Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


EARL OF GOLD / Tammy Andresen
EARL OF GOLD / Tammy Andresen

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

Por que ele precisaria de amor se tinha ouro?
O Conde de Goldthwaite passara toda a sua vida adulta acumulando riquezas. O objetivo de sua vida era nunca acabar como seu pai, sem um tostão e apodrecendo na prisão como um devedor. Ele não tem tempo para noções tolas como amor ou romance. Quando finalmente se casar, encontrará uma boa herdeira para aumentar suas posses. Mas quando a senhorita Penny Walters entra valsando em sua vida, sabe que ela é totalmente errada para ele. Tão pobre quanto seu nome indica, ela não é nada que ele desejasse. Apenas outra mulher tentando separá-lo de seu ouro. Então, por que ele não pode desviar o olhar?
Quem precisava de ouro quando seu coração era rico de amor?
A vida de Penny era encantada, pelo menos sempre acreditou nisso até os doze anos. Embora seus pais tivessem poucos bens, tinham o suficiente para se sentirem confortáveis, e sua casa era rica em afeto. Após a morte deles, ela está determinada a viver o resto de sua vida da maneira que eles a ensinaram: com todo o seu coração. Sua primeira tarefa foi abrir um orfanato em um bairro pobre de Londres. Um que daria vida a comunidade. O problema? Ela precisava de um empréstimo para realizar seu sonho. E o único homem que ela poderia pedir tal quantia era...
O miserável Conde de Ouro.
Isso a enchia de um pavor doentio, mas que escolha ela tinha? O que nunca esperara era se sentir atraída por tal homem. Ele não era nada do que ela sempre quis e tudo o que ela desejou enfrentar. Mas quanto mais ela o conhece, mais se pergunta: há um coração mole sob aquele verniz duro e brilhando de ouro?

 

 

 

 

Prólogo

O conde de ouro, isso é como a elite da sociedade chamava Logan, o conde de Goldthwaite.

O apelido era um insulto, ele presumiu, pela forma como as damas curvavam os lábios superiores atrás dos leques ou os cavalheiros zombavam de seus copos de porto.

O que deixava Logan totalmente perplexo. Primeiro porque eram todos ricos. Claro, ele era mais rico do que a maioria, entendia isso. Mas um homem deveria pensar que isso significaria que a elite o respeitaria em vez de desdenhar de sua riqueza.

Afinal, embora todos tivessem herdado dos respectivos bisavôs, ele, por outro lado, pegou um título quebrado e o forjou em ouro, erguendo-se de volta das cinzas.

Talvez fosse isso que eles não gostassem, o quão duro ele trabalhava enquanto eles jogavam croquet vagarosamente ou qualquer outra atividade ridícula com que ocupavam seu tempo. E presumiam que eram melhores por isso.

Desde que era um menino, todos presumiam que eram melhores. Na escola, tinha visto todos os dias o quanto ele era menos pelas dívidas de seu pai.

Ou talvez eles o tenham considerado muito duro com a crosta externa brilhante que ele construiu em torno de si mesmo. Mas a sociedade ajudou a formar essa espessa camada externa. Não foi?

Ele virou a cabeça para o lado, estalando o pescoço, o barulho ecoando na sala vazia.

O Duque de Darlington, que vinha tagarelando com uma lista interminável de cifras, ergueu uma sobrancelha.

— Pensei que você, de todos os homens, gostaria de uma contabilidade completa do potencial vendas.

Logan deu uma única gargalhada, enquanto olhava ao redor do interior escuro da Toca do Pecado. Era assim que os antigos donos chamavam este lugar. Ele ainda não tinha decidido como nomear se a venda fosse concretizada.

— Sim, sim. — O lugar cheirava a bebida rançosa, odor corporal e... potencial.

Situado em um canto decadente do East End, perto de Docklands, o lugar ganhava mais dinheiro do que qualquer outro investimento que ele empreendeu, e seus dedos coçaram para assinar o contrato que tornaria seu este antro de jogo.

Logan deu um sorriso frio, passando a mão pelo cabelo loiro curto. Talvez fosse por isso que não gostassem dele. Ele usaria qualquer método para ganhar dinheiro. Não dava a mínima para o que era respeitável. Na verdade, não se importava com a maioria das regras. Elas foram feitas para prejudicar quase todo mundo.

E ele não estava sozinho.

Darlington era conhecido dentro dessas paredes como Daring. Um duque e vários de seus amigos que transformaram este lugar em um tesouro de moedas. Não era de bom gosto para lordes possuir tal lugar, mas Daring tinha feito isso de qualquer maneira.

— Então, por que você parece estar completamente perdido e não ouviu uma palavra que eu disse nos últimos cinco minutos? — O duque chutou a cadeira de uma mesa próxima e se sentou.

Logan se juntou a ele, agarrando uma cadeira e esticando suas longas pernas para frente enquanto cruzava os braços sobre o peito. Sua postura casual desmentia a tensão. Ele ganharia dinheiro suficiente para provar a todos que era o melhor. Eles não curvariam mais os lábios ao ouvir seu maculado nome.

No fundo, ele sabia o porquê o julgaram. Ele tinha sido arruinado uma vez, ficando abaixo deles. Apesar do título, todos sabiam do escândalo que contaminou sua família. A desgraça de seu pai. E nenhuma quantidade de ouro parecia suficiente para elevar seu status mais uma vez.

Ainda assim, coletaria moedas suficientes para comprar e vender toda Londres, apenas para saber que ele poderia. Para esnobá-los.

— Eu não entendo por que você teve cinco parceiros. Este lugar poderia tornar um homem rico além de seus sonhos.

Daring respirou fundo, avaliando cuidadosamente o homem à sua frente. Seus olhos escuros brilharam com interesse e estudaram o rosto de Logan.

Logan sentiu sua mandíbula apertar, seus dedos flexionando sob seus bíceps, onde estavam escondidos.

Se o duque escolheu outro comprador...

— Você já tem vários empreendimentos comerciais. Este clube é um trabalho de tempo integral em si.

Logan fez uma careta, reconhecendo a verdade nas palavras. Ele não gostava, mas as entendia, no entanto.

— Esse é um ponto válido.

Daring se inclinou para frente.

— E me perdoe se eu estiver exagerando, mas sua reputação carece de uma certa...

— Respeitabilidade? — Logan perguntou, endireitando-se na cadeira. Esta reunião parecia estar acontecendo mais longa do que o normal a cada minuto que passa.

— De fato, — Daring riu. — O que não importa para mim.

Logan soltou um longo suspiro, seus ombros arqueando. Bom. Ele nunca ganhou um concurso de popularidade e provavelmente não começaria agora.

— Mas, — Daring levantou um dedo, — Um antro de jogo não vai te ajudar a se mover na direção certa. Não vai ganhar nenhuma respeitabilidade se for isso que você está procurando.

Logan deu um grunhido baixo em resposta. A opinião da alta sociedade sobre ele era muito menos importante do que a sua própria busca de riqueza, mas supôs que a aceitação pela maioria da elite iria banir o fantasma do seu passado para sempre. E ele só poderia ganhar mais bases financeiras com respeitabilidade.

— É um objetivo menor, com certeza. Mas me esclareça, de qualquer maneira. Como os parceiros ajudam com isso?

— Além de custear o trabalho, ajudam a proteger sua identidade. Alguém pode lhe reconhecer. Usávamos máscaras, mas, ocasionalmente, um olho perspicaz reconhecia um de nós de qualquer maneira. No entanto, no momento em que seu sabotador tentar se gabar para seus amigos de que conhece o dono da Toca do Pecado, outro dirá que viu lorde fulano de tal ou tal e tal. Os dois vão discutir e no final, quase todo mundo vai acreditar que nenhum dos dois tem a menor ideia. Dessa forma, nenhum boato ganha força.

— Mas não é um boato, — Logan respondeu. Ele estava sendo petulante porque não queria parceiros, mesmo que todos os pontos de Daring fizessem muito sentido. — E não tenho certeza se me importo com quem em Londres saiba que sou o dono deste clube. — Ele estalou o pescoço novamente. — E quem é fulano e tal?

Daring riu baixo.

— Meus sócios continuarão sendo da minha conta. Mas os seus... — Ele tirou um charuto longo e fino do bolso e demorou a acendê-lo com uma vela próxima. — Também são da minha conta.

Logan rugiu no fundo de sua garganta. Maldito seja o homem. Ele não iria assinar hoje, afinal. Sabia que Daring estava protelando agora.

— Se não me importo com quem saiba que sou o proprietário, então por que eu precisaria de parceiros em tudo?

Daring passou outro charuto para Logan sem dizer uma palavra. Então ele deu uma longa tragada, segurando-o nos pulmões antes de soltar um suspiro.

— A camaradagem faz parte do que torna este lugar um sucesso. Os homens sentem isso quando entram pela porta. Não é apenas mais um lugar onde os bêbados vêm gastar seu dinheiro. É um lugar onde os homens podem se relacionar. Essas paredes são infundidas com fraternidade. Em outras palavras, você nem chegará perto de nossos lucros sem parceiros.

Merda. Isso é o que Logan queria dizer. Mas, respirou fundo e esfriou seu temperamento quente.

— Quantos? Parceiros, ou seja, para que possamos fechar o negócio.

Uma névoa de fumaça enchia o ar ao redor da cabeça de Daring.

— Três pelo menos.

A mão de Logan bateu em sua coxa. Muitos.

— Essa é a sua única condição? Que eu encontre parceiros? — Como se encontrar três homens para trabalhar com ele não fosse ser difícil o suficiente. Ele tinha a reputação de não ser gentil com os outros.

O duque ficou em silêncio por tanto tempo que a pele de Logan começou a coçar novamente. Por força de vontade, ele evitou se mexer na cadeira. Finalmente, o duque murmurou.

— Há um outro...

Dane-se tudo para o maldito inferno. Seu músculo em sua bochecha se contraiu.

— O que é?

Como resposta, o duque enfiou a mão no bolso novamente. Ele puxou um pedaço de pergaminho e o entregou a Logan.

Desdobrando a carta, Logan examinou rapidamente o conteúdo, suas sobrancelhas se juntando. Algum bom samaritano desejava ajuda em um projeto de caridade.

— O que um orfanato tem a ver com um antro de jogo?

Darling deu outra baforada preguiçosa de seu charuto.

— A Toca do Pecado não é apenas um antro de jogo. Isso é o que venho tentando dizer a você. É muito fácil para o Conde de Ouro ser descoberto como o proprietário de um lugar assim. Nosso sucesso nasce de nossa irmandade e de nosso anonimato. Você precisa se tornar não apenas rico, mas também um pilar de nossa comunidade. Você precisa criar um véu entre o verdadeiro você e o homem que a sociedade vê.

Logan franziu a testa. Talvez fosse por isso que a sociedade o desprezava. Porque ele era honesto em sua busca por dinheiro. Realmente teria mais sucesso se fosse menos direto? A ideia despertou interesse.

— Esta carta é endereçada a você. Ela quer sua ajuda. — Mas Logan estava bastante certo de que sabia o que o duque estava prestes a dizer quando o medo se acumulou em seu estômago. Logan não fazia caridade. As pessoas afundavam ou nadavam. A vida era tão simples.

— Ajude-a, — respondeu Daring. — E encontre três sócios, e o clube é seu.

O punho de Logan cravou em sua coxa, ele nem se incomodou em esconder.

— E como vou saber se você manterá sua palavra?

Daring sorriu para ele.

— Você quer um contrato antes do nosso contrato? Você é tão astuto quanto dizem. Acredite em mim, você não é um homem que eu desejo trair. Você cumpre sua parte no trato e eu cumprirei a minha.

Seu punho relaxou. Muitos dos pontos de Daring tinham méritos que Logan não se importaria de explorar. Se pudesse ganhar a aceitação da alta sociedade, teria ainda mais sucesso do que antes?

Para descobrir, ele só precisava ajudar um pequeno bom samaritano a abrir um orfanato.

Ele poderia fazer isso. Sem problemas. Fácil.

A Toca do Pecado seria dele.

 

 

Capítulo 01


Penny Walters se sentou na frente do espelho lascado e rachado tentando avaliar se o estilo de seu cabelo era agradável. Vestir-se sozinha nunca foi seu forte. Mesmo no reflexo manchado, notou vários cachos soltos se projetando em ângulos estranhos. Ela franziu o nariz enquanto levava as mãos ao cabelo mais uma vez.

— Parece horrível, — uma voz jovem chamou da porta.

Ela soltou um longo suspiro, deslizando um grampo.

— Eu estava com medo disto.

Sua amiga e companheira, Clarissa, entrou na sala, os pés descalços deslizando pela madeira gasta. Penny comprou seus sapatos novos, mas a garota só os usava fora de casa. Penny supôs que Clarissa não era mais uma garota de verdade. Aos dezoito anos, ela era quase uma mulher, mas era magra e pequena, e andava descalça tanto quanto usava calçado. Parecia muito mais jovem do que Penny, embora apenas quatro anos as separassem.

— Quanto tempo antes de você sair? — Clarissa perguntou, já puxando o resto dos grampos do cabelo castanho de Penny. Era grosso e cheio de ondas longas que o tornavam terrivelmente rebelde.

— Um quarto de hora, — Penny respondeu, sorrindo para Clarissa pelo espelho. O compromisso ainda demoraria duas horas, mas ela precisava de um tempo para atravessar a cidade.

Clarissa assentiu sem responder enquanto escovava bruscamente as mechas. A menina era filha de um advogado do interior antes de ficar órfã. Penny a encontrou em uma igreja quando voltava de uma viagem de volta de Dover seis anos antes. Ela esperava obter um cargo de governanta, mas a família tinha escolhido outra candidata.

Sem direção, Penny estava voltando para Londres, se perguntando o que ela poderia fazer com o resto de sua vida. E foi, então, que ela encontrou a jovem Clarissa. Com pouca idade para cuidar de si mesma, Penny não foi capaz de deixar a garota impetuosa para trás. O padre estava tentando convencer Clarissa a se juntar ao convento próximo. Uma escolha honesta, mas como Clarissa costumava blasfemar, provavelmente não teria dado certo.

Agora ela não conseguia imaginar sua vida sem a amiga. Clarissa começou a prender o cabelo novamente, com grampos saindo de sua boca, mesmo enquanto falava.

— Eu não entendo por que você não me pediu para fazer isso em primeiro lugar.

— Você estava ajudando Natty e Fran, — Penny respondeu, seu sorriso crescendo. Com alguns benfeitores e uma pequena herança, Penny conseguiu manter a casa de sua família nos arredores de Docklands e convertê-la em um pequeno orfanato. O East End cheirava a curtume e a pintura estava lascada e gasta, mas era tudo o que podiam pagar. Em suma, ela tinha quatro meninas morando com ela. Aquelas que a sociedade teria varrido para debaixo do tapete e desviado o olhar enquanto as ruas mesquinhas as comeriam no café da manhã.

Elas ficaram órfãs por um motivo ou outro, e ela decidiu dar a cada uma delas um lar de verdade. Com comida e roupas, amor e sapatos...

— Posso perguntar por que você não está usando as botas novas que comprei para você? — Ela suprimiu um sorriso quando Clarissa enrugou o nariz.

— Você sabe que não gosto de nada nos pés. — Clarissa puxou com muito mais força do que o necessário enquanto domava uma mecha de cabelo rebelde.

— Eles não se serviram? — Penny ergueu as sobrancelhas recusando-se a desistir do assunto. Ela amava Clarissa como uma irmã, por isso precisava começar a manter os pés cobertos. Não se podia sair e conseguir um emprego ou marido enquanto descalça. Penny a resgatou para que lhe dar suas próprias escolhas na vida. Não para escondê-la nesta casa.

— Eles serviram bem, — Clarissa suspirou enquanto torcia mais uma vez. — Depois de passar dois anos com sapatos que eram muito pequenos, não aguento mais.

Penny fez uma careta, seu sorriso sumiu de seu rosto. O pai de Clarissa havia perdido cada xelim que a família tinha em um mau investimento. Ele suicidou-se e deixou Clarissa para enfrentar o mundo sozinha.

— Me desculpe, não pude comprar novos para você antes.

— Não se desculpe. — Clarissa balançou a cabeça, um pequeno empurrão antes de colocar o braço sobre os ombros de Penny em um abraço rápido. O gesto era dado tão raramente que Penny piscou surpresa. — Natty, Fran e Ethel precisavam de comida e livros antes que eu precisasse de sapatos novos. Você fez o que era certo.

Penny suspirou novamente, um som muito menor quando sua cabeça pendeu para baixo em uma derrota momentânea. Foi difícil encontrar benfeitores. Apesar da opulência que enfeitava as ruas do West End de Londres, aqui no East End esse tipo de generosidade estava em falta.

— Então por que você vai conhecer este novo homem?

Penny agarrou a mesa enquanto Clarissa puxava novamente. Ela esperava que o Duque de Darlington a ajudasse em sua causa. Esta casa de três quartos servia para os seis, mas ela dificilmente poderia trazer mais crianças aqui. Ela precisava de um espaço maior, mais funcionários e materiais para estudar se realmente quisesse fazer a diferença.

— Sua Graça lamentou ao informar-me que não poderia contribuir pessoalmente, mas que tinha um amigo que poderia ajudar.

Clarissa fez um muxoxo enquanto prendia a última onda de cabelo.

— Então, você vai conhecer um homem que você não conhece de maneira alguma, e não tem ninguém para apresentá-lo, virá sozinho?

Os dentes de Penny cerraram-se.

— Eu tenho uma apresentação. — Ela fez uma pausa, vendo os olhos de Clarissa endurecerem no espelho. — Eu não tenho escolha. — A verdade era que ela não só precisava de um benfeitor para promovê-los, como também estavam perigosamente sem fundos. O ácido se espalhou em seu estômago. Precisava que este homem concordasse em ajudá-la apenas para que pudessem continuar a comer, e as crianças precisavam de casacos e...

