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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DOMADA PELO HIGHLANDER / Paula Quinn
DOMADA PELO HIGHLANDER / Paula Quinn

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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A promessa de um Amante.
Connor Grant deixou seu primeiro amor nas Highlands, prometendo voltar depois de servir no exército do rei. Sete anos depois, ele ainda está lutando pela coroa, e suas vitórias são lendárias, tanto no campo de batalha quanto no quarto. No entanto, ele nunca esqueceu sua garota bonnie1. E ele certamente nunca esperava vê-la em meio ao esplendor da corte real britânica: bonita, de tirar o fôlego e tentando-o além do ponto de retorno.

O destino de uma lady.
Na noite em que ele partiu, Mairi MacGregor baniu Connor de sua vida para sempre. Agora seu coração pertence apenas à Escócia. Como parte de uma aliança secreta, ela viaja para Londres em busca de informações... apenas para ficar cara a cara com o único homem que jurou que nunca mais confiaria. Embora o corpo de Mairi ainda anseie pelo toque de Connor, ela não pode perdoar sua traição.
Mas um traidor se esconde no meio deles e para proteger sua amada Highlands, Mairi deve dar um voto de confiança e unir forças com Connor — mesmo que isso signifique perder seu coração para ele novamente.

Bem, Connor é um homem que não desiste tão fácil do que quer, porém, a Mairi é muito teimosa e não sabe ouvir antes de tirar as suas conclusões.
Houve momentos que me zanguei com a Mairi. É a típica história: o mocinho lhe diz para ficar fora de confusão e a mocinha bate o pé para se mostrar autossuficiente. Acaba algumas vezes se dando mal.
Faltou entre ambos, talvez, as cartas na mesa. Mas quando são colocadas tudo flui com graça.
A rainha é maravilhosa.
Advirto que o Connor é bem-dotado e selvagem na cama. Sentar depois é um pouco... dolorido?

Uma batalha de vontades...
Sua mandíbula se apertou e seus olhos se estreitaram nele como adagas gêmeas forjadas pelo fogo do inferno. Outro homem teria recuado, não apto para a batalha, mas Connor recebeu as farpas com graça. Ela era uma égua de vontade forte e ininterrupta que não seria domada por ninguém. Foi a primeira coisa que ele amou nela.
— Não preciso que cuide de mim, capitão. Estou bem armada para lidar com o que vier a mim. Sua mãe me ensinou a manejar uma lâmina e você me ensinou a não baixar o escudo.
Quando ele se moveu para segui-la, ela deslizou a mão sob a fenda em suas saias. Connor teve um vislumbre de sua coxa e, em seguida, um lampejo de uma lâmina.
— Deixe-me em paz, — ela avisou, apontando uma adaga sob o queixo dele quando ele a alcançou.

 


 


Capítulo Um

— Você é uma lass, minha filha, e eu não a terei lutando em uma batalha.

Mairi MacGregor estava com o pai no salão de banquetes do Palácio Whitehall, olhando-o com fúria muda e descrença. Ela era uma lass. Que diabos de razão era essa para se recusar a deixá-la voltar para casa de manhã com o resto de seus parentes?

E daí que a lass que seu irmão Rob resgatou das mãos do almirante holandês Peter Gilles na abadia de St. Christopher era filha do rei James, e estava a caminho de Camlochlin? Se os inimigos da princesa real os seguiram e atacassem a casa de Mairi, ela queria estar lá para ajudar a detê-los.

Mas havia uma razão maior para ela não querer ficar na Inglaterra. Tinha pouco a ver com estar mais quente do que o inferno no Dia do Julgamento, ou que os nobres sentados ao seu redor, embaixo de grandes murais pintados por um artista favorito do rei protestante, olhavam para o seu vestido das Highlands e os seus costumes como bárbaros.

— Pai, além disso, se este almirante holandês atacar Camlochlin, eu gostaria de lutar.

Ele deu a ela um olhar horrorizado que mudou o próximo batimento cardíaco para um aviso.

— Nunca me sugira isso de novo.

— Mas você sabe que eu posso manejar uma espada! — Ela argumentou, bloqueando o caminho dele quando ele se moveu para passar por ela.

Sim, ela sabia manejar uma lâmina e não tinha medo de enfrentar uma. Houve muitas ocasiões em que ela tivera, e elas não estavam no campo de prática de seu pai. Mas ela nunca poderia dizer a ele que ela e seu irmão Colin faziam parte da milícia rebelde das Highlands, que derrubou Covenanters e Cameronians,3 os presbiterianos escoceses que se comprometeram a manter sua doutrina como a única religião da Escócia. Protestantes, muitos dos quais sentavam-se no Parlamento, acreditando nos costumes bárbaros das Highlands, com um Laird governando seu clã.

— Você me recusa porque eu sou uma mulher!

— Você está certa! — Ele disse mais alto do que pretendia. Ele olhou para Lorde Oddington, passando por eles e olhando por cima do ombro. — Você vai ficar aqui, — ele disse, baixando a voz. — Colin permanecerá também. Sei para onde os dois vão quando escapam de casa, mas desta vez não o farão.

Os olhos dela se arregalaram de alarme com o que ele suspeitava, mas ela não podia desistir de seu pedido.

— Mas...

— Não serei persuadido, Mairi. — Seu olhar sobre ela suavizou. — Você é minha filha e me obedecerá nisso. Você permanecerá aqui até que seja seguro voltar para casa. Amo você e farei o que for necessário para mantê-la segura.

Ele saiu para se juntar à mãe dela no final do salão, deixando Mairi sozinha com uma dúzia de maldições derramando de seus lábios.

Droga, tudo fosse para o inferno, mas ela não sentaria o seu traseiro enquanto sua vida lhe era tirada. Ela era a única filha de Callum MacGregor e, como tal, fora-lhe negada a rigorosa formação que seus três irmãos tinham desfrutado ao crescer. Mas isso não a impediu de aprender a manejar uma lâmina ou disparar uma flecha. Ela poderia lutar. Ela queria lutar.

Mas nem sempre foi assim. Uma vez, há muito tempo, ela se contentara em pensar em uma vida como a da mãe, protegida e adorada nos braços de um guerreiro. Ela queria uma vida tranquila, com um homem que jurou lhe dizer como ela era bonnie todos os dias, até o fim de suas vidas. Uma vida com bairns4, em um lar que prometera construir para ela, onde ternura e amor significavam mais para ela do que guerras religiosas ou políticas.

Connor Grant deu vida a esses sonhos e depois os destruiu quando a deixou para servir o rei protestante da Inglaterra, Charles.

Ela não o via há sete anos. Ela o tirou de seus pensamentos, de sua vida para sempre. Mas hoje à noite, ele voltou.

Mairi não estava nos aposentos do pai quando o capitão Grant chegou a Whitehall e deu a ele a notícia de que os holandeses eram responsáveis pelo ataque à abadia. Ela ficou longe, esperando evitá-lo até voltar para casa. Mas ela não estava indo para casa.

Todos os anos que ela passou aprendendo a se proteger de todo tipo de arma, mesmo as enganosas, não conseguiram prepará-la para esse dia. Ela desejava ser cega para não poder ver o amor de sua juventude, surda para não poder ouvi-lo. Mas o que importava se ela estivesse tão aflita? Ela conhecia o rosto dele melhor do que o dela. Ela cresceu olhando para ele, se apaixonando por ele. Ela conhecia todas as milhares de emoções que marcavam abertamente seus traços. A maneira como seus olhos falavam por ele, tão claros quanto qualquer palavra que caísse de seus lábios. Ela ainda ouvia o lento e espesso arrastar de seus sonhos, mais como o ronronar de um leão do que a voz de um rapaz. Ele a assombrara nos últimos sete anos e ela o odiava por isso. Ela o odiava por fazê-la perder o coração quando era jovem demais para se conter. Por tirar esse coração dos sonhos com o futuro deles, e depois partir para longe dela sem olhar para trás.

Connor Grant era uma parte de sua vida que ela preferia esquecer. Mas ela nunca conseguia esquecer como ele estava decido no dia em que deixou Camlochlin, apesar das lágrimas que ela tolamente derramou por ele.

Ela não queria ver ou falar com ele agora. Ela não tinha certeza de que poderia conter a traição amarga que ele deixara quando a abandonou... quando abandonou a Escócia e, talvez, até sua fé.

Os olhos dela se voltaram para a entrada. Ele estava vindo. Ele tinha ido a uma reunião com o rei que provavelmente tinha terminado e agora devia estar a caminho do salão de banquetes. Seus dedos torceram um fio solto em seu kirtle5, repetidas vezes, até que a lã grossa a deixou machucada. Mas esse era o único sinal externo da turbulência dentro dela. Ela respirava com firmeza, até oferecendo um sorriso temperado para a mulher que se aproximava dela.

— Se Lady Oddington continuar cobiçando meu marido, — disse a mãe de Connor, Lady Claire Stuart, chegando ao lado dela: — Não terei escolha a não ser furar seus olhos.

Lançando um olhar lamentável para Lady Oddington, Mairi suspirou.

— Pense que ela pode ter mais cautela em torno dele depois que acidentalmente você pisou no vestido de Lady Channing e quase o arrancou de seu corpo.

— Docinho, essa foi Lady Somerset. Lady Channing perdeu a peruca quando meu anel se enroscou acidentalmente enquanto eu passava por ela.

Mairi riu pela primeira vez naquela noite, mas sua alegria desapareceu quando seu olhar se voltou para a entrada.

— Você não deve ficar brava com ele, — Claire disse suavemente. Claro, ela estava falando do pai de Mairi. Ela parou de tentar ajudar Mairi a ver o outro lado do filho há muito tempo.

— Você sabe que eu posso lutar, Claire.

— Ainda assim, você deve obedecê-lo. Ele te ama.

Och, quantas vezes ela ouviu essas palavras ao longo de sua vida? Ela sabia que seu pai a amava, mas ele também amava seus filhos, e não teve problemas em deixá-los lutar.

— Eu estarei aqui com você se for algum conforto.

— É, — Mairi disse honestamente. Se ela tivesse que ficar aqui, estava feliz que sua amiga também ficaria para trás. Depois de perder quatro filhas ao nascer, Claire a colocou sob as asas, como se Mairi fosse sua. Era a vida de Claire que Mairi queria imitar depois que Connor partiu. Antes de enfeitar os grandes salões do Palácio Whitehall, ou ser titulada Lady Huntley de Aberdeen, Claire era uma fora-da-lei rebelde, lutando contra os usurpadores da coroa de seu primo Charles. Ela ensinou a Mairi tudo o que sabia sobre combate. Enquanto a olhava agora, adornada com um vestido de clarete escuro, suas madeixas loiras estavam presas como uma coroa de cachos acima da cabeça, era difícil imaginá-la empunhando uma colher e muito menos uma espada.

— Eu sei que você não gosta de falar dele...

Mairi enrolou o fio com mais força. Inferno, talvez não fosse uma coisa boa que a mãe dele estivesse ficando.

— ...mas eu esperava que vocês dois pudessem...

Ela não ouviu nada depois disso, mas o zumbido de violões vindo da varanda acima e o trovão que sacudiu as paredes. Ela não viu ninguém além do homem emoldurando a entrada. Meu Deus, como era possível que ele tivesse se tornado ainda mais bonito?

Ao contrário da maioria dos mortais menores da corte, vestidos como pavões coloridos em seus elaborados trajes de seda e sapatos de salto alto adornados com laços largos de fita, Connor usava botas altas de estilo militar sobre calças coloridas que se prendiam às pernas longas e musculosas. Uma claymore embainhada pendia de um quadril e uma pistola no outro, emprestando ao ar o perigo e a autoridade que o cercavam. Ele se destacava do resto como um leopardo, ágil e confiante. Uma mistura de suas duas heranças, ele era alto e elegante como seu lado inglês real, mas mais espesso e imponente do que qualquer inglês, graças ao sangue das Highlands que corria por suas veias. Ele usava o chapéu militar de penas de avestruz debaixo do braço, deixando o cabelo cair na mandíbula cinzelada em faixas de âmbar quente e loiro claro. Seu casaco vermelho e branco, curto, ostentava ombros ampliados por força e vitalidade, em vez de metros de babados.

Incapaz de fazer qualquer outra coisa, Mairi o viu parar para compartilhar uma saudação com Lorde Hollingsworth e sua esposa. Ele parecia mais velho, mais experiente em coisas que ela talvez nunca entendesse. Mas o sorriso dele não mudou. Era encantador, sensual e brincalhão ao mesmo tempo. Para torná-lo ainda mais emocionante para qualquer lass que tivesse olhos para ver, era adornado por uma covinha de cada lado; a direita, mais profunda que a esquerda e precisando apenas do menor incentivo para aparecer.

Isto é, até os olhos dele eclipsarem por trás de fios sedosos de ouro dourado, encontrando-a e cortando sua carne como ferro quente.

O fio nos dedos dela estalou.

— Você vai tentar, Mairi?

Ela piscou e olhou para Claire. Tentar o quê? Em vez de admitir que ela não tinha ouvido uma palavra que Claire disse porque Connor entrou no corredor, Mairi assentiu.

— Sim, claro.

— Obrigada, querida. Isso significa muito para mim. — Claire se inclinou para beijar sua bochecha, então a pegou pela mão e a puxou para frente.

Inferno. Mairi tentou cravar os calcanhares no chão quando viu onde sua amiga a estava levando, mas Claire a puxou para frente.

O salão ficou menor. Seus pés pareciam carregá-la através de melaço resfriado. Cada passo que a aproximava de Connor torcia seu estômago com mais força e a fazia querer correr para o outro lado. Ridículo! Ela não temia a nada. Não havia ela, em três ocasiões distintas, investido de cabeça na briga quando a milícia derrubou as portas de seus inimigos? Por que ela permitiria que Connor Grant deixasse as palmas das suas mãos úmidas, a respiração superficial, o coração batendo loucamente no peito?

Porque uma vez, ele tinha sido o motivo pelo qual ela sorria, o motivo pelo qual sonhou e esperara. Ela o respirou por tanto tempo que, quando ele partiu, ela não conseguia mais respirar. Mas finalmente ela tinha voltado a respirar. E ela continuaria assim.

Ela desprezava o uniforme real que se estendia por seus ombros largos como uma amante pegajosa, mas não podia negar que ele parecia ainda mais imponente nele do que no plaid das Highlands que ele costumava usar.

As damas da corte certamente pareciam gostar da aparência dele, se o número delas pairando ao seu redor era alguma indicação.

Olhando para elas, Mairi se perguntou quantas dessas prostitutas inglesas, aparentemente adequadas, Connor havia dormido desde que deixara Camlochlin. Muito poucas, se as fofocas que viajaram da Inglaterra para a Escócia contassem alguma coisa. Como ele poderia ter trocado o coração dela pelo dessas mulheres? Eram os vestidos mais justos ou os rostos fantasmagóricos pintados com manchas em forma de coração nas bochechas que ele preferia? Desgraçado.

— Aí está você! — Claire trocou a mão de Mairi pela do filho quando ele se inclinou para beijá-la.

Os joelhos amaldiçoados de Mairi ficaram um pouco fracos ao vê-lo tão perto agora que ela podia sentir o vento nas roupas dele.

— Senhorita MacGregor, — ele se inclinou brevemente, direcionando sua saudação e oferecendo-lhe nem sorriso nem carranca.

— Capitão.

Sua mandíbula, sombreada com vários dias de restolho de barba douradas, ficou mais dura com o passar dos anos. Ou apenas era mais dura para ela?

— Desconfie de Lady Hollingsworth. — Claire se inclinou para mais perto de seu filho. Seus olhos, seguindo a prostituta enquanto ela passeava pelo salão até o marido, eram do mesmo azul tempestuoso que os de Connor quando se voltaram para Mairi. — Ela tem garras, e afiadas.

— Fique tranquila. — A voz de Connor roçou a bochecha de Mairi como uma brisa agradável nos pântanos. — Eu sou indiferente às garras.

Mairi torceu a boca para ele e abafou um sopro um instante antes de sair de seus lábios. Suas palavras provaram que ele era um trapaceiro. Assim como ela não significou nada para ele, nem as outras mulheres que compartilharam sua cama e sua risada. Ela estava orgulhosa de si mesma por não vacilar quando seu olhar frio se fixou nela, desta vez, por mais de um momento.

— Você deseja dizer algo, senhorita MacGregor?

— Não, capitão, não para você.

A diversão despertou seu olhar, mas não havia calor nele.

— Ah, Mairi, permaneça consistente, pelo menos.

— Pelo menos um de nós precisa, — ela se defendeu, sua compostura tão friamente destacada quanto a dele.

Seu sorriso ficou duro em um instante.

— Vejo que você manteve sua língua tão afiada quanto suas lâminas.

A leitura vagarosa de suas saias, ou mais provavelmente a divisão nelas, fez sua barriga virar. Maldição, ela não queria estar aqui, conversando com ele. Ela finalmente o tirou da cabeça. Finalmente seguiu em frente com sua vida sem ele. Vê-lo novamente a tentava lembrar do passado. Certa vez, ela não queria nada mais do que ser sua esposa, mas lutou com essas memórias com tanto entusiasmo quanto contra a extinção do modo de vida das Highlands. Por causa dele, ela se tornou uma guerreira.

Quando ele encontrou seu olhar novamente, acompanhado por um trovão que sacudiu as paredes do palácio, ela soltou um suspiro que não sabia que estava segurando e fez a única coisa que sabia para se proteger. Ela atacou.

— Diga-me, capitão Grant, sempre precede a escuridão em uma tempestade?

Ele fez uma reverência muito inglesa, aumentando seu insulto.

— Somente quando você estiver no meu destino.

Mairi pensou na adaga amarrada à coxa, mas percebeu lamentavelmente que ela não podia matá-lo bem aqui na frente de sua mãe.

Ela voltou seu mais praticado sorriso para Claire.

— Eu devo ir encontrar Colin

— Desculpe-me, senhorita MacGregor.

Uma voz inglesa que vinha ao seu lado direito provocou um suspiro silencioso de Mairi. A noite só piorava. Ela ofereceu seu sorriso a Henry de Vere, filho do conde de Oxford, enquanto ele dava uma breve saudação a Lady Huntley. Mairi o conheceu no dia seguinte a sua chegada a Whitehall. Seu conhecimento profuso sobre tudo e todos no palácio a haviam atraído a passar um tempo com ele. Se houvesse presbiterianos perambulando por Whitehall, ele saberia deles. Infelizmente, ela estava começando a temer que tivesse passado muito tempo com ele. Pois ele a seguia como um filhote ansioso e dificultava entrar em qualquer um dos quartos de hóspedes para obter informações valiosas que ela poderia levar para a milícia.

— Eu esperava ter uma palavra com você antes que as mesas fossem limpas e pedir a primeira dança esta noite.

— É claro, Lorde Oxford. — Vendo uma maneira de usá-lo a seu favor, afastando-a da companhia atual, ela passou o braço pelo dele e deu-lhe um leve puxão. — Mas lembre-se, eu sei apenas a dança da corte que você teve a gentileza de me ensinar.

— Então deixe-me lhe ensinar uma dúzia mais. — Lorde Oxford olhou para Connor enquanto sua mão roçava as juntas de Mairi. — A menos que, é claro, você tenha feito uma promessa prévia a outra pessoa?

Connor ofereceu-lhe um sorriso duro e saiu do caminho deles.

— Ela é sua a noite toda.

Mairi queria dar-lhe um tapa forte e depois fazer o mesmo consigo mesma. Por que sua dispensa casual parecia um golpe no peito dela? Ela sabia que ele não a amava mais, que nenhum homem poderia estar separado da lass que ele amava por sete malditos anos! Mas ele realmente ficou tão insensível?

— Se eu tivesse feito tal promessa, — apesar de seu interior agitado, ela falou com toda a civilidade doentia que podia reunir. — O capitão Grant de todas as pessoas entenderia se eu a quebrasse.

Ela queria evidências de que sua farpa o havia picado. Ela queria machucá-lo, pagá-lo por cada momento que passara chorando por ele em sua cama. Mas seu sorriso retornou, como se ele conhecesse os segredos de meros mortais e os achava divertidos.

— Sim, eu não apenas entenderia, — disse ele, — mas também aceitaria.

Uma dúzia de maldições batia contra seus dentes, mas ela conteve todas e deixou Lorde Oxford levá-la embora. Ela não mostraria interesse a Connor. Fingiria que ele nem estava aqui. Um esforço fácil que ela dominou contra aqueles que odiava.

E ela certamente o odiava.

 

Capítulo Dois


Connor viu Mairi sair com seu admirador com babados e apertou a mandíbula para não xingar em voz alta. Ele gostaria de lhe dar um chute rápido no traseiro para apressar sua partida. Se ela quisesse ofendê-lo pelos próximos cinquenta anos, fizesse-o. Se ela escolheu dançar com todos os homens na corte, deixá-la-ia fazer isso também. Ele havia desperdiçado anos suficientes desejando-a. Ela não era mais dele e estava livre para fazer o que quisesse.

Mas diabos, pensou, observando-a tomar a palavra com Oxford, ela ainda era a mulher mais bonita que ele já vira. Mais bonita do que ele lembrava. Ela se destacava de todas as outras mulheres do palácio, colocando-a fora do lugar, que era as Highlands, com a suprema confiança de uma rainha, com o queixo inclinado com o desafio que herdara do pai. Os anos tiveram pouco efeito nela. Seus longos cachos pretos ainda capturavam a luz quando caíam sobre o inchaço de seu seio. Sua pele estava impecável como era quando ela era uma lass de quinze verões. Apenas seus olhos, ainda tão azuis quanto os céus acima de Camlochlin, estavam mais frios.

A música da varanda flutuava para baixo, enchendo-o de lembranças de seus longos dias aqui antes dele e seus homens terem sido enviados a Glencoe para manter a paz entre os MacDonalds e os Campbells. Ele não queria voltar, principalmente porque sabia que Mairi estaria aqui para a coroação, mas também porque ele nunca se encaixava verdadeiramente com todo o luxo e esplendor da corte do rei. Ele era um Highlander, e não suportava ser cercado por falsas gentilezas e amigos exagerados.

Ele já sentia falta da Escócia e só estava ausente por uma noite. Ele desejou estar deitado em sua tenda, no chão frio e duro, e não aqui, com eles... com ela... principalmente com ela, mesmo por um dia. Ele ficaria agradecido pelos MacGregors voltarem para casa de manhã.

Ele não quisera deixar sua casa nas Highlands... ou ela, pois amava os dois. Ele não teve escolha. Como primo de quarto grau do rei, era seu dever servir o nome de sua família. Um dever que ele não renunciou, mas aceitou com orgulho. O sangue dos guerreiros corria por suas veias, afinal; seu pai, comandante da brutal guarnição dos MacGregors, junto com sua mãe, arriscara sua vida para ajudar a colocar Charles no trono. Seu tio e homônimo, almirante Connor Stuart, uma vez, há muito tempo, desafiou os generais e suportou a dor da tortura na Torre.

Tinha sido sua vez de defender o trono e Connor nunca renunciou a uma boa briga. Mas Mairi nunca o perdoou por deixá-la para servir a um rei protestante. Ele lhe escreveu, pedindo que ela se juntasse a ele na Inglaterra. Ela recusou todos os pedidos. Ela o deixou sem outra escolha senão deixá-la seguir sem ele. Era o que ela queria. O que ela disse que a faria feliz. Então, ele se esforçou para esquecer dela e ficou longe de Camlochlin, permanecendo no exército mesmo depois de cumprir o serviço necessário a Charles.

— Eu esperava que esse encontro fosse melhor do que isso.

Connor olhou para a mãe e encolheu os ombros com uma expressão séria dos lábios.

— Uma esperança que só continuará a decepcioná-la se você se apegar a ela.

Sua mãe lhe ofereceu um olhar terno antes de respirar fundo e olhar em direção à pista de dança.

— Ela ficará aqui.

— O quê? — Connor não percebeu que ele falara até que sua mãe se assustou com o tom dele e baixou a própria voz para que apenas ele pudesse ouvir.

— Callum não a quer em Camlochlin, caso os holandeses procurem a filha do rei. Colin também ficará pelo mesmo motivo.

— Que razão é essa?

— A paixão deles pela lâmina.

A expressão de Connor escureceu.

— Inferno, você continuou suas lições de batalha, mesmo depois que eu... e seu pai, pedimos que não o fizesse.

— Não há nada de errado em ela saber empunhar uma espada. — Sua mãe olhou de volta para ele.

— Exceto que empunhar uma espada na prática é bem diferente de empunhar uma na verdadeira batalha. Ela não sabe disso ou sequer consideraria brigar com homens que recentemente assassinaram uma abadia cheia de freiras.

Sua mãe suspirou e lançou-lhe um olhar de pena, pouco antes de sorrir para o marido cortando a multidão para alcançá-los.

— Connor, querido, há muito que você não sabe desde que partiu. — Ela não deu tempo para refletir sobre sua declaração estranhamente perturbadora, mas deu seu sorriso mais radiante ao seu pai.

— Como foi a sua reunião com o rei? — Graham Grant perguntou depois de tirar o gorro e beijar a esposa. — Vamos lutar contra os holandeses, então?

Sim, aqui estava o que ele deveria estar se preocupando. O novo rei católico da Inglaterra tinha inimigos perigosos que provavelmente planejavam uma revolta iminente.

— Não antes que James saiba ao certo quem ordenou o ataque à abadia. — Eles já sabiam sobre o suposto retorno do conde de Argyll exilado às costas da Inglaterra para reunir forças contra o rei. O duque de Monmouth não podia estar muito atrás. Mas, era o príncipe William de Orange quem tinha mais a ganhar se James fosse usurpado. Connor deixou o olhar repousar brevemente no sobrinho e genro do rei sentado no estrado do outro lado do salão. Como suposta primogênita do rei, a esposa de William, Mary, era a próxima na fila do trono.

A conversa em sussurros parou quando Lorde Hartley e sua filha Eleanor pararam para cumprimentá-los.

Connor sorriu enquanto o decoro ditava, mas logo seus pensamentos e seu olhar voltaram a Mairi. Ela estava ficando, e ele não tinha dúvidas de que ela faria da vida dele um inferno. Só de olhar para ela fazia suas tripas doerem. Ele jurara a si mesmo nunca mais arriscar sua integridade com as constantes rejeições dela, mas vê-la novamente o tentava. Ela era o passado dele. Ela passara todos os dias sem medo, imprudente, apaixonada por tudo em que acreditava, incluindo seus familiares. Ele costumava pensar nela nas noites mais negras, quando ele e seus homens ficavam sem comida e tinham adormecido na neve, olhando para as estrelas. Amá-la o manteve vivo quando ele teve que lutar por outro dia. Ele pensou que ela acabaria por perdoá-lo por partir. Quase o quebrou quando ela nunca o perdoou.

Ele disse a si mesmo por mais anos do que queria admitir, que poderia e iria resistir a ela se a visse novamente. Ele era um capitão do Exército Real, estimado por sua habilidade no campo de batalha, seu supremo controle sobre as condições que teriam feito outros homens desmoronarem. Mas ele havia esquecido o fogo que pulsava nas veias de Mairi. Ela carregou a noite com raios de energia que dispararam através dele como luxuosas flechas quando pôs seu olhar desdenhoso no dele. Ele quase sorriu com a lembrança dos olhos dela rasgando os dele quando ela se deparou com ele alguns momentos atrás. Ela ainda era a égua espirituosa que ele sempre quis domar. O pensamento de fazê-lo fez seu pênis parecer pesado dentro dos limites apertados de suas calças.

Ele apertou as mãos na frente dele e estreitou o olhar em Lorde Oxford. O que ele sabia sobre o filho de Charles de Vere, além de que Connor não gostava dele? Sua família era professada protestante, a religião popular da Inglaterra atualmente. Isso fez o interesse de Mairi por ele peculiar, já que ela era tão zelosa em seu ódio aos protestantes e Covenanters presbiterianos quanto em relação a ele.

— Por que você fica aqui em silêncio em vez de ir atrás dela? — Perguntou o pai depois que os Hartley seguiram em frente. — Você é um Highlander pelo amor de Deus, filho. Pegue o que você quiser.

Connor aceitou uma bebida de um garçom que passava e, levando a caneca aos lábios, sorriu para o pai.

— Aqui não é as Highlands. Espera-se que os homens se comportem de maneira mais civilizada aqui. O mais importante — ele bebeu o conteúdo da caneca — eu não a quero.

— Seus olhos dizem algo diferente.

— Você entendeu errado então, — ele respondeu em um tom bastante lento para provar que o assunto o entediava. — Você viu meus homens? — Ele olhou em volta, pondo fim à conversa que não queria ter.

— Sim, eles foram para o Troubadour e me pediram para pedir para encontrá-los lá.

Ah, agradeceria aos santos por seus homens e pela taberna. Ele com certeza não queria estar aqui enquanto Mairi dançava a noite toda com uma dúzia de pretendentes diferentes.

— Vou até eles então e voltarei mais tarde. — Ele saiu com uma piscadela para sua mãe que trouxe um sorriso aos lábios, apesar do olhar conhecedor em seus olhos.

Ele atravessou o salão, olhando para Oxford enquanto conduzia Mairi de volta à mesa. Quando ela se sentou, o olhar de Connor varreu os contornos finos de seu perfil. O rosto dela estava arraigado no coração dele. Cada parte dela estava. Ele desviou o olhar para o recorte sedutor em suas saias, onde por duas vezes ele avistara a curva do joelho dela, depois de volta, para a redondeza cremosa de seu decote.

Ela se tornou uma mulher sem ele.

A respiração dele parou com o movimento sensual dos cílios dela quando ela ergueu o olhar para ele e depois desviou o olhar, negando-lhe o que oferecia a Oxford. Outro sorriso.

Ela ainda aquecia o sangue dele, mesmo depois de ter cortado o coração dele.

Nae6. Ele não era mais aquele idiota lamentável que queria o que não era mais dele, apesar do número de mulheres que tentaram conquistar seu coração nos últimos sete anos e falharam. Idiota. Quantas ele havia rejeitado porque seus cabelos não eram tão pretos quanto os de Mairi, ou seus olhos não eram azuis como os dela?

Ele a amaldiçoou, e sua própria debilidade, resolveu deixar o salão de banquetes sem olhar para trás.

Ele saiu e olhou para as nuvens negras passando sem chuva. Inferno, seria outra noite agradável. Ele deixou o portão em direção à rua do Parlamento, suas botas batendo com força contra a pedra. Ela estava ficando. Como diabos ele deveria evitá-la quando eles moravam no mesmo lugar? Ele queria estar o mais longe possível dela. Longe da tentação de sorrir para ela, de encará-la, estrangulá-la.

Sua respiração pesada ecoou pelas ruas estreitas e vazias enquanto ele dirigia em direção ao Troubadour. O que ele precisava era de um punhado de bebidas e uma mulher no colo. Ele alcançou a pequena taberna e saiu cautelosamente do caminho de um corpo sendo jogado de bruços. Ele já se sentia melhor. Aqui estava o que ele precisava... estar na companhia de homens não refinados e não-civis que preferiam um chute no rosto do que uma peruca na cabeça.

— Connor!

A carranca escura de Connor se suavizou em um sorriso tão largo quanto seus ombros enquanto ele avançava e puxou seu amigo mais querido para um abraço esmagador.

— É bom ver você, Tristan.

— E você, velho amigo. — O irmão de Mairi bateu nas costas dele. — Embora eu deva contar a você, — ele disse, afastando-se, — você parece um pouco pastoso. Você viu minha irmã, então.

O sorriso de Connor ficou seco quando ele jogou o braço em volta do pescoço de Tristan e o levou em direção à mesa onde seus homens estavam sentados.

— Sim, mas vamos falar de coisas mais agradáveis. Vejo que você já conheceu alguns dos meus homens.

O reencontro foi interrompido quando chegaram à mesa e um rapaz de cabelos escuros e quase nenhum cabelo no rosto se levantou.

— Capitão, — disse Edward Cornwell, o corneteiro de Connor, oferecendo-lhe sua caneca antes que Connor gesticulasse para ele se sentar. — Esperávamos que você se juntasse a nós.

— Sim, — Richard Drummond, tenente de Connor, levantou sua caneca para ele antes de engolir seu conteúdo. Ele passou a manga pela boca e depois apontou para uma moça que servia para trazer mais. — Seu amigo MacGregor aqui nos disse que provavelmente ficaria infeliz ao retornar ao salão.

Connor lançou a Tristan um olhar desagradável antes de se sentar na cadeira. A última coisa que ele queria era que seus homens soubessem que ele amou mais uma moça do que acordar vitorioso na manhã seguinte a uma batalha.

— Sim, ficar escondido com todos aqueles almofadinhas ingleses tem um jeito de desgastar minha natureza agradável.

— Eu sou inglês.

Connor olhou para cima enquanto outro homem que ele não via há dois anos batia nas costas dele antes de se sentar com o resto deles.

Ao lado dele, Drummond fez uma carranca em sua caneca.

— É algo que você realmente sente que vale a pena gabar-se, capitão Sedley?

Nicholas Sedley, capitão da marinha do príncipe William, afastou-se da avaliação vagarosa dos quadris balançando e sacudindo de uma serva da taberna e lhe lançar um sorriso que Connor o viu usar antes de levar Drummond para o campo de treinamento quando os três chegaram a Whitehall para o serviço.

— Enquanto você cortava lenha atrás de sua cabana, eu estava sendo meticulosamente preparado nas artes que você nem consegue pronunciar.

Drummond, apesar de estar abaixo dele no ranking, apenas desviou o olhar de pena para Connor e assentiu.

— Almofadinha.

Era bom rir mesmo às custas do amigo. Não que Nick se ofendesse por ser chamado de covarde. Ele era um daqueles homens que sabia perfeitamente o quão capaz ele era em tudo, desde o campo de batalha até o quarto.

— Ouvi dizer que você tem mantido a paz entre alguns clãs em Glencoe. — Sedley virou-se para Connor com um olhar triste. — Não há nada mais digno de sua espada do que impedir que os Highlands se matem?

— Pode haver. — Connor reclinou-se em seu assento, seu sorriso lento e curioso. Se William de Orange estivesse planejando uma usurpação, Sedley provavelmente saberia disso. Mas ele contaria alguma coisa a Connor? — Tenho motivos para acreditar que o almirante Gilles retornou à Inglaterra.

— Oh? — Sedley arqueou a sobrancelha de corvo. — O braço direito do duque de Monmouthde é Gilles, não é?

— Então, assim me disseram. — Connor olhou para Richard e Edward, silenciosamente avisando-os para não falarem do ataque à abadia de St. Christopher, enquanto outra moça servia uma nova rodada de bebidas diante deles. — Se Gilles serve Monmouth, tenho motivos para me preocupar com a chegada dele. A menos, é claro, se o almirante viajou para cá com o príncipe.

Sedley balançou a cabeça.

— Não ouvi nada sobre ele, nem sobre Monmouth.

Como diabos um capitão na marinha de William não sabia nada sobre uma pequena frota naval que atracava secretamente nas costas da Inglaterra? Sedley não ia contar o que sabia. Ele se tornou leal ao seu senhor, e por que não? Ambos eram protestantes.

Connor estava pensando na próxima pergunta a ele quando uma moça loira bonita caiu em seu colo.

— Ora, capitão Grant, — ela fez beicinho, passando os braços em volta do pescoço dele, — você voltou para a Inglaterra e não veio me ver?

Connor sorriu para os exuberantes lábios rosados, depois fechou os olhos e quase balançou a cabeça para expulsar outro conjunto de lábios mais venenosos.

— Acabei de chegar hoje, Vicky.

— Você poderia ter me chamado para atendê-lo.

Sim, por que diabos ele não tinha chamado? Os dedos sensíveis de Vicky ajudaram a afastar Mairi no passado. Por que ele estava perdendo tempo pensando em Mairi agora? Levou quatro anos para admitir que a tinha perdido, três para se curar. Ele seria condenado se considerasse deixá-la entrar em sua vida novamente ou em qualquer lugar perto de seu coração. Ele poderia encontrar maneiras de evitá-la. Seria fácil em um palácio com mil e quinhentos quartos e centenas de acres de terra.

— Você virá me visitar mais tarde?

Ele piscou, lembrando-se de Vicky no colo.

— Talvez outra hora, — disse ele, dando-lhe um empurrão suave.

Sedley foi o único que a observou ir, seus olhos cinza claros se escurecendo com desejo.

— Se importa se eu procurar a companhia dela?

— Vá em frente. — Foi a segunda vez hoje à noite que ele deu seu consentimento para perder uma mulher. Desta vez, porém, ele quis dizer isso. Ele descobriria amanhã se, e o que, Sedley sabia sobre Gilles. Agora, ele simplesmente queria desfrutar da companhia de seus homens e de seu amigo Tristan. Eles tinham muito o que contar, muitas histórias para compartilhar, as suas histórias menos hilárias do que as de Tristan, ele tinha certeza.

— Você não me escreve uma carta há mais de um ano. Como estão as coisas, seu bastardo? — Olhando para cima. Tristan sorriu enquanto Connor levava a caneca aos lábios.

— Eu gostaria de poder dizer o mesmo para você.

Depois de um gole de bebida, Connor assentiu, pensando nos próximos dias com Mairi MacGregor neles. Pelas bolas de Satanás, ele desejava isso também.

 

Capítulo Três


— Não sabia que você conhecia o capitão Grant.

Mairi olhou para o perfil de Lorde Oxford enquanto saíam para o ar quente e úmido da noite. Querido Deus, nunca choveu aqui? Era a Inglaterra pelo amor de Deus!

— Você sentou-se comigo, Lorde e Lady Huntley. Você sabe que somos amigos.

Ele riu brevemente, visivelmente para si mesmo.

— De fato, isso é verdade. Receio ter optado por esquecer o filho deles e o efeito notável que ele tem sobre as mulheres.

Maldição, ela estava cansada. Seus pés estavam doloridos de dançar e seus nervos estavam prontos para arrebentar ao ver Connor e depois não o ver novamente pelo resto da noite. Ela imaginou o reencontro milhares de vezes. Ela, forte e imperturbável para seus encantos. Mas ele não tinha sido nada encantador. Ele estava frio e desapegado. Ele até a insultou. Ela não queria falar dele. Ela queria ir para a cama e esquecer esse dia e os próximos. Ela não deveria ter concordado em deixar Lorde Oxford acompanhá-la até seus aposentos, mas, inferno, o homem não quis tomar um não por uma resposta.

— Como assim, seu efeito notável? — Och, o que nas chamas ela se importava? Ela não queria perguntar. Ela não queria saber.

— O rubor nas bochechas de uma mulher. A falta de ar. — A chama acendeu seus olhos. Oxford virou-se para olhá-la. — O mesmo efeito que ele tem em você.

Mairi teria rido bem na cara dele se a negação de sua acusação já não estivesse batendo contra seus lábios.

— O capitão Grant não tem esse efeito em mim. E não há o mesmo como ele!

— Ele é muito bonito. — Ele desviou o olhar agora, escondendo a cicatriz que se estendia do olho até a mandíbula no lado oposto do rosto.

Pobre homem. Mairi sentiu uma pontada de simpatia por ele. Nenhuma moça da corte jamais perdeu o fôlego ao olhá-lo. Ele não era atraente. Na verdade, ele era bastante gracioso, só não era mais pela peruca ridícula em cima de sua cabeça. Seus olhos eram arregalados e castanhos escuros, rodeados por luxuriantes cílios escuros e seu nariz era pequeno para um inglês. Era verdade, ele era tão monótono quanto uma lâmina enferrujada, agredindo-a com elogios sem fim e seu vasto e inútil conhecimento de tudo o que era inglês desde o primeiro dia em que ela lhe mostrou qualquer gentileza. Ela só fez isso para obter informações sobre a família dele. Até agora, porém, ele não lhe deu motivos para suspeitar que era algo pior que um protestante. De fato, ela descobrira que o irmão do conde de Oxford havia criado um exército chamado Horse Guard Blue para lutar nas costas do rei quando Charles foi restaurado ao trono. Lorde Oxford e seu pai estavam ocupados demais beijando a traseiro do novo rei católico para tramar contra ele. Os de Veres amavam mais a vida cortesã do que sua religião. Fanáticos, eles não eram.

Então, e se ele tivesse uma tendência a fazê-la cair no sono? Ele era gentil com ela, e isso era mais do que ela poderia dizer de qualquer um dos outros nobres convidados do rei.

— Lorde Oxford, eu prefiro um homem que mantém sua palavra em detrimento de um que lustra seu sorriso antes de matá-lo.

Quando seu olhar sobre ela ficou suave, ela se amaldiçoou interiormente. Talvez não fosse a coisa mais sábia a dizer para ele. Ele claramente gostava dela. Como ela poderia dizer a ele que não compartilhava seus sentimentos sem esmagar o que restava de seu valor próprio?

— Por favor, me chame de Henry, como eu lhe pedi por muitos dias. — Ele pegou a mão dela e a levou aos lábios. Depois de um beijo prolongado, ele olhou para ela. — Então eu não preciso me preocupar com ele roubando você de mim?

— Claro que não. Quer dizer, eu não sou sua para perder. — Ela suavizou seu sorriso em um esforço para amortecer o golpe. — Vou pensar com carinho em você depois que voltar para casa, como faço com todos os meus amigos.

Parecia que ela tinha acabado de dizer que seu pai foi encontrado morto no pátio.

Inferno.

— Não voltarei para casa então planejei e espero que você me ensine mais danças.

— Claro. — Ele se iluminou, sua esperança restaurada. — E talvez, se você continuar me concedendo seu favor, eu possa ganhar algo mais.

Mairi sorriu quando chegaram ao quarto dela. Inferno, seria uma estadia muito longa.

— Vamos ver, meu lorde. — Ela deu-lhe um leve tapinha no braço, abriu a porta e entrou antes que ele pudesse dizer outra palavra. Ela fechou a porta e trancou-a, sem realmente confiar que ele não entraria atrás dela enquanto ela dormia.

— O que foi?

Mairi assustou-se e girou ao ouvir a voz do irmão.

— Colin, você deve ser sempre uma pessoa tão silenciosa quanto o vento?

Ele abriu os braços de onde se reclinava em uma cadeira perto da janela.

— Eu já estava aqui. Deveria respirar mais alto da próxima vez para anunciar minha presença?

— Sim, você poderia. — Ela suspirou e desencostou-se da porta. Na verdade, ela estava feliz em vê-lo. Ele fez um desvio para uma Abadia com Rob e alguns parentes, pouco antes da tropa ter chegado à fronteira inglesa a caminho da coroação de James de York. Ela não o via há mais de duas semanas e sentia falta dele. Dos três irmãos, ela era mais próxima de Colin. Eles compartilhavam muito em comum, incluindo sua lealdade à Escócia, seu amor pela espada e segredos muito perigosos para contar ao pai.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu pensei que você gostaria de saber como foi a reunião de Connor com o rei.

— Que prestativo, já que esperou três horas para me dizer. — Ela atravessou o quarto e serviu a ambos um copo de água.

Ele aceitou a oferta e esperou que ela se sentasse na cama.

— Você pareceu distraída pelo mesmo homem que suponho não era para estar na sua porta.

— A reunião, Colin, — ela lembrou, tomando cuidado para não deixá-lo influenciar o tópico a uma direção mais pessoal. Colin possuía uma habilidade estranha em discernir significados e expressões sem ter que ouvir uma confissão. Se ela começasse a falar de Oxford e de seu interesse por ela, seu irmão de alguma forma ligaria sua indiferença ao lorde inglês a um certo capitão escocês. Colin era o único que conhecia o efeito completo que a traição de Connor teve sobre ela. Ele a seguiu, oferecendo conforto em silêncio enquanto ela chorava. Ela não o faria pensar, nem por um instante, que o capitão Grant ainda exercia alguma influência sobre ela.

— O rei pediu que eu ficasse com ele depois que Connor lhe deu as notícias sobre o ataque holandês e deixou o solar.

As sobrancelhas de Mairi se arquearam com interesse.

— James não confia em Connor, então?

Colin estreitou os olhos nela por cima da borda de sua caneca.

— Por que você acha isso?

— Porque Connor serviu a um rei protestante por sete anos, — Mairi lembrou-lhe, incapaz de manter o aguilhão de sua voz.

Colin sorriu, chegando a uma conclusão que Mairi tinha certeza de que era a incorreta.

— Ele me pediu para ficar porque queria me interrogar sobre quaisquer sobreviventes na abadia.

— Você contou a ele sobre a senhorita Montgomery?

— Nae. — Colin baixou os olhos cor de avelã por trás dos cílios escuros. — Mas eu sei agora com certeza de que ela é sua filha. Ele acredita que ela está morta e Rob quer que continue assim. Nosso irmão suspeita que seus inimigos residam aqui e Connor concorda. Não devemos dizer nada. Se eles souberem que Lady Montgomery não pereceu no incêndio, eles vão continuar a procurar por ela.

— Você disse ao pai que os homens de Gilles seguem seu grupo até Ayr. Então eles já sabem que ela está viva.

Colin balançou a cabeça.

— Eles não sabem com certeza.

— Och, por que Rob teve que levá-la para nossa casa em Camlochlin?

— Porque é o único lugar em que ela estará segura, Mairi.

— Se um dos lados estiver correto e os holandeses atacarem nossa casa... Colin, devemos insistir para que ele nos permita voltar para casa com ele e os outros. Eu não quero estar aqui, onde é seguro. Eu quero lutar contra esses inimigos

— É exatamente por isso que ele nos deixou aqui, — seu irmão disse a ela de forma sucinta. — Ele suspeita de nosso envolvimento com a milícia rebelde. Ele sabe que não vamos nos esconder, se os holandeses atacarem. Eu sei que você odeia ouvir isso, Mairi, mas você é uma lass e ele...

— Och, não diga isso. Você sabe que eu posso lutar tão bem quanto você.

Quando ele lançou-lhe um olhar cético, ela admitiu.

— Bem, melhor do que a maioria então. Você deve dizer ao rei que Davina Montgomery vive. Deixe-o ir a Camlochlin para buscá-la e escondê-la em outro lugar. Eu quero ir para casa.

— Eu posso dizer-lhe, — ele confessou, — mas não por esse motivo. Acredito que ela está mais segura com nossos parentes e não vou comprometer isso. Se eu lhe disser, será porque ele acha que sua filha está morta e sofre da mesma maneira que a nossa própria mãe. Ele tem o direito de saber a verdade.

Mairi sorriu para ele.

— Você fala como se se preocupasse por ela.

— Todo mundo que conhece Lady Montgomery se importa com ela.

Uma resposta enigmática. Assim como Colin, para obscurecer sua paixão por trás da ambiguidade. Nenhum inimigo jamais saberia o que ele estava pensando, outra característica que ela compartilhava em comum com ele.

— Você não se importa de estar aqui, e não ao seu lado para protegê-la, então?

— Rob pode protegê-la, — disse Colin em voz baixa. — Além disso, eu acho que seu pai precisa da minha proteção no presente. Ele é um católico leal e, embora ninguém tenha manifestado seu descontentamento por esse fato até agora, alguém já tentou acabar com sua verdadeira herdeira primogênita católica.

Ele fez um argumento válido. Uma rebelião parecia provável. Ela poderia não ter se preocupado com isso se Charles ainda fosse rei, já que ele era protestante, mas, och, ter um católico no trono novamente...

— O que podemos fazer?

— Tudo o que podemos fazer no momento é manter nossos olhos e ouvidos alertas. O príncipe William de Orange estava provavelmente por trás do ataque à abadia, mas o rei não se moverá sem provas, já que a culpa também pode estar no duque de Monmouth ou no conde de Argyll.

— O que Connor acha de tudo isso? Ele é um dos capitães do rei, afinal.

— Não tenho certeza de que Connor tenha pensado em nada além de você desde nossa jornada de volta a Whitehall juntos. —Quando Mairi riu, Colin a silenciou com um olhar sério. — Irmã, tive a chance de falar com ele enquanto viajávamos até aqui e acho...

— Por favor, Colin. — Ela levantou a mão para detê-lo. — Eu não desejo falar dele.

— Você não me disse que ele pediu para que viesse para a Inglaterra com ele.

— Porque eu não tinha intenção de vir para aqui. Eu não queria morar na Inglaterra. Ele sabia disso muito bem. O que eu faria aqui, além de suar meu maldito traseiro? — Ela ignorou o leve toque de sua boca. — Nae, minha casa é nas Highlands. Ele fez sua escolha ao partir. Foi arrogante e sem coração me pedir para desistir do lugar do meu nascimento, sabendo como eu o amo.

— Ele não quis dizer que os dois deveriam permanecer aqui para o restante do suas vidas.

— Nae? — Ela pulou da cama, tendo ouvido o suficiente. — Veja quanto tempo ele ficou, Colin. Como você pode descobrir onde Cameronians realizam as suas reuniões secretas, mas não vê que os pedidos dele eram apenas uma maneira de levá-lo a escapar de sua culpa por partir? Ele me pediu para vir aqui sabendo que eu recusaria.

— Bem. — Seu irmão deu um aperto suave na mão dela, quando ele também se levantou de seu assento para sair. — Você está presa aqui com ele até que pai envie alguém por nós. Tente não usar um desses punhais que tendes escondidos tão habilmente por baixo suas saias em sua barriga.

— Eu não posso prometer isso, — ela disse enquanto ele se dirigia para a porta. — Ele me tenta a usar minha adaga nele apenas abrindo a boca.

Colin lançou-lhe mais um olhar irritantemente cético por cima do ombro antes de sair.

Em vez de se despir e ir diretamente para a cama, ela foi até a janela e olhou para o céu escuro. Ela fez uma carranca para a lua cheia iluminando o pátio abaixo com a mesma luz que brilhara no rosto de Connor na primeira vez em que ele a beijou sob as rochas de Bla Bheinn7, e lhe disse que a amava.

Meu Deus, ela não pensaria nisso. Esse período em sua vida acabou. Ela seguiu em frente.

Ainda assim, ela não pôde deixar de se perguntar para onde Connor tinha ido hoje à noite. Provavelmente, ele foi visitar uma de suas muitas amantes e ainda estava com ela agora, beijando-a do jeito que costumava beijar... Nae, ela não se importava.

Se ela tivesse aceitado a proposta de casamento de Duncan MacKinnon no inverno passado, ou até mesmo Hamish MacLeod no ano anterior, provavelmente estaria em Torrin ou Portree em vez daqui. Mas ela não queria mais ser esposa, controlada por um homem, especialmente um que ela não amava.

Seus pensamentos se voltaram para Connor e a pergunta que ela se fez desde o dia em que ele saiu.

Ela amaria novamente?

 


Capítulo Quatro


Connor encostou-se na parede externa e observou em silêncio enquanto os MacGregors se despediam de Mairi e Colin. Eles estavam realmente deixando Mairi aqui. Ele deveria ter ficado em Glencoe. Ele poderia ter dito ao rei que havia sido emboscado na estrada, esfaqueado na perna e não poderia voltar para a coroação. Inferno, ele teria infligido uma ferida se soubesse que ela ficaria.

Ele olhou para a figura parada trás, logo na entrada. Oxford. O que estava acontecendo entre eles que o homem esperaria tão ansiosamente que ela se afastasse do pai? Graças a Tristan, Connor sabia que Callum MacGregor não gostava do filho do Conde de Oxford. Na verdade, Callum não gostava da maioria dos ingleses. Um sentimento que Connor pensava que Mairi compartilhava. Ele estava errado. Quando ele voltou a corte na véspera, ela já tinha se recolhido... e seu parceiro de dança também.

O ritmo de Oxford para frente e para trás, junto com seu olhar para fora a cada cinco respirações, agitava Connor. Era como se ele já a tivesse reivindicado.

O inferno que ele tinha. Outro pensamento passou pela mente de Connor, que escureceu a carranca já em seu rosto. Oxford a beijara? Mairi tinha permitido? Ele voltou-lhe o olhar enquanto ela abraçava a mãe. Ela não podia realmente se importar com Henry de Vere. Ela poderia?

— Connor.

Ele piscou para longe das mulheres e encontrou o Laird MacGregor caminhando em sua direção. Callum MacGregor não mudou em sete anos. Ele ainda era grande como uma montanha e tão poderoso quanto uma tempestade. Pelo canto do olho, Connor viu Oxford desaparecer nas sombras. Sábio... e bastante revelador. Se não houvesse nada entre ele e Mairi, não haveria motivo para se esconder do pai reprovador. Não que Mairi se importasse demais se o Laird aprovasse ou não. Ela sempre teve sua própria liberdade e fazia o que quisesse, na maioria das vezes para provar que era tão capaz quanto seus irmãos em qualquer tarefa que realizassem. Quantas vezes ela o seguiu e a Tristan quando era uma lass pequenina, ou saltou em um cavalo que era grande demais para ela, ou foi pega apontando um arco na parte de trás de uma criança que a menosprezou? Ele quase sorriu lembrando.

— Eu tenho um favor para pedir a você, — disse o pai dela, alcançando-o.

— Você só precisa pedir, meu lorde.

— Mantenha seus olhos na minha filha.

Qualquer coisa menos isso. Connor não queria manter os olhos nela. Ele queria afastá-los. Ele queria desaparecer nas matas, na taberna, em qualquer lugar que ele não tivesse que vê-la.

— É claro, — ele respondeu sem entender. — Ela estará segura aqui.

Callum assentiu, deu-lhe um tapinha vigoroso no braço e virou-se para se afastar. Ele parou quando um pensamento lhe ocorreu e se aproximou mais uma vez.

— Ela não vai gostar da minha preocupação com ela, então é melhor não lhe falar do meu pedido, não é?

— Sim — prometeu Connor, embora de má vontade. Brilhante. Ela pensaria que ele a seguiria por algum propósito tolo que não tinha nada a ver com o pai.

Ele pensou em voltar para Glencoe e seu cargo. Ele poderia voltar em dois dias. O que poderia acontecer com Mairi com seu próprio pai aqui para ficar de olho nela?

Um movimento na entrada chamou sua atenção. Oxford esperou como um gato prestes a atacar. Connor realmente não podia culpar o homem por querer ganhar uma garota tão espirituosa. Seu próprio olhar se voltou para ela. Ele entendia por que qualquer homem iria querer agarrá-la ao seu peito, mesmo enquanto ela resistisse, e acalmar seus protestos com os lábios.

O pensamento de Oxford beijá-la ferveu o sangue de Connor e o fez querer ficar longe do palácio ainda mais do que o habitual.

Um pouco mais tarde, Mairi assistiu seus parentes montar suas selas e começar a sua jornada para casa sem ela. Ela não chorou e foi uma coisa boa, pois Connor poderia ter sido tentado a procurá-la, mas ela parecia triste o suficiente para fazê-lo querer derrubar uma parede.

Oxford a alcançou primeiro.

Quando eles se viraram para trás, o braço de Oxford se enrolou ternamente em volta da cintura dela, Connor se aproximou deles. Ele passou por Mairi sem dizer uma palavra e acelerou o passo ao lado de seu pai atrás dela. Ele ouviu sua mãe dizer algo sobre tênis8, mas não tinha certeza do que era. Seus olhos mergulharam no braço de Oxford e ele teve vontade de arrancar a claymore da bainha e cortá-lo do corpo.

— Capitão. — Dois de seus homens cumprimentaram quando passaram por ele, lembrando-o quem era. Ele não podia sair por aí cortando membros de nobres ingleses. Ele manteria os olhos nela e a protegeria contra um pretendente indesejado, se fosse necessário, mas isso era tudo. Ele não perderia o controle ou qualquer outra coisa por causa dela. Ele afastou os olhos da cintura dela e olhou para Colin sendo escoltado por dois dos guardas pessoais de James em direção às escadas.

— Ele recebe outra audiência com o rei.

— Sim. — Graham assentiu. — Ontem à noite, enquanto você estava comemorando na taberna, o rei apareceu em nossa mesa e disse a Callum e Kate que, quando ele conversou com Colin mais cedo, achou que ele era uma mudança refrescante em relação aos estúpidos e bajuladores estaduais que geralmente era forçado a tolerar.

— Ele mencionou sobre o que eles conversaram? — Connor perguntou, retornando ao pai.

— Não. Colin não contou a você?

— Ele não falou.

Eles entraram no palácio e Connor quase esqueceu o que ele estava pensando quando a voz de Mairi caiu em seus ouvidos.

— Lorde Oxford, realmente, estou bem, mas acho que vou me recolher um pouco no meu quarto.

— Deixe-me acompanhá-la até lá. — O braço que Oxford havia retirado de sua cintura retornou.

Desta vez, Connor removeu... com os dedos e não com a espada, é claro. Sua tarefa era cuidar dela. Isso significava sua reputação, assim como sua segurança, e era isso que ele estava fazendo.

— A Srta. MacGregor não precisa de escolta. — Ele certamente não tinha a intenção de parecer tão ameaçador, mas Oxford recuou.

Mairi, no entanto, não.

— Capitão, — disse ela, apertando as mãos pequenas ao lado do corpo. O tamanho delas não importava, pois era sua língua que ela empunhava com tanta habilidade. — Você não tem uma moça para ocupar sua atenção, em vez de apontá-la para aqui, onde ela não é desejada?

— Sim. — Ele ofereceu a ela um sorriso cheio de diversão e desafio. — Mas você é a única aqui no momento.

A faísca de fogo em seus olhos apertou suas entranhas, acelerou seu coração

— Ou talvez, — disse ela, sorrindo para ele, — você ainda não tem inteligência para reconhecer quando foi rejeitado.

Och, ela o odiava e ele admitia livremente no momento que a culpa era dele, mas parecia tão arrebatadora, ali de pé, pulsando com raiva mal escondida que ele teve que apertar a mandíbula para não gemer.

Atrás dele, sua mãe pigarreou e puxou o braço do marido para mantê-lo andando.

— Capitão Grant, devo insistir...

Connor virou-se para Oxford e acalmou o restante de suas palavras com um olhar que perfurou tão mortal quanto uma espada. Quando ele se voltou para Mairi, ela se fora.

— Fique aqui, — ele avisou a Oxford por cima do ombro e saiu atrás dela sem olhar para trás. Ele a alcançou quando ela contornou o corredor da Galeria Shield.

— Aonde você vai? Seus alojamentos estão na outra direção — ele disse, diminuindo os passos ao lado dela.

— Estou me afastando de você. — Ela não olhou para ele, mas continuou em um ritmo acelerado.

— O óbvio escapou repentinamente de sua atenção perspicaz, Mairi? — Ele a olhou com um olhar frio e breve. — Estamos presos aqui na companhia um do outro por um tempo.

— Você pode partir.

Ele sorriu com a delicadeza do perfil dela, mesmo quando as palavras dela cortaram sua carne. Ele era imune às farpas dela. Pelo menos, ele disse a si mesmo que era.

— Não posso. As coisas mudaram.

Ela parou de repente e olhou para ele, uma mecha de cabelo preto acariciando sua bochecha.

— Nada mudou. Você continua sendo um desgraçado sem coração e descuidado.

Por um instante que ficou completamente fora de controle de Connor, ele ficou tentado a estender a mão e tocar a curva familiar de sua mandíbula. Mas ele sabia que o brilho nos olhos dela era muito claro. Ela quebraria os dedos dele com os dentes. Ele não se surpreendeu que achasse nela de mais atraente fosse a mesma coisa que o manteve longe dela por tanto tempo. Sua paixão, mesmo em odiá-lo, acendeu seu desejo como uma chama para queimar madeira. Tentava-o a lutar pelo que antes era dele. Mas apenas os tolos continuariam lutando muito depois que a batalha terminou.

E ele não era mais um tolo.

— Eu estava falando do reino. — Ele observou os pelos de sua sobrancelha e as sombras que lançavam sobre seus olhos. Era decepção que ela estava tentando esconder? Era difícil de ler, naturalmente misteriosa, escondendo suas emoções por trás de um rosto de alabastro e lábios que sabiam se enrolar no ângulo certo para fazer um homem esquecer todos os momentos antes desse em que o via. Do jeito que ela estava fazendo agora.

— Sim, o reino. — Ela desviou o olhar e retomou seus passos. — Você deve estar tristemente decepcionado por um católico agora estar no trono.

— Uma ideia que você deveria colocar em seu pretendente, Lorde Oxford, em vez de mim. Ou você não se importa mais?

— Sobre o quê?

Ele ignorou o tom contundente dela e continuou, seguindo-a por uma curva no corredor.

— Você sabe que ele é protestante, não é? Você o favorece com sua companhia a maior parte do tempo. — Sorrindo para ele como se realmente o considerasse um pretendente.

Ela parou abruptamente e se voltou para ele.

— E o que isso importa para você? Quem você pensa que é, Connor Grant? — Quando ele abriu a boca para responder, ela o interrompeu com a pontada de suas palavras. — É um pouco tarde para se preocupar com os homens na minha vida, não acha?

Isso não era verdade. Ele sempre esteve preocupado. Sempre com medo das cartas de Tristan, e depois sempre aliviado ao saber que Mairi não havia se casado.

— Não, eu não acho. Seja o que for que você pense, eu continuo vendo uma lass que precisa de cuidados.

Sua mandíbula se apertou e seus olhos se estreitaram nele como adagas gêmeas forjadas pelo fogo do inferno. Outro homem teria recuado, não apto para a batalha, mas Connor recebeu as farpas com graça. Ela era uma égua de vontade forte e ininterrupta que não seria domada por ninguém. Foi a primeira coisa que ele amou nela.

— Não preciso que cuide de mim, capitão. Estou bem armada para lidar com o que vier a mim. Sua mãe me ensinou a manejar uma lâmina e você me ensinou a não baixar o escudo.

Quando ele se moveu para segui-la, ela deslizou a mão sob a fenda em suas saias. Connor teve um vislumbre de sua coxa e, em seguida, um lampejo de uma lâmina.

— Deixe-me em paz, — ela avisou, apontando uma adaga sob o queixo dele quando ele a alcançou.

Connor levantou as mãos e deu um passo para trás, orgulhando-se de seu autocontrole por não desarmá-la e puxá-la para seus braços. Mas ele prometeu há muito tempo fazer o que ela exigia.

Ele observou o balanço de seus quadris enquanto ela se afastava e desaparecia na próxima ala do palácio.

Mairi olhou para trás. Connor finalmente se foi. Ela parou e encostou as costas na parede para respirar. Nenhum outro homem a deixou tão brava. Ele sempre foi bastante arrogante, até se gabando, quando tinha doze anos, de ter nascido de dois guerreiros em vez de apenas um, tornando-o duplamente hábil. Mas fazer perguntas a ela sobre Lorde Oxford e depois insultá-la alegando cuidar dela foi longe demais. Então, era o rosto dele que atormentava seus sonhos, e ele ficou mais velho, mais alto e maior. O que importava se seu falso coração permanecia o mesmo?

Erguendo as saias, ela guardou a adaga e a memória de Connor Grant. Ela era uma MacGregor, feita de coisas mais fortes que joelhos fracos e uma espinha para combinar. Se ele escolhesse enfurecê-la toda vez que se vissem, tudo bem para ela. Se ela o matasse, não seria culpada.

O som de vozes de homens falando do rei atraiu Mairi para as sombras. Eram Lordes Oddington e Somerset. Mairi observou o último puxar uma chave do colete, olhar em volta e enfiá-la em uma porta a alguns passos de distância.

O que eles estavam fazendo?

Quando desapareceram lá dentro, ela deixou as sombras e caminhou na ponta dos pés pela passarela. Ela chegou à porta e pressionou a orelha contra ela.

 

Capítulo Cinco


Os dois dias seguintes foram um inferno para Connor, e esta noite não prometia ser melhor. De pé no fundo do salão de banquetes, ele tomou um gole de vinho e olhou para a pista de dança. Jurou que, se tivesse que assistir Mairi e Oxford rindo juntos por mais um instante, cabeças rolariam. Eles comiam juntos, passeavam pelos jardins juntos e dançavam juntos todas as noites nas últimas três noites. Connor não estava com ciúmes. Ele simplesmente se sentia um pouco... protetor dela. Ele a conhecia a vida toda, afinal.

Ele fez tudo o que pôde para evitar falar com ela, mas não era suficiente. Sua presença em Whitehall era o suficiente para distraí-lo.

Graças à sua promessa ao pai de ficar de olho nela, ele notou que ela parecia distraída a maior parte do tempo, mesmo enquanto ria encarando a cicatriz do seu admirador. Mairi rindo! Ela nunca riu com ele. Ele viu o olhar dela se voltar para alguns dos outros lordes da corte, principalmente Oddington e Somerset. O que ela estava fazendo? Ele a viu parada na porta de Oddington, depois se apressou a sair quando a porta se abriu. O que ela ouviu? Por que ela estava ouvindo?

— De acordo com algumas, — sua mãe disse, aparecendo ao seu lado e seguindo seu olhar, — você dança muito bem. Por que você não convida a Mairi?

— Em alguma outra hora.

Claire levantou os olhos para o céu.

— Então pelo menos jante conosco esta noite. Seu pai e eu mal o vimos há anos e agora que temos a chance de passar um tempo com nosso filho mais velho, você desaparece todas as noites em uma taberna. Sentimos sua falta, Connor.

Ele olhou para o copo vazio, desejando que estivesse cheio novamente. Ela estava certa. Ele também sentia falta de seus parentes. Ele sentia falta do irmão Finn. Ele sentia falta de Camlochlin. Ele não podia continuar evitando a família porque Mairi passava muito tempo com eles. Os olhos dele pousaram nela novamente, a mão no ar e perto da de Oxford enquanto dançavam, o sorriso radiante, os olhos claros e vibrantes.

— Lorde Hollingsworth e sua esposa me convidaram para jantar com eles esta noite. — Ele sentiu-se como um maldito imbecil ao recusar sua mãe mais uma vez, mas ainda não estava disposto a sentar-se com Mairi e apreciar uma refeição e ter que ouvir seus elogios açucarados a um homem cuja cabeça Connor queria esmagar.

— Mas, Connor...

— Juro jantar com você amanhã e você pode me contar tudo sobre o que está acontecendo em casa.

Antes que ela dissesse outra palavra para detê-lo, Connor levou sua mão aos lábios dele e saiu rapidamente.

Duas horas e três serviços de pratos distintos depois, o destino do rei Charles I, retratado na pintura sobre a cabeça de Connor, teria sido um alívio bem-vindo da companhia com a qual ele se sentou. Que tragédia estava perdendo a história se removesse a cabeça de Lorde e de Lady Hollingsworth? O primeiro, com as grossas mandíbulas brilhando com a gordura do pato grelhado e falando sem parar sobre quem diabos sabe o quê. A última, sentada ao lado do marido e lambendo os dedos, enquanto seu olhar pesado se oferecia para fazer o mesmo com Connor.

Por duas vezes, ele sofreu o aperto que seu olhar malicioso despertou nele. Se ele não tivesse algum senso, a encontraria mais tarde e pegaria o que ela lhe oferecia. Seria bom liberar sua frustração dentro de um corpo quente e disposto e, a julgar pelos seios fartos de Lady Hollingsworth, toda vez que seu olhar encontrava o dela, ele pensou que ela aguentaria o máximo que pudesse. Mas ele tinha senso. Era por isso que, quando as mesas foram limpas novamente após a quarta troca de pratos para dar espaço para dançar e para mais comida na barriga de todos, ele atravessou o salão até a mesa de sua família e agarrou a mão de Mairi enquanto ela a oferecia a Oxford.

— Desculpe-me, capitão — murmurou o inglês com indignação educada. — A Srta. MacGregor e eu estávamos prestes a...

Connor o ignorou e puxou Mairi em direção à pista de dança. Quando ela cravou os calcanhares para impedir a partida, ele deu-lhe um puxão que a trouxe colando a suas costas.

— O que você pensa que está fazendo? — Ela exigiu, empurrando-o com a mão livre.

— Eu acho que é óbvio o que estou fazendo, Mairi. Eu pretendo dançar com você.

— Bem, eu não quero dançar com você.

— Notável, — disse ele, realmente não se importando se ela queria ou não. Só Deus sabia quanto tempo ela ficaria aqui, e ele não planejava assistir seu romance com Oxford o tempo todo. Seu pai desaprovaria tal união. Era seu dever detê-lo.

Quando eles alcançaram os outros dançarinos esperando a música começar, ele parou e finalmente se virou para encará-la completamente. Ele intensificou seu aperto e inclinou o rosto para mais perto dela quando ela tentou soltar o pulso.

— Há coisas que precisam ser ditas entre nós de uma vez por todas.

Não era o que ele queria dizer. Ele não sabia o que lhe dizer que não tinha dito em mais cartas do que ele poderia contar.

— Eu não me importo com o que você tem a dizer.

Seus olhos se cravaram nos dele com a promessa de vingança que ele sabia que ela poderia entregar. Queimou seu sangue de uma maneira que Lady Hollingsworth, ou qualquer outra mulher, não conseguiu.

Ele encolheu os ombros.

— Infelizmente, você vai ouvir mesmo assim.

Como se fosse uma sugestão, ele soltou o pulso dela e colocou o braço atrás das costas enquanto a delicada batida de um alaúde ecoava no teto alto. Ele se curvou para ela, assim como todos os outros dançarinos a seus parceiros, e aproveitou o momento que ela fugiu para pensar em algo novo para dizer. Mas ela não fugiu. Ela murmurou algo baixinho, olhou ao redor do salão, depois se desviou dele, quando o primeiro passo começou.

Uma pequena vitória no que Connor tinha certeza de que era apenas o começo da guerra de Mairi. Quando ela o encarou novamente, ele estendeu a mão e esperou, sua respiração caindo mais forte de seus lábios enquanto ela hesitava. Se ela fugisse dele, ele merecia a humilhação que pertencia aos tolos. Por dever ou não.

Sua pele contra a dele carregou seu coração como uma bala de canhão através de granito. Pelas bolas de Satanás, que tipo de coisa lamentável era ele que um simples toque dela poderia enfraquecer sua determinação de lhe resistir? Ele fechou os dedos em volta dos dela, como costumava fazer quando ela era dele, e a observou respirar ao mesmo tempo com o toque deles.

— Vejo que ainda pratica seu jogo de esgrima — disse ele, esfregando a ponta do polegar sobre a palma da mão calejada, depois cerrou os dentes para impedir que outras declarações idiotas escapassem de sua boca.

