruagem e logo se deteve para responder à anciã com uma careta.
-Desmaiou.
Nora sentiu-se tão aliviada com a notícia que não percebeu que o homem estava feliz pela condição de sua sobrinha. Afastou-se para deixar um espaço para a Sara. Entretanto, Nathan colocou sua noiva no assento oposto. Nora olhou para Sara para ver se ainda respirava, e logo voltou a olhar seu salvador. Observou como recolhia seu látego e o pendurava em seu cinturão.
Nora não esperava que subisse no veículo com elas. Quando ele o fez ela se aproximou do assento.
-Sara pode sentar ao meu lado -ofereceu Nora.
Nathan não se incomodou em responder. Entretanto, ocupou todo o lugar do assento de frente. Logo colocou Sara sobre seu colo. Nora reparou que era muito gentil quando tocava sua sobrinha. Deteve a mão na face da Sara quando apoiou a cabeça sobre seu peito. Sara emitiu um pequeno suspiro.
Nora não sabia o que pensar do homem. A carruagem já estava em pleno movimento quando tentou puxar conversa.
-Jovem, meu nome é Nora Bettleman. A dama que acaba de salvar é minha sobrinha. Seu nome é Sara Winchester.
-Não -respondeu com tom duro-. Seu nome é lady St. James.
Depois de fazer essa enfática afirmação desviou seu olhar para o guichê. Nora continuou olhando fixamente. O homem tinha um perfil definido e agradável.
-Por que está nos ajudando? -perguntou-lhe- Não me convencerá dizendo que é empregado da família Winchester -adicionou assentindo com a cabeça-. Foi contratado por algum dos homens do St. James?
Nathan não respondeu. Nora suspirou antes de voltar a prestar atenção a sua sobrinha. Estava desejando que Sara se recuperasse de seu desmaio para esclarecer a confusão.
-Dependo dessa menina que tem nos braços, senhor. Não suporto pensar que possa acontecer algo de mau
-Ela não é uma menina -a contradisse.
Nora sorriu.
-Não, mas eu ainda considero que é -admitiu Nora-. Sara é uma alma tão confiante, tão inocente. Parece-se com a família de sua mãe.
-Você não é uma Winchester, não é?
Nora estava tão contente que finalmente conversasse com ela que voltou a sorrir.
-Não -respondeu-. Sou tia de Sara por parte de sua mãe. Eu era Turner antes de me casar com meu Johnny e adotar seu sobrenome.
Nora voltou a olhar Sara.
-Acredito que nunca antes desmaiou. Bom, mas as duas últimas semanas foram de muita tensão para ela. Tem olheiras, obviamente não dormiu bem. Preocupada comigo -adicionou com um pouco de rouquidão- Mesmo assim, deve ter visto algo muito aterrador para que desmaiasse. O que supõe que...?
Nora deixou de especular quando viu a careta que fazia Nathan. O homem era muito peculiar pois sorria pelas coisas mais estranhas.
Logo lhe explicou:
-Ela me viu .
Sara começou a mover-se. Ainda sentia enjoada, desconcertada, mas maravilhosamente cômoda. Esfregou o nariz contra o peito do Nathan, inalou a fragrância limpa e masculina, e suspirou satisfeita.
-Acredito que está reagindo -sussurrou Nora- Graças a Deus.
Sara girou a cabeça lentamente para olhar sua tia.
-Reagindo? -perguntou bocejando de maneira muito pouco feminina.
--Desmaiou, querida.
-Não -respondeu Sara consternada-. Nunca desmaiei. Eu... -deteve sua explicação ao sentir que estava sentada no colo de alguém. Não, no colo de alguém não, no colo dele. ficou pálida. Recordou tudo.
Nora se aproximou para dar uma palmada na mão.
-Tudo está bem, Sara. Este amável cavalheiro a salvou.
-Que tinha o chicote-sussurrou Sara, rogando estar equivocada.
Nora assentiu com a cabeça.
-Sim, querida, o do chicote. Deve agradecer, e pelo amor de Deus, Sara, não volte a desmaiar. Não trouxe sais aromáticos.
Sara assentiu com a cabeça.
-Não desmaiarei -respondeu e para poder cumprir sua promessa decidiu que seria melhor não voltar a olha-lo.
Tratou de sair de seu colo sem que ele notasse, mas assim que começou a mexer, ele segurou mais forte sua cintura.
Ela inclinou um pouco para frente.
-Quem é ele? -perguntou a Nora.
Sua tia encolheu os ombros.
-Ainda não me disse -explicou-. Possivelmente, querida... se disser quanto agradecida está... talvez, diga seu nome.
Sara sabia que era descortês falar sobre um homem como se não estivesse ali. Voltou lentamente para olhar seu rosto, embora lhe olhasse deliberadamente o queixo.
-Obrigado, senhor, por ter entrado no botequim para me defender. Sempre estarei em dívida com você.
Ele levantou seu queixo com o polegar. Seu olhar era inescrutável.
-Deve-me mais que gratidão, Sara.
Sara arregalou os olhos.
-Sabe quem sou?
-Eu disse, querida -demarcou Nora.
-Não tenho mais moedas -disse Sara-. Gastei tudo o que tinha para comprar as passagens para nossa viagem. Está-nos levando para o porto?
O assentiu com a cabeça.
-Tenho uma pulseira de ouro, senhor. Isso seria suficiente?
-Não.
Sua resposta abrupta a irritou. Olhou ofendida por ser tão descortês.
-Mas não tenho mais o que oferecer - anunciou.
A carruagem se deteve. Nathan abriu a porta. moveu-se com uma velocidade incrível para um homem tão grande. Estava fora da carruagem ajudando a descer Nora antes de Sara arrumar o vestido. O homem a tinha deixado a um canto da carruagem de repente voltou-se e a segurou pela cintura. Sara só teve tempo de pegar suas luvas antes que a tirasse da carruagem como uma bolsa de mantimentos. Ele se atreveu a segurá-la pelos ombros e apertá-la junto a ele. Ela protestou imediatamente.
-Senhor, sou uma mulher casada. Tire seu braço. Não é decente.
Obviamente, sofria algum defeito auditivo, já que nem sequer a olhou quando deu essa ordem. Estava a ponto de tentá-lo outra vez quando ele emitiu um assobio penetrante. Até aquele momento a zona iluminada pela luz da lua tinha estado completamente deserta. Em um abrir e fechar de olhos estava completamente rodeada de homens.
A tripulação do Nathan olhou fixamente para Sara. Olhavam como se nunca antes tivessem visto uma mulher bonita. Olhou para sua noiva para ver como reagia aos olhares de adoração. Ela não estava prestando atenção aos homens. Estava ocupada olhando para ele. Nathan quase sorriu.
Apertou-a um pouco para que abandonasse seu sinal de insolência, e logo se dirigiu à anciã.
-Tem alguma bagagem?
-Temos, Sara? -perguntou Nora.
Sara tratou de afastar-se de sua âncora antes de responder.
-Disse-lhe que sou uma mulher casada. Agora me solte
Ele não se moveu. Ela desistiu.
-Sim, Nora, temos bagagem. Peguei algumas vestidos emprestados de mamãe para você. Estou certa de que não se incomodará. Nicholas guardou as malas no depósito do Marshall. Podemos ir buscar?
Tentou dar um passo para frente, mas encontrou-se apanhada outra vez pelo gigante.
Nathan viu Jimbo atrás da tripulação e indicou que aproximasse. Um homem alto, de pele escura, aproximou-se e parou em frente a Sara. Ela abriu os olhos ao ver outro gigante. Olhou-o durante um momento e logo chegou à conclusão de seria atraente se não fosse pelo estranho pendente de ouro que levava na orelha.
Percebeu que Sara o olhava fixamente, repentinamente cruzou os braços e a olhou com o semblante carrancudo.
Ela também franziu o semblante.
Uma faísca apareceu em seus olhos escuros e deu de presente um amplo sorriso. Ela não soube como interpretar esse estranho comportamento.
-Que dois homens se ocupem da bagagem, Jimbo -ordenou Nathan-. Abordaremos o Seahawk quando amanhecer.
Sara percebeu que o viking se incluiu em seus planos.
-Minha tia e eu estaremos perfeitamente seguras agora - disse-. Estes homens parecem bastante agradáveis, senhor. Já abusamos muito de seu valioso tempo.
Nathan continuou ignorando-a. Chamou a outro homem. Quando se aproximou um homem musculoso embora mais baixo, Nathan lhe indicou:
-Se ocupe da anciã, Matthew.
Nora emitiu um som entrecortado. Sara pensou que era porque iriam se separar. Entretanto, antes que pudesse discutir com seu protetor, Nora ergueu os ombros e se aproximou lentamente do homem enorme.
-Não sou uma anciã, senhor, e esquecerei esse insulto. Tenho cinqüenta e um anos, jovem, e me sinto muito ágil.
Nathan levantou um pouco uma sobrancelha, mas conteve seu sorriso. Uma brisa derrubaria à anciã de tão frágil que parecia, entretanto, tinha o tom de voz de um comandante.
-Deveria desculpar-se com minha tia -indicou Sara.
Ela se voltou para sua tia antes que ele pudesse reagir ante essa afirmação.
-Estou segura de que ele não quis ferir seus sentimentos, Nora. Só é rude.
Nathan sacudiu a cabeça. A conversa era ridícula para ele.

-Se mova, Matthew -lhe ordenou.
Nora se voltou para o homem que estava perto dela.
-E onde acredita que me vai levar?
Como resposta, Matthew levantou Nora em seus braços.
-Me largue, patife.
-Está bem -respondeu Matthew-. Parece doente. Não pesa mais que uma pluma.
Nora estava a ponto de protestar outra vez, mas a seguinte pergunta a fez mudar de idéia.
-Onde conseguiu esses hematomas? Diga-me o nome do maldito infiel e com gosto cortarei o pescoço por você.
Nora sorriu para o homem que a estava sustentando. Reparou que tinha quase a mesma idade que a sua e que parecia um homem decente. Fazia anos que não se ruborizava, mas sentiu que nesse momento estava fazendo pelo calor que sentia na face.
-Obrigado, senhor -balbuciou enquanto se deitava a cabeça em seu ombro-. É um oferecimento muito amável de sua parte.
Sara estava surpreendida pelo comportamento de sua tia. Estava pestanejando e atuando como uma jovem namoradeira em sua primeira festa! Observou-os até que se perderam de vista, e logo reparou que outros homens também se desvaneceram. Estava sozinha com seu salvador.
--Minha tia Nora estará segura com esse homem? -perguntou.
Sua resposta não foi mais que um grunhido de óbvia irritação.
-Um grunhido significa sim ou não? -perguntou Sara.
-Sim -respondeu com um suspiro quando a puxou pelas costelas.
-Por favor, me solte.
Ele fez o que pediu. Sara estava tão surpreendida que quase perdeu equilíbrio. Possivelmente com um tom de voz agradável ele escutaria outras petições. Certamente, valia a pena tentá-lo.
-Estarei segura com você?
Ele levou um tempo para responder. Sara voltou e colocou-se frente a ele. As pontas de seus dedos tocavam as pontas de suas botas.
-Por favor, me responda -sussurrou com um tom doce e suplicante.
Ele não parecia impressionado com seu intento de manter uma amável conversa. Por outra parte, sua exasperação era evidente.
-Sim, Sara. Sempre estará a salvo comigo.
-Mas não quero estar a salvo com você -gritou. Assim que as palavras saíram de sua boca compreendeu quão tola tinha sido essa afirmação e tratou de corrigi-la rapidamente-. O que quero dizer é que quero me sentir segura sempre.
-Todo mundo quer sentir-se seguro. Até os vilãos...
Deixou de divagar ao ver que ele fazia uma careta.
-Quero estar a salvo sem você. Não estará planejando viajar com Nora e comigo, não é? Por que me olha assim?
Nathan respondeu a primeira pergunta e ignorou a segunda.
-Sim, vou viajar com vocês.
-Por que?
- Porque quero fazê-lo comunicou lentamente. Decidiu esperar um pouco mais para dar os detalhes. Sara voltou a ruborizar. Nathan não sabia se era por medo ou irritação.
Sua noiva ainda tinha sardas no nariz. Sentiu-se satisfeito por isso. Fez-lhe recordar o pequeno demônio que tinha tido nos braços. Entretanto, já não era uma garotinha. Tinha crescido, mas ainda era um pequeno demônio.
Deu-lhe um golpe no peito para que voltasse a prestar atenção nela.
-Lamento-o, senhor, mas não pode viajar com Nora e comigo -anunciou-. Terá que procurar outro navio. Não seria seguro para você estar no mesmo navio comigo
Essa estranha afirmação ganhou toda sua atenção.
-OH? E por que?
-Porque meu marido não gostaria - explicou. Assentiu com a cabeça ao reparar na sua incredulidade, e logo continuou-. Já ouviu falar do marquês do St. James? Oh é obvio que sim. Todo mundo sabe sobre o marquês. Ele é meu marido, viking, e dará um ataque se averiguar que viajo com um... protetor. Não, temo que não gostará. Por que sorri?
-Por que me chama viking? -perguntou-lhe Nathan.
Ela encolheu os ombros.
-Porque se parece com um.
-Deveria te chamar de harpia?
-Por que?
-Porque está se comportando como uma.
Sentiu desejos de gritar.
-Quem é você? O que quer comigo?
-Ainda está em dívida comigo, Sara.
-Oh, Deus, vai voltar ao mesmo assunto?
Enfureceu-se ao ver que Nathan assentia lentamente com a cabeça. Ele estava desfrutando plenamente da situação. Quando Sara percebeu sua indignação se evaporou, já que compreendeu que nunca lhe faria tomar a razão. O homem estava louco. Seria melhor que se afastasse o maximo possível deste bárbaro, pensou. Entretanto, primeiro tinha que encontrar uma forma de se acalmar.
-Está bem -respondeu-. Estou em dívida. Estamos completamente de acordo. Agora, por favor, me diga o que acredita que lhe devo e tentarei pagar.
Aproximou-se para poder sustentá-la, antes que desmaiasse depois que lhe respondesse.
-Meu nome é Nathan, Sara.
-E? -perguntou, intrigada por saber por que repentinamente tinha decidido lhe dizer seu nome.
Ela era lenta para compreender. Nathan suspirou cansado.
-E você, lady St. James, deve-me uma noite de bodas.


Capítulo 3

Ela não desmaiou, gritou. Nathan não tentou tranqüilizá-la. Quando já não pôde suportar mais o irritante som, arrastou-a até os escritórios da Esmerald Shipping Company. Deixou à histérica mulher nas mãos de sua tia. Como acreditava que era capaz de comportamentos cavalheirescos só em estranhas ocasiões, não começou a rir até que estivesse longe dela.
Nathan desfrutou da reação da Sara ante seu anúncio. Lady Sara não era nada sutil. Estava seguro de que nunca teria que se preocupar em saber o que pensava. Para Nathan, condicionado à baixeza durante toda sua vida, a reação lhe parecia encantadora. Um pouco ruidosa, mas encantadora.
Depois de encarregar-se de alguns detalhes finais, Nathan subiu ao navio. Jimbo e Matthew estavam esperando na coberta. Ambos tinham o semblante franzido, mas Nathan decidiu ignorar sua amostra de insolência. Tinha-lhes encomendado a tarefa de acomodar a Sara e a Nora em seus camarotes.
-Deixou de gritar? -perguntou Nathan.
-Quando a ameacei com uma mordaça -respondeu Jimbo. O homem corpulento aumentou a intensidade de seu cenho franzido e adicionou-: Então me bateu.
Nathan mostrou sua exasperação.
-Acredito que já não está tão assustada.
-Acreditou que em algum momento esteve assustada? -demarcou Matthew-. Viu o fogo em seus olhos quando a levou para o escritório?
- Olhou-me furiosa.
Jimbo assentiu com a cabeça a contra gosto.
-Depois que se foi, ela continuou gritando e dizendo que tudo isso era uma brincadeira cruel. Nem sequer sua tia pôde acalmá-la. Sua noiva pediu que alguém a beliscasse e assim despertaria e saberia que tudo era um pesadelo.
-Sim, fez-se -confirmou Matthew com uma risada- Félix levou a sério. Apesar de seu tamanho, o rapaz não é muito ardiloso.
-Félix a tocou? -Nathan estava mais incrédulo que zangado.
-Não, não a tocou -respondeu imediatamente Jimbo-. Tratou de dar um pequeno beliscão, isso é tudo. Pensou que estava sendo serviçal. Você sabe que o rapaz gosta de agradar. Quando sua noiva viu que se dirigia para ela se converteu em um gato montês. Desconfio que Félix não estará tão ansioso em obedece-la na próxima vez que ela der uma ordem.
Nathan sacudiu a cabeça aborrecido. Já ia se retirar, mas Matthew o deteve com seu seguinte comentário.
-Possivelmente lady Sara estaria melhor se a puséssemos com sua tia.
-Não.
Nathan reparou em tão abrupta tinha sido sua resposta ao ver que os dois homens sorriam.
-Ela fica em meu camarote -adicionou com um tom muito mais suave.
Matthew se deteve para esfregar o queixo.
-Bom, rapaz, isso poderá ser um problema -anunciou-. Ela não sabe que é seu camarote.
Nathan não estava preocupado com esse anúncio. Franziu- o semblante para Matthew porque o marinheiro tinha o chamado "rapaz". Nathan sabia que sua censura sem palavras não teria nenhum efeito. Matthew e Jimbo chamavam assim quando estavam a sós com ele. Não acreditavam que estivesse o suficientemente amadurecido para chamá-lo "capitão" em particular. Nathan tinha os herdado quando fez cargo do navio. Imediatamente demonstraram ser imprescindíveis. Conheciam todos os segredos da pirataria e o ensinaram. Sabia que pensavam que eram seus guardiões. Só Deus sabia a quantidade de vezes que o haviam dito. No passado tinham arriscado inumeráveis vezes suas vidas para cuidar de suas costas. Sua lealdade superava amplamente seus hábitos irritantes.
Como os dois homens estavam observando expectantes, Nathan adicionou:
-Logo averiguará em que camarote está.
-A tia não está muito bem -comentou Matthew-. Tem algumas costelas quebradas. Assim que dormir vou despi-la e enfaixá-la.
-Foram os Winchester que fizeram isto, não é? perguntou Jimbo.
Nathan assentiu com a cabeça.
-Qual dos malditos irmãos foi? -perguntou Matthew.
-Parece que Henry estava por trás de tudo -explicou Nathan-. Mas acredito que os outros irmãos sabiam o que estava acontecendo.
-Vamos levar Nora para casa? -perguntou Matthew.
-Navegaremos para essa direção -respondeu Nathan-. Não sei o que fazer com a mulher. Está o suficientemente forte para suportar a viagem? -perguntou a Matthew-. 0u vamos ter que enterrá-la no mar?
-Resistirá bem -predisse Matthew-. Há alguém duro debaixo desses hematomas. Sim, se a mimar resistirá -deu um golpe em Jimbo, e logo adicionou-: Agora terei que cuidar de dois a afeminados.
Nathan sabia que estavam atormentando-o . E se afastou. Jimbo lhe gritou atrás:
-Refere-se a você, rapaz.
Nathan levantou as mão para lhes fazer um gesto obsceno antes de desaparecer, seguido das risadas dos homens.
Durante as horas seguintes, todos os homens realizaram tarefas no Seabawk. Asseguraram a carga, levantaram o foque, levantaram a âncora e lubrificaram os oito canhões antes de dar a ordem de zarpar.
Nathan cumpriu com sua parte até que sentiu tantas náuseas que teve que deter-se. Jimbo se encarregou dos quarenta e dois marinheiros enquanto Nathan voltava a descer.
Era um ritual sentir-se mal durante os primeiros dias. Nathan tinha aprendido a tolerar o inconveniente. Estava seguro de que ninguém além que Matthew e Jimbo conheciam seu problema, mas isso não aliviava o desconforto.
Por suas experiências passadas, Nathan sabia que teriam que passar uma ou duas horas para recuperar-se completamente. Decidiu ir ver se sua noiva estava bem. Se a sorte lhe acompanhasse, ela estaria profundamente adormecida, e isso evitaria a inevitável confronto. Teria que estar exausta. Fazia vinte e quatro horas que sua noiva estava acordada, e o manha de criança que teve quando se inteirou de que ele era seu marido certamente a tinha esgotado. Mas se não estava dormindo, Nathan estava decidido a terminar com o assunto. quanto antes estabelecessem as regras, antes ela poderia aceitar as expectativas de sua vida juntos.
Provavelmente, ficaria outra vez histérica com ele, pensou Nathan. preparou-se para a inevitável súplica e os soluços e abriu a porta.
Sara não estava dormido. Assim que Nathan entrou no camarote ela pulou da cama e ficou ali parada observando com os punhos apertados junto ao corpo.
Era evidente que ainda não tinha superado sua irritação ou seu medo. O ar dentro do camarote era úmido e sufocante. Nathan fechou a porta, e logo se dirigiu para o centro do quarto. Sentiu que lhe estava observando enquanto se estirava para abrir uma comporta quadrada construída no teto. Abriu a janela interior e a travou com uma varinha no terceiro entalhe.
O ar fresco do mar e a luz do sol encheram o camarote. Nathan respirou profundamente, e logo retornou à porta e se apoiou contra ela. Lhe ocorreu que sua noiva poderia decidir afastar-se. Não estava em condições de segui-la, e portanto bloqueou a única saída.
Sara olhou fixamente para Nathan durante um bom momento. Sentiu que estava tremendo, e sabia que era só questão de tempo que sua fúria se exteriorar-se. Mas estava decidida a não lhe demonstrar sua irritação, não importava a que custo. Mostrar qualquer emoção ante o bárbaro certamente seria um mau começo.
O rosto do Nathan mostrava uma expressão de resignação. Tinha os braços cruzados sobre o peito e sua postura era relaxada.
Ela pensou que parecia muito aborrecido para dormir. Isso era muito mau. Seu olhar intenso lhe estava fazendo enroscar os dedos dos pés. Sara se esforçou para o olhar fixamente. Não ia acovardar-se frente a ele, e se alguém tinha que ganhar esta luta de olhar fixamente, seria ela.
Nathan pensou que sua noiva parecia desesperada em ocultar o medo que tinha. Ela não estava fazendo um bom trabalho, já que tinha os olhos nebulosos. E estava tremendo.
Nathan esperava estar preparado para outra descarga de histeria. Seu estômago queixava pelos movimentos do navio. Tratou de bloquear essa sensação para concentrar-se no que tinha diante.
Sara era uma mulher bonita. Os raios do sol davam a seu cabelo uma tonalidade mais dourada que castanha. Depois de tudo, tinha algo da família Winchester, pensou.
Ainda tinha vestido aquele vestido azul escuro tão pouco atrativo. Em sua opinião, o decote era muito baixo. Pensou em mencionar-lhe mais tarde, depois de que já não o temesse tanto, mas o repentino semblante de Sara, o fez mudar de idéia. Era imperioso que compreendesse quem mandava.
Permaneceu de pé nas sombras da porta mas ela ainda podia ver a extensa cicatriz que lhe cobria o braço direito. A marca branca sobre a pele bronzeada era muito notável. Observou-a bastante enquanto se perguntava como teria feito essa ferida horrível, e logo emitiu um pequeno suspiro.
Ainda vestia aquela calça indecentemente ajustada. Tinha a camisa branca desabotoada até a cintura, os punhos levantados até os cotovelos e a informalidade de sua vestimenta a enfurecia quase tanto como o cenho franzido.
Pensou em esperar para lhe dizer que não se vestia de maneira tão indecorosa para viajar em um navio tão elegante, mas ao ver a forma em que franzia o semblante mudou de idéia. Era imperioso que compreendesse o que se esperava dele agora que estava casado.
-Veste-se como a empregada de um botequim.
Em princípio, Sara estava muito surpreendida para reagir, e demorou em compreender o insulto. Logo emitiu um som agudo.
Nathan ocultou seu sorriso. Ao que parecia, Sara não tinha intenções de chorar. na realidade, parecia que tinha vontade de matá-lo. Era um belo começo.
-Parece que seu decote vai cair , minha noiva.
Sara cobriu imediatamente a parte superior do vestido, ruborizou-se.
-Era o único vestido o suficientemente escuro para me ocultar quando... -deixou de lhe explicar ao reparar que estava se defendendo.
-Se ocultar? -perguntou Nathan-. Sara, isso não oculta nada. No futuro não usará vestidos tão reveladores. O único que verá seu corpo serei eu. Entendeu?
Oh, sim, ela o compreendeu bem. O homem era um grosseiro, pensou Sara. Com que facilidade tinha mudado o rumo das coisas.
Sara negou com a cabeça. Não ia permitir que a colocasse em uma posição tão vulnerável quando ele tinha tanto que responder.
- E você parece um bárbaro -replicou Sara sem nenhuma consideração-.Seu cabelo é muito comprido, e está vestido como um... vilão. As pessoas que viajam em um navio tão elegante devem manter sua aparência impecável. Parece que acaba sair de uma colheita de trigo. E essa sua expresão mal humorada é absolutamente horrível -adicionou assentindo com a cabeça.
Nathan decidiu terminar com isto e concentrar-se em seu objetivo.
-Está bem, Sara -começou-, Vamos terminar com isto.
-Terminar com o que?
Nathan suspirou afrontado e isso a enfureceu mais ainda, tentou não perder o controle, mas o desejo de gritar fazia doer a cabeça e a garganta. Sentiu que seus olhos enchiam de lágrimas. Tinha muito que se explicar antes que ela pensasse em lhe perdoar, e o melhor seria que o fizesse antes que ela pensasse que seus pecados eram muito mortais para lhe perdoar.
-Com seu ataque de pranto e súplica - explicou Nathan encolhendo os ombros-. É óbvio que está preocupada -continuou-. Está a ponto de chorar, não é? Sei que deve querer que te leve para casa, Sara. Decidi lhe economizar a humilhação de suplicar, explicando que não importa o que faça, ficará comigo. Sou seu marido, Sara. Acostume-se a essa idéia.
-Incomoda se choro? -perguntou com uma voz como se alguém a estivesse estrangulando.
-Claro que não -respondeu. Era uma mentira, é obvio, já que se preocupava em vê-la angustiada, mas não ia admitir. Geralmente, as mulheres usam aquele tipo de armas contra um homem e começavam a chorar cada vez que queriam algo.
Sara respirou profundamente. Não se atrevia a dizer outra palavra até voltar a recuperar o controle de si mesmo. Realmente acreditava que ia suplicar? Por Deus, era um homem horrível. Também intimidatorio. Parecia não ter nem um grama de compaixão.
Continuou olhando-o fixamente até reunir o calma necessário para lhe formular as dolorosas perguntas que tinha guardadas fazia tanto tempo. Duvidava que diria a verdade, mas mesmo assim queria saber o que tinha a dizer.
Nathan pensou que ia começar a chorar. Sara tinha medo outra vez. Esperava que não voltasse a desmaiar. Ele tinha pouca paciência com o sexo fraco, entretanto, não queria que Sara tivesse medo dele.
Na realidade, sentia um pouco de lástima por ela. Ela podia não querer estar casada com ele. Afinal, ele era um St. James e ela tinha sido criada como uma Winchester. Tinha sido educada para odiá-lo. A pobre Sara era a vítima do plano, um objeto que o Rei tinha utilizado para tentar arrumar as diferenças entre as duas famílias feudais.
Mas ele não podia anular o passado. Sua assinatura estava naquele contrato e estava decidido a cumpri-lo.
-Também deve compreender que não vou renunciar a este matrimônio -assinalou com voz firme-. Nem agora nem nunca.
Depois de fazer essa afirmação esperou, pacientemente, o ataque de histeria.
-Por que esperou tanto?
Falou com um tom tão suave que não sabia se a tinha ouvido bem.
-O que disse?
-Por que esperou tanto? -perguntou Sara com voz mais forte.

-Esperar tanto para que?
Parecia completamente desorientado. Ela voltou a respirar profundamente
-Para vir até mim -explicou. Tremeu-lhe a voz. Juntou as mãos e adicionou-: Por que esperou tanto para vir me buscar?
Estava tão surpreso pela pergunta que demorou em responder. Sara não suportaria que Nathan pensasse que não merecia que lhe respondesse, e lhe perguntou quase gritando:
-Tem idéia quanto tempo faz que o espero
Nathan arregalou os olhos. Sua noiva tinha gritado. Olhou-a como se acreditasse que tinha perdido a razão.
E logo sacudiu lentamente a cabeça. Sara perdeu sua compostura.
-Não? -gritou-. Era tão insignificante para você que não podia se incomodar em ir me buscar?
Nathan estava surpreso por suas perguntas. Sabia que não devia deixar que levantasse a voz, mas seus comentários eram tão surpreendentes que não estava seguro do que dizer.
-Quer que eu acredite, de verdade, que está zangada porque não fui busca-la antes? -perguntou.
Sara tomou o objeto que tinha mais próximo à mão e o jogou. Felizmente, o jarro estava vazio,
-Zangada? -perguntou com o rugido de um comandante-. O que te faz pensar que estou zangada, Nathan?
Ele evitou o jarro e as duas velas, e logo se voltou a apoiar contra a porta.
-OH, não sei. Parece preocupada.
-Pareço -estava muito exasperada para dizer outra palavra. Quando Nathan assentiu com a cabeça fez uma careta.
-Preocupada -terminou a frase por ela.
-Tem uma pistola?
-Sim.
-Emprestaria a mim?
Esforçou-se para não rir.
-Para que quer minha pistola, Sara?
-Quero lhe dar um tiro, Nathan.
Então sim riu. Sara pensou que o odiava.
Sentia vontade de chorar de frustração. depois de tudo, possivelmente seus familiares tinham razão. Possivelmente ele menosprezava-a tanto como seus pais lhe haviam dito que o faria.
Ela abandonou a batalha e voltou a sentar na cama. Cruzou as mãos sobre sua saia e baixou o olhar.
-Por favor, saia do meu camarote. Se quer explicar sua conduta pode fazê-lo amanhã. Estou muito cansada para escutar suas desculpas agora.
Nathan não podia acreditar no que estava escutando. Ela se atrevia a lhe dar ordens.
-Essa não é a forma em que funciona nosso matrimônio, Sara. Eu dou as ordens e você obedece.
O disse com um tom duro, zangado. Tinha sido deliberado, já que queria que compreendesse que falava a sério. Pensou que provavelmente a estava assustando outra vez. Sara começou a retorcer as mãos, e embora se sentiu um pouco culpado por ter tido que recorrer a essas técnica intimidatória, o assunto era muito importante para suavizar seu tom. Nathan prometeu a si mesmo que, embora lhe desse lástima quando começasse a chorar, não retrocederia.
Sara negou com a cabeça.
-Não -respondeu-. Só supus que nosso matrimônio partiria na direção oposta. Sim, sempre acreditei -adicionou ao ver que franzia o semblante.
-Oh? E como pensava que partiria este matrimônio?
Parecia realmente interessado em sua opinião. Sara recuperou o fôlego imediatamente. Levantou ligeiramente os ombros.
-Bom, supus que meu dever seria lhe dizer sempre o que queria.
-E? -perguntou ao ver que tinha interrompido sua explicação.
-E que seu dever seria sempre obtê-lo para mim.
Sara continuou retorcendo-as mãos, como se o que tivesse entre os dedos era o pescoço de seu marido. A fantasia a ajudou a levantar o ânimo.
Nathan a trouxe para a realidade quando disse:
-Me ouviu, minha noiva?
Sara detestava que a chamasse "minha noiva".
-Sim, ouvi-o -respondeu-. Mas realmente não compreendo. Como funciona este matrimônio?
O olhos voltaram a encher os olhos de lágrimas. Nathan se sentiu como um ogro.
-Está tentando me incomodar? -perguntou
Ao ver sua expressão séria compreendeu que não lhe agradava escutar essa opinião. Sentiu que voltava a enfurecer-se.
-Supõe-se que deve me respeitar, Nathan. Prometeu.
-Eu não prometi respeitá-la-replicou com um grito-. Pelo amor de Deus, mulher, eu não prometi nada.
Ela não ia permitir que a vencesse com essa mentira. ficou de pé para voltar a lhe olhar.
-Oh, sim, prometeu-o -gritou-. Li o contrato do princípio ao fim, Nathan. Supõe-se que em troca da terra e do dote deve me manter segura. Também se supõe que deva ser um bom marido, um pai amável, e o mais importante, viking, supõe-se que deve me amar e me respeitar.
Nathan não sabia o que dizer. Sentiu vontade de rir novamente. A mudança de assunto era exasperante e também estimulante.
-Realmente quer que a ame e a respeite?
-Claro que sim -respondeu. Cruzou os braços sobre o peito-. Prometeu que me amaria e me respeitaria, Nathan, e por Deus que o fará.
Sara se sentou outra vez na cama e acomodou as dobras do vestido. Suas bochechas ruborizadas mostravam seu desconforto
-E o que supõe que deve fazer você enquanto eu a ame e a respeite? -perguntou. Quais são suas promessas, minha noiva?
-Eu não prometi nada -respondeu-. Só tinha quatro anos, Nathan. Eu não assinei o contrato. Você o fez.
Ele fechou os olhos e contou até dez.
-Então não acredita que deva cumprir com o que seu pai assinou? As promessas que ele assinou sobre seu comportamento não são válidas?
-Eu não disse isso -sussurrou. Suspirou profundamente e logo adicionou: -É obvio que as cumprirei. Foram feitas em meu nome.
-E quais são? -perguntou.
Levou um tempo para lhe responder. Parecia muito desgostada.
-Também tenho que amá-lo e respeitá-lo-sussurrou.
Ele não estava satisfeito.
-E?
-E o que? -perguntou logo fingindo ignorância.
Decidiu que sua noiva estava tratando de deixar-lhe louco.
-Eu também li o contrato do princípio ao fim. Não brinque com minha paciência.
-Oh, está bem -replicou Sara- Também tenho que lhe obedecer. Está contente?
-Sim -respondeu-. Agora voltemos para princípio. Como te disse antes, eu serei quem dá as ordens e você as obedecerá. E não se atreva a voltar a me perguntar por que.
-Tentarei obedecer a suas ordens, Nathan, quando acreditar que são razoáveis.
Sua paciência estava terminando.
-Não me importa se acredita ou não que são razoáveis-rugiu-. Fará o que eu disser.
Não parecia irritada pelo fato de ter levantado a voz. Respondeu com voz suave:
-Não deveria usar blasfêmias na presença de uma dama, Nathan. É vulgar, e você é um marquês.
A expressão de seu rosto era desapontadora. Sara se sentiu completamente derrotada.
-Odeia-me, não é?
-Não.
Não acreditou.
-Sim, odeia -replicou-. Não me engana. Sou uma Winchester e você odeia a todos os Winchester.
-Eu não a odeio.
-Não precisa gritar. depois de tudo, só estou tentando manter uma conversa decente com você, e o mínimo que pode fazer é controlar seu temperamento -não lhe deu tempo para que a voltasse a gritar-. Estou muito cansada, Nathan. Eu gostaria de descansar um pouco.
Decidiu sair. Abriu a porta para ir-se, mas se voltou.
-Sara?
-Sim?
-Não tem medo mim, certo?
Nathan se surpreendeu. Era como se acabasse de compreender a verdade. Ela negou com a cabeça.
-Não.
Voltou-se para que não visse seu sorriso.
-Nathan?
-O que?
-Tive um pouco de medo quando o vi pela primeira vez -admitiu-. Isso o faz sentir melhor?
Sua resposta foi fechar a porta.
Quando ficou sozinha começou a chorar. Que mulher inocente que tinha sido. Todos esses anos sonhando com seu magnífico cavalheiro de armadura dourada... Imaginou que seria um homem amável, compreensivo, sensível, que estaria completamente apaixonado por ela.
Seus sonhos a enganaram. Seu cavalheiro era mais sem brilho que dourado. Tinha demonstrado ser tão compreensivo, tão compassivo, tão amável como um cabrito.
Sara continuou sentindo pena de si mesma até que o cansaço a venceu.
Uma hora mais tarde, Nathan retornou para observá-la. Estava profundamente adormecida. Não tinha tirado a roupa e estava sobre a manta multicolor. Estava de barriga para baixo com os braços abertos.
Nathan sentiu satisfeito. Era um sentimento estranho, mas sentiu que agradava vê-la sobre sua cama. Observou que ainda tinha o anel de bodas da Nora. Era estranho, mas não o agradava ver isso. Tirou o anel do seu dedo para não sentir essa irritação irracional, e o colocou no bolso.
Ocupou em lhe tirar a roupa. Depois de desabotoar a larga fileira de diminutos broches das costas, afrouxou-lhe o vestido. Logo se ocupou dos sapatos e as meias. Sentia-se estranho com esta tarefa, e a anágua foi um verdadeiro desafio. O nó da tira era impossível de desatar. Nathan usou a ponta de sua faca para cortá-lo. Continuou com a tarefa até deixar a sua noiva só com a camisa de seda. O objeto branco era extremamente feminino, com um pronunciado decote.
Deixou-se levar por seu impulso e lhe acariciou as costas.
Sara não despertou. Suspirou profundamente adormecida e ficou de barriga para cima, enquanto Nathan colocava o resto de seus objetos na cadeira mais próxima.
Nathan não sabia quanto tempo ficou ali observando-a. Parecia tão inocente, tão confiável, tão vulnerável quando dormia. Tinha as pestanas negras, espessas, que se destacavam sobre sua tez branca. Seu corpo era magnífico. Seus seios parcialmente cobertos pela fina camisa o excitava. Quando reparou que estava reagindo fisicamente, tentou saiu do camarote.
O que ia fazer com ela? Como poderia manter-se afastado de uma mulher tão atrativa como sua noiva?
Nathan deixou de lado essas perguntas quando sentiu um enjôo. Esperou até que seu estômago parasse de sacudir-se com tanta violência, logo pegou um lençol e cobriu Sara. Tocou-lhe o rosto com a mão, e não pôde evitar o sorriso quando ela esfregou instintivamente a face contra seus dedos. Parecia um gatinho carinhoso.
Ela girou e tocou a pele com a boca. Nathan afastou abruptamente a mão. Saiu do quarto e foi ver a tia de Sara. Ao que parecia, Nora dormia pacificamente. Estava pálida e sua respiração era dificultosa, mas não parecia ter muita dor. Tinha uma expressão serena. Nathan lembrou-se do anel que tinha no bolso. aproximou-se da cama, levantou-lhe a mão e colocou o anel.
Nora abriu os olhos e sorriu.
-Obrigado, querido rapaz. Agora que tenho outra vez o anel de meu Johnny descansarei melhor.
Nathan agradeceu sua gratidão assentindo cortesmente com a cabeça, e logo se voltou e dirigiu para a porta.
-Acha que sou uma mulher sentimental, não é? -perguntou Nora.
Nathan rapidamente estacou.
-Sim, acredito -respondeu.
Sua brusca honestidade a fez sorrir.
-Já falou com a Sara? -perguntou.
-Sim.
-Está bem? -perguntou Nora. Desejava que se voltasse para ver sua expressão.
-Ela está dormindo -explicou Nathan. Abriu a porta para ir-se.
-Espera - gritou Nora-. Por favor, não vá ainda.
O reagiu ante o tremor que escutou em sua voz e se voltou imediatamente.
-Estou muito assustada -sussurrou Nora.
Nathan fechou a porta e retornou junto à anciã. Tinha os braços cruzados sobre o peito. Parecia bravo, exceto por seu semblante franzido.
-Não tem com que se preocupar disse. Sua voz era suave, tranqüilizadora-. Agora está a salvo, Nora.
Ela negou com a cabeça.
-Não, não compreende -explicou-. Não estou preocupada comigo, querido rapaz. Estou preocupada com você e Sara. Sabe no que se meteu? Não sabe do que são capazes esses homens. Nem eu sei até onde podem ir por sua cobiça. Virão atrás de você.
Nathan encolheu os ombros.
-Estarei preparado -respondeu-. Os Winchester não são um desafio para mim.
-Mas querido rapaz, eles...
-Nora, não sabe do que eu sou capaz -replicou Nathan-. Quando digo que poderei enfrentar qualquer desafio, deve acreditar em mim.
-Usarão Sara para apanhá-lo -sussurrou Nora-. A machucarão se for necessário -adicionou assentindo com a cabeça.
-Eu protejo o que é meu. -Sua voz era firme, enfática.
Na realidade, sua arrogância a tranqüilizou. Assentiu lentamente com a cabeça.
-Acredito em você -respondeu-. Mas o que acontecerá as mulheres Winchester?
-Refere a todas ou a uma em especial?
-Sara.
-Ela estará bem. Já não é uma Winchester. É uma St. James. Insulta minhas habilidades ao preocupar-se por sua segurança. Eu cuido de minhas posses.
-Posses? -repetiu Nora-. Nunca escutei alguém se referindo a esposa dessa maneira.
-Esteve muitos anos afastada da Inglaterra, Nora. Mas as coisas não mudaram tanto. Uma esposa ainda é uma posse de seu marido.
-Minha Sara é muito pura de coração -disse Nora trocando um pouco de tema-. Estes últimos anos não foram fáceis para ela. Foi considerada uma estranha pelo contrato matrimonial. Diria que era uma leprosa em sua própria família. Nunca permitiram Sara de ir a nenhuma das festas que as jovens tanto esperam. Toda a atenção sempre foi para sua irmã Belinda.
Nora se deteve para respirar e logo continuou:
-Sara é leal a seus pais e a sua irmã, embora não compreendo por que. Será melhor que tenha cuidado com a irmã da Sara, ela é tão ardilosa como seu tio Henry.
-Se preocupa muito, Nora.
-Só quero que compreenda ... Sara -sussurrou.
Ouvia-se um arfar outra vez em sua voz, e era óbvio que estava se cansando.
-Minha Sara é uma sonhadora -continuou-. Olhe seus desenhos e compreenderá o que estou dizendo. Sua cabeça está nas nuvens a maior parte do tempo. Só vê a bondade das pessoas. Não quer acreditar que seu pai é como seus irmãos. A culpa é de sua mãe, mentiu para sua filha durante todos estes anos, inventou desculpas para todos os pecados cometem.
Nathan não fez nenhum comentário.
-Querido rapaz -começou outra vez.
Seu repentino cenho a deteve.
-Senhora, farei um pacto com você -disse Nathan-. Eu deixarei de chamá-la anciã se você deixar de me chamar querido rapaz. Estamos de acordo?
Nora sorriu. Estava olhando de soslaio para o gigante. Sua presença parecia tragá-la no quarto.
-Sim, he chamar de querido rapaz é bastante bobo-assentiu com uma risada-. Posso chamá-lo de Nathan?
-Sim -respondeu-. Quanto a suas preocupações por Sara, são todas infundadas. Não permitirei que ninguém a machuque. Ela é minha esposa e sempre a tratarei amavelmente. Com o tempo compreenderá sua boa sorte.
Tinha as mãos cruzadas nas costas como um general e caminhava de um lado a outro do pequeno quarto.
-Também a protegeu desses assassinos a outra noite -comentou Nora-. Sei que cuidará dela. Só espero que também tenha em conta os seus puros sentimentos, Nathan. Na realidade, Sara é muito tímida; guarda seus pensamentos e é muito difícil saber o que sente.
Nathan levantou uma sobrancelha ao escutar essa afirmação.
-Estamos falando da mesma mulher senhora?
O sorriso da Nora foi muito expressivo. Deteve-se para acomodar uma mecha de cabelo em seu coque.
-Escutei um pouco de sua conversa com minha sobrinha -confessou-. Não tenho o costume de escutar às escondidas -adicionou-, mas estavam discutindo em voz alta, e o que escutei foram os comentários da Sara. Só uma palavra aqui e ali. Me diga, Nathan, o que fará?
-Fazer o que?
-Amá-la e respeitá-la.
-Escutou essa parte, não é? -não pôde conter seu sorriso ao recordar a forma agressiva que sua noiva se atreveu a lhe desafiar.
-Acredito que toda sua tripulação ouviu as observações de Sara. Devo falar com ela sobre sua forma pouco feminina de gritar. Nunca antes a escutei levantar a voz, embora não posso culpá-la. Levou muito tempo para procurá-la. Estava inquieta por você... tê-la esquecido. Deve acreditar quando digo que não acostuma levantar a voz a ninguém.
Nathan negou com a cabeça. Voltou e saiu do camarote. Estava fechando a porta quando Nora gritou:
-Ainda não me respondeste. Vai amá-la e respeitá-la?
-Tenho opção, senhora?
Fechou a porta antes que Nora pudesse responder.
Sara despertou e ouviu que alguém ofegava. O tortuoso som provocou náuseas. Sentou-se assustada. O primeiro pensamento que teve foi para Nora. Possivelmente o movimento do navio a tinha nauseado.
Imediatamente, Sara se levantou e correu para a porta. Ainda estava muito sonolenta e se sentiu desorientada. Nem sequer se deu conta de que estava parcialmente vestida até que tropeçou com um de seus objetos.
Obviamente alguma das criadas do Nathan tinha estado cumprindo com seu trabalho. Sara viu que seu baú tinha sido colocado junto à parede e reparou que certamente estava dormindo quando o trouxeram. Ruborizou-se ao pensar que um homem tinha entrado em seu camarote enquanto estava adormecida. Esperava que a criada a houvesse coberto com uma manta antes .
Ouviu um ruído no corredor e abriu a porta. Nathan estava passando quando ela olhou para fora. Não se incomodou em olhar, só estendeu a mão e voltou a fechar a porta.
Sara não estava ofendida por sua rudeza, e já não estava preocupada com sua tia. Ao ver a cor da tez do Nathan compreendeu tudo. Seu feroz marido viking estava tão verde quanto o mar.
Era possível?, perguntou-se. O rude e invencível marquês do St. James sofria de enjôos?
Sara teria rido com força se não tivesse estado tão esgotada. Retornou à cama e dormiu uma larga sesta, despertou para jantar com Nora e voltou a deitar.
O ar do interior do camarote se esfriou grandemente durante a noite e Sara despertou tremendo. Tratou de tampar os ombros com a manta, mas ao que parecia estava enredado em algo sólido. Quando Sara abriu os olhos descobriu a causa. A manta estava enredada nas pernas nuas do Nathan.
Ele estava dormindo junto a ela.
Quase parou o coração. Abriu a boca para gritar. Ele cobriu a metade do rosto com sua grande mão.
-Não atreva a fazer nenhum som -ordenou.
Ela afastou a mão.
-Saia da minha cama -sussurrou furiosa.
Suspirou antes de responder a essa ordem.
-Sara, você é a que está em minha cama. Se alguém deve ir, será você.
Sra percebeu que ele estava sonolento e o que dizia era sério. Na realidade, sentiu-se satisfeita por sua dura atitude, já que parecia tão esgotado que só queria dormir, e portanto sua virtude ainda estava a salvo.
-Muito bem -anunciou-. Irei dormir com Nora.
-Não, não o fará -respondeu-. Não vai sair deste camarote. Se quiser, minha noiva, pode dormir no chão.
-Por que insiste em me chamar de noiva? -perguntou-. Se não quer me chamar por meu nome, então me chame esposa e não noiva.
-Mas ainda não é minha esposa -respondeu Nathan.
Ela não compreendeu.
-Claro que sou sua esposa... não é?
-Não até que me deite com você.
Passou um longo minuto antes que entendesse afirmação.
-Pode me chamar de noiva.
-Não necessito de sua permissão -grunhiu Nathan. Estendeu suas mãos para abraçá-la quando começou a tremer outra vez, mas ela as afastou.
-Meu Deus, não posso acreditar que isto esteja acontecendo comigo -gritou Sara-. Supõe-se que deve ser amável, gentil, compreensivo.
-O que a faz pensar que não o sou? -não pôde evitar lhe perguntar.
-Está nu.
-E isso significa que não...
Ela queria golpeá-lo. Girou a cabeça, mas podia escutar o riso de sua voz.
-Está-me envergonhando - anunciou-. De propósito.
A paciência de Nathan estava terminando.
-Não estou tentando evergonha-la deliberadamente. É assim que durmo, minha noiva. Você também gostará uma vez que...
-Oh, Deus -exclamou Sara.
Decidiu que devia terminar com esta vergonhosa conversa. Dirigiu-se para os pés da cama, já que um lado estava bloqueado pela parede e o outro por Nathan.
Dentro do camarote estava muito escuro para poder encontrar seu vestido. Nathan tinha atirado ao chão uma das mantas, assim Sara a pegou e se envolveu nela.
Não sabia quanto tempo tinha estado ali olhando para suas costas. Sua respiração profunda indicava que estava totalmente adormecido.
Estava congelando. A camisola fina não a protegia contra o frio do quarto.
Sentou-se no chão, tampou os pés com a manta, e logo se deitou de lado.
Parecia que deitava sobre uma camada de gelo.
-Todos os casais casados têm camarotes separados -sussurrou-. Nunca me trataram tão mal. Se esta for sua idéia de me respeitar, está falhando miseravelmente, Nathan.
Ele escutou cada palavra de sua crítica severa. Conteve seu sorriso quando disse:
-Aprende rápido, minha noiva.
Ela não sabia a que se referia.
-E o que é o que acredita que aprendi rápido? -perguntou.
-Qual é seu lugar. Meu cão demorou mais.
Seu grito de fúria encheu o quarto.
-Seu cão? -ficou de pé de um salto e lhe acertou no ombro-. Tome!, marido.
-Suba, Sara -ordenou-. Sempre durmo deste lado da cama.
-Por que? -perguntou Sara.
-Por segurança -respondeu-. Se atacarem o camarote, o inimigo terá que atacar a mim para chegar até você. Agora durma, mulher.
-Esta é uma regra nova ou velha?
Não respondeu. Voltou a golpeá-lo o ombro.
-Nesta cama estiveram outras mulheres, Nathan?
-Não.
Não sabia por que, mas se sentiu imensamente feliz com essa negativa. Sua irritação se dissipou quando compreendeu que seu marido realmente queria protegê-la. Ainda era um ogro, mas faria tudo o que pudesse para que nada de mal acontecesse a ela. Subiu na cama e se encostou contra a parede.
A cama começou a mover-se com seus tremores. A paciência de Nathan tinha acabado. Estendeu os braços e a abraçou. Sara ficou literalmente coberta por sua calidez e nudez. Colocou uma de suas pesadas pernas sobre as suas e imediatamente lhe esquentou a parte inferior de seu corpo. O peito e os braços se ocuparam do resto.
Ela não protestou. Não podia. Tinha-lhe abafado a boca com a mão. aproximou-se mais dele, colocou a cabeça sob seu queixo e fechou os olhos.
Quando Nathan tirou a mão de sua boca, sussurrou:
-Se alguém for dormir no chão, será você.
Sua única resposta foi um grunhido. Sara sorriu. sentia-se muito melhor. Bocejou, aproximou-se mais de seu marido e deixou que lhe combatesse os tremores.
Dormiu sentindo-se quente e segura... e algo respeitada.
Era um bom começo.






























Capítulo 4

Quando despertou na manhã seguinte, Sara se sentia muito melhor. Finalmente tinha podido descansar, e estava pronta para lutar contra o mundo. Já se sentia o suficientemente forte para voltar a falar com seu marido viking.
Durante a noite tinha idealizado um magnífico plano, e estava segura de que quando lhe explicasse o que queria dele, Nathan estaria de acordo. Provavelmente grunhiria e resmungaria, mas ao final compreenderia o muito que significava para ela, e se renderia.
Havia muitas coisas que discutir, mas decidiu que primeiro resolveria as mais angustiosas.
Queria um noivado e um casamento adequados. Não importava o quanto rude e arrogante que ficasse quando lhe explicasse seu plano, estava decidida a manter-se firme. Simplesmente utilizaria um tom de voz doce e seria o mais lógica possível.
Temia o que lhe esperava. Não era fácil falar com o Nathan. Ele atuava como se fosse uma tarefa árdua estar no mesmo aposento com ela.
Isto lhe suscitou um mau pensamento. E se realmente não queria estar casado com ela?
-Tolices -sussurrou-. É obvio que quer estar casado comigo
Esse pensamento de reforçar sua confiança não durou muito. Estava tão acostumada a pensar em Nathan como em seu marido que nunca pensou em estar casada com outro. Cresceu com a idéia, e devido a sua natureza serena e bem disposta, nunca questionou seu destino.
E Nathan? Ele não parecia à classe de homem que aceitava as coisas sem resistência.
Sara pensou que seguiria preocupada com esta situação até que falasse com ele.
Vestiu-se com esmero para estar o melhor possível quando enfrentasse Nathan. Demorou quase uma hora para desembalar suas posses. O primeiro que escolheu foi um vestido de passeio verde escuro, mas não podia lhe tirar as rugas da saia, assim ficou um vestido cor rosa claro. O decote não era tão pronunciado como o que Nathan tinha criticado com tanta rudeza, assim pensou que isso lhe poria de bom humor.
Na realidade, seu camarote era agradável. Era muito maior do que o de Nora. Seu quarto era três vezes maior, o teto era muito mais alto, o qual dava uma sensação de maior amplitude.
Não tinha muitos móveis. Em um recanto do camarote havia uma grade de metal. Sara supôs que era o lar, embora admitiu que não gostava muito do desenho moderno. No recanto oposto da habitação havia um biombo branco alto. Atrás havia ganchos na parede para pendurar a roupa e um lavabo com uma jarra de porcelana e um recipiente acima. No recanto que estava frente na cama estava seu baú. No centro da habitação havia uma mesa com duas cadeiras, e contra a parede uma grande mesa de mogno.
Sim, seu quarto tinha pouca mobília, mas serviria para os próximos um ou dois meses, tendo em conta o clima. Se o mar permanecia calmo, a viagem até a ilha de sua tia não seria muito longa.
Sara tirou a roupa do Nathan dos ganchos, dobrou-a e a colocou em seu baú. Logo pendurou seus vestidos. Também tirou os papéis e as cartas do escritório e colocou ali seus papéis de desenho e seus lápis.
Depois de vestir o vestido rosa e os sapatos fazendo jogo, escovou o cabelo e o prendeu atrás com um coque rosa. Tomou a sombrinha rosa do baú e foi ver Nora. Esperava que sua tia tivesse descansado o suficiente para caminhar pela coberta. Sara queria repassar seu discurso com sua tia antes de enfrentar Nathan.
Entretanto, Nora estava profundamente adormecida e Sara não se atreveu a despertá-la.
Quando saiu do camarote de sua tia reparou que o corredor estreito e escuro se alargava para uma grande habitação retangular. A luz do sol se filtrava e fazia brilhar os chãos de madeira. A zona antiga estava desprovida de móveis, mas no teto havia uma grande quantidade de ganchos negros de ferro. Perguntou-se para que se usaria essa zona, ou se só era um espaço desperdiçado. Desviou sua atenção quando um membro da tripulação desceu pela escada.

O homem inclinou a cabeça para baixar e logo se deteve abruptamente quando a viu. Sara reconheceu ao homem indolente, mas decidiu fingir que não lhe conhecia. Depois de tudo, tinha atuado de maneira muito pouco feminina e era melhor esquecer aquele incidente.
-Bom dia, senhor -disse com cortesia - Meu nome é lady Sara Winchester.
O negou com a cabeça. Ela não sabia por que.
-Você é lady St. James.
Estava muito surpreendida por seu atrevimento para lhe corrigir por havê-la contradito.
-Sim. Agora sou lady St. James, e obrigado por me lembrar isso.
O homem enorme encolheu os ombros. A Sara fascinava o pendente de ouro que tinha na orelha. Também o fato de que parecia bastante cauteloso com ela. Possivelmente o marinheiro não estava acostumado a lidar com damas gentis.
-Alegra-me muito que me reconheça, senhor - disse Sara.
Esperou que dissesse seu nome. Permaneceu ali olhando-a fixamente durante um interminável minuto antes de responder:
-Nos conhecemos ontem à noite, lady St. James - respondeu-. Lembra-se que bateu em mim?
Ela se lembrava. Olhou aborrecida por tê-la recordado seu mau comportamento, e logo assentiu lentamente com a cabeça.
-Sim, agora que mencionou eu me recordo, senhor, e devo me desculpar por isso. Minha única desculpa é que naquele momento estava um pouco assustada. Qual é seu nome?
-Jimbo.
Embora pensou que o nome era estranho não o comentou. Estendeu as mãos e lhe estreitou a mão direita. A sensação de sua pele suave em suas dureza lhe surpreendeu. A sombrinha caiu ao chão, mas Jimbo estava muito surpreso para levantá-la, e ela queria ganhar sua amizade e tampouco o fez.
-Perdoa-me por lhe haver golpeado, senhor?
Jimbo não tinha palavras. A mulher que tinha conhecido fazia duas noites era muito diferente à dama que lhe estava falando com tanta suavidade e humildade. Também era muito bela. Tinha os olhos castanhos mais bonitos que jamais tinha visto.
-Importa-lhe se a perdôo ou não? -sussurrou Jimbo.
Sara lhe apertou carinhosamente a mão antes de soltar-lhe.
-OH, sim, senhor Jimbo. É obvio que me importa. Eu fui muito rude.
Olhou para o céu.
-Está bem, perdôo-a. Não fez nenhum dano -adicionou. Sentia-se tão torpe como um colegial.
O sorriso da Sara derreteu seu semblante franzido.
-Obrigado, senhor. Tem um coração generoso.
Jimbo moveu a cabeça para trás e riu forte. Quando recuperou a compostura lhe disse:
-Assegure-se de mencionar meu... Coração generoso ao capitão. Ele apreciará ouvir um elogio tão importante.

Ela pensou que era uma boa idéia.
-Sim, o mencionarei -prometeu.
Como o marinheiro parecia estar de bom humor, decidiu lhe fazer algumas pergunta.
-Senhor? Viu às criadas esta manhã? Minha cama ainda está desarrumada e tenho vários vestidos que necessitam atenção.
-Não temos criadas a bordo deste navio -respondeu Jimbo Na realidade, você e sua tia são as únicas mulheres que viajam conosco.
-Então, quem? -não terminou a frase. Se não tinha criadas, quem lhe tinha tirado a roupa? A resposta surgiu imediatamente. Nathan.
Jimbo observou que se ruborizava e se perguntou no que estaria pensando.
-Tenho outra pergunta que lhe fazer, senhor, se tiver a paciência suficiente para escutar.
-O que?
-Como se chama este lugar? Tem um nome específico? -assinalou com a mão a área que a rodeava-. Acreditei que era um corredor, mas agora com a luz do sol vejo que é maior. Seria um magnífico salão -adicionou-. Quando subi a bordo não vi esse biombo, e...
Deixou de falar quando Jimbo correu o biombo para um lado e o prendeu com fivelas e cordas contra a parede que estava perto da escada.
-Este é o quarto dos oficiais -lhe indicou Jimbo-.Assim o chamam nas verdadeiras fragatas.
O corredor tinha desaparecido por completo, e uma vez que o biombo foi retirado, Sara pôde ver a escada que conduzia a outro nível.
-Aonde conduz essa escada?
-O vinho e a água estão armazenadas no nível que está debaixo de nós -respondeu Jimbo-. Mais abaixo está a segunda adega, onde guardamos as munições.
-Munições? Para que precisamos de munições?
Jimbo sorriu.
-Não observou os canhões quando subiu a bordo, minha senhora?
Ela negou com a cabeça.
-No momento estava um pouco aborrecida, senhor, e não prestei muita atenção aos detalhes.
Jimbo pensou que ao dizer um pouco aborrecida não expressava a verdade. A mulher estava furiosa.
-Temos oito canhões no total -lhe explicou Jimbo-. É um número menor que a maioria dos navios, mas nós sempre estamos sobre o objetivo assim não nos necessitar mais. Este navio é uma versão em menor escala de uma fragata que o capitão gostava-adicionou-. As munições estão armazenadas debaixo do nível da água em caso de um ataque. Assim estão protegidas de uma explosão.
-Mas senhor Jimbo, agora não estamos em guerra. Por que o capitão tem essas armas a bordo? Qual é a necessidade?
Jimbo encolheu os ombros. De repente, Sara abriu mais os olhos.
-Pagam -pronunciou o nome do infame pirata e assentiu com a cabeça-. É obvio. Seu capitão é muito ardiloso ao estar preparado para os vilãos que vagam pelos mares. Ele pensa em nos defender de todos os piratas, verdade?
Foi um esforço enorme, mas Jimbo pôde ocultar seu sorriso.
-Ouviu falar sobre Pagam, verdade?
Sara mostrou sua exasperação.
-Todo mundo ouviu falar sobre esse vilão.
-Vilão? Então, não lhe agrada Pagam?
Ela pensou que era a pergunta mais estranha que tinha escutado. O brilho nos olhos do Jimbo também a confundiu. Parecia estar desfrutando da situação e isso tampouco tinha sentido. Estavam falando sobre o horrendo pirata, não compartilhando a última brincadeira que circulava por Londres.
-Sem dúvida que não me agrada este homem. É um criminoso, senhor. Há uma grande recompensa por sua cabeça, grande como a Inglaterra. Obviamente se está deixando levar por uma natureza romântica se acreditar nessas tolas histórias sobre a bondade de Pagam.
Um som agudo interrompeu o bate-papo.
-O que é esse som? -perguntou Sara-. Ouvi quando estava me vestindo.
-É o contramestre anunciando a mudança - explicou Jimbo-. O escutará a cada quatro horas, noite e dia. É o aviso da mudança de serviço.
-Senhor Jimbo? -disse-lhe ao ver que começava a afastar-se dela.
-Lady Sara, não tem que me chamar senhor -se queixou-. Jimbo esta bem.
-Então deve deixar de me chamar lady Sara -replicou Sara-. Agora somos amigos, e pode me chamar simplesmente Sara -lhe tirou do braço-. Posso te fazer uma última pergunta?
Olhou-a por cima de seu ombro.
-Sim?
-Ontem à noite... ou foi ontem à noite? Bom, observei que parecia ser empregado de meu marido. É correto?
-Sim.
-Sabe onde Nathan está? Eu gostaria de falar com ele.
-Está na popa.
Sara se surpreendeu, mas se recuperou rapidamente. Logo negou com a cabeça. A censura de sua expressão fez que Jimbo se voltasse completamente.
-Disse que está em popa...
-Sim, poderia estar louco -começou a lhe dizer, logo se deteve para recolher sua sombrinha e passou junto ao gigante-. Mas é muito desleal de sua parte expressar em voz alta esse pensamento. Agora sou a esposa de Nathan, e não vou escutar esses comentários. Por favor, não volte a mostrar essa falta de respeito.
Matthew desceu pela escada e ouviu que seu amigo murmurava algo sobre o respeito. Lady Sara sorriu enquanto passava junto a ele.
-O que era tudo isso? -perguntou-lhe Matthew a seu amigo-. Achei que o ouvi dizer...
Jimbo se interrompeu olhando-o fixamente.
-Não vai acreditar nisto, mas acabo de prometer que nunca direi a ninguém que Nathan está louco.
Matthew sacudiu a cabeça.
-Ela é estranha, não é, Jimbo? Pergunto-me como uma pessoa tão inocente pôde sair de uma família tão ruim.
-Sara não é como nossa Jade -comentou Jimbo. Estava se referindo à irmã menor de Nathan-. Em todas nossas viagens juntas nunca vi Jade chorar.
-Não, ela nunca chorou -respondeu Matthew com orgulho-. Mas esta... Não sabia que uma mulher podia se comportar da forma em que ela o fez aquela primeira noite.
-Gritando como um demônio -demarcou Jimbo-. Jade nunca gritou -adicionou.
-Nunca -asseverou Matthew com voz enfática. de repente Jimbo sorriu.
-As duas são tão diferentes como o fogo e a neve, mas têm uma coisa em comum.
-E o que é?
-Ambas são bonitas.
Matthew assentiu com a cabeça.
A comparação entre as duas mulheres se interrompeu quando ouviram um grito. Ambos sabiam que era Sara.
-Ela é uma verdadeira incomodo, não é? -exclamou Matthew.
-Uma incomodo barulhento-murmurou Jimbo-. Me pergunto o que acontecerá agora.
Era estranho, mas ambos estavam ansiosos por retornar à coberta para ver o que estava acontecendo. Também ambos estavam sorridentes.
Sara tinha encontrado Nathan. Ele estava no leme. Ia chama-lo quando lhe deu as costas e tirou a camisa. Sara viu as cicatrizes. Sua reação foi instintiva. Gritou enfurecida.
-Quem fez isso com você?
Nathan reagiu imediatamente. Pegou seu chicote e se voltou para enfrentar a ameaça. Não demorou muito para perceber que não havia nenhum inimigo tentando machucar sua noiva. Sara estava ali sozinha.
-O que aconteceu? -gritou enquanto tentava se acalmar-. Pensei que alguém estava... -deteve-se metade do grito, respirou profundamente e depois continuou:
-Está sentindo alguma dor, senhora?
Ela negou com a cabeça.
-Não volte a gritar assim - ordenou com um tom de voz muito mais suave-. Se quiser que a atenda, simplesmente peça.
A sombrinha da Sara caiu sobre a coberta quando se aproximou de seu marido. Estava tão surpreendida pelo que tinha visto que nem sequer se deu conta de que a tinha derrubado. Deteve-se a um passo de Nathan, que viu as lágrimas em seus olhos.
-E agora o que aconteceu? -perguntou-lhe-. Alguém a assustou? -Não tinha paciência para isto, para conter-se.
-É suas costas, Nathan -sussurrou-. Está cheia de cicatrizes.
Ele sacudiu a cabeça. Ninguém tinha atrevido a mencionar sua desfiguração. Aqueles que tinham visto suas costas tinham fingido não as ter percebido.
-Obrigado por dizer me -replicou Nathan-. Nunca teria sabido se...
Ela começou a chorar. Obviamente seu sarcasmo era muito para ela.
-Olhe, Sara -sussurrou exasperado-, se ver minhas costas a ofende, vai para baixo.
-Não me ofende -respondeu-. por que diz algo tão duro?
Nathan indicou a Jimbo que tomasse conta do leme, e logo colocou as mãos em suas costas para não sacudi-la.
-Está bem. Então, por que gritou?
Sara reparou que tinha muita sensibilidade sobre suas marcas.
-Zanguei-me muito quando vi as cicatrizes, Nathan. Teve um acidente?
-Não.
-Então alguém lhe fez isso deliberadamente? -não lhe deu tempo para responder-. Que monstro lhe provocou essa dor? Meu Deus, como deve ter sofrido.
-Pelo amor de Deus, isso passou faz muito tempo.
-Foi Pagam? -perguntou-lhe.
-O que?
Nathan parecia surpreso. Sara pensou que sua suspeita tinha sido correta.
-Foi Pagam o que lhe fez isso, verdade?
Jimbo começou a tossir. Nathan lhe olhou fixamente até que se calasse.
-Por que crê que foi Pagam? -perguntou- Nathan a Sara.
-Porque é muito desconsiderado -respondeu ela.
-OH? E como sabe isso?
Ela se encolheu os ombros.
-Ouvi que o era.
-Não foi Pagam.
-Está absolutamente seguro, Nathan? Ninguém sabe que aspecto tem o vilão. Possivelmente foi Pagam e você não soube porque não disse seu verdadeiro nome.
-Sei quem o fez.
-Então me dirá quem o fez?
-por que?
-Assim poderei lhe odiar.
Nathan ficou irritado. Sua lealdade a irmã
-Não, não te direi quem foi.
-Mas não foi Pagam.
Nathan pensou que esta mulher podia levar a um homem à bebida.
-Não - voltou a responder.
-Nathan, não tem que gritar.
Deu-lhe as costas e retornou ao leme. Jimbo se afastou. Sara esperou até que ficaram sozinhos e se aproximou mais de seu marido.
Ele sentiu o toque de seus dedos em seu ombro direito. Não se moveu. A delicada carícia nas costas era incrivelmente suave e também provocadora. Não podia ignorá-la nem tampouco as estranhas sensações que lhe evocava.

