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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


EARL OF BAXTER / Tammy Andresen
EARL OF BAXTER / Tammy Andresen

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Ele é conhecido como o Conde dos Bastardos...
Se a sociedade pensa que o apelido é um insulto, eles estão redondamente enganados. Mason, o Conde de Baxter, cresceu sabendo que é o filho ilegítimo do Duque de Devonhall, também conhecido como o Duque Demônio. Ele se juntará a seu pai no inferno antes de se curvar diante de qualquer homem ou mulher da nobreza.
Ela é uma órfã com um segredo obscuro...
A maioria acha que Clarissa é uma santa. Ela cuidou de soldados feridos e ajudou a criar crianças esquecidas. Mas ela não é tudo o que parece e há segredos obscuros em seu passado que ameaçam suas tênues oportunidades para o futuro. Ninguém pode saber como ela conseguiu escapar... exceto que um homem já sabe... o Conde de Baxter.
E o que ele fará com essa informação ninguém sabe.
Ela não pode controlá-lo mais do que pode ouvir o barulho alto de seu coração sempre que o homem entra na sala. Mas quando os espectros de seu passado começam a circular mais perto, ela deve fazer uma escolha. Ela confiará no Conde dos Bastardos? E se ela confiar perderá seu coração?

 

 

 

 

Prólogo

Julho de 1815


A guerra era gloriosa, pensou Mason enquanto estava deitado no porão úmido de alguma igreja à beira-mar, e perto da morte. Eles não disseram isso aos soldados, é claro. Que estavam prestes a morrer. Não, eles disseram que estavam quase bons, iriam se recuperar a qualquer momento.

Ele estava doente demais para dizer que não precisavam mentir. Estava preparado para a morte. Ele gostaria disso, na verdade. Inferno, ele pressionou tanto na frente de batalha porque... e isso não era algo que um homem jamais dissesse em voz alta... ele queria morrer.

Se fosse honesto, ele nunca deveria ter sobrevivido. Seu pai não tinha lhe dito isso repetidamente nas raras ocasiões em que se preocupou em visitar seu filho bastardo?

— Você não deveria ter sobrevivido. Deveria ter morrido com sua mãe.

Mason balançou a cabeça. Ele fez o seu melhor para tornar o desejo de seu pai realidade.

— Aí está agora, — uma voz feminina suave sussurrou perto de seu ouvido. — Não precisa se preocupar, você vai ficar bem.

— Eu não vou, — ele respondeu, levantando a mão pesada e enxugando os olhos. Quando deixou cair a mão, ele piscou abrindo suas pálpebras ásperas para olhar para a mulher que tinha uma voz tão doce.

Não, não uma mulher. Uma garota. Uma criança.

A garota inclinou a cabeça para o lado e a luz do sol de uma janela acima a lançou em uma luz sagrada. Sua respiração ficou presa. Ele não se achava capaz de qualquer movimento. Seus pulmões se expandiram com a respiração, puxando uma lufada de ar profunda... levando-o a se perguntar se ele já havia morrido e isto era, na verdade, o paraíso.

A criança tinha uma auréola de cabelo loiro, penteado para trás em seu rosto com apenas algumas mechas macias caindo sobre suas bochechas, destacando seus grandes olhos azuis e o tom rosa suave que corou sua pele. Ela se parecia com os anjos querubins que vira nas pinturas da casa de seu pai, a única vez que teve permissão para visitá-la.

— Você é linda, — ele murmurou, puxando outro longo suspiro. Ele tentou erguer a mão novamente e tocar-lhe o rosto, mas seu braço não funcionou.

— Obrigada. — Ela sorriu para ele, o olhar indulgente e divertido. — Mas você é um pouco velho para mim.

Ele poderia ter rido, se conseguisse fazer o barulho. Ele não quis que o que disse soasse assim. Ela era claramente apenas uma criança, mas tinha o tipo de beleza que era tão raro em seu mundo. Talvez não fosse a beleza, mas a inocência. Fosse o que fosse, ela parecia brilhar com isso, como se realmente fosse de outro mundo.

— Quantos anos você tem?

— Tenho doze anos. — Ela pegou um pano úmido e enxugou o rosto dele com um toque gentil, leve, enquanto seus dedos macios escovavam seu cabelo para trás para abrir caminho para o pano úmido. — Quantos anos você tem?

— Sou jovem, — respondeu ele, fechando os olhos novamente. Desta vez com prazer. Seria bom morrer com uma mão tão terna em seu rosto. — Eu tenho vinte e um.

— Vinte e um? — Disse ela, acariciando sua têmpora com o pano e ajudando a aliviar a forte pulsação em seu crânio. — Você também é jovem. Pelo menos, isto é, muito jovem para morrer.

Ele balançou sua cabeça.

— Assisti homens muito mais jovens perderem suas vidas, — disse ele para si mesmo, então se perguntou se deveria ter compartilhado tal escuridão com alguém tão jovem.

Ela parou de dar banho nele. As palavras estavam na ponta da língua para pedir que ela começasse de novo, mas então as cerdas macias de uma escova tocaram seu cabelo e ele quase gemeu em voz alta, a escova era tão boa em seu couro cabeludo. Ela era extremamente gentil, e seu corpo devastado pela febre deleitava-se com o toque.

Ela suspirou em resposta.

— Tenho certeza que você assistiu. Eu tive que assistir a isso também, infelizmente. Você e eu, não podemos nos dar ao luxo da ingenuidade, não é?

Ele gostaria de poder gritar em protesto. Afinal, ele era um homem. O mundo foi feito para ser duro com ele. Mas ela, ela ainda era apenas uma menina. Seus olhos azuis deveriam dançar de alegria, não de morte.

— Não é justo. — Seus punhos cerraram-se no lençol ao seu lado e alguma medida de força voltou para seu corpo. Era como se ela estivesse dando vida a ele. — Uma garota tão inocente quanto você não deveria ter que ver a escuridão do mundo.

Ela o silenciou com um tapinha e com uma carícia suave em seu braço.

— Isso é muito gentil. — Então seus dedos pararam, seu aperto em seu braço. — Mas a morte não é o pior que este mundo traz. Eu sei disso com certeza.

Uma onda de raiva tomou conta dele.

— O que aconteceu com você que te faz dizer essas coisas?

Ela balançou a cabeça.

— Não importa agora.

— Diga-me, — ele rangeu fora. De alguma forma. Era importante saber.

Ela encolheu os ombros.

— Meu pai não era um bom homem.

Caro Senhor. Ele sabia sobre pais ruins. Sofreu nas mãos de um pai que foi insensivelmente cruel. Mas de alguma forma, essa garota parecia ainda mais vulnerável.

— Por que não?

Ela balançou a cabeça.

— Ele jogou fora cada xelim que tínhamos. O dinheiro da família dele, o dinheiro da minha mãe. Até o dinheiro que ela me deixou. Ele me disse que iria substituí-lo, mas... — ela parou, colocando as mãos no colo. — Então, ele tirou a própria vida. O padre aqui diz que irá para o Inferno por causa disso.

A voz dela tremeu, e ele tentou levantar os dedos mais uma vez e acariciar o rosto dela. Ele quase conseguiu.

— Meu pai se juntará a ele. Talvez eles se tornem amigos.

Ela balançou a cabeça, seus olhos se arregalando com um medo que ele não entendia.

— Você já se preocupou em ir para lá também?

Ele estreitou o olhar, levantando a cabeça.

— Você é um anjo. O inferno não é o lugar para onde você irá.

— Eu poderia, — ela sussurrou. Ela parou de cuidar dele e seus pequenos dedos escorregaram em suas mãos maiores. — Eu tenho que deixar este lugar. Mas as coisas que fiz. As coisas que vou fazer... — Ela estremeceu. — Deus me perdoe.

Ele queria perguntar o que ela planejava. Que pecados terríveis ela cometeu que a deixaram tão preocupada. Mais do que isso, queria assegurar-lhe que ela não precisava se preocupar. Claro, Deus a perdoaria. Ela era uma criança indefesa apenas tentando...

— Clarissa, — uma voz explodiu no porão. Sua mão caiu da dele e ela ficou de pé. Só então ele percebeu que ela estava sentada em uma estreita faixa de cama, seu quadril pressionado contra o dele. Ele sentia frio sem o calor dela.

— Sim, Pai?

Por um momento, seus pensamentos se confundiram. Seu pai, aqui? A voz do outro homem o fez lembrar de seu próprio patriarca. Frio e cruel. Mas isso era absurdo. Como o duque poderia ter vindo aqui? Ele percebeu que havia usado a pouca energia que tinha para conversar com essa garota.

Mas ele abriu os olhos novamente. O medo por Clarissa tomou conta de seu corpo e ele começou a se sentar também, mas uma pequena mão o empurrou de volta.

— O que eu disse a você sobre ficar sentada ociosa? — A voz irritada se aproximou.

— É obra do diabo, — respondeu Clarissa. Ela cruzou as mãos na frente dela e baixou a cabeça.

— Isso mesmo. — Passos se aproximaram enquanto as vestes balançavam. — Se eu pegar você ociosa novamente, é a mudança para você.

— Mas ele precisava comparecer, — ela disse, sua voz aumentando quando uma ponta de desafio apareceu.

Mason observou enquanto seu queixo se erguia e suas mãos cruzadas se enrolavam de tensão. O ar assobiou e então um barulho soou. Ele abriu os olhos, chocado. Clarissa não fez nenhum som, mas ela colocou as mãos atrás das costas, e ele podia ver claramente um vergão vermelho se formando em sua pele de marfim.

Seu corpo estremeceu na cama enquanto a raiva crescia dentro dele. Seu anjinho estava sendo punido por aqueles breves momentos de conforto que ela lhe deu? A injustiça o fez querer gritar um urro de guerra. Mas seu corpo recusou cooperar.

E então, ela tocou levemente seus dedos novamente. Olhando para baixo, além de seu vestido simples de tecido barato, ele notou que seus pés estavam descalços.

O padre também deve ter visto, porque perguntou:

— Onde estão seus sapatos?

Ela fez uma reverência.

— Eu devo pegá-los.

O lábio do outro homem se curvou.

— O que eu lhe disse sobre não usá-los?

Ele sentiu seu leve tremor. — Isso só prostitutas e...

— Chega — a voz de Mason saiu de seu peito. — É suficiente. — Algo dentro dele se mexeu. Ele tinha que viver. Este anjinho precisava de proteção e não parecia haver mais ninguém para fazer isso.

— Cuide de seus negócios, Capitão, ou você terá que encontrar outro lugar para se recuperar. A sarjeta seria suficiente.

Seu anjinho já estava recuando.

— Não precisa, padre. Vou colocá-los agora. — E então, ela saiu correndo.

Mason olhou para o padre, que observou a retirada de Clarissa, com as costas rígidas e retas, a expressão inflexível. Ele fez uma promessa a si mesmo, naquele momento e ali para que ficasse curado. Ela precisava dele. Clarissa. E ele iria resgatá-la mesmo se fosse a última coisa que fizesse.

 

 


Capítulo 01


Dezembro de 1821


Mason sentou-se na poltrona estofada de pelúcia, esperando que seu meio-irmão se juntasse a ele em uma das muitas salas de estar na propriedade Mayfair que o Duque de Devonhall chamava de lar. Seu pai morrera há seis anos.

O Duque Demônio era como a sociedade o chamou. Claro, Mason não soube disso até mais tarde. Mas o herdeiro de seu pai e meio-irmão de Mason havia assumido o título após a morte de seu pai. E então, o novo duque prontamente rastreou o irmão que ele nunca conheceu. Ele encontrou Mason se recuperando lentamente no porão de uma igreja em Dover, onde foi despejado pelo exército britânico para se recuperar ou morrer.

O novo Duque de Devonhall arrebatou seu irmão, mas não antes de Mason implorar ao homem para encontrar uma garota. Uma loirinha com olhos da cor do mar em um dia ensolarado.

Bash levantou uma sobrancelha.

— Garota? Quantos anos? Por favor, me diga que você não gosta dela?

Mason cuspiu no chão sujo. Ele nunca manchou os pensamentos sobre ela com sentimentos tão básicos.

— Não é desse jeito. Ela salvou minha vida e a dela está além de miserável. Um bom favor merece outro.

Bash tentou encontrá-la. Mas então, o padre jurou que alguma lady tinha levado seu anjinho embora. Dando-lhe um lar, afirmou o padre Byron. Mason tinha suas dúvidas, mas poucas provas.

Ainda assim, quando o Príncipe Regente concedeu a Mason um título de bravura no campo de batalha... ele teve a sensação de que Bash estava por trás dessa honra... Mason usou seu poder recém-descoberto como o Conde de Baxter para garantir que o padre fosse enviado aos confins de uma ilha escocesa, em um vilarejo com um rebanho tão pequeno que havia poucas chances de o homem causar mais danos.

Ele teria gostado de matar o homem, mas, novamente, seu pai certamente estava no Inferno, e enquanto Mason suspeitava que ele se juntaria a ele, matar um padre parecia uma passagem de ouro. Muitas vezes ele se debateu se um padre ruim ainda contava, mas, no final, ele se conformara com o homem que vivia quase isolado.

Claro, Mason não foi capaz de resistir a dizer ao Padre Byron exatamente por que estava sendo enviado para uma ilha no meio do nada. O padre tentou ferir um anjo e um homem tinha que pagar por seus crimes.

Bash entrou na sala em sua maneira usual. Seu irmão irradiava confiança e poder.

— Você fechou o negócio? Eu preciso desse clube. A Toca do Pecado será minha.

Mason ergueu os olhos para o irmão. A paixão de Bash por este antro de jogo particular era um mistério para Mason, mas geralmente não perguntava a seu irmão por que ele queria as coisas. Bash era um homem de aparência mais dura, seus traços mais proeminentes e mais aristocráticos do que os de Mason. Eles compartilhavam o mesmo cabelo escuro e olhos penetrantes, ambos com mais de um metro e oitenta como seu pai. Mas as feições de Mason eram mais classicamente bonitas. Seu pai havia lhe dito uma vez, em um sorriso de escárnio, que ele se parecia demais com sua mãe para ser aceito na sociedade.

— Nenhum aristocrata é tão bonito.

Talvez seu pai estivesse certo. Mas com a ajuda de Bash, a sociedade o aceitou mesmo assim. Bem, a maioria.

— Eu fechei.

Bash deu a ele um sorriso lascivo e se sentou em frente a ele.

— Você é prolífico. Ninguém tem suas habilidades de negociação, seu demônio encantador. — Ele riu então, uma mão em seu estômago. — Então o Conde de Ouro aceitou sua oferta de ser um parceiro em um antro de jogo secreto. Eu serei amaldiçoado.

O punho de Mason cerrou-se.

— Não vamos usar apelidos, vamos. Eles são espalhafatosos.

Bash franziu uma sobrancelha enquanto dava a Mason um olhar de soslaio.

— Você não gosta do seu, presumo, Conde dos Bastardos? Eu pessoalmente acho que soa bem.

Mason franziu a testa.

— Seu apelido, Duque da Decadência, tem um anel. Um bastardo é exatamente o que sou.

Bash fez uma careta, sentando-se para frente em sua cadeira.

— Isso não é verdade. Não mais. Você é um conde agora.

Mason deu a seu irmão um sorriso experiente. Era leve e arejado, e pretendia esconder a turbulência que sempre esteve perto da superfície.

— Verdade. — Não precisava discutir os detalhes de ser criado como um bastardo. A verdade era que Bash havia sofrido quase tanto por ser o filho legítimo. Um homem cruel era cruel com todos.

Além disso, seu terrível pai não era o que ele queria discutir. Nem era o acordo com Goldthwaite.

Engraçado, ele passou os últimos seis anos construindo uma vida real. Ganhando o benefício da alta sociedade, colocando-se em uma posição de poder.

Foi para criticar o pai, é claro. O homem desejou que seu filho indesejado morresse sob a bota de algum francês. Ele quase conseguiu convencer Mason de que seria o melhor para todos. Isso foi até conhecer Clarissa. Ao invés de morrer, Mason se tornou um dos condes mais poderosos de toda a Inglaterra.

Mas tudo mudou hoje.

— Eu a encontrei, — disse Mason, espalhando as mãos nas coxas.

Bash caiu para trás em sua cadeira, sua testa franzida em confusão.

— Quem?

— Clarissa. — Ele bateu com uma das palmas das mãos no joelho. — Depois de todos esses anos, finalmente a encontrei novamente.

Surpresa ampliou os olhos de Bash.

— Não. Como? — Ele esfregou o queixo. — Eu pensei que você tinha sonhado ou a imaginado. Uma ilusão febril ou algo assim.

Mason sorriu para isso. Houve momentos em que ele se perguntou o mesmo. Mas na noite passada, ele viu seu anjo novamente. Carne e sangue e não mais uma menina, mas uma mulher.

— Ela parece tão bonita, — ele murmurou tanto para si mesmo quanto para Bash. Honestamente, ela era ainda mais linda agora. Então, ela era uma criança, mas ontem, uma mulher tinha ficado em seu lugar. Alta e bela, e adorável além de sua imaginação.

— Onde? — Bash perguntou, inclinando-se para frente mais uma vez, apoiando os cotovelos nos joelhos.

Essa foi a parte complicada.

— Ela está morando com o Conde de Goldthwaite. — Quando ele a deixou, ela era órfã em Dover. Ela era a última pessoa que ele esperava encontrar enquanto negociava a venda de um centro de jogos, a Toca do Pecado.

As mãos de Bash bateram contra suas coxas.

— Sei que você está ciente de que precisamos do Conde de Goldthwaite para fazer do nosso novo clube um sucesso. Nem todos nós somos os novos líderes de clubes exclusivos como você. Goldthwaite é fundamental para nosso plano.

Mason bufou. Era verdade que ele tinha se tornado o orgulhoso membro principal dos Clube dos Condes Perversos. Seu trabalho agora era facilitar atividades para os outros condes que faziam parte do clube secreto. Mas, sinceramente, ele apenas assumiu a posição como uma forma de ganhar poder.

Ele concordou em ajudar a financiar a Toca do Pecado pelo mesmo motivo. Com o ouro veio a influência.

Mas muito antes de decidir cuspir no túmulo de seu pai por ser um dos homens mais poderosos da Inglaterra, ele fez uma promessa para uma garota que salvou sua vida.

— Não vou incomodar Goldthwaite. — Provavelmente. Pode ser. Bem, quem sabe, realmente?

Mas seus objetivos não se alinhavam mais aos de seu irmão. Clarissa era muito mais importante do que qualquer outra coisa.

Uma coisa era certa, precisava ver Clarissa novamente. E sabia quando a veria novamente. Em dois dias, o Conde de Goldthwaite se casaria com a amiga de Clarissa, Penny, e ele foi convidado para o casamento.

Esta seria sua chance de descobrir se ela realmente era seu anjinho. E se ela era, ele precisava saber o que tinha acontecido com ela e como ele poderia ajudar.

Clarissa se mexeu em seu banco na frente da igreja, tentando ignorar vários fatores.

O primeiro era que ela não pisou na casa de Deus desde que ela deixou os cuidados do padre Thomas Byron seis anos antes. O casamento de Penny era a única razão pela qual ela voltou para uma. Ela nunca perderia o casamento de sua melhor amiga e salvadora, mesmo que o próprio diabo surgisse do chão.

Ela estava com um pouco de medo de que ele pudesse.

Memórias de seu breve tempo na paróquia de Byron causaram arrepios em seu corpo, e ela colocou os braços em volta da cintura. Ele tinha sido um homem frio e cruel e Clarissa ainda se lembrava de cada linha de seu rosto. Pior ainda, ainda podia ouvir o barulho da chibata dele.

Mas, felizmente para ela, Penny a encontrou e a levou embora, levando-a para sua casa em ruínas no East End de Londres. Não tinha sido muito, mas tinha sido um lar. Por fim, ela foi tratada com amor e respeito. E Clarissa era eternamente grata.

Se Penny, com apenas dezoito anos na época, não tivesse colocado Clarissa sob sua proteção, não havia como dizer o que poderia ter-lhe acontecido. Clarissa mordeu o lábio inferior. Melhor não pensar mais em coisas ruins.

Ela ergueu os olhos para a amiga enquanto Penny segurava as mãos do Conde de Goldthwaite. Penny havia lhe ensinado muito sobre o tipo de pessoa que ela queria ser.

Penny se importava com os outros. Sempre.

Isso é o que Clarissa faria com sua vida também.

Clarissa era boa nisso. Isso ajudava. Ela nunca se importou em beijar uma ferida no joelho de uma criança ou em segurar um menino depois de acordarem de um pesadelo. Na verdade, ela considerou se tornar uma enfermeira. Na igreja, cuidou de soldados que foram feridos e adorou deixá-los confortáveis quando tinham tão pouco alívio de seus ferimentos.

Clarissa não queria uma vida cheia de busca de prazeres pessoais. Na verdade, em sua mente, eles levavam à ruína de uma pessoa. Assim como seu pai. Ela ainda estava preocupada que os segredos de seu pai pudessem contaminar sua vida. As pessoas doariam para sua causa se descobrissem o que seu pai tinha feito? Ou pior, o que ela tinha feito?

Não. Era melhor ficar longe de bens materiais. Ela se manteria distanciada do pecado neste mundo e se concentraria em ajudar as pessoas. Ela se lembrou de um soldado em particular. Um Capitão que estava às portas da morte. Até por mais doente que estivesse, Clarissa sabia que ele era bonito.

E ele tentou ajudá-la quando o padre Byron estava em um de seus humores. Ela se perguntou se aquele homem havia se recuperado afinal. E ela ainda sonhava com a sensação sedosa de seu cabelo sob sua mão.

O que a levou à terceira coisa muito perturbadora atualmente na igreja.

Duas noites atrás, ela conheceu um homem na casa do Conde de Goldthwaite. O Conde de Baxter. Algo em seus olhos a lembrou do soldado que ela cuidou todos aqueles anos atrás.

Não era ele, claro. Condes não eram enviados para os porões das igrejas para se recuperar. Mas justo quando pensava que tinha parado de pensar em seu soldado, algo sempre trazia sua memória de volta.

Quando era mais jovem, sonhava em se casar com ele. Ele iria encontrá-la novamente, tirá-la do chão, dizer-lhe que sempre a amou e a levaria para o seu destino. Mas esse tipo de sonho era para meninas. Ela era uma mulher agora e tinha outras crianças que dependiam dela. E seus próprios demônios para lutar.

