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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DOIS MUNDOS DIFERENTES / Brenda Jackson
DOIS MUNDOS DIFERENTES / Brenda Jackson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

Delaney Westmoreland não admitiria que um pequeno contratempo a privasse do descanso que tanto necessitava. O que não esperava, era que o arrogante sheik com o qual se viu obrigada a compartilhar suas férias, fosse lhe dar um curso intensivo de sexualidade. Infelizmente, as palavras amor e compromisso não figuravam no manual de um professor tão sensual.

A primeira intenção de Jamal Ari Yassir fora instruir Delaney na arte da sensualidade para ele desfrutar, mas nada saíra como tinha previsto. Sem perceber, viu-se apanhado em uma paixão irresistível por sua sexy companheira de férias. Poderia uma amante de verão, ser a mulher com a qual estava destinado a compartilhar o resto de sua vida?

 

 

 

 

                                         Capítulo Um

      Jamal inspirou profundamente para tranqüilizar-se e saiu debaixo da mesa. Ficou de pé e limpou o suor da fronte; levava uma hora tentando consertar a mesa.

      – Ao fim e ao cabo, sou um sheik, não um serviçal – disse com frustração, enquanto arrumava as ferramentas na caixa.

      Jamal fora à cabana para descansar, mas até o momento só conseguira aborrecer-se, e ainda restavam vinte e oito dias pela frente.

      Não estava acostumado a não fazer nada, em seu país, o valor de um homem era medido por seu trabalho diário. A maioria de seus súditos trabalhava de sol a sol, e não por obrigação, mas porque estavam acostumados a isso pelo bem de Tahran. E embora fosse o filho de um dos sheiks mais importantes do mundo, sempre fora exigido dele que trabalhasse tão duro quanto as pessoas que o serviam.

      Durante os três últimos meses, representara seu país em algumas negociações importantes que incluíram outras nações próximas a Tahran. Quando estas terminaram e todas as partes estavam satisfeitas, sentira a necessidade de escapar para dar um descanso ao seu corpo e sua mente.

      O ruído da porta de um carro fechando-se captou a atenção de Jamal e rapidamente se perguntou quem seria.

      Sabia que não seria Philip, seu companheiro de quarto em Harvard, pois fora ele que lhe emprestara a cabana, já que partira de lua de mel durante duas semanas. Assim intrigado, dirigiu-se para a sala de estar. Ninguém tomaria o desvio da auto-estrada a não ser que soubesse da existência da cabana, que estava a cerca de oito quilômetros adentro do bosque.

      Quando se aproximou da janela para olhar, conteve o fôlego; sentiu-se hipnotizado, cativado, consumido por uma repentina luxúria.

      Uma mulher afro-americana acabava de descer de um carro último modelo e estava inclinada sobre o porta-malas. Somente pôde distinguir seu traseiro, mas aquilo foi suficiente.

      Vestia calças curtas que se ajustavam ao traseirinho mais sedutor que já vira, e havia visto muitos ao longo de seus trinta e quatro anos de vida, mas nunca um tão bem definido e proporcionado. Sem grande esforço imaginou aquele traseiro apertado contra seu ventre enquanto dormiam, e um sorriso se desenhou em seus lábios. Quem seria capaz de “dormir” tendo um corpo como aquele ao seu lado?

      Jamal desviou o olhar para as coxas da mulher; eram bem formadas, firmes e estavam perfeitamente definidas.

      Por um instante, ficou parado no lugar enquanto a observava da janela. Mas quando ela tirou duas malas do carro, rapidamente franziu o cenho, mas pensou que se preocuparia com as implicações da bagagem mais tarde. No momento, queria ver o resto daquela mulher.

      Assim que aquele pensamento cruzou pela sua cabeça, a mulher fechou o porta-malas e deu a volta. Em apenas alguns segundos, Jamal sentiu que uma onda de calor varria seu corpo; aquela mulher era incrivelmente bonita. Maravilhosa.

      Enquanto ela se arrumava com a bagagem, ele a percorreu com o olhar: os cabelo castanhos escuros e encaracolados, emolduravam um rosto cor de mel e caíam até seus ombros, dando a ela um aspecto atrevidamente sedutor. Tinha um queixo pequeno e redondo, e uma boca deliciosamente desenhada. A contra-gosto apartou o olhar de sua boca e o deslizou pelo pescoço para seus seios redondos e erguidos, para depois continuar até suas fabulosas pernas. Era a sedução personificada.

      Jamal moveu a cabeça ao sentir um profunda tristeza: sem dúvida aquela mulher se equivocou de cabana, assim, pensou que já havia visto o suficiente e que seus hormônios não suportariam muito mais, separou-se da janela e se dirigiu à entrada da cabana. Enquanto abria a porta e saía na varanda, sentiu a tentação de lhe perguntar se poderia fazer amor com ela algumas vezes antes que partisse.

      –Posso ajudá-la?– perguntou finalmente, embora com a voz carregada de intenção.

      Delaney Westmoreland levantou a cabeça sobressaltada e seu coração começou a pulsar com rapidez ao ver o homem que estava de pé na varanda, apoiado contra o marco da porta.

      E que homem grande! 

      Se pudesse descrever algum homem como bonito, seria ele. A luz do entardecer ressaltava o profundo bronzeado de sua pele, dando um verdadeiro significado à descrição de alto, moreno e atraente.

      Delaney não tinha muita experiência com os homens, mas tampouco era tão inocente para não perceber que era um homem dos mais sedutores e que qualquer mulher cairia rendida a seus pés.

      Era alto, facilmente media um metro e oitenta de altura, usava calça de marca comprada na Europa e uma camisa de corte elegante, Delaney pensou que sua roupa estava completamente fora de lugar naquele ambiente, coisa que não a incomodava em nada.

      Tinha os cabelos negros, curtos e lisos, e o olhar de seus escuros e penetrantes olhos parecia alerta e inteligente.

      Ambos se olharam fixamente.

      Delaney piscou algumas vezes para assegurar-se de que não estava sonhando.

      – Quem é você?–perguntou ela finalmente.

      – Acredito que sou eu que deveria fazer essa pergunta - disse ele depois de alguns instantes de silêncio.

      Jamal se separou da porta e desceu da varanda. Enquanto se aproximava, Delaney conteve a respiração, embora procurasse não demonstrar, assim manteve o olhar fixo nele. Afinal era um estranho e os dois estavam sozinhos no meio do bosque, não havia nada pior que se aproveitar de uma oportunidade tão tentadora e decidiu ser cautelosa.

      – Sou Delaney Westmoreland, e você está invadindo uma propriedade particular.

      O homem se deteve diante dela e quando Delaney levantou a cabeça para olhá-lo, sentiu uma sensação cálida e agradável em seu interior; de perto era ainda mais bonito.

      – E eu sou Jamal Ari Yasir. Esta cabana pertence a um bom amigo meu, assim acredito que é você que está invadindo propriedade privada.

      Delaney estreitou os olhos, perguntando-se se realmente era amigo de Reggie como afirmava. Seu primo se esquecera que emprestara a cabana à ele quando ofereceu a ela?

      – Como se chama seu amigo?

      – Philip Dunbar.

      – Philip Dunbar? –perguntou ela, falando em um tom baixo e sedutor.

      – Sim. Conhece ele?

      – Sim. Philip é meu primo. Reggie e ele foram sócios durante um tempo. Foi Reggie que me ofereceu a cabana. Tinha me esquecido que Philip e ele são co-proprietários.

      – Esteve aqui alguma vez?

      – Sim, uma, E você?

      Jamal moveu a cabeça e sorriu.

      – É a primeira vez que venho.

      Aquele sorriso fez Delaney conter a respiração. Viu que seus olhos estavam outra vez fixos nela, observando-a, e não gostava de ser o objeto daquele penetrante olhar.

      – Por que está me observando dessa maneira? –perguntou Delaney.

      – Não tinha percebido que a observava –disse ele arqueando uma sobrancelha.

      – Pois está –replicou ela, entrecerrando os olhos–, De onde é? Não parece daqui.

      Jamal sorriu.

      – Não. Sou do Oriente Médio, de um pequeno país chamado Taran. Já ouviu falar dele?

      – Não. Mas nunca fui boa em geografia. Fala nosso idioma muito bem para um estrangeiro.

      Jamal deu de ombros.

      – Aprendi inglês desde pequeno e depois fui à universidade Harvard.

      – Licenciou-se em Harvard?

      – Sim.

      – Com o que você trabalha? –inquiriu ela, perguntando-se se possivelmente trabalhava para o governo federal.

      Jamal cruzou os braços sobre o peito e pensou que as mulheres do ocidente faziam muitas perguntas.

      – Ajudo meu pai a cuidar do meu povo.

      – Seu povo?

      – Sim, Sou o sheik, príncipe de Taran. Meu pai é o Emir.

      Delaney sabia que Emir era outra forma de referir-se a um rei.

      – Se é o filho de um rei, o que está fazendo aqui? Embora seja um lugar bonito, suponho que pode se permitir ter algo melhor.

      Jamal franziu o cenho.

      – Sim posso, mas Philip me ofereceu a cabana como símbolo de amizade. Teria sido de má educação não aceitar. Além disso, ele sabia que eu queria ficar sozinho durante um tempo; assim que a imprensa souber que estou em seu país, não me deixarão em paz. Pensou que um mês aqui me viria bem.

      – Um mês? –perguntou ela incrédula.

      – Sim. Quanto tempo você planejava ficar?

      – Um mês –disse Delaney e ele arqueou uma sobrancelha.

      – Pois nós dois sabemos que não podemos ficar aqui juntos, assim ficarei encantado em ajudá-la a guardar suas malas de novo no carro.

      Delaney pôs os braços em sua cintura.

      – E por que tem de ser eu que deve partir?

      – Porque eu cheguei primeiro.

      Embora tivesse razão, Delaney não quis admitir.

      – Mas você pode se permitir ir à outra parte e eu não. Reggie me ofereceu a cabana durante um mês como presente de graduação.

      – Presente de graduação?

      – Sim, Licenciei-me em Medicina na sexta-feira passada. Depois de passar oito anos estudando sem parar, pensou que deveria descansar durante um mês.

      – Estou seguro disso.

      Delaney suspirou ao perceber que não seria tão fácil persuadi-lo à partir.

      – Há uma forma democrática de solucionar isto.

      – Verdade?

      – Sim. Jogaremos a sorte. Como prefere?

      Aquilo fez Jamal sorrir involuntariamente.

      – De nenhuma forma. Sugiro que me deixe ajudá-la a guardar a bagagem no carro.

      Delaney inspirou profundamente. Estava furiosa. Como se atrevia a lhe dizer o que tinha que fazer?

      Delaney tinha cinco irmãos mais velhos e desde muito pequena aprendera a defender-se dos homens. Faria com aquele homem, o mesmo que fazia com seus irmãos: à base da teimosia.

      Assim pôs as mãos na cintura e o olhou diretamente nos olhos.

      – Não vou partir.

      Jamal não pareceu afetado por aquele comentário.

      – Sim, partirá.

      – Não o farei.

      Naquele momento, as feições de Jamal se endureceram.

      – Em meu país, as mulheres fazem o que lhes ordenam.

      Delaney o olhou furiosa.

      – Pois bem-vindo a América, “majestade”. Neste país as mulheres têm direito de expressar sua opinião, e inclusive podem dizer a um homem aonde pode ir.

      – Aonde ir? –perguntou Jamal arqueando uma sobrancelha.

      – Sim. Como, “ vá plantar batatas”.

      Jamal não pôde evitar de rir; Delaney Westmoreland era, sem dúvida, uma mulher muito atrevida.

      Aprendera que as mulheres ocidentais não duvidavam em dizer se algo as incomodasse. Em seu país, as mulheres aprendiam desde pequenas, a não mostrarem suas emoções.

      Jamal pensou em utilizar outra aproximação, uma que não ferisse sua inteligência.

      – Seja razoável – disse ele.

      Ela o olhou irritada e Jamal soube que aquilo tampouco teria resultado.

      – Sou razoável. Nestes momentos uma cabana junto a um lago, durante um mês e de maneira gratuita é mais que razoável. É um sonho feito realidade. Você não é o único que precisa ficar sozinho durante um tempo.

      Delaney pensou em sua família. Ao terminar a universidade, tinham certeza de que estava qualificada para diagnosticar todas as suas doenças e não conseguiria descansar se soubessem onde se encontrava. Em caso de emergência, seus pais sabiam como entrar em contato com ela, e aquilo era suficiente. Delaney amava sua família, mas merecia um descanso.

      – Por que quer ficar sozinha?

      – É algo pessoal –disse ela franzindo o cenho.

      Jamal se perguntou se ela estaria se escondendo de um amante ciumento, ou de um marido inclusive. Não usava aliança de casada, mas sabia por experiência que algumas mulheres americanas tiravam a aliança quando lhes conviessem.

      – É casada?

      – Não. E você? –perguntou ela com irritação.

      – Ainda não –murmurou ele–. Esperam que me case antes do meu próximo aniversário.

      – Me alegro por você. Agora seja um príncipe amável e me ajude a levar minha bagagem para a cabana. Se não me engano, há três quartos e cada um tem seu próprio banheiro, assim há espaço suficiente para ambos. Tenho intenção de dormir muito, assim haverá dias que nem sequer me verá.

      Jamal a olhou fixamente.

      – E o que acontecerá nos dias em que a verei?

      Delaney deu de ombros.

      – Aja como se não estivesse. De todos os modos, se for muito difícil para você e sentir que não está lhe agradando, entenderei que queira partir – disse ela e olhou ao seu redor–. Onde está seu carro?

      Jamal suspirou e se perguntou como conseguiria fazê-la partir.

      – Está com meu secretário –respondeu secamente–. Está hospedado em um hotel a poucos quilômetros daqui. Preferiu estar perto de mim se por acaso eu precisar de algo.

      Delaney arqueou uma sobrancelha ironicamente.

      – Deve ser muito agradável ser tratado como um rei.

      Jamal ignorou a frieza de seu tom de voz.

      – Tem suas vantagens. Asalum está comigo desde o dia em que nasci.

      Delaney não pôde evitar de escutar o profundo carinho do seu tom de voz.

      – Como disse, deve ser agradável.

      – Está segura de que quer ficar ? –perguntou ele.

      Seu tom de voz tinha uma nota ligeiramente desafiadora e manteve o olhar de Delaney com seus escuros olhos.

      Ao escutar aquela voz profunda e sedutora, Delaney duvidou. Não estava segura, mas também não estava preparada para ir embora, ao menos depois de dirigir por sete horas para chegar até ali. Talvez depois de uma ducha e uma boa dormida mudaria de opinião.

      Encontrou-se com o olhar de Jamal e tremeu diante sua intensidade. Um calafrio de desejo a sacudiu, como quando o viu pela primeira vez, de pé na varanda.

      Delaney tinha vinte e cinco anos e era o suficientemente amadurecida para reconhecer a existência de hormônios hiperativos. Mas também era o suficientemente amadurecida para controlá-los e não ceder à tentação. A última coisa que queria era ter uma aventura com um príncipe machista e esperava que ele tampouco quisesse, assim manteve seu olhar e levantou o queixo em um gesto desafiante.

      – Fico.

      Aquela mulher era cabeça-dura, pensou Jamal. Estava apoiado no marco da porta da cozinha observando Delaney enquanto ela colocava a comida que levara consigo.

      – Obrigada por trazer minha bagagem e as caixas –disse ela, virando-se quando terminou de colocar tudo.

      Jamal assentiu. Ao olhá-la, voltou a sentir que o desejo esticava seu corpo e soube que ela notara sua reação.

      Delaney umedeceu os lábios nervosamente enquanto tirava os olhos dele. Ficou óbvio que ela também estava consciente da crescente atração sexual entre eles.

      - Se começa a ter dúvidas a respeito de ficar...

      - Esqueça... – interrompeu ela, com a irritação refletida nos olhos.

      - Pois então recorde de que foi decisão sua... – disse ele tranqüilamente.

      - Farei isso. – contestou Delaney e se aproximou dele.- e sugiro que não tente fazer nada para me enganar e me fazer partir. Irei embora quando estiver preparada para isso, e não antes.

      Jamal pensou que quanto mais se irritava mais bonita ela ficava.

      – Sou um cavalheiro e nunca me ocorreria comportar-me de tal maneira.

      – Bem. Vou acreditar em sua palavra –disse ela, deu meia volta e partiu.

      Jamal observou o rebolado de seus quadris até que a perdeu de vista; seu nariz se alagou com o aroma feminino que ela deixara por onde passara e o sultão primitivo que havia nele proferiu um inaudível grunhido.

      Uma coisa era certa, pensou Jamal, não voltaria a se aborrecer.

      Uma vez em seu quarto, Delaney suspirou e passou uma mão pelos cabelos, enquanto se apoiava contra a porta. Sentiu que uma onda de calor percorria todo o seu corpo, e fora provocada pelo intenso e faminto olhar de Jamal.

      No que havia se metido?

      Só a idéia de compartilhar a cabana com um homem que não conhecia era ridícula. A única coisa a justificava era que, enquanto ele estivera tirando as caixas de seu carro, ela telefonara para Reggie do seu celular.

      Reggie e ela nasceram no mesmo ano e tinham estabelecido uma estreita relação. Ao longo dos anos, Reggie se tornara algo mais que seu primo, era seu melhor amigo. Sempre guardara os segredos de Delaney e ela os dele.

      Depois de desculpar-se pelo mal-entendido, Reggie lhe assegurara que Jamal era quem dizia ser; ele mesmo o conheceu há alguns anos antes, através de Philip. Também a advertira que Jamal não tolerava facilmente às mulheres ocidentais e Delaney lhe assegurara que não se importava com o mínimo nível de tolerância de Jamal e que não tinha intenção de permitir que o príncipe lhe dissesse se podia ficar ou não. Merecia aqueles trinta dias de descanso e desfrutaria de suas férias, ocorresse o que ocorresse.

      Delaney cruzou o quarto e se sentou em uma cadeira reclinável. Jogou uma olhada em sua bagagem e pensou que estava muito cansada para desfazê-la; colocar a comida que levara consigo, lhe esgotara, já que Jamal estivera observando-a durante todo o processo. Embora não tenha falado, Delaney sentiu seu olhar como se fosse uma carícia; de fato, o surpreendera observando-a fixamente algumas vezes.

      Sabia que a sua intenção fora deixá-la nervosa, mas no que se referia à ela, ficava bastante difícil.

      Os irmãos Westmoreland, Der, Thorn, Stone, Chase e Storm, fariam com que o tratamento com Jamal fosse “pão comido”, ou seja, estaria no papo! Sentiu que se esquentava ao pensar que Jamal seria provavelmente tão delicioso quanto um pão recém assado. Delicioso.

      Ele lhe provocara a reação física e a atração mais intensa que sentira por um homem.

      Moveu a cabeça e pensou que seria melhor tomar uma ducha fria e afastar a tentação.

      Embora seu corpo estivesse louco, o que precisava era dormir, não de um homem.

 

 

                                           Capítulo Dois

      Delaney se deteve junto à porta da cozinha e observou as pernas masculinas que se sobressaíam debaixo da mesa.

      “São bonitas”, disse intimamente ao ver a firmeza de suas coxas, embainhadas nas calças jeans justas.

      Apesar de ter chegado há quatro dias, aquela era a terceira vez que via Jamal, já que tal e como lhe dissera no primeiro dia, sua intenção era dormir tanto quanto pudesse. Além de se levantar ocasionalmente para comer algo, Delaney permanecera em seu quarto dormindo.

      Exceto na ocasião em que a despertara, fazendo um ruído insuportável bem debaixo de seu quarto; Delaney se levantara da cama para ver que o estava ocorrendo e da janela o viu praticando algum tipo de arte marcial. Usava uma blusa e uma bermuda justa, acetinada. Delaney observara-o fascinada enquanto ele fazia uma série de exercícios: admirou sua vitalidade, disciplina, força e o seu corpo, que se mostrava virilmente forte. Ficou parada junto à janela durante um longo tempo sem que ele percebesse sua presença. Finalmente percebeu que se não deixasse de olhá-lo, acabaria com uma sobrecarga de desejo em seu corpo, e voltou para a cama.

      – Maldita seja!

      A exclamação de Jamal captou sua atenção e a devolveu ao presente. Não pôde evitar de sorrir, pois por mais que dominasse o idioma, uma maldição dita por ele não soava igual àquela dita por uma pessoa nativa.

      Delaney se aproximou da mesa e olhou para baixo.

      – Precisa de ajuda? –ofereceu ela.

      Em um primeiro momento, Jamal ficou quieto, obviamente surpreso por sua presença.

      – Não. Posso me arrumar - respondeu ele secamente.

      – Tem certeza?

      – Sim! –espetou ele.

      – De acordo –replicou ela.

      Delaney deu a volta e se dirigiu para o armário da cozinha e tirou uma tigela para os cereais. Não percebeu que ele tinha saído debaixo da mesa e já estava de pé.

      – O que a fez levantar-se esta manhã? –perguntou Jamal, enquanto arrumava as ferramentas na caixa.

      – Tenho fome.

      Delaney jogou cereais e leite na tigela e ao ver que a mesa da cozinha não estava disponível pegou uma colher e partiu para varanda.

      Embora ainda fosse cedo, já fazia calor. Delaney sabia que a temperatura aumentaria com o passar do dia; felizmente, a cabana tinha ar condicionado. Os verões da Carolina do Norte eram tão quentes que dava vontade de andar nua durante o dia. Enquanto se sentava nas escadas da varanda, suspirou. Com Jamal na mesma cabana, andar nua não era uma opção.

      Logo que começara a tomar o café da manhã, a porta da cabana se abriu e todos seus instintos ficaram alerta ao saber que Jamal estava atrás dela, a uma pequena distância. Com o canto do olho, viu que ele se apoiava sobre o corrimão da varanda, com uma xícara de café na mão.

      — Já se deu por vencido como serviçal, “majestade”? —perguntou ela, sarcasticamente.

      Jamal pensou que não se deixaria intimidar pelo seu tom de voz.

      — Por agora sim, mas tenho a intenção de arrumar a mesa antes de partir. Não quero deixar nada quebrado.

      Delaney o olhou de esguelha e em seguida desejou não ter olhado. Parecia que seu moreno e surpreendente rosto brilhava sob a luz do sol, e se quatro dias antes, ela pensara que sua beleza era única e sua roupa era imprópria, aquela manhã Jamal dera a volta por cima por completo. Sem camisa, sem se barbear e com os jeans, tinha um aspecto selvagem. Já não parecia um lobo com pele de cordeiro. Parecia um verdadeiro lobo, selvagem e em busca da presa. Se lhe desse a oportunidade, pensou Delaney, provavelmente a comeria viva e depois se lamberia.

      Não havia nada em seu aspecto que aparentasse sua realeza ou que era um príncipe ou um sheik. Em vez disso, o que viu foi um homem atraente, com um corpo musculoso que emanava autêntica virilidade.

      Jamal bebeu seu café e Delaney aproveitou para continuar observando-o sem que ele percebesse. Como estava de pé, podia vê-lo de frente: as calças jeans eram justas e pareciam feitas sob medida, coisa que era provável já que podia se permitir ter um alfaiate particular. Pensou que embora não o visse praticando kickboxing, era óbvio que se mantinha em forma, já que seus ombros eram largos e musculosos, e tinha uma cintura esbelta e os quadris estreitos.

      Delaney se imaginou tirando suas calças e rodeando sua cintura com as pernas, acariciando seu peito nu com a mão; desejava comprovar por si mesma se os músculos dele eram tão duros como pareciam. De repente, seu coração se acelerou; não podia acreditar que estivesse pensando aquelas coisas, realmente começava a perder os papéis. Nunca acontecera nada igual. De fato, não podia pensar em um só homem que a fizera sentir tanto... desejo.

      Não querendo continuar pensando em sua vida sexual, ou na ausência dela, tentou recordar a pergunta que pretendera fazer a Jamal alguns minutos antes.

      — O que está acontecendo com a mesa?

      Jamal levantou a cabeça e a olhou como se fosse tola.