— Você me trouxe para perguntar sobre meus hábitos então?

Quando ela pisou sob o braço dele, ele avaliou a definição bem torneada de seus quadris e suas costas por baixo das dobras de seu kirtle das Highlands. Ele permitiu que o menor sorriso curvasse seus lábios quando ela se virou para encará-lo novamente.

— Sim, você mudou muito em sete anos. Não vai sacar outra lâmina e apontá-la para a minha garganta, não é? — Ele deu um passo ao redor dela e tocou as costas nas dela.

— Isso depende de você, — Mairi disse por cima do ombro. — Mas devo adverti-lo, estou tentada a fazê-lo agora.

Ele riu baixinho e, encarou-a, Lady Amberlaine sorriu e lançou uma piscadela provocadora.

— O que seu Lorde Oxford vai pensar de suas desagradáveis tendências, Mairi?

Ela girou nos calcanhares, pronta para deixar a pista de dança levando ele com ela. Inferno, ela era muito fácil de irritar, especialmente quando se tratava de se comportar como uma dama. Ele só se sentia um pouco culpado por usar de fraqueza com ela, principalmente porque envolvia Oxford.

Ele a agarrou pelas costas e puxou-a para perto dele, enquanto os músicos mudavam o ritmo para a volte9.

— Eu sei que você detesta ser mulher, Mairi, mas, diabos, você é boa nisso. — Ignorando seu leve suspiro e respiração curta e superficial, ele segurou o quadril dela com uma mão e pressionou a outra palma nas suas costas. Ela respondeu com um olhar afiado, apontando para a invejosa Lady Amberlaine dançando com o marido à esquerda. Com relutância, Mairi colocou a mão no ombro de Connor e se preparou para o salto.

— Sua amante espera que você me largue.

— Eu não vou soltá-la. — Connor tentou não parecer tão afetado pelo toque deles quanto ela. — E Lady Amberlaine não é minha amante. — Ele saltou com ela para o pé externo e levantou o pé interno para frente.

— Talvez você simplesmente não se lembre de ter se deitado, com tantas mulheres lambendo seus calcanhares.

Ela parecia com ciúmes. Isso era possível? Por que ela estaria? Ela o odiava. Não era? E se ela estava com ciúmes, por que isso o agradava? Será que ela não o odiava tanto quanto alegava? Havia uma maneira de descobrir. Ele ponderaria por que gostaria de saber mais tarde.

Na segunda batida, pisaram suavemente no pé interno e Mairi se preparou para o rodopio da primavera.

— Se Lady Amberlaine já foi minha amante, — disse ele, erguendo-a no ar com as duas mãos e sorrindo para sua expressão assassina. — Eu me lembraria disso.

Ele baixou Mairi de volta ao chão, seu corpo pressionado indecentemente perto do dele. Inferno, ela era bonita. Ela não precisava de pó vermelho para pintar as bochechas. O fogo nelas veio naturalmente. Ela deu um passo para trás e o golpeou com força no rosto.

Connor estava na pista de dança segurando sua bochecha e vendo sua parceira se afastar. Ele sentiu os olhos de Lady Amberlaine nele, junto com todos os outros dançarinos ao seu redor. Ele não se importava. Na verdade, ele não conseguia evitar sorrir.

Mairi não voltou para a mesa quando saiu da pista de dança. Precisava se afastar das centenas de olhos olhando para ela, de todas as mulheres que estavam rindo dela ou querendo golpeá-la por dar um tapa em Connor. Como ele poderia lhe dizer que se lembraria de fazer amor com Lady Amberlaine? Que tipo de bastardo frio e calculista ele era? Och, como ela o odiava! Ela odiava a língua dele que se tornou tão afiada e fria quando falava com ela enquanto seus lábios permaneciam indecentemente cheios e convidativos. Ela odiava a forma como as sobrancelhas se união quando ele estava com raiva dela, fazendo aqueles olhos azuis glaciais ainda mais penetrantes. Mas quando ela olhava para aqueles olhos, para o rosto que ela conhecia melhor do que a si própria, não se importava com o quão cruel ele era. Por um instante, sentiu-se tentada a fazer quase tudo para estar com ele novamente.

Nunca! Ela não o queria mais. Ela era jovem e tola quando se apaixonou por seus largos e belos sorrisos, a promessa de um futuro nas profundezas dos olhos dele. Mas ela estava mais velha agora, com a sabedoria de quão falso o coração de um homem poderia realmente ser.

Ela entrou no jardim de cascalho da corte. Com caminhos amplos para cima e abaixo que cercavam o terreno de grama para passear, embora os caminhos estivessem praticamente vazios agora. Ela ergueu o rosto para a garoa agradável que começara a cair, deixando-a se purificar de Connor Grant.

Mas nada jamais faria isso. Ela fez o possível para livrar seu coração dele, mas ele permaneceu nele. Como ela poderia realmente esquecê-lo quando tudo nele a lembrava do que ela mais amava? Casa. Vê-lo novamente foi como caminhar no tempo, para o passado. Por que ontem à noite, enquanto Lorde Oxford falava eternamente sobre as diferentes espécies de pássaros que habitam o aviário do rei, ela se viu perdida pela memória de Connor correndo ao longo da costa de Camas Fhionnairigh10. Sua risada, enquanto olhava por cima do ombro para ela o perseguindo, perdida pelo vento soprando das Montanhas Cuillians. Ele pegara a boneca dela e não a devolvera. Naquela noite, enquanto ela deveria se concentrar nos passos que Henry a ensinava na pista de dança, ela se lembrava de um dia, anos atrás, quando ela e Connor correram juntos pela encosta nevada da montanha em cavalos que voavam contra o frio intenso do inverno. Eles usavam peles que costumavam cobrir o chão de sua caverna secreta, cortadas nas entranhas da Montanha Sgurr Na Stri. Eles fizeram amor pela primeira vez enquanto o vento soprava contra as paredes, cantando uma canção que pertencia apenas às Highlands. Uma noite depois, ele disse que estava partindo de Camlochlin.

Ela tinha que permanecer forte. Aqueles dias se foram, para nunca mais serem vividos. Ela tinha que resistir a ele e esquecer o que significara para ela.

— Deixe-me, — ela amaldiçoou suavemente, apertando as mãos no peito, como se pudesse rasgar a lembrança de sua alma. Ela resistiu a uma vida inteira de dias atormentada por imagens dele morto em um campo de batalha distante, ou vivo e vibrante, nu e equilibrado sobre uma prostituta, pronto para lhe dar o que pertencia a ela. Ela lhe resistiu. Ela o conquistou. Ela não se permitia pensar em voltar.

— Mairi.

Ela se virou ao som da voz dele. Ele estava a poucos centímetros dela, molhado da chuva finalmente caindo mais forte agora, e tão imóvel quanto o coração dela. Seu cabelo pingava em seu rosto, protegendo-a de toda a força de seu olhar terno. Por um momento, ela o viu como ele costumava ser, livre do feitiço obsceno da Inglaterra, o homem mais bonito que a urze do verão nas charnecas.

— É hora de colocar na mesa essa coisa terrível entre nós.

Ela não se deixou voltar. Ela passou os dedos pelas bochechas, retirando a chuva.

— O que há entre nós, capitão, é mentira e traição.

— Assim é como você vê, — ele a corrigiu suavemente, e deu um passo mais perto. — Eu pedi para você vir comigo muitas vezes.

— Você sabia o quanto eu amava a Escócia.

Sua mandíbula se apertou em torno de algo que parecia que ele queria dizer. Ele lutou e, vencendo a batalha, disse:

— Você aceitou bem minha ausência quando eu não voltei para casa. Era o que você queria.

— Sim, — ela conseguiu depois de um soluço estrangulado. Santos a ajudassem, ela não queria estar tendo essa conversa com ele. Abrir velhas feridas só as fazia doer novamente. — E você ficou muito feliz em ficar aqui, demonstrando ano após ano o que eu realmente significava para você.

Ele se movia como um espectro preso entre sombras e raios, um fantasma que ganhava vida em seus sonhos... e seus pesadelos. Ela não se mexeu quando ele ficou em cima dela. Ela não respirou quando ele falou com ela.

— Você significou tudo para mim, — ele sussurrou na chuva. — Como você não sabia disso?

— Senhorita MacGregor?

Ao som da voz de Lorde Oxford, ela se libertou do feitiço de Connor e se afastou dele. Os olhos dele a seguiram, escuros sob a sombra da testa.

Inclinando a cabeça em torno do corpo dele, ela viu Henry erguer um chapéu de abas largas acima da peruca e sair de debaixo da proteção da cozinha superior.

— Está tudo bem? — Ele perguntou, alcançando-os rapidamente, os cachos de sua longa peruca caídos em torno de seu rosto.

A chuva diminuiu, mas o ar estalou com o frio mortal no olhar de Connor quando ele o colocou em Oxford.

— Por que não estaria?

Uma pergunta carregada que qualquer homem com uma centelha de senso na cabeça teria se recusado a responder.

— Minhas desculpas se eu o insultei, capitão. — Oxford sorriu, esticando a cicatriz verticalmente pelo rosto. — Mas sua reputação com o sexo mais belo o precede. Só estou preocupado com a honra da moça.

Mairi não tinha certeza de qual dos dois ela queria bater mais forte. Connor, por ser tão lascivo que outros homens deveriam se preocupar com sua honra, ou Henry, por ser um tolo e provocar Connor a quebrar alguns de seus dentes. Connor pode ter nascido com sangue real, mas ele lutava como um Highlander. Lorde Oxford não teria a menor chance.

O sorriso lento de Connor não era nada gentil, mas pelo menos ele não o golpeou.

— Então, compartilhamos um objetivo comum, Oxford. Como minha reputação me precede, tenho sido entretido por cada pedaço de fofocas que ouvi em meu serviço para o rei, então teria que prendê-lo por estar ligado com os Covenanters.

Oxford emitiu um som crepitante a seu lado, mas Mairi não poupou-lhe um segundo olhar. Em vez disso, ela voltou seu olhar gelado para Connor. Maldito seja, o que ele estava fazendo? Ele ia estragar tudo. Se Oxford conhecesse algum membro da religião presbiteriana proibida, ele nunca diria a ela agora.

— Sério, capitão, esperava melhor de você. O que você ouviu sobre Lorde Oxford é falso.

— Você o defende, então?

Ela hesitou, não porque confiasse completamente em Oxford, mas porque o tom rígido de Connor lhe dizia que, se ela dissesse que sim, ele se afastaria dela e nunca olharia para trás. Mas era isso que ela queria, o que precisava, não era?

— Eu defendo, — disse ela, erguendo o queixo com determinação.

Ele não se mexeu. Ele pareceu não respirar por um momento enquanto seus olhos se endureciam nela.

— Muito bem. — Ele se virou sem outra palavra para nenhum deles e caminhou em direção ao portão.

Mairi observou-o partir. Alguma parte pequena e esquecida dela querendo chamá-lo de volta.

— Ele se importa com você.

Ela olhou para cima, lembrando-se de Lorde Oxford.

— Nae, — ela disse, e deslizou a mão na dobra do cotovelo de Henry, deixando ele levá-la de volta para o Salão de Banquete. — Ele se preocupa com a Inglaterra.

Deus, Mairi não queria falar dele. Os joelhos dela ainda estavam fracos com as palavras dele. Você significava tudo para mim. Ele costumava dizer a ela todos os dias que a amava. Que ele queria se casar com ela e morrer em seus braços. Nada disso significara nada para ele e ela também não.

— Os olhos dele estão sempre em você. Está claro que ele...

— Eu realmente deveria tirar essas roupas molhadas. — Ela o parou antes que ele dissesse algo que não queria ouvir. — Devo parecer um rato de esgoto molhado.

Ele olhou para ela e parecia se derreter em suas botas.

— Você é uma bela visão, senhorita MacGregor.

Mairi sorriu. Talvez ela pudesse encontrar felicidade com outra pessoa. Talvez outro homem pudesse amá-la ainda mais do que Connor.

— Meu lorde, você é mais do que generoso com seus elogios.

— Henry. — Ele pegou a mão dela e a levou aos lábios. — E minha veneração é o mínimo que posso oferecer a você em troca de sua companhia.

Inferno, mas ele era doce. Quase doentiamente, mas o melhor, pelo menos, do que as respostas falaciosas do capitão Grant.

Ela olhou em direção ao portão uma última vez.

Você significava tudo para mim. Como você não pôde saber disso?

Ela pensou que sabia. Mas ela estava errada.

 

Capítulo Seis


O Troubadour estava lotado de soldados que haviam retornado à Inglaterra para a coroação de James e achavam os salões do palácio um pouco refinados demais para o seu gosto.

Risos ecoaram das mesas ao seu redor, mas Connor não se juntou à alegria. Por que diabos ele dançou com ela? Tentou falar civilmente com ela? Oxford, ele respondeu a si mesmo miseravelmente. E não tinha nada a ver com o pai. Pelas bolas de Satanás, ele não conseguia mais se enganar. Ele estava com ciúmes. Pior, ele havia se convencido de que ela não se vingaria como alegava. Talvez ela também estava com ciúmes da atenção dele em relação ao sexo mais belo. Patético. Ela não só estava completamente dominada por ele, mas havia se movido para diferentes pastagens. E por que ela não deveria? Inferno, por que ele não deveria? Mas um homem inglês? Um protestante? Ele odiava admitir, mas o magoou com força que Mairi houvesse defendido Oxford. Quão bem ela o conhecia que iria defender seu caráter quando fosse posto em questão? Quanto tempo eles passaram juntos antes de Connor voltar para Whitehall?

Por que ele não se preocupou em investigar um pouco mais o conde e o filho nos anos em que serviu a Charles? Ele sabia que era apressado acusar o homem de estar ligado aos Covenanters, mas era melhor do que socar os dentes de Oxford deixando-os na parte de trás da sua cabeça.

Ele esfregou a testa que estava começando a doer, bebeu o uísque e pediu mais. Ele não tinha mais direito a Mairi, nem queria ter. Ainda era a mesma garota teimosa que ele deixara quando ela tinha quinze anos, acreditando que ele a enganara... a traiu. Ele pensou nas mulheres que haviam compartilhado sua cama nos últimos três anos. Ele deveria esperar que Mairi decidisse se ela poderia o querer novamente? Inferno, não estava por quatro anos esperando que ela o perdoasse o suficiente? Traiu o traseiro dele! Foi ela quem o traiu! Prometera ser sua esposa, gerar seus bairns, viver e rir com ele, enquanto eles envelheceriam juntos e, em seguida, banindo-o de sua vida em uma fria e inflexível carta seis meses depois que ele a deixou. É claro que ele lutou por ela, tolamente segurando a esperança de que ela voltasse a si e percebesse que o que eles tinham era para sempre. Ele a amava desde que se lembrava, antes que ela começasse a segui-lo sempre que ele e o irmão saiam para suas aventuras de infância. Sim, Connor se queixou dela tê-los acompanhado, mas no fundo não se importava. Ela tinha uma boca atrevida antes de perder o primeiro dente e tomar as punições com a mesma coragem que qualquer rapaz quando os três foram pegos roubando galinhas de John MacKinnon. Ele se lembrou da primeira vez que a beijou. Ele tinha doze verões, ela apenas nove. Eles riram depois, como se alguma criatura alada invisível tivesse vagado em suas barrigas e fazendo cócegas por dentro. Nenhum outro beijo em sua vida adulta o fez se sentir da mesma maneira.

Ele bateu a caneca na mesa. Se ela quisesse Oxford, ele esperava que fossem muito felizes juntos. Não havia nada que ele pudesse ou faria sobre isso. Ele certamente não conseguia derrotar um convidado do rei em uma maldita batalha sem sentido, nem mesmo o pó da peruca ou os babados do homem cujo sorriso cheirava a arrogância quando ele trouxe à tona o passado de Connor.

— Capitão! — O jovem Edward Willingham se sentou na cadeira ao lado dele. — Bebendo sem nós?

— O que o aflige, Connor? — Richard Drummond sentou no assento do outro lado da mesa. — Você tem pensado desde o nosso retorno a Whitehall.

Connor sorriu para eles. Eles eram mais do que seu tenente e corneteiro. Eles eram seus amigos, Drummond, brigando ao seu lado quando Connor começou a descobrir quem estava por trás da trama da Rye Hause para matar Charles e James dois anos atrás. Edward se juntou a sua trupe apenas oito meses atrás e se uniu a Connor desde então. Ainda assim, ele não lhes contou sobre Mairi. O que ele precisava fazer era tirá-la de sua mente de uma vez por todas e se concentrar em assuntos mais importantes.

— Eu também fico inquieto aqui, capitão, — Edward concordou, embora Connor não tivesse falado. — É muito pacífico. As pessoas são muito educadas.

— A paz é passageira, Edward, — Connor disse a ele, e olhou em volta da taverna suavemente iluminada. — O massacre holandês na abadia de St. Christopher é prova disso. Mas, por mais cansativo que esteja aqui, devemos permanecer. — Eles não podiam voltar a Glencoe quando o príncipe William sentava à mesa do rei todas as noites compartilhando vinho e palavras com ele. Connor não era apenas o capitão do rei, mas também sua família. Ele tiraria Mairi de seus pensamentos e faria o que fora treinado para fazer. Proteger o trono. — Embora exista paz no momento, receio que não durará. Use seu tempo livre para tentar e obter informações sobre qualquer coisa que pertence aos holandeses, o Duque de Monmouth, ou mesmo William de Orange. Relate tudo o que encontrar para mim.

— Podemos começar amanhã? — Richard perguntou, pegando o pulso de uma loira bonita que estava servindo e puxando-a para seu colo. Ela riu de algo que ele sussurrou na dobra do pescoço dela.

Connor bebeu outro copo de uísque e desviou o olhar quando uma pontada de desejo o atravessou. Inferno, fazia muito tempo desde que ele beijara a carne quente da garganta de uma mulher. Havia muitas mulheres em Glencoe ansiosas para se oferecer a ele, mas estava lá para protegê-las, não para colocá-las na cama. Ele xingou por dentro, encontrando o olhar sensual de uma mulher parada nas sombras, perto da porta. Uma dama da noite, para dar a um homem prazer por nada além de alguns xelins. Ele considerou. E por que diabos ele não deveria? Que homem com algum senso mental lamentaria algo morto há muito tempo?

Ele sorriu para a mulher perto da porta que não queria nada além de fazê-lo feliz esta noite. Ela saiu das sombras. Ela era adorável, com cabelos castanhos amontoados sobre a cabeça e cachos delicados em cascata sobre a testa. Seus olhos eram tão escuros e continham a promessa de prazeres sexuais feitos para fazer qualquer homem esquecer o que realmente o machucava. Ele se levantou da cadeira com uma breve palavra para seus homens que os veria pela manhã e a encontrou no meio do caminho.

— Boa noite, lass.

Ela o avaliou com o tipo de olhar satisfeito e encapuzado que um gato poderia visar a um delicioso pedaço de comida.

— Capitão. — Ela assentiu, olhando o casaco dele. — Posso lhe convidar para uma caminhada? Algum lugar menos... — Ela levou os dedos ao peito dele e localizou os botões do casaco dele. — ...lotado?

Ela não perdeu tempo com formalidades tímidas. Bom. Ele não queria falar ou pensar. Ele queria sair de lá com ela antes de mudar de ideia. Ele enrolou o braço em volta da cintura fina dela e a levou em direção à saída.

— Ah, com pressa, então? — Ela olhou para ele quando eles se aproximaram da porta e sorriu com sua resposta de covinha. — Espero que não muito.

Connor também não esperava, embora tivesse que admitir que a probabilidade de sua “rapidez” parecia bastante alta, graças ao pensar em Mairi o dia todo. Ele achava que ela apreciaria que ele concordasse com ela, então riu baixinho. A maneira como seu pai, o outrora infame libertino das Highlands, poderia ter rido de uma suposição tão absurda.

— Você é extraordinariamente bonito, capitão Grant.

Ele deslizou seu olhar para ela, mas não foi a luxúria da antecipação em seus olhos que o fez fechar o braço com mais força. Ele mergulhou a boca na orelha dela e sussurrou contra ela.

— Estamos em desvantagem, lass. Você sabe o meu nome e eu não sei o seu.

Ela percebeu seu erro imediatamente. Connor tinha que dar crédito a ela. Como ele suspeitava, seu corpo ficou rígido e seu sorriso desapareceu. Ela tentou se afastar, mas ele a segurou mais perto, levando-a pela porta. Alguém a enviou para seduzi-lo. Quem? Por quê? Ele ia descobrir.

Ele saiu da taverna e foi direto para o beco.

Connor quase caiu. Quase. Ele sacudiu os efeitos do golpe, revirou a mandíbula e ficou boquiaberto olhando para Colin antes de agarrá-lo pela garganta. A moça se afastou e desapareceu na rua escura, enquanto Connor virou-se e se desviou do punho do irmão de Mairi e o empurrou com força contra a parede.

— Por que diabos você fez isso, Colin?

O irmão de Mairi lutou contra a mão cortando seu ar. Seus olhos ardiam de raiva e desafio. Provavelmente, o tolo ficaria inconsciente antes de mostrar fraqueza. Ele seria um bom soldado.

— Eu disse a você o que a sua reputação no dormitório fez a minha irmã, bastardo sem coração. Você exibe seus flertes na cara dela? — Finalmente, Colin se debateu para ajeitar um joelho em suas entranhas. Ele errou quando Connor deu uma sacudida rigorosa.

— Você não é meu guardião, filhote. — Connor se aproximou até o nariz quase tocar o de Colin. — Sua irmã não é minha maldita esposa.

— Graças aos santos por isso, — Colin alertou em um rosnado baixo. — Caso contrário, eu teria afundado minha espada em você há muito tempo.

Connor tinha o desejo de sorrir para tal ousadia em face de uma determinada surra em seu traseiro. Ele não queria machucar o rapaz e certamente não queria libertá-lo e ter uma adaga enterrada no seu lado por causa do problema.

— Eu vou deixar você ir. Se você bater esse punho em mim novamente, eu vou chutá-lo no traseiro de volta ao palácio.

— Estou ansioso para vê-lo tentar isso.

Connor bateu na lateral da sua cabeça com a mão livre, não muito forte, apenas rápido o suficiente para, esperançosamente, colocar um pouco de cautela nele.

— O que diabos você está fazendo aqui, afinal? — Ele perguntou, soltando-o e varrendo os olhos na direção que a moça de cabelos castanhos havia tomado.

Colin olhou furioso, mas não se mexeu para atingi-lo. O tapa na cabeça funcionou.

— O rei me enviou para buscá-lo. Ele nos convidou para sua mesa em Galeria de Pedra para o restante dos pratos a serem servidos.

Connor voltou-se para ele.

— Por quê?

— Ele nos convidou, Connor. Eu não perguntei por que.

Nós, como quem, precisamente, Connor queria perguntar, mas não o fez.

— Quem era a mulher? — Colin perguntou, puxando os pensamentos de Connor de onde ele preferia que não estivessem.

— Eu não sei, mas ela me conhecia.

— Interessante.

Eles continuaram em direção a Whitehall em silêncio. Nenhum deles percebeu a figura volumosa recuando nas sombras.

 

Capítulo Sete


Mairi estava sentada na Galeria de Pedra, à mesa do rei James, esperando que os dois assentos à sua frente fossem ocupados. Ela não encontrou conforto na cadeira almofadada sob o assento e pouca distração involuntariamente oferecida pela conversa sussurrada de Claire com o marido ao lado dela. Até o sorriso terno de Graham não fez nada para acalmar seus nervos. Ela empurrou o copo de vinho que havia sido colocado diante dela. Depois de seu encontro anterior com Connor na Pebble Court11, ela sabia que precisaria de toda a inteligência que possuía. Deus, quando ele se aproximou dela, ela o deixaria beijá-la se ele tentasse?

Ela respirou com firmeza e sorriu para a esposa do rei, que estava sentada olhando para ela.

Na esperança de preencher seus pensamentos com algo diferente, ela olhou em volta. A Galeria era magnífica, com grossos tecidos de prata e brocado vermelho, dividindo em três alas. Grinaldas de flores e folhas cobriam a área de jantar, enchendo suas narinas com sua doce fragrância. A longa mesa onde ela se sentava com os outros convidados estava banhada por uma luz quente e dourada de uma enorme lareira de pedra esculpida com veados e cavalos. Mas ela não queria estar aqui. Connor evitou sentar-se à mesa dela desde que retornara a Whitehall, mas isso estava prestes a mudar. Ela não achava que poderia passar por mais quatro pratos olhando para ele, ouvindo sua voz, seu riso belo e contagioso. Ela sentia falta do jeito que ele costumava rir.

— Você está ansiosa para retornar ao seu admirador, senhorita MacGregor.

Afastando os olhos da entrada, Mairi virou-se para o rei e ofereceu-lhe um sorriso educado.

— Eu não tenho admirador aqui, Vossa Majestade. — Ela ainda estava desconfortável falando diretamente com o líder dos três reinos e baixou os olhos para o colo.

— Ah, minha querida, você tem mais do que imagina. — James virou-se para sua pequena esposa, sentando-se à direita. Os dois trocaram um olhar sutil entre eles, provando que a haviam discutido anteriormente. — Por que você acha que está sendo menosprezada aqui?

— Porque eu sou católica.

— É verdade, mas tenha coragem. — Os olhos escuros do rei se suavizaram quando ela olhou para cima novamente. — Essa opinião ruim mudará em breve agora que eu sou rei.

Mairi sorriu e se perguntou como ele pretendia fazê-lo. Seu sorriso desapareceu, junto com seus pensamentos, quando viu Connor e Colin se aproximando da mesa.

— Desculpe nossa chegada tardia, Sua Majestade — Connor fez uma reverência enquanto se sentava em frente a ela. Ele lhe lançou um olhar breve e desinteressado por trás de uma mecha de cabelo que caiu sobre sua bochecha quando ele se sentou.

— Obrigado por se juntar a nós, capitão.

Felizmente, a voz suave da rainha chamou a atenção de Mairi para ela. Ela era pequenina, metade do tamanho e claramente metade da idade do marido. Sem um traço de dolo em seus grandes olhos de zibelina, ou um fio de superioridade para estragar a beleza de seu forte sotaque italiano, ela fazia todos se sentirem bem-vindos. Mairi gostava dela.

— Ainda não tivemos a chance de nos encontrar adequadamente, — continuou Mary de Modena. — Seu tio, o almirante do rei, nos enviou uma notícia do seu serviço ao rei anterior, não foi, meu lorde? — O marido assentiu e cobriu seus dedos magros com sua grande mão. — Esperamos que você sirva o novo trono com a mesma dedicação.

Os olhos de Mairi pousaram sobre ele, esperando sua resposta. Ele havia se dedicado com certeza, deixando tudo o que amava para um protestante. Ela não duvidava que ele dobraria seus anos para servir um católico. A não ser, é claro, que ele tivesse traído sua fé.

— É uma honra, minha rainha.

Mairi desviou o olhar e viu o olhar sombrio que William de Orange lançou em Connor. Ela não gostava do príncipe holandês. Nos anos desde que ela pegou em armas contra seus inimigos, ela aprendeu muito sobre a origem dos esquemas e sussurros. Por um instante, ela desejou poder ir até Connor e contar tudo o que sabia. Ele não era um rei ou um príncipe. Ele era a lei, capitão do Exército Real do rei. Ele com certeza olharia essa parte com perfeição. Talvez ele pudesse fazer algo mais do que ela para impedir os homens que traíam suas crenças originais. Não, ela nunca poderia contar a ele sem revelar o que vinha fazendo nos últimos seis anos. Fora isso, ela não tinha motivos para falar com ele novamente.

— Estamos felizes em ouvir isso. — Mais uma vez, a rainha falou por seu marido, demonstrando a Mairi que, apesar de sua estatura, ela não era uma arganaz12. — Você foi pego no aguaceiro, capitão?

— Sim, eu temo que sim.

Mairi não precisava olhar para ele para saber que sorria enquanto falava. Mas ela olhou assim mesmo, maldita.

— Perdoe minha aparência. — Suas covinhas brilharam enquanto ele passava os dedos por suas mechas úmidas e douradas para afastá-la do rosto. — Eu não fiz...

— Você está perdoado, — a rainha concedeu, soando um pouco sem fôlego. Não bastava que o marido percebesse, ou, se o fez, ele não se manifestou. Mas Mairi ouviu. Ela reconheceu e se odiou por sentir isso também. — As chuvas estão atrasadas este ano. Estamos satisfeitos por elas finalmente começarem, para que as plantações não sofram.

— Sim, mas elas terminaram rápido demais.

Felizmente, a conversa se afastou do capitão Grant e passou a questões mais urgentes envolvendo o reino.

Mairi dedicou o restante da atenção pelos próximos quinze minutos ao jantar. Ela ouviu as conversas em torno dela, inclinando a orelha na direção daqueles que despertaram seu interesse. Quando o rei se dirigiu ao príncipe William, ela parou de mastigar.

— Você conhece o almirante Peter Gilles? Ele detém o comando de uma de suas frotas. — James deu um momento ao sobrinho para considerar sua resposta.

— Eu ouvi falar dele, tio. Eu pessoalmente não conheço todos os homens que servem sob minhas ordens.

Mairi não levantou os olhos do prato diante da resposta do rei, mas ela pôde sentir o estalo na voz dele.

— Tenho motivos para acreditar que seus homens atacaram uma abadia em Dumfries e a queimaram até o chão, matando todos.

— Por conta de quem você tem motivos para acreditar nisso?

— Por minha causa, — disse Connor ao príncipe, trazendo involuntariamente os olhos de Mairi para ele.

— Você o viu cometer o ato então? — William perguntou cético.

— Eu não precisava. As pessoas que viram são confiáveis.

— Uma abadia? — William não fez nada para temperar seu tom de zombaria. — Posso garantir que, se essa é a verdade, saberei disso quando voltar para casa e lidarei com Gilles de acordo. Mas com todo respeito, por que um homem de guerra destruiria uma abadia cheia de freiras?

Quando o rei James ficou em silêncio, Mairi percebeu o que o príncipe havia feito. James não conseguiria falar a verdade de que um de seus inimigos havia matado sua verdadeira primogênita, pois ninguém deveria saber da existência de Davina Montgomery.

— Talvez este almirante Gilles simplesmente odeie freiras. — Mairi ergueu uma sobrancelha para o rei e depois lançou um sorriso gelado ao príncipe William. — Freiras católicas.

Do outro lado da mesa, Connor sorriu para ela. Mairi o ignorou.

O príncipe não era um homem muito imponente, embora Mairi não pudesse dizer o mesmo sobre o nariz. Era como um cotovelo que se projeta entre seus olhos. Ela achou difícil manter os olhos atentos. Ele se vestia com cores monótonas em comparação com a extravagância ao seu redor. Sem peruca, os cabelos se separavam no centro, balançando frouxamente em torno de um rosto claro e de mandíbulas soltas.

— Srta. MacGregor — ele falou desapaixonadamente, desmentindo o movimento de irritação em seus olhos quando os virou para ela. — Se o almirante Gilles é culpado de tal crime contra os católicos, o que você gostaria que eu fizesse?

Debaixo da mesa, as mãos dela se fecharam os punhos ao ver como ele cuspiu a fé dela nos lábios como se fosse veneno. Todos na mesa estavam em silêncio, esperando por sua resposta. Ela estava falando com uma realeza e havia centenas de maneiras diferentes de responder com o respeito e a honra devidos à sua posição. Mairi não se importava com estações ou na Inglaterra, mas se importava com seus parentes. Seu comportamento nesta mesa era um reflexo sobre os MacGregors de Skye. Por isso, ela inclinou a cabeça graciosamente antes de falar.

— Com todo o respeito, Sua Graça, se eu fosse o almirante Gilles e culpado de tal crime, seria o castigo de Deus que trouxesse terror ao meu peito. Não você.

Imperturbável por seu insulto leve, William recostou-se na cadeira e cruzou uma perna sobre a outra.

— Se ele é culpado, — ele defendeu, em seguida, apontou, — eu suspeito que ele não dá a mínima para o que Deus pensa.

Mairi ergueu os olhos do véu escuro de seus cílios e lançou-lhe um olhar perfeitamente impassível. Ela não encontrou a defesa de um almirante que negava saber dos desígnios de Deus. Mas sabia coisas sobre William de Orange.

— Então ele se amaldiçoa e não há nada pior que um homem possa fazer a si mesmo.

— A menos que ele tenha sido designado por Deus.

— Sobrinho. — O rei finalmente falou, sua voz grossa com aviso. — Sou tolerante com suas crenças calvinistas, mas não as discutirei aqui. Ponha um fim nisso antes de me ofender.

William empalideceu sob o gorro marrom. Ele inclinou a cabeça para seu pai por casamento, mas não antes de lançar a ele e Mairi um olhar de aço. No momento em que o próximo prato terminou, ele pediu licença a todos e à esposa e deixou a mesa.

Mairi desejou saber para onde ele estava indo e ofereceu a seu irmão um sorriso secreto quando ele se desculpou e saiu da mesa logo depois.

Ela ignorou Connor pelo restante dos pratos, embora tenha sido difícil quando Lady Hollingsworth apareceu à mesa sem o marido e fez uma reverência ao rei. Todos os homens presentes esperavam para ver se seus seios amplos e cremosos cairiam de seu vestido decotado. Mas foi o olhar de Connor que a mulher casada procurou.

Mairi praticamente pulou da cadeira quando Lorde Oxford veio em seu socorro mais uma vez. Ela gostou da fuga, apesar de Henry começar a falar e não ter parado por um bom quarto de hora. Eles andaram ao longo da Galeria de Pedra, que chegava longe, estendendo-se da Galeria Privada a Bowling Green. A primeira, seu acompanhante contou que abrigava uma capela católica romana e sua sacristia no extremo sudoeste.

— A escada principal que leva da Galeria Privada ao jardim é a escada de Adão e Eva. É o que chamamos de uma pintura de Adão e Eva na cabeceira da escada.

— Interessante. — Mairi fez o possível para reprimir um suspiro raivoso. Antes de retornar a Camlochlin, ela saberia mais sobre Whitehall do que qualquer MacGregor precisava saber.

— É o duque de Queensberry e o marquês de Dumfriesshire? — Ela apontou para um pequeno grupo de homens reunidos no outro extremo da galeria. Ela não tinha sido capaz de ouvir muito com a orelha colada na porta para aposentos de Lorde Oddington um par de dias atrás, mas ela conseguiu ouvir o nome do duque, junto com a palavra: Cameronians.

— Sim. Você o conheceu?

— Não, ainda não.

— Bem, venha então. — Oxford passou o braço pelo dele. — Tenho certeza que ele vai te achar muito agradável.

Provavelmente não a princípio, Mairi pensou enquanto Henry a conduzia para a frente, mas ser mulher às vezes tinha suas vantagens.

Como ela suspeitava, Queensberry, um lorde alto e magro, cuja peruca branca alta e grossa acrescentava mais cinco centímetros pelo menos à sua estatura, não estava nada satisfeito em conhecê-la.

— Srta. MacGregor, você disse? — Ele a avaliou com um sorriso fino e irônico e olhos escuros que diziam tudo o que ela precisava saber sobre o que ele pensava do nome dela. — Seus parentes lutaram ao lado do marquês de Montrose em 45, se não me engano.

— Sim, contra as forças Covenanter fora de Selkirk, — acrescentou Mairi com um sorriso gracioso. — Onde os realistas escoceses foram profundamente derrotados.

— Deve doer você falar sobre isso.

— Na verdade não. — Ela ofereceu um encolher de ombros indiferente. — Minha mãe é Campbell. Meu tio Robert Campbell foi o 11º conde de Argyll.

Seu sorriso passou de afiado para genial em um instante.

— Uma Campbell! Minha querida, por que você não disse isso antes?

— Sua Graça, — ela riu, virando o próprio estômago com o som, — acabei de fazê-lo.

Os homens riram, dois deles, incluindo Henry, pareciam um pouco sem fôlego quando ela os agradeceu com um sorriso brincalhão.

— Você dança, senhorita MacGregor? — Perguntou o duque, pegando o braço de Oxford.

— Sim, graças ao acompanhamento paciente de Lorde Oxford.

Queensberry olhou para Henry e a cicatriz pálida estragando suas feições.

— Eu diria que a maioria das mulheres não ofereceria a ele esse privilégio.

O sangue de Mairi ferveu com o insulto injustificado, mas seu sorriso permaneceu frio quando ela olhou para o duque.

— Eu não sou a maioria das mulheres.

Ela captou o sorriso caloroso de Henry antes de Queensberry a levar embora.

— De fato, eu sei — disse o duque, inclinando-se, mais perto de sua orelha. — Você é inteligente e compassiva. As virtudes nem sempre são encontradas em alguém tão impressionante.

— Sua Graça, você é muito gentil. — Ela deu um tapinha no antebraço dele envolvendo o dela. — Devo dizer-lhe, eu admiro o mesmo em você. Por isso pedi a Lorde Oxford que nos apresentasse.

— Oh? — Seu olhar nela foi quente. Os ombros dele se ergueram de orgulho. Inferno, os homens eram tão fáceis de serem enganados.

— Quando você permitiu que Richard Cameron publicasse na cruz da cidade em Sanquhar a declaração de renúncia ao rei Charles cinco anos atrás, tudo em que eu conseguia pensar era em quão corajoso você era.

Seu sorriso aumentou, revelando uma fileira de dentes amarelos.

— Admito que não sabia que ele tinha feito isso até depois. Agitou seus seguidores e matou o tolo em Airds Moss. Isso também me colocou em desacordo com Charles e até James. Eu tinha muito o que fazer para restabelecer minha boa posição com o falecido rei e seu irmão.

— Então você não concordou com as pregações de Cameron de que um homem deveria se recusar a prestar juramentos de lealdade a um governante não autorizado? — Mairi olhou para ele e fez beicinho.

— Eu não disse isso. — Ele estendeu a mão e pressionou o dedo indicador nos lábios dela para acalmá-la. — Há outros que tomariam o lugar dele.

Lutando contra o desejo de atrair um de seus punhais e matar o duque onde ele estava, Mairi se aproximou dele e sorriu com a reação dele. Ela teria um nome antes que a noite terminasse. O novo líder dos camaroneses poderia estar aqui agora, na presença dela? Deveria fazer algo a respeito ou guardar as informações para seus irmãos da milícia em Skye? Onde diabos estava Colin? Ela olhou em volta para os outros homens que a seguiam e o duque em direção à escada do salão de banquetes.

Seus olhos encontraram Connor quase instantaneamente. Parado do lado de fora de um dos doze grandes portões de Whitehall (ela não sabia qual, mas Henry provavelmente sabia), ele sorria ao luar para o rosto virado de Lady Amberlaine.

O sangue de Mairi congelou. Ela não percebeu que seus pés congelaram junto até que o duque disse seu nome. Ela desviou o olhar de Connor assim que ele começou a olhar em sua direção. Ela piscou para o lorde e lady, esperando que ela os conhecesse.

— Posso apresentar o conde de Dorset e sua encantadora esposa, Antoinetta — o duque respondeu graciosamente.

Mairi deu a eles o aceno habitual esperado e respondeu a uma ou duas perguntas sobre o que pensava do tempo. Logo, ela foi esquecida em favor do duque, deixando-lhe mais nada para fazer, além de esperar até que o discurso acabasse... e desviar o olhar sobre a longa galeria.

Um capitão da marinha holandesa substituiu o lugar de Lady Amberlaine ao lado de Connor. Sedley, Mairi lembrou-se de seu nome ao ouvi-lo sussurrar nos lábios de mais de uma dúzia de mulheres, senhoras e criadas. Um trapaceiro, como Connor, que atualmente jogou a cabeça para trás rindo de algo que Sedley disse.

Maldito seja o Hades, mas ele parecia tão irresistivelmente bonito quando ria, tão assustadoramente assustador. Ele costumava rir assim com ela.

Agora, ele fazia isso com protestantes.

 

Capítulo Oito


— Pesquisei um pouco o almirante Gilles.

Connor desviou o olhar de Mairi dançando com o duque de Queensberry e olhou para Nick Sedley sentado com ele no estrado vazio do rei. Eles vieram do exterior úmido e frio, principalmente porque Connor queria saber o que diabos Mairi estava fazendo em consorte com homens que há muito se diziam que eram Covenanters e até cameronianos.

— Definitivamente, ele jurou lealdade ao duque de Monmouth. Se você ouviu boatos de que Gilles desembarcou na Inglaterra, parece provável que Monmouth chegará em algum momento no futuro.

Curioso que o príncipe William não tivesse usado esse pretexto quando questionado por James na Galeria de Pedra anteriormente.

— Suspeito que Monmouth se posicione contra o rei, — disse Connor. — Ele é o filho ilegítimo do rei Charles e acredita que a coroa deveria ter chegado até ele, mas não ouvi nada sobre Gilles criar um exército para ajudá-lo.

Sedley olhou-o por cima da borda da caneca.

— O que você ouviu então?

Connor balançou a cabeça. Seu olhar se voltou a Mairi.

— Que ele atacou uma abadia ao longo da fronteira.

— Sua testemunha poderia estar enganada.

— Verdade, — Connor permitiu suavemente. Ele conhecia Nick há anos, mas isso não era motivo para confiar que ele não estava cobrindo o príncipe. Era óbvio que William de Orange não estava sendo sincero quando negou o conhecimento do envolvimento de Gilles no massacre de St. Christopher. Inferno, Connor não queria acreditar que Sedley sabia disso e não fez nada para detê-lo.

Os olhos dele seguiram Mairi quando ela contornou o duque, as saias de lã balançando nos pés delicados. Ela tinha sido atrevida com o príncipe e poderia ser perigoso. Ele teria que observá-la mais de perto. Ele gostava que ela fosse destemida, admirava seu traço de confiança nas Highlands, mas William era um homem perigoso. Connor estava certo disso.

— Essa é a filha do Laird do clã MacGregor, de Skye, não é?

Connor piscou e olhou para Nick.

— Sim, é isso.

— Se a memória me serve, — disse seu velho amigo, observando-a, — ela é a pessoa de quem você falava todos os dias quando chegou aqui.

Connor se mexeu na cadeira.

— Eu era um rapaz com cara de pêssego, ainda mais jovem que Edward na época.

— Então, nada aconteceu entre vocês dois?

— Nós seguimos em frente, — Connor disse a ele timidamente.

— Seus olhos ficaram nela a noite toda.

— O pai dela me pediu para vigiá-la na ausência dele.

— Ela é adorável. — Nick a estudou com os mesmos olhos cinza esfumaçados que costumavam pousar em uma mulher diferente em sua cama todas as noites.

— Fique longe dela, Sedley, — Connor avisou. Ele tinha homens suficientes na vida dela para se preocupar. Ele com certeza não queria adicionar o libertino Nick Sedley à lista.

— Se eu não conhecesse melhor...

— Você não conhece, — Connor o interrompeu. — Tem Lady FitzSimmons. Você não me disse uma vez que ela tinha uma boca adorável e sabia como usá-la?

— Eu disse, e ela usa. Eu estava com ela ontem à noite.

— Ela está de olho em você agora. — Connor sorriu, olhando para ela, depois virou para o amigo. — Talvez você não a tenha satisfeita.

— Altamente duvidoso. — Sedley levantou-se da cadeira, puxou o paletó militar para endireitá-lo e depois partiu atrás dela.

Sozinho, Connor deu toda a atenção a Mairi enquanto o duque a escoltava de volta à mesa dele. Ele deveria estar no Troubadour com seus homens, em vez de ficar sentado sozinho, desejando que Mairi o olhasse. O que diabos havia de errado com ele? Quantas vezes um homem jurou tirar as coisas de seus pensamentos apenas para deixá-los atormentá-lo repetidamente? Mas foi mais do que apenas a lembrança de Mairi que o enfraqueceu; era a visão dela agora, orgulhosa, bonita, ousada. Era a faísca em seus olhos quando ela falou com ele que acendeu suas terminações nervosas. A luta que ela o fazia querer vencer. A égua selvagem que ele queria domar.

Ela olhou para cima, como se estivesse sentindo os olhos dele, e encontrou seu olhar através do salão lotado. Ele queria dizer a ela que sentia falta dela. Uma parte dele sempre teria. Mas não adiantaria. Muita coisa havia mudado entre eles. Queria dizer a ela que seu pai havia solicitado que ele a cuidasse, que não era o desgraçado que parecia ser, incapaz de controlar seu próprio coração. Ela desviou o olhar primeiro e devolveu o sorriso ao anfitrião.

Sentado do outro lado da mesa, Oxford não parecia muito feliz. Isso fez Connor se sentir melhor.

Ele quase perdeu a partida dela quando Lady Eleanor Hartley se sentou na cadeira vazia ao lado dele.

— Se você dançar comigo, prometo não lhe dar um tapa.

Connor reprimiu um bocejo e deu um sorriso brincalhão para ela.

— Talvez eu merecesse.

Viu Mairi levantar-se da cadeira pelo canto do olho e virou-se para ela. Oxford quase pulou de seu assento para alcançá-la no instante em que ela estava sozinha. Ela balançou a cabeça em algo que ele disse, depois deu um tapinha no braço dele e se afastou. Ela estava se retirando para a cama. Sozinha.

— Capitão Grant?

Lembrou-se de Eleanor e lançou-lhe um breve olhar enquanto se levantava.

— Perdoe-me. Há algo que eu preciso ver. — Mairi não deve voltar para seus alojamentos sem vigilância. Colin não estava à vista, então cabia a Connor vê-la em seu destino com segurança.

Antes de sair do salão, ele olhou Oxford uma última vez para ter certeza de que não seguiria Connor atrás dela. Quando ele saiu, olhou para as escadas e depois para as passarelas que levavam à porta dela. A princípio, ele não a encontrou e seu coração disparou loucamente em seu peito. Mas então ele a viu rastejando pelo extremo norte, em direção aos alojamentos dos nobres.

Inferno.

Ele subiu correndo as escadas o mais silenciosamente que suas botas permitiam, parando e se escondendo nas sombras, quando ela parou e olhou por cima do parapeito. Certa mais uma vez que ninguém a viu, ela continuou em direção aos aposentos do duque. Por um instante, o sangue de Connor escaldou suas veias. Ela estava indo pra os aposentos de Queensberry para um encontro noturno? Ela havia parado de odiar protestantes e Covenanters? Ele estreitou os olhos quando ela levantou as saias, puxou algo que suspeitava ser uma adaga por baixo e começou a abrir a fechadura.

Ele sorriu e depois fez uma carranca. Ela não estava se encontrando com o duque. Ela estava invadindo o quarto dele! Ele não se mexeu, não respirou quando ela abriu a porta e deu mais uma olhada ao redor antes de desaparecer na escuridão lá dentro.

Ela estava brava? Sua égua ardente tinha ficado louca nos últimos anos desde a última vez que a vira? Por que ninguém na família dele ou dela lhe contou? Pensando bem, ele se lembrou de sua mãe mencionando sobre haver algo que ele não sabia desde que partiu.

Droga, por que ele não a pressionou mais?

Atravessou o corredor e parou na porta. Ele apertou a orelha e ouviu. Nada. Cautelosamente, ele passou os dedos pela maçaneta de ferro e abriu a porta. Ele entrou silenciosamente e desejou que houvesse mais luz iluminando seu caminho do que o brilho cinza da lua das janelas. Ele estava prestes a sussurrar o nome dela e exigir que ela saísse daqui antes que fosse descoberta quando ele a ouviu se arrastando por trás de uma porta entreaberta à sua esquerda.

Ele se moveu silenciosamente em direção a ela, empurrando suavemente a madeira fria. Uma leve luz prateada caia sobre uma mesa no centro do grande escritório. Estantes alinhadas na parede atrás dela. Uma lareira grande e fresca à direita. Mas não Mairi.

Ele entrou, seus sentidos afiados na luz fraca. Ele sentiu seu cheiro antes de vê-la, urze e lavanda, e todos os tipos de outras flores silvestres que se agarravam ao plaid da sua casa nas Highlands. Ele levantou o braço a tempo de bloquear o objeto pesado que vinha em direção a sua cabeça.

Movendo-se em um flash de velocidade, ele agarrou seu pulso e a puxou para perto. Um joelho perto de suas regiões inferiores quase o deixou cair de joelhos, mas ele segurou-a firmemente pelo braço, sabendo que ela pretendia causar o máximo de dano possível. Ele tentou falar o nome dela, mas seu punho livre em sua mandíbula momentaneamente o atordoou. Och, mas ela era uma gata selvagem do inferno! Ela lutou violentamente contra ele, até tentando afundar os dentes na mão dele que ainda a segurava.

Sem escolha a não ser subjugá-la o mais rápido possível, ele a girou, puxando sua coluna com força contra seu peito. A mão dela, ainda segurando o que ele adivinhava ser pela forma e comprimento pressionado em sua barriga, era um castiçal de ferro, foi torcido atrás dela e preso inutilmente entre eles. Ele enrolou o braço livre em volta da cintura dela, prendendo o outro braço ao lado dela.

— Estou feliz em ver que você pode cuidar de si mesma, Mairi, — ele se inclinou sobre ela e sussurrou perto de sua orelha.

Quando ela percebeu quem estava atrás dela, suas lutas cessaram por um momento.

— O que diabos você está fazendo aqui?

— Uma pergunta que eu estava prestes a fazer para você. — Inferno, ela cheirava bem. Os cabelos dela contra o nariz dele, tão macios e grossos quanto ele se lembrava. O corpo dela, capturado em seu abraço inflexível, fez seu sangue queimar. Ele queria girá-la de volta para encará-lo, sentir seus seios contra o peito dele, seu hálito quente em seu rosto, mas ela era muito perigosa. E ela não era mais dele. — O que você está fazendo bisbilhotando nos aposentos do duque?

— Solte-me, Connor, antes que eu...

Além da porta do escritório, outra porta se abriu. Alguém entrou nas câmaras.

— Ssh! — Ele fechou a mão em torno de sua boca, arriscando uma mordida.

Ela ouviu o som e obedeceu, seu corpo tenso e o deixando um pouco mais louco de desejo. Ele finalmente a soltou, mas a puxou mais fundo nas sombras, ouvindo os sons do outro lado da porta. Tinha que ser o duque. Ele estava sozinho a julgar pelo som de seus passos. Connor fez uma oração silenciosa para que Queensberry não tivesse negócios dentro desta sala e fosse diretamente para a cama.

— Agora veja o que você fez, — acusou Mairi em voz baixa, virando-se para ele.

— Eu? — Ele perguntou baixo. — Eu não estaria aqui se não fosse você.

— Eu não pedi para você me seguir. Provavelmente, eu teria terminado e seguido meu caminho de volta para o meu quarto, se não fosse você.

O chão rangeu do lado de fora da porta e os dois ficaram imóveis. Connor fez o possível para se concentrar e pensar em uma boa desculpa para o que eles estavam fazendo aqui se fossem descobertos, mas Mairi se aproximara mais dele, seu calor penetrando em seu corpo, seu perfume o envolvendo. Ele estava feliz por não conseguir ver completamente o rosto dela, os lábios, ou ele poderia ser tentado a beijá-la. Sim, ele era patético com certeza.

— Terminado o quê? O que você estava procurando?

— Não lhe interessa.

Tudo o que ela fazia o preocupava. Pelas bolas de Satanás, ele ainda se importava com ela. Negar isso apenas o fazia ser um tolo maior.

— A ideia de você ser jogada na prisão me preocupa, Mairi.

— Sério, Connor, prisão? Por estar no quarto de um homem?

Ele podia ouvir o sorriso em sua voz abafada.

— Um homem com quem passei a noite dançando? Talvez eu estivesse simplesmente esperando que ele chegasse para que pudéssemos compartilhar um momento particular juntos.

Connor considerou quanto barulho uma estrangulação faria. Ele balançou a cabeça, decidindo não se arriscar.

— Seria difícil compartilhar esse momento com ele espancado na cabeça com seu castiçal, se tivesse sido ele quem te pegou, em vez de mim, não seria?

Ela ficou em silêncio, entendendo o argumento dele. Finalmente.

Eles ouviram mais sons além da porta. Felizmente, ela não se abriu. Eles esperaram, os segundos se transformaram em minutos e os sons ficaram silenciosos.

— Então, o que você está fazendo aqui? Não vou deixar você sair até que me diga.

Ela suspirou, seu hálito doce alcançando o queixo dele.

— Está também. Eu estava procurando por algo.

— O quê?

— Um nome.

— Nome de quem, Mairi?

Ela suspirou novamente e ele sabia que eles precisavam sair dali rapidamente antes de puxá-la em seus braços e beijá-la sem sentido.

— Queensberry mencionou alguém tomando o lugar de Richard Cameron. Eu ia ver se havia algum pergaminho aqui com um nome que possa parecer familiar.

Familiar? Em que sentido? Como alguém que Queensberry conhecia poderia ser familiar para ela? Ela morava em Skye, cercada por montanhas e água pelo amor de Deus! O que ela sabia sobre os camaroneses? Ele se amaldiçoou por não escrever para casa com mais frequência.

Agora não era hora de questioná-la. Eles tinham que escapar dos alojamentos do duque. Ele falaria com ela sobre isso amanhã, no entanto.

— Eu acho que ele se retirou para a cama.

À luz fraca da lua, ela assentiu e andou em direção à porta. Ele estendeu o braço sobre ela, parando-a e se movendo na frente dela. Ela se desviou e ele esbarrou em suas costas.

Connor lançou-lhe uma carranca sombria que ela não viu. Ele não queria que ela fosse primeiro. Alguém poderia estar lá fora esperando.

Tomando-a pelo braço desta vez, ele a puxou para trás, ignorando o juramento suave murmurado por sua boca.

Ele abriu a porta lentamente, ouvindo o silêncio. Quando ele considerou seguro prosseguir, ele abriu mais a porta e estendeu a mão para pegar a mão de Mairi. Ela não estava lá.

Ele a sentiu passar por ele em um revoo de lã com cheiro celestial, ouviu seus passos leves passarem através dos juncos e a viu desaparecer na noite. Tudo no espaço de uma respiração, deixando Connor com nada mais do que a suspeita de que ela já havia feito isso antes.

 

Capítulo Nove


Mairi acordou na manhã seguinte e encontrou a rainha e sete guardas em pé ao redor de sua cama. Connor estava entre eles. Levou um momento para limpar o efeito de seu sono. Quando o fez, sentou-se na cama e puxou a cobertor até a garganta.

— O que...? — Os olhos dela dispararam para Connor, que pelo menos teve a decência de desviar o olhar.

— O rei se foi, senhorita MacGregor.

Mairi sacudiu a cabeça, sem ter certeza de ter ouvido a rainha corretamente. Se foi? Foi para onde? Ela afastou os cachos do rosto e esfregou os olhos, tentando entender o que diabos estava acontecendo. Por que Connor estava aqui no quarto dela?

— Ele desapareceu e seu irmão desapareceu com ele.

Mairi piscou para ela, de repente entendendo tudo muito claramente. Colin. Oh, meu Deus, ele tinha feito isso. Ele disse ao rei que sua filha ainda vivia, e provavelmente o rei insistiu em vê-la.

— Você tem algum conhecimento de onde eles foram... ou foram levados? — A voz suave de Mary de Modena tremeu no final. Ela amava o marido. Mairi tinha visto a evidência na noite passada em seus toques ternos. O que ela deveria dizer a ela?

— Alguém viu ou ouviu eles partirem? — Ela sentiu o interesse de Connor despertar, sentiu seus olhos nela e os evitou. Não demorou muito para que ele descobrisse o que ela já sabia. Ele contaria a mais alguém? Sedley, talvez? Ela não confiava nele. Como ela poderia quando ele deixou tantas promessas quebradas espalhadas a seus pés? No momento, isso não importava. Ela tinha que fazer suas perguntas e ter certeza de que estava certa e que seu irmão não havia sido de fato sequestrado junto com o rei.

— Ninguém, — a rainha respondeu secamente. Ela estava ficando agitada, já suspeitando que Mairi sabia alguma coisa e estava fugindo da resposta.

— Perdoe minha ignorância, por favor, Sua Majestade, mas existem guardas estacionados em torno de todo o perímetro de Whitehall e ninguém os viu?

— Está correta, senhorita MacGregor. Você tem algum conhecimento de como isso pode ser?

Mairi balançou a cabeça.

— Sinto muito, eu não sei.

Por um momento, pensou que a rainha poderia gritar com ela. Suas mãos pequenas seguraram as dobras das saias e apertaram os lábios antes de se virar para Connor.

— Observe-a a cada movimento e relate-os para mim. — Ela olhou para Mairi com um breve olhar ao sair. — Bom dia para você, senhorita MacGregor.

Uma dúzia de protestos diferentes lutaram para escapar dos lábios de Mairi, mas ela não conseguiu pronunciar nenhum deles quando o último soldado saiu do quarto e fechou a porta.

— Onde eles estão?

Um permaneceu. Och, ela não se importava se o próprio rei deu a ordem, ela não deixaria Connor segui-la por todo o maldito dia. Ontem à noite foi o suficiente. Quando ela voltou para o quarto após o breve, mas próximo encontro nos aposentos de Queensberry, teve que lutar para não chorar até dormir. Maldito seja!

Ela arrancou o cobertor dela e balançou as pernas para o lado.

— Saia! — Ela ordenou vestindo apenas sua camisola, marchando em direção à porta para abri-la para ele.

— Mairi! — Seu comando a deteve. — Pense no que você acabou de fazer. Se você sabe alguma coisa, deve contar à rainha. Se ela está com medo porque o rei desapareceu misteriosamente, como você acha que as pessoas receberão as notícias? Quanto tempo você acha que o príncipe William levará para se colocar contra o rei católico?

— O que você acha disso, capitão?

Por um momento, ele parecia prestes a estrangulá-la. Ela ficou tentada a recuar, mas não o fez.

— Você acha que eu sou protestante, então?

— Por que você não seria? Você tem vivido com eles por um longo tempo.

As linhas do seu rosto se endureceram.

— Acredite no que quiser de mim. Sei, no entanto, que você se importa, então diga à rainha onde está o marido.

— Eu não sei onde ele está.

— O desaparecimento dele tem algo a ver com o motivo de você estar bisbilhotando nos quartos de Queensberry na noite passada?

— Já disse a você porque eu estava lá.

— Sim, você disse. E gostaria de saber que interesse você tem nos camaroneses.

Maldição, ela falou demais ontem à noite.

— Minha vida não é mais qualquer preocupação sua, capitão.

Seus olhos encontraram os dela por trás de algumas mechas perdidas de ouro. Ele parecia sério... e perigoso.

— Está bem, então. Suspeito que sei onde Colin está levando o rei. Eu mesmo direi à rainha.

Ele a empurrou para fora do caminho, mas ela pulou de volta na frente dele, parando sua partida.

— Você arriscaria a vida dos meus parentes dizendo a ela na presença de seus guardas?

Sua mandíbula se apertou e ele murmurou um juramento em direção aos céus.

— Então eles estão de fato a caminho de casa.

— Minha casa, — ela corrigiu, surpresa por ele não ter percebido isso antes. Não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso, exceto para avisá-lo a ficar calado. — O rei da Inglaterra está a caminho de minha casa com pouca ou nenhuma proteção, tanto quanto eu sei, exceto por meu irmão. Você não deve dizer nada na frente dos guardas. Ninguém aqui pode ser confiável. — Nem mesmo você.

Deus, ela rezou para estar errada. Talvez ele tenha se convertido a outra fé. Isso não significava necessariamente que ele a trairia, não é?

— Peço-lhe que lembre-se que alguém próximo a filha do rei provavelmente a traiu. Colin me disse que ninguém sabia da existência da Srta. Montgomery, salvo pelos homens que a guardavam.

— Alguém mais sabia também.

— Sim, alguém sabia, — ela concordou.

Sua boca ficou um pouco seca com a maneira como ele olhou para ela, inclinando a cabeça um pouco para o lado e sorrindo, como se estivesse considerando o que sabia e pensando em descobrir como o sabia. Ela o dirigiu em outra direção. Qualquer que fosse sua posição sobre os Covenanters ou sobre William de Orange, era mais seguro se ele não soubesse o que ela estava fazendo em segredo em Skye.

— Foi por isso que Colin e o rei saíram na escuridão da noite. É por isso que meu irmão não disse que ele estava partindo. Seus homens a viram.

— Eles não sabem quem ela é.

— Se você os levasse, eles descobririam e saberiam onde ela está. Se apenas um deles jurou lealdade ao inimigo do rei, quanto tempo você acha que vai demorar até ele cavalgar em direção a Camlochlin? Jure para mim que você não dirá a ninguém.

— Você me acha um tolo então? — Enquanto ele esperava a resposta dela, seu olhar flutuou sobre o comprimento de seu corpo escassamente vestido.

Suas bochechas ardiam e ela lutou contra o desejo de cruzar os braços sobre o peito. Deixe ele olhar. Que ele se arrependa por deixá-la, por nunca mais poder tocá-la.

— Eu não penso em você, — ela mentiu. — Ou isso é muito difícil para você compreender, Capitão Grant?

O franzir de sua testa e a diversão puxando sua boca provaram que ele gostava de ir de encontro a ela. Ou talvez ele gostasse de ser o único homem que poderia.

— Não é tão difícil quanto tentar me convencer de que você é a lass mais fria da Inglaterra, Irlanda e Escócia juntas.

— Oh? — Ela perguntou suavemente, recusando-se a dar-lhe a satisfação de deixar seu sorriso irritá-la. — Então você admite que é especialista em mulheres?

Ele tinha um jeito de abaixar a cabeça e olhá-la por baixo dos cílios, ou talvez fosse o tom suave de sua voz, confiante de que poderia desviar o que ela jogou nele que fez seus joelhos derreterem.

— Bem, eu ainda não estive na França, então não me chamaria de especialista.

Ao seu lado, seus dedos se curvaram em torno de sua camisola, em um esforço para mantê-los longe de sua garganta.

— Não seja modesto, capitão. Você e eu sabemos que é especialista entre os lençóis e depois foge da moça. — Isso foi o suficiente para limpar o sorriso malicioso de seu rosto. Ela deveria ter se sentido vitoriosa, mas não se sentia. — Agora, se você não se importa, — ela continuou em direção à porta e a abriu — junte um pouco da decência se você a possuí e saia para que eu possa me vestir.

O alívio tomou conta dela quando ele se moveu para sair. Estar no mesmo quarto que ele, sozinhos... de novo era perigoso para o bom senso dela. Quando chegou à porta, porém, ele a fechou com uma mão e enrolou a outra na cintura dela.

— Moça teimosa, — ele gemeu, arrastando-a para frente. Ele inclinou a boca para a dela e arrancou o restante de seus protestos em um beijo duro e derretido que dobrou seus joelhos.

Inferno, ele podia se comportar como um inglês, mas beijava como um Highlander. Alguma parte fraca dela exigia que lutasse com ele, mas ela mal podia se mover, mal conseguia respirar. A língua dele varreu sua boca como um ferro que marca, reivindicando o que nenhum homem além dele possuía. As batidas rápidas de seu coração a deixaram tonta. Ou talvez, era o cheiro dele a cobrindo, o jeito requintado e possessivo que ele a tomava, como se nunca tivesse perdido esse direito.

Mas ele tinha. Na noite anterior, ela fora tola por deixar seus velhos sentimentos por ele borbulharem à superfície. Ela não sentia falta dele nem da vida que sempre desejara, mas que foi negada. Ela não o queria de volta... ou os sonhos que ele uma vez disparou dentro dela. Ela se afastou, inclinou a cabeça para trás e olhou para o rosto dele, e então deu um tapa nele com tanta força que sua cabeça virou.

Por um momento, ele não fez nada além de rolar a mandíbula em torno da dor que ela lhe causou. Então, virando seu olhar escaldante e faminto, ele a tirou do chão para seus braços. Ela se empurrou contra ele, com medo de quão facilmente ele acelerava as brasas dos velhos sonhos de volta à vida. Ela nunca quis nada mais do que ser dele, acordar de frente para ele todas as manhãs e vê-lo brincar com seus bairns à noite. Ela nunca quis que outro homem a beijasse, a tocasse, não depois de Connor.

Ela não tinha defesa contra o ataque magistral e, mesmo enquanto sua voz gritava em sua cabeça para detê-lo, ela passou os braços em volta do pescoço dele. Ele a empurrou contra a porta, soltando o ar dos dois corpos. Os dedos dela afunilaram os cabelos dele enquanto ele levantava sua coxa ao redor da cintura dele, o tempo todo mantendo-a presa entre a madeira fria e o comprimento do corpo ainda mais duro. Como ela poderia lutar contra ele quando a domava tão facilmente com apenas alguns golpes? Seus lábios a devoraram até que ela gemeu contra seus dentes, querendo-o, precisando dele, sentindo sua falta mais do que nunca.

Não! Ela era mais forte que isso. Ele a fez mais forte. Ela havia conquistado a memória dele. Jurou para si mesma que nunca mais confiaria nele novamente. Ela não voltaria a confiar! Não importava o quão certo era estar em seus braços, em sua presença.

Ela o empurrou para longe. Ele se retirou, com a respiração pesada, os olhos brilhando enquanto se moviam sobre o rosto dela como joias presas entre a luz e a sombra, roubando seus pulmões de ar, sua cabeça da razão.

— Mairi, eu... — O que mais ele queria dizer terminou quando uma batida forte do outro lado da porta soltou uma forte maldição em seus lábios.

— Senhorita MacGregor?

Mairi fechou os olhos ao som da voz de Lorde Oxford. Quando ela os abriu novamente, o lindo rosto de Connor estava lá, tão perto. Como ela poderia continuar a resistir a ele se precisava vê-lo todos os dias? Ele era a urze que balançava através dos pântanos, o vento forte que assobiava sobre as montanhas enevoadas.

— Mande-o embora, — ele sussurrou contra a têmpora dela.

Ela balançou a cabeça. Era bom que Oxford tivesse chegado. Seu corpo queria Connor desesperadamente para negá-lo, mas seu coração nunca sobreviveria se o perdesse novamente. E ela o perderia. Ele poderia lembrá-la de casa, mas seu coração pertencia à Inglaterra.

— Solte-me, — ela respirou ao longo de sua mandíbula, ofegando com as palavras quando a deixaram.

Ele afastou a cabeça para olhá-la como se nunca a tivesse visto antes desse dia. Ela se virou quando ele deu um passo atrás para alcançar a porta.

Sem lhe dar um momento para arrumar os cabelos em alguma aparência elegante, ele a empurrou para trás e abriu a porta.

— Oxford, o que diabos você está fazendo na porta dela uma hora depois do amanhecer?

Impedida de ver, Mairi pressionou o ouvido nas costas de Connor para ouvir alguém mais barulhentos que Henry. Pobre Henry. Como se esperava que um homem magro resistisse a essa força? Ela bateu com o cotovelo na espinha de Connor.

— Eu vim para acompanhá-la para o desjejum. — Ela ouviu mais claramente desta vez o bruto antes de puxá-la um pouco para a esquerda depois de cutuca-la.

— Eu vou fazer isso. — Connor o informou. — Bom dia para você. — Ele bateu a porta no rosto de Henry e virou-se para ela.


— Ele escolta você para o desjejum todos os dias, então?

Outra batida na porta interrompeu sua resposta. Dessa vez, Connor não se incomodou em escondê-la quando ele abriu a porta. Ele também não se incomodou em falar com Lorde Oxford, mas olhou por cima do ombro e fez sinal para outro homem.

— Tenente Drummond, acompanhe esse homem escadas abaixo e veja que ele não volta a esta porta. Se ele recusar, leve-o para a rainha.

Mairi o observou se encostar na porta depois que ele fechou, seu olhar fixando no dela novamente.

— Você pode ter melhor que isso, Mairi.

Ela se virou. Ela não queria brigar com ele agora. Suas emoções eram muito novas após o beijo. Seus lábios ainda ardiam, junto com todas as outras partes do corpo. O bastardo! Como ele ousava tentar voltar à vida dela? Que direito ele tinha de tornar todos os outros homens fracos e obsoletos quando comparados a ele? Ela queria seguir em frente. Ela precisava, e agora ele estava de volta para arruinar qualquer chance dela ser feliz com Lorde Oxford ou qualquer outro homem.

— Saia.

— Nae.

Nae? O filho arrogante de uma...! Apertando os dedos ao lado do corpo, ela parou e girou.

— O que quer dizer, nae? Você quer uma adaga nos seus olhos?

Ele sorriu com tanto prazer casual; ela ficou tentada a pular de volta nos braços dele.

— Eu fui ordenado para observar cada movimento seu, se você recorda.

Ela torceu os lábios para ele, dando-lhe razão.

— Isso está prestes a terminar quando eu for a rainha e lhe dizer o que ela quer saber.

Ele deu de ombros:

— Até lá então...

Ela mordeu a língua e girou nos calcanhares, para longe dele.

— Bem, capitão. Mas eu nunca pensei em você como aquele cujo prazer se baseava em forçar uma mulher a aceitar sua atenção.

Ele riu e o som a penetrou como uma música que assombrava os pântanos.

— Como consegui escapar dessa suposição durante todos esses anos de traí-la?

Ela alcançou o baú e puxou um plaid limpo tecido em tons de azul safira e vermelho e um colete de mangas azuis para combinar.

— Não há dúvida, você tornou-se muito hábil em manter sua traços mais escuros escondidos. — Foi difícil para ela manter o tom casual com a memória de sua sensual e exigente boca e toque persistente tão fresco em sua mente. Och, ele era sombrio, correto. Antes que ela pudesse se conter, se perguntou se as outras mulheres que ele levava para sua cama desfrutavam da força dominante de sua paixão. Ele fora gentil com ela na primeira vez que se deitara com ele, mas eles eram jovens, inexperientes. Ele a tomou novamente antes de deixar a Escócia, garantindo que ela não o esquecesse enquanto ele estivesse fora. Ansiara por ele por semanas... e não havia esquecido.

