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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DOROTHY E TOTÓ / L. Frank Baum
DOROTHY E TOTÓ / L. Frank Baum

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Dorothy era uma menina do Kansas que descobriu a linda Terra de Oz por acidente e foi convidada a morar lá para sempre. Totó era o seu cachorrinho preto, com pelo encrespado e olhos negros reluzentes. Juntos, quando cansavam da grandiosidade da Cidade Esmeralda de Oz, os dois viajavam por todo o interior do país, espiando seus cantinhos esquisitos e se divertindo do seu próprio jeito simples. Havia um pequeno Mágico que morava em Oz, grande amigo de Dorothy, que não gostava de vê-la viajando sozinha daquele jeito, mas a menina sempre ria da preocupação do homenzinho e dizia que não tinha medo de nada acontecer com ela.
Um dia, em uma dessas viagens, Dorothy e Totó foram parar nos bosques das colinas no sudeste de Oz. É uma região que os viajantes costumam evitar, pois não faltam coisas mágicas por lá. Quando entrou em uma trilha da floresta, a menininha avistou uma placa pregada em uma árvore: “Cuidado com o Crinklink”.
Totó não sabia falar, como sabem muitos animais de Oz, pois era apenas um cachorro normal do Kansas, mas olhou tão sério para a placa que Dorothy quase acreditou que ele sabia ler, e a menina sabia muito bem que Totó entendia cada palavra que dizia para ele.

— Esqueça o Crinklink — disse ela. — Não acho que nada em Oz tentaria nos machucar, Totó. E se eu tiver algum problema, você precisa cuidar de mim.
— Au! Au! — respondeu Totó, e Dorothy soube que era uma promessa.

 


 


A trilha entre as árvores era estreita e sinuosa, mas eles não tinham como se perder, pois trepadeiras e cipós grossos fechavam o caminho nos dois lados. Após caminharem por bastante tempo, os dois viraram uma curva e, de repente, encontraram um lago de águas negras tão grande e tão profundo que foram forçados a parar.

— Ora, Totó — Dorothy disse olhando para o lago. — Acho que precisamos voltar, já que não há ponte nem barco para atravessarmos as águas negras.

— Mas tem um barqueiro — exclamou uma vozinha ao seu lado.

A menina tomou um susto e olhou para os seus pés, onde viu um homenzinho de seis ou sete centímetros de altura, sentado à margem da trilha com as pernas balançando sobre o lago.

— Ah! — Dorothy disse. — Não vi você aí.

Totó rosnou, furioso, e retesou suas orelhas, mas o homenzinho não parecia ter o mínimo medo do cachorro.

— Eu sou o barqueiro — repetiu. — Meu trabalho é levar as pessoas até o outro lado do lago.

Dorothy ficou muito surpresa, pois teria conseguido erguer o homenzinho com uma mão, enquanto o lago era enorme e muito largo. Observando o barqueiro mais de perto, ela viu que ele tinha olhos pequenos, nariz grande e queixo fino. Seu cabelo era azul e suas roupas rubras, e Dorothy notou que cada botão do seu casaco era a cabeça de algum animal. O botão de cima era a cabeça de um urso, o próximo era a cabeça de um lobo; depois vinha a cabeça de um gato, então uma fuinha; e o último botão de todos era a cabeça de um arganaz, um tipo de ratinho silvestre. Quando Dorothy olhou nos olhos dos animais, todos balançaram a cabeça.

— Não acredite em tudo que ouve, menininha! — disseram em uníssono.

— Silêncio! — repreendeu o barqueiro, e então deu um tapa em cada cabeça-botão, mas não com força o suficiente para machucá-las. — Você quer atravessar o lago? — perguntou, virando-se para Dorothy.

— Bem, eu queria — ela respondeu, hesitando. — Mas não vejo como você nos levaria até o outro lado sem um barco.

— Se não vê como, não deve ver mesmo — ele riu. — Tudo que precisa fazer é fechar os olhos, dizer a palavra e... lá vamos nós!

— Está bem — ela disse, fechando os olhos, pois queria atravessar o lago para poder continuar a jornada. — Estou pronta.

No mesmo instante, a menina foi agarrada por dois braços poderosos, tão grandes e fortes que se assustou e soltou um berro.

— Silêncio! — rugiu um vozeirão.

Quando a menina abriu seus olhos, viu que o homenzinho havia se transformado em um gigante e levava ela e Totó em um abraço apertado. Com um passo, ele passou por cima do lago e chegou à outra margem.

Dorothy ficou amedrontada, especialmente porque o gigante não parou. Ele continuou a caminhar a passos largos sobre os bosques e as colinas, esmagando árvores e arbustos sob seus pezões. A menina se debateu inutilmente, tentando se libertar, enquanto Totó gania e tremia ao seu lado, pois o cachorrinho também estava assustado.

— Pare! Me deixa descer! — gritou a menina, mas o gigante não deu atenção a ela. — Quem é você e aonde está me levando?

Mas o gigante não disse nenhuma palavra. Mais próximo aos ouvidos de Dorothy, no entanto, uma voz respondeu.

— Ele é Crinklink, o terrível, e agora você está nas mãos dele.

Dorothy conseguiu virar a cabeça e viu que o segundo botão do casaco (a cabeça de lobo) falara com ela.

— O que o Crinklink vai fazer comigo? — ela perguntou, ansiosa.

— Ninguém sabe. É preciso esperar para ver — respondeu o lobo.

— Alguns prisioneiros ele chicoteia — guinchou a cabeça da fuinha.