— Eu poderia ir com você. — Clarissa deu um passo para trás, avaliando seu trabalho. — Muito melhor.

Penny se olhou no espelho, notando aquela touca arrumada enrolada em tiras em sua nuca. Apenas alguns cachos flutuavam em torno de seu rosto para suavizar suas feições, acentuando suas maçãs salientes do rosto.

— Meu cabelo está bem melhor e obrigada, mas não. Você deverá ficar aqui. Natty e Fran precisam de você.

Clarissa franziu a testa.

— Todas nós poderíamos ir. Esperar no coche.

Penny olhou para o chão. Ela não planejava alugar um coche. O endereço que o duque lhe dera era no lado oeste, é claro, mas ela iria a pé. Um coche levaria xelins valiosos que elas não tinham. Por dentro, ela suspirou novamente, mas não permitiu que Clarissa a ouvisse desta vez. A vida costumava ser difícil hoje em dia. E Clarissa era muito jovem para ajudá-la a suportar esse fardo.

— Vou ficar bem, Clarissa. Continue trabalhando com as meninas em suas letras. E calce os sapatos.

— Por quê? — Clarissa fungou, voltando-se para a porta.

— Eu disse a você o porquê. Você precisa deles para seguir em frente e viver sua vida e...

Clarissa torceu o nariz.

— Já tenho um trabalho e uma vida. Eu educo os menores. E não vou me casar. Você precisa muito de mim.

E assim, Clarissa foi embora novamente.

Seria mais fácil se aquela garota não acertasse com tanta frequência. E como Clarissa sabia que não se casaria? Penny, apesar dos passos independentes que havia tomado, às vezes ainda desejava um marido para compartilhar seu fardo e criar sua própria família. Mas então, ela balançou a cabeça. Isso nunca iria acontecer. Ela já era uma solteirona e sua vida estava arraigada nas necessidades dessas crianças. Ainda assim, às vezes ela sonhava...

Penny se levantou e saiu do quarto, quase cedendo e levando Clarissa. A companhia seria agradável. Clarissa tinha um exterior duro, mas por baixo disso havia um coração mole. E Penny a amava por isso.

Colocando sua capa, ignorou a aparência puída enquanto a abotoava contra o vento cortante. Em seguida, saiu, deixando a casa e começando a descer a rua. Seria uma longa caminhada. Ela olhou para o pedaço de papel que continha o nome e endereço do potencial benfeitor. O Conde de Goldthwaite. Que nome interessante.

Só poderia esperar que ele fosse o tipo de homem com um espírito e natureza generosa, e foi por isso que o duque a enviou para conhecê-lo.

Sombras caíam sobre as ruas de Londres quando Logan finalmente voltou para casa. Ele passou a tarde em diversos Clubes de Cavalheiros procurando por parceiros em potencial. A busca foi infrutífera.

Os homens que ele conheceu eram idiotas, não tinham cabeça para negócios ou apetite para nada além de lazer. Não ajudou que não pudesse falar abertamente sobre o clube. A espada do sigilo tornou a comunicação quase impossível.

Agora ele desejava um banho, uma refeição e uma cama - nessa ordem. Claro, a pilha de trabalho que esperava em sua mesa teria que ser atendida. A atribuição de Daring já estava se provando problemática e por um breve momento, considerou abandonar o empreendimento. Embora soubesse que poderia administrar o trabalho, trabalhar com outras pessoas poderia ser muito difícil...

— Meu senhor, — seu mordomo cumprimentou-o na porta da frente, dando a seu patrão uma carranca severa de desaprovação. — Você tem uma visita.

— O quê? — Ele enrijeceu os ombros enquanto tirava o casaco. Ignorou o julgamento do outro homem, acostumado à natureza cacarejante de seu mordomo. Mas o que o surpreendeu foi o anúncio de que alguém tinha vindo visitá-lo. Ninguém o visitou... nunca. A menos que fosse seu advogado. Todos os outros negócios sempre foram conduzidos em território neutro. Um escritório, um clube ou algum lugar assim.

Fazia parte de sua estratégia. As pessoas ficavam mais confortáveis em seus próprios espaços, o que costumava ser uma vantagem.

As sobrancelhas do homem se ergueram no que parecia ser uma leve condenação.

— Senhorita Penny Walters. Ela tinha agendado um compromisso há várias horas. Eu a incentivei a reagendar, mas ela insistiu em esperar.

Seus olhos se fecharam brevemente antes de se abrirem novamente. Merda. Ele tinha esquecido. O que não se parecia com ele, mas por malditos raios azuis ela ficaria todo esse tempo? Ridículo.

E agora, tinha muito que fazer para o quão cansado ele estava. A última coisa que precisava era remover delicadamente uma mulher de sua residência.

— Onde ela está?

— Na sala da frente, — respondeu Winter, — Onde ela esperou com uma quantidade excessiva de paciência. — Então o homem cruzou as mãos à sua frente, a boca um pouco mais funda nos cantos. Seus olhos fizeram a acusação que sua boca não podia.

O rosto de Logan endureceu. Esse dia poderia ficar pior? Seu próprio mordomo o estava julgando agora? O homem era um pouco não convencional, mas sempre foi respeitoso.

Logan fez uma virada abrupta e foi para a sala de estar, a irritação quente sob sua gola. Ele não tinha disposição para esta reunião.

A porta estava ligeiramente entreaberta e ele a empurrou com um estrondo satisfatório, entrando na sala escura com toda a sutileza de um rebanho de gado em disparada. O gesto tinha a intenção de ser menos do que acolhedor e mais como uma mensagem clara para dar o fora. Ele não tinha paciência ser delicado.

O dia tinha sido além de frustrante.

Mas se ele assustou a senhorita Penny Walters com sua exibição, ela não deu nenhum sinal. Seu rosto estava voltado para a janela, sua postura perfeitamente ereta, as mãos cuidadosamente dobradas no colo. A figura dela era esguia, foi o que ele notou primeiro na luz que entrava pelo corredor. Muito lentamente, ela se virou para olhá-lo, suas feições se iluminando da forma mais deslumbrante.

Ele fixou seu olhar em seus grandes olhos, orlados por longos cílios escuros. Então, baixou o olhar para ver seu nariz pequeno e reto, acentuado por maçãs do rosto salientes e lábios carnudos exuberantes. Se fosse honesto, diria que ela tinha roubado seu fôlego. Provavelmente era por isso que ainda não tinha pronunciado uma palavra, apesar de sua grande entrada.

— Lorde Goldthwaite? — Ela perguntou, levantando-se lentamente de sua cadeira.

Se ele tivesse entrado como um idiota fanfarrão, ela era a imagem da serenidade. Não que ela o enchesse de calma. Porque ele percebeu que, enquanto ela era magra, também era bastante... curvilínea. Deliciosamente. Seu intestino apertou quando seu corpo respondeu. Seu cabelo era tão escuro e cheio como parecia ou era a luz fraca?

— Sim, — disse ele após um momento de hesitação.

Ela começou cruzando a sala em sua direção, um sorriso em seu rosto quando estendeu a mão. Ela não mostrou nenhum sinal de irritação por ter ficado esperando por horas.

— Estou muito contente em conhecê-lo. Eu sou a Srta. Penny Walters e...

— Eu sei quem você é. — Sua voz rangeu. Era sua irritação ou desejo que o fazia soar tão gutural?

Seu sorriso sumiu por um momento antes de ela colocá-lo firmemente de volta ao lugar.

— É um prazer conhecê-lo.

Ele não pegou a mão dela.

— O que você está fazendo aqui?

Ela cruzou as mãos mais uma vez. Seus ombros permaneceram retos, suas costas rígidas enquanto continuava a sorrir. Como ela mantinha essa calma radiante? Seu olhar percorreu seu corpo mais uma vez. Ele não conseguia se conter, mas suas palavras atraíram seus olhos de volta para os dela.

— Tínhamos um compromisso, — ela disse.

— Meu senhor, — Winters chamou atrás dele. — Posso entrar para acender mais velas?

Logan cerrou os dentes.

— Não precisamos de velas. Não iremos demorar. — Verdade seja dita, não tinha certeza se queria ver essa mulher em mais detalhes. Ela seria tão bonita quanto ele imaginava ou a uma sombra parcial era sua amiga? Era melhor que não descobrisse.

— Senhor Winters, — a Srta. Walters o chamou. — Talvez apenas uma.

O maldito homem deslizou por trás dele, e acendeu uma vela ao lado da Srta. Penny Walters.

Ele se endireitou com um suspiro de irritação. O que estava acontecendo para que ela tirasse sua autoridade em sua própria casa? Estava na ponta da língua dizer ao homem para sair da sala. Por falar nisso, o homem poderia sair de casa inteiramente. Mas as palavras morreram em seus lábios.

Porque o Sr. Winters nunca foi um mordomo normal e Logan estava acostumado com o homem, supôs.

Mas logo esqueceu tudo sobre seu mordomo errante. Porque o inferno se a Srta. Walters não era ainda mais adorável com luz adicional.

— Senhor Winters, depois que a Srta. Walters se for, você e eu precisamos ter uma conversa.

— Claro, meu senhor, — o homem respondeu, parecendo totalmente despreocupado. Então, o mordomo voltou a sair sem dizer mais nada.

Penny pigarreou. Ele a estudou novamente e notou que embora suas feições fossem tão impressionantes quanto havia imaginado, suas roupas deixavam muito a desejar. Puído, seu vestido parecia ter sido remendado várias vezes. Sua pequena Penny era tão pobre quanto seu nome indicava.

— Meu senhor, você está certo, é claro. Eu só preciso de um momento do seu tempo.

— Quanto? — Ele perguntou, cruzando os braços.

— Como? Quanto de quê? Tempo? Como eu disse, só um momento, — ela disse, suas sobrancelhas se juntando.

Sua mão tremia levemente, traindo seus nervos. De alguma forma, esse conhecimento o ajudou a relaxar. Ela não era tão imune a ele como ele acreditava inicialmente. Ele se encostou no batente da porta, um pé chutando na frente do outro. Ela o perturbou depois de um longo dia e sua calma fez com que ele se sentisse inferior.

Ele tinha sido um idiota por esquecer seu encontro, sabia disso. Mas também era o único com a bolsa gorda. Podia se dar ao luxo de ser mal educado. Ela não podia, pensou secamente.

— De quanto dinheiro você precisa para o seu orfanato? — Ele perguntou, cruzando os braços. Melhor fazê-la sair o mais rápido possível e agora que pensou sobre isso, ele poderia se sentir melhor por ter realizado um dos dois objetivos de Daring tão rapidamente. Estava feliz por ela ter ficado depois de tudo.

— Bem, — ela fez uma pausa — Mil e quinhentas libras...

— Feito, — disse ele antes que ela pudesse terminar.

Uma de suas sobrancelhas se ergueu.

— Anualmente deve bastar para esta primeira casa.

Seus dentes cerraram-se. — Três mil libras desta vez e quero meu nome na placa frontal do orfanato.

Ela balançou a cabeça.

— A quantia é muito generosa, mas sem uma renda anual, não posso pagar a placa porque não haverá orfanato.

Ele esfregou o rosto, então.

— Tente entender, Srta. Walters, que uma soma única é tudo o que estou disposto a contribuir. — Cumpriria o pedido de Daring e permitiria que ele prosseguisse com o negócio. Isso era tudo com o que ele realmente se importava.

Ela soltou um suspiro, seu peito erguendo-se da maneira mais atraente.

— Muito bem. Mas você mesmo terá que providenciar a placa.

 

 

Capítulo 02


Deus, este homem era odioso.

Penny se mexeu, levemente. Ela aprendeu a ajustar sua postura sem realmente parecer se mover em seu primeiro orfanato aos doze anos. A diretora insistiu que elas se alinhassem em linhas perfeitamente retas e ficassem lá por muito tempo. Era um exercício de paciência e conformidade, e Penny, não gostando da pequena vara de madeira usada para correções, fora uma aluna competente.

Ele não pareceu notar seu movimento e olhou para ela com uma expressão pensativa, seus olhos enrugados nos cantos.

Ela acalmou a besta que rugiu na sala, pelo menos. Era seu presente. Fique calma, fale lentamente, peça o que deseja com um distanciamento conciso.

E ele era um homem acostumado com as pessoas se curvando à sua vontade. Estava escrito em cada bela linha de seu rosto.

O Conde de Goldthwaite.

Ele não era nada parecido com quem ela esperava. Seus traços eram lindos com um queixo quadrado, cabelo loiro e olhos dourados penetrantes. Mas ele tinha todo o calor do mármore.

Seus amplos ombros flexionados quando ele empurrou o batente da porta.

— Três mil libras e uma placa? — Ele coçou o queixo. — Muito bem. Você tem um acordo.

Uma onda de prazer a percorreu. Embora a doação não fosse o que ela esperava, aquela soma as sustentaria por dois ou até três anos. Talvez mais se ela a esticasse. Elas precisavam de uma nova casa, é claro. E ela não seria capaz de comprar uma com esta soma. Mas elas comeriam e teriam roupas. A casa teria apenas que esperar.

Não era apenas o espaço. Mais e mais belas ruas de Londres estavam removendo as classes mais baixas e empurrando-as para o East End. A vizinhança estava mudando, ficando mais difícil.

Penny flexionou as mãos. Isso era um problema para outro dia. Pelo menos elas comeriam e se aqueceriam. Havia bastante de tempo para encontrar outros benfeitores que lhe permitiriam comprar uma instalação maior.

A própria ideia a deixou exausta. Era tão difícil transitar neste mundo sozinha, mas um único pensamento das quatro garotas dependendo dela e ela endireitou os ombros. Elas não mereciam ficar em linhas perfeitamente retas com marcas de chicote na parte de trás de suas pernas como correção.

Aquilo era o que ela ofereceu. Uma vida real e um lar de verdade. Como ela teve quando criança. Tinha lhe sido arrancado, é claro, e parte dela ansiava por ter aquela vida de volta, mas pelo menos ela tinha suas memórias de uma família amorosa e um verdadeiro lar. E daria isso a essas meninas, não importa o quão difícil fosse.

Ela estendeu a mão mais uma vez. Ele se recusaria a cumprimentá-la novamente? Sua respiração ofegou enquanto ele tentava se aproximar. Ele já havia tirado as luvas e sua pele deslizou contra o tecido que cobria a dela, o que enviou um arrepio inesperado por suas costas. Sua mão era forte, mas seus dedos eram elegantes, e fizeram seu estômago revirar de uma forma estranha.

— Obrigada, meu senhor. — O calor encheu suas bochechas e ela olhou para o lado, para uma cadeira estofada ao invés de olhar para ele.

— Terei de recolher os fundos. Devemos nos encontrar aqui depois de amanhã, digamos dez da manhã?

Ela deu um breve aceno de cabeça, a decepção fazendo sua respiração prender. Ela não gostava de outro dia perdido em espera. — Talvez você pudesse deixar os fundos com o Sr. Winter apenas no caso de você não estar aqui.

Ele riu então, baixo e profundamente.

— Então, você não ficou feliz em esperar depois tudo.

Ela piscou, seu olhar estalando de volta para o dele, o que poderia ter sido um erro, seus olhos pareciam enxergar diretamente dentro dela. Ela teve a sensação de estar exposta e visivelmente mexeu-se desta vez.

— Você ficaria? — Ela perguntou como se fosse uma resposta. Ela ficou furiosa. Mas, aprendeu há muito tempo que a persistência era sua melhor aliada. As poucas doações que conseguiu obter de outros membros da nobreza ou de mercadores bem-sucedidos vieram de persistência calma e sorriso incessante, então ela reprimiu sua raiva e se controlou para esperar. As primeiras horas foram bastante agradáveis.

A caminhada tinha sido longa, e sua vida era bastante agitada, então descansar aqui em sua mobília excepcionalmente confortável foi uma mudança bem-vinda. Mas com o passar das horas, ela sabia que Clarissa estava no limite de ficar preocupada. E ela temia voltar para casa. O East End de Londres não era lugar para uma mulher caminhar sozinha à noite.

Gostaria de ter extravasado sua frustração do jeito que ele fez. Mas isso nunca a levou a lugar nenhum. Então, ela se segurou.

— Não. Eu não teria ficado nada feliz, — disse ele. — É por isso que eu teria saído e marcado outra visita em um dia diferente.

Ah. Não admira que ele parecesse tão irritado. Ele não gostou que ela tivesse esperado. Ele obviamente nunca passou fome. Se tivesse, ele poderia ter entendido sua urgência.

— Tínhamos um compromisso. — Ela apontou um dedo para ele, suas sobrancelhas subindo. Não gostava de discutir como regra geral, mas também precisava do respeito desse homem. Ele concordou com uma doação única, mas se ele a valorizasse, ela poderia conseguir outra. — Presumi que você estaria aqui em um período de tempo razoável.

— Não parecia óbvio que eu estava tendo dificuldade em cumprir aquele compromisso? — Suas costas se endireitaram, e ela percebeu o quão mais alto ele era.

Ela encolheu os ombros, erguendo apenas um.

— Tenho crianças para alimentar, meu senhor. Seus estômagos não esperariam. E se eu desistisse depois de cada consulta perdida... — Era verdade. A tenacidade era uma de suas melhores aliadas.

— É justo. — Ele acenou com a cabeça, sua voz caindo baixa e profunda, o som deslizando ao longo de sua pele, incrivelmente quente e agradável em comparação com sua aparência dura. — Eu a verei em dois dias. Agora, se você não se importa, tenho muito mais trabalho a fazer e o dia passa rapidamente. — Ele varreu a mão para fora da porta. — Sr. Winters lhe acompanhará para fora e chamará um coche para você.

— Não há necessidade. — Seu estômago se revirou novamente com a ideia de ir sozinha para casa. Talvez devesse aceitar sua oferta, afinal. Com a doação que ele acabara de fazer, ela poderia pagar pelo coche apenas desta vez, mas, novamente, havia muito o que fazer e tão pouco dinheiro para fazê-lo.