      — Está quebrada.

      Delaney o olhou furiosa.

      — Isso é óbvio. Mas o que está acontecendo? Jamal encolheu os ombros.

      — Não sei. Está balançando.

      — Isso é tudo?

      — As mesas não devem balançar, Delaney.

      “E eu não deveria me excitar pela forma que disse meu nome”, disse para si mesma, e voltou sua atenção de novo para o café da manhã. Aquela fora a primeira vez que a chamara por seu nome e seu corpo reagira intensamente ante seu tom de voz, profundo e rouco.

      Delaney manteve o olhar fixo nos cereais que estava comendo. A última coisa que precisava, era uma complicação em sua vida, um romance com Jamal certamente seria uma grande complicação. Não duvidava que era um professor na arte da sedução, mas ela era suficientemente inteligente para perceber que ele estava totalmente fora de seu alcance.

      Sentiu-se satisfeita por ter, ainda, o controle de suas emoções e sorriu para si mesma enquanto terminava de tomar o café da manhã.

      Jamal suspirou e tentou controlar o desejo que percorria seu corpo. Durante o tempo que duraram as negociações nas quais intervira representando seu país, manteve-se celibatário, esquecendo-se de seu corpo para liberar sua mente e conseguir se concentrar. Mas as negociações tinham terminado e seu corpo estava recordando-o que tinha algumas necessidades.

      Repreendeu-se por aquela amostra de debilidade e tentou ignorar as necessidades sexuais que o dominavam. Se tivesse retornado para a casa depois do casamento de Philip, em vez de aceitar a oferta de seu amigo, não estaria passando por aquela tortura.

      Em Tahran, não tinha nenhum problema para ter relações com mulheres. Algumas pensavam que era um privilégio, além de uma honra, satisfazer as necessidades de seu príncipe. Além disso, sempre tivera Najeen, a mulher que fora sua amante durante os últimos três anos. Era uma mulher que estava dedicada somente à satisfazê-lo. E o fazia muito bem.

      Mas nunca ansiara o corpo de uma mulher até aquele momento.

      — Me fale de sua terra, Jamal.

      Jamal arqueou uma sobrancelha, surpreso pelo pedido de Delaney e desviou o olhar de sua xícara, para ela. Seu rosto, de cor mel, brilhava sob a luz do sol, fazendo-o parecer radiante. Não usava maquiagem, por isso sua beleza era natural, impressionante.

      Jamal engoliu a saliva e tentou ignorar de novo a urgente necessidade que sentia, o desejo que o invadia.

      — O que quer saber?

      Delaney deixou a tigela ao lado e se inclinou para trás, apoiando-se sobre as mãos enquanto o olhava.

      — O que quiser me contar. Deve ser um lugar muito interessante.

Jamal riu ao notar a curiosidade em sua voz e desviou o olhar alguns instantes antes de começar a falar.

      — Interessante... —começou a dizer—,... e muito bonita.

Delaney não podia saber se ele acabara de se referir a sua terra... ou à ela.

      — Seus pais ainda vivem? —perguntou ela depois que ele descrevera seu país.

      Jamal bebeu um pouco de café antes de continuar.

      — Minha mãe morreu quando eu nasci, e durante muitos anos, meu pai e eu vivemos sozinhos com nossos serventes. Depois, Fatimah entrou em nossas vidas.

      — Quem é Fatimah?

      — É a minha madrasta. Casou-se com meu pai quando eu tinha doze anos.

      Jamal preferiu omitir que o casamento de seus pais fora convencionado por suas respectivas famílias para trazer a paz entre duas nações em guerra. Sua mãe fora uma princesa afegã de descendência berbere e seu pai, um príncipe árabe. Entre eles não houvera amor, somente dever, e ele era o único filho daquela união. Quando seu pai levou Fatimah para sua casa, suas vidas mudaram. O casamento de seu pai com aquela mulher deveria ser igual ao primeiro, por dever e não por amor. Mas no palácio, todos perceberam desde o primeiro momento, que a bonita egípcia de vinte e dois anos tinha outros planos para seu marido, de quarenta e seis. Ficou óbvio que Fatimah fazia mais do que satisfazer as necessidades físicas e preencher a solidão do rei Yasir. Seu rei voltara a sorrir e era feliz. O rei Yasir deixou de solicitar outras mulheres, deixando aquela tarefa exclusivamente para sua esposa. No primeiro ano de seu casamento, tiveram uma filha que chamaram de Arielle, e três anos mais tarde nasceu Johari, sua segunda filha.

      Jamal adorava a sua madrasta. Durante sua adolescência, ela intercedera ante seu pai por ele, em temas que, para Jamal, foram de suma importância.

      — Se dão bem?

      A pergunta de Delaney invadiu seus pensamentos.

      — Sim. Fatimah e eu somos muito unidos.

      Delaney o olhou fixamente. Por alguma razão, custava-lhe acreditar que Jamal fosse muito unido a alguém.

      — Tem irmãos? —perguntou-lhe.

      — Sim. Duas irmãs, Arielle e Johari. Arielle tem dezenove anos e está casada com o sheik de um país vizinho. Johari tem dezesseis anos e acaba de terminar seus estudos em Tahran; quer vir à América para completá-los.

      — E o fará?

      Jamal a olhou como se fosse louca.

      — É obvio que não!

      Delaney o olhou estupefata, perguntando-se o que teria Jamal contra o fato de sua irmã estudar na América.

      — E por que não? Você fez isso.

      Jamal apertou os dentes.

      — Sim. Mas minha situação é diferente.

      Delaney arqueou uma sobrancelha.

      — Em que sentido?

      — Eu sou um homem.

      — E daí?

      — Obviamente neste país não significa nada. Vi mais vezes do que gostaria como os homens cedem ao controle das mulheres.

      Delaney semicerrou os olhos.

      — Parece que a igualdade de direitos é ceder ao controle?

      — De certa maneira. Os homens deveriam cuidar das mulheres, mas em seu país, cada vez mais mulheres se educam para cuidarem de si mesmas.

      — E isso lhe parece ruim?

      Jamal a olhou e recordou sua bravura no dia em que se conheceram. A última coisa que queria era enfrentar uma discussão com ela. Já tinha suas crenças e ela as dela. Mas já que lhe perguntara sua opinião, a daria.

      — Vejo como algo que não se toleraria em meu país.

      O que não acrescentou foi que uma mulher, tal e como fizera sua madrasta em muitas ocasiões, podia se apropriar do coração de seu marido até o ponto de dar-lhe a lua se ela pedisse.

      Jamal bebeu seu café e decidiu mudar de tema.

      — Me fale de sua família — ele disse, pensando que aquele seria um tema mais seguro.

      Mas percebeu que não era assim quando viu o olhar furioso nos olhos de Delaney.

      — Minha família vive em Atlanta. Tenho cinco irmãos e eu sou a mais nova. Durante muito tempo meus irmãos acharam que eu precisava de proteção e ameaçavam qualquer garoto que se aproximava de mim. Quando completei dezoito, ainda não tinha conseguido nenhum encontro, assim não deixei que se intrometessem. Transformei-me na malvada irmã mais nova e em pouco tempo deixaram de se meter em meus assuntos.

      Jamal moveu a cabeça e se compadeceu dos irmãos de Delaney.

— Algum de seus irmãos é casado?

      Delaney olhou-o divertida.

      — Divertem-se muito sendo solteiros.

      — E seus pais ainda vivem?

      — Sim. Estão juntos há mais de trinta e sete anos e ainda são felizes juntos. Entretanto, minha mãe sempre viveu segundo a filosofia de meu pai, que era a de ficar em casa criando seus filhos. Mas quando eu fui embora, ficou com muito tempo livre e decidiu voltar a estudar - explicou—. Papai não gostou muito da idéia, mas aceitou, pensando que duraria somente alguns meses. Orgulho-me de dizer que faz três anos se licenciou em Magistério.

      Jamal deixou sua taça de lado.

      — Por alguma razão, tenho a sensação de que você teve muito a ver naquela decisão.

      Delaney riu.

      — É obvio. Sempre soube que minha mãe tinha uma mente brilhante e que estava desperdiçando-a para cuidar do lar e dos filhos. Por que os homens podem ter todas as vantagens enquanto as mulheres ficam em casa?

      Jamal moveu a cabeça. Esperava que Delaney Westmoreland nunca tivesse oportunidade de visitar seu país por um longo tempo, do contrário provocaria uma revolução com aquela forma de pensar.

      Jamal se esticou, estava cansado daquela conversa. Estava evidente que Delaney recebera muita liberdade ao longo de sua vida. O que precisava era do controle de um homem.

      E o que ele precisava era que examinassem sua cabeça.

      Estava inalando o feminino aroma de Delaney, que estava enlouquecendo ele e pela forma que estava sentada, deixava descoberta a parte inferior de suas coxas, que a bermuda muito curta, não podia tampar.

      — Há mulheres médicas em seu país?

      Jamal a olhou para ouvir a pergunta. Estava provocando uma conversa que ele mesmo decidira parar

      — Sim. Temos parteiras.

      — Isso é tudo? —perguntou ela.

      — Sim - respondeu Jamal, depois de pensar.

      Delaney olhou-o furiosa e apertou os lábios.

      — Seu país é pior do que eu pensava.

      — Isso é o que você pensa. Mas meu povo é feliz.

      — Que triste que pense isso! —exclamou Delaney movendo a cabeça.

      Jamal franziu o cenho, sentindo-se estranhamente zangado. Se lhe desse a oportunidade, teria contado a ela que graças a Fatimah, uma mulher com um alto nível cultural, as coisas começaram a mudar. As mulheres em seu país recebiam apoio para continuar seus estudos e foram construídas novas universidades em efeito. E se assim o desejassem, poderiam trabalhar fora de casa.

      Jamal se separou do corrimão. Era sua hora de praticar kickboxing, mas antes precisava dar um passeio para aliviar a irritação que nublava sua mente e a crescente excitação que varria seu corpo.

      — Vou dar um passeio pelo lago. Até mais tarde.

      Delaney se afastou para deixá-lo descer pelas escadas e sentiu a tentação de dizer a ele, que tomasse seu tempo para voltar. Observou-o enquanto se afastava, notando como as calças se estreitavam contra seu traseiro. Não havia nada como um homem com um bom traseiro.

      Delaney ficou de pé e se esticou. Aquela manhã pensara em explorar os arredores da cabana e mais tarde tiraria uma soneca; além de relaxá-la, aquilo a ajudaria a não passar tanto tempo com Jamal.

      Jamal não parou de caminhar mesmo depois de ter deixado o lago para trás; tinha a intenção de descarregar toda a frustração sexual que pudesse. Andando.

      Deteve-se para observar a paisagem que rodeava a cabana. Daquele ponto, a vista era espetacular, aquela era a primeira vez que saíra para caminhar desde que chegara.

      Sua mente voltou para Delaney e se perguntou se ela teria visto a paisagem daquele mesmo ponto e se lhe parecera tão espetacular como a ele, mas duvidou que tivesse visto alguma coisa, já que estranhamente não saia de seu quarto por muito tempo.

      Ao escutar o som de seu celular, Jamal se apoiou contra uma árvore e respondeu.

      — Olá, Asalum. O que está acontecendo?

      — Somente queria me assegurar de que Sua Majestade está bem e não necessita de nada.

      — Estou bem, mas recebi uma visita inesperada.

      — Quem é?

      Jamal sabia que Asalum ficava imediatamente em alerta. Além de ser seu secretário pessoal, fora seu guarda-costas até que completou dezoito anos, assim falou a ele de Delaney.

      — Se for um problema, talvez possa convencê-la de ir embora.

      Jamal suspirou.

      — Não será necessário, Asalum. De todos os modos, a única coisa que faz é dormir e descansar. Estava estudando para os exames finais. Recentemente se licenciou em Medicina.

      — Deve ser uma mulher fraca se estudar a cansa tanto.

      Por alguma razão, Jamal sentiu a necessidade de defendê-la.

      — Não é uma mulher fraca, a não ser justamente o contrário, é muito forte, sobretudo em suas convicções.

      — Parece a típica mulher ocidental.

      Jamal passou uma mão pelo rosto.

      — É em todos os sentidos. E é muito bonita, Asalum.

      — Cuidado com a tentação, Majestade —disse Asalum depois de um curto silêncio.

      Jamal pensou em tudo o que estava perdendo desde que Delaney chegou à cabana.

      — Tarde demais, Asalum. Já não se trata de tentação.

      — De que então?

      — De obsessão.

 

                                           Capítulo Três

      Na semana que ficou na cabana, Delaney terminou de desfazer a bagagem e de guardar suas coisas.

      Cruzou os braços sobre o peito e se aproximou da janela; desfrutava despertar cada manhã com a maravilhosa vista que tinha para o lago. Sentia que uma série de pensamentos e emoções invadiam sua cabeça, e o primeiro era Jamal. Tinha que deixar de pensar nele. Desde a conversa que tiveram alguns dias antes, não pudera evitar de pensar nele, de maneira que decidira evitá-lo.

      Sentiu que se enfurecia ligeiramente; no passado fora capaz de controlar seus pensamentos e concentrar-se em uma só coisa e assim conseguira dedicar toda sua atenção em sua carreira. Mas naquele momento, com seus estudos concluídos, parecia que sua cabeça cobrara vida própria e não podia deixar de pensar nele. E eram pensamentos caprichosos, íntimos e eróticos. Todavia aquilo não a prendia, já que Jamal era o tipo de homem que provocaria aqueles pensamentos em qualquer mulher, mas a incomodava o fato de não ter mais controle sobre si mesma.

      Embora tivesse terminado a universidade, ainda restavam dois anos como médica residente, e uma relação íntima com um homem deveria ser a última coisa em sua cabeça. Mas não era. E por isso estava ressentida, de mal humor e excitada.

      Decidiu dar um passeio para tranqüilizar-se, embora em realidade sabia que aquilo não a ajudaria. Justo quando saía do quarto se chocou com o homem que estivera dominando seus pensamentos.

      Jamal a segurou pelos ombros para que não caísse e Delaney se sobressaltou ao perceber seu peito nu. Os escuros olhos do príncipe penetraram nos seus fazendo com que os seus joelhos tremessem, o seu desejo se intensificou, acelerando sua respiração quando a mão dele passou de seu ombro para seu pescoço e começou a acariciá-la brandamente com os dedos. A magnitude das sensações que invadiam seu corpo apenas a deixavam respirar; a química entre eles era intensa e com uma grande explosão sexual, alterando todos seus sentidos.

      O som de um trovão na distância os sobressaltou. Lentamente, Jamal a soltou e deixou cair as mãos dos lados.

      — Sinto muito –disse ele.

      Jamal falou em um profundo sussurro que sacudiu todos os nervos do corpo de Delaney e chegaram a cada canto de seu corpo. Pelo seu olhar, Delaney percebeu que ele sentia mesmo e de que estava tão consciente     quanto ela da tensão sexual entre eles.

      — Não se preocupe. Eu não olhei por onde estava indo —se desculpou ela brandamente.

      Delaney inspirou profundamente para tranqüilizar-se. Viu como Jamal a percorria com o olhar e embora vestisse uma bermuda e uma camiseta, sentiu-se nua. Mais tensa que relaxada. E mais excitada que nunca.

      — Delaney?

      Ao ouvir seu nome pronunciado de maneira tão sensual, Delaney cravou o olhar em seus olhos e ele começou a aproximar-se dela lentamente. Sentiu sua cálida respiração contra o seu pescoço e respondeu brandamente, em um sussurro.

      — Sim?

      — Vai chover —disse ele com a voz rouca.

      Delaney viu que seus olhos se obscureciam pelo desejo.

      — Parece que sim —conseguiu dizer ela.

      Umedeceu os seus lábios lentamente, já não estava consciente do que a rodeava e logo não ouvira as gotas de chuva que começavam a cair sobre o telhado. Tampouco sentiu o ar frio e úmido que repentinamente encheu a sala.

      Todos seus pensamentos e sua concentração estavam postos na imponente figura que tinha diante de si, e não resistiu quando ele começou a aproximar-se.

      “Deixe que a beije”, disse uma voz em seu interior. “sacie-se e assim os dois poderão deixar de agir como animais no cio. Só um beijo”.

      Um forte desejo se apoderou de Delaney, e um calafrio de paixão percorreu suas costas. Aquilo era o que necessitava para recuperar o bom senso. A atração sexual entre homens e mulheres era algo saudável e normal. Nunca antes tivera tempo para deleitar-se com isso, mas naquele momento estava preparada e com Jamal, seu abandono ao prazer era inevitável.

      Aquele foi seu último pensamento antes que Jamal cobrisse sua boca com a dele.

      Jamal a beijou sabiamente e com desespero ao mesmo tempo. A necessidade de saboreá-la era fundamental para ele. Sem descanso, sua língua explorou a boca de Delaney, saboreando-a e acariciando-a, para passar a devorá-la. E quando aquilo não foi suficiente, começou a absorvê-la com cada suspiro.

      Passou a mão por trás de sua cabeça para sujeitá-la. Pensava que seria impossível saciar-se, mas tentaria de todos os modos. Chegara a um ponto onde estava disposto a morrer tentando.

      Ao longo de sua vida beijara muitas mulheres, mas nunca sentira a necessidade de, literalmente, comê-las vivas. Nenhuma mulher o levara até o limite.

      Jamal crescera em um ambiente que aceitava o que o sexo e a intimidade representavam: um prazer e uma parte normal e saudável da vida.

      Mas algo dentro dele dizia que não havia nada de normal em tudo aquilo. Como poderia ser normal querer acariciar eternamente a língua de uma mulher para saborear algo que começava a desejar com loucura?

      Jamal se estreitou contra ela, queria que o sentisse e que soubesse o quanto a desejava; queria que soubesse que queria algo mais que um beijo. Queria tudo.

      E pretendia conseguir.

      Os dedos de Jamal eram insistentes enquanto se moviam pelo seu corpo para estreitá-la contra si e seu corpo se endureceu ao sentir seus duros mamilos contra seu torso nu. O contato era estimulante, quente e excitante.

      E estava enloquecendo-o.

      Sentiu que seu membro se endurecia e a apertou seu quadril com firmeza; necessitava que sentisse sua excitação em toda sua extensão. Soube que ela percebera quando começou a enredar os dedos entre os seus cabelos e a estreitar-se contra ele ainda mais, enquanto ele continuava devorando-a.

      Alguns instantes mais tarde, outro forte trovão os separou. Delaney se sobressaltou de tal maneira que quase se afogou. Afastou-se para tomar ar e alguns segundos depois, quando levantou os olhos e encontrou com um acalorado olhar de Jamal, sentiu que seu corpo voltava a reagir.

      Um beijo não bastara para saciar-se e aquele pensamento a fez perceber que se não se separasse dele, não haveria como voltar atrás. Já sentia que começava a ceder e a deixar ser levada por ele.

      Delaney deu um passo para trás e ele se aproximou dela, prendendo-a contra a parede.

      — Não deveríamos ter feito isso —disse ela brandamente, embora sem convicção.

      Jamal de sua parte se alegrava por terem feito e queria repetir.

      — Já faz uma semana que chegou. Cedo ou tarde teríamos nos beijado —disse ele com a voz rouca.

      Seu corpo ainda irradiava desejo, embora já não se tocassem.

      — Por quê? —perguntou ela.

      Quando viu a forma que seus olhos se obscureciam, uma parte dela desejou não ter perguntado. Estava olhando de uma maneira que fazia certas partes de seu corpo se esquentarem, e naquele momento não estava segura de poder suportar tanta excitação.

      —Porque nos desejamos e queremos fazer amor —respondeu ele sem mais.

      Embora aquelas palavras soassem bruscas inclusive aos seus ouvidos, eram a verdade e quando se tratava de satisfazer seu corpo, Jamal acreditava na sinceridade. Em seu país aquelas coisas eram conhecidas e aceitas por todos.

      O corpo de Delaney tremeu ao ouvir aquilo, fazia parecer que o sexo era algo singelo e natural. Pensou em todos os homens com os quais saíra; nunca sentira o desejo de deitar-se com nenhum deles.

      Mas Jamal tinha razão, naquele momento se sentia tentada, embora uma parte dela o rechaçasse.

      — Não sou o tipo de mulher que se mete na cama com qualquer homem —disse ela suavemente.

      Tinha que conscientizá-lo sobre sua postura naquele tema, e não poderia deixar que percebesse que pela primeira vez, estava repensando nas suas convicções.

      — Não tem que ser na cama se não quiser. Podemos nos jogar sobre a mesa, ou no sofá, ou no chão. Você escolhe. Eu estou mais que preparado.

      Delaney baixou o olhar e ao ver a ereção que marcava sua bermuda, percebeu que falava totalmente a sério e que não a entendera.

      — O que quero dizer é que não me deito com um homem só por diversão.

      Jamal assentiu.

— E por prazer? Deitaria-se com um homem pelo prazer que lhe proporcionaria?

      Delaney o olhou incrédula. Manter relações sexuais somente por prazer? Sabia que seus irmãos faziam isso continuamente. Eles eram peritos. Nenhum tinha a intenção de se casar, e entretanto compravam tantos preservativos com o passar dos anos, que poderiam montar seus próprios negócios.

      — Nunca pensei nisso —respondeu ela sinceramente—. Quando penso que alguém está quente, costumo pensar em homens em vez de mulheres.

      — Quente?

      Delaney moveu a cabeça e pensou que provavelmente não estava familiarizado com aquela vulgaridade.

      — Sim. Quando alguém está quente significa que está desejando fazer amor.

      Jamal se inclinou para sua boca.

      — Nesse caso, estou “quente” —murmurou ele—.E quero esquentá-la.

      — Isso não é possível —sussurrou ela, capaz apenas de respirar.

      Jamal sorriu.

      — Sim é.

      E antes de que Delaney pudesse dizer algo, Jamal acariciou sua coxa com uma mão ao mesmo tempo que sua língua acariciava seus lábios para lentamente, entrar em sua boca. Uma vez dentro, começou a acariciar sua língua como se tivesse todo o tempo do mundo para fazê-lo.

      O corpo de Delaney se estremeceu quando sentiu que os dedos de Jamal estavam sobre o zíper de sua bermuda. Parte dela queria afastá-lo, mas outra parte estava invadida pela curiosidade; a parte dela que começava a esquentar de novo e desejava sentir seu toque.

     Queria saber até onde ele chegaria.

      Delaney conteve a respiração enquanto ele baixava o zíper lenta e deliberadamente, não opondo resistência. Percebeu que a respiração de Jamal começava a ficar tão pesada quanto a sua e aquilo a excitou ainda mais.

      Então, Jamal colocou a mão dentro de sua bermuda, tocando-a com habilidade sobre o suave tecido de sua calcinha. Tocou-a em um lugar que nenhum homem havia tocado antes, e com aquela íntima carícia, todas as células de seu corpo se incendiaram. Começou a acariciá-la lentamente, languidamente, esquentando-a. Tal e como dissera que faria.

      Nunca experimentara algo tão perturbador, tão incrivelmente sedutor; enquanto uma das mãos de Jamal afastava suas coxas, seu dedo centrava toda sua atenção naquele lugar tão sensível e estimulante que havia entre suas pernas, enquanto a língua dele continuava acariciando a sua.

      A combinação de seus dedos e sua língua foi muito para ela. Sentiu-se desfalecer e escandalizada. O prazer que lhe proporcionava era muito intenso.

      Naquele momento, outro trovão, o suficientemente forte para sacudir a cabana, tirou Delaney de seu atordoamento sexual e a devolveu à realidade; afastou-se de Jamal e inspirou profundamente. Recostou-se contra a parede, incapaz de acreditar no que acabara de ocorrer entre eles, o que se permitira fazer e as liberdades que tinha dado a ele.

      Tinha sido argila entre suas mãos.

      Uma mulher completamente diferente entre seus dedos.

      Agradeceu ao trovão que a salvara, no último momento, de fazer algo ridículo. Tal e como pensara, Jamal era um professor na arte da sedução. Soubera como beijá-la e onde tocá-la para debilitá-la suficientemente para que ela se deixasse levar. E não estava disposta a deixar que isso voltasse a acontecer.

