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Na imensa solidão branca, coberta de neve, habitam os esquimós que se converteram num grupo individualizado por dois motivos: primeiro, por causa da sua origem europeia, de frente a Ásia e com pouca influência polinésia se comparado com o povo da América, e por último, pelo seu total isolamento geográfico.
Na restrita área geográfica em que o povo esquimó se desenvolveu, surgem as lendas mitológicas deste povo, que guardam certa similitude com as narrações dos mitos das tribos lapônias, já que ambas têm a mesma origem e seus protagonistas, heróis mortais, deuses e semi-deuses, moram e se movem num mesmo entorno duro e difícil para os humanos. Assim pois, as lendas dos esquimós refletem o seu próprio mundo primitivo, sua ancestral civilização caracterizada pelo nomadismo, já que o inclemente e hostil meio físico obriga seus habitantes a sobreviver somente da captura de presas vivas, da pesca e caça. Daí que seus mitos, ritos e lendas estejam cheios de seres fabulosos e divindades, uns que vivem entre as águas semigeladas e uns que habitam ao céu e intervêm nos fenómenos celestes.
Em consequência, as forças celestiais que deverão ser cuidadas ou as que deverão ser protegidas estão personificadas no antagónico casal de irmãos, que são a deusa do Sol e do poderoso deus da Lua. O relato do mito narra que os dois irmãos sentiram desde o princípio dos tempos a necessidade de amar-se, e assim o fizeram mais de uma vez na obscuridade da longa noite polar, mas o medo de que seu amor culposo fosse descoberto os inquietava constantemente, e os obrigava a fugirem e procurar-se ao mesmo tempo...
E assimt continuamente, o Sol e a Lua vagam, se movimentam, pelo Céu numa corrida ao redor do firmamento que só para quando, raramente, podem unir-se num eclipse.
A lenda mitológica narra que não é possível o encontro entre os dois irmãos, já que a deusa do Sol está numa altura superior, numa esfera do Céu tão afastada que o imponente deus da Lua não poderá alcança-la jamais, mesmo que corra atrás dela o tempo todo sem parar.
Os Inuit narram nas lendas das encarnações da deusa eterna do mar, que uma jovem virgem chamada Sedna protege todas as criaturas que habitam as águas dos oceanos. Sedna escutou, desde a margem, a doce voz de um atraente e desconhecido jovem que a chamava desde sua embarcação.
Sedna cativou-se imediatamente por ele e, com a paixão à flor da pele, lançou-se ao mar atraída pelo seu encanto; mas não existia tal jovem, e sim, em seu lugar, apareceu uma falsa visão, um espírito perturbador que queria apoderar-se, sob essa suposta forma humana, do amor e da vontade da ingénua e confiante jovem.
Ao conhecer o engano, Sedna tratou de fugir e escapar daquele espírito que lhe parecia daninho e malvado, já que tinha mudado sua ideia e desejo de permanecer toda sua vida sem desposar-se de nenhum varão.
O próprio pai de Sedna, ao ver que a jovem não voltava, tratou de libertã-la daquela atração maligna e foi â sua procura através do mar, logo a encontrou e conseguiu resgata-la; mas o raptor enfrentou o pai da jovem e tentou também influenciar sua vontade, para tanto enfureceu as águas a fim de que a tempestade impedisse o avançar do pai e da filha.
O pai se encontrava tão perdido que preferiu afogar-se junto com sua amada filha, Sedna, sob as águas, pois pensava que só a morte poderia libertar a desdita jovem daquela funesta sedução. Mas a jovem Sedna não desejava morrer e tentava desesperadamente agarrar-se na barca, enquanto o pai a golpeava para que se soltasse.
A infortunada jovem foi objeto de uma grande crueldade por parte de seu progenitor, jã que o relato do mito narra que seu pai lhe cortou os dedos, de maneira que a jovem Sedna afundou na água e se afogou.
O engano daquele espírito malvado cessou e o corpo de Sedna desapareceu nas profundezas do mar e não foi encontrado jamais. Mas, passado um tempo, a abundância dos peixes surpreendeu os homens e mulheres que habitam a extensa terra das solidões brancas...
E, segundo o relato das lendas dos pescadores esquimós, desses dedos sacrificados para preservar a virgindade de Sedna nasceram as espécies marinhas, entre elas as primeiras focas, que lhes subministravam a carne e a banha como alimento, a pele para vestimenta e os tendões para armar suas construções. Também se escuta dizer que no fundo dessas águas geladas vivem para sempre pai e filha, velando pelo mar e por todos os animais que nele se multiplicam para dar vida a seu povo.
Ao sul dos territórios esquimós, mas ao extremo norte da América, entre as tribos da nação Atapascan, em vez da teogonia grandiosa, bem definida, se contavam lendas fragmentadas, como a que fala de uma raça de seres sobrenaturais nascidos entre os mortais, e que ainda vivem entre eles, mas que só se expressam através dos bruxos.
Esses seres sobrenaturais provêm de um lugar mágico, de um mundo que está mais além das montanhas e que sempre está oculto pela densa névoa; fazem parte dos dez irmãos, purificados pelo fogo, que chegaram até a Terra das Almas em companhia de uma mulher, sua irmã sobrenatural, que se queimou acidentalmente na fogueira sagrada para perpetuar a espécie dos seres semidivinos que favoreciam os que mereciam seu auxilio.
As lendas contam que o grande deus Azul Céu havia nascido de uma pequena concha jogada pelo mar na praia, onde foi recolhido e criado por uma boa mulher e que como prémio por sua bondade e carinho, a mãe adotiva se converteu, quando teve lugar a transfiguração de seu filho, em deusa dos ventos favoráveis. Naqueles lugares, os ventos frios do Norte eram, por sua vez, espíritos malignos e, em contraposição, o deus Azul Céu, sempre claro e limpo, trazia com ele os dias bons, ao mesmo tempo que sua boa mãe adotiva lhe acompanhava, razão pela qual ambos eram os amigáveis espíritos que ajudavam os humanos na sua vida diária.
O povo chinook contava as lendas da irónica Gralha azul, uma ave totêmica, e sua irmã Ioi. À Gralha azul sempre interpretava de forma maliciosa tudo o que sua irmã Ioi lhe aconselhava fazer e gostava muito de contar mentiras. Deste par de Gralhas, de suas aventuras no país das sombras, de seus erros, atrevimentos e tropeços com outros animais totêmicos, surgiram as fábulas e as lendas relacionadas com os seres sobrenaturais e também com os animais que povoam a terra, a água e o ar, como o castor, o urso negro, a pega, o pato e a foca.
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