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“O famoso escritor russo Alexandre Puchkine, ferido de morte num duelo com o cunhado e rival, deixou um jornal secreto cifrado, recentemente descoberto e enviado clandestinamente para fora da Rússia. Muita especulação e muito mistério têm rodeado este diário.
Diz a lenda que o testamento de Puchkine estipulava que o diário não poderia ser publicado antes de decorridos cem anos sobre a sua morte. Mas há quem afirme que o diário nunca existiu.
O diário existe mesmo e consiste em confissões explícitas sobre as relações íntimas de Puchkine com a mulher, as duas irmãs dela e outras mulheres, que acabaram por o arrastar para um fim trágico.
Estes acontecimentos e revelações surpreendentes trazem à luz pormenores desconhecidos da vida de Puchkine - a vida de um Dom Juan russo do século XIX.
Este Diário Secreto de Alexandre Puchkine é considerado como a grande descoberta da literatura do século XIX.”
Prólogo
Em 1976, decidi emigrar para os Estados Unidos. Para conseguir o dinheiro que o governo exigia para um visto de saída, decidi começar a vender a minha biblioteca.
Uma corrente de amigos, conhecidos e até de estranhos fluiu até à minha sala, ansiosos por comprarem os meus livros, que tinham uma procura constante e eram muito difíceis de obter na União Soviética. Um desses estranhos, um homem já de idade e com um aspecto fino, apresentou-se como sendo um conhecido de um conhecido meu, cujo nome não consigo recordar.
Contudo, nesta altura eu já não me importava em saber quem me visitava desde que me comprasse livros.
O meu visitante disse que se chamava Nickolai Pavlovich. A luz dos velhos tempos vivia nos seus olhos, a espécie de luz que não diminui com os anos, mas se torna ainda mais brilhante.
Nickolai Pavlovich tirou vários livros de história russa, mas ao saber o preço que eu pedia, comprou só um, pois não trazia dinheiro suficiente com ele. Disse que viria de tarde no dia seguinte para comprar o resto. Apareceu como prometera, e começamos a conversar. Ofereci-lhe chá, que ele aceitou com satisfação.
Os seus dentes brancos batiam continuamente na chávena, e ele explicou com embaraço que ainda não estava habituado à sua nova dentadura.
Nickolai Pavlovich perguntou-me sem rodeios se eu ia sair do país. «Se me deixarem», disse eu. Ele ficou visivelmente animado depois de perceber a minha intenção e a seguir conseguiu que a chávena e a dentadura não fizessem barulho.
Percebi, durante a nossa conversa, que ele vivia num distrito não muito longe do meu, num apartamento comunitário. Era historiador e o seu período de investigação era a primeira metade do século XIX.
Falei-lhe de mim e ele pediu para ver a minha poesia. Dei-lhe várias folhas de papel onde estavam escritos os meus versos. Não começou a ler os poemas na minha presença, enrolou as folhas e meteu-as cuidadosamente no bolso interior do casaco. Disse que as leria em casa. Gostei que assim fosse. Na verdade, gostei dele. Magro e ágil como era, facilmente poderia passar por um homem de meia-idade se o vissem por detrás. Só o seu rosto, pescoço e mãos não deixavam dúvidas sobre a sua idade avançada.
Nickolai Pavlovich visitou-me novamente dali a alguns dias, e falamos sobre poesia até bem avançada a noite. Perguntou-me se eu planeava levar comigo os meus manuscritos. Disse-lhe que tentaria fazê-los passar pelo embaixador holandês. Então pediu-me que levasse também o seu manuscrito. Relativamente às minhas perguntas sobre o manuscrito, garantiu-me logo que não havia nada de anti-soviético nele e que eram apenas anotações num diário escrito no fim dos anos 30 do século passado.
As anotações estavam em código e Nickolai Pavlovich trabalhara na sua decifração durante muitos anos. A dificuldade especial era que o diário estava escrito em francês, à exceção de algumas palavras e expressões em russo. Contudo, o seu conhecimento profundo de francês permitira a Nickolai Pavlovich completar o seu trabalho de decodificação do diário e traduzi-lo para russo. Perguntei-lhe quem escrevera o diário, e ele respondeu-me que seria uma surpresa.
Concordei fazer passar o diário.
Nickolai Pavlovich decidiu trazer-me na noite da minha partida para Moscovo - nessa altura já eu tinha recebido a autorização de emigrar e corria a cidade toda a juntar os diferentes certificados necessários para um visto de emigração.
–– Porque é que não tenta publicar aqui o diário? –– perguntei-lhe eu inocentemente. –– Se tem valor histórico, talvez eles o publiquem. De qualquer forma, cento e cinqüenta anos depois, já parece inofensivo revelar seja que acontecimentos forem.
–– Está enganado, meu jovem –– objetou Nickolai Pavlovich. –– Independentemente dos séculos que passaram o ídolo (se é que ele é um ídolo) permanece inviolável.
Nickolai Pavlovich estava atrasado e eu já desistira de esperar por ele. O táxi estava à espera para me levar à Estação de Caminho de Ferro de Moscovo. Faltava menos de uma hora para a partida do comboio. Nickolai Pavlovich não tinha telefone, eu não sabia a morada dele e estava mesmo quase a sair quando a campainha da porta tocou. Era ele. Segurando o dossier na mão, respirava com alguma dificuldade.
O elevador estava avariado e ele tivera de subir a pé até ao quinto andar. Pus o dossier na mala e Nickolai Pavlovich acompanhou-me ao táxi.
–– Eu telefono-lhe. Deus o acompanhe! –– disse ele enquanto eu partia a correr.
No táxi, abri o dossier ansiosamente: Na primeira página em letras grandes e manuscritas estava impresso: «A. S. Puchkine. Diário Secreto 1836-1837». Virei a página e a letra era tão pequena e ilegível que era impossível ler no carro à luz tênue do fim do dia. Decidi lê-lo mais tarde, no comboio.
O meu lugar era no beliche superior. Havia uma mulher gorda com cara de ativista sindical à minha frente. Os beliches superiores também estavam superlotados de corpos.
O comboio partiu há horas. Peguei no meu saco e abri caminho pela multidão em direção à casa de banho, à espera de poder ler aí. Uma grande fila de espera desencorajou-me da leitura tranqüila por que eu suspirava. Voltei para o meu compartimento, a luz estava apagada, e toda a gente dormia. A minha luz noturna não funcionava. Tive de adiar a minha leitura até ao dia seguinte. Já passava da meia-noite, era previsto o comboio chegar de manhã cedo e eu esperava vir a ter um dia difícil. Pensei que teria tempo de ler o diário antes de a embaixada holandesa abrir.
Ao aproximar-me da embaixada, vi uma grande fila. Havia homens da milícia a passar por ela. Coloquei-me no meu lugar e percebi que era melhor não me distrair nem por um segundo se esperava ver o embaixador naquele dia. Não queria arriscar a leitura enquanto estivesse de pé na fila.
Quando finalmente a embaixada abriu e chegou a minha vez de entrar no gabinete do embaixador, o pensamento invadiu-me: Recebera o diário de um homônimo de Nicolau I e iria entregá-lo a um emissário holandês, que outrora se chamara Heckern. O diário seria enviado para o Ocidente, que Puchkine sonhara desesperadamente visitar um dia.
O meu pedido memorizado, em inglês, para que o embaixador passasse os meus manuscritos para fora da União Soviética teve como resposta a sua débil recusa.
Decidi deixar ali o saco com os meus manuscritos e o diário, como se me tivesse distraído.
Pus o saco no chão ao lado da cadeira onde estava sentado e fiz uma pergunta ao embaixador para distrair a sua atenção do saco. Mais tarde achei que ele tinha percebido perfeitamente as minhas intenções.
Despedi-me e segui até à saída, receoso que alguém me chamasse e devolvesse o meu saco. Ninguém o fez.
Voltei a Leninegrado, aliviado e livre da minha carga e da que era d’outro. Estava ansioso por ver Nickolai Pavlovich e obter junto dele uma cópia do diário para o ler sem qualquer interferência. Nickolai Pavlovich não me telefonou e não apareceu. Não tive tempo nem oportunidade de o procurar, pois não sabia nem o seu último nome nem a sua morada. Além disso, tinha apenas uns dias extremamente atarefados antes da minha partida final.
Um ano depois da minha chegada aos Estados Unidos recebi uma encomenda com os meus manuscritos e o diário. Comecei logo a lê-lo e confesso que fiquei esmagado pelo nível de sinceridade das descrições dos pormenores íntimos.
Eu sabia que os apontamentos diários de Puchkine terminavam em 1835, e que havia uma lenda que falava de um diário escrito nos últimos meses da sua vida, que de acordo com o seu testamento só podia ser publicado um século depois da sua morte. Também lera o que se passava com os caçadores de diários e os crimes que cometiam para obter este botim.
No entanto, eu não precisava ser um estudioso de Puchkine para perceber que o diário que tinha nas mãos estava escrito numa linguagem e num estilo que não era parecido com o de Puchkine. Só posso explicar isso dizendo que a Nickolai Pavlovich faltava o talento de estilista literário. Talvez tenha sido melhor o diário ter sido escrito originariamente em francês: a tradução trouxe entoações modernas à narrativa e fê-la pertencer aos tempos contemporâneos.
Isto acontece com Shakespeare, cujo lirismo antiquado se torna cada vez mais estranho a cada nova geração de leitores ingleses. Ao mesmo tempo, o Bardo mantém-se atualizado na Rússia, porque a sua linguagem é continuamente refrescada com novas traduções. Por mais bonita que a linguagem de um escritor possa ser, envelhece e murcha enquanto só as idéias expressas se mantêm vivas e a prosperar com a humanidade, sendo reencarnadas na nova carne das traduções e estudos. As idéias de um escritor, não a sua linguagem, serão o estímulo para traduções da sua obra em anos vindouros. É um paradoxo poder vir a existir um tempo em que apenas raros lingüistas sejam capazes de ler Shakespeare no original, e os seus verdadeiros admiradores sejam aqueles leitores estrangeiros que possam ler traduções contemporâneas da sua obra.
Para preservar o interesse por ele na sua língua materna, as obras de Shakespeare talvez venham um dia a precisar de ser traduzidas para o inglês atual.
«Slovo o Polku Igoreve» (A Palavra sobre o Exército de Igor) pode servir como um exemplo russo. Hoje em dia só é lido em traduções de russo antigo.
Por isso, o francês do diário irá fazer com que pareça atualizado não só hoje, mas para muitas gerações futuras.
Naturalmente, depois de ler o diário, muitas questões me atravessaram a mente, que gostaria de ter perguntado a Nickolai Pavlovich: onde está o diário original e como é que foi parar à sua posse? Qual era o código utilizado? Será este diário autêntico? Alguém, exceto Nickolai Pavlovich, sabe da sua existência?
E finalmente perguntei a mim próprio: o diário deveria alguma vez ser publicado?
Entretanto, datilografei as páginas do diário para o caso de precisar de o mostrar a alguém.
Ainda bem que o fiz. Parti numa viagem de negócios mais alargada e o manuscrito de Nickolai Pavlovich desapareceu. Não posso dizer mais nada.
Felizmente, a cópia datilografada estava guardada longe do original, e permaneceu inalterável. Este acontecimento fez-me pensar seriamente em publicar o diário. Temia mostrá-lo fosse a quem fosse por causa da sua natureza explosiva e percebi que se caísse nas mãos de uma pessoa desonesta poderia ser publicado sem o meu consentimento.
Também estava preocupado porque se fosse publicado por outra pessoa, poderia haver censura de conteúdo sob pretexto moral de proteger o sagrado nome de Puchkine, pois o seu nome é reverenciado não só na União Soviética como em todos os amantes da literatura russa.
Contudo, após longa meditação e muitas reservas, decidi publicar o manuscrito que recebera de Nickolai Pavlovich. A reputação literária de Puchkine é tão forte que a sua reputação pessoal não poderá abalá-la, pelo contrário, oferece-nos um estudo notável sobre a natureza humana, o qual, devido à sua imutabilidade, nos torna unos com o passado bem como com o futuro.
Mikhail Armalinsky
Para a minha Mulher.
*
A previsão está a tornar se realidade –– Desafiei DAnthès(1) para um duelo. A mulher alemã não previu uma morte violenta às mãos de um homem louro?(2) Sinto a força do destino, vejo como se está a concretizar, mas não consigo evitar, pois a desonra é mais terrível do que a morte. A desonra é uma semente que eu plantei. As suas gavinhas estrangulam-me. DAnthès tornou-se uma retribuição enviada pelo destino devido ao meu caráter fraco. Ao desafiar DAnthès tornei-me como Jacob a lutar contra Deus. Se eu triunfar, refutarei as leis de Deus e as Coninhas subirão ao trono nos Céus sem obstrução.
Os meus contemporâneos não podem conhecer-me tanto como aquilo que permitirei às gerações futuras. Tenho de ter cuidado com a honra de N. e a honra dos meus filhos enquanto forem vivos. Mas não me posso impedir de partilhar a minha alma com o papel; é esta doença incurável da escrita. A doença é muitas vezes fatal, pois os meus contemporâneos matar-me-iam por estas revelações da minha alma, pela verdadeira revelação, se a conhecessem. Mas as gerações futuras nada me poderão fazer a mim ou aos meus bisnetos, porque a distância no tempo tornará as ações mais condenáveis em mera história. Ao contrário do presente, a história não é perigosa nem ofensiva, mas apenas divertida e didática.
Não quero levar os meus pecados, erros e tormentos para a cova; são demasiado substanciais para não se tornarem parte do meu monumento.
Daqui a duzentos anos, quando a censura na Rússia seguramente já tiver sido abolida, primeiro será publicado Barkov(3) e depois estas notas, embora eu não consiga imaginar a Rússia sem censura. Quer dizer que as notas serão publicadas na Europa, mas mais provavelmente na longínqua América. É terrível saber de certeza que já não estarei vivo nessa altura, e que até os meus ossos terão apodrecido.
Olho para a minha mão enquanto ela escreve estas linhas e tento visualizá-la morta, como uma parte do meu esqueleto, enterrada no chão. Embora este destino seja inegável, sou incapaz de o imaginar. A fidelidade da morte é a única verdade inquestionável, apesar de ser a mais difícil de compreender; mas conseguimos fácil e descuidadamente aceitar e acreditar em muitas e diversas mentiras.
*
A morte de Delvig(4) foi um sinal terrífico de que a última parte da previsão da cartomante alemã estava a tornar-se verdadeira. Nessa altura não reparei, mas agora surge-me de uma forma completa e cheia de significado. O anel a cair durante a cerimônia do nosso casamento e o tremeluzir da vela convenceu-me irremediavelmente de que nada de bom viria do meu casamento.
Na verdade, nós próprios prevemos o nosso futuro.
De forma a não perder completamente a coragem, consolei-me com a antevisão da nossa noite de núpcias, da alegria de finalmente possuir N.(5) Pedi a Deus que fizesse com que essa alegria durasse toda a minha vida de casado.
Uma fome de felicidade total foi o que me levou a casar. Sim, o casamento parecia-me uma cura mágica para a minha devassidão e tédio. Era uma tentativa de fugir de mim, ao não ser capaz de mudar e não tendo coragem suficiente para me tornar diferente.
N. foi a minha sorte fatal. Ao chegar a um acordo com a mãe de N., sacrifiquei todo e qualquer dote e mergulhei em dívidas para pagar as festividades do casamento. À espera do dia do casamento, depois do noivado, pensei em como eu iria mudar e em como a minha vida mudaria depois de eu fazer o meu juramento de fidelidade, pois tinha a intenção sincera de o cumprir.
Antes disso normalmente tinha até cinco mulheres por dia. Habituara-me a uma grande variedade de fendas, aos hábitos das mulheres quando fazem amor e a tudo que faz com que uma mulher seja diferente da outra. Essa variedade não deixava as minhas paixões adormecer e a constante perseguição da variedade tornou-se a essência da minha vida.
Quando vi N. pela primeira vez, percebi que algo de irreversível acontecera. O desejo de a possuir imediatamente foi tão forte que instantaneamente se tornou num desejo de casar com ela.
Isto já me acontecera antes, mas nunca de uma forma tão poderosa. Nunca antes eu sentira uma tal admiração pela minha eleita. Quando finalmente a minha proposta foi aceita, eu, aproveitando-me da minha situação de noivo, consegui ficar sozinho com ela. Abracei-a e, movendo a minha mão sobre o peito dela, arranhei com a unha no lugar onde calculava estarem os mamilos.
Rapidamente a minha unha começou a tropeçar neles.
N. corou, mas não afastou a minha mão, limitou-se a murmurar: –– Isso não, a minha mamã pode ver.
A mãe é uma verdadeira cabra, zangada com todos porque ninguém além dos moços de estrebaria de Polotnyani Zavodi(6) a queria foder. Ela não se importaria de ir para a cama comigo, penso eu, mas claro que eu não lhe ligava. Ela oprimia as filhas de várias formas e mantinha-as como se estivessem num convento. Eu observava as irmãs de N. e pensava em transformar esse convento no meu harém. Pelo fato de estar noivo, reprovava em mim aqueles pensamentos tão pecaminosos, embora fosse impossível ver-me livre deles.
Eu adorava a minha freira e planeava convertê-la pouco a pouco numa hábil amante. Mas os meus planos não puderam realizar-se e talvez seja por isso que ainda a amo.
A nossa lua-de-mel voou em doce educação: eu estava a aprender a língua que o seu corpo falava e N. aprendeu a responder não só à minha língua. A minha persistência e a sua diligência levaram-na a gritos cada vez maiores de prazer, que soavam como música aos meus ouvidos. Possuir uma beleza tão ideal, que além disso eu obtivera ainda virgem, é a maior felicidade que um homem pode ter. A sua intensidade é tão forte que não pode durar muito. Quando eu mergulhava na minha recém-encontrada mulher, abraçando-a profundamente, sentindo os seus movimentos tímidos, que ainda não se haviam transformado em ondulações devido à sua vergonha, sentindo a sua respiração quente no meu ouvido, ficava num estado de exaltação que só Deus pôde sentir no momento da criação!
*
Que alegria ter conduzido N. pelos caminhos sinuosos do jardim do prazer! A primeira vez que a pus assente nas mãos e nos joelhos e as duas secções do seu rabo luminoso se abriram à minha frente, descobri que as suas pernas eram demasiado compridas para mim e eu tinha de me erguer da posição de joelhos para lhe chegar à ratinha. Disse-lhe para arquear as costas. N. hesitou e depois arqueou-se como um gato. Desatei a rir da sua santa ignorância, e ela olhou para trás, para mim, surpreendida, da forma como uma vaca olha quando nos aproximamos dela por detrás. Pus a mão na coluna da minha Madonna e empurrei, mostrando-lhe o que eu esperava. N. fez obedientemente o que eu queria, e sentindo porque era necessário desatou também a rir, não sabendo que o riso fazia a sua ratinha convulsionar-se. Mais tarde tentei ensiná-la a apertar o meu caralho não com o riso, mas segundo as minhas instruções; mas ela é pouco dotada como amante, e eu tinha de lhe fazer cócegas ou pedir-lhe que tossisse para que a sua ratinha ficasse viva. Ela só se vem uma vez por noite e depois de se vir já não quer mais nada. É uma qualidade muito preciosa numa esposa; não nos incomoda com luxúrias quando queremos dormir. Mas a princípio eu fazia-lhe muitas cócegas.
Senti sempre como se estivesse a troçar da natureza: eu, um anão com cara de macaco, a possuir a deusa. E ela não pode apreciar até que ponto eu sou bom a fazer amor porque para isso precisava de um ponto de comparação, Deus a guarde.
Naqueles primeiros dias, concordamos não esconder um ao outro nem sequer o pensamento mais íntimo. Eu percebi muito bem que não seria capaz de manter o acordo, mas queria criar em N. o sentimento de precisar partilhar os seus pensamentos e desejos comigo. O principal é não ficar zangado, diga ela o que me disser. Seguindo esta regra, fazia o possível para não lhe mostrar as minhas tempestades de indignação ou de ciúmes com as histórias que ela me relatava.
N. levou o nosso acordo a sério. Perguntei-lhe se já tivera qualquer espécie de ligação amorosa e ela confessou. Quando tinha cerca de catorze anos, ela, juntamente com a mãe e as irmãs, fora convidada para um baile no palácio do czar.(7) A dada altura, perdeu-se entre os convidados. Uma dama da corte muito bonita veio ter com ela e disse que Sua Majestade queria conhecê-la. A minha menina tremeu de medo e humildemente seguiu a dama da corte. Esta levou-a até ao gabinete onde o czar estava sentado num cadeirão. A dama apresentou N. e deixou-a ali de pé no meio do gabinete sombrio. O czar levantou-se, mudou-se para o sofá e fê-la sentar-se perto dele. Fez-lhe perguntas e ao mesmo tempo puxava-lhe a saia cada vez mais para cima. N. não se atrevia a mexer e tentou responder às suas perguntas em pormenor. Quando o monarca devasso lhe abriu as pernas, N. sentiu como que ondas de calor começarem a percorrê-la –– foi assim que ela me descreveu as suas sensações. De repente, alguém bateu à porta. O czar levantou-se, compôs-lhe o vestido e saiu do gabinete. Minutos depois, a dama da corte voltou e levou N. de volta ao salão onde os outros convidados dançavam.
A mãe de N. começara a ficar preocupada com o desaparecimento de N. mas quando a dama da corte lhe disse que a filha fora apresentada ao czar, a mãe acalmou e apenas olhou para N. com desconfiança. N. estava tão excitada com o que acontecera que quando a família chegou a casa a mãe chamou-a aos seus aposentos e perguntou-lhe se tinha ficado sozinha com o czar. N. respondeu que não havia ninguém no gabinete para além deles, mas que o czar fora chamado e que não tinham tido tempo de falar muito.
–– Sua mentirosa! –– disse eu tão calmamente quanto possível, com medo que ela pudesse ouvir os meus dentes a ranger. A minha mulher respondeu que não gosta de mentir e que tudo o que dissera à mãe era verdade e que a mãe não lhe fizera mais perguntas.
Quando Koko(8) se tornou dama da corte, proibi-a de se mudar para o palácio, o que fez com que o czar ficasse ainda mais zangado comigo.
N. ficou atrapalhada com o dinheiro que o czar lhe deu como prenda de casamento. Reparei nisso.
Quando nos mudamos para Tsarskoye Selo(9) ela tentou por todos os meios evitar encontrar-se com o czar, escolhendo lugares recolhidos para os nossos passeios. Mas durante uma caminhada em volta do lago, um dia, encontramos o casal real e a imperatriz convidou N. a ir ao palácio. Em casa, N. queixou-se que não queria aparecer em sociedade. Isto parecia suspeito, e extraí-lhe a confissão anteriormente descrita.
Eu soube da inocência pecaminosa das paixões do imperador há bastante tempo através de uma dama da corte a quem curei de ataques nervosos indo com ela para a cama. Por isso a confissão de N. não me disse nada de novo, eu sabia o que iria ouvir. Só não queria descobrir que a minha mulher fora também um dos seus quadros vivos. O czar fizera um grande juramento de fidelidade à imperatriz e por causa disso ele não fode com ninguém a não ser com ela. Contudo, para se envolver com o grupo de donzelas que o rodeiam, ordena que elas se dispam e afastem as pernas à frente dele. Regala os olhos na abertura, masturba-se e ejacula nos seus seios, e deixa-as sem lhes tocar. A imperatriz sabe disto, mas não sente que com isso ele quebre o seu juramento.
Há muitas damas da corte a sofrerem destas relações inócuas com o czar, mas N. ficou contente por serem inocentes.
Estava com receio que o czar se aproximasse novamente dela. Consolei-a, aconselhando-a a dizer ao czar, caso ele se aproximasse dela, que eu sou tão ciumento que jurei matar qualquer um que tentasse ver o seu sexo. Mais tarde ela garantiu-me que pouco depois tivera a oportunidade de lhe dizer isto quando ele tentou prendê-la. Desde então nunca mais se aproximou dela. Eu sei que ele tem medo de mim. Como ficará feliz quando eu morrer. Filho da mãe!
Nessa altura já eu lamentava ter imposto a N. um acordo de sinceridade, mas preparei-me para aceitar todas as conseqüências agradáveis e desagradáveis de ela honrar este acordo. O desconhecimento dos pensamentos de uma mulher ameaça tornar o marido cornudo. E ser cornudo é horroroso e insuportável. Ninguém se aproveitou tanto da falta de conhecimento dos maridos como eu, e como eu gostava de ver os seus cornos a crescer, invisíveis para todos exceto para mim!
Uma vez, quando eu queria reafirmar o meu poder sobre o corpo da minha beldade, ela disse: –– Quero partilhar contigo mais um pensamento íntimo.
–– O que é? –– espevitei as orelhas.
–– Eu não quero fazer mais, quero dormir –– disse ela, cansada.
Ri-me, de alívio.
–– Tu dormes e eu possuo-te a dormir.
Concordamos. Eu fodi-a enquanto ela ressonava, tentando não a acordar. Ali estava uma bela adormecida que não acordava com beijos. Aquilo era a vida e não um conto de fadas.
*
Uma vez fizemos uma aposta de que ela se viria mesmo que não estivesse com disposição nenhuma. Como eu conheço bem a forma como a indiferença se torna desejo numa mulher quando um homem sabe o que está a fazer! Para N., a sua indiferença neste preciso momento era tão óbvia que não conseguia imaginar como era fácil fazê-la desaparecer sem deixar vestígios!
Dei-lhe duas taças de champanhe a beber e agüentei-me durante meia hora, o que foi suficiente para ela começar a gemer de desejo renascido. Como eu a amei pelos momentos de êxtase irreprimível!
Quando ela foi à casa de banho, eu segui-a de perto. Embora ela categoricamente se recusasse inicialmente a aliviar-se na minha presença, não a deixei sozinha, e com os meus pedidos, beijos e a sua situação desesperada, obriguei-a a ceder, primeiro um pouco e depois bastante.
Os seus cheiros e sons, tudo o que saía dela, me enchia de desejo. Sempre fiquei espantado com a transformação de uma deusa numa mulher mortal, não na cama, mas na casa de banho. Muitas mulheres conseguem manter-se deusas na cama por algum tempo, mas na casa de banho o encanto desaparece, e eu liberto-me da minha veneração excessiva, que muitas vezes é um obstáculo para controlar uma mulher.
O poder das beldades na alta sociedade reside na ilusão da sua divindade, que é delicioso dispersar sem cerimônia. Oh, grande e encantadora sabedoria! Ao olhar para a beldade mais inatingível não há dúvida que sabemos o que ela tem entre as pernas e para onde e porquê abandona um salão.
Quando eu tinha cerca de seis anos de idade, vi quadros de deusas nuas num livro.
Estremeci ao olhar para aqueles joelhos juntos e para a curvatura daquelas ancas verdadeiramente divinas. A minha cabeça rodopiava de admiração. Mas, ao mesmo tempo, senti claramente que algo extremamente importante se me ocultava. O sexo de Tiny Olya(10), que ela prontamente me mostraria se eu lhe pedisse, não se encaixava na minha imagem do corpo feminino misteriosamente adulto. Eu sabia que uma mulher devia ter um sexo, mas não me ocorreu que, para ele ser visto, uma mulher tem de abrir as pernas. Quando as pernas de uma mulher se abriram à minha frente, agarrei num castiçal e afugentei a escuridão que a rodeava. Vi o rosto da Verdade e nesse momento compreendi o meu destino –– servir esta deidade assente entre as pernas de uma mulher e cantar os sentimentos que ela causa. Uma mulher poderá parecer uma deusa, mas apenas por uma razão, isto é, em cada mulher reside uma verdadeira deusa: A Ratinha.
*
Quando eu era solteiro, nada me pesava tanto como o fardo do desejo de felicidade pelo qual lutava sem sorte, e isso fazia-me infeliz. Parecia-me que o casamento com uma rapariga jovem e bonita com bom coração haveria de me trazer paz e liberdade, que são realmente a felicidade. Infelizmente, a vida ou dá paz ou liberdade, mas nunca as duas. A paz provém da resignação submissa, e essa paz não tem espaço para a liberdade. A liberdade empurra-me para ligações intermináveis, onde não há paz.
Apesar do meu bom senso, havia um quadro do casamento a arder em mim e a queimar de cada vez que corria atrás de uma jovem bela. Estava pronto a casar com qualquer uma, sem demora, desde que pudesse aparecer em sociedade sem constrangimento. Olenina(11) e Sof(12) não queriam ter um marido louco. N. não teve escolha. Foi assim que Deus me pôs à prova.
*
Convenci-me de que casava placidamente e que a minha experiência me protegia de esperanças inúteis e ilusões ingênuas. Mas o meu conceito de casamento era apenas uma teoria inconsistente. É impossível compreender os sentimentos; temos de os sentir intensamente, pois só o sentimento consegue tocar o coração, e só o coração pode então enriquecer a mente. Toda a minha experiência fora de amante e não de marido.
A minha paixão por N. não durou sequer dois meses. Eu sabia que a paixão é fugaz, mas fiquei desanimado com o truísmo, porque pela primeira vez dizia respeito à minha própria mulher.
Depois do primeiro mês, já eu não tremia em alegre expectativa quando N. se despia à minha frente. Dois meses depois já a conhecia de cor como amante, e ela não conseguia surpreender-me em nada: sabia antecipadamente que movimentos ela iria fazer, que sons de gemidos iria ouvir, como ela iria unir-se a mim e como suspiraria de satisfação.
Os cheiros dela já não me levavam a saltar-lhe para cima como antes –– reparava neles como se fossem meus. Ficava mais excitado com o cheiro do queijo alemão do que com os seus odores. Porque me fazia lembrar outras mulheres.