      Obrigou-se a olhá-lo, sabendo que tratava com um homem que provavelmente acostumara-se a conseguir o que queria, quando queria. A única coisa que tinha que fazer era estalar os dedos cada vez que precisasse saciar-se sexualmente.

      Acaso pensava que poderia fazer o mesmo com ela enquanto estivesse na América? Aquele pensamento a enfureceu; ela não era parte de seu harém e não tinha intenção de estar disponível para ele.

      Delaney estava furiosa consigo mesma por deixá-lo fazer com ela o que quisesse e o olhou furiosa.

      — Vou tomar uma ducha fria, e sugiro que faça o mesmo.

      Por um instante, Jamal não disse nada, mas depois sorriu amplamente.

      — Isso não ajudará, Delaney.

      — Por que não? —espetou ela, negando-se a admitir que provavelmente teria razão.

      — Porque conheço seu sabor e você o meu. Quando tiver fome, vai querer comer, e quando isso ocorrer, eu a alimentarei até que seu corpo esteja satisfeito. Proporcionarei todo o alimento sexual que necessite.

      E sem esperar pela resposta dela, deu a volta e partiu.

      Depois de caminhar de um lado a outro de seu quarto durante o que lhe pareceu uma eternidade, Delaney se sentou do lado da cama. Não recordava ter estado tão irritada em sua vida, tão frustrada... tão furiosa.

      — Me sentirei melhor assim que conseguir pensar com claridade —disse para si mesma em voz alta.

      Ficou de pé e começou a caminhar de novo. Como podia um homem incendiar um corpo daquela maneira? Ainda sentia que o fogo a consumia.

      A única coisa que tinha que fazer era fechar os olhos e podia sentir sua língua dentro de sua boca, o toque de suas mãos.., seus dedos sobre sua pele. E ainda podia sentir sua dureza contra seu ventre.

      Um gemido escapou de seus lábios. Tinha que sair da cabana e passear, mas o problema era que estava chovendo.

      Levou um dedo aos lábios e pensou que um passeio sob a chuva não apagaria a lembrança do beijo de Jamal.

      Perguntou-se o que estaria fazendo Jamal naqueles momentos. Sentiria-se igualmente atormentado como ela?

      Suspirou e pensou que tinha que manter-se firme e continuar evitando Jamal a todo custo.

 

                                   Capítulo Quatro

      — Vai a algum lugar?

      Delaney se deteve na metade do caminho para a porta da cabana. Desejou ter se assegurado de Jamal estar dormindo antes de sair para fazer compras, depois de seu último encontro, Delaney evitara-o ficando em seu quarto a maior parte do tempo.

      Mas já não suportava ficar presa em seu quarto por mais tempo. O desejo, que fluía por seu corpo como o vinho, a fazia sentir coisas que nunca havia sentido, e se encontrava intranqüila e nervosa.

      Durante os últimos dois dias, a chuva mativera os dois dentro da cabana; quando ela tinha fome, ía à cozinha e o encontrava sentado à mesa, escrevendo coisas em um papel. Seu escuro olhar a atravessava, cortando-lhe a respiração e embora não dissesse nada, Delaney sabia que a observava sem descanso enquanto ela estava perto.       Como um lobo que estudava sua presa.

      Suspirou enquanto percorria Jamal com o olhar. Estava vestido com um pijama de seda branco, e o primeiro pensamento que cruzou a cabeça de Delaney foi que já vira seus irmãos com pijama em muitas ocasiões, mas nenhum tivera o aspecto de Jamal. Além disso, usava o kaffiyeh branco na cabeça. À luz da lua, era o protótipo de príncipe alto, moreno e bonito.

      Inspirou profundamente e fez provisão de forças para manter o controle sobre si mesma, sobretudo ao recordar o beijo que tinham compartilhado; um beijo que lhe cortava a respiração só por recordá-lo. E para piorar a situação, começou a se fixar em coisas que antes nem sequer tinha visto: como suas mãos eram perfeitas; os dedos largos, hábeis e fortes; dedos que a seguraram com carinho enquanto a beijava; dedos que acariciaam sua bochecha, que desenharam o contorno de seus lábios e que tocaram seu lugar mais íntimo. Também se fixara em suas sobrancelhas: eram espessas, escuras, e junto com seus olhos, formavam uma mortal combinação.

      — Delaney, perguntei se você vai a algum lugar —disse Jamal.

      Delaney tragou saliva e o olhou, mas quando ele fixou seu escuro e penetrante olhar nela, ficou cravada no lugar.

      — Vou a uma loja - respondeu ela finalmente—. Tenho que comprar algumas coisas.

      — A essa hora da noite?

      Delaney viu que franzia o cenho e ela fez o mesmo.

      — Sim. Incomoda-o?

      Por um momento, ambos se olharam fixamente, desafiando-se. Delaney não cederia e ele tampouco. A sua forma de pensar, recordava seus irmãos em seus intentos de superproteção e aquilo era a última coisa que toleraria.

      — Não. Não me incomoda. Somente me preocupo com você - disse ele —. Não é seguro uma mulher sair sozinha à essa hora da noite.

      O tranqüilo tom de sua voz a afetou mais do que gostaria, e a forma que a olhava não ajudava. Intencionalmente ou não, estava acendendo sentimentos que ultimamente começara a sentir; sentimentos que tentara evitar ficando em seu quarto. Mas naquele momento sentiu como o sangue corria pelas suas veias e notou como sua respiração se acelerava.

      — Estou acostumada a viver sozinha, Jamal — contestou ela finalmente—. E sei cuidar de mim mesma. Devido aos meus hábitos de estudo, estou acostumada a fazer compras à noite, em vez de fazê-las de dia.

      Jamal assentiu.

      — Importa-se que a acompanhe? Eu também preciso comprar algumas coisas.

      Delaney semicerrou os olhos e se perguntou se ele realmente precisava comprar coisas ou se estava utilizando uma desculpa para acompanhá-la. Se fosse a segunda hipótese, não aceitaria.

      — Se eu não estivesse aqui, como faria para conseguir as coisas que necessita?

      Jamal deu de ombros.

      — Teria telefonado para Asalum, ele provavelmente ficaria mais que contente de fazer compras por mim, porém prefiro fazer as coisas por mim mesmo. Além disso, é mais de meia-noite e precisa descansar.

      Delaney se alegrou de ouvir que, ao menos, era considerada como as pessoas que trabalhavam para ele.

      — Suponho que não fará nenhum mal se me acompanhar - disse ela, assentindo lentamente.

      Jamal riu. Foi um som profundo e rouco que esquentou Delaney que o olhou de esguelha.

      — O que é tão engraçado?

      — Faz parecer uma odisséia passar algum tempo comigo.

      Delaney suspirou e afastou o olhar. E ele não sabia nem a metade. Alguns minutos mais tarde, Delaney voltou de novo sua atenção para Jamal.

      — Isso é devido principalmente ao fato de ter pensado que estaria aqui sozinha durante as próximas semanas.

      Jamal sorriu repentinamente, surpreendendo-a, o que mitigou parte de sua irritação.

      — Eu também —disse Jamal com a voz rouca, enquanto cruzava a cozinha para ficar diante dela—. Mas já que não estamos sozinhos e foi sua decisão ficar, não acha que deveríamos deixar de nos evitar e tirar o máximo de proveito desta situação?

      Delaney lutou contra a reação de seu corpo em face do cerco de Jamal, mas não era fácil.

      — Suponho que podemos tentar.

      — O que perderíamos?

      — Conseguiu tudo o que precisava?—perguntou Delaney enquanto voltavam para carro. Assim que entraram no supermercado vinte e quatro horas, Jamal desapareceu.

      — Sim. E você?

      — Sim. Inclusive comprei algumas coisas que não tinha pensado.

      Delaney pensou na novela romântica que comprou. Não recordava a última vez que lera um livro por prazer.

      O caminho de volta à cabana começou em silêncio. Delaney manteve os olhos na estrada mas sentia o olhar de Jamal sobre ela.

      — Que tipo de médica é? —perguntou Jamal depois de um momento.

      Aquela pergunta fez Delaney sorrir. Gostava de falar sobre sua profissão e estava orgulhosa do fato de ser a única médica da família Westmoreland.

      — Serei pediatra, mas primeiro tenho que completar dois anos como médica residente.

      — Você gosta de trabalhar com crianças?

      — Não só gosto de trabalhar com eles, mas adoro.

      — Eu também.

      Delaney se surpreendeu com aquele comentário.

      — De verdade?

      A maioria dos homens não admitiria esse fato, especialmente se fossem solteiros.

      — Sim. Tenho vontade de me casar e formar uma família.

      Delaney assentiu.

      — Eu também. Quero ter muitos filhos.

      Jamal riu e a olhou intrigado.

      — Quantos são muitos?

      — Pelo menos seis —disse Delaney sem pensar.

      Jamal sorriu e pensou que era incrível que os dois quisessem a mesma quantidade de filhos.

      — Não são muitos?

      Delaney sorriu. Aquilo era o que seus irmãos sempre lhe diziam. Estavam convencidos de que seria difícil ela encontrar um homem que quisesse ter tantos filhos.

      — Um número par para me manter feliz e contente.

      Quando o carro parou em um semáforo, Jamal olhou Delaney de esguelha. Era muito bonita para descrevê-la. Inclusive com o rosto sem maquiagem e um lenço ao redor da cabeça para prender o cabelo, era toda uma mulher, e muito atrevida.

      Os pensamentos de Jamal se desviaram para Najeen. Ela continuaria sendo sua amante mesmo depois de casar-se. Aquilo era conhecido e aceito; sabia que as mulheres ocidentais eram possessivas depois do casamento e não tolerariam que seu marido tivesse uma amante, mas a maioria das mulheres americanas pensava que se casava por amor. Em seu país, as pessoas o faziam pelos benefícios que um casamento representaria, sobretudo herdeiros. E o casamento de Jamal não seria diferente. Já que não acreditava no amor, não tinha intenção de casar-se por amor; seria um casamento de acordo, nem mais nem menos.

      Mas não imaginava Delaney conformando-se com aquele tipo de acordo com nenhum homem. Ela iria querer tudo: o amor de um homem, sua devoção e sua alma se pudesse consegui-la.

      Jamal se encolheu interiormente. Só a idéia de uma mulher ter tanto controle sobre um homem era realmente desconcertante e a possibilidade de uma mulher exigir uma relação assim era algo impensável em seu país.

      — Acredita que poderá ter uma carreira profissional e ser mãe ao mesmo tempo? —perguntou ele.

      Perguntou-se como responderia. As mulheres ocidentais eram menos caseiras; desfrutavam trabalhando tanto quanto o homem. Jamal sorriu. A mulher com quem se casasse só teria um trabalho: dar-lhe filhos. Se quisesse, poderia andar nua o dia todo; estaria nua e grávida a maior parte do tempo.

      — Claro —respondeu Delaney sorrindo—. Tanto quanto você poderá ser pai e príncipe ao mesmo tempo, eu poderei ser médica e mãe. Tenho certeza de que em ocasiões, será um pouco caótico, mas você terá êxito e eu também.

      Jamal franziu o cenho.

      — Não acredita que seus filhos necessitarão toda sua atenção, principalmente nos primeiros anos?

      Delaney captou o sutil tom de desaprovação em sua voz.

      — Não mais do que seu filho necessitaria de você como seu pai.

      — Mas você é uma mulher.

      Ela sorriu triunfalmente, satisfeita com aquele fato.

      — Sim, e você é um homem. E daí? Não há nada que demonstre que o papel de uma mãe é mais importante que o de um pai na vida de uma criança. Eu penso que ambos são importantes. O homem com quem me casar terá de passar tanto tempo com nossos filhos quanto eu. Dividiremos nosso tempo em partes iguais para criá-los.

      Jamal pensou na quantidade de tempo que seu pai passara com ele enquanto crescera. Jamal fora cuidado por uma servente muito respeitada, Rebakkah, a esposa de Asalum. E embora seu pai não passasse muito tempo com ele Jamal sempre soube que seu pai o amava, afinal, era seu herdeiro. E naquele momento sabia que sua relação estava apoiada no respeito; ele via seu pai como um rei sábio que amava seu povo e que faria tudo por ele. Ser o sucessor de seu pai algum dia, seria um trabalho duro e esperava estar à altura de seu pai quando chegasse o momento.

      Delaney percebeu que Jamal ficou calado. Evidentemente lhe dara algo no que pensar. Como se atrevia pensar que o trabalho de uma mulher era exclusivamente o de agradar seu marido na cama e procriar? Jamal e seu pai, além de seu irmão Storm, dariam-se maravilhosamente bem.

      Delaney olhou Jamal de esguelha e se perguntou como se colocou em tudo aquilo, quando decidiu sair para fazer compras porque não pudera dormir, parecera uma boa idéia, mas não contava que Jamal a acompanharia.

      Voltou a olhá-lo e viu que ele estava observando-a, de maneira que centrou a atenção de novo na estrada. Quando chegaram à cabana, Delaney estava completamente acordada, assim decidiu que tinha que começar a diminuir as horas de sono durante o dia. Pelas noites, quando tudo estava em silêncio, sua cabeça parecia ter vida própria e não gostava do rumo que estava tomando.

      Rapidamente passou ao lado de Jamal quando ele abriu a porta, com a intenção de dirigir-se diretamente ao seu quarto. A última coisa que queria naquele momento era outro encontro como aquele que compartilharam; aquele homem era um perito na arte de beijar.

      O que disse antes era certo, e ela odiava ter que admitir, mas seu corpo o desejava; começava a sentir um pulsar em seu ventre e uma onda de calor que a invadia.

      — Gostaria de uma xícara de café? —perguntou ele.

      O som de sua voz, rouco e sedutor, como sempre, a fazia sentir coisas em seu interior, e a última coisa que queria era compartilhar uma xícara de café com ele. Antes do primeiro gole estaria equilibrando-se sobre ele.

      — Não, obrigado. Vou me deitar.

      — Se alguma vez se cansar de dormir sozinha, recorde que meu quarto fica do outro lado do corredor.

      Delaney apertou os lábios.

      — Obrigado pela oferta, mas não considerarei.

      Jamal levantou a mão e acariciou sua bochecha. Foi tão rápido que ela não teve tempo nem de piscar. Seu toque era suave, delicado e carinhoso, e Delaney sentiu que seu pulso se acelerava. Jamal se inclinou para ela.

      — De verdade? —sussurrou ele.

      Delaney fechou os olhos e bebeu o masculino aroma que desprendia; o desejo que sentia por ele ameaçava afogá-la. Delaney lutou para retomar o controle de si mesma e deu um passo para trás enquanto abria os olhos.

      — Sinto muito, “majestade”, mas não o farei.

      Dito aquilo, deu meia volta e se apressou para seu quarto, pensando que mentira para ele, pois recordaria.

      — Céus!

      Delaney se revolveu na rede. Tinha os olhos grudados no livro e não podia acreditar no que estava lendo.

      Fazia mais de oito anos que não lia uma novela romântica, e as que lera até então eram doces e inocentes. Mas o livro que tinha em mãos não tinha nada de doce ou inocente; as cenas de amor não deixavam lugar para dúvidas.

      Quando despertou aquela manhã, e enquanto Jamal praticava kickboxing, ela se sentara à mesa da cozinha para tomar o café da manhã. Quando terminou, Jamal continuava fora, assim saiu e procurou um lugar junto ao lago para ler.

      Delaney inspirou profundamente e voltou sua atenção de novo para o livro. Alguns minutos mais tarde, seu coração pulsava com rapidez; perguntou para si mesma se duas pessoas realmente poderiam realizar tantas posturas em uma cama.

      Delaney se esticou e tentou tranqüilizar-se um pouco; aquele livro a excitara. Em sua imaginação, o herói alto e moreno era Jamal e ela a elusiva e sexy heroína.

      Deitou-se de costas e pensou que já lera o suficiente; não tinha sentido continuar torturando seu corpo daquela maneira e antes que pudesse perceber, dormiu pensando em um romance com o sheik.

      Sonhou que estava beijando-a da maneira mais sedutora e provocadora; não nos lábios, mas no pescoço e pelos ombros. Sentiu um ligeiro puxão em sua camiseta, como se estivesse sendo levantada para expor seu seios. Aquela manhã fazia muito calor, assim não vestiu seu sutiã, naquele momento, com o toque da língua de seu amante imaginário sobre seus seios, saboreando-a, mordiscando-a, alegrava-se de não vestí-lo. Sentiu uma onda de desejo por todo seu corpo enquanto uma língua quente e úmida começava a lamber brandamente um de seus mamilos, deleitando-se na erguida ponta.

      Um nome, que dera ao seu amante imaginário, saiu de sua boca em uma espécie de gemido. Sua cabeça começou a dar voltas e sua respiração se acelerou enquanto seu corpo se esquentava; uma parte dela não queria que o sonho terminasse mas a outra tinha medo de continuar. Parecia tão real que sentiu que estava à beira da loucura.

      De repente, seu amante abaixou sua camiseta e deteve suas ações. A respiração de Delaney voltou à normalidade enquanto ela lutava para retomar o controle de seus sentidos. Alguns minutos mais tarde, Delaney abriu os olhos e olhou ao seu redor. Estava sozinha, mas o sonho parecera totalmente real. Seus mamilos ainda palpitavam e o triângulo entre suas pernas ansiava pelo que nunca tivera: alívio.

      Fechou os olhos de novo, perguntando-se se poderia voltar a sonhar com seu amante, mas pensou que não seria capaz de suportar tanto prazer em um só dia. Além disso, ainda estava com sono e cansada. Enquanto adormecia, não pôde evitar de recordar seu sonho e pensou que fora incrível.

      Jamal inspirou profundamente enquanto se apoiava contra uma árvore. O que o possuíra para justificar o que acabara de fazer à Delaney? Não teve que pensar muito para encontrar a resposta. Desde o primeiro dia sentira-se atraído por ela, e quando a encontrou adormecida na rede, com aquela bermuda e a camiseta acima do umbigo, não pôde resistir à tentação de saboreá-la. Um sabor no qual tinha pensado muito últimamente.

      Seus seios, inclusive enquanto dormia, estavam erguidos e firmes, com os mamilos eretos, estreitando-se contra a camiseta. Logo, sem pensar, Jamal se ajoelhou diante dela e saboreou todo seu corpo, mas recuperou o bom senso antes de chegar ao ponto que ele queria chegar.

      Só a idéia de fazer amor com ela o excitara até tal ponto que sua ereção era dolorosa. E quando ela gemera seu nome, estivera a ponto de perder a cabeça.

      Quando chegou à cabana, a última coisa que pensava era em uma mulher. Mas naquele momento, uma mulher em concreto era a única coisa que podia pensar.

      Seu corpo estava quente, aceso e se perguntou se não deveria recolher suas coisas e dizer à Asalum para buscá-lo e voltar ao seu país. Nunca desejara uma mulher tanto para seduzi-la enquanto dormia.

      Mas não podia partir. Ela gemera seu nome em sonhos. Não tinha imaginado. Ela poderia negar que o desejava enquanto estava acordada, mas enquanto dormia era um assunto completamente diferente.

      Sua libido estava alterada; queria voltar a saboreá-la. Em realidade, queria algo mais que isso. Queria fazer amor com ela, e todos os músculos de seu corpo o empurravam para aquela meta.

 

                                   Capítulo Cinco

      Jamal estava sentado à mesa da cozinha tomando uma xícara de chá quando Delaney entrou uma hora mais tarde, para comer. Olhou-o de esguelha enquanto se dirigia para a geladeira.

      — Vou fazer um sanduíche para comer —disse a Jamal—. Quer um?

      Jamal se moveu na cadeira enquanto a olhava. Não queria um sanduíche. Queria sexo. E como resultado, sentia-se intranqüilo e nervoso. Apenas alguns dias antes saboreara sua boca e seus mamilos. Não faltava muito para descobrir, mas o que faltava estava enlouquecendo os seus hormônios.

      Diante do silêncio dele, Delaney se separou da geladeira e o olhou intrigada.

      — Jamal?

      — Sim?

      — Perguntei se quer um sanduíche.

      Ele assentiu, aceitando sua oferta. Precisava comer algo já que necessitaria de todas suas forças mais tarde. Ao menos aquilo era o que ele esperava.

      — Sim, obrigado. Eu adoraria comer um sanduíche.

      “Eu adoraria comer você”.

      Continuou observando enquanto ela tirava as coisas da geladeira. O sedutor aroma feminino de Delaney enchia a cozinha e Jamal sentiu que o afetava profundamente. Além disso, não ajudava saber que não usava o sutiã por baixo daquela camiseta e que seus seios eram os melhores para lamber e chupar. No instante em que sua língua tocara seu mamilo ereto, a ponta se endureceu, tentando-o a absorvê-lo completamente e brincar com ele. E pela forma que gemeu enquanto se revolvia na espreguiçadeira, soube que ela estava desfrutando de tudo aquilo.

Jamal baixou o olhar para seu traseiro. Aquela parte era a primeira coisa que tinha chamado sua atenção no primeiro dia; também era o que o fizera excitar-se naquele momento. Delaney gostava de usar bermudas, daquelas que mostravam perfeitamente o magnífico traseiro que tinha; também admirou suas coxas e a forma em que a bermuda marcava a suave curva de seus quadris. Jamal se perguntou que aspecto teria suas costas nuas e pensou que suas nádegas seriam tão firmes e exuberantes quanto seus seios.

      — Quer maionese?

      Aquela pergunta o obrigou a olhá-la no rosto, quando ela o olhou por cima do ombro.

      — Não. Prefiro mostarda - respondeu ele rápidamente, enquanto pensava em encurralá-la contra a bancada e tomá-la por trás.

      Imaginou a si mesmo entrando e saindo dela enquanto estreitava seu traseiro contra ele.

      Jamal bebeu seu chá; normalmente era uma bebida que o tranqüilizava, mas naquele momento não teve o efeito de sempre.

      — Prepare-se para desfrutar do meu sanduíche - disse ela—. Meus irmãos acham que é o melhor e dariam tudo para ganharem um. Tem meu toque especial.

      Jamal assentiu. De repente, sentiu ciúmes da fatia de pão; desejava que as mãos de Delaney estivessem sobre ele, estendendo sobre seu corpo o que ela desejasse... beijos preferivelmente.

      Delaney voltou a olhá-lo por cima do ombro e sorriu.

      — Está muito calado hoje. Está tudo bem?

      Estava tentado a dizer-lhe que não, e que se ficasse de pé, perceberia o porquê.

      — Sim. Estou bem - disse finalmente.

Satisfeita com sua resposta, ela se virou e continuou fazendo os sanduíches e Jamal se recostou na cadeira. Observou-a enquanto terminava de prepará-los e viu que estava cantarolando e se perguntou por que estaria tão bem humorada. Diferentemente dele, talvez estivesse dormindo bem nas noites e não estaria experimentando nenhum tipo de tortura sexual.

      — Terminou o livro? —perguntou ele. Delaney passara a manhã lendo e a única vez que o deixara foi quando ficou adormecida na rede.

      — Sim. Era estupendo —respondeu ela enquanto tirava dois pratos do armário—. E é obvio que tinha um final feliz.

      Jamal arqueou uma sobrancelha.

      — Um final feliz?

      Delaney assentiu e se virou.

      — Sim. Marcus percebeu o quanto significava Jamie para ele e disse que a amava antes que fosse muito tarde.

      Jamal assentiu.

      — Ele amava essa mulher?

      Delaney sorriu.

      — Sim. Amava-a.

      — Então isso que lê é pura fantasia —disse ele franzindo o cenho—. Por que gasta seu tempo lendo tolices?

      Delaney deixou de sorrir e o olhou irritada.

      — Tolices?

      — Sim. Os homens não amam as mulheres dessa maneira.

      Delaney se apoiou na bancada e cruzou os braços sobre o peito. Jamal se fixou em suas pernas afastadas e ao vê-la assim, quase se esqueceu do que estavam falando. Desviou o olhar para o lugar onde se juntavam as pernas e se perguntou o que sentiria ao empurrar seu duro corpo contra ela.