Como se para lembrá-la desse fato, Natty puxou sua mão. Ela era a mais nova órfã sob os cuidados de Penny, e Clarissa colocou a menina em seu colo, depositando um beijo no topo da sua cabeça. Essas meninas eram a razão pela qual ela nunca se casaria. Bem, isso não era exatamente verdade. Essas meninas viveriam com Penny e Logan. Mas havia outras lá fora. Que viviam em lugares piores do que a igreja para a qual ela foi enviada.

Ela dirigia um dos orfanatos de Penny e cuidava de crianças necessitadas. E então, ela estaria longe das tentações deste mundo.

Mas um olhar estava sobre ela durante toda a cerimônia e a intensidade fez os cabelos de sua nuca se arrepiarem.

Virando-se, ela encontrou o olhar escuro do Conde de Baxter. Ele se sentou duas fileiras atrás, diretamente atrás do assento dela.

Ele era um convidado no casamento e seus olhos estavam queimando buracos nas suas costas desde que ela chegara.

Escura e tempestuosa, sua expressão pegou e segurou a dela, quase hipnótica em seu olhar.

Ela prendeu a respiração, tentando entender sua intensidade, mesmo quando aquele sentimento a dominou novamente. Ela conhecia aqueles olhos. Tinha certeza disso.

Ela balançou a cabeça. Isso era impossível.

Ela provavelmente apenas imaginou a semelhança. Só tinha visto os olhos de seu Capitão se abrirem uma vez, uma vida atrás. Como ela poderia se lembrar deles? Ele se lembraria dela se fosse o homem que ela cuidou. Certamente não. Um homem como ele provavelmente teve uma vida agitada, cheia de obrigações. Ele nunca perderia seu tempo meditando sobre uma criança do passado.

Ela se forçou a voltar e prestar atenção ao casamento.

— Clarissa? — Natty puxou sua manga. — Quem é aquele homem?

— Que homem? — Ela perguntou, puxando a criança um pouco mais perto.

— Aquele que não para de olhar para você. Quem é ele? — O rostinho de Natty estava agora sobre o seu ombro. — Não gosto dele.

Clarissa sorriu.

— Uma mulher de forte convicção. — Ela puxou o cabelo de Natty para trás. — Ele é amigo de Logan. Então, isso o torna nosso amigo.

Natty franziu a testa.

— Ele não me parece amigável.

Clarissa apertou os lábios enquanto segurava uma risada para não encorajar a criança. Acontece que Natty tinha um jeito de dizer a verdade absoluta da maneira mais honesta possível.

— Você não deve julgar as pessoas pela aparência.

— Mesmo? Eu vi um bando de homens sujos perto da nossa velha casa e eles acabaram sendo maus.

Clarissa balançou a cabeça. A criança tinha razão.

— Tudo bem, certo. Então, Lorde Baxter pode não parecer amigável, mas também não parece maldoso. — Ele parecia... intenso. Perturbador. Poderoso. Jeitoso. Interessante.

Natty se virou por cima do ombro de Clarissa e mostrou a língua.

— Natty, — Clarissa ralhou. — É suficiente.

— Ele parece um lobo que quer comer você. Como naquela história.

Naquele momento, o padre anunciou em voz alta.

— Apresento Lorde e Lady Goldthwaite.

O pequeno grupo estourou em aplausos e Natty esqueceu tudo sobre o lobo, como ela havia chamado Baxter, mas Clarissa ainda estava ciente dos olhos dele em suas costas. Ela se obrigou a continuar sentada bem à frente, mas foi apenas por pura força de vontade.

Por que Baxter a estava olhando com tal intensidade? Ele era um predador como Natty sugeriu?

Finalmente, ela lançou um único olhar para trás novamente, os olhos dela se chocando com as piscinas escuras dele.

— Eu não sou um lobo, — ele murmurou.

— O quê? — Ela disse enquanto se levantava de seu assento, e então começou a sair do banco para seguir a noiva e o noivo para fora.

— Eu não sou o lobo. — Ele saiu ao lado dela, seu corpo ainda maior do que imaginou enquanto ele acompanhava o ritmo dela. — Eu sou o caçador.

Sua respiração ficou presa. Ele não só conhecia a história da qual Natty falou, mas ele tinha certeza de que era o herói e não o vilão.

— Você leu Contos Infantis e Domésticos?

Um sorriso apareceu nos cantos de seus lábios. Ele era um homem bonito, sua mandíbula forte, seu nariz reto e seus lábios carnudos. Mas aquele sorriso o transformou de bonito em devastador.

— De todas as perguntas que você poderia ter feito, essa é a que você escolheu?

 

 

Capítulo 02


Clarissa começou a andar pelo corredor e o conde deu um passo ao lado dela, a mão passando por seu cotovelo. Mason não precisava tocá-la. Ela não precisava de ajuda, mas ele não se conteve.

Era ela.

Mesmo nome, mesmo cabelo, mesmos grandes olhos azuis.

Ela era ainda mais bonita do que se lembrava. Na verdade, em seu vestido vermelho escuro, ela era de tirar o fôlego. Ela realmente roubou fisicamente o ar de seus pulmões com sua beleza. O que o pegou completamente desprevenido. Ele pretendia ser seu protetor, seu benfeitor. Mas, novamente, ele esperava encontrar uma menina.

O que era uma tolice. Seis anos se passaram, é claro que ela cresceu e se tornou uma mulher. Ele apenas sempre a imaginou como uma criança inocente.

O que fez seu olhar cair para o chão. Era essa atração que ele sentia formigando nas pontas dos dedos? Puta merda. Não se tratava de seus próprios desejos e necessidades. Encontrar Clarissa era sobre ajudá-la. Sempre foi.

Bash deu um passo atrás de ambos. Ele ignorou seu irmão enquanto se concentrava na mulher ao lado dele.

Ela deu-lhe um olhar curioso em troca, e puxou com muito tato o cotovelo de suas mãos. A pequena que ela segurava mostrou a língua novamente.

— Diga-me. Que pergunta eu deveria ter feito, então?

— Ela é sua? — Ele engoliu em seco, olhando para a adorável garotinha aninhada nos braços de Clarissa. Ele nem mesmo considerou que ela pudesse ter se casado, começado uma família, até que a viu com a criança no colo. O pensamento não deveria doer. Se ela se casou, então ela estava segura e protegida. Mas a possibilidade de uma Clarissa casada não impediu que seu peito se apertasse.

— O quê? — Clarissa se afastou ainda mais dele.

— Clarissa, — a pequena perguntou enquanto seus dedos apertavam o braço de Clarissa. — O que ele quer dizer?

— Calma, Natty, — disse Clarissa.

A tensão em suas entranhas diminuiu. Natty a chamara de Clarissa. Não mamãe. Quantos anos tinha seu anjinho agora? Ela tinha doze anos. Isso a faria ter dezoito ou dezenove agora, ele apostava.

Ela era alta para uma mulher, magra, mas bem torneada. Ela estava linda segurando uma criança. Ele fechou os dedos em um punho apertado para evitar estender a mão e tocá-la novamente.

Caminharam para a manhã fria, a neve caindo do céu. Clarissa saiu do lado dele e se dirigiu para Penny, as duas mulheres se abraçando, mesmo enquanto Clarissa continuava a segurar Natty em seus braços.

— As crianças são órfãs, — disse Bash logo atrás dele. — Ela e aquela tal Penny os acolheram.

— É claro. — Como não percebeu isso? Ele não estava pensando. Vê-la novamente confundiu seus pensamentos e embotou seus sentidos. Nem deveria estar sentindo alívio ao saber que ela ainda precisava de um protetor.

Ele queria conhecê-la. Inferno. Ele queria abraçá-la.

Ele também a assustou com sua intensidade. Ele respirou fundo. Era um negociador, um galanteador. Essa era sua habilidade. Mas ele passou a cerimônia inteira olhando para ela como uma besta delirante.

Inferno, ele estava se assustando. Ele passou a mão trêmula por seu cabelo enquanto olhava para ela novamente. Se coçou para deslizar a mão por seu cabelo dourado. O que o fez parecer desfeito?

— A criança está certa. — Bash riu. — Você parece um lobo pronto para comê-la viva. Você precisa relaxar. Onde está meu irmão de mão leve? O melhor negociador de toda a Inglaterra?

— Não consigo evitar, — respondeu ele sem pensar. Então, percebeu o que havia revelado. Ele repetiu para si mesmo que não era um caso de atração. Ou, pelo menos, não foi. E não deveria ser agora. Ela era um anjo. Uma pessoa que precisava de proteção, não deveria sujeitá-la a seus repentinos e básicos sentimentos de desejo. — Há seis anos que procuro por ela.

— É por isso que você continua viajando de volta para Dover? — Bash perguntou, balançando a cabeça.

Mason não se incomodou em responder. Clarissa deu a ele outro olhar de soslaio. O brilho de seus olhos azuis o manteve cativo novamente.

— Então, você realmente procurou por ela todos esses anos?

— Sim, — disse ele com os dentes cerrados.

— Como ela salvou sua vida? — Bash perguntou.

Ele deixou escapar um suspiro.

— É difícil explicar.

— Tente.

Ele deu a seu irmão seu melhor olhar.

— Ela me deu água, comida, mesmo enquanto eu estava devastado pela febre. Enxugou minha testa e ela... — Ele fez uma pausa, engolindo em seco. — Ela falou comigo. Muitas vezes. Quando pensei que estava completamente sozinho neste mundo, sua voz...

— Santo Deus, — Bash murmurou.

Mas Mason não ligou para ele. O olhar de Clarissa encontrou o dele novamente. Era hora de eles terem uma conversa real. Eles mal trocaram algumas palavras cortadas e ele a procurou por muito tempo, preocupado demais para permitir que ela escorregasse por entre suas mãos agora.

Encontrá-la sozinha foi mais difícil do que Mason previra. A multidão os manteve separados e ela continuou se movendo em qualquer direção que ele não estava.

Ele grunhiu de frustração quando as carruagens começaram a parar. Clarissa foi até uma e começou a carregar as crianças para dentro delas. Depois de colocar três meninas na carruagem, ela subiu também.

Ele só teve uma fração de segundo para decidir. Mas quando a porta começou a fechar, ele afastou Bash e agarrou a maçaneta, abrindo a porta e entrando na carruagem.

Foi uma boa coisa que ele não parou para pensar. Porque se tivesse, sabia o que sua mente diria. Que ele era um idiota.

Clarissa estava sentada com uma criança de cada lado, a mais velha menina voltada para trás.

Ele se sentou ao lado da criança, fechando a porta atrás de si e batendo com a bengala na parede traseira para que o motorista desse a partida. Não havia volta agora.

As rédeas estalaram e a carruagem começou a rodar.

— O que você está fazendo? — Clarissa ofegou.

A garota sentada ao lado dele deu um pulo e correu para o outro banco, apertando-se ao lado das outras garotas.

Interiormente, ele estremeceu. Se estivesse tentando cortejá-la para um acordo, como fazia nos negócios, teria considerado um começo muito ruim.

— Nós precisamos conversar.

Ela olhou para ele, piscando várias vezes.

— O que você deseja dizer, caçador?

O que diabos estava acontecendo?

Clarissa olhou para o conde a sua frente.

— Claramente você está louco, — ela disse, seu coração batendo contra suas costelas. Era medo? De alguma forma, não achou que fosse. — Por que você pularia aqui com todo mundo assistindo? — Tanto fez para evitar pecados mundanos, e agora seria considerada perto da ruína graças ao Conde de Baxter.

Ele inclinou a cabeça.

— Você é casada? — Então, ele estremeceu.

Ele se arrependeu da pergunta? Por quê?

Ela forçou-se a respirar, acalmando o latejar em suas veias. Suas ações e perguntas estavam ficando ridículas e completamente inadequadas.

— Você deve saber que eu tenho um bolso no meu vestido.

Foi a vez dele, finalmente, parecer confuso.

— Como?

— Neste bolso está a minha pistola, — ela mentiu, mas sempre foi boa no blefe. É por isso que ela tinha sido uma ladra decente. E era ainda melhor em se proteger. — Que por acaso está apontada diretamente para o seu peito. — Inclinando-se para frente, ela deu-lhe um longo olhar. — Essas garotas significam muito para mim.

Sua sobrancelha se franziu.

— Você sabe que doei uma grande soma para o seu orfanato, correto? E que ajudei Goldthwaite a garantir uma nova casa para todas vocês. Uma muito boa. — Ele estendeu as mãos na frente dele. — Estou aqui para te ajudar.

Suas palavras aliviaram um pouco de sua tensão. Ela tinha esquecido que ele tinha sido um de seus doadores. Ela teria que falar com Penny. Elas haviam coletado fundos suficientes para manter o lugar funcionando? Talvez pudesse parar de se preocupar com os segredos de seu pai e seus próprios erros. Finalmente.

— Obrigada.

Ele passou os dedos pelos cabelos.

— De nada.

— Você subiu na minha carruagem para compartilhar isso? — Ela perguntou, ainda tentando decidir o que fazer. Ela gritou e fez o condutor parar? Ela descobriu por que o conde estava aqui? Ela ainda não conseguia se livrar da sensação de que o conhecia.

Sem dizer uma palavra, ela pegou a bengala dele, arrancando-a de sua mão e a balançou para cima e batendo na parede.

— Pare, — ela gritou, e a carruagem imediatamente parou.

— Achei que você fosse me bater, — disse ele, puxando gentilmente a bengala de suas mãos.

Seus dedos roçaram os dela e um estranho formigamento de nervos percorreu todo o seu corpo.

— Era um plano possível. — Ela sentou-se e colocou a mão de volta no bolso. — Acredito que seja a hora de você sair.

Ele se inclinou para frente, a intensidade de seu olhar fazendo seu coração disparar e seu sangue correr em suas veias.

— Mas eu tenho muito mais a dizer.

— Tal como? — Ela bufou, seu peito apertando. Ele a deixava nervosa, e não apenas porque ele pulou em sua carruagem. Havia algo nele que era... excitante. E familiar. O que era ridículo. Ela não conhecia este homem. Ele não podia ser o seu Capitão, e ela não perguntaria. A qualquer minuto ele deixaria a carruagem e sua vida para sempre. Logan os seguiria na carruagem e o resto do grupo iria alcançá-los.

— Você morava em uma igreja em Dover há seis anos?

Sua voz permaneceu calma, embora ela estivesse vagamente ciente de sua mão apertando a ponta de sua bengala. Sua própria respiração parou em sua garganta. Um choque de pura energia a bateu em sua espinha.

Era ele. Seu soldado de todos aqueles anos atrás estava sentado diante dela agora. E mais que isso, ele a rastreou, saltou em sua carruagem. Ele se lembrou dela e ela o reconheceu, mesmo todos esses anos depois. Era um milagre.

O Capitão. O único homem a quem ela revelou seu segredo mais sombrio. Apesar do ar frio do inverno, calor a fez corar. O que ele faria com as informações que sabia sobre ela? Por que ele estava aqui e por que ela disse tanto a ele? Ele parecia tão vulnerável, então.

Mas a verdade era que ela não sabia nada sobre ele.

E então, havia as cartas. Três nos últimos seis meses, tudo de uma pessoa de seu passado, decidida a se vingar. O escritor não se identificou, mas disse que sabia coisas sobre ela. Coisas que iriam destruir a vida dela. Ele queria dinheiro em troca de seu silêncio.

— Não, — a única palavra saiu de sua boca antes que ela pudesse pensar.

Seus olhos se arregalaram.

— Você está me dizendo que não é a Clarissa que cuidou dos soldados no porão de uma igreja em Dover durante a guerra?

Ela mordeu o lábio. Ela sonhou em encontrar este homem novamente. Mas e se ele fosse o autor dessas cartas e estivesse aqui para cobrar?

Seu estômago embrulhou. Um milhão de vezes ela desejou este encontro, orou por isso.

Mas ele não poderia ser a pessoa que escreveu aquelas cartas, não é? Ele era um conde e tinha doado para instituições de caridade. Por que ele precisaria chantageá-la?

O alívio a fez ficar hesitante. Mas ainda. Ela tinha que terminar este encontro rapidamente. O Conde de Baxter já sabia muito sobre seu passado.

E, no entanto, sua vida não era mais apenas sobre ela. Mesmo que fosse pura coincidência ele ter chegado agora, cada um de seus amigos havia feito doações para a causa dela. Grandes somas de dinheiro estavam indo para Penny e para ela para construir vários orfanatos. E ela pretendia reconstruir sua vida. Torne-se uma nova pessoa. Uma pessoa em que órfãos devem confiar os seus futuros. Mas este homem pertencia ao seu passado. O passado onde ela fez coisas horríveis. O que aconteceria se eles soubessem que estão confiando seu dinheiro a uma ladra?

— Eu não sou.

Seus olhos enrugaram.

— Não acredito em você.

Sua respiração ficou presa. Tudo estava começando a fazer sentido. A intensidade de seu olhar. A maneira como ele pulou em sua carruagem. Ele sabia sobre o passado dela. Ou partes dele. Não de seus próprios pecados. E ele nunca poderia saber sobre isso.

Este era o homem com quem ela sonhou se casar. Ele tinha sido o centro de todas as fantasias românticas que já teve em sua vida. Ele era... tudo.

Como reagiria se descobrisse que ela era pouco mais do que uma ladra comum? Ela havia roubado da bandeja de coleta, tirado dos pertences pessoais do padre. Esse dinheiro a trouxera e a Penny de volta de Dover para Londres. Mas, seu roubo não havia terminado ali. Ela até roubou comida uma ou duas vezes, quando elas estavam quase morrendo de fome.

Ele a via como a garota que cuidou dele. Mas, e se ele soubesse toda a verdade? O que pensaria dela, então? Era melhor que ele nunca soubesse quem ela realmente era. Ela poderia começar do zero e ele se lembraria dela como a garota que cuidava dele. Nada mais importante, nada menos.

— É isso que você queria perguntar? — Ela não conseguia olhar para ele enquanto falava. Parte dela, mesmo agora, desejava confessar que tinha sido ela. Uma voz de dentro implorou para se lançar através da carruagem e em seus braços. — Você tem sua resposta. Muito obrigada por sua ajuda. Agora, se me der licença, é o casamento do meu amigo e...

A porta da carruagem abriu-se e de repente Logan preencheu a porta. Sem uma palavra, ele agarrou Baxter pelo colarinho e começou a puxá-lo para fora da carruagem.

Baxter agarrou o batente da porta, impedindo Logan de puxá-lo totalmente para fora.

— Acalme-se, — disse ele ao marido de Penny.

Ele sabia que estava prestes a levar uma surra. Isso era ótimo. Mas, não estava pronto para deixar a companhia de Clarissa. Ele esperou muito tempo para encontrá-la novamente.

Em resposta, Logan recuou e acertou o punho diretamente no rosto de Baxter. Ele tomou o soco sem dizer uma palavra e apenas com um leve grunhido de dor.

— Pare, — uma terceira voz masculina explodiu. — Ele é um idiota, não um perigo.

Baxter agarrou seu rosto, caindo no chão de sua carruagem e Clarissa não pôde evitar. Ela caiu de joelhos ao lado dele, tirando as mãos do rosto.

— Deixa-me ver. — Era a desculpa perfeita para acariciá-lo.

Seu toque era leve enquanto ela movia lentamente suas mãos. Um de seus olhos já estava virando um arco-íris de cores onde Logan o atingiu. Mas os homens não morriam por causa de olhos negros.

— Eu merecia isso, — Baxter disse em um suspiro. Seu rosto estava marcado por profundas linhas de pesar.

— Pronto, — ela silenciou suavemente, ainda segurando suas mãos. — Você está bem. — Ela gostaria de ficar lá para sempre.

Mas suas palavras não pareceram acalmá-lo. Na verdade, ele se transformou em granito sob seu toque. Ele se sentou, quase batendo com a cabeça na dela.

— O que você acabou de dizer?

Ela deixou cair suas mãos, seus membros caindo como pesos mortos em suas mãos.

— O que você quer dizer?

— Eu sei que é você... — Sua voz era tão baixa que arrepios de medo fizeram seus ombros se curvarem. Ela tinha que se esconder. Esse era um sentimento estranho para ela. Clarissa nunca se escondeu de nada. Exceto por isso. Ninguém poderia saber como ela escapou daquele padre tantos anos atrás.

Então, um novo pensamento ocorreu a ela. Se seu Capitão descobrisse que ela era uma ladra, ele retiraria seu financiamento? Queria acreditar que ele nunca o faria, mas, novamente, eram grandes somas e ela... não era realmente digna. Ainda não. Ela seria um dia, mas, enquanto isso, este homem poderia jogar toda a sua vida aos seus pés.

 

 

Capítulo 03


Mason agarrou as mãos dela, confusão nublando sua mente, mesmo enquanto seu coração batia descontroladamente. Por que ela mentiu para ele? Ela não se lembrava dele? Não reconheceu seu título?

— Clarissa, — ele disse enquanto se inclinava para frente. Bash estava discutindo com Goldthwaite enquanto as garotas no banco começaram a chorar. — Diga-me a verdade.

Goldthwaite e sua noiva estavam do lado de fora da carruagem, seu irmão logo atrás deles. Ele ouviu a outra mulher suspirar.

— Eu não sou quem você está procurando, — ela gritou enquanto tentava puxar suas mãos. — Por favor. Solte-me.

Alguém agarrou sua bota e começou a puxá-lo para fora da carruagem. Ele olhou por cima do ombro para ver Goldthwaite puxando sua perna. Mason conseguiu estender a mão e agarrou a alça que os passageiros seguravam quando a carruagem começava a balançar.

— Estamos apenas conversando, — ele rangeu fora.

— Mason, — Bash gritou. — Saia já da carruagem. Você prometeu.

Ele tinha. Mas ele não quis dizer isso.

— Eu só preciso de alguns minutos.

Goldthwaite parou de puxar.

— Você morrerá em cinco segundos se você não sair desta carruagem.

Mason balançou a cabeça. Ele ainda estava segurando uma das mãos de Clarissa com a mão livre. Ele olhou profundamente em seus olhos azuis, que se arregalaram de medo, e praguejou baixinho. Não admira que ela não lhe quisesse dizer nada. Ele a assustou até quase a morte.

Mason lentamente soltou sua mão, deslizando os dedos enluvados através dele.