*
Eu estava errado ao pensar que podia moldar N. a qualquer forma que eu quisesse. Não, não se pode ensinar o talento; tem de se nascer com ele. Da mesma forma, tem de se nascer para o amor, e N. nascera para a coquetaria. Aquilo a que eu chamo excelência ela chama obscenidade.
A capacidade de sentir convulsões de amor não é de todo um talento amoroso. O talento para o amor mostra um desejo tão forte e que desperta tão facilmente que a crítica e a vergonha desaparecem completamente. As mulheres com talento para o amor tornam-se suas escravas. São amantes maravilhosas, mas esposas horrorosas. Mais uma vez acontece que é preciso escolher entre uma amante maravilhosa e uma esposa maravilhosa. No meu caso optei pelo melhor casamento, pois se tivesse uma esposa talentosa no amor –– por outras palavras, uma má esposa –– teria sido impossível compensar a sua falta de talento como esposa. Mas por outro lado, encontrar uma amante talentosa não é nada difícil.
Percebi que o temperamento de N. é o mais conveniente para o casamento. Ela matar-me-ia se tivesse a fome omnívora que Z. ou R. tinham. Aquilo que me custou não foi a sua frieza, mas a minha indiferença perante o seu corpo. O meu coração não se acomodava ao fato de poder estar nu deitado com N. e adormecer sem desejo de a possuir. Era totalmente impensável isso acontecer com outra mulher qualquer, e N. –– a mulher mais bela de todas –– punha-me impotente. Eu olhava para ela de forma impassível e pensava que se naquele momento qualquer mulher estranha, até pouco atrativa, estivesse no seu lugar, eu saltaria para cima dela com o desejo que N. nunca mais seria capaz de provocar em mim. A raiva para com N. consumia-me lentamente e eu sentia-me cada vez mais atraído por outras mulheres.
A novidade do corpo tornou-se mais forte que o amor, mais forte que a beleza, mas eu não queria que viesse a tornar-se mais forte que a minha fidelidade à minha esposa.
*
Tentei engravidar N. Nos primeiros meses do nosso casamento, antes de a sociedade se apaixonar por ela, N. andava muito aborrecida com as suas horas de ócio. Ensinei-a a jogar xadrez, dei-lhe para ler a História de Karamzine(13), mas isso ainda a aborreceu mais. Ela gostava de ler romances franceses insípidos, um a seguir ao outro, com uma exaltação infantil. Uma vez li-lhe alguns dos meus poemas. Ouviu-os com tanto desinteresse no rosto que eu nunca mais me atrevi a incomodá-la com a minha poesia, e ela não pediu.
Tem o maior prazer em roupas novas e elogios à sua beleza. Isso tocava-me e não me aborrecia nada. Eu sabia que quando viessem os filhos ela ficaria ocupada com algo real.
Entretanto, vai fazendo os seus bordados e eu observo o seu rosto bonito, que me dá mais prazer estético do que erótico.
A metade boa da minha vida, que está ligada à poesia, foi indiferentemente rejeitada por N. A outra metade era o amor, onde a pungência das sensações foi substituída pela ternura. Mas somos capazes de encontrar êxtase apenas no estímulo das sensações.
*
Eu, que tinha tanto orgulho na minha fama de amante como na minha fama de poeta, não conseguia encontrar espaço para estas atividades na minha vida de família. N. alimentava a minha vaidade com a sua beleza, amabilidade e inocência. Mas mais tarde a sua inocência transformou-se em coquetaria, a sua amabilidade em sentimentalismo e eu habituei-me tanto à sua beleza que se tornou imperceptível. Só quando toda a gente admirava a beleza de N. é que eu me sentia orgulhoso, mas este sentimento, infelizmente, foi-se transformando cada vez mais em ciúmes.
Pela primeira vez na minha vida, eu adormecia e acordava todos os dias com a mesma mulher. A doçura da novidade estava a perder rapidamente o seu fascínio para mim, e eu mudava de amantes ou acrescentava mais às que já tinha. Compreendo com tristeza que para um homem casado este comportamento é inaceitável.
A diferença entre uma esposa e uma amante é que com uma esposa se vai para a cama sem luxúria. É por isso que o casamento é sagrado, porque a luxúria gradualmente vai desaparecendo dele e a relação torna-se apenas amigável, até indiferente ou muitas vezes hostil. É então que o corpo nu não é considerado um pecado, porque já não tenta.
Olhei para um punhal pendurado na parede e pensei que eu, tal como ele, já não entraria em mais batalhas de amor, não saborearia o cheiro do sangue quente.
Por vezes sinto uma calmaria, uma alegria tranqüila, olhando inocentemente para a minha Madonna (é esta a única forma de se poder olhar para uma Madonna, não é?). A luxúria está a tornar-se uma parte mínima da nossa vida. A maior porção era uma ansiedade por pequenas coisas, paixão castigadora. Imperdoável, mas inevitavelmente, comecei a considerar o sexo de N. uma coisa certa.
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As fantasias começaram a perseguir-me, e era o Diabo quem o fazia. Mulheres que eu tinha tido em diferentes períodos da minha vida passavam-me à frente dos olhos da mente. Era especialmente torturado pelas recordações das minhas orgias com Z.
Quando me tornei seu amante, fodi-a sete vezes durante a primeira noite. Ela disse que se viera vinte vezes e não estava nada cansada. Z. era uma daquelas mulheres cujo desejo nunca está completamente satisfeito, mas se adapta à capacidade do seu amante. Confessei a brincar que não rejeitaria ajudantes. Ela respondeu a sério que também os queria, e quantos mais, melhor. Por isso, de seu amante tornei-me seu proxeneta, coisa que há muito tempo sonhava fazer.
Desde a minha juventude que eu descobrira em mim uma sede de voyeurismo, e nos bordéis eu procurava todas as oportunidades para espreitar os casais, e se as circunstâncias fossem favoráveis juntava-me a eles com a minha namorada temporária.
Z. partilhou comigo, sonhadora, que facilmente se imaginava com muitos homens ao mesmo tempo. Ela queria pôr as suas capacidades em ação e ser possuída por dois amantes ao mesmo tempo só para começar. Concordamos que no baile seguinte ela me apontaria o ulano que tinha debaixo de olho, mas que não lhe fora apresentado. Eu deveria oferecer-lhe a ele passar um bom bocado com uma senhora em Kamenniy Ostrov(15). A sua identidade, é claro, tinha de ser mantida estritamente em segredo. Ela viria ter conosco nua, com uma máscara na cara para não ser reconhecida pelo ulano. Ela não pronunciaria uma única palavra de forma a que ele não reconhecesse a sua voz. Se fosse necessário, sussurrar-me-ia ao ouvido.
Quando eu disse ao ulano escolhido que uma grande beldade de nome não revelado queria passar algum tempo conosco os dois, não foi fácil acalmar a sua impaciência até à altura combinada. Fi-lo dar a sua palavra de que tudo seria mantido em segredo, e ele concordou abandonar a casa ao primeiro pedido. Os criados foram afastados da casa, e nós os dois deveríamos entrar no quarto de dormir de acordo com o plano que Z. concebera para mim. Bati à porta com um toque convencional e abri-a de par em par. Uma só vela junto à cama espalhava luz sobre uma Z. reclinada. Ela olhou para nós com as pernas totalmente abertas. Uma máscara engenhosa tornava o seu rosto irreconhecível, mas deixava aberto aquilo que era necessário: boca, narinas, olhos.
O meu ajudante –– chamar-lhe-ei A. –– produziu um som parecido com um relincho de alegria. Rapidamente tiramos as nossas roupas e corremos para satisfazer a nossa fome.
Uma hora depois ela fez-me sinal que estava na altura de sairmos. No regresso A., admirado com as nossas proezas, quis saber quem era a senhora. Eu encolhi os ombros e fiz-lhe lembrar que ele me dera a sua palavra que não faria qualquer tentativa de descobrir a identidade da nossa amante.
Na manhã seguinte bem cedo, fui a casa de Z. para falar com ela em pormenor acerca da nossa aventura. Mas em vez de exclamações felizes, tudo o que ouvi foram censuras, pois A. só se preocupara consigo próprio, e que eu não o observara e que, em resultado disso, não tínhamos agido em consonância, como ela desejara, mas cada um para seu lado. A coisa mais importante para ela era que o ritmo dos nossos movimentos deveria coincidir.
–– Quero sentir - disse Z. - que sou possuída por um homem muito habilidoso que tem muitos pênis e não por porcos libidinosos que só pensam em vir-se o mais depressa possível.
Eu ofendi-me, mas ela garantiu-me que quando disse porcos libidinosos não se estava a referir a mim, a quem ela respeita primeiro que tudo pela minha forma de fazer amor e só depois pela minha poesia, mas a outros homens de que ela queria falar.
Aqui corou, não com vergonha ou desejo, e disse que agora queria mais um homem. Só que desta vez seria ela a comandar e a impor o ritmo a toda a gente e eles teriam de obedecer.
Além de guardarem segredo, a obediência às minhas instruções deveria ser uma condição para participarem na orgia...
Z. concebeu um plano pormenorizado. Eu imaginei vividamente os fluidos quentes que ela gastara a pensar em todos os pormenores importantes. Deu-me indicações sobre a forma como queria colocar todos os participantes. O primeiro deitar-se-ia de costas e ela sentar-se-ia em cima dele; o segundo arranjaria lugar no seu rabo e enchê-lo-ia, e eu ficaria de pé em frente da sua boca. Eu, como condutor, teria de impor o ritmo aos outros dando-lhes o exemplo com os meus próprios movimentos. Se Z. quisesse mexer-se mais depressa, apertar-me-ia a pila uma vez com os dentes. Se ela quisesse abrandar-nos aperta-la-ia duas vezes. Ensaiamos imediatamente aqueles sinais. Para evitar quaisquer tentativas por parte dos homens de a levar a conversar, ela deixar-nos-ia depois de nos termos vindo todos, e depois sairíamos também nós.
Desta vez o encontro teria lugar na mansão de um familiar que partira com a família para a sua propriedade rural. Tínhamos de ficar numa das salas e trancar todas as suas portas. O plano era que se um dos criados aparecesse, ele ou ela pensariam que Z. estava novamente a dar uma festa. Os criados estavam habituados a que Z. tivesse convidados e se comportasse como se estivesse na sua casa.
O terceiro participante que ela selecionou era um amigo de A. –– chamar-lhe-ei K. Iam sempre juntos aos bailes e eram considerados amigos inseparáveis. Z. escolheu-o para salvar A. da tentação de ir falar sobre a sua aventura a K. e juntá-los assim no mesmo segredo.
Estava eu a passear na Nevsky(16) no dia seguinte, e entre todos os homens possíveis, dei de cara com A. Primeiro perguntou-me como estava a nossa amiga mútua e se queria passar novamente um bom bocado. Eu disse-lhe que ela queria que K. se juntasse a nós.
–– Claro, ele gostará muito, mas há espaço para toda a gente? –– preocupou-se A.
–– As vossas fantasias não conseguem rivalizar com as capacidades dela –– acalmei-o.
Dali a pouco, encontramo-nos os três numa confeitaria para combinarmos o método de adorarmos a nossa Vênus. Expliquei-lhes a maior condição do silêncio absoluto e avisei-os que desta vez teriam de ir de carruagem com os olhos vendados. Z. tinha medo que eles pudessem vir saber a quem pertencia a mansão e descobri-la. Depois ralhei com A. pelo seu egoísmo e descrevi-lhe a forma como se esperava que atuássemos –– completa subordinação às minhas ordens, seguindo o meu ritmo. K. deu risinhos, mas A. repreendeu-o. Começara a compreender que não era apenas mais uma aventura amorosa, mas uma rara oportunidade de dar um prazer tremendo a uma mulher.
–– E a coisa mais importante –– repeti eu –– é não tentar saber quem ela é, pois a inveja da sociedade não a iria perdoar pelos prazeres que eles não têm coragem de assumir para si.
Ao entrarmos na sala vimos Z. deitada num carpete de pelúcia. Usava um vestido comprido da seda mais fina através do qual se evidenciava a forma do seu corpo insaciável. A sua máscara revelava lábios gulosos, semi-abertos. Levantou-se, trancou a porta atrás de nós e cumprimentou toda a gente, lambendo-nos avidamente nas bocas e depois ajoelhando-se em frente de cada homem, lambendo o seu sexo. Era um verdadeiro cumprimento, mas não se deixou ficar com nenhum de nós, não deixando que nos entusiasmássemos. Estava apenas a certificar-se que os nossos sexos estavam bem atentos. Rapidamente espalhamos as nossas roupas e Z. deixou cair o vestido dos ombros, pisando-o como se fosse um último obstáculo.
Tive de recordar ao impetuoso K. os seus deveres, e ele deitou-se obedientemente no carpete. Z. ergueu as pernas e montou-o com habilidade. Fez sinal a A. Ele aproximou-se, com a pila tesa que nem uma corda esticada, a tremer. Apareceu na mão dela um boião de creme que ela espalhou no sexo dele. Depois deu-me o boião e inclinou-se sobre K. As suas nádegas eram pequenas e eu não tive de as afastar –– o pequeno orifício inchado pedia uma pila. Untei-o generosamente, empurrando o creme para dentro do túnel apertado e quente. Z. apertou o meu dedo, agradecida. A. suspirava com impaciência por cima de mim. Segui com relutância o nosso plano, deixando que ele tomasse o meu lugar, e eu dirigi-me para a sua boca. A. deslizou suavemente para dentro dela, e ela abriu a boca convidativa, com prazer na sensação. Z. agarrou no meu pau com os lábios e instruiu-me no desempenho da composição de amor andante.
–– Não se deixem entusiasmar de mais, rapazes, reparem em mim –– gritei eu ––, e não se atrevam a vir-se antes da nossa dama.
Os meus companheiros garantiram-me que não deixariam ficar a nossa adorada a meio. Z. olhou para mim com olhos turvos de prazer e sorriu com a boca cheia.
Na carruagem, no caminho para lá, tínhamo-nos encharcado de champanhe, o que nos permitia prolongar mais.
O fim estava a aproximar-se. Z. começou a gemer e deixou que eu sentisse os seus dentes suaves; começou a mexer-se mais depressa e eu não tive de dirigir –– eles começaram a meter mais, satisfeitos com a velocidade que ela permitia. Z. fez exclamações em voz alta, como se tivesse recuperado a visão, e gemeu, mas os seus gemidos foram interrompidos por eu me estar a vir e pela necessidade de engolir o meu sêmen.
A. e K. vieram-se para dentro dela ao mesmo tempo.
Quando nos soltamos e K. gatinhou de debaixo dela, Z. caiu no tapete como se o seu corpo tivesse perdido o esqueleto, constituído pelas nossas vergas.
Eu olhei para ela como se fosse uma nossa criação mútua. De tempos a tempos, as convulsões percorriam-lhe o corpo.
Z. recuperou a consciência total em poucos minutos, levantou-se graciosamente do tapete e fez-me sinal que deveríamos partir. Obedecemos relutantemente.
À saída, vendei-os e ajudei-os mais uma vez a entrar na carruagem que nos esperava. O cocheiro olhou para mim com medo. K. tentou tirar a sua venda antes de eu autorizar e eu ameacei-o que se ele não obedecesse isso seria uma ação vergonhosa, pois tinha-me dado a sua palavra que obedeceria. Eu teria de desafiá-lo para um duelo, e lutaríamos imediatamente. K. viu que eu estava a falar a sério e esperou até eu permitir para tirar a sua venda. Até começou a filosofar que a coisa mais nobre que um homem pode fazer a uma mulher é dar-lhe o maior prazer.
Ele não conseguia imaginar um ato mais cavalheiresco do que aquele que havíamos cumprido.
Perguntei aos meus companheiros o que se poderia fazer para aumentar ainda mais o prazer da nossa amante. A. sugeriu que instalássemos espelhos nas paredes e no teto, como ele vira num bordel. K. sugeriu que convidássemos ciganos para cantar na sala adjacente. E eu disse que via ainda espaço para mais dois rapazes: tomaríamos as mesmas posições e eles deitar-se-iam do lado direito e esquerdo dela, com as cabeças viradas para os pés.
Chupariam nos seus mamilos e arranhariam os seus calcanhares enquanto ela os masturbava. O homem em que ela se sentasse teria de a segurar pelos ombros, porque as suas mãos estariam ocupadas.
K. e A. ficaram excitados. Começamos a pensar quem poderiam ser os nossos ajudantes.
Tinham de ser jovens pouco exigentes que se contentassem com um papel inocente. Naturalmente que nós não queríamos prescindir das suas passagens quentes, apesar do nosso cavalheirismo.
A. lembrou-se dos seus dois sobrinhos, com quinze e catorze anos. Ele tinha a certeza que eles estavam virgens e concordariam fosse com o que fosse que prometesse intimidade com uma mulher. Ficou combinado que eu ofereceria isto à nossa dama, que roubara os nossos corações.
Quando eu contei a Z. o nosso plano, ela sorriu e disse que não lamentava ter-me escolhido como seu proxeneta porque eu até lhe lia os pensamentos. Ela confessou que não conseguia tirar da cabeça aquele sonho com as cinco vergas. Com efeito, naquele dia tinha a intenção de me pedir que partilhasse o seu corpo com mais dois.
–– Eu sei que não perderás valor por mais homens que eu partilhe contigo –– disse eu e beijei-lhe o sexo.
Planeamos a seqüência: primeiro, dar a cada rapaz uma mama e deixá-lo ali agarrado.
Teria de lhes fazer um sinal para eles começarem a arranhar-lhe os calcanhares. Isso só deveria acontecer quando toda a gente estivesse mergulhada nas suas profundidades. Para variar, decidimos que K. e A. trocassem de posições. Eu tinha de ficar no meu lugar de condutor.
Z. pediu-me que vigiasse a máscara para ela não lhe cair do rosto caso ela ficasse inconsciente. Da última vez, estivera muito perto disso. Embora eu sempre defendesse que uma mulher podia recuperar por si de um desmaio caso ela quisesse, agora eu via que podia realmente ser para além das suas forças.
Desta vez tivemos de esperar que ela aparecesse no apartamento que alugara para o seu encontro secreto. Dera-me a chave. Eu disse a toda a gente que o apartamento era meu, que o mantinha para os meus encontros secretos. Eles invejaram-me, e esta mentira foi doce.
O apartamento situava-se nas traseiras de um prédio de dois andares e era constituído por uma sala de estar, uma sala de jantar e um quarto. Havia cinco copos e cinco garrafas de champanhe embaciadas muito bem colocadas na mesa e que alguém trouxera de uma geladaria.
Despejamos três.
Pediram-nos que esperássemos na sala. Nunca estivera antes no apartamento e de repente senti um ataque de ciúmes. Houve um momento em que me apeteceu revelar o nome de Z. a toda a gente como vingança, mas recuperei o meu controle.
Estávamos sentados nos cadeirões e sofás, a enchermo-nos rapidamente de champanhe, porque não tínhamos encontrado gelo e não queríamos que a bebida aquecesse. Depois não conseguimos conter-nos mais e fomos espreitar o quarto. Tinha uma grande cama redonda que não se destinava só a dormir. O sol brilhava através de uma cortina que cobria a janela. Havia um clavicórdio na sala e um dos sobrinhos de A. começou a tocar uma melodia alegre, mas os seus dedos atrapalhavam-se com o champanhe. O outro rapaz mais velho tentou disfarçar a sua ereção com a roupa, mas o seu sexo fazia um enorme volume através do tecido enquanto passeava impacientemente pelo quarto. Propus que fizéssemos um brinde à mulher por quem todos esperávamos tão apaixonadamente.
–– Quer dizer que vai haver só uma? –– perguntou o sobrinho mais velho muito surpreendido.
–– Isto é uma mulher de tal força que será suficiente para todos nós –– respondeu o tio muito sensatamente.
Não tínhamos contado quaisquer pormenores aos rapazes, simplesmente lhes prometêramos que lhes arranjaríamos um encontro amoroso. A. dissera à mãe que os levava a dar um passeio.
O rapaz mais novo acabara a sua taça e queria enchê-la outra vez, mas K. não o deixou.
–– Queres adormecer durante o teu encontro? –– perguntou ele.
O argumento funcionou e o rapaz começou novamente a tocar o clavicórdio. De repente cortou a melodia abruptamente, e ouvimos o som de uma carruagem a aproximar-se. Todos corremos para a janela. Z. desceu da carruagem. Trazia um véu tão espesso que o seu rosto era invisível. Um vestido azul-claro cingia o seu corpo divino. Dali a minutos a porta abriu-se e eu saí para a cumprimentar no vestíbulo.
Z. atirou o véu para trás, e a beleza do seu rosto, que não se conseguia esconder nem com uma máscara surgiu à minha frente. Z. costumava dizer que mesmo que não tivesse medo de ser reconhecida usaria sempre uma máscara, porque com ela sente-se livre de qualquer decoro.
–– Toda a gente está impaciente à tua espera –– disse-lhe eu.
Ela fez-me sinal com a cabeça e foi até ao quarto.
Comecei a ajudá-la a despir-se, mas ela sussurrou-me que fosse para a sala e que bateria na parede duas vezes quando nos pudéssemos juntar a ela.
Todos na sala estavam de pé numa expectativa tensa.
–– Então, vamos já? –– perguntou K., desabotoando a camisa.
–– Só um bocadinho mais de paciência, meus amigos, e todos nós nos encontraremos no paraíso. Toda a gente seguiu a minha sugestão e se despiu completamente de forma a não perdermos tempo assim que ela nos chamasse. Os dois rapazes ficaram timidamente em roupa interior, olhando fascinados para o nosso tesão.
Foi então que ouvimos duas pancadas convidativas na parede e apressamo-nos a ir para o quarto. A luz do dia escorregando pela janela tapada com a cortina permitiu que os nossos olhos saudassem uma ratinha magnífica. Corremos a cobrir o seu corpo de beijos gulosos. Mas Z. empurrou-nos para o lado e acenou aos rapazes trêmulos que se mantinham de pé, envergonhados, à porta. Ela libertou-os do resto das suas roupas. O medo fazia com que as suas intenções não fossem muito firmes. Z. beijou os dois instrumentos cada um por sua vez, e eles reavivaram-se imediatamente. Os rapazes começaram a arquejar. Ela levou-os a deitarem-se na cama e meteu-se no meio deles, apoiando-se nos cotovelos e segurando as suas vergas em cada uma das mãos. A. gatinhou por debaixo dela e ergueu as mãos, nas quais Z. apoiou os cotovelos.
Eu guiei cada mamilo para as bocas dos rapazes e ordenei: –– Chupem e não parem! –– Entretanto, K. estava a pôr creme no seu caralho, que apontava para o rabo arqueado à sua frente.
–– Unta bem! –– avisei-o eu, recordando as instruções de Z.
–– Aqui já está escorregadio, mas mesmo assim vou untar; ela já tratou de si. Bom, Deus nos acompanhe –– disse K., e dirigiu-se para o seu rabo.
Agarrei na mão de cada um dos sobrinhos e coloquei-as nos calcanhares de Z.: –– Arranhem e chupem –– dei-lhes a última instrução.
Z. molhou os lábios e apertou-me a piça.
–– Fodam bem, juntos –– repetia eu de tempos a tempos, ao sentir Z. a morder-me e abrandando os meus movimentos.
Os rapazes estavam sempre a esquecer-se de arranhar, deixando-se levar pelas suas próprias sensações, e eu alertava-os batendo-lhes nos ombros. Z. não queria que eles se viessem demasiado depressa e não os masturbava com tanta habilidade como ela sabia, mas apertava-lhes as vergas com força. Mas isto não ajudou muito –– um deles começou a gemer e atirou as ancas para cima, ansioso pelo movimento que Z. intencionalmente lhe negava. Ela deixou-me rapidamente e dedicou-se ao rapaz, não perdendo uma única gota. Logo a seguir a ele, o irmão começou a contorcer-se, e Z. virou-se depressa para ele e apanhou na boca as primeiras gotas do jato, que já estava no ar, e capturou as restantes. Os rapazes perderam imediatamente o interesse e largaram as suas mamas, e eu tive de lhes erguer a voz. Eles continuaram a chupar e a arranhar, já cansados. Z. voltou para mim, mas agarrada aos seus instrumentos já murchos. Depois chegou a vez dela, e gemeu, transportada por nós os três. A mim dava-me a sensação que os nossos três instrumentos se encontravam algures no meio dos seus interiores e se empurravam uns aos outros.
Estávamos sentados em volta de Z. e a olhar para ela, inconsciente, deitada de barriga para baixo, com uma perna dobrada por baixo. O sêmen escorregava lentamente do seu sexo escarlate até às coxas, caindo no lençol. Afastei-lhe as nádegas para apreciar a visão total. Vimos os últimos espasmos do seu ânus, rodeados por um engolir suave e voluptuoso.
Os rapazes não conseguiam perceber o que tinha acontecido à nossa amante. Olhavam para nós, assustados. Sentíamo-nos calmos e orgulhosos de nós próprios.
O rapaz mais novo estendeu a mão e arranhou-lhe o calcanhar. Z. afastou a perna e abriu os olhos. Fez um sinal com a mão que queria dizer que estava na altura de nos irmos embora.
À noite, Z. e eu saboreamos as nossas sensações recentes. O seu marido estava no clube, como de costume, e nós entregamo-nos à recordação de memórias recentes, sentindo-nos excitados e misturando as sensações com abraços.
Z. tinha cócegas, mas quando aceitou as três pilas, o arranhar nos calcanhares foi ultrapassado por sensações mais fortes e deu uma nova cor ao espectro da nossa cópula.
O sêmen que escorria para dentro do seu ânus atuava como um clister e ela ficava maravilhada com mais uma influência total do amor, que a aliviava da prisão de ventre.
Ela garantiu-me que era capaz de sentir a sensação de cada membro: experimentar a aproximação do orgasmo de um enquanto o outro a inundava e o terceiro ficava mole, atirando a última gota. E mesmo com momentos separados uns dos outros, ela sentia esses momentos finais arrastados até ao infinito. Por isso é que era tão importante para ela que nos mexêssemos ritmicamente, de outra forma perderia essa unidade de sensações.
Depois daquela dedicação de tentar dar a uma mulher o prazer total, decidi tomar conta de mim próprio; felizmente era fácil com a ajuda de dinheiro. No passado, enquanto solteiro, eu não me preocupava com a minha reputação de libertino –– pelo contrário, considerava isso um elogio.
Num bordel, peguei em cinco prostitutas, paguei-lhes generosamente e consegui a sua completa obediência. Pus a primeira deitada de costas e agachei-me em cima dela apoiado nos joelhos e nas mãos, com a cara virada para os pés e a olhar para o seu sexo. Ela engoliu o meu caralho e afastou o contorno dos seus lábios peludos, abrindo a sua pérola ao meu olhar. Duas delas deitavam-se ao meu lado e chupavam-me os mamilos e eu enfiava os dedos nas suas rachas besuntadas. A quarta punha-se atrás de mim, de cabeça virada para a primeira e lambia-me os tomates. A quinta ficava de joelhos por detrás, a lamber-me o cu. Tive de dar uma gorjeta maior a esta última. De repente imaginei a velha imperatriz no lugar dela, que me vira a mostrar o cu despido em frente do seu palácio em Tsarskoye Selo. Vim-me a rir. Um vazio explosivo de satisfação encheu-me o caralho e os tomates.
E assim provei o que Z. sentira na medida do possível para um homem. Havia uma coisa que me irritava: tínhamos feito tudo por ela com alegria e considerávamos que tínhamos sorte.
Haveria certamente muitos cães atrás de nós cheios de vontade de foder uma cadela tão doce. E eu tivera de pagar a prostitutas e vê-las a fazer tudo contra a sua vontade. Se eu pudesse entrar num convento ou numa prisão de mulheres –– com mulheres esfomeadas –– mas podendo fugir a tempo porque senão foder-me-iam até à morte! Não, com esta fachada feia nunca conseguirei suficientes mulheres bonitas. A dona do bordel queixou-se, apontando o seu dedo curvo para mim, que eu depravava as suas raparigas e ameaçou não voltar a deixar-me entrar. Mas as raparigas simpatizavam comigo e mais tarde pediram-me dinheiro, oferecendo-se para repetirem tudo outra vez e esconderem o segredo da madame.
Eu tinha este tipo de visão em frente dos meus olhos quando abracei N. Imaginei-a muitas vezes no lugar de Z. e o ciúme violento misturado com prazer violento fazia expelir o meu sêmen, trazendo um breve adiamento às minhas fantasias. Afastei as fantasias sobre Z. considerando-as ofensivas para N. e tentei mudá-las para outras inocentes: imaginei-me sozinho, a foder uma mulher. Por vezes sentava-me no escritório a tentar escrever, mas os meus pensamentos voavam para mulheres estranhas, com rachas a aparecerem em frente dos meus olhos e o desejo atingia-me. E nesses sonhos nunca vi o sexo de N., que estava tão perto, tão deslumbrante e tão desejado por todos exceto por mim.
Quando N. entrava no escritório em momentos de sonhos tão quentes, o meu desejo desaparecia sem deixar rastro. Para parar com as fantasias deprimentes, obriguei-me a vir-me dentro de N. É sempre um prazer e uma satisfação olhar para ela, mas não me excita ou incita.
Olho para ela como para uma obra de arte, verdadeiramente como para uma Madonna (sendo a sua única imperfeição os joanetes dos pés).
N. tornou-se para mim um meio de me libertar das fantasias. Por outras palavras, eu fodia a minha mulher não por prazer, mas para me manter fiel.