      — E como os homens amam as mulheres?

      Jamal a olhou e viu que ainda franzia o cenho, já não estava de tão bom humor.

      — Normalmente não as amam. Ao menos não em meu país.

      Delaney arqueou uma sobrancelha.

      — Em seu país as pessoas se casam, não é?

      — É obvio.

      — Então, se não é por amor, por que se casam?

      Jamal a olhou, sentiu-se repentinamente desorientado. Delaney tinha a capacidade de fazê-lo se sentir daquela maneira cada vez que olhava seus escuros olhos e seus exuberantes lábios.

      — Casam-se por uma série de razões; principalmente pelos benefícios que significa um casamento —respondeu ele sem afastar o olhar de seu rosto.

      — Benefícios?

      — Sim. Se for uma boa união, o homem contribui com algum tipo de bem e a mulher contribui com fortes laços familiares e a habilidade de procriar herdeiros. São coisas necessárias para que um país como o meu, cresça e prospere.

Delaney o olhou fixamente, não podia acreditar no que acabara de ouvir.

      — Então os casamentos em seu país são como acordos comerciais.

      Jamal sorriu.

      — Mais ou menos. Por isso os mais bem-sucedidos são convencionados com cerca de trinta anos de antecedência.

      — Trinta anos! —exclamou Delaney incredulamente.

      Jamal suspirou, não queria continuar falando daquilo, sobretudo sabendo como eram as mulheres americanas.

      — Estão prontos os sanduíches?

      Evidentemente, Delaney não estava disposta a finalizar o tema.

      — No dia que nos conhecemos você me disse que se casaria no ano que vem.

      Jamal assentiu.

      — Sim. Em meu país é costume os homens se casarem antes de completarem trinta e cinco anos, e eu os completarei no ano que vem.

      — E a mulher com quem se casará? Seu casamento foi convencionado?

      Jamal percebeu que Delaney não lhe daria o sanduíche até que sua curiosidade estivesse satisfeita.

      — Sim e não. Minha família convencionou meu casamento com a futura princesa de Bahan antes dela nascer; eu só tinha seis anos. Mas ela e sua família morreram há alguns anos enquanto viajavam para outro país. Isso foi apenas um ano antes do nosso casamento. Ela só tinha dezoito anos.

      Delaney conteve a respiração.

      — Isso deve ter sido terrível para você.

      Jamal deu de ombros.

      — Suponho que teria sido se tivesse conhecido ela.

      “Como conheço você”, disse intimamente. Só a idéia de que algo ocorresse a ela...

      — O que quer dizer com isso? —Perguntou Delaney—. Não conhecia a mulher com a qual se casaria? —inquiriu boquiaberta.

      — Não. Nunca a conheci. Realmente não havia necessidade disso. Teria bastado conhecê-la no dia do casamento.

      — Mas... e se fosse alguém que não quisesse?

      Jamal a olhou e sorriu como se acabasse de fazer a pergunta mais tola.

      — É obvio que a aceitaria. Ela estava destinada para ser minha esposa e eu seu marido. Teríamos nos casado da mesma forma.

      Delaney inspirou profundamente.

      — E você continuaria vendo sua amante?

      Delaney falou em voz baixa, sem incomodar-se de perguntar a ele se tinha uma. Um homem como ele, sobretudo um homem que não se importasse de não conhecer a mulher com a qual se casaria, faria isso. Deitaria-se com sua esposa para gerar seus herdeiros e cumprir sua obrigação de marido, e depois se deitaria com sua amante para procurar se agradar.

      — Sim. Continuaria vendo minha amante —disse ele, enquanto pensava em Najeen—. Nunca a deixaria.

      Delaney o olhou incrédula. Não podia acreditar a atitude de despreocupação que tomava o ser infiel. Inclusive seus irmãos, que desfrutavam sendo solteiros, estava segura de que seriam fiéis quando encontrassem a mulher adequada.

      De repente, Delaney sentiu que seus sentimentos eram uma confusão. Nunca poderia cogitar ter algo sério com um homem como Jamal e aceitar o fato dele se deitar com outra mulher. Respeitava as diferenças culturais, mas havia certas coisas que não poderia tolerar e a infidelidade era uma delas. A violação dos votos matrimoniais era algo que não toleraria.

      Cruzou a cozinha com um prato em cada mão e deixou um deles de repente sobre a mesa.

      — Desfrute de seu sanduíche —disse ela olhando-o furiosa—. Espero que não engasgue. Eu comerei em meu quarto já que no momento, não quero desfrutar de sua companhia.

      Jamal se levantou rapidamente e agarrou seu pulso para aproximá-la.

      — Por que se zanga se falei com total sinceridade? É a forma que fazemos as coisas em meu país, Delaney. Aceite.

      Ela tentou escapar de sua mão mas ele a segurava com força.

      — Aceitar? — disse ela rindo sarcásticamente. Jogou a cabeça para trás e o olhou irritada—. Por que teria que aceitar? A forma que você vive sua vida é problema seu e não significa nada para mim.

      Seus rostos estavam muito perto um do outro, e acaso se movessem um só milímetro se tocariam. Ela tentou se afastar, mas Jamal não deixou.

      — Se realmente pensa o que diz, simplificaria muito as coisas.

      Delaney tentou não fixar-se no olhar de Jamal centrado em sua boca.

      — O que quer dizer com isso? —espetou ela.

      Odiava perceber que inclusive naquela situação, seu corpo começava a sentir o desejo. Como podia desejá-lo depois de ter admitido que não se casaria por amor e se gabava por ter uma amante a qual jamais deixaria?

      — Se como vivo a minha vida não significa nada para você, então o fato de nos deitarmos juntos não terá tanta importância.

      — Como?

      — Já me ouviu, Delaney. As mulheres ocidentais costumam ser possessivas e essa é a razão pela qual nunca mantive uma relação séria com nenhuma. Deite-se com elas uma vez e tentam fazê-las sua para sempre. Expliquei como será minha vida quando voltar a Tahran e quero que entenda antes de compartilhar minha cama. Não posso lhe prometer nada, salvo que lhe darei tanto prazer como nunca experimentou.

      Delaney moveu a cabeça, não podia acreditar na audácia de Jamal, sua arrogância; ele tinha por certo que se deitariam juntos. Pois podia esquecer disso porque não se deitaria com ele.

      Delaney liberou sua mão da dele.

      — Me deixe esclarecer uma coisa, príncipe. Não tenho intenção de me deitar com você —gritou enquanto golpeava o peito dele—. Não tenho intenção de ser o segundo prato de nenhum homem, por mais prazer que possa me dar. Mesmo que seu corpo fosse feito de ouro e diamantes, não o tocaria a não ser que fosse exclusivamente meu. Entendeu?

O olhar do Jamal se endureceu ao olhá-la.

      — Nunca serei exclusivamente de uma mulher só. Nunca.

      — Muito bem. Agora já sabemos o lugar de cada um —disse Delaney e se virou para partir.

      — Delaney...

      Disse a si mesma que não deveria voltar, mas se virando.

      — O que?

      Jamal franzia o cenho, enfurecido.

      — Então sugiro que vá embora. Hoje.

      Delaney inspirou profundamente. Como se atrevia?    — Já falei, Jamal. Não vou partir.

      Jamal a olhou fixamente durante um instante.

      — Pois então não baixe a guarda, Delaney Westmoreland. Desejo você, tanto que me dói. Desejo-a como nunca desejei mulher alguma —admitiu Jamal—. Eu gosto de inalar seu aroma, eu gosto de saboreá-la e quero voltar a fazê-lo. Quero estar dentro de você e acender nossa paixão. Desde que chegou, não deixei de sonhar em tomá-la, em estar em cima de você e entrar em seu corpo para lhe dar o melhor sexo que já desfrutou.

      Jamal se aproximou lentamente dela, ignorando a apreensão em seu olhar, passou uma mão em sua bochecha e continuou falando.

      — Ao fim e ao cabo, para os dois, trata-se de luxúria. Então não importa o que ocorrerá quando partirmos daqui. O que há entre nós é singela e sincera, luxúria; tão forte que pode pôr um homem de joelhos. Não há amor entre nós e nunca haverá. Somente haverá luxúria.

      Jamal se interrompeu e a olhou diretamente nos olhos.

      — Quando partirmos daqui, o mais provável é que não voltemos a nos ver. Assim, por que não desfrutamos de um pouco de prazer que nos proporcionará maravilhosas lembranças durante anos?

      Lentamente, Jamal deslizou a mão de sua bochecha para seu pescoço.

      — Quero fazer amor com você todos os dias enquanto estivermos aqui. Em todas as posições conhecidas pelo homem. Quero satisfazer suas fantasias e as minhas.

      Delaney engoliu a saliva. Tudo o que dizia soava tão apetitoso, tão tentador...

      E uma mulher com menos força de vontade abandonaria tudo, inclusive seu orgulho e aceitaria o que estava oferecendo. Mas ela não faria isso.

      Não se conformaria com pouco, não estava tão desesperada. Além disso, não poderia sentir falta daquilo que não provara, e embora fosse a primeira a admitir que Jamal despertara nela sentimentos e desejos que nem sequer sabia que existiam, controlaria sua ânsia por provar o resto.

      Assim com resolução e firmeza, deu um passo para trás.

      — Não, Jamal. Quando disse que um homem tem que ser exclusivamente meu, falava a sério.

      O olhar de Jamal se obscureceu e sorriu sedutoramente.

      — Isso é o que pensa agora, Delaney. Mas no final, verá as coisas de outra maneira.

      Seu tom de voz era rouco e o olhar de seus olhos a desafiava.

      — O que quer dizer?

      — Quero dizer que quando se trata de algo que quero, não jogo limpo.

      Delaney o olhou significativamente e sentiu que seu coração começava a pulsar com rapidez ao compreender o que estava dizendo. Tentaria fazê-la baixar a guarda, sem se importar quanto tempo demorasse, sempre e quando conseguisse o que queria: tê-la em sua cama.

      Pois poderia ser tão forte e tão teimosa quanto ele. Aquele príncipe se encontrou com a pedra de seu sapato.

      Delaney sorriu e em seus olhos brilhou uma faísca de humor.

      — Talvez não jogue limpo, mas saiba que eu jogo para ganhar.

      — Este jogo não ganhará, Delaney.

      — Não posso me permitir perdê-lo, “majestade”.

      — Então não diga que não a avisei —disse ele e seu olhar se obscureceu.

      — Eu digo o mesmo —replicou ela,

      Sem nada mais a dizer, Delaney se virou e, com a cabeça bem erguida, foi para varanda para comer seu sanduíche.

 

                                       Capítulo Seis

      Quando Delaney entrou na sala de estar algumas horas mais tarde, Jamal levantou o olhar.

      A guerra foi declarada e ela estava utilizando todas as armas que podia dispor para ganhar. Estava determinada a mostrar à ele o que ela pensava que nunca teria, e aquela era a razão, pensou Jamal, pela qual mudou de roupa. A única forma de descrevê-la era incrivelmente sedutora.

      Usava uma bata de renda que insinuava mais do que cobria, e Jamal não pôde fazer outra coisa além de recostar-se na cadeira e olhá-la dos pés a cabeça. Um arrebatamento de primitiva posse, além da excitação o assaltaram. Não poderia aparentar indiferença embora quisesse, assim não tentou. Em vez disso, deixou de lado os documentos nos quais estava trabalhando e esticou as pernas, dando a ela toda sua atenção. De todos os modos, Jamal sabia que aquilo era o que ela queria.

      Sabia qual era seu jogo: queria colocá-lo de joelhos sem lhe dar a oportunidade de ficar entre suas pernas. Mas Jamal pensou que a deixaria jogar seu pequeno jogo, e depois jogaria o dele.

      A bata que usava era de cor pêssego e ressaltava o tom moreno de sua pele. O tecido parecia de suave seda e proporcionava a quantidade justa de encanto feminino. A forma que o tecido se movia ao seu redor enquanto cruzava a sala indicava que não usava roupa íntima. Aquela mulher era a sedução personificada.

      Jamal sentiu que seu membro palpitava enquanto observava como se sentava no sofá em frente a ele: completamente correta e formal, e verdadeiramente sexy. Embora sua respiração se acelerasse, torturou a si mesmo obrigando-se a continuar olhando-a.

      — Como vão as coisas? —perguntou ela em um tom profundo e sedutor.

      Jamal piscou quando percebeu que ela tinha falado, e o sedutor tom de voz e a forma que o olhava o conscientizou da parte mais masculina de seu corpo.

      — Poderia dizer que está como concreto—disse ele tranqüilamente.

      Não tinha sentido ocultar o evidente, já que tinha uma grande ereção do tamanho do Egito.

      Delaney não lhe respondeu. Em vez disso, sorriu descaradamente, como se marcasse um ponto. E Jamal teve que aceitar que marcara. Perguntou-se se ela desfrutava vendo-o suar; recordaria tudo o que estava fazendo ele passar quando chegasse a sua vez e quando isso acontecesse, não a deixaria voltar atrás. Ela começara aquilo e Jamal estava decidido a obrigá-la a chegar até o final.

      O cd que estavam escutando terminou e um interminável silêncio encheu a sala.

      Olharam-se fixamente um ao outro.

      Jamal sentiu que seu corpo ardia por dentro, subindo insuportavelmente de temperatura e pela expressão do rosto de Delaney soube que ela estava desfrutando daquele momento.

      — Quer que coloque mais música? —perguntou ele, enquanto lentamente ficava de pé, sem se importar que ela visse a evidente amostra de sua masculinidade.

      Depois de assimilar quão grande era, Delaney assentiu, incapaz de falar. Ao ver a expressão de seu rosto, Jamal não pôde evitar de sorrir. O que tinha esperado?

      Embora algumas mulheres lhe dissessem que era muito bem dotado, pensou que ela já vira antes um homem excitado sexualmente.

      Jamal se dirigiu ao equipamento de música.

      — Tem alguma preferência? —perguntou ele.

      Ao ver que ela não respondia, Jamal a olhou por cima do ombro.

Delaney tragou saliva antes de responder.

      — Não. Coloque o que quiser.

      Jamal captou seu nervosismo. Evidentemente, não tinha aquele jogo tão controlado como ela acreditava.

      Pôs um cd do Kenny G e imediatamente o som do saxofone encheu a sala.

      Jamal se virou e lentamente, aproximou-se do sofá onde ela estava sentada; queria comprovar quanta tentação poderia suportar.

      Deteve-se diante dela e estendeu uma mão.

      — Quer dançar?

      Jamal esperou enquanto ela se decidia, embora já soubesse qual seria sua resposta; ela começara aquilo e não permitiria que ele saísse vitorioso.

      Lentamente, Delaney ficou de pé.

      — Sim —aceitou ela e tomou a mão que lhe oferecia.

      Jamal a estreitou entre seus braços e ambos suspiraram quando seus corpos entraram em contato. Fechou os olhos e se obrigou a conservar a calma; gostava de senti-la e quando ela se apoiou contra seu peito, grunhiu.

Nenhum dos dois disse nada, mas ele sabia que Delaney continha a respiração cada vez que sua ereção roçava seu ventre, coisa que procurou fazer freqüentemente.

      Quando a música cessou, Jamal não quis soltá-la, e como ela se afastou, teve a impressão de que tampouco estava preparada para o término daquele momento.

      Sabia o que tinha que fazer e o que queria fazer, e se saboreá-la, chegariam mais longe, que assim fosse.

      Afastou-se ligeiramente, obrigando Delaney a levantar a cabeça. Então, Jamal viu um desejo tão poderoso quanto o seu refletido em seus olhos e soube que tinha que beijá-la.

      Delaney provavelmente estaria pensando a mesma coisa, porque entreabriu os lábios para ele, sem protestar.

      Quando Jamal capturou seus lábios, Delaney gemeu entrecortadamente.

      O movimento de sua língua dentro da boca de Delaney era lento e metódico; ele era um perito na arte de beijar e utilizou aquela arte com ela.

      Delaney ouviu um suave gemido dentro de sua garganta enquanto entrelaçava os dedos nos cabelos de Jamal. Sentia-se gloriosa. Não tinha nem idéia do que estava fazendo com ela, mas fosse o que fosse, não queria que parasse. Havia certos pontos em sua boca, os quais ele acariciava com sua língua, que estavam enlouquecendo-a até tal ponto que o calor que começou a sentir entre as pernas, tornara-se insuportável.

      Delaney gemeu e seu corpo começou a tremer, parecia que todas suas terminações nervosas se eletrificavam; sentiu que seus joelhos tremiam e sua cabeça começou a dar voltas. O último pensamento que cruzou sua mente foi que estava morrendo.

 

Delaney abriu os olhos lentamente e olhou para Jamal. Estava caída no seu colo.

      Piscou e notou que sua respiração era pesada e entrecortada.

      — O que aconteceu? —perguntou em um sussurro. sentia-se muito débil.

      — Desmaiou.

      — Desmaiei? —repetiu ela, perguntando-se se tinha ouvido bem.

      Jamal assentiu.

      — Sim. Enquanto a beijava.

      Delaney inspirou profundamente e fechou os olhos ao recordar. Era virgem, mas sabia reconhecer um orgasmo. Fora o primeiro e continuava sendo virgem. Pareceu-lhe que cada parte de seu corpo se desprendeu enquanto um prazer como nunca havia sentido a invadia. Fora muito intenso.

      — O que fez comigo? —perguntou ela quase sem fôlego, enquanto os efeitos secundários faziam seu corpo tremer.

      Notava a sensibilidade de sua boca, e o sabor de Jamal estava tão impregnado por toda parte, que o saboreava cada vez que falava.

      Jamal sorriu.

      — Beijei-a de uma maneira muito especial—disse ele.

      — Beija assim a sua amante? —sussurrou ela.

      De repente sentiu a necessidade de saber, embora não soubesse se gostaria da resposta.

      Os olhos do Jamal se obscureceram e seu olhar refletiu surpresa.

      — Não. Nunca beijei Najeen assim.

      Delaney piscou. Naquele momento foi ela que se surpreendeu. Não só lhe dissera o nome de sua amante, mas admitira ter compartilhado com ela algo que não compartilhara com nenhuma mulher. Por alguma razão, alegrou-se.

      — Alcançou o clímax enquanto a beijava.

      Delaney o olhou boquiaberta. Não podia acreditar no que acabava de ouvir. Uma parte dela quis negar, mas a outra sabia que estaria mentindo descaradamente, assim tentou pensar em uma resposta alternativa.

      — Está molhada —disse ele antes que ela pudesse pensar em algo.

      Delaney engoliu saliva e notou que sua boca ardia. Sabia ao que se referia e se perguntou como sabia. Teria ele comprovado? Ela estava sentada sobre seu colo em uma postura muito escandalosa. Acaso teria ele colocado a mão por baixo de sua roupa e a acariciara como a última vez?

Obviamente a pergunta se refletiu em seu rosto, pois Jamal lhe respondeu.

      — Não a toquei, embora me sentisse tentado a fazê-lo. Seu aroma a delatou. Era mais potente e envolvente, que só acontece quando uma mulher tem um orgasmo.

      Delaney o olhou fixamente, incapaz de acreditar na conversação que estavam mantendo. Ao menos ele falava, porque ela se limitava a escutar educadamente. De repente, percebeu que graças a ele, começava a se conscientizar da intensidade de sua feminilidade.

      Jamal sorriu de novo e ficou de pé, com ela nos braços.

      —Acredito que já teve o bastante por esta noite. É hora de se deitar.

      Dirigiu-se pelo corredor e Delaney surpreendeu-se ao ver que a levava para seu quarto, em vez do dele.

      Com suavidade, deixou-a sobre a cama, ergueu-se e ficou olhando-a.

      — Desejo-a, Delaney, mas não penso em me aproveitar de você em um momento de debilidade como este. Não terei conseguido nada se ao despertar ao meu lado, se arrepender --- disse e inspirou profundamente—. Por muito que queira estar dentro de você, para mim é muito importante que se entregue voluntariamente e que aceite as coisas tal e como lhe expus - continuou ele—. Tudo o que posso lhe oferecer é prazer e o que saboreou esta noite é só uma pequena parte. Mas tem que entender que minha vida está em Tahran, e que quando partir daqui, não poderá se tornar parte dela. Tenho algumas obrigações e algumas responsabilidades que devo assumir.

      Jamal se inclinou sobre ela e acariciou sua bochecha. Seu escuro olhar era intenso.

      — Para mim, somente pode ser, e será, uma maravilhosa lembrança que guardarei para sempre. Nossas culturas não permitem outra coisa. Entende? — perguntou com a voz rouca e carregada de pesar.

      Lentamente, Delaney assentiu com a cabeça.

      — Sim.

      Sem dizer nada mais, Jamal deixou cair a mão de seu rosto, virou-se e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

      Delaney enterrou a cabeça entre os lençóis e lutou contra as lágrimas que brotavam de seus olhos.

 

                                                  Capítulo Sete

      Delaney abriu os olhos lentamente à luz do sol que entrava por sua janela. Ficou quieta durante um momento, olhando o teto enquanto as lembranças da noite anterior invadiam sua cabeça.

      Levou os dedos à boca ao recordar o beijo que Jamal e ela compartilharam e sentiu que sua boca ainda estava quente e sensível. Também sentiu que estava marcada. Jamal deixara uma marca nela que não deixara em nenhuma outra mulher. Beijara-a de uma maneira especial, tão apaixonada que a fizera perder os sentidos.

      Fechou os olhos e se deu um momento para que sua cabeça assimilasse todo o ocorrido, além de pensar no que sentia.

      No dia anterior, Jamal deixara bastante clara sua postura. Dissera que a desejava, mas também dissera que o tempo que passassem na cabana juntos, seria o único que compartilhariam. Ele tinha obrigações e responsabilidades em seu país que não podia negligenciar. Tinha uma vida que não a incluía e nunca incluiria. Em outras palavras, ela nunca teria um lugar em sua vida.

      Como mulher que nunca mantivera uma relação amorosa, nem séria, nem informal, sentiria-se indignada ao escutar sua proposta, mas depois de deixá-la na cama, tivera tempo para pensar nas coisas antes de dormir.

      A vida de Jamal estava predestinada. Era um sheik e seu país era sua principal preocupação. Admitira que a desejava, não que a amava. Também afirmara, uma e outra vez, que o que havia entre eles era pura luxúria, e que, como adultos amadurecidos, não havia nada de mal em satisfazerem-se mutuamente, embora não houvesse amarras.

      O que lhe devotara não era diferente do que seus irmãos ofereciam às mulheres com as quais saíam, e ela sempre se aborrecera pelo fato de uma mulher ser tão fraca para aceitar tão pouco. Mas naquele momento, uma parte dela compreendeu.

      Depois de escutar o que lhe dissera, soube que estava se apaixonando por ele, e aquela manhã, à luz do dia, não se incomodou em negar a verdade.

      Ao longo dos anos tinha assumido que o homem pelo qual se apaixonasse seria um colega de trabalho, alguém que compartilhasse de seu amor pela medicina. Mas aparentemente, as coisas não saíam como a gente pensava.

      Delaney se apaixonara por um príncipe, por um homem cuja vida nunca compartilharia.

      Abriu os olhos ao perceber que o que ele dissera na noite anterior, era certo.

      Quando se separassem, o mais provável é que não voltassem a se ver. Tinha que aceitar que o homem que amava nunca seria exclusivamente seu, mas se aceitasse o que lhe oferecia, ao menos teria lembranças para o futuro.

      Inspirou profundamente. Já não se importava que não houvesse um final feliz em sua história com Jamal. Mas até que chegasse a hora de se separarem, aceitaria cada dia com ele e apreciaria o tempo que passasse com ele para armazenar todas as lembranças que pudesse.

      Delaney o desejava da mesma maneira que ele desejava a ela, mas em seu coração, sabia que para ela não se tratava de simples luxúria.

      Sua mente e suas ações estavam dominadas pelo amor.

      Quando entrou na cozinha, inalou o aroma do café recém feito.