Ele fez uma pausa, seus olhos percorrendo-a mais uma vez. Eles pareciam analisar todos os detalhes, desde os punhos puídos da capa até a bainha irregular. Suas roupas, em comparação, eram feitas sob medida e em estado impecável. Uma vez, ela também se vestira com roupas finas, mas isso foi há muito tempo, antes da morte de sua mãe e de seu pai. Ela não vivia essa vida desde os doze anos.

— Eu insisto, — respondeu ele.

Se ela era tenaz, ele era grosseiro, decidiu, quando ele se virou e começou a sair pela porta na frente dela, deixando-a lá.

— Meu lorde, — ela respirou, levantando sua saia e seguindo logo atrás. — Não preciso que você chame um coche. Eu sou perfeitamente capaz de... — Ela mentiu e disse que ela mesma acharia um? Ou ela admitiu andar? Ela tentou decidir o melhor ângulo enquanto tentava acompanhar seus passos largos.

— Vejo que é improvável que você contrate um meio de transporte. Então, eu mesmo vou levar-lhe. Minha carruagem acabou de voltar e ainda está na estrada.

Penny parou por um momento. Isso seria adorável e terrível, tudo ao mesmo tempo. Não queria andar, mas de alguma forma, não queria aceitar um favor deste homem duro também. Sabia que favores de homens podiam ser complicados. Viver sozinha ensinou-lhe muito. Ela teve mais de um homem sugerindo que ele faria uma doação maior em troca de um favor ou dois.

— Meu senhor, isso é muito gentil, mas não é necessário.

Ele se virou abruptamente para olhá-la, seus olhos afiados, sua boca em uma linha reta.

— De novo, eu insisto. Sei que você irá andando se eu não a levar, não é?

A pergunta a pegou desprevenida com sua astúcia. Sua generosidade fez seu estômago tremer e ela o cobriu com a mão.

— Como você sabia?

Ele olhou-a de cima a baixo novamente.

— Você não veio em sua própria carruagem. Você não gasta dinheiro consigo mesma. Você vai economizar cada centavo para os pequenos moleques que resgatar.

Sua respiração parou em seu peito.

— Eles não são moleques. — A raiva começou a subir como maré. Ela odiava essa palavra. — São crianças indefesas que precisam de ajuda.

— Ajuda que você fornece. E agora eu também. — E com isso, ele se virou e foi para a porta. — Se você morrer caminhando para casa, não poderemos ajudá-los agora como se deve, poderemos?

Ela balançou a cabeça. Que homem estranho. Ele os chamou de moleques e depois falou em ajudá-los. Em sua experiência, esses dois sentimentos raramente existiam juntos. Ele era um enigma para ser específica.

— Suponho que não.

— Agora me diga, onde você mora?

Ela fechou os dedos em punhos, odiando admitir onde estava criando as crianças.

— Eu moro na Adderley Street. É perto...

Ele parou novamente.

— Eu sei onde é. — Sua boca estava desenhada em uma linha tensa. — Estamos perdendo tempo. Vamos.

Oh, céus. Ele realmente iria levá-la pessoalmente. Com outro suspiro, ela vestiu sua capa e o seguiu para fora. Ela fez uma prece silenciosa para que suas intenções não fossem desagradáveis enquanto caminhava atrás de seu grande corpo.

Ele era um homem duro, isso era certo, mas estava financiando o projeto dela, o que significava que ele tinha o direito de ficar perto das crianças. Ela precisava que ele fosse um bom homem se permitisse que ele entrasse em suas vidas.

Logan não precisava escoltar a Srta. Penny Walters para casa. Ele poderia tê-la enviado em sua carruagem e começado a montanha de trabalho que parecia nunca ter fim.

Mas ela era um belo mistério que desejava desvendar.

Não deveria.

Ele deveria esquecer tudo sobre ela e continuar com sua vida ordeira. O que importava por que Daring a colocou em seu caminho? Ele já a havia eliminado como um obstáculo para seu objetivo.

E ele raramente namorava. Elas queriam coisas. Coisas caras como colares e vestidos e, aparentemente, doações para órfãos, e então, desejavam itens ainda mais caros como seu coração. Ele nunca o deu. Nunca.

A única pessoa que ele amou o abandonou e o deixou arruinado sem nem mesmo um sussurro de adeus.

Ele se casaria, é claro. Logan havia trabalhado muito duro para levar seu título de volta à boa posição. Se casaria com uma debutante de uma família impecável. Usaria sua riqueza como a alavanca que lhe daria a combinação perfeita, e restauraria de uma vez por todas o nome de sua família.

Conde de Ouro era o insulto que ouvia com os próprios ouvidos. Eles tinham chamado seu pai assim também, mas apenas porque o homem havia gastado cada xelim que não estava vinculado. Ele os amontou numa casa pobre para que nenhum lorde ou lady se associasse com sua família. Seu pai até tentou se casar pela segunda vez para salvar seu futuro financeiro. Mas foi morto em um duelo por causa de uma dívida de jogo antes de ter sucesso.

O ex Conde de Goldthwaite não tinha feito nada certo. Logan se endireitou em seu assento. Só de pensar nos fracassos do pai, se encolheu de vergonha.

Mas, sabia o que mais a alta sociedade sussurrava sobre ele. Os insultos que não conseguia ouvir. Sem coração, era consumido pela necessidade de dinheiro. Era tão obstinado quanto seu pai.

Penny escovou as saias enquanto olhava com determinação para fora da janela da carruagem. Ela não o olhou ou falou com ele desde que entraram no interior escuro, o que fez pouco para acalmar sua curiosidade.

— Então me diga, Srta. Walters. Quantos órfãos você abriga atualmente?

Ela flexionou as mãos no colo. Um gesto sutil. O que isso significava? A pergunta a deixou nervosa?

— Quatro.

— Só isso? — Ele levantou uma sobrancelha, cruzando os tornozelos enquanto se espreguiçava. — Com sua tenacidade, pensei que seria mais.

Ela olhou-o então, um sorriso frio tocando seus lábios.

— Com uma doação maior, mais órfãos seriam possíveis.

Seus olhos se arregalaram um pouco. Ela era boa. Lembrou-o de si mesmo.

— Touché. — Ele pigarreou. — Então, a falta de fundos está impedindo você.

Ela deu um breve aceno de cabeça.

— E espaço. O que, é claro, exige mais dinheiro.

— Este é o trabalho da sua vida? Só pergunto porque você continua sendo Srta. Walters. Normalmente, uma diretora de escola ou governanta teria mudado para a Madame mesmo que não fosse casada, para indicar sua posição.

Ela encolheu os ombros. Ele gostava da forma de seus ombros, delicados, mas em linhas perfeitamente retas. Ele viu a maneira como o rosto dela estremeceu com a pergunta, os ombros dela se curvando um pouco.

— Eu caí nesta vida por acidente. Clarissa, minha primeira órfã, veio até mim quando eu menos esperava. Só sabia que não poderia deixar uma garota com seu espírito onde estava. Mas quanto mais o tempo passa, mais percebo que as crianças, como eu, precisam de alguém para cuidar para deles.

— Como você? — Seus tornozelos se soltaram e ele se endireitou. Ela também era órfã? A constatação quase o fez perder o fato de que ela não tinha realmente respondido à pergunta. Por que ela ainda era a Srta. Walters?

Ela torceu as mãos novamente.

— Meus pais morreram quando eu tinha doze anos.

Seu estômago caiu. Que terrível.

— De quê? — sabia que estava bisbilhotando, mas a curiosidade tinha vencido. Daring mandou uma bela mulher direto para a porta de Logan. Ele sabia que ela era tão bonita? Tinha feito isso de propósito para testar Logan de alguma forma? O homem estava forçando Logan a ajudar esta criatura impressionante e a encontrar parceiros de negócios. Duas tarefas que ele evitou como uma praga até agora. Era quase como se o duque tivesse uma agenda oculta.

Maldito seja o homem. Ele era pior do que uma mulher intrometida.

E Logan descobriu que entender o que motivava as pessoas sempre significava que ele próprio era mais bem-sucedido.

— Uma doença do pulmão. Meu pai era médico, — ela disse, sua voz embargada.

Ele flexionou os dedos, notando que o pai dela também se entregou a serviço dos outros. E embora ele gostasse de dar a ela um sermão sobre o valor de se sustentar, outra emoção comandou inteiramente sua língua. Simpatia. Sabia sobre como se defender sozinho desde muito jovem.

— Meu pai faleceu quando eu tinha treze anos.

— Você não foi enviado para um orfanato também, foi? — A voz dela estava rouca de emoção, puxando as cordas de seu coração. Quase imperceptível. Mas ele sabia que a memória ainda a machucava. Podia sentir a dor dela em seu peito. Combinava com a sua.

— Não. Eu era o novo conde de um condado quebrado. Fui enviado para um tipo diferente de inferno. — Aquele em que os meninos da nobreza podiam transformar sua vida em um pesadelo vivo. Ele ainda sonhava com alguns deles ocasionalmente.

Seus grandes olhos castanhos encontraram os dele, e ela se inclinou para frente.

— É tão difícil estar sozinho com tão pouca idade.

A respiração de Logan parou. Porque sabia sobre o que ela estava falando. Ela lhe diria que era por isso que ela precisava ajudar as crianças, porque ele deveria lhe dar mais dinheiro. Ninguém nunca dava simpatia sem uma meta. Ele não tinha aprendido isso na vida? Normalmente, era mais cauteloso com as pessoas, mas esta noite, simplesmente se abriu tolamente.

E agora teria que explicar-lhe que ele se reconstruiu sozinho e as pessoas se ajudavam a si próprias ou não. Mas as palavras pesavam em sua língua. Ele não queria dizer-lhe isso.

Ela o odiaria pelas crianças, e isso... o incomodava.

— É, — ele disse, sua mandíbula dura de tensão.

— Eu também tive sorte, — ela sussurrou. — A casa dos meus pais continuou sendo minha e uma pequena renda que pagou por um bom orfanato até os meus dezoito anos. — Ela zombou da palavra bom. — Mas alguns deles são o inferno na Terra.

Ao longo desta noite, esta mulher enfrentou sua irritação com completa calma. Ela sorriu e explicou pacientemente sua causa depois de esperar por horas. Ele já a admirava. Mas a maneira como ela descreveu os orfanatos como o inferno o fez tremer por dentro. Um pequeno tremor nas entranhas. Ela não era uma pessoa propensa a exageros. Ele sabia, mesmo no curto período de tempo em que se conheciam. Ele fazia questão de entender as pessoas.

Estava na ponta da língua pedir-lhe que lhe mostrasse. Não sabia o porquê. Já sabia como se sentia sobre o assunto. Sua vida tinha propósito, ordem e direção. Ele tinha um objetivo e estava mais perto do que nunca de completá-lo.

Não permitiria que uma mulher lhe mudasse a direção agora. Era ridículo que tivesse considerado isso por um único segundo.

Penny se amaldiçoou. Ela tinha revelado muito.

Seu pai tinha sido um homem de infinita paciência e controle. E amor. Ele lhe mostrou o tipo de pessoa que ela desejava ser, e ela lutou durante sua adolescência para ser fiel ao seu coração. Para ele.

Seu belo orfanato era limpo e as crianças eram educadas. Mas não havia amor naquele lugar. Foi movido pelo medo e pela eficiência. Isso podia drenar uma alma.

Ela olhou para a estátua de um homem a sua frente. Foi isso que aconteceu com ele? Ele disse que foi enviado para um outro tipo de inferno. Que diabos era isso? E teria roubado toda suavidade dele?

Ela balançou a cabeça. Ela tinha crianças para salvar. Ela não precisava sair por aí tentando resgatar os corações de homens adultos, se isso fosse possível. Ela duvidou que fosse. Os adultos costumavam estar muito centrados em seus caminhos para aceitarem qualquer mudança.

Não que ela não sonhasse secretamente com casamento e filhos, sonhava. Mas com alguém caloroso e gentil, e pronto para criar sua própria família, mesmo enquanto continuasse a apoiar suas crianças abandonadas. Um homem que era uma ficção completa, Penny tinha certeza.

O coche virou na Adderley Street e diminuiu a velocidade na frente de sua casa. Aquela em que ela havia crescido. A pintura estava descascando agora, a cerca quebrada contra os canteiros cobertos de vegetação. Sua mãe se viraria em seu túmulo se visse isso.

A boca de Penny se apertou ao pensar neste homem vendo isso. O Conde de Goldthwaite. Levando-a para casa na periferia das Docklands. Ela já podia sentir o cheiro dos curtumes.

Mas, se recusou a ficar envergonhada. Ela não deu a essas crianças um lugar bonito para morar, mas elas receberam muito amor e era disso que precisavam para sobreviver. Prosperar.

Ele abriu a porta do coche e estendeu a mão para ajudá-la a descer quando a porta da frente da casa se abriu.

Clarissa saiu correndo pela porta da frente com um atiçador de fogo nas mãos. Seus pés estavam descalços, seu vestido remendado em vários lugares. Seu cabelo loiro puxado para trás em um coque apertado.

— Ele te machucou? — Ela exigiu, batendo o atiçador contra a palma da mão.

O conde se endireitou, suas sobrancelhas erguendo-se enquanto olhava para Penny.

— E você se pergunta por que eu os chamo de moleques.

Penny pegou sua mão, ignorando o arrepio que pulsou por ela novamente, enquanto ele a ajudava a sair do transporte.

— Não deixe Clarissa ouvir você chamá-la assim. Será o seu funeral.

Clarissa desceu os degraus com passos pesados, alheia ao vento frio de dezembro, com o queixo empinado.

— Você se foi por horas e horas. Eu fui preocupada que— A garota parou, seu medo brilhando em seus olhos.

Como resposta, Penny estendeu a mão e tocou seu braço.

— Sinto muito, minha doce Clarissa. Não vai acontecer de novo.

Logan pigarreou.

Ambas as mulheres o ignoraram. O rosto de Clarissa desmoronou por apenas um momento antes de ela erguer o queixo novamente.

— Ele te machucou? Te obrigou a fazer... coisas? Vou transpassá-lo se ele fez.

— Não, — Penny respondeu suavemente. — Ele só me fez esperar um tempo excessivamente longo.

O atiçador voou no ar.

— Da próxima vez, você precisa me dar o endereço para o qual está indo. E um nome para que eu possa te encontrar.

Penny poderia ter rido da preocupação de Clarissa se ela não compartilhasse alguns de seus medos. Homens, anteriormente, se ofereceram para ajudar seus órfãos por um preço, e provavelmente iriam se oferecer de novo. Ela teve que confessar que estava aliviada pelo Conde de Goldthwaite não ter feito o mesmo. E ela gostou dele um pouco mais por isso.

— Ninguém está me transpassando, — disse o conde de seu lugar ao lado da porta. — Concordei em financiar seu orfanato, então a aconselho a largar o atiçador.

Tardiamente, ela percebeu que ele ainda segurava sua mão. Mesmo com suas luvas atuando como barreiras, o toque aqueceu-a.

A surpresa alargou os olhos de Clarissa antes que eles se estreitassem em fendas.

— Ele fez você fazer coisas, não foi?

— Não. — Penny largou a mão dele, a decepção e o ar frio fazendo-a estremecer.

— De que coisas estamos falando? — Goldthwaite perguntou, parecendo mais divertido do que irritado. — Quero saber sobre essas coisas.

— Eu também, — outra voz masculina clamou da sombra entre sua casa e a próxima.

— Eu também, — uma segunda também e então quatro homens saíram das sombras.

Penny assustou-se, parando na frente de Clarissa sem pensar.

Mas, enquanto ela se movia, Goldthwaite deu um passo à frente das duas. Sua postura relaxada se foi, em seu lugar um homem esculpido em pedra, tão duro que poderia tê-la assustado, exceto que não. Nesta situação, ela achou seu verniz duro incomensuravelmente reconfortante.

— Vou precisar daquele atiçador, — ele resmungou baixo e profundamente.

Se ele tivesse soprado como uma tempestade quando eles se conheceram, agora ele era a imagem da calma gelada quando estendeu a mão de volta. Clarissa colocou o atiçador nas mãos de Penny que o passou para frente, o metal se acomodando em sua grande mão. Goldthwaite pegou e o balançou em um amplo arco à sua frente.

O condutor também saltou e puxou duas pistolas do casaco.

Mas foi o conde quem falou.

— Infelizmente para todos vocês, esta foi uma conversa particular.

Os outros homens pararam ao ver as pistolas, alinhadas à frente deles, espalharam-se, parecendo grandes e intimidantes.

— Quem é esse desgraçado? Todos nós temos tentado para pegar a Srta. Walters sozinha por meses. E agora você pode fazer coisas?

— Como isso é justo? — outro falou.

— Os ricos obtêm tudo nesta cidade.

Penny não conseguia ver quem falava, mas também não queria. Seu pai tinha vivido propositalmente perto das docas para ajudar a tratar tanto os pobres quanto os ricos. Mas à medida que a área crescia cada vez mais compactada, também ficava menos segura.

— Senhorita Walters, leve a moça para dentro agora. Mandarei a carruagem buscá-la na hora marcada — Goldthwaite disse, sua voz ainda calma, mas tinha um tom que dizia muito. Não desobedeça.

Sua respiração ficou presa.

— Mas você pode se machucar.

— Vamos ficar bem. — Ele não olhou para trás. — Mas quando nos encontrarmos na próxima vez, discutiremos seu hábito de caminhar.

Clarissa começou puxando-a em direção à porta.

— Sabe, acho que gosto dele.

Penny olhou para trás enquanto ele girava o atiçador no ar mais uma vez. Apesar da sua mente, ela poderia gostar dele também. Ele parecia uma estátua de pedra, mas concordou em ajudá-la. Isso contava para alguma coisa. E agora ele estava a defendendo e a Clarissa. Isso significava muito.

— Ele certamente não gosta de você, — disse ela. — Você o ameaçou com um atiçador.

