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Series & Trilogias Literarias
Um herói disfarçado...
Quando um homem misterioso a salva de bandidos, Emily Carrington não pode negar que ficou intrigada. Talvez apaixonada seja a melhor palavra. Mas não tem tempo para tais fantasias. Ela tem que se casar rapidamente, antes que sua família exponha seus segredos e ela fique arruinada. O problema é que não importa o quanto tente prestar atenção no desfile de pretendentes, um par de olhos escuros brilhantes assombra as horas em que recebe as visitas tanto quanto seu sono. Quem é esse herói que Emily poderá nunca mais chegar a ver novamente?
Uma lady necessitada...
Lorde Lucas Cross, Duque de Northshire, apaixonou-se por Emily Carrington no momento em que a viu pela primeira vez. Ela é tudo o que sonhou e a única mulher que nunca poderá ter. A filha de seu desaparecido parceiro de negócios, e que ele jurou protegê-la das forças que tentam tirar seu sustento e sua vida. Para o bem dela, ele tem que ficar longe.
Mas o destino tem outros planos.
Prólogo
Janeiro de 1821
Londres
Emily Carrington estava sentada na sala, bem, uma das muitas, na casa do Duque de Devonhall. Seu cunhado em breve. Ela supôs que esta seria a casa de sua irmã também, mas quando olhou em volta para a opulência, achou difícil acreditar nisso.
Os últimos seis meses pareciam um pesadelo... e depois um conto de fadas. Mas isso veio depois...
O pai de Emily dirigia uma empresa de navegação de sucesso e viajava com frequência. Seu peito apertou e ela engoliu em seco. Pelo menos, ela esperava que ele ainda dirigisse a companhia de navegação. Ele partiu em uma viagem muito parecida com qualquer outra, bem mais de um ano atrás. Ou tinha sido quase dois? Foi difícil acompanhar toda a loucura.
O verdadeiro problema começou quando sua mãe faleceu. Como se tal acontecimento não fosse quebrar o espírito de quatro jovens, o pai nunca voltou para casa. Ele não escreveu para elas, não voltou, e elas nem tinham certeza de que ele estava vivo.
Ele costumava fazer rotas regulares que lhes permitiam, em circunstâncias normais, comunicar-se por carta. Mas elas não ouviram uma palavra em mais de seis meses. Não desde a morte de sua mãe.
Emily cobriu a boca com a mão, ignorando o balbucio de suas irmãs ao fundo.
Como se tudo isso não bastasse, seu tio, o único parente homem que elas tinham na Inglaterra, vinha sistematicamente tentando roubar o negócio de transporte de seu pai há anos.
O que significava que, não só elas eram órfãs, mas tinham que esconder o desaparecimento de seu pai do único homem que deveria ajudá-las.
Ela estremeceu de repulsa. O tio Malcolm deveria protegê-las e, em vez disso, as deixou em um estado completo de penúria. Estavam indefesas e destituídas. Sozinhas e com medo.
Ela envolveu-se com os braços. Suas irmãs, Isabella e Eliza, as mantinham alimentadas, vestidas, e aquecidas. E agora Isabella certamente se casaria com um duque. Elas estavam salvas.
O que Emily fez todo esse tempo para ajudar sua família? Nada. Apenas dois anos mais jovem do que Isabella e três mais jovem do que Eliza, poderia muito bem ser uma criança, em vez de uma mulher de vinte anos. Ela estava à mercê do mundo e confiou na sagacidade e astúcia de suas irmãs enquanto estava indefesa.
Ela sorriu e abraçou-as em apoio, enquanto permitia que suas duas irmãs mais velhas e mais fortes enfrentassem o perigo uma e outra vez, enquanto ela ficava em casa para cuidar de Abigail.
Isabella era excepcionalmente talentosa matematicamente, enquanto Eliza era uma das pessoas mais corajosas que conhecia. O que Emily era? Bonita, disseram. Gentil. Mas isso não era especial ou interessante.
Ela suspirou para si mesma enquanto Isabella corria para a sala onde estava sentada com Eliza e Abigail, sua irmã mais nova. Isabella estava pálida, um bilhete na mão.
Eliza se levantou.
— O que está errado?
O coração de Emily bateu forte em seu peito quando Isabella cobriu a boca com uma das mãos. Então, ela abaixou-a.
— Houve um incêndio. Em um dos navios de papai. Bash quer que o encontremos em nossa casa. — Então, ela pigarreou. — Quero dizer na casa do papai. Esta é a nossa casa agora. — E ela deu um olhar cético ao redor da sala.
O Duque de Devonhall contratou uma mulher para se passar por sua tia escocesa, a fim de lançá-las na sociedade e encontrar maridos para elas. A falsa tia Mildred sentou-se em uma cadeira ao lado do fogo, ignorando as meninas em grande. Mas com a menção do duque, sua cabeça se ergueu. Emily teve que dar crédito à mulher de alguma maneira. Ela era particularmente leal ao seu empregador.
— Então, vamos. — Tia Mildred acenou com a mão, gesticulando para a frente. — Não devemos deixar Sua Graça esperando.
— Eu acho que isso é um erro, — Emily sussurrou, seu olhar se estreitando. Ainda esta manhã o Duque de Devonhall disse-lhes que não saíssem de casa. Seu tio havia ameaçado vendê-las em leilão para o marido que fizesse o lance mais alto. Ela estremeceu por dentro e um punho frio apertou seu coração. Não era um destino que apreciasse.
Mas suas irmãs estavam em uma conversa agitada e não compreenderam nem deram ouvidos a seu comentário. Talvez não tivessem ouvido nada, mas um quarto de hora depois, elas estavam todas sentadas na carruagem, indo para sua casa em Cheapside.
Sua sensação de mal-estar não diminuiu. Na verdade, sua apreensão só cresceu. Por que não tentou com mais firmeza ser ouvida?
Não tendo certeza do que mais fazer, ela pegou a mão de Isabella, seus olhos encontrando os de sua irmã. Por que não se opôs mais ruidosamente? Insistindo em ficar em casa? Porque ela era dócil, aliviando os medos das pessoas em vez de agir por conta própria.
Isabella olhou de volta.
— Devíamos parar, — disse ela, apertando a mão de Emily. Então, ela bateu na parede e a carruagem diminuiu a velocidade. Isabella era mais parecida com Emily e seus pensamentos estavam alinhados agora. Emily suspirou de alívio, dando a Isabella um aceno de confirmação. Esta viagem foi um erro.
— Isabella? — Eliza perguntou, olhando para ela enquanto a carruagem diminuía. — O que foi?
— Isso não parece certo, — respondeu Isabella. — Algo está errado. Eu posso sentir...
— Quem é você e o que você quer? — Gritou o condutor quando a carruagem avançou novamente.
As meninas assustaram-se e Isabella caiu para trás em sua cadeira, mesmo quando Emily caiu em sua direção, apoiando-se nas pernas de Isabella.
— Pare a carruagem ou vamos atirar, — uma voz estranha chamou.
Emily deu um grito agudo, o medo pulsando em suas veias. Ela apertou a mão de sua irmã com mais força enquanto silenciosamente se repreendia por não agir como sabia que deveria. Por que não soou um alarme antes?
A carruagem girou ao mesmo tempo que ganhava velocidade. Elas estavam claramente fugindo, e todas tentaram se preparar enquanto Eliza gritou quando sua cabeça bateu na moldura de madeira.
De repente, um tiro foi disparado e o condutor gritou. Um baque se seguiu e Emily fechou os olhos com força.
— Alguém acabou de atirar no condutor? — Ela perguntou, mas ninguém respondeu. A próxima série de perguntas, ela manteve para si mesma, mas por dentro, seus pensamentos giravam. Ele tinha caído? O que estava acontecendo lá fora? Os bandidos aleatórios estavam atacando sua carruagem ou isso era trabalho de seu tio?
— Saiam, senhoras, — a voz chamou novamente. O tom do homem gotejava com irritação mal disfarçada. — Há alguém que gostaria de visitar com você.
Tia Mildred deixou escapar um suspiro.
— Isso não faz parte do trabalho.
— Tia Mil...
Ela acenou para elas.
— Meu nome é Caroline. Eu desisto.
— Você está desistindo agora? — Eliza bufou enquanto pegava um guarda-chuva, segurando-o na sua frente como uma espada.
Isabella se endireitou.
— Eu aceito sua renúncia. Você pode sair da carruagem agora.
Emily se virou para olhar para a mulher mais velha. Tanto por sua lealdade ao duque. Uma maldição subiu aos lábios, mas ela a empurrou de volta. Suas irmãs já haviam feito o trabalho de expressar sua insatisfação. Mildred, ou Caroline, ou como quer que a estivessem chamando, não fez menção de sair e, em vez disso, encolheu-se ainda mais no banco.
Abigail deu uma risada rápida quando a mulher mais velha empalideceu, mas aquela voz falou novamente.
— Se vocês estão pensando que podem escapar, devem saber que há um homem aqui para cada uma de vocês para garantir que sejam escoltadas até seu anfitrião.
— Foi uma armadilha, — sussurrou Eliza. — Esse bilhete não era de Bash, era?
Bash era o apelido do duque, que combinava perfeitamente com ele. Emily olhou entre suas irmãs, perguntando-se como poderiam sair dessa bagunça.
— Eu deveria ter falado antes. Sabia que isso era um erro, mas eu...
— Não, — respondeu Isabella. — Eu deveria saber. Eu simplesmente nunca vi sua caligrafia.
Eliza franziu a testa.
— Não é erro seu. Mas a questão agora é: ficamos aqui ou saímos conforme eles estão solicitando?
— Ficaremos aqui, — Abigail inseriu. — Não seja idiota.
— Mas então, eles podem simplesmente partir com todas nós nesta carruagem – Emily disse, levantando o dedo no ar. Abigail lhe deu um olhar meio interrogativo e irritado. Emily entendeu por quê. Ela raramente falava nesse tipo de situação. Mas, novamente, não falar não as ajudou em nada. Veja onde estavam neste momento. Se ao menos ela tivesse compartilhado seus medos antes, talvez estivessem melhor.
— Senhoras, — a voz falou novamente. Tinha uma qualidade cantada que fez Emily ficar com medo. — Hora de sair.
— Eliza. — Isabella se virou para a irmã mais velha, em voz baixa. — Um de nós precisa descer e chegar ao assento do condutor para tirar a carruagem daqui.
— Quão perto estão os homens? Quantos deles existem? — Eliza perguntou enquanto olhava pela janela.
Emily podia ver suas irmãs formando um plano. Como de costume, elas estavam correndo para ajudar sua família.
A vergonha tomou conta de Emily. Como poderia permitir que elas se colocassem em perigo uma e outra vez enquanto ela ficava à margem disso? Porque elas sempre cuidaram dela, protegendo-a do perigo. E sim, apreciava sua preocupação e amor, mas aos vinte anos de idade, ela era mais do que capaz de ajudá-las. Agora, mais do que nunca, ela queria encontrar uma maneira de evitar que acontecesse algo parecido com o que aconteceu depois que sua mãe morreu. Ela nem sempre podia contar com suas irmãs para resolver seus problemas, não é? Ela olhou pela própria janela, tentando avaliar o perigo. Tentando descobrir uma maneira de ajudar.
Abigail espiou por uma cortina.
— Eu vejo dois. Dez ou quinze passos de distância.
— Eu vejo três, — Emily disse. — Dois mais atrás e um ao lado da porta.
Eliza acenou com a cabeça.
— Ok, vou bater nele com meu guarda-chuva, e então Isabella vai subir no banco do motorista, e levar todas vocês para um lugar seguro antes que os outros possam nos alcançar.
— Mas, e se ele agarrar você? — Isabella perguntou.
Emily observou Eliza enquanto um medo frio cintilava no rosto de sua irmã mais velha, antes que ela cuidadosamente mascarasse isto. Essa era Eliza. Corajosa, ousada e disposta a se sacrificar por sua família.
— Não posso ter você sendo a única heroína, — disse Eliza enquanto a porta chacoalhava. A qualquer momento, o atacante teria a porta da carruagem aberta.
Isabella fez mais força contra a porta.
— Eliza, não é provável que você consiga subir de volta se...
— Eu vou ficar bem. — Eliza agarrou a alça também. Então, sussurrou: — Leve nossas irmãs para a segurança e se case com aquele duque. Elas precisam dele e você também.
Emily agarrou a alça também, empurrando a mão de Eliza para longe. Eliza não podia se sacrificar hoje, suas irmãs precisavam dela viva e bem. Emily, com surpreendente clareza, percebeu que era completamente dispensável.
— Dê-me aquele guarda-chuva. — Então, ela arrancou-o da mão de Eliza. Com uma inspiração rápida, ela abriu a porta. — Agora! — Ela gritou.
A porta se abriu e, com toda a gravidade da situação por trás, Emily sentiu o momento em que o painel de madeira atingiu o atacante.
Ele grunhiu, cambaleando para trás, e Emily saltou, acertando-o com o guarda-chuva. A força usada sacudiu seu corpo, mas ela não parou enquanto Isabella a seguia para fora, lutando para chegar à frente da carruagem e no assento. Ela viu outros homens correndo em direção a elas, e suas mãos tremiam quando se virou, empunhando o guarda-chuva de Eliza como uma espada.
Mas o primeiro homem se recuperou, e a agarrou por trás, segurando-a em seu aperto robusto. Um grito saiu de seus lábios.
Eliza também havia escalado e pulado nas costas do homem, agarrando-o e tentando arrancar Emily de suas mãos. Por sua parte, Emily tentou se desvencilhar, mas as mãos dele eram tão fortes que ela não conseguiu escapar.
Outro homem correu em direção a Emily e por um momento, outro grito cresceu em sua garganta. O que os dois homens fariam com ela e sua irmã? Como ela pensou que era forte o suficiente para isso?
Mas este novo homem gritou:
— Vá! — E então, ele balançou o punho, acertando o atacante com uma força que deixou o homem esparramado no chão. O golpe atingiu Emily, mesmo quando Eliza saltou para fora do caminho.
Isabella gritou do banco.
— Você!
Em um instante, seu herói empurrou Eliza pela porta aberta, e ela caiu no chão da carruagem.
— Vá! — Ele gritou de novo e então agarrou Emily pela cintura, apertando-a contra seu peito enquanto alcançava a parte de trás da carruagem.
De longe, ela ouviu tia Mildred dar um grito quando Abigail se inclinou para fora, e fechou a porta da carruagem novamente.
Emily mal conseguiu registrar um detalhe, exceto que no momento em que seu corpo se encostou no dele, o braço forte envolvendo sua cintura, ela se sentiu... segura. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e a cabeça em seu ombro, completamente protegida por seu corpo grande e forte.
E depois outra emoção deslizou por suas costas. Ele era magro e forte, e ela olhou para seu queixo quadrado e olhos penetrantes... ele era pecaminosamente bonito.
O cabelo escuro se agitou com a brisa quando a carruagem começou a se mover. O vento, cortante e frio, soprou em suas bochechas, mas ele a puxou para mais perto de seu corpo.
— Isabella, — uma voz soou no ar úmido. Tio Malcolm. Emily conheceria o som daquela voz em qualquer lugar. — Volte aqui.
Ela não olhou para trás e nem respondeu quando a carruagem ganhou velocidade. Nunca olharia ou falaria com aquele homem novamente. Tio Malcolm estava morto para ela.
Outro tiro foi disparado e o homem que a protegia soltou um grunhido. Ele tinha acabado de levar um tiro? As mãos dela apertaram seus ombros enquanto olhava para o rosto dele.
— Você está bem? — Ela ofegou, sentindo seus músculos sob seus dedos.
— Estou bem, — ele respondeu, e pela primeira vez, ele olhou para ela. Seus olhos eram de um verde avelã e cercados por cílios escuros. Ele tinha maçãs do rosto fortes e uma mandíbula quadrada, com uma boca carnuda que roubava seu fôlego. — Eu nunca deixaria nada acontecer com você.
A chuva começou a cair, fria e forte, o céu de janeiro cinza escuro e sinistro. Mas de alguma forma, como a carruagem acelerou, ela nunca se sentiu mais quente ou segura.
— Quem é você? — Ela perguntou enquanto olhava-o, quase hipnotizada pelas manchas verdes em seus olhos.
Seus dedos se espalharam nas costas dela, seu queixo caindo perto de sua orelha. — Eu sou o homem que sempre irá te proteger. Eu te prometo isso. De agora em diante, vou mantê-la segura.
O quê?
Como ele poderia fazer tal promessa quando eles nunca se conheceram?
A carruagem diminuiu a velocidade e Emily finalmente desviou o olhar. Bash e outro homem se aproximaram a cavalo. Ela inspirou rápida e profundamente. Mas, rapidamente inspirou novamente quando uma das mãos dele se enroscou na dela.
Seu olhar voltou para o dele.
— Isso não me diz nada, — ela retrucou, mesmo quando ele ergueu a mão dela para segurar a alça na parte de trás da carruagem, e empurrou seus dedos ao redor da barra.
— Eu gostaria de poder te dizer mais.
— Você pode, — ela começou a dizer, mas suas palavras se perderam quando ele saltou da carruagem e disparou por um beco.
O vento frio e forte atravessou sua peliça enquanto ela o observava desaparecer. Nunca um homem a afetou tanto, e ela nem sabia o nome dele.
Capítulo 01
Seis semanas depois...
Brandon ficou escondido nas sombras em um beco imundo das docas enquanto observava o vinho do rei sendo vendido por um terço de seu valor. Não que os ladrões se importassem quanto o vinho realmente valia. Tudo era lucro para eles.
Mas seu parceiro, Ewan McLaren, havia se infiltrado no círculo de criminosos, o que permitiu a Brandon rastrear seus movimentos. Algumas das mercadorias iam para leilões sofisticados no mercado negro, enquanto outras iam para as ruas. Cada noite, Brandon seguia outro homem para casa, marcando cuidadosamente seu endereço, seu nome, sua ocupação.
Ao todo, ele identificou trinta e seis homens que faziam parte da organização que tinha como alvo a Coroa Inglesa.
Eles tinham como alvo o negócio de Brandon também, mas isso era menos preocupante agora. Seu próprio negócio de transporte marítimo poderia suportar as perdas.
Mas sua reputação? Esse era outro assunto.
E resolver esse mistério poderia restaurar seu bom nome e sua posição com o rei. Uma posição que seu pai quase destruiu.
Ele fez muitos sacrifícios e compromissos para chegar a este momento, e estava tão perto de cumprir seu objetivo final e se juntar à sociedade.
— Aproveitem suas noites, rapazes, — gritou o ladrão enquanto se virava e saía, serpenteando pelas vielas e ruas das docas.
Brandon ficou nas sombras e o seguiu. Ele tinha botas especiais feitas com fundo macio para que seus pés não batessem nas pedras. O homem nunca olhou para trás, nunca parou ou deu a menor indicação de que sabia que estava sendo seguido.
Brandon sorriu.
Tecnicamente, Ewan era apenas um dos cinco sócios de Brandon. Os outros quatro, no entanto, eram as filhas do fundador da Carrington Shipping. Para a segurança delas, ele as manteve completamente no escuro. Ele estremeceu um pouco.
Ele interceptou Ewan em seu caminho para proteger suas primas e o atraiu para a teia de espiões. Lhe disse que era para o bem das meninas, e que Ewan estava ajudando a protegê-las de outro modo. Mas a verdade era que elas estavam em perigo de qualquer maneira. Esfregando o rosto, lembrou que, naquela época, ele estava mais motivado por suas próprias necessidades do que pelas delas. E elas tinham sofrido por sua escolha.
Ele só conseguiu resgatá-las quando a escória do tio tentou roubá-las.
A ideia fez seu estômago revirar. Porque o fazia se sentir tão mal quanto o era o seu pai. Machucar outras pessoas para seu próprio ganho. Claro, seu pai morrera um ano depois de ser declarado um espião francês.
Ele deixou seu filho com as consequências de suas ações e o fardo de corrigir o nome de sua família. Um esforço que ele estava trabalhando há cinco anos. E estava tão perto.
Ele teve a sorte de o rei não ter despojado todas as suas terras e propriedades, mas ele teve o suficiente.
Brandon tinha uma propriedade no campo, com terras e renda. Outras oito foram apreendidas pela Coroa como um pagamento pela traição.
Essa única propriedade deles ficava no Norte, onde provavelmente se esperava que ele vivesse toda a sua vida. Rei George não tinha sido específico a esse respeito.
Mas para estar seguro, Brandon tinha vindo para Londres com um nome falso, John Smith, e juntou forças com um poderoso comerciante. Um homem que conheceu seu pai antes da traição e ofereceu a Brandon uma oportunidade.
Ajude-me a restaurar meu negócio e eu te ajudarei a restaurar o seu nome. Foi o que Lucas Carrington disse. E Brandon discutiu consigo mesmo, se ao interceptar Ewan, cumprira a promessa feita a Lucas.
Mas a culpa ainda incomodava no fundo de sua mente.
Ewan estava em perigo e as irmãs Carrington também.
Ewan poderia cuidar de si mesmo. Na verdade, ele viajou da Escócia para Londres e se escondeu, infiltrando-se no grupo de ladrões de uma forma que nem Brandon nem Lucas Carrington foram capazes.
Mas as meninas...
Mulheres, na verdade.
As irmãs ainda enfrentavam um perigo imenso. Este grupo de ladrões girava em torno dos negócios delas e até mesmo o tio tinha estado em conluio com os criminosos. Mas ele se preocupava mais com Emily. Sua irmã mais velha, Eliza, era tão dura quanto uma mulher poderia ser. A próxima mais velha, Isabella, acabara de se casar com um duque. E então havia a mais jovem, Abigail, que estava cheio de vida. Mas Emily era uma mulher mais gentil e bondosa do que qualquer uma de suas irmãs e isso a tornava mais vulnerável.
Até mesmo pensar no nome dela causou uma dor profunda em seu peito. Nunca tinha visto uma mulher mais bonita e encantadora em sua vida. No momento em que a segurou em seus braços, percebeu seu erro.
Seu cabelo castanho espesso e farto geralmente ficava preso no alto da cabeça, acentuando seus grandes olhos castanhos e quentes, maçãs do rosto salientes e lábios carnudos.
Como um homem de vinte e sete anos, ele teve sua parcela de experiência. Afinal, ele era um duque, mesmo sendo um exilado, e sabia que as mulheres o achavam agradável de olhar.
Mas a primeira vez que viu Emily, o ar saiu correndo de seus pulmões.
Parte de manter as irmãs Carrington longe de problemas tinha sido vigiá-las de longe. Ele era frio, mas não era cruel, então manteve sua palavra e ficou de olho nelas, como havia prometido a Lucas.
O que significava que a tinha visto com muito mais frequência do que ela já o tinha visto.
Ele sabia que ela era gentil, atenciosa, graciosa e... deslumbrante.
E agora ele queria uma mulher que não podia tocar. Porque isso traria perigo à porta dela. Pior ainda, ele cometeu atos que aumentaram esse perigo para ela e sua família porque ele tinha seus próprios objetivos.
Ele não gostou, mas tinha ido longe demais para mudar de ideia agora. Estava tão perto de alcançar seu objetivo, e então... então talvez pudesse ver as ofensas contra as irmãs Carrington, contra Emily, corrigidas.
Ele precisava acompanhar essa investigação até o fim.
E cortejar uma mulher iria colocá-la em perigo, distraí-lo e muito provavelmente arruinaria suas chances de limpar seu nome.
Pelo menos era o que vinha dizendo a si mesmo nos últimos meses. Então, ele a segurou em seus braços. Ela olhou-o, seus lindos lábios rosados separados, seus olhos curiosos, suas mãos o agarrando como se ele fosse a única coisa entre ela e o perigo, e ele...
Brandon parou quando o ladrão entrou por uma porta. Duas batidas soaram na escuridão da noite.
— Senha, — uma voz rouca perguntou.
— Coroar o rei, — o outro homem respondeu com uma risada.
Brandon ouviu o ferrolho deslizar para trás, a porta se abrindo.
O ladrão passou pela porta e Brandon se aproximou. Uma única janela encardida ficava ao lado da entrada, e ele se abaixou espiando pelo vidro ondulado.
Seis homens sentados ao redor de uma mesa, dinheiro empilhado no meio enquanto contavam.
Ele estava movendo-se pelos pequenos ladrões agora. Ele passou três semanas seguindo o escalão mais alto, mas ainda não tinha descoberto a quem eles se reportavam. Eles eram inteligentes e cuidadosos. Ele tinha, no entanto, identificado dois lordes ativamente envolvidos na venda dos bens do rei. Ele havia deixado Ewan para investigá-los por dentro da organização. Ele mudou seus esforços para os pequenos crimes de rua. Esperava que estivessem mais sujeitos a cometer erros e levá-lo até quem comandasse a operação.
— Quanto temos para o Maestro?
Outro homem grunhiu, movendo o dedo enquanto contava e respondeu.
— Insuficiente.
Cada um dos homens acrescentou algo de sua própria pilha à do meio.
— Maestro acabou com o Malcolm. Apunhalou-o bem nas costas, tudo porque ele não entregou aquela sobrinha dele.
— Bem, — disse outro em torno de um charuto. — Maestro estava certo quanto a isso. Agora essa linha de negócios foi cortada, não foi?
