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Series & Trilogias Literarias
Existem três tipos de humanos: os que crescem da maneira convencional, estudam, não provam nada ilícito e se casam, formando uma família com a mesma expectativa. Tem o segundo tipo, que faz todas as loucuras, mas em determinado momento, ele resolve seguir as regras do primeiro tipo, a fim de recuperar algo que sabe-se lá Deus por que se tornou importante. E existe o terceiro tipo que poderia ser classificado como Humano Benjamin: aproveito a vida de todas as formas, não uso nada ilícito e já tenho tudo de importante; uma família boa, bons estudos, moro muito bem em uma cobertura na Quinta Avenida que, graças a Deus, não sabe falar e estou olhando para duas mulheres deitadas em minha cama.
Eu sou o tipo de humano feliz, espécie rara e eu diria que se eu morresse com certeza estaríamos extintos.
A de cabelo mais curto e mais alta é Greta. Ela sabe das coisas. Uma companheira e tanto para algumas loucuras. Um pouco dominadora e às vezes possessiva, mas nada que não possa ser acalmado com uma boa e suculenta sessão de sexo a três, minha especialidade, e é claro que números superiores a esse são extremamente bem-vindos.
A menor foi uma convidada dela, dinamarquesa, cabelos cumpridos, negros. Precisa melhorar a técnica de fazer sexo oral. Ela deve ser nova nisso e está perdida em relação ao tempo que se leva em cada um. Porque uma coisa é certa, sexo entre duas pessoas não tem como dar errado, ali é um para o outro. Quando essa equação começa a saltar para um número a mais de pessoas, tudo se torna mais complexo e depois de muitos anos e muita prática é que chegamos à perfeição, ou o estilo Benjamin, o que significa a mesma coisa.
Alcanço meu celular e registro o momento das duas. Todos os meus momentos com Greta foram registrados e eu sei que posso ser assim com ela, não existe sentimento, o que temos acaba assim que o dia amanhece, somos dois vampiros.
Saio do meu quarto e as deixo lá, elas merecem o descanso. Vou até a cozinha e pego um copo d’água. Bernice, minha empregada, avisa que o café da manhã está posto para uma pessoa como eu solicitei e que minha mãe já ligou sete vezes.
Não são nem nove horas da manhã e minha mãe já está nessa tensão. Vou até o bar e misturo suco de laranja e um pouco de vodka. Bebo o primeiro gole e escuto a porta do elevador se abrir, ela revela a figura mais elétrica que já conheci, minha mãe.
— Benjamin Augustus Brandy, são nove e vinte da manhã e hoje é terça-feira, não deveria estar no escritório? — minha mãe poderia ser pelo menos melhor informada, ou ter tido um segundo filho, assim eu dividiria esse tipo de loucura.
— Mãe, eu te amo, mas precisamos ver essa memória. Não piso no escritório antes do meio-dia há mais de seis meses. Posso trabalhar daqui, tenho um escritório com todo o sistema aqui, isso poupa meu tempo e minha energia — explico e escuto a porta do meu quarto se abrindo. Elas estão usando minhas camisas, estão bocejando e falando detalhes que apenas quem estava às quatro e trinta da manhã na minha cama saberia.
— É para isso que precisa poupar tempo e energia, Benjamin Augustus? — sim, mãe, mas negarei para senhora por respeito — Sua sorte é que minha memória age a seu favor — ela se aproxima de mim e beija meu rosto — Semana que vem seu tio vai para Alemanha e eu e seu pai vamos com ele, consegue ficar bem sozinho? — não, minha mãe, mas em todo caso eu tenho pessoas para cuidar de mim. Penso na lista de mulheres que se revezariam aqui na porta do edifício apenas para me servirem um mísero copo d’água.
— Com certeza vou sofrer com a ausência de suas ligações, mas acho que sobrevivo — beijo o rosto dela e ela se encaminha até a porta e nos despedimos.
— Minha sogra, Ben? — Greta pergunta sentada sobre o balcão da minha cozinha e com Patrizia, a dinamarquesa, entre suas pernas, ambas bebem água e olham para mim. Esse termo sogra estabelece contato monogâmico, o que significa que estaria passando minhas noites com uma única mulher, e como já disse para Ramon, para isso acontecer, minha vida teria que estar em risco.
— Greta, isso seria no mínimo irônico.
1
Benjamin
Com certeza eu poderia ficar exatamente onde estou, no conforto de minha casa, e convocar alguém para resolver isso. Mas isso implicaria em colocar algum imbecil para resolver o que algum idiota fez. O que isso tudo significa? É que são nove horas da manhã e estou de terno e gravata indo para o escritório, e isso eu não faço há muito tempo, chegar tão cedo assim. O idiota em questão sou eu e eu sei bem o quanto isso vai me custar.
Mas meu pai está na Alemanha e não imagina o que aconteceu ontem. Aliás, na hora em que ele souber eu penso que a viagem a passeio pela quarta vez para esse país possa ser abreviada de maneira relativamente rápida. Foi a decisão mais cretina que já tomei em toda a minha vida, mesmo sabendo do risco, acabei tomando a atitude por impulso e confirmei com o cliente um prazo que não seria possível.
Meu celular toca, é Pamela e esse nome se perderia entre as Pamelas que tenho em minha agenda se não fosse o Brandy Industrias ao lado da nomenclatura.
- Benjamin - atendo e desço para o estacionamento do meu prédio. Entro em meu Porsche e saio em direção à Brandy alimentos. Enquanto isso, Pamela está me passando o tamanho do problema que vou ter que resolver. O celular agora está no viva voz e eu odeio falar ao telefone enquanto dirijo. Também odeio sair para trabalhar tão cedo, por isso equipei o meu escritório com todo sistema da Brandy.
- Pamela, Alfred já está sabendo? - pergunto se o advogado de contas exteriores está sabendo do desvio de nossa carga.
- Sim, e ele está aqui conversando com o Sr Weiser - ela me avisa que Wallace, meu amigo fora dos limites profissionais e tão sócio quanto eu no Clube 13, está na minha empresa e está tentando resolver.
Mas não foi sua empresa que desviou a carga ou a perdeu, ele está em contato com quem possa resolver. Essa carga foi precocemente destinada a outra empresa que cuida de transportes marítimos por conta da urgência e agora me arrependo profundamente por isso.
Wallace sempre cuidou de nossas remessas para outros países e essa foi a melhor escolha porque ele é o cara que evita qualquer tipo de erro e nunca em todos esses anos tivemos problemas de entrega. Mas hoje, terça-feira, estou prevendo uma manhã turbulenta e com um cliente enfurecido ao telefone.
- Chego em vinte minutos - aviso e desligo.
Acelero até a 59. O semáforo fecha e escuto meu celular tocando, olho para a tela e é meu pai que possivelmente já está sabendo e agora vai colocar em prática o que ele mais gosta. Exigir respostas e soluções em tempo recorde.
- Alô, estou dirigindo - atendo e já justifico.
- Como se você fosse preocupado com alguma coisa - Othon Brandy, que exige ser chamado de Sr Brandy por todos, mas não consegue exigir isso de Gabriella, minha mãe alucinada que sabe de minhas preferências sexuais, já me flagrou em algumas situações bem embaraçosas e eu pensei que isso pudesse evitar que ela invadisse meu apartamento a qualquer hora, mas não.
- O que você precisa? - pergunto gentilmente, mas eu sei que ele deve estar andando de um lado para o outro por conta desse desvio de nossa carga.
- Preciso que seja realmente responsável pelo império que um dia você vai comandar sozinho - sua voz está gelada, deve estar nevando na Alemanha. Ainda bem que um oceano está nos separando.
- Estou a caminho do escritório e tudo vai ser resolvido, sr Brandy. Pode não parecer, mas eu me preocupo com sua empresa - falo com tranquilidade olhando para três mulheres lindas que remexem graciosamente seus lindos traseiros ao cruzar a rua.
- É, realmente não parece que esteja devidamente preocupado, isso nunca aconteceu antes. Não sei que ideia de imbecil essa de contratar uma empresa que não a de Weiser em fazer a entrega. Temos um contrato com ele e você resolve fechar um prazo incabível e contratar uma empresa terceirizada, espero realmente que você resolva - ele me adverte como se essa ideia tivesse partido apenas de mim.
- Pai - digo - Tudo será resolvido - afirmo sem nenhum tipo de convicção interna. A verdade é que esse cliente francês pode cancelar todo o contrato de fornecimento e isso significa um contrato de alguns milhões.
- Me ligue quando tudo REALMENTE ESTIVER COMO EU SEMPRE DETERMINEI QUE FOSSE - ele desliga e pelo visto minha semana só vai melhorar na sexta-feira, quando eu embarcar para Madri e entrar em minha suíte no Palácio Hanzel.
Sigo pela Quinta Avenida até chegar na Washington Square Park e novamente, pela quinta vez, paro no semáforo vermelho. Internamente faço a conta de quantos dias faltam para a sexta-feira.
Passo pela universidade de Nova York e continuo em direção a Wall Street, onde fica o escritório das industrias Brandy. Antes de chegar à minha empresa, mais um semáforo fechado e uma mulher atravessa na frente do meu carro falando ao celular, uma loura magnífica e como todo homem com pensamentos nada saudáveis, eu a imagino nua.
Acompanho seus movimentos até a calçada e meus olhos param quando vejo um rosto muito familiar, um rosto conhecido e também bastante evitado.
Kimberly Von Humbolt. Ela está parada na esquina, falando sorridente ao celular. Ela sabe se vestir, chega a estar impetuosa em seu vestido até os joelhos, justo, de mangas longas. Ela combina com azul escuro e a maneira como deixa seu cabelo, em um rabo de cavalo baixo e de lado, me faz pensar em coisas terríveis.
Um homem se aproxima dela e pega em sua cintura de uma maneira que Alexander provavelmente não iria gostar. Ele a beija, forte. Que filho da puta! Ele não deveria deixá-la exposta desta forma!
Escuto uma buzina e percebo que o semáforo já abriu. Que inferno, que merda de terça-feira. Ela estava viajando e eu não sabia que havia alguém com ela. Será que Alexander sabe disso? Acho que o único homem nessa terra que não pode se aproximar de Kim sou eu, tendo em vista que Wallace também conseguiu algum tipo de acesso a ela e o maldito do Alexander nem se importou com isso. Eu sabia que poderia ter alguém por conta das raras fotos dela com um idiota, mas achei que fosse coisa passageira. Pode nem ser o mesmo cara que vi semana passada com ela em uma postagem do Facebook.
Acelero e chego na Brandy praticamente ignorando os cumprimentos que estão vindo em minha direção. Os funcionários que não sabem a merda que aconteceu com nossa carga provavelmente estão criando histórias mirabolantes com a minha chegada na empresa tão cedo.
Pamela me aborda no meio do corredor com um punhado de papéis. Odeio papéis e odeio quando as coisas não saem como acordadas. Nesta terça-feira em especial tenho uma porção de coisas que estou odiando.
- Onde estão Wallace e Alfred? - pergunto caminhando e ela tenta acompanhar meus passos, mas seus saltos são altos e ela não possui destreza absoluta com eles em alta velocidade. Ela tem mais habilidade quando está nua usando eles. Pamela foi aquilo que posso chamar de erro de percurso. Ela sabia que seria uma única noite e é certo que isso foi muito entediante. Noites com apenas uma única mulher são menos exaustivas e em algum momento parece que tudo vai acontecer de maneira mecânica.
Confesso que ela não se saiu tão mal e teve seu ápice quando me pediu para gozar em sua cara. Me surpreendeu, mas ela é do tipo que não me faz rir em uma comédia e não me faria chorar se fosse um drama, e se tem algo que determina a repetição de uma noite assim é quanto a mulher chega dos cem por cento Benjamin Brandy; é como se fosse um parâmetro de qualidade e vamos combinar, posições como de quatro, apoiada sobre algum móvel ou até mesmo um anal, se tornaram praticamente um maldito papai e mamãe para mim.
- Estão na sala de reunião - ela responde e sabe que não vai poder me processar por assédio, nunca. Quando eu a comi ela não era funcionária, eu não saio com ninguém aqui da Brandy, mesmo tendo muitos convites e muita vontade de pegar a Cheryl do Recursos Humanos e foder aquela boceta ali mesmo sobre as contratações. Mas eu prometi ao meu pai que nunca mais faria isso. Foram dois processos de valor exorbitante e eu quase fiz a merda de levar uma delas para Madri. Na época, eu até achei uma boa ideia. De vez em quando tenho ideias de bosta.
- Me diga uma coisa - paro repentinamente e ela quase tromba com meu braço - Eu só tenho este problema para resolver aqui hoje, certo? - pergunto e deixo muito claro a minha total falta de humor nessa manhã.
- De problema sim, mas vou precisar de algumas assinaturas em documentos que seu pai deixou - ela diz sorrindo e ela não deveria sorrir como está fazendo, ela está me irritando ainda mais.
- Deixe sobre a minha mesa, assim que eu falar com eles eu assino e depois lhe entrego - coloco toda a frieza que posso em cada uma das palavras porque a verdade é uma só, Pamela não será mais nenhuma refeição minha. A não ser que seja demitida e minha agenda possibilite isso. Continuo meus passos.
- Ben - ela fala e eu paro e me viro de frente para ela.
- Pamela, o ideal seria que me chamasse de Benjamin, mas pelo visto acho que não entendeu - sou direto e não grosso.
- Estou aqui há oito meses, nunca tomamos nenhum café juntos - céus, é tudo que eu preciso! Mais um item para minha lista de coisas imperfeitas para essa manhã de terça-feira.
- Vou tentar ser claro com as minhas palavras: não saio com funcionárias - falo baixo e tento manter um tom de voz menos ameaçador, mas não sei se estou tendo algum sucesso com isso.
- Então, eu posso me demitir - ela fala com charme e eu juro que se não fosse um problema muito grande, eu a colocaria de joelhos nesse corredor e daria meu pau para ela engolir.
- Então, você estaria com problemas mais sérios, estaria desempregada e sem a mínima chance de me encontrar - sorrio amistosamente para ela, não gosto quando mulheres sentem raiva de mim. Mas eu sou Benjamin Brandy e isso, se pudesse ser colocado no dicionário, significaria: um homem livre.
- Não abre nenhuma exceção? - ela pergunta ainda fazendo charme e eu tento pensar que posso ter problemas se for rude, e mais problemas ainda se eu cair em tentação.
- Estou com uma pessoa - sorrio explicando um possível namoro, e me mostro infeliz com isso. Aparento profundo pesar e foi fácil fingir isso, só de pensar que posso estar com uma única pessoa já me deixa profundamente triste.
- Eu não sabia - ela recua dois passos e isso me deixa pelo menos aliviado. Sigo meu caminho e vou para a sala de reuniões. Eu deveria ser recompensado pelo meu gesto nobre. Eu não a iludi.
Caminho em direção à sala onde Wallace e Alfred estão conversando e abro a porta.
- Bom dia - os cumprimento e ambos me olham como se eu fosse alguém que estivesse fora por duas décadas.
- Bom dia, Benjamin - Alfred me cumprimenta.
- Bom dia - Wallace em seu terno preto e gravata violeta mantém a postura de sempre, menos a postura de quando estamos na sala de leilões.
- Bom dia, qual o tamanho do problema? - pergunto e vou em direção a Alfred.
- Ainda estamos tentando resolver tudo. Danthe está cuidando para que uma embarcação retire sua carga; Derick, da equipe dele de sondagem, já localizou onde ela está e está enviando alguém para fazer a parte burocrática - Wallace fala mencionando seu primo, Danthe, que possui um estaleiro na Escócia e conhece pelo menos noventa por cento de todas as pessoas influentes nesse ramo de transporte marítimo.
- O cliente demorou a entender que houve um erro fora da alçada da Brandy e isso me deixou com argumentos para mantermos o contrato - Alfred explica e eu esfrego meu rosto com a palma de minha mão. Pelo menos meu pai não vai ter nenhum tipo de surto inconformista.
- Quanto ao desvio, Derick detectou o problema que gerou tudo isso, já está cuidando da papelada. Apenas assine aqui, esse serviço será somado aos demais prestados para a Brandy - Wallace coloca duas folhas sobre a mesa e mantém sua postura. Com certeza meu pai vai falar mais um sermão sobre essa quantia extra.
- E quanto às outras cargas que estavam sob os cuidados dessa prestadora? - pergunto enquanto assino e, olhando assim, ninguém imagina que eu e Wallace praticamente dividimos trepadas e mulheres em Madri.
- Sr Weiser já providenciou a retirada e vai cuidar disso - Alfred não parece feliz com esse tipo de situação, ele não imagina o quanto estar aqui a essa hora também me incomoda sendo essas as circunstâncias - Eu preciso ir, tenho uma reunião com o distribuidor de grãos em vinte minutos - Alfred me comunica e sai da sala.
Wallace caminha até a vidraça e olha em nenhuma direção.
- Ei, cara - eu falo - Valeu, meu pai estava me deixando maluco - confesso e me sento desabotoando meu paletó.
- Benjamin - ele fala sério - Não pode simplesmente tentar agradar seus clientes querendo cumprir prazos impossíveis. Uma carga americana entrando em território francês requer muita documentação e agora que estamos apenas nós dois eu posso falar, você simplesmente remeteu a carga para o primeiro que se diz capaz de fazer isso. Trabalho com isso há mais de quinze anos e posso garantir, não pode ocorrer qualquer sinal de amadorismo - Wallace é um pouco mais velho do que eu e começou sua trajetória profissional muito antes de mim e por algum motivo eu o deixo me advertir, eu fui imprudente. Olho para ele e ele está com seu olhar sério, mãos no bolso e não apresenta nenhum sinal de que um bom humor possa visitá-lo nessa manhã.
- Você tem razão - tento resumir a conversa toda com um apelo positivo para que todo o sermão que ele queira me dar seja finalizado antes mesmo de começar.
- Obviamente eu tenho razão - ele fecha ainda mais o rosto - Mas agora está resolvido. Mão me faça mais abandonar uma mulher voluptuosa, cheia de curvas generosas em plena manhã de terça-feira, para resolver alguma coisa - ele sorri sem dentes e eu nego com a cabeça sorrindo.
- Pelo menos deixou-a desamarrada? - faço uma breve menção sobre seu gosto peculiar em relação às fodas.
- Claro que não, essa é a graça de tudo - ele pisca um dos olhos e olha para porta que já está fechada, como se quisesse conferir antes de falar algo mais comprometedor - Viu a solicitação de Andrew? - ele pergunta.
- Com certeza, vai ser divertido, não sei se ele já havia feito isso antes - falo com propriedade.
- Esqueci que você é expert nesse assunto - ele fala em tom de deboche.
- Como se você nunca tivesse feito - ele se aproxima.
- Antes, tínhamos o hábito de mandar as fotos de nossas presas, e esse lance da surpresa ficou mais interessante - Wallace observa sobre o não envio antecipado das fotos de nossos alvos.
- Admito que isso é mais excitante - sorrio e me levanto.
- Não fui no último encontro em Madri - ele fala.
- Não perdeu muita coisa. Tivemos um problema com uma das meninas que resolveu chorar e se culpar e isso nos atrasou em alguns minutos - não gosto de mulheres com temas internos a serem resolvidos.
- Fiquei sabendo, Gio me contou - ele fala.
- Mudando de assunto - preciso ver qual é a reação dele ao falar dela, já que na festa que ele deu em sua empresa, ele se mostrou bem à vontade segurando no braço de Kim - Eu vi a Kim antes de chegar aqui - falo e espero que ele esboce alguma resposta.
- Benjamin, em algum momento você vai acabar arrumando confusão com Alexander - ele diz e pega o celular.
- Não tem motivo para isso acontecer - me defendo - Nunca me envolvi com ela - não por falta de vontade, penso comigo
- Sei - ele responde olhando para a tela do celular - Eu preciso ir, preciso terminar o que comecei - ele sorri, aperta a minha mão e vai embora.
Filho de uma puta, ele pega no braço dela e está tudo bem, agora, eu não posso nem falar que a vi na rua que já tenho uma sentença de morte decretada. Qual é o problema que o mundo tem comigo? Foda-se.
Vou para minha sala e assim que entro já vejo os papéis que preciso assinar sobre a mesa. Me sento e abro meus e-mails, pelo menos quinze merecem minha total atenção, o restante é apenas circulares internas que não vou nem me dar ao trabalho de olhar. Alfred executa com exatidão essa tarefa.
Respondo um a um e entro em minha rede social, mas na verdade estou curioso em saber quem é o cara que estava beijando Kim hoje mais cedo, será que é o mesmo da semana passada? Se for pode ser o mesmo que estava com ela em Paris há três meses. Provavelmente se for algo mais sério, ela terá colocado alguma foto dele mencionando o que ele é dela, ou o nome dele. Pode parecer que eu me importo com isso, mas não me importo, quero apenas saber se não é algum aproveitador barato de olho na fortuna dela, ou querendo enganá-la.
Abro o perfil dela e de cara a vejo de esquis em sua foto de capa. Na foto de perfil é ela sorrindo e por mais que qualquer um tente negar, ela tem um lindo sorriso, uma boca carnuda desenhada uniformemente e eu já imaginei situações com essa boca que não posso nem comentar.
Vejo sua última postagem, é de sábado à tarde, ela estava com Vivian e Sebastian em algum restaurante e com o merda que a beijava hoje em plena luz do dia. De onde Kim tirou esse cara? Abro suas fotos e vejo uma dúzia de fotos recém postadas com esse cara, o nome dele é Scott? Que nome de merda. Há muito tempo não vejo Kim com alguém por tanto tempo.
Na maioria das fotos ele está olhando para ela, e ela está olhando para o celular ou para a merda que for que estiver registrando isso.
Vou para o perfil dele. Ele não faz parte da minha lista de amigos e nunca vai fazer, a não ser que esteja morto. Isso não é ciúme, é uma profunda e natural preocupação com a irmã de um grande amigo.
Pego o telefone e ligo para Sebastian e eu sei que vou me arrepender muito de fazer isso.
Na segunda chamada ele atende.
- Fala, sua puta! - ele me atende carinhosamente,
- E aí, cara, tudo bem? - pergunto.
- Pode parar por aí. Até mesmo Carter que está na minha frente já profetizou o fim do mundo por você estar ligando a essa hora da manhã - ele diz e eu olho no relógio, passou um pouco das dez horas da manhã.
- Fala como se eu fosse um vagabundo - respondo.
- É exatamente isso, mas qual é o problema que o leva a ligar para mim nessa terça-feira a essa hora? - ele pergunta.
- Nenhum problema, apenas uma dúvida, mas me liga assim que puder - deixo claro que não quero que ele converse comigo na frente da Carter. Por falar em Carter, essa é outra que com certeza já passou e repassou lindamente em minhas fantasias e habitou meu território imaginário de maneira bem perversa.
- Tudo bem, entendi, quer conversar durante o almoço? - ele pergunta e sinto em suas palavras o quanto está feliz e ontem quando conversei com Ramon, eu senti a mesma coisa, é como se eles estivessem sob um feitiço irreversível.
- Às treze no The Eddy - falo e ele acata e logo desliga.
Percorro as fotos do álbum dela, já que o dele eu não consigo ver nada e percebo que eles viajaram juntos. Foram esquiar, beber vinho e eu não quero pensar muito sobre o que mais aconteceu.
Vejo em uma das fotos que ela está de frente para ele e meus olhos param sobre a aliança em seu dedo, uma aliança que ostenta um rubi. Espero que ela não faça como Sebastian, e pelo visto em breve Ramon também vai juntar as escovas e morrer.
Ela não pode estar há tanto tempo assim com ele, estivemos juntos na festa de Alec há seis meses, eu acho que foi há seis meses. Tento fazer as contas e percebo que essa festa foi ano passado, foi exatamente na entrada do outono, esse foi o tema da festa. Alec estava comemorando um contrato altíssimo fechado com um dos maiores vendedores on line dos Estados Unidos. Mas os convidados não sabiam disso, esse tipo de informação ficou entre nós, nos bastidores.
Tento me lembrar se esse merda estava lá e não consigo, mas eu me lembro dela. Kim estava usando um conjunto todo branco de terninho e calça justa em seu corpo, branco é sua cor favorita. Ela estava de branco em sua festa de aniversário, eu dei a ela um cordão de ouro branco com um pequeno diamante. Eu conheço a Kim desde sempre, a vi crescer e ela não deveria ser minha preocupação nessa manhã de terça-feira. De alguma forma ela sempre está em meus pensamentos, mesmo quando eu preciso evitar
Meu celular toca e é meu pai. Respiro fundo e pelo menos tenho uma boa notícia para o velho.
- Está tudo resolvido - atendo já repassando a notícia.
- Fala como se isso fosse bom. Nunca mais mude o transporte achando que vai operar um milagre. Prazos, clientes e contratos precisam ser respeitados - ele me metralha e ele tem razão, fui irresponsável com isso, mas agora está resolvido e ninguém saiu ferido.
- Está certo - concordo para evitar que essa conversa fique pior.
- Mas eu já estava sabendo que tudo havia dado certo. Conversei com Alfred, estou ligando para avisar que não vamos voltar na próxima segunda-feira. Encontrei alguns amigos da Itália e vamos estender nossa viagem por mais duas semanas ou talvez três.
- Mas eu tenho uma viagem marcada para sexta-feira e eu retornaria na terça-feira porque o senhor estaria aqui - minha viagem para Madri, que eu estenderia até Berlim, acaba de ser reduzida como a conversa anterior a essa.
- Mude seus planos, tem trabalhado pouco para quem mora na Quinta Avenida - ele gargalha e escuto minha mãe me defendendo e desistindo em seguida.
- Eu não acho que poderia haver algum problema se nós dois ficarmos fora no mesmo período - tento encontrar uma brecha.
- Realmente não teria, mas na segunda-feira Gil Brennan vai falar com você sobre a expansão da fábrica e Alfred já está com os documentos. Na terça-feira, Rita Freeman, do New York Post, vai fazer uma entrevista que seria comigo, mas já avisei que será com você, acabei de enviar uma mensagem para ela. O assunto é o crescimento de nosso mercado e o evento que realizamos - ele explica tudo e eu sinto que esse dia parece que não vai ter fim.
- Tudo bem - concordo com tudo que ele disse e tento apenas não piorar tudo dentro da minha cabeça.
- Você é meu filho preferido - ele diz.
- Talvez porque eu seja o único? - sou irônico.
- Mas acredite, Ben, você vale por cinco, e custa como tal também. Não vai morrer se trabalhar mais um pouco. Dê uma pouco de descanso para esse velho - ele agora está em seu ritmo de férias e eu não estou em ritmo nenhum.
- Aproveite as férias e me traga uma lembrança - peço.
- Vou levar a fatura e descontar dos seus rendimentos - ele ri novamente e sinto que ele está feliz debochando de mim. Tudo bem, respiro fundo e tento buscar alegria nos dias em que vou estar em Madri, lá sempre me deixa com humor incrivelmente melhor.
Despeço-me de meu pai e desligo em seguida. Escuto o barulho de uma mensagem chegando. É de Greta. Ela acaba de confirmar que vai estar no Palácio na sexta-feira e pelo visto meu dia não foi todo perdido.
Pamela liga para o meu ramal e avisa que Dyna Sanca confirmou a reunião para hoje à tarde, meu pai faria essa reunião, mas como ele não está, eu alegremente fui o nomeado. Confirmo e desligo em seguida.
Trabalho e não percebo o tempo engolir as horas, e quando me dou conta, faltam poucos minutos para as treze horas.
Saio da minha sala e aviso Pamela que volto para a reunião. Afrouxo minha gravata e vou em direção ao meu carro.
Viro a chave e aumento o volume do som. Está tocando Blast Off, David Guetta, e eu tenho que concordar com ele. Tudo isso é uma grande explosão.
Acelero e deixo a música ainda mais alta, como se ela fosse preencher a falta de paciência aqui dentro, como se o barulho dela impedisse meu cérebro de funcionar.
Desconfio que não esteja funcionando, alguns assuntos ainda estão martelando minha cabeça. Sigo em direção ao restaurante e eu sei que Sebastian não faz mais parte do Clube e tampouco se mostra interessado em qualquer assunto relacionado a ele. Mas ele é meu amigo, assim como Ramon e Evan, e eu sei que nessa nova vida, nesse tabuleiro que eles escolheram, eles estão muito mais felizes.
Quando Evan teve seu rosto estampado, anunciando o casamento, ele já não estava mais preocupado com assuntos que não fossem relacionados ao seu coração. O mesmo aconteceu com Sebastian, que passou por cima de tudo que sempre afirmou que não faria e acabou, por fim, se entregando. Ramon, mesmo ainda não estando casado no papel, tem passado mais dias dividindo sua nova casa com Christen do que sem ela.
Eu penso que em algum momento do passado de cada um deles, essa vida atual que eles vivem de maneira formidável era algo inconcebível e tudo isso porque sinto falta de nossas conversas, onde o mundo ainda seria palco de nossas maiores conquistas femininas.
Eles abandonaram a partida.
2
Kim
Meu celular toca e eu vejo a foto de Vivian mostrando a língua.
- Toda vez que você me liga, eu já dou risada! - falo e abro minha rede social, estou esperando Jess para irmos almoçar.
- Posso saber o porquê? - ela pergunta.
- Sua foto está muito engraçada - dou risada e vejo uma mensagem privada de Scott “Minha linda, estou com saudades” - em seguida alguns corações e Scott definitivamente faz o estilo romântico anos oitenta.
- Que bom que te faço rir, mesmo de maneira inconsciente - ela ri também - Mas eu te liguei por outro motivo. Era para eu ter ligado ontem, mas fiquei o dia todo enrolada com minhas reuniões e o dia chegou ao fim e Sebastian quis assistir um filme e desabafar sobre seu dia - ela fala e escuto-a digitar.
- Então, fale qual é o assunto que foi protelado até esse momento - falo e respondo a mensagem de Scott com um coração.
- Bom, me pareceu muito sério seu lance com Scott - ela fala.
- Mas é sério - reafirmo sua observação - Estou usando uma aliança de oitenta mil.
- Tão sério quanto? - ela questiona - Na quinta-feira passada não era tudo isso e de repente se transformou em tudo isso, estou confusa - não deveria ter bebido na quinta-feira, penso comigo.
- Vivian, ele é um fofo, romântico, me trata como uma rainha, tem uma família linda e eu vejo que ele tem as melhores intenções - respondo e olho o que está acontecendo no mundo através das mídias jornalísticas.
- Nossa, é um bom motivo, pelo menos seria se eu sentisse da sua parte o mínimo de paixão. Tenho medo que tome uma atitude em nome de outra - ela é direta.
- Vivian, escute, eu sei que na quinta-feira passada eu acabei remexendo em assuntos do passado, mas só porque não foram resolvidos. Estou bem segura do que eu quero - respondo e minto, porque não estou nem pouco segura do que eu quero realmente. Tudo isso me parece apenas uma boa ideia.
- Bebemos uma garrafa de vinho e o nome de Scott nem foi mencionado, e você sabe muito bem de quem você passou a noite falando - ela diz.
- Eu preciso definitivamente esquecê-lo porque nunca houve nada e parece que sempre houve tudo. Acredito que casar com Scott seja o melhor para mim, me parece uma ideia acertada - justifico e escuto-a puxar todo o ar dos pulmões antes de responder.
- Precisa reestabelecer a credibilidade de sua resposta. Eu te amo, Kim, e me preocupo com você - ela fala e Jess aparece na porta da minha sala e joga a cabeça indicando para irmos almoçar. Faço sinal para ela ir indo enquanto pego minhas coisas.
- Vivian, posso ser franca?
- Deve.
- Eu não sei o que fazer - respondo com toda a sinceridade que cabe nessa resposta.
- Ótimo, pelo menos sabe que está perdida, mas eu queria mesmo é que não pensasse que pode simplesmente se encontrar nos braços de alguém que pode até preencher algum espaço aí dentro, mas que nunca vai predominar nada em seu coração. Eu confesso que tinha até pensado que você tivesse esquecido Benjamin - tenho assuntos não resolvidos aqui dentro, vai ser difícil alguém entrar e ficar com boa parte do território e eu tenho me esforçado para esquecê-lo.
- Sua opinião sobre o que eu devo fazer é bem complicada para mim. Para começar, ele tem um estilo de vida que nunca seria o meu, sem contar que meu irmão teria uma crise e tudo ficaria ainda mais complicado - me escondo na covardia e no medo de me declarar para quem realmente eu sinto algo importante. A verdade é que não é realmente covardia, mas é que o tempo passou e não sei se seria prudente ter uma atitude adolescente.
- Que ótimo, vai enfiar a sua vida em algum lugar cômodo para todos menos para você? - ela ralha.
- Me falta coragem - assumo e espero sua metralhadora.
- E falta também uma boa sacudida. Vamos jantar essa noite? Eu e você, sem Sebastian ou Scott. Eles falaram tanto de carros no sábado que meu desejo era atropelar os dois - ela brinca.
- Combinado - sorrio aceitando o convite e talvez esses onze meses com Scott tenham sido o que posso chamar de fuga. Desligamos a ligação e eu fui em direção à Jess que me esperava na recepção.
Quando conheci Scott, ele trouxe para o meu mundo um tipo de romance que eu já conhecia, mas não o vivia há muito tempo e eu admito que tudo começou por carência. Não que eu não tenha alguns pretendentes, mas é que diante da minha posição fica difícil acreditar em qualquer um.
Scott é de família influente e rica e eu sabia que não seriam meus milhões que o levariam a manter uma relação comigo. Acredito que a zona de conforto me levou a ter esperanças que eu pudesse me apaixonar por ele. Mas eu não acho que uma pessoa possa se apaixonar por duas ao mesmo tempo.
Jess me olha e acena para irmos e eu vou ao seu encontro.
- Está tudo bem? - ela pergunta e eu levo meus olhos à aliança em sua mão. Ela se casou há quatro anos com Heiki, um engenheiro do ramo civil que mantém forte relacionamento profissional com a Charper&Lousan. Eles sempre estiveram juntos, sempre tiveram planos grandiosos para o casamento no qual me orgulho em ter sido madrinha. Mas eu vejo no olhar de Jess algo que não existe no meu. Ela ama Heiki de maneira pura e intensa e ele sente o mesmo por ela. É essa a sincronia que desejo, mas não desejo nas mãos de Scott, desejo através de alguém que mantém entre nós um abismo colossal de diferenças.
- Sim, está - respondo e caminhamos até o carro dela, vamos ao Cipriane Downtown. Entramos no carro e ela acelera para fora do estacionamento e vejo que ela me olha como me olhava quando estudávamos juntas no colégio.
- Kim, há quanto tempo nos conhecemos? - ela pergunta.
- Acho que desde o jardim de infância, isso dá mais de vinte anos - respondo e olho para a tela do meu celular que acabo de tirar da minha bolsa.
- E mesmo assim acha que pode mentir para mim? - ela pergunta.
- Por que você acha que estou mentindo?
- Porque te conheço há tempo suficiente para saber que alguma coisa está perturbando você - ela é direta.
- Sabe... eu deveria estar feliz - olho para a aliança em meu dedo - Mas me parece que essa não vai ser a decisão inteligente que tomarei em minha vida - confesso para minha amiga desde a época em que fazíamos bolo de lama e usávamos fraldas.
- Então, se sabe que não é inteligente, por que continua?
- Eu não sei...
- Você não esqueceu aquele cara - ela afirma com toda a convicção.
- Benjamin - falo - o nome dele é Benjamin - repito.
- Me recuso a falar o nome dele já que ele a faz sofrer - ela me defende de algo que ele mesmo não tem culpa.
- Ele não me faz sofrer, ele nem ao menos imagina há quantos anos penso nele. Acredito que agora seja a hora de esquecê-lo definitivamente - tento assumir um compromisso que eu possa não honrar.
- Como não? - ela questiona e segue o caminho e tudo agora parece muito pior, porque Scott quer que marquemos a data do casamento e eu não sei se é isso que eu quero. É como se algo me dissesse que essa é a chance que tenho de me enfiar em uma vida que todas sonham, ou... viver um grande amor.
- Ele não sabe do que sinto - sou discreta por que não posso falar sobre a preferência de Benjamin em trepar em grupo e isso eu não faria por homem nenhum.
- Então, fale a ele - ela diz.
- Não, não vou fazer isso por uma série de motivos e vou te dizer mais, vou mudar a minha vida - falo e ela me olha rapidamente e volta a prestar atenção no trânsito.
- Posso saber o que vai fazer com sua vida, Kim?
- Vou assumir a filial na Suécia, é isso que meu pai queria desde sempre e, então, eu vou sumir de Nova York e assumir a direção da minha vida - acredito que seja exatamente isso que deva fazer. Não posso me casar apenas porque acho que deva fazer isso. Eu preciso simplesmente entender que preciso mais do que ninguém sentir verdadeiramente a vida que estou vivendo.
Sinto-me aliviada em pensar nessa decisão, em ficar longe de tudo e ter a oportunidade de começar uma vida nova, ou pelo menos em um novo lugar.
- Está certa disso? - ela me pergunta.
- Sim, estou - pela primeira vez nesse dia estou convicta do que quero. De verdade é disso que preciso, preciso continuar como CEO da empresa de meu pai, mas eu também preciso ser CEO da minha própria vida.
- Ótimo, vou sentir sua falta, mas pelo menos sei que não vai estar aqui tomando decisões absurdas - ela para o carro e o manobrista vem em nossa direção.
- Posso saber o que tem de tão importante para me dizer que precisamos vir até aqui para almoçar? - pergunto e estou ligeiramente feliz, por algum motivo tudo fica bem nesse momento.
- Vamos entrar, pedir nossa comida e faço questão de pagar - ela diz e entramos no restaurante e nos sentamos próximas à janela.
Minutos depois um garçom tira nossos pedidos e nos deixa novamente. Jess está com um sorriso formidável e algo me diz que a novidade vem de sua vida pessoal, mas precisamente maternal.
- Kim, você pode ir até a lua se seu pai abrir uma franquia da Fred&Zulman por lá, mas ao menos me prometa que vai voltar para Nova York em alguns meses e batizar a sua afilhada, caso aceite ser madrinha do meu bebê - ela me diz sorrindo e meus olhos se enchem e eu me lembro quando éramos crianças e ela sempre falou que teria uma menina e se chamaria Brigite.
Levanto-me e a puxo, a abraço demoradamente e nem me importo com as pessoas assistindo nosso choro bobo e feliz.
- Ai, meu Deus! Vamos ter uma bonequinha! - falo e ela apenas acena que sim e tenta conter a emoção.
- Vamos ter a Brigite - assim que ela fala é como se um filme sobre a nossa infância tomasse força e passasse diante dos meus olhos. Nossas noites do pijama, nossas baladas na adolescência, nosso intercâmbio que deu errado no Brasil.
- Estou tão feliz! Faço questão de participar de tudo, mesmo de longe enquanto estiver grávida, porque depois que nascer vou estar aqui todo mês para acompanhar a bonequinha crescendo - falo e ela olha em meus olhos.
- Ela tem a melhor madrinha desse mundo - ela diz e nos sentamos - Lembra que eu falava que teria uma menina e se chamaria Brigite e você falava que teria um menininho e se chamaria Oliver? - ela pergunta e eu me lembro como eu amava esse nome e acho que ainda gosto, mas é que já não me ocorre mais como nome de um filho. Acho que estou ficando para titia, apesar que é mais fácil o Mar Morto ressuscitar do que Alexander se casar e ter filhos.
- Claro que me lembro, e eu dizia que se fossem gêmeos seria Bernardo e Oliver. Você não gostava de nenhum e me fazia dar nomes se fossem meninas - gargalhamos.
- Eu me lembro dos nomes... - ela diz e eu nego com a cabeça.
- Não se lembra, não é possível - falo e o garçom chega com nossas bebidas. Ela torce o nariz para o meu chá gelado.
- Sim, me lembro e também me lembro que sempre questionei esse seu hábito de chá gelado durante o almoço e um machiatto com caramelo no café da manhã - ela nega sorrindo - Cadence e Jasmine - ela conclui se lembrando dos nomes e eu alcanço sua mão.
- Se lembra mesmo - digo.
- Senti sua falta quando foi fazer faculdade em Londres, mas eu sempre soube que seríamos amigas para sempre - ela diz e o garçom nos entrega nossos pratos.
- Você é importante para mim, Jess, e agora teremos um motivo a mais para nos encontrarmos - ficamos em silêncio durante boa parte da refeição e voltamos a falar mais ainda depois que terminamos.
Estou feliz por Jess, mas admito que estou feliz por mim também. Agora só falta explicar para Scott que tudo foi perfeito, mas não é bem isso que quero para mim.
3
Benjamin
Entro no The Eddy e vejo que Sebastian ainda não chegou, como sempre está atrasado. Um garçom me indica um lugar assim que aviso que serão duas pessoas para o almoço e antes de eu chegar à mesa, escuto a voz do puto.
- E aí, putinha? - Sebastian fala e eu me viro o cumprimentando com um aperto de mão e um abraço. Faz tempo que não nos vemos sem mulheres por perto, e as mulheres são Vivian e Carter, que vez ou outra fode com nosso almoço.
- Cara, você engordou - sacaneio Sebastian.
- Vai se foder - ele responde e nos sentamos ao fundo do restaurante. O garçom prontamente nos atende pegando nossos pedidos e nos deixa no instante seguinte - Agora me diga o motivo de você ter me ligado tão cedo - ele tira onda e eu nego com a cabeça.
- Odeio rodeios - falo e passo a minha mão pelos meus cabelos - Quem é esse cara que está com a Kim? - pergunto e Sebastian me olha por incríveis dois segundos antes de jogar a cabeça para trás e cair na gargalhada. Todos do restaurante olham.
- Não acredito - ele diz.
- Para com isso, seja discreto, seu filho da puta - falo e o garçom chega com nossos copos e nossas cervejas.
- Eu sabia que era isso. Você fez a mesma coisa quando ela estava namorando com o cara dos caminhões, nem lembro o nome daquele cara - Sebastian fala animadamente como se estivesse retratando da maneira mais debochada possível a vida de algum comediante em decadência. O comediante em questão sou eu pelo visto.
- Não fiz porra nenhuma - me defendo.
- Fez sim, foi antes de eu conhecer a Vivian e você viu as fotos do churrasco na casa dela, mas você não foi ao churrasco porque estava com Greta em Berlim, mas assim que pôde, me ligou e foi até a minha casa e me encheu de perguntas - que memória do capeta que esse filho de uma puta tem.
- Você está exagerando - bebo uma boa quantidade da cerveja.
- Anda, Ben, me fale, estamos só nós dois aqui, o que está acontecendo? - ele pergunta apoiando na mesa assim que bebe um pouco da cerveja.
- Não está acontecendo nada, só achei estrando Alexander ter tanto ciúmes da irmã e, de repente, chega um cara do nada e coloca uma aliança no dedo dela e tudo parece mais normal do que deveria - coloco meu ponto de vista e bebo mais um pouco da cerveja.
- Primeiro lugar, o cara não chegou do nada. Ao que tudo indica, Scott Trebushi já era amigo de Alexander - Sebastian fala e sinto que sou amigo nada bem-vindo de Alexander - Segundo lugar, Alexander também não aprovou no começo, mas o cara conquistou todo mundo da família deles - mas que cretino! O que esse cara fez para cair na graça de todos assim? Ninguém é bom cem por cento.
- Deixa pra lá, não é tão importante - eu sempre repito isso para mim. Kim não significa nada para mim, nada disso tem tanta importância.
- Não é importante? - Sebastian pergunta - Cara, são tantos anos nesse impasse de vocês que eu não posso deixar de perguntar, nunca houve nada? - ele pergunta.
- Nunca, nada, e também não há razões para ter - respondo secamente.
- Como não? Todo mundo sabe que ela sempre foi afim de você - eu sei disso, seu puto, mas fugi porque sempre a respeitei como a irmã de um amigo.
- Sempre respeitei a minha amizade com Alexander e eu a vi crescendo e se transformando na mulher que é hoje. Mas não existe sentimento, foi apenas um impulso idiota e espero que ela seja muito feliz - falo e peço através de um gesto facilmente reconhecido pelo garçom, outra cerveja.
- Não sente nada por ela? - ele cerra os olhos em minha direção.
- Não há o que sentir.
- Não? Bom, imaginei que pelo menos fosse tesão ou algo assim. Vai dizer que nunca pensou em foder gostoso com a Kim? - Sebastian vulgariza e eu não sei se gosto disso.
- Fala como se ela fosse mais uma boceta - falo mais baixo possível e mostro meu total desgosto com a forma que ele a coloca em uma situação de baixo nível.
- Mas, Benjamin, não é assim que você enxerga as mulheres? - ele pergunta e me coloca em uma situação delicada.
- Obviamente que não - obviamente que sim, mas ela não. É como se me sentisse culpado cada vez que penso nela desta forma como ele menciona. Já a imaginei nua, isso foi mais fácil quando fomos à casa de Ramon, em Malibu. Ela estava usando um biquíni branco, pequeno o suficiente para mostrar o quanto seu corpo tem curvas suculentas e grande o bastante para me deixar curioso.
Lembro-me com perfeição do fim de tarde, quando o sol estava lá, querendo se esconder e ela estava ali, caminhando como se não mexesse com meu imaginário e, de repente, a voz de Alexander chega em minha orelha: Eu te mato cara, não se atreva a chegar perto dela. Eu estava observando o caminhar perfeito da garota que cresceu e já chegou a ganhar algumas homénagens minhas. Sem contar que eu já imaginei seu rosto enquanto trepava com outras mulheres.
Kim é meu gol não marcado, ela é a responsável pela minha dignidade não ser totalmente intacta.
- Não me leve a mal, mas você é o cara que vive tirando onda sobre Evan, Ramon e eu sermos peças de dominó, caindo uma a uma, mas posso ser bem franco com você? - ele pergunta e nosso pedido chega. Antes de dizer que sim, eu viro mais um bom gole de cerveja e aceno positivamente com a cabeça.
- Fale sua franqueza tão cheia de certeza - peço e corto um pedaço de carne mal passada, quase sangrando.
- Você foi o primeiro a cair, você foi a primeira peça que caiu, foi o primeiro a se apaixonar, mas não vai dar o braço a torcer, não vai se render, sempre vai se considerar invencível por isso - ele fala sério. E internamente começo uma luta rejeitando tudo que ele acabou de dizer.
- Sebastian, o matrimônio não está fazendo bem a você. Cara, está vendo paixão e coisa fofa em tudo, até mesmo em mim - gargalho e algo aqui dentro me alerta sobre tudo que ele falou. O fato é que não posso deixar que nada aqui dentro indique que ele tenha razão.
- Ben, são mais de dez anos de clube, sem contar nossa amizade que começou muito antes disso, e eu tenho certeza que o problema todo nunca foi Alexander, o problema sempre foi você perder o que tem - ele leva o garfo com um pedaço de batata até a boca e mastiga.
- Perder o quê? - pergunto e bebo mais um pouco da cerveja e peço mais uma para o garçom.
- Isso que você tem com a Greta e com as outras. Admito, é muito bom esgotar dois corpos femininos e depois ser deixado ali, na exaustão e com um sono profundo. Mas, eu também confesso que existem outras formas dessa exaustão ser tão boa quanto ou até melhor. Um dia você vai perceber que tudo isso que você vive foi apenas um detalhe - ele fala como se uma entidade de alguém altamente responsável tivesse invadido seu corpo.
- Gosto da minha liberdade, Sebastian - falo e o garçom traz outra cerveja.
- Eu sei, mas um dia você vai perceber que gosta mais de Kim do que de sua vida sem rédeas e regada à muita bebida - sempre quis dar um soco na cara de Sebastian e essa vontade está aumentando exponencialmente depois que ele começou a falar muito de mim e nada do merda do cara que pediu Kim em casamento.
- Eu não gosto dela, não existe sentimento - exclamo colocando rigidez nas palavras.
- Esse é o primeiro sintoma - ele diz.
- Que sintoma? - coloco mais cerveja em meu copo e bebo.
- A negação - ele sorri e suspende as sobrancelhas - Qual é, Benjamin? Por que é tão difícil para você admitir que está apaixonado ou que sempre teve uma queda pela Kim? Isso não afeta seu orgulho - Sebastian era mais legal quando frequentava o Palácio Hanzel.
- Você que me convencer de algo que não existe - falo mais firme.
- Não, Benjamin, é você que está tentando se enganar há muitos anos. Não se esqueça, um dia isso vai se tornar tão maior do que é hoje e tão insuportável de se guardar, que beijá-la vai ser mais importante e mais especial do que trepar com qualquer mulher desse mundo - será que ele está profetizando?
- Se isso for uma espécie de praga, retire enquanto há tempo - zombo.
- Não é praga, é dedução lógica diante dos fatos - ele rebate e fico sem resposta. Mas eu sei que nada disso me atinge e que em dois, três dias, vou estar em Madri fazendo o que faço de melhor.
- E os negócios? - mudo de assunto tão drasticamente que Sebastian suspende seus olhos em minha direção e me encara.
- Melhor do que nunca. E a Brandy? - sinto sarcasmo, ironia e descontentamento em sua pergunta.
- Não posso reclamar - demoro consideravelmente para cortar mais um pedaço de carne. Penso que ele possa estar falando uma porção de coisas que não quero ouvir, mas isso não quer dizer que não esteja acontecendo - Eu sei que você não faz mais parte deste mundo, mas na sexta-feira vou estar em Madri.
- Eu sei, e eu nunca pensei que um dia eu pudesse dizer isso - ele fala e para por um instante, bebe um pouco de cerveja e me encara - A época do Clube foi excelente, fizemos coisas que possivelmente vão nos impedir de entrar no céu; me diverti e, com certeza, algumas coisas vou levar para sempre, mas a verdade é que mesmo sendo maravilhoso, o Clube se tornou insignificante perto de tudo que tenho hoje - esse cara mudou mesmo.
- Você está muito diferente - observo e ele sorri.
- Melhor eu diria - ele sorri.
- Esse lance todo, de paixão, amor, saber que todas as trepadas serão com apenas uma mulher e para sempre, isso é praticamente assustador - falo e bebo um pouco de cerveja e coloco um pouco de arroz sobre o garfo.
- Benjamin, por que precisaria de mais? Já parou pra pensar que apenas uma seria o suficiente? - ele pergunta.
- Vai dizer que uma mulher que me completasse me faria mudar de ideia? - rebato e espero.
- Não acredito que uma mulher deva lhe completar, acredito que você já seja completo. O que lhe falta é alguém que faça isso valer a pena - não consigo responder nada nesse sentido. Se fosse há alguns anos, eu teria uma resposta malcriada, mas hoje eu não tenho.
- Sebastian, para eu passar a noite toda, ver o dia amanhecer, com apenas uma mulher ao meu lado, minha vida precisaria estar em risco - repito o discurso já dito a Ramon em uma conversa.
- Cuidado, talvez seja isso que falte para sua vida acontecer de verdade - ele diz tranquilamente e sinto que eu possa estar falando com uma pessoa que já não é mais indicada para oferecer conselhos de qualidade.
O grande problema é que Sebastian me conhece melhor do que algumas pessoas mais próximas e tenho certeza que outra pessoa com quem eu deveria evitar ter essa conversa é com Giovani.
Preciso ir para Madri e trepar o suficiente para dar valor à minha vida atual e não essa loucura toda que Sebastian faz propaganda como se estivesse falando de uma marca específica de amaciante de roupas.
4
Benjamin
A primeira vez em que estive aqui, em Madri, mais precisamente nesse quarto que seria meu de forma definitiva aqui no Palácio Hanzel, eu sabia que nada disso teria um controle absoluto; que faríamos coisas que nos arrependeríamos e depois as repetiríamos como um bando de bastardos sem nenhum tipo de vergonha.
Da segunda vez era como se eu tivesse feito isso sempre, como se tudo fosse absolutamente normal e por mais que eu ame a vida que levo dentro dos limites do Palácio, eu tenho profunda consciência de que praticamos algo insano e totalmente desenfreado.
Coloco algumas coisas no guarda-roupa ao lado da janela que me mostra os fundos do Palácio onde um jardim muito bem cuidado circunda a fonte recém colocada. O novo proprietário do Clube andou fazendo mudanças essenciais tanto física quanto contratual e acredito que hoje, os quartos que antes eram vagos, hospedam moças para suas festas particulares com políticos, estrelas de cinema e jogadores de futebol.
É como se o que já foi nosso templo tivesse se tornado um clube de férias. Algo ficou impessoal, mas isso não muda o que pratico aqui dentro dos meus aposentos. Aqui é um lugar intacto e, para mim, um lugar sagrado.
Escuto alguém bater à porta e caminho desabotoando minha camisa.
- Boa noite, Benjamin, teremos algo especial esta noite? - Simon pergunta com um sorriso que não vale absolutamente nada.
- E aí, Simon? Sempre é especial, mas pelo visto um de nossos amiguinhos resolveu arriscar na minha área de atuação - sorrio e indico com a mão para que ele entre e feche a porta.
- Carl pediu para reservar o Pole Dance, pediu o isolamento - assim que Simon me diz que a porta da sala violeta vai estar trancada, sinto uma excitação ao imaginar o que as meninas vão fazer em torno da barra de alumínio.
- Ótimo, é bom saber que o Clube 13 mantém suas atividades - sorrio e tiro a minha camisa - Simon, Greta vai estar presente esta noite e ela não quer palpitar no leilão e pediu para subir para o quarto antes, pode providenciar o de sempre quando ela chegar? - solicito as pedras de gelo, a batida com base ao rum que é segredo de Simon e eu tenho certeza que possui alucinógenos. Greta gosta dessa bebida, eu não gosto porque me lembra chocolate e eu não sou muito fã dessa iguaria.
- Vai precisar de mais alguma coisa na ducha? - ele pergunta.
- Coloque mais dois roupões e amanhã pela manhã, peça para que o café seja servido aqui na suíte, na sala anexa - peço e ele sorri deixando claro que já sabe o que vai acontecer.
Simon é o cara que se mudou para o Palácio depois que sua mulher o deixou, isso aconteceu há quatro anos. Ele é o cara que sabe o que acontece nos quartos, não os detalhes, mas ele sabe a preferência de cada um e não é do tipo que comenta. Ele é discreto e apenas avisa geral quando algum cômodo do Palácio é reservado por um dos membros.
- Mais alguém, além de Carl, já chegou? - eu sei que fui o primeiro a chegar porque precisava de alguma maneira me livrar da semana de merda que tive.
- Sim, Wallace acabou de chegar e Andrew, Cesar, Bryan, Philip, estavam conversando com Marco na área da piscina. Pelo visto todos que fundaram, com exceção dos que cordialmente abandonaram esse paraíso, estarão presentes essa noite - Simon fala e isso me anima. É uma pena que Evan, Sebastian e Ramon não estejam aqui para presenciar a evolução que estamos tendo.
- Nunca mais vai ser como antes, mas estamos aqui, mantendo as atividades - pisco um dos olhos.
- Você sabe que esse lugar está sendo usado em outras festas, mas nenhuma se compara com a ousadia que vocês têm em leiloar mulheres - ele diz.
- Isso já foi ousado. Acredito que hoje em dia isso seja mais banal do que se imagina - falo e ele sorri negando com a cabeça - Agora diz aí, aquele jogador tem frequentado o Palácio? - tento descobrir sobre um jogador de certa fama que andou falando demais.
- Você sabe que não posso confirmar isso - ele diz e sai em direção à porta - Mas isso não quer dizer que eu esteja negando - ele sorri e deixa a resposta que preciso.
Vou em direção ao chuveiro e me livro do cansaço e me preparo para a noite que ainda vai começar; eu sei exatamente os limites que vou ultrapassar essa noite. São limites conhecidos e praticamente fáceis de serem superados.
***
Desço a escada em arco e a primeira pessoa que vejo chegando é Gio, ele geralmente chega mais cedo.
- E aí, cara? - o cumprimento e vejo Alexander vir em nossa direção. Ele também acabou de chegar, ambos estão com suas malas nas mãos.
- Um problema na Oracle nos atrasou - Gio fala e Alexander vem em minha direção e aperta a minha mão.
- Mas foi resolvido? - pergunto e Gio pega o celular do bolso assim que toca.
- Não, mas agora está sendo monitorado. Temos um rato entrando e deixando algumas portas abertas e uma assinatura nos sistemas que protegemos - Alexander explica e agora o seu celular toca.
- Thales confirmou - Gio fala para Alexander que parece aliviado.
- Então, agora eu vou poder foder algumas bocetas em paz - ele diz e coloca o celular no bolso.
- Vou para o meu quarto deixar minhas coisas e já desço - Gio fala e sobe.
- Um filho da puta invadiu o sistema de uma das empresas que cuidamos e deixou um recadinho que só pode ser entendido por quem realmente conhece os sinais de um hacker - ele pega o celular e me mostra um símbolo - Vou achar esse filho da puta, ele fez todo o sistema parar - Alexander estava exaltado e esse tipo de problema para ele é até comum, mas acredito que tenha alguma coisa a mais.
- Você resolve, você e Gio dominam isso, mas é só isso? - pergunto e eu sei que Alexander e eu somos amigos com apenas um ponto divergente.
- Não, mas é melhor deixar quieto, não quero falar nisso - ele diz - Vou para o meu quarto e desço daqui a pouco - ele diz e sobe a escada e eu vou em direção ao bar, onde Simon está contando alguma coisa para Bryan, Carl, Cesar e Wallace.
- Benjamin, você concorda comigo? - Simon pergunta gargalhando.
- Provavelmente eu vou concordar com você, alguns segredos dependem muito da forma como confio no que você diz - brinco e me aproximo.
- E aí, Ben? - Wallace me cumprimenta seguido de Carl, Cesar e Bryan - Roupinha roubada de que praia? - Wallace me sacaneia por conta da calça de linho branca solta e a camisa azul clara, ele não reparou que estou de chinelo.
- Usei terno a semana toda, descobri que tenho mais gravatas do que o necessário, eu preciso me sentir livre - falo e mexo na parte mais preciosa do meu corpo.
- Já está sem cueca? - Carl diz e sorri.
- Assim eu otimizo meu tempo - bato a mão no ombro dele - Então, Simon, o que eu concordei com você? - pergunto.
- Eu estava explicando que o único ponto positivo de um casamento é que existe a chance, mesmo que remota, dele acabar - ele diz e me entrega um copo com vodca e suco de laranja, o meu pedido de sempre para começar a noite.
- Isso eu posso concordar com você sempre - levanto meu copo e faço uma menção de um brinde onde todos entendem.