— Bem, — Clarissa bufou. — Pelo menos, eu não o aqueci primeiro.

E por trás, ela o ouviu rir. Baixo e profundo. Seu estômago embrulhou, mas ela não olhou para trás novamente quando empurrou Clarissa pela porta e a fechou, deslizando o ferrolho no lugar.

 

 

Capítulo 03


De volta a casa, Logan trabalhou à luz de várias velas. Devia ser bem depois da meia-noite, mas conseguiu limpar a pilha de papéis em sua mesa. Ele não seria capaz de dormir de qualquer maneira, ele pensou, enquanto olhava para o último pedaço de correspondência restante.

A noite tinha sido muito... interessante.

Uma linda mulher e um bando de hooligans. Assim que a Srta. Walters trancou a porta e seu motorista engatilhou as pistolas, eles se dispersaram rapidamente e ele foi embora. Cumpriu seu objetivo de vê-la em casa e aprender mais sobre Penny Walters. Ainda assim, ela permaneceu em seus pensamentos.

Uma carta a sua frente chamou sua atenção. Poderia muito bem conter algumas das respostas às perguntas que giraram a noite toda em sua cabeça.

Era de Daring.

Deslizando o abridor de letras pelo selo de cera, ele desdobrou a missiva e examinou o conteúdo.

Sem respostas.

Apenas mais perguntas.

Daring o convidou para um jantar em sua casa na noite seguinte. Ele disse que tinha alguns parceiros em potencial para Logan conhecer.

Boas notícias... possivelmente.

Mas também insistiu que Goldthwaite trouxesse a Srta. Penny Walters para o jantar. Ele não deu nenhuma explicação. Logan jogou o papel no chão.

Ele não queria Penny naquele jantar. Ele esfregou o rosto, tentando discernir o porquê. Ela era excepcionalmente adorável e obviamente precisava de ajuda. Haveria vários homens em posição de dar-lhe a ajuda de que precisava, mas também homens que poderiam tirar vantagem de sua beleza e natureza amável.

Ele se lembrou de sua conversa sobre fazer coisas. Homens a propuseram trocar favores por doações?

Claro que sim.

Pensar nisso fez seu sangue ferver. Pegando tinta e pena, rapidamente escreveu um bilhete para Daring. Ele já havia financiado o projeto da Srta. Walters. Ela não precisaria comparecer.

Mas então, pensou sobre as palavras dela e onde ela morava. A verdade era que ela precisava de muito mais dinheiro do que ele havia fornecido. Ainda assim, os homens da nobreza eram implacáveis, incluindo ele, e ela não precisava mais sofrer nas mãos dos de sua espécie.

Ele se lembrou de seus dias de escola. Um menino em particular, o futuro Barão de Blackwater, tornara sua vida um inferno. Ele tinha escondido os sapatos de Logan para atrasá-lo para a aula e fazê-lo apanhar. Tinha jogado os livros de Logan, aqueles que ele não podia se dar ao luxo de substituir, na privada. E mais tarde, quando Logan aprendeu a não reagir a todas essas farpas, o menino mais velho começou a bater em Logan quase diariamente. Ele estava sempre exibindo um hematoma ou outro.

Os homens eram cruéis. Mulheres como Penny deveriam ser protegidas de abusos.

Ele tirou o pó da nota com cuidado, dobrou-a e fechou a carta. Ele teria o bilhete entregue logo pela manhã.

Se espreguiçando, deixou o escritório e foi para o quarto.

O grande quarto tinha uma cama enorme no meio e ele olhou para ela. Apesar da exaustão pesando sobre seus membros, nunca antes ele tinha querido menos se deitar.

Parecia... solitário.

Ele balançou a cabeça, esfregando o couro cabeludo com as mãos.

Tinha orgulho de preencher aquela cama sozinho. Logan tinha uma linda suíte ao lado para sua futura noiva. Ele nunca planejou ter uma companheira de cama.

Ele tinha começado investigações sobre várias famílias de bem. Os estágios iniciais, é claro. Mas seus filhos, quando os tivesse, não seriam vítimas da sociedade. Eles teriam um pedigree impecável.

Tirando a camisa, ele se sentou para tirar as botas. Despindo o resto de suas roupas, ele subiu no centro da cama e olhou para o dossel. E agora?

Seus olhos estavam bem abertos, seus pensamentos girando.

Acima de tudo, sobre Penny.

A curva de seus lábios, o contorno delicado de seu pescoço, a espessa massa de cabelo, que embora escuro, parecia brilhar à luz das velas, refletindo a luz com seu brilho. Mas também a aparência desgastada de suas roupas, seu compromisso com aqueles órfãos, colocando-se em perigo por alguns xelins.

A mulher não tinha bom senso.

Precisava parar de pensar nela porque ela também não tinha linhagem. Claro, ela foi educada. Isso estava muito claro. Aprendeu boas maneiras, decoro. E ela era culta até, com um bom sotaque e postura para combinar. Mas seu casamento elevaria seu status, a última peça que o frustava. E Penny Walters não contribuia em nada para essa causa.

Mas pensamentos sobre Clarissa também surgiram. Apesar de sua estatura, ela parecia uma mulher que sabia cuidar de si mesma. E, no entanto, Penny havia insinuado que Clarissa precisava ser salva. Por quê?

Clarissa era tão feroz quanto uma mulher poderia ser. Tinha certeza disso. Ela empunhou aquele atiçador como uma espada.

Finalmente, conforme o amanhecer penetrava em seu quarto, ele conseguiu adormecer. Mas logo um galo cantou de algum telhado à distância e seus olhos se abriram novamente. Tinha muito a realizar hoje.

Depois de se levantar, ele se lavou e se vestiu, deixando instruções para que seu bilhete fosse entregue a Daring, enquanto ele selava seu cavalo e depois fazia uma refeição leve. Precisava coletar fundos para Penny. Primeiro faria isso.

Mas, também precisava arranjar um vestido para ela, porque embora ele insistisse que ela não precisava vir, Daring não parecia acreditar que Logan fosse um homem comprometido, e ele tinha certeza de que ela iria jantar com ele.

O que significava uma viagem à costureira. Seu olho era excelente e ele tinha certeza de que poderia estimar o tamanho dela muito bem. Ele estendeu as mãos e fechou os olhos. A cintura dela parecia ser mais ou menos isso e seus quadris... ele estalou seu olhar aberto novamente.

Ele entregaria o vestido e o dinheiro hoje, apesar do compromisso no dia seguinte. Então, poderia informá-la do convite e... vê-la novamente. Mais cedo ou mais tarde.

Ao sair para o estábulo, parou no galpão do caseiro.

O homem já estava no trabalho e Logan bateu na parede, a porta já entreaberta.

— Meu senhor. — O homem se virou, a surpresa fazendo seu passo vacilar. — O que o senhor está fazendo aqui?

Logan sorriu.

— Preciso de algumas ferramentas e talvez alguns conselhos. Há uma cerca que precisa de reparos e...

— Cerca? — O ombro do homem estalou para trás. — Não aqui?

— Não, — Logan teve que esconder um sorriso. Fergus era excelente em manter a propriedade. — Um amigo.

Uma das sobrancelhas peludas de Fergus se ergueu.

— Amigo? Ela deve ser bonita.

— Não é assim, — Logan respondeu rapidamente. Ele não precisava explicar ao caseiro que um negócio dependia de seu relacionamento com Penny.

Embora a cerca fosse menos sobre o negócio e mais sobre... sua mandíbula cerrou. Uma linda senhora.

Bem, isso não era verdade. Era sobre uma senhora que precisava de ajuda. E que ajudou a outros. E cuja cerca precisava desesperadamente de conserto. E ele não deveria querer passar tempo com ela, mas... bem... ele queria. Ele raciocinou que também estaria descobrindo o que Daring estava tramando, mas era provável que seu tempo seria melhor gasto procurando por uma noiva.

— Claro que não. — Fergus deu um sorriso largo. — Nunca é. — Então, ele começou a puxar as ferramentas dos pinos da parede. — Você vai precisar disso. E vou te mostrar como isso é feito. Você não gostaria que seu feio cavalheiro pensasse que este é seu primeiro conserto de cerca.

Logan deu ao outro homem um longo olhar. Pensar que ele estaria consertando a cerca de algum homem era simplesmente ridículo.

— Eu quero que você saiba que é para um orfanato.

Fergus se endireitou então, seu olhar se estreitando.

— Por que você não disse isso? O que mais precisa ser feito?

Penny estava sentada na sala da frente com Natty no colo enquanto contavam cuidadosamente as pilhas de moedas.

A garota era assustadoramente boa no esforço por ter apenas cinco ou seis anos.

— Se houver dez nesta pilha e cinco naquela, quanto você tem no total? — Ela acariciou suavemente a cabeça da menina enquanto Natty se concentrava nas batatas fritas à sua frente.

— Hmm. — Sua boquinha franziu em uma linha muito séria, seus dedinhos se movendo enquanto ela trabalhava. Ao longe, Penny ouviu a porta se abrir, mas sua concentração estava fixa em Natty.

Seu macio cachos castanhos sopraram suavemente, fazendo cócegas no nariz de Penny.

O som dos pés descalços de Clarissa alcançou sua orelha e o estalo mais profundo de... botas.

Ela ergueu a cabeça.

— Quinze, — cantou Natty, apontando para as moedas. — Está correto, Srta. Penny?

— Isso mesmo, minha linda garota. — Ela acariciou o cabelo da criança enquanto Clarissa aparecia, o Conde de Goldthwaite logo atrás dela.

Sua respiração ficou presa e ela cerrou o punho ao lado do corpo. Ela não deveria sentir nada por este homem. Ele era um lorde, um benfeitor, e suas intenções eram obscuras, na melhor das hipóteses. Se ela não tomasse cuidado...

Ela disse a ele que estava indecisa sobre o casamento, mas a verdade era que esse era seu desejo mais secreto. Mas um que ela esperava que nunca seria cumprido...

Ela se apaixonou uma vez. Isto foi quase um ano depois que Clarissa veio morar com ela. Um soldado e um bom homem. Ele lhe ofereceu uma vida livre de preocupações, financeiras e outras coisas, mas Clarissa não foi convidada para essa vida.

Penny recusou a oferta e nunca olhou para trás. O tenente Vrabel tinha sido um candidato perfeitamente bom. Mas essas crianças eram sua vida e qualquer pessoa que quisesse compartilhar disso teria que ajudá-los também. Provavelmente nenhum homem concordaria com tal imposição. E então... ela permaneceria sozinha.

E era por isso que era melhor deixar o Conde de Goldthwaite em paz. Ele chamou seus amores de moleques. Ele era uma estátua de gelo.

Não importa como ele fazia seu coração bater mais rápido e seu próprio corpo esquentar.

Claro, ele doou para a causa dela também, mas isso não significava que ele gostaria de viver com uma casa cheia de crianças abandonadas em tempo integral. Ela balançou a cabeça. O que estava pensando? Ele era um conde. Claro, não iria ajudá-la a criar órfãos.

Seu coração pulou uma batida. O que aconteceu com sua mente normalmente sensível?

— Penny, você tem uma visita. — Clarissa sorriu maliciosamente enquanto estendia a mão para Natty. — Vamos amor, vou continuar sua lição na outra sala.

Natty esticou o lábio inferior.

— Mas eu quero ficar com a senhorita Penny.

Natty sempre ficava pegajosa depois de uma noite de pesadelos, e ela tivera alguns terríveis na noite anterior.

Penny acariciou suavemente a bochecha da garota, sua pele aveludada e nata.

— Você está bem. E você sabe que Clarissa te ama do céu e de volta.

Natty esticou o lábio, mas obedientemente desceu do colo de Penny e pegou a mão de Clarissa.

Penny havia evitado olhar para Goldthwaite. Sua mandíbula cinzelada e olhos penetrantes a perturbaram no dia anterior, mas quando a sala se esvaziou, ela não teve escolha.

Foi quando percebeu que ele segurava vários pacotes.

O primeiro era uma grande caixa com tampa.

Sem palavras, ele entregou a ela.

Ela olhou para a caixa, enfeitada com uma linda fita violeta pálido, seus olhos franzindo mesmo enquanto seu estômago se apertava em nós.

— O que é isto?

Ele pigarreou.

— Sua presença foi solicitada no jantar desta noite.

— Jantar onde? — Ela perguntou colocando na mesa a caixa em que ela e Natty tinham acabado de trabalhar. Moedas encontravam-se espalhadas. Droga. Esse era o dinheiro do padeiro.

Ela se recusou a abrir a caixa e olhar o seu conteúdo. Ela não se atreveu a ver o que havia dentro, não aceitaria. Não importa o que seja.

— Na casa do Duque de Darlington.

Seu suspiro preencheu o espaço entre eles. O mesmo duque que rejeitou seu pedido de fundos?

— Por que um duque me quer em sua mesa?

Goldthwaite fez uma careta.

— Não sei. Assim como não sei por que ele sugeriu que eu patrocinasse seu orfanato.

Ela inclinou a cabeça. Esta pergunta a atormentou por metade da noite.

— E por que você concordou em ser um benfeitor?

Ela viu a contração sutil de sua boca antes de ele responder. O que isso significava?

— Fazia sentido.

Essa foi uma resposta razoável. Muito incompleta, mas razoável, no entanto.

— Bem, então ele teve sucesso, suponho. Então, por que eu deveria ir?

— Porque ele é um duque e convidou.

Ela balançou a cabeça.

— Não me importo com isso. Sou necessária aqui. — Não era totalmente verdade. Mas ela não queria ir. Não pertencia a esse mundo e, além disso... já estava determinada a não abrir a caixa.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Você precisa levantar fundos. E o acesso a um lorde com o poder dele não faria nada além de beneficiar sua causa.

Droga. Ele estava certo.

— Ok. Mas não posso aceitar o... — —Ela agitou sua mão sobre a caixa.

Ele se aproximou.

— Por que não?

— Porque. — Ela soltou um suspiro. — Existem regras sobre essas coisas por uma razão. Os homens esperam coisas quando você aceita presentes deles.

Ele fez um rosnado baixo e profundo em sua garganta.

— Quais homens e que coisas especificamente? Esta não é a primeira vez que o assunto é mencionado.

Sua irritação a pegou desprevenida.

— Ninguém fez nada, — ela respondeu, sua voz suave. A besta nele estava crescendo novamente, mas ela descobriu que não se importava nem um pouco quando ele a estava defendendo. Na verdade, um pouco de calor se espalhou por sua barriga.

A verdade é que houve alguns homens que lhe fizeram ofertas bastante óbvias, mas nada pior do que isso. Embora os incidentes tivessem sido inofensivos o suficiente, eles a ensinaram a ter cuidado. Mesmo assim, era bom saber que, se a situação fosse ainda mais séria, havia alguém que se importava.

Seu olhar se estreitou.

— Você está me acalmando novamente. Diga-me a verdade. Um homem te machucou?

Ela quase riu.

— Não, meu senhor, estou bem. E eu realmente aprecio sua preocupação. Obrigada.

Seus ombros relaxaram. Só um pouco.

— Nesse caso, abra a caixa.

Ela mordiscou o lábio, olhando para a linda fita.

— Por favor, entenda que estou bem porque nunca permiti que um homem me prendesse por obrigação. Eu...

— A única obrigação que vem com esse vestido é ir ao jantar. — Ele estendeu a mão e tocou o punho puído da manga do vestido dela. — É um fato triste que na presença da elite você deva parecer que tem dinheiro para que eles a ajudem. E às vezes, nem mesmo quando você o tem, eles o aceitam como um dos seus. Mas estou divagando. No seu caso, Srta. Walters, se você colocar roupas melhores, a considerarão uma mulher mais bem-sucedida e, portanto, estarão mais dispostos a doar para a sua causa. Use o vestido esta noite e aproveite a oportunidade para arrecadar mais dinheiro. — Ele olhou ao redor da casa, seus olhos observando o papel de parede desbotado e a madeira lascada. — Esta já foi uma bela casa, mas você está certa, é hora de se mudar.

E com isso, ele colocou a mão sob a dela e virou a palma para cima.

Sua pele formigou com o toque e um nó se formou em sua garganta. Como ele poderia evocar sem esforço tal resposta? Mas, não teve tempo para pensar mais quando uma bolsa pesada pousou em seus dedos abertos.

Ela ofegou, sabendo instantaneamente o que era.

— As três mil libras?

— Seis mil, na verdade.

Ele estava perto. Tão perto que ela podia sentir o cheiro picante de seus charutos e o almíscar masculino que fazia cócegas em seu nariz e fazia seu interior vibrar. E ela podia ver seu pomo de Adão, sua garganta estreita e tão masculina quanto o resto. Seus dedos coçaram para alcançar e tocar a pele. Trilhar as mãos ao longo dele.

— Quanto? — Ela perguntou.

Ele riu baixo e profundamente.

— Sei que ainda não compra uma nova casa, mas é um verdadeiro começo. E... — Ele tocou seu braço. — Eu acho que você deveria comprar uma carruagem.

Ela mal conseguia respirar. O leve toque de sua mão foi o mais próximo de um abraço que ela teve fazia há muito tempo e ela teve o desejo distinto de colocar a testa em seu peito. Extrair de seu poço infinito de força. Como seria a sensação de ser abraçada por um homem assim?

— Eu não poderia. — Ela recuou então, quebrando o feitiço. — Isso requer um cavalo e um estábulo. Demais...

Ele fez uma careta.

— Ok. Crie um orçamento para alugar. Eu insisto. É minha única outra estipulação para a doação de fundos. Você não será boa para essas crianças se morrer.

— Então, você admite que eles são crianças e não moleques? — Mas, sorriu com as palavras. A preocupação dele de alguma forma aliviou um pouco o fardo sobre os ombros dela.

— Bem, eu só conheci aquele, mas sei que a palavra moleque ofende você... — Então, ele ergueu a outra caixa. O último item que ele carregava. Era um recipiente aberto de madeira rústica com uma alça de metal simples. — Agora, se você me dá licença, eu tenho trabalho façam.