Ele permaneceu encostado na porta, seu olhar ousado mergulhando em sua panturrilha enquanto ela levantava sua camisola. Ele realmente iria vê-la se despir! Ela deslizou o tecido macio para cima e olhou para ele quando o sorriso dele se transformou em algo mais sombrio. Como ele a tomaria agora se ela deixasse? Ela não queria descobrir, maldição, mas uma parte dela queria deitar com ele novamente. Sentir suas mãos ásperas nela, ouvir aquela voz profunda e lânguida dizer-lhe que ela era dele enquanto ele se enterrava dentro dela e a fazia gemer. A mão dela tremia quando ela alcançou a adaga amarrada à coxa.

Felizmente, seus reflexos eram tão rápidos quanto ela se lembrava deles quando sua lâmina voou e caiu na porta a centímetros da cabeça dele.

Ele lançou um olhar preocupante para o punhal acima do ombro, depois para ela.

— Seu alvo melhorou.

— Vire-se ou o próximo não se perderá.

Inferno, ele parecia prestes a saltar nela. O resto de seus punhais estavam escondido em seu baú. Ela nunca os tiraria a tempo. Ela não queria. Felizmente, ele se virou para encarar a porta sem outra palavra.

Ela se despiu rapidamente, observando as costas dele o tempo todo. Seus dedos tremiam enquanto ela enfiava os braços nas mangas e apertava os pequenos botões de pedra no peito. Seu ouvido era um pouco mais difícil de administrar, mas ela prendeu o broche no ombro sem tirar sangue e rapidamente apertou o cinto na cintura.

— Eu terminei, — ela gritou um pouco sem fôlego, e sentou-se na beira da cama para calçar as botas, enquanto ele puxava o punhal da porta.

— Sua modéstia me agrada, Mairi, — ele disse, devolvendo a arma para ela. — Espero que você seja tão zelosa com Oxford se ele tentar fazer o que quiser com você.

Ela pegou a coisa mais próxima dela e jogou nele. Ele pegou a camisola e a levou até o nariz.

— Agora isso, — disse ele, inalando o tecido e, em seguida, colocando seu olhar ardente nela mais uma vez, — é uma arma mortal, de fato.

 

Capítulo Dez


— Eu esperava que, ao forçar a atenção do capitão Grant, você apressasse sua confissão. Mas menos de uma hora? — A rainha observou Mairi fazer uma reverência diante dela e depois olhou por cima da cabeça inclinada de sua convidada para Connor parado atrás dela. — Ela não gosta muito de você.

Eles ficaram na Câmara Privada de Mary de Modena, sozinhos a pedido de Mairi. Ela havia solicitado que o bonito e irascível Connor também ficasse do lado de fora da porta, mas ele se recusou. Ele se preocupava com a reação da rainha em descobrir para onde o irmão de Mairi havia levado o rei. Ele estava lá para impedir que qualquer cabeça de MacGregor viesse a rolar, especialmente a de Mairi.

— Não, não é exagero, Sua Majestade, — ele concordou.

— Eu me pergunto por quê? — A rainha estava intrigada, mais para si mesma do que por qualquer um deles. Ela não esperava uma resposta quando se sentou em frente deles e esperou enquanto eles faziam o mesmo. — Meu marido, — disse ela um instante depois, voltando toda a atenção para Mairi. — O que você tem a me dizer sobre ele?

Mairi não se encolheu sob o escrutínio da rainha da Inglaterra. Connor queria sorrir para ela.

— Mais do que você pode querer ouvir, eu receio.

A rainha piscou, mas o medo que o aviso de Mairi tivesse gerado dentro dela permaneceu sob controle.

— E como eu sei que o que você me diz é a verdade?

— Você terá a confirmação do capitão Grant para cada palavra que eu falar, ou não falarei.

Connor encontrou o olhar arqueado da rainha, mas antes que ele pudesse acenar com a cabeça, ela se voltou para Mairi.

— Eu não sei se isso é suficiente, porque eu mal o conheço. Você o conhece, no entanto, e sua baixa opinião sobre ele faz com que eu duvide que um de vocês seja digno de confiança.

Sim, Connor também não gostava da opinião baixa de Mairi, mas agora não era hora de se preocupar com esses assuntos. Ou com a emocionante lembrança de sua perna enrolada na cintura dele e o doce sabor de sua boca, tão faminta por ele quanto a dele.

— Por que você tentou esconder essas informações de mim quando eu perguntei a você? — A pergunta da rainha a Mairi voltou seus pensamentos para o presente.

— Porque não estávamos sozinhos, e o que eu disser deve permanecer em segredo. Somente alguns entre nós podem ser confiáveis.

— Fale então, senhorita MacGregor.

— Está também. Seu marido está a caminho de Camlochlin.

— Camlochlin?

— Minha casa, — Mairi esclareceu.

— Por que o novo rei está a caminho das Highlands, na Escócia?

Finalmente, Mairi se mexeu na cadeira.

— É aí que fica um pouquinho mais... delicado. Veja bem, seu marido viaja para as Highlands para conhecer sua filha.

— As filhas dele estão aqui em Whitehall, senhorita MacGregor. Capitão — a rainha virou-se para ele, — você a trouxe para fazer joguinhos?

— Não, minha rainha, — disse ele gentilmente. — A Srta. MacGregor fala da verdadeira primogênita do rei. Ela foi mantida em reclusão em uma abadia a vida inteira, criada em segredo como católica.

Algo ocorreu-lhe enquanto ela o encarava. Seus olhos se arregalaram e sua pele empalideceu um pouco.

— O massacre na abadia. James esteve terrivelmente sombrio desde que soube disso.

— Ele acreditava que sua filha estava entre os mortos. — Mairi continuou. — Mas ela não estava. Meu irmão mais velho a salvou do almirante Gilles, que foi enviado para matá-la. O grupo do meu irmão se encontrou com o capitão Grant, que estava a caminho daqui. Juntos, eles concluíram quem era a noviça.

— Você a viu então? — A rainha perguntou a Connor. — É verdade? Ela é filha do rei?

— Eu acredito que ela é, embora ela não tenha confirmado isso para mim.

— Seu marido confirmou isso ao meu irmão.

Ao ouvir isso pela primeira vez, Connor virou-se para Mairi. Inferno, Colin não tinha dito a ele. Por quê?

— Por que ele não me contou? — A voz de Mary de Modena ficou suave, quase um sussurro.

— Ninguém a conhece.

— Então, como seus inimigos a encontraram?

Mairi olhou para Connor pela primeira vez desde que eles chegaram na câmara.

— Um dos guardas dela deve tê-la traído.

— Entendo, — a rainha murmurou, afundando mais na cadeira. — Você estava certa em não falar sobre isso antes. Mas como você tem certeza de que o rei não foi sequestrado? Seu irmão pode ter tentado impedir e ter sido levado com ele.

— Se meu irmão quisesse deter alguma coisa, ele iria parar, — Mairi assegurou. — Não, eu sei que eles saíram por vontade própria, porque ninguém sabe que eles se foram. Meu irmão é muito furtivo. Minha única alegria é que eles chegaram em paz. Colin conhece os perigos da estrada, assim como o rei

— Eles não foram sozinhos, — a rainha interrompeu. — Trinta dos homens do meu marido estão com eles.

— Então, para Camlochlin é onde eles foram.

— O rei estará seguro lá?

— Não há lugar mais seguro na terra, Sua Majestade, — disse Mairi com um tom de orgulho em sua voz que atraiu um sorriso aos lábios.

— É bom ouvir isso, — disse a rainha com um suspiro de alívio. — Se tudo o que você me disse é verdade, meu marido precisará de amigos leais ao trono.

— Ele os tem nos MacGregors, — prometeu Mairi.

— E nos Grants também — Connor seguiu, lançando um olhar para Mairi e a encontrando olhando de volta para ele. Ele piscou. Ela se virou. Maldito seja o Hades, mas ele não podia livrá-la de seus pensamentos. Ele não deveria tê-la beijado, tocado nela. Não quando sabia que ela poderia resistir a ele. Ela com certeza provou sua determinação de aço ao longo dos anos. Mas ser descartado por Lorde Oxford? Pelas bolas de Satanás, no momento em que ela ouviu a voz do homem, ela ficou tão fria quanto uma esposa descoberta com seu amante.

— Tenho outra pergunta para você, senhorita MacGregor, — disse a rainha, capturando a atenção de Mairi e depois a de Connor. — Para vocês dois na verdade. Se ninguém aqui pode ser confiável, como você sabe que pode confiar em mim com isso, quando o próprio rei não confiou?

— Porque você o ama, — Mairi disse a ela simplesmente. — Eu vi isso em seus gestos, na maneira como você olhou para ele na ceia da última noite.

A rainha sorriu pela primeira vez.

— Você conhece o amor então?

Mairi pigarreou e compartilhou um olhar de soslaio com Connor.

— Meu pai e minha mãe compartilham a mesma aparência.

— Entendo. — O sorriso da rainha permaneceu enquanto ela se virava para dar outra olhada em Connor. — Entendo que você foi criado nas Highlands, capitão.

— Isso é verdade, — ele admitiu. — Minha família reside em Camlochlin.

— Com os MacGregors.

Connor não tinha certeza de onde suas perguntas estavam chegando, mas, a julgar pelo interesse dela por ele e pelo sorriso astuto que ela apontava para ele, suspeitava que estavam indo na direção de Mairi. Ele esperava estar errado.

— Então é seguro assumir que vocês dois cresceram juntos.

— Sim, — ele admitiu, com certa relutância. Ele não gostava dessa virada na conversa. Enquanto ela colocava suas perguntas em direção aos outros convidados, Connor ficara agradavelmente surpreso ao achá-la tão inteligente quanto Mairi, pois um rei com muitos inimigos precisava de uma esposa inteligente e ousada. Mas quando se tratava dele e de Mairi, ele não queria ser examinado.

— Acho melhor agora, — disse ele, tentando afastá-la do tópico atual e voltar ao tópico anterior, — Sua Majestade dizer a seus súditos que o rei deixou Edinburgh para se encontrar com o novo parlamento realista.

— Sim. — Ela sorriu brilhantemente. — Algumas semanas antes, mas ninguém vai questionar. Você tem minha gratidão nisso, capitão. E você também — ela se virou para Mairi — por me dizer que o rei está seguro quando poderia ter ficado em silêncio. Só tenho mais uma pergunta para vocês dois antes que o capitão Grant me conte sobre a filha do rei.

Mairi assentiu e esperou que ela continuasse.

— Por que seu capitão aqui foi excluído de ir a Camlochlin com o rei, ou até mesmo saber que eles estavam partindo?

Mairi sorriu sombriamente.

— Isso provavelmente seria coisa do Colin. — Ela esclareceu ainda mais quando a rainha arqueou uma sobrancelha curiosa. — Meu irmão também não gosta muito dele.

— Hmm. — O olhar astuto da rainha se fixou em Connor. — Interessante.

Eles deixaram a câmara juntos quinze minutos depois. Mairi caminhou em direção ao andar de trás da rainha, enquanto Connor fechou a porta atrás deles. Não falou uma palavra. Ele seguiu seus passos atrás dela e teve o prazer de ver o balanço de seus quadris. Até agora, o dia não estava indo tão mal. Eles haviam passado mais tempo juntos do que em sete anos, e ela não o matou. Sim, ela atirou uma adaga nele, mas não estava tentando acabar com a vida dele. Havia uma diferença. Talvez, seu coração tolo lhe dissesse, estar juntos todos os dias não seria tão difícil.

— Você não precisa mais seguir todos os meus passos, capitão Grant — ela falou sem se virar.

— Você conhece outra rota para o salão de banquetes, senhorita MacGregor?

— Através das masmorras, talvez? Por que você não vai procurar?

Ele sorriu atrás dela e cruzou as mãos atrás das costas enquanto caminhava.

— Não há masmorras aqui. Eles colocam pessoas nas prisões agora. Lembra? Falamos sobre isso ontem à noite. O que me lembra o que...

— Bem, então, você não precisa falar comigo no caminho, — ela o interrompeu.

— Eu não estou falando. Você está falando comigo.

Ela parou e se virou para encará-lo. Muitas vezes em sua vida ele viu aqueles olhos espiarem a alma de um homem e o enviarem para suas próprias inadequações. Ela era uma lass de vontade forte e cabeça-dura, tão leal à Escócia quanto seu coração era por ela. Desde a boca inteligente e a língua suculenta, até o pequeno arsenal que ela mantinha escondido por baixo das saias, tudo nela o encantava além da resistência dele. Sempre encantou. Ela reivindicou o coração dele há muito tempo e nunca o liberou.

Ele caminhou em sua direção, soltando as mãos quando a alcançou. Sua mandíbula se apertou em seu sorriso inclinado. Ele umedeceu os lábios e ajustou o peso total na virilha. Inferno, a faísca em seus olhos o levou a querer conquistá-la. Não importava como ele tentasse combater, retornava toda vez que ela lutava com ele.

— O que aconteceu entre nós no meu quarto foi um erro que eu vou me arrepender até ser uma mulher velha.

Ele não percebeu que tinha passado o braço em volta dela até que sua boca atrevida oscilou a poucos centímetros dele. Ele tinha que aceitar. Quando ela se empurrou contra seu abraço, ele a puxou de volta e passou a mão pela nuca dela para segurá-la imóvel. A língua dele correu entre os dentes dela e mergulhou com posse inegável no doce calor interior. Surpreendeu-o que lábios tão venenosos pudessem ter um gosto tão bom. Ele queria mais e acariciou sua língua na dela como uma chama faminta.

O som de muitos passos se aproximando atrás dele chamou sua atenção. Com pesar, ele se separou do beijo e se virou para ver a rainha e quatro guardas, três dos quais ele conhecia bem, contornando a curva do salão. Ele deixou Mairi ir quando os grandes olhos escuros de Mary de Modena se fixaram nele. Ele estava vagamente consciente das mãos de Mairi em seus ombros até que ela o virou para encará-la novamente. E então ela dobrou o joelho e o dirigiu com força entre as pernas dele.

Ele pensou ter ouvido um dos homens rir enquanto desmoronava no chão. Nick Sedley, provavelmente.

— Vamos, capitão, de pé. — A rainha parou em cima dele. — Estou fazendo um anúncio no desjejum e quero você lá. Srta. MacGregor, — ela seguiu impiedosamente para Mairi antes que ele pudesse obedecer — parece que você precisa de uma escolta para protegê-la de sua escolta.

Proteger a ela? Ele não estava se contorcendo?

— Você terá que nos contar mais sobre sua 'velha amiga' mais tarde, Grant.

Connor olhou para a piscadela bastante lasciva de Sedley. Como diabos ele faria. Ele recusou quando o tenente lhe ofereceu uma mão para ajudá-lo.

— Quem é ela? — Richard perguntou enquanto Connor gemia.

— Ela é filha do Laird MacGregor, — Edward respondeu por ele. — Você não se lembra dela sentada à mesa deles algumas noites atrás? Diga a ele, capitão Sedley — ele cutucou o capitão, — você observou a cor dos olhos dela.

Endireitando-se a toda a sua altura, Connor apontou seu olhar mais sombrio para Sedley.

— Os olhos dela não são de sua preocupação.

— Oh? — Sedley desafiou quando Connor passou por ele. — Ela é sua então?

— Sim, — Connor rosnou. — Ela é minha. — Não era verdade, não mais, mas se isso mantivesse Sedley longe dela, então para o inferno com ser sincero.

 

Capítulo Onze


Por Deus e todos os seus santos, o dia simplesmente não podia ficar mais quente. Mairi olhou de soslaio para o sol e ficou feliz pelo braço de Lorde Oxford apoiando-a quando o brilho a deixou tonta. Ela assentiu com o que ele disse, depois olhou ansiosamente para a sombra. Como diabos alguém morava aqui o ano todo? Ela sentia falta das brisas frescas que sopravam suas tranças, e seus pesados cobertores de lã que a mantinham quente nas noites frias. Quando ela chegou à Inglaterra, ela pensou que os leques de seda que as mulheres tremulavam contra seus rostos eram um engodo bobo por serem tímidas. Mas agora, ela abanava com as mãos diante dela. Não ajudava em nada que ela tivesse passado o dia inteiro em batalha com seus próprios pensamentos. Ela estava exausta e tinha que agradecer a Connor Grant por isso. Como ele ousava beijá-la, não uma, mas duas vezes, e como se a possuísse? Ela deveria ter lutado com ele com mais força na primeira vez que aconteceu em seu quarto. Mas como ela podia lutar quando o brilho faminto nos olhos dele a consumia no fogo? Deus tenha piedade dela, mas beijá-lo era como... como acordar em Camlochlin no primeiro dia da primavera, quando as cores brotavam nos pântanos enevoados e a fragrância de urze selvagem enchia o ar fresco e suave. Isso despertou seus sentidos de uma maneira que parecia que ela dormiu até o momento em que seus lábios tocaram os dela. Och, como ela o adorava, seguindo-o desde o dia em que deu os primeiros passos. Ela pensava que nunca mais seria feliz depois que ele partisse, mas havia encontrado sua força em sua lâmina, renovado sua paixão, não por um homem dessa vez, mas por uma causa.

E agora ele estava de volta, dando vida a seus velhos sonhos, seus desejos esquecidos. A aterrorizava a rapidez com que ela sucumbiu a ele, pronta e disposta a se entregar a ele novamente. Ela conseguiu manter-se composta enquanto estava em audiência com a rainha. Um feito digno de elogios já que ele estava na sala, sua presença dobrando suas terminações nervosas.

Nunca admitiria isso para ele, mas estava feliz por ele estar lá com ela. Não porque ela estava ansiosa por sentar-se com a rainha, mas porque se preocupava em falar em nome de seus parentes. Ele apoiou as palavras dela, como havia feito tantas vezes quando eram crianças, e ela teve que ficar diante do pai por algum problema que causara com ele e Tristan.

Ele pode ter traído a Escócia, mas não trairia seus parentes. Ela era uma tola por pensar de outra maneira. Além disso, ele já sabia que a filha do rei havia sido levada para Camlochlin. Foi ele quem trouxe a notícia para o pai dela. Ainda assim, teria preferido se ele tivesse ficado do lado de fora enquanto ela falava com a rainha.

A batalha recomeçou enquanto ele contou à rainha da enteada que ela nunca havia conhecido. O sorriso dele, tão lânguido como uma brisa de verão, mexeu seu sangue e acelerou seu coração. Seu perfil contra a luz do fogo era tão sedutor quanto o resto dele. Com nariz reto e queixo dourado forte esculpido em alguma semelhança com um antigo deus grego, ele era a masculinidade personificada. Só de olhar para ele, ela se sentia delicada e feminina. Quando Mary de Modena esgotou todas as suas perguntas, Mairi estava pronta para saltar da cadeira e correr para o quarto.

— Srta. MacGregor?

— Sim? — Ela se voltou para sua escolta. Por que ela não podia se apaixonar por um homem doce como Henry?

— Você me perguntou sobre o conde de Essex e acho que não ouviu uma palavra que eu disse. Você parece um pouco corada. Você está se sentindo mal?

— Talvez devêssemos entrar — sugeriu ela quando a imagem de Connor em pé sobre ela, umedecendo seus lábios antes dele a beijar no corredor, declarando guerra a ela.

— Receio que — Lorde Oxford fez uma parada para curvar-se diante de um casal mais velho que passava pelos gramados, — será ainda mais sufocante lá dentro, querida senhora.

— Mas o sol...

— Olhe lá! — Ele apontou para o pai e a jovem acompanhante em seu braço. — É minha irmã, Elizabeth! Você se lembra? Eu disse que ela estava chegando hoje. — Ele disse? Mairi não se lembrava quando ele puxou seu braço. — Venha, eu quero que ela te conheça.

Ele teria sido encantador se não a estivesse puxando para se mover mais rápido no maldito calor, e se não estivesse usando uma peruca que parecesse uma ovelha condenada a descansar em sua cabeça.

— Não é todo esse cabelo quente no seu couro cabeludo? — Ela se sentiu tonta novamente olhando para ele enquanto estava sendo levada para frente.

— Lizzy! — Lorde Oxford a soltou tão de repente que quase girou na direção oposta. — Quando você chegou?

Mairi se endireitou, afastou o pingente do pescoço e abanou o leque na frente dela. Ela daria qualquer coisa para estar de pé na chuva como já esteve com Connor depois que ele a forçou a dançar... Ela olhou para cima, amaldiçoando o capitão Grant por invadir seu único pensamento refrescante.

Henry, Elizabeth e o pai deles estavam olhando para ela esperando por algo. Ela piscou. Henry a apresentou e ela não ouviu?

— Meu lorde. — Ela deu ao conde a cortesia de uma reverência por sua grosseria. A cabeça dela girou quando ela se endireitou. — Lady Eliz... — Suas pernas cederam embaixo dela, mas ela conseguiu ficar consciente enquanto desabava nos braços de Lady Elizabeth de Vere. Na verdade, a irmã de Henry não a pegou, mas estendeu as mãos para manter Mairi longe.

— Saia de cima de mim! — Lady Elizabeth gritou no ouvido de Mairi e a empurrou. — Henry, ela está bêbada?

— Claro que não, Lizzy. Ela está...

— É o calor. — Mairi queria encará-la, mas o sol estava brilhando em seus olhos, quase a cegando.

— Eu não ligo para o que é! — Os cachos amarelos perfeitos de Lady Elizabeth balançavam em torno de suas orelhas quando ela se virou para o pai. — Eu não vou ser criticada por causa de uma herege!

Os olhos de Mairi se arregalaram e ela orou a Deus para não deixá-la desmaiar. Uma sombra se moveu sobre ela e, por um instante abençoado, ela esqueceu sua resposta e se deliciou com a sombra que ela proporcionava. Até que ela olhou para cima e viu quem o providenciou.

— E quem, por favor, me diga, é esse? — Os enormes olhos dourados de Lady Elizabeth suavizaram-se em Connor e seguiram sua mão enquanto passava pelas costas de Mairi.

— Capitão Grant. — Connor disse a ela com uma ligeira reverência.

— Ah, o filho do conde de Huntley.

Mairi quis dar um tapa no sorriso cor de mel do rosto de Elizabeth. Se ela sabia quem era o pai de Connor, também sabia que Connor era um Highlander. Quão conveniente para ela não considerá-lo um herege. Por outro lado, talvez ele não fosse mais um.

— Um título conquistado pelo casamento, — Henry apontou secamente.

Mairi sentiu Connor ficar rígido ao seu lado, mas quando ela inclinou a cabeça para olhá-lo, encontrou o sorriso dele tão brilhante quanto o sol.

— Um título conquistado depois que meu pai ajudou a restaurar o troco do rei Charles.

— Sim, — Elizabeth jorrou. — Você é primo do rei! Talvez você queira me mostrar o local. Acabei de chegar e eu...

— Talvez outra hora, minha dama — Connor a interrompeu, para o deleite de Mairi. — Depois que eu tirar a Srta. MacGregor do sol. — Sem poupar nenhuma outra palavra, ele se inclinou e pegou Mairi nos braços.

A rápida ascensão quase destruiu sua última reserva de determinação de permanecer consciente. Mas, caramba, ela não desmaiaria na frente de Elizabeth de Vere. Embora ser levada não fosse a melhor opção.

— Connor, me diga pelo amor de Deus. — Ela esperava que ele não ouvisse e não tinha nada a ver com o quão perfeitamente ela se encaixava em seus braços, ou com que ternura ele a estava segurando. Sim, bem, isso fazia parte do motivo. A outra era que ela não conseguia respirar no vestido de lã e seus ossos pareciam um pouquinho como mel espesso. Ela estava com medo de que, se ele fizesse o que ela pedisse, não seria capaz de se manter em pé e poderia cair no chão. Ainda assim, ser levada como uma inválida... e com aquela bruxa de cabelos dourados assistindo. Och, foi o suficiente para ferver o sangue dela. Ela se abanou, amaldiçoando o sol e sua fraqueza. — Estou perfeitamente bem e posso me cuidar.

— Você não está bem. — Ele olhou para ela, a poucos centímetros de distância, e Mairi decidiu que ele era tão prejudicial à saúde dela quanto o sol escaldante. — Pare de ser uma garota teimosa e me agradeça por resgatá-la daquele trio profano.

— Obrigada, — ela disse em uma voz suave. Quando ele sorriu, ela olhou por cima do ombro para a irmã de Henry ainda os observando. Mairi não gostava dela. E Connor?

— Lady Elizabeth parece gostar de você.

Ele deu de ombros, uma onda preguiçosa de músculo que Mairi sentiu até os dedos dos pés.

— Eu não tinha notado.

Que tipo de resposta maldita era essa? Ele era cego? Ela desejou que ele a colocasse no chão para que não se sentisse criança quando o chamasse de mentiroso.

— Ela é muito bonita, Connor. — Ela estreitou os olhos para ele esperando por sua reação.

Ele olhou por cima do ombro para a lass.

— Você acha?

Ela achava isso? Mesmo quando a mulher gritava, Mairi não podia negar seu rosto e formas requintadas. Por que, ela provavelmente tinha que fazer pouco mais do que golpear seus cílios luxuosos para fazer qualquer homem cair de joelhos. E, inferno, mas que mulher com um par de olhos no rosto não gostaria de Connor?

— Bem, eu não me importo com o que você pensa dela. — Ela cruzou os braços sobre o peito e se afastou da diversão que iluminava os olhos dele. Ela queria enterrar o rosto no peito dele um momento depois, quando viu um bom número de convidados do rei a encarando com preocupação e desprezo.

— Por que você não está guardando a rainha? — Ela perguntou, se contorcendo para sair de seus braços.

— Ela já informou o povo da partida do rei a Edimburgo. Ela não precisa mais de mim.

— Nem eu, então acelere seus passos antes que eu seja tentada a lançar outra adaga na sua cabeça.

Seu coração bateu no peito quando a risada dele caiu sobre ela e seus braços a puxaram um pouco mais para perto.

— Como eu sobrevivi a você, mulher? Você se lembra daquela época em que éramos bebês? Tinha apenas cinco verões, eu acho. Eu peguei a boneca com a qual brincava e você me perseguiu e começou a chorar quando não conseguiu me pegar.

Och, maldito seja e que fosse para o Hades, por que ele estava trazendo a infância deles?

— Se você não se importa, Connor, eu preferiria não...

— Sentindo-me péssimo pelo que fiz, voltei para você e devolvi sua preciosa boneca. Você a pegou gentilmente, beijou sua cabeça e depois girou em torno de seu ombro e bateu no meu rosto.

— Eu nunca bati em você com uma boneca, — ela insistiu, recusando-se a mergulhar no passado com ele. — Você é um mentiroso e sempre foi um.

— Perdi dois dentes.

— Verdade? E cresceu mais dois, não foi? Fui mandada para a cama sem jantar por sua causa.

— Eu não sabia disso, — ele admitiu suavemente, profundamente. Ela pensou que ele iria se desculpar. — Isso me faz sentir melhor, pelo menos. Aquela boneca era feita de madeira e minha boca estava tão inchada que não conseguia comer e mal conseguia falar por dois dias.

Contra sua vontade, Mairi sorriu levemente. Mas os olhos afiados de Connor captaram.

— Você se lembra então.

— Não. Eu só estava me perguntando se tenho alguma coisa de madeira no meu quarto que eu poderia bater em você agora. Deixá-lo sem palavras me deixaria em êxtase.

Seu sorriso largo e aberto caiu sobre ela como uma corrente de ar do Norte, emocionando seus sentidos, deslumbrando seu coração. Explosão!

— Vamos, Mairi, — disse ele em um sussurro baixo e rouco que fez seus músculos tremerem. — Se eu parasse de conversar completamente com você, quem teria que ajudá-la a afiar sua língua?

— Valeria a pena o sacrifício.

— Você não quis dizer isso.

Mas ela quis. Ela não queria pensar naqueles longos dias de verão cheios de risos. Quando ele era dela. Se ele estava praticando no campo ou trazendo as ovelhas com seus irmãos, seus olhos sempre encontraram os dela, silenciosamente, dizendo ternamente que ele preferia estar com ela do que com qualquer outra pessoa.

Mas não era verdade. Ela não queria se lembrar. Eles eram crianças. Crianças tolas e inocentes. O que ela estava fazendo nos braços dele, com a orelha pressionada no coração dele? Ela deveria estar na Escócia, a léguas de distância dele. O esquecendo. Mas, mesmo quando sua mente o resistiu, ser esmagada contra ele parecia tão perfeitamente certo.

— Maldito traseiro de Satanás, Connor! O que aconteceu?

A voz de Claire salvou Mairi de emitir o suspiro delirante prestes a cair de seus lábios traidores. Seu alívio rapidamente se transformou em mortificação, quando ela espiou por cima do ombro para ver sua amiga mais querida e a rainha com ela, a última parecendo bastante divertida com o juramento de Lady Huntley.

— Não há nada a temer. — Connor assegurou enquanto elas corriam para alcançá-lo. — Ela está sofrendo com o calor.

Mairi percebeu como a rainha olhava dela para Connor, um pequeno sorriso tingido de especulação em seus lábios.

Maldição, ela gostava da jovem esposa do rei. Ela era inteligente e apaixonada, e notavelmente equilibrada em ambas. Mairi detestava parecer uma mulher fraca e murcha em seus olhos.

— Graças a você, Capitão Grant. — Ela se contorcia em seus braços. — Eu estou me sentindo muito melhor. Você pode parar de me deixar sem graça agora.

Ele não diminuiu o passo, mas deu um suspiro frustrado as mulheres.

— Ela é teimosa.

Meu Deus, ela estava indo para matá-lo. Lentamente. Dolorosamente.

— Você parece um pouco pálida, querida. — Claire estendeu a mão para tocar sua bochecha pegajosa.

— Ela precisa sair desse vestido pesado de lã que está usando, — observou a rainha. — Traga-a para meus aposentos. Vou pedir à minha costureira que lhe dê alguns vestidos novos.

— Nae, — Mairi recusou. — Sinceramente, Sua Majestade, isso não é necessário. — Não havia como ela vestir um vestido inglês. Pelo canto do olho, ela viu o brilho da covinha de Connor. O bastardo. Ele estava gostando da humilhação dela.

— Talvez, — disse ele com um sorriso desafiador, ela queria dar um tapa em seu rosto. — A Srta. MacGregor preferiria que eu a carregasse para dentro todos os dias.

— Prefiro mergulhar em óleo fervente — ela murmurou, não se importando mais com quem a ouvia.

Quando ele riu, ela lhe deu uma cotovelada nas entranhas e fez uma oração silenciosa para que Deus lhe desse paciência para não assassinar o filho mais velho de Claire e Graham, a sabedoria de lembrar que ele não era bom para ela e a força para resistir a seu familiar charme enlouquecedor.

 

Capítulo Doze


Mairi permaneceu perfeitamente imóvel enquanto uma das criadas pessoais da rainha fechava os botões intermináveis atrás das costas do vestido emprestado de três peças. Ela preferiria se vestir, como fazia em casa, mas sua anfitriã real insistira em enviar sua ajudante de quarto, e com razão, já que era quase impossível entrar em vestidos ingleses sem pelo menos um par extra de mãos.

Ela não teve nenhuma alegria em ser preparada e cutucada como uma esnobe inglesa importante, mas teve que admitir que o tecido era divino, ainda mais macio que a lã e muito mais fino.

Ela passou as mãos pelas finas dobras das saias e cerrou os dentes. O que ela estava fazendo se permitindo se vestir como uma delas? Gostar da rainha era uma coisa, deixar a Inglaterra mudá-la era outra. Connor sucumbiu a seus grandes salões e estilo de vida elegante. Ela não faria. Mas então, por que ela estava aqui em vez de em seu próprio quarto, prendendo o broche no tartan? Ela não podia deixar de suspeitar que ela estava aqui por Connor, e a esperança de que ele pudesse achá-la bonnie em seu traje inglês. Não, era o calor. O vestido dela das Highlands era pesado demais para ser usado sob o sol do sul. Isso era tudo. Vestir-se como as mulheres que Connor preferia não tinha nada a ver com isso.

Ela estendeu as mãos pela barriga e lutou para inspirar.

— Talvez — ela ofegou, virando-se para a criada, — você poderia deixar alguns botões abertos. É um pouco confortável.

— Mas, milady, há muito espaço. Não é nada apertado.

Mairi estreitou o olhar no rosto, olhando para ela. Claro que era muito apertado. Ela mal podia respirar e não podia permitir que Connor fosse o motivo disso.

Quando a criada baixou os olhos, Mairi a estudou mais de perto. Ela parecia ser mais jovem que Mairi em alguns anos. Seu vestido de açafrão era finamente trabalhado, mas de simplesmente corte. Preso embaixo de uma coifa lisa, seus cabelos cor de âmbar careciam de adorno e dos cachos da moda da época. Ela não era como as outras bruxas perambulando pelos corredores.

— Qual é o seu nome?

— Judith, milady. — Ela fez uma reverência bem praticada. — Eu sou a segunda filha do Visconde e Lady Astor.

— Judith, — disse Mairi, sem se impressionar com o título. — Eu sou Mairi MacGregor. Você não é minha serva, então por favor, pare de me chamar de milady. Isso me faz sentir velha e enrugada.

A porta do quarto dela se abriu, salvando Mairi dos grampos de cabelo pérolas que Judith estava colocando.

— O que quer que esteja usando... — A voz de Claire parou seus passos quando ela olhou para o quarto. — Mairi, você está adorável.

— Eu sabia que a seda escarlate lhe serviria tão bem. — A rainha Mary sorriu, entrando no quarto ao lado de Claire. — Veja como ele se encaixa.

Mairi não ficou surpresa ao encontrar as duas juntas desde a tarde em que abordaram ela e Connor a caminho do jardim. Como a rainha, Claire era uma mulher forte, no controle de sua vida, de seu coração e de sua felicidade. Era natural que elas se dessem tão bem, especialmente porque a rainha provavelmente não tinha uma amiga em todo o palácio, embora Mairi não tivesse notado o vínculo entre elas antes desta tarde.

Ela sorriu quando a rainha foi até ela e deu um puxão na seda macia do quadril. Realmente, elas estavam erradas. O vestido estava muito apertado.

— Eu ainda estou surpresa que ela tenha concordado em usá-lo. — Claire ficou de pé do outro lado dela, lambeu o indicador e o dedo médio e alisou um cacho perdido que havia caído sobre a testa de Mairi.

— Talvez seja o belo Lorde Oxford quem a compele a abandonar suas roupas pesadas e menos lisonjeiras. — A rainha jogou uma piscadela para Claire e deu um passo atrás de Mairi para fechar os botões restantes.

Mairi apertou os dentes e evitou o sorriso terno de Claire. A mãe de Connor queria que ele se casasse com ela, talvez tanto quanto Mairi. Ela tentou defender o filho ao longo dos anos, mas ficou muito difícil falar dele, então as duas pararam de mencioná-lo.

— Lorde Oxford já pediu para acompanhá-la ao teatro hoje à noite, — insistiu a rainha. — Ele certamente gosta de você.

— O teatro? — Mairi perguntou timidamente. Outra das atrações da Inglaterra, ela lutou para resistir. — Eu nunca estive em uma performance antes.

— Bem, você vai assistir a muitas daqui em diante. Senhorita MacGregor. — A rainha tomou-a pelos ombros e a virou para encará-la. — Se você não tivesse me dito para onde meu marido tinha ido, eu passaria todos os dias aterrorizada que seus inimigos o tivessem levado, talvez o matado. Você confiou em mim, e por isso eu devo algo a você. Se você gosta de Lorde Oxford, só preciso falar uma palavra com meu marido quando ele voltar.

— Obrigada, Sua Majestade. — Mairi balançou a cabeça e desviou o olhar. — Mas eu não quero um marido.

— Bobagem. — A rainha sorriu e bateu a língua contra o céu da boca. — Você não ficará mais jovem, querida garota. Qual a sua idade?

— Vinte e dois.

Os grandes olhos da rainha se arregalaram.

— Precisamos encontrar um marido para você em breve! Talvez o filho do baronete de Aylesford. O nome dele me escapa no momento. — Ela olhou ao redor do braço de Mairi para Claire. — Lady Huntley, você se lembra o nome dele?

— Capitão Nicholas Sedley. Ele é muito bonito.

Mairi virou-se lentamente para olhá-la. Ela estava louca? O capitão Sedley era um oficial da marinha da frota real do príncipe William. Ele não poderia ser uma partida pior para ela.

— Está correto! Sedley! — A rainha se afastou para ver a garota diante dela antes de decidir o que mais precisava ser mudado nela. — Ele vem de uma família muito boa, me disseram, — ela disse mais a Claire do que a Mairi. — É claro que, assim que o noivado com ele ou com Lorde Oxford for anunciado, ela terá que interromper o contato com seu filho, Lady Huntley. A familiaridade dele com ela é indecorosa. —Os olhos dela se fixaram nos de Mairi novamente. — Ainda mais desde que você deixou bem claro que não gosta dele. Você concorda, não?

Mairi piscou. Cessar todo contato com Connor por ordem do trono? Era o que ela precisava. Ela deveria estar se alegrando.

— Nae... quero dizer... eu não quero me casar com nenhum desses homens. — Mas diabos, ela estava ficando mais velha. Ela não tinha pensado em casamento até ver Connor novamente. Ela estava perfeitamente feliz vivendo como estava: pelo menos uma guerreira, uma guerreira em segredo. Ela não queria a vida de sua mãe. Ela queria a de Claire. Mas até Claire se casou com o homem que amava... e que a amava em troca.

— Nós devemos deixar você terminar de se vestir. — Claire se aproximou para beijar sua bochecha, depois fez um gesto para Judith retomar seu trabalho. — Não demore muito, querida, — ela gritou enquanto caminhava em direção à porta com a rainha. — Estamos tomando sorvete no jantar hoje à noite e vai derreter se você chegar atrasada.

Quando estavam sozinhos novamente, Judith pegou um pente e começou a puxar as longas madeixas de Mairi.

— A rainha está certa, milady, — disse a criada atrás dela.

— Mairi, — ela corrigiu.

— O escarlate combina bem com você... Mairi. Você está adorável, mas... posso falar livremente?

— Claro.

— Temo que a tristeza em sua expressão seja tudo o que alguém verá.

Misericórdia de Deus, ela era tão transparente? Ela não queria se casar simplesmente porque estava em uma luta há anos e não estava prestes a ser forçada a fazê-lo. Ela queria ir para casa, talvez se casasse com um Highlander... alguém que nunca escolheria a Inglaterra em vez dela. Se não houvesse nenhum, em seguida, ela continuaria a luta para a preservação de sua religião e dos costumes das Highlands.

— Sara, a filha do barão de Pembroke, e eu estivemos observando você, — Judith timidamente admitiu enquanto pegava os grampos de cabelo pérola na mesa ao lado dela para combinar com os brincos emprestados de Mairi.

— É mesmo? — Mairi se virou e arqueou uma sobrancelha curiosa para ela.

Judith assentiu, seus grandes olhos verdes percorrendo os cabelos de Mairi, decidindo por onde começar a prender. Finalmente, ela levantou as mãos.

— Há muito disso! Está pendurado na sua cintura! Mas como eu estava dizendo, você não é como as outras senhoras que estão nos visitando.

— Nem você.

Judith trocou um sorriso com ela.

— Você não empoa o rosto nem pinta os lábios. Suas roupas são um pouco monótonas e um pouco puídas. E ainda não tivemos que vê-la desgrenhada por um beijo proibido do marido de outra pessoa.

— Nem nunca verá, — Mairi prometeu, e maravilhada com a transformação da criada. Ela passou de uma serva de dormitório para uma tagarela no espaço de uma respiração. Mairi quase desejou não ter tentado fazê-la se sentir tão confortável. Mas pelo menos a Judith mais ousada distraía seus pensamentos mais preocupantes, como Connor poderia preferir seus cabelos. — Vai levar muitos grampos, — disse ela quando Judith começou a prender seu cabelo na cabeça. — Eu tenho medo não há tempo para isso. — E, Deus, mas eles beliscavam.

— Você tem sorte da rainha ter escolhido dois possíveis maridos para você, e os dois são jovens. O capitão Sedley é bastante bonito, se é que posso ser tão ousada. Mas, como seu pai, ele tem um pouco do diabo nele, e ele reside na Holanda. Se eu fosse você, escolheria Lorde Oxford, apesar de seu rosto disforme. — Judith soltou um suspiro desanimado antes que Mairi pudesse responder. — Temo que ela escolha alguém velho e resistido para mim.

— Quem você escolheria então? — Perguntou Mairi, sentindo pena de ter que viver com a perspectiva de se casar com um nobre velho e meio morto. — Minha amiga Lady Huntley parece ter o ouvido da rainha. Talvez eu possa sugerir alguém e ela pode dizê-lo para a rainha.

— Oh, isso seria muito gentil de sua parte! — Judith parecia que poderia abraçar Mairi e beijá-la. — Agora me deixe ver. Não pensei muito nisso. — Ela bateu o pente no queixo por um momento ou dois e depois sorriu brilhantemente. — O capitão Grant seria adorável.

Mairi engoliu em seco. Ela tentou respirar, mas seu maldito vestido era sufocante.

— Capitão Grant? Mas certamente você está ciente de seu coração volúvel. Ele nunca vai amá-la tanto quanto ele ama o seu dever. Ele é infinitamente mais bonito que o capitão Sedley e provavelmente desfrutou de muito mais mulheres em sua cama.

— Eu não soube disso. Ele está em Glencoe há algum tempo. Antes disso, porém, não me lembro dele ser lascivo com nenhuma das criadas aqui. Mas você está certa sobre a devoção dele ao seu dever. Ele parece se importar mais com o rei e sua segurança pelo menos quando o rei Charles estava vivo do que com quem está em sua cama. Não posso falar por mais ninguém, mas ele nunca tentou seduzir Sara ou a mim. Na verdade, agora que penso nisso — Judith pôs os olhos em Mairi, — você é a única moça a quem o vi dar tanta atenção.

Mairi não corou e não estava prestes a começar agora. Mas suas mãos ficaram úmidas e o quarto parecia mais quente, um pouco sufocante. Ele parecia estar pairando ao redor dela frequentemente, seguindo-a quando ela pensava que estava sozinha, recusando-se a sair do quarto depois que ele a beijara. Meu Deus, aquele beijo...

— Ele é simplesmente um trapaceiro que quer o que não pode ter. Marque minhas palavras, Judith, pois eu o conheço bem. O capitão Grant é um diabo. Ele pode não ser tão aberto quanto Sedley, mas é um, no entanto. Ele não está contente em simplesmente atraí-la para sua cama. Ele roubará seu coração e fará você se sentir mais viva do que nunca, e então a deixará tão facilmente quanto um soldado deixa seu inimigo morto no campo. Você faria bem em ficar o mais longe dele possível. Agora vamos parar de falar dele e me fale sobre esse sorvete que tomaremos no jantar.

Quinze minutos depois, Mairi deixou os aposentos privados da rainha e caminhava sozinha pelo corredor. Ela não olhou para os rostos dos lordes e damas que passaram por ela. Ela não queria vê-los rindo dela, ou ouvir seus sussurros zombeteiros sobre como uma lass das Highlands estava tentando se encaixar no meio das graciosas cisnes ao seu redor. Inferno, ela se sentia mais deslocada em seu vestido de seda do que em seu plaid. Com apenas dois punhais presos nas panturrilhas e dois nas coxas, ela também se sentia infinitamente mais vulnerável.

Quando viu Lorde Oxford e a irmã dele no final do salão, ergueu as costas e seguiu em frente.

— Senhorita MacGregor. — Henry capturou suas mãos e as trouxe para seus lábios enquanto seus olhos de sabre deslizaram sobre ela. — Você parece arrebatadora. Ela não está, Lizzy?

Lady Elizabeth lançou-lhe um breve olhar inconsequente antes de encontrar mais interesse nas unhas.

— Eu não sabia que os Highlanders possuíam algo tão fino quanto seda, mas se isso impedir que ela caia em cima de mim novamente, serei a primeiro a agradecer a quem o emprestou.

Mairi avaliou-a com um pequeno sorriso apertado. Och, o que ela não daria para colocar Lady Elizabeth no campo de treinamento de seu pai.

— Você pode agradecer à rainha quando a vir então.

Sua resposta obteve o efeito desejado na irmã de Henry. Ela gaguejou enquanto Mairi se virou para o irmão da víbora.

— Lorde Oxford, veio acompanhar-me para jantar, ou sua irmã para a privada? Ela parece um pouco doente.

— Oh, Lizzy, você está doente? — Oxford tentou pegar a mão dela, mas ela deu um tapa.

— Não, seu tolo! Vá! Leve-a e me deixe em paz! Vou encontrar minha própria escolta!

Meu Deus, mas a mulher certamente sabia como ferver. Satisfeita por tê-la afetado, Mairi passou o braço pelo de Henry e sorriu quando ele a levou embora.

— Você não deve se importar com Lizzy, — Henry disse gentilmente. — Ela pode ser um pouco tensa demais às vezes.

Nada que uma adaga não consertaria.

— Eu não me importo com ela, — disse ela com um sorriso agradável que não sentia. Pelo traseiro de Satanás, ela tinha que falar com Claire. Henry era um sujeito bastante gentil, mas se a rainha tentasse forçá-la a se casar com ele, ela provavelmente acabaria matando a irmã dele. E, inferno, mas ela não gostava do jeito que ele quase tremia em seus sapatos quando a megera gritou com ele.

Connor certamente não teria recuado, mas ela se recusava a deixá-lo assombrar seus pensamentos novamente. Nem mesmo quando entrou no salão de banquetes e não o viu entre os convidados, ela se perguntou onde ele estaria.

Henry foi cortês com o pai de Connor, que era menos propenso do que o dela a estripá-lo por ser tão ousado a ponto de se sentar à sua mesa novamente. Ele continuou falando durante uma hora sobre como o imperador romano Nero derrubou o gelo das montanhas e o combinou com coberturas de frutas e, mais tarde, como os califas de Bagdá foram os primeiros a usar leite e açúcar como ingredientes principais.

Mairi desejou que ele calasse a boca e comesse.

Quando o jantar terminou e todos se levantaram para seguir a rainha ao teatro, Mairi se viu sentindo falta das brincadeiras rápidas de Connor.

Maldito seja. Maldito seja o Hades.

 

Capítulo Treze


O teatro do rei ou, como era chamado às vezes ainda, o Cockpit, por causa das brigas de galos que foram feitas aqui, era menor do que Mairi imaginava. Havia camadas de varandas por toda a estrutura para dar uma visão favorável do palco e de seus participantes de palco. O clamor de excitação entre os convidados era contagioso e logo Mairi conseguiu tirar Connor da cabeça.

A rainha estava sentada em um nível acima, na parede oposta, em uma cabine particular com as filhas do rei, Mary e Anne, e seus maridos. Mairi olhou para as centenas de rostos e viu alguém que despertou seu interesse nos últimos dias.

— Olhe Lorde Hollingsworth. A esposa dele é impressionante, mas ela não parece muito interessada no marido.

— Provavelmente é porque Lorde Hollingsworth prefere comida e homens a ela.

Meu Deus, Mairi olhou para a roliça prostituta. Não era de admirar que ela seguisse Tristan por três dias e Connor depois disso.

— Havia rumores de que ele e o duque exilado de Monmouth eram amantes.

Mairi ergueu a sobrancelha enquanto Hollingsworth e sua esposa se sentavam.

— O duque de Monmouth, você disse? — Outra informação interessante para levar para casa para seus irmãos da milícia. Ela estava prestes a fazer mais perguntas a Henry quando seu olhar caiu em uma das varandas inferiores abaixo da rainha e viu Connor se sentar em uma cabine já ocupada por um grupo de soldados. Onde ele esteve a noite toda? Um flash amarelo chamou a atenção dela para a pessoa sentada à sua esquerda. Seu coração parou de bater. Tinha que ter parado, pois ela não podia respirar nem deixar o ar sair. Ela era mortal ainda observando aqueles cachos dourados, aqueles olhos cor de leão com presas a condizer. Não, não Lady Elizabeth. Não ela.

— Srta. MacGregor, você está ficando doente de novo?

Ela respirou fundo e expulsou um som tão lamentável para seus próprios ouvidos que a fez querer chorar por si mesma. Mas ela não queria. Ela nunca derramaria outra lágrima que tivesse algo a ver com Connor Grant.

— Estou bem, — ela remediou com perfeita serenidade em sua voz.

— Ah, Lizzy. — Ele acenou e Mairi foi tentada a jogá-lo para o lado. — Ela parece bem recuperada.

Ele honestamente se importava tanto com sua natureza — estressada — que expressaria sua melhora com tanto alívio? Ou havia outra razão completamente para ele sentir a necessidade de apontar o óbvio? Ela se virou para ele, curvando um canto da boca e encarando-o com um olhar que fez a maioria dos homens murchar em suas botas. Henry de Vere não era exceção.

Ele estava tentando apontar as falhas de seu adversário exibindo a mais recente conquista de Connor em sua cara, tentando testar seus sentimentos pelo canalha. Ele provavelmente não merecia a força de seu ataque, mas ela não se importava. Connor não estava ao lado dela para deferir o seu golpe, mas Henry estava.

— Talvez seja apenas você quem faz de tudo para desagradá-la. Ou, — ela piscou, soltando-o e iluminou o sorriso ao voltar-se para sua amada irmã — talvez, como a maioria das outras damas da corte, ela precise da companhia de soldados para dar lhe prazer.

— Srta. MacGregor...

Ela ignorou o tremor na voz zangada de Henry e deu um tapinha gentil na mão dele.

— De qualquer forma, meu lorde, estou satisfeita por ela estar feliz de novo.

O sorriso falso dela desapareceu quando ele afastou a mão da dela. Ele não voltou a falar com ela novamente até o segundo ato. Ela não o ouviu quando ele falou dos atores. Ela observou ao palco em várias ocasiões quando uma roupa colorida chamava sua atenção, mas seus olhos sempre voltavam para a varanda abaixo. Ela notou todos os sorrisos que os atores trouxeram para o rosto de Connor, cada momento de concentração que franzia a sua testa. O olhar penetrante dela não perdeu o toque suave de Lady Elizabeth no braço dele, nem a maneira como ela sorria para ele como uma leiteira apaixonada.

Connor a pegou observando-o mais de uma vez, mas ela se virou, quebrando o contato visual. Ele esteve com Lady Elizabeth antes? Ele tinha perdido a ceia e o sorvete para estar com ela? Por que ela não olhou para a mesa dos de Veres para ver se Elizabeth estava com o pai? Oh, Deus, ela não queria pensar neles juntos, nus, suando... Mas ela pensava, e isso quase a deixou louca. Mas, sinceramente, por que ela estava surpresa que Connor a beijou... duas vezes... e depois dormiu com Elizabeth de Vere na mesma noite? Provavelmente tinha uma dúzia de mulheres esperando por ele em sua porta todas as noites quando se retirava para sua cama. Ela queria se levantar e gritar com ele por cima dos atores, ou se afundar na cadeira e se amaldiçoar por se importar. Ela não podia ficar aqui e ver o que crescesse entre ele e sua atual amante. Mas onde diabos ela poderia ir? Ela não sabia como chegar em casa saindo da Inglaterra e, mesmo que soubesse, nunca poderia viajar sozinha. Ela amaldiçoou Colin por não a levar para casa com ele.

— ...e então eu decidi te perdoar. Srta. MacGregor? Mairi? — O uso de Oxford de seu nome familiar chamou sua atenção de volta para ele. Inferno, ela não ouvira uma palavra que ele dissera.

— Desculpe-me, eu estava pensando em minha casa.

— Mairi, eu disse que você se tornou muito querida para mim e então decidi perdoá-la.

— Obrigada, meu lorde. — Ela sorriu e começou a se voltar para o palco quando ele pegou a mão dela e a esmagou nos lábios.

— Ande comigo mais tarde no jardim. Gostaria de lhe perguntar uma coisa.

Perguntar a ela? Santos, ele iria pedir a mão dela em casamento! Seu olhar varreu imediatamente para Connor. Os olhos dele já estavam nela, escuros e assassinos nos nós dos seus dedos pressionados na boca de Henry, observando cada beijo que ele dava ali.

— Meu lorde, eu...

— Eu tenho sido paciente e cortês, Mairi. — Sua cicatriz queimava vermelho contra sua pele. — Mas se você se recusar a andar comigo, serei forçado a beijá-la na frente de todos.

Os olhos dela se voltaram para Connor. O que ele faria se Henry a beijasse? Ele se importaria? Ela deveria deixar Henry fazer isso, talvez até beijá-lo de volta e mostrar a Connor, em vez de continuar dizendo, de uma vez por todas, que ele não significava mais nada para ela. Mas ela não podia. Ela se preocuparia com o que isso significava mais tarde.

— Você estaria se arriscando demais, Lorde Oxford, garanto. O amigo mais próximo do meu pai seria um dos que estariam vendo. Se Lorde Huntley não o chamar para o campo, meu irmão o fará quando retornar. Eu não poderia deixar você correr esse risco. Se você deseja me cortejar, deve pedir minha ajuda.

Ela sabia que Henry nunca concordaria com uma coisa dessas. A última vez que o pai lançou-lhe um olhar torto, ele quase tropeçou em seus próprios pés na pressa de ficar longe dele. Não que ele encontrasse Camlochlin e, mesmo que o encontrasse, o pai dela nunca concordaria em casá-la com um protestante.

— Mairi, eu...

Bom Deus, não ia dar certo. Ela teria que empregar uma tática diferente, que a repugnava por sua própria medula, mas necessária, no entanto. Ela só esperava que ele possuísse a decência de reagir adequadamente.

— Por favor, meu lorde. Você está me assustando.

Quando ela afastou a mão do rosto dele, ele a soltou sem brigar e pareceu ter remorso.

— Não era minha intenção causar alarme. Me perdoe.

Inferno, por que ele tinha que ser tão gentil? Ela assentiu e lançou um breve sorriso para ele antes de voltar sua atenção para o palco. Ela deu um suspiro de alívio depois de evitar por pouco a proposta dele e encontrou seu olhar retornando a Connor mais uma vez. Ele parecia zangado antes, mas agora ele sorria para ela enquanto passava o braço em volta do ombro de Lady Elizabeth e se inclinava para falar contra seu cacho trêmulo.

As mãos de Mairi se agarraram em seu colo e ela desviou o olhar dele pela última vez.

Talvez ela pudesse converter Henry e começar a amá-lo, afinal.

A peça era um borrão de drama e cores vivas e, quando terminou, Mairi amaldiçoou Connor por estragá-la para ela com sua presença. Ela estava feliz por deixar o teatro apertado, ansiosa para chegar ao seu quarto, longe de Connor e Henry, e fora desse vestido apertado e arruinado.

Ela chegou à saída com o braço enrolado no de Henry quando ficou cara a cara com Connor e seus homens. Lady Elizabeth estava com ele, é claro, com um braço enrolado no dele e a outra mão colocada possessivamente em seu antebraço. Mairi lutou contra o desejo de arrancar seus olhos... e Connor seria o próximo.

Não surpreendentemente, Henry se afastou dela e correu para o lado de Elizabeth. Mairi mal ouviu a breve conversa, tão fixada que ela estava pensando em um comentário assustador para arremessar em Connor. Nada veio a ela, e era tão bom, pois parecia que ele queria lançar algumas palavras escolhidas para ela também. Ela apertou a mandíbula e olhou para ele enquanto os outros ao seu redor discutiam a peça.

Ali estava o único homem que não secou nem se encolheu diante de seu olhar penetrante e afiado. Em vez disso, ele sorriu um pouco, pronto para o início da batalha, confiante de que seria o vencedor.

Desgraçado. Ela ansiava por golpeá-lo com força e rapidez por fazê-la passar duas horas observando-o se divertir com Elizabeth de Vere, de todas as pessoas. Mas Deus e todos os seus Santos a ajudassem; ele fazia todos os outros homens no teatro insignificantes. Ele permaneceu em sua posição, longo, esbelto, tão elegantemente vestido. Uma bela fachada. Pois o que estava por baixo era puramente selvagem. Elevado à masculinidade nas cordilheiras frias e duras das Highlands, seu corpo pulsava com o poder dele. Ele tinha sido tudo o que seu coração desejava. Quanto tempo ela poderia continuar essa luta antes de se render?

Ele a segurou lá, imóvel, sem fôlego, enquanto, com um leve alargamento de suas narinas, ele a observou dos pés à cabeça. Ele não precisava dizer uma palavra. Seus olhos a arrebataram em seu vestido emprestado, minando sua vontade de desafiá-lo e resistir a ele. Ele era uma força que ela nunca poderia derrotar e ela deu um passo atrás, não porque não queria se jogar em seus braços, mas porque precisava. Suas covinhas desapareceram. Seus olhos ardiam com determinação e desejo, seus músculos resistiam tanto à mudança sutil de seus ombros, à leve mudança em sua respiração. Ele queria segui-la, mas se conteve.

O capitão Nicholas Sedley, por outro lado, não o fez.

— Eu não acredito que tive o prazer de uma apresentação formal. — Ele passou por Connor com a graça de um gato à espreita e pegou a mão dela.

Connor o observou em silêncio, com os olhos encobertos e mortais, enquanto o capitão Sedley dava um beijo suave no topo da mão dela e se apresentava.

Mairi avaliou-o com cautela. Então, essa era a segunda escolha da rainha em sua lista de maridos adequados para Mairi. Ele era bastante bonito, com cabelos pretos como carvão e olhos da cor de um céu crepuscular, mas a rainha estava louca se pensava que Mairi se casaria com ele. Não apenas ele jurou lealdade ao inimigo da Inglaterra, mas seu carisma sedutor instantaneamente a lembrou de Connor. O coração deste homem não era leal a nenhuma mulher.

Ainda assim, ela pensaria voltando o olhar para Connor. Ele não possuía ar fingido sobre ele, destinado a atrair propositadamente mulheres para sua cama. Ele não precisava de nada disso. Ele seduzia os sentidos com a facilidade natural de seu sorriso resplandecente, sua autoconfiança inabalável e o controle supremo que exercia sobre seu coração. Connor Grant não perseguia saias. Se alguém o rejeitasse, provavelmente sempre haveria outra esperando nos bastidores.

— Dançaremos no salão de banquetes quando voltarmos — lembrou o capitão Sedley. — Eu rezo para que você me faça a honra de...

Connor empurrou-o para fora do caminho com pouco esforço e, afastando-se de Lady Elizabeth, moveu-se para o lugar de Sedley diante de Mairi.

— Eu quero falar com você.

— Eu não me importo em ouvir qualquer coisa que você tenha a dizer.

— Eu não perguntei se você se importava, mas você vai ouvir.

Ela riu, mas isso soou oco em seus ouvidos. Contra sua vontade, seus olhos examinaram a pequena multidão ao redor deles. Lady Elizabeth parecia ter voltado ao seu corpo de lábios apertados. Os amigos de Connor, incluindo o capitão Sedley, todos tinham a mesma expressão curiosa e um tanto surpresa. Ela meio que esperava que o tenente lhe desse um tapa nas costas e gritasse huzzah!13 O rosto de Henry estava tão vermelho quanto a cicatriz profunda que o estragava. Ele parecia querer dizer algo de que poderia se arrepender. Mairi teria que dar crédito a ele se o fizesse, pois Connor era maior e mais ameaçador no momento do que cem homens se preparando para a batalha.

Ela falou antes de Henry abrir a boca.

— Eu não gostaria de te arrastar para longe antes de você... — Ela desviou seu próprio olhar letal para Lady Elizabeth, — ...praticar outras atividades.

A expressão perigosa de Connor se transformou em pura diversão no espaço de uma respiração. Mairi teve a sensação de que ele a lia tão facilmente quanto os livros que seu tio Robert costumava ler para eles. Ela estava com ciúmes, e ele sabia disso.

Desesperada para escapar antes que ela fosse forçada a admitir para si mesma que ele estava correto, ela passou por ele, esquecendo Henry e todos os outros.

— Boa noite.

Ela deixou o teatro com Henry logo atrás. Mas foram os olhos de Connor que a seguiram que quase a puxaram de volta.

Quase.

 

Capítulo Quatorze


O sol da manhã bateu nos ombros de Connor quando ele entrou no pátio e chamou Edward ao seu lado.

— Onde está Drummond?

Correndo ao lado dele para acompanhar a marcha formidável de seu capitão, Edward olhou ao redor do campo, seus olhos escuros apertados contra o sol e a sujeira seca levantada ao redor deles.

— Ele estava aqui há um momento. Ele deve ter visto você vindo.

— Você vai praticar comigo então.

Edward engoliu audivelmente.

— Eu?

Connor olhou para ele e cerrou os dentes. Maldição, Edward quase não tinha os malditos pelos no rosto. Mas Connor precisava lutar, treinar duro e resolver parte da frustração que o estava consumindo por dentro. Ele passou a noite inteira revirando em sua cama e lutando contra o maldito travesseiro; atormentado pela imagem de Henry de Vere se demorando beijando a mão de Mairi, como se ele tivesse a noite toda para fazer isso sem ninguém para detê-lo. Sem ela o parando. Assolando-o com a temida certeza de que não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso, além de bater no maldito Oxford até deixá-lo meio morto. Ele seria colocado na Torre, ou talvez jogado na prisão de Newgate, onde teria que viver com o conhecimento de que havia renunciado a seu controle, sua vida e tudo o que treinara para se tornar, por ciúme. Ele se conhecia o suficiente para admitir que estava com ciúmes, mas não queria agir. Ele não podia, sem envergonhar seus parentes, seu rei e ele próprio.

Mas ele ainda precisava lutar contra alguém que pudesse lhe dar uma chance decente. Todos os seus homens eram muito habilidosos com a espada, mas este era um dia em que Connor desejava que alguém como Rob MacGregor usasse a espada. Inferno, ele sentia falta de brigar com homens das Highlands.

Ele quase sorriu pela primeira vez naquele dia quando viu Drummond, um escocês, pelo menos, entrando no campo.

— Tenente! — Ele gritou através da distância empoeirada. Seu oponente repentinamente relutante acenou para ele. Connor fez sinal para que ele se aproximasse, arrancou o casaco militar e arregaçou as mangas com babados. — Acelere seu ritmo, Drummond — ele ordenou, arrastando a claymore para fora da bainha. — E vamos começar o dia.

— Eu nem sequer quebrei o jejum ainda.

Connor deu um breve suspiro ao céu, depois balançou a lâmina reluzente na cabeça do tenente. Eles lutaram por um quarto de hora com Connor acertando os golpes mais devastadores antes de Drummond levantar a mão para descansar.

— Se é Sedley ou aquele sujeito de Oxford que o irrita — seu tenente encostou-se na mureta que separava o pátio do campo e esfregou o ombro, — então por que diabos você escolheu meu traseiro para bater no chão nesta manhã ensolarada?

Connor riu, encostando na parede, pronto para o próximo set.

— Você está aqui. Sedley não está. — Ele apontou a espada para o soldado e amigo e fez um gesto para que ele se levantasse. — Quanto àquele sujeito do Oxford, — ele bloqueou um ataque à esquerda e rebateu com um golpe que estriparia o meio de Drummond se ele não tivesse recuado. — Não faço ideia do porquê você trazê-lo a conversa.

— Diga-me se isso lhe parece certo. — Seu tenente lançou um golpe baixo, sentindo falta das pernas de Connor. — Oxford se prendeu no quadril da mulher que você ama. — Ele arqueou a lâmina para cima e pegou Connor no braço, cortando a camisa e a pele por baixo.

A queimadura de sua ferida e o sangue produzido não eram novidade para Connor. Ele havia sido cortado cem vezes enquanto treinava com seu pai e Callum MacGregor. Mas não era um bom presságio para ele ser cortado por Richard Drummond.

Maldita Mairi.

Com mais um golpe esmagador, destinado a terminar a luta, Connor arrancou a espada de Drummond da mão e deu um passo para trás, vitorioso.

— Eu não a amo. Não a vejo há mais de alguns dias em sete anos.

— E antes disso? — Richard perguntou, dobrando as mãos sobre os joelhos para ajudar a respirar. — O que ela era para você antes disso?

Connor empurrou sua lâmina de volta para a bainha e olhou para o homem que havia trabalhado e lutado ao lado dele nos últimos sete anos. Ah, inferno, ele estava cansado de negar.

— Ela era tudo.

Endireitando-se, Richard assentiu e endireitou as costas.

— Você nunca nos falou dela.

— Eu precisava esquecê-la.

Drummond o chamou de volta para a parede e apoiou as costas contra ela.

— Ela é a razão de você não ter se casado? A maioria gostaria, você sabe.

Inferno, ele não queria ter essa conversa com Drummond ou com mais ninguém. Ele não queria admitir para si mesmo que ela era de fato a razão pela qual ele escolheu ir para a batalha enquanto outros homens estavam diante de padres, comprometendo suas vidas com uma dama que tomou seus corações. Ele não recebeu esse presente. Para seu coração, ele não podia mais negar, pertencia a alguém que o havia rejeitado. Como ele podia admitir isso ao amigo? Ele desviou o olhar, em direção ao pátio.

— Calma agora, capitão, já nos conhecemos há tempo suficiente. —Richard sorriu e deu um tapinha nas costas. — Não é tão ruim tudo isso.

Sim, era pior.

— Todos caímos como homens feridos no campo de batalha por uma lass em algum momento de nossas vidas.

— Não caí, Drummond. — Quando o tenente lhe ofereceu um sorriso encorajador, Connor ficou tentado a jogá-lo por cima do muro. — Eu poderia bater em seu traseiro por todo este campo para demonstrar a você.

Drummond encolheu os ombros.

— Não mudará nada. Você ainda ama a lass. Inferno, é fácil ver em seu rosto toda vez que você a vê, capitão. Agora, o que você vai fazer sobre isso?

— Eu não...

— Ah, o estimado capitão Grant!

Connor olhou para cima e viu Sedley entrando no campo com Lady Elizabeth de Vere no braço. Quando ela viu Connor, ela acenou e se afastou. Droga, a última coisa que ele precisava era o constante ruído dela em seu ouvido, especialmente quando a maior parte do que ela dizia girava em torno dela mesma. E o que diabos Sedley estava fazendo trazendo-a para dentro do campo? Havia outros homens praticando aqui, alguns a cavalo, todos com uma arma.

— Tire-a daqui, Sedley!

— Oh, mas, capitão, — ela falou, correndo em sua direção. — Eu estive procurando por você a manhã toda! — Ela o alcançou sem fôlego e pressionou as palmas das mãos contra a camisa úmida. — Eu estava esperando que você e eu pudéssemos dar uma volta em St. James Park. Eu adoraria

— Lady Elizabeth. — Ele pegou as mãos dela e as removeu gentilmente do peito. — Você não pode estar dentro do campo. Você pode se machucar. — Ele olhou para Sedley por cima do ombro dela. — Pela última vez, capitão, leve-a para outro lugar. — Era a segunda vez que Nick a trouxe para Connor e a deixou com ele. Ele não iria ficar preso com ela novamente como na noite anterior.

— Depois do chá, então? — Ela piscou seus enormes olhos de topázio para ele e torceu os lábios carnudos quando a espada de alguém passou sobre sua cabeça.

Connor observou a lâmina cair inofensivamente na terra a poucos metros dela, então, um pouco pálida, ele se inclinou para puxá-la por cima do ombro e a levou para fora do campo. Ele a colocou no chão com um pouco mais de força do que pretendia e estava prestes a mandá-la a caminho, quando viu Mairi observando-o com sua mãe e a rainha de ambos os lados. Nenhuma delas parecia feliz.

— Capitão, — a rainha falou primeiro e avançou. A mãe dele o seguiu, mas Mairi permaneceu em seu lugar a alguns metros de distância. — Você parece gostar de carregar mulheres por aí com você.

Ele olhou para Lady Elizabeth, que sorriu para ele em troca.

— Majestade, eu estava apenas escoltando a filha do conde para fora do campo.

Mary de Modena levantou uma sobrancelha afiada para os dois.

— Um lugar perigoso para uma dama estar, de fato.

— Idiota e tola, — sua mãe, que nunca deixou de dizer o que pensava, murmurou alto o suficiente para que todos pudessem ouvir.

Elizabeth se ofendeu imediatamente, embora tenha conseguido manter a voz uma oitava abaixo de um grito.

— Lady Huntley, eu...

— Lady Elizabeth, — a rainha a interrompeu. — Você se retirará para seu quarto imediatamente. Lady Huntley e eu a escoltaremos para lá, para que possamos conversar com mais privacidade sobre os perigos de suas ações.

— Sim, Sua Majestade. — Elizabeth inclinou a cabeça e seguiu as duas mulheres sem outra palavra. Antes de partir, ela voltou seu olhar mais contundente para Mairi.

— Senhorita MacGregor, — acrescentou a rainha quando Mairi subiu os degraus para acompanhá-las, — você esperará aqui com o capitão Grant até voltarmos.

— Mas, eu... — Mairi gritou quando a rainha saiu do pátio, despreocupada com seu protesto. Mairi terminou de falar de qualquer maneira, embora em um tom derrotado e desbotado. — Não quero esperar aqui.

Connor não sabia se deveria sorrir ou encará-la com a carranca que ela merecia. Pelas bolas de Satanás, como ela conseguiu parecer ainda mais bonita do que na noite passada? Do que ela havia vivido em sua querida Highlands?

— Mairi, você parece... — Ele fez uma pausa, como se as palavras estivessem presas em algum lugar entre seu coração e seus lábios. Elas estavam, pois ele não falava com ela há tanto tempo. — ...linda. — Inferno, quando a visão dela iria parar de prender sua respiração?

Ela usava uma túnica simples por baixo de uma camisa de cintura baixa, cor de coral, descontraída no peito, como era a última moda de se vestir entre as inglesas. Os olhos dele permaneceram ali por um momento antes de subir lentamente a coluna de seu pescoço doce, exposto para seus beijos, graças às grossas ondas escuras soltas em seus ombros e a outra metade presa em cima de sua cabeça. Inferno, ele precisava de um balde de água fria para derramar sobre si mesmo antes de puxá-la em seus braços e comprometê-la ao mundo.

Ele já tinha feito isso, e ela o recusou.

— Você está me deixando muito desconfortável olhando para mim assim.

Ele riu baixinho.

— Assim como?

— Como se eu fosse tão horrivelmente idiota quanto a última prostituta que se ofereceu a você. — Ela olhou fixamente para Lady Elizabeth ao longe.