- Querem um conselho sobre casamento? - Simon pergunta de maneira tão debochada e eu assumo que algumas noites aqui em Madri são salvas por suas piadas. Admito que em alguns momentos eu cheguei a enjoar disso tudo, mas graças a Deus passou e agora estou bem feliz em saber que logo mais vou apreciar orgasmos femininos e um sexo que seguramente vai esgotar o meu corpo.
- Qual seria o conselho, já que você se casou quatro vezes? - Bryan diz e se senta em um dos bancos.
- Na realidade me casei seis vezes, mas isso não vem ao caso - todos riem, porque uma pessoa que se casa tanto não pode ter nenhum tipo de conselho útil - Meu conselho sobre o casamento é: NÃO SE CASEM! - ele faz todos rirem e eu vejo Philip, Alexander, Giovani e Andrew se aproximarem.
- Andrew, tem certeza que vai saber o que fazer? - dou uma sacaneada nele em relação ao seu primeiro pedido de mulheres para ménage.
- Está com medo de eu me sair melhor? - ele tenta me cutucar, mas não vai conseguir.
- Não, estou com medo de você bater na porta do meu quarto pedindo ajuda - vejo Giovani rir discretamente enquanto os outros estão gargalhando.
- Não vou precisar, vou deixar você com suas duas presas - ele diz.
- Três na realidade - falo e Alexander coloca a mão em meu ombro.
- Greta está aqui? - ele pergunta.
- Sim, no meu quarto - respondo.
- Achei que ela não fosse vir mais, as últimas vezes ela não estava presente - Alexander fala empolgado e eu sei que ele sempre teve vontade de foder a Greta, mas não fez porque não quis, para mim realmente é irrelevante.
- Eu também estranhei, mas acho que ela sentiu saudade, mas vocês não vão vê-la na sala de leilões. Ela preferiu não ajudar na escolha desta vez e me parece que não quer mais usar a coleira, perdeu o tesão nesse fetiche. Particularmente eu só o fazia a pedido dela, não gosto da sensação de estar preso - explico e bebo tudo que está em meu copo - Simon, faz mais um para mim, por favor - peço.
- Greta é muito gostosa e eu devo admitir que há alguns anos apostamos que ela seria a mulher que você se casaria - Cesar fala.
- Dois erros aí, meu amigo. Não me caso e também não seria com ela, disso eu tenho certeza - falo e Simon me entrega o segundo copo de suco de laranja com vodca.
- Evan, Sebastian e Ramon falavam com o mesmo entusiasmo sobre jamais casarem e pelo visto algo aconteceu - Simon diz e beberica alguma coisa sem álcool, já que parou de beber, segundo ele, pela terceira vez nos dois últimos anos.
- Ramon não se casou - falo com um tom de defesa que não deveria ser entendido como foi. Todos me olham e eu bebo uma generosa dose do que está em meu copo.
- Sei ... - Alexander diz - Mas também casar agora para Ramon seria apenas um detalhe - ele saca o celular e me mostra um foto do perfil de Ramon de um rede social onde Christen e Ramon estão com seus sobrinhos na Disney.
- Em que momento minha vida se tornou pauta desse encontro aqui em Madri? Não fui feito para casar - bebo o que sobrou em meu copo e peço mais uma dose para Simon.
- Nenhum homem foi feito para casar, o problema é que sempre encontramos uma mulher que foi - Giovani sempre vai ter uma frase feita para acabar com a minha moral.
- Acho que a probabilidade de eu conhecer uma mulher assim é praticamente nula devido ao meu estilo livre de ser - me sento em um banco alto e espero pelo meu copo.
- Claro, mas gostaria de lembrar que Evan se casou com uma mulher que seria uma encomenda - qual é a do Giovani?
- Gio, isso não está sendo animador - Wallace zomba da minha cara ao falar isso.
- Vamos analisar o seguinte, é mais fácil qualquer um aqui se casar antes de mim - me defendo diante de todos os fatos.
- Ninguém aqui está dizendo o contrário, mas é que ver seu casamento seria, como eu poderia dizer... - Giovani diz procurando a palavra certa nessa frase de merda - Um evento secular, histórico, e eu não perderia isso por nada.
- Qual é a de vocês? - pergunto.
- É isso mesmo, quem nesse mundo seria tão idiota de se casar com Benjamin? - Philip, a razão do meu punho fechar toda vez que vejo essa cara de merda dele, fala e isso pode não ser bom.
Sinto a mão de Wallace em meu ombro, e percebo que seus olhos estão pedindo para eu ignorar. Wallace também enfrentou problemas recentes com Philip.
- Crianças, se quiserem ir para a sala de leilões, eu já levo todas as bebidas - Simon diz e eu sei que ele apenas está tentando evitar um problema maior.
Como Philip ainda consegue se manter aqui no clube?, me pergunto internamente.
Caminhamos em direção à sala de leilões e Wallace se senta do meu lado e Gio do outro. Bryan e Cesar conversam animadamente e com certeza estão planejando alguma coisa com as meninas. Philip se isola no canto da sala e a cortina que nos impede de ver as meninas se abre. Eu sei que trouxe dois exemplares belíssimos e espero que ninguém desconfie que trepei com as duas há duas noites.
Andrew e Carl apontam para uma delas e entre eles fazem algum acordo.
- A melhor parte de tudo isso é que temos um gosto diferente e os valores dos leilões não têm me gerado nenhum grande prejuízo - Cesar comenta e todos riem.
- Mão de vaca - Andrew fala - Quero a de vestido vermelho até o joelho e a de longo branco - Andrew fala e nenhuma delas causa interesse em mais alguém para que o leilão possa ser iniciado.
- Sortudo filho da puta, vai trepar sem gastar - Carl brinca.
- Claro que vou gastar, não se esqueça que pelo menos mil pratas irão para o bolso delas. Se elas forem boas de serviço, talvez eu deixe alguma gorjeta no café da manhã - Andrew fala como um cretino bastardo, como se elas fossem objetos. Mas admito que algumas se colocam assim. É tentador receber uma proposta de viajar com tudo pago e ainda ganhar uma grana para dar uma boa trepada.
- A de saia rosa e a de vestido verde mais claro - Carl diz.
- A de verde eu quero, coloco mais cem - Philip cretino empata a foda de Carl.
- Fique - Carl fez a melhor de todas as jogadas, empurrou a pior para o pior, agora Philip vai ter que escolher apenas uma.
- Pode ser a de azul - maldito seja, eu queria a de azul, mas não vou disputar com ele. Peço que Deus ajude essas duas meninas - Vejo Simon entrando com o carrinho de bebidas e colocando bem ao centro onde todos possam pegar seus copos.
- Vocês estão rápidos, me deem um minuto para tirar da vitrine quem já foi escolhida - Simon rodeia a sala e abre uma porta que é exatamente a porta por onde elas entraram. As encomendas não têm acesso visual a nada além da vitrine, quarto e cozinha, lembrando que à cozinha precisa ser autorizado, porque pode ser que encontre alguém trepando sobre a mesa de jantar.
- A de preto e a com a blusa de uma única manga - Bryan faz uma escolha interessante, mas não seria quem eu escolheria. Ninguém disputa, deixamos essa disputa há alguns anos e tudo isso agora serve como apenas fuga, a competição ficou em algum lugar no tempo. Aqui não existem vencedores ou perdedores. Isso aqui é a nossa casa na árvore.
- Esse lugar é um paraíso - falo e Wallace me encara.
- Acha mesmo? - ele me pergunta.
- Claro, Wallace - respondo com convicção.
- Isso tudo já foi melhor - ele diz em um tom mais baixo - O tempo tem mostrado outras coisas com benefícios melhores do que esse - não estou reconhecendo Wallace.
- Está se despedindo? - pergunto.
- Não, mas discordo em pensar que esse lugar, onde comercializamos carne humana, possa ser comparado ao paraíso - Deus me livre desse Wallace.
- Cara, aqui entre nós, você só pode estar brincando. Você é o cara que esgota as mulheres e eu sei bem o que estou falando, em nossa última reunião, sua presa não teve condições de ir embora junto com as outras e você pagou pelo jatinho dela - observo algo que fez parte de nosso último encontro aqui. Não foi uma das melhores estadas no Palácio.
- Benjamin, o fato de eu saber exatamente como foder uma mulher ao ponto dela precisar dormir por horas não faz desse lugar um paraíso. Eu sei separar as coisas. Meu pau funciona aqui, assim como funciona no meu quarto ou em qualquer outro lugar - ele diz sorrindo e eu nego com a cabeça. Qual será o segredo dele além da precisão dos nós nos pulsos de suas mulheres?
- Tenho que concordar com você, mas ainda deixo o Palácio em uma posição de respeito em minha vida - falo.
- Isso é fuga, meu amigo - Wallace fala.
- Não tenho do que fugir - me defendo.
- Não é do “que” - ele rebate.
- Não? Seria o quê? - pergunto.
- De “quem” - ele responde e me olha - Acho que sou o membro que mais faltou às reuniões aqui em Madri, eu posso dizer isso com propriedade, você foge para Madri como se assim fosse possível fugir de você mesmo - ele conclui.
- Você está apaixonado? - falo com cara de nojo.
- Eu sempre estou apaixonado, por isso esse lugar não interfere na minha vida - ele alcança dois copos no carrinho e me entrega um - Calma, não é isso que você está pensando - ele ri.
-Não estou pensando em nada, estou apenas com medo de toda essa conversa - falo e Gio está gargalhando do meu lado.
- Cara, você tem tanto medo de ser atingido pela maldição Evan que atingiu Sebastian e Ramon, que se você pudesse, mudaria de seu apartamento luxuoso na Quinta Avenida para o Palácio Hanzel - Giovani faz piada e agora eu tenho ele e Wallace rindo de mim.
- Vão se foder - falo e me levanto. Vejo Alexander escolher duas rapidamente e ele olha para os membros que ainda estão ali.
- Que bom que não vão me dar trabalho - ele brinca e eu vou para perto da vitrine. Elas olham em minha direção, mas eu sei que o que elas veem é um espelho. Bryan e Alexander escolheram as encomendas que eu trouxe.
Olho para uma morena, pele dourada, e tento imaginar as suas curvas, não consigo. Ela escolheu a roupa errada e infelizmente não vai poder conhecer Benjamin esta noite.
Percebo uma loura, encostada perto da porta e ela parece tímida. Talvez não tenha tanta experiência e isso vai ser um bom entretenimento para Greta, que gosta de ensinar.
Levo meus olhos até uma outra loura, mas essa tem cabelos maiores, seu batom é vermelho e me parece alguém que eu vou gostar de foder enquanto beijo Greta.
- As duas louras - aponto com os dedos e ninguém se manifesta - Vocês estão ficando muito molengas - zombo e Simon entra na sala e as tira, levando-as para o meu quarto.
- Benjamin - Gio me chama.
- Fala - respondo rindo porque ele está rindo.
- Se precisar de ajuda é só me chamar que dou um trato nas lourinhas por você - ele zomba e ri junto com Wallace.
- Escolhe logo duas ali e vai para o seu quarto fazer graça apenas com elas, seu puto - dou risada e subo para o meu quarto. Mas não tenho pressa em chegar, eu sei que Greta precisa do tempo dela. Ela gosta de fazer algumas coisas antes de começarmos nossas sessões de trabalho em grupo.
Ando lentamente pelo corredor e escuto ao passar na frente do quarto de Andrew, um pequeno grito de dor. Isso é motivador para alguns e desesperador para outros.
Esta noite teremos alguns gritos, não do meu quarto porque eu não prezo a dor como meio de prazer. Mas eu sei superficialmente como alguns cavalheiros gostam de se divertir.
5
Benjamin
Abro a porta do meu quarto e vejo Greta de costas. Ela observa as meninas tomando banho e nada é dito. Nenhuma conversa é colocada. Pego meu celular no bolso de minha camisa e coloco a minha playlist para tocar.
A primeira é Animals, Marron 5. Vejo Greta, nua, olhando sobre seu ombro esquerdo e vejo que ela está sorrindo. Fico descalço e começo a sentir a liberdade que em alguns minutos será completa.
Sento-me na poltrona de frente para a cama e sei o que vai acontecer. Greta vai satisfazer meu voyeurismo, ela vai fazer meu pau pulsar, latejar, e quando eu estiver à beira de explodir, ela vai me olhar no tempo certo e me convidar para participar dessa pequena reunião.
Escuto a ducha sendo desligada e vejo que Greta vem em minha direção.
- Sentiu a minha falta? - ela pergunta em meu ouvido assim que se inclina dispondo de seios fartos, dourados, e o perfume adocicado de Greta é o único ponto negativo desse momento.
Vejo o desenho perfeito de seus seios, tombados de maneira tão sexy em minha direção, instintivamente deslizo as costas de meus dedos sobre seus bicos enrijecidos e ela coloca em meus lábios um beijo pequeno e eu sei que ela está excitada.
Não respondo a sua pergunta e escuto as meninas saindo do banheiro enroladas em toalhas gigantes e brancas. Greta se levanta e me encara, como se ainda esperasse algum tipo de resposta, mas eu não acho que agora seja o momento para ter qualquer tipo de conversa.
Ela fica de costas para mim, exibindo seu traseiro que já enrabei tantas vezes que sou incapaz de saber o número exato. Ela tem curvas generosas, do tipo com coxas grossas, cintura mantida à base de exercícios e seios cirurgicamente alterados para um tamanho maior.
Algumas vezes senti falta de ter em minhas mãos uma mulher original de fábrica, sem silicone ou transformada por excesso de exercícios.
- Não vamos precisar disso - ela caminha em direção às duas louras que parecem tímidas e Greta sabe o que fazer para acabar com isso - Para isso funcionar e todo mundo dormir satisfeito, eu preciso saber se isso é inédito para vocês - não vou negar, é extremamente atraente olhar mulheres nuas, conversando. A loura mais alta de cabelos cumpridos sorri de lado e me olha no instante seguinte e eu acho que gosto dessa sensação. Me senti uma presa por alguns segundos e meu pau já sentiu o mesmo que eu. Essa calça não terá nenhuma eficácia em disfarçar o que estou sentindo.
- Ele vai apenas assistir? - a loura de sorriso maléfico pergunta para Greta, mas seu olhar está em mim e meu pau finalmente se coloca visivelmente atraído por essa questão.
- Na hora certa - Greta responde - Pelo visto você sabe o que vai acontecer - Greta afirma e a loura vem em minha direção.
- Não, eu sei o que pode acontecer, mas enquanto isso, eu prefiro olhar o que vou ganhar depois de fazer vocês duas gozarem na minha boca - ela praticamente esfaqueia Greta que parecia muito segura de si e parece que temos uma adversária à altura e eu adoro ser o prêmio entre as vencedoras.
A loura me tira da poltrona e desabotoa lentamente cada um dos botões de minha camisa e espalma suas mãos em meu peito, soltando um breve gemido enquanto morde seu lábio inferior. Vejo Greta fazendo menção em vir em minha direção e eu aceno com um pequeno gesto de minha mão que não. Greta obedece, mas agora ela não parece feliz. Me perdoe, essa noite é minha e não dela.
Ela desliza suas palmas fazendo com que minha camisa caia sobre a poltrona. Em seguida, ela desamarra o laço que mantinha a calça presa em minha cintura e logo eu estou ali, da maneira mais generosa, dura e com um pau pulsando e exigindo um pouco mais de agilidade delas.
- Agora sim podemos começar essa brincadeira - a loura que me despiu diz e se vira de costas para mim. Seus seios também não são naturais, mas seu corpo sim; ela não treina, mas tem um belo corpo. Preciso agradecer o bastardo que trouxe essa aqui para o Palácio essa noite.
- Pelo visto seremos três sabendo o que fazer e um telespectador que tem muito a oferecer - a loura menor de cabelos mais curtos me surpreende. Depois de todo esse silêncio, ela dispara a sua observação olhando diretamente para o meu pau.
Greta está confusa e acho que hoje é a primeira vez que ela está com parceiras que também entendem como funciona um ménage.
Sim, eu vou foder cada uma de vocês. Meu cérebro já recebeu a mensagem que precisa e agora é apenas uma questão de tempo.
Sento-me na poltrona novamente assim que jogo minhas roupas no chão.
Olho para Greta e ela tenta se localizar como líder de uma matilha e a verdade é que estou adorando essa troca de papéis, onde ela para de ditar as regras.
A loura maior se aproxima da menor e a puxa para junto de seu corpo, vejo o choque suave entre os seios que juntos formam o que posso chamar com toda certeza de visão do paraíso.
- Por que você não se deita na cama? - a loura fala olhando para Greta que ainda está tentando se encontrar e eu percebo que ela está se sentindo mais do que perdida, ela está sentindo que está sobrando. Não, Greta, nenhuma mulher sobra para mim, eu com certeza farei bom uso de seu corpo e boca, porque é isso que estou pensando, estou pensando em foder a sua boca antes de foder aquelas duas bocetas e com certeza foderei suas bocas e quando não aguentarem mais, eu recomeço.
- Está me dando uma ordem? - Greta questiona a loura que falou e sua prepotência faz minha testa franzir e espero que ela entenda que aqui não é território dela.
- Claro que não - ela responde acariciando o rosto da outra loura que está sorrindo. Vejo sua mão descer sobre o seio esquerdo e levemente ela o acomoda em sua boca e chupa com carinho apenas o pequeno bico rosado e cheio de vigor - Estou lhe dando uma excelente oportunidade de deixar seu corpo receptivo, acredite - a loura conclui e coloca o seu indicador na boca, deixando-o molhado e o desliza sobre o clitóris da outra loura que fechou os olhos em sinal de rendição.
Greta olha para mim e eu aceno de maneira positiva, com cara de fome e desespero para que ela faça o que a loura disse. Agora não é hora de estabelecer regras ou quem chegou primeiro. Aqui a negociação é minha e por enquanto essa loura merece um aumento substancial de orgasmos.
A loura maior olha para mim enquanto masturba a outra loura. Ela posiciona a perna da loura menor sobre a cama e agora eu vejo um sexo perfeito, sem pelos e molhado; é visível que ela está excitada, assim como eu que começo uma massagem em meu pau. É como se isso apenas o avisasse que em breve ele vai estar ali, entre elas, dentro delas e fodendo forte cada uma delas.
A loura maior que está conduzindo a situação olha para mim mais uma vez antes de se colocar de joelhos na frente da outra loura.
- Céus - falo baixinho, apenas para mim. Greta está se masturbando e deixando que seus gemidos façam parte da trilha sonora.
Vejo-a abrir os lábios da outra loura e depositar sua língua sutilmente, como se apenas provocasse a situação. A loura menor geme e eu vejo a loura sugando seu clitóris, isso é mais do que excitante, porque ela sabe exatamente como conduzir e ela sabe que a loura que está a mercê de seus lábios vai chegar ao orgasmo e é exatamente isso que eu quero ver.
Mantenho o movimento de minha mão em meu pau, como se fosse um afago e uma maneira mesmo que miserável de suprir parcialmente a vontade que estou de foder com essa loura que está à beira de conquistar um orgasmo.
O gemido da pobre moça revela que tudo está à beira de explodir.
Baby, serei seu predador essa noite
Te caçarei, te comerei viva
Animals – Maroon 5
Ela geme mais alto e isso é o prenúncio de que está gozando na boca da loura de joelhos à sua frente. Ela se levanta assim que termina e olha nos olhos dela.
- Agora, seja uma boa menina, e faça o mesmo com ela - a loura boa de oral ordena para a outra que ela faça o mesmo em Greta que parece estar nervosa em ter que obedecer. Tudo tem sua primeira vez.
A loura que acabou de gozar se coloca no meio das pernas de Greta e a encara.
- Relaxe - ela diz e Greta respira fundo, e tenta se entregar às ordens de alguém visivelmente mais nova, porém se mostra bem experiente.
Ela abre a boceta de Greta e eu posso afirmar que conheço muito bem essa região, sei dizer com precisão quantas sugadas naquele clitóris são necessárias para que ela goze.
A pequena loura começa a sugar suavemente, enquanto a outra loura sobe na cama e olha para Greta.
- Estamos aqui em busca do mesmo resultado - Greta sorri e começa a se entregar assim que percebe que a loura dominante coloca um pé de cada lado da cabeça de Greta e fica de pé sobre a cama e de frente para mim - Agora, eu preciso saber se você está gostando do que está assistindo - a loura me provoca e eu analiso o que meus olhos observam.
Greta sendo chupada fortemente por uma mulher que está com seu traseiro totalmente exposto para mim e ela começa a descer e eu imagino o que ela vai fazer. Aumento o movimento de minha mão em torno do meu pau e ela coloca a sua boceta na boca de Greta. Ela sabe como fazer e me encara enquanto Greta brinca com os seios dela e a chupa.
E quando me perguntam sobre paraíso, eu lamento não poder registrar a imagem que estou tendo nesse momento para provar que ele existe.
A loura maior solta um gemido maior e eu agarro com mais vontade meu pau que está realmente implorando para eu me enfiar ali, dentro delas e fodê-las com mais força do que nunca.
Distraio-me diante do visual altamente sexual e percebo a loura que está sendo sugada por Greta me chamar com um indicador. Esse é o momento mágico, quando um voyeur é inserido no ápice do tesão.
Levanto da poltrona e a obedeço, porque obedecê-la é o melhor nesse momento, eu sou o ganhador dessa porra toda.
Vou até a cama e subo, coloco um pé de cada lado de Greta e meu pau está na altura da boca da loura que ganhou totalmente minha ereção essa noite.
- Coloque ele aqui - ela diz contornando seus lábios com a língua e eu me sinto o homem mais obediente deste planeta.
Aproximo-me e coloco meu pau encostado em seus lábios e ela o percorre com sua língua - Céus - falo alto e ela me engole. Sinto sua garganta limitando meu percurso e ela me devora com vontade, me tirando e colocando e cada vez sinto que entro mais fundo.
Ela usa uma mão para conduzir meu pau e a outra ela brinca com o seio de Greta. De onde saiu esta mulher que possivelmente pratica ménage com frequência, possivelmente mais do que eu?
Fodo sua boca e ela me engole macio, língua gostosa que me cobre e massageia me fazendo gemer. Sinto que ela tem habilidade suficiente para reduzir o tempo de toda essa operação.
Ela geme com meu pau na boca e eu sei que ela está gozando. Ela se levanta a fim de libertar Greta que implora para que a outra loura continue chupando, ela vai gozar e estou presenciando mulheres se satisfazendo e isso é o que posso chamar de excelente trabalho em grupo.
Greta geme alto e goza, eu ainda estou sendo engolido magnificamente pela loura mandona e me sinto bem onde estou, mas ela para e se levanta, fica de frente para mim sobre a cama.
Greta estica o braço até o criado mudo e alcança um preservativo e entrega para a loura de boca estupenda. A loura abre a embalagem, tira a camisinha de dentro e de forma estratégica coloca em sua boca e se coloca de joelhos diante de mim.
Ela pega meu pau com tanta habilidade que começo a ter medo de precisar mais disso amanhã pela manhã. Ela me engole colocando a camisinha com sua boca e a acerta com sua mão assim que conclui.
- Quem vai ganhar isso primeiro? - ela pergunta me masturbando.
Eu a levanto com força e a coloco de costas para mim. Suspendo suas mãos na parede - Pelo trabalho prestado com excelência - falo em sua nuca, segurando seus cabelos com força e puxando seu quadril em minha direção.
Greta se coloca sentada à sua frente e começa a sugar o sexo da loura que acabo de enterrar com força. Ela vai gozar e eu vou sentir sua perna tremer assim que isso acontecer. Já fiz isso com Greta e na época a garota dormiu oito minutos depois. A fizemos gozar o suficiente por duas vidas.
Sinto a loura rebolando e vejo a outra loura se sentando na cadeira que ela colocou ao lado da cama. Ela está com as pernas abertas e está se masturbando lindamente.
O tesão começa a ficar incontrolável quando escuto a loura gemendo, agarro seus seios e os aperto com vontade, mas não com força, eu sei medir a quantidade necessária para que ela fique ainda mais molhada.
- Mais forte! - ela grita e eu faço, enterro até o seu limite e ela geme e agora Greta já não consegue chupar a sua boceta com sucesso, ela está entregue a mim.
Ela se curva ainda mais e eu enterro mais forte, mais rápido e sinto seu joelho falsear.
- Isso, goze - falo suspendendo seu corpo pelo cabelo e a tirando de mim.
Olho para a outra loura que ainda está gozando de maneira egoísta sobre a cadeira. Mas eu tenho algo especial para ela.
A loura sai da minha frente e vejo Greta sentada e eu sei que ela quer sua dose-Benjamin para sua noite começar.
- Vem - a chamo com a minha mão e a suspendo - Sentiu minha falta? - faço a mesma pergunta que ela me fez.
- Sim - ela sussurra e eu desço da cama a levando comigo até a janela, onde uma varanda permite uma vista perfeita sobre uma Madri com ares de um clima mais quente.
Coloco-a apoiada em suas mãos sobre o muro da varanda, mas ela está de frente para mim. Suspendo-a e me enterro com força dentro dela, ela está molhada, receptiva e geme alto assim que eu entro.
- Você sabe como me fazer gozar, isso não é justo, vou ter menos de você do que as outras - ela reclama enquanto enterro meu pau e sinto seu limite e isso me excita.
Ela olha para atrás de mim - Agora temos uma plateia, faça o espetáculo - ela fala e eu a levo agarrada em minha cintura e a coloco sobre a cômoda larga e eu sei que caberia mais uma delas aqui ao lado de Greta e é essa a minha intenção, eu sou um homem multitarefa.
Sento-a e entro e saio com força e ela me beija, como se quisesse que eu ficasse ali apenas para ela e isso não funciona comigo. Saio de seus lábios e olho para a loura que estava sozinha na cadeira e peço que ela se sente aqui, ao lado da Greta e ela obedece.
A loura dominante se coloca no meio das pernas dela assim como fez da primeira vez e volta a chupá-la. Estamos lado a lado, eu puxo o rosto da loura que está sendo chupada e a beijo, porque aqui tem Benjamin para todas.
Mantenho o movimento dentro de Greta e sei que ela já vai gozar, porque todo esse cenário é o que a excita e eu conheço seu corpo. Ela geme mais alto e me sinto molhado... dela.
Ela respira fundo e relaxa seu corpo sobre a cômoda e eu saio dela.
- Agora é a minha vez - falo para a loura de joelhos que automaticamente vai até Greta e massageia seu clitóris com dois dedos. Ela o faz suavemente porque aquela região já é sensível, mas agora está ainda mais.
- Vou foder você - falo para a loura que se coloca mais à beira do móvel e suspende as duas pernas. Vejo seu sexo vermelho, molhado e me enfio sem nenhum tipo de cerimônia e ela grita.
Escuto a música vindo do meu celular e agora é Bad, David Guetta.
Por que é tão bom ser mal?
Pois, se é problema que você está procurando,
Ah, querido, aqui estou eu
Bad, David Guetta
Enterro repetidas vezes, fazendo barulho de corpos se chocando. Tudo está molhado e eu me sinto mais excitado ao ver Greta sendo masturbada por outra garota e a boceta desta que estou fodendo é apertada, gostosa e eu sei que já fiz um bom trabalho por aqui hoje. Mas eu sei que ainda não acabou.
- Greta, pegue o que está na primeira gaveta do armário - ordeno enquanto enterro meu pau e arranco os gemidos mais altos da pequena loura que em alguns minutos vai gozar em mim.
Greta vai até o armário e volta com dois vibradores - Isso? - ela pergunta.
- Exato - respondo - Agora, sente cada uma de um lado dela e me mostrem como é se foderem - exijo.
Elas acatam e no minuto seguinte elas estão ali, enterrando nelas mesmo com força e isso aumenta meu tesão.
- Quero que gozem e quero que me avisem quando isso acontecer, isso serve para você também - falo para a loura que estou fodendo.
Os gemidos se tornam quase um coral e meu quarto possivelmente é o mais barulhento nesse minuto.
Elas fazem com vontade e escuto Greta anunciar seu orgasmo, no instante seguinte a outra loura e, por fim, beijo a loura que estou fodendo e ela fala dentro de minha boca que está gozando.
- Perfeito, mas agora é a minha vez - saio da loura, tiro o preservativo e ando em direção ao centro do quarto. Agarro meu pau e me masturbo, chamando-as com meu indicador.
- De joelhos - ordeno e elas obedecem - Agora eu sou de vocês - falo e elas começam uma dança sincronizada de línguas em torno do meu pau.
Sinto as lambidas em meu saco, sinto meu pau sendo engolido, vejo Greta beijando as louras na boca entre uma engolida e outra e busco a concentração necessária para dar a elas o que preciso.
A loura dominante me engole até o limite de sua garganta, em seguida, a outra loura faz o mesmo e, por fim, Greta e seu conhecimento sobre meu corpo.
Vou do céu ao inferno e as tiro assim que começo a gozar, dividindo em cada boca um pouco de Benjamin que goza absurdamente em cada uma das bocas.
Elas me surpreendem, engolem e depois se beijam entre si.
Sim, eu sei que isso é uma forma pecadora de paraíso, mas eu me sinto bem assim.
Vou em direção ao banheiro, tomo um banho e saio minutos depois.
Vejo-as deitadas na cama king size, não existe conversa, nenhuma necessidade de termos nomes revelados. Vejo que elas se levantam e vão juntas ao banheiro e eu sei que haverá o banho lindo, um trabalho em grupo, mas que eu não vou apreciar.
Esse é o momento em que faço questão de ficar sozinho. Não tenho proximidade depois de trepar. Visto a minha roupa, mas desta vez coloco uma cueca antes e desço em direção à cozinha.
Preciso que Simon prepare algo para mim.
6
Benjamin
O dia surgiu em Madri em uma versão suave de manhã de calor. Olho para a cama e vejo as três mulheres muito bem acomodadas e encaixadas. Greta está entre elas. Nessa madrugada, acordei surpreendido com as três fazendo um amor lindo e excitante. Greta mergulhava sua língua com força na loura menor, enquanto a loura dominante estava entre suas pernas. Greta estava de quatro e não era apenas sua boceta que estava sendo devorada, havia um vibrador em seu traseiro e eu acordei prontamente disposto a participar de tudo. Mas fui impedido, elas me puniram e me deixaram apenas observar seus orgasmos, gemidos e uma troca forte de fluidos femininos.
Fui obrigado por elas a me masturbar e Greta, gentilmente, deixou que eu gozasse em seu rosto. Ela precisava determinar seu território e eu achei digno depois de tantos anos de trabalho dedicado. Nos últimos anos, Greta tem se mostrado mais presente em minha vida, e mais carente em alguns sentidos também.
Visto meu roupão e vou para a cozinha privativa, onde apenas os membros do clube têm acesso. Assim que saio do quarto, vejo uma das assistentes da casa vindo em minha direção com o carrinho. Marco foi inteligente e não contratou mulheres novas e gostosas para essa função, caso contrário elas correriam muitos riscos.
- Bom dia - a senhora de cabelos parcialmente grisalhos e baixinha me cumprimenta - Vou deixar o café da sala anexa ao quarto como solicitado - ela diz.
- Bom dia, obrigado - falo e continuo meu caminho até a cozinha.
Passo em frente ao quarto do Andrew e escuto alguns gemidos e me parecem que estão mais animados do que ontem. Ando mais alguns metros pelo corredor superior e escuto uma música baixinha vindo do quarto de Wallace e imagino que as garotas tenham ficado amarradas durante um bom tempo essa noite. Estilo Wallace de dominação.
Desço pela escada em arco e passo pelo pequeno corredor que me leva à uma área mais secreta do Palácio. Marco decidiu fazer isso depois de uma das garotas fugir do quarto de Philip, isso faz alguns anos e Sebastian quase matou Philip de tanto bater.
Alguns limites precisam ser respeitados por aqui, existe uma mistura perigosa de bebida, tesão, sexo e libido que pode resultar em algo diferente do que procuramos.
Chego à cozinha e Carl, Cesar, Bryan e Alexander estão rindo de alguma coisa que Simon está dizendo, isso é tão comum. Em alguns momentos, cometo o pecado de achar que tudo isso não passa também de uma grande rotina.
- Bom dia, meninas - sacaneio todos e todos estão de roupão e isso seria uma visão trágica se não fosse tão comum quando estamos aqui.
- E aí, deu conta das três? - Alexander já começa a provocação.
- Tanto fiz meu trabalho que quase fui no seu quarto ver se você precisava de ajuda - sorrio e passo por detrás dele e me sento entre Carl e Bryan.
- Cretino - ele diz - Aposto que precisou da fada azul - ele brinca mencionando algum comprimido para ajuda sexual.
- Ainda não cheguei na fase em que vou precisar da sua maleta de primeiros socorros - todos gargalham e Wallace surge com seu roupão aberto e isso é como provar para todos ali que ele pega pesado no boxe e todos aqui sabem da academia que ele tem em sua casa. E todos sabem o que um soco dele é capaz de fazer. Uma vez, na Jonh Jonh, ele fez um cara desmaiar com apenas um soco. Wallace respondeu um processo caro e até hoje é proibido de entrar na Jonh Jonh.
- Bom dia - ele diz animado e vai direto para o banco ao lado de Alexander.
- Não tem ninguém amarrada lá em cima, certo? - Bryan brinca.
- Tem, mas não se preocupe, eu também a amordacei e coloquei a outra para vigiar - ele sorri e alcança uma caneca vazia e pede um pouco de café para Simon - A que está vigiando possivelmente está chupando a que está sendo vigiada, então, vai merecer uma foda assim que eu voltar para o quarto - Simon coloca café na caneca e eu penso que Simon é o cara que mais sabe sobre tudo que acontece aqui no Palácio.
O celular de Alexander toca e seu rosto se fecha assim que ele vê a tela e quem está ligando.
- Alexander - ele atende falando o próprio nome. - Não quero saber dessa porra, que caralho! - ele se levanta enfurecido e sai da cozinha. Escuto seus passos firmes e ele ainda xingando assim que sobe a escada.
- Se pudéssemos desligar o celular enquanto estamos aqui - Cesar diz.
- O problema é desligar e não querer ligar de volta - Bryan completa.
- Simon, tem aquela pão de massa estranha que você faz aí? - pergunto.
- O nome é rosetta, é um pão de origem italiana - ele responde e tira do forno uma assadeira com alguns.
- Simon, você cozinha, faz bebidas e café da manhã, tenho medo do que mais você possa fazer - brinco com ele e ele gargalha.
- Acho que só não sei trepar. Minhas mulheres me abandonam depois de um tempo - ele mesmo se faz alvo da própria piada.
Escuto uma discussão vindo do andar de cima e Alexander surge novamente na cozinha, mas agora ele não está mais de roupão, mas ele continua no celular discutindo com alguém.
Giovani aparece em seguida, já com sua roupa e digita algo na tela do celular e dá um bom dia que não parece ser tão bom.
Alexander desliga o celular e o enfia no bolso. Giovani termina de digitar e olha para Alexander negando com a cabeça.
- Como isso aconteceu? - Giovani pergunta e Alexander, ainda negando com a cabeça, leva as mãos até ela.
- Não sei, mas é bom resolverem e assim que eu pegar o filho da puta que fez isso, eu quero arrebentar a cara dele - todos estão olhando para eles.
- E aí, qual o problema? - pergunto.
- Uma de nossas contas foi invadida e alguns milhões estão orbitando sem dono entre algumas contas, mas agora é questão de tempo até que esse dinheiro se perca e serão muitas as explicações - Alexander responde e ele está exaltado como eu nunca vi.
- Precisamos ir - Gio fala olhando para a mensagem que acabou de chegar em seu celular.
- Vou subir e arrumar as minhas coisas e já vamos - Alexander responde.
- Minhas coisas já estão aqui embaixo. Simon, você providencia a saída delas do Palácio, por favor? - Gio pede e Alexander sai da cozinha.
- Tem alguma coisa que possamos fazer? - Carl pergunta.
- Não, é um hacker filho da puta que está testando Alexander. Essa conta não é minha, mas estava no suporte, codificando alguns acessos, não o principal. Quem fez isso domina o que está fazendo, é como se uma pessoa entrasse na casa e fosse abrindo todas as portas e janelas para que outras pessoas entrassem.- Giovani explica de maneira simplória o que estão fazendo com o sistema da Oracle.
- Vocês têm o rastreador, logo esse cara será pego - Wallace fala.
- Eu sei, mas até isso acontecer, vamos ter um cliente nos infernizando - Gio fala e se senta. Simon coloca uma caneca com café na frente dele e ele agradece.
Cesar e Bryan pegam suas canecas e vão em direção à área externa, Carl avisa que vai para o quarto e Wallace pede um pouco mais de café.
- Essa semana tem sido mais tensa para Alexander. Seus pais abriram mais uma fábrica, além da Suécia, e ele precisou cuidar de todo o sistema que foi instalado - Giovani fala e eu imagino que com isso Kim, que sempre cuidou da empresa, também esteja trabalhando dobrado. Assim espero, já que se ela não tiver tempo, aquele pulha não vai ficar agarrando-a no meio da rua em plena luz do dia. Não que isso me incomode, mas é que ele deveria prezar pela imagem da namorada ou noiva, ou sei lá o quê.
- Então, serão três no mundo? - Wallace pergunta.
- Sim, mas essa fica na Alemanha - ele responde e me lembro que meus pais estão de férias por lá e, com isso, minha semana será intensa e ingrata sexualmente falando.
Wallace cuida de alguns transportes da Fred&Zulman, empresa dos pais de Alexander e Kim, por isso ele tem interesse. Isso significa que em algum momento sua receita de milhões mensalmente será ampliada.
- Mas esse foi o menor dos problemas - Gio sempre bem informado.
- O que aconteceu? - pergunto e Simon nos deixa e vai em direção à área externa.
- Na quarta-feira, Kim chegou em casa e foi direto para o seu quarto. Eu sei porque eu estava com Alexander na cozinha tentando descobrir a origem desse hacker - ele bebe um pouco do café - Alexander até tentou perguntar o que tinha acontecido, afinal, todos nós sabemos o quanto Kim representa para Alexander - ele para de falar e eu quero saber mais, mas eu não entendo o porquê desse meu interesse.
- Mulheres - Wallace diz.
- Não, Alexander foi até o quarto dela e em seguida ele desceu. Minutos depois ela desceu e apontou o dedo na cara dele - Gio para de novo e eu estou quase partindo para cima dele para que ele fale de uma única vez o que foi que aconteceu com ela.
- Não consigo imaginar Kim fazendo isso - Wallace faz uma breve e desnecessária observação sobre ela e isso me irrita em algum ponto e tento não pensar sobre isso. Ele a observa demais, ele fala sobre ela como não deveria, ela é irmã do Alexander, oras.
- Não se engane, Kim é mais intensa do que se imagina. Eu sei, eu passo um bom tempo perto de Alexander e vejo o quanto ela é determinada e mandona em algumas situações. Aquela imagem de moça tranquila que vemos por aí é uma grande fachada. Já vi Kim deixando uma bancada de diretores sem ter o que dizer diante de uma aplicação milionária - ele se levanta e vai até a cafeteira e preenche sua caneca.
- Gio, tem como você contar tudo sem fazer essas interrupções desnecessárias? - falo e depois que já tinha dito, me dei conta de que soei mais curioso do que o indicado.
- Você ainda vai apanhar de Alexander - Wallace fala e gargalha.
- Não vou apanhar de ninguém, não há motivo para isso, eu apenas quero saber o que foi que aconteceu - me defendo e fecho a minha cara esperando que Giovani termine a porra da história antes que Alexander desça e eu não saiba o que aconteceu com ela.
- Kim estava furiosa, nunca a vi daquela maneira, e eu pensei que quem fosse apanhar fosse Alexander. Ela apontou o dedo e disse: Você não pode se meter nisso, estou falando da merda da minha vida e não de um carro que eu posso ou não deixar na garagem. Cara, ela estava muito brava e eu fui para a área da piscina querendo deixar que os irmãos se resolvessem, mas eles vieram atrás e continuaram a discussão e eu tentei ir embora, mas Kim levantou o dedo e disse Pode ficar, Gio, isso aqui não é algo que você não tenha visto antes - Gio conclui negando com a cabeça.
Alexander volta com sua mala e discutindo ao celular - Não quero saber, não temos vinte e quatro horas, não temos nem dez minutos, eu quero apenas que bloqueiem os acessos, todos os acessos, até segunda ordem todos são suspeitos - ele fala e desliga o telefone.
Gio pega o telefone e liga para o piloto do seu jatinho, avisa que será um voo de emergência e que em trinta minutos estará no aeroporto.
- Eu não sei o que vou fazer com o filho da puta, mas é certo que ele não possa se lembrar de muita coisa depois disso - Alexander está mais nervoso ainda e Gio olha para mim e nega com a cabeça.
- Calma, Alec, eu sei que é foda, mas você consegue resolver - Wallace fala.
- Resolver eu vou, mas estou pensando em quem vai morrer antes disso - ele pega a mala e sai da cozinha fazendo outra ligação.
Gio liga para a central de taxi e em seguida, assim que desliga, coloca o celular sobre a bancada e se senta, passando as mãos pela cabeça exasperado.
- Ei, cara, calma, tudo se resolve - falo e ele me olha negando com a cabeça.
- Meu instinto me diz que isso não é apenas uma invasão de alguém que quer dinheiro, parece que quem está fazendo isso quer provocar Alec - ele fala e eu não entendo muito bem por que alguém ficaria perdendo tempo com isso, já que costumo gastar meu tempo com coisas mais importantes.
- Por que você está dizendo isso? - pergunto e Wallace sai da cozinha em direção à área interna, provavelmente vai voltar para o quarto e para o próximo round.
- Quem está invadindo o sistema da Oracle está brincando com ele. A pessoa poderia facilmente ter pego alguns milhões há vinte dias, mas não o fez - ele olha para mim e nega com a cabeça - É como se Alexander, ou nossa empresa, a Oracle, não fosse o real alvo dessa pessoa, e sim o cliente em questão - ele explica.
- Quem é o cliente? - pergunto.
- A Herins Tofan, aquela instituição de aplicações financeiras que há três anos lançou no mercado um tipo de aplicação que rende mais do que uma poupança convencional. Quem está invadindo o sistema da Oracle e brincando com o dinheiro da Herins, está provando que a qualquer momento a empresa vai ficar sem a grana - o semblante de Gio denuncia que ele está preocupado. A Oracle é dele também, é a credibilidade dele que também está em risco.
- Mas existe algum suspeito? - questiono e bebo um pouco de café.
- Não, quem está fazendo é tão bom que mesmo deixando as portas abertas não deixa pistas por onde entrou, é como se ele limpasse as pegadas - ele explica e eu imagino o quanto não entendo nada desse mundo que é tudo para Alec e Gio.
- Não existe uma trava? Sei lá, como poderiam chamar um sistema de bloqueio - minha ignorância se pronuncia com uma pergunta.
- Todas as barreiras que Alec colocou, o hacker quebrou e descodificou em seguida. O cara sabe realmente o que está fazendo. É como se ele risse de tudo isso assim que acaba de abrir as portas - Gio está com o rosto fechado e olha para a própria caneca. Eu sei que ele e Alec poderiam desfalcar milhões com o que entendem desse mundo cheio de tecnologias e senhas. Mas eles ganham milhões protegendo os milhões que outras pessoas possuem.
- Que merda - resmungo.
- Foi uma semana bem complexa - ele diz e Alexander entra e avisa que o taxi já chegou.
Giovani pega sua mala e sai rápido e eu fico imaginando o que seria se alguém roubasse tudo que meu pai conquistou. Penso na vida diferente que teríamos e eu com certeza teria que me despedir desse lugar. Deus me livre.
Escuto alguém entrar apressado e é Gio.
- O que foi, cara? - pergunto preocupado.
- Esqueci o celular - ele responde e pega o aparelho em cima do balcão onde estão as xícaras.
- Boa viagem - falo e ele se aproxima de mim.
- Espero que tudo seja resolvido, de preferência que seja resolvido de uma vez - ele fala e escuto a buzina, é o taxista com pressa.
- Vai resolver, vocês são bons - tento animá-lo.
- Não estou falando da Oracle. Nossa empresa conta com um excelente seguro e nenhum de nossos clientes ficaria no prejuízo - ele fala - A dor de cabeça é apenas para tentar impedir que alguém roube nosso cliente, mas esse não foi o pior essa semana - ele fala e o taxista buzina de novo.
- Não? - ele coloca a mão em meu ombro.
- Claro que não. A discussão de Kim e Alec foi porque ela rompeu tudo e eu sei que não deveria falar isso, já que você evita e tenta respeitar a Kim mais do que está ao seu alcance - ele trava a frase e o taxista buzina de novo.
- Fala logo, caralho - sinto meu coração disparar e isso não é comum, geralmente eu nem o trago para Madri.
- Toda vez que Kim termina um relacionamento, e olha que foram apenas três, Alexander acredita que ela vai acabar em seus braços. Seu nome foi citado como pivô dessa separação, e eu intervi dizendo que não e defendi o seu lado - ele respira fundo e olha em meus olhos - Benjamin, você andou se encontrando com a Kim às escondidas e isso fez com que ela terminasse com o noivo? - ele pergunta e eu fico confuso. Levanto-me e o encaro.
- Claro que não, tenho passado o inferno por conta dela todos esses anos, você acha que é fácil evitá-la? Não sou feito de pedra - mas quando ela está por perto uma parte preciosa de meu corpo fica rígida como uma.
- Benjamin, você sabe que pode contar comigo - ele fala de maneira mais séria do que o habitual.
- Caralho, Giovani, fala como se eu fosse uma ameaça constante contra ela. Alexander é paranóico - dou a volta na bancada e abro a geladeira. Obviamente procuro uma dose de vodca para misturar com o suco de laranja que Simon deixou para gelar.
- E não é? Ela é apaixonada por você a vida toda e você nunca deu chance a ela de te esquecer - eu não faço ideia do que ele está falando e graças ao bom Deus encontro uma garrafa de vodca dentro da geladeira.
- Se você puder ser mais objetivo eu agradeço - misturo vodca e suco de laranja e bebo uma dose generosa de uma única vez.
- Todo aniversário é um presente - ele diz.
- Você também a presenteia - justifico em um tom de voz mais alto.
- Bem, eu dei a ela alguns livros, uma garrafa de um vinho que ela gosta e, no mais exagerado, uma caixa de chocolates que eu trouxe da Suíça - ele retruca.
- Oras, que diferença tem para os meus presentes? - coloco mais uma dose e viro e escuto a merda da buzina.
- Benjamin Augustus Brandy, você já deu a ela dois anéis, um deles tem um rubi grande o suficiente para não ser esquecido; uma pulseira com um trecho de um livro que ela gosta gravado do lado interno; sem contar as flores, e, por último, um cordão de ouro branco que ela não tira do pescoço. Você quer me convencer realmente que nunca a beijou? Que nunca transaram? - Giovani deve ter presenciado algo muito sério, nós nunca tivemos esse tipo de conversa.
- Nunca - olho triste para ele e essa não era a minha intenção e eu não sei por que fiquei triste com essa constatação. Eu nunca a beijei, nunca soube como é sentir seus lábios sobre os meus.
- Eu te juro que não entendo - ele fala e novamente a buzina e agora o celular dele toca - Alexander - ele atende - Me dê apenas um minuto - ele responde de maneira ríspida e em seguida desliga.
- O que você não entende? - pergunto.
- Você a trata como se ela fosse sua, mas nunca a tocou e ela te defendeu essa semana como se você fosse dela, e ela não tinha motivos para isso, afinal, ela nutre uma paixão platônica por você - ele se aproxima de mim - Ela não deixou que Alexander lhe atacasse, ela protegeu você como se isso fosse salvar a sua vida e os dois estão sem se falar desde então - não deveria sentir o que estou sentindo, como se eu devesse ligar para ela e dizer que sou um puto, que gosto de orgias e seria um pecado meu corpo tocar o corpo dela e é por isso que eu nunca o fiz. Nunca fiquei longe em nome de Alexander, eu fiquei longe por ela.
- É mais complicado do que parece - respondo.
- Eu imagino - ele diz, dá a volta em torno da bancada e para exatamente do meu lado - É como se faltasse o ar no momento em que você mais precisa de fôlego - ele afirma e sai, me deixando lá, com tudo que evito por anos. Ele me deixou lá, com o rosto dela sorrindo quando ganhou as flores que ela mais gosta, lírios, de preferência brancos.
Eu sei sobre as preferências dela e eu sei que estou entre elas e é esse meu problema, eu não posso estar nesta lista.
7
Kim
Coloco a última peça de roupa de Scott em uma mochila e a deixo no canto do meu quarto. Ele mantinha roupas aqui, ele ficava aqui o tempo todo e não existe um defeito grave nele que eu possa ressaltar esse término.
Hoje completam duas semanas e o pior de tudo isso é que eu não sinto nada, é como se não tivesse ocorrido nada, nenhum namoro, nenhuma viagem e nenhum término.
Estou há duas semanas sem falar com Alexander. Ele insiste em falar o que quer, sem pensar, sem analisar que nem sempre ele tem razão. Eu entendo sua proteção de irmão, mas ele precisa antes de mais nada respeitar a minha vida.
Lembro das nossas brigas quando éramos crianças, ele sempre tinha que ser o banqueiro no Banco Imobiliário e eu dificilmente aceitava e quase sempre esse posto era meu.
Termino de arrumar meu cabelo e abotoo meu paletó. Escolhi branco, a minha cor favorita e um pedido de paz entre Dum Dum e eu. Melhor eu não chamá-lo por esse apelido tão cedo.
Pego minha bolsa, a mochila de Scott, meu celular e desço para a cozinha com o propósito de beber uma xícara de chá rapidamente. Tenho muito trabalho e por ser quarta-feira, espero não demorar muito para sair do escritório hoje.
Chego à cozinha e vejo Wilma colocando chá para mim - Bom dia - ela diz sorridente como sempre.
- Bom dia, Wilma - coloco a mochila no chão e a bolsa na cadeira ao meu lado - Francis já chegou? - pergunto pelo novo motorista, contratado há dois meses e tem se mostrado muito prestativo e silencioso, isso é realmente admirável.
- Ele não saiu, Sr Alexander ainda está aqui - ela diz e eu pensei que Francis havia levado Alec para a Oracle.
- Bom dia - escuto atrás de mim. É meu querido irmão que depois de duas semanas resolveu me dar um bom dia.
- Bom dia - respondo brevemente.
- Kim, escute, tente entender, eu estava nervoso, com um baita de um problema na empresa e eu não pensei antes de falar - ele despeja tudo de uma única vez e Wilma nos deixa a sós.
- Alexander, quando eu terminei com Will, você disse que tudo era culpa de Benjamin. Eu até entendo seu ponto de vista, eu tinha uma paixonite por ele. Mas depois, eu conheci o Maurício, ficamos juntos por três anos e quando eu rompi você novamente citou Benjamin, como se ele e eu mantivéssemos algum tipo de relacionamento escondido nos bueiros nova-iorquinos. Discutimos muito e você não pensou em como eu me sentia, era como se sempre eu quisesse ficar à disposição dele e, então, com Scott você perdeu totalmente o bom senso. Estou há anos escutando que o fim dos meus relacionamentos tem a ver com Benjamin - claro que eu ainda penso nele, mas eu me lembro que nunca houve nada, a não ser as histórias com finais felizes que criei em minha cabeça.
- Porra, Kim, Benjamin é um puto, ele nunca esquece seu aniversário, sabe suas preferências e de alguma forma está sempre por perto - ele parece não se conformar com algo que ele mesmo criou.
- Eu queria apenas lembrá-lo que ele é seu amigo, é você que o mantém por perto e quanto a ele se lembrar do meu aniversário, temos uma rede social que disponibiliza essa informação. Quanto aos presentes, ele é apenas atencioso e sabe alguns dos meus gostos - confesso que os lírios que ganhei me deixaram com o coração disparado.
- Kim, Benjamin tem alguma coisa a ver com o fim de seu noivado com Scott? - ele pergunta pela enésima vez.
- Como Benjamin teria alguma coisa a ver se eu não o vejo há muito tempo? E qual é o seu problema com ele? Vocês sempre estão juntos indo para Madri e para o raio que os parta, eu não te entendo. Ele não presta para mim, mas para viajar com você está tudo certo? - cruzo meus braços e o encaro. Ele está de agasalho cinza e provavelmente estava correndo, como faz sempre que tem algum problema, do contrário estaria em sua esteira e trabalhando.
- Quero que me desculpe pelo que falei - ele não responde minha pergunta e acha que me engana.
- Te desculpei naquela mesma noite porque eu sei que você é assim, todo estourado, mas tem um bom coração - falo e me inclino beijando seu rosto - Fique tranquilo, não há como Ben fazer parte de minha vida. Em trinta dias eu vou para Suécia, vou assumir a filial de lá nos próximos dois anos - assim que eu falo ele sorri tão amplamente e isso me assusta, é como se eu pudesse ficar com qualquer um, menos com Benjamin.
- Vou sentir sua falta, mas não o chame com tanta intimidade - Alexander é paranóico quando o assunto é Benjamin.
- BEN! Sempre o chamei assim e isso não muda as coisas - como eu o chamo não muda o que sinto por ele, infelizmente.
- Eu não queria que ficássemos sem nos falar - ele pede.
- Alexander Von Humbolt, não pense que sou do tipo frágil e que vou deixar você dominar a minha vida e falar o que pensa. Espero que nunca mais ouse pensar que qualquer homem nessa merda de vida tem algum poder sobre mim e meu maior erro foi falar para você que eu gostava dele, você passou a ser diferente e eu sei disso. Ele não tem culpa e espero realmente que você tenha entendido - falo e bebo um pouco do meu chá.
- Estou procurando a menina doce que você era no meio dessas suas palavras - ele diz e vai até a cafeteira e coloca um pouco na xícara.
- Vai encontrá-la em uma das partidas de Detetive que você perdeu, eu tinha que ser doce naquela época para poder te consolar - zombo e sorrio levantando os ombros.
Ele vem em minha direção e me abraça - Eu seria capaz de matar por sua causa - ele diz.
- Não vai precisar disso, você deveria arrumar uma namorada e largar do meu pé - falo e ele se afasta de mim.
- Se isso é uma espécie de praga retire agora - ele gargalha.
- Todo mundo precisa de alguém. Você está acumulando uma fortuna e quando morrer vai deixar para quem? - pergunto e ele se afasta negando com a cabeça.
- Um dia eu penso em quem nomearei em meu testamento - ele bebe o restante de café e se senta no balcão - Scott não te fazia feliz? - ele volta no nome de Scott e Alexander sabe como irritar.
- Defina “fazer feliz” - peço.
- Sei lá, ele sempre lhe dava flores, chocolate e sempre estava por perto sendo gentil - ele explica seu ponto de vista medíocre sobre fazer feliz.
- Sobre as flores, ele insistia em rosas vermelhas. Vamos começar pela cor, eu odeio essa cor, a flor é até bonita mas não entra na minha lista de preferidas. Sobre o chocolate, é irritante ganhar chocolates o tempo todo. Existe uma época em que eu prefiro ficar sem eles, e em outros dias do mês, eu preciso deles assim como preciso de oxigênio, e sobre ele estar sempre por perto, isso não significa que ele estivesse dentro - pisco um dos olhos e ele deixa sua boca abrir um pouco e discretamente.
- Até nisso aquele puto é bom - ele menciona Benjamin de maneira revoltada.
- Que puto? - pergunto como se não tivesse entendido.
- Benjamin...
- Ben... - o provoco.
- Você me provoca - ele diz.
- BEN é atencioso, mas não é apenas comigo. Ele te deu uma jaqueta de couro que você queria, uma edição exclusiva e super limitada; ele deu ao Sebastian uma escultura que ele arrematou em um leilão; vocês olham um lado de BEN que não retrata o que ele é realmente - o defendo pela segunda vez no mesmo mês. Há duas semanas eu quase voei em Alexander para ele parar de ofender Benjamin. Dois dias depois ele estava novamente em Madri... com o que ele chama de puto.
- Você não vê que tudo isso faz parte de um jogo de sedução dele? - Alexander precisa de tratamento.
- Ele quer seduzir todos vocês? - zombo e ele cerra os olhos em minha direção.
- Não, KIMBERLY, ele faz isso porque as mulheres gostam de um homem atencioso e ele sabe que você presta atenção nele e pronto - estou com vontade de gargalhar.
- Ele é seu amigo há tanto tempo e nunca enxergou que por detrás de tudo isso que ele demonstra em seu jeito safado de ser, nada mais é do que medo de encarar a realidade? Quem nesse mundo precisa misturar vodca ao suco de laranja no café da manha? - pergunto.
- Como você sabe que ele faz isso no café da manhã? - Alexander consegue.
- Estou aqui falando que você tem um amigo que pode simplesmente fugir do mundo real todas as manhãs e você está preocupado como eu sei sobre sua vodca e seu suco de laranja? Você deveria estar preocupado em não saber dessa informação - me levanto e ele vem em minha direção - Eu nunca fui pra cama com ele, eu nunca nem o beijei, então, não se preocupe. Em seis semanas vou estar na Suécia e acredito que o que não aconteceu nos últimos anos, não será capaz de acontecer justamente agora, seria muito azar de sua parte - uso ironia no último gole do meu chá e o encaro.
Escuto Wilma se aproximando e pedindo licença.
- Srtª Humbolt, Sr Trebushi está na sala e deseja vê-la - ela diz e me olha.
- Avise que já vou - falo e volto a encarar Alexander. Wilma nos deixa novamente e eu espero algum tipo de comentário de Alexander.
- Vocês vão conversar? - ele pergunta como uma vizinha intrometida.
- Não há o que conversar, não volto em minhas decisões - me levanto, pego a mochila de Scott e mostro para Alexander - Ele veio buscar isso - falo e vou para sala.
***
- Oi - cumprimento Scott que me parece bem abatido. Eu sei que ele gostava realmente de mim, ou ainda gosta, sei que possivelmente eu seria tratada como uma rainha por ele, mas não é ele que vejo como meu rei e continuar com o relacionamento seria covardia de minha parte.
- Oi, Kim, senti sua falta - ele diz e eu não posso mentir dizendo o mesmo, eu não senti, não como homem, talvez eu tenha sentido como um amigo, uma boa companhia, mas nada além disso.
- Isso é seu - entrego sua mochila e ele me olha negando com a cabeça.
- Não vamos ter uma segunda chance? - ele pergunta.