Mas não conseguia libertar-me das fantasias durante períodos muito longos: aplanadas pelas convulsões, erguiam-se que nem erva depois da chuva. A perda de variedade tinha sido compensada com visões de mulheres sentadas em cima de mim: aquelas que tinham rachas próximas do rabo afastavam as nádegas para abrir os seus sexos e as que tinham rachas afastadas do rabo abriam-se à frente, afastando os lábios. É aqui que a individualidade da mulher se mostra.
*
Antes eu pensava que as convulsões divinas eram o objetivo do amor. Não, se assim fosse, a fidelidade não seria um fardo e uma esposa satisfaria completamente os meus desejos. O objetivo não é as convulsões, que qualquer um pode conseguir com a masturbação, mas desvendar o mistério da ratinha. O mistério da ratinha, que deixa de nos excitar devido ao contacto noturno com a mulher, não desaparece e não se revela completamente, transfere-se, sim, para outras mulheres.
Ou melhor: cada ratinha tem o seu mistério e desvendar uma não quer dizer que percebemos o Mistério total. Por isso quando conseguimos a ratinha que nos fazia ficar loucos parece que apanhamos a ponta do Mistério! Não, escorrega da ratinha que deixou de nos interessar e olha para nós de uma outra.
A única coisa que repõe o mistério no seu lugar legítimo é o afastamento, e uma esposa torna-se novamente desejável, mas só por uma noite, e depois a saciedade volta ao seu lugar não menos legítimo.
*
Em Dezembro, não consegui agüentar mais e fugi para Moscovo. Disse a mim mesmo que afastar-me me traria de volta a minha paixão por N. Mas o afastamento tem de ser feito em reclusão e não rodeado por ciganas convidadas por Naschokin(18). A distância não só refrescou a minha paixão por N., como também me fez esquecer os meus votos de fidelidade. Quando Olenka(19) veio ter comigo, toda a paixão renascida pela minha esposa passou para a mulher mais próxima. Parecia a primeira mulher da minha vida, de tal modo frescas eram as minhas sensações.
A ratinha olhou novamente para mim com o seu olhar divino.
Mas depois de me saciar dela, comecei sofregamente a sonhar com N. Se tivesse aparecido ali ao pé de mim, teria corrido para ela com paixão renascida. N. estava muito distante, uma estranha, e por causa disso tornou-se fortemente desejável. Não era uma invenção minha; eu sentia o mesmo em relação a outras mulheres, mas por uma razão qualquer convenci-me que as leis vulgares não afetariam a minha mulher. Por isso, quando tudo se repetia mais uma vez com ela, percebia que o meu desejo iria transbordar em qualquer outra mulher que aparecesse.
Por isso corri de novo para as prostitutas. Aquelas que já tinham ouvido falar da grande beleza da minha mulher censuravam-me por visitá-las e abandonar uma beleza assim. Como poderiam elas compreender que a beleza não protege da saciedade e que a variedade é a única coisa que mantém a vida em mim? Os porcos que estão apaixonados por N. olham para mim com raiva ou confusão: como é que eu ousava desejar outra mulher senão a minha bela esposa? Muitos admiradores escreviam-lhe notas em que davam a própria vida pelos seus favores. Nós perdíamos o fôlego a rir ao lê-las. Se as pessoas apaixonadas soubessem a rapidez com que a admiração desaparece e como temos saudades dela! Pois, uma vez desaparecida, é impossível habituarmo-nos ao seu desaparecimento.
Há um significado profundo em sacrificarmos a nossa vida pela simples posse da beleza, e ao fazer isso evitamos tornarmo-nos indiferentes, que é tão ofensivo para a paixão recente.
A morte é a forma mais fiável de permanecermos fiéis aos seres amados. Eu compreendo a razão do suicídio de Romeu e Julieta. Eles agiram intuitivamente, sem perceber, mas com o mesmo objetivo –– permanecerem fiéis aos seus amantes mesmo depois da morte, o que é impossível para qualquer corpo vivo jovem e belo.
*
Observo as minhas reações e a influência nelas exercida por um hábito. As primeiras semanas após o meu casamento foram preenchidas por uma imensa luxúria. Tudo em N. me excitava –– quase perdia a cabeça de desejo quando cheirava o odor de suor das suas axilas, o doce fedor dos gases que lhe saíam da barriga, o sabor da urina misturado com o aroma da ratinha, quando via um bocadinho de merda agarrado aos pêlos do cu, o sangue menstrual derramado pelas suas coxas depois de longas cópulas.
Nada havia em N. que suscitasse qualquer rejeição em mim. Tudo está bem num corpo se tudo suscitar paixão em mim. E quanto mais forte for o desejo, menos escrúpulos sinto.
No entanto, um mês depois sentime deprimido quando contrariamente ao habitual não corri a fodê-la quando ela deu um peido à noite na cama e em vez disso me virei silenciosamente para o outro lado. Os meus sentimentos, aborrecidos com o hábito, dormitavam.
Lembro-me da primeira noite em que nos deitamos na cama e adormecemos sem fazer amor.
Antes disso não tínhamos perdido uma única noite. A partir dali, aconteceu cada vez com mais freqüência.
*
Depois do casamento, a minha sogra vinha visitar-nos demasiadas vezes. Fixava os olhos em mim com uma luxúria indigna. N. confessou-me que a mãe a tinha ensinado a não autorizar nada se eu não fizesse o que ela queria. N. manteve a promessa de ser sincera comigo, e isso esperançou-me que a sua alma se abrisse e ficasse próxima da minha.
Uma vez apanhei a minha sogra num canto escuro e agarrei-a encostando-a à parede. Ela gelou, à espera do que eu faria a seguir. Por momentos, apeteceu-me tocar-lhe debaixo do vestido, não por desejo mas por ousadia. Bom, o desejo podia facilmente substituir a ousadia, e eu não queria que isso acontecesse. Controlei-me e disse aquilo que tencionava dizer: –– Minha senhora, tenho de a desapontar: aquilo com que sonha nunca irá acontecer –– afastei-me propositadamente dela. –– Vou levar N. para Sampetersburgo e não a convidarei para que nos visite.
Mudar-me para Tsarskoye Selo(20) foi um grande alívio para N. e para mim. Obtivemos um descanso merecido com o afastamento de familiares e conhecidos aborrecidos.
A visita ao Liceu(21) fez disparar recordações em mim que, se ela viesse a conhecê-las, lhe provocariam ciúmes. Nessa altura, ainda fiel a N., pensei se o adultério mental seria verdadeiro adultério. Cheguei à conclusão que as minhas ávidas memórias não eram adultério, pois a minha experiência amorosa torna os meus sonhos insignificantes comparados com a minha experiência real. Com N. é o contrário; se ela sonhar com outra pessoa, está a ser-me infiel porque só me teve a mim. Por outras palavras, os meus sonhos são causados por recordações, sobre os quais não tenho qualquer poder, e os sonhos dela são causados por pensamentos lascivos do presente, que ela liberta deliberadamente.
Dali a pouco, quando atravessei o Rubicão e comecei a foder por todo o lado, deixei de sofrer com esta questão e perdoei-lhe todas as fantasias, pedindo a Deus apenas que não a deixasse ser-me infiel em vida. Mas a coisa mais assustadora é que não nos é permitido saber se as nossas mulheres nos são fiéis. Nunca saberei o que N. faz quando não a posso ver. Pode-se apenas ter fé na fidelidade. Quando a minha fé enfraquece, aparecem o diabo de uns ciúmes que não há prova de fidelidade que lhe valha, porque em cada prova a minha mente encontra imperfeição. E só o regresso da fé ao meu coração expele o ciúme. Infelizmente não por muito tempo.
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Pareço-me com Otelo: também negro e também não ciumento, e, sim, confiante.
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Recordo com ternura e alegria o meu curto período de fidelidade à minha mulher. Foi bom porque me aliviava de uma preocupação: se tinha ou não esquentamento no pênis depois de ir de manhã à casa de banho.
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Tenho ciúmes de todas as mulheres bonitas porque amo todas as mulheres bonitas. E todas as mulheres são bonitas se as quisermos. Se uma mulher se mantiver bonita depois de nos termos vindo dentro dela isso quer dizer que ela é realmente bonita. N. é verdadeiramente bonita, pois deixei de a desejar há muito tempo , mas nunca deixei de a admirar.
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A fidelidade é uma batalha com a tentação de se ser infiel. Eu esgotei as minhas forças esta longa batalha. Quando eu sentia que a minha fraqueza me estava a levar para problemas, tentava convencer N. a mudarmo-nos para a aldeia. Eu sabia que seria incapaz de resistir à tentação e que a reclusão me manteria à secretária. Quando a luxúria se acendesse em mim, só N. ficaria por perto. Não incluí as criadas da casa.
Mas ela, com o seu temperamento límpido, que me era muito difícil de agitar, tinha o maior prazer em flertar, que é absolutamente seguro, como ela me garantiu. Embriagava-se com o poder da sua própria beleza, que levava os homens mais influentes de Sampetersburgo, incluindo o czar, a ajoelharem-se aos seus pés. Devido à sua decência e bondade, não tirava proveito da sua beleza com motivos mercenários, simplesmente brincava com ela como uma criança faria.
Se lhe faltasse a adoração constante, para ela a vida perderia o seu significado. Nada mais, nem sequer as crianças, eram tão importantes para ela. Não, isso não se pode dizer dela, pois as crianças ainda estão em primeiro lugar na sua lista. Depois do nascimento de Mashka(22), ela desabrochou tanto que esperava um realce da sua beleza, e conseqüentemente dos seus encantos, depois de cada recém-nascido. Mas não, não quero ser cáustico para a minha mulher. Amo-a; só tento atingi-la por causa da minha própria fraqueza.
A primeira vez que eu lhe fui infiel, sabia que estava a cortar laços impossíveis de restabelecer.
Disse a mim próprio que quando se fode uma prostituta não se está a enganar a esposa.
Mas percebi imediatamente que tinha quebrado os meus votos de casamento, e que a partir daquele dia a minha vida com N. mudaria irremediavelmente, mesmo que ela nunca viesse a saber disso. Disse a mim próprio vezes sem conta que um poeta não pode viver sem estremecer e não foi feito para o mundo do casamento. Tinha de agüentar a morte do estremecimento porque é assim a lei. Deus não nos impede de conhecermos as suas leis, mas castiga-nos por qualquer tentativa de as mudarmos. Eu tinha de acreditar, mas tinha medo de as testar e isso só é possível quebrando as leis de Deus.
Uma vez já quebrada a lei, não consegui parar. N. primeiro sentiu isso e depois acabou por saber por mim, bem como por outros. Caí avidamente na lascívia, e até se pode dizer na porcaria, pois o mel espalhado por todos os lados, de cima a baixo, pode também ser chamado porcaria. No entanto, não se torna menos doce.
O meu exercício favorito era fazer com que uma prostituta se apaixonasse por mim. Fazer com que uma rapariga inexperiente se apaixone por mim não custa muito (literal e figurativamente falando). Mas fazer com que uma prostituta, cuja profissão é permanecer insensível, me ame, isso é que já é um desafio para a habilidade de um homem. As prostitutas aprendem a não ter prazer com os clientes. As poucas, raras, com naturezas inflamadas não conseguem resistir, e isso deixa-as rapidamente exaustas. Não tem graça nenhuma estar com estas. Eu escolho uma prostituta que seja mais experiente e mais fria. Vou para a cama com ela e acaricio-a honestamente e sem pressa, sempre a dizer como ela é bela e quanto a admiro. Ela olha para mim com um sorriso no rosto, com desconfiança, ou sem expressão, mas eu sei que ela gosta de ouvir as minhas palavras.
Ocasionalmente ela repetirá como também sou bonito e o muito que me ama. Mas ela está a ser paga e eu digo-o sem egoísmo, e assim para ela é muito mais agradável ouvir isso do que para mim. Eu deito-me entre as suas pernas e lambo-lhe todo o seu botãozinho de amor. Ela fica deitada de olhos abertos, não se deixando entusiasmar. A sua triste experiência diz-lhe que o cliente em breve irá esquecer todas aquelas palermices, irá esfregar o caralho algures e vir-se. Ou então fica com os olhos fechados e começa a gemer com afetação e a mover as ancas. Mas eu sei que é ainda muito cedo.
Enfio-lhe o indicador na ratinha e suavemente arranho-lhe o colo do útero com a minha unha comprida. Molho o dedo do meio na sua ratinha úmida e faço-o deslizar suavemente para dentro do seu ânus. Acaricio-lhe um mamilo com a minha mão livre.
Sou persistente, lambo vigorosamente e em diferentes direções, procurando e encontrando o seu movimento favorito. A esperança surge-lhe: e se realmente eu a levasse até ao fim? A prostituta relaxa-se e aparece a mulher. A sua barriga começa a esticar-se. Semi-abre os olhos e olha para baixo para ver se as minhas intenções são sérias e os nossos olhos encontram-se. Ela fecha os olhos, ainda preparada para a minha traição, mas ao mesmo tempo é agarrada pela esperança crescente. Por fim sente os espasmos a aproximarem-se. Agarra na minha cabeça com as mãos como que dizendo: «não pares agora» –– e vibra. As ondas varrem-na, mas não se rebentam contra a sua cabeça. Aqui estica-se como uma pila antes de se vir e os meus dedos são apertados por uma ratinha suculenta e por um cu muito fechado. A mulher puxa-me para que me venha dentro dela. Sorri e convida-me a ser seu cliente novamente e promete que da próxima vez não me levará nada. Isto não é uma declaração de amor?
O encontro fatal deu-se também num bordel. Não há lugar melhor que um bordel para alimentar a minha paixão por observar o prazer dos outros. É um exemplo extremamente admirável do amor de uma pessoa pela humanidade o fato de o prazer de outro lhe suscitar igual prazer.
Quando vemos o desgosto de um estranho, o poder da compaixão que sentes para com ele não se pode comparar com os sentimentos do sofredor em si. O mesmo acontece com a felicidade que sentimos pelo sucesso no trabalho: o homem que o conseguiu sentir-se-á muito mais feliz que o simpatizante a quem contam este sucesso. Mas quando se observa os prazeres amorosos de alguém, eles não só nos dão prazer como esse prazer acaba por não ser menos e por vezes é mais forte do que o prazer do participante.
Estou convencido de que não há quadro mais bonito no mundo do que a visão de um membro a entrar e a sair de uma racha. Só se pode ver bem à distância. Quando estamos a foder e nos afastamos para ver o milagre a visão é sempre de cima –– não podemos ver os tomates a bater no seu períneo. É claro que se pode experimentar com espelhos, mas não tem graça. Além disso, quando estamos a foder, estamos demasiado envolvidos nas sensações do nosso membro e não nos conseguimos entregar completamente à visão. É por isso, do ponto de vista do espetáculo, que fico mais excitado com o pênis de outra pessoa a sair de uma rachinha do que com o meu próprio. Não admira que os antigos romanos não pedissem pão e prazer, mas pão e circos!
A minha paixão por espetáculos levou-me ao conhecimento que em breve poderá resultar na minha morte.
Na casa de Sofya Astafievna(23) há um quarto especial com uma parede em que foi feito um buraco para espreitar. Pode olhar-se por lá por uma certa quantia. Os clientes não habituais são mandados para lá e os clientes de boa posição podem usar a sala adjacente e observar a ação.
Desta vez em particular levei comigo a artífice Nina. Pu-la de joelhos à minha frente e ela sabia o que tinha de fazer e fazia-o muito bem. Enquanto ela se mostrava zelosa, inclinei-me para o orifício e vi Lisa a montar um garanhão. As raparigas têm instruções para quando estão naquele quarto se virarem para o buraco na parede e pôr o candelabro lá perto. Vi o rabo pálido de Lisa com uma borbulha cor-de-rosa esbatida na nádega esquerda. Inclinou-se sobre o cliente e a sua fenda com a piça a deslizar para dentro dela brilhava. De cada vez que ele saía para mergulhar novamente mais fundo, puxava uma tira de tecido vermelho brilhante. Ao enfiar-se novamente na racha, voltava a fazê-la mergulhar nas profundezas.
O uniforme de um oficial de cavalaria foi atirado ao chão.
Ele veio-se e arqueou-se para dentro de Lisa tão profundamente que a sua racha desapareceu. Lisa saltou de cima dele e correu para se lavar. Então vi o rosto dele –– era DAnthès, que fora recentemente admitido na Guarda e pelo qual todas as mulheres andavam loucas. Não tínhamos sido apresentados um ao outro, mas alguém uma vez o tinha referido na casa onde se juntavam as mulheres mais bonitas de Sampetersburgo. Eu estava de pé com N., que também o via pela primeira vez.
–– Na verdade ele é tremendamente bonito! –– Escapou dos seus lábios. O sangue subiu-me à cabeça. E no exato momento em que me lembrei disso, vim-me e Nina engoliu e engoliu.
De repente pensei mal de N., a qual, nas poucas vezes em que a convencera a meter o meu pênis na boca sempre sufocava, pigarreava e cuspia o meu sêmen, enojada. Um pensamento diabólico veio à minha mente: «será que ela cuspiria o sêmen dele?» Só apareceu uma resposta ciumenta e precipitou em mim um abismo de ódio: claro que ela engoliria sem sufocar; mais ainda, até lamberia os lábios!
Ao abandonar a casa, passei pelo vestíbulo e vi um DAnthès bêbado com outro oficial de cavalaria. Estavam a beber com Lisa e Tamara. DAnthès falava francês e o seu amigo traduzia. Lisa reparou em mim e soprou-me um beijo. DAnthès virou-se e ofereceu-me um grande sorriso: –– Aposto que o senhor é Puchkine!
–– Desculpe, não o conheço! –– disse eu friamente, passando por ele.
–– Bem, deixe que me apresente –– saltou do sofá galantemente e seguiu-me.
Adiantou-se a correr uns passos, curvou-se e disse o seu nome. Eu fiz um gesto com a cabeça e prossegui para a antecâmara. Balançando-se nos pés, movia-se mesmo atrás de mim.
–– Sou novo em Petersburgo e gostaria de o conhecer melhor –– disse ele.
–– Não é o sítio mais conveniente para as pessoas se conhecerem –– tive eu de responder de alguma maneira.
–– Por quê? Bem pelo contrário! Esta casa dispõe as pessoas para a intimidade.
Parei e olhei para ele com curiosidade. Nessa altura ainda não sabia quantas das suas deixas eu teria de ouvir no futuro.
Entretanto ele continuava:
–– Bom, o senhor é o famoso poeta, mas já alguma vez pensou no fenômeno natural mais poético? Fiquei interessado no que ele poderia dizer e adiei a minha partida.
–– Quando olho para as mulheres, sei com certeza absoluta que cada uma delas tem uma ratinha. Sim, sim, simples fato, no entanto quanta poesia reside nesta confiança imutável! Só esta confiança nos dá um objetivo no nosso comportamento com qualquer mulher. Se não tivéssemos essa confiança, a angústia atacar-nos-ia, porque as mulheres em sociedade comportam-se como se não tivessem ratinha nenhuma!
Não pude deixar de sorrir com a semelhança do nosso pensamento e disse-lhe que quando ele aprendesse russo eu deixa-lo-ia ler o meu conto de fadas, no qual a confiança de que ele falava é sujeita a dúvida(24).
Não me demorei mais a dizer adeus, de forma a não continuar a minha desagradável conversa com este jovem. Noutras circunstâncias e com outra pessoa, eu teria apreciado a conversa divertida, mas desde que o vi pela primeira vez que não gostei de DAnthès. Além disso, logo após eu ter casado fiquei relutante em discutir o meu fascínio por foder e por fendas mesmo com amigos íntimos, embora sempre tivesse sido o meu tópico favorito de conversa. Percebi que se um homem casado fala de sexo, envolve a sua mulher, porque cada um dos seus comentários inevitavelmente seriam atribuídos a ela. E o nome de uma esposa devia ser inviolável.
Quando comecei a ser infiel a N. deixei também de me controlar nas palavras –– voltei aos meus assuntos favoritos, mencionando outras mulheres. Mas os meus interlocutores, como de costume, atribuíram tudo o que eu dizia a N. Agora tornou-se tudo claro para mim. Demasiado tarde, infelizmente.
Desde o incidente no bordel, de cada vez que eu via DAnthès em sociedade apanhava-o com o seu olhar velhaco. Uma vez até se atreveu a piscar-me o olho, mas quando viu a ira a arder na minha cara, nunca mais se aventurou a essa familiaridade.
De cada vez que ele dança com N. suspeito que ele a fode –– ele é muito confiante na presença da sua ratinha; ele fica destituído de qualquer dúvida romântica. Este pensamento não me abandona e põe-me furioso, e por isso deixo o salão e sufoco o meu ciúme na febre de um jogo de cartas, ou ando atrás de beldades.
*
Ao ver DAnthès a fazer a corte, lembrei-me de mim próprio enquanto solteiro e a minha paixão por encornar maridos. «Agora é a tua vez», digo a mim próprio. O círculo está a fechar-se; o passado torna-se novamente verdadeiro, embora eu desempenhe o papel de marido e a minha mulher seja pretendida por vadios cobiçosos da sua ratinha. O que é que eles lhe dizem? Como é que eles a seduzem?
Quanto a mim, eu costumava dizer às raras mulheres espertas que não havia nada melhor que a variedade, e que ao submeter-se a mim ela amava ainda mais o marido, com sentimentos renovados por mim. Às mulheres estúpidas eu declarava um amor tão apaixonado como elas nunca poderiam esperar de um marido. E era totalmente sincero com todas elas.
Eu confio em N. e o fato de outros não confiarem nela põe-me mais furioso do que a sua coquetaria infatigável. Sou obrigado a admitir para mim próprio que os rumores, a honra e a opinião da sociedade significam mais para mim do que o atual estado das coisas. Seria melhor que ela fosse com alguém para a cama secretamente (mas só uma vez) sem que ninguém soubesse do que a bisbilhotice e os boatos sobre a sua infidelidade quando ela é absolutamente inocente. É por isso que se Vyazemsky(25) faz a corte a N., eu me limito a mostrar os dentes –– a sociedade nunca acreditaria que ela se sentisse atraída por um homem tão feio e tão rude. Mas DAnthès é perigoso com a sua beleza e a sua petulância. Os rumores conferem-lhes vitórias que eles nunca conseguiram, mas que merecem, de acordo com as idéias da sociedade.
Eu odeio a impertinência dos boatos escarnecendo de mim nas minhas costas. Sinto cornos a crescer contrariando a minha convicção de que nunca haveriam de se encontrar na minha cabeça. Os rumores implantam dúvida na minha certeza. Quantas oportunidades ilimitadas de adultério que N. tem com todos os homens a seus pés! O que é que a impede de se aproveitar delas?
*
Consegui convencer N. que DAnthès tem sífilis e que infectaria qualquer mulher que fizesse amor com ele. Expliquei a N. que um homem que tem sífilis atravessa períodos de alívio temporário dos seus sintomas, altura em que pode ficar menos contagioso, embora continue a sê-lo. Durante um período assim, o homem doente sente uma paixão particularmente forte. Foi assim que tentei salvaguardar N. de DAnthès. Ela acreditou nisso até que Katka(26) provou com o seu exemplo que era uma mentira.
Muitas vezes, depois de danças longas com ele, ela confidenciou-me a caminho de casa vindos do baile que mais uma vez ele estava num alívio da sua doença. Os seus olhos relampejavam e respondeu aos meus abraços com uma paixão viva. Nesses momentos eu pensava que devia estar grato a DAnthès por provocar um desejo que eu aproveitava de boa vontade.
Chegou a uma altura em que N. ficava tão indiferente às minhas carícias, que dei comigo a pensar que o melhor era levá-la a um baile para que DAnthès pudesse apertá-la durante uma dança e excitá-la para uma noite comigo. Ficava com pena de ter estes pensamentos, mas não podia fazer nada, e finalmente comecei a sentir apenas alegria maliciosa.
Ao olhar para qualquer homem com quem ela namoricava, eu sussurrava maldosamente: – «todos vocês trabalham para mim!» Mas fervia em ciúmes. Uma vez durante o baile reparei que N. dançava com o conde H. e deixou que ele lhe beijasse a mão três vezes. Quando chegamos a casa arranquei o punhal da parede, segurei N. com os joelhos e encostei-lhe o punhal ao pescoço.
–– Confessa –– gritei eu ––, vais para a cama com H.?
N. ficou estarrecida de terror e o seu corpo retesou-se como se tivesse convulsões lúbricas.
–– Juro pelos nossos filhos que te sou fiel –– disse N. com uma quebra na voz e olhando-me diretamente nos olhos.
Eu estava disposto a apunhalá-la se ela tivesse hesitado na resposta ou desviado o olhar, e ela sentiu isso.
Como é que eu podia não acreditar nela depois de um juramento assim? Empurrei-a dos meus joelhos e ela caiu no chão. Cada ataque de ciúmes acabava num desejo louco. N. estava deitada no chão a gemer. Ela sabe que agora a vou foder, pensei eu e levantei-lhe o vestido. As suas coxas estavam cobertas de sangue, e eu fiquei surpreendido por não me ter apercebido do cheiro de sangue vaginal. A minha mulher tinha abortado.
Depois do nascimento do nosso primeiro filho, decidi nunca mais estar perto dele, para não ter de ouvir os seus gritos terríveis. Ela gritava tão loucamente que eu me afoguei em lágrimas de pena e por incapacidade de a ajudar. Amaldiçoei-me a mim mesmo e ao bebê por lhe estarmos a dar tantos sofrimentos. Cheguei intencionalmente tarde ao segundo nascimento, mas Deus ainda me fez testemunhar um aborto.
Havia um coágulo de um embrião com uma cara de peixe no meio do sangue.
Felizmente, em breve o sangue parou, as dores acabaram e um dia depois N. estava pronta para ficar grávida outra vez.
*
Sangue menstrual, sangue de nascimento, sangue de aborto –– mulheres sangrentas.
Tanta água a passar por debaixo da ponte, diria um homem. Tanto sangue a escorrer, diria uma mulher. Uma rapariga perde a sua virgindade não quando o hímen é rompido, mas quando a sua vagina sangra pela primeira vez.
*
Só quando ela está grávida é que eu me sinto em paz, porque N. está preenchida com as preparações para o nascimento, o que suprime a sua coquetaria, mesmo que não a faça desaparecer completamente. É por isso que me esforço por mantê-la grávida, embora isso me arruíne. Ao procriar filhos, estou a procriar as minhas dívidas.
A gravidez de N. também dá muito jeito porque desculpa a minha fome por outras mulheres. Nos últimos meses da sua gravidez, não me deixou aproximar dela, porque os médicos disseram que era muito perigoso para o bebê. Ela não cedeu a qualquer persuasão. Eu enfureci-me e disse que sendo assim iria foder uma prostituta. Para minha surpresa, N. aceitou isso calmamente, mas pediu que fosse mesmo uma prostituta e não uma amante qualquer.
Foi assim que confessei o meu adultério pela primeira vez e obtive autorização para prostitutas. Fiquei tão feliz que tentei adoçar o seu consentimento dizendo a N. que as prostitutas apenas serviam aos meus desejos, não prejudicando em nada o meu amor por ela.
Isto aconteceu quando N. estava grávida de Mashka. Depois do seu nascimento, era impossível cancelar a autorização que ela dera para prostitutas. Uma vez eu estava excitado, mas N. não lhe apetecia. Saí da cama e comecei a vestir-me. N. disse venenosamente: –– Não vás a prostitutas baratas, podes apanhar alguma coisa e pegar-me a mim.
A princípio limitava-me às prostitutas, pois não queria que corresse o boato na sociedade de que eu era infiel à minha mulher.
N. tolerava as prostitutas, mas o seu ciúme de outras mulheres agravava-se de forma incrível. Se por acaso parava o olhar nalguma mulher, num baile, N. ficava furiosa e vingava-se seduzindo desesperadamente. Uma vez, ao beijar a mão da princesa T., afastei-lhe o polegar do indicador e lambi-lhe este símbolo do períneo. N. calhou passar por ali e reparar. Ficou furiosa porque eu lhe tinha beijado a mão assim quando éramos noivos. Nessa noite a seguir ao baile, deu-me uma bofetada na cara e gritou, banhada em lágrimas: –– Porque é que casaste comigo? Para correres atrás das outras mulheres? Nunca me amaste, só querias possuir a minha beleza! E agora já não sou suficientemente bonita para ti? Não passas de um porco lascivo!
Eu caí de joelhos em frente dela e implorei-lhe que me ouvisse. Jurei pelo amor que sentia por ela, mas não pude dizer a verdade toda, que ela já não era capaz de me fazer tremer, coisa que qualquer mulher facilmente conseguia. Confissões dessas abrem uma ferida irreparável, da qual N. não poderia recuperar. Agora já ela entendeu tudo sozinha. Nessa altura a única coisa que eu podia fazer era adiar o dia em que o desespero bocejasse em frente dela, como um amante, que vai dando esperanças.
Eu disse-lhe então que, ao andar atrás de outras mulheres, um homem casado com uma mulher querida preocupa-se em preservar o seu amor pela sua esposa e em manter a chama do casamento. Eu contei-lhe como me esquecia completamente de uma mulher depois de a foder e como o meu desejo por N. se tornava mais intenso. Como eu corria para ela cheio de paixão depois de um êxtase que não me chegava ao coração. Provando o meu desejo mais intenso naquela noite, pensei, contente, que naquele dia tínhamos expandido os limites da minha liberdade ao mencionar não só as prostitutas, mas também as amantes!
N. perguntava-me de tempos a tempos: –– E se tu apanhares alguma coisa, o que é que eu faço?
–– Isso a mim não me acontece –– convenci-a eu, aproveitando-me da minha autoridade e da sua ingenuidade.