— Estou saindo. — Ele respirou fundo. Droga, tinha feito uma bagunça completa com isso. — Clarissa.

— Não faça isso. — Goldthwaite puxou o pé novamente. — Nunca mais fale com ela.

Seu peito se apertou.

Ele supôs que isso significava que ela estava protegida. Isso era o que ele queria.

Uma onda fria de decepção o percorreu. Seis anos ele procurou por ela. Pesquisando registros, perguntando a padres e freiras. Como isso poderia ser o fim de tudo? Claro, não tinha imaginado a bela mulher a sua frente, mas ele a tinha imaginado em sua vida. De alguma forma, ele sempre acreditou que com ela, ele seria... melhor. Inteiro. Ele precisava conhecê-la e ter algum tipo de relacionamento com essa mulher.

Inferno. Se Goldthwaite permitisse, ele se casaria com ela.

O pensamento o sacudiu, mas junto com ele veio uma calma. Essa seria a forma final de proteção e, honestamente, a conclusão do ataque violento de sentimentos que o percorre.

— Goldthwaite. Sou o homem que você enviou em busca de Penny na neve, lembra? — Ele não largou a correia. — Eu nunca machucaria Clarissa.

— Como você sabe o nome dela? — Goldthwaite perguntou.

— Ele pensa que me conhece, — veio a voz baixa de Clarissa. — Mas ele está errado.

— Lobo, — a menina menor acrescentou.

Ele balançou sua cabeça.

— Não. — Ele olhou para Natty, então. — Eu não sou o lobo. Já te disse. Eu sou o caçador. — Ele mandou aquele padre embora por ela. Ele sempre a protegeria. Sempre.

Os olhos de Natty se arregalaram, e de repente ela também escorregou no chão da carruagem. O que não deixou absolutamente nenhum espaço para qualquer um se mover.

Então, ela se inclinou para frente e estudou seu rosto, virando-se para um lado e para o outro. Finalmente, os dedinhos levantaram sua pálpebra, enquanto ela estudava seu globo ocular.

— Ele está certo, — disse ela finalmente, soltando o olho dele. — Não há nenhum lobo lá.

Ele não pôde evitar. Foi divertido. E essa menina era uma aliada improvável e uma risada explodiu em seu peito.

— Obrigado.

Ela assentiu com a cabeça e apontou para a bengala dele, atualmente no assento da carruagem.

— Essa não é uma arma muito boa. Você deveria ter um machado. Ou pelo menos uma espada.

Até Goldthwaite havia parado de cuspir e rosnar enquanto arrancava a criança do chão e a balançava nos braços.

— Natty. Ele não é um verdadeiro caçador, ele é um conde. Estranho, mas mesmo assim um conde.

— Um conde? — Perguntou Natty. — Como você?

— Isso mesmo. — Goldthwaite estendeu a mão para a próxima criança, puxando-a também da carruagem.

Natty deu um tapinha em seu ombro.

— Ele vai se casar com Clarissa do jeito que você se casou com Penny?

Clarissa e Goldthwaite rapidamente e enfaticamente expulsaram a palavra “Não”, enquanto ele puxava a terceira criança da carruagem. Então, ele agarrou a mão de Clarissa e começou a tentar manobrar a mulher sentada no chão da carruagem com uma mão.

Mason sabia que ele parecia ridículo. Ainda segurava a alça com uma das mãos e uma perna fora puxada pela metade para fora da carruagem. E seu grande corpo mantinha Clarissa, principalmente, em seu lugar no chão.

— Pare de puxar, Goldthwaite, — disse ele, recuperando muito de sua calma. — Vou me mover em apenas um momento e então você pode tirá-la daqui.

Ele sabia onde ela morava. Ele sabia quem ela era, mesmo que ela negasse. Haveria outras chances. Ele se certificaria disso. Eles precisavam de mais tempo. Ela realmente não o reconheceu? Ele precisava descobrir.

— Ou você pode sair, — respondeu o homem. — E eu poderia continuar com meu café da manhã de casamento. — Então, ele fez uma pausa. — Para o qual você não está mais convidado.

— Maldito inferno, — disse Bash por trás de Goldthwaite. — Eu disse para você não causar uma cena.

— Você sabia que ele tentaria comprometer Clarissa? — Goldthwaite largou Clarissa e se voltou para Bash. — Por que você o deixou vir?

— Mesmo eu não sabia que ele seria tão idiota. Mas, nos últimos seis anos, ele está procurando por uma Clarissa que conheceu no porão de uma igreja em Dover quando foi ferido. Acha que é ela. Eu continuo lhe dizendo que ele sonhou com a garota.

Mas os olhos de Goldthwaite se voltaram para Clarissa, e eles fizeram... uma pergunta. Ele sabia que Clarissa tinha estado lá.

O triunfo cresceu no sangue de Mason.

— Ela salvou minha vida, — disse ele a Goldthwaite. Estava nas mãos do outro homem nunca permitir que ele pusesse os pés perto de Clarissa novamente. — E agora eu quero retribuir o favor. É isto. — Era mentira. Ela foi cuidada e ele veio para mais do que isso. Sabia que estava agindo de forma irracional, louco mesmo. Mas, procurou por tanto tempo, e então ele temeu que ela se casasse e...

Clarissa estremeceu ao lado dele. Ele sentiu o movimento repentino sacudindo-o.

Então ela começou a se levantar, como se estivesse possuída, tentando fugir dele. Ele estendeu a mão e agarrou seu quadril com sua mão livre.

— Acalme-se agora.

Ela se acalmou, mas sua respiração era difícil. Esta era a mulher que o ameaçou com uma pistola. Que tirou sua bengala direto de sua mão. Ela não parecia ter medo de nada. Mas estava morrendo de medo agora. Por quê? O que ele disse?

— Eu não preciso de sua ajuda, — ela disse, sua mão sobre a dele. — Você entende?

Usando a alça, ele se levantou.

— Não. Na verdade, não. De jeito nenhum.

As mãos dela foram para o peito dele, o toque fazendo com que um raio de luz corresse por suas veias. Mas então, ela se afastou e se levantou de seu lugar no chão.

— Que pena, — ela murmurou, e então pegou a mão de Goldthwaite e deixou que a ajudasse a descer da carruagem. — Adeus. — Ela bufou quando Goldthwaite a colocou no chão. Girando, ela fechou a porta e bateu na lateral do veículo. Assim, a carruagem, na qual ele ficou sozinho, começou a descer rua abaixo.

Clarissa sabia que iria haver perguntas.

Honestamente, ela se questionou. Porque parte dela queria ir naquela carruagem com ele. E isso a assustou mais do que tudo.

Gostaria de ser uma pessoa melhor. O tipo que poderia seguir uma vida com um lorde bonito que passou anos procurando especialmente por ela. A própria ideia que ele teve a encheu de luz e esperança.

Mas Clarissa não era o tipo de pessoa que poderia ter aquela vida. Ela tinha feito muitas coisas terríveis...

Ela observou a carruagem até que ela desapareceu, sem olhar para Logan atrás dela. Não estava pronta para respondê-las. Seus pensamentos rodavam com emoções que ela não conseguia nomear.

— Ele não é perigoso, — disse o outro homem. — Pelo menos, não penso assim. Ele não tem sido nos seis anos que o conheço.

Logan pigarreou.

— Ele está totalmente louco se você me perguntar. — Então, ele puxou seu cotovelo. — Vamos.

Ela se virou então, grata por Logan segurar sua língua até que eles deixassem a companhia desse estranho. Logan começou a marchar com ela e as meninas pela rua.

— Espere, — o outro homem chamou. — Vou dobrar minha contribuição para o orfanato se você não sair do clube.

— Eu não preciso do seu dinheiro, — Logan rangeu, ainda se afastando.

Mas Clarissa girou de volta para o outro homem. Se ela conseguisse colocar um orfanato funcionando, talvez a culpa dentro dela diminuísse e ela poderia finalmente superar os pecados de seu passado e ir para um futuro. O rosto de seu Capitão surgiu em seus pensamentos novamente, mas ela afastou a visão.

— O triplo.

— Você não pode negociar em meu nome, — Logan gemeu. — Não quero fazer parte desse clube e posso financiar os orfanatos sozinho.

Clarissa parou, voltando-se para Logan.

— Você é tão rico assim? — Ela tinha certeza de que Penny conhecia os detalhes de tudo isso, mas sua amiga não havia compartilhado isso com ela. Elas estiveram ocupadas planejando o casamento e celebrando o fato de não viverem mais no East End de Londres, onde a vida tinha sido uma luta diária.

— O mais rico, — respondeu o outro homem. — E o mais inteligente também. A propósito, sou o Duque de Devonhall. E tenho o maior prazer em conhecê-la, Srta. Clarissa... Infelizmente, não peguei seu sobrenome.

— Walters, — ela mentiu. Era o sobrenome de Penny. O dela era Hershel. Mas ela não queria que esses homens pudessem descobrir nada sobre ela. Não que isso importasse, supôs. Se Logan pudesse financiá-las, ela poderia começar sua nova vida.

Logan a ajudaria com a chantagem? A vergonha roubou seu fôlego. Então, ela teria que contar a ele e a Penny sobre todas as coisas terríveis que ela fez. Poderia dizer ao Conde de Baxter quem ela realmente era? Sua cabeça baixou. Ela não conseguiria. E se ele perguntasse como ela conseguiu escapar? Seria capaz de mentir para ele novamente? Ela iria querer?

— Foi muito bom conhecê-lo, Sua Graça.

O duque a olhou fixamente e ela percebeu que seus olhos eram da cor e forma exatas dos do Conde de Baxter. Que estranho. E desconcertante. Era como se ele ainda estivesse olhando para ela com aquele olhar intenso.

E num outro homem, ela entendeu, não havia nada de perigoso naqueles olhos, os do Conde de Baxter estavam apenas... cheios de zelo. Ele disse que desejava ajudá-la. Mas ainda se sentiria assim se soubesse a verdade?

— Foi um prazer conhecê-la também, Srta. Clarissa Walters. Tenho certeza de que nos encontraremos novamente.

— Você não irá, — grunhiu Goldthwaite. — Você pode considerar nossa parceria dissolvida.

O duque gemeu.

— É feriado e seu casamento, então vou deixar passar, mas estarei aqui amanhã para discutir isso.

— Não, — Logan respondeu enquanto começava a se mover novamente.

— Por favor, — o outro homem acrescentou com uma risada.

— Você acha isso engraçado? — Logan disparou de volta.

— É um pouco engraçado quando você pensa sobre isso. Meu irmão, o homem calmo e controlado, é quem está arruinando um negócio. As pessoas sempre o acham encantador, mas hoje... — O duque balançou a cabeça.

Irmão? O queixo de Clarissa caiu. Como poderiam ser irmãos um conde e um duque? Muito estranho. Mas ela não perguntou.

Logan murmurou uma palavra escolhida para a ocasião.

— Eu não me importo...

— Você deveria. — O outro homem ainda os estava seguindo. — Eu te direi uma coisa. Vamos nos encontrar na minha casa. Então, nós três...

— Não. — Foi a vez de Clarissa interromper. Ela não tinha compartilhado muito de seu passado nem com Penny. Clarissa tinha dito a sua amiga que o dinheiro que havia financiado a viagem era de seu falecido pai. Mas Baxter sabia a verdade por causa disso. Seu pai não a deixou com um xelim. E se os dois homens começassem a juntar as peças? E se eles descobrissem que alguém estava tentando chantageá-la? Eles nunca permitiriam que ela ficasse encarregada de crianças se descobrissem seu passado. — Você precisa se encontrar com eles?

Logan deu a ela outro olhar demorado.

— Clarissa, — ele disse suavemente. — Foi você quem acabou de tentar aumentar a contribuição dele.

Ela baixou a cabeça, sem querer responder. Porque ele estava certo. Com surpreendente clareza, ela percebeu que Logan se tornou o primeiro homem em quem ela confiou em sua vida. Mas, novamente, foi fácil com ele. Ele amava Penny, e Clarissa, observando, podia ver cada olhar e toque amoroso que ele deu a sua amiga.

O duque parou de caminhar na direção deles, uma de suas sobrancelhas erguendo-se.

— Vou deixar vocês dois conversando. — E então, ele saiu, indo para a carruagem mais distante.

O homem sabia quando aproveitar sua vantagem, ela lhe daria isso. Ele também sabia quando sair.

Logan a conduziu para a carruagem com Penny. O casal deveria estar sozinho, desfrutando de seus primeiros momentos como marido e mulher. A culpa apunhalou seu peito.

— Sinto muito, — disse Clarissa ao se sentar em frente a Penny. — Eu não queria...

Penny balançou a cabeça.

— Não é sua culpa. — Então, ela estendeu a mão e apertou a mão de Clarissa. — Você está bem?

Clarissa apertou de volta. Se ela fosse do tipo que chorava, poderia ter uma névoa em seus olhos. Sua amiga era a pessoa mais gentil de toda a Inglaterra.

— Estou bem. — Parte dela gostaria de poder contar tudo a Penny. Todos os segredos que guardou todos esses anos.

Logan fechou a porta.

— Ele acha que conhece Clarissa de uma igreja em Dover. De seis anos atrás. — Logan olhou entre as duas mulheres. — Quando e onde você encontrou Clarissa?

Penny empalideceu ao olhar para sua amiga.

— Por que você não conta a ele?

Clarissa deixou escapar um longo suspiro. Não havia sentido em mentir quando Penny sabia a verdade.

— Eu sou a garota que ele pensa que eu sou.

Logan prendeu a respiração.

— Então, ele não é louco afinal.

Clarissa abriu os lábios para responder, então hesitou. Que opção ela tinha? Já tinha começado a dizer a verdade a Logan, e agora, tinha que continuar. Ela colocou uma mecha de cabelo encaracolado atrás da orelha.

— Ele pulou na minha carruagem no meio do dia. Isso o deixa um pouco louco. — Ou muito valente. Porque hoje refletiu mais de uma fantasia que ela poderia ter tido sobre o homem. Não, ele não assustou um grupo de crianças, mas em seus devaneios, ele fez algum tipo de grande gesto, e então professou seu amor eterno.

Logan deu um aceno rápido.

— Verdade. — Então, ele coçou o queixo. — Você acha que ele está realmente procurando por você há seis anos?

Seu estômago se revirou. Era ruim que ela quisesse que fosse verdade?

— Não sei.

— O que aconteceu entre vocês dois na primeira vez que se encontraram? — Penny perguntou baixinho.

Clarissa olhou para seu colo. Ela se lembrou de como ele parecia forte, mesmo deitado na cama, perto da porta da morte, e como tentou defendê-la do padre Byron. Seu coração disparou.

— Ele estava morrendo. Assolado por febre, e mal comia ou bebia. Tinha um ferimento na perna, um corte de baioneta. Troquei suas bandagens e enxuguei sua testa. Dei água a ele.

Logan pigarreou.

— Em outras palavras, você cuidou dele. Por quanto tempo?

Ela encolheu os ombros.

— Duas ou três semanas.

— Oh, meu, — Penny sussurrou. — Você acha que ele está apaixonado por ela?

— Veja — Natty entrou na conversa. — Eu disse a você que Clarissa ia se casar com um conde.

Clarissa ergueu o queixo novamente.

— Não, eu não vou. — As palavras saíram duras. — Eu vou cuidar de órfãos. Administrar o orfanato das meninas. Vou trabalhar para Penny. — Ela teve que fazer isso. Sua alma dependia disso.

— Você poderia se casar se quisesse, — Penny sussurrou. — Nós podemos contratar outra pessoa para administrar o orfanato.

Clarissa balançou a cabeça, olhando pela janela para a paisagem desolada de dezembro.

— Eu não sou feita para casar.

 

 


Capítulo 04


Este poderia ter sido o momento menos digno de Mason desde que se tornou um conde.

Ele ainda estava no chão da carruagem enquanto esta avançava ruidosamente por uma movimentada rua de Londres.

Mas sua cabeça estava cheia demais para se incomodar em se levantar.

Além disso, ele merecia estar no chão. Sabia como convencer as pessoas a lhe darem o que queria, mas com Clarissa... ele tinha sido um lunático delirante. Completamente ridículo. Toda a razão havia deixado sua cabeça.

O que havia nele que fazia as pessoas o rejeitarem assim? Inferno, até mesmo seu próprio pai não o queria. Sua mãe o havia deixado. Apenas Bash ficou por perto. Mas Bash frequentemente precisava dele.

E Clarissa. Ela salvou sua vida. De alguma forma, sempre pensou que retribuiria o favor. Vá e salve a dela. E então, ela o amaria também.

Não dessa forma. Pelo menos não em sua imaginação nos últimos anos. Ela era uma menina da última vez que a vira, e ele se imaginou, cada vez mais velho, como seu salvador benigno.

Mas agora? Ele aceitaria o amor dela. E ele daria tanto quanto ele recebesse. Mais.

Ele estava preparado para encontrá-la agora, quando ela estava crescida. Ele podia ver isso.

Ele queria rir de si mesmo. Não admira que todos pensassem que ele estava louco. Estava prestes a se tornar poético sobre o destino, o acaso e o significado da vida em uma carruagem vazia.

Mas a vida parecia vazia. A única vez que ele realmente se sentiu inteiro por dentro foi quando seu corpo foi devastado por uma infecção. E ele estava com ela. Engraçado como isso funcionou.

Mas ele foi e estragou sua primeira conversa real. Não só ela não o queria, mas ele a assustou quase até a morte. Como iria consertar isso?

A carruagem parou, mas ele ainda não se moveu. Nem sabia para onde o veículo o havia levado.

A porta se abriu, mas desta vez não era Goldthwaite, mas Bash que estava na porta.

— O que diabos você ainda está fazendo no chão?

Ele grunhiu.

— Pensando.

— Sobre como você acabou de arruinar o melhor negócio da minha vida? — Bash reclamou.

Mason estremeceu.

— Você vai parar de ser meu irmão desde que eu o tirei de seu acordo com a Toca do Pecado?

Foi a vez de Bash grunhir. Que soava exatamente como Mason.

— Eu sou seu irmão. Você não pode se livrar de mim tão facilmente.

Mason deu um rápido suspiro de alívio. Com Bash ao seu lado, tudo era possível.

— Mas você vai me ajudar a conseguir esse negócio de volta.

Mason balançou a cabeça.

— Não acho que isso está acontecendo.

Bash estendeu a mão e começou a puxar Mason para uma posição sentada para que ele pudesse sair da carruagem, que estava em frente à casa do Conde de Goldthwaite. Pelo visto, ninguém disse ao condutor para não ir para lá.

— É claro que está acontecendo, — respondeu Bash. — Eu preciso daquele clube.

— Por quê? — Mason perguntou. — Você tem muito dinheiro. — Não tinha questionado Bash antes de hoje, mas de repente parecia estranho.

— Eu sou o Duque da Decadência. Devassidão é o que eu faço. Jogos, mulheres, bebidas e quaisquer outras delícias. — Seu lábio se curvou. — A Toca será o prego final no caixão do nosso pai.

Ahh.

— Agora eu entendo. Juro que me tornei um sucesso apenas para dizer ao papai que ele estava errado sobre mim. — Ele passou as mãos pelos cabelos. — Bem, isso e ter os meios para encontrar Clar...

Os olhos de Bash se arregalaram.

— Ela significa tanto assim?

— Vocês dois significam. Vocês dois são a razão de eu estar vivo. — Ele esfregou o couro cabeludo. — E preciso vê-la novamente. Tenho que convencê-la de que não sou o lobo.

Bash balançou a cabeça.

— Você realmente está fora de seu jogo. Normalmente, você é o melhor negociador que conheço. Mas se você estava tentando convencê-la de que é agradável ou gentil, não poderia ter escolhido um método pior.

Ele baixou a cabeça entre as mãos.

— A verdade dói. O que eu faço agora?

Bash encolheu os ombros.

— Você está me perguntando? O que eu sei sobre isso?

— Você decidiu me encontrar. Deu-me uma nova vida. Como faço isso por ela? — Mason se inclinou para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.

Coçando o queixo, Bash franziu a testa.

— Dê a ela um modo de vida. Isso é o que eu queria fazer por você. Ou, já que ela é uma mulher, case-se com ela. Ou se ofereça para casar-se com ela. Você estaria fornecendo a proteção final.

Seus dentes tilintaram. Se apenas essa fosse a solução.

— Depois da façanha que acabei de fazer...

— Ok. Modo de vida, então. Ela quer começar um orfanato. Ajude-a com isso.

Os olhos de Mason se arregalaram. Normalmente, ele era o irmão que descobria o que as pessoas queriam e fazia uma oferta irrecusável. Mas hoje, Bash tinha sido o negociador especialista.

— Você tem tomado notas.

Bash sorriu.

— Meu irmão me ensinou bem. — Ele acenou com a cabeça em direção a sua carruagem. — Mas não faça a oferta hoje. Sejamos respeitosos com a família dela. — Então, ele fez uma careta. — O que significa não pular na carruagem deles.

Mason suspirou. Bash tinha razão nisso. Se queria que Clarissa confiasse nele, não poderia sair por aí agindo como um homem selvagem. E ele usaria qualquer desculpa para fazer parte da vida dela, mas não podia deixar de torcer, se ela aprendesse a confiar nele, poderia permitir que ele oferecesse ainda mais. Como pedir a mão dela em casamento.

A carruagem de Goldthwaite parou e a porta se abriu quando Goldthwaite saltou.

— Estamos saindo, — Bash chamou. — Embora eu queira que você saiba que você é um dos poucos homens a recusar um duque como convidado.

Logan deu a Bash um olhar mortal.

— Eu vou aproveitar minhas chances. — E então, ele deu a mão a noiva dele.

A respiração de Mason ficou presa quando Goldthwaite estendeu a mão novamente, ajudando Clarissa também.

Ela estava tão bonita em seu vestido de veludo vermelho, a neve dançando atrás dela. Casar-se com ela? Era uma ótima ideia.

Apenas, havia pouca chance de ela dizer sim depois de hoje.

Mas, novamente, ele era o Conde de Baxter. E no final das contas, ele sabia negociar um acordo.

Clarissa se levantou da cama na manhã seguinte, certa de que tinha olheiras. Ela mal dormiu. Espreitando por baixo do travesseiro estavam as três cartas de chantagem que ela recebeu. As primeiras foram apenas ameaças veladas, mas a última exigiu mil libras para manter o roubo em segredo. Ela não tinha nenhum dinheiro próprio e quem tinha enviado essa carta queria o pagamento até o final do ano. Que foi em menos de uma semana.