- Não seria justo com você, eu não estou tão empenhada quanto você nesse relacionamento - sou direta e acredito que essa seja a melhor forma de lidar com um problema, enxergando-o como tal.
- Tudo por causa daquele merda - Scott está na mesma sintonia de Alexander quando o assunto é Benjamin.
- Por que você acredita nisso? - pergunto e cruzo meus braços.
- Porque você nunca falou de mim com o carinho que sempre falou sobre ele - odeio pessoas que se fazem de vítimas.
- O conheço há mais tempo - sou seca e quase rude com ele.
- Tem alguma coisa entre vocês, eu sei disso, ele nunca está por perto e de alguma forma o nome dele surge como uma ventania e por pouco não leva você embora - Scott está saindo do nível ex-alguma-coisa para o nível coisa nenhuma. Me livro de um na cozinha e tem outro aqui na sala.
- Scott, espero que seu dia seja ótimo, eu preciso ir trabalhar - falo e recuo dois passos.
- Apenas pense sobre nós - ele pede.
- Já pensei, por isso não existe mais nenhum tipo de relacionamento entre nós - sorrio sem dentes e eu consigo odiá-lo por falar que Benjamin é um merda. Será que ninguém o enxerga realmente?
- Kim, eu te amo - ele diz e isso é tão triste, nenhum tipo de amor merece ser desprezado e é por isso que não posso continuar ou retomar meu relacionamento com ele. Seria um tipo de amor unilateral e possivelmente um tipo de amor triste.
- Scott, você sabe o que eu penso sobre isso, correto? - pergunto.
- Eu sei, por isso você nunca disse que me amava. Em alguns momentos acreditei que fosse apenas uma muralha que você criou para se proteger - ele responde triste.
- Eu só falaria isso se fosse realmente algo que estivesse sentindo e não apenas para te deixar feliz - eu nunca disse eu te amo para ninguém, ou pelo menos quando disse, foi através de um SMS que enviei na época de faculdade e a pessoa nunca recebeu.
- Eu sei - ele fala com um tom melancólico e infelizmente eu não consigo sentir pena ou compaixão.
- Siga a sua vida, esse seu amor vai encontrar a pessoa certa - tento parecer mais preocupada com ele, mas a verdade é que estou preocupada com meu horário. Não sou insensível, mas desde que rompemos, ele vem insistindo em me ver, em falar comigo e eu não quero, simples assim.
- Seja feliz - ele diz e eu sinto que está sendo sincero.
- Te desejo o mesmo - me aproximo dele e dou-lhe um abraço. Mas Scott tenta beijar a minha boca e eu o empurro
- Sai daqui, Scott - grito e Alexander surge na sala em menos de um segundo.
- Escutou o que ela disse? - Alexander pergunta para Scott que levanta as palmas da mão em sinal de rendição. Ele pega a mochila e vai embora negando com a cabeça.
- Obrigada - agradeço a Alec e ele se aproxima e beija meu rosto.
- Não me agradeça, mas eu ainda culpo papai e mamãe por terem feito uma irmã tão linda e tão desejada que me tira completamente a paz de espírito. Quer que eu te acompanhe até a Fred&Zulman ? - ele pergunta.
- Não precisa, Scott não é um perseguidor - o defendo.
- Eu espero, isso não seria bom para ele - Alec fala em tom ameaçador e eu sorrio.
- Vai até a Suécia me proteger? - zombo e vou à cozinha pegar minha bolsa.
- Se for preciso eu vou a nado - ele exagera e me faz sorrir - Vamos, te levo até o carro. Francis está na garagem lateral te esperando.
Alexander anda ao meu lado e abre a porta do carro para mim assim que Francis nos cumprimenta - Kim, eu sei que sou um grosso às vezes, mas tente me entender - ele pede assim que eu me sento no banco de trás e coloco a bolsa do meu lado.
- Dum Dum, já tentei te entender, e acredite, isso é impossível. Você deveria ser menos paranóico com o Ben - falo e ele inclina a cabeça.
- Poderia chamá-lo de Benjamin? Isso pelo menos gera uma falsa sensação de segurança - ele diz sorrindo.
- Não sou boa em articular sentimentos e sensações, já deve ter percebido isso. Agora, se puder me deixar trabalhar, em duas semanas papai e mamãe vão voltar e eu preciso deixar tudo muito bem organizado pra minha partida - falo e ele fecha a porta. Abaixo o vidro e ele coloca seu rosto ali, me encarando. Alexander é bonito demais, cabelos ondulados, jogados para trás, boca carnuda, uma pena que, assim como Benjamin, ele também não vale nada.
- Antes você me deixava marcar alguns gols - ele diz.
- Você nunca marcou algum, eu deixava você acreditar nisso, o que é bem diferente. Agora, maninho lindo, eu preciso ir, a não ser que queira assumir a Fred&Zulman no meu lugar? - o provoco.
- Deus me livre! - ele diz e faz o sinal da cruz - Vai, e qualquer coisa me ligue - ele diz e eu deixo apenas um beijo no ar e peço para Francis seguir para Fred&Zulman .
***
Entro na minha sala e vejo alguns recados, e pelo visto se eu não acelerar vou chegar atrasada na exposição hoje à noite.
Meu celular toca, é Elise. Ela é filha de Edmond Pharris, um bancário que ficou viúvo muito jovem e não caiu na vida como qualquer um faria, ele se dedicou a cuidar da única filha. A mãe de Elise, Giordana Pharris, morreu em seu parto.
- Oi, Lise! - a atendo e ligo meu laptop.
- Kim, tudo bem? - ela responde e está sorrindo. Elise é o tipo de mulher que se vestir qualquer peça de roupa, fica pronta para um editorial de moda. Ela é alta, mas não é magra, ela tem pernas grossas, seios fartos e um cabelo louro tão absurdamente perfeito que chega até doer. Alexander já andou ciscando em seu terreno e ela tem uma queda por ele.
- Tudo, e com você? - pergunto e assim que meu laptop liga, vou em minha caixa de entrada e vejo mais de quarenta mensagens. Espero que não seja nada que possa atrapalhar meu dia.
- Estou bem. Tudo certo para hoje à noite? - ela pergunta sobre a exposição. Ela vai representar o pai que está na Suíça e essa exposição é beneficente. Custou mil dólares a entrada e tudo será revertido para pesquisa contra o câncer.
- Claro - respondo e escuto alguém chamando por ela.
- Perfeito, passo às vinte horas para te pegar, pode ser? - ela pergunta.
- Ótimo, te espero - falo, nos despedimos e desligamos.
Abro o primeiro e-mail, e pelo visto vou ter que almoçar na minha mesa enquanto resolvo isso, e não são nem dez horas da manhã.
8
Benjamin
O fator mais importante do ser humano com certeza é ser benevolente, ainda mais quando se tem algo de sobra, no caso temos Benjamin para todas.
Bryana, que mora em Amsterdã, chegou em Nova York na sexta-feira e Hollie, uma francesa simpática que me visitou algumas vezes, queria matar a saudade. Telefonaram quase ao mesmo tempo. Bom, isso é mentira, uma me ligou no domingo, mas eu estava na casa da vizinha ajudando com serviços braçais e Hollie me ligou ontem de manhã, então, como estou com minha agenda apertada, ofereci algo novo para as duas e elas prontamente aceitaram. Ser benevolente é um bom caminho para se chegar ao céu. De alguma forma eu percorro as mulheres do mundo sem sair do meu apartamento.
Eu ofereço o meu tipo de foda, elas aceitam e eu não vejo nenhum mal nisso. Eu sou benevolente e ainda dou o livre arbítrio.
São quase nove horas da noite e meu celular está tocando, espero que não seja uma delas desmarcando, isso seria inadmissível.
Olho para a tela e vejo Giovani e eu confesso que não falo com ele desde Madri, há duas semanas. Nossa conversa foi estranha e eu me senti diferente com aquele papo, melhor não lembrar.
- Fala, sua puta! - atendo com todo carinho do mundo.
- Boa noite, seu filho da puta - ele também tem grande afeto por mim.
- Em que posso lhe ser útil? Menos essa noite porque daqui a pouco vou praticar uma boa ação - gargalho e estala língua em sinal negativo.
- Não precisa me colocar a par dos detalhes, um dia isso vai te matar, ou de esgotamento ou com um tiro. Por um acaso, a vizinha não tem nada a ver com isso, certo? - ele pergunta e acho que senti uma fagulha de preocupação em sua voz.
- Não, o marido dela chegou no domingo à noite, foi por um triz, mas eu tenho um esquadrão de anjos da guarda - falo sorrindo e coloco suco de laranja e vodca em uma boa quantidade em meu copo.
- Benjamin, eu sei que riscos são excitantes, mas não se esqueça que você mora na cobertura e cair daí com certeza não lhe quebraria apenas uma perna - ele ri - Fizemos coisas piores em Vegas, mas nossos riscos foram calculados - ele fala e internamente sinto uma saudade daquela noite em Vegas, em especial de uma determinada noite.
- Giovani, você é conhecido em Vegas e acredito que você seja um dos mais canalhas. Que outro filho da puta se aproveitaria de uma mulher em sua noite de núpcias, enquanto o marido resolveu apostar algumas moedas no caça níquel? - pergunto e já escuto a gargalhada.
- Isso foi ato de pura bondade. Ela estava chorando, sozinha e triste, o cara preferiu o jogo do que aquela mulher gostosa? Mereceu cada chifre que enfiei na cabeça dele cada vez que fodi a sua mulher - Giovani tem o seu lado perverso, mas parece que apenas Vegas tem o poder de exorcismo sobre esse lado.
- Somos almas caridosas - falo e gargalhamos - Mas, em que posso te ajudar? - pergunto e vou até a minha varanda. Já estou com minha roupa favorita, roupão e boxer, e em determinado momento tudo isso será descartado.
- Meus pais compraram dois ingressos para a exposição beneficente que será em prol do Centro Julian, de pesquisa contra o câncer, e você não pode nem reclamar, vai ser do lado do puteiro que você chama de casa, no Guggenheim Museum - ele está querendo comprometer a minha noite de quarta-feira - Meus pais foram para o Canadá, uma tia não está bem e reuniram a família - pelo menos vai ser perto de casa e a noite pode não ser perdida completamente.
- Tudo bem, vou te dar o prazer da minha companhia - gargalho.
- Vai se foder, Benjamin - ele ri também.
- Eu vou foder, essa é a conjugação correta da frase - continuo rindo e meu interfone toca - Gio, nos vemos amanhã, me liga falando sobre o horário - falo e atendo o interfone e coloco na outra orelha.
- Nos encontramos às vinte e uma lá na frente, ok? - respondo ok para as duas chamadas, de Gio no celular e para o meu porteiro, avisando que meus brinquedos chegaram.
Deixo a porta aberta e coloco meu iPhone na caixa da Bose para amplificar o som. Deixo a playlist rolar e bebo mais um gole, um generoso gole, e ando até a varanda. Deve existir em algum outro lugar alguém tão sortudo quanto eu.
- Olá, Benjamin - escuto em coro, as vozes femininas entrando em meu santuário.
- Olá, meninas - me viro e as vejo, lado a lado, e isso é tão perfeito que eu preciso elaborar uma forma de colocar isso como exigência do que se deve fazer antes de morrer - O que desejam beber? - pergunto e me aproximo delas, beijando cada uma delas na boca e descendo minha mão até o traseiro de Hollie. Com certeza vou foder essa bela bunda essa noite. Mentalmente faço as contas de quantas camisinhas tenho e é o suficiente para esta noite.
- Eu quero beber você - Bryana responde e em seguida um eu também de Hollie deixa meu pau seguramente perfeito para tal pedido, mas isso não será tão rápido. Tive uma tarde movimentada na casa de Rafaela e uma despedida que foi rápida para não me deixar arrependido. Trepei com apenas uma mulher e Gio ainda fala que não sei mais fazer isso. Claro que sei, pergunte à minha vizinha. O meu problema não é trepar com apenas uma, é passar a noite toda com apenas uma. Longos períodos em par é que me incomodam.
- Você terá - respondo e ela não espera. Ela cai de joelhos na minha frente e desce minha boxer. Hollie aproveita e tira meu roupão e na sequência tira seu casaco e seu vestido. Ela está nua e vem em direção à minha boca.
Bryana engole meu pau com vontade, ela estava com saudade. Sinto sua garganta e sua língua e eu preciso que ela continue fazendo isso. Mas ela está com pressa e isso não é algo que eu aprecio, eu tenho todo o tempo do mundo.
Suspendo-a do chão e olho em seus olhos - Está com muita fome, isso pode não ser bom - falo e olho para sua roupa.
Ela entende meu recado e remove sua saia justa preta que lhe cobre até a altura das coxas e seu top, da mesma cor que sua jaqueta. Ela não fica bem de verde.
- Hollie, você conhecia Bryana? - pergunto e vou até o bar.
- Não, mas nos apresentamos no elevador - ela responde.
- Então, Bryana, você poderia ser gentil com ela - me mantenho de costas para elas e olho por cima do meu ombro e preparo as bebidas. São novatas, apenas Bryana já praticou ménage comigo e conhece parcialmente um pouco do que gosto.
Misturo vodca e um pouco de energético em dois copos e me viro de frente para elas. Bryana leva Hollie até o sofá e a coloca de quatro.
- Escute, se não fez isso antes, saiba que é algo que você vai querer fazer sempre - Bryana fala e posiciona seu rosto diante do traseiro exposto de Hollie. Eu entrego as bebidas e sorrio para cada uma delas. Elas viram tudo, sem nenhum tipo de receio e com total confiança.
- Acho que preciso de mais - Hollie confessa.
- Relaxe, amplie sua mente - falo e me abaixo colocando meu rosto de frente ao dela - Não há mal algum - beijo com força seus lábios e olho para os seus seios apoiados no encosto do sofá. Levanto, pego os copos e os preencho novamente com mais bebida, preciso de ambas sem nenhum tipo de limite.
Volto para o bar e escuto Hollie soltando um gemido, já começaram a brincadeira. Olho e vejo Bryana chupando a boceta de Hollie que se retorce e geme alto.
Vou para perto delas e as sirvo, dou a volta em torno do sofá e Hollie está estrategicamente com a boca na altura do meu pau e eu não posso desperdiçar isso.
- Quer? - pergunto e roço meu membro duro em torno de seus lábios que se abrem vagarosamente e eu fodo sua boca. Entro e saio e aprecio Bryana trabalhando em busca de um bom orgasmo. Eu confesso que oral eu faço apenas em pessoas que possuem minha confiança e isso não vai rolar aqui hoje.
Hollie começa a se entregar à língua de Bryana e geme alto, me fazendo ficar ainda mais duro. No minuto seguinte, Hollie goza e Bryana se levanta.
Hollie tira meu pau de sua boca e se levanta, pegando Bryana e a deitando no sofá. Ela se coloca no meio das pernas de Bryana e eu vou em direção ao bar, onde deixei alguns preservativos.
Abro um deles e o deslizo em meu pau e vou em direção a elas - Preciso que fique assim - trago o traseiro de Hollie para mais perto do meu pau e Bryana nos acompanha para que não perca o ritmo.
Enterro meu pau em Hollie que geme alto e desce sua boca até a boceta de Bryana e a chupa. Quero que tudo isso termine ainda essa noite, não as quero dormindo aqui e, de preferência, que nem entrem no meu quarto.
Hollie tem um belo traseiro e possivelmente vou ter que trabalhar dobrado aqui.
- Não pare - Bryana pede e Hollie continua e eu entro e saio com força de Hollie. O choque de nossos corpos faz barulho e eu sei que Bryana vai sair de Hollie e vai querer que eu a foda também e eu vou fazer, estamos aqui para isso.
Percebo que meu corpo começa a dar sinais de que tudo isso possa chegar ao fim com meu orgasmo, saio de Hollie e olho para Bryana.
- Agora é a sua vez - falo e prontamente ela se levanta sem ao menos ter gozado na boca de Hollie e vem em minha direção.
- O que você quer que eu faça? - ela pergunta e eu me sento em uma poltrona sem braços e deixo meu pau posicionado para que ela se sente. Ela se aproxima e deixa meu pau bater forte em seu útero e amanhã ela vai se lembrar disso. Chamo Hollie com meu indicador e ela se aproxima, com seus seios médios, não me lembrava direito deles.
Enquanto Bryana cavalga gostoso, eu chupo cada um dos seios de Hollie e deixo meus dedos brincarem em sua boceta molhada. Eu sei onde devo percorrer, eu quero que ela fique com mais vontade, com mais tesão, hoje aqui teremos um anal duplo e isso eu não faço há muito tempo.
Bryana tira minha boca dos seios de Hollie e me beija e isso tudo está ficando mais explosivo, mais meteórico e eu sei que hoje não é uma noite de performances, eu queria apenas um ménage tranquilo e nada tão performático.
Bryana desce com mais vontade e Hollie pega meus dedos e enfia em sua boceta e faz todo o trabalho. Eu gosto disso.
- Meninas, por que não colocam seus lindos traseiros expostos para mim? - pergunto e elas estão me olhando.
- Vamos ter um trabalho anal por aqui? - Bryana pergunta.
- Parece triste com isso - falo e tiro meus dedos de Hollie e seguro cada lado do traseiro de Bryana e a faço sentar com mais força ainda.
- Não, mas quem vai ficar com seu orgasmo? - ela pergunta.
- Não se preocupe com isso - falo e a tiro de mim - Agora apenas façam o que pedi - falo e elas se colocam de joelhos apoiadas no sofá.
Primeiro enrabo gostoso Bryana, assim Hollie fica mais à vontade com tudo isso e não me dará nenhum trabalho. Não preciso de muito por aqui, já tenho o que preciso para ter uma boa noite de sono.
Enterro uma, duas, três... doze vezes, até que ela grita, até que ela geme e eu saio e vou para Hollie, mas antes, troco de preservativo, não estamos aqui para brincar com vida nenhuma. Sou sadio exatamente por manter minha putaria dentro do melhor sistema de prevenção.
Assim que desenrolo o preservativo em meu pau, sinto o rosto de Hollie um pouco menos tenso. Eu me preocupo com quem eu trepo, pelo menos enquanto estou trepando.
Posiciono-me exatamente atrás dela e deixo um fio de saliva descer entre suas nádegas e lubrificar o lugar que preciso entrar com calma, mas isso não quer dizer que é assim que vou ficar lá dentro.
Entro vagarosamente e ela se retorce, geme... de dor, mas não desiste. Isso, menina, seja corajosa, penso comigo e aos poucos, depois da quinta enterrada ela solta mais o corpo e começa a buscar algum tipo de prazer no que estou fazendo.
Enterro repetidas vezes, mais forte, mais intenso e sinto o inevitável se aproximando. Saio de Hollie, tiro o preservativo e me masturbo.
- Agora sejam boazinhas, e venham experimentar um pouco de Benjamin - peço e elas se colocam de joelhos na minha frente e vejo suas bocas se abrindo, como cães famintos diante de um pedaço de carne.
Gozo e vejo o líquido jorrar em seus rostos, em suas bocas e isso faz com que o nosso show chegue ao fim.
Olho para cada uma delas e vou em direção ao meu roupão. Assim que o visto vejo a porta da minha sala se abrindo e minha mãe entra como se fosse a porra do Central Park.
- Mãe! - assim que falo, tanto Hollie quanto Bryana correm em direção a suas roupas e ao corredor. Acredito que elas encontrem o banheiro.
- Pelo amor de Deus, Benjamin! - ela exclama brava. Eu deveria estar bravo, se ela entra aqui cinco minutos antes eu não saberia o que fazer e a sugestão de Giovani de cair daqui da minha cobertura lá embaixo se torna quase real.
- Mãe, o ideal é você ligar antes de aparecer - falo e vou para o bar preparar mais uma dose de suco de laranja e vodca.
- O ideal é você fazer sexo com uma mulher por vez - ela está brava mesmo? - Eu nunca vi uma mulher sozinha aqui nessa casa com você - ela observa e isso é verdade, mulheres eu recebo apenas um número acima.
- Isso é mentira - me defendo.
- Como assim mentira? - ela pergunta e procura um lugar para colocar a bolsa - Tem algum lugar seguro para eu deixar minha Vuitton? - ela está olhando com cara de nojo.
- Em cima da poltrona perto da porta, pelo menos eu sei que não fiz nada ali, não hoje - sorrio para ela - Bernice está sempre aqui comigo, apenas eu e ela - falo da senhora que faz faxina duas ou, quando preciso, quatro vezes por semana, de acordo com o tipo de festa que eu ofereço.
- Bernice tem quase cinquenta anos, você a mataria - minha mãe é maluca e é como se tivéssemos apenas quebrado um copo e não ter sido flagrados quase no ato sexual. Imaginei por um instante se ela chegasse na hora do anal intercalado.
- Mãe - falo e vejo as meninas vindo e saindo sem nem se despedir, querendo ou não isso me poupou o lance de ter que dar desculpas para elas não ficarem aqui - O que te traz em meu apartamento a essa hora?
- Como assim? Queria te ver, chegamos essa manhã da Alemanha e estava com saudade. Mas eu não vou te abraçar e muito menos te beijar, a não ser que tome um banho - ela olha para mim e ainda não conheci uma mãe tão desiquilibrada quanto a minha.
- Não vou tomar banho, mas já que veio sente-se - peço e ela está com os olhos arregalados.
- Não, vou ficar de pé e ficar em segurança tanto quanto a bolsa - ela sorri de maneira sarcástica - Queria apenas saber como você estava e pelo visto você está muito bem - ela quer me dizer mais alguma coisa e está rodeando para chegar na conversa - Benjamin - ela diz e eu a olho do bar, bebendo uma boa quantia de vodca, pura.
- O que foi, mãe? - pergunto.
- Seu primo Mielle vai chegar amanhã pela manhã, teria como ele ficar com você apenas uma noite? Assim você apresenta a cidade para ele - Mielle é o cara mais vida saudável do planeta, o tipo que treina para estufar o corpo.
- Mãe, para estar me pedindo isso é porque prometeu que eu o faria para o tio Archie, estou certo? - Archie é irmão de minha mãe e eu não posso pisar na bola com ele, eu lhe devo um favor por conta de Gio em Vegas. Meu tio mora lá e é advogado. Minha mãe nem imagina o que aconteceu por lá.
- Sim - ela responde e eu viro o restante que está meu copo.
- Mas amanhã à noite eu vou à exposição beneficente - falo e ela sorri.
- Mas que notícia maravilhosa! Faça uma doação em nome da Brandy - ela diz e eu não vou doar nada, eu vou ter que pagar um rim para o Wallace por conta da carga que foi desviada - Vou ligar para Gisella, ela que está organizando e assim eu garanto o convite de Mielle - Estou prevendo uma noite daquelas.
Minha mãe faz a ligação e caminha até a varanda falando muito mais do que o indicado para qualquer ser humano. Ela possui um excelente gosto para roupas e meu pai obviamente sempre reclama disso, o bom gosto tem um custo, segundo ela. Ela está com uma calça social e terninho verde claro e salto bege ou algo assim. Seus cabelos louros, mas não platinados, a deixam ainda mais jovem. Gabriella Brandy ainda é uma mulher atraente e meu pai também reclama disso, ele ainda tem o ciúme adolescente ali dentro de seu coração.
Coloco mais suco no copo e mais vodca também e olho a minha imagem no espelho na parede do bar e como sempre, pareço uma porção de anos mais novo. Sexo é o meu segredo.
- Pronto, Gisella vai pedir que deixem um ingresso amanhã na recepção em seu nome. Não é uma cortesia, então, pague os mil dólares - ela ordena sorrindo e vem em minha direção - Adoraria beijar o seu rosto, mas eu prefiro fazer isso quando estiver livre de qualquer tipo de fluido sexual - ela anda em direção à porta e olha para mim - Você bem que poderia encontrar alguém, namorar, casar e me dar um neto - ela fala sorrindo e eu gargalho.
- Está com medo que eu fique solteirão? - gargalho enquanto pergunto.
- Não, tenho medo que se sinta sozinho mesmo depois de fazer esse tipo de coisa - ela muda o semblante e joga um beijo para mim - Eu amo você, meu filho, mais do que qualquer coisa nesse mundo - ela diz, pega a bolsa de cima da poltrona e pede para abrir a porta. Ela não vai colocar a mão na maçaneta, não depois do que ela viu.
- Eu também te amo - falo e a observo caminhar até o elevador no pequeno hall antes da minha sala principal.
Vou direto para o chuveiro assim que recolho as camisinhas e as dispenso no lixo. Deixo a água cair o suficiente para eu me sentir limpo. Eu não estava me sentindo sujo até minha mãe falar aquilo. Não sei por que estou me sentindo assim.
9
Kim
Lise sabe que é bonita, é uma pena que seu casamento tenha acabado em menos de um mês. Traição é o tipo de coisa que se tornou banalizada, mas é tão imperdoável, não consigo ver nada de bom. Apenas a lição que tiramos e a conclusão de tudo isso é que confiar hoje em dia é muito difícil.
Penso nisso enquanto a observo retocando a maquiagem. Estamos no banco de trás e seu motorista está nos levando até a exposição. Somos amigas, mas ela não sabe os detalhes de minha vida, como Vivian e Jess, por exemplo.
Sei bastante sobre a vida dela, mas nunca me senti confortável em falar muito sobre a minha e eu sei que essa vida turbulenta que nos une se resume aos nossos pais que são amigos.
Gostaria de sair mais com ela, talvez seja isso, ela namorou e logo se casou e é por isso que nunca tive tanto tempo em partilhar minha vida com ela.
- Que bom que está indo comigo - ela diz e me flagra olhando para ela. Olho para o meu vestido rosa claro, longo, mas não tão social, ele é apenas sóbrio. O dela é preto, tem renda e deixa a mostra parte do seio. Estou usando um tomara que caia e cabelos soltos. Não tive tempo de enrolar como ela e suspender no alto da cabeça. Lise está bem sexy para quem vai a uma exposição.
- Vai ser legal - falo e minto. Não vai ser legal porque vai ter pouca gente conhecida, canapés com gosto de algo estragado e um leilão chato.
- Não vai, comida ruim, ex-marido filho da puta e um leilão que meu pai quer que eu arremate alguma coisa. Prefiro fazer a doação e ponto, assunto encerrado - ufa, não sou a única a estar com medo do que está por vir.
- Achei que só eu estivesse com receio dessa exposição - confesso e pego minha bolsa de mão da cor do vestido e alcanço um espelhinho e confiro a maquiagem.
- Lindo esse seu cordão, é ouro branco, certo? Excelente gosto - ela elogia o presente de aniversário que ganhei de Benjamin.
- É o meu favorito - me lembro do momento em que ele me deu e tudo aqui dentro tremeu, porque ele é o único que me faz sentir medo, mas ele não imagina isso. Ele pensa que sou a boba apaixonada, não imagina que consigo ver seus momentos de solidão quando faz piada em suas redes sociais ou quando liga passando trote em Alexander.
- Espero que goste - ele disse, e eu sabia que amaria qualquer coisa que viesse dele, não porque tenho sentimentos platônicos por ele, mas porque ele me conhece e sabe dos meus gostos.
Abri e olhei o cordão de ouro branco feito sob encomenda e com um fecho lindo que ostenta um pequeno diamante.
- Colocaria em mim? - perguntei e ele sorriu o seu sorriso verdadeiro, e não o debochado ou o sem vergonha, apenas sorriu por estar feliz.
Lembro de Alexander atravessar todo nosso jardim e surgir como um ninja ao meu lado, mas foi como se meu irmão não existisse, como se mais nenhum dos cento e cinquenta convidados estivesse lá, era apenas ele e eu.
- Você está me ouvindo? - Lise me traz das lembranças e eu me assusto.
- Para ser honesta não - sorrio sem graça.
- Qual o nome dele? - ela pergunta.
- Dele quem? - suspendo o centro das sobrancelhas.
- Do cara que estava fazendo você sorrir - ela diz e eu nego com a cabeça.
- Não, não existe ninguém, apenas me lembrei de uma situação engraçada - minto de novo.
- Não parecia ser uma risada engraçada, parecia sér um sorriso apaixonado, mas quem sou eu para falar isso? Acabei de levar um pé na bunda com direito a chifre e tudo mais - ela fala e olha para mim suspendendo os ombros. Acho que temos quase a mesma idade.
- É que me lembro de algumas coisas que aconteceram e fico com cara de boba - cara de boba mesmo. Sou apaixonada por um cara há anos e ele não sabe ou finge que não sabe, ou Alexander estraga tudo.
- Jeff vai estar nessa exposição, e com certeza a cretina vagabunda da namoradinha dele - Lise me parece estar com ares de vingança e isso não é bom, o clima aqui é de altruísmo e não de destruição.
- Se ele estiver, finja que não está vendo, olhe para outros homens e saia por cima dessa situação - não quero passar vergonha, ainda mais vergonha alheia.
- Eu gostava desse filho da puta, e ser trocada por uma mais jovem é o fim - ela fala e eu achei que fôssemos da mesma idade. Me preocupo por dois minutos em relação a isso.
- Você tem a mesma idade que eu, certo? Vinte e nove? - espero não ter cometido nenhuma gafe.
- Trinta e oito, minha amiga - ela diz e com certeza ela deve ser o tipo de mulher que faz todos os tratamentos. Eu também sou vaidosa, não dispenso a tecnologia de cremes a meu favor, mas definitivamente Lise não parece ter quase quarenta anos.
- Você está muito bem e Jeff com certeza vai olhar para o que perdeu e sentir um profundo arrependimento - falo e Lise abre um par de olhos esperançosos em minha direção e eu me arrependo de ter dito isso.
- Kim, você acha isso mesmo? - a pior coisa para quem está sofrendo por amor ou dor de cotovelo é alguém dar falsas esperanças.
- Claro - acho que não, se ele trocou você por uma mais nova, alguma coisa tem - Mas não mantenha esse foco. Hoje, você não vai enxergá-lo, encontre alguém, converse e esqueça que ele está aí, nem me importo se tiver que ir embora de taxi - espero que isso não aconteça, mas se for preciso, prefiro uma caça por um taxi nova-iorquino a ter que aguentar qualquer tipo de choradeira. Não sou insensível, apenas aprendi a lamber minhas próprias feridas sem esperar piedade ou apoio de outras pessoas.
- Você tem razão - ela diz e eu consigo respirar normalmente - Chegamos - ela diz e eu me sinto aliviada. Pelo menos ela pode se misturar e eu posso ficar livre.
Olho para o relógio e são oito e trinta da noite, tem uma fila até que volumosa e alguns carros aguardam os manobristas. Estamos na Quinta Avenida, Benjamin mora aqui, a algumas quadras mais adiante. Estive uma ou duas vezes em seu apartamento. Isso faz muito tempo e Alexander ficou tanto tempo no meu pé que minha vontade era me jogar lá de cima.
O carro para e em seguida o motorista abre a porta para Lise e um manobrista abre a porta para mim. Saio e ajeito meu vestido, balanço minha cabeça e sinto meu celular vibrar dentro de minha bolsa.
É Alexander.
- Oi - atendo.
- Onde você está? - ele pergunta curioso e um pouco rebelde
- No bordel ganhando a vida, e você? - sou malcriada.
- Para com isso, Kim, onde você está? - não acredito nisso.
- Qual o motivo que te leva a pensar que eu tenho que lhe dar satisfações? - pergunto.
- Porque papai e mamãe vão demorar mais vinte dias para chegar e eu sou seu irmão mais velho - cretino.
- Você é um hacker, como não rastreou meu celular e descobriu onde estou? - provoco e caminho em direção à fila. Muitos fotógrafos, jornalistas e curiosos esperando alguma estrela do cinema por aqui.
- Eu já sei onde você está, só que Quinta Avenida não é um lugar que me deixa animado para você estar - não estou acreditando que ele está fazendo isso.
- Só porque vou até a cobertura de Benjamin e vou trepar com ele até me cansar ou morrer? - péssimo momento para Alexander ser ele mesmo.
- Kimberly, caralho, o que você está fazendo aí? - ele está muito bravo.
- Tem certeza que você sabe realmente rastrear alguém? Deve ser por isso que alguém conseguiu invadir o sistema da Oracle e brincar de esconde-esconde com você - agora essa conversa vai ficar boa.
- Você está na Quinta - ele desvia da minha pergunta.
- Sim, mas estou no museu numa exposição beneficente, lembra? Você não quis e eu assumi isso - sinto a respiração dele murchar até desaparecer - Vou desligar e fingir que não escutei nem meu celular tocar com essa sua ligação.
Desligo a ligação e o celular. Agora eu quero paz, vou aproveitar essa noite como eu mereço.
Paramos no final da fila e Lise resolveu me perguntar sobre a minha vida pessoal, sobre relacionamentos e eu fiquei em dúvida em qual responder, sobre os que termino ou sobre aquele que gostaria que tivesse existido. Mas falo apenas o primordial, que meu foco é trabalho.
- Não minta para mim, você é linda, não é possível que não tenha pelo menos uma dúzia de homens aos seus pés - ela fala e começamos a caminhar, a fila se movimenta e somos as últimas da fila por enquanto.
- Os homens têm medo de mulheres CEO - falo e uso meu cargo como repelente.
- Isso é verdade - ela concorda e fica pensativa. Acho que falei algo que fez seu cérebro ir para longe dessa conversa.
Algumas pessoas se aproximam e ficam atrás de nós e tudo fica ainda mais movimentado e faltam apenas quinze minutos para nove horas.
- Você viu aquele ali de terno azul claro? A pessoa tem que ter muita atitude para usar um terno dessa cor, mas ele tem um belo corpo - Lise está analisando as pessoas e com isso a fila vai andando até que entramos no museu e fomos para perto de uma escultura de gelo, apenas para reconhecermos o terreno e analisarmos a programação da exposição.
Vai ter de tudo um pouco, comida, bebida, acervo de selos imperiais. O que seria isso? Violinista para abertura de um coral, doações espontâneas, leilão e um open bar ao final. É, os mil dólares valeram a pena, mas eu sei que vou ter que deixar um cheque gordo por aqui, é isso que vim fazer. Particularmente eu preferiria fazer o meu tipo de doação, para as crianças refugiadas, crianças que conheci de perto, as peguei no colo e pude ver em seus olhos seus pedidos de socorro.
Quando eu atravessei o oceano, pensei que fosse encontrar algo terrível e, então, encontrei esperança em cada olhar, em cada gesto de carinho e senti não apenas necessidade em ajudar, eu queria fazer mais, era como se minha alma precisasse exatamente disso para ser salva. Esse é o tipo de doação que vale a pena, o tipo de caridade anônima que está muito longe de se tornar essa vitrine de vaidades à base de champanhe e música praticamente entediante.
- Kim, Jeff está ali com a vagabunda, perto dos quadros - ela aponta discretamente para o início da rampa interna que percorre toda a parede fazendo as vezes de uma escada em arco. Mas eu não sei quem é ele, e tem vários casais por ali - Ele é o que está com a mão na cintura da morena - ela me orienta e a mulher se vira para nós e eu entendo o motivo de Jeff ter deixado Lise. Pelo menos o motivo visual.
A morena é linda, um corpo escultural e ela está vestindo um Dior e sabe como usar maquiagem e acertou em cheio no penteado. Seu rosto me é familiar e eu tento pensar de onde eu a conheço.
- Não é esse seu foco, ok? - falo porque eu mesma estava encarando-a.
- Vamos para o outro lado, onde ele não possa me ver? - ela pede e age como uma adolescente, mas eu a entendo. Já vi Benjamin atracado com outra mulher em algumas festas, inclusive na Jonh Jonh, e isso é péssimo.
- Lise, vire a página. Ele faz parte da sua história e todo mundo deixa algo bom, mesmo que o final não tenha sido tão feliz - vejo um garçom se aproximando e pego duas taças. Os mais ricos estão por aqui hoje. Observo de maneira geral.
- É isso que vou fazer, não vamos ficar aqui paradas, vamos olhar o que tem na sala anexa. De repente, meu novo grande amor está por lá - ela fala e eu sinto que Lise ficou presa durante muito tempo e agora quer fazer as loucuras que deixou de fazer em prol de um matrimônio que não deu certo.
Andamos em direção à sala e começamos a prestar atenção nos quadros que não me transmitem nenhum tipo de mensagem.
Vejo Lise pegar o celular e tirar algumas fotos, alguém anuncia que as doações estão livres de valores fixos.
- Esse quadro custa quinze mil, mas está sem a assinatura - ela observa.
- Todos os quadros estão sem assinatura, os verdadeiros ficam guardados para o leilão, isso evita que alguém enfurecido faça alguma besteira. E no caso, estamos falando de Vik Muniz, ele é brasileiro mas é radicado aqui nos Estados Unidos. Ele tem uma visão única, já fez retratos sobre resíduos de lixo e fez obras com açúcar e outras com chocolate - explico e Lise me encara.
- Você é bem inteligente, eu nunca ouvi falar - ela fala e eu dou um sorriso sem dentes. Isso não é uma questão de inteligência, é uma questão de saber o que está acontecendo na atualidade além das coisas que orbitam a nossa volta.
- Que horas são? - tenho a sensação de que o tempo não está passando.
- Nove horas em ponto, daqui trinta minutos aquelas portas se fecharão e, enfim, o evento pode começar oficialmente - ela fala e eu penso que isso vai ser praticamente uma tortura.
10
Benjamin
Vejo Giovani na calçada e eu nem estou tão atrasado, dez minutos não é atraso.
Ele olha em minha direção e olha para Mielle que está do meu lado.
- Esse cara é o de Vegas? - Mielle pergunta e eu quase gargalho. Gio vai adorar saber que esse é o seu apelido.
- É esse mesmo - confirmo e dou risada. Mielle está maior do que antes, tem treinado mais do que deveria e eu não me sinto confortável em andar ao lado dele. Ainda bem que ele vai embora amanhã pela manhã. Mas essa noite não vou poder aproveitar muita coisa. A sorte é que estou em dia com meu corpo. Tudo bem que ontem minha mãe quase arruinou tudo, mas no final, ela foi embora e me deixou lá, pensando um monte de merda sobre a minha própria vida. Gabriella tem um poder extraordinário de foder meu psicológico.
- Cara, vocês detonaram Vegas, quanto tempo ficaram proibidos de pisar no Bellagio? - Mielle pergunta.
- Ainda não podemos pisar lá - sorrio e olho para ele. Mielle é da minha altura, mas ele é duas vezes mais largo do que eu, ou seja, andar com ele me torna invisível. Ainda bem que essa noite não estou caçando ninguém, caso contrário, perigava ser jogado para escanteio.
Aproximamo-nos de Gio e ele estica a mão em minha direção e nos abraçamos como amigos e depois ele encara Mielle.
- Ei, você fez um belo serviço em Vegas - Mielle comenta e a gargalhada que estava segurando se solta e Giovani coça a cabeça.
- Ainda tenho problemas em alguns cassinos e não posso cogitar o nome daquele hotel famoso - Gio fala e cumprimenta Mielle - Seu pai nos salvou - ele lembra do trabalho do meu tio, foi rápido limpando nossa sujeira.
- Relaxa, ele já me livrou de algumas também, muita gente deve favores a ele e ele é muito bom em cobrar - Mielle diz e caminhamos em direção à entrada.
- Faltam dez minutos para fecharem as portas - Gio fala e apertamos o passo - Você está atrasado, Benjamin - Gio banca o tio velho.
- Cara, entenda o meu lado, eu vim a pé - sacaneio, moro a menos de duas quadras daqui.
- Filho da puta - Gio me xinga e Mielle dá risada.
- Ele é mal educado, você sabe, viu o que ele fez em Vegas - Gio olha sobre o ombro e nega com a cabeça.
- Cara, você tem que esquecer Vegas - Gio pede.
- Eu já esqueci, mas Vegas não esqueceu de você - gargalho e um recepcionista enorme pede nossos convites. O meu está com Gio e o de Mielle está em meu nome na portaria.
- Gio, o convite de Mielle está em meu nome na portaria - falo e ele pede.
- Me dá o dinheiro - Gio não deixa barato.
- Mão de vaca - pego minha carteira e entrego o dinheiro - Mielle, eu nem posso te cobrar, afinal, seu pai fez um grande favor para o Gio, acho até que Gio deveria pagar a sua - sacaneio e Gio me olha atravessado.
Entramos no evento e de cara já vejo duas mulheres servindo algum tipo de bebida que pode ser a minha favorita.
- Posso fazer uma pergunta? - Mielle pergunta.
- Faça - respondo e encaro as mulheres que servem taças abundantemente.
- Vocês já tinham sequestrado Stripers antes? - Gio chega a ficar vermelho.
- Não sequestramos - Gio fala.
- Não? Vocês pediram resgate ao gerente do bar que elas trabalhavam, sem contar que vocês fizeram uma dança muito louca sem as calças em cima da mesa de Black Jack do Bellagio - Mielle se lembra de muita coisa, talvez precisemos eliminar seu corpo em algum lugar por aqui.
- Essa ideia foi de Sebastian, ele é um filho da puta - Gio fala e ao mesmo tempo começa a dar risada.
- Como vocês conseguiram tirá-las do bar? - Mielle pergunta e esse mérito é todo meu.
- Conte a ele, Benjamin, como você as tirou de lá - Gio pede com sarcasmo e eu sorrio.
- Foi a coisa mais fácil do mundo, entrei pelos fundos, fui até o camarim delas e ofereci cinco mil para quem quisesse me acompanhar, mas tinha que topar fazer tudo - falo com orgulho, afinal, o pior já passou.
- Quantas vocês sequestraram? Três? - Mielle pergunta inocentemente.
- Sete - Gio responde, e vejo a cara do meu primo se abrir em uma gargalhada e isso chama atenção de algumas pessoas.
- Qual é o nome daquele que estava tentando subornar a polícia?
- Alexander - respondo.
- Tenho pena do motorista da limusine. Ele teve que aguentar uma orgia enquanto estava ao volante - Mielle é realmente muito inocente.
- Mielle, Sebastian estava dirigindo a limusine, pagamos mil pratas para o motorista ficar em um bar e ele topou na hora, mas tínhamos que cuidar do carro. Enquanto Sebastian dirigia, uma das stripers fazia uma boquete nele - falo e começo a rir.
- Vocês realmente sabem aproveitar Las Vegas - ele diz.
- Claro que sim, certo, Gio? Afinal, foi Gio que ficou nu e andou com metade do corpo para fora da limusine enquanto uma striper engolia seu pau. Eu sei disso, eu estava fodendo uma dentro da limusine e tinha que evitar olhar para a bunda do Gio para não brochar - seguro a risada e Mielle não.
- Falam como se eu fosse o pior - Gio tenta se defender.
- Não, Gio, você foi o melhor. Claro que Sebastian com o quepe de motorista também foi ótimo - me deu vontade de fazer tudo de novo.
- Mas tinha mais pessoas com vocês além de Alexander e Sebastian - meu primo se lembra.
- Sim, Ramon, Carl, mas deixa isso pra lá - coloco a mão sobre o ombro dele e ele entende. Aquela noite revezamos as mulheres como se estivéssemos em Madri, e Gio quase se casou com uma striper, depois disso nunca mais misturamos mais nada a nenhuma bebida.
- Vou subir, vou começar a ver lá de cima primeiro - falo e começo a subir a rampa que forma um espiral.
- Vou pegar alguma coisa para beber - meu primo fala e Gio avisa que vai acompanhá-lo.
Aceno que sim com a cabeça e subo olhando os quadros e vejo um garçom se aproximar. Não preciso ir atrás de bebida alguma, elas veem até mim.
Subo até o último quadro e fico de frente para ele, tento imaginar o que ele está tentando transmitir, e para ser honesto não sei nem o que estou fazendo aqui. Se fosse uma exposição sobre motos, motores ou até mesmo itens de teor sexual, eu ficaria mais disposto.
Olho à minha volta e apenas duas ou três pessoas estão por perto, todos de roupa de gala e eu me enfiei nesse terno, com essa gravata e isso não é algo que me deixa feliz.
Vejo Mielle vir em minha direção e ele está sorrindo com uma taça na mão.
- Cara, tem uma mulher lá embaixo, que mesmo se eu vivesse umas oito vidas eu não encontraria uma mulher tão linda - ele está praticamente salivando.
- Vai lá e come - dou a melhor sugestão do mundo para ele.
- Acho que ela não é disso. Seu semblante é de alguém frágil e está com um vestido que deixa o desenho de seus seios tão ali, ao alcance da minha imaginação - esse cara faz tempo que não trepa, ninguém fica assim por mulher alguma sem nenhum motivo, apenas por olhar.
- Me mostre ela - me aproximo perto do parapeito de proteção e ele para do meu lado e tenta localizá-la, mas mesmo não estando tão lotado, as mulheres estão quase com a mesma roupa e a maioria é a mesma cor se não é de tom escuro.
- Ali, a de rosa, cabelos soltos com a taça na mão, está perto da escultura de gelo. Passei por ela e disse um oi e ela abriu o sorriso mais lindo que eu já vi - ele fala e eu estou tentando não pensar que é quem meus olhos estão vendo.
- Aquela com quem Gio está conversando? - pergunto.
- Sim, cara ele vai ter que me apresentar - vou ter que matar mesmo esse filho de uma puta.
- Eu a conheço e está noiva, vai se casar em breve e o cara é amigo nosso - falo a primeira porção de merda que vem à minha cabeça.
- Você a conhece? - ele pergunta.
- Sim, ela é irmã do Alexander - tento não deixar que ele salive mais por conta dela. Sou capaz de jogá-lo aqui de cima.
- Cara, como um amigo seu tem uma irmã desse nível? - ele nega com a cabeça - Você nunca trepou com ela? - ele pergunta e eu o encaro.
- Mielle, mais respeito, ela não é desse tipo, não se aproxime dela, entendeu? - meu sangue ferveu o suficiente para esquecer que devo favores ao pai dele, mas também, foda-se! Se Vegas quiser pode vir me processar.
- Cama aí, cara, não sabia que rolava alguma coisa entre você e ela - quero dar um soco nesses dentes alinhados dele.
- Não rola nada, nunca rolou, ela é protegida, entende? E vai se casar - reforço a mentira.
- Falou como se ela fosse sua - ele fala e eu penso que queria que fosse, mas não a mereço por uma série de razões.
- Apenas não se aproxime dela - falo e a observo lá de cima. Não a vejo desde aquela manhã que a flagrei beijando seu ex-noivo. E eu não estava pensando sobre ela desde que Gio falou aquele monte de merda para mim em Madri.
É sempre assim, eu falo o tempo todo para mim mesmo que nada disso tem importância, que ela não significa nada para mim e que vou continuar minha vida do jeito que está. Mas quando a vejo, é como se eu soubesse que no dia seguinte com certeza eu vou desmoronar, por que eu sei que ela não vai estar lá.
Não é fácil fugir de nós mesmos, estou fugindo há anos e sempre acontece alguma coisa que me faz voltar e encarar tudo isso como deve ser encarado.
- Ela não vai se casar, certo? - a voz de Mielle agora é de compaixão e isso me incomoda, mas ao mesmo tempo tem algo em minha garganta que parece que vai me sufocar.
- Ela terminou há algumas semanas - continuo olhando para ela - Ela é irmã do Alec e temos um acordo entre cavalheiros, não pegamos irmãs, não deveria ter aceitado isso antes de conhecê-la - nego com a cabeça.
- Vocês nunca...?
- Nunca, nada - respondo e vejo-a conversar animadamente com Gio.
- Quando acontecer, alguma coisa vai explodir - ele diz.
- Por que está falando isso?
- Benjamin, fique por um mês sem tomar água, nenhuma gota de nada que possa REALMENTE matar a sua sede, o que vai acontecer quando encontrar um litro de água gelada? - ele pergunta e eu sei a resposta, e meu medo é que eu nunca mate a minha sede.
- Isso vai passar - falo e eu nunca falo de mim, não em relação a Kim, mas me senti confortável em me abrir com ele.
- Não vai, vai apenas crescer em silêncio, até que um dia vai ser mais forte do que você, mais forte do que o mundo - ele coloca a mão em meu ombro - Ela passou a ser mais um homem nessa festa para mim - ele diz e me deixa ali, olhando para ela.
Sempre linda.
Volto a olhar para os quadros para evitar pensamentos ruins e nada saudáveis em relação a ela.
A primeira vez que a vi, ela estava saindo da piscina, ainda com o corpo de uma adolescente, mas ela sempre foi linda e Alexander sempre morreu por conta dela. Ele disse para ela colocar uma roupa por cima do biquíni e ela nem se importou e também não me percebeu. Seu biquíni era branco, seu cabelo estava todo ondulado e ela sorria como alguém que teria muito a oferecer.
Uma vez nos encontramos por acaso em uma festa de aniversário de uma amiga que não sabíamos que tínhamos em comum. Ela me falou de suas viagens, dos refugiados, de seu empenho em querer que o mundo enxergasse esse problema e eu por diversas vezes pedi um tipo de socorro, eu não resistiria ali por muito tempo. Eu desejei beijá-la de todas as formas, mas eu sempre soube que eu sou o tipo de coisa ruim que pode acontecer para ela.
Evan uma vez me disse que o tempo pode ser capaz de muita coisa, mas ele não ameniza sentimentos, ele apenas os deixa descansando. E eu sempre tentei me convencer que nunca senti nada por ela, até mesmo cheguei a imaginar que se eu fizesse amor com ela, essa coisa que está aqui dentro, e fica pior quando ela aparece, sumiria.
- Está olhando para o quadro como se ele fosse algo feliz, está sorrindo - a voz de Kim chega à minha nuca, entra em meus ouvidos e tudo que nego e garanto que não é forte me vence antes mesmo de começar essa batalha. Estou sorrindo para o quadro porque estava me lembrando de tudo relacionado a você.
- Me parece algo feito por algum comediante - brinco e me aproximo dela. Beijo o alto de sua face demoradamente. Percebo que ela fecha os olhos e respira profundamente.
Isso tudo é tão complicado, confuso e tão excitante.
- Mas não foi, acredite - ela sorri e meus olhos estão nos olhos dela - Pelo menos você está se divertindo aqui - ela diz e fica diante do quadro que eu estava olhando sem a mínima ideia do que se trata. O vestido que ela escolhe mostra as curvas de seu corpo, ele não é colado ou justo demais, mas ele está ali, deixando seus movimentos mais limitados.
- Na realidade estou aqui por conta de Gio, ele é muito bom em me enfiar em roubadas - falo e ela sorri e leva seu rosto diante do meu. Não faça isso, com você eu preciso ser forte o tempo todo e eu não tenho vocação para ser um herói, estou mais inclinado em ser o vilão dessa história. Estamos sozinhos aqui em cima, as pessoas já estão na parte de baixo onde vai começar o leilão.
- Vem comigo - ela diz e segura a minha mão. Pelo amor de Deus, eu não vou responder por mim. Ela abre uma porta que nos leva a um terraço e eu nem imaginava que esse lugar existia. Por um segundo, imagino quem foi o filho da puta que mostrou esse lugar para ela.
- Conhece bem esse museu - espero não ter colocado nenhum tipo de emoção no que acabei de dizer.
- Sim, minha mãe fez muitos eventos aqui. Acho que passei semanas aqui antes de ir para Inglaterra ajudando-a - uma paz universal e tranquila se coloca em meu peito e eu me sinto um ridículo. Ela deixa sua bolsa sobre um banco e se aproxima do parapeito - Nova York é um enorme coração, pulsante, quente e tão harmonioso, não acredito que haja outro lugar assim no planeta- ela fala com uma espécie de saudosismo, descreve as sensações de andar pelo Central Park, de caminhar pela Battery ou de simplesmente abrir a janela de seu quarto e saber que está na Big Apple.
Escuto-a falar por longos minutos, observo o desenho de seu rosto fino, pele delicada e que transmite uma sensação de suavidade. Sinto vontade de tocar em seu rosto, saber como é sua pele. O nariz dela é incrivelmente bonito e forma um conjunto tão sensual com a boca e ela sempre teve esse sorriso; é um tipo de soberania e presença sobre qualquer outro mortal.
Ela aponta para algum ponto lá fora, como se algo lá fora fosse digno de tirar a minha atenção dela. Eu nunca tive essa oportunidade, de estar assim com ela, sem Alexander me ameaçando ou qualquer outra pessoa querendo falar alguma coisa. É como se de alguma forma o mundo nos impedisse de ficar juntos, é como se o mundo sempre a salvasse da minha terrível companhia.
- Fala como se estivesse indo embora - sorrio e fico ao lado dela.
- E estou. Em algumas semanas vou me mudar para Suécia e assumir nossa filial de lá - ela fala com tranquilidade, como se eu não fosse mais nada e eu olho para o seu pescoço e vejo o cordão que dei a ela. Ela vai embora e eu nunca vou poder matar a minha sede.
- Suécia? - sinto minha voz sem muita força ao falar.
- Sim, conhece? - ela pergunta e ela está feliz, acho que ela está feliz com essa decisão. Eu possivelmente fiquei em algum lugar do seu passado, eu nunca vou poder atrapalhar o seu futuro.
- Não, mas, então, eu terei a oportunidade e acho que já tenho onde ficar - falo tentando ser animador, mas sei que não estou convencendo. Ela me enfraquece e nem imagina o poder que tem sobre mim. Sempre teve.
- Será meu convidado de honra - ela coloca a mão em meu ombro e eu olho para o desenho perfeito de seu rosto... beijá-la deve ser algo surreal.
- Fico feliz por isso e feliz que tenha realmente gostado do presente, é a primeira vez que a vejo usando - ela sorri.
- Ele é o que mais gosto e combina com esse anel - eu reconheço esse anel, foi presente de Natal. Também de ouro branco e tem um pequeno diamante entre duas pedras cor de rosa, quase da mesma cor que seu vestido.
- Me sinto honrado - falo e sem querer meu corpo se aproxima dela e nossas respirações se cruzam, duelam e ela recua. Sinto algo me atravessar como uma lança em chamas. Estamos ali, conversando há pelo menos vinte minutos e eu cheguei a pensar que pudéssemos, mas eu sei que não devemos. É como se nosso cérebro avisasse que isso é realmente proibido. Mas, por que proibido? Quem morreria por isso? O quanto isso afetaria a humanidade? Afetaria a ela.
- Vamos entrar? - ela diz e eu sinto muito em ter que entrar e não saber como é beijar a sua boca - O leilão vai começar e meu pai tem interesse em uma das obras - ela diz e caminha na minha frente, pega a bolsa e vai em direção à porta e segura a maçaneta. Ela gira e olha para mim e eu estou a poucos passos dela. Ela abre a porta e olha para mim e eu vejo um homem e não entendo muito bem, mas acho que é um capuz em seu rosto, ele está armado.
- Temos mais dois aqui, são os últimos - ele diz e Kim olha para ele e ele a segura pelo braço com força e a puxa para perto dele. Eu esqueci que ele estava armado e fui para cima dele e ele colocou a arma na cabeça dela e, então, eu recuei.
- Calma - pedi.
- Estou calmo, não vamos machucar ninguém, apenas faça o que eu mandar e tudo será resolvido - ele fala e segura o braço dela com força e ela deveria ter me beijado e não aberto esta maldita porta.
Ele fala que eu ande à frente dele e me leva até uma porta, a última porta do último andar do museu.
- Abra - ele exige e me cutuca com a arma. Assim que abro, vejo uma espécie de depósito de materiais de limpeza, uma estante de ferro com panos, baldes e uma coluna bem no meio das duas estantes, provavelmente essa sala foi escolhida para almoxarifado exatamente por conta disso - Entrem - ele diz e assim que eu entro ele empurra Kim e eu a coloco atrás de mim.
Olho para o cara com o capuz no rosto e ele tira do bolso de trás algumas braçadeiras.
- Ei, cara, sente-se aí, encostado na coluna - ele ordena - E você, gatinha - ele desliza o cano da arma pelo rosto de Kim - Sente no colo dele, de frente para ele e isso fica comigo - ele pega a bolsa dela e coloca sobre a prateleira que está de frente a nós.
- Eu não consigo me sentar assim - ela está nervosa e constrangida, está tremendo.
- O problema é o vestido? - ele pergunta e a faz girar diante de seus olhos e eu quero matar esse filho da puta - Achei que só encontraria velhotas aqui - ele olha para as costas dela e desce o zíper de uma vez, a fazendo segurar o vestido por puro instinto - Tire esta merda e sente-se ali, no colo dele, de frente pra ele - se o vestido dela fosse mais solto...
Olho para o rosto dela e endureço o meu, espero que ela não esteja nua por baixo desse vestido, caso esteja vou ser obrigado a levar um tiro por ela. Ele não vai colocar a mão nela.
- Não precisa disso - falo.
- Precisa calar a merda da boca - ele fala e aponta a arma para a cabeça dela e encosta o cano em sua nuca.
Kim desce o vestido e se coloca diante de nós com uma lingerie branca, perfeita, de cetim, e seu sutien não tem alças. Deus, peço apenas que me dê força se este merda colocar a mão nela.
- Uma pena que não vou poder ficar para a festinha, agora, sente no colo dele e faça exatamente o que eu disser - Kim se aproxima, coloca um pé de cada lado do meu corpo e se abaixa, sentando-se sobre minhas coxas - Não, princesa, quero ali, não precisa ter medo de colocar sua boceta sobre o pau desse puto, ele está de roupa e não vai fazer nada - o cara é grosso e não deveria ter dito isso.
Kim obedece mas antes ela olha em meus olhos e eu apenas pisco calmamente, transmitindo que tudo ia ficar bem. Sinto seu corpo colado ao meu e instintivamente a abraço para que ele não a olhe.
- Pode tirar os sapatos, gatinha, preciso que coloque suas pernas em torno desse imbecil e você, otário, mantenha suas mãos exatamente onde estão - assim que ele fala um outro cara aparece e também está com o rosto coberto. Não sei quantos estão aqui e seria idiotice reagir - Coloque as braçadeiras em torno dos pulsos dele, em volta dos tornozelos dela de maneira que ela não possa se levantar e coloque nos pulsos dela também, mas antes, passe os braços dela por cima dos braços dele, assim ele não tem como sair daqui tão cedo. Trave os pulsos dela na coluna onde está encostado.
- Que lindos, mas eu não vou poder ficar - ele fala e agora estou imóvel e com Kim atracada ao meu corpo e quase nua. Os dois saem da sala e escuto o momento em que ele tranca a porta e avisa que a van está nos fundos do museu.
- Ele prendeu com muita força meu tornozelo, está doendo - ela fala e se mexe um pouco tentando aliviar a dor. O vestido dela está no canto da sala e na pressa eles não levaram sua bolsa e meu celular.