Seu coração quase disparou do peito diante do óbvio ciúme escaldante. Ele tinha visto isso ontem à noite no teatro, mas estava preocupado demais com sua própria raiva da boca de Oxford por toda a mão dela.

Inferno, mas ele era lamentável.

Ele olhou por cima do ombro para o tenente, que chamou sua atenção e tentou parecer ocupado limpando a sujeira da lâmina.

— Você está... suado, — disse Mairi, voltando sua atenção para ele.

Ele olhou para a camisa suada agarrada ao tronco.

— Eu estava praticando.

— Ele estava tentando me matar, é mais parecido com isso! — Drummond argumentou, depois correu quando Connor o encarou.

— Você deve ter demonstrado bastante. — Os olhos de Mairi brilharam sob seus cílios, mas seu sorriso permaneceu tão frio quanto uma noite de inverno nas Highlands. — Seu novo interesse não poderia tirar as mãos de você.

Ah, lá estava novamente. Aquela deliciosa centelha que ela havia revelado sem querer mais uma vez. Ela fez o possível para esconder dele, mas ele não duvidava mais do que suspeitara na noite em que dançou com ela. Mas isso significava que ela ainda se importava com ele? Ou ela estava simplesmente sendo possessiva com o que antes era dela?

— Eu admito, ela é mais bela do que eu achava. — Ele assistiu, fazendo o possível para não sorrir para os dedos dela. — Ela quer que eu a leve para cavalgar em St. James Park depois do chá.

Ao contrário dele, Mairi era uma mestre em disfarçar em seu rosto o que estava em sua mente ou em seu coração. Mas ele sempre foi capaz de lê-la melhor do que a maioria e agora ela estava lívida.

— E você a está levando?

— Eu ainda não decidi, — ele respondeu vagamente, gostando da sua descompostura e da razão para que isso acontecesse. Ele a observou se recompor e não pôde deixar de sorrir para ela. Sua Mairi nunca ficou domada por muito tempo.

— Eu concordo que as decisões envolvendo nossos pretendentes devem ser tomadas com cuidado, — disse ela. — Por que eu tenho uma para fazer, também.

— Você tem? — Ele queria tomá-la em seus braços e beijar o fogo dos lábios dela.

Ela assentiu.

— A rainha escolheu dois possíveis maridos para mim, e devo decidir qual deles prefiro. Lorde Oxford ou seu amigo o capitão Sedley.

Connor queria rir e dizer a ela o porquê, mas algo em sua expressão quase parou seu coração.

Ela estava falando a verdade.

Não! De jeito nenhum!

— Sedley! — Ele rugiu, assustando dois cavalos sendo levados pelos cavalariços. Mairi também deu um passo atrás, mas ele estendeu a mão e a agarrou de volta. Quando Sedley apareceu ao seu lado, ele ordenou que ele seguisse enquanto puxava Mairi em direção às portas do palácio.

— Para onde estamos indo, Grant?

— Para a rainha.

 

Capítulo Quinze


Connor não diminuiu o passo até encontrar seu pai na Galeria Shield e depositar Mairi em suas mãos. Pelo menos, seu pai manteria Oxford longe dela até que ele voltasse. Quando ele alcançou a Câmara Privada da rainha com Sedley, ele ordenou aos dois guardas menos graduados à sua porta para anunciá-lo e que fosse rápido.

Depois de um momento, ele recebeu uma audiência e entrou, puxando Sedley com ele. Ambos se curvaram diante da mesa da rainha, onde ela estava sentada escrevendo uma carta.

— Você parece agitado, capitão Grant — disse ela, depois de lhe dar um olhar e soprar em seu pergaminho. — O que o incomoda?

Não havia uma maneira educada de contornar isso ou, pelo menos, ele não tinha pensado em uma a caminho do andar de cima. Ele cruzou as mãos atrás das costas e aproveitou a tempestade dentro dele. Ela era a rainha e ele se comportaria com cortesia.

— Majestade, gostaria de falar sobre a senhorita MacGregor e seu futuro.

— Continue.

— Entendo que você está pensando em entregar a mão dela em casamento a Lorde Oxford ou ao capitão Sedley.

Sedley parecia atordoado e levemente doente quando olhou para ele.

— Está correto.

Connor sentiu como se uma bala de canhão tivesse feito um buraco no meio.

— O capitão Sedley se recusa, respectivamente.

Mary de Modena nem tentou reprimir o sorriso rastejando sobre os lábios.

— Por que ele recusaria? Ela é uma mulher adorável.

— Porque ele já está noivo.

Quando Sedley o olhou para rir da ridícula falsidade, o olhar duro de Connor o advertiu a não fazê-lo.

— Eu não estava ciente. — A rainha ofereceu a Nick um sorriso de desculpas. Ele estava prestes a abrir a boca, mas Connor falou por ele.

— Sim, para uma moça de bom coração na Holanda. Ela aguarda ansiosamente o retorno dele.

Sedley deu de ombros e depois assentiu.

— Bem, isso torna as coisas um pouco mais fáceis, não é? — A rainha reclinou-se em seu assento e pegou um babado nas mangas bufantes e na altura dos cotovelos. — O assunto está resolvido então. MacGregor se casará com Lorde Oxford.

— Ela não pode se casar com ele também.

Mary de Modena parou de se arrumar e lançou-lhe um olhar impaciente.

— Capitão, o filho do conde de Oxford também está noivo?

— Ele é protestante. Mairi odeia protestantes. Ela não encontrará felicidade com ele.

— Ela parece feliz o suficiente para mim quando está com ele.

— Ela não o ama.

Agora a rainha riu e balançou a cabeça para ele.

— O que o amor tem a ver com o casamento? — Antes que ele respondesse, ela estreitou os olhos nele. — Ela pediu para você vir até mim e implorar em nome dela?

— Ela não pediu.

— Então por que, capitão Grant, você está aqui em meus aposentos, sem uniforme... — Só então percebeu que deixara o casaco militar no pátio. — ...discutindo com a rainha sobre algo que não lhe diz respeito? Você está dispensado.

— Sua Majestade.

— Bom dia, capitão. — Ela pegou sua pena e voltou para sua carta.

— Venha, Connor, — disse Sedley suavemente, colocando a mão no antebraço de Connor. — Venha agora.

Nick fechou a porta atrás dele e jogou o braço em volta do ombro de Connor.

— Noivo, não é? Que pensamento assustador. Você não poderia simplesmente ter dito a verdade para ela? Que sou um libertino que só partirá o coração da sua senhorita MacGregor?

Connor balançou a cabeça enquanto caminhavam pelo longo corredor.

— Não era uma razão boa o suficiente. E só para você saber que ela não é o meu inferno particular, existe Lady Elizabeth. — Ele se agachou atrás da escada para evitar que ela o visse.

Nick riu dele quando ele reapareceu.

— Então você não a estará escoltando até St. James Park?

— Você a levará.

— Mas eu estou noivo!

Connor ficou tentado a bater na cabeça dele com a espada.

— Vamos para a taverna e tomemos uma bebida. Pagarei desde que você me salvou de ter que me casar com a mulher pela qual ainda sente desejos.

Connor pensou em discutir esse último ponto com ele, mas qual era a utilidade. Era a verdade.

— Mais tarde, — ele disse. Primeiro, ele queria encontrar Mairi e dizer que ela não se casaria com Sedley ou Oxford. Se ela o fizesse, seria sobre o cadáver dele, ou mais provavelmente, sobre os deles.

— Ele vai me odiar. — Claire Stuart deixou a ocultação de uma cortina grossa de brocado e caiu na cadeira mais próxima.

— Não, se tudo correr como planejado. — A rainha esfarelou seu pergaminho e jogou-o no fogo da lareira. Não havia nada além de rabiscos nele de qualquer maneira.

— E se não acontecer? E se ele decidir que não quer lutar para reconquistá-la? Se ele acredita que não há propósito nisso, ele pode desistir.

— Ele lutará por ela.

Claire sorriu para a porta, pensando em seu filho e conhecendo-o bem.

— Sim, eu sabia que ele ainda a amava. Eu lhe digo que nunca ouvi tanto medo na voz do meu filho como quando você o dispensou. — As duas riram. — Ele é tão teimoso. Ele não dirá a ela como se sente e, no entanto, não pode deixá-la ir. Ela é da mesma forma.

— É aí que Oxford e sua irmã vão ajudar. Não precisamos fazer nada para nutrir os afetos de Henry de Vere em relação a Mairi. Ele já está sendo levado por ela. Muito em breve, o capitão Grant deve fazer uma jogada ousada. Quanto à sua senhorita MacGregor, notou a raiva nos olhos dela quando viu a irmã de Oxford arremessada por cima do ombro do capitão?

Claire assentiu e elas riram novamente antes que a rainha continuasse.

— O capitão Sedley fez o que pedi e levou duas vezes Elizabeth de Vere para o seu filho. A garota fez o resto sozinha.

— Ela já está perseguindo Connor, — Claire concordou.

— Seu filho é um homem muito bonito.

Elas trocaram um sorriso.

— Fiquei verdadeiramente surpresa, — disse Claire um momento depois, — pela capacidade do capitão Sedley de fingir surpresa quando soube do casamento que pretendia fazer com Mairi. Eu não tinha certeza de que ele iria nos ajudar. Ele conhece Connor há muitos anos, mas é difícil confiar completamente em quem mente tão facilmente.

— Mas, Lady Huntley, — a rainha apontou, seus olhos escuros brilhando com travessuras. — Não somos melhores, é para o bem de seu próprio filho!

— Inferno, isso é verdade, — Claire concordou novamente. — Mas é para o seu próprio bem. Ele e Mairi devem ficar juntos.

— E nós vamos ajudá-los a ver mais claramente.

Ah, mas Claire estava feliz por ter vindo para a Inglaterra, feliz por ter conhecido essa mulher agradável e inteligente que estava disposta a ajudá-la e gostava imensamente. Se tudo corresse como planejado, em alguns meses ela planejaria o casamento de duas das pessoas que mais amava no mundo.

O alívio tomou conta de Connor quando ele encontrou Mairi onde a havia deixado ao lado de seu pai. Pelo menos ela não estava com o homem que poderia ser seu futuro marido. Só no inferno, ele disse a si mesmo, seguindo em sua direção.

— Gostaria de conversar com você, — disse ele quando os alcançou. Ele poupou ao pai um breve aceno de agradecimento por não deixá-la se afastar e voltou a olhar para ela mais uma vez. — Vai demorar apenas um momento do seu tempo.

Ela parecia recusar, mas depois reconsiderou quando ele endureceu a mandíbula, desafiando-a a fazê-lo.

— Está bem, fale.

— Não aqui. — Sem outra palavra, ele agarrou a mão dela e a puxou para uma alcova sombria a alguns metros dos convidados que passeavam.

Ele não tinha pensado no que lhe diria a caminho de lá, e era por isso que, no instante em que ficaram sozinhos, ele disse tolamente:

— Você não vai se casar com Oxford.

Ele sabia que, quando a sobrancelha dela arqueou, havia começado da maneira errada.

— Eu falei com a rainha.

— Você fez isso? — Seus lábios se curvaram em um sorriso fino. — E o capitão Sedley?

Ele balançou a cabeça, certo de que abrir a boca só causaria mais danos.

— Devo agradecer a você por me sentenciar à vida de uma donzela na minha velhice? Você irá a Skye em seguida e pedirá que meu pai não me deixe casar com Hamish MacLeod ou Duncan MacKinnon?

— Hamish MacLeod? Duncan MacKinnon pediram sua mão? — Ele perguntou, despreparado pela onda de fúria e pânico cru que tomou conta dele. — A quanto tempo? Por que seu irmão não me contou em suas cartas?

Os olhos dela se arregalaram mais nele.

— Tristan lhe escreve cartas?

Inferno, ele deveria ter pensado nessa conversa antes de se envolver com ela. Mas desde quando ele não podia controlar sua boca?

— Não, faz um tempo agora, — ele alterou.

— Cartas sobre mim?

Desta vez, ele respirou fundo, tentando prosseguir com mais delicadeza. A última coisa que queria era que ela soubesse que ele nunca parou de perguntar sobre ela.

— Elas nem sempre foram sobre você. — Quando os olhos dela se estreitaram, ele desviou o olhar para as mãos dela, esperando encontrar uma adaga em cada uma. — Eu simplesmente queria saber se você estava feliz.

— Você perdeu esse direito de saber. Assim como você não tem o direito de tentar entrar na minha vida agora e tomar decisões que não te interessam! — Sua voz se elevou enquanto ela falava, chamando a atenção do conde de Essex e de sua esposa enquanto estudavam uma pintura no fim do corredor. Ela falou mais baixo, mas com ainda mais convicção quando continuou. — Eu me casarei com quem eu quero e nem você nem a rainha mudarão isso.

— Você se casaria com um protestante? — Ele desafiou, realmente querendo estrangular seu bonito pescoço. Ela provavelmente se casaria com alguém simplesmente para irritá-lo. — Porque se você quiser, — ele a interrompeu quando ela queria responder, — então é você quem trai a Escócia, não eu.

Sua boca se abriu, mas por um momento nenhuma palavra saiu, então:

— Eu? Traidora da Escócia? Eu sou quem luta para preservá-la enquanto você luta para preservar reis que se recusam a fazer...

— O que você quer dizer com luta? — Inferno, os punhais, a espionagem... Quando os lábios dela se fecharam, seu coração perdeu uma batida. Ele repetiu a pergunta, esperando uma resposta diferente daquela que suspeitava. — Como sabe disso?

— Estou falando de você, Connor.

Os dedos dele ao redor do braço a detiveram quando ela tentou dar um passo em volta dele para sair. O olhar de aviso em seus olhos a levou a dar uma resposta.

— Tudo bem então, — disse ela, puxando o braço livre. — Eu estive em algumas escaramuças com alguns camaroneses, só isso. Nada que lhe faria bem em saber.

Oh, inferno. Ele esfregou a mão na mandíbula e fechou os olhos para recuperar o controle que precisava para não gritar com ela.

— Escaramuças envolvendo armas?

— Você não entraria em uma sem uma arma, Connor, — disse ela como se ele soubesse, afinal, como capitão, e soltou um suspiro frustrado. — Nada excessivamente perigoso... ou frequente. Não restam muitos camaroneses além de Edimburgo. A última vez que usei minha lâmina foi na primavera passada, fora de Glen Garry.

Connor não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela sempre se interessou pela espada, até treinando sob a tutela de sua mãe. Mas nunca, nunca ele teria imaginado que ela fosse tão tola a ponto de... Ele não podia nem pensar nisso. Mairi, lutando contra homens empenhados em matá-la. Pelas bolas de Satanás, ela tinha enlouquecido.

 

Capítulo Dezesseis


Henry de Vere encostou as costas na parede de pedra fria, a alguns centímetros de onde Mairi e o capitão Grant sussurravam nas sombras. Seu coração batia freneticamente no peito e, a cada batida, se partia de novo e de novo. Ele tocou os dedos na cicatriz que desfigurava seu rosto. Não, ele tinha que ter ouvido errado. Mairi não poderia ter feito isso com ele.

Ele teve que se mover. Ele não se importava mais em ouvir o que eles estavam dizendo um ao outro. Ele tinha que fugir antes que eles o vissem. Ele tinha que pensar, considerar o que significava e o que deveria fazer sobre isso.

Saindo da Galeria Shield, ele caminhou lentamente em direção às escadas. Sentia as pernas fracas, os braços pesados, o rosto...

Ela o enganara com sorrisos que nenhuma outra mulher lhe daria. Por causa dela. Oh, como ele não reconheceu aquela voz sedosa e rouca? Ele pensou que nunca esqueceria seus olhos, tão vividamente azuis e frios quando ela talhou seu rosto em Glen Garry na primavera passada.

Por ordem de seu pai, ele havia participado de uma reunião secreta realizada por um grupo de cameronianos que começaram a temer que Charles pudesse conceder o reino a seu irmão católico, James. Eles estavam certos... e também foram descobertos.

A noite estava escura e a estrada ainda mais escura, mas ele jurara a si mesmo que nunca esqueceria aqueles olhos sob o rosto encapuzado e mascarado. O pobre Edgar, seu cocheiro, alcançou seu ombro e apontou o lampião para o pequeno grupo que os encontrara. Ela jogou a lâmina e matou Edgar instantaneamente. Henry sabia que não deveria ter deixado a carruagem. Ele lamentou sua coragem todos os dias desde então.

Ele se moveu rapidamente em sua raiva, sabendo exatamente onde ela estava quando o lampião de Edgar morreu com ele. Na escuridão, ele a alcançou antes que ela ou seus companheiros pudessem detê-lo e lhe deu um tapa no rosto com a luva.

Ela não podia vê-lo, o segundo punhal que ela desembainhado não fora perdido quando ela girou em sua garganta. Embora o ataque não tenha sido fatal, ele caiu segurando o rosto ensanguentado.

— Cão traidor, — ela cuspiu nele antes de se afastar. — É uma pena que você não viva para avisar os outros de que viremos por eles a seguir.

Ela pensou que o matou. Ele desejou que ela tivesse, em vez de deixá-lo mutilado e aterrorizante de se olhar.

Mairi.

Ele a quisera desde o instante em que a viu em Whitehall, tão orgulhosa e confiante, enquanto as outras mulheres do palácio a irritavam e a seu vestido das Highlands, assim como o irritavam. Ela era a mulher mais bonita que ele já tinha visto, e quando ela sorria para ele, imperturbável por sua feiura, ele quase caiu de joelhos diante dela.

— Não, — ele resmungou, arrancando a peruca da cabeça. Não poderia ter sido a sua gentil e compassiva Mairi que fizera isso com ele.

— Henry?

Ele se virou com a voz da irmã. Ele não queria falar com ela agora. Sem dúvida, ela falaria sobre seu belo capitão Grant. Aquele desgraçado estava de olho em Mairi desde que ele chegara.

— Você parece terrível.

Ele não precisava ser lembrado.

— Estou indo para a cama, Lizzy.

— Mas é o meio do dia! — Ela gritou quando ele se afastou dela novamente. — Você está doente? Espero que você não tenha apanhado alguma doença daquela sua pequena prostituta das Highlands.

— Ela não é uma prostituta, — ele defendeu de maneira um tanto fraca, já que Mairi desmaiou sobre Grant da mesma maneira que o resto delas. Ela alegou que não se importava com ele, mas toda vez que ele estava à vista, o tempo todo, seus olhos sempre se voltavam para ele. E quem diabos Grant pensava que ele estava carregando do sol e longe de sua família ontem? Henry queria atacá-lo por ser tão ousado. Por que Mairi não tinha feito isso por ele, se ela não gostava do bastardo como alegava?

— Henry, você vai me responder ou ficar parado parecendo infeliz?

Ele piscou para Lizzy. Ele deveria dizer a ela que foi Mairi quem o mutilou? Ele precisava de alguém com quem conversar, alguém em quem confiasse para lhe dar conselhos sobre o que fazer sobre isso. Ele deveria ir até o pai e dizer que Mairi MacGregor matou cameronianos nas horas vagas? Talvez contar ao duque de Queensberry? Ou uma missiva para o próprio Duque de Monmouth? E se eles quisessem que ele a matasse? Ele poderia fazer isso?

— Lizzy, há algo que eu gostaria de falar com você. Eu preciso...

— Você viu o capitão Grant? — Ela perguntou, interrompendo-o, seus olhos examinando a galeria abaixo. — Ele ia me levar ao St. James Park, mas ele parece ter desaparecido.

A expressão de Henry escureceu nela. Nem a irmã dele conseguia afastar seus pensamentos do trapaceiro de cabelos dourados. Isso disparou seu sangue e o fez apertar a mandíbula. Ele sabia que sua cicatriz parecia mais pronunciada quando estava agitado. Ele não se importava.

— Elizabeth, acho que seu capitão favorece a outra.

Seus olhos se arregalaram e ficaram úmidos instantaneamente. Ele sentiu apenas um pouco de remorso por suas palavras. Por que ele deveria ser o único a sofrer? Lizzy superaria Grant. Ela ainda era linda, afinal. Ao contrário dele.

— Quem? — Ela exigiu, apertando os lábios. — Você vai me dizer neste instante de quem é o favor dele. — Sua voz subiu a um tom trêmulo. Quando ela deu um passo em sua direção, ele deixou cair a peruca no chão, libertando as mãos se tivesse que se defender. Sua irmã ostentava um temperamento infernal e o havia atingido antes, quando ela não conseguia o que queria.

— A Srta. MacGregor — ele deixou escapar. — Eles estão juntos agora.

Ela parou, com a boca aberta e depois ficando tenso novamente. Por um instante, Henry pensou que ela poderia jogar a cabeça para trás e começar a gritar. Ela parecia se recompor e ofereceu a ele um sorriso de aço.

— Essa é a razão da sua tristeza, não é? — Ela balançou a cabeça para ele com nojo. — Você se importa com ela e é assim que ela lhe paga? O que você vai fazer sobre isso, Henry?

— O que eu posso fazer?

Ela se inclinou para pegar a peruca dele e devolveu a ele.

— Pobre Henry. Você perdeu muito mais do que seu rosto bonito quando foi atacado. Você costumava ser tão pretencioso e determinado para conseguir o que queria. — Ela se aproximou, sua respiração caindo contra a carne sensível de sua cicatriz. — Se ainda há o coração de um homem batendo em algum lugar dentro de você, irmão, leve-a para sua cama e mostre a ela, e se ela ainda não o quiser depois disso, mate-a.

Ele recuou com uma respiração curta. Quantas noites ele sonhara em matar a cadela que havia feito isso com ele? Sonhava encontrá-la e retirar sua máscara para contemplar seu rosto antes que ele passasse a lâmina sobre ela e depois quebrasse seu pescoço?

— Venha agora. — Sua irmã riu contra sua orelha. — Eu sei o que você fez com aquela garota camponesa em Nottingham, há dois invernos depois que ela contou a todos que carregava seu bastardo.

Ele fechou os olhos, lembrando. Ele não poderia fazer o mesmo com Mairi. Ela pode ter feito isso com seu rosto, mas foi gentil com ele. Ela o favoreceu. Ele estava certo disso. Ele e Grant. Talvez Mairi não fosse quem ele precisava matar.

— Faça algo sobre ela, Henry, — Lizzy advertiu calmamente, e deu um beijo suave em seu rosto antes que ela se afastasse. — Ou eu vou.

Connor parou Mairi antes de entrar no Jardim Privado. Ele não terminou de falar com ela, mesmo que ela acreditasse o contrário. Ela não prometeu a ele que não se casaria com Oxford ou com um de seus pretendentes das Highlands, mas pior que isso, ela não parecia nem um pouco preocupada com as possíveis consequências de enfrentar homens em batalha ou aqui em Whitehall. Sua pele ficou fria com a lembrança dela rindo e dançando com Queensberry e depois invadindo seu quarto para vasculhar seus pertences.

— Quem mais sabe que você está emboscando cameronianos em suas próprias casas, Mairi?

— Casas onde estavam realizando reuniões secretas com membros do antigo parlamento. Devo lembrar que, sob Richard Cameron, eles renunciaram à lealdade a Charles e denunciaram James como papista. Agora eles estão tentando reunir recrutas no Norte. Alguém tem que detê-los, Connor.

— Mairi, aplicar multas àqueles que não frequentavam igrejas aprovadas pelo governo ou contratar mercenários das Highlands para saquear seus condados, não é o suficiente? — Connor perguntou a ela com força. — É certo autorizar execuções de campo sem julgamento? — Ele desviou o olhar e abaixou a voz para que ela quase não o ouvisse. — Deixe o extermínio de uma população inteira para o rei e seu exército, para que não manche suas mãos com sangue que nunca poderá ser removido.

— Você parece compassivo com eles, Connor. Será que o rei sabe que você está do lado de seus inimigos?

Maldita seja, como ela poderia pensar tão pouco dele?

— Ele sabe que participei das execuções, Mairi. Uma parte de que me arrependo, se você gostaria de ouvir isso ou não.

— Mas eles foram traidores do rei que serviu por sete anos!

— Sim, eles eram, — ele concordou calmamente. — Mas eles também eram homens que simplesmente acreditavam em outra causa, e pensavam de outra maneira. Isso os tornou fora da lei e, como seu pai e o meu sabem muito bem, os fora da lei não são tolerados pelo governo.

— Mas isso é diferente, — ela argumentou. — Meus parentes lutaram por seus direitos humanos básicos, eles não procuraram mudar a igreja. Somos odiados porque somos católicos.

— Sim, e nosso ódio pelos protestantes não nos torna melhores.

Ela ficou quieta por um momento, como se estivesse considerando suas palavras. Ele rezou para que ela o ouvisse. Ela não tinha ideia do que ter tanto sangue nas mãos faria com seu coração. Pior, ela seria morta se continuasse lutando. Inferno, quando ela se tornou tão difícil? O que havia acontecido com a moça que não queria nada além de uma vida tranquila com seus parentes e um marido que a adorasse?

— Por que eu te disse alguma coisa? — Ela se moveu para deixá-lo, alertando-o por cima do ombro: — Se você disser uma palavra disso a alguém, eu juro que vou matá-lo enquanto você dorme.

— Ao contrário de você, — ele disse, alcançando-a novamente, — eu nunca colocaria sua vida em risco.

— Nem mesmo para o príncipe de Orange? — Ela perguntou, lançando-lhe um breve olhar escaldante.

Isso foi o que aconteceu. Ele agarrou a mão dela e a puxou para uma parada derrapante. Ele estava cansado dela acusá-lo de traí-la, trair a Escócia.

— Embora eu simpatize com quem é perseguido pelo que acredita, não tenho ligação com William, Mairi. Inferno, você me conhece melhor que isso.

Ele sentiu seu coração bater no peito quando ela se virou para encará-lo completamente, com os olhos arregalados, assombrada por lembranças que tentava esquecer.

— Eu não te conheço, Connor.

— Sim, você conhece. Você é teimosa demais para perceber isso. Eu nunca faria nada para machucá-la.

— É tarde demais para isso, não é?

— E você? — Ele cobrou da mesma maneira. — Você acha que fui feliz todos esses anos sem você?

Algo na expressão dela mudou, suavizou apenas o suficiente para fazer seu coração se exaltar. Mas ele não admitiu mais nada para ela. Ela provavelmente ria na cara dele, sabendo com a mesma certeza que estava começando a atormentá-lo toda vez que ele estava perto dela, que ele era tolo o suficiente para ainda amá-la.

— Quem mais sabe, Mairi?

O olhar dela se estreitou e ela puxou sua mão da dele.

— Sua mãe sabe, por isso, se você quiser contar a alguém, inclusive meu pai, lembre-se disso, eu te peço.

Ele a observou se afastar, querendo chamá-la de volta, querendo lhe dizer que ela significava mais para ele do que qualquer rei ou qualquer pedaço de terra que ele governasse.

Ela ainda significava.

Em vez disso, virou-se para o relógio de sol onde sua mãe conversava com Lorde Douglas, de Paisley. Havia muita coisa que ele não sabia sobre Mairi desde que deixara Camlochlin. Ele estava prestes a mudar isso.

 

Capítulo Dezessete


Mairi desprezava o choro. Ela não fazia isso há quase sete anos. Depois de seis meses chorando por ele depois que ele partiu, ela prometeu nunca derramar outra lágrima por ele. Mas, por Deus, e ela não podia acreditar em sua própria fraqueza, havia lágrimas escorrendo pelo rosto. E tudo porque Connor perguntou se ela achava que ele era feliz sem ela. Porque naquele momento ele parecia tão miserável quanto ela se sentiu até um ano depois que ele partiu. Ela nunca considerou que ele não era feliz aqui... sem ela. Ela limpou as bochechas. Ele escolheu essa vida, dever ou não. Sim, era verdade que ela havia ordenado que ele ficasse longe, mas nunca esperava que realmente fizesse isso. Ele estava infeliz? Por que ele não disse a ela se estava em vez de voltar a pedir respostas que não queria lhe dar? E se ele pronunciasse suas belas palavras apenas para suavizá-la a contar sobre a milícia? Oh, Deus, ele simpatizava com os Covenanters! Ainda assim, suas razões pelas quais eram compreensíveis. Ela ouvira falar das execuções de campo decretadas pelo falecido rei Charles. Dizia-se que elas foram tão sangrentas que até James desaprovava. Connor havia participado desses massacres. Ela estremeceu, admitindo para si mesma que o assassinato de pessoas de condados inteiros, fossem Covenanters, cameronianos ou católicos, estava errado. Connor estava cansado de lutar e matar? Ele estava finalmente pronto para terminar seu serviço aos Stuarts e voltar para casa? E Deus, e se ele voltasse para Camlochlin? Como ela viveria todos os dias com ele lá, vestido em seu tartan, seu sorriso largo e resplandecente enquanto o vento corria por seus cabelos e carregava sua risada através das colinas? E se ele tivesse uma esposa nas Highlands? E se ele a quisesse de volta?

Por que Tristan nunca disse a ela que Connor perguntou sobre ela em suas cartas? Teria feito diferença? Och, como ela poderia enfrentar uma dúzia de homens empunhando uma espada, mas algumas palavras simples de Connor, o pensamento de que ele poderia amá-la novamente, ainda a deixava de joelhos?

Sua cabeça estava começando a doer por todas as perguntas que rodavam por dentro. Ela não queria pensar. Ela não queria se perder para ele novamente. Perder ele tinha sido muito doloroso. Isso a assustou... e ela odiava ter medo. Ela odiava chorar ainda mais.

Ela ouviu o som abafado das vozes dos homens vindo de trás de uma estátua alta e dourada de um anjo alado. A inflexão holandesa foi difícil de perder. Príncipe William. Aqui estava o que ela deveria estar contemplando. Graças às visitas a Camlochlin do irmão de Claire, o alto almirante Connor Stuart, ela e Colin haviam aprendido muito sobre o filho do rei James por casamento. William, um príncipe soberano de nascimento, governava como estadista na Holanda e em muitas províncias da república holandesa. Embora ele tenha mantido exteriormente boa vontade com seus tios, Charles e James, houve muita discórdia entre eles. A batalha deles era religiosa, com a Inglaterra anglicana e a França os vencedores da maioria. Um protestante calvinista leal, William não havia renunciado à sua fé, mas reconstruído seu exército e ficou sozinho contra duas das maiores potências do mundo.

Mairi havia observado alguns em Whitehall, sussurrando sua coragem e determinação. Sim, ela tinha que admitir, ele merecia tais elogios, mas também era esperto. Pois ele havia terminado a guerra casando-se com a filha de seu tio e estabelecendo um pacto entre a Holanda e a Inglaterra.

Mas William não compareceu à coroação do sogro para comemorar. Os fiéis da Holanda haviam sofrido severamente com as pontas das lâminas dos católicos, e agora havia um rei católico no trono. William tinha muito a temer, mas era o rei francês Louis quem atualmente continuava sendo o espinho mais agudo do seu lado. William esperava obter o apoio de James em uma aliança anti-francesa. Provavelmente nunca iria acontecer, especialmente após o ataque à abadia.

Ela se aproximou da estátua, fingindo examiná-la.

— ...não sabe nada sobre a reunião com o Parlamento ser convocada mais cedo.

Essa era a voz de Lorde Oddington atrás do pé do anjo? Isso não importava. A defesa da rainha do desaparecimento do marido estava sendo investigada. Isso não era um bom presságio para Colin e o rei a caminho de Camlochlin.

— Os rastros desapareceram nos arredores de Londres, então não sabemos para que lado eles cavalgavam.

Era Oddington, o bastardo traidor, Mairi decidiu enquanto sorria da astúcia de Colin ao cobrir seus rastros. Pelo menos William não sabia para onde estavam indo.

Inclinando a orelha, aproximou-se do anjo e depois parou abruptamente e olhou nos olhos escuros do príncipe William.

— Srta. MacGregor, você perdeu alguma coisa?

Ela balançou a cabeça negativamente e sorriu para ele.

— Eu não.

— Há quanto tempo você está aqui?

Mairi havia enfrentado muitos de seus inimigos nos últimos anos, mas nenhum deles era tão perigoso, ou tão inteligente quanto esse. Seus lábios finos estavam tensos sob o nariz enorme, a ameaça em seus olhos inconfundível. Ela tentou diminuir a pulsação, mas esse homem provavelmente ordenou que as freiras fossem queimadas até a morte, e atualmente parecia que ele desejava que ela estivesse entre elas.

— Srta. MacGregor. Espero não tê-la deixado esperando por muito tempo.

Ela se virou, mais aliviada ao ver Connor do que ela jamais admitiria.

— Não, capitão, acabei de chegar.

Suas covinhas brilharam quando ela lhe ofereceu um sorriso agradável, e fez seu pulso acelerar ainda mais.

— Sua Graça, — Connor cumprimentou, ficando entre eles. — Você está gostando de Whitehall?

— Na verdade, capitão, — disse o príncipe, dando um passo para trás para não esticar o pescoço para olhar para o Highlander que pairava sobre ele, — eu gostaria de ter um pouco mais de privacidade.

Connor lançou um olhar ao redor da estátua, mas Oddington se fora.

— Bom dia, — William ofereceu a eles, deixando seu olhar permanecer em Mairi posicionado um pouco atrás das costas de Connor, antes de se virar e sair.

Quando eles estavam sozinhos, Connor respirou fundo antes de se virar para ela. Mairi olhou nos olhos dele, lendo o medo e a raiva neles com clareza suficiente para saber que ele estava convocando seu controle antes de falar com ela. Se ele estava em conflito com o príncipe holandês, certamente não parecia agora.

— O que diabos você está tentando fazer?

— Não estou tentando fazer nada. Eu tropecei com eles.

— Quem?

— O príncipe e Lorde Oddington.

Ele fez uma carranca, parecendo ainda mais sedutor.

— Você estava escutando. Eu estava te observando

Ela parou de ouvir e o considerou por um momento. Ele a observava com frequência. Não importa o que ela estivesse fazendo, podia sentir os olhos dele nela. No começo, a irritou, principalmente depois que ele a seguiu até os quartos de Queensberry. Ela não precisava de cuidados, mas havia outra razão para que seu olhar a seguisse onde quer que fosse? Talvez seu traje inglês justo e confortável? Seu coração bateu no peito e ela amaldiçoou a loucura de seus pensamentos.

— Eu não gosto de ser espionada, — ela disse, antes de dizer outra coisa como: Por que você me deixou? Eu quase morri sem você!

— Nem o príncipe.

Ela assentiu, dando a ele razão. Inferno, ele era grande e tão viril ali parado com o sol brilhando nos fios dourados de seus cabelos. Ela teria sido insultada se qualquer outro homem tivesse pisado na frente dela mesmo se fosse para protegê-la, mas Connor a fazia se sentir delicada, como ele sempre o fez, e ela sentia falta de se sentir assim. Maldita seja ela.

— Ele parecia com raiva.

Mairi piscou, olhando nos olhos dele.

— Quem?

— O príncipe. — Seus lábios se curvaram apenas o suficiente para apontar sua covinha direita para ela.

— Você também.

— Eu estava sorrindo.

Mas ela sabia que cada um de seus sorrisos e o que ele ofereceu a William eram tudo menos amáveis. O que ele teria feito se o príncipe tivesse posto as mãos nela? Ela balançou a cabeça para afastar suas fantasias infantis. Talvez ele não estivesse secretamente alinhado com os protestantes. Isso não era motivo para sorrir para ele agora.

— Eles suspeitam que o rei não foi para Edimburgo. — Ela desviou o olhar da necessidade que dizia a si mesma que via nos olhos dele, ou talvez fosse a necessidade em seus próprios olhos que não queria que ele visse.

— O que você ouviu? — Seu tom ficou sério instantaneamente, atraindo seu olhar de volta para ele.

— Oddington disse a ele que procuraram por outras trilhas. Eles não encontraram rastro nenhum — acrescentou ela quando o maxilar dele se apertou. — Mas pelo menos sabemos que Lorde Oddington está com William.

— Em quê? — Connor apontou. — Suspeitando que o anuncio da rainha seja falsa? Não significa nada.

— Então nós podemos...

— Nae, — ele a interrompeu. — Nós não podemos fazer nada. Desistirá do que quer que esteja fazendo aqui e deixará os inimigos do rei para seus homens.

Ela não ouviu o que ele disse depois disso. Ela ficou parada olhando para ele, sentindo o sangue ferver em suas veias. Se havia algo que ela menosprezava ainda mais que os cameronianos, era dizer que ela não podia ou não deveria fazer algo porque era mulher.

— Você gostaria que eu costurasse um par de calças durante o resto da minha estadia?

Se ele ouviu a picada na voz dela, parecia não se importar nem um pouco. Quando ele assentiu, ela olhou em volta para o chão à procura de algo para arremessar em sua cabeça.

— Lutar com alguns cameronianos já é ruim o suficiente, Mairi, mas caminhar na ponta dos pés de um homem que acreditamos ter ordenado a morte de mais de uma dúzia de freiras é uma questão completamente diferente.

— Porque eu sou uma moça.

O olhar dele caiu sobre os dedos dela, apertando e com força, depois voltou ao seu olhar firme e desafiador. Ele sorriu, tirando levemente a raiva dela, o que a irritou ainda mais.

— Não há nada errado em ser uma moça, Mairi, especialmente quando você faz isso tão bem.

— Talvez eu não me importasse em ser uma moça a menos se passasse mais tempo com um homem que era, pelo menos, consciente de seus dedos quando tropeçasse sobre eles.

Seu sorriso se aprofundou em algo mais primitivo e perigoso quando ele se aproximou dela.

— Deseja que eu peça desculpas por me preocupar com você, então?

Ele se moveu em sua direção, uma força poderosa roubando-lhe a respiração, a razão. Ela não recuou.

— Por que eu iria querer isso quando seu pedido de desculpas está associado a mais insultos. Sinceramente, Connor, estar na Inglaterra transformou você em um antiquado.

Sua mão se fechou em torno do braço dela e, com um movimento fluido, ele a girou em torno da parte de trás da estátua e nos braços. Ele a beijou, acalmando seus protestos, inclinando a cabeça para aprofundar o impulso de sua língua. Em um instante ela estava perdida. Och, ela não se importava em ser uma mulher para um homem que beijava assim. Ela ainda estava com raiva dele e lhe mordeu o lábio para lembrá-lo de que ela não estava completamente derrotada.

Ele se afastou, passando a mão pela boca ensanguentada. Seus olhos brilhavam com um fogo profano que prometia que ele estava prestes a fazer muito mais do que beijá-la. Desta vez, ela deu um passo atrás e estendeu as mãos quando ele a atacou novamente.

— Se você me beijar novamente, eu juro que vou...

O restante de sua ameaça foi vencida por sua boca, sua língua, seus braços fortes se fechando em volta dela. Ela não podia lutar com ele. Ela não queria. Louca, lamentável tola era o que ela era.

 

Capítulo Dezoito


O Troubadour estava menos cheio esta tarde do que na última vez que Connor esteve aqui. O fedor de vinho e cerveja obsoletos, tão cedo no dia, assaltou seus sentidos e fez seu estômago apertar, mas ele precisava de uma hora ou duas para descobrir o que deveria fazer, o que podia fazer, para impedir a rainha de casar Mairi com Oxford. Inferno, ele tinha que fazer alguma coisa. Ele a queria de volta em sua vida, e desta vez ele não a deixaria sem lutar.

Ela ainda não tinha concordado em se casar com o bastardo, mesmo depois do beijo apaixonado ontem no jardim. Ele sorriu lembrando o quão furiosa ela estava quando a tirou de vista e a beijou. Ela não parecia tão brava pela segunda vez. Ele podia ser um tolo, mas não acreditava que ela o odiava, pelo menos sua boca não dava nenhuma indicação, nem seus braços quando eles se enroscaram em seu pescoço e quase dobraram seus joelhos.

Ele se sentou em uma das mesas vazias manchadas por canecas cheias e bebidas derramadas e deu uma última olhada no lugar. Ele sorriu para Vicky, depois desviou o olhar dela para impedir seu avanço. Ele não viu a mulher que lhe havia oferecido para uma noite de prazer na última vez que esteve lá. Ele não a conhecia ou como ela sabia o nome dele, mas não conseguiu manter seus pensamentos nela por mais de um instante antes de Mairi entrar em sua cabeça novamente.

Ele ainda queria estrangulá-la por pegar em armas em uma das muitas guerras religiosas da Inglaterra, mas pelo menos, de acordo com sua mãe quando a interrogou, Mairi era muito habilidosa com uma lâmina e sempre voltava incólume de suas escaramuças.

Connor não tinha nada contra mulheres empunhando uma lâmina. Quase todas as mulheres em Camlochlin sabiam como manejar uma, graças à sua mãe e à Mairi, ambas sendo espadachins hábeis antes de saberem costurar. Mas o pensamento de Mairi em combate real não acalmava o sangue em suas veias.

Como diabos ela poderia odiar tanto os protestantes e ainda considerar se casar com um?

— Aqui está você! — Nick Sedley sentou na cadeira ao lado dele e pediu por duas cervejas. — Procurei você no campo. Você costumava treinar todos os dias. A paz está amolecendo você.

Connor riu e puxou a jaqueta militar úmida agarrada ao peito.

— Eu pratico no amanhecer, enquanto você ainda está dormindo.

— Ah, mas eu não estava dormindo ao amanhecer, — respondeu Sedley, estendendo a mão e sentindo falta da moça que servia as bebidas e depois se afastava. — Eu estava realmente envolvido no que você estava pensando quando se deitou sozinho na sua cama na noite passada.

Connor levantou sua caneca, dando-lhe razão.

— Por que você estava me procurando?

— Ah, sim. — Sedley tomou um gole de sua caneca e recostou-se na cadeira. — Eu estava curioso sobre alguma coisa e achei que você poderia ajudar.

— Curioso sobre o quê?

— Pensei que, já que você conhece a senhorita MacGregor, talvez saiba por que o rei levou o irmão dela para Edimburgo com ele e não com seu próprio capitão.

Connor olhou para ele. Inferno. William de Orange enviou seu capitão para interrogá-lo? Desde quando Nick estava curioso sobre outra coisa senão a próxima moça em sua cama? E por que ele assumiu que Colin tinha ido com o rei? A rainha não tinha mencionado, embora William provavelmente suspeitasse já que Colin se fora. Isso significaria que o príncipe estava mais ciente dos convidados de Whitehall do que ele revelava.

Ninguém pode ser confiável aqui. O aviso perturbador de Mairi ecoou na cabeça de Connor novamente. Por mais que não quisesse que ela estivesse certa, ele sabia que ela estava. Ela teria sido um bom soldado tático se fosse um homem.

— É tempo de paz — Connor disse-lhe benignamente. — O rei viaja com outro capitão e os homens do general Gilbert. Deveria ter levado todo o seu exército para se encontrar com o Parlamento?

Sedley riu.

— Pode ser divertido ver todos esses senhores sujarem suas calças à vista do exército. É estranho, porém...

— O que é isso? — Connor perguntou, observando-o mais de perto agora e esperando que ele estivesse errado.

— Há alguns aqui que deveriam estar naquela reunião com o Parlamento, mas não estão.

— Sim, isso é estranho. — Droga, Connor pensou amargamente, seu velho amigo estava realmente cumprindo as ordens de William. — Não posso presumir saber a resposta para isso. Você terá que perguntar ao rei quando ele voltar.

Dessa vez, Sedley levantou sua caneca para Connor, dando a ele o ponto. Ambos sabiam muito bem que os soldados não questionavam reis.

— Ah, a propósito, — disse ele atrás da borda da caneca, — pensei que você gostaria de saber que sua senhorita MacGregor deixou Whitehall.

— O quê? — Connor sentou-se à frente na cadeira, prestes a pular dela. — Onde ela foi?

— Para o St. James Park, eu acredito. Com Lorde Oxford.

A mesa chiou contra os juncos quando Connor a empurrou para fora do caminho e correu para a porta.

Connor queria esmagar o punho em algumas cabeças enquanto caminhava em direção aos estábulos de Whitehall para pegar seu cavalo. Como ela pôde fazer isso? Como ela pôde ir com ele? Ele sabia que a última coisa que deveria fazer era segui-la. Isso só lhe provaria que tolo ciumento ele era. A menos que, é claro, Oxford a estivesse beijando. Se ele estivesse, Connor não se importava com o que Mairi pensava dele. Oxford ia perder os dentes.

Evitou por pouco Lady Hollingsworth ao sair dos estábulos e saltou sobre o primeiro cavalo que encontrou selado, pisou nos flancos da fera e passou voando pelo Portão Leste.

Não demorou muito para chegar ao parque privado de 58 hectares. Encontrar Mairi sem ela vê-lo seria mais difícil. Ele não pretendia espioná-la. Na verdade, não. Ele simplesmente queria descobrir se ela realmente havia dado seu coração ao nobre inglês. Observá-los sozinhos diria a ele. Mas ele queria saber? Ele jurou que se ela estivesse rindo com Oxford em um cobertor aconchegante, ele se afastaria dela para sempre. Os santos fortalecem seu coração lamentável, mas ele esperava, rezou, para que não a encontrasse rindo.

Quase relutantemente, ele a procurou por caminhos ensolarados e através de grossas colunas de nogueira e majestosos carvalhos, vagamente consciente dos pássaros cantando no alto ou do riso vindo de qualquer um dos cobertores dispostos na grama que não pertenciam a Mairi.

Quando ele pensou que talvez não os encontrasse, ele encontrou. Eles estavam na beira de uma pequena ponte, logo depois das árvores que os protegiam, olhando para o canal estreito abaixo. Com cuidado para não fazer barulho, ele desmontou e se aproximou um pouco, mantendo-se fora da vista atrás de uma árvore.

Oxford estava apontando para algo na água que a fez sorrir. Droga e inferno.

O que ele estava fazendo lá? Como ele poderia permitir que ela o transformasse em um idiota diluído? Ele levou os homens à batalha, pelo amor de Deus! Reis confiava nele para enfrentar seus inimigos com um coração forte e corajoso, uma mente e um corpo sob controle total. Os três nunca haviam falhado com ele, até Mairi voltar à sua vida.

Ele deveria partir. Se ela estava feliz e Oxford era quem ela queria, ele deveria ir e desejar-lhe tudo de bom. Mas ele não conseguia se mexer. Ele a observou como se ela fosse um sonho que havia ganhado vida. Quantas vezes ele olhou para o perfil dela contra o fundo de um céu azul ou de um vale aberto e selvagem pintado de roxo? Ele conhecia a curva do nariz empinado, o mergulho tentador de seu lábio inferior, melhor do que conhecia o caminho de casa. Quando ela se inclinou sobre a borda, o olhar dele se deslizou para as costas dela e ele respirou silenciosamente, morrendo de desejo. Toda mulher com quem ele esteve depois que ele deixou Camlochlin o deixou com frio. Mas Mairi despertou sua paixão com um simples toque de seus lábios, a carícia de sua língua... e seus dentes. Ele levou os dedos ao lábio inferior, ainda um pouco inchado de onde ela tirou sangue ontem. Ele amava sua vivacidade e sua inteligência afiada, às vezes sem piedade, mas sentia falta do riso dela. Ele sentia falta do jeito que ela o olhava, como se o sol nascesse quando o visse. Ele poderia reconquistá-la? Ele sorriu quando ela afastou o braço do toque de Oxford. Para o inferno por ser um tolo. Ela valia a pena.

O estalo agudo de um galho atrás dele o fez se virar, mas era tarde demais. Ele viu apenas uma sombra e depois a escuridão quando caiu no chão.

— Você tem certeza que é ele. Linnet? — O homem que estava sobre o corpo caído de Connor olhou para sua irmã e largou a pedra que ele usara para bater nele. — Há muitos capitães aqui.

Linnet tirou o capuz da cabeça e inclinou-se rapidamente para vê-lo melhor. Pelos dentes de Deus, mas ele era bonito. Lembrou-se da maneira como ele sorriu para ela naquela noite no Troubadour, aquelas covinhas profundas a seduzindo. Pena, ela suspirou e ficou de pé.

— É ele.

— O que devemos fazer com ele?

— Mate-o, como fomos pagos para fazer. — Ela olhou através do denso emaranhado de galhos para o que o capitão estava olhando antes de encontrá-lo. — Não podemos deixá-lo aqui. Traga-o para o beco atrás do Troubadour e jogue-o lá. Veja nas roupas dele. Se ele carrega algo em sua pessoa, pegue. Parecerá ter sido um assalto.

— E se ele não tiver moeda?

Ela deu ao irmão um olhar de impaciência.

— Então pegue as botas dele. E, Harry — disse ela antes de deixá-lo, — cuide-se.

Ela não ficou para trás para assistir seu irmão afundar sua adaga na barriga do capitão. Ela não estava nada feliz com o que eles haviam feito, apesar da quantidade de moedas que haviam recebido para concluir a tarefa. Matar um soldado do Exército Real do rei era punível com enforcamento. Oh, Deus, por favor, não a deixe ser pega. Ela sabia que o homem que a pagou não a resgataria se ela fosse. Ela não era tola o suficiente para acreditar que suas sussurradas palavras de afeto enquanto estava deitada com ele eram verdadeiras. Ele a usou para fazer sua oferta. Mas ela o usara também. Ela precisava de moedas para tirar Harry de Londres antes que os corpos das duas prostitutas que ele matara fossem descobertos. Maldito seja ele, por seu apetite sexual depravado. Deveria deixar Londres sozinha e deixá-lo sofrer as consequências de suas ações, mas prometera ao pai que cuidaria dele.

Ela suspirou, pensando na bolsa escondida sob as saias e sorriu ao tilintar da moeda. Poderia levá-la para a França se ela viajasse sozinha. Ela pensou nisso quando saiu do parque. Ela não era a mãe de Harry, afinal.

 

Capítulo Dezenove


O tênis era um jogo estranho, pensou Mairi, enquanto se abanava na cadeira. Não havia nada parecido com isso em Camlochlin. Parecia bastante extenuante, com jogadores correndo para pegar uma bola que estava bem enrolada com tiras de pano e voltando com raquetes estranhas feitas de madeira de freixo. Enquanto ela estava aqui, o pai dela reclamou que o jogo não servia para nada além de fazer um homem suar, e ele preferia fazer isso enquanto aprimorava suas habilidades de batalha.

Inferno, mas ela sentia falta dele e de sua mãe também. Ela sentia falta de Rob e sua tia Maggie e até Tristan.

Ela sorriu quando Claire ganhou um ponto em relação a Lady Margaret, filha de Lorde Ashley.

— Você está gostando do jogo, minha querida? — Perguntou a rainha, sentada ao lado dela.

— Sim, mas parece desnecessariamente desgastante nesse calor.

— São os muros altos — concordou Mary de Modena, olhando para cima. — Eles bloqueiam a brisa da primavera. Você não vai desmaiar de novo, vai?

Mairi balançou a cabeça, mortificada novamente pela lembrança de Connor carregando-a para longe do sol. Onde ele estava afinal? Ela não o via desde esta manhã no campo. Ela sabia que ele não estava com Lady Elizabeth, porque a pequena prostituta de lábios apertados estava sentada do outro lado da quadra.

Querido Deus, mas tinha sido uma tarde difícil. Ela concordou em ir a St. James Park com Henry depois que ele praticamente a implorou por mais de uma hora. Ela não queria ir, mas concedeu, decidindo ser melhor afastá-lo de uma corte que não o favorecia da maneira que ele obviamente esperava. Ela não tinha sido capaz de fazê-lo, não quando ele passou a tarde inteira lhe dizendo como sua vida havia mudado após o acidente. Ela nunca pensou em perguntar como o rosto dele estava tão desfigurado. Isso não a incomodou, já que muitos dos homens em casa tinham cicatrizes semelhantes. Mas o pobre Henry não ganhou sua cicatriz em batalha. Seu primo havia infligido a ferida na prática. Felizmente, havia uma curandeira habilidosa no castelo de seu pai, e ela deixou o rosto de Henry o melhor que pôde. Infelizmente, porém, havia pouco que ela pudesse fazer sobre as mulheres que o rejeitavam a partir de então ou os sentimentos de inadequação que ele sofria. Mairi era a única, segundo Henry, que lhe mostrou bondade. Como ela poderia partir o coração dele depois disso?

Ela tinha que contar a ele em breve. Ela não diria a ele que provavelmente passaria seus últimos anos tão miserável e sozinha quanto ele, ou que Connor Grant era a razão disso. Como ela poderia se casar com outro depois que Connor a beijou, abraçou e a amou antes de qualquer outro? Querido Deus do céu, mas seus beijos acenderam nela um incêndio mil vezes mais mortal do que antes dele deixar Camlochlin. Ele não era mais um garoto e não beijava mais como um. A pergunta que a picava como uma urtiga irritante apanhada em sua bota era com quantas moça ele praticou? Och, mas quando ele a beijou, ela não se importou.

Ela sabia, depois de apenas uma noite com ele, que nenhum outro homem poderia fazê-la feliz. Nenhum outro homem iria enfrentá-la como Connor, tão confiante e seguro de si. Maldição, era atraente. Por mais que ela odiasse admitir, e, och, ela odiava, parte de seu coração ainda ansiava pelo bastardo.

— Você tem certeza de que está bem, minha querida? — A rainha perguntou, atraindo a atenção de Mairi de volta ao jogo. — Você está se abanando com força suficiente para machucar o pulso.

— Estou bem, de verdade, — ela assegurou à anfitriã com um sorriso gracioso. — Os vestidos mais finos ajudam. Receio, porém, que eles não sejam úteis para mim quando eu voltar para casa.

A rainha bateu palmas quando Claire ganhou outro ponto.

— Ela é muito boa.

Mairi concordou, observando Claire girar sua raquete como uma lâmina na garganta de um monarquista. Comparada à pequena rainha, que gostava mais de ver seus convidados jogarem tênis e boliche14 na grama do que competir nos jogos, Claire Stuart era uma força a ser considerada.

— Você deveria vê-la empunhando uma espada, — disse Mairi com uma certa dose de orgulho nos ombros.

— Sim, ouvi dizer que ela uma vez lutou ao lado de seu irmão. Não é tão difícil de acreditar quando seu vejo vigor com meus próprios olhos. Com toda a prática que o filho faz no campo todos os dias, é óbvio que ele compartilha o mesmo amor pela lâmina.

Mairi se mexeu um pouco na cadeira.

— O pai dele, junto com o meu, garantiu que ele praticasse diariamente. Ele é um excelente espadachim.

— Felizmente, ainda não o vi lutar. O rei, no entanto, lembra-se dele durante a trama da Casa de Centeio, quando conspiradores planejavam assassinar a ele e seu irmão Charles. O capitão Grant foi o primeiro a capturar e prender Lorde William Russell, um dos envolvidos na trama. O falecido rei pensava muito bem dele.

A notícia chegou a Camlochlin há dois anos sobre as proezas de Connor em pegar um dos conspiradores. Não surpreendeu Mairi que Connor arriscasse sua vida para proteger seu primo real. Isso a enfureceu. Se ela o odiava ou não, ela não queria que ele morresse. O simples pensamento disso quase a fez chorar por dois dias inteiros.

— Ele é leal ao trono, Sua Majestade. — Ela deveria ter lhe contado sobre a milícia? Inferno e condenação, por que ela não podia guardar segredos dele? Era o mesmo quando eram crianças, ele, seu melhor amigo e aquele em quem ela confiava mais do que o nascer do dia seguinte.

Ela desviou o olhar quando a rainha se virou para sorrir para ela, seu leque batendo mais rápido. Ela não queria falar dele. Toda vez que ela o fazia, seu rosto, seu sorriso, seus beijos invadiam seus pensamentos e a fazia se sentir mais quente.

— Você deve conhecê-lo muito bem. Diga-me — continuou a rainha sem piedade, — que tipo de mulher ele preferiria para esposa?

O leque de Mairi parou junto com seu coração. Ela voltou-se para a anfitriã, sabendo que seu rosto estava claro e sem se importar.

— Uma esposa? Para Connor?

— Sim. — A rainha assentiu. — Para Connor.

— Ele... — Querido Deus, ela tinha que se controlar. Ela tinha que pensar, dizer algo diferente de cuspir. Deus ela odiava cuspir. — Eu... Ele... — Seu leque pegou seu ritmo frenético novamente. — Ele pediu uma?

— Não. — A rainha riu. — Mas ele é um placar para cinco. Meu Deus, que aversão você tem dos Highlanders em relação ao casamento?

Qual era a preocupação da rainha em querer casar todo mundo?

— Acho que ninguém aqui dá certo com ele. — Mairi olhou para Lady Elizabeth através da quadra e fez uma carranca.

— Sério? Por que não?

Mairi ficou boquiaberta por um momento antes de fechar a boca. O que nas chamas lhe deu para responder isso?

— Sua Majestade, suas convidadas são todas prostitutas indulgentes — não estava se sentindo bem, ela tinha certeza. Ela não podia dizer a rainha que não queria que Connor se casasse com ninguém sem fornecer uma razão para isso. E que ela certamente nunca admitiria a rainha. Já era difícil o suficiente admitir para si mesma.

— Devo escolher uma escocesa para ele, então?

— Com todo espeito, — Mairi suavizou sua voz, e foi um feito difícil de realizar quando o que ela queria fazer era gritar. — Por que escolher alguém? Em casa, temos permissão para escolher nossos próprios maridos ou esposas.

A rainha balançou a cabeça e deu um tapinha no joelho de Mairi.

— Este não é as Highlands, minha querida. Lady Huntley é minha amiga e parente do rei. É meu privilégio ver seu filho casar com alguém bem-educada e de boa posição. Ele deveria ter uma esposa para voltar para casa, uma dúzia de filhos a seus pés...

Connor, pai de filhos que não eram dela? Pelas bolas de Satanás, ela ia desmaiar na frente da maldita rainha da Inglaterra.

— Perdoe a intrusão, Sua Majestade.

Mairi ergueu os olhos e os protegeu para fixar em Richard Drummond de pé sobre elas.

— Eu imploro uma palavra com a Srta. MacGregor.

A rainha acenou com a cabeça, permitindo que ele falasse.

— É sobre o capitão Grant, minha dama. Receio que ninguém possa encontrá-lo e esperava que você pudesse...

— O que você quer dizer com ninguém pode encontrá-lo? — A esposa do rei retrucou.

O tenente de Connor não parecia muito preocupado, mas Mairi notou suas juntas brancas apertando o punho da espada ao seu lado.

— Ele não é visto desde o início da tarde, Sua Majestade. De acordo com Humfries, que foi o último a vê-lo nos estábulos, ele estava a caminho de St. James Park.

— Sozinho? — O olhar de Mairi cortou para Lady Elizabeth a observando.

— Ele estava procurando por você.

Mairi não tinha certeza do que provocou o tamborilar de seu coração, a ideia de que ele iria atrás dela e Henry, ou o fato de que ela voltara horas atrás, e ele não.

— Onde você procurou por ele? — A rainha levantou-se e acenou para Claire.

— Em toda parte, senhora, — disse-lhe Drummond. — Meus homens procuram até agora. Tenho mais de quarenta homens vasculhando o parque e o restante pelo palácio, mas sem sucesso. Entendo, senhorita MacGregor, que você não o viu.

— Viu quem? — Claire perguntou, chegando a eles com falta de ar.

— Seu filho, — a rainha informou. — Ele parece estar desaparecido.

Mairi conhecia e compreendia muito bem o olhar de medo e pavor que pairava sobre sua querida amiga enquanto o tenente repetia tudo para ela. Ele estava seguro, Mairi disse a si mesma. De alguma forma eles simplesmente sentiram sua falta. Ele tinha que estar em algum lugar. Ele tinha que estar bem.

— Você verificou o Troubadour? — Claire exigiu. — Ele passou algum tempo lá recentemente.

— Meus homens vasculharam a taberna há uma hora, Lady Huntley. Ele não estava ali.

— Procure de novo! Se ele não está no palácio ou nos jardins... Oh, aos diabos com isso — a mãe de Connor rosnou e passou por Drummond. — Encontre meu marido e sele nossos cavalos, — ela gritou por cima do ombro. — E alguém me traga uma espada!

Connor abriu os olhos, depois desejou que não o tivesse. A dor atravessou seu crânio como uma bola de fogo, explodindo atrás de seus olhos. Tudo estava escuro ao seu redor e ele não tinha certeza se a noite havia descido, ou a dor em sua cabeça o deixara cego. Ele estava deitado em cima de algo que espetou suas costas como uma lâmina. Onde diabos ele estava? Sua mente limpou apenas o suficiente para ele se lembrar de olhar para Mairi em St. James... Inferno, alguém o havia atingido. Ele tentou se mover e algo embaixo dele o cutucou nas costas como uma lâmina novamente. Procurando atrás dele lentamente, ele descobriu o que parecia ser uma espinha de peixe. Sem aviso, o cheiro de mijo e carne podre assaltou seus sentidos. Ele amaldiçoou e tentou se sentar. Ele sentiu uma nova dor. Ele apertou a barriga e gemeu com o líquido pegajoso que cobria sua mão. Sangue. Ele foi esfaqueado e deixado para morrer.

Inferno. Alguém ia morrer por isso. Mas primeiro ele tinha que voltar para Whitehall. Invocando todas as reservas de força que ele ainda possuía, ele deslizou seu corpo para a esquerda. Um pouco mais. Um gato miou e disparou para longe dele, derrubando algo que caiu no chão. Pelo menos ele esperava que fosse um gato e não um rato muito grande. Ele se moveu um pouco mais e uma onda de náusea tomou conta dele. Sua cabeça latejava e sua barriga ardia, mas ele conseguiu sair da pilha de lixo em que foi jogado. Quem diabos tinha feito isso com ele, e por quê? Foi seu último pensamento coerente antes que seus olhos se fechassem novamente e sua mente voltasse para uma abençoada inconsciência.

— Ele está aqui! — Richard Drummond gritou na escuridão e segurou sua tocha mais perto do rosto de Connor. Ele estava prestes a checar a respiração quando os pais do capitão e cinco outros guardas dobraram a esquina do beco escuro atrás do Troubadour.

— Oh, meu Deus do céu. — Claire levou as mãos à boca quando viu o filho deitado ao lado do lixo do dia. — Ele vive?

O marido passou por ela e derrapou sobre o filho. Seu rosto, claro, sua respiração suspensa, com muito medo por um momento para saber a resposta.

— Ele vive! — Drummond lhes disse, levantando a bochecha dos lábios entreabertos de Connor. — Sua respiração é superficial. Deus misericordioso, ele foi esfaqueado.

Graham não esperou mais nenhuma descoberta, mas se ajoelhou e ergueu o filho nos braços.

— Precisamos levá-lo de volta ao palácio. Drummond, traga-me seu cavalo. Depressa!

 

Capítulo Vinte


O silêncio que se agarrava aos grandes gramados que levavam à entrada de Whitehall foi quebrado pelo trovão dos cascos de muitos cavalos. O capitão Sedley liderava a frente, mas Mairi saltou primeiro de sua montaria e correu para as portas. Ela estava revistando o parque quando o corneteiro de Connor, Edward Willingham, os encontrou e deu a notícia de que Connor havia sido encontrado vivo.

Informada de que ele havia sido levado ao quarto de hóspedes de seus pais, ela subiu correndo as escadas, orando o tempo todo a Deus por sua vida. Ele não poderia morrer! Ela não podia imaginar sua vida sem ele vivo no mundo. Não importava onde, ou se, eles estivessem juntos, desde que ele vivesse. Quando chegou ao segundo patamar, parou ao ver mais de cem homens de Connor alinhados no salão cavernoso. Ela tomou um momento para notar as linhas sombrias vincando seus rostos. A rainha estava sentada em uma cadeira pesada ao lado, conversando baixo com Richard Drummond. Mairi partiu em sua direção.

Quando a rainha a viu, ela se levantou e encontrou Mairi no meio do caminho.

— Ele vive? — Mairi foi em direção à porta, mas a rainha a deteve.

— Meus médicos particulares estão com ele. Ele foi esfaqueado, embora não fatalmente. Mas ele agora está com febre.

— Eu preciso vê-lo! — Quando a rainha parecia querer recusar, Mairi continuou. Ela não poderia perdê-lo sem se despedir. Oh, Deus, não o deixe morrer. — Peço-lhe, Majestade. Por favor, deixe-me vê-lo.

— Muito bem. — A esposa do rei fez um gesto para os homens que estavam de guarda na porta para dar entrada.

— Obrigada. — Mairi pegou sus mãos e beijou-as. — Obrigada.

Ela foi direcionada para o quarto, onde a luz da lareira banhava o local tons suaves de âmbar. O ar estava pesado e perfumado com sálvia e tomilho. Dois médicos da rainha estavam de pé junto à cama, bloqueando sua visão. Graham e Claire também estavam lá, e quando ela viu Mairi, a mãe de Connor deixou a cadeira ao lado da cama e foi até ela. Elas se abraçaram, ambas com mais a perder do que podiam suportar. Depois que Graham a abraçou, Mairi enxugou os olhos.

— O que aconteceu? — Enquanto falava, ela se virou para onde Connor estava, atraída pela necessidade de ir até ele.

Graham contou tudo o que sabiam até agora enquanto os médicos se separavam e a permitiam chegar mais perto.

Ele parecia calmo e muito bonito, esse rosto que ela conhecia desde o nascimento. A cabeça dele estava enfaixada, a ferida na barriga estava aberta para permitir a drenagem.

— Eles vão suturá-lo amanhã se tudo correr bem, — ela ouviu Claire, em algum lugar atrás dela, dizer.

Se tudo correr bem. As mãos de Mairi tremiam enquanto se moviam para tocar sua bochecha. A pele dele estava tão quente que ela pensou que ele devia estar queimando por dentro.

— Você deve melhorar, Connor, — disse ela suavemente. — Ainda não terminamos, você e eu.

— Acreditamos que foi um assalto, — disse o pai, ficando ao lado dela. — Por suas botas. Ele... — Ele fez uma pausa como se as palavras fossem insuportáveis demais para serem pronunciadas. — Ele foi... deixado para morrer na sujeira e detritos atrás da taverna.

Mairi fechou os olhos diante da fúria escaldando suas veias.

— Então, quem quer que tenha pegado suas botas as usará. — Se ela os visse, as tomaria de volta e as pernas do ladrão junto com elas.

Ela passou tantos anos com raiva dele, mas agora seus motivos pareciam triviais. Och, por que tinha que ser a possibilidade de perdê-lo para sempre para fazê-la abrir os olhos para a verdade? Ela ainda se importava com ele. Ela tinha sido uma tola por afastá-lo por tanto tempo, cega demais pela dor em seu coração para lhe dar uma chance de consertar isso? Ele poderia consertar? Ela poderia confiar em suas promessas novamente? E se ele não quisesse mais prometer nada a ela? E se ele se importasse com Lady Elizabeth? Oh, meu Deus, ela se preocuparia com isso mais tarde. Agora, ela só queria que ele abrisse os olhos e lhe desse um de seus sorrisos casuais. Os santos a ajudassem, mas ela não podia viver em um mundo vazio de seus sorrisos, mesmo aqueles que a enfureciam.

— Connor, — ela se inclinou perto de sua orelha — você se recuperará. Você é um Highlander, não é molenga. Você é forte e em forma. Não permitireis que uma maldita adaga acabe com sua vida. Você está ouvindo? Você deve voltar para mim, Connor.

— Venha, querida. — Claire a pegou pela mão. — Sente e reze comigo. Juntas, lutaremos contra o anjo da morte que o persegue.

A vigília continuou durante a noite, com Mairi e Claire revezando-se aplicando compressas frias na cabeça dele. A rainha ficou sentada com elas por um tempo, prometendo usar todos os homens disponíveis em sua busca pelo ladrão. Felizmente, ela manteve toda a ideia sobre casamento fora da conversa. Na maior parte, ela permaneceu quieta com o resto, rezando pela rápida recuperação de Connor e observando Mairi com um sorriso enquanto ela cuidava dele.

Em algum momento da noite, depois que a rainha os deixou, Mairi fechou os olhos para dormir um pouco. Ela recusou a cama quando Claire, e até a rainha, sugeriram que ela se retirasse para o quarto e descansasse um pouco. Não até que ele abrisse os olhos. Não até que ele falasse com ela e prometesse viver. Ela não sabia se o que eles tinham antes poderia ser recuperado, mas ela o queria em sua vida. Ele era mais do que seu primeiro amor. Ele era seu amigo, e ela sentia falta dele.

Ela dormiu um pouco antes que um som a puxasse seus sonhos e do olhar apaixonado de Connor, seus lábios cheios e convidativos lhe dizendo todos os dias o quão bonita ela era para ele. Ela abriu os olhos, sem saber quanto tempo dormiu, e olhou para ele. Ele permanecia imóvel, o corpo coberto por um cobertor fino da cintura para baixo. Para cima, ele estava nu. Ela aproveitou o tempo para avaliar os músculos magros e duros ondulando em seu abdômen, na largura de seus ombros. Seu corpo mudou. O garoto se foi.

Ele se moveu. Mais precisamente, seu corpo se contorceu um pouco e então seus lábios se abriram como se uma palavra tentasse escapar dele antes de ser queimado pela febre.

Mairi saltou da cadeira e segurou a mão dele.

— Connor? — Ela sussurrou, esperando que ele respondesse. — Acorde. Já chorei cem oceanos por você, Connor Grant, e sabe como odeio chorar, então acorde.

Ele não se mexeu. Ela não sabia quanto tempo o observou, ou quando voltou a dormir na cama ao lado dele.

Connor abriu os olhos pouco antes do amanhecer e olhou para o teto no quarto dos pais. Ele não se lembrava de como havia chegado lá. Ele se sentia como no inferno, mas não estava morto e agradecia. Ele tentou se mover, mas algo em seu braço o deteve. Ele olhou para uma cabeça de ondas escuras e brilhantes, cujas pontas estavam espalhadas pelo peito. Sua mente lhe disse que era Mairi, mas ele ainda podia estar sonhando. Ele manteve o braço imóvel, percebendo com o passar dos segundos que estava completamente entorpecido. Se ela era real, ele não queria acordá-la. Se ela não estivesse aqui, ele não queria acordar. Ela se mexeu, abraçando-o mais profundamente, e ergueu o rosto apenas o suficiente para ele recuperar o fôlego ao vê-la tão perto, tão pacífica.