Ela não sabia o que fazer e não podia permitir que o Conde de Baxter a distraísse agora. Ela tinha que se concentrar em seu futuro. Nas crianças e em Penny. Seu passado não poderia machucá-las.

Mas tudo isso a deixou muito cansada. Uma olhada no espelho confirmou sua suspeita. Ela parecia que mal havia dormido. Com um suspiro, ela começou a se vestir.

Embora Logan tenha providenciado uma criada para ela, Clarissa nunca teve uma em toda a sua vida e não estava totalmente certa de como usar a mulher.

Clarissa abriu o guarda-roupa e tirou um vestido de lã azul claro que Logan recentemente lhe tinha dado. Ele providenciou guarda-roupas para todos elas. Ela passou a mão pelo tecido. Supôs que deveria haver alguns bons homens do mundo, se o marido de Penny fosse alguma indicação.

Mas a probabilidade de ela encontrar um parecia impossível, especialmente para ela. O padre que dirigia o orfanato acabara de ser cruel. Isso foi fácil de evitar. Mas seu pai tinha sido insidioso. Ele não só gastou todo o dinheiro da família, mas também conseguiu convencer Clarissa a transferir a pequena quantia que sua mãe tinha deixado para ela. Ele jurou que as estava ajudando. Talvez ele realmente acreditasse.

Mas no final, ele desperdiçou suas finanças e fez Clarissa participar de sua própria ruína. Ela não tinha dinheiro, nem futuro, e nenhuma maneira de mudar isso. Exceto, é claro, infringindo a lei.

Ela ficava doente só de pensar nisso. E era por isso que ela nunca mais confiaria em um homem. Ou nela mesma. Esse era o detalhe mais importante.

Uma batida suave veio em sua porta.

— Quem é? — Ela perguntou, trabalhando a elaborada fileira de botões em seu vestido.

— Sou eu, — Penny chamou. — Posso entrar?

— Claro, — disse ela, cruzando o quarto para abrir a porta.

Penny não disse uma palavra quando começou a abotoar os botões de Clarissa. Quando o vestido estava todo abotoado, Clarissa notou o olhar de sua amiga.

— Você deveria estar na cama com seu marido.

Penny tocou sua bochecha.

— Estava preocupada com você.

O coração de Clarissa deu um salto. Ela odiava preocupar Penny.

— Graças a você, estou bem. Veja onde vivemos. O que nossa vida se tornou.

Penny concordou.

— O Conde de Baxter te assustou ontem?

Clarissa baixou o queixo. Como explicaria que aquela que a assustava era ela mesma? Este era o homem que havia sido objeto de suas fantasias durante anos. E então, ele chegou como uma tempestade feroz, com um olhar intenso e uma bela fachada afirmando nunca tê-la esquecido. Que estivera procurando por ela por todo esse tempo e que queria ajudá-la.

Ele também era a pessoa que sabia mais sobre o seu passado do que ninguém. Ela supôs que não era somente da sociedade que ela escondia a verdade. E não guardava segredos só por causa do dinheiro para o orfanato. Ela os manteve até mesmo de si mesma.

Ela estava com vergonha.

Penny esperou pacientemente, sentando-se na cama.

Engolindo em seco, ela tentou explicar a Penny.

— Não. Ele não é assustador. Apenas... — Suas palavras vacilaram enquanto esfregava as têmporas. — Ele só sabe coisas e...

— Coisas que eu não sei? — Penny apertou as mãos na frente do peito.

— Bem, você sabe muito mais sobre mim do que qualquer pessoa, mas eu pensei que ele fosse morrer e então contei a ele sobre... — Ela parou. Clarissa nem queria confessar que seus segredos envolviam o suicídio do pai e suas dívidas de jogo.

Penny fez uma pausa.

— Você nunca compartilhou muito sobre sua vida antes de eu te trazer para o orfanato.

As costas de Clarissa enrijeceram.

— Não há muito a dizer.

— Você pode me dizer qualquer coisa, você sabe. Vou te amar para sempre.

Clarissa olhou para Penny novamente antes de cruzar o quarto e envolver a amiga em um abraço rápido.

— Obrigada. — Mas ela não compartilhou. Como Penny se sentiria em confiar a Clarissa a vida de crianças se soubesse que ela tinha permitido um homem roubar todo o futuro dela? Ou como ela financiou seu retorno a Londres? Ou que seu passado era terrível o suficiente para permitir chantagem? Clarissa mal confiava em si mesma.

Penny estreitou o olhar.

— Você não vai me dizer nada, vai?

Clarissa suspirou, olhando pela janela. Ela não conseguia olhar Penny nos olhos e mentir.

— Não há nada para contar.

Ela ouviu Penny soltar um suspiro suave. Provavelmente sua amiga sabia que Clarissa estava mentindo. Mas era melhor Penny suspeitar do que saber com certeza que Clarissa não era boa.

Penny cruzou os braços sobre o peito, o pé batendo no chão.

— Clarissa, já não estamos juntas há tempo suficiente para que você saiba que pode confiar em mim?

— Eu confio em você, — gritou ela, olhando para a amiga. Não confio em mim, quis dizer. Mas segurou a língua.

Penny deixou escapar um rápido suspiro de frustração.

— Te amo. E você é muito forte, mas faria bem em deixar algumas pessoas entrarem de vez em quando para compartilhar seu fardo. — Então, Penny girou e saiu sem olhar para trás. Clarissa desabou de volta na cama. Estava afastando a única pessoa em quem confiava. Estava cometendo um erro ao esconder seu passado? Mas, e se compartilhar seus segredos só piorasse as coisas?

 

 

Capítulo 05


Mason se sentou em sua mesa no Clube dos Homens Malvados e olhou para o mogno polido que o cercava. Era uma sala bonita de uma forma muito masculina.

O Clube estava localizado no East End de Londres, exatamente onde as ruas ficavam mais estreitas e lotadas. Estavam perto o suficiente para deixar a Londres respeitável entrar e sair despercebida, mas longe o suficiente das ruas mais chiques para manter suas atividades em silêncio.

Não que Mason fosse um homem com muitas atividades ilícitas. Ele deixou a maioria para seu irmão.

O Clube era menos um lugar de devassidão para ele e mais um ponto de acesso para toda a sociedade respeitável. Com cada conexão que fez, ele se tornou mais capaz de controlar o mundo ao seu redor.

Exceto Clarissa, é claro.

Ele estava apaixonado por ela?

Ele não sabia dizer. Provavelmente. Ela era uma das poucas pessoas que conseguia fazer ele doer de alegria com um simples toque.

Mas tudo o que ele conquistou não a fez querê-lo, aparentemente.

Ele mudaria isso, no entanto. Muito em breve, na verdade. Não era amor. Ainda não. Mas poderia lhe oferecer tudo o que ela sempre quis desse mundo. Tudo o que ela tinha que lhe dar em troca era a sua mão.

Como uma resposta aos seus pensamentos, uma batida soou na porta.

— Baxter. — Um homem de cabelos escuros chamado Keyworth abriu a porta. — Há um Goldthwaite aqui para vê-lo.

— Mande-o entrar — respondeu Mason.

A única resposta do homem foi rir. Poucos segundos depois, um Goldthwaite de fato entrou na sala, mas não foi Lorde Goldthwaite, mas Lady Goldthwaite quem entrou na sala. Penny.

A surpresa alargou seus olhos quando Mason se levantou.

— Minha senhora, — ele falou, arqueando uma sobrancelha.

— Meu senhor, — ela respondeu. — Obrigada por me receber.

— Bem, para ser justo, Keyworth não me disse realmente que era você.

Ela sorriu.

— Minha culpa. Pedi a ele para não dizer.

— Trapaça, — ele murmurou, gesticulando para que ela se sentasse.

Ela encolheu os ombros e depois se sentou.

— Estava com medo de que você não pudesse me ver se soubesse.

— Sinceramente, isso não é verdade. — Ele deu um sorriso fácil, reconhecendo a oportunidade de obter mais informações sobre Clarissa. — Estou muito feliz que você esteja aqui.

Penny inclinou a cabeça para o lado.

— Eu não esperava que você fosse charmoso.

Ele riu disso.

— Engraçado. Sou bastante conhecido por isso, na verdade.

Penny deu um aceno lento.

— Logan diz que você teve mais sucesso em entrar na sociedade do que ele, então faz sentido que você tenha tal habilidade. É só que... — Ela fez uma pausa, olhando para o teto.

— Só que...? — Ele perguntou.

Ela olhou-o, um pequeno sorriso curvando seus lábios.

— Que você não escolheu usar nada disso com Clarissa ontem.

Ele piscou, recostando-se na cadeira.

— Suponho que você esteja certa. — Ele passou a mão pelo cabelo. — É que ela acabou com todas as minhas ferramentas e truques habituais. Eu me encontrei bastante... — Ele estava prestes a dizer “despreparado”.

— É essa a razão? O verdadeiro motivo de você ter sido tão rude ontem? Não é porque você a está ameaçando?

Seu coração começou a acelerar no peito.

— Ameaçando-a — Ele se sentou para frente. — Preciso que você entenda. Ela é a única razão pela qual estou vivo hoje. Eu faria qualquer coisa para retribuir esse favor.

Penny respirou fundo enquanto colocava a mão na bolsa.

— Então, você não mandou isso para ela? — Ela puxou três cartas da bolsa e as deslizou pela mesa.

Sua testa franziu enquanto ele pegava uma e examinava o conteúdo. Uma raiva quente e branca o percorreu enquanto as lia uma após a outra. Afinal, alguém estava tentando machucar sua Clarissa.

— Eu nunca...

Penny deu um aceno de cabeça tenso.

— É coincidência então você ter chegado na mesma hora que essas cartas?

Ele balançou sua cabeça. Pensamentos sobre destino estavam girando em sua mente novamente.

— Ela compartilhou isso com você?

— Não. Eu as encontrei debaixo do travesseiro dela.

Isso o fez parar.

— E você decidiu vir aqui e falar comigo, sozinha? E se eu fosse o chantagista?

Os olhos de Penny se arregalaram.

— Suponho que Clarissa e eu temos um pouco mais em comum do que às vezes admito. Eu me acostumei a resolver meus próprios problemas.

Ele balançou sua cabeça.

— Felizmente para você, não quero nada mais do que manter Clarissa segura. Ela significa o mundo para mim.

O sorriso de Penny se suavizou.

— Você a afeta também. — Então, ela franziu a testa. — Ou talvez, você tenha exatamente o efeito oposto. Todas as paredes que ela cuidadosamente mantém ao seu redor estavam lentamente caindo, mas ontem... — Ela fez uma pausa, respirando fundo, — Todas voltaram voando.

Mason cerrou os punhos por baixo da mesa. Ele teve que permanecer com sua fisionomia tranquila.

— Suas paredes normais. Ela está sempre se protegendo?

Penny concordou.

— Ela nunca gostou de falar sobre seu passado... antes do orfanato. Sei que o pai dela é uma memória dolorosa, mas depois de todos esses anos, ainda não sei por quê. — Penny fez uma pausa pressionando a boca. — Ela deu a entender que você poderia saber algo. E agora com isso, — ela gesticulou em direção às cartas, — é ainda mais importante que ela se abra.

Suas sobrancelhas se ergueram novamente. Ele não era o único buscando informações.

— Ela não me disse muito. Só que seu pai jogou fora cada centavo e depois tirou a própria vida.

Penny fez uma careta.

— Eu mesma estou muito intrigada. Embora devesse ter algum dinheiro, ela pagou a passagem de nossa carruagem de volta a Londres. — A testa de Penny franziu. — Ela tem vergonha porque ele cometeu suicídio? O Padre Byron estava sempre lhe dizendo que o Sr. Hershel iria queimar no inferno por causa desse pecado.

— Ela disse algo sobre ele gastar o dinheiro dela também. — Mason se inclinou para frente. — Ela tinha dinheiro próprio? — Como ela pagou a passagem? Algo o incomodou bem no fundo. Ele sentiu que isso era importante, mas não entendeu por quê.

Penny balançou a cabeça.

— Oh. Não sei.

Ele esfregou o rosto. Não entendia por que isso teria importância, mas, novamente, ela mencionou especificamente.

— O que você quer com Clarissa? — Penny perguntou enquanto seus dedos agarravam a borda da mesa.

Isso foi abençoadamente simples.

— Protegê-la.

Penny piscou.

— É isso?

Ele encolheu os ombros.

— Ela salvou minha vida. É o mínimo que posso fazer. — Então, ele limpou a garganta, percebendo uma potencial aliada. — Eu me casaria com ela se ela permitisse. Dessa forma, ela teria dinheiro e proteção para sempre. — Com essa chantagem pairando sobre ela, o casamento era a melhor e a mais fácil resposta. Seu dinheiro, seu título, eles protegeriam sua reputação de uma forma que nem mesmo Goldthwaite poderia.

Penny engasgou-se.

— Natty estava certa afinal.

— Natty? — A pequena órfã. A maneira como Clarissa a segurou fez ele querer puxar Clarissa contra seu lado e mantê-la lá para sempre.

— Então, você quer se casar com Clarissa? Depois de todo esse tempo? Por que ela cuidou de você quando você estava doente?

— Bem, para ser justo, a ideia de casamento é relativamente nova. — Como ontem. — Sei que ela não precisa mais da minha ajuda financeira com o seu casamento, mas eu ainda poderia cuidar dela. E eu certamente poderia protegê-la disso. — Mason acenou para as cartas abertas. Ele deixou de fora a parte em que a atração o atingiu como um cavalo galopante.

Ele esfregou a nuca. Mas ao invés de puxá-la para mais perto, ele a afastou ontem. Supôs que entendia as paredes de Clarissa. Ele realmente não queria explicar que ela tinha sido a primeira pessoa que ele conseguia se lembrar de tocá-lo com afeto. Que ele acordava no meio da noite com vontade de sentir seu toque novamente.

Penny concordou.

— Obrigada por compartilhar.

— Lady Goldthwaite. — Ele ergueu um único dedo. — Diga-me. O que Clarissa vê para seu próprio futuro? — Ele lhe deu outro sorriso fácil, querendo que ela confiasse nele. — Ainda tenho uma chance de convencê-la a ser minha esposa?

Penny se suavizou, seu olhar era caloroso e compreensivo.

— Você poderia. O que ela mais deseja é cuidar dos outros. Administrar um orfanato. Ela falou em ser enfermeira. Talvez você deva convencê-la de que precisa dos cuidados dela também.

Ele ergueu uma sobrancelha. Era só isso? Isso seria tão fácil. Porque ela precisava dele. E, porque, ele de fato precisava dela também. Bastante.

Clarissa ficou olhando para a rua cinza. Ela deveria estar ensinando as letras às meninas. Em vez disso, elas conversavam enquanto ela repetia a conversa com Penny em sua mente.

E os eventos de ontem. Porque tinha a sensação incômoda de ter lidado mal com os dois.

Ela mentiu para Baxter sobre sua identidade. Quando tudo o que ele queria fazer era protegê-la. Não era culpa dele que ela não merecesse sua afeição.

E então, Penny. Clarissa a afastou também.

Ela apoiou o queixo no punho.

Três semanas atrás, elas se mudaram para esta casa com Logan depois que rufiões tentaram incendiar sua casa. Logan as resgatou, e então as trouxe para sua casa segura. Ele também garantiu financiamento para os orfanatos que desejavam abrir.

Ela respirou fundo. Durante toda a sua vida tentou ajudar as pessoas ao seu redor, mas inevitavelmente seus pecados superaram suas boas ações. Aqueles rufiões estavam ligados ao seu passado? Ligados às cartas? Deveria ter contado a Penny e a Logan, mas estava tão envergonhada. Fechando os olhos, ela se repreendeu por ser uma idiota. Ela os estava machucando por esconder seus segredos? Ela faria mal à amiga e às crianças?

E o Conde de Baxter. Ele estava melhor se lembrando dela como a garota que o salvou. Ele só ficaria desapontado por quem ela teve que se tornar para escapar do sacerdote horrível.

Ele era a única pessoa que ela queria que se lembrasse dela como boa e certa e... alguém para ser admirada, não odiada.

Seus punhos cerraram-se, observando enquanto a carruagem de Logan se dirigia para casa. Ele saiu e então ajudou Penny. Suas cabeças se inclinaram juntas enquanto conversavam. Mas a conversa não parecia ser de amantes. Seus corpos estavam tensos, suas bocas pressionadas em linhas firmes.

Penny olhou para a janela e fez uma careta ao ver Clarissa. Clarissa encarou-a de volta, seu próprio corpo ficando tenso. O que havia de errado com Penny?

Depois de se levantar, ela foi para a porta.

— Estarei de volta em breve, meninas, — ela avisou enquanto fazia seu caminho para fora da porta e então pelo corredor.

Eles entraram na casa quando ela estava na metade da escada, e não se importou em cumprimentá-los.

— Qual é o problema?

Penny parou também, sua carranca se aprofundando.

— Acho que devemos conversar.

Clarissa começou a descer as escadas novamente.

— Concordo. Por isso perguntei o que estava errado.

— Vamos para a sala de estar.

O estômago de Clarissa se revirou. Claramente, tudo o que Penny precisava dizer era sério.

— Tudo bem.

Ela seguiu Penny para a outra sala sem se preocupar em sentar-se, mas foi até a janela. De alguma forma, observar o mundo a fez se sentir menos assustada.

Penny pigarreou.

— Não tem porque esconder nada de você. Encontrei suas cartas e falei com o Conde de Baxter.

A janela foi esquecida quando Clarissa girou de volta. O sangue correu em seus ouvidos. O que eles encontraram? Eles sabiam? Ambos?

— Você fez o quê?

— Como você não me disse que alguém estava te ameaçando? — O queixo de Penny ficou mais alto.

Clarissa se enrolou em si mesma.

— Eu não queria te preocupar.

Penny sacudiu sua amiga.

— Você é minha família. Eu sempre vou te ajudar.

Clarissa abaixou a cabeça.

— Não sou a pessoa que você pensa que sou.

— Você é exatamente a pessoa que penso que é. Forte e amorosa. E você merece o melhor futuro que pode ter.

O queixo de Clarissa se ergueu.

— O que isso significa?

— Você sabia que ele é muito charmoso?

— Eu sei que não dou a mínima, — ela disparou de volta.

Penny mordiscou o lábio.

— Ele diz que quer se casar com você.

Seu coração começou a bater forte em seu peito, as mãos cobrindo-o na tentativa de fazer o órgão desacelerar. Ele disse isso antes ou depois de ler as cartas? As palavras acusando-a, corretamente, de ser uma pequena ladra.

— Ele nem me conhece. — Ela apertou as mãos nas dobras de seu vestido enquanto o mundo parecia girar em um modo vertiginosa. Porque sua primeira reação foi de excitação, não de medo. — E não gosto do que sei dele. — Mentira. Ela gostava tanto dele que doía por dentro.

Penny ergueu uma sobrancelha.

— Mesmo? Ele é bonito e singularmente focado em... bem... você.

Clarissa soltou um bufo.

— Isso não é da sua conta? — Ela deu um passo na direção de Penny. — Ele mergulhou em minha carruagem. Logan teve que puxá-lo fisicamente. Ou, pelo menos, ele tentou.

— Tudo verdade. — Penny coçou o queixo. — Acabei de me casar. Estou vendo tudo com um toque romântico. Mas ainda. Ele é um conde. Não estou dizendo que você deva concordar em se casar com ele, apenas que talvez deva conhecê-lo.

— Não. — A única palavra cortou o ar como uma faca quente cortando manteiga.

— Por quê?

Clarissa balançou a cabeça.

— Eu não sou como você. Coisas boas não vêm para mim. Principalmente quando são oferecidos por homens. Elas se desfazem em minhas mãos e... — Ela parou de falar.

Penny se levantou.

— Isso não é verdade. Eu nunca teria sobrevivido nos últimos seis anos sem você. Você é uma das melhores coisas que já me aconteceram.

Clarissa balançou a cabeça.

— Logan é o melhor. Quase não fui capaz de ajudar. — Para sua consternação, lágrimas picaram em seus olhos.

Como poderia explicar que adoraria nada mais do que aceitar a proposta de Baxter? Mas ele precisava ser protegido... dela. Das escolhas que ela fez. Como um ladrão poderia se tornar condessa?

Penny cruzou a sala, envolvendo os braços em torno de Clarissa. Ela tentou resistir ao toque, mas quando o calor de sua amiga a envolveu, ela desabou.

— Não diga isso. Você foi maravilhosa. Todo o amor que você dá as crianças. A ajuda que você me deu. Eu achava que tinha lhe resgatado no dia em que tirei você da igreja, mas às vezes acho que foi você que me salvou. Me deu esperança e direção quando eu não tinha nenhuma.

Clarissa apertou suas costas. As palavras acalmaram um pouco de sua dor.

— Obrigada por dizer isso. Mas você não entende. Tantas vezes tentei ajudar as pessoas e fracassei. Não sei se sou boa...

Penny balançou a cabeça com tanta força que Clarissa se afastou com medo de levar uma pancada no queixo.

— Você é a melhor, Clarissa.

— Você não sabe disso.

— Eu sei, — Penny começou.

— Não. — Clarissa rebateu. — Você não sabe. E ele também não. Mas posso dizer a ele que não precisa se preocupar em me perseguir. Onde ele está?

Penny baixou os braços mordendo o lábio novamente.

— Eu não acho...

— Diga-me, — Clarissa disse antes que sua amiga pudesse terminar. — Eu preciso falar com ele. É muito difícil... — Ela não terminou. Porque o que poderia ter dito é que era muito difícil ser tentada por um futuro que incluía um marido que era um homem que não a machucou, nem a deixou, ou disse que ela não valia nada.

Penny se encolheu.

— Você conhece o prédio perto de nossa antiga casa? O prédio estranho com a porta vermelha e o emblema com um W?

Clarissa ofegou. Ela sabia exatamente.

— Volto em breve.

Penny balançou a cabeça.

— Você não pode ir sozinha. Vou com você.

— Vou levar uma criada. — Ela acenou com a mão. Não tinha intenção de levar ninguém. Ela e o Conde de Baxter precisavam ter uma conversa particular.