- Em pouco tempo alguém vai nos encontrar - tento acalmá-la mas ela está tremendo e eu preciso que alguém nos encontre.
- Assim espero, estou com frio - olho para o seu colo e vejo sua pele arrepiada.
- Me conte mais sobre sua visão de Nova York, mas por favor, não inclua o que acabou de acontecer, me fale sobre a magia que você sente quando caminha pelo Central Park - peço para ela e sorrio. Quero apenas que ela fique calma e ela retribui o sorriso e, mesmo em condições horríveis, eu não posso reclamar do que estou vendo nesse momento.
- Quando eu era criança - vejo-a mexer o nariz - Não acredito, a ponta do meu nariz está coçando.
- Vem aqui, encoste ele na minha barba - sorrio.
- Uma utilidade não pensada antes - ela diz e roça suavemente seu nariz em meu rosto.
- Vou tentar ganhar algum dinheiro com isso - brinco para que ela não se atenha ao fato de estar em meu colo e em uma situação tão embaraçosa. Com certeza essa quadrilha não vai demorar para terminar o serviço, em algumas horas isso terá acabado.
- Seu primo é bem divertido - ela diz e eu a encaro.
- Você o conhece? - pergunto e ela sorri para mim.
- Gio me apresentou. Foi ele quem me disse que você estava aqui em cima, queria apenas me despedir de você reservadamente antes de minha mudança para Suécia, nós não nos vimos mais - ela diz e eu penso em dizer que a vi há algumas semanas com um idiota atracado em seus lábios. Se Alexander imaginar essa cena, vou ter que ouvir um sermão mesmo não tendo culpa, eu não curto mulheres amarradas, esse é o lance de Wallace.
- Bom, estamos em modo reservado agora, para ser honesto não imagino nada mais reservado do que isso - ela sorri e mantém seus olhos nos meus.
- Concordo com você - sinto o perfume dela, não é doce, é amadeirado, suave e tão fantástico - Mas, estou com um pouco de vergonha - ela olha para baixo.
- Já te vi de biquíni - tento amenizar a situação. Para mim não está funcionando porque a lingerie tem a tendência a marcar bem a pele e eu pude observar alguns detalhes que me deixaram com água na boca.
- Não é a mesma coisa - ela justifica.
- Claro que é, juro que não olhei - ela olha para mim e serra os olhos desacreditando no que acabei de falar.
- Você mente muito mal - ela diz.
- E você é linda - falo olhando em seus olhos
- Eu tento me convencer disso toda vez que VOCÊ me fala, mas ainda tenho minhas dúvidas - ela faz um charme tão perfeito e eu estou com tanta vontade de beijar a sua boca. São anos com essa vontade e agora ela está aqui, tão perto e vulnerável e eu sinto medo, e isso eu nunca senti.
- Vou falar com mais frequência - pisco um olho e ela sorri.
- Está ouvindo? - ela pergunta e olhamos para a pequena janela basculante no alto da sala.
- Conheço essa música - falo.
- Como não reconhecer? Eu era viciada na série que a tinha como tema - ela tem razão, Smallville - Save me, Remy Zero - ela diz o nome da música e a banda.
Fico em silêncio e presto atenção na letra.
- Eu sinto minhas asas quebrarem em suas mãos, sinto as palavras não ditas dentro de você - acompanho a letra e ela sorri.
- Eu lhe daria qualquer coisa que você quisesse. Você era o que eu sempre quis, todos os meus sonhos estão mortos - ela termina o trecho da música e me olha brevemente nos olhos e abaixa a cabeça.
- Espero que esteja apenas cantando - falo e ela suspende os olhos em minha direção - Sonhos não podem simplesmente morrer - falo e ela suspende os ombros.
- Eles não morrem, mas ganham espaço dentro do nosso esquecimento e um dia deixam de ser sonhos, acabam se tornando uma lembrança do que desejamos e não aconteceu - ela explica e não faz ideia da minha luta para me manter longe dela, para que ela nunca tenha que se decepcionar com alguém como eu.
Ela está me olhando e eu sinto que estou quebrado diante dela, como se ela fosse a minha fraqueza e isso explica o porquê eu nunca conseguir encará-la como estou fazendo agora.
- Vou sentir sua falta quando partir. Acho que você é a garota mais legal que conheço, a mais inteligente e a única que não toma café - sorrio e ela sorri também.
- Esse é o problema - ela diz.
- O café? - brinco.
- Não, o problema é que eu senti sua falta todos esses anos, mesmo estando perto de você - é a primeira vez que ela fala isso olhando nos meus olhos. A primeira foi quando me enviou uma mensagem há muitos anos via SMS e eu nunca tive coragem de responder, mas eu tive a audácia de ler milhares de vezes e de guardar o celular até hoje apenas por causa disso.
- Posso te decepcionar - digo - Foi isso que sempre pensei - confesso.
- Não estou pedindo nada, estou apenas justificando o que disse - ela é sólida no que está dizendo - Eu sempre esperei você - ela canta junto com a música.
Mantenho meus olhos nos olhos dela e dobro minhas pernas um pouco.
- Estou pesando sobre suas pernas - ela diz.
- Não, acredite, você não é um peso, está com frio? - pergunto.
- Um pouco, mas você está quente - ela diz e encosta seu corpo ainda mais no meu e eu tento, mesmo com a limitação em meus pulsos amarrados, abraçá-la.
- Melhor assim? - pergunto e ela fica em silêncio, com seu rosto apoiado em meu ombro, sinto seu nariz tocar levemente meu pescoço e sinto sua respiração profunda.
- Seu perfume é bom - ela diz sem se mexer.
- O seu também, mas eu tenho uma observação que não tem nada a ver com meu perfume, foi algo que me ocorreu agora, diante dessa situação - falo e ela se levanta olhando para mim, olhando em meus olhos.
- Então, divida comigo sua observação - ela pede.
- É uma pena que só estou tocando seu corpo graças a um assalto - falo em tom de brincadeira.
- Já teve oportunidades suficientes, no evento da Super Marathon, na Jonh Jonh depois do casamento de Sebastian - ela diz sorrindo.
- Você me entendeu - falo.
- Não, eu não entendi. Nos encontramos sempre, mas não acho que seria elegante eu simplesmente tirar a minha roupa e me atracar em você à base de braçadeiras. Essa coisa está acabando com meu tornozelo - ela está sorrindo e deveria estar se lamentando.
- Você nunca foi invisível para mim - confesso e ela está esperando que eu continue, mas eu não posso falar mais nada, eu preciso apenas me lembrar de quem eu sou, e com meu histórico tão assustador, ela provavelmente se mudaria para Suécia amanhã.
- Mas era assim que eu me sentia - ela fala e mantém seus olhos nos meus e isso está sendo uma tortura.
- Eu... eu não posso te machucar - falo.
- Não sou tão frágil, fique tranquilo - ela diz e sorri.
- Não é por ser frágil, é por ser importante para mim - acabo de tirar duas toneladas de minhas costas e do meu peito.
Ela continua me olhando e eu não consigo mais sentir meu cérebro enviando os sinais de que isso é totalmente proibido.
Aproximo meu rosto do dela e lamentavelmente não sou tão forte quanto pensei, não sou capaz de continuar evitando e espero que ao menos ela entenda que todos esses anos não foi ela o problema, o problema sempre foi eu. Eu e o medo do mundo dela, um mundo que aos poucos foi interferindo no meu, com seus gostos, com sua preferência por chá, pela cor branca e por lírios.
Vejo-a se aproximando e agora eu não sinto excitação em saber que vou beijá-la, sinto meu coração disparado, sinto-o com ela dentro.
Seus lábios tocam minha boca suavemente e percebo sua língua tímida que aos poucos percorre o caminho até a minha. Abraço-a com mais força, a beijo com mais vontade e sua boca é simplesmente dona do melhor beijo que pude imaginar.
Um curto circuito ocorre em meu cérebro e eu a quero mais perto. Massageio sua língua com a minha e eu não queria estar com as minhas mãos amarradas nesse momento. Eu queria sentir a textura de sua pele, a maciez de seus cabelos e o tônus de suas pernas.
Percebo tudo ficar em silêncio e nada mais me importa, porque minha vida lá fora é uma vida livre, irracional e louca, e aqui nesse momento, tocando em seus lábios depois de tanto tempo, eu sinto que minha vida é mais livre presa aqui, junto dela.
Sinto o beijo ir finalizando e ela se solta de meus lábios e me olha, profundamente, como se me conhecesse melhor do que eu.
- Esperei tanto por isso - ela confessa.
- Não mais do que eu - admito e ela sorri.
- Posso apoiar meu rosto em seu ombro? - ela pergunta e eu apenas aceno que sim e ela se aninha em meu pescoço.
Olho para a janela e tento deduzir que horas são, para eu não esquecer o momento exato em que senti os lábios da única mulher que me fez esperar.
Eu sinto muito, mas eu não deveria tê-la beijado. É como ter bebido uma boa dose de veneno e não saber onde procurar o antídoto.
“Passaria a noite toda com uma única mulher se minha vida dependesse disso”
Engulo a profecia feita tantas vezes.
11
Kim
Sinto um raio de luz em meus olhos, estou apoiada com o rosto no ombro de Benjamin, mas com a nuca virada em sua direção. Minhas pernas estão formigando e eu me remexo involuntariamente.
- Bom dia - ele diz.
- Bom dia, mas eu não vou olhar para você - eu falo.
- Posso saber o porquê? - ele pergunta.
- Não escovei os dentes e ninguém é bonito quando acorda - falo e ele gargalha. Lembro de senti-lo me abraçando mais intensamente em alguns momentos de madrugada, como se quisesse me aquecer, ou me proteger.
- Devo concordar que escovar os dentes é algo imprescindível quando acorda, mas deixe eu ver se realmente está tão feia quando acabou de dizer, porque ontem o que eu vi foi a mulher mais linda do mundo dormir em meus braços - ele não precisa falar esse tipo de coisa, não agora, é tarde demais.
Saio do seu ombro e olho para ele.
- Graças a Deus, a mulher mais linda do mundo ainda está aqui - ele fala e eu sorrio e escuto a porta se abrindo.
- Temos duas pessoas na sala de limpeza - alguém abre a porta falando no rádio e eu não sei se estou completamente aliviada por isso, afinal, vou ficar longe dele e foi isso que eu fiz a minha vida toda.
A pessoa se aproxima e eu sinto Benjamin dobrando suas pernas, como se quisesse esconder a minha bunda. A essa altura esse é o menor dos meus problemas. Uma mulher entra e se abaixa do meu lado, enquanto o homem solta os pulsos de Benjamin e livra minhas mãos e meus tornozelos.
- Consegue levantar? - ela pergunta.
- Minhas pernas estão dormentes - respondo e vejo que ambos são policiais. Ela retira sua jaqueta e coloca nas minhas costas.
- E você, está bem? - o policial pergunta para Benjamin.
- Sim - ele olha para mim, dentro dos meus olhos - Estive bem a noite toda - ele responde e sorri.
Levanto com ajuda dos dois policiais e Benjamin se levanta com a ajuda deles também. Ele caminha até o meu vestido e o alcança do chão. Ele se aproxima de mim e olha em meus olhos - Por gentileza, o senhor poderia deixar a sala apenas para que eu possa vesti-la? - Benjamin pede para o policial, mas está olhando para mim e o policial acata.
Ele retira a jaqueta da policial que estava me cobrindo, ajeita o vestido e coloca em mim pela minha cabeça e ajuda que ele chegue até os meus pés. Benjamin se posiciona atrás de mim e sobe o zíper do meu vestido, tira o seu paletó e me veste.
Ele pega meus sapatos do chão e minha bolsa que ficou sobre uma das prateleiras e minhas pernas falseiam e eu sinto Benjamin segurar meu corpo colocando seu braço em torno de minha cintura. Ele agiu por instinto e sinto meu coração disparar por isso.
- Acho que não há necessidade - falo olhando para o cavalheiro que nem se importou com o celular dele tocando ou com as mensagens que recebeu, ele está mais disposto a me ajudar e eu sempre soube que existe muita coisa ali dentro.
- Consegue caminhar? - Benjamin me pergunta preocupado.
- Minhas pernas aguentam esse percurso - falo.
- Mas está descalça e não seria bom - ele fala de maneira autoritária e eu sorrio. Ele me pega em seu colo com facilidade e coloco minha mão em torno de seu pescoço.
Ele desce comigo em seu colo e com minhas coisas em sua mão. Sinto-me confortável com isso, é uma forma de estar com ele mais um pouco.
Quando chegamos ao térreo, uma ambulância está posicionada em frente ao museu mas eu não vou precisar desse serviço e espero que ninguém mais precise. Benjamin me olha nos olhos - Vou te colocar no chão - ele fala e olha para fora do museu - Muitos curiosos e pelo visto está frio - Benjamin fala e eu pego meus sapatos e minha bolsa que estão em suas mãos. As pessoas estão agasalhadas lá fora - E muitos fotógrafos também - ele conclui e saímos do museu e não faz muito tempo que o dia surgiu, do outro lado da rua marca seis horas da manhã no relógio da calçada.
Caminhamos para fora do museu, muitas fotos e alguns policiais se aproximam.
- Você está bem? - Benjamin está sério e segura a minha mão enquanto pergunta.
- Estou, e você? - pergunto e ele olha para os lados e depois volta a me olhar.
- Não sei - ele se inclina e beija minha testa e um policial se aproxima dele, o chama de lado e começa a fazer uma bateria de perguntas e ele não consegue ajudar muito. Não vimos rostos, apenas ouvimos ordens.
Pelo que estou ouvindo, a polícia foi chamada por conta do volume de carros parados na lateral, os manobristas também foram pegos de refém e a maioria das pessoas foi colocada de maneira amontoada nas salas anexas na parte térrea do museu.
Pelo menos meu cativeiro foi privativo e estava em boa companhia.
- Kim! - escuto a voz do meu irmão e ele se aproxima, encarando Benjamin que não parece se importar.
- O seu celular está desligado - ele ralha.
- Oi, meu querido irmão, estou bem, não levei nenhum tiro e também estou inteira - sou sarcástica e o fuzilo com o olhar.
- Quando eu soube através do noticiário, vim correndo para cá e pelo visto não foi apenas eu que corri aqui - ele tenta atacar Benjamin, mas não consegue.
- Você está ficando paranóico - falo e um policial fala que vai precisar do meu depoimento - Pode me perguntar tudo agora - respondo olhando para Alexander - Eu estava presa na mesma sala que ele, então, se precisar de alguma coisa - abro a minha bolsa e pego um cartão com meus contatos e entrego para o policial - Agora, se eu puder ir embora - pergunto e não quero que Alexander olhe para mim. O policial faz mais algumas perguntas para Benjamin e outras para mim, nossas respostas são iguais .
- Você veio com ele para o museu? - Alexander pergunta e eu vejo Benjamin fechar os olhos e respirar fundo, suas narinas inflam e eu sei que ele está se controlando.
- Ela veio comigo, ela estava comigo quando fomos abordados e fomos presos juntos em uma sala - Benjamin fala sério e se aproxima de mim - Veja, ela tem marcas nos tornozelos e eu nos pulsos, garanto que não foi uma noite fácil, então, se ao menos puder ser gentil com ela, eu agradeço - ele fala e entrega um cartão para o policial e avisa que pode entrar em contato quando precisarem.
Vejo-o caminhando pela calçada, arrancando a gravata e a levando na mão. Ele olha para baixo e para os lados enquanto caminha e eu me sinto perdida. Ele foi meu ombro essa noite e eu ganhei o beijo que tanto sonhei.
Vejo Gio e o primo de Alexander vindo em minha direção, eles estavam dentro do museu e provavelmente foram soltos agora.
- Oi - Gio diz e se aproxima de mim e beija minha testa. Alexander olha sem entender nada e Mielle olha para Alec e depois para mim.
- Você está bem? - ele pergunta.
- O que está acontecendo aqui? - Alexander pergunta totalmente perdido - Você mora em Las Vegas, eu me lembro de você - Alec diz.
- Sou Mielle, filho do Archie - ele diz e Alexander recua e parece mais calmo. Gio parece entender melhor essa sintonia e eu sou a única que não estou entendo tudo como deveria.
- Sim, estou bem e vocês? - pergunto.
- Foi tão rápido, estávamos na sala de entrada escutando as normas do leilão e a porta já estava fechada por segurança mesmo. Havia milhões em obras ali. De repente, homens armados e com capuz surgiram e pediram calma, pediram que ninguém usasse o celular que a ideia não era matar ninguém. Em menos de quinze minutos eles pegaram tudo que seria leiloado e foram embora - Gio explica - Nos colocaram nas salas anexas e trancaram, alguns ficaram nos banheiros e outros na área de serviço - ele conclui.
- Fiquei na sala com produtos de limpeza com Benjamin - falo e Gio automaticamente olha para Alexander e Mielle não está participando porque não imagina que meu irmão é maluco.
- Aprendeu a falar o nome dele inteiro? - Alexander sussurra e eu prefiro ignorar e Gio sente em meus olhos que não vai ser fácil.
- Onde ele está? - Gio pergunta.
- Já foi embora - respondo e aponto a direção que ele foi.
- Você está de carro, Alexander? Kim, precisa de carona? - Gio é o homem mais cavalheiro que conheço.
- Não, Gio, estou de carro, eu a levo embora - Alexander fala e eu o encaro.
- Não, Alexander, eu não vou embora com você. Gio, poderia fazer a gentileza? - pergunto e caminho em direção ao homem que parece o mais sensato desse bando todo.
- Claro - Gio responde e não se importa com Alexander e eu me aproximo dele. Ainda estou descalça e carrego minha bolsa, meus sapatos e visto o paletó de Ben - Kim, mas eu vou passar na casa de Benjamin se não se importa - Gio avisa.
- É por isso que prefiro sua carona, você me entende, eu sei que entende - Falo e ele sorri.
- Imagino como deva ser difícil lidar com Alexander - Gio fala e vejo Mielle ficar para trás nos dando privacidade - Kim, sabe que pode contar comigo, certo? - ele pergunta e eu me atraco em seu braço e continuo caminhando ao seu lado.
- Eu sei - olho para ele - Você sabe de tudo - falo - Sabe de tudo sobre mim - concluo e ele para de andar e me encara.
- Sei, e sei sobre Benjamin e é por isso que não entendo - ele trava a frase e continuamos andando e poucos minutos depois, e com meu pé imundo, chegamos ao apartamento de Benjamin. O porteiro avisa que Gio está aqui e subimos até a cobertura. Há muito tempo não venho aqui, nem me lembro dos detalhes ou que esse elevador era tão grande.
O elevador para no hall da sala do apartamento de Benjamin e quando a porta se abre, Gio e Mielle permitem que eu entre primeiro e vou até a sala maior e o vejo, apoiado em sua sacada e sem camisa. Ele está segurando um copo com algo laranja dentro e uma mulher de uniforme passa por mim e o chama.
Ele vira seu rosto e caminha em minha direção, ele deixa o copo sobre a mesa de centro perto do sofá e não se importa com Gio ou com Mielle, ele simplesmente me abraça.
- Oi - ele diz em meu ouvido e eu o abraço também.
- Oi - respondo e sinto suas mãos apertarem minhas costas e sua respiração ir ao fundo e voltar - Obrigada - agradeço e ele não me solta.
- Eu que preciso agradecer você - ele fala baixinho e me solta.
- E aí, Gio? Mielle? Que noite - ele diz e ainda está de sapato social e a calça, a camisa está jogada sobre o sofá e seu semblante não é dos melhores.
- Pelo visto levaram tudo - Gio responde e Benjamin vai até o bar e coloca vodca e suco de laranja no copo que já estava bebendo.
- Querem beber alguma coisa? - ele pergunta e eu sinto que ele não está bem, está nítido em seu rosto.
- Não, eu não quero nada - Gio responde.
- Ben, vou pegar minhas coisas e ir para o aeroporto. Já avisei meu pai sobre o que aconteceu e ele disse que eu posso voltar para Las Vegas, de alguma forma ele deve saber o que está falando - Mielle diz e vai em direção ao corredor e Benjamin se aproxima de mim novamente.
- Benjamin, você precisa de alguma coisa? - pergunto.
- Não - ele olha para minha boca - Estou bem - ele está mentindo.
- Cara, se precisar de alguma coisa, me liga - Gio fala e Mielle aparece com sua mochila nas costas.
- Eu ligo - ele diz sério para Gio e seu rosto está fechado.
- Vou dar uma carona para Kim e vou para casa, sabe que pode ligar - sinto a conexão dos dois e sinto que Benjamin pode explodir a qualquer momento.
Gio e Mielle caminham em direção à porta e eu coloco minha bolsa e sapatos no chão e tiro o paletó e entrego para Benjamin - Obrigada - digo e me abaixo para pegar minhas coisas do chão e me levanto, dando um passo em direção à porta e sinto Benjamin segurar a minha mão.
- Fique - ele diz quase sem som. Gio e Mielle estão parados à porta.
- Preciso ir - falo e beijo o rosto dele. Caminho em direção à porta e acompanho Gio e o primo de Benjamin até a porta do elevador.
Escuto Benjamin se aproximando e ele nos olha dentro do elevador e a porta se fecha, nos separando, assim como sempre aconteceu.
***
Entro na minha casa e vou direto para o meu quarto. Alexander está lá, olhando para os próprios dedos, sentado na poltrona de meu quarto.
- Oi - ele diz.
- Oi - respondo e jogo minha bolsa e os sapatos em qualquer canto.
- Me perdoe, Kim - ele pede.
- Anda pedindo desculpas demais para alguém bem resolvido como você - metralho sem nenhuma culpa.
- Você não faz ideia de como eu quero te proteger - ele se justifica.
- Quer me proteger do quê? - pergunto e paro na frente dele.
- Dele - Alexander fala sobre Benjamin.
- Ele deve ser a pior pessoa do mundo - respondo sem educação alguma.
- Não é isso, ele apenas não é para você - isso foi a coisa mais ridícula que já ouvi em toda a minha vida.
- E posso saber por que ele não serve para mim? - eu sempre vou defender Benjamin.
- Apenas não serve - ele responde sem argumentos plausíveis para uma discussão.
- Eu esperava uma resposta mais inteligente de sua parte, meu querido irmão - falo e vou em direção ao banheiro do meu quarto e coloco a hidro para encher e Alexander vem atrás de mim.
- Você não sabe, mas esse mundo é sujo - ele diz.
- Eu imagino que seja mesmo - respondo.
- Kim, apenas entenda o meu lado - ele pede.
- Por que eu vou tentar entender o lado de alguém que nunca entende o meu?
- Você é apaixonada por ele e não consegue ver os defeitos dele - Alexander diz e eu nego com a cabeça.
- Já parou para pensar que é o fato de eu saber cada falha que compõe BEN, que me fez sentir o que sinto por ele? Todos nós somos uma arena de defeitos e o seu pior defeito é achar que não tem nenhum - o alerto sobre sua personalidade.
- Não é isso, é que não quero que falem de você, que você está sendo usada - ele explica e eu realmente não entendo nada.
- Usada? Melhor essa conversa parar por aqui! Fiquei presa em um cativeiro e você está mais preocupado se eu trepei com seu amigo, porque isso é um outro defeito seu. BEN é seu amigo, mas você não é amigo dele, quer que eu lhe prove isso? Quando você se meteu naquela confusão em Washington, quem foi o primeiro a chegar lá? E quando você bateu na viatura da polícia PROPOSITALMENTE, quem foi à Corte com você? Quando te assaltaram, quem apareceu na mesma hora e passou a madrugada na delegacia com você? Não, Alexander, você está errado, Benjamin não é tão nocivo quanto você - não deixo tempo para ele pensar em nenhuma resposta e sinto que seu vocabulário deixou de existir. Alexander havia esquecido o amigo que lhe salvou inúmeras vezes, se eu fosse mencionar, ficaríamos por três dias aqui debatendo isso.
Ele sai do meu quarto e eu vou atrás dele apenas para trancar a porta e tomar um bom banho, é isso que preciso, um bom e longo banho.
12
Benjamin
Olho para o meu celular e reviro a agenda toda e é como se todos os nomes fossem o mesmo. A noite está mais fria e Bernice deixou meu jantar servido na mesa menor na cozinha. Ela sabe que não estou bem.
Coloco o aparelho do meu lado e fecho meus olhos. Sinto-a em meu colo, sinto seu cheiro e me lembro de seus lábios. Beijá-la não resolveu meu problema, apenas me lembrou que ele não tem solução.
Escuto o interfone e me arrasto até ele para atender. O porteiro me avisa que Gio está subindo e eu nem sei por que esse imbecil me liga para avisar isso, Gio tem acesso livre à minha casa.
Sento novamente no sofá e não são as lembranças de Hollie e Bryana dando o rabo para mim que chegam com força, mas sim a visão de Kim, vestindo meu paletó e me abraçando bem ali.
Escuto a porta do elevador se abrir e vejo Gio sem seus trajes sociais, ele está de jeans e jaqueta e seu rosto não é dos melhores.
- E aí, cara - ele diz e se senta na poltrona do meu lado - Aproveita que já tomou banho, troca de roupa e vamos sair, beber alguma coisa - ele diz.
- Gio, olha a quantidade de bebida que tem ali - aponto para o bar.
- Eu sei, é por isso que estou te chamando para beber fora - ele diz - Eu imagino que deva estar tudo mais bagunçado do que já era naturalmente - ele fala como se soubesse de alguma coisa.
- Por que está me dizendo isso? - pergunto e apoio meus cotovelos em meus joelhos.
- Benjamin, já invadi todos os sistemas bancários, aeroportos e sites de compra, olhar as câmeras de vigilância de um museu não seria nada demais. Deve ter sido muito complicado olhar aquele corpo apenas de lingerie, e assim que eu assisti, eu deletei a imagem, o mundo não merece ver Kim de lingerie branca - ele fala com naturalidade e eu não gosto de pensar que a imagem dela seminua possa estar disponível por aí.
- Não era isso que estava em meus planos - falo e ele me encara.
- Muitos anos, muito tempo e muita fuga um do outro, porque é essa a verdade, ela nunca foi a menina atirada. Todos sabiam do que ela sentia por você, mas ela nunca foi a perseguidora maluca, é isso que a torna tão especial, ela te deu o que você sempre quis - ele está me deixando pior.
- O que ela me deu?
- Liberdade. Ela ficava feliz com sua presença em algumas festas, apenas isso - ele se apoia no braço do sofá - Por isso estou perguntando e quero que me responda, como você está se sentindo?
- Gio - me levanto e vou até o bar e pego uma dose de uísque sem gelo e ofereço para Gio, que aceita - É como se ela sempre estivesse aqui e, de repente, eu acordei e ela tivesse indo embora - admito - Preciso me livrar desse negócio que está revirando em meu peito - levo o copo até ele e me sento novamente.
- Você sabe que ela vai embora pra Suécia, correto? - ele pergunta e eu aceno que sim - Está tudo pronto, ela assinou tudo na semana passada, a vida dela vai mudar - quero entender por que está me falando tudo isso.
- Posso saber onde você quer chegar?
- Está disposto a mudar o percurso dela ou vai continuar seguindo sua vida como se o beijo que rolou na noite passada não tivesse despertado o que você sempre sentiu por ela? - Gio é direto.
- Como assim o que eu sempre senti? - viro a dose em meu copo e escuto meu celular, é uma mensagem. Levanto e vou até ele.
- Para de se enganar, Benjamin. Que homem conhece tanto os gostos de uma mulher apenas por hobbie? E outra, eu sei quantas vezes você já acessou o perfil pessoal dela do Facebook - ele é um filho da puta.
- Anda vigiando a minha vida? - pergunto e vejo a mensagem - Canalha.
- Não, mas tive que fazer algumas coisas esta tarde que não me orgulho. A verdade é que não quero que desperdice uma chance única, e outra coisa, você sabe que eu descubro tudo que preciso - ele sorri e nega com a cabeça.
- Não posso foder a vida dela - falo - Olha o seu celular, tem a solicitação de Wallace, me parece que ele não está tão empolgado, pediu uma coisa simples e nem exigiu nada - falo e vejo Giovani sacar dois celulares, eu sei que um despista o outro porque ele é um hacker filho da puta.
- Morena, não muito alta, coitada de quem for parar naquele quarto - ele diz.
- Gio, sempre desconfiei que Wallace e Kim tivessem tido alguma coisa - confesso e vejo Gio jogar a cabeça para trás e gargalhar.
- Você é tão louco por ela e nem se dá conta do ciúme que sente. Se rolou não passou de alguns beijos em um fim de festa - ele joga isso na mesa e eu ando em sua direção.
- Aquele filho da puta do Wallace! - falo com mais raiva do que o necessário.
- Viu? Fiz um teste e você caiu - ele diz e está tentando me convencer que eu gosto dela, que eu sempre gostei.
- Vou trocar de roupa e vamos sair. Preciso trepar com duas ou três esta noite ou encher a cara e tentar esquecer que por pouco não fui a peça de dominó que despencou - falo e vou para o meu quarto e deixo esse filho da puta que está tentando me derrubar lá, com seu uísque e suas pegadinhas.
***
Chegamos a 1 OAK, uma balada com tudo que eu preciso, gente bonita, bebida e isso é como meu habitat natural.
- Olha aquela mulher - falo e Gio me encara.
- Consegue detectar uma mulher por vez? Isso é novo, geralmente suas apreciações são em nível coletivo - ele faz uma observação tão verdadeira quanto irritante.
- Cheio de piada hoje - falo e nos sentamos em uma das poltronas simetricamente colocadas uma de costa para outra.
- Apenas analisando os fatos - ele diz e sai, provavelmente foi buscar alguma bebida. Olho ao meu redor e possivelmente a morena que Wallace solicitou vai sair desse lugar.
Gio volta com dois copos e se senta ao meu lado.
- A encomenda de Wallace acabou de entrar - falo e Gio nega com a cabeça.
- Você é maluco - ele diz e me entrega um copo - Aquela morena? - ele pergunta sorrindo apontando discretamente para uma bela gostosa que acabou de se apoiar no balcão exatamente à nossa frente.
- Ela mesma - respondo e bebo um pouco do que está em meu copo.
- Benjamin, ela não parece ser desse tipo - Gio fala e eu sorrio.
- Todas são, meu caro amigo, todas elas querem ser tratadas como rainha, em troca precisamos de uma foda bem dada - respondo analisando o traseiro da bela morena de cabelos encaracolados e que parece não sentir o frio da mudança de estação. Ela está usando um vestido justo, preto e curto o suficiente para minha imaginação nem precisar trabalhar e é esse o ponto negativo de algumas mulheres, elas mostram tudo e muito antes da hora.
Existe o momento certo de um decote me convidar para um olhar mais atencioso. Isso não pode acontecer assim, com ela pendurada no balcão de uma bar. Pelo menos já me deu sinais de que resolvo esse problema com a encomenda de Wallace.
Paro e tiro meus olhos da morena e analiso o que acabei de dizer:
“Resolvo esse problema com a encomenda de Wallace”
- Preciso de mais disso - falo para Gio e viro o resto que está em meu copo.
- Devagar, cara, acabamos de chegar - Gio me adverte e vejo dois rostos conhecidos se aproximando, Carl e Andrew.
- Olha aí, as duas putinhas - Andrew já chega nos sacaneando.
- E aí? - eu e Gio nos levantamos e cumprimentamos os dois cretinos. São gente boa e estão sempre animados.
- Essa ideia de promoverem Simon foi excelente - Carl fala e eu olho sem entender do que ele está falando.
- Realmente isso nos livra de uma responsabilidade e vamos combinar que isso nos deixa mais seguros - Gio responde totalmente seguro do que está falando e eu estou por fora do que está acontecendo.
- Simon foi promovido a quê? - pergunto.
- Você recebeu o e-mail e foi o único que não respondeu - Andrew diz.
- Benjamin estava no museu ontem e ficou como refém durante o assalto, acredito que ele não tenha visto - Gio me justifica e eu estou curioso sobre a promoção de Simon e não quero pensar sobre o assalto.
- Eu vi no jornal, ainda bem que ninguém se feriu - Carl diz e Andrew se levanta e vai até o bar.
- Simon vai cuidar do transporte das encomendas, abra seu email e veja as diretrizes - Gio diz - Ele fez isso por conta de algum projeto que ele está elaborando - Ele conclui e Carl concorda.
- Quando esse e-mail foi enviado? - pego meu celular do bolso e olho as últimas mensagens. Vejo o e-mail e olho o que é preciso para que Simon leve as encomendas sem nenhum problema. Fecho o e-mail e olho as notificações em minha rede social. Meus olhos automaticamente veem uma declaração do ex-noivo de Kim se dizendo triste no perfil dela. Idiota.
- Agora tudo fica mais simples e se torna responsabilidade de Simon se a encomenda vai chegar ou não - Carl diz e Andrew volta com algumas garrafas de cerveja.
- Isso simplifica tudo - não transmito empolgação no que digo e eu acho que estou com alguma reação pós-traumática.
- Está tudo bem? - Gio pergunta e eu olho uma das minhas redes sociais e guardo meu celular no bolso.
- Sim - pego a cerveja e levanto, fazendo menção a um brinde - A minha vida que foi poupada mais uma vez - brinco em relação ao assalto.
- Ao puto de sorte - Andrew diz e não faz ideia que ao mencionar a palavra sorte eu a assimilo à minha companhia durante o assalto. Será que ela está na casa dela? Será que o ex-noivo retrógrado está com ela por conta do assalto? Pensar sobre isso me incomoda e eu preciso resolver isso.
- Com licença - falo e deixo a garrafa sobre a mesa. Levanto e vou até a morena.
Apoio-me ao seu lado no balcão e verifico se ela não está esperando alguém e sem querer esbarro meu cotovelo em seu braço. Percebo que ela me olha e espera que eu peça desculpas, mas ela não imagina que tenho algo melhor para lhe pedir e desculpas não estão na lista de solicitações.
- Seria educado se desculpar - ela diz e sua voz não é atraente, acredito que apenas seu corpo possa ser útil realmente.
- Não sou muito bom com educação - falo e pisco um dos olhos para ela e sorrio. Ela olha para minha boca e sorri. Bendita seja a teoria de que podemos controlar a reação de outra pessoa sem que ela perceba - Mas, se isso a deixa mais feliz e me dá a chance de saber seu nome, peço desculpas - sorrio amplamente e ela também. Seus dentes são alinhados, mas possuem algumas manchas, ela fuma ou fumou durante boa parte da vida.
- Isso funciona? - ela pergunta.
- Tem funcionado, espero que você não me decepcione - viro meu corpo para ela e esse é meu segundo sinal e ele é recebido com sucesso por ela que vira seu corpo todo em minha direção.
- Samira - ela diz e estende a mão para mim.
- Belo nome - falo e ela mexe em seu cabelo. Segundo sinal dela enviado e isso mostra que tenho boas chances de encontrar o que Wallace precisa dentro desse vestido preto que não ficou perfeito em seu corpo, mas nesse caso isso é o que menos importa.
Algo dentro de mim apita e é meu senso de qualidade na escolha de uma encomenda. Deve ter sido por conta do assalto e estou sem muita paciência para esse assunto hoje.
- Não vai me dizer seu nome? - ela pergunta e discretamente levo minha mão até meu rosto e confirmo a teoria do cigarro. Ela não seria uma escolha para uma noite com Benjamin. Odeio cigarro.
- Vou, mas não hoje - falo e volto meu corpo para o balcão e se tem algo que atrai uma mulher é a sensação de que ela vai descobrir mais alguma coisa. A curiosidade já matou algumas pessoas, segundo a história.
- Isso quer dizer que pretende me encontrar em outra ocasião apenas para me dizer seu nome? Onde pretende fazer isso? Na Starbucks? - ela desdenha e esse é o momento em que eu deveria receber um prêmio.
- Eu pensei em te dizer meu nome, enquanto pudesse olhar para um jardim fantástico que antecipa uma visão perfeita de Madri - quando atravesso o oceano na minha resposta, eu vejo seus olhos explodirem no desejo de estar nesse lugar. Mas não vou mencionar que isso pode acontecer depois dela passar boa parte da noite amarrada e com um cara de quase um metro e noventa fodendo-a. Melhor contar com o efeito surpresa.
- Pretende me levar para Madri apenas para me dizer seu nome? - ela responde apoiando seu corpo sobre o balcão e deixando boa parte dos seios que já estavam a mostra sob meu olhar.
- Pretendo também tirar esse seu vestido e te mostrar algo mais interessante do que Madri, mas para isso você precisa confiar no que estou propondo - falo.
- Ainda não me disse nada em que posso confiar - ela rebate e eu volto meu corpo em sua direção.
- Posso dizer que haverá mais mulheres, outros homens e tudo não vai passar de uma grande festa. Nunca teve uma noite que começou incerta e na manhã seguinte acordou completamente feliz e satisfeita por ter aceitado isso? - acabo de empurrar para ela a responsabilidade de se arrepender pelo resto da vida caso rejeite essa oferta.
- Está me propondo uma orgia? - ela sorri quase sem graça.
- Não, estou propondo um jardim, Madri e uma festa diferente de tudo que já conheceu - respondo e ela olha para os lados - Mas, por favor - digo e olho para uma loura que passou do meu lado apenas para despertar o desejo dela em aceitar logo isso e permitir que eu volte para a mesa com os putos - Pode recusar se isso for além dos seus limites - concluo e olho para o seu decote e para os seus dentes não tão atraentes quanto seus seios.
- Isso é loucura - ela responde.
- Eu sei, mas o que não é? - pisco novamente e ela sorri.
- Como eu iria para Madri? - por pouco não respondo: a nado! Mas preciso manter a educação.
- Meu assistente vai cuidar de tudo e em três semanas nos encontramos em Madri - respondo e ela olha para os dedos, pega o celular e me encara - Posso convidar alguma amiga para ir junto? - isso seria perfeito, minha querida, mas eu não sou o solicitante, então, não será uma noite de ménage para os outros, apenas para mim por que Greta vai estar lá.
- Até pode - falo e aceno para o garçom que caminha em nossa direção - Caso queira chamar sua amiga, não receberá uma bonificação de alguns dígitos. O segredo desse convite implica em um generoso prêmio às participantes. Não acredito que seja interessante você abrir mão desse valor - o melhor chamariz do mundo é dinheiro.
- Como assim segredo? Isso é ilegal? - ela pergunta.
- Não, você será contratada para participar de uma festa, assinará um contrato de sigilo e receberá por isso, não existe nada ilegal nisso - respondo com tranquilidade, mas no fundo eu sei que prostituição internacional é crime.
- Eu tenho algum tempo para pensar sobre isso? - ela pergunta e é agora que finalizo essa negociação.
- Pelo visto você não está segura em aceitar participar desse evento restrito. Agradeço sua atenção e agradeço por me deixar olhar seu rosto lindo por alguns minutos - o garçom se aproxima e eu peço que ele coloque tudo que ela beber em minha conta e peço uma dose de uísque e faço menção de sair de sua presença.
- Espera - ela diz e segura meu braço. Eu realmente sou muito bom nisso.
- Sim? - pergunto.
- Eu aceito - ela sorri e eu sei que agora estou livre dessa obrigação.
Tem alguma coisa de errado por aqui, eu nunca trataria como obrigação fazer isso e eu nunca me sentiria livre por ter finalizado o convite.
Sorrio para ela, pego todos os dados da bela morena, passo para Simon como é solicitado na nova diretriz e beijo o alto de seu rosto.
- Não vou ganhar nada de você essa noite? - ela pergunta fazendo charme e eu não estou disposto a nada hoje.
- Já ganhou, mas eu vou entregar em Madri - respondo e vejo que Simon já descobriu tudo que precisa da jovem Samira - Uma pessoa vai entrar em contato com você, ele pode te encontrar nesse endereço? - viro meu celular para ela deixando apenas os dados dela a mostra. Isso é um tipo de intimidação sobre ela e mesmo assustada em ver seus dados ali, ela sorri e acena que sim com a cabeça - Perfeito - falo e pego o copo com minha dose deixado pelo garçom.
- Isso é diferente - ela diz.
- Eu sei, por isso são poucas e raras as escolhidas - selo seus lábios apenas para uma breve amostra do que pode ter em Madri e olho em seus olhos - Nos encontramos em algumas semanas - falo e volto para a mesa.
Gio, Andrew e Carl estão sorrindo.
- Cara, você não presta - Andrew diz.
- Claro que presto, sou um homem tão bom que propus moradia, comida e uma viagem internacional para aquela morena - respondo e eles sorriem.
- Eu já achei o que Wallace pediu - Carl diz e Andrew e Gio também assumem que já haviam encontrado, e essa solicitação está com prazo apertado, menos de uma mês.
- Wallace está com pressa em foder - falo - Três semanas? - observo o tempo.
- Ele aproveitou o ganho dessa facilidade em Simon cuidar do transporte. Na verdade, era isso que exigia mais tempo - Carl explica.
- E você, Carl, já mandou instalar um pole dance no seu quarto? - Gio pergunta se referindo a tara de Carl com mulheres no pole dance.
- Sim, e não estou brincando - ele fala e eu me lembro que quando eu era adolescente e não tinha um corpo definido e poderia ser confundido com um cabo de vassoura, eu era louco por June, uma menina que já estava no terceiro ano e eu ainda estava no primeiro, ela era a minha vizinha na época e eu ficava com o pau duro apenas de pensar como seria entrar no quarto dela e trepar com ela. Mas eu nunca tive essa chance e ela engravidou de um cara do exército assim que entrou na faculdade.
Depois de um tempo, eu cheguei a conclusão que não era uma tara por June, e sim por fazer isso em seu quarto. O quarto de uma garota sempre foi algo que me deixava excitado, talvez pelo perigo dos pais pegarem, não sei, o que sei é que o único quarto de uma garota que entrei foi de Mirtes, uma garota lésbica e isso foi no segundo ano.
- E depois vocês falam que eu sou o tarado do bando - me defendo jogando contra Carl.
- Para de ser puto, Benjamin, nunca trepa em par - Andrew fala.
- Engano seu, trepo sim, mas dou preferência aos pares, se é que me entende - sorrio e bebo mais uma dose do meu copo e pego meu celular.
- Aquela Greta é gostosa pra caralho - Andrew fala e Carl concorda.
- Muito e ela sabe das coisas - falo mas não coloco tanta empolgação.
- Aconteceu alguma coisa? - Gio pergunta e eu olho as redes sociais de novo e vejo a movimentação de Sebastian postando fotos em um jantar na casa de Evan e avisa que Ramon está chegando com Christen. Claro que Sebastian brinca com o fato de Ramon sempre estar atrasado.
- Greta tem se mostrado um pouco possessiva, me ligou algumas vezes nas duas últimas semanas e para ser franco a tenho ignorado - desabafo pela primeira vez algo ruim sobre a Greta. Mas ela está diferente da mulher descolada que conheci em uma balada alternativa em Berlim.
- Ela sempre foi apaixonada por você - Gio fala.
- Não acho que seja isso. Na nossa última ida para Madri eu falei para ela que alguma coisa estava ficando estranha e fora de controle - me lembro perfeitamente de ter deixado claro minhas condições para ela naquela manhã em Madri.
“Não quero detalhes sobre o que aconteceu entre nós três há algumas horas, já que uma das meninas não participou de nosso ritual matinal. Quero apenas que entenda que Eu sou assim. E não espero que você acredite que nosso lance trivial se torne algo limitado a apenas nós dois. Sou amante desse tipo de sexo, onde três ou mais corpos se fundem e isso, minha querida, não vai mudar” - falei para ela e ela não parecia feliz em ouvir tudo aquilo, mas tudo era verdade. Não tenho nenhum tipo de sentimento por Greta.
- Cara, ela é apaixonada por você sim e se sujeita a coisas que poucas topariam - ele fala e é exatamente isso que me alerta sobre sentimentos em relação a ela. Eu não posso gostar de alguém que não se respeita e se deixa conduzir apenas para agradar outra pessoa.
- Ela vai estar em Madri daqui três semanas - falo e ele bebe o que sobrou em sua garrafa.
- Deixe mais claro seus limites, se é que você tem algum - Gio zomba e sai da mesa em direção ao bar.
- Como vocês são rápidos, a solicitação de Wallace chegou hoje e pelo visto todos já conseguiram as encomendas - falo mudando de assunto. Não quero falar sobre Greta, ainda mais porque estou vendo suas mensagens chegando em meu celular.
- Benjamin, isso se tornou tão simples e tão automático que outro dia estava num churrasco com amigos do trabalho e quase fiz o convite para a irmã do anfitrião. O Clube deixou de ser o diferente e se tornou uma de nossas rotinas - Andrew fala e eu analiso isso, e eu não o faria um tempo atrás e sou obrigado a concordar com ele. Entre nossas reuniões, admissões, demissões, vida social, o Clube se encaixa hoje como uma dessas tarefas e eu me flagro pensando na rotina de algo que nasceu para nos livrar dela.
- Você tem razão - falo e Carl engasga com a minha resposta.
- Pelo amor de Deus, Benjamin, quer o quê? Um apocalipse? - Carl zomba - Você nunca concordaria com isso - ele observa e eu o encaro.
- Você também tem razão - respondo e olho para a tela do meu celular. Vejo que Kim postou uma foto com duas amigas entrando em algum bar. Ela fez o check in no Highline BallRoom, fica a quinze ou vinte minutos daqui, quase duas milhas e eu me pego calculando sobre tempo e distância que me separa dela e imagino que esses números sejam inferiores aos anos que deixei que acontecessem cheios de limites e fugas entre nós. Porque era exatamente isso, eu fugia dela e ela também fugiu de si mesma inúmeras vezes.
Lembro da mensagem guardada em meu celular antigo, ele está no meu closet e preciso não pensar sobre isso. Algo me alerta sobre a encomenda que acabei de despachar e que ainda sou membro do Clube e tenho a minha vida intacta por isso. Não posso considerar um beijo, perfeito diga-se de passagem, como um tiro certeiro em meu peito, preciso ponderar tudo antes de fazer com que os lábios de Kim me visitem a todo instante desde que o beijo aconteceu. Foi apenas um beijo e eu estou acostumado a fazer coisas muito mais invasivas e, por que não dizer, cruéis.
- Alguém bateu em sua cabeça com muita força - Carl fala e Gio chega com mais bebida e se senta ao meu lado.
- Quem bateu em Benjamin? - Gio pergunta e Carl junto com Andrew começam a fazer as piadas típicas e engraçadas sobre minha estranha mudança de opinião sobre o Clube.
- Eu sei que vocês estão se divertindo às minhas custas, mas eu preciso ir - falo e me levanto.
- Para onde precisa ir? - Gio pergunta e se levanta.
- Não precisa me levar, vou pegar um taxi - falo e jogo duas notas de cem dólares sobre a mesa.
- Tudo bem? - Andrew pergunta e eu olho novamente para a tela do meu celular e vejo mais duas fotos de Kim com as amigas. Ela está sorrindo e seus dentes não possuem manchas, sua roupa não mostra nada antes da hora e eu me sinto totalmente atraído por isso. Acredito que eu sempre fui atraído por ela, mas sempre houve a necessidade da fuga e agora não encontro um lugar para me esconder dela.
- Sim, está tudo bem - não, nada está bem, é como se todo o tempo eu estivesse no lugar errado. Sento novamente e levo minhas mãos até minha cabeça e passo de maneira exasperada.
- Eu vou com você - Gio fala discretamente apenas para que eu possa ser o único a ouvir.
- Tem certeza? - pergunto.
- Sim, alguém vai ter que controlar a situação em algum momento - ele mantém a discrição e não imagina os planos que tenho em mente.
- Fala como se soubesse o que pretendo fazer - digo e olho para Gio.
- Ela está a vinte minutos daqui, eu vi as fotos e sei que você também viu. Preciso estar por perto caso Alexander apareça e não entenda o que está acontecendo - ele responde e eu franzo meu cenho tentando entender.
- E você pode me dizer o que está acontecendo? - pergunto e escuto a música mais alta agora. Está tocando Start a Fire, de Stephen.
- Posso, mas não preciso, você já tem essa resposta - ele diz e se levanta, jogando mais notas sobre a mesa.
Acho que devo concordar com Gio sobre o que ele disse mais cedo, estou buscando oxigênio nesse momento em que acabo de perder o meu fôlego.
13
Kim
Adria pediu um coquetel para mim e outro para Lexa. Eu estou disposta a não beber nada que me faça me arrepender de qualquer coisa, mas elas não entendem e acham que isso vai me ajudar a esquecer o ocorrido no museu. Esse é o detalhe importante, eu não quero esquecer.
- Vocês viram que o Adam está aqui e sozinho? Onde está aquela namoradinha pele e osso dele? - Lexa fala do seu ex-namorado que a deixou por conta de uma modelo linda de olhos azuis.
- Você deveria esquecer esse cara - Adria diz. Adria e Lexa são primas e até onde eu sei, Adria chegou a sair com Wallace. O pai dela era amigo do pai de Wallace e eles se conhecem há muitos anos. Ambas são herdeiras de uma loja de departamentos e não trabalham nunca, nem um único dia, e mesmo assim muito dinheiro entra em suas contas e as fazem ser assim, mimadas. Mas elas são muito legais e não são do tipo que usam o dinheiro para manipular pessoas ou se passar por pessoas melhores que as outras por isso
- Adria, eu já o esqueci, estou apenas observando a situação dele - Lexa se justifica e nós sabemos que ela ainda gosta dele o suficiente para aceitar uma reconciliação a qualquer momento.
Andamos até a pista de dança e alguns rostos conhecidos passam por mim e sorriem em um cumprimento breve e sem nenhum toque. A música alta e as luzes seduzem meus ouvidos e me vejo acompanhando Without You, de David Guetta e Usher.
Distancio-me das duas, mas elas estão no balcão e eu posso vê-las, rindo e bebendo. Estou no centro da pista de dança e deixo a música fazer companhia para meu corpo e tento não pensar na letra, tento não pensar que na noite passada, mesmo em uma situação constrangedora, eu estava protegida e essa foi a primeira noite que passei em claro até determinado momento, mas passei com ele e isso faz parte do histórico de coisas que foram evitadas entre nós.
“Eu não posso descansar, eu não posso lutar. Tudo que eu preciso é você”
Without You - David Guetta e Usher
- Estava pensando em você - escuto em minha nuca e me viro rapidamente para saber quem é .
- Você precisa entender - falo olhando para Scott que está segurando um copo - Não podemos continuar, você precisa de alguém que esteja com você da forma que merece - seu olhar é triste e eu sinto pena dele, porque eu sei o quanto é terrível estar apaixonado e não ser correspondido.
- Apenas uma chance - ele praticamente se humilha e eu não posso admitir isso como algo bom. Ninguém precisa implorar o amor de ninguém nessa vida.
- Scott, vamos deixar como está, precisamos desse tempo, você precisa desse tempo mais do que eu - falo e coloco a mão sobre seu ombro e ele me abraça, demoradamente, e eu quero me soltar, mas acabo deixando que ele fique ali, mas isso não muda em nada a minha decisão.
- Eu te amo tanto, Kim - ele diz e eu fecho meus olhos e penso em algo que eu possa dizer para tentar levá-lo à realidade de nossa situação.
- Scott - falo e me afasto dele - Não faça isso, nem por mim e nem por ninguém. Se ame mais do que qualquer outra pessoa - sugiro e ele acena de maneira dolorida, beija meu rosto e vai embora.
Lamento muito por ele, mas eu não posso consolá-lo a todo instante, a vida não é assim. Outra música começa e meu coquetel já está na metade. Está tocando Hey Mama, Nick Minaj.
Danço e sinto o suor em meu rosto e aos poucos minha bebida vai acabando e quero apenas não pensar que fora dali existe uma vida me esperando e que em quatro semanas essa vida vai estar comigo na Suécia.
Outras músicas começam e terminam e meu copo vazio me obriga a ir até o bar onde Lexa e Adria estavam me observando dançar e pedir algo mais forte.
- Garota, há quanto tempo você não dança desse jeito? - Lexa me pergunta e eu levanto o copo pedindo outro coquetel ao atendente.
- Estava precisando disso - respondo.
- Kim, quando você vai se mudar? - Adria pergunta.
- Em quatro semanas - respondo sorrindo.
- Precisamos dar uma festa de despedida, o tipo de festa que dura três dias e que o mundo não precisa saber - Lexa e suas festas intergalácticas e totalmente sem controle.
- Lexa, a última festa que resolveu organizar, tivemos que dar satisfações para os vizinhos e depois para polícia - a lembro do ocorrido em sua casa.
Vejo Adria gargalhar sem parar e o atendente me entrega o coquetel e ela não para de rir.
- O que foi, Adria? - pergunto.
- Podemos dar a festa na minha casa em Santa Mônica! - Lexa já está pensando em fazer algo que não responda à delegacia local, mas sim em outra e desta vez ela quer confusão na Califórnia.
- Nada de festa - falo e olho para Adria que ainda está rindo - Adria, o que está acontecendo? - pergunto e ela tenta recuperar o fôlego.
- Me lembrei da sua cara dizendo que se seu irmão soubesse ele iria arrancar seu couro, mas sua voz estava molenga e tudo que você dizia saía mais engraçado do que desesperador - ela volta a gargalhar me lembrando do porre que tomei. Prometi a mim mesma que nunca mais beberia daquele jeito e depois prometi aos policiais e ao delegado quando cheguei na delegacia. Todo mundo tem um pontinho negro em seu histórico e esse é o meu.
- Eu estava desesperada - admito e Adria começa a parar de rir.
- Kim, aquele seu irmão eu pegava fácil - Lexa fala sem pudor algum.
- Para com isso, você já trepou com meu irmão, sua indecente - eu sei porque ele foi a uma festa dela comigo e a comeu na lavanderia de sua casa sobre a lavadora de roupas. Quem me contou foi o Vinny, um amigo gay e fofoqueiro que temos. Ele entrou de surpresa e os flagrou, mas ambos continuaram ali, e só saíram algum tempo depois. Tempo suficiente para a festa toda saber o que tinha acontecido.
Isso aconteceu há alguns anos e Alexander nem comenta sobre o caso. Para ele, esse é o ponto baixo da aventura humana dele sobre a Terra.
- Isso já faz tanto tempo que desconsidero o ocorrido e por isso preciso de uma sessão “Do You Remember” - ela diz e gargalha.
- Bom, eu pegaria fácil outro do circuito Kim de conhecidos - Adria diz e se ela falar Wallace quem vai cair na gargalhada sou eu.
- Wallace você já pegou - Lexa diz.
- Claro que sim e isso não vai acontecer de novo. Quando aconteceu, ele era de um jeito e agora parece mais sério e disposto a outras coisas que não me deixou saber o que é - ela chama o atendente e pede mais dois drinks.
- Quem você pegaria? - pergunto e bebo um pouco do que está em meu copo.
- Aquele que trabalha com seu irmão - ela responde - Esqueci o nome dele, mas ele é tão presença, tão observador e isso me excita - de quem essa doida está falando?
- Você está falando do Giovani? - sorrio e penso que Gio é um querido e sinto que ele é o ponto de equilíbrio do bando de amigos do meu irmão.
- Ele mesmo - Adria responde.
- Você é uma ordinária mesmo, Kim, ela está falando isso porque ele estava aqui - Lexa gargalha e eu olho séria para ela e vejo o atendente me entregando o copo.
- Ele estava aqui? - pergunto e olho à minha volta.
- Sim e estava com aquele outro tesão, que está sempre com o cabelo bagunçado de propósito e com a barba por fazer - Adria diz sorrindo e virando tudo que está em seu copo.
- Quem estava com Giovani? - pergunto séria e o pouco efeito da bebida foi embora rapidamente.
- O cara que mora na Quinta Avenida. Me lembro que fomos à uma festa na casa dele sem convite e só entramos porque estávamos com você. Acho que foi há dois ou três anos - Lexa me fala e eu me lembro perfeitamente desta festa. Foi nesta festa que senti que poderia beijá-lo, mas uma mulher nos impediu e não permitiu que eu me aproximasse dele.
- Onde eles foram? - pergunto de maneira despretensiosa.
- Embora, eu acho, eles estavam aqui - Adria aponta para o lado dela - E então, eles olharam em volta, não pediram nada para beber e eu e Lexa estavámos olhando para você abraçada com Scott, depois quando olhei novamente eles já não estavam mais aqui - Adria responde e eu alcanço meu celular na bolsa, percorro minha agenda e passo pelo nome de Benjamin, mas não é para ele que eu ligo, ligo para Gio e vou em direção ao banheiro.
O som da música não está tão alto e eu posso ouvir os toques em cada chamada, até que ele atende na sexta.
- Oi - ele diz sem falar meu nome e eu estranho, geralmente ele diria: Kim, meu anjo, tudo bem?
- Oi - Você está aqui na HighLine? - pergunto.
- Estávamos - ele responde de maneira sucinta
- Gio, está tudo bem? - pergunto.
- Sim, se puder me dar alguns minutos eu já retorno para você, estou dirigindo - ele diz e eu acato. Desligo e vou em direção às meninas novamente, mas o celular está na minha mão.
Será que eles resolveram ir embora porque viram que eu estava aqui? Será que isso é por conta do cretino do meu irmão?
- Está tudo bem? - Adria pergunta assim que retorno.
- Não sei, mas eu quero ir embora - falo e vou em direção à porta de saída.
- Ei, espera, não tem duas horas que estamos aqui - Lexa diz.
- Fiquem, sou eu que não estou bem - sou direta e saio da HighLine e olho para os dois lados da calçada e não entendo o que está acontecendo. Talvez eu precise ir embora, dormir e não tentar saber nada.
Procuro por um taxi e sinto uma mão em meu ombro.
- Posso te levar embora? - Scott está me enchendo o saco.
- Não, não pode. Deveria escutar o que estou te dizendo, não quero mais nada com você. Tudo foi muito bom, mas não é isso que eu quero para mim - sou grossa porque agora Scott é só mais um dos meus problemas.
- Você está jogando tudo fora! - ele grita e eu não quero uma cena, não agora, porque agora estou preocupada com outra coisa e isso não é bom. Eu posso descontar tudo em cima dele e eu garanto que não vou me arrepender.
- Não estou jogando fora, estou apenas deixando no meu passado - respondo e ando para longe dele e eu vejo que ele me acompanha.
- Me dediquei a você - ele joga na minha cara os feitos como namorado.
- E eu não me dediquei a você? - me viro e aponto o dedo na cara dele.
- Fez por obrigação - ele responde.
- Então, se eu fui tão cretina com você, por que ainda está me perseguindo? - o enfrento.