— Mesmo assim, — outro disse. — Deixa um homem nervoso. Não entregar o dinheiro por uma semana e... — Ele passou o dedo pela garganta.
Outro se inclinou para frente.
— Ele é um homem duro, mas todos comemos graças a ele.
Um grande homem coçou seu queixo. — Acho que podemos melhorar se trouxermos para ele uma daquelas garotas.
— Não vou tocar na mulher de um duque, — acrescentou aquele com o charuto. — De jeito nenhum.
— Concordo, e não a casada com um marquês, também.
Aquele que sugeriu sequestro, para começar, concordou.
— Inteligente. Mas há duas que não têm maridos. Que tal uma delas?
O estômago de Brandon caiu. Emily estava em perigo.
— Deixe-me pensar um pouco mais, — respondeu o mordedor de charuto. — Nesse ínterim, precisamos entregar esse dinheiro ao Maestro. — Ele puxou uma caixa de debaixo da mesa e colocou todo o dinheiro, em seguida, fechou a tampa de madeira. Depois de se levantar, ele atravessou a sala e vestiu o casaco. — Vamos planejar amanhã à noite, senhores, mas não posso me atrasar para a bebida.
Brandon se encolheu nas sombras quando a porta se abriu novamente. O homem saiu, a ponta do charuto brilhando pelo caminho.
Por um momento, Brandon hesitou. Eles agiriam amanhã à noite ou simplesmente fariam seus planos amanhã? Ele correria para o lado de Emily agora ou terminaria o trabalho que começou aqui esta noite?
Então, ele cerrou os dentes. Ela já o estava tirando de seu caminho e eles estiveram juntos somente uma vez. Precisava se concentrar. E então, endireitando os ombros, ele saiu na noite depois do homem do charuto aceso. Ele avisaria ao Duque de Devonhall sobre a ameaça a Emily e a Abigail assim que tivesse seguido o dinheiro.
Ele tinha tempo, raciocinou. Eles nem tinham um plano ainda.
Mas quando ele pensava em algum homem machucando Emily...
Ainda assim. Isso era o que ele tinha vindo fazer. Capturar esse grupo de ladrões e restaurar seu nome com a Coroa Inglesa. Ele sacrificou muito para chegar até aqui, e não se desviaria do caminho agora.
Ele já tinha acertado tantos compromissos.
Cerrando os punhos ao lado do corpo, ele se moveu silenciosamente pela noite.
Emily olhou pela janela. O sol brilhava pela primeira vez no que pareceram semanas.
Suas irmãs ainda estavam dormindo.
Isabella e Eliza ficaram acordadas até tarde no clube de jogos de seus maridos. Elas esperavam encontrar o seu salvador de alguns meses antes. Aquele que a segurou em seus braços e roubou seu fôlego. Aquele que continuou a abraçá-la todas as noites em seus sonhos.
Eliza o tinha visto em duas outras ocasiões, e ele se apresentou como Dishonor. Escolha estranha, considerando que ele as resgatou. Para Emily, ele poderia ser o homem mais honrado que ela conhecia.
Ela suspirou, seu queixo descansando em sua mão enquanto ela se apoiava no parapeito. Claro, ele procurou Eliza. Sua irmã mais velha era tão corajosa.
— Aí está você, — Abigail chamou por trás, enquanto entrava puxando suas saias. — Pelo menos o sol saiu hoje.
Emily não se preocupou em apontar que os dois pensamentos de sua irmã não tinham nenhuma relação.
— Verdade. É adorável.
— Você está tão entediada quanto eu? — Abigail se jogou em uma cadeira. — Quando morávamos em Cheapside e não tínhamos dinheiro, pensava que isso poderia ser o pior que nossa vida poderia ficar. Mas isso... — Ela gesticulou ao redor da sala. — Isso pode ser pior.
Emily examinou as paredes às quais Abigail acabou de se referir. Grandes enfeites de mogno decoravam os tetos altos, e brilhavam com verniz fresco.
Móveis delicadamente esculpidos decoravam a sala e um fogo crepitava alegremente na lareira.
— Querida. — Ela deu a sua irmã mais nova um sorriso indulgente. — Como isso pode ser pior do que o que deixamos?
Abigail suspirou.
— Pelo menos nossa luta financeira tinha um ar de excitação. Bash nos prendeu nesta casa há semanas. Entediante.
Emily apertou os lábios para não sorrir. Abigail tendia para o dramático.
— A casa tem pelo menos vinte quartos...
— Esse não é o ponto, — Abigail bufou. — Somos prisioneiras.
Emily encolheu os ombros. Era difícil negar isso. O tio delas havia sido assassinado, o que deveria ter sido o fim de seus problemas; mas, na verdade, foi apenas o começo. Tio Malcolm estava trabalhando para algum bando de bandidos e um deles tentou se casar com Eliza.
Então, agora, elas estavam na casa de Bash... onde era seguro.
— Tente entender. É apenas temporário.
— Temporário? Por quanto tempo? Já se passaram semanas. — Ela balançou a cabeça. — Estou cansada de não fazer nada. Quero me divertir. Agora somos herdeiras. Devíamos encontrar maridos. E dançar. Isso nos manteria seguras. Não precisamos nem mesmo sofrer como Avery.
Avery era filha de Malcolm, prima delas, e ela se tornou mais um encargo de seu cunhado. Não admira que o homem as mantivesse em casa. Ele passou de solteiro para ter um monte de mulheres para cuidar.
— Dançar vai nos manter seguras? — Emily disse em sua melhor voz provocante, mesmo quando ela se virou para a rua. Suas bochechas esquentaram quando ela pensou no homem que gostaria que a cortejasse.
Aquele que só tinha um nome secreto. Um sorriso se espalhou em seus lábios. Ela era a irmã tímida, a quieta, a simpática. Que engraçado que o primeiro homem que ela desejou daquela forma era o mais misterioso de todos eles.
Talvez... ela ainda possa surpreender a todos e fazer algo excitante ou interessante.
— Você sabe que não foi isso que quis dizer. Vamos fazer compras. Podemos sair antes mesmo de alguém acordar. Por favor, Em? Vou morrer sem me divertir.
— Bash e Dylan estão investigando o máximo que podem. E Eliza e Isabella estão na Toca do Pecado para tentar fazer com que Dishonor os visite novamente. Certamente eles vão encontrar respostas em breve.
Sua irmã mais nova bufou.
— Você não entende. Nem todos nós nos contentamos com o bordado como passatempo. Eu preciso de entusiasmo.
— Todos estão trabalhando muito para nos manter seguros. O mínimo que podemos fazer é ficar em casa.
— Você não entende porque está contente com atividades banais... — Ela começou novamente.
Emily parou de ouvir, ficando magoada abaixou a boca.
Ela sabia que elas a viam dessa maneira. Às vezes, se via dessa maneira também. Abigail tinha personalidade, Eliza era corajosa e forte, Isabella resistente e muito controlada. O que era Emily? 'Gentil' elas disseram. Chata, elas queriam dizer.
Seu papel sempre foi de apoio. Convencer Abigail a ficar em casa era o exemplo perfeito. Mas isso não significava que ela não desejava emoção também. Ou um herói bonito e arrojado. Ou uma chance de ser tão valorizada quanto suas irmãs. Saber que tinha feito mudanças reais para tornar seu futuro melhor.
Desejou que Dishonor a tivesse encontrado e passado informações para ela, em vez de para Eliza. Até ele parecia saber quem era a irmã corajosa. E ela desejou ter ido para um salão de jogo secreto e também ter sido uma jogadora como Isabella tinha sido.
Ela desejava estar em qualquer lugar, menos aqui.
Acima de tudo, porém, desejava ver Dishonor novamente.
E no fundo de seu coração, desejou que ele a beijasse.
Capítulo 02
Levou um dia inteiro para seguir a caixa com o dinheiro.
Brandon esfregou os olhos doloridos. Ele não dormia há trinta e seis horas, pelo menos.
Mas o dinheiro finalmente chegou ao seu destino. E seguir a trilha foi uma revelação.
Por toda Londres existiam pontos de entrega. O cano entupido de uma casa, o espaço entre duas cercas, uma pedra faltando na lateral de um edifício. A caixa mudou de mãos quatro vezes. Um homem a deixou cair em um ponto, então, uma hora depois, outro a recuperou e a levou para o seu próximo destino.
E finalmente, ele havia chegado aqui. Uma brilhante casa da cidade com uma fachada de tijolos e cerca de ferro preto forjado, em Mayfair, com vista para um lugar comum adorável e esquecido, cheio de árvores e arbustos. Na Hill Street, número cento e vinte e três. O endereço estava estampado em uma placa de latão brilhante ao lado da porta.
E um mordomo de aparência inteligente recuperou a caixa com suas luvas brancas imaculadas. Enquanto Brandon observava, mais dez caixas chegaram. Todas idênticas.
Este era o homem que ele estava procurando. Maestro.
Claro, ele não conhecia a real identidade do Maestro, mas... descobriria em breve.
Por um breve momento, ele considerou tocar a campainha. Anunciar a si mesmo, não com seu pseudônimo, mas com seu nome verdadeiro, Duque de Winston.
Então, ele olhou para si mesmo.
Um dia e meio sem descanso e se escondendo nas sombras não ajudaram muito em sua aparência.
Ele sabia onde encontrar o homem agora, então pegou seu caderno e abaixo da localização de cada caixa de depósito, ele adicionou o endereço. Então, ele circulou. Então, ele circulou novamente.
Finalmente, ele deslizou para as sombras. Tinha outra parada antes de finalmente ir para a cama. A Toca do Pecado.
Um salão de jogos do outro lado da cidade. Escondido nas ruas perigosas do East End, o lugar fez seus proprietários juntarem uma pequena fortuna, incluindo o Duque de Devonhall e o Marquês de Milton. Esses homens que poderiam ajudá-lo de várias maneiras.
Devonhall era o guardião de Emily. Ele a manteria segura.
Suas entranhas se retorceram novamente com a ideia de ele mesmo não poder protegê-la. Mas ele limparia seu nome primeiro. Isso era essencial. E os dois homens também poderiam ajudá-lo com isso.
Eles tinham ligações com a Coroa. Poderiam lhe conseguir uma audiência.
Ele esfregou a cabeça tentando lembrar exatamente o que os homens que recebiam os artigos roubados tinham dito na noite anterior. Quão iminente era o perigo?
Um pavor doentio começou a se formar em seu estômago. Ou isso era exaustão?
Saindo da Hill Street, ele fez sinal para uma carruagem e anunciou o endereço do outro lado da cidade. O condutor lançou-lhe um olhar cético, seus olhos percorrendo sua aparência miserável até que Brandon mostrou sua bolsa de moedas.
Ele subiu na carruagem e partiram, costurando pelas ruas movimentadas. Enquanto a carruagem balançava, ele adormeceu, sucumbindo ao peso que suas pálpebras puxavam. Elas se abriram novamente quando chegaram à Toca do Pecado, e ele se levantou do assento e pagou ao condutor.
Assim que entrou no estabelecimento, cortinas vermelhas escuras cobriam muitas das portas, fazendo com que a sala parecesse ainda menor do que era.
Vozes masculinas ecoaram no ar.
Ele reconheceu Isabella em uma das mesas. Ela estava vestida de homem e distribuindo cartas. Ele ergueu uma sobrancelha. Uma duquesa distribuindo cartas?
Mas se lembrava de ter jogado na mesa dela uma vez, ela tinha uma habilidade incrível de vencer.
Seus olhos encontraram os dele e ele estremeceu. Ele nunca tinha percebido como eram parecidos com os de Emily. Isto o pegou ao pensar que não tinha vindo antes. E se Emily estivesse em perigo neste momento?
E se aqueles homens quisessem dizer que tentariam roubá-la esta noite?
Eliza saiu de trás de uma cortina, seu marido e seu irmão cunhado bem perto.
Ele passou a mão rapidamente pelo cabelo. Provavelmente estava uma bagunça.
— Você finalmente apareceu, — Bash rosnou tentando contornar Eliza. Para um lapso de mulher, ela fez um trabalho notável em retê-lo.
— Nós temos perguntas, — disse ela, cruzando os braços e olhando ferozmente. — Sobre você, seu parceiro...
Ele se endireitou. Esta não era uma conversa pública.
— Tenho certeza de que você tem perguntas. Espero sinceramente respondê-las em uma carruagem enquanto viajamos para a casa de Decadence. Existe perigo para Emily e Abigail, e eu me sentiria melhor se estivéssemos lá ou a caminho, em vez de aqui. Apenas para o caso.
Menace esfregou o couro cabeludo com a mão.
— Eu disse que ele apareceria quando houvesse uma ameaça.
Brandon ergueu as sobrancelhas. Um aliado? Potencialmente.
Decadence estreitou seu olhar, seus olhos escuros brilhando. Um homem grande, e um duque, ele foi um adversário formidável quando ele escolheu ser.
— Como sabemos que não é uma armadilha?
Dishonor estremeceu. Decadence definitivamente não era um aliado. E seu estômago começou a se agitar. Ele teve que seguir aquele dinheiro. Estava tão perto de denunciar esses criminosos. Mas tinha a sensação de que deveria ter vindo antes. Esse tempo estava se esgotando...
Suas escolhas quase machucaram Emily antes. Ele não podia permitir que isso acontecesse novamente.
Outro homem apareceu, com cabelo loiro dourado e traços afiados e inteligentes. Brandon o reconheceu instantaneamente como o Conde de Goldthwaite.
O olhar do outro homem se aguçou.
— Estive procurando por você.
Ele veio ficar com os outros, três pares de olhos masculinos e uma mulher obstinada, olhando para ele.
— Há cinco de vocês e um de mim. Que tipo de armadilha poderia armar?
— Você poderia ter outros esperando. — Bash apontou o dedo na direção de Dishonor.
Menace deu um passo à frente.
— Eu vi seu parceiro no Tâmisa. Eu sei o que ele fez.
Dishonor estremeceu. Isso o tornava difícil de confiar. E a menção de Ewan fez seus sentimentos de remorso aumentarem.
— Facilmente explicado.
— Comece a explicar, — Bash resmungou.
Em resposta, ele puxou seu caderno, e entregou-o a Goldthwaite. Ele sabia que o homem estava tentando encontrar a identidade de Brandon e provavelmente o faria eventualmente. Ele era um tubarão nas águas comerciais de Londres.
— Estou dando isso para você. É uma lista de nomes e endereços de todos os homens da quadrilha que estão nos atormentando. Incluindo, acredito, o líder. Não consigo pensar em um homem melhor para identificar cada um dos nomes e lugares nesta lista. — Ele respirou fundo. — Não durmo há mais de dois dias; já rastejei por todos os becos de Londres e estou muito cansado. Não estaria aqui se não fosse urgente. Então, por favor. — Ele balançou sua cabeça. — Eu irei sozinho se vocês não se juntarem a mim, mas o tempo está passando, e tenho um pressentimento de que se não agirmos...
— Estou indo, — Eliza o interrompeu. — Vou pegar minha peliça.
— Eliza, — Menace sibilou para sua esposa. — Você não pode simplesmente decidir...
— Elas são minhas irmãs, — ela disse como uma resposta, então se virou e gesticulou para Isabella. — Não estamos negociando.
— Você pode acreditar nela? — Menace murmurou, passando a mão pelo cabelo novamente. — O que me deu para casar-me com uma mulher tão obstinada?
— Não posso atestar isso, — respondeu Brandon. — Mas posso dizer que ela é exatamente como o meu amigo, o pai dela. — Ele pretendia fazer um ponto e suas palavras atingiram o alvo.
Isso acalmou Bash. Ele olhou para Dishonor por vários momentos antes de dar um aceno conciso.
— Ok, vamos.
Em poucos minutos eles partiram, amontoados na carruagem do Duque de Devonhall.
— Comece a falar, — Bash resmungou no segundo em que se sentaram. — Se eu não gostar do que você disser, nós voltamos.
— Eu gostaria de saber quem é seu amigo, — acrescentou Menace. — Aquele que vi roubando a Coroa.
Goldthwaite também se juntou a eles.
— Gostaria de saber quem ele é. — E apontou para Brandon. — Poucos homens podem esconder sua identidade de mim.
Isabella e Eliza sentaram-se juntas de mãos dadas. Foi Isabella, com seus olhos tão parecidos com os de Emily que redirecionou a conversa.
— Vocês todos tem que esperar. Conte-nos o que está para acontecer com nossas irmãs que o preocupa tanto.
Ele deu um aceno conciso.
— Tenho seguido o dinheiro. Por cerca de um mês. — Ele olhou para Menace. — E só fui capaz de fazer isso porque meu amigo, o homem que você viu, se infiltrou no círculo de ladrões como e fosse um ladrão.
A boca de Menace se abriu e depois se fechou.
— Continue.
— Noite passada, enquanto observava o roubo acontecer, ouvi cerca de seis homens conversando. Seu tio morreu... — ele hesitou, estremecendo ao olhar para Eliza.
Ela endireitou um olhar de remorso cruzando seu rosto.
— Estamos cientes. Continue.
— Seu tio perdeu a vida porque não conseguiu te entregar para o bandido.
Ele ouviu a inspiração aguda de Eliza, mas Isabella deu um tapinha na mão da irmã.
— Nosso tio era um idiota por fazer barganhas com esses homens. Não pense nada sobre isso.
— Eu sei, — respondeu Eliza. — Mas Avery nunca poderá saber de nada disso.
— Avery? — Ele perguntou.
— A filha do tio Malcolm. Nossa prima.
— Que também está em nossa casa, — acrescentou Bash, dando-lhe um olhar significativo.
Ele entendeu. Mantenha-se quieto perto de Avery.
— Por favor, continue. — Isabella se inclinou para dele.
— Sim. — Ele esfregou o rosto. — Então, eles começaram a discutir como poderiam ganhar o favor do chefe deles, Maestro, que é como o chamavam. Resumindo, decidiram que entregar uma das irmãs Carrington que ainda estão solteiras era o melhor plano.
— E você está apenas nos contando isso agora? — Bash meio que gritou de seu assento. Encheu a carruagem, fazendo Brandon estremecer. O homem tinha razão.
Ele esfregou os olhos, o cansaço e o medo o fazendo se sentir exausto.
— Tente entender. Passei mais de um ano tentando desvendar esse mistério. É importante para todos nós que esses ladrões sejam erradicados. Eu estava tão perto que precisava ir até o fim.
Decadence se inclinou para frente.
— Você poderia ter enviado uma mensagem.
— Bash. — Isabella tocou o braço do marido. — Nós sabemos agora, e vamos ter certeza de que estão seguras.
Brandon recostou-se na cadeira, esfregando o rosto novamente. Porque não conseguia se livrar da sensação de que o tempo estava se esgotando. Ou que ele falhou com Emily novamente...
Emily abotoou o casaco enquanto olhava pelas grandes portas que levavam ao jardim dos fundos. Decidiu que uma caminhada com um pouco de ar fresco faria maravilhas para o mau humor que se instalou sobre ela.
Abigail estava certa. Ficar presa na casa estava deixando as duas loucas.
Ela não tinha ciúmes de suas irmãs desde que era uma garotinha. Eliza tirou o melhor de tudo com sua personalidade atrevida, e Isabella sempre recebeu elogios por sua natureza firme.
Abigail tinha sido a doce e adorável bebê, enquanto Emily... ela era a boa e velha Emily.
Suas irmãs juraram que ela se tornou a mais bonita, mas ela não tinha certeza. Isso era um traço de valor? Preferiria ser corajosa, ou forte, ou incitar a paixão dos homens... ou talvez apenas um homem.
E claramente, ela tivera muito tempo para pensar.
Porque quando não estava se comparando a suas irmãs, estava sonhando com um homem que nunca tinha lhe dito seu nome verdadeiro.
Ele salvou sua vida, e levou um tiro enquanto a protegia.
Mas quem disse que ele não teria feito o mesmo por nenhuma de suas irmãs?
Ela parou na outra extremidade do jardim, olhando para sol no céu. O ar ficou aquecido ao meio do dia, mas agora o vento estava forte e frio. Ainda assim, clareou sua cabeça e estabilizou seus pensamentos.
Precisava encontrar uma maneira de ajudar suas irmãs. Elas estavam tentando resolver um mistério enquanto ela sentava em casa lamentando. A ação certamente a faria se sentir melhor.
Ela acenou com a cabeça, embora ninguém estivesse olhando. A questão era: o que fazer? E uma vez que decidisse sobre isso, ela teria que encontrar a força para colocar em prática seu plano. Como no primeiro dia em que conheceu Dishonor.
Seu cabelo esvoaçava com a brisa enquanto ela considerava. Poderia voltar para sua casa e vasculhar novamente. Elas procuraram centenas de vezes, mas haviam se passado meses desde a última busca, e elas aprenderam muito desde então. Talvez tenham esquecido algo que não tinha significado antes.
Ela poderia ir ao advogado de seu pai e implorar o endereço de Dishonor. O homem era tão firme quando se tratava de regras quanto um homem poderia ser, mas ela poderia tentar persuadi-lo. Se ela dissesse que tinha fundos que pertenciam à Dishonor... ou uma liderança de negócios como parceiro da Carrington Shipping.
Ela sorriu para si mesma. Isso... isso foi produtivo. Isso foi bom e claro, precisava passar mais tempo ao ar livre. E precisava se dedicar à ação, em vez de ficar deprimida.
Ela voltou para dentro, com a intenção de entrar e escrever um bilhete para o advogado. Certamente um de seus cunhados iria acompanhá-la a tal reunião.
Mas o som de uma vara quebrando chamou sua atenção e ela congelou.
Inclinando a cabeça para o lado, ela ouviu outro movimento. Tinha sido um pequeno animal? Um pássaro? Ainda assim, seu coração acelerou em seu peito, um tamborilar alto enchendo seus ouvidos.
Parecia... grande.
Ela deu um passo hesitante para frente enquanto levantava delicadamente as saias para evitar que se arrastassem pelas folhas secas. Seu dedo do pé pisou levemente e deu outro pequeno passo, virando a cabeça para o outro lado, para ouvir mais cuidadosamente. Se ao menos seu coração parasse de bater tão alto.
Houve um farfalhar atrás dela.
Ela se virou no momento em que uma mão cobriu sua boca de repente.
Emily tentou gritar, mas a mão enluvada abafou qualquer som na mesma hora em que outro braço segurou sua cintura. Ela se torceu, mas o braço pesado a arrastou contra um corpo grosso, prendendo seus braços contra o próprio peito.
Ela tentou chutar para trás, a cabeça dela balançando, mas ele era muito forte, e a segurou no lugar enquanto se movia em direção ao portão do jardim.
Não. Não. Não. Se ele conseguisse sair com ela... seu coração batia em um ritmo selvagem.
Ela esticou o pé, plantando-o contra o pilar de tijolos para mantê-los no jardim. Uma onda chocante rasgou seu corpo.
O homem atrás dela soltou uma maldição quando o cotovelo dela fez contato com seu estômago. Ela sentiu o momento em que ele afrouxou o aperto e ela se saiu de seus braços correndo em direção à casa.
Mas ela nem deu um passo antes de ele agarrar seu cabelo e puxá-la para trás.
Ela uivou de dor enquanto as lágrimas involuntariamente picavam seus olhos, e então ela foi presa contra ele novamente. Eles passaram pelo portão e desceram o beco antes dela prender a respiração o suficiente para lutar.
Para onde ele a estava levando?
Ele deslizou por outro beco, carregando-a enquanto ela tentava inutilmente se contorcer para longe.
Ele era forte e rápido, e a escuridão estava caindo.
Vagamente, ela ouviu uma carruagem e, em seguida, a batida de passos atrás deles. Havia mais homens?
O que fariam com ela?
Ela se contorceu novamente, tentando morder sua mão, mas ele a segurou firme.
Rua após rua, eles dispararam por becos, minutos se passando enquanto seu corpo ficava fraco e cansado. Ela tentou lutar, para ser forte, mas os braços dele eram como faixas de ferro ao seu redor.
Uma lágrima escorregou de seus olhos. Ela estava prestes a ficar perdida.
Capítulo 03
Brandon assistiu com horror da janela da carruagem quando um homem grande entrou no beco carregando um pacote de saias se contorcendo.
Emily.
Ele não podia estar cem por cento certo, mas seu instinto lhe dizia que era isso.
O arrependimento bateu como uma bigorna no peito. Tinha cometido um erro.
Ele abriu a porta da carruagem, quase tropeçando em Goldthwaite ao pular da carruagem em movimento. Seu pé atingiu o chão de forma desajeitada e ele se esparramou numa pedra dizendo uma maldição, mas se ergueu novamente e começou a correr atrás do homem que estava carregando sua mulher.
Quando ela se tornou sua? Era mesmo ela?
Ele não se incomodou em fazer-se mais perguntas enquanto se esforçava o mais rápido. Ele ouviu a carruagem parar, mas já estava em um beco e no próximo. Droga, o homem era rápido para carregar outra pessoa, mas, novamente, Brandon não dormia ou comia há dias.
Ainda assim, ele pressionou mais rápido, lentamente ganhando terreno beco após beco, rua após rua. Não ouviu nenhum passo atrás dele, embora tivesse certeza de que um dos outros homens o estava seguindo. Onde estavam Goldthwaite, Menace ou Decadence?