-Ontem à noite não te teria lhe golpeado nas costas se tivesse sabido destas feridas -sussurrou Sara-. Mas não podia ver na escuridão, e não... sabia.
-Pelo amor de Deus, mulher, agora não dói. Aconteceu faz muitos anos.
Seu tom abrupto a surpreendeu. Deixou cair a mão a um lado de seu corpo. aproximou-se para colocar-se a seu lado. Tocou-lhe o braço com o dela. Olhou-lhe à cara esperando que ele também a olhasse. Pensou que sua expressão podia ser esculpida em uma pedra. Tinha o aspecto que ela tinha imaginado de um viking. Os músculos que tinha sobre os ombros e os braços eram os de um guerreiro. Tinha o peito coberto com pêlo escuro que terminavam em uma "V" à altura da cintura. Não se atreveu a olhar mais abaixo, pois teria sido um descaramento, e quando voltou a olhar para cima viu que a estava observando.
-Nathan?
-O que?
Tinha que parecer sempre tão resignado quando lhe falava? Sara se esforçou para ser amável quando se desculpou.
-Sinto se machuquei seus sentimentos.
Ele não pensou que esse comentário merecesse uma resposta.
-O capitão não se incomodará? -perguntou.
-Incomodar-se por que?
-Porque está conduzindo seu bote.
Seu sorriso a reconfortou.
-Não é um bote, Sara. Seahawk pode ser chamado de navio ou casco de navio, mas não o diminua. É um insulto, minha noiva, e os capitães não ficam satisfeitos ao ouvir essa classe de blasfêmias.
-Capitães?
Nathan assentiu com a cabeça.
-OH, Nathan, não me tinha dado conta. Então somos ricos?
-Não.
-Por que não?
Parecia desgostada. Nathan lhe explicou rapidamente como ele e seu amigo Colin tinham começado com a companhia naval, por que tinham decidido que ele permanecesse como um sócio comandatário, e terminou seu breve resenha com o fato de que em uns dez meses a companhia começaria a ter lucros.
-Como pode estar tão seguro de que em um ano seremos ricos?
-O contrato que assinei.
-Refere a um contrato de serviço marítimo?
-Não.
Sara suspirou de maneira dramática.
-Por favor, me explique, Nathan.
Ele ignorou sua petição. Tocou ligeiramente com o cotovelo. Obter algo dele era todo um esforço.
-Se estiver tão seguro sobre isto, alegrar-me te ajudar.
Nathan riu. Sara não se desalentou. Obviamente seu oferecimento de ajuda lhe tinha satisfeito. Então disse entusiasmada:
-Poderia te ajudar com os livros. Sou realmente boa com os números. Não? -adicionou ao ver que Nathan negava com a cabeça-. Mas quero ajudar.
Ele deixou o leme e se deu a volta para olhá-la. Ela estava linda, pensou enquanto observava como tratava de arrumá-los cachos. Havia muito vento e a tarefa era impossível. Estava vestida de rosa. Unia as bochechas ruborizadas. Seu olhar se deteve em sua boca. Seus lábios eram tão rosados como toda ela.
Deixou-se levar pelo que sentia. Puxou a pelos ombros antes de que ela pudesse afastar-se. Sustentou-a contra seu peito, logo enredou uma mão nos cachos de sua nuca. Seu cabelo era sedoso. Puxou os cachos e lhe inclinou a cabeça para trás. disse-se a si mesmo que só a beijaria pela tranqüilidade de sua mente, já que sabia muito bem que uma vez que lhe explicasse a tarefa especial que teria que realizar começaria a gritar outra vez.
-Cada um tem que cumprir com uma tarefa especial - disse. Aproximou sua boca da dela - Meu dever é que fique grávida, Sara, e o teu é me dar um filho.
Beijou-a antes de que pudesse gritar.
Ao princípio, Sara estava muito aturdida para reagir. Sua boca era ardente, exigente. Estava-a afogando com seu tibieza, sua maravilhosa fragrância masculina.
Nathan queria que respondesse. Sara não lhe decepcionou. Quando lhe introduziu a língua na boca, Sara sentiu os joelhos fraquejarem. Abraçou-o e se pendurou dele.
Não se deu conta de que o estava beijando, de que os sons que ouvia eram dela.
Quando Nathan obteve toda seu cooperação suavizou o beijo. Ela era muito suave. Sentia o calor dentro dela, queria aproximar-se mais e mais. Puxou-a pelas nádegas e a levantou lentamente até que sua pélvis tocou a dele.
Beijou-a uma e outra vez. Desejava estar dentro dela. Nathan sabia que estava a ponto de perder toda sua disciplina. Seus desejos clamavam por ser satisfeitos. Então os assobios e as risadas penetraram em sua mente. Era óbvio que sua tripulação estava desfrutando do espetáculo que lhes estava brindando. Nathan tratou de se afastar de Sara.
Ela não se afastou dele. Puxou-o pêlos cabelo para que voltasse a aprofundar o beijo. cedeu ante sua silenciosa petição com um grunhido. O beijo que estavam compartilhando era abertamente carnal, mas quando Sara lhe tocou a língua com a dela, Nathan se deteve.
Quando se separaram ambos estavam sem fôlego. Ao parecer, Sara não podia manter o equilíbrio. caiu sobre o bordo de madeira que estava junto ao leme. apoiou-se uma mão sobre o peito e sussurrou:
-OH, Deus.
Quando seu capitão deixou de tocar a sua noiva, os homens retornaram a suas tarefas. Nathan observou várias costas antes de voltar a olhar a Sara. Não pôde deixar de sentir-se extremamente satisfeito ao ver a expressão de confusão no rosto da Sara. Desejava voltar a beijá-la.

Sacudiu a cabeça ante sua perda de disciplina. Decidiu que já tinha perdido suficiente tempo com sua noiva e retornou ao leme. Franziu o semblante ao ver que suas mãos tremiam. Era óbvio que o beijo tinha afetado um pouco mais do que tinha pensado.
Sara custou muito a se recuperar. Estava tremendo dos pés a cabeça. Não tinha idéia de que um beijo pudesse ser tão... arrebatador.
Quando voltou a ver a expressão de aborrecimento no rosto de Nathan, Sara pensou que não lhe tinha afetado.
Sentiu vontade de chorar e não compreendeu por que. Então recordou as afirmações obscenas que tinha feito sobre sua tarefa especial.
-Eu não sou uma égua reprodutora -sussurrou-. E não estou segura se gostei do modo queme tocou.
Nathan a olhou por cima do ombro.
-Pôde ter me enganado. Mas pela forma em que me beijou...
-Acredito que eu não gostei.
-Mentirosa.
Era um insulto, sim, mas a forma em que disse a palavra lhe enfraqueceu o coração. Soou como uma carícia.
Isso não tinha sentido. Estava tão se desesperada por uma palavra de amabilidade do viking que respondia a seus insultos? Sara sentiu que se ruborizava. Olhou os sapatos e cruzou modestamente as mãos frente.
-Não pode voltar a me beijar -anunciou, desejando que seu tom tivesse sido um pouco mais enérgico.
-Não?
Era evidente que se estava achando tudo aquilo uma piada.
-Não, não pode. Decidi que primeiro terá que me cortejar, Nathan, e logo teremos uma cerimônia adequada ante um verdadeiro pastor antes de que volte a me beijar.
Não lhe olhou enquanto pronunciou o enfático anúncio, mas quando terminou levantou a vista para avaliar sua reação.
Infelizmente, sua expressão não lhe indicou nada. Ela franziu o semblante.
-Acredito que nosso matrimônio poderia ser cancelado na Corte se não realizarmos nossos votos ante um homem de Deus.
Finalmente, Nathan mostrou sua reação. Talvez não o tivesse feito. Seu cenho era tão ardente como o sol do meio-dia que os estava castigando.
Mas seus olhos... a cor era tão intensa, tão encantador. Quando a olhava aos olhos ela se esquecia de respirar. De repente pensou que seu viking era realmente um bonito rapaz.
Por que não se deu conta antes?, perguntou-se. Deus santo, estava começando lhe considerar atraente?
Nathan a tirou de seus pensamentos quando lhe disse:
-Está pensando que encontrou uma forma de anular este contrato?
-Não.
-Bom -replicou Nathan-. Como te disse antes, Sara, não vou dissolver este contrato.
Não lhe agradou seu tom arrogante.
-Já sabia isso antes de que me dissesse isso.
-Sabia?
-Sim.
-Como?
Começou a negar outra vez com a cabeça, mas Nathan a deteve tomando-a outra vez em seus braços. Segurou com firmeza seu cabelo.
-Me solte, Nathan. Dói-me a cabeça quando segura meu cabelo assim.
Não a deixou, mas começou a lhe esfregar a nuca. Sua carícia era muito confortante. Sara teve que conter-se para não suspirar.
-Sabe quanto quero a terra e o dinheiro, não é, Sara? -perguntou-lhe-. Por isso sabia que ia cumprir com o contrato.
-Não.
Nathan não sabia por que a tinha pressionado para que lhe desse uma explicação. Entretanto, sentiu curiosidade porque ela estava atuando com tanto acanhamento. Não podia entender à mulher, entretanto estava decidido a compreender como trabalhava sua mente.
-Então, como sabia que eu queria me casar com você?
-Por que não iria querer? -sussurrou.
-Por que não ia querer?
-Nathan, sou tudo o que um homem pode querer de uma esposa. -Tentou parecer tão arrogante e segura de si mesmo como quando lhe falava.- Sério -adicionou assentindo com veemência a cabeça. - É assim? Posso ver a risada em seus olhos-Sua segurança começou a evaporar-se imediatamente.
-Sim, imagino que sim.
Ruborizou-se um pouco. Como podia alguém ser tão arrogante e tímida ao mesmo tempo?, perguntou-se Nathan. Ela era uma contradição para ele.
-Poderia me dizer por que acredita que é tudo o que eu poderia querer?
-Claro - respondeu-. Para começar, sou bastante bonita. Não sou insossa -adicionou imediatamente- Devo admitir que não sou uma beleza deslumbrante, Nathan, mas isso não importa.
-Crê que não é uma... beleza deslumbrante? -perguntou-lhe assombrado.
Olhou-lhe com o semblante bem franzido pois estava seguro de que a estava atormentando deliberadamente.
-É obvio que não. Deve ter um pouco de crueldade para escarnecer de meu aspecto. Não sou muito feia, Nathan. Embora tenha o cabelo e os olhos castanhos não significa que seja... feia.
Ele sorriu com ternura.
-Sara, não notou como os homens param para observá-la quando passa?
Sentiu desejo de lhe apunhalar.
-Se quer dizer que sou tão pouco atraente, bem, senhor... -sussurrou.
-Bem, o que? -perguntou-lhe.
-Você tampouco sabe apreciar, marido.

Ele sacudiu a cabeça. Não estava casado com uma mulher vaidosa. Isto lhe agradava grandemente.
-Tem razão -lhe respondeu-. Vi mulheres mais bonitas, mas como você disse isso não importa
-Se acha que me faz sentir completamente inferior com essa arrogante observação, está enganado -replicou Sara-. Realmente sou tudo o que um homem poderia esperar. Sorri? Falo sério. Fui educada para ser uma boa esposa, como você foi educado para ser um bom fornecedor. Assim são as coisas -terminou de falar encolhendo deliberadamente os ombros.
Era evidente a vulnerabilidade em sua expressão. Também tinha incitado sua curiosidade.
-Sara, para que foi educada exatamente?
-Posso administrar uma casa com facilidade, não importa a quantidade de serventes que haja --começou a lhe explicar-. Posso costurar sem espetar um dedo, organizar uma festa para duzentas pessoas -exagerou-, e cumprir com outros deveres relacionados com o manejo de uma grande propriedade.
Estava segura de que lhe tinha impressionado com sua lista. Até ela estava impressionada. A maior parte das coisas eram inventadas, é obvio, já que não tinha a menor idéia se podia dirigir ou não uma propriedade, mas Nathan não podia conhecer suas carências, verdade? Além disso, o fato de que nunca tivesse atendido convidados não significava que não pudesse organizar uma festa para duzentos convidados. Acreditava que podia cumprir com qualquer objetivo se realmente o propunha. -E bem? -perguntou-lhe ao ver que não fazia nenhum comentário-. O que pensa de minhas habilidades?
-Poderia contratar alguém para que dirigisse minha casa -replicou Nathan-. Não tenho que estar casado para ter um lar confortável.
Quase riu com força, já que a expressão de decepção em seu rosto era cômica.
Sara tratou de não sentir-se derrotada por seu comentário.
-Sim, mas eu também posso manter uma conversa inteligente sobre qualquer tema com seus convidados. Tenho lido muito.
Deteve-se ao ver que Nathan fazia uma careta. Sua conduta era a que alguém podia esperar de alguém com seu sobrenome. Nathan estava resultando ser tão desprezível como os outros homens do St. James. Era tão cabeça de dura como os outros.
-Não poderia contratar a ninguém com tão boa educação -sussurrou Sara.
-E isso é tudo? -perguntou-lhe-. Não está educada para fazer nada mais?
Seu orgulho estava destroçado. Nada do que dizia impressionava a este homem?
-Como por exemplo?
-Como me agradar na cama.
Ruborizou-se mais.
-É obvio que não. Supõe-se que, você deve me ensinar como... -deteve-se e pisou com força-. Como se atreve a pensar que me tenham educado para... para...
Não podia continuar. Seu olhar o confundia. Não sabia se ia começar a chorar ou trataria de lhe matar.
-Suponho que uma rapariga pode ocupar-se dessas tarefas -disse para pertubá-la.
Era um prazer chateá-la, pensou Nathan. Suas reações eram tão... desinibidas. Sabia que devia terminar com o jogo. Ela estava se enfurecendo, mas ele estava desfrutando tanto que não queria deter-se.
-Não terá uma rapariga.
Gritou-lhe essa afirmação. Encolheu os ombros. Voltou-lhe a pisar.
-Não importa quão bela seja, não importa quanto talento possa ter, não importa... não terá.
Não lhe deu tempo para responder.
-Quanto a dormir comigo, Nathan, pode se esquecer disso. Primeiro terá que me cortejar e nos casaremos ante um ministro.
Esperou durante um comprido minuto para que lhe respondesse.
-E bem? -perguntou-lhe.
Ele voltou a encolher os ombros.
Como pôde pensar que era bonito? Talvez se tivesse forças suficiente para lhe chutar o traseiro...
-Isto que estamos discutindo é um assunto muito sério -insistiu Sara-. E se voltar a encolher os ombros, juro que voltarei a gritar.
Pensou que não era o momento de mencionar que já o estava fazendo.
-Nós, não -disse com um tom suave-. Você que acredita que este assunto é sério - explicou-. Eu, não.
Sara respirou profundamente e o tentou por última vez.
-Nathan, por favor, tente compreender meus sentimentos -sussurrou-. decidi que não é decente que se deite comigo. -sentia-se muito incômoda para continuar com esse tema-. Vai se casar comigo... sim ou não?
-Já o fiz.
Estava furiosa com ele.
-Olhe, é muito simples de compreender, inclusive para um St. James. Quero que me corteje, Nathan, e não me vai tocar até que façamos nossas promessas diante de um homem de Deus. Ouviu?
-Estou seguro de que a ouviu claramente, senhorita -responderam de trás. Sara se afastou do Nathan e ao voltar-se viu uns dez homens que lhe estavam sorrindo. Todos tinham deixado de cumprir com suas tarefas e estavam assentindo com a cabeça. A maioria estavam bastante afastados.
-Sim, claro que entendeu cada palavra -disse outro-. Não deixará que o capitão a toque até que se case corretamente. Não é assim, Hedley?
Um homem calvo e curvado assentiu com a cabeça.
-Isso é o que ouvi -lhe gritou.
Sara estava mortificada: tinha estado gritando como uma louca.

Decidiu culpar Nathan.Voltou-se para o olhar fixamente.
-Tem que me incomodar assim?
-Você está fazendo um bom trabalho, minha noiva. Volte para o camarote -lhe ordenou-. E tire esse vestido.
-Por que? Você não gosta?
-Tire tudo, Sara. Descerei dentro de uns minutos.
Quase lhe falha o coração quando compreendeu o que lhe havia dito. Estava muito furiosa para seguir tentando raciocinar. Afastou-se lentamente dele sem dizer uma palavra.
Enquanto se dirigia para a escada passou junto a Jimbo.
-Tinha razão, senhor Jimbo. Nathan está louco.
O marinheiro não teve tempo de responder, pois Sara já tinha ido.
Não começou a correr até que chegou ao quarto dos oficiais. levantou-se a saia e correu como um raio. Não se deteve na porta de seu camarote mas sim continuou até o camarote de sua tia Nora.
Apesar de seu tamanho e sua idade, Matthew podia ser muito rápido quando a ocasião o requeria, e chegou à porta ao mesmo tempo que Sara.
-Lady Sara, espero que não incomode a doce Nora visitando-a agora -lhe disse desde atrás.
Ela não ouviu que ele se aproximava. Emitiu um forte som entrecortado e se voltou.
-Assustou-me. Não deveria andar às escondidas, senhor. Qual é seu nome?
-Matthew.
-Encantada em lhe conhecer -respondeu-. E quanto a minha tia, só queria ver como estava.
-Eu estou cuidando de sua tia -explicou Matthew-. Hoje não pode receber visitas. Está fatigada.
Imediatamente, Sara se sentiu culpada. Tinha a intenção de contar tudo para sua tia para que a ajudasse a lidar com o Nathan. Entretanto, seus problemas pareciam mesquinhos.
-Nora não está realmente doente, verdade, -perguntou Sara com temor na voz-. Vi os hematomas, mas pensei...
-Vai melhorar -anunciou Matthew. Estava satisfeito por sua atitude carinhosa-. Só precisa de muito descanso. Tampouco pode se mover. Teve as costelas quebradas...
-Oh, Deus, não sabia.
-Está bem, está bem, não comece a chorar -pediu Matthew. Os olhos de lady Sara estavam úmidos. Não sabia o que faria se ela desmoronasse ali. Pensar em consolar à esposa do capitão o deixava nervoso-. Não está tão mal -lhe explicou assentindo enfaticamente com a cabeça-. A enfaixei forte. Só precisa descansar. Tampouco quero que ela se preocupe com nada -adicionou.
Imediatamente, Sara concluiu que ele tinha adivinhado qual era sua missão. Ela baixou a cabeça arrependida e lhe respondeu:
-A ia carregar com um problema especial que se apresentou. Eu tampouco quero incomodá-la, é obvio. Não quero que se preocupe.
Quando despertar, poderia lhe dizer que virei a visitá-la logo que me peça isso?
Matthew assentiu com a cabeça. Sara tomou a mão. A amostra de carinho a comoveu.
-Obrigado por ajudar Nora. Ela é uma mulher muito boa. Sofreu muito, senhor Matthew, e tudo por minha culpa.
Parecia que ia voltar a chorar.
-Você não machucou a sua tia -disse Matthew-. Você não lhe chutou as costelas. Disseram-me que seu pai e seus irmãos foram os que estiveram atrás dessa suja tarefa.
-Quem esteve atrás desta traição foi meu tio Henry -replicou Sara-. Mesmo assim, eu também sou responsável. Se não tivesse insistido em que Nora retornasse comigo a Inglaterra...
Não continuou com sua explicação. Voltou-lhe a apertar a mão e logo lhe fez sorrir quando fez uma reverência formal e lhe disse que estava muito agradecida de lhe ter entre seu pessoal.
Matthew esfregou a face enquanto observava como Sara retornava a seu camarote. Resmungou por esta tolice e pelo fato de que tinha ficado realmente nervoso quando ela quase começou a chorar. Mesmo assim, estava sorrindo quando se afastou.
Sara continuou pensando em Nora até que abriu a porta de seu camarote. Assim que viu a grande cama, o problema do Nathan se converteu em seu principal pensamento.
Não se atreveu a perder um minuto mais. Fechou a porta com chave, e logo arrastou seu pesado baú até a entrada.
Correu para a mesa, pensando em colocá-la contra o baú para reforçar sua fortaleza.
Embora se esforçou não pôde movê-la. Finalmente soube qual era a causa. Tinha as patas cravadas ao chão. "por que alguém quereria fazer uma coisa assim?", sussurrou.
Tratou de mover o escritório e percebeu que também estava parecido ao chão. Por sorte as cadeiras não estavam fixas. Entretanto, eram pesadas. Sara arrastou uma até o baú e lutou até que a pôde levantar e a colocou sobre ele.
Retrocedeu para observar seu trabalho. esfregou-se a parte traseira da cintura. Sabia que bloquear a entrada era só uma medida provisória, mas mesmo assim se sentiu muito inteligente. Entretanto, não demorou para descartar esse pequeno orgulho, ao advertir que se estava comportando como uma menina. Sim, sua conduta era infantil, mas também o era a de Nathan. Se ele não ia ser razoável, por que teria que sê-lo ela?
Possivelmente para o anoitecer seu viking compreenderia que sua petição era válida. E se o cabeça de mula não estava de acordo, então estava decidida a ficar dentro do camarote até que cedesse. Embora morrera de fome.
-Eu gostava mais do outro jeito.
Saltou e logo se voltou. Viu o Nathan apoiado no bordo do escritório, sorrindo.
Não esperou que lhe perguntasse como tinha entrado, simplesmente lhe assinalou a porta do teto.
-Sempre entro por cima -explicou com voz suave-. É mais rápido

Teria que assentido com a cabeça, mas não estava segura. Apoiou-se no baú e o olhou fixamente. O que ia fazer agora?
Sua noiva parecia ter perdido a voz. Nathan decidiu dar um pouco mais de tempo para que se acalmasse antes de pressioná-la. Estava muito pálida e existia a possibilidade de que voltasse a desmaiar.
-Suponho que estava tentando mudar a decoração do quarto -disse com um tom suave e tranqüilizador.
Sara tinha vontade de gritar, mas em lugar disso respondeu:
-Sim. Eu gosto mais assim
Ele negou com a cabeça.
-Não funcionará.
-Não.
-Talvez não tenha percebido, mas o baú e a cadeira estão bloqueando a porta. Além disso, não acredito que nenhum dos dois queira sentar-se... ali em cima.
Seus comentários eram ridículos, é obvio. Ambos sabiam por que a porta estava bloqueada. Entretanto, ela fingiu interessar-se no tema para salvar seu orgulho.
-Sim, acredito que tem razão - indicou-. Os móveis estão bloqueando a porta. Acabo de me dar conta disso. Muito obrigado por me fazer notar -não se deteve para respirar e adicionou-: por que a mesa está cravada no chão?
-Também tentou mover isso?
Ela ignorou o tom risonho de sua voz.
-Pensei que ficaria muito melhor frente ao baú. A mesa também -adicionou-. Mas não os pude mover.
Ele selevantou e deu um passo em sua direção. Ela retrocedeu imediatamente.
-Quando o mar se agita, os móveis se movem - explicou-. Essa é a razão.
Sara sentiu como se a estivessem espreitando. Nathan movia o longo cabelo sobre os ombros quando caminhava. Os músculos de seus ombros pareciam enrolar-se com seus movimentos de pantera. Ela desejava fugir dele, entretanto, no profundo de seu ser queria que a alcançasse. Tinha gostado da forma que a tinha beijado... mas isso seria tudo o que gostaria.
Pelo olhar de Nathan sabia que quereria muito mais dela. Suas táticas intimidantes a estavam enlouquecendo. Franziu o semblante para confundi-la.
E sorriu.
Fez um semicírculo pelo camarote, mas ficou prensada na cabeceira. Nathan se deteve ao ver o medo em seus olhos. Suspirou profundamente.
Sara acreditou que ele tinha pensado melhor, mas antes de que pudesse alegrar-se com essa possibilidade ele a puxou pelos ombros e a levou para si.
Levantou-lhe o queixo e a obrigou a olha-lo. Sua voz era muito amável quando disse:
-Sara, sei que isto é difícil para você. Se houvesse mais tempo poderíamos esperar até que me conhecesse um pouco melhor. Não vou mentir dizendo que vou te cortejar porque a verdade é que não tenho a paciência nem a experiência para fazê-lo. Mas mesmo assim não quero que tenha medo de mim -se deteve e encolheu os ombros, e logo adicionou-: Não deveria me importar se me teme ou não, mas me importa.
-Então...
-Não há tempo -a interrompeu-. Se não tivesse fugido de mim há oito meses, agora teria meu filho.
Sara abriu grandes os olhos ante este anúncio. Nathan pensou que estava reagindo ante a menção de um bebê. Era tão inocente, e Nathan sabia que não tinha nenhuma experiência em assuntos sexuais. E isso o agradava.
-Eu não fugi de você. Do que está falando?
Nathan franziu o semblante com esta negativa.
-Não se atreva a mentir -apertou um pouco seus ombros para enfatizar suas palavras-. Não o permitirei, Sara. Sempre deve ser completamente honesta comigo.
-Não estou mentindo -respondeu furiosa. Nunca fugi de você, viking. Nunca.
Ele acreditou. Parecia muito sincera e completamente descontente.
-Sara, enviei- uma carta a seus pais informando sobre minha intenção de ir buscá-la. Mandei o mensageiro numa sexta-feira. supunha-se que você deveria estar pronta na segunda-feira seguinte. Até lhes indiquei a hora. No domingo anterior fui à ilha de sua tia.

-Eu sabia -replicou Sara- Nathan, meus pais não devem ter recebido a carta- Nenhum dos dois me disse uma palavra. Era um momento caótico. Minha mãe estava muito preocupada com sua irmã, minha tia Nora. Nora sempre nos escrevia pelo menos uma carta por mês, mas mamãe não tinha recebido nenhuma fazia muito tempo. Estava adoecendo pela preocupação por Nora. Quando sugeri que podia ir ver o que acontecia esteve imediatamente de acordo.
-Quando sua mãe lhe confiou esta preocupação? -perguntou Nathan.
Seu cinismo a irritava. Sabia o que estava pensando e franziu o semblante.
-Poucos dias antes que eu viajasse -admitiu Sara-. Mas não teria dado crédito a suas preocupações se não a tivesse encontrado chorando. E mostrou-se muito relutante a me carregar com a preocupação. Muito relutante -adicionou-. Agora que o penso, estou segura de que fui eu que sugeriu ir à ilha da Nora.
Um pensamento repentino lhe chamou a atenção.
-Como sabia meu verdadeiro destino? Minha família disse a todo mundo que tinha ido às colônias para visitar minha irmã mais velha.
Não se incomodou em explicar que seus homens a tinham estado seguindo e que ela tinha comprado as passagens em um de seus navios. Simplesmente encolheu os ombros.
-Por que não podiam dizer a verdade sobre o assunto?
-Porque Nora os tinha desonrado - explicou Sara-. Faz quatorze anos que casou com seu noivo e saiu da Inglaterra. Estava certa de que todos esqueceriam o escândalo, mas ninguém o fez.
Nathan voltou a falar sobre as cartas.
-Assim não soube que Nora não tinha escrito a sua mãe até dois dias antes de partir?
-Mamãe não queria me preocupar -respondeu Sara-. Não vou permitir que pense que minha mãe teve algo a ver com o ardil. Meu pai ou minha irmã poderiam ter interceptado sua carta, Nathan, para fazer esperar um pouco mais, mas minha mãe nunca teria estado de acordo com algo assim.
Para Nathan pareceu muito honrável a defesa para com sua mãe. Lógica, mas ao mesmo tempo honrável. Por essa razão não tentou faze-la aceitar a verdade Entretanto, a crença de que seu pai era inocente o enfurecia.
Então reparou que não tinha tentado fugir dele. Estava tão satisfeito que deixou de franzir o semblante.
Sara olhou fixamente a seu marido enquanto tentava pensar em outra forma de convencer que sua mãe era completamente inocente de qualquer engano. Então compreendeu a verdade do que lhe havia dito.
Que não a tinha esquecido.
Seu sorriso foi cativante. Nathan não sabia o que fazer com sua repentina mudança. Ela se apoiou sobre seu peito, o puxou pela cintura e lhe abraçou. Ele resmungou. Estava mais confundido que nunca por seu estranho comportamento. Entretanto, reparou que gostava desta repentina demonstração de afeto. Gostava muito.
Ela suspirou e logo se afastou de seu marido.
-O que é isto? -perguntou-lhe Nathan com tom duro.
Ela não pareceu notá-lo. acomodou-se o cabelo para trás e sussurrou:
-Não me esqueceu -voltou a colocar-se alguns cachos sobre o ombro em um gesto que considerava muito feminino, e adicionou-: É obvio que sabia que não o tinha feito. Estava segura de que tinha havido algum pequeno mal-entendido porque eu...
Ao ver que não continuou, Nathan disse:
-Porque sabia que queria estar casado com você?
Ela assentiu com a cabeça. Ele riu.
Olhou-ofendida, e depois disse:
-Nathan, quando não pude encontrar Nora enviei várias notas a sua residência pedindo ajuda e nunca me respondeu. Então me perguntei...
-Sara, eu não tenho uma residência -indicou Nathan.
-É obvio que sim - discutiu-. Tem uma casa na cidade. Vi uma vez quando saí apara dar um passeio... por que sacode a cabeça?
-Minha casa da cidade se queimou o ano passado.
-Ninguém me disse isso.
Ele encolheu os ombros.
-Então teria que ter enviado a mensagem a sua casa de campo. Está bem, agora por que está sacudindo a cabeça?
-A casa de campo foi destruída pelo fogo - explicou

-Quando?
-O ano passado -respondeu-. Um mês antes de minha casa da cidade.
Ela parecia consternada.
-Teve muitos acidentes, não é, Nathan?
Não foram acidentes, mas ele não o disse. Os incêndios foram deliberadamente provocados por seus inimigos. Estavam procurando cartas incriminatorias. Nathan estivera trabalhando para o Governo e ao final da investigação capturou aos delinqüentes, mas ainda não tinha tido tempo de reparar o dano de sua propriedade.
-Realmente me escreveu pedindo ajuda para encontrar Nora? -perguntou-lhe Nathan.
Ela assentiu com a cabeça.
-Não sabia a quem recorrer -admitiu Sara-. Acredito que foi seu tio Dunnford St. James o que esteve por trás deste ardil.
-Que ardil?
-Provavelmente, ele interceptou a carta que enviou a meus pais.
Nathan mostrou sua exasperação.
-Acredito que foi seu pai que esteve por trás desse plano.
-E por que acha isso?
-Porque Atila, o Huno, morreu há anos -lhe testou-. E seu pai é o único homem o suficientemente mau para conceber um plano vil.
-Não vou escutar uma calúnia assim contra pai. Além disso, eu estou segura de que foi Dunnford
-Sim? Foi ele que bateu em sua tia?
Imediatamente, os olhos de Sara se encheram de lágrimas. Ele se arrependeu imediatamente da pergunta. Ela se voltou para lhe olhar o peito antes de responder:
-Não -sussurrou-. Esse foi um trabalho de meu tio Henry. Ele é o que viu a outra noite no bar. E agora já sabe a verdade sobre mim- terminou com um doloroso lamento.
Nathan lhe levantou o queixo com um dedo. Esfregou-lhe a pele suave com o polegar.
-Que verdade?
Olhou-lhe fixamente nos olhos antes de responder.
-Venho de uma origem ruim.
Esperava receber uma rápida negativa, um pouco de elogio.
-Sim, assim é.
O homem não tinha nenhuma compaixão no corpo, pensou Sara.
-Bom, você também -sussurrou. Afastou-lhe a mão do queixo. -Realmente não deveríamos ter filhos.
-Por que não?
-Porque poderiam terminar sendo como meu tio Henry. Pior, poderiam comportar-se como você. Até você tem que admitir que os homens do St. James são todos vilãos -adicionou assentindo com a cabeça-. Todos eles.
Ele não admitiria uma coisa assim, e a fez conhecer sua posição imediatamente.
-Apesar de seu comportamento rude são honestos. Sabemos quando estão furiosos. São sinceros.
-Oh, são sinceros, está bem -replicou Sara.
-A que se refere?
Sabia que estava zangando outra vez, mas não importava.
- Seu tio Dunnford foi sincero quando disparou em seu próprio irmão, não foi?
-Como soube disso? -esforçou-se para não sorrir.
-Todo mundo se inteirou disso. O incidente aconteceu na escada de sua casa da cidade, no meio da amanhã, e com muitas testemunhas que passavam por ali.
Nathan encolheu os ombros.
-Dunnford tinha uma boa razão -respondeu Nathan, assentindo com a cabeça.
-E qual era sua razão? -perguntou-lhe.
-Seu irmão provocou.
-O batsnate para que disparasse me seu próprio irmão? -Sara não podia acreditar.

Sara se surpreendeu ao ver que ele fazia uma careta. Outra vez lhe parecia atrativo. Ela também sorriu.
-Dunnford não matou seu irmão -explicou Nathan-. Só lhe criou um pequeno inconveniente para sentar-se durante um par de semanas. Quando lhe conhecer verá...
-Já o conheço -interrompeu Sara. de repente sentiu que lhe faltava o fôlego. A forma como a estava olhando a fez sentir muito estranha por dentro-. Também conheço sua esposa.
Ainda estava sorrindo. Tinha um malicioso brilho nos olhos. Ele não se desalentou. Sara não estava atuando como se o temesse. Nathan tratou de pensar em uma forma de levar a conversa para o tema mais importante que tinha em mente: deitar-se com ela.
Estava-lhe esfregando os ombros distraído. Sara pensou que nem sequer se dava conta do que estava fazendo já que tinha um olhar distante. Pensou que estaria pensando em seus familiares.
Queria que esfregasse a base das costas, e como parecia tão preocupado decidiu tirar vantagem de sua distração.
Moveu-lhe a mão direita para sua coluna vertebral.
-Esfrega aqui, Nathan. Dói-me as costas por ter movido os móveis.
Ele não discutiu sua petição. Simplesmente fez o que disse. Não foi muito gentil até que pediu que o fizesse mais brandamente. Logo baixou ambas as mãos até a base das costas. Quando começou a esfregar ali, ela se apoiou nele e fechou os olhos. Era uma glória.
-Melhor? -perguntou-lhe depois de ouvi-la suspirar durante uns minutos.
-Sim, melhor.
Ele não deixou de lhe esfregar as costas e ela não quis que o fizesse.
-Quando conheceu Dunnford? -perguntou-lhe. Apoiou-lhe o queixo na cabeça. Aspirou seu perfume de mulher.
-Conheci-lhe nos jardins -respondeu-.
Seu tio e sua tia estavam ali. Foi uma terrível experiência que jamais esquecerei.
Nathan sorriu.
-Dunnford não tem aspecto de bárbaro - disse. Aproximou-a lentamente para ele pressionando as costas. Ela não resistiu-. Meu tio é um homem corpulento, musculoso. Sim, suponho que pode ser um pouco assustador.
-Sua esposa também -demarcou Sara com um sorriso-. Não podia distingui-los.
Beliscou-lhe as costas por ter sido tão insolente.
-Dunnford tem bigode.
-Ela também.
Voltou-a a beliscar.
-As mulheres do St. James não são tão gordas como as mulheres Winchester -replicou Nathan.
-As damas Winchester não são gordas. São... proporcionadas.
Já era o momento de que falassem do verdadeiro assunto. Respirou profundamente e lhe disse:
-Nathan?
-Sim?
-Não vou tirar a roupa.
O anúncio lhe chamou a atenção.
-Não?
Sara se afastou um pouco para ver sua expressão. Estava sorrindo brandamente. Isto a animou para seguir lhe enumerando suas regras.
-Não, acredito que não o farei. Se tivermos que fazer isto, deixarei que você tire a roupa. Toma-o ou deixa-o, Nathan.
Mordeu-se o lábio inferior enquanto esperava sua reação. Nathan pensou que podia assusta-la outra vez. Isso o zangou.
-Pelo amor de Deus, Sara, não vou te machucar.
-Sim, o fará -sussurrou.
-E como sabe?
-Mamãe me disse que sempre dói -Sara ficou com as bochechas cor escarlate.
-Não dói sempre -replicou Nathan-. A primeira vez pode ser um pouco... incômoda.
-Está se contradizendo - gritou.
-Não tem que atuar como se...
-Igualmente não vai gostar de ...- interrompeu- Devo entender. Quanto demora? Minutos ou horas? -perguntou -. Eu gostaria de me preparar.
Já não lhe esfregava as costas. Estava-a sustentando com força.
Parecia surpreso por suas perguntas. Sara decidiu tirar vantagem da situação.
-Só quero lhe pedir um pequeno favor. Poderia esperar até esta noite para fazer essa coisa? Já que está decidido, poderia me dar algumas horas mais para aceitar meu destino?
Aceitar seu destino? Ela falava como se tivesse que ir a uma execução. A dela. Embora cedesse, Nathan franziu o semblante.
-Está bem. Esperaremos até esta noite, mas é o único favor que concederei, Sara.
Ela ficou nas pontas dos pés e o beijou. Só roçou os lábios, mas quando se separou dele parecia muito feliz consigo mesma.

-Que demônios foi isso?
-Um beijo.
-Não, Sara. Isto é um beijo.
Trouxe-a para seu peito, levantou-lhe o rosto e apertou a boca contra a dela. Não foi muito gentil, mas não se importou. entregou-se a ele e deixou que o fizesse a sua maneira. depois de tudo, pensou, ela tinha obtido sua vitória e ele também merecia uma.
Este foi o último pensamento que teve. A intensidade e intimidade daquele beijo afrouxou-lhe os joelhos. Agarrou-se a seu marido e suspirou feliz quando ele introduziu a língua em sua boca.
Nathan lhe apertou as costas e a levantou contra sua pélvis. Seus quadris instintivamente se abraçaram seu pênis. Ele empurrava, ela também.
O movimento era erótico, excitante. Nathan não tratou de vencê-la ao perceber que ela estava colaborando com ele. Estava-lhe respondendo. Atirava-lhe o cabelo enquanto tratava de aproximar-se mais a ele.
Nathan se afastou repentinamente e teve que sustentá-la até que se recuperasse do beijo. Sentia-se arrogantemente feliz por esse fato tão evidente.
E a desejava. Empurrou-a sobre a cama e se voltou para ir-se. Teve que tirar o baú e a cadeira para poder chegar até a porta.
Quando abriu a porta, Sara já tinha se recuperado.
-No futuro, Nathan -começou a dizer, fazendo uma careta, apesar de sua voz tremente-, apreciaria se não entrasse em nosso quarto pela chaminé. Prometo que não voltarei a trancar a porta -adicionou. Ele se voltou e a olhou com incredulidade.
- Entrar por onde? -perguntou, pensando que certamente não a tinha ouvido bem.
-Pela chaminé - explicou Sara-. E ainda não respondeu a minha pergunta. Esta coisa que está decidido a fazer demora minutos ou horas?
A pergunta desviou sua atenção e já não estava interessado em lhe explicar que a porta do teto não era uma chaminé. Mais tarde explicaria isso a ignorante mulher.
-Como demônios vou saber quanto vai demorar? -resmungou.
-Quer dizer que nunca o fez antes?
Nathan fechou os olhos. A conversa lhe escapava das mãos.
-Fez?
-Sim - respondeu aborrecido-. Mas nunca calculei o tempo -replicou.
Estava fechando a porta quando se voltou e sorriu.
Ela se surpreendeu ante esta rápida mudança nele.
-Sara?
-Sim?
-Não vai detestar.
A porta se fechou depois desta promessa.



Capítulo 5

Sara não voltou a ver Nathan durante o resto do dia. Esteve ocupada arrumando o camarote e seus pertences. Como não tinha uma criada, fez a cama, limpou os móveis e até pediu uma vassoura para varrer o chão. Lembrou-se que tinha deixado a sombrinha na coberta, mas quando foi procurá-la não a encontrou em nenhum lado.
No pôr-do-sol tinha os nervos destroçados. Não tinha podido encontrar nenhum plano para ganhar outra suspensão. Sara estava um pouco envergonhada de sua covardia. Sabia que uma hora teria que se deitar com ele, sabia que continuaria temendo até que o fizesse, mas tudo isso não aliviava seu temor.
Quando ouviu que batiam na porta quase gritou. Recuperou rapidamente a compostura ao reparar que certamente Nathan não chamaria. Não, ele entraria diretamente. depois de tudo, o camarote lhe pertencia, e Sara pensou que tinha direito a entrar sem chamar.
Matthew estava esperando la fora. Saudou-o com uma reverência e lhe convidou a entrar. Ele recusou o oferecimento sacudindo a cabeça.
-Sua tia Nora a está esperando -anunciou-. Enquanto está em seu camarote, direi que Frost traga a cuba. O capitão pensou que poderia querer banhar-se, por isso ordenou que trouxéssemos água doce. É uma atenção que não receberá muito freqüentemente -adicionou-. Será melhor que aproveite.
-Isso foi muito consideração por parte de Nathan -respondeu Sara.
-Lhe Direi que pensa assim -respondeu Matthew, que não tinha nada melhor que dizer. Caminhou junto à Sara sentindo-se estranho e ridiculamente tímido. Não estava acostumado que ninguém lhe tratasse como um igual, exceto Nathan. Tampouco uma dama tinha lhe feito uma reverência antes. E também seu sorriso era encantador, admitiu Matthew. Inclinou os ombros um pouco para frete. Estava caindo sob seu encanto como o tinha feito Jimbo.
Quando chegaram até a porta do camarote de Nora, Matthew saiu de seu estupor e sussurrou:
-Não a canse muito, está bem?
Sara assentiu com a cabeça, e logo esperou que Matthew abrisse a porta. não compreendeu o que Sara queria até que ela o indicou. depois que lhe abriu a porta o agradeceu e entrou. Matthew fechou a porta.
-Mathew parecia assustado -exclamou Nora.
-Não me dei conta -admitiu Sara. Sorriu a sua tia e se aproximou da cama para dar um beijo. Nora estava apoiada sobre uma montanha de travesseiros.
-O que notei é o modo que se preocupa com você, tia -comentou. Aproximou uma cadeira, sentou-se, e arrumou as rugas de seu vestido-. Acredito que se transformou em seu defensor.
-É um homem muito atraente, na verdade, Sara. E também tem um bom coração. Parece-se muito com meu falecido marido, embora os dois não se pareçam em nada no aspecto.
Sara conteve seu sorriso.
-Está um pouco apaixonada por Matthew, não é, Nora?
-Tolices, menina. Sou muito velha para estar apaixonada.
Sara mudou de tema. -Hoje se sente melhor?
-Sim, querida -respondeu Nora-. E você como se sente?
-Bem, obrigado.
Nora sacudiu a cabeça.
-Não me parece que esteja bem. Sara, está sentada no bordo dessa cadeira e parece que vai saltar ante a primeira provocação. Preocupa-se com Nathan?
Sara assentiu lentamente com a cabeça.
-É obvio que também estava preocupada com você -confessou-. Mas agora que a vejo compreendo que está bem.
-Não mude de tema -ordenou Nora-. Quero falar sobre Nathan.
-Eu não.
-Vamos faze-lo -replicou Nora-. Como vai você e seu marido?
Sara encolheu os ombros.

-Tão bem como poderia esperar-se tendo em conta sua disposição.
Nora sorriu.
-Já a beijou?
-Nora, não deveria me perguntar isso.
-Me responda. Já?
Sara olhou a saia quando lhe respondeu.
-Sim, beijou-me.
-Bem.
-Se você o diz.
-Sara, sei que Nathan não é exatamente como você acreditava que era, mas debaixo desse áspero exterior encontrará um homem bom.
Sara estava decidida a manter cessar a conversa.
- E como sabe como eu imaginava?
-Até em seus sonhos mais fantasiosos não poderia haver imaginado casada com Nathan. A primeira vista é um pouco dominante, verdade?
-Oh, não sei -sussurrou Sara.
-É obvio que sabe -replicou Nora-. Desmaiou quando o viu pela primeira vez, não é verdade?
-Estava esgotada -indicou Sara-. Nora, ele quer... deitar-se comigo - disse repentinamente.
Nora não parecia surpreendida pela notícia. Sara se sentiu aliviada por não ter incomodado a sua tia. Necessitava desesperadamente seus conselhos.
-Essa deveria ser sua inclinação natural -explicou Nora-. Está preocupada, Sara?
-Um pouco -respondeu Sara-. Sei qual é meu dever, mas não o conheço muito bem e queria um noivado.
-Por que está preocupada?
Sara encolheu os ombros.
-Acha que vai machucá-la?
Sara negou com a cabeça.
-É algo muito estranho, tia. Nathan parece um homem feroz quando me olha com o semblante franzido, mas em meu coração sei que não me machucaria. Até me disse que não queria que tivesse medo dele.
-Bom.
-Mas não vai esperar até que me acostume à idéia -explicou Sara.
Nora sorriu.
-É lógico que não queira esperar, Sara. Você é sua esposa, e vi a forma que a olhava na primeira noite. Deseja-a.
Sara sentiu que se ruborizava.
-E se o decepcionar?
-Acredito que não o fará. Ele fará com que não o faça -a tranqüilizou.
-Temos que ter um filho para que Nathan obtenha a segunda metade do tesouro disposto pelo rei, e como teve que esperar para ir me buscar... Sabia que acreditava que tinha fugido dele? -Sara explicou o que Nathan tinha contado, e quando terminou Nora franziu o semblante-. Não gostou de saber que Nathan foi busca-la?
-É obvio. Tenho o semblante franzido porque ele acreditou que meus pais voltaram a lhe enganar. Nora, não acredita que...
-Como lhe disse antes -a interrompeu Nora-, Nunca deixei de escrever a sua mãe. Inclusive admitiria a possibilidade de que uma ou duas cartas se perderam, mas não as seis. Não, tudo foi uma mentira, Sara, para te tirar da Inglaterra.
-Mamãe não poderia ter estado de acordo com uma mentira assim.
-É obvio que sim -resmungou Nora-. Minha pobre irmã teme seu marido. Sempre o fez e sempre o fará. Ambas sabemos, Sara, e não tem sentido fingir. Desça das nuvens, menina. Se Winston disse que para te mentir ela o fez. Agora já basta de lamentar por seus pais -se apurou ao ver que Sara a ia interromper-. Quero te fazer uma pergunta.
-Qual?
-Quer estar casada com Nathan?
-Não importa o que eu queira.
-Quer, sim ou não?
-Nunca pensei em estar com ninguém mais -respondeu Sara com vacilação-. Realmente não sei como me sinto, Nora. Embora rechaço a idéia de que outra mulher esteve com ele. Sabe que não me dava conta disso, até que ele mencionou a palavra "rapariga"? Reagi com veemência ante essa proposição. É tudo muito confuso.
-Sim, o amor sempre é confuso.
-Não estou falando de amor -replicou Sara-. É só que durante todos estes anos fui educada para pensar no Nathan como meu marido.
Nora bufou de maneira muito pouco elegante.
-Foi educada para o odiar. Acreditaram que tinham educado uma outra Belinda, mas não puderam fazê-lo, verdade? Você não odeia Nathan.
-Não, não odeio ninguém.
-Durante todos estes anos você lhe protegeu em seu coração, Sara, como protegeu a sua mãe cada vez que teve a oportunidade. Escutou suas mentiras sobre Nathan e logo as descartou.
-Eles acreditam que o odeio -confessou Sara-. Fingi estar de acordo com tudo o que me diziam meus familiares sobre ele para que me deixassem em paz. O tio Henry era o pior. Agora sabe a verdade. Quando enfrentei a ele no botequim, quando vi seu anel no dedo Dele, bom, perdi minha paciência. Disse-lhe que Nathan se vingaria e que Nathan e eu nos levávamos muito bem desde fazia muito tempo.
-Possivelmente tudo foi não uma mentira - disse Nora-. Realmente acredito que Nathan se vingará por mim no futuro, Sara. E sabe por que?
-Porque se dá conta de que é uma dama muito doce -respondeu Sara.
-Não, querida, acredito que ainda não se deu conta disso. Ocupara-se de mim porque sabe o quanto você me quer bem. Nathan é o tipo de homem que se preocupa com quem ama.
-Mas Nora...
-Digo que já está começando a preocupar-se com você, Sara.
-Está imaginando coisas.
A conversa concluiu repentinamente quando Matthew entrou no camarote.
Brindou- com um amplo sorriso a Nora e lhe piscou lentamente um olho.

-Já é hora de descansar -disse.
Sara desejou boa noite a sua tia e retornou a seu camarote. O banho já estava preparado. Demorou-se ensaboar-se até que a água se esfriou e logo colocou sua camisola branca e um roupão fazendo jogo. Quando Nathan entrou no quarto, ela estava sentada no bordo da cama escovando o cabelo.
Dois homens mais jovens entraram atrás dele. Os marinheiros a saudaram com a cabeça, logo levantaram a Cuba e a levaram. Sara fechou a parte de cima da bata até que os homens se foram e depois continuou escovando o cabelo.
Nathan fechou e trancou a porta.
Não disse uma palavra. Não tinha que fazê-lo. Seu olhar dizia tudo. O homem estava decidido, muito bem. Não haveria mais favores, não mais suspensões. Ela começou a tremer.
Sara reparou que Nathan também tinha se banhado. Ainda tinha o cabelo molhado, penteado para trás. Não estava usando camisa. Sara o olhou fixamente enquanto continuava escovando o cabelo, perguntando-se do que podia falar para aliviar a tensão que sentia em seu interior.
Nathan também a olhou fixamente enquanto separou a cadeira da mesa, sentou-se e tirou lentamente as botas, logo tirou os meias . Depois ficou de pé e começou a desabotoar a calça.
Ela fechou os olhos.
Ele sorriu ante seu recato. Embora não lhe dissuadiu. Tirou-se o resto da roupa e as jogou sobre a cadeira.
-Sara?
Ela não abriu os olhos quando lhe respondeu.
-Sim, Nathan?
-Tire a roupa.
Nathan pensou que seu tom tinha sido suave, tenro. Estava tentando afastar um pouco de seu temor. Não tinha dúvidas de que ela estava preocupada já que se estava escovando o cabelo com tanto vigor que provocaria uma forte dor de cabeça. Se não se acalmasse desmaiaria.
Entretanto, não se tranqüilizou com o tom de sua voz.
-Já discutimos isto, Nathan -respondeu enquanto voltava a passar a escova pela têmpora-. disse que ficaria vestida. -Tentou que sua voz soasse firme, decidida. O esforço não deu resultado. Até ela podia ouvir o tremor em seu sussurro-. Está bem?
-Está bem -respondeu Nathan com um suspiro.
Seu rápido consentimento a tranqüilizou. Deixou de escovar o cabelo. Ainda não o olhou quando ficou de pé e cruzou lentamente o quarto. Rodeou-lhe olhando o chão. depois de deixar a escova, respirou profundamente e se voltou. Estava decidida a fingir que não se incomodava com sua nudez. Recordou que era sua esposa, e não continuaria comportando-se como uma idiota e inocente menina.
O problema era que sim era uma inocente. Nunca tinha visto um homem nu. Estava nervosa. Agora sou uma mulher, não uma menina, disse-se a si mesmo. Não há razão para sentir-se incômoda.
Então olhou a seu marido e todos os pensamentos de fazê-la mundana voaram pela chaminé. Nathan estava fechando a porta do teto. - Estava de costas, mas mesmo assim ela via o suficiente para esquecer-se de como respirar.
O homem era todo músculo e aço. E também estava bronzeado. de repente percebeu que seu traseiro estava quase tão bronzeado como o resto de seu corpo. Como se tinha bronzeado essa zona tão privada?
Não o ia perguntar. Possivelmente depois de vinte ou trinta anos de casados se sentiria o suficientemente cômoda para tratar o tema.
No futuro, possivelmente também algum dia poderia recordar esta noite de agonia e rir um pouco.
Mas nesse momento não estava rindo precisamente. Observou como Nathan acendia uma vela. O suave resplendor fazia brilhar sua pele. sentiu-se agradecida de que estivesse de costas enquanto realizava essa tarefa. Estava-lhe dando tempo para que se acostumasse a seu tamanho?
Se esse era seu objetivo, não estava funcionando, pensou Sara. O homem podia se disfarçar de árvore. Era o suficientemente grande.
Sara suspirou ao advertir que estava comportando como uma menina. Quão único a salvava era o fato de que ele não saberia quanto aterrorizada estava. Girou o rosto para que não pudesse ver que estava ruborizada e logo disse:
-Agora vamos para a cama?
Estava satisfeita consigo mesma: formulou a pergunta com bastante indiferença.
Nathan pensou que tinha divulgado como se ela fosse um prego. Sabia que teria que encontrar uma forma de enfrentar seu medo antes de deitar-se com ela.
Suspirou e voltou para tomá-la em seus braços. Ela correu para a cama. Nathan a puxou pelos ombros e a girou lentamente para que o olhasse.
Sua noiva não tinha dificuldades para manter o olhar. Não, não teve que lhe levantar o queixo para que atendesse. Nathan sorriu. Duvidava de que tivesse baixado o olhar mesmo que lhe dissesse que tinha uma serpente nos pés.
-Você se incomoda que eu esteja nu? -perguntou-lhe o óbvio pensando em atacar diretamente o problema.
-Por que acha isso?
Deslizou suas mãos para os lados de seu pescoço. Podia lhe sentir o pulso com os polegares.
-Você gosta que eu a beije, não é, Sara?
Ela parecia surpreendida por essa pergunta.
-Você gosta? -insistiu ao ver que continuava lhe olhando fixamente.
-Sim -admitiu Sara-. Eu gosto que me beije.
Ele parecia arrogantemente satisfeito.
-Mas acredito que a outra coisa não vou gostar -adicionou pensando em lhe fazer outra advertência.
Ele não parecia ofendido por sua honestidade. Nathan se inclinou e a beijou na fronte, sobre no nariz. Depois roçou sua boca com os lábios.
-Sim vai gostar. -disse.

Não tinha uma resposta para esse comentário, assim permaneceu em silêncio. Também manteve a boca fechada quando ele voltou a beijar.
Nathan sentiu como se estivesse beijando uma estátua. Entretanto, não se deu por vencido. Suspirou contra sua boca e lentamente lhe apertou mais o pescoço. Quando a pele começou a lhe doer abriu a boca para lhe ordenar que a soltasse. Entretanto, essa ordem ficou confusa em sua mente quando Nathan introduziu sua língua para tocar a dela.
Sara respondeu bem. O gelo de seu interior começou a derreter-se. Nathan afrouxou suas mãos logo que ela abriu a boca. Acariciou-lhe o pescoço com os polegares. Estava tratando de afligi-la para que não resistisse e pensando que o tinha obtido quando ela repentinamente se aproximou mais a ele e lhe colocou os braços ao redor do pescoço.
Seu suspiro de prazer se mesclou com o gemido do Nathan. Ele não abandonou seu ataque. O beijo foi intenso, prolongado, apaixonado, interminável. Como ela desconhecia estes novos sentimentos, Nathan não demorou para lhe fazer esquecer seu acanhamento, sua resistência. Tratou de conter seu desejo, mas quando lhe acariciou o cabelo molhado e sentiu essa carícia suave e sensual, a chama de seu interior começou a arder.
Não vacilou. Tinha-a tranqüilizado e agora estava impaciente. Sara gemeu quando lhe tirou os braços do pescoço. Continuava beijando-a, mas não era suficiente. Ela queria estar perto de seu calor. Ele não estava cooperando. Nathan continuava lhe bloqueando os braços e abraçando-a ao mesmo tempo.
Não entendia o que queria dela, e não podia ordenar seus pensamentos já que estava muito ocupada lhe beijando e muito afligida pelos novos e maravilhosos sentimentos que surgiam em seu interior.
-Agora pode voltar a pôr os braços no meu pescoço -lhe sussurrou quando terminou de beijá-la. Seu sorriso estava cheia de ternura. Ela era transparente. Sua expressão de confusão não lhe ocultava nada. Podia ver a paixão e a confusão. Nathan nunca tinha conhecido uma mulher que respondesse com tanta naturalidade.
Surpreendeu-se um pouco ao advertir o muito que desejava agradá-la. A verdadeira inocência que lhe brindava-lhe fazia sentir-se como se pudesse conquistar o mundo.
Primeiro teria que conquistá-la.
-Não tenha medo -sussurrou. Acariciou-lhe a face com os dedos e sorriu outra vez ao ver como Sara inclinava o rosto para esse lado para que a acariciasse mais.
-Estou tentando não ter medo. Estou mais tranqüila porque sei que se importa com meus sentimentos.
-E quando chegou a essa conclusão?
Nathan se perguntou por que tinha esse brilho repentino no olhar. Ao parecer algo lhe era divertido.
-Quando concordou que eu permanecesse vestida.
Nathan suspirou profundamente. Decidiu que não era o momento de mencionar que já tinha lhe tirado a camisola e a penhoar. Pensou que logo o averiguaria.
-Sara, não sou um homem muito paciente quando desejo tanto algo como desejo você.
Puxou-a pela cintura e a levantou contra ele. Pele contra pele. Sara reagiu abrindo mais os olhos, mas antes de que pudesse decidir se gostava ou não, ele a estava beijando outra vez.
O homem certamente sabia como beijar. Não lhe obrigou a abrir a boca... em lugar disso, converteu-se rapidamente na agressora. Lhe esfregou a primeiro língua. Ele reagiu com um gemido. Sara pensou que esse som significava que o agradava sua amostra de arrojo e se tornou mais desenfreada.
O beijo foi veemente. Ele desejava reavivar a paixão entre eles. Quando ela começou a emitir pequenos gemidos com a garganta, Nathan soube que tinha obtido seu objetivo. Ela já estava ardente outra vez. E os sons o faziam desejar estar dentro dela.
Sara o puxou pelos ombros. Esfregou-lhe os seios contra o peito. Ele a levantou e a apertou contra seu pênis, e logo abafou o gemido que esta intimidade lhe provocou com um ardente e prolongado beijo.
Sara não podia pensar. As sensações que provocava seu beijo eram tão estranhas, tão maravilhosas. Sabia que lhe tinha tirado a roupa, e lhe tinha incomodado deliberadamente quando recordou sua promessa de que podia deixar-lhe vestida. Tinha sido um engano de sua parte, mas nesse momento fazia muito sentido. Queria que ele se detivesse, que lhe desse tempo para acostumar-se a seu corpo, seu calor, suas carícias.
Não tinha idéia de como tinham chegado à cama, mas repentinamente Nathan estava tirando a manta. Deixou de beijá-la quando a levantou e a colocou de costas sobre os lençóis. Não lhe deu tempo para que cobrisse sua nudez, já que a cobriu de pés a cabeça com seu corpo quente.
Era muito rápido. Sara começou a sentir-se apanhada e totalmente a sua mercê. Não queria ter medo, não queria lhe decepcionar.
A bruma da paixão se dissipou em um instante. Não queria fazer mais isto.
Mas tampouco queria que deixasse de beijá-la. E estava assustada.
Provavelmente se oporia se começasse a gritar. Por essa razão manteve a boca fechada em um esforço por conter o grito que tinha na garganta.
Nathan tratou de lhe separar as pernas com o joelho. Ela não permitiria essa intimidade assim começou a lutar. Também lhe golpeou os ombros. Ele se deteve imediatamente. Apoiou-se sobre um cotovelo para aliviar seu peso e começou a lhe mordiscar o pescoço. Sara gostou. Seu fôlego era quente, doce, excitante. Reagiu com um estremecimento. Nathan lhe sussurrou o muito que lhe agradava, o muito que a desejava, e inclusive quão formosa acreditava que era. Quando terminou com suas palavras de elogio estava seguro de que já a tinha convencido para que lhe aceitasse completamente.
Estava equivocado. Assim que tentou lhe separar as coxas, ela voltou a ficar rígida. Apertou os dentes com frustração.
A sensação de sua pele suave avivou o desejo de estar dentro dela. Mas ela ainda não estava preparada. Tinha a testa suada pelo esforço para conter-se. Cada vez que tentava lhe acariciar os seios ela ficava tensa. Sua frustração se converteu em algo doloroso.
Em alguns minutos perderia completamente o controle. Não queria machucá-la. Estava desesperado por penetrá-la, mas ela estaria preparada, excitada, molhada, quando finalmente a fizesse dela.
Não estava preparada. Estava-lhe beliscando o ombro para que se afastasse dela.
Decidiu deixá-la durante um ou dois minutos. Nathan se colocou de lado pensando em pôr um pouco de distancia entre eles antes de perder completamente a prudência, lhe separar as coxas e penetrá-la.
Pensou que só precisava de alguns minutos para recuperar sua disciplina. Quando seu coração se aquietasse, quando não lhe custasse tanto respirar, quando a dor das costas cedesse um pouco, tentaria outra vez.
Convencer uma virgem era um trabalho duro, e como ele não tinha absolutamente nenhuma experiência em deitar-se com virgens, sentia-se completamente inepto.
Possivelmente algum dia no futuro, quando fosse um homem muito, muito velho, poderia recordar aquela noite de doce tortura e rir um pouco. Embora no momento não tinha vontades de rir. Desejava sacudir a sua noiva para lhe exigir que não tivesse medo.
A contradição desses confusos pensamentos lhe fizeram sacudir a cabeça. Quando ele se afastou dela, a sensação de sentir-se presa emuma armadilha se desvaneceu. Desejava que voltasse a beijá-la.
A expressão do rosto de Nathan a preocupou. Parecia queria gritar. Sara respirou profundamente e se aproximou de seu lado para lhe olhar de frente.
-Nathan?
Não lhe respondeu. Tinha os olhos fechados e a mandíbula apertada.
-Disse-me que era um homem paciente.
-Às vezes.
-Está aborrecido comigo, não é?
-Não.
Não acreditou.
-Não franza o semblante -lhe sussurrou. Estendeu a mão para lhe tocar o peito.
Ele reagiu como se lhe tivesse queimado.
-Não quer fazer mais? - Sara perguntou-. Já não me deseja?
Não desejá-la? Queria tomar a mão e lhe mostrar o muito que a desejava. Não o fez, é obvio, já que estava seguro de que voltaria a aterrorizar-se.
-Sara, me dê um minuto -lhe pediu-. Temo que... -não terminou a explicação, não lhe disse que temia machucá-la se a voltava a tocar. Isso só aumentaria seu temor, assim manteve-se em silêncio.