- Porque você precisa ser minha, apenas minha - ele se transforma em alguém possessivo e isso é algo novo para mim e totalmente nojento.
- Nunca fui sua, nunca fui de ninguém e nunca vou ser - falo e olho para os dois lados - Escute, uma mulher não precisa de um dono, não assim dessa forma imposta - ando um passo em direção a ele, porque eu não tenho medo dele e nem de homem nenhum.
- Você - ele segura em meu braço e isso não vai acabar bem - Você me usou - ele está falando coisas sem nexo e seus olhos estão diferentes.
- Você está drogado? - pergunto e ele aperta meu braço com mais força.
- Ah, Kim! Se você soubesse o quanto tenho pensado sobre nós, sobre o tempo que eu perdi - sinto sua mão se fechando com mais força ainda e olho para as pessoas que não veem o que esta acontecendo ou, se estão enxergando, estão achando que é briga de namorados e por isso não devem se meter.
- Acabou, Scott, entenda isso, não vou colocar panos quentes, isso não seria justo com você - falo e ele me leva para junto de seu corpo.
- Não acabou - ele me chacoalha e sinto alguém passar atrás de mim.
- Melhor você soltá-la - escuto e olho na direção da voz. É Gio e procuro para ver se Benjamin também está com ele.
- Solto se eu quiser - ele responde e Gio tranquilamente e de maneira rápida aperta um ponto perto de seu pescoço e Scott cai no chão inconsciente.
- Ele está morto? - pergunto.
- Não, apenas com algumas carreiras de cocaína no cérebro - como ele fez isso? Pergunto internamente.
- Você está sozinho? - pergunto de maneira decepcionada.
- Agora estou - ele responde e um segurança se aproxima.
- O que aconteceu? - o homem de terno e alto pergunta ao ver Scott no chão.
- Ele cheirou mais do que deveria, olha o nariz dele - Gio responde e então me atento à cocaína visível em seu nariz. O segurança pega o celular e chama uma ambulância e Gio me leva para o carro dele.
- Alexander estava junto com vocês? - pergunto.
- Seu irmão está ocupado com o hacker que resolveu voltar e acabar com a sanidade dele e eu rastreei seu celular e vi que ainda estava aqui, por isso não liguei, mas se não estivesse aqui fora eu entraria e a procuraria, porque isso é o certo a fazer- ele responde e abre a porta do passageiro para mim e dá a volta no carro e entra.
- Por que voltou? - questiono e ele me olha.
- Kim - ele diz e liga o carro - Como eu posso explicar? - ele procura o vocabulário ideal para me contar alguma coisa.
- Explique de qualquer jeito que prometo que vou entender da melhor maneira - falo e ele acelera.
- Benjamin viu você abraçada com Scott, e isso entrou em conflito dentro dele, já que estávamos em outro lugar e ele resolveu ir até você - meu coração trepida como se fosse arrebentar o meu peito e não consigo elaborar uma única palavra para continuar essa conversa - Eu sabia que isso iria acontecer - ele diz e eu olho pela janela e tudo parece surreal, tudo está confuso e eu sinto que não consigo determinar se isso é bom ou ruim.
- Isso não deveria afetá-lo - falo e ele ganha as ruas nova-iorquinas e segue pela paralela ao rio.
- Só me responda uma coisa - ele diz - Eu levo você para sua casa, ou para a casa dele, onde você vai poder ver de perto o quanto todos esses anos resolveram cobrar dele uma explicação e o quanto isso o afetou durante todo esse tempo? - olho para Gio e sinto minha boca se abrindo.
- Como assim? Todos esses anos? Ele sempre me evitou - falo.
- Não, ele sempre fugiu e não era de você que ele corria. Era do que ele sempre sentiu mas até então conseguiu controlar. Alguma coisa mudou e acredito que essa coisa somou ao que já estava se equilibrando sobre uma corda bamba, possivelmente a corda arrebentou - ele responde e me olha rapidamente voltando sua atenção ao trânsito que agora me parece menos intenso.
- Está me deixando confusa - admito.
- Acredite, você não é a única - ele diz e continua o caminho sem se importar para onde eu quero ir.
- Se passou tanto tempo e agora eu não sei o que fazer - confesso e ele sorri.
- Sei de alguém que pode te ajudar - ele mantém a velocidade e minutos depois estamos na lateral do prédio de Benjamin. Gio estaciona o carro e desce comigo.
Entramos no prédio e Gio vai até o porteiro.
- Ei, Carlos, voltei - ele diz e o porteiro apenas acena com o dedo dando um OK. Caminhamos até o elevador que estava parado com as portas abertas e Gio aperta o andar de Benjamin.
- O tal Carlos não deveria anunciar sua chegada? - pergunto e olho para ele.
- Não, eu avisei que já voltaria com uma mulher e ele deve estar pensando que você é uma profissional contratada - ele sorri e eu também.
- Como sabia que eu viria para cá? - pergunto como se isso não fosse o que eu faria.
- Existe outro lugar que você realmente queira estar se não aqui? - ele pergunta e o elevador para, as portas se abrem e eu saio, mas Gio não.
- Você não vem? - pergunto.
- Não, assim como você, eu tenho um lugar que desejo estar nesse momento, e não é aqui - ele diz e as portas do elevador se fecham e eu caminho pelo pequeno hall e vou até a sala.
Deixo minha bolsa e meu celular sobre a poltrona perto da porta e caminho até o centro da sala, onde eu posso ver nitidamente Benjamin, de calça escura, sapatos sociais, uma camisa branca por baixo de uma malha azul marinho. Ele está apoiado com as mãos no parapeito de sua varanda e eu oferto dois passos em sua direção.
- Espero do fundo do meu coração que não esteja planejando saltar daí, isso poderia machucar você - falo e percebo-o puxar todo o ar à sua volta e suspender a cabeça vagarosamente, como se olhasse para o céu em busca de alguma resposta para o que acabei de dizer.
14
Benjamin
Isso não seria a primeira coisa a me ferir essa noite e nem a mais grave - respondo apenas para mim a observação de Kim sobre uma possível queda, antes mesmo de me virar e encará-la, porque agora eu já não tenho mais força alguma para fugir dela, e muito menos força para fugir de mim mesmo.
- Eu deveria pular? - observo sua roupa azul clara e ela fica bem com essa cor. Ela sempre está linda e isso é perturbador porque ela é a única que detém meu respeito e meu tesão ao mesmo tempo. Aproximo-me dela e ela me encara e não tem medo algum, nenhum tipo de hesitação ou tensão, apenas está ali, me provando covardemente que ela é corajosa, mais do que eu inclusive.
- Só se algum marido traído tivesse descoberto seu endereço - ela diz e aponta para baixo e faz menção sobre a vizinha que algumas vezes eu fodo quando o marido dela não está e que uso a vaga da garagem também. Essa história com a vizinha era para ser segredo, mas uma foto tirada pelo puto do Sebastian e colocada em nossa Hell line, acabou caindo no conhecimento de todos do bando. Até Evan que já estava casado fez seu comentário engraçadinho e Kim acabou descobrindo e eu não fiquei feliz com isso, ela não precisava saber o quanto o nível do meu caráter pode ser duvidoso.
- Não precisaria pular, poderia descer pela saída de emergência - tento não parecer tão tenso, mas estou e sei que isso chega a ser palpável - A que devo a honra de sua visita? - pergunto e ela sorri.
- Posso pedir duas coisas? - ela diz.
- Claro - respondo e ela está sorrindo.
- A primeira é se você se importa se eu retirar os meus sapatos - ela os tira antes mesmo que eu possa responder - E a segunda é que eu preciso de alguma bebida - ela caminha até o bar e começa a servir dois copos com uísque e duas pedras de gelo em cada um.
- Fique à vontade - respondo sorrindo assim que ela me entrega o copo e brinda - Posso saber o motivo do brinde? - pergunto antes de beber.
- À nossa amizade - ela diz convicta, séria e isso está me atordoando. Se ela é tão apaixonada por mim deveria ao menos estar tentado me beijar ou algo nesse sentido.
- Um brinde à nossa amizade e à sua visita que se tornou constante por aqui - digo e tento deixá-la um pouco sem graça.
- Justificável - ela responde e bebe pouco ou quase nada do que está em seu copo.
- Adoraria ouvir a justificativa, se puder fazer a gentileza - peço e também bebo, mas eu bebo praticamente metade do que está em meu copo.
- A primeira vez eu precisava devolver seu paletó e lhe agradecer por me servir de apoio na noite no museu - ela bebe mais um pouco e mantém seus olhos em mim. Como eu nunca percebi o quanto ela é segura de si? Ela parecia inofensiva.
- Continue, sua explicação é bem interessante - falo e bebo o restante que está em meu copo e me aproximo dela em mais um passo e mantenho meus olhos nos olhos dela e eu pensei que isso pudesse intimidá-la, mas sou eu que recuo internamente.
- E agora estou aqui porque eu realmente preciso saber por que não ficou com Gio na HighLine. Poderíamos aproveitar a noite toda e eu não teria que estar aqui agora impedindo um suicídio e tirando satisfações - ela diz e bebe o restante que está em seu copo.
- Imagino que estando aqui você deixou seu noivo esperando, ou na minha portaria ou na boate - uso um pouco de ironia, mas na verdade, olhá-la abraçando aquele imbecil e fechando os olhos não foi o melhor que vi essa noite.
- Ex-noivo - ela diz e olha para o próprio braço, o direito e ele apresenta uma vermelhidão e eu levo meus olhos do braço para os olhos dele - Ele não aceita o fim - ela diz e seu tom é de lamento.
- Posso ajudá-lo com isso - tem um fim prático para pessoas que não o entende de maneira mais fácil. - Ele agrediu você - fecho meu punho esquerdo e vou em direção ao bar. Agradeço a Deus por não ter mais arma nenhuma em casa, mas meu curso de tiro está em dia e o pratico todas as segundas-feiras.
- Ele estava drogado eu acho e isso foi na hora que eu saí e, de repente, Gio apareceu e resolveu a situação - ela olha para o braço e vem em minha direção e para do meu lado enquanto coloco mais uísque em meu copo e ela coloca o copo dela para que eu encha também.
- Essa justificativa faz parte das justificativas da noite? - estou visivelmente irritado com o que ela disse e meu rosto endurecido provavelmente denuncia isso.
- Não - ela diz séria - Em anos de amizade, por que só agora tudo isso? - ela pergunta e percebo o tom de sua voz se elevar.
Viro de frente para ela e inclino meu rosto, considerando gravemente fodê-la sobre esse balcão, porque o desenho de sua boca me convida a pensar sobre isso, porque durante todos esses anos eu fui a parte torturada dessa história. Respiro fundo e tento controlar a reação do meu corpo diante da presença dela e agora eu entendo o motivo pelo qual eu nunca permiti uma situação dessa antes, eu nunca fiquei tanto tempo com ela a sós.
Deixo a garrafa sem tampar perto dos copos e tem algo mais forte explodindo em meu peito - Escute - falo mais alto e passo meu braço em torno de sua cintura e minha outra mão segura seus cabelos pela nuca, eu trago sua boca para perto da minha - Porque nunca foi a porra de uma amizade - respondo agressivamente e a beijo com violência, porque era isso que eu sempre pensei em fazer. Na noite passada, o beijo que era para ter ficado apenas em meus lábios, subiu para o meu cérebro e começou uma tortura intermitente e agora eu sinto que outras partes do meu corpo estão sendo vítimas dessa reação em cadeia.
Sinto seus braços agarrarem meu corpo e massageio sua língua incansavelmente. São anos de uma porra de uma amizade que nunca existiu e serviu de fachada para eu poder me aproximar dela, para eu poder beijar o seu rosto e fingir que tudo isso nunca teve importância.
Sinto seus lábios macios, devidamente alcoolizados e eu preciso de mais do corpo dela, preciso que ela esteja totalmente entregue a mim assim como nesse momento estou entregue a ela e eu peço que ninguém ouse bater na merda dessa porta, porque eu sou capaz de matar qualquer filho de uma puta que atrapalhar a minha noite. O lixo da minha vida está dependendo dessa noite, eu preciso me livrar desse fantasma de cabelos castanhos amendoados que me persegue há anos, mesmo quando não está presente.
Solto-a para retomarmos o fôlego e ela olha em meus olhos - Então faça valer a pena e me recompense por toda essa espera - ela exige e eu nego com a cabeça.
- Lamento, mas é exatamente isso que eu exijo de você - respondo totalmente sem controle do meu tesão e volto a beijá-la. São anos olhando para esses lábios e me contentando com coisas inferiores.
Solto de sua cintura e desço o zíper nas costas do seu macacão de alças finas e que seria rasgado facilmente se esse zíper não tivesse colaborado. Deslizo minha mão pelas suas costas e, enfim, sinto a textura macia de sua pele. Ela é incrível. Pego meu celular, coloco no volume mais alto e o deixo sobre o balcão perto das bebidas. A minha playlist começa a rolar.
Deixo seus lábios e recuo um palmo de seu corpo e olho para o tecido já solto em seu corpo. Seguro as alças em cada uma de minhas mãos e retiro calmamente, descendo pelos seus braços e deixando que sobre seus pés perfeitos e descalços se forme uma montanha azul.
Eu sabia que ainda teria outros tecidos e essa visão já não é novidade para mim, calcinha e sutien sem alças. Ela tem seios redondos que provavelmente vão preencher com louvor as minhas mãos e eu preciso olhar para eles sem nada me atrapalhando.
Coloco novamente meu braço em torno de sua cintura e com a outra mão e com leve puxão para a direita me livro dos ganhos de sua peça meia taça.
A peça fica entre nós e ainda não posso ver seus seios libertos, mas agora é uma questão de tempo para que eles sejam admirados, tocados e saboreados por mim. Não tenho pressa, mesmo tendo esperado tantos anos por isso.
Deixo minha boca apreciar cada segundo dos lábios de Kim, porque tudo agora parece ser o certo, mesmo sendo totalmente errado e tão deliciosamente proibido. Afasto-me dela e vejo que o sutien está ali, se equilibrando em seus bicos enrijecidos e eu preciso tanto senti-los em minhas mãos, saber o sabor que eles têm e, sugá-los como nunca ninguém o fez. Também não posso pensar muito sobre isso, não quero saber quantos sortudos tiveram a chance que estou tendo nesse momento.
Desço meus dedos pelo seu colo e removo lentamente a peça rendada de cor azul, no mesmo tom que o seu macacão e olho nos olhos dela, depois eu desço meus olhos até os seus seios e... Deus...
Eles são perfeitos. Ela é linda e eu sei que não sou nem de longe um merecedor desse corpo, eu sei o canalha que eu sou e que por mais que tenha muita coisa acontecendo aqui dentro, eu tenho consciência de que essa foda é para libertar pelo menos um dos meus demônios.
Jogo a peça sobre o sofá e me aproximo dela, colocando seus cabelos para trás e acariciando seu rosto e eu não consigo pensar quando foi a última vez que tive o menor sinal de afeto por uma mulher antes de fodê-la.
Beijo seus lábios novamente e a trago para junto de mim, preciso tê-la em meu quarto, sobre a minha cama e fazer com que as lembranças daquele lugar sejam menos sujas.
Subo suas pernas em torno de minha cintura e isso é tão fácil, ela é leve, ela é suave e eu sei que estou prestes a descobrir um mundo diferente do que tenho vivido nos últimos anos.
Coloco-a na frente dos pés da minha cama e me afasto, olhando para o seu corpo e em seguida olho em seus olhos.
- Você é linda - sussurro e ela esboça um sorriso sem dentes e completamente malicioso.
Tiro meu suéter e me livro dos meus sapatos, sem pressa, deixo que ela olhe para mim e sinta pelo menos o mesmo tipo de excitação que estou sentindo.
Puxo minha camisa para fora da calça e Kim se aproxima, olhando nos meus olhos e coloca as palmas das mãos sobre meu tórax. Eu preciso beijá-la novamente.
Sinto-a abrindo cada botão, lentamente, assim como beijo seus lábios e estou explodindo por sentir sua calma. Algumas vezes quando imaginei essa situação com ela, a imaginei com pressa, afoita e não assim, me detendo em cada instante na tranquilidade como remove minha camisa e a deixa cair no chão. Passo a pontas dos meus dedos sobre seus mamilos enrijecidos e ela segura a respiração e engole... seco.
Levo-a para mais perto da cama e a deito, olhando o traçado de sua barriga lisa. Ela tem três pintas abaixo do seio esquerdo e estou tentando gravar os detalhes em minha mente e eu percebo que já a vi de biquíni, mas nunca pude aplicar a atenção que estou aplicando agora.
Tiro minha calça junto com minha cueca e empurro com o pé para qualquer lado as peças de roupa. Ajoelho e me aproximo dela, vejo sua respiração intensa, ofegante, e eu sei como se sente, criamos expectativas elevadas e nenhum de nós pode sair frustrado dessa situação.
Coloco meu rosto diante do rosto dela e a beijo, meu corpo está sobre o seu, mas estou apoiado em meu braço e a outra mão percorre o seu pescoço, desliza entre seus seios e desce, encontrando sua calcinha. Coloco alguns dedos no elástico e abro espaço para que minha mão sinta seu sexo e massageio lentamente encontrando-a molhada, receptiva e sinto o gemido tentando ganhar liberdade enquanto a beijo.
Foder Kim Von Humbolt era algo inalcançável e agora tenho medo que seja algo rápido. Eu preciso sentir cada uma dessas sensações que me transmite confusão e, ao mesmo tempo, deixa meu pau incrivelmente mais duro.
Enfio meu dedo em seu sexo e subo até seu clitóris, ela geme e eu não deixo seus lábios, preciso senti-la o mais perto de mim nesse momento, e depois, eu preciso sentir como é estar dentro dela.
Ela abre um pouco mais as pernas e eu deixo seus lábios e olho em seus olhos.
- Linda - falo e ela suspira e isso não deveria entrar para a lista de itens que me deixam excitado, mas entra, e eu preciso saber como ela está se sentindo, e isso nunca me aconteceu.
Saio de cima dela e me coloco entre suas pernas, enrosco meus dedos nas laterais de sua calcinha e a removo, sem pressa, e vejo sua boceta molhada, brilhando e posso imaginá-la pulsando ao meu redor.
Busco o controle interno masculino que devo admitir que algumas vezes é falho. Olho para o seu rosto e ela está serena, mesmo seu corpo mostrando sinais de êxtase.
Inclino-me até o criado mudo e sinto que meu pau encosta em seu corpo e eu odeio ter que colocar o preservativo, porque Kim é alguém que desejo sentir integralmente, mas meu senso diz que isso é o correto a fazer.
Alcanço a embalagem laminada e a abro, retiro e deslizo a camisinha em meu pau e eu o sinto pulsar. Aqui não é apenas sexo, são anos de tesão acumulado em fodas alheias.
Deito sobre ela, mas mantenho distância de seu corpo, olho em seus olhos e a beijo em seguida. Roço meu pau em sua boceta molhada, quente e escuto seu gemido por isso.
Coloco-o em sua entrada e mesmo buscando algum tipo de meditação para controlar minha vontade, eu fracasso e enterro meu pau e sinto sua boceta se apertar à minha volta.
- Gostosa - falo em sua boca e saio quase por inteiro e volto a entrar e sinto ainda mais tesão, porque ela é mais gostosa do que parecia e me sinto enganado por ela.
Entro, fico, me remexo dentro dela, sentindo todos os seus pontos e a sinto molhar o meu corpo. Sou flagrado pelos seus olhos e ela sabe que nossa conexão nesse momento está perfeita, é como se fosse o corpo dela que meu corpo sempre pediu.
Enterro novamente e agora sinto seu limite e ela agarra os lençóis gemendo alto e essa vista, do seu corpo se retorcendo sob o meu, é fantástica.
Entro e quase saio e ela joga sua cabeça para trás e não faz ideia de como essa imagem atravessa a minha mente e me seduz além do que eu esperava.
São minutos de uma fusão perfeita e isso não seria possível já que nesse quarto estamos apenas em dois e esse nunca foi meu número favorito. Mas acho que passou a ser.
Mantenho um ritmo harmonioso e tento enganar meu corpo, meu pau lateja e eu penso em coisas que dificultam a finalização dessa foda tão esperada.
A quinta música da minha lista termina e escuto AC/DC, You Shook Me All Night Long, começar.
Ela se remexe e eu percebo que ela quer sair - Sente-se ali - ela aponta para a cadeira estofada e sem braços perto da janela e eu escuto seu sorriso como uma ordem perfeita. Fico feliz em obedecer.
Saio da cama e faço exatamente o que ela me pediu. Assim que me sento, ela está diante de mim, nua, molhada e se coloca na minha frente, inclinando seu corpo e beijando a minha boca.
Acomodo seus seios em minhas mãos e me perco em seu beijo, em seu corpo e quando me dou conta ela está colocando cada perna de um lado do meu corpo e eu deixo meu pau em posição para que ela faça o que tem vontade de fazer.
“A terra estava tremendo
Minha mente estava doendo
E nós estávamos fazendo amor”
AC/DC – You Shook Me All Night Long
Ela se sentou vagarosamente e eu a senti, me apertando, e isso é um dos maiores desafios da minha vida, justo eu que sempre tive um controle absoluto sobre o meu corpo, me vejo agora prestes a desmoronar diante dela.
Levo minhas mãos até os seus seios e os massageio, busco um ponto de fuga e tento não deixar que tudo seja previamente finalizado.
Algo serpenteia meu peito e ela mantém o movimento inúmeras vezes e eu me sinto fraco e se não estivesse com o pau tão duro e latejante, eu diria que me sinto impotente.
Ela se senta com vontade, me molha, me excita e tudo está mais confuso agora, porque isso é como uma recompensa que não mereço.
- Mais - peço em tom de misericórdia e ela se senta com força e sai, lentamente, quase que por completo, e isso é o que posso descrever como agonia. Ela se senta novamente e eu gemo alto e ela me beija com força, mordendo meu lábio inferior e eu nunca pensei estar sob o domínio dela, eu nunca estive sob o domínio de ninguém.
- Muito melhor do que pensei - murmuro em sua boca e a vejo sorrindo. Não me controlo e coloco minhas mãos de cada lado do seu traseiro e me levanto a levando para o banheiro e a coloco sobre a bancada. Preciso foder essa boceta com força porque estou a ponto de explodir e ela está confundindo a minha cabeça.
Não tiro meu pau de dentro dela e eu sei que atrás de mim tem um espelho e ela pode olhar para minha bunda, já que a luz do banheiro é acesa por sensor de presença.
Seguro com força cada lado de seu traseiro e entro com vontade, com força e escuto seu gemido e sinto os sinais de seu corpo. Ela está gozando!
Entro e saio cada vez com mais força, sinto-a me limitar dentro dela e eu preciso de mais dela, me excito com seu orgasmo em mim, me excito porque ela é a Kim, a dona de muitas das minhas fantasias e desejos.
- Caralho! - falo ao olhar para o seu rosto que representa uma quase dor e eu me entrego, desisto e entro e saio enquanto gozo abundantemente, enchendo o preservativo. Ela é linda, inconscientemente meu cérebro avisa que ela é minha linda.
Apoio minha testa na dela e sinto suas mãos deslizarem em minhas costas e isso tudo não deveria terminar assim... com ela em minha mente.
Levo-a para o quarto com meu pau ainda pulsando dentro dela e a deito na cama. Saio lentamente dela e não me sinto feliz com isso, eu quero mais, eu preciso de mais e eu não posso falar isso para ela, eu não posso dizer que pensei nessa noite por tanto tempo que agora a única coisa que eu penso é que essa noite poderia durar um pouco mais... ou muito mais. Vou até o banheiro e tento pelo menos não analisar o fato dela estar deitada na minha cama como está agora e se virar como se buscasse uma posição para dormir.
Sinto-me em queda livre.
15
Kim
Acordo com a sensação confortável de estar coberta com lençóis macios e com cheiro de amaciante, como se tivessem sidos lavados agora há pouco. Abro meus olhos e vejo a cortina se movimentando por conta da fresta da porta da varanda que está aberta.
Não foi um sonho, estou no quarto de Benjamin.
A cama é grande, mas eu sei que ele está do meu lado, dormindo profundamente. E tudo retorna em minha mente, ele saindo do banheiro, fechando a porta do quarto e me cobrindo com o lençol e por cima uma manta fina. Ele se deitou ao meu lado e eu me virei de frente para ele.
- Oi - eu disse e ele disse um oi sem som - Quer que eu vá embora? - perguntei e ele me puxou para junto de seu corpo e me olhou nos meus olhos - Não - ele disse e me beijou, suavemente, e me entreguei a ele novamente, me entreguei ao seu corpo que parecia ter que finalizar algo que já havia acabado.
Ele levou a boca até meu seio e sugou, circulou com sua língua e me deixou excitada apenas por fazer isso.
Ele esticou o braço, pegou outro preservativo e no minuto seguinte ele o vestiu. Aproximei-me de seu corpo e senti seu pau duro novamente e dessa vez eu me coloquei sentada sobre ele, me inclinando algumas vezes apenas para que ele pudesse sentir o gosto de minha boca e o sabor dos meus seios.
Ele se mexe e eu acordo da sensação de ainda sentir seus lábios sugando meus mamilos e percebo que ainda está de madrugada. Aprecio seu cabelo revolto, sua boca ondulada pelo travesseiro e tento pelo menos pensar que tudo isso vai acabar, porque em pouco mais de três semanas eu vou estar me mudando para Suécia e isso coloca um ponto final nessa história que parece ter começado agora, mas a verdade é que ela começou há mais de dez anos, quando o vi pela primeira vez e meu coração disparou, me avisando que ali estava o meu risco, o meu maior perigo e, mesmo assim, eu deixei que ele entrasse e ficasse, mesmo não merecendo muitas vezes.
Benjamin é o tipo de homem de corpo desenhado por sua rotina não disciplinada de exercícios, ele tem sorte por manter um porte desse tipo sem muitas regras alimentares. Eu sei que ele pratica aulas de tiro e sua cor preferida é azul. Eu dei a ele uma camisa que comprei em Paris de aniversário, ela é azul escura e ele ficou lindo com ela, e por mais que não tivesse ficado, eu não consigo enxergá-lo de outra forma.
Aproximo-me e me apoio em meus cotovelos, preciso olhar cada detalhe desse momento, preciso que fique registrado o quanto ele é suave quando precisa ou quando está dormindo. Beijo o centro de suas sobrancelhas suavemente e saio da cama sem fazer barulho.
Vou até o banheiro e fecho a porta para que a claridade não o incomode. Faço o que precisa ser feito, uma higiene básica e saio em direção ao seu closet. Não há portas, apenas cabides organizados em cores e calças colocadas em escala na parte lateral, gavetas alinhadas em um único ponto e eu imagino que ali estejam as camisetas.
Tudo é de madeira clara, cheira perfume forte de Benjamin e tudo é muito intimidador. Abro a primeira gaveta e lá estão as cuecas e as boxers. São tantas... A gaveta do lado a mesma coisa, as duas de baixo são de meias e, por fim, as últimas são as camisetas. Pego uma verde escura e visto. Sinto fome, muita fome.
Saio do closet, atravesso todo o quarto e saio, fechando a porta. Vou até minha bolsa, pego meu celular e vou para a cozinha. Escuto meu estômago roncar e abro a geladeira.
Pego uma garrafa de iogurte e olho ao redor procurando por um copo, mas eu não sei onde está absolutamente nada por aqui. Antes de fechar a geladeira, vejo uma travessa com uma torta que parece ser de morango e coloco sobre a ilha ao lado do iogurte.
Abro a primeira gaveta da pia, pego uma colher e me sento no banco alto apoiada no balcão de frente para a porta da cozinha. Bebo o iogurte direto da garrafa e pego um pouco da torta e encho a minha boca. Tenho plena certeza de que meu cabelo está bagunçado e que minha cara, apesar de ter lavado, está parcialmente amassada.
Pego meu celular e envio um Whatsapp para Vivian.
“Vi, foi mágico” – Escrevo apenas isso e ela com certeza vai entender.
Vou até a minha página no Facebook e vejo como foi que a noite de Lexa e Adria terminou ou se ainda estão na HighLine. São quatro horas da manhã e é provável que elas estejam lá, jogadas da maneira que mais gostam e possivelmente bêbadas.
Vou até o perfil delas e vejo as fotos compartilhadas no Instagram, ainda estão lá e não parecem querer ir embora tão cedo.
Vejo a resposta de Vivian à minha mensagem.
“Sempre foi mágico o lance entre vocês, só faltavam tirar a roupa ;)” - dou uma risada baixinha e bebo mais um pouco de iogurte.
Sorrio para a tela do meu celular e digito uma resposta.
“Mas você sabe, estou de mudança e algumas coisas não serão alteradas por conta de uma noite isolada. Estou feliz” - respondo sorrindo e levo a garrafa de iogurte até a boca e limpo meu lábio superior com a língua.
- Isso foi sexy - me assusto com a voz rouca de Benjamin encostado no batente da cozinha - Línguas e lábios femininos são uma arma covarde contra qualquer homem - ele diz e se aproxima de mim - Meu dia começou muito bem - ele se aproxima e eu me lembro que não escovei os dentes e a visão sexy pode acabar em dois minutos. Levo mais uma colherada de torta até a boca e bebo mais um pouco de iogurte.
Vejo-o se aproximando de mim, ele está de cueca e não tem como não notar seu pau duro e isso me leva a engolir tudo que está na minha boca mesmo sem ter mastigado direito.
- Desculpa se te acordei - sorrio.
- Não desculpo - ele está cada vez mais perto e seus olhos parecem queimar e sinto que em meu rosto acontece a mesma coisa, minha timidez não está disfarçada com as doses de coquetel da HighLine e nem com os goles de uísque. Minha timidez está aqui, observando um gavião faminto se aproximar de sua presa.
Sinto meu sexo pulsar, ele me encara como se eu fosse um alvo fácil e eu sei que sou, para ele eu sou.
Ele me vira com o banco alto em sua direção, eu sinto o cheiro de menta vindo dele e eu não sei se devo beijá-lo.
Ele me tira do banco, me vira de costas para ele e apoia minha perna dobrada no assento do bando. Sinto sua mão segurar meu cabelo pela nuca e sua boca se aproxima do meu pescoço.
- Você fica linda de camiseta imensa, mas a prefiro sem ela - sinto que ele roça seu pau em minha boceta e eu busco fôlego e gemo, requebrando meu quadril e ele enterra, fundo, gostoso e ele já veio até mim de caso pensado, ele já está com preservativo e eu gostaria de senti-lo sem isso, mas mesmo sendo totalmente atraída por ele há anos, eu conheço parte de seu histórico e ser imprudente não ajudaria em minhas noites de sono.
Ele entra e sai repetidas vezes e segura meu cabelo, mantendo sua boca próxima à minha nuca - Goze para mim - ele pede em tom de ordem. Sinto-o entrar com mais força e rápido e sair lentamente, dolorosamente, e isso me toca em pontos precisos para que o orgasmo seja algo facilmente alcançável.
- Muito mais gostosa do que imaginei todos esses anos - ele diz e mantém um movimento perfeito de entrar e sair e sua voz toca algo aqui dentro e eu me sinto mais molhada, mais pulsante e estou à beira de explodir.
- Vou gozar, Benjamin - falo e ele se coloca novamente dentro de mim.
- Céus, nunca pensei que ouvir isso de sua boca fosse ser tão bom - ele murmura em minha nuca e eu rebolo, gozando em seu pau e eu também nunca imaginei que fosse ser assim, tão intenso.
Ele sai de mim e me vira de frente para ele - Você é incrível - ele diz e beija a minha boca sem se preocupar com meu hálito e eu sinto seus dedos mexerem em meu clitóris. Instintivamente abro minha perna e a suspendo encostando em seu corpo.
Ele se afasta de minha boca e tira a camiseta que estou vestindo e a joga sobre o balcão. Benjamin agarra meu seio e desce sua boca o sugando com delicadeza e com uma habilidade que está acabando com meu psicológico.
Ele massageia meu bico com a língua e em seguida o suga e volta a repetir o processo e me suspende em seu corpo. Apoia-me em sua cintura e seu pau roça em meu sexo molhado mas não está dentro de mim.
Ele me leva até o sofá e se senta, me deixando sobre ele. Ajeito-me e eu mesmo o enfio dentro de mim, estou apoiada em meus pés e me sento sobre ele e me levanto lentamente, olhando para o seu rosto que expressa fome, e um pouco de desespero diante da excitação.
Ele está com suas mãos em meus seios e é como se fizéssemos isso há anos, como se um soubesse exatamente como o corpo do outro funciona e tudo se encaixa perfeitamente e eu sei que isso não resolve o meu problema, apenas gera mais um.
- Por favor, não pare - ele implora e eu diminuo meu ritmo, e sinto que posso alcançar um novo orgasmo assim.
Continuo e ele desce suas mãos pelo meu corpo e as coloca em meu traseiro, jogando sua cabeça para trás - Kim - ele fala com tanto tesão e isso explode em mim, e eu aumento o ritmo fazendo o que o meu corpo precisa e eu sei, estamos derrotados diante de tudo isso.
Entrego-me ao orgasmo e o sinto me acompanhar gozando junto comigo. Então, de maneira surpreendente, enquanto gozamos juntos, ele sobe sua mão até a minha nuca e leva minha boca para junto dele e me beija, ardentemente, e agora existe mais um grito aqui dentro, me alertando sobre o fim de certas magias.
Relaxo meu corpo e apoio meu rosto aninhando em seu pescoço e seu perfume ainda está ali. O cheiro de Benjamin é algo que reconheceria em qualquer lugar do mundo e no meio de uma multidão, mas agora eu sei que esse cheiro vai estar instalado de maneira covarde em meus pensamentos quando eu for embora.
- Você é mais forte do que imaginei - eu digo.
- E você é mais gostosa do que imaginava - ele diz e alisa meu rosto com o dele.
Sinto seus braços me abraçarem e esse tipo de carinho pós-foda não é um bom sinal, pelo menos isso integra as lembranças que vou ter.
Ele se levanta comigo em seu colo e me leva até o banheiro. Estou atracada nele e apenas quando ele me coloca no chão é que sinto seu pau sair de mim.
Benjamin coloca a hidro para encher e em seguida se livra da camisinha e vem em minha direção.
- Sabemos o quanto isso tudo é loucura, mas eu confesso, são muitos anos imaginando como seria - ele confessa e sela a minha boca.
- Espero ter atingido suas expectativas - sorrio maliciosamente.
- Ah... Kim, acredite, eu não posso confirmar isso - ele diz e meu sorriso vai embora.
- Posso saber por quê? - cruzo os braços e o enfrento com um olhar quase furioso.
- Preciso que acredite que não atingiu, preciso que sinta necessidade de me dar mais disso, eu preciso mais de você - ele aproxima seu corpo do meu e me agarra, passando a mão em meu rosto, suspendendo meus cabelos acima da orelha e se antes eu estava confusa, agora eu acabo de me encontrar.
- Isso faria com que eu permanecesse o tempo todo querendo satisfazer suas expectativas que possivelmente já foram atingidas no momento em que eu entrei no seu apartamento e o impedi de saltar daqui de cima - falo e sua boca está encostada na minha e sorrio.
- Você atingiu minhas expectativas na tarde em que tomamos café de maneira despretensiosa no Times Square, naquela Starbucks de atendimento ruim. Superou minhas expectativas quando se sentou na minha mesa, com seu vestido amarelo, cinturado, até a altura dos joelhos e como se isso não bastasse, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo lindo no alto de sua cabeça - ele me deixa assustada por se lembrar daquela tarde que aconteceu anos atrás, acho que dois.
- Apenas por um café? - pergunto.
- Não, foi pela conversa sobre empresas. Seu fascínio por números e seu entendimento do mundo dos negócios superou minhas expectativas quando falou sobre as crianças refugiadas, sobre seu interesse no mundo e quando deixou clara a sua posição diante de algumas injustiças. Estávamos no meio do coração pulsante da Big Apple e você não percebeu que fez o mundo parar à minha volta - sinto que meu peito vai explodir.
- Está me dizendo isso por conta de umas trepadas que tivemos em algumas horas? - pergunto sorrindo.
- Não, trepadas eu tenho em qualquer esquina e te garanto que a maioria não apresenta nenhum valor. O que fizemos, eu garanto que só foi possível porque foi com você - ele diz e deixa seus olhos nos meus e eu imagino que tenha valido a pena esperar, mas eu analiso internamente, o que foi mesmo que esperamos?
- Por que esperamos tanto tempo? - pergunto e ele olha para baixo e sobe seu olhar para mim.
- Eu também tive medo - ele diz apenas isso e se solta de mim. Não sei se devo perguntar, mas do que ele sentiu medo? Penso que possa ter sido por conta de Alec.
A hidro está cheia e ele me leva até ela e se senta de frente para mim, ela é grande e não parece ser usada com frequência.
- Você precisa trabalhar hoje? - ele pergunta e eu me lembro que hoje é sexta-feira e eu olho seus olhos tão pedintes e eu nunca imaginei que o veria assim, tão entregue. Talvez todos esses anos não tenham sido de espera apenas para mim.
- Tenho uma reunião às onze horas e possivelmente vai se estender até depois do almoço - os franceses estão na cidade para fecharmos a distribuição do material produzido na Suécia em sua fábrica na França.
Seu rosto se fecha em uma expressão ilegível e eu posso tocar seu descontentamento com a minha resposta.
- E você, você precisa trabalhar hoje? - pergunto e ele me olha por alguns segundos.
- Deixaria de trabalhar se você ficasse - ele diz e meu coração não deveria comemorar assim ao ouvir isso. Meu coração precisa entender que eu assumi uma mudança para Suécia e eu não volto em nenhuma de minhas decisões.
- Acho que vamos trabalhar então - sorrio e ele demora, mas esboça um sorriso sem dentes e nada real.
***
Não dormi, mas observei o sono de Benjamin por algum tempo. Ele sempre foi o dono de todos os meus pensamentos e confesso que em um momento mais inocente, quando eu não sabia de boa parte do que ele fazia, cheguei a imaginar como seria me casar e ter filhos com ele.
A verdade é que alguns sonhos só são perfeitos porque não se realizaram.
Coloco a minha roupa, pego meu celular que ficou sobre o balcão e peço um taxi via aplicativo. Saio sem fazer barulho algum do apartamento de Benjamin e desço, procurando respostas dentro de mim e o que encontro são mais perguntas e tenho medo que sejam essas as questões que me farão perder algumas noites de sono.
16
Benjamin
Estou sentado na cadeira perto da janela, meus cotovelos estão apoiados em meus joelhos e meus olhos estão sobre a cama, ainda revirada e iluminada pelo sol que invade através das frestas da cortina. Manhã fria nova-iorquina, o sol ilumina, mas não tem força para aquecer.
Mesmo estando de terno e pronto para ir ao escritório, eu não consigo simplesmente sair dali e deixar de olhar a cama. É como se ela ainda estivesse ali, aninhada em meus braços e fazendo com que tudo que tivesse certeza antes se tornasse a maior dúvida de minha vida.
Muitos anos ensaiando e no dia da estreia eu simplesmente não sinto que esteja preparado.
São quase dez horas da manhã e eu confesso que procurei um bilhete, peguei meu celular em busca de alguma mensagem e depois que não encontrei, me senti um adolescente perdido em um baile de formatura.
- Por que esperamos tanto tempo? - ela perguntou e eu confessei pela primeira vez que tenho meus medos, sempre os tive e não era medo de Alexander. Porque se fosse preciso o arrastaria até o inferno. Eu tive medo de mim, de perder a minha liberdade, minhas fodas absurdas e totalmente sem limites, tive medo de não poder ir mais a Berlim e frequentar o Tanzânia, que foi onde tive meu primeiro ménage e foi lá que conheci a Greta.
Tive medo de encontrar uma vida diferente da minha e agora estou me perguntando que tipo de vida é a minha.
Greta enviou tantas mensagens, está insistente e ela sempre soube que nunca deteve nenhum tipo de sentimento de minha parte, e admito que nem mesmo respeito eu consegui ter por ela algumas vezes.
Ela avisou que vai estar em Madri em três semanas e isso deveria me animar, mas alguma coisa está me impedindo de sorrir.
É como se eu não estivesse passando por nada disso, é como se tudo isso estivesse passando por mim, me atravessando e me deixando em algum ponto que não sei como sair. Não reconheço esse lugar e não vejo nada sinalizando a saída.
Levanto e vou para a sala, pego minha carteira, a chave do meu carro e deixo meu apartamento, com tudo que aconteceu por lá e com tudo que está acontecendo aqui dentro.
Entro no elevador e ele para em mais alguns andares e, para ajudar nessa manhã confusa, a vizinha que conheço muito bem entra acompanhada de seu marido. Isso aconteceu algumas vezes, mas antes era praticamente excitante e agora o que faço é apenas tomar distância e me distrair com meu perfil no Facebook.
Eu sei que ela percebeu, mas Fran é a parte do meu passado recente que acabo de colocar de forma definitiva por lá. Seu marido parece ser boa gente, mas eu sei o motivo que o faz viajar tanto, ele é o perfil de homem que frequenta os torneios de Marco O’Neil no Palácio Hanzel, onde mulheres muito bem treinadas para serem dominantes fazem dos homens escravos sexuais, os torturam e os obrigam a pedir mais. Simon é um cara bem informado e ele mantém um respeito elevado por nós, os primeiros a instalarem aquele centro de entretenimento em Madri.
Fran um dia vai descobrir que mulheres como ela estavam na vida de seu marido e é por isso que ele nunca se importou em passar tanto tempo fora.
O elevador para no térreo e todos descem, menos eu, eu vou até o subsolo pegar o meu carro, mas antes da porta se fechar, Pablo, o porteiro do turno na manhã me chama e eu seguro a porta.
- Sr Brandy - ele diz e se aproxima com um envelope na mão e me sinto entusiasmado, pode ser um recado dela, um bilhete falando sobre a noite passada, sobre a madrugada ou sobre querer me ver, mesmo que para isso precisemos enganar Alexander.
- Obrigado - digo assim que seguro o envelope e a porta se fecha.
Abro o envelope e é um bilhete, mas não é de Kim, é de Greta
Benjamin,
Apesar de ter livre acesso ao seu apartamento, essa manhã fui impedida de subir. Estou em Nova York e quero te ver
Beijos,
Sua Greta
Greta, lamento profundamente, mas você não é minha em nenhum sentido.
Como ela foi proibida de entrar? Eu não lembro de ter feito essa solicitação à portaria para não ser incomodado.
Analiso as circunstâncias e não chego a nenhuma conclusão, apenas um golpe de sorte do destino que resolveu colaborar com a minha foda espetacular com a Kim. Acho que preciso de mais, mas tem que ser com ela.
Chego ao meu carro, e antes de virar a chave, olho para a tela do meu celular e acesso meu Facebook novamente. Vejo uma notificação de mensagens no privativo e a abro. É o Giovani.
“Ei, seu puto, tomei a liberdade de impedir visitas repentinas e não bem-vindas, isso inclui Alexander, mesmo eu sabendo que ele não iria aparecer porque ele não pode localizar via GPS o celular de Kim (depois me agradeça por isso). Ele está mais preocupado com o hacker que agora resolveu deixar charadas no banco de dados que Alexander cuida. Espero que tenham ao menos feito o que ensaiaram durante anos a fazer”
Filho de uma puta esse Gio, sempre um passo à frente. Merece um prêmio por ter blindado a minha estada com Kim.
Viro a chave e aumento o som. Algo me anima internamente e outra coisa luta com isso, me lembrando que tudo isso pode ter apenas acontecido de maneira sazonal e pode nunca mais se repetir. Tiro o som do pendrive que contém minha lista de música e coloco em uma rádio local.
Está tocando Paloma Faith, Only Love Can Hurt Like This, penso em trocar de estação mas a letra me atrai e quando me dou conta estou pensando sobre o trecho que acabou.
“Digo, eu não me importaria se você fosse embora, mas toda vez que você está lá, eu estou implorando para você ficar. Quando você chega perto, eu apenas tremo”
Acelero e sigo para Brandy, mesmo sabendo que meu compromisso é apenas no final da tarde com alguns clientes.
***
Assim que piso no corredor da Brandy, Pamela se levanta e vem em minha direção. Não sei qual é o meu nível de paciência com ela hoje.
- Bom dia, Benjamin - ela diz sorridente.
- Bom dia - retorno e continuo caminhando até a minha sala. Uma de minhas mãos está no bolso, a outra está passando pelos meus cabelos tentando buscar calma para encarar tudo. E não estou me referindo à minha secretária, estou falando da bagunça que está acontecendo aqui dentro... de mim.
- Esses são os documentos que chegaram de Detroit. Como havia mencionado no e-mail, sua reserva de hotel e voo já foram feitos, o embarque é na terça-feira e é bem provável que sua estada seja de pelo menos três dias - ela fala sério e não está se oferecendo para mim, isso significa que tenho um problema a menos. Provavelmente achou alguém para trepar e isso me deixa longe do seu foco sexual.
- Ok - respondo e no instante seguinte não fico feliz em saber que vou ter que ficar fora praticamente a próxima semana toda.
- O senhor precisa de mais alguma coisa? - ela pergunta e internamente respondo que preciso apenas que ela se mantenha assim, longe de mim.
- Apenas filtre as ligações, não estou para ninguém a não ser clientes - falo e entro na minha sala. Fecho a porta e me sento diante do meu laptop.
Ligo-o e escuto uma mensagem chegando, é dela... Kim
“A torta de morango estava uma delícia” - ela diz e eu estou como um verdadeiro otário olhando para a tela do celular. Que filha da puta! Trepamos tão gostoso e ela elogia a torta de morango.
“O iogurte não merece um elogio?” - respondo e deixo o celular de lado para digitar a minha senha e acessar meus e-mails.
Ouço o barulho da resposta dela chegando.
“Não, elogio apenas o que REALMENTE merece ;)” - ela retorna e eu posso escutar o som de sua voz dizendo isso.
“O iogurte vai ficar chateado” - mantenho o padrão da brincadeira que sinceramente está afetando drasticamente o conteúdo de minha cueca.
Olho para a caixa de entrada e vejo vinte e sete e-mails a serem lidos e respondidos e eu tenho interesse apenas em responder essas mensagens malcriadas de Kim sobre o pobre do iogurte.
“É a vida, ele vai ter que superar isso” - por mais que eu negue, eu a desejo nesse instante. É como se eu precisasse recuperar o tempo esperado, ensaiado e desperdiçado com medo de encarar tudo isso.
“Vou ajuda-lo com isso” - retorno e a porta da minha sala se abre, minha mãe e meu pai entram e fecham a porta de maneira rápida, e isso me assusta.
- Meu filho! - minha mãe totalmente desparafusada e conivente em algumas de minhas putarias dispara e vem em minha direção. Eu me levanto e ela me abraça e me beija os dois lados do rosto e se afasta.
- Isso tudo é por eu ser o filho que você mais ama? - o que seria bem apropriado já que sou único que ela colocou no mundo.
- Benjamin, por que não nos contou sobre o assalto do museu? - meu pai pergunta e se aproxima de mim, aperta a minha mão e me puxa para um abraço.
- Não aconteceu nada de mais, apenas fiquei preso em uma sala e a quadrilha roubou o que queria, não houve nenhuma ameaça - na verdade houve, mas isso aconteceu quando Kim foi colocada de lingerie em meu colo.
- Mas deveria ter nos avisado. Quando Alfred ligou e avisou sobre o ocorrido, eu quase enfartei - analisando tudo que minha mãe já flagrou em meu apartamento, devo constatar que seu coração é bem forte.
- Estou bem e pelo visto tenho sete vidas - brinco e meu pai se senta no sofá diante de minha mesa e minha mãe se coloca ao lado dele e eu receio que essa visita não tenha a ver apenas com o assalto.
- Isso é bom, Benjamin. Papai e eu temos uma notícia - eu me sento, tento me preparar porque vindo de minha mãe, eu posso esperar qualquer coisa.
- Qual é a notícia? - pergunto e apoio meus cotovelos sobre a mesa e deixo meus dedos entrelaçados na frente da minha boca para evitar uma gargalhada ou um choro compulsivo.
- Papai e eu vamos ter um ano sabático, e por isso vamos precisar de você integralmente nas indústrias Brandy - eu esperava um anúncio de uma adoção ou de uma aquisição de mais uma casa em Virgínia ou a venda do seu apartamento na Lexington, que por sinal é no mesmo prédio onde Ramon morava antes de se mudar para uma nova casa com Christen.
- Se eu perguntar a razão disso eu tenho chances de ter uma resposta? - pergunto e me levanto e dou a volta me apoiando na mesa.
- Claro, você merece essa resposta - meu pai diz e coloca a mão sobre o ombro de minha mãe e eu estou tentando assimilar um ano sem férias, sem fugidas para Madri ou Berlim. Uma mensagem chega em meu celular e eu o pego e vejo que é Kim, ainda zombando da minha cara. Isso me alivia e eu passo a não me importar em ficar um ano ou mais sem escapar para Madri ou Berlim. Algumas coisas perderam o sentido depois da noite no museu, a começar pela vida que eu estava levando... Na realidade, ainda estou, nada mudou depois do sexo com a Kim. Pelo menos estou tentando me convencer sobre isso
“Isso, o conforte nesse momento tão difícil” - sorrio ao olhar para a tela.
- Filho, você ouviu o que eu disse? - minha mãe pergunta e eu olho para ela ainda sorrindo.
- Para ser honesto, não - respondo.
- Quando fomos à Alemanha, conhecemos um grupo que adotou isso como forma de se livrar dos compromissos por um ano, para conseguir paz e desapegar um pouco dessa vida cheia de conforto - minha mãe é maluca, eu sempre tive essa certeza. Ela é desorientada, mas isso não faz dela alguém ruim, pelo contrário, ela não enxerga maldade nem onde ela existe realmente. Ela já me flagrou trepando tantas vezes que em uma delas ela se sentou na sala e gritou: Pode terminar que eu espero! Como meu pau ficaria duro novamente sabendo que minha mãe estava na minha sala e que Bernice estava lá, lhe servindo um café ou uma água?
- Mamãe, vocês vão fazer isso apenas para acompanhar esse grupo e por diversão e sabemos que só é possível porque papai tem dinheiro para sustentar metade da ilha de Manhattan por duas décadas - respondo sabendo que eles podem se livrar dos compromissos por que estão empurrando todos para mim.
“Estou pensando em você” - digito e não envio, penso que isso possa ir contra tudo que sempre fiz, assim como eu fiz na noite passada, e na outra noite e, então, são duas noites inteiras com a mesma mulher. A mesma mulher que tem estado em meus pensamentos por todos esses anos.
- Confiamos em você, e Alfred sempre vai estar a postos e poder responder algumas questões quando estiver fora ou não puder fazê-la - meu pai tem um jeito bem educado de dizer que estou fodido. Alfred é mais chato do que ele, muito mais chato, e estou me vendo chegar nesse escritório às sete da manhã e sair quando o segurança da noite chegar.
- E quando começa esse tal ano sabático? - pergunto.
- Em dez dias, mas em sete vamos nos encontrar na Áustria que será nosso ponto de partida. Queremos visitar pelo menos três continentes - minha mãe transforma o lance que era para ser espiritual em guia turístico.
- Espero que se divirtam - falo e meu pai se levanta.
- Você não vai rebater? Questionar e fazer o seu habitual drama Hollywoodiano? - meu pai se aproxima de mim e coloca a mão em meu ombro e olha nos meus olhos.
- Não - falo sorrindo e coloco a mão sobre o ombro dele também.
- Caralho, Benjamin - meu pai fala e minha mãe o repreende - Santo Deus, Gabriella, você já o flagrou transando tantas vezes, a palavra caralho não é o fim do mundo - meu pai diz e eu olho para a mensagem que não enviei ainda - Benjamin - meu pai fala e continua com os olhos nos meus - Qual é o nome dela? - ele pergunta e eu inclino a cabeça para ele.
- Nome de quem? - pergunto.
- Da mulher que está aí dentro agora - meu pai, que sempre se manteve tão discreto e distante de meus assuntos pessoais, me deixa completamente sem graça e eu instintivamente olho para tela do celular e envio a mensagem para Kim.
- Benjamin, apaixonado? - minha mãe fala com tanta dúvida e desdém que isso magoaria pessoas mais sensíveis.
- Aposto tudo que tenho nessa vida - meu pai diz e estende a mão para mim - E eu tenho certeza que não perderia - apenas não respondo. Não coloco minha opinião e simplesmente aperto a mão dele - Vamos, Gabriella, deixe-o trabalhar. Por falar em trabalho, Alfred vai cuidar de tudo sobre seus compromissos com a polícia em relação ao assalto - ele aperta a minha mão e a solta.
Meu pai vai em direção à porta e minha mãe vem em minha direção.
- Mulheres são perigosas - ela diz baixinho em meu ouvido antes de beijar o meu rosto - Eu te amo - ela diz e vai em direção ao meu pai. Meu celular avisa sobre mais uma mensagem e eu ainda estou olhando para os meus pais.
- Boa sorte em Detroit - meu pai diz e me manda um sinal tocando sua testa com dois dedos e os lançando para mim, como se dissesse: Até logo ou a gente se vê!
Eles saem e fecham a porta, me deixando ali, com uma indústria gigante, compromissos e com a certeza de que existe uma pessoa aqui dentro. Existe há anos, mas antes ela não havia beijado a minha boca e também não havia feito amor comigo.
Leio a mensagem e sorrio, e não me importo se isso é o clichê que sempre evitei, porque a verdade é que esse clichê é o que todos esperam... mesmo sem saberem. Sorrio apenas por ler o nome dela e peço internamente que Alexander tenha muitos problemas com o hacker.
“Estou pensando na torta de morango” - assim que vejo nego com a cabeça e uma ideia ridícula passa pela minha cabeça, mas... foda-se.
Levanto e vou atrás de meu pai. Ando com pressa pelo corredor e Pamela está vindo em minha direção.
- Viu meus pais? - pergunto e continuo andando.
- Estão na recepção com Alfred - ela responde e eu acelero ainda mais meus passos e chego à recepção.
Minha mãe está no celular e meu pai está falando com Alfred, me aproximo e eles olham para mim.
- O senhor tem algum compromisso hoje? - pergunto para o meu pai colocando minha mão em seu ombro exatamente como ele fez comigo e sinto que ele entendeu o recado.
- Não, eu estava pensando em ficar por aqui hoje e resolver tudo, seus serviços não serão utilizados hoje - meu pai fala e minha mãe se aproxima e resmunga alguma coisa e eu sorrio para meu pai, retribuindo o sorriso dele. Abraço-o e depois beijo o rosto de minha mãe e saio em direção ao meu carro. Meu destino é a 401 Bleecker St.
17
Kim
Meu telefone da sala toca, estou olhando para a tela do meu celular esperando alguma resposta de Ben, mas ela não chega e possivelmente depois de todos esses minutos esperando aqui, é bem provável que ele esteja trabalhando.
Alguém bate à minha porta e eu peço que entre. Coloco o celular ao lado do meu teclado e olho para minha caixa de e-mails.
- Oi - Jess me cumprimenta.
- Oi - respondo e ela se aproxima - Tudo certo com a aplicação de vinte por cento? - pergunto.
- Está tudo certo e eu trouxe os relatórios conferidos das últimas transferências para a filial da Suécia. Quanto à sua casa lá, na realidade é um apartamento e vamos combinar que ele é um baita apartamento. A equipe que você queria para montar os móveis chega na terça-feira e eu já fiz o pagamento, em vinte dias tudo estará pronto - ela fala sobre a minha mudança e eu penso que meu corpo vai estar do outro lado do oceano, o restante vai estar aqui, vivendo um sonho que durou as duas últimas noites. Sorrio ao me lembrar da madrugada ao lado dele, ou melhor, da madrugada com ele boa parte dentro de mim, literalmente falando.
- Esse sorriso todo é porque vai me deixar aqui? - ela pergunta e eu estico minha mão em sua direção.
- Vou morrer de saudade de você! Mas agora está tudo assinado e meu pai inclusive retoma a diretoria aqui mesmo depois de aposentado. A ideia era que Alexander finalmente cuidasse de uma das filiais, mas ele não quer saber - falo e ela suspende os ombros.
- Mas é bom trabalhar com seu pai, ele é tão generoso quanto você. Por falar nisso, quando eles voltam? - ela pergunta sobre as férias de nada menos de seis meses que tiraram para viajar pelos pontos do mundo que não conheciam.
- Na segunda-feira. Eu não entendo, ele é aposentado, mas gosta de dizer que está de férias - dou risada e ela também.
- Mas antes dele sair de “férias” - ela diz fazendo aspas com as mãos - Ele estava aparecendo por aqui pelo menos uma ou duas vezes na semana e fazia questão de visitar a produção - ela diz.
- Meu pai nunca conseguiu entregar o bastão definitivamente e sabe o que eu acho? É que ele sentiu falta do trabalho, por isso expandiu para Suécia. Eu acho inclusive que ele gostaria de estar assumindo aquela filial e não nossa matriz aqui em Nova York - explico e meu ramal toca, é uma ligação interna.
- Kim - atendo.
- Srtª Humbolt, uma entrega para senhorita, está como urgente - Nancy, minha secretária, avisa e eu peço que ela me traga e eu desligo.
- Acho que foi isso mesmo - Jess concorda com a teoria do meu pai precisar de férias das férias dele.
Nancy abre a porta e carrega uma caixa branca que reconheço facilmente.
- Obrigada - agradeço Nancy que me entrega a caixa pequena da Magnolia Bakery. Ela sai da sala e eu coloco a caixa de lado. Não sei o que tem dentro, mas com certeza diante de uma grávida eu ficaria sem.
- Alguém de bom gosto - ela diz - Sua sorte é que essa gravidez está me deixando totalmente intolerante a doces, mas se essa caixa fosse de uma pizza, você ficaria sem - ela brinca e me sinto aliviada - Kim, o que me pediu está aí se precisar de mais alguma coisa me avisa - ela diz e sai da minha sala.
Minha reunião vai começar em dez minutos e tudo já está pronto e eu sei que vai demorar mais tempo do que o necessário.
Olho para a caixa da Magnolia e a abro. Sorrio e depois gargalho.
Tem uma torta de morango, mas só a metade dela e um bilhete dentro da caixa.
Kim,
O iogurte não resistiu e, infelizmente, se foi.
Como tem pensado na torta de morango, eis...