Eu era cuidadoso. Visitava só aqueles bordéis em que as proprietárias tomavam conta das suas raparigas que nem uma mãe. Além disso, eu examinava sempre as raparigas antes de as foder. Inspecionava cautelosamente os seus corpos, à procura de erupções ou feridas, apalpava-lhes as axilas e virilhas à procura de qualquer inchaço, obrigava-as a abrirem a boca e a deitarem a língua de fora. Consigo determinar pelo cheiro e pela cor da vagina se tem ou não uma inflamação.
Num bordel cheguei mesmo a ser chamado o médico.
O meu sentido do cheiro é tão forte que consigo reconhecer quando qualquer mulher está com o período. Lembro-me desse odor familiar vir de Annette(27) e perguntar-lhe: –– De que gostas mais, do cheiro da rosa ou do cheiro do arenque? –– Ela corou como uma rosa e exalou o cheiro do arenque.
Apostei com Naschokin que conseguiria determinar quando é que a sua cigana(28) tinha o período. Eu ganhava sempre, sem exceção. Gosto de ir a bailes e reconhecer as mulheres que estão menstruadas. Na minha juventude entretinha-me muitas vezes a embaraçar as mulheres com quem dançava com a minha perspicácia, e as mais refinadas entregavam-se-me, imaginando o resto das minhas capacidades se o meu sentido do cheiro era tão desenvolvido.
N. tolerava as minhas prostitutas. Uma vez na cama perguntou-me o que é que elas faziam que ela não. Fiquei excitado e comecei a contar-lhe com inspiração, o que eu não devia ter feito, claro. Não se pode confiar tais pormenores a uma esposa sem a afastar. Contei-lhe o caso de uma delas sobre cuja vagina urinei e a qual se sentou depois em cima de mim, inundando os meus tomates com a sua urina escaldante.
–– Que porcaria –– disse N. enojada, e virou-se de costas para mim. Eu reparei que isto a excitara e eu encostei-me a ela, por detrás, com o seu silêncio aprovador. Se o meu sêmen não lhe agrada não devia falar-lhe do resto. Visualizei a cena que descrevera de forma a fazer-me vir de forma mais doce: com golfadas fluindo dos pêlos.
N. veio-se comigo, tentando não o demonstrar, e manteve-se de costas para mim, sem me abraçar, sem me dar um beijo de agradecimento. Comportava-se cada vez mais comigo como os meus amigos com as suas prostitutas e esposas –– vêm-se, viram-se e adormecem. Não, N. não me ama, e ao ver isso faço tudo para agravar a sua indiferença. Quando a luxúria desperta nela, ela deixa-me saciá-la; em tudo o mais, mal me suporta.
*
N. ficou com ciúmes de mim e de Katrin e decidiu casá-la com Khlustin(29), mas eu assustei-o com a ameaça de um duelo, e o covarde desapareceu.
N. confessou-me mais tarde, e eu percebi-me a mim mesmo, que ela trouxera as irmãs para nossa casa com um objetivo. Além de as resgatar das bofetadas na cara dadas pela mãe e do seu pai louco, N. preferia que eu me sentisse atraído por elas do que por mulheres que ela não conhecia. Pobre rapariga, ela não percebia que um incêndio de uma floresta não pode queimar uma árvore e parar. Pelo contrário, quanto mais árvores consumir, mais forte se torna. Mas eu não queria explicar-lhe isto e limitei-me a esfregar as mãos. Eu esfrego sempre as mãos na expectativa de foder. Desenvolvi este hábito na infância, quando comecei a masturbar-me. Não sei porquê, mas não o fazia com uma mão, mas sim com as duas, como se estivesse a esfregar as palmas das mãos com o meu caralho apertado entre elas. A minha natureza, que se dá ao amor completamente, agarrando o amor com as duas mãos, refletia-se nisso. De cada vez que tenho tesão, isso significa que o meu caralho está virado para os Céus e para Deus. E sempre que está duro, eu sei que Deus está comigo.
Sou incapaz de dizer que não a uma mulher. Uma vez pelo menos, fodo-a por cortesia. Na verdade o meu coração pertence à mulher mais fácil.
Aza(30) chegou já apaixonada por mim e pela minha poesia. Entregou-se-me sem sequer dar tempo ao flerte. Katrin também decidiu tentar, por curiosidade. Estava com tanto medo de ficar virgem para o resto da vida que, quando a irmã mais nova lhe deu o exemplo, Koko ofereceu-se-me sem hesitação. Escolheu uma forma muito desajeitada para o fazer, deixando cair intencionalmente um saco de moedas em cima do pé de forma a poder ficar em casa e não ir ao baile com N. e Aza. Koko pensava que ninguém era suficientemente esperto para os seus truques, mas N. e Aza trocaram olhares comigo percebendo tudo.
Koko exagerou um bocadinho e magoou realmente o pé. Uma criada trouxe uma bacia de água fria e eu mergulhei-lhe lá o pé. Eu estava tão sério como um médico, e K. obedeceu-me sem qualquer vergonha. Quando a dor diminuiu, ordenei-lhe que se deitasse na cama e pusesse gelo no pé. Estava deitada em camisa de dormir e olhava humildemente para mim. Enfiei a mão por debaixo do cobertor e beijei-lhe os lábios. Ela aceitou a minha mão sem pânico como se fosse a sua, que com a idade dela já lhe ensinara os prazeres escondidos na sua ratinha. Agora era a altura da verga e Katrin estava mais que preparada para ela. O seu pé dorido distraía-a um pouco, mas não ao ponto de a fazer esquecer o prazer. O seu hímen estava tão esticado que nem sequer houve sangue.
K. preparara-se diligentemente para este dia. Ela própria foi buscar o meu caralho –– ela disseme mais tarde como especulara sobre o que era fazer amor a partir do que N. lhe contara e chupava o dedo à noite imaginando que estava a chupar uma verga enquanto se masturbava com a outra mão.
Com Aza também houve umas trocas cômicas. Ficou com ciúmes de mim e N. e decidiu revelar-lhe, e a toda a gente em casa, que era minha amante. Acreditava que N. não sabia nem suspeitava de nada. Aza sentia que só ela me amava como eu merecia e queria ofender N. com essa revelação. Escondeu a cruz que usava ao pescoço na minha cama e fez com que os criados a procurassem por toda a casa até a encontrarem onde ela a tinha posto. Claro que N. foi avisada e disse a Aza: –– Eu não regateio a minha irmã ao meu marido e o meu marido à minha irmã.
Aza não esperava tanta generosidade da parte de N. e recuou surpreendida.
Koko comportava-se de maneira diferente. Exigia que eu escolhesse entre ela e Aza.
Aceitava N. como um mal inevitável. E eu queria-as às duas com muita vontade. Geralmente gosto de manter à minha volta o maior número de rachas possível –– a dado momento talvez eu queira esta ou aquela em particular.
*
Em breve DAnthès foi incluído na cena, e ao ver como isso me desagradava, K. apaixonou-se por ele para se vingar de mim. Mas não era capaz de obter um sentimento recíproco e começou a fazer de alcoviteira, avisando secretamente DAnthès quando e onde N. iria aparecer para que ele pudesse aparecer no mesmo sítio à mesma hora.
Fiquei a saber isso da própria N., a quem DAnthès dera a indicação de que tinha uma espiã na nossa família. Não foi muito difícil concluir que era K. Perguntei-lhe logo diretamente. Ela ficou confusa, corou e queria fugir, mas eu agarrei-lhe na mão, puxei-a para mim e disse-lhe ao ouvido: –– Sabias que o teu Dante é usado como uma mulher? –– K. Olhou para mim com repulsa e gritou: –– Isso é mentira! –– A seguir eu fustiguei-a com a frase que já preparara antecipadamente: –– E eu que pensava que já tinhas reparado nisso há muito tempo, porque cada vez que entras num salão ele vira-te as costas.
Koko gritou que me odiava, retirou a mão e correu a chorar para o seu quarto. Sentime vingado, mas ao mesmo tempo percebi que tinha obtido uma inimiga devota em minha casa. Bom, prefiro um inimigo ardente a um inerte.
Primeiro descobri na sociedade que ele é um sodomita, e espalhei alegremente as notícias.
Fiquei a saber isso pelas raparigas de um bordel que ele freqüentava com regularidade. Disseram-me confidencialmente, como seu verdadeiro amigo, que DAnthés lhes pagava grandes quantias para lhe lamberem o cu, que estava rasgado e a sangrar da mesma forma que os delas quando são brutalmente fodidas no cu.
Quando Heckern(31) o adotou, ninguém já teve razões para duvidar disso. Katka pelo menos estava convencida, mas sentia pena dele em vez de repugnância, como eu esperara. Ele parecia-lhe mais uma vítima das paixões viciosas de Heckern. Ela desculparia qualquer coisa em DAnthès.
*
Aza conquistou o meu coração. Toda a sua resistência consistiu numa tentativa de me afastar com a língua quando a beijei pela primeira vez. Ela compreende-me; satisfaz-me. Leio-lhe o meu poema Não, não aprecio... Ela chorou e abraçou-me, dizendo: «Meu pobre, pobre rapaz.»
Também eu fiquei profundamente comovido e as lágrimas escorreram-me dos olhos. Ela percebeu que eu me estava a animar e a gabar-me quando dizia que conseguia fazer com que N. se viesse mesmo quando não queria e sem desejo.
Comecei a notar enlevo nos seus olhares para DAnthès. Ela nunca olhou para mim desta maneira. Lembrar-me-ei o resto da minha vida quando ela me perguntou numa carta se eu já era mais bonito. Quanta dor escondida e necessidade insatisfeita de beleza li eu nesta pergunta jocosa.
Mesmo quando N. se vem com os olhos abertos, olha sempre para lá de mim, para os seus sonhos. Mas Aza ama-me e quer fundir-se comigo, com toda a visão. Como eu admiro avidamente, nesses momentos, a sua parecença remota com N.
Eu próprio sempre lutei por mulheres bonitas e nunca casaria com uma rapariga feia. A luta pela beleza é tão natural nos humanos, e nada a pode substituir. Os espasmos de amor só temporariamente diminuem este anseio, mas atualmente revive com nova energia. Tenho de confessar que estou no lugar errado; que N. seria mais feliz se fosse mulher de DAnthès. É por isso que odeio cada vez mais esta mulher bonita a cada dia que passa. Se ele não fosse uma mágoa para ela, não lhe faria recordar de cada vez que aparecia, a diferença entre ele e eu. Se eu levasse N. para a casa de campo, poupar-me-ia a esta comparação desfavorável, e N. não notaria tanto a minha fealdade. Não, estou a enganar-me a mim próprio –– basta ver a beleza uma vez para nunca mais a esquecer.
Eu nunca me deveria ter casado. Eu queria viver como toda a gente, mas isso não me é dado. Não consigo permitir que a minha mulher tenha um amante e fingir que não reparo, como toda a gente faz. Não posso ter amantes e, tal como toda a gente faz, escondê-las da minha mulher. Propus a N. convidarmos Aza para a nossa cama, mas lamentei isso no mesmo instante, porque se instalou mais uma fenda na nossa relação. N. olhou para mim com desprezo e disse:
–– És mais porco do que eu imaginava.
Eu não devia tentar envolver a minha mulher em obscenidades, mas naquela altura parecia-me que nada era mais natural do que duas irmãs a acariciarem o mesmo homem amado.
No dia anterior, eu oferecera a Aza a mesma coisa. Ela ficou surpreendida: –– O que é que nos vais fazer às duas? –– Expliquei-lhe eloqüentemente e ela disse com fervor: –– Quero tudo o que tu quiseres! –– Era a resposta ideal de uma mulher amante. E
perguntou-me imediatamente se eu casaria com ela se N. morresse ao dar à luz. Por momentos imaginei a morte de N. e o horror invadiu-me, coisa que eu não sentia nem perante a perspectiva da minha própria morte.
*
Permiti às irmãs viver separadamente durante o nosso retiro no Verão que Koko se envolveu com DAnthès e Aza se apaixonou por Arkashka(32). Mas encarreguei-me delas no Outono. Vi que DAnthès e Koko se tinham tornado amantes. Toques significativos um no outro, cópulas descaradas com o olhar –– não havia eu de reparar na peculiaridade notável da relação de recém-amantes! Por mais que possam tentar esconder a sua intimidade, brilha sempre nos olhos de um observador. Por isso, se os amantes querem realmente esconder a sua relação, nunca deverão aparecer juntos em sociedade, mas sim encontrarem-se em privado, pois haverá sempre alguém na sociedade que irá apanhar, sentir, a intimidade entre um homem e uma mulher. E se houver um que repare, então acaba por se tornar óbvio para toda a sociedade.
É por isso que tenho tanta confiança em N. Observo-a continuamente na presença de DAnthès. Nos seus olhares ávidos não vejo a sede do possuidor mas a sede de possuir que vejo em todos os homens que olham para N. Algo de semelhante está a acontecer com N. Conheço bem o sorriso que aparece nos seus lábios doces na expectativa de fazer amor, mas que não surge no seu rosto em presença de DAnthès e eu mantenho uma observação vigilante. Este sorriso apareceria inevitavelmente nem que fosse uma vez. N. não tem consciência da existência deste sorriso lúbrico –– não lhe disse de propósito, mantendo a minha carta de trunfo em segredo. Rezei a Deus para não ter de precisar dela.
*
Koko deixou de consentir que eu entrasse no seu quarto e começou a trancar a porta à noite. Senti como se alguém me tivesse roubado algo que me pertencia exclusivamente a mim. Foi quando comecei verdadeiramente a odiar DAnthès.
Todas as noites eu ia verificar a sua porta e houve uma noite em que estava por trancar.
Entrei e Koko emitiu um grito, puxou o cobertor para se esconder e por causa disso ainda a desejei mais. O despeito inundou-me, pois ela comportava-se como se eu nunca a tivesse fodido. Não consigo suportar quando uma mulher que foi minha de repente ousa tornar-se inacessível. Para a minha forma de pensar, a mulher que eu fodi pelo menos uma vez fica minha para sempre. É por isso que um homem quer que a sua esposa esteja virgem, pois qualquer homem que possui uma mulher tem poder sobre ela para o resto da vida, quer ela se aperceba disso ou não.
Katka abriu a boca para gritar mais alto, mas eu alcancei-a ainda mais depressa e dei-lhe uma bofetada na cara. O seu grito reprimido transformou-se em soluços.
–– Odeio-te, és nojento, macaco. Estou grávida de DAnthès, percebeste? –– sibilou ela por entre as lágrimas.
Mal consegui impedir-me de mergulhar as minhas unhas no seu pescoço longo. Imaginei imediatamente o escândalo na sociedade, os boatos que iriam manchar a honra da minha família.
Eu sei que os meus inimigos espalhariam o boato de que o bebê era meu. A única forma de abafar o caso e evitar o escândalo era obrigar DAnthès a casar com ela, e se ele recusasse, lutaria com ele. Além disso, o seu casamento com Koko torna-lo-ia menos perigoso para N. Pelo menos naquela altura assim parecia. Mas eu precisava de um pretexto para o desafiar sem revelar à sociedade a verdadeira razão, dando, no entanto, a entender a DAnthès que retiraria o meu desafio na condição de ele casar com K.
–– Esperas mesmo que DAnthès case contigo, sua velha sem dote? –– perguntei a Katka.
–– Mesmo que ele não se case comigo, continuarei a pertencer-lhe –– disse K., fungando e olhando para mim com medo.
A chama da vela refletia-se nas suas pupilas, por isso a expressão os seus olhos deitavam chispas é bastante apropriada aqui.
–– Vou mandar-te para a casa de campo. Quanto a ele, tem bastantes mulheres além de ti.
Não vou deixar que desonres o meu nome. Vais-te embora amanhã.
E aqui ela começou a implorar-me que a deixasse ficar pelo menos uma semana. Dei tempo a que ela implorasse mais e, abruptamente, mudei o meu tom de voz para um mais suave: –– Queres casar com ele?
–– Daria a minha vida por isso! –– exclamou ela apaixonadamente, e as lágrimas saltaram-lhe mais uma vez dos olhos.
–– Posso obrigá-lo a casar contigo –– disse eu em voz firme.
Os seus olhos abriram-se totalmente e a boca descaiu.
–– De verdade? Consegues? –– ela reanimou-se. Rezarei por ti toda a minha vida!
–– Então não me resistas –– disse eu e puxei a orla do cobertor. Ela enrolou-se numa bola e tremeu. Por momentos senti pena dela, mas o meu desejo não diminuiu e continuei a garantir-lhe que lhe conseguiria o casamento e não a mandaria para a casa de campo. Ela deixou de resistir quando lhe prometi que o casamento podia ser no fim de Dezembro ou princípio de Janeiro –– nesta altura a sua barriga já daria nas vistas e o escândalo seria inevitável. Fiz rapidamente os cálculos na minha cabeça e a exatidão das minhas garantias convenceu-a.
Ela acreditou em mim e relaxou. Não se agitou e ficou deitada que nem uma morta a pensar acerca de mim: «Oxalá ele se venha depressa.» E eu pensava, enquanto a fodia, que esta era a primeira vez que eu podia vir-me dentro dela sem me preocupar. Mas não queria vir-me sozinho. Queria desgraçar DAnthès, e o amor dela por ele, fazendo com que ela se viesse. Eu sabia qual era o movimento que mais a excitava: não era para dentro e para fora, mas de um lado para o outro. Não bati contra o seu útero, em vez disso esfreguei-o sem parar. Como uma vez me disse uma rapariga muito conhecedora: «esfrega as paredes e carrega no botão.»
Katka ficou astuciosa e tentou afastar-se de mim, de forma a que a minha verga não conseguisse chegar ao seu útero, e ao mesmo tempo apertava-o, como eu lhe ensinara, para fazer com que eu me viesse antes de ela perder a cabeça. Mas eu consigo resistir por muito tempo.
Molhei o dedo com saliva e enfiei-lo no cu –– algo que ela não gostava a princípio e depois começou a gostar quando se vinha.
Ao mostrar algo novo a uma mulher, esforço-me para que ela se venha de forma a começar a querer aquilo.
Em breve comecei a sentir Koko a ceder ao prazer, e entregou-se a ele, provavelmente sonhando com DAnthès. Aqui, infelizmente, eu era impotente. Havia uma coisa que me fazia feliz: é melhor estar na ratinha dela do que nos seus sonhos.
E aqui ela gemeu como se reconhecesse algo que se lhe abria e a sacudia. O meu dedo sentiu oito espasmos. Sempre tive prazer em contar os espasmos.
Antes nunca tivera mais de cinco, e a intensidade sempre fora muito mais fraca. Talvez a gravidez e as suas novas emoções lhe agudizassem o prazer, e além disso, o seu corpo reconheceu-me alegremente.
Depois do último espasmo começou outra vez a soluçar: Koko sofria pela incapacidade de o seu corpo se manter fiel ao seu amor.
*
De forma a desafiar DAnthès, comecei a mostrar os meus ciúmes, ou melhor, fiquei ciumento por princípio, de cada vez que ele aparecia em volta de N. Desempenhei facilmente o papel e implicava com ele de cada vez que tinha oportunidade para isso. Tenho de admitir que ele agüentou com dignidade e me rebateu com inteligência. Isso ainda me irritava mais, e comecei a ser rude para com ele.
Recebi mais uma vez uma carta anônima, como aquelas que recebera há uns meses. Mas desta vez foram enviadas cópias da carta a conhecidos meus e toda a gente ficou a saber.
Imediatamente pensei num plano –– culpar DAnthès de a ter escrito e utilizar esta carta como pretexto para um desafio. Enviei-lhe o desafio no mesmo dia, e quando o seu paizinho veio pedir perdão pelo seu rapaz, disse-lhe quais eram as minhas condições. O velho jurou que iria convencer o seu pupilo a propor o casamento a K. dentro de duas semanas.
*
Os meus filhos são engraçados, como diria o falecido Delvig. São os defensores da minha vida familiar e afastam a mãe de tentações. Quantos mais filhos, melhor. Quanto a mim, cada gravidez dela é como que uma indulgência, desculpando os meus adultérios.
Amo a barriga redonda de N., onde o seu botão desaparece e é substituído por uma mancha escura. Sob a sua barriga esconde-se a sua ratinha, com o cheiro novo e especial da gravidez.
Quando vi Mashka pela primeira vez, com a sua coninha pequenina e cor-de-rosa, senti um formigueiro devido à milagrosa transformação do prazer em vida, num ser humano. É agradável pensar em qualquer pessoa como a corporização de convulsões deliciosas. Pelo menos das convulsões do homem.
N. está convencida que só fica grávida quando se vem. Que além disso o orgasmo tem de ser suficientemente forte para que possa sentir o útero a sugar o meu sêmen. Ao saber do meu desejo de ter mais filhos. N. pode dizer isto deliberadamente, para que eu a faça vir sempre. Mas com ela nem sempre é fácil. Quanto maior é o tempo de casados, menos interessado eu fico em fazer muito esforço. Forço-me mentalmente para ser zeloso; digo que não devo deixar a minha mulher insatisfeita senão estarei a empurrá-la para os braços de um amante.
Primeiro estava interessado em ultrapassar a sua indolência natural e afirmar a minha arte de amante. Mas depois de provar isso a mim mesmo, queria aplicar a minha arte a outras mulheres. Por isso fiquei aliviado quando acordei a meio da noite ao ouvir N. a masturbar-se e a conter os gemidos para não me acordar.
Mas com DAnthès, ela não se masturbaria, estaria a foder dia e noite. Às vezes parece-me que vou enlouquecer. Qualquer coisa em que eu pense, acabo por pensar em DAnthès. Se eu o matar, poderei começar uma nova vida, uma vida serena e piedosa. Serei capaz de me manter fiel a N. É o mesmo sentimento que eu tive antes do casamento –– a crença de que posso realmente obter a felicidade, mas agora através da morte de DAnthès. Livrar-me-ei de todos os meus pecados, vícios, desejos e até dívidas.
À espera do duelo inevitável, tornei-me nervoso e com temperamento bilioso. Não admira, toda a gente murmura e fala nas minhas costas.
O meu temperamento irritadiço também se projeta nos meus filhos, e por um pequeno mau comportamento qualquer agarro numa vara de vidoeiro. O meu coração inunda-se de pena, mas a minha mão é conduzida pelo diabo. Quando pela primeira vez puxei as saias de Masha e lhe bati duas vezes com a vara de vidoeiro ela guinchou: «Nunca mais volto a fazer!» N. voou para dentro da sala, arrancou-me a vara das mãos e pegou na filha levando-a dali. Eu sentei-me no cadeirão e passei ali a noite toda, sentindo-me exausto. Agora quando bato nas crianças tranco a porta. N. grita que eu sou um animal louco e que sou inimigo deles e não um pai. Quem sabe, talvez ela tenha razão.
Não tenho tempo para crianças. A escrita e as mulheres raramente deixam tempo para brincar com Mashka e Sashka(33). Grishka(34) e Natashka(35); ainda estão no estágio de infância inconsciente, e eu não tenho nada a fazer com eles. O maior prazer que tenho com eles é poder mostrá-los aos meus convidados. Sinto-me tão orgulhoso deles, tal como me acontece depois de compor um bom poema. Vou até ao quarto das crianças, tiro-as da cama, e trago-as uma após outra até à sala, a convidados que se acalmam depois de as verem. As suas caras fazem-me lembrar gatinhos, e os convidados ficam encantados com cada uma das crianças. Mas em geral as crianças aborrecem-me, e tento ficar longe delas. Os seus choros e rebuliços, as suas doenças, não me deixam concentrar em nada e aproveitar o meu tempo. Tenho paciência suficiente só para meia hora, e depois tenho de fugir delas. É-me insuportável observar os sofrimentos das crianças, mesmo sofrimentos tão inevitáveis e não ameaçadores como os dentes a romper. Fico com vontade de lamentar a minha própria inutilidade, o meu coração despedaça-se com pena e sinto que cometi um crime ao criá-los. Gerei os meus filhos sem ter em conta os seus sofrimentos futuros, mas lutei para me impedir de sofrer; de sofrer de ciúmes por N. e de sofrer as interrupções de prazer e vir-me fora dela. Muitas vezes olho para as suas pequenas mãos, pernas, rostos e saber que são carne da minha carne enche-me de admiração poética. Mas rapidamente é substituído pelo sentimento de ter sido enganado, atraído para uma prisão e fechado lá dentro. A eterna responsabilidade pelos filhos é uma prisão da qual nunca poderei fugir.
A responsabilidade oprime-me, embora a tenha escolhido voluntariamente. Fui levado pela moda humana e segui-a apesar dos avisos da minha mente.
Agora estou convencido que nada de bom virá da minha vida familiar. Confissões destas não aumentam os meus sentimentos paternais.
Antes, eu guardava apenas a minha honra, depois comecei a guardar também a honra da minha mulher. Agora tenho de tomar conta da honra dos meus filhos e cunhadas. A honra que eu tenho para guardar tornou-se tão vasta desde o meu casamento que se tornou incrivelmente fácil de tocar. Tenho de estar alerta a todo o momento. A própria existência de DAnthès usurpa a minha honra. Por isso tenho de lutar com ele sem demora.
O czar disseme que tomaria conta de N. e das crianças no caso de eu morrer, como se fosse predeterminado. Isto também foi ofensivo para a minha honra, pois este é o tipo de proteção que se concede a uma concubina. Foi isto que lhe disse, bruscamente. Ele levantou-se do seu cadeirão, dando-me a entender que a nossa audiência tinha terminado. Estava com medo que se repetisse o caso de Bezobrazov(36) e tentou ver-se livre de mim o mais depressa possível.
Não há mal sem bem: graças à paternidade, conheci amas-de-leite. É um prazer especial fodê-las. Adorava fazê-lo quando elas davam de mamar.
Uma delas, a princípio, estava envergonhada com a presença dos meninos, mas em breve deixou de o estar. Pu-la de gatas e deitei os meninos debaixo dela. Os seus seios enormes e encharcados de leite balouçavam por cima das suas bocas ávidas. Ela subia as ancas e baixava os seios, permitindo que as crianças mamassem. Então eu metia o meu caralho e ela vinha-se quase imediatamente e muitas vezes seguidas. Levava muito mais tempo sem os mamões.
*
Quando estou felizmente apaixonado, a minha vida fica cheia de prazer imediato e nem o passado nem o futuro me preocupam. Se o meu coração fica vazio, os meus pensamentos viram-se para o passado ou para o futuro, que acaba em morte, e a tristeza envolve-me. Por isso o amor é a única salvação do tempo pernicioso, salva-nos do passado e do futuro; pára o tempo no dia feliz de hoje. Se o tempo pára para alguém que está apaixonado, isso quer dizer que a única forma de parar o tempo é estar constantemente apaixonado. E como é impossível estar constantemente apaixonado por uma mulher, estou constantemente a apaixonar-me por mulheres diferentes.
*
O seio nu está expressamente a pedir para ser beijado, e a auréola em volta do mamilo é o sinal da divindade.
*
A imoralidade da vagina não reside em si mesma, mas em ser omnívora. Uma verga pode mostrar a sua personalidade e não se levantar. Uma vagina é incapaz de se recusar, e se a princípio tem a boca seca de desinteresse, é possível molhá-la com a própria saliva. E o desinteresse desaparece.
*
As mulheres são cheias de falsidade: as senhoras de sociedade fingem que não querem e as prostitutas fingem que querem.
*
Existem duas felicidades: uma é quando vamos a uma mulher cheia de impaciente expectativa e a outra é quando regressamos de uma mulher aliviados dela e do desejo.
*
O conde M. regressou de Paris e eu assaltei-o com perguntas sobre mulheres. Ele disse que as mulheres eram espantosamente bonitas e que até as prostitutas nas ruas pareciam rainhas.
–– Quantas provaste? –– perguntei, curioso.
–– Nenhuma –– disse ele.
Imaginei-me no lugar dele e explodi: –– Como é que pudeste deixar passar uma oportunidade dessas?
Enquanto eu exprimia a minha surpresa relativamente à sua apatia e lamentava o fato de ele ter perdido o tempo em Paris, M. não disse nada e só olhou para mim com tristeza.
–– Por quê? Por que é que não fodeste pelo menos uma? –– não consegui parar.
–– Olha, porque eu amo a minha mulher, é por isso –– respondeu o conde.
E eu fiquei envergonhado com aquela explicação tão simples.
*
Rapidamente começamos a foder a nossa mulher sem olhar para o seu sexo, no escuro, com muita preguiça para acender velas. Por outras palavras, sentimo-la apenas pelo tato, esquecendo os espasmos. A admiração estética de olhar para ela e cheirá-la morre. Contudo, se eu fizer um esforço para ultrapassar a minha preguiça, acender velas suficientes para afastar a escuridão, que gosta de ficar espessa em volta de uma racha, e se eu abrir as pernas da minha mulher, não mergulhando a minha verga lá dentro, mas olhando para ela com uma visão fresca, então a minha admiração acorda novamente. Talvez não com a sua força anterior, mas com o mesmo prazer.
E, no entanto, uma sede de admirações fortes leva-me a rachas desconhecidas, não vistas, e não consigo desistir da força desse prazer nem que seja para salvar o amor de N.
*
Como é triste perceber que nem todas as mulheres me querem.
*
Os pêlos púbicos são o presságio de um milagre. Os mais perfeitos são em forma de triângulo com pêlo espesso, escuro, através do qual a pele não aparece. Se o pêlo fosse fino a beleza para mim começava a declinar. Por vezes o pêlo é espesso, mas não forma um triângulo e sim uma faixa estreita que apenas cobre os lábios de forma que, na fronteira do púbis, aparecem zonas carecas. Também não gosto desse, e agora sonho com uma variedade de imperfeições, depois de me ter empanturrado de harmonia absoluta com a música das esferas da minha N.