-Não tem que ter medo -sussurrou Sara.
Nathan não podia acreditar o que estava escutando. Abriu os olhos para olhá-la. Ela realmente não podia acreditar... entretanto, a ternura de sua voz indicava que acreditava que ele tinha medo.
-Pelo amor de Deus, Sara, não tenho medo.
Deslizou-lhe lentamente os dedos pelo peito. Tomou a mão quando chegou a seu abdômen.
-Já basta -ordenou.
-So se deitou com mulheres experientes, não é, Nathan?
Sua resposta foi um grunhido.
Ela sorriu.
-Nathan, você gosta de me beijar, não é?
Lhe tinha formulado a mesma pergunta fazia quinze minutos, quando tentava acabar com seu medo . Se não tivesse estado tão doído, teria rido. A mulher o estava tratando como se ele fosse o virgem.
Estava a ponto de corrigir seu pensamento quando ela se aproximou mais dele. de repente percebeu que sua noiva já não tinha medo.
-Você gosta? -insistiu Sara.
-Sim, Sara, eu gosto de beijá-la.
-Então me beije outra vez, por favor.
-Sara, beijar não é único pensamento tenho em mente. Quero acariciá-la. Em todos os lugares.
Esperou que ficasse rígida novamente. Precisava ter paciência para isto. Seus nervos estavam a ponto de estourarem, e entretanto, a única coisa que pensava era em penetrá-la.
Fechou os olhos e grunhiu.
E depois sentiu que segurava sua mão. Abriu os olhos quando ela colocou sua mão sobre seu seio.
Nathan não se moveu durante um interminável minuto. Ela tampouco. Olharam-se fixamente. Ele esperou para ver que fazia ela depois. Ela esperou que ele continuasse com o seu intento.
Sara ficou impaciente com ele. O sentimento lhe produzia um formigamento interno. E também a fazia mais temerária. Esfregou os dedos dos pés contra as pernas e se inclinou lentamente para lhe beijar.
-Eu não gosto de me sentir presa - disse entre beijos- Mas agora não me sinto presa, Nathan. Não se de por vencido comigo ainda, marido. Esta é uma nova experiência para mim. Sério.
Lhe acariciou brandamente o rosto.
-Não vou me dar por vencido -sussurrou. Seu tom era um pouco jocoso quando adicionou: -Sério.
Ela suspirou contra sua boca e o beijou da maneira que queria fazê-lo. Quando lhe introduziu a língua na boca, Nathan perdeu o controle. Voltou-se a se tranformar em agressor, aprofundando mais ainda o beijo e entregando-se impetuosamente
Nathan manteve seu gentil ataque até que ela ficou de costas e o puxou para que ficasse sobre ela. Nathan não resistiu mais e se inclinou e a beijou entre os seios. Sua boca roçou primeiro um mamilo e logo o outro até que ambos se endureceram. Sua língua a enlouquecia. Quando já não pôde suportar mais essa doce tortura, puxou-a pelo cabelo.
Quando por fim tomou o mamilo com a boca, Sara sentiu como se um relâmpago a tivesse alcançado. Arqueou-se pedindo mais. Ele começou a sugar.
Fez um nó na boca do estômago.
-Nathan, por favor -gemeu. Não tinha idéia do que estava pedindo, só sabia que o incrível calor a estava enlouquecendo.
Nathan virou-se para o outro seio, enquanto deslizava uma mão entre suas coxas. Ela não as afastou mas sim gemeu outra vez.
Nathan se apoiou sobre um cotovelo para ver sua expressão. Ela tratou de ocultar o rosto contra seu ombro. Ele a puxou pelo cabelo.
-Eu gosto da forma em que me responde -sussurrou-. Você gosta do modo que eu a toco?
Ele já sabia a resposta. Podia sentir que estava aberta para ele. Ardente. Acariciou-a entre as pernas até que ela se umedeceu. Penetrou-a com um dedo.
Até naquele momento Sara tinha os punhos fechados. Então os abriu. Golpeou-lhe os ombros, as costas. Arranhou-lhe as nádegas.
-Nathan -sussurrou-. Não faça isso. Dói. Oh, Deus, não pare.
Sara continuou contradizendo-se e arqueando-se contra a mão de Nathan. Ele podia compreender o que dizia. O desejo de tê-la o fez tremer.
Fez calar seu débil protesto com um beijo e se colocou sobre ela. Quando ele se moveu ela não tentou fechar suas pernas e sim se moveu para abraçar o pênis entre suas coxas.
Ele enredou seus cabelos entre suas mãos para mantê-la quieta e beijá-la. A forma que esfregava sua pélvis contra a sua o enlouquecia. Não estava sendo muito gentil, não lhe deixava. Suas unhas cravavam em sua pele. Gostava. Também gemia. Gostava mais ainda.
Penetrou-a lentamente, mas se deteve quando sentiu o fino escudo de sua resistência. Levantou a cabeça para olhá-la nos olhos.
-Me envolva com suas pernas -lhe ordenou com determinação.
Quando Sara o fez ele gemeu. Mesmo assim vacilou.
-Me olhe, Sara.
Ela abriu os olhos e o olhou fixamente.
-Vai ser minha. Agora e para sempre.
Tinha os olhos nublados pela paixão. Tomou o rosto com as mãos.
-Sempre fui sua, Nathan. Nathan.
Voltou-a a beija-la. Penetrou-a profundamente com um movimento rápido, pensando em terminar o antes possível com a dor que sabia que sentiria.
-Silêncio, querida -sussurrou quando ela se queixou. Estava completamente dentro dela. Seu calor o envolvia-. Meu Deus, isto sim que é bom.
-Não, não é bom -exclamou Sara. Tentou mudar de posição para aliviar a dor, mas ele a segurou pelos quadris e não permitiu que se movesse.
-Daqui a pouco será melhor -disse. Nathan custava a respirar. Tinha a cabeça apoiada em seu ombro. Mordiscava-lhe a pele com os dentes, e ao mesmo tempo fazia cócegas com a língua. A doce tortura a fez esquecer um pouco a dor.
-Não me empurre assim, Sara -ordenou com voz tensa-. Não vou parar agora. Não posso.
Esfregou-lhe a língua no lóbulo da orelha. Ela deixou de lutar e suspirou de prazer.
-A dor não durará muito -sussurrou. -Eu prometo.
Ela reagiu mais ante a ternura de sua voz do que ante a promessa que ele acabava de fazer. Entretanto, esperava que tivesse razão. Ainda doía. O latejar era insistente, mas depois de um minuto diminuiu. Entretanto, quando ele começou a mover-se, a dor voltou.
-Se não se mover, não é tão terrível -sussurrou Sara.
Nathan gemeu com intensidade.
-Pode ser, Nathan? -suplicou.
-Está bem -respondeu. Era uma mentira, é obvio, mas ela era muito inocente para compreender o muito que precisava mover-se. -Não me moverei.
Sara lhe acariciou o cabelo, a nuca. Nathan já não podia controlar sua excitação.
Ela parecia não conseguir deixar de tocá-lo.
-Nathan, me beije.
-Já passou a dor?
-Quase.
Quando se moveu para beijá-la, se afastou um pouco dela deliberadamente, e logo voltou a penetrar.
-Moveu-se -exclamou Sara.
Em lugar de lhe dar a razão, beijou-a. Quando tentou afastar-se outra vez ela cravou as unhas em suas coxas tentando mante-lo quieto contra ela. Ele ignorou seus protestos, pois desejava que ardesse de paixão como ele estava ocorrendo com ele. Deslizou a mão sob seus corpos fundidos e seu polegar atiçou lentamente o fogo dentro dela.
Apoiou a cabeça sobre os travesseiros e soltou suas coxas.
Então ela também começou a mover-se. Levantou o quadril contra ele. Seus movimentos eram instintivos, incontroláveis.
Logo também lhe pedia mais. Lhe respondeu saindo lentamente dela e penetrando mais profundamente
Sara o apertou com força e se arqueou violentamente. Produziu-se o ritual do amor. A cama rangeu com os movimentos. Seus corpos suados brilhavam sob a luz da vela. Os doces gemidos se mesclavam com os intensos grunhidos.
Ambos procuravam desenfreadamente a culminação do prazer. Ele quase gritou quando acabou.
Apoiou a cabeça sobre o ombro de Sara quando cedeu ante o orgasmo que experimentou.
Sabia que ela estava a ponto de acabar também. Seus movimentos continuavam sendo enérgicos e quando sentiu que ela ficou tensa contra ele, ajudou-a a obter seu orgasmo penetrando-a com força.
Ela gritou seu nome.
Os ouvidos de Natahm estremeceram ante o som. Deixou-se cair sobre ela para que parasse de tremer.
Nenhum dos dois se moveu durante um longo momento. Nathan estava muito satisfeito. Sara estava muito esgotada.
Sentiu um pouco de umidade perto da orelha, tocou-a e se deu conta de que tinha estado chorando. Realmente tinha perdido a compostura. Estava muito satisfeita para preocupar-se com isso. E muito feliz. Por que ninguém lhe havia dito quão maravilhoso podia ser fazer amor?
O coração de seu marido pulsava em uníssono com o dela. Suspirou feliz. Agora era sua esposa.
-Já não pode me chamar de minha noiva -sussurrou contra seu pescoço. Tocou-lhe a pele com a ponta da língua. Tinha um gosto salgado, masculino, maravilhoso.
-Sou muito pesado para você?
Parecia cansado. Respondeu-lhe que sim, e imediatamente Nathan se postou ao lado.
Entretanto, ela não queria que a deixasse ainda. Queria que a abraçasse, que dissesse as palavras de amor e elogio que todas as mulheres desejam escutar. Também queria que voltasse a beija-la.
Não obteve nada disso. Nathan tinha os olhos fechados. Parecia tranqüilo e sonolento.
Ela não tinha idéia da guerra que estava ocorrendo Nathan consigo mesmo. Estava tratando de compreender desesperadamente o que lhe tinha acontecido. Nunca tinha perdido tão completamente o controle. O tinha enfeitiçado. Também o tinha confundido. Sentia-se vulnerável e esse sentimento. O assustava.
Sara ficou de lado.
-Nathan?
-O que?
-Me beije outra vez.
-Durma.
-Me dê um beijo de boa noite.
-Não.
-Por que não?
-Se te beijar, vou te desejar outra vez -explicou finalmente. Não se incomodou em olhá-la mas sim olhou para o teto-. É muito sensível.
Ela se sentou na cama, vacilando pela dor que sentia entre as coxas. Ele tinha razão. Ela era delicada. Entretanto, não parecia importar. Ainda queria que a beijasse.
-Você é o que me deixou sensível -sussurrou. Golpeou-lhe o ombro. -. Lembra-se que lhe pedir , especificamente, para que não se movesse?
-Você moveu primeiro, Sara. Lembra-se? -disse Nathan lentamente.
Ela se ruborizou. Não se desalentou. Ele não parecia muito rude. Se encostou contra ele, desejando que a abraçasse.
-Nathan, o depois não é tão importante quanto o durante?
Ele não sabia do que ela estava falando.
-Durma -ordenou pela segunda vez. Jogou as mantas sobre os dois e voltou a fechar os olhos. Lhe colocou um braço em cima.
Estava esgotada. E também frustrada. E disse.
Nathan riu.
-Sara, sei que se satisfez.
-Não estou falando disso -sussurrou.
Esperou que lhe pedisse que explicasse a que se referia, mas cedeu ao ver que ele permaneceu em silêncio.
-Nathan?
-E agora o que é?
-Por favor não me fale com esse tom.
-Sara... -começou a lhe dizer com tom de advertência.
-Depois de se deitar com essas outras mulheres, bom, depois... o que fazia?
Aonde queria chegar?
-Ia -replicou Nathan.
-Vai me deixar?
-Sara, esta é minha cama, vou dormir.
Sara estava perdendo a paciência.
-Não antes que de lhe explicar algo sobre boa educação -anunciou-. Depois de que um homem termina... isso, deveria dizer a sua mulher quão admirável é. Então deveria abraçá-la e beijá-la e dormir abraçado a ela.
Ele não pôde evitar sorrir. Ela parecia um general.
-Chama-se fazer o amor, Sara, e como sabe o que é adequado e ou não? Era virgem, recorda?
-Só sei o que é adequado -replicou Sara.
-Sara?
-Sim?
-Não grite.
Voltou-se para olhá-la. Parecia que ia chorar. Nathan não tinha a paciência necessária para enfrentar suas lágrimas. Ela era vulnerável... e linda. Tinha a boca rosada e inchada de seus beijos.
Estendeu os braços e a abraçou. depois de lhe deu um beijo rápido na cabeça, apoiou-lhe o rosto no ombro e sussurrou:
-É uma mulher admirável. Agora durma.
Não pareceu dizer de coração, mas não importou. Estava-a abraçando. Estava-lhe acariciando as costas. Pensou que isso era muito significativo. Agarrou-se a ele e fechou os olhos.
Nathan apoiou o queixo sobre a cabeça da Sara. Cada vez que selembrava de como tinham feito o amor, ele bloqueava os pensamentos. Não estava preparado para deixar que suas emoções tomassem a dianteira. Era muito disciplinado para permitir que uma mulher chegasse tão longe
Já ia dormir quando ela voltou a sussurrar seu nome. Apertou-a para lhe indicar que se calasse. Ela voltou a sussurrar seu nome.
-Sim? -respondeu-lhe bocejando deliberadamente.
-Sabe como se chama isto?
Não ia deixa-lo tranqüilo até que dissesse o que tinha na mente. Nathan a voltou a apertar, mas depois cedeu.
-Não, Sara. Como se chama?
-Mimar-se.
Ele grunhiu. Ela sorriu.

-É um bom começo, não é verdade?
Sua única resposta foram seus roncos. Sara não incomodou que ficasse dormido em meio de seu fervente discurso. Simplesmente explicaria tudo outra vez no dia seguinte.
Não podia esperar até o dia seguinte. Encontraria cem maneiras de que Nathan compreendesse sua boa sorte. Ela já sabia que ia ser uma boa companheira para ele. Entretanto, ele ainda não sabia, mas eventualmente, com paciência e compreensão, perceberia que a queria muito. Estava segura.
Ela era sua esposa, seu amor. Seu matrimônio era verdadeiro em todos os sentidos. Havia um vínculo entre eles. O matrimônio era uma instituição sagrada, e Sara estava decidida a proteger e cumprir seus votos.
Dormiu o abraçando com força. Ao dia seguinte começaria oficialmente sua nova vida como a esposa do Nathan. Seria um dia no paraíso.


Capítulo 6

Foi um dia no inferno.
Quando despertou, Nathan já tinha saído do camarote. Tinha aberto a tampa da chaminé e o quarto estava cheia de sol e ar fresco. Era um dia mais quente que o anterior. depois de banhar-se, vestiu um vestido leve cor azul, com borde de linho branco e saiu a procurar seu marido. Queria perguntar onde estavam os lençóis limpos para poder trocar os do dia anterior. Também queria que a voltasse a beija-la.
Sara tinha chegado até o degrau de cima da escada para subir à coberta quando ouviu o grito de um homem
Correu para ver o que era toda aquela comoção e quase tropeçou no homem deitado sobre a coberta. O marinheiro estava desacordado.
Tinha enredada entre os pés a sombrinha que ela não pôde encontrar no dia anterior. Jimbo estava ajoelhado junto ao homem prostrado. Golpeou-lhe duas vezes o rosto para lhe fazer reagir.
Em uns segundos, uma multidão se juntou ao redor de seu amigo. Todos ofereceram uma ou duas sugestões para que Jimbo o fizesse reagir.
-Que demônios aconteceu?
A voz de Nathan soou diretamente atrás da Sara. Não se voltou para responder sua pergunta.
-Acredito que tropeçou em algo.
-Não foi algo, senhorita -anunciou alguém da tripulação. Assinalou a coberta-. O que lhe enredou nas pernas foi sua sombrinha.
Sara se viu obrigada a aceitar toda a responsabilidade.
-Sim, foi minha sombrinha -disse-. Sua queda foi por minha culpa. ficará bem, Jimbo? Realmente não quis provocar este acidente. Eu...
Jimbo sentiu pena.
-Não precisa culpar-se, lady Sara. Os homens sabem que foi um acidente.
Sara levantou o olhar para observar à multidão. A maioria estava assentindo com a cabeça e sorrindo.
-Não deve ficar nervosa, senhorita. Ivan recuperará o sentido em seguida.
Um homem com barba ruiva assentiu com a cabeça.
-Não se preocupe -demarcou-. Não foi tão grave. Sua nuca deteve a queda.
-Murray? -gritou Jimbo-.Traga-me um balde com água. Isso o reanimará.
-lvan poderá cozinhar nossa comida esta noite? -perguntou o homem que Sara recordou que se chamava Chester. Estava-a olhando com o semblante franzido.
Sara também o olhou com o semblante franzido. Era evidente que a culpava por esta desafortunada circunstância.
-Seu estômago é mais importante que a saúde de seu amigo? -perguntou Sara. Não deu tempo para que respondesse já que se ajoelhou junto ao homem e lhe golpeou brandamente o ombro. O homem não respondeu.
-Meu Deus, Jimbo, o matei? -sussurrou Sara.
-Não, não o matou -respondeu Jimbo. Vê que ainda respira, Sara. Quando despertar terá apenas uma dor de cabeça.
Nathan levantou Sara e a afastou da multidão. Ela não queria ir-se.
-Sou responsável por seu acidente -disse. Seu olhar estava dirigido a Ivan, mas podia ver que os homens que a rodeavam seguiam assentindo com a cabeça. ruborizou-se ao ver que estavam de acordo-. Foi um acidente -exclamou.
Ninguém a contradisse. Isso a fez sentir-se um pouco melhor.
-Eu deveria cuidar de Ivan -anunciou. - Quando abrir os olhos devo dizer o quanto lamento ter esquecido a sombrinha.
-Não estará de humor para escutar -predisse Nathan.
-Isso é certo.-concordou Lester -. Ivan, o Terrível, é dos que não perdoam um descuido durante muito tempo. Adora um bom rancor, não é, Walt?
Um homem um pouco mais robusto, com olhos cor castanha escura, assentiu com a cabeça.

-Isto é mais que um descuido, Lester. Ivan vai se enfurecer.
-Ivan é o único cozinheiro? -perguntou Sara.
-Sim - informou Nathan.
Finalmente voltou-se para olhar seu marido. Estava muito vermelha, e realmente não sabia se o calor de suas bochechas se devia ao fato de que este era seu primeiro encontro depois de sua noite de intimidade, ou por que ela tinha provocado toda aquela comoção.
-Por que o chamam Ivan, o Terrível? -perguntou Sara-. Porque tem mau caráter?
Apenas a olhou quando respondeu.
-Não gostam de sua comida -respondeu. Indicou a um dos homens que esvaziasse o conteúdo do balde na cara de Ivan. Imediatamente o cozinheiro começou a cuspir e a queixar-se.
Nathan assentiu com a cabeça, logo se voltou e se afastou do grupo.
Sara não podia acreditar que se foi sem lhe dizer uma palavra. Sentiu-se humilhada. Voltou-se para Ivan e esperou retorcendo-as mãos para desculpar-se. Prometeu em silêncio que procuraria Nathan e lhe daria outra lição de bons maneiras.
Um logo que Ivan se sentou, Sara se ajoelhou junto a ele.
-Desculpe-me, senhor, por lhe provocar este prejuízo. O que lhe fez tropeçar foi minha sombrinha, embora se você tivesse cuidado por onde ia, estou segura de que a teria visto. Mesmo assim, peço-lhe desculpas.
Ivan estava esfregando a nuca enquanto olhava fixamente à bela mulher que tratava de culpar por ter estado perto da morte. A preocupação na expressão da Sara manteve contida sua tempestuosa resposta. Isso e o fato de que era a mulher do capitão.
-Não foi mais que um golpe -sussurrou-. Não fez de propósito, não é verdade?
Tinha um leve acento escocês. Sara pensou que soava bastante musical.
-Não, é obvio que não o fiz de propósito, senhor. Tem força para ficar de pé? O Ajudarei.
Por sua expressão cautelosa era evidente que não queria sua ajuda. Jimbo ajudou ao cozinheiro para que ficasse de pé, mas logo que o soltou, Ivan começou a balançar. Sara ainda estava ajoelhada a seu lado. Estendeu a mão para tomar sua sombrinha de entre seus pés, enquanto outro marinheiro estendia as mãos para estabilizar a seu amigo. de repente, o pobre Ivan se viu apanhado em uma guerra de tira e afrouxa, já que a esposa do capitão estava empurrando contra suas pernas. Terminou sentado sobre seu traseiro.
-Afastem-se de mim, todos vocês -grunhiu. Sua voz não soou para nada musical-. Esta noite não terão minha sopa. Minha cabeça doi, e agora também meu traseiro. Maldição, irei para a cama.
-Cuidado com a língua, Ivan -ordenou Jimbo.
-Sim -gritou outro homem-. Há uma dama presente.
Jimbo levantou a sombrinha da Sara e a entregou. voltou-se para ir-se, mas o que disse Sara lhe surpreendeu tanto que não o fez.
-Eu vou preparar a sopa para os homens.
-Não, não o fará -disse Jimbo. Seu tom de voz rude não deu lugar a discussões-. Você é a mulher do capitão, e não fará um trabalho tão ordinário.
Esperou até que Jimbo se fosse porque não queria ter uma desavença com ele diante dos outros homens. Logo sorriu aos homens que a estavam observando.
-Vou preparar uma sopa deliciosa. Ivan? Sentiria melhor se tomasse o resto do dia para descansar? É ao menos o que posso fazer para compensar este acidente.
Ivan se animou grandemente.
-Já preparou sopa alguma vez ? -perguntou com uma leve careta.
Como todos a estavam olhando, Sara decidiu mentir. Que dificuldade podia ter preparar sopa?
-Oh, sim, muitas vezes. Ajudei nossa cozinheira a preparar maravilhosos jantares.
-Por que uma dama tão elegante como você faria um trabalho tão vulgar? -perguntou-lhe Chester.
-Aborrecia-me... no campo. Pelo menos tinha algo que fazer.
Ao que parecia todos acreditaram na mentira.
-Se tiver força para me guiar até a cozinha, Ivan, porei-me a trabalhar imediatamente. Uma boa sopa precisa ferver durante muitas horas -adicionou, esperando estar correta.
Ivan permitiu que apoiasse em seu braço. Continuou esfregando a nuca com a outra mão, enquanto a guiava até a zona de trabalho.
-Chama-se galera, senhorita, não cozinha -explicou-. Mais devagar, moça -se queixou ao ver que Sara se adiantava-. Ainda vejo tudo em dobro.
Percorreram um corredor escuro atrás de outro até que ela se desorientou completamente. Ivan conhecia o caminho, é obvio, e a conduziu diretamente a seu santuário.
Acendeu duas velas, e logo se sentou em uma banqueta contra a parede.
No centro da cozinha havia um forno gigante. Era o maior que Sara tinha visto. Quando fez esse comentário ao Ivan, ele negou com a cabeça.
-Não é um forno. É a cozinha da galera. Está aberta do outro lado. Ali cozinho minha carne. Deste lado pode ver as vasilhas. Há quatro no total e as uso todas para preparar minha sopa de carne. Ali está a carne... uma parte está em estragada. Já separei a podre da boa. A maior parte está fervendo na água que acrescentei antes de ir à coberta para falar com o Chester. Aqui o ar é um pouco sufocante, e necessitava um pouco de ar puro do mar.
Ivan mostrou a carne em mal estado que tinha separado, pensando em lhe explicar que logo que se sentisse um pouco melhor atiraria o lixo pela amurada, mas esqueceu toda explicação quando começou a sentir pontos na cabeça outra vez.
-Não há muito que fazer -lhe disse enquanto ficava de pé-. Piquei essas verduras e adicionei especiarias. É obvio, você já sabe tudo isso. Quer que fique até que conheça minha galera?
-Não -respondeu Sara-. Estarei bem, Ivan. vá ver Matthew para que olhe seu ferimento. Possivelmente ele terá algum remédio especial para aliviar a dor.
-Farei isso, moça -respondeu Ivan-. Me dará uma boa taça para aliviar minhas dores ou saberá quem sou.
Depois que o cozinheiro se foi, Sara começou a trabalhar. Prepararia a melhor sopa que os homens jamais tinham comido. Adicionou o resto da carne que encontrou, um pouco em cada vasilha. Logo a orvalhou com bastante quantidade de especiarias. Uma das garrafas estava cheia de folhas marrons moídas. O aroma era bastante picante, assim que o adicionou somente um pingo disso.
Sara passou o resto da manhã e parte da tarde na galera. Pensou que era um pouco estranho que ninguém tivesse vindo vê-la. Esse pensamento a conduziu a Nathan, é obvio.
-Os homens não me saudaram adequadamente -murmurou. secou-se a frente com uma toalha que se atou na cintura e jogou o cabelo úmido para trás.
-Quem não te saudou adequadamente?
A voz profunda provinha da porta. Sara reconheceu o grunhido de Nathan.
Voltou-se e franziu o semblante.
-Você não me saudou adequadamente -respondeu.
-O que está fazendo aqui?
-Preparando sopa. O que está fazendo aqui?
-Buscando-a.
Fazia calor na galera, e estava segura de que essa era a razão pela qual se sentiu aturdida. Não podia ser uma reação pela forma que ele a estava olhando.
-Já preparou sopa alguma vez na vida?
Sara se aproximou dele antes de responder. Nathan se apoiou na porta e parecia tão depravado como uma pantera a ponto de saltar.
-Não -respondeu-. Não sabia como preparar. Agora sei. Não é difícil.
-Sara...
-Os homens me culpavam pela queda do Ivan. Tinha que fazer algo para ganhar sua lealdade. Além disso, quero agradar meu pessoal.
-Seu pessoal?
Ela assentiu com a cabeça.
-Bem.. não tem casa nem criados, bom, mas tem um navio e sua tripulação, então eles também são meu pessoal. Quando provarem minha sopa gostarão de mim outra vez.
-Por que se importa se gostam ou não de você?
Ele se ergueu e se aproximou dela. Sentia-se atraído por ela como um bêbado pela bebida, pensou. Era culpa dela por ser tão doce e bonita.
Tinha o rosto ruborizado pelo calor da galera. Algumas fios de seu cabelo encaracolado estavam úmidas. Estendeu a mão e colocou um cacho do rosto para trás. Parecia mais surpreso por sua ação espontânea que ela.

-Nathan, todo mundo quer agradar.
-Eu não.
Olhou-lhe ofendida por discordar Dela. Ele avançou outro passo para ela. Pôs suas coxas junto as dela.
-Sara?
-Sim?
-Ainda dói por ontem à noite?
Ruborizou-se instantaneamente. Quando respondeu não pôde olhar em seus olhos, assim que olhou para o colarinho da camisa.
-Ontem à noite não doeu -sussurrou.
Levantou-lhe o rosto com o polegar.
-Isso não foi o que perguntei -disse com um suave sussurro.
-Não?
-Não.
-E então o que é que quer saber?
A Nathan pareceu que lhe faltava o fôlego. Decidiu que necessitava um pouco de ar fresco. Não queria que se voltasse a desmaiar.
-Quero saber se agora dói, Sara.
-Não -respondeu-. Agora não dói.
Olharam-se em silencio durante um interminável minuto. Sara pensou que possivelmente queria beijá-la, mas não estava segura.
-Nathan? Ainda não me saudou adequadamente.
Pôs-lhe as mãos na parte dianteira da camisa, fechou os olhos e esperou.
-Como demônios é uma saudação adequada? -perguntou-lhe Nathan. Sabia exatamente o que queria dele, mas queria ver o que faria ela depois.
Sara abriu os olhos e franziu o semblante.
-Imagino que devia me beijar.
-Por que? -perguntou-lhe voltando a aborrece-la.
Sua exasperação era evidente.
-Só o faça - ordenou.
Antes de que pudesse formular alguma outra pergunta ofensiva, tomou o rosto com as mãos e inclinou a cabeça para frente.
-OH, não importa -sussurrou-. Farei eu mesma.
Ele não ofereceu resistência. Mas tampouco cumpriu com seu dever. Sara lhe deu um casto beijo na boca e logo se inclinou para trás.
-Seria muito melhor se você cooperasse, Nathan. Supõe-se que você também deve me beijar.

Sua voz era baixa, sensual, tão suave como seu corpo morno. Nathan baixou a cabeça e esfregou sua boca contra a dela. Ela suspirou quando ele abriu a boca e aprofundou o beijo.
Sara estava derretendo em seus braços. Outra vez Nathan estava quase perdido por sua fácil resposta quando a tocava. Sua língua se entrelaçou com a dela e não pôde conter um gemido de prazer.
Quando por fim se separou dela, Sara se jogou contra ele, Nathan não pôde evitar abraçá-la forte. Tinha aroma de rosas e canela.
-Quem lhe ensinou a beijar? -perguntou-lhe com um duro sussurro. Supondo que era uma pergunta ilógica já que quando deitou-se com ela era virgem, mas de qualquer maneira se sentiu obrigado a perguntar.
-Você me ensinou como beijar -respondeu.
-Alguma vez beijou alguém antes de mim?
Ela negou com a cabeça. Sua irritação se dissipou imediatamente.
-Se você não gosta da forma como beijo... -começou a dizer.
-Eu gosto.
Ela deixou de protestar.
De repente se afastou completamente dela, puxou a pela mão e a levou até onde estavam as velas. Apagou as duas chamas e se encaminhou para o corredor.
-Nathan, não posso ir da galera.
-Precisa de um cochilo.
-Eu o que? Nunca tiro um cochilo.
-Agora o fará.
-E minha encantadora sopa?
-Maldição, Sara, não quero que volte a cozinhar.
Ela franziu o semblante em suas costas. Era muito mandão.
-Já lhe expliquei por que me encarreguei disto -grunhiu.
-Acha que pode ganhar a lealdade dos homens com um prato de água suja?
Sara pensou que se caminhava um pouco mais devagar poderia lhe chutar a parte traseira das pernas.
-Não é água suja -gritou.
Ele não discutiu com ela. Continuou arrastando a de retorno a seu camarote. Sara se surpreendeu um pouco quando viu que entrava com ela.
Nathan fechou com chave a porta.
-Vire-se, Sara.
Olhou-lhe com o semblante bem franzido por ser tão ditador, e logo fez o que lhe ordenou. Desabotoou-lhe o vestido muito mais rápido que a última vez.
-Realmente não quero tirar um cochilo -voltou a dizer.
Ele não parou de despi-la até que o vestido caiu ao chão. Ainda não tinha se dado conta de que ele não queria obrigá-la a dormir. Tirou a camisa, mas quando tratou de lhe tirar a roupa de baixo lhe afastou as mãos.
Nathan a olhou fixamente. Para ele seu corpo parecia simplesmente perfeito. Seus seios cheios, sua cintura fina, suas pernas longas, bem formadas, deliciosas.
Seu olhar ardente e apaixonado a fez sentir incômoda. Sara puxou as dobras da camisa para tentar cobrir um pouco mais os seios.
Deixou de sentir-se incômoda quando viu que ele desabotoava a camisa.
-Você também vai tirar um cochilo?
-Nunca durmo durante o dia.
Jogou a camisa a um lado, apoiou-se na porta e começou a tirar as botas. Sara retrocedeu para lhe dar espaço.
-Não está trocando de roupa, não é verdade?
Sorriu-lhe carinhosamente.
-Não.
-Não está querendo...?
Não a olhou quando respondeu.
-Oh, quero sim -respondeu lentamente.
-Não.
A reação do Nathan foi imediata. ergueu-se e se dirigiu para ela. Unia as mãos nos quadris.
-Não?
Ela negou com a cabeça.
-Por que não?
-É de dia.
-Maldição, Sara, não esta com medo, não é verdade? Honestamente, não acredito que poderia passar por essa prova outra vez.
-Prova? Para você fazer amor comigo foi uma prova?
Não ia permitir que desviasse a conversa respondendo a sua pergunta.
-Tem medo? -perguntou-lhe.
Parecia temeroso de sua resposta. de repente, Sara compreendeu que tinha uma forma de escapar se o desejasse, mas descartou imediatamente a idéia. Não mentiria.
-Ontem à noite não tive medo -anunciou. Cruzou os braços sobre seu peito e adicionou, -Você teve medo.
Esse comentário não merecia uma resposta.
-Disse que já não doía -recordou-a enquanto avançava outro passo em sua direção.
-Agora não estou doce e carinhosa, mas ambos sabemos que o estarei se insistir em fazê-lo a sua maneira, Nathan.
-Isso seria tão intolerável?
Estava se formando un nó no estâmago de Sara. Tudo que ele tinha que fazer era olhá-la da maneira especial e ela se renderia.
- Você vai querer... se mover outra vez?
Ele não riu. Ela parecia tão preocupada e Nathan não queria que acreditasse que estava brincando seus sentimentos. Tampouco mentiria
-Sim -respondeu enquanto estendia as mãos para abraçá-la -Vou querer mover outra vez.
-Então apenas dormiremos.
A mulher realmente tinha que compreender quem era o marido e quem era a esposa, pensou Nathan. Decidiu que mais tarde explicaria tudo sobre seu dever de lhe obedecer. Tudo o que queria fazer era beijá-la. puxou-a pelos ombros, levou-a até o alçapão e não a soltou quando fechou a porta de madeira.
O camarote estava às escuras. Nathan se deteve para beija-la. Foi um beijo ardente, úmido, prolongado, que indicou que ele obteria o que queria.
Logo se voltou para acender as velas. Sara lhe deteve com a mão.
-Não -sussurrou.
-Quero ver quando...
Deteve a explicação quando sentiu que colocava suas mãos em sua cintura. As maãos de Sara tremiam, mas lhe desabotoou os botões da calça rapidamente. Os dedos roçaram em seu abdômen. Sua respiração indicou que gostava.
Foi mais atrevida. Apoiou a face sobre o peito e logo e desceu lentamente sua calça.
-Quer ver quando eu o que, Nathan? -sussurrou.
Teve que esforçar-se para concentrar-se no que estava dizendo. Seus dedos se deslizavam lentamente para seu pênis. Ele fechou os olhos em uma doce agonia.
-Quando acabar -respondeu com um gemido-. Por Deus, Sara, me toque.
Nathan tinha o corpo rígido. Sara sorriu. Não tinha idéia de que lhe tocando podia se excitar assim. Baixou-lhe um pouco mais a roupa.
-Estou tocando-o, Nathan.
Ele já não podia suportar mais essa tortura. Tomou a mão e a colocou onde necessitava que tocasse.
Ela quis lhe segurar. Ele não a deixaria. Seu grunhido foi profundo, gutural.
-Não -ordenou-. Só me acaricie, me aperte, mas não... Oh, Meu deus, pare, Sara.
Parecia que estava dolorido. Ela afastou a mão.
-Estou fazendo algo errado? -sussurrou.
Ele a voltou beija-la. Sara tomou o pescoço com as mãos e o aproximou mais a ela. Quando ele se moveu para seu pescoço e começou a dar beijos úmidos sob o lóbulo da orelha, e ela começou a tocar novamente seu pênis.
Nathan tomou a mão e a colocou na cintura.
-É muito fácil para mim perder o controle -sussurrou-. Não posso resistir.
Beijou o pescoço.
-Então não o tocarei ali se prometer não se mover quando fizermos amor.
Nathan riu.
-Você vai querer que eu me mova -disse.
Apoiou-a sobre seu peito.
-Sabe uma coisa, Sara? -perguntou entre ardentes beijos.
-O que?
-Decidi que terá que suplicar.
E cumpriu com sua palavra. Quando estavam na cama e se colocou entre suas coxas ela começou a suplicar que terminasse com essa doce tortura.
O fogo de sua paixão estava completamente fora de controle. Nathan a machucou um pouco quando finalmente a penetrou. Ela estava tão ardente e tensa, que para ele foi uma feliz agonia acalmar-se um pouco. Tentou ser um amante gentil, sabendo o quanto ela era delicada, e não se moveu até que Sara começou a retorcer-se sob ele.
Ela acabou antes, mas seus tremores provocaram o orgasmo de Nathan. Ele não disse uma palavra durante toda a relação. Ela não deixou de falar e pronunciou tenras palavras de amor. Algumas com sentido. Outras não.
Quando por fim caiu sobre ela, quando por fim recuperou sua capacidade de pensar, percebeu que ela estava chorando.
-Meu deus, Sara, a machuquei outra vez?
-Só um pouco -sussurrou timidamente.
levantou-se um pouco para olhá-la aos olhos.
-Então, por que está chorando?

-Não sei -respondeu-. Foi tão... assombroso, e eu estava tão...
Nathan interrompeu suas palavras beijando-a outra vez. Quando voltou a olha-la nos olhos sorriu. Ela parecia completamente confusa outra vez.
O som do apito do contramestre anunciando a mudança de guarda foi como um sino de advertência que repicou na mente de Nathan. Era perigoso sentir-se tão atraído por sua esposa, tolo... irresponsável. Isso o fazia vulnerável. Se algo tinha aprendido como conseqüência de suas aventuras era a cuidar-se de si mesmo a qualquer preço.
Amá-la podia lhe destruir.
-Nathan, por que franze o semblante?
Não lhe respondeu. levantou-se da cama, vestiu-se dando as costas e saiu do camarote. Fechou brandamente a porta.
Sara estava muito aturdida por seu comportamento e demorou para reagir. Seu marido tinha desaparecido literalmente do camarote. Era como se tivesse sendo perseguido por um demônio.
Tão pouco significou fazer amor com ela que não pôde esperar para deixá-la? Sara começou a chorar. Queria, necessitava de suas palavras de amor. Tratou-a como se só tivesse sido um receptáculo de sua paixão. Fazê-lo rápido, esquecê-lo rápido. Tratavam melhor uma prostituta do que ele a tinha tratado, pensou. Pelo menos as mulheres da noite ganhavam uma ou duas moedas.
Nem sequer tinha merecido um grunhido de despedida.
Quando já tinha esgotado suas lágrimas, desafogou a frustração com a cama. Golpeou com um punho o travesseiro de Nathan, sentindo-se satisfeita ao fingir que era a cabeça de seu marido. Logo abraçou com força o travesseiro. A capa tinha o aroma de Nathan. e dela também.
Não demorou para advertir quanto compassiva estava sendo. Deixou o travesseiro e se concentrou em arrumar o camarote.
Permaneceu no camarote o resto da tarde. Ficou com o mesmo vestido azul, e quando terminou de limpar o camarote se sentou em uma das cadeiras e começou a fazer um esboço do navio em suas folhas com lápis.
O desenho a fez deixar de pensar em Nathan. Matthew a interrompeu quando bateu na porta para perguntar se queria jantar no primeiro ou segundo turno. Sara disse que esperaria e compartilharia a comida com sua tia.
Sara estava ansiosa por saber o que pensavam os homens de sua sopa. O aroma tinha sido bastante agradável quando terminou de lhe adicionar as especiarias. Devia ter um sabor gostoso, pensou, já que tinha estado fervendo durante longas horas.
Era só uma questão de tempo para que os homens viessem lhe dar os parabéns. Escovou o cabelo e trocou o vestido para se preparar para seus visitantes.
Muito em breve eles lhe seriam completamente leais. Ter preparado a sopa tinha sido um grande passo para obtê-lo. Nessa noite todos pensariam que ela merecia um prêmio.
























Capitúlo 7

Ao anoitecer todos pensaram que estava tentando matá-los.
Essa tarde, o guarda trocou às seis. Uns minutos depois o primeiro grupo formou uma fila para recolher sua sopa. Os homens tinham tido um árduo dia de trabalho. Esfregaram as cobertas, arrumaram as redes e voltaram a limpar a metade dos canhões. A maioria deles comeu dois pratos cheios da muito condimentada sopa para apaziguar-se.
Começaram a sentir-se decompostos quando tinha terminado o segundo grupo.
Sara não tinha idéia de que os homens estavam chateados. Estava impaciente porque nenhum tinha vindo comentar o magnífico trabalho que tinha realizado.
Quando alguém bateu com força a porta, correu a abri-la. Jimbo estava na entrada com o semblante franzido. Ela deixou de sorrir.
-Boa tarde, Jimbo -começou dizendo-. Acontece algo mau? Parece muito desventurado.
-Ainda não tomou a sopa, não é, lady Sara? -perguntou-lhe.
Sua preocupação não tinha sentido para ela. Sara negou com a cabeça.
-Estava esperando para compartilhar minha comida com Nora -explicou-. Jimbo, o que é esse horrível som que ouço?
Olhou para fora da porta para ver se podia localizar o som.
-Os homens.
-Os homens?
Nathan apareceu repentinamente junto a Jimbo. O olhar de seu marido a fez conter o fôlego. Parecia furioso. Ela retrocedeu instintivamente.
-O que acontece, Nathan? -perguntou-lhe alarmada-. Acontece algo de mal? É Nora? Ela está bem?
-Nora está bem -respondeu Jimbo.
Nathan indicou a Jimbo que lhe deixasse passo, e logo entrou no camarote. Sara continuou afastando-se dele. Percebeu que tinha a mandíbula apertada. Isso era um mau sinal.
-Está aborrecido por algo? -perguntou-lhe .com um sussurro.
Ele assentiu com a cabeça.
Ela decidiu ser mais específica.
-Está aborrecido comigo?
Ele voltou a assentir com a cabeça. Logo deu um chute na porta para fechá-la.
-Por que? -perguntou-lhe Sara, disfarçando desesperadamente para que não percebesse seu medo.
-A sopa -a voz do Nathan era baixa, controlada, furiosa.
Estava mais confundida que assustada por sua resposta.
-Os homens não gostaram de minha sopa?
-Foi deliberado?
Como não tinha idéia do que queria lhe dizer com essa pergunta, não respondeu. Viu a confusão em seus olhos. Nathan fechou os dele e contou até dez.
-Então não tentou matá-los deliberadamente?
-É obvio que não tentei matá-los. Como pôde pensar uma coisa tão ruim? Agora os homens formam parte de meu pessoal, e não tentaria fazer nenhum mal a eles. Se não gostaram da sopa, lamento. Não tinha idéia de que fossem tão delicados.
-Delicados? -repetiu suas palavras com um grunhido-. Vinte de meus homens estão pendurando pela amurada de meu navio. Estão vomitando a sopa que lhes preparou. Outros dez estão agonizando em seus beliches. Ainda não estão mortos, mas certamente desejam estar.
Sara estava consternada pelo que estava dizendo.
-Não compreendo -exclamou-. Está sugerindo que sopa não estava boa? Os homens estão chateados por minha culpa ? Oh, Deus, devo ir anima-los.
Puxou-a pelos ombros quando tratou de passar junto a ele.
-Animá-los? Sara, um ou dois deles poderiam lhe jogar pela murada.
-Não me jogariam pela murada. Sou sua senhora.

Sentiu vontades de gritar. Logo percebeu que já o estava fazendo.
-É obvio que a jogariam pela murada -sussurrou Nathan.
Levou-a até a cama e a colocou sobre o edredon.
-Agora, esposa, vai me dizer como preparou essa maldita sopa.
Sara começou a chorar. Nathan demorou vinte minutos em averiguar a causa, e não foi Sara que finalmente o brindou com suficiente informação. Sua explicação incoerente não tinha pés nem cabeça. Ivan recordou a carne podre que tinha deixado na galera. Também recordou que não havia dito a Sara que estava podre.
Nathan trancou Sara no camarote para que não provocasse mais danos. Ela estava furiosa com ele porque não a tinha deixado ir desculpar-se com os homens.
Essa noite, ele não veio para cama, já que teve que tomar guarda junto com os outros homens que não estavam doentes. Sara não compreendeu esse dever e acreditou que ainda estava tão zangado que não queria dormir junto com ela.
Não sabia se poderia voltar a enfrentar seu pessoal. Como poderia convence-los de que não tinha tentado matá-los deliberadamente? Em pouco tempo, essa preocupação se converteu em irritação. Como podiam acreditar numa coisa tão perversa de sua senhora? Manchavam sua reputação acreditando que podia machucá-los. Sara decidiu que quando voltasse a ganhar a confiança dos homens, falaria seriamente com eles sobre suas tendência de tirar conclusões apressadas.
Nathan também demorou para perdoar seu engano. Retornou ao camarote na manhã seguinte. Olhou-a, mas não disse uma palavra. ficou dormido sobre as mantas e dormiu toda a manhã.
Sara já não podia suportar mais o isolamento. Tampouco podia suportar os roncos de Nathan. Às doze e meia saiu do quarto. Subiu à coberta, abriu sua sombrinha e começou a dar um passeio.
Foi uma experiência humilhante. De cada homem que se aproximava lhe dava as costas. A maioria ainda tinha uma cor cinzenta no rosto. Todos eles tinham o semblante franzido. Quando chegou à estreita escada que conduzia à coberta de acima estava chorando.
Não sabia onde queria ir, só queria afastar-se o máximo possível daquelas caretas, embora só por uns minutos.
O nível mais alto estava cheio de sogas e mastros. Logo que havia lugar para caminhar. Sara encontrou um lugar perto da vela maior, sentou-se, e abriu sua sombrinha entre dois sogas grosas.
Não sabia quanto tempo esteve ali sentada tratando de pensar em um plano para voltar a agradar aos homens. Em pouco tempo, ficaram vermelhos os braços e o rosto pelo sol. Não era de bom tom que uma dama estivesse bronzeada. Sara decidiu retornar para ir ver sua tia Nora.
Seria agradável ir visitar alguém que se preocupava com ela. Nora não a culparia. Sim, o que precisava era uma agradável visita. ficou de pé e puxou a sombrinha, mas percebeu que as delicadas varinhas tinham ficado apanhadas nas sogas. Demorou mais de cinco minutos em desatar os nós das sogas para tirar parcialmente a sombrinha.
O vento era intenso outra vez e dificultava mais a tarefa. O som das velas golpeando contra os mastros era tão forte que sufocava seus frustrados grunhidos. Deixou a tarefa quando se rompeu o tecido da sombrinha. Então decidiu pedir ajuda a Matthew ou a Jimbo.
Deixou a sombrinha pendurando nas sogas e voltou a descer pela escada.
Quando produziu o choque quase a levou para um flanco do navio. Chester a segurou bem a tempo. Ambos se voltaram para o ruído na coberta superior e viram como um dos mastros golpeava contra outro maior.
Chester se afastou correndo e pedindo ajuda enquanto subia pela escada. Sara decidiu que era melhor que saísse do caos que se produziu a seu redor. Esperou até que vários homens passassem junto a ela, e logo baixou para ir ao camarote de Nora. Matthew estava saindo da habitação quando ela passou junto a ele.
-Bom dia, Matthew -saudou. deteve-se para fazer uma reverência e logo adicionou-: Só entrarei por uns minutos. Quero ver como está minha tia hoje. Prometo que não a cansarei.
Matthew fez uma careta.
-Acredito- -lhe respondeu-. Mesmo assim retornarei dentro de meia hora para controlar Nora.
Então o estrondo sacudiu o navio. Sara se tirou da porta para não cair de joelhos.
-Céu santo, o vento está muito violento hoje, não é, Matthew?
O marinheiro já estava correndo para a escada.
-Isso não foi o vento -lhe gritou sobre seu ombro.
Sara fechou a porta do camarote de Nora justo quando Nathan saía do dele.
Sua tia estava apoiada sobre travesseiros outra vez. Sara pensou que estava um pouco mais descansada e o comentou.
-Tornou-te a cor às bochechas, Nora, e seus hematomas já estão ficando amarelos. dentro de pouco tempo estará passeando comigo pelas cobertas.
-Sim, realmente me sinto melhor -anunciou Nora- Como você está?
-Oh, eu estou bem -respondeu Sara. sentando-se na bordo da cama e tomou a mão de sua tia.
Nora franziu o semblante.
-Ouvi sobre sua sopa, menina. Sei que não está fazendo muito bem.
-Eu não comi a sopa -respondeu Sara-. Mas me sinto muito mal pelos homens. Não fiz de propósito.
-Sei que não o fez de propósito -a tranqüilizou Nora-. Eu disse a Matthew. Saí em sua defesa e lhe disse que não tem nenhum pensamento malicioso em sua cabeça. Nunca faria uma coisa tão terrível de propósito.
Sara franziu o semblante.
-Acredito que é terrivelmente descortês da parte de meu pessoal ter pensamentos malignos sobre sua senhora. São tão adversos como seu capitão, Nora.
-E Nathan? -perguntou-lhe Nora-. Ele também a culpa?
Sara encolheu os ombros.
-Está um pouco aborrecido pela sopa, é obvio, mas não acredito que pense que envenenei os homens de propósito. Provavelmente está um pouco mais compreensivo porque não comeu. De qualquer maneira, decidi que não me importa o que pensa de mim. Eu estou mais decepcionada com ele do que ele comigo. Sim, estou -adicionou quando Nora começou a sorrir-. Não está me tratando muito bem.
Não deu tempo a sua tia para que respondesse a essa dramática afirmação.
-Oh, não teria que haver dito isso. Nathan é meu marido, e devo ser sempre fiel a ele. Estou envergonhada por...
-Ele lhe machucou? -interrompeu-a Nora.
-Não, é obvio que não. É só que...
Passou um interminável minuto enquanto Nora tentava adivinhar o que estava acontecendo e Sara tentava encontrar uma forma de explicar.
Quando Sara começou a ruborizar-se, Nora -supôs que o problema tinha a ver com um aspecto íntimo de seu matrimônio.
-Não foi gentil quando se deitou contigo?
Sara olhou para a saia antes de responder.
-Foi muito gentil.
-Então?
-Mas depois ele não... quer dizer, a segunda vez... bom, depois... foi. Não disse nenhuma palavra de amor, Nora. Na realidade, não disse nada. A uma prostituta se trata com maior consideração.
Nora sentia muito aliviada pelo fato de Nathan ter sido gentil com Sara para pensar em sua falta de consideração.
-Você disse palavras de amor?
-Não.
-Me parece que Nathan não sabe o que é o que quer. Possivelmente não saiba que você precisa de seu elogio.
-Não preciso de seu elogio -replicou Sara com tom aborrecido-. Mas eu teria gostado de um pouco de consideração. Oh, que o céu me ajude, essa não é a verdade. Sim preciso de seu elogio. Não sei por que, mas preciso. Nora? Vê como o navio está inclinado para um lado? Pergunto-me por que Nathan não o endireita.
Sua tia demorou uns momentos em trocar de tema.
-Sim, está em um ângulo, verdade? -respondeu-lhe-. Mas você disse que hoje o vento era muito intenso.
-Tampouco parece que estejamos avançando -demarcou Sara-. Espero que não afundemos -adicionou com um suspiro-. Nunca aprendi a nadar. Embora isso não seja importante. Nathan não deixaria que me afogasse.

Nora sorriu.
-Por que não?
Sara parecia surpreendida por essa pergunta.
-Porque sou sua esposa. Prometeu me proteger, Nora.
-E você tem fé em que o fará?
-É obvio.
De repente o navio se voltou a mover, e inclinando mais para a linha de flutuação. Sara viu que Nora estava muito assustada, pois segurou sua mão. Deu-lhe uma palmada e lhe disse:
-Nathan é o capitão deste navio, Nora, e não deixará que nos caiamos ao mar. Ele sabe o que está fazendo. Não se preocupe.
Um rugido encheu repentinamente o camarote. Alguém gritou seu nome. Sara fez uma careta, mas logo se voltou e olhou desgostada a Nora.
-Vê que me refiro, Nora? Quando Nathan pronuncia meu nome, grita-o. Pergunto-me o que quererá agora. Tem tão má disposição. Não sei como o tolero.
-Vá ver o que ele quer -sugeriu-lhe Nora-. Não deixe ele assustá-la com seus gritos. Lembre-se que você deve olhar além da sueperfície.
-Sei -respondeu Sara com um suspiro. Ficou de pé e acomodou as dobras de seu vestido-. Se olhar abaixo da superfície, encontrarei um homem bom -adicionou repetindo a sugestão que lhe tinha feito sua tia no dia anterior-. O tentarei.
Deu um beijo em Nora e saiu correndo pelo corredor. Quase chocou-se com Jimbo. O homem a sustentou para que não caísse.
-Venha comigo -ordenou.
Começou a guiá-la para a escada que conduzia para o nível inferior. Ela atirou para trás.
-Nathan está me chamando, Jimbo. Devo ir até ele. Está na coberta, não é?
-Já sei onde está -murmurou Jimbo-. Mas precisa de uns minutos para acalmar-se, Sara. Deve esconder-se aqui até que...
-Não vou me esconder de meu marido -lhe interrompeu Sara.
-É obvio que não o vai fazer.
Sara deu um salto quando ouviu a voz do Nathan atrás dela. Voltou-se e tratou de sorrir corajosamente. depois de tudo, havia um membro de seu pessoal junto a ela, e por essa razão as irritações pessoais deviam ser deixadas de lado. Entretanto, o cenho de seu marido a fez mudar de idéia. Já não importava que Jimbo estivesse observando. Também o olhou com o semblante franzido.
-Pelo amor de Deus, Nathan, tem que aparecer assim? Me deu um bom susto.
-Sara -começou a dizer Jimbo-, eu não seria...
Ela ignorou os murmúrios do marinheiro.
-E já que falamos de seus maus hábitos, devo assinalar que estou cansada de ouvi-lo gritar comigoo tempo todo. Se tiver algo a me dizer, tenha a amabilidade de me falar com um tom civilizado, senhor.
Jimbo se colocou a seu lado. Matthew apareceu repentinamente e ficou do outro lado. Sara pensou que ambos os homens estavam tentando protegê-la.
-Nathan não me faria mal -anunciou-. Possivelmente quer fazê-lo, mas nunca me tocaria, não importa quão zangado estivesse.
-Parece que quer matá-la -replicou Jimbo lentamente. Fez uma careta pois a iniciativa de Sara lhe parecia muito inocente. Obstinada, pensou, mas inocente.
Nathan estava tratando de acalmar-se antes de voltar a falar. Olhou fixamente a Sara e respirou profundamente várias vezes.
-Sempre parece que quer me matar -sussurrou Sara. cruzou os braços tratando de parecer aborrecida e não preocupada.
Nathan ainda não havia dito uma palavra. Seu olhar lhe queimava a pele. Na realidade, parecia que queria estrangulá-la.
Olhe sob a superfície, tinha-lhe sugerido sua tia. Sara não podia realizar essa proeza. Inclusive não podia sustentar o olhar de Nathan durante mais de um ou dois segundos.
-Muito bem -disse quando já não pôde lhe sustentar mais o olhar-. Alguém mais tomou minha sopa? É por isso que está neste estado, marido?
Nathan ficou com os músculos do queixo tensos. Sara pensou que depois de tudo não teria que lhe haver formulado essa pergunta. Só lhe recordou a confusão que ela tinha provocado no dia anterior. Então percebeu que ele tinha sua sombrinha.
A pálpebra direita de Nathan tremeu. Duas vezes. Estava angustiado graças à travessura de seu inocente mulher. Ainda não confiava em si mesmo para falar com ela. Puxou-a pela mão e entrou no camarote. Fechou a porta e se apoiou contra ela.
Sara se dirigiu a mesa, voltou-se e se apoiou nela. Estava tratando de parecer indiferente.
-Nathan, não pude evitar notar que outra vez está aborrecido comigo por algo -começou-. Vai me dizer o que te incomoda, ou vai continuar aí me olhando? Deus, enche-me a paciência.
-Eu encho sua paciência?
Não se atreveu a assentir com a cabeça para responder. Grunhiu-lhe a pergunta, e Sara pensou que não desejava uma resposta.
-Conhece isto? -perguntou-lhe com dureza. Levantou a sombrinha, mas continuou olhando-a fixamente.
Ela observou a sombrinha e percebeu que estava partida em dois.
-Quebrou minha adorável sombrinha? -perguntou-lhe. Parecia irritada.
A pálpebra de Nathan voltou a tremer
-Não, eu não a rompi. Quando se soltou o primeiro mastro rompeu sua maldita sombrinha. Desatou as sogas?
-Pare de gritar comigo -protestou Sara-. Não posso pensar quando grita.
-Me responda.
-Possivelmente desatei algumas das sogas mais grosas, Nathan, mas tinha uma boa razão. Essa é uma sombrinha muito cara -adicionou assinalando-a com a mão-. Estava presa e estava tratando de... Nathan, o que foi exatamente o que ocorre quando se desataram as sogas?
-Perdemos duas velas.
Ela não compreendeu o que Ele estava dizendo.
-Perdemos o que?
-Destruíram-se duas velas.
-E é por isso que está tão aborrecido? Marido, tem pelo menos outras seis neste bote. Certamente...
-Navio -grunhiu-. É um navio, não um bote.
Sara decidiu tratar de lhe acalmar.
-Quis dizer um navio.
-Tem mais destas coisas?
-Chamam-se sombrinhas -respondeu-. E sim, tenho três mais.
-Dêem-me isso Agora.
-O que vai fazer com elas? - ela, correu para seu baú.
Ao ver que avançava ameaçadoramente para ele.
-Não sei para que precisa das minhas sombrinhas.
-Vou jogá-las no oceano. Com um pouco de sorte mutilarão a um par de tubarões.
-Não pode jogar minhas sombrinhas no oceano. Fazem jogo com meus vestidos, Nathan. Foram feitas especialmente... seria um pecado de mau gosto... não pode -terminou suas palavras com um lamento.
-É obvio que posso.
Já não gritava. Ela teria que ter estado feliz por essa bênção menor, mas não estava. Ainda era muito rude com ela.
-Me explique por que quer destruir minhas sombrinhas -perguntou-. Então lhe darei isso.
Encontrou a terceira sombrinha no fundo do baú, mas quando se ergueu para lhe olhar outra vez, apertou as três contra seu peito.
-As sombrinhas são uma ameaça, por isso.
Sara não podia acreditar.
-Como podem ser uma ameaça?
Olhou-lhe como se pensasse que ele tinha perdido a razão. Nathan negou com a cabeça.
-A primeira sombrinha machucou a meus homens, Sara.
-Só machucou a Ivan -corrigiu.
-E por isso preparou a maldita sopa que adoeceu o resto de minha tripulação -replicou Nathan.
Sara tinha que admitir que tinha razão, mas pensou que era terrível de sua parte voltar a mencionar o caso da sopa.
-A segunda sombrinha danificou meu navio -continuou Nathan-. Não notou que não nos estamos deslizando pela água? Tivemos que jogar a âncora para realizar os acertos. Somos presa fácil para qualquer coisa que acontecer. É por isso que jogarei suas outras malditas sombrinhas ao oceano.
-Nathan, não quis provocar estes contratempos. Está agindo como se tivesse feito tudo de propósito.
-Fez?
Sara reagiu como se lhe tivesse golpeado o traseiro.
-Não -exclamou-. Deus, é insultante.
Ele queria que raciocinasse. Ela começou a chorar.
-Pare de soluçar -pediu.
Não somente continuou chorando, mas se jogou em seus braços. Ele era o que a tinha feito chorar, pensou, e ela tinha que estar um pouco desgostada com ele.
Nathan não sabia o que fazer com ela. As sombrinhas estavam atiradas ao redor de seus pés, e ela estava abraçada a ele, lhe molhando toda a camisa com suas lágrimas. Abraçou-a enquanto se perguntava por que queria consolá-la.
A mulher quase tinha destroçado seu navio.
Beijou-a.
Ela apoiou o rosto junto a seu pescoço e deixou de chorar.
-Os homens sabem que eu quebrei o navio?
-Não o quebrou -sussurrou Nathan.
Parecia consternada.
-Mas os homens acreditam...
-Sara, podemos arruma-lo em dois dias -disse. Era uma mentira, já que demorariam quase uma semana em terminar os reparos, mas ele suavizou a verdade para aliviar um pouco sua preocupação.
Então pensou que tinha perdido a cabeça. Sua esposa só tinha provocado caos no momento em que subiu a bordo de seu navio. Beijou-lhe a cabeça e começou a lhe acariciar as costas.
Ela se apoiou nele.
-Nathan?
-Sim?
-Meu pessoal sabe que eu provoquei os danos?
Nathan olhou para o céu. Seu pessoal.
-Sim, sabem.
-Foi você que falou?
Ele fechou os olhos. Tinha censura em sua voz. Imaginou que achava que tinha sido desleal com ela.
-Não, eu não disse. Eles viram a sombrinha, Sara.
-Quero que me respeitem.
-Oh, eles a respeitam -anunciou. Sua voz já tinha um tom de irritação.
Sara sentiu um pouco de esperança até que ele adicionou:
-Estão esperando que traga a próxima peste.
Sara pensou que estava brincando.
-Eles não acreditam nessa tolice -respondeu.
-Oh, sim. Estão fazendo apostas, Sara. Alguns acreditam que primeiro haverá uma ebulição e logo a peste. Outros acreditam que...
Ela se afastou dele.
-Não fala sério, não é?
Ele assentiu com a cabeça.
-Acreditam que tem uma maldição, esposa.
-Como pode sorrir quando diz coisas tão pecaminosas?
Ele encolheu os ombros.
-Os homens são supersticiosos, Sara.
-É porque sou uma mulher? -perguntou-lhe Sara-. ouvi que os marinheiros acreditam que é má sorte ter uma mulher a bordo, mas não compartilho essa tolice.
-Não, não é porque é uma mulher -respondeu-. Estão acostumados a ter uma mulher a bordo. Minha irmã Jade estava acostumado a ser a senhora deste navio.
-Então por que...?
-Você não é como Jade -disse-. perceberam rapidamente.
Não pôde obter que lhe desse mais detalhes. Um pensamento repentino trocou sua direção.
-Nathan, ajudarei com os acertos -disse-. Sim, isso. Os homens advertirão que não foi deliberado...
-Deus nos salve a todos -a interrompeu.
-Então como vou voltar a ganhar sua confiança?
-Não compreendo esta obsessão. -replicou Nathan-. Não tem sentido.
-Sou sua senhora. Se for dirigi-los, devem me respeitar.
Suspirou profundamente e logo negou com a cabeça.
-Volte à cama, esposa, e fique ali até que eu retorne.
-Por que?
-Não me pergunte. Só fique neste camarote.
Ela assentiu com a cabeça.
-Só sairei deste camarote para visitar a Nora, está bem?
-Eu não disse...
-Por favor. Será uma tarde muito longa, Nathan. Estará muito ocupado e retornará tarde a casa. Ontem à noite não retornou à cama. Tratei de esperar acordada, mas estava muito cansada. Ele sorriu porque ela tinha chamado casa a seu camarote. Logo assentiu com a cabeça.
-Esta noite me esperará acordada -ordenou-. Não importa até que hora.
-Vai gritar comigo outra vez?
-Não.
-Está bem -lhe prometeu-. Então o esperarei acordada.
-Maldição, Sara -replicou Nathan-. Não estava perguntando, estava informando isso.
Nathan lhe apertou os ombros. Era mais que uma carícia. afastou as mãos e abraçou a cintura.
-Nathan?
Sua voz era tremente. Ele deixou cair as mãos ao lado do corpo. Pensou que poderia ter medo de que a machucasse. Estava a ponto de lhe explicar que não importava quanto lhe provocasse, nunca lhe levantaria uma mão. Mas de repente, Sara ficou nas pontas dos pés e lhe beijou. Ele estava tão surpreso pela demonstração de carinho que não soube como responder.
-Estava muito aborrecida com você quando saiu tão rapidamente do camarote depois de que... estivemos juntos.
-Refere a depois de que fizemos amor? -perguntou-lhe sorrindo.
-Sim -respondeu Sara-. Estava muito aborrecida.
-Por que?
-Porque a uma esposa gosta de escutar que...
-Satisfez a seu marido?
-Não -replicou ela-. Não zombe de mim, Nathan. Não faça com que o que aconteceu entre nós pareça tão frio e calculado. Foi muito bonito.
Estava comovido por suas ferventes palavras, e sabia que dizia de todo coração. Sentiu-se muito satisfeito com ela.
-Sim, foi bonito. Não estava brincando. Só estava tratando de compreender o que quer de mim.
-Quero escutar que você...
Não pôde continuar.
-Que é uma boa mulher?
Ela assentiu com a cabeça.
-Eu também estou em falta -admitiu Sara-. Eu também tinha que ter dito algumas palavras de elogio.
-Por que?
Parecia realmente perplexo. Isso a irritava.
-Porque um marido também precisa escutar essas palavras.
-Eu não.
-Sim, você também.
Nathan decidiu que já tinha conversado suficiente com sua esposa e se ajoelhou para recolher as sombrinhas.
-Poderia devolver isso por favor? -perguntou-lhe-. Eu as destruirei. Não quero que meu pessoal o veja jogando-as pela murada. Seria muito humilhante.
Ele aceitou a contra gosto, porque estava seguro de que não poderia fazer nenhum dano com essas coisas inúteis enquanto permanecesse no camarote. Mesmo assim, e para assegurar-se, fez que o prometesse.
-As sombrinhas não sairão deste camarote?
-Não.
-As destruirá?
-Claro.
Finalmente, estava satisfeito. Já se sentia um pouco mais tranqüilo. Quando saiu do camarote estava convencido de que sua esposa não poderia provocar mais danos.
Além disso, pensou, que mais ela poderia fazer?


