 

 


Capítulo 06


Mason andava de um lado para outro, tentando decidir a melhor forma de proceder. Sua conversa com Penny solidificou seus sentimentos.

Era para isso que ele estava se dedicando. Clarissa.

Ele estremeceu, sua cabeça caindo em suas mãos. Ele arruinou seu primeiro encontro ontem. Como um idiota.

Ouviu a porta de seu escritório abrir lentamente, a madeira dando um leve rangido. Virando-se, ele respirou fundo quando Clarissa espiou para dentro da sala.

— Este é um momento ruim?

— Não, — ele disse simplesmente. — Como você entrou aqui... — Então, ele fez uma pausa. — Deixa para lá. Já sei que Keyworth a deixou entrar.

Ela entrou na sala, fechando a porta atrás. Então, ela inspirou profundamente. Ele assistiu a ascensão e queda de seu peito enquanto suas mãos se torciam.

— Suponho que devo começar com uma confissão.

Ele deu dois passos em sua direção até que ela estendeu a mão. Ele parou, mas seus dedos coçaram para tocá-la.

— Confissão?

— Eu menti ontem, — ela sussurrou. — Era eu. Nós nos conhecemos na igreja.

Seu peito estava tão apertado que ele mal conseguia respirar.

— Você mentiu porque te assustei?

Ela balançou a cabeça.

— Você não me assusta.

Ele não conseguiu se conter e deu outro passo.

— Então, por que mentir?

Ela respirou fundo.

— Você sabe sobre meu pai. E agora você sabe que alguém está... — Ela olhou para a parede à sua direita, desviando o olhar. — Você sabe de onde eu vim, e como cheguei lá e... — Ela parou, o queixo caindo.

Ele não conseguiu mais se conter. Fechando o espaço entre eles, estendeu a mão e tocou sua bochecha com as pontas dos dedos.

— Você está preocupada que eu não guarde seus segredos? — No que diz respeito aos segredos, não era muito. Seu pai disse e fez muito pior. Somente depois de conhecer Clarissa é que foi capaz de deixar isso passar.

Ela encolheu os ombros.

— Estou. Disse a mim mesma que se você soubesse do meu passado, as pessoas poderiam retirar seu financiamento para o nosso orfanato. Quem iria querer sustentar uma mulher cujo pai jogou cada centavo fora? Que é vítima de extorsão?

Ele segurou sua bochecha.

— Essas não são suas ações. Confie em mim. Compreendo.

Ela olhou para ele, seus olhos tristes. Isso fez seu estômago apertar e sua outra mão agarrou sua cintura.

— Você não compreende.

Isso o surpreendeu.

— Então me diga.

Ela balançou a cabeça, sua bochecha aveludada esfregando contra a palma mais áspera dele.

— Não foi isso que eu vim dizer.

— O que você veio dizer então? — Ele acomodou seu corpo mais perto e, para sua surpresa, ela não resistiu. Suas curvas, tão suaves e tentadoras se ajustaram contra ele de uma forma que o fez sentir dor.

Ela segurou seus braços, seus dedos brincando levemente sobre seus músculos. A sua cabeça aproximou-se da dela. Ela estava tão quieta, completamente diferente de ontem, não queria assustá-la de forma alguma.

Ela olhou-o, seu hálito doce soprando em suas bochechas.

— Penny me contou sobre sua conversa. Sobre como você disse que desejava...

— Casar-me com você? — Ele tentou se acalmar se concentrando em seus pensamentos. Normalmente ele se destacava nisso, mas não com ela. Ele se perdeu, feliz por tê-la em seus braços, por ter este momento. — Eu quero. Eu irei. Basta dizer a palavra. Posso te proteger de tudo isso.

Mas seus olhos apenas se arregalaram e, em seguida, linhas de dor se formaram em torno de sua boca.

— Eu não posso me casar com você. Não consigo nem ver você de novo.

Seu coração deu um pulo, mas ele ficou parado. A dor o atingiu, mas ele se obrigou a desacelerar. Respirou fundo. O mais importante era que ela estava aqui em seus braços, onde estava segura.

— Explique-me. — Ele tinha que descobrir por que ela o rejeitou.

Então, ele deslizou a mão na parte inferior das costas dela, apoiando a parte superior de seu corpo com o braço.

Ela relaxou ainda mais nele.

— Meu pai me deixou sozinha. — Sua voz falhou na última palavra. Droga, ele gostaria de poder tirar-lhe essa dor.

— Ele nunca deveria ter feito isso. Você era apenas uma menina. Você precisava dele. — Seu nariz roçou a ponta do dela. Ele fez tudo o que podia fazer agora, dar-lhe conforto. E garantias. — Eu nunca iria deixar você assim.

Seus olhos se arregalaram, mesmo enquanto suas mãos apertavam seus braços.

— Não é disso que se trata.

— Sobre o que é então? — Ele deslizou a mão em seu cabelo e a cabeça dela inclinou-se para trás.

— Eu posso cuidar de mim mesma, — ela sussurrou.

Suas ações desmentiam essas palavras. Ela era como barro em suas mãos, mas ele não disse isso. Ele explodiu ontem. Este não era o caminho. Hoje, ele seria o apoio calmo de que Clarissa precisava.

— Você fez um bom trabalho.

Ela balançou a cabeça novamente.

— Penny fez um bom trabalho. Sou exatamente o que meu pai disse que eu era.

Isso criou um caroço doente em sua garganta. Ele sabia tudo sobre a dor das palavras de um pai.

— O que o bastardo disse?

Ele a sentiu pular em seus braços.

— Por que você fala assim?

— Eu te disse. Eu sei sobre pais terríveis. — Ele ficou tenso, mas forçou seus músculos a relaxarem. — O que ele disse não reflete o que você é.

Ela balançou a cabeça.

— Penny disse o mesmo...

Ele não se conteve, então. Ele podia sentir sua dor. A mesma dor que ela acalmou nele há tantos anos. Inclinando o queixo, ele deu o beijo mais leve em seus lábios. Ela ofegou, seus dedos agarrando-o ao mesmo tempo que seus lábios se fundiram nos dele. Gentilmente, ele ergueu a cabeça para olhar para ela.

— Clarissa, — ele sussurrou. — Por favor, me diga o que ele disse a você. O que te incomoda tanto. Prometo nunca repetir, nem mesmo para você se é isso que deseja, mas você precisa iluminar seu coração. Deixe-me fazer isso por você.

Caro Deus, Clarissa queria contar a ele. A única coisa que ela nunca disse para uma única alma. Mas, uma vez que ela confessasse, ela não poderia retirar as palavras. Elas estariam no mundo.

Ela fez uma tentativa indiferente de se afastar, mas ele se manteve firme. Estava agradecida. Não tinha percebido o quão pesado era seu fardo até que ele segurou parte de seu peso.

— Então, você saberá tudo.

Ele a beijou novamente. Outra varredura suave de sua boca contra a dela. Desejo e prazer guerrearam para manter sua vontade. Quando seus braços envolveram o pescoço dele, ela soube que estava perdida.

Era só que ele estava tão perfeito.

Forte, esbelto e duro, ele era como uma âncora neste momento. Ela sentiu um pouco de umidade em seus cílios e percebeu que seus olhos estavam embaçados.

— Está tudo bem, — ele murmurou. — Estou aqui para você e não vou a lugar nenhum.

Ela tremeu. De alguma forma, ele afastou a boca e as palavras começaram a sair dos lábios dela.

— Ele me disse que a culpa era minha. Que eu não era boa e que nunca seria. Você não vê? Essas cartas. Elas apenas provam que é verdade. Trago dor para as pessoas que amo.

— Culpa de quê? Como você pode ser diferente de boa? — Ele perguntou. — Quem quer que tenha enviado isso. Esse é o vilão. Você, não.

Uma porta bateu à distância, as risadas de homens e mulheres se infiltraram no corredor e na sala.

O barulho a lembrou de que não estavam sozinhos. Que a segurança que ela sentia era uma ilusão.

Ela recuou um passo ou tentou.

— Eu devo ir.

— Não, — disse ele, espalhando as mãos nas costas dela. — Nós mal começamos a conversar. Você ia me explicar por que nunca podemos nos ver de novo. Lembra-se? Não são muitas as mulheres que recusam a proposta de um conde, por isso estou curioso para saber por quê.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Proposta? — Mas ela relaxou contra ele novamente. Ele parecia tão... certo. — Pelo que sei, você pediu Penny em casamento. Complicado porque ela já é casada.

Ele riu e, em seguida, deu um beijo leve em seu pescoço, logo abaixo da orelha. O roçar fez com que ela engasgasse e seus olhos se fecharam tremulando.

— Bem, eu retificaria isso, mas você já jurou que a resposta será não.

Isso a fez sorrir.

— Eu realmente fiz.

— O que nos leva de volta à sua explicação. O que seu pai disse que há de errado com você?

Ela engoliu em seco. Ela não conseguiu. Sem perceber, ela balançou a cabeça para frente e para trás.

— Meu pai era o Duque de Devonhall, mas minha mãe... — Ele fez uma pausa, seu polegar percorrendo seus lábios. — Não era a duquesa.

— Oh, — ela ofegou, puxando-o para mais perto.

— Meu pai odiava a minha simples visão. Fui um lembrete de sua fraqueza, sua falta de perfeição. — Ele começou a massagear seu couro cabeludo. — Na verdade, ele me disse em mais de uma ocasião que o mundo teria sido um lugar melhor se eu nunca tivesse nascido.

Ela suspirou em sua indignação. Como pode um pai ser tão cruel? Querendo confortá-lo, Clarissa enfiou as mãos enluvadas em seus cabelos. Gostaria de poder tirá-las e sentir a textura de seu cabelo. Os cachos eram tão convidativos quanto pareciam?

— Quantos anos você tinha?

— Não sei. Talvez seis da primeira vez. Dezoito na última. Foi a última coisa que ele me disse antes de eu partir para a guerra, e eu fiz o meu melhor para cumprir seus desejos. — Seus olhos enrugaram nos cantos. — Pensando bem, eu tinha mais ou menos a sua idade quando me joguei na frente de uma baioneta, certo de que faria o desejo dele se tornar realidade.

Ela engoliu em seco. Porque algo em suas palavras soou com tanta familiaridade que doeu.

— E então você veio para a igreja. — Seu coração batia forte em seu peito tão rápido que ela tinha certeza de que ele podia sentir isto.

— Isso mesmo. E uma garota me tocou e falou comigo tão gentilmente que eu tinha certeza de que deveria estar aqui nesta Terra. Que havia motivos para viver e amar, afinal.

Ela enrijeceu e ele sentiu porque apertou os braços também.

— Eu não fiz...

— Não diga nada. Você não tem ideia do que fez. — Seu outro braço a envolveu também, e ela foi esmagada contra o peito dele. — Então, me diga o que ele lhe disse, e então podemos decidir de quem é o pai mais terrível.

Ela balançou a cabeça. Porque o pai dele era horrível, mas ela tinha a sensação de que seu pai estava certo.

— Não posso.

E porque ele tinha uma linda memória dela. E era assim que queria que ele se lembrasse dela. Uma garota que o salvou. Não esta pessoa contaminada e comprometida que ela se tornou.

E então, com um grande puxão, ela se desvencilhou e abriu a porta, correndo pelo corredor.

Ela não parou até chegar aos degraus da frente. Clarissa piscou na luz cinza, seus olhos ainda precisando se ajustar quando ouviu o clique da porta da frente atrás dela.

 

 


Capítulo 07


O som da porta sacudiu Clarissa de seu pânico. Ela piscou várias vezes, olhando para cima e para baixo na rua que escurecia.

Por que ela simplesmente fugiu? E por que saiu noite adentro? Sozinha. Sem carruagem à vista.

Ela voltou em direção à porta. Voltaria para dentro, se desculparia com Baxter por ser tão estúpida e lhe pediria gentilmente buscasse sua carruagem.

As palavras de Penny sobre não viajar sozinha ecoaram em seus pensamentos quando puxou a maçaneta para encontrar a porta trancada.

Ela puxou com mais força, como se a porta pudesse ceder. O que faria agora? Droga.

Levantando a mão, ela agarrou a aldrava de latão e deu algumas batidas fortes contra a placa. Esta não era a reentrada mais digna de volta ao clube, mas seu orgulho teria que esperar. Ela não estava andando pela vizinhança em busca de sua carruagem, pois provavelmente circulava o quarteirão. Provavelmente voltaria a qualquer minuto, mas Clarissa tinha vivido nesta parte da cidade e sabia que tipo de homem espreitava nas sombras.

Que estavam crescendo mais a cada momento.

Como se conjurado por seus pensamentos, o som distinto de passos atrás dela fez os cabelos de sua nuca se arrepiarem.

Ela bateu na aldrava novamente.

— Não acho que ninguém está vindo, — uma voz gargalhou atrás dela.

Ela prendeu a respiração enquanto enfiava a mão no bolso do vestido. Desta vez, ela se lembrou de sua pistola. E ela usaria se necessário.

Uma pequena arma cabia em sua mão, seu peso era um amigo tranquilizador quando se virou para o homem que havia falado.

Só quando ela fez o semicírculo, ela percebeu que havia três.

Sua pistola cuidaria apenas de um.

Seus dedos tremeram, mas ela os apertou na coronha da arma. Pior de tudo, ela reconheceu um dos homens. Clarissa não sabia seu nome, mas se lembrava de seu rosto.

Dentes faltando, cabelo sujo. Ele era um dos homens que assediou Penny e tentou incendiar sua casa.

Bem, ela sabia em qual miraria. Se ela morresse esta noite, ele também morreria.

— É bom ver vocês, cavalheiros nesta bela noite, — ela falou, endireitando-se.

Todos os três pararam.

— O que isso significa? — o mais baixo, que estava logo atrás, cuspiu quando falou. — Não estamos fazendo uma visita social.

Ela lentamente puxou a arma do bolso.

— Mesmo? Tive certeza de que vocês viriam provar as delícias por trás desta porta.

— Delícias? — Perguntou um homem alto e magro que estava no meio. — De que tipo?

— Não a deixe enganar, — o terceiro gritou. — Estamos sendo pagos para fazer um trabalho.

Pagos? Eles eram parte da trama de chantagem depois de tudo? Ela sorriu para ele, fria e sem humor, mas foi o melhor que pôde fazer sob as circunstâncias enquanto engolia, tentando silenciar o sangue que corria em seus ouvidos.

— Diga-me, bom senhor, — ela olhou para o terceiro homem. — Você parece excessivamente inteligente. Devo saber seu nome.

Ele apertou os olhos, sujeira aparecendo nas linhas de seu rosto.

— Não te interessa.

— Basta dizer a ela, Carter, — o do meio gargalhou. — Ela não será capaz de repetir depois que terminarmos com ela.

— Carter, — ela murmurou. — Bom saber. — Então, ela ergueu a pistola. — O Conde de Goldthwaite está procurando por você.

Só então, a porta se abriu atrás dela.

O som fez sua respiração assobiar em seus pulmões, o alívio quase a fez tontear.

Mas, como o homem a quem ela acabara de se dirigir levantou própria arma, ela não pensou enquanto seus músculos se contraíam novamente e ela atirou, fumaça enchendo o ar.

Mason enrijeceu enquanto observava Clarissa correr de seu escritório. Do pouco que sabia, ela não era uma perdedora. Ele ficou surpreso por ela fugir dessa conversa.

Mas esse foi um assunto para refletir mais tarde.

Ele ouviu o clique da porta da frente fechando e soube que só abriria novamente com uma chave.

Ela não tinha chamado sua carruagem de volta, o que significava que estava na rua sozinha.

Embora ela conhecesse este bairro, ele também sabia que ela estava agora vestida como uma dama, e não como uma mulher simples.

Ele começou a descer o corredor atrás dela, mas o Conde de Darling o parou enquanto ele caminhava pelo corredor. Um dos condes que frequentavam o clube, Mason tentou afastar o outro homem, mas Darling parou Mason com uma mão em seu braço.

— Você recebeu muitas visitas femininas hoje. — O homem inclinou a cabeça para o lado. — Muito incomum.

Uma batida soou na porta. Provavelmente Clarissa.

— Uma é uma mulher casada, — ele murmurou, afastando a mão de Darling e começando a andar pelo corredor novamente.

Darling encolheu os ombros.

— Não para a maioria dos homens neste lugar.

— Verdade, — disse ele. — Mas a outra em breve será minha esposa, então prefiro que não falemos sobre o que acontece neste lugar.

Darling deu um aceno rígido.

— Esposa? Por que você a tem aqui então?

Mason soltou um suspiro rápido e afiado. Darling era muito mais decente do que a maioria dos homens daqui, mas agora não era o momento para discussão. Outra batida soou na porta.

— Vou explicar outra hora, com licença.

Darling deu um aceno rápido quando Mason começou a descer o corredor mais uma vez. Mas a pergunta de Darling permaneceu. Porque o homem estava certo.

Mason deveria tê-la colocado de volta em sua carruagem e vê-la ir para casa. Ela estaria muito mais segura e incapaz de escapar da conversa como acabara de fazer.

Vozes filtradas do lado de fora, as masculinas agudas fizeram Mason disparar em direção à porta.

Dando passos largos nos últimos dois degraus, ele girou a fechadura da porta.

— Condes, — ele gritou. — Vocês são necessários na porta da frente.

Ele não esperou para ver quem ouviu. Em vez disso, abriu a grande barreira de madeira e saiu. Seu coração quase parou. Clarissa estava bem a frente dele com uma pequena pistola erguida em sua mão enluvada.

Assim que outro homem atirou, ela atirou também, e o mundo inteiro desacelerou por um momento.

Ele observou a bala dela atingir o alvo. Ouviu o assobio da bala quando o outro tiro passou zunindo na direção deles. Tinha sido assim na batalha também. Cada movimento acontecia em sua mente. Sabia exatamente o que fazer.

Agarrando sua cintura, ele a empurrou para a direita no momento em que uma dor cortante colidiu com seu lado esquerdo.

Ele respirou fundo. Ele foi atingido. Mas isso não importava agora, desde que Clarissa estivesse a salvo.

Homens saíram da casa brandindo pás de freixo, espadas, pistolas.

— Quero todos eles capturados, — ele gritou enquanto apertava Clarissa para mais perto.

Sem esperar para ver o que aconteceria, ele a levou para o beco onde sua carruagem certamente esperava. Precisava tirá-la daqui. Agora.

— Baxter? — Ela perguntou, sua voz tremendo.

— Mason, — ele corrigiu.

— Mason? — A mão dela tremulou em seu peito. — Eu matei aquele homem?

Ele olhou-a, suas bochechas normalmente rosadas estavam pálidas.

— Não, amor. — Ele provavelmente mentiu. Se o homem não estivesse morto, logo estaria. — Mas ele vai apodrecer na prisão.

Clarissa acenou com a cabeça timidamente.

— Ele é um dos homens que tentou incendiar nosso orfanato pouco antes de Logan nos levar. Se ele ainda estiver vivo, ele pode ser questionado.

Isso fez Mason sorrir. Lá estava sua garota corajosa.

— Você é gloriosa, sabe isso, não é?

Eles alcançaram a fila de carruagens que esperava e ele avistou o Conde de Goldthwaite. Indo para o meio de transporte, ele abriu a porta e empurrou Clarissa para dentro. Ele grunhiu, seu lado começando a doer terrivelmente.

Mas ele se ergueu, e se sentou no banco em frente a ela.

— Você se saiu maravilhosamente bem.

Ela balançou a cabeça.

— Eu fui horrível. Acabei de atirar em um homem. E causei o problema, para começar. Eu nunca deveria ter saído. Você não vê? Isso é exatamente o que meu pai quis dizer.

— Quis dizer? — Ele perguntou, apertando os olhos dentro da carruagem sombria.

— Ele disse que eu tinha a maldição. Exatamente como ele. E que tudo que eu tocasse viraria cinzas em minhas mãos. — Sua voz tremeu. — Eu fiz coisas terríveis.

— Ele está errado e nada do que você fez poderia ter sido tão ruim. — Ele queria tocá-la, abraçá-la.

— Ele não está, — ela sussurrou. — Você não sabe do que está falando. — Ela olhou pela janela em vez de para ele. Suas mãos deslizaram para as têmporas enquanto seus olhos se fechavam.

A voz de Mason era gentil, mas firme.

— Diga-me, então. Explique para mim.

Ela escorregou de seu banco e foi sentar-se ao lado dele.

— Você conhece o padre que me acolheu?

Um pavor doentio encheu seu estômago. Ele estava enfraquecendo e não conseguia dominar seu corpo. Ele afundou em seu assento.

— O que tem ele?

— Acabou em uma ilha que está quase deserta.

— Clarissa, — ele disse, sua voz falhando. Como ele explicaria que arranjou o exílio do padre?

— Eu acho que o enviaram para lá porque estava faltando dinheiro. — Seu intestino agitou quando ele teve uma vaga ideia de onde isso estava indo e como ele contribuiu para seus medos.

— Ele foi enviado para lá porque era um homem mau que não merecia um rebanho. — Ele fechou os olhos com força, mas depois os abriu novamente porque precisava ver o rosto dela e saber que ela havia entendido. — E se você é a razão da falta de dinheiro, bom para vocês. Nem todo mundo é forte o suficiente para fazer o que é necessário para sair do inferno.

Ela soltou um pequeno grito e na carruagem que escurecia ele não sabia o que significava. Suas palavras doeram? Ajudaram? Mas então, ela apertou a mão em sua barriga, se inclinou e beijou seus lábios.

Saudade e amor percorreram seu corpo quando ele levou a mão ao rosto dela. Nenhum beijo foi mais doce. Os lábios dela eram travesseiros quentes de conforto e a boca dele agarrou-se à dela.

— Nenhuma dessas coisas foi sua culpa.

Mas ela recuou e ergueu a mão enluvada. O branco da luva recente manchado por uma quantidade surpreendente de sangue.

— Mason?

 

 


Capítulo 08


Um medo frio tomou conta dela enquanto olhava para sua mão.

— Mason? — Ela disse novamente, sua voz soando estrangulada. — De onde você está sangrando? — E então, ela começou a puxar suas roupas.

Não foi difícil encontrar o ferimento. Em seu lado esquerdo, o sangue escorria pela sua camisa. Ele estendeu a mão hesitante nas costas.

— Boas notícias, a bala passou direto. É realmente apenas uma ferida superficial na minha lateral. Um arranhão.