*
Um dos meus prazeres favoritos é deitar-me de costas e ver nádegas em coração à minha frente. A cabeça dela está na minha virilha, a minha cabeça está entre as suas pernas. A minha língua chega facilmente ao seu berbigão, e se eu inclinar a cabeça para trás chega à entrada da sua vagina de onde ressuma a Ambrósia. Agora estamos a descansar. Gostaria de adormecer assim, mas a realidade não me deixa. Como é doce ver todos os pormenores de uma fenda, inalar o seu odor e sentir o hálito quente nas minhas virilhas.
Afasto-me um bocadinho e vejo o seu maravilhoso olho do cu –– raios de rugas que se encontram num ponto. Afasto a carne das nádegas e o odor torna-se um pouco mais forte. Ela lambe a minha verga como resposta e bate contra os meus lábios com o seu berbigão, pedindo a minha língua.
*
O sangue é um dos feitiços das fendas. Todos os meses, a natureza fere uma mulher na sua fenda. Ou melhor a fenda é uma ferida aberta que sangra todos os meses. Tremo com o cheiro, que se torna mais forte, e nestas alturas uma mulher fica especialmente desejável. Quando a fodo durante o período, a minha verga parece-me um punhal que eu atiro contra a sua carne.
Quanto mais e mais profundamente o atiro, mais as coxas ficam cobertas de sangue e ela geme mais alto devido à dor misturada com o prazer. Será o seu último alento ou o último do seu prazer?
Como eu adoro fodas sangrentas, impetuosas e quentes. Quando a minha amante e eu nos desligamos estamos cobertos de sangue até à cintura. Depois lavamo-nos em conjunto, e ao separarmo-nos, enfio o meu dedo na sua ratinha e deixo secar o sangue que lá fica. Ao regressar a casa, levo-o ao nariz de tempos a tempos e aspiro o cheiro maravilhoso. Mesmo no dia seguinte, o meu dedo exala doces recordações do paraíso onde o mergulhei.
*
O berbigão luta sob o meu dedo. Um toque um bocadinho mais suave e ela não consegue vir-se, um pouco mais forte e já é demasiado e ela afasta-se. Sou como um cego levando-a até ao fim pelo tato. Mas conheço muito bem a estrada, e uma mulher deposita em mim apaixonadamente o destino do seu prazer.
*
Qualquer amante com a qual eu tenha uma relação e partilhe sentimentos centrados na cópula é um universo total onde a Providência me colocou. Quando tenho várias amantes ao mesmo tempo, viajo constantemente de um mundo para outro. Torna-me um mentiroso, porque cada mulher quer ser a única para mim. Pelo menos cada uma quer ter a certeza de que é ela a amada e que o resto é só para foder. Esta crença faz com que a mulher seja minha, não só em corpo, mas também na alma. A todas elas eu digo que a amo só a ela, e é a verdade puríssima, pois nos momentos de êxtase estou sinceramente apaixonado pela mulher com quem estou a partilhá-los.
*
Quando fico cansado da mesma fenda, deixa de ser a fenda para mim. O pecado e a doçura da lascívia é que nos ensinam a resistir à natureza. De acordo com as suas leis, a luxúria tem de morrer no casamento e dar lugar a outros sentimentos: à ternura, ao cuidado dos filhos, à amizade. A lascívia ensina-nos que uma nova ratinha reacende a luxúria. Mas a vida moral permite apenas um curto período de tempo para a luxúria, que é necessária para atrair um homem e uma mulher para o estatuto de marido e mulher e assim conceberem crianças. A luxúria no casamento rapidamente se dissipa, embora marido e mulher, segundo as suas necessidades, façam doces convulsões um ao outro de tempos a tempos. O caminho à sua frente atravessa o deserto do hábito, que outrora floriu vibrante.
A vida dissoluta antes do casamento ensinou-me a não adorar uma fenda, mas a variedade de fendas. Depois de ter provado este remédio contra o esmorecimento da paixão, precisei ainda mais dele como homem casado.
Para os homens que não provam a diversidade enquanto solteiros, o desejo no casamento desaparece lentamente. Por isso, não reparam, e quando o fazem é demasiado tarde, porque já são velhos. A minha paixão pela minha mulher passou um mês depois do casamento. N. ainda nem sequer se tinha habituado à sua nova situação de mulher casada. Só a idéia de que não iria provar outra fenda para o resto da minha vida se permanecesse fiel à minha mulher aterrorizava-me mais do que o pensamento inevitável da morte.
*
Depois de provar o fruto proibido, Adão e Eva conheceram a vergonha e envergonharam-se da sua nudez. A vergonha foi criada pelo Diabo, e por isso Deus percebeu que eles tinham cometido pecado ao ver a sua vergonha. Pela sua desobediência, Deus expulsou-os do Paraíso, mas deixou-lhes o prazer como consolação. Ao copularem, Adão e Eva não sentiram vergonha e essa ausência de vergonha fazia-os recordar o tempo em que estavam no Paraíso. Os amantes é a mesma coisa – por não terem vergonha em frente um do outro encontram o paraíso. Mas o Diabo não descansou e criou a sociedade humana, rodeada por uma bola de vergonha.
Deus permitiu ao homem ter uma mulher, sabendo que o pecado das tremuras passaria, mas não lhe permitiu fornicar com qualquer mulher nova. O pecado revive e perdura graças à variedade de mulheres fornecidas pela sociedade. O ser humano é uma criação de Deus, e a sociedade humana é criação do Diabo.
Pela violação da proibição, Deus não só expulsou Adão e Eva do Paraíso, como também multiplicou as proibições para dez. Não se pode ir para o Paraíso se violar apenas uma. Violei uma por fornicação e violarei a segunda quando me vir livre de DAnthès.
*
As mentiras humanas começaram com a vergonha. A vergonha é a ocultação do que se possui. Ao libertarmo-nos da vergonha, libertar-nos-emos da mentira e nada restará da diabólica sociedade humana. Haverá apenas amantes felizes na Terra.
*
A paixão é depressivamente mais curta do que o amor. Por causa disso, as pessoas juram amor eterno, mas não paixão eterna. No princípio, a paixão é tão forte que para a apaziguar é preciso virmo-nos uma vez a seguir à outra. Mais tarde, enfraquece, ergue a cabeça com moleza, e uma vez chega para nos vermos livres dela durante bastante tempo. O que resta é o amor que, com a fidelidade, acaba com a paixão exausta. O leito nupcial é o berço da paixão, que se transforma na sua sepultura.
*
Quando eu viajo e estamos afastados, os fascínios da minha mulher, de que me lembro e que de repente são inatingíveis, tornam-se tão desejáveis que tenho de me envolver com uma mulher qualquer que apareça: com atrizes alemãs que são minhas companheiras de viagem, com prostitutas em casas de repasto na estrada. Não preciso delas por estar fora de mim com desejo; Deus sabe que com cada uma delas eu estava a sonhar com a minha mulher.
Ao voltar da Sibéria(37), apanhei gonorréia. Para concluir o tratamento, fui diretamente para Boldinoj(38), garantindo a N., através de cartas, que não voltaria para ela de mãos vazias.
Antes de regressar ao nosso leito nupcial, fui a Moscovo, onde um médico me examinou e confirmou que eu estava bem. Quando finalmente voltei a casa, N. estava a dançar num baile. Fui lá ter diretamente e pedi a um criado que fosse buscar N., dizendo-lhe que eu tinha uma questão urgente. Estava à espera dela na carruagem cheio de tesão. Quando a vi aproximar-se, tirei a minha verga para fora e a minha beldade abriu a porta e viu-a mesmo à frente do nariz. Estava muito frio, mas eu aqueci-a no lugar apropriado. Oh, a separação! Como é bom que não seja para sempre! N. estava com mais fome que nunca e nessa noite não dormimos. Mas no dia seguinte, o hábito voltou e substituiu a felicidade pela paz.
*
Olho para as centenas de livros no meu gabinete e apercebo-me que não toquei na maior parte deles depois de os ter lido ou dado uma vista de olhos pela primeira vez. Mas nem sequer considero a hipótese de me desfazer deles –– então, e se eu quiser abrir este ou aquele um dia destes? Gastei o meu último dinheiro tanto a adquirir novos livros como em prostitutas. Comprar livros novos é um prazer muito diferente do prazer de ler: examinar, cheirar, folhear um livro novo é a própria felicidade.
Os livros dão-me confiança pela sua disponibilidade, de que posso sempre aproveitar-me se quiser. O mesmo acontece com as mulheres –– preciso de muitas delas e têm de se abrir à minha frente como os livros. Na verdade, para mim, os livros e as mulheres são semelhantes de muitas formas. Abrir as páginas de um livro é o mesmo que afastar as pernas de uma mulher –– o conhecimento revela-se à nossa vista. Todos os livros têm um odor próprio: quando abrimos um livro e cheiramos, cheiramos a tinta, e é diferente em cada livro. Rasgar as páginas de um livro virgem é um prazer inenarrável. Mesmo um livro estúpido me dá prazer quando o abro pela primeira vez. Quanto mais esperto for, mais me atrai, e a beleza da capa não é importante para mim. Isto não é necessariamente verdade para as mulheres.
Tal como uma mulher se pode vir com qualquer homem habilidoso, assim um livro se abre a qualquer um que lhe pegue. Dará o prazer da sua sabedoria a quem for capaz de o compreender.
Por isso sou cioso dos meus livros e não gosto de os dar a ninguém para ler. A minha biblioteca é o meu harém.
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O amor escraviza-nos induzindo o medo de perdermos os nossos amados. Esse medo mostra-se no nosso comportamento e as mulheres são muito sensíveis a isso. A indiferença por uma mulher dá-nos à vontade e liberdade, pois não temos medo de perder aquilo que não valorizamos. Uma mulher respeita a nossa liberdade e submete-se a ela como a uma força. O
poder numa relação com uma mulher é determinado pela coragem de um homem em esconder dela o valor que ele dá a perdê-la. É parecido com a atitude estóica em relação à morte. A prontidão para morrer torna um homem livre e forte. Também a mulher que vê num homem uma prontidão para partir fica enfraquecida. Esta fraqueza transforma-se no seu amor por ele. Por isso, ter sempre várias amantes é a forma de se ficar indiferente no caso de perder uma delas.
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Quando faço amor com Aza imagino N. debaixo de mim. E quando faço amor com N. imagino Aza debaixo de mim. Quer isso dizer que nenhuma mulher me satisfará completamente?
Os meus desejos são tão exigentes que a realidade tem uma certa dificuldade em consegui-los.
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Porque é que dizem que um homem toma uma mulher e que uma mulher dá, quando é tudo ao contrário: uma mulher toma a verga na sua fenda; a verga é aquilo que o homem lhe dá.
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A diferença entre uma mulher decente e uma prostituta é que uma prostituta diz o seu preço exato enquanto uma mulher decente não se quer comprometer com um número exato e tenta extrair de nós tanto quanto puder.
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Será possível não adorar ballet? Esta é a única forma de ver pernas nuas nesta sociedade decente e admirá-las abertamente sem qualquer ameaça à nossa reputação. A arte da dança faz com que a visão das pernas das mulheres seja decorosa. Talvez um dia o poder da Arte todo-misericordiosa se torne tão requintado que uma audiência fixada nas pernas abertas de uma dançarina não se revolte com a sua indecência.
Bom, esses tempos estão muito distantes.
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Permanecer fiel num casamento não é algo que se faça por desejo, mas por vontade. A sede de outras mulheres não desaparece, mas aumenta com o tempo. Contudo, o respeito, o amor e o medo de arriscar uma relação preciosa mantêm uma pessoa afastada do adultério. Muitos homens escondem o seu desejo por outras mulheres tão profundamente dentro de si que ficam horrorizados quando ainda vêem as suas cintilações. Outros olham para isso com desprendimento, como para um animal numa jaula, uma jaula da sua vontade. Mas até que ponto esta jaula é de confiança?
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No casamento a revitalização da luxúria só pode ser conseguida enfraquecendo e destruindo os seus laços. Quero dizer, amantes. É por isso que a luxúria se torna um pecado, pois está destinada a morrer, e se ainda se acende isso só acontece por causa das mulheres fora do casamento. É assim que chegamos à idéia original de pecado quando a luxúria é a inimiga do amor. A cópula entre marido e mulher não é pecaminosa porque é feita sem luxúria. Todos os casos extraconjugais são luxuriosos e por isso pecaminosos. Assim, todas as tentativas de reavivar a luxúria no casamento são más, incluindo o afastamento.
Porque reacender a luxúria por um curto período ameaça um casamento, sujeitando a esposa à tentação de adultério na separação. O casamento foi criado para destruir a paixão embora a princípio atraia com paixão. Calcar a paixão com a paixão.
O casamento seduz com a legitimidade e com a disponibilidade da luxúria. Ao fazermos o juramento de fidelidade, não suspeitamos que estamos também a renunciar à luxúria. O casamento foi criado para distrair as pessoas da luxúria com a ajuda da luxúria. Por isso, para bem de um casamento forte, tem de se agüentar o seu desaparecimento.
Não sustenham a respiração!
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A luxúria é o orgulho do corpo; o amor é o orgulho da alma, um orgulho que não é mais que a luxúria da alma.
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Quanto mais se aprende sobre as mulheres, mais se fica convencido que não se podem comparar e dizer que uma é melhor ou pior que outra. Cada mulher que conhecemos é insubstituível e não há amor que passe, fica conosco e em nós para sempre. Por isso cada mulher é inesquecível.
Lembro-me das minhas prostitutas tão claramente como me lembro das minhas beldades de sociedade. Cada mulher se vem à sua maneira, cada uma tem uma fenda fantástica inimitável e mais tarde uma verga começa a sentir e a apreciar estas diferenças.
Ao fazer amor com uma beldade da qual estou cansado, posso lembrar-me da fenda de uma rapariga feia e começar a sonhar com ela. Como é que, depois disto, eu posso dizer que uma rapariga bonita é melhor do que uma feia? Uma mulher linda lisonjeia-me do ponto de vista estético e da opinião pública. Possuí-la faz com que toda a gente me inveje e faz-me sentir orgulhoso e estes sentimentos nada têm a ver com luxúria.
Quando eu era novo, fiquei tão espantado com o milagre revelado da primeira fenda que vi que proclamei prematuramente a sua dona como uma divindade e jurei ser-lhe fiel. Mas era idolatria e paganismo. Há muitos ícones, mas Deus é só um.
Adoro a Fenda, mas não esta ou aquela mulher. Quando a chama da oração enfraquece, viro-me para uma nova fenda de forma a manter esta chama. Nenhuma mulher é capaz de substituir o mundo das mulheres. Como é que se pode censurar um viajante por parar no seu caminho para rezar em diferentes templos, dado que reza ao mesmo deus?
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É difícil falar da Fenda, porque ela é perfeita, harmonia divina. Facilmente se pode contemplar algo imperfeito, mostrando como e porquê está longe da perfeição e apontar as formas como se poderá tornar perfeito. E aqui temos de fazer um esforço para não ceder ao poder dos sentimentos impacientes, e sim meditar e adorar.
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A arte das atrizes consiste na capacidade de permanecerem frias na alma enquanto atuam, e de calmamente se observarem como que do exterior.
Ao representarem o amor elas não o sentem. Mas têm de representar de forma tão convincente que um público acredite nelas. As atrizes imitam os sagrados sentimentos do amor, e quanto mais convincentemente mentem, mais fama ganham, mais dinheiro fazem. A arte de uma atriz não faz lembrar a arte de uma prostituta? Será por isso que a sociedade as rejeita como faz às prostitutas? Não será por isso que as atrizes são tão fáceis?
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Se fala do pecado da mulher não é por ela ter uma fenda, porque por isso devia ser glorificada. É que, ao possuir uma fenda, pode continuar indiferente durante a relação sexual. Isto é o maior sacrilégio cometido em relação à santidade da Fenda. As mulheres são criticadas por serem enganosas devido à sua capacidade de ficarem frias no momento em que um homem está a arder de paixão. Uma mulher pode facilmente fingir e mostrar uma paixão forte enquanto engana o seu amante, não com outra pessoa, mas com ele próprio.
A ejaculação é a prova irrefutável da sinceridade de um homem na sua paixão por uma amante. Qualquer prova que uma mulher ofereça pode ser forjada, porque após uma curta sessão de treinos pode impassivelmente produzir convulsões na sua racha e no seu ânus.
O homem gosta sempre de foder, mas a mulher sente muitas vezes indiferença e por vezes até repugnância. É este o vício da natureza da mulher; esta é a sua lamentável imperfeição.
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A minha investigação como admirador da fenda não conseguiu uma explicação do porquê ocorrerem sentimentos tão fortes ao olharmos para ela. Faço sempre um grande esforço para prolongar a observação e não correr como um animal à vista da carne crua da fenda e enfiar-lhe as minhas presas. A rachinha adorável não é visível durante a cópula. E se me afastar, mas não me retirar completamente para olhar para ela, vejo a rachinha enfeitada de pêlos, mas infelizmente coberta pela minha verga. Além disso, o prazer que sinto distrai-me e leva-me a acabar, e tenho de conter a minha sede a bem da penetração mental da fenda.
Mas a maior parte das vezes o que eu vejo enquanto fodo não é a fenda, mas o rosto da minha amante. Mesmo quando a lambo, a fenda fica tão perto dos meus olhos que não sou capaz de a estudar como deve ser, porque a minha visão se distorce, e além disso estou a tapá-la com a boca. Se me afasto para a admirar, a sua dona começa a exigir não um espetáculo quente, mas um toque quente.
Eis a mulher deitada à nossa frente sem vergonha, normalmente afastando as pernas e dobrando os joelhos. Olhamos para o milagre e o seu poder sobre nós é indiscutível. A mente tenta ser esperta e arrefecer o nosso ardor, murmurando que uma fenda é simplesmente pregas de pele, mas o nosso coração acredita noutra coisa. A fenda é o mistério da vida e da morte. Esta carne cor-de-rosa e úmida, sombreada de pêlos encaracolados, esta visão hipnotizadora de uma vagina, é o rosto de Deus.
A fidelidade a uma vagina é monoteísmo. A devassidão, experimentar muitas fendas, é semelhante ao politeísmo pagão. Será por isso que a Idade Dourada foi durante os tempos do paganismo?
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Qualquer mulher me atrai com a interrogação: «Que tipo de sexo terá ela? Será o seu clitóris grande ou pequeno, que cheiro terá, qual será a forma dos seus lábios? Os pequenos lábios sairão dos grandes ou escondem-se neles? Terá pêlos no períneo?» Tudo isso e muito mais é a alegria do conhecimento, do frêmito e da inspiração do amor.
Uma mulher caminha e eu vejo como os seus lábios se esfregam um no outro, mas o seu berbigão está mais acima para que o caminhar não substitua o foder.
Cristo desconhecia a luxúria porque disse Quem olhar para uma mulher com luxúria já cometeu adultério com ela no seu coração. Se um homem olha para uma mulher, é já com luxúria, por isso eu digo Quem olhar para uma mulher já cometeu adultério com ela no seu coração. E se ele não cometeu adultério é só porque ele queria fodê-la, mas ela não o excitou.
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O que é a beleza? Desde tempos antigos que as pessoas sábias têm disputado a essência da beleza. Quando a minha mulher aparece no baile, todas as cabeças se viram para ela. A beleza é algo reconhecível, mas não definível.
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Para tirar todo o prazer de uma fenda, temos de a foder e vê-la ao mesmo tempo. Para isso preciso de duas mulheres –– uma debaixo de mim e a outra à minha frente. Gozando com uma racha delicio os meus olhos na outra. O meu corpo e a minha alma são percorridos pela admiração –– eis aqui o sol vivo da Fenda. O sol é tão brilhante que o meu corpo não consegue agüentá-lo e treme em convulsões para se salvar. A cegueira completa supera por instantes o desejo.
Subitamente liberto-me do poder absoluto que a fenda possuía momentos antes. Sou atirado para um mundo diferente. Olho para a fenda que ainda está à minha frente e já não me sinto atraído pelos bocados caídos de carne coberta de muco. Sinto-me horrorizado pela mudança abrupta em mim; sinto-me ofendido pela futilidade da minha admiração. Fico deprimido pela minha insensibilidade, olhando para o meu recente ídolo. É incompreensível que um momento apenas separe a grande admiração da grande indiferença.
O pensamento vem logo: como é insignificante o poder da Fenda se desaparece assim sem deixar rasto. Mas a experiência dá lugar a outro pensamento: como é onipotente a Fenda se das ruínas em combustão lenta, em apenas alguns minutos, se transforma num espesso fogo de desejo. E mais uma vez a imagem da Fenda fica instalada num santuário.
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Depois do alívio decepcionante originado pelos espasmos, a fenda perde o poder divino que tem sobre mim e eu calma e sonhadoramente olho para ela como se olha para um fogo no fogão ou para as ondas a rebentar no mar. Então os seus contornos divinos começam a emergir e mais uma vez as ondas me varrem e o meu corpo entra em chamas.
Talvez seja por isso que o fogo me atrai tanto –– a sua voracidade e capacidade de consumir qualquer coisa que se descuide a ficar no seu caminho. Gosto do fogo a uma distância segura. Não tenho coragem suficiente para me afastar das fendas, embora elas me queimem e queimem a minha alma.
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É notável que uma fenda seja valiosa por si e que a sua beleza não esteja dependente do corpo ao qual pertence. Mesmo uma cara e um corpo horrorosos não são capazes de destruir a sua força de atração. Se deitar duas mulheres lado a lado, uma com uma cara bonita e a outra com uma feia, e esconder as suas caras com véus grossos, não obterá menos prazer ao foder a mulher feia do que a bonita. Direi até que se não souber qual é a feia pode até preferi-la em vez da bonita.
A alma esconde-se na vagina e não no coração.
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Uma vez eu ia a seguir uma prostituta. O crepúsculo aproximava-se. Ela ia por uma rua e não me viu. Decidi satisfazer um velho sonho meu e pedi a Deus que a mulher não olhasse para trás. Eu não devia ver a sua cara. Ela virou para uma avenida deserta. Não tinha mais de trinta anos; a sua cintura era fina e as coxas largas. O seu modo de andar indicava que era uma prostituta de boa criação.
Tudo estava a correr bem. Ela entrou nos portões de uma casa. Alcancei-a em vários saltos. O pátio também estava deserto. Havia uma casa para lenha no meio do pátio e as portas estavam abertas. Aproximei-me dela dissimuladamente por detrás e peguei-lhe na cabeça com as mãos de forma a que ela não se voltasse e disse numa voz ameaçadora.
–– Não te vires. Quero foder-te. Serás bem paga, mas não quero ver a tua cara! Anda para a casa da lenha, –– empurrei o seu corpo rígido naquela direção e ela disse.
–– Não seja bruto comigo, –– entramos na casa da lenha. Havia um cheiro doce de madeira podre.
–– Faz o que eu te digo que não lamentarás! –– disse eu conciliatoriamente, e pus uma mão na sua barriga e pressionei-lhe as costas com a outra. Ela inclinou-se obedientemente. Puxei-lhe as saias para cima e o seu corpo estava nu por debaixo. O meu coração começou a bater na minha verga.
Pressionei mais uma vez nas suas costas e ela baixou-se de gatas obedientemente. Afastei-lhe as nádegas e puxei-as para cima. A sua fenda apareceu com os seus lábios abertos. Era uma verdadeira beleza! Na parte de dentro dos lábios aparecia o branco cremoso do seu muco.
Segurando as suas nádegas, pus-me de joelhos e lambi-lhe o berbigão. A mulher ronronou.
Continuando a lambê-la, enfiei-lhe o nariz na fenda. Estava a fodê-la com o meu nariz e senti a sua vagina a ficar molhada. O cheiro era saudável e fantástico, o cheiro que se acumula à noite numa fenda lavada de manhã. Adoro este cheiro e proíbo que as minhas amantes se lavem antes de um encontro comigo. Quando a vi relaxar em doce volúpia, ergui-me da posição de joelhos.
–– Não olhes para trás –– recordei-lhe eu e mergulhei a minha verga na sua racha, que estava a ficar cor-de-rosa de desejo.
O pôr do Sol brilhava através das frestas da parede de madeira e cegava-me os olhos. A mulher esforçou-se e quando eu me vim ela dirigiu-se para mim e suspirou de alívio.
–– Não olhes para trás –– lembrei-lhe eu novamente. Eu estava com muito medo que ela pudesse estragar tudo no último momento. Compus as minhas roupas, pus cinco rublos de prata no seu rabo protuberante e saí rapidamente da casa da lenha. O pátio estava ainda deserto. O meu sonho realizara-se –– tinha fodido uma mulher estranha sem lhe ver a cara. Foi uma pena tê-la assustado. Mas ela podia ter-me obrigado a ver-lhe a cara e há alturas em que não me apetece.
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A fenda é como um diamante sem preço colocado num encaixe esplêndido de uma vizinha
requintada: ânus e uretra. A fenda santifica com a sua bondade o cheiro da merda e da urina e os três cheiros misturam-se num bouquet fragrante. Em todo o lado de um corpo de uma mulher vemos a sua fenda. O cheiro de merda ou urina deixado no bacio de uma mulher faz-me lembrar não merda ou urina, mas a sua racha. A racha espreita de qualquer profundidade do corpo de uma mulher. Os pêlos debaixo dos seus braços fazem-me lembrar os pêlos púbicos. E o pêlo púbico é o estandarte de uma fenda.
Vários anos atrás, Naschokin(39) fez um seguro de vida talvez por ter medo da sua louca Olga(40) ou porque andava à procura de algo novo. Lembrei-me disso agora e comecei a interrogar-me se não deveria eu também fazer um seguro de vida. Este seguro é uma coisa muito altruísta, mas mergulha a mulher no pecado inevitável. A natureza humana é de tal forma que os pensamentos preferem evoluir numa direção pecadora se houver uma oportunidade para isso e não tiver obstáculos no caminho.
Se uma mulher souber que depois da morte do marido ela recebe muito dinheiro, e se o marido adoecer, ela será incapaz de evitar ter pensamentos de consolo com o dinheiro que poderá obter. Será que esses pensamentos fazem aumentar a devoção de uma esposa? Torna-la-ão mais dependente do destino do marido? Não, esses pensamentos arrefecerão a sua ansiedade enquanto ela aguarda pela sua recuperação. E se uma jovem esposa sonhar ver-se livre de um marido velho, provavelmente trata-lo-á com negligência inconsciente. E se for má, leva-lo-á de propósito para a sepultura.
É especialmente imoral fazer um seguro de vida por uma grande quantia, pois quando for recebida tornará rica a esposa enquanto quando ele era vivo só tinham dívidas. Neste caso, a morte do marido muda dramaticamente para melhor o estatuto da mulher e isto significa que um seguro assim a coloca no caminho de uma tentação ainda maior. Parte de si desejará a morte do marido mesmo contra a sua vontade. Acontece que a vida humana é trocada por dinheiro não de acordo com o nosso testamento, mas com o nosso consentimento. Por outras palavras, a morte do seu amado ou meramente respeitado marido abastece-a de dinheiro.
Um marido prepara dinheiro para a sua esposa como um consolo para a sua morte. Para ser coerente, ele também deveria arranjar um substituto para si próprio e compor a vida de forma a que ela não sofresse não só de desejos insatisfeitos como de falta de dinheiro.
Não, não tenho nobreza suficiente para isso.
O dever de um marido é tomar conta da sua mulher, mas a honra da mulher é recusar um cuidado destes.
Na Índia matam a mulher e enterram-na com o marido morto. É fácil imaginar como uma mulher trata o seu marido doente e o acarinha. O medo da própria morte é um excelente incentivo para o amor e a devoção.
A morte do marido não deve trazer benefícios predeterminados à mulher. Fazer um seguro de vida é forçar a existência de um sentimento de paz na nossa esposa quando o pensamento da nossa morte lhe vem à idéia. Ela deveria tremer de horror com tais pensamentos. Só devemos fazer um seguro de vida se a nossa morte significar a ruína financeira para a nossa mulher e filhos.
Mas eu não devo preocupar-me. O czar tomará conta de uma viúva bonita e há muito esperada e não a deixará ficar em desgraça.
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A vida familiar dos meus antepassados foi enegrecida por grandes ciúmes e crueldade. De geração para geração a crueldade diminuiu. O meu bisavô matou a sua mulher, e o meu avô apenas encarcerou a esposa num asilo. O meu pai só se interessava por si próprio e não ligava muito à minha mãe. Eu dou o último passo: confio profundamente na minha mulher apesar das más-línguas. Encerro o círculo começado pelo meu bisavô num contraste completo, e eu, e não a minha mulher, morrerei de morte violenta.
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Falei apenas sobre coisas simples com Kern(41) devido à sua estupidez. Eu só estava interessado no seu corpo fabuloso. Não tenho a culpa de a maioria das mulheres só me conseguirem atrair pelos seus corpos. No entanto, ocasionalmente, encontro uma mulher com sentimentos e mente requintada. É um prazer conversar com uma mulher assim, especialmente depois de uma foda impetuosa. Essas raras mulheres nunca se queixam de eu estar interessado apenas no corpo da mulher, porque vêem que não é verdade. Em segundo lugar, são suficientemente espertas para perceber que uma generalização assim as torna ridículas.
As mulheres tolas não querem admitir para si próprias que a Ratinha é uma criatura independente delas e que os homens são obrigados a conviver com elas porque elas são as proprietárias das fendas. Elas querem, por todos os meios, impingirem-se todas aos homens.