Capítulo 8

Ela poderia incendiar seu navio.
A sensação de segurança voltou ao navio. Passaram-se oito dias e oito noites sem que acontecesse nenhum outro acidente. Os homens ainda eram cautelosos com Sara, mas já não olhavam tão freqüentemente com o semblante franzido. Alguns até assobiavam de vez em quando enquanto cumpriam com suas tarefas diárias. Chester, o mais supersticioso da tripulação, era o único que continuava fazendo-a sinal da cruz cada vez que Sara passava.
Lady Sara fingia não perceber.
Quando terminaram de arrumar as velas, recuperaram o tempo perdido. Estavam a uma semana da ilha da Nora. O clima tinha sido bom, embora o calor fosse quase insuportável durante as tardes. Entretanto, as noites seguiam sendo frescas e necessitavam mantas grosas para não tremer.
As coisas pareciam tranqüilas.
Nathan devia ter percebido que não podia durar. Na sexta-feira de noite tinha terminado de dar as instruções para o guarda. Interrompeu a conversa de Jimbo com Matthew para dar ordens para as atividades e disparos dos canhões que se realizariam no dia seguinte. Os três estavam de pé diretamente na frente ao alçapão que conduzia ao camarote de Nathan. Por essa razão, Jimbo baixou a voz quando comentou:
-Os homens já estão esquecendo essa coisa que sua esposa ter uma maldição, rapaz -se deteve para olhar atrás dele, como se se assegurasse que Sara não podia ouvi-los, e logo adicionou-: Chester ainda diz a todos que não há dois sem três. Será melhor que sigamos vigiando Sara até que...
-Jimbo, ninguém se atreveria a tocar na esposa do capitão -sussurrou Matthew.
-Não estava sugerindo que alguém faria -replicou Jimbo-. Só estou dizendo que eles ainda poderiam ferir seus sentimentos. Ela é um pouco frágil de coração.
-Sabia que nos considera parte de seu pessoal? -assinalou Matthew. Fez uma careta e logo se deteve-. Obviamente, lady Sara o tem na palma de sua mão se estiver tão preocupado com seus sentimentos -ia continuar com o mesmo tema quando o aroma de fumaça lhe chamou a atenção-. É cheiro de fumaça? -perguntou.
Nathan viu a coluna de fumaça cinza saindo pelos borde do alçapão antes de que o os outros dois homens fizessem. Deveria ter gritado fogo para alertar aos outros do perigo. Não o fez. Em lugar disso gritou o nome da Sara. A angústia de sua voz era comovedora.
-Fogo! -gritou Matthew.
Jimbo foi correndo para procurar baldes, gritando e pedindo água, enquanto Matthew tentava deter Nathan para que não descesse pelo alçapão.
-Não sabe quanto fogo há -gritou-. Use a escada, rapaz, use...
Matthew abandonou sua petição quando Nathan deslizou através da abertura, e logo voltou para baixar correndo pela escada.
Nathan quase não podia ver dentro do camarote, já que a fumaça era tão espessa que lhe entorpecia a visão. Foi medindo o caminho até a cama para procurar a Sara.
Ela não estava ali. Quando terminou de revisar o camarote lhe ardiam os pulmões. Retrocedeu até o alçapão e usou os cubos com água do mar que Jimbo lhe entregava para apagar o incêndio.
O perigo tinha terminado. A perda que quase tinham sofrido fez os homens estremeceram. Nathan não podia controlar os batimentos do seu coração. O medo pela segurança de sua esposa tinha lhe afligido. Entretanto, ela nem sequer estava no camarote. Não tinha sido alcançada pelas chamas. Não estava morta.
Ainda.
Matthew e Jimbo juntaram-se a Nathan. Os três homens observaram o lugar para avaliar os danos.
Vários dos tábuas que se encontravam sob a cozinha tinham passado através do chão para o nível inferior. Havia um buraco brilhante nas pranchas do chão. Duas das paredes estavam negras até o teto.
Entretanto, os danos do camarote não era o que mais chamava a atenção ao Nathan. Sua atenção estava fixa nos restos das sombrinhas da Sara. As varinhas ainda brilhavam dentro das duas partes de metal da cozinha.
- Ela achou que isto era uma chaminé? -sussurrou- Matthew a Jimbo. esfregou o queixo enquanto considerava essa possibilidade.
-Acredito que sim -respondeu Jimbo.
-Se tivesse dormindo, a fumaça a teria matado -comentou Nathan.
-Já passou, rapaz -disse Jimbo, seguro de que o rapaz estava preocupado-. Sara está bem, e isso é o que importa. Suas palavras soam tão escuras como o fuligem das paredes. Você não a culpa -adicionou assentindo com a cabeça.
Nathan olhou com um olhar mortal. Jimbo não se intimidou.
-Ouvi quando Sara disse que este alçapão era chaminé. E também ri desse comentário. Achei que lhe havia dito a verdade.
-Acredito que não o fez -pressionou Matthew.
Nathan não se tranqüilizou com o argumento do Jimbo. Parecia que estava a ponto de chorar quando gritou:
-Atou fogo a meu navio.
-Não o fez de propósito -a defendeu Matthew.
Nathan não estava escutando.
-Atou fogo a meu navio -repetiu com um grunhido.
-Ouvimos bem da primeira vez, rapaz -intercedeu Jimbo-. Agora se acalme e tente aprender com este pequeno acidente.
-Acredito que vai demorar uns minutos mais para poder pensar -disse Matthew-. O rapaz sempre foi muito exaltado, Jimbo. E Sara provocou o incêndio. Isso é verdade.
Os dois homens se voltaram para sair do camarote. Ambos acreditavam que Nathan precisava ficar sozinho para descansar um momento. O grito do Nathan os deteve.
-Tragam-na agora.
Jimbo indicou a Matthew que permanecesse onde estava e saiu correndo. Quando encontrou Sara no camarote da Nora não lhe fez nenhuma advertência sobre o problema mas sim lhe disse que a seu marido gostaria de falar com ela.
Sara retornou imediatamente a seu camarote. Quando viu a água em tudo, abriu mais os olhos. Emitiu um som entrecortado quando viu o buraco no rincão.
-Meu deus, o que aconteceu aqui?
Nathan se voltou para olhá-la antes de lhe responder.
-Fogo.
Compreendeu tudo imediatamente.
-Fogo? -repetiu ela com um sussurro-. Se refere ao fogo da chaminé, Nathan?
Não respondeu durante um interminável minuto. Logo se aproximou lentamente dela. Suas mãos estavam tão perto que podia agarrá-la pelo pescoço.
Resistiu a esta vergonhosa tentação levando as mãos nas costas.
Não a olhava. Isso ajudava. Seu olhar estava dirigido aos danos do camarote. Mordeu o lábio inferior e quando começou a tremer Nathan pensou que tinha compreendido exatamente o que tinha acontecido.
Estava equivocado.
-Nunca devia ter deixado a chaminé sem atenção -sussurrou-. Uma faísca...?
Nathan negou com a cabeça.
Então a olhou nos olhos. Seu medo era evidente.
Imediatamente, Nathan perdeu um pouco de sua fúria. Não importava se estava preocupada com ele. Era um pensamento lógico, dadas as circunstâncias, entretanto, ali estava ela lhe ordenando que deixasse de franzir o semblante.
-Sara? -sua voz parecia bastante suave.
Ele parecia que estava furioso. Esforçou-se para permanecer onde estava, embora sentisse desejos de afastar-se dele.
-Sim, Nathan -respondeu olhando ao chão.
-Olhe para mim.
Olhou Nathan viu as lágrimas em seus olhos., Isto afastou o resto de sua fúria.
Suspirou profundamente.
-Queria me dizer algo? -perguntou-lhe ao ver que continuava olhando-a fixamente.
-Não é uma chaminé.
Nathan se foi do camarote. Sara o olhou durante um momento antes de voltar-se para olhar Matthew e Jimbo.
-Disse que a chaminé não é uma chaminé?
Os dois homens assentiram com a cabeça ao uníssono.
-Parece uma chaminé.
-Bom, não o é -anunciou Matthew. Tocou com o cotovelo a Jimbo -. Explica você.
Jimbo assentiu com a cabeça, e logo disse a Sara que as partes de metal que estavam em um lado do camarote tinham sido compradas na última viagem de Nathan. Eram para arrumar a velha cozinha dos escritórios da esmerald Shipping Company. Quando chegassem ao porto, Nathan tinha esquecido de desce-las, continuou Jimbo, embora estivesse certo de que a próxima vez o capitão não esqueceria.
Matthew concluiu a explicação dizendo a Sara que o alçapão era nada mais que um condutor de ar. Não uma chaminé.
Quando os dois homens terminaram com a explicação, o rosto de lady Sara estava tão vermelho quanto o fogo. Logo lhes agradeceu sua paciência. Sentiu-se como uma ignorante.
-Podia ter matado a todos -sussurrou.
-Sim -concordou Matthew.
Ela pôs a chorar. Os dois homens estavam quase desfeitos pela demonstração de seus sentimentos. Jimbo olhou para Matthew. De repente, Matthew se sentiu como um pai tratando de consolar a sua filha. Abraçou a Sara e lhe deu tapinhas nas costas.
-Está bem, Sara, não é tão grave -disse Jimbo tratando de tranqüilizá-la-. Não podia saber que não era uma chaminé.
-Uma idiota saberia -exclamou Sara.
Os dois homens assentiram com a cabeça sobre a cabeça da Sara.
-Eu poderia ter acreditado que era uma chaminé se... -Matthew não pôde continuar porque não lhe ocorreu uma mentira razoável.
Jimbo ajudou.
-Qualquer que não navegasse muito poderia ter pensado que era uma chaminé. Nathan apareceu na porta. Não podia acreditar no que estava vendo. Jimbo e Matthew, os dois piratas mais sangrentos com que tivera a honra de trabalhar, estavam se comportando como babás.
-Matthew, quando terminar de fazer hematomas nas costas de minha esposa, possivelmente queira trazer alguns homens para que limpar tudo isto.
Logo Nathan se voltou para Jimbo.
-As tábuas caíram para nível inferior. Se ocupe de arrumá-los, Jimbo. Matthew, se não tirarem as mãos de cima de minha esposa...
Não teve que terminar essa ameaça. Matthew já estava quase fora quando Nathan chegou até Sara.
-Se alguém tiver que consolar a minha esposa, esse sou eu.
Tomou Sara entre seus braços e lhe apertou o rosto contra seu peito. Jimbo não sorriu até que saiu da habitação. Depois de fechar a porta riu com vontade.
Nathan continuou abraçando a Sara durante vários minutos. Então voltou a se irritar.
-Meu deus, esposa, ainda não parou de chorar?
Ela secou as lágrimas com sua camisa e logo se separou um pouco dele.
-Tento não chorar, mas às vezes não agüento.
-Notei - indicou. Levou-a até a cama, deixou-a ali, e logo se sentiu calmo o suficiente para repreendê-la sobre o temor que albergavam todos e cada um dos homens de mar. O fogo.
Caminhou pelo quarto, com as mãos nas costas, enquanto lhe falava. Foi tranqüilo, cabal, lógico. Quando terminou estava gritando. Entretanto, ela não se atreveu a mencionar,-lhe isso. A veia da têmpora pulsava, e pode perceber que seu marido ainda não tinha superado a irritação.
O observou caminhar, gritar e gesticular, e durante aqueles minutos nos quais ele se mostrou como era, percebeu que o amava muito. Estava tentando ser amável com ela. Não sabia, mas ali estava culpando-se e culpando a Jimbo e Matthew, e até a Deus porque ninguém se incomodou em lhe explicar a vida em um navio.
Ela queria jogar-se em seus braços e dizer que, embora sempre lhe tinha amado, o sentimento era muito mais... vívido, muito mais verdadeiro. Sentia uma paz, uma satisfação. Era como se durante todos esses anos ele tivesse estado em viagem, e ela o esperando, e agora tivesse chegado em casa.
Nathan desviou sua atenção lhe pedindo que respondesse. Teve que repetir a pergunta, é obvio, já que ela estava sonhando acordada e não tinha idéia do que lhe tinha perguntado. Só parecia um pouco irritado por sua falta de atenção, e Sara pensou que finalmente estava se acostumando a ela.
O homem era puro som. Oh, seu expressão ainda podia amedrontá-la, mas depois de tudo, Nora tinha razão. Realmente havia um homem bom e amável atrás da máscara.
Finalmente, Nathan terminou com seu sermão. Quando perguntou, lhe prometeu imediatamente que não tocaria nada mais do navio até que chegassem ao porto.
Nathan estava satisfeito. Depois que se saiu do camarote, Sara passou várias horas limpando. Quando trocou os lençóis e se banhou estava esgotada, mas estava decidida a esperar acordada a seu marido. Queria dormir em seus braços.
Sara tirou seus papéis do baú, sentou-se, e fez um desenho de seu marido. O papel parecia não ser suficiente para seu tamanho. Sorriu ao perceber. Ele era um homem. Seu homem. A semelhança era notável, pensou, embora se negasse a lhe desenhar o cenho franzido no rosto. Também capturou sua postura viking, com as pernas musculosas separadas e as mãos nos quadris. O cabelo lhe caía pelo pescoço, e desejava ter tido suas tintas para poder mostrar a magnificência de seu cabelo castanho avermelhado e seus belos olhos verdes. Possivelmente quando chegasse na casa de Nora poderia comprar novos materiais e assim poderia fazer um desenho adequado de seu marido.
Nathan retornou ao camarote depois da meia-noite. Sara estava completamente adormecida. Estava enroscada na cadeira como um gatinho. Seu longo cabelo encaracolado lhe ocultava quase todo o rosto.
Não sabia quanto tempo tinha ficado ali observando-a. Era agradável tê-la por perto. Não podia compreender por que sentia essa satisfação, já que, embora fosse uma reação perigosa, nunca permitira que nenhuma mulher significasse mais para ele do que uma bagagem.
Ela era simplesmente um meio para conseguir um fim, disse-se a si mesmo. E isso era tudo.
Nathan se despiu, lavou-se e logo foi até a mesa. Viu as folhas com os rascunhos e a tirou brandamente da mão. A curiosidade foi mais forte e olhou lentamente o trabalho que ela tinha realizado. Havia dez ou doze desenhos completos. Todos eram esboços dele.
Não soube como reagir. Os desenhos estavam surpreendentemente bem feitos. Ela tinha capturado sua força, seu tamanho. Mas tinha deixado voar sua imaginação, já que Nathan estava sorrindo em todos os desenhos.
Sara era uma romântica incurável. E tia Nora lhe havia dito que Sara estava nas nuvens a maior parte do tempo. Agora sabia que o comentário não era um exagero.
Sim, sua esposa era uma sonhadora. E entretanto, permaneceu ali olhando um desenho em particular durante um longo, longo momento. Estava tudo errado, é obvio, mas lhe tinha hipnotizado.
O desenho o mostrava de costas, na coberta, perto do leme, olhando o pôr-do-sol. Era como se ela tivesse surpreendido ele. Suas mãos estavam obstinadas ao leme. Estava descalço e sem camisa. Só se via um pequena parte de seu perfil, o suficiente para ver que estava sorrindo.
Não tinha nenhuma cicatriz nas costas.
Tinha-as esquecido, ou tinha decidido que não queria incluir as cicatrizes em seu trabalho? Nathan decidiu que o assunto não era importante o suficiente para continuar pensando nele. Ele tinha cicatrizes, e seria melhor que ela as aceitasse. Sacudiu a cabeça ante essa ridícula reação, logo a levantou em seus braços e a levou até a cama.
Nathan deixou o alçapão aberto para que a fumaça que ficava no camarote saísse, e se deitou junto a ela.
Ela se aconchegou a ele imediatamente.
-Nathan?
-O que?
Respondeu-lhe com um tom duro para que soubesse que não queria falar com ela.
Sua mensagem não lhe chegou. Aproximou-se mais dele e lhe pôs uma mão no peito. Seus dedos acariciaram o grosso pêlo até que lhe colocou uma mão sobre a dela.
-Já chega -ordenou.
Sara apoiou a cabeça no ombro.
-Por que acha que tenho tantas dificuldades para me adaptar à vida do navio? -perguntou-lhe com um sussurro.
Respondeu encolhendo os ombros, e ela teria saído voando contra a parede se não estivesse lhe abraçando.
-Acha que é porque não estou acostumada a conduzir um navio?
Ele olhou para o céu,
-Supõe-se que não deve conduzir meu navio -respondeu---. Eu devo fazê-lo.
-Mas como sua esposa deveria...
-Durma.
-Ajudar -disse ela ao mesmo tempo.
Sara beijou seu pescoço.
-Farei muito melhor quando estivermos em terra, Nathan. Posso dirigir uma propriedade grande, e...
-Pelo amor de Deus, Sara, não tem que enumerar a lista de valores outra vez. Endureceu-se junto a ele, mas logo relaxou. Finalmente, tinha decidido obedecer, pensou. A mulher ia dormir.
-Nathan?
Teria que havê-lo sabido. Não se deitaria até que estivesse preparada.
-O que foi?
-Esqueceu de me dar um beijo de boa noite.
Ela era irritante. Nathan suspirou cansado. Sabia que não dormiria até que o desse. Sua esposa podia ser bastante ingênua e sincera. Era muito fastidiosa, pensou. No momento não podia pensar em outras qualidades atenuantes que pudesse possuir. Era tão obstinada quanto uma mula, tão mandona quanto uma sogra, e esses eram só dois dos numerosos defeitos que tinha percebido.
Beijou-a rapidamente para que deixasse de lhe incomodar. Gostou. Tinha que beijá-la outra vez. Usou sua língua. Ela também. O beijo foi muito mais profundo, intenso.
Ela se apertou contra ele. Não podia resistir a tanta provocação. Ela era suave e feminina. Tinha que fazer amor com ela. Ainda resistia um pouco. Quando ordenou que tirasse a camisola e acendesse a vela, Sara pediu que ficassem às escuras. Nathan respondeu que não, que queria observá-la, e ela se ruborizou antes de tentar ocultar seu corpo tampando-se até o queixo.
Ele afastou as mantas e começou com a tarefa de vencer seu acanhamento. Em seguida, Sara começou a atuar com bastante descaramento. Queria lhe tocar por toda parte com suas mãos e boca. Ele deixou que o fizesse, é obvio, até que estivesse tão excitado que começou a tremer.
Era uma mulher incrível. Suas reações eram sempre tão honestas, tão verdadeiras. Isso lhe preocupava. Essa doce tentadora e não se guardava nada, e quando finalmente se colocou entre suas coxas sedosas, estava molhada, ardente e suplicante.
Ele queria fazê-lo lenta e brandamente, que cada penetração durasse para sempre, mas ela lhe fez esquecer suas boas intenções lhe apertando com força dentro dela. As fincadas de suas unhas o enlouqueceram e os gemidos eróticos o fizeram perder o controle.
Ambos acabaram juntos. Ele a abraçou forte e seus tremores se fundiram.
Ele tentou afastar-se dela. Sara não deixou. Tinha-lhe abraçado com força pela cintura. A restrição era pequena, mas decidiu permanecer ali uns minutos mais, até que ela se acalmasse um pouco. Os batimentos de seu coração pareciam toques de tambor, igualmente com os dele.
Sentiu a umidade em seu ombro. Sabia que havia tornado a chorar. Isso lhe parecia divertido. Ela sempre terminava chorando quando acabava. Também sempre gritava o nome de Nathan. Desculpava-se lhe dizendo que eram lágrimas de alegria porque nunca tinha experiente uma felicidade tão grande.
Ele tampouco, pensou. Sentiu-se preocupado pela segunda vez nessa noite.
-Eu te amo, Nathan.
Isso o assustou. Reagiu como se tivessem lhe dado uma chicotada. Em um segundo, seu corpo morno ficou frio como o aço. E a soltou, e de repente, Sara estava observando suas costas.
Esperou que reconhecesse suas palavras de amor. Passaram vários minutos antes que aceitasse o fato de que não lhe ia dizer nada. Seus roncos a ajudaram a chegar a essa conclusão.
Sentiu desejos de chorar. Entretanto, não o fez, e percebeu uma pequena vitória nessa nova força. Logo se concentrou em encontrar algo mais que a agradasse.
Pelo menos não se foi do camarote depois de ter feito amor, pensou Sara. Supôs que devia estar agradecida por isso. Mas para falar a verdade, não estava muito contente.
Estava tremendo. Sara se afastou do calor do Nathan e pegou as mantas. Quando por fim se cobriu, ela e Nathan estavam de costas um para o outro.
Sentia-se sozinha, vulnerável. E tudo era culpa do Nathan, pensou. Ele que a fazia sentir-se tão miserável. Decidiu que seu dever não era só lhe amar, também deveria lhe odiar. Era tão insensível. Também obstinado. Sabia o muito que precisava escutar suas palavras de amor, e entretanto se negava a dize-las.
Ele a amava, não? Sara pensou nessa preocupação durante um longo momento. Então Nathan virou e voltou a abraça-la. Queixou-se em sonhos enquanto a apertava contra seu peito. Esfregou-lhe o queixo contra a parte superior da cabeça no que ela considerou um gesto de carinho, e já não lhe importou que tivesse esquecido lhe dizer que a amava.
Sara fechou os olhos e tratou de dormir. Nathan a amava, pensou. Sua mente tinha um pouco de dificuldade em aceitar o que seu coração já sabia... sempre tinha sabido, corrigiu-se, desdo do momento em que os tinham casado.
Seu marido compreenderia com o tempo. Era tão cabeça dura que demorava mais em aceitar que a maioria dos maridos.
-Eu te Amo, Nathan -sussurrou contra seu pescoço.
Quando lhe respondeu, Nathan tinha a voz rouca pelo sonho, mas terna.
-Sei, sei.
Estava roncando outra vez antes que pudesse lhe perguntar se estava satisfeito por sua fervente declaração.
Sara ainda não podia dormir. Passou outra hora tentando pensar em algo para que Nathan percebesse sua boa sorte ao tê-la como esposa.
O caminho para o coração de Nathan não era seu estômago, decidiu. Ele não comeria nada que lhe preparasse. O homem era desconfiado por natureza, e sua sopa tinha lhe indisposto contra suas habilidades culinárias.
Finalmente, concebeu um bom plano. Chegaria a seu marido através de seu pessoal. Se pudesse provar seu valor ante a tripulação, ele não começaria a ver quão maravilhosa realmente era? Não seria difícil convencer os homens da bondade e sinceridade de sua esposa. Entretanto eram supersticiosos, embora depois de tudo, homens eram apenas homens, palavras amáveis e as boas ações certamente obteriam sua lealdade.
Quem sabe pudesse encontrar um método para ganhar a lealdade dos homens em menos de uma semana.



Capítulo 9

No fim de uma semana, todos usavam dentes de alho ao redor de seus pescoços para afastar o mal de lady Sara. Ela passou os sete dias tentando ganhar a confiança deles. Quando percebeu que usavam esses colares estava tão aborrecida que já não tentou mais ganhar-lhes a confiança.
Também deixou de correr para seu camarote cada vez que a olhavam fixamente. Fingia que não notava. Não permitiria que ninguém percebesse como se aborrecia com aquele comportamento. Manteve sua compostura e controlou suas lágrimas.
Só Nathan e Nora sabiam como se sentia realmente. Sara os mantinha informados sobre seus sentimentos feridos. Nathan fazia o possível para ignorar a situação. Nora fazia o possível para tranqüilizar sua sobrinha.
O problema era que qualquer pequeno acidente, sem importar o que o tinha provocado, adjudicava-se a presença da Sara. Acreditavam que a mulher estava amaldiçoada. Quando Chester percebeu que tinha uma verruga na mão culpou Sara. Ele lembrou-se que sua mão tinha roçado contra a dela quando se cruzaram na coberta.
Como podia raciocinar contra essas idiotices? Sara formulava essa pergunta a Nathan pelo menos duas vezes por dia. Entretanto, suas respostas não tinham sentido. Grunhia com irritação ou encolhia os ombros com indiferença. Era tão solidário como um cabrito, e cada vez que terminava de dar sua evasiva opinião a beijava para tranquiliza-la.
Na segunda-feira seguinte, Sara pensou que sua vida já não podia ser pior. Mas não tinha tinha levado em conta os piratas. Atacaram o navio na terça-feira pela manhã.
Era um dia ensolarado e tranqüilo. Matthew tinha levado Nora para caminhar pela coberta. Matthew a levava de braço dado e os dois se alternavam em sussurrar e rir como dois meninos. O casal tinha estreitado muito sua relação durante as últimas semanas. Sara pensava que Matthew estava tão apaixonado como Nora parecia está-lo. Sorria muito e Nora se ruborizava muito freqüentemente.
Quando Sara começou seu passeio, Jimbo se colocou a seu lado. Nunca lhe permitiam ficar sozinha. Ela acreditava que era porque seu pessoal tinha se tornando muito belicoso com ela. Entretanto, quando fez esse comentário a Jimbo, este o negou com a cabeça.
-Isso poderia ser uma pequena parte -disse, mas a verdade é que o capitão não quer que se quebre nada mais, Sara. É por isso que tem um guarda seguindo-a dia e noite.
-Oh, é uma vergonha -exclamou Sara.
Jimbo custou a esconder uma careta. Sara tinha tendência ao drama. Não queria que pensasse que estava rindo dela.
-Bom, bom, não é tão terrível -lhe assinalou-. Não tem que sentir-se tão desventurada.
Sara se reanimava rapidamente. Tinha o rosto ruborizado e lhe mostrou sua irritação.
- É assim, não é? -perguntou-lhe-. Alguns pequenos acidentes e agora estou condenada por meu pessoal como uma bruxa e condenada por meu próprio marido como destruidora de sua propriedade. Jimbo, devo lhe lembrar que desde do incêndio não aconteceu nada fora do normal, e isso foi há mais de sete dias. Certamente, os homens recuperarão a tempo seus sentidos.
-Nada fora do normal? -repetiu Jimbo-. Não pode estar falando a sério, Sara. Então esqueceu o pequeno acidente do Dutton?
Tinha que mencionar o desafortunado acidente.
Sara lhe olhou aborrecida.
-Ele não se afogou, Jimbo.
Jimbo levantou o olhar para o céu.
-Não, ele não se afogou, mas esteve muito perto.
-E me desculpei com o homem.
-Sim, fez -assentiu Jimbo-. E Kently e Taylor?
-Quais são eless? -perguntou-lhe Sara, pretendendo ignorá-lo deliberadamente.
-Os que deixou tontos faz dois dias quando caíram sobre a graxa dos canhões -recordou.
-Não posso carregar toda a culpa sobre meus ombros por isso.
-Não? -perguntou-lhe. Estava ansioso por escutar o que tinha para explicar sobre esses incidentes-. Você derrubou a graxa, não foi?
-Sim -admitiu ela-. Mas tinha ido procurar um trapo para limpá-la quando esses homens passaram junto a mim correndo. Se não tivessem estado tão preocupados em afastar-se de mim, eu poderia tê-los parado e adiverido-os do chão escorregadio. Assim, como vê, Jimbo, a culpa é de seus supersticiosos homens.
O grito de advertência da presença de um navio a distância deteve a conversa. Em um instante, a coberta estava cheia de homens que ocupavam seus postos.
Sara não compreendeu a que se devia tanta comoção. Nathan gritou seu nome antes que Jimbo pudesse lhe dar uma explicação apropriada.
-Nathan, eu não fiz nada -exclamou quando viu que se dirigia dela-. Seja o que for, Juro que não tive nada a ver com isso.
As palavras veementes da Sara detiveram Nathan. Sorriu-lhe antes de tomar sua mão e levá-la para o camarote.
-Sei que não é responsável -lhe disse-, embora provavelmente os homens a culparão do mesmo jeito.
-De que irão me vão culpar dessa vez? -perguntou.
-Estamos a ponto de receber uns convidados não desejados, Sara.
-Não desejados? -sussurrou ela.
Chegaram ao camarote. Nathan a fez entrar, mas deixou a porta aberta. Era óbvio que não pensava em ficar muito.
-Piratas -explicou.
Sara ficou pálida imediatamente.
-Não se atreva a desmaiar -lhe ordenou, embora se aproximasse para sustentá-la se por acaso decidir não lhe obedecer.
Lhe afastou as mãos.
-Não me vou desmaiar -anunciou-. Estou furiosa, Nathan, não assustada. Não quero que meu pessoal pense que também atraí os piratas. Afaste-os, Nathan. Não poderia tolerar outro desgosto.
Nathan sabia que estavam a ponto de enfrentar uma boa batalha, mas não ia compartilhar essa informação com sua esposa. Na realidade, estava preocupado porque sabia que teria que ter usado um navio mais rápido para sua viagem. Não poderiam evitar que se aproximassem. O Seahawk era muito volumoso e pesado para obter essa façanha.
-Me prometa que se cuidará -lhe pediu Sara.
Nathan ignorou essa ordem.
-Matthew levou Nora para baixo. Fique aqui até que ele venha buscá-la.
Depois de lhe dar essa ordem, voltou-se e saiu do camarote. Sara correu atrás dele. Teve que deter-se quando o puxou pela cintura. O fazia ou a arrastava pela escada com ele. Nathan se voltou, afastando as mãos de sua cintura
-Pelo amor de Deus, mulher, agora não é o momento de um maldito beijo de despedida -grunhiu.
Ela ia dizer lhe que não, que essa não era a razão pela qual lhe deteve, mas ele impediu seu intento lhe dando um rápido beijo.
Quando se afastou lhe sorriu.
-Nathan, agora não é o momento de ser... romântico. Tem uma guerra em suas mãos. vá ocupar-se dela.
-Então por que me deteve? -perguntou-lhe.
-Queria que me prometesse que vais e cuidar.
-Está tentandome deixar louco, não é, Sara? É todo um plano para que eu perca a cabeça, não é?
Não respondeu a essa ridícula pergunta.
-Prometa-me isso Nathan. Não vou soltar sua camisa até que o faça. Amo-o e ficarei preocupada. Ao menos que me dê sua palavra.
-Está bem -replicou Nathan-. Me cuidarei. Contente?
-Sim, obrigado.
Ela se voltou e retornou rapidamente ao camarote para preparar-se para a batalha. Correu até as gavetas do escritório para procurar quantas armas pudesse encontrar. Se os piratas abordassem o navio, Sara estava decidida a ajudar a seu marido como pudesse.
Encontrou duas pistolas carregadas na gaveta de abaixo, e uma adaga em uma ranhura do meio. Sara escondeu a faca na manga de seu vestido e pôs as pistolas em uma bolsa azul. Ajustava as tiras da bolsa no pulso quando Matthew entrou no camarote. Ouviu-se uma explosão a distância.
-Foi um de nossos canhões ou um deles? -perguntou Sara com voz trêmula.
Matthew sacudiu a cabeça.
-Foi deles -lhe respondeu-, Falharam. Ainda não estão perto o suficiente. É por isso que não estamos disparando com nossos canhões, Sara. Agora venha comigo. Tenho Nora segura sob o nível da água. Você pode esperar ali com ela.
Sara não discutiu, pois sabia que Nathan tinha dado a ordem, mas se sentia muito covarde. Não lhe parecia honrável esconder-se.
Estava escuro como boca de lobo. Matthew desceu primeiro pelos desmantelados degraus. Levantou-a sobre o primeiro degrau, lhe explicando que a madeira estava podre e que a repararia tão logo tivesse tempo para a tarefa.
Quando chegaram la embaixo, a suave luz de uma vela os conduziu até onde Nora esperava pacientemente.
A tia da Sara estava sobre uma caixa de madeira. Tinha seu xale grande vermelho sobre os ombros. Não parecia preocupada.
-Vamos ter uma aventura -anunciou a sua sobrinha-. Matthew, querido, tome cuidado.
Matthew assentiu com a cabeça.
-Riria da aventura se não tivéssemos a bordo tão preciosa carga -comentou Matthew.
-Que preciosa carga? -perguntou Sara.
-Acredito que se refere a você e a mim, querida -lhe explicou Nora.
-Sim -assentiu Matthew. afastou-se de volta aos rangentes degraus-. Agora será melhor que nos defendamos. Será a primeira vez para a tripulação.
Sara não sabia do que estava falando. Entretanto, era evidente que Nora sim tinha compreendido. Seu sorriso disse muito.
-O que supõe que quis dizer Matthew com esse comentário, tia? -perguntou-lhe Sara.
Nora pensou em dizer a Sara, mas descartou rapidamente essa idéia. Decidiu que sua sobrinha era muito inocente para compreender. Sara ainda considerava tudo bom ou mau. Em sua mente idealista não havia sombras de cinza. Com o tempo compreenderia que a vida não era tão simples Então poderia aceitar o fato de que Nathan tivesse levado uma vida bastante colorida. Nora esperava estar ali quando dissessem a Sara que estava casada com Pagam. Sorriu pensando na reação de sua sobrinha ante a notícia.
-Acredito que a tripulação lutaria mas vigorosamente se não tivesse que nos manter a salvo -comentou Nora.
-Isso não tem sentido -replicou Sara.
Nora estava de acordo, mas em lugar de discutir mudou de tema.
-Aqui é onde estão as munições?
-Acredito que sim -respondeu Sara-. acha que esses barris estão cheios de pólvora?
-Devem estar -respondeu Nora-. Devemos cuidar da chama da vela. Se produzir um incêndio aqui... bom, não tenho que te dizer o que poderia acontecer. Não permita que me esqueça de apagar a chama quando Matthew nos buscar.
De repente sentiu como se o navio tivesse deixado sair um arroto gigante. Tremeu de proa a popa.
-Acha que nos acertaram com esse disparo? -perguntou Sara.
-Eu senti como se o tivessem feito -respondeu Nora.
-Será melhor que Nathan termine rapidamente com isto. Meus nervos já não ahuentam mais nada. Nora, você e Matthew têm ficados muito amigos, não é?
-Que momento escolheu para me perguntar isso -disse Nora com uma leve sorriso.
-Só queria que nos distraíssemos desta preocupação -respondeu Sara.
-Sim, é uma boa idéia. E tem razão, Matthew e eu somos muito amigos. É um homem muito gentil e protetor. Tinha esquecido quão confortante é poder confiar meus pensamentos e preocupações a alguém que se importa.
-Eu me importo, tia.
-Sim, querida. Eu sei, mas não é a mesma coisa. Compreenderá o que estou dizendo quando você e Nathan tiverem um pouco mais de intimidade.
-Temo que esse dia nunca chegará -replicou Sara-. Matthew também confia em você?
-Oh, sim.
-Falou sobre o Nathan?
-Várias vezes -admitiu Nora-. Algumas coisas me disse em segredo e não posso falar delas...
-É obvio que pode -a interrompeu Sara-. depois de tudo, sou sua sobrinha, e algo que me diga não sairá de mim. Confia em mim, não é, Nora?
Sara continuou insistindo durante outros dez minutos ou mais, até que finalmente Nora cedeu.
-Matthew me contou tudo sobre o pai do Nathan. Conheceu conde do Wakersfield?
Sara negou com a cabeça.
-Disse-me que morreu quando Nathan era um menino, Nora. Eu era um bebê. Entretanto, ouvi que foi condecorado.
-Sim, foi condecorado. Foi tudo uma farsa. Mathew me contou que o conde traiu seu país enquanto estava em serviço. Sim, isso é verdade, Sara -sua sobrinha fez uma careta-. É uma história horrível, menina. O pai do Nathan estava confabulado com outros dois infiéis, e os três pensaram que podiam derrotar o Governo. Chamavam-se a si mesmos O Tribunal, e conforme me contou Matthew quase levam a cabo seu plano de traição. Entretanto, o pai do Nathan pensou melhor , sua consciência o matou antes de que se soubesse a verdade.
Sara estava horrorizada pelo que acabava de escutar.
-Pobre Nathan. A vergonha deve ter sido intolerável.
-Não chegou aos ouvidos de ninguém -replicou Nora-. Ninguém sabe toda a verdade. Ainda se acredita que o conde morreu em um acidente de carruagem. Não houve nenhum escândalo. Advirto-a que se sua família se inteirar disto, usarão a informação para que o príncipe rompa seu contrato matrimonial.
-Oh, é muito tarde para isso -respondeu Sara.
-É inocente se acha que é muito tarde, Sara. As circunstâncias eram tão insólitas... o rei não estava bem.
-Estava louco.
-Você tinha só quatro anos -sussurrou sua tia.
-Mesmo assim, agora vivemos como marido e mulher. Não acredito que o príncipe regente se atreva a...
-Ele pode atrever-se quanto quiser -disse Nora.
-Não deve preocupar-se. Não contarei a ninguém nada sobre o pai de Nathan, assim meus pais nunca poderão averiguá-lo. Nem sequer direi a Nathan que sei. Está bem? Primeiro terá que confiar em mim.
Nora se tranqüilizou.
-Sabe que também averigüei como Nathan machucou as costas?
-Acredito que alguém lhe golpeou com um chicote -respondeu Sara.
-Não, não foi um látego -replicou Nora-. Suas costas foi marcada pelo fogo, não por um látego. Só tem que olhar para se dar conta, menina.
Sara se sentiu chateada.
-Oh, Deus, foi colaborado? Alguém lhe queimou de propósito?
-Acredito que sim, mas não estou completamente segura. Sei que houve uma mulher envolvida. Seu nome era Ariah. Nathan a conheceu quando estava visitando um porto estrangeiro no leste.
-Como conheceu essa mulher?
-Não me deu detalhes -admitiu Nora-. Sei que esta Ariah tem uma moral duvidosa. Ela esteve entretendo Nathan.
-Quer dizer que Nathan ficou íntimo dessa rameira?
Nora estendeu a mão e deu uma palmada a Sara em sua mão.
-Nathan só tinha aventuras antes de estabelecer-se. Não há necessidade de que se preocupe.
-Acha que a amava?
-Não, é obvio que não a amava. Já estava comprometido com você, Sara. Parece-me que Nathan é um homem terrivelmente sensível. Não teria se permitido apaixonar-se pela mulher. E eu apostaria minha herança que, quando Ariah terminou com ele, provavelmente a odiava. Matthhew me contou que ela usou Nathan para manipular seu outro amante. Sim, é verdade -adicionou ao ver a expressão de incredulidade no rosto da Sara- De acordo com o Matthew, Ariah era uma professora em seu jogo. Por essa razão acredito que Nathan foi torturado por ordem dela. Graças ao céu ele pôde escapar. Foi durante uma pequena revolução, e os partidários dos anarquistas lhe ajudaram quando liberaram os outros prisioneiros. Logo Jimbo e Matthew se encarregaram de Nathan.
-Nathan passou muito mal -sussurrou Sara. Tremeu-lhe a voz de emoção-. Devia ser muito jovem quando essa mulher o traiu. Acredito que ele a amava, Nora.
-Eu acredito que não -replicou Nora.
Sara suspirou.
-Seria aliviadore foi apenas uma aventura. E se compartilharam a mesma cama, bom, realmente não estava sendo infiel porque ainda não tínhamos começado nossa vida matrimonial juntos. Sabe, agora tudo começa a ter sentido para mim.
-O que é o que começa a ter sentido?
-Não lhe confiei isto antes, mas notei que Nathan se preocupa em proteger seus sentimentos. Agora acredito que entendo por que. Não confia nas mulheres. Não posso culpá-lo. Se seus dedos se queimaram não colocaria a mão no fogo outra vez, não é?
-Foi há muito tempo -respondeu Nora-. Agora Nathan é um homem, Sara, e certamente terá superado tudo isso.
Sara negou com a cabeça.
-Como explica sua atitude? Nathan não gosta quando digo que o amo. Fica tenso e frio comigo. E nunca me diz que eu sou importante. Poderia odiar a todas as mulheres... exceto a mim, é obvio.
Nora sorriu.
-Exceto você?
-Acredito que ele me ama, Nora. Só tem dificuldade para reconhecer.
-Lhe dê tempo, querida. Os homens demoram mais em resolver as coisas. É porque são umas bestas obstinadas.
Sara estava completamente de acordo com esse comentário.
-Se alguma vez me encontrar com essa Ariah...

-Tem uma boa oportunidade de encontrá-la -lhe esclareceu Nora-. Vive em Londres há um ano. Matthew diz que está procurando um novo padrinho.
-Nathan sabe que ela está na Inglaterra?
-Imagino que sim -respondeu Nora.
O ruído era muito intenso para que pudessem continuar a conversa. Enquanto Nora se inquietava pela batalha, Sara se preocupava com a informação que sua tia acabava de compartilhar com ela.
Passaram outros vinte ou trinta minutos. Logo um silêncio gelado tomou conta do navio.
-Se pudesse ver o que está acontecendo, não estaria tão preocupada -sussurrou Nora.
Sara pensou que era uma boa idéia.
-Irei até o nível do camarote para ver se tudo está bem.
Nora se opôs com veemência a essa sugestão. A escotilha se abriu em meio da discussão e as duas mulheres ficaram em silêncio. Ambas começaram a rezar para que fosse Matthew que vinha buscá-las. Entretanto, quando ninguém as chamou chegaram a terrível conclusão de que o inimigo tinha tomado o navio. Sara indicou a Nora que se escondesse atrás de um barril grande que havia em um canto, e logo se voltou e apagou a vela. Colocou-se junto à escada para surpreender os vilões.
Estava muito assustada. Entretanto, isso não a deteve. O primeira coisa que vinha em sue pensamento era Nathan. Se o inimigo realmente estava a bordo, seu marido estaria vivo ou morto? Imaginou atirado em um atoleiro de sangue, mas logo se esforçou para bloquear esse horrível pensamento. Não seria de nenhuma ajuda para seu marido se deixasse sua imaginação voar.
Quando a escotilha se abriu completamente entrou um pouco de luz. Não era muita, mas sim a suficiente para que Sara pudesse ver dois homens com lenços coloridos nas cabeças que estavam descendo pela escada. O primeiro pirata não pisou no degrau frouxo. O segundo sim. Blasfemou quando caiu pela pequena abertura. O homem terminou enganchado entre as tabuletas. Penduravam-lhe os pés e tinha os braços apertados aos lados do corpo.
-Que demônios aconteceu? -sussurrou o primeiro homem quando se voltou-. Se prendeu, não é? -adicionou com uma risada. Estava estendendo os braços para lhe ajudar quando se deteve o sentir uma rápida brisa no rosto.
O inimigo estava se voltando outra vez quando Sara lhe golpeou o crânio com a culatra da pistola. Quando caiu ao chão ela já estava se desculpando.
Ele não gritou. Ela sim. Logo percebeu que ainda respirava e se acalmou imediatamente ao ver que não estava morto.
Sara levantou o vestido e passou sobre o homem desmaiado. Subiu pela escada para enfrentar sua segunda vítima. O perverso homem a olhava surpreso. Se não a tivesse estado olhando fixamente, poderia lhe haver golpeado também. Entretanto, não tinha coração para essa traição, já que o vilão já estava a sua mercê, assim termino rompendo uma parte de tecido de sua anágua e colocando-lhe na boca para que não pudesse gritar pedindo ajuda. Nora se aproximou e a ajudou a atá-lo dos braços até os pés.
Ao parecer, que sua tia estava cuidando da situação, Sara pensou que Nora não compreendia a severidade das circunstâncias. Se estes homens tinham chegado até as munições, então também havia outros a bordo.
-Olhe, querida, encontrei algumas sogas. Quer que ate o outro cavalheiro?
Sara assentiu com a cabeça.
-Sim, seria uma esplêndida idéia. Poderia despertar a qualquer momento. Também lhe ponha um trapo na boca. Toma, usa minha anágua. Agora já está rasgada.
Tirou outra tira larga e a deu a sua tia.
-Não queremos que grite pedindo ajuda, não é, Nora?
-É obvio que não -respondeu sua tia.
Sara tentou colocar uma de suas pistolas na mão de sua tia, mas ela rechaçou a arma.
-Poderá precisar das duas quando salvar Matthew e Nathan, querida.
-Sem dúvida pôs uma pesada carga sobre meus ombros -sussurrou Sara-. Não estou segura de poder salvar ninguém.
-Vá já -lhe ordenou Nora-. Tem o elemento surpresa ao seu lado, Sara. Esperarei até que termine sua tarefa.
Sara a teria abraçado para se despedir, mas não o fez pois temia que uma das pistolas pudesse disparar.
Rezou durante todo o caminho para o nível do camarote. O quarto dos oficiais estava deserto. Sara ia olhar dentro de seu camarote quando ouviu ruídos de homens que desciam pela escada. Escondeu-se no espaço triangular que ficava atrás do biombo dobrado e esperou.
Jimbo foi o primeiro que baixou tropeçando pela escada. Sara olhou seu amigo através das juntas do biombo. Jimbo tinha um corte na fronte. O sangue escorria de um lado do rosto. Não podia limpar-se porque tinha as mãos atadas nas costas e estava rodeada por três piratas.
Quando viu a ferida, Sara se esqueceu que estava assustada. Estava furiosa.
Sara viu que Jimbo olhava para os degraus. Ouviu mais pegadas, e logo apareceu Nathan. Como Jimbo, Nathan tinha as mãos atadas nas costas. Sara estava tão agradecida que estivesse vivo que começou a tremer. A expressão do rosto de seu marido também a fez sorrir. Parecia completamente vexado.
Observou que Nathan assentiu com a cabeça em direção ao Jimbo. Foi tão rápido que não o teria visto se não lhe tivesse estado observando tão atentamente. Logo Jimbo girou um pouco a cabeça para o biombo.
Ela pensou que Nathan sabia que estava escondida ali. Olhou para baixo, viu que a parte de baixo de seu vestido se sobressaía um pouco e a escondeu rapidamente.

-Levem-nos para dentro do camarote -ordenou uma voz com desconsideração. Voltaram a empurrar Nathan para frente. Tropeçou, girou para não cair, e terminou contra o biombo.
-Venha aqui com a bebida Banger-gritou outro homem-. Podemos brindar enquanto esperamos a matança. Perry, deixará que seu capitão mora primeiro ou por último?
Enquanto o homem formulava essa pergunta, Sara colocou uma das pistolas nas mãos de Nathan Ao ver que não tomava imediatamente, deu-lhe um ligeiro golpe.
Ele não mostrou nenhuma reação. Sara esperou outro minuto, e quando ele não disparou lembrou que tinha as mãos atadas.
Também recordou a adaga que tinha na manga do vestido, e imediatamente pôs-se a cortar as grosas sogas. Tocou-lhe acidentalmente duas vezes a pele. Então, Nathan tomou a adaga com os dedos e continuou com a tarefa.
Parecia que tinha passado uma eternidade, embora ela sabia que na realidade não tinha passado mais de um minuto.
-Onde diabos está o capitão? -gritou outra voz-. Quero meu gole.
Assim estavam esperando seu líder para começar com seus festejos sanguinários, concluiu Sara.
O que Nathan estava esperando? Tinha as mãos livres, mas atuava como se não as tivesse. Sustentava a faca nas palmas, provavelmente para estar preparado para lançá-lo quando chegasse o momento. Tinha a pistola na outra mão, apontando para o chão.
Estava preparado para a luta, mas mesmo assim esperava. Estava-a apertando contra a parede. Sara estava surpresa que as dobradiças do biombo não se desprenderam com o peso do Nathan.
Obviamente, Nathan estava lhe dando a mensagem silenciosa de que ficasse quieta.
Como se tivesse vontade de ir a alguma parte, pensou. Estava se preocupando outra vez. Por que seu marido não aproveitava a vantagem agora, Estava esperando que os piratas lhe superassem dez a cinco para atuar; Então Sara decidiu lhe dar uma pequena mensagem. Tirou uma mão por um lado do biombo e lhe beliscou o traseiro.
Ele não reagiu. Voltou-lhe a beliscar. Escondeu a mão quando ouviu que outro homem vinha descendo pela escada. Obviamente, era o líder dos piratas, já que um de seus homens lhe disse que já era o momento de que todos bebessem algo antes de continuar com seu trabalho.
Outro dos vilãos apareceu e abriu a porta do camarote. Entrou e saiu um ou dois segundos depois. O infiel tinha um de seus vestidos nas mãos. Era seu vestido azul claro, seu preferido, e o sujo o tinha em suas mãos.
Jurou que nunca voltaria a pôr esse vestido.
-Temos uma mulher a bordo, capitão -anunciou o porco.
O líder estava de costas a Sara assim não podia lhe ver o rosto. Sentia-se um pouco agradecida por isso, já que seu tamanho era o suficientemente lhe atemorizem. O homem estava ombro com ombro junto a Nathan.
O homem riu bobamente, e Sara sentiu que lhe arrepiava a pele.
-Encontrem à rameira -ordenou-. Quando terminar com ela, vocês poderão alternar-se.
Sara tampou sua boca com a mão para não dar um grito.
-Ah, capitão -exclamou outro homem-, ela estará morta antes que tenhamos nossa oportunidade.
Todos riram ante esse comentário. Sara sentia vontade de chorar. Já tinha escutado tudo o que desejava escutar sobre seus sujos planos. Beliscou outra vez Nathan. Mais forte. Também lhe deu um golpe.
Finalmente, ele cedeu ante sua insistência. Moveu-se como um relâmpago. Converteu-se em algo impreciso quando correu em direção dos dois homens que estavam na porta do camarote. Entretanto, enquanto se movia seguia sustentando a faca. A adaga encontrou seu destino entre os olhos de um vilão que se encontrava na escada. Um disparo de sua pistola derrubou a outro infiel.
Nathan golpeou com seus ombros os dois homens que bloqueavam a porta. A força do golpe os atirou dentro do camarote. Nathan os seguiu. Venceu-os em seguida lhes golpeando as cabeças uma contra a outra.
Jimbo usou sua cabeça para golpear o líder dos piratas. Ainda tinha as mãos atadas nas costas e o golpe só fez o capitão perde o equilíbrio, recuperou-se rapidamente. Tomou Jimbo pelo pescoço e o jogou no chão. O capitão deu uma patada para lhe afastar de seu caminho. Entretanto, não foi uma patada terrível já que o líder realmente não estava observando o que fazia. Sua atenção estava concentrada em tirar a pistola de seu bolso.
Nathan saía quando o líder levantou a pistola.
-Vai morrer lenta e dolorosamente -disse com voz rancorosa.
Sara estava muito violenta para estar atemorizada. Saiu de atrás do biombo e se colocou silenciosamente à costas do vilão. Logo pressionou a ponta da pistola contra sua nuca.
-Morrerá rápido e facilmente -sussurrou.
Quando o líder sentiu o frio aço ficou rígido como um cadáver. Sara estava contente pela sua reação. E percebeu que Nathan também o estava. Sorriu-lhe. Sara também sorriu. As coisas não estavam tão mal, pensou. Mesmo assim, não sabia se poderia matar o homem. Era uma prova que não queria falhar. Pois, a vida de seu marido dependia de seu valor.
-Nathan? -exclamou-. Desta vez você gostaria que disparasse entre as orelhas ou no pescoço?
O alarde funcionou bem.
-Desta vez? -perguntou sua vítima.
Entretanto, ainda não era suficiente, já que continuava apontando sua pistola para Nathan.
-Sim, desta vez, estúpido -respondeu. Tratou de que seu tom parecesse o mais rude possível, e pensou que o tinha conseguido.
-O que prefere? -exclamou Nathan. Apoiou-se deliberadamente contra o marco da porta, dando a sensação de que estava completamente relaxado.
-O pescoço -respondeu Sara-. Não lembra como tivémos que limpar aquele último? As manchas duraram uma semana. Embora este infiel pareca ter um cérebro mais pequeno. Oh, decida você. Sempre sou obediente.
O líder baixou a e a pistola caiu no chão. Sara pensou que a vitória era certa, entretanto, antes de que Nathan pudesse chegar até o homem, este se voltou repentinamente. Golpeou-lhe a face esquerda com a mão, com um movimento rude para lhe tirar a pistola.
Sara ouviu o rugido do Nathan. Retrocedeu e tropeçou no pé de Jimbo, e disparou a pistola. Um uivo de dor seguiu a esse som e seu inimigo tocou o rosto.
Demorou um interminável minuto até cair ao chão. Tudo aconteceu lentamente, e seu último pensamento antes de desmaiar foi horrível. Tinha disparado no rosto do vilão.
Sara despertou dez minutos mais tarde. Estava na cama, com Matthew e Jimbo junto a ela. Matthew sustentava um pano frio de um lado do rosto. Jimbo a abanava com um dos mapas do escritório de Nathan.
Seu marido não estava ali. Quando Sara se deu conta disso, afastou o edredon e tentou ficar de pé. Jimbo voltou a deita-la.
-Quieta, Sara. Recebeu um bom golpe. Seu rosto ainda está inchado.
Ela ignorou suas instruções.
-Onde está Nathan? -perguntou-. Quero que esteja aqui comigo.
Antes de que Jimbo pudesse responder, sentou-se na cama. Sara tomou o pano que Matthew segurava e começou a limpar a ferida do rosto de Jimbo.
-A mulher é pequena, mas atrevida quando se zanga, não é, Matthew? -sussurrou Jimbo. - Me dê isso -resmungou.
Ela não prestou atenção a esse mandato.
-Matthew, acha que está bem? O corte não me parece muito profundo, mas possivelmente...
-Está ótimo -respondeu Matthew.
Sara assentiu com a cabeça. Logo voltou a tocar o tema que a preocupava.
-Um marido deveria consolar a sua esposa quando ele é golpeada. Qualquer um com um pouco de sentimento saberia. Matthew, vá procurar Nathan. Ou ele me consola ou vou tratar esse assunto com ele.
-Vamos, Sara -disse Matthew com um tom tranqüilizador-, Seu marido é o capitão deste navio, e agora deve ocupar-se de alguns detalhes importantes. Além disso, agora não querer está em sua companhia. O rapaz está furioso.
-Porque os piratas abordaram seu navio?
-Porque os malditos a golpearam, Sara -resmungou Jimbo-. Depois do golpe estava adormecida assim não pôde ver a cara de seu marido. Era um rosto que jamais esquecerei. Nunca o vi tão furioso.
-É agradável sabê-lo -respondeu Sara.
Os dois marinheiros se entreolharam com exasperação. Sara os ignorou. Pois recordou o pecado mortal que tinha cometido.
-Oh, Deus, disparei no rosto do líder-exclamou-. Agora estou condenada ao inferno, não é?
-Estava salvando seu marido -disse Jimbo-. Não irá para o inferno, Sara.
-Estará... horrível durante o resto de seus dias -sussurrou Sara.
-Não, Sara, ele já é horrível -replicou Matthew.
- Quem dera se o tivesse matado -demarcou Jimbo, Só lhe disparou no nariz...
-Meu deus, disparei em...
-Está deixano-a preocupada, Jimbo -resmungou Matthew.
-Pobre homem!
-Pobre homem? -burlou-se Jimbo-. É um demônio. Sabe o que teria passado se...
-O maldito ainda tem o nariz -esclareceu Matthew. Olhoua seu amigo com o semblante franzido-. Deixa de preocupá-la, Jimbo -ordenou antes de voltar-se para a Sara-. Só lhe fez um pequeno buraco no nariz, isso é tudo.
-Salvou o dia, Sara - disse Jimbo.
O comentário a alegrou imensamente.
-Salvei o dia, não foi?
Ambos os homens assentiram com a cabeça.
-Meu pessoal sabe... -interrompeu sua pergunta quando ambos voltaram a assentir com a cabeça-. Bom, agora já não podem pensar que estou amaldiçoada, não é?
Antes de que pudessem lhe responder essa pergunta, ela lhes formulou outra.
-De que detalhe deve se ocupar Nathan?
-Represália -anunciou Jimbo-. Será olho por olho, Sara. Eles vieram nos matar..
Não terminou sua explicação. Lady Sara saiu correndo do camarote. Jimbo e Matthew a seguiram.
Nathan estava junto ao leme. Os piratas que tinham tentado se apoderar de seu navio estavam alinhados na coberta, rodeados pelos homens de Nathan.
Sara correu para seu marido. Tocou-lhe o braço para que a percebesse. Ele não a olhou, continuou olhando o líder dos piratas que se encontrava a uns passos.
Quando Sara olhou o homem retrocedeu instintivamente. O vilão estava sustentando um trapo contra seu nariz. Ela queria lhe dizer que lamentava o ferimento. Também queria lhe lembrar que tudo era culpa dele, já que se não a tivesse golpeado, a pistola não dispararia.
Nathan pressentiu sua intenção. Puxou-a pelo braço e a aproximou dele.
-Vá para baixo -ordenou com um tom suave, mas que indicava que não se atrevesse a discutir.
-Não até que me diga o que vai fazer com eles -respondeu.
Nathan poderia ter suavizado a verdade, mas assim que viu o inchaço em seu rosto voltou a enfurecer-se.
-Vamos matá-los. Voltou-se para sua tripulação antes de voltar a ordenar:
-Volte ao a nosso camarote, Sara. Terminaremos em uns minutos.
Ela não iria a nenhuma parte. Cruzou os braços e endureceu sua postura.
-Não os matará.
Sara gritou essa ordem e chamou a atenção de seu marido. E sua ira. Parecia que queria matá-la.
-É obvio que o farei -replicou Nathan com um grunhido.
Sara ouviu vários grunhidos de aprovação dos homens de Nathan. Estava a ponto de repetir sua desaprovação, mas de repente Nathan a tocou suavemente no rosto. Inclinou-se um pouco e sussurrou:
-Ele te fez mal, Sara. Tenho que matá-lo.
Para ele tinha sentido, e pensou que tinha sido perfeitamente razoável ao lhe explicar sua determinação. Entretanto, ela não compreendeu. Indicava-o a expressão de incredulidade de seu rosto.
-Quer dizer que mataria todos os que me batessem? -perguntou-lhe.
Nathan não se importou com a censura de sua voz.
-Assim é.
-Então terá que matar metade de minha família -respondeu.
Realmente não poderia ter dito isso. Ele voltou a se enfurecer. Entretanto, seu tom foi surpreendentemente suave quando respondeu.
-Diga-me os nomes, Sara, e eu me vingarei. Prometo-lhe isso. Ninguém toca o que me pertence.
-Sim, minha senhora -gritou Chester-. Vamos matar até o último destes malditos. É nosso direito -adicionou.
-Chester, se usar outra blasfêmia em mim presença, lavarei sua boca com vinagre.
Olhou fixamente o marinheiro até que este assentiu com a cabeça, e logo se voltou e viu que Nathan estava fazendo uma careta.
-Nathan, você é o capitão. Só você pode tomar esta importante decisão. Como sou sua esposa, posso influencia-lo, não é?
-Não.
Era um obstinado, pensou Sara.
-Não permitirei -gritou. Tinha vontade de lhe pisar no pé-. Se os matarem, não serão melhores que eles. Serão vilãos como eles, Nathan, e como sou sua esposa, também serei uma vilã.
-Mas nem senhora e nem nós, somos vilãos -esclareceu Ivan o Terrível.
-Não somos vilãos -replicou Sara-. Cumprimos com a lei, somos cidadãos leais a nossa coroa.
Finalmente, a angústia da Sara penetrou a fúria do Nathan. puxou-a pelos ombros.
-Bom, Sara...
-Não use esse tom condescendente comigo. Não vai me tranqüilizar para que permita um assassinato.
Nathan não estava de humor para tranqüilizar nem para discutir, mas sabia que tinha que enviá-la para baixo antes de que desse rédea solta a sua fúria. Pensou em ordenar a Jimbo que a levasse, mas logo mudou de idéia e executou um plano de ação alternativo.
-A democracia prevalecerá nesta circunstância -anunciou-. Deixarei que os homens votem, Sara. Isso a tranqüilizará?
Estava preparado para uma discussão antes de que ela cedesse, e se surpreendeu quando ela assentiu imediatamente.
-Sim, isso me tranqüilizaria.
-Bem -lhe respondeu e se voltou para sua tripulação-. Todos os que estejam a favor..
As mãos já estavam levantadas quando Sara interrompeu.
-Um minuto, por favor.
-E agora o que é? -grunhiu Nathan.
-Tenho algo que lhe dizer a meu pessoal antes de que votem.
-Maldição. Sara....
-Nathan, salvei ou não o dia?
Essa pergunta lhe encontrou despreparado.
Aproveitou a vantagem.
-Jimbo disse que eu salvei o dia. Agora eu gostaria de escutar você também adimitindo-o.
-Eu tinha um plano -começou Nathan-. Mas... maldição, Sara, sim -adicionou com um suspiro-. Você salvou o dia. Já está feliz?
Ela assentiu com a cabeça.
-Então vai para baixo -voltou a ordenar.
-Ainda não -lhe respondeu. Voltou-se e sorriu para a tripulação. Não pôde evitar de perceber como os homens estavam impaciente. Entretanto, não dissuadiriam com ela-. Todos vocês sabem que fui eu quem desatou Nathan -gritou. Compreendeu que essa afirmação era um pouco petulante e também fazia parecer que seu marido era incapaz-Embora, é obvio, ele se teria desatado sozinho se eu não lhe tivesse ajudado, e tinha um plano...
-Sara -lhe disse Nathan com um tom de advertência.
Ela deixou de divagar, ergueu os ombros e disse:
-E disparei no seu líder, embora deva admitir que não queria ferir o homem. Agora terá uma cicatriz durante o resto de seus dias, e isso seria castigo suficiente para qualquer um.
-Foi um golpe suave -gritou um dos homens-. O disparo saiu limpo por seu nariz.
-Teria que lhe haver explodido a cabeça -gritou outro.
-Sim, pelo menos poderia ter lhe deixado cego -gritou outro.
Eram sanguinários, pensou Sara. Respirou profundamente e o voltou a tentar. Agitou a mão em direção ao líder dos piratas e disse:
-O homem já sofreu o suficiente.
-Sim, Sara -afirmou Matthew com uma careta-.Lembrará de você cada vez que queira limpar o nariz.
Todos os homens riram. Logo Chester avançou um passo ameaçadoramente. Tinha as mãos nos quadris quando gritou:
-Já não pensará mais em nada. Nenhum deles. Serão isca de peixe se a votação sair como eu penso.
A veemência de seu tom a desalentou. Retrocedeu instintivamente até que ficou literalmente apoiada contra o peito de seu marido.

Nathan não podia lhe ver o rosto, mas sabia que tinha medo. Sem pensar no porquê estava fazendo aquilo a puxou pelos ombros. Ela apoiou o queixo ems eu braço.
Seu abraço afastou o medo. Olhou para Chester e lhe disse:
-Nasceu com uma disposição tão desumana, senhor?
O marinheiro não tinha uma resposta preparada para essa pergunta, assim encolheu os ombros.
-Está bem -gritou Sara-. Votem -afastou o braço do Nathan e deu um passo a diante-. Só lembre-se -adicionou rapidamente quando as mãos já estavam levantadas-, que me sentirei muito decepcionada se algum de vocês votar em favor da morte. Muito decepcionada adicionou com um tom dramático-. Por outro lado, se votarem em jogá-los na água para que retornem nadando para seu navio. Eu me sentirei muito feliz. Compreenderam minha posição?
Observou seu auditório até que cada homem tivesse assentido com a cabeça.
-Isso é tudo? -perguntou Nathan com incredulidade - É tudo o tem que dizer para convencer os homens?
Sorriu-lhe. Ela também.
-Sim, Nathan. Agora podem votar. Embora eu acredite que você não devesse votar.
-Por que não? -perguntou.
-Porque não está pensando objetivamente.
A expressão de seu rosto indicava que não tinha compreendido.
-Sabe, Nathan, ainda está muito zangado porque... machucaram a sua querida esposa.
-Minha querida esposa?
Olhou-o aborrecida.
-Eu.
Deus Santo, ela era lhe exaspere.
-Já sei quem é minha esposa -se queixou.
-Deixe que sua tripulação decida-insistiu.
Acessou para que se retirasse. Sara sorriu quando levantou a saia e se dirigiu para a escada.
-Sara, fique no camarote até que isto tenha terminado -lhe ordenou Matthew.
Sentiu o olhar de todos os homens. Sabia que estavam esperando que se fosse para continuar, com suas vergonhosas intenções. Inclusive percebeu que Jimbo tinha fechado a escotilha de seu camarote, provavelmente para que não ouvisse o horrível som.
Não se sentiu culpada pelo que estava a ponto de fazer. Seus motivos eram tão puros quanto a neve. Não podia deixar que seu homens assassinassem os piratas, não importava quão covardes tivessem sido; e uma vez que esquecessem sua fúria a agradeceriam por ter intervindo.
Sara se deteve quando chegou à escada. Não se voltou.
-Nathan? -gritou-lhe com um tom agradável-. Não vou esperar no camarote, mas envie alguém para que me relatório do resultado da votação. Quero saber se me decepcionarei ou não.
Nathan franziu o semblante ante essa petição. Sabia que ela estava pensando em algo, mas não podia imaginar o que faria para convencer aos homens.
-Onde estará esperando, senhora? -gritou Jimbo.
Voltou-se para poder ver suas expressões quando lhes respondesse.
-Estarei esperando na galera.
A maioria dos homens compreendeu sua intenção imediatamente. Estavam horrorizados. Nathan estava fazendo uma careta. -Não queria recorrer a estas táticas, mas não dão outra alternativa. Será melhor que a votação não me decepcione.
Alguns dos homens menos ardilosos ainda não compreendiam a ameaça encoberta. Chester era um deles.
-O que fará na galera, senhora?
Sua resposta foi imediata.
-Prepararei sopa.


Capítulo 10

A votação foi unânime. Ninguém queria que Sara se sentisse decepcionada. Os piratas foram jogados pela murada para que retornassem nadando ao seu navio.
Entretanto, Nathan teve a última palavra.
Ordenou que preparassem dois canhões e sentiu uma grande satisfação ao fazer um grande buraco no navio dos piratas. Quando Sara perguntou o que tinha sido esse ruído lhe disseram que estavam descarregando os canhões.
O Seahawk também tinha sido prejudicado. A maioria dos acertos que teriam que fazer estavam sobre a linha de flutuação. As mesmas velas que Sara quase tinha destruído com sua sombrinha tinham sido partidas a metade por um dos disparos dos canhões dos inimigos.
A tripulação começou a arrumar todos os danos possíveis. Sorriam enquanto trabalhavam, e todos tiraram os colares de alhos. Voltaram a sentir-se seguros, pois acreditavam que a maldição tinha desaparecido.
Sua senhora lhes tinha salvado o pele. Até o Chester a elogiava.
Sara foi com o Matthew a procura de Nora, e quando abriram a escotilha lembrou dos cativos que estavam lá abaixo. Nathan esperou até que Sara tivesse iso para a coberta, e depois deu um murro no abdômen de cada homem. Os gemidos lhe chamaram a atenção, e quando se voltou e perguntou a seu marido o que tinham sido esses ruídos horríveis, ele simplesmente encolheu os ombros e ajudou aos cativos para que saltassem pela murada.
Sara se sentiu muito grata quando contou os acontecimentos a Nora. Ela a elogiou por sua astúcia e seu valor.
-Não acho que fui completamente valente -lhe confessou Sara. Estavam no meio do quarto de oficiais. Mostrou a Nora onde se escondeu atrás do biombo-. Estava aterrorizada -adicionou assentindo com a cabeça.
-Isso não importa -replicou Nora-. Ajudou seu marido. Significa muito mais, pois estava assustada e não lhe falhou.
-Sabe que Nathan não me disse uma palavra de elogio? Não tinha me dado conta até neste instante. Pareceria...
-Eu diria que não teve tempo de lhe agradecer Sara, e duvido que o faça quando o tiver. Ele é um pouco...
-Obstinado?
Nora sorriu.
-Não, querida, obstinado não, orgulhoso.
Sara decidiu que era um pouco de ambas as coisas. Tudo já tinha terminado, mas as mãos Sara começaram a tremer. Também se sentiu nauseada e o golpe do rosto latejava.
Entretanto, não ia preocupar Nora, assim guardou os dores para si.
-Sei que ouviu os comentários que a comparando com a irmã de Nathan -lhe disse Nora.
Ela não tinha ouvido nenhum comentário, mas fingiu havê-lo feito para que sua tia continuasse.
Sara assentiu com a cabeça e respondeu:
-Jade foi a senhora deste navio durante muito tempo, e os homens eram muito leais a ela.
-Sei que seus comentários devem ter ferido seus sentimentos, menina.
-A que comentários se refere? -perguntou-lhe Sara-. ouvi tantos.
-Oh, que você chora todo o tempo -respondeu Nora-. Jade nunca chorava. Mantinha suas emoções sob controle, é o que gosta de dizer Matthew. Também era extremamente valente. Escutei maravilhosas histórias sobre as façanhas que obtiveram ela e seus homens. Mas já sabe tudo isso -Nora continuou fazendo um movimento com a mão-. Não menciono isto para que pense que os homens ainda acreditam que é inferior, Sara. Não, justamente o contrário. Ganhou seus corações e suas lealdadse. Apostaria que no futuro não farão mais comparações. Viram que é tão valente quanto Jade.
Sara se voltou para entrar no camarote.
-Acredito que descansarei um pouco, tia --sussurrou-. Estou esgotada.
-Está pálida, Sara. É uma bela manhã, não é? Irei procurar Matthew e se não estiver muito ocupado ficarei uns minutos com ele. Logo eu também irei descansar um pouco.
O vestido azul claro de passeio da Sara estava atirado no chão. Quando fechou a porta o viu e recordou como o infiel o havia segurado com suas mãos. Também recordou todas as palavras sujas que havia dito.
Finalmente, tudo tinha terminado. A compreensão do que poderia ter acontecido fez seu estômago revirar. "Não devo pensar em todas as possibilidades", disse a si mesmo.
Poderiam ter matado Nathan.
Sara desabotoou o vestido e o tirou. Logo tirou a anágua, os sapatos e as meias. Estava muito concentrada na tarefa. Entretanto, seu olhar retornava ao vestido que estava no chão, e não podia bloquear as lembranças.
Realmente foram matar a seu marido.
Sara decidiu que precisava ocupar sua mente em algo para afastar seu medo. Limpou o camarote. Logo se banhou. Quando terminou já não estava tremendo tanto.
Logo viu o hematoma em um lado de seu rosto.
Voltou a sentir terror. Como poderia viver sem Nathan? E se não tivesse levado as pistolas à adega? E se tivesse ficado lá embaixo com Nora e não...?
-Oh, Deus -sussurrou-. Tudo é uma brincadeira. Sou uma covarde.
Apoiou-se sobre o lavabo e se olhou no espelho.
-Uma horrível covarde.
-O que disse?
Nathan formulou essa pergunta. Entrou no quarto sem fazer nenhum ruído, Sara se sobressaltou e logo se voltou para o olhar. Tentou ocultar o lado direito de seu rosto colocando o cabelo para frente.
Percebeu que estava chorando. Não queria que Nathan se desse conta. Baixou a cabeça e se dirigiu para a cama.
-Acredito que dormirei uma siesta -sussurrou-. Estou muito cansada.
Nathan lhe impediu o avanço.
-Deixe-me ver seu rosto -ordenou.
Apoiou as mãos nos quadris. Sara ainda tinha a cabeça baixa e só podia ver a parte superior. Sentiu que estava tremendo.
-Dói, Sara? -perguntou-lhe preocupado. Sara negou com a cabeça. Ainda não o olhava. Nathan tentou lhe levantar o queixo. Ela afastou sua mão.
-Não dói -mentiu.
-Então por que está chorando?
A ternura de sua voz aumentou seus tremores.
-Não estou chorando -sussurrou.
Nathan estava preocupando. Abraçou-lhe a cintura e a aproximou dele. O que era o que tinha dentro de sua mente agora?, perguntou-se. Sara sempre tinha sido tão transparente para ele. Nunca teve que preocupar-se com o que estava pensando. Sempre o dizia. Quando tinha um problema ou uma preocupação ele sabia imediatamente. E logo que lhe dizia o que tinha na mente lhe pedia que o solucionasse.
Nathan sorriu. E sempre resolvia, pensou.
-Agora eu gostaria de descansar, Nathan -voltou a dizer Sara.
-Primeiro terá que me dizer o que está a incomodando -lhe ordenou.
Começou a chorar mais forte.
-Ainda não está chorando? -perguntou exasperado.
Ela assentiu com a cabeça contra seu peito.
-Jade nunca chora.
-O que disse?
Não o repetiria. Tentou afastar-se dele, mas Nathan não o permitiu. Ele tinha mais força, mais determinação. Sustentou-a com um braço e levantou seu queixo. Afastou gentilmente o cabelo do rosto.
Quando viu o hematoma escuro em sua face sua expressão se converteu em sanguinária.
-Deveria tê-lo maldito.
-Sou uma covarde.
Depois de dizer essa confissão, assentiu com a cabeça ante a expressão de incredulidade de Nathan.
-É verdade, Nathan. Não me dava conta até hoje, mas agora sei a verdade sobre mim mesma. Não me pareço em nada Jade. Os homens têm razão. Não estou a sua altura.
Estava tão surpreso por suas ferventes palavras que não percebeu que a tinha solto até que ela se voltou e correu até a cama. Sentou-se na beirada e olhou a própria saia.
-Agora vou dormir uma siesta -voltou a repetir.
Ele nunca a compreenderia. Nathan negou com a cabeça e tentou não sorrir. Sara estava colocando o cabelo sobre o lado direito do rosto. Era óbvio que se sentia incômoda pelo hematoma.
-Não só sou uma covarde, Nathan. Sou feia. Jade tem olhos verdes, não é? Os homens dizem que tem o cabelo vermelho como o fogo. Jimbo disse que é uma heroína.
- Por que, demônios, estamos falando de minha irmã?, -perguntou-lhe Nathan. arrependeu-se de seu tom rude imediatamente Queria aliviar o desconforto da Sara, não aumentá-lo. Disse com um tom mais suave-: Não é uma covarde.
Olhou-o para que pudesse ver seu cenho.
-Então por que minhas mãos tremem e sinto que vou desmaiar? Estou tão assustada, e tudo que consigo pensar é o que poderia ter acontecido com você.
-No que poderia acontcer comigo? -estava pasmo por sua admissão-. Sara, você também estava em perigo.
Ela atuou como se não o tivesse escutado.
-Poderiam tê-lo matado.
-Não o fizeram.
Começou a chorar outra vez. Ele suspirou. Isto ia levar seu tempo, decidiu Nathan. Sara precisava de algo mais que uma rápida negativa. Necessitava que a tocasse. E ele também precisava tocá-la. Nathan tirou toda sua roupa menos a calça. Desabotoou e estava a ponto de tirar mas depois decidiu que ainda não queria que Sara soubesse qual era sua intenção. Só lhe chamaria a atenção e primeiro queria resolver o problema.
Sara ficou de pé quando Nathan se sentou. Observou como ficava cômodo. Nathan se apoiou contra o respaldo de madeira. Tinha uma perna estendida e a outra dobrada. Colocou-a frente a ele, entre suas pernas. Apoiou as costas contra seu peito e a cabeça sobre seu ombro. Nathan a tinha puxado pela cintura. Moveu as costas até que se sentiu cômoda. O movimento os dentes de Nathan rangerem. Sua esposa ainda não tinha idéia de quão provocadora podia ser. Não percebia quão rápido podia obter seu desejo.
-Não tem que esconder seu rosto de mim -sussurrou. Afastou com gentilmente o cabelo e lhe beijou o pescoço. Sara fechou os olhos e inclinou um pouco mais a cabeça para que pudesse ter um melhor acesso.
-Nathan? Viu como aquele homem me dominou rapidamente? Se a pistola não tivesse disparado, não poderia me haver defendido. Não tenho força, sou pequena.
-Não tem que ter força para se defender -respondeu.
Esse comentário não tinha nenhum sentido para ela.
-Golpeei Duggan, mas depois minha mão doeu durante um longo tempo. Também foi um golpe miserável. Sim, a gente tem que ter se ..
-Quem é Duggan?
-O homem que estava com o tio Henry no botequim a noite em que nos conhecemos -explicou Sara.
Nathan recordou. Sorriu quando pensou na luva branca que saiu pelo guichê.
- Tinha o elemento surpresa de sua parte, mas não lhe deu o murro correto.
Tomou a mão e lhe mostrou como.
-Não coloque o polegar debaixo dos outros dedos. Se o fizer poderá quebra-lo. Ponha aqui, fora, debaixo dos nós. Agora aperta forte -ordenou-. Deixe que a força do golpe venha daqui -adicionou enquanto lhe esfregava os nós dos dedos-. Ponha todo seu corpo em movimento.
Sara assentiu com a cabeça.
-Se você diz, Nathan.
-Tem que saber como se cuidar. atenção, Sara. Estou lhe ensinando.
Não tinha se dado conta de que se sentiria tão insegura com Nathan até esse momento.
-Não quer se ocupar de cuidar de mim? -perguntou.
Seu suspiro fez seu cabelo voar.
-Haverá ocasiões nas que eu não estarei com voê -tentou ser paciente com ela-. Olhe, onde golpeia é tão importante quanto como o faz.
-É?
Ela tratou de voltar-se para olha-lo. Nathan voltou a apoiar sua cabeça sobre seu ombro.
-Sim é. A zona mais vulnerável do corpo de um homem é a virilha.