Espero que goste e sinta vontade de pegar a outra metade
Beijo
Ben,
- Não faça isso - peço em voz baixa dentro da minha sala. Não é justo, não agora com tudo pronto para minha mudança. Eu sobrevivi todos esses anos sem você assim, agindo dessa forma, não é possível que esteja tão confusa por conta de uma única noite de sexo.
Foi sexo, mas em alguns momentos era como se estivéssemos fazendo amor, em alguns momentos era isso que eu transmitia para ele.
Pego meu tablet, os papéis que Jess me trouxe e saio da minha sala em direção à sala de reunião.
Ah... Ben, quem me dera estar pensando realmente apenas sobre a torta.
Abro a porta da sala de reunião e vejo três jovens senhores, dois homens mais jovens e uma mulher, todos estão com cara de dor, e eu achei que essa batalha seria mais difícil. Já enfrentei japoneses discutindo e alemães batendo suas mãos sobre a mesa, esses franceses serão meu pequeno chá da tarde.
- Bom dia - falo séria. Entro e fecho a porta. Apoio com firmeza meus saltos negros, da mesma cor que meu vestido até o joelho, e mantenho meu rosto sério. Sento na ponta da mesa e vejo os olhares desconfiados, talvez pela minha idade ou pela minha aparência que não demonstra a experiência que tenho em assuntos como esse.
Gostaria de avisá-los sobre como tudo isso vai ser finalizado, que tenho propriedade em tudo que vou apresentar e certeza que a empresa do meu pai será a empresa escolhida por eles, mas eu não posso, prefiro fazer uma surpresa.
Eu aprendi como articular esse tipo de negociação e estou à frente disso há tempo suficiente para afirmar que não vou precisar perder meu tempo aqui depois do almoço. Vamos finalizar isso de maneira satisfatória no primeiro round.
***
Retorno do almoço sem pressa. O que precisava foi executado com sucesso na reunião e agora posso adiantar meus compromissos do final do dia e parte dos de segunda-feira.
Chego em minha sala e vejo que Jess está atravessando o corredor do outro lado do escritório falando ao celular. Entro na minha sala e fecho a porta.
Respiro fundo e abro novamente minha caixa de e-mail. Dois e-mails, um do meu pai e outro de Alexander.
Meu pai avisa que já chegou em casa e Alexander fala sobre o retorno de meu pai e que vai ficar uma semana em Washington. Pelo que está dizendo, o hacker que andou tirando seu sono voltou a atacar e agora ele vai se encontrar com os seus clientes que estão sendo ameaçados por essas invasões.
Abro minha agenda de compromissos e verifico cada um deles e meus olhos desviam minha atenção até a caixa da Magnolia e eu me certifico que a metade da torta de morango ainda está lá dentro. Preciso me certificar também que vou ter a outra metade.
Pego meu celular e envio uma mensagem para ele e isso agora me parece natural. Lembro das inúmeras vezes que peguei meu celular, digitei várias mensagens, mas nunca tive coragem de enviar. Tudo mudou depois daquele beijo, depois da noite de sexo e agora sinto que há uma permissão para nossa comunicação.
“A outra metade corre riscos?” - digito e envio. Coloco meu celular de lado e respondo ambos os e-mails e alcanço a caixa e seguro a torta de morango. Dou uma mordida e eu me lembro da última vez que comi uma torta de morango. Ela antecipou o sexo que sempre esperei e agora eu sinto que não é apenas isso. Se Benjamin quisesse apenas uma foda não se preocuparia em me manter tão atenta às lembranças que ele gravou em minha mente.
Escuto meu celular avisar sobre uma mensagem, meu coração dispara, mas é Alexander dizendo que já está partindo.
Como toda a torta e deixo a caixa ao lado do meu computador. Não quero me desfazer dela, talvez eu a leve para a Suécia e coloque perto dos meus retratos sobre o aparador.
Eu tenho algumas fotos em meu celular com Benjamin, querendo ou não ele sempre esteve por perto. Abro as fotos e percorro meu álbum e vejo nossa foto no Reveillon na França. Foi há mais de cinco anos e eu procuro por alguma em que nós dois estejamos juntos na mesma imagem.
Observo que na terceira ele está na ponta e eu estou depois do Ramon, um pouco à frente. Amplio a imagem focando no rosto dele e percebo que ele não está olhando para a câmera, diminuo um pouco e acompanho o olhar dele. Tento não me enganar, mas é nítido, é claro... ele estava olhando para mim.
Busco outras fotos e uma delas ele está com o braço sobre meus ombros, estamos de costas para Torre Eifel e estamos olhando para Sebastian que tirou essa foto, eu sei porque também tem uma filmagem dele falando para o Benjamin sair e deixar apenas o que é agradável no retrato. Alexander o xingou em seguida e na outra foto, que estamos na mesma posição, novamente ele está olhando para mim.
Não posso me iludir com achismos de um passado tão arrastado, sempre houve algo por ele aqui, mas nunca houve algo entre nós.
Uma mensagem chega, agora é dele.
“Não é bem a outra metade da torta que está correndo riscos” - sorrio ao ler a mensagem que está na parte superior da foto. Clico sobre a mensagem e respondo.
“Isso implica em algum tipo de resgate? Não tenho muitos recursos” - zombo e volto a olhar as imagens.
A última festa em minha casa que ele foi, tem um ano, e essa foto foi eu que tirei sem que ele visse. Ele estava perto da piscina conversando com Andrew e Carl, e ele está sorrindo e o sorriso de Benjamin é o tipo de sorriso que te faz querer saber mais sobre ele e talvez seja culpa desse mesmo sorriso que passei tantos anos analisando seu comportamento, sua distância e os segredos, que em alguns momentos ele até conseguiu esconder.
Meu celular avisa que outra mensagem chegou, é a resposta dele.
“Sim, um resgate. Mas sabendo de seu estado de miséria crescente, eu tenho um acordo a lhe propor” - Eu preciso me manter fria, não posso fraquejar, mas eu preciso saber sobre o que se trata esse acordo.
“Poderia adiantar sobre as condições desse acordo?” Envio e volto a olhar as fotos. Benjamin fica bem mesmo com o cabelo sempre despenteado.
No casamento de Sebastian, ele estava com seu cabelo tão bem colocado para trás que eu passei boa parte do tempo olhando para ele. Acho que passei boa parte da minha vida olhando para ele e chego a conclusão que nunca tivemos a oportunidade de ficarmos a sós. Se não fosse o assalto, com certeza conversaríamos um pouco e ele sairia em seguida e o obstáculo entre nós ainda estaria lá. A marcação em cima dele por parte de Alexander deve ter sido o motivo que o levou a sempre evitar ficar sozinho comigo.
Devo agradecer ao hacker que andou tomando o tempo dele na Oracle e ele esqueceu um pouco da minha vida. Apesar que durante todos esses anos, eu trabalhei o suficiente para esquecer minha vida pessoal e me relacionei com pessoas que também me distanciaram dele. É como se tivéssemos realmente que esperar pelo momento certo, mas acredito que agora seja tarde demais.
A resposta dele chega e eu abro.
“Claro, faço questão de adiantar e inclusive dar detalhes sobre o acordo, mas só aceito fazer isso se for pessoalmente” - leio e nego com a cabeça e eu tenho anos de coisas para falar para ele preso em minha garganta, e acredito que para me livrar disso, eu também exijo um encontro pessoal.
“E poderia me dizer quando e onde? Afinal, tenho tantos compromissos e com certeza vou ter que anotar em minha agenda para não esquecer” - sacaneio e vejo mais um e-mail chegando, é da empresa que vai instalar meus armários no apartamento da Suécia. Quem enviou foi a Jess.
Meu celular avisa sobre mais uma mensagem de Benjamin.
“Me esqueceria?” - CARALHO, BENJAMIN! - falo alto na minha mesa e coloco o celular de lado. Apoio minha cabeça na mesa e fecho meus olhos. Rezei por tantas noites para te esquecer e quando achei que isso estava acontecendo, me enganei. É como se você tivesse tomado fôlego para voltar à tona de meus pensamentos e se instalar de vez. Levanto, pego o celular e ligo para ele. Na segunda chamada, ele atende.
- Oi - ele diz - Não vou adiantar nada por telefone, apenas pessoalmente - ele já metralha contra mim a vontade de me ver e eu apenas deixo dois segundos de silêncio assim que ele fala para compor o que preciso falar.
- Oi, são mais de dez anos - falo e travo, não consigo terminar e escuto sua respiração do outro lado. Ele também fica ali, apenas escutando e eu tenho vontade de gritar, porque esperei por tudo isso e quando tudo aconteceu minhas malas já estão prontas.
- É exatamente por isso que não aceito falar com você com mais de um palmo de distância - ele me joga uma bomba e eu não deveria sorrir.
- Por que isso? Por que só agora? Deus... - murmuro.
- Porque nos prenderam - ele responde e eu não sei se agradeço aos assaltantes ou se vou atrás deles para dizer que eles ajudaram a foder meu psicológico.
- Então, eu devo enviar flores aos assaltantes em forma de agradecimento - pergunto.
- Não estava me referindo aos assaltantes, estava me referindo às coisas e pessoas que haviam nos isolado um longe do outro - ele para - Não foi apenas você que esperou, eu posso garantir que para mim foi pior - ele diz e me deixa sem saída - Posso te ver? - ele pergunta.
- É sobre o acordo? Sobre a torta de morango? - ironizo.
- Não adianto o assunto por telefone - ele é direto.
- Quando e onde? - falo mais baixo.
Escuto pessoas falando perto dele e espero, penso que ele possa estar trabalhando, ou pelo menos deveria estar.
- Muito obrigado, Sra Humbolt - escuto ele agradecer à minha mãe? É isso mesmo?
- Onde você está? - pergunto assustada.
- Já sabe onde estou - ele responde.
- Você está na minha casa, está conversando comigo na frente dos meus pais? - me levanto e pego minha bolsa e saio.
- Acha mesmo que eu faria isso? - eu sinto que ele está sorrindo e eu quero apenas saber o que ele está fazendo na minha casa.
- Não sei - respondo e meu motorista abre a porta para mim e eu me sento no banco de trás.
- Você tem uma visão errada sobre mim, uma perspectiva cruel e isso poderia me deixar profundamente triste - ele está zombando de mim.
- Poderia, mas você não fica triste, é praticamente indestrutível - respondo em tom de brincadeira.
- Realmente, Kim, você tem um ponto de vista a meu respeito que me deixa chateado - sinto a brincadeira em seu tom de voz.
- O que você está fazendo na minha casa?
- Assim que for possível, me fale se deseja saber mais sobre o acordo, afinal, ele envolve uma metade de uma determinada torta - ele diz.
- Para de falar assim, meus pais estão aí perto - peço.
- Estou esperando seu retorno, agora eu realmente preciso desligar - ele diz e desliga.
- Filho da puta! - falo alto no banco de trás e meu motorista me olha pelo retrovisor - Poderia ir mais rápido? - peço e ele acena que sim e sinto-o acelerar ainda mais.
O que ele está fazendo na minha casa?
***
O carro para na frente da minha casa e eu entro pela sala e vejo as bagagens dos meus pais ainda ali num canto. Caminho pelo corredor e os vejo conversando animadamente em torno da ilha.
- Até que enfim voltaram! - sorrio e vou em direção à minha mãe, coloco minha bolsa e celular sobre a ilha e a abraço e beijo seu rosto. Ela está com uma taça e isso implica em bebida, a sua favorita. Martini com duas azeitonas. Eu odeio Martini, me lembra gosto de remédio - Senti a falta de vocês - falo e solto dela e vou em direção ao meu pai. Tenho uma ligação com meu pai inexplicável e o abraço por mais tempo e não precisamos falar nada um para o outro, é apenas amor e ponto.
- Pelo visto despedaçou mais um coração - ele brinca comigo falando em meu ouvido.
- Não sou tão má - respondo e ele me solta, olhando dos meus pés à cabeça. Meus pais são relativamente jovens, foram pais muito cedo e agora estão chegando na casa dos cinquenta anos. Minha mãe se mantém no cabelo castanho e pelo visto está mais magra. Ela é vaidosa e eu sei que sou vaidosa como ela. Sua pele está radiante e eu gosto de ver o seu sorriso.
Meu pai é alto, eu não herdei isso dele, Alec sim. Ele é forte e é o tipo de homem grisalho sexy.
- Terminou com Scott, ou foi apenas um tempo? - minha mãe pergunta.
- Mãe, não sou de dar tempo e também não sou volúvel em minhas decisões - falo e me sento no banco alto da ilha.
- Muito bem, por isso é a presidente de nossa filial na Suécia, lá os empresários são implacáveis, mas não se comparam a você - meu pai tem um jeito bem peculiar de me elogiar.
- Já disse que não sou tão má. E como foram os meses conhecendo o mundo? - pergunto e eles falam sobre os pontos menos conhecidos da África e do sul da China e eu quero apenas saber o que Benjamin estava fazendo aqui.
- Conhecemos uma aldeia que não tem energia, internet, nada, vivem como se a tecnologia não existisse, seu irmão morreria em poucas horas - minha mãe diz sorrindo - Por falar em seu irmão, ele estava com tanta pressa para resolver alguma coisa que saiu e cinco minutos depois Gio, que é sempre um encanto, chegou com algumas coisas dele - minha mãe diz.
- Gio? - pergunto e me levanto. Ando até a geladeira e pego uma cerveja - Eles trabalham juntos - tento parecer tranquila e viro um gole em minha boca.
- Sim, ele é sempre educado, atencioso e estava com Benjamin. Esse é outro rapaz que foi muito bem educado. Gabriella e Brandy fizeram um ótimo trabalho - a cerveja que estava em minha boca desce cortando a garganta e eu devo concordar com ela, Sr e Sra Brandy capricharam. Benjamin é gostoso pra caralho, e ele deve saber disso, tanto sabe que gosta de dividir o próprio corpo com duas ou mais mulheres
- É, eles são bem educados - e putos, todos do bando e eu sei o que estou falando - Mas o que Gio veio trazer? - pergunto e bebo mais um gole de cerveja.
- Uma caixa, ele deixou no quarto do seu irmão - minha mãe bebe mais um pouco do que está em seu copo e eu não vejo lógica alguma em Gio trazer uma caixa que pertence a Alexander.
- Ele é bem prestativo - falo e termino com a minha longneck.
- Eles ficaram pouco. Gio bebeu um pouco de café, Benjamin aceitou apenas água, falou pouco e passou boa parte do tempo perto da piscina falando ao celular, depois apenas agradeceu e foi embora com Gio - é muito filho de uma puta.
- Estão sempre com pressa - mentira, quando querem desaparecem e ficam dias sem trabalhar. Uma vez contei quantas vezes eles foram viajar em um ano e isso não pode ser normal. O que eles têm de milhas acumuladas dariam a volta ao mundo pelo menos oito vezes. Algo me diz que de novo Gio está aliado a Benjamin.
- São rapazes responsáveis - claro, com o próprio corpo e em trepar. Penso comigo.
- Bom, eu sei que vocês chegaram hoje, mas eu tenho que tomar um banho e sair, prometo não demorar - falo como se eu tivesse quinze anos.
- Filha - meu pai se aproxima - Vamos jantar na casa dos Makenzie, não se preocupe, sua mãe já estava de saída, e eu vou fazer algumas ligações, em três semanas eu volto à ativa diariamente - ele diz sorrindo.
- Isso, meu amor, eu vou até o salão da Rose, há muito tempo não nos vemos e pelo visto ela e o Sr Maccouant também irão ao jantar - faz tempo que não vejo o Evan e a Vick, os gêmeos devem estar lindos. Analiso e percebo que um dia seria bom ter uma família, crianças pela casa, alguém para sair correndo em busca de um remédio para cólica ou dor de cabeça.
- Vou subir e tomar um banho - falo, deixo a garrafa sobre a ilha e beijo o rosto dos dois. Pego minha bolsa e celular e subo olhando para as últimas mensagens. Nenhuma é dele.
Chego em meu quarto e vejo uma caixa, branca média em cima da minha cama e eu tenho certeza que não deixei isso aqui. Giovani também não erraria de quarto, todos sabem que meu quarto é o último no fim do corredor.
Largo minha bolsa e meu celular sobre a cama e vou até o quarto do Alec. Não há nenhuma caixa e obviamente minha mãe sequer subiu a escada para conferir.
Volto para o meu quarto e abro a caixa e sorrio porque sou uma idiota que mesmo não tendo vivido nenhum tipo de romance de perder a cabeça, ainda acredito neles.
A camiseta verde do Benjamin está lá, dobrada e sobre ela um bilhete
Kim,
Só faltou a torta...
Ben,
Qual é a sua, Benjamin? Mais sexo?, pergunto internamente. Vou para o chuveiro, preciso esfriar a minha cabeça ou tentar não perdê-la.
Saio do banho e uma ideia me ocorre, pego meu celular e ligo para Lexa, na segunda chamada ela me atende.
- Oi - eu digo.
- Espero que essa ligação seja para nos acompanhar - ela fala e eu não faço ideia do que ela esteja falando.
- Acompanhar aonde? - pergunto.
- Vamos para o festival em Santa Mônica! - ela está animada e escuto a música que ela está ouvindo, é Ariana Grande em volume alto, está tocando Focus.
- Acho que vai ser bom - falo e ela vibra do outro lado.
- Faça sua mala e venha de taxi, vamos com o jatinho para lá - ela fala e a minha ideia era passar o final de semana com elas, mas não imaginei que poderia ser em Santa Mônica.
- Chego aí em duas horas - falo e desligamos.
É exatamente isso que preciso, mas antes, vou acertar um pequeno detalhe com Benjamin e a metade de uma determinada sobremesa.
18
Kim
O taxi me deixa em frente ao prédio de Benjamin e eu desço com minha mala de mão e vou em direção à recepção.
- Boa tarde - cumprimento o porteiro que é o mesmo que estava aqui no dia em que Gio me trouxe e ele pode estar pensando que fui novamente contratada.
- Boa tarde - ele diz.
- Eu vim falar com Benjamin Brandy - digo e espero que ele saiba quem seja, eu não sei o número do apartamento dele.
- Qual é o seu nome? - ele pergunta.
- Kimberly - respondo e ele sorri.
- Pode subir - ele autoriza sem ao menos ligar para ele e me anunciar.
- Não prefere ligar e ver se ele está em casa? - falo e olho para o celular, são quase cinco horas.
- Ele avisou que caso a senhorita chegasse não precisaria ser anunciada - ele responde.
- E se eu tivesse falado outro nome? - interrogo quase grosseiramente.
- Então não subiria, a ordem dele foi bem clara, apenas Kimberly poderia subir sem necessidade de anúncio - ele responde e sinto minha boca abrir.
Uma coisa é certa, Benjamin não vai foder com meu mundo, esperar mais de dez anos para ficar maluca? Não, de forma alguma.
- Obrigada - agradeço e vou em direção ao elevador.
Olho atentamente cada andar e espero até que chegue no andar dele e eu vou em direção à sala, ele está lá sentado na varanda, bebendo alguma coisa e a imagem dele é algo que sempre me perturbou, mas agora ela está me tirando a concentração do que realmente eu devo fazer.
Ele olha para mim, se levanta e vem em minha direção. Seus olhos estão em meus olhos e, de repente, vão até a minha mala de mão e ele sorri. Não entendo o motivo dele estar sorrindo.
- Oi - digo e ele se aproxima e beija a minha boca.
É difícil resistir, ele está tão lindo como sempre, jeans claro, camiseta branca e descalço. Cheiro de banho e perfume forte, mas eu sou mais forte.
- Quero que venha comigo - ele diz sorrindo e eu vim até aqui para resolver um detalhe e não arrumar outros. Mas eu me sinto totalmente envolvida pelo sorriso dele. É como se ele quisesse partilhar algo dele comigo e não apenas sexo.
- Posso saber onde vamos? - pergunto.
- Apenas confie em mim - ele vai para o quarto e volta minutos depois. Ele está de tênis discreto e jaqueta com a marca Harley Davidson. Eu sei que ele comprou uma motocicleta dessa marca recentemente, mais precisamente uma VROD. Vejo-o pegar dois capacetes no armário do corredor e voltar.
Benjamin carrega um sorriso de satisfação em seu rosto e eu posso sentir que essa alegria em seu semblante me toca, posso sentir isso.
Ele é o homem que decorou bravamente seu apartamento de maneira única. Qualquer um que entra aqui vê claramente que ele gosta de coisas, como posso dizer, únicas. Ele tem um jogo de facas em uma estante de vidro no alto da parede que está atrás do sofá. Um jogo de dardo profissional perto do bar e isso me remete a alguns bares aqui de Nova York.
- Não me lembro a última vez que andei de moto - falo e ele se aproxima de mim.
- Me espanta você já ter feito isso e não ter feito comigo - ele diz e se aproxima de mim - Mas, não é apenas uma volta sobre uma motocicleta, você vai gostar. Ele me passa garantias sobre o que vamos fazer, mas não fala sobre o que se trata, apenas segura minha mão e me conduz até a sala - Esse é seu - ele remove uma etiqueta e isso me faz pensar que ninguém usou esse capacete.
- Meu temporariamente até a conclusão dessa surpresa, ou meu no sentido de ser um presente e de uso único e exclusivo da Kim? - Brinco.
- Seu da forma que te deixar mais feliz - ele beija a minha boca e sinto que isso se tornou algo melhor do que quando eu imaginava. A boca de Benjamin é absurdamente gostosa e sexy e ele sabe o que fazer com sua língua - Agora vamos - ele segura a minha mão e me leva até o elevador.
- Estou correndo algum risco? - pergunto e o encaro com as sobrancelhas suspensas.
- Os melhores, eu garanto - ele sorri e o elevador abre as portas e entramos - Você não me avisou que seria capaz de fazer isso - ele diz negando com a cabeça, como se misturasse em seu semblante uma dose de confusão e alegria. Eu sempre soube do que você seria capaz, penso comigo.
Chegamos à garagem e eu sabia que a moto era nova, sabia de qual marca era e sua cor, vinho.
- Tem certeza de que é capaz de pilotar isso? - brinco com ele e me esforço para não rir.
- Não, é a minha primeira vez - ele sorri com deboche e se senta na moto - Vem - ele estica sua mão em minha direção e antes que eu possa subir na garupa, ele me puxa para junto de seu corpo e eu o beijo. Ele já está de capacete, eu ainda não - Você é a primeira que vou levar onde estou indo e a primeira a se sentar sobre minha moto - olho em seus olhos e vejo satisfação em dividir essa informação.
- Então, estou correndo sérios riscos mesmos - falo e suspendo os ombros sorrindo.
- Não mais do que eu - ele pega o capacete de minha mão e o coloca em mim fechando a trava - Está linda - ele diz e eu não imagino como alguém possa ficar bonito com isso na cabeça. Subo em sua garupa e ele ganha as ruas.
Benjamin tem habilidade com isso e cruza as ruas com destreza de quem pilota com frequência. Estamos seguindo para New Jersey e tento não pensar no destino e sim na viagem.
- Eu ia para Santa Mônica hoje! - falo alto para que ele escute e vejo ele apenas negar com a cabeça e eu fico feliz por isso, mas eu sei que estou mergulhando em algo que não pode ser tão macio ou indicado para mergulho.
Quase uma hora depois chegamos a uma área com um alambrado, alguns carros estacionados, algumas motos e eu não reconheço esse lugar.
Benjamin para com a moto ao lado da guarita e um cara abre a janela e coloca metade do seu corpo para fora. Ele é enorme, forte e moreno. Acredito que o braço dele seja da largura do meu corpo
- E aí, Brandy? Onde você se enfiou? Não aparece há mais de uma semana - o homem pergunta assim que eles espalmam as mãos em um cumprimento barulhento.
- Trabalhando muito. E aí, tudo certo para hoje? - Benjamin pergunta e eu tento entender.
- Sim, quando ligou eu já avisei a Tidah que estava vindo e ela reservou a última área como pediu - pelo visto Benjamin planejou isso que está acontecendo - Divirtam-se - meu estômago revira e assim que Benjamin estaciona a moto eu salto e olho para a fachada do prédio de três andares que estende um barracão na parte dos fundos. Acredito que esteja escutando ruídos muito parecidos com tiros e isso começa a me deixar com receio do que vou encontrar. Vejo-o retirar o capacete e colocar sobre o banco da moto.
- Venha aqui - ele destrava o capacete de minha cabeça e o retira. Ele ajeita meu cabelo e aproxima seu rosto do meu - Qual é o seu hobbie? - ele pergunta.
- Oi? Eu gosto de bicicleta, mas não enquadraria como um hobbie, por que está me perguntando isso? - olho para ele e estou sorrindo de medo agora.
- Vou te apresentar o meu - ele sorri e me puxa para junto dele e me beija. Ele me solta e me leva por uma entrada feita de concreto e parece que é proposital a falta de acabamento. Uma mulher surge no fim do corredor com um tablet na mão. Ela é morena, alta e forte, muito forte, tenho medo do que pode acontecer por aqui.
- Brandy, seu sumido - ela se aproxima e o abraça e acho que os dois são do mesmo tamanho e da mesma largura - Oi - ela diz e estende a mão para mim e eu a seguro olhando para Benjamin, estou me sentindo perdida.
- Kim, essa é Jill, ela e Tidah são as proprietárias do Academy Fire - ele fala o nome delas e do lugar e eu realmente não reconheço.
- Muito prazer - digo e seguro com firmeza a mão dela.
- Ela também vai praticar? - a tal Jill pergunta e isso me deixa com mais medo e mais perdida. Não há nada nessas paredes que indiquem o que é esse lugar e o que fazem aqui e eu tenho medo de coisas secretas que abrigam barulhos semelhantes a disparos de arma de fogo.
- Espero que sim, a trouxe aqui para isso - ele me coloca mais perto do seu corpo e isso é a única coisa que me sugere um pouco se segurança.
- Ótimo, a Tidah precisou sair. Foi até o porto pegar uma carga que chegou, mas sua área está reservada. Vou pedir para levarem o de sempre - ela diz e vai embora pelo corredor cinza, com portas pretas e totalmente frio.
- Espero que não esteja zangado e por isso me trouxe aqui - brinco com ele e ele me conduz para uma porta. Ele a abre e pega protetores de ouvido que parecem os fones da década de oitenta. Ele coloca em mim e coloca um também. Ele abre outra porta dentro dessa mesma sala onde possui muitos fones antigos e eu vejo várias baias, várias pessoas e eu estou em um clube de tiro.
Ele me conduz para a última baia onde uma arma e uma caixa de munição estão colocadas sobre o apoio.
- Isso é barulhento - falo e mesmo com os protetores é possível ouvir os disparos.
- Sim e muito excitante - fico ao seu lado e o vejo tirar a jaqueta e colocar no banco atrás de mim. Ele pega a arma e empunha, depois verifica o pente e eu sei que é uma automática. Sinto-me severamente atraída pelas mãos dele fazendo isso, me perco no contorno do seu antebraço, no tamanho de sua mão e essa sensação de perigo e a visão marginalizada que estou tendo dele, me deixam à beira de um pequeno colapso, o tipo de colapso que acabaria com minha calcinha em alguns segundos.
Ele distancia o alvo e eu me posiciono um pouco atrás dele, mantendo distância e vejo os disparos sequenciais e essa visão é o que determina o futuro de minha roupa íntima. É tentador vê-lo assim e talvez mais do que isso, ele tem uma vida que não se resume aos seus gostos sexuais e aos milhões que sua indústria de alimentos geram mensalmente. Ele é um garoto que gosta de carrinhos e armas, assim como qualquer outro.
- Sua vez - ele diz e eu nego com a cabeça.
- Melhor não, acredito que todos aqui estariam correndo grandes riscos - sorrio e nego com a cabeça.
- Kim, é bem simples, não mire em quem estiver de pé, respirando e que não esteja pendurado ali - ele diz e aponta para o alvo que está se aproximando.
Benjamin acertou todos os tiros na cabeça e agora troca o papel e o distancia novamente, mas agora não está tão longe como antes. Ele quer que eu acerte, menos nas pessoas.
Ele carrega a arma enfiando o pente e engatilhando a arma e eu chego a engolir seco por isso, mesmo que outra parte do meu corpo esteja agradavelmente um pouco mais molhada.
- Vem - eu me aproximo e ele coloca a arma em minhas mãos e fica atrás de mim, com seu corpo colado ao meu e eu estou começando a gostar disso - Vai sentir um pequeno tranco, mas eu vou segurar a sua mão da primeira vez, depois você vai sozinha - ele diz com a boca na minha orelha e eu não consigo prestar atenção no que ele está dizendo, sua voz está impedindo que eu faça isso.
Tento mirar com sucesso na cabeça e assim que aperto o gatilho percebo que sou vesga - Mais uma vez - ele diz ainda segurando as minhas mãos. Disparo e pelo visto acertei a folha.
- Agora você vai sozinha - ele diz e solta de minhas mãos, mas não descola do meu corpo e eu disparo, acerto de novo e isso é o que chamo de sorte de principiante. Não nasci com esse dom ou com gosto por isso, mas admito, é muito bom fazer isso. Se não fosse o pequeno susto com o tranco seria perfeito. Ele se afasta de mim e fica um pouco mais longe, disparo novamente e acerto. Acho que gosto mais disso a cada disparo.
- Muito bem - ele diz e eu me viro segurando a arma e ele desesperadamente se abaixa e vem em minha direção segurando as minhas mãos para cima - Não faça isso - ele está gargalhando.
- Achou que eu atiraria em você? - estou rindo muito alto e ele tira a arma de minhas mãos e a coloca sobre a bancada de tiro.
- Quase me matou do coração - ele diz e me encosta na divisória da baia. Sinto seu coração disparado e ele me olha nos olhos negando com a cabeça - Nunca mais deixo uma arma em suas mãos, você atira muito bem - ele diz e me beija.
- A arma é o menor dos problemas. Uma mulher irritada se torna fatal apenas com um grampo de cabelo - falo perto de sua boca e ele volta a me beijar - Agora vou terminar com o que está no pente - me solto dele e pego a arma novamente.
Um, dois, três, quatro disparos e eu sei que tem mais munição aqui e vejo-o do meu lado, olhando para minhas mãos e isso é tão excitante quanto observá-lo. Voyerismo mexe com minha libido.
- Preciso esconder qualquer objeto de seu alcance, eu não sabia que se sairia tão bem - ele diz e me leva para um outro lado desse clube.
- O que vamos fazer agora? - pergunto olhando para alguns troncos esfaqueados - Vamos atirar facas? - gargalho.
- Isso, acertou - estamos em uma área aberta, iluminada pelo fim de tarde e por luzes no alto de alguns postes. Benjamin pega um jogo de facas e arremessa algumas, depois me entrega duas e pede que mire apenas no tronco. Ele fala com deboche.
- Não acha que está muito debochado diante de uma mulher com facas na mão? - Seguro a lâmina em sua direção e ele se aproxima e encosta a barriga na ponta da faca. Sinto seu corpo ali, na ponta afiada e ele está olhando em meus olhos.
- Não consigo ver em você algo que me machuque de verdade - eu sei que está ali, tão perigoso... seu corpo no limite da lâmina, mas ele ainda olha em meus olhos e eu desço meu braço.
- Você está acabando com meu psicológico - falo e me viro mirando e arremessando a faca que sai sem força, dançado no ar e caindo no chão.
- Percebi - ele está rindo - Isso é mais difícil do que atirar com uma pistola - ele pega a faca no chão e a joga contra o tronco. A madeira faz barulho e o cabo da faca balança até que toda lâmina se estabilize.
- Você tem boa pontaria - eu falo e ele me encara com tanta malícia que sou capaz de sentir com as mãos a segunda intenção de seu olhar.
- Você acha? - ele pergunta e dança com as suas sobrancelhas e eu sorrio para ele.
- Não estava falando disso - argumento.
- Eu estava me referindo às facas e aos disparos, não acredito que sua mente seja tão suja a esse ponto - ele vem em minha direção e sinto suas mãos em meu rosto. Ele me beija e me leva para a lateral do clube e me encosta na parede - Quero você - ele fala e enfia sua mão dentro da minha calça e massageia meu sexo e eu achei que ele pararia, mas não, ele começa a me masturbar e a sensação de perigo, o toque de seus dedos e seus lábios em mim me deixam sem saída - Vamos, Kim, quero ver seu rosto enquanto goza em meus dedos e eu sei que você vai fazer isso por mim, e vai fazer aqui - ele coloca a boca tão perto de meu ouvido e continua sussurrando - Está tão molhada, os tiros te excitaram?
Gemo e eu sei vou gozar, eu me conheço e sei o poder da voz e das mãos de Benjamin em mim. Entrego-me e sinto-o deslizar suavemente seu dedo para dentro de mim e tirar.
- Não faz ideia de como me deixou - ele diz e leva o dedo à boca e depois me beija. Isso está sem controle.
- Acho que podemos ir - falo retomando a respiração - Eu disse que você tinha boa pontaria - falo e sorrio para ele.
- Eu queria te mostrar a sessão de arco e flecha, mas essa habilidade eu te mostro em outra ocasião. Agora, eu quero você - ele me beija e em seguida me leva para fora do clube, refazemos o mesmo trajeto e nos encontramos com Jill.
- Já estão indo? Não ficaram nem uma hora - ela diz e Benjamin olha para mim e depois para ela.
- Temos que ir, na próxima semana estarei por aqui - ele fala, nos despedimos dela e voltamos para o apartamento dele.
***
- Não acha melhor eu tomar um banho? - pergunto assim que ele para de me beijar. Estamos em sua sala e ele nega com a cabeça.
- Não, eu quero você assim - Benjamin diz.
Ele desabotoa meu casaco e coloca suas mãos por dentro, me abraçando - Sempre imaginei como seria beijar você - ele diz em minha boca e eu deixo, porque se eu não deixar vou me torturar e não sei o quanto sou forte para isso.
Benjamin retira meu casaco e vai me levando para o quarto, desabotoa minha calça e me deita na cama. Tira minhas botas, minha calça e a calcinha junto e fico de regata preta - Você está sem sutien? - ele pergunta.
- Sim, essa regata é justa, não gosto - explico e ele nega com a cabeça. Vejo-o arrancar suas roupas com pressa e quando me dou conta ele está de joelhos entre as minhas pernas - Imaginei isso o dia todo - ele fala e desce sua boca até a minha boceta e a abre gentilmente. Sinto o toque de sua língua ousadamente deslizar por todo meu sexo até o ponto mais sensível, onde ele parou e começou a sugar vagarosamente.
Meu gemido sai alto, eu agarro os lençóis e ele continua, sabendo exatamente o tempo que precisa ser gasto em cada contorno em volta do meu clitóris. Ele suga novamente, devagar, como se apreciasse o sabor e escuto seu gemido, isso me excita ainda mais e percebo que estou molhada por causa da boca dele, mas agora estou molhada também por causa desse meu corpo fraco que caiu na tentação que não deveria cair.
Sinto meu corpo se entregar aos poucos e a cada toque circular de sua língua o sinto percorrer todo meu sexo. Ele volta para meu clitóris e se mantém ali, massageando na pressão exata, como se houvesse um manual de instruções para orgasmos rápidos e sem erros bem ali gravado.
Ele desce a língua e enfia em mim e eu seguro seus cabelos e ele volta onde estava e agora parece que tem algo a ser cumprido ali.
Sinto um choque suave, é dor, mas é bom e aos poucos algo começa a explodir como se fosse inevitável e eu sinto o pulsar de meu sexo se entregando ao orgasmo.
Ele mantém até que termina e sai, colocando seu rosto e sua boca molhada de mim diante dos meus olhos - Me perdoe, mas eu preciso fazer isso e desse jeito - ele roça seu pau em mim e me enterra, forte e o sentir assim sem camisinha é totalmente fantástico, mesmo sendo imprudente - Kim... - ele geme meu nome e me beija. Sinto o gosto do meu corpo em sua boca e o sinto batendo forte, cada vez mais acelerado e ele continua me beijando.
Ele me vira e me coloca sobre seu corpo, me apoio em meus pés e começo a subir e descer. Isso é arrebatador, sinto meu corpo agarrá-lo, sinto a pressão e relaxo, buscando o novo orgasmo e o gemido de Benjamin colabora para que isso aconteça.
- Incrível - ele diz e volta a ficar por cima de mim - Eu não costumo fazer assim tão rápido, mas você não está ajudando em nada - ele diz sério e eu sorrio.
Ele entra e sai, devagar, respira fundo e volta a acelerar, ele tira seu pau de mim e goza sobre o meu sexo e vejo que minha regata também foi atingida.
Ele para por alguns instantes e meu coração está acelerado - O que você fez comigo? - ele pergunta bravo e vai em direção ao banheiro e volta com uma toalha.
- Machuquei você? - pergunto sorrindo.
- Quem me dera - ele me entrega a toalha - Fique à vontade para tomar um banho se quiser - ele está bravo e eu não estou entendendo.
- Se puder pegar a minha mala, eu agradeço - limpo mais ou menos meu corpo e vou para o banheiro arrancando minha regata. Ele vai à sala e eu ligo o chuveiro.
Deixo a água cair em meu corpo e fecho os meus olhos. Não posso sofrer depois que eu for embora.
- Vai viajar? - ele pergunta e entra no banheiro. Ele já colocou a cueca e a calça jeans.
- Achei que poderia me mudar para cá por alguns dias - zombo e ele me olha e eu não vejo uma expressão ruim, eu o vejo sorrir.
- Verdade?
- Não, Benjamin, eu vou para Santa Mônica com a Lexa e a Adria - respondo e passo sabonete em meu corpo - Para ser franca, já estou atrasada - espio seu rosto e ele se fecha, rapidamente.
- As primas? - ele fala com certa repulsa.
- Elas mesmas - respondo e tiro o sabão do meu corpo. Desligo o chuveiro e ele me entrega outra toalha e eu me enrolo e vou em direção ao quarto, preciso me trocar.
Ele vem atrás de mim e vejo a mala sobre a cama. Abro o zíper e tiro tudo que está dentro, porque preciso de outra calcinha e elas estão no fundo.
- Alguma coisa especial em Santa Mônica? - ele pergunta e eu tiro meu vestido preto de uma alça só que cobre até coxa e o estico ao lado da mala, eu não posso amassar esse vestido, eu nunca o usei.
- Não - respondo e ele olha para o vestido. Enxugo-me e pego uma calcinha preta, fina e minúscula e a visto.
- Não? - ele pega o vestido e o mede de cima a baixo - A outra parte está dentro da mala, certo? - ele pergunta e eu acho graça.
- Não, está tudo aí na sua mão - respondo e pego uma camisa preta e a visto sem sutien.
- Quanto você pagou por ele? - ele pergunta e isso não é pergunta que se faça, mas eu respondo.
- Quatro mil - falo e enxugo meu cabelo. Pego minha calça e minha calcinha do chão e tiro a peça rendada de dentro do jeans e a jogo em cima da cama. Visto minha calça e ele olha para mim e para o vestido.
- Pago cinquenta mil por ele - ele diz e eu o encaro franzindo minha testa.
- Não é o seu número - falo e pego o vestido de sua mão - Tem tara em usar roupas femininas? - zombo.
- Não, e nem considero isso uma peça de roupa e quatro mil por esse pedaço de pano é um absurdo - ele responde.
- Mas você ofereceu cinquenta mil? - gargalho.
- Pagaria até cem só para você não ter a chance de usá-lo - ele responde.
- Eu nunca o usei - o guardo em minha bagagem e vou atrás de minhas botas. Sento na cama e as calço. Estou com pressa e o deixo falar.
- Precisa mesmo ir? - ele pergunta.
- Sim - respondo e ele nem imagina o quanto preciso ficar longe dele, Benjamin é viciante.
- Você volta quando? - ele pergunta tentando disfarçar a tensão com uma curiosidade bonita.
- Provavelmente no domingo - respondo e ajeito as coisas de volta na mala e a fecho - E você tem planos para esse final de semana? - pergunto sorrindo e ele me olha e nega com a cabeça.
- Eu tinha - ele resmunga para ele mesmo, mas eu escuto.
- Preciso voltar no domingo, segunda-feira tenho que fechar um acordo, o último comigo aqui em Nova York - falo da minha agenda e pego a minha mala - Me acompanha até a porta? - pergunto e caminho em direção à sala.
Benjamin não fala nada e eu pego meu celular, entro no aplicativo e peço um taxi - A gente se vê - eu falo e ele olha para mim como se alguma coisa estivesse doendo em seu corpo - Não vai me falar nada? - pergunto. Ele olha para mim, para a mala e coloca seus olhos na direção dos meus.
- Fique.
Dou um beijo em seu rosto e entro no elevador. Analiso todos esses anos e analiso principalmente o que sinto por ele.
19
Benjamin
Ela saiu levando sua mala e algumas coisas que estavam em mim, mas ela deixou outras.
Vou até o bar e coloco uma dose generosa de uísque. Bebo o suficiente para deixar espaço para colocar mais um pouco e para evitar o trabalho de levantar e preencher meu copo novamente, pego a garrafa e a levo para a varanda.
Pego meu celular e entro no perfil dela, procuro por algum convite, ou algum comunicado em modo público sobre alguma coisa em Santa Mônica, mas não encontro nada.
Coloco minha playlist para tocar e aumento o som. Linkin Park diz em sua letra
“Hoje isso acaba, e eu estou perdoando o que eu fiz” – What I’ve Done
- Espero que não seja muito grave o que tem para perdoar - escuto a voz dela e olho para o chão e me flagro sorrindo. É isso que ela tem feito comigo e não começou essa semana ou por conta de um assalto, começou há muito tempo, quando ela sorria para mim deliberadamente sem nenhum tipo de pretensão em se atirar em meus braços.
Coloco o copo sobre a mesa e me levanto.
- É grave, talvez nem tenha perdão - ando em sua direção e a vejo segurando a alça de sua bagagem. Pego suas mãos e trago para junto de minha boca e beijo as duas - Mas é menos importante do que você aqui - falo e beijo sua boca, porque sempre desejei fazer isso dessa forma e sempre foi imposto a mim que isso seria um absurdo, e quem impôs isso por todos esses anos foi eu mesmo, como um tolo. Eu fugi de Kim por todo esse tempo com medo de me encontrar nela e é exatamente isso que está acontecendo.
- Enquanto eu estava descendo, pensei sobre o tempo em que desejei ficar com você, não porque você é extremamente atraente, mas porque eu sempre soube que existia algo puro e bom aí dentro - ela fala como se isso fosse possível - Então, seria muita contradição da minha parte estar longe de você, quando na verdade isso é impossível... você está aqui dentro - ela confessa e abaixa a cabeça e eu sei, é somo se pudesse chegar em mim o que ela está sentindo - Eu sei que você é blindado e não é do tipo romântico que namora em dias chuvosos, mas é exatamente por isso que me sinto irremediavelmente atraída por você. Convivi com isso boa parte do tempo, passei anos com você aqui dentro e você estava no mundo, vai ser a mesma coisa quando eu me mudar - ela olha em meus olhos e eu não gosto de pensar nessa mudança.
- Então, não se mude, e eu posso pensar em algo sobre dias chuvosos - confesso e ela sorri.
- Está me pedindo para ficar? - ela pergunta olhando em meus olhos e eu sorrio.
- Tenho feito isso com frequência - respondo e beijo sua boca.
- Não é tão simples. Assinei o comando da empresa e temos a parte burocrática, e tudo se resume em minha vida estar orbitando em torno da empresa do meu pai - ela diz e meu celular está tocando, não as músicas, alguém está me ligando e eu prefiro ignorar - Não acha melhor atender?
- Não acho que a ligação seja mais importante do que você - a beijo novamente, levando minhas mãos em seus cabelos e os suspendendo. Deslizo minha língua sobre a dela e meu corpo se sente à vontade com ela.
Escuto o interfone tocando, incansavelmente e Kim me interrompe.
- Atenda - ela ordena - Seja o que for, parece que é urgente - ela diz e eu vou em direção ao interfone que fica ao lado da porta e atendo.
- Sim?
- Sr Brandy, eu sei que pediu para não ser incomodado, mas tem alguém querendo ver o senhor e me parece que ela está bem nervosa, alguns moradores estão reclamando - Carlos, o porteiro do turno da noite diz.
- Quem está aí? - pergunto.
- Srtª Scravapolo - Carlos me alerta sobre Greta e meus olhos estão em Kim, que está do outro lado da sala me observando.
- Estou descendo - aviso e desligo.
Vou em direção a ela e a beijo novamente - Preciso resolver uma questão na portaria, por favor, espere aqui - peço.
- Quer que eu vá embora? - ela pergunta e do fundo do meu coração a última coisa que eu quero é que ela faça isso.
- Não - respondo e selo sua boca com um beijo demorado. Saio e vou em direção ao meu quarto colocar uma camiseta e meu chinelo - Volto rápido - falo e vou para o elevador.
Greta sabe das regras e nós sempre a obedecemos, independentemente de qualquer coisa. O elevador para dois andares depois e a vizinha, que conheço muito bem por sinal, entra. Ela está sozinha.
- Esperei sua ligação hoje, James foi viajar - ela diz assim que a porta do elevador se fecha.
- Espero que ele faça uma boa viagem - sou quase rude, mas deixo bem claro minha posição.
- Qual é, Ben, meu querido, não me quer mais? - ela pergunta e se aproxima de mim, eu desvio e vou para o outro canto - Está me dispensando? - ela pergunta.
- Não sei do que está falando, nunca tivemos nada para ser dispensado, apenas deixe como está - falo e o elevador chega ao térreo.
A porta se abre e eu vejo Greta, de saltos altíssimos andando de um lado para o outro. Ela está enfurecida. Caminho em sua direção e meu rosto transmite o quanto estou furioso com a presença dela.
- O que está acontecendo? - pergunto para ela, em tom baixo e nada amistoso.
- Tem coragem de perguntar? - ela responde - Estou impedida de entrar em seu apartamento e eu não preciso dizer que sempre tive acesso livre a ele - ela está totalmente descontrolada.
- Conjugou de maneira fantástica o verbo. Algumas coisas mudaram, estou com visitas nesse momento, podemos conversar em Madri - falo baixo e mantenho o tom áspero na conversa.
- Madri? Está maluco, Brandy? Faltam três semanas, preciso de você agora. Se o problema é companhia eu posso arrumar em dois minutos! - ela tem um tom de voz nesse momento que não gosto.
- Não, esse não é o problema e sim, terá que esperar - ordeno.
- Quem é a vagabunda que está no lugar que sempre me pertenceu? - eu não entendo de onde ela tirou isso e o fato dela pronunciar essa palavra mesmo sem saber que é Kim que está me esperando, me irrita além do esperado.
- Não existe nenhuma vagabunda. Agora, fale baixo, você está descontrolada - peço em tom mais baixo.
- Então, são duas vagabundas que estão lá em cima? Oras, Ben, me deixa participar - ela se aproxima e tenta colocar sua mão em meu rosto.
- Greta, sabe do carinho que tenho por você, mas hoje, nesse momento, não é uma boa hora - tento ser mais ameno com ela.
- É ela, certo? - não entendo o que ela está dizendo.
- Ela quem? - pergunto.
- A garota de olhos azuis, a tal Kim que você vive comentando as fotos, curtindo as postagens e sempre que pode deixa recados em seu instagram - Greta sabe mais do que deveria.
- Não sei do que você está falando - falo e vou em direção à rua.
- Ela faz o que eu faço? Ela curte um trabalho grupal? Vai levá-la pra Madri para uma trepada a três ou a quatro? - assim que Greta menciona essa hipótese eu ando pela calçada a levando dali, estou com raiva e sinto meus punhos fecharem.
- Greta, em três semanas conversamos, certo? - quero que ela vá embora.
- Benjamin, espero que não esqueça quem foi que te apresentou a esse mundo - ela menciona o ménage.
- Você não me apresentou, foi nesse mundo que nos encontramos, apenas isso, combinamos em alguns pontos e basta - respondo e passo a mão pelos meus cabelos - Vamos fazer o seguinte, não estou em um bom momento agora, em três semanas nos vemos em Madri - aviso.
- Benjamin - ela fala e trava a frase por alguns segundos - Eu me aventurei nesse mundo com toda intensidade por sua causa - não entendo o que ela está falando.
- O que você quer dizer com isso? - pergunto e cruzo meus braços.
- Eu já curtia o lance de mulheres nuas, mas quando eu te conheci em Berlim, tudo mudou. Eu me apaixonei por você e isso se tornou a desculpa ideal para te ver sempre - ela confessa e eu não estou acreditando no que estou ouvindo.
- Fez tudo que fez apenas porque se deixou levar pela emoção? Não ouviu nada do que eu disse quando tudo isso começou? Sem apegos, nada de relacionamento e sentimentos, lembra? - pergunto.
- Não mando em meu coração - ela rebate.
- Mas e seus princípios? Se deixar colocar uma coleira e transitar entre homens desconhecidos apenas para me agradar é degradante - falo e continuo andando.
- Mas eu te amo e sempre fiz isso por amor - me viro repentinamente e a encaro.
- Greta, em três semanas nos vemos - ordeno.
- Não vou poder subir? Vim aqui apenas para te ver - ela fala e tenta se aproximar, mas eu desvio.
- Não vai subir, temos um acordo, apenas o cumpra e sabemos que você tem muito a perder se suas histórias virem à tona, então, não faça escândalo em meu prédio; isso não fica bem para uma mulher com sua classe social e sua posição profissional. Fico triste em saber que sou eu que tenha que lhe dizer tudo isso - falo e vejo Kim saindo do meu prédio e isso não pode estar acontecendo - Agora, por favor, vai embora e não me faça repetir o que fiz em Berlim, somos adultos - aceno para algum taxi parar imediatamente antes que Kim consiga entrar em algum e ir para Santa Mônica.
Eu não estou acreditando que estou enfrentando tudo isso na mesma noite. Foi essa porra toda que sempre evitei, a porra da perturbação, da cobrança e agora estou enfiando uma mulher no taxi e tentando chegar a tempo antes que outra entre em um.
Que merda é essa?
- Não entende o quanto eu te amo? O quanto fiz e faço por você? - ela questiona e eu continuo acenando e vejo um taxi se aproximando.
- Não, eu não consigo entender como você deixou isso chegar a esse ponto. Tivemos problemas há seis meses por isso e você me prometeu que não iria se repetir - estou olhando em seus olhos com raiva o suficiente para deixá-la ali. Abro a porta do taxi e aceno com a cabeça para que ela entre - Em Madri conversaremos - ela entra no taxi, eu bato a porta e vejo Kim acenando para outro que parece que vai parar, ando rápido em sua direção.
- KIM! - a chamo e o taxista para e ela vai em direção à porta e a abre, ela não está com a sua bagagem - KIMBERLY VON HUMBOLT, não me obrigue a fazer isso - a ameaço e ela me olha.
- O que você faria? Pelo visto está com problemas com taxis esta noite - ela é sarcástica e eu não vou mencionar o quanto foi sexy essa cena de ciúmes.
- O único problema que tenho está tentando entrar em um taxi - a encaro e não estou muito feliz em vê-la saindo.
- O outro problema você enfiou em um - ela é malcriada e cruza os braços. A porta do taxi está aberta.
- Eu não vou falar com você sobre isso aqui e agora - respondo e tento fechar a porta.
- O que te impede? - ela me encara e seus olhos azuis são tão intimidadores. Ela me obriga a engolir seco.
- Não acho que seja apropriado, apenas seja uma boa menina e volte comigo para o meu apartamento - falo e o taxista resmunga alguma coisa nos cobrando.
- Esse é o problema, todos acham que sou uma boa menina. Acredite, Benjamin, estou bem longe disso - ela fala e aproxima seu rosto do meu e eu não resisto aos seus lábios dançando na frente dos meus, como se convidassem para uma dança da morte. Me suicido e a puxo para junto de mim. Beijo sua boca com força, mordo seu lábio e a tiro de perto do maldito taxi e fecho a porta dispensando-o.
- Eu sei que é malvada e deve ter algum poder especial também, porque desde que te beijei não penso em outra coisa, é tudo você o tempo todo e isso está me deixando maluco. Me arrependo por tê-la beijado, mas ao mesmo tempo eu quero mais de seus beijos. Consegue pelo menos me dizer o que foi que você fez comigo? - estou bravo e a beijo novamente. Estamos no meio fio e eu não me importo se estou de chinelo, o importante é que estou beijando a garota mais linda e incrível que já conheci.
- Não pode falar essas coisas - ela se solta de mim e volta para dentro do meu prédio e eu a sigo. Ela vai em direção ao elevador e eu vou atrás dela e isso é a última coisa que planejei fazer, correr atrás de uma mulher e expulsar outra, sem contar na vizinha que eu jamais dispensaria. O que essa Kim fez comigo? Foi o beijo? Eu preciso dar um jeito nisso, retomar a minha vida, mas eu não consigo, perto dela eu me torno fraco e longe eu não tenho forças.
- Você não pode fazer o que está fazendo - falo e o elevador começa a subir - Está deixando tudo bagunçado - a advirto e ela cruza os braços na minha frente.
- Como se sua vida fosse parâmetro para algo organizado! - ela está me enfrentando e as coisas nunca funcionaram assim, ela era para ser dócil e meiga e apenas escutar, não é isso que mulheres apaixonadas fazem?
- Estava organizado até você me beijar no museu! - me aproximo dela.
- Eu te beijei? Tem certeza? Até onde eu sei foi você que aproximou o seu rosto do meu e estava sem muitas opções naquela noite - ela está furiosa e está linda, ainda mais linda. Tento sair dessa sensação boa em discutir com ela.
- Você ao menos está ouvindo o que está me dizendo? - pergunto - E minha vida estava organizada sim!
- Claro que estava, imagino qual é a sua ideia de organização! E sim, para sua perguntinha, estou escutando tudo que estou te dizendo - ela é perigosa, o rosto angelical esconde a faceta do demônio e eu não deveria estar mais atraído por ela por conta disso, mas estou. Ela não é pacífica, ela não aceita mudar em nome de outra pessoa e respeita a própria opinião e se tem uma coisa que deixa uma mulher mais sexy é ter força para manter a própria opinião.
Olho para sua boca se movimentando, e ela movimenta seu corpo mostrando irritação e fala como se fosse dona da razão, como se a verdade fosse algo inventado por ela e a porta se abre assim que chegamos ao meu andar.
- Kim...
- Fala - ela responde e não sai do elevador, ela está a menos de um palmo de distância de mim e com seus braços cruzados, ali me encarando, e por Deus, não vou responder por mim.
- Vamos entrar - tento acalmar meu ânimo e ela se aproxima do meu rosto e cerra os olhos.
- Acha que me conhece? Pensa que sabe alguma coisa sobre mim? Meu caro, você não sabe de nada - ela fala e tenta se virar, mas eu não resisto, a puxo para junto do meu corpo e a levo para o meu quarto novamente.
- Então, eu quero conhecer - tiro sua camisa, desabotoo sua calça e a jogo na cama - Vamos, eu quero que fale mais sobre você. Quero que me diga que prefere chá verde a café, quero que me mostre como faz aquele lance de virar a caneta enquanto está lendo alguma coisa - tiro suas botas e ela ficou muda de repente - Vamos, Kimberly Von Humbolt, me fale como é desenhar flores em todos os papéis que estiverem à sua frente enquanto fala ao telefone, mas fique tranquila, eu não vou contar para ninguém que gosta de dormir com alguém mexendo em sua orelha - puxo sua calcinha e olho para o seu corpo nu - Estou louco para conhecer a menina que usava biquíni no primeiro dia em que a vi, que a cor favorita é branco, que caramelo é o que faz algumas coisas serem aceitas pelo seu paladar - me livro da minha roupa e quero que se foda a porra do preservativo - Me apresente essa mulher que está garantindo que não sei nada sobre ela, mas sei que não é permissiva, submissa e se mantém diante das opiniões como um rochedo. Minha querida - falo e me enfio entre suas pernas e ela está com seus olhos lindos, azuis e medrosos em minha direção. Enterro meu pau em sua boceta e aproximo minha boca de seu ouvido - Eu não teria interesse por uma mulher que não fosse exatamente tudo isso que acabei de dizer - ela geme e acato isso como um acordo feito entre as partes.
- Minha vida não se resume a isso - ela quer me enfrentar mesmo comigo fodendo-a fundo.
- Você quer discutir isso... agora? - pergunto.
- Sim, isso não te excita? - ela pergunta e eu me apoio em meus braços, sinto suas pernas me laçarem e ela me encara entre inocente e pecadora.
- Kim...
- Sim? - ela responde e morde o lábio, gemendo, e eu pensei que ela ainda fosse a menininha, mas não é, ela é a porra da mulher que está fodendo minha vida.
Entro e saio vagarosamente e aproximo meu rosto do dela - Gosta de enfrentar? - pergunto.
- Sim, mas só faço quando conheço meu adversário - ela se mexe comigo dentro dela e ela não faz ideia da força que estou fazendo para não gozar.
- Não se mexa assim - abaixo meu rosto e coloco em seu pescoço, mostro que estou fraco e gemo ali, sentindo seu perfume.
- Assim? - ela pergunta e rebola comigo dentro dela e isso foi covardia e eu não resisto, a encho, e ela geme em minha orelha - Às vezes ver um homem gozar é tão excitante quanto chegar ao orgasmo, mas quando esse homem sempre foi o alvo de muitas, para não dizer de quase todas as minhas fantasias, é extraordinário - ela canta sua vitória e eu deixo. Ela tem poderes sobre mim, sempre teve, e eu não tenho força alguma para discutir isso agora.
- Cruel - eu falo. Deito ao seu lado na cama.
- Sim, eu sou, mas só com quem merece - ela vira de lado e beija a minha boca.
- Onde foi parar aquela menina que pensei que cresceria com um coração bom e não faria esse tipo de coisa? Me finalizar assim, sem chance de me defender... - estou resmungando e ela está deslizando suas mãos em meus cabelos e mexe em minha orelha, isso é bom.
- Ela ainda está aqui, mas só quem merece consegue ver - ela beija minha testa e continua mexendo em minha orelha e sinto meus olhos pesados.
- O que é preciso para merecer isso? - pergunto murmurando com sono e sinto que hoje eu fui derrotado em grande estilo.
- Esse é o meu segredo - ela fala e deita com seu rosto de frente para o meu. Abro meus olhos e a vejo ali, me olhando como se eu fosse especial, como se eu merecesse algo.
- Você é linda - falo e meus olhos pesam e eu os fecho e não consigo abrir. Sinto o carinho dela em minha orelha e suspiro. Há muito tempo não tenho esse tipo de sono.
Ela diminui o ritmo e eu me lembro quando descobri esse faceta dela, porque esse é o carinho que ela gosta de receber para dormir.