 

 

Capítulo 04


Logan passou a tarde consertando a cerca. Apesar do tempo frio, no meio do dia ficou bastante quente e ele tirou a jaqueta e a gravata, vestindo apenas uma camisa aberta.

A cerca ainda precisava de uma boa camada de tinta, mas pelo menos consertou todos os piquetes quebrados.

Penny tinha saído para limpar os canteiros, e ele teve uma visão excelente de seu traseiro enquanto ela trabalhava ajoelhada no jardim, para limpar todas as folhas mortas.

Não que a deliciosa vista fosse o motivo de ele consertar a cerca.

Embora, para ser honesto, não tinha certeza do porquê fizera o trabalho.

Exceto que precisavam de reparos. Mas, não tinha feito a ela uma única pergunta ou descobriu até mesmo um pouco de informação que poderia ajudá-lo com as intenções de Daring.

Clarissa trouxe as três meninas várias vezes. Em um ponto, elas ajudaram a limpar os canteiros, trabalhando tão duro para fazer igual a Penny. Num outro momento, elas observaram atentamente enquanto ele consertava a cerca. E, finalmente, entregaram-lhe água, e pão com queijo.

A pequena, Natty, que ele vira fazendo matemática, parecia tão orgulhosa de lhe oferecer o prato que seu peito realmente ficou apertado.

— Você gostaria de alguns frescos, meu senhor? — Ela lhe deu um grande sorriso enquanto suspirava, claramente satisfeita por ter dito as palavras. Ele não teve coragem de dizer a ela que a palavra era refrescos.

— Claro, minha senhora. Obrigado.

Penny tinha olhado de volta para ele então, de onde estava, o sorriso em seu rosto, brilhando através de seus olhos.

Ele quase se engasgou com o queijo. Porque ela estava deslumbrante assim. E porque nenhuma mulher parecia tão satisfeita com ele antes.

Por que isso importava?

Ele não precisava da aprovação de nenhuma mulher. Estava trabalhando para ser aceito pelo crème de la crème da sociedade. Ele queria...

Ela timidamente olhou para baixo enquanto limpava um pouco de sujeira de seu vestido. As bochechas de Penny estavam vermelhas e seus lábios suaves e convidativos.

Por que seus objetivos de repente pareciam menos importantes? Dinheiro... quem se importava?

Sociedade... deixe todos eles irem para o diabo.

Um bom par para casamento... malditamente chato.

Esta mulher. A aprovação dela, de repente significou mais do que qualquer coisa, e ele deu meio passo para trás.

Natty franziu o cenho para ele.

— O queijo não estava bom? — Ela baixou a voz, sua pequena sobrancelha se unindo. — Eu comi queijo estragado uma vez. Foi terrível.

E assim, algo nele mudou. Bem, outra coisa. Essa menina era linda e trabalhava muito para ter uma vida boa. Sua atitude de afundar ou nadar de repente ficou menos firme.

Seu estômago embrulhou enquanto pensava sobre as coisas cruéis que um mundo como este poderia fazer a uma criança.

— O queijo estava excelente. Fiquei bobo com a delícia.

Natty lhe deu um sorriso brilhante, saltando sobre os calcanhares. Penny se levantou e foi até eles, o portão rangendo quando ela o abriu.

— Muito bem, meu doce, — ela sussurrou enquanto se inclinava perto do ouvido de Natty. — É hora de seu descanso agora.

Natty acenou com a cabeça e ficou na ponta dos pés para beijar a bochecha de Penny.

— Eu te amo, — ela sussurrou antes de se virar para voltar para a casa.

— Eu também te amo. — Penny respondeu, vendo a criança sair.

— Quantos anos tem Natty? — Ele perguntou, mais para quebrar o silêncio que de repente parecia estranho. Ou talvez fosse apenas ele que se sentia inseguro. Assistir a menina subindo as escadas o fez tremer por dentro. Ela era tão pequena.

— Não tenho certeza, — disse Penny. — Ela parece ter uns quatro ou cinco anos, mas pode estar desnutrida. Seu intelecto a faz parecer como se tivesse seis.

Essas palavras retumbaram em seu peito. Ele queria fazer cem perguntas. Quem mataria um bebê de fome assim? Como ninguém poderia saber quando ela nasceu? Mas as perguntas ficaram presas em sua garganta.

— Há quanto tempo Natty está sob seus cuidados?

— Um ano, — Penny respondeu, voltando-se para ele. — Ela já percorreu um longo caminho. Mas ainda sofre de terrores à noite.

Isso o fez estremecer. E de repente, as seis mil libras não pareciam suficientes. Ele tinha mais dinheiro do que poderia gastar na vida. E outro negócio que estava prestes a entrar. Mas ele nunca teve a chance de dizer as palavras como uma voz masculina por trás dele.

— Você voltou, não é?

A voz trovejou por trás e ele não precisou se virar para saber que era um dos homens da noite anterior. Essa altercação havia terminado em um impasse, e duvidava que isso acabasse. Felizmente, sua jaqueta já estava tirada.

— Estou de volta. — Ele girou, colocando-se na frente de Penny mais uma vez. — Vá para dentro, querida.

— Querida, é isto? — O homem zombou. — Quem é você para chamá-la assim?

Logan o reconheceu da noite anterior. À luz do dia, ele parecia ainda mais descuidado. Dentes faltando, roupas sujas, cabelo não aparado projetando-se sob o chapéu.

— Quem é você para perguntar? — Ele rosnou, endireitando-se.

— Meu senh... — Penny começou.

— Apenas Logan, — disse ele, interrompendo-a. Não era sobre títulos, tratava-se de homens. E uma mulher e como esses rufiões iriam deixá-la em paz.

— Logan, — ela disse, se aproximando de suas costas. — Não há necessidade de responder a este homem. Ele está apenas tentando incitar você para uma luta.

— Eu estou. — O outro homem cuspiu no chão. — Este não é lugar para você. Você cheira a West End e não pertence a este lugar.

Dois outros homens saíram de o beco do outro lado da rua e começaram a se aproximar.

Logan sabia que seria difícil lutar contra três homens. Melhor eliminar um rapidamente. Com isso em mente, não hesitou, apenas deu um soco, acertando o homem que estava a sua frente direto no nariz, antes que os outros tivessem chegado pelo lado da estrada.

O homem caiu como uma pilha de tijolos enquanto os outros dois começaram a correr na direção deles.

— Para dentro, — gritou para Penny enquanto enrijecia sua postura.

Então, ergueu os punhos. Deixe que venham. Ele estava pronto.

Penny piscou enquanto assistiu os outros dois homens pularem sobre Logan, engolfando-o sob seu peso. Ela tinha que fazer algo.

Ela podia ouvi-los esmurrando seu corpo com os punhos.

Abaixando-se, ela agarrou um dos piquetes quebrados que estavam no chão.

Logan empurrou um dos homens para longe dele, levando o punho duro no estômago do outro homem. O rufião se dobrou com um gemido. Penny não hesitou. Levantando o piquete sobre a cabeça, derrubou a madeira dentada nas costas dele, jogando-o no chão.

Ela ofegou quando o golpe atingiu seu corpo. Como é que os homens lutavam assim? Logan girou e deu um soco no terceiro homem. Ele voltou cambaleando para a rua. Então, sem dizer uma palavra, Logan agarrou a mão dela e começou a puxá-la escada acima.

Abrindo a porta com força, foi recebido por Clarissa, mais uma vez segurando um atiçador nas mãos.

— Precisa disso? — Ela perguntou, olhando por cima do ombro de Logan.

Ele não respondeu enquanto entrava na sala, ainda puxando Penny. Assim que os dois entraram, ele bateu e trancou a porta atrás deles.

Logan se virou para olhar para ela então, e foi quando ela percebeu quantos socos ele levou.

O lábio estava inchado e rachado, a bochecha vermelha e havia um corte logo acima do olho.

— Oh, Logan, — disse ela, estendendo a mão, mas largando-a novamente. Ele tinha recebido essas feridas defendendo a ela e as crianças.

A fez doer por dentro ver como ele se colocou em perigo e, pela primeira vez, se permitiu pensar sobre como seria tê-lo como seu par.

Um homem que a ajudou a carregar o fardo e compartilhar o amor pela sua família adotiva. Um homem que as defendeu e consertou cercas e... sua respiração ficou presa.

Um homem que lhe daria uma família própria além daquela que ela já havia construído. Mas certamente, ele não a desejaria. Ela não era uma dama, era pobre e vinha com todo um elenco de meninas para sustentar.

Ele fez uma careta.

— Este lugar não é seguro.

Ela assentiu.

— Eu sei. É por isso que aceitei sua oferta esta noite. — Ela não acrescentou, apesar de quaisquer consequências ocultas. Porque confiava nele. Ela se preocupou com seus motivos no início, mas ele realmente parecia querer ajudar. Ela não podia negar isso depois dos golpes que ele levou.

— Vamos limpá-lo, — disse ela, em seguida, tirou as luvas de jardinagem e deslizou sua mão nua na dele.

A sensação de sua palma mais áspera contra a sua mais macia fez tentáculos de prazer dançarem em seu braço, mas ela os ignorou enquanto o conduzia escada abaixo para a cozinha.

Trabalhando rapidamente, ela colocou água no fogão para esquentar e pegou trapos novos. Assim que a água esquentou, ela começou a limpar as feridas. O corte acima de seu olho ainda sangrava, e ela gentilmente lavou a ferida. Enxaguando o pano, ela limpou seu rosto, e então seu pescoço.

— Tire sua camisa, — exigiu. Precisava ver o que havia acontecido com seu corpo.

Ele obedeceu sem dizer uma palavra, puxando cuidadosamente o tecido sobre a cabeça, estremecendo quando seu braço se esticou.

Ela ofegou. Não por causa das contusões surgindo em sua carne, mas porque ele era tão... deslumbrante. Músculos duros ondulando em ondas que desciam por seu tórax, afinando em uma cintura estreita. Um punhado de cabelo espalhado em seus peitorais, e ela teve o desejo de passar a mão por ele. Sentir sua textura contra sua palma. Ela pressionou as mãos contra o seu próprio peito para evitar que o coração pulasse.

Sua respiração foi lançada em suspiros curtos e seu corpo doeu com algo que não conseguia nomear, enquanto ela alcançava o pano novamente e começou a limpar seu torso. Mesmo através do pano, podia sentir as ondulações de seus músculos e sua cabeça mergulhou mais para baixo. Ela sabia que estava intimamente perto, mas queria senti-lo, cheirá-lo. Penny gostaria que ele envolvesse sua cintura com o braço e a puxasse para perto.

— Penny, — ele rosnou, baixo e profundo. — Nós precisamos conversar.

— Conversar? — Ela engoliu em seco ao responder. — Sobre o quê? — A maneira inadequada como estou lhe tocando ou os pensamentos impuros que estou tendo sobre minha pele deslizando contra a sua? Sua pele enrubesceu com a ideia.

— Sobre esta casa.

Oh. Isto. A decepção desceu por sua espinha.

— Não há muito a dizer. O valor que eu posso obter se vendê-la, não vai me comprar muito de nada.

Ele levou a mão à cintura dela e, Deus a ajudasse, se ele não a puxou para mais perto. Exatamente como ela havia imaginado. Todo o seu corpo aqueceu por estar tão perto dele.

— Sempre há uma solução.

Ela assentiu, deixando cair o pano na tigela e espalhando as mãos sobre os ombros dele. Eles eram largos e muito fortes. Seus dedos cravaram na carne. Só um pouco. Tocá-lo assim parecia que ele era uma âncora em uma tempestade. Ela gostaria de pressionar sua bochecha no cabelo dele perfeitamente aparado.

— Sim. É por isso que concordei em jantar esta noite. Certamente, posso encontrar alguns outros benfeitores.

Seu peito retumbou. Ela ouviu ou sentiu? Penny não tinha certeza, embora isso não importasse. Isso fez com que suas próprias entranhas voassem como borboletas.

— Temos um compromisso amanhã. Mesmo que eu tenha entregado seus fundos, nós os manteremos. Vou mandar meu condutor para lhe buscar e o meu caseiro irá ficar aqui enquanto você estiver fora. Ele pode trabalhar no local e ficar de olho nas coisas enquanto você estiver fora.

Ela balançou a cabeça.

— Isso é demais. Não posso...

— Eu insisto, — ele disse, então se levantou. — Estarei de volta para buscá-la às sete horas nesta noite. Tudo o que você precisa estará na caixa.

Eles ainda estavam perto, as mãos dela em seus ombros, e o peito dele deslizou para cima pelo tronco dela. Ela ofegou, seus mamilos se endureceram enquanto seus dedos cravavam ainda mais fundo na pele dele. A mão de Logan deslizou ao redor de sua cintura para que seu estômago pressionasse o dele. Uma dor se formou bem no fundo, latejando entre suas pernas.

Penny nunca tinha imaginado que o toque de um homem seria tão... emocionante. Ele não parecia mármore agora. Era um homem de carne e sangue que irradiava calor e virilidade.

O queixo dela se contraiu para olhá-lo e ele retribuiu o olhar, seus olhos dourados enrugados em pensamento.

— Clarissa e as crianças poderiam passar a noite na minha casa? — Ele perguntou.

Ela balançou a cabeça. Uma noite inteira tão perto desse homem? Ela não poderia. Porque ele estava limpando sua mente de todos os seus pensamentos razoáveis e sensatos.

— A fechadura é excelente.

Ele deu um único aceno de cabeça, mesmo enquanto apertava sua cintura novamente e depois a deixava ir.

— Verei você às sete, então.

O ar frio que atingiu sua pele fez um arrepio de decepção rolar por seus ombros. Seu toque tinha sido como um sonho.

Suas mãos eram grandes e fortes, e seus corpos se encaixavam e...

— Sete, — repetiu enquanto ele colocava a camisa.

Então, ele se foi. Com um suspiro, ela começou a limpar a cozinha. Deviam já ser quatro da tarde. Ela precisaria de cada segundo que lhe restava para se preparar para esta noite.

 

 

Capítulo 05


Pelo segundo dia consecutivo, Logan chegou em casa e tinha visita.

Não era a sua ideia de diversão.

Bem, isso não era verdade. Penny acabou sendo uma convidada encantadora, mas era uma anomalia. E a carruagem estacionada do lado de fora lhe dizia que um convidado muito diferente o esperava lá dentro.

O Duque de Darlington.

Logan sabia que ele estava horrível. Sua camisa estava rasgada, seu rosto espancado, e ele não se preocupou em dar um nó na gravata.

Pelo menos Penny lavou o excesso de sangue.

Maldição, mas aquela mulher jogou sua vida no caos.

Para ser justo, ela implorou que ele não lutasse. Mas, honestamente, como duas jovens e suas pupilas sobreviveram sem um protetor? Penny provavelmente era competente e tinha um jeito de acalmar as penas eriçadas dos homens, mas isso não afastava os criminosos.

E Clarissa era forte o suficiente, mas a jovem era uma pessoa desajeitada que nem usava sapatos.

Sentia dor ao pensar nelas à mercê do mundo. Entrou em casa e começou a subir as escadas para a sala de estar. Deslizando a porta, encontrou o duque recostado em seu sofá.

— Você finalmente está em casa, — a voz profunda de Daring retumbou. — Você parece uma merda.

— Daring, — disse ele como forma de saudação. — Que inesperado.

— Por quê? — Daring disse, acenando com a mensagem de Logan desta manhã. O papel flutuou no ar. — Você me escreveu.

Logan parou.

— E? Uma nota de resposta teria bastado.

Daring riu.

— Vim lhe dizer que a presença da Srta. Penny Walter é necessária esta noite. Não há como contornar isso.

Logan sabia que isso era verdade.

— Ok. Já fiz os arranjos.

— E você já a ajudou com seu... projeto?

— Sim, — respondeu com cautela. Tantas perguntas surgiram em seus pensamentos. Por exemplo, porque Daring estava tão preocupado com um orfanato, ou por que desejou que Logan trabalhasse com outros lordes. Mas os pensamentos que envolviam Penny venceram. — Diga-me. Quem mais estará no jantar esta noite?

— Alguns lordes que você pode conhecer e outros provavelmente não.

Maldito homem e suas respostas vagas.

— Você mencionou parceiros em potencial. São para mim ou para ela?

— Para ambos, — ele sorriu. — Gostei tanto da ideia de um buy in1 de caridade, acho que vou torná-lo um requisito para todos. É por isso que ela precisa estar lá.

Logan alterou-se. Isso deveria tê-lo deixado feliz. Se cada um dos homens contribuísse, Penny poderia ter uma casa muito mais agradável e receber mais órfãos. Mas, odiava a ideia de esses outros homens passarem tempo com ela. Não era ciúme, disse a si mesmo. Ela era bonita demais; e homens, como ela mesma colocou, às vezes queriam coisas em troca de seus favores. Não permitiria que homens como aqueles a machucassem do jeito que fizeram com ele.

— Posso negociar em seu nome.

Daring arqueou uma sobrancelha.

— O Conde de Ouro, negociando por um orfanato pobre? — Ele se levantou da cadeira. — Perdoe meu ceticismo.

— Não, até que você me diga exatamente o que quer dizer. — Ele cruzou os braços, recusando-se a estremecer, mesmo quando suas costelas doíam de sua briga anterior. — Tenho excelentes habilidades de negociação.

— Tenho certeza que sim. — Daring riu. — Mas sabe-se que você lucra com cada empreendimento que consegue. Não espera lucrar com a Srta. Walters também, não é?

A cabeça de Logan estalou para trás como se tivesse sido fisicamente atingido.

— Como você ousa. Penny e aquelas crianças precisam de alguém que cuide...

Os olhos de Daring se arregalaram com surpresa.

— Você gosta dela.