-Nathan, não acreditará que eu...
Nathan olhou para o céu exasperado. -É ridículo que se sinta incômoda. Sou seu marido e deveríamos poder discutir sobre qualquer tema.
-Acredito que não poderia golpear a um homem ali.
-É obvio que sim -replicou Nathan . - Maldição, Sara. Se defenderá porque eu lhe ordeno isso. Não quero que lhe aconteça nada.
Se não estivesse tão irritada, ela teria se sentido feliz com essa afirmação. Entretanto, Nathan não tinha expressado com felicidade que não queria que nada lhe acontecesse. Era um homem muito complexo. Pedia-lhe que fizesse coisas que não sabia se poderia fazer.
-E se eu não poder golpear a um homem ali? Os covardes não se defendem -lhe anunciou-. E já admiti esse pecado.
Deus, era digna de compaixão. Nathan tentou não rir.
-Me explique por que se considera uma covarde -ordenou.
-Já lhe expliquei -exclamou isso Sara-. Minhas mãos ainda tremem, e cada vez que penso no que poderia ter acontecido me aterrorizo. Nem sequer posso olhar meu vestido sem me sentir náusea.
-Qual vestido? -perguntou Nathan.
Apontou o vestido azul que estava no chão.
-Esse vestido -disse-. Um daqueles vilãos o tinha nas mãos. Quero que o jogue pela murada -adicionou-. Nunca voltarei a usá-lo.
-Está bem, Sara -a tranqüilizou-. Cuidarei disso. Agora feche os olhos e não terá que olhá-lo.
-Acha que sou uma idiota, não é?
Ele começou a esfregar o nariz contra seu pescoço.
-Acredito que está experimentando as conseqüências. É uma reação natural, isso é tudo. Não significa que seja uma covarde.
Ela se concentrar no que estava dizendo, mas ele dificultava o intento. Tocava-lhe a orelha com a língua, e seu hálito quente a enfraquecia. Já não tremia, e começou a sentir-se sonolenta.
-Sempre sofre as... conseqüências? -perguntou com um sussurro fraco.
Eestava acariciando a parte inferior de busto. O som da seda contra a pele era excitante.
-Sim - respondeu.
-E o que faz?
-Procuro uma forma de descarregar minha frustração -explicou. Afastou sua camisa e logo desatou os laços. Sara se sentia relaxada. A voz do Nathan em seu ouvido a tranqüilizava. Suspirou agradada e voltou a fechar os olhos.
Ele apoiou a mão em sua coxa. Quando começou a acariciá-la entre as pernas, ela se moveu contra ele impaciente.
Deslizou seus dedos sob a camisa e lentamente começou a acender o fogo em seu interior. Sabia quanta pressão podia exercer e onde tocar para excitá-la. Ela gemeu quando seus dedos a penetraram.
-Tranqüila, bebê, não lute.
Sustentou-a com força contra ele e continuou com sua doce tortura. Seus dedos eram mágicos, exigentes. A Sara já não importava nada, só acabar.
-Eu adoro a forma em que me responde. Excita-se... molha-se É tudo para mim, não é, Sara?
Ela não podia lhe responder. Ele era mais exigente com suas demandas e ela não podia deter-se. Aconteceu antes de que ela se desse conta de que estava acontecendo. Tomou a mão e a apertou com força
Foi um orgasmo explosivo. Sara ficou completamente frouxa e maravilhada. Recostou-se sobre o peito de seu marido cheia de prazer.
Depois que se aquietaram os batimentos de seu coração e pôde pensar, sentiu-se incômoda. Tinha a camisa na cintura, e Nathan lhe acariciava os seios.
-Não sabia que podia... quer dizer, sem que você estivesse dentro de mim, não acreditei que fosse possível... -não podia continuar.
-Estava dentro de você -lhe sussurrou-. Meus dedos estavam, lembra-se?
Ele a girou até deixá-la de joelhos frente a ele. Deus santo, ele era muito excitante. Ficou com o fôlego na garganta, e percebeu que lhe desejava outra vez. Olhou-a enquanto baixava a camisa até as coxas"
Reclinou-se para frente até que apoiou os seios contra o peito. Ele já estava tirando a calça. Era estranho, mas em segundos ambos jogaram suas roupas de lado. Uma vez mais, Sara estava ajoelhada entre as pernas de seu marido. Continou-o olhando enquanto o tocava. Seu gemido lhe indicou que lhe agradava essa ousadia.
Depois ele colocou as mãos em seu cabelo e a trouxe para si.
-É assim que se livra das consequências, Sara - sussurrou. Beijou-a e não a deixou responder. Sara não se importou. Depois de tudo, ele a estava instruindo, e ela era sua aplicada estudante.
Passaram outra hora juntos antes que Nathan retornasse a dirigir as reparações. Enquanto se vestia, Sara suspirou muito. Recolheu seus lápis e seus esboços e foi até a coberta a sentar-se ao sol.
Em pouco tempo, o trabalho tinha terminado, e se viu rodeada de homens que queriam que os desenhasse. Sara se sentiu feliz de poder agradá-los. Eles elogiaram seu trabalho e pareciam sinceramente desiludidos quando ela usou o último papel e teve que parar de desenhar.
Nathan estava no mastro da coberta, ajudando a reforçar uma das velas menores que se soltou com um dos disparos dos canhões. Terminou essa tarefa e se voltou para retornar ao leme.
Deteve-se quando viu sua esposa. Ela estava sentada na borda madeira, sob onde estava. Tinha pelo menos quinze homens sentados a seus pés. Pareciam estar extremamente interessados nos que ela estava dizendo.
Nathan se aproximou. Escutou a voz de Chester.
-Quer dizer que só tinha quatro anos quando se casou com o capitão?
-Já nos explicou isso tudo, Chester - murmurou Kently-. Foi por ordem do louco do rei, não é, lady Sara?-perguntou.
- Por que o rei queria terminar com a inimizade entre as famílias? -perguntou Ivan.
-Queria paz -respondeu Sara.
-O que foi o que provocou as desavenças? -perguntou outro.
-Ninguém se lembra -demarcou Chester.
-Oh, eu sei o que provocou o desacordo -disse Sara-. O que começou a inimizade foi a cruz de ouro.
Nathan se apoiou contra um poste. Sorriu enquanto sacudia a cabeça. Então ela acreditava naquela tolice, não? É obvio que sim, pensou. Era uma história fantástica, e Sara certamente acreditava.
-Nos fale sobre a cruz de ouro -pediu Chester.
-Bom, começou quando o barão do Winchester e um barão St. James foram juntos a uma cruzada. Os dois homens eram bons amigos. Isto aconteceu na Idade Média, e todo mundo estava fora tratando de salvar ao mundo dos infiéis. As posses dos dois barões estavam uma junto à outra, e a história conta que cresceram juntos na corte do rei John. Entretanto, não sei se isso é verdade ou não. De qualquer modo -adicionou encolhendo os ombros-, os dois amigos foram a um porto estrangeiro. Ali um deles salvou a vida do soberano e como recompensa lhe deram uma cruz gigante de ouro. Sim -adicionou ao ver que os homens pareciam muito impressionados-, também tinha grandes pedras incrustadas. Algumas eram diamantes, outras rubis, e se diz que era magnífica.
-Quanto era de grande? -exclamou Matthew.
-Como um homem corpulento -respondeu Sara.
-E então o que aconteceu? -perguntou Chester. Estava ansioso para escutar o resto da história e não lhe agradavam as interrupções.
-Os dois barões retornaram a Inglaterra. Logo a cruz desapareceu repentinamente. O barão do Winchester disse a quem queria escutá-lo que lhe tinham dado a cruz e que o barão do St. James a tinha roubado. O barão do St. James contou a mesma história.
-Alguma vez a encontraram, minha senhora? -perguntou Kently.
Sara negou com a cabeça.
-Desatou a guerra entre os dois poderosos barões. Alguns dizem que nunca houve uma cruz, e que só foi uma desculpa para ganhar a terra do outro. Eu acredito que a cruz existe.
-Por que? -perguntou Chester.
-Porque se diz que quando o barão do St. James estava morrendo sussurrou: "Olhe aos céus por seu tesouro."

Ela assentiu com a cabeça depois de fazer essa afirmação.
-Um homem não mente quando está a ponto de conhecer seu criador -afirmou Sara-. Depois de pronunciar essas palavras apertou o coração e morreu.
Sara apoiou a mão no peito e baixou a cabeça. Alguns dos homens começaram a aplaudir, e logo se detiveram.
-Você não acredita nesta história, verdade, lady Sara?
-Oh, sim -respondeu Sara-. Algum dia Nathan vai encontrar essa cruz para mim.
Nathan pensou que sua esposa era uma sonhadora incurável. Entretanto, sorriu pois pensou que lhe agradava esse defeito nela.
-Ao parecer, o capitão terá que ir ao céu para buscá-la -comentou Chester.
-Oh, não -replicou Sara-. O que o barão estava fazendo era dando uma pequena pista ao dizer:
-Olhe ao céu. Estava sendo muito ardiloso.
A conversação continuou durante alguns minutos mais. Entretanto, estava se aproximando uma tormenta e o vento era muito intenso para ignorá-lo. Sara retornou a seu camarote para deixar seus lápis. Passou o resto do dia com sua tia Nora, mas ao entardecer Nora bocejava como uma menina, e Sara se foi para que pudesse descansar. Era óbvio que os acontecimentos desse longo dia a tinham esgotado.
Na realidade, Sara também estava esgotada. Começou a lhe doer as costas quando se preparou para deitar-se. A dor era uma clara indicação de que estava a ponto de ter sua menstruação.
Uma hora mais tarde, as cãibras eram muito intensas, piores do que as que estava acostumada. Estava muito dolorida para se preocupar de que Nathan pudesse encontrá-la nessas condições. Também tinha muito frio, provocado pela dor, apesar do camarote está quente e úmido.
Vestiu seu pijama branco de algodão, deitou na cama e se tampou com três mantas.
Não se sentia cômoda em nenhuma postura. Parecia que tinha quebrado algo na parte inferior das costas e a agonia a fez começar a soluçar.
Nathan não retornou ao camarote até a mudança de guarda. Geralmente, Sara deixava uma vela acesa, mas a habitação estava completamente às escuras,
Ouviu seu gemido. Acendeu duas velas imediatamente correu até a cama.
Ainda não podia vê-la. Estava afundada sob uma montanha de mantas.
-Sara?
O tom de sua voz refletia seu alarme. Ao ver que não lhe respondia imediatamente, tirou-lhe as mantas da rosto.
O medo lhe produziu um suor frio. Tinha o rosto tão branco quanto os lençóis. Ela voltou a tampar até a cabeça.
-Sara, pelo amor de Deus, o que aconteceu?
-Vai embora, Nathan -lhe pediu. Sua voz estava abafada pelas mantas, mas ele entendeu-. Não me sinto bem.
Parecia que estava a ponto de morrer. Nathan se preocupou mais.
-O que te acontece?, -perguntou-lhe com rudeza- Seu rosto doi? Maldição, eu devia ter matado aquele bastardo.
-Não é meu rosto -exclamou.
-Então é febre? -voltou a correr as mantas.
Oh Deus, não podia lhe explicar sua condição. Era muito humilhante. Voltou a queixar-se e se afastou dele. Colocou os joelhos contra o abdômen e começou a balançar-se para frente e para trás para aliviar a dor de suas costas.
-Não quero falar sobre isto. Não me sinto bem. Por favor, vai embora.
Ele não faria nada disso. Apoiou-lhe uma mão na face. Estava fria e úmida.
-Não é febre -anunciou-. Por Deus, Sara, não a machuquei esta tarde, não é? Sei que fui um pouco... fogoso, mas...
-Não me machucou.
Nathan ainda não estava convencido.
-Está certa disso?
Estava feliz por sua óbvia preocupação.
-Estou certa. Você não me provocou esta enfermidade -adicionou-. Só preciso ficar sozinha.
Sentiu outra cãibra, e adicionou com um gemido:
-Deixe-me morrer em paz.
-Não o farei -lhe respondeu. Teve outro pensamento nefasto-. Não fez nenhuma outra coisa quando esteve na galera, não é? Não preperou nenhuma comido, certo
-Não. Não é nada de estômago.
-Então que demônios é?
-Não estou grávida.
Não soube o que tinha querido lhe dizer.
-Está doente porque não está grávida? Sara, essa é a enfermidade mais ilógica da que jamais ouvi falar. Se sentiria melhor se ordenar que lhe preparem um banho?
Sentiu vontade de gritar, embora soubesse que o esforço lhe provocaria mais dor.
-Nathan, é uma condição da mulher -sussurrou.
-Uma o que?
-Estou indisposta -gritou-. Choro, doí -adicionou com um soluço-. Alguns meses é pior que outros.
-Está indisposta...
-Não estou grávida -exclamou ao mesmo tempo que ele-. Por favor, vai embora. Se Deus for misericordioso, morrerei em uns minutos... se não for pela dor, será pela vergonha de lhe explicar minhas condições..
Sentiu-se tão aliviado de que não estivesse sofrendo alguma doença grave que suspirou com fúria.
Logo estendeu a mão para lhe dar uma palmada no ombro. Entretanto, ela retrocedeu antes de que pudesse tocá-la. Nathan se sentiu incômodo, inútil.
-Posso fazer algo para aliviar sua dor? -perguntou-lhe-. Quer algo?
-Quero a minha mãe -sussurrou Sara-. Mas não posso tê-la, não é? Oh, vai embora, Nathan. Não há nada que possa fazer. Voltou-se a tampar até a cabeça e exclamou outro doloroso lamento. Nathan decidiu fazer o que lhe tinha pedido, pensou Sara quando ouviu que fechava a porta. Então chorou. Como se atrevia a deixá-la nessa agonia? Mentiu quando lhe disse que queria sua mãe. Queria que Nathan a abraçasse, e o obstinado teria que lhe haver lido a mente e compreendido do que ela precisava.
Nathan foi imediatamente ao camarote de Nora. Não se incomodou em bater na porta. Quando abriu a porta, uma voz profunda perguntou:
-Quem está ai?
Nathan sorriu. Reconheceu a voz do Matthew. Obviamente, o marinheiro estava compartilhando a cama de Nora.
-Tenho que falar com Nora -anunciou.
A tia da Sara despertou sobressaltada. Emitiu um som entrecortado e se tampou até o queixo.
Ruborizou-se.
Nathan se aproximou da cama e ficou ali com as mãos nas costas, olhando o chão.
-Sara está doente -lhe explicou antes de que Nora pudesse dizer uma palavra. Ante esse anúncio o desconforto da Nora por ter sido encontrada em uma posição tão comprometida se desvaneceu.
-Devo ir até ela -sussurrou. Lutou para sentar-se-. Sabe que enfermidade é?
-Quer que vá ver? -perguntou Matthew, que já estava apartando as mantas para trás.
Nathan negou com a cabeça.
-É... coisa das mulheres.
-Que coisa das mulheres? -perguntou Matthew, autenticamente perplexo.
Nora compreendeu. Deu-lhe uma palmada na mão de Matthew, mas seguiu olhando para Nathan.
-Dói-lhe muito?
Nathan assentiu com a cabeça.
-Dói-lhe terrivelmente, senhora. Agora, me diga o que posso fazer para ajudar.
Nora pensou que parecia um comandante militar, pelo tom enérgico de sua voz.
-Um pouco de conhaque às vezes ajuda -sugeriu Nora-. Uma palavra amável tampouco faria mal, Nathan. Lembro-me que ficava muito sentimental quando me indispunha.
-Há algo mais que possa fazer por ela? -reiterou Nathan-. Está sofrendo, Nora.
Nora fez um esforço muito grande para conter um sorriso. Nathan parecia querer matar alguém.
-Perguntou o que poderia ajudá-la?
-Queria a sua mãe.
-Como poderia ajudá-la com isso? -perguntou Matthew.
Nora lhe respondeu.
-Ela precisa de seu marido, querido. Nathan, ela quer alguém que a console. Tente lhe esfregar as costas.
Nora teve que levantar a voz para lhe dar essa última sugestão, já que Nathan já estava saindo do camarote.
Depois de fechada a porta, Nora se voltou para Matthew.
-Acha que contará a Sara que você e eu...?
-Não, meu amor, ele não dirá uma palavra -respondeu Matthew.
-Odeio enganar Sara, mas ela vê tudo branco ou preto. Acredito que não compreenderia.
-Se tranqüilize -Matthew beijou-a e tomou-a entre seus braços-. A idade a fará madurar.
Nora assentiu com a cabeça. Logo mudou de tema e comentou:
-Nathan está começando a preocupar-se com Sara, não é? Não demorará muito em dar-se conta de que a ama.
-Possivelmente a ama, Nora, mas nunca o admitirá. O rapaz aprendeu faz muito tempo a proteger-se contra qualquer compromisso verdadeiro.
-Tolices -replicou Nora-. Com uma mulher comum, possivelmente, mas certamente terá notado que minha Sara não é uma mulher comum. Ela é o que Nathan precisa. Ela acredita que seu marido a ama e não demorará muito em lhe convencer de que assim é. Espera e o verá.
Sara não tinha idéia de que ela era o tema de discussão. Estava imersa na dor.
Não ouviu que Nathan tinha retornado ao camarote. Lhe tocou o ombro.
-Sara, beba isto. Se sentirá melhor.
Ela viu a taça em sua mão e imediatamente negou com a cabeça.
-É conhaque -lhe explicou.
-Não o quero.
-Beba.
-Vomitarei.
Nathan colocou a taça na mesa e logo se deitou junto a ela.
Ela tentou se afastar. Ele ignorou sua resistência e sua demanda. Voltou a girar e ficou olhando para a parede. Já não podia tolerar mais a dor. Então Nathan a puxou pela cintura, aproximou-a um pouco mais dele, e começou a lhe esfregar a parte inferior das costas. Essas massagens suaves eram maravilhosas. A dor começou a ceder imediatamente. Sara fechou os olhos e se aproximou mais de seu marido para lhe roubar um pouco mais de calor.
Ela mal percebeu que o navio balançava e se inclinava. Nathan sim o percebeu. Seu estômago era um tortura, e desejava não ter comido nada. Ficaria verde em questão de minutos.
Continuou lhe esfregando as costas durante quinze minutos sem lhe dizer uma palavra. Tentou se concentrar na mulher que estava deitada contra ele, mas cada vez que o navio se movia, seu estômago dava voltas.
-Já pode parar -sussurrou Sara-. Me sinto melhor, obrigado.
Nathan fez o que lhe pediu, e começou a levantar-se da cama. Deteve-se com uma nova petição.
-Poderia me abraçar, Nathan? Tenho muito frio. É uma noite gelada, verdade?
Para ele era quente como uma fogueira. Tinha o rosto transpirado. Entretanto, fez o que lhe pediu.
Tinha as mãos geladas, mas em uns minutos ele as voltou a esquentar.
Pensou que finalmente tinha dormido e começou a levantar-se outra vez, quando sussurrou:
-Nathan? E se eu for estéril?
-Então é estéril.
-É tudo o que pode dizer? Se for estéril e não podermos ter filhos.
Nathan levantou o olhar para o céu. Deus, parecia que ia chorar outra vez.
-Não pode saber se é estéril ou não -lhe disse-. É muito cedo para chegar a essa conclusão.
-Mas..e seu for? -insistiu Sara.
-Sara, o que quer que te diga? -perguntou-lhe. Sua frustração era quase visível. Seu estômago voltou a dar voltas. As respirações profundas não lhe ajudavam. Afastou as mantas e tratou de levantar-se outra vez.
-Ainda vai querer estar casado comigo? -perguntou ela-. Não obterá a terra que prometeu o rei se não tivermos um filho...
-Conheço as condições do contrato -replicou Nathan-. Se não obtermos a terra, então reconstruiremos a terra que me deixou meu pai. Agora esquece as perguntas e durma. Retornarei em um momento.
-Ainda não me respondeu. Vai querer continuar casado com uma mulher estéril?
-Oh, pelo amor de Deus...
-Vai ou não?
Ele grunhiu. Ela tomou esse grunhido como uma afirmação. Aproximou-se e lhe beijou as costas. Ele tinha deixado as velas acesas, e quando olhou o rosto viu que sua tez estava cinzenta.
Compreendeu imediatamente o que estava acontecendo. O navio estava saltando como uma bola na água. A taça de conhaque caiu ao chão. Nathan fechou os olhos e fez uma careta.
Estava enjoado. Sara sentia lástima por seu pobre marido, mas a emoção se sufocou rapidamente quando ele sussurrou:
-Não estaria casado com ninguém se não fosse pelos malditos contratos. Agora durma. Depois de lhe dizer isso, desceu da cama.
Sara estava furiosa outra vez. Como se atrevia a usar esse tom de voz com ela? Ela estava tão chateada quanto ele, possivelmente mais. Esqueceu a forma gentil com a qual a tinha tratado e decidiu dar uma lição ao homem que não esqueceria.
-Lamento rete-lo de suas ocupações -começou dizendo-. Minha costa está melhor agora, Nathan. Obrigado. Meu estômago tampouco me incomoda. Suponho que não devia jantar esse pescado. Entretanto, estava delicioso, especialmente quando pus um pouco de chocolate em cima. Alguma vez provou pescado adoçado dessa maneira? Não? -perguntou-lhe ao ver que não lhe respondia.
Ele parecia muito mareado até para vestir a calça. Sara seguiu sorrindo.
-Geralmente ponho açúcar, mas esta noite quis experimentar. A propósito, o cozinheiro prometeu nos servir ostras quando chegarmos ao porto. Eu adoro as ostras, e você? A forma que deslizam pela garganta. Nathan, não vai me dar um beijo?
A porta se fechou antes que ela finalizasse sua pergunta. Sara sorriu. sentiu-se tremendamente satisfeita por suas más ações. Já era hora de seu marido se dar conta da sorte que tinha de que fosse sua esposa.
-O merece por ser tão obstinado -sussurrou. Tampou-se até os ombros e fechou os olhos. Aos poucos minutos estava profundamente adormecida.
Nathan passou quase toda a noite pendurando na amurada do navio. Foi até a zona que geralmente estava deserta e ninguém prestou atenção nele.
O sol estava aparecendo no céu quando Nathan retornou ao camarote. Sentia-se como uma vela molhada. Desabou-se literalmente na cama. Sara saltou, rodou e se deitou contra o corpo de seu marido.
Começou a roncar, assim ela não pôde começar a falar outra vez. Sara se inclinou e beijou-o na face. Sob a tênue luz da vela pôde ver quão pálido estava. Também precisava de ser barbeado. Parecia feroz com essa sombra escura no maxilar. Sara estendeu a mão para lhe tocar a face com a ponta de seus dedos. "Amo-o ", sussurrou. "Até com todos seus defeitos, Nathan, mesmo assim te amo. Lamento tê-lo nauseado deliberadamente. Lamento que sofra dessa indisposição."
Satisfeita com sua confissão, especialmente porque sabia que ele não tinha ouvido uma palavra do que havia dito, afastou-se dele. Suspirou profundamente. "Acredito que devia pensar em outra linha de trabalho, marido. Parece que o mar não o faz muito bem."
Ele abriu lentamente os olhos e logo se voltou para olhá-la. Ela fingiu estar dormindo outra vez. Parecia tão pacífica, angelical.
Ele queria estrangulá-la. Sua esposa tinha averiguado sua enfermidade e tinha usado deliberadamente esse conhecimento para aproveitar-se dele. Ela o tinha ofendido tanto que disse que se não tivesse sido pelos contratos não estaria casado. Sua zanga se dissipou em seguida, e sorriu. Depois de tudo, a pequena Sara não era tão inocente. Fazia exatamente o que ele teria feito se tivesse tido uma arma ao seu dispor e não tivesse força física o suficiente para desforrar-se.
Quando ele estava zangado gostava de usar seus punhos. Ela usou a cabeça e isso o agradava. Mas já era o momento de que ela compreendesse quem estava no comando do matrimônio. Supunha-se que ela não devia usar sua astúcia com ele.
Estava encantadora. de repente, sentiu desejos de fazer o amor com ela. Não podia, é obvio, devido a sua condição delicada, e quase a sacudiu para perguntar quanto durava esta coisa das mulheres.
Finalmente, o esgotamento o derrotou. Quando já estava dormindo sentiu que Sara tomava a mão. Não a afastou. Seu último pensamento antes de dormir foi um pouco exaltado.
Necessitava que lhe abraçasse.


Faltavam dois dias para chegar à casa da Nora, e Nathan começou a pensar outra vez que o resto da viagem ia transcorrer sem novidades.
Equivocou-se.
Era o entardecer do dia vinte e um do mês. Acima havia mais estrela que céu, e a brisa era bastante agradável. O vento era aprazível, embora constante. Foram a uma boa velocidade. O poderoso navio atravessava o oceano sem balançar-se nem sacudir-se de um lado a outro. Um homem podia pôr uma taça sobre o corrimão sem temor de perdê-la, já que o mar estava muito calma e não havia nenhuma preocupação que pudesse perturbar os sonhos de um marinheiro.
Nathan estava perto do Jimbo, junto ao leme. Os dois homens estavam discutindo os planos de expansão da esmerald Shipping Company. Jimbo era a favor de acrescentar mais circuitos a sua frota, enquanto que Nathan queria navios mais fortes e duradouros.
Sara interrompeu a conversa quando apareceu correndo pela coberta. Tinha posto só a camisola e a bata. Jimbo percebeu isso imediatamente. Entretanto, Nathan estava de costas para sua esposa, e como ela estava descalça não a ouviu aproximar-se.
-Nathan, tenoq ue falar com você imediatamente -exclamou-. Temos um problema terrível e deve se ocupar dele agora mesmo.
Quando se voltou, Nathan tinha uma expressão de resignação no rosto, mas essa expressão desapareceu quando viu a pistola na mão de sua esposa. A arma estava apontando para sua virilha.
Sara estava histérica por algo. Tinha um aspecto estranho, o cabelo desarrumado sobre os ombros e as bochechas brilhantes.
Logo percebeu sua vestimenta.
-Por que está rebolando pela coberta com roupa de cama? -perguntou-lhe.
Sara abriu grandes os olhos ante sua recriminação.
-Não me estava rebolando -começou a lhe dizer, mas se deteve e sacudiu a cabeça-. Este não é o momento de perguntar sobre minha vestimenta. Temos um sério problema, marido.
Voltou-se para Jimbo. Sua cortesia parecia estranha com a pistola na mão.
-Por favor desculpa meu aspecto pouco feminino, Jimbo, mas tive um desgosto e não tive tempo de me trocar.
Jimbo assentiu com a cabeça enquanto olhava a pistola que ela movia para trás e para frente entre ele e Nathan. Ela não parecia dar-se conta de que tinha a pistola.
-Teve um desgosto? -perguntou-lhe Jimbo.
-O que está fazendo com essa pistola? -perguntou-lhe Nathan ao mesmo tempo.
-Poderia necessitar dela -- explicou Sara.
-Lady Sara -disse Jimbo ao ver que Nathan parecia ter ficado sem palavras-, Acalme-se e nos diga que a desgostou. Rapaz -adicionou com um grunhido-,tire essa pistola dela antes que se machuque.
Nathan estendeu a mão para lhe tirar a pistola. Sara retrocedeu e a ocultou em suas costas.
-Fui ver a Nora. Queria lhe desejar boa noite.
-E? -perguntou-lhe Nathan ao ver que não continuava.
Olhou para Jimbo durante um momento antes de decidir se o incluiria em sua explicação, logo olhou sobre seu ombro para assegurar-se de que ninguém mais os estava escutando.
-Não estava sozinha.
Sussurrou o comentário e esperou a reação de seu marido. Ele encolheu os ombros.
Sara tinha vontades de lhe chutar.
-Matthew estava com ela -assentiu com veemência depois de lhes contar a novidade.
-E? -Insistiu Nathan.
-Estavam juntos na cama.
Voltou a agitar a pistola.
-Nathan, tem que fazer algo.
-O que você gostaria que eu fizesse?
Parecia muito complacente, mas estava fazendo uma careta. O homem não estava surpreso pela notícia que ela acabava de lhe dar. Sara teria que ter sabido que reagiria dessa maneira. Nada parecia lhe aborrecer... exceto ela. Sempre lhe aborrecia, admitiu.
-Ela quer que peça Matthew que se vá -interveio Jimbo-. Não é assim, Sara?
Ela negou com a cabeça.
-É um pouco tarde para fechar a porta do celeiro, Jimbo. A vaca já escapou.
-Não entendo -replicou Jimbo-. O que têm que ver as vacas com sua tia?
-A desonrou -lhe explicou.
-Sara, se não quer que Matthew deixe Nora em paz , o que quer fazer? -perguntou Nathan.
-Tem que casá-los -respondeu Sara-. Venha comigo, marido. Temos que fazê-lo agora. Jimbo, você pode servir de testemunha.
-Não pode estar falando a sério.
-Pare de sorrir, marido. Falo muito sério. Você é o capitão deste navio, assim pode casá-los legalmente.
-Não.
-Lady Sara, você propõe as sugestões mais surpreendentes -demarcou Jimbo.
Era óbvio que nenhum dos dois homens a levava a sério.
-Sou responsável por minha tia -disse Sara- Matthew manchou sua honra e deve casar-se com ela. Sabe, Nathan?, Isto realmente resolverá outra preocupação. Meu tio Henry já não perseguirá Nora por sua herança uma vez que ela tenha se casado de novo. Sim, isto terá um final feliz.
-Não -respondeu Nathan enfaticamente.
-Sara, Matthew quer casar com Nora?
Voltou-se e franziu o semblante para o capitão.
-Não importa se ele quer ou não.
-Sim, importa -replicou Jimbo.
Sara começou a mover outra vez a pistola.
-Bom, vejo que não obterei nenhuma ajuda de vocês.
Antes que os homens pudessem assentir, Sara se voltou e se dirigiu para a escada.
-Gosto de Matthew -murmurou-. É uma vergonha.
-O que pensa fazer, lady Sara? -exclamou Jimbo.
Ela não se voltou quando lhe gritou sua resposta.
-Vai se casar com a Nora.
-E se não casar? -perguntou-lhe Jimbo sorrindo.
-Então lhe dispararei. Eu não gostaria, Jimbo, mas terei que atirar.
Nathan a seguiu. puxou-a pela cintura, levantou-a e lhe tirou a pistola.
-Não vai atirar em ninguém -disse com um grunhido.
Entregou a pistola a Jimbo, e depois arrastou Sara até o camarote. Fechou a porta e a carregou até a cama.
-Solte-me, Nathanial.
-Não volte a me chamar Nathanial -ordenou.
-Por que não posso lhe chamar por seu nome?
-Eu quero, por isso -explicou.
-Essa é uma razão estúpida -replicou Sara. Fincou as mãos nos quadris e o olhou com o semblante franzido. O penhoar se abriu e Nathan viu seus seios apertados contra a camisola.
-Sara, quando termina esta sua condição? --perguntou-lhe.
Não respondeu essa pergunta mas sim voltou sobre o tema de seu nome.
-Me diga por que você não gosta que lhe chamem Nathanial?
Avançou um passo de maneira ameaçadora.
-Quando o escuto fico vermelho, Sara. Me dá vontade de brigar.
Essa não era uma explicação satisfatória, mas não o diria.
-Quando não tem vontade de brigar, marido?
-Não me provoque.
-Não grite.
Ele respirou profundamente. Isso não a acalmou.
Ela sorriu.
-Está bem -sussurrou tratando de lhe apaziguar-. Não voltarei a chamá-lo Nathanial... a menos que queira que se zangue. De acordo?
Pensou que esses comentários eram muito ignorantes para respondê-los. Colocou-a na beirada da cama
-Agora é sua vez de me responder, Sara. Quando termina esta maldita coisa das mulheres?
Ela tirou lentamente o penhoar. ToLevou muito tempo para dobrá-la.
-Não vai fazer nada sobre Matthew e Nora, não é? -perguntou.
-Não -respondeu-. E você tampouco. Deixe-os
Antes de que pudesse lhe fazer algum comentário.
Ela assentiu com a cabeça.
-Vou ter que pensar muito nisto, marido.
Fez um comentário agudo sobre sua habilidade para pensar, Sara tirou a camisola e a atirou sobre a cama.
-Já terminei com esta maldita coisa de mulheres -sussurrou timidamente.
Estava tentando ser atrevida, mas o rubor arruinou o efeito. Nathan a fazia sentir estranha pela forma como a olhava. Sara suspirou e se aproximou dele.
Nathan a fez lhe beijar primeramente. Ela se sentia complacente. Abraçou-a e afastou o cabelo para aproximar sua boca da dela.
E como lhe beijou. Sua boca estava ardente, sua língua impetuosa e não demorou para obter a resposta que desejava.
Então, Nathan se encarregou de tudo. Sustentou a cativa pelo cabelo e voltou a baixar lentamente a cabeça. Abriu a boca e fundiu sua língua com a dela. Seus seios estavam apertados contra o peito nu de Nathan e o abraçava forte pela cintura.
Gemeu quando lhe sugou a língua, e por isso voltou a fazer. O som que emitiu foi tão excitante para ela como seu beijo, e parecia que já não podia estar mais perto dele.
O afastou para despi-lo, mas se deteve quando lhe beijou o pescoço. Começou a tremer. Apertou-lhe os ombros. Voltou a perceber quão frágil era ao sentir sua pele sedosa contra sua palmas rugosas.
-É tão delicada -sussurrou-. E eu...
Não pôde expressar seu pensamento pois o fazia esquecer tudo, só o fazia sentir. Beijou-lhe cada centímetro do peito. Tocou os mamilos masculinos com a ponta da língua. Quando ordenou que deixasse de lhe atormentar, ela duplicou seus esforços para lhe enlouquecer.
Teve que parar quando ele a abraçou contra o peito e pressionou seus rosto. Nathan respirou profundamente. Acaricio-lhe o umbigo. Ele deixou de respirar. Ela sorriu.
-Faz-me sentir tão viva, tão forte. Quero mostrar o quanto te amo, Nathan. Deixará?
Ele compreendeu sua intenção quando ela começou a lhe desabotoar a calça. Suas mãos tremiam. Logo se ajoelhou lentamente. Depois disso, Nathan não recordou nada mais. Sua pequena e delicada esposa se converteu em uma labareda de sensualidade. Era como o sol, lhe abraçando com sua suave boca, sua língua úmida, sua carícia excitante.
Nathan já não suportava a doce agonia. Não foi muito gentil quando a levantou, colocou suas pernas ao redor de sua cintura e lhe deu um beijo profundo, embriagador.
-Meu Deus, Sara, espero que esteja preparada para mim -sussurrou-. Já não posso esperar mais. Tenho que estar dentro de você. Agora. Logo poderei fazê-lo mais devagar, prometo-lhe isso.
Tratou de trocar de posição, mas puxou pelo cabelo.
-Nathan, diga que me ama -pediu.
Respondeu beijando-a outra vez. Sara logo esqueceu tudo sobre a declaração de amor que queria escutar. Afundou suas unhas nos ombros de Nathan, e só podia pensar em acabar.
Puxou-a pelos quadris e começou a penetrá-la lentamente.
Ela reclinou a cabeça para trás e gemeu.
-Por favor, Nathan, se apresse.
-Primeiro quero deixá-la louca. Como você...
Mordeu o pescoço. Ele a penetrou mas estava tremendo tanto quanto ela. Sara o apertou com força. Ele gemeu com prazer.
Amorteceu a queda sobre a cama com uma mão, e logo a cobriu completamente. Segurou seu rosto, apoiou-se sobre os cotovelos, e a beijou carinhosamente na face, no nariz, em seus doces lábios.
-Deus, é tão bela -mordiscou o pescoço, lambeu o lóbulo da orelha e a última coisa que recordou era que ele daria o exemplo desta vez.
Mas então ela levantou os joelhos e ele se introduziu mais nela. Arqueou-se contra ele. Nathan não podia suportar uma provocação tão grande. Sentiu-se envolto por seu calor, sua fragrância embriagadora... seu amor.
A cama rangia com cada movimento. Nathan queria que durasse para sempre. A febre da paixão ardia entre eles. De repente, Sara se agarrou a ele com mais força. Gritou seu nome. A entrega foi mútua. Seu gemido gutural afogou os violentos batimentos de seus corações.
Ele desabou sobre ela, muito fraco para mover-se, mas muito satisfeito para querer afastar-se dela. Apoiou a cabeça na lateral de seu pescoço. Sua respiração era profunda, trêmula. A dela também. Isso o fez sorrir por dentro.
Logo que ela se afrouxou, ele ficou de lado. Levou-a consigo porque não podia soltá-la.
Sara não podia deixar de chorar.
Era um alegre interlúdio, mas ele sabia que logo começaria a abrir a boca outra vez para dizer as palavras que queria escutar.
Ele não queria decepcioná-la, mas não mentiria. E em um canto de sua mente se instalou o temor. E se não fosse capaz de dar o que ela queria?
Nathan se considerava um professor quando se tratava de ferir às pessoas. Tinha muita experiência nesse tema. Entretanto, quando se tratava de amar alguém não tinha a menor idéia. Somente pensar no problema o assustava. Não podia converter-se em alguém tão vulnerável, pensou. Não podia.
Ela o sentiu tenso. Sabia o que ia acontecer depois. Trataria de deixá-la. Entretanto, desta vez não deixaria, e jurou que se tivesse que fazê-lo, o seguiria para fora do camarote.
Como podia seu marido ser tão gentil, tão maravilhosamente cheio de consideração quando fazia amor, e logo converter-se em uma estátua de gelo? O que passava por mente?
-Nathan?
Ele não respondeu. Ela esperava essa rudeza.
-Amo-o -sussurrou Sara.
-Eu sei -respondeu quando o tocou brandamente com o cotovelo.
-E? -insistiu ela.
Nathan suspirou profundamente.
-Sara, não tem que me amar. Não é um requerimento deste matrimônio.
Pensou que tinha sido muito lógico ao fazer essa exposição dos fatos. Em sua forma de pensar tinha evitado de modo inteligente o verdadeiro assunto.
Sara tentou empurrá-lo da cama.
-É o homem mais obstinado que jamais conheci. Escute bem, Nathan. Tenho algo a lhe dizer.
-Como poderia não escutar, Sara? Está gritando outra vez como uma harpia.
Nisso tinha razão, pensou Sara. Ficou de costas, cobriu-se e olhou o teto.
-Frustra-me -sussurrou.
Nathan não aceitou essa observação.
-É obvio que não -respondeu. Apagou a chama da vela, ficou de lado e tomou entre seus braços-. Tenho a satisfeito sempre.
Não era isso que tinha querido dizer, mas ele estava tão arrogantemente satisfeito consigo mesmo que Sara decidiu não discutir.
-Ainda tenho algo importante que lhe dizer, Nathan. Escutará?
-Promete que dormirá imediatamente depois de dizer?
-Sim.
Ele grunhiu. Sara pensou que esse som significava que na realidade não tinha acreditado nela. Estava a ponto de lhe dizer o que pensava de seu rude comportamento, quando Nathan a aproximou mais de si e começou a lhe esfregar brandamente as costas. Apoiou-lhe o queixo na cabeça.
Estava sendo extremamente carinhoso. Sara estava assombrada. Perguntava-se se dava conta do que estava fazendo.
Decidiu que não lhe importava se sabia ou não. A ação era tão notável que não podia conter a felicidade que enchia seu coração.
Tentou se afastar só para verificar. Abraçou-a com mais força.
-Está bem, Sara -anunciou-. Eu gostaria de dormir um pouco esta noite. Me diga o que tem em mente e assim poderei descansar.
Ela não podia deixar de sorrir. Isso era muito bom, pensou, já que ele não podia lhe ver a expressão. Apertou o rosto contra o pescoço do marido. Afastou-lhe brandamente o cabelo da têmpora.
Estava decidida que lhe dissesse que a amava. Acreditava que uma vez que o dissesse, perceberia que ela tinha razão. Entretanto, ele ainda não estava preparado para admitir a verdade.
Finalmente, a revelação se instalou em sua mente. Desconcertou-a um pouco. Nathan tinha medo. Não estava segura se tinha medo de amar alguém ou de amá-la... mas tinha medo.
Se enfureceria se dissesse o que estava pensando. Os homens não gostavam de ouvir que tinham medo de algo.
-Maldição, Sara, apresse isso e assim poderei dormir.
-A dizer o que? -replicou enquanto pensava rapidamente em algum outro tema de conversa. -Meu Deus, Me deixa louco. Disse que tinha algo importante para me dizer.
-Assim é.
-E?
-Nathan, não me aperte tanto -sussurrou. Ele afrouxou seu abraço imediatamente-. Mas parece que esqueci o que queria dizer.
Nathan lhe beijou a frente.
-Então durma -disse.
Ela se apertou contra ele.
-É um homem bom, Nathan -sussurrou essas palavras de elogio e bocejou com força, de maneira muito pouco feminina- Realmente me agrada a maior parte do tempo.
Seu sorriso a reconfortou. Entretanto, não era suficiente.
-Agora é sua vez.
-Minha vez do que? -perguntou Nathan fingindo deliberadamente não entendera para chateá-la.
Sara estava muito cansada para argumentar. Fechou os olhos e voltou a bocejar.
-Oh, não importa. Pode ser sua vez amanhã.
-É uma mulher boa -sussurrou - E também me agrada.
Seu suspiro de felicidade imundou a habitação.
-Eu sei -respondeu.
Dormiu antes de que ele pudesse lhe dar um sermão sobre os méritos da humildade. Nathan fechou os olhos. Precisava descansar, pois só Deus sabia o que podia acontecer no dia seguinte, com lady Sara tratando de dirigir as coisas.
Se tinha aprendido algo durante as últimas semanas, era não esperar o normal.
Acreditava que teria que proteger sua esposa do mundo. Agora sabia a verdade. Seu dever era proteger o mundo de sua esposa.
Era uma revelação absurda, mas o marquês dormiu com um sorriso em seus lábios.














Capítulo 11

O dia que ancoram nas profundas águas caribenhas que rodeavam a casa de Nora, Sara descobriu que seu marido tinha mais de dois títulos. Não era só o marquês do St. James e o conde do Wakersfield.
Também era Pagam.
Estava tão surpreendida pela novidade, que literalmente desabou sobre a cama. Não tinha escutado escondida deliberadamente, mas a porta do teto de seu camarote estava aberta e os dois marinheiros estavam falando em voz alta. Sara começou a prestar atenção sobre o que estavam falando só quando suas vozes se converteram em um sussurro. negou-se a acreditar o que tinha escutado até que Matthew entrou na conversação e falou sobre o tesouro que tinham repartido de sua última empreitada.
Então teve que sentar-se.
Na realidade, estava mais assustada que horrorizada pela revelação. Seu temor era por Nathan, e cada vez que pensava nos riscos que tinha passado quando abordara outros navios, sentia-se nauseada. Tinha um pensamento funesto atrás de outro. Imaginou rumo à forca, mas se permitiu imaginar essa possibilidade só uma vez. Quando se deu conta de que ia vomitar o café da manhã afastou esses funestos pensamentos de sua mente.
Sara teria estado completamente desesperada se não tivesse sido pelo último comentário que escutou do Chester. O marinheiro admitiu que estava muito feliz de que seus dias de piratarias tivessem ficado para trás. A maioria dos homens, adicionou, estavam preparados para empreender uma vida familiar, e suas economias legais lhes dariam um bom começo.
Sentiu-se tão aliviada que começou a chorar. Depois de tudo, não teria que salvar Nathan de si mesmo. Parecia que já tinha compreendido o engano de seus métodos. Rezou que o tivesse feito. Não podia tolerar pensar em lhe perder. Amava-o a tanto tempo, e era muito devastador pensar em uma vida sem que lhe gritasse, grunhisse... e a amasse.
Sara passou a maior parte da manhã preocupando-se com Nathan. Ao que parecia não podia libertar-se de seu medo. E se um de seus homens traísse seu marido? A recompensa pela cabeça de Pagam era enorme. Não, não, não pense nisso, disse a si mesma. Os homens eram muito leais. Sim, já o tinha notado. Por que buscar-se problemas? Aconteceria o que tivesse que acontecer, sem importar quanto se impacientasse de antemão.
Não importava o que acontecesse, ela permaneceria junto a seu marido e lhe defenderia como pudesse.
Matthew teria dito seu escuro passado a Nora? E se assim era, haveria lhe dito que Nathan era Pagam? Sara decidiu que nunca se inteiraria. Não diria a ninguém que sabia, nem sequer a sua querida tia. Levaria o segredo para a tumba.
Quando Nathan retornou ao camarote e procurou sua esposa, encontrou-a sentada na beira da cama, com o olhar perdido. Dentro fazia muito calor, mas Sara estava tremendo. Pensou que não se sentia bem. Estava pálida, entretanto, o sintoma mais notável era que apenas lhe disse uma palavra.
Sua preocupação se intensificou quando se sentou tranqüilamente no bote que os levou até o cais. Tinha as mãos cruzadas sobre a saia, o olhar baixo e não parecia interessada no que a rodeava.
Nora sentou junto à Sara e manteve uma conversa fluída. Secou-se a fronte com um lenço e se abanou para refrescar-se.
-Passarão um ou dois dias até que nos acostumemos ao calor -comentou-. A propósito, Nathan, a meio quilômetro de minha casa há uma bonita catarata. A água desce da montanha. É pura como o sorriso de um bebê. Na parte inferior há um lago, e não vai lhe custar muito tempo levar Sara ali.
Voltou para olhar a sua sobrinha.
-Sara, agora talvez possa aprender a nadar.
Sara não respondeu. Nora deu um golpe com o cotovelo para que a escutasse.
-Lamento -disse Sara- O que disse?
-Sara, no que está sonhando acordada? -perguntou Nora.
-Não estava sonhando acordada -olhou fixamente para Nathan quando respondeu. Também franziu o semblante.
Nathan não sabia o que pensar disso.
-Não se sente bem -comentou Nora.
-Sinto-me perfeitamente bem -replicou Sara.
Nora notava a preocupação no rosto.
-Estiveste terrivelmente preocupada -assinalou- Se incomoda com o calor?
-Não -respondeu Sara. Suspirou-. Só estava pensando em algumas coisas.
-Alguma coisa em especial? -insistiu Nora.
Sara continuou olhando fixamente para Nathan. Ele levantou uma sobrancelha ao ver que não respondia a sua tia.
Nora rompeu a luta de olhares quando voltou a formular sua pergunta.
-Estava sugerindo que agora seria uma excelente oportunidade para aprender a nadar.
-Eu te ensinarei.
Nathan se ofereceu para essa tarefa.
Sara sorriu.
-Obrigado por seu oferecimento, mas não quero aprender. Não há necessidade.
-É obvio que sim -respondeu Nathan-. Aprenderá antes que retornemos a Inglaterra.
-Não quero aprender -lhe voltou a dizer. Não preciso saber.
-O que quer dizer com que não necessita? -perguntou-lhe Nathan-. É obvio que o necessita.
-Por que?
Ela estava tão autenticamente perplexa que ele perdeu um pouco de sua irritação.
-Sara, se souber nadar não terá que se preocupar em se afogar.
-Agora não me preocupo com isso -replicou.
-Maldição, se preocupe.
Ela não podia compreender por que se irritava
-Nathan, não me afogarei.
Essa afirmação lhe deu uma pausa.
-Por que não?
-Você não permitiria -Sara sorriu.
Nathan dobrou os joelhos e se inclinou para frente.
-Tem razão -respondeu com um tom razoável-. Não permitiria que se afogasse.
Sara assentiu com a cabeça. Voltou-se para a Nora. -Vê, Nora? Realmente não há necessidade de... Nathan a interrompeu.
-Entretanto -anunciou com um tom mais alto-, O que acontecerá quando não estiver comigo?
Olhou-o exasperada.
-Então não irei à água.
Ele respirou profundamente.
-E se se cair na água por acidente?
-Nathan, isto parece com a discussão que tivemos sobre aprender a me defender -disse com um tom de suspeita.

-É exatamente a mesma discussão -replicou Nathan-. Não quero ter que me preocupar com você. Vai aprender a nadar -- e terminou a discussão.
-Nora, viu como grita comigo o tempo todo? -perguntou Sara.
-Não tente me incluir nesta discussão -respondeu sua tia-. Não tomarei partido.
Marido e esposa permaneceram em silêncio. Não trocaram uma palavra até que chegaram a margem.
Finalmente, Sara olhou a seu redor.
-Oh, Nora, tudo está mais verde e exuberante do que me lembrava.
O paraíso tropical vibrava com cada cor do arco íris. Sara permaneceu no mole olhando as colinas à distância. O sol atravessava as palmeiras, brilhando sobre a multidão de delicadas flores vermelhas que salpicavam as montanhas.
As casas de madeira pintadas com tons rosa e verde claro, e tetos cor cobre, contrastavam contra as montanhas que olhavam para o porto. Sara queria ter seus lápis e papéis a mão para capturar esse quadro criado por Deus. suspirou profundamente.
Nathan se aproximou dela. A expressão de inocência de seu rosto lhe tirou a respiração.
-Sara? -disse- ao ver que seus olhos enchiam de lágrimas-. Aconteceu alguma coisa?
Não deixou de olhar as montanhas quando lhe respondeu.
-É magnífico, não é, Nathan?
-O que é magnífico?
-O quadro que Deus nos deu -sussurrou. Olhe as montanhas. Vê como o sol atua como marco? Oh, Nathan, é realmente magnífico.
Ele não desviou o olhar. Olhou fixamente a sua esposa durante o que lhe pareceu uma eternidade. Um suave calor lhe penetrou o coração, a alma. Não pôde evitar tocá-la. Acariciou-lhe a face com um dedo.
-Você é magnífica. Só vê a beleza da vida.
Sara estava surpreendida pelo tom emotivo de sua voz. voltou-se e sorriu.
-Sério?
O momento de não estar na defensiva tinha desaparecido. antes de que Sara pudesse pestanejar, Nathan tinha trocado de humor. Ficou enérgico quando lhe disse que deixasse de perder tempo e não o atrasasse.
Sara se perguntou se alguma vez conseguiria compreende-lo. Caminhou junto a sua tia pelas tábuas de madeira que conduziam à rua enquanto considerava a confusa personalidade de seu marido.
-Sara, querida, tem o semblante franzido.O calor está lhe fazendo mal?
-Não -respondeu-. Só estava pensando que homem mais confuso é meu marido -explicou-. Nora, ele realmente quer que me converta em auto-suficiente - confessou- Nathan me tem feito notar quão dependente sou. Acreditava que tinha de ser-- adicionou encolhendo os ombros- Pensei que ele tinha que cuidar de mim, mas possivelmente estava equivocada. Acredito que me apreciaria mais se pudesse me defender sozinha.
-Acredito que estaria muito orgulhoso de seus esforços -lhe respondeu Nora-. Realmente quer estar a mercê de um homem? Pense em sua mãe, Sara. Ela não está casada com um homem tão cheio de considereação como Nathan.
Sua tia tinha dado algo no que pensar. Sara não tinha considerado que Nathan poderia converter-se em um homem cruel. Mas e se o fizesse?
-Devo pensar no que me disse -lhe respondeu.
Nora deu um tapinha em sua mão.
-Resolverá tudo em sua mente. Não franza o semblante. Ficará com dor de cabeça. Não é um dia encantador?
Havia vários homens na calçada. Quando Sara passou todos a olharam. Nathan observou com o semblante franzido seus luxuriosos olhares, e quando um homem assobiou, Nathan se enfureceu. Quando passou junto ao homem lhe deu um murro no rosto.
O golpe atirou o homem à água. Sara olhou sobre seu ombro quando ouviu ruído. Foi uma ação distraída, já que ela também estava tratando de concentrar-se no que estava dizendo Nora. Viu Nathan e este lhe sorriu. Também sorriu antes de voltar-se.
Todos menos um dos homens saíram do caminho quando Nathan passou. O indivíduo menos cauteloso tinha o nariz fino e estrabismo.
-Ela é atraente, não é? -comentou.
-Ela é minha -anunciou Nathan com um grunhido. Em lugar de golpear ao insolente, simplesmente lhe empurrou fora do caminho.
-Rapaz, está sendo um pouco protetor demais, não acha? -comentou Jimbo. Fez uma careta quando adicionou-: É só uma esposa.
-A mulher não se dá conta de sua beleza -respondeu Nathan-. Se tivesse visto como a olhavam esses malditos não estaria caminhado dessa maneira.
-Como está caminhando? -perguntou-lhe Jimbo.
-Sabe muito bem do que estou falando. A forma que move os quadris... -Não continuou com a explicação mas sim voltou a pensar na última observação de Jimbo-. E ela não é só uma esposa. Ela é minha esposa.
Jimbo decidiu que já tinha atazanado o suficiente. O rapaz se estava ficando furioso.
-Pelo aspecto deste lugar vejo que não poderemos conseguir os materiais para arrumar o mastro.
Essa mal-humorada profecia se converteu em realidade. Depois de enviar a Sara com Nora e Matthew para que se instalasse na casa da Nora, Nathan foi com o Jimbo a explorar a diminuta vila.
Nathan não demorou para perceber com que teriam que viajar até um porto maior. De acordo com os mapas, o porto mais próximo para conseguir os materiais ficava a dois dias de viagem.
Nathan sabia que a sua esposa não gostaria ouvir falar de sua partida. Enquanto subia pela colina decidiu que o diria imediatamente para terminar de uma vez com a inevitável cena.
Quando chegou a casa da Nora se surpreendeu um pouco. Esperava encontrar uma pequena cabana, mas a residência da Nora era três vezes maior. Era uma estrutura grande, de dois pisos. O exterior era rosa pálido. A galeria que rodeava o fronte e os flancos era grafite de branco.
Sara estava sentada em uma cadeira de balanço perto da porta. Nathan subiu pela escada e anunciou:
-Amanhã partirei com a metade da tripulação.
-Está bem.
Sara tratou de controlar sua expressão. De repente se sentiu em pânico. iria outra vez em alguma de suas aventuras? Nora tinha mencionado que sua casa da ilha estava perto da guarita dos piratas, localizada um pouco além da costa. Nathan se encontraria com seus antigos sócios e fariam uma última pilhagem?
Sara respirou profundamente. Sabia que estava tirando conclusões precipitadas, mas não podia evitá-lo.
-Temos que navegar até um porto maior, Sara, para conseguir os materiais necessários para arrumar o Seahawk.
Não acreditou em uma palavra da história. Nora vivia em uma vila de pescadores, e certamente os marinheiros teriam materiais suficientes à mão. Entretanto, não deixaria que Nathan soubesse o que ela suspeitava. Quando estivesse preparado para lhe dizer que ele era Pagam, o diria. Nesse momento fingiria que acreditava.
-Compreendo -lhe respondeu.
Nathan estava surpreso por sua aceitação. Estava acostumado a discutir com ela por tudo. Sua mudança de atitude realmente o preocupava. Estivera se comportando de maneira muito estranha durante o dia todo.
Apoiou-se contra o corrimão e esperou que ela dissesse algo mais. Sara ficou de pé e entrou na casa.
Nathan a alcançou no salão de entrada.
-Não demorarei muito.
Ela continuou caminhando. Já tinha chegado ao primeiro piso quando ele a puxou pelos os ombros.
-Sara, o que está acontecendo?
-Nora nos deu o segundo quarto da esquerda, Nathan. Só traga algumas coisas, talvez fosse melhor que alguns de seus homens trouxessem meu baú.
-Sara, não vai ficar tanto tempo aqui -replicou Nathan.
-Compreendo.
E se o matam no mar? queria gritar. Então o que, Nathan? Alguém se incomodaria em vir lhe avisar? Era horrível pensar nisso.
Sara encolheu os ombros e continuou seu caminho. Nathan voltou a segui-la.
O quarto que lhes tinham dado dava para o mar. As janelas estavam abertas, e o som das ondas golpeando contra as rochas retumbava na espaçosa habitação. Entre as duas janelas havia uma cama grande, com uma encantadora colcha multicolorida. Perto do armário que se encontrava junto à porta, havia uma grande cadeira de veludo verde. A cor das cortinas fazia jogo com o da cadeira.
Sara foi até o armário e começou a pendurar seus vestidos.
Nathan se apoiou na porta e observou durante um momento a sua esposa.
-Está bem, Sara. Algo aconteceu e quero saber o que é.
-Não aconteceu nada -respondeu com voz tremente. Não se voltou.
Maldição, pensou, algo andava mau, e não sairia do quarto até averiguar o que era.
-Que tenha boa viagem, marido. Adeus.
Nathan sentiu vontade de grunhir.
-Não vou até manhã.
-Compreendo.
-Poderia deixar de dizer compreendo? -rugiu-. Maldição, Sara, pare de me tratar com tanta frieza. Eu não gosto.
Ela se voltou para que visse seu cenho.
-Nathan, já lhe pedir numeráveis vezes para parar de dizer blasfêmias nsa minha presença porque não me agrada, mas isso não o detém, não é?
-Isso não é o mesmo -não estava irritado porque quase tinha lhe gritado. Na realidade, estava satisfeito em vê-la reagindo novamente. Estava atuando com frieza e indiferença.
Sara não podia compreender por que ele estava sorrindo. Parecia aliviado. Era evidente que Nathan tinha passado muitos dias ao sol.
Logo teve um plano.
-Já que você gosta tanto usar blasfêmias, devo supor que obtém uma imensa satisfação quando usa essas palavras ignorantes -se deteve e sorriu-. Decidi que eu também usarei palavras pecaminosas para provar esta teoria. Também vou averiguar se você gosta de escutar que sua esposa fale de maneira tão vulgar.
Sua risada não a incomodou.
-As únicas palavras que conhece são maldição e demônios, Sara, porque essas são as únicas blasfêmias que usei em sua presença. Fui delicado -adicionou assentindo com a cabeça.
Ela negou com a cabeça.
-Escutei-te dizer outras palavras quando não sabia que eu estava na coberta. Também escutei o variado vocabulário da tripulação.
Ele começou a rir outra vez. Parecia muito divertido que sua delicada esposa usasse palavras obscenas. Era uma dama tão feminina, tão suave e delicada que não podia imaginá-la dizendo nenhuma palavra torpe.
Um grito de Matthew interrompeu a discussão
-Nora está esperando na sala -gritou de baixo.
-Desce você -ordenou Sara-. Só faltam dois vestidos para terminar. Diga que descerei em seguida.
Nathan odiou a interrupção. Estava se divertindo muito.
Suspirou e encaminhou para a porta.
Sara teve a última palavra quando comentou com tom alegre:
-Nathan, é uma maldita tarde de calor, não é verdade?
-Assim é -lhe respondeu.
Não permitiria que soubesse que não gostava que falasse como uma vulgar rameira. O que Sara dizia em particular era uma coisa, mas sabia muito bem que nunca usaria essas blasfêmias em público.
Teve oportunidade de comprová-lo mais cedo do que pensava.
Havia um visitante sentado junto à Nora no sofá de brocado da sala. Matthew estava de pé frente às janelas. Nathan assentiu com a cabeça a seu amigo, e logo se dirigiu para Nora.
-Nathan, querido, quero lhe apresentar ao reverendo Oscar Pickering -se voltou para seu convidado e adicionou-: Meu sobrinho é o marquês do St. James.
Teve que esforçar-se para não rir.
-Você é um homem do clero? -perguntou-lhe com um amplo sorriso.
Nora nunca tinha visto Nathan tão complacente. Estreitou-lhe a mão do vigário. Ela pensou que reagiria como Matthew. O pobre parecia que tinha uma coçeira.
Sara entrou na sala quando Nathan estava sentando em uma das duas cadeiras que se encontravam frente ao sofá. Estendeu as pernas e sorriu como um simplório.
-Oscar é o novo regente da vila -estava dizendo Nora a Nathan.
-Faz muito que conhece Oscar? -perguntou Nathan antes de ver a Sara na porta.
-Não, acabamos de nos conhecer, mas insisti em que sua tia me chame pelo primeiro nome.
Sara se adiantou e fez uma reverência ante o convidado. O novo funcionário do Governo era um homem magro, com óculos redondos. Usava uma gravata engomada branca, calça e jaqueta negra, e suas maneiras eram austeras. Parecia um pouco condescendente com Sara, já que tinha a cabeça inclinada para trás e a olhava por cima dos óculos. De vez em quando olhava Nathan. Tinha uma notável expressão de desprezo no rosto.
Sara não gostou do homem.
-Querida -começou Nora-, quero lhe apresentar...
Nathan a interrompeu.
-Seu nome é Oscar, Sara, e é o novo regente da vila.
Não mencionou deliberadamente que o homem também era vigário.
-Oscar, esta jovem encantadora é minha sobrinha e esposa de Nathan. Lady Sara.
-Encantado de conhecê-la, lady Sara -Pickering assentiu com a cabeça e lhe mostrou a cadeira que estava junto a Nathan.
Sara sorriu respeitosamente.
-Teria que ter enviado uma nota pedindo uma audiência -disse Pickering-, mas estava dando meu passeio diário e não pude evitar ver toda a comoção que havia por aqui. Minha curiosidade foi mais forte. Há vários homens com aspecto desagradável sentados em seu corrimão, lady Nora, e eu pediria a seus serventes que os afastem. Não deve mesclar-se com os inferiores. Não está certo.
Pickering franziu o semblante para Matthew quando fez esse último comentário. Sara estava surpreendida pela rudeza do homem.
Não era tão educado como pretendia lhes fazer acreditar, já que não tinha levantado quando ela entrou na habitação. O homem era uma fraude.
Sara tomou um leque da mesa, abriu-o, e começou a agitá-lo diante de sua cara.
-Ninguém vai expulsar ninguém daqui -anunciou Nathan.
-Os homens são parte da tripulação do marquês -exclareceu Nora.
Sara se colocou junto de Matthew. Era uma prova de lealdade de sua parte, e a piscada de Matthew lhe indicou que sabia qual era seu jogo. Respondeu com um sorriso.
Logo Nathan lhe chamou a atenção.
-Minha esposa estava fazendo um comentário sobre o calor -disse, com um sorriso perverso-. O que foi que tinha dito, esposa? -perguntou-lhe inocentemente.
-Não me recordo - respondeu Sara.
O olhar de satisfação de seu marido a fez mudar de idéia.
-Oh, sim, acredito que agora me lembro. Disse que fazia um maldito calor. Não lhe parece, senhor Pickering?
Ao os óculos do regente caíram para a ponta do nariz. Matthew a olhou surpreso. Nathan deixou de sorrir.
Sara sorriu com mais doçura.
-O calor sempre me dá uma maldita dor de cabeça -adicionou.
Isto aumentou as reações. Matthew a olhou como se tivesse visto que tinha dois narizes.
Seu querido marido a estava olhando fixamente. Isso não era suficiente. Procurava uma derrota total e com ela a promessa de que nunca voltaria a usar palavras obscenas.
Esperava que Nora fosse delicada quando lhe explicasse seu vergonhoso comportamento. Logo suspirou e se apoiou na beira da janela.
-Sim, hoje é um dia asqueroso.
Nathan saltou da cadeira. Como se tivesse ouvido uma sugestão obscena e que não pudesse acreditar, pediu-lhe que o repetisse.
-O que disse? -grunhiu.
Ela se sentiu feliz de lhe agradar.
-Disse que hoje é um dia asqueroso.
-Já basta! -gritou Nathan.
Matthew teve que se sentar. Nora começou tossir para ocultar sua risada. Pickering se levantou de seu assento e cruzou apressado a habitação. Levava um livro apertado em suas mãos.
-Deve ir-se tão logo, senhor Pickering? -perguntou Sara. Tinha o rosto oculto atrás do leque, assim que ele não podia ver que estava sorrindo.
-Realmente, devo ir -respondeu o hóspede
-Está muito apressado -disse Sara. Baixou o leque e o acompanhou à entrada-. Atua como se alguém lhe tivesse dado um chute no...
Nunca pronunciou a última palavra, já que Nathan lhe tampou a boca com a mão. Ela a afastou.
-Só ia dizer traseiro.
-Oh, não, não ia faze-lo -replicou Nathan.
-Sara, em nome do céu, o que é que aconteceu com você? -exclamou Nora.
Sara correu até onde estava sua tia.
-Me perdoe. Espero não a haver aborrecido muito, Nora, mas Nathan gosta de usar palavras vulgares, e pensei que devia experimentar. De qualquer maneira, este novo oficial do Governo não me importa - confessou- Mas se quiser o seguirei e me desculparei.
Nora negou com a cabeça.
-Tampouco eu gostei dele -admitiu Nora.
Ambas as mulheres conversavam como se Nathan não tivesse estado na frente delas. Sara se aproximou um pouco mais de Nora. Sentiu que a qualquer momento se equilibraria sobre ela.
Esse sentimento não lhe importou nada. Seguiu sorrindo corajosamente e disse:
-O que era aquele livro que Pickering levava? Emprestou uma de suas novelas, tia? Acredito que não lhe devolverá. Não parece muito confiável.
-O que carregava não era uma novela -respondeu Nora, com um sorriso gentil-. Era a Bíblia. Oh, céu santo, deveria ter explicado isso antes.
-Explicar o que? -perguntou Sara- Se refere a me dizer que esse homem condescendente anda com uma Bíblia? Se isso não for hipocrisia, não sei o que é.
-Sara, a maioria dos clérigos usam Bíblias.
Ela demorou um pouco em compreender.
-Clérigo? Nora, você me disse que era o novo regente.
-Sim, querida, é um funcionário do Governo, mas também é o pastor da única igreja da vila. Veio convidarmos para a missa de domingo.
-Oh, Meu deus -depois de lamentar-se, Sara fechou os olhos.
Ninguém disse uma palavra durante um momento.Nathan continuou olhando fixamente a sua esposa. Sara continuou ruborizada e Nora continuou esforçando-se para não rir. Então, a voz profunda do Matthew rompeu o silêncio.
-Lady Sara, realmente é asqueroso.
-Cuidado com a boca, Matthew -ordenou Nathan. Pegou Sara pela mão e a levantou do sofá.
-Imagino qual será o tema de seu sermão do domingo -comentou Nora. Começou a rir, e em seguida teve que secar as lágrimas das face-- Oh Senhor, acreditei que morreria quando disse...
-Isto não é divertido -Interveio Nathan.
-Sabia? -perguntou Sara ao mesmo tempo.
-Sabia o que? -Nathan fingiu ignorá-lo.
-Que Pickering era clérigo.
Ele assentiu lentamente com a cabeça.
-Isos tudo é culpa sua -exclamou Sara-. Nunca o teria feito se não tivesse me provocado. Agora entende minha posição? Deixará de dizer blasfêmias?
Nathan puxou-a pelos ombros e a colocou junto dele.
-Nora, desculpo-me pela boca de minha esposa. Agora, me diga onde fica a catarata -olhou para Sara-. Vai receber sua primeira lição de natação, Sara, e se usar uma só palavra mais obscena, juro que deixarei que se afogue.
Nora os conduziu até a parte traseira da casa e lhes indicou o que deviam fazer para chegar à catarata. Quando sugeriu que pediria à cozinheira que lhes preparasse um alrapaz para que levassem, Nathan não aceitou o oferecimento. Pegou duas maçãs, deu uma a Sara, e teve que entusiasmá-la para que fosse.
-Faz muito calor para nadar -se queixou Sara.
Nathan não disse nada.
-Não tenho roupa adequada para a água -continuou.
-Estou perasoso.
-Molharei meu cabelo.
-Imagino que sim.
Ela desistiu. Sua mente já estava decidida, pensou Sara, e era inútil tratar de raciocinar com ele.
O atalho era estreito. Ela se agarrou à parte de trás da camisa de Nathan quando a subida já era mais íngreme. Já estava começando a cansar quando ouviu o ruído da catarata.
Ansiosa por ver parte do paraíso, como Nora tinha comentado, ultrapassou seu marido e tomou a dianteira.
A folhagem era densa e o aroma doce das flores silvestres enchia o ar. Sara sentiu como se tivesse no meio de um caleidoscópio de cores. O verde das folhas era a cor mais vívida que jamais tinha visto, exceto pelos formosos olhos do Nathan, e as flores rosa, laranja e vermelhas que a mãe natureza tinha esparso parecia que foram estalar ante seus olhos.
Realmente era um paraíso. Isto a fez pensar em uma serpente.
Nathan levantou um galho groso do atalho e lhe indicou que seguisse
Devo me preocupar com as víboras? perguntou com um sussurro.
-Não.
-Por que não? perguntou, com a esperança de que não houvesse nenhum desses horríveis répteis na ilha.
-Eu me preocuparei por você -respondeu.
Seu temor aumentou.
-O que fará se aparecer uma víbora? -perguntou enquanto passava junto a ele.
-A morderei -grunho Nathan.
Esse comentário a fez rir.
-Faria, não é verdade?
Sara se deteve abruptamente e emitiu um som entrecortado de prazer.
-Oh, Nathan, isto é maravilhoso.
Ele assentiu com ela em silêncio. A catarata caía sobre as rochas e depois no riacho que havia sob eles.