— Como uma ferida na carne é considerada uma boa notícia? — Ela gritou, arrancando sua capa e enrolando-a, em seguida, empurrando-a contra a pele dele para aplicar pressão para interromper o fluxo de sangue.

Ele sibilou.

— Você sabe que estou certo. Você tem muita prática no cuidado de feridas. Eu posso atestar isso. Isso simplesmente dói.

— Sinto muito, — ela sussurrou. — Preciso diminuir o sangramento.

— Não. É bom. — Ele cobriu as mãos dela com as dele. — Precisamos continuar conversando.

— Você não pode estar falando sério. — Ela olhou para seu rosto pálido, então. — Por que você me deixou tagarelar enquanto estava ferido?

— Porque você também está ferida. — Ele ergueu a mão e colocou-a sobre o coração. A sensação dos dedos dele em seu peito a fez doer. Ela queria descansar a testa contra a dele e fechar os olhos. Esquecer o resto do mundo. — Seu pai estava errado e você também. E você precisa saber disso. Você não é ruim. Você é uma das melhores pessoas que conheço.

— Mason, — ela bufou enquanto se inclinava e roçava os lábios nos dele novamente. — Você recebeu um tiro enquanto estava ao meu lado. Você não acha que isso prova que eu trago destruição para aqueles ao meu redor? Que não sou boa?

Um pequeno sorriso tocou seus lábios.

— Não, não acho. A Toca fica em um bairro que está se tornando cada vez mais difícil na última década. Talvez seja hora de mudar.

Ela balançou a cabeça.

— Você não está ouvindo...

— Você não está ouvindo. — Ele agarrou o braço dela. — Eu mandei aquele padre para longe. Sinto muito por ter te causado culpa com minhas ações. Mas, não poderia permitir que mais crianças ficassem sob os cuidados dele. E escolhi proteger você hoje. — Ele tossiu então, tremendo ao fazê-lo, e o medo a fez estremecer.

— Mason? — Parte dela queria ficar com raiva dele. Ele tinha afastado o Padre Byron da igreja? Mas tudo o que ela podia sentir era preocupação. Ele estava ferido. E se algo acontecesse com ele? Ele era a única pessoa no mundo a quem ela confidenciara todos os seus segredos. Ela precisava dele. Mais que isso...

— Escute, — ele disse enquanto a carruagem diminuía, alcançando a casa de Logan. — Nós vamos nos casar hoje à noite ou amanhã.

— O quê? — Seu estômago se agitou. Ele havia perdido suas faculdades mentais?

— Tive um objetivo todos esses anos. Encontrar você e mantê-la segura. Você tem que me deixar fazer isso no caso de alguma coisa acontecer.

Com essas últimas palavras, as lágrimas mais uma vez brotaram de seus olhos. Ele estava preocupado que morreria e seu último desejo era vê-la cuidada?

— Você vai viver.

— Nós dois sabemos que talvez não. É um tiro. — A carruagem parou, e por um momento os dois ficaram parados. — Eu queria morrer, Clarissa. Até o momento em que vi seus olhos azuis olhando para mim e então... eu desejei viver novamente. Você se tornou uma linda mulher a quem admiro e... — Ele deu um sorriso gentil enquanto seus dedos acariciavam sua bochecha. — Em quem penso o tempo todo. Deixe-me cuidar do seu futuro. Quer que eu viva ou morra, como condessa, você estará protegida de suas acusações. Seja ele quem for. Ele não será capaz de tocar em você.

Sua garganta fechou quando a emoção a oprimiu. Um soluço se libertou de seus lábios enquanto ela pressionava um beijo em sua testa.

— Você não vai morrer. Não vou permitir. E sei que você me manterá segura, sendo ou não sua esposa.

Ele fechou os olhos com isso, a cabeça caindo para trás no assento.

— Vamos discutir isso depois que eu ver o médico. — Ele mexeu-se, estremecendo. — Mas vamos entrar.

Ela se endireitou, percebendo que ele estava certo. Ela respirou fundo. Teve que deixar a emoção de lado e permitir que seu cérebro começasse a trabalhar.

Com isso, ela abriu a porta.

— Socorro, — chamou, deslizando para fora da carruagem e correndo escada acima. — Preciso de ajuda.

Logan e seu mordomo vieram correndo porta afora. Em poucos minutos, eles colocaram Mason em uma cama. O médico foi chamado e Clarissa começou a trabalhar no curativo do ferimento.

Ela cortou sua camisa, e enquanto olhava para os músculos de seu peito, ela apertou os lábios para não choramingar.

Este homem tinha que ficar bem. Como eles retornaram a essa mesma situação?

E como eles tinham acabado de se encontrar, havia muito a dizer. Ela adoraria que ele a convencesse de que ela estivera errada todos esses anos e que havia uma chance de que fossem felizes juntos.

E ela queria ouvir mais sobre seu pai, sua infância. Queria lavar seus medos da mesma forma que agora lavava o sangue de seu abdômen.

Sem querer, ela começou a cantar enquanto trabalhava. Surpreendentemente, a pressão estancou o sangramento e ela teve o cuidado de não interromper a coagulação enquanto limpava.

O buraco era menor do que ela imaginava, e a esperança começou entrar sorrateiramente. Ele poderia ficar bem.

— Estamos de volta, — Logan avisou da porta. Um médico entrou atrás dele.

— Graças a Deus, — Clarissa respirou.

Logan, no entanto, deu a ela um olhar duro.

— Penny disse para você não sair sozinha. O que você estava pensando?

— Logan, — Mason disse da cama. — Essa discussão pode esperar até mais tarde.

A mandíbula de Logan apertou, mas então ele deu um aceno rígido.

— Está bem.

Mason olhou para Clarissa, seus olhos suplicantes.

— Nos dê um momento, amor.

— O médico pode precisar de ajuda. — Ela sabia que deveria ir como Mason queria, mas não queria sair do lado dele.

— Espere no corredor. Isso levará apenas um minuto.

Com uma respiração profunda, ela se virou e se dirigiu para a porta. Não se ajoelhava em oração desde que deixou Dover, mas assim que alcançou os corredores, ela caiu de joelhos e apertou as mãos.

Por favor, deixe Mason ficar bem.

Mason estremeceu quando o médico o rolou suavemente.

— Pelo menos a bala passou direto, — ele murmurou. — E o sangramento diminuiu significativamente. Ambos são bons sinais. O risco daqui para frente é a infecção. — Ele olhou para a porta. — Eu ouvi que a Srta. Hershel passou um tempo cuidando de soldados?

— Sim, — Mason rangeu. — Eu era um deles.

— Ahh, — Dr. Walters disse enquanto puxava uma garrafa que parecia muito com uísque. — Nós esterilizaremos o melhor que pudermos e faremos a Srta. Hershel trocar as bandagens regularmente. — Ele franziu a testa enquanto deitava Mason novamente. — Se pudermos evitar a infecção, você se recuperará.

Mason não respondeu.

A ferida era ainda mais superficial do que aquela em que ele quase morrera seis anos antes. Ele respirou fundo enquanto a esperança enchia seus pulmões.

Ele pensou sobre a alegação de Clarissa de que ela era uma má pessoa.

Ele não acreditou. Nem mesmo por um segundo.

Mas caso a sorte não estivesse com ele, ele estaria preparado.

— Logan, — ele grunhiu quando o médico começou a medir o líquido para esterilização. — Há algo que você deveria saber. Os homens que nos atacaram esta noite são os mesmos que tentaram incendiar o orfanato há um mês.

Logan respirou fundo.

— Penny me falou sobre as cartas. O que aconteceu esta noite está conectado?

— Acho que sim — Mason cerrou os punhos enquanto o médico o movia novamente. A dor irradiava de seu lado. Ele piscou para afastar a névoa de seus olhos. Agora, precisava se concentrar no que mais ajudaria Clarissa. — Preciso te pedir um favor.

— Qual? — Logan se aproximou.

— Você conhece o Arcebispo de Canterbury?

O outro homem se endireitou, seus olhos se arregalando de surpresa e depois registrando compreensão.

— Agora?

Ele estendeu a mão colocando a mão no braço do outro homem.

— Não queremos ser apanhados despreparados. Nos casaremos logo de manhã. Como condessa...

Logan colocou a mão no ombro de Mason.

— Aprecio sua ideia, mas a ferida é pequena o suficiente.

Mason sacudiu a cabeça.

— Eu construí esta fortuna para ela. Tenho toda a intenção de garantir que ela a receba.

— Isso não se pressupõe?

Mason balançou a cabeça.

— Você já sabe que eu era um bastardo. O título foi dado a mim há cinco anos sem nada vinculado a ele, exceto um castelo em ruínas em algum lugar no Norte. Todo o resto é meu. Precisaremos de um advogado também para garantir que cada centavo vá para ela.

— Ela vai resistir. Tenho certeza disso. Ela é mais teimosa do que qualquer mulher que já conheci.

Mason deu uma risada superficial, a dor irradiando de seu lado. Negociar era a sua força e, como estava ferido, tinha o trunfo. Uma vantagem que usaria ao máximo. Não era seu melhor momento como homem, sabia disso. Ele tinha que se perguntar quem era realmente a pessoa má neste relacionamento porque estava usando seu ferimento para coagi-la. Ele fez uma careta, mas continuou.

— Eu conheço meu anjo. Deixe selar o acordo comigo.

Logan lhe deu um pequeno sorriso em troca.

— Eu tenho toda a fé em você. Você até me fez entrar em um negócio que eu estava prestes a desistir. É evidente que suas habilidades são excepcionais.

Mason fechou os olhos. Apreciou o elogio. Mas agora, precisava preparar seu argumento.

Ele odiava fazer isso. Clarissa era a coisa mais importante em sua vida, e não queria arriscar isso manipulando-a para um casamento; mas também não podia arriscar deixar este mundo sem dar a ela toda proteção que estava à sua disposição.

— Você está em boas mãos com o Dr. Walters. Vou sair antes que seja tarde demais. — Logan deu um tapinha leve em seu ombro. — Voltarei em breve.

— Obrigado, — respondeu Mason. — Quando passar por Clarissa mande-a entrar, por favor.

— Boa sorte.

Mason fechou os olhos. Ele precisaria disso.

Não precisava abri-los novamente para saber que Clarissa havia entrado no quarto. Ele ouviu o farfalhar de seu vestido, a almofada macia de seus chinelos. Mas mais do que isso, sentiu a maneira como o ar mudou na presença dela. Como a energia antes de uma tempestade. Ela carregou o ar no quarto.

— Posso ajudar? — Clarissa perguntou.

Ele abriu os olhos, apenas para perceber que ela não tinha falado com ele. Era para o médico que ela olhava.

— Há sangue em seu vestido, — ele murmurou. — Nós vamos ter que comprar um novo para você.

— É uma pena, — ela suspirou. — Era novo e uma das coisas mais bonitas que já tive. — Então, ela empurrou o cabelo dele para trás. — Como você poderia salvar minha pele e estragar meu vestido?

Ele soltou um suspiro curto, tentando não rir. Doeu muito quando ele fez.

— Eu não sou tão corajoso quanto você.

Seus dedos pararam em seu cabelo.

— Já falamos sobre isso. Minha bravura foi realmente uma tolice que ainda pode fazer você morrer.

Ele estremeceu. Claramente, não estava exatamente em seu jogo. Então, novamente, a culpa dela deslizaria por seu argumento.

— Eu deveria ter tirado você do clube no momento em que você chegou.

Ela se inclinou então, e seus lábios roçaram sua têmpora enquanto um líquido derramava sobre o ferimento. Por que o médico não o avisou? Seus punhos se cerraram enquanto uma dor ardente o percorria.

Uma das mãos dela envolveu seu pulso, um golpe suave contra os músculos tensos de seu braço.

— Eu nunca deveria ter ido lá de jeito nenhum. Coloquei você em perigo. Eu... — Seus dedos se apertaram.

Ele não iria perder esta batalha.

— Eu deveria ter mudado a localização do clube. Não é o primeiro incidente e não será o último. A culpa é minha.

Ela fez uma pausa, relaxando a mão.

— Você acabou de me superar na culpa?

Ele abriu os olhos para olhar o azul claro dela.

— Você salvou minha vida há seis anos, Clarissa. Estou aqui hoje por sua causa. Me recuso a aceitar que você é a razão pela qual coisas ruins acontecem.

Suas pestanas baixaram, cobrindo os olhos.

— Você é o único.

— Não, — ele disse muito enfaticamente, a dor torcendo seu interior. — Garanto que Penny não pensa assim. — Ele sabia o próximo ponto a atacar em seu argumento. — E as órfãs? Você acha que Natty pensa que você fez a vida dela pior?

Seu rosto teve um espasmo. Sabia que tinha acertado em cheio.

— Claro que a vida dela é melhor. Mas isso é obra de Penny, não minha.

Ele balançou sua cabeça. Ele estava muito perto. Sabia exatamente o que ela queria. Ele odiava manipulá-la, mas precisava dela ao seu lado.

— Escute-me. Você é uma cuidadora. Sempre foi. Você sabe como tocar as pessoas de uma forma que as cura por dentro e por fora.

Seus olhos se abriram então, olhando para ele mais uma vez.

— Você acha mesmo?

Ele não estava apenas tentando conseguir o que queria desta vez. Queria dizer as palavras com todo o seu coração.

— Eu sei disso.

— Vou precisar levantá-lo para colocar as bandagens na cintura, — interrompeu o médico.

Clarissa se endireitou.

— Deixe-me ajudá-lo.

Parte de Mason queria continuar o assunto. Mas permitir uma pausa na conversa só fortaleceria seu argumento. Ele permaneceu quieto enquanto o médico ajudava a levantá-lo e Clarissa enrolava um novo curativo em sua cintura.

Algumas mulheres podem concordar em se casar com um conde simplesmente porque querem ser condessa. Outras, por causa de sua riqueza.

Mas não Clarissa.

Clarissa consentiria por causa das crianças. E ele a amava para isso.

Ele só esperava que ela não o odiasse quando percebesse a maneira como ele a manipulou.

 

 


Capítulo 09


Clarissa enrolou as bandagens em torno da cintura dele e tentou ignorar a forma como, mesmo ferido, seus músculos ondulavam sob suas mãos.

Este homem sempre fora a sua fraqueza.

Ela tinha sonhado com ele antes de mal entender o que era amor.

E agora... aqui estava ele tentando convencê-la a se casar com ele.

E ela disse não.

Ridículo. Exceto que a voz de seu pai ecoou em sua cabeça. Má sorte... arruinou sua vida... nunca valerá um xelim.

Lágrimas escorreram de seus olhos. Ela não precisava de xelins. Mas ela queria ser boa. Boa para os outros, boa para si mesma.

Passou a mão pelo braço nu de Mason. Ela seria boa para ele ou seria ela a destruí-lo com seus crimes como ela temia que faria?

As pontas dos dedos dela formigaram enquanto roçavam seu corpo. Ela estava permitindo que a tensão que crepitava dentro dela coagisse suas decisões? Queria estar perto dele. Não podia negar esse fato.

Clarissa queria acreditar quando ele lhe disse que ela salvou sua vida. Porque isso mudou tudo.

Ela se endireitou, olhando as ataduras limpas e brancas enroladas em sua cintura. Eles pareciam limpas, exceto pelo sangue que já estava escorrendo de um lado. Ela estremeceu enquanto gentilmente puxava os cobertores sobre ele.

— Estarei de volta pela manhã para ver como ele está, — disse o médico. — Posso deixá-lo em suas mãos capazes?

Parte dela ficou tentada a dizer não. Outra pessoa deveria se encarregar de mantê-lo vivo. Mas quem? Ela tinha feito isso antes e faria de novo.

— Vou fazer o meu melhor.

— Eu vou ficar bem. Obrigado, doutor. — Mason pegou a mão dela e entrelaçou os dedos nos dela.

— Você não sabe disso, — disse ela no momento em que a porta se fechou. — E se você não estiver bem de tudo? E se uma infecção se instalar novamente?

Ele pegou sua mão, puxando-a para mais perto.

— Você está certa. É uma possibilidade para se ter a certeza. E se eu morrer, não será sua culpa. Pessoas morrem. Faz parte da vida.

Ela respirou fundo. Uma sensação ácida se espalhou por seu estômago, a ideia de Mason morrendo era muito triste para ela registrar.

— Sua morte seria resultado direto de várias de minhas ações.

— Clarissa. — Ele puxou novamente, e ela se viu sentada ao lado dele, seu quadril pressionando contra o dele, seu calor escoando para o lado dela. — Você não atirou em mim. Na verdade, se quisermos ser técnicos, você atirou no homem que atirou em mim.

Ela estremeceu, seu coração batendo forte no peito. Doeu pensar em machucar outra pessoa, não importando as circunstâncias.

— Você acha que eu o matei?

— Não, — ele acalmou. — Mas posso dizer que quando penso em você administrando um orfanato, essas crianças terão sorte ter alguém que os possa defender.

Essas palavras a acalmaram como um bálsamo em seu interior cru.

— Mesmo? Eu não pensei assim.

— Eu vi você segurando Natty. Na Igreja. Isso me fez sofrer porque eu conseguia me lembrar da sensação dos seus dedos acariciando minha pele. Isso ajudou a curar as partes quebradas dentro de mim.

Como ele sabia que ela precisava ouvir essas mesmas palavras? Por anos, ela precisou deles.

— Eu quero ajudar pessoas.

— Eu sei que você quer, querida, — ele respondeu, sua voz suave e tão gentil. — Agora. Você consideraria me permitir ajudá-la a ajudar outras pessoas?

— Como? — Ela perguntou. Um tremor percorreu sua espinha e ela se viu inclinada para mais perto. Precisava tocá-lo. Era como se seu calor e força acalmassem suas feridas mais abertas.

Ele estendeu a mão e segurou sua bochecha.

— Case comigo.

— O quê? — Isso a fez tentar recuar, mas a mão dele a segurou firme. — Você não me quer...

— Sim, eu quero. — disse ele. — Eu te disse. Acreditava que não valia nada até conhecer você. Você me mostrou outro caminho. — Seus dedos se apertaram. — E agora que você cresceu... — Ele fez uma pausa. — Eu sei que você sente a conexão entre nós.

Um caroço se formou em sua garganta e ela engoliu, piscando a emoção de volta.

— Mason.

— Escute, — ele sussurrou. — Eu posso morrer. Se o fizer, terei uma fortuna, Clarissa. Você pode usá-la para financiar todos os orfanatos que quiser. Pense desta maneira. Meu pai, que achava que eu não valia o ar que eu respirava, teria criado o maior projeto social de toda a Inglaterra. Essa seria a justiça perfeita.

Apesar de suas preocupações, Clarissa sorriu para isso.

— Suponho que seria justiça para mim também. Meu pai pensou que eu tinha arruinado sua vida. Imagine se eu salvasse tantos outros.

Ele apertou os dedos dela.

— Ele estava errado. Pior, ele era egoísta. Você não arruinou a vida dele, ele mesmo fez isso e depois a usou como bode expiatório.

Algo nessas palavras a fez pensar como nunca antes. Seu pai estava atacando por seus próprios fracassos? Ela nunca poderia perguntar. Ele tirou a própria vida pouco antes de os credores tirarem todo o resto.

Se seu vizinho não a tivesse levado à igreja, ela poderia ser um dos espólios roubados.

— Você realmente acha isso?

— Acho. Assim como acho que meu pai odiava minha vida porque eu era um lembrete de sua fraqueza.

Ela assentiu. Isso fazia sentido.

— E então, você acha que devemos nos casar para que eu tenha acesso à sua fortuna caso você morra?

— Isso mesmo.

— E se você viver? — Ela apertou mais perto de novo e sentiu o pulso dele acelerar sob seus dedos.

— O que você quer dizer? — Ele deslizou seu olhar para a parede oposta.

— Ainda poderei abrir vários orfanatos? É importante para mim ajudar as pessoas por meu próprio direito.

— Tantos quantos você quiser.

Ele estava perto de tê-la. Podia sentir isso. Ele sempre podia sentir quando estava perto de fechar um negócio.

Ela apertou os lábios, formando um vinco entre os olhos.

— E o que você quer da nossa união?

Seu coração disparou.

O que ele queria?

Ela.

Sempre ela.

Mas ele não queria assustá-la.

— Além da retribuição contínua contra meu pai por me fazer sentir tão inútil?

Ela deu a ele um sorriso suave.

— Você não precisa de mim para começar orfanatos.

Ele fechou os olhos. Não precisava?

— Não tenho suas mãos, querida. Elas têm o toque.

Ela se inclinou então, seus lábios percorrendo sua testa, sua bochecha, ao longo de sua mandíbula.

— É isso? Isso é tudo que você quer?

Como ele explicaria que, pela primeira vez na vida, queria alguém ao seu lado que o segurasse com ternura? Que o acalmasse e o apoiasse?

— Gostaria de um bebê algum dia. — De onde isso veio? — Um que amaria e apoiaria, e daria todas as coisas que eu nunca tive na vida.

— Oh, — a única palavra flutuou de seus lábios em um suspiro.

E foi então que ele soube. Ele encontrou a única coisa que ela podia muito bem querer mais do que um pacote de órfãos. Um bebê só dela.

Ele deveria ter sabido.

A maneira como ela o tocou e abraçou Natty, a maneira como ela cuidou das outras crianças que viviam com ela. Era de uma mãe de amor. Ela era natural.

E ele quis dizer as palavras. Queria isso também. Ele só não percebeu até que ele realmente as falou.

— Você quer isso também?

A voz dela era tão suave, ele poderia ter perdido.

— Sim.

— Então case-se comigo, Clarissa. Vou te dar tudo o que você quiser neste mundo. De um jeito ou de outro. — O que era verdade. Mesmo se ele morresse, e algum outro homem entraria em seu lugar. Ela seria rica, uma condessa.

Mas isso o fez sofrer. Pensar em outro homem a abraçando.

Porque ele a amava. Há muito tempo.

— Você ficaria feliz comigo como sua esposa? Você não está preocupado que eu traga azar?

— Nem um pouco. — Soltando a mão dela, ele cuidadosamente se empurrou mais para cima na cama. — Clarissa, você quer ser minha esposa?

Ela deu um aceno hesitante.

— Sim.

A vitória cantou em seu sangue. Ele fechou outro negócio. E este trouxe mais riquezas do que qualquer outro antes. Isso a trouxe.