A mandíbula de Logan apertou. Não estava disposto a admitir isso para ninguém, nem mesmo para si mesmo. Ele esteve tão perto de beijá-la hoje, ele cheirou a hortelã fresca em seu hálito, sentiu a pressão de suas curvas suaves. Mas jurou que seus presentes eram de graça e ele se apegaria a isso. Mas, caramba, tinha sido difícil. Queria se perder nela.

— Não é isso. — Ele mentiu. — Ela é incomumente bonita. — Agora, essa era a verdade. — E ela aludiu ao fato de que houve outros homens que tentaram explorá-la por causa de sua beleza. Você conhece bem todos os seus parceiros em potencial? Como tratariam uma mulher vulnerável assim?

Daring passou a mão pelo cabelo, mas Logan observou enquanto o outro homem tentava não sorrir.

— Afinal, o Conde de Gold tem um coração.

Ele claramente fez porque o órgão gaguejou em seu peito. Por que essas palavras o perturbaram?

Elas não eram um insulto.

Mas, supôs que considerava os sentimentos uma fraqueza. Ele tinha amado o seu pai. Veja onde isso o levou. Arruinado e enviado para Eton por sua tia. Os outros meninos da escola foram impiedosos. Mas ele aprendeu como sobreviver, como prosperar.

— Que homem não protegeria um grupo de crianças? Meninas em sua maioria.

Daring balançou a cabeça.

— Muitos. Estou ansioso para conhecer a Srta. Penny Walters esta noite. — Então, Daring curvou o lábio. — Mas eu recomendaria um banho primeiro.

Ele não se preocupou em mencionar que Penny já havia lhe dado um banho de esponja. Um que levaria dias para se recuperar adequadamente. Suas mãos gentis em sua pele tinham sido uma tortura requintada. Ele queria beijar aquelas mãos, suas palmas abertas. Inferno, queria beijar um caminho da ponta de seu dedo mindinho aos lábios.

— Um banho? Vou manter isso em mente.

— A menos que você vá se apresentar com um rufião. Para assustar os outros homens para longe da Srta. Walters, — disse Daring. — Como você ficou tão machucado, afinal?

Ele suspirou.

— Ela tem alguns vizinhos desagradáveis. Eles têm ideias sobre a mulher solteira que vive sozinha.

Daring se endireitou e um lampejo de preocupação cruzou seu rosto.

— Ficarei curioso para conhecer os planos dela para reparar tal situação.

Logan respirou fundo. Ele também tinha algumas ideias se formando. O problema? Nenhuma delas combinava com seus próprios objetivos para o futuro.

Fez uma nota mental para enviar outro pedido a uma boa família para encontrá-lo como um pretendente em potencial. Ele tinha ouvido falar que Lady Abigail Stewart havia completado sua primeira temporada, mas ainda não tinha um pretendente. O pai dela era um marquês e extremamente bem relacionado. Escreveria para ele depois do banho.

Porque ele precisava tirar Penny de sua mente.

Penny ficou na frente de um espelho enquanto tirava peça após peça da caixa. Seu rosto aqueceu quando uma camisa de seda escorregou por entre seus dedos. Logan teria escolhido isso para ela? Ou tinha sido apenas a modista? Em seguida, vieram meias e ligas. Não o tecido durável que ela usava atualmente, mas o material fino e transparente que ficaria delicioso contra sua pele.

Ainda mais porque imaginava que ele os tinha tocado.

O calor passou por seu rosto. Ela se olhou no espelho para ver seu reflexo vermelho brilhante, e sua tez normalmente perolada parecendo uma beterraba.

Alguém bateu forte na porta e entrou sem esperar permissão.

— Por que estás corada? — Clarissa perguntou enquanto se jogava na cama de Penny. Então, ela ofegou ao escolher uma meia. — O que é isto?

— Roupas para jantar com um duque. — Penny balançou a cabeça. — Logan me deu.

— Logan? — Clarissa arqueou uma sobrancelha. — Você quer dizer o Conde de Goldthwaite?

Penny sentiu suas bochechas queimarem novamente.

— Eu sei. Ele é um conde e eu sou a pobre provedora de um orfanato em ruínas. Não me esqueci.

O ombro de Clarissa se ergueu.

— O que mais você puder dizer sobre ele, ele não parece estar lhe dando essas coisas apenas para jogá-la na cama.

Penny arrancou a meia da mão de seu pupilo.

— O que você sabe sobre jogar na cama?

Verdade seja dita, Penny também não sabia muito sobre isso.

— Sei o suficiente para saber que nossa situação seria muito pior se você se pegasse carregando uma criança.

A própria ideia de carregar uma criança a fez enrubescer, mas não de vergonha. Prazer com a ideia de tocar a pele de Logan a percorreu. E carregar seu filho... o desejo a fez doer. Ela mordeu o lábio enquanto abaixava a cabeça para esconder sua reação.

— Clarissa, — disse Penny bruscamente. — Eu não vou engravidar. — Ela respirou fundo, para se firmar. — Mas isso levanta a questão. Quais são as motivações dele? Quando o conheci, ele não me pareceu um homem decidido a ajudar crianças abandonadas. Na verdade, parecia bastante ansioso para se livrar de mim naquela primeira noite. Mas nos últimos dias... ele mudou de ideia? Ele não me parece um homem que geralmente faz caridade. Por que nós?

Clarissa encolheu os ombros.

— Não sei. Mas, enquanto isso acontecer, não é isso que importa?

Penny supôs que isso era verdade. Apesar que, desde o início ela não tinha entendido suas motivações e o porquê delas a incomodavam cada vez mais.

Porque, de alguma forma, seus sentimentos estavam começando a se envolver. Ele a resgatou de várias maneiras. E ele era tão bonito. Quando ela deslizou as mãos sobre ele para tratar suas feridas, faíscas voaram de sua pele para a dela.

Ela forçou sua mente a deixar esses pensamentos.

— Você pode ajudar com meu cabelo?

— É claro. — Clarissa saltou da cama mais uma vez. — Mas quero tocar em todas as roupas.

Penny sorriu.

— Você nem gosta de usá-las. Meias ou sapatos ou espartilhos.

Clarissa encolheu os ombros.

— Não gosto de usar essas botas limitadoras. Chinelos de seda, isso pode ser algo totalmente diferente.

Penny respirou fundo. Era um tom sonhador na voz de Clarissa?

Mas ela deixou sua amiga ser como Clarissa, que torceu seu cabelo em voltas e mais voltas extravagantes, até mesmo enrolando uma fita em seus cabelos grossos. Então, ajudou Penny a se vestir, acariciando delicadamente cada peça de roupa. Quando ela terminou, o resto das garotas entraram e dançaram ao redor de Penny, declarando-a a mulher mais bonita de toda a Inglaterra.

Uma batida na porta da frente interrompeu, e Clarissa saiu da sala para abri-la.

Penny começou a descer as escadas também, as meninas ainda girando em torno dela.

Quando ela alcançou o topo, Logan já estava na entrada da casa, parecendo elegante em sua roupa preta para a noite. Exceto pelos inchaços e hematomas no rosto, é claro.

Natty correu até ele, segurando sua mão.

— A senhorita Penny não está linda? Como uma Princesa na vida real?

Sua pele mais uma vez esquentou, não era uma cor lisonjeira para combinar com o roxo pálido de seu vestido, ela tinha certeza disso. Mas sentia-se deslocada em suas roupas finas. Não, não era exatamente isso. Queria que ele pensasse que ela ficava bonita vestida com elas. Como se ela pudesse pertencer ao seu mundo, mesmo que seu lugar fosse aqui. Era um conto de fadas, sabia, mas por uma noite, gostaria de fingir.

Ele olhou de Natty de volta para ela. A intensidade de seu olhar fez a umidade evaporar de sua garganta.

— Ela está, de fato.

 


Capítulo 06


Logan olhou para a mulher diante dele, mal conseguindo falar.

Ele ficou surpreso por ter conseguido responder a Natty.

Porque sabia o quão atraente Penny era, mas vestida assim... ela era devastadora. Seu peito doía e ele mal conseguia respirar.

O vestido roxo pálido que ele escolheu fazia conjunto com seu cabelo castanho e olhos, enquanto destacava a cremosidade de sua pele. O vestido, caindo logo abaixo do ombro, acentuava seu corpo pequeno e seios bastante amplos, a cintura alta natural exibindo sua figura e de uma maneira que roubava sua razão.

— Senhorita Walters, — disse, estendendo a mão. — Você está pronta?

Ela sorriu para ele, suave, doce e dolorosamente quente.

— Pronta. Eu acho. — Então, ela deu uma risadinha insegura. — Na verdade, não tenho certeza. Nunca fui convidada para a casa de um duque antes.

Ela desceu as escadas e sua mão enluvada deslizou para a mão dele estendida. Segurando os dedos dela, ele apertou levemente.

— Não se preocupe com isso. Darlington só quer ajudá-la. Ele é um aliado e se não for... — Ele sorriu com tristeza. — Meu rosto aguenta mais alguns golpes.

Ela fez um barulho agudo, quase baixo demais para ele ouvir, mas seus olhos ficaram marejados, e ela segurou a mão dele com mais força.

— Logan, — ela disse tão baixo que era apenas um sussurro.

Ele ouviu o agradecimento na maneira como ela pronunciou seu nome. Ele sacudiu o queixo em resposta, de uma maneira que esperava parecer um aceno de cabeça, a emoção obstruindo sua garganta. Queria tocá-la. Beijá-la e segurá-la com conforto e desejo. Em vez disso, olhou para Clarissa.

— Meu caseiro está comigo, mas ele vai ficar aqui esta noite. Ele fica feliz se sentar nos degraus da frente. Se você permitir, ele pode ocupar sua sala. Ele voltará amanhã para colocar uma nova camada de tinta na casa a fim de ajudá-la a vender mais rápido.

— Vender? — Clarissa levantou a saia e começou a descer os degraus.

Logan ergueu as sobrancelhas. Ela estava com um par de botas novas e brilhantes em vez de deixar os pés descalços. Isso a fez parecer muito mais velha. Mais como uma mulher e menos como uma criança.

Penny se voltou para sua protegida.

— Sua senhoria elevou sua contribuição. E vou encontrar outros possíveis benfeitores esta noite. É por isso que estou indo. Nós podemos muito bem sermos capazes de nos mudar.

Clarissa deu um grande sorriso e sem aviso, agarrou a outra mão de Logan, apertando seus dedos.

— Obrigada, — ela sussurrou enquanto seus olhos azuis se encheram de lágrimas também.

As crianças começaram a aplaudir e a dar vidas, três meninas dançando no topo da escada.

Seu coração apertou em seu peito. Como poderia não saber que ajudá-las o faria se sentir assim? A pior parte, tinha sido tão fácil. Uma soma irrisória para ele havia literalmente mudado suas vidas.

A vergonha encheu seu estômago quando baixou a cabeça. Ele tinha estado tão cheio de suas próprias ambições. Ter mais ouro, ser o mais bem-sucedido, mostrar a cada membro da alta sociedade seu verdadeiro valor.

Ele tinha escrito para aquele marquês sobre sua filha. O homem provavelmente o rejeitaria como outros fizeram antes dele. Nesse momento, ele não se importou.

Mas essas ocupações tinham sido tão... vazias.

Eles gostaram mais dele?

Aqueles membros da elite valorizavam seu ouro ou suas proezas? Nada disso.

Mas essas pessoas o consideravam um homem de grande valor por seis mil libras. E ainda mais surpreendente, ele se valorizou.

— Nós devemos ir, — ele disse, sua voz áspera e rascante. — O Duque de Darlington está nos esperando.

Penny deu um tenso aceno de cabeça enquanto cruzavam a sala, e ele abriu a porta da frente, permitindo que Fergus entrasse na casa. Ele então, colocou um xale grosso sobre os ombros de Penny para evitar o ar frio de dezembro. Depois de colocar a mão de Penny em seu braço, a conduziu para fora da porta e para a carruagem que os esperava.

A noite lançou sombras no interior do veículo enquanto ela deslizava em sua cadeira, e ele se acomodou no banco em frente a ela. O silêncio caiu em torno deles como um cobertor.

— Você sabe quem vamos encontrar esta noite, além de Sua Graça? — Ela perguntou.

Ele balançou sua cabeça.

— Não.

Estava na ponta da língua lhe dizer que todos eram parceiros de negócios em potencial, mas não disse as palavras. Elas fizeram seu interior torcer, e tentou discernir o porquê.

Tinha visto a felicidade em seus olhos, a gratidão. Seus sentimentos sobre ele mudariam se soubessem a razão pela qual os ajudou?

Que adquirir um antro de jogo era a única razão pela qual contribuiu para a causa delas. Seu estômago se retorceu ainda mais.

Penny suspirou a sua frente.

— Portanto, devemos encontrar homens desconhecidos. Isso me deixa nervosa.

Aquele sentimento de proteção que sempre estava logo abaixo da superfície quando ele estava perto dela, inchou em seu peito.

— Eu nunca deixaria ninguém machucar você. E Darlington também não. Tenho certeza disso. Ele parece particularmente interessado em sua causa.

Ela torceu as mãos, mas ainda conseguiu outro daqueles sorrisos que tirava o fôlego de seus pulmões.

— Obrigada.

A gratidão dela rasgou seu estômago de novo. Deveria dizer-lhe que seu interesse em apoiar a causa dela havia começado como um outro negócio. Ele não podia mudar isso. Mas em algum lugar ao longo do caminho, suas intenções se tornaram pessoais.

E agora que estava empenhado, veria Penny e suas órfãs se estabelecerem em um bairro seguro com roupas, sapatos e comida. Ele as financiaria anualmente se fosse necessário.

Mas ele não disse nada disso quando as palavras ficaram presas em sua garganta. Porque elas revelavam muito, e não estava acostumado a compartilhar tais sentimentos. Não depois de enterrá-los por tanto tempo. Em vez disso, ele apenas disse:

— De nada.

Penny podia sentir a tensão no ar da carruagem como uma presença palpável. Ela ficou nervosa quando eles estiveram em uma carruagem da última vez, mas por razões completamente diferentes. Então, ela estava preocupada com suas intenções. Agora, estava tentando decidir se agradecia novamente ou apenas se inclinava e pressionava seus lábios nos dele.

Porque ninguém nunca a fez sentir-se como ele fazia.

E ninguém jamais apoiou seus órfãos como ele. Ela tremeu ao considerar como isso era maravilhoso. Por encontrar um homem que fazia seu coração disparar e que ajudou a sua causa.

Não esperava que ele desejasse se casar com ela. Ele era um conde, um membro da nobreza. Se casaria com uma mulher que se adequasse a sua posição.

Mas isso não significava que ela não poderia saborear seus lábios uma vez. Somente uma. Poderia ser a única vez em sua vida que provaria tal guloseima, e esse relacionamento seria um que ela olharia para trás até o dia de sua morte.

Penny tinha certeza disso.

Porque nenhuma pessoa jamais havia causado tanto impacto em sua vida.

Exceto seu pai, é claro.

Mas de alguma forma, Logan havia se tornado significativo. A primeira pessoa desde seus pais em quem ela realmente podia confiar. Alguém que ela sentiu que tornou sua vida melhor, mais fácil, tirou um pouco do grande peso de seus ombros.

Inclinando-se para frente, ela alcançou o outro lado da carruagem. Sua mão tremia e sabia que sua voz tinha um toque de desespero. A necessidade de estar perto dele.

— Logan?

Ele enroscou os dedos nos dela e com um puxão rápido, ela estava do outro lado da carruagem, pousando em seu colo.

Ela ofegou ao senti-lo.

Ele era todo músculos e ângulos sob ela. Bordas duras se encaixando em sua suavidade.

Era glorioso. Ela se afundou nele, seus braços envolvendo seu pescoço.

O hálito dele soprou em sua bochecha e ela inalou seu aroma masculino fresco e limpo. A intimidade do momento fazendo seu peito palpitar. Seu coração martelou em seu peito quando a ponta do nariz dele tocou o dela.

— Penny.

Seu nome em seu tom de barítono profundo começou uma dor dentro dela.

— Sim? — Ela perguntou, seus dedos se enredando nos cabelos curtos na base de sua cabeça.

— Eu vou te beijar agora. — E então, seu queixo se inclinou e seus lábios pressionaram tão levemente os dela que ela nem tinha certeza de que tinha acontecido. — Não por causa da ajuda que te dei, mas só porque quero. — E então ele a beijou novamente, apenas um toque mais forte.

— Eu também quero, — ela sussurrou contra seus lábios. E ele a beijou novamente, desta vez uma pressão firme de seus lábios.

Ela devolveu a pressão, um arrepio percorrendo sua espinha. Sua cabeça girou enquanto seu corpo se fundia ainda mais com o dele.

Em resposta, ele abriu sua boca e roçou a língua ao longo de seu lábio inferior.

Ela nunca tinha experimentado nada parecido. O prazer que ricocheteou por ela ameaçou tirar toda razão e sentido de sua mente.

Ele a beijou novamente, sua língua fazendo uma segunda passagem, e então ela devolveu o gesto, querendo provar mais dele.

Ele gemeu, apertando-a em seu colo.

— Penny, — disse, depois a beijou novamente. — Eu quero...

A carruagem parou.

Ele virou a cabeça e olhou para a janela.

— Chegamos. — Então, ele cuidadosamente a ergueu de seu colo e a colocou de volta no assento oposto, assim que a porta da carruagem se abriu.

O quê? Onde? Suas palavras começaram a penetrar na névoa em seu cérebro, mas isso só parecia criar mais perguntas.

O que ele queria? O que ela queria?

Sua mente disparou quando ela levou a mão ao rosto. Seria melhor decidir e rápido porque o mundo, parecia-lhe, tinha começado a se mover muito rapidamente.

 

 

Capítulo 07


A mão de Penny se ajustou com segurança em seu braço enquanto subiam as escadas para a residência do duque. Ele se endireitou enquanto a conduzia escada acima. Gostava de tê-la aninhada ao lado dele.

Logan olhou para o grupo reunido na entrada em saudação, músculos tensos enquanto puxava Penny um pouco mais perto.