Mairi. O que ela estava fazendo aqui na cama com ele? Ele tinha que estar sonhando. De qualquer maneira, ele tinha que tocá-la. Levantando a mão livre, ele passou os dedos pelas mechas de seda que se curvavam na têmpora dela, caindo suavemente em sua bochecha. Ela abriu os olhos e ele sorriu.

— Sonhei com você, — ele sussurrou, acariciando a doce curva de sua mandíbula.

Ela não se afastou. Ela não se mexeu. Ela simplesmente olhou nos olhos dele como alguém poderia olhar para a amada casa de infância depois de anos fora. Então ela sorriu para ele e seu coração se desfez.

— Você está vivo.

— Srta. MacGregor — ele sussurrou, cauteloso em falar mais alto, para não acordar. — É alívio que vejo no seu rosto bonnie?

— Sim. É alívio que você vê.

Ele observou seus cílios mergulharem enquanto inclinava a cabeça para beijá-la, ignorando a dor de seu ferimento. Ela não o negaria, nem ele seria negado.

— Eu não podia deixar você morrer sem lhe dizer o que eu penso, Connor Grant.

Ele riu suavemente contra os lábios dela, mas ouviria seus defeitos mais tarde. Agora, ele queria prová-la e recebê-la de volta.

— Connor, — ela afastou a cabeça e cobriu a boca com os dedos. — Você esteve respirando lixo por algumas horas. — Quando ele piscou para ela, sem entender o que ela estava insinuando, e sem saber se ele se importava, ela evitou o olhar e esclareceu. — Você não está com o hálito fresco.

Claro. O beijo mais importante de sua vida e seu hálito estava sujo. Ele teve que rir, e apoiando a cabeça no travesseiro, ele o fez.

— Bem-vindo de volta, meu filho. — Quando ouviu a voz de sua mãe, ele se virou para ela e sorriu quando Mairi fugiu de seu braço e de sua cama. — Me agrada que você tenha sido recebido por alguém tão querido por você.

Ele observou Mairi se sentar ao lado dela, corada, mas de repente curiosa por sua resposta.

— Se eu soubesse o que me esperava, teria me esfaqueado há muito tempo.


As duas mulheres ofereceram a ele o mesmo sorriso de dor.

— Você se lembra do que aconteceu?

Connor virou-se para o outro lado da cama no momento em que seu pai estava deixando a cadeira em que ele estivera dormindo. Ele descansou a mão no ombro de Connor e deu-lhe um carinho.

— Vamos celebrar sua recuperação mais tarde. Diga-nos o que você se lembra enquanto ainda está fresco em sua mente. Você foi procurar Mairi em St. James Park. Como você terminou atrás do Troubadour?

— Foi onde você me encontrou? — Connor perguntou quando o ataque voltou aos seus pensamentos. Ele lhes contou sobre encontrar Mairi com Oxford e assistir de uma posição oculta para ver se Oxford era honroso. Ele estava prestes a procurá-la quando seu agressor o atacou.

— Você foi esfaqueado no parque então? — Sua mãe perguntou.

— Eu não sei. Fui atingido na cabeça primeiro e desmaiei. Eu não vi o rosto dele — Connor disse a eles, sabendo a próxima pergunta. — Mas tenho certeza de que era um homem. Uma mulher mesmo estendendo a mão não poderia ter me atingido com tanta força.

— E tinha que ter sido um homem, — acrescentou Mairi, — para ter levado seu corpo para a taberna.

— Alguém deve ter visto algo, — disse o pai, — quer você estivesse de costas em uma carroça ou no cavalo. — Ele foi até a porta. — Vou pedir ao capitão Sedley que envie os homens para interrogar a todos.

— Pai, — Connor chamou, impedindo-o, — peça ao tenente Drummond que cuide disso.

Seu pai assentiu e saiu da sala.

— O que é isso, Connor? — Mairi perguntou, lendo-o como um dos livros amados de seu falecido tio. Olhando para ela, ele ficou maravilhado com a facilidade com que ela poderia fazê-lo esquecer, mesmo que por um momento, a pior parte de tudo isso: que seu amigo poderia estar por trás de tentar matá-lo.

— Minha mãe e seu irmão foram traídos por seu amigo mais querido. Ninguém pode ser confiável.

— Mas que razão Sedley teria para causar-lhe dano? — Perguntou sua mãe. — O que ele ganharia matando você?

— Ele é o homem de William de Orange. Ele mentiu para mim sobre o almirante Gilles. Estou certo disso, e ele me questionou sobre Colin ir a Edimburgo com o rei.

— Como ele sabe que meu irmão viaja com o rei?

— Eu não sei.

A porta se abriu e dois médicos entraram na sala e foram diretamente para a cama.

— Lorde Huntley nos informou que você acordou. — Cada um deles se revezava cutucando e cutucando-o e, quando ele bocejou, insistiram que seus visitantes fossem embora para que ele pudesse dormir.

— Existe alguma coisa que você precisa? — Sua mãe perguntou quando ela beijou sua testa enfaixada, preparando-se para sair.

— Sim, um raminho de hortelã. — Ele piscou para Mairi e bocejou novamente quando sua mãe prometeu voltar mais tarde. Ela saiu antes de Mairi, dando-lhes um momento para si.

— Já te disse hoje que você parece bonita naquele vestido? A Inglaterra combina bem com você, Mairi MacGregor.

Ele não sabia por que o sorriso dela desapareceu. Ele teria comentado sobre isso, mas seus olhos já estavam se fechando. Inferno, ele não queria dormir. Ele queria se levantar desta cama e arrastá-la para seus braços.

Ele a ouviu dizer algo, mas não tinha certeza do que era, e então pensou ter ouvido a porta se fechar. Ela se foi, ou tinha sido um sonho, afinal?

 

Capítulo Vinte e Um


Mairi atravessou lentamente a longa Galeria Shield, sem saber em que direção deveria tomar. Deveria ir jantar sozinha na mesa de seus parentes ou no quarto de Connor, onde ele sem dúvida sorria de alegria por ela estar se encaixando tão bem aqui na Inglaterra? Ela desejou não ter deixado a rainha levar seu earasaid15 e as botas para a limpeza. Agora ela não tinha nada para vestir, a não ser o que a rainha fornecesse. Hoje era um vestido de brocado azul cobalto, cheio de renda esmeralda. Era extraordinariamente bonito, mas a Inglaterra nunca lhe serviria. Partiu seu coração que Connor pensou que sim. Lembrou-se das cartas dele pedindo que ela se juntasse a ele aqui. Ele tinha que saber que ela nunca deixaria a Escócia. A própria ideia parecia traidora para ela. Esta não era a vida que ela queria com ele e estar aqui apenas provava mais isso a ela. Ela não se encaixava com os nobres e caprichosos senhores e damas que empoavam o rosto e sorriram enquanto enfiavam uma faca nas costas um do outro, que a viam como nada mais que uma bárbara por causa de seu nome e sua religião. Teatros e sorvetes eram adoráveis, mas não significavam nada para ela em comparação com o pôr do sol ardente em uma vasta extensão de picos de montanhas, o vento fresco e perfumado de urze no rosto e os parentes que a amavam.

Ela nunca poderia ser feliz em nenhum outro lugar. A Inglaterra era a casa de Connor, mas nunca poderia ser dela. Talvez, ela pensou, arrancando uma lágrima do olho, não era Connor que ela queria tanto quanto os sonhos que ele tinha tomado dela.

— Srta. MacGregor.

Ela se virou para ver Lorde Oxford correndo para alcançá-la. Ela teria que falar com ele mais cedo ou mais tarde sobre seus sentimentos. Poderia muito bem ser agora. Ela sorriu quando ele a alcançou.

— Senti sua falta ontem à noite, — disse ele, pegando a mão dela. — Espero que você não passe o dia inteiro na cabeceira do capitão Grant.

Irritou-a que ele não tivesse perguntado sobre a condição de Connor. Por outro lado, Henry se importava com ela, e ter um capitão tão impressionante sempre atrás deles seria o suficiente para enlouquecer qualquer homem, especialmente alguém que se considerava tão caseiro. Henry provavelmente estava aliviado por se livrar de Connor por alguns dias.

— Meu lorde, ele foi esfaqueado.

— Sim, eu sei. Todo mundo no palácio sabe. Minha pobre irmã está fora de si.

Mairi franziu o cenho para ele. Och, ela não queria ouvir como a amante de Connor chorava por ele. Eles tinham que ser amantes. Por que mais Elizabeth praticamente cuspia nela toda vez que passavam uma pela outra nos corredores? Pensar nisso a irritou. Como Connor poderia querer de uma pirralha tão indulgente? Ela era linda, Mairi respondeu a si mesma. E inglesa.

— Eu espero que você seja rápido comigo.

Mairi olhou para Henry e depois para as escadas que levavam a Connor. Apesar dos sentimentos que ele tinha por Elizabeth, ela realmente deveria ir vê-lo.

— Você já ouviu falar de Tomas Marshall?

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Eu deveria saber?

— Provavelmente não, mas eu descobri recentemente algumas informações interessantes sobre ele.

Bom Deus, não mais uma hora de aula sobre um patriota inglês morto. Graças a Henry, ela já sabia mais detalhes inúteis sobre a Inglaterra do que ela precisaria.

— Eu realmente devo...

— Ele assumiu a causa de Richard Cameron nas Lowlands. Você conhece os camaroneses, senhorita MacGregor?

Ela assentiu, pegando o braço que ele lhe ofereceu.

— Eu ouvi falar deles. — Seu coração batia loucamente em seu peito. Finalmente, ele tinha algumas informações que ela queria ouvir. E não poderia ser melhor. Marshall, o novo líder dos camaroneses! Espere até seus irmãos da milícia ouvirem isso!

— Venha, — ele disse suavemente, chamando-a para longe da escada. — Vou lhe contar o que sei, embora você possa me impedir se eu a aborrecer. Sei que costumo tagarelar sobre coisas que os outros acham irrelevantes.

— Oh, meu lorde, — disse Mairi, dando uma última olhada em direção às escadas. Connor ficaria bem por algumas horas. Esta informação era valiosa demais para deixar escapar. — Você nunca me aborreceu. Você é um homem de alta inteligência. Quem não vê isso é uma tola.

— Sim, — ele concordou, sorrindo batendo na mão dela enquanto se dirigiam para o salão de banquetes. — Concordo.

Quando Mairi chegou à porta do quarto de Grant duas horas depois, alisou as ondas longas sobre os ombros, verificou os grampos nos cabelos, afastando os fios do rosto em ambos os lados da cabeça e bateu.

— Entre. — A voz de Claire a conduziu.

Ao entrar no quarto, os olhos de Mairi se fixaram em Connor primeiro. Ela ficou aliviada ao vê-lo parecendo muito melhor. Na verdade, ele parecia tão bem que seus joelhos ficaram um pouco moles.

Apoiado em uma montanha de travesseiros, com as mãos descansando confortavelmente nos quadris cobertos, ele se virou para lhe dar um breve olhar, um tanto irritado.

Mairi parou a caminho dele, mas não porque se sentia mal por não o visitar mais cedo, ou porque estava fazendo algo que ele desaprovava, obtendo informações que a ajudariam em sua batalha contra os cameronianos.

Foi o salto de um cacho de ouro contra a luz do fogo que a deteve.

— Srta. MacGregor. — Lady Elizabeth pareceu igualmente atônita ao vê-la parada na porta. — Você deveria passar a tarde com meu irmão.

Mairi colocou as mãos na frente dela e levantou a sobrancelha.

— Desde quando você sabe o que devo fazer, Lady Elizabeth?

Como no inferno que ela sabe isso? Ela havia posto seu irmão na tarefa de manter Mairi longe de Connor para que ela pudesse cuidar dele? Bastardos astutos, os dois. Maldito Henry, por fazer a oferta de sua irmã como uma ovelha no final de uma vara, e por fazer sua parte na tentativa de reforçar o relacionamento de sua irmã com Connor.

— Ele levou você para outra brincadeira no St. James Park? — Connor praticamente rosnou para ela da cama.

Ela lançou um olhar de surpresa ao seu tom, depois piscou quando a verdade se estabeleceu nela. Era por isso que ele estava bravo? Que ela estava com Henry? A barriga dela virou e a fez agarrar as dobras do vestido. Sua raiva em relação a ele a cegou para o que estava bem na sua frente desde a primeira vez que ela dançou com Henry. Connor estava com ciúmes. Sim, ela poderia ter suspeitado quando ele a informou que tinha ido à rainha falar sobre o casamento dela com Oxford ou Sedley; ela não era uma tola, afinal. Mas ela considerou isso nada mais que um falso senso de possessividade da parte dele.

Ele certamente a beijou como se tivesse direito. Inferno, mas este quarto estava quente. Rapidamente, ela perseguiu a memória da boca dele na dela. Não lhe faria bem perder a cabeça com Lady Elizabeth no quarto.

Mas era mais do que possessividade. Connor quase perdeu a vida procurando por ela no parque. Isso significava que ele ainda se importava com ela? E o que ela faria se ele se importasse?

— Lorde Oxford queria falar comigo sobre algo, — ela disse com sinceridade. — Conversamos e agora terminamos.

— O que era tão importante então? — Ele jogou para ela. — Ele falou com você sobre os desejos da rainha?

Casamento. Och, ele estava furioso. Ela quase sorriu para ele, mas Claire se levantou do assento e os interrompeu.

— Connor, há uma coisa que desejo lhe contar. Em particular — acrescentou ela, olhando para a irmã de Henry.

— Mais tarde. — Ele levantou a palma da mão para detê-la. Então, sem tirar os olhos de Mairi, pediu à mãe para sair e levar Lady Elizabeth com ela.

Se alguém tivesse tentado remover Elizabeth do quarto, seria necessário movê-la corporalmente, mas Claire Stuart precisou apenas lançar um olhar de advertência para fazer a prostituta se mover.

Quando estavam sozinhos, Mairi deu a volta na cama, puxou a cadeira mais próxima e sentou-se nela.

— Nós não falamos sobre casamento.

— Por que não?

Ela deu de ombros e cruzou as mãos no colo.

— Talvez ele não queira se casar comigo?

Sua mandíbula, sombreada por alguns dias de restolho de barbas dourados escuros, apertou, definindo a explosão da covinha direita.

— Você está sendo evasiva. Por que você não disse a ele?

— O quê? Que eu não vou me casar com ele porque eu amo você?

Ela sorriu quando ele desviou o olhar e pigarreou.

— Eu não disse isso.

— Sensato.

Ele olhou para ela sob os cílios, mas não disse nada.

— Por que você não disse a Lady Elizabeth para sair deste quarto e nunca mais voltar?

— Porque, — ele disse, apontando outro olhar frio para ela, — eu estava muito interessado em ouvir sobre a tarde que você passaria com o irmão dela. É lamentável, eu sei — ele demorou quando o sorriso dela se alargou. — Não me orgulho disso.

— Perdoe-me. — Ela abaixou os olhos, mas seu sorriso permaneceu. Maldição, ela era a lamentável que desfrutava tanto de seu desconforto. Ele estava realmente tão interessado no que ela estava fazendo que sofreria a companhia de Elizabeth?

— Eu fui esfaqueado, Mairi.

Ela olhou para cima. Ele parecia muito danado e saudável para ter quase perecido. O pensamento disso a fez fechar os olhos e respirar fundo.

— Sim, Connor, eu sei.

— Então por que você passou a manhã com Oxford? Você se importa com ele, realmente?

Ela poderia dizer que sim e ele a pediria para sair. Parte dela disse que ela deveria fazê-lo. Ela não suportava se apaixonar por ele novamente, sonhando com sua vida com ele nas Highlands e com a escolha dele pela Inglaterra mais uma vez. Ela deveria ouvir sua cabeça e se afastar dele antes que ele a machucasse novamente, mas seu coração disse para ela ficar.

— Não, eu não ligo para ele. Fui com ele porque ele tinha informações sobre o Camer... — Parou quando algo que ela perdeu ao falar com Elizabeth ocorreu-lhe.

— Ele sabia o que dizer. — Ela não tinha percebido que falava em voz alta e olhou para Connor para encontrá-lo esperando ouvir o resto. Och, ele não ia gostar.

— Sobre os cameronianos, — ele disse antes dela.

Ela assentiu e observou a mesma conclusão, junto com um olhar enojado, pousar sobre ele.

— A irmã dele queria um tempo com você, Connor, e ela o usou para me afastar. Ele me encontrou a caminho de vir para aqui e sabia o que dizer para me fazer ir com ele.

— Mas, Mairi — ele se inclinou na cama e olhou para ela gravemente — como ele poderia saber quem são seus inimigos? O que você disse a ele?

— Nada. Eu nunca mencionei os cameronianos para ele.

— Você tem certeza?

— Sim. Eu só falei deles com você. — Ela pensou por um momento. — Então, ele pode ter nos ouvido. Ou ele pode ter notado meu interesse neles quando falei com o duque de Queensberry.

Ele estava prestes a dizer algo quando uma batida suave veio à porta. Os dois olharam para Claire quando ela entrou no quarto.

— Está tudo bem? — Ela sorriu para o filho e depois para Mairi. Ela esperou enquanto eles assentiam antes de se recuperar. — Bom. Agora, tenho algo a confessar a vocês dois. — Ela sentou-se ereta e cruzou as mãos na frente dela. — Sou culpada de fazer algo bastante perverso, e a rainha foi minha cúmplice.

 

Capítulo Vinte e Dois


Mairi deixou os alojamentos dos Huntley uma hora depois, sentindo-se um pouco confusa e não muito satisfeita com Claire ou sua confissão.

Ela sabia que Claire a amava e queria que ela se estivesse com Connor, mas conspirar com a rainha da Inglaterra para ver isso acontecer? Foi desonesto! Ora, eles chegaram ao ponto de envolver o capitão Sedley em seus planos para deixá-los com ciúmes um do outro. Ridículo. Mairi não possuía um pingo de ciúmes em seu corpo. Bem, talvez um pouco, se o fato de querer colocar uma adaga em Elizabeth de Vere contasse para alguma coisa. Ela pensou em Connor, apoiado na cama, parecendo um pouco menosprezado quando ele perguntou a sua mãe se todos os seus planos significavam que Lady Elizabeth não estava de fato tão encantada com ele quanto pensava, e então seu sorriso confuso quando ele pegou Mairi o olhando. Ele estava, porém, genuinamente satisfeito com a notícia de que ela não seria realmente prometida a Lorde Oxford.

E o que dizer daquele verme pequenino de homem? Como Henry sabia como distraí-la de visitar Connor usando os cameronianos? Ele ouviu o interesse dela quando ela estava falando com Queensberry? Se sim, por que ele não disse algo antes? Ela parou em seus passos quando outro pensamento lhe ocorreu. Henry de alguma forma suspeitava que ela lutava contra os seguidores de Richard Cameron em Lowlands? Como ele sabia? Ela não lhe fez uma pergunta sobre eles ou os Covenanters.

Não, ele não sabia sobre ela pertencer à milícia. Ninguém salvou Colin, Claire e agora Connor.

Och, Connor. Mairi ficou feliz por ele ter sobrevivido, de fato, que se sentiu tonta. Uma característica nojenta e que ela não sentia há sete anos. Ela aprendeu a guardar bem o coração. Nunca mais permitiria que um homem a fizesse tão feliz e que depois a deixasse completamente infeliz sem ele. Mas nada poderia tê-la preparado para ver Connor novamente, ouvir seu lento e espesso grito quando ele lhe disse que ela significava tudo para ele, ser beijada por ele novamente, e agora descobri-lo com ciúmes depois de tantos anos. Maldição, como ela podia deixá-lo dissolver todas as suas defesas com nada além de um sorriso? Ela precisava de suas defesas, confiava nelas para vê-lo durante os longos dias e noites e ainda mais longas sozinha em sua cama, quando outras moças de sua idade já estavam casadas com um bairn debaixo de cada braço.

Ela não queria amar Connor Grant novamente, mas também não queria odiá-lo. E daí se ele amava a Inglaterra? Eles poderiam de alguma forma encontrar uma maneira de permanecer amigos. Eles não podiam? Por outro lado, amigos queriam saltar de suas cadeiras e beijar as covinhas, o queixo e os lábios do outro, enquanto agradecia a Deus repetidamente por poupar sua vida? Amigos tinham tanto prazer absoluto no ciúme do outro?

Ela suspirou enquanto descia as escadas, sem saber se era alegria ou pavor fazendo seu coração bater dentro dela. Se Connor pensava em conquistá-la novamente, ela deveria deixar? Ela poderia confiar em suas promessas novamente?

— Srta. MacGregor?

Ela se virou e pegou o corrimão quando viu o príncipe William atrás dela. Ele a empurraria escada abaixo na frente dos convidados do rei?

— Sua graça?

— Como está indo o capitão Grant? — Ele lhe ofereceu um sorriso cordial. — Está melhor hoje?

— Bastante.

— Essas são boas notícias, — disse ele, alcançando-a e estendendo o braço. — Para onde está indo?

Ela olhou cautelosamente para o braço dele. Ele não gostava dela, mas não era tão tolo a ponto de lhe causar ferimento em campo aberto. E com certeza não queria que ele pensasse que ela tinha medo dele. Ela aceitou com um sorriso educado.

— Apenas para um pouquinho de ar fresco. Está muito quente no quarto do doente capitão Grant.

— Ah, para o jardim, então? — Antes que ela tivesse tempo de aceitar ou recusar, ele subiu os degraus, levando-a com ele. — Permita-me acompanhá-la. Eu posso precisar de um pouco de ar.

Agora, por que ele iria querer a companhia dela? Ele achava que ela sabia algo que o ajudaria em sua busca? Ele a achava tola o suficiente para contar a ele? Ela continuou, decidindo que as perguntas dele podiam ser bastante reveladoras. Além disso, havia mais pares de olhos no Jardim Privado do que em qualquer outro lugar do palácio. Se o príncipe pretendia machucá-la, ele provavelmente enviaria alguém para fazer isso por ele, da mesma maneira que ele provavelmente enviou o almirante Gilles para matar a filha do rei. Covarde. Se ele pretendia se sentar no trono, ela pretendia detê-lo.

— Eu ficaria honrado por sua companhia, Sua Graça. — E talvez descubra mais uma coisa ou duas sobre você.

— O que você acha de Londres? — Ele perguntou enquanto saíam juntos.

— Tudo aqui é muito estruturado e adequado. Até as árvores crescem em fileiras altas e organizadas. — Eles compartilharam uma risada olhando para as árvores dos dois lados do caminho. — É quente e não há muitas colinas. — Ela podia pensar em mais uma dúzia de coisas, mas se absteve, preferindo que ele falasse.

— Ouso dizer que minha terra natal não é tão agradável. Você, no entanto — acrescentou ele em um tom mais suave, inclinando os lábios no ouvido dela — é como uma primavera refrescante.

Ela ficou surpresa com a intimidade dele que quase recuou. O que nas chamas ele estava fazendo?

— Sua Graça, você é muito lisonjeiro. — Ela inclinou a cabeça para olhá-lo nos olhos e curvou uma ponta da boca.

Sim, ela aprendeu ao longo dos anos que ser mulher tinha suas vantagens, mesmo que fossem um pouco humilhantes. Ainda assim, elas serviram para obter suas informações de homens que tinham motivos para ficar de boca fechada. Ela quase se odiou por manejar seus truques tão bem.

— Eu falo a verdade. — O príncipe sorriu, pensando que ele a tinha tão facilmente quanto as prostitutas inglesas zombando dela com o braço enrolado em volta da realeza. — Não é todo dia que encontro alguém que me dê uma opinião honesta sobre os assuntos da igreja e nunca alguém tão amável quanto você.

Ela se voltou para o caminho diante deles, incapaz de olhá-lo mais um momento do que precisava.

— Talvez eu possa lhe oferecer opiniões mais francas, então. Você tem apenas que perguntar.

— De fato. — Ele parou quando chegaram a um riacho que corria contra o Tamisa, parcialmente protegido do sol por uma árvore de carvalho alta. — Diga-me, o que você acha dos franceses?

Ela piscou os olhos para ele.

— Os franceses, meu lorde?

— Sim. Você falou de Deus à mesa do rei algumas noites atrás e fiquei curioso sobre o que você poderia dizer sobre a Declaração do Clero da França do rei Luís? Certamente, você já ouviu falar disso? Em que a autoridade real é aumentada à custa do poder papal?

— Receio não saber nada disso — admitiu Mairi, sem ter ideia de onde essa conversa estava indo, mas cautelosa e certa de que estava indo para algum lugar.

— Presumi que, com você morando com a irmã do almirante Stuart, Lady Huntley, pudesse estar familiarizada. Claro que você sabe que ele mora na França há algum tempo.

Era isso que ele estava procurando? Informações que pudessem ajudá-lo em sua luta com os franceses? Era inteligente, ela tinha que admitir. Se alguém poderia fornecer o que ele queria saber sobre seu inimigo, era o irmão de Claire. Mas, ela pensou, por que ele simplesmente não questionou Graham, ou mesmo Claire? Lembrou-se do motivo um momento depois. Ele a considerava imprudente e tola, facilmente conquistada por palavras bonitas.

— Infelizmente, não vemos o alto almirante em muitos anos.

— Lady Huntley não recebe cartas em... onde é que sua família mora nas Highlands? — Ele perguntou inocentemente.

Agora, por que ele iria querer saber disso? Ninguém na Inglaterra, exceto Connor Grant, sabia de Camlochlin ou de seu paradeiro em Skye, e desde que ela chegara, ninguém parecia nem um pouco interessado em onde poderiam encontrar os MacGregors. Ela inclinou a cabeça, avaliando William antes de responder. Ele poderia de alguma maneira descobrir que seus planos para matar a filha primogênita do rei haviam falhado e que ela estava agora sob os cuidados dos MacGregors? Ela sentiu vontade de olhar ao seu redor. Alguma dessas pessoas chegou recentemente a Whitehall? Eles ouviram rumores de que nem todos haviam morrido nas chamas de St. Christopher?

— Ah meu senhor — disse ela placidamente, — meus parentes têm pouca ou nenhuma terra. Durante a proscrição, perdemos a propriedade de nossos territórios em Glen Orchy. Na verdade, somos nômades e nunca nos instalamos em um lugar específico. O almirante Stuart não envia cartas porque não há lugar para enviá-las.

William olhou para ela maliciosamente.

— Lady Huntley não me parece o tipo de mulher que ficaria satisfeita sem um teto sobre a cabeça.

— Lady Huntley, como tenho certeza de que você já sabe, passou muitos de seus primeiros anos vivendo na floresta.

— Sim. — O príncipe franziu o nariz enorme como se um odor repentino e desagradável flutuasse para ele. — Eu ouvi isso sobre ela. — Ele cruzou um braço atrás das costas e com a outra mão tocou as franjas da lapela de renda. Ele voltou a dar passos, parecendo refletir sobre as coisas, ponderando diferentes possibilidades... ou estratégias sobre a melhor maneira de prosseguir com sua próxima pergunta.

Mairi caminhou ao lado dele e esperou pacientemente. Ela observou os cisnes deslizarem pela superfície do lago, depois olhou para um pássaro vermelho brilhante flutuando de uma árvore para a outra. Ela tinha que admitir, em parte porque era amiga de Connor novamente e seu coração parecia leve o suficiente para voar, que partes da Inglaterra eram bastante bonitas.

— Senhorita MacGregor.

Ela parou de andar e depois percebeu que o príncipe havia parado diante dela.

— Eu me pergunto, — disse ele, movendo-se para ela, — se você sabe por que o rei James levou seu irmão com ele para se encontrar secretamente com o Parlamento?

Ela pregou seu sorriso antes que desaparecesse. Aqui está o que ele estava procurando. Claro! Então ele se envolveu com o massacre na abadia!

— Eu não sabia que a reunião era um segredo.

— Sim, eles deveriam se encontrar no próximo mês.

— Bem, isso não posso responder, meu lorde, mas suspeito que o rei levou meu irmão com ele porque reconheceu que Colin provavelmente poderia derrotar qualquer um de seus homens no campo.

— Hmmm, — o príncipe concordou. — Eu vi o jovem no pátio. Suas habilidades são impressionantes, se não um pouco brutais. Mas eu me pergunto...

O que quer que ele quisesse perguntar foi interrompido pelo céu se abrindo e vomitando uma torrente de chuva sobre suas cabeças tão de repente quanto a brisa fresca que a precedia.

Mairi ofegou e sorriu quando as gotas frias a molharam e os convidados ao seu redor correram para se esconder. Era a mesma chuva que caia em casa, tão abrupta quanto forte. Ela inalou as fragrâncias frescas da terra acordando. Finalmente, chovia na Inglaterra em plena primavera.

— Eu diria, senhorita MacGregor, — disse o príncipe, procurando um de seus homens para cobri-lo e não encontrando nenhum. — Talvez possamos terminar nossa conversa outro dia?

Ela sorriu para as gotas de chuva pingando na ponta do nariz e assentiu por um instante antes que ele voltasse para o palácio.

 

Capítulo Vinte e Três


Mairi passou a maior parte deste dia sombrio e chuvoso com os Grants, visitando Connor, e não importa o quão sombrio o tempo estivesse, suas risadas iluminaram a sala.

Ela o observou quando seus homens visitaram sua cama e o provocaram sobre ser tapado na cabeça e ficar impotente como o jantar daquela noite. Ela observou como ele ergueu a sobrancelha com um toque de humor inesperado. Como ele abria a boca e jogava a cabeça para trás quando ria. Ela amava o rosto dele e a velocidade com que mudava com uma dúzia de emoções diferentes, enquanto o sorriso e a voz dele permaneciam tão lânguidos quanto um dia de verão. Ela percebeu, muito feliz e com um pouco de surpresa, que ele não era tão aberto e encantador com as mulheres que o visitaram. Och, as covinhas estavam lá, sempre estavam, mas seus sorrisos eram temperados com... tédio.

Até a rainha viu nele apenas o que ele queria que ela visse em um capitão obediente e leal. Ainda assim, isso não impediu Mary de Modena de flertar inocentemente com ele. Mairi não se importou. Ele estava ficando mais forte a cada dia, mais vibrante em sua cama. Nenhuma mulher com sangue nas veias poderia ignorar seu olhar mais leve e casual. Lady Elizabeth certamente não podia, apesar de sua raiva fervilhante pela presença de Mairi quando ela o visitava, o que era frequente. Lady Hollingsworth praticamente teve que ser arrastada para fora da porta duas longas horas depois de sua chegada. Connor não provocou ou seduziu nenhuma delas, mas manteve seus sorrisos educados e suas palavras breves.

— Elas odeiam que eu esteja aqui com você, — Mairi disse a ele na segunda noite do aguaceiro. Eles estavam finalmente sozinhos e agora que estavam, ela estava tendo dificuldade em lembrar o que estava esperando há dois dias para contar a ele. Ela caminhou ao redor do quarto, tocando isso e aquilo, tentando não olhar para ele.

— E daí? — Ele estava lá, seu lençol descendo pelo torso nu e duro, um braço jogado casualmente atrás da cabeça como um anjo pecador vindo para tentá-la a ir para sua cama.

— Então. — Ela pegou um dos frascos de medicamentos dele e o segurou no nariz. — Elas estão com raiva porque você não lhes mostra mais interesse porque eu estou aqui.

— Mairi, — disse ele, torcendo a boca e forçando o olhar para o outro lado do quarto, — eu não mostro interesse por elas nem quando você não está aqui.

Ele fazia o coração dela bater com poucas palavras. Contra sua vontade, pois não queria que ele visse como a afetava, ela se voltou para ele.

— Quantas vezes elas o visitaram na minha ausência então?

Um sorriso íntimo provocou seus lábios e ela sabia que falhou. Estranhamente, tornou sua vitória ainda mais atraente do que a arma que era a língua de Connor Grant. Ah, mas ele exercia isso como um especialista contra ela, seja em desafio, humor ou em pronunciar palavras tão casualmente que a maioria dos outros homens poderia achar difícil de admitir.

— Bem, agora que está um pouco mais frio aqui dentro, você não vai sair com tanta frequência.

— Eu não posso, — ela admitiu. — Então, novamente te digo, que passear pelo palácio sozinha me proporcionou a oportunidade de falar em particular com o príncipe William, então eu não perderia isso por nada.

Ele se sentou e seus olhos se moveram por vontade própria sobre as ondulações em sua barriga dura.

— Você falou com ele sozinha?

— Sim, e por favor, não pareça tão bravo. Isso é um insulto.

Sua boca se abriu e fechou novamente um instante depois que ele compreendeu visivelmente o que ela queria dizer. Mairi esperava que não tivesse nada a ver com ela ser uma moça.

— Sério, Connor, você não deve se preocupar com isso. Não disse nada que colocasse em risco a mim ou a minha família.

— Ele é esperto, Mairi.

— Ele foi desesperadamente inadequado.

Quando ele sorriu para ela, foi felizmente ao reconhecê-la pela guerreira que ela era ou ele estava rindo de sua afirmação. Quando ela se afastou da cama, ele acenou para ela dando um tapinha no colchão ao lado dele.

— Diga-me como você o matou, Mairi.

Ela não percebeu que estava sorrindo até que foi até ele e se sentou, esquecendo todo o resto, exceto a alegria de compartilhar seus segredos com ele.

— Jure-me sua lealdade ao nosso rei católico primeiro.

Ele revirou os olhos, mas fez o que ela pediu.

— Connor, ele esteve envolvido com o massacre em St. Christopher.

— Como você sabe?

— Ele praticamente me disse, — disse ela, ansiosa para contar tudo a ele. — Ele pensou que estava sendo esperto, mas suas perguntas eram tão óbvias quanto o nariz em seu rosto.

Ele riu, e ela também. Inferno, ela não ria com ele há tanto tempo. Era como dançar sem os pés tocando o chão. Ela contou a ele que as perguntas do príncipe tinham a ver com a França e seu tio, e como ele tentou, com sutileza fracassada, descobrir onde seus parentes moravam e, finalmente, por que Colin havia acompanhado o rei a Edimburgo.

— Tem que ser ele, Connor. Tudo faz sentido. Por que ele está tão curioso sobre os meus parentes? Você não vê? — Ela perguntou, depois continuou antes que ele pudesse concordar ou não. — Rob temia que os inimigos da senhorita Montgomery estivessem entre os convidados do rei. Foi por isso que ele pediu para não contar ao rei sobre o resgate de sua filha. Quando você chegou e meus parentes se juntaram e partiram, provavelmente despertou as suspeitas de William de que algo estava errado. Então, quando James fugiu no véu da noite com outro MacGregor, supostamente para se reunir com o Parlamento um mês antes, ele teme o pior. A filha do rei tem que estar viva em algum lugar com os MacGregors. Era a única coisa que faria James deixar a Inglaterra sem explicação.

Seus olhos o seguiram quando Connor se recostou na cama para permitir que suas palavras se infiltrassem. Silenciosamente, ela absorveu cada nuance de músculo que a agraciou. Depois que a excitação de contar a ele o que ela havia descoberto se exauriu, seus pensamentos voltaram para curiosidades mais básicas. Ele queria beijá-la novamente? Como os restolhos dourados em seu rosto seriam contra sua garganta, seus seios? Ela piscou ao perceber que ele estava olhando para ela.

— Você é uma moça inteligente, Mairi MacGregor.

Ela sorriu, sentindo-se ainda melhor do que se sentira há dois invernos atrás, quando ela e Colin descobriram que Kevin Menzie, de Rannoch, era cameroniano.

— Eu não tinha certeza se deveríamos contar à rainha ou esperar até que o rei voltasse, — disse Mairi. — Se o comportamento dela mudar em relação ao príncipe, ele pode suspeitar que ela sabe e agir de acordo com isso.

— Vamos esperar então, — ele concordou, movendo os dedos sobre os dela e sacudindo-a até seu âmago. — Mais tarde, você me dirá o que mais sabe sobre William de Orange e como o derrotar. Agora, vamos falar de nós.

— De nós? — Ela perguntou, sentindo sua respiração explodir e seu rosto esquentar.

— Sinto sua falta, Mairi. Sinto sua falta há muito tempo.

Ela fechou os olhos e tentou se lembrar de todas as vezes que desejara ouvir aquelas palavras dele. Mas como ele poderia sentir sua falta e ainda ficar longe?

— Você não lutou por mim.

Ele riu, mas pela primeira vez, não havia humor nisso.

— Durante quatro anos, eu lutei. Quanto tempo você gostaria que eu tentasse reconquistá-la?

— Pelo tempo que fosse preciso.

Seu lento sorriso sensual fez seus olhos brilharem com calor e a fez terrivelmente consciente de sua proximidade.

— Então eu começarei novamente.

A manhã do quarto dia da tempestade começara bastante bem, embora não devido a algo que Connor intencionalmente fizera. Pelo menos, Mairi não achava que ele pretendia parecer tão ridiculamente atraente simplesmente sentando-se na cama, com o lençol jogado descuidadamente para o lado e as pernas, envoltas em nada além de calções de algodão justos, arremessados na borda. Ele não sabia que ela estava prestes a entrar no quarto quando decidiu que passara dias suficientes e começou a flexionar e esticar os músculos não utilizados.

Ele ergueu os olhos do ferimento enfaixado e sorriu para ela quando ela abriu a porta. A visão dele espalhou todos os pensamentos em sua cabeça, exceto um. Como diabos ele conseguia parecer tão viril e reviver tão logo depois de ser esfaqueado em suas entranhas?

— É muito cedo! — Ela foi até ele, com a intenção de convencê-lo a se deitar, mas ele capturou as mãos dela e usou o peso dela para se levantar. O calor do corpo dele quase tocando o dela a emocionou e parou sua respiração. A altura dele, quando ela inclinou o rosto para olhar nos olhos dele, e a largura dos seus ombros a fez se sentir pequena e muito parecida com uma mulher que quase gemia com uma dor que não sentia há sete anos.

— Tenho muito a fazer para provar a você que não é tarde demais.

Seu hálito fresco e de menta tomou conta dela, enquanto o timbre rouco de sua voz fazia sua própria boca secar.

— Então é melhor você começar a andar. — Ela sorriu e se afastou, soltando as mãos dele. Ela o observou dar os primeiros passos hesitantes para longe da cama, admirando sua força e a curva bem torneada de suas nádegas tão bem definida em suas calças que deixava pouco para a imaginação quando ele se voltou para ela.

Ocorreu-lhe, quando os lábios dele se curvaram na direção de seu olhar, que sua primeira avaliação poderia estar incorreta e que ele havia planejado todos os movimentos para seu prazer.

— É bom estar de pé novamente.

Provavelmente não tão bom quanto ele olhou para ele, Mairi pensou, depois se repreendeu por seus pensamentos devassos. Deus a ajude, mas ela queria passar a língua pelo contorno ondulado da barriga dele.

— Eu deveria pedir que suas roupas sejam devolvidas para você.

Ele riu por trás de alguns fios de seda que caíam sobre seus olhos, sabendo muito bem o que a visão de seu corpo seminu estava fazendo com ela e gostando.

— Se você desejar, Mairi.

A maneira como o nome dela saiu da língua dele produziu pequenas gotas de suor ao longo de sua testa. Como um homem poderia fazer isso com ela, e tão rapidamente? E alguém a quem ela se convencera de que odiava? O único homem que partiu seu coração. Ele merecia o desafio que ela queria dar na tentativa de reconquistá-la. Ela não queria facilitar as coisas para ele, mas estava falhando miseravelmente.

— Eu ia solicitá-las, já que vou me juntar a você no jantar hoje à noite e eu odiaria vê-la arrancar os olhos de Lady Hollingsworth se me observasse assim.

Ela zombou dele, decidida a provar que não estava com ciúmes.

— Vista o que quiser. Estarei muito ocupada com Lorde Oxford para notar todas as suas amigas caindo aos seus pés.

Ele ficou sério imediatamente.

— Você vai começar a passar seu tempo com ele novamente?

— Não, mas estou curiosa sobre o que ele acha que sabe sobre mim e eu não tive a chance de falar com ele sobre isso.

— Eu não quero que você fale com ele sobre isso.

Och, inferno, por que ele tinha que arruinar uma manhã perfeitamente agradável, ordenando-a?

— O que você quer dizer com você não quer que eu fale com ele sobre isso?

— É muito perigoso. Se ele sabe alguma coisa...

— ...então eu gostaria de saber o que é. E também desejo que você pare de me insultar. Você, mais do que ninguém, sabe como detesto ser considerada fraca porque sou uma moça.

— Eu não disse que você era fraca, Mairi.

— Bom, porque eu posso manejar uma lâmina, assim como qualquer homem.

Ele sorriu como se ela o divertisse e ela teve vontade de dar um tapa nele. Ele se aproximou dela até que ela sentiu o calor do peito nu.

— Eu não posso deixar de querer protegê-la. — Sua voz caiu em um sussurro rouco em sua têmpora. — Se alguma coisa acontecer com você... — Seus dedos se levantaram para capturar o rosto dela e incliná-lo para ele.

Ela queria dizer a ele que nada lhe aconteceria. Não foi ela quem foi esfaqueada no parque com dezenas de pessoas por perto! Mas ela não conseguia falar. Ela fechou os olhos, esperando o beijo dele e se preparando contra a batida do coração contra seu peito.

A porta se abriu e a rainha entrou na sala com Claire atrás dela. Um momento de silêncio atordoado se passou antes que Connor se afastasse dela e Mary de Modena corasse.

Mairi não tinha certeza se a rainha estava envergonhada de invadir o quarto e interromper o que era claramente um momento muito íntimo, ou se suas bochechas coraram ao ver Connor em suas calças.

Mairi não ficou tempo suficiente para descobrir.

 

Capítulo Vinte e Quatro


Connor estava parado na entrada do salão de banquetes sozinho e sem a ajuda da bengala que a rainha insistiu em que ele usasse. A dor branca e quente de sua ferida havia diminuído em uma dor surda nos últimos dias e ele realmente se sentia em forma quando olhou para os convidados do salão. Ele encontrou Mairi sentada à mesa dela, com ninguém menos que Lorde Oxford ao seu lado, tagarelando em seu ouvido. Ela parecia imensamente entediada e Connor sorriu, apesar de estar bravo com ela por não ficar longe de Oxford, como ele havia pedido. Bem, talvez ele tenha ordenado mais do que pedido.

Ele passou as gotas de chuva dos ombros de seu justaucorps16 enquanto entrava. Além de seu casaco militar, este era o melhor casaco que ele possuía. Feito de brocado azul profundo com forro de seda prata e botões, foi cortado para ficar mais ajustado e pendurado até os joelhos. Os intrincados laços de fita azul em sua garganta pareciam um pouco sufocantes, mas a rainha quase chiou de alegria enquanto sua mãe os amarrava no pescoço. Ele não se importava com sua ajuda na escolha do que devia vestir depois que pediu seu próprio quarto de volta e um banheiro privado para usar. Ele estava tentando reconquistar Mairi e as duas ficaram mais do que felizes em ajudá-lo a ter o melhor desempenho possível durante sua tarefa. Ele se recusava categoricamente a usar peruca, calças de meia colada as pernas ou salto alto. Ele poderia residir na Inglaterra, mas ainda era, e sempre seria, um Highlander.

— Ah, inferno, é isso que o amor faz a um homem, então?

Connor sorriu quando seu tenente apareceu ao lado dele com uma bebida e deu-lhe um olhar lamentável.

— É o que duas mulheres intrometidas fazem com um homem, Drummond.

— É pior do que eu temia se você está deixando as mulheres o vestirem. — O tenente olhou ao redor do peito de Connor e tomou um gole de sua caneca. — Onde você está sentando?

— Ali. — Connor apontou para a mesa de Mairi. — Por quê? Você quer se juntar a mim? Há cadeiras vazias e haverá mais uma antes que uma hora passe.

— Vou sentar com você. — Drummond o empurrou para frente. — Mas é melhor você se mexer. Lady Elizabeth se aproxima com um olhar determinado nos olhos e alguma influência extra nos quadris magros.

Connor captou o flash de cachos amarelos quando ele e seu tenente atravessaram a multidão e escaparam, embora apenas por pouco.

Quando chegou à mesa de sua família, ele cumprimentou Mairi primeiro e depois seus pais.

— Oxford, — ele disse por último, virando-se para o nobre inglês, — sua irmã estava procurando por você. Eu garanti a ela que você iria momentaneamente à sua mesa.

Oxford o estudou por um momento com um olhar arqueado, depois sorriu.

— Talvez Lizzy possa jantar aqui conosco.

— Outra hora, talvez. Eu já convidei meus homens para sentar conosco para celebrar minha volta, se você entende. Receio que não haja espaço aqui para você.

Talvez tenha sido Oxford quem tentou matá-lo. A fúria flagrante em seu rosto quando ele olhou para os pais de Connor e depois para Mairi estava dizendo o suficiente.

— Claro capitão. Estou feliz em vê-lo bem novamente — ele mentiu e se levantou. — Srta. MacGregor — disse ele, pegando a mão dela e levando-a aos lábios. Espero vê-la mais tarde.

Não se Connor tiver algo a dizer sobre isso. Ele viu Oxford sair da mesa, depois voltou seu sorriso mais vibrante para Mairi, ignorando seu olhar pedregoso. Ele não se importava se ela estava com raiva ou não. Ele não gostava de Oxford e agora tinha um motivo para desconfiar dele.

— Você parece bonita nesta noite, Mairi — ele disse, sentando-se na frente dela. E inferno, mas ela estava. Ela usava um vestido amarelo claro, que parecia, da mais fina seda, com rendas douradas profundas surgindo de seu decote. As pérolas ao redor de sua garganta e entrelaçadas em seus cabelos aumentavam sua tez cremosa, mas ela não precisava de adornos para acentuar sua beleza. Ele queria arrancar cada grampo de seu cabelo e observar enquanto suas madeixas se derramavam sobre seus seios. Ele queria beijá-la e provar o fogo da sua língua. Ela era dele e ele queria que ela soubesse disso. Se ela queria ser vencida, ele estava mais do que feliz em obedecer. E vencer, era com ele.

— Seu tratamento com Lorde Oxford foi bastante rude, — disse ela, escondendo o olhar sob os cílios pretos depois de avaliá-lo em seus justaucorps.

— Ele sobreviverá, embora eu me pergunte se vou sobreviver.

Mairi lançou-lhe um olhar curioso e voltou-se para Oxford, dirigindo-se à sua própria mesa.

— Você não acha que ele...

Connor deu de ombros, pousando a caneca.

— Estou no caminho dele.

— Sobre o quê?

Inferno, por que ele não parava de sorrir para ela como um idiota apaixonado? Como ela podia ser tão inteligente quando se tratava de seus inimigos e ainda tão inocente sobre seu efeito sobre os homens?

— De você.

Ela sorriu para ele como se estivesse faltando alguma coisa.

— Eu concordo que ele pode se importar comigo, mas duvido que tente matá-lo por causa disso.

A seu lado, sua mãe esperava que os servidores, que haviam acabado de chegar para colocar o primeiro prato na frente deles, terminassem e saíssem antes que ela falasse.

— Não há como dizer o que um homem faria para obter o que deseja, querida.

— Vou checá-lo um pouco, — disse o pai, olhando por cima do ombro da esposa para a mesa dos Oxfords. — Eu não gosto dele de qualquer maneira.

— Eu vou ajudar, — ofereceu Drummond.

Mairi suspirou, mergulhando a colher na sopa.

— Na verdade, acredito que ele é totalmente inofensivo, sem nenhum pouco de rigidez na coluna, principalmente quando se trata de sua irmã, mas inofensivo, no entanto.

— Ah, Sedley e Edward.

Antes que Connor pudesse detê-lo, Drummond chamou os outros homens. Ele odiava os pensamentos corroendo-o de que um de seus amigos mais antigos estivesse por trás do ataque a ele. Ele teria que informar seus homens de suas suspeitas sobre Sedley em breve. Ele não sabia por que já não tinha feito isso. Ele não tinha certeza se estava certo em suas suspeitas e, o pior, doía que um amigo o traísse. Mas se havia uma chance de Sedley conspirar contra o rei, seus homens precisavam saber.

Ele entendia agora por que James não se moveu contra o príncipe William sem prova de que deveria. Também lhe deu outro motivo para desejar que ele estivesse de volta a Glencoe. A lealdade não existia nos tribunais dos reis, exceto pelo ganho próprio.

Ninguém aqui pode ser confiável.

— Você parece inglês esta noite — disse Sedley, avaliando Connor com um de seus famosos sorrisos urbanos, enquanto ele se sentava na cadeira anteriormente ocupada por Oxford.

— Não me insulte na minha primeira noite de volta.

Drummond riu ao lado dele e bateu nas suas costas. Connor piscou para Edward enquanto o jovem corneteiro estava se sentando. Edward era inglês e a brincadeira de Connor não estava voltada para ele.

— Capitão Sedley? — A voz doce de Mairi do outro lado da mesa chamou sua atenção de volta para ela. Ela encontrou o olhar dele e o segurou por um momento antes de deslizar, junto com seu sorriso, uma pergunta para Sedley. — Onde é que você chama de lar?

— Kent, — o capitão disse a ela, olhando a servidora bonita colocando um prato na frente dele. — Meu pai é o baronete de Aylesford.

O ligeiro arco de sua sobrancelha revelou mais a Connor do que curiosidade ociosa. Ela era um dos três na mesa que sabia que Connor duvidava dele. O que ela estava fazendo?

— O que seu pai acha do seu estilo de vida libertino? — Ela perguntou tão suavemente quanto um gatinho ronronando por seu leite.

Sedley riu e três damas que passavam pararam para admirá-lo.

— Os libertários são completamente desprovidos de moral, senhorita MacGregor. Certamente — disse ele, arrancando um monte de fiapos do casaco militar, — você não acredita que eu seja tão depravado.

Mairi torceu o lábio para ele por trás da caneca.

— A depravação é muitas vezes distorcida pelo depravado, capitão Sedley. Mas como nada sei sobre você, exceto o que me foi dito pelo capitão Grant e por uma ou duas criadas, sou incapaz de fazer julgamentos justos a seu respeito.

— Sua reputação é bem merecida, — disse Drummond, procurando sua comida.

— A maioria das reputações geralmente são, — Mairi apontou com um breve olhar para Connor.

O sorriso de Sedley aumentou.

— Ah, mas todos somos escravizados ao serviço do pecado.

— Sim — disse Mairi, devolvendo um sorriso bastante resplandecente ao libertino. — E somente alguns são escolhidos por Deus para receber Sua misericórdia. Ou assim a doutrina de Calvino afirma, não é?

Sedley se mexeu sutilmente em seu assento e olhou para os homens ao seu redor antes de abrir a boca para falar.

Mairi o deteve antes dele.

— Não tenho certeza de que compreendo completamente sua fé, capitão, por favor, esclareça minha ignorância, mas não é verdade que os calvinistas acreditam que o homem não é salvo pela fé ou virtude, mas apenas pela misericórdia de Deus?

— Eu não saberia, querida senhora, — Nick disse a ela, seu tom um pouco menos amigável agora. — Eu não sou calvinista.

— Ah, meu erro então. — Mairi suavizou o sorriso, tornando Connor, pelo menos, imóvel por sua delicada beleza feminina. — Embora eu achasse que essa crença serviria como uma pessoa diabólica.

— Oh?

Ela assentiu, tomando outro gole da caneca.

— Você poderia viver a vida que escolheu, ser tão degradado quanto quisesse, sabendo que se for um dos eleitos de Deus, Ele simplesmente mudá-lo-ia.

— Ele teria muito que mudar neste caso, — disse Drummond enquanto mastigava a comida.

— Eu não sou tão terrível, — Sedley corrigiu secamente. — Eu não voltei meus encantos depravados para você, milady. — Ele ignorou o olhar de aviso de Connor e seguiu em frente. — Não que eu tente roubar você do meu bom amigo aqui. O capitão Grant já me avisou que você é dele e o que quer que eu acredite sobre Deus, ainda não desejo encontrá-lo na vida após a morte.

— Eu nunca afirmei que ela era minha, Sedley. — Connor riu, tentando desesperadamente salvar qualquer dignidade que ele tivesse quando se tratava de Mairi MacGregor.

— Na verdade, capitão Grant, — interveio Edward, que até aquele momento permaneceu alegremente quieto, — você o fez. Foi logo depois que você disse ao capitão Sedley para não se preocupar com a cor dos olhos dela. Ele perguntou se ela era sua e você disse: sim.

— Edward, — Connor o silenciou da melhor maneira do eu vou matá-lo mais tarde. — A senhorita MacGregor já acredita que sou um ogro que não pode dar um passo sem cair nos meus próprios dedos, não vamos tentar convencê-la ainda mais, não é?

Ele se virou para oferecer a Mairi um sorriso alegre que esperava convencê-la da trivialidade do assunto. Pelo menos era para ele. Mas ela olhou através dele do outro lado da mesa e viu como o coração dele batia por ela. Seus olhos nele se suavizaram e seus lábios se curvaram levemente nos cantos. Foi o suficiente para parar o fôlego e disparar seu sangue. Ela era dele. E ele mataria qualquer homem que pensasse em tirá-la dele. Ele a queria de volta, de volta em seus braços. De volta a sua vida. Se ela quisesse que ele lutasse por ela, ele faria isso e muito mais.

Parecendo ter concluído seu sutil interrogatório sobre Nicholas Sedley, Mairi virou o assunto da conversa para o resto da mesa, incluindo Claire, de preferência. Suas batalhas e as feridas que sofreram através delas. Seus risos eram altos e suas brincadeiras íntimas. Os amigos de Connor ouviram em silêncio atordoado enquanto seus pais contavam o encontro com o general George Lambert quando resgataram o irmão de Claire de suas garras. Eles ficaram igualmente surpresos, embora um pouco mais duvidosos quando Claire se gabou da habilidade de Mairi com a espada.

— Quatro das cicatrizes que eu carrego, — Connor disse a eles, — foram infligidas pela lâmina da senhorita MacGregor. — Ele puxou o lenço ao redor do pescoço, abriu a gola e desatou o colete até mais baixo. — Ela me atingiu aqui na prática. — Puxando a camisa, ele revelou uma pequena cicatriz na clavícula. — Ela estava com raiva de mim por alguma...

— Você disse que preferiria que eu empunhasse agulhas de costura em minhas mãos do que punhais, — lembrou Mairi.

Ele ainda preferia, mas não estava disposto a dizer isso de novo. Ele estava tentando conquistá-la, afinal, não queria encontrar um dos punhais escondidos em sua garganta.

— Perdoe a intrusão.

Connor olhou para cima e pensou em esmagar o rosto de Henry de Vere na parede mais próxima pela centésima vez. Quando viu Lady Elizabeth ligada ao braço do irmão, ele soltou um suspiro de aborrecimento, mas conseguiu dar um breve sorriso. Ela sorriu de volta.

— Capitão Grant. — Foi o irmão dela que falou. — Gostaria de lhe oferecer a mão da minha irmã para a primeira dança.

— Eles estão se preparando para limpar as mesas, — Lady Elizabeth informou ansiosamente.

— Em troca, — Oxford sorriu para Mairi e pegou a mão dela, colocando Connor em pé. — Gostaria de ser o primeiro a escoltar a senhorita MacGregor para a pista de dança.

— Talvez outra hora. — A voz grossa de Connor cortou o ar e interrompeu o movimento de Oxford. — Lady Elizabeth, — ele se virou para ela com um sorriso educado. — Acho que meus passos ainda são muito lentos para dançar. E a senhorita MacGregor — ele voltou seu olhar duro para Oxford — não é um pedaço de carne de carneiro para ser pechinchada.

Ele não tinha certeza de qual dos irmãos ficou mais vermelho. Henry ou Elizabeth. Ele suspeitava que Henry era o mais perigoso dos dois quando ficou para trás para oferecer a todos um sorriso tenso e gracioso antes de seguir sua irmã de volta à mesa deles.

— As mesas estão sendo limpas. — Connor permaneceu de pé e alcançou a mão de Mairi sobre a mesa. — Nós vamos dar um passeio.

— Nesta chuva?

Connor inclinou a cabeça para piscar para Edward quando Mairi colocou a mão dela na dele.

— Você chama isso de chuva, rapaz? Nas Highlands, chamamos isso de garoa. Não é, Mairi?

Ela assentiu e sorriu quando ele a levou para fora do salão de banquetes.

 

Capítulo Vinte e Cinco


Mairi tentou se concentrar em uma dúzia de coisas diferentes enquanto seguia Connor para fora do palácio. O aroma glorioso do ar noturno, fresco e suave da chuva da primavera. As conversas com seus homens à mesa. Mas seus pensamentos foram dispersos pela sensação da mão quente de Connor fechada ao redor da dela. Era um toque íntimo e possessivo, quase tão emocionante quanto seus beijos; uma surpresa familiar que a levou de volta à infância, quando ele costumava ir buscá-la para passear com ele. Só que agora sua mão estava maior, a palma da mão mais áspera com calos de todos os anos em que empunhava uma espada. Ela olhou para o belo perfil dele quando eles entraram no Pebble Court e andaram embaixo de uma das galerias superiores, protegendo-os da chuva. Ele disse a Sedley que ela era dele. Ela acreditava nisso graças à validação de Edward Willingham e sua expressão inocente enquanto ele lembrava Connor de suas próprias palavras. Era uma afirmação arrogante para Connor ter feito, especialmente quando ele não tinha ideia, no momento, que ela não o odiava verdadeiramente, mas isso não a irritou. Sim, ele era um pouco primitivo em seus modos de pensar, mas ela gostava. Provava que a Inglaterra não o havia mudado tanto. Provava que ele ainda se importava com ela, ele ainda a queria. Mas o quanto? Ele deixaria a Inglaterra por ela desta vez?

— O capitão Sedley é um calvinista, — disse ela, numa tentativa desesperada de desviar seus pensamentos da boca dele. — Ele pode negar, mas segue a fé do príncipe William e provavelmente quer James fora do trono.

— Eu sei, — ele disse calmamente.

Ela ouviu o pesar em sua voz e apertou sua mão, querendo confortá-lo.

— Você o conhece há muito tempo?

— Sim, chegamos a Whitehall mais ou menos na mesma hora. Lutamos contra os inimigos de Charles juntos e provamos nossa habilidade em campo. Ele se destacou comigo, sem inveja de que eu tivesse sido promovido antes dele. Continuamos amigos, apesar dele ser protestante. Me dá pena em pensar que ele faz a vontade de William, a ponto de querer me ver morto.

— Mas você não sabe se ele estava por trás do ataque, Connor. Ou por que William iria querer você morto? Além disso — acrescentou ela, desesperada por aliviar seus pensamentos conturbados, — ele parece mais interessado no efeito que seu traje militar exerce sobre as mulheres do que sobre seus possíveis inimigos.

Ao contrário de Connor, que não se preocupou em amarrar o lenço no lugar. Ele sabia o quão magnífico ele parecia em seu traje cortês? Quão alto e elegante ele era em seus imponentes justaucorps e botas polidas, ou como sua gola aberta e lenço descartado revelavam um cavalheiro menos domado? Ele não parecia se importar tanto, o que o tornava ainda mais atraente. Ela se aproximou um pouco mais e inalou seu perfume limpo, ligeiramente tingido com a fragrância de sândalo.

— Você sente o cheiro? — Ela se afastou do aperto dele, desesperada por um momento para pensar com clareza. Ela estava com tanto medo de amá-lo assim e perdê-lo novamente. Ela não conseguiria sobreviver pela segunda vez. Ela poderia deixar a Escócia por ele?

Ela caminhou até a beira dos amplos arcos acima dela e olhou para a torrente a alguns centímetros do rosto. Ela fechou os olhos e inalou profundamente.

— Você sente o cheiro da grama? Do vento? Juro que quase sinto o cheiro da urze.

Ele veio atrás dela; tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele, a inspiração suave da respiração depois que ele inalou.

— Cheira a casa. — Sua voz profunda e lânguida caiu sobre sua nuca e fez seu coração bater contra o peito. Casa.

Ela sorriu e se virou para olhar nos olhos dele. Sua respiração pareceu parar quando ele pegou uma gota de chuva na ponta do nariz dela.

— Você cheira bem, — ela disse antes que pudesse se conter.

— Graças a você. — Seu sorriso era tão lento e sensual como seu tom.

Och, para o inferno com a tentativa de ser tímida. Não era da natureza dela e ele sabia disso.

— E você parece muito bonito também. Quando Lady Hollingsworth te viu, juro que ela...

— Eu não me importo com o que qualquer outro olho vê, apenas com o que o seu vê.

Ela sorriu e olhou para a lua. Não estava cheia, mas havia o suficiente para cobrir sua língua com prata.

— Suas palavras são bonitas, Connor, mas eu não sou mais uma criança que pode ser influenciada por elas.

Ela se afastou dele antes de ceder ao desejo de estar em seus braços. Ela o deixaria voltar à sua vida, voltar ao seu coração. Se eles se separassem novamente, isso a destruiria.

— Você sabe o quanto eu sofri por você? — Ela se virou para olhá-lo, precisando dizer a ele, precisando que ele soubesse a verdade. — Todo dia me preocupava que você morresse lutando por um rei protestante e eu nunca mais veria seu rosto novamente.

Ela bebia em vê-lo agora. Seu Connor, mais velho, um pouco mais sombrio, mas sempre seu Connor. Ele ouviu silenciosamente enquanto ela contava seus medos, e por que ela se tornara tão fria e implacável com ele. Ele queria ir até ela, mas, em vez disso, a deixou falar.

— Toda vez que eu via um cavaleiro se aproximando de Camlochlin, temia que ele carregasse uma missiva nos informando de sua morte. Esperei dia após dia e ano após ano que voltasse, mas você não voltou

— Eu não pude, — ele disse finalmente, e deu um passo em sua direção. — Não no começo. Você sabia disso. Enviei cartas de minhas próprias mãos pedindo que você viesse a mim

— Não poderia deixar a Escócia. Você sabia disso.

— Eu esperava que você me amasse mais do que Camlochlin, Mairi.

Oh, Deus, ela o amava mais. Ela esteve errada sobre ele todos esses anos? Ele realmente continuou a amá-la mesmo depois que partiu? Se convencera de que pedir que ela fosse até ele não passava de uma maneira fácil de removê-la de sua vida. Ela estava errada?

— As fofocas viajaram para longe, Connor. Você teve amantes. Sua proeza no quarto de dormir tornou-se tão infame quanto outrora.

— Era você que eu queria, Mairi. — Quando ele ficou de pé próximo dela, ela tremeu com a potência do seu olhar. — Desde o momento em que te vi novamente, sabia que nunca amaria ninguém além de você.

— Mas sete anos, Connor...

— Ouça-me. — Sua respiração caiu suavemente contra o rosto dela, suas palavras, calmas e sinceras contra seus ouvidos. — Não importa quanto tempo eu estou fora. Eu nunca parei de pensar em você, querer você. Ainda não consigo pensar em minha vida sem você. Agora, pare de discutir e me beije.

Henry de Vere estava na galeria superior, olhando para a Pebble Court e para o casal trancado nos braços um do outro. Seu coração caiu a seus pés. A chuva caiu em sua cabeça, ensopando sua peruca até que ele a arrancou para manter os cachos encharcados longe dos olhos. Ele sabia que Grant gostava de Mairi. Qualquer tolo com um par de olhos podia ver. Mas Mairi. Ela o enganara bem.

Cadela.

Ele se odiava por não odiá-la do jeito que ela merecia. Elizabeth estava certa sobre ele. Ele era um tolo covarde, pois ainda se importava com Mairi. Ele ainda a queria, mesmo sabendo o que ela havia feito no rosto dele. Ele queria perdoá-la. Ele teria perdoado, se ela o amasse. Mas lá estava ela, beijando o único capitão católico de James, sussurrando com ele, rindo com ele. Provavelmente, eles estavam rindo dele. Ele deveria tê-la matado no momento em que soube quem ela era.

Ele se virou para olhar para trás quando ouviu alguém sussurrar seu nome. Lizzy. Ele queria que ela visse e a atraiu para mais perto, mantendo o dedo pressionado contra a boca para insistir que ela ficasse em silêncio.

Ele sorriu com a respiração afiada dela. Era melhor se ela soubesse a verdade e enfrentasse com ele o mesmo que deveriam fazer. Quando ela voltou para dentro, ele deu aos amantes mais um olhar sombrio e depois a seguiu.

Ela girou sobre ele no instante em que estavam sozinhos.

— Eu pensei que tinha dito para você fazer algo sobre ela!

— Eu tentei.

— Você não pode porque é um tolo covarde, Henry! Eu disse isso ao pai!

Ele pegou a mão dela quando ela se afastou.

— O que você quer dizer? Sobre o que você falou com o pai?

— Que ele não poderia depender de você sem a minha ajuda.

— Isso é mentira, — argumentou. — Vou pensar em uma maneira de conseguir o que nós dois queremos, Lizzy. — Ele olhou por cima do ombro para a chuva lá fora e pensou em Mairi. Ele pensaria em algo.

 

Capítulo Vinte e Seis


Mairi encostou-se à moldura da porta que dava para o pátio e observou Connor praticando sozinho na chuva da manhã. Ela queria ir até ele e puxá-lo do frio. Ele acabara de sobreviver a uma febre grave que quase o levou a sepultura. Ela não queria que ele adoecesse novamente. Mas seus pés não se mexiam. Ela sabia que ele praticava todos os dias antes do ataque e evitava observá-lo a todo custo. Agora, ela não conseguia desviar os olhos dele. Seus ataques eram brutais e precisos. Seu objetivo era certo e seus passos leves e determinados. Ela pensou na noite anterior, quando ele jurou que seu coração nunca a traiu, quando ele a beijou e a abraçou e a fez rir, quando o que ela realmente queria fazer era chorar por todo o tempo perdido juntos. Ele a perdoou tão facilmente por não confiar nele. Isso a fez se sentir pior por não lhe conceder a mesma misericórdia por tanto tempo. Ela acreditava nas palavras de amor dele? Ela queria acreditar. Oh, Deus, como ela queria. Ainda assim, o pensamento dele com outras mulheres a deixava louca. Observando-o agora, seus cabelos molhados girando em torno de seus olhos gelados enquanto ele aparava e espetava o ar com sua espada, ela teve dificuldade em imaginar como qualquer mulher poderia resistir a ele. Encharcada, sua camisa fina de gaze grudava-se ao corpo, definindo todas as nuances dos músculos. Suas calças úmidas se encaixam como uma segunda pele sobre suas pernas longas e poderosas, e contra a plenitude excitante entre elas. Isso era verdade? Ele a amava?

Seus olhos a encontraram na entrada e ele sorriu e abaixou a espada. Ele certamente não sorrira daquele jeito para nenhuma outra mulher em Whitehall desde que chegara como se o sol tivesse acabado de romper a escuridão.

Ela o viu embainhar a espada e atravessar o pátio e caminhar até ela, admirando o balanço lento e casual de sua marcha. Ele era a sensualidade encarnada. Todo movimento, todo sorriso, toda palavra era dada com a confiança de um paciente caçador, certo de pegar sua presa sem esforço excessivo. A menos, é claro, que sua presa lhe desse uma briga.

— Como eu estive?

Ela piscou e sufocou o suspiro lutando contra os lábios.

— Nada mal para um homem com um buraco na barriga.

Suas covinhas brilharam.

— A ferida foi fechada e estou me recuperando muito bem. Sinta-o. — Ele pegou a mão dela e pressionou a palma da mão na barriga dura. Quando o sorriso dele aumentou, provando que ele estava gostando de sua repentina descompostura, ela o cutucou gentilmente em sua ferida.

— Ainda há alguns caminhos a percorrer, eu diria.

Ele riu e fez uma carranca ao mesmo tempo.

— Juro, lass, você ficaria feliz em me ver na cama durante a próxima quinzena.

Ela desviou o olhar, confusa ao pensar que ele não estava inteiramente errado. Infelizmente, ele pegou o leve rubor de suas bochechas.

— Agora que penso nisso, — disse ele, sua voz estridente no peito e nas terminações nervosas dela, — não estou me sentindo tão bem.

Quando ela olhou para ele, com medo por um instante de que ele estivesse ficando doente de novo, ele umedeceu os lábios com a língua, como se os estivesse preparando para um beijo.

— Vou mandar chamar os médicos da rainha imediatamente! — Ela brincou, e girou para fazer a tarefa. Ele a arrastou de volta e fechou os braços em volta dela.

— Você é o único remédio que eu preciso.

Ele plantou uma série de beijos lentos e suaves na boca dela; o suficiente para fazê-la queimar por algo mais duro e menos domado...

Ele gemeu de algum lugar no fundo do peito enquanto se afastava.

— Você me tenta a ser indiferente e pegar o que eu quero. — Algo que fazia seus olhos brilharem com fogo azul toda vez que ele olhava para ela.

Ela queria dizer para ele fazer isso. Claro, ela não entregaria tudo, não sem uma luta. Era disso que ele gostava. Até um tolo podia ver, e ela tinha sido uma tola.

— Então você me forçaria a cortá-la, e não com a minha língua.

Ele curvou a boca em um sorriso lento e sensual, tão perto dela.

— Eu terei você, lass. Nenhuma lâmina vai me parar.

Ele zombava de sua habilidade com uma lâmina? Por que ele não deveria? Ele nunca a viu brigar com uma. Talvez fosse hora dele saber quem ela se tornara.

— Você tem certeza disso, capitão? — Ela sussurrou, inclinando os lábios no ouvido dele, depois o cutucou no quadril com a ponta da adaga.

Ele olhou para baixo e riu, depois a soltou e deu um passo para trás, esticando os braços ao lado do corpo.

— Você quer tentar? — Ele desafiou, seu sorriso largo e desafiador.

Ela queria tentar? Inferno, sim, ela queria! Claire havia lhe dito que eles deveriam se abster de aperfeiçoar suas habilidades enquanto estivessem na Inglaterra, para que eles não despertassem muito interesse nos guerreiros de Skye. Mairi não praticava há quinze dias. Ela assentiu e apontou a lâmina para ele. Ele riu de novo, e desta vez ela sorriu com ele.