Estávamos em Aspen e na sala estava rolando o famoso jogo de adivinhação através de mímicas. Havíamos passado o dia esquiando, esporte favorito de Alexander, e é por isso que ele comprou uma cabana de alto padrão por lá. No final do dia, ninguém estava disposto a ir até o J-Bar, nosso favorito, que fica no hotel Jerome.
Isso foi há sete anos, ela estava deitada no colo de uma de suas primas que estava lá, não me lembro o nome dela, e ela pediu para que ela mexesse em sua orelha e eu não vou mentir, uma mulher acariciando outra sempre foi meu calcanhar de Aquiles, e ver Kim em uma das posições foi algo extraordinário, mas olhando aquela imagem, ela detinha minha total atenção e quando ela abriu os olhos me flagrou olhando para ela e sorrindo.
- Está tudo bem? - ela perguntou e eu poderia ter disfarçado, mas apenas sorri. Ela sempre fez isso comigo e agora parece que tudo tenta me provar que era isso que tinha que acontecer e tinha que acontecer agora, apenas por não ser possível tudo isso ter futuro.
- Sim, está - continuei sorrindo e continuei olhando para ela - Gosto do que estou vendo - eu falei e Alexander parou na minha frente - Agora é sua vez, seu puto - ele falou e interrompeu meu deslumbre sobre sua irmã.
- Eu amo você, Benjamin, sempre amei - escuto-a falando e me trazendo das lembranças de Aspen, como se desse continuidade a nossa conversa de tantos anos atrás. Mas prefiro deixar que ela pense que estou dormindo. Sinto-a beijar minha boca, nos cobrir com uma manta e se aninhar perto de mim, como se quisesse se aquecer.
Ela tem o melhor de mim e eu não sei se isso é bom o suficiente para ela.
20
Kim
Pego meu celular assim que escolho uma roupa em minha bagagem e saio do quarto, deixo Benjamin em seu sono. Vou até a cozinha e vejo uma jovem senhora perto da pia. Em meu celular mensagens de Lexa e algumas fotos do Festival que ela e Adria foram em Santa Mônica. Respondo dizendo que tive um imprevisto.
- Bom dia - digo e ela se vira para mim. Seus cabelos estão presos em um coque e ela usa uniforme azul e branco. Sento no banco alto de costas para a porta.
- Bom dia - ela responde sorrindo - Estou fazendo café - ela diz se virando de frente para a pia - Eu sou Bernice.
- Melhor fazer um chá - escuto a voz dele atrás de mim - Kim não toma café, nunca - ele me abraça e beija meu pescoço - Iria usar esse macacão em Santa Mônica? - ele pergunta e vai até a geladeira, usando apenas cueca. Ela é verde escura e ele fica bem com essa cor... e sem ela também.
- Sim - me levanto do banco e giro diante dos seus olhos, ele bebe água direto da garrafa - Gostou? - pergunto.
- Obviamente ele é menor do que o indicado e transparente o suficiente para ser evitado em público - ele responde.
- Isso significa que ele é lindo - sorrio.
Ele coloca a garrafa dentro da geladeira, enxuga a boca com as costas da mão e eu engulo seco. Ele se aproxima rápido demais e eu não penso em nenhuma estratégia para evitar isso - Prefiro você sem absolutamente nada e prefiro que não ande por aí assim - ele diz em meu ouvido - Para ser honesto, o fato de andar por aí não me agrada - ele diz e beija meu pescoço.
Vejo Bernice sair com uma bandeja e ir até a varanda, observo-a servir o café da manhã lá fora.
- Em algumas semanas estarei andando na Suécia, é algo que você vai ter que superar - escuto-o suspirando e me abraçando com mais força.
- Se importa de não falarmos sobre isso? - ele pergunta.
- Acho que preciso ir embora - falo mudando de assunto.
- Por quê? - ele pergunta e olha em meus olhos
- Não quero te atrapalhar. Hoje é sábado e acredito que tenha planos - falo e ele segura a minha mão e me leva até o quarto. Ele coloca uma calça de malha e me leva para a varanda, onde Bernice colocou o café da manhã. Deixo a playlist de meu celular tocando baixinho sobre a mesa.
- Você não me atrapalha e você é meu plano para hoje, para amanhã e isso já faz parte dos meus planos há muito tempo - ele puxa a cadeira para mim e eu me sento.
- Se não fosse o assalto... - provoco.
- Você está sempre falando isso. A verdade é que se não fosse ele, eu teria que ficar olhando você com namorados diferentes - ele fala com se isso o incomodasse.
- E eu olhando você com inúmeras mulheres! Quando não todas de uma única vez. Se lembra da festa que Gio deu? Não quero nem pensar em quantas estavam naquele quarto - falo e Bernice chega com um bule.
- Seu chá, espero que goste, é de frutas silvestres - ela coloca na minha frente.
- Não precisava se incomodar - tento ser gentil.
- Não foi incômodo - ela sai assim que eu agradeço.
- Você estava com aquele imbecil do Jared, cara tosco - Benjamin fala e coloca suco de laranja no copo.
- Quer que eu pegue vodca? - posso colocar também um pouco da ironia que usei na pergunta.
- Não hoje - ele sorri - Aquele cara era um tosco, assim como todos os outros - ele faz sua breve resenha sobre meus relacionamentos - Sem contar esse último que se eu o vir indo em sua direção, ele não vai ver de onde veio a surra que vai levar. Não sei como você pôde deixá-lo encostar em seu corpo - ele parece bem contrariado.
- E como você deixou tantas mulheres tocarem em seu corpo? E de maneiras tão pervertidas e grupais? Pelo menos meus relacionamentos foram sérios e cheguei a ficar noiva - coloco chá na xícara e levo até a minha boca. Ele bebe uma boa quantidade de suco e se apoia na mesa.
- Prefiro não falar sobre esse seu noivado - ele explode.
- Oras, por que não? Então, me fale da maluca de ontem? Quem é ela? Oh não, espere, vou tentar adivinhar, ela é a Greta? - sorrio e o rosto dele se fecha em um tom inacreditável e o fato de eu ter adivinhado quem era a mulher o fez infeliz em seu semblante.
- Como você sabe? - ele pergunta e eu não vou falar que o porteiro colheu o verde que joguei e me deu a fruta madura.
- Dedução, ela parecia bem furiosa. Resolveu seu problema com ela, ou aquela entrada forçada no taxi foi uma maneira de se livrar dela momentaneamente até que eu fosse embora? - pergunto.
- Quer saber a verdade, ou quer apenas que eu lhe conte o que quer ouvir? - ele é direto e aqui não tem nenhuma idiota.
- A verdade é libertadora, experimente fazer uso dela - o incito.
- Conheço a Greta há muitos anos e frequentamos alguns lugares em comum - ele responde superficialmente e eu o encaro, me apoiando na cadeira.
- Só isso, ou é apenas o prólogo do que perguntei? Vamos, Ben! Eu te conheço há muito tempo, sei mais sobre você do que imagina - provoco e ele nega com a cabeça.
- Onde você quer chegar? - ele pergunta.
- Não quero nem sair daqui, quero apenas saber se vou ter que encarar namoradas enfurecidas enquanto eu estiver em Nova York - falo e bebo um pouco do chá. Se ele começar a me enrolar, arremesso esse bule de chá quente na cabeça dele.
- Não tenho namorada, e se tivesse não seria ela a minha escolhida. Tendo em vista que há muitos anos eu não sei o que é passar tanto tempo com uma única mulher, me admira muito você, que conseguiu quebrar uma de minhas regras com isso, ainda questione a existência de alguém em minha vida. Se me conhece tão bem deveria saber que não sou o tipo que tem esse tipo de relacionamento - ele me deixa quase sem saída.
- Gosta de ménage, Benjamin, e isso não faz meu estilo nem como fantasia de uma única noite. Não estou lhe condenando, quero apenas que fique claro que se alguma mulher entrar por aquela porta, eu saio - falo e bebo mais um pouco de chá.
- Não estou entendendo - ele diz.
- Mas vai - rebato.
- Estou ansioso - ele diz e seu rosto agora é sério.
- Não fique, ninguém aqui vai morrer ou se jogar daqui de cima - mantenho minha postura - Benjamin, por mais de dez anos, tudo que eu queria era isso, você me enviando mensagens, falando sobre como está pensando em mim e sobre tortas de morango. Nesse período eu pude entender, ou pelo menos tentar entender, quem era você - ele me olha em silêncio e seu semblante é de profunda estranheza.
- Devo me preocupar? - ele pergunta.
- Não, nunca deixei que isso acontecesse e não deixaria agora - bebo um pouco de chá - Ben, foram tantos anos e agora eu sei que valeu a pena ter esperado. O sexo foi incrível, acredito que eu deva agradecer aos assaltantes, eles proporcionaram algo que nunca tivemos - falo.
- O beijo? - ele responde.
- Não, eles proporcionaram tempo, eles nos deram tempo para nós dois, ficamos isolados do mundo e mesmo com meus pulsos doloridos e pernas dormentes eu estava no lugar do mundo onde sempre quis estar - estou olhando em seus olhos - Mas, eu tenho um curto período aqui em Nova York. Vou embora pra Suécia e essa decisão foi tomada da melhor maneira possível. Prometi ao meu pai e tenho certeza que lá eu vou dar o meu melhor, mas para isso eu não posso ficar presa ainda mais a você. Antes, você era uma imagem que vinha em minha mente em festas, viagens e alguns abraços, presentes e conversas despretensiosas que me deixavam feliz - explico.
- Eu sempre respeitei você - ele diz e se ajeita na cadeira.
- Isso quer dizer que agora não respeita mais? Claro que não, Benjamin! Não era isso, era medo e eu não sei exatamente do quê e pode parecer loucura, mas mesmo você sendo o homem que sempre desejei, aprendi que isso poderia não ser bom para mim, consegue me entender? - pergunto.
- Não e se puder ser mais clara... - ele não está me reconhecendo porque não estamos em uma festa, presos em um museu ou trepando, estamos tendo uma conversa e é isso que pessoas maduras fazem.
- Com certeza serei - olho nos olhos dele - Eu nunca vou ser o que você precisa, o que você gosta e o que te conquista. Eu sempre serei a mulher singular, a que não admitiria em hipótese nenhuma ter outra na cama com você. Conheço seus gostos, Ben, eles não são peculiares. Homens que praticam ménage tem as pencas por aí e os que não praticam topariam isso na hora, que homem não gostaria de foder duas ao mesmo tempo? Mas eu não aceitaria isso, mesmo sendo apaixonada por você como sempre fui. Porque uma coisa é certa, mais forte do que o que sinto por você, é o que sinto por mim mesma e você sabe disso - estou séria, não estou brava e nem falando em tom de ameaça, mas eu consegui fazer com que ele se ajeitasse melhor na cadeira.
- Não entendo, pensei que fosse isso - ele nos liga com o dedo indicador - Que você sempre quisesse - ele me parece confuso e a ideia aqui não é essa.
- Não estou aqui para te cobrar absolutamente nada, estou aqui apenas para deixar claro a minha posição e respeitar a sua, não posso exigir nada de você, nem ao menos a metade da sobremesa. Mas, entenda, eu preciso que você saiba que não posso ir embora de Nova York e carregar mais lembranças sobre você. Fazer isso aqui, sabendo que eu poderia te encontrar a qualquer momento já é difícil, imagina do outro lado do oceano - falo e mexo nos talheres sobre a mesa - Você tem uma vida com estilo diferente, sem rédeas, regras e gosta de coisas múltiplas como se não pudesse perder tempo. É como se não tivesse trinta e dois anos, é como se soubesse que em algumas horas estará morto e não pode perder tempo. E o mais irônico de tudo, você é feliz assim - falo e seu rosto se fecha em algo que nunca vi, Benjamin não veio para essa vida para ser rejeitado, questionado ou interrompido, e eu não vim para essa vida para aceitar qualquer coisa que não fosse de acordo com meus princípios.
- Não costumo ouvir esse tipo de coisa - ele se mostra impaciente e se levanta. Ele leva as mãos até os cabelos e os bagunça ainda mais.
- A verdade é que você não tem por hábito ter companhias preocupadas realmente com você, não posso limitar sua vida a mim, quando sua vida foi tão amplamente aproveitada por múltiplas mulheres e ao mesmo tempo - falo serenamente e ele parece revoltado internamente.
- Não quero que fique e aceite isso, eu jamais levaria outra mulher para cama e te deixaria exposta dessa maneira. Quero apenas que fique comigo, enquanto não se muda para Suécia - ele está com seu rosto dolorido e não percebe o que me diz.
- E depois eu vou para Suécia e levo você ainda mais forte comigo? Parou para pensar que tudo isso que aconteceu entre nós, mexeu comigo o suficiente para eu não querer mais ou querer muito mais, mas de maneira diferente? - pergunto e ele se aproxima de mim e coloca as duas mãos em meu rosto.
- Como pode não querer mais quando tudo que eu quero é ter mais de você em mim? - ele pergunta e meu estômago chega a revirar.
- Em algumas semanas não vai ter isso e vai se acostumar rápido com minha ausência - sou fria.
- Não quero pensar nas próximas semanas, estou pensando nos anos em que tive que voltar para minha casa e ver seu rosto e seu sorriso onde realmente não deveria ver - ele me beija com força e eu sei que sou forte, mas não sou burra. O beijo dele é delicioso, sua língua é algo que liga todos os pontos sensíveis de meu corpo. Escuto uma conversa vinda da sala. Benjamin sorri e eu não.
- Onde ele está? - uma mulher pergunta e eu não sei se quero me virar e ver quem é.
- Na varanda - Bernice responde e eu escuto os passos em nossa direção. A mulher está de salto e ontem eu vi que aquela maluca filha da puta também estava.
- Meu querido - escuto a voz do meu lado e encaro Benjamin que está sorrindo, satisfeito, e eu vou jogar o bule nele antes de sair desse apartamento.
- Mãe - ele diz e faz uma cara de deboche para mim e eu olho para o bule. Mãe? Caralho, eu com cara de sono e tomando café da manhã com ele, qualquer idiota deduziria que passei a noite aqui. Ele se levanta e beija o rosto dela e eu me levanto - Conhece Kim, não preciso apresentar.
Ela me abraça carinhosamente e eu não sei o que dizer.
- Kim, minha linda, quanto tempo! - ela beija meu rosto e eu estou completamente encabulada.
- Sra Brandy, tenho trabalhado muito, como está? - pergunto e vejo Benjamin esconder o sorriso atrás dos dedos.
- Tão jovem e tão responsável - ela diz e eu sorrio sem jeito e percebo-a olhar para Benjamin e depois para mim - Não posso ficar muito, passei para ver como ele está e pelo visto está muito bem - ela fala e eu sinto meu rosto queimar.
- Não quer tomar café conosco? - falo por educação e depois me dou conta que acabei de unir ainda mais o que já estava junto.
- Obrigada, mas tenho um compromisso, adoraria ficar - ela desliza a mão pelos meus cabelos - Eu vou indo - ela diz sorrindo para mim e eu posso jurar que ela piscou para Benjamin.
Ele a acompanha até a porta e volta em seguida. Se ele falar qualquer coisa, eu não respondo por mim. Escuto seus passos e ele se senta com um sorriso sarcástico na minha frente.
- Não comente nada, por favor - peço e levo a xícara até a minha boca.
- Não preciso - ele dança com as sobrancelhas e sorri da maneira mais filha da puta que alguém possa fazer.
- Sua mãe é tão descolada, tão fácil de lidar e sempre está impecável em seus saltos e perfume - a elogio e ele pega uma fatia de presunto e coloca na boca.
- Coloque em sua lista de adjetivos para ela uma característica bem marcante, a loucura - ele sorri e eu também.
- Benjamin, ser sua mãe não deve ser algo fácil, e também não vejo alguém dentro dos padrões normais executando essa tarefa - minha vez de dançar com as sobrancelhas e sorrir.
- Não sou tão mau assim - ele se defende.
- Não diria mau, nunca achei você uma pessoa ruim, mas deve ser difícil te manter por perto e com rédeas curtas - observo e pego uma torrada e passo manteiga.
- Nem tanto - ele responde de maneira serena e algo nele me acalma - Ficaria aqui esse final de semana? - ele pergunta e seus olhos estão diferentes, algo nele está diferente. Sinto-o menos agitado, mas eu quero saber se aquela maluca de ontem não vai voltar aqui.
- Desde que não receba nenhuma visita de saltos e vestido curto que lhe obrigue a descer e procurar por um taxi... - falo em tom de brincadeira, mas estou bem nervosa em ver aquela mulher, deve ser essa que está sempre com ele. Eu sei que ele tem sempre uma mulher por perto e que essa mulher curte os “lances” dele. Eu não curto.
- Não vou receber ninguém - seu rosto fica duro - a visita que eu quero já está aqui comigo e, diga-se de passagem, está me irritando - ele fala.
- Está irritado comigo em tão pouco tempo, tem certeza que quer que eu fique? Não quero ser arremessada daqui de cima - zombo sem dar nenhum sorriso.
- Escute, eu tenho assuntos a serem resolvidos, e estou fazendo o que eu posso e dentro das possibilidades, não sou perfeito - ele diz calmamente como se estivesse falando de qualquer coisa, menos sobre a vida dele.
- Não precisa resolver nada por mim, se isso estiver lhe causando algum desconforto - falo tão calma quanto ele e ele suspende uma das sobrancelhas e apoia metade do seu corpo sobre a mesa.
- Escute bem o que eu vou lhe dizer, não estou resolvendo nada por sua causa - ele é grosseiro na maneira como fala e eu sinto que meu rosto ficou fechado e triste.
- Imaginei - respondo.
- Estou fazendo por mim, por minha causa, por que você já estava na minha cabeça, mas agora pelo visto tomou posse do restante - ele mantém a grosseria e eu estou sorrindo.
- Não vou mentir, em alguns dias pensei em você, e em outros eu pensei um pouco mais - ele sorri e se ajeita novamente na cadeira.
- Confesso que em alguns momentos eu preferia não pensar - ele admite e isso me gera uma satisfação interna que ele não precisa saber.
- Benjamin - o chamo - Eu gosto da sua companhia, sempre gostei - declaro.
- Admito que sua presença me perturba e agora que eu sei o que tem embaixo de suas roupas, tem uma região que fica ainda mais perturbada - ele sorri com malícia - Lembra-se quando fomos ao México? - ele pergunta e eu aceno que sim, não tem como esquecer. Tomei um porre e quase detonei a viagem toda - Quando você virou a dose de tequila e ficou mole e já não sabia mais o que estava acontecendo, eu queria cuidar de você e tive vontade de arrebentar o Alexander por ter me impedido. Ainda quero estourar a cara dele por ter me impedido tantas vezes de estar perto de você - ele diz e estou feliz em ouvir isso.
Me fez lembrar da faculdade, quando enviei a mensagem para ele, provavelmente ele não recebeu, mas é bom saber que eu não estava sozinha nessa sintonia.
- Não pode querer bater em meu irmão por ele querer me proteger de você, afinal de contas, você tem tantas coisas escondidas por aí - aponto o dedo para o peito dele - Você se tornou um perigo para mim e isso deixa Alexander furioso - falo e o rosto de Benjamin se torna algo ilegível.
- Alexander acha que sou uma ameaça contra você - ele explode nas palavras e sinto que ele está nervoso com isso - Não sou tão mau assim e nem tenho tantos segredos, e se os tenho é porque o mundo não compreenderia minha maneira de agir - ele fala e me encara.
- Então, me diga que maneira é essa de agir, me mostre isso, temos muita coisa em jogo aqui - peço.
- Você não precisa saber - ele rebate.
- Como não preciso saber? Aquela mulher de ontem estava aqui, na sua portaria, e provavelmente ela vai voltar, porque uma coisa ficou muito claro ontem à noite, você tem uma pessoa e essa pessoa pelo visto também tem você - respondo.
- Não sou de ninguém, Kimberly, ninguém teria estrutura para isso - ele está furioso.
- Essa sua raiva é por conta dessa mulher que menciono desta forma?
- Não! Essa raiva é por saber que Alexander acha que posso ser maléfico a você! - ele defende sua posição e não fala sobre a mulher de ontem.
- E você seria benéfico pra mim? - pergunto e apoio meu corpo sobre a mesa.
- Nem para mim eu seria, mas eu não a vejo como as outras e parece que isso está difícil de ser compreendido. Quanto a Greta, a conheço há tempo suficiente e ela vai precisar de algumas satisfações, antes de mais nada eu a respeito - ele protege a tal Greta e escutar a sua boca pronunciando o nome dela dói aqui dentro.
- Então, acredito que precise resolver tudo isso, assim eu posso discordar do meu irmão e ao menos ter um argumento com propriedade a seu favor, Benjamin - metralho contra ele e ele nega com a cabeça.
- Não estou entendendo o motivo dessa discussão - ele fala e se coloca na cadeira e não me olha mais.
- Não seja por isso, eu te explico - falo mais alto - Fica irritado porque meu irmão te encara como uma ameaça iminente vindo em minha direção o tempo todo e durante muitos anos, mas admite que não pode ser bom para mim, então, meu caro Benjamin, me explique melhor essa contradição que orbita dentro do seu cérebro - ele olha para mim e nega com a cabeça ficando em silêncio - Consegue ao menos se defender do que acabei de dizer? - pergunto.
- Não preciso me defender, não há contradição, está claro o que penso, eu jamais a enxergaria como enxergo as outras - ele fala olhando para qualquer direção, menos para mim.
- OLHE PARA MIM, BENJAMIN! - ordeno e ele abaixa a cabeça olhando para o chão e direciona seu rosto para mim lentamente.
- Olhar para você, Kim? É isso que tenho feito por todos esses anos e agora eu não sei como agir com você. Ensaiei tudo isso durante muito tempo e esqueci que minha vida precisaria estar de outra forma para que você se sentisse segura em tudo que estou lhe dizendo - escuto Rihanna cantar Stay e me perco na música, me perco no ensaio de Benjamin que deu errado e tudo parecia perfeito, mas era apenas uma falsa impressão. Ele tem alguém.
“É engraçado, você é quem está em ruínas, mas eu era a única que precisava ser salva... é difícil saber quem de nós está desabando”
– Rihanna – Stay.
- Mas eu sei como agir, eu sei o que precisa ser feito. Foi muita ilusão da minha cabeça que tudo que sonhei durante todos esses anos pudesse sair perfeitamente como planejado. Eu esqueci que você tem uma vida, que você vive e dividiu isso com outras pessoas - falo e me levanto e vejo que ele faz o mesmo e se coloca à minha frente.
- Me fale o que você quer ouvir! - ele pede em um tom mais alto de voz.
- Quero ouvir sobre a parte da sua vida onde eu verdadeiramente me encontro - falo no mesmo tom que ele e tudo fica em silêncio, tudo se confunde em misturas palpáveis de olhares desafiadores e totalmente vencidos pelo assunto, vencidos pelo tempo que passou por nós, que se esgotou em nós e agora não existe exatamente um texto pronto ou uma apresentação sobre o que estamos sentindo.
Ele tem alguém, ele teve uma vida enquanto eu também tive uma e logo vou levar essa vida para o outro lado do oceano. Mas eu sei que nada disso vai passar, eu sei o quanto vivemos intensamente os mais de dez anos de espera em apenas duas noites.
Algo estava mais intenso e mais real entre nós, isso é visível. Mas há algo que nos distancia e não é meu irmão ou Greta, é a vida que deixa um abismo entre nós e nos obriga a encarar uma situação que não é tão fácil de ser resolvida. Tudo porque sempre sonhei em ouvir dele que eu sou a pessoa que ele ama.
“Todos têm um lado sombrio... Ninguém é perfeito... Mas nós valemos a pena”
Kelly Clarkson - Dark Side
Ele me olha e eu sinto algo em seus olhos, não consigo decifrar.
- Não sei como te dizer isso... - ele diz e olha para o chão e sobe seus olhos até mim.
- Foi o que imaginei - pego meu celular, vou para o quarto, pego minhas coisas e saio de seu apartamento e gostaria imensamente que ele saísse da minha vida, que ele não fosse importante, que ele não fosse a pessoa que amo nesse mundo
Aproximo-me dele na varanda e olho em seus olhos.
- Benjamin, vamos fazer assim, não quero estar no meio do fogo cruzado, com mulheres entrando e saindo desse apartamento. Eu quero aproveitar os dias que me restam aqui, e quero fazer isso com você, caso seja isso que você queira também, resolva tudo e quando se sentir preparado e sem nenhum problema dessa ordem que mencionei, me ligue e, então, podemos começar deste ponto. Não vou embora te deixando um amontoado de coisas ruins, estou indo e esperando que você me ligue e me peça pra ficar - falo e ele se levanta olhando em meus olhos, mas ele não diz nada, apenas ouve e eu sei que fiz o meu melhor, porque a verdade é que minha vontade era quebrar essa mesa na cabeça dele, mas eu não faço o tipo que desce o nível. Eu obrigo meu adversário a subir mais um degrau e ficar de acordo com meu patamar. Deixo-o na varanda e atravesso a sala com minhas coisas.
Entro no elevador e vejo-o me olhar da varanda e seus olhos estão ainda perdidos, mas não sei se estão perdidos por minha causa. Ele dá um passo, mas a porta se fecha e eu desço infinitamente até a pior parte de mim. A parte em que eu volto a ter a vida que tinha antes.
Chego à calçada e chamo por um taxi e espero até que um pare, e espero intimamente que ele desça e venha até mim e me diga tudo que quero ouvir.
O taxi chega e Benjamin não desce, entro no banco de trás e sigo para minha casa.
Tento analisar o motivo dessa discussão e eu sei que ele precisa resolver alguma coisa, mas eu não sei se é isso mesmo que ele quer.
Benjamin e eu já discutimos tantas vezes, mas antes não havíamos feito amor, não havíamos nos beijado e eu estava no percurso da paixão onde tudo é intrigante, excitante e provocador. Agora, existem outras coisas envolvidas e meu coração não consegue entender que ele não pode ser meu, apenas meu.
Algo está atravessando meu peito e eu me sinto culpada, me sinto ridícula, sinto que eu deveria voltar lá e não ter dito nada, porque o passado dele não tem como ser apagado, é algo que vai estar lá o tempo todo, como algo latente e secreto.
Mas precisamos desse tempo, preciso esfriar a minha cabeça.
O taxi chega em casa e eu vou direto para o meu quarto. A casa está vazia e isso me gera uma falsa sensação de paz, na verdade estou sozinha.
Deixo minhas coisas perto da cama e vou direto para o chuveiro, me sinto isolada do mundo, me sinto perdida.
Saio do banho e me jogo na cama. Olho para o teto e lembro das últimas noites, lembro do toque dele em meu corpo e de como estávamos ali, completos apenas por um possuir o outro, e por mais que ele goste de ménage e de outras formas de sexo, eu sinto que comigo ele fez amor, eu sei que fez.
Fecho meus olhos e vou direto para o tempo em que o senti aqui dentro, não apenas em meu coração. Vou para o tempo em que ele se enterrava em meu corpo e de alguma forma me mostrava que eu sempre pertenci a ele.
Adormeço com a imagem de seus olhos sobre os meus e do sabor de seus lábios em minha boca.
***
Acordo com o som do meu celular, é Vivian me ligando.
- Alô - atento.
- Por favor, me diga algo bom! - ela pede.
- Oi... vou ficar te devendo... - falo e me sento na cama. Ainda estou de toalha.
- Não brinca! Fiquei esperando você me ligar depois do nosso jantar e você simplesmente sumiu - eu queria mesmo sumir, mas não posso, tenho uma filial da empresa do meu pai para assumir na Suécia.
- Vi... foi tudo lindo, o melhor sexo de minha vida, o melhor beijo e eu acho que devo tudo isso ao assalto - ela pergunta sobre o assalto e eu conto o que aconteceu. Falo sobre o beijo, sobre o sexo e sobre a discussão. Alguns detalhes eu guardo para mim, outros, eu coloco para que ela me dê seu ponto de vista e escuto a sua respiração do outro lado. Escuto Sebastian falar com ela e eles ainda estão nas Maldivas.
- Kimberly, esperou a vida toda por isso e agora vai deixar acabar antes mesmo do primeiro ato? O que você estava esperando? Um conto de fadas?- ela começa a saraivada e eu sou obrigada a concordar - Ao menos escute seu coração. - Ela diz e eu penso sobre isso, o tempo todo há muitos anos.
Despeço-me dela e vou até a janela. O sol da tarde não está tão quente e pelo visto dormi exageradamente, mas ainda tenho sono.
Jogo-me na cama e deixo meu celular ali, sobre o criado mudo, esperando que ele ligue, que ele fale o que o meu coração quer escutar e novamente eu adormeço como todos esses anos, esperando por algo que pode não acontecer.
***
O som do meu celular me desperta, são quase três horas da manhã e é ele, Benjamin.
- Alô? - atendo com voz de sono.
- Oi - ele solta a respiração - Você está por toda parte. Na minha cama, na minha varanda e dentro da minha mente, não consigo parar de pensar em você, essa saudade está acabando comigo e eu preciso de você aqui - escuto-o desabafar e sorrio.
- Se eu não estivesse dormindo, eu também estaria pensando em você - respondo com a voz brevemente animada.
- Quero te ver, minha cama está lá, com espaço enorme e eu não me atrevo a voltar lá e explicar que você não está aqui - ele faz uma piada singela e eu quero ir agora até ele, mas as coisas não funcionam assim.
- Pode ao menos esperar o dia clarear? - pergunto.
- Tenho que esperar tudo isso? - ele pergunta e eu volto a sorrir.
- Sim, faltam pelo menos três horas para isso - respondo e escuto sua respiração - Me fale o que você está fazendo? - pergunto.
- Além de pensar em você? Estou conversando comigo mesmo e tentando entender como uma mulher baixinha e tão gostosa conseguiu foder com tudo em tão pouco tempo - ele responde.
- Demorei mais de dez anos para isso, Benjamin - provoco e ele fica mudo.
- Tem razão, com isso não me custa esperar por algumas horas - ele fica em silêncio novamente - Vou te ver pela manhã? - ele pergunta.
- Sim, mas agora eu preciso dormir - bocejo e ele solta o ar em sinal de desaprovação em eu querer desligar.
- Até logo, Kim - ele diz.
- Até logo, Ben - desligamos e eu me sento na cama, totalmente sem sono e me controlando para não pegar o carro e ir até lá.
Mas é melhor ele esperar, eu esperei por tanto tempo que agora algumas horas não farão diferença e, além disso, ele precisa resolver suas questões. Eu não quero ter que esperar em seu apartamento enquanto ele controla a epidemia de mulheres na portaria de seu prédio.
Deito novamente, mas pego o celular e entro no Facebook, vou até o perfil dele. Vejo suas fotos e algumas são obviamente assustadoras e pelo visto ele é frequentador assíduo do The Box, em Londres. Eu já estive lá, com Vivian. Melhor não lembrar dessa história.
Estou totalmente sem sono e agora o rosto dele apita a cada dez minutos, como um alerta, como um compromisso de mais de dez anos e que agora eu preciso enfrentar. Pego um livro em minha estante e volto para cama, acendo o abajur e tento não pensar.
***
Coloco uma calça, uma camisa fina manga longa branca, minhas botas de bico fino e ajeito meu cabelo com um rabo de cavalo no alto de minha cabeça. Espirro perfume e coloco meus brincos, quero estar bonita para ele.
Chamo um taxi pelo aplicativo e desço com minha bolsa em meu ombro e verificando meu Facebook.
O taxi chega e eu volto para onde não deveria ter saído. Eu marquei com ele para daqui duas horas, inventei uma desculpa, mas eu queria mesmo era fazer uma surpresa para ele.
Sigo em direção ao apartamento de Benjamin e espero que ele esteja lá, espero que ele entenda que muitas vezes eu também não sei como agir e muito menos o que dizer a ele. Espero que ele esteja lá, eu preciso dizer a ele que eu espero ele aprender o que tem a me dizer, eu espero o tempo que for preciso para que ele me prove que as últimas noites não foram um erro.
Eu preciso dizer a ele que o seu passado é menos importante do que o que eu sinto por ele.
O taxi para e eu entro no prédio e olho para o porteiro. Esse é o mesmo do dia anterior que me deixou subir sem me anunciar e agora ele faz o mesmo.
Entro no elevador e sinto meu coração disparar. Ele está em casa, caso contrário, ele não me deixaria subir. Ganho os andares e por fim chego em seu apartamento.
As portas do elevador se abrem e eu o vejo e uma lança em chamas atravessa o meu peito. Olho para ele e ele está assustado e me encara, como se eu não merecesse ver o que estou vendo.
Greta está com as mãos em sua cintura e uma mulher está alisando suas costas e meu mundo desmorona com uma grande avalanche movida pelo arrependimento.
Não saio do elevador e as portas se fecham cessando a voz de Benjamin.
- Kim - ele diz e nega com a cabeça.
Desço todos os andares e visito intimamente uma espécie de purgatório, e a visão das duas mulheres que fazem parte do jogo que ele sempre gostou estão em minha mente, tocando seu corpo e conseguindo dele algo que pensei que fosse, enfim, ser apenas meu.
Ando apressada pela calçada e viro a primeira rua em busca de um taxi. Me enfio nas ruas mais estreitas e paro em frente a um pequeno café. Se eu pudesse iria hoje mesmo para Suécia.
Chamo um taxi pelo aplicativo e entro no café. Espero pelo taxi até que ele chegue. Um atendente me oferece um café e eu aceitaria se tivesse a opção de acrescentar duas gotas de arsênico.
Pego meu celular e alcanço dentro da minha bolsa os fones de ouvido. Não quero escutar as pessoas, quero apenas escutar o barulho da minha mente se movendo contra meu coração. Aperto o play, aumento o volume e deixo que Ella Henderson, cante alto, Missed.
Sento no banco perto do vidro de frente para a rua e olho o cinza de fim de tarde de Nova York se fundir ao cinza de meu coração.
Vejo o taxi parando e eu vou em sua direção, me sento no banco de trás falando meu endereço e tento não sofrer, porque foi isso que fiz durante todos esses anos, guardando para mim esse amor que ele não mereceu saber, ele não pode saber.
“Mas aqui eu traço uma linha, desejo-lhe sorte na vida e adeus”
Ella Henderson - Missed
Uma coisa que aprendi todos esses anos é que chorar não faria diferença porque ele nunca saberia o quanto já chorei por ele, o quanto pensei nele em noites em que ele estava com outras mulheres fazendo o tipo de sexo que não me sujeitaria fazer mesmo amando-o com todo meu coração. Eu sempre preservei meus princípios. Vejo que ele está me ligando, mas eu não atendo, não quero falar com ele.
Mas agora, depois de ter sentido seu corpo, é inevitável pensar que outras estão no meu lugar, se é que em algum momento eu tive algum tipo de lugar em sua vida.
Chego em casa e sinto meus olhos molhados, sinto meu rosto molhado e entro pela lateral da minha casa e não seguro o choro. Deixo que as lágrimas invadam meu rosto e ando apressadamente em direção à porta da cozinha nos fundos da casa.
- Kim? - escuto Alexander me chamar e é tudo que eu preciso, um interrogatório por conta do meu choro.
- O que você está fazendo aqui? - pergunto e enxugo meu rosto.
- Eu não sei se você se lembra, mas eu moro aqui. Agora, me fala o que aconteceu? - ele segura meus braços e me abraça.
- Nada - respondo e choro ainda mais no conforto da proteção dos braços de Alexander.
- Nada? Me fale agora, Kim, quem eu tenho que matar? - ela pergunta e eu nego com a cabeça.
- Kim! - escuto meu nome, é a voz de Benjamin.
- Que merda está acontecendo aqui? - Alexander pergunta e me coloca atrás dele ficando de frente a Benjamin.
- Isso é entre mim e ela, Alexander - Benjamin diz e olha para mim - Kim, você precisa me ouvir - ele fala.
- Benjamin, eu vou te matar - Alec ameaça e anda em direção a Benjamin.
- Não se meta dessa vez, não me impeça de falar com ela, você fez isso todos esses anos - Benjamin não recua e anda em direção a Alexander e sinto que o choque entre eles será inevitável.
- Alexander! - grito.
- Entre, Kim, preciso resolver isso essa noite - Alec ordena e eu vejo os dois indo ao encontro de uma grande explosão.
- O que você vai resolver? - Benjamin pergunta e vejo Alec fechar o punho e direcionar a mão na cara de Benjamin. Benjamin se esquiva e empurra Alexander, com intuito de não brigar, mas isso é em vão. Alexander volta com mais raiva e parte para cima de Benjamin, e agora eles reviram no chão.
Alexander acerta o primeiro soco e o barulho antecipa o sangue que sai do nariz de Benjamin. Ele reage e acerta o olho de Alec que agora segura o colarinho de Benjamin e o golpeia novamente.
O nariz de Alexander agora também está sangrando.
- Parem! - eu grito de novo e eles rolam em um acerto de contas de mais de dez anos, mas não há nada para ser acertado e o que vejo são dois homens que não deveriam se comportar assim.
Sinto desespero e eu sei o que cada um carrega sobre isso, eu sei do ciúme do meu irmão sobre mim em relação a Benjamin e eu sei que Benjamin também tem suas questões não resolvidas comigo.
- Caralho, Benjamin! - Alexander grita e os dois se separam brevemente.
- Alexander, eu preciso falar com ela, preciso explicar - Benjamin fala para Alexander mas seus olhos estão em mim.
- Não, você não vai falar nada, não vai explicar e seja o que for, leve com você para o caixão - Alexander vai para cima de Benjamin novamente e tenta acertar seu rosto, mas Benjamin o segura e tenta parar com a briga, mas Alexander está furioso.
- Eu vou falar, cara, se não for agora, vai ser depois - Benjamin está furioso e empurra Alexander.
- Benjamin, caralho, cara! ELA É A MINHA IRMÃ! - Alexander explode e Benjamin para por um longo minuto, passa as costas da mãos em seu nariz tentando limpar o sangue e olha em minha direção. Ele olha em meus olhos e sinto a terra sob meus pés tremer.
- Ela é a sua irmã, mas ela é a mulher que eu amo - ele se aproxima de mim, não se preocupa se Alexander pode atacá-lo e ele se coloca na minha frente, alisando meus cabelos, deslizando o polegar em meu rosto e por um único nano segundo fecho meus olhos e os abro, encarando os olhos tristes de Benjamin - Ela é a mulher que eu sempre amei - ele aproxima seus lábios dos meus e mantém seus olhos em mim. Benjamin me beija com a intensidade de suas palavras e eu percebo Alexander andar de um lado para o outro, levando suas mãos até seus cabelos e as colocando em sua cintura. Alexander nega com a cabeça, mas agora, mais nada pode ser feito.
21
Benjamin
Se Kim soubesse como me revirei nesse apartamento desde ontem assim que ela saiu, ela não teria deixado esse encontro para daqui três horas
Sento na varanda e olho para os meus dedos entrelaçados e infelizmente eu não consigo me reconhecer sem ela. Ela esteve aqui nesse apartamento nos últimos dias e esteve também por todos esses anos.
Perco-me em todas as lembranças dela, de todas as vezes que estávamos tão próximos e, mesmo assim, eu sabia que havia um abismo nos separando e esse abismo era o meu medo de perder a liberdade que sempre priorizei.
Mas agora analiso o que chamava de liberdade, que homem pode ser livre sendo escravo do medo?
Fico por tanto tempo pensativo que Bernice já retirou a mesa do café e possivelmente está pensando por que estou desse jeito. Estou aqui desde que nos falamos na madrugada.
Estou aqui tomando coragem para mudar a minha vida, estou tomando coragem para avisar Kim que ela tem meu coração desde o momento em que ela sorriu, de biquíni se mostrando a garota mais linda que meus olhos já viram. Sempre foi ela.
Levanto e vou até o meu quarto trocar de roupa, coloco um jeans e uma camiseta e vejo o sapatênis que está mais fácil. Vou até o banheiro e pego a minha escova de dentes e vejo uma calcinha sobre a bancada da hidro.
Kim precisa ficar mais tempo aqui, até que essa sensação de perda desapareça, até que essa sensação de tempo perdido suma de meu peito e eu possa seguir adiante.
- O senhor vai sair? - Bernice pergunta assim que saio do quarto e encontro com ela no corredor.
- Não, e prepare a mesa para dois pro almoço - eu nunca fiquei tão feliz em pronunciar essa palavra em toda minha vida, eu nunca imaginei que apenas com uma seria o suficiente. Eu sempre precisei de mais, sempre busquei mais, quando na verdade o que eu precisava era apenas dela. Escuto o barulho do elevador e assim que a porta se abre meus olhos veem, mas eu não acredito.
- Até que enfim não fui impedida de subir, acho que é porque eu trouxe companhia - Greta sai do elevador e entra me obrigando a recuar os passos.
Bernice surge na sala com algumas roupas na mão e me olha, e vai para área de serviço. Ela deve estar se questionando se a mesa é para duas ou três pessoas.
- Deixa eu te apresentar, essa é Isadora, ela veio nos fazer companhia - Greta se aproxima de mim e mesmo depois de todos esses anos eu a vejo como uma estranha.
- Greta, precisamos conversar e acredito que ela não deva fazer parte dessa conversa - falo e tiro as mãos dela que estavam vindo em minha direção.
- Como ela não vai participar? Começou a gostar de música para dois? - ela arranca o casaco e está apenas de sutien e saia muito curta e se um dia isso me deixou atraído, não é o que está acontecendo agora.
- Greta, sempre tivemos um acordo onde uma das partes poderia desistir e eu estou desistindo, não quero estender essa conversa, você me entende? - pergunto e a vejo fechar o semblante e negar com a cabeça.
- Não pode simplesmente desistir, depois de tudo que vivemos. Somos um parte do outro, somos peças do mesmo jogo, meu querido - ela tenta me ameaçar mas eu tenho informações sobre ela e sempre me preparei para esse tipo de situação em relação a ela.
- Greta, não vamos deixar isso complicado para você, somos adultos e você sabe que um dia isso tudo acabaria - mantenho uma postura firme diante dela e não faço nada a não ser desejar profundamente que ela e a outra desapareçam da minha frente.
- Você sabe o que sinto por você, eu sei dos seus segredos, ou melhor do seu segredinho de Madri - ela fala em tom ameaçador e isso não me comove.
- E eu sei que você desvia verbas altas da indústria que trabalha e isso mantém seu padrão alto de luxo e viagens; sei que quem te ajuda com isso é o diretor da empresa com promessas falsas de sua parte de que um dia você vai abandonar seu suposto marido que não existe para ficar com ele e, se eu não me engano, ele é casado com uma juíza. Eleonora, o nome, estou certo? - vejo o rosto dela empalidecer e ela recua - Não tente me ameaçar com informações sobre Madri, isso não me abalaria. Primeiro, porque não faço mais parte daquele lugar e segundo, nosso lance sempre foi apenas isso, trepamos loucamente, usamos um ao outro e agora acabou - falo e ela está com olhos abertos e a boca dela está imóvel e posso ver a sua língua.
- Você não faz mais parte do Clube? - ela pergunta.
- Não - respondo com firmeza e eu sei o que tenho que fazer na segunda-feira, pegar o primeiro voo para Madri e dizer adeus ao lugar que me serviu de refúgio.
- Brandy, meu querido, eu nunca faria nada para te ameaçar, é que estou confusa - ela fala e se aproxima de mim.
- Não sou seu querido - sou seco e vejo que a outra mulher se sentou no sofá e isso me incomoda. Não são elas que eu quero aqui.
- Benjamin, que tal uma despedida? - Greta pisca um dos olhos e eu vejo que ela acena para a outra mulher que se levanta e fica de pé atrás de mim. Em outra época, não muito distante, eu já estaria fodendo as duas, mas isso não me ocorre e percebo que meu pau sequer se manifesta. Acredito que o encanto tenha se quebrado a partir do momento em que senti os lábios da Kim.
- Não - respondo e sinto as mãos da mulher em minhas costas e Greta coloca as mãos em minha cintura - Não - olho para ela e quando ameaço sair, escuto a porta do elevador se abrir e eu vejo Kim, com um rosto dolorido pelo que está observando e ela não merecia isso. Ela cansou de ver mulheres penduradas em mim e ela não imagina que era ela que esteve aqui o tempo todo.
Ela aperta o botão e a porta do elevador se fecha e sinto seu nome sair de minha boca sem força e agora eu sinto que tudo isso possa estar perdido.
- Saiam daqui, saiam agora! E, por favor, não me procure mais, eu não quero mais! - falo e saio delas e aponto para a rua.
- Eu sabia que um dia você ficaria com ela. Foi esse nome que foi pronunciado inúmeras vezes enquanto você me fodia - Greta diz e a outra mulher caminha até a porta.
- Greta, vamos, você sempre soube que nunca foi você - pelo visto a outra mulher a conhece bem e sabe que o nome de Kim era o nome que eu pronunciava em alguns momentos de extremo tesão.
- Achei que isso seria para sempre - Greta diz.
- E eu achei que você soubesse jogar - aponto a cabeça para fora indicando que ela e sua companheira saiam da minha casa.
Elas chamam o elevador e eu ligo para Kim e ela não atende. Espero que elas saiam da minha casa e eu vou até a área.
- Bernice, a mesa é para dois, não esqueça - falo e vou para o meu quarto. Entro no closet e pego meu antigo celular, o celular que tem a mensagem dela de muitos anos atrás onde ela dizia que sentia por mim o mesmo que sempre senti por ela. Ela vai ter que acreditar em mim, mesmo com meu histórico de merda se colocando contra qualquer argumento de defesa que eu possa ter.
***
Acelero meu carro e como sempre as ruas de Nova York impedem que eu seja mais rápido e para ajudar um acidente está atrapalhando o trânsito.
Os minutos passam e eu estou parado no mesmo lugar, viro a direção e escuto o cantar de pneus do carro que freou para não bater na minha lateral.
Vou em direção à casa dela e espero que seja para lá que ela tenha ido e que ninguém me impeça de falar com ela, a não ser que ela não queira.
Chego na sua rua e paro o carro deixando a porta aberta e entro pela lateral da casa e a vejo abraçada com Alexander. Peço que Deus me ajude, porque se for preciso vou passar por cima dele.
- Kim! - a chamo.
- Que merda está acontecendo aqui? - Alexander pergunta e vejo-o escondê-la de mim atrás dele e eu não vou mais admitir isso. Passamos por muito tempo um se escondendo do outro mesmo quando estávamos frente a frente.
- Isso é entre mim e ela, Alexander - falo para ele, mas meus olhos estão nela, na minha menina de sorriso encantador que prefere branco, caramelo e carinho na orelha para dormir. Sei tanto sobre ela e sei também que aqui dentro ela é a pessoa que predomina todo meu pensamento, sempre foi assim, desde sempre eu fui a peça desse dominó destinado a cair - Kim, você precisa me ouvir - falo e olho para ela, espero que ela veja em meus olhos que tudo que ela viu não passou de um imenso engano e por mais que eu não tenha credibilidade por conta do meu histórico precário, espero que ela acredite que nada mais do que fiz importa e que seus olhos tristes me trouxeram a realidade de ter sido canalha boa parte do tempo.
- Benjamin, eu vou te matar - Alexander me ameaça e por um segundo eu penso que estive morto durante boa parte da minha vida, quando acreditei que tudo que eu fazia era o paraíso. Paraíso eu conheci quando senti os lábios dela, quando senti o sabor do seu sexo e quando ela disse que me ama.
- Não se meta dessa vez, não me impeça de falar com ela, você fez isso todos esses anos - ando na direção de Alexander e não me importo o tamanho desse choque, eu sei que vou falar com ela, ela vai ter que acreditar que o que eu sinto por ela não foi algo que surgiu em um assalto, isso surgiu anos atrás, mas eu era covarde para encarar tudo de frente.
- Alexander! - escuto Kim gritar em uma tentativa frustrada de impedir a colisão.
- Entre, Kim, preciso resolver isso essa noite - Alexander ordena e eu continuo meus passos em sua direção, atropelaria qualquer um, porque eu tenho uma verdade que precisa ser dita e ela precisa acreditar.
- O que você vai resolver? - pergunto e vejo Alexander armar um soco contra o meu rosto. Desvio e o empurro, não quero brigar com meu amigo, mas se essa for a alternativa, não me resta outra escolha. Alexander vem com mais ódio e caímos no chão, como dois animais rolando na tentativa de um acertar o outro.
Alexander acerta meu nariz e minha fúria explode em meu peito junto com o sangue em meu nariz e eu acerto seu olho, sem dó, e esqueço que esse cara é meu amigo há muito tempo, mas a verdade é que precisamos disso, é um modo libertador que temos de um permitir o outro de maneira definitiva.
Acerto o nariz de Alexander e agora ambos têm o nariz sangrando e eu sei que essa briga foi adiada por muito tempo.
- Parem! - Kim grita mas não arrisca se aproximar, infelizmente o instinto primitivo ainda vive em nós.
Em um movimento brusco o viro e solto da sua camiseta já rasgada assim como a minha.
- Caralho, Benjamin! - Alexander grita e recua dois passos.
- Alexander, eu preciso falar com ela, preciso explicar - falo para Alexander mas meus olhos estão nela, meus olhos sempre estiveram nela e eu não me canso de olhar para o rosto que consegue de maneira singular me transmitir a paz que sempre procurei nos lugares errados.
- Não, você não vai falar nada, não vai explicar e seja o que for, leve com você para o caixão - Alexander vem para cima de mim novamente e eu não quero mais brigar, não vim aqui para isso, seguro seus braços e olho para ele.
- Eu vou falar, cara, se não for agora, vai ser depois - Estou com tanta coisa explodindo dentro de mim que sinto o ar me faltar em alguns momentos. Empurro-o para longe e ele salta alguns passos para trás.
- Benjamin, caralho, cara! ELA É A MINHA IRMÃ! - Alexander fala como se eu não soubesse, como se eu não tivesse carregado isso como uma das desculpas para não me aproximar dela como fiz nas últimas noites. Limpo meu nariz com as costas da mão e olho para ela, como se ele já não estivesse mais ali, como se o mundo parasse e se silenciasse diante do que tenho a dizer para ela.
- Ela é a sua irmã, mas ela é a mulher que eu amo - me aproximo dela e olho no mais profundo de seus olhos e eu sei que posso me ver ali, na imensidão azul e perfeita direcionada em meu rosto, sujo de sangue e triste por tê-la magoado. Coloco minha mão em seu cabelo e sinto a textura macia e posso sentir o cheiro de seu perfume. Eu o reconheceria a qualquer distância, porque esse cheiro pertence a ela e ela precisa acreditar que durante todo esse tempo eu sempre pertenci a ela. Deslizo meu dedo em seu rosto e ela fecha os olhos e inala profundamente e essa imagem me remete à noite em que fizemos amor pela primeira vez. Foi a primeira vez que fiz amor com alguém e esse alguém impreterivelmente precisaria ser ela - Ela é a mulher que eu sempre amei - falo e tiro do meu bolso o celular que guardei por todo esse tempo por causa dela, por causa da mensagem, a mensagem que me tornava mais humano cada vez que a lia. Ela abre os olhos e eu me aproximo lentamente, beijando sua boca e deixando ali toda a verdade sobre mim. A verdade sobre Benjamin Augustus Brandy é ela, sempre foi ela e eu sou feliz por isso.
- Eu queria te dizer que recebi sua mensagem há alguns anos e foi ela que me deixou mais perto de você esse tempo todo. A li tantas vezes e depois a li novamente e, então, eu tentei buscar conformismo na minha situação
“Ben...
É que eu sempre penso em você e gostaria que também pensasse em mim. Eu sei que não me ama como eu te amo, e talvez seja esse o destino do meu amor, encontrar com alguém que não se importa com ele. Espero que esteja bem, aqui em Londres está nevando
Beijos,
Kim”
- Eu comprei uma passagem e estava disposto a fazer algo naquela noite, mas naquela noite eu não tinha ideia do quanto você estaria em minha vida. Se o destino do seu amor era encontrar com alguém que não se importa com ele, eu lamento, pois ele encontrou o meu coração e você é a pessoa nesse mundo com quem eu realmente me importo.
Olho para os seus olhos - Não gostei do que vi - ela murmura - Você não me pertence, mas meu amor é seu, sempre foi seu - ela declara e eu sorrio.
- Então, estamos quites e o que você viu foi o fim de um passado, de uma história de fuga. Acredite em mim, não aconteceu nada, eu estava esperando por você em meu apartamento, para lhe dizer que por todos esses anos, era o seu sorriso que me fazia feliz - a beijo novamente e toco sua testa com a minha.
- Benjamin, caralho, você sabe - escuto Alexander que estava como um touro bravo andando de um lado para o outro falar e eu sei que ele está falando sobre o Clube que a partir de segunda-feira não farei mais parte.
- Alexander, isso está no passado - não declaro abertamente sobre o que se trata e ele se aproxima.
- Mas ainda está lá - ele fala e Kim caminha ficando entre nós e ela não sabe do que estamos falando.
- É sobre o Clube 13? Sobre Madri? Sobre as viagens infinitas praticamente todo mês onde um bando de homens ricos testa suas habilidades sexuais? - Kim dispara e eu sinto o chão se abrir diante dos meus pés.
- Seu filho da puta! - Alexander grita - Falou para ela? - ele se manifesta contra mim, achando que eu falei algo sobre o Palácio Hanzel para Kim e eu nunca faria isso.
- Acorda, Alexander - Kim fala - O grande problema dos homens é que vocês mentem muito bem, mas não sustentam ou disfarçam as mentiras. Acha que sou idiota? Tantas viagens assim para o mesmo lugar ou indicaria uma família que cada um sustenta por lá ou um grande segredo guardado do outro lado do oceano. Não sei como começou e não me interessa - ela se coloca em uma postura de mulher tão madura e tão fria diante dessa informação que estou perdido e com vergonha.
- Esse assunto é sigiloso, você não deveria estar sabendo - Alexander fala para a irmã.
- Oras, Alexander, se você não esquecesse seu celular em todos os lugares ou se prestasse atenção onde conversa sobre esse assunto, eu nunca teria descoberto. Está preocupado comigo por eu saber sobre o clube de orgias de vocês? Deveria estar preocupado com a prostituição internacional que praticam deliberadamente. Fazer parte de um clube como esse não é nenhuma informação preciosa assim, esse tipo de lugar tem as pencas por aí, agora, ser um dos fundadores isso sim é preocupante - de onde saiu essa Kim determinada e absoluta em tudo que fala? Estou completamente fodido na mão dela e não por ela saber sobre o Clube, mas por ela ser assim, intimidadora o suficiente para deixar dois homens de boca aberta e sem nenhum tipo de argumento plausível.
- E mesmo sabendo sobre o Clube você ainda é apaixonada por ele? - Alexander fala com frieza e eu não perco meu tempo em desviar o olhar para ele, estou olhando para ela e eu sei que eu não vou conseguir ficar longe dela.
- E você falando isso acha que é menos do que ele? Acha que é melhor por ser o meu irmão e de alguma maneira isso lhe dá o direito de ser um puto e ele não? Você falando dessa forma me faz pensar que quer parecer menos culpado, mas não se esqueça que se eu tenho essa informação sobre essa reuniãozinha de vocês em Madri, a culpa é sua - Alexander fica desnorteado, e eu sei que minha boca está aberta.
- Sempre soube? - pergunto e ela sabe que estou com vergonha.
- Sei há tempo suficiente para ter tirado as minhas conclusões sobre um bando de homens que poderia fazer e ter de tudo, mas prefere as apostas em uma disputa sobre poder, dinheiro e sexo - caralho, eu sabia que ela me teria em suas mãos apenas por ser como é, mas agora eu preciso admitir... eu me rendo.
Alexander sai resmungando uma dúzia de palavrões e agora ele vai ter com o que se preocupar e não é com a minha vida ou com a irmã que se mostrou mais adulta do que nós dois juntos; ele vai ter que se preocupar com quem mais possa descobrir sobre o Clube.
- Nunca deixei que a tristeza por saber que você estava fazendo esse tipo de coisa dominasse minha vida. Deixei a tristeza apenas para as noites em que eu dormia sozinha e imaginava quem eram as sortudas que estavam com você. Se você precisava cruzar o oceano para se sentir mais poderoso, mais homem, isso definitivamente não me importava. O que me importava era se algum dia, uma dessas mulheres pudesse conquistar o seu coração - ela diz olhando para mim e se aproxima, limpando o sangue abaixo do meu nariz e limpando o dedo em minha camiseta. Se existe um patamar abaixo desse onde estou agora eu desconheço.
- Meu coração não poderia ser conquistado por nenhuma outra mulher, ele sempre foi seu - falo e me aproximo dela ainda mais - Amanhã, segunda-feira eu vou para Madri, vou me desligar daquele lugar e parar de fugir. Eu sei que você vai para Suécia, mas acredite, eu vou estar aqui e se você quiser eu também posso estar lá. Atravessei o oceano tantas vezes fugindo e agora eu atravessaria infinitas vezes para me encontrar... para te encontrar - confesso e ela sorri.
- Poderia me dar um minuto? - ela levanta o indicador, pega o celular que estava em seu bolso e digita alguma coisa.
Vejo-a colocar o telefone na orelha e encaro seu rosto que me parece tranquilo, mas tenho a sensação de que é apenas uma muralha para ninguém descobrir que ali dentro está uma mulher que precisa de segurança e de amor.
- Pai? - ela diz - Sim, está tudo bem, mas eu preciso falar com o senhor, é sobre a minha ida para Suécia - ela diz e esse assunto me deixa perturbado e eu tento imaginar como serão meus finais de semana viajando apenas para poder dizer um bom dia olhando para o seu corpo nu.
- Não, pai, mas eu não posso sair de Nova York. Tenho assuntos profissionais iniciados que precisam da minha atenção. Acredito que será mais fácil o senhor assumir aquela filial que estará começando do zero, minha vida está aqui - ela fala e olha em meus olhos e minha vontade é jogar o celular dela dentro da piscina e me enfiar dentro dela e nunca mais sair.
- Eu sei, eu sei, pai, não costumo mudar de decisão, mas nesse caso tem muita coisa que pode estar em risco e uma delas é aquele contrato milionário com os finlandeses - hoje eu pude presenciar uma menina triste, uma mulher madura falando sobre um clube de putaria e agora estou diante de uma CEO. Deus... eu vou me foder bonito na mão dela.
- Se isso é preciso, na segunda-feira vou para Suécia e assino os papéis necessários, com isso transfiro a presidência de nossa filial para você - ela está segura e pelo visto o pai confia plenamente no que ela faz e nas decisões que toma.