Ele conhecia Daring, é claro.

Sua duquesa estava próxima à direita de Daring, uma ruiva escultural com um sorriso caloroso nos lábios. Mas ela não era a pessoa que estava deixando Logan cauteloso.

À esquerda do duque estavam, não três, mas quatro homens altos. Cada um deles bonito à sua maneira. Logan puxou Penny para o seu lado mais uma vez.

Porque todos estavam olhando para ela.

A necessidade possessiva estremeceu através dele. Tinha acabado de estar com esta mulher em seu colo, pressionada contra seu corpo.

Ele balançou levemente a cabeça.

Não tinha o direito de ser possessivo. Ele tinha um plano. Embora esse plano não envolvesse beijá-la também. Mas, não foi capaz de evitar. Ela parecia tão tentadora estendendo a mão para ele. E algo na voz dela o chamou.

Além disso, ela precisava de proteção contra esses homens, independentemente de seus planos futuros. Porque todos eles pareciam lobos que descobriram o cordeiro premiado.

— Goldthwaite, — disse Daring, sua voz calma e confiante. — É bom te ver. Obrigado por trazer a Srta. Walters. — O olhar do duque se voltou para Penny. — Posso apresentar minha esposa, a Duquesa de Darlington.

Penny fez uma reverência enquanto ele se curvou.

— Sua graça.

A duquesa estendeu a mão.

— Tão bom conhecer vocês.

Daring pigarreou.

— E este é o Duque de Devonhall. — Ele gesticulou em direção a um homem de cabelo escuro com visual afiado e olhos penetrantes. Ele tinha um ar de perigo que fez Logan querer colocar Penny atrás dele, enquanto o olhar de Devonhall observava cada detalhe desde seu cabelo castanho espesso até os chinelos, e espreitando por baixo do vestido.

O olhar de Devonhall deslizou de volta para cima e Logan poderia jurar que os olhos do outro homem pousaram em seus lábios carnudos, levemente inchados por sua atenção anteriormente. Que vá tudo para o inferno. Por que teve que beijá-la um pouco antes dessas apresentações?

— Goldthwaite. — O homem mal olhou para ele. Seu olhar agora se fixou em Penny. — Senhorita Walters. Um prazer.

Penny deu um pequeno aceno de cabeça enquanto fazia uma reverência, os dedos apertando o braço dele.

— Sua graça.

— E este é o Marquês de Milton. — Daring gesticulou para o próximo homem da fila. Seu cabelo escuro caía em ondas rebeldes, seu sorriso arrogante dizendo a Logan que o homem estava acostumado com mulheres bonitas caindo a seus pés, e ele esperava que Penny fizesse o mesmo.

— Senhorita Walters, — Milton murmurou, seus olhos escurecendo de uma forma que fez um rosnado se formar na garganta de Logan. — Eu não tinha ideia de que a senhora de um orfanato pudesse ser tão... jovem.

Um homem com cabelo loiro comprido e fora da moda, puxado para trás na nuca, deu um passo à frente.

— Não fazia ideia de que alguém pudesse ser tão bonita.

Daring pigarreou.

— O Barão de Blackwater.

Penny acenou com a cabeça ao lado dele. Mas todo o seu corpo ficou tenso. Blackwater. O menino que fez de sua vida um inferno. Mas então, sua testa franziu novamente. Este não era o futuro barão com quem ele frequentou a escola. Os olhos eram diferentes. O nariz. Este era um homem diferente. Um irmão mais novo, talvez? O que aconteceu com Sirius? O menino que atormentou Logan dia após dia enquanto ele frequentava Eton?

O novo Barão de Blackwater devolveu o olhar.

Logan olhou de volta para Penny enquanto afastava esses pensamentos. Estavam aqui com um propósito. No entanto, ele nunca quis menos trabalhar com homens.

E isso dizia algo, porque ele preferia ser um lobo solitário como regra geral, mas se eles continuassem olhando para Penny assim, os rasgaria membro por membro.

Ele respirou fundo.

Estava rapidamente perdendo de vista os objetivos que estabeleceu para si mesmo.

O clube era o que ele queria. Esses homens eram o caminho que ele deveria seguir. Não haveria negócio sem eles.

Quando começou a se preocupar mais com as necessidades de Penny do que com as suas próprias?

— E por último. — Daring apontou para o mais afável dos homens da fila. Ele tinha olhos castanhos calorosos e um sorriso mais amável. De alguma forma, isso desconcertou Logan ainda mais. — O Conde de Ingrashire.

— Srta. Walters, — sua voz profunda retumbou pela sala. — É um verdadeiro prazer.

A mão de Penny relaxou. O que fez Logan ficar vermelho. A última coisa que queria era outro homem tentando se aproveitar de Penny.

Porque esses homens seriam exatamente o que ela temia. Eles vieram disfarçados sob um manto de ajuda, e então tentariam roubar seus favores.

Ou beijos em uma carruagem.

Ele mudou sua postura. Droga. Ele se aproveitou.

Seu peito se apertou quando Penny deu um sorriso ao outro conde.

— O prazer é meu.

Daring estendeu a mão, convidando todos a segui-lo até a sala de estar à direita da entrada.

— Diga-nos, Srta. Walters, quantos órfãos você tem sob seus cuidados?

Penny sentou-se cuidadosamente em um sofá próximo, Logan ocupando o lugar ao lado dela.

Ela delicadamente limpou a garganta.

— Apenas quatro, Sua Graça, mas gostaria muito de acrescentar mais. Preciso de financiamento, e é por isso que escrevi para você.

A duquesa lhe deu um sorriso amável.

— Quatro é muito. Especialmente se você estiver cuidando deles sozinha.

Um murmúrio percorreu os homens.

— Sozinha? — O olhar afiado de Devonhall ficou mais afiado.

Ingrashire deu a Penny um olhar simpático.

— Quão difícil.

Logan se endireitou, o cabelo de sua nuca arrepiado.

— As dificuldades da senhorita Walter seriam grandemente aliviadas se ela tivesse fundos suficientes para comprar seus suprimentos necessários e garantir um alojamento adequado.

Daring sorriu, recostando-se na cadeira.

— Goldthwaite vai negociar em nome da Srta. Walter.

Finalmente, a multidão de homens desviou o olhar de Penny para Logan. Eles basicamente fingiram que ele não existia até este momento.

— Ele? — Alguém murmurou, hostilidade quase pingando de uma única palavra.

Penny olhou para ele também, uma lufada de ar soprando em sua bochecha, mesmo quando suas sobrancelhas se uniram em questão.

Daring acenou com a mão.

— Me perdoe. É muito cedo para essa conversa. Por enquanto, vamos nos conhecer. Afinal, este é apenas o começo.

Penny olhou para os homens ao seu redor. Havia uma mensagem subliminar nesta conversa que não entendia, mas iria entender. Antes que a noite acabasse, na verdade.

O que foi este o começo?

E quando Logan foi declarado sua voz?

Ela desejou ajuda, isso era verdade. Mas, também aprendeu a ficar sobre seus próprios pés. Ela só queria uma muleta, para não ter as pernas removidas. Sentia-se muito como um peão nesta sala, e ela não gostou disso. Nem um pouco.

— Prefiro discutir isso agora, na verdade. — Ela sorriu, percebendo que poderia estar exagerando. Ela respirou fundo, acalmando seu coração acelerado. — Espero que você me perdoe, Sua Graça. Não vou conseguir relaxar adequadamente até...

O Duque de Darlington acenou com a mão.

— Eu entendo completamente.

Logan deu a ela um olhar penetrante.

— Penny, — ele sussurrou, mas não baixinho o suficiente.

Vários conjuntos de sobrancelhas se ergueram com o uso de seu nome de batismo. Ela ignorou Logan e as sobrancelhas. Ele a protegeu, isso era verdade, mas um dia ele deixaria sua vida. Agora que o beijo acabou, e ela teve um momento para recuperar o fôlego, percebeu que não havia promessas. Ele ainda era um conde e ela era... órfã.

E tão claramente, ela percebeu, queria que ele fosse parte de seu futuro. Para ajudá-la no trabalho de sua vida. O que era um absurdo. Ele era um conde e um homem com deveres e obrigações próprios.

Ele não ia abandonar seu mundo para se juntar ao dela.

Ela permitiu que o conto de fadas deslizasse sobre ela como um véu. Mas era hora de clarear sua visão.

Endireitando a coluna, ela disse:

— Eu tenho uma menina mais velha, embora ela tenha se tornado uma espécie de assistente para mim. — Clarissa era tudo para ela. — E então, tenho três meninas com menos de dez anos. — Ela pigarreou. — Natalie, gostamos de chamá-la de Natty, nasceu sem registro de nascimento e foi vendida para a esposa de um estalajadeiro que a mandou limpar sua pousada...

Logan fez um barulho sufocado e ela virou-se para olhá-lo. Sua mandíbula estava travada e seu rosto se transformou em granito.

— Meu objetivo, — ela continuou, — é fornecer um lar para as meninas especificamente. Mas, idealmente, gostaria de criar uma instalação para irmãos que abrigasse meninos.

Os homens ao seu redor assentiram.

— Goldthwaite. — Darlington se inclinou para frente. — Com o que você contribuiu?

Logan deslocou-se, seus músculos tensos contra ela.

— Seis mil libras.

— Vou dar a mesma quantia. — Devonhall deu um aceno descuidado com a mão.

A respiração de Penny ficou presa na garganta. Era inacreditável. Tanto a facilidade com que esses homens abriam mão de somas que mudaram suas vidas, quanto a súbita mudança de sua condição financeira.

— Eu também, — outro homem murmurou. Ela acreditava que era o Barão de Blackwater. Ela olhou para o homem para ver seus olhos castanhos brilhando com... animosidade. Ela recuou um pouco, mais uma vez feliz por Logan estar ao lado dela.

— Bem, senhores, parece que nós definimos a compra em contribuição. — Darlington bateu no joelho enquanto falava.

Comprar? Para quê? Ela inclinou a cabeça para o lado, confusa. Mas agora não era a hora de perguntar, sabia disso. O que quer que estivesse acontecendo, sua vida e a vida de suas filhas estava prestes a mudar.

Então, a duquesa se voltou para o marido.

— E o que vamos dar?

Ele sorriu para sua esposa.

— Nós igualaremos a contribuição total.

Penny quase caiu do sofá. A mão de Logan firmou seu cotovelo.

— Sua graça?

Logan se endireitou enquanto o soltava novamente.

— Isso é muito generoso.

Darlington encolheu os ombros.

— É a minha parte na receita do clube nos últimos meses. Significa pouco para mim.

O clube?

Penny balançou a cabeça. Ela não conseguia decifrar agora. Porque uma fortuna estava para pousar em seu colo. Era dinheiro além de seus pensamentos mais selvagens. O suficiente para realizar todos os seus planos.

Ela deveria estar feliz, e estava...

Mas uma pequena dúvida estava nublando esse sentimento.

Logan estava comprando algum tipo de clube. Do tipo que ganhava muito dinheiro. E o resto desses homens iria contribuir com a mesma quantia com apenas uma palavra dela.

Porque eles queriam comprar o mesmo clube do Duque de Darlington.

Então, Logan nunca quis ajudá-la. A decepção apunhalou seu peito. Tinha sido um meio para um fim. Nada mais. Ele não se importava com ela ou com as crianças. Ela segurou as mãos com força no colo, formando uma bola compacta.

— Sua generosidade é impressionante. Obrigada. Não tenho palavras...

A duquesa deu a Penny um sorriso radiante.

— Sua generosidade é impressionante. A nossa é quase tolerável.

— Você é deslumbrante, — disse Blackwater, dando-lhe uma piscadela. — Verdadeiramente.

A sobrancelha dela se franziu enquanto ela piscava. O que foi isso? O homem parecia tão frio apenas alguns minutos atrás.

Logan se levantou, seu peito empurrando para fora.

— O suficiente.

Blackwater também se levantou, tirando levemente um de seus longos cabelos loiros do rosto e colocando-o para trás de sua orelha.

— Chega do que exatamente?

— Eu vi você piscar. — O dedo de Logan apareceu. — A senhorita Walters é uma mulher de posição e merece seu respeito.

— Você quer dizer Penny. — Blackwater sorriu lentamente. — Não pense que eu não entendi isso, Goldthwaite.

— Segure sua língua.

A voz de Logan tinha ficado mais alta, seus punhos cerrados. Penny engoliu em seco. Ela estendeu a mão e tocou levemente a manga de Logan. Seu temperamento estava levando a melhor sobre ele e de alguma forma, ela tinha a sensação de que tudo estava prestes a escapar.

— Cavalheiros. — Darlington também se levantou, sua voz afiada. — Há senhoras presentes.

Logan revirou o pescoço, ignorando o toque de Penny.

— Nós podemos levar isso para fora.

— Por mim tudo bem, Conde de Ouro — disse Blackwater com desdém. — Todo mundo sabe que você só se preocupa com uma coisa. E todos nós sabemos por que está fingindo interesse pela causa da Srta. Walter: dinheiro.

Penny também se levantou, as palavras reverberando por ela. Eles pareciam tão frios. Tão frio quanto o homem que ela conheceu. As palavras soaram com uma verdade que a fez sofrer.

— Conde de Ouro?

Blackwater lançou-lhe um olhar simpático.

— Ele é o mais cruel possível. — Ele olhou para Darlington. — Cruel. Violento. É por isso que ele não deveria estar aqui. Ele não pertence aqui.

Darlington deu um passo na frente de sua esposa e, antes de pronunciar uma palavra, segurou Blackwater pelo colarinho, arrastando-o pela sala em direção a uma porta dupla.

— Siga-me, senhores. Temos alguns negócios para resolver antes do jantar.

Penny cobriu a barriga com as mãos. Este deveria ser o momento mais feliz da vida dela, mas de alguma forma estava tudo errado.

Logan andou atrás do duque sem olhar para trás em sua direção. Ela se recostou no sofá com um baque duro. Logan costumava brigar com frequência? Esta era a segunda vez hoje.

Ela juntou as mãos na frente do rosto. Estava errada sobre tudo que pensava que sabia sobre Logan.

Conde de Ouro.

Que tipo de homem ela permitiu entrar em sua casa e nas vidas de suas crianças? Ele os machucaria? Porque ele já tinha conseguido prejudicar seu coração. Ela se importava com ele e ele sempre quisera ouro.

 

 

Capítulo 08


Os punhos de Logan coçaram, e ele sabia como esfregar essa coceira. Pôr as mãos no rosto de Blackwater. Sabia por que Blackwater o havia escolhido. E não foi por causa de Penny. Esses homens ainda viam Logan como um estranho.

Aquele que não pertencia.

Tinha sido o mesmo desde que fora enviado para Eton quando jovem. Zombaram dele, apesar de ser filho de um conde.

Seu pai já estava na prisão por dívidas naquele momento. Então, ele foi aceito por mérito, tendo ganhado uma bolsa de estudos em vez de sua família comprar seu lugar.

Suas notas altas no exame de admissão poderiam ter provado seu valor, mas ele foi tratado como se fosse menos. Sem dinheiro, ele era menos aos olhos do outro aluno.

Os professores foram horríveis.

Mas depois da aula era o pior. Deixado aos cuidados de meninos mais velhos, eles o odiaram por suas roupas esfarrapadas e sua bolsa vazia. Havia sido rotulado como um estranho e sua punição por tal crime tinha sido impiedosa.

Mas Logan tinha crescido duro e forte. E seus punhos eram bigornas que esperavam para esmurrar Blackwater. Porque ele fez de Logan um estranho novamente.

Eles pararam em um terraço aberto e Logan tirou o casaco, encarando o círculo de homens. Então, era assim que ia ser. Ele poderia aguentar. Já tinha feito isso antes. Ele se vingou do Blackwater mais velho, Sirius, e poderia ensinar algumas lições ao mais jovem também.

Ele revirou os ombros, então falou através de seus dentes cerrados.

— Diga o que viemos aqui dizer, Blackwater, e então poderei bater na sua cara.

Os lábios de Blackwater se curvaram quando ele deu um passo à frente.

— Podemos ir direto para a luta. Não há nada que eu queira dizer a você. Além disso, o estado do seu rosto me diz que você não mudou nada. Ainda lutando o tempo todo.

— Isso não é da sua conta, — Logan empurrou entre os dentes cerrados, avançando em direção ao outro homem com o punho levantado.

— Pare, — a voz de Daring através do ar espesso. — Vocês dois abaixem os punhos.

Blackwater esticou o dedo, apontando-o na direção de Logan.

— Ele arruinou a vida do meu irmão. O mínimo que posso fazer é bater nele com força.

Logan cambaleou para trás com isso. Ele arruinara o outro Blackwater? Se isso não fosse tão sério, isso seria ridículo.

— Seu irmão assumiu como única missão me atormentar durante a maior parte de minha vida escolar. E você acha que eu arruinei a vida dele?

Blackwater deu um passo em sua direção, dando-lhe um forte empurrão que fez Logan recuar vários passos. Ele mal conseguiu se manter de pé. A raiva no corpo do outro homem era palpável.

— Mentiroso, — Blackwater rosnou. — Você o derrotou tão mal, sua mente nunca mais foi a mesma. Foi o princípio do fim.

Foi o duque de Devonhall quem se colocou à sua frente.

— Você está errado Blackwater. Eu tinha dezesseis anos quando saí de Eton, Goldthwaite tinha dez. Eu vi seu irmão fazer coisas terríveis, terríveis com ele.

Logan piscou surpreso. O quê?

Claro que se lembrava de Devonhall. Mas o fato de o outro homem se lembrar dele, fez sua cabeça pulsar.

— Você viu...

Devonhall olhou-o.

— Eu vi. E deveria ter parado aquilo, então. Eu era jovem e fraco.

Essas palavras o atingiram como um soco no peito. Devonhall se arrependeu de não ter ajudado?

— Está tudo bem, — disse ele. — Me fortaleci nessa época e aprendi a lutar por mim mesmo.