Delaney se serviu de uma xícara e se perguntou se Jamal, que era muito madrugador, estaria fora praticando kickboxing como fazia cada manhã, assim se dirigiu à sala de estar e pela janela viu que estava de pé na varanda. Inspirou profundamente e saiu ao seu encontro.

      — Bom dia, Delaney - murmurou ele.

      — Bom dia, Jamal - respondeu ela e o olhou de cima abaixo—. Está vestido de uma maneira diferente esta manhã - acrescentou ao ver que se vestiu ao estilo de seu país.

      Um sorriso se desenhou em seus lábios e uma faísca de diversão acendeu seu olhar.

      — Sim. Você também.

      Delaney sorriu interiormente. Começava a gostar daquele jogo.

      — Pensei que hoje é um bom dia para fazer algo que não fiz desde que cheguei.

      — O que?

      — Tomar um banho de água quente na banheira de madeira que há no jardim. Há espaço suficiente para dois e me perguntava se gostaria de me acompanhar.

      Jamal arqueou uma sobrancelha, evidentemente surpreso pelo seu convite, embora sem intenção de rechaçá-lo.

      — Sim. Acredito que sim.

      Naquele momento um tenso silêncio os envolveu. Delaney sabia que não era tolo e que percebera seu pequeno jogo de sedução. E como na noite anterior, estava decidido a tirar o máximo de proveito. Não jogava limpo.

      Em realidade, Delaney esperava que não jogasse.

      — Irei ao jardim —murmurou ela–.Estou com o biquíni debaixo da roupa.

      — E eu não demorarei para me trocar. Em seguida estarei com você. - disse ele com a voz rouca.

      Delaney se virou para partir, mas repentinamente se virou de novo para ele.

      — Mais uma coisa, Jamal.

      — O que?

      — Tem que me prometer que manterá as mãos quietas.

      Um sorriso zombador se desenhou em seus lábios e um brilho de maldade iluminou seus olhos.

— De acordo. Prometo.

      Delenay piscou, surpresa por ter prometido tal coisa. Em realidade, não esperara que o fizesse.

      Sem dizer mais uma palavra, abriu a porta e entrou de novo na cabana, enquanto se perguntava se realmente tinha intenção de manter sua promessa.

      Delaney já estava dentro na banheira quando Jamal apareceu. Sentiu que sua respiração se acelerava e sentiu dificuldade de afastar o olhar dele. Quando finalmente conseguiu romper o contato visual com ele, suspirou aliviada e baixou o olhar para seu traje de banho.

      O traje de banho que usava era ainda menor do que a bermuda que usava para praticar kickboxing. Ele inteiro exalava sensualidade e se alegrou ao pensar que durante as três semanas seguintes, Jamal seria todo seu.

      — A água parece quente - disse ele, interrompendo os pensamentos de Delaney.

      — Está — replicou ela, dando uma risada.

      Jamal deixou a toalha de um lado e se sentou na beira da banheira.

Delaney observou fascinada todos seus movimentos, enquanto ele entrava na água e se sentava em frente à ela. Jamal se afundou até que a água cobriu seus ombros.

      — Delícia! — exclamou ele, fechando os olhos e recostando a cabeça na beirada.

      — Sim, não é mesmo?

      Delaney arqueou uma sobrancelha. Realmente não tentaria nada? Parecia perfeitamente satisfeito estando sentado ali e adormecido. Nem sequer tentara ver seu biquíni sob a água. Se o fizesse, teria percebido que era muito pequeno.

      Delaney se sentiu frustrada, e estava a ponto de fechar os olhos quando o sentiu.

      Jamal esticara a perna, apoiando seu pé justamente entre as pernas de Delaney, e antes que pudesse sequer respirar, começara a mover os dedos dos pés para acariciá-la em sua zona mais sensível.

      Delaney fechou os olhos e inspirou profundamente enquanto o pé de Jamal brandamente a massageava com uma sedutora precisão.

      Mas não se deteve ali. Jamal levantou o pé e o apoiou entre seus dois seios. Depois, com os dedos, acariciou seu mamilo por cima do biquíni, e quando a respiração de Delaney se tornou entrecortada, moveu o pé ao outro mamilo.

      Quando sentiu que todos os movimentos tinham cessado, Delaney abriu os olhos para encontrá-lo justamente diante dela.

      — Não necessito das mãos para seduzí-la, Delaney — sussurrou ele, arrogantemente. Seus lábios estavam à escassa distância dos dela —. Deixe que lhe demonstre isso.

      E o fez.

      Jamal se inclinou para ela e com a boca, levantou seu biquini. Depois, grunhindo como o lobo que ela imaginou que era, sugou seus seios nus com uma paixão que quase a fez gritar, e com o joelho, levantou-a para que se ficassem por cima da água. Saboreou e acariciou cada seio com sua língua até fazê-la retorcer-se e gozar.

Alguns instantes depois, quando ele se separou, ela gemeu em sinal de protesto.

      Delaney abriu os olhos lentamente para encontrá-lo olhando-a com um anseio primitivo refletido nos olhos.

      Seus seios, sensibilizados pelas suas carícias, subiam e baixavam com cada suspiro, e enquanto ela continuava olhando-o, ele sorriu atrevidamente e Delaney soube que não tinha terminado.

      Conteve a respiração quando ele deslizou a língua por seus lábios, para depois apoderar-se de sua boca. Automaticamente, ela entreabriu os lábios e ele introduziu sua língua.

      Um calafrio de desejo a sacudiu e se perguntou que loucura a possuíra ao proibí-lo de utilizar as mãos. Improvisando, Jamal utilizava sua língua para seduzi-la, da mesma forma que faria se estivesse utilizando as mãos. Era um perito na arte de beijar e lhe demonstrou o quanto desfrutava beijando-a. E pela sua própria reação, Delaney percebeu o quanto desfrutava ser beijada por ele.

      Alguns minutos mais tarde, Jamal se afastou e sorriu sedutoramente.

      — Quero vê-la nua, Delaney.

      Aquelas palavras, murmuradas em um tom muito sensual, chegaram até o lugar mais profundo dela, provocando uma quebra de onda de emoções.

Uma vez mais, demonstrara-lhe que era capaz de agitar a paixão que havia nela e que até então, não sabia que existia. E era uma paixão que ansiava explorar com ele.

      Gemendo, Delaney se aproximou dele. Ainda que ele não pudesse, ela sim, poderia utilizar as mãos. E sentindo-se valente, rodeou seu pescoço com os braços e o beijou. Suas línguas se encontraram e começaram a acariciar-se intimamente.

      Quando finalmente ela afastou a boca, inclinou-se para trás para olhá-lo nos olhos.

      — Eu também quero vê-lo nu —sussurrou ela.

      Os olhos de Jamal se obscureceram ainda mais.

      — E quando estiver nua, poderei utilizar as mãos?

      Delaney sorriu.

      — E quando você estiver, eu poderei utilizar as minhas? —perguntou ela por sua vez.

      — Poderá utilizar tudo o que quiser —grunhiu Jamal.

      Delaney sorriu amplamente.

      — Você também.

 

                                           Capítulo Oito

      Jamal sentiu que estava à beira da loucura enquanto observava como Delaney se aproximava. O biquini que usava era muito indecente, impróprio e obsceno para qualquer mulher, mas o encantou vê-la com ele. Seu pulso acelerado disparou ainda mais e sua respiração se fez cada vez mais difícil. Diante de seus olhos estava tudo o que desejava e ansiava, e pretendia conseguir.

      Jamal franziu o cenho ao perceber que estava provocando-o de propósito.

      — Você gosta do que vê, “majestade”?

      Seus olhos, já cheios de excitação, refletiram também que Jamal estava consciente da situação. Cruzou os braços sobre o peito e a olhou significativamente.

      — Sim eu gosto. Mas quero ver mais.

      Delaney o provocava e imediatamente o frustrava.

      Jamal sabia que aquilo era um jogo para ela, um jogo que tinha intenção de levar até o final e ganhar. Possivelmente naquele momento ela estivesse se divertindo, mas quando tudo aquilo terminasse, seria ele que riria.

      — Está ansioso, não é, Jamal?     

      — Sim .–disse ele. Não via razão para mentir.

      — Acredito que deveríamos entrar na cabana—disse ela sorrindo e jogando a toalha do lado.

      Jamal arqueou uma sobrancelha. Ele pensava que aquele lugar era tão bom quanto qualquer outro.

      — Por quê?

      Realmente pensava que se despiria ali fora?, pensou ela.

      — Porque prefiro estar dentro da cabana quando tirar o traje de banho.

      Jamal suspirou frustrado.

      — Não importa onde esteja, Delaney, desde que tire isso. Deu sua palavra.

      — E você a sua —disse ela e se virou para entrar na cabana.

      Jamal se apressou em segui-la e abriu a porta da casa para ela.

      — Obrigada. É um cavalheiro —disse ela em um tom de voz profundo e sedutor.

      Jamal sorriu e disse intimamente que gostaria que ela mantivesse aquela opinião algumas horas mais tarde. Um verdadeiro cavalheiro não estaria pensando em fazer as coisas que ele pensava em fazer. Tentaria ser um cavalheiro, mas não podia prometer mais que isso.

      — De acordo. Agora, faça. –disse ele quando estavam dentro.

      Delaney moveu a cabeça. Sabia a razão pela qual ele estava desafiando-a e pela qual estava tão nervoso: realmente não acreditava que faria.

Pensava que estava se burlando dele; depois de tudo, dissera-lhe que jogava para ganhar.

      Delaney olhou ao seu redor.

      — Serei honesta. Não vou me despir na cozinha.

      — Por que não?

      — Porque não é muito decente —disse ela e Jamal não pôde evitar de rir.

      — Se preocupa com a decência, usando o biquíni que usa?

      — Sim.

      Jamal fez um gesto de desespero com os olhos.

      — Não tem muito que tirar. Está fugindo de sua palavra.

      — Não é verdade.

      — Pois demonstre.

      — De acordo. Sentiria-me melhor se ficasse nua no quarto.

      Jamal assentiu e se perguntou que desculpa daria assim que estivessem no quarto.

      Embora se sentisse muito frustrado, admitiu que o excitava a maneira que jogava com ele. Não obstante, preferia jogar outras coisas. Aquilo já tinha durado o bastante.

      — Pois vamos ao quarto.

      — Precisarei de alguns minutos para preparar tudo —disse ela rapidamente.

      Jamal a olhou estupefato. Tinha que estar brincando. O que tinha que preparar? Se já estava meio nua!

      Mas antes que ele pudesse falar, Delaney se adiantou.

      — Somente peço cinco minutos, Jamal - disse ela e partiu.

      — Somente lhe darei cinco minutos – avisou-a —. Depois entrarei, esteja pronta ou não.

      Delaney olhou ao seu redor. Estava preparada.

      Como seu quarto ficava na direção da montanha, naquela hora do dia, recebia menos luz, o que era perfeito para o efeito que procurava. Fechara as cortinas e acendera velas por todo o quarto. E o aroma de incenso se estendeu por toda parte.

      Jogara a colcha e os dois travesseiros no chão e de ambos os lados colocara duas plantas.

      Delaney sorriu. O quarto tinha o aspecto de um oásis de amor. Perfeito para um sheik...

      Ao ouvir um golpe na porta, Delaney se virou, inspirou profundamente e cruzou o quarto. Jogou uma última olhada ao seu redor e abriu a porta lentamente.

      Quando Jamal a viu, conteve a respiração. Usava uma curta camisola branca, semitransparente, que ressaltava o tom moreno de sua pele e deixava entrever certas partes de seu corpo.

      Jamal sentiu desejo de tocá-la, mas se obrigou a olhá-la em seu rosto. Ao fazê-lo, viu que ela o olhava tão encantada quanto ele.

      Jamal vestira um roupão de seda, e pela forma que se abria, ficava evidente que não usava nada por baixo.

      O olhar de desejo nos olhos de Delaney provocou um calafrio por todo o corpo de Jamal, e quando ela deu um passo para trás, ele a seguiu e fechou a porta.

      Rapidamente, olhou ao seu redor e viu a forma que ela tinha preparado o quarto. Depois, centrou toda sua atenção em Delaney.

Levantou uma mão e tocou seu queixo.

      — Tire - sussurrou ele—. Desta vez sem desculpas nem jogos. Conseguiu me levar ao limite.

      Ela o olhou fixamente, incapaz de fazer alguma coisa. Através do atordoamento de sua paixão, viu-o e soube que embora não a amasse, ela tinha algo que ele queria desesperadamente. E pela sua entrecortada respiração e o tamanho de sua ereção, que Jamal não se incomodou em ocultar, soube que tinha algo que ele ansiava urgentemente.

      De repente, um raio de esperança a iluminou. Embora estivesse destinado a se casar com outra mulher e embora tivesse uma amante esperando-o em seu país, naquele momento era ela a mulher que ele queria e desejava.

      — Tire - repetiu ele.

      Delaney percebeu que as palavras de Jamal estavam carregadas de frustração e teve a certeza de que nenhuma mulher usara tantas artimanhas na hora de despir-se diante dele. Ao menos recordaria que não era uma mulher fácil.

      Delaney abaixou as alças e com um insinuante movimento, fez que a camisola caísse aos seus pés.

      Olhou Jamal nos olhos e notou como sua respiração se cortava ao olhá-la; viu que seus olhos se obscureciam e pela expressão de seu rosto, parecia enfeitiçado.

      Seus olhos percorreram seu corpo como a carícia de um amante, e seu penetrante olhar provocou uma onda de calor desde seus mamilos até o triângulo entre suas pernas.

      Jamal levantou a mão para tirar a presilha dos cabelos, deixando que caíssem sobre seus ombros.

      Sentiu o pulsar de seu coração na garganta e respirou com dificuldade.

      Delaney soube que sempre recordaria aquele momento que se mostrou para ele completamente; ao homem que amava. Jamal estava vendo ela como nunca nenhum outro jamais a vira.

      — Desejo-a, Delaney - sussurrou ele—. Quero fazê-la minha em todas as posturas conhecidas pelo homem. Prometi lhe dar o mais puro prazer, me deixará fazê-lo? Me aceita tal e como sou e aceita que isto é tudo o que haverá entre nós?

      Ela o olhou fixamente. Já sabia qual seria sua resposta. Entregaria-se a ele voluntariamente, embora não pudesse ser exclusivamente seu. Sem vergonhas nem arrependimentos.

      Assim levantou a cabeça orgulhosamente enquanto lutava contra a ardência de seus olhos e se disse uma vez mais que o amava. E por isso, entregaria-se a ele.

      — Sim, Jamal. Quero experimentar o prazer que me oferece e sei que isso será a única coisa que terei de você.

      Por um instante, pareceu à Delaney que um profundo pesar se refletia em seus olhos, antes de estreitá-la entre seus braços e beijá-la.

      Uma incrível paixão se gerou entre eles no momento em que suas línguas se tocaram, e a única coisa que ela pôde fazer foi deleitar-se nas ardentes sensações que a invadiam. Sentiu sua pele quente contra ela e quando a mão de Jamal começou a acariciar seu traseiro, instintivamente se aproximou dele. Sentiu sua virilidade, grande e quente, intimamente apertando-se contra ela.

      O beijo pareceu durar uma eternidade já que nenhum dos dois queria parar; queriam saborear cada minuto juntos, sem apressarem-se para o que ambos sabiam que os esperava.

      Começara a devorar sua boca com uma fome que chegava à obsessão. Sua língua acariciou cada canto de sua boca até quase fazê-la perder a consciência.

      Quando ambos precisaram respirar, Jamal interrompeu o beijo para imediatamente jogá-la para trás e beijar seus seios.

      Delaney pensou que não suportaria muito mais se sua boca e sua língua continuassem devorando-a daquela maneira.

      Demonstrando uma habilidade que fazia com que as pernas de Delaney tremessem, Jamal deu especial atenção aos seus seios, dando pequenas mordidas e apaixonadas carícias com a língua. Aquele toque encheu o corpo de Delaney com um calor tão intenso que pensou que arderia ali mesmo.

      — Jamal...

      Ele não respondeu. Em vez disso, tomou-a em seus braços e se dirigiu para o lugar que ela tinha preparado no chão. Jamal olhou ao seu redor e percebeu o que tentara fazer: converter parte de seu quarto em um oásis de amor.

      Jamal sussurrou algo em árabe e depois em berbere, e sem soltá-la, deitou-a sobre a colcha. Então, sentiu uma pressão no peito ao compreender o que estava ocorrendo: Delaney estava se entregando a ele a um nível profundamente passional, exóticamente erótico e incrivelmente sensível.

      Apressou-se em apagar as emoções que lhe eram estranhas e começou a beijá-la de novo. Enquanto o fazia, percorreu o corpo feminino com seus dedos, deslizando-os por seu ventre até a parte interior de suas coxas, antes de chegar à zona íntima entre suas pernas.

      Delaney interrompeu o beijo, fechou os olhos e tremeu quando sentiu que os dedos de Jamal a tocavam naquele lugar tão íntimo, explorando-a e acariciando-a. Lutou para controlar a respiração e não perder o controle. Não queria afogar-se nas sensações que ele estava provocando. Abriu os olhos para olhá-lo e pela tensa expressão de seu rosto, percebeu ele estava à beira da loucura sexual. A ereção que se apertava contra seu quadril era grande e dura.

      Ela tampouco poderia suportar muito mais.

      — Desejo-a como nunca desejei uma mulher - murmurou Jamal—. Eu a quero - acrescentou e empurrou os dedos dentro de seu corpo para que soubesse o que exatamente queria.

      Delaney logo que conseguiu respirar e só pôde emitir um gemido tremente.

      Lentamente, Jamal colocou e tirou os dedos, deleitando-se com os suaves gemidos dela. Estava lhe dando prazer.

      De repente, sentiu um tremor por todo o corpo e soube que não podia esperar mais. Tinha que entrar dentro dela.

      Jamal se colocou sobre Delaney e a olhou, maravilhando-se com a beleza morena de sua pele, as magníficas curvas de seus quadris, seu ventre liso e seu penetrante aroma feminino.

      Jamal viu um desejo tão profundo refletido em seus olhos que esteve a ponto de perder a cabeça.

      Tinha que provar aquele maravilhoso presente que lhe oferecia.

      — Toma precauções, Delaney?

      Ela negou com a cabeça.

      — Não. Eu...

      Fosse o que fosse que ia dizer, decidiu não fazê-lo. Mas não importava porque ele a protegeria.

      Jamal ficou de pé e se aproximou de seu roupão. No bolso tinha guardado uma caixa de preservativos.

      Depois de colocar um, voltou e se colocou de novo em cima dela, detendo-se para admirá-la, mas incapaz de conter-se por mais tempo, Jamal abaixou a cabeça e a beijou com renovada paixão.

      Saboreou sua boca e acariciou sua língua até que provocou nela uma fome igual à sua.

      Jamal interrompeu o beijo e sussurrou algo em árabe enquanto se deslizava em cima dela e separava suas coxas.

      Sabia que sempre recordaria aquele momento.

      Lentamente, explorou a entrada de seu corpo com sua ereção, antes de penetrá-la; queria desfrutar da sensação ao entrar dentro dela.

      Os músculos de Delaney estavam incrivelmente tensos e o apertavam a cada milímetro que ele avançava.

Jamal a observou quando, ao sentir que seu corpo o envolvia, ela conteve a respiração, e continuou movendo-se para dentro até que se topou com uma inesperada resistência.

      Jamal franziu o cenho e a olhou incrédulo. Não podia acreditar no que se acabava de encontrar, mas sabia o que era.

      — É virgem —sussurrou.

      Sentia-se assombrado, aturdido e confuso.

      Delaney levantou as pernas e o rodeou pela cintura, fazendo-o seu prisioneiro.

      — E qual é o problema, “majestade”? —perguntou ela, enquanto o olhava fixamente.

      Jamal não pôde evitar de sorrir, embora aquela fosse uma dessas estranhas ocasiões nas quais não estava acostumado a fazê-lo. Sempre fora um homem sério quando mantinha relações sexuais com uma mulher, mas então percebeu que aquilo era algo mais.

      — O problema é que não me deito com mulheres virgens - respondeu ele.

      Delaney rodeou seu pescoço com os braços e levantou a cabeça.

      — Desta vez sim.

      Jamal não deixou de olhá-la. Sentia-se furioso porque sabia que ela tinha razão. Não voltaria atrás.

      — Por que não me disse?

      Delaney deu de ombros.

      — Não pensei que fosse importante.

      As feições de Jamal se endureceram.

      — Sim, é. Em meu país, minha honra me obrigaria a me casar com qualquer mulher que desvirginasse.

      — Então é uma sorte que não estejamos em seu país —disse ela, mas viu a irritação refletida em seu olhar.

      — Mas, e sua família? Vão querer que faça o correto.

      Delaney abriu os olhos ao pensar em seus irmãos; não o deixariam fazer o correto, mas o despedaçariam.

      — Minha família não tem nada que ver com isto, Jamal. Sou uma mulher adulta que toma suas próprias decisões. Neste país as mulheres podem fazer isso.

      — Mas...

      Em vez de deixá-lo terminar, Delaney moveu seu corpo para que ele entrasse um pouco mais e sorriu ao ver que se surpreendia. Tinha ele exatamente onde queria.

      Ou quase.

      — Pare! —exclamou ele—. Tenho que pensar.

      — Não, príncipe. Não há tempo para pensar.

      Delaney sentiu sua masculinidade palpitando dentro dela e todo seu corpo se acendeu. Retorceu-se debaixo dele e notou que ele a segurava pelos quadris.

      — Delaney, estou avisando.

      Ela se fixou na tensão de seu rosto, o obscurecimento de seus olhos e as gotas de suor que cobriam sua fronte e soube que estava lutando contra o desejo.

      Tinha chegado o momento de terminar com aquela luta. Ela queria suas lembranças.

      Levantou o corpo para capturar sua boca, e antes que ele pudesse afastar-se, acariciou seus lábios com a língua. Quando ele deixou escapar um gemido, ela colocou sua língua em sua boca e o acariciou da mesma maneira que ele fizera. Sabia que assim que controlasse sua boca, não haveria como voltar atrás e Jamal cederia.

      Ele emitiu um profundo gemido e a segurou pelos pulsos, mas não interrompeu o beijo. Depois, deslizou as mãos até seus quadris, levantou-a para ele e com um forte empurrão, encheu-a completamente.

      Delaney ofegou ao sentir uma pontada de dor, mas esta diminuiu quando Jamal começou a mover-se dentro dela.

      Jamal afastou o rosto e a olhou fixamente.

      — Faço-a minha — grunhiu enquanto a tomava tal e como sonhara desde o primeiro dia.

      Continuou entrando e saindo dela, sem deixar de segurá-la e Delaney fechou os olhos para deixar-se levar pelo prazer que estava lhe dando. Cravou as unhas em seus ombros e rodeou sua cintura fortemente com as pernas.

      Quando abriu os olhos, viu que ele a olhava.

      — Se me fez sua, eu o faço meu, Jamal - sussurrou ela.

      Aquelas palavras fizeram a cabeça de Jamal dar voltas. Sabia que falava sério.

      Fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, sentia que seu corpo se conectava com o dela, convertendo-se em parte dele e se sentiu arrastado para um lugar aonde não queria ir.

      Em sua cabeça, escutou os gemidos de prazer de Delaney enquanto ele continuava enchendo-a uma e outra vez. Viajou com ela a um lugar que não fora com nenhuma mulher, e quando sentiu que a ponta da língua de Delaney acariciava seu rosto e se deslizava para seu pescoço, soube que sempre se recordaria daquilo, mas as lembranças não seriam suficientes.

      — Jamal!

      Sentiu que ela se esticava, tremia e se agarrava a ele com força enquanto o molhava com o líquido de seu amor.

      Jamal inspirou profundamente para inalar seu feminino aroma e sentiu coisas que nunca experimentara com uma mulher, até o ponto que não pôde pensar. Somente era capaz de sentir.

      Jamal emitiu um profundo grunhido quando tudo ao seu redor explodiu, unindo-os ainda mais enquanto uma incrível gratificação sexual sacudia seus corpos.