Quanto mais forte for o desejo de um homem, menos capaz será de distinguir a palavra mulher da palavra vagina. A única coisa que abre os seus olhos à existência de algo numa mulher para além da vagina é o desejo satisfeito. É por isso que as mulheres espertas primeiro se dão a um homem –– para libertarem a sua imaginação da sua fenda de forma a que, saciado dela, ele fique capaz de apreciar a sua mente, talento, bondade e todas as qualidades que ela possui.
Kern e outras loucas convencem toda a gente à minha volta que eu considero todas as mulheres o mais baixo de todos os seres. Isso só é verdade quando elas estão debaixo de mim.
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Um beijo é o prelúdio do adultério. Na vida de casados, marido e mulher não se beijam como os amantes, fazem amor imediatamente.
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Quando vejo DAnthès a perseguir N., recordo como eu andava atrás de Kern em casa de Olenin. Será vingança ou inocente coincidência? Talvez nunca venha a saber a verdade.
É tão agradável lembrar-me de Kern –– espasmos que apertavam com tanta força a sua ratinha que por vezes eu tinha dificuldade em tirar. A sua prima Annette(42) também tinha espasmos, mas mais altos, no rosto. Quando se vinha, as suas feições distorciam-se com tais caretas que era horrível olhar para ela. Havia um pensamento que se atravessava sempre na minha mente: e se a cara dela ficasse assim para sempre? Mas tudo acabava por se compor. Gostaria de ouvir o que é que elas tinham conversado quando estavam a escrever-me a carta de amor.
«Depressa não, mas bem,» –– era isto a que Kern e eu chamávamos foder bem. Tenho de cumprimentar Rodzyanko(43), que lhe deu uma educação decente.
Depois de não nos vermos há bastante tempo, ela correu para casa de Delvig, onde eu estava à sua espera. Trazia apenas uma combinação debaixo do casaco de peles. Fazia bastante frio lá fora. Ela disse ao pai que ia ajudar a minha irmã a preparar as coisas para o casamento.
Trancámo-nos, pusemos o casaco de peles no chão e molhamo-lo com os nossos sucos.
Mais tarde o pai elogiou-a na presença de convidados pela sua simpatia para com os outros, narrando a sua aventura nua no frio em nome da amizade com a minha irmã. De forma a não desatar a rir mesmo na cara dele, corri para Kern e escondi o riso num beijo, tentando dar-lhe uma aparência fraternal.
Delvig soube lidar com ela e fê-la sua segunda mulher. A primeira tornou-se a melhor amiga dela. Foi de mais para ele e as duas esposas finalmente exauriram-no até à morte.
Aconteceu no ano do meu casamento, e foi um mau sinal. Eu devia ter esperado e ter casado no ano a seguir. Talvez eu tivesse conseguido ir para o estrangeiro(44) e o meu casamento nunca teria acontecido.
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O casamento trouxe para a minha vida preocupações intermináveis com dinheiro, que aumentam todos os anos com cada novo filho. Isso significa que estou cada vez mais sob o poder de pessoas que odeio. Acima de todos, do czar. Os usurários emprestam-me dinheiro sobre o valor das jóias de N., e o czar empresta-me dinheiro sobre o valor de N. em si.
Ele quer que N. dance à frente dele, de outra forma não consegue ter uma ereção com a esposa. Ele acha que se me der dinheiro por isso será vender a minha mulher, por isso empresta-mo, como se isso me pusesse de consciência mais limpa. Nem pensar! O próximo, depois de despachar DAnthès, serás tu. Entretanto tenho de me submeter. Em breve a minha situação mudará. Sovremennik(45) em breve irá render-me algum dinheiro, embora eu esteja muito relutante em tomar conta disso.
O desejo de me ver livre do poder do dinheiro obriga-me a fazer negócios que eu não gosto e a tornar-me mais dependente do sucesso de uma atividade que me é estranha. Tenho de me transformar num negociante, regatear com Vyazemsky mais cem rublos pela mobília, vender a maldita estátua da Catarina(46) ao matreiro do Myatlev(47). Tenho de tomar conta da gestão das propriedades, que foram tão desesperadamente arruinadas pelo meu pai e gastar um tempo precioso com escrevedores nada dotados que sonham ver os seus nomes impressos.
Tenho de admitir que tudo isto não tem êxito, pois não pode haver êxito em negócios que detestamos. Temos de amar o que fazemos como amamos uma mulher, pois nesse caso até uma coisa sem valor parece importante e o entusiasmo por ela dá felicidade e êxito. O amor dá significado a tudo o que fazemos em seu nome e recompensa-nos com a independência relativamente a tudo o que lhe seja externo.
Devo dizer que sou feliz enquanto as fendas se balouçarem abertas à minha frente e enquanto puder escrever no meu gabinete, na expectativa da ratinha seguinte.
A falta de dinheiro irrita-me, mas é incapaz de me fazer infeliz. Antes disso eu pensava que não havia nada que uma pessoa não possa aprender, e comecei assiduamente a considerar formas de arranjar dinheiro. Depois percebi que é como a poesia, que não pode ser ensinada; uma pessoa tem de ter talento e inspiração. Agora sei que nunca ganharei o dinheiro necessário com a minha literatura e o fracasso espera-me noutras esquinas, pois não tenho talento para ganhar dinheiro.
Não tenho parentes ricos que me deixem uma herança, por isso não vejo nada que me possa consolar no futuro. Um dia o czar perdoar-me-á as minhas dívidas, e terei de concordar, porque a dívida será tão grande que aumentá-la seria igualmente indecente.
*
A minha sogra enviou mil rublos pelo nascimento de Sashka(48). Se N. pudesse parir crianças tão depressa como as gatas, teríamos um ótimo rendimento, mas, de qualquer forma, a generosidade da minha sogra também não duraria muito. Haverá coisa mais humilhante do que pedir a Dmitry(49) que me empreste parte do dinheiro que ele próprio, com a minha ajuda, pediu emprestado a Golitsin(50)? Odeio a usúria, mas ela infiltra-se onde quer que o dinheiro seja feito.
Não consigo, sou incapaz de ser um regateador! A minha cabeça devia estar liberta para a minha escrita, mas o dever de um homem casado é mantê-la cheia de merda. De outra forma, aos olhos das pessoas a Musa e Vênus despojariam um marido de qualquer virtude.
*
Já se passou mais de um ano desde que a pobre Polinka(51) morreu de febre após sete semanas de sofrimento. Deus sabe que eu não quis vir-me dentro dela, mas ela pediu-me tanto que ficasse dentro dela, que de outra forma não conseguiria vir-se. Eu ofereci-me para criar o bebê e prometi tomar conta dos dois. Ela sabia nessa altura que teria de sair da nossa casa, mas ela queria ficar, custasse o que custasse. Uma certa mulher picou-lhe os interiores com uma vara de metal e a hemorragia não parou. Mais tarde, a hemorragia passou a febre. Então que podia eu fazer? Eu não podia ajudá-la. Levei o meu médico ao hospital onde ela estava e ele disse que já não havia qualquer esperança.
Como é doce recordar a sua transformação de uma rapariga envergonhada e calada para uma mênade insaciável depois de eu ter deslizado para dentro da sua fenda! Localizava-se tão abaixo que Polinka tinha de atirar as pernas por cima dos meus ombros. Foi ela que disse Ainda bem que o senhor tem ombros tão largos. E então percebi porque é que as mulheres não gostam de homens com ombros estreitos. Polinka perdeu a cabeça e sussurrava continuamente «Mais, mais, mais...» até revirar os olhos para a testa. Pobre e doce Polinka!
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Há muito tempo, procurei pistolas na loja de Kurakin(52), e de tempos a tempos passo por lá para dar uma vista de olhos na minha morte. Olho para dentro da escuridão da boca da arma onde reside o meu destino e pergunto: «Quando?» As pistolas dentro do estojo fazem-me lembrar dois seis multiplicados. O número reproduz os meus 36 anos em 1836 e 6 de N. que tem 24 (2+4).
É o número do Diabo e estou com medo. Duas pistolas também me fazem lembrar dois amantes a lamberem as suas maravilhosas vergonhas. A proximidade geral de amor e morte diz-me que a morte é tão doce como o amor e que não devo ter medo dela.
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Quanto mais sucesso N. tem em sociedade, mais mulheres da sociedade me solicitam.
Sentem-se lisonjeadas por se submeterem a mim, porque as torna vaidosas verem que as prefiro a uma beldade tão irrepreensível como é a minha mulher. Começam a considerar-se mais bonitas e mais irresistíveis do que na realidade são.
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Idália(53) está apaixonada por mim há muito tempo, e N. e eu rimo-nos dela à socapa. N. já não tem ciúmes dos meus refrescos à parte, e trata-os como uma doença incurável e, quem sabe, talvez fatal.
Uma vez N. reparou nos olhares flamejantes que Idália me lançava, e eu disse a N., meio a brincar, que Idália queria que eu pusesse a minha mão debaixo da saia dela. N. duvidou que eu tivesse autorização para fazer isso. Garanti-lhe que nada podia ser mais fácil e ofereci-lhe testemunhar isso. N. concordou sob a condição de não haver violência e de que Idália não soubesse que N. podia ver tudo. Surgiu-me logo um plano. Pedi a N. para começar a conversar com Idália no baile e ser muito amigável e animadora. Quando os outros convidados saíram ela deveria oferecer a Idália uma boleia na nossa carruagem para continuar a conversa. N.
desempenhou a tarefa notavelmente bem –– entusiasmou-se e ficou excitada. Entramos os três na carruagem. Sentei-me ao lado de Idália e N. em frente de nós. Idália atreveu-se a exprimir surpresa por eu não me ter sentado ao lado da minha mulher.
Respondi-lhe:
–– Aceita isso como um sinal de hospitalidade. A minha mulher está habituada à nossa carruagem e nela não tem medo do escuro. Tu és a convidada e podes ter medo.
Estava tão escuro que mal conseguia distinguir N. e mesmo esse pouco era porque ela tinha um vestido claro. Prosseguimos com uma conversa viva, tagarelando acerca de relações de uma pessoa que todos nós conhecíamos. Entretanto, pus a mão no joelho de Idália. Ela admirou-se, mas continuou a falar como se nada tivesse acontecido. Não sabia se N. tinha visto e fingia que tudo estava como devia ser. Eu também não sabia se a minha mulher de vistas curtas assistia à minha coragem na escuridão, mas queria que ela desse por isso.
Idália pegou na minha mão e começou a afastar o joelho. Tentou fazê-lo sem um grande esforço. Aproveitei-me disso e comecei a levantar-lhe o vestido de lado. Ao mesmo tempo contei uma anedota hilariante de que me lembrei especialmente para esta situação. Eu estava a gesticular com uma mão e a trabalhar arduamente com a outra. Toda a gente se ria com gosto. Eu ria-me particularmente alto e enrolava o corpo todo, o que me deu a oportunidade de abrir caminho por entre as suas pernas. A única coisa que ela podia fazer era apertar os joelhos. Eu já chegara até aos pêlos secretos e penetrava entre as suas pernas com o dedo.
E aqui chegava o momento de que eu gosto particularmente no jogo da luta por uma fenda. É este o momento em que eu avanço a tal ponto que uma mulher decide que continuar a resistir é demasiado cansativo, e em vez de pressionar desesperadamente os seus joelhos, ela relaxa e afasta-os. A minha mão que já lutara contra coxas fechadas, de repente caiu no seu períneo, úmido de suor e desejo. Mas algo imprevisível aconteceu: arranhei-lhe a fenda com a minha unha comprida. Idália gritou e eu retirei a mão. N. tinha de reagir e perguntou preocupada o que tinha acontecido. Idália deve ter pensado que eu a tinha arranhado de propósito e queixou-se a N. de que eu tomara certas liberdades. Eu tive de me desculpar a N., dizendo que, levado pela conversa amigável, pusera a mão no joelho de Idália. Ela bufou, mas não ousou dizer a verdadeira razão para o seu desagrado.
Nesta altura tínhamos chegado a sua casa e eu juntei às palavras de despedida palavras de desculpa com expressões tão sarcásticas que julguei ouvir N. desatar às gargalhadas. Para suavizar a minha insolência, ela correu a dizer adeus a Idália, garantindo-lhe que ela não devia ligar a uma ninharia daquelas e que não tinha ciúmes dela. Esta confissão ainda a enfureceu mais e entrou em casa cheia de raiva.
N. não vira a minha vitória e estava com dúvidas. Levei-lhe o meu dedo ao nariz.
–– Ela não se lava talvez há uma semana –– disse N., reconhecendo malevolamente a minha vitória.
Desde então, o ódio de Idália por mim cresceu dia a dia. De alguma forma Idália decidiu que N. não tinha reparado em nada e continuou a relação com ela. Nas suas costas, usava todas as oportunidades para mostrar pena da pobre N. que tivera a infelicidade de arruinar a sua vida com o feio devasso. Foi ela quem ofereceu o apartamento a DAnthès para ele o usar no seu encontro com N.(54) A própria Idália informou-me do encontro numa carta anônima. Reconheci imediatamente o cheiro do seu perfume no papel. Eu já recebera uma carta com este cheiro. Quanto despeito e ódio sai de uma mulher negligenciada! Se eu a tivesse fodido depois daquele acontecimento em vez de me rir dela, talvez ainda estivesse apaixonada por mim. Nessa altura eu andava ocupado com demasiadas mulheres e, simplesmente, não tinha tempo para Idália. Se ela me tivesse pedido delicadamente, eu não teria recusado, claro, mas ela era tão desastrada com a sua paixão.
Eu deveria saber que não se pode recusar rudemente uma mulher que se oferece. Fodemo-la uma ou duas vezes, mas depois é preciso convencê-la de que estamos a deixá-la contra vontade e não por outra mulher, mas sim devido a circunstâncias misteriosas e fatídicas. Nessa altura terá boas recordações de nós. Mas mais importante ainda, estará pronta para se entregar mais uma vez se aparecermos no seu quarto jurando que estamos a desafiar o destino para aparecer mais uma vez e ajoelhar aos seus pés. As mulheres mais espertas caem nisso. Que posso eu fazer se uma mulher só acredita em nós quando lhe mentimos?
Mas eu não tenho um caráter assim para me comportar com tanta previsão. Eu quero sempre acabar uma relação despreocupadamente e depressa de forma a poder começar uma nova.
Dessa vez arranjei uma inimiga declarada e mereci-o.
*
De repente sinto pena de DAnthès, a quem tenho de matar. Ele é apenas um homem ocioso e estragado que é comandado por um velho sujo e revoltante. Não posso censurar DAnthès pela sua paixão por N., eu invejo-lhe esta paixão, que eu perdi.
*
A doença da minha mãe juntou-nos depois de a vida nos ter dispersado um do outro. A morte próxima uniu-nos outra vez.
A minha mãe enfrentou o envelhecimento de uma forma muito difícil e não conseguiu deixar de sofrer com a perda da beleza da juventude. Sentei-me ao lado dela, que estava deitada, e entreguei-me às recordações. O passado era belo, mas irremediavelmente perdido. Lembrei-me da minha constante avidez de ternura da parte da minha mãe. Eu queria aconchegar-me no colo dela para poder ser beijado e abraçado, mas ela evitava-me. Não me amava; amava Lyovushka(55).
Lembro-me de mim com cerca de três anos a correr para o quarto e a ver a minha mãe deitada na cama. O seu corpo estava nu, e ela estava de barriga para cima com os braços por detrás da cabeça. Estava a olhar para fora da janela. Moveu a cabeça devagar na minha direção, depois voltou a olhar para a janela. Os meus olhos estavam fixos, contra a minha vontade, no cabelo preto ao centro do seu corpo branco. Esta visão queimou-me e corri para fora do quarto.
Mesmo agora ainda tenho esta cena perante os meus olhos.
A minha mãe recuperou a consciência e disseme, sorrindo através das lágrimas: –– Quando finalmente me habituo à velhice, já é altura de morrer –– ela estava a finar-se e eu ainda tive tempo de lhe sussurrar que em breve nos encontraríamos. Ela estava aterrorizada com a morte e eu queria consolá-la com esta convicção profunda que tenho. Os seus olhos brilharam de esperança, como se lhe tivesse prometido a recuperação.
Ela morreu e eu senti que parte de mim morreu com ela. A mãe, que nos dá a vida, leva-a com ela quando morre. A pequena porção de vida restante limita-se a esperar pela oportunidade de acabar para que a alma possa reunir-se à alma da Mãe. A minha mãe protegia-me da morte, e quando ela morreu deixou-me cara a cara com a morte.
Uma vez, quando a minha mãe já não podia levantar-se da cama, encontrei o meu pai a soluçar ao seu lado. Esta visão dolorosa virou a minha alma do avesso. Corri para o meu pai, abraçando os seus ombros e beijando-lhe a cabeça. Toda a minha irritação com ele desapareceu perante o seu desamparo e fraqueza. Facilmente me zango com uma pessoa forte ou com alguém que finge que é forte, mas quando vejo um homem a chorar, a pena que sinto por ele ultrapassa todos os outros sentimentos. Além disso, ele era o meu pai.
Derramei lágrimas por causa do meu azedume empedernido em relação ao meu pai.
Perdoei e esqueci a sua avareza, egoísmo e obstinação.
A minha mãe pôs a mão de fora, o meu pai pegou nela com a sua e eu cobri as duas com a minha. Assim foi restaurada a nossa unidade, que se perdera devido à nossa intolerância, mas principalmente devido à minha. Os três choramos com a aproximação da morte, da solidão e pelo horror do inevitável. Recuperei a minha mãe e o meu pai mas, infelizmente, não por muito tempo.
Só então o mandamento que nos diz para amarmos os nossos pais fez sentido para mim.
Eles são o curso da minha existência, e se eu não os amar, então também é impossível amar-me a mim. Contudo, para estarmos em paz conosco, temos de nos amar. Mas não se pode amar a conseqüência e odiar a causa. Odiar os nossos pais significa odiar a vida para a qual nos trouxeram.
É insuportável vermos os nossos pais velhos e a chorar quando somos impotentes para lhes acalmar o desgosto. A partir de agora, verei sempre os ombros do meu pai sacudidos com soluços, por muito pouco que ele possa estar a sofrer.
Quando levei o caixão da minha mãe para a abadia de Svyatogorsky(56), eu sabia que me estava a levar a mim próprio à sepultura. O sentimento nunca me abandonou nem um só minuto.
Os torrões de terra a caírem no caixão ecoavam como dolorosos batimentos de coração. Olhei para o céu azul e senti que a alma da minha mãe me observava. Sorri para ela e sussurrei: «Em breve te verei.»
Para mim é muito óbvio que as almas dos filhos e dos pais voam juntas para a outra vida.
A minha alma voará para a alma da minha mãe e a sua alma para a da sua mãe e assim por diante até chegar a Adão e Eva. As almas de Adão e Eva transformar-se-ão na bondade de Deus, que contém em si as almas de todas as gerações futuras. Vejo Deus como uma rã, sendo a sua língua a totalidade da história humana. A língua projeta-se por momentos (para apanhar uma mosca?) e aí hesita. Por que fomos enviados para a Terra? Talvez sejam cantáridas?
Não duvido do objetivo da minha vida quando a Musa ou Vênus me visitam. Mas as suas visitas são curtas, e assim que me deixam os meus sofrimentos emocionais envolvem-me e eu não consigo encontrar a resposta para uma questão ainda mais simples: como viver. A minha vida torna-se demasiado complexa e todos os fios dos meus atos se atam em nós e não consigo desatá-los. Mas não consigo viver com eles, por isso tenho de os cortar.
*
Mesmo um homem ciumento não deixa de ter prazer numa amante bonita. No entanto, uma esposa bonita dá uma ansiedade interminável ao marido.
O prazer rapidamente se abranda e possuir uma beldade é apenas uma lisonja à nossa vaidade. Os homens que nos rodeiam deitam saliva e sêmen para provarem a ratinha da nossa própria mulher e seguem-na como os cães fazem às cadelas. Ao marido cabe-lhe o aborrecido dever de proteger a sua mulher de transgressões e guardá-la das tentações, tomando conta da sua honra e do seu nome. Quanto mais bonita for a mulher, mais o marido se torna o palhaço da festa caso ela lhe seja infiel. Quanto mais pessoas olharem para ela, mais homens ansiarão a sua vez.
Não é um preço demasiado alto por possuir uma mulher bonita que já não nos excita?
*
Qual é a diferença entre pensamentos de pecado e um pecado cometido? Os pensamentos chegam-nos contra a nossa vontade, mas pecamos pela nossa vontade. Não sabemos os pensamentos dos outros, e só os podemos descobrir através das suas ações. Muitas vezes escondemos os nossos pensamentos tão profundamente que as nossas consciências são incapazes de os distinguir. Não há dúvida que o pecado começa com o pensamento sobre ele e o único obstáculo no caminho do pensamento ao pecado é a nossa vontade, que é fraca. Quanto mais fortes e claros forem os pensamentos, mais difícil é refrearmo-nos do pecado, especialmente se houver uma vasta oportunidade de o cometer.
O flirt, fazer a corte de forma persistente a uma mulher é levar a que os seus pensamentos sobre o adultério se tornem mais fortes. É um teste constante da sua vontade. Um sedutor experiente sabe que a vontade de uma mulher tem os seus limites e a única coisa que ele assegura dissimuladamente com uma mulher é a sua autorização para continuar a cortejá-la. As mulheres frívolas ou estúpidas concordam com estas pretensões lisonjeadoras, não percebendo ou não querendo perceber que estão a concordar com um cerco às suas fortalezas. A população da fortaleza enfraquece de fome e sede e os portões abrem-se de par em par ao inimigo desejado.
Um marido experiente não deve ficar apático; tem de repelir o sedutor persistente, e é isso que eu estou a fazer. Mas a sociedade cria condições ideais para cortejar livremente, põe maliciosamente em planos iguais os pensamentos de pecado e o pecado em si, simplificando o passo fatal e defendendo que é inútil e impossível resistir aos nossos próprios pensamentos. Os boatos e a bisbilhotice têm um igual poder sobre o fato e eu tenho de me defender da má-lingua com a mesma acrimônia com que o faço das ofensas diretas.
Quando eu era solteiro, adorava a sociedade por essa falta de distinção, mas depois de me casar comecei a odiá-la. Agora tenho sentimentos mistos: utilizo as mulheres dos outros em sociedade, mas não quero que usem a minha.
Quanto a mim, pensar no pecado é igual a cometer pecado. Talvez devido ao poder dos meus pensamentos (por causa da minha natureza poética?) ou devido à minha falta de caráter, começo a pensar numa mulher e a minha mente abandona-me enquanto faço tudo para a possuir.
Respeito a minha mulher acima de tudo pela sua capacidade de resistir aos pensamentos que me confessou que tinha. Em particular, respeito-a por resistir aos pensamentos que ela não teve a coragem de me confessar ou que foi suficientemente esperta para não me confessar.
Mas mesmo os pensamentos me são insuportáveis quando dizem respeito a N. Dúvidas acerca de N. causadas por dúvidas acerca de mim perpassam pela minha confiança. Ela não será como eu? Estou sempre a perguntar a mim próprio. Quando respondo Sim, ela é diferente, a paz desce sobre mim e segue-se a inspiração. Mas recentemente a resposta terrível vem mais vezes e eu enlouqueço. «Não! Não te pareças comigo, minha N.! Sê diferente, sê forte e fiel! Tem pena de mim!» A paixão está a matar-me e sinto que não me resta muito tempo.
N. confessou-me o que viu em sonhos. Os pensamentos que nós não agüentamos confessar a nós mesmos na realidade aparecem em sonhos. Quer isto dizer que não tenho razões para ter ciúmes? Se ela se lembra do seu sonho, isso quer dizer que foi transferido para a realidade; torna-se um pensamento mais perigoso porque o desejo vive não só na realidade, mas também nos sonhos. Deseja-se aquilo com que se sonhou.
*
Aconteceu que o czar não passou por debaixo das nossas janelas numa carruagem em vão.
Por estar bêbada, N. confessou-me que quando eu estava fora de Sampetersburgo ela se encontrava com ele em privado. Ela dava-lhe um sinal quando eu partia abrindo a persiana esquerda. Ela começou a tagarelar quando eu lhe pedi que me masturbasse em vez de fodermos, para variar.
–– Oh, meu Nicolau! –– riu-se ela, e deu imediatamente pelo lapso.
–– Qual Nicolau? –– gritei eu. Ela ficou imediatamente sóbria e o sangue subiu-lhe ao rosto e ao pescoço. Começou a jurar que me tinha sido fiel e confessou que ele a obrigara a masturbá-lo prometendo não lhe voltar a pedir mais. Segundo ele, não estava a ser infiel à sua mulher e convenceu N. de que só por masturbá-lo ela também não estava a ser infiel.
Eu queria correr para o palácio, mas N. pendurou-se em mim e, suplicando e soluçando, não me deixou ir. Decidi pagar todas as minhas dívidas ao tesouro sem demora. Mas o czar humilhou-me novamente, preferindo manter-me com as dívidas e resguardando a sua opção de me ofender perdoando-me as dívidas se assim decidir.
Compareci perante o czar no dia seguinte e disse que sabia de tudo e que decidira desafiar DAnthès e que ele deveria usar esta oportunidade para me matar, senão eu...
Olhei diretamente para os seus olhos. Depois percebi que ele não irá tentar impedir o duelo. Se eu matar DAnthès, será ele o próximo. Saí a correr do palácio, com medo de fazer algo estúpido. Salva-me, Deus, do regicídio. Mata-me.
*
Não é um milagre que uma mulher que me é completamente estranha possa estar tão perto de mim por ter uma fenda? Uma rapariga bashkir que eu encontrei durante a minha viagem mal conseguia pronunciar palavras simples num russo entrecortado, mas percebeu-me com um simples olhar, e eu percebia a ela. Dei-lhe um toque e ela veio ter comigo de noite às estepes.
Como nós nos entendemos bem!
O amor, como a morte, torna iguais o escravo e o senhor e apaga todas as diferenças entre as pessoas. Sim, a sua fenda localiza-se no mesmo sítio que a de uma mulher russa e tem o mesmo cheiro característico. Verga e fenda, como o ouro, permitem-nos entrar em qualquer país e viver ricamente sem conhecimento da língua ou dos costumes locais. Num país estrangeiro sentimo-nos como estranhos entre os homens, porque é preciso saber a sua língua de forma a podermos comunicar. Em qualquer nação, gostaria de encontrar o país das Amazonas.
O pai da rapariga bashkir começou a chamar por ela, e ela deslizou por debaixo de mim e correu para a escuridão. Já estava mesmo na altura, porque eu estava a pensar mandá-la embora.
No entanto, não consegui recordar o seu nome.
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Há segredos da alma que uma pessoa leva consigo para a sepultura. Mas a vida familiar consiste nos segredos de duas almas, o que quer dizer que é mais difícil de manter em segredo.
Não há vida familiar sem segredos, mas depois de a vida acabar o secreto acabará também.
*
Como é habitual quando escrevo no meu gabinete, vêm à minha imaginação visões de fendas que saboreei. As visões são tão claras que parece que sinto o sabor de cada uma delas. O meu corpo é uma chama de desejo, e N. entra. Normalmente o meu desejo desaparece.
N. pergunta-me qualquer coisa, eu respondo, e ela sai. Não me forço a possuí-la. As minhas fantasias acendem-se novamente, sinto o seu prazer incendiar-me e masturbo-me com os olhos fechados.
*
A luxúria num homem vem, por assim dizer, de dentro. Não há necessidade de uma racha para a luxúria aparecer na infância –– simplesmente descobri que tinha uma verga e quando lhe toquei senti um prazer incomparável, e se lhe tocasse mais um bocado, dava-me doces espasmos.
Depois a beleza convidativa da fenda foi-me revelada, a alegria babada da minha verga e o milagre da cópula, que acontece segundo o ditado, duas cabeças é melhor que uma, mas isto também se aplica a corpos.
Se casarem com a primeira fenda, ela poderá tornar-se um abrigo fiável e não vos permitir a descoberta seguinte de que três corpos são melhor que um. Se viverem afastados de outras famílias e de outras mulheres diferentes, se o vosso estilo de vida fizer com que a vossa primeira fenda seja a última, então o enfraquecimento da luxúria com o hábito não vos surpreenderá, ou entristecerá à medida que os anos passarem. Estes marcos da vida passarão despercebidos porque a vossa vida ficará saciada com uma ratinha e não terá encontrado uma forma de manter a luxúria ao seu nível mais alto mudando de fendas. Pensam que aprenderam a enganar o tempo não deixando que os vossos sentimentos envelheçam, pois cada nova fenda vos transforma novamente num jovem. Mas esta mágica não é dada gratuitamente. A vida familiar rapidamente tira a um homem assim a juventude dos seus desejos, que ele conseguiu salvar quando era solteiro. Ele que foi estragado por uma grande variedade de comida requintada tem de se contentar com um prato delicioso, mas invariável, servido à noite.
Felizmente, fazer amor não é comida, e pode sobreviver-se durante muitos dias sem ele e não morrer de fome. Várias semanas depois do meu casamento revivi a luxúria, não com uma variedade de vaginas, mas simplesmente abstendo-me várias noites da vagina única. Por outras palavras, a minha luxúria desvanecente podia florir numa noite com uma nova fenda ou em três noites com a fenda de N.
A lenta recuperação da luxúria pela fenda legítima enfraquece não só em capacidade, mas também no seu colorido, que nunca mais volta a brilhar totalmente.