— Vamos descobrir com certeza, — ele a arrastou enquanto puxava a espada de sua bainha, — se luta tanto quanto qualquer homem.

— Provavelmente melhor. — Ela seguiu o giro de sua longa lâmina, impressionada com a facilidade e a fluidez com que ele segurava seu punho.

Ele lançou. Ela bloqueou e sua adaga caiu da mão. Ela pegou outra de algum lugar dentro de seu vestido inglês e apontou para ele antes que ele se preparasse para o próximo ataque. Ela sabia que estava em desvantagem, pois seu metal era pelo menos 30 cm menor que o dele. Ela não seria capaz de segurá-lo por muito tempo. Ela bloqueou mais meia dúzia de ataques, movendo-se rapidamente. Ela conseguiu se deslizar para trás dele uma vez, mas ele foi rápido, mais rápido do que qualquer outro homem com quem ela lutou, e impediu o punhal de passar por ele. Quando ele a separou da segunda arma e a puxou para a frente pelo pulso, ela pegou a pistola no cinto dele.

— Então, — ela respirou em seu rosto e apontou a pistola para ele. — Não vou parar você com uma lâmina.

— Inferno, Mairi. — Ele olhou para ela com espanto e depois riu novamente e a puxou para mais perto. — Você é certamente uma MacGregor.

Ela sorriu. Do jeito que costumava fazer quando ele era o ar que ela precisava respirar, sua companhia e seus beijos, tudo o que ela precisava para ser feliz. Ele não a chamou de lass.

— Sua mãe me ensinou bem, — disse ela, colocando a pistola no coldre e fazendo uma anotação mental para agradecer mais tarde a Claire por criar um filho que apreciava a luta em uma mulher.

— Eu quero te levar a um lugar, — disse ele, olhando profundamente em seus olhos, seus braços enrolados confortavelmente ao redor dela bem ali no pátio.

Felizmente, ninguém ainda estava acordado.

— Onde?

— Venha. Vamos precisar de cavalos.

Ela o deixou levá-la aos estábulos, seu coração batendo de emoção. Para onde ele a estava levando? Era seguro para ele andar? Eles estariam sozinhos? Inferno, ela não tinha feito nada agradável desde que ela e Colin se encontraram com os MacKinnons no mês passado para planejar um ataque a um grupo de Covenanters de Dumfries que estavam viajando para as Highlands para os jogos de clãs. Um ataque que ela teve que perder graças à coroação de James.

— Nós estamos indo para o parque? — Ela perguntou, subindo o vestido e se colocando na sela.

— Você logo verá. — Ele deu um tapa suave no traseiro dela, então olhou para a panturrilha nua e para os céus como se estivesse implorando a Deus que lhe desse forças.

Ele estremeceu ao montar seu cavalo, depois enfiou os calcanhares nos flancos da fera e passou por ela com um brilho nos olhos.

Cavalgaram por mais de uma hora na chuva, seguindo o Tamisa para o sul até chegar a um campo verdejante, envolto em névoa. Por um momento glorioso, Mairi imaginou que estava em casa nas Highlands.

— É de tirar o fôlego, — disse ela, controlando-se ao lado de Connor.

— Sim, eu sabia que você gostaria aqui.

— É isso que você queria me mostrar?

— Ainda não estamos lá.

Ela olhou ao redor para o exterior selvagem de colinas e vastas pastagens abertas, surpreendentemente verde contra a faixa cinzenta do céu acima. Ao longe, altos e antigos carvalhos perfuravam a névoa.

— Olhe. — Connor apontou para um gamo percorrendo o prado úmido. — Vamos segui-lo. — Ele não esperou por sua resposta, mas sacudiu as rédeas e partiu após o cervo, por onde ele desapareceu na neblina subindo sem deixar vestígios.

Não querendo ser deixada para trás, Mairi enfiou os calcanhares nos lados e deu velocidade ao cavalo. Connor tinha que sentir muita dor na sela, mas se estivesse, não dava atenção. Ele se virou duas vezes para olhar para trás, seus cabelos voando nos olhos enquanto ria das tentativas dela de passar por seu cavalo. Ela o perseguiu, exatamente como havia feito antes da Inglaterra os separar.

Ele finalmente diminuiu a velocidade da montaria quando chegaram a um recinto isolado da floresta. Ele desmontou com cuidado e a ajudou quando ela fez o mesmo. Ele a levou a um denso bosque de amoreiras cercado por arbustos de groselha e se agachou, depois se virou e acenou para ela fazer o mesmo.

Além da folhagem, ela viu um pequeno grupo de veados, alguns adultos e seus filhotes, mordiscando a grama. Respirando, ela assistiu quando dois levantaram a cabeça em sua direção e depois voltaram a comer.

— Eles não são tão nervosos quanto o cervo nas Highlands, — ela sussurrou perto do ouvido de Connor.

— Há mais pessoas por aqui, — explicou ele, virando-se para ela e quase tocando o nariz no dela. — Eles são... Inferno, você é linda.

Conquistá-la? Och, Deus, ele prevaleceu vitorioso. Ela se aproximou para beijá-lo e franziu a testa quando o cervo saltou para longe e sumiu de vista.

— Eu os assustei.

Connor levou a mão ao rosto dela e segurou sua bochecha. Ele olhou nos olhos dela como um homem que acabara de voltar para casa depois de anos de batalha.

— Eu me perdi sem você, Mairi.

— Me perdoe, — disse ela enquanto a boca dele cobria a dela.

O beijo dele era como uma marca contra os lábios dela, escaldando com desejo controlado. O movimento de sua língua queimava como uma chama, consumindo-a até que não restasse nada além dele, seu gosto, seu cheiro, sua paixão. Ela passou os dedos pelos cabelos úmidos e sedosos e acariciou com as palmas das mãos sobre o queixo eriçado, abrindo a boca na dele.

Fechando os braços em volta dela, ele aprofundou o beijo. Ela respondeu com igual fervor até que os dois caíram no chão úmido e frondoso. Ele aparou a maior parte do golpe, caindo de costas, mas ofereceu-lhe um sorriso lento e cintilante antes de segurar sua nuca e arrastá-la de volta para mais beijos.

Mairi gostou de sua posição em cima dele, embora estivesse consciente de colocar muito do seu peso no seu ferimento. Ela passou a língua sobre a dele e as palmas das mãos sobre os músculos duros de seu peito. Ela não contou a ele, mas permaneceu casta na ausência dele. Por que nas chamas ela iria querer outro homem depois de tê-lo? Quando ela gemeu contra sua boca firme, ele a virou de costas sem quebrar o beijo e a cobriu com seu corpo. Ela tentou se mover, ainda cautelosa em machucá-lo. Ele pressionou a mão no quadril dela para segurá-la quieta e apertou sua ereção com força contra as coxas dela, pronto para recuperar a propriedade exclusiva dela, se ele quisesse fazê-lo. Ela respondeu mordendo seu lábio inferior em uma última tentativa de controlar a fera. Ele sorriu contra seus dentes, puxando um gemido de dentro dela, e segurou seu traseiro na palma da mão. Esfregou sua necessidade contra ela em uma flagrante demonstração de sua vitória, uma vitória que ela acolheu.

— Nae, — ele gemeu bruscamente, e sentou. — Não aqui. — Pegando a mão dela, ele a levantou e a virou para olhar além do bosque. — Você vê aquilo?

Ela estreitou os olhos e deu um passo à frente. Isso era um telhado? Uma chaminé?

Ele pegou a mão dela antes que ela pudesse perguntar e a conduziu e a seus cavalos pelo bosque. Surgiram em um campo aberto de grama e tapetes verdejantes de campainha e papoula. Era tão bonito que Mairi teve que parar para entender tudo. Ele a levou adiante, levando-a para onde o campo descia em um pequeno vale.

Mairi parou de novo e, desta vez, Connor permaneceu imóvel ao seu lado, enquanto observava uma pequena mansão situada no centro do vale, cercada por mais grama aos lados, por bluebells e papoulas amarelas que balançavam na brisa enevoada.

— É... — Ela prendeu a respiração e lutou contra a repentina picada atrás dos olhos.

— Sim?

— ... o lugar mais lindo que eu já vi. Quem mora ali?

— Eu moro.

Ela se virou para olhá-lo, sem saber se o ouvira direito.

— Mora? — Quando ele assentiu, ela balançou a cabeça. — Pensei que você morasse em Whitehall. Como...? Quando...?

Ele sorriu.

— Comecei a construí-la há sete anos. — Ele enrolou os dedos em volta dos dela novamente e subiu os degraus. — Ela foi concluída há quase dois anos e eu não pude passar muito tempo nela, mas é um lugar para vir quando preciso descansar da sociedade e praticar o decoro.

— Você construiu isso há sete anos? — Ela perguntou, ainda atordoada com a visão, e agora com o significado de suas palavras também.

Ele construiu uma casa para ela, como ele prometeu. Ele nunca disse onde.

— É aqui que deveríamos morar se eu tivesse vindo até você?

— Sim, se isso lhe agradasse.

Se isso a agradasse? Era absolutamente perfeito. Embora não tivesse as torres pontiagudas de Camlochlin e as ameias sólidas esculpidas na encosta de uma montanha, era a coisa mais próxima de sua amada casa nas Highlands que ela já vira. Ela tirou uma lágrima do olho e desviou o olhar dele, para que ele não visse. Por quanto tempo ele procurou por este local? O vale inclinado, as flores silvestres que perfumavam o ar, a névoa fofa que pairava sobre a chaminé? Meu Deus, ele realmente queria que ela viesse aqui e morasse com ele. Ser dele, sempre, como ele prometeu.

— Eu fui uma tola, — ela disse suavemente, imaginando como ele não a odiava por sua constante rejeição. — Eu...

Ele capturou suas palavras e sua respiração com um beijo profundo e necessário que a enfraqueceu em seus braços.

— Vamos começar de novo.

Ela assentiu, entregando seu coração a ele completamente, confiando nele completamente. Ela sorriu quando ele a pegou e a levou até a porta da frente e depois além.

 

Capítulo Vinte e Sete


Mairi não viu o interior da casa que Connor havia construído para ela. Aninhada em seus braços, ela não viu nada além do desejo em seus olhos cor de tempestade enquanto ele a carregava pelas escadas.

— Eu amo você, Mairi. Só você durante o resto dos meus dias.

Ele falava a verdade. Estava tudo ali na maneira como ele olhava para ela por trás das mechas douradas de seus cabelos. Ele estava perdido, irremediavelmente apaixonado por ela, e incapaz de fazer qualquer coisa para impedir isso.

Seu coração se exaltou. Ela sentia como se estivesse sonhando. Só que seus sonhos não tinham sido tão maravilhosos. Ele a amava. Ele nunca parou de amá-la. Deus, era verdade? Deus estava ouvindo suas orações infantis e as concedia agora que era mulher? Ela havia perdido tanto tempo sem ele, odiando-o, brava com o mundo por tirá-lo dela?

Ela sabia onde ele a estava levando e queria ir com ele. Ela não era tímida sobre o que ele queria fazer com ela. Ela já esteve com ele antes, desejou durante anos estar com ele novamente.

Ele era real?

Ela estendeu a mão para tocar seu rosto, insegura. Ele sorriu contra os dedos dela e depois os beijou.

— Me diga de novo.

— Eu te amo, — ele sussurrou, sabendo o que ela queria que ele dissesse. Quando ela o puxou para outro beijo, ele respondeu com igual fervor, abrindo a boca para saborear seu gosto e devolver a paixão que ela ofereceu quando caíram em um colchão macio e divino.

Ela não tinha ideia de como ele conseguiu desfazer os laços sem fim de seu vestido com uma mão, quando foi preciso um par extra para vesti-la. Ela não se importou. A boca dele cobrindo a dela a distraiu de todo o resto. Sua língua quente e ansiosa acariciava-a como uma chama, profunda, cintilantemente lenta, levando-a à loucura. As mãos dele, macias e firmes, acendiam suas terminações nervosas em todos os lugares em que a tocavam. Ela sentiu a seda macia de seu vestido desaparecer, deixando apenas a fina camisola de baixo. Ela não recuou ao ver seu corpo escassamente vestido. Não, ela conhecia esse homem. Ele conhecia o corpo dela, e ela o dele.

Pelo menos, ela pensava que sim.

Quando ele se levantou da cama para tirar sua camisa, expondo os tendões duros e ondulados embaixo, ela prendeu a respiração e o alcançou. Ela o viu em seu leito doente, não preparado para beijá-la profundamente e pronto para tomá-la. Ela passou as pontas dos dedos sobre cicatrizes que não estavam lá quando se deitou com ele pela última vez. Sete anos o mudaram, definindo seus músculos, esculpindo-o em algo tão perfeito que ela quase não podia acreditar que ele era dela.

Ele se curvou e passou a boca pela dela novamente, seu membro parecendo crescer ainda mais quando puxou os cadarços que prendiam as calças. Ele não se despiu completamente, mas se afastou o suficiente para lançar seu olhar de desejo sobre ela.

— Você é minha, Mairi. — Ele jurou, beijando-a novamente. — Você sempre será minha.

Sim, ela sabia que era a verdade. Nenhum homem em sete anos chegou perto de conquistar seu coração. Ninguém além de Connor Grant jamais faria isso.

Ele passou as mãos pelos braços dela e segurou seus seios através da umidade de sua camisola. Ele gemeu, rompendo o beijo deles para roçar os dentes no queixo dela, na garganta dela, ateando fogo às terminações nervosas. Ela sentiu os dedos dele apertarem o decote de sua camisola. Ela ouviu o som do linho fino se rasgando em dois. Sua respiração parou quando seus seios se derramaram em suas mãos poderosas.

— Quero você nua, quente e molhada embaixo de mim.

Ela não sabia se era o tom rouco de sua voz que fazia seus músculos convulsionarem sob ele ou o desejo em seus olhos, como um homem... não, não um homem, mas um lobo que acabara de ver sua presa depois de semanas sem comida. Ele queria devorá-la e ela queria que ele fizesse isso. Ela havia perdido tempo suficiente em rejeitá-lo e agora queria lhe dar o que ele desejava, o que era dele desde o dia em que a tocou pela primeira vez. Santos, mas ele a estava tocando agora, em todos os lugares, com todas as partes dele. Sua língua passando rapidamente por seu mamilo sensível a levou para a beira da escuridão, ou talvez fosse a onda erótica de seus quadris, moendo todo aquele desejo masculino e duro, ainda confinado em suas calças apertadas, contra o calor de suas coxas. Ela passou as unhas pelas costas dele e encantou-se com a agonia suave dos dentes dele roçando o monte macio de seu peito, a barba por fazer ao longo de sua mandíbula, áspera contra sua carne. Ele era dela, e só dela. Ela não duvidava mais disso, e queria mais dele, cada centímetro do membro grosso e latejante.

Ela segurou o rosto dele com as mãos trêmulas e o puxou para beijá-lo novamente. Sua boca era dura, seu beijo duro, faminto e apaixonado. Ela o empurrou, usando os quadris, agarrando-se ao rosto dele... aos seus lábios quando ela o virou de costas e montou nele.

Mas este não era um homem que seria tão facilmente subjugado, embora ele gostasse do desafio. Ele olhou para ela, seu sorriso sombrio e perigoso quando a viu completamente, seus longos cabelos pretos caindo em seus quadris. Ele rasgou o resto da camisola dela, puxou-a sobre a cabeça dela e depois a jogou para o lado. Ela não se importava de estar nua na frente dele, em cima dele. Não quando o brilho em seus olhos revelava o que ele pensava dela.

Ele disse a ela, no entanto.

— Você é perfeita, Mairi MacGregor. Enche o meu coração e restaura a minha alma.

— E você, Connor Grant, é o senhor do meu coração. — Ela empurrou os quadris dele para puxar suas calças sobre as coxas. Caro Deus, como ele havia crescido! Ela sorriu, apesar da apreensão que a percorreu quando seu eixo imponente surgiu em direção aos céus. — Vocês finalmente conseguiram me assustar.

— Eu não acredito nisso. — Ele riu, seduzindo-a e deixando-a sem sentido com a beleza do seu rosto. Ela conhecia cada centímetro, todo ângulo, toda expressão. Ela sentia falta disso em sua vida e desistiria de tudo para recuperá-lo. Qualquer coisa que ele pedisse.

Ele sentou-se para se aproximar dela, afastou as calças dos tornozelos e passou o braço em volta da cintura dela.

— Você já me cavalgou antes, Mairi. — Ele passou os longos cabelos em volta do punho e puxou a cabeça para trás, expondo a garganta à boca dele. Ele a mordeu e lhe deu um tapa no traseiro, levantando-a sobre sua ereção dura.

Ela poderia ter medo de cavalgar a besta, pulsando e pronta entre as pernas, e do mestre que o empunhava com tanta paixão e domínio. Mas seu poder sobre ela, mesmo a olhando, a emocionou demais para ter medo. Não havia pretensões tímidas sobre sua virgindade. Ela sabia o que esperar e mal podia esperar para tê-lo dentro dela novamente.

Colocando seus quadris contra os dele, ele levou a língua no vale entre seus seios, beijando e chupando seus mamilos até que ela se contorceu em cima dele. As palmas das mãos dele roçavam as nádegas dela, apertando e guiando-a em um ritmo que combinava com o dele.

— Olhe para você. — Ele se retirou apenas o suficiente para fixar seu olhar fervente nela. — Nua, quente e muito molhada. — Ele umedeceu os lábios com a ponta da língua como se mal pudesse esperar para prová-la.

Ele teria que esperar um pouco mais, pois seu eixo grosso era muito bom contra ela. Ela conseguiu dar um sorriso provocador enquanto levantava as mãos para pegar seu cabelo.

— Mas não embaixo de você. — Ela girou os quadris, mais devagar, mais fundo.

— Você estará, — ele prometeu, puxando-a por todo o seu comprimento. — Depois de tê-la por trás, depois contra a parede e depois de joelhos.

Ele dobrou os joelhos atrás dela, prendendo-a e fazendo um berço dos quadris. Ele bateu em suas nádegas novamente e se moveu mais rápido embaixo dela, pressionando-a sobre o comprimento de seu pênis. A boca dele apertou o seio dela. Ele a chupou com força, amassando suas nádegas em suas mãos fortes até que ele puxou a cabeça gloriosa e a circulou pela cintura.

Os músculos de Connor estouraram, empurrando-o para cima, mais forte contra o ponto úmido dela, enquanto a última de sua semente se derramava sobre seu ventre.

Ele deitou a cabeça para trás, soltou um suspiro sensual e depois sorriu para ela novamente.

— Agora que tiramos isso do caminho. — Ele pegou o traseiro dela em suas mãos. — Venha aqui. — Ele não teve o suficiente. Ele nem tinha começado.

Ele estava aqui com ela... na casa deles, na cama deles. Quantos anos ele imaginou isso? Quão duro ele tentou parar? Ela estava aqui com ele, entregando tudo, finalmente pronta para tê-lo de volta. Ele se perguntara por quanto tempo deveria ter esperado por ela. Ele sabia agora que teria esperado uma eternidade. Esta era sua mulher, sua companheira de vida. Eles tiveram a sorte de conhecerem-se cedo, quando a vida estava cheia de aventura e brincadeiras, a sorte de descobrir como deveria ser o verdadeiro amor, para que nunca o esquecessem. Ele nunca iria, e ele não a deixaria esquecer também.

Ele sentou-se e levantou seu traseiro macio. Ele iria reivindicar isso também, se ela não tomasse cuidado. Quando se moveu para a beira da cama, seu eixo duro se esfregou contra ela e ela rolou a cabeça para trás, deixando-o selvagem com a necessidade de estar dentro dela.

Ele se levantou da cama, levando-a com ele. Montando suas pernas ao redor dele, ele agarrou seu pau em uma mão e seu traseiro na outra, e deslizou a cabeça sobre sua entrada úmida. Ela gemeu e se agarrou a ele quando Connor dirigiu seu eixo grosso e duro dentro dela, até a metade. Ele a abraçou com força quando ela gritou, esperou mais um momento, depois empurrou contra ela novamente. Ele beijou seus protestos gentis com cuidado, mais no controle agora, mas ainda menos do que ele desejava. Ele não queria machucá-la, embora estivesse satisfeito por encontrar seu corpo tão apertado. Envolto em torno dele no abraço da natureza, sua boceta o agarrando como um torno, seu rosto, ainda mais bonito do que ela era em seus sonhos, trabalhou para acelerar seu próximo lançamento. Ele diminuiu a velocidade, querendo fazer amor com ela até o pôr do sol e depois até o nascer de novo.

Tomando o lábio inferior entre os dentes e colocando as palmas das mãos embaixo das nádegas dela, a segurou contra ele enquanto se empurrava mais fundo. Ela estremeceu nos braços dele quando a dor diminuiu e as garras do prazer tomaram conta. Ele lambeu a costura de sua boca, levantando-a em suas mãos, abrindo-a e empurrando-a em todo o seu comprimento. Ela gritou e ele sorriu, cobrindo sua boca. Se contorcendo em seus braços, ela o acariciou no precipício da loucura. Desta vez, ele atiraria sua semente nela, recuperando o que lhe pertencia.

Seu êxtase aumentou, levando-o a ser mais rápido, mais forte, até que ele a encostou contra a parede. Ele embalou o rosto dela nas palmas das mãos e a sustentou com a força de seus impulsos. As unhas dela nas costas dele pareciam o estalar de um chicote. Ela gritou de novo, perto de sua libertação e movendo-se sobre ele agora como uma serpente, suave e sinuosa. Ele entrou em erupção, observando-a gozar e arremeteu-se com força a cada golpe interminável que atirava nela.

Mais tarde, ficaram deitados nos braços um do outro, saciados, por enquanto, e se deliciando com o relaxamento que seus esforços haviam causado.

— As línguas estarão batendo amanhã por causa do nosso desaparecimento, — disse Mairi, passando o dedo suavemente sobre a cintura enfaixada dele.

Inferno, como o toque suave das pontas de seus dedos poderia aquecer seu sangue novamente tão cedo?

— Elas já começaram.

— Lady Oxford e Lady Hollingsworth provavelmente tentarão arrancar meus olhos. Eu não as culpo. É um belo homem que elas perderam para mim. — Ela ergueu os olhos para ele e sorriu, ferindo seu coração. — Você construiu uma casa para mim, Connor.

— Eu construí, sim.

— Você ansiava por mim.

Quando sua única resposta dessa vez foi uma carranca sombria, seu sorriso se aprofundou e ela se aconchegou mais perto dele.

— Conte-me sobre todas as cartas que você enviou ao meu irmão perguntando sobre mim.

Inferno, por que ela tinha que parecer tão bonita em seus braços que ele foi tentado a se virar antes de sorrir para ela como um idiota apaixonado. O que era exatamente o que ele era.

— Você é uma garota de coração negro, Mairi.

Sua risada suave atrapalhou seus sentidos, seu suspiro satisfeito fez seu coração patético disparar.

— Eu estava pensando em Henry.

— O quê? — Ele se afastou dela para olhá-la completamente. — Quando?

— Bem, ele está em minha mente, — ela admitiu.

Inferno, ele não queria ouvir isso. Desde o dia em que ele chegou, ela passou grande parte de seu tempo com Oxford. Agora ela estava pensando no bastardo enquanto eles faziam amor? Se ela não se importava com ele, por que se deitou com ele novamente? Ele tinha que saber de uma vez por todas.

— Qual é o seu interesse em Henry de Vere?

— Ele é um poço de informações. Ele sabe tudo sobre todos aqui.

Connor a encarou com leve descrença e horror. Ele sabia que deveria se sentir aliviado pela confissão dela, mas teve a repentina vontade de estrangulá-la.

— Então você está girando sua teia ao redor dele para obter informações sobre os cameronianos?

— Eu te disse, nunca mencionei camaroneses para ele.

— Mairi, você está louca? Não percebe que as suas perguntas podem levar a...

Parecia que ela queria dar um tapa nele, mas ele não se afastou.

— Eu não sou uma tola, Connor.

— Um de nossos inimigos tentou causar-lhe dano?

Ela arqueou a testa para ele.

— Nossos inimigos?

Sim, ele iria estrangulá-la e depois trancá-la na Torre para sua própria segurança.

— Inferno, Mairi. Nossos inimigos, sim. Lutamos pela mesma causa.

— Sim, agora que temos um rei católico, lutamos.

— Antes disso também, — argumentou ele. — Charles pode ter sido protestante, mas ele aceitou nossos modos de pensar e nunca tentou impor suas leis sobre nós. Seu próprio pai lhe mostrou lealdade.

Ela permaneceu em silêncio por um momento. Seria demais esperar que sua espirituosa garota teimosa concordasse com ele?

— Talvez você esteja certo sobre fazer muitas perguntas, — ela admitiu, trazendo um suspiro aos lábios dele. — Mas ele trouxe os cameronianos para mim.

— Quero que cesse, Mairi. Não gosto que você esteja envolvida com rebeldes.

Ela teve a ousadia suprema de rir bem na cara dele. Ele segurou o rosto dela entre as mãos e olhou em seus olhos. Ele sabia que ela não gostava de ser orientada do que fazer, mas isso era muito ruim. Ela ia ouvi-lo.

— Ouça-me, mulher

— Não se atreva a dizer isso, idiota, — ela avisou, olhando de volta para ele. — Eu posso cuidar de mim mesma. Eu já fiz tantas vezes antes. Prometo que meus inimigos nunca me verão chegando.

Oh inferno, ele esperava que ela estivesse falando de suas habilidades sutis no interrogatório e não de algo mais nefasto, como cortando homens com suas lâminas na cobertura da noite.

— Deixe-me explicar as coisas, Mairi. Eu te amo. Eu sempre te amei e nunca amarei ninguém depois de você. Se você se machucar ou... — Ele fez uma pausa, incapaz de falar as palavras, e a puxou para perto de seus braços. — Você me colocaria em um tumulto que nem a Inglaterra nem a Escócia poderiam me suportar. Você quer isso?

Ela balançou a cabeça negativamente e piscou para trás a umidade que fazia seus olhos brilharem como as montanhas enevoadas que cercavam Camlochlin.

— Mas preciso descobrir por que ele falou sobre meus inimigos, Connor.

Maldita seja, ela era teimosa.

— Você disse que pode ter notado seu interesse enquanto conversava com Queensberry.

Ela balançou a cabeça.

— Não, tem mais alguma coisa. Sei que existe, mas não posso lhe dizer o que é, porque não sei. Algo que me incomoda. Algo que eu deveria saber. Sei que ele se importa comigo e isso criou um dilema que devo abordar em breve.

— Que dilema é esse? — Ele perguntou, tentando parecer imperturbável agora que sabia que ela não estava pensando nele de uma maneira romântica.

— Eu tenho que dizer a ele que não me sinto da mesma maneira.

— Eu direi a ele por você.

— Och. — Ela deu um tapa brincalhão no braço dele. — Você o deixará em paz.

O diabo que ele faria.

— Eu mesmo direi depois que você me levar de volta ao palácio.

— Isso não vai acontecer tão cedo.

— Estou dolorida.

— Eu vou ser gentil.

— Mentiroso. — Ela riu e se aninhou debaixo do braço dele.

Connor observou-a alguns momentos e depois quando ela não respirou provando que havia adormecido. Se ele vivesse até os cinquenta anos, nunca esqueceria as palavras dela para ele ontem à noite. Eu estava perdida sem você, Connor. Como ele estava sem ela. Eles haviam perdido muito tempo. Não mais. Ele a puxou para mais perto e beijou sua cabeça enquanto ela dormia. Ela era dele, dele desde o dia em que ela disse que o amava através de seu sorriso desdentado e selou seu coração aos nove anos para sempre. Ele nunca deixaria nada separá-los novamente.

Especialmente Henry de Vere.

 

Capítulo Vinte e Oito


Mairi acordou um pouco mais tarde e se deparou com o olhar terno de Connor. Inferno, ele a estava observando enquanto ela dormia? Ela esperava que não estivesse roncando e sentiu alguma baba em volta da boca. Ela não costumava cochilar durante o dia. Treinar com as lâminas antes deve tê-la drenado... além de fazer amor com o magnífico Highlander.

— Lembra-se de quando adormecemos naquela caverna acima das garras da montanha de Sgurr Na Stri? — Ele perguntou, seu espesso ronronar nos ouvidos dela.

Como ela poderia esquecer? Passaram dois dias depois que ele fez amor com ela. Ela se espreguiçou e depois sorriu quando ele se moveu sobre ela, cobrindo seu corpo com o dele.

— Sua mãe estava frenética de preocupação porque estávamos desaparecidos há seis horas.

— Eu pensei que meu pai iria matá-lo quando ele nos encontrou trancados nos braços um do outro.

— Sim. — Ele riu dela, fazendo-a questionar novamente se ele era real. — Tivemos a sorte de estarmos completamente vestidos.

Ela assentiu, lembrando.

— Tivemos ainda mais sorte por você não me deixar com um bebê. — Um suspiro melancólico separou seus lábios e ela tocou os dedos nas covinhas dele. — Embora quinze anos não fosse jovem demais para me tornar mãe. Ouvi dizer que Lady Hollingsworth tinha doze anos quando o pai a prometeu a Lorde Hollingsworth.

— Sim? — Ele beijou seus lábios, nariz, olhos com ternura excruciante. — Você quer carregar meus bairns então?

— Sim, — ela disse, incapaz de esconder a verdade dele... ou dela mesma por mais tempo. Seus músculos se contraíram quando ele esfregou a ponta do polegar sobre o mamilo, dando vida a ele. — O máximo que pudermos suportar. Mas...

Seus beijos pararam e ele olhou nos olhos dela.

— O quê?

Ela não queria colocar isso para ele. Ela estava com muito medo do que ele poderia dizer. Seu amor não veio em uma corrente pela qual ele jamais se deixaria guiar. Ele já havia provado que poderia viver muitos anos sem ela. Ele pode tê-la desejado, amá-la durante esse tempo, mas não se permitiu sucumbir à indignidade de implorar por ela de volta. Se ele amava a Inglaterra e queria permanecer aqui, ele o faria, com ou sem ela. E se ele pedisse que ela ficasse aqui com ele? Ela poderia desistir da Escócia, as Highlands por ele? Ela poderia morar na Inglaterra?

Ela não queria pensar nisso agora e sorriu para ele enquanto ele beijava seu queixo.

— Você está tentando compensar por sete anos em um dia?

— O que eu devo fazer quando você está deitada aqui roncando e me deixando louco? — Ele traçou a curva suave da parte interna da coxa com os dedos. O toque dele fez cócegas e ela riu contra ele.

— Eu amo o seu cabelo, — ele disse, pegando um punhado dele onde caía pelos braços dela. Ele trouxe uma mecha no nariz e inalou. — Está cheio de seu perfume.

— E qual é o meu perfume? — Ela ronronou embaixo dele.

Ele pensou por um momento e depois entortou uma ponta da boca para cima.

— Como os pântanos depois de uma tempestade e o ar da montanha soprando através da urze. Eu amo seus seios. — Ele abaixou a cabeça e beijou cada um por sua vez. — E como eles reagem ao meu toque. E o sabor que eles têm na minha boca.

Ela olhou para ele e sentiu seu coração inchar e ameaçar explodir por dentro. Só ele poderia domá-la com essa língua. Ele exerceu seu poder e domínio quando ela se opôs a ele, e com a beleza de seus louvores quando ela não o fez. Ela pegou o rosto dele nas palmas das mãos para olhá-lo. Quando o fez, tão perto que podia sentir a respiração dele no queixo, ela quase chorou.

— Eu te amo, Connor.

— Eu sei.

Ela esperou, e depois esperou um pouco mais, antes de olhar para ele. Ele riu, obviamente bastante satisfeito consigo mesmo por provocá-la. Ela o beliscou com força com a mão direita e depois novamente com a esquerda. Ela não fez isso pela terceira vez. Ele apertou os pulsos dela com uma mão e os puxou sobre a cabeça dela.

— Desde que você tinha seis anos, se não me engano.

Patife arrogante! Ela tentou fingir um insulto, mas não pôde evitar deixar brilhar seu sorriso nele.

— Diga! — Ela exigiu. — Diga que você foi um idiota por me deixar.

Sua covinha direita brilhava.

— Eu precisava descansar de todos os anos que passei com você, Mairi.

Quando a boca dela se abriu para formar um ‘O’ beligerante, ele a beijou.

— Eu fui um idiota por deixá-la. Você é minhas estrelas, meu sol, meu mundo. Eu te amo. Você está satisfeita?

Quando ela assentiu alegremente, ele murmurou a palavra — mulher — e soltou seus pulsos para deixar uma trilha de beijos úmidos e famintos na coluna do seu pescoço. Ele fez uma pausa no pulso dela para senti-lo acelerar, pelos picos de seus seios, arrastando a respiração dos seus lábios. Ele lambeu as cavidades suaves da barriga dela e deu uma mordida suave no seu quadril.

Ela o viu se mover devagar, perversamente pelo seu corpo, sem ter ideia de onde ele pretendia terminar.

Seu olhar semicerrado o seguiu, esbanjando ao vê-lo se ajoelhando, e levando sua panturrilha com ele. Ele abriu um caminho com a boca, dos dedos dos pés curvos até a parte interna da coxa. Ela quase riu com o gemido que ele puxou dela. Och, ele iria beijá-la lá? Ela gemeu com a maldade disso. Então outro pensamento lhe ocorreu. Como ele sabia beijá-la lá? Isso era algo que os homens faziam frequentemente? Quando ele mergulhou a cabeça entre as pernas dela, ela não se importou como ele sabia. Ele passou a língua sobre o botão escaldante e a luz explodiu atrás dos olhos dela em uma dúzia de diferentes tons de vermelho. Ela se contorceu e gemeu sob suas ternas ministrações, implorando para que ele a tomasse e satisfizesse essa terrível necessidade de ser reivindicada por ele repetidas vezes.

Ela quase gritou de antecipação quando ele subiu em seu corpo e afastou as pernas com os joelhos. Ela olhou para ele pairando sobre ela, seus músculos tremendo com uma fome que ainda não havia sido satisfeita. Seu eixo era duro como o ferro e apontado para o céu, pronto para tomá-la. Och, mas ela estava pronta para ser tomada.

Segurando as pernas separadas, ele mergulhou os quadris e observou a cabeça grossa do seu pau penetrá-la. O sorriso dele, quando a penetrou, era mais quente que o aço derretido que penetrava seu corpo. Os santos tivessem piedade dela, o tamanho do pênis dele machucava! Ele se moveu devagar, gentilmente, como prometera, acariciando e beijando sua panturrilha enquanto seus mergulhos se aprofundavam um pouco. Ele era grande demais, mas a visão dele a encheu de desejo.

Ela arqueou as costas, convidando-o, querendo que ele a preenchesse. Quando ele soltou as pernas dela, ela as enrolou ao redor dele e o puxou para mais perto. Ele lambeu a boca dela. Ela mordeu o lábio suavemente em troca e a alegria de estarem juntos de novo os fez cair em gargalhadas. Logo, porém, voltaram a ficar sérios quando o prazer fluiu como um dilúvio em suas veias, acelerando sua dança, apertando seus músculos.

— Minha gata selvagem. — Ele a pegou pelas mãos e puxou-as sobre a cabeça dela. — Nossa vitória se aproxima.

Ela se moveu loucamente por baixo dele, tomando-o todo e depois para fora, quase até a ponta, de novo e de novo até que ele resmungou algo pecaminoso e a segurou com força enquanto eles encontravam a liberação juntos.

Mairi abriu os olhos quando teve certeza pela lentidão e até respirações de Connor de que ele estava dormindo. Logo estaria escuro e ela queria olhar ao redor da casa, sozinha antes que o sol descesse a luz. Ela nunca tinha estado em uma mansão antes, então não tinha lembrança de comparar com o que Connor havia construído.

— Eu construirei uma casa para você, Mairi, que você vai amar tanto quanto Camlochlin.

Os olhos dela ardiam com a lembrança da promessa dele. Ele tinha guardado. O interior era tão bom quanto o exterior?

Até agora, ela poderia atestar apenas uma coisa com certeza. O colchão embaixo dela era macio e luxuoso. Ainda mais confortável do que sua cama no palácio. Ela supôs que o rei salvou seu melhor ganso para seus melhores amigos.

Ela se sentou devagar, tomando cuidado para não acordar Connor, e olhou ao redor do quarto. Ela não chamaria o interior de cavernoso, embora as paredes com painéis de madeira provavelmente parecessem menores, infinitamente aconchegantes.

Balançando as pernas para o lado da cama, ela pisou em um tapete em vez de junco trançado. Não que a sala precisasse de um para aquecer os pés, pois não havia corrente de ar que penetrasse pelas paredes. Duas janelas de vidro transparente permitiam a luz dourada fluir em painéis através da parede oposta, onde havia uma grande estante de madeira dourada. Era requintado. Connor tinha esculpido? Ela foi até lá e seu olhar examinou os muitos títulos cuidadosamente colocados em suas prateleiras. Havia livros sobre filosofia, astronomia e navegação, além de volumes mais antigos escritos por poetas e dramaturgos.

Algo no canto da sala chamou sua atenção e ela se aproximou. O tabuleiro de xadrez repousava sobre uma mesa feita de nogueira maciça com marcas esculpidas, uma única cadeira, estofada em tecido cor de vinho, empurrada para baixo.

Ela tocou os dedos no cavaleiro, esculpido como o vidro. Ela levantou e sorriu, reconhecendo que era o tabuleiro de seu tio Robert. Ela se perguntou o que sua esposa, a gentil Lady Anne, teria pensado de seu sobrinho preferido se o visse agora, um orgulhoso Stuart, lutando por seus parentes.

Och, por que ela não tinha visto dessa maneira antes? O rei, qualquer que fosse a religião que praticasse, era seu parente. Ela não faria menos por si mesma.

— Há uma sala de jantar e uma sala de estar abaixo das escadas.

Mairi virou-se para ele e sorriu.

— Eu te acordei?

Ele assentiu, vindo em sua direção.

— Eu ouvi você fungando.

Ela rapidamente limpou a bochecha.

— Ridículo. Não fungo. — Ela desviou o olhar dele para o cavaleiro do tabuleiro.

— Eu penso nele às vezes, — disse Connor, alcançando-a e cobrindo as mãos com as dele.

— Eu também.

— Ele era um bom homem.

— Sim, — ela disse suavemente, lembrando-se com carinho do falecido irmão de sua mãe. — Ele ainda faz falta em casa.

— Conte-me sobre isso.

— Casa?

Quando ele assentiu, ela o pegou pela mão e o levou de volta para a cama.

— Maggie ainda é tão ardente quanto um gato do inferno em um dia quente. Seu tio Jamie ainda consegue amá-la.

Ele riu. Och, como ela amava o som disso. Belo, contagioso, reconfortante como voltar para casa após uma ausência.

Ela contou tudo o que ele queria saber sobre o desempenho das pessoas em Camlochlin. Ele bebia cada palavra como um homem faminto pelo que havia perdido. Ele tinha perdido por causa dela. Ele parou de visitar porque ela pedira isso.

— E você? — Ele perguntou, deitado de costas e inclinando os braços atrás da cabeça. — Quando você começou a lutar contra os cameronianos?

— Cerca de seis anos atrás.

— Você luta com eles frequentemente?

— Não. Leva tempo para reunir as informações necessárias para descobrir quem eles são e onde se encontrarão em seguida.

Ele ficou quieto por um tempo, olhando para o teto de gesso. Ela ainda não conseguia acreditar que estava confessando tudo para ele, não porque não confiava mais nele, mas porque nunca havia contado a ninguém o que fazia, exceto os que já sabiam.

— Você acha que pode querer parar no futuro?

Alguém batendo rapidamente na entrada da frente interrompeu sua resposta.

— Inferno. — Ela pulou da cama e pegou seu vestido amassado no tapete. — Quem pode ser? Você tem vizinhos? — Ela esperava que sim. Ela rezou para que não fosse ninguém do palácio. Ou seja, Graham ou Claire Grant.

As batidas vieram novamente, desta vez acompanhadas por uma voz do outro lado.

Connor lançou-lhe um sorriso por cima do ombro enquanto se sentava, balançando as pernas ao lado da cama.

— É Edward.

Ela assentiu e apressou-o, rezando para que o jovem corneteiro não tivesse trazido ninguém com ele.

Ela observou Connor arrastar-se nu em direção à porta. Ela gostaria de vê-lo se mover a noite toda sem o ônus de suas roupas, mas ele estava prestes a atender a maldita porta dessa maneira?

— Espere! — Ela praticamente gritou para ele. — Coloque algo!

Ele olhou para ela, deu-lhe um suspiro exasperado, depois pegou as calças. Inferno, mas ele tinha pernas bonitas, tão bem torneadas e... Edward bateu novamente.

Segurando a cintura das calças nos punhos, Connor abriu a porta do quarto e gritou escada abaixo.

— Apenas um maldito momento!

Ele se inclinou um pouco e enfiou o pé no primeiro buraco, depois passou o tecido pela perna. Mairi limpou a testa. Como diabos ele conseguia parecer tão sensual se vestindo? Ele se vestiu a seu tempo, como fez com quase tudo o resto, e ela ficou impressionada com a capacidade dele de se equilibrar em um pé por tanto tempo.

— Apresse-se.

Ele lançou um olhar para ela e passou a outra perna. Ele tinha que encará-la assim, como se estivesse trancando a chave da felicidade dela, enquanto se vestia? Ele se virou, as calças amarradas na cintura e ela suspirou quando viu as duas covinhas acima de suas costas.

Mairi seguiu de perto, as suas costas, enquanto descia as escadas. Ela fez o possível para não afagar seu cabelo, mas sabia que ele abriria logo a porta e que sua tentativa era inútil.

Edward entrou em casa quando a porta se abriu. Ele parecia bastante desgrenhado quando Mairi espiou pelas costas de Connor e ficou aliviado ao ver seu cavalo e mais ninguém.

Edward engoliu em seco, fez uma pausa para olhar Mairi enquanto ela corava em uma dúzia de diferentes tons de vermelho, depois voltou os olhos arregalados para Connor.

— Perdoe minha intrusão, capitão, mas o rei voltou e ele está procurando por você.

 

Capítulo Vinte e Nove


Os sussurros dos cinco convidados permitiram que a audiência na Câmara de Privada do rei ecoasse no alto teto dourado, sobre o qual estavam escritas as datas das guerras históricas que haviam sido feitas.

Connor estava com os pais, um pouco à direita da lareira cavernosa, apoiando o cotovelo na bancada alta. Ele deu ouvidos ao pai quando Graham fez uma dúzia de perguntas diferentes, mas seu olhar se voltava para a janela onde Mairi estava, conversando com o irmão, que havia retornado com o rei. Ele a observou sorrir para algo que Colin disse e depois fazer uma carranca para algo que ele escondeu dela. Ninguém recebeu notícias sobre o que aconteceu durante a visita do rei a Camlochlin. Em vez disso, Colin recebeu ordens estritas de esperar a chegada do rei e da rainha, quando tudo seria revelado.

Eles estavam esperando por mais de um quarto de hora, mas ninguém parecia impaciente. De fato, Mairi parecia bastante contente, se não um pouco frustrada, com o silêncio do irmão em questões domésticas. Lorde e Lady Huntley usaram o tempo para alertar Connor sobre a insistência de Henry de Vere em falar com o rei a seguir.

— Quando eu disse para você pegar a lass de volta, — disse Graham, um sorriso astuto pairando sobre seus lábios, desmentindo seu tom desajeitado, — eu não quis dizer para você ficar com ela durante o dia inteiro.

— Eu queria mostrar a casa a ela. — Connor deu de ombros, seu olhar se voltando para ela. Os olhos dela encontraram os dele e eles compartilharam um sorriso íntimo. — E ficar sozinho com ela por um tempo.

— As coisas estão consertadas entre vocês, então? — Perguntou seu pai, observando o que acontecia entre eles.

— É a minha esperança.

— Oxford deve ser tratado com cuidado, — aconselhou sua mãe, tentando parecer séria, mas mal conseguindo esconder sua alegria. — Ele estava furioso por você a levar embora sem acompanhamento por tantas horas.

— Eu vou lidar com Oxford, — Connor prometeu com glamour, depois olhou para Colin. — É aquele que me preocupa. Isso é uma pistola no cinto?

Um conjunto de grandes portas se abriu e o rei e sua esposa entraram na Câmara particular adjacente. Ao contrário do rei Charles, a quem Connor servira por quase sete anos, James não possuía a extravagância, tanto em trajes quanto em seu comportamento, que seu irmão possuía. Embora ele soubesse ostentar uma peruca abundante de cachos loiros de vez em quando, hoje à noite sua cabeça régia e cinzenta estava livre

No braço dele, a rainha deu a cada um deles um sorriso tão delicado quanto sua forma, enquanto ela e o marido esperavam que fossem feitos arcos e reverências formais.

— Sentem-se, — o rei convidou depois que ele e a esposa se acomodaram em duas pesadas cadeiras com encosto alto. — Temos muito o que discutir. Já pedi o meu melhor vinho.

Ele tinha boas notícias para contar, deduziu Connor, observando Mairi se sentar ao lado de seu irmão.

— A rainha me aconselhou, — disse James, dirigindo-se diretamente ao cerne da audiência privada, — que todos vocês já sabem onde eu estive e por que fui. — Ele continuou contando a eles de qualquer maneira. — Meus inimigos descobriram meu segredo mais bem guardado, minha filha primogênita, Davina, a quem eu levei para a abadia de St. Christopher quando ela era criança. Foi feita uma tentativa de matá-la, mas falhou graças a Robert MacGregor. — Seus olhos, que estavam escuros enquanto ele falava do ataque à abadia, agora brilhavam em Mairi. — Seu irmão mais velho salvou a vida dela, pela qual sou infinitamente grato.

Mairi sorriu, inchada de orgulho. Ela olhou para Connor e ele piscou para ela.

— Srta. MacGregor, devo dizer que, quando cheguei a Camlochlin, tinha certeza de que seria o último lugar em que meus olhos olhariam. Seus 'parentes' não são gentis com visitantes que não são convidados, e se não fosse o jovem Colin ao meu lado, meus homens e eu provavelmente teríamos sido atingidos por canhões ou flechas antes de chegarmos ao castelo. Seu pai foi muito sábio de fato por ter construído sua fortaleza tão estrategicamente posicionada que um inimigo podia ser visto de léguas de distância.

— Ele precisava de tal proteção antes que o rei Charles fosse restaurado ao trono, Sua Majestade, — lembrou Mairi, endireitando os ombros.

— Assim fui informado pelo Laird. — James ofereceu um sorriso e depois continuou, examinando brevemente, seu olhar azul escuro, sobre o resto deles. — Infelizmente, porém, fomos atacados de surpresa pelos mesmos homens que queimaram a abadia.

Imediatamente, Graham levantou-se. Mairi estava prestes a fazer o mesmo, quando o rei levantou a palma da mão.

— Ninguém de Camlochlin ficou ferido, embora eu tenha perdido treze dos meus homens. Fomos emboscados além dos limites de... — Ele olhou para Colin em busca de assistência.

— Bla Bheinn, — Colin forneceu magnanimamente, depois voltou a examinar um fio que havia se soltado de seu plaid.

— Ah, sim, Bla Bheinn. — O rei assentiu e esperou enquanto um criado entrava na câmara com o vinho e servia uma bebida a cada um deles, depois saía novamente. — O almirante Peter Gilles colocou seus homens, armados com pistola e espada, atrás das colinas e mais uma vez, tentou matar minha filha atirando nela.

— Desgraçado!

Todos se voltaram para Claire, que retornou seus olhares com um impenitente. Mary de Modena sorriu para ela.

O rei continuou contando o que havia acontecido após o ataque e que o almirante Gilles havia sido morto antes que alguém pudesse descobrir quem o havia enviado.

— Então, talvez sua filha não deva ser trazida para Whitehall ainda, — disse Connor ao rei.

— Ela não vai voltar. — James olhou para cada um deles. — Ela permanecerá com sua nova família, onde estará segura.

— Perdão, senhor? — Mairi disse, soando tão atordoada quanto o resto deles parecia. — A nova família dela?

— Sim, eu descobri, por acidente, no meio de uma luta sangrenta, que seu irmão Robert se casou com ela.

A boca de todo mundo, excluindo a do rei, sua esposa e Colin, se abriu.

— Posso garantir que fiquei igualmente surpreso, — continuou James. — Mas o homem a ama, é o que eu posso lhes dizer. E minha filha o ama em troca.

— Você deu sua bênção ao casamento então? — Claire perguntou, expressando, ainda com a mandíbula frouxa, o que os outros queriam perguntar.

— Claro. Um exército mais feroz do que qualquer outro em St. Christopher agora rodeia Davina. Além disso, ela não foi criada entre as massas. Ela nunca encontraria felicidade em Whitehall, e eu queria lhe dar isso, tendo sido incapaz por toda a sua vida de lhe dar qualquer outra coisa.

Dado o fato de que Colin raramente sorria para alguém, Connor ficou igualmente surpreso quando percebeu o sorriso sutil que o rapaz tranquilamente oferecia ao rei agora.

— Fui informado por seu pai e irmãos, senhorita MacGregor, que agora somos considerados seus parentes.

Connor observou o sorriso de Mairi no rei esquentar com uma nova afeição, em parte porque agora ele era, pelos caminhos das Highlands, seu parente. Mas principalmente por causa de como ele falou de sua filha e de seu clã. Ela juraria lealdade a James Stuart, como ele. Foi um momento pungente para ter certeza, mas Connor não pôde deixar de imaginar o quanto mais ela lutaria contra seus inimigos em comum.

— Ele também pediu que você voltasse para casa com Lorde e Lady Huntley, conforme minha conveniência.

— Se puder, Sua Majestade, — disse Mairi, voltando o sorriso para Connor. — Eu pediria para permanecer aqui por um pouquinho mais.

— É claro, — disse o rei, — fique o tempo que quiser. Eu só queria que seu irmão Robert se sentisse da mesma maneira. Perguntei ao seu pai se eu poderia alistar algum de seus filhos no meu exército. Felizmente, um deles concordou em voltar. Colin se juntará a nós aqui.

O rosto de Mairi ficou branco contra a luz dourada da lareira. Ela piscou o que para Connor parecia lágrimas e virou-se para o irmão.

— Isso não é verdade.

Connor queria ir até ela. Ele quase o fez quando Colin olhou diretamente nos seus olhos e acenou com a cabeça.

— Falaremos disso mais tarde, — ela disse, e baixou os olhos para as mãos.

Connor falaria com ele sobre isso também. Cada um dos filhos do Laird era tanto seu irmão quanto Finn. As guerras provavelmente estavam chegando à Inglaterra, e Connor não queria que Colin lutasse nelas. Especialmente se Connor não estivesse ao seu lado. Inferno, ele já teve brigas suficientes. Ele prestou seu serviço por mais tempo do que precisava. Ele queria se casar com o amor de sua juventude e estar indo para casa e para criar seus bairns.

— Capitão Grant.

Connor desviou o olhar de Colin e deu atenção ao rei.

— Conte-me sobre o ataque que você sofreu em St. James Park.

Connor contou tudo, com o pai interpondo a intervalos. Ele não disse ao rei que suspeitava de Nicholas Sedley ou de qualquer outra pessoa. Talvez ele tivesse sido atacado por suas botas e não houvesse conspiração por trás disso. Ele não queria ver seu amigo enforcado se ele fosse inocente e até Connor ter provas de que não era, ele não diria nada.

— Vou tratar do assunto, — prometeu James, depois ofereceu um sorriso mais relaxado. — Fora isso, você está se recuperando bem?

— Quase completamente, Sua Majestade. Mais um dia ou dois e voltarei ao campo ensinando a outros capitães como lutar.

— Bom. Estou colocando Colin sob sua tutela.

Mairi virou-se para ele com um olhar quase suplicante. Ela queria que ele recusasse, pedisse ao rei que mandasse o irmão para casa, onde era seguro.

Colin não compartilhava as preocupações de sua irmã. Pois ele ofegou em sua cadeira e protestou com um retumbante:

— Nae, Sua Majestade! Não há nada que ele ou qualquer outra pessoa aqui possa me ensinar que eu já não sei, posso praticar por conta própria.

— Sempre há espaço para aprender mais, — o rei o corrigiu gentilmente. — Você treinará com o capitão Grant ou será enviado para casa com o pai dele. Você entende?

Lição um aprendida. Não discuta com o rei da Inglaterra, não importa o quanto ele goste de você.

Colin era tão teimoso quanto sua irmã. Demorou muito para ele concordar e desviar o olhar. Quando o fez, ele desviou o olhar para Connor. Inferno, o garoto iria encontrá-lo no campo com tudo o que tinha. Involuntariamente, Connor pegou sua ferida. Ele deveria estar totalmente recuperado até então.

É melhor que estivesse.

Era quase meia-noite quando eles finalmente deixaram a Câmara de Privada. Os pais de Connor, assim como o rei e a rainha, os deixaram se retirar. Quando Colin tentou sair para o quarto, Connor agarrou um punhado de lã da parte de trás do plaid e o puxou de volta.

— Vamos andar. Há coisas que sua irmã e eu discutiremos com você.

— Não há nada para discutir. — Colin se libertou e caminhou por conta própria. — Eu tomei minha decisão. É aqui que eu quero estar.

— Como você pode deixar Camlochlin? — Mairi exigiu, parecendo muito com o que ela fez quando Connor disse a ela que ele estava partindo.

— Não há nada para mim lá, Mairi. Estou farto de lutar no escuro ou por causa de gado. Quero fazer parte de um exército. — O olhar de Colin se voltou para o de Connor, uma faísca de desafio iluminando suas profundezas de ouro esverdeado. — Me tornar um capitão, talvez.

Connor não pôde deixar de sorrir. O rapaz era arrogante o suficiente para ser um general.

— Vocês lutaram contra pequenos grupos de homens que estavam despreparados e não qualificados. Você não sabe como é lutar contra um exército.

— Nem você quando veio aqui, — Colin lembrou quando entraram na tranquila Galeria de Pedra.

— Mas eu sei agora. Não importa o quanto você treine, ou o quanto você saiba, é difícil, Colin. É difícil para o coração de um homem.

— Nem todos os homens nasceram para a batalha.

Connor virou-se para olhá-lo. Ele estava certo. Connor já vira isso muitas vezes em campo; homens expulsando o desjejum ao ver membros e até cabeças espalhadas pela grama. Alguns homens podiam aguentar porque precisavam. Era o dever deles. Enquanto alguns raros realmente amavam o peso de uma lâmina nas mãos, a emoção de olhar a morte no rosto e sair vivo.

— Se você está determinado a fazê-lo, — ele cedeu, sabendo que Colin era um daqueles raros e nada que Connor dissesse o faria mudar de ideia: — Eu vou ficar aqui com você e prepará-lo para o que sem dúvida está por vir.

Ao lado dele, Mairi ficou rígida. Quando Connor se virou para olhá-la, ela evitou seu olhar e falou com o irmão.

— Colin, por favor, não fique aqui. Você não pode realmente querer sair de casa.

Connor ouviu o mesmo pedido desesperado em sua voz que ele ouviu quando a deixou para servir o rei. Ela não queria perder alguém que amava para a Inglaterra. Ela nunca iria querer ficar aqui... e como ele poderia voltar para casa quando uma guerra provavelmente chegaria?

— Camlochlin sempre será o primeiro em meu coração, Mairi, mas minha habilidade pode ser melhor usada aqui. — Colin deu um beijo no rosto de sua irmã. — Não se preocupe comigo. Você sabe que vou me sair bem.

— Colin. — Connor o chamou enquanto se afastava. — Espero você no campo à primeira luz. Não se atrase. Se você realmente pretende permanecer aqui, deve estar bem preparado para o que vier.

Quando o irmão de Mairi olhou por cima do ombro, seu sorriso sumiu, substituído por sua habitual expressão impassível.

— Estou indo para lá agora, capitão. Ao amanhecer, serão vocês que estarão atrasados.

— Inferno. — Connor balançou a cabeça assistindo à partida de Colin. — Quase sinto pena dos holandeses.

Mairi não sorriu. Na verdade, ela parecia tão infeliz que Connor queria tomá-la em seus braços e prometer que ele manteria Colin seguro, mas isso significaria que ele permaneceria no serviço do rei, talvez tendo que deixá-la ir novamente quando se recusasse a ficar aqui com ele. Ele não estava pronto para ouvir sua rejeição mais uma vez, e não disse nada quando ela lhe deu boa-noite.

 

Capítulo Trinta


Connor entrou no pátio um pouco antes do amanhecer na manhã seguinte e balançou a cabeça para Colin já lá, correndo em volta do enorme perímetro. O rapaz seria uma ameaça para alguém. Felizmente, não para ele.

Encostado na murada, ele esperou o irmão de Mairi chegar até ele. Ele olhou ao redor, esperando vê-la. Ele não gostou de como eles partiram na última véspera depois de um dia fazendo amor. Ele queria falar com ela sobre o futuro deles. Mas ele não tinha certeza do que queria lhe dizer. Ele tinha um dever para com seu primo, o rei, mas queria começar sua vida com ela. Ela gostava da mansão, mas não eram as Highlands e ele sabia que seu coração pertencia a Camlochlin. Inferno, ela havia desistido dele uma vez antes. E se ela concordasse em ficar com ele até que o assento de James no trono estivesse seguro? E a luta dela? Ela abriria mão disso por ele também ou continuaria aqui, onde os inimigos eram tão fáceis de encontrar quanto os pássaros no ar?

E o irmão dela? Connor pensou, observando Colin se virar na última curva. Não ficou surpreso que o rapaz de doze anos que ele deixara em Camlochlin tivesse se tornado um guerreiro confiante e teimoso. Colin era filho de seu pai. Ainda assim, se ele era um MacGregor ou não, o verdadeiro teste da coragem de um homem vinha de uma batalha real. Como Colin se sairia contra uma horda de homens que o atacavam com espadas, com o sangue de outra pessoa?

— Você tem certeza de que vai ficar? — Ele perguntou quando o rapaz diminuiu a velocidade.

— Sim. — Colin assentiu, parando e recuperando o fôlego.

— Então — Connor saiu da murada e deu um passo à frente — a partir de agora você é um membro do Exército Real do rei, e eu sou seu capitão. Meu dever é preparar e liderar meus homens na batalha. Prefiro trazer todos para casa, vivos e comigo, quando a batalha terminar e, para isso, eles devem me obedecer em todas as coisas.

— Obedecerei a você, — admitiu Colin, — mas posso me levar para casa.

Connor sorriu, desembainhando sua claymore gigante.

— Mostre-me.

Ele mal teve a chance de se preparar antes de Colin começar a lançar. Se Connor não o conhecesse melhor, juraria que o irmão mais novo de Mairi estava tentando matá-lo. Ele sorriu, apesar da dor surda do ferimento. Ele não teve uma rodada decente de treinamento por muito tempo. Seus homens eram lutadores habilidosos, com certeza, mas treinar com qualquer um dos filhos de Callum MacGregor era um exercício completamente diferente. E, como Connor descobriu rapidamente, Colin aprendeu bem suas lições. O braço da espada era forte e rápido, quase pegando Connor duas vezes no quadril com a ponta achatada da lâmina. Seu objetivo era preciso e seus pés leves enquanto aparava e atacava, acompanhando a prática mais experiente de Connor. Ele atacou com determinação brutal e até usou os cotovelos para empurrar Connor quando suas lâminas se encontraram e faiscaram acima de suas cabeças. Quando eles chegaram ao final da sessão, uma pequena multidão se reunia em torno do campo para assistir, e Connor já havia derramado seu primeiro suor total e real em dois anos de prática. Ele precisava de um tempo. Sua ferida doía e seus braços pareciam pesados. Com um arco final de sua claymore, que brilhava no sol do meio da manhã, ele deu um golpe selvagem que quase colocou Colin de joelhos. Sem um momento de sobra antes que o rapaz se reposicionasse, Connor agarrou seu pulso, torceu o braço de Colin atrás das costas e segurou a ponta afiada da espada contra a garganta do rapaz.

— Você está morto.

— Merda! — Colin xingou entre dentes enquanto Connor o soltava.

— Você fez bem, mas é um pouco ansioso e imprudente. Nós trabalharemos nisso.

Colin não parecia feliz, mas ele não disse nada quando bateu a espada de volta na bainha e assentiu. Pelo menos ele ainda possuía humildade. Quando ele se afastou, Connor soltou um profundo suspiro. Ele viu Mairi entre os espectadores. Ela exibia um sorriso um tanto dolorido.

Ela foi até a murada, esperando por ele, e depois o repreendeu em silêncio por lutar com o irmão quando o ferimento ainda não estava curado.

— Eu ganhei, não ganhei?

— Ainda assim, você foi tolo em sua conclusão. Tornar Colin completamente desamparado foi um erro. Estou certo de que ele fará você pagar da próxima vez. Ele treinará ainda mais.

— É isso que eu quero que ele faça, — ele disse, passando o dedo sobre seus lábios e desejando beijá-los. — Ele vencerá todos os que vierem contra ele.

Ela sorriu e assentiu, e ele pensou que poderia ter visto um brilho no azul profundo de seus olhos.

— Capitão Grant! — A voz de Elizabeth de Vere quebrou no momento que Connor pensou que poderia ser o caminho certo para falar com Mairi sobre as coisas em sua mente.

— Você foi maravilhoso! — Elizabeth não fez nenhuma tentativa de esconder sua admiração por ele ou sua aversão a Mairi. — Eu ouso dizer que vê-lo lidar com aquele bárbaro foi o auge do meu dia.

— Bárbaro?

Connor pegou Mairi no ar um instante antes de colocar as mãos na garganta de Elizabeth. Elizabeth apenas se esquivou e sorriu, quase tão arrogantemente quanto seu irmão frequentemente sorria para Connor.

— Eu espero, — disse ela tão delicadamente quanto os sinos tilintando em uma brisa suave, — que você não será tão brutal com meu irmão se você o combater no campo.

Connor pegou a inferência e o braço de Mairi junto quando ela se lançou na filha do conde.

— Tenho certeza de que não precisarei. — Ele ofereceu a Elizabeth um sorriso tenso, tão ansioso por estar longe dela quanto por tirar Mairi do alcance de seu rosto bonito. — Desculpe-nos, por favor. — Ele não esperou uma resposta, ou uma birra, se o tom púrpura do rosto de Elizabeth deu pista do que estava por vir, mas empurrou Mairi para longe e a seguiu de perto.

— Ela sugere que sua ferocidade com Colin tem algo desfavorável a ver comigo! — Ela se virou e deu um tapa na mão dele de suas costas.

— Eu sei.

— Eu desprezo essa bruxa!

— Eu sei disso também. — Sorriu quando ela olhou para ele e depois ao redor de seu ombro para Lady Elizabeth. — O que eu não sei, — continuou ele, desta vez, oferecendo a mão para ela, — é por que a deixou irritada? — Ele gostou de vê-la lançar seu sorriso vitorioso na irmã de Oxford quando ela aceitou sua mão e deixou que a levasse de volta ao salão de banquetes. Era preciso conhecer verdadeiramente sua selvageria para domá-la.

— Vou ter meu dia com ela.

— Por quê? — Connor olhou para ela enquanto caminhavam. — Ela não é pior do que as outras senhoras daqui. Eu sei que ela olha para você, mas os outros também. Você não se importa com o que elas pensam de você. O que a faz diferente?

Ele a observou morder o lábio inferior, pesando suas palavras com cuidado.

— É você — ela finalmente disse, olhando por cima do ombro, e não para ele. — Há algo nela que é irritantemente confiante de que você será dela.

Ele colocou o dedo indicador sob o queixo dela e puxou seu olhar para ele.

— Eu não vou ser.

— Eu sei.

— Então não pense mais sobre isso. Aqui estou prestes a cair de dor no estômago e tudo o que você pode fazer é pensar em...

Ela o puxou para uma parada e alcançou sua cintura quando eles chegaram às escadas.

— Oh, Connor. Você exagerou? Quão ruim é isso?

— Agora que penso nisso, — ele fechou os braços em volta dela e sorriu para seu rosto bonito — não me dói tanto.

Ele inclinou a cabeça em seguida e beijou a boca dela que se abriu. Ele queria carregá-la para sua cama, despir seu corpo e tomá-la com força e rapidez em sua cama.

Ele poderia ter feito isso também se alguém não tivesse chamado seu nome. Ele olhou para cima e viu Drummond e o jovem Edward se aproximando.

— Treinamos a manhã toda, — disse o tenente. — Estamos indo para a taberna. Junta-se a nós, capitão?

— Vá. — Mairi deu-lhe um empurrão gentil e um sorriso generoso. — Beba com seus amigos. Vejo você mais tarde esta noite.

Esta noite? De jeito nenhum ele iria esperar o dia todo para vê-la. Oxford provavelmente a caçaria no instante em que Connor estivesse longe dela.

— Mairi. — A mão dele no pulso dela a deteve e ela se voltou para ele. — Venha conosco. Os homens não vão se opor à sua companhia.

Ela olhou para os outros que estavam sorrindo.

— Talvez— Drummond ofereceu-lhe um aceno reverencial. — Você compartilhará conosco as maneiras pelas quais sua lâmina fez contato com a carne do capitão em quatro ocasiões diferentes.

Connor riu e passou o braço em volta do ombro de Mairi.

— Foi a cor dos olhos dela, tenente. A ousadia de sua língua. Ela me enganou.

— Quando ele se lança em um movimento ascendente, tem uma tendência a inclinar-se para a esquerda, — disse Mairi, provando que era mais do que um encantamento que ela havia causado a ele. — Se você esperar apenas um instante para atacar, poderá encontrar seu alvo.

— Ah. — Richard sorriu para ela. — Conte-nos mais.

Eles deixaram o local com Connor adivinhando seu convite... até que ela olhou para ele e sorriu.

 

Capítulo Trinta e Um


Mairi não costumava beber, mas hoje ela podia usar a caneca mais alta de cerveja que seu estômago podia suportar. Ela passou uma noite inquieta acordada em sua cama, em parte por causa das notícias de seu irmão, mas os beijos de Connor a assombravam também. O jeito que ele a segurava, sussurrava que a amava e depois demonstrava. Caro Deus, o homem tinha resistência! Ontem fora expulsa de seu sono. A casa que ele construiu era extraordinariamente bonita. O fato dele ter construído para ela fez seu coração doer e seus olhos arderem, mesmo nesta manhã. Ela o teria procurado anos atrás se soubesse disso? Ela ficaria com ele agora, se ele pedisse? Sim, havia inimigos dos católicos, o suficiente aqui para mantê-la ocupada por três vidas; mas agora que os inimigos a cercavam por quase todos os lados, ela descobriu que não se importava muito com todo o perigo. Talvez, porque o irmão agora estaria morando no centro de tudo.

Colin estava ficando. Och, mas ela poderia ter acertado a cabeça dele com uma vara quando soube das suas intenções. Como o pai dela o deixou vir? Como Rob pôde se casar com a filha do rei? Sua cabeça ainda girava com tudo isso. Ela deixou a cama sentindo-se pior do que quando caiu na noite anterior. Seu irmão, aquele que ela preferia acima dos outros, estava na Inglaterra. Ele estava lutando contra quaisquer inimigos que viessem contra o rei e inferno, havia muitos. E se ele fosse morto?

Ela olhou para Connor quando eles entraram na taberna e silenciosamente agradeceu por fazer o possível para ajudar Colin a sair vivo da Inglaterra. Mas isso significava que ele estava ficando também. Ele não havia mencionado nada sobre voltar para casa em Camlochlin. Ele provavelmente nunca voltaria, agora que tinha sua própria casa para morar e se pretendia manter Colin a salvo. Ela poderia deixar as Highlands por ele? Ela já se fez essa pergunta centenas de vezes. Ela não queria pensar na possibilidade de ele não pedir para ela ficar.

Ela seguiu os homens dentro do Troubadour e olhou em volta. Ela nunca tinha estado em uma taberna antes. Não havia no Planalto, pelo menos, não nas Highlands. Os homens preparavam seu próprio uísque para se aquecer nos meses frios. Ela observou as vistas e os sons ao seu redor, sentindo o perigo que geralmente estava associado a muitos homens bêbados amontoados em um só lugar. Ela entendeu por que Connor vinha aqui frequentemente. Era mais o Salão Principal de Camlochlin do que em qualquer lugar do palácio. O que Connor faria se houvesse uma briga? Quantos narizes ele já tinha quebrado em lugares como este? Provavelmente teria havido uma briga se os homens que o tenente Drummond acabara de afastar de uma mesa de canto não fossem um grupo de soldados da própria companhia de Connor.

Eles se sentaram, cada um se acomodando confortavelmente em sua cadeira, cada um caindo diretamente em seu papel no que Mairi imaginava que acontecesse sempre que chegassem aqui. Drummond pediu bebidas. Edward não se sentou por muito tempo, mas correu da cadeira para aparecer em outra mesa para cumprimentar alguns amigos dele.

Ela estava feliz por Connor ter pedido que ela viesse. Ela precisava de um alívio dos pensamentos que a atormentavam. Ela gostava de homens. Ela gostava mais deles do que das mulheres. As mulheres de Camlochlin eram mais duras do que as baforadas de pó dentro do palácio, mas mesmo elas não compartilhavam seus interesses na política ou na certa inclinação do pulso que fazia uma lâmina cantar.

— Boa noite, capitão. Qual é o seu prazer hoje à noite?

Mairi olhou para a loira bonita em pé perto de Connor e com um sorriso sugestivo nos lábios carnudos.

— Três uísques, Vicky — Connor disse a ela, depois limpou a garganta. — E uma caneca de sua boa cerveja fermentada para Mairi.

Vicky olhou-a com surpresa, como se de repente a reconhecesse, ou tivesse ouvido falar dela antes.

— Prazer em conhecê-la, Mairi, — disse ela, com um sorriso tenso.

Connor tinha contado a essa mulher sobre ela? Mairi olhou para ele. Vicky era uma de suas amantes? Quantas mais haviam? Ela não queria pensar nisso.

— Quatro uísques, por favor, Vicky.

Ela ignorou Connor quando ele se mexeu levemente em seu assento, obviamente desconfortável com as duas se encontrando.