- Não, pai, estamos falando de negociações que serão finalizadas por mim já que foi quem as começou, isso transmite aos clientes credibilidade e, o mais importante, não vai parecer que tem uma filha que serve para tapar buracos de contratação - eu a contrataria sem pensar duas vezes para a Brandy.
- Estou certa do que estou fazendo, e pode ficar tranquilo, se precisarem de mim do outro lado do oceano, tem voos a todo momento e posso resolver isso - ela presta atenção no que o pai está dizendo e sorri.
- Sim, o senhor também está certo, não é apenas minha vida profissional que me segura em Nova York - ela fala e olha para mim.
- Eu também te amo, pai - ela desliga e olha para mim - Pelo visto segunda-feira teremos assuntos a serem finalizados - ela conclui.
- Sim... - estou assustado olhando para ela - Em que momento você se tornou essa mulher? - pergunto.
- Ben, preciso que saiba de uma coisa, sou multitarefa, posso executar várias coisas ao mesmo tempo, por isso, eu nunca admitiria dividir uma atividade sexual com outra mulher, eu sei que posso fazer tudo sozinha nesse sentido - ela pisca um dos olhos para mim e agora é tarde demais, ela fez tudo que estava em minha vida perder o sentido e chegou colocando sentido em tudo de novo.
- Amo você, e eu nunca pensei que dizer isso fosse tão assustadoramente libertador - declaro e ela sorri.
- Precisou de um assalto e um nariz sangrando para me dizer isso? - ela zomba.
- Preciso agradecer àqueles ladrões - falo e puxo seu corpo para junto do meu e a beijo. Agora não há mais O segredo ou Alexander para nos perturbar. Agora, eu posso beijá-la quando eu quiser - Estou feliz que não tenha mais que ir embora - falo.
- Nem é tão longe e poderíamos nos ver de vez em quando - ela diz.
- Não, eu não teria paz sabendo que alguma coisa minha estaria na Suécia, sozinha e tendo a oportunidade de saber a fria que é se envolver comigo - selo sua boca e ela sorri.
- Não pense que se envolver comigo será fácil ou mais quente do que com você - ela franze o nariz e eu chego a conclusão de que fui muito idiota em querer achar em outras mulheres o que Deus colocou apenas nela, como se fosse colocado nela especialmente para mim.
22
Benjamin
A segunda-feira surge com uma garoa fina que empalidece o tempo. Está frio e a claridade entra discretamente pela porta da varanda do meu quarto. Sobre a cama está ela, livre de qualquer coisa assim como eu que estou sentado na poltrona de frente para a cama olhando seu corpo e admirando sua respiração profunda.
Ela é a mulher da minha vida. Kim, a menina de gostos diferentes e posturas que me deixam assim, aos seus pés.
Saio do quarto devagar e silenciosamente, ainda faltam algumas horas para o voo dela. Tentamos voos no mesmo horário, mas o meu vai sair apenas no período da tarde. Liguei para o Marco e marcamos para amanhã logo no primeiro horário. Ele é o único do Clube que sabe da minha saída, depois vou ter que aguentar os outros do bando com a novidade.
Olho para a tela e vejo uma mensagem, é de Alexander
“Seu puto, já que não posso matar você porque a idiota da minha irmã tem péssimo gosto para homens, me faça a gentileza de cuidar muito bem dela, assim você se mantém vivo” - dou risada e começo a digitar.
“Cunhadinho, pode ficar tranquilo. Eu vou cuidar e não precisa me agradecer pelo soco que dei em seu nariz, eu sei que agora ele ficou menos horroroso” - envio e coloco o celular sobre a bancada e vejo o que tem na geladeira.
Bernice foi rápida, pensou do jeito que eu gosto e percebeu ontem à noite que Kim estaria comigo aqui de novo pela manhã. Ela deixou tudo pronto na geladeira e meu único trabalho será um bule de água quente para o chá favorito de Kim.
Coloco tudo sobre a bancada e o bule com água no fogo, escuto o chuveiro da minha suíte. É ela e eu estou sorrindo feito um idiota. Eu deixei toalhas para ela assim que saí do banho.
Meu celular anuncia mais uma mensagem.
“Puto” - Alexander responde.
“É, eu sei, ficou melhor depois do soco, se quiser eu dou outro e aí fica perfeito” - gargalho e arrumo a bancada para o café da manhã e há muito tempo não acordava tão disposto.
Vejo a resposta dele.
“Você é ruim até para bater, não sei o que a minha irmã viu em você” - Bastardo filho da puta. Pena que você nunca vai saber o que ela viu em mim, cretino.
“Quer que eu te mostre? HAHAHAHAHAHA” - respondo e verifico se a água está fervendo.
“Vou precisar de uma lupa” - ele me sacaneia e eu sei que ele não vai ficar tranquilo enquanto eu não sair do Clube, ele tem medo que eu coloque uma coleira na irmã dele assim como fiz com Greta. É mais fácil ela colocar em mim.
O grande problema é que querendo ou não, esse clube deixou exposto a maneira como trepamos e eu tenho certeza que isso mexe com o amor de irmão que Alec tem por Kim.
“Vai... para achar o seu pau, seu cretino” - respondo e olho para a água dentro do bule.
“Benjamin, cara, ela é o que tenho de mais precioso, não foda tudo no mau sentido” - ele pede e sinto que ele está estendendo uma bandeira branca e uma trégua em nome da irmã.
- Bom dia - escuto a voz dela e olho para seu rosto. Ela está com meu roupão, cabelos molhados e seu semblante ainda mostra sinais de sono. Ela é linda sempre e eu me sinto um imbecil diante dela... o tempo todo.
“Coincidência, ela é o que tenho de melhor” - respondo e coloco o celular sobre a bancada e vou em sua direção.
- Excelente dia! - beijo sua testa e inalo profundamente.
- Animado para essa hora da manhã - ela observa e eu puxo um banco para que ela se sente.
- Tenho meus motivos - falo e coloco o bule sobre a bancada. Coloco suco de laranja em meu copo e o bebo.
- Não sente falta da vodca? - ela sorri falando em tom de brincadeira.
- Não mais - falo sério e me sento ao lado dela - Seu voo sai em duas horas e eu lamento que o meu seja apenas daqui seis horas. Preciso ir até a Brandy, tenho dois documentos para assinar e meu pai está em reunião e depois vai para Detroit em meu lugar, vai ficar a semana toda por lá. Ainda bem, caso ele tivesse negado isso ontem ao telefone, quem estaria a caminho daquele lugar seria eu - sorrio e viro o banco dela de frente para mim. Ela coloca água quente sobre o pequeno sachê de chá e mexe devagar.
Ela tem mãos bonitas, pele lisa e unhas claras e tão bem feitas. Gosto do desenho de seu rosto e de seus olhos, grandes, azuis e tão sedutores. Sempre fui encantado por ela e agora poder vê-la assim, tão perto, tão perfeita e tão rabugenta logo pela manhã, é quase um sonho.
- Não tenho esse humor todo a essa hora da manhã - ela resmunga - Espero que isso não lhe assuste - ela bebe um pouco do chá.
- Isso é terrível! Se pelo menos você fosse bonita, atraente e tivesse olhos azuis seria mais fácil de suportar - brinco com ela e ela sorri.
- Estou falando que sou chata de manhã e você está aí, todo sorridente - ela bebe mais um pouco do chá e me encara.
- Não consigo imaginar alguma coisa ruim vindo de você, até seu mau humor é bem-vindo em minha vida - me aproximo e beijo o alto de sua face.
- Confesso que esse não era o Benjamin que imaginava - ela admite.
- E como você imaginava? - pergunto e bebo mais um pouco de suco.
- Menos agradável e sem humor, mais feio e sem esse sorriso lindo - ela leva a xícara até a boca e o contorno de seus lábios em tom coral em torno na cerâmica branca me deixa excitado. Volto à noite anterior, assim que nos deitamos no sofá da sala de vídeo e ela estava apenas de calcinha e circulava pela casa naturalmente depois que Bernice ter ido embora. Havíamos feito amor embaixo do chuveiro e eu estava ali, naquele momento em que o homem precisa para repor suas energias e partir para o próximo round.
Assim que o filme começou, ela estava com a cabeça entre meu corpo e meu braço e sua mão deslizava por mim, despretensiosamente, e minutos depois ela estava fazendo isso maliciosamente. Quando eu pensei que teria algum trabalho pela frente, ela ordenou que eu ficasse quieto e se colocou de joelhos entre as minhas pernas, tirou minha cueca e me deixou duro, tenso e eu sabia que seria presenteado com o melhor que uma mulher pode fazer.
Ela olhou em meus olhos, segurou meu pau e deslizou sua língua com vontade do começo ao fim. Kim não estava tímida em fazer aquilo, ela estava me encarando como se me desafiasse a sobreviver à sua língua vermelha, macia, que judiava de mim a cada toque.
Olhei para os seus lábios e observei-os abrindo e me devorando e em alguns momentos eu sei que meu gemido foi mais alto. Ela deixou que eu tocasse sua garganta, por vezes docemente como se estivéssemos fazendo amor e em outras eu estava literalmente fodendo sua boca.
Suas mãos estavam livres e ganharam meu corpo enquanto sua boca estava lá, fazendo miséria, me sugando, massageando até que desisti de encarar aquilo como um desafio e encarei como eu me sinto diante dela. Sou um puto de um cara sortudo e perdedor nato sem chance de vitória.
Segurei gentilmente cada lado de seu rosto e comecei a ajudar com o movimento e em minutos enchi sua boca, deliciosamente gozei e para minha surpresa ela engoliu e limpou seus lábios com a própria língua.
Ela colocou cada joelho de cada lado do meu quadril e olhou em meus olhos assim que se sentou sobre mim.
- Estava com tanta vontade de saber qual era o seu gosto e isso foi uma retribuição pelo nobre gesto de sábado à noite - ela falou e me beijou e eu senti ali, em seus lábios, o gosto... de mim. E isso nunca havia acontecido antes, mesmo depois de ter feito grandes absurdos.
- Um doce pelo seu pensamento - ela me desperta das lembranças.
- Estava pensando sobre coisas inéditas - sorrio.
- Eu vou chamar um taxi para ir até o aeroporto - ela fala séria e eu não entendo.
- Claro, chama sim e faça ele perder a viagem - falo e bebo o restante do suco que está em meu copo.
- Eu estou brincando, eu sei que você vai me levar, assim como me levou ontem para minha casa - ela sorri.
- Pelo visto seu humor melhorou - falo - Pegou tudo que precisa para levar? São quantos dias mesmo? - pergunto pela quinta vez.
- Eu vou aumentar um dia para cada vez que me perguntar isso, então serão sete dias e meu humor está melhorando. Por favor, não estrague isso - ela fala de maneira rabugenta de novo e eu a agarro e isso é muito bom.
- Poderia encurtar de três dias para um dia, o que me diz? - pergunto e ela nega com a cabeça.
- Eu deveria ficar um pouco mais e fazer turismo por lá. Da última vez que fui entrei na empresa que estávamos negociando e saímos tão rápido que não lembro nem de ter visto árvores por lá - ela fala e eu nego com a cabeça.
- Lamento, minha querida, você não vai ficar por aí longe dos meus olhos - ordeno.
- Fala como se agora eu tivesse um proprietário - ela bebe o restante do chá e se levanta do banco caminhando até o quarto e eu vou atrás dela para deixar alguns pontos bem definidos.
- Você não tem dono, mas eu tenho uma dona, e outra coisa, faremos turismo na Suécia ou no fim do mundo juntos - a aviso da porta do quarto e observo-a retirar o roupão e ficar nua diante dos meus olhos. Não penso duas vezes e me aproximo dela rapidamente.
- Não - ela coloca a mão me bloqueando - Senão vou perder o meu voo - olho para os seus olhos e ela está séria - Agora, me deixe colocar a minha roupa, quando eu voltar eu deixo o que é meu, já que me qualificou como sua proprietária, fazer o que tem vontade - ela pega sua lingerie e veste lentamente como se soubesse que isso é uma tortura para mim.
Ela veste uma calça clara e uma camisa em tom de azul mais escuro e quase transparente que revela o desenho perfeito de seus seios escondidos sob a renda do sutien.
Vou até o closet e coloco um jeans e uma camisa e calço um par de sapatos. Ajeito meu cabelo com os dedos e volto com uma porção de desaforos para ela.
- Escute, isso não se faz - paro diante dela enquanto coloca os saltos e ela me encara.
- Isso o quê, Benjamin? - ela pergunta com os braços cruzados.
- Isso - aponto para meu pau - E agora, como resolvo isso? - pergunto.
Ela se aproxima de mim, segura a minha mão e suspende as sobrancelhas indicando a resposta - Com isso - ela levanta a minha mão e vai até o banheiro e começa a escovar os dentes.
- Malvada - respondo.
- Obrigada - ela retruca com a boca cheia de espuma do creme dental.
Nunca mais fico longe dela. Perdi muito tempo e amanhã a essa hora vou estar me livrando de coisas que achei que seriam para sempre.
Em alguns momentos eternizamos promessas que no instante seguinte se tornam absolutamente irrelevantes. O Clube deixou de ser o paraíso para se tornar parte do meu passado.
- Vamos? - ela sai do banheiro e mesmo sem nenhuma maquiagem ela está exuberante e linda.
- Vamos e não pense que vou esquecer isso que você fez - a ameaço.
- Eu realmente espero que não esqueça - ela se aproxima e sela a minha boca.
Filha da puta.
***
Kim ficou de me enviar uma mensagem assim que chegasse na Suécia. Penso enquanto me sento na poltrona do avião. Deixei-a no aeroporto e precisei me resolver sozinho assim que cheguei em casa. A cretina não faz ideia de quantas punhetas já bati por causa dela e agora me obriga a continuar fazendo, mesmo estando ali, acessível a mim.
Por conta do voo, mesmo que ela envie a mensagem, não vou conseguir visualizar e agora estou indo para Madri, mais precisamente ao Palácio Hanzel, pela última vez.
Deito o assento e obviamente viajar de primeira classe tem suas mordomias, mas eu iria a nado até Madri para encerrar esse ciclo da minha vida e ficar com ela. Não me importo se terei que aguentar seu mau humor matinal e seu resmungo sobre a minha vontade constante em querer fazer amor com ela. Estou feliz com isso, sinto que estou caindo, mas sinto que isso é o que me deixa realmente completo, como se eu precisasse dessa queda para confirmar que estou vivo.
O avião começa a taxiar e em breve tudo será finalizado.
***
Entro pelo corredor principal do Palácio Hanzel, observo as novas esculturas, os aparadores que se dispõem abaixo de quadros que rementem a cenas eróticas e ao lustre colocado bem ao centro fazendo um jogo harmonioso com as arandelas. O cheiro desse lugar sempre será de algo cítrico e eu tenho medo de que esse aroma sempre me traga as lembranças desse lugar.
Não houve apenas sexo aqui, houve desentendimentos, mulheres feridas e uma briga quase generalizada entre os membros quando Evan esteve aqui fazendo o mesmo que eu. Naquela época, fomos cruéis e ele foi feliz em sair, foi homem de olhar na cara de cada um e dizer o que realmente queria. Evan teve a maturidade que muitos de nós ainda não possuíamos e eu me incluo nessa lista.
Caminho até a sala principal e vejo o cuco, me lembro de Sebastian hipnotizado por ele e até hoje eu não entendi direito o que aconteceu. Sigo até a sala de Marco e antes que eu pudesse entrar, olho para a escultura de pedra escura, foi Ramon que a trouxe meses antes de conhecer Christen e mesmo que isso seja péssimo e que cada um de nós não esteja mais aqui, esse lugar tem um pedaço de nós, infelizmente. Olho para o celular e vejo que Kim não enviou a mensagem. Envio uma para ela, bato na porta e escuto Marco pedindo para que eu entre.
- Bom dia - ele diz.
- Bom dia - respondo e é a primeira vez que entro aqui sem minha bagagem de mão com algumas trocas de roupa e preservativos. Minha bagagem ficou no hotel que me hospedei ontem à noite e não vou precisar de preservativos. Kim toma injeção.
- Benjamin, não vou negar, achei que daqui vinte anos você e eu estaríamos liderando as festas mais sexuais desse lugar - Marco está sempre de terno e muito bem humorado para quem perdeu toda a família como ele perdeu.
- Cheguei a pensar sobre isso, mas aconteceu algo mais importante - declaro e ele sorri.
- Sente-se - ele sugere - Fico feliz que sua decisão seja em nome de alguém e não precisa me dizer se é isso ou não, seus olhos dizem tudo - ele comenta e eu não consigo negar.
- Em primeiro lugar é por mim, mas eu confesso que existe alguém, sempre existiu - falo e ele sorri se sentando à minha frente.
- Imagino - ele pega um envelope e empurra na minha direção e eu tiro o cheque do bolso e empurro na direção dele e ele sequer toca nele.
Abro o envelope, leio atentamente cada palavra me certificando que estou livre para ficar preso a Kim e assino. Pensei que nunca faria isso.
- Benjamin, o Palácio Hanzel ganhou outros turnos, outros membros, e agora esse lugar se tornou o refúgio não apenas de homens jovens endinheirados, jogadores, estrelas do cinema e políticos, você sabe disso. Sabe que temos visitantes ilustres e membros que pagam muito dinheiro por um final de semana enquanto suas esposas estão em algum lugar da Europa gastando parte de seus milhões - Marco me fornece uma notícia velha. Eu sei bem quem anda pisando nesse lugar.
- Natural que as coisas evoluam - respondo e eu não sei onde ele quer chegar com essa conversa e também não sei se a palavra evolução se enquadra nessa frase.
- Estive pensando, mesmo não estando aqui, gostaria de se tornar um investidor? - ele me surpreende com a pergunta e eu me surpreendo com a resposta automática que meu cérebro gerou assim que ele perguntou.
- Agradeço a oferta, mas assumi a presidência da empresa de meu pai e acredito que esse será o negócio que terei como único para o resto de minha vida - me levanto e estendo a mão para ele e ele segura apertando firme e posso jurar que ele está lamentando a minha saída. Mas eu não - Simon está por aí? - pergunto.
- Sim, está preparando o bar para essa noite. Se você quiser ficar, é meu convidado - ele me tenta com seu convite, mas Kim está mais forte aqui dentro, mais forte do que qualquer putaria. Deve ter sido a praga de Sebastian durante o almoço na outra semana. Preciso ligar para ele e agradecer.
- Não, Marco, vou apenas me despedir do meu amigo e vou viver minha nova vida - respondo e saio da sala.
Caminho em direção ao bar e vejo os dois quadros que Evan arrematou em um leilão especialmente para a decoração do Palácio. Eles dão boas-vindas para quem entra aqui pela primeira vez e não tem autorização para passar pelas alas Rito, Alfa e Torneo, áreas restritas do Clube que inauguramos em grande estilo e com um número exagerado de mulheres. Naquela noite, Philip provocou o que poderia ser a última noite do Clube. Prefiro não lembrar.
Escuto o som vindo do bar, é Fumes, The Eden Project.
“Na luz da manhã brilha uma corda salva-vidas, fugir é algo que preciso”
The Eden Project - Fumes
Vejo Simon arrumando as garrafas e eu vou sentir falta desse cara.
- E aí, Simon! - o chamo e ele me olha espantado. Ele sabe que para um membro estar aqui fora de temporada é porque será um membro a menos.
- Benjamin, não brinca com coisa séria. Você é o cara que apagaria a luz desse lugar quando todos os outros tivessem desistido - ele fala e vem em minha direção e me abraça.
- Simon, muita coisa era falsa, não sou tudo isso, tem membros mais fiéis a esse lugar. Me diverti muito aqui, mas tem uma coisa especial me esperando lá fora e que me aceita como sou - falo e ele me leva até o bar.
- Então, vamos tomar nossa última dose juntos - ele fala e coloca dois copos e os enche com uísque. São nove horas da manhã e isso não me assusta, mas não faz mais parte do que eu quero. Bebo para acompanhar o amigo.
- Vou sentir falta de nossas conversas e de nossas piadas - falo e levo o copo até a boca.
- Esse lugar cresceu e tomou uma proporção gigantesca. Você é o único que sabe os bastidores das outras festas. Semana passada uma garota enfiou a cara em uma carreira de cocaína na ala Torneo e Marco precisou pagar muito dinheiro para que o caso fosse abafado - Simon me fala algo que pode ser perigoso para os outros membros, não dos outros turnos, mas meus amigos que começaram esse lugar quando o propósito era bem diferente.
- Não teme que isso saia do controle? - pergunto e bebo mais um gole.
- Por enquanto estamos apagando os pequenos focos de incêndio, mas eu sei que um dia esse lugar vai explodir. Antes, eram jovens trepando nos quartos com garotas lindas e pré-selecionadas, agora, esse lugar virou point de famosos que usam o status para trazer convidadas. Com isso Marco está cada vez mais rico, mas esse lugar está cada vez mais visado - ele passa informações que talvez interesse os demais, eles correm riscos.
- Esse lugar era secreto - afirmo.
- Agora é um lugar que é conhecido por oferecer festas de alta performance, como se fosse um milionário esbanjando dinheiro. Aqui dentro a polícia não pode fazer nada e qualquer queixa precisaria de um mandado e isso nos deixa tempo de sumir com as provas - ele fala e se esquece que pessoas estão por aí sabendo sobre o Palácio. Isso deixou de ser uma brincadeira, se tornou um desafio.
- Simon, cuide-se, cara - falo e deixo mais da metade do copo sobre o balcão.
- Estou feliz por você. Algumas aventuras são boas, mas elas também precisam ter um fim - ele dá a volta em torno do balcão e me abraça - Foi um prazer trabalhar para você, um dos poucos que com certeza a falta será notada - me despeço do cara que foi mais do que um funcionário, me livrou de algumas e com certeza também sentirei falta dele.
Saio do Palácio me sentindo livre, aliviado e um pressentimento sobre as novidades que Simon me disse me ocorre e talvez seja de utilidade para os outros. Mas antes deles, eu preciso saber onde Kim está.
Envio uma mensagem e entro no taxi que pedi para me esperar. Vou para o hotel e do quarto acesso uma companhia que faça voos de Madri para Suécia, mais precisamente Estocolmo que é onde fica o apartamento de Kim.
Reservo o voo pela Lufthansa e ele sai em algumas horas. Tenho tempo para um banho e para respirar sem alguns pesos sobre meus ombros. Olho para o celular e nenhuma notícia de Kim. Ligo para ela e cai direto na caixa postal. Ela pode estar em reunião, são pouco mais de nove horas e por isso o celular está desligado.
Vou para o chuveiro e me livro dos últimos resíduos do Palácio, pelo menos fisicamente é possível fazer isso.
23
Benjamin
Pego um taxi no aeroporto de Estocolmo e sigo para Karlavägen 83, o ponto de referência é Karlaplan, uma praça gigante e fica bem no centro. Mas não foi preciso, o taxista que gentilmente testou seu inglês, que diga-se de passagem é muito bom, me deu dicas sobre a noite por aqui, já que minha querida Kim expressou sua vontade de fazer turismo nesse lugar.
O taxista para em frente a um prédio de alto padrão. Desço assim que pago pela corrida e ele tira minha bagagem do porta malas. Apartamentos com sacadas e de ótimo bom gosto, esse lugar não se parece com ela, é tudo muito cinza e ela é uma menina de cores que prefere o branco.
Entro e um homem me recebe e eu pergunto se ela já saiu para o trabalho e ele me deixa em dúvida, talvez eu esteja no lugar errado? Mas ele sabe quem é ela, e agora eu não sei exatamente o que pensar.
Ele me informa que ela nunca mais apareceu aqui desde a compra e que não a viu no período em que menciono que era para ela estar aqui. Tem alguma coisa errada. O homem se mostra preocupado já que as empresas montaram tudo e deixaram alguns papéis para ela. Peço licença e saio do prédio.
Ligo para Alexander e ele me atende na terceira chamada.
- Fala - ele atende e acredita que eu vou dar continuidade à nossa palhaçada via mensagens.
- Alexander, quando foi que você falou com a Kim pela última vez? - pergunto.
- No domingo quando você a trouxe aqui para ela fazer as malas que levou para Estocolmo - a resposta dele me assombra, tem alguma coisa de errado, Kim não faltaria em nenhum compromisso.
- Alexander, o endereço dela aqui em Estocolmo é Karlavägen 83, perto da Karlaplan? - pergunto e ele pede um minuto para conferir com o e-mail que recebeu dela há alguns meses falando sobre o endereço.
- É esse mesmo - ele responde - O que está acontecendo? - ele pergunta.
- Alexander, a Kim nunca mais apareceu aqui desde que comprou esse apartamento. Ela não chegou no apartamento, e eu a deixei no aeroporto ontem pela manhã, foi a última vez que falei com ela - respondo e escuto-o ligando para Giovani. Eles vão invadir as câmeras do aeroporto e de onde for preciso.
- Estou com Gio na outra linha, ele está no sistema de segurança do aeroporto, ela não falou se iria para outro lugar? - ele pergunta.
- Não, ela viria para o apartamento ontem mesmo e ela nem sabe que eu vim até aqui, seria uma surpresa e agora eu não sei onde procurá-la - falo e ele coloca o celular no viva-voz e escuto-o falando com Gio e comigo simultaneamente, todos se escutam.
- O sistema está travando, agora são seis horas da tarde aí em Estocolmo, aqui é meio dia. Vamos apenas alinhar os dois sistemas e entrar de maneira que ninguém perceba que estamos fazendo backup das imagens - Giovani fala e eu tenho medo desse poder que ele tem sobre a vida alheia - Caralho! - ele fala e confere os dados de Kim, como seguro social e passaporte e solta o ar - Ela não embarcou - Gio fala em tom preocupado - Alexander, abra o arquivo que estou lhe enviando - Giovani ordena.
- Gio, conferiu o embarque depois do horário ou se o voo foi cancelado? - Pergunto e escuto os trovões. O tempo está fechando e eu volto para dentro do prédio e peço que o homem chame um taxi, preciso ir para o aeroporto e pegar o primeiro voo para Nova York. Caralho, mais de doze horas de viagem, isso se eu tiver sorte e pegar um voo sem escala.
- Conferi, ela não embarcou. No sistema de embarque o nome dela não consta como presente. Estou olhando as imagens, o voo dela saiu no horário e agora estou buscando por ela nas imagens - ele fala e o homem avisa que já pediu um taxi. Agradeço e saio do prédio. Gio e Alexander trocam informações que apenas eles entendem, falam sobre o código da câmera, do setor e de como o sistema de vigilância do JFK é falho em alguns pontos.
Escuto e tento não pensar que algo possa ter acontecido com ela.
- Cara, eu gostaria de estar enganado, mas, Alexander, olhe a imagem da câmera que salvei como oito - Gio pede.
- O que aconteceu? - pergunto e o taxi para em frente ao prédio.
- Kim foi levada por um homem, mas não foi obrigada - ele fala e eu estou sentado no banco de trás e peço para o motorista ir para o aeroporto.
- Ela foi com o homem deliberadamente? - pergunto e seguro com raiva o assento da frente.
- Não, o homem colocou alguma coisa em sua xícara enquanto ela se abaixou para pegar alguma coisa do chão, acho que um livro. Ele a levou apoiada em seu ombro e conforme ele caminha parece que ele esboça alguma satisfação. Isso é comum, pessoas com medo extremo de voar passam mal e saem carregadas, provavelmente ninguém interviu porque ela estava na área dos restaurantes - Gio explica e eu estou confuso.
- Gio, tem como fazer a leitura facial do homem que a levou? - pergunto.
- Teria, mas ele sabe onde estão as câmeras e o filho de uma puta está de boné. Estou buscando outras imagens, mas não estou conseguindo nenhuma imagem melhor do rosto dele. Ela estava muito perto da saída, ninguém interviu - o taxi para em frente ao aeroporto minutos depois e eu não desligo.
- Vou pesquisar aquele ex-noivo dela - Giovani fala - Ele estava agressivo em relação a ela aquele dia na HighLine - Gio fala e esquece que Alexander não sabe dessa história.
- Como assim agressivo? Eu mato aquele filho da puta! - Alexander ameaça.
- Primeiro, vamos saber o que aconteceu com ela - Gio fala e faz uma ligação e fala de maneira sucinta com a outra pessoa, ele pede as câmeras de saída que estão ligadas à polícia e pelo visto Gio tem pessoas que sabem tanto quanto ele invadir a vida alheia.
- Rastrearam o celular dela? - pergunto.
- Ainda está fazendo a leitura, mas não conclui o endereço, ele se perde no meio da busca - Gio informa e eu caminho em direção à companhia que eu sei que faz voos diretos, é a mesma que me trouxe até aqui.
Próximo voo sai em quatro horas e isso significa praticamente dezessete horas até eu chegar em Nova York e boa parte desse tempo estarei incomunicável.
- Vou chegar em Nova York apenas amanhã à noite - aviso sobre meu voo.
- O celular dela está no estacionamento do aeroporto JFK - Gio fala e eu sei que ele foi descartado. Faço as contas e ela está há mais de vinte e quatro horas desaparecida.
- Liguem pra polícia, ela está desaparecida há mais de vinte e quatro horas - falo.
- Estou ligando - Alexander avisa e eu escuto-o falando com outra pessoa ao telefone.
Todos ficam em silêncio e escutamos Alexander avisar que está indo para a delegacia mais próxima para a pessoa que lhe atendeu.
- Vou abrir a ocorrência pessoalmente, tenho que desligar - a voz de Alexander é tensa e ele desliga encerrando a comunicação entre todos. Mas meu celular toca em seguida e eu atendo.
- Alô - digo.
- Benjamin, sou eu, Giovani, essa ligação é segura - ele fala e eu olho para tela e não mostra nada a não ser o número zero - Recebi a mensagem sobre a sua saída. Estou feliz por você, fique tranquilo, vamos encontrá-la - ele fala com tanta convicção e eu me sinto impotente por estar preso aqui.
- Quem poderia fazer isso contra ela? Aquele monte de merda do ex-noivo? - pergunto.
- Não sei, estou buscando a ficha dele e ele é limpo, apenas algumas ocorrências por conta de drogas e briga no trânsito - Gio fala e eu juro que seja lá quem for eu vou matar.
- Vou demorar muito para chegar aí e não há o que ser feito, não nasci com o dom do teletransporte - estou nervoso e me sento apoiando minha cabeça em minha mão.
- Fica calmo, estou seguindo o ex dela nesse momento. Ele está caminhando pela quarenta e quatro, sentido Times Square - Gio fala - Ele saiu de uma farmácia e pagou com cartão de crédito há poucos minutos. Não comprou nada para uma mulher, como absorvente ou remédio para dor, comprou analgésicos e um energético, ele vai fazer merda essa noite - Gio monitora e eu olho para a bateria do meu celular, está acabando e por mais que eu coloque para carregar em poucas horas ele estará obrigatoriamente desligado.
- Gio, minha bateria está acabando e em breve eu terei que desligar, caso a ligação caia você já sabe - aviso.
- Lembra do David? - eu tento me lembrar mas minha cabeça vai explodir.
- Quem é esse cara? - pergunto.
- Aquele cara que perseguia a Kim, mandava flores, bombons e estava em todos os lugares onde ela estava - ele faz a minha cabeça piorar.
- Não queria lembrar, mas agora que falou... - retruco.
- Ele acabou de sair da DR com absorventes internos, remédios para cólica e um pacote de bala de hortelã. Vou olhar se tem alguém na casa dele precisando de tudo isso - ele diz e eu profano mortalmente contra esse tal de David antes mesmo da conclusão.
- Esquece, o cara casou e provavelmente a mulher dele deve estar naqueles dias - Gio fala e por pouco desconfiei que Gio seria bem capaz de descobrir o ciclo menstrual de cada mulher da ilha de Manhattan.
Gio fala sobre cada um, fala que Scott entrou no Bubba Gump, e as imagens que ele solicitou para a outra pessoa que não faço ideia de quem seja não revela nada a não ser o carro alugado e isso torna tudo praticamente perdido.
Carros alugados em dinheiro podem ser feitos de maneira fácil e pelo visto quem alugou usou documentos falsos. Escuto as informações e a ligação cai, meu celular desliga e eu me lembro que meu carregador está dentro da minha bagagem, a que despachei na hora que comprei a passagem. Estou ilhado nos quintos dos infernos e, para completar, só falta o próprio capeta me chamar para dançar.
***
Chego em meu apartamento e a primeira coisa que faço é colocar meu celular para carregar em meu quarto e escuto Bernice caminhar em minha direção.
- Oi, Bernice, alguém me ligou? - pergunto.
- Não, senhor. Deseja comer alguma coisa? - ela pergunta e eu vou para a sala em direção ao meu bar e vejo uma caixa branca sobre o balcão. Bernice vem atrás de mim.
- O que é isso? - pergunto e coloco vodca pura em um copo.
- Deixaram na portaria para o senhor, foi no turno do Carlos - ela fala que entregaram à noite.
- Obrigado - a agradeço e abro a caixa. Vejo uma rosa, preta, pétalas escuras e isso é a coisa mais mórbida que já vi. Ela está sobre um envelope, eu o abro e retiro o bilhete que está dentro e leio. O telefone da minha casa toca e eu o atendo.
- Alô - atendo.
BENJAMIN
Nem tudo que é segredo é secreto.
Coisas nasceram para serem escondidas e depois descobertas.
Tudo agora é uma questão de tempo
- Benjamin, a Kim está no hospital! - escuto a voz de Gio e a palavra hospital na mesma frase em que está o nome dela me desperta da ameaça do bilhete e eu o coloco dentro da caixa.
- Qual hospital? - pergunto e assim que ele passa, eu fecho a caixa e coloco dentro do armário atrás do balcão do bar - Estou a caminho - pego a chave do meu carro e desço. Estou desorientado pelo bilhete mas aliviado por ela, espero que ela esteja bem. Chego à garagem e corro em direção ao meu carro. Por um segundo penso em como Gio sabia que eu estava em casa, e eu desisto de querer entender como ele consegue tantas informações em tão pouco tempo. Bernice me garantiu que ninguém havia me ligado.
Acelero em direção ao Mount Sinai, perto do Central Park e não muito longe daqui.
Chego ao hospital e vejo Alexander e Gio conversando, me aproximo.
- Como ela está? - pergunto.
- Ela está bem, mas o filho da puta que a levou bateu em seu rosto e ela está com um dos olhos meio inchado e roxo, além do corte no supercílio e os hematomas nas pernas - Alexander está tão furioso.
- Onde ela estava? Não tem nenhuma pista? - pergunto.
- Ela foi deixada nessa madrugada em frente a Fred&Zulman - Gio fala e nega com a cabeça. - Não tem nenhuma imagem nítida, apenas um carro parando, a deixando e saindo, a placa estava coberta e se trata de um carro comum. A polícia está investigando, mas sabemos o quanto isso demora.
- Quero vê-la - falo e olho procurando algum médico.
- Ela está sendo examinada. Quando o segurança ligou para meu celular, pensei que fosse os pichadores ou um assalto, mas quando ele falou que ela estava no chão, jogada como se fosse qualquer coisa, eu nem sei como cheguei à empresa do meu pai. Meus pais não sabem ainda, estão cuidando da mudança deles para Suécia e foram para lá ontem. Provavelmente o homem que atendeu você no prédio vai falar sobre a ausência de Kim e ainda bem que ela está bem e depois eu invento alguma coisa - Alexander fala.
- Quem faria isso? - pergunto e Ramon, Carl e Andrew entraram pelo corredor. Igual a um casamento, na alegria e na tristeza, são amigos que valem a pena. Há algumas semanas estávamos reunidos em Madri e agora estamos aqui.
- E aí, como ela está? Ontem quando Gio disparou a mensagem eu não acreditei - Ramon aperta a mão de cada um.
- Ela está bem, mas está machucada - Alexander responde.
- Pegar um filho da puta desse que tem coragem de bater em uma mulher e matar - Andrew fala e Cesar chega com Bryan e, em seguida chega Wallace. Esse aí não vai visitá-la sozinha nem que para isso eu tenha que dar um tiro nele.
- Que merda - Carl fala - Ela está bem e é isso que importa - conclui.
- Alguma pista de quem possa ter feito isso? - Wallace pergunta e seu rosto está fechado e sério.
- Não, nada, a polícia disse que está investigando, mas sabemos o sistema rápido nesses casos - Alexander responde.
- Vocês já a viram? Falaram com ela? - Wallace pergunta e eu acho que posso derrubar esse filho da puta com um soco.
- Apenas Alexander - Gio responde.
- Ela está conversando, está bem, mas tem que passar por alguns exames - Alexander fala e Carl, Andrew, Cesar e Bryan comentam sobre o caso, falam sobre ter um segurança, Kim é milionária, é alvo fácil de sequestradores e eu não sei o que faria se algo acontecesse a ela.
Um médico surge no corredor e se aproxima de nós.
- Boa tarde, ela já fez todos os exames, está bem apesar dos ferimentos. Está reclamando de dor de cabeça. Ela levou um golpe no alto da nuca, não causou nenhum trauma, apenas um galo e isso vai incomodá-la por alguns dias - o médico fala e o bando todo está em silêncio - Quem é Benjamin? - ele pergunta e todos sem exceção me encaram.
- Sou eu - falo e Alexander nega com a cabeça.
- Ela deseja ver você. O quarto dela é o trezentos e oito, apenas um por vez para visita - o médico diz e nos deixa
- Porra, bateram muito forte na cabeça dela - Alexander me sacaneia.
- Você vai deixá-lo vivo? - Carl brinca e Alexander me olha. Ninguém estava sabendo sobre mim e ela a não ser Alexander e Gio, mas isso com certeza chegaria ao conhecimento de todos
- Eu preciso que ele fique vivo e cuide dela, ela tem um gosto de merda para homens e escolheu esse puto - ele estende a mão para mim e me abraça - Eu vi que você saiu do Clube e eu acho que ela fez a escolha certa - ele fala baixo apenas em meu ouvido e eu não preciso falar nada, ele sabe que eu mataria por ela. Talvez eu tenha demorado muito para aceitar isso, mas acredito que esse é o tempo certo.
Ando pelo corredor escutando as piadinhas deles, mas isso não importa, ela é quem importa, é ela quem eu desejo ver.
Abro a porta do quarto e ela está olhando para janela e quando vira seu rosto em minha direção eu vejo seu rosto machucado. Se eu pego o merda que fez isso eu vou para o inferno, mas eu mato.
- Oi - ela diz - Eu devo ter irritado alguém com meu humor matinal - ela brinca.
- Oi - me aproximo dela e beijo seus lábios - Com certeza alguém que não entende o quanto esse mau humor faz parte de um conjunto que me deixa feliz. Eu fiquei desesperado. Fui pra Suécia, queria fazer uma surpresa e você não estava e tudo ficou escuro e confuso e fiquei com medo, você é a mulher que me deixa com medo, o tempo todo - admito.
- Alexander me contou, acho que ele te odeia menos agora - ela sorri e eu beijo sua testa e fecho meus olhos. Deus... ela é importante para mim.
- Eu vou enviar flores para ele por conta disso - brinco - Não quero que ande sozinha por aí - ordeno e aliso seu rosto com as costas de minha mão.
- Vai contratar um segurança para mim? - ela fala com ar zombeteiro.
- Não, eu mesmo faço a sua escolta - sorrio para ela e eu vejo que ela está quase dormindo, remédios demais. - O que foi isso, Kim? Assalto? Sequestro?
- Eu queria me lembrar de tudo, mas eu não consigo. Eu me lembro que fui à loja comprei um livro e um chaveiro para você, eu sei que uma coisa idiota, mas eu gosto de coisas idiotas - ela aponta o dedo para mim - Em seguida, eu vesti o meu casaco por conta do frio, coloquei o chaveiro em um dos bolsos e me sentei na cafeteria perto da saída. Meu voo sairia dali alguns minutos e eu não queria ficar presa na área de embarque - ela leva a mão até a cabeça e faz cara de dor - Pedi um chá e quando a atendente o trouxe, eu coloquei o livro de lado e acabou caindo, é isso que eu lembro.
- Não pense sobre isso, apenas descanse. Eu estou vendo seus olhos se fecharem, pode dormir, eu vou ficar aqui com você o tempo todo - beijo seu rosto e beijo sobre o machucado, minha mãe dizia que isso curava qualquer coisa.
- Eu não estou conseguindo ficar com os olhos abertos - ela fala já com eles fechados - Meu casaco está ali - ela aponta para a cadeira e eu vejo a roupa que ela vestiu na minha frente, mas agora está toda suja e não estou vendo suas botas e nem a sua bolsa - Espero que o chaveiro esteja ali, pegue, por favor - ela fala devagar, o sono é mais forte.
Vou até o casaco e mexo nos bolsos. Encontro um papel, mas não vejo o chaveiro. Pego o papel e olho para ela, ela dormiu. Aproximo-me dela e a cubro. Desamasso o papel e leio o que está atrás.
ESTOU DE OLHO EM VOCÊ,
ESTOU DE OLHO EM SEU SEGREDO
Do outro lado uma foto, minha e dela. Estamos nos beijando e isso foi quando expulsei Greta do meu apartamento. Alguém estava nos vigiando e agora qualquer um pode estar de olho em cada passo.
Apago a luz do quarto e caminho apressado em direção a Alexander, agora só vejo Ramon e Gio com ele.
- E aí, como ela está? - Alexander pergunta.
- Ela dormiu, está bem - olho para eles e eles percebem que estou assustado. Mostro a foto - Vejam isso, agora leiam - falo e eles fazem exatamente a mesma cara que eu fiz.
- Que merda é essa? - Alexander pergunta.
- Eu também gostaria de saber e isso não é um bilhete isolado. Ontem à noite, entregaram em meu apartamento uma caixa, dentro tinha uma rosa negra e um bilhete falando sobre alguma coisa que é segredo e pode não ser secreto e que coisas nasceram para serem escondidas e depois descobertas. Não me lembro direito, eu li enquanto Gio falava comigo sobre Kim estar aqui - falo e Ramon está negando com a cabeça.
- Eu recebi algo assim na época que Christen estava sendo ameaçada pelo ex-noivo e deduzi que fosse dele - Ramon fala e Gio olha para Alexander e depois para Ramon e para mim.
- Isso não tem a ver com elas, apenas vocês dois receberam, precisamos ter cuidado se outros receberem. Talvez algo sobre Madri esteja sendo vasculhado por algum rato - Gio fala.
- Todo cuidado é pouco. Simon me passou algumas informações e acredito que aquele lugar já não esteja tão seguro - falo e eles olham para os lados - Há coisas acontecendo no Palácio que podem colocar em risco quem ainda faz parte daquele lugar - declaro e Gio pega seu celular.
- Eu preciso ir embora, Christen está me esperando. Qualquer novidade me avisem. Entramos juntos nisso, vamos juntos até o fim - Ramon fala e nos cumprimenta, caminhando em direção à saída falando ao celular.
Escuto o barulho do celular de Alexander, ele o pega e olha para a tela.
- Evan está na Escócia e só recebeu a mensagem agora sobre Kim, ele está perguntando sobre ela - vejo-o digitar assim que fala sobre a mensagem e eu percebo que o clima ficou tenso e naturalmente sempre existiu uma preocupação sobre o nosso segredo, mas agora outras pessoas estão sendo envolvidas e isso passa a envolver a polícia e todo esquema que dura há mais de dez anos pode estar desmoronando.
- Eu vou ficar aqui com ela até receber alta, me mantenham informado sobre qualquer coisa - falo e aperto a mão de cada um.
- Avise a ela que eu estive aqui, mas pelo visto nem faz sentido eu ficar - ele diz e vai embora junto com Gio que estava digitando sem parar em dos seus celulares.
Volto para o quarto de Kim e a observo durante um tempo.
Nenhuma merda que fiz no meu passado pode atingi-la. Eu não me perdoaria por isso. Sinto meu rosto molhado e eu não me lembro quando foi a última vez que chorei, não me lembro se houve uma primeira vez.
24
Benjamin
Acordo antes dela. Seu rosto está menos machucado, as coisas estão mais calmas e ao que tudo indica, Gio está a postos caso uma nova ameaça seja enviada. Coloco minha calça de malha e uma camiseta. Tiro essas peças da minha bagagem, estou na casa dela. Prometi que ficaria até que ela ficasse bem e com isso estou aqui há pouco mais de uma semana.
Meu pai está trabalhando em meu lugar e ele se prontificou a fazer isso depois do que contei. Ele disse que sabia que não perderia a fortuna dele quando apostou que havia alguém aqui dentro. Sempre houve, mas antes eu não sabia o que fazer com isso, agora eu sei.
Desço e vou até a cozinha preparar um café da manhã sem café e meu suco de laranja não precisa mais de vodca.
Os pais de Kim estão na Suécia e Alexander os tranquilizou com uma mentira qualquer e pelo visto eles acreditaram.
Pego alguns pães enquanto a água do chá está no fogo. Coloco suco em um copo, algumas torradas e um pote com mel. Esse pote me sugere algo de teor sexual e sujo e possivelmente o farei em breve.
- Cara, você ainda está aqui? - Alexander chega na cozinha zombando e se aproxima de mim e aperta a minha mão e coloca seu celular sobre o balcão.
- Em breve não vai me ver mais - falo sério e ele inclina a cabeça e sinto a ameaça em seu olhar.
- Por quê? - ele pergunta.
- Porque eu vou embora. Veja se essas são condições de alguém viver, olhe para essa casa, olhe para sua cara, não é fácil passar o que estou passando - gargalho assim que zombo da mansão dos Humbolt e da cara de Alexander. Ele está de samba canção e se eu pudesse escolher, com certeza não escolheria ver isso.
- Vai se foder, Benjamin, achei que estava falando sério - ele resmunga e bebe o suco que eu coloquei para o meu café da manhã com a Kim.
- Mas eu vou embora - agora eu falo sério e ele me encara.
- O que aconteceu? - ele pergunta.
- Eu explico - me aproximo dele e mostro o que comprei ontem quando saí para buscar flores para Kim.
- Você tem certeza? - ele pergunta.
- Nunca tive tanta certeza de alguma coisa nessa vida - respondo.
- Vocês estão juntos há duas semanas - ele observa.
- Não, estamos juntos há mais de dez anos. Ela sempre foi a mulher que seria minha, nada disso é novo para mim ou para ela e eu quero fazer a coisa certa - falo e me lembro do meu pai contando como ele decidiu ficar com a minha mãe depois de ter lhe dado um único beijo.
- Eu tentei impedir, não vou mentir. Você sempre foi o puto que desejei matar, tive medo de você enfiar uma coleira na minha irmã e desfilar com ela pelo Clube e quando essa ideia me vinha à mente desejei arrebentar sua cara - ele confessa e eu me sento de frente a ele.
- Alexander, pensar isso só prova que você não conhece sua irmã. Ela é do tipo que manda e não que é mandada; eu não me apaixonaria por uma mulher volúvel, sem personalidade e que se sujeita a algumas coisas mesmo sendo contra seus princípios. Kim é mais forte e determinada do que nós dois juntos e em nenhum momento nos julgou por conta de nossa casa na árvore - levanto as sobrancelhas e ele concorda.
- Benjamin, eu sei que você vai ser um homem bom para ela, caso contrário eu te mato - ele diz sorrindo e bebendo do meu copo.
- Eu queria te dizer uma coisa - falo e tiro o copo de suas mãos e bebo todo o suco.
- Fala, sua puta - ele sorri.
- Seu nariz ficou melhor depois do soco - gargalho.
- Vai tomar no seu cu, Benjamin! Bate que nem mulherzinha - ele fala e se aproxima de mim - Desejo que vocês sejam muito felizes - ele me abraça e o celular dele toca, e esse som é diferente.
Ele se aproxima do celular que está sobre a bancada e fecha os olhos e nega com a cabeça.
- Algum problema? - pergunto e coloco mais suco no copo.
- Cara, que inferno! Aquele hacker filho de uma puta voltou e detonou duas redes - ele me responde e olha para o celular. Vejo-o fazendo uma ligação.
- Gio, zona verde e vermelha foram atingidas. O mesmo cara. Preciso pegar esse bastardo, ele vai acabar fodendo com a Oracle - Alexander dispara - Estou indo para lá - ele avisa e desliga. - Preciso ir, tenho que descobrir quem é esse porra que está fodendo com os meus negócios - Alexander sai nervoso e eu subo em direção ao quarto.
Escuto Kim gargalhando e a risada dela é contagiante. Virei um ridículo, que caralho.
Abro a porta e ela sorri para mim. Sou um ridículo de sorte.
- Não, eu avisei que isso não daria certo - ela diz e gargalha - Vivian, acho que não é assim que isso funciona - e ela continua gargalhando - Vi, meu café da manhã chegou e trouxe suco com torradas para mim - Ela pisca um dos olhos para mim e esse jeito malicioso dela me deixa louco - Acredite, eu vou comer tudo, estou com muita fome - ela me olha de cima a baixo e se despede, desligando o aparelho.
- Não sei se gosto de ser visto como uma refeição - aproximo a bandeja dela e volto para fechar a porta.
- Vai ter que superar isso, acha que consegue? - ela pergunta colocando mel sobre o pão e mordendo em seguida.
- Não sei - me ajoelho ao seu lado e beijo sua testa - Mas eu posso tentar- olho nos olhos dela e mesmo com cara de sono ela continua linda.
Eu não sei quantas vezes eu já a vi acordando, já viajamos muitas vezes juntos, mas isso foi antes dela chegar na minha vida na voadora, derrubando tudo e me colocando assim, de joelhos diante dela.
- Olhe pelo lado bom, você é minha refeição principal e se for um bom menino pode ser promovido à sobremesa - ela morde outro pedaço e eu nem me importo dela zombar de mim como zombaria de um pão velho.
- Vou analisar com cuidado essa oferta e prometo que vou pensar com carinho, mas eu tenho uma condição - falo sério e ela até para de mastigar a torrada.
- Qual? - ela pergunta de boca cheia.
- Preciso analisar isso na minha casa, não aqui, porque aqui eu fico confuso e admito que na minha adolescência meu sonho era ir pra cama com uma menina que era mais velha, mas tinha que ser no quarto dela. Como eu nunca consegui por ser naturalmente excluído de qualquer escolha feminina, isso me traumatizou e até hoje eu tenho problema com as mulheres - pisco um dos olhos para ela como ela sempre fez comigo.
- Ainda bem que não tem uma faca aqui, senão você não pensaria em lugar nenhum - ela mostra um pouco de ciúme, mas é o nível aceitável e não histérico.
- Mas é verdade, eu quero ir embora, quero voltar para minha casa e para minhas coisas - ela está me olhando triste.
- Então volte, mas acorde cedo e venha preparar o meu café todas as manhãs? - mesmo não querendo que eu vá, ela faz uma piada e se mostra encantadora até tentando me fazer de escravo.
- Tenho uma ideia melhor - falo.
- Qual seria? - ela arregala seus olhos lindos e perturbadores para mim assim que pergunta.
- Eu poderia - seguro sua mão direita e beijo sua palma - Preparar o seu café - viro sua mão e beijo suas costas perto dos nós de seus dedos e fecho meus olhos - Todos os dias - pego a aliança que esteve em minha mão o tempo todo e coloco em seu dedo - Para o resto de nossas vidas - sorrio para ela e vejo seus olhos cheios e isso mexe comigo. Eu precisei revirar esse mundo para descobrir que meu mundo é ela.
- Mesmo com meu mau humor matinal? - ela pergunta suspendendo os ombros e deixando a torrada sobre o prato junto com as outras.
- Preciso do seu mau humor, porque você é minha menina que fica bem com todas as cores, mas prefere o branco. Preciso do que você guardou para mim todos esses anos e de suas coisas misturadas às minhas, porque isso fez minha vida ficar melhor e mais feliz - aproximo meu rosto do rosto dela e encosto nossas testas.
- Pensar no café da manhã preparado por você, transforma essa oferta em algo irrecusável - ela beija a minha boca e sorri - Eu te amo, Benjamin, sempre amei.
Epílogo
Kim
O sol deixa sua cor alaranjada no céu que escurece, escuto o som vindo do meu celular, Magic, do Coldplay. Caminho até o espelho e encaro a minha imagem. Faço mais uma onda em meu cabelo e finalizo com um batom.
O mundo de Benjamin pode ser comparado a um grande parque de diversões, exatamente isso. Cheio de oportunidades, de adrenalina, de luzes, mas em determinado momento tudo se apaga e as pessoas vão embora e deixam o parque sozinho. Pelo menos era assim que eu comparava a sua vida e admito ter feito testes com ele antes de acontecer nosso beijo. Há muito tempo eu já o fiz pegar algumas bebidas, me dar algumas caronas e até paramos em uma farmácia para eu comprar absorventes. Benjamin sempre foi atencioso em especial comigo e é bom saber que isso não mudou.
“Ainda chamo de mágica, quando estou perto de você”
Magic – Coldplay
Faltam alguns meses para o casamento e percebo que a tensão que deveria habitar apenas a mente de uma noiva se expande até meu noivo que achou melhor participar de tudo, porque, segundo ele, precisamos ter segurança e privacidade.
Apenas concordei, mas no final, sou eu quem vai definir e decidir tudo e ele vai aceitar, não porque eu mande nele, mas eu consigo convencê-lo do meu ponto de vista.
- Kim? - ele chega do trabalho e pergunta por mim. Não respondo, gosto quando ele me procura, gosto de sentir que posso ser sua caça.
- Kim? - Benjamin poderia procurar melhor, é só ele caminhar até a suíte do agora nosso quarto e olhar direito para o banheiro.
Escuto seus passos, seu sapato pisa firme no chão e eu acredito que ele vai entender, afinal, ele decidiu participar de tudo sobre o casamento. Ele se aproxima cada vez mais e eu o encaro, assim que ele pisa no banheiro.
Seus olhos vão dos meus pés até a grinalda que está em meu cabelo e vejo sua boca abrir.
- Oi - falo e sorrio para ele. Estou usando saltos altíssimos e brancos, minha cor em um milhão sempre, grinalda e um batom estupidamente vermelho - Como decidiu participar de tudo - giro em meu eixo, quase nua diante dos seus olhos - Preciso da sua opinião sobre os itens que estou usando. O espelho do banheiro é mais realista, por isso estou aqui - giro de novo e o encaro - Então, o que me diz?
- Ficaria muito ofendida se eu disser que preciso foder você agora, desse jeito? - ele pergunta descendo o zíper de sua calça e eu vejo-o colocando seu pau para fora. Isso é animador.
- Muito - me sento na bancada do espelho e apoio uma de minhas pernas na cadeira e a outra deixo solta, balançando revelando ora sim ora não um pouco mais do que ele deseja foder, essa palavra me excita. Levo dois dedos até a boca, os molho e desço até o ponto mais sensível do meu sexo e massageio - Muito ofendida. Teria coragem de foder uma noiva usando véu e grinalda? - pergunto e ele se aproxima rapidamente e, quando percebo, ele está enterrando até o fim, forte, e por que não dizer, violento.
- Noiva mais gostosa desse mundo - ele murmura em minha boca enquanto me fode forte.
- Sua noiva - falo gemendo e ele me leva para a cama. Olhá-lo vestido assim, de terno e gravata, e saber que não estou usando nada além de grinalda e saltos é devastadoramente excitante.
- Adorei isso - ele elogia.
- Posso dizer o mesmo - murmuro em seu ouvido - Mas, agora, eu vou gozar em você e amanhã quando colocar um outro terno e for para o trabalho, vai pensar em mim assim, gozando...- falo e ele me enche. Acompanho-o no orgasmo, conheço meu corpo e se nesses dez anos ele precisou de um clube para descobrir seus limites, alguns dos meus eu testei sem tanto trabalho.
- Você é minha sim, ainda bem que isso ficou claro pra você - ele diz e se levanta, tirando sua roupa e se colocando nu, diante de mim - Preciso de mais, mais de você - ele exalta suas palavras e me puxa para junto de seu corpo - Entenda, eu nunca vou ter o bastante e espero que você possa resolver isso - ele me beija e eu deixo minhas mãos passearem por suas costas.
- O problema aqui é se você vai conseguir cumprir sua parte nessa tarefa - zombo e ele nega com a cabeça. Sinto suas mãos em meu traseiro e uma delas sobe até meu seio. Percebo-o excitado novamente, Benjamin é uma maquina que deveria ser estudada.
- Benjamin! - escuto a voz e quase morro assim que vejo a mãe de Benjamin, minha futura sogra na porta nos olhando. Ela se vira de costas e a vejo negando com a cabeça - Benjamin, tudo bem, é rápido não precisa se preocupar comigo - como assim ele não precisa se preocupar? Eu estou preocupada e Benjamin está me escondendo com seu corpo, mas estamos pelados - Oi, Kim, tudo bem? - ela conduz o diálogo como se não estivesse acontecendo absolutamente nada de constrangedor - Eu e seu pai vamos a Malibu com os pais de Ramon, voltamos em sete dias - ela diz.
- Mãe, poderia ter ligado para dizer isso - Benjamin diz e eu estou me segurando para não gargalhar.
- Queria ver se estava tudo bem com você... com vocês - ela responde.
- E o que a senhora acha? - ele pergunta.
- Pelo visto emagreceu e não está comendo direito - ela observa. Devo discordar, ele anda comendo muito bem, posso confirmar isso - Mas, não quero atrapalhar, estou indo embora. Continuem o que estavam fazendo. Quem sabe assim meu neto chega mais rápido - acho que ela quis dizer que não queria atrapalhar mais. Estou rindo e percebo que ela foi embora. Escuto a porta do apartamento se fechando e Benjamin nega com a cabeça.
- Acho que precisa trocar as fechaduras do seu apartamento - observo e gargalho. Ele me olha sorrindo e beija a minha boca.
- Ou PODEMOS trocar de apartamento - ele pisca um dos olhos e volta a me beijar.
- Podemos, sim nós podemos - Confirmo seu desejo de um futuro juntos. Seus olhos agora estão nos meus, olhando-me de um jeito como nunca antes. É mais do que tesão, desejo, luxúria. É profundo e posso até arriscar em dizer, sem fim. Suas mãos estão em meu rosto e ele se aproxima o suficiente para que nossas testas se encontrem. Escuto o timbre de sua voz sair baixinho e presto atenção em cada uma de suas palavras.
- Eu olho pra você e vejo tudo ficar perfeito e se um dia eu pensei estar no paraíso, você chegou em minha vida apenas para me provar que eu estava errado. Sempre foi você. Só você.
Barbara Biazioli
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