Nathan voltou a tomar a mão de Sara e a levou até o beirada da pedra que havia atrás da catarata. A zona era como uma caverna oculta, e quando chegaram ao centro, a água se converteu em uma cortina que os ocultava do mundo.
-Tire a roupa, Sara, enquanto vejo que profundidade há aqui.
Não lhe deu tempo para que discutisse essa ordem e se apoiou contra as rochas para tirar as botas.
Sara pegou sua maçã e a de Nathan e as colocou na rocha que estava atrás dela. Estendeu a mão e tocou a água, e se surpreendeu ao aperceber que não estava muito fria.
-Sentarei aqui e molharei os pés na água - anunciou.
-Tire a roupa, Sara.
Voltou-se para discutir com seu marido, e viu que tinha tirado toda a roupa. Antes de que pudesse ruborizar-se, ele desapareceu através da cortina de água e se dirigiu para a lagoa que estava abaixo.
Sara dobrou a roupa de seu marido e a pôs contra a parede de rochas. Logo tirou o vestido, os sapatos, as meias e a anágua. Mas ficou com a camisa.
Logo sentou perto da borda e deixou que a água caísse sobre os pés. Estava a ponto de relaxar-se quando Nathan a pegou pelos pés e a jogou na água. Foi realmente maravilhoso para protestar. O sol brilhava e as gotas de água pareciam brilhos sobre os ombros bronzeados de Nathan.
A água chegava na metade do peito. Era tão clara que Sara podia ver o fundo. Imediatamente lhe chamou a atenção as coxas musculosas de Nathan. Era um homem tão atraente, pensou. Foi muito gentil com ela e tomou-a entre seus braços.
Ela se abraçou a ele e apoiou o rosto sobre seu ombro.
-É muito confiante -sussurrou-. Fique de pé. Vejamos se a água lhe cobre a cabeça.
Ela fez o que lhe pediu. A água chegava até sua boca, mas se inclinasse a cabeça para trás podia respirar sem dificuldade.
-Isto é lindo, não é? -perguntou-lhe Sara.
Nathan estava tentando se concentrar na lição de natação que ia dar, mas o suave e delicado corpo da Sara se interpunha em seu caminho. A fina camisa que tinha colocado aderia aos seios, e tudo o que Nathan queria era lhe fazer amor
Quando ela estava perto tinha a disciplina de um mosquito, pensou.
-Muito bem, aprimeira coisa que vai aprender é a flutuar.
Sara se perguntou por que Nathan tinha o semblante tão franzido, e achou que atuava com tanta energia para que não discutisse com ele.
-Se você diz, Nathan.
-Terá que me soltar, Sara.
Ela fez o que lhe ordenou imediatamente. Deslizou-se sob a água quando perdeu a âncora e o equilíbrio, e subiu rapidamente. Nathan a puxou pela cintura, e logo lhe ordenou que ficasse de costas.
Em muito pouco tempo, Sara estava flutuando sem sua ajuda. Ele estava mais satisfeito pelo que tinha obtido dela.
-Já é lição suficiente por um dia - disse Sara. Sustentou em seu braço para manter o equilíbrio e depois tentou ir até a beira.
Nathan a abraçou. Afastou gentilmente o cabelo do rosto. Seus seios roçaram contra seu peito. Nathan desceu o decote da camisa vagarosamente. Sara não percebeu as intenções de seu marido até que estivesse com a camisa na cintura.
Abriu a boca para protestar. Ele a fez calar com um prolongado beijo. O som da catarata abafou seu gemido de desejo. Sesu joelhos vacilaram, quando sua língua se moveu dentro de sua boca. Ele derrotou completamente sua resistência. Abraçou-o com força.
Nathan baixou a camisa até as pernas, e logo a levantou até pressionar-se contra suas coxas. Beijá-la já não era suficiente. inclinou-se para trás e a olhou nos olhos.
-Desejo-a.
-Eu sempre te desejo, Nathan.
-Desejo-a agora, Sara.
Ela abriu mais os olhos.
-Aqui?
Ele assentiu com a cabeça.
-Aqui e agora, Sara. Não quero esperar.
Enquanto lhe dizia qual era sua intenção colocava-lhe as pernas ao redor de sua cintura. Beijava-a com veemência, esperando sua resposta.
Sara pensou na faciidade que podia obter o que lhe desejasse. Estava tremendo quando perguntou se estava pronta para ele. Ela não podia nem pensar. Arranhou-lhe os ombros e suspirou satisfeita a quando ele começou a penetrá-la.
Nathan lhe deu um longo beijo, e quando lhe tocou a língua, ele a penetrou mais profundamente. Ela se apertou contra seu corpo.
Quase se afogam. Não lhes importou. Acabaram e compartilharam uma imensa felicidade.
Sara não tinha forças para caminhar até o borda. Nathan a levou até ali e a colocou em uma rocha próxima à catarata. O sol castigava seu corpo, mas Sara não importou com o calor. Ainda se sentia feliz e letárgica.
Nathan se sentou junto à Sara. Não podia deixar de tocá-la. Beijou-lhe a cabeça e a parte de trás da orelha. Ela se recostou sobre a pedra e fechou os olhos.
-É extraordinário o que acontece quando fazemos amor, não é verdade, Nathan? -sussurrou-lhe.
Ele ficou de lado, apoiou-se sobre um cotovelo e a olhou fixamente. Acariciou-lhe lentamente os seios com os dedos, sorrindo ao ver como seus mamilos enrijeciam.
Sara nunca havia se sentido tão maravilhosamente bem. O calor da rocha contra suas costas a esquentava, e ao mesmo tempo as carícias de seu marido a faziam tremer. Não pensou que pudesse o desejar tão rapidamente, mas quando ele começou esfregar o nariz em meio dos seios, o desejo se reacendeu.
Não podia evitar arquear-se contra ele. Estava-a enlouquecendo com suas suaves e tenras carícias. Molhou cada seio com sua boca e sua língua, e quando voltou a olhar viu a paixão e o desejo em seus olhos. Acariciou-lhe o abdômen com os dedos. Tocou-lhe o umbigo. Baixou mais a mão e quando seus dedos a penetraram ela gemeu.
-Está molhada para mim, não é, Sara?
Ela se sentia muito incômoda para responder. Tentou afastar a mão. Ele não a deixou. E logo se inclinou e começou a lhe fazer o amor com a boca. Sua língua a fez perder o controle. Retorceu-se debaixo dele. Não desejava que terminasse essa doce tortura.
Seus movimentos fizeram enrijecer outra vez seu pênis. Quando sentiu que se apertava com força se colocou entre suas pernas e a penetrou. Então Sara gozou. O momento foi tão excitante, tão apaixonado, que pensou que tinha morrido e ido ao céu.
Nathan estava ali com ela. Ele gemeu e a acompanhou em seu prazer.
Sara estava muito fraca para mover-se. Nathan pensou que seu peso a estava esmagando. Fez um esforço extremo e se apoiou sobre os cotovelos.
Quando viu sua expressão confunsa sorriu.
-Se cairmos na água agora, nos afogaremos .
Sorriu através de suas lágrimas. Tocou-lhe a boca.
-Nunca permitiria que algo mau me acontecesse. Tem que ir amanhã?
Ele tinha começado a levantar-se, mas sua pergunta o deteve.
-Sim -lhe respondeu.
-Compreendo.
Parecia desamparada.
-O que é exatamente o que compreende? -perguntou-lhe. Levantou-lhe o queixo quando ela tratou de girar o rosto-. Sara,
Como não podia perguntar se ia piratear, decidiu não dizer nada.
-.Vai sentir saudades de mim, esposa? -perguntou-lhe.
Comoveu-se pela ternura de seu olhar.
-Sim, Nathan, vou sentir saudades.
-Então venha comigo.
Ela abriu grandes os olhos.
-Deixaria ir contigo? Mas isso significa que não vai A... pensei... Esqueça.
-Sara, do que está falando?
Baixou-lhe a cabeça para lhe beijar.
-Estou feliz porque me deixaria ir com você. Isso é tudo -explicou. Sentou-se e se apoiou contra ele-. Agora não preciso ir com você. Basta saber que me deixaria ir.
-Deixa de falar com rodeios -ordenou Nathan-. E agora que o penso, quero que me explique o que pensava hoje pela manhã. Estava aborrecida por algo. Me diga o que era.
-Temia que não voltasse para mim -respondeu Sara.
Era uma mentira, é obvia, mas seu arrogante marido não sabia. Em realidade, estava satisfeito por sua afirmação.
-Nunca esqueceria de voltar para você -replicou Nathan-. Mas falo de antes, Sara.
-Antes do que?
-Antes de que soubesse que iria procurar materiais. Estava se comportando de maneira estranha.
-Sentia pena porque logo terei que deixar Nora. Vou sentir saudades, Nathan.
Olhou-a fixamente enquanto tratava de decidir se estava dizendo a verdade ou não. Então sorriu e disse que estava pronto para retornar à água.
-Ainda não sei muito bem como flutuar.
Marido e esposa permaneceram na lagoa durante quase toda a tarde. Comeram suas maçãs enquanto desciam pela montanha. A delicada pele da Sara estava começando a avermelhar-se. Seu rosto estava tão vermelho como o pôr-do-sol.
Quando Nathan a puxou pelos ombros, Sara gritou. Ele se arrependeu imediatamente.
Nora os estava esperando na porta da cozinha.
-Matthew, Jimbo e eu estávamos esperando para jantar, assim... meu deus, Sara, está vermelha como uma beterraba. OH, menina, esta noite vai sofrer. No que estava pensando?
-Não pensei no sol -respondeu Sara-. Estava me divertindo tanto.
-O que estavam fazendo? Nadaram durante todo o tempo? -perguntou-lhes Nora.
-Não -respondeu Nathan quando sua esposa o olhou. Sorriu-lhe e disse disse a Nora-: Na verdade, estivemos...
-Flutuando -interrompeu Sara-. Só demorarei um minuto trocar de roupa e escovar meu cabelo, tia. Realmente não precisava de nos esperar -adicionou enquanto corria para a escada.
Nathan a alcançou no primeiro degrau. Voltou-a para ele, levantou-lhe o queixo e a beijou. Foi um beijo tão prolongado que sentiu que ia desmaiar. Nathan não costumava beijá-la diante de outras pessoas, e nunca a beijava a menos que quissesse fazer amor.. ou fazê-la calar-se. Como parecia muito esgotado para voltar a fazer amor e ela não estava discutindo com ele, só podia chegar a uma conclusão. Nathan estava sendo carinhoso porque queria sê-lo.
Sara se sentiu mais confusa quando se inclinou e sussurrou ao seu ouvido:
-Pensei que o que tínhamos feito toda a tarde se chamava fazer amor, esposa, mas se você prefere chamá-lo flutuar, está bem para mim.
Tinha o rosto tão queimado pelo sol que ninguém podia saber se estava ruborizada ou não. Sorriu-lhe enquanto sacudia a cabeça. Ele estava gostando da brincadeira. Deus santo, Nathan também tinha senso de humor. Era muito para ela.
Depois lhe piscou um olho lentamente. Então soube que morreria e iria ao céu. As queimaduras de sol já não importavam nem a presença do Matthew, Jimbo e Nora. Sara se jogou nos braços do Nathan e o beijou profundamente
-Oh, te amo tanto -exclamou.
Não se sentiu decepcionada quando lhe grunhiu e não gritou seu amor por ela. Decidiu que era muito cedo para que lhe dissesse o que tinha em seu coração. Os sentimentos eram muito novos, e Nathan era muito obstinado. Poderia demorar outros seis meses em pronunciar as palavras que ela queria escutar. Ela podia esperar, disse-se a si mesmo. depois de tudo, era paciente e compreensiva. Além disso, em seu coração, já sabia que a amava, e o fato de que não estivesse preparado para sabê-lo não lhe incomodava em nada.
Sara não desceu para jantar. Quando Nathan a ajudou a tirar a roupa se sentiu mal, e pensar em deixar algo sobre a pele ardente lhe provocava vontade de gritar.
Nora lhe deu uma garrafa de massa verde. Sara disse algumas palavras violentas enquanto Nathan lhe aplicava a loção pegajosa nas costas e os ombros. Felizmente, não se tinha queimado a parte dianteira do corpo. Dormiu de barriga para baixo, e quando já não pôde suportar os tremores dormiu sobre Nathan.
No dia seguinte, Nathan não fez nenhum comentário rude quando deu um beijo em Sara para despedir-se. Fingiu que não lhe importava a máscara de massa verde que lhe cobria o rosto.
Sara passou os dois dias seguintes com sua tia. O reverendo Pickering as visitou pela segunda vez. Sara lhe explicou a razão pela qual tinha utilizado essa linguagem tão chula em sua presença. Pickering sorriu. Parecia aliviado pela confissão da Sara, e seu modo de tratar Nora foi muito mais quente.
Durante sua visita, o reverendo mencionou que havia um navio que partia para a Inglaterra na manhã seguinte. Sara foi imediatamente até o escritório de sua tia e escreveu uma carta para sua mãe. Contou-lhe tudo sobre sua aventura, quão feliz era e se gabou que Nathan por fim era um marido amável, compreensivo e amoroso. O reverendo Pickering levou a carta para entregar ao capitão do navio.
Quando Nathan retornou na manhã seguinte, Sara estava tão feliz de vê-lo que chorou. Passaram um pacífico dia juntos e dormiram abraçados.
Sara não podia acreditar que fosse possível ser tão feliz. Estar casada com Nathan era como viver no paraíso. Nada poderia destruir seu amor. Nada.
Desejava que todos pudessem ser tão felizes, e uma noite comentou com Nora e com Matthew. Os três estavam sentados em cadeiras de vime esperando que Nathan retornasse de uma diligência.
-Acredito que Matthew e eu sabemos exatamente do que fala -lhe respondeu Nora-.
A gente não tem que ser jovem para sentir amor, querida. Matthew, quer um brandy?
-Eu o trarei -ofereceu Sara.
-Você fica quieta. Nora ficou de pé e se dirigiu para a porta. -Sua pele ainda está delicada. Faz companhia a Matthew. Voltarei em seguida.
Depois que Nora fechou a porta, Matthew sussurrou para Sara:
-Ela é muito para mim, Sara, mas não deixarei que isso se interponha em meu caminho. Logo que ponha em ordem minhas coisas, voltarei para terminar meus dias com sua tia. O que me diz disso?
Sara aplaudiu.
-Oh, Matthew, acredito que é uma maravilhosa notícia. Devemos celebrar a cerimônia de casamento antes de retornar a Inglaterra. Não quero perder a celebração.
Matthew parecia incômodo.
-Bem, Sara, eu não mencionei casamento, certo?
Ela saltou da cadeira.
-Será melhor que o mencione agora ou nunca retornará aqui. Uma noite de paixão é uma coisa, senhor, mas um plano para viver o resto de seus dias em pecado é outra. Pense na reputação de Nora!
-Estou pensando na reputação de Nora -se defendeu Matthew-. Ela não poderia casar-se comigo. Não estaria bem. Não valho o suficiente.
O marinheiro ficou de pé e olhou em volta. Sara se aproximou e tocou o abdômen com um dedo.
-Sim vale o suficiente. Não se atreva a insultar-se diante de mim, senhor.
-Sara, eu levei uma vida... licenciosa - explicou Matthew.
-E? -perguntou-lhe Sara.
-E não sou só marinheiro -lhe respondeu ele.
Sara encolheu os ombros.
-O primeiro marido da Nora não era um rapaz dos bonzinhos. Provavelmente era tão licencioso como você acredita que é. Nora era muito feliz com seu Johnny. Devem gostar dos homens licenciosos. Nora me confessou que você era um homem tenro, Matthew Sei que a ama. Ela também deve lhe amar, se o deixou deitar-se com ela. Como disse a Nathan não faz muito tempo, isto resolveria muitos problemas. Tio Henry não enviaria ninguém a procurar Nora se soubesse que ela tem alguém forte que a proteja. Você cuidaria de seus interesses. E me sentiria muito orgulhosa de lhe chamar tio.
Matthew se sentiu comovido pela confiança da Sara nele. Suspirou feliz.
-Está bem. Perguntarei a Nora. Mas tem que me prometer que o aceitará se Nora disser que não. Está bem?
Sara abraçou com força a Matthew.
-Ela não dirá não -sussurrou.
-Esposa, o que está fazendo?Matthew, solta-a.
Sara e Matthew ignoraram a ordem do Nathan, e ela só se afastou depois de lhe dar um pudico beijo na face. Aproximou-se de Nathan e lhe fez uma descarada careta.
-Temos que subir agora, marido. Matthew quer ficar a sós com Nora.
Teve que o arrastar dentro da casa e depois pela escada. Ele queria que lhe explicasse por que a tinha encontrado abraçada a seu marinheiro.
-Explicarei tudo quando chegarmos a nosso dormitório. Cruzaram-se com Nora no salão de entrada.
Sara desejou boa noite a sua tia, e logo subiu pela escada. Andou pela habitação enquanto esperava para averiguar se Matthew tinha formulado sua pergunta e se Nora tinha dado sua resposta. Quando Nathan se cansou de ver como gastava o tapete, jogou-a sobre a cama e lhe fez amor apaixonadamente. dormiram abraçados.
O anúncio foi dado na manhã seguinte. Nora tinha aceito ser a esposa de Matthew. Sara adivinhou logo que viu o radiante sorriso de sua tia.
Matthew explicou que teria que retornar a Inglaterra para arrumar seus assuntos e vender sua casa. Não levaria Nora com ele, pois sua vida correria perigo se os Winchester farejassem sua presença na Inglaterra. O marinheiro quis casar-se antes de partir, e como Nathan tinha decidido fazê-lo uma semana depois, o casamento se fixou para o sábado seguinte. Foi uma cerimônia simples. Sara chorou durante toda a celebração, e Nathan passou todo o tempo lhe secando as lágrimas.
Nathan pensou que era a mulher mais exasperante que já conhecera. Observou como sua pequena esposa murmurava e ria com sua tia, e percebeu a alegria que brindava a outros.
Ouviu que dizia a Matthew que seu desejo mais fervente era que seu casamento fosse tão perfeito como o dela era. Então riu. Realmente, Sara era uma romântica incurável.
Era ridiculamente tenra.
Era extremamente inocente.
Era... perfeita.









Capítulo 12

No paraíso de Sara havia mais de uma serpente deslizando e esperando sua volta a Inglaterra.
Entretanto, a viagem de volta a Londres foi tranqüila. Ivan se ocupou de ensinar a Sara como preparar uma boa sopa. A mulher parecia não poder aprender a cozinhar, mas Ivan não se atrevia a dizer a verdade. O resto dos homens tampouco. Elogiavam-na grandemente, entretanto, quando ela se voltava jogavam a sopa no mar. Seus estômagos vazios não eram tão importantes como os sentimentos de Sara.
Logo Sara quis aprender a fazer bolachas. Os que havia nas latas de madeira estavam cheios de umas horríveis criaturas chamadas carunchos. À tripulação não importava os insetos. Só golpeavam no chão as bolachas um par de vezes para tirar os carunchos, e logo comiam todas as bolachas.
Como Ivan tinha todos os ingredientes necessários, decidiu permitir a Sara que preparasse um turno. Ela trabalhou durante toda a manhã com as bolachas. Os homens fingiram apreciá-los, mas estavam tão duros como pedras e estavam preocupados com rompê-los dentes se tratavam de morder um.
Chester tinha convertido em uma adorador de Sara. burlou-se dos outros homens, e logo molhou suas bolachas em uma taça cheia de bebida. A manhã seguinte, até ele teve que admitir a derrota. As bolachas ainda não se podiam comer.
Matthew sugeriu que usassem os restos como balas para os canhões. Nathan riu desse comentário. Sara ouviu a brincadeira e a rechaçou imediatamente. Naquela noite se vingou comendo a comida mais asquerosa que podia comer um homem. Também se assegurou de que Nathan a estivesse observando. Os pepinos azedos molhados em geléia de morango a ajudaram com o truque. Nathan conseguiu chegar ao corrimão antes de vomitar seu jantar.
Sara parecia ter um estômago de ferro e uma discriminação pouco comum para as comidas. Nathan observava todos seus movimentos. Agradava-lhe tê-la a seu lado. Agradava-lhe o som de sua risada.
E logo chegaram a Londres.
Nathan levou a Sara imediatamente ao escritório da esmerald Shipping. Estava ansioso para que conhecesse Colin.
Era de manhã quando cruzaram pelo cais cheio de gente. O sol brilhava com tanta intensidade que fazia entrecerrar os olhos. Também fazia calor. A porta do escritório estava aberta para que entrasse a doce brisa. Quando se encontravam a meia rua da entrada, Nathan deteve a Sara, inclinou-se e lhe disse:
-Quando conhecer Colin não mencione sua claudicação. É um pouco sensível sobre sua perna.
-Tem uma claudicação? O que lhe aconteceu ao pobre homem?
-Mordeu-lhe um tubarão -respondeu Nathan.
-Deus santo. Tem sorte de estar vivo -comentou Sara.
-Assim é. Agora me prometa que não dirá nada.
-Por que pensa que mencionaria sua claudicação? Que classe de mulher acha que sou? Nathan, eu sei o que é apropriado e o que não o é. É uma vergonha que tenha pensado que diria uma palavra.
-Gritou quando viu minhas costas -recordou.
Tinha que mencionar isso.
-Pelo amor de Deus, isso foi diferente.
-Como? -perguntou-lhe, pensando em que explicação estranha lhe daria.
Ela encolheu os ombros.
-Era diferente porque te amo -lhe disse ruborizando-se.
Ela era lhe exaspere, pensou Nathan. Também complacente. Já estava se acostumando a que lhe dissesse quanto lhe amava. Deixou esse pensamento de lado e continuou.
-E agora que sabe da perna de Colin não se surpreenderá, e portanto não dirá nada que o incomode. De acordo?
Embora assentiu com a cabeça, tratou de ter a última palavra.
-É insultante.
Ele a beijou para ter um momento de paz, mas antes de que pudesse deter a puxou em seus braços e se deixou levar. Ela abriu a boca antes de que ele a obrigasse. Introduziu-lhe a língua para lhe esfregar a dela. Não se importou que estivessem em meio de uma rua muito movimentada, tampouco importou que muitos transeuntes se detivessem para observar.
Jimbo e Matthew vinham correndo, mas se detiveram quando viram o casal. Jimbo fez um som de desgosto.
-Pelo amor de Deus, rapaz, não é o momento de estar apalpando a sua mulher. Temos negócios que fazer antes que se acabe o dia.
Nathan se afastou a contra gosto de sua esposa. Ela tratou de aproximar-se dele. Ele sorriu ante essa reação. Então Sara percebeu um grupo de estranhos que os observava. A paixão se evaporou rapidamente.
-Excedesu-se -sussurrou a Nathan.
-Eu não fui o único que se excedeu -respondeu ele.
Ela ignorou essa verdade.
-Vou conhecer seu sócio e apreciaria que não me distraísse mais.
Deu as costas antes de que ele pudesse pensar em uma resposta apropriada. Enquanto arrumava o cabelo sorriu a Jimbo e Matthew.
-Vêm conosco?
Os dois homens assentiram com a cabeça em uníssono. Sara pegou no braço de Jimbo.
-Pode me escoltar, senhor, e você também, Matthew -adicionou quando lhe ofereceu o braço-. Estou ansiosa por conhecer o amigo de Nathan.
-Deve ser muito homem para tolerar a meu marido. Vamos?
Nathan só teve tempo de afastar do caminho do trio e eles avançaram pela rua. Ele os seguiu com o semblante franzido pela forma em que sua esposa se encarregou do assunto.
-E a propósito -ouviu que dizia Sara-, façam o que façam, não mencionem a Colin sua claudicação. Ele é muito sensível sobre esse tema, o asseguro.
-Pensei que ainda não o conhecia -disse Jimbo.
-Não, não o conheço -respondeu Sara-. Mas Nathan me avisou. Meu marido é muito tenro quando se trata dos sentimentos de um amigo. Se ele pudesse me mortrar a mesma consideração, asseguro-lhes que me sentiria muito agradecida.
-Deixe de me provocar -disse Nathan atrás deles. Afastou Jimbo de seu caminho, tirou a mão de Matthew de sua esposa e continuou o caminho adiante.
Ela se sentiu muito irritada por essa atitude. Ela não era a que tinha mau caráter no casal. Como era doce decidiu não enfrentar Nathan. Esperaria até mais tarde para o repreender.
Além disso estava ansiosa por conhecer seu amigo.
Colin estava sentado atrás do escritório, revisando uma montanha de papéis. logo que entraram Sara e Nathan ficou de pé.
O amigo de Nathan era um homem extremamente atraente, e Sara não demorou para perceber que seu caráter também era encantador. Tinha um sorriso agradável e autêntico. Tinha um brilho diabólico em seus olhos cor castanha. Era atraente embora certamente não tanto como Nathan. Colin não tinha sua altura nem sua musculatura. Sara tinha que olhar para cima, mas não lhe doía o pescoço como acontecia sempre quando Nathan estava a seu lado e tinha que o olhar.
Pensou que era rude de sua parte estar olhando fixamente o homem e imediatamente fez uma reverência formal.
-Por fim posso conhecer a noiva -disse Colin-. É mais bonita de perto, lady Sara, que a distância em que a vi pela última vez.
Depois de lhe dizer isso Colin se aproximou e ficou diretamente a sua frente. inclinou-se formalmente, tomou a mão e a beijou.
Ela estava impressionada com suas maneiras.
Nathan não estava.
-Pelo amor de Deus, Colin, não tem que fazer uma demonstração. Não a impressionará.
-Sim, fará -replicou Sara.
-Também me impressiona -anunciou Jimbo com uma risada-. Nunca vi Dolplin atuar assim -deu uma cotovelada nas costelas de Matthew-. E você?
-Não posso dizer que o tenha visto -respondeu Matthew.
Colin não soltou a mão de Sara. Esta não se importou. -Obviamente, a Nathan sim.
-Solte-a, Colin.
-Não até que faça uma apresentação apropriada -replicou Colin. Piscou os olhos para Sara e quase riu quando ela se ruborizou.
A esposa de Nathan não só era extremamente formosa mas também encantadora, pensou Colin. Nathan tinha se dado conta de sua imensa fortuna?
Colin se voltou para seu amigo para formular essa pergunta, e logo decidiu averiguá-lo por si mesmo.
-E bem?
Nathan suspirou profundamente. Apoiou-se contra a janela, cruzou-se os braços, e disse:
-Esposa, apresento ao Colin. Colin, apresento a minha esposa. Agora solte-a, Colin, antes de que eu vá até ai e esmurre seu rosto...
Sara estava consternada pela ameaça. Colin riu.
-Pergunto-me por que não quer que segure a mão de sua esposa -disse lentamente.
Não soltou a mão de Sara e continuou olhando fixamente para seu amigo. Nathan parecia extremamente incômodo.
O comentário de Sara fez que a olhasse novamente..
-Nada agrada a Nathan, senhor - anunciou com um sorriso.
-Você o agrada?
Ela assentiu com a cabeça antes que Nathan ordenasse a Colin que deixasse de lhe provocar.
-Oh, sim, agrado-lhe muito -respondeu. Tentou afastar a mão, mas Colin a sustentou com força-. Senhor, está deliberadamente tentando provocar Nathan?
Ele assentiu lentamente com a cabeça.
-Então acredito que temos algo em comum - comentou Sara-. Eu sempre o provoco.
Colin inclinou a cabeça para trás e riu. Sara não pensou que seu comentário fosse tão divertido, e se perguntou se não estava rindo de algo mais.
Finalmente, soltou-lhe a mão. Ela as colocou imediatamente em suas costas para evitar que as voltasse a pegar. Nathan percebeu essa ação e sorriu. Colin se amargurou.
-Depois de tudo não necessitou de um adiamento -disse a Nathan-. Tivesse sido melhor antes.
-Esqueça --ordenou Nathan. Sabia que Colin estava referindo a seu comentário de esperar até o último momento para ir procurar sua noiva.
-Senhor, já nos conhecíamos? -perguntou-lhe Sara-. Você mencionou que da distância...
Quando ele negou com a cabeça, ela interrompeu sua pergunta.
- A vi uma tarde, mas não tive a oportunidade de que percebesse minha presença. Estava cumprindo uma missão, para determinar se certa posse poderia sair pela janela.
-Não me diverte, Colin -murmurou Nathan.
A careta do Colin indicava que estava se divertindo muito. Decidiu que já tinha incomodado seu amigo o sificiente no momento.
-Me permita tirar estes papéis da cadeira, lady Sara, e poderá sentar e me contar tudo sobre sua viagem.
-Não é uma história feliz, Dolphin -intercedeu Jimbo. Como não havia outras cadeiras disponíveis se apoiou contra a parede. Seu olhar estava dirigido a Sara-. Tivemos um desastre atrás de outro, verdade?
Sara encolheu os ombros, delicadamente.
-Acredito que foi uma viagem encantadora --comentou Sara-. Muito tranqüila, Jimbo -adicionou-. É descortês grunhir quando a gente não está de acordo com alguém.
-Tranqüila, Sara? -perguntou-lhe Matthew. Fez- uma careta para Colin-. O inimigo atacava com freqüência.
-Que inimigo nos atacou? -perguntou Sara-. Oh, deve-te referir a esses horríveis piratas.
-Eles são só uma pequena parte da aventura -assinalou Matthew.
Sara se voltou para Colin.
-Os piratas atacaram o navio, mas os afugentamos muito rápido. Quanto ao resto da viagem foi bastante pacífico. Está de acordo, Nathan?
-Não.
Franziu o semblante para lhe fazer notar que sua veemente negativa não tinha sido apreciada.
-Se esquece das sombrinhas -recordou Nathan.
Colin pensou que tinha perdido o fio da conversação.
-Do que estão falando?
-As sombrinhas da Sara se converteram em nossos maiores inimigos - explicou Matthew-. Havia três... ou eram quatro?, Não o recordo. Tenho tendência a bloquear as lembranças desagradáveis. Fazem-me tremer.
-Poderia alguém me explicar do que estão falando? -pediu Colin.
-É insignificante -respondeu Sara. Não permitiria que seus homens divulgassem seus pecados como trapos ao sol-. Matthew está brincando. Verdade, Nathan?
Seu marido percebeu a preocupação de seu olhar.
-Sim. Só estava brincando.
Colin trocou de tema ao ver o alívio que sentiu Sara. Decidiu esperar até que ele e Nathan estivessem sozinhos para averiguar a história que havia atrás das sombrinhas.
Levantou a pilha de papéis da cadeira e se dirigiu para o outro extremo do escritório. depois de deixar a pilha sobre o armário, retornou a sua cadeira, sentou-se e colocou os pés no bordo do escritório.
Sara o observou bem e percebeu que não coxeava.
-Nathan, Colin não tem...
-Sara!
-Por favor não levante a voz para mim na frente de seu sócio - ordenou.
-O que é que não tenho? -perguntou Colin.
Sara se sentou, acomodou as dobras de seu vestido, e depois sorriu para Colin. Podia sentir a carranca do Nathan.
-Um caráter rude -respondeu-. Não posso imaginar por que você e Nathan são tão bons amigos. Você é muito diferente, senhor. Sim, o é.
Colin fez uma careta.
-Eu sou o civilizado da sociedade -disse-. É isso o que está pensando?
-Não me atrevo a assentir, porque seria desleal com meu marido -lhe respondeu. deteve-se para sorrir para Nathan, e logo adicionou-: Mas percebera que tampouco discordo.
Colin estava percebendo muito mais que isso. Ao parecer, Nathan não podia deixar de olhar para sua esposa. Tinha um brilho quente nos olhos que Colin nunca tinha visto.
-Não tem que me chamar de senhor -disse Colin a Sara-. Por favor, me chame Colin, ou Dolphin como fazem os homens se te agrada -olhou maliciosamente para Nathan antes de perguntar-: E eu como devo chamá-la, lady Sara? Não é muito formal? Depois de tudo, agora faz parte da empresa. Nathan tem algum jeito de chamá-la que eu também possa usar?
Nathan pensou que a pergunta era ridícula. Não o agradava a forma com que Colin estava adulando sua esposa. Confiava plenamente em seu amigo, e se não fosse por isso não teria permitido que se ocupasse tanto de sua esposa, pelo menos não até o ponto de sentir-se ciumento. Mesmo assim estava se irritando.
-Colin, eu a chamo esposa -esclareceu-. Você não pode.
Colin se reclinou mais para trás em sua cadeira.
-Não, suponho que não posso. É uma lástima que não tenha posto outros apelidos.
-Como qual? -perguntou Sara.
-Como amorzinho, querida,...
-Demônios, Colin, não vai terminar com este jogo? -interrompeu-lhe Nathan.
Sara ergueu os ombros. Estava olhando feio para seu marido. Nathan pensou que era porque havia dito uma blasfêmia acidentalmente. Quase se desculpou, mas se deteve a tempo.
-Não, Colin, ele nunca me diz palavras carinhosas -explicou Sara. Parecia realmente consternada. Nathan olhou para o céu.
-E se o tenho feito, você não pode. Sócios ou não, Colin, não vai chamar a minha esposa de querida.
-Por que se incomodaria? -insistiu inocentemente Colin.
Esse era seu jogo, pensou Nathan. Está tentando averiguar quanto Sara me importa. Sacudiu a cabeça diante de seu amigo, e logo o olhou de maneira que Colin compreendesse a mensagem para mudar o tema da conversação.
-Nathan usa um tratamento especial quando me repreende -anunciou Sara, chamando a atenção de seu marido-. Tem minha permissão para usá-lo também.
-Sim? -perguntou Colin. Viu a expressão de surpresa no rosto do Nathan e sentiu mais curiosidade-. E qual é?
-Maldição, Sara.
Colin não podia acreditar no que tinha escutado.
-Disse...?
-Nathan sempre me diz maldição Sara. Não é verdade, querido? -perguntou a seu marido-. Colin, você também...
-Maldição, Sara, não me...
Até ele percebeu a nota de humor e riu com outros. Logo, Matthew lhes recordou que havia negócios que atender e que seria melhor continuar com eles.
As brincadeiras terminaram. Sara se sentou tranqüila enquanto escutou como Colin fazia um resumo das atividades da empresa a Nathan Ela sorriu quando Colin anunciou que tinham cinco contratos mais para transportar materiais para a Índia.
-Nathan, isso significa que...?
-Não, ainda não somos ricos.
Sara parecia abatida.
-Todos seremos ricos quando você...
-Sei qual é meu dever -replicou Sara-. Não tem que me explicar isso na frente a meu pessoal.
Nathan sorriu. Colin sacudiu a cabeça.
-Não entendi isso. Qual é o dever que tem que cumprir para que todos sejamos ricos?
Pela forma que lady Sara se ruborizou, Colin concluiu que era um assunto pessoal. Recordou que Nathan havia dito que o tesouro do rei não seria entregue até que Sara lhe desse um herdeiro a seu marido. Entretanto, pelo óbvio desconforto da Sara, Colin decidiu trocar de tema.
-Pelo amor de Deus -grunhiu Mathew- basta de bate-papo. Estou ansioso para ir, Colin Tenho assuntos pessoais que arrumar antes de que termine a semana.
-Vai a algum lugar? -perguntou-lhe Colin.
-Oh, céu santo, Matthew, não falou a Colin sobre a Nora -intercedeu Sara.
-Quem é Nora?
Sara se sentiu feliz de explicar. Não percebeu os detalhes que tinha dado até que terminou a explicação.
-Não posso dizer nada mais sobre a rapidez do casamento, Colin, porque ao fazê-lo danificaria a reputação de minha tia.
-Sara, já lhe contou tudo -frisou Nathan friamente.
Na sua posião atrás da mesa Colin podia ver a rua. Sara tinha começado a explicar por que não tinha revelado as excepcionais circunstâncias de sua tia quando uma carruagem negra se deteve na rua de em frente. Cinco homens a cavalo escoltavam o veículo.
Ele reconheceu o escudo da porta. Era a brasão familiar do conde do Winchester. Fez um gesto imperceptível com a cabeça a Nathan e continuou prestando atenção em Sara.
Nathan se afastou imediatamente da janela, fez um sinal a Jimbo e a Matthew e todos saíram para a rua.
Sara não prestou atenção aos homens. Estava decidida a convencer Colin de que sua tia era uma mulher decente e que nunca teria se comprometido tão apaixonadamente com Matthew se não o tivesse amado com todo seu coração. Também queria que prometesse que não diria uma palavra do que lhe havia dito de sua tia.
Depois que prometeu quis voltar-se para ver o que estava fazendo seu marido. Colin a deteve lhe formulando outra pergunta.
-Sara, o que pensa de nosso escritório?
-Colin, não quero ferir seus sentimentos, mas acredito que é um pouco monótono. Entretanto, poderia ser muito atraente. Só precisamos pintar as paredes e pôr cortinas. Gostaria de fiscalizar esta tarefa. Rosa seria uma cor encantadora, não acha?
-Não -lhe respondeu com um tom tão animado que ela não se sentiu ofendida. Entretanto, sentiu-se um pouco inquieta quando ele abriu a gaveta do centro do escritório e tirou uma pistola-. Rosa é cor de mulher. Nós somos homens. Nós gostamos das cores escuras, feias - explicou Colin.
Fez uma careta para indicar que estava brincando. Além disso, embora não lhe conhecesse bem, estava certa que atiraria nela só por que não tinha ficado satisfeito com a cor que tinha sugerido. Nathan não o permitiria.
Quanto a isso, onde estava seu marido? Sara ficou de pé e se dirigiu para a porta. Viu Nathan no meio de Jimbo e Matthew na calçada a frente do escritório. O trio estava bloqueando a porta de uma carruagem negra. Sara não podia ver o brasão. Jimbo o estava tampando.
-Pergunto-me com quem estão falando. Sabe, Colin?
-Venha se sentar, Sara. Espere que Nathan retorne.
Ela estava a ponto de fazê-lo quando Jimbo mudou de posição e viu o brasão.
-É a carruagem de meu pai -exclamou surpreendida-. Como se inteirou tão cedo de que retornei a Londres?
Colin não respondeu, já que Sara já tinha saído. Guardou a pistola no seu bolso e a seguiu.
Ela vacilou na beira da calçada. Seu estômago se contorceu. Oh, Deus, esperava que seu pai e Nathan estivessem se entendendo. E quem eram aqueles homens?
-Não se preocupe -disse a si mesmo. Respirou profundamente, levantou a saia e cruzou a rua no momento que seu pai descia da carruagem.
Muitos consideravam o conde do Winchester um cavalheiro distinto. Ainda tinha todo seu cabelo, embora de cor cinza, e seu abdômen era muito firme. Media quase um metro e oitenta. Tinha os mesmos olhos castanhos que Sara, embora esse era o único semelhança que tinham. Seu nariz era aquilino. Quando franzia o semblante ou entrecerrava os olhos pelo sol como o estava fazendo nesse momento, seus olhos desapareciam sob pequenas rugas. Quando tinha os lábios fechados eram tão finos como uma linha.
Sara não tinha medo de seu pai, mas lhe preocupava com a simples razão de ser um homem imprevisível. Ela nunca sabia o que ia fazer. Sara ocultou sua preocupação e correu para abraçá-lo. Nathan percebeu como o conde ficou tenso quando sua filha o abraçou.
-Estou tão surpresa em vê-lo, pai -começou Sara. Retrocedeu e pegou no braço de Nathan-. Como soube tão rápido que tínhamos retornado a Londres? Nem sequer desceram nossos baús.
Seu pai deixou de franzir o semblante para Nathan o tempo suficiente para responder a sua filha.
-Meus homens estavam vigiando a água desde do dia em que se foi, Sara. Agora vêem comigo. A Levarei para casa, que é o lugar a que pertence.
O tom zangado de seu pai a alarmou. Aproximou-se instintivamente de seu marido.
-Casa? Mas pai, estou casada com Nathan. Devo ir para casa com ele. Certamente se dá conta de que...
Deteve sua explicação quando se abriu a porta da carruagem e desceu sua irmã mais velha Belinda,
Sara não gostava de vê-la. Belinda estava sorrindo. Esse não era um bom sinal. As únicas vezes que Belinda parecia feliz era quando havia problemas. Então sorria muito.
Belinda tinha engordado muito desde da última vez que Sarah a tinha visto. As costuras do vestido dourado estavam para fora. Sua irmã era uma mulher ossos grandes e propensa à gordura, e os quilos que tinha ganho lhe tinham acumulado na barriga. Parecia grávida. Quando era uma menina, Belinda era a irmã bonita. Os homens da família se fixavam nela. Tinha o cabelo encaracolado loiro, uma covinha em cada bochecha e adoráveis olhos celestes. Quando cresceu as covinhas desapareceram em suas bochechas gordinhas. Seu glorioso cabelo ficou marrom. A predileta da família Winchester não voltou a ser o centro de atenção. A resposta da Belinda a essa mudança de status era consolar-se com a comida.
Por outra parte, Sara tinha sido uma menina singela, de pernas magras. Era desajeitada, e seus dentes permanentes demoraram uma eternidade a sair. Durante um ano cuspiu cada vez que falava. Ninguém exceto sua babá e sua avó reparavam nela.
Era um pecado não amar sua própria irmã, e só por essa razão Sara amava Belinda. Ela compreendia o cruel gênio de sua irmã. Tinha nascido de todas as decepções que tinha sofrido, e Sara sempre tinha tentando ser paciente e compreensiva com ela. Quando Belinda não estava zangada por algo, podia ser realmente agradável.
Sara tentou de concentrar-se nas boas qualidades de sua irmã quando a saudou. A forma em que apertou o braço de Nathan não coincidia com o tom alegre de sua voz.
-Belinda, que prazer voltar a vê-la.
Sua irmã olhou com rudeza para Nathan enquanto devolvia a saudação.
-Me alegro de que por fim esteja em casa, Sara.
-Mamãe está com você? -perguntou-lhe Sara.
O conde do Winchester respondeu à pergunta.
-Sua mãe está em casa, onde pertence. Suba na carruagem, filha. Não quero problemas, mas estou preparado para eles -adicionou-. Venha conosco. Ninguém sabe que esteve com o marquês, e se...
-Oh, papai -interrompeu Belinda-, Sabe que isso não é verdade. Todo mundo sabe. Bom, tendo em conta todas as notas que recebemos desde que Sara se foi.
-Silêncio! -grunhiu o conde-. Atreve-se contradizer-me ?
Sara se moveu tão rapidamente que Nathan não teve tempo de detê-la. Afastou Belinda de seu pai e se colocou entre eles.
-Belinda não quis te contradizer -disse Sara.
Seu pai parecia um pouco apaziguado.
-Não tolerarei insolências. Poucos que sabem sobre sua vergonhosa conduta, filha -continuou, dirigindo seu cenho e sua atenção para Sara-, Manterão suas bocas fechadas. Se desatar um escândalo antes de que eu arrume este assunto, eu o solucionarei.
Sara estava mais preocupada que nunca. Quando seu pai atuava com tanta segurança sempre havia problemas.
-Que escândalo, pai? -perguntou-lhe-. Nathan e eu não temos feito nada para dar que falar. Estamos obedecendo todas as condições estabelecidas no contrato.
-Não mencione o contrato, filha. Agora suba na carruagem antes de que ordene a meus homens que tirem suas armas.
O estômago de Sara doía com mais intensidade. Teria que desafiar seu pai. Era a primeira vez. Enfrentava ele freqüentemente, mas sempre tinha sido para defender sua mãe ou sua irmã, nunca a si mesma.
Retrocedeu lentamente até colocar-se outra vez junto a Nathan.
-Lamento decepcioná-lo, pai, mas não vou com você. Meu lugar é junto a meu marido.
O conde estava furioso. Era humilhante que sua filha o desafiasse abertamente diante de testemunhas. Estendeu a mão para golpeá-la. Nathan foi mais rápido. Tomou a mão do conde e a apertou. Forte. Queria quebrar os osso em dois.
Sara o deteve. Quando ela se apoiou contra ele, Nathan soltou imediatamente seu pai e lhe apoiou o braço no ombro. Sentiu que estava tremendo e se enfureceu mais ainda.
-Ela não irá a nenhuma parte, velho - anunciou Nathan.
Obviamente, a negativa era o sinal que precisavam os homens do conde. Tiraram as pistolas e as apontaram para Nathan.
Sara não podia acreditar no que estava acontecendo. Tratou de ficar diante do Nathan para o proteger. Ele não permitiu que se movesse. Apertou-a e continuou olhando fixamente para seu pai. Sorriu. Sara não compreendia essa reação.
Certamente ele compreendia a gravidade da situação.
-Nathanial? -usou esse nome como um método para o persuadir. inclinou-se para ele e sussurrou-: Não tem pistola. Eles sim. Por favor, tenha em conta a diferença, marido.
Nathan deixou de sorrir e a olhou. Ele sabia o que ela não sabia, que a diferença estava a seu favor. Pelo menos oito membros de sua tripulação tinham vindo correndo ao ver a carruagem. Estavam alinhados atrás da Sara, preparados e armados para lutar.
Também tinha o fato de que seu pai estava alarmado. Seu olhar indicava a Nathan que não tinha a intenção nem o coragem para uma confrontação direta.
-Isto está completamente fora de controle - disse Sara a seu pai. Estava tão desgostosa que sua voz tremia-. Ordene a seus homens que guardem suas armas, pai. Não resolverá nada.
O conde do Winchester não deu a ordem o suficientemente rápido.
-Não deixarei que machuque a meu marido -gritou-. O amo.
-Não vai machucá-lo-gritou Colin- Farei um buraco rm sua cabeça se o tentar.
Sara se voltou para olhar o amigo do Nathan. A transformação do Colin era tão surpreendente que Sara conteve a respiração.
Sua postura era relaxada e tinha um sorriso nos lábios, mas a frieza de seu olhar indicava claramente que cumpriria com sua ameaça sem remorso.
Imediatamente, o conde indicou a seus homens que abandonassem suas posições. Quando guardaram suas armas, tentou outra forma de obter a vitória.
-Belinda, fale com sua irmã sobre sua mãe. Como Sara se nega a vir para casa, deve saber a verdade.
Belinda tinha retornado junto a seu pai. Deu-lhe um tapa no braço para que começasse.
-Sara, realmente deve vir conosco -lhe disse Belinda. Olhou sobre o ombro a seu pai, recebeu sua aprovação e continuou-. Mamãe está gravemente doente. É por isso que não veio conosco.
-Ela anseia em vê-la outra vez -demarcou seu pai- Embora pela forma em que a preocupou, não entendo por que.
Sara negou com a cabeça.
-Mamãe não está doente. Isto é um ardil para que deixe Nathan, não é?
-Nunca utilizaria sua mãe dessa maneira -respondeu seu pai com indignação.
Voltou a dar um tapa em Belinda. Nathan percebeu e soube que a cena que estava presenciando tinha sido ensaiada. Esperava que sua esposa também fosse o suficientemente ardilosa para perceber.
Belinda deu um passo adiante.
-Mamãe adoeceu depois de que se foi, Sara. Ela não sabia se tinha se afogado, ou lhe tinham matado os... piratas.
-Mas, Belinda, mamãe...
Não estava certa de que seu pai soubesse que tinha deixado uma nota explicando a sua mãe que ia ajudar a Nora para que retornasse a seu lar. Sua mãe poderia haver ocultado a nota de seu pai-. Enviei a mamãe uma extensa carta quando Nathan e eu chegamos a nosso destino. Mamãe já deve ter recebido a carta.
Nathan se surpreendeu diante da notícia.
-Quando lhe escreveu?
-Quando você foi procurar materiais -lhe explicou Sara.
-Sim, recebemos suas duas cartas
Sara estava a ponto de discutir que tinha enviado só uma carta, mas não teve oportunidade, já que seu pai continuou falando.
-E é obvio, senti-me satisfeito pela informação que me deu. Mesmo assim, filha, o assunto não está resolvido, e por essa razão devemos seguir usando a discrição.
Ela não sabia do que lhe estava falando.
-Que informação? -perguntou.
Seu pai negou com a cabeça.
-Não se faça de idiota comigo, Sara -ergueu os ombros, e logo se voltou para abrir a porta da carruagem-. Sua mãe está esperando.
Sara olhou para Nathan.
-Levaria para ver minha mãe? Estarei preocupada até que fale com ela.
-Mais tarde -respondeu Nathan.
Sara se voltou para seu pai.
-Por favor, diga a mamãe que iremos visita-la tão logo Nathan termine com seus negócios aqui.
O conde do Winchester tinha planejado esperar até que tivesse afastado a Sara do Nathan para pôr seu plano em ação. Não gostava dos conflitos diretos. Era muito mais satisfatório ter a surpresa de sua parte, e também menos perigoso. Entretanto, quando o marquês lhe disse que se fosse, explodiu sua fúria.
-Neste momento, o príncipe regente tem toda a informação -exclamou-. Só é uma questão de tempo para que diga se violou o contrato. Espera e verá.
-De que demônios fala? -perguntou Nathan-. Está louco se pensar que violei alguma condição. Este matrimônio não será invalidado. Já me deitei com minha esposa. É muito tarde.
O rosto do conde ficou vermelho. Sara nunca o tinha visto tão furioso.
-Por favor, se acalme, pai. Via adoecer.
-Sara, sabe de que fala seu pai? -perguntou Nathan.
Ela negou com a cabeça. Ambos se voltaram para o conde.
-Esta é uma conversa privada -anunciou o pai de Sara. Fez um gesto a seus homens-. Esperem na esquina.
Voltou-se para Nathan.
-Diga a seus homens que se retirem -ordenou-, a menos que queira que escutem o que vou dizer.
-Eles ficam -Nathan encolheu os ombros.
-Pai, eu gostaria de lhes explicar -se ofereceu Belinda. Sorriu enquanto esperava que se retirasse a escolta. Quando os homens já não podiam escutar, voltou-se para Nathan-. Sara nos escreveu, nunca saberíamos se ela não o tivesse feito.
-Que não saberiam? -perguntou Sara.
Belinda suspirou com brincadeira.
-Oh, Sara, não atue tão inocentemente. Já não é necessário -voltou a olhar para Nathan e sorriu-. Ela nos falou sobre seu pai. Agora sabemos tudo sobre o conde do Wakersfield. Sim, sabemos.
-Não -gritou Sara-. Belinda, por que...?
Sua irmã não podia deixar que continuasse.
-É obvio que Sara só nos deu os ossos cortados, mas uma vez que tivemos a informação.... bom, papai tem amigos importantes que investigaram um pouco, e o resto foi indagar. Quando papai tiver terminado, todo mundo em Londres saberá que o pai de seu marido foi um traidor.
O conde suspirou aborrecido.
-Acreditou que ia poder manter essa sujeira debaixo do tapete? -perguntou a Nathan-. Meu Deus, seu pai quase derrubou nosso Governo. Maquiavel era um santo comparado com seu pai. Agora esses pecados pesam sobre seus ombros -adicionou assentindo com a cabeça-. Quando eu tiver terminado, estará destruído.
-Pai, já basta de ameaças -exclamou Sara- Não pode está falando sério.
Seu pai ignorou sua súplica. Seu olhar estava dirigido a Nathan.
-Honestamente acredita que o príncipe regente obrigará minha filha a permanecer casada com um infiel como você?
Nathan estava tão surpreso pelos comentários do conde que uma fúria que jamais havia sentido começou a lhe queimar por dentro. Como tinha averiguado, o maldito, tudo isso sobre seu pai? E quando se fizesse público, como reagiria sua irmã Jade?
Era como se o conde lhe tivesse lido a mente.
-Pense em sua irmã. Lady Jade está casada com o conde do Cainewood, certo? Ela e seu marido são muito apreciados. Isso logo mudaria -adicionou voltando a suspirar-. A vergonha converterá sua irmã em uma leprosa da sociedade, o prometo.
Sara estava aterrorizada por Nathan. Como seu pai tinha se informado desse assunto sobre o conde do Wakersfield? Quando Nora lhe confiou esse segredo, lhe disse que ninguém se inteiraria. O documento de seu pai estava dentro da abóbada do Departamento de Guerra. Ninguém podia violar esse santuário.
Então compreendeu o que seu pai e sua irmã estavam tentando fazer. Queriam que Nathan acreditasse que ela o tinha traído.
Sacudiu a cabeça imediatamente. Não, isso não tinha sentido, pensou. Como puderam adivinhar que ela sabia?
-Não compreendo como se inteiraram disso sobre o pai do Nathan -sussurrou-. Mas eu...
Belinda a interrompeu.
-Você nos disse isso. Já não tem que seguir mentindo. Logo que papai se inteirou da novidade fez o que pediu. Pelo amor de Deus, teria que estar feliz. Muito em breve estará livre. Então poderá casar com um cavalheiro que a mereça. Não é isso o que disse, papai?
O conde do Winchester assentiu rapidamente com a cabeça.
-Se anular o contrato, o duque do Loughtonshire ainda quererá casar-se com você.
-Mas Belinda está comprometida com ele -respondeu Sara.
-Ele a prefere -respondeu seu pai.
A Sara doía tanto o estômago que quase a fazia dobrar-se.
-É por isso que está mentindo, Belinda? Não quer se casar com o duque, e fez um pacto com papai, verdade?
-Não estou mentindo -replicou Belinda-. Você nos deu a informação que necessitávamos. Papai diz que pedirá que toda a terra que o marquês herdou de seu pai seja confiscada. Quando papai tiver terminado -acrescentou com tom sarcástico-, o marquês será um indigente.
Sara negou com a cabeça. As lágrimas escorriam por sua face. Estava tão humilhada de que sua família atuasse dessa maneira tão cruel, tão sádica.
-Oh, Belinda, por favor, não faça isto.
Nathan não havia dito uma palavra. Quando afastou o braço dos ombros de Sara, o conde pensou que sua jogada tinha dado resultado. Se regozijava com a vitória. Tinha escutado que o marquês do St. James era um homem cínico e obstinado, e agora sabia que os rumores eram certos.
Sara precisava escutar que seu marido lhe dissesse que lhe acreditava.
-Nathan? acha que escrevi a minha mãe e falei sobre os pecados de seu pai?
Respondeu com uma pergunta.
-Sabia algo sobre meu pai?
Que Deus a protegesse, quase mentiu. Parecia tão despreocupado. Entretanto, tremia-lhe a voz de fúria. Ele a condenou.
-Sim, sabia -admitiu Sara-. Nora me contou.
Ele se afastou dela. Sara sentiu como se a tivesse golpeado.
-Nathan, não acreditará que o traí, não é verdade?
Então Colin falou.
-Por que não? Todas as evidências não dizem o contrário. Esse segredo esteve bem guardado durante muito tempo. Logo você o averiguou, e...
-Então me acha culpada, Colin? -interrompeu-lhe.
Ele encolheu os ombros.
-Não a conheço bem para julgar se posso confiar ou não em você -respondeu. Estava sendo brutalmente honesto com ela-. Mas você é uma Winchester -adicionou com um significativo olhar a seu pai.
Colin olhou para Nathan. Sabia que seu amigo estava muito angustiado, embora duvidava de que alguém tivesse percebido essa dor. Nathan tinha uma fisionomia despreocupada. Seu amigo tinha se tranformado em um mestre na arte de ocultar o que sentia. Ironicamente, tinha sido uma mulher que lhe tinha ensinado como proteger seu coração. Agora outra mulher parecia estar provando que o cinismo do Nathan era mais que justificado.
Entretanto, a angústia da Sara era evidente.
Parecia devastada, derrotada. Colin começou a duvidar de seu rápido julgamento. Sara era capaz de tanta falsidade?
-Por que não volta a perguntar para Nathan? -sugeriu-lhe com tom suave.
Ela negou com a cabeça.
-Ele deveria ter suficiente fé em mim para saber que nunca o trairia.
-Suba à carruagem -voltou a lhe ordenar seu pai
Sara virou-se para olhar a seu pai.
-Fui tão idiota sobre tantas coisas, pai -lhe disse-. Procurei desculpas para sua pecaminosa conduta, mas depois de tudo Nora tinha razão. Não é melhor que seus irmãos. Repugna-me. Deixa que seu irmão Henry se ocupe do castigo quando está aborrecido. Dessa maneira suas mãos ficam limpas, não é? Oh, Deus, não quero voltar a vê-lo -respirou profundamente e adicionou-: Já não sou sua filha.
Logo se dirigiu a Belinda.
-Quanto a você, espero que se ajoelhe e peça perdão a Deus por todas as mentiras que disse hoje. Pode dizer a mamãe que lamento que não se sinta bem. Irei vê-la quando estiver segura de que nenhum de vocês estão em casa.
Depois de dizer tudo isso, Sara deu as costas a sua família e cruzou a rua. Colin tentou Tomá-la pelo braço. Ela afastou.
Todo mundo a olhou até que entrou no escritório e fechou a porta.
O conde do Winchester ainda não estava preparado para render-se. A discussão durou vários minutos mais até que finalmente Nathan deu um passo adiante.
Então o pai da Sara tentou ir ao escritório. Gritou tão forte o nome de sua filha que lhe incharam as veias do pescoço. Nathan bloqueou o caminho. Essa ação foi o suficientemente intimidador.
Ninguém disse uma palavra até que a carruagem do Winchester girou na esquina. Os homens que estavam a cavalo seguiram o veículo. Então todos começaram a falar com mesmo tempo.
Jimbo e Matthew discutiam em defesa da Sara.
-Ela pode ter dito -disse Matthew- mas só da forma de que falou sobre a Nora e eu. De forma acidental.
-Digo que ela não disse nada -replicou Jimbo. Cruzou os braços e olhou fixamente para Colin quando fez essa afirmação-. Você não ajudou, DolphÍn -adicionou-. Poderia ter feito o rapaz mudar de idéia se tivesse defendido Sara conosco.
-A última vez que saí em defesa de uma mulher, quase mataram Nathan -replicou Colin.
-Naquele momento era jovem e estúpido -lembrou-o Matthew.
-Ainda o é -afirmou Jimbo-. Não o surpreende, não é? Com seu coração cínico, certamente esperava que Sara o traíssee. Não é verdade?
Nathan não estava escutando seus amigos. Seu olhar estava dirigido para a esquina. Sacudiu a cabeça e se voltou.
-Onde vai? -gritou-lhe Matthew.
-Possivelmente recuperou o sentido -comentou Jimbo quando Nathan começou a cruzar a rua-. Vá desculpar-se com Sara. Viu seu olhar, Matthew? Partiu-me o coração ver tanto tortura.
-Nathan não se desculpará -disse Colin-. Não sabe como fazê-lo. Mas possivelmente está tranqüilo o suficiente para escutá-la.
Sara não tinha idéia de que Jimbo e Matthew a tinham defendido. Acreditava que todos a tinham condenado. Estava tão desgostosa que não podia deixar de caminhar de um lado ao outro. Ainda seguia pensando na expressão do rosto do Nathan quando ela admitiu que sabia a verdade a respeito de seu pai.
Ele acreditava que a tinha traído.
Sara nunca havia sentido tão sozinha. Não sabia onde ir, a quem recorrer, o que fazer. Não podia pensar. Sua fantasia de viver no paraíso com o homem que pensou que sempre a tinha amado se desvaneceu.
Nathan nunca a tinha amado. Era como haviam dito seus familiares. Só procurava o dote do rei. Acreditou que todas eram mentiras para que seu coração se voltasse contra ele. Agora sabia que não.
Que idiota tinha sido.
A dor era muito intensa, muita dor para pensar. Sara recordou a vil ameaça que seu pai tinha feito contra a irmã do Nathan. Embora não conhecia a mulher sabia que seu dever era avisá-la para que pudesse preparar-se.
Este plano lhe deu uma razão para mover-se. Ninguém se deu conta quando saiu. Estavam ocupados gritando uns aos outros. Ela caminhou até a esquina, mas quando já não a viam começou a correr. Continuou correndo até que ficou sem fôlego.
Deus teve piedade dela, já que quando não podia dar um passo mais viu uma carruagem no meio da rua. Um passageiro estava descendo do veículo. Enquanto procurava moedas em seu bolso, Sara correu para ele.
Sara não tinha moedas. Tampouco sabia a direção que tinha que ir. Entretanto, não podia preocupar-se com a falta de dinheiro. Decidiu que o chofer teria que fazer-se responsável por encontrá-la.
-A casa do conde do Cainewood, por favor - indicou. Subiu no veículo e se sentou em um canto. Seu temor era que Nathan tivesse enviado algum de seus homens para que a seguisse.
O chofer dirigiu a carruagem para o que chamou a parte elegante da cidade, entretanto teve que pedir indicações a um transeunte para encontrar a direção que lhe tinha indicado a passageira.
Sara tratou de acalmar seu estômago nauseabundo. Respirou profundamente e rezou para não desmaiar.

Nathan não tinha idéia de que Sara não estava oesperando dentro do escritório. Tratou de tranqüilizar-se antes de voltar a falar com ela. Não queria desgostá-la mais. Não podia imaginar o que foi sua vida com uma família tão vil.
-Não a condeno por havê-lo contado -disse Nathan-. Compreendo seus defeitos. Não me surpreendi. Agora, se deixar de me perseguir, irei dizer que a perdôo. Está satisfeito?
Jimbo assentiu com a cabeça. Nathan cruzou a rua e entrou no escritório. Não demorou para dar-se conta de que sua esposa não estava ali. Olhou na zona de depósito só para assegurar-se.
Sentiu pânico. Sabia que não tinha ido com seu pai, assim isso significava literalmente quer tinha partido.
A imagem do que podia acontecer a uma mulher sozinha nessa parte da cidade aterrorizou Nathan. Seu rugido retumbou nas ruas. Tinha que encontrá-la.
Precisava dela.


