— Por que vocês três? — Ela perguntou, recusando-se a pensar nele nu com outra pessoa. — Vocês estão juntos frequentemente. Como um capitão, tenente e corneteiro se tornaram amigos tão próximos?

— Conheço Richard desde que cheguei aqui. Ele salvou minha vida na Cornualha há dois anos — disse Connor. — Nós deixamos Edward nos acompanhar, porque ele faz o que nós dizemos. — Ele lançou um sorriso ao corneteiro e piscou para ela.

— E vocês dois? — Perguntou o tenente Drummond enquanto Vicky voltava com as bebidas.

Mairi tomou um gole dela. A cerveja estava azeda e aguada. Tremendo com o gosto, deu a ela outra coisa para fazer, além de empalidecer com a pergunta e o pensamento de responder.

— Nós dois?

— Vemos vocês juntos com frequência, — disse o tenente com um sorriso, deixando-a saber que ser deliberadamente evasivo não iria funcionar. — Como um capitão de Stuart e uma moça pequenina das Highlands se tornaram amigos?

Ela sorriu, oferecendo a Connor a oportunidade de falar. Ele recusou ignorando-a e cobrindo a boca com a caneca. Droga. Inferno, ela não queria falar sobre se apaixonar por ele. A última coisa que Connor precisava era de mais confiança. Olhava para ele sentado lá com um sorriso curioso no rosto, esperando ela derramar suas entranhas na mesa.

— Lorde e Lady Huntley moram no castelo de meu pai. Connor... o capitão Grant nasceu lá.

O tenente assentiu, junto com Edward, esperando por mais.

Mairi torceu uma das fitas do vestido ao redor do dedo.

— Ele cresceu perto do meu irmão. — Ela encolheu os ombros, esperando que fosse o suficiente. Não era.

— Ele nos contou sobre Tristan, — Edward disse a ela, girando a cadeira para montá-la e lhe dar toda a atenção. — Como ele se tornou seu amigo?

— Ela nos seguia em todos os lugares. — Connor finalmente teve pena dela e terminou por ela. Quando ele continuou, ela desejou ter continuado falando. — Ela não era tão alta assim, — ele segurou a palma da mão no topo da mesa, — era uma moça teimosa que nunca fez o que lhe disseram. Se tentássemos escalar a encosta de uma montanha, ela também tentaria. Não sei dizer quantas vezes ela estragou um ataque furtivo às ovelhas porque não sabíamos que ela estava atrás de nós.

— Provando que eu era mais furtiva do que qualquer um de vocês.

Os homens riram e Connor inclinou a cabeça, dando-lhe a vitória.

— Eu sabia que ela me amava, — ele continuou sem piedade, seu sorriso se alargando em seus lábios tensos. — Mairi acho que você tinha seis anos quando me contou, sim?

Ela se perguntou o que os homens dele fariam se ela jogasse sua caneca nele.

— Eu tinha que ser muito jovem para ser tão tola.

Ele riu, depois fez beicinho, fingindo um insulto.

— O que ela não sabia era que eu devolvia o amor dela. Eu era bem jovem e tolo também. — O sorriso dele sobre ela se suavizou e fez sua pele formigar. — Não demorou muito para ela se deslizar debaixo da minha pele e pelas minhas costas quando nós três nos encontrávamos em apuros. Ela nunca chorava, mas seus olhos se enchiam de lágrimas e brilhavam como a névoa que envolvia Sgurr Na Stri. Suas bochechas estavam sempre vermelhas do frio... seus lábios também.

Os homens ao redor da mesa ficaram quietos com a história contada de Connor.

— Então, capitão?

Mairi piscou e lembrou-se de respirar quando o olhar terno de Connor passou dela para o tenente.

— Você conhece aquele homem?

Connor virou-se, junto com todos os outros, para um camponês parado sozinho, com uma caneca na mandíbula barbada. Ele estava parcialmente bloqueado pela sombra, mas Mairi notou sua altura e largura dos ombros. Ele se virou para a porta quando os viu olhando para ele.

— Eu nunca o vi antes, por que pergunta? — Connor disse, voltando-se para o tenente.

Richard Drummond largou a caneca e deixou cair a mão no punho ao seu lado.

— Porque ele está usando suas botas.

Connor estava de pé e caminhando antes do homem chegar à porta, mas Richard Drummond o alcançou primeiro. Connor não parou de andar enquanto seu tenente, que era quase tão alto quanto o ladrão, o segurava pela parte de trás da gola e praticamente o chutava para fora pela porta.

Mairi estava logo atrás de Connor quando eles deixaram a taberna, as mãos puxando as saias inglesas limitadas para que ela pudesse pegar um de seus punhais.

— Você parece estar com medo, estranho — disse Connor, alcançando o homem ainda preso entre os dedos carnudos de seu tenente. — Você acha que está olhando para um fantasma?

Mairi estudou o agressor e tinha certeza de que ele era, de fato, o bruto que esfaqueou Connor. Essas eram de fato as botas de Connor nos pés e um verdadeiro terror arregalava seus olhos.


— Você tentou me matar. — Connor se aproximou para prendê-lo com seu olhar nivelado. — Por quê?

— Prata, — admitiu o ladrão, reunindo um pouco da coragem que o abandonara alguns momentos antes. — Vinte moedas de prata.

Inferno, então era verdade, o homem tinha tentado matar Connor por mais do que apenas suas botas. Mairi se aproximou e girou a adaga nos dedos.

— Vamos matá-lo depois que ele nos disser quem o pagou e depois jogar seu corpo no lixo do dia.

— Em um momento, — disse Connor, em seguida, deu um leve toque na bochecha eriçada do homem para manter os olhos nele e fora de Mairi. — Qual o seu nome?

— Harry Thatcher.

— Quem pagou você, Harry?

— Não sei. — Ele deu de ombros e se afastou do olhar atento de Connor. Ele se dobrou um instante depois do forte golpe que Connor infligiu em suas entranhas.

— Senhor Thatcher. — A voz de Connor permaneceu tão suave como quando ele disse a Mairi que a amava. — Você vai ser enforcado. Posso dizer uma palavra ao rei se me disser a verdade. Talvez ele seja mais indulgente com você. — Ele esperou pacientemente enquanto Richard o acertava com um direito. — Quem pagou você?

— Eu não sei, — Harry repetiu. Desta vez, foi o tenente de Connor que o golpeou na boca.

— Ele deu as moedas para minha irmã. — Harry limpou o sangue dos lábios. — Eu nunca o vi e Linnet não me disse seu nome. Nós deveríamos matá-lo naquela noite... a noite em que você deixou a taberna com ela após a primeira chuva.

Mairi virou-se lentamente para Connor. Ele deixou a taberna com uma mulher? Harry Thatcher falou da noite em que Connor dançou com ela? Na noite em que ele disse que ela tinha significado tudo para ele? Och, o bastardo! Ela poderia perdoá-lo por Vicky, já que ela não tinha como saber há quanto tempo Connor dormiu com ela. Mas a noite em que ele veio a Mairi na chuva? Para onde ele levara a prostituta? Para sua mansão? Ela olhou para ele enquanto seu sangue começava a ferver. Ah, mas ela era uma tola em acreditar nas palavras de amor dele... em acreditar em qualquer coisa que ele já lhe dissesse! Sua garganta ardia e seus olhos ardiam, mas ela não chorava, nunca! Ela permaneceu em silêncio enquanto Harry tentava responder mais perguntas. Ela não ouviu nenhum deles. Linnet. Oh, mas ela parecia uma prostituta inglesa. Pena que a mulher não tivesse matado Connor enquanto ele fazia amor com ela.

— Leve-nos para sua irmã e então vamos deixar você ir.

Mairi zombou de mais uma falsidade caindo tão facilmente da língua de Connor. Mas sim, leve-a a esta Linnet para que ela possa passar pelos dois e acabar com ele de uma vez por todas.

— Ela se foi, — Harry disse a eles. — Ela deixou Londres com as moedas na bolsa.

— E você com minhas botas.

E possivelmente com o filho de Connor em seu ventre. Mairi desviou o olhar quando seu olhar encontrou o dela. Ela colocou a adaga de volta no esconderijo debaixo das saias e se afastou. Ele nem valia a pena matar. Voltaria ao palácio e trancaria a porta do quarto até que fosse seguro voltar para casa. Até aquele momento, ela evitaria Connor Grant da mesma maneira que fizera quando chegara pela primeira vez.

Ela não parou quando Connor a chamou. Tampouco diminuiu o passo de volta para Whitehall quando ele se aproximou e perguntou o que a incomodava. Ele nem sequer teve a decência de fingir remorso. Ela repensou sua decisão de não esfaqueá-lo no coração.

— Vá para o inferno.

— O quê? — Ele parou e agarrou o braço dela, parando-a com ele.

— Inferno, Connor! — Ela se livrou de seu abraço e lançou-lhe seu olhar mais odioso. — O lugar que você me sentenciou a sete anos atrás!

— Estamos de volta a isso? — Ele falou nas costas dela com a audácia de parecer zangado.

Ela estava furiosa demais... magoada demais para se virar e dar a ele a resposta que ele merecia. Apressou a marcha, aliviada ao ver o portão à vista.

Sem diminuir o passo, ela levantou a palma da mão para ele quando ele a alcançou.

— Nunca mais fale comigo.

— Por quê? — Ele perguntou, seguindo-a pelo portão. — O que aconteceu com você? — Ele a puxou para outra parada, tentando-a a fazer todo tipo de coisas violentas com ele. — Você está com raiva por não ter deixado matar o senhor Thatcher? Eu...

— Eu estou com raiva por ele não tê-lo matado!

Ele a deixou ir com seu olhar mais negro ainda. Ele permaneceu em silêncio e totalmente quieto enquanto seus homens passavam com seu agressor, parando momentaneamente em seus passos para ouvir o que ela e Connor estavam discutindo. Depois de um olhar de advertência que colocou os homens em seu caminho novamente, Connor voltou sua atenção para ela. Quando ele falou, sua voz era mais aguda, seus olhos tão sombrios e ameaçadores quanto as nuvens espessas se formando novamente sobre suas cabeças.

— Se eu não tivesse pegado meu agressor e ele não tivesse confessado, poderia pensar que era sua mão atrás daquela adaga.

— Se eu tivesse algum senso, teria sido! — Ela girou nos calcanhares para deixá-lo pela última vez. Em vez disso, ela se viu girando de volta na direção dele e depois puxada por cima do ombro dele.

Ela estava atordoada demais para falar. Ela queria gritar, mas se recusou a dar-lhe a satisfação. Além disso, por que chamar mais atenção para a humilhação dela?

— Solte-me, — ela avisou, e bateu os punhos nas costas dele.

Ele bateu com força no seu traseiro em resposta. Ela ofegou e pegou as saias. Infelizmente, ele sabia o que ela estava procurando e puxou a bainha sobre os joelhos. Ele arrancou a primeira adaga da panturrilha esquerda e depois a outra da direita. As duas que ela amarrava nas coxas vieram a seguir, acompanhados por um juramento murmurado de seus lábios.

— Devolva minhas lâminas, seu porco mentiroso!

— Fique em silêncio. — Ele bateu em seu traseiro novamente.

Felizmente, o céu se abriu e um trovão absorveu a maioria das maldições que ela gritou com ele. A chuva, no entanto, escolheu não cair rápido o suficiente. Pois quando eles entraram no pátio, ainda havia pessoas suficientes para dar uma boa olhada nela. Um deles era Lorde Oxford.

— Capitão Grant, insisto que você a solte neste instante!

Merda, Henry! Merda! Mairi aplaudiu silenciosamente, pendendo sobre o traseiro de Connor. Quando ele passou por Henry sem parar, ela olhou para cima e ofereceu ao filho do conde um olhar desamparado. Se Henry a salvasse disso, ela poderia apenas beijar o rosto dele. Talvez ela até fizesse isso enquanto Connor assistia.

— Grant! — Seu campeão gritou galantemente. — Coloque-a no chão ou sofra as consequências.

Ah, finalmente Connor parou. Ele se virou lentamente, bloqueando a visão de Oxford.

— Quais seriam essas consequências, Oxford?

Och, isso estava prestes a azedar. Henry não deveria tê-lo ameaçado. Connor não subira de posição tão rapidamente porque o rei mostrava favor à sua família. A fofoca não se espalhara somente pelas vitórias em seu quarto. Ele ganhou respeito no campo de batalha e provou seu valor ao Exército Real. Mairi sabia em primeira mão o quão mortal era sua lâmina, pois ela o observara praticar com o pai. Ela rezou para que Henry tivesse o bom senso de saber quando recuar. Ela não podia vê-lo insistir para que ele usasse cautela.

— Vejo você no campo e o tratarei corretamente.

Mairi fechou os olhos e bateu suavemente nas costas de Connor. Idiota! No entanto, ela argumentou de repente, ela estava em seu ombro e quatro de suas adagas estavam na mão dele. Connor teria que baixá-la se ele quisesse lutar. Isso ainda poderia funcionar a seu favor. Oh, mas pobre Henry.

Os olhos dela se abriram quando a palma áspera de Connor se arrastou pelas suas nádegas e deu um tapinha no final da trilha.

— Eu me encontrarei lá depois que eu lembrar a essa lass de algumas coisas.

Mairi lutou para se virar e deu um tapa na parte de trás da cabeça de Connor. Ele se virou para lhe dar um olhar sombrio que prometeu vingança. Ela queria dar um tapa nele novamente, mas ele se virou, levando-a com ele.

— Se você quer tentar me impedir, — ele parou, voltando-se para Henry com um pequeno sorriso letal, — tente.

Mairi não respirou sob o silêncio morto que se seguiu. Henry não era tão tolo, afinal. Ele não possuía mais coragem do que ela contra o arrastar das juntas dos dedos, esperando pacientemente pelo próximo passo de Henry. Quando nada aconteceu, Connor riu e se virou.

Ele foi direto ao capitão Nicholas Sedley.

— Grant, quem você tem aí? — Mairi ouviu e virou uma sombra mais profunda de vermelho. — Onde você o encontrou?

— Quem? — Perguntou Connor, virando-se para ver de quem Sedley falava.

— Aquele camponês sendo escoltado pelo seu tenente.

Mairi tentou desesperadamente dar uma volta e dar uma olhada no capitão Sedley. Ele parecia nervoso, um pouco desesperado como um homem culpado e prestes a ser pego.

Por um momento, ela esqueceu sua raiva e rezou para que Connor também a ouvisse.

— O senhor Thatcher é o homem que me esfaqueou no St. James Park.

Mairi fechou os olhos e cutucou Connor no quadril para não dizer tanto.

— Ele afirma ter coisas para me dizer depois que eu o vi no beco. Drummond — Connor chamou. — Leve nosso convidado para os alojamentos que os MacGregors ocuparam enquanto estavam aqui e pegue algo para ele comer. Falo com ele mais tarde.

— O que ele deseja lhe dizer? — Sedley perguntou, fazendo o possível para mascarar seus nervos.

— Em breve descobriremos.

Mairi ouviu o sorriso na voz de Connor. Do que diabos ele estava falando? Ela não perguntou quando ele a afastou, mas se inclinou sobre as costas e olhou para o capitão de William de Orange. Harry Thatcher não precisava saber o nome do homem que pagou à irmã. Mairi já sabia quem era.

 

Capítulo Trinta e Dois


— Connor, pelo amor de Deus, me solte, idiota! Precisamos discutir isso! — Mairi disse, tendo se acalmado um pouco.

— Sim, — Connor pensou, parando e colocando-a de pé pouco antes de chegarem à escada. — Precisamos discutir muitas coisas como...

— Você tomou nota da reação do capitão Sedley sobre Harry Thatcher?

Ele olhou nos olhos brilhantes dela e percebeu o que acabara de fazer e por quê. Ele se afastou de seu agressor e do homem por trás dele para lidar com ela primeiro, porque ela significava mais para ele do que sua própria vida. Ele sorriu para ela, agradecido por ela ter posto a vida dele diante de sua raiva por qualquer inferno que ele tivesse feito.

— Ele sabe quem é Thatcher e o que ele fez.

Ela assentiu, depois olhou ao seu redor para garantir que ninguém pudesse ouvir.

— Thatcher o reconheceu? — Ela devolveu um breve olhar ameaçador para ele. — Eu não podia ver.

Ele queria beijá-la e que fosse para o inferno quem estivesse vendo. Ele realmente precisava manter o foco.

— Ele não parecia conhecê-lo. Ele provavelmente nunca viu Sedley antes deste dia.

— Ele não precisava, — disse ela. — Sedley não teria pago a uma mulher para fazer o que um homem precisa fazer sem ver seu irmão primeiro.

Ele a ouviu direito?

— O que um homem precisava fazer?

Ela revirou os olhos para ele.

— Bem, você é um grande bruto, Connor. Embora eu não saiba por que ela simplesmente não te matou na cama dela... ou na sua.

Ele balançou a cabeça e riu.

— Quem e qual cama?

— Linnet. Mas não importa isso agora. O que você pretende fazer com seu amigo capitão Sedley?

Amigo dele. De repente, a verdade nua atingiu Connor como uma onda. Ele não queria acreditar, mas Nick tentou matá-lo.

— Logo após ele não deixar mais dúvidas de que é culpado, e antes que eu o traga ao rei, pretendo perguntar o porquê.

O silêncio se manteve entre eles por um momento antes de finalmente falar, sua voz suave e cheia de compaixão.

— Sinto muito, Connor. Traição é dolorosa.

— Mairi. — Ele levantou a mão e passou os nós dos dedos sobre sua bochecha impecável. — Eu não te traí. O que tenho que fazer para provar isso a você?

— Você poderia ter me falado sobre Linnet e como você fez amor com ela na mesma noite em que me disse que eu tinha significado tudo para você.

Então, essa era a razão de sua raiva. Inferno, ela não sabia que era a única mulher que realmente o fazia se sentir como um homem?

— Sim, eu deixei a taberna com ela. Foi depois que você defendeu Oxford. Queria tirar você de meus pensamentos, mas não fiz amor com ela.

— Por que não?

Inferno.

Ele poderia ter dito que havia mudado de ideia porque queria que ela fosse seu rosto bonito embaixo dele, mas ela já tinha problemas suficientes para acreditar em uma palavra que ele dizia. Ele seria honesto com ela e deixaria as pedras caírem onde pudessem.

— Porque Colin me deu um soco na boca quando saí.

Ela sorriu, deliciando-o com sua alma.

— Felizmente, tenho uma natureza muito mais compreensiva do que Colin. Como isso aconteceu enquanto ainda nos odiávamos, não posso ficar com raiva de você.

— Nós não nos odiamos. — Ele sorriu pegando as mãos dela e puxando-a para ele. — Admita que me amava enquanto estava sendo girada na ponta dos pés por Oxford.

— Eu queria arremessar meus punhais em você cada vez que você abria a boca.

Ele se aproximou, inclinando a boca na dela.

— Que tal agora?

Sua boca era macia, cedendo pelo mais breve momento antes de se render completamente a ele. Reunindo-a nos braços, ele a esmagou contra ele, estendendo a língua sobre a dela, as mãos nas costas dela.

— Lá está ele...

A voz de Henry de Vere parou em um silêncio atordoado antes que a rainha limpasse a garganta.

— Capitão Grant? — Ela perguntou quando ele soltou Mairi e virou-se para ela. Ele olhou para sua mãe parada ao lado dela, depois se afastou do leve sorriso que ela exibia ao ver Mairi em seus braços.

— Sua Majestade.

— Capitão, — disse a rainha enquanto ele se curvava para ela. — Lorde Oxford está bastante angustiado com o seu manuseio, com a Srta. MacGregor.

Connor desviou o olhar para o punhal e prometeu socar seus dentes mais tarde.

— Você falou com o pai da senhorita MacGregor sobre cortejá-la?

— Quando eu tinha doze anos, Sua Majestade. E então novamente aos quinze anos, e mais uma vez dois anos depois disso. Ele nos deu a sua bênção.

Mary de Modena sorriu tão docemente que ele sentiu vontade de se curvar novamente.

— Eu não vejo nenhuma manipulação. — Ela esticou seu olhar gentil sobre Mairi. — Ele te tratou mal?

— Não, Sua Majestade, — Mairi disse a ela.

Sua resposta pareceu tirar o vento de Oxford. De fato, o homem parecia que todos os seus órgãos haviam caído a seus pés e um leve vento o derrubaria.

— Eu estava enganado então, — anunciou ele, embora um pouco fraco. Ele se importava com Mairi, verdadeiramente. Connor sentiu uma pontada de pena por ele quando Oxford se virou sem outra palavra e saiu.

— No futuro, capitão Grant — disse a rainha, voltando a atenção para ela, — corteje-a com um pouco mais de discrição. Srta. MacGregor, você já comeu?

Mairi balançou a cabeça e sorriu para Connor por cima do ombro quando a esposa do rei a levou para o salão de banquetes.

— Venha, Lady Huntley, — ela chamou em sua voz mais leve com sotaque italiano quando a mãe de Connor ficou para trás para beijar Connor na bochecha.

— Case com ela e faça todos nós felizes, sim?

— Lady Huntley?

— Logo atrás de você.

Connor observou-os ir, depois olhou para as escadas para os alojamentos acima. Ele pretendia tomar Mairi como esposa, mas primeiro havia algo que precisava fazer.

Era hora de descobrir se o homem que ele chamara de amigo nos últimos sete anos o havia traído de verdade. Ele subiu as escadas e caminhou pelo longo corredor como um homem a caminho de um enforcamento. Se suas suspeitas estivessem corretas, Sedley viria aos alojamentos vagos de MacGregor para silenciar Thatcher antes que ele tivesse a chance de falar com Connor. Sedley não tinha como saber ao certo se Thatcher poderia identificá-lo, mas um homem culpado não se arriscaria. Mas mesmo que ele estivesse enganado e Sedley não viesse, Connor sabia que já tinha o suficiente dos corredores da Inglaterra, cheios até a borda com línguas enganosas.

Nisso, não importava se Sedley era culpado ou não. Connor queria ir a um lugar onde não houvesse suspeita de irmão ou amigo. Ele queria ir para casa.

Ele veio às câmaras e abriu a porta. Thatcher estava sentado em um banquinho, limpando a testa com os dedos trêmulos. A alguns centímetros de distância, Drummond se apoiava na janela limpando as unhas com a ponta da faca, com as botas de Connor bem colocadas no chão ao lado dele. Os dois homens ergueram os olhos quando ele entrou.

— Onde está Edward?

— Conseguindo sua última refeição, — disse o tenente, olhando para o prisioneiro. — Eu digo, deixe-o morrer com o estômago vazio.

— Ele provavelmente já passou muitos dias sem comida, — disse Connor, atravessando o quarto. — Homens que matam por moedas geralmente não são ricos.

— Ele tinha vinte de prata. Eu diria que ele está comendo bem.

Connor balançou a cabeça, parando na frente do banquinho.

— A irmã dele deixou a Inglaterra com as moedas. — Ele se agachou e olhou fixamente para Thatcher. — Isso não está correto?

— Sim. — Harry assentiu. — Ela pode ter ido para a França.

Drummond resmungou.

— Ele ainda insiste que não sabe quem a pagou.

— Talvez — Connor se levantou e se virou para o tenente, — ele se lembrará melhor de barriga cheia. — Ele fez coisas miseráveis a serviço de seu rei. Ele terminou com isso também. Deixe que os outros digam o que quiserem. Os Highlands não são bárbaros, e ele não mandava um homem faminto para a forca. — Eu disse que o veria alimentado, e ele será alimentado. Mas ainda não. Vá encontrar Edward e diga a ele que a comida pode esperar até que Thatcher tenha visto o rei.

Drummond saiu sem questionar e Connor fez uma anotação mental para apresentar ao rei um pedido de promoção de Richard. Seus homens precisariam de um novo capitão quando ele partisse e de alguém que fosse duro com Colin.

Ele esperou até Richard partir e depois tomou seu lugar contra a janela.

— Vire o banco para me encarar, Thatcher.

Ele assistiu brandamente como seu prisioneiro fez como ordenado.

— Eu serei enforcado?

— Você me esfaqueou e depois me jogou no lixo.

— Sim. — Thatcher engoliu em seco e enxugou a testa novamente. — Eu deveria ser enforcado. Eu fiz coisas pecaminosas.

Connor olhou para ele. Ele não queria estar falando ou se distraindo quando Sedley chegasse.

— Você terá tempo para confessar a um padre. Agora você ficará em silêncio. Em breve, outra pessoa entrará nesta sala. Quando ele o fizer, você não deve se virar. Você entende?

Thatcher assentiu, mas não falou de novo. Eles tiveram que esperar apenas um quarto de hora antes que a trava da porta se abrisse e as dobradiça se deslizassem. Connor se moveu saindo janela, segurando o dedo nos lábios. Ele correu para ficar atrás da porta quando ela começou a abrir.

Connor assistiu com a raiva e a tristeza disputando preeminência por dentro, enquanto Nick Sedley colocava a cabeça e espiava para dentro.

Vendo Thatcher sozinho, ele entrou no quarto e tirou uma adaga do bolso. Connor fechou a porta e pulou para ele ao mesmo tempo. Sedley não teve a chance de se virar antes que Connor passasse o braço por trás do seu pescoço e puxasse a adaga da mão.

— Por que, Nick? — Ele rosnou contra a orelha do amigo enquanto segurava a adaga na garganta de Sedley. — Por que você me queria morto.

— Grant! — Nick sufocou sua descrença atordoada. — O que você está dizendo? Eu só vim para...

— Guarde as mentiras. — Connor empurrou a ponta afiada da lâmina para mais perto. — Diga-me o porquê? William pediu?

— Eu não sei do que você está falando.

— Ela disse que ele era holandês.

Connor olhou por cima do ombro de Nick para Thatcher, olhando para os dois.

— Minha irmã... ela disse que o homem que a pagou era holandês.

— Ele pode muito bem ser, — disse Connor, tirando sangue. — Agora — ele puxou Sedley para mais perto, torcendo o braço do capitão pelas costas, — você me dirá por que estava disposto a me ver morto. Como você conseguiu sentar à minha mesa e rir comigo depois de pagar vinte moedas de prata para me matar.

— Gilles. — Sedley engasgou contra o braço de Connor esmagando sua traqueia. — Você estava fazendo perguntas sobre ele.

— Perguntas que o príncipe não queria responder.

— Eu não disse isso.

— Você não precisava. — Connor virou-se e a Sedley para encarar a porta. — Eu deveria te matar bem aqui, mas você vai contar tudo ao rei. Thatcher, abra a porta!

Harry pulou do banquinho e correu para abrir a porta. Ele caiu no chão antes de respirar fundo, uma adaga saindo do pescoço. Connor ficou parado, com Sedley preso à sua frente, enquanto uma figura aparecia novamente das sombras no corredor e atirava uma segunda adaga. Não havia tempo para se mover antes que a lâmina atingisse seu alvo no fundo do peito de Sedley.

Chutando a porta, Connor cuidadosamente baixou Sedley para o chão. O assassino tinha que ser pego, mas alguém teria que fazer isso.

— Nick. — Ele segurou o amigo nos braços e olhou desesperado para o punho subindo e descendo com as respirações superficiais de Nick. A ferida era fatal. Não havia nada que ele pudesse fazer.

— Desculpe-me, velho amigo. — Nick conseguiu agarrar o casaco de Connor enquanto sussurrava suas últimas palavras. — Estamos... nós dois... à mercê de nossos mestres.

 

Capítulo Trinta e Três


Mairi estava na parede do extremo oeste, com os olhos fixos nos dançarinos que rodeavam o centro do salão de banquetes. Particularmente em Connor, a palma da mão erguida e pressionada contra a da mãe. Inferno, mas ele era bonito e polido em seu traje militar. Mal podia esperar para vê-lo de plaid. Todas as damas do salão já haviam lhe dado pelo menos um olhar hoje à noite. Mairi lançou um sorriso arrogante. Ele era dela, e deixaria que a odiassem por isso.

Ela se comportou como uma criança quando ouviu falar de Linnet. Mesmo que ele tivesse dormido com a prostituta, foi antes deles se encontrarem. Ela o colocou no inferno e sentia muito por isso. Nunca mais ela desconfiaria dele. Ele fez de tudo para provar que a amava. Ele continuou a perdoá-la quando ela duvidava dele. Ele suportou a língua teimosa e muitas vezes azeda. Ele dizia a ela todos os dias como ela era bonita para ele.

Ele construiu uma casa para ela.

Os últimos dois dias foram difíceis para ele, pobre homem. Um amigo querido o traiu e depois morreu em seus braços. O rei tinha sido simpático, mas recusou-se a enterrar o capitão Sedley. O baronete de Aylesford, pai de Sedley, foi convidado a deixar Whitehall com sua família. James ouviu o que Connor havia lhe dito. Sedley não agiu por conta própria. Connor deveria ser morto porque estava fazendo perguntas sobre o almirante Gilles. A ordem veio de cima, do mestre de Sedley.

Mas o rei ainda se recusara a agir contra o sobrinho, marido de sua filha. A prova não existia, graças aos homens que poderiam ter sido esfaqueados diretamente na frente de Connor. E por Connor não ter visto quem havia atirado aquelas facas.

O que tinha sido um golpe pesado para ele. Mas Mairi não tinha certeza se era a inação do rei ou sua sutil repreensão pela incapacidade de seu capitão de proteger seus prisioneiros que haviam formado os vincos acima da testa de Connor nos últimos dois dias.

Ele chamou sua atenção e sorriu, devastando seu coração como se fosse a primeira vez que ela o olhava. Se ele estivesse ferido, ela o curaria. Ela não se importava mais se ele pedisse que ela ficasse aqui na Inglaterra com ele ou não. Ela não estava indo a lugar algum, exceto onde ele estivesse.

— Nobres. — O rei apareceu ao lado dela, rompendo com a conversa anterior com o barão de Sedgwick. — Eles são seres abafados e estúpidos, muitos deles.

Mairi sorriu para ele. Ela esperava que ele fosse um rei forte, pois ele não tinha apenas batalhas políticas pela frente, mas também batalhas religiosas.

— Você não é apenas corajoso, mas também sábio, Sua Majestade.

Ele riu.

— Srta. MacGregor, você tem uma faísca. Eu gosto disso. A rainha também gosta de você.

— Assim como eu dela.

— Fiquei tentado a cavalgar quando você teve William se contorcendo na noite em que parti para Camlochlin.

— Eu insistiria em que você me fizesse um almirante supremo ou nada.

O rei riu, espalhando o olhar pelo salão lotado.

— E ele?

Olhando para onde o rei apontou com sua caneca, Mairi viu Colin cortando a multidão, seus olhos castanhos afiados sob o manto de capuz e estavam fixos nos dois. Era o mesmo manto que cada membro da milícia usava. Ele deve ter pegado em casa e trazido de volta com ele. Ela não se preocupou que nenhum nobre presente o reconhecesse de um dos ataques. A milícia nunca deixou ninguém vivo.

O irmão usava bem a capa, entrando e saindo da multidão como uma sombra, sem aviso prévio. Ela o amava muito e não queria que ele se juntasse ao exército do rei, mas sabia que sua mente afiada e sua habilidade suprema serviriam a um propósito maior aqui do que em Camlochlin.

— Em um ano ou dois, ele será mais devastador do que uma praga.

O rei James olhou para Colin com interesse e depois acenou para ele quando o irmão chegou até eles e ofereceu uma leve reverência ao rei.

— Você tem convidados interessantes, Majestade.

— Oh? — O rei perguntou quando a dança terminou e Connor voltou.

— Sim. — Os lábios de Colin se curvaram em torno de um sorriso secreto enquanto ele inclinava a cabeça na direção de onde ele veio. Mairi seguiu seu olhar e encontrou Lorde Hollingsworth envolvido em conversas tranquilas com o conde de Derby. — Segundo alguns, — continuou ele, — o duque de Monmouth pretende retornar à Inglaterra em um futuro próximo.

— Ouvimos rumores disso, — disse o rei.

— Agora você pode contar como fato. Não ouvi o nome, mas o filho de alguém deve receber o duque quando ele chegar. Você tem traidores em seu meio, Majestade.

O rei James piscou para ele e depois olhou atentamente para os dois lordes ingleses.

— Eles disseram onde o duque estaria atracando? Quantos navios ele traz com ele? Eles apoiam ou se opõem ao retorno de Monmouth?

— É difícil dizer — Colin deu de ombros — mas me dê alguns dias. Não deve ser difícil descobrir.

O rei o estudou por um momento, como se tentasse chegar a algum tipo de conclusão sobre ele. Finalmente, ele deu um forte golpe no braço de Colin e o colocou na tarefa.

— Ele é ambicioso, — disse James, voltando-se para eles. — Em uma noite, ele descobriu mais notícias sobre meus inimigos do que meus generais reuniram em um mês.

Sim, seu irmão era bom nessas coisas, Mairi pensou ao vê-lo partir. Quando eram crianças, ela sempre o encontrava ouvindo uma das histórias de Graham Grant sobre como ele se infiltrara na propriedade Campbell e fazia amizade com todo e qualquer soldado enquanto reunia informações sobre a infame incursão de Callum MacGregor no castelo Kildun.

— Eu gosto dele, — disse o rei. — Você deveria tê-lo visto lutar contra os homens de Gilles em Camlochlin. Eu pensei que ele pretendia matá-los todos e sozinhos.

— Ele provavelmente teria feito exatamente isso.

O rei olhou fixamente para Connor e o manteve ali, as linhas de seus traços fortes esticadas de raiva.

— Capitão, eles vêm para pegar minha coroa.

— Eles vão falhar, senhor.

— Sim, eles vão, pois eu os apagarei, começando com o Parlamento.

Mairi notou que os vincos permanentes aparentemente repentinos de Connor se aprofundam. Se o rei estava falando dos protestantes em geral, por que isso deveria fazer com que ele franzisse a testa? Ela perguntaria a ele mais tarde, quando estivessem sozinhos. O que não ia ser tão cedo.

Ela não pôde fazer nada além de acenar com a cabeça quando o rei James anunciou a Connor que ele queria compartilhar uma palavra com ele em particular.

Ela os observou caminhar juntos ao longo da parede até chegarem à entrada e desaparecerem de vista. Sem mais nada para fazer, voltou para a mesa de seus parentes. Ela procurou Graham ou Claire e os encontrou conversando com o duque de Edimburgo e sua esposa.

Ela se sentou e pegou sua caneca quando alguém se sentou ao seu lado.

Oh, não, era Henry. Ela não o via desde a tarde, quando ele a viu beijando Connor. O pobre Henry ficou longe, provavelmente em seu quarto, com o coração partido por causa dela.

— Estes últimos dias foram difíceis para mim, Mairi.

— Eu sei, Henry, e eu deveria ter lhe dito antes disso

— Arrisquei minha vida por você quando tentei impedi-lo de carregá-la.

Maldição, ela se sentia terrível.

— Nae, — ela mentiu para confortá-lo. — Estou certa de que o capitão Grant nunca faria mal a você.

— Ele não faria? — Sua peruca subiu sobre a testa quando ele arqueou a sobrancelha para ela. — Ele me despreza desde o dia em que voltou. Ele espera por uma oportunidade para me atacar. Eu posso ver nos olhos dele.

Inferno, ela não podia argumentar isso. Connor era ridiculamente expressivo.

— Eu entendo como a beleza do rosto dele pode tê-la encantado, fez você reagir sem pensar, mas eu poderia lhe oferecer muito mais do que ele. — Ele pegou a mão dela e esfregou a ponta do polegar sobre os nós dos dedos.

Mairi se afastou gentilmente e colocou a mão no colo, debaixo da mesa.

— Milorde, deixe-me colocar isso para você o mais ternamente possível. Estou apaixonada pelo capitão Grant. Eu estive desde o meu sexto verão. Provavelmente foi mais cedo do que isso, mas foi quando eu contei a ele. — Caro Deus, era muito bom finalmente dizer a verdade. — Desculpe-me, eu imploro, se o fiz acreditar que meu coração poderia ser seu ou de qualquer outra pessoa. Não pode ser.

— Desculpe, — ele disse suavemente, e recostou-se na cadeira. — Não quis ofender. — Além de parecer um pouco doente, ele aceitou melhor do que ela esperava. Ela ficou agradecida por isso.

A súbita aterrissagem de seu irmão na cadeira em frente a Henry quase assustou o filho do conde.

— Bom Deus, Colin. — Ela o olhou enquanto ele estudava a reação de Henry e a palidez de seu rosto. — Espero que você aprenda a se colocar adequadamente em uma cadeira enquanto estiver aqui. E talvez pare de aparecer sem som, assustando os outros — acrescentou ela quando ele não parecia arrependido.

— Não fomos apresentados formalmente, — disse Oxford quando Colin se virou e o contemplou com um olhar estreitado. — Sou Henry de Vere, filho do conde de Oxford.

— Sim, minha irmã me falou de você.

— Todas as coisas boas, espero.

— Se elas não tivessem sido boas, — disse Colin, empurrando o capuz e levantando uma caneca de vinho descartada até o nariz, — você não estaria sentado aqui sorrindo. — Ele engoliu o que restava na caneca e passou a mão através da boca, depois olhou para Henry um pouco mais.

Os lábios de Mairi doíam ao se curvar diante da abordagem menos sutil de seu irmão, forçando Henry a dizer algo. Ela dissera a ele ontem ou foi um dia antes sobre a manobra de Henry para tirá-la da cabeceira de Connor, dando-lhe informações sobre os cameronianos. Ela não sabia o que ele sabia e disse ao irmão que isso a picou como uma urtiga irritante. Se alguém sabia como tirar um homem de seus segredos, era Colin. Na maioria das vezes, se não fosse por ele, a milícia nunca saberia com quem lutar.

— Eu conheci seu irmão Tristan nesta mesma mesa algumas semanas atrás.

— Você tem minha mais profunda simpatia por isso, — disse Colin suavemente.

— Eu aceito.

— Tristan empurrou a cadeira de Lorde Oxford debaixo dele quando ele se inclinou para sentar, — explicou Mairi, e foi recompensado com um sorriso irreprimível.

— Meu bom Lorde Oxford — disse Colin, recostando-se na cadeira, seu sorriso brilhando agora, embora seus olhos continuassem tão afiados quanto lâminas gêmeas. — Conte-me sobre você.

Henry afagou sua longa peruca e lançou um olhar muito breve para a pista de dança e além, para a saída.

— O que você gostaria de saber?

— Sua família era leal a Charles, não era?

— Como somos para o irmão dele.

— Claro. — Colin assentiu. — Foi seu tio quem contratou a Guarda Real do Cavalo para proteger nosso falecido rei.

— Os Oxford Blues, — Henry disse com um certo orgulho endireitando os ombros.

— Sim, os azuis. Eles são parlamentares, não são? Eles lutam contra quem o Parlamento lhes diz para lutar.

— Está correto, — Oxford concordou. — E o novo Parlamento, sem dúvida, apoiará James, já que é ele quem escolhe a maioria deles.

— É verdade, — disse Colin, sorrindo para ele e depois se virando para Mairi. — Inteligente ele, não é?

— Sim — concordou Mairi, mas não tinha certeza de que homem Colin falava, o rei ou Henry.

 

Capítulo Trinta e Quatro


Connor andava de um lado para o outro entre pares de mais de cem homens, suas botas esmagando a terra macia sob elas. As chuvas da noite anterior haviam terminado e o sol voltou a brilhar sobre sua trapa. Os homens pareciam cansados e só estavam ali há uma hora. Ele olhou para George e Geoffrey e depois passou para os dois seguintes, esperando o melhor. Eles estavam fora de forma por passar semanas sem praticar e, com as coisas como estavam, Connor pretendia perfurá-los até que caíssem enquanto ele permanecesse aqui.

Isso também distrairia seus pensamentos de matar Henry de Vere. O bastardo foi ao rei com queixas contra ele envolvendo Mairi e na noite passada, em seu passeio particular com James, Connor foi forçado a ouvir cada uma delas. A lista também era bastante longa. Começando com ele forçosamente mantendo Oxford longe dela, carregando-a, assim como sua irmã Elizabeth, por cima do ombro, como sacos de farinha. O rei não tinha certeza de que ele acreditava nas alegações de Oxford, já que ele mesmo não tinha visto Connor arrastando mulheres. Connor tinha certeza de que, devia agradecer a rainha Mary, o rei parecia bastante satisfeito por seu capitão ter cortejado a Srta. MacGregor a filha do Laird de Skye. Mas James deixou claro que Oxford também estava interessado em cortejar Mairi.

O que Connor não daria para simplesmente derrotar Henry de Vere e deixá-lo sem sentido.

Seu olhar se fixou na pequena área reservada para o rei e seu grupo, mais precisamente, em Mairi. De pé entre a rainha e sua mãe, ela assistiu o treinamento com o mesmo brilho nos olhos que alguns de seus homens possuíam. Ele queria levá-la para casa, longe dos perigos que ela certamente se meteria aqui em Whitehall, longe dos homens que procuravam tirá-la dele e tentá-lo a matá-los. Ele a queria em sua cama, em seus braços, longe das propriedades da corte, onde poderia fazer amor com ela e dizer que a amava até que ela ficasse cansada de ouvir. Inferno, ele mal teve a chance de beijá-la desde que deixaram a mansão.

Quando ela se virou para ele, parecendo sentir seus olhos nela, ele sorriu e depois fez uma carranca e desviou o olhar. Ele não a queria aqui, distraindo-o com o brilho de seus cachos escorrendo pelo decote leitoso.

Ele olhou para a outra metade da companhia esperando do lado de fora da parede para a vez deles praticarem. Os duzentos homens praticavam em turnos, como o tamanho do pátio permitiria ou se um no campo caísse de joelhos e fosse removido para dar espaço a alguém mais preparado para encontrar seu oponente.

— Hammond, observe seu balanço! — Ele gritou para um soldado do outro lado do campo, depois jogou a lâmina no homem mais próximo a ele. O soldado virou-se a tempo de bloquear outro golpe no ombro. Connor deu um tapinha nas costas dele e o empurrou para o avanço do oponente.

Ele encontrou Colin entre os homens e ficou feliz que o rapaz estivesse se juntando a eles. Colin pode algum dia liderá-los. Connor prestou muita atenção aos seus movimentos, procurando uma falha, mas não a encontrando. Ele examinou os homens à sua esquerda e observou seu pai ajoelhar Andrew Seymour e seu irmão gêmeo, Alex. Inferno, se James tivesse Graham Grant lutando entre seus homens, a vitória seria rápida e sangrenta.

Ele atravessou o terreno para onde seu pai se preparava para o próximo oponente. Connor rolou o pulso, fazendo sua espada dançar quando ele o alcançou. O comandante de longa data do clã MacGregor de Skye sorriu para ele. Eis o que Connor perdeu, um golpe que expelia o ar de seus pulmões, um braço mais mortal do que qualquer praga que a Inglaterra tivesse a oferecer. Era assim que um guerreiro das Highlands lutava. Um homem com a força e a habilidade de dez. Ele bloqueou um golpe ardente com a extremidade oposta da claymore e se reposicionou para se defender contra o próximo golpe. Seu pai não lhe mostrou piedade. Connor teria sido insultado se o fizesse. Ainda assim, ele teve que parar de defender e começar a lançar. Ele golpeou a cabeça de Graham com força e depois saiu do caminho de uma fatia mortal no torso.

— Você ficou mole, filho. — Seu pai mostrou uma covinha, muito parecida com a dele.

— Você acha? — Connor lançou-lhe um sorriso desafiador e arqueou sua lâmina em um amplo círculo diante dele, depois novamente, com força contra a espada de Graham. Ele deu um passo para o lado, evitando o brilho de metal perto de seu rosto e bateu com a arma na outra. Depois de uma série de desvios e golpes letais, ele começou a avançar. Finalmente, ele levou o pai de volta com golpes bruscos e pesados, esquerdo, direito, até os joelhos, o pescoço. Ele não estava sentado na Inglaterra sem fazer nada o tempo todo.

Quando a sessão terminou, ele enviou o primeiro grupo para descansar e chamou o segundo para dentro. Ele olhou para Mairi enquanto o turno mudava, depois chamou o tenente e arrancou as luvas.

— Pegue este aqui. Trabalhe duro, Drummond, especialmente Colin.

Ele estava prestes a sair do recinto quando a ponta de uma lâmina cutucou sua barriga. Ele olhou para o rosto deformado de Oxford, deu um tapa na lâmina e libertou a sua. Ah, aqui está o que ele estava esperando. Se o tolo quisesse vir atrás dele aqui no campo, Connor não o negaria.

— Vamos fazer isso, — ele rosnou, e apontou sua lâmina para a de Oxford enquanto o campo se enchiam de homens ao seu redor.

O tolo se lançou rapidamente. Connor cortou o golpe com facilidade. Ele retornou o favor com um ataque devastador que quase fez a espada de seu oponente voar. O braço de Oxford tremia e ele parecia estar doente por todas as estocadas de Connor. Ele abaixou a espada e deu um passo mais perto.

— Faça o que quiser, capitão Grant, mas eu a terei. Ela será minha e eu a montarei na minha cama. Eu vou ganhar e depois vou fu...

Suas palavras pararam quando o punho de Connor, esmagou o osso abaixo dele. Ele caiu de joelhos, segurando o rosto com as duas mãos.

— Você não vai tê-la — disse Connor, de pé sobre ele, sem pensar no sangue que escorria pelos dedos de Oxford. — E se você se aproximar dela novamente, eu colocarei um fim em você de uma vez.

Connor não esperou para ouvir a resposta borbulhante de Oxford, mas saiu do campo e para os braços de Mairi.

— Receio que haja problemas mais tarde — ele disse e a puxou para longe do pátio. — Vamos.

— Por que haverá problemas? O que aconteceu?

Ocorreu a Connor que Mairi, no meio da multidão de seus homens em espera para a prática, não conseguia ver quem ele havia acertado.

Bom. Ela provavelmente ficaria brava se soubesse. Ele sorriu, levando-a para o palácio.

— Eu cuidarei disso mais tarde. Agora estou com fome. — Ele estava com fome dela. Ele não estava disposto a passar outro dia sem poder tocá-la, beijá-la.

Ele a puxou pelas escadas com ela sorrindo atrás dele quando ela percebeu que eles haviam passado pelas cozinhas.

— Onde você está me levando?

Ele olhou por cima do ombro para ela e ofereceu-lhe um gesto sugestivo de sua boca.

— Em algum lugar que podemos ficar sozinhos.

Ele teve que puxá-la junto quando ela fez uma pausa, hesitante contra seu sorriso malicioso. Eles passaram pelo salão de banquetes, mas Connor não parou por aí. Ele levou-os pelos longos corredores e galerias pintadas, até que chegaram ao seu quarto.

Virando-se para puxá-la contra ele, ele empurrou a porta com as costas.

— Ninguém vai nos atrapalhar aqui.

Os olhos dela se arregalaram.

— Mas é o meio do dia! As pessoas vão ouvir!

— Então é melhor você não fazer muito barulho.

Ele se inclinou para beijá-la quando entraram no quarto iluminado pelo sol, fechando a porta atrás dele. Ele abriu a boca dela com a língua e deslizou sobre a dela. Ela experimentou a antecipação, excitação e medo. Isso o deixou louco de desejo.

— Espere. — Ela se afastou, espalhando suas longas madeixas em volta do rosto e lembrando-o de uma égua que se recusava a ser domada. — O que aconteceu no campo? — Ela exigiu sem fôlego, seus olhos brilhando com a emoção que teve ao desafiá-lo. — Diga-me, ou vou passar o resto do dia com Lorde Oxford.

— Não, você não vai.

— E por que não vou? — Ela apertou as mãos nos quadris e inclinou o queixo para ele. Os músculos dele se contraíram com a necessidade de tomá-la até que ela gritasse sua rendição.

— Porque eu acho que acabei de arrancar alguns dentes dele no campo.

Ele sorriu lentamente quando ela deu um passo para longe dele, balançando a cabeça.

— Você é bruto. Por quê?

— Isso não importa. Agora, pare de pensar nele. — Ele se moveu rapidamente e a pegou nos braços. Ela lutou contra ele por um momento, mas então seus beijos se tornaram tão urgentes quanto os dele. Eles tiraram as roupas um do outro, ele puxou suas saias e ela desamarrou freneticamente os cadarços das calças dele. Quando os dois estavam livres, ele a girou e acariciou seu seio contra a porta.

Ah, Deus, ele estava mais duro que o aço. Seu pênis o machucou quando ele o pegou na mão e o guiou lentamente por trás dela.

Ela gritou e ele mergulhou a boca no ouvido dela.

— Me perdoe, meu amor, você me deixa louco com a necessidade de estar dentro de você.

Ele a sentiu encharcá-lo e mergulhou mais fundo, empurrando-a com força contra a porta. Ela gemeu como um gato selvagem e se empurrou para trás até que ele teve que se retirar e apertar a cabeça de seu pau para impedir-se de gozar muito rapidamente. Ele pretendia apreciar isso completamente, e vê-la gozar também.

Puxando as saias para cima dos quadris, ele a observou sugá-lo completamente e depois se retirar quase completamente. Ele segurou suas nádegas redondas e suculentas e diminuiu suas ondulações, guiando-a sobre cada centímetro inchado e dolorido dele. Então ele deu-lhe um pequeno tapa e empurrou profundamente nela, afastando seus pés do chão. Ele pressionou seu corpo no dela, esmagando-a contra a porta. Ele afastou um punhado de seus cabelos da nuca e a beijou lá.

— Eu amo você, Mairi. Nunca mais quero me separar de você. — Ele mordeu o lóbulo da orelha suavemente e depois passou os dentes na nuca. Quando ela se contorceu contra ele, sorrindo em êxtase contra a madeira fria, ele enrolou o braço em volta do ventre dela e encontrou seu pequeno broto duro com os dedos. Ela gotejou em torno de seu eixo, sua vagina apertada e inchada quando ele a acariciou. Suas pernas se abriram mais amplamente quando o prazer a alcançou. Ele a empurrou mais rápido, mais profundo, enterrando o rosto nos cabelos dela, enquanto jorrava sua semente nela uma e outra vez. Ela gozou no pau e na mão dele, quente, encharcada, satisfeita.

— Você me excita, mulher, — ele disse, virando-a nos braços.

— Você não tem coração, seu animal. — Ela murmurou, jogando a cabeça para trás contra a porta.

— Isso é porque eu dei a você.

Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele e sorriu contra sua boca quando ele se inclinou para ela.

— Então, você quer que eu fique com você, certo?

— Sim, sempre. — Ele beijou seus lábios, tão perto, tão macios e finos. Ele não queria nada mais em sua vida do que ser o marido dela, o pai de seus bairns. Talvez ele começasse a cultivar. Ele sorriu. O futuro se espalhava diante dele em uma disposição gloriosa, com qualquer caminho que ele escolhesse, aberto a ele. Para eles. — Estou te levando para casa.

— Casa? — Ela olhou para ele, seus gloriosos olhos azuis arregalados e brilhando com esperança. — Para a Escócia?

— Para as Highlands, onde pertencemos.

Ela olhou profundamente nos olhos dele, como se estivesse vendo o que ele viu, e sorriu com ele. Ele queria construir a casa deles com as próprias mãos, no alto das montanhas, onde a névoa saturava seus cabelos como um véu, e o ar fresco e perfumado de urze coloria suas bochechas.

— Vamos deixar a Inglaterra e a próxima guerra para os homens impiedosos que afirmam lutar em nome de Deus.

— Você quer dizer os protestantes.

— Não, amor. — Ele se afastou dela e amarrou as calças antes de ir para uma pequena mesa ao lado de sua cama não utilizada. Ele derramou um copo de água e entregou a ela. — Quero dizer os católicos, se James conseguir manter William fora do trono.

Quando ela abriu a boca para protestar, ele a deteve.

— Ninguém quer um rei católico, Mairi. James está em uma longa batalha religiosa. Uma que ele nunca vai se render. Ele é justo, mas é apenas uma questão de tempo até perceber o que deve ser feito para acalmar aqueles que não o apoiam. Temo que ele já saiba o que fará. Você o ouviu ontem à noite, quando prometeu apagar seus inimigos, começando pelo Parlamento. Seu irmão tentou fazê-lo durante as execuções de campo. Receio que isso aconteça novamente e desta vez não participarei.

Ela saiu da porta e foi até ele.

— O que há de tão terrível em querer manter vivo o que acreditamos?

— Nada, mas o mesmo pode ser dito para aqueles que acreditam de maneira diferente. Os homens que matamos durante as execuções não eram guerreiros, Mairi. Eles eram agricultores, forçados a lutar contra a elite do rei, a fim de proteger sua maneira de pensar. Eu servi a um rei protestante. Aprendi tanto sobre a religião dele quanto a minha, até não saber mais qual era a certa. Também não me importei. Estou cansado de lutar contra qualquer um. Deixe Deus decidir. Quero ir para casa e se os protestantes vencerem a guerra e tentarem impor novas leis ao povo das Highlands, liderarei um exército de meus irmãos das Highlands contra eles.

— E eu estarei ao seu lado.

Uma batida na porta salvou Connor de uma faca na barriga quando ele teria dito a ela que não iria. O único lugar que ele nunca quis ver Mairi era em um campo de batalha.

Ele abriu a porta e encontrou o pai do outro lado.

— Connor, — disse ele gravemente, — o rei quer vê-lo imediatamente.

 

Capítulo Trinta e Cinco


Connor estava sozinho na câmara privada do rei, esperando James chegar. Ele suspeitava que sua convocação tivesse algo a ver com Oxford. Ele sabia que não deveria ter atingido o bastardo com tanta força, mas, diabos, era bom. Oxford teve a sorte de Connor não o ter matado por falar tão cruelmente sobre montar Mairi. Ele sabia que não havia causado nenhum dano permanente, então qualquer repreensão que estava por vir não seria muito grave. Ele bateu a bota no chão, ansioso para falar com o rei, agora que havia se decidido a voltar para casa. James provavelmente ficaria bravo com ele por deixar seu serviço, mas Connor não estava mais no dever. Ele só esperava que seu primo não exigisse que ele ficasse.

A porta se abriu e a rainha entrou parecendo solene e preocupada. Connor fez uma reverência, mas ela não o cumprimentou quando o marido entrou em seguida.

— Sente-se, capitão, — o rei ofereceu, desviando o olhar de Connor.

Quando estavam todos sentados, Connor notou o olhar silencioso que se passava entre marido e mulher. Quando nenhum dos dois disse uma palavra, ele se mexeu inquieto em sua cadeira. Suas expressões graves não eram um bom presságio para ele. Oxford tinha morrido? Inferno, Connor não tinha batido nele com tanta força. Ele havia caído na espada de alguém? Connor não ficou por lá o tempo suficiente para descobrir.

— O que aconteceu nesta manhã com o filho do conde de Oxford? — Perguntou finalmente o rei, fixando o olhar nele.

— Ele falou indevidamente sobre a senhorita MacGregor.

— Então você o atingiu com o punho da sua espada?

— Eu estava segurando o punho da espada quando o atingi com meu outro punho. — Inferno, aqui estava outra razão pela qual ele ansiava por casa. Ele estava cansado da falsa civilidade entre os homens que corriam para o rei por causa de algo tão pequeno quanto um osso quebrado, mas que punha um punhal nas costas de outro quando ninguém olhava.

— O que ele disse? — A rainha se sentou na cadeira, um olhar esperançoso passando por seus olhos.

— Nada que seja adequado aos seus ouvidos, Sua Majestade.

Ela se virou para o marido, mas ele levantou a palma da mão para silenciá-la.

— E por falar mal da senhorita MacGregor, — o rei se dirigiu a ele novamente, — você quebrou o nariz e arrancou dois dentes da sua boca?

O que ele poderia dizer senão a verdade?

— Sim, senhor. Eu o fiz.

A rainha recostou-se na cadeira. Connor a observou com crescente inquietação.

— Passei a última hora com o conde, — continuou o rei. — Ele está furioso por um dos meus homens atacar seu filho tão cruelmente. Ele exige recompensa.

— De que forma? — Connor sentiu como se a cadeira em que ele estava sentado estivesse se fechando ao seu redor. De fato, a enorme Câmara de Privada parecia menor, sufocante. Se o rei lhe dissesse que Oxford exigira a mão de Mairi, ele o encontraria e cortaria sua garganta e para o inferno com as malditas consequências.

— Primo, — implorou o rei, acalmando ainda mais o coração de Connor pelo uso gentil de sua relação familiar, — você deve entender minha posição. Atualmente, tenho muitos inimigos para criar novos. Charles de Vere tem um exército de mais de...

Connor cambaleou em seu assento e depois se levantou, incapaz de ouvir mais. Ele não deixaria Oxford levá-la como prometida.

— Senhor, — disse ele, tomando cuidado para não se aproximar muito rapidamente. — Certamente Oxford pensou nisso tudo com antecedência. — É claro que sim, o bastardo! — Por que mais ele seria tolo o suficiente para levantar sua lâmina para Connor? Oxford queria que Connor o batesse, machucasse, para que ele pudesse exigir uma compensação. — Você não pode permitir que a senhorita MacGregor se case com ele. — Seus olhos caíram na rainha. Certamente ela estaria ao lado dele nisso. — Ele...

— O conde não procura um casamento entre seu filho e uma MacGregor.

Connor soltou um grande suspiro de alívio. De repente, seus músculos doíam e pareciam não serem fortes o suficiente, junto com seus ossos, para sustentá-lo. Muita prática, embora ele não tivesse sofrido os efeitos disso até agora.

— Capitão...

Connor olhou para o rei pronto para qualquer coisa, desde que ele não perdesse Mairi. Jogá-lo na prisão por um mês ou dois, rebaixar sua posição ou exigir alguma compensação monetária. Com isso, ele poderia viver.

— ... é você que o conde quer.

— Eu?

O rei assentiu e suspirou, virando-se para a esposa. Mary de Modena desviou o olhar, evitando os dois olhares.

— Eu não entendo, senhor.

— Ele quer que você se case com a filha dele, Lady Elizabeth.

— Não, — Connor disse suavemente, caindo de volta em sua cadeira. Não, ele ia se casar com Mairi. Isso não poderia estar acontecendo.

— Receio que você deva primo. Eu sei que seu coração pertence a outra, mas com o tempo...

Em que tempo? Com o tempo ele esqueceria Mairi? Com o tempo ele viria a amar Elizabeth? Ele riu, mas o som era tão cheio de tristeza que levou a rainha para fora da cadeira e depois para fora da câmara. Connor mal viu a partida dela. Em sete anos ele não tinha esquecido seu único amor, não tinha parado de sonhar com ela, sentindo falta dela. Sete anos sem dar o coração a nenhuma mulher, sabendo que ele nunca amaria ninguém além da lass de Camlochlin. Em que tempo? Não havia anos suficientes em sua vida.

— Você me sentenciaria a uma morte longa e torturante por quebrar o nariz de um homem?

— O homem errado, capitão. Vou precisar do pai dele como aliado nos próximos dias.

Connor balançou a cabeça.

— Não! Você tem seu exército real de mais de cinco mil homens. Os guardas de Oxford não se voltarão contra você. Meu tio traz consigo mais de quinhentos da França. Não precisa...

— No caso de William de Orange trazer suas forças contra mim, — o rei o interrompeu, — precisarei de todos. Sei que seu serviço ao seu rei foi cumprido, mas peço que faça essa última coisa. Isso é muito importante. Não posso perder a cavalaria... ou o trono.

O serviço dele. Connor passou os dedos pelos cabelos e tentou manter a respiração uniforme.

— Eu estou... — Ele parou, imaginando como tudo havia mudado em um instante. — Estou saindo do meu serviço.

— Você pode deixar, primo... depois de se casar com Elizabeth de Vere.

Ele poderia jogar fora sete anos de honroso dever recusando o rei? Ele seria responsável se James perdesse a Inglaterra para William? Por que ele se enfureceu? Por que Elizabeth o queria? Lembrou-se do aviso de Mairi a ele sobre a filha do conde estar confiante demais de que ele seria dela com a mesma confiança com a qual Henry falou hoje. Pelas bolas de Satanás, eles planejaram isso juntos! Ele foi um tolo por cair direto nisso. Mas por quê? Certamente Elizabeth não o amava. Ele mal a olhou quando ela estava por perto. Por que ela o queria tão desesperadamente?

— Você mesmo acredita que William estava por trás da tentativa de assassinato de minha filha, — continuou o rei. — Por trás do seu ataque também, porque você fez perguntas sobre o almirante Gilles. Você provavelmente está correto em suas acusações, mas se ele é culpado ou não...

— Ele é culpado, — Connor interrompeu com ousadia, atordoado e zangado demais para se importar com insolência.

James assentiu.

— Como eu estava dizendo, ainda tenho Argyll e Monmouth vindo em minha direção de diferentes direções, e quem sabe quem mais? Não posso arriscar perder a lealdade de Oxford. Eu já lhe prometi um assento no novo Parlamento. Ele é proeminente o suficiente entre os nobres para transformá-los contra mim.

E aí estava. A razão por trás da demanda do casamento. Connor era um Stuart, primo do rei. Qual a melhor maneira de garantir um assento no Parlamento do que ter um Stuart na família? Ele era um peão. As palavras de Nick Sedley voltaram a ele, assustadoras, proféticas e muito verdadeiras. Estamos... nós dois... à mercê de nossos mestres.

— Sinto muito, Connor. Conheço seu coração, pois minha esposa fez questão de me fazer entender completamente o que estou lhe pedindo. Mas eu peço assim mesmo. Não, eu ordeno... pela Inglaterra, para a nossa linha.

Connor sentiu como se uma espada fria tivesse acabado de ser enfiada no peito e depois puxado novamente, arrancando seu coração com ela. Ele falou a verdade quando disse a Mairi que não se importava mais com quem governava a Inglaterra, mas não queria ser responsável pelo resultado. Se ele se casasse com Elizabeth, poderia usar o pai e o parlamento em proveito do rei, em vez de fazê-los usá-lo. Não, ele não poderia passar o resto de sua vida com ninguém além de Mairi. Ele não poderia perdê-la para sempre. Ele não faria. Deus em toda a Sua misericórdia, o que ele deveria fazer?

— Eu gostaria que houvesse algo mais a ser feito.

Connor cerrou os punhos ao lado do corpo. Haveria. Ele era um guerreiro e não estava prestes a se render tão facilmente.

Connor saiu da câmara e encontrou sua mãe encolhida junto à porta. Seu pai, úmido de seu dia no campo, ficou de lado, seu olhar verde tão sombrio quanto o de Connor.

Quando ela o viu, lágrimas derramaram pelas bochechas de Claire, uma ocorrência que Connor tinha visto apenas uma vez antes, quando os Fergusson mataram seu tio Robert.

— Connor, — ela abraçou-o. — Sinto muito.

Ele beijou o topo da cabeça dela, depois saiu do seu abraço.

— Onde está Mairi?

— No quarto dela, vestindo-se para o jantar.

— Não diga nada a ela, — ele disse aos dois. — Vou encontrar uma maneira de sair disso.

— O caminho é simples, — disse o pai em voz baixa, parecendo ler seus pensamentos quando Connor o alcançou. — Podemos ir para casa e nunca olhar para trás.

— Não, eu não posso fugir. Lembre-se de que James sabe onde fica Camlochlin.

Atrás dele, ele ouviu sua mãe proferir um juramento estrangulado, impróprio para a corte inglesa.

— Eu preciso encontrar Colin. Ele ainda está no campo?

— Acho que sim, — disse o pai, seguindo-o até as escadas. — O rei o favorece, mas acho que ele não terá nenhuma influência

— Eu preciso que ele corteje Lady Elizabeth para mim.

Graham parou e olhou para ele como se tivesse brotado outra cabeça.

— Colin? Por quê?

— Para quê? — Sua mãe puxou a manga de Connor.

Ele se virou para olhá-la e depois para o pai.

— Para descobrir se há algo sobre os de Veres que o rei deveria saber. James tem medo de perder o apoio do conde de Oxford. Mas eles são protestantes, e ele provavelmente nunca o teve como rei. Se há algo, qualquer coisa que eles fizeram que o rei consideraria desfavorável... Inferno, deve haver algo. Não posso casar com ela.

— O que podemos fazer para ajudar? — Perguntou o pai.

— Descubra tudo o que puder sobre eles. Qualquer um deles, incluindo Henry e Elizabeth.

— O que você vai contar para Mairi? — Perguntou a mãe, enxugando os olhos.

— Ainda não sei o que dizer a ela. Não quero que ela se esgueire para os alojamentos do conde procurando informações para nos ajudar.

— Sim, ela certamente vai querer fazer isso. — Claire concordou.

— Eu vou descobrir alguma coisa.

Ele os pediu para ter cautela. Ele perguntaria o mesmo a Colin. Ele precisava de provas contra os de Veres.

Ele precisava de um milagre.

 

Capítulo Trinta e Seis


Mairi verificou os grampos no cabelo uma última vez antes de sair pela porta. Ela caminhou pela varanda, girando as saias e fechando os olhos, preparando-se para a noite que viria. Ela ainda não gostava da Inglaterra, mas não se importava mais de estar aqui. Ela correu para atravessar o longo corredor que a levaria ao salão de banquetes. Para ele. Ah, mas como alguém se prepara para ser arrebatada por um sorriso arrojado, um conjunto de covinhas e melodias nas palavras de seu amado? Connor. Ela esperava que ele não tivesse se envolvido muito com o rei pelo que havia feito com Henry. Ela não teve a chance de perguntar a Connor por que ele o atingiu. Ela encolheu os ombros. Ela descobriria mais tarde.

No momento, ela não podia deixar de pensar em como sua vida seria maravilhosa com Connor quando eles voltassem para casa. Och, ele queria ir para casa. Tinha sido demais para esperar. Ele construiria outra mansão adorável em Camlochlin? Talvez eles morassem em Ravenglade, em Perth. O castelo era de seu tio Connor Stuart, mas sem filhos, o irmão gêmeo de Claire havia dado Ravenglade ao sobrinho. Ela sabia que era bastante grande e precisava de reparos, mas Connor poderia torná-lo o lar perfeito para eles. Eles se casariam e ela daria a ele muitos bairns. Ela queria quatro meninos com cabelos como os dele e três meninas pequeninas, a quem ela ensinaria costura e esgrima. Ela observaria o marido trabalhar sob o sol, a pele brilhando, os músculos com suor. Ela cozinharia suas refeições e o levaria para a cama todas as noites. Ela suspirou com a alegria e caminhou direto para alguém.

— Judith! — Ela disse, abrindo os olhos e reconhecendo a criada da rainha. — Me perdoe. Eu não te vi.

— Não, a culpa é minha, milady.

Mairi gostava de Judith. É claro que hoje à noite ela também gostava de Lady Hollingsworth.

— Para onde você está indo?

— Para a sala de banquetes.

— Eu também. Vamos caminhar juntas. — Ocorreu a Mairi que ela sentia falta de conversar com a mãe, a tia Maggie e até Claire. Elas conversavam o tempo todo em casa. Cercada por todos os lados por homens, uma moça precisava de outras moças para compartilhar seus segredos. Ela precisaria de seus conselhos e treinamento na arte de cozinhar e em outros deveres femininos. Agora, porém, tudo o que ela tinha era Judith e ela estava explodindo nas costuras.

— Judith...

— Milady, eu esperava encontrá-la nos últimos dias. Eu gostaria de falar com você sobre algo... alguém.

— É claro, — disse Mairi. — Sobre quem você deseja falar?

— Seu irmão, milady. Colin, acredito que ele é muito atraente.

Oh, inferno, não Colin.

— Parece que não consigo tirá-lo da minha cabeça. Ele é o homem mais impressionante que eu já vi. Quando eu o observo no pátio, ele faz meu estômago sentir... — Ela fez uma pausa para pensar nas palavras certas. — ...tudo quente e fora de ordem. Levei alguns dias, mas finalmente falei com ele hoje. Ele mal olhou para mim.

— Judith. — Mairi tocou seu ombro para confortá-la quando a moça olhou para suas mãos e cheirou. — Colin está determinado a ser o próximo general do exército do rei James. Receio que a única maneira que ele a notaria seria se tivesse uma espada. E Edward Willingham? Ele é muito bonito e tem a sua idade.

Judith olhou para ela, seus lindos olhos verdes redondos e chorosos.

— Eu não quero Edward Willingham.

Senhor, Colin a mataria por fazer isso, mas hoje à noite Mairi não podia ignorar o amor.

— Tudo bem então, quando você vir meu irmão, elogie-o por sua habilidade. Isso pode funcionar. Mantenha sua conversa ao longo das linhas de guerra e batalha. Seja franca. Colin pode sentir uma falsidade da mesma maneira que um cervo percebe a tempestade que se aproxima. Ele não gosta de pessoas que falam falsidades e não lhe dará uma segunda chance se ele a pegar uma única vez.

A moça assentiu e seu sorriso se alargou em um sorriso brilhante. Mairi fez tudo o que pôde para ajudá-la a vencer Colin. O resto era com Judith.

— Judith, — disse ela, incapaz de se conter por mais um momento, — lembra-se da conversa que você e eu tivemos sobre o capitão Grant?

— Sim, milady. Você disse que ele era um demônio.

— Eu estava enganada, — ela brilhava, ainda perdida em suas fantasias — eu vou ser sua esposa.

Judith sorriu para ela por um momento, depois franziu a testa como se não entendesse.

— Capitão Grant, milady?

— Mairi, por favor, e sim. Capitão Grant. Cabelos altos e dourados, covinhas?

— Sim, eu o conheço, Mairi. Mas ouvi dizer que ele se casaria com Lady Elizabeth.

O sorriso de Mairi permaneceu intacto. Por um momento.

— Perdão? Você deve ter ouvido errado.

Judith balançou a cabeça.

— Não, ela disse esses dois nomes.

— Ela? Ah, — Mairi zombou. — Então foi Lady Elizabeth quem lhe contou?

E então tudo caiu em pedaços.

— Não, milady. Foi a rainha.

Mairi não sabia se Judith disse alguma coisa depois disso. Quando eles se aproximaram do salão, ela viu Connor do lado de fora, sozinho no crepúsculo, torcendo as mãos enquanto ele esperava sua aproximação. Não, não era verdade. Era outro dos planos da rainha para vê-los juntos. Connor era dela. Ele disse a ela que estava voltando para casa. Ele jurou a ela. Eles estavam indo para casa para começar a sonhar novamente.