Não importava.
Ele estava quase em cima deles quando a viu ficar mole. Ela estava sendo sufocada?
Seja qual for o motivo, a energia bombeou em suas veias e com uma explosão final, ele os alcançou, batendo com o punho na parte de trás do crânio do homem.
Ele tropeçou para frente, seu braço afrouxando na mulher. Foi nesse momento que ela voltou à vida e, com uma torção, arrancou-se dos braços do agressor.
O homem gigante se virou para agarrá-la. Brandon não hesitou. Erguendo o punho novamente, socou o homem bem entre os olhos.
O sujeito maior caiu como um saco de tijolos.
— Você, — ela assustou-se, e Brandon se virou para ver uma pálida Emily olhando para ele.
Seu cabelo estava puxado para fora da touca elegante, seus olhos eram grandes e lacrimejantes, e seus braços estavam em volta da cintura. Ele nunca tinha visto nada mais bonito.
— Eu.
Ela deu um passo hesitante em sua direção.
— Acho que vou desmaiar.
Seus joelhos começaram a dobrar e, em um segundo, ele a envolveu com os braços, levantando-a.
Ele ouviu um gemido atrás dele e sabia que só tinham alguns momentos antes do sequestrador acordar. Ele tinha outra escolha: colocá-la no chão e arriscar perder a luta e ela... ou deixar este homem ir, mas colocar Emily em segurança.
Por uma fração de segundo ele lutou. Mas então, a razão prevaleceu. Ele quase a perdeu hoje, escolhendo sua investigação sobre sua segurança. Ele balançou sua cabeça. Que idiota.
Deveria ter vindo ontem, mas não veio. O intestino dele virou-se enquanto se dirigia para a entrada do beco. Eles se dirigiram para uma rua larga e depois por outra ainda mais larga e movimentada, onde ele sinalizou para uma carruagem de aluguel.
Não parou para pensar em como pareceria tanto na aparência quanto carregando uma mulher inconsciente até que o condutor o rejeitou rudemente.
— Por favor, — ele implorou, esperando que soasse convincente. — Minha esposa precisa de ajuda. Vou pagar o dobro.
O condutor deu-lhes outro olhar e franziu a testa como se não acreditasse em Brandon, mas então deu um rápido aceno de cabeça e Brandon pulou na carruagem antes que o homem pudesse mudar de ideia.
— Triplo se você se apressar, — ele gritou, e então fechou a porta.
Dentro, ele colocou Emily em seu colo.
Ela ainda estava desmaiada, seu corpo mole contra o dele, seus cílios descansando em suas bochechas pálidas.
Ele passou o dedo polegar sobre a maçã do rosto saliente, seu hálito quente contra a palma da mão.
Sem pensar muito, traçou a curva de sua mandíbula, a delicada coluna de seu pescoço, sua sobrancelha, a concha de sua orelha.
Ela era tão adorável ali em seus braços.
Sua respiração ficou presa enquanto o cansaço fugia, seus membros recuperando as forças.
Os olhos dela se abriram. Seus cílios, como as asas de uma borboleta, eram tão grandes quanto os olhos castanhos que encontraram os dele.
— Emily, — ele respirou enquanto a olhava.
— Onde estou? — Ela perguntou, tentando sentar-se. Ele podia sentir a fraqueza em seus membros.
— Numa carruagem de aluguel. No caminho de volta para casa.
— Você me salvou, — disse ela, desistindo e se acomodando contra ele. — De novo.
Ele não conseguiu conter as próximas palavras.
— Eu sempre vou te salvar. — Exceto que ele quase não tinha conseguido, e que dificilmente a salvara de tudo. Suas ações lhe causaram muito mais problemas do que paz.
Ela sorriu então, suave, doce e relaxada enquanto se aconchegava contra ele.
— Por quê?
A palavra foi gentilmente sussurrada em um suspiro quase sonolento, mas o atingiu como um raio. Por quê, de fato?
— Porque, — disse ele, limpando a garganta. Tudo sobre a verdade que ele poderia revelar parecia ser a única resposta apropriada. — Devo o que tenho na vida a seu pai. Ele foi mais um pai para mim do que o meu em muitos aspectos. '
— Oh, — disse ela, desta vez levantando a cabeça e empurrando-se para cima em uma posição estranha. — Entendo. Isso faz sentido. — Sua voz havia perdido a qualidade sonhadora, ficando sem graça. Sua resposta a havia desapontado?
Ele queria puxá-la de volta contra seu peito, embalá-la em seus braços. Ele desejava segurá-la perto e sussurrar... o quê? Ele balançou a cabeça. Ele estava exilado, em perigo por causa dos homens que estava caçando, e ela estava ainda mais vulnerável do que ele. Agora não era hora de se tornar poético. Além disso, se ela soubesse como ele afastou Ewan...
Ela afastou-se, sentando-se a sua frente, seus joelhos ainda se tocando.
— Obrigada, — disse ela, inclinando-se para a frente. — Por me salvar. Tenho certeza que meu pai está agora para sempre em dívida com você, assim como eu.
Ele engoliu em seco, cerrando as mãos para não tocar no rosto dela novamente.
— De nada.
— Posso perguntar... eu pareço abominável?
— Você parece linda. Como sempre.
Um rubor manchou suas bochechas, então. Era o tipo de rosa que o fazia pensar em rosas no verão. Ele fechou os olhos. Estava prestes a fazer papel de bobo. O que havia sobre essa mulher? Ele não tinha namorado nenhuma mulher por muito tempo. Era esse o problema? Esteve tão focado em seu futuro, em restaurar seu nome, e então resolver este mistério. Por um momento ele pensou no depois... quando todos aqueles objetivos fossem alcançados. Ele se casaria? Teria filhos?
Mas ele abriu os olhos novamente, olhando para Emily. Agora não era hora de ficar tão distraído. Não tinha realmente conseguido nada ainda. Mas também tinha que confessar que essa atração era específica por ela.
E era muito indesejado. Ele tinha uma agenda e ela estava dividindo sua lealdade, fazendo-o questionar seu plano. Suas ações.
— Agradeço essas palavras gentis, mas não quero que minhas irmãs se preocupem muito. Diga-me... — Ela levou as mãos à cabeça. — Devo soltar meu cabelo? Tenho algumas manchas no meu vestido? Hematomas perceptíveis?
Sua mandíbula se apertou. Ela estava preocupada com suas irmãs agora? Mas essa era uma das coisas que gostava nela. Em um mundo que tinha sido tão duro, ela era gentil e atenciosa.
E ela estava certa. Seu cabelo estava uma bagunça adorável.
— Venha aqui, — disse ele sem explicação, e para seu espanto, ela obedeceu.
Ela se apertou ao lado dele no assento. Ele ignorou a onda de prazer que o percorreu quando o quadril dela pressionou o dele.
Ele ergueu a mão e massageou suavemente o couro cabeludo em sua base, encontrando grampos de cabelo e puxando-os um por um. O ato era íntimo de uma forma que nem mesmo tocar uma mulher o era, e seu corpo endureceu em resposta.
As mechas de Emily eram ainda mais sedosas do que imaginava, e ele quase gemeu de prazer quando ele as destrançou. Seu cabelo caía pelas costas em partes e com cada pedaço, ele se esquecia porque precisava mantê-la à distância. O que era mais importante do que o leve perfume floral de seu cabelo?
Ele estaria livre em breve. De volta às boas graças da Coroa, e livre desses ladrões.
Brandon puxou o último grampo de suas mechas e ela deu uma pequena sacudidela na cabeça, enviando as ondas para baixo. Ele queria correr os dedos por todo o comprimento e deixá-las deslizar por suas mãos. Inferno, ele desejou que pudesse enterrar seu rosto. Então, beijaria a coluna de seu pescoço.
Mas ela ergueu as mãos para começar a trançar a massa de cabelo e a posição empurrou os seios para a frente. Agora, ele esqueceu tudo sobre o cabelo dela enquanto seu olhar se fixou em seu peito, o estreitamento de sua cintura, a curva de suas costas.
Puta merda. Como ficou longe desta mulher por tanto tempo?
Sua masculinidade estava engrossando e se alongando. Ele não deveria estar cansado demais para esse tipo de excitação?
Ele agarrou suas coxas para manter as mãos para si mesmo.
Porque se as erguesse, toda a sua resolução se desvaneceria.
E não podia permitir que isso acontecesse, não com ela. Como um homem tocava uma mulher que tinha prejudicado?
Havia uma energia no ar que Emily podia sentir como um toque físico.
As mãos de Dishonor foram primorosamente gentis, seu hálito quente, o calor de seu corpo escorregando para o lado dela. E, no entanto, havia algo mais poderoso, eletrizante, dançando das pontas dos dedos dele em sua pele quando ele puxou os grampos.
Ela fechou os olhos. Ele a salvou por causa de seu pai.
Mas em suas fantasias esta noite, ela certamente imaginaria que ele a salvou porque... Outro rubor infundiu em suas bochechas. Felizmente, estava ficando escuro demais para ver. Mas sonharia que ele a amava, que era seu cavaleiro de armadura brilhante. Claro, suas irmãs poderiam se salvar. E agora elas tinham maridos, caso não conseguissem.
Emily deixou cair os braços. Certamente, este homem que parecia capaz de conquistar o mundo iria querer uma mulher tão forte.
Ela estava tentando.
Ela olhou-o. Ele parecia cansado, mas ainda bonito. Sua mão pressionou seu estômago.
— Como você sabia que eu precisava ser resgatada? — Ela tentou se virar para olhá-lo, mas não havia muito espaço para girar no assento. — De novo.
— Eu ouvi uma trama enquanto estava espionando. Estou tentando encontrar todos os ladrões... — Ele deu de ombros.
Sua respiração ficou presa. Em um esforço para salvar sua família inteira, ele tropeçou em informações para salvá-la especificamente e ele veio em seu auxílio.
— E a última vez?
— Eu estava seguindo seu tio com o mesmo propósito.
A carruagem parou. Ela quase não queria ir embora. Mas ele abriu a porta e deu a mão para ajudá-la, pagando o motorista. Em um momento, ele a fez subir as escadas, batendo na aldrava da frente com uma insistência que poderia ter sido assustador se ela não se sentisse tão segura ao lado dele.
Ela nem percebeu que tinha se aproximado até que seu braço roçou seu peito.
Mas sem uma palavra, ele baixou a mão nas costas dela.
Seus olhos estavam esquadrinhando a rua e o beco, mesmo quando ele bateu novamente.
— Então, é uma coincidência você ter me salvado duas vezes?
— Não inteiramente, — ele respondeu, assim que a porta abriu levemente.
Ele não forneceu mais detalhes quando deu um empurrão firme, o mordomo mal se movendo para fora da porta enquanto Dishonor a conduzia para dentro sem convite. Então, novamente, ela morava aqui.
— Emily, — Avery gritou do topo da escada. — Santa Mãe Maria, é Emily!
Por alguma razão, a mão dele apertou suas costas por um momento antes de soltá-la.
Em segundos, sua família inundou a entrada. Todas elas. Suas irmãs, sua prima, seus cunhados, até a sua tia falsa que desistiu e voltou ao emprego.
Ela foi arrastada para vários abraços enquanto as pessoas falavam umas sobre as outras.
Ela passou de pessoa para pessoa até que olhou para trás por cima do ombro. Dishonor estava exatamente onde ela o havia deixado, olhando para ela.
Ela respirou fundo e ergueu a mão para pedir silêncio.
A sala ficou em silêncio. Uma vibração nervosa começou em seu peito enquanto ela olhava ao redor. Pela primeira vez, ela se perguntou quais seriam as consequências de sua aventura.
Bash foi o primeiro a quebrar o silêncio. — O que acabou de acontecer?
— Eu estava no jardim, pensando... — ela começou.
O barulho estourou novamente. Uma chuva de palavras caiu sobre ela.
— Como você pode.
— Não deveria estar lá fora.
— Não é seguro.
Ela não respondeu enquanto olhava para Dishonor mais uma vez.
— Agora você sabe por que tivemos que refazer meu cabelo.
Essas palavras fizeram a cacofonia de barulho cessar em um segundo.
— Entendo, — ele respondeu com um leve sorriso. — Elas são sempre assim?
Ela encolheu os ombros.
— Eu sou a menos útil das irmãs, então...
— Nunca diga isso de novo. — Sua voz era baixa, quase terna. — Você foi tão corajosa esta noite.
Seu coração quase parou no peito. Precisava de alguém para dizer essas palavras para ela.
— Obrigada.
— De novo. De nada. — Ele tocou suas costas mais uma vez. Foi um pequeno gesto, mas Bash claramente percebeu, seu olhar se estreitando.
Emily ignorou o olhar de desaprovação de seu cunhado.
— Eu preciso te perguntar uma coisa. — Ela estendeu a mão e tocou seus bíceps com as pontas dos dedos. A intimidade fez sua irmã Isabella suspirar, mas a sala permaneceu em silêncio.
— Sim?
Ela lambeu os lábios, empinando o queixo para olhar para ele.
— Já que você me salvou duas vezes, não acha que é hora de me dizer seu nome?
Capítulo 04
Brandon olhou para Emily. Mesmo na frente de todas essas pessoas, ele queria beijá-la.
Inferno, queria arrastá-la para fora, colocá-la em outra carruagem e levá-la para casa.
Talvez um dia pudesse fazer exatamente isso. Mas, agora não. Juntar-se a ele traria ainda mais perigo à sua porta, e ela já tinha tido disso o suficiente. Ele estava no centro de uma investigação que poderia muito bem levá-lo à morte. Com toda a probabilidade, tinha matado o pai dela.
Ele esfregou os olhos. Algo na multidão de pessoas o lembrou de como estava cansado. Provavelmente foi por isso que considerou contar a ela.
— Eu não posso.
— Você pode, — ela respondeu. — Seu segredo está seguro conosco. Estamos do mesmo lado.
Ele olhou para o brilho escuro no olhar de Bash.
— Não creio que estejamos todos de acordo quanto a isso.
Emily seguiu seu olhar.
— Bash, — disse ela, erguendo as sobrancelhas. — Ele salvou minha vida duas vezes. Ele deve ter me perseguido no meio do caminho através de Londres esta noite.
Bash cruzou os braços.
— Ele também esperou um dia inteiro antes de nos dizer que você poderia estar em perigo. Pergunte-o sobre isso.
Brandon estremeceu quando ela o olhou de volta. Ele deveria ter vindo aqui antes.
Ela deu um passo para trás, removendo a mão de seu braço.
— Isso é verdade?
— Sim, — ele respondeu. — Tive que descobrir quem está roubando de mim, de você e de suas irmãs. Não posso deixar nada me distrair disso.
A cabeça dela caiu um pouco enquanto balançava a cabeça em compreensão. Mas percebeu que ela não o olhou de volta. Ele a tinha perdido.
Seu coração se contraiu quando seu punho cerrou ao lado do corpo. Ele sempre soube que perderia. Isso nem foi o pior. Manter Ewan longe delas todos esses meses... esse tinha sido seu verdadeiro pecado.
Brandon tinha feito sua escolha e não podia mudar agora. Ele concluiu que ela nunca seria dele. Mas nos últimos meses, viu uma miríade de homens tentarem conquistá-la assim como ele seguiu seu tio. E toda vez, ele queria rasgar aquele homem em pedaços.
Agora, ele tinha acabado de entregá-la a um daqueles camaradas.
Ela deu mais um passo para trás.
— Brandon, — disse ele antes que pudesse mudar de ideia. — Meu nome é Brandon.
— É Brandon Brandon, então? — Menace perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Uma pequena onda de risos percorreu a multidão enquanto Emily ergueu o olhar para ele. Ele pensou que talvez ela sorrisse também, mas ela não o fez, e seus olhos permaneceram fechados.
— Não. — Ele esfregou a nuca. Sem o calor dela ao seu lado, ele estava cansado até os ossos. Ele soltou um longo suspiro. — Meu nome é Brandon Winthrop, o Duque de Lancaster.
Alguém engasgou e um homem soltou um som que só poderia ser descrito como um rosnado.
Mas ele apenas olhou para Emily. Seus lábios se separaram e seus olhos se arregalaram.
— Você é um duque?
Goldthwaite pigarreou.
— O pai dele era um espião francês. Nosso rei quase tirou seu título.
Brandon deu um único aceno de cabeça.
— Eu ainda tenho o nome, mas todo o resto... — Ele balançou a mão.
— É por isso que você escondeu sua identidade, — disse Bash ao lado de Isabella.
— E porque eu preciso para resolver este mistério. Se eu puder provar minha lealdade...
— Sua riqueza se foi. — Menace fez uma careta. — Sem julgamento. Meu pai também perdeu a minha.
Brandon deu um sorriso cansado. Ele gostaria que Emily falasse. Dizer algo. Porque podia imaginar que ela o desprezava neste momento. Ela quase foi roubada para sempre por causa de suas escolhas.
— Eu sei que o dinheiro se foi. Enchendo o cofre do nosso rei. Estou construindo minha própria fortuna com este negócio. O que eu gostaria é restabelecer meu nome. Não faz sentido ser um duque se não posso nem mostrar meu rosto em Londres.
Ele fechou os olhos e passou a mão pelo rosto, tentando esfregar um pouco de vida nele.
— Você está cansado.
A voz de Emily tomou conta dele, doce e fluindo como um riacho na primavera.
— Estou, — ele respondeu.
Ela deslizou a mão na dele.
— Venha sentar-se.
Ela o puxou através da multidão para uma sala de estar, onde o calor do fogo atingiu sua pele. Sem dizer uma palavra, ela o conduziu a um sofá, um que combinava com aquele onde ele estava sentado.
Sua cabeça pendeu para trás, seu corpo grato pelo resto.
— Você não dormiu na noite passada, — ela disse ao invés de questionar.
Ele sacudiu a cabeça, fechando os olhos novamente.
— Não.
— E você encontrou o que estava procurando?
— Eu acho que sim, — ele respondeu, relaxando no assento. — Dei todos os endereços e nomes que consegui encontrar a Goldthwaite.
Ele ouviu um farfalhar na porta e ergueu os olhos para ver Bash parado na porta.
Ele estava muito cansado para reconhecer a hostilidade do homem.
— Bom, — ela respondeu. — E quando você identificar todos os homens envolvidos, o que você fará?
— Levá-los ao rei, — ele respondeu. Então, ele lançou outro olhar medido para Bash. — Espero que um de seus cunhados possa me ajudar com isso.
Bash se endireitou.
— Você quer que nós o ajudemos?
Brandon esfregou os olhos.
— Quero que você me ajude a capturar o círculo de ladrões que têm roubado de sua esposa.
Ele sentiu um movimento próximo e abriu uma fresta dos olhos quando o perfume floral de Emily o envolveu.
Ela colocou um travesseiro em uma das extremidades do sofá e deu o empurrão mais gentil no ombro dele. Ele escorregou, a cabeça pousando no travesseiro. Um suspiro de contentamento escapou de seus lábios entreabertos.
E então, abençoado seja seu coração gentil, ela colocou uma toalha sobre o corpo dele. Já fazia anos que alguém o havia tocado assim. Suas mãos deslizaram ao longo de seu torso antes que ela se endireitasse.
Brandon gostaria de reviver cada toque, mas um peso havia se instalado em seus membros. Ele murmurou um obrigado enquanto tentava abrir os olhos uma última vez.
Ela ficou ao lado dele e, em um gesto que fez sua garganta fechar de necessidade dolorida, ela afastou o cabelo de sua testa.
— Durma um pouco.
Seu último pensamento, antes de se entregar, foi que a investigação havia terminado. Isso o deixou livre para usar cada grama de sua energia para manter esta mulher segura e ao seu lado. Isso era de vital importância.
Ele não tinha certeza de como explicaria o passado, mas encontraria um jeito. Tinha que fazer porque o toque dela o fazia se sentir inteiro novamente de uma forma que não fazia há anos.
Emily olhou para sua forma adormecida, sua garganta trabalhando.
Este homem...
Ele estava deitado de lado, os joelhos dobrados, criando o menor espaço no sofá para ela se sentar. Um buraco criado pela curva de seu corpo.
Ela sentou-se, seus joelhos tocando seu peito, seu traseiro pressionado contra suas coxas e ela puxou seu cabelo para trás novamente.
Ele salvou a vida dela duas vezes. A primeira vez salvou-a de tiros, a segunda, de sequestro.
O que uma mulher deveria fazer com isso?
Mesmo alguém tão forte como Eliza certamente sucumbiria a uma fantasia romântica e sonhadora para tais circunstâncias. Mas Emily... ela precisava ser salva regularmente, então Brandon Winthrop, Duque de Lancaster, era absolutamente irresistível.
Ela pode ter se apaixonado perdidamente. Tocou seu cabelo novamente, sentindo os fios macios deslizarem por entre seus dedos.
— Ele foi um cavalheiro? — Bash rugiu atrás dela.
Ela não olhou para o seu cunhado. Em vez disso, ficou olhando para o rosto do Brandon.
— Bash, ele foi baleado em meu nome e depois perseguiu um atacante. Como isso não é a coisa mais cavalheiresca que você já ouviu?
Ele riu atrás dela.
— Com o que ele encontrou, sua posição será restabelecida, Emily.
— Bom. Estou feliz por ele. — Ela afastou o cabelo dele.
— E eu vou ajudá-lo.
— Também são boas notícias. — Ela sorriu para Brandon, feliz por ele ter o que mais queria. — Tenho certeza de que ele ficará muito feliz em ouvir isso.
— E agora, antes que ele retorne a uma cadeira de poder, você pode reivindicá-lo como seu.
Ela fez uma careta. Uma mulher diferente poderia fazer exatamente isso. Mas ela não tinha a coragem.
Porque...
Bem, primeiro, porque tinha quase certeza de que havia se apaixonado. Ou talvez fosse apenas uma fantasia que ela criou em sua mente. Ela sabia que queria este homem. E que outro teria comparação?
Mas ela também sabia que ele não correspondia ao seu afeto. Claro, seria fácil se enganar pensando que ele correspondia. Ele correu para resgatá-la. Mas estava fazendo isso em benefício do pai dela, não dela.
E o fato de que a investigação teve precedência sobre ela, lhe disse que ele realmente não se importava com ela. Ela estremeceu.
Ela não era o tipo de inspirar tal lealdade.
Ela teve pretendentes. Muitos deles. Mas nenhum deles parecia se interessar, ela sabia o motivo. Uma vez que um homem superasse sua beleza...
Ela balançou a cabeça.
— Eu não quero prender um homem enquanto ele estiver fraco.
Bash suspirou.
— Talvez eu tenha que insistir.
Ela se virou então, seu traseiro pressionando o oco do corpo de Brandon. Ele estava quente e mesmo durante o sono, ela podia sentir as cristas duras de seus músculos.
— Não entendi?
— Eu também não gosto disso, — disse Bash. — Mas você estava sozinha com ele. Por um longo período. Em uma via pública, se não me engano.
Uma onda de choque a percorreu enquanto suas mãos voaram para a boca.
— Mas...
— Alguém pode ter reconhecido você, — Bash continuou.
Ela engoliu, tentando limpar a garganta de um caroço muito grande.
— Você vai forçá-lo a se casar comigo porque ele me salvou?
Bash encolheu os ombros.
— Ele claramente adora o negócio. Nesse arranjo, ele obteria o controle acionário. E Emily, você é... — Bash fez uma pausa, olhando para o teto. — Muito bonita. Há muito para ele aproveitar neste jogo.
Ela suspirou, as lágrimas ardendo em seus olhos. Porque. Bem, porque não era exatamente igual a ela? Isabella e Eliza têm amores incríveis. Homens que lhes deram seu coração e alma. E o que Emily inspirou? Um bom negócio e... diversão. Nem paixão, nem tudo que consome fogo. Ela era apenas... boa o suficiente. Não melhor. Uma conveniência.
E aqui estava ela desfrutando de todos os tipos de fantasias românticas. Sozinha.
— Certamente. — Ela acenou com a mão. — Casar-me com o homem que se beneficiaria com minhas ações de negócios.
Bash passou a mão no rosto.
— Se alguém viu você... — Ele respirou fundo. — Então se tornar uma solteirona é a outra alternativa. Você sabe que é bem-vinda aqui para sempre. Mas viver aqui, solteira e sozinha a vida inteira, é realmente o que você quer?
Essas eram as suas escolhas? Ela balançou a cabeça.
— Achei que você não gostasse dele.
— Não é uma questão de gostar. Tenho certeza de que ele está bem. Como você disse, ele salvou sua vida. Duas vezes. Achei que poderia estar consorciado com a quadrilha e não gostei disso, mas ele não está e isso o eleva, na minha opinião.
Ela olhou para sua forma adormecida. Pegando sua bochecha, ela permitiu que seu polegar roçasse ao longo de seus cílios.
— Preciso pensar, Bash, e duvido que ele vá acordar por algum tempo. Você pode ter uma refeição enviada para o meu quarto?
Bash acenou com a cabeça quando ela se levantou. Seu olhar se desviou de volta para Brandon. Ele parecia mais jovem dormindo. Mesmo suave.
Com um suspiro rápido, ela se virou e saiu da sala.