      E pela primeira vez em sua vida, Jamal sentiu um prazer que nublava sua mente e relaxava seu corpo.

      Sabia que nunca se saciaria daquela mulher.

 

                                             Capítulo Nove

      Jamal despertou à luz das velas. Olhou a mulher que ainda jazia em seus braços e pensou que estava desfrutando de um merecido descanso.

      Depois de fazer amor pela primeira vez, ambos adormeceram e uma hora mais tarde despertaram, tão famintos um do outro como na primeira vez.

      Jamal se preocupou se era muito cedo para ela, mas Delaney tomou o assunto em suas mãos e, sentando-se sobre ele, seduzira-o até o ponto que ele a deitou de costas deu o que ambos queriam. E uma vez mais, experimentou com ela o que nunca havia sentido com nenhuma mulher. Jamal sabia que quando se separassem, não encontraria a paz; Delaney sempre seria uma lembrança indelével para ele.

      No passado, depois de fazer amor com uma mulher, Jamal rapidamente a fazia partir para poder tomar banho e se livrar do aroma de sexo. Mas naquele momento, o único lugar onde queria que ela estivesse era em seus braços, e não sentia a necessidade de tomar banho.

      Jamal observou a forma que ainda abraçavam um ao outro, não querendo soltar-se. Levantou uma mão e afastou uma mecha de cabelo de seu rosto, enquanto pensava em quão tranqüila parecia enquanto dormia. Tinha a mesma expressão de felicidade que no dia em que desmaiou quando a beijara.

      Jamal fizera amor com outras mulheres ocidentais, mas nada o preparara para uma mulher como Delaney Westmoreland. Ela era uma mulher que se mantinha firme em suas convicções e que o chamava “majestade” com uma altivez, uma completa falta de respeito para um homem de sua posição e condição. Não duvidava em dizer que não se importava absolutamente com aquelas coisas e que embora fosse um príncipe árabe, para ela era só um homem. Nem mais nem menos. Outras mulheres cediam facilmente e deixavam que ele conseguisse o que queria com muita facilidade. Mas aquele não era o caso da apaixonada, provocante e esperta Delaney.

      Além disso tinha o fato de ter se entregado a ele sendo virgem. Jamal nunca teria cogitado aquela possibilidade, sobretudo com o corpo tão maravilhoso que tinha e suas convicções liberais. Aquela mulher estava cheia de surpresas.

      Jamal se moveu quando notou que começava a excitar-se outra vez, porém por mais que desejasse tomá-la de novo, também tinha que cuidar dela, e o melhor para seu corpo naquele momento era um bom banho quente.

      — Delaney — sussurrou e a despertou com suavidade.

      Ela abriu os olhos sonolentos e o olhou; seus lábios, que estavam inchados pelos beijos, desenharam um sorriso. Aquele sorriso chegava até seu lugar mais profundo, além de excitá-lo, e Jamal viu a expressão surpresa de seu rosto quando percebeu que seu corpo estava outra vez preparado para possuí-la.

      Tinha que deter aquela loucura; Jamal sentia que seu corpo começava a se viciar em Delaney, assim tentou separar-se, mas ela o segurou com a perna.

      — Deveria lhe dar um banho quente —disse ele franzindo o cenho, e tentando fazê-la raciocinar.

      Delaney moveu a cabeça.

      — Não. Possivelmente mais tarde —disse ela em um tom sedutor.

      — Não. Agora. Além disso, devo colocar outro preservativo antes de voltar a fazê-lo. Senão, correremos o risco de ter um acidente.

      Jamal pensou que aquela explicação devolveria seu bom senso, mas não devolveu.

      Sentiu como o acariciava e o provocava.

      Olhou-a furioso, odiando a si mesmo por desejá-la tanto. Ela estava torturando-o e sabia.

      — Está consciente do que está pedindo?

      Ela o olhou nos olhos.

      — Sim —murmurou Delaney, enquanto seu corpo o envolvia em um estado de impensável prazer—. Quero você, Jamal.

      — Delaney…

      Aquelas palavras incendiaram o corpo de Jamal, e enquanto capturava a boca de Delaney com a sua, entrou totalmente em seu corpo para lhe dar o que estava pedindo.

      — Que maravilha! –disse Delaney, recostando-se contra a banheira.

      Depois de fazerem amor, Jamal tomara-a em seus braços e a levara para fora, na banheira de água quente e os dois entraram dentro dela.

      — Vai aliviar sua ardência —disse Jamal, olhando-a.

      Sentou-se em frente à ela, a uma distância prudente já que não confiava em si mesmo quando estava perto dela.

      — Acredito que sobreviverei, Jamal. Não sou uma mulher fraca.

      Jamal riu e pensou que aquilo era um eufemismo.

      — Certamente que não. É muito forte.

      Delaney arqueou uma sobrancelha, não sabia se aquilo era um elogio ou um insulto; sabia que Jamal estava acostumado a mulheres dóceis e submissas. Duvidou que ela algum dia seria assim.

      Olhou ao seu redor e viu que o sol estava se pondo e estava escurecendo.

      — Tem certeza que não acontecerá nada por estarmos nus aqui fora? E se alguém nos vir?

      — Isso não é um problema para mim.

      Delaney fez um gesto de desespero com os olhos.

      — Mas para mim, é.

      Jamal se recostou contra a banheira e fechou os olhos.

      — Tal e como você disse no primeiro dia, isto é propriedade particular. Além disso, podem olhar tudo o que quiserem, mas será melhor que não tentem tocar.

      Delaney o olhou fixamente.

      — Não está se tornando um pouco possessivo?

      Jamal abriu os olhos lentamente e a olhou.

      — Sim.

      Sua atitude naquele sentido era algo que nem ele mesmo compreendia. Nunca fora possessivo com uma mulher, nem sequer com Najeen, e não gostava daquilo.

      — Me fale de seu trabalho - disse ele para mudar de tema.

      Delaney passou a meia hora seguinte falando dos dois anos como médica residente que tinha adiante no departamento de pediatria de um hospital.

      Naquela noite, muito tempo depois que Delaney dormiu, Jamal continuava acordado. Por alguma razão, a idéia de que algum dia ela dormiria nos braços de outro homem o incomodava. E quando finalmente dormiu, sua cabeça ainda lutava contra o instinto possessivo que sentia por aquela bonita mulher. 

      — Tenho a sensação de que gostou do filme —disse Jamal quando parou o carro de Delaney junto à cabana.

      Ela sorriu sedutoramente.

      — Qual mulher não gostaria de um filme que Denzel Washington aparece?

      Jamal a olhou fixamente e se surpreendeu pela pontada de ciúmes que sentia.

      — Você gosta muito dele, não é?

      — Claro! –disse ela, enquanto descia do carro e subia pelas escadas do alpendre.

      Jamal franziu o cenho.

      — Sairia com ele se ele pedisse? —perguntou ele.

      Delaney se deteve e se virou. Observou a expressão de Jamal e ao ver que franzia o cenho e que apertava os dentes percebeu uma coisa: estava com ciumes!

      Sorriu para si mesma e pensou que se aquilo fosse certo, então possivelmente ela teria alguma importância para ele. Mas então uma voz lhe disse que possivelmente também a visse como uma simples posse depois de ter se deitado com ela.

      — Sim. Sairia com ele - respondeu Delaney e viu que sua expressão ficou ainda mais séria—. Entretanto, não tenho intenção de perder o sono esperando que ocorra um milagre. Além disso, não acredito que teria um encontro com alguma mulher já que está casado - explicou—. Por que quer saber?

      — Por curiosidade - disse ele, enquanto passava ao seu lado.

      Delaney ficou calada enquanto o seguia até a varanda. Aquela manhã quando despertou, ele já se levantara e estava praticando kickboxing. Depois, os dois tomaram o café da manhã juntos enquanto falavam e ele sugerira ir ao cinema no meio da amanhã.

      Ela sabia que sua intenção era estar o máximo tempo possível fora da cabana para não sentir-se tentado a fazer amor com ela novamente. Queria dar um descanso ao seu corpo antes de voltar a fazê-lo, embora ela tivesse tentado convencê-lo que seu corpo estava perfeitamente bem.

      Delaney suspirou. Tinha chegado o momento de tomar aquele assunto em suas mãos.

      Jamal apertou os punhos quando pôs-se de lado para deixar Delaney passar. Não compreendia por que sentia aquele ciúmes irracional e se zangava; ele estava familiarizado com a fascinação das mulheres ocidentais pelas estrelas de cinema e os esportistas. Mas o incomodava pensar que Delaney também era assim.

      Fechou a porta atrás deles e a observou enquanto ela deixava sua bolsa no sofá. Gostava do traje que vestiu para sair: Delaney sabia como vestir-se para luzir seus atributos. O curto vestido azul que chegava acima dos seus joelhos deixava à vista suas pernas bem formadas e suas sandálias de salto alto eram tão sexys que o distraíam continuamente...

      Jamal moveu a cabeça e se perguntou como tinha sido capaz de negar-se a possibilidade de não fazer amor com ela o dia todo.

      — Gostaria de uma sopa e um sanduíche, Jamal?

      Jamal engoliu a saliva, sua força de vontade começava a fraquejar e teve que fazer um esforço para afastar o olhar de suas pernas e centrar-se em seu rosto.

      — Sim, e eu gostaria de ajudá-la.

Delaney sorriu.

      — Parece que começou a gostar da cozinha.

      Jamal franziu o cenho. Quis lhe dizer que na realidade o que gostava era de estar com ela.

      — As coisas nem sempre são o que parecem, Delaney.

      Ela o estudou durante um momento e depois se dirigiu para a cozinha. Ele a seguiu, fazendo um esforço para não fixar-se na forma que seu vestido se ajustava a seus quadris enquanto caminhava.

      — Quer cortar os legumes para a sopa?

      A cabeça de Jamal voltou para a realidade naquele momento; pareceu ter ouvido ela falar, mas não estava seguro.

      — Você disse algo?

      Ela se deteve e se virou. Seus olhos lhe sorriam carinhosamente como se fosse tolo.

      — Perguntei se quer cortar os legumes para a sopa que vou fazer.

      — Claro. Estou à sua disposição para tudo que necessite.

      — É sempre tão amável com as mulheres com as quais se deita?

      Jamal se esticou. Não gostou daquela pergunta e se perguntou por que a teria feito. Enquanto estava com ela, não queria pensar em outras mulheres.

      — Muitas pessoas me consideram um homem amável, Delaney –disse ele sem deixar de olhá-la. Não morderia a isca.

      Ela assentiu e continuou indo para a cozinha.

      Delaney deixou de mexer os ingredientes que tinha jogado na panela e olhou para Jamal, que estava junto à bancada cortando os legumes.

      — Como vai?

      Ele levantou a cabeça e a olhou.

      — Quase terminado.

      — Bem. Em alguns minutos colocaremos no fogo.

      — Cheira muito bem. Estou seguro de que o gosto é melhor ainda.

      Delaney deu de ombros.

      — Não há nada como algo que cheire bem e o gosto é melhor ainda —disse ela e voltou sua atenção à panela.

      Jamal estava fazendo um esforço para não recordar quão bem ela cheirava. Também tentava não recordar outras coisas...

      Terminou de cortar furiosamente um tomate e se dirigiu com o resto dos legumes para onde Delaney estava. Estava irritado consigo mesmo por não ser capaz de controlar seus pensamentos, sentia que estava perdendo o controle.

      Delaney se virou, sorriu e tomou o prato com os legumes que ele tinha nas mãos.

      — Fez um bom trabalho –disse ela, enquanto jogava tudo na panela—. Agora só temos que esperar ferver e deixar cozinhar um tempo.

      Jamal assentiu. Esteve a ponto de lhe dizer que ele estava quase fervendo devido ao calor feminino que ela gerava. Durante os últimos trinta minutos tentara distrair-se para não olhá-la; cada movimento seu o excitava. Quando Delaney se esticou para procurar alguns ingredientes no armário, e por acaso seu curto vestido subiu, deixando à vista suas coxas e ele começara a suar. Aquela visão era a tentação personificada.

      — Que tipo de sopa está fazendo? — Perguntou ele, aproximando-se um pouco mais.

      — Sopa de legumes.

      Jamal sentiu que seu membro palpitava pela intensidade de seu desejo. Obrigou-se a sorrir.

      — Parece muito simples. Pergunto-me por que não pensei nisso.

      Delaney colocou uma tampa na panela, baixou o fogo e se virou para olhá-lo.

      — Possivelmente tenha outras coisas na cabeça –disse ela e se dirigiu à pia.

      Jamal a seguiu. Deveria ter previsto que ela estaria um passo adiante dele.

      — E o que acha que estou pensando? —perguntou, olhando-a fixamente.

      Delaney deu de ombros.

      —Não leio mentes, Jamal.

      —Não –disse ele, percorrendo-a com o olhar—. Porque está muito ocupada me seduzindo.

      —Não é verdade.

      —Sim, é. Por acaso acha que não percebi o que me fez durante a última meia hora?

      Por um momento nenhum dos dois disse nada, enquanto seus olhares se encontravam.

      —E funcionou? —perguntou ela, sedutoramente.

      Jamal se aproximou dela enquanto murmurava algo. Estendeu o braço e a atraiu para si para demonstrar que sua artimanha tinha funcionado.

      — O que você acha?

      Ela gemeu brandamente e separou as pernas, queria sentir sua dureza entre suas pernas. Inclusive com suas roupas, sentiram o calor que ambos geravam.

      Delaney semicerrou os olhos.

      —Acredito que deveria dar ao seu corpo o que ele pede e deixar de se fazer de durão para conseguir.

      Jamal inclinou a cabeça e acariciou seus lábios com a língua.

      —Estava tentando lhe dar um descanso.

      A respiração de Delaney se acelerou ao sentir sua língua saboreando seus lábios.

      —Não quero descansar. Meu corpo está perfeitamente bem. Só precisa de você —disse ela em voz baixa—Quero que faça amor comigo e me satisfaça. Quero sentí-lo dentro de mim, Jamal. Agora.

      Ao ouvir aquilo, Jamal a beijou com uma intensidade que o afligiu. Tomou-a em seus braços e rapidamente cruzou a cozinha para deixá-la sobre a mesa; subiu-lhe o vestido até a cintura e tirou sua calcinha.

      Como um homem desesperado, baixou o zíper da calça e separou as pernas dela. Depois, aproximou-a dele e a penetrou.

      —Sim! —exclamou ele, jogando a cabeça para trás ao sentir o calor de Delaney rodeando-o.— Me enlouquece, Delaney –disse ele, fechando os olhos enquanto segurava seus quadris para que não se movesse.

      Queria desfrutar de seu gosto e ficar ali, entre suas pernas, aprisionado dentro dela.

      —Não se mova —ordenou ao sentir que ela se movia—. Deixe me sentir dentro de você; quero sentir como me molha e me aperta.

      Jamal inalou seu aroma. Era como um afrodisíaco que intensificava seu desejo sexual.

      —Deite-se —sussurrou ele com a voz rouca e a sujeitou pelos quadris enquanto ela se deitava.

      Quando se encontrava deitada de costas sobre a mesa, ele se inclinou sobre ela e a atraiu para si, entrando em seu corpo até o fundo. Jamal abriu os olhos quando notou que suas coxas tremiam e que abria as pernas para rodeá-lo pela cintura.

      O pouco controle sobre si mesmo que restava desapareceu quando abaixou a cabeça e a beijou. Fechou os olhos e começou a fazer amor com ela como se fosse a última vez: sentia-se faminto, obcecado e possuído. Pensou que não poderia passar nem um só dia sem fazer amor e por um momento pensou na possibilidade de levá-la a Tahran com ele, à força se fosse preciso. Queria estar com ela para sempre.

      Para sempre.

      Jamal abriu os olhos e amaldiçoou em árabe e em berbere. Não podia acreditar no caminho que tinham tomado seus pensamentos. Com ele, nada era para sempre, sobretudo quando se tratava de uma mulher. Mas quando arqueou as costas para trás para entrar completamente em seu corpo, soube que sua atitude com ela era diferente. Seu corpo parecia pensar por si mesmo. Queria poder devorá-la sempre.

      A intensidade sexual varreu seu corpo e pensou que nada fora nem seria, comparável àquilo.

      Alguns minutos mais tarde, quando Delaney alcançou o clímax e gritou, Jamal inalou seu aroma feminino ao mesmo tempo que ele explodia dentro dela. Foi então que percebeu que não colocara um preservativo. Mas já era muito tarde para fazer alguma coisa já que não tinha intenção de retirar-se, assim continuou semeando sua semente no corpo de Delaney.

      Apertou os dentes quando a penetrou com força, queria lhe dar tudo o que era dele, tudo o que nunca dera a nenhuma outra mulher. Finalmente admitiu para si mesmo que o que estava compartilhando com ela era mais que uma simples satisfação do apetite sexual.

      De algum jeito, ela tinha encontrado a forma de limar suas resoluções e emoções. Sentia que suas defesas se derretiam e que o escudo ao redor de seu coração fora derrubado. E quando percebeu o que estava ocorrendo, a surpresa sacudiu seu corpo, intensificando seu clímax.

      Depois, outra emoção, mais forte e poderosa, tomou conta dele. Até aquele momento tinha sido uma emoção estranha para ele, mas naquele instante sentiu que invadia todo seu ser.

      O amor.

      Jamal a amava.

 

                                               Capítulo Dez

      A seguinte semana passou depressa enquanto Jamal e Delaney desfrutavam do tempo que passavam juntos.

      Numa manhã, pouco antes do amanhecer, o celular de Jamal tocou. Automaticamente, estendeu a mão para ele porque sabia quem era.

      –Olá, Asalum.

      Jamal sentiu que Delaney se movia, seus braços estavam fortemente apertados ao redor de seu corpo e suas pernas enredadas nas suas. Na noite anterior tinham jantado no jardim para desfrutar da beleza da lua e seu reflexo sobre o lago. Mais tarde, fizeram amor durante toda a noite.

      Algo que Asalum disse captou a atenção de Jamal.

      —Repita —disse, incorporando-se imediatamente—. Quando? —perguntou enquanto ficava de pé e procurava seu roupão.

      Jamal se virou para se encontrar com o inquisitivo olhar de Delaney.

      — Ligarei para meu pai em seguida, Asalum—disse e desligou.

      Suspirou pesadamente e se sentou na beira da cama enquanto estendia os braços para Delaney. Antes que pudesse perguntar algo, beijou-a.

      —Bom dia, Delaney —sussurrou ele e a abraçou com ternura.

      —Bom dia, príncipe –disse ela sorrindo, mas em seguida franziu o cenho—.Aconteceu alguma coisa?

      Jamal se moveu para recostar-se na cabeceira, levando Delaney com ele.

      —Não saberei até que fale com meu pai. Antes de vir a este país, estive envolvido em algumas negociações importantes relativas a vários países que limitam com o meu. Depois de três meses de discussões, todo mundo pareceu satisfeito. Mas segundo Asalum, o sheik de um desses países está tentando voltar atrás no acordo.

      Delaney assentiu.

      —Em outras palavras, está causando problemas e sendo uma dor de cabeça.

      Jamal riu. Gostava da forma que Delaney expressava as coisas.

      —Sim. É isso.

      Delaney o beijou nos lábios e desceu da cama.

      —Aonde vai? —perguntou ele, quando ela começou a recolher sua roupa do chão.

      Delaney se virou e sorriu.

      —Vou tomar um banho. Sei que tem que fazer uma ligação importante, assim quero lhe dar privacidade enquanto o faz.

      Ele sorriu e a percorreu com o olhar.

      — Sem distrações?

      —Sim —disse ela, rindo também—. Pode me fazer companhia na ducha quando terminar—acrescentou, olhando-o sedutoramente.

      Jamal não terminou a tempo para tomar banho com Delaney. Ao falar com seu pai, descobriu que a situação era mais séria do que pensara e teria que voltar para Tahran imediatamente.

      Ligara para Asalum para dar instruções para que preparasse a volta para seu país. Toda sua vida soubera o que esperavam dele quando o dever o chamava, mas aquela era a primeira vez que havia algo importante em sua vida e que era tudo para ele.

      Não dissera à Delaney como se sentia porque aquelas emoções eram novas para ele e não estava seguro de que fossem mudar alguma coisa. Suas vidas eram completamente diferentes e nunca teriam um futuro juntos. Mas não sabia se seria capaz de deixá-la.

      Sabia que de algum jeito tinha que deixá-la partir. Ela nunca seria sua rainha e a amava muito para lhe pedir que fosse sua amante, sobretudo sabendo o que ela pensava a respeito. Além disso, existia o outro problema que seu pai lhe pusera nas mãos. O velho sheik de Kadahan queria que Jamal se casasse com sua filha assim que pudesse. A idéia de casar-se, há apenas algumas semanas atrás aceitaria como seu dever, mas naquele momento o irritava. Não gostava da idéia de ter outra mulher em sua vida que não fosse Delaney, assim como tampouco gostava da pressão de seu pai para que voltasse para casa e considerasse seu casamento com Raschida Muhammad, princesa de Kadahan, imediatamente, somente para satisfazer ao pai desta.

      Jamal moveu a cabeça. Por que tanta pressa para o casamento? Por que o sheik Muhammad tinha tanta pressa para casar sua filha? Jamal fizera aquelas perguntas ao seu pai e a única resposta que tinha obtido era que a saúde do sheik era débil e queria assegurar-se de que sua filha, além de seus súditos, estariam em boas mãos no caso de algo ocorrer a ele.

      Jamal se negava a acreditar que o sheik tivesse problemas sérios de saúde. Passara três meses com aquele homem enquanto duraram as negociações e o sheik estivera vendo sua amante francesa durante todo aquele tempo.

      Apertou os punhos e se perguntou o que estaria acontecendo. De repente se sentiu como um condenado e desejou que houvesse algum outro sheik com o qual a princesa pudesse se casar. Pela primeira vez, não queria adotar o papel do cordeiro que se sacrifica.

      Jamal inspirou profundamente. Não podia fazer outra coisa além de voltar para Tahran. Parecia que a vida lhe jogara o mal olhado e se sentiu frustrado e perturbado. Estava a ponto de deixar a única mulher que amara para casar-se com outra que não sentia nada, e uma parte dele sentiu morrer ao pensar naquilo, mas sabia qual era seu dever.

      Também sabia que teria que dizer a verdade para Delaney. Era o mínimo que podia fazer. Ela merecia sua sinceridade. Era muito provável que os meios de comunicação repercutissem sobre esse casamento, e não queria que ela se inteirasse daquela maneira.

      Levou alguns minutos para retomar o controle de si mesmo. Depois, saiu do quarto em busca de Delaney.

      Não estava na cabana, assim decidiu caminhar para o lago em sua busca. O dia era quente e ensolarado.

      Jamal se deteve quando a viu. Estava sentada na plataforma, com as pernas balançando e seus pés brincavam com a água. Uma ligeira brisa revolveu seus cabelos pelo seu rosto e ela os jogou para trás.

      Jamal se apoiou contra uma árvore e continuou observando-a. Vendo-a ali sentada, em paz e serena, Jamal pensou que era a visão mais maravilhosa que tinha visto e quis guardar aquela imagem para sempre em sua cabeça.

      Sentiu que um calafrio percorria seu corpo. Amava-a com uma força que não acreditara ser possível e entretanto tinha que deixá-la partir porque o dever o chamava.

      Obrigou-se a caminhar até ela e quando chegou ao seu lado, sussurrou seu nome. Delaney se virou e o olhou. O olhar e a expressão de seu rosto diziam tudo: não sabia por que, mas sabia que ele teria que partir.

      E pela forma em que seus lábios tremiam e como o olhava, Jamal soube o que sentia sem que ela dissesse algo. A mensagem silenciosa de seus olhos disse tudo, da mesma forma que ela sabia que a mensagem silenciosa nos seus olhos mostrava sua alma. Pela primeira vez, baixou a guarda... somente por ela.

      Ambos jogaram e ambos ganharam, mas ao mesmo tempo tinham perdido. Conseguiram mais do que apostaram: seus corações. E naquele momento estavam perdendo tudo, a oportunidade de estarem juntos.