Quanto maior for o número de mulheres com que gozaram enquanto solteiros, maior o sacrifício que vos é exigido depois do casamento. Significa que é preciso amarem bastante a vossa mulher para que este sacrifício não seja um fardo. Este sacrifício é o castigo por se foder ilegalmente. Eu pensei que podia evitar o castigo tendo amantes. Mas então a vida familiar, que se baseia no respeito mútuo de marido e mulher, quebra-se inevitavelmente em pedaços.
Em vez de levar N. para Mikhaylovskoye(57) demorei a minha partida de Sampetersburgo para estar mais perto de bordéis e da sociedade. Utilizei alegremente a resistência letárgica de N. como desculpa. Em resultado, ela perdeu todo o respeito por mim, bem como o interesse, e mantém-se fiel a mim por causa da sua dignidade.
*
Da primeira vez que vi a Fenda, senti não tanto uma fome de a penetrar, como de a adorar. Antes de a penetrar com a minha verga, fui empurrado por uma força desconhecida para a beijar, e a minha recompensa por isto foi conhecer-lhe o sabor e o aroma. Desde então tenho desenvolvido um ritual: beijo cada fenda nova primeiro. Muitas vezes o beijo dura até ela se vir.
Nunca tive qualquer desejo de falar grosseiramente ou com desdém da fenda, e fiquei surpreendido quando estava no Liceue ouvi palavras desrespeitosas e de menosprezo sobre ela.
Muitos hussardos falavam da aversão que tinham pelo seu cheiro. Eu defendia-a apaixonadamente, e toda a gente previu um grande futuro para mim não só poético. Para mim, qualquer fenda era e é uma coisa sagrada, quer pertença a uma senhora ou a uma prostituta barata.
Além de me impelir à luxúria e à adoração, a fenda emociona-me de uma forma de certo modo semelhante à que sinto ao olhar para um bebê, um gatinho ou um cachorrinho. Penso que a razão pela qual as crianças nos enternecem é devido à sua recente permanência numa ratinha. Ela atira magia para tudo o que nela esteve. Como eu invejo a minha verga, que tem a sorte de entrar no coração da Fenda. Oh, se eu pudesse penetrar nas suas profundidades com a minha língua, com o meu nariz, com os meus olhos!
*
Não consigo ser fiel à minha mulher, mas aquilo que eu mais valorizo é a fidelidade nas mulheres de outros homens e exijo-a inflexivelmente da minha. Até lhe dei um exemplo em Tatiana(58). E N. faz o melhor que pode. Quem é que diz que ela não gosta da minha poesia?
Tenho o mesmo respeito pela fortaleza de caráter, que eu não tenho, mas admiro nos outros. A fraqueza do meu caráter não me preocupou enquanto eu era solteiro, embora eu a admitisse para mim próprio. Geria o meu tempo, dinheiro e desejos. Podia estar deitado na cama o dia todo, perder o meu rendimento anual a jogar às cartas numa noite, e foder uma rapariga bonita ao amanhecer, apesar da suspeita de que ela estaria doente. Várias semanas de tratamento não me dissuadiam se uma mulher fosse realmente bonita e se o desejo fosse verdadeiramente forte.
Se por uma noite com Cleópatra os homens davam as suas vidas, então no nosso tempo temos de sacrificar algumas conveniências se queremos possuir a beleza.
Agora, com o fardo da minha família, não tenho tempo, pois preciso de a sustentar (a maior parte das vezes pedindo dinheiro emprestado) e esconder e conter os meus desejos. Deixei de resistir aos meus desejos completamente, e agora, por causa disso, a minha vida está cheia de mentiras e desonestidade. Tenho de esconder as minhas paixões da sociedade, porque aquilo que me era perdoado enquanto solteiro não me será perdoado enquanto homem casado, e a honra da família sofre. Recentemente preocupo-me mais com a honra da minha família do que com a família em si. Parece que ao proteger a minha honra estou a proteger a minha família da desintegração total. Tenho de admitir, no entanto, que os meus desejos não contidos nos arruinarão. Tento escondê-los de toda a gente, calando a boca a quem quer que ouse dizer algo repreensível. Quanto tempo mais conseguirei agüentar-me assim?
*
A impaciência é o meu flagelo. Se o desejo se acende em mim por uma certa mulher, quero possuí-la nesse mesmo instante. Não consigo comportar-me decentemente, e, graças a Deus, a maior parte das mulheres gostam disso. Só consigo fazer a corte durante um período de tempo indeterminado àquelas que me são indiferentes.
Se uma mulher me rejeita, fico zangado com ela. Fico com um humor sinistro e só outra mulher me consegue arrancar daí, felizmente sem um esforço muito grande.
*
Lembro-me dos prazeres mais fortes, e a minha memória apresenta-me não os meus próprios prazeres, mas os prazeres das minhas mulheres –– os seus prazeres tornam-se meus.
Há uma lembrança em especial que aparece freqüentemente em frente dos meus olhos: Am. sentada na ponta da minha língua. O seu berbigão tinha cerca de um vershok(59) de comprimento. Assim que lhe toquei ou o meti na boca, ela perdeu completamente a cabeça de prazer. Estava de joelhos por cima de mim e eu chupava-lhe o berbigão na minha boca e brincava com a língua. Ao mesmo tempo, arranhava-lhe ternamente os mamilos com as minhas unhas e segurava-a com a palma das mãos, porque ao lutar para se vir, Am. encostava o seu púbis com força à minha boca de forma que o meu lábio superior, pressionado contra os meus dentes, adormeceu. Mas eu nem sequer pensei parar, porque desonraria a mulher. Eu estava a adorar as muitas transformações no seu rosto. Ondas de prazer rolavam por ela, cada uma mais forte que a última. As veias no seu pescoço esticavam-se devido ao esforço por alcançar (nos velhos tempos) a fruta proibida.
A sua cabeça caiu para o lado, a boca abrindo-se em agonia, e de repente um fio de saliva escorregou do canto da sua boca e, prolongando-se numa longa corda, molhou-me a testa. Neste momento Am. abriu os olhos, viu por momentos as portas do paraíso completamente abertas e murmurou um gemido de admiração. A partir desse momento a saliva fluiu pela boca aberta, e o fato de ela nem sequer notar tornou-se uma das minhas recordações mais empolgantes.
Se N. soubesse que muitos dos meus repentes de paixão eram provocados não pelo seu corpo, mas por esta recordação, ainda arrefeceria mais depressa em relação a mim.
É uma pena imaginar outras mulheres em vez da nossa esposa para a fazer vir e virmo-nos nós. Uma nova amante afeta-me positivamente: fico tão excitado por uma fenda nova e lubrificada que lhe sou fiel até em pensamentos. Não importa que esta fidelidade não dure muito. Posso conseguir uma nova fidelidade –– a uma nova fenda.
Tornou-se um hábito meu imaginar uma vagina do meu passado depois de N. se vir e depois vir-me eu rapidamente. Sem isso, a indiferença grosseira da ratinha da minha mulher, que a torna num atol onde apenas me afundo, não aumenta em nada o meu desejo. Tenho a certeza que N. pensa em DAnthès para se vir mais depressa, embora ela nunca me tenha dito diretamente.
Uma vez eu contei-lhe uma das minhas fantasias e ela respondeu com uma voz sonhadora: –– É tão bom, Puchkine, eu não conseguir ler os teus pensamentos e tu não conseguires ler os meus!
Como marido, senti a minha incapacidade para impedir o adultério mental da minha mulher. Se não consigo fazer com que ela me ame, quero obter pelo menos o poder de a controlar com a ajuda do hipnotismo e induzir nela os sentimentos que eu quero que tenha. Também aqui preciso de uma força interna e de uma concentração que eu nunca tive.
*
Dali a pouco encontrei DAnthès e mais uma vez no mesmo local. Ganhara bastante dinheiro nessa noite, estava ligeiramente embriagado e de muito bom humor. Estava sentado na sala de visitas com as raparigas, a decidir qual escolher. DAnthès entrou, reparou em mim e veio na minha direção com um amplo sorriso no rosto. Lembro-me de pensar, triunfante, que os meus dentes eram mais brancos que os dele. Retribuí-lhe o sorriso e apertei a mão que ele me estendia.
Naquela altura, ele começava a fazer a corte a N. e vi nisso algo mais normal que criticável.
–– Todos os caminhos vão dar às rachas –– disse ele ––, ultimamente não temos tido oportunidade de conversar e fico muito contente por Deus, ou melhor, o Diabo, nos ter dado mais uma vez essa hipótese.
–– Bem-vindo –– disse eu, mostrando as coxas de Tanya, que estava sentada no meu colo.
–– Boa idéia –– rejubilou ele, e sentou-se conosco no sofá. –– Caramba! Não há conhecimento mais agradável para os homens do que através da mesma mulher.
Nesse momento amaldiçoei o meu estatuto de casado, porque ouvi imediatamente nesta piada uma afronta à minha mulher. Mas eu estava com um humor calmo e Tanya estava nos meus joelhos, por isso deixei passar o comentário. Ela não percebia francês, mas percebia perfeitamente a linguagem do amor. Ela estava inquieta, sentindo a dureza da minha verga e ao mesmo tempo batendo pestanas a DAnthès. Ele pôs a mão na sua coxa e eu fiquei inflamado de ciúmes. Tive vergonha por ter ciúmes de uma prostituta, especialmente indo ele pagá-la. Se fosse eu a pagar ele não se atreveria a tocar-lhe, porque ela seria propriedade minha.
Retirei a mão de DAnthès da coxa dela e disse: –– Eu não como sopas, nem sob a forma de putas!
–– Devia saber melhor –– respondeu ele com um sorriso e foi para o outro lado da sala. Se Tanya não tivesse agarrado na minha verga naquele momento, eu ter-lhe-ia batido na cara por aquele ambíguo saber melhor, mas os seus dedos habilidosos conduziram os meus pensamentos para um canal diferente.
No dia seguinte, N. recebeu uma nota sem assinatura, na qual era avisada das minhas visitas a uma certa casa.
Ela mostrou-me a nota, a sorrir, mas tinha os olhos visivelmente vesgos, como acontece quando está furiosa. Nessa altura, já tínhamos concordado nas minhas visitas a prostitutas. Eu não partilhei com ela a minha suspeita sobre quem era o autor desta nota. Mais tarde, quando DAnthès perseguiu N., eu disse-lhe quem escrevera a nota, esperando que o fato de saber que DAnthès visitava bordéis a virasse contra ele, como aconteceu comigo. Mas nada consegue afastá-la dele.
Vejo como ela treme quando o vê, e admiro a sua força de caráter ao escolher o dever e rejeitar a paixão. Mas com a impetuosidade que ele tem, ela não vai ser capaz de agüentar para sempre, por isso tenho de a ajudar. Como é amargo para mim escrever sobre isso! Interrogo-me se não me estarei a repetir, lembro-me que já escrevi sobre isto, mas não arranjo tempo para reler este diário e fazer correções.
*
Se Deus não nos tivesse dado filhos nada nos manteria juntos senão o hábito, que seria mais um fardo para N. do que para mim. Ela está apaixonada e é amada e nestes casos é muito fácil ultrapassar um hábito.
Quando estamos sozinhos não temos nada para falar, exceto das nossas dívidas e dos nossos filhos.
Não temos interesses comuns; ela perdeu-me o respeito e não tem consideração por mim – para ela sou apenas um garanhão vulgar ––, o desejo de um pelo outro já quase desapareceu.
Ainda me resta alguma vaidade pelo fato de possuir a sua beleza, mas não compensa nada as adversidades que caíram em cima de mim. A sua irritação por causa da minha fealdade é crescente. Se não tivéssemos filhos, eu usaria isso como uma desculpa para a deixar.
*
Quando fodemos uma nova mulher, vimo-nos por causa da paixão. Quando fodemos uma esposa, vimo-nos por causa da fricção. A paixão é luxúria idolatrada pelo frêmito. O frêmito no casamento é reduzido a cinzas, e o que resta é uma luxúria insignificante, uma contribuição inevitável à fisiologia.
Só depois do meu casamento é que eu percebi até que ponto a paixão é espiritual. A alma pede o frêmito, que só se obtém através da novidade. Lutar pela novidade é o mesmo que lutar pelo conhecimento, acerca do qual Deus nos advertiu. Se o conhecimento é pecaminoso, então tudo o que é novo é pecaminoso. É por isso que a força dos laços familiares se baseia na tradição e no costume antigo. A intrusão da novidade, do novo conhecimento no casamento, só o destrói.
Cada adultério é uma renovação do pecado de conhecimento.
No casamento, a espiritualidade do frêmito pela nossa mulher não desaparece, transforma-se em filhos, transforma-se na alma da criança. Talvez seja por isso que a Igreja Católica, embora ciente de que o frêmito desaparece no casamento, considera a cópula pecaminosa se não tiver o objetivo de engravidar. Esta proibição prolonga a vida da paixão, porque o período de continência é tão longo que, quando os esposos caem avidamente nos braços um do outro para conceber um novo bebê, o tédio é esquecido e o frêmito revive. Dali a um mês ou dois, o frêmito desaparece outra vez e é substituído pelo hábito, mas nesta altura a mulher está outra vez grávida e a cópula tem de parar, de acordo com a proibição.
*
Houve uma prova da infidelidade de N. numa das últimas cartas anônimas. A princípio parecia irrefutável. Era referida a marca de nascença no lado de dentro da sua coxa direita. Só é possível vê-la quando ela abre as pernas. Corri para N. de punho erguido. Ela gritou e jurou que me era fiel. Aza entrou no quarto a correr e segurou-me o braço, que estava erguido para bater.
–– Aqui, olha! –– gritei e atirei-lhe a carta. N. estava deitada no chão e soluçava. Aza, a minha menina querida e inteligente, deu uma vista de olhos à carta e exclamou: –– Koko contou-lhe que ela tinha uma marca de nascença!
N. ergueu a cabeça e disse a chorar: –– Pois, foi ela! Quando eu era pequena e começava a ir ao bacio, Koko costumava apontar com o dedo para a marca e dizer que era um bocadinho de merda que eu tinha agarrado.
Desatamos todos a rir e eu pedi desculpa a N.
*
Um jovem marido sente paixão por uma mulher estranha e entra em pânico: «Que horror!
Deixei de gostar da minha mulher!» E o que é mais estúpido, anuncia isso à própria mulher.
Abandona nobremente o leito nupcial e fode a nova fenda algures, dia e noite. Depois compreende que está muito mais farto da amante do que da esposa e que na realidade nunca deixou de a amar. Volta para ela, que depois de se mostrar obstinada durante algum tempo o aceita de novo nos seus braços macios.
Quando é tentado por uma nova fenda outra vez, lembra-se que a paixão em relação a outras mulheres não faz diminuir o amor pela sua esposa. Pelo contrário, a tentação faz aumentar o seu amor, e não tem necessidade nenhuma de contar isso à mulher. A inexperiência identifica o amor com a paixão. Um homem maduro, contudo, sabe que o amor perdura e a paixão morre. A essência do amor não é designada por paixão, que reside apenas na sua superfície. O triunfo do amor está na sua resistência à paixão pela mulher que se deseja. A glória do amor é a sua resignação à morte da paixão para bem da fidelidade. O amor na sua evolução é casto, pois excomunga a paixão de si.
Eu tive inteligência suficiente para pensar nisso, mas não tive personalidade suficiente para resistir à tentação de uma nova vida. Com efeito, uma nova mulher é uma nova Eva, uma nova vida. De cada vez que uma vagina desconhecida se abre à minha frente, uma nova vida aparece perante os meus olhos, uma vida cheia de aventura e sensações excitantes. A duração desta nova vida pode ser cinco minutos ou pode ser um mês, mas todas têm as marcas da vida: nascimento, juventude, maturidade, velhice e morte. O nascimento acontece não da vagina para fora, mas para dentro dela, e nela reproduzo a vida no útero que vivi anteriormente ao meu nascimento. As nossas convulsões sexuais são como as contrações do parto, mas para a paixão é o nascimento da morte. Assim, mergulhar na ratinha é nascimento e sair dela é morte. É essa a vida da paixão. Mas há mais. Há uma concepção de paixão que tem lugar no seio do coração quando os olhares se trocam, e há um reviver da paixão da morte. E tudo isso é um grande mistério.
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Se decidirmos ser fiéis às nossas mulheres, a coisa mais difícil de aceitar é que nunca (o horror toma conta de mim por causa desta palavra), nunca mais sentirei frêmito em frente de uma nova ratinha. Há ‘nuncas’ que não podemos alterar e temos de aceitá-los: o nunca da juventude, nunca da beleza. Mas um juramento de fidelidade é feito por vontade própria.
É fácil para um jovem inocente permanecer fiel, porque fazer amor para ele não existiu antes, e é a sua recompensa pela fidelidade. Quanto a mim, eu sabia que havia rachas disponíveis por dinheiro, por luxúria e não apenas por fidelidade. A minha forma de vida mudou tão rapidamente que me senti como peixe fora de água, que por momentos sente uma sensação nova e agradável –– o calor do Sol –– e depois começa a asfixiar.
O casamento transformou-se num monstro que me tentava com a disponibilidade e legitimidade de uma ratinha e depois matou o meu frêmito por ela com o hábito e não me permitia revivê-lo com outras fendas, utilizando o meu juramento de fidelidade. Cortei uma cabeça do monstro. Ainda restam duas: a fidelidade da minha mulher e os meus filhos.
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Nem sempre ousei avançar para o destino que estava previsto para mim. Agora também não iria, mas a honra obriga-me. Confesso que no baile fugi de um oficial de cabelo loiro porque ele olhava para mim com a sua cara estanhada. Lembro-me de como evitei o louro Muravyov.(60) Agora fingiria se eu fosse solteiro.
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Heckern(61) veio ter comigo no baile e entregou-me uma nota, dizendo que era extremamente importante. Decidi ver até que ponto ele estava pronto para ser humilhado de forma a arrumar o caso. Foi-me fácil, porque eu estava preparado a ir até ao fim em quaisquer circunstâncias. Deixei cair a nota, como que por engano, quando peguei nela. Ao ver que eu não fiz qualquer esforço para a apanhar, Heckern dobrou-se, resmungando, e apanhou-a entregando-me novamente.
–– Está a desperdiçar o seu esforço, barão –– disse eu, e atirei-a para o chão.
–– Vou humilhá-lo ainda mais.
Vi que lhe era muito difícil não explodir e atacar-me. Ri-me na cara dele, virei-me e saí.
Agora estou a sofrer de curiosidade. O que é que estava escrito na nota?
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O poder de hipnotismo é inerente não só aos olhos, mas também à ratinha. Primeiro, não consigo tirar os olhos dela. Depois cumpro a sua ordem de a foder e a seguir põe-me a dormir. A sério, a minha paixão pelo hipnotismo não funcionou. N. não se submeteu às minhas experiências.
Turchaninova(62) ensinou-me alguns métodos de hipnotismo, e eu queria, com a sua ajuda, trazer à luz as paixões escondidas de N. e descobrir os seus pensamentos. Mas ela não se quis concentrar; deu risinhos e por fim eu perdi a paciência. A minha verga hipnotiza melhor do que eu.
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Aconteceu com N. a mesma coisa que a Lizanka, que levei para Mikhaylovskoye(63) comigo. N. não saberia o que fazer sozinha; andaria de um lado para o outro a aborrecer-se e eu escreveria sem qualquer vontade de a entreter. É por isso que tenho medo de levar N. para o campo.
Para mim, ausentar-me da sociedade é estar longe da fonte onde acumulo mulheres bonitas. Além de possuírem sexos, estas beldades possuem uma aura espetacular que está ausente nas mulheres simples.
Quando vi Durova(64) pela primeira vez, fiquei imediatamente convencido que ela era hermafrodita. Se ela não fosse tão velha, seduzi-la-ia –– tenho imensa curiosidade em ver o que ela tem entre as pernas. Durova fala de si no gênero masculino. Estava a viver num quarto pobre no Hotel Demut, e eu ofereci-lhe o meu apartamento porque nessa altura estávamos a viver na casa de campo. Imaginei como eu apareceria repentinamente e a convenceria a despir-se ou a ir à casa de banho comigo. A adoração que tinha por mim era tão óbvia que não teria problema em persuadi-la. Mas ela não se mudou e foi melhor assim.
No fim da visita que lhe fiz, decidi beijar-lhe a mão. Durova corou até à raiz do cabelo. Eu sentime como se fosse DAnthès, beijando a mão de uma mulher que se considera um homem e se apresenta a si própria como Alexander Andreievich.
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Em qualquer um de nós há bastante bem e mal. A felicidade familiar, o respeito e o amor de uma esposa liberta sentimentos bons e contém os maus. Se o amor desaparecer, se o respeito desaparecer, então a merda começa a sair por todos os poros.
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O ardor, a impaciência, o frêmito –– é isso que me convence que ainda estou vivo.
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Por vezes, surge-me o pensamento: E se N. morrer de febre puerperal? No meio do horror deste pensamento, imagino calmamente um alívio instantâneo de toda a confusão. Eu daria os meus filhos a Aza para que tomasse conta deles, o czar perdoar-me-ia as minhas dívidas e abasteceria os filhos de N. de bastante dinheiro. Não, não é um sonho a quente, é um pensamento frio e por isso posso facilmente livrar-me dele. Nem sequer me censuro. Já há muito tempo que deixei de me assustar com os pensamentos sacrílegos que saltam na minha cabeça.
Assim, também imagino facilmente N. no caso de eu morrer no duelo. Depois de chorar inconsolavelmente durante uma semana ou duas, recuperará mais tarde o equilíbrio e começará a sorrir para a vida, que continua. E finalmente, pela primeira vez a seguir à minha morte (daí a um mês, três?), dará consigo a brincar com o seu clitóris. Consolar-se-á dizendo que no luto não é pecado, porque está a pensar em mim e não em DAnthès, como fazia quando eu era vivo. Daqui a dois anos ou assim casará com alguém, e eu, posto de lado pelo tempo, não serei capaz de entrar nos seus pensamentos nas horas de paixão que lhe serão dadas pelo novo marido. Mas quando, pela primeira vez, ela sentir a sua verga, involuntariamente compara-la-á com a minha. Deus me ajude, a comparação será a meu favor, pois a memória da fenda não é menos importante para mim do que a memória do coração.
Na nossa primeira noite juntos tive uma discussão com N. e foi mais um mau presságio.
Embora eu tivesse tomado precauções, N. lançava gritos de dor e ao ver sangue ficou assustada e apertou-se, mas a mim pareceu-me que ela estava a mentir de forma a não me deixar aproximar dela outra vez. Uma vez era apenas o princípio, e eu não conseguia impedir-me de entrar nela outra vez. N. pressionou os joelhos um no outro e começou a gemer que tinha dores. Eu acalmei-a, dizendo que já não iria doer mais, mas ela era teimosa e continuava a afastar-se de mim. Deixei-a ficar de barriga para baixo, e ela descontraiu-se, pensando que naquela posição a sua ratinha me ficava inacessível. Comecei a dar-lhe palmadinhas nas nádegas, afastando-as por acaso. Havia sangue entre as suas pernas e eu lambi-o avidamente. Ela perguntou-me o que estava eu a fazer, como se sentir não fosse suficiente para ela perceber. Não obtendo qualquer resposta minha, escondeu o rosto na almofada. Entretanto, eu apontei, molhei a minha verga com saliva e enfiei-lho na vagina de um só golpe. N. gritou «Está a doer!» e tentou virar-se de barriga para cima. Não foi suficientemente forte para derrotar o meu desejo, pois nem eu o conseguia fazer.
–– Agüenta um bocadinho, minha linda –– sussurrei eu na sua orelha a escaldar, tentando não me mexer com rudeza. As lágrimas corriam-lhe pelos olhos, e eu vim-me.
–– Também te está a doer? – perguntou a minha esposa com simpatia, ao sentir as minhas convulsões. Foi difícil para mim convencê-la que os movimentos que lhe davam dores me provocavam prazer. Mas quando eu a quis outra vez, não deixou que eu a agarrasse por lado nenhum. Eu queria sentar-me nela e ela defendeu-se dobrando os joelhos, e ao fazer isso deu-me um pontapé nos tomates. Eu fiquei enlouquecido e decidi dar-lhe uma lição.
Bem cedo de manhã, saí do apartamento e passei o dia todo com os meus amigos, deixando N. sozinha, para que da próxima vez ela pensasse duas vezes antes de rejeitar o marido.
À noite encontrei-a lavada em lágrimas, assustada e obediente. Tinha a certeza de que eu a deixara para sempre, e estava tão feliz por me ver novamente que se me entregou sem um murmúrio, garantindo-me que já não era doloroso.
*
Em toda a minha vida não encontrei forças para matar um homem. Em todos os meus duelos deixei que os meus adversários disparassem primeiro e então ou recusava os meus tiros ou atirava para o céu. Acreditava que Deus me guardava e confiava-lhe a minha vida. As balas não me acertavam.
Se fosse possível combinar um duelo imediatamente a seguir ao desafio, então tudo seria diferente. Mas assim, na altura do duelo a minha raiva já tinha passado e a luta parecia não uma vingança, mas apenas uma brincadeira arriscada. Embora eu percebesse intelectualmente que é preciso matar o inimigo senão ele mata-nos, o meu coração não me deixava prosseguir com a morte. Há sempre ardor numa batalha de guerra –– deixamo-nos entusiasmar pelo movimento repentino e matamos no calor do momento. Um duelo é um ato frio e artificial, com regras e condições que irritam a mente, mas não os sentimentos. Matar num duelo é insuportavelmente a sangue-frio. A minha magnanimidade e sentido de perdão são mais doces do que matar segundo as regras.
Quando vejo fumo a sair da pistola do meu adversário e ao saber que a bala passou, a alegria da vida apodera-se totalmente de mim e, feliz, partilho esta alegria com o meu antigo adversário, negligenciando o meu tiro. Se a bala realmente me tivesse atingido, então tenho a certeza de que o meu ódio se incendiaria novamente e eu apontaria, usando toda a minha força, atirando ao meu inimigo.
No momento de um duelo parecem-me já insignificantes as razões que o provocaram, e só o medo da desonra é que me força a levar a questão até ao fim. Mas o êxtase da vida que se segue a um duelo costumava ser tão forte que em períodos de depressão pensava num duelo como um remédio bom para tomar. Isso costumava acontecer quando me sentia ofendido no tempo em que andava de tristes humores, e um duelo servia de escape sem derramamento de sangue.
Eu invejava os meus adversários por terem a força necessária para me matarem. O único desejo que tinha quando aparecia no duelo era um desejo de acabar com aquilo o mais depressa possível. Agora tenho medo que isto falhe. Ninguém interferiu tanto na minha vida como DAnthès.
Agora é impossível pensar em reconciliação. Um de nós tem de morrer. Desta vez não me vou submeter ao meu duelo placidamente e deixar que a minha raiva arrefeça. Felizmente, DAnthès faz tudo para que isso não aconteça, e torna-me as coisas mais fáceis.
Se ao menos eu já tivesse atirado em alguém antes, sentir-me-ia muito mais confiante. Ao mesmo tempo, sei que se matar um homem a minha vida não será a mesma. Terei ganho a capacidade de matar a sangue-frio. A primeira vez que percebi isso estava no Liceu, quando se descobriu que Sazonov(65) tinha matado sete pessoas. Desde então que me sinto intrigado com o que acontece num homem que assassinou. Eu comecei à procura de duelos para me testar encarando a possibilidade de matar um homem.
Em Onegin ousei matar Lensky(66) e concretizei-o no poema, coisa que talvez nunca consiga fazer durante a minha vida.
As condições do combate com DAnthès têm de ser impiedosas, e isso deverá forçar-me a dar o tiro mortal.
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O pânico domina-me quando de repente me encontro sem uma mulher que esteja pronta a abrir as pernas para mim. Este sentimento faz-me lembrar o do mergulhador, que consegue estar debaixo de água alguns momentos e sentir-se como um peixe. Ele tem calma porque sabe que quando precisar de ar virá à superfície para respirar profundamente. Mas se algum obstáculo lhe surgir no caminho e não o deixar emergir, começará a asfixiar, e um medo mortal penetra-lo-á.
É a mesma coisa comigo, mergulho no interminável oceano das preocupações. E só respiro profundamente quando uma vagina se abre à minha frente. Se ela não aparecer, começo a sufocar.
Acontece se for numa viagem sem N. ou ela me deixar. A solidão faz de mim um sátiro.
Nessas alturas as prostitutas são as minhas salvadoras, e por isso não ouso acabar sem dinheiro!
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Durante muito tempo não pus objeções, ficava até contente, quando N. ia sozinha a um baile. Assim que ela saía, corria para uma ratinha nova e enquanto a fodia ia imaginando que esperaria em casa por N., despi-la-ia, transpirada e cansada depois da dança. Então enfiava-lhe o meu instrumento algumas vezes antes de lho dar a chupar, para que o cheiro da outra ratinha lhe parecesse o dela.
Mas uma vez eu estava muito apressado e não fiz este truque e pus o meu instrumento na boca dela diretamente. Ela tirou-o logo e afastou-o cheia de revolta.
–– Cheiras a outra mulher –– disse ela com os olhos em fogo.
Não deixei que a raiva dela aumentasse e deitei-a de costas.
–– É de Aza –– menti. –– Conheceste a tua irmã.
N. acalmou-se um pouco: Aza era um compromisso permitido. Mas não conseguiu agüentar completamente e vingou-se dizendo-me que DAnthès tinha fantasiado durante uma dança, sussurrando-lhe ao ouvido como aconteceria a sua primeira cópula.
Eu fiquei furioso e gritei que iria lutar com ele. N. sorriu com ironia.
–– Então, e por quem é que irias chorar? –– perguntei venenosamente.