Mas em seu coração, já sabia o que iria fazer.
Ela era uma lutadora? Não. Ela queria ser mais forte e mais capaz. Desejava salvar sua família como suas irmãs tinham feito e então sabia, não importa o que a vida trouxesse, ela seria forte o suficiente para resistir a qualquer tempestade. Mas, como de costume, provavelmente faria o que fosse melhor para todos os outros. Ela ficaria contra Bash se ele insistisse? Ela suspirou. Claro que não.
Capítulo 05
Brandon acordou, piscando os olhos. A sala estava escura, exceto pelas brasas acesas na lareira.
Que horas eram?
Onde ele estava?
Ergueu a cabeça tentando examinar os detalhes no escuro. O quarto tinha um cheiro estranho. Estava deitado em um sofá e não em uma cama. O travesseiro era fofo, a toalha quente.
Lentamente, a sala entrou em um foco nublado. À sua frente havia outro sofá onde estava uma mulher. Emily.
Seu peito apertou quando ele se sentou, olhando-a na escuridão.
Seus cílios longos e escuros descansavam em sua bochecha, seus lábios cheios e relaxados. Um braço estava dobrado contra seu corpo, mas o outro estava afastado, pendurado na beirada do sofá e perto do chão. Ele se levantou devagar.
Contornando a mesa que separava os dois sofás, ele se abaixou e agarrou o pulso dela. Seus ossos eram delicados e seu braço fino, fazendo a mão dele parecer enorme. A pele, muito mais pálida do que a dele, parecia brilhar na luz fraca.
Era dolorosamente macia sob a ponta dos dedos e ele acariciou levemente o interior de seu pulso. A tentação de cair de joelhos e salpicar aquela mesma pele com beijos leves passou por dele, mas cuidadosamente colocou o braço dela contra o roupão.
Ele desviou o olhar sobre o resto do corpo dela. Ela estava deitada de lado, uma trança solta caindo sobre seu ombro. Mesmo em seu roupão grosso, podia ver a largura de seus quadris e quando seus olhos baixaram por seu corpo, os dedos dos pés descalços apareceram fora da bainha.
Ele flexionou a mão, resistindo ao desejo de arrastar os dedos ao longo da curva da cintura fina e quadris, até que pudesse tocar os dedos dos pés. O que havia de tão... adorável sobre eles? Havia algo sobre essa mulher que não fosse deslumbrante?
Ela suspirou em seu sono, e o som deslizou ao longo de sua pele fazendo sua carne subir. Não. Nem mesmo aquele som era atraente. Na verdade, tinha sido incrivelmente... adorável.
— Sua graça? — Ela perguntou, seus cílios tremulando, sua voz alta e dolorosamente gentil. — Está tudo bem?
Droga. Ela era tudo de suave neste mundo. Toda a suavidade com a qual ele nunca tinha sido tratado. Sua mãe havia morrido antes mesmo de a conhecer. Seu pai era um espião que praticamente abandonou seu filho para a raiva de um rei irado.
Mas Emily... ela era como um bálsamo para suas feridas e ele quase permitiu que o pior acontecesse com ela.
— Tudo está bem. — Ele não resistiu, estendendo a mão para afastar uma mecha de cabelo, que escorregou por entre seus dedos como a mais fina seda. Queria enterrar as mãos em sua massa de cabelo. Inferno, queria aquelas mechas espalhadas em seu peito como uma cortina. Ele não os merecia, pensou, isso era certo. — O que você está fazendo dormindo aqui? Presumo que Sua Graça tenha lhe dado um quarto com cama?
Ela se espreguiçou e o movimento fez sua masculinidade engrossar e alongar. A mulher não estava tentando ser sedutora. Ela só... ela estava causando estragos nele.
— Sim, ele me deu — ela murmurou. — Eu estava preocupada com você e não pude dormir.
Ele caiu de joelhos, então. Ele não tinha certeza do porquê. As palavras o tocaram profundamente, mas certamente ele não estava sofrendo de joelhos fracos? Provavelmente só queria estudar seu rosto para avaliar a verdade.
— Não estou acostumado com as pessoas se preocupando comigo.
Ela rolou de costas, deixando seu corpo ainda mais aberto para ele do que antes. Sua mão coçava para tocá-la.
— Você está brincando. Você é um duque bonito... — Suas palavras diminuíram e mesmo na penumbra, a cor flamejou em suas bochechas.
Ele correu um dedo sobre sua bochecha, sentindo o calor. Apesar de seus pensamentos, ele riu.
— Eu sou um duque no exílio. Isso me torna significativamente menos popular.
Ela inclinou a cabeça para olhá-lo.
— Preciso te contar uma coisa.
A inquietação fez suas costas se endireitarem. Ela não era propensa a dramas, tinha visto isso uma e outra vez. Ela acalmava aqueles ao seu redor, em vez de agitá-los.
— O que é?
— Bash, o Duque de Devonhall, acha que você deveria pedir minha mão, já que estávamos sozinhos. — Ela engoliu em seco e se apoiou nos cotovelos.
O gesto chamou-lhe a atenção de seu seio, o que era bastante para uma mulher de seu tamanho, e trouxe seus lábios cheios para mais perto dos dele. Apesar da imagem atraente à sua frente, ele franziu a testa.
— Ele pensa isso, não é?
Ela balançou a cabeça, a trança deslizando sobre o peito.
— Você não deveria ser punido por me resgatar.
Essa foi a coisa mais chocante que ela disse desde que ele a conheceu.
— Punido? — Ele a tocou, então. Estendeu a mão e passou-a do topo de sua cabeça ao longo de sua trança. Ele amaria desfazer aquele cabelo, espalhá-lo. — Casamento com você não seria um castigo. — Ele balançou a cabeça. Muito pelo contrário, seria um prejuízo para ela. Ela merecia um homem que pudesse correr em seu auxílio sem que os demônios de seu passado o levassem em outra direção.
A cor rosa em seu rosto novamente.
— Eu... — ela começou, e então se sentou, afastando-se dele. — Você não pode realmente querer... — Seu rosto se voltou para as almofadas. — Eu nem sou da nobreza.
Ele balançou a cabeça.
— Eu segurei meu título pelo mais fino fio. Neste ponto, estou mais preocupado em restabelecer minha posição.
— Certamente um casamento forte com uma boa família seria muito melhor para você do que se casar comigo.
Ele ergueu as sobrancelhas. Ela não queria se casar com ele? Ele supôs que não a culpava. Ela sabia que ele quase a perdeu ao prosseguir com suas investigações em primeiro lugar. Ele caiu em desgraça e, apesar de seus esforços, poderia permanecer assim. Ele não era exatamente um bom partido, era?
— Você proporcionaria muitas vantagens, Emily. Infelizmente...
Ele viu o rosto dela desmoronar de dor com a única palavra, mas uma voz mais profunda foi a que respondeu.
— Concordo. É por isso que acho que devemos conversar em meu escritório. Emily, você deveria ir para a cama.
Ele virou-se. O Duque de Devonhall estava parado na porta. Droga. Estava prestes a dizer a ela, que apesar de todos os seus atributos encantadores, não poderia se casar com ela. Lhe contaria sobre seu passado? Sobre Ewan? Ele impediu que o primo dela viesse resgatá-las. Um pecado pelo qual certamente seria punido.
Ele não teria a chance esta noite.
Brandon se levantou, preparando-se para o que quer que Devonhall estivesse prestes a lançar em seu caminho. Não importa em que ângulo o homem estava trabalhando, os dois pareciam estar em desacordo.
— Oh, mas... — Emily começou. Ele estendeu a mão e pegou a dela, ajudando-a a se levantar do sofá. Gostaria de entrelaçar os dedos nos dela e mantê-la ao lado dele. — Eu não deveria fazer parte dessa conversa também?
Bash balançou a cabeça.
— São duas da manhã. Você deveria dormir um pouco. Foi um dia difícil.
Ela suspirou, mas seus dedos começaram a escorregar dos dele. Ele fez uma careta. Por que ela não deveria discutir seu próprio futuro? E Brandon tinha mais a dizer a ela.
— Discordo.
Não gostava das palavras que tinha a dizer, mas elas deveriam vir dele.
Ela parou de se mover, olhando-o. Havia uma pergunta na ruga de seus olhos, mas também um pequeno sorriso que lhe roubou o fôlego.
— Esta é a minha casa. Emily está sob a minha tutela. — Bash se endireitou, cruzando os braços.
Emily olhou para o cunhado.
— Não ligue para ele, — disse ela, voltando-se para Brandon. — Ao se casar com Isabella, ele foi amarrado com quatro mulheres solteiras, e apenas se casou com uma delas, há um negócio que está complicado, e um tio que era um lunático. Como você também sabe. Mas se ele parece mal-humorado, é muita coisa se você perguntar para qualquer pessoa.
Bash roubou as palavras da boca de Brandon quando olhou para a cunhada.
— Você é infalivelmente gentil e atenciosa, Emily.
Brandon apertou os dedos dela com mais força. Ela acabaria casada por consideração por causa do resto de sua família? Pelos ditames da sociedade? Quem seria esse homem? Odiava a ideia de outro homem tendo o direito de tocá-la mesmo que ele não tivesse nenhum direito ao ciúme.
— Você deseja se casar agora?
— O quê? — Ela perguntou, seus dedos entrelaçados nos dele.
— Você tem uma escolha. O que você escolhe?
Ela balançou a cabeça, sua língua saindo para lamber os lábios.
— Ela tem que escolher se casar, — Bash disse da porta.
— Perdoe-me, Sua Graça. — Brandon franziu a testa para o outro homem. — Mas não perguntei a você. — Brandon podia ver que Emily era gentil quase ao extremo. Bash estava atropelando as escolhas dela com as dele.
Emily tocou seu braço, seus dedos enroscados nos dele.
— Eu farei o que for melhor para minha família.
E ela ainda falava com deferência. Ele olhou-a.
— Você pode dizer não. — Ele sorriu, então. — É seu direito esperar e encontrar o homem certo.
Isso a fez sorrir novamente. Doce e relaxada, o calor de seu olhar o fez doer.
— Obrigada pelo conselho, Sua Graça. — Então, sua mão escorregou da dele e ela começou a sair da sala. Ele a observou até que ela desapareceu.
Bash olhou-a também quando ela saiu da sala, e então ele voltou seu olhar para Brandon.
— É hora de termos uma conversa particular.
Brandon ergueu uma sobrancelha.
— Eu estou muito agradecido por me permitir dormir em seu sofá, mas como você afirmou, são duas da manhã. Talvez devêssemos concordar que amanhã pode ser um momento melhor para discutir o assunto do casamento?
Bash deu um aceno rígido.
— Também tenho outras perguntas. Sobre o escocês, sobre o pai de Isabella, e sobre o tio delas.
Brandon deu um aceno rígido.
— Amanhã, então?
— Amanhã.
Capítulo 06
Emily acordou tarde, e quando entrou na sala de café da manhã, esperava que estivesse vazia. O silêncio da sala confirmou suas suspeitas, mas quando ela entrou, encontrou sua tia falsa, suas irmãs e sua prima reunidas.
Elas se sentaram em uma fila, as mãos postas, esperando.
O silêncio delas por si só era preocupante. Cinco mulheres nunca ficavam quietas. Nunca.
Mas seus olhares de preocupação combinados fizeram Emily parar na porta. O medo percorreu suas costas.
— O que está errado?
Isabella estava limpando a garganta.
— Como você está se sentindo esta manhã?
Eliza também se levantou e, antes que pudesse responder, ela começou a falar.
— Foi um dia bastante interessante ontem, e tenho certeza de que você ainda está exausta.
— Estou bem, na verdade, — ela respondeu, sua mandíbula cerrada. Amava Eliza, mas não precisava que sua irmã falasse por ela.
— Oh, bom, — respondeu Isabella. — Estávamos tão preocupadas ontem...
Emily estremeceu. Claro que sim. Elas a viram ser carregada. Ela respirou fundo. Precisava ser mais paciente com sua família.
— É por isso que vocês estão todas sentados aqui como se estivéssemos prestes a comparecer a um funeral?
Abigail se levantou, então. Emily olhou para a irmã mais nova, o rosto pálido, os olhos grandes e o estômago revirado de apreensão. Abigail nunca ficava quieta. Nunca. As mãos de Abigail se torceram, seus dentes agarrando seu lábio inferior.
— Algo aconteceu.
Emily avançou indo para o lado de sua irmã. Ela deslizou um braço sobre Abigail.
— O quê?
As mãos de Abigail torceram.
— Alguém te viu ontem. Nos braços do duque.
Foi, então, que Emily viu o pedaço de pergaminho na mesa com letras bem inclinadas.
— Quem me viu?
— Não sabemos exatamente. — Eliza levantou-se, os nós dos dedos batendo na mesa. — Mas aparentemente é o assunto da cidade. Houve um baile na noite passada, e estava sendo sussurrado em todos os lugares. Alguns estão até dizendo que seu comportamento escandaloso é o motivo de termos desaparecido da sociedade.
— O quê? — Sua respiração ficou suspensa. O que aconteceria com sua irmã? — Isso não é verdade.
A tia Mildred contratada encolheu os ombros.
— Tecnicamente, é verdade. As mesmas forças que a empurraram para fora da sociedade tentaram sequestrar você.
— Por que você ainda está aqui? — Eliza perguntou, estreitando os olhos. — Nosso tio está morto e estamos sob a proteção do duque.
Tia Mildred, ou Caroline, ou qualquer que fosse o nome dela, soltou um bufo.
— Parece melhor que eu. E, além disso, quando todas vocês estiverem casadas, recebo um bônus e uma casa de campo.
— Você está brincando, — disse Eliza um pouco mais alto do que o necessário.
Mildred encolheu os ombros.
— Estava no meu contrato inicial. Não vou quebrá-lo.
A sobrancelha de Isabella arqueou.
— Então, por que você desiste regularmente?
— Você é muito para aturar, — a outra mulher resmungou de volta.
Abigail bateu com o pé calçado no tapete grosso.
— Podemos voltar para mim, por favor?
— De volta para você? — Emily perguntou.
— Sim. — Abigail se virou para olhá-la. — Como eu disse. Você foi vista com o seu homem misterioso.
— Eu sei, — ela respondeu. — Como você disse. Mas isso não importa. Pelo menos não para mim. Bash e Brandon estão discutindo a possibilidade de casamento, e Bash está convencido de que Brandon será exonerado pela Coroa.
— Ele propôs! — Isabella abriu um grande sorriso. — Esta é uma boa notícia.
Tia Mildred bateu palmas.
— Você acha que há um bônus para um duque? Eu deveria olhar meu contrato.
Ele tinha proposto? Não, exatamente. Essa palavra... infelizmente... escorregou pela sua mente. Como ela era boba. Bash poderia forçar o casamento, mas ela não teria sido sua primeira escolha para uma esposa.
— O problema, entretanto, é que quem a viu pensou que você era eu, ou eu era você, ou o que quer que fosse, — Abigail disse. — Em outras palavras, você não é aquela que enfrenta a ruína. Eu sou.
Emily ofegou e suas mãos cobriram a boca.
— Vou dizer a eles que fui eu. Eu direi a todos.
Lágrimas encheram os olhos de Abigail.
— Eu sei que você diria. Mas... — Ela juntou as mãos na frente do coração. — Todo mundo vai presumir que você está apenas tentando me encobrir, e o escândalo vai me seguir de qualquer maneira. Com toda a probabilidade, nós duas estaríamos arruinadas. — Ela se deixou cair na cadeira, acenando com a mão. — Seremos solteironas juntas, suponho. Vamos morar no campo com uma casa cheia de gatos que cheiram a tapete velho e ervas.
Emily colocou os braços em volta da irmã, as lágrimas ardendo em seus olhos.
— Abigail, pare. — Como sua irmã irascível e estonteante poderia ser arruinada antes que ela mal tivesse começado? E pelo quê? Nada. Ela não fez absolutamente nada. — Temos que encontrar uma maneira de consertar isso.
— Vamos. — Isabella acenou com a cabeça.
— O que podemos fazer? — Avery perguntou vindo para se juntar às irmãs. Ela era prima delas, e sendo filha do tio Malcolm, as meninas nem sempre foram próximas. Mas Emily a puxou para um abraço no grupo. Apesar de sua linhagem, Avery tinha um bom coração. E ela era família.
— Nós temos ações... — Eliza disse, batendo em seu queixo. — Talvez possamos transferir algumas para Abigail. Com um dote grande o suficiente, quase todos os pecados serão perdoados.
— Que pecado? — Abigail bufou, seu pé batendo novamente. — Ficar sentada em casa entediada até as lágrimas nos últimos dois meses?
Eliza pegou a mão de Emily, ignorando o comentário de Abigail.
— Seu duque já está aqui conversando com Bash. Você acha que ele estaria disposto a se contentar com menos ações no contrato de casamento?
Emily estremeceu interiormente. Até mesmo sua irmã percebeu que se Brandon chegasse a um acordo com Bash, se casaria com ela pelo lucro do negócio e não por afeto.
Todo mundo sabia que ela não se sentia ser suficiente. E a pior parte era que se importava com ele tão profundamente que sofria com isso. Seu coração batia descontroladamente no peito.
E então, uma nova ideia lhe ocorreu. Uma muito boa que fez seu interior se torcer em nós nauseantes.
— Nós todos temos partes iguais, correto?
— Sim, — os olhos de Isabella se estreitaram. — Por quê?
Ela mordiscou o lábio quando um novo pensamento lhe ocorreu e ignorou o forte medo em seu peito.
— Bem, Bash queria que ele se casasse comigo porque ele me arruinou. Só que ele não me arruinou, inadvertidamente, ele arruinou Abigail e...
— Emily, — Abigail bufou. — Vamos direto ao ponto?
Emily abaixou a cabeça. Queria ajudar a salvar Abigail. Queria com certeza, e não desejava que suas irmãs vissem o quanto as próximas palavras lhe doeriam. Ela estava apaixonada pelo homem, fazia meses. — Você é um bom par para ele também. O rei ficou com a maior parte de sua riqueza, então as ações em dobro no negócio lhe permitirão aumentar sua fortuna e retornar seu status.
— O quê? — Eliza bufou. — Não funciona. Você é a única que ficou sozinha com ele. E foi ele quem te arrastou para uma rua movimentada.
— Nós tínhamos que ir embora, — ela disse enquanto erguia sua cabeça. — E Bash sugeriu o casamento apenas para salvar minha reputação... — A dor atravessou seu peito. — Acontece que não sou eu que preciso ser salva.
Um silêncio caiu sobre a sala quando as mulheres perceberam o que ela queria dizer.
Porque seu duque, aquele com quem ela estava fantasiando por semanas, aquele por quem estava bastante certa de que estava apaixonada, iria propor casamento se Bash conseguisse o que queria. E ela teria que dizer não. E então, ela teria que...
Ela cobriu seu coração acelerado. Teria que sugerir que ele propusesse a Abigail ao invés.
Brandon olhou para o outro duque, desejando que fosse final do dia, e pudesse tomar uma bebida.
Ele disse a Bash tudo o que sabia sobre o desaparecimento de Lucas Carrington, o que honestamente, não era tanto quanto gostaria de saber.
— Eu já disse. Ele me disse que descobriu os ladrões, que acreditava que eram originários das Índias e que viajaria para lá para investigar. Eu deveria ficar de olho nas garotas, mas não permitir que me conhecessem. Para meu benefício e delas.
— E você nunca mais ouviu falar dele?
— Não. Nem mesmo uma atualização de vendas ou rota comercial por meses. — Brandon passou a mão pelo cabelo. — Mais ou menos, um ano. Eu estava perdendo as esperanças de qualquer maneira, e então o assistente pessoal voltou sem ele, tendo testemunhado sua morte.
— Sinto muito pela sua perda. Por quanto tempo vocês foram parceiros?
— Três anos. Ele me trouxe quando percebeu que não podia confiar em Malcolm. Disse, por causa de suas garotas, que precisava haver um segundo no comando.
— E em todo esse tempo, você nunca conheceu nenhuma das filhas dele? — Devonhall sentou-se à frente.
Brandon hesitou.
— Ele trabalhava muito. Acho que nem ele as via muito... — Mas agora que Devonhall mencionou isso, sua falta de envolvimento com sua família era estranha. — Mas eu devia ficar em silêncio. Dessa forma, eu estava protegido de Malcolm, mas também o negócio teria uma camada de sigilo que tornava mais difícil penetrar.
— E quais eram suas relações com Malcolm?
Brandon suspirou. Respondeu a todas essas perguntas várias vezes.
— Nenhuma. Acabei de te dizer, eu estava um segredo, um parceiro silencioso.
— E por que ele contrataria um homem tão desfavorecido ao nosso rei?
— Porque... — Brandon balançou a cabeça. — Houve um tempo em que ele e meu pai eram amigos.
Bash fez uma careta.
— Essa é a parte que me preocupa.
— Por quê? — Ele perguntou, mas sabia a resposta. Ele sentiu a mesma apreensão.
— Porque seu pai era um espião.
Brandon engoliu em seco.
— Não acho que tenha sido isso. Eles se conheciam desde a infância. Eram velhos amigos.
Bash acenou com a cabeça.
— E quanto a um compromisso com Emily?
— Combinado, — ele retrucou, cansado do interrogatório. — Você está insistindo ou perguntando?
— Eu gostaria de dizer que estou perguntando. Muito educadamente.
— Então, eu devo recusar.
— Receio que não seja possível. — Bash disparou de volta. — Ela não será arruinada. Não vou permitir.
— Se chegar a esse ponto, então irei me casar com ela, mas se ninguém for mais sábio, então não há necessidade.
Mas Bash não olhava mais para ele, desviando o olhar por cima do ombro de Brandon. Brandon se virou também, e seu coração parou no peito. Emily estava atrás deles.
— Perdoe-me, — ela disse suavemente, mas seus olhos não pediam perdão. Na verdade, ela parecia como se sentisse... traída. — Eu deveria ter batido. É que a porta estava aberta e eu estava com muita pressa.
— Pressa para quê? — Bash perguntou de pé.
Brandon também se levantou. Emily não encontrou seu olhar. Droga, ela certamente ouviu seus comentários. Não era assim que queria dizer a ela. Ele não quis dizer isso. Ele não queria se casar com ela porque ela era tudo de maravilhoso neste mundo. Era tudo o que ele nunca teve antes. E ele não fez nada além de trair aquela moça linda.
— É Abigail. — As mãos de Emily tremeram mesmo enquanto sua voz tremia. — Rumores...
— Eu sei, — respondeu Bash. — O que isso tem a ver com alguma coisa?
Emily piscou, dando meio passo para trás.
— Você disse a ele?
Brandon olhou para Bash, que estava carrancudo.
— Por que eu deveria?
— Me dizer o quê?
Emily ainda não olhou para ele.
— As pessoas nos viram ontem. Toda a sociedade sabe que estávamos sozinhos.
— Tudo bem. — Ele se moveu em direção a ela, querendo tocá-la. Ele estava resistindo ao casamento por causa dela. Ela realmente queria se casar com um homem que aumentaria sua miséria? Mas se a solteirice era sua única opção, ele a protegeria. Não havia dúvida. Mas ela ainda não o tinha encarado. — Se esse for realmente o caso, eu vou...
— Só que quem quer que nos viu pensou que eu fosse Abigail. É uma coisa horrível, todas nós nos parecemos muito.
Ele prendeu a respiração.
— Sua irmã vai ficar arruinada?
— Não. — Emily finalmente fixou os olhos nos dele, sem vacilar. — Ela não. Não posso lidar com isso. Ela não fez nada de errado.
Seu peito inchou. É por isso que se importava tanto com ela. Ela amava com todo o seu coração e livremente. Não havia mulher mais gentil no mundo. Ela o fez sentir coisas que pensou que nunca experimentaria em sua vida.
Deveria ter ido para o lado dela quando ouviu a trama. Ele deveria ter enviado Ewan até elas e tê-las levado para a Escócia, onde estariam seguras, aquecidas e alimentadas. Arrependimento o cortou.
— Você é uma boa irmã e uma pessoa maravilhosa.
Ela balançou a cabeça e seus olhos desviaram novamente direção à janela.
— Ela tem as mesmas ações que eu. Se você se casar com ela...
Ele piscou. Apenas um tremular de suas pálpebras. Exteriormente, ele não se moveu de outra forma. Mas por dentro, seu estômago embrulhou.
Ela o estava entregando à irmã. Como um saco de grãos. Aqui, ele estava caindo de cabeça no amor, e ela pensou em mudar a noiva da mesma forma que alguém muda de roupa.
Ele balançou sua cabeça. Por que ela deveria querê-lo? Se Emily soubesse da metade...
O que isso dizia sobre ele, que a pessoa mais gentil que já conhecera não via mérito nele?
— Não. — A única palavra saiu de sua boca. Mas, não se arrependeu. Não voltaria atrás. — Minha oferta era para você.
— Eu concordo, — Bash acrescentou atrás dele. — Pela primeira vez.
Brandon se endireitou, suas costas tão rígidas que pensou que poderia quebrar para se mover. Iria se casar com a mulher que admirava e se importava, e seria absolutamente infeliz ao fazê-lo.
— Eu terei os contratos redigidos hoje. — Bash deu a volta em sua mesa. — Iremos ver nosso rei amanhã.