      —Venha aqui —sussurrou ele e Delaney ficou de pé e o abraçou.

      Jamal a abraçou com força, como um homem moribundo que toma seu último gole; estreitou-a contra ele e sentiu sua respiração entrecortada e o tremor de sua espinha dorsal. Mas naquele momento, a única coisa que queria era abraçá-la e sujeitá-la perto de seu dolorido coração.

      Ficaram ali de pé durante um longo tempo. Depois, ele deu um passo para trás e a olhou, perguntando-se como sobreviveria os seguintes dias, semanas, meses e anos sem ela. Perguntou-se como uma mulher a qual apenas fazia três semanas que conhecia, tinha mudado sua vida daquela maneira.

      Engoliu a saliva para desfazer o nó que tinha na garganta.

      —O dever me chama.

      Ela assentiu enquanto o olhava.

      —Há algo mais além do problema com o sheik do país vizinho,não é?

      Jamal a olhou nos olhos e um profundo pesar se refletiu em seu olhar.

      —Sim. Tenho que voltar para casa para me casar.

      Jamal a observou enquanto ela inspirava profundamente sem dizer nada. Suas feições refletiram dor embora soubesse que tentava ocultá-la.

      — Quando partirá? —perguntou ela em voz baixa.

      Jamal pensou que podia sentir como o chão se abria debaixo de seus pés quando respondeu.

      —Assim que Asalum esteja com tudo preparado.

      Ela tentou sorrir através das lágrimas.

      —Precisa de ajuda com a bagagem, Majestade?

      Uma pontada de dor atravessou seu coração. Aquela era a primeira vez que o chamava majestade sem imprimir um tom altivo em sua voz.

      Jamal tomou sua mão e a levou aos lábios.

      —Sentiria-me honrado dispor da sua ajuda, minha princesa —disse ele com a voz rouca pela emoção e o amor que sentia.

      Abraçou-a de novo e a beijou. Sua boca era doce e a beijou como fizera tantas outras vezes, dando-lhe tudo.

      Sem interromper o beijo, tomou-a em seus braços e a levou para a rede. Desejava-a e a necessitava naquele mesmo instante, e ela tinha as mesmas necessidades que ele. Ambos tiraram suas roupa com rapidez e depois Jamal a jogou sobre a rede, deitada de costas; Sentando-se sobre ela, utilizou as pernas para equilibrar a rede antes de penetrá-la. Esteve a ponto de explodir antes de penetrá-la.

      Jamal sentiu que todo seu corpo se enchia de amor enquanto entrava dentro dela mais e mais. Todos seus pensamentos estavam concentrados nela.

      E quando ela o rodeou com as pernas e passou os braços por trás de seu pescoço, Jamal soube que ela era a única coisa que necessitava e a única coisa que nunca poderia ter.

      Mas suas lembranças durariam por toda sua vida.

      Começou a mover-se dentro dela com ímpeto; sua paixão tinha alcançado o grau máximo. Aquela possivelmente seria a última vez que fariam amor.

      Uma e outra vez, entrou e saiu do corpo de Delaney. E sob o céu azul e a luz do sol, Jamal fez amor com Delaney com uma urgência que afligiu aos dois.

      Nas profundas curvas de sua mente, Jamal ouviu Delaney gritar quando alcançou o clímax, não uma, nem duas, mas três vezes antes dele mesmo explodir, deixando que as ondas de sensações varressem seu corpo e enchendo completamente o corpo dela.

      Fincou os pés no chão para equilibrar a rede enquanto sujeitava seus quadris com força e experimentava o máximo prazer sexual com a mulher que amava.

      Jamal e Delaney ouviram o ruído do carro de Asalum quando este estacionou junto à cabana. O servente telefonara um pouco antes para dizer que tinha chegado um avião particular para levar o príncipe de volta ao seu país e esperava no aeroporto.

      Depois de fazerem amor na rede, entraram na cabana para tomar banho e voltaram a fazer amor. Depois, ela se sentou ao lado da cama enquanto Jamal se vestia com o traje típico de seu país e tentou não pensar que logo, seria outra mulher que estaria ao seu lado.

      Quando terminou de vestir-se, Delaney o ajudou a fazer a bagagem. Não trocaram uma palavra sequer, pois não ficara nada para dizerem. Jamal tinha que cumprir com seu dever.

      Delaney inspirou profundamente. Sempre soube que aquele dia chegaria, mas ela contara que passaria mais uma semana com ele e aquilo já não era possível. Tinha chegado o momento dele retornar para sua vida, sem ela, para casar-se com outra mulher.

      Delaney levantou os olhos e viu que Jamal estava olhando-a. Já sabia que a despedida não seria fácil, mas naquele momento...

      —Acompanha-me até a varanda?

      —Sim.

      Delaney sentiu que formava um nó na sua garganta. Cruzou a sala e ficando nas pontas dos pés, beijou-o nos lábios.

      —Cuide-se, Jamal.

      Ele estendeu a mão e afastou os cabelo de seu rosto. Um rosto que recordaria para sempre.

      —Você também —disse e inspirou profundamente—. Houve vezes nas quais não tomei precauções, Delaney. Se tiver um filho meu em seu ventre, quero saber. Deixei o número de telefone de Asalum na mesinha de cabeceira, ele sabe como me localizar. Prometa que me ligará se tiver meu herdeiro dentro de você.

      Delaney olhou Jamal com os olhos cheios de perguntas.

      —Não importa —disse ele, brandamente—. Se estiver grávida, o filho é meu e o reconhecerei como tal. Seu filho será nosso filho e o amarei... tanto quanto amarei você, a mãe dele, sempre.

      Ao ouvir aquela declaração de amor, Delaney deixou que as lágrimas caíssem por suas bochechas.

      Não tivera a intenção de deixá-la saber o que sentia, mas não podia partir sem que soubesse do quanto significara para ele o tempo que passaram juntos. Queria que soubesse que se apaixonara por ela.

      —Eu também o amo, Jamal —sussurrou ela, enquanto o abraçava fortemente.

      Jamal assentiu.

      —Sim. Mas esta é uma dessas ocasiões em que o amor não é suficiente —disse ele bruscamente—. O dever vem antes do amor.

      Asalum tocou a buzina, avisando-os que chegara o momento de partir. Delaney o acompanhou até a porta e ficou olhando enquanto seu servente o ajudava com a bagagem. Depois, Jamal se virou para olhá-la, com uma pequena caixa que Asalum lhe dera, entre as mãos.

      Voltou para varanda e lhe entregou a caixa.

      —Isto é algo que pedi a Asalum que veio com o avião. É algo que quero que tenha, Delaney. Aceite, não como um presente pelo que ocorreu entre nós, pois nunca colocaria um preço no que compartilhamos, mas como uma demonstração de meu imperecível amor por você —disse Jamal—. E quando precisar recordar o quanto a amo, simplesmente olhe para ele —acrescentou e abriu a caixa.

      Delaney conteve a respiração. Na caixa havia um anel com o maior diamante que havia visto. Mas o que chamou sua atenção, foi a inscrição que havia no interior: Minha Princesa.

      —Mas.., não posso aceitá-lo.

      —Sim pode, Delaney. Pertenceu à minha mãe e é meu para dar à mulher que eu escolher.

      —Mas a mulher com quem se casará...

      —Não. Ela é uma esposa imposta. Em meu coração, você é a mulher que amo e com a qual me casaria se pudesse escolher. É meu e quero dá-lo a você.

      Delaney moveu a cabeça ao sentir que as lágrimas nublavam seus olhos.

      —É muito, Jamal. É muito especial

      —Porque você é muito e é muito especial, Delaney. Não importa quem caminhe ao meu lado, recorde que as coisas não são o que parecem. Meu coração sempre será seu.

      Jamal inclinou a cabeça e a beijou meigamente pela última vez, antes de voltar para carro. Antes de entrar, olhou por cima de seu ombro e se despediu com a mão.

      Delaney fez o mesmo e ficou cravada no lugar enquanto olhava como desaparecia o carro. Recordou que ele em uma ocasião disse que não gostava de deixar nada quebrado.

      Evidentemente, aquilo não incluía seu coração.

      Ficou olhando até que não pôde mais ver o carro e então deu vazão e soltou suas lágrimas.

      Quando Delaney retornou de seu passeio, o sol já estava se pondo.

      A cabana tinha muitas lembranças e não encontrou forças para voltar a entrar depois que Jamal partira, assim saíra para caminhar. Mas tampouco encontrou paz naquilo.

      Todos os caminhos tinham alguma lembrança de Jamal.

      Já sentia sua falta, tinha saudade e o desejava. Gostaria de lhe dizer muitas coisas, mas nada teria importância.

      Jamal escolhera o dever acima do amor.

      Delaney sentiu que seu coração se afundava, mas uma parte dela compreendia o que ocorrera e aceitava. Sempre soube que as coisas acabariam daquela maneira pois não havia outra possível.

      Jamal fora totalmente sincero com ela desde o começo e não lhe dera falsas esperanças, nem promessas vazias.

      Ele era um homem de honra e uma pessoa cuja vida não lhe pertencia, de maneira que tampouco pertenceria à ela.

      Suspirou quando chegou na varanda e recordou todas as vezes que tomaram o café da manhã ali, sentados nas escadas e desfrutando do sol. Também recordou o momento em que a fez rir justo antes de beijá-la com paixão.

      Inspirou profundamente. Sabia que não podia ficar na cabana por mais tempo, assim depois de tomar a decisão de partir, subiu as escadas e entrou para fazer a bagagem.

 

                                             Capítulo Onze

      Jamal olhou pela janela do avião particular enquanto aterrissavam no aeroporto de Tahran. Em qualquer outro momento teria gostado de voltar para casa, mas aquela noite era uma exceção. Seu coração ainda chorava por Delaney.

      O que estaria fazendo? Estaria pensando nele como ele pensava nela?

      —É hora de desembarcar, Majestade.

      Jamal levantou o olhar e se encontrou com a preocupada expressão de Asalum. Somente alguém tão próximo a ele como seu servente poderia perceber sua dor. Voltou a olhar pela janela e ficou calado durante um momento.

      —Já não tenho uma obsessão, Asalum.

      — E que é agora, Majestade?

      —Depressão.

      Asalum moveu a cabeça. Já percebera que a perda da mulher americana teve um grande efeito sobre o príncipe.

      Jamal ficou de pé lentamente. Fixou-se na limusine negra que esperava junto ao avião. Como sempre, seu pai enviara uma comitiva para lhe dar boas vindas. Jamal apertou os dentes e desceu do avião.

      Em menos de uma hora chegaram ao palácio. Depois de entrar pelas grandes portas de ferro forjado, a limusine apenas se deteve quando uma jovem e bonita mulher de cabelos escuros correu para o carro.

      —Jamal Ari!

      Jamal sorriu pela primeira vez desde que partiu da América e observou sua irmã detendo-se junto ao carro. Esperava ansiosa que ele saisse.

      Alguns instantes mais tarde, Jamal se encontrou abraçando sua irmã Johari.

      —Que bom que retornou, Jamal Ari. Tenho tantas coisas para contar! —disse ela nervosamente e o levou para a grande porta de madeira pela qual acabara de sair. Jamal moveu a cabeça. Se alguém poderia tirá-lo do estado de ânimo no qual se encontrava, aquela pessoa era Johari.

      Mais tarde, naquela noite, alguém bateu na porta do quarto de Jamal.

      Retirara-se com o pretexto de estar esgotado, e seu pai aceitara esperar até o dia seguinte para falar com ele.

      Jamal escapara para seu aposento particular, na ala oeste do palácio.

      Rebakkah, levara-lhe uma bandeja com comida fazia um tempo, mas ele não tinha apetite para comer.

      Abriu a porta para encontrar-se com sua madrasta, Fatimah. Jamal não se surpreendeu de vê-la ali. Como Asalum, Fatimah o conhecia e sabia que algo o preocupava. Ela entrou no aposento e se virou para olhá-lo.

      Jamal viu que a preocupação se refletia em seus escuros olhos.

      —O que está acontecendo, Jamal Ari? —perguntou ela brandamente, enquanto o observava com atenção—. Não é você. Algo o preocupa e quero que me conte para que possa ajudá-lo.

      Jamal se apoiou contra a porta. Não pôde evitar de sorrir. Quando era jovem, Fatimah sempre tivera a capacidade de ajudá-lo; inclusive se tivesse que enfrentar seu pai. Nunca fora uma mulher desobediente, mas sempre dissera ao rei como se sentia a respeito de certas coisas.

      —Não acredito que possa me ajudar desta vez, Fatimah —disse ele tranqüilamente—. Isto é algo que tenho que solucionar sozinho.

      Fatimah o olhou durante um longo instante e assentiu, aceitando seu direito de reclamar que ela não interferisse. No momento.

      —O que quer que seja que provoca seu mal-estar, logo desaparecerá. Avisei Najeen que você retornou.

      Jamal franziu o cenho.

      —Najeen?

      A feminina risada de Fatimah encheu o aposento.

      —Sim, Najeen. Esqueceu quem ela é?

      Jamal se separou da porta. Não queria ver Najeen, nem nenhuma outra mulher. A mulher que ele queria, estava a milhares de quilômetros dele.

      —Najeen não será mais minha amante —disse ele suavemente.

      Fatimah arqueou uma sobrancelha.

      — Por que? Encontrou outra?

      —Não —disse Jamal suspirando.

      Não tinha vontade de dar explicações, mas ao ver a surpresa expressão de Fatimah, soube que teria que fazê-lo.

      —Enviarei Najeen de volta à sua terra. Encarregarei-me de que cuidem dela até que encontre um novo benfeitor.

      Fatimah assentiu enquanto o observava e sua preocupação cresceu. Jamal estava agindo de uma maneira muito estranha.

      —Há alguma razão para sua decisão?

      Jamal levantou o olhar e encontrou o escuro olhar de sua madrasta. E esta viu a ansiedade refletida em seus olhos. Mas também viu algo mais que a alarmou.

      — Que está acontecendo, Jamal Ari?

      Ele cruzou o aposento até a janela; a vista era magnífica, mas pela primeira vez, não pôde apreciá-la.

      —Enquanto estive na América, conheci alguém. Uma mulher que me afetou como nenhuma outra. Uma mulher ocidental que inicialmente me enfrentou a cada momento, uma mulher que é tão orgulhosa e teimosa quanto eu —explicou Jamal—. É uma pessoa totalmente oposta a mim em certas coisas, mas exatamente igual a mim em outras. E...

      Jamal se interrompeu. Fatimah o observou do outro lado do aposento e viu como apertava os punhos; viu a forma que suas feições se endureciam e como olhava pela janela sem ver nada.

      — E o que?—animou-o a prosseguir.

      Lentamente, Jamal se virou para olhá-la e ela pôde ver sua atormentada expressão.

      —E alguém por quem me apaixonei perdidamente.

      O coração de Fatimah se sobressaltou, surpreendida.

      —Uma mulher ocidental?

      —Sim —respondeu ele.

      Fatimah o estudou.

      —Mas nunca gostou das mulheres ocidentais, Jamal Ari. Sempre pensou que eram muito modernas, teimosas e desobedientes.

      Jamal não pôde evitar de sorrir ao pensar em Delaney. À sua maneira, ela era tudo aquilo.

      —Sim. Mas mesmo assim, apaixonei-me por ela.

      Fatimah assentiu.

      —E o que vai fazer? Ama ela e vai se casar com outra?

      Jamal inspirou profundamente.

      —Devo cumprir com meu dever, e meu dever é fazer o mais conveniente para meu país.

      — E o que fará com seu coração? —perguntou ela, enquanto cruzava o aposento em direção dele. Fatimah o queria como seu próprio filho desde o dia em que o conhecera, há muitos anos atrás.

      —Seu coração está quebrado. Posso senti-lo.

      —Sim —disse ele, sem incomodar-se em negar—. Mas as decisões de um bom líder não devem ser dominadas pelo coração, Fatimah. Devem ser governadas pelos interesses de seus súditos. Meus sentimentos não importam.

      Fatimah o olhou e percebeu a frieza que se apoderava dele. Sorriu tristemente. Desde que o conhecera, Jamal Ari tivera cabeça e vontade próprias. Sempre se dedicara ao seu povo, igual ao seu pai, mas mesmo assim, fazia exatamente o que queria. Mas naquele momento, ele considerava o que era apropriado para seu povo, e estava disposto a se dobrar ante a sua vontade. E ao fazê-lo, estava destruindo a si mesmo.

      —Em seu momento, seu pai pensou da mesma forma, mas agora mudou de opinião —disse ela, tentando fazê-lo raciocinar antes que fosse muito tarde— E espero que você abra sua mente e faça o mesmo. O amor é uma força poderosa que pode dobrar até o mais forte.

      E sem dizer nada mais, Fatimah se virou e saiu do aposento. Fechou a porta e o deixou em silêncio.

      Naquela noite Jamal teve um sonho.

      Delaney estava com ele em sua cama e faziam amor. Sem se importar de não ter tomado precauções, entrou uma e outra vez em seu corpo, deleitando-se na gloriosa sensação de tê-la debaixo dele, de estar dentro dela. Pôde ouvir seus gemidos na escuridão, e inclusive chegou a sentir suas unhas cravadas em seus ombros, e soube o que mais desejava. Queria engravidá-la de seu herdeiro, se por acaso já não estivesse. Pôde ver seu filho, com a pele cor de cobre e os cabelos escuros e encaracolados. Seus olhos eram escuros como o chocolate.

      Em seu sonho continuou fazendo amor, sujeitando-a com firmeza entre seus braços enquanto lhe sussurrava palavras doces.

      A milhares de quilômetros de distância, Delaney tivera o mesmo sonho e quando despertou e percebeu que estava sozinha na cama, se encolheu até as ondas da paixão se amainarem, deixando-a tremente.

      Ficou ali deitada, muito agitada para mover-se. Seu sonho parecera tão real, que era como se Jamal realmente estivesse ali com ela, dentro dela e fazendo amor com ela. Delaney inspirou profundamente e desceu da cama. No banheiro molhou o rosto com água fria; ainda sentia o calor de seu sonho. Alegrou-se por ter voltado para seu apartamento em vez de ir para a casa de seus pais, tal e como seus irmãos lhe sugeriram.

      Precisava ficar sozinha para pensar. Seus irmãos aceitaram seu pedido de intimidade, mas sabia que aquilo não duraria. Levantou o olhar e se olhou no espelho, seus olhos estavam vermelhos e inchados. Depois que seus irmãos partiram, não sem antes assegurar à ela que voltariam dentro de algumas semanas para ver como ela estava, jogou-se sobre a cama para chorar.

Sabia que não podia continuar assim. Jamal partira e não voltaria, e ela tinha que continuar com sua vida. E a melhor forma de fazer isso seria começando a trabalhar. Embora ainda restassem duas semanas para começar, queria fazê-lo já. Telefonaria ao chefe de pessoal para lhe perguntar se poderia trabalhar antes do previsto. O melhor seria manter a mente ocupada para deixar de pensar em Jamal.

      Jamal desceu da cama encharcado de um suor frio. A noite estava fresca e o ar o fazia tremer. Seu sonho parecera tão real... inspirou profundamente, mas não inalou o aroma de sexo, aquele aroma especial que o corpo de Delaney e o seu geravam. Fechou os olhos por um momento e recordou seu aroma enquanto visualizava em sua mente as noites que lhe dera prazer. Nunca esqueceria seu aspecto enquanto estava deitada de costas… esperando-o. Aquelas lembranças faziam com que seu corpo se endurecesse e sua respiração fosse entrecortada. Uma parte dele amaldiçoou seu destino, que o fizera se separar dela. Sabia que cedo ou tarde teria que partir, mas aquilo fizera com que cada minuto com ela fosse precioso. O tempo que passaram juntos não fora suficiente.

      Jamal vestiu o roupão e se dirigiu à sacada. As estrelas cobriam o céu e iluminavam brandamente o pátio do palácio, que com sua exuberante vegetação, fora seu esconderijo favorito quando era menino. Mas por mais que pensasse que se escondia bem, Asalum sempre o encontrava. Jamal sorriu ao recordar aquilo e aspirou o aroma das gardênias e dos jasmins.

      Depois sorriu ao perguntar-se o que pensaria Delaney do palácio se o visse. Uma parte dele sabia que se sentiria em casa, e pensou que com suas idéias liberais, daria um sopro de ar fresco ao palácio. É obvio, escandalizaria a alguns, mas com sua ternura, se apropriaria do coração de outros. Da mesma maneira que se apropriou do dele. O simples fato de pensar nela atormentava-o.

      Jamal se ergueu e suspirou.

      Depois de falar com seu pai na manhã seguinte, partiria para o Kuwait para encontrar-se com outros membros da coligação e chegar a um acordo com o sheik de Caron. Depois, viajaria a Ranyaa, seus estados no norte da África e ali ficaria até que os preparativos para o casamento estivessem prontos. Não queria estar perto de ninguém mais tempo do necessário.

      Queria estar a sós com seu sofrimento.

 

                                           Capítulo Doze

      Delaney devolveu o bebê a sua mãe.

      —Parece que está melhor, senhora Ford. Já não tem febre e a infecção de seus ouvidos parece ter desaparecido.

      A mulher moveu a cabeça e sorriu.

      —Obrigado, doutora Westmoreland. Foi muito boa com minha filha. Parece que gosta da senhora.

      Delaney sorriu.

      —Eu também. Para termos certeza, queria vê-la de novo dentro de algumas semanas.

      —De acordo.

      Delaney observou a mulher enquanto partia e suspirou. Durante as três semanas que seguia trabalhando, foi se acostumando a ser chamada de doutora Westmoreland e seu coração se apertava cada vez que ouvia. Todo o duro trabalho e a dedicação em seus estudos estavam sendo recompensados. Estava fazendo algo que gostava e que proporcionava cuidados médicos às crianças.

      Alguém atrás dela riu e Delaney se virou para encontrar-se com Tara Matthews. Tara era uma colega de trabalho que conhecera assim que começou a trabalhar, e rapidamente ficaram amigas.

      — Do que está rindo? —perguntou Delaney.

      —De você —respondeu sua amiga—. Realmente você gosta das crianças, não é?

      —Claro que sim. Sou pediatra, pelo amor de Deus.

      Delaney apreciava a amizade de Tara. Ambas viviam no mesmo bloco de apartamentos e de vez em quando iam juntas de carro para o trabalho. E alguns fins de semana saíam para fazer compras, para depois ficarem acordadas até tarde vendo um filme e conversando. Como tinham a mesma idade, compartilhavam os mesmos interesses. Normalmente, quando saía do trabalho e a não ser que tivesse feito planos com a Tara, Delaney partia para casa, tomava um banho e se deitava.

      E todas as noites sonhava com Jamal.

      —Delaney!

      Delaney riu ao perceber que Tara estivera tentando captar sua atenção.

      —Sinto muito. O que dizia?

      —Perguntava se tinha planos para esta noite.

      Delaney negou com a cabeça.

      —Não. E você?

      —Tampouco. Gostaria de ver o novo filme de Denzel Washington?

      Delaney se retorceu interiormente e conteve a respiração. A pergunta de Tara a recordava que já assistira... com Jamal. Fechou os olhos e tentou apagar aquela lembrança.

      —Delaney, está tudo bem?

      —Sim. Estou bem —respondeu ela, abrindo os olhos de novo—. Já vi, mas se realmente gostaria de assistí-lo, podemos ir.

      Tara a olhou por um instante antes de falar.

      — Assistiu com ele, não é?

      — Com quem? —perguntou ela rapidamente.

      —O homem do qual não quer falar.

      Delaney ficou calada durante um momento.

      —Sim. Tem razão, não quero falar dele.

      Tara assentiu e estendeu a mão para tocar o braço de Delaney.

      —Sinto muito. Não pretendia bisbilhotar. Não tenho nenhum direito.

      Delaney moveu a cabeça.

      —Não. Não tem —disse sorrindo— Sobretudo porque você também tem segredos.

      Tara sorriu.