Agora ele só tinha que convencê-la a amá-lo tanto quanto ele a amava.

Ou isso, ou ele teria que continuar sendo ferido. Porque o toque suave de seus dedos era o sangue de sua vida.

 

 


Capítulo 10


A noite foi longa.

Não totalmente desagradável, Clarissa refletiu enquanto observava Mason dormir. Ela lhe deu uma dose de láudano.

O descanso o ajudaria a se curar melhor do que qualquer outra coisa.

Ela adormecia e despertava, inquieta, e acordava com frequência para ter certeza ele estava confortável.

Ela concordou em ser sua esposa. Uma condessa. Como isso pode realmente estar acontecendo?

Ele lhe ofereceu os próprios sonhos que ela mantinha perto de seu coração. Todos os orfanatos que ela poderia sonhar em administrar. Uma forma de provar que ela era uma boa pessoa. Uma família própria. E o melhor de tudo, ele se ofereceu.

Ela se inclinou para frente e permitiu que seus dedos acariciassem ao longo de sua mandíbula. A pele dele ainda estava fria ao toque. Um bom sinal.

Ele respirava calmamente enquanto continuava a dormir.

Então, isso era amor.

Seu coração martelou em seu peito. Ela deveria ter percebido antes. Do jeito que sonhou com Mason.

Mas ela o machucaria ao concordar em ser sua esposa?

Queria acreditar no que ele disse sobre seu pai ser egoísta. E o padre. Ela sorriu na escuridão ao pensar em Mason o mandando embora. E pensava em Penny também.

A vida de Penny havia se tornado maravilhosa. Ela também era uma condessa e encontrou o amor de sua vida. Talvez Mason estivesse certo afinal e Clarissa estivesse vivendo com um medo desnecessário.

Ele se mexeu durante o sono e murmurou o nome dela, estendendo a mão. Ela a agarrou e sem pensar, deslizou ao lado dele na cama. Seu calor infiltrou-se nela, a pressão firme de seu corpo esguio e na escuridão da noite, ela se viu caindo no sono.

Ela não tinha ideia de quanto tempo havia passado, mas quando acordou, o amanhecer filtrava-se pelas janelas.

E Mason estava acordado.

Seus olhos escuros olhando diretamente nos dela.

Clarissa quase engasgou-se ao vê-lo. Sua pele estava pálida, mas seus olhos brilhavam com aquele mesmo fogo misterioso que ameaçava engolfá-la.

— Você está acordado.

Um canto de seu lábio se curvou.

— Estou. Foi um lindo sono com você pressionada ao meu lado.

— Como você está se sentindo? — Ela começou a se sentar, mas ele a alcançou, parando seus movimentos.

Ele acariciou levemente seus braços.

— Dolorido, mas por outro lado bem.

Ela tocou sua testa e sorriu de alívio.

— Ainda sentindo-se bem e a pele está fresca.

— Vamos nos casar hoje, — disse ele.

— Hoje? — Ela se sentou, então. — Mesmo? Tão rápido?

— Eu não mencionei isso? — Ele relaxou de volta na cama. — Desculpe, querida. Eu não sou eu mesmo.

Isso parecia bastante razoável. Afinal, ele estava ferido.

— Está bem. Mas como você conseguiu colocar todos os detalhes no lugar enquanto estava acamado?

— Na maioria das vezes foi Logan, — ele respondeu.

Sua sobrancelha se franziu.

— Há quanto tempo estou dormindo?

Ele riu disso.

— Não muito tempo.

Ela respirou fundo. Supôs que não importava. Depois de se levantar, ela despejou água num copo e levou-o aos lábios dele.

Ele deu um longo gole.

— Eu gostaria de tentar comer esta manhã também. Preciso manter minha força.

Ela deu um aceno hesitante.

— Devemos trocar as bandagens primeiro?

— Soa bem. Depois, insisto que você vá se preparar. Vou me alimentar sozinho. — Ele piscou como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo.

Ela franziu a sobrancelha.

— Sua saúde é mais importante.

Ele lhe deu um sorriso fácil.

— Vai fazer bem à minha saúde ver você linda para o nosso casamento.

Ela franziu a testa, olhando para baixo. O foco deles deve estar na saúde dele, não no casamento e certamente não na aparência dela.

— O casamento pode esperar. Café da manhã primeiro.

Ele balançou sua cabeça.

— Clarissa.

— Você é o paciente, — ela disse enquanto passava a mão em sua testa. — Eu sou a cuidadora. Insisto.

Seus olhos se fecharam e ele soltou uma longa expirada que soou distintamente como um suspiro.

— Como posso argumentar contra isso?

— Você não pode, — ela respondeu, acariciando sua bochecha. — Agora, deixe-me trocar suas bandagens e avaliar o ferimento.

Ele deu um leve aceno de cabeça e ela puxou as cobertas, então começou a desenrolar o pano branco. Ela franziu a testa ao terminar de desenrolá-lo. Ele foi capaz de se levantar para ajudá-la, mas a ferida em si parecia um pouco vermelha e em carne viva.

— Como você está se sentindo? — Ela perguntou como ela aplicou uma pomada na pele.

— Bem. — Ele deu a ela outro sorriso fácil. — Está apenas curando. Isso é tudo.

Ela tornou a enfaixar sua barriga e puxou a campainha para que uma bandeja fosse entregue. Ela olhou para ele, estudando seu rosto para ver se ele fazia uma careta ou dava alguma indicação de que estava com dor. Mas seu sorriso ainda estava lá, seu olhar dolorosamente suave e decididamente doce.

Ele parecia, para todo o mundo, estar se curando.

Mason se sentia péssimo. Mas ele tinha estado numa situação pior e poderia fingir pelo menos para o casamento.

E a consumação.

Ele precisava estar com Clarissa uma vez. Apenas no caso de...

Ele tinha visto homens com feridas menores sucumbirem à infecção. Do jeito que estava, ele era jovem e forte e provavelmente viveria, mas ainda assim... Ele queria tocá-la, senti-la e não podia correr o risco de perder essa chance. De alguma forma, durante todo o tempo entre sua última lesão e isso, os anos pareciam um tempo emprestado. E que ele estava se preparando muito para este momento.

O momento em que garantiria que Clarissa viveria uma vida longa e saudável, cheia de riquezas de todo tipo.

Ele supôs que não importava se ele vivesse ou morresse.

Clarissa era tudo o que importava.

Ele respirou fundo, estremecendo. Quando considerou que ela viveria a vida sem ele, com outro homem ao seu lado, ele vacilou. Mas ele pegaria o que pudesse. E ele era grato pelo tempo que passou com ela.

Clarissa saiu para se vestir e se preparar para o casamento enquanto ele descansava. O que significava principalmente pensar. Ele fez uma careta. Desejou que ela voltasse. Não queria perder um segundo longe dela.

Alguém bateu na porta e ele abriu os olhos, esperando que ela voltasse.

Mas foi Logan quem abriu a porta.

— Posso entrar?

Ele caiu de volta nos travesseiros.

— É claro.

— Achei que você gostaria de alguma ajuda para se vestir.

— Vestir? — Ele perguntou, estremecendo enquanto tentava se levantar novamente. Por que não pensou nisso? Seus pensamentos estavam confusos. Ele limpou a testa tentando limpar sua mente.

— Você não pode se casar sem uma camisa, — Logan riu enquanto levantava a mão. — Eu trouxe uma das minhas para você. A sua está... em frangalhos.

Isso fez Mason rir, um pequeno sorriso dobrando os cantos de sua boca enquanto ele tentava balançar as pernas sobre a cama.

— Deixe-me ajudá-lo, — Logan disse, se lançando em direção a ele para agarrar seu cotovelo. — Tem certeza de que está pronto para isso?

— Tenho certeza, — respondeu. Como iria explicar que estava disposto a gastar até a última gota de sua energia para ter este momento? Ele não iria. Foi por isso que ele pegou a mão de Logan puxou-se para fora da cama e ficou de pé.

Logan passou a camisa em seus braços e Mason encolheu os ombros para vesti-la. O criado de Logan entrou no quarto e os ombros de Mason caíram de alívio. Ele poderia usar a ajuda do homem.

Em um quarto de hora, eles o prepararam e ele caminhou pelo corredor, mantendo os ombros retos. Ele não queria dar alguém uma desculpa para cancelar este evento.

Ao entrar na biblioteca, um vigário parou junto às grandes janelas que davam para o jardim. Ao lado dele, estava seu irmão, Bash. Mason olhou para Logan e acenou com a cabeça em um agradecimento silencioso.

As crianças e Penny já estavam lá, as meninas mais uma vez com seus vestidos vermelhos, balançando nos calcanhares.

Elas o fizeram sorrir. Gostaria de vê-las crescer. Mas então, ele balançou a cabeça. Melhor guardar esses pensamentos para depois.

Um farfalhar suave veio da porta e ele se virou para ver Clarissa entrar.

Sua respiração ficou presa. Ela usava um vestido de seda azul claro que realçava a cremosidade de sua pele e o azul suave de seus olhos. O vestido abraçava suas curvas, e mesmo com o cabelo caindo da touca em cascata sobre um ombro, ela costumava puxá-lo para trás de seu rosto.

Ela parecia mais com o anjo que ele a imaginava ser do que antes, e ele mal conseguia respirar enquanto a olhava.

— Clarissa. — Sua voz saiu áspera e rouca de emoção.

Ela cruzou a sala, alcançando seu lado enquanto estendia a mão para deslizar seus dedos enluvados nos dele.

— Você está aguentando bem?

— Nunca estive melhor, — ele respondeu, puxando-a para mais perto.

Ele quis dizer isso de todo o coração. Com ela aqui, ele esqueceu a dor. Suas entranhas zumbiram de contentamento ao vê-la. Também havia uma dor, mas era uma necessidade. Um desejo de tocá-la, atraí-la para perto e mantê-la ali.

Seu sorriso era gentil enquanto seus dedos apertavam os dele.

— Estou tão feliz em ouvir isso.

— Você está pronta para se casar? — Ele roçou sua bochecha com a outra mão.

— Muito incomum, — o vigário murmurou, se agitando.

Clarissa apertou os lábios, mas seus olhos dançavam com alegria.

— É, não é? — Então ela afrouxou os dedos, deslizando-os pelo braço até que descansaram na dobra de seu cotovelo.

— Eu acho que está certo.

Ele a conduziu até o vigário e a cerimônia começou.

As palavras filtradas por ele, passando por sua mente. Mas enquanto olhava para a mulher com quem estava se casando, a visão dela permaneceria com ele até o dia de sua morte.

Ela era um anjo.

Ela o salvou uma vez e ele seria um tolo se não visse que seu dom da vida com certeza acabaria mais cedo ou mais tarde.

Seu pai não tinha sempre lhe dito que seria assim? Ele balançou sua cabeça. Não pensaria nele agora. Este momento seria para todos os pensamentos felizes.

— Você aceita esta mulher como sua legítima esposa? — As palavras do vigário quase o fizeram estremecer, estava tão perdido em seus pensamentos e na visão diante de si.

— Aceito.

Ela era seu anjo agora. Lentamente ele se inclinou, em parte por causa da dor em seu lado e em parte porque queria saborear o momento e beijá-la.

Clarissa era sua esposa.

 

 

Capítulo 11


Clarissa olhou para o homem com quem acabara de se casar, seu estômago se contorcendo de admiração e um toque de medo.

Tudo aconteceu tão rápido.

Antes que pudesse pensar em uma ação, esta estava sendo executada. Como este casamento.

Ela estava emocionada, mas também... com medo. Esta era a escolha certa? Casar-se? Deveriam ter esperado até que ele se recuperasse? Seus pensamentos eram uma bagunça confusa enquanto se juntavam aos convidados na sala de café da manhã.

— Devo insistir para levá-lo de volta ao seu quarto — disse ela a Mason enquanto ele se sentava cautelosamente em uma cadeira.

— Apenas alguns minutos. — Ele pegou a mão dela, levando as costas dela aos lábios. — Eu só quero valorizar este momento. Só temos um casamento.

Ela estreitou o olhar, tentando descobrir o que a estava incomodando sobre o comportamento dele.

Mas seu irmão se aproximou.

— Bem-vinda à família, — disse ele, então o duque a envolveu em um grande abraço.

— Devo confessar, você não é o que eu esperava de um duque.

O homem piscou.

— Eu sei. Esse é o plano completo.

Ela olhou de volta para Mason, que deu uma espécie de sorriso tranquilo e triste.

— Ele se orgulha de ser o oposto de nosso pai.

— Seu pai? — Ela perguntou, movendo-se em direção ao duque. — Achei que talvez Mason tivesse levado a pior, sendo o... — ela deixou suas palavras morrerem.

— Oh, ele me desejava morto, regularmente. Então, suponho que Bash sabia que ele era pelo menos querido vivo. — Mason fez uma careta enquanto se levantava da cadeira outra vez.

Bash se inclinou e estendeu o braço para o irmão, ajudando-o no resto do caminho.

— Sim. Ele queria que seu precioso herdeiro vivesse, mas eu nunca vivi de acordo com seus padrões.

Clarissa estremeceu. Ela sabia algo sobre isso.

— Pais, — ela suspirou enquanto balançava a cabeça. — Você conhece alguém que tenha um bom?

Todos eles riram.

— Deve haver algum.

Penny caminhou para se juntar a eles.

— Meu pai era o melhor tipo de homem.

— Não admira que você esteja tão feliz o tempo todo.

Penny deu a ela um olhar zombeteiro.

— Você tem sorte de ser seu casamento.

Clarissa balançou a cabeça.

— É. Mas isso não torna minhas palavras menos verdadeiras. Ela é sempre positiva.

— E você é sempre gentil, — respondeu Mason.

O calor inundou suas bochechas. Foi uma coisa linda de dizer. E, honestamente, o casamento foi perfeito. Pequeno, íntimo. A única falha... ela estava preocupada com Mason. Ele deveria estar na cama.

A mão dele roçou no braço dela.

— Acho que você está certa. Está na hora de voltar para o meu quarto.

Ela assentiu.

— O descanso é o melhor para a sua recuperação.

Ele não respondeu enquanto acenava um adeus e começava a puxá-la para a saída.

Bash os parou, sua mão indo para o ombro de Mason.

— Parabéns, irmão. Embora eu pretenda nunca me casar, espero que vocês façam um herdeiro que possa assumir um ducado e um condado.

Mason balançou a cabeça.

— Você sabe que não funciona assim. Você terá que fazer seu próprio herdeiro.

— Não vai acontecer, — Bash murmurou, mas Mason já a estava conduzindo para fora da sala mais uma vez.

Ela estava com a mesma sensação que teve na cerimônia. Como se ela não começasse mais a ficar confortável e então as coisas mudassem novamente.

— Mason — disse ela enquanto colocava o braço atrás dele, apoiando a mão em suas costas. — Estou feliz que você vai se deitar, mas estou preocupada. Parece que estamos apressando tudo. Você está se sentindo...

— Estou muito animado. — Ele abraçou seus ombros. — Eu sinto que estive esperando minha vida inteira para finalmente casar-me com você.

Isso derreteu um pouco seu interior e ela esqueceu suas preocupações enquanto abria a porta do quarto dele.

A cama fora arrumada com lençóis novos e o quarto foi limpo enquanto eles estavam fora.

Ele se sentou na cama e lentamente se empurrou para trás até se deitar, com as mãos apoiadas no estômago. Ela tirou as luvas, colocando-as na mesa lateral.

— Você ajudaria com minhas botas, querida?

Ela se virou para ele, agarrando o couro pelo calcanhar e pelo eixo, e deslizando-o pela perna e pelo pé. Então, fez o mesmo com o outro. Sem esperar para perguntar, ela começou a desamarrar sua gravata, em seguida, retirou sua camisa e puxou-o de volta para sentar-se, e depois deslizou a ambos na cama.

Ele gemeu baixinho.

— Eu amo a sensação de suas mãos. Elas sempre fizeram me sentir tão...

— O quê? — Ela perguntou, suas mãos parando em seus braços nus.

— Perfeito, — ele respondeu, trazendo uma de suas palmas aos lábios. — Nunca toquei dedos mais suaves e delicados do que estes. Eles fazem um homem sofrer de desejo.

Ela enrolou os dedos em seu cabelo na nuca.

— Você está exagerando.

— Não estou, — disse, enquanto a puxava para mais perto, apoiando a cabeça no peito dela. A sensação dele pressionado contra seu seio roubou seu fôlego. — Já te disse. Achei que fosse morrer naquela igreja. Eu tinha certeza que morreria, assim como meu pai desejava. Apenas suas mãos e sua voz me trouxeram de volta. E dediquei esse tempo extra que você me deu para proporcionar a melhor vida para você.

Ela olhou-o, alcançando seu rosto e inclinando-o em direção ao dela.

— Eu só tenho uma pergunta para você?

— Qual?

— Se você fez tudo isso por mim. O que você fez por si mesmo?

Mason abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.

Sim, ele se casou para benefício dela. Mas tinha sido por ele também. Um pequeno presente para si mesmo, para fazer sua vida valer a pena. A esperança de vê-la novamente o empurrou a prosperar e agora, tocando-a, ele se sentia verdadeiramente vivo.

— O que lhe ajuda, me ajuda.

— Seu pai fez você se sentir inútil. Você encontrou algo pelo qual viver, mas encontrou verdadeiro valor em si mesmo?

Ele rugiu sua contrariedade. Não tivera tempo para se preocupar com tais questões. Podia sentir sua força se esvaindo e ele precisaria do resto para tocá-la do jeito que desejava.

Por ele mesmo? Ele não deu a mínima para o que aconteceu com ele, somente com ela. Mas, planejava aproveitar este momento para uma coisa que ele queria.

— Clarissa, — ele sussurrou enquanto olhava profundamente naqueles olhos azuis claros. — Você seria uma querida e tiraria o seu vestido?

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Não.

Droga. Ele não queria ter que persuadi-la. Isto gastaria uma energia preciosa. Energia que provavelmente deveria usar para curar. Mas agora, ele só a queria.

— Você perguntou o que eu estava fazendo por mim. É isso que eu quero. Sua pele contra a minha.

Ela balançou a cabeça.

— Não. Isso pode ser depois de você melhorar.

Ele baixou a cabeça contra as almofadas macias de seu peito.

— Eu não quero esperar. E se eu não me recuperar e nunca pudermos consumar? Alguém pode contestar nosso casamento. Não podemos ter isso.

— Então é realmente para mim, — ela disse, levantando seu rosto novamente. — E algo está ficando claro. Você está preocupado em não viver.

Ele fez uma careta. Ela estava certa, é claro. Mas ele não estava lhe dizendo. Ele tinha visto homens morrerem de feridas bem menores. Claro, alguns sobreviviam a outras maiores. Mas ele já tinha tido sua vez nisso.

— O médico disse que tenho uma boa chance de me recuperar totalmente. Mas precisamos ter tudo no lugar, apenas no caso.

— Ou, precisamos cuidar melhor de você para aumentar suas chances.

Como resposta, ele deslizou a mão por seu vestido e segurou seu seio em sua mão, massageando a carne enquanto seu mamilo se ergueu em sua mão.

— Farei um acordo com você. Vou deixar você fazer todo o trabalho.

— Mason — ela sussurrou, enquanto ele dava um leve toque na carne enrijecida. — Você está muito doente.

— Eu juro, — ele sussurrou, trabalhando a carne até que ela derreteu em seus braços. — Isso é o que mais quero no mundo.

— Mais do que tudo?

Ele esqueceu que não se sentia assim quando ela se arqueou contra ele, a cabeça caindo para trás. Ele estendeu a mão para o outro seio dando-lhe o mesmo tratamento quando começou a desabotoar os botões ao longo das costas do vestido.

— Mais do que tudo.

Ela se afastou então e, por um momento, ele pensou que ela faria outra coisa contra a proximidade dele, e ele não sabia se teria forças para convencê-la novamente. Mas Clarissa puxou cada manga e do corpete e o vestido caiu em sua cintura. Com notável eficiência, ela se despojou tudo ficando com nada além de sua camisa.

Ele tinha certeza de que seus olhos queimavam como fogo quando ela deu um passo em direção a ele. Isso era o que ele queria.

E quando ela se pressionou contra seu peito, sem espartilho ou vestido para estragar suas formas, ele gemeu enquanto traçava cada curva com as mãos.

— Meu Deus, Clarissa. Você é tão bonita.

— Eu não posso acreditar que você pensa isso, — ela ofegou quando as mãos dele roçaram seu seio novamente. — Passei anos sonhando com você e...

Ele parou de mover suas mãos, e levantou a cabeça.

— Você o quê?

A cor encheu suas bochechas.

— Sonhava acordada com você. Que você me encontraria. Que nos casaríamos. Nunca esperei que você fosse um conde, é claro. Mas em meus sonhos, você me diria que estava procurando por mim. Que você amava...

Ela tinha pensado nele todo esse tempo também? Não foi só ele?

— Eu amo você, Clarissa. Eu te amo com todo o meu coração.

Sua boca desceu sobre a dele, o beijo queimando em intensidade enquanto suas línguas se misturavam até que ela finalmente levantou a cabeça novamente.

— Eu também te amo. — Ela o beijou novamente. — Tenho amado por muito tempo.

Ele sabia o quão significativo isso era. Saber que ela o amava tornava ainda mais fácil pensar em sua vida como completa. Ele fez todas as coisas que precisava para provar que seu pai estava errado e fazer esses últimos anos valerem a pena.

Ele puxou a calça, querendo fazer mais do que apenas dizer a ela como se sentia. Ele queria torná-la sua.

Não era justo. Se ele tivesse sua força, teria feito amor com ela lentamente, beijando cada centímetro dela, fazendo-a gozar várias vezes antes que ele finalmente a tomasse. Mas como ele tentou avisá-la, isso era egoísmo da parte dele.

Quando ele colocou as calças em volta das coxas, ele se deitou, puxando-a para cima dele. Ele conseguiu apenas estremecer um pouco quando o peso dela desceu sobre ele, e então estava puxando sua camisa e deslizando os joelhos dela de cada lado de seus quadris.

Seu pau empurrou em suas dobras suaves e ele gemeu ao já encontrá-la molhada e pronta.

— Mason, — ela ofegou em seu ouvido. — Me diga o que fazer.

Mas ele já estava deslizando em suas dobras lisas. Tensa como ela estava, ele sentiu o momento em que empurrou contra sua virgindade.