Brandon deu um aceno de cabeça.
— E Abigail? — Emily perguntou. — Então, e ela?
Os ombros de Bash caíram e ele esfregou os olhos. O homem parecia... cansado.
— Estou trabalhando nisso, Em.
Em. Ele amou o nome, e odiava nos lábios de outro homem. Não que tivesse ciúme de Bash. Bem, talvez estivesse. Com ciúmes da maneira como essas mulheres se voltaram para ele em busca de orientação e apoio. Bem, nem todas as mulheres. Apenas Emily. Ele queria ser seu pilar. Seu porto na tempestade. Você deveria ter parado e avisado ela. Aquela voz irritante em sua cabeça sussurrou.
Não admira que ela não o quisesse, não confiasse nele.
— Trabalhando nisso? — Emily repetiu, dando um passo em direção a ele. — Quão? Estou preocupada. E se ninguém a quiser?
Bash baixou as mãos.
— Emily. Abigail é uma linda herdeira. O problema não é se um homem a terá. Eles rastejarão para fora da madeira. É uma questão de encontrar um homem em quem confiar. Confiá-la e às suas ações. E sua irmã ficará bem. Vou cuidar disso. Se você quer se preocupar com alguém, preocupe-se com Avery. Ela não tem dote graças ao pai e a menina é extremamente tímida.
Sua respiração prendeu, e ela olhou para Brandon novamente, seus olhos ilegíveis.
— Eu também não vou casar-me com ela. — Brandon balançou a cabeça. — Só estou interessado em salvar uma Carrington.
Seus olhos se arregalaram e seus lábios se separaram.
— Mas, por quê?
Por quê? Porque ele era um idiota, obviamente.
— Porque você é aquela que eu realmente estou obrigado a me comprometer. — Por que ele disse isso? Sua mão foi ao estômago enquanto ele endireitava os ombros novamente. A verdade revelaria muito.
Sua boca apertou, e ela desviou o olhar novamente.
— Estou feliz que nós resolvemos tudo.
Ele não respondeu. Sabia que não haviam resolvido nada. Na noite anterior, no escuro daquela sala, ele sentiu... esperança. Suas curvas suaves eram como um chamado. Mas esta manhã? Um abismo estava entre eles.
Capítulo 07
Brandon estava sentado no salão dourado do palácio, com as mãos cruzadas. A única indicação externa de seus nervos.
Ele terminou sua entrevista com seu rei; Bash e Menace ainda estavam falando com seu líder soberano, mas Brandon havia sido dispensado.
Segundo todos os fatos, a discussão transcorreu bem. Ele apresentou ao rei uma lista de nomes e endereços junto com o método que ele usou para obtê-los, de forma que o rei pudesse sistematicamente prender todos os criminosos.
Por seu serviço, recebeu um convite para um baile realizado no palácio no dia seguinte. O que significava que a sociedade o receberia de braços abertos. Não havia necessidade para esconder sua identidade por mais tempo.
Ainda assim, não sentiu a euforia que esperava por tal vitória.
A meta pela qual ele vinha trabalhando nos últimos cinco anos tinha sido finalmente alcançada. Ele restaurou a classificação de sua família. Poderia reconstruir sua fortuna e estabelecer totalmente seu lugar mais uma vez.
Excitação, no entanto, não era sua emoção principal. Em vez disso, o pavor doentio continuou a se acumular em seu intestino.
Ele limpou o nome de sua família. Havia revelado os ladrões ou quase, e o mais importante, tinha acertado compromisso com a mulher dos seus sonhos. Ou ele tinha?
Emily estava pronta para entregá-lo a sua irmã sem olhar para trás.
Ele se endireitou. O afeto dela se tornou mais importante do que a luta para restaurar seu nome. Ele balançou sua cabeça. Abatido por uma mulher.
Mas então, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Quando ela lhe dava aquele sorriso suave, acalmava as cicatrizes em seu coração. Mas como ele a convenceu de que valia mais do que um sorriso ocasional? Que ele merecia todo o carinho dela?
Ele conseguiu isso?
Ele sabia que não, e esse era o cerne do problema. Como teriam um futuro depois do que ele fez no passado?
Ele se levantou e começou a andar pelo corredor, seus passos abafados pelo carpete grosso sob seus pés. As paredes estavam forradas com todos os tipos de pinturas, mas as ignorou. Ela viria com ele amanhã à noite. Anunciariam seu noivado para toda a sociedade. Ele a seguraria em seus braços e...
— Você não parece um homem que acabou de ganhar — Menace gritou do corredor. — Porque você o fez.
Brandon girou, virando-se para o outro homem.
— Estou lutando em várias frentes. E uma delas não está indo muito bem.
— Ele está se referindo a Emily, — disse Bash com um sorriso. — Ela tentou entregá-lo a Abigail esta manhã.
Brandon franziu a testa, dando a Bash seu olhar mais sombrio. Bem quando pensou que poderia estar começando a apreciar o homem.
— Ela queria garantir que sua irmã fosse bem cuidada. Uma qualidade que admiro na minha futura noiva.
Menace ergueu as sobrancelhas.
— Se você acha que sim.
Ele cerrou os punhos. Gostaria de acertar um deles. Ou os dois.
— Qual você acha que é o problema? — Menace coçou o queixo. — Você salvou a vida dela duas vezes. Você não é feio. Talvez ela pense que sua personalidade está fora de controle.
Suas unhas cravaram em suas palmas. Não precisava de outro homem para falar essas coisas. Elas já enchiam os seus pensamentos.
— Ela não acha que ele está fora de controle, — disse Bash. — Eu a vi o tocando enquanto você estava dormindo. Uma mulher não toca em um homem assim se ela não se importa.
Uma sensação percorreu seu corpo, era quente e doce, e seus ombros caíram de alívio.
— Eu gostaria de levá-la ao baile amanhã à noite.
As sobrancelhas de Bash se juntaram.
— Não tenho certeza.
— Por que não? — Ele perguntou, se aproximando. Ele precisava de uma chance de cortejá-la e isso parecia perfeito.
— Não fizemos aparições públicas para manter as meninas seguras.
Menace balançou a cabeça.
— Com os rumores sobre Abigail, não tenho certeza se esconder-se é uma boa ideia também. Isso apenas alimenta a fofoca. E nosso rei fará um trabalho rápido para encontrar os ladrões. Homens já foram despachados.
Bash franziu a testa.
— Verdade.
Menace coçou o queixo.
— Quão perto você está de um compromisso com Abigail?
— Muito perto.
Brandon deu um passo à frente.
— Eu preciso de um pouco de tempo com Emily. Tempo que não envolva ladrões ou propostas apressadas. Preciso convencê-la de que sou uma boa escolha. — Ele precisava de tempo para explicar e convencer.
Menace franziu a testa.
— Você é um maldito duque.
Mas Bash deu um pequeno sorriso e, em seguida, um rápido aceno de assentimento.
— Acontece que quando você encontra a mulher certa, ela se importa menos se você é ou não um duque, e mais se você é ou não o homem certo. Se você for, todos nós iremos. Haverá força nos números.
Brandon deu um aceno rápido.
— Essa é uma excelente ideia.
— E quanto a Abigail? — Menace perguntou. — Eliza está fora de si de preocupação.
— Eu vim com um plano que irá, com sorte, satisfazer as irmãs. — Mas a sobrancelha de Bash franziu.
Brandon inclinou a cabeça para o lado, mesmo quando Menace grunhiu.
— E que plano é esse? Eliza aprovará? Você conhece aquela mulher. Ouviremos muito se ela não o fizer.
Bash esfregou a nuca.
— Nós iremos. Abigail tem uma oferta de casamento.
— Mesmo? De quem? Será que acontecerá mesmo com o escândalo?
— Vai acontecer, — Bash respondeu, seu olhar lançado para o chão.
Brandon deu um aceno rápido. Abigail sendo cuidada tornou seu trabalho para conquistar Emily mais fácil, e os levaria a um passo mais perto de limpar os obstáculos entre eles.
Amanhã à noite ele cortejaria sua futura noiva. E encontraria uma maneira de explicar-lhe o passado. Ele teria que conseguir. Era sua única esperança.
Emily estava na entrada da casa de Bash usando um vestido de baile rosa claro feito da melhor seda. O vestido parecia flutuar sobre ela como uma nuvem ao amanhecer.
Seu cabelo estava puxado para trás em uma touca solta, com vários fios enrolados caindo sobre o rosto e sobre os ombros. Ela nunca se sentiu mais adorável. Ou mais nervosa.
Suas entranhas vibravam e pequenos arrepios de antecipação dançaram ao longo de sua pele. Esta noite seria a noite em que Brandon faria o pedido de casamento?
Parte dela estava emocionada. Ele era um sonho e ela tinha fantasiado com ele por meses. Mas suas mãos pressionaram seu estômago. Ela tinha sonhado com sua proposta quase todas as noites enquanto adormecia. Tinha sido romântico, adorável, uma fantasia digna de um homem que se lançou e resgatou uma garota necessitada.
Mas suas discussões sobre casamento foram... comerciais. Pior, ouviu-o dizer que não queria se casar com ela. Que estava apenas fazendo isso para salvar sua reputação.
Talvez se ela fosse mais inteligente ou mais corajosa, inspiraria mais paixão romântica. Ela bateu no queixo tentando decidir como poderia conseguir tal fim. Que tipo de gesto seria ousado e romântico? O que suas irmãs fariam?
E então, ela percebeu. Se uma delas quisesse um homem, o avisariam. Hoje à noite, ela o beijaria.
Ao lado dela, Isabella estava em um lindo vestido azul, Eliza em vermelho e Abigail em um lilás escuro que fazia sua pele brilhar.
— Você tem certeza de que eu deveria estar fazendo isso? — Abigail perguntou. — Vou enfrentar uma quantidade obscena de sussurros.
— Você vai ficar bem, — Bash respondeu. — Você está na companhia de dois duques. A sociedade terá que engolir suas opiniões.
— Se eu precisar puxar um pouco de cabelo, é só me dizer, — disse Eliza perto de Emily. — Eu também sou mortal com um fã.
Todos riram, até mesmo tia Mildred, enquanto as carruagens avançavam ruidosamente pelo caminho.
Avery desceu as escadas, vestindo seu preto obrigatório enquanto lhes dava um olhar de saudade.
— Gostaria de poder ir com vocês.
— Nos vemos na próxima temporada, — Isabella acalmou sua prima. — Seu período de luto terminará antes que você perceba.
A menina acenou com a cabeça, mas Emily estremeceu em simpatia. Sabia que Avery não estava realmente lamentando a perda de seu pai, o que tornava este momento muito mais difícil de suportar.
A porta da frente se abriu, e Brandon entrou parecendo alto e tão bonito enquanto preenchia a abertura da porta.
Atrás dele estava outro homem, o Barão de Breckenridge. Emily viu o homem algumas vezes porque ele tinha negócios com Bash, mas ela não o conhecia bem.
Ele se curvou para todos elas, e então se virou para Abigail, curvando-se novamente.
Abigail fez uma reverência de volta, mas uma carranca decidida marcou sua testa. Antes que pudesse questionar a reação de sua irmã, a atenção de Emily se voltou para Brandon.
Ele se aproximou, seus olhos correndo para cima e para baixo em seu corpo.
— Você está deslumbrante.
Suas bochechas aqueceram quando ela fez em uma reverência e, em seguida, ofereceu a mão enluvada. Ele deu um beijo na luva e mais calor irradiou de seu núcleo.
A mão dele era grande engolindo a dela, enquanto continuava a segurar seus dedos na sua palma.
— Obrigada, — ela disse, notando que sua voz tinha uma qualidade ofegante, como se tivesse acabado de correr uma grande distância.
— Bem, estamos todos reunidos. Podemos? — Bash disse, enquanto envolvia um braço na cintura de Isabella.
Brandon nunca soltou-lhe os dedos, enquanto colocava a mão dela em seu cotovelo. Seu pulso começou a acelerar. Talvez ele pudesse ter afeto por ela, afinal.
Ele a colocou em sua carruagem e deslizou para o assento em frente a ela. Eliza se acomodou ao lado dela, enquanto Menace se sentou em frente a sua esposa.
Um silêncio constrangedor caiu quando a carruagem começou. Emily não sabia como fazer perguntas estando em público e Brandon também não fez comentários.
— Linda noite, — Menace finalmente murmurou.
— Está congelando e prestes a chover. — Eliza olhou para o outro lado. — Por que você diria tal coisa?
Menace riu.
— Você não pode nem me deixar cair na conversa mundana sobre o tempo? Eu estava tentando preencher o silêncio.
Eliza bufou.
— Vamos discutir algo que importa. — Então, ela deu a Emily um olhar de soslaio. — E sobre alguém que não está nesta carruagem. O que o Barão de Blasphemy está fazendo aqui?
— Aqui? — Menace respondeu abaixando a cabeça.
Eliza se inclinou para frente.
— Você sabe muito bem o que quero dizer. Por que ele é o oitavo membro do nosso grupo?
Menace ergueu o queixo e agora estava inspecionando o teto.
— Você terá que perguntar a Bash. Blasphemy está atendendo ao convite dele. Obviamente. Ele nunca receberia um convite do rei de outra forma.
Apontando o dedo, ela se levantou do assento e cutucou o marido no peito.
— Precisamente. Então, por que Bash o convidou? E não diga, pergunte a Bash. Estou perguntando a você. E comece a falar se quiser dormir na minha cama esta noite.
— 'Liza, — disse ele, sua voz assumindo um tom de cachorro ferido. — Não seja assim. Você vai ficar com raiva de qualquer maneira, então por que não ficar com raiva de Bash?
— Porque, — ela bufou, — eu não posso chutar Bash para fora da minha cama.
— Faça sua irmã fazer isso, então. Ele é aquele que merece o tratamento e Isabella tem o poder de fazê-lo sofrer.
— Não é um plano ruim, — Eliza murmurou. — Mas não é relevante agora. Eu quero respostas.
Emily olhou para trás e entre eles.
— Por que você está tão preocupada, Eliza?
— Estou preocupada porque, — Emily se virou para olhá-la. — Blasphemy é grosseiro, mal educado e antissocial, apesar de ser um barão. E se ele está aqui, provavelmente significa que Bash decidiu casar Abigail com o barão financeiramente infeliz e pagão. — Então, ela olhou de volta para Menace. — Estou correta?
Emily ofegou enquanto suas mãos cobriam sua boca. Abigail merecia o melhor tipo de homem. Não o pior.
Brandon pigarreou.
— Ele é um barão. Ela terá um título.
— Ele é uma besta, — Eliza disparou de volta. — Você pode ter certeza de que ele não sairá por aí resgatando Abigail do jeito que você fez com Emily.
Emily engasgou-se um pouco. Ela estava lamentando como suas irmãs eram mais fortes e haviam forjado melhor futuros para si mesmas, mas ela não estava se saindo muito mal.
A menos que alguém considere ruim estar apaixonada por seu futuro marido, enquanto ele se casou por causa de sua herança.
O que ela fez.
Brandon olhou para Eliza, fazendo uma careta.
— Você também está tentando me convencer a casar com Abigail em vez de Emily? Porque eu não vou.
— Quem mais fez isso? — Eliza ofegou.
— Eliza... — Emily começou.
— Você não fez isso. — Sua irmã se virou para ela, seu olhar brilhando no escuro.
Oh, Deus, Emily pensou enquanto estendia as mãos sobre os joelhos. Estivera prestes a conseguir e raramente superava Eliza.
Capítulo 08
Brandon observou Eliza falar alto com sua irmã.
Ele sabia que as palavras vinham de um lugar de amor, mas a cabeça de Emily afundava mais a cada frase, até que seu queixo descansasse em seu peito. Ele não gostou nem um pouco.
Emily se encolheu, mal dizendo uma palavra, enquanto Eliza continuava.
— Você sabe que vocês dois precisam se casar. Por que você quase arruinaria tal perspectiva sendo tão tola? — A voz de Eliza estava ficando mais alta. — Você tem um coração tão bom, mas não tem o menor senso.
— Com licença, — ele interrompeu, e a cabeça de Emily se ergueu quando Menace se mexeu ao lado dele. — Mas eu não sou apenas um fantasma. Sou um homem que está sentado bem aqui. — Então, seus olhos encontraram os de Emily. — E Emily tem o bom senso de colocar sua família em primeiro lugar. Sempre.
A boca de Emily abriu e fechou enquanto olhava para ele.
Então, Brandon olhou para Eliza, essas palavras saindo de seu coração.
— Só espero que depois de nos casarmos, ela me coloque na lista de pessoas que ela protege com todo o coração. Serei um homem de muita sorte, de fato.
Eliza fez um barulho estridente quando seu queixo se contraiu.
— Meu argumento permanece. Ela pode ter te assustado completamente pensando que não se importava com você se ela estivesse disposta a simplesmente passá-lo para sua irmã.
Pois bem. Isso era verdade. E ela poderia tê-lo assustado, exceto que ele não conseguia imaginar querer outra mulher do jeito que a queria. Nunca.
— Oh, — Emily exalou a palavra enquanto uma mão pressionava sua garganta. — Isso está certo?
Ele encolheu os ombros, então.
— Devo confessar que seu pai me pediu para ficar de olho em você. E eu fiquei. Muito antes de você estar ciente disso.
Emily acenou com a cabeça.
— Imaginei isso. De que outra forma você viria em nosso resgate com tanta frequência?
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Então, eu sei que você é uma pessoa de bondade infalível.
Ela não respondeu, mas lentamente aproximou-se dele.
— Obrigada por dizer isso. Mas minha família diria que a gentileza não é uma característica muito útil. Especialmente durante uma crise como a que estamos agora. Eu fiz muito pouco do trabalho real de nos salvar.
Sua mandíbula endureceu, então. Porque, neste momento, ele entendeu várias coisas sobre Emily que não tinha entendido antes. Ela era passiva e atenciosa, e sendo pisoteada por suas irmãs mais fortes, precisava de um herói novamente.
Não para protegê-la de bandidos, ladrões ou sequestradores, mas de famílias bem-intencionadas que estavam roubando sua confiança.
— Então, sua família nunca teve que ficar sem tanta emoção. Se elas tivessem, entenderiam seu valor muito mais seriamente. — Ele pegou a mão dela e puxou-a para si. Desejou que ela não estivesse de luvas; ele gostava de sentir sua pele. — Você é muito mais valiosa do que imagina. — Então, olhou para Eliza, seu rosto marcado por linhas duras. — Ou sua família lhe dá crédito.
— Eu não sou tão inteligente ou determinada, ou minha personalidade... — ela começou, mas ele deu um aperto em sua mão, e ela se acalmou.
— O que falta não é determinação ou inteligência. — Ele precisava que ela entendesse isso. — É confiança. E você não vai construir a sua enquanto outros a estão derrubando.
Ele deu a Eliza outro olhar e ela teve a decência de baixar o queixo enquanto olhava para o chão.
— Eu posso ser bastante autoritária. Sinto muito, Em.
Emily endireitou-se na cadeira, mas deixou a mão na dele.
— Não se preocupe, Eliza. Você está apenas tentando ajudar.
E isso, ali mesmo, era o que ele queria mais do que tudo. Este amor incondicional que era tão raro e tão lindo. Ela lhe daria esse tipo de emoção? Ele queria isso mais do que nada. Mais do que ninguém.
— Emily, — disse Eliza. — Ele tem razão. Sua capacidade de dar amor é incomparável e, sinceramente, não sei se teríamos saído dessa sem você. Você nos manteve conectados quando poderíamos ter nos separado.
Emily respirou fundo, seus olhos embaçando quando finalmente soltou sua mão para dar um abraço em sua irmã. Ele sentiu falta de seu toque e seus dedos se fecharam em um punho para evitar estendê-la novamente.
As irmãs se soltaram e Eliza se endireitou na cadeira.
— Podemos voltar ao tópico de Abigail? O que vamos fazer nesse caso?
Menace soltou um suspiro.
— Posso propor, meu amor, que você tente e consiga conhecer melhor Blasphemy antes de julgar?
Eliza fez um som um pouco parecido com um bufo.
— Eu sei o suficiente. Você acha que essa combinação é uma boa ideia?
Menace encolheu os ombros.
— Eu sei que ele é um pouco áspero, mas ele é um bom homem. Dê uma chance a ele.
Eliza recostou-se na cadeira cruzando os braços.
— É difícil com todas as maldições. O homem é uma fonte de palavrões. E não sou aquela com a qual você deve se preocupar. Quando Abigail descobrir tudo isso...
Até Brandon teve que rir disso.
Menace também.
— Bem, ele estará em seu melhor comportamento esta noite. É a jogada do rei.
Eliza deu um aceno de cabeça e Emily mudou em direção a ele, seus olhos castanhos dolorosamente quentes e doces.
— Este convite significa que ontem foi tudo bem?
— Sim, — ele disse enquanto a carruagem diminuiu a velocidade, entrando na fila de carruagens esperando para descarregar seus participantes.
Ela deu um aceno de cabeça, seu sorriso suave e genuíno.
— Estou tão feliz por você.
Ele franziu a testa. Ela deveria estar feliz por ambos. Como sua duquesa, ela se beneficiaria disso tanto quanto ele.
— Estou feliz por você também.
Ela desviou o olhar então, olhando pela janela.
Ele franziu a testa. Ele tinha acabado de dizer algo para desagradá-la?
Emily respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado.
Ele foi perdoado pela Coroa. E ainda queria se casar com ela? Essa era simples. Ele nunca desejou se casar com ela.
Ele ainda não tinha perguntado de verdade, e teve a sensação de que agora que ele era um duque elegível, a verdade era... bem, honestamente... ele poderia se sair muito melhor do que ela.
Ela cruzou as mãos no colo para evitar que tremessem. Deveria ser esposa de um médico ou de um comerciante. Eles eram escolhas seguras condizentes com sua posição.
E se nenhum escândalo a havia tocado, ela poderia ficar quieta.
Se Brandon não quisesse mais se casar com ela. O que ele provavelmente não queria. Ele certamente ficaria aliviado em se livrar dela.
Apesar das palavras gentis que ele lhe disse, ela também ouviu o que ele disse a Bash, e sabia que ele faria melhor se casasse com uma mulher da nobreza com um bom dote e uma reputação impecável.
Não a filha de um comerciante, não importa o quão rico.
A carruagem finalmente parou em frente às portas maciças do palácio e os homens saíram, ajudando Eliza e Emily.
Isabella e Abigail esperaram por eles, Bash e Blasphemy parados um de cada lado das irmãs.
Abigail estava fazendo um excelente esforço para não olhar para o homem.
E pela primeira vez, Emily não podia se preocupar com sua irmã mais nova. Brandon estendeu o cotovelo e a mão dela se encaixou na dobra de seu braço.
Eles estavam subindo as escadas.
Sabia que se separariam antes de serem anunciados. Que era o melhor. Mas ela permitiu que seus dedos tocassem os músculos magros de seus bíceps. Queria se lembrar desse momento para sempre.
O homem que vivia em seus sonhos estava ao seu lado e ela aproveitaria isso pelo tempo que fosse capaz.
A primeira parte da noite passou em um borrão de cores e sons. A orquestra do rei era incomparável, assim como os vestidos das participantes.
Todas usavam suas melhores roupas para o rei, e isso deixou Emily perfeitamente ciente de suas próprias falhas.
O vestido que ela considerava tão bonito parecia simples em comparação. Ela pressionou as mãos na seda enquanto ficou com suas irmãs em uma linha perto da borda da multidão.
Ainda assim, Brandon a havia convidado para dançar e estar em seus braços era incomparável enquanto giravam no salão lotado.
Um homem já com certa idade passou, as mulheres ao seu redor fazendo uma reverência e automaticamente ela fez o mesmo, baixando a cabeça.
Quando ela se levantou, ele parou na frente dela, sorrindo.
— Que criatura adorável você é.
Sua boca se apertou, perguntando-se se ser chamada de criatura era um elogio ou não, mas ela sorriu de qualquer maneira quando Brandon apareceu ao seu lado.
— Minha noiva, Vossa Majestade.
Uma onda de choque e surpresa a percorreu quando o rei deu a Brandon um grande sorriso.
— Nenhum musgo cresceu sobre você1, pelo que vejo. — E então, o homem seguiu em frente.
— Esse era o Rei? — As palavras saíram em um suspiro sem fôlego quando ela se virou para olhar para Brandon.
— De fato, — respondeu Brandon. — Meu pai cometeu uma traição quando Sua Majestade era nosso regente, e foi por isso que ele foi indulgente o suficiente para me deixar o título. Ele nunca me daria a mesma graça agora, e tenho muita sorte por ele ter me permitido voltar à sociedade.
Isso trespassou Emily. Porque entendeu o que não foi dito nessa frase. A posição de Brandon era tênue, na melhor das hipóteses. E se ela realmente o amava e queria o que era melhor para ele, ela o libertaria para encontrar um par melhor com uma família bem conectada. Ela queria beijá-lo esta noite. Mas à medida que os eventos se desenrolavam, percebeu que esta noite precisava de um gesto ainda mais grandioso.
— Talvez devêssemos terminar esta conversa em um lugar mais silencioso?