      —Estamos em paz. Algum dia, quando tiver bebido uma taça a mais, contarei tudo.

      A expressão de Delaney se tornou séria.

      —E algum dia, quando já não suportar mais a dor e necessitar de um ombro para chorar, falarei dele.

      —De acordo.  

      —Não posso me casar com a princesa Raschida—disse Jamal, olhando seu pai nos olhos.

      Voltara para palácio depois de três semanas de ausência. Levara todo aquele tempo para tomar algumas decisões que poderiam mudar sua vida para sempre. Mas não podia fazer nada; amava Delaney e era a mulher com a qual queria estar... se ela ainda o quisesse.

      O rei Yasir o olhou fixamente.

      —Percebe o que está dizendo? —perguntou-lhe, enquanto se levantava da cadeira.

      Jamal olhou ao homem que o gerara, um homem amado, respeitado e admirado por muitos; um homem que faria tudo por seu povo e que acima de tudo, acreditava na honra.

      —Sim, pai —respondeu Jamal em voz baixa—. Percebo. Pensei que poderia seguir adiante com tudo isto, mas agora sei que não. Estou apaixonado por outra pessoa e não posso me casar com a princesa.

      O rei Yasir estudou o rosto de seu filho. Quando três semanas antes, Jamal chegou ao palácio, percebeu que algo o preocupava, e Fatimah lhe contara do que se tratava, mas ele não lhe dera ouvidos e não dera importância ao assunto. Mas naquele momento, o rei percebeu que a expressão de seu filho era a de um homem atormentado e o preocupou o fato de que uma mulher fosse capaz de fazer algo assim a uma pessoa como Jamal.

      —A mulher que ama é ocidental, não é?

      —Sim.

      —E está disposto a rechaçar uma mulher de sua raça para se casar com outra que não é como você, nem professa sua religião?

      Jamal levantou o queixo e se ergueu.

      —Sim. Porque embora não seja como eu, ela é parte de mim, assim como sou parte dela, pai, o amor nos uniu.

      Os olhos do rei se obscureceram.

      — Amor? E o que sabe você do amor? —perguntou-lhe—. Está seguro de que não é sua libido que fala por você? A luxúria pode ser uma emoção tão forte quanto o amor —insistiu o rei.

      Jamal se aproximou de seu pai.

      —Tenho certeza disso e admito que em princípio foi assim, mas depois tudo mudou. Tenho trinta e quatro anos e conheço a diferença entre ambas as emoções. Mantive uma relação com Najeen durante vários anos e nunca acreditei me apaixonar por ela.

      —Não se apaixonaria. Você sabe qual é sua posição na vida. Ela era sua amante. Se um homem de seu status se apaixonasse, teria que ser pela sua esposa.

      —Mas as coisas nem sempre ocorrem assim, pai, e você sabe bem. Sei que é o amor o que me dá forças para lhe dizer isto e suplicar sua compreensão. É o amor que me mantém na mais absoluta tristeza, tortura e depressão. E também é o amor que me ajudou a continuar durante este tempo.

      Jamal se interrompeu para tomar ar.

      —Cada vez que vejo Fatimah e senhor, vejo amor. E o amor é o que me faz estar disposto a abdicar de meu direito ao trono se for necessário.

      A expressão do rosto do rei foi de atordoamento.

      — Está disposto a isso... por essa mulher?

      Jamal sabia que suas palavras feriram seu pai, mas tinha que dizê-las para que entendesse o quanto Delaney significava para ele.

      —Sim, pai. Fatimah tinha razão; o amor é algo tão poderoso que pode dobrar até a vontade do mais forte. Amo Delaney Westmoreland e quero que seja minha princesa.

      Seu pai o olhou e assentiu solenemente.

      —Também deveria saber que há uma possibilidade de Delaney ter meu filho em seu ventre —acrescentou Jamal.

      Seu pai abriu os olhos arregalando-os.

      — Sabe com segurança?

      Jamal negou com a cabeça.

      —Não. Não soube nada dela desde que voltei da América. Somente posso confiar em minha intuição masculina, mas tenho intenção de procurá-la. Também quero pedir que se case comigo e que volte para Tahran comigo.

      —E se por acaso se negar?

      —Então terei que convencê-la de algum jeito. Farei o que for preciso.

      O rei Yasir assentiu. Sabia o quão persuasivo podia chegar a ser seu filho quando queria.

      —Preferiria que se casasse com alguém de nosso país, Jamal, entretanto, tem razão: o amor não distingue raças, cores e religiões.

      —Tenho sua bênção, pai?

O rei assentiu lentamente.

      —Sim, embora esteja seguro de que se casaria com ela mesmo que não a tivesse. Mas antes de aceitar a mulher que possivelmente um dia governe nosso país com você, preciso conhecê-la. É tudo o que posso fazer.

      Jamal assentiu.

      —E é tudo o que eu lhe peço. É mais que justo, pai.

      O rei Yasir abraçou seu filho em uma poderosa demonstração de carinho, e Jamal lhe devolveu o abraço. Quando o rei se separou dele, Jamal partiu do escritório de seu pai.

      —Delaney, está segura de que está bem? —Perguntou Tara pela terceira vez naquele dia—. Não quero pressioná-la, mas não está com um bom aspecto.

      Delaney assentiu. Realmente não se sentia bem, mas aquela situação se prolongaria durante um tempo. Tivera um atraso e o teste de gravidez que comprara tinha confirmado que levava um filho de Jamal em seu ventre.

      Tinha decidido manter sua palavra e avisá-lo, mas decidiu esperar a primeira consulta com o ginecologista, dentro de algumas semanas.

      Um bebê.

      A só idéia de estar grávida do filho de Jamal a fazia feliz, e se não fosse pelas náuseas matinais, estaria perfeitamente bem. Ao menos, tão bem quanto poderia estar uma mulher que não deixava de pensar no homem que amava. Toda manhã, lia a seção internacional do jornal em busca da notícia do casamento de Jamal. Mas até aquele momento, não tinha visto nada.

      Carinhosamente acariciou seu ventre. Jamal tinha gerado um filho em seu corpo e o amaria tanto quanto o amava.

      —Delaney?

      Delaney levantou o olhar e se encontrou com a preocupada expressão de Tara. Ainda não estava preparada para compartilhar aquela noticia com ninguém.

      —Estou bem, Tara. É só que ultimamente estive um pouco ocupada, me preparando para a visita de meus irmãos. Tenho que guardar forças, tanto mental como fisicamente para enfrentá-los. Podem ser exaustivos.

      Tara riu.

      — Quando chegam?

      —Hoje, durante o dia. Agradeço por hospedar dois deles em seu apartamento. Os cinco não caberiam no meu de maneira nenhuma.

      —Não se preocupe. Tenho vontade de conhecê-los.

E Delaney não duvidava que seus irmãos iriam querer conhecê-la.

      Jamal se recostou no assento de seu avião particular. Ia rumo à América. Asalum estava sentado ao seu lado, utilizando seus contatos em várias empresas de segurança para averiguar o endereço de Delaney.      Jamal pensava ir diretamente à sua casa assim que aterrissasse o avião.

      Sorriu ao pensar que voltaria a vê-la. Por dentro, ansiava voltar a sujeitá-la entre seus braços.

      Jogou a cabeça para trás; já estavam há oito horas voando e segundo o piloto, ainda levaria mais quatro antes de chegar.

      Asalum lhe ofereceu um travesseiro.

      —Tome.

      Jamal tomou o travesseiro e o colocou atrás da cabeça.

      —Obrigado, Asalum —disse ele e olhou a velha e enrugada face de seu servente—. Já não estou deprimido.

      Asalum não pôde ocultar seu sorriso.

      —E o que sente agora, Majestade?

      Jamal sorriu sinceramente.

      —Felicidade.

 

                                       Capítulo Treze

      Tara se apoiou contra a porta do banheiro. Sua face refletia preocupação ao ouvir Delaney vomitar do outro lado da porta.

      —Delaney. Está segura de que está bem? É a segunda vez que vomita hoje.

      Delaney manteve a cabeça sobre o vaso, pensando que possivelmente o faria pela terceira vez.

      —Sim, Tara, ficarei bem. Me dê um minuto. Naquele momento, Delaney escutou a campainha da porta.

      Seus irmãos tinham chegado!

      —Tara, por favor abra a porta. Provávelmente são meus irmãos, assim pelo amor de Deus, não lhes diga que estou no banheiro, vomitando.

      Tara sorriu.

      —De acordo. Farei tudo o que puder para despistá-los, mas somente se prometer ver o doutor Goldman amanhã. Parece que pegou um vírus.

      Quando Delaney entrou na sala de estar, Tara estava repreendendo seus irmãos por olhá-la fixamente.

      —Vejo que chegaram bem —disse Delaney e moveu a cabeça ao ver que eles não deixaram de olhar sua amiga quando ela entrou na sala.

      Estavam se comportando como os típicos machos que tinham uma irresistível mulher diante de si.

      —Sim —respondeu Chase, sorrindo, embora não para ela.

      Naquele momento, tocou a campanhia da porta e Delaney se dirigiu para abrí-la, deixando seus irmãos com os olhos cravados em sua amiga.

      Quando abriu a porta, sentiu que sua respiração se cortava, que seu coração pulava e que sua cabeça dava voltas.

      —Jamal!

      Jamal entrou e fechou a porta atrás de si. Sem dizer uma palavra, e sem perceber que havia mais pessoas na sala, tomou Delaney entre seus braços e a beijou. Automaticamente, Delaney se grudou a ele e lhe devolveu o beijo.

      Aquela íntima cena surpreendeu às outras cinco pessoas que havia ali, mas sobretudo a quatro delas.

      —Que demônios está acontecendo? –gritou seu irmão Der, interrompendo o beijo.

      — Não!—gritou Delaney ao ver as furiosas expressões nos rostos de seus irmãos.

      Levantaram-se e estavam se aproximando deles. Delaney se colocou na frente de Jamal para protegê-lo e sentiu que ele se esticava antes de deixá-la ao lado.

      Seus quatro irmãos se detiveram e olharam Jamal de cima a baixo como se fosse de outro planeta, em vez de uma pessoa vestida com o típico traje árabe.

      Da mesma maneira, Jamal olhou para eles. Imediatamente soube quem eram e o olhar que lhes direcionava, feroz e letal, avisou-os que protegeria Delaney inclusive deles se fosse preciso.

      —Posso explicar —disse Delaney rapidamente, tentando acabar com aquela situação antes que fosse muito tarde.

      —Explicará quando tivermos nos encarregado dele —disse Stone, furiosamente—. Quem demônios é? E por que a beijou?

      Ao ver como Jamal a segurava pela cintura, enfureceu-se ainda mais.

      —Tire as mãos de cima dela —o ameaçou.

      — Está tudo bem! —gritou Delaney—. Os quatro estão se comportando como bárbaros. Se me derem a oportunidade, explicarei tudo.

      Delaney se interrompeu quando de repente sentiu que enjoava e suas pernas fraquejavam. Apoiou-se contra Jamal.

      O feroz olhar de Jamal deixou os quatro irmãos e concentrou toda sua atenção em Delaney.

      —Está tudo bem? —perguntou em um sussurro.

      —Me leve para o banheiro Jamal. Agora!

      Jamal reagiu rapidamente e tomando-a em seus braços, seguiu Tara até o banheiro, deixando os irmãos Westmoreland completamente aturdidos.

      Assim que entraram, Jamal deixou Delaney de pé e fechou a porta trancando-a. Naquele momento, Delaney sentiu que as forças a abandonavam e se deixou cair de joelhos no chão. Pela quarta vez naquele dia, vomitou.

      Quando terminou de esvaziar seu estômago, deu a descarga e tentou ficar de pé, porém Jamal a recolheu em seus poderosos braços.

      Deixou-a sobre um banquinho e molhou uma toalha para limpar seu rosto.

Alguns minutos mais tarde, voltou a colocá-la de pé e a rodeou com o braço pela cintura enquanto ela escovava os dentes.

      Depois, voltou a sentá-la sobre o banquinho e se colocou diante dela.

      —Parece que o pequeno príncipe já começou a dar problemas —disse ele, brandamente, enquanto passava a toalha úmida pelo seu rosto.

      Delaney o olhou, ainda surpreendida por ele estar ali. Enquanto o olhava, pensou que estava ainda mais bonito, se isso fosse possível. Seus escuros olhos a olhavam com ternura e deixou uma pequena barba que lhe dava um aspecto muito sedutor.

Inspirou profundamente. Queria lhe fazer tantas perguntas! Mas então se recordou do que ele acabara de dizer.

      —O que você disse? —perguntou ela para assegurar-se do que ouvira.

      Jamal parecia divertido, mas respondeu de todos os modos.

      —Parece que o pequeno príncipe já começou a dar problemas —repetiu e naquela ocasião, acariciou brandamente seu ventre.

      — Como soube que estou grávida?

      Jamal sorriu amplamente.

      —Tive um pressentimento. Estive sonhando com você todas as noites desde que nos separamos. Os sonhos eram tão reais que despertava encharcado de suor e sexualmente exausto. E cada vez que fazíamos amor, eu depositava minha semente em seu ventre, o que me recordou que aquilo realmente tinha ocorrido algumas vezes na cabana.

      Delaney assentiu e olhou a mão que ele ainda tinha sobre seu ventre.

      —Por isso você veio? Para confirmar que terei seu bebê?

      Jamal levantou seu queixo.

      —Não. Estou aqui porque senti saudade demais e não poderia pensar em me casar com outra mulher. Assim disse ao meu pai que a amava e que queria que fosse a mulher da minha vida.

      Delaney abriu os olhos arregalando-os.

      —E o que acontecerá com a princesa com a qual ia se casar?

      Jamal se esticou.

      —Pelo visto tinha pressa para se casar porque ficou grávida de outro homem. Foi um desonroso intento de fingir que o filho era meu.

      —E Najeen? Está bem?

      Jamal arqueou uma sobrancelha. Sabia que Delaney queria lhe fazer uma pergunta concreta.

      —Não vi Najeen. A primeira noite que passei ali disse a minha madrasta que se assegurasse que ela voltaria para sua terra. Já não é minha amante.

      Delaney estendeu a mão para acariciar sua bochecha e recordou que em uma ocasião lhe dissera que nunca renunciaria a sua amante.

      –—Arrepende-se de ter renunciado a ela?

      Jamal a olhou nos olhos e sorriu.

      —A única coisa que me arrependo é de ter deixado você, Delaney. Tenho me sentido muito triste sem você. A única coisa que me manteve vivo foram os sonhos —disse ele com a voz rouca.

      Ela sorriu.

      —Eu também sonhei com você. E quando descobri que estava grávida, alegrei-me muito.

      — Há quanto tempo sabe?

      —Comecei a suspeitar na semana passada, quando vi que tive um atraso. Esta manhã fiz um teste de gravidez que confirmou minhas dúvidas, e tenho uma consulta para ver o médico dentro de duas semanas.

      Delaney acariciou os lábios de Jamal com os dedos.

      — Como se sente a respeito?

      Jamal sorriu.

      —Saber que leva meu filho em seu interior me faz muito feliz, Delaney. Não pretendia engravidá-la, mas relaxei com você como nunca fizera com nenhuma outra mulher, assim acredito que inconscientemente, queria que fosse você que me desse um herdeiro.

      Delaney sentiu que a felicidade alagava seu corpo.

      — Jamal!

      —E você é a mulher que quero como minha princesa, Delaney. Me diga que se casará comigo e que virá para Tahran para vivermos juntos. Há muitos americanos no Kuwait, que é um país vizinho, e se alguma vez sentir falta de sua casa, podemos vir de visita sempre que quisermos. Inclusive podemos viver aqui a metade do ano e a outra metade em meu país. Acredito que meu pai ainda será rei por muito tempo, o que significa que não terei que permanecer em Tahran permanentemente, ao menos durante alguns anos.

      Jamal se inclinou para ela e a beijou nos lábios.

      —Me diga que se casará comigo para que possa ser só seu.

      Delaney sabia que não podia rechaçá-lo. O amor que sentia por ele era muito grande e sabia que queria passar o resto de sua vida com ele.

      —Sim, Jamal. Me casarei com você.

 

                                               Capítulo Quatorze

Aquela noite, Delaney deixou seus irmãos aos cuidados de Tara enquanto ela e Jamal saíam para jantar. Embora ele convidasse a todos, Delaney agradeceu por declinarem o convite. Assim poderia passar toda a noite com ele.

      —Está pronta, Delaney?

      Jamal interrompeu seus pensamentos e ela o olhou carinhosamente por cima da mesa.

      Aquela tarde, depois de explicar algumas coisas aos seus irmãos, Jamal saira para trocar de roupa e retornara duas horas mais tarde.

      Aquela noite se vestiu à maneira ocidental e estava absolutamente maravilhoso com aquele traje cinza escuro e gravata azul marinho. Delaney sorriu ao pensar que era um homem verdadeiramente bonito.

      Seus escuros olhos a olhavam de uma maneira muito sedutora.

      —Sim —respondeu ela—. Mas ainda é cedo. Não pensou me levar diretamente para casa, não é?

      Jamal ficou de pé e rodeou a mesa para ajudá-la a levantar-se.

      —Não. Pensei que você gostaria de conhecer a casa que me comprei para vivermos enquanto estivermos aqui.

      Delaney arqueou uma sobrancelha.

      —Mas você chegou hoje.

      Jamal assentiu.

      —Asalum é muito eficiente quando se trata de negócios. Ele se encarregou de tudo do avião.

      Delaney moveu a cabeça. Não estava segura de conseguir acostumar-se com tanta extravagância.

      —Deve ser muito bonita.

      —É. Logo verá —disse ele e lhe deu a mão para sair do restaurante—. Há outra razão pela qual quero levá-la para minha casa.

      Delaney imaginou qual era aquela razão, mas queria que ele dissesse de todos os modos.

      —E qual é, “majestade”?

      Jamal se inclinou para ela e lhe sussurrou algo no ouvido. Delaney se ruborizou inclusive sob seu escuro tom de pele. Depois, sorriu para ele.

      —Acredito que poderei fazer algo a respeito, meu príncipe.

      Algumas horas mais tarde, Jamal se inclinou sobre Delaney e inalou seu aroma antes de beijá-la para que despertasse.

      Retrocedeu enquanto ela abria os olhos, e quando o fez, dirigiu-lhe um sorriso.

      —Pode despertar quando quiser, majestade.

      Jamal riu e acariciou sua bochecha com um dedo.

      —É hora de levá-la de volta para casa. Prometi aos seus irmãos que a levaria a uma hora razoável.

      Delaney estendeu a mão e o acariciou.

      —E é obvio, que vai querer fazer amor outra vez antes de me levar para casa, não é?

      —Isso é o que tinha pensado —disse ele rindo, enquanto se colocava em cima dela—. Te amarei sempre, Delaney.

      —E eu te amarei sempre. Quem diria que as férias supostamente solitárias, foi o que nos uniu? E pensar que no princípio nem sequer nos gostávamos.

      Jamal a beijou brandamente nos lábios.

      —Já sabe o que dizem, não é? —perguntou ele enquanto deslizava a língua pelo seu pescoço.

      —Não —sussurrou Delaney—, O que é que dizem?

      Jamal sorriu.

      —As coisas nem sempre são o que parecem —disse ele e voltou a beijá-la—. Mas o amor que compartilhamos é e será o que nós queremos.

 

                                         Epílogo

      Seis semanas mais tarde.

      — Outra cerimônia de casamento? —perguntou Delaney quando conseguiram alguns instantes a sós no pátio do palácio.

      Ao seu redor; o calor e a umidade do deserto os envolvia, mas a fragrância dos jasmins e das gardênias permanecia no ambiente, dando-lhe uma nota sedutora e erótica.

      —Já vamos para a quarta.

      A primeira cerimônia se celebrou no lindo jardim dos pais de Delaney, em Atlanta, fazia três semanas. A segunda tivera lugar na semana anterior, quando chegaram ao palácio. Compareceram o rei e a rainha e outros súditos com suas esposas. A terceira fora na praça maior da cidade e os habitantes de Tahran a organizara para dar as boas-vindas ao príncipe e a sua princesa.

      Jamal sorriu.

      —Mas pense que nos divertiremos nas noites de casamento que temos pela frente.

      Delaney estendeu os braços e rodeou o pescoço de seu marido, e o beijou.

      —Isso é certo —sussurrou ela.

      Depois, virou-se para que suas costas se apertasse contra o torso de Jamal enquanto este acariciava seu ventre. Pensou que não poderia ser mais feliz.

      Na semana anterior, assim que chegaram, imediatamente recebeu um convite para falar com o pai de Jamal, a sós. No princípio, o rei se mostrou feroz, ditatorial e a interrogara sem descanso a respeito de suas convicções e crenças.

      Ela respondera todas suas perguntas com sinceridade e respeito, e ao final, o rei Yasir lhe dissera que recordava a sua esposa, rainha Fatimah e que sabia que não teria nenhum problema em ser compreendida, respeitada e amada por todos. Depois, abraçou-a e lhe deu as boas-vindas à família.

      As irmãs de Jamal, Arielle e Johari, também a fizeram sentir-se como em sua casa ao lhe dizer que não a consideravam como a esposa de seu irmão, mas sim como uma irmã. Mas fora Fatimah que ganhara o coração de Delaney para sempre ao conversar com ela em particular e compartilhar certas coisas que tivera que enfrentar quando ela chegou pela primeira vez ao palácio, e como tentara mudar algumas de maneira sutil.

      Inclusive sugerira a Delaney que pensasse na possibilidade de utilizar seus conhecimentos para informar às mulheres de Tahran a respeito das enfermidades infantis e o que poderiam fazer para prevení-las. Além disso, disse-lhe que poderia exercer sua profissão no hospital que ambas convenceriam o rei para que o construísse.

      — Preparada para voltar, princesa? —perguntou Jamal, enquanto lhe dava um beijo na fronte.

      —Temos que assistir a outro jantar, esta noite? —perguntou ela, virando-se para olhá-lo.

      Sentiu-se imediatamente aprisionada por seu escuro olhar e começou a sentir que seu corpo se esquentava. Perguntou-se se chegaria o dia em que não se sentisse sexualmente atraída por seu marido.

      —Não. De fato pensei que poderíamos passar uma noite tranqüila em nosso aposento —disse ele.

      —Isso soa maravilhoso, Jamal.

      Ultimamente não puderam passar muito tempo a sós, exceto pelas noites quando chegava a hora de deitarem-se. Delaney desfrutara das noites que fizeram amor e das que a recordara uma e outra vez o quanto significava para ele e o quanto a amava. Delaney dormia entre seus braços e ele a despertava cada manhã com um beijo.

      —Todo mundo deveria apaixonar-se, não é Jamal?

      Este sorriu.

      —Sim. Mas aposto que nunca convencerá seus irmãos disso.

      Delaney assentiu porque sabia que era verdade.

      —Mas se alegram por nós.

      Naquela noite, depois de fazer amor com sua esposa Jamal desceu da cama enquanto ela dormia. Colocou o roupão e saiu do aposento. Desceu pelas escadas e saiu ao pátio, em busca de um lugar particular onde pudesse agradecer.

      Meia hora mais tarde, enquanto voltava para seu aposento, encontrou-se com Asalum, espreitando entre as sombras. Nunca baixava a guarda e sempre estava alerta para proteger seu príncipe.

      Asalum estudou as feições de Jamal.

      — Está tudo bem, Majestade?

      Jamal assentiu.

      —Sim, meu amigo e companheiro. Tudo está bem.

      O silêncio se fez entre eles durante um instante.

      — Sabe o que sinto agora, Asalum? —perguntou finalmente Jamal.

      Um sorriso se desenhou nos lábios de Asalum, tinha uma idéia aproximada, mas perguntou de qualquer forma.

      —O que sente?

      De repente, ele começou a rir. Era uma risada carregada de alegria e felicidade que atravessou o silêncio da noite e ressonou no pátio.

      E quando a risada diminuiu, Jamal falou.

      —Júbilo.  

 

                                                                  Brenda Jackson

 

 

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