Capítulo 13

Sara chorou durante todo o caminho. Quando a carruagem se deteve frente à casa de tijolos tratou de controlar-se. Sua voz falhou quando indicou ao chofer que a esperasse.
-Demorarei um minuto -prometeu-. depois de que termine aqui tenho que ir a outro lugar, e duplicarei seu preço se me esperar.
-Esperarei o que seja necessário -respondeu o condutor, dando um tapa em seu chapéu.
Sara subiu correndo pela escada e golpeou a porta. Queria entrar na casa antes de que seus familiares a vissem. Também tinha medo de perder a coragem antes de completar sua missão.
Um homem alto, com aspecto arrogante e rugas nos olhos, abriu a porta. Parecia bastante rústico, mas o brilho de seus olhos escuros indicava que era amável.
-Posso ajudá-la, madame? -perguntou-lhe o mordomo com um tom de voz arrogante.
-Devo ver lady Jade imediatamente, senhor -respondeu Sara. Olhou sobre seu ombro para assegurar-se de que não a estavam observando-. Por favor, me deixe entrar.
O mordomo só teve tempo de afastar de seu caminho. Sara passou rapidamente junto a ele, logo lhe pediu com um sussurro que fechasse a porta com o ferrolho para que não entrassem intrusos.
-Espero que sua senhora esteja aqui -lhe disse- Não sei o que vou fazer se não estiver em casa.
Essa possibilidade era tão angustiante que encheram seus os olhos de lágrimas.
-Lady Jade hoje está em casa -lhe informou o mordomo.
-Graças a Deus.
O mordomo sorriu.
-Sim, madame, freqüentemente agradeço a Deus que a envia a mim. Agora, poderia me dizer a quem devo anunciar?
-Lady Sara -respondeu Sara. Tomou a mão repentinamente-. E por favor, aprecesse-se, senhor. Cada segundo que passa me sinto mais covarde.
O mordomo sentiu curiosidade. A pobre mulher angustiada lhe apertava tanto a mão que parecia que lhe quebraria os ossos.
-Ficaria feliz em faze-lo, lady Sara -lhe respondeu-. Logo que solte minha mão.
Até esse momento, ela não se deu conta de que a estava sustentando, e a soltou imediatamente.
-Estou muito perturbada, senhor. Por favor, desculpe meu atrevimento.
-É obvio, milady -respondeu o mordomo-. Por ventura há um nome que vá com o primeiro?
Pergunta-a foi muito para ela, e para consternação do mordomo, Sara ficou a chorar.
-Estava acostumado a ser lady Sara Winchester, mas isso mudou, e agora sou lady Sara St. James. Agora isso também vai mudar -exclamou-. Amanhã não sei qual será meu nome. Suponho que Rameira. Todos acreditarão que vivi em pecado, mas não o fiz, senhor, não o fiz. Não foi pecaminoso.
Deteve-se para secar as lágrimas com um lenço que lhe entregou o mordomo.
-Você também poderia me chamar Rameira. Terei que me acostumar.
Sara percebeu que se estava comportando como uma tola. O mordomo estava afastando lentamente dela. Provavelmente pensou que tinha deixado entrar em uma mulher transtornada no santuário de sua senhora.
O conde do Cainewood tinha entrado na sala da parte de atrás da casa, onde estava sua biblioteca, quando ouviu que Sterns lhe perguntava o nome completo de sua convidada. Sua resposta o fez deter.
Sara tentou passar junto ao mordomo. Entregou-lhe o lenço molhado e disse:
-Não devia ter vindo. Agora compreendo. Enviarei uma nota a sua senhora. Certamente lady Jade está muito ocupada para me receber.
-Detenha, Sterns -gritou o conde.
-Como deseje -respondeu o mordomo. Tomou a Sara pelos ombros-. E agora o que, meu senhor? -perguntou-lhe.
-Vire-a.
Sterns não teve que obrigá-la Sara. Ela se moveu sem que tivesse que tocá-la.
-Você é o marido de lady Jade? -perguntou-lhe quando viu o homem alto e apessoado que estava apoiado contra o corrimão.
-Posso lhe apresentar ao meu senhor, o conde Cainewood? -anunciou o mordomo com voz formal.
Sua reverência de cortesia foi instintiva, produto de anos de treinamento. O mordomo a fez tropeçar quando adicionou:
-Senhor, posso lhe apresentar a lady Sara Rameira?
Sara quase cai de joelhos. Sterns a sustentou para que mantivesse o equilíbrio.
-Só estava brincando, minha lady. Não pude me conter.
O marido de Jade se adiantou. Estava-lhe sorrindo. Isso ajudava.
-Pode me chamar Caine -lhe disse.
-Sou a esposa de Nathan -replicou Sara.
Seu sorriso era tão amável, tão tenra.
-Adivinhei quando vi como estava aborrecida. Também escutei sua explicação a respeito de como se converteu em uma... St. James - adicionou quando viu que estava sobressaltada-. Bem-vinda a nossa família, Sara.
Tomou a mão e a apertou com afeto.
-Minha esposa está ansiosa em conhece-la. Sterns, vá procurar Jade. Sara, venha comigo à sala. Poderemos nos conhecer um pouco melhor enquanto esperamos a minha esposa.
-Mas senhor, esta não é uma visita social -lhe explicou Sara-. Quando conhecerem a razão de minha visita, ambos quererão me jogar lá fora.
-É uma vergonha que pense que seríamos tão pouco hospitaleiros -replicou o conde. piscou um olho e a levou a seu lado-. Agora somos da família. Me chame de Caine, não de senhor.
-Não serei parte da família durante muito tempo -sussurrou Sara.
-Vamos, vamos, não comece a chorar outra vez. Não pode ser tão terrível. Então veio nos contar algo sobre Nathan? Pergunto-me o que tem feito.
Seu sorriso lhe indicou que estava brincando.
Quando mencionou seu marido pôs-se a chorar outra vez.
-Ele não tem feito nada -lhe respondeu entre soluços-. Além disso, nunca falaria mal de meu marido. Não seria leal.
-Então a lealdade é importante pata você?
Ela assentiu com a cabeça. Logo franziu o semblante.
-Também o é ter fé no marido. Algumas a têm, outras não.
Ele não estava seguro de saber do que estava falando.
-E você?
-Já não. Aprendi a lição.
Caine não sabia do que estavam falando.
-Não vim aqui para falar do Nathan -explicou- Logo nosso matrimônio terminará.
Foi um esforço considerável para o Caine conter seu sorriso. Assim depois de tudo tinha sido um desacordo matrimonial.
-Nathan pode ser um pouco difícil -comentou.
-Assim o é, marido.
Sara e Caine se voltaram para a porta e viram lady Jade entrar.
Sara pensou que a irmã de Nathan era a mulher mais linda que já tinha visto. Tinha maravilhosos cabelos castanhos avermelhados. Seus olhos eram tão verdes como os de Nathan e sua pele era de porcelana. Ao comparar-se com ela, Sara se sentiu completamente diminuída.
Esforçou-se para deixar de lado seu aspecto físico e começou a rezar para que Jade não tivesse o mesmo caráter teimoso que seu irmão.
-Vim com más notícias - advertiu.
-Já sabemos que está casada com Nathan -comentou Caine-. Não pode haver nada mais terrível para você, Sara. Nossas condolências.
-Muito desleal de sua parte, meu marido -respondeu Jade. Entretanto, seu sorriso indicava que não estava irritada pelo comentário de seu marido-. Caine adora meu irmão -disse a Sara-. Apenas odeia admitir.
Aproximou-se e lhe deu um beijo na face.
-Não é o que eu esperava. Isso me agrada. Onde estão minhas maneiras? Estou muito feliz em conhece-la, Sara. Onde está Nathan? Virá logo?
Sara negou com a cabeça. Teve que se sentar e desabou na cadeira mais próxima.
-Não quero voltar a vê-lo -sussurrou-. Exceto para lhe dizer que não quero voltar a vê-lo. Oh, não sei por onde começar.
Jade e Caine se olharam, e Caine pronunciou as palavras "problemas matrimoniais", como uma tentativa de qual podia ser o problema. Jade assentiu com a cabeça antes de sentar-se na poltrona de brocado. Caine se sentou junto a ela.
-Não importa o que ele tenha feito, Sara, estou segura de que os dois poderão arrumar isto para satisfação de ambos -disse Caine.
-Meu marido e eu brigávamos todo o tempo quando nos casamos -demarcou Jade.
-Não, querida, brigávamos antes de nos casar, não depois -replicou Caine.
Jade estava a ponto de discutir sobre esse ridículo comentário quando Sara disse:
-Não vim para discutir meu matrimônio. Não... por que não sou o que esperava?
Jade sorriu.
-Preocupava-me que pudesse ser... reprimida. A maioria das damas de nossa sociedade tendem a ser superficiais. esforçam-se por parecer aborrecidas. Mas suas reações parecem muito honestas.
-Deve impacientar Nathan -comentou Caine.
-Nego-me a falar de Nathan -respondeu Sara-. Vim avisá-los. Devem preparar-se para o escândalo.
Caine se inclinou para frente.
-Que escândalo?
-Teria que ter começado pelo princípio, e assim compreenderiam -sussurrou Sara. Cruzou as mãos sobre sua saia-. Conhecem as condições do contrato entre o Nathan e eu?
Ambos negaram com a cabeça. Sara suspirou.
-O rei George, graças a sua mente doente, estava decidido a terminar com a inimizade entre os St. James e os Winchester. Forçou um casamento entre o Nathan e eu e logo adoçou a amargura dessa ação destinando uma grande fortuna em ouro e uma parcela de terra que está situada entre as propriedades das duas famílias. A inimizade data da Idade Média -adicionou-. Mas agora isso não é importante. Na realidade, a terra é mais cobiçada que o ouro, já que é fértil e a água que desce da montanha diretamente sobre o centro da parcela rega os campos de ambas as propriedades. Quem possuir a terra poderia arruinar o fornecimento de água do outro cortando. De acordo com o contrato, o tesouro pertence a Nathan logo que eu seja sua esposa. depois de que lhe dê um herdeiro, a terra também seria nossa.
Caine a olhava incrédulo.
-Quantos anos tinha quando assinou esse contrato?
-Tinha quatro anos. Meu pai o assinou em meu nome, é obvio. Nathan tinha quatorze anos.
-Mas isso é... desatinado -demarcou Caine-. Não pode ser legal.
-O rei decretou que era legal e válido. O bispo estava com ele e abençoou o matrimônio.
Sara não podia olhar para Caine nem a Jade. Já tinha terminado com a parte fácil da explicação e era o momento de abordar o verdadeiro problema. olhou-se a saia.
-Se eu não cumprir com o contrato, Nathan obtém tudo. E se ele não o cumpre, então eu... melhor dizendo minha família receberia tudo. Foi um jogo muito ardiloso por parte do rei.
-Você e Nathan foram seus objetos, verdade? -perguntou Caine.
-Sim, suponho que fomos -respondeu Sara-. Entretanto, acredito que os motivos do rei foram honestos. Parecia obcecado para todo mundo estivesse bem. Lembro-me que tinha suas melhores intenções para nós.
Caine não estava de acordo com essa solução, mas guardou sua opinião.
- A interrompi. Por favor, continue com sua explicação, Sara. Vejo que isto a incomoda muito.
Ela assentiu com a cabeça.
-Nathan me buscou há três meses. Fomos em seu navio e acabamos de retornar a Londres. Meu pai nos estava esperando.
-O que aconteceu então? -perguntou-lhe Caine ao ver que ela não continuava.
-Meu pai queria que fosse para casa com ele.
-E? -insistiu Caine.
-Caine -interveio Jade-, é óbvio que não foi a casa com seu pai. Está aqui conosco, pelo amor de Deus. Sara, não compreendo por que seu pai queria que retornasse a sua casa. Estaria rompendo o contrato, verdade? Nathan ganharia tudo, e não acredito que os Winchester permitissem isso. Além disso, suponho que você e Nathan estiveram vivendo juntos como marido e mulher. É muito tarde, não é...
-Querida, deixa que Sara nos explique -sugeriu Caine-. Logo formularemos nossas perguntas.
-Meu pai encontrou uma forma de romper o contrato e ganhar a dote -continuou Sara.
-Como? -perguntou jade.
-Averiguou algo terrível sobre seu pai -sussurrou Sara. Levantou rapidamente a vista e viu o olhar de alarme no rosto de Jade-. Conhecia as atividades de seu pai?
Jade não respondeu.
-Isto é muito difícil -adicionou Sara.
Caine não estava sorrindo.
-O que foi exatamente que averiguou seu pai?
-Que o conde do Wakersfield traiu seu país.
Nem Caine nem jade disseram nada durante um minuto. Caine abraçou sua esposa para consolá-la.
-Lamento ter que contar isto sobre seu pai -sussurrou Sara. Sua angústia era evidente-. Mas deve tentar não condená-lo. Não pode conhecer as circunstâncias que o levaram a tomar esse caminho.
Não sabia que mais dizer. Jade estava pálida, e parecia que ia desmaiar. Sara se sentia igual
-Saberia cedo ou tarde -disse Caine.
-Então sabiam? -perguntou Sara.
Jade assentiu com a cabeça.
-Nathan e eu sabíamos de nosso pai fazia tempo -voltou para seu marido-. Está equivocado, Caine. O segredo nunca teria sido descoberto-se voltou para a Sara-. Como o averiguou seu pai?
-Sim, como o averiguou? -perguntou Caine-. O documento estava na abóbada. Asseguraram-me que ninguém saberia.
-Nathan acredita que eu tomei tomei conhecimento e escrevi a novidade para minha família -respondeu Sara.
--Sabia? -perguntou-lhe Jade.
-Essa é a mesma pergunta que me formulou seu irmão -respondeu Sara. A tristeza de sua voz indicava sua dor-. Quase menti a Nathan porque me olhava de uma maneira tão ameaçadora.
-Sabia? -voltou-lhe a perguntar Jade- Se for assim, Sara, como o soube?
Sara ergueu os ombros.
-Sim, sabia, Jade. Entretanto, não posso dizer como soube. Seria desleal.
-Desleal? -Jade teria saltado de seu assento se seu marido não a tivesse detido. -O que me parece desleal é haver contado a sua família -exclamou-. Como pode fazer uma coisa assim, Sara? Como pode?
Sara nem sequer tentou se defender. Se seu próprio marido não tinha acreditado nela, por que o ia fazer sua irmã?
Ficou de pé e olhou para Jade.
-Senti que era meu dever vir lhes advertir. Me desculparia por minha família, mas decidi renuncia-la, e de qualquer maneira isso não aliviaria sua tortura. Obrigado por me escutar.
Sara se dirigiu para a entrada.
-Aonde vai agora? -gritou Caine. Tratou de ficar de pé, mas sua esposa o segurou pela mão.
-Devo me assegurar de que minha mãe está bem -explicou Sara-. E depois irei para casa -depois de dizer isso, Sara abriu a porta e se foi.
-Muito bom para ela para ter renunciado a sua família -sussurrou jade-, Deixe que se vá, Caine. Não quero voltar a vê-la. Oh, Deus, temos que encontrar Nathan. Deve estar terrivelmente aborrecido por esta traição.
Caine olhou com o semblante franzido para sua esposa.
-Não posso acreditar no que estou escutando. Se te refere ao escândalo que vai se desatar, Nathan não se desgostará. Jade, os homens do St. James florescem na desgraça, lembra-se? Pelo amor de Deus, raciocina. Nunca se importou com que os outros pensavam. Por que esta mudança repentina?
-Ainda não me importa o que pensam outros, exceto você, marido. Estava falando sobre a traição da Sara. Ela traiu meu irmão, e é por isso que acredito que Nathan deve estar muito aborrecido.
-Então acha que ela é culpada, não é?
A Pergunta a fez refletir. Começou a assentir com a cabeça, mas logo o negou.
-Nathan já a julgou. Sara nos disse que ele acreditava que o tinha traído.
-Não -replicou Caine-. Ela disse que ele lhe perguntou se sabia sobre seu pai. Jade, não pode saber o que pensa até que pergunte. Seu irmão é um dos homens mais cínicos que conheci, mas esperava algo melhor de você.
Jade abriu grandes os olhos.
-OH, Caine, eu a culpei sem questionar, não é verde? Eu só o supus... e ela não se defendeu...
-Por que ia fazer ?
-Disse-nos que ia para sua casa. Uma mulher que afirma que renunciou a sua família... acha que é inocente?
-Até agora tirei uma só conclusão. Sara ama Nathan. Tudo o que terá que fazer é olhá-la. Teria se incomodado em vir nos avisar se não se importasse com seu irmão, querida? Agora, me solte, por favor. Irei procurá-la.
-É muito tarde, senhor -disse Sterns da entrada-. A carruagem já se foi.
-Por que não a deteve? -perguntou-lhe Caine correndo para a porta.
-Estava ocupado escutando atrás da porta -admitiu o mordomo-. Tampouco sabia que queria que a detivesse - voltou para Jade- Espero que não se importe que tenha dado algumas moedas a sua cunhada. Lady Sara não tinha dinheiro e precisava pagar a viagem até seu próximo destino.
Os golpes na porta principal detiveram a conversa. Antes que Caine ou Sterns pudessem abri-la a porta se abriu de par em par e Nathan entrou no salão de entrada. Havia poucos homens que pudessem intimidar ao Sterns, mas o marquês do St. James era um deles. O mordomo se afastou imediatamente do caminho de Nathan.
Nathan saudou ambos os homens assentindo rapidamente com a cabeça.
-Onde está minha irmã?
-É agradável voltar a te ver, Nathan -grunhiu Caine-. O que o traz por aqui? Quer ver sua afilhada? Olivia está dormindo, mas estou seguro de que com seus gritos despertará logo.
-Não tenho tempo para ser sociável -respondeu Nathan-. Olivia está bem, não é?
Como uma resposta a essa pergunta se ouviu o pranto de uma menina retumbando pela escada. Sterns franziu o semblante para o marquês antes de subir pela escada.
-Irei ver a menina -anunciou Sterns-. Quererá que a embale para que voltar a dormir.
Caine assentiu com a cabeça. O mordomo era mais um integrante da família que um servente, e se encarregava do cuidado de Olivia. Os dois se davam extremamente bem, e Caine não estava seguro de quem estava serviando a quem.
Caine se voltou para dar uma boa reprimenda em Nathan por ter perturbado o sono de sua filha, mas quando viu a expressão do rosto de seu cunhado mudou de idéia. Era uma expressão que jamais tinha visto no rosto do irmão de Jade. Nathan parecia preocupado.
-Jade está na sala -informou.
Sua irmã ficou de pé tão logo entrou na sala.
-Oh, Nathan, graças ao céu que está aqui.
Nathan se aproximou e se deteve frente a sua irmã.
-Sente-se- ordenou.
Ela obedeceu imediatamente. Nathan colocou as mãos atrás de suas costas e depois disse:
-Os Winchester averiguaram tudo sobre nosso pai e é só uma questão de tempo que seja humilhada. entendeu?
Depois que ela assentiu com a cabeça, ele se voltou para ir-se.
-Espera -gritou Jade- Nathan, tenho que falar com você.
-Não tenho tempo -respondeu seu irmão.
-Sempre foi um homem de poucas palavras -disse Caine-. Por que tanta pressa?
-Tenho que encontrar minha esposa -respondeu Nathan quase gritando-. Está perdida.
Já tinha saído pela porta antes de escutar o anúncio do Caine.
-Seu adorável esposa esteve aqui.
-Sara esteve aqui?
-Pelo amor de Deus, Nathan, tem que grunhir cada vez que abre a boca? Entra.
O soluço da pequena Olivia foi seguido pelo golpe forte de uma porta. Obviamente, Sterns lhes estava enviando a mensagem de que baixassem suas vozes.
Nathan voltou a entrar.
-O que minha esposa estava fazendo aqui?
-Queria falar conosco.
-Por que a deixou ir, homem? Maldição, aonde foi?
Caine levou a seu cunhado até a sala e fechou as portas antes de lhe responder.
-Sara veio a nos avisar. Não foi tão brusca como você -adicionou secamente.
-Disse onde ia?
Jade se aproximou e tomou a mão de Nathan para que não pudesse ir outra vez. Começou a responder a sua pergunta, mas se deteve quando Caine indicou com a cabeça que não o fizesse.
-Diremos onde foi Sara depois que se sente e fale conosco -explicou Caine-. Pelo menos por uma vez , tente ser ser civilizado. Entende?
-Não tenho tempo para isto. Tenho que encontrar Sara. Terei que quebrar seu braço para obter a informação que preciso?
-Sara está a salvo -respondeu Caine. Tirou dos ombros a Jade e a conduziu ao sofá.
Percebeu que Nathan os seguia.
- Sente-se -ordenou com voz firme-. Tenho que formular algumas perguntas, Nathan, e não te direi aonde Sara foi até que obtenha algumas respostas.
Nathan sabia que era inútil discutir. Tampouco teria sentido golpear seu cunhado. Caine também lhe golpearia. E perderia um tempo muito valioso, e quando a briga terminasse, Caine continuaria tão obstinado como antes.
Essa era uma das muitas razões pelas quais Nathan admirava o marido de sua irmã.
-Por que demônios não pode parecer um pouco mais com Colin, -perguntou-lhe. sentou-se e olhou fixamente Caine-. Jade, casou com o irmão equivocado. Colin é muito mais agradável.
Sua irmã sorriu.
-Não me apaixonei por Colin, Nathan.
Jade olhou para seu marido e comentou:
-Acredito que nunca vi Nathan tão aborrecido. E você?
-Está bem -sussurrou Nathan-.Pergunte-me.
-Me diga como os Winchester averiguaram sobre seu pai.
Nathan encolheu os ombros.
-Não importa como souberam a verdade.
-É obvio que sim -replicou Caine.
-Acha que Sara contou a sua família?
-Provavelmente o fez -respondeu Nathan.
-Por que? -perguntou jade.
-Por que o contou ou por que acredito que o fez? -perguntou-lhe Nathan.
-Por que acha que o contou? -esclareceu Jade-. E deixa de me dar respostas evasivas, Nathan. Vejo que este tema o incomoda. Mas não vou desistir , assim responda diretamente.
-Sara é uma mulher -disse Nathan.
Percebeu a tolice desse comentário quase ao mesmo tempo que sua irmã.
-Eu sou uma mulher -demarcou Jade-. O que tem isso a ver com o que estamos discutindo?
-Sim, é obvio que você é uma mulher respondeu Nathan-. Mas você é diferente, Jade. Não se comporta como uma mulher.
Ela não sabia se a tinha insultado ou elogiado. Olhou a seu marido para julgar sua reação.
A expressão do Caine mostrava toda sua exasperação.
Nathan, não aprendeste nada sobre as mulheres durante o tempo que esteve com a Sara?
Caine, não a condeno -respondeu Nathan-. Ainda estou um pouco zangado com ela, mas só porque não quer admitir que o contou. Não deveria me mentir. Provavelmente...
-Deixe-me adivinhar -interrompeu Caine-. Provavelmente, não pôde evitá-lo.
-Seus conceitos sobre as mulheres são espantosos -disse Jade-. Não tinha idéia e que estivesse tão deturbado -advertiu que tinha levantado a voz e tratou de acalmar-se para lhe perguntar-: Tem tão pouca fé nela porque é uma Winchester?
Caine bufou.
-Isso não é a mesma coisa de chamarum conde de dandi? Se Nathan não tiver fé em sua esposa por sua família, ela certamente não teria fé nele.
Nathan se sentia cada vez mais incômodo. Sua família estava obrigando a avaliar crenças que possuia há anos.
-É obvio que Sara tem fé em mim. Como disse antes, não a condeno.
-Se voltar a dizer que provavelmente não pôde evitá-lo, acredito que o estrangularei, Nathan -lhe assinalou jade.
Nathan negou com a cabeça.
-Estas perguntas são inúteis.
Nathan começou a ficar de pé, mas a seguinte pergunta do Caine o deteve.
-E se ela for inocente? Nathan, não se dá conta do que significa isso?
O que lhe chamou a atenção foi o tom da voz mais que a pergunta.
-O que está sugerindo?- questionou.
-Estou sugerindo que se está enganado a respeito da Sara, então alguém pegou o documento de seu pai. E isso significa que entrou no santuário do Departamento de Guerra e na abóbada. Poderíamos estar ante outro traidor. Os segredos mais importantes da Inglaterra estão guardados nesse lugar. Nathan, seu documento está ali e o do Colin e o meu. Todos estamos expostos.
-Está conjeturando -respondeu Nathan.
-Não, irmão, você está conjeturando -sussurrou Jade-. Caine, deve averiguar a verdade quanto antes.
-É obvio que o farei -replicou Caine. Voltou para olhar Nathan-. Sara disse que ia a sua casa. Entretanto, era uma contradição. Disse que queria ver sua mãe e logo iria a sua casa.
-Também nos disse que renunciou a sua família. Pareceu-me que você também estava incluído nessa afirmação, Nathan -comentou jade.
Seu irmão já estava caminho para entrada.
-Se tiver que quebrar a casa Winchester do teto ao porão o farei -gritou.
-Vou com você -disse Caine-. Poderia haver mais de um Winchester o esperando.
-Não preciso de sua ajuda -replicou Nathan.
-Não me importa se precisa ou não -replicou Caine-. Vai tê-la.
-Maldição, não preciso que ninguém brigue minhas batalhas.
Caine não se deteve.
-Deixarei que brigue a batalha principal você sozinho, irmão, mas vou com você contra a dos Winchester.
Sterns estava descendo pela escada quando Nathan gritou:
-De que demônios está falando, Caine?
O soluço da menina retumbou no salão de entrada. Sterns se voltou e subiu outra vez pela escada.
-Qual é a batalha principal? -perguntou Nathan enquanto abria a porta principal e saía.
Caine ia atrás de seus talões.
-A batalha para recuperar Sara -respondeu.
Nathan sentiu um estremecimento de preocupação. Afastou imediatamente esse sentimento.
-Maldição, Caine, baixa a voz. Está incomodando a minha afilhada.
De repente, Caine sentiu desejos de estrangular a seu cunhado.
-Nathan, espero que Sara lhe faça sofrer. Se existir justiça no mundo, ela o fará ficar de joelhos antes de lhe perdoar.
Nathan não rompeu o teto da residência dos Winchester, mas sim rompeu um par de portas fechadas. Enquanto Caine vigiava o salão de entrada, Nathan revisava metodicamente cada habitação de cima a abaixo. A sorte estava do seu lado. O conde e sua filha Belinda não estavam na casa, certamente estavam procurando Sara, e pelo menos não tinha que se preocupar com sua interferência. Isso não o teria detido, mas teria atrasado um pouco seus planos.
A mãe da Sara tampouco lhe incomodou. A frágil mulher ficou perto da chaminé da sala e simplesmente esperou até que o marquês terminou com sua tarefa.
Lady Vitória Winchester poderia haver economizado muito tempo a Nathan lhe dizendo que Sara a tinha visitado e já tinha partido, mas o marquês do St. James afligiu à tímida mulher e ela não pôde lhe falar.
Caine e Nathan estavam se retirando quando a mãe da Sara gritou:
-Sara esteve aqui, mas se foi a vinte minutos.
Nathan tinha se esquecido que a mulher estava na sala. Dirigiu-se para ela, mas se deteve no meio da habitação ao ver que ela retrocedia.
-Disse aonde ia? -perguntou-lhe brandamente. Avançou outro passo e se deteve outra vez-. Madame, não vou machucá-la. Estou preocupado com Sara e eu gostaria de encontrá-la o mais depressa possível.
Sua voz gentil a ajudou a recompor-se.
-Por que quer encontrá-la? Ela me disse que você não se importava, senhor.
-Durante estas últimas semanas eu disse que me importava-replicou Nathan.
A mãe da Sara sacudiu lentamente a cabeça. A tristeza de seus olhos era evidente. Levemente se parecia com sua irmã Nora, mas Nora tinha gosto pela vida, enquanto a mãe da Sara parecia uma mulher atemorizada, derrotada.
-Por que quer encontrar Sara?
-Por que? Porque é minha esposa -respondeu Nathan.
-É verdade que quer que Sara retorne só para obter a dote do rei? Minha Sara está decidida a encontrar uma forma de lhe dar o dote e as terras, senhor. Mas não quer nada de você.
Os olhos da anciã se encheram de lágrimas.
-Você destruiu sua inocência, meu lorde. Ela teve tanta fé em você durante todos estes anos. Ambos a decepcionamos.
-Sara sempre falou muito bem de você, madame -disse Nathan-. Ela não acredita que a tenha decepcionado.
-Estava acostumado a chamá-la minha pequena reconciliadora. Por que sempre brigava minhas batalhas por mim. Era muito mais fácil.
-Não compreendo. Que batalhas? -perguntou Nathan.
-Disputas familiares -respondeu-. Meu marido Winston sempre se unia a seu irmão Henry em nossas discussões pessoais. Sara ficava do meu lado para equilibrar as coisas.
Nathan sacudiu a cabeça. Decidiu que sobrara muito pouco espírito à mãe da Sara quando esta ergueu os ombros e o olhou de olhos estreitados-Sara merece paz e felicidade. Não terminará como eu. Tampouco voltará aqui. Está muito decepcionada com todos nós.
-Madame, tenho que encontrá-la.
Sua angústia a comoveu.
-Então está preocupado com ela?, Se importa com ela, mesmo que seja um pouco?
Nathan assentiu com a cabeça.
-É obvio que estou preocupado. Sara precisa de mim.
Lady Vitória sorriu.
-Possivelmente você também precisa dela -assinalou-. Me disse que se ia para casa -adicionou- Supus que retornaria para você. Disse que havia vários detalhes que tinha que arrumar antes de partir de Londres.
-Ela não sairá de Londres -afirmou Nathan.
Caine se adiantou.
-Terá ido a sua casa de campo? -perguntou a seu cunhado.
Nathan o olhou com o semblante franzido.
-Não tenho casa de campo, lembra-se? Alguns dos sócios de meu pai a incendiaram.
Caine assentiu com a cabeça.
-Demônios, Nathan, aonde pode ter ido? Onde é seu lar?
Nathan se voltou para a mãe da Sara.
-Obrigado por me ajudar. Avisarei logo que encontre Sara.
Os olhos da mulher voltaram a se encher de lágrimas Fez-lhe recordar Sara e lhe sorriu. Já sabia de quem sua esposa tinha herdado a tendência de chorar ante a menor provocação.
Afastou-se de Nathan e lhe acompanhou até a porta principal.
-Sara o ama desde que era uma menina. Só o admitia para mim. O resto da família a teria ridicularizado. Sempre foi muito fantasiosa. Você era seu cavalheiro de armadura brilhante.
-Se opaca minuto a minuto -demarcou Caine.
Nathan ignorou o insulto.
-Obrigado outra vez, lady Winchester.
Caine estava surpreso pela ternura da voz de Nathan. Quando fez uma reverência formal à anciã, ele fez o mesmo.
Estavam pela metade da escada quando a mãe da Sara sussurrou atrás:
-Seu nome é Grant. Luther Grant.
Caine e Nathan se voltaram.
-O que disse? -perguntou-lhe Nathan.
-O homem que descobriu sobre seu pai - explicou a mãe da Sara-. Seu nome é Luther Grant. Trabalha como guarda, e meu marido lhe pagou muito bem para que revisasse os documentos. Isso foi tudo o que consegui escutar -adicionou-. ajudará?
Nathan ficou sem palavras. Caine assentiu com a cabeça.
-Obrigado. Economizou muito tempo, o asseguro.
-Por que nos disse isso ? -perguntou-lhe Nathan.
- Desta vez Winston foi muito longe. Meu marido será apanhado em sua própria cobiça e não pensa no que seus planos podem provocar a outros. Não posso permitir que Sara volte a ser seu pião. Por favor, não digam a ninguém que eu contei. Seria muito difícil para mim.
A mãe da Sara fechou a porta antes que os dois homens pudessem prometer.
-Está aterrorizada por seu marido -sussurrou Caine-. Me adoece ver tanta tristeza em seus olhos. Nenhuma mulher deveria viver atemorizada.
Nathan assentiu com a cabeça. Entretanto, não estava pensando na mãe da Sara, e quando se voltou para Caine, não pôde ocultar seu temor.
-E agora onde a buscarei, Caine? Aonde terá ido? Meu deus, se algo lhe acontecer não sei o que faria. Acostumei-me a tê-la a meu lado.
Caine compreendeu que Nathan estava a ponto de admitir a verdade. Perguntava-se se seu teimoso cunhado sabia que amava Sara.
- A encontraremos, Nathan -lhe prometeu.- Ela deve ter retornado ao cais. Colin deve ter novidades. Possivelmente algum dos homens a viu.
Nathan se agarrou a esse fio de esperança. Não disse outra palavra até que ele e Caine chegaram a seu destino. O temor estava destroçando seus nervos. Parecia não poder pensar.
Ao entardecer chegaram ao cais. As ruas tinham sombras laranjas. As velas brilhavam no escritório da esmerald Shipping. Logo que Nathan e Caine entraram, Colin ficou de pé tão rapidamente que as dores lhe estenderam pela perna doente.
-Alguém encontrou Sara? -perguntou Caine a seu irmão.
Colin assentiu com a cabeça.
-Ela nos encontrou - respondeu. Tinha a fronte molhada com transpiração e respirava profundamente para aliviar a dor. Nem Caine nem Nathan fizeram nenhum comentário sobre sua dor, pois sabiam que isto só irritaria o orgulhoso Colin.
Nathan esperou até que Colin relaxasse um pouco a tensão de sua expressão, e logo lhe perguntou:
-O que quer dizer com que ela nos encontrou?
-Sara retornou aqui.
-Então me diga onde demônios está agora? -perguntou Caine.
-Pediu que a levassem para casa. Jimbo e Matthew a escoltaram. Sara voltou para o Seabawk.
O suspiro de alívio do Caine inundou a habitação.
-Então ela considera que o Seahawk seu lar, verdade?
A tensão de Ntatahnconeçou a desaparecer. Estava tão aliviado de saber que Sara estava a salvo, que literalmente começou a sentir um suor frio. Tomou o lenço que Colin tinha tirado do bolso de seu colete e secou a fronte.
-É o único lar que compartilhamos -comentou Nathan em voz baixa.
-Acredito que isso significa que ela não tem rancor -comentou Caine. apoiou-se no beira da mesa e fez uma careta a seu irmão-. É uma lástima. Realmente queria ver como praticava Nathan.
-Praticava o que?
-Ficar de joelhos.






Capítulo 14

Nathan já não podia tolerar mais todo esse bate-papo. Tinha que ir procurar Sara. Precisava ver por si mesmo que ela estava bem. Era a única maneira com a qual poderia tranqüilizar seu coração acelerado. Tinha que saber que estava a salvo.
Sem dizer uma palavra de despedida, deixou Colin e Caine e remou até o Seahawk. surpreendeu-se ao ver que a maioria da tripulação já estava a bordo. Geralmente, os homens passavam sua primeira noite em um porto bebendo o suficiente para brigar com algo que se movesse.
Uma parte da tripulação estava de guarda nas três cobertas, enquanto que o resto ocupava suas posições no quarto de oficiais. Alguns dos homens tinham pendurado suas redes entre os ganchos do teto e dormiam com suas facas sobre o peito para estar preparados em caso de um ataque surpresa.
As redes só se usavam quando havia mau tempo ou quando fazia muito frio para dormir em coberta. Esse dia era quente e Nathan sabia que os homens estavam ali somente com propósitos de amparo. Estavam vigiando a sua senhora.
Logo que o viram, levantaram-se de suas redes e subiram pela escada.
A porta do camarote não estava fechada com chave. Quando Nathan entrou viu imediatamente Sara. Estava profundamente adormecida no centro da cama. Tinha o travesseiro apertado contra o peito. Tinha deixado duas velas acesas sobre a mesa, e o suave brilho da luz projetava sombras sobre os ângulos de seu rosto.
Tinha que voltar a falar com ela sobre os perigos do fogo, pensou. A mulher sempre se esquecia de apagar a chama das velas.
Nathan fechou brandamente a porta, e depois se apoiou contra ela. Estava tão ansioso de vê-la que permaneceu ali durante muito tempo observando como dormia até que finalmente o pânico se dissipou e não lhe custava tanto respirar.
De vez em quando suspirava, e Nathan percebeu que dormiu chorando.
O som o fazia sentir-se terrivelmente culpado.
Não podia pensar em viver sem ela a seu lado. Que Deus o ajudasse, ela era muito importante para ele.
Essa descoberta não era tão dolorosa quanto imaginara. Não sentiu que tinham lhe roubado a alma.
No fim, Caine tinha razão. Tinha sido um tolo. Como pudera ser tão cego, tão indiferente? Sara nunca tinha tentando lhemanipular. Sara era sua companheira, não sua inimiga. Não podia pensar em passar o resto de sua vida sem voltar a lhe gritar.
Seu amor o brindou uma força renovada. Juntos podiam enfrentar qualquer desafio, fosse da parte dos St. James ou dos Winchester. Sempre que tivesse Sara a seu lado, Nathan pensou, não seria derrotado.
Pensou de que jeito poderia agradar sua esposa. Não voltaria a lhe levantar a voz. Começaria a dizer esses ridículos nomes carinhosos que tinha ouvido falar que homens diziam a suas esposas. Provavelmente, Sara gostaria disso.
Finalmente deixou de olhá-la e observou a habitação. Tudo estava desordenado. Os vestidos da Sara estavam pendurados entre suas camisas.
Ela tinha convertido o camarote em seu lar. Seus pertences estavam por todos lados. Seu pente e sua escova de marfim, junto com uma multidão de presilhas para o cabelo multicoloridas cobriam seu escritório. Tinha lavado algumas de suas roupas de baixo e as tinha pendurado em uma corda que colocou de parede a parede.
Quando tirou a camisa teve que se esquivar da roupa úmida. Não podia pensar em outra coisa que não fosse encontrar as palavras adequadas para lhe dizer quanto lamentava. Seria difícil. Nunca tinha se desculpado com ninguém, mas estava decidido a não se acovardar, inclinou-se para tirar as botas e golpeou a corda provisória com roupa. Uma das camisas de seda de Sara se soltou. Nathan pegou antes que caísse no chão, e então percebeu o que sua esposa tinha usado como corda.
-Usou meu chicote para pendurar a roupa?
Realmente não tinha querido gritar. Entretanto, seu grito não a despertou. Sara resmungou dormida e logo se apoiou sobre seu abdômen.
Nathan só demorou um minuto para acalmar-se. Então pôde ver o divertido da situação. Não podia sorrir, mas já não tinha uma expressão séria no rosto. Amanhã, pensou, depois de falar com ela sobre os perigos do fogo, mencionaria seu apego a seu chicote e lhe pediria que não o utilizasse para essas tarefas caseiras. Tirou o resto da roupa e se deitou junto à Sara. Ela estava esgotada pela dor de cabeça que ele e a família Winchester lhe tinham provocado. Precisava descansar. Nem sequer se moveu quando ele a abraçou.
Não se atreveu a aproximá-la mais já que sabia que quando a abraçasse e a acariciasse não poderia deixar de lhe fazer amor.
Suas intenções eram honráveis. Entretanto, logo sua frustração foi dolorosa. Nathan considerou que merecia uma penitência pela agonia que lhe tinha provocado. O único pensamento que o acompanhou durante a longa noite foi a promessa de que logo que amanhecesse e Sara despertasse demonstraria que realmente lhe importava.
Nathan não dormiu até que saiu o sol. Despertou sobressaltado várias horas mais tarde, e estendeu os braços para abraçar sua esposa.
Ela não estava ali. Tampouco estava sua roupa. Nathan entrou na a calça e subiu procurando-a na coberta.
Primeiro encontrou Matthew.
-Onde está Sara? -perguntou-. Não está na galera, não é?
O marinheiro mostrou o cais.
-Colin veio hoje cedo com uns papéis para que os assinasse. Sara e Jimbo retornaram ao escritório com ele.
-Por que não me despertou?
-Sara não nos permitiu que o incomodássemos -explicou Matthew-. Disse que dormia como os mortos.
-Foi muita.. consideração -sussurrou Nathan-. Aprecio isso.
Mathew negou com a cabeça.
-Se quiser minha opinião estava tentando evitá-lo. E depois da forma que todos a desafiamos ontem quando retornou ao cais, bom, sentíamo-nos um pouco culpados, assim hoje a deixamos que fizesse sua vontade.
-Do que está falando?
-Quando Jimbo viu que Sara descia da carruagem começou a lhe passar um sermão sobre os perigos da cidade para uma inocente mulher que viaja sozinha.
-E?
-Logo o fez Colin -continuou Matthew, Logo Chester... ou foi Ivan? Não o recordo. Nathan, todos os homens estavam alinhados esperando seu turno para lhe falar. Foi algo que nunca tinha visto.
Nathan imaginou a cena e não pôde deixar de sorrir.
-Os homens lhe são leais -comentou. voltou-se para a escada. Tinha a intenção de ir procurar a sua esposa para que retornasse. de repente se deteve e se voltou-. Matthew? Como estava Sara esta manhã?
O marinheiro olhou fixamente para Nathan.
-Não estava chorando se é o que quer saber. Agora, se me perguntar como estava, tenho que te dizer que se encontrava em estado lastimável.
Nathan retornou e se colocou junto a seu amigo.
-O que quer dizer?
-Derrotada -respondeu Matthew-. Tem lhe partido o coração, rapaz.
Nathan lembrou-se da mãe da Sara. Ela era uma mulher derrotada, e Nathan sabia que seu marido Winston tinha sido o responsável por lhe despedaçar o coração. Ele seria igual?
Esse pensamento o aterrorizou. Matthew estava observando a expressão de Nathan e estava surpreso de ver sua vulnerabilidade.
-Que demônios vou fazer? -perguntou-lhe Nathan.
-Você o destroçou -replicou Matthew-. Arrume você.
Nathan negou com a cabeça.
-Duvido que acreditara em algo que eu lhe diga. Não posso culpá-la.
Matthew negou com a cabeça.
-Ainda tem tão pouca fé em nossa Sara?
-O que está dizendo? -perguntou-lhe Nathan.
-Ela o ama há anos, Nathan. Não acredito que possa deixar de fazê-lo tão repentinamente, não importa o que lhe tenha feito. Só tem que lhe fazer saber que confia nela. Se pisar em uma flor, a matara. O coração de nossa Sara é como uma flor, rapaz. Feriu-a. O melhor será encontrar uma forma de lhe demonstrar que se preocupa com ela. Se não o fizer, a perderá. Perguntou-me se pode me acompanhar de volta à ilha da Nora.
-Não vai me deixar.
-Não precisa gritar, rapaz. Ouço bem -Matthew teve que se esforçar para esconder seu sorriso-. Ela mencionou que se incomodaria se partisse.
-Então se dá conta de que começou a me... -Nathan se sentiu como um menino de escola- importar.
Matthew bufou.
-Não, ela não reconheceu isso. Acha que você quer a terra e o dote. Acredita que é a mala extra que vai com a dote do rei.
Isso a princípio era tudo o que importava a Nathan, mas não demorou para dar-se conta de que Sara era muito mais importante para ele.
E a estava perdendo. Tinha quebrado seu coração, mas não sabia como concertá-lo. Necessitava do conselho de um perito.
Depois de ordenar a Matthew que cuidasse de Seahawk durante o resto do dia, terminou de vestir-se e foi para Londres. Sabia que Sara estaria segura com o Jimbo e Colin, assim foi diretamente para casa de sua irmã. Não queria ver Sara até que soubesse exatamente o que lhe dizer.
Jade abriu a porta principal.
-Como soube tão cedo? -perguntou a seu irmão quando passou junto a ela.

-Tenho que falar com o Caine -lhe indicou Nathan. Olhou na sala, viu-a vazia, e logo se voltou para sua irmã-. Onde está ele? Não saiu, não é?
-Não, está no estúdio -lhe respondeu Jade-. Nathan, nuunca o vi assim -adicionou-. Está preocupado com Sara? Ela está bem. Acabo de levá-l ao quarto de hóspedes.
Nathan estava na metade do corredor antes que Jade terminasse sua explicação. Então se voltou.
-Ela está aqui? Como...?
-Colin a trouxe -lhe explicou jade-. Nathan, por favor baixa a voz. Olivia está dormindo uma sesta, e acredito que se desta vez a acordar, Sterns o perseguirá com uma tocha.
-Lamento.
Nathan se dirigiu ao estúdio de Caine. Jade lhe gritou:
-Desculpei-me com a Sara por ter tirado conclusões apressadas. Você o fez, Nathan?
-Tirar conclusões apressadas?
Ela correu atrás dele.
-Não. Quero saber se desculpou com ela por ter acreditado que era culpada de traição, irmão. Sei que ela não poderia ter feito. Ela o ama, Nathan ..e também vai deixá-lo.
-Não a deixarei ir a nenhuma parte -gritou Nathan.
Caine ouviu a voz estrondosa de seu cunhado. Sentou-se atrás da mesa e fingiu estar absorto lendo as notícias.
Nathan não chamou. Entrou e fechou a porta com a parte traseira de sua bota. Um resmungo de bebê se ouviu depois desse ruído.
-Tenho que falar com você.
Caine não se apressou para dobrar o jornal. Estava tentando de dar uns minutos para que Nathan se acalmasse. Indicou-lhe que se sentasse.
-Quer um conhaque? -perguntou-lhe-. Parece que te viria muito bem.
Nathan rechaçou o oferecimento. Tampouco se sentou. Caine se reclinou para trás e observou como caminhava até que que sua paciência se esgotou.
-Disse que queria falar comigo? -insistiu.
-Sim.
Passaram outros cinco minutos antes que Caine lhe dissesse:
-Diga, Nathan.
-É... difícil.
-Já me dei conta -replicou Caine.
Nathan assentiu com a cabeça, logo voltou a caminhar de um lado a outro.
-Maldição, quer se sentar? Estou me enjoando de te olhar.
Nathan se deteve imediatamente. Colocou-se diante do escritório de Caine. Sua postura era rígida. Caine pensou que estava preparado para brigar.
-Preciso de sua ajuda.
Caine não estaria mais surpreso se Nathan tivesse vomitado seu jantar nesse momento. Seu cunhado tinha o rosto cor cinza e tinha o aspecto de sofrer uma intensa dor.
-Está bem, Nathan -disse Caine-. O ajudarei como posso. Me diga o que quer.
A Nathan pareceu incrível.
-Ainda não disse o que preciso e imediatamente promete me ajudar. Por que?
Caine suspirou profundamente.
-Alguma vez teve que pedir algo a alguém, Nathan?
-Não.
-É muito difícil para você, não é?
Nathan encolheu os ombros.
-Aprendi a não depender dos outros, mas agora parece que não posso pensar corretamente.
-Também aprendeu a não confiar em ninguém, não foi?
-O que quer dizer?
-Sara diz que esperava que ela o traísse. Tem razão?
Nathan voltou a encolher os ombros.
-Olhe -disse Caine-, Quando me casei com sua irmã, você se converteu em meu irmão. É obvio que o ajudarei. É assim entre a família.
Nathan se aproximou da janela e olhou para fora. Tinha as mãos nas costas.
-Acredito que Sara deve ter perdido um pouco de sua fé em mim.
Caine pensou que era a exposição mais incompleta do mundo.
-Então ajude-a recuperar -sugeriu.
-Como?
-A ama, Nathan?
-É importante para mim -lhe respondeu-. Me dei conta de que não é minha inimiga. Ela é minha sócia. Quer o melhor para mim, como eu quero o melhor para ela.
Caine olhou para cima.
-Colin é seu sócio, Nathan. Sara é sua esposa.
Ao ver que Nathan não fazia nenhum comentário, Caine insistiu:
-Quer passar o resto de sua vida com Sara? Ela é um aborrecimento que tem que suportar para ganhar o presente do rei?
-Não posso me imaginar vivendo sem ela -respondeu Nathan com voz baixa, fervente.
-Então Sara é algo mais que uma sócia, não é?
-É obvio que é -murmurou Nathan-. Ela é minha esposa, pelo amor de Deus. Colin é meu sócio.
Os dois homens permaneceram em silencio durante um momento.
-Não tinha idéia de que... interessar-se por alguém fosse tão irritante. Estraguei tudo, Caine. Destruí a fé da Sara em mim.
-Ela te ama?
-É obvio que ela me ama -respondeu imediatamente Nathan-. Pelo menos me amava. Dizia-me isso quase todos os dias -suspirou e adicionou-: Matthew tinha razão. Durante todo este tempo Sara me deu seu amor sem reservas. É como uma flor e eu a pisei.
Caine tentou não sorrir.
-Como uma flor, Nathan? Deus, deve esta cansado. Tranformou-se em um... eloqüente.
Nathan não estava prestando atenção.
-Ela acredita que é uma mala extra que devo levar para obter a terra e as moedas. Isso era verdade a princípio, mas agora tudo mudou.
-Nathan, simplesmente diga o que sente.
-Sara é tão delicada -pronunciou Nathan-. Ela merece alguém melhor que eu, mas não deixarei que nenhum outro a toque. Tenho que arrumar isto. Pisei em seu...
Caine lhe interrompeu.
-Sei, sei. Pisou em sua flor.
-Seu coração, maldição -sussurrou Nathan-. Entende-o, pelo amor de Deus.
Como Nathan não lhe estava olhando, Caine se sentiu seguro para sorrir.
-Então o que vai fazer? -perguntou.
Transcorreram outros cinco minutos em silêncio. Logo Nathan ergueu os ombros. voltou-se para olhar Caine.
-vou reconstruir sua fé em mim.
Caine pensou que não tinha sentido lhe recordar que lhe tinha sugerido o mesmo fazia cinco minutos.
-É uma muito boa idéia -lhe disse em troca-. Agora, me diga qual é seu plano para obter isto...
-O vou demonstrar -lhe interrompeu Nathan-. por que não o pensei antes?
-Como não sei o que está pensando, não te posso responder.
-É tão simples, que até um imbecil poderia dar-se conta. Necessitarei sua ajuda para fazê-lo.
-Já disse que ajudarei.
-Agora necessito alguns conselhos, Caine. Você é o perito em mulheres -adicionou com tom de afirmação.
Esse anúncio era uma novidade para o Caine e estava a ponto de lhe perguntar a Nathan como tinha chegado a essa conclusão, mas seu cunhado lhe respondeu antes de que lhe formulasse a pergunta.
-Jade nunca se casou. Minha irmã é discriminatória.
Caine começou a fazer uma careta, mas franziu o semblante quando Nathan adicionou:
-Ainda não posso imaginar. Deve ter algo que só ela pode... apreciar.
Caine não teve oportunidade de responder a esse comentário incisivo.
-Necessito sua ajuda com o Luther Grant -explicou Nathan.
-Pelo amor de Deus, Nathan, quer deixar de saltar de um tema a outro? Acaba-me de pedir conselho sobre mulheres, e agora...
-Grant tem que falar conosco -Insistiu Nathan.
Caine se reclinou para trás na cadeira.
-De qualquer maneira vou procurar o maldito, Nathan. Receberá o que merece.
-Possivelmente fugiu -disse Nathan.
-Não se preocupe. Averiguaremos muito em breve.
-Terá que admitir sua parte neste plano antes da festa do Farrimount. Se Grant tiver fugido, ficam só dois dias para lhe encontrar.
-Teremos sua confissão assinada antes disso -lhe prometeu Caine-. Mas por que o limite é a festa do Farnmount, Nathan?
-Porque todo mundo retorna a Londres para ir ali.
-Você nunca vai.
-Este ano irei.
Caine assentiu com a cabeça.
-Sabe que sempre me agradou essa festa. É a única a que aparecem seu familiares St. James tão amáveis.
-É a única festa a que os convidam -grunhiu Nathan. Apoiou-se contra o bordo a janela e sorriu a seu cunhado.
Caine ainda não compreendia o que Nathan estava planejando. Sabia que não tinha que insistir. Nathan o diria quando estivesse preparado.
-Todo mundo teme ir à festa porque não quer ser a próxima vítima de seu tio Durinfórd -assinalou Caine. Sorriu quando adicionou-: Mas tampouco querem perder, Durinford brinda um bom entretenimento. Lembra, o Huno, vestido com seu traje formal. Agora que o penso, você também, Nathan.
Seu cunhado não escutou o que seu cunhado dizia. Sua mente estava concentrada em seu plano. Passaram um ou dois minutos antes de comentasse:
-O príncipe regente também comparece sempre à festa.
O olhar de Caine se iluminou. Inclinou-se para frente.
-Sim. E agora que o penso também todos os Winchester.
-Só tenho interesse em um Winchester -respondeu Nathan-. Winston.
-Acha que é ali onde pensa em provocar o escândalo sobre seu pai? Sim -continuou Caine-. Que melhor oportunidade?
-Pode arrumar um encontro com sir Richards? Quero lhe pôr a par dos fatos o antes possível.
-O diretor de nossa Seção de Guerra já está informado do assunto. Falei com ele esta manhã. Neste momento deve estar visitando o maldito.
-A menos que tenha escapado -demarcou Nathan.
-Ele não tem nenhuma razão para pensar que sabemos o que aconteceu. Deixa de preocupar-se de Grant e me conte o que planeja fazer.
Nathan assentiu com a cabeça. Logo começou a lhe explicar o que queria fazer. Quando terminou, Caine estava sorrindo.
-Se a sorte estiver de nosso lado, poderemos arrumar o encontro para amanhã pela tarde, Nathan.
-Sim -respondeu seu cunhado. afastou-se da janela-. Agora, falemos da Sara. Alguém tem que vigia-la de perto até que isto se resolva. Não quero que os Winchester a encontrem enquanto me ocupo dos detalhes. Se algo lhe acontecer, Caine, não sei o que... -não continuou.
-Jimbo está na cozinha deixando as prateleiras secas. Já esclareceu que está protegendo Sara. Não deixará que saia daqui. Jade e eu também a vigiaremos. Acha que retornará antes desta noite?
-Tentarei -respondeu Nathan-. Agora tenho que falar com Colin. É justo que meu sócio esteja de acordo com meu plano antes de que eu proceda.
-Embora pareça completamente ignorante, por que Colin tem que dar sua aprovação sobre o Grant?
-Agora não estou falando do Grant- Nathan explicou-. Estou falando de Sara. Meu deus, Caine, preste atenção.
Caine suspirou profundamente.
-Estou tentando.
-Tenho que lhe pedir um favor mais.
-Sim?
-Sempre está dizendo essas ridículas palavras carinhosas a Jade.
-Jade gosta ouvir essas ridículas palavras carinhosas -respondeu Caine.
-É exatamente o que pensava -respondeu Nathan assentindo rapidamente com a cabeça-.Sara também gostará.
-Quer que diga a Sara as mesmas palavras carinhosas que digo a minha esposa?
-É obvio que não -replicou Nathan. Quero que as escreva em um papel.
-Por que?
-Assim saberei quais são -gritou Nathan-. Maldição, está tornando isso mais difícil para mim. Só as escreva, está bem? Deixe o papel sobre a mesa.
Caine não se atreveu a rir. Entretanto, sorriu. A imagem de Nathan lendo notas enquanto tentava galantear a Sara era muito divertida.
-Sim, deixarei sobre a mesa-respondeu quando Nathan o olhou fixamente.
Nathan ia sair.
-Nem sequer vai ver Sara antes de ir ? -perguntou Caine.
Nathan negou com a cabeça.
-Primeiro tenho que deixar tudo preparado.
Caine percebeu a preocupação em sua voz.
-As palavras de amor não são necessárias, Nathan, se lhe disser o que há em seu coração.
Seu cunhado não respondeu a essa sugestão. Finalmente, Caine compreendeu.
-Tem medo de enfrentá-la, não é?
-Sim -gemeu Nathan-. Não quero errar.
Jade passava pela porta da biblioteca quando ouviu a risada de seu marido. Deteve-se para escutar, mas a única parte da conversa que pôde escutar não teve nenhum sentido para ela.
Nathan anunciou que contra vento e maré recuperaria sua flor. Só precisava de tempo para averiguar como.
Jade se perguntou o que tinha querido dizer.