Brandon olhou ao redor e deu um único aceno de cabeça.
— Concordo.
Então, ele pegou a mão dela e começou a conduzi-la para longe de sua família. Para sua surpresa, ninguém disse uma palavra.
Eles saíram da casa e entraram na noite fria.
— Que festa adorável, — disse ela enquanto caminhavam pelo terraço. As nuvens haviam desaparecido e as estrelas cintilavam no céu. — Tudo brilha um pouco mais forte no Palácio.
Brandon a puxou para perto quando entraram nas sombras. Sua voz era um sussurro suave em seu ouvido.
— Sua Majestade se afasta da sociedade um pouco mais a cada ano. Ele raramente tem tais eventos nos dias de hoje.
— Para um homem que não fez parte da sociedade, você sabe muito sobre ela.
Brandon passou o braço pela cintura dela e de repente ela foi pressionada contra ele, o calor de seu corpo aquecendo-a no ar frio da noite.
— Até muito recentemente, tudo que eu queria era ver a reputação da minha família restaurada. Não queria cometer os mesmos erros que meu pai.
Ela acenou com a cabeça, engolindo.
— Você sabe, — ela respirou fundo, preparando-se para as próximas palavras. — Você não me pediu em casamento.
— Nossa, — ele sussurrou perto de seu ouvido. — Um grave erro da minha parte.
E então, ele começou a beijar um caminho de sua bochecha em direção a sua boca.
— Isso não é... — Mas suas palavras foram sumindo quando os lábios dele pressionaram o canto dos lábios dela.
Seus braços eram duros e fortes em torno de sua cintura, seu cheiro de sândalo e couro envolvendo-a. Ela agarrou seus bíceps quando ele beliscou o lado de sua boca novamente, o desejo corria por ela.
Seus lábios roçaram os dela, leves e provocantes, deixando seus joelhos fracos.
Ela ofegou, mas ele engoliu o som enquanto a beijava novamente. Desta vez com mais pressão, embora o toque ainda fosse suave.
Ela nunca tinha sido beijada antes, mas se sonhasse como seria a sensação, agora era melhor.
Seu estômago revirou com sensações que se agruparam entre suas coxas. Ela apertou os braços mais justos em volta dele, quando ele pressionou contra sua boca pela terceira vez. Ele a beijou repetidamente até que não fosse o suficiente.
Como poderia ser? Ela queria mais.
E quando ele abriu sua boca e passou a língua por seus lábios para tocar a dela, uma sensação ricocheteou quando inclinou a cabeça ainda mais para dar todo o acesso que ele desejava.
Ela nunca quis que esse beijo terminasse. E foi exatamente assim que aconteceu.
Capítulo 09
Brandon ergueu a cabeça.
Não porque ele quisesse. Gostaria de beijar Emily a noite toda até o sol nascer, e então, a levaria para casa e a despiria...
Ele se forçou a parar. Esse beijo não era sobre seu prazer.
Embora tivesse sido além de agradável.
Era óbvio que ela nunca tinha beijado um homem antes. Em vez de se importar com sua inexperiência, isso o encheu de... satisfação. Um lembrete quando se preocupou que ela realmente não o quisesse, que ela seria dele e só dele.
E então, ela floresceu sob ele, beijando-o de volta com uma paixão tão inocente que ele esqueceu todas as suas preocupações. Ela era sua.
E não tinha intenção de deixá-la ir. Seu coração estava batendo forte contra o dele e o orgulho masculino surgiu. Ele tinha feito isso.
Ele segurou sua bochecha com a palma da mão enquanto seu polegar percorria seus lábios agora inchados. Ele sentiu ainda mais quando ela deu um pequeno beijo na almofada.
Mas ele limpou a garganta, tentando ordenar seus pensamentos. Tinha uma proposta a fazer.
— Senhorita Emily Carrington, — disse, olhando em seus grandes e lindos olhos castanhos. A inclinação suave nos cantos e cílios escuros apenas acentuava a profundidade de amor e bondade que brilhava neles. — Você me dará a grande honra de se tornar minha esposa?
Ele a sentiu soltar um suspiro, o ar quente fazendo cócegas na ponta de seu polegar.
— Brandon, — ela começou, e sua voz falhou em seu nome. Ela estava tomada pela emoção? — Isso não é o que eu quis dizer quando falei que você não tinha proposto.
— Eu não entendi? — Mas seu estômago embrulhou.
— Eu... — Ela engoliu em seco. — Eu quis dizer que você ainda tem a oportunidade de... — Ela parou novamente. — Você poderia se casar com a filha de um conde. Ou de um marquês. — Emily deu meio passo para trás ou tentou.
Ele inclinou a cabeça para o lado enquanto olhava para ela.
— Você acha que eu deveria me casar com outra pessoa?
Ela acenou com a cabeça.
— Você acaba de receber o favor do rei. Você deve se casar com alguém de uma família brilhante com uma reputação estelar. — Suas mãos foram para o peito dele. — Sei que você trabalhou muito para limpar o nome de sua família.
— Anos, — respondeu ele, começando a entender. — É tudo o que eu queria há muito tempo.
Ela sorriu para ele.
— Estou tão feliz que você mereceu, então. — Então, seu sorriso sumiu. — Mas eu sou realmente a melhor escolha para você?
Seu olhar se estreitou.
— Emily, estou tendo a impressão de que você não quer se casar comigo. Primeiro você tenta me entregar para sua irmã e agora... — Ele tentou manter a mágoa fora de sua voz.
Mas ela balançou a cabeça, as mãos massageando levemente o peito dele.
— Como eu não poderia?
— Como você não poderia o quê? Me querer?
Ela pressionou-se contra ele novamente, e parte da tensão nele se dissipou.
— Claro que quero. Você entra como um herói fictício e me resgata... não uma, mas duas vezes. Você me oferece propostas românticas no jardim, me beija até eu esquecer... — Ela parou, desviando o olhar. — Mas vamos ser honestos. Você merece o melhor.
Ele piscou várias vezes enquanto revisava tudo que ela acabara de dizer. Como um raio, percebeu que ela estava tentando protegê-lo.
A própria ideia roubou sua razão. Assim como a família, ela estava disposta a desistir de sua própria felicidade pela dele.
Era tudo que ele sonhou e neste momento, a queria mais do que nunca.
Ele abaixou a cabeça então, tomando seus lábios novamente. Este beijo não foi suave nem doce. Foi uma posse. Se ela pensava que se livraria dele, estava enganada. Brandon esperou sua vida inteira por alguém assim, e nunca a deixaria ir.
Ela o beijou de volta, derretendo-se nele até que seus braços envolveram seu pescoço, seus lábios se fundindo.
Ele nem percebeu que estavam se movendo para trás até que eles bateram em uma parede, as costas dela apoiando-se contra a pedra. Ele a envolveu com o braço novamente, protegendo-a da pedra fria e dura mesmo quando o beijo se aprofundou. Seus quadris se fundiram, seus corpos pressionados de cima a baixo.
Finalmente, ele afastou a boca.
— Emily, não vou deixar outro homem ficar com você agora. Você pertence a mim.
Ela ofegou, a sensação de movimento indo dela para ele.
— Mas eu não sou...
— Eu entendo sentimentos menos que isso. Depois do que meu pai fez, me convenci de que não importa o que eu faça, nunca será o suficiente. Até me preocupei que... — Ele não terminou. A última coisa que ele precisava fazer era apontar as maneiras como falhou com ela.
— Você se sente assim também?
— Me sinto. — Ele afastou uma mecha de cabelo de sua bochecha. — Mas você é demais. Precisamos trabalhar na sua confiança e força.
Ela deu um aceno de cabeça e um pequeno sorriso.
— Foi por isso que você me defendeu na carruagem?
— Sim, — ele respondeu, roçando os lábios em sua testa.
— Oh, — ela respirou, suas mãos apertando seu pescoço. — Que maravilhoso.
— Então, estamos de acordo. Vamos nos casar?
Ela respirou fundo.
— Sinto muito, mas não posso concordar. Ainda não tenho certeza se este é o melhor curso de ação.
— Por quê? — Ele disse.
— Porque... — Ela estremeceu. — Como você pode me querer como esposa? Você me valoriza quando nem eu acredito em mim mesma?
Brandon olhou para ela, sua mandíbula cerrada.
Ele sentiu o espectro de seu pai crescendo dentro dele. Se ele fosse uma pessoa melhor como Emily, ele diria... Eu quero que você seja feliz. Quero que você tome todo o tempo necessário para decidir, e depois aprenda a amar a si mesma. Para provar que sou o homem que você precisa. Mas ele não disse isso. Em vez disso, disse algo muito mais egoísta.
— Eu já disse ao próprio rei que estamos noivos. Não podemos recuar agora.
Com uma clareza que lhe roubou o fôlego, ele viu todas as maneiras como ele era como seu pai. Fizera o que era melhor para si mesmo, sem levar em conta as Carringtons desde o início. Foi essa a motivação de seu pai por trás de suas decisões traiçoeiras?
Um peso se instalou em seu estômago. Ele escolheu o caminho para seu próprio ganho. Mesmo agora. Ele queria Emily ao seu lado, então escolheu as palavras que a manteriam ali.
Seus olhos se arregalaram.
— É claro. — E então, seu queixo caiu. Foi um gesto que ele começou a reconhecer e por dentro se xingou mil vezes. Seu pai tinha sido exatamente assim quando traiu seu próprio país? Ele queria tanto algo que arriscaria as pessoas que mais amava para consegui-lo.
Era isso que Brandon estava fazendo? Arriscar a autoestima de Emily para mantê-la por perto?
— Por que você está insegura sobre nosso casamento? Sobre si mesma?
Ela encolheu os ombros então, seu olhar se perdendo na noite. Pelo menos ela não estava olhando para o chão.
— Suponho que sempre pensei que me valorizaria quando pudesse me manter sozinha. Alguém está sempre me apoiando. É difícil ver o seu próprio valor quando você não se sente bem-sucedida.
Ele estremeceu interiormente, seus olhos se fechando por um momento. A verdade soou como um sino. Sua consciência era completamente evidente, assim como sua auto- indulgência.
— Olhe nos meus olhos e veja o seu valor.
— Estou tentando, — respondeu ela.
— Emily. — Ele balançou sua cabeça. — Eu falei sério na carruagem. O amor que você dá é tão raro e precioso. Eu... — Ele perdeu as palavras.
Ela acenou com a cabeça e Brandon pegou a mão dela, puxando-os para longe da parede e de volta para o salão de baile lotado. A paixão os fez demorar uma eternidade para chegar até sua família, mas também disfarçou a ausência. Não que isso importasse muito. Eles estavam noivos, mesmo que ela ainda não tivesse aceitado de forma audível.
Ele estremeceu novamente. Deveria perguntar mais uma vez e dar a ela uma escolha real.
Por parte de Emily, ela ficou quieta e muito do tom rosado já tinha deixado suas bochechas.
Eles alcançaram sua família e se inclinando sobre Bash, falou baixinho no ouvido do homem.
— Não acho que Emily se sinta bem.
— Você cumpriu suas obrigações aqui esta noite? — Bash perguntou, dando-lhe um sorriso fácil. Era um que Brandon nunca tinha visto no homem.
— Sim, cumpri. — Então, ele ergueu uma sobrancelha. — Está se divertindo?
— Estou, — ele respondeu. — Todas as quatro irmãs Carrington estão casadas ou noivas. Só tenho Avery para lidar nesses meses até chegar a um plano. Agora posso relaxar e desfrutar do meu casamento. Os olhos dele viraram para sua esposa.
— Você vai me permitir escoltar Emily para casa? Agora somos um casal de noivos, mas se você se sentir mais confortável, a tia pode acompanhá-la.
Bash franziu a testa, mas deu um aceno conciso.
— Acredito que Isabella gostaria de ficar, e Abigail precisa de uma chance para conhecer Blasphemy.
— Um conselho, — disse Brandon, afastando-se das irmãs. — Chame-o pelo nome verdadeiro se quiser que elas fiquem mais brandas em relação ao homem.
Bash coçou o queixo.
— Eu nem tenho certeza se sei seu nome verdadeiro.
Brandon se voltou para Emily.
— Vou encontrar sua tia. Acho que é hora de te levar para casa. — Ela deu um aceno conciso, mas seus ombros caíram em alívio.
Meia hora depois, ele colocou as duas mulheres na carruagem. Uma Emily de aparência muito cansada e uma tia irritada.
Mas ele se acomodou em frente a elas, observando a mulher que ele escolheu para sua esposa.
Ela estava claramente chateada e ele sabia o porquê. Ele era um idiota. Pior. Não estava sendo honesto sobre esse passado.
Ele pigarreou.
— Você deixou uma impressão favorável em nosso rei.
Ela não o olhou.
— Tia Mildred pode lhe dizer que eu frequentemente causo uma boa primeira impressão.
— Sim, ela causa, — tia Mildred disse, dando a ele um grande, embora falso sorriso. — Mas nenhum dos homens que mostrou interesse foi tão charmoso ou bonito quanto você.
Emily suspirou.
— Nenhum daqueles outros homens parecia ficar ao meu lado por muito tempo também.
— Eles é que perderam, — ele resmungou, os olhos semicerrados enquanto olhava para ela. Sabia que isso significava alguma coisa, mas o quê?
Ela não respondeu quando a carruagem diminuiu a velocidade em uma rua movimentada.
— Que estranho, — ela murmurou. — Esses homens estão passando pelas carruagens a pé.
Ele abriu a cortina de lado, olhando para fora. Com certeza, quatro homens seguiam na direção deles; e pior ainda, todos olhavam fixamente para sua carruagem.
— Maldito seja o inferno.
— O que houve? — Ela perguntou, sentando-se para frente.
Tia Mildred engasgou-se.
— Não sei por que eu sempre pego uma carruagem com vocês.
Ele bateu na parede.
— Tire-nos daqui, agora! — Então, ele tirou um Derringer2 de sua cintura.
O chicote estalou e os cavalos relincharam.
— Para onde, Sua Graça? — o motorista gritou de volta. — A maioria dos caminhos está bloqueada.
— Basta ir, — ele gritou, cada músculo tenso. Os homens quase alcançaram a carruagem. Um havia chegado ao canto traseiro, enquanto outro estava contornando a lateral em direção à porta.
Brandon observou enquanto um homem sacava uma pistola e estendia a mão para a porta.
Brandon agarrou a porta e abriu-a com um puxão rápido, derrubando o homem no chão. Então, empurrou a porta fechada novamente.
Só então o veículo cambaleou para a frente, fazendo uma curva fechada em um beco.
O som de um tiro encheu o ar e gritos abafados os seguiram enquanto começavam a se afastar.
Brandon olhou pela janela novamente. Os homens e a multidão desapareceram.
— Tem alguém nos seguindo? — o motorista gritou de volta.
— Eu não sei, — ele respondeu, seus olhos encontrando os de Emily. Seu rosto agora estava branco como um fantasma. Ela estava em perigo. Isso ele sabia. — Não tenho certeza se devemos voltar para a casa de Bash e Isabella.
— Por quê? — Emily perguntou, inclinando-se para ele.
Ele pegou as mãos dela.
— Eles podem estar esperando para nos emboscar lá.
— Mas minhas irmãs... — ela ofegou.
— Ficarão no palácio por horas. Mandaremos um recado para Bash lá. Mas agora, precisamos colocá-la em segurança. E sei exatamente onde.
— Está tudo bem e bom, mas gostaria de saber por que e quem. Quem nos atacou e por que iriam querer?
— Prisões estavam sendo feitas hoje. — Ele fez uma careta. — Eles deveriam estar todos na prisão.
Emily assustou-se.
— O que devemos fazer?
Ele passou a mão pelo cabelo e bateu para sinalizar ao motorista novamente.
— Vá em direção às docas.
— As docas? — Ela disse, sua voz trêmula.
— Ah, não. — Tia Mildred balançou o dedo. — Isso não fazia parte do meu contrato. As viagens marítimas definitivamente não foram listadas.
— Fique nas docas, então, — Brandon rangeu para fora. — Mas Emily e eu estamos indo para onde ela estará segura.
Ele não cometeria um erro novamente. Ele colocou a segurança dela em primeiro lugar. Acima de tudo. Precisavam sair de Londres. Lidaria com todas as outras consequências depois que ela estava segura.
Capítulo 10
Emily estava na proa do Retorno olhando para o céu escuro. O capitão disse que o sol nasceria em breve, mas estava escuro, ela mal podia acreditar.
Um vento frio e forte tocou sua pele e cabelo, mas ela ignorou.
Tia Mildred foi acomodada em uma cabine, queixando-se e bastante mal-humorada sobre a falta de roupas, e Brandon tinha enviado uma nota escrita às pressas para Bash avisando-o do ataque, mas ela não tinha ideia se sua família tinha chegado em casa a salvo.
Ela respirou fundo, estremecendo. Entendeu por que ele as levou para este barco. Principalmente porque ele explicou isso longamente e por várias vezes.
Mas não era da natureza dela para deixar suas irmãs assim.
Brandon disse que os ataques se concentraram nela. Verdade. E que ela poderia estar afastando o perigo de suas irmãs. Esperançosamente.
Mas e se ela apenas as estivesse deixando para suportar o fardo? E se elas agora concentrassem seus esforços em Abigail?
A respiração de Emily parou em seu peito. Era para a segurança dela que ele a estava despachando sabe-se lá onde.
E suas núpcias? Ela não fazia ideia. Eles se casariam agora? Mais tarde? De jeito nenhum?
Ela suspirou. Por que ela nunca estava no controle?
Sim, ela era uma mulher, mas suas irmãs pareciam administrar suas vidas muito bem.
Não que ela não quisesse se casar com Brandon. Ela realmente queria. Mas ele a queria por todos os motivos errados, e seu coração sabia que algo não estava certo.
— Você deveria descansar um pouco. — Brandon veio por trás dela.
Ele não a tocou, mas ela se enrijeceu ligeiramente, sua irritação subindo à superfície.
— Não estou cansada. — A verdade era que estava exausta. No fundo, cansada até os ossos. Mas não queria admitir tal fraqueza agora.
Ela alcançou o corrimão, sua mão enrolada nele com força. Junto à suas irmãs, ela sempre foi a complacente. Aquela que suavizava, que se comprometia.
Mas se ela assumisse esse papel agora, com Brandon, isso seria sua vida. Ela nunca escaparia disso.
— Me anime, então. Amanhã, ou melhor, hoje vai ser um dia agitado e...
— Por quê? — Ela perguntou, virando-se então. De pé no convés, ele era ainda mais bonito. Ele havia mudado sua roupa de noite, e usava as roupas casuais de um marinheiro com o vento bagunçando o seu cabelo.
Ela estava em seu vestido de baile, ainda com uma peliça destinada a ser bonita em vez de quente. Mesmo com as luvas, suas mãos estavam meio congeladas.
Ele parecia tão forte e... quente. Sua resolução vacilou. Seria tão fácil cair em seus braços. Deixar que ele e sua força a levassem embora.
Ele era o tipo que faria isso. Ele a protegeria por toda a vida. Ela precisava desse tipo de proteção?
E quanto a ele?
Ela hesitou porque não tinha certeza se era a melhor escolha para ele também. E se a fraqueza dela causasse dor de cabeça aos dois?
— Emily. — Ele se aproximou, então. — Achei que poderíamos nos casar hoje.
Ela piscou várias vezes.
— Nos casar? Hoje? Mas... — Ela estremeceu, o ar frio em sua pele não era a principal razão para a reação, mas ele deslizou o casaco e apertou os ombros dela. Calor e seu cheiro a envolveram.
— Eu sei que é repentino, mas o capitão pode oficializar e...
— Não, — ela respondeu. — Não acho que seja um plano sábio.
Ele recuou um pouco.
— Nós partimos juntos. É o único plano.
Seus olhos se estreitaram quando ela inclinou o queixo. Ela sabia que se parecia com Eliza, mas... sua irmã fazia algumas coisas muito bem.
— Não é.
— O que mais você pode fazer? — Seus braços se cruzaram quando ele fez questão de olhar para ela. Ou talvez fosse apenas sua altura.
— Minha tia está aqui. Estou acompanhada. E se a sociedade não aceitar isso, posso me tornar uma solteirona. Poderia...
Ela não acreditou na forma como sua mandíbula se apertou.
— Você prefere ser uma solteirona do que se casar comigo?
Aquilo a fez suspirar. Não foi isso que ela quis dizer.
— Prefiro me afirmar do que ser forçada a algo. Precisamos tomar essas decisões juntos. Você está falando não apenas sobre os eventos de hoje, mas sobre toda a minha vida. Nossa vida inteira. Estou cansada de todo mundo me dizendo o que fazer o tempo todo, sem me consultar.
Ele estremeceu, e então esfregou o rosto.
— Entendo.
Ela o tinha ferido? Ele parecia magoado, sua voz tensa.
— As coisas estão sempre acontecendo comigo. Esta noite. Eu não fiz uma única escolha.
Ele deslizou a mão sob seu cotovelo.
— Não tive a intenção de tirar suas escolhas. — Um músculo em sua mandíbula se contraiu. — Lamento ter feito isso.
Ela balançou a cabeça, suas próprias mãos subindo para esfregar as têmporas.
— Você está certo. Estou cansada. Talvez devêssemos discutir isso depois de algum descanso?
— Claro, — ele respondeu. Ele a puxou para mais perto e seus lábios roçaram sua têmpora. — Deixe-me mostrar a você sua cabine.
Ela soltou um suspiro enquanto assentia. Ele a segurou pelo cotovelo enquanto cruzavam o convés e a ergueu em seus braços para carregá-la para baixo.
Seus corpos pressionados juntos e mesmo tão cansada como estava, o dela estremeceu com seu toque, seu corpo enviando ondas de consciência por ela.
Isso a fez esquecer o porquê estava resistindo.
Ele era um duque, pelo amor de Deus.
Ele era seu herói.
Ela soltou um suspiro quando ele não se preocupou em colocá-la no chão. Ela deveria insistir em andar, mas ele era forte e quente, e ela estava cansada.
Deitando a cabeça em seu ombro, ela fechou os olhos.
Ela nunca seria Eliza. Mas tinha que ter uma palavra a dizer sobre seu casamento. Como iria se manter firme quando tudo nele era tão convidativo?
Brandon abriu a porta da cabine dela e a colocou no chão. Ela balançou-se em pé, e ele se amaldiçoou por esperar tanto tempo para trazê-la para baixo do convés.
Ele estava dando a ela espaço para pensar.
Ele merecia sua irritação. Forçou-a em várias frentes, e sabia disso. Umas das quais ela nem estava ciente ainda. Aquelas que a deixariam muito mais irritada do que estava agora.
Todo esse tempo ele estava tentando provar que não era filho de seu pai, mas ele tinha ido e feito exatamente o que seu pai poderia fazer, egoisticamente a prendeu em uma situação que ela não queria.
A compreensão o abalou e sua mandíbula se cerrou, um músculo se contraindo em sua bochecha. Ele era um canalha. Pior. Era tão ruim quanto aqueles ladrões.
Mas se ela se casasse com ele, ele lhe daria tudo o que ela sempre quis na vida. Ele mudou para isso neste exato momento.
Ele deslizou sua jaqueta pelos ombros dela, verificando sua pele para ter certeza de que ela estava quente o suficiente.
— Obrigada, — ela murmurou, enquanto a mão dela ia para atrás das costas, para o botão de pérola em cima de seu vestido. Mesmo com prática, ela teria dificuldade em desabotoar esses botões sozinha. Mas ele sabia que ela devia estar exausta.
Ele viu a mão dela cair novamente enquanto ela olhava para a cama.
— Você precisa de ajuda? — Ele perguntou, aproximando-se novamente.
Ela balançou a cabeça.
— Eu só vou dormir com o meu vestido. Não tenho mais nada para vestir.
Ele balançou a cabeça e foi até um pequeno banco com gavetas embutidas. Então, ele tirou uma camisa limpa. Cruzando de volta, levantou uma sobrancelha.
— Esta é normalmente a minha cabine.
— É linda, — disse ela, seu olhar mal varrendo a decoração esparsa enquanto suspirava.
— Posso? — Ele disse, seus dedos tocando levemente a nuca dela.
Ela apertou as mãos contra o peito.
— Você pode o quê?
— Tirar o seu vestido, — ele respondeu, tentando esconder um sorriso.
Seu rosto foi ficando rosa enquanto um rubor subia por suas bochechas.
— Eu não poderia deixar.
— Você vai dormir melhor sem vestido e espartilho, — respondeu ele. — E nós esquecemos de trazer uma criada para você.
Ela deu um riso rápido sobre isso.
— Nossa partida foi um pouco apressada. — Então, ela engoliu em seco, sua garganta trabalhando. — Não é apropriado, — disse finalmente.
— Lamento não ter feito um trabalho melhor ao pedir sua permissão para trazê-la neste barco. Ou para casar-se comigo ou... — Ele respirou fundo. — Sou muito melhor em correr para o resgate do que em desacelerar e abrir espaço.
Ele observou seus ombros caírem.
— Eu gostei que você me resgatou.
— Então, deixe-me resgatá-la deste vestido agora. — Ele passou a mão pelo braço dela. — Deixo você cuidar do resto.