–– Por aquele que for morto –– respondeu ela a sério.
–– Isso é a resposta de uma prostituta, não de uma esposa –– pronunciei eu sem misericórdia.
–– És um touro de cobrição –– disse ela com calma –– e eu, louca, ainda te sou fiel.
–– Assim é melhor –– acalmei eu, confiando nela outra vez.
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O desejo pode acontecer devido a sobrecarga seminal, sem qualquer pensamento de vagina. O desejo pode ser provocado por pensamentos de vagina ou à sua vista. Estou rodeado de desejo por todos os lados e não há limites para isso.
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DAnthès tem inveja de mim. Casou com K. e quer tomar conta das outras irmãs como eu fiz. Na recepção estava a brindar publicamente pela saúde de N. Eu cheguei-me a K. e disse em voz alta: –– Agora bebes à minha saúde.
K. corou até às orelhas e saiu da sala. DAnthès seguiu-a e eu senti que tinha tido a minha vingança.
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Para possuir dinheiro é preciso amá-lo, mas eu só o respeito pelo seu poder. Ele sente isso e não vem parar às minhas mãos. Eu amo as mulheres e elas em troca também me amam. Amo a poesia e a musa é louca por mim. Adoro um jogo de cartas, e dá-me prazer apesar de eu perder.
Há prazer mesmo ao perder, pois isso faz parte do jogo. Assim, não há injustiça por eu perder: o dinheiro continua a não querer vir ter comigo, no entanto esse jogo favorito dá-me alegria.
Pensamento abençoado!
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Lembro-me de olhar para a falecida Smirnova(67), e recordo-me de pensar como a poria de gatas e daria encontrões à sua corcova. Não seria problema nenhum convencê-la a isso, mas a oportunidade não se deu. Como seria bom! –– ela teria conhecido um homem e eu uma corcunda.
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Quando vejo o czar a lançar olhares de desejo a N., eu olho da mesma forma para a imperatriz, tentando que ele repare. Quero que ele estabeleça na sua cabeça que a sua paixão pela mulher de outro homem faz ecoar a minha paixão pela sua mulher. Aposto que ele reparou e que foi por isso que deixou de ficar zangado quando eu desprezava os convites para os seus bailes.
Pedi a todas as damas de honra que, se estivessem presentes quando a imperatriz se despisse, descobrissem pormenores acerca do seu corpo. O czar há de levar-me a um tal ponto que lhe falarei sobre a cicatriz no seu seio direito.
Agora o destino também se vinga em mim por isto: DAnthès faz perguntas a K. sobre o corpo de N.
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Se vejo um homem louro com N. começo a implicar com ele. Sou arrastado por um desejo enorme de verificar a previsão: fazer com que surja ou fazê-la retroceder para o passado seguro.
É a mesma coisa em tudo, quero ser eu próprio a concluir tudo, não esperando que se cure por si. Se há botão na roupa que começa a soltar-se eu não o deixo assim pendurado, dou-lhe voltas até ele se soltar. Se tenho uma borbulha, rebento-a, não espero que fique madura. Se discuto com alguém, é certo e sabido que o levarei ao duelo.
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Ao ler Sade, percebo a fonte da sua perversão, que a princípio poderíamos tratar como a um leãozinho. Mas Deus impediu-nos de esperar que ele cresça e depois acreditar que o leão não faz mal a ninguém só porque o vimos quando ele era pequeno.
N. muitas vezes tem dificuldade em vir-se. A qualquer momento os espasmos desejáveis podem explodir no seu corpo, mas o seu corpo não consegue agüentar a tensão da espera e desce para uma caverna da qual tenho de a tirar novamente até aos céus. Quanto mais dura a angústia, mais os seus espasmos finais se parecem com dor em vez de prazer. A dor que traz alívio –– não será uma definição para o prazer? No entanto, N. prefere essa dor a que eu pare os meus esforços para o trazer.
Se numa mulher a linha de fronteira entre o prazer e a dor é tão vaga que ela consegue extrair prazer da dor, então ela também consegue tirar dor do prazer.
Uma vez em que N. estava atormentada pela inatingibilidade aborrecida das suas convulsões, eu mordi-lhe uma mama e ela veio-se. As marcas dos meus dentes obrigaram-na a usar vestidos fechados durante cerca de um mês, o que tornou infeliz a parte masculina da sociedade. Eu gostei daquilo e mordo-a e belisco-a. Não há muito tempo, exagerei. N. ficou furiosa e deu-me uma joelhada nos tomates. Eu dobrei-me ao meio e a recordação da nossa primeira noite atravessou a dor. Só que agora era intencional.
Ela ficou assustada e começou a atarantar-se à minha volta, chorando e gemendo, não sabendo o que fazer para me ajudar. Aqui tomou uma sábia decisão: meteu a cabeça entre os meus joelhos, que estavam pressionados contra a minha barriga, levou a minha verga até à sua boca e começou a gratificá-la como nunca fizera antes. A princípio, a dor nos tomates foi dominante e eu mal conseguia conter-me para não a empurrar. Em breve a dor começou a diminuir, ultrapassada pelo prazer, mas ainda existindo e dando-lhe nova cor.
–– Eis aqui o teu Sade –– disse eu sonhadoramente.
–– O quê? –– perguntou N., pondo a minha verga para dentro das suas bochechas.
*
As mulheres obedecem ao poder do desejo, ao poder do dinheiro e ao poder da força.
Muitas mulheres são muito lentas e lânguidas nos seus desejos, por isso Deus deu ao homem força e dinheiro para ajudar. Utilizados com habilidade, força e dinheiro arranjam-nos uma mulher. É a nossa vez então de a pôr de cabeça perdida, e quando o desejo despertar não será preciso ter força ou dinheiro.
Lembro-me das raparigas que trabalharam lá em casa, especialmente Olenka. Quando a convidei a ir ao meu quarto, ela esquivou-se para um canto e sussurrou: «Largue-me!», mas não se atreveu a desobedecer ao patrão. Eu levei-a a beber um pouco de vinho e rapidamente ficou tonta. Dei-lhe uma renda. Olenka ficou tão contente que correu a beijar-me para me agradecer.
Mas eu queria um beijo de desejo e não um beijo de gratidão. Fiz de maneira a que as nossas línguas se encontrassem e ela tremeu nas minhas mãos. No entanto quando eu quis pôr-lhe a mão entre as suas pernas, ela agarrou-na com as dela e não me deixou.
–– Não te atrevas a resistir a mim –– ordenei eu, e obviamente que ela se sentiu aliviada, porque fez tudo o que pôde e agora estava ansiosa por obedecer.
Depois daquele episódio, ela costumava vir ter ao meu quarto à noite, agarrar na minha mão e pô-la entre as suas pernas em vez de me cumprimentar. Dali a pouco estava grávida. Eu queria deixá-la em Mikhailovskoye e permitir que tivesse o bebê, mas o nosso Vyazemsky(68) convenceu-me a mandá-la embora e depois casá-la. Felizarda da Olenka.
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No Cáucaso(69), muitas vezes cheguei à beira de um precipício da montanha e percebia que sentia um desejo crescente de mergulhar nele. Eu não queria morrer, era feliz, mas havia algo que me empurrava definitivamente a dar o passo mortal. Até que ponto podia eu confiar nessa parte de mim que não queria que eu desse esse passo? De onde é que vem esta minha parte interior que quer a sua própria morte sem qualquer razão? Talvez a visão de um abismo seja tão maravilhosa e a sensação da descida tão fantástica que esta outra parte de mim simplesmente se esquece da inevitabilidade da morte ao ser arrebatada pela beleza pura da natureza. Sou atraído para saltar para o abismo não por um desejo de morrer, mas pelo total esquecimento dela.
Qualquer passo irreversível provoca um medo, que é mais forte quanto menos convencional for entre as pessoas. O meu medo do casamento foi acalmado pelo costume geralmente aceite de a uma certa idade as pessoas casarem. Se fosse aceitável na sociedade humana saltar para o abismo, também dominaria o medo da mesma forma com que dominei o medo do casamento. Muitas vezes sonho que vou até ao abismo sem medo algum e corro para dentro dele. A sensação de voar é tão forte que acordo sem a ter sentido completamente.
A atração do abismo tornou-se muitas vezes tão forte que me obriguei a afastar-me.
Quando se está à beirinha, a atração cresce a cada momento. Permaneçam bastante tempo e ele arrastar-vos-á.
Sinto algo parecido quando olho para uma ratinha. Posso admirá-la, mas acabo finalmente por correr para ela e o meu desejo encontrará a sua morte nela. Antes da morte, sente a grande satisfação do vôo. A diferença é que o vôo na ratinha não é uma queda impetuosa, mas um movimento para a frente e para trás. Isto dá ao desejo a oportunidade não de morrer e nunca mais voltar, mas sim de morrer e de reviver.
Quando um corpo cai num abismo real é pulverizado, mas a alma revive. Será assim? Por causa desta dúvida temo a morte, senão saltaria uma e outra vez.
A dúvida em relação ao reviver do desejo a seguir a fazer amor impedir-me-ia de correr para uma racha? Durante os meus anos de Liceu, M. S. tentou assustar-me de forma a ser capaz de agüentar a minha pressão –– ela sugeriu que depois não teria graça nenhuma. A minha gravitação em torno das rachas é tão forte que por uma vez agora eu sacrificaria não só todas as vezes futuras, como a própria vida.
O atrativo desta inquietação é que prolonga a vida na Terra. A inquietação do desejo de saltar também deve ter o seu atrativo que está escondido na palavra morte. A vida deveria reviver em nós depois da morte da mesma forma que o desejo revive depois de se fazer amor.
Quando mergulhamos no abismo vivemos momentos contados, durante os quais nada pode afetar a nossa submissão a Deus. Voamos no seu poder, completamente libertos das pessoas e das suas leis. São estes os momentos em que estamos frente a frente com Deus. Estamos vivos e nada pode impedir a Verdade que se aproxima.
É a mesma coisa ao foder. Obtém-se grande liberdade enquanto todas as regras humanas, costumes e morais desaparecem perante a Verdade convergente e convulsiva. A diferença entre os sentimentos reside na forte atração de uma vagina e no horror compulsivo, mas atrativo, do abismo. Mas a diferença não é tão drástica se recordarmos o medo da primeira foda, que engloba rapazes e raparigas que nunca se masturbaram, que foram ensinados a pensar que foder é um pecado. Apesar dessas proibições, aqueles que, como eu, se preparam para encontrar uma fenda aprendendo a vir-se todos os dias, aqueles que consideram qualquer palavra que diga respeito às fendas como a voz de Deus, sentirão a primeira cópula com uma sensação de retidão. Esse primeiro medo é suprimido e afastado. Os estóicos fizeram a mesma coisa na sua preparação para a morte, defendendo que filosofar era aprender a morrer. A constante contemplação da morte, em que as pessoas vulgares não tentam pensar, conduziram-nos a um estado em que se apaixonaram pela morte como sua redentora. Estavam prontos para morrer em qualquer momento, chamando e aceitando a morte com tranqüilidade, algo incompreensível para um vulgar mortal. Contudo, a sua falta de sentimento relacionava-se com o medo da morte, e eu suspeito que não conseguiram evitar uma admiração proibida pela expectativa da morte amada. Desta forma, eles caíram novamente nas garras dos sentimentos.
Posso dizer que não há abismo de montanha que me arraste enquanto o abismo da vagina se abrir à minha frente. O amor é a morte na vida. A ausência de uma fenda disponível é a ausência da morte viva e leva-nos à procura da morte morta. E se não se conseguir com o método vivo, Deus contenta-o com o mortal. Pois um homem não só vive como morre e revive como as folhas numa árvore.
A vida dá-nos indicações sob várias formas de que a morte não deveria assustar-nos, pelo contrário, que é agradável. O sono é-nos dado como um protótipo da morte, e lutamos por ele todas as noites, que nos dá o maior esquecimento da vida. Não tememos o esquecimento; desejamo-lo porque nos dá paz.
Foder também nos sugere como será agradável a morte, mas não prestamos atenção. Se pudéssemos morrer duas vezes, então talvez não receássemos a segunda vez. Tal como uma virgem receia a dor causada pela introdução do pênis, mas sente prazer da segunda vez e fica cheia de vontade de foder e ansiosa por isso, não prestando atenção à insignificância da dor comparada com o prazer que recebe.
Por isso só temos uma morte, para que ao percebermos o seu encanto da primeira vez, não nos sentíssemos mais poderosamente atraídos por ela do que pela vida. Deus não seria capaz de nos manter vivos, como não foi capaz de nos manter na inocência, e estaríamos continuamente a lutar por nos suicidarmos. A foda é-nos dada como uma substituição para a morte múltipla.
Depois de nos restabelecermos de uma morte doce, ficamos cheios de vontade de a experimentar outra vez.
Há pessoas possuídas com a idéia da morte. Estão convencidas que é bela e quanto mais depressa acontecer melhor. Procuram matar-se, sujeitando-se ao perigo. Eu não tenho um claro desejo de morrer, mas comporto-me como se estivesse a chamar pela morte a plenos pulmões. Há pessoas que agem diretamente. Tentam isso com um nó corredio, ou com uma pistola, e embora as suas mortes consigam ser evitadas por pessoas que gostam delas, mais tarde acabam por conseguir e mandam-se para o outro mundo pelas suas próprias mãos. É preciso um caráter muito forte para isso, o que eu não tenho. O melhor será forçar dAnthès a fazê-lo. Talvez se antes eu já tivesse matado fosse mais fácil lidar não só com ele como comigo mesmo.
*
Agradecemos à Providência não sabermos qual é o último dia das nossas vidas. Esse conhecimento faria das nossas vidas uma sentença de morte. Seríamos perseguidos por sofrimentos espirituais insuportáveis que se tornariam piores dia a dia, minuto a minuto. Só podemos ser felizes e serenos porque não sabemos qual é o nosso último dia. Se eu soubesse qual era, seria capaz de dizer com confiança: «hoje estou a jogar shtoss(70) pela última vez na minha vida; eis o meu último poema; amanhã é a minha última festa com amigos». Não haveria tempo para mais uma vez.
Quando me casei, fiz um juramento de fidelidade à minha esposa. Isso significa que eu fiz um juramento que N. seria a minha última mulher. Como se já estivesse morto para outras mulheres.
É horroroso pensar, ao olhar para as minhas mãos, pernas, verga, que após um dia predeterminado o meu corpo deixará de respirar, começará a decomposição e, se pelo menos os ossos das minhas mãos e das minhas pernas ficarem, a minha verga, o meu suporte na vida, terá desaparecido sem deixar rasto.
Vejo-me a mim próprio a morrer, olhando para livros, árvores, infeliz por nunca mais ver isso outra vez. Sentime assim um mês depois do meu casamento, ao olhar para as mulheres à minha volta. Mas sobrevivi. Como B. escreveu: «Fiz o meu juramento, mas não estava na minha mão».(71) O hábito faz-nos jurar coisas por que nunca passamos antes, de que não temos plena consciência. Bom, como é que eu podia jurar fidelidade infinita se eu não tinha consciência do que era ser fiel por uma semana? O hábito aproveita-se da nossa ignorância e extorque-nos juramentos que mais tarde só podemos lamentar. Os juramentos de amor infinito são uma evidência do amor de hoje, mas absolutamente nada daquilo que podemos garantir para o futuro.
Agora, quando já é demasiado tarde, aceito a verdade que rejeitei precipitadamente: se uma esposa é a última mulher selecionada de boa vontade, deveria considerar-se especialmente querida por isso. Em vez de procurar um número incontável de outras mulheres, ela é a última, não haverá mais!
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Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para o corrigirmos é a força do destino. Apercebermo-nos dos erros é um castigo pesado. Seria muito mais fácil considerarmo-nos bons e culparmos os outros todos, encontrando consolação na ilusão da vitória sobre o destino. Mas mesmo essa felicidade não me é dada.
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Adoro a raiva, que facilmente sobe em mim por causas insignificantes. Dá-me liberdade, que me prepara para o assassínio. Esta liberdade é assustadora. Felizmente passa depressa. Se eu não estivesse atado com as leis da honra, andaria armado com uma pistola no cinto e atirava a qualquer ofensor.
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Ultimamente N. põe-me furioso. Vejo nela a causa da minha vida insuportável. Ela casou comigo sem amor, sem luxúria, só para se livrar da mão esbofeteadora da mãe. Se ela me amasse, talvez eu não andasse por aí a fornicar. E agora desonra-me em frente da sociedade. Não com atos, mas com a sua estupidez. Isso sempre me pôs furioso e agora não consigo agüentar mais. O seu rosto bonito e tonto tornou-se para mim tão odioso por vezes que me interrogo quem devo matar primeiro: ela ou dAnthès.
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Uma mulher provocante tem uma imaginação suja. Uma rapariga inocente não resistiria à atração, pois desconhece os subterfúgios e por isso não consegue imaginar aonde aquilo vai dar.
Só uma mulher experiente, que conhece o poder da luxúria, se comporta provocantemente, claramente consciente de como é difícil parar se ela deixar um homem tocar-lhe.
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Quando eu olho para a minha Madonna, ocorrem-me dois sentimentos: quero rezar pela sua fidelidade e ao mesmo tempo quero amaldiçoá-la por isso. A sua fidelidade é uma censura à minha devassidão. É um sermão severo. É uma ferida que ela reabre solenemente. Tenho a certeza de que se eu lhe fosse fiel ela iria para a cama com alguém imediatamente.
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Fiz pouco de dAnthès e fodi a amante dele. Ele tinha-lhe pegado gonorréia. Eu peguei-a a N. Acontece que DAnthès não fodeu N., mas ainda tocou na sua racha através de mim. Felizmente ela estava com uma grande gripe nessa altura e eu convenci-a a tomar banhos com o remédio que lhe arranjei, que eu disse que curava constipações. À noite, pus-lhe creme na vagina alegando que assim a minha verga escorregaria melhor. Eu podia tê-la curado sem que ela soubesse, mas Aza viu o creme e revelou o segredo a N. por engano. Uma fenda irreparável.
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Não me atrevo a mostrar este diário a ninguém vivo hoje, nem mesmo a Naschokin(72).
Mesmo o nosso melhor amigo não consegue aceitar uma alma completamente despida.
Eu próprio não tenho coragem suficiente para reler o que escrevi: é um medo demasiado forte dos meus próprios abismos. Estou tão tentado a atirar tudo para o fogo! Mas já mostrei uma vez falta de espírito e queimei as minhas notas. Estava com medo de castigo penal(73) nessa altura, e agora temo Deus. Ele enviou o seu anjo dAnthès (ele é realmente bonito como um anjo) para me castigar. Comecei a repetir-me. Fale eu do que falar volto sempre a ele.
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A velhice é um regresso à infância. A morte é um regresso ao nascimento, na racha. Na racha de uma sepultura.
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Não me interessa nada o que L. tem nos seus pensamentos ou na sua alma se ela abrir as suas pernas para mim, gemer e contorcer-se debaixo de mim.
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Uma vez dado o primeiro passo pecaminoso do adultério pisei um caminho que acabou por se tornar desonesto por todos os que se lhe seguiram, mesmo sendo honesto em si. Este caminho conduz-me ao abismo. Devido ao meu temperamento, não consigo parar. Levo tudo ao extremo, e a extremidade neste caminho leva à autodestruição.
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Não se fala em nova gravidez na sociedade porque está muito perto no tempo da fornicação. A barriga a crescer muda a atenção para o seu conteúdo, que é a única desculpa para a luxúria em sociedade.
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As mulheres cheiram como a ratinha, que na luxúria bate como o coração.
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Recebi cartas anônimas nas quais fui avisado de que o velho Heckern prepara dAnthès, K., N. e as crianças para fugirem para o estrangeiro.
O czar, disse-se, foi avisado e promete não criar quaisquer obstáculos, de forma a salvar N. de um marido louco. Mostrei a carta a N. Ela ajoelhou-se, suplicando-me que lhe perdoasse, jurando que ela ainda não tinha dado o seu consentimento final. Enviei uma carta a Heckern que forçará o seu filhinho a aceitar este desafio pelo seu pai. O duelo é amanhã. É muito possível que tenham sido enviadas cópias da carta a outras pessoas. Agora, depois do diploma(74), têm pena de mim e não me dizem nada. Mas eu vejo os seus olhares com o meu pescoço; ouço os seus murmúrios nas minhas costas.
Li a carta a Aza. Só ela está perto de mim agora. Ela perguntou-me se habitualmente eu atirava e suplicou-me que fosse imediatamente praticar. Se eu tivesse casado com ela tudo seria diferente.
Quero imenso matar dAnthès, assistir ao seu funeral e rir-me na cara do velho.
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Hoje eu estava a descansar com Zizi(75). Eu não queria nada ver N. A minha indiferença em relação a ela enfraqueceria a minha decisão de lutar. Pode ser que eu esteja a arriscar a minha vida para bem da continuidade da minha vida familiar, que está cheia de preocupações e com pouca excitação, mas não para bem das paixões livres a que devotei toda a minha vida.
Primeiro Zizi não queria desistir, e eu tive de lhe contar acerca do duelo. Corto um caracol de cabelo da sua ratinha. Vou levá-lo comigo e inalar o aroma pelo caminho e lembrar-me de Trigorskoye.(76) Quando me vim pela última vez, cada borrifo do meu sêmen parecia-me um tiro(77).
Notas
1. DAnthès, G. S. (1812-1895). Adversário de Puchkine, que o feriu fatalmente num duelo em 27 de Janeiro de 1837. Danthès abandonou França e chegou à Rússia em 1833, tornando-se oficial numa prestigiada divisão do exército russo. Casou com Catherine, cunhada de Puchkine, em 10 de Janeiro de 1837.
2. Uma cartomante alemã, A. F. Kirhgoff, fez quatro previsões a Puchkine. Todas elas se concretizaram. A última dizia que ele viveria uma vida longa a menos que acontecesse uma desgraça durante o seu trigésimo sétimo aniversário sob a forma de um homem alto e louro.
3. Barkov, Ivan Semyonovich (1732-1768), poeta, o autor de poemas eróticos nunca publicados na Rússia.
4. Delvig, Anton Antonovich (1798-1831), poeta e amigo de Puchkine.
5. Puchkina, Nataliya Nickolaievna (1812-1863), mulher de Puchkine.
6. O estado dos sogros de Puchkine.
7. Nicolau I Pavlovich, czar da Rússia (1796-1855).
8. Goncharova, Catarina Nickolaievna (1809-1843), cunhada de Puchkine. No diário ela é chamada Katka, Koko, Katrin e K.
9. A cidade perto de Sampetersburgo onde se situava a residência de Verão do czar e o Liceu. 10. (?) Puchkina, Olga Sergeievna (1797-1868), irmã de Puchkine.
11. Olenina, Anna Alexeievna (1808-1888). Puchkine esteve desesperadamente apaixonado por ela em 1828.
12. Puchkina, Sofia Fyodorovna (1806-1862), uma parente distante de Puchkine por quem esteve apaixonado em 1826.
13. Karamzine, Nickolai Mikhailovich (1766-1826), escritor e historiador.
14. Este comentário leva-nos a pensar que ao escrever Z., Puchkine se possa referir à sua amante Zakrevskaya, Agrafena Fiodorovna (1799-1879). Na sua carta de 1 de Setembro de 1828, para Vyazemsky, P A., Puchkine escreve que «... ela promoveu-me a seu proxeneta (para o que sempre me senti inclinado...»).
15. Um subúrbio elegante de Sampetersburgo.
16. Nevsky Prospekt - uma avenida principal de Sampetersburgo.
17. Markevich, N. A. (1804-1860), escreveu nas suas memórias que Puchkine, quando estudante do Liceu, que era a escola para crianças da aristocracia russa, fez uma aposta com os amigos que apareceria uma manhã em frente do palácio, de gatas, e que mostraria o rabo nu. A velha imperatriz viu-o, mandou-o chamar e ralhou muito com ele, mas não contou nada a ninguém.
18. Naschokin, Pavel Voinovich (1800-1854), amigo íntimo de Puchkine que vivia em Moscovo.
19. (?) Olga Andreievna, amante cigana de Naschokin, que vivia com ele.
20. Ver nota 9.
21. Ver nota 17.
22. Puchkina, Maria Alexandrovna (183?-1919), filha de Puchkine.
23. A dona de um famoso bordel em Sampetersburgo.
24. Puchkine podia estar a referir-se ao seu poema Czar Nikita e as Suas Quarenta Filhas no qual ele descreve quarenta belezas sem órgãos genitais e as aventuras por que passam para os arranjar.
25. Vyazemsky, Peter Andreievich (1792-1878), poeta, crítico literário e amigo íntimo de Puchkine.
26. Ver nota 8.
27. Wolf, Anna Nickolaievna (1799-1857).
28. Ver nota 19.
29. Khlustin, Semyon Semyonovich (1810-1844).
30. Goncharova, Alexandra Nickolaievna (1811-1891), cunhada de Puchkine.
31. Heckern, L. B. (1791-1884), emissário holandês na Rússia; pai adotivo de DAnthès.
32. Rosset, Arkadi Osipovich (1812-1881).
33. Puchkine, Alexandre Alexandrovich (1833-1914). Filho de Puchkine.
34. Puchkine, Grigori Alexandrovich (1835-1905). Filho de Puchkine.
35. Puchkina, Natalia Alexandrovna (1836-1913). Filha de Puchkine.
36. Bezobrazov, Sergei Dmitrievich (1801-1879). Segundo consta, esbofeteou Nicolau I, que usou o seu direito da primeira noite com a mulher de Bezobrazov.
37. Em 1833, Puchkine viajou até à Sibéria para recolher informação para os seus estudos históricos.
38. A casa de campo que pertencia à família Puchkine, onde ele adorava fazer o seu trabalho literário.
39. Ver nota 18.
40. Ver nota 19.
41. Kern, Anna Petrovna (1800-1879), a mulher bonita a quem Puchkine dedicou um dos seus poemas mais famosos.
42. Ver nota 27.
43. Rodzyanko, Arkadi Gavrilovich (1793-1846), poeta.
44. Puchkine tentou várias vezes obter autorização do governo para viajar até ao estrangeiro. Desiludido com as recusas, até planeou ir ilegalmente, sem autorização, mas nenhum dos seus planos deu resultado.
45. Contemporâneo, um diário literário publicado por Puchkine.
46. Catarina II (1762-1796), imperatriz da Rússia.
47. Myatlev, Ivan Petrovich (1796-1844), poeta.
48. Ver nota 33.
49. Goncharov, Dmitri Nickolaievich (1808-1859), o irmão da mulher de Puchkine.
50. Golitsin, V. S. (1794-1861), um rico aristocrata russo.
51. Uma criada em casa de Puchkine.
52. Kurakin, Alexei, um comerciante.
53. Poletika, Idalia Grigorievna (?-1890).
54. De acordo com memórias, DAnthès insistiu e Idália Poletika convidou Natália Puchkine a ir ao seu apartamento e saiu. Em vez dela DAnthès estava à espera de N.
55. Puchkine, Lev Sergeievich (1805-1852), irmão de Puchkine.
56. O cemitério onde a mãe de Puchkine foi enterrada em 1836 e onde ele foi sepultado em 1837.
57. A dacha pertencente à família Puchkine.
58. Personagem do poema de Puchkine, Eugene Onegin.
59. Uma antiga unidade de comprimento russa, cerca de 4,5 centímetros.
60. Muravyov, Andrei Nickolaievich (1806-1874), escritor.
61. Ver nota 31.
62. Turchaninova, Anna Alexandrovna (1774-1848), escritora e hipnotizadora.
63. Ver nota 57.
64. Durova, Nadezhda Andreievna (1783-1866), uma mulher que se vestia como um homem e tinha modos de homem. Lutou no exército russo nas guerras de 1807 e de 1811-1812.
Escreveu um livro de memórias, um capítulo do qual foi publicado na revista de Puchkine Sovremennik.
65. Sazonov, Konstantin (1796?-?), um porteiro no Liceu.
66. Personagem no poema de Puchkine Eugene Onegin que é morto num duelo.
67. Smirnova, Sofia Mikhailovna (1809-1835).
68. Ver nota 25.
69. Montanha no Sul da Rússia.
70. Jogo de cartas.
71. O poema foi escrito por Baratinsky, Evgeniy Abramovich (1800-1844), poeta e amigo de Puchkine.
72. Ver nota 18.
73. Puchkine era amigo de muitos dos Decembristas, que se rebelaram contra a monarquia em 1825. Falharam e foram severamente punidos. Puchkine estava com medo de ser acusado de tomar parte na conspiração.
74. Um diploma anônimo anunciando que Puchkine fora eleito historiógrafo na Sociedade de Maridos Cornudos. Recebeu-o ele e alguns dos seus amigos e conhecidos no dia 4 de Novembro de 1836.
75. Wolf, Evpraksiniya Nickolaievna (1809-1883).
76. A dacha onde a família Wolf vivia. Trigorskoye ficava perto da propriedade de Puchkine e era muitas vezes convidado de lá.
77. Puchkine foi ferido fatalmente na barriga por dAnthès, que disparou primeiro. Puchkine reuniu as suas últimas forças e atirou em dAnthès. A bala fez ricochete no botão de metal do uniforme de dAnthès, o que lhe salvou a vida. Houve um boato em que se disse que o czar enviou os seus homens para impedir o duelo, mas foram mandados propositadamente para o local errado.
Após a morte de Puchkine, dAnthès foi despromovido para soldado raso e expulso da Rússia. Partiu para França com a sua mulher, onde viveram o resto das suas vidas. A viúva de Puchkine guardou luto por Puchkine durante dois anos e voltou a casar em 1844.
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