— Eu só preciso empurrar esta parte, — ele rangeu enquanto empurrava dentro dela.

Ela enrijeceu, mas não fez nenhum som.

— Você está bem? — Ele perguntou, beijando sua testa. Mas por dentro, ele brilhava de satisfação. Estar dentro desta mulher... Ele acariciou suas costas. Este era o lugar onde ele pertencia.

— Sim. — Ela roçou sua têmpora com um beijo. — Você está?

Sempre a cuidadora.

— Eu estou me sentindo maravilhosamente. — E então, ele deslizou para fora e de volta para dentro. Seu corpo se contraiu, a necessidade já o oprimia. — Clarissa, — ele murmurou, a mão dele em seu traseiro. — Eu quero que você seja feliz.

— Eu serei, — ela respondeu, beijando sua boca. — Eu entendi você.

Ele não respondeu enquanto se movia dentro dela novamente. Ele acelerou o ritmo, sabendo que só tinha muita energia para dar, mas ela se encontrou no movimento dele e logo estavam se movendo juntos.

Ele a sentiu apertar em torno dele, sua respiração chegando em suspiros curtos e rápidos e ele gemeu, seu próprio gozo fazendo todos os músculos de seu corpo ficarem tensos.

E então, quando ele não tinha certeza se poderia aguentar mais um momento, ela se afastou um pouco de seus braços, gritando a sua liberação.

Ele gozou também, sua semente enchendo-a mesmo enquanto ele desabava contra a cama. Eles tiveram hoje e isso tinha que ser o suficiente.

 

 

Capítulo 12


Clarissa acordou quando o sol começou a se pôr. Há quanto tempo ela dormia?

Depois de ficar acordada a maior parte da noite, ela caiu em um sono profundo. Seu corpo estava confortável encostado em Mason, e ela piscou ao perceber que estava nua e quente. Muito quente.

Os olhos dela se alargaram quando se sentou e olhou para seu marido adormecido.

Sua pele estava pálida e úmida.

O medo desceu por sua coluna quando ergueu a mão para tocar sua testa. Ele estava muito quente.

— Mason? — Ela chamou, passando um braço sobre ele. Ela o estava aquecendo ou tentando controlar seu próprio tremor que havia começado profundamente em seu núcleo e estava se espalhando por seu corpo? — Mason. Você pode me ouvir?

Ele gemeu baixinho, sua cabeça deslizando de um lado para o outro no travesseiro.

Ela deixou escapar um soluço suave. Ela cometeu um erro terrível. Nunca deveria ter aceitado o casamento e certamente não se permitir o que aconteceu depois.

Mas ela queria que ele fosse feliz.

Ela o amava.

E ele desejou estar com ela.

Seus pensamentos anteriores voltaram. Sua atitude quase fatalista. Como se ele esperasse que fosse o fim.

Ele estava planejando deixá-la? Ou ele apenas sabia que a infecção estava chegando?

Ela estremeceu. Deveria ter visto essa febre chegando. E deveria ter feito mais para protegê-lo.

Era por isso que ela não queria se casar. Nunca conseguia acertar.

Ela sufocou um grito ao se levantar da cama e colocar Mason bem apertado debaixo das cobertas. Então, se vestiu apressadamente e acendeu o fogo. Trabalhando rapidamente, ela pegou água fresca e lentamente pingou um pouco em sua boca.

Suavemente, ela passou uma esponja em seu rosto, livrando sua pele de sua aparência úmida.

Ela queria verificar seu ferimento, mas esperaria até que o quarto estivesse mais quente.

Mas a espera a deixou frenética por dentro e então ela se sentou à penteadeira, batendo no dedo do pé enquanto o olhava. Sua mente trabalhou em tudo que ele lhe disse. Sobre seu pai desejando sua morte. Sobre sua própria tentativa de jogar sua vida fora no campo de batalha.

Sua escolha de dedicar sua vida a ela.

Era quase como se ele estivesse jogando sua vida fora agora que havia alcançado o único objetivo que se propôs a cumprir.

Embora ele tenha dito que havia superado as palavras de seu pai, Clarissa se perguntou se Mason realmente valorizava sua própria vida.

Ela se endireitou. Ele iria começar a cuidar de si mesmo, e não apenas dela.

Porque ela nunca se perdoaria se ele morresse.

Ela cerrou os punhos. Se ele não vivesse para si mesmo, viveria para ela. Ela se levantou novamente. Era hora de curar seu marido.

Trabalhando durante a noite, ela o manteve aquecido, seco e hidratado o melhor que podia.

A certa altura, ele acordou parcialmente e ela o fez tomar um chá com raiz de gengibre para ajudar a baixar a febre.

Ela ouviu o relógio bater uma vez na madrugada quando subiu na cama ao lado dele e pressionou seu corpo no dele.

Ele ainda estava quente, mas quando ela tocou sua testa, a esperança floresceu em seu peito. Ele estava mais fresco do que hoje a tarde, e a tarde era a hora do dia em que a febre ficava pior.

Havia esperança.

Com isso em mente, ela se aproximou, envolvendo o braço em volta do peito dele. Se houvesse um problema, ela o sentiria.

Com isso em mente, ela fechou os olhos. E então, adormeceu.

Mason acordou com a luz da manhã, que ainda queimava seus olhos. Isso disse a ele várias coisas.

Primeiro, ainda estava vivo.

Um pequeno sorriso se espalhou em seus lábios. Ele frustrou a morte mais uma vez.

Seu pai ficaria muito desapontado. Mas ao movimentar-se sentiu a forma sólida e calorosa de sua esposa pressionada ao seu lado.

A esposa dele.

Ao seu movimento, os olhos dela se abriram.

— Mason?

— Sim, — ele resmungou. Tudo doeu.

Ela levou a mão à testa dele, os dedos pressionando sua pele. Eles eram quentes e dolorosamente macios.

— Graças a Deus, você está bem e fresco. — A respiração dela soprou em sua bochecha, ventilando sua pele com ar quente.

— Verdade seja dita, estou bem e aconchegado com você ao meu lado.

Ela franziu a testa, suas sobrancelhas se juntando.

— Há quanto tempo você está sem febre?

— Não sei. Acabei de acordar sentindo menos frio e dores.

Sua carranca se aprofundou.

— Precisamos discutir algumas coisas.

— Que coisas? — Mas ela já estava se levantando da cama, e ele fez uma careta quando o calor dela o deixou. Ela cruzou o quarto e puxou a corda da campainha.

— Coisas como você estando preparado para desistir, — disse, dando um puxão bem forte. — Como você se preparando para morrer.

Ele encolheu os ombros.

— Eu efetivamente não queria morrer. Mas já estive perto antes e isso muda uma pessoa. Você tem que estar preparado para a possibilidade.

— Você mentiu para mim sobre como estava se sentindo bem. — Seus braços cruzados sobre o peito.

Ele estremeceu.

— Desculpe por isso, amor. Havia apenas algumas coisas que eu queria realizar apenas no caso de...

— Mas essas coisas colocaram sua vida em perigo. — Ela foi até ele novamente, mesmo enquanto sua voz ficava mais alta. — Já lhe ocorreu que perder você seria devastador? Estou apaixonada por você...

Ele estremeceu ao olhar para a expressão magoada dela. Droga. Deveria ter pensado nisso.

— Eu não queria te machucar, querida. Apenas presumi...

— O que você presumiu? — Ela perguntou, sua voz baixando novamente.

Ele fechou os olhos.

— Que eu já estava com tempo emprestado. Que esse era o fim.

— Você sabe como você me disse que meu pai estava errado? — Seu peso afundou no colchão ao lado dele e ela agarrou sua mão, deslizando os dedos contra sua palma.

— Sim, — ele respondeu, levando as costas da mão dela aos lábios.

— Que ele era egoísta, e eu não arruinei sua vida, ele arruinou a própria com suas más decisões.

— Isso mesmo.

Ela respirou fundo, então se inclinou e esfregou sua bochecha contra a dele. Ela sussurrou perto de seus ouvidos.

— Você nunca foi feito para morrer. Seu pai o pressionou a correr riscos na primeira vez e quase conseguiu arruinar sua vida. Mas isso é porque ele estava pensando apenas em seus próprios erros. Não têm nada a ver com você. Você merece uma vida plena e feliz.

Ele engoliu um caroço. Ela atingiu aquela nota profundamente dentro dele que raramente reconhecia.

— Tirei a vida da minha mãe com a minha. Não fiz nada por este mundo.

— Não é verdade, — ela respirou, seu peito pressionando contra o dele. — Juntos vamos fazer a diferença. Vamos abrir orfanatos ao lado de Penny e Logan. Começaremos a nossa família. Crianças que continuarão a fazer o bem neste mundo. Você fará muito mais do que ele jamais fez. — Então, ela se sentou. — Nós dois iremos.

Sua garganta ficou entupida de emoção.

— E se eu não fizer? E se o legado daquele bastardo egoísta estiver dentro de mim? Você me ouviu ontem. Eu...

— Pare, — disse ela, pressionando a mão em sua bochecha. — Você estava tentando ter os seus últimos prazeres, o que eu entendo. Só não quero que você pense assim. Pense como se sua vida fosse o presente mais precioso do mundo. Porque é assim para mim.

Ele abriu a boca para falar, para discutir, mas então pensou no que diria a ela se a conversa fosse ao contrário e ele fechou a boca novamente.

— Vamos ter que ensinar um ao outro como nos valorizarmos.

Ela sorriu para ele.

— É uma excelente maneira de pensar sobre isso.

Ele balançou sua cabeça.

— Não vou me arrepender de ontem. Foi o melhor dia da minha vida.

— Oh, Mason. Você é insuportável. Você quase morreu prematuramente.

— Mas pelo menos desta vez foi por amor em vez de preocupação e arrependimento.

Ela riu, então.

— Nunca mais. Você me ouviu?

— Vou tentar. — Ele pressionou sua testa na dela. — Você vai me ajudar quando eu precisar, não vai?

— Eu irei. Sempre.

 

 

Capítulo 13


Mason estava sentado em uma cadeira ao lado do fogo, observando sua esposa ler.

Tinha sido uma semana de felicidade conjugal. Ele nunca esteve mais feliz.

Estava se recuperando bem, embora precisasse dormir muito. Felizmente, Clarissa era excelente em lhe fazer companhia durante seus cochilos e à noite, e nas primeiras horas da manhã. Ele sorriu.

— O que você está olhando? — Clarissa deu a ele um olhar zombeteiro de aborrecimento.

Ele deu uma risadinha.

— Minha linda esposa, é claro.

Ela suspirou, largando o romance.

— Ainda parece um sonho.

Ele pegou a mão dela.

— Você sente falta da Natty e das outras garotas agora que você está aqui comigo?

Ela assentiu.

— Sim. Sinto falta. Mas as vejo quase todos os dias e estou animada para começar minha própria jornada. Como condessa, não estarei trabalhando em um orfanato no dia a dia como planejei...

Ele estremeceu. Ele estava tão feliz com ela ao seu lado, mas ela desistiu de muito para que isso acontecesse.

— Você não está desapontada, está?

Ela balançou a cabeça.

— Claro que não. Eu me casei com o melhor negociador da Inglaterra, eu fui informada. E ele certamente começará a adquirir propriedades para mais orfanatos enquanto começo a contratar funcionários e fornecer bens para crianças necessitadas.

— Eu acho que posso fazer isso, — ele sorriu enquanto apertava a mão dela.

— Assim que você estiver recuperado.

Uma batida soou na porta quando o mordomo entrou.

— O Conde de Goldthwaite está aqui para vê-lo, meu lorde.

— Faça-o entrar, — Mason largou a mão de Clarissa, levantando-se.

Logan entrou, uma carranca marcando sua mandíbula.

Mason pulou as formalidades.

— O que está errado?

Logan deu um passo à frente.

— Quando o orfanato pegou fogo pela primeira vez, pus um espião no bairro. Eu pagaria generosamente por informações. — Ele esfregou as mãos nas coxas. — Uma mulher se apresentou. Diz que os homens que nos atacaram sempre entravam e saiam de um lugar na Fletcher Street.

Mason se endireitou quando Clarissa se aproximou dele.

— O que isso significa? É aí que meu chantagista...

Ele deslizou um braço sobre ela.

— Possivelmente.

Logan pigarreou.

— Há apenas uma maneira de descobrir.

Mason deu um aperto em Clarissa enquanto ela soltava um suspiro.

— Você não vai lá, vai? — Ela olhou-o, os olhos dela se encheram de medo.

Ele odiava preocupá-la, mas este era o seu trabalho.

— Eu vou ficar bem, amor.

— Mas você ainda está se recuperando. — Ela olhou para Logan. — Envie os detetives de Bow Street. Você não precisa ir.

Mason se afastou de sua esposa. Ele não queria preocupá-la, mas tinha uma suspeita sobre quem havia enviado aquelas cartas e queria confirmar ou negar esses temores.

— Nós vamos levá-los conosco com certeza. Quem fez isso deve ser preso e processado.

Ela estendeu a mão e tocou seu rosto.

— Acabamos de deixar meu passado para trás. Por que fazer isso agora?

Ele se inclinou e deu um beijo suave em seus lábios.

— Querida, prometi protegê-la sempre. Lembra?

Sua declaração foi recebida com silêncio.

— Logan vai me manter seguro.

— Eu vou, — Logan respondeu. — Mas ele está certo, Clarissa. Este homem está ameaçando você há meses. É hora de cuidarmos disso.

— Traga Bash também, — ela disse enquanto olhava para o chão.

— Tudo bem, — respondeu ele. Seu irmão era muito bom com uma pistola. — Estarei de volta antes que você perceba.

E então, ele afastou-se de sua esposa.

Uma hora depois, a carruagem parou a frente de um prédio encardido.

— Parece que é este o lugar, — disse Bash de seu assento ao lado de Mason.

— A mulher que se apresentou disse que eles estavam entrando e saindo do primeiro andar. A residência à esquerda.

— Isso é incrivelmente específico, — Bash respondeu, esticando o pescoço para olhar pela janela.

Logan afastou sua cortina também.

— Ela mora logo acima. Disse que viu o homem de colarinho de padre por lá em mais de uma ocasião.

O punho de Mason cerrou quando soltou um estrondo baixo.

— É ele. Padre Byron. Estou certo disso.

— Então, o que vem depois? — Bash perguntou. — Vamos entrar lá e esmurrar um padre?

— Vamos esperar pelos Detetives da Bow Street — respondeu Mason. Não porque não queria correr e plantar o punho diretamente no rosto de Byron, mas porque ele prometeu à Clarissa.

E ele sempre manteria suas promessas a ela.

— Seriamente? Você me arrastou do clube para ficar sentado na carruagem?

— Clarissa insistiu que ele te trouxesse para ter ajuda.

Bash riu.

— Isso é porque a minha cunhada é extremamente inteligente.

Mason não respondeu. Uma carruagem parou atrás deles e dois homens saíram. Os Detetives.

Tão silenciosamente quanto poderiam, eles saltaram da carruagem. Rapidamente, as apresentações foram feitas. Jensen era grande, com punhos como bigornas, enquanto Hastings era magro e tinha a aparência de um homem capaz de se livrar de qualquer arranhão.

Mason permitiu que os dois homens se movessem para a frente do grupo quando todos entraram em um corredor estreito.

— A primeira porta à esquerda, — Logan sussurrou.

Jensen deu uma batida rápida na porta.

— Quem é? — Uma voz chamou de dentro. Altivo e frio, Mason conhecia o som daquela voz em qualquer lugar. Byron.

— Sou eu, — Jensen respondeu.

— Quem? — Byron vociferou, e então a porta se abriu.

Estava acabado antes mesmo de começar. Em questão de segundos, Jensen e Hastings prenderam o padre no chão. Mason nem mesmo olhou para o homem quando entrou no buraco fedorento e imundo. Espalhados na mesa, vários pedaços de papel. Pegando um, sua mão fechou em punho. Ele estava tentando escrever outra carta para Clarissa. Este detalhando um local exato de entrega do dinheiro.

Mason soltou uma risada fria.

— Esta é toda a prova de que você precisa, cavalheiro.

— Prova? — Byron gritou. — Só estou pedindo o que é meu. Ela roubou de mim. Eu...

Mason soltou um grunhido de protesto.

— Nunca fale da condessa assim.

— Condessa? — Os olhos de Byron se arregalaram de seu lugar no chão. — Você se casou com ela?

— Casei-me. — Ele ficou de pé, apesar da dor em seu lado. — Eu lhe disse cinco anos atrás que você pagaria por seus crimes. Ele atirou em mim. Estava tentando extorquir dinheiro de minha esposa. Antes disso, abusou de crianças sob seus cuidados.

— Isso é o suficiente para mim, — disse Jensen. Ele puxou Byron do chão e começou a levá-lo para fora. — Você está vindo comigo.

Hastings olhou para Mason.

— O que ele quis dizer com a sua esposa está em dívida com ele?

A sala se acalmou quando Logan e Bash olharam para ele. Mas Mason deu um sorriso fácil.

— Eu o mandei para uma pequena ilha escocesa depois do que ele fez. Desde então, ele criou uma história maluca sobre o roubo dela. Esta mulher é a mesma que dirige um orfanato em Londres. Planos para abrir vários mais. Ele está tentando denegrir a imagem dela como vingança.

Hastings deu um aceno rápido.

— Tem a assediado desde que sua amiga se casou com o Conde de Goldthwaite?

— Isso é correto, — Logan respondeu. — Tentou queimar o orfanato com as crianças dentro.

— Escumalha. — Jensen cuspiu. — Provavelmente pensou que tinha encontrado sua galinha dos ovos de ouro.

Mason assentiu, o alívio fazendo seus ombros caírem. Tinha acabado. Clarissa estava segura agora e para sempre.

O resto de sua vida poderia começar.

 

 


Epílogo


Abril de 1822

Oito meses depois...


Mason estava sentado atrás de sua mesa na nova localização do Wicked Earls 'Club, um sorriso satisfeito enfeitando seus lábios enquanto avaliava sua última obra. O interior do novo local era quase idêntico ao anterior. Painéis de madeira escura revestiam todas as paredes, caros e brilhantes.

Seu escritório ficava perto do grande salão de baile que enfeitava o segundo andar. Escondido em um canto silencioso, permitia que ele observasse os acontecimentos de seus Condes Malvados sem ser visto.

Uma batida soou na porta e o Conde de Alnwick entrou, seu sorriso relampejante lembrando a Mason como muitos dos homens eram perversos. Isso estava bem. Eles não sabiam o que estava vindo em sua direção.

— Os condes estão todos aqui. — O homem disse. — Eles mal couberam, naquela sala grande.

Mason recostou-se na cadeira. Ele convidou todos os membros, antigos e novos, para ver o novo local. Os antigos membros eram essenciais para seu plano.

— Excelente. Estarei lá fora em um momento.

Alnwick fez uma pausa.

— Não tinha certeza sobre mudar o clube. Nós operamos no local antigo por um longo tempo.

Mason concordou.

— Era a minha dúvida também. Mas este lugar...

— É perfeito. — Alnwick olhou ao redor, sorrindo com aprovação. — Eu concordo.

Mason sorriu de volta. Ele realmente não disse as palavras em voz alta, mas eles estavam de acordo.

— Sim, é. Escondido apenas o suficiente para nos manter anônimos e, ao mesmo tempo, nos manter e nossos convidados... seguros.

Alnwick sacudiu o queixo e se virou para sair. Pouco antes, ele se voltou.

— Gosto que você tenha convidado os membros antigos, mesmo que eles tenham desistido do nosso modo de vida.

Mason deu uma risadinha.

— Somos todos condes. Cada um de vocês vai se casar eventualmente.

Alnwick ergueu uma sobrancelha.

— Não se eu puder evitar, não irei.

O sorriso de Mason se alargou. Talvez um dos velhos condes poderia pensar em uma noiva em potencial para Alnwick. O homem precisava desesperadamente de uma reforma.

Mas esse projeto poderia esperar.

Ele conhecia um homem que precisava ainda mais de sua ajuda.

Seu irmão.

O Duque da Decadência.

Ele e Clarissa ficaram acordados até tarde na noite passada discutindo esse mesmo assunto.

Seu irmão cuidou de todo o mundo para ser um despreocupado duque, mas eles sabiam melhor.

A porta se fechou quando Alnwick saiu e Mason se levantou da cadeira. Iria cumprimentar os convidados. Apresentá-los ao novo clube. Então, iria embora em uma hora respeitável com o resto dos ex-Condes Malvados para voltar para casa para sua esposa.

Clarissa.

Até mesmo pensar nela agora o fazia doer com a necessidade de abraçá-la.

Ele passava todas as horas das noites a segurando em seus braços, sua mão cobrindo sua barriga crescente.

Uma criança.

Uma que ele amaria com cada fibra de seu ser. Essa criança cresceria sabendo que era amada todos os dias.

Ele empurrou a porta, ansioso para cumprimentar os condes e depois voltar para casa.

De volta ao seu coração.

Ele mal conseguiu passar uma hora na companhia daqueles homens antes de escorregar para fora e para dentro de sua carruagem. As ruas escuras de Londres o cercaram como um cobertor enquanto ele voltava para casa.

Ele encontrou Clarissa onde sempre a encontrava. Em sua sala de estar favorita, um fogo rugindo na lareira.

Ela sorriu ao vê-lo.

— Você não chegou muito tarde.

Ele balançou sua cabeça.

— Temos um orfanato para abrir amanhã. Preciso descansar.

Ela se levantou e colocou os braços em volta do pescoço dele.

— Natty está feliz por você permitir que ela corte a fita.

Ele a abraçou, beijando os lábios de sua esposa.

— Você está triste por não estar morando com os órfãos?

— Não, — ela lhe deu um pequeno empurrão. — Eu já te disse. O que estamos fazendo, começando lares para crianças, é tão importante quanto.

— Eu concordo, — ele murmurou, segurando-a ainda mais perto. — E você estava certa. Vamos provar a nossos pais que estavam errados.

Ela sorriu para ele segurando sua bochecha.

— Nós já provamos.

— Sim, sim. — Ele a beijou enquanto a balançava em seus braços.

Os planos para seu irmão teriam que esperar.

Esta noite era sobre ele e sua linda esposa.

E o amor deles.

O que certamente o alimentaria por uma vida longa e cheia.

 

 

                                                   Tammy Andresen         

 

 

 

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