— Alguns, transforma em insetos e em outras coisas — rosnou a cabeça do urso.

— Alguns, enfeitiça para que virem maçanetas — suspirou a cabeça de gato.

— Alguns ele escraviza. Foi o que aconteceu conosco, e é o destino mais terrível de todos — acrescentou o arganaz. — Enquanto o Crinklink existir, continuaremos botões. Mas o casaco dele não tem mais botoeiras, então provavelmente vai transformar você em escrava.

Dorothy começou a desejar que nunca tivesse encontrado o Crinklink. Enquanto isso, o gigante deu passos tão grandes que logo chegou ao centro das colinas, onde um castelo de madeira estava empoleirado no pico mais alto de todos. O Crinklink parou em frente ao castelo e colocou Dorothy e Totó no chão, pois estava grande demais para passar pela própria porta. Assim, ele diminuiu até ficar do tamanho de um homem normal.

— Entre, menina! — ele mandou, autoritário.

Dorothy obedeceu e entrou no castelo, seguida por Totó aos seus pés. O castelo não passava de um grande salão aberto, onde havia uma mesa e uma cadeira de tamanho normal próximo ao centro e uma caminha minúscula junto a uma parede, na qual mal caberia uma boneca. E, por todos os lados, pratos, pratos e mais pratos! Estavam todos sujos, empilhados no chão, nos cantos e em todas as prateleiras. O Crinklink claramente não lavava um prato havia muitos anos e apenas os deixava de lado após usá-los.

O sequestrador de Dorothy sentou-se na cadeira e franziu a testa.

— Você é jovem e forte, vai dar uma boa lavadora de pratos.

— Quer dizer que é para eu lavar todos esses pratos? — ela perguntou, indignada e apavorada ao mesmo tempo, pois a tarefa demoraria semanas até ser terminada.

— É bem isso que quis dizer — ele retrucou. — Preciso de pratos limpos. Todos os que tenho estão sujos, então você vai lavar eles direitinho ou vai levar uma sova. Pode começar, e cuidado para não quebrar nada. Se algum prato se estragar, o castigo é uma chibatada para cada pedacinho quebrado do prato.

E aqui o Crinklink mostrou um chicote terrível, que fez a menininha se estremecer.

Dorothy sabia lavar louça, mas também lembrava como era desastrada e vivia quebrando pratos. Neste caso, no entanto, muito dependia de ser cuidadosa, então prestou muita atenção em cada prato que lavou.

Enquanto a menina trabalhava, Totó ficou sentado junto à lareira, rosnando baixinho para o Crinklink. Este, por sua vez, ficava sentado na sua poltrona, rosnando para Dorothy, pois a menina era muito lenta. Ele esperava que a menina quebraria um prato a qualquer instante, mas as horas foram passando e isso não aconteceu, então o Crinklink começou a ficar com sono. Era muito chato assistir a menina lavar a louça e ele vivia olhando para a caminha, cheio de vontade. O Crinklink começou a bocejar o tempo todo.

— Vou tirar um cochilo — ele anunciou. — Mas os botões do meu casaco vão ficar de olhos abertos. E sempre que você quebrar um prato, o barulho vai me acordar. Como estou com sono, espero que você não quebre nada para me acordar.

Com isso, o Crinklink se encolheu até ficar com só sete centímetros de altura, do tamanho certo para a sua cama minúscula, e caiu no sono assim que se deitou.

Dorothy se aproximou dos botões e cochichou:

— Vocês avisariam mesmo o Crinklink se eu tentasse fugir?

— Você não tem como fugir — rosnou o urso. — O Crinklink viraria gigante e a alcançaria rapidinho.

— Mas você poderia matá-lo enquanto ele dorme — sugeriu o gato, baixinho.

— Ai! — Dorothy exclamou, dando um passo para trás. — Eu nunca mataria ninguém, nem se fosse para salvar a minha vida.

Mas Totó escutara a conversa e não tinha os mesmos escrúpulos quanto a matar monstros. O cachorrinho também sabia que precisava tentar salvar a sua dona. Em um instante, ele saltou sobre a caminha e estava prestes a agarrar o Crinklink com as suas mandíbulas quando Dorothy ouviu um estrondo e uma pilha de pratos caiu da mesa e se espatifou no chão. A menina viu Totó e o homenzinho rolando pelo chão como uma bolinha de pelos, mas quando a bola parou de rolar... Totó estava balançando o rabo alegremente, e ao seu lado estava sentado o pequeno Mágico de Oz, rindo da expressão de surpresa na cara de Dorothy.

— Sim, minha cara, sou eu — disse ele. — Estava pregando uma peça em você, para o seu próprio bem. Queria provar que é mesmo perigoso para uma menininha ficar andando sozinha na terra das fadas, então assumi a forma do Crinklink para lhe dar uma lição. É claro que o Crinklink não existe de verdade, mas, se existisse, você teria levado uma sova por quebrar todos esses pratos.

O Mágico se ergueu, tirou o casaco com as cabeças-botões e abriu-o no chão com as costas para cima. Logo se arrastaram para fora do casaco um urso, um lobo, um gato, uma fuinha e um arganaz, que saíram correndo do salão e fugiram para as montanhas.

— Vamos, Totó, vamos voltar para a Cidade Esmeralda. Você me deu um baita susto, Mágico — ela disse, recuperando a sua dignidade. — Quem sabe um dia eu lhe perdoo, mas agora estou é braba de pensar como foi fácil para você me enganar.

 

 

                                                   Lyman Frank Baum         

 

 

 

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