Sua pele parecia um pouco pálida e seus olhos pareciam mais surpreendentemente azuis quando a leve brisa agitava seus cabelos dourados ao redor do rosto. Isso não era verdade. Ele nunca iria desistir dela novamente.

— Judith, — disse ela, interrompendo-a quando a criada se virou para as portas. — Entre sem mim.

Ela nunca tirou os olhos de Connor enquanto se movia em direção a ele, com o coração acelerado no peito. Por que ele não estava sorrindo? Ele sempre sorria quando a via, como se não houvesse apenas uma ou duas horas desde que estavam juntos, mas anos.

— O que você está fazendo aqui fora? — Era preciso se forçar a falar.

— Eu queria dar um passeio com você. — Ele inclinou a cabeça e baixou o olhar para as botas.

Ela não poderia. Ele tinha algo a dizer e ela não queria ouvir. Não poderia ser o que Judith acabara de lhe dizer. Deus, por favor, não poderia ser isso.

Quando ela ficou congelada em seu lugar, ele ergueu os olhos e passou por ela algo que ela imaginou que poderia ser um sorriso. Parecia mais a dor no rosto de um moribundo.

— Ande comigo, Mairi.

Ela deu um passo à frente e encaixou a mão na que ele ofereceu, em seguida, deixou-a levá-la para o Jardim Privado. Eles caminharam em silêncio, observando passar de um lampião para outro, iluminando o caminho. Ela queria enrolar o braço no de Connor e aconchegar-se contra ele enquanto o sol descia. Ela não queria saber por que a mão dele estava tão fria, ou por que ele continuava apertando a mandíbula, como se tentasse ficar calado. Mas ela tinha que saber.

— Quão ruim foi o problema, Connor? — Ela conseguiu manter a voz suave e serena. Até que ele respondeu.

— Foi ruim.

Ela fechou os olhos, desejando não jogar as mãos nos ouvidos e fugir.

— Diga-me por favor. — Ele ficou quieto por tanto tempo que ela abriu os olhos novamente e olhou para ele. Ela parou ao lado de uma fileira de árvores e esperou enquanto ele olhava para tudo, menos ela. — Connor, me diga.

E então ele o fez. Suas palavras se confundiram, confundiram sua mente, recusando-se a se encaixar. Tinha que ser uma piada terrível da rainha. Mas mesmo quando ela disse a si mesma no que precisava acreditar, seu coração desmoronou a seus pés.

Novamente.

Ela ouviu, entorpecida, muda, enquanto ele falava sobre a Cavalaria, os Blues, que Henry e Colin estavam falando na noite passada, e como o rei temia perder o apoio de Oxford. Mas ela só conseguiu absorver uma coisa.

— Então, você vai se casar com ela?

Ela sabia que perdê-lo novamente doeria mais do que na primeira vez, mas ela se deixou cair de qualquer maneira. Seu olhar terrível caiu nos lábios dele, esperando... esperando por sua resposta.

— Eu devo concordar com isso. Mesmo agora, Mairi. — Não, ele não poderia estar partindo seu coração dessa maneira novamente. — Eu não tenho intenção...

Ela o silenciou com os dedos de uma mão pressionados contra a boca e o punho de uma adaga na outra. A ponta segurou seu pescoço.

— Não me siga. Não quero mais ouvir você.

Ela olhou nos olhos dele por um momento, deixando a verdade esmagadora assentar sobre ela, depois retirou a lâmina e se afastou. Fora de sua vida para sempre.

Ele era sábio e não foi atrás dela. E isso fez o último pedaço de seu coração se despedaçar.

Connor sentiu a separação como um golpe em suas entranhas. O tipo que deixa um homem de joelhos. Ele estava fazendo isso para o bem dela, disse a si mesmo, assistindo Mairi partir. Ele não ia se casar com Elizabeth, mas precisava de algum tempo para descobrir uma maneira de romper o noivado sem abandonar o rei. Era melhor que ela ficasse fora disso. Ele estava arrependido por ter que partir o coração dela para mantê-la segura. Ele entendeu a traição que viu nos olhos dela e isso o assustou, pensar que ela não o perdoaria por isso dessa vez.

Ele tocou a gota de sangue no pescoço e sentiu o resto ferver dentro dele. Como ele poderia amar outra quando seu coração pertencia a uma apaixonada gata selvagem, cujos únicos adornos eram a juba de cachos pretos rebeldes e o pequeno arsenal escondido sob as saias? Ele a amava mais do que a vida ou a morte, mais do que um rei ou um país. Mas ele não foi atrás dela. Deixe-a ficar o mais longe possível disso. Se os de Veres se esforçaram tanto para forçar a mão do rei a se unir aos seus parentes, quem diabos sabia o que eles fariam se soubessem que Mairi estava no caminho? Além disso, se ele dissesse a ela seus planos de descobrir algo desagradável sobre o conde, ela poderia se conectar a Henry para descobrir o que ele sabia. Ela provavelmente seria jogada na prisão por matar Elizabeth.

Ele não foi atrás dela. Mas ele queria.

Era melhor se ele se focasse em Elizabeth por enquanto. Quanto antes descobrisse algo, mais rápido poderia levar Mairi para casa. Ele poderia fingir carinho por Elizabeth por alguns dias sem Mairi à vista. Se ele não conseguisse convencer a moça a dizer o que queria, talvez Colin pudesse. Mairi havia dito a ele que seu irmão precisava de pouca conversa para tirar segredos das pessoas. Ele odiava envolver Colin. Isso nunca deveria ter acontecido, e ele não tinha ninguém para culpar além de si mesmo por cair na armadilha de Veres.

Ele não voltou ao palácio. Sua investigação poderia esperar uma noite. Ele não tinha estômago para isso. Não depois do que ele acabara de fazer para Mairi. Ele deixou o terreno pelo Portão Oeste e andou pelas ruas estreitas sozinho até chegar ao Troubadour. Seus homens não estavam lá. Ele ficou feliz. Ele não queria nenhuma companhia. Ele queria ficar sozinho e bêbado.

Ele estava a caminho de alcançar esse objetivo quando a porta da taverna se abriu e uma mulher encapuzada entrou.

Por um instante, ele pensou que poderia ser Linnet para terminar o que ela tinha sido paga para fazer. Então ela tirou o capuz da cabeça e ele viu o brilho de cachos dourados pendendo sobre as orelhas, em vez dos castanhos. Elizabeth. Inferno, ele era um tolo por pensar que poderia fingir carinho por ela. O que ele queria fazer, graças à bebida, ou talvez não, era fechar as mãos em volta da garganta dela até que ela confessasse a traição de seu pai.

— O que você quer?

— Eu já consegui o que queria, — disse Elizabeth, puxando a cadeira à sua frente. — Agora quero que você volte ao palácio a que pertence. Um capitão não deve...

— É melhor você sair, — ele a interrompeu friamente, — antes de descobrir o que exatamente você ganhou.

Ela sorriu, observando-o recostar-se e esticar as longas pernas diante dele.

— Minha coragem é bastante forte, capitão Grant. Posso te chamar de Connor agora que estamos noivos?

Ele nunca quis bater em uma mulher antes...

— Você pode me chamar como quiser, lass, desde que não seja marido. — Tanto por cortejá-la.

— Mas você será exatamente isso. Meu pai...

— Claramente não te ama tanto quanto você pensa se ele ligaria você a mim. — Agora foi a vez de Connor sorrir quando ela lhe deu um olhar irritado. — Farei você infeliz. Você tem minha palavra. — Ele pediu outra bebida e piscou para Vicky quando ela se apressou com mais cerveja.

— Você pretende ser infiel, então? — Elizabeth perguntou com os dentes bem cerrados.

— Sim, eu serei, — ele respondeu, levantando sua caneca para ela. — Frequentemente.

Ela deu de ombros e pegou o copo dele quando ele o largou.

— Eu posso viver com isso enquanto for para mim que você voltará e para casa. Falando em casa, onde moraremos? Soube pelo meu pai que você tem terras em Perth.

— Vamos morar bem aqui, — ele disse, pegando seu copo da mão dela. — Em Whitehall, onde sentarei no Parlamento ao lado de seu pai e onde melhor posso servir meu rei. — Inferno, isso não estava indo como ele havia planejado. Ele não queria que ela soubesse ainda o quanto ele a desprezava e seu papel nessa farsa. Ele era um guerreiro e não se mostrava encantador para obter informações, como Mairi. Atualmente, ele estava muito alto em sua bebida para dar seu traseiro a uma rata. Ele queria que Elizabeth soubesse como ela seria completamente infeliz se casasse com ele. Ele queria que ela fugisse por sua vida, fosse até o pai e implorasse para que encontrasse uma vítima diferente.

— Você se converterá ao catolicismo, é claro, porque não vou me casar com uma protestante. — Ele não achava que voltaria a se alegrar com nada por pelo menos mais uma noite, mas ver a pele de Elizabeth se arrepiar foi bastante satisfatório em um momento, do tipo frio e cruel. — Não quero bairns com você, mas não se importará de não compartilhar minha cama. Eu gosto de ser duro. — Ele tomou sua cerveja e gritou por mais. — O que mais? — Ele pensou por um momento, tentando limpar a cabeça confusa. — Ah, sim, você terminará todo contato com seu irmão, para que eu não veja o seu rosto e fique tentado a cortar o que resta dele.

Isso deixou sua coragem vacilante. Ele sorriu, mas se sentiu um pouco mal ao fazer planos com ela para a vida juntos.

— Você não vai me dizer o que fazer! — Ela gritou para ele.

— Eu irei, e você obedecerá. Você é uma criança mimada acostumada a conseguir o que deseja. Mas isso está prestes a mudar. — Quando ela se levantou, ele a agarrou pelas pelo pulso e a puxou para baixo, de modo que seu rosto estava perto do dele. — Você forçou minha mão uma vez. Nunca mais o fará.

Ela puxou a mão dela e ele a soltou e sorriu quando ela saiu pela porta.

 

Capítulo Trinta e Sete


Mairi não saiu do quarto pelo resto da noite. Ela se recusou a abrir a porta quando Claire e a rainha, e até Colin, tentaram falar com ela através dela. Não havia nada que eles pudessem dizer para aliviar seu tormento.

Connor ia se casar com Elizabeth. Meu Deus, ela ainda não podia acreditar. Mais uma vez, ele escolheu a Inglaterra em vez dela. Ela tentou, entre os ataques de soluços, dizer a si mesma o que perder a Guarda dos Cavalos Azuis poderia significar para o reino. O final possível e definitivo da linha Stuart. Mesmo que eles estivessem errados sobre William de Orange querer o trono, o duque de Monmouth ou o conde de Argyll não eram melhores. Ambos eram protestantes e tentariam rapidamente extinguir todas as crenças católicas. Argyll era um Campbell e, ao contrário de seu primo Robert antes dele, não tinha afeição pelos MacGregors. Se ele reivindicasse o trono, sua primeira ordem poderia ser destruir inimigos de longos tempo do seu clã, começando com os parentes de Mairi.

Ela conhecia as consequências da recusa de Connor em se casar com a filha do conde de Oxford, mas nada disso importava em comparação a perdê-lo. Ela queria ir para casa. Ela queria esquecer seus dias... e noites com Connor. Mas ela sabia que nunca faria isso. Ela o amaldiçoou por isso, e o rei... e Deus ajudasse Elizabeth de Vere se Mairi a visse antes de deixar este lugar miserável. Ela estava saindo daqui o mais rápido possível, sozinha, se fosse necessário. Ela encontraria o caminho para a Escócia. Ela sabia como lutar se encontrasse algum rufião no caminho. Ela certamente não iria esperar Claire e Graham levá-la para casa após o casamento do filho. Eles gostariam de estar aqui para isso. Oh, Deus, ela não podia assistir Connor prometer sua vida a outra pessoa. Ela não conseguiria.

Ela iria embora assim que parasse de chorar. Ela odiava chorar, mas parecia não haver fim para as lágrimas que caíam dela como um rio maldito. Ela se sentiu tão vazia por dentro quanto seu vestido inglês emprestado espalhado sobre a cadeira.

Como ele pôde fazer isso? Como ele poderia se casar com aquela criatura desprezível? Ele ficaria infeliz ouvindo as exigências dela gritando com ele todos os dias. Ela quase sentiu pena dele. Quase. Ela o amava demais para não sentir nada além de sua própria angústia. Och, por que ele bateu em Henry? Como eles poderiam ter perdido tanto em um dia, um instante? Como ela viveria sem ele?

Uma batida forte na porta a assustou.

— Vá embora, — ela gritou, enterrando a cabeça no travesseiro.

— Mairi, é Connor. Abra a porta.

Não! Ela não queria vê-lo. Ela estava com medo de olhar e seu coração deixasse de bater sem o outro que era seu par.

— Vá embora, Connor. — Seu nome doeu ao sair. — Deixe-me em paz. — Por favor.

Ele bateu novamente.

— Você e eu precisamos ter umas palavras. Abra a porta.

Sua voz soou baixa. Ele estava bêbado? Ela o viu compartilhando copos com seus amigos, mas nunca sem a compostura intacta. O soldado inglês perfeito das Highlands com o seu sorriso confiante.

— Mairi? — Ele chamou do outro lado da porta, depois o silêncio antes de colocar o punho na madeira. — Abra a maldita porta!

— Não! — Ela gritou de volta. — Eu disse para você ir embora. Agora vá!

— Eu vou chutá-la!

— Você vai quebrar sua perna, tolo. Mas não deixe que eu pare de tentar!

Ele o fez. Ela sentiu a vibração de seu poderoso chute e então o ouviu saltar e bater no chão. A porta permaneceu fechada.

Ela revirou os olhos para o céu e depois ficou um pouco preocupada com o silêncio predominante.

— Eu sei que você está com raiva de mim, — ele finalmente disse do outro lado. — Mas não há necessidade. Deixe-me entrar para explicar o que você não me deixou terminar hoje, mais cedo.

— Vá embora! — Ela gritou novamente, desta vez pegando a tigela de cerâmica pintada ao lado da cama e jogando-a na porta.

— Você é uma garota teimosa! Você sabia disso? — Ele deu outro golpe na porta impenetrável. — Tudo bem, eu vou lhe dizer daqui. É isso que você quer? Você quer que todos me ouçam dizer que eu te amo? Muito, bem, eu amo Mairi MacGregor! E não estou à mercê de nenhum maldito mestre!

Sua voz ecoou pelos corredores.

Deus, ele deve mesmo estar bêbado. Mairi saiu da cama e correu para a porta.

— Connor, seu idiota, — ela avisou, pressionando a boca na fresta da porta. Ela ainda não confiava em si mesma para não chorar na frente dele e implorar para que não se casasse com Elizabeth se a abrisse. Och, como ela poderia pedir para ele recusar o rei? Este não era Charles. Ela não queria que o rei James caísse. Ela gostava dele. Ele era católico. Ele era parente dela. Com ele no trono, os MacGregors sempre encontrariam favor em vez de guerra. A rainha se tornou sua amiga. O que seria dela se um de seus inimigos assumisse o trono? Meu Deus, por que o destino do reino teve que cair nos ombros de Connor? Ela não queria perdê-lo. Maldição, ele não teve escolha nisso. Ele estava fazendo a única coisa que podia. Ela não o odiava por isso. Ela não conseguia. — Não grite palavras traidoras.

— Mairi, — ele disse mais suavemente, mais perto da porta. — Eu te amei a vida toda. Eu vejo seu rosto ao amanhecer de cada novo nascer do sol e nas estrelas de fogo à noite. Ouço sua risada no tilintar de copos, o estalo da sua língua no trovão. Pensei em você em batalha e isso me manteve vivo, determinado a estar com você novamente. E agora que estou, sou assombrado por suas lágrimas.

Mairi caiu contra a porta, amaldiçoando a barreira entre eles, mas precisando dela.

— Eu não posso suportar o pensamento de você se casar com ela, Connor. Nem mesmo pelo reino. Eu não sou mais criança. Eu entendo seu dever.

— Para o inferno com o meu dever. Não pretendo Mairi. Eu nunca pretendi.

Ele nunca pretendeu? Ela se endireitou e olhou para a porta.

— O que você quer dizer com você nunca fez?

— Provavelmente me sentirei mais insultado depois por você não confiar mais no meu amor. Está ficando um pouco irritante...

Ele fechou a boca quando ela abriu a porta e olhou para ele. Ele estava bêbado, tudo bem. Ele parecia terrível. Seu uniforme normalmente engomado estava amassado. A gola do casaco, juntamente com a camisa por baixo, estava aberta em volta do pescoço. Sua mandíbula estava escura e áspera com um dia de restolho de barba, mas foi seu olhar que revelou o quão verdadeiramente atormentado ele estava. Seus olhos de safira haviam perdido o brilho, suas covinhas e até uma sombra deles não estavam em lugar algum.

— Você é tão bonita.

O coração de Mairi acelerou contra suas costelas enquanto se encaravam do outro lado da soleira. Não era porque ela tinha ouvido Connor cumprimentá-la todos os dias desde o seu retorno a Whitehall, ou que ele a achava bonita, mesmo em suas vestes normais. Esta noite, sua melancolia acrescentou algo mais profundo a seus elogios, como se a amasse mais do que o ar que respirava. Seus olhos provaram que ela estava correta quando se deliciaram com a visão diante dele, sua cor vibrante retornando. E então ele atravessou o limiar como um imperador vindo reivindicar seus espólios e a puxou para seus braços.

— Me perdoe, — ele sussurrou ao longo de sua bochecha, seus lábios beijando suas pálpebras inchadas. — Eu pensei que não lhe dizendo iria mantê-la segura, mas eu não podia suportar o pensamento de machucá-la novamente.

Presa em seu amado abraço, Mairi foi tentada a não respirar, muito menos pensar com clareza, para que não fosse capaz de quebrar esse feitiço mágico que ela havia caído mais uma vez.

E então ela se lembrou da noite infernal que acabara de suportar.

Empurrando-o para longe dela, ela olhou para o rosto bonito dele e depois deu-lhe um tapa.

— Deixar-me acreditar que você ia se casar com essa pequena...

Ele a puxou de volta, ignorando a picada de seus dedos.

— Eu achava que era melhor. Você arrisca sua vida para obter informações sobre os cameronianos. Quanto mais você o faria por mim?

— Qualquer coisa. Eu faria qualquer coisa por você. Mas do que você está falando pelas chamas? O que minhas informações para a milícia têm a ver com isso?

Disse-lhe seus planos, suas esperanças para descobrir algo sobre o de Veres, A Guarda Blues, Parlamento... qualquer coisa que pudesse mudar a mente do rei sobre a necessidade ou mesmo ter o apoio do conde.

— E se não houver nada, Connor? Passei muitas horas com Henry e ele não expressou nada além de lealdade a James.

— Não importa, — ele disse a ela, — eu não vou me casar com Elizabeth. Se eu tiver que levá-la à França para escapar disso, eu irei.

— Você poderia fazer isso? — Ela perguntou baixinho, erguendo os dedos na mandíbula dele. Meu Deus, ela pensou que o havia perdido novamente. Perdeu todos os sonhos que ele voltou a fazer reviver nela. Morrer lentamente com uma dúzia de flechas inimigas no peito não teria sido tão doloroso. Mas ela não o havia perdido, assim como não o havia perdido sete anos atrás. Ele desafiaria seu rei e envergonharia seu nome por ela. Ela o amava ainda mais, se isso fosse possível, mas não podia deixá-lo fazer isso.

— Eu quero ajudá-lo.

— Não. Quero você longe daqui. — Ele abaixou a cabeça e a beijou com cuidado até que ela ficou relaxada contra ele. — Quero levá-la à mansão por alguns dias. Se alguma coisa acontecer com você...

— Nada vai acontecer comigo, Connor. Deixe-me ajudá-lo...

Ele balançou a cabeça antes mesmo que ela terminasse o que queria dizer. Inferno, mas ele era teimoso. E tão forte quando ele a levantou nos braços, chutou a porta atrás deles e a levou para a cama.

Connor não conseguia falar. O que se diz a uma deusa, uma sereia que o atrai para longe de tudo que já teve sentido em sua vida?

Mairi era sua vida.

Ele preferiria levar um tiro nas costas como traidor do que viver sua vida com alguém além dela. A segurança dela vinha antes de tudo, mas ele tinha bebido demais no Troubadour e não o suficiente para distraí-lo da lembrança dela se afastando dele no jardim. Ela já havia feito isso antes, se afastou, o eliminou de sua vida sem olhar para trás. Ele não podia deixar isso acontecer novamente. Ele não deixaria. Ele deixou a taberna, sabendo que tinha que dizer a verdade. Ele não a perderia para os de Veres e, com certeza, não para sua resistência obstinada.

Ela respondeu ao desejo em seus olhos agora com um sorriso provocador e puxou sua camisola sobre a cabeça.

Connor não se apressou em tê-la do jeito que seu corpo queria. Ele simplesmente olhou para ela, pensando que cada momento que ele passou esperando por ela, querendo apenas ela, valeu a pena. Seus seios, tão redondos e firmes, erguiam-se sob a cortina de seda de suas madeixas, seus mamilos duros e esperando pela boca dele. Ele umedeceu os lábios, absorvendo o resto dela enquanto se atrapalhava com o casaco. O olhar dele deslizou sobre o cetim cremoso de sua barriga, a curva tentadora de seus quadris, e então se estabeleceu no cintilante bosque de ébano entre suas pernas.

Seu pênis se empurrou contra o tecido apertado de suas calças.

Ela o puxou para abraçá-la em um beijo ansioso e faminto. Os dedos dela puxaram a camisa agarrada aos músculos tensos dele. Ele não conseguia se cansar da boca dela, a devassidão sedutora de sua língua rodopiante, a sedutora produção de seus lábios. Ele pensou que poderia explodir se não a tivesse logo.

Ele sorriu, gemendo com a dor de seu desejo e o prazer de sua ousadia quando ela o empurrou de costas e montou nele. Ela gostava de ser dominante, indomável por qualquer mestre, e Connor também gostava.

Ele fechou os olhos quando ela passou as mãos pelo peito dele, sentindo-o, desfrutando de cada músculo que se tornava mais duro ao seu toque. Quando as mãos pequenas dela começaram a desamarrar os cadarços de suas calças, ele abriu os olhos, curioso e em chamas ao pensar nela tocá-lo. Mas ela tinha mais em mente do que fazer exatamente isso. Ele a observou, como em seus sonhos mais escandalosos, enquanto ela liberava seu pênis.

Ela se assustou com a urgência de sua ascensão, depois mordeu a borda do lábio inferior, examinando-o com um olhar cerrados e sensual que o tornava mais rígido e reto diante de seus olhos.

— Meu Deus, mas você parece bom o suficiente para comer. — Sua avaliação rouca o fez doer profundamente no seu eixo. Quando ela desceu dos quadris dele, puxando suas calças enquanto retirava, ele pensou nas maneiras que queria tê-la. Ela se submeteria a todas antes que ele terminasse.

Ele duvidou de sua própria convicção um momento depois, quando ela se arrastou entre as coxas nuas dele e tomou o seu eixo na mão. Ela baixou a cabeça. Connor mordeu o lábio e quase entrou totalmente em sua boca quando seus lábios acariciaram sua cabeça grossa. Ele se fez pensar em centenas de coisas diferentes para relaxar seu corpo, como ela sabia fazer uma coisa dessas? Ele não se importava. Isso, ele poderia fazê-la fazer a noite toda. Ela o levou um pouco mais fundo, seus dentes gentilmente marcando sua carne. Os músculos na parte de trás de suas coxas se esticaram e ele a puxou em sua direção antes de gozar rápido demais.

Ele a deitou contra o colchão macio e chutou as botas e as calças amassadas ao redor dos tornozelos.

— Eu quero estar dentro de você.

Aninhado contra o calor dela, ele olhou nos olhos dela, amando-a mais do que ele pensava ser possível. Ele estava doente com isso, pereceria sem ela.

— Ah, Mairi MacGregor, o que você fez ao meu pobre e lamentável coração.

— E você ao meu, Connor Grant. — Ela abriu mais as coxas debaixo dele, oferecendo-lhe tudo o que ele queria.

Ele beijou os lábios entreabertos, mergulhando lentamente, profundamente nos recessos mais afastados da boca. Ela respondeu passando a língua sobre a dele e chupando suavemente, antes que ele se retirasse.

Eles se entreolharam enquanto ele empurrava sua excitação contra a abertura dela. Ele pressionou vários beijos mais lentos ao longo de seu queixo e pescoço quando sua cabeça se jogou para trás.

Tendo vivido entre suas tropas por anos, ele sabia que era grande pela visão e comparação dos membros de outros homens, enquanto se banhavam em rios. Ele nunca se importou antes, mas havia algo em vê-la tomá-lo que incendiava seu sangue.

— Eu te amo, — ele sussurrou em seu ouvido, se afundando nela. Ela gritou, ainda incapaz de segurá-lo completamente sem dor. Provou que chupar seu pau era uma habilidade inata, não praticada. Ela era uma mulher, não importava o quanto ela desprezasse ser uma. — Somente você. Sempre você.

Ela enrolou as pernas em volta da cintura dele e resistiu debaixo dele. Ela jogou a cabeça para trás, envolvida na dança deles, esfregando o botãozinho duro sobre o eixo de aço dele. Ele a montou como uma onda tumultuada, segurando-a perto, olhando nos olhos dela.

Ela sorriu para ele, seu olhar lânguido implorando por mais. Ele deu deslizando a mão por baixo dela, segurando suas nádegas. Ele ficou de joelhos e a empurrou para encontrar seus impulsos fortes. Ele observou o clímax dela começar e levantou o corpo dela da cama e tomo-a nos braços. Ela jogou a cabeça para trás, jogando os cabelos compridos no colchão e encharcando-o em um mar de néctar doce. Bombeando com mais força, ele a afogou em um oceano próprio.

Mais tarde, eles falariam de amor e de filhos... e de seu conhecimento de culinária ou melhor, de sua falta.

Mairi quase suspirou com puro deleite. Era o que ela sempre quis. Ela deixaria a milícia e dedicaria sua vida ao marido e aos bairns deles.

Mas não esta noite.

E, se ela estivesse sendo sincera, provavelmente não desistiria de praticar com suas lâminas todos os dias... no caso de algum rei invadir sua vida feliz e pacífica.

Mas ela poderia nunca ter essa vida se alguém não descobrisse algo em breve. Connor disse que precisavam de provas de que o rei já havia perdido o apoio dos de Veres. Ela não podia imaginar que fosse assim. A menos que Henry fosse tão habilidoso na arte do disfarce que a enganara. Não, ele a amava. Isso foi tudo que ela já viu nos olhos dele. Mas... ela lembrou, nunca havia descoberto todo o dilema cameroniano com ele.

Bem, havia apenas uma maneira de descobrir informações. Aproximando-se dos seus inimigos.

Ela esperou até Connor começar a roncar, depois saiu da cama. Ela não emitiu nenhum som, aprendendo há muito tempo como se mover por uma local sem perturbações. Ela não queria acordá-lo, mas não se importava se isso ocorresse. Ela não ia ficar sentada à toa enquanto seu futuro era dado a outra. Era doce da parte de Connor querer protegê-la... mas um pouco ofensivo também. Ela não podia culpá-lo inteiramente por temer por sua segurança, já que ele não sabia quantas vezes ela havia feito isso antes.

Vestiu-se rapidamente, escolhendo as saias das Highlands para facilitar o acesso aos punhais, caso ela precisasse, e prendendo o cabelo com a faca fina que Hamish MacLeod fez para ela há três verões atrás, quando ele a ensinou a abrir fechaduras. Ela teria que ter certeza de que o conde de Oxford ainda desfrutava da alegria do salão de banquetes e ainda não estava em seus alojamentos.

Ela saiu do quarto, fechou a porta e ficou cara a cara com o rosto horrível de Henry.

 

Capítulo Trinta e Oito


Bom Deus, o que Connor tinha feito com ele? A carne ao redor dos olhos de Henry era roxa e amarela, o nariz inchado com mais da metade do tamanho real. Quando ele abriu a boca para falar, ela notou dois dentes desaparecidos.

— Srta. MacGregor — ele disse rigidamente quando ela recuou. — Você está saindo?

— Estou a caminho do salão de banquetes para pedir algo.

— Você está vestindo seu traje das Highlands, — ele a cortou educadamente, depois lançou seu olhar pelas costas dela, para a porta. — Você está saindo de Whitehall?

— Dentro de alguns dias, sim. — Ela se afastou do quarto, esperando que ele a seguisse. Ela não queria que Connor acordasse e estragasse seus planos. Ter Henry aqui já era ruim o suficiente.

— Você não comparecerá ao casamento, então?

— Não. — Ela lançou-lhe um olhar duro por cima do ombro e continuou andando.

— Nem eu. — Ele correu para alcançá-la. — Como posso comemorar minha irmã sendo ligada ao animal que fez isso comigo.

Mairi olhou para ele. Ele parecia terrivelmente sério. Inferno, ela não iria querer Connor para seu cunhado se ela fosse Henry.

— Como você poderia de fato?

Ela não considerou que ele desaprovaria o casamento. Até onde ele estaria disposto a ir para detê-lo? Talvez ela não tivesse que entrar furtivamente nos alojamentos do conde.

— Pena que não há nada que você possa fazer para acabar com isso.

— Acabar com isso? — Ele perguntou. — Mas como?

— Eu não sei. Foi por isso que eu disse que não há nada que você possa fazer. — Ela suspirou e passou o braço pelo dele.

Ele fez uma pausa momentânea enquanto parecia refletir sobre algo que ele poderia, de fato, fazer.

— Talvez uma segunda lâmina conseguisse o que a primeira não pôde.

Mairi piscou para ele quando ele subiu os degraus, levando-a com ele.

— Você quer matá-lo? — Inferno, ela não achava que ele iria tão longe.

— Não consigo pensar em outra maneira de impedir minha irmã de se casar com ele.

— Não, você não pode matá-lo. — Com o coração batendo forte, ela suavizou sua voz, escolhendo suas palavras com cuidado. — Considere o que o novo parlamento do rei faria se descobrisse que você matou o sobrinho de James Stuart.

— Mas como eles descobririam se a única alma que soubesse fosse você? — Mairi olhou para ele, impassível, embora isso exigisse muito esforço. Inferno, mas ela o subestimou. Com o olhar terno intacto, ele sorriu quando a ameaça velada deixou seus lábios. — Você diria a eles porque o ama, Mairi?

Ela poderia desafiá-lo, mas isso seria tolice. Ele odiava Connor e também a odiaria se ela defendesse seu rival. Ela queria informações dele, e admitir que iria ao rei se ele machucasse Connor, ou o faria depois que derramasse seus intestinos no piso de mármore de Whitehall, não lhe valeria nada.

Ela sorriu para ele por baixo dos cílios tentando ignorar as muitas cores entre os olhos dele.

— Eu o levei a acreditar que sou uma tola, Henry? Quem acreditaria na palavra de uma escocesa católica sobre o filho de um importante conde? Além disso, não aprovo o que o capitão Grant fez com você.

Ele deu um tapinha na mão dela e riu baixinho.

— Você não precisa recorrer à violência, Mairi. Seus truques femininos são sua verdadeira melhor arma. Quanto ao novo parlamento do rei — continuou ele enquanto ela o encarava, imaginando se ele visto facilmente desde o começo o que ela era, — ouso dizer que eles não fariam nada se não recebessem ordens do rei, afinal.

O coração dela congelou. Lá estava! Exatamente o que Connor esperava! A confissão de que James não tinha o apoio dos de Vere!

Mas foi muito fácil. Por que Henry sugeriria tal...

Ela parou de pensar quando algo macio cobriu sua boca e um aroma ácido ardeu em suas narinas. Ela queria pegar um de seus punhais, mas não conseguia se mexer. Ela se sentiu caindo e alguém a pegando, mas tudo ficou preto depois disso.

Connor sentou-se na posição vertical, despertou dos seus sonhos com um peso no braço e pronto para enviar o atacante ao seu fim.

— O que você está fazendo na cama da minha irmã? — Colin exigiu quando Connor soltou seu plaid e o empurrou. — E onde diabos ela está?

Connor olhou para o outro lado da cama, depois para a pequena porta que levava ao banheiro privado.

— Mairi? — Ele chamou. Quando não houve resposta, ele girou as pernas para o lado da cama e tirou a cobertura um momento depois que Colin se afastou e o amaldiçoou novamente.

— A hora está avançada?

— Sim — disse Colin enquanto vestia as calças. — E ela não está com sua mãe.

— Como você sabe?

Colin virou-se para ele.

— Lady Huntley se recolheu mais cedo.

Inferno. Connor sentiu uma onda de pânico atravessá-lo quando se sentou novamente para enfiar os pés nas botas. Ele sabia que não deveria ter lhe dito nada. Ela provavelmente estava nos alojamentos do conde de Oxford neste exato momento! Mulher teimosa!

— Venha! — Connor ordenou, levantando-se. — Temos que detê-la antes que ela seja jogada na prisão.

— Antes que ela o quê? — Colin o seguiu até o outro lado da cama, onde Connor pegou sua camisa do chão.

— Por perambular no quarto de Charles de Vere em busca de...

Colin o deteve com uma mão no braço.

— Oxford? — Ele empalideceu e pela primeira vez Connor viu medo nos olhos do jovem Highlander. — Oh, inferno, Connor. Foi sobre isso que eu vim falar com ela. Eu estava pensando na noite passada, quando me sentei à mesa de Mairi. Não me ocorreu na época por que Henry quase caiu da cadeira quando me viu. Foi meu capuz. — Ele falou rapidamente quando Connor balançou a cabeça, sem entender. — É o manto que eu uso quando... — Ele parou por um instante, provavelmente não querendo admitir a Connor o que ele já sabia. — ...quando faço ataques com a milícia

— Sério? Colin, pelo amor de Deus, vamos lá. Diga-me no caminho.

Connor foi o primeiro a sair. Ele fez o seu caminho para o corredor na ala oeste com Colin ao seu lado.

— Connor, a minha visão o assustou. Me lembrei esta noite por quê? Ele reconheceu esse manto. Não pensei que fosse possível, mas não posso negar a reação dele.

— Mas como ele poderia reconhecê-lo, a menos que ele... — As palavras de Connor sumiram e suas botas desaceleraram. As batidas do coração em seus ouvidos quase abafaram a voz de Colin quando ele terminou por ele.

— A menos que ele estivesse onde não deveria estar.

— É uma prova de que ele e, portanto, provavelmente o pai, trabalham contra James com os cameronianos. — Connor teria sorrido com notícias tão brilhantes se Mairi não estivesse em algum lugar sozinha e em perigo.

— Sim, é a prova. Mas tem mais.

Mais? Connor pensou em acelerar seu ritmo rapidamente novamente. Era exatamente isso que ele precisava levar diante de James. A única coisa melhor que isso era uma confissão. Colin conseguiu uma?

— Conte-me?

— Todos nós usamos mantos, Connor.

Dessa vez, Connor parou e se virou para ver o mesmo medo terrível e sufocante no rosto de Colin que ele usava por conta própria.

— Você está me dizendo que ele também pode reconhecer Mairi?

— Tomamos precauções, — disse Colin apressadamente, acompanhando o ritmo quando Connor começou a correr. — Houve uma noite... em Glen Garry, quando ela cruzou espadas contra o inimigo no escuro. Eu não verifiquei para ter certeza de que ele estava morto.

Inferno. A cicatriz de Oxford! A lâmina de Mairi tinha dado a ele? Oxford tinha que saber ou suspeitar disso. Era por isso que ele sabia falar com Mairi sobre os camaroneses. Ele não a ouvira enquanto ela falava com Queensberry. Ele sabia quem eram seus inimigos. Ele sabia exatamente como atraí-la para longe. Mas se ele pretendia machucá-la, por que não havia tentado antes?

— Ele a ama. — Ele não percebeu que tinha falado em voz alta até Colin perguntar com quem ele estava falando.

— Henry. Ele está apaixonado por sua irmã. — Pela primeira vez, Connor estava agradecido por isso. Ele tinha que chegar ao quarto do conde. Ou ele deveria ir ao de Henry? Não, Mairi não teria ido para os aposentos particulares de Henry. Ele tinha que encontrá-la e tirá-la de Whitehall. Ele se inclinou sobre a passarela quando ouviu o riso dos homens por baixo. Ele ficou agradecido ao ver Andrew Seymour e seu irmão gêmeo, Alex, deixando o Jardim Privado com duas das convidadas do rei.

Ele chamou por eles. Os ombros se endireitaram quando ergueram os olhos, prontos para cumprir as ordens do capitão.

— Alex, vá para os alojamentos de Henry de Vere e verifique se ele está sozinho. Se ele estiver com a senhorita MacGregor, traga-a para mim. Que nada o pare. Andrew, acorde o tenente Drummond e depois meu pai. Diga a eles para me encontrar na porta do conde de Oxford. Vão agora! — Ele gritou. — Depressa!

Ele não esperou para ver a carranca que as duas damas lhe enviaram, mas continuou rapidamente seu caminho, com Colin em seus calcanhares.

Perguntas o incomodavam enquanto ele virava à esquerda na longa passagem para o seu destino. Se Oxford sabia que foi Mairi quem o cortou, que planos ele tinha para ela? Nada agradável, pensou Connor, lembrando as palavras grosseiras de Henry sobre ela no pátio. Inferno, como ninguém poderia saber que os de Veres estavam envolvidos com os seguidores de Richard Cameron? O que isso significava para o rei? Como eles poderiam trazer essa prova diante de James sem admitir que Mairi e Colin eram assassinos das Highlands?

Pelas bolas de Satanás, ele pensaria nisso mais tarde. Primeiro, ele tinha que encontrar Mairi.

Quando chegaram à porta do conde, Connor tentou a maçaneta. Bloqueado. Mairi não poderia estar lá dentro, a menos que o conde a tivesse descoberto e a trancado.

— Deixe-me. — Colin o empurrou para o lado e tirou uma lâmina fina das dobras em seu plaid. Ele trabalhou na fechadura por um momento ou dois enquanto Connor observava, lembrando-se da facilidade com que Mairi havia entrado no quarto de Queensberry e enojado que ela fosse tão habilidosa em abrir portas que não deveria entrar, como seu irmão agora.

A trava se abriu e Colin entrou no quarto sem pressa. Ele não emitiu nenhum som enquanto procurava no quarto escuro e finalmente estava de pé sobre a cama do conde.

Mairi não estava aqui. Mas o conde estava dormindo profundamente com uma serva roncando no seu peito.

O coração de Connor vacilou. Ela poderia estar com Henry? Ele estava exagerando? Ela simplesmente foi buscar algo para comer? Eles deixaram os aposentos e voltaram para o corredor para ver Alex Seymour correndo na direção deles.

— Lorde Oxford não estava em seu quarto, capitão.

Connor sentiu o sangue escorrer de seu rosto. Oxford e Mairi estão longe de suas camas a essa hora ímpia? Era mais do que apenas coincidência. Eles estavam juntos. Mas onde? Eles não estavam no jardim. Alex e Andrew vieram do ar livre apenas momentos atrás. Eles teriam mencionado ver Oxford. Mairi tinha ido com ele de bom grado? Inferno, ele temia que ela pudesse procurá-lo pelas respostas que Connor precisava. Certamente, porém, ela não sairia com ele sozinha quando mais da metade do palácio estivesse dormindo? Ele estava prestes a correr para o salão de banquetes quando viu um vislumbre de cachos dourados antes que desaparecessem na curva de outro corredor.

Elizabeth!

— Alex, espere aqui pelos outros. Diga-lhes que a senhorita MacGregor está com Lorde Oxford e deve ser encontrada.

— Aonde você está indo? — Colin correu para acompanhá-lo quando ele saiu atrás de Elizabeth.

— A melhor pergunta é para onde ela está indo? — Connor apontou para as costas do vestido de Elizabeth enquanto descia as escadas a alguns metros de distância.

 

Capítulo Trinta e Nove


Mairi acordou com o tipo de terror que nunca sentira antes. Ela estava amarrada. Os pulsos, acima da cabeça... a boca... os tornozelos. Suspensa na corda, envolta na escuridão. O pânico a envolveu, deixando-a tonta. Deus, ela não podia desmaiar de novo. Ela lutou para respirar, para se acalmar. Ela não podia deixar que o medo a dominasse. Era algo que todo guerreiro era ensinado, e Claire realmente era destemida.

O que aconteceu com ela? Ela não conseguia se lembrar de como chegou aqui. Ela esteve com Connor...

Algo ou alguém passou por ela, invisível na ausência de luz, fazendo com que os pelos de seu corpo se arrepiassem. Sua determinação vacilou e ela lutou indiferentemente contra suas amarras.

Um repentino flash de luz diante de seu rosto parou seus esforços. Sua visão levou um momento para se ajustar ao que estava diante dela. Ou melhor, quem. Seu rosto, uma máscara grotesca de caroços e contusões. Henry. Ela estava andando com ele...

Ele colocou sua vela em algum tipo de poleiro ao lado dela e acendeu outra, e depois outra, até que o ambiente brilhava na luz dourada.

Onde diabos ela estava? Ela olhou em volta para nada além de paredes de pedra e um chão de terra.

— Você sabia que Whitehall já foi chamada York House? — Henry virou-se para ela e tirou a peruca. — Era habitada pelos arcebispos de York e se tornou a sede do cardeal Wolsey. Ele, como você pode ou não saber, era um homem de inclinações bastante selvagens e teve essas passagens construídas sob as adegas para seu prazer pessoal.

Ela ainda estava dentro de Whitehall. Mas que bem isso faz a ela? Ela duvidava que alguém soubesse desse lugar, exceto Henry.

Ele se aproximou dela. Mairi ficou rígida. Ela podia segurar a corda acima dela e levantar os dois pés para arremessá-lo a parede mais próxima. Mas ela permaneceria amarrada até que ele se recuperasse e então... Ela tinha que pensar, mas não conseguiu quando os dedos dele tocaram seu rosto.

— Eu vou remover o pano da sua boca, mas se você gritar eu vou cobri-lo novamente. — Ele olhou para o teto baixo de pedra. — Eu não acho que alguém iria ouvi-la de qualquer maneira, mas eu não sou mais um homem que arrisca.

Ele puxou a mordaça no queixo dela. Ela não gritou. Ninguém a ouviria. Ninguém a encontraria.

Não! Ela tinha que manter o juízo e se concentrar em sair, não ficar aqui dentro. Do que eles estavam falando mesmo? Como ele conseguiu dar um soco nela sem ela ter visto seu punho?

— Qual é o propósito disso, Henry?

— Você foi gentil comigo, Mairi. — Ele moveu a ponta do dedo pelo olho dela, sua bochecha, seu queixo. — Se não fosse por isso, eu teria matado você mais cedo.

— Por quê? — Ela exigiu, afastando-se dele. — Se você vai me matar agora, então seja homem o suficiente para me dizer por quê? É sua irmã? Você faz o que ela manda?

Ele riu e deixou a peruca cair no chão.

— O meu é um motivo mais pessoal. — Enquanto falava, ele se aproximou ainda mais, até que seu peito tocou o dela. A mão dele a tocou a seguir. Ele enfiou a mão na fenda das saias dela, sobre a coxa nua. Ela permaneceu quieta, prometendo cortá-lo no meio, se ela escapasse disso.

Acabou antes de se tornar demais para suportar. A mão dele reapareceu diante do rosto dela, junto com o brilho da adaga.

— Eu poderia ter perdoado você, — ele disse suavemente, passando a ponta da lâmina pelo rosto dela com o mais terno cuidado. — Se você não o tivesse escolhido.

Deus do céu, ela estava prestes a ser morta por um louco.

— Me perdoar por quê? Nunca disse que te amava, Henry. Na verdade, eu...

— Glen Garry, Mairi. — Suas palavras a silenciaram. — Você e seus amigos invadiram a casa de Archibald Frazier e depois pararam uma carruagem tentando fugir do massacre. Você se lembra de ter matado o cocheiro e depois sentir minha luva com força em sua bochecha?

Mairi olhou para ele, incapaz, talvez relutante, de acreditar no que acabara de sair de seus lábios. Ele não poderia ser aquele homem. Ela lembrou. Ela não tinha matado tantos quanto Connor se gabava. Mas ela matou aquele.

Ela matou, não é?

Mas quando a verdade se apoderou dela, ela percebeu outra coisa. Se ele era aquele homem, então estava participando de uma reunião com os cameronianos. Era assim que ele sabia o que dizer para atraí-la para longe do leito de Connor quando estava ferido. Todo esse tempo ele sabia quem ela era. Ele não podia ir ao rei com acusações sem ter que explicar porque estava participando de uma reunião secreta dos inimigos do rei.

Nada disso importava agora. A lâmina dela fez isso com o rosto dele, o transformou no homem solitário que ele se tornara. Ele estava aqui para matá-la com certeza.

Ela fechou os olhos, rezando silenciosamente para Deus tirá-la de alguma forma disso e ela ficaria contente em ser apenas uma lass pelo resto de seus dias.

Algo ocorreu a ela, abriu os olhos e franziu o cenho para ele. Ele a enganou esse tempo todo? Impossível. Inferno.

— Excelente trabalho, meu lorde, — ela admitiu graciosamente. Afinal, a farsa acabou. — Você me enganou perfeitamente. Eu realmente acreditava que você era sincero em sua bondade comigo.

— Eu era, — ele ficou sério instantaneamente. — Eu me apaixonei por você. Depois que soube quem você era, ainda te amava.

— Então você não vai me matar?

— Eu não disse isso. — Ele girou nos calcanhares e desapareceu nas sombras.

— Henry? — Inferno. Mairi torceu os dedos ao redor da corda, tentando desesperadamente desatar o nó grosso. Ela tinha que se libertar. Era sua única esperança. Lembrou-se da adaga fina em seus cabelos. Levantando-se, ela enrolou os dedos em volta do pequeno punho.

— Eu gostaria de ter uma vida com você por um tempo. Mas então, sua atração pelo meu cunhado começaria a me fazer odiar você. Por fim, eu mataria você. Estou me poupando do problema.

— Como você sabe que eu nunca me apaixonaria por você? — Era algo. Uma corda frágil e patética, mas se isso o fizesse duvidar de suas intenções, que assim seja. — Você está tão certo em seu fracasso em tudo que faz, que nem se importa em tentar?

Ele saiu das sombras usando o que Mairi rezou que fosse um olhar esperançoso.

Outra voz na escuridão, estridente e irritante como o inferno, interrompeu seu avanço.

— Você ainda não terminou com ela? — Elizabeth de Vere caminhou na direção da luz. — Eles estão procurando por ela! Você não pode fazer nada certo?

As cores do rosto de Henry desbotaram para um branco fantasmagórico.

— Por que você veio aqui? Alguém poderia ter seguido você! — Ele a empurrou para fora do caminho e segurou uma de suas velas examinando lá fora.

— Ninguém me seguiu, Henry. Não sou idiota como você.

Ah, mas Mairi odiava essa mulher. Não havia como ela morrer e deixá-la ficar com Connor.

Ela trabalhou a adaga com os dedos até que a ponta afiada cortasse a corda. A esperança encheu sua alma. Ela trabalhou mais, até que as fibras começaram a partir.

— Você disse a ela quem você é? — Elizabeth perguntou ao irmão quando ele reapareceu. — Então — ela disse depois que ele acenou com a cabeça, — você deve matá-la. Você não deve recuar.

O irmão dela assentiu novamente.

Mairi continuou seu trabalho frenético na corda até que finalmente conseguiu libertar uma mão.

— Você não quer decepcionar o pai novamente, não é? Você sabe que é muito cedo para perder o favor do rei. Se você a deixar viva e o rei ouvir suas atividades...

— Isso fala muito de você, Elizabeth, — disse Mairi, atraindo os dois pares de olhos para ela, — que você sabe que a única maneira de me derrotar é me matar.

— Derrotá-la? — A irmã de Henry riu. — Eu não sou um Highlander selvagem. Além disso, não há nada em você que eu precise derrotar.

— Você nunca teria Connor enquanto eu vivesse ou depois que eu morresse. O coração dele é meu.

Os lábios de Elizabeth se apertaram e seus cachos tremeram quando ela se moveu em direção a Mairi.

— Henry, me dê seu punhal. Eu mesma matarei essa cadela.

A lâmina de Mairi brilhou à luz das velas quando ela mergulhou na bochecha de Elizabeth, cortando-a.

Elizabeth de Vere gritou, talvez alto o suficiente para alguém lá de cima ouvir.

Henry correu e, em seguida, voou e sua passagem ecoou com o som de ossos esmagando contra o chão.

Alguém estava logo cima de suas costas. Era Connor.

— Connor!

E Colin! Ela viu um instante depois, quando ele apareceu tão naturalmente fora das sombras e segurou Elizabeth enquanto ela continuava a gritar.

Mairi usou a adaga para soltar a outra mão e depois os tornozelos, enquanto Connor puxava Henry para ficar de pé. Ele afastou o punho e deu um soco forte nas entranhas de Henry e, mais uma vez, logo atrás das costas. Henry caiu novamente, desta vez mais silenciosamente.

Mairi praticamente pulou em seus braços quando Connor a alcançou. Ela o segurou, os braços enrolados no pescoço dele, nunca querendo deixá-lo ir. Ele a encontrou. Ela agradeceu a Deus, lembrando-se da promessa que havia feito a Ele.

— Você está machucada, Mairi?

— Não. — Ela respirou contra ele, então inclinou o rosto para beijá-lo.

— Talvez isso possa esperar até depois de levarmos esses dois para o rei? — Colin sugeriu com um movimento para Henry se ajoelhando.

Connor piscou para ela antes de se virar para pegar Henry. O coração de Mairi palpitava no peito. Como era possível que ela pudesse amar tanto um homem?

— Henry, não diga nada...!

— Lizzy, — Henry disse suavemente, vendo-a pela primeira vez desde que Mairi a golpeou. — Seu rosto.

Elizabeth começou a chorar e depois gritou e chorou. Mairi quase sentiu pena dela, isto é, até Henry chamar sua atenção. O que ela viu em seu olhar? Não era raiva. Não era ódio, mas algo mais parecido com satisfação. Talvez agora, o placar seria um pouco mais equilibrado entre ele e sua irmã. O que quer que tenha sido desapareceu quando ele olhou para Connor.

— Se você nos libertar, meu pai cuidará para que você não precise se casar com Elizabeth.

Connor não respondeu, mas puxou Henry para frente. Mairi o seguiu nas sombras com Colin e Elizabeth logo atrás.

— Não há motivo para ele precisar saber que a senhorita MacGregor cavalga com um bando de assassinos.

— Henry, do que você está falando? — Perguntou Mairi, carregando uma vela diante deles para iluminar o caminho. — O rei é meu parente. Ele não acreditará em suas acusações contra mim sem provas.

— Então não falaremos da questão cameroniana com Sua Majestade? — Perguntou Henry, olhando para trás e para a irmã.

Mairi sabia que, se Connor não tivesse chegado, Henry a teria matado, quer afirmasse amá-la ou não. Ele não tinha escolha depois de lhe dizer quem era. Ela sabia muito sobre ele e sua família agora. Ela poderia ter lutado com uma mão, mas por quanto tempo? Ela estremeceu e se aproximou de Connor.

— Ela não vai falar deles, — Connor disse a ele, — mas você sim.

Henry riu, mas o som estava vazio de qualquer alegria.

— Você está louco se acha que eu implicaria meu pai...

— Você vai se quiser que sua irmã viva. — Connor o interrompeu. — Ela será levada para o meu quarto e guardada enquanto eu o levo para James. Se não confessar tudo, ela não deixará meus aposentos viva.

Henry fez um pequeno som que se misturou com o suspiro de Elizabeth. A princípio, Mairi achou que Connor havia escolhido o refém errado, mas Henry realmente amava sua irmã, o pobre e lamentável homem.

A salvo agora, Mairi teve tempo de considerar que era provavelmente ela quem fez de Henry o que ele se tornara. Ela gostava de Henry. Lamentou ter cortado seu rosto bonito e roubado sua autoestima.

Inferno, ela nunca se arrependeu de prejudicar um camaronês ou amigo de algum deles. Ela sentia vontade de chorar um pouco. Maldição, tinha que ser por causa de tudo que ela suportou em um dia. Ela não era uma moça de vontade fraca e suave que se despedaçava diante do perigo.

Mas, ela pensava, tirando uma lágrima do olho, que era uma moça e, olhando para o seu amado Highlander, estava agradecida por ser uma.

 

Capítulo Quarenta


Graças a um cacho de ouro colocado por Colin no colo de Henry de Vere, ele confessou tudo ao rei. Ele não apenas contou a James sobre o pedido de seu pai de ter relações com os cameronianos, mas também sobre seus planos de viajar para Dorset na primavera para se encontrar com o exilado duque de Monmouth. Sob a ameaça de enforcamento por traição, o pai de Henry, o conde de Oxford, mais tarde forneceu ao rei informações vitais sobre a chegada do duque. Ele deveria atracar em Lyme Regis com três navios, quatro canhões de campo e mil e quinhentos mosquetes.

James prendeu o conde, junto com seu filho e outros quinze nobres, incluindo Lordes Oddington e Hollingsworth. Ele então enviou uma mensagem aos almirantes para mudarem de rumo e partirem para Dorset. A guerra seria evitada, pelo menos por enquanto. Infelizmente, o conde não sabia nada sobre o ataque à abadia de St. Christopher, incapaz de provar ou refutar a inocência do duque... Ou a culpa do príncipe.

Andando pela longa galeria superior com Mairi debaixo do braço logo depois que eles deixaram o rei, Connor ponderou a contínua relutância de James em acreditar no pior de William de Orange. Uma relutância que eventualmente poderia lhe custar seu reino.

— Sedley não teria tentado me matar se a ordem tivesse sido emitida por alguém que não fosse o príncipe.

— Sim, eu sei, — Mairi disse suavemente contra ele enquanto a acompanhava até a porta.

— Há tantos fatos encarando o rei de frente, mas ele se recusa a reconhecer qualquer um deles.

— Ele não é bobo, Connor. Ele sabe o que está à sua frente, mas lembre-se de que qualquer ação que ele tome, também toma contra a filha.

Eles andaram o resto do caminho até a porta dela em silêncio. Quando eles a alcançaram, ela olhou para ele novamente e levou a mão ao queixo dele.

— Eu ficaria com você em qualquer lugar, Connor. Se quiser permanecer aqui, ficarei com você. Amo-te mais que Camlochlin.

Ele sorriu, fechando os braços em volta dela.

— Não quero ficar. O rei não acredita que William tentará depô-lo tão cedo e arriscará uma guerra com a França, e eu concordo. Mas se eu lhe dissesse que partiríamos para a França de manhã, em vez de voltarmos para casa, você não protestaria?

— Eu não protestaria porque não estamos indo para a França. — Ela se levantou na ponta dos pés, beijou-o rapidamente na boca e depois se separou dele. — Estamos indo para casa, e já é de manhã, então é melhor você começar a fazer as malas.

Sim, ele queria fazer amor com ela nas colinas, em uma cama de urze e no vasto céu azul acima deles. Quanto mais cedo eles deixassem a Inglaterra, mais rápido poderiam chegar.

— Não há mais perambulações com nenhum homem depois que eu sair daqui. — Ele deu um tapinha no traseiro dela antes de sair. — Ou eu vou embora sem você.

— Não sem uma lâmina nas suas costas, você não vai.

Ele sorriu ouvindo a porta se fechar suavemente atrás dela. Ele poderia derreter seu corpo, conquistar seu coração guerreiro, mas nunca domaria aquela língua.

Quando ele chegou à sua porta, lembrou-se que Lady Elizabeth ainda estava lá dentro com seu tenente e provavelmente um dos médicos da rainha que ele havia dito a Edward para buscar e costurar o rosto dela. Ele olhou para a ferida quando eles voltaram à luz. Era apenas um arranhão. Ela não sofreria com isso, mas como aceitaria a notícia da prisão de seu pai?

Ele soltou um suspiro raivoso, feliz que isso seria o fim de traidores, traição e vida cortês para ele.

Ele abriu a porta e depois se afastou.

— Você está livre para ir, Lady Elizabeth.

Ela pulou da cadeira em que estava sentada, um cacho saltando sobre a bochecha enfaixada.

— Meu pai? Henry? O que houve com eles?

Ela não ficaria feliz com a notícia, nem ele lhe diria. Quando ela saiu chorando, ele sabia que as lágrimas dela eram apenas as primeiras a serem derramadas pelas filhas da Inglaterra. William poderia não estar dando o golpe em breve, mas ele estava chegando. Guerras tornaram esposas em viúvas. Mas Mairi não seria uma delas.

James havia perdido muito apoio e um regimento inteiro hoje à noite. Mas ele insistiu que Connor fosse para casa. Não haveria guerra com Monmouth ou Argyll quando James os pegasse e os enforcasse. Connor servira ao trono por tempo suficiente e seu primo não o deixaria passar seus dias aqui quando não fosse necessário. Além disso, o rei sentou-se na cadeira e apontou para Colin. Ele provavelmente poderia travar três batalhas sozinho e vencer.

Connor tirou a camisa e a jogou sobre uma cadeira. Depois, tirou as calças e as botas militares, despedindo-se pela última vez. Ele estava indo para casa.

Finalmente.

— Você tem certeza de que não vai mudar de ideia e se casar com seu amado aqui? — A rainha pegou a mão de Mairi e caminhou com ela até onde Graham e Claire esperavam com seus cavalos na luz da manhã. — Eu adoraria ver a cerimônia. Sinto como se eu fosse parcialmente responsável por isso, sabe. — Ela agraciou Mairi com seu sorriso mais terno. — Eu sabia que o capitão Grant a amava desde o momento em que o vi colocar os olhos em você. Vocês dois eram teimosos demais para fazer algo a respeito.

— Sem a sua ajuda.

A rainha riu por trás da mãozinha. Mairi sempre gostaria dela.

— Desejo me casar com Connor na presença de meus parentes, no lugar de meu nascimento. Mas também desejo que você e o rei viajem para Camlochlin para a cerimônia. Você poderia conhecer sua filha. Disseram-me que ela não se parece em nada com Mary ou Anne.

— Infelizmente, não podemos. É muito perigoso no momento. Se formos seguidos... — Ela deixou o resto de suas palavras sumirem.

Mairi assentiu, sabendo que estava certa.

— Então direi a Davina que madrasta maravilhosa e graciosa ela tem.

— Isso é gentil da sua parte, Mairi. Diga a ela também... — E com isso, os olhos luminosos da rainha brilharam. — ...que estou tentando diligentemente dar um filho ao rei. Espero que não demore muito para que ela não seja a única herdeira católica do rei.

Mairi desejou as bênçãos de Deus em seus esforços e agradeceu-lhe por sua parte em convencer o rei a deixar Connor deixar seu serviço. Sim, havia mais batalhas a serem travadas no futuro, mas elas seriam travadas sem Connor. Ela não precisava ser generosa.

Ela olhou do outro lado do pátio para onde seu irmão estava conversando com Judith. Na verdade, Judith estava falando a maior parte do tempo. Colin parecia um pouco entediado. Mairi agradeceria antes de partir por mostrar sua atenção à doce serva da rainha, mesmo que por um dia. Judith descobriria por si mesma que Colin não era para ela. Provavelmente, ele não fosse para ninguém ou qualquer coisa, exceto para a batalha... no campo ou fora dele. Mairi sempre o preferiu pela sua sagacidade, mas havia muitas pistolas e mosquetes na Inglaterra. Foi por isso que ela se esforçou para mostrar ao rei como seu irmão era esperto e malandro, como ele era perfeitamente capaz de parar as batalhas antes que elas fossem travadas.

Ele chamou a atenção dela e lhe piscou e ela esperava com todo seu coração que ele a perdoasse.

A rainha bateu no braço dela, afastando sua atenção de Colin e fez um gesto para ela olhar em direção às portas do palácio. O coração de Mairi parou ao ver Connor vindo em sua direção.

Não era o jeito que seus olhos brilhavam nos dela, como oceanos azuis claros inchados de amor e adoração que faziam seu coração se alegrar e doer ao mesmo tempo. Tampouco era a vitalidade em seu sorriso, sempre confiante, um pouco arrogante e, às vezes, tão quente que ela queria se perder e esquecer o resto do mundo endurecido pela batalha. Não, seus joelhos quase cederam embaixo dela ao ver a plaid das Highlands enrolado em seu ombro largo, balançando em suas pernas bem torneadas. Quando ele a alcançou, colocou o chapéu sobre a testa e se inclinou para beijá-la.

— Cavalgue comigo. — Ele pegou a mão dela e disse algo para a rainha que a fez corar. Mairi não tinha certeza do que era. Ela só viu o flash de seu sorriso branco, a cintilação de suas profundas covinhas irresistíveis. Inferno, ele era o homem mais bonito de toda a Escócia e Inglaterra combinados, e ele era dela. Nada mais importava além disso.

— Você se lembra do verão do meu décimo segundo ano, — ele perguntou, olhando em seus olhos, — quando voltei com Tristan do nosso verão em Campbell Keep?

— Sim, foi no ano em que tive febre e não pude ir com você.

Ele assentiu, tocando o dedo no rosto dela.

— Minha tia Anne me deu algo naquele verão. Algo que eu queria dar a você.

— O quê?

— O anel da minha avó. Escondi-o em nossa caverna, embaixo de uma pedra prateada com o símbolo de um coração... bem, tentei fazer parecer um coração, mas parece mais um círculo.

Ela riu baixinho e deu um beijo na boca dele.

— Você escondeu o anel da sua avó em uma caverna?

— Sim, era onde eu queria pedir que você se tornasse minha esposa.

Meu Deus, como ela amava esse homem terrivelmente romântico, como ela sempre o amou.

— Então me pergunte lá, em nossa caverna, e eu direi sim e farei amor com você enquanto o vento atravessa pelos prados.

— Eu sempre amei esse som, — ele disse, puxando-a para mais perto de seus braços.

— Sim, meu único amor, — disse ela quando ele abaixou a boca na dela. — Eu também.

 

CAMLOCHLIN CASTLE

Primavera de 1688

 


Epílogo


Mairi não se importava muito com costura, mas seu bordado estava melhorando. Contar pontos também afastava sua mente da comida, e o cheiro de turfa e cera de vela acesa, coisas que ela normalmente amava quando não estava esperando um bebê. Era o terceiro, e ela esperava que dessa vez escapasse de passar as manhãs com a cabeça enfiada em uma bacia.

Ela examinou seu trabalho e o que deveria parecer um cardo, mas parecia mais um galho espinhoso. Perto o suficiente. Os olhos dela pousaram no anel pesado que envolvia o dedo indicador. Eles o recuperaram juntos do local sob a rocha com um círculo esculpido. Connor dobrou-se sobre um joelho e prometeu a ela a lua e as estrelas e todos verões passados em Camlochlin até envelhecerem juntos, e depois fizeram amor pela última vez em seu lugar secreto e privado.

Ela suspirou, sentindo-se ridiculamente feliz e um pouco chorosa. Ela olhou para as mulheres que dividiam o novo dia com ela. Claire levantou o olhar azul da costura e sorriu para ela. Maggie parou atrás da cadeira de Davina para dar uma olhada em seu trabalho, assentiu em aprovação e continuou a embalar nos braços a filha de Rob e Davina, a pequena Abigail.

— Bem, — disse ela, verificando o trabalho de Mairi a seguir, — pelo menos você aprendeu a cozinhar.

Mairi captou o breve olhar de Isobel para o céu, e então as duas trocaram um sorriso secreto. Querido Deus, quem poderia imaginar que ela e Isobel Fergusson se tornariam boas amigas? Quando ela voltou para casa e descobriu que seu irmão se casou com a filha do pior inimigo de seu clã, ela não falou com o irmão por dois dias. Mas Isobel logo a conquistou quando disse a Mairi que não dava a mínima para ela gostar ou não dela e depois se ofereceu para ensiná-la a cozinhar.

Mairi olhou para a barriga inchada de Isobel e sentiu uma pontada de inveja pelo fato de sua cunhada não sofrer efeitos negativos de bebê que estava esperando ou de seu filho que nasceu antes desse.

A voz suave de sua mãe, lendo em voz alta um de seus Tristan havia queridos livros, atraiu os olhos de Mairi para ela, e para o bebê de cabelos crespos no colo, tentando agarrar as páginas. Sua filha Caitrina ainda era jovem demais para entender os contos de amor e honra de sua avó, aliás todos os netos de Kate, mas isso não a impedia de contar a eles.

Inferno, mas ela adorava estar em casa, cercada pelas pessoas que mais amava no mundo. Ela amava Ravenglade com suas altas torres, ameias e vastos campos verdes. Era a casa dela. Onde Connor estava, era a sua casa. Mas Camlochlin.... Ela enxugou uma lágrima dos olhos e fungou quando a porta do solar se abriu, os homens que entraram estavam limpos de cada gota de água escorrendo em seus corpos.

O pai trouxe o perfume de urze, limpo, enevoado, fresco e familiar. Ele chamou sua atenção enquanto se inclinava para beijar o topo da cabeça de sua esposa e piscou para ela. Rob entrou logo atrás dele, discutindo um ponto com Tristan, que trazia seu filho em um braço e o mais velho de Rob no outro. Ele sorriu para o resto deles, provando que não se importava com quem estava certo. Ele apenas gostava de irritar Rob.

Colin apareceu em seguida, voltando da Inglaterra para uma visita de alguns dias a seus parentes. Mairi sorriu para ele, decidindo que mesmo seu justaucorps de gola alta caindo sob o queixo não podiam esconder que ele nascera e fora criado nas Highlands.

Passando pela porta atrás deles, para a sua alegria, como sempre, vieram os dois que quase fizeram Mairi chorar por todo o bordado. Seus olhos lacrimejantes contemplaram as pernas bem torneadas do marido, o grande plaid com cinto na cintura e o filho de dois anos se contorcendo para descer de seus ombros.

Connor sorriu para suas lágrimas, sabendo que elas surgiam de suas emoções mais profundas. O idiota gostava que ela não tivesse controle sobre elas em sua condição de grávida. Ele ainda a irritava demais às vezes, mas ela suspeitava que ele fizesse isso porque gostava de lutar com ela.

Ele largou o filho e observou quando Malcolm correu para ela.

— Mamãe, vou ajudar papai a construir uma casa! Ele disse que eu poderia!

Ela afastou as agulhas e colocou o filho mais velho no colo.

— Você vai? E onde vai ser essa nova casa?

Mairi seguiu seu olhar para Connor caminhando da porta para chegar até ela.

— Eu pensei que logo abaixo das garras de Bla Bheinn seria bom.

Aqui? Em Camlochlin? Onde ele disse a ela que a amava?

Finalmente, a corrente de água arrebentou.

Droga.

 

 

 

Notas

 

 

[1] Bonnie – bonita, linda.
[2] Lass – moça.
[3] Covenanters - eram um movimento presbiteriano escocês que desempenhou um papel importante na história da Escócia e, em menor escala, da Inglaterra e da Irlanda, durante o século XVII.
Os cameronianos (escoceses) eram um regimento de fuzil do exército britânico, o único regimento de rifles entre os regimentos escoceses de infantaria. Foi formada em 1881 sob as Reformas Childers pela fusão do 26º Regimento Camerônico e da 90ª Infantaria Ligeira de Perthshire.
[4] Bairn – filhos, meninos, crianças.
[5] Kirtle- uma bata ou túnica que se vestia por cima do vestido.
[6] Nae – Não.
[7] Blà Bheinn, é uma montanha na ilha de Skye, na Escócia. É geralmente considerado como um outlier para o Black Cuillin.
[8] O esporte que atualmente é conhecido como 'Tênis' originou-se no século XIX, na Inglaterra, sendo o descendente direto do que hoje é conhecido como "Ténis real" ou "Jeu de paume" (que continua a ser jogado hoje como um esporte separado com regras mais complexas). No período medieval uma forma de tênis é descrita como tênis real. O Real tênis evolui nos últimos três séculos, de um jogo primário que envolvia bola ao redor século XII na França, na qual, continha golpear uma bola com a mão uma única vez e depois com uma luva. No século XVI, a luva se torna uma raquete, e o jogo tinha-se movido para uma área fechada, e as regras começaram a ser estabilizadas. O Real tênis começou a ganhar popularidade na realeza europeia, alcançando grande fama ainda no século XVI.
[9] A volte é um nome anglicizado para uma dança para casais que foi popular durante o período renascentista e posterior.
[10] Golfo da Finlândia.
[11] Jardins de cascalhos e pedras.
[12] O Arganaz (também conhecido como muscardino) é um dos roedores europeus mais graciosos. Se parece com o camundongo.
[13] Huzzah é, de acordo com o Oxford English Dictionary, "aparentemente uma mera exclamação". O dicionário não menciona nenhuma derivação específica.
[14] No século XIV surgiu, na Inglaterra, um jogo de boliche na grama, que tinha por objetivo colocar a bola o mais perto possível do alvo, porém sem derrubá-lo.
A popularidade desse jogo chegou a ponto do Rei Eduardo III, da Inglaterra, proibir a sua prática em 1.366, pois temia que ele superasse o arco e flecha, esporte que tinha maior importância militar. A proibição se referia a um “jogo dos 9 pinos”, o que obrigou os ingleses a reinventar o esporte com dez pinos, o que se afirma, tornou-se tradição e foi seguido mais tarde nos Estados Unidos pela International Bowling Association-IBA.
[15] Um earasaid, ou arasaid é uma vestimenta drapejada usada na Escócia como parte da vestimenta feminina tradicional das terras altas.
[16] Justacorps ou justaucorps é um longo, joelho -length casaco usado por homens na segunda metade do século 17, e ao longo do século 18. A peça é de origem francesa e foi introduzida na Inglaterra como um componente de um conjunto de três peças, também composto por calças e um colete ou colete comprido Esse conjunto serviu como o protótipo do vestido, que por sua vez evoluiu para o traje moderno de três peças.

 

 

                                                   Paula Quinn         

 

 

 

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