Ela deu um aceno hesitante e depois se virou. Ele começou a abrir os botões do vestido.
— Só quero saber se terei escolhas. Você viu Eliza. Isabella é diferente, mas... — Ela parou. — Elas tomam todas as decisões e assumem todos os riscos. Quero saber se também sou capaz. Mas preciso de espaço para fazer escolhas, cometer erros, se algum dia vou aprender como.
Ele tirou seu corpete e começou a trabalhar em sua saia. O peito de Brandon estava apertado de emoção.
— Você é capaz de grande compaixão. Mais do que eu já vi. Isso me humilha.
Ela se virou para ele então, seu olhar colidindo com o dele.
— Compaixão não dá controle a ninguém.
— Não é verdade, — ele respondeu quando se viu caindo de joelhos. Ela ainda estava de espartilho e anáguas, mas ele pressionou a testa contra seu estômago. — Você sabe o que eu faria, o que daria para mantê-la ao meu lado? Você tem um controle imenso sobre mim.
Ela ofegou, mesmo quando suas mãos se enrolaram em seu cabelo.
— Não pensei que você se importasse comigo assim. Eu pensei que era apenas um meio para um fim.
Ele segurou cada lado da cintura dela, enquanto inclinava a cabeça para trás para olhar para ela.
— Emily. — Seu nome saiu áspero. — Não corri para resgatá-la duas vezes porque não me importo. Eu... — Ele estava revelando muito.
As palavras eram suscetíveis de iniciar uma avalanche de outras.
E então, ele imploraria seu perdão por ser tão parecido com seu pai. E ela certamente o rejeitaria depois de saber o que ele fez sua família passar.
Ela já suspeitava que ele estava apenas servindo a si mesmo. É por isso que ela se sentia tão fora de controle. Se ele contasse a ela... Emily poderia muito bem deixá-lo.
Ela passou as mãos pelo cabelo dele, segurando a base de sua cabeça.
— Isso muda as coisas.
— Quão? — Ele perguntou baixinho enquanto prendia a respiração.
Emily levemente massageou seu couro cabeludo.
— Eu aceito sua proposta.
O alívio o enfraqueceu ao encostar a testa na barriga dela novamente.
— Excelente.
— Mas eu tenho algumas condições.
Ele não se mexeu.
— Tais como.
— Se você quiser se casar no barco, eu vou admitir, mas precisamos ter outra cerimônia com minhas irmãs.
— Feito, — ele respondeu, envolvendo os braços em volta da cintura dela. — O que mais?
— Eu vou ter uma palavra a dizer no negócio e dinheiro que é meu. Além disso, cada filho que tivermos deverá ter uma herança reservada no nascimento.
Isso o surpreendeu. Ele inclinou a cabeça para trás.
— Você quer controlar o negócio?
— Eu quero fazer parte disso. Para entender isso. — Ela deslizou as mãos para as bochechas dele. — Fiquei sem um tostão e minhas irmãs nos impediram de morrer de fome, mas... — Ela balançou a cabeça. — Nós deveríamos ter tido acesso ao dinheiro. Nunca estarei nessa situação novamente e nem qualquer uma das minhas futuras filhas. Elas precisam ter escolhas.
Sua garganta fechou e ele engoliu um caroço.
Como ele não percebeu isso? Ela esteve à mercê deste mundo, e ele tomou mais suas opções desde o momento em que entrou em sua vida.
— Eu concordo.
Ele entendeu sua necessidade. Ele estava trabalhando há anos para ter sua vida de volta. E ele cumpriria sua parte do acordo. Mas ela deveria saber como ele se aproveitou desta situação.
Ele deveria contar a ela a verdade, mas simplesmente não conseguia.
Capítulo 11
Emily acordou com o sol entrando por uma vigia.
Enquanto o barco balançava em um movimento leve, muito mais suave do que quando ela foi para a cama.
Ela se levantou e olhou pela janela minúscula, esperando ver o oceano. Em vez disso, outro navio bloqueava sua visão. Eles estavam no porto?
Teria que esperar para descobrir. Ela usava uma das camisas de Brandon, que só ia até o meio da coxa, com as pernas totalmente nuas.
Uma batida suave soou na porta.
— Emily? — A voz de Brandon encheu a cabana.
— Sim? — Ela virou.
— Trouxe um vestido para você.
— Onde estamos? — Ela perguntou enquanto cruzava a sala.
— Ao sul de Harwich, — ele respondeu quando ela abriu uma fresta da porta.
Ela deveria estar horrível. Ela mal trançou o cabelo antes de desabar na cama e podia sentir vários fios perdidos em seu rosto.
O olhar dele percorreu sua figura, demorando-se em suas pernas.
— Você gostaria de alguém para ajudá-la a se vestir?
O calor atingiu suas bochechas.
— Não, obrigada. Tia Mildred pode me ajudar se for preciso.
Ele balançou sua cabeça.
— Este navio faz parte da nossa frota. Você está segura aqui e não precisa chamá-la de sua tia enquanto estiver a bordo.
Emily sorriu para isso.
— Eu acredito que o nome dela é Caroline. Ela mencionou isso uma vez. Mas tenho muito pouca memória da verdadeira tia Mildred, então não importa.
— Tudo bem. — Ele respondeu, desviando o olhar enquanto limpava a garganta. — E eu posso te ajudar a se vestir, amor. Estou prestes a me tornar seu marido.
— Oh, — ela disse, abrindo a porta um pouco mais. — Os maridos não cuidam muito bem das roupas das esposas, não é?
— Certamente, — ele respondeu com um sorriso. — Você ficaria surpreso com a intimidade do matrimônio.
— Suponho que sim, — respondeu ela, franzindo a testa. — Meu pai se foi há muito, o que significa que não testemunhei o relacionamento de meus pais o suficiente.
— Ele insistiu em realizar as expansões ele mesmo. — Brandon disse enquanto se afastava dela. — Mas acredito que Eliza e Menace farão a próxima viagem de negócios juntos. — Ele sorriu por cima do ombro. — Vou te dar privacidade enquanto você muda de roupa.
Ela se virou também, desejando que pelo menos houvesse uma cortina. Mas, rapidamente puxou a camisa dele sobre a cabeça e colocou sua própria camisa. Em seguida, ela se sentou para colocar as meias e as pantalonas.
Brandon se virou, estendendo as mãos. Ele segurava um vestido de lã fina, de cor azul.
— Como você conseguiu isso? — Ela disse com um sorriso.
Ele deu uma risadinha.
— Com um pouco de dificuldade. — Ele colocou outro pacote na mesa. — Para atender às suas outras necessidades.
Em seguida, ele desdobrou cuidadosamente o vestido e começou a ajudá-la com a vestimenta.
Suas mãos roçaram seu corpo, enquanto ele completava o terrível ato de ajudá-la a se vestir. Ela sabia que ele tinha feito o mesmo na noite anterior, mas estava tão cansada que mal percebeu. Agora, seu corpo zumbia com a intimidade.
Quando ele terminou, ela teve a nítida sensação de estar com muito calor e se afastou.
— Quando... — ela desviou o olhar. — Quando nos casaremos?
— Se você me aceitar, na próxima hora.
Ela se voltou para ele então, o frio substituindo o calor.
— Uma hora? Este vai ser meu vestido de noiva, então?
Ele pegou a mão dela.
— Não. Bem, sim. Esta é a nossa cerimônia de necessidade. Você pode considerar a próxima como o casamento de romance.
Ela deu um aceno rígido.
— Vamos para a cidade?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu não tenho licença para isso. O capitão fará a cerimônia assim que estivermos no mar. A próxima cerimônia será aquela reconhecida pela igreja e pelo estado.
— Então, por que teremos este? — Ela perguntou. Borboletas dançavam em seu estômago. Era apenas nervosismo? Não era todo dia que uma mulher acordava para descobrir que estava se casando com um duque. Mas mesmo depois de todas as conversas, ela ainda não sentia que entendia Brandon.
Ele disse que se importava. Mas havia uma distância em seu olhar. Uma que ela não conseguia nomear e não entendia.
Talvez, apesar de sua afirmação de que se importava, ele quisesse controlar o negócio? Ele mentiu?
Ela suspirou. Perguntas como essa estavam apenas turvando as águas.
— Você está muito quieta. — Ele estendeu a mão e puxou-a para perto.
— Estou me questionando, — ela respondeu honestamente. — Minha cabeça não sabe para onde ir.
— Então, talvez você deva ouvir seu coração. O que quer?
Isso a fez amolecer... em todos os lugares. Ela sabia o que queria. Sempre soubera.
Sim, queria estar no comando de sua vida, mas também o queria. Desde o primeiro momento.
— Você.
Seus braços a envolveram, seus lábios cobrindo os dela.
Ela se perdeu naquele beijo.
Ele a puxou para perto, seus braços sustentando seu peso enquanto seus corpos se uniam.
E aqui em seus braços, tudo parecia tão certo.
Uma hora mais tarde, Brandon estava no convés enquanto Caroline, ou tia Mildred, acompanhava Emily até ele.
Ele tentou não fazer uma careta. Até ele sabia o quão errado isso era. Seu vestido lhe caía bem, mas era justo no peito e folgado na cintura. A mulher de quem ele comprou claramente não era tão dotada quanto Emily.
Nem parecia certo não ter ninguém de quem gostassem presente.
Ele devia ter lhe contado sobre seu passado antes disso. Não era certo ela se casar com ele sem saber.
Sua linda boca estava franzida quando ela se aproximou, o que só aumentou seus sentimentos de culpa.
A cerimônia durou cinco minutos, com o capitão perguntando rapidamente a cada um deles se consentiam com a cerimônia.
Ele concordou, e prendeu a respiração quando a Emily foi feita a mesma pergunta. Ela deu um aceno hesitante e, em seguida, um sim sussurrado.
E então, estava feito.
Ele capturou sua boca em um breve beijo, levando-a de volta para a cabine dela... bem, sua cabine. A cabine deles agora.
Uma pequena refeição estava sendo entregue, e então...
Então, eles teriam que conversar.
Não poderia consumar o casamento sem compartilhar o que tinha feito. Simples assim. Ela queria o controle e estava na hora dele dar a ela.
Desta vez, ela conseguiu descer a escada do navio sozinha e, em seguida, deslizou a mão na dele enquanto voltavam para a cabine.
— Não muito distante essa nossa viagem, — ela murmurou, um leve sorriso iluminando o clima.
Ele deu uma risadinha.
— Suponho que estamos viajando uma grande distância se você considerar que embarcamos em uma viagem marítima.
— Você acha que minhas irmãs estão bem? — Ela parou no meio da sala, mordendo o lábio.
Outra punhalada de culpa. Ele sabia que seu bom coração devia estar muito preocupado com suas irmãs. Mas elas tinham muitos homens para mantê-las seguras. Ela era sua preocupação.
— Acho que elas estão bem, — ele respondeu, pegando a mão dela novamente. — Enquanto estava em Harwich, enviei outra comunicação para Bash e teremos notícias dele logo depois que chegarmos, tenho certeza. Eu disse a ele nosso destino e...
— Qual é? — Ela perguntou, suas sobrancelhas se levantando.
— Hull, — respondeu ele. — É a única propriedade que mantive.
Ela deu um aceno rápido e então cruzou o quarto para se sentar na cama.
— Você tem algum irmão?
— Não. Por quê? — Ele perguntou enquanto deliberadamente chegava perto dela. Ele deslizou para o lado dela enquanto ela o olhava longamente.
— Por quê? Não sei nada sobre você. É por isso. Você conhece meu pai há anos. Você conhece minhas irmãs e meus cunhados. Você já esteve na minha casa.
Brandon encostou-se na parede enquanto fechava os olhos. Ela estava certa.
— Você me disse para ouvir meu coração. Bem, vou ser honesta. Meu coração diz que você está escondendo algo.
Certa novamente.
— Bem. — Ele pigarreou. — Não tenho lembranças de minha mãe. E meu pai não achou por bem casar-se novamente porque já tinha seu herdeiro. Eu tenho uma tia, mas não a vejo há duas décadas, pelo menos.
— Somos iguais nisso.
Agora era a hora. Ele respirou fundo.
— Sua tia Mildred não simplesmente te abandonou. Ela está doente. Esquecida a ponto de não se lembrar mais de nada.
— E como você sabe disso?
Ele engoliu em seco.
— O escocês que você viu comigo. — Ele olhou para ela. — Ele é seu primo, Ewan.
Ela engasgou-se com uma respiração enquanto lutava para ficar de joelhos.
— Ele está em Londres?
— Sim, está, — respondeu Brandon. — Ele veio para atender vocês, meninas. — Brandon fez uma careta. Desta vez, realmente queria protegê-las, mas ele interceptou Ewan para impedi-lo de ver as meninas. Temia que a presença de Ewan fizesse o grupo de criminosos atacar as mulheres. Elas não eram uma ameaça sem dinheiro e sem controle sobre o negócio.
Mas ele também roubou delas um protetor, e mais... ganhou um parceiro na erradicação dos ladrões. Que era para elas, as irmãs Carrington, mas mais para ele e para restaurar seu nome.
— Por que ele não veio até nós? — Ela se inclinou para frente, seus olhos tão intensos, não perdiam nem um piscar ou um momento de hesitação.
— Eu estava com medo de que ele alertasse a todos sobre a morte do seu pai.
— Você estava com medo... — a voz dela sumiu, mas ele sentiu a tensão na sala aumentar. — Foi sua escolha nos deixar desprotegidas.
Sua boca pressionou em uma linha firme enquanto ele se endireitava.
— Eu precisava que os ladrões pensassem que não estávamos sabendo deles. Que eram negócios como sempre.
Sua mão tremulou ao redor de seu rosto.
— Quando ele chegou em Londres?
Ele cerrou os dentes. Ele sabia o quão ruim isso soava.
— Cinco meses atrás.
— Cinco meses? — A voz dela tremeu. — Cinco meses? — A cada palavra, ficava mais alto. — Você nos permitiu pensar que nossa família nos abandonou completamente nos últimos cinco meses?
Ele esfregou o rosto.
— Tente entender. Se eles soubessem, poderiam ter focado o ataque em você antes. Poderiam ter mudado suas práticas de negócios para que não pudéssemos pegá-los. Poderiam...
— Eu entendo, — ela disse sua voz afiada e cortada. — Entendo perfeitamente. Você fez escolhas em nosso nome meses atrás, sem consultar ou se dar a conhecer a qualquer uma de nós.
— Eu não te conhecia na época e precisava restaurar...
Mas seu suspiro o fez parar.
— Isso foi sobre nossa segurança ou sua reputação?
Maldito seja o inferno, ele já tinha dito muito. Mas seria honesto agora.
— Ambos. — Ele estendeu a mão para ela, mas ela se afastou. — Eu sei que fiz uma aposta, e essa aposta poderia ter realmente machucado você.
— Nos machucou, — disse ela, com os punhos cerrados. — Ficamos tão desesperadas que enviamos Isabella em roupas masculinas para se tornar uma jogadora em um salão de jogos. Eliza teve que roubar as roupas do filho de um barão e poderia ter se arruinada.
Ele estremeceu.
— Eu sinto muito.
Seus braços envolveram sua cintura e ela se levantou, se encaminhando para a vigia.
— Você nos colocou em grande perigo com suas escolhas.
Ele não a seguiu desta vez. Sabia que ela precisava de seu espaço, mas seu peito doía.
— Você está certa. — Ele abaixou a cabeça. — Você disse antes que sentiu algo nos separando. Meu pai queria que eu fosse rei. Ele espionou para os franceses com a promessa de que, caso eles derrubassem o trono, eu me tornaria o novo líder da Inglaterra. Ele achava que estava agindo bem comigo, mas no final, sofri muito por suas escolhas.
Emily ofegou ao se virar para ele.
— Brandon. — Lá estava. Aquela pitada de compaixão e simpatia rastejando em sua voz que ele precisava ouvir.
— Eu não queria, — ele sussurrou, e então esfregou o rosto. — Eu disse a mim mesmo que estava ajudando a nós dois, mas quando fiz a escolha, decidi seguir os ladrões e encerrar essa investigação, em vez de correr para o seu lado e impedir que o sequestro acontecesse. Bem no fundo, eu sabia a verdade. Me comportei igual a ele.
Sua cabeça afundou e ele fechou os olhos. A verdade foi revelada. Ela o odiaria se quisesse, mas ele começaria seu casamento sem segredos.
Capítulo 12
Naquele momento, toda a raiva de Emily evaporou. Ela nunca foi capaz de ficar com raiva de alguém que estava furioso consigo mesmo.
Sua cabeça estava afundada e, neste momento, sabia exatamente o que ele quis dizer quando falou que ela tinha poder.
Agora mesmo, neste momento, seu futuro cabia a ela decidir.
Atravessou a cabine e segurou a cabeça dele contra seu estômago, e acalmou as preocupações dele... ou iria mandá-lo para fora da cabine e acabaria com o casamento.
Era o direito dela. Sua escolha.
Ela se endireitou quando a cabeça dele caiu em suas mãos.
A verdade era que estava furiosa com ele por tirar suas opções. Por forçar suas irmãs cada vez mais a situações perigosas.
Ela estava furiosa quando todos as abandonaram porque ele quase arruinou a todas elas.
Mas quase não aconteceu, e o que ele realmente fez foi salvar todas elas. Isabella foi parar na porta de Bash. E Eliza na casa de Menace.
E Brandon havia resolvido o mistério e afastado os ladrões de seus negócios e, com sorte, de suas vidas.
Além do mais, ele manteve seu olho sobre ela e se certificou de que, quando o perigo chegasse muito perto, ele o afastaria novamente.
Foi um risco.
E ele fez escolhas. Algumas delas, erradas.
Ele não era o herói fantástico que ela imaginou que fosse. Ele era um homem. Carne e sangue que cometeu erros, protege-a, casou-se com ela, limpou seu nome e salvou o dela.
Ele não era perfeito. Nem ela.
Palavras encheram a sua boca, mas ela não conseguia colocá-las para fora. Estava apaixonada por ele. Isso não mudou.
E ele ainda era tudo que ela sonhou: alto, moreno, bonito, forte. Seu herói. Só que ele era mais. Um homem também.
Um com o qual ela poderia crescer. Mudar. Ou não. Mas tentar aprender a dar o melhor de si. Juntos.
Ela cruzou a cabine então, parando um pé diante de sua cabeça inclinada.
— Eu tenho uma confissão também.
Sua cabeça se ergueu, seus olhos encontrando os dela.
— Você tem uma confissão?
Ela acenou com a cabeça, as mãos entrelaçadas.
— Sim. Eu tenho. — Ela pressionou os lábios enquanto olhava para ele. — E se isso mudar seu desejo de continuar casado comigo, vou entender.
— Mudar meu desejo... — sua voz sumiu enquanto ele balançava a cabeça. — O que você poderia ter feito para me fazer mudar de ideia?
Ela balançou a cabeça.
— Acho que estabelecemos que não é provável que eu tenha feito nada.
— Pare. — Ele se levantou então, e seus braços envolveram a cintura dela enquanto a puxava para perto. — Seja gentil com você mesma, Emily. Dê a si mesma a generosidade que até agora sinto que você está me dando.
— Oh. — Essas palavras zumbiram através dela, acalmando suas entranhas e tornando suas próximas palavras mais fáceis. — Desde que você me resgatou daquela primeira vez, — ela se mexeu, preparando-se para as próximas palavras. — Receio ter estado loucamente apaixonada por você.
Ele piscou.
— O quê?
Ela tentou não estremecer. Seja corajosa, disse a si mesma.
— É verdade. Como uma garota poderia resistir? Você é tão arrojado, misterioso e maior do que a vida.
Um sorriso lento se espalhou por seus lábios.
— Esse é o seu segredo, esposa? Que você me ama?
Ela acenou com a cabeça.
— Não faça graça. Foi difícil dizer essas palavras.
— Eu não estou implicando com você. — E então, ele se abaixou e a beijou longa e lentamente, sua língua acariciando a dela, até que ela se esqueceu de todas as palavras que ia dizer.
Depois de vários segundos, ele ergueu a cabeça.
— A verdade é que, a esse respeito, você é muito mais corajosa do que eu.
— Não entendi? — A combinação do fim do beijo e suas palavras inesperadas a deixaram confusa.
— A verdade é que também estou apaixonado por você há algum tempo. Estava com muito medo de admitir a verdade.
— Oh, — ela sussurrou, inclinando o queixo para olhar melhor em seu rosto. — Você realmente quis dizer isso?
— Cada palavra. — Então, ele deslizou a mão por sua espinha, embalando sua cabeça em sua mão. — Você está disposta a perdoar meus pecados? Está tudo bem se você não o fizer. Não consigo me perdoar.
Isso quase a fez sorrir.
— Seja gentil com você mesmo.
Seus olhos se arregalaram por uma fração de segundo antes de ele lhe dar um sorriso terno. A mão dele deslizou para segurar o lado do rosto dela.
— Eu coloquei sua família em perigo.
— Eu sei, — ela suspirou. — Terei que pensar muito sobre se, como e quando eu irei compartilhar tudo isso com minhas irmãs. Mas, — ela estendeu a mão e usou a ponta de seu dedo para traçar o perfil do nariz dele, — a verdade é que suas decisões nos colocaram no caminho correto. Todas as minhas irmãs vão se casar com lordes com o título. Meu negócio familiar foi restaurado. A morte do meu pai foi vingada da única maneira que poderíamos.
Ele olhou-a, seus lábios entreabertos enquanto levava a outra mão para cobrir totalmente o rosto dela.
— Eu te amo muito, Emily. — E então, ele a beijou. Quando ele ergueu a cabeça, murmurou: — E preciso de você. É verdade o que disse quando falei a Eliza que ela não entendia o poder do seu dom para confortar. Eu não posso ficar sem você.
Essa foi fácil. Porque agora que ele fazia parte de sua vida, e ela também não poderia ficar sem ele.
Ele beijou Emily novamente, se aquecendo em seu calor, seu perfume floral, na suavidade de seu corpo e na maneira como ela se encaixava nele, como se fosse destinada a estar ali.
Uma batida soou na porta e ela pulou em seus braços, mas ele a segurou com firmeza.
— Sim, — ele respondeu.
— Sua água, meu senhor, — respondeu um marinheiro.
— Meu lorde? — Ela sussurrou, um sorriso sobre os lábios. — E água?
— Entre, — ele chamou enquanto piscava para ela e se voltava. Então, ele olhou-a. — E um banho para minha noiva.
A porta se abriu quando vários homens arrastaram uma banheira e vários baldes de água quente.
— Você conseguiu um banho em um navio?
Ele piscou novamente.
— Não facilmente.
— Isso é o que você disse sobre o vestido.
Ele estendeu a mão e arrastou o polegar sobre a maçã do rosto dela enquanto os baldes foram despejados na pequena banheira de madeira.
— Verdade. Entenda que irei, como seu marido, fazer um grande esforço para ver seu conforto. Vou colocá-la em primeiro lugar, Emily. Eu juro.
Ela deu-lhe um sorriso terno.
— Eu acredito em você.
O alívio o percorreu quando os homens partiram novamente, fechando a porta. Ele colocou as mãos nos braços dela e a girou para que ele pudesse começar a desfazer seu vestido.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou, parando no meio da volta.
— Preparando você para o banho.
— Você vai retirar meu vestido de novo hoje? — Ela permitiu que ele terminasse de girá-la e falou por cima do ombro.
— É claro. Eu sou sua criada pelo resto da viagem.
— Você é uma criada muito grande.
Ele deu uma risadinha.
— Você vai precisar de ajuda para tomar banho, milady?
Ela prendeu a respiração, mas ele segurou seus braços com firmeza enquanto se abaixava e dava um beijo onde seu ombro e pescoço se encontravam.
— Brandon, — ela começou.
— Você vai gostar, meu amor, eu prometo.
Ele podia sentir o pulso dela vibrando sob seus lábios. Ele sorriu com a excitação nervosa dela.
— É que estamos... no meio do dia.
Suas mãos deslizaram para os botões e ele começou a desfazê-los.
— Bem... — Ele beijou apenas um pouco mais alto, mesmo enquanto desabotoava mais três botões. — Posso deixar você para se banhar e depois posso voltar mais tarde quando estiver mais escuro. — Ele começou a tirar a roupa de seu corpo. — O único problema que surge é onde poderei tomar banho.
— Oh, — ela disse novamente, virando-se para olhar para ele.
Desta posição, atrás de seu ombro, ele tinha uma excelente visão do decote dela, empurrado para cima por seu espartilho, e ele quase gemeu de necessidade.
Mas ele segurou o som. Ela era nova nisso e merecia sua paciência.
Tirou as saias, depois as anáguas e o espartilho.
Ela se sentou na cama, e ele observou enquanto ela mexia nas calças e nas meias por baixo da camisa.
Quando ela estava com nada além de uma vestimenta transparente, seus lindos pés, tornozelos, panturrilhas e braços expostos à sua visão, ela lançou-lhe um olhar severo.
— Vire-se.
Ele sorriu, mas fez o que ela pediu.
— Você não quer que eu lhe dê banho?
— Não sei, — respondeu ela. — Mas vou entrar na banheira com alguma privacidade.