Capítulo 15

Sara passou a tarde no quarto de hóspedes. Sentou-se em uma cadeira perto da janela e tentou ler um dos livros que Jade lhe tinha levado. Entretanto, não podia se concentrar na história, e terminou olhando o pequeno jardim de flores que havia atrás da casa. Sara só podia pensar no Nathan e em quanto tola tinha sido ao lhe amar.
Por que não podia ama-la? Formulava-se essa dolorosa pergunta a cada dez minutos, mas nunca encontrava a resposta adequada. O futuro a aterrorizava. Já tinha decidido violar o contrato para que sua família não pudesse ficar com a dote do rei; mas uma vez que se produzira o escândalo sobre o pai do Nathan, o príncipe regente não teria que reter a dote e tampouco entregar-lhe a Nathan?
Sara não podia permitir isso. Seu pai tinha utilizado o engano e a fraude para obter vantagem sobre Nathan. Sara estava decidida a encontrar uma forma de igualar a diferença. Não queria viver com um homem que não a amava, assim decidiu chegar a um acordo com Nathan. Em troca de sua assinatura cedendo todos os direitos da dote para o Nathan, ele deixaria que Matthew a levasse com ele quando retornasse à ilha da Nora.
A injustiça do que tinha feito seu pai a envergonhava. Então decidiu que sua única esperança era obter o apoio do príncipe regente. Sentiu um frio nas costas ao pensar que teria que alegar seu caso diante dele.
George, o futuro rei da Inglaterra, uma vez que seu pai morrera ou fosse declarado insano, como afirmavam os rumores, era um homem bom rapaz e educado. Infelizmente, esses eram seus únicos pontos a favor. A Sara desagradava imensamente. Era um homem corrompido, que só procurava o prazer e que raramente punha os interesses de seu país sobre os dele. Para a Sara seu pior defeito era sua mania de trocar de opinião sobre qualquer assunto. Sara sabia que não era a única a que não simpatizava com o príncipe. Não era popular entre o povo, e fazia uns meses ela tinha escutado que alguns sujeitos zangados tinham quebrado os vidros de sua carruagem. Nesse momento, George ia caminho do Parlamento.
Mas mesmo assim, ela não tinha a quem recorrer, assim escreveu uma nota ao príncipe lhe pedindo uma audiência para a tarde do dia seguinte. Fechou o envelope e estava a ponto de sair ao corredor para pedir que Sterns enviasse um mensageiro ao Carlton House quando Caine a interceptou.
A ia procurar para que fossem jantar. Sara foi muito amável quando rechaçou o convite, e insistiu em que não tinha fome. Caine também foi muito amável quando insistiu que tinha que comer algo. O homem não aceitaria um não como resposta. Disse isso enquanto a acompanhava pelo corredor.
Jimbo estava esperando no salão de entrada. Sara lhe entregou o envelope e lhe pediu que o enviasse. Caine tomou a carta antes que o marinheiro pudesse assentir.
-Direi a um dos serventes a leve -explicou Caine-. Jimbo, escolte lady Sara até o salão. Irei em um minuto.
Depois que Jimbo e Sara se afastaram, Caine abriu o envelope, leu a carta, e a colocou em seu bolso. Esperou um ou dois minutos mais e entrou no salão.
Jimbo se sentou junto à Sara na grande mesa. Jade estava sentada frente a ela. Caine ocupou seu lugar na cabeceira da mesa, e logo chamou os serventes para começar.
-Acredito que provavelmente foi muito descortês de minha parte, mas vi que a carta estava dirigida a nosso príncipe regente -começou Caine.
-Não conheço ninguém mais que viva no Carlton House -demarcou Jimbo.
Caine franziu o semblante ao marinheiro.
-Sim, mas não sabia que Sara conhecia o príncipe.
-Oh, não conheço príncipe -replicou Sara. Nem sequer gosto... -deteve-se na metade de sua explicação e se ruborizou. Baixou o olhar à mesa-. Peço desculpas. Tenho o costume de dizer o que penso -confessou-. Quanto à nota, pedi-lhe uma audiência. Espero que o príncipe me receba amanhã pela tarde.
-Por que? -perguntou-lhe jade-. O príncipe está a favor de seu pai.
-Espero que esteja equivocada, Jade.
-Temo que minha esposa tenha razão, Sara -disse Caine-. Quando o príncipe fez saber que queria divorciar de sua esposa Caroline, seu pai foi um dos que lhe apoiou.
-Mas o príncipe não deixa as considerações pessoais de lado e se ocupa de ajudar a um leal?
Sua inocência era prazerosa e alarmante. Caine não queria que se decepcionasse.
_Não -lhe respondeu Caine-. Suas próprias considerações sempre vem em primeiro lugar. O homem troca de opinião tão freqüentemente como troca seus ministros, Sara. Não se pode contar com o que promete. Lamento parecer desleal, mas sou completamente honesto com você. Não quero lhe dar esperanças para que logo fiquem destruídas. Deixa que Nathan lute esta batalha, Sara. Coloca-se junto a ele e deixa que dirija a seu pai.
Ela negou com a cabeça.
-Sabe por que não quis aprender a nadar? Acreditei que não tinha que saber, porque Nathan tinha o dever de assegurar-se de que não me afogasse. Sempre me ocupei de outros e não de mim. Agora você sugere que Nathan brigue por mim. Isso é ruím, Caine, equivoquei-me. Não quero depender de ninguém. Deveria ter força suficiente para cuidar de mim sozinha. Quero ser forte, maldição.
Ruborizou-se depois de terminar sua apaixonada exposição.
-Por favor desculpem minha linguagem grosseira. -depois dessa discurso se produziu um silêncio. Jimbo encheu o espaço com algumas saborosas histórias sobre suas aventuras no mar
Estavam retirando a bandeja da sobremesa quando Jade perguntou:
-Ainda não conhece nossa bela filha? -formulou essa pergunta em um intento de manter a Sara um pouco mais na mesa. Queria levar a conversa para Nathan. Jade estava decidida a interceder. Ver Sara tão solitária e desolada lhe provocava muita angústia.
Sara sorriu a menção da menina.
-Ouvi-a -lhe confessou-, mas ainda não a conheço. Sterns me prometeu que esta tarde me deixará ter Olivia nos braços.
-É uma menina encantadora -comentou jade-. Está sempre sorrindo. Também é muito inteligente..
Jade seguiu expondo as qualidades de sua filha de três meses. Sara percebeu que, depois de cada alarde de Jade, Caine assentia imediatamente com a cabeça.
-Olivia tem sorte de ter pais tão carinhosos.
-Nathan será um magnífico pai -disse Jade.
Sara não fez nenhum comentário.
-Está de acordo, marido? -perguntou Jade a Caine.
-Se aprender a baixar a voz, será.
Jade deu um chute no marido, enquanto seguia sorrindo para Sara.
-Nathan tem tantas qualidades maravilhosas -continuou Jade.
Sara não queria falar de Nathan, mas sentiu que seria descortês não mostrar um pouco de interesse.
-Sim? E quais são essas qualidades? -perguntou.
Jade abriu a boca para responder, mas se deteve. Parecia que tinha esquecido o tema da conversa. voltou-se para Caine para procurar ajuda.
-Explique a Sara as magníficas qualidades do Nathan.
-Explique você -respondeu Caine, enquanto pegava outra bolacha doce.
Jade lhe deu outra patada por debaixo da mesa. Caine olhou fixamente sua esposa.
-É um homem em quem se pode confiar.
-Possivelmente se possa confiar nele, mas ele não confia em ninguém -replicou Sara. Começou a dobrar seu guardanapo.
-O rapaz tem coragem -demarcou Jimbo. Fez uma careta pois estava muito satisfeito de ter podido comentar algo.
-É notavelmente... -disse Jade. depois de fazer esse comentário se perguntou se era certo.
Sara não assentiu nem discordou. Caine decidiu que estavam utilizando o caminho equivocado. Tomou a mão de Jade e quando a olhou piscou um olho.
-Provavelmente, Nathan seja o homem mais obstinado que conheci.
-Possivelmente seja um pouco obstinado -replicou Sara imediatamente-, mas isso não é um pecado -voltou o olhar para Jade-. Seu irmão me lembra uma estátua belamente esculpida. Por fora é tão atrativo, tão perfeito, mas por dentro seu coração é tão frio como o mármore.
Jade sorriu.
-Nunca pensei que Nathan fosse bonito.
-Sara não pode lhe considerar bonito -Caine apertou a mão de sua esposa antes de adicionar-: Nathan é feio, e todo mundo sabe. Tem as costas coberta de cicatrizes, pelo amor de Deus.
Sara emitiu um pequeno som entrecortado, mas Caine conteve seu sorriso. Ao fim cnseguindo que demonstrasse um pouco de emoção.
-Foi uma mulher que marcou as costas de Nathan -exclamou Sara-. E foi essa mesma mulher a que lhe marcou o coração.
Dobrou o guardanapo sobre a mesa e ficou de pé.
-Nathan não é feio, senhor. É incrivelmente bonito. Acredito que é espantoso que seu próprio cunhado fale assim dele. Agora me desculpem, eu gostaria de ir para meu dormitório.
Jimbo franziu o semblante para Caine por ter aborrecido Sara, e logo a seguiu para ver se realmente tinha subido a seu dormitório.
-Caine, a aborreceu de tal maneira que agora vai te que se desculpar -disse Jade a seu marido.
Jimbo retornou depressa ao comilão.
-Sara se sente muito infeliz-comentou - Me diga por que me tirou a carta das mãos. Não pensava que ia mandar essa coisa, verdade?
-A carta está em meu bolso -respondeu Caine-. A tirei porque queria lê-la.
-Caine, isso é uma invasão... O que dizia? -perguntou Jade.
-O que Sara nos disse que tinha escrito -respondeu Caine-. Pede uma audiência para discutir o contrato.
-Suponho que o rapaz tenha algum plano -interveio Jimbo.
-Sim -lhe respondeu Caine.
-A que se referiu Sara quando disse que tinha sido uma mulher que lhe tinha marcado as costas de Nathan? Quem lhe deu essa má informação? Foi o fogo que apanhou dentro da prisão.
-Mas não foi Ariah a responsável por Ter sido preso?
-Foi -admitiu Jimbo-. Aconteceu faz tantos anos que duvido de que Nathan tenha algum rancor. Acredito que saiu fortalecido disso, e não fomos da ilha sem um bom bota de cano longo para repartir entre nós.
Caine ficou de pé.
-Tenho que arrumar alguns detalhes. Retornarei tarde a casa, Jade. Sir Richards e eu temos que discutir alguns negócios.
-Por que tem que falar com o diretor do Departamento de Guerra? -perguntou. Não pôde ocultar seu temor-. Caine, não terá começado a trabalhar para nosso Governo sem falar primeiro comigo, verdade? Prometeu...
-Shhh -lhe disse Caine-. Estou ajudando Nathan em um pequeno assunto, isso é tudo. Estou aposentado e não tenho desejos de retornar aos dias de capa e adaga.
Jade parecia aliviada. Caine se inclinou e a beijou.
-Amo-a -lhe sussurrou antes de dirigir-se para a porta.
-Espera um minuto -lhe pediu Jade-. Ainda não me explicou por que fez que Sara se zangasse deliberadamente. Caine, já sabemos que ela o ama. Tudo o que tem que fazer é lhe olhar o rosto.
-Sim, sabemos que o ama -respondeu Caine-. Só queria faze-la lembrar disso. Fez uma careta diabólica-. Agora, se me desculpar, acabo de pensar em algumas palavras carinhosas e quero escreve-las antes de ir.
Jimbo e Jade ficaram lhe olhando fixamente.
Pela primeira vez naquele dia, Sara pôde deixar de pensar em Nathan. A pequena Olivia monopolizou toda sua atenção. Era uma menina linda. Em um momento estava sorrindo e babando e no seguinte gritava como uma cantor de ópera.
Olivia tinha os olhos verdes iguais aos de sua mãe. O pouco cabelo que tinha parecia que ia ser encaracolado como o de seu pai. Sterns permaneceu junto à Sara durante todo o tempo que ela sustentou à menina.
-Acredito que meu amor herdou a inclinação a gritar como seu tio Nathan. Pode fazê-lo tão forte como ele -confessou Sterns com um sorriso---. Olivia sempre quer uma gratificação imediata -lhe explicou quando a menina começou a zangar-se mais.
Voltou-a a tomar entre seus braços e a aproximou dele.
-vamos procurar a sua mamãe, meu anjinho? -cantarolou.
Sara não queria retornar aio seu quarto. Ali estaria sozinha e sabia que seus problemas voltariam a afligi-la.
Essa noite se deitou cedo, e como estava tão perturbada emocionalmente dormiu durante toda a noite. Recordava vagamente haver-se encostado contra seu marido e sabia que ele tinha dormido junto a ela porque seu lado da cama ainda estava morno, e chegou à amarga conclusão de que ainda estava muito zangado com ela porque não se incomodou em despertá-la. Ainda acreditava que lhe tinha traído, pensou.
Não é necessário dizer que essa possibilidade a voltou a aborrece-la. Quando terminou de banhar-se estava furiosa. Embora tivesse dormido muitas horas se sentia como uma velha bruxa.
Tinha olheiras e o cabelo tão murcho e esmagado como seu espírito. Sara queria estar o melhor possível quando fosse a ver o príncipe regente. Demorou para decidir que vestido usar, só para afastar sua mente do verdadeiro assunto que tinha em mãos, e finalmente se decidiu por um vestido rosa conservador e de pescoço alto.
Como uma dama em uma festa formal, Sara se sentou em um canto do dormitório durante toda a manhã, esperando o convite que nunca chegou.
Rechaçou o alrapaz, e passou grande parte da tarde caminhando de um lado a outro de seu quarto tentando pensar em qual seria seu próximo passo. Era terrivelmente desconcertante que o príncipe regente tivesse ignorado sua petição urgente. Pensou que Caine tinha tido razão quando lhe disse que o príncipe não tinha interesse nos problemas do povo.
Então Caine bateu na porta, interrompendo seus pensamentos.
-Sara, temos que fazer uma pequena diligência.
-Aonde vamos? -perguntou-lhe. Começou a ficar suas luvas brancas, mas logo se deteve-. Eu não deveria sair -lhe explicou-. O príncipe regente poderá me enviar alguma mensagem.
-Tem que vir comigo -ordenou Caine-. Não tenho tempo de lhe explicar isso Sara. Nathan quer que se encontre com ele nos escritórios do Departamento de Guerra dentro de meia hora.
-Por que?
-Deixarei que seu marido lhe explique isso.
-Quem mais vai estar ali? Por que temos que nos encontrar no Departamento de Guerra?
Caine evadiu suas perguntas. Jade os estava esperando no salão de entrada. Tinha a Olivia nos braços.
-Tudo vai sair bem -disse Jade a Sara. Estava dando tapinhas brandos nas costas a sua filha.
A menina arrotou. Todos sorriram ao ouvir o barulho.
Caine beijou sua esposa e sua filha, e logo levou gentilmente a Sara pela porta principal.
-Farei que lhe engomem seus vestidos e os coloquem no armário enquanto faz esta diligência -lhe anunciou jade.
-Não -exclamou Sara-. Só ficarei uma noite mais.
-Mas aonde irão você e Nathan? -perguntou-lhe Jade.
Sara não lhe respondeu. Voltou-se e desceu os três degraus. Caine lhe abriu a porta da carruagem. Sara se sentou frente a seu cunhado. Ele tentou conversar com ela, mas desistiu rapidamente quando lhe sussurrou alguns, monossílabos como resposta.
O Departamento de Guerra estava situado em um edifício de pedra alto, cinza, e feio. Um aroma de umidade cobria a escada. Caine levou a Sara até o primeiro piso.
-A reunião se levará a cabo no escritório de sir Richards. Ela a agradará, Sara. É um bom homem.
-Estou segura de que sim -lhe respondeu só por ser amável-. Mas quem é ele e por que quer esta reunião?
-Richards é o diretor do Departamento -Caine abriu a porta do escritório e indicou a Sara que entrasse.
Um homem com um grande abdômen estava de pé atrás de ua mesa. Tinha cabelo cinza fino, um nariz proeminente e um aspecto rude. logo que levantou a vista do papel que tinha em sua mão e viu Sara e Caine se adiantou.
-Ali está -anunciou com um sorriso-. Já quase estamos preparados. Lady Sara, é um prazer conhecê-la.
Era um cavalheiro muito amável, pensou Sara. inclinou-se formalmente e tomou a mão.
-Você deve ser toda uma dama para ter capturado a nosso Nathan.
-Não lhe capturou, sir Richards -demarcou Caine com um sorriso-. Ele a capturou.
-Temo que ambos estão equivocados -sussurrou Sara-. O rei George capturou aos dois. Nathan nunca teve uma oportunidade no assunto, mas eu gostaria de encontrar uma forma de...
Caine não a deixou continuar.
-Sim, sim -a interrompeu-. Quer encontrar Nathan, verdade? Onde está? -perguntou-lhe ao diretor.
-Esperando os papéis -lhe explicou sir Richards-. Voltará em seguida. Meu ajudante é muito rápido. Não se preocupe, querida, tudo será legal.
Sara não sabia do que estava falando o diretor, mas não quis parecer completamente ignorante.
-Não estou segura de por que estou aqui -admitiu-. Eu...
Deixou de falar quando se abriu uma porta lateral do escritório e Nathan entrou. Não pôde lembrar o que estava dizendo, e quando começou a lhe doer o peito percebeu que estava contendo a respiração.
Ele nem a olhou e se aproximou damesa , deixou cair dois papéis sobre a pilha. Logo se dirigiu para um banco comprido que havia junto a uma janela e ficou ali olhando-a fixamente.
Ela não podia deixar de o olhar. Era um homem rude, impossível de compreender, obstinado e com maneiras grosseiros, pensou Sara.
Bateram na porta e um jovem com uniforme de guarda negro olhou para dentro.
-Sir Richards, a carruagem do príncipe regente está lá fora.
Sara escutou o anúncio, mas mesmo assim não podia deixar de olhar Nathan. Ele não parecia surpreso que o príncipe estivesse subindo pela escada. Tampouco parecia nervoso, já que se apoiou contra a parede e continuou olhando-a.
Se não lhe ia falar, ela...
Chamou-a com um dedo. Ela não podia acreditar na sua arrogância. Sir Richards e Caine estavam discutindo sobre alguns temas. perguntou-se se a tinham incluído na conversação. Logo Nathan voltou a chamá-la com o dedo. Teria que ser um dia ardente no paraíso antes que lhe obedecesse, pensou, mesmo assim começou a caminhar para ele.
Não lhe sorria. Tampouco a olhava com o semblante franzido. Nathan estava tão sério... tão concentrado. Deteve-se quando estava frente de seu marido.
Que Deus a ajudasse, pensou, não podia chorar. Não era fácil sua tortura. Parecia tão satisfeito. Por que?, perguntou-se Sara. Tudo o que ele tinha que fazer era lhe fazer uma indicação com o dedo e ela ia correndo.
Sara se voltou e tentou se dele. Ele a fez retroceder. Pôs um braço sobre seu ombro e se inclinou para lhe sussurrar ao ouvido:
-Confia em mim, esposa. Compreende-me. Não me abandone.
Estava tão surpreendida por sua ordem que emitiu um som entrecortado. Olhou-o para saber se estava brincando. Logo lembrou-se que Nathan raramente vez brincava sobre algo. Imediatamente, Sara se sentiu enfurecida. Como se atrevia a lhe ordenar algo? Pelo menos tinha confiança suficiente nele para perder um pouco, pensou. Seus olhos se encheram de lágrimas e quis sair do escritório para chorar.
Nathan levantou seu queixo para que voltasse a olha-lo.
-Ama-me, maldição.
Ela não podia negá-lo, e por isso não disse nada.
Olhou-a fixamente durante um minuto.
-E sabe por que me ama?
-Não -respondeu Sara-. Honestamente, Nathan, não tenho a menor idéia de por que te amo.
Ele não se sentiu irritado pelo tom de irritação de sua voz.
-Ama-me, Sara, porque sou tudo o que poderia querer de um marido.
Uma lágrima deliszou pela face e ela a secou com o polegar.
-Atreve-se a brincar usando minhas próprias palavras? Tinha me esquecido que lhe disse essas mesmas palavras quando partimos para a ilha da Nora. Pode se destruir o amor, ele é frágil e...
Não continuou com sua explicação ao ver que ele sacudia a cabeça.
-Você não é frágil. E seu amor não pode ser destruído -acariciou brandamente o rosto-. É o que mais valorizo, Sara. Não estava brincando.
-Não importa -sussurrou ela-. Sei que não me ama. Aceito, Nathan. Por favor, não se preocupe. Não o culpo. Nunca lhe deram uma oportunidade.
Ele não podia suportar ver sua angústia. Como desejava que estivessem sozinhos para tomá-la em seus braços e lhe mostrar o muito que a amava. Mas primeiro teria que lhe provar.
-Discutiremos isto mais tarde -lhe anunciou-. Por enquanto eu tenho apenas uma ordem. Não se atreva a perder as esperanças em mim.
Ela não compreendeu o que estava pedindo.
Nathan olhou para a porta quando o príncipe regente entrou no escritório. Sara se afastou imediatamente de seu marido, inclinou a cabeça como o tivesse feito qualquer súdito e esperou pacientemente que seu líder a saudasse.
O príncipe era de estatura média e bastante atrativo. Usava sua arrogância como uma capa sobre seus ombros.
Todos os homens se inclinaram ante o príncipe quando os saudou, e logo tocou o turno a Sara. Ela fez uma leve reverencia.
-Sempre é um prazer vê-la, lady Sara.
-Obrigado, meu lorde -lhe respondeu-. E obrigado também por me conceder esta audiência.
O príncipe parecia desconcertado por esse comentário. Entretanto, assentiu com a cabeça e se sentou atrás do escritório de sir Richards. Os dois homens que lhe acompanhavam ficaram junto a seu líder como sentinelas.
Caine estava preocupado que Sara pudesse fazer algum outro comentário sobre a carta que tinha escrito ao príncipe. aproximou-se e se colocou junto a ela.
-Sara, não enviei sua carta ao príncipe. Ainda está em meu bolso.
Sir Richards estava falando com o príncipe sobre a reunião, e como nenhum dos dois estava prestando atenção, não lhe pareceu descortês sussurrar:
-Por que não enviou a carta? Se esqueceu?
-Não, não me esqueci -respondeu Caine-. A carta teria interferido com os planos de Nathan.
-Então foi ideía de Nathan a reunião?
Caine assentiu com a cabeça.
-Sir Richards também- esclareceu-. Será melhor que se sente, Sara. Será um pouco duro. Cruzem os dedos.
Nathan estava apoiado contra a parede observando-a. Escutou a sugestão de Caine e esperou para ver o que ela faria. No outro extremo do escritório havia uma poltrona e um lugar vazio no banco que estava junto à janela.
Sara olhou a poltrona, logo se voltou e caminhou para Nathan. Ele se sentiu arrogantemente satisfeito por sua instintiva demonstração de lealdade.
E logo percebeu que dependia dessa qualidade.
Nathan se sentou e a colocou a seu lado em um segundo. Quase se inclinou para lhe dizer o muito que a amava. Deteve-se bem a tempo. Tinha que ser correto, disse-se a si mesmo. Em alguns momentos mais lhe mostraria o quanto que a amava.
Sara se afastou para não tocar seu marido. Acreditava que não era apropriado sentar-se tão perto na presença do príncipe.
Nathan pensava de outra maneira. Não foi muito gentil quando a voltou a aproximar dele.
-Estou preparado para começar -anunciou o príncipe.
Sir Richards fez uma indicação ao guarda que estava na entrada. O homem abriu a porta e o pai da Sara entrou correndo no escritório.
logo que Sara viu seu pai se aproximou instintivamente de seu marido. Nathan a tomou com força pela cintura.
O conde do Winchester fez uma reverência diante do príncipe, e logo franziu o semblante quando viu outros.
Estava a ponto de pedir que esvaziassem o escritório pois o assunto que foram discutir era confidencial, mas o príncipe falou primeiro.
-Sente-se, Winston. Estou ansioso por terminar com este assunto.
O conde se sentou imediatamente frente ao príncipe. Sentou-se e ao mesmo tempo se inclinou para diante.
-Revisou a evidência que lhe enviei?
-Sim -lhe respondeu o príncipe-. Winston, conhece nosso estimado diretor de Operações de Guerra?
Winston se voltou para sir Richards e o saudou assentindo rapidamente com a cabeça.
-Vimo-nos uma ou duas vezes. Posso perguntar por que está ele aqui? Não vejo que o assunto tenha nenhuma relação com seu Departamento. É uma questão de romper um contrato, nada mais.
-Pelo contrário -replicou sir Richards. Sua voz foi tão prazenteira e suave como um sorvete-. O príncipe e eu estamos muito interessados em saber como obteve esta informação sobre o conde do Wakersfield. Importaria de nos informar?
-Devo proteger à pessoa que me disse -respondeu isso Winston. voltou-se para olhar a Sara quando fez esta afirmação. Ficou olhando-a deliberadamente durante um momento. Logo se voltou para o príncipe-. Como não é importante, meu lorde. Certamente, depois de ter lido os fatos, compreenderá que minha filha não pode compartilhar sua vida com o filho de um traidor. Seria separada da sociedade. O pai do marquês não atuou de boa fé com o rei nem os Winchester quando assinou o contrato unindo seu filho a minha filha. Portanto, peço que Sara seja liberada desse compromisso e que lhe seja entregue o dote em pagamento pela humilhação que teve que sofrer.
-Temo que realmente vou ter que insistir que nos diga quem lhe deu a informação sobre o pai de Nathan -lhe voltou a dizer sir Richards.
Winston se voltou para o príncipe procurando apoio.
-Preferiria não responder a essa pergunta.
-Acredito que deve responder -disse o príncipe.
Winston ergueu os ombros.
-Minha filha. Ela nos escreveu. Ela nos deu a informação -respondeu Winston.
Sara não disse uma palavra. Nathan a apertou brandamente. Foi um intento torpe de consolá-la. Ela não protestou.
Não o abandonar, essas foram suas palavras. Sara tratou de concentrar-se na discussão, mas a petição de Nathan seguia interpondo-se em seu caminho.
Seu pai estava dando uma desculpa atrás de outra sobre por que sua filha tinha compartilhado essa informação sobre o pai de Nathan. Sara não queria escutar essas mentiras.
O príncipe lhe chamou a atenção quando fez um gesto a um dos homens que estava atrás dele. Imediatamente o guarda foi até a entrada lateral e abriu a porta. Um homem baixo, magro e com um gorro negro nas mãos entrou no escritório.
Sara não reconheceu o homem. Entretanto, era óbvio que seu pai sim. Ele não pôde ocultar sua surpresa.
-Quem é o homem que está se misturando em nossa discussão? -perguntou o pai de Sara.
Seu mesquinho intento de passar essa prova não funcionou.
-Ele é Luther Grant -anunciou lentamente sir Richards-. Possivelmente o conheça, Winchester. Luther trabalhava como ajudante em nosso Departamento. Tínhamos tanta confiança nele que lhe encarregou da abóbada. Seu único dever era manter seguros os segredos da Inglaterra.
O tom de voz do diretor era mordaz.
-De agora em diante, Luther vai proteger as paredes da prisão do Newgate. Tem sua própria cela para vigiar.
-O jogo terminou -Interveio Caine-. Grant nos disse que você o pagou para que revisasse os documentos de Nathan. Quando não pôde encontrar nada condenatório ali, revisou os documentos do pai de Nathan.
A expressão que Winston mostrava era só desprezo.
-A quem importa como se encontrou a informação? Quanto único que importa é que...
-Oh, sim nos importa -interrompeu sir Richards- Você cometeu um ato de traição.
-Esse crime não se paga com a forca? -perguntou o príncipe.
Por sua expressão, Sara não sabia se estava realmente tratando assustar seu pai.
-Sim, é um crime para a forca -respondeu sir Richards.
Winston tremeu furioso.
-Nunca fui desleal à Coroa -olhou fixamente ao príncipe regente-. Quando todos os demais políticos da cidade se cansaram de você, eu permaneci a seu lado. Inclusive saí em sua defesa quando quis livrar-se de sua esposa. Esta é a forma em que paga por minha lealdade?
O rosto do príncipe ficou vermelho. Era óbvio que não o agradava que lhe recordassem sua falta de popularidade ou seu intento de se separar da esposa.
Olhou fixamente para Winston enquanto negava com a cabeça.
-Como se atreve a falar com seu príncipe regente com tanta insolência?
Winston compreendeu que tinha ido muito longe.
-Peço-lhe desculpas, meu lorde, mas estou tentando desesperadamente de proteger a minha filha. O marquês do St. James não é bom para ela.
O príncipe respirou profundamente. Ainda estava ruborizado, mas sua voz foi muito mais acalmada quando lhe disse:
-Não estou de acordo com você. Nunca me interessei pelo Departamento de Guerra porque me aborrece imensamente, mas uma vez que li os fatos pedi a sir Richards que também me entregasse os documentos do filho. Nathan não é responsável pelos pecados de seu pai. Nenhum homem deveria sê-lo -levantou um pouco a voz quando adicionou-: Se fosse o caso, meus súditos poderiam me culpar pela debilidade de meu pai, não é assim?
-Eles não o culpam da enfermidade de seu pai -lhe assegurou Winston.
O príncipe assentiu com a cabeça.
-Exatamente. E eu não responsabilizo Nathan dos enganos de seu pai. Não, o marquês não é responsável -repetiu-. Mas inclusive se o fosse, provou sua lealdade com as proezas que realizou em nome da Inglaterra. Se pudéssemos revelar todos os segredos, Nathan seria coroado por seus atos heróicos. Quanto a isso, disseram-me que o conde de Cainewood mereceria o mesmo tratamento. Estive quase toda a tarde lendo os documentos, Winston, e agora que conheço todos os fatos, sinto-me honrado de estar na mesma habitação com estes leais e distinguidos homens.
Ninguém disse uma palavra durante um minuto. Nathan sentia que Sara estava tremendo. Percebeu que ela estava observando seu pai, e quis lhe sussurrar que tudo ia sair bem, que ele não poderia voltar a assustá-la.
O príncipe voltou a falar.
-Entretanto, sir Richards nega que a informação se faça pública, e decidi acatar sua sabedoria neste assunto. Estou dizendo que estes homens têm minha gratidão. Agora tenho que lhe pedir algo -olhou ao diretor- Se Winston nos assegurar que não dirá uma palavra sobre o pai de Nathan, sugiro que não o prendamos.
Sir Richards fingiu refletir sobre essa sugestão.
-Eu preferiria que o enforcasse. Entretanto, a decisão depende de você. Eu só sou seu humilde servidor.
O príncipe assentiu com a cabeça. Voltou a olhar Winston.
-Sei que certos membros de sua casa conhecem a informação sobre o pai do Nathan. Seu dever será mantê-los em silêncio. Você será responsável por defender Nathan contra qualquer classe de escândalo, agora se me chegar algum rumor, será acusado de traição. fui claro?
Winston assentiu com a cabeça. Estava tão furioso que tão cedo não podia falar. A mudança repentina do príncipe era evidente. O conde do Winchester sabia que no futuro não lhe incluiriam em nenhuma das funções mais importantes.
Sara sentiu a fúria de seu pai. Sua garganta se fechou e pensou que fosse desmaiar.
-Poderia beber um copo de água, por favor? -sussurrou a Nathan.
Ele ficou de pé imediatamente e saiu do escritório para procurar a bebida. Caine também se levantou de sua cadeira e tirou Luther Grant pela porta lateral.
Winston se voltou para sir Richards.
-Poderia recorrer isto. É a palavra do Grant contra a minha.
O diretor negou com a cabeça.
-Temos outras evidências -mentiu.
O conde do Winchester ficou de pé. Obviamente, tinha acreditado na mentira do diretor.
-Compreendo. Como averiguaram sobre Luther? -perguntou ao príncipe.
-Disse-nos isso sua esposa -respondeu o príncipe-. Ajudou a filha, Winston, enquanto você tratou de destrui-la. Vá-se, Winston. Me causar pena o ver.
O conde do Winchester fez uma reverência diante o príncipe, voltou-se para olhar a sua filha e saiu do escritório.
Sara nunca tinha visto tanta fúria no rosto de seu pai. Estava aterrorizada. Sabia que sua mãe teria que suportar sua fúria.
Tinha que tentar chegar até ela primeiro, pensou Sara.
-Poderiam me desculpar? -exclamou enquanto se dirigia apressada para a porta.
Sara logo que tinha recebido o consentimento do príncipe fechou a porta.
-Acredita que está chateada? -perguntou sir Richards.
-Não vejo por que não deveria está-lo -respondeu o príncipe-. Richards -adicionou com um tom de voz mais suave-, sei quantos encarregados do Departamento murmuram seu desprezo por mim. Meus espiões me mantêm informado. Também sei que você nunca disse uma palavra contra mim. Embora tenha sido julgado incorretamente como um governante que troca de idéia a seu desejo, agora posso lhe dizer que não é assim. Não trocarei de idéia neste assunto de Winston, o asseguro.
Sir Richards acompanhou ao príncipe à porta.
-Como compreenderá, meu lorde, menti a Winston quando disse que tínhamos outras evidências contra ele. Realmente é a palavra de Grant contra a dele, e se ele levasse este assunto...
O príncipe sorriu.
-O não levará -lhe assegurou ao diretor.
Nathan entrou pela porta lateral com um copo de água na mão e Caine a seu lado. O príncipe já tinha se retirado.
-Onde está Sara? -perguntou Nathan.
-Foi ao banheiro -explicou sir Richards. Retornou a seu escritório e desabou na cadeira. Não foi fácil. Não estava seguro de como se comportaria o príncipe regente. Desta vez estava de seu lado, verdade?
-Manterá ali, ou amanhã Winston estará outra vez a seu serviço?
O diretor encolheu os ombros.
-Rogarei para que não mude de idéia e acredito que cumprirá sua promessa.
Caine se apoiou na porta do escritório.
-Não posso acreditar que você o permitiu ler os documentos, Richards.
-Então não acredite -respondeu o diretor com uma careta-. Entreguei um breve resumo sobre algumas das façanhas mais pequenas. Deixe de franzir o semblante, Caine. Nathan, pelo amor de Deus, deixa de caminhar de um lado a outro com esse copo de água na mão. Já derrubou a maior parte da água sobre o tapete.
-por que demora tanto Sara?
-Acredito que não se sentia bem. Espera alguns minutos mais.
Nathan suspirou.
Logo que encontrar Sara poderemos terminar com isto.
-É tão romântico -demarcou Caine.
-Por certo, o que está a ponto de fazer por sua esposa indica que é realmente um romântico de coração. Quem teria pensado que Nathan se apaixonaria?
Caine fez uma careta.
Foi encher outra vez o copo, enquanto sir Richards conversava com Caine sobre atividades do Departamento.
Nathan tentou ser paciente, mas quando transcorreram outros dez minutos e Sara não tinha retornado ao escritório decidiu ir procurá-la.
-Onde demônios fico o banheiro? Sara pode precisar de mim.
Sir Richards lhe deu indicações sobre o andar de baixo.
-Os papéis estão preparados para as assinaturas? -perguntou-lhe Caine quando Nathan ia se retirar do escritório
-Quem teria pensado que alguém lhe apanharia? Sara está tão apaixonada por ele como ele por ela. Nathan está decidido a começar de novo -adicionou assentindo com a cabeça em direção aos papéis.
-Ah, o amor-disse sir Richards-. Sara ficara agradecida com sua consideração. Deus sabe que ela merece ser feliz. Hoje foi muito difícil para ela. A expressão de seu rosto quando o príncipe mencionou sua mãe quase quebrou coração, Caine, e sabe que não me emociono com facilidade. Lady Sara parecia tão atemorizada Senti desejos de me aproximar dela, acariciá-la e lhe dizer que tudo se esqueceria. Geralmente não sou tão expressivo, mas tive que me conter para não me aproximar dela.
Caine estava desconcertado.
-Não me lembro do príncipe ter mencionado a mãe de Sara.
-Acredito que você e Nathan não estavam no escritório nesse momento - disse Richards-. Sim, foi isso -adicionou assentindo com a cabeça-. Sara estava sozinha. Nathan tinha ido buscar lhe um pouco de água.
-Sara não está no banheiro -gritou Nathan da porta-. Maldição, Richards, onde a mandou? Para rua?
Caine ficou de pé.
-Nathan, ela pode ter problemas -esclareceu Caine com voz preocupada-. Sir Richards, nos diga exatamente o que disse o príncipe sobre a mãe da Sara.
O diretor já estava afastando a cadeira do escritório para poder ficar de pé. Não estava seguro de qual era o perigo, mas podia senti-lo.
-Winston quis saber quem os tinha informado sobre Grant. O príncipe lhe disse que sua esposa nos tinha dado o nome.
Mas Nathan e Caine já estavam correndo para a porta.
-Certamente, Winston não se atreverá a tocar em sua esposa ou em sua filha -sussurrou sir Richards enquanto seguia os dois homens-. Pensam que é para onde Sara foi? Charles, traga a carruagem.
Nathan chegou ao andar de baixo com o Caine pisando em seus calcanhar quando sir Richards girou no patamar da escada.
-Nathan, não acha que Winston é capaz de machucar a sua esposa ou a sua filha, não é?
Nathan abriu a porta e saiu correndo à rua.
-Não -gritou-. Winston não as tocará. Deixará que seu irmão as castigue. Assim é como opera o maldito desgraçado. Maldição, Caine, Sara levou sua carruagem. Deus, temos que chegar nela antes de Henry.
Uma carruagem passou pela rua. Nathan aproveitou a oportunidade. Não esperaria a carruagem do diretor. Correu para a rua e tomou as rédeas dos dois cavalos.
Apoiou o ombro ao cavalo que tinha mais perto. Caine adicionou sua força e o veículo se deteve.
O condutor foi jogado na parte superior do veículo. Começou a gritar. O passageiro, um homem loiro com óculos, colocou a cabeça pelo guichê para ver o que era toda essa comoção justo quando Nathan abria a porta. Antes de que o homem soubesse o que tinha acontecido, Nathan o tinha jogado na rua.
Caine deu instruções ao condutor enquanto sir Richards ajudava o estranho a ficar de pé. O diretor estava sendo muito solícito até que percebeu que estavam lhe deixando para atrás. Soltou o homem e saltou para a carruagem antes de que Caine fechasse a porta.
Ninguém disse uma palavra no caminho para a casa dos Winchester. Nathan estava tremendo e atemorizado. Pela primeira vez em sua vida, rebelou-se contra o isolamento a que sempre se submeteu. Necessitava-a, e se algo lhe acontece antes de que pudesse provar a Ela que ele valia a pena, que podia amá-la tanto como ela merecia, pensou que não poderia viver.
No espaço desses compridos e intoleráveis minutos, Nathan aprendeu a rezar. sentiu-se tão inexperiente como um ateu, não podia recordar nenhuma oração de seus dias de infância e terminou pedindo a Deus misericórdia. Como a necessitava.
O trajeto até a residência de sua mãe não foi tão traumático para Sara. Ela não tinha medo porque sabia que tinha tempo suficiente para chegar primeiro até sua mãe. Seu pai teria que ir à casa de seu irmão. Isso levaria pelo menos vinte minutos. Logo demoraria pelo menos quinze minutos mais para lhe contar as injustiças que tinham cometido com ele. Caso Henry estivesse sob os efeitos da bebida, demoraria para limpar sua mente e vestir-se.
Também estava o fato extremamente reconfortante de que em pouco tempo Nathan perceberia que ela não estava no banheiro. Sabia que viria procurá-la.
Não me abandone. Suas palavras voltaram a interpor-se em seus pensamentos. Imediatamente tratou de enfurecer-se por essa petição. Como se atrevia a pensar que o abandonaria. Como se atrevia A...
Não podia enfurecer-se, pois não estava segura de ter o direito de se sentir ultrajada. Tinha-lhe abandonado? Não, é obvio que não, disse-se a si mesmo. O fato simples era que Nathan não a amava.
Entretanto, tinha lhe mostrado consideração. Lembrou-se de como lhe esfregou as costas quando teve as dores da menstruação. Suas carícias tinham sido tão gentis...
Também era um amante gentil. Não porque lhe houvesse dito palavras carinhosas quando a acariciava. Mas lhe mostrou sua amabilidade, sua paciência e nunca teve medo dele. Nunca.
Mas não a amava.
Passou tantas horas lhe ensinando pequenas coisas que considerava necessárias para que fosse auto-suficiente. Pensou que era porque não queria se preocupar em cuidar dela. E embora considerava seu dever proteger a aqueles que amava, como a sua mãe, deixava a tarefa de seu próprio amparo para seu marido.
Como a sua mãe...
Deus, Nora tinha razão. Sem dar-se conta, Sara tinha seguido o caminho de sua mãe. Tinha decidido converter-se em uma dependente de seu marido. Se Nathan se convertesse em um homem cruel e egoísta como seu pai, Sara retrocederia quando levantasse a voz?
Ela negou com a cabeça. Não, nunca permitiria que nenhum homem a aterrorizasse. Nathan a tinha feito dar-se conta de sua própria força. Podia sobreviver sozinha.
Não a tinha ensinado como defender-se porque não queria se incomodar cuidando dela. E sim por que queria que não lhe acontecesse nada.
Era um homem amável.
Sara começou a chorar. Por que não podia amá-la?
Não me abandone. Se não a amava, por que se importava se ela o abandonasse ou não?
Sara estava tão concentrada em seus pensamentos que não percebeu que a carruagem se deteve até que o condutor de Caine gritou lhe avisando.
Pediu ao condutor que esperasse e subiu correndo pela escada.
O mordomo, um homem contratado por seu pai, disse que sua mãe e sua irmã tinham saído.
Sara não acreditou. Passou junto ao criado e subiu pela escada até os dormitórios para ver por si mesmo.
O mordomo emitiu um som com o nariz diante de sua falta de maneiras e se retirou para os fundos da casa.
Os dormitórios estavam vazios. A princípio, Sara se sentiu aliviada, mas logo compreendeu que tinha que encontrar sua mãe antes que os Winchester. Revisou os convites que havia sobre a mesa de sua mãe, mas nenhum lhe deu uma pista das atividades da tarde.
Sara decidiu descer e tirar a informação dos criados. Certamente, algum deles sabia onde tinha ido sua mãe.
Quando tinha chegado ao patamar da escada a porta principal se abriu. Ela pensou que era sua mãe que tinha retornado para casa e começou a descer. Deteve-se na metade do caminho quando o tio Henry entrou no salão de entrada.
Viu-a imediatamente. O desprezo em seu rosto lhe revirou o estômago.
-Papai foi diretamente a você com sua fúria, não é? -gritou com evidente desprezo na voz-. Sabia que o faria. É o único que é prestativo. Acredita que é muito ardiloso ao deixar que seu irmão bêbado se encarregue do castigo quando ele está aborrecido. Papai está esperando no White, não é?
Seu tio entrecerrou os olhos até convertê-los em uma linha.
-Terei que cortar a língua de sua mãe por ter ido contra o marido. Isto não é seu assunto, Sara. Saai de meu caminho. Vou falar com sua mãe.
Sara negou com a cabeça.
-Não o deixarei falar com ela-gritou-. Nem agora nem amanhã nem nunca. Se tiver que obrigar mamãe o farei, mas ela vai sair de Londres. Fará bem a ela visitar sua irmã. Inclusive até poderia dar-se conta de que não quer retornar. Isso espero. Mamãe merece um pouco de alegria em sua vida. Vou me ocupar de que a tenha.
Henry deu um chute na porta para fechá-la Não queria amedrontar Sara, já que lembrava da ameaça que fez seu marido quando entrou no bar para procurar a sua noiva.
-Vá embora com o canalha com que está casada -gritou-. Vitória -adicionou com um rugido. Desça. Quero falar vom você.
-Mamãe não está aqui. Agora vai embora. Fico nauseada de vê-lo.
Henry se dirigiu para a escada. Deteve-se quando viu o guarda-chuva de bronze em um canto. Estava muito furioso para medir as conseqüências. A descarada precisava aprender uma lição, pensou. Só um bom golpe para tirar a insolência.
Pegou um grada chuva e caminhou em sua direção. Apenas um bom golpe...














Capítulo 16

Quase a mata.
Os gritos se ouviam da rua. A carruagem não tinha se detido completamente quando Nathan saltou para a rua e subiu pela escada. Os gritos lhe enlouqueceram de medo por Sara e não parou para pensar que era a voz de um homem. Tampouco se deteve para abrir a porta. Passou através dela. A estrutura caiu sobre a cabeça de Henry Winchester. A pesado pedaço de madeira apagou um pouco o ruído dos gritos.
Nathan não estava preparado para ver o que viu. Estava tão surpreso que se deteve imediatamente. Caine e sir Richards se chocaram contra suas costas. Caine grunhiu, pois sentiu como se tivesse se chocado contra um bloco de aço. Ele e sir Richards recuperaram o equilíbrio e se colocaram lado a lado de Nathan para ver o que lhe tinha detido.
Os homens não entendiam muito bem o que estavam vendo. Henry Winchester estava atirado no meio do grande salão de entrada, em uma posição fetal, segurando as genitálias. O homem estava retorcendo-se, e quando virou para um lado, sir Richards e Caine viram que lhe sangrava o nariz.
Nathan estava olhando fixamente para Sara. Ela estava ao pé na escada. Estava completamente tranqüila, formosa e desarmada.
Ela estava bem. O maldito não a havia tocado. Sim, ela estava bem.
Nathan continuou repetindo-o em sua mente para tranqüilizar-se.
Não funcionou. Suas mãos tremiam. Decidiu que tinha que escutar de sua boca que estava bem antes de poder respirar normalmente outra vez.
-Sara? -sussurrou seu nome com voz tão rouca que duvidava que pudesse lhe ouvir. Voltou-o a tentar-. Sara? Está bem? Não a machucou, não é?
A angústia da voz de seu marido quase foi sua ruína. Seus olhos se encheram de lágrimas, e percebeu que Nathan também os tinha úmidos. A expressão de seu rosto oprimiu seu coração. Parecia tão... assustado... tão vulnerável.. tão amoroso.
Ele a amava. Era tão evidente para ela.
Você me ama, queria gritar. É obvio que não o fez porque havia outras pessoas na habitação. Mas ele a amava. Ela não podia falar, não podia deixar de sorrir. Encaminhou-se para seu marido, e logo recordou aos outros. Voltou-se para Caine e sir Richards e os saudou com uma reverência.
Caine fez uma careta. Sir Richards estava na metade de uma reverência quando se deteve.
-O que aconteceu aqui? -perguntou com autoridade.
-Maldita seja, Sara, me responda -ordenou Nathan ao mesmo tempo- Está bem?
Ela dirigiu seu olhar para o marido.
-Sim, Nathan. Estou bastante bem. Obrigado por perguntar.
Sara olhou a seu tio.
-O tio Henry teve um pequeno contratempo -anunciou.
O diretor se ajoelhou e tirou de Henry de baixo da porta.
-Pude perceber, minha querida -disse a Sara. -Jogou a parte da madeira para um lado e olhou a Henry com o semblante carregado-. Pelo amor de Deus, homem, deixe de soluçar. Não é digno. A porta lhe caiu em cima quando Nathan entrou? Fale, Winchester. Não entendo uma palavra do que balbucia.
Caine já tinha tirado suas conclusões. Sara estava esfregando a mão direita para aliviar a dor. Henry segurava as genitálias.
-O tio Henry sofreu um contratempo antes que a porta caísse-explicou Sara. Parecia incrivelmente alegre, e estava sorrindo para Nathan quando fez essa afirmação. Nathan ainda não estava tranqüilo o suficiente para raciocinar. Não podia compreender por que sua esposa parecia tão feliz consigo mesma. Não percebeu o perigo que tinha passado? Tinha os nervos destroçados.
Depois ela caminhou lentamente para ele, e tudo o que pôde pensar foi em abraçá-la. Não a soltaria nem sequer depois de lhe passar um sermão sobre o costume que tinha de andar por ai sozinha.
O sorriso do Caine foi contagioso. O diretor também sorriu, embora ainda não sabia o que era tão divertido. Ficou de pé e se voltou para Sara.
-Por favor, satisfaça minha curiosidade e me diga o que aconteceu.
Não o explicaria. Se contava exatamente o que tinha feito, o diretor se assustaria por seu comportamento muito pouco feminino.
Nathan não se assustaria. Estaria orgulhoso dela. Sara não podia esperar para estar a sós com ele e lhe dar todos os detalhes.
-Tio Henry tropeçou com o guarda-chuva -respondeu sem deixar de sorrir.
Nathan finalmente saiu de seu estupor e olhou a seu redor. Quando a abraçou ela já estava junto a ele e olhou as marcas vermelhas que tinha na mão direita.
Aquele grunhido que lhe parecia adorável estava subindo pela garganta de Nathan. Também podia ver que estava se pondo furioso. Entretanto, não estava atemorizada porque sabia que nunca descarregaria sua fúria contra ela.
Não queria que se aborecesse por seu comportamento. Sara puxou-o pela cintura e o abraçou com força.
-Realmente estou bem, Nathan. Não deve preocupar-se- sussurrou.
Apoiou a face contra seu peito. As palpitações de seu coração indicavam que suas palavras não o tinham tranqüilizado. Entretanto, sua voz foi enganosamente tranqüila quando perguntou:
-Você tinha o guarda-chuva ou ele?
-Ele tinha o guarda-chuva quando começou a subir para me alcançar -explicou-. O tirou do canto.
Nathan imaginou a cena. Tentou lhe soltar as mãos.
-Nathan? Já terminou. Ele não me acertou.
-Tentou-o?
Sentiu como se tivesse grudada em uma estátua, pois agora sua postura era muito rígida. Ela suspirou, abraçou-lhe com mais força e respondeu:
-Sim, mas não teria deixado que me golpeasse. Lembrei-me de suas instruções e não pensei em nada, como me havia dito que aconteceria em uma situação como esta. Quanto a isso -adicionou-, também tinha o elemento surpresa de meu lado. Tio Henry não está acostumado a ver mulheres se defendendo. Surpreendeu-se quando caiu para trás.
-Caine? Leve Sara para fora e me espere. Richards, vá com eles.
Os três disseram que não a Nathan ao mesmo tempo. Os três tinham diferentes pensamentos. Caine não queria se encarregar de desfazer do corpo. Sara não queria que Nathan fosse à forca. Sir Richards não queria pensar na papelada.
Nathan ainda estava rígido de fúria quando terminaram de lhe dar seus argumentos. Não podia se soltar dos braços de Sara para acabar com Winchester. A situação era extremamente frustrante.
-Maldita seja, Sara, se me deixasse...
-Não, Nathan.
Nathan suspirou profundamente. Ela sabia que tinha ganho. Sentiu desejos de estar a sós com ele para poder obter outra vitória. Fosse como fosse o faria dizer que a amava.
-Nathan, não podemos ir até que eu saiba que mamãe está segura -sussurrou-. Mas agora quero ir para casa com você. Como vai solucionar este problema? -não lhe deu tempo para que respondesse- Quero dizer, como vamos solucionar este problema?
Seu marido não era dos que se rendiam com facilidade. Ainda queria matar seu tio. Considerava que seu plano era perfeitamente lógico. Não só eliminaria a preocupação de Sara por sua mãe mas também lhe brindaria com a tremenda satisfação de dar ao homem um murro no rosto. Continuou olhando o guarda-chuva e pensando no dano que um homem poderia ter provocado com uma arma assim. Henry poderia tê-la matado.
Caine contribuiu com uma boa solução.
-Sabe, Nathan, Henry precisa de um bom descanso. Possivelmente uma viagem pelo mar até as colônias seria a viagem que melhoraria sua saúde.
Nathan reagiu favorável imediatamente.
-Se ocupe disso, Caine.
-O entregarei a Colin para que arrume os detalhes - respondeu Caine. Levantou Henry puxado pela nuca-. Toda a bagagem que precisará serão algumas cordas e uma mordaça.
Sir Richards assentiu com a cabeça.
-Esperarei aqui até que sua mãe retorne, Sara. Explicarei que seu tio teve um repentino desejo de realizar uma longa viajem. Também vou esperar seu pai. Quero trocar umas palavras com ele. Por que você e Nathan não vão agora? Levem minha carruagem e digam a meu condutor que retorne mais tarde.
Henry Winchester se recuperou o suficiente para tentar fugir. Caine lhe empurrou deliberadamente contra seu cunhado.
Nathan aproveitou a oportunidade. Deu um murro no estômago de Henry. O golpe enviou o tio de Sara outra vez a retorcer-se no chão.
-Sente-se melhor, Nathan? -perguntou Caine.
-Imensamente -respondeu Nathan.
-E os papéis que tem que assinar? -perguntou- sir Richards a Nathan.
-Esta noite leve-os a festa do Farnmount. Usaremos a biblioteca do Lester durante uns minutos. Sara e eu chegaremos por volta das nove.
- Terei que retornar para buscá-los no escritório -disse o diretor-. Arrumem o encontro para as dez, para estarmos seguros.
-Posso perguntar o que estão discutindo? -interveio Sara.
-Não.
A abrupta resposta de seu marido a irritou.
-Esta noite não quero sair -disse-. Tenho algo mais importante que discutir com você.
O negou com a cabeça.
-Confiará em mim, mulher -sussurrou enquanto a puxava pela porta.
-Entre todas as coisas irritantes... - deteve-se quando ele se voltou e a fez subir à carruagem. Tinha uma expressão fria. Também percebeu que suas mãos tremiam.
Não permitiu que se sentasse a seu lado, se sentou frente a ela. Quando estirou suas longas pernas ela ficou presa entre elas.
Quando a carruagem entrou em movimento, Nathan se voltou e olhou pelo guichê.
-Nathan?
Sim?
-Agora... vai se descarregar?
-Não.
Sentiu-se decepcionada pois esperava que ele precisaria descarregar sua frustração como o tinha feito ela. A lembrança da forma como seu marido a tinha ajudado a aliviar a tensão a fez ruborizar.
-Os homens não se descarregam depois de brigar?
-Alguns o fazem. Não tinha que ter golpeado Henry na sua frente -disse sem olhá-la.
-Quer dizer que se eu não estivesse ali não o teria golpeado, ou que se arrepende...?
-Sim, o teria golpeado. Não deveria ter golpeado o maldito diante de você.
-Por que?
-Você é minha esposa -explicou-. Não tinha que presenciar.. a violência. No futuro me conterei...
-Nathan -lhe interrompeu-. Não me importei. Sério. Voltará a acontecer. Oponho-me à violência -adicionou-, mas admito que há ocasiões em que se necessita de um bom golpe.
Ele negou com a cabeça.
-Não deixou que matasse os piratas, recorda?
-Deixei que os golpeasse.
Ele encolheu os ombros. Logo suspirou profundamente.
-Você é uma dama. É delicada e feminina, e quando estiver contigo me comportarei como um cavalheiro. Assim será, Sara. Não discuta comigo.
-Sempre foi um cavalheiro comigo -respondeu Sara.
-É obvio que não -replicou Nathan. Mudarei, Sara. Agora chega de conversa. Estou tentando pensar.
-Nathan? Estava preocupado comigo.
-Sim, estava preocupado.
Gritou-lhe a resposta. Ela conteve seu sorriso. -Realmente eu gostaria que me beijasse.
Nem sequer a olhou quando respondeu:
-Não.
-Por que não?
-Tem que estar bem, Sara.
-O que significa isso? Sempre estou bem quando me beija.
-Se te beijar, arruinaria tudo.
-Não compreendo.
-Me diga o que aconteceu com Henry -lhe ordenou.
-O acertei... lá.
Nathan trocou a carranca por um leve sorriso..
-Lembrou-se de como dar um bom murro?
Ela decidiu que não responderia até que a olhasse. Passou um longo momento antes que ele cedesse.
Estava lutando para não abraçá-la. Pensou que estava ganhando a batalha, até que ela sorriu e lhe sussurrou:
-Sabia que ficaria orgulhoso de mim. Entretanto, a maioria dos cavalheiros teriam se espantado.
Colocou-a com rudeza sobre seu colo. Enredou-lhe os dedos no cabelo.
-Eu não sou a maioria -disse um instante antes de beijá-la. Introduziu a língua na boca para provar, para acariciar, para atormentar. Não podia obter o suficiente dela, não podia aproximar-se mais.
Beijou-lhe o pescoço, enquanto desabotoava a parte de trás do vestido.
-Sabia que se a tocasse não poderia me deter.
Perdeu todo controle. A carruagem parou, mas só Sara percebeu. Pediu que lhe abotoasse o vestido de novo. Demorou algum tempo,pois suas mãos tremiam.
Nathan a levou pela mão para dentro da casa. Jade sorriu para o casal quando viu que subiam correndo pela escada.
Quando chegaram a seu dormitório, Nathan tinha recuperado um pouco do controle. Abriu-lhe a porta. Sara já estava voltando a desabotoar o vestido enquanto ia para a cama. Parou quando escutou a porta batia, voltou-se e viu que estava sozinha. Nathan a tinha deixado. Estava tão surpresa que demorou vários minutos para reagir. Logo gritou, abriu a porta e saiu correndo pelo corredor.
Jade a alcançou no patamar da escada.
-Nathan já se foi. Disse que estivesse preparada para as oito. Também sugeriu que lhe emprestasse um vestido, já que seu baú ainda está a bordo do Seabawk.
-Como pôde dizer tudo isso e ir?
Jade sorriu.
-Meu irmão estava como se houvesse um demônio o perseguindo. Terminou de dar suas instruções e foi embora. Encontrará conosco mais tarde. Deve ter negócios que cuidar... Pelo menos acredito que isso foi o que adicionou quando pegou à carruagem de Caine e se foi.
Sara negou com a cabeça.
- Seu irmão é rude, desconsiderado, arrogante, obstinado...
-E você o ama.
Sara baixou os ombros.
-Sim, o amo. Acredito que ele também deveria me amar. Possivelmente ainda não se deu conta, ou está um pouco preocupado. Oh, já não sei. Sim, é obvio que me ama. Como pode acreditar que não?
-Não estou discutindo com você, Sara. Acredito que Nathan também a ama -adicionou assentindo com a cabeça-. Na realidade, para mim é bastante óbvio. É tão.. esquivo. Sempre foi um homem de poucas palavras, mas agora nem sequer tem sentido quando sussurra.
Os olhos de Sara se encheram de lágrimas.
-Quero que me diga que me ama -sussurrou. Jade sentiu compaixão. Pegou sua mão e a conduziu a seu dormitório.
-Sabe que sou tudo o que Nathan poderia querer de uma esposa? Ninguém poderia lhe amar tanto como eu. Por favor, não me considere inferior. Realmente não o sou. Sou muito diferente de você, Jade.
A irmã de Nathan se voltou do armário e olhou incrédula para Sara.
-Por que acha que eu poderia considera-la inferior?
Sara lhe explicou como os homens que estavam a bordo do Seahawk a comparavam e que ela sempre perdia a luta.
-E depois os piratas nos atacaram e pude me redimir ante seus olhos.
-Imagino -comentou Jade.
-Também tenho valor. Não estou alardeando, Jade. Nathan me convenceu de que sou muito valente.
-Também ambas somos leais a nossos maridos -concordou jade. Voltou-se para o armário e seguiu procurando um vestido apropriado.
-Nathan só gosta que use vestidos de pescoço alto -esclareceu Sara.
- Incrível, não é?
-Geralmente, tento lhe agradar.
Jade não deixou que Sara visse sua expressão. O tom zangado de sua cunhada lhe provocava risada.
-Possivelmente esse seja o problema, Jade -comentou Sara-. Fui muito complacente. Sempre estou dizendo a Nathan o quanto o amo. E sabe qual é sempre sua resposta? -não deu tempo para que Jade respondesse- Grunhe. Honestamente, isso é o que faz. Bom, já não mais, obrigado.
-Não mais grunhidos? -perguntou jade.
-Não mais complacente. Procure o vestido mais decotado que tenha.
Jade riu.
-Isso vai enlouquecer Nathan.
-Assim espero -respondeu Sara.
Cinco minutos mais tarde, Sara tinha um vestido cor marfim em seus braços.
-Só pus este vestido uma vez e dentro de casa, para que ninguém o visse. Caine não teria permitido isso.
A Sara adorou o vestido. Deu obrigado várias vezes a Jade, e logo foi para seu quarto.
De repente se deteve e voltou-se.
-Posso perguntar algo?
-Agora somos irmãs, Sara. Pode me perguntar o que quiser.
-Alguma vez chorou?
Jade não esperava essa pergunta.
-Sim -respondeu-. Na verdade, durante todo o tempo.
-Nathan alguma vez a viu chorar?
-Não sei.
Jade percebeu pela expressão abatida de Sara que essa não era a resposta que ela esperava.
-Agora que penso nisso, sim me viu chorar. Não tão freqüentemente como Caine, é obvio.
-Oh, obrigado por compartilhar esse segredo comigo. Não sabe a felicidade que fez.
O sorriso da Sara era radiante. Jade estava feliz, embora tivesse que admitir que ainda não sabia o que era exatamente que emocionava tanto a Sara.
Duas horas mais tarde, Jade e Caine esperavam pacientemente Sara no salão de entrada. Jimbo caminhava junto à porta principal.
Jade tinha estava usando um vestido de seda negro, com mangas bordadas. O decote chegava até o topo do busto. Caine a olhou com o semblante franzido antes de lhe dizer que estava linda. Ele usava seu traje formal, e lhe disse que era o demônio mais atraente do mundo. Em seguinda Jimbo começou a questionar se alguém tinha estado junto a Sara durante toda a tarde.
-Não a percam de vista até estra tudo resolvido -ordenou Jimbo pela quinta vez.
Sara chamou a atenção de todos quando começou a descer pela escada. Jimbo assobiou.
-Nathan ficará vermelho quando vê-la, Sara.
Jade e Caine estavam de acordo. Sara estava magnífica. Tinha o cabelo solto e os cachos balançavam sobre seus ombros a cada passo que dava.
O vestido era extremamente decotado e terminava em uma "V" entre seus seios. Era o vestido mais provocador que Caine tinha visto. Ele também se lembrava.
-Pensei que tinha rasgado essa coisa quando lhe ajudei a despir-se -sussurrou.
Sua esposa ruborizou-se.
-Estava apressado, mas não o rasgou.
-Nathan o fará.
-Então acha que a meu irmão gostará?
-Não, não gostará de ver -predisse Caine.
-Bem.
-Jade, querida, acredito que esta não é uma boa idéia. Todos os homens da festa cobiçarão Sara. Nathan vai ter um ataque.
-Sim.
Sara chegou ao salão de entrada e fez uma reverência.
-Não tem que ser tão formal conosco -disse Caine.
Sara sorriu.
-Não o estava sendo. Só estava assegurando de que não cairei quando fizer uma reverência.
-O que acontecerá quando seu marido estiver a estrangulando? -perguntou-lhe Jimbo-. Acha que o vestido será resistente?
-Irei procurar uma capa -disse Caine.
-Tolices -replicou Jade-. Faz muito calor para uma capa.
A discussão continuou até depois que tinham partido.
Os duques do Farnmount viviam a um quilômetro de Londres. Sua casa era gigantesca, com jardins muito bem arrumados. Nas laterias da estrada haviam criados com tochas iluminando o caminho.
-O princípe disse que quer comprar a residência de Farnmount -comentou Caine-. Ele não cederá, é obvio.
-Sim -respondeu Jade, embora não prestasse atenção às observações de seu marido. Estava observando Sara-. Está um pouco ruborizada. Sente-se bem?
-Ela está bem -respondeu Caine.
Entretanto, Sara não se sentia bem. Sua mente estava cheia de temores.
-Esta noite os Winchester estarão lá -comentou repentinamente-. Nenhum dos homens se atreveria a ofender o duque nem à duquesa. Entretanto, não compreendo por que esta é a única festa que assiste a família St. James.
Caine fez uma careta.
-É a única festa a que os convidam -lhe explicou.
-Estou preocupada com Nathan. Jimbo, quero que você também entre. Caine poderia contar com você para cuidar de meu marido.
-O rapaz ficará bem -deu uma palmada em sua mão-. Deixae de se preocupar.
Ninguém disse mais nada até que a carruagem parou frente à mansão. Jimbo desceu de um salto e se voltou para ajudar Sara.
-Estarei junto à carruagem. Quando tiver tido suficiente, saia pela porta principal e a verei.
-Ela ficará conosco até que chegue Nathan -disse Caine.
Sara assentiu com a cabeça. Respirou profundamente, levantou-se a saia e começou a subir pela escada.
A festa era no último dos quatro pisos da residência. A escada estava cheia de velas e flores.
Na entrada havia um mordomo. Para chegar até a pista de baile teria que descer três degraus. Caine entregou o convite ao criado, e esperou até que tocasse o sino. Era um sinal para os outros convidados. Muito poucos prestaram atenção e só dirigiram um rápido olhar para a entrada, já que estavam dançando uma valsa e todos estavam muita concentrados em seus passos.
-O conde do Cainewood e sua esposa, lady Jade -anunciou o mordomo em voz alta.
Logo tocava o sino a Sara. Entregou ao homem o convite que Caine havia lhe dado e permaneceu junto a ele até que se realizasse a apresentação.
-Lady Sara St. James.
Foi como se tivesse gritado fogo. O anúncio teve o mesmo efeito. Produziu-se um murmúrio entre os convidados e, quando todos já tinham somado seus sussurros, o som tinha as proporções de um terremoto.
Um casal se chocou contra outro quando o homem e a mulher se esforçaram para ver Sara melhor.
Ela manteve sua cabeça alta e olhou fixamente para os convidados. Logo Caine tomou sua mão. Jade se colocou do outro lado de Sara e tomou a outra mão.
-Sara, querida, percebeu que os Winchester estão todos juntos no lado direito do salão e os St. James estão todos no esquerdo? Quem vê poderia dizer que não se dão muito bem.
Foi Jade que fez as observações. Sara sorriu. Sua cunhada parecia tão perplexa.
-Imagina-se que não-respondeu Sara brincando.
-Acredito que ficaremos no meio para não mostrar parcialidade -anunciou Caine enquanto as conduzia para a pista.
-Nathan ainda não está aqui, não é? -perguntou Jade-. Sara, continua sorrindo. Todo mundo a está olhando com a boca aberta. Imagino que é pelo vestido. Esta noite está deslumbrante.
A hora seguinte foi uma prova. O pai de Sara estava na festa. Fez todo um espetáculo olhando fixamente sua filha. Quando ela olhou para o lado dos Winchester, os convidados lhe deram as costas.
Todo mundo percebeu o desprezo. Caine estava furioso por Sara até que a olhou no rosto e viu que estava sorrindo. Então se tranqüilizou.
Dunnford St. James tampouco ficou para trás. O líder do clã St. James bufou e logo se aproximou para falar com o sobrinho de sua esposa.
Dunnford era um homem corpulento com mais músculos que gordura. Tinha o cabelo cinza, fino e curto como um escudeiro. Tinha uma barba por fazer, ombros largos e parecia doente, mas tranqüilo com seu traje negro formal e sua gravata rígida.
-Quem temos aqui? -exclamou quando ficou frente a frente com Sara, - É a mulher do Nathan?
-Sabe perfeitamente bem quem é -respondeu Caine-. Lady Sara, conhece Dunnford St. James?
Sara fez uma reverência formal.
-É um prazer conhece-lo -disse.
Dunnford parecia desconcertado.
-Está brincando comigo?
Agora ela parecia confundida.
-Perdão?
-Ela tem maneiras, Dunnford. Surpreendente em uma St. James, não é?
Os olhos do homem brilharam.
-Ela acaba de converter-se em uma St. James. Terá que prová-lo antes de que lhe dê bem-vinda.
Sara se adiantou. Isso o surpreendeu mais que a reverência. Estava acostumado que as mulheres retrocedessem. Elas tampouco sorriam. Esta era diferente, pensou.
-Como deveria prová-lo? - Sara perguntou- Teria que atirar em um de seus irmãos para obter sua aprovação?
Ela estava brincando. Ele levou a sugestão a sério.
-Bom, acredito que isso depende de que irmão escolhesse. Tom sempre é uma boa eleição.
-Pelo amor de Deus, Dunnford Sara estava brincando.
Dunnford grunhiu.
-Então para que se ofereceu?
Caine negou com a cabeça.
-Era uma brincadeira aludindo que aquela vez que disparou em seu irmão -explicou.
Dunnford esfregou a barba. Fez uma careta diabólica.
-Então se inteirou do pequeno mal-entendido, não é? Tom não tem rancor. Foi uma lástima. Uma boa inimizade entre a família. Antes que alguém pudesse responder ao comentário de Dunnford ele grunhiu:
-Onde está seu marido? Quero falar com ele.
-Chegará a qualquer momento -respondeu Caine.
-Onde está sua esposa? -perguntou Sara- Eu gostaria de conhecê-la.
-Para que? -replicou Dunnford-. Provavelmente está na mesa procurando minha comida.
-Não vai me saudar? -perguntou jade a seu tio-. Está me ignorando. Ainda está aborrecido porque dei a Caine uma filha e não um filho?
-Ainda não está grávida? -perguntou-lhe Dunnford.
Jade negou com a cabeça.
-Então não falarei com você até que me dê um sobrinho -se voltou para o Caine-. Se deita com ela? -perguntou.
Caine fez uma careta.
-Cada vez que tenho oportunidade.
Sara ruborizou. Percebeu que Jade tentava não sorrir. Dunnford olhou fixamente à irmã de Nathan. Logo se voltou para Sara outra vez e colocou suas grandes mãos sobre os quadris.
-O que está fazendo? -perguntou Caine. Tratou de afastar as mãos de Dunnford.
Sara estava tão surpreendida que não pôde mover-se. Simplesmente olhou fixamente as mãos.
-Estou medindo-a -respondeu Dunnford-.Não parece ser suficientemente larga de quadris para trazer um bebê ao mundo. A saia poderia enganar -adicionou assentindo com a cabeça-. Sim, possivelmente seja o suficientemente larga.
Logo lhe olhou o peito. Sara os cobriu imediatamente com as mãos. Não permitiria que lhe medisse nada mais.
-Vejo que tem o suficiente como alimentar a um bebê. Ainda não está grávida?
Sara já não podia ruborizar-se mais. Deu um passo para frente.
-Terá que comportar-se. Se voltar a me tocar, senhor, o acertarei. Não tem maneiras?
Dunnford pensou que não. Quando o disse, Sara adiantou outro passo. Caine estava surpreso por sua intrepidez. Também foi surpreendente o fato de que Dunnford retrocedesse.
-Eu gostaria de beber um pouco de ponche, tio Dunnford -disse Sara-. Seria apropriado que você me trouxesse.
Dunnford encolheu os ombros. Sara suspirou.
-Suponho que poderia pedir a um dos Winchester que me trouxesse isso.
-Antes lhe cuspiriam -anunciou Dunnford-. está vindo para nosso lado da família, não é?
Ela assentiu com a cabeça. Ele fez uma careta.
-Ficarei feliz em lhe trazer o ponche.
Sara observou seu tio enquanto abria passo entre os convidados. Havia uma fila esperando que o criado lhes servisse uma porção do ponche rosa. Dunnford afastou os convidados com um golpe.
-Se fosse você, não beberia o ponche -disse Caine depois que Dunnford pegou o recipiente do ponche e bebeu vários goles. Voltou a colocar o recipiente sobre a mesa, afundou uma taça no líquido e se voltou para cruzar outra vez o salão, secou a barba com a mão quando entregou a taça a Sara.
Caine observou que já não havia nenhuma fila frente ao recipiente de ponche. Estendeu a mão e tomou a taça para que Dunnford não derramasse acidentalmente o líquido rosa sobre Sara.
-Diga a Nathan que quero falar com Ele -voltou a dizer Durinford. Logo virou e retornou para o lado do salão onde estavam seus familiares.
Sara observou que os outros convidados lhe abriam passo. Pensou que era muito parecido com Nathan.
-O marquês de St. James.

Nathan desceu pela escada e se dirigiu até sua esposa. Já estava tirando a jaqueta.
Logo que Nathan desceu, os Wincheste se adiantaram. Imediatamente os homens de S James imitaram a ação.
Caine tocou ligeiramente com o cotovelo a Jade.
-Vá se sentar -sussurrou-. Poderá haver problemas e não quero me preocupar com você.
Jade assentiu com a cabeça. Queria que Caine pensasse só em proteger seu irmão. Logo viu que Colin descia pela escada. Pelo vulto que tinha sob a jaqueta supôs que estava armado para qualquer eventualidade.

Nathan tirou o casaco, mas quando foi até Sara não pôde recordar o que ia fazer.
-Sara?
-Sim?
Esperou que lhe dissesse algo.
Ele parecia contente de estar ali olhando-a fixamente. O amor de Sara se via em seu olhar. Seu sorriso era tenro. Ele era indigno dela, e mesmo assim lhe amava, pensou Nathan.
Sentiu um suor frio. Tentou pegar o lenço que Colin tinha colocado em seu bolso, mas logo percebeu que tinha o casaco na mão. Não sabia por que. Voltou a pôr. Não podia deixar de olhar a sua bela esposa e lhe enredou o braço na manga, até que finalmente a arrumou.
O anúncio atraiu a atenção de todos. Sara se voltou para olhar para a entrada. Quando viu seu marido, seu coração começou a pulsar freneticamente. Nunca o tinha visto antes vestido com um traje formal. Tinha o cabelo penteado para trás e usava o casaco e a calça negra como um poderoso rei. A arrogância de sua postura e sua expressão lhe fizeram tremer os joelhos.
Começou a caminhar instintivamente para ele.
Nathan pôde encontrar facilmente a sua esposa entre os convidados. logo que anunciaram seu nome, todos os convidados se foram para os lados do salão. Sara ficou sozinha no centro da pista. Pareceu-lhe magnífica. Estava tão delicada, tão deliciosa... tão nua.
Sara se adiantou e lhe arrumou a gravata, e logo retrocedeu.
Nathan ainda não podia falar. Tinha que fazê-lo bem, disse a si mesmo. Ela o merecia.
Não, não, para ela tinha que estar perfeito, não só bem. Levaria a biblioteca, assinariam os papéis, e logo...
-Eu te amo, Sara -disse com um tom como se tivesse provado sua sopa.
Ela o fez voltar a dizer. Tinha os olhos cheios de lágrimas, e ele sabia que o tinha ouvido a primeira vez.
-Supunha-se que não devia dizer isso... ainda não, de qualquer maneira, amo-a -sussurrou.
A expressão da Sara não mudou. A dele sim. Parecia que ia desmaiar.
Lhe deu pena.
-Sei que me ama, Nathan. Demorei muito tempo para compreender... quase tanto como você em ir me buscar... mas agora sei. Ama-me a muito tempo , não é verdade?
Seu alívio foi evidente.
-Por que não me disse que sabia? -perguntou-lhe-. Maldita seja, Sara, passei pelo inferno.
Sara abriu mais os olhos e seu rosto ficou rosado.
-Passou pelo inferno? Você é que se negou a confiar em mim. Você é o que nunca diz o que tem em seu coração. Eu lhe disse isso sempre, Nathan.
Ele negou com a cabeça. Fez uma tímida careta.
-Não, Sara, sempre não. Me dizia uma vez por dia. Alguns dias esperava até depois do jantar. Me deixava nervoso.
Pela expressão de seu rosto percebeu que se sentia feliz com sua confissão.
-Casará comigo? -perguntou-lhe Nathan com um quente sussurro. Inclinou-se até que quase lhe tocar o rosto-. Se quiser, porei-a de joelhos, Sara. Eu não gostaria-adicionou com honestidade-. Mas o faria. Por favor, Case comigo.
Nunca tinha visto seu marido tão atordoado. Obviamente, para ele era uma tortura lhe dizer o que sentia em seu coração.
-Nathan, já estamos casados, lembra-se?
Seu público estava subjugado. O casal que se olhava tão amorosamente nos olhos era um espetáculo muito romântico. As mulheres secavam os olhos com os lenços de seus maridos.
Nathan tinha esquecido dos outros convidados. Estava tentando terminar com seu plano para poder levar Sara para casa.
-Temos que descer à biblioteca -anunciou- Quero que assine um papel rompendo o contrato.
-Está bem, Nathan -lhe respondeu.
Seu rápido consentimento não o surpreendeu. Ela sempre tinha muita confiança nele. Ainda se sentia humilhado por sua confiança nele.
-Meu deus, Sara, amo-a tanto... que dói.
Ela assentiu com solenidade com a cabeça.
-Percebo. Isso o aborrece?
Ele negou com a cabeça.
-Depois de que assinar seu papel, eu assinarei o meu -afirmou Nathan.
-Que papél? -perguntou Sara.
-Também vou romper o contrato. Não quero a herança. Já tenho o presente maior de todos. Tenho você -seu sorriso estava cheia de ternura quando adicionou-: É tudo o que sempre quis.
Sara começou a chorar. Ele não pôde evitar abraçá-la. inclinou-se e beijou sua esposa, que devolveu o beijo.
Todas as mulheres do lugar suspiraram ao uníssono.
Entretanto, a esperança de que a noite fosse perfeita para sua esposa não estava plenamente satisfeita. Para os Winchester era um sucesso enorme. Para qualquer um era um pesadelo.
Entretanto, ninguém esqueceria o alvoroço.
Começou inocentemente quando Nathan se voltou para levar Sara à biblioteca. Ela o puxou pela mão para que se detivera.
-Acredito que você me ama, Nathan -disse quando voltou para fitá-la-. Não tem que renunciar o dote do rei para provar.
-Sim, tenho que fazê-lo -replicou-. Quero demonstrar o quanto a amo. É a única maneira que tenho de faze-la acreditar. Ama-me há tanto tempo e eu só a brindei com ofensas. É uma penitência, Sara. Tenho que fazer isto.
Ela negou com a cabeça.
-Não, não tem que fazer isto. Nathan, demonstrará que confia em mim e que me ama sem renunciar a dote. esperou muitos anos essa herança e vai conserva-la.
-Já tomei uma decisão, esposa.
-Mude-a -replicou Sara.
-Não.
-Sim.
Pela expressão de seu rosto via que estava decidido a realizar esse nobre sacrifício por ela. Ela também estava decidida a não deixar faze-lo.
-E se eu não assinar meu papel? -perguntou-lhe Sara.
Cruzou os braços e o olhou com o semblante franzido enquanto esperava sua resposta.
Céu santo, como a amava, pensou. E como ela o amava também. Parecia que queria estrangulá-la. Sara se tornou divertida.
-Se não assinar o papel, Sara, então sua família poderá ficar com o dote do rei. Não o quero.
-Não ficarei com ele.
-Olhe, Sara...
Ele não se deu conta de que estavam gritando. Ela sim. voltou-se e olhou para o lugar em que se encontravam os St. James, para encontrar o homem que procurava.
-Tio Dunnford? -gritou-. Nathan quer renunciar o dote do rei.
-Maldição, Sara. Por que fez isso?
Ela se voltou e sorriu para seu marido. Nathan estava tirando o casaco. Logo Sara viu que Colin e Caine estavam fazendo o mesmo.
Começou a rir.
Que Deus a ajudasse, já tinha se convertido em uma St. James.
Nathan já não parecia chateado. Tinha um brilho nos olhos. Era um homem muito selvagem. E ela a mulher ideal para dirigi-lo. Olhou para seu decote e lhe cobriu os ombros com seu casaco, e ordenou que passasse os braços pelas mangas.
-Se voltar a pôr esse vestido, o arrancarei -sussurrou-. Ali vêm eles.
Os homens do St. James avançavam como uma tropa de soldados em guerra.
-Eu te amo, Nathan. Lembre de não pôr o polegar debaixo dos dedos. Não vai querer quebrá-lo.
Nathan levantou uma sobrancelha ante essa sugestão. Ela se vingou piscando lentamente um olho. Puxou-a pelas lapelas da jaqueta, beijou-a e logo a empurrou para trás.
Sem dúvida era uma noite para recordar. O duque e a duquesa de Farnmount, ambos com mais de sessenta anos, estavam muito satisfeitos com o entretenimento. Sua pequena reunião daria que falar durante bastante tempo.
Sara recordou que tinha visto o casal no degrau de cima. Ambos tinham uma taça de vinho, e depois do primeiro murro, o duque do Farnmount indicou à orquestra que começasse a tocar uma valsa.
Entretanto, Sara gostou mais do que aconteceu depois da briga. Depois de terminada a luta, Nathan a levou. Não queria perder tempo em levá-la até o navio, assim que a levou até a casa de Caine e Jade.
Estava ansioso por tocá-la. Ela estava ansiosa em deixar que o fizesse. Fizeram amor com paixão, ardor e muito amor. Sara estava sobre seu marido no centro da cama. Tinha o queixo apoiado sobre suas mãos entrelaçadas, olhando-o fixamente.
Ele parecia completamente satisfeito. Acariciava suas costas. Agora que estavam sozinhos, Nathan podia lhe dizer o muito que a amava sem ruborizar-se. Era tão pouco romântico. Abriu a gaveta da mesinha, tirou um papel e a entregou.
-Escolha as que você gosta -ordenou.
Ela escolheu "querida", "meu amor" e "meu doce" da lista de palavras carinhosas. Nathan prometeu as memorizar.
-Invejava um pouco a Jade -comentou-. Não pensei que poderia ser como ela e meu pessoal continuava fazendo comparações.
-Não quero que se pareça com ninguém. Seu amor me deu tanta força, Sara.
Inclinou-se para beijá-la.
-Aprendi a confiar em seu amor. Tranformou-se em minha âncora. Tinha essa certeza e demorei muito em compreender.
-Quanto tempo demorará para ter confiança completa em mim? -perguntou Sara.
-Já tenho plena confiança em você -replicou Nathan.
-Contaria seu passado?
Parecia um pouco mais cauteloso.
-No momento certo.
-Conta-me o agora.
Ele negou com a cabeça.
-Só a desagradaria, querida. Levei uma vida bastante obscura. Fiz algumas coisas que você consideraria... inquietantes. Acredito que será melhor que conte a história em outra ocasião.
-Então não me contará sobre seu passado só por consideração a meus tenros sentimentos?
Nathan assentiu com a cabeça.
-Algumas dessas coisas foram...ilegais?
Seu marido parecia muito incômodo.
-Alguns diriam que foram -admitiu.
Teve que esforçar-se para não rir.
-Fico feliz que se preocupe tanto por meus sentimentos, marido, e agora sei que hesitou em me contar seu passado porque podia me preocupar e não porque pensou que acidentalmente poderia comentar algo muito significativo.
A O brilho de seu olhar o desconcertou. Ela tramava algo, mas não sabia o que podia ser. Abraçou-a pela cintura e bocejou satisfeito. Fechou os olhos.
-Sei que me ama -sussurrou-. E no momentro certo, digamos dentro de cinco ou dez anos, contarei tudo. Então já estará acostumada comigo.
Riu. Ele ainda estava um pouco assustado. Sara sabia que confiava nela, que a amava, mas tudo era tão novo para Nathan que demoraria para baixar todas suas defesas.
Ela não tinha esse problema. Amava-o sempre.
Nathan apagou a chama da vela e esfregou o nariz contra a orelha de sua esposa.

 

 

                                                                  Julie Garwood

 

 

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