Ele ouviu o farfalhar de tecido e o som da água. Então, ela começou a ensaboar. Ele podia ouvir o esfregar e a espuma. Depois que alguns minutos se passaram e ele estava lutando consigo mesmo para espiar ou não, ela gritou:
— Você pode se virar.
Ele o fez, para encontrá-la dobrada na banheira. A água, turva com sabão logo acima de seus mamilos, expondo a parte superior de seus seios e peito molhados.
As mechas de seu cabelo estavam molhadas e suas bochechas rosadas.
O desejo o percorreu quando ele começou a remover o próprio casaco.
Sua gravata foi a seguir. E então, sua camisa.
Quando ele estava nu da cintura para cima, ajoelhou-se ao lado da banheira.
— Incline-se para frente.
— O que você vai fazer? — Ela perguntou, sua voz sem fôlego.
— Vou lavar suas costas, amor. — Ele gostaria de lavar cada centímetro dela, mas se contentaria com isso. Por enquanto. A próxima vez que lhe desse um banho, o que seria em breve, ele ensaboaria cada polegada dela.
Ela obedeceu e ele esfregou levemente, as mãos dele tocando cada centímetro de sua carne flexível.
Quando ele terminou, pegou uma grande toalha e se levantou, segurando-o para envolvê-la.
A cor ruborizou em seu rosto, mas ela fez o que ele pediu silenciosamente, saindo da água.
E então, ele rapidamente tirou o resto de suas roupas.
— O que você está fazendo? — Ela assustou-se, seus olhos por todo o corpo.
— Estou entrando na banheira. Quero estar limpo para minha esposa.
Ele viu o olhar dela deslizar para baixo dele, demorando-se em sua masculinidade. Ela mordiscou o lábio, um sinal claro de que estava nervosa.
Ele entendeu. Ele era um homem grande e suas partes masculinas eram adequadas ao seu tamanho. Deslizou para dentro da banheira, lavando-se rapidamente.
Para sua surpresa, ela foi até ele, depois de passar a toalha por debaixo dos braços e segurando-a.
— Passe-me o sabonete, vou cuidar de você também.
Ele ergueu uma sobrancelha, mas obedeceu. E quando as mãos dela começaram a deslizar sobre seu corpo, ele quase gemeu de prazer.
Seu toque era gentil, sua mão deslizando sobre ele em um toque rítmico que o deixou dolorido.
— Pronto, — ela disse enquanto se afastava. — E você estava certo. O casamento será muito íntimo na verdade.
— Nós temos um problema, — ele brincou com um sorriso.
— Qual? — Ela perguntou, inclinando-se para trás.
Seu sorriso se tornou perverso.
— Só temos uma toalha de banho e você a está usando.
Sua boca formou um pequeno O quando ela se apoiou nos calcanhares.
— Oh, querido, — ela respondeu. — Eu poderia ir me vestir e...
Ele estendeu a mão para fora da banheira e deu um leve puxão na toalha que ela segurava.
— Ou...
Suas sobrancelhas se ergueram enquanto ela automaticamente segurava a toalha.
— Brandon, — sua voz estava ofegante. Sob sua mão, podia sentir a batida suave de seu coração.
— Não há nada a temer, amor. Conhecerei cada centímetro seu dentro de uma semana. Você é o amor da minha vida e não quero nenhum segredo entre nós. Nunca.
Isso pareceu convencê-la, e ela se levantou, afrouxando o grande pano e afastando-o de seu corpo, colocando-o na mão estendida dele.
Ela ficou diante dele sem nada para cobri-la e, honestamente, ela roubou suas palavras, seu ar, seus pensamentos.
— Você é mais bonita do que eu jamais imaginei.
Capítulo 13
Emily não conseguia acreditar no que acabara de fazer.
A princípio, sentiu medo e suas mãos se ergueram para cobrir o corpo.
Mas então, quando suas palavras penetraram, enquanto seus olhos escureciam de fome, ela se sentiu... poderosa.
Confiante. No controle.
Ela ofegou em uma respiração. Não sabia que seria assim. Que seu desejo por ela a faria se sentir muito mais forte.
Ele também se levantou e saiu da banheira, seu corpo a apenas alguns centímetros do dela enquanto se enxugava com a toalha e permitia que o pano caísse no chão.
Ela se permitiu olhar mais uma vez para cada pedacinho dele. Dos ombros largos que ondulavam com músculos, para seus braços magros, abaixo de seu peito ondulado, para seu abdômen magro, ele era glorioso.
Ela ergueu a mão e tocou sua clavícula, traçando a linha dela e então permitiu que sua mão mergulhasse mais abaixo no cabelo úmido em seu peito.
Em resposta, ele agarrou o cabelo dela e começou a puxar os grampos, um por um. Foi um ato que ele já tinha feito antes, ainda mais íntimo agora, mas a lembrou.
Ele cuidou dela o tempo todo.
— Brandon, — disse ela enquanto se aproximava um pouco. Perto o suficiente para sentir seu calor em seu corpo frio. — Estou com frio.
— Deixe-me aquecê-la — respondeu ele, passando o braço pela cintura dela e puxando-a para si, até que ela estivesse aninhada em seu calor.
A outra mão continuou trabalhando nos grampos até que o cabelo dela caísse pelas costas.
Ele trabalhou suas mãos nos fios, penteando seus dedos por eles.
— Eu amo seu cabelo.
— Marrom, — disse ela, franzindo o nariz. — Se você lê histórias românticas, as mulheres quase sempre são loiras, a menos que tenham cabelos ruivos flamejantes.
Ele estalou a boca e beijou o topo da cabeça dela.
— Tem loiro e vermelho quando o sol bate nos fios. Além do mais, é como a seda, tão lisa, macia e brilhante. É glorioso.
A sensação mais áspera de sua pele, o cabelo em seu peito esfregando contra ela causando pequenos tentáculos de prazer dançando ao longo de sua pele.
— Eu gosto da sua cor. É tão escuro, quase preto.
Ele se abaixou e beijou sua têmpora, então sua bochecha e o canto de sua boca.
— Espero que tenhamos um bando de filhas que se pareçam com a mãe.
E então, a ergueu em seus braços e a carregou pela curta distância até a cama.
— Você deveria passar mais tempo com minhas irmãs antes de desejar tal coisa.
Lentamente, ele abaixou-a, seu peso se acomodando em cima do dela. Ele era pesado, mas de alguma forma isso só aumentava a sensação de bem estar em seus braços.
— Observei suas irmãs o suficiente para saber que o amor delas é feroz, e que juntas, vocês podem resistir a qualquer tempestade. Sinto-me honrado e humilde por fazer parte dessa família. Obrigado, Emily, meu amor.
— Obrigada, — ela murmurou de volta. — Por ser meu cavaleiro de armadura brilhante e um homem a quem eu realmente posso amar.
Ele deslizou a mão por seu corpo, sentindo o tamanho de seus seios, a parte plana de seu abdômen, a junção entre suas coxas. E quando os dedos dele deslizaram sobre sua pele lisa, ela engasgou-se, pressionando contra sua mão.
Ele a beijou então, longa e profundamente enquanto repetia o movimento contra sua carne mais sensível.
Ela se moveu com ele, seu corpo correspondendo a cada golpe.
Ele podia sentir a tensão crescendo em seu corpo enquanto aumentava o ritmo. Ela se retorcia, suas mãos agarrando seus ombros até que seu prazer se quebrou. Ele a sentiu quebrar, seus gemidos de prazer enchendo seus ouvidos.
Brandon diminuiu o movimento, enquanto o corpo dela se transformava em geleia sob o dele. Ele não pôde evitar o pequeno sorriso de satisfação que brincou em sua boca enquanto afastava a mão, permitindo que a ponta de sua masculinidade pressionasse suas dobras suaves e lisas.
Os dedos dela estavam enroscados em seu cabelo.
— Aquilo foi...
— Maravilhoso, — ele respondeu enquanto deslizava dentro dela um pouco.
Ele a sentiu ficar um pouco tensa.
— Brandon. — Ela puxou seu cabelo. — Espere.
Ele se acalmou. Faria tudo o que ela pedisse, mas ela mudaria de ideia? Por dentro, ele morreu um pouco por pensar nisso.
Emily olhou para as profundezas de seus olhos castanhos.
Ela precisava dizer essas palavras mais uma vez antes que continuassem.
— Eu amo você.
Um de seus olhos semicerrou.
— É por isso que paramos? Eu estava preocupado.
— Desculpe, — ela respondeu, afastando o cabelo de seu rosto. — Esperei muito tempo para dizer essas palavras. Só quero repeti-las indefinidamente.
Ele a beijou.
— Eu também te amo. E diga as palavras quantas vezes quiser, nunca me cansarei de ouvi-las.
E então, ele empurrou um pouco mais fundo em seu canal.
Ela estava molhada, mas ainda apertada para seu grande membro, e ele a sentiu se esticar para acomodá-lo. Ela ficou tensa e ele sabia que precisava mantê-la falando, distraí-la. A tensão só faria doer mais.
Então, ele começou a acariciar seu rosto, beijando uma trilha ao longo de sua pele.
— A primeira vez que te vi, você estava segurando Abigail enquanto ela chorava.
Emily deu uma risadinha.
— Isso pode ser uma de muitas vezes. Ela tem tendência a chorar.
— Foi o dia em que o noivo foi embora, — disse ele, percebendo que pode estar cometendo um erro ao compartilhar essa memória em particular.
Ela olhou em seus olhos.
— Você viu isso.
Ele assentiu.
— Foi a primeira vez que realmente questionei meu plano. Porque pude ver a dor que isso causou em você e porque... — Ele fez uma pausa.
Suas mãos deslizaram por suas costas, e então descansaram em seu traseiro, encorajando-o um pouco mais fundo.
— Diga-me.
— Porque também percebi que poderia te amar. Você foi tão terna, gentil e paciente naquele momento, e você deveria ter sofrido também, Emily. Nunca tive esse tipo de afeto. Não em toda a minha vida e...
Ela o encorajou um pouco mais fundo e ele sentiu sua virgindade romper, seu corpo enrijecer de dor.
— Continue falando, — ela sussurrou.
— Eu não queria me distrair do meu objetivo. Mas acho que me apaixonei naquele exato momento.
Ela ofegou e ele congelou, preocupado que a estivesse machucando, mesmo quando sua mão batia em seu traseiro.
— Você estará se encontrando com o rei. Amanhã.
Ele balançou sua cabeça.
— Isso não importa.
— O que você quer dizer com não importa? — Ela estava batendo com mais insistência. Não sabia como dizer a ela que a ação era bastante... excitante. — Nós temos que voltar. É importante.
Ele balançou sua cabeça.
— Emily, você é mais importante. Eu tomei essa decisão. Sua segurança virá em primeiro lugar sempre.
Ela o beijou então quando ele deslizou para fora dela e de volta para dentro. Ele se moveu em um ritmo lento, dando a seu corpo tempo para se ajustar.
Quando seu corpo começou a encontrar seus impulsos, ele acelerou o ritmo, o prazer ondulando através dele.
Ela prendeu os braços em volta do pescoço dele, enquanto suas pernas se apertavam sobre as dele, e ele sentiu o momento em que o prazer a percorreu. Ele não podia segurar-se por mais tempo e gozou.
Eles ficaram enrolados por mais alguns minutos, beijando-se até que ele finalmente saiu de seu corpo.
Ela se empurrou ainda mais para trás no colchão enquanto olhava em seus olhos.
— Eu aprecio o que você fez. Me escolhendo em vez de sua reputação na sociedade.
— Estou feliz, — respondeu ele.
— Mas temos que voltar.
— Bash vai explicar tudo ao nosso líder soberano.
Ela balançou a cabeça.
— Eu vou ficar no navio. Ou você pode me levar ao Bash durante a noite. Mas temos que voltar. Não terei mais medo e não correrei. Vamos restaurar seu título, e então enfrentaremos esses homens. Juntos.
Ele apertou a boca em uma linha fina.
— Em.
Ela amou o carinho em seus lábios, e ela poderia ter se deleitado com isso, mas tinha algo importante a dizer agora.
— Eu posso fazer isso.
Ele olhou nos olhos dela.
— Nunca duvidei de você. Eu estava lá quando você saiu correndo de uma carruagem e derrubou um homem com a porta, lembra?
O prazer fluiu por ela.
— Preciso fazer isso por você. Preciso provar que vou colocá-la em primeiro lugar, e que sou forte o suficiente para ficar perto de você.
— Está combinado. Agora vamos voltar. Você é um duque e reivindicaremos seu lugar de direito na sociedade. O meu também. — Então, ela começou a empurrar seus ombros largos.
Ele cedeu. Rolando para fora dela e puxando-os para ficar de pé.
— Tudo bem, — ele respondeu. — Você ganhou. Vamos voltar para Londres.
Capítulo 14
Uma hora depois, Brandon estava no convés enquanto o barco virava para a esquerda, fazendo o meio do oceano virar. Emily estava aninhada ao seu lado, parecendo bastante aquecida e muito satisfeita enquanto se aconchegava mais profundamente em seu casaco.
O capitão tinha feito muito barulho sobre seus embarques, que iriam atrasá-los, mas no final, ele concordou.
Sem parar e com bom vento, voltariam para Londres nas primeiras horas da manhã. O que lhe daria tempo para decidir o que fazer. Não podia avisar Bash que eles estavam vindo. E, dependendo de quantos homens ainda não tivessem sido capturados, a casa de Bash poderia estar vigiada.
O que tornava tudo mais complicado.
Ele fez uma careta para sua noiva.
O que eles acabaram de fazer foi... mágico. A satisfação emocional e física havia se fundido em uma sinfonia perfeita, deixando-o exausto, desejoso e... apaixonado.
Eles deveriam estar em sua cabine, ainda presos em um abraço. Explorando um ao outro... Ele parou.
Pensar nisso não mudou o fato de que eles estavam agora no convés enquanto ele emitia comandos.
Se os ventos estivessem com eles, ele levaria Emily para baixo do convés novamente e...
— Navio bem à frente, — gritou o vigia no mastro.
Brandon se endireitou, puxando Emily para mais perto.
— O quê?
Mas, mesmo quando as palavras saíram de sua boca, ele avistou o mastro à distância.
O capitão ao lado dele.
— Maldito Cristo. — Ele cuspiu por cima do corrimão. — Coincidência ou golpe?
Ele fez uma careta. Gostaria de acreditar em coincidências. Mas seu instinto estava dizendo algo diferente.
— Saímos de Londres porque fomos atacados.
O capitão cuspiu novamente.
— Equipe em seus postos de batalha, homens.
— Postos de batalha? — disse Emily ao lado dele, com a voz trêmula. — O que isso significa?
— Significa que estamos nos preparando para a possibilidade de que o outro navio não seja amigável.
— Você acha que eles vão atacar? — Emily pressionou contra o seu lado. — Mas você deve ver outros navios o tempo todo.
— Sim, — respondeu o capitão. — Mas não correndo em nosso rastro, apenas ficam fora de vista.
O navio se aproximou e Brandon semicerrou os olhos para ver os detalhes.
Ele estava prestes a sugerir que Emily voltasse para baixo quando viu a bola de fogo explodir do convés do outro barco.
Ele empurrou Emily para baixo antes que o barulho os alcançasse, embalando o corpo dela contra o dele no convés duro. A bola voou longe do navio.
— Prepare-se para responder ao fogo, — o capitão gritou, mesmo quando Brandon se levantou novamente, puxando Emily com ele. Ele a balançou em seus braços e se dirigiu para a escotilha.
— O que está acontecendo? — Emily gritou quando suas mãos envolveram seu pescoço.
— Bem, — ele fez uma careta enquanto descia a escada do navio com ela em seus braços. — Meu palpite é que nosso alegre bando de ladrões está seguindo você ou a mim.
Ela estremeceu de medo e ele a abraçou.
Ele pressionou sua bochecha no topo de sua cabeça enquanto alcançava sua cabine. Abrindo a porta, ele a colocou no chão.
— Tranque a porta atrás de mim e não abra para ninguém.
— Brandon, — ela gritou quando um canhão disparou do Retorno, sacudindo todo o navio com sua força.
Queria dizer-lhe que nunca permitiria que nada de ruim acontecesse com ela. Mas, neste momento, ele respirou fundo, estremecendo. Sua tentativa de eliminar esses criminosos e levá-los à justiça poderá ser a sua ruína deles.
— Eu tenho que ir, amor. — Ele a puxou com força e a beijou na boca, cheia e doce. — Fique aqui e fique segura.
Ela se agarrou a ele por um segundo ou dois, e depois recuou.
— Tome cuidado.
Ele balançou a cabeça e se virou, somente quando ouviu a porta fechar e o clique da fechadura. E então, estava de volta ao convés.
O Capitão James se virou para ele.
— Nós atingimos o mastro deles. — O homem deu-lhe um sorriso largo. — Todos aqueles exercícios que você permitiu que fizéssemos valeram a pena. Estamos recuando para que eles não possam mais nos acertar com fogo. A questão é o que você quer fazer? Deixá-los ficar à deriva ou embarcar e lutar?
Ele deu um longo suspiro. Ele queria lutar. Mas tinha mais do que ele mesmo a considerar.
— Há mulheres a bordo.
O Capitão James deu um aceno rápido.
— Verdade. Se nos aproximarmos, corremos o risco de pegar o fogo de seus canhões.
— Mas eu corri uma vez para proteger Emily...
Jack deu um aceno rápido.
— E aqui estão eles.
— Você pode afundá-los?
Jack deu a ele um grande sorriso.
— Posso. E devo apenas dizer, esse é o meu tipo de plano.
Ele deu uma risadinha.
— Meu palpite é que você vai gostar um pouco mais do que de conduzir um casamento?
— De fato, — ele riu, levantando o braço para sinalizar que eles atirariam novamente. — Empurre um pouco mais perto, rapazes. Vamos colocar aquele barco no fundo.
Os homens soltaram gritos de alegria enquanto as velas ergueram-se novamente, ao mesmo tempo que o canhão disparou.
Mais sete bolas foram lançadas, cinco acertando o navio e duas atiradas de volta.
Eles sofreram danos a bombordo, mas podiam navegar. E quando assistiram dois botes sendo baixados em oceano aberto, sabiam que tinham vencido. Houve vivas dos marinheiros a bordo do Retorno.
— Agora, — ele deu uma olhada para o Capitão Jack. — É minha hora de alguma ação. Capture os homens a bordo desses navios. Quero algumas respostas.
O capitão Jack deu um único aceno de cabeça.
— Preparem-se para levar os prisioneiros a bordo.
Brandon tinha saído por horas. A noite caiu e o interior da cabine escureceu. Emily tinha ouvido toda a batalha.
Os canhões, a captura e depois o silêncio.
Mas seu marido não voltou. Ela tentou não se preocupar.
E ela considerou deixar a cabine uma meia dúzia de vezes. Mas no final, ela ficou e andou por toda a extensão da pequena sala mil vezes ou mais, quando uma batida finalmente soou na porta.
— Sim? — Ela falou.
— Sou eu, — Brandon falou do outro lado.
Arrepios de alívio fluíram por ela que correu abrindo a fechadura e a porta.
Ele estava encostado no batente parecendo cansado, mas... inteiro.
— Você está bem?
— Estou. — Ele estendeu a mão e puxou-a em seus braços. — Me desculpe por ficar longe por tanto tempo, amor. Você deve ter ficado terrivelmente preocupada.
— O que aconteceu? — Ela o puxou para dentro do quarto, fechando a porta.
— Bem. — Ele passou as mãos pelos cabelos. — Eu tenho o Maestro preso no casco do navio.
Ela engasgou-se.
— Maestro?
— Ele dirigia a operação em Londres. — Brandon fez uma careta quando seus olhos se voltaram para ela. — Infelizmente, ele não é o topo da pirâmide. Ele aludiu a um chefe maior, embora não diga quem ou onde.
Emily cobriu a boca com as mãos.
— Você acha que ele virá atrás de nós?
Brandon balançou a cabeça.
— Não sei. Mas posso dizer que a maior arma do Maestro era o sigilo. Capturá-lo hoje foi muito mais fácil do que eu pensava.
Ela acenou com a cabeça.
— Foi fácil?
Ele encolheu os ombros.
— Eu sabia muito mais sobre ele do que ele sabia sobre mim. Estou acompanhando sua operação há meses e ele não tinha a menor ideia. Além do mais, ele ainda não tem ideia de quem é Ewan, embora deva saber que há um espião. Mas, provavelmente estará morto antes de passar adiante essas informações.
— Morto? — Emily ofegou. Isso a lembrou de como o dia anterior tinha sido sério.
— Vou entregá-lo à Coroa, mas sua execução não vai demorar, tenho certeza disso.
— Estou feliz que estamos indo para casa.
Ele pegou a mão dela, entrelaçando seus dedos nos dele.
— Eu também.
Ela deitou a cabeça em seu ombro, suspirando suavemente.
— Será seguro?
— Vamos nos certificar de que seja. — Ele a puxou para seu colo. — Eu nunca permitiria que nada acontecesse com você, Emily.
Ela o abraçou com força.
— Eu sempre soube disso. — Ela respirou fundo. — Nos coloquei em perigo ao insistir que voltássemos para Londres?
Ele a beijou novamente, sua mão deslizando pelo corpo dela.
— Não. Na verdade, se não tivéssemos retornado, eles poderiam ter nos atacado furtivamente durante a noite, quando não estivéssemos preparados.
Ela ofegou, sentando-se ereta em seu colo.
— Então, eu ajudei?
— Claro que ajudou. — Ele escovou o cabelo dela para trás e deu-lhe outro beijo, sua língua mergulhando em sua doce boca.
Ele queria dizer a ela muito mais, mas quando suas bocas se encontraram novamente e novamente, ele parou de pensar. Eles estavam seguros, estavam voltando para Londres e sua família.
Ela era tudo que ele precisava neste mundo, e era dele.
Epílogo
Uma semana depois...
Emily estava deitada em sua cama grande, os cobertores mal cobrindo-a enquanto apoiava a cabeça na mão, dando a ele um sorriso atrevido.
Ela roubou seu fôlego.
— Bem, Sua Graça... — Ela deu-lhe outro sorriso provocador. — Conseguimos. Nós nos casamos. De novo.
Ele riu, movendo-se para a beirada da cama e lentamente abrindo as cortinas na extremidade, subindo no colchão e subindo pelo corpo dela.
— Nós fizemos. — Ele beijou seu tornozelo, joelho, a parte interna de sua coxa. — Foi tão romântico quanto você imaginou?
Ela deslizou de costas.
— Foi adorável. Mas isso... — Ela deu a ele um longo olhar, uma sobrancelha arqueada. — Esta é a minha parte favorita.
Ele rosnou seu assentimento, beijando seu quadril e, em seguida, o ponto logo abaixo de seu umbigo.
— A minha também.
Ela passou as mãos pelo cabelo dele enquanto ele beijava cada vez mais alto. Ele parou por um momento para levantar a cabeça e olhá-la.
— Depois do casamento de Abigail, poderemos partir em lua de mel, se quiser.
Ela balançou a cabeça pouco antes de seus lábios pressionarem os dela.
— Não. Já estivemos em uma viagem, isso foi o suficiente para mim.
Ele riu disso.
— Vamos ter uma lua-de-mel aqui, então. Passar dias na cama.
Ela deslizou as pernas sobre as dele, a fricção fazendo-o gemer novamente.
— Oh, gosto muito desse plano.
— Poderia te ensinar todos os lugares para beijar uma pessoa que a faria gemer de prazer.
Ela riu, puxando seu cabelo um pouco enquanto olhava para ele. — E você pode começar a me ensinar sobre o negócio.
Ele riu disso.
— Eu sei que você está com pressa, mas você acha que poderíamos esperar alguns dias por isso? Meu orgulho está dolorido por você não se deixar levar pela minha paixão por você.
Ela puxou-o para beijar sua boca.
— Me apaixonei por você desde o primeiro momento que te conheci. E você... — Ela o beijou novamente. — Estão me ajudando a ser uma mais forte pessoa em todos os sentidos.
Ele olhou para baixo no calor líquido de seu olhar.
— E você me torna mais compassivo. Obrigada, Emily, por me permitir ser seu marido. Eu te amo muito, mais do que poderia dizer.
— Eu também te amo, — ela disse, e eles se uniram, fazendo amor doce e apaixonadamente até que ambos estivessem exaustos.
Quando finalmente deitaram-se nos braços um do outro, Brandon acariciou sua bochecha.
— Eu vou te mostrar os livros amanhã.
— Mesmo? — Ela tentou levantar a cabeça, mas acabou permitindo que caísse de volta no travesseiro.
— Mesmo. Quero o que for melhor para você. Sempre.
Ela encostou o nariz no dele.
— Eu sei. Você é o melhor para mim. — Então, ela fechou os olhos. — E talvez possamos esperar mais um dia para que essas aulas comecem.
Ele não respondeu enquanto ela se aconchegava ao seu lado, mas ele soube o momento em que ela adormeceu.
Enrolando-a em seu corpo, ele fechou os olhos também. Ele estava em casa. Ele nunca desejou estar em outro lugar.
[1] Expressão inglesa que quer dizer que a pessoa não ficou parada. Expressão similar: “Pedra que rola não cria musgo”.
[2] Derringer – pistola de cano curto.
Tammy Andresen
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