Daring deu um aceno rígido do lado de Blackwater.

— Mas você baniu cada grama de suavidade?

Logan esfregou o rosto. Talvez, tivesse.

Blackwater cuspiu no chão.

— Não estou aqui para debater o que meu irmão fez, que Deus o tenha. Isso não muda o fato de que um homem só pode assumir a responsabilidade por suas próprias ações. Não vou trabalhar com Goldthwaite por causa de seu gênio, apropriadamente exibido esta noite. Ele é muito independente, muito volátil, muito sujeito a envolver seus punhos.

Daring se endireitou.

— Vocês todos se sentem assim? Porque Goldthwaite faz parte do negócio.

Mas foi Logan quem hesitou.

Porque várias coisas entraram em foco enquanto ele estava lá.

Daring estava tentando cuidar dele. Este duque que não precisava fazer nada havia tentado encontrar um amigo para ele entre os nobres e ele...

O coração de Logan torceu.

Ele entregou Penny direto na porta de Logan.

Penny, que também era rejeitada pela sociedade, mas em vez de se tornar completamente controlada por terceiros, decidiu viver sua vida, ajudando àqueles que mais precisavam.

Ele estremeceu.

Penny era tão pobre quanto seu nome indicava e ainda assim era... muito mais admirável do que ele. Ela brilhava com o amor que ela permitiu encher seu coração.

E de repente, ele não precisava da alta sociedade, do clube, desses homens. Ele precisava de Penny ou, pelo menos, queria ajudá-la com seu orfanato. Porque, o que teria significado para ele, quando menino, ter um lugar onde pudesse ser amado? Como Penny amava Natty.

A emoção fechou sua garganta. Blackwater estava certo. Logan era responsável pelo que fizera a seu irmão mais velho. Ele permitiu que a mais vil das motivações moldasse sua vida.

— Estou fora. — Blackwater cuspiu novamente.

Os outros homens ficaram em silêncio. Eles ficariam do lado de Logan?

Ele não os faria decidir.

— Está tudo bem, Blackwater. Você fica. Eu vou embora. — E então, ele contornou Devonhall e passou por Daring, indo enfrentar os outros homens.

A surpresa de Blackwater fez seus olhos se arregalarem e seu queixo chicotear para trás.

— O quê?

— Você tem todo o direito de me odiar. Eu me permiti explodir de raiva violenta. E essa mesma raiva moldou toda a minha vida adulta.

Daring olhou para ele.

— Você não tem que...

— Eu tenho. — Logan encolheu os ombros. — É hora de viver uma vida diferente. Uma que ajuda os fracos, em vez de ganhar dinheiro com eles. Não quero mais o clube, mas ficaria muito grato se todos vocês vissem apto a doar para a causa da Srta. Walter.

Silêncio absoluto encontrou suas palavras.

Foi Daring quem finalmente falou.

— Aconteceu, não foi? E bastante rápido também.

— O que aconteceu? — Ele perguntou, franzindo a testa.

Daring apenas sorriu quando começou a conduzir Logan de volta as portas.

— Você, meu bom homem, se apaixonou.

Penny sentou-se em frente à duquesa, tentando decidir o que ela poderia pedir para obter algum tipo de entendimento.

Ela pigarreou.

— Sua graça.

A outra mulher sorriu.

— Me chame de Minnie.

— Minnie? — Penny repetiu, conseguindo não estremecer de surpresa. A duquesa, alta, magra e belíssima, com cabelos ruivos flamejantes, parecia-lhe que deveria estar em um pedestal, não agradável e acessível. Parecia errado chamar essa mulher pelo nome de batismo.

— Bem, é Minerva, mas todas as minhas irmãs me chamam de Minnie.

— Obrigada... Minnie. — Penny pigarreou. — Estou tentando discernir o que aconteceu. Você pode me dizer?

Minnie deu um sorriso caloroso.

— Também não estou totalmente certa. Blackwater claramente tinha um machado para bater, embora o porquê disso me escape.

Penny concordou.

— E o clube?

— A Toca do Pecado. — Minnie torceu o nariz. — Um antro de jogo. Odeio esse lugar. Provavelmente meu marido o teria mantido, mas não aguentei e o convenci a vender.

— Um antro de jogo? — O medo se agitou nas entranhas de Penny. Ele teve que fazer uma doação à minha causa para comprar sozinho. E doeu profundamente.

Ela tinha começado a esperar que ele se importasse com ela e com a sua causa. Mas ficou claro que ele não deu a mínima para qualquer um. Ela deveria saber. Por que um homem como ele realmente se importaria com alguém como ela e suas garotas? E o orfanato? Ela suprimiu um gemido.

Um estremecimento passou por ela e seu queixo caiu quando lançou seu olhar para o chão.

— Eu sou nada além de um meio para um fim.

O vestido, que ela havia amado antes, a encheu de nojo. Ela ganhou fundos além de sua imaginação, mas Logan não comprou para ela. Ele iria fazer o resgate de um rei por sua jogada, e esse era o verdadeiro motivo de ela ter sido trazida aqui.

Tudo ficou claro.

O Conde de Ouro.

Aparentemente, seu coração estava apenas tão duro e brilhante quanto ela havia imaginado. Ele não se importava com elas. Sua respiração engatou. Por que ficou surpresa? E por que esse conhecimento doeu tanto?

— Penny, — a outra mulher falou baixinho, estendendo a mão para colocá-la sobre a dela. — Você está bem?

Penny balançou a cabeça.

— Estou acostumada com os homens que não querem uma mulher com uma causa. Mas de alguma forma, pensei que ele era diferente.

Minnie apertou-lhe os dedos.

— Ele poderia ser. Eu vi a maneira como ele olhou para Blackwater. Acredito que o conde daria a vida pela sua.

A cabeça de Penny caiu ainda mais. Ele chamava suas crianças de moleques. Não se importava com elas. Ele tinha lhe dito isso desde o início. Mas ela permitiu que sua atração pintasse suas ações com um pincel rosado.

Ela sabia desde o início que ele era um conde e ela era ninguém. Por que permitiu que a esperança se infiltrasse?

— Não importa muito. Ele é um membro da nobreza.

Minnie concordou.

— Verdade. Mas ele também é um estranho.

Sua cabeça se ergueu.

— Como assim? — Ela sabia que ele tinha sido provocado na escola, mas como homem tinha um título e era bem-sucedido. Ambas as coisas que ela não era.

Mas a porta se abriu e Logan entrou, suas pernas poderosas diminuindo a distância até o sofá onde ela estava sentada. Ele parecia... ileso.

O alívio a percorreu, mas ela endireitou a coluna novamente. Ele não a deixou preocupada. Especialmente considerando o que ela tinha acabado de descobrir.

— Eu assegurei suas doações. — Ele estendeu a mão. — Se você estiver pronta para sair, eu estou.

Ela ergueu o olhar para ele. Alguns de seus sentimentos amargos voltando.

— Sair? Você não tem um acordo próprio para garantir?

Ela viu o lampejo de dúvida passar pelo rosto dele.

— Não.

Não? Ela abriu a boca para perguntar, mas ele deslizou seus dedos nos dele e a puxou para ficar de pé.

— Mas eu pensei...

— Vou explicar na carruagem. — Então, ele começou a acompanhá-la em direção à porta.

— Não vá ainda — disse Minnie, levantando-se.

Mas Darlington apareceu na porta.

— Deixe-os ir, amor. — Ele se encostou no batente. — Nós os veremos novamente em breve.

Agora Penny estava mais confusa do que nunca. Onde ela os veria em breve? No orfanato? Eles haviam acabado de concordar em doar trinta mil libras.

— Venha para o orfanato a qualquer hora, — ela gritou quando passaram por Darlington. — Pensando bem, você deve esperar até que mudemos de endereço.

— Por que isso? — Darling perguntou, suas sobrancelhas se juntando.

— É muito inseguro. Adderley Street. — Logan disse com os dentes cerrados.

— Mude-a imediatamente, — Darlington gritou atrás deles. — Mande recado se precisar de ajuda.

— Já estou nisso, — Logan gritou de volta, continuando a puxá-la junto.

Penny percebeu que Darlington tinha sido a força motriz por trás de toda a sua ajuda o tempo todo. Logan não era o homem que ela esperava que fosse. A dor perfurou seu peito, mas ela ergueu o queixo. Ele não era diferente do seu soldado. Cada vez que ela amava um homem, ele desaparecia de sua vida por um motivo ou outro.

Ele não era o único que poderia tirar vantagem de uma situação. Ela não rejeitaria sua doação ou a dos outros homens, mas também não precisava gostar de Logan. Isso era negócio. Seu coração precisava ficar fora disso.

 

 


Capítulo 09


Logan podia sentir a mudança em Penny.

Ela estava sempre calma. Normalmente quieta, mas na escuridão da carruagem, o espaço tinha ficado frio entre eles. Droga.

— Darlington está certo. Precisamos mudá-la.

Ela encolheu os ombros.

— Não é que eu não aprecie sua preocupação.

— Esses homens poderiam atacar você.

— Absurdo. Eles não pareciam ser muito problemáticos até você...

— Então é minha culpa? — Ele se inclinou para frente apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Parece que o problema está seguindo você. Tenho certeza de que, assim que você parar de nos visitar, a vida voltará ao normal e poderei nos mudar muito em breve. Com os fundos que consegui hoje...

— Deixar de visitar? — Aquelas palavras o machucaram. — Você não quer que eu vá mais à sua casa?

Houve uma pausa pesada quando ela respirou fundo.

— Você terá seu clube em breve. Por que você continuaria nos ajudando? É por isso que você só queria me dar uma única soma, não é? Para se livrar de mim o mais rápido possível.

Ele estremeceu no escuro. Ela o tinha pego. Ele estendeu a mão, querendo tocá-la enquanto explicava.

Mas ela afastou os dedos.

— Não é assim.

— Como é então? — Sua voz aumentando como ele nunca tinha ouvido antes. — Você desejava desesperadamente ajudar os pequeninos? Não acredito nisso.

Ele esfregou a cabeça.

— Natty...

Ela deu um tapa no joelho.

— Não se atreva a falar o nome dela.

Ele recuou, surpreso com a dor que envolvia suas palavras.

Logan entendeu. Penny se sentiu usada. Inferno, ele a tinha usado. Pelo menos no começo. Ele a tinha visto como outro meio para um fim.

Mas uma mudança aconteceu por causa dela e ele não sabia como explicar-lhe isso. Que ela o tinha mudado. Que ele queria fazê-la feliz, ajudá-la e apoiar as crianças e...

O que estava acontecendo com ele?

A alta sociedade não o odiava porque ele era mais bem-sucedido. Mesmo entre os mais egoístas, ele foi consumido pela ganância e suas próprias necessidades.

A vergonha o encheu. Era como se Penny tivesse mudado seu mundo inteiro. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Admiti-los era abrir a represa de emoções que havia guardado com tanto cuidado. E quando ele começasse, quanto ele diria?

Confessaria que se importava profundamente? Que ela tinha o poder de quebrá-lo em mil pedaços minúsculos? Ele não conseguiu. Não estava pronto.

— Por mais zangada que você esteja comigo, não muda o fato de que posso tornar todas as suas vidas melhores e mais seguras. Permita-me fazer isso por você e por elas.

Suas palavras foram recebidas com completo silêncio.

Isso era bom ou ruim?

Ela parou de gritar, mas de alguma forma Logan não tinha certeza se ela concordou.

— Por favor. — Ele inclinou-se para frente novamente, deslizando para a beira de seu assento. Ele não alcançou suas mãos desta vez, mas em vez disso tocou seu joelho. — Você tem todo o direito de estar com raiva de mim.

— Você me beijou, — ela deixou escapar. — Quando tudo que sou para você é um obstáculo a superar para ganhar um clube decadente. Você sabia como eu me sentia sobre os homens me usando e ainda assim você...

Ele fechou os olhos.

— Eu sinto muito. Não pude evitar. — Ele limpou a garganta, parte dele querendo admitir tudo. Que ele já tinha feito sua escolha. Penny. Mas uma vez que ele dissesse a ela, teria que admitir que estava se apaixonando. Ele não podia. Uma vez que ele dissesse isso, não haveria como retirar as palavras.

— Essa é a pior desculpa que já ouvi.

— Você me beijou de volta, — disse ele, jogando-se de volta no assento. — Qual é a sua desculpa?

— Eu... — A única palavra cortou o ar. — Tem sido claro sobre o que ganhei com esse relacionamento. Você é aquele que tem sido dúbio.

— Isso não é totalmente verdade. — Ele balançou a cabeça como se ela pudesse ver o gesto. — Nunca menti para você sobre meus motivos.

— Mas suas ações me fizeram pensar que você se importava conosco. Sobre as crianças.

— Eu me importo, — disse ele, tão baixo que se perguntou se ela o ouviu. Ele engoliu o nó na garganta. — Eu me importei no começo. Mas em algum lugar ao longo do caminho...

Ele a ouviu respirar fundo quando a carruagem começou a diminuir a velocidade e depois parou.

Ele fez menção de abrir a porta, mas ela estendeu a mão para detê-lo.

— O mundo era difícil para mim.

Ele apertou a mão dela.

— Eu sei.

— Tive pais que me amavam e me ensinaram a retribuir o amor. — Ela se aproximou. — Mas Natty e Fran, elas nunca foram ensinadas. Esse é o meu trabalho e o levo muito a sério.

Ele assentiu.

— Compreendo.

— Você não compreende. — Ela estendeu a mão e tocou seu rosto. — Você não pode entrar em suas vidas e mudar de ideia depois, Logan. Elas precisam de consistência e crença inabalável. Se você não está aqui para ficar, então você não deveria estar aqui em tudo. Elas são muito frágeis e não vou permitir que você torne a vida delas pior.

E então, ela abriu a porta sozinha e saiu da carruagem sozinha.

Logan ficou lá por um momento, as palavras dela ecoando em seus pensamentos.

Mas ele já fez sua escolha. Ele desistiu do clube por Penny e pelas meninas também. Ele as estava ajudando, droga. E faria a vida delas melhor se isso o matasse.

E então, ele abriu a porta mais uma vez e começou a segui-la.

Ele avistou três homens parados na rua, observando, mas eles não se aproximaram, então Logan não lhes deu atenção. Ele tinha o suficiente em seu prato com uma mulher muito zangada.

Penny havia chegado ao topo da escada e ele pulou os degraus de dois em dois para alcançá-la.

— Espere, — chamou enquanto ela puxava a aldrava da porta. — Há mais coisas que preciso lhe contar. — Ele tinha que encontrar as palavras. Porque ela precisava delas e não se tratava dos medos dele, mas das necessidades dela. Ele respirou fundo. Poderia dizer-lhe que desistiu do clube sem derramar todo o seu coração no chão, não poderia?

Ela virou-se.

— Acho que já ouvi o suficiente por uma noite.

A fechadura da porta clicou, e a porta se abriu.

— Você está aqui, — Clarissa deu um suspiro de alívio, segurando Natty chorando em seus braços. — Não esperava você tão cedo, mas estou incrivelmente grata.

— O que está errado? — Penny perguntou, entrando na sala.

— Ela teve outro pesadelo. Acordou gritando no volume máximo. — Clarissa passou a criança chorando para os braços de Penny.

Penny silenciou Natty com Logan próximo e trancou a porta atrás dele. Ele estava aqui para ajudar. Ele só tinha que convencer Penny desse fato.

Penny abraçou Natty, feliz com a distração.

Ela queria se concentrar em qualquer coisa, menos no homem atrás dela.

Natty soluçou, enterrando o rostinho no ombro de Penny.

— Você está bem, — Penny acalmou. — Foi apenas um sonho.

— Ela estava lá, — a voz de Natty tremeu.

Ela era a esposa do estalajadeiro que fora impiedosa com a criança pequena.

— Ela nunca poderá te machucar novamente.

— Você não vai deixar, vai? — Natty disse enquanto levantava cabeça.

E foi então, que Penny percebeu que Natty não estava falando com ela. Olhou por cima do ombro para ver Natty olhando fixamente para Logan.

— Claro que não, — respondeu ele.

E para o choque de Penny, a menina estendeu os braços para Logan.

Sem hesitar, ele tirou a criança de seus braços, suas mãos roçando o torso de Penny. O corpo dela estremeceu em resposta ao seu toque, e ela poderia ter amaldiçoado sua pele traiçoeira. Depois do que ela descobriu, como seu corpo poderia responder ao toque dele?

Seu corpo traiçoeiro ainda queria este homem, apesar de saber que ele realmente não se importava com ela.

Ele segurou Natty perto e ela aninhou o rosto em seu pescoço, sua mãozinha encaixando na dele.

Penny sufocou emoção, memórias de sua mão se encaixando na de seu pai passando por sua mente. Ela nunca se sentiu mais segura do que quando segurava a mão de seu pai.

Penny fechou os olhos com força. Ela e Clarissa tinham que ser o suficiente para Natty.

Porque uma vez e outra, os homens provaram que realmente não queriam participar desta vida com ela. Sua experiência anterior não provara isso? O tenente Vrabel não tinha sido um homem mau. Ele só não queria ser sobrecarregado... ela fechou os olhos, lutando contra a emoção.

— Natty, por que não te levo lá em cima?

— Não, — gritou Natty. — Deixe-me ficar. Só mais alguns minutos.

Cansada demais para ser combativa, Penny observou Logan sentar-se com a garota nos braços. Suavemente, ele começou a cantar para ela. Era uma cantiga de bar, nada apropriado, mas acalmou Natty da mesma forma.

A garganta de Penny se fechou e ela se encostou na cornija. A mesma onde retrato de família ainda estava pendurado.

Os olhos de Logan voaram para ele também, seus olhos estudando a família de três, mesmo enquanto continuava cantando.

— O que aconteceu esta noite? — Clarissa perguntou. — O lorde e as damas que você conheceu concordaram em nos ajudar?

Penny deu a ela um pequeno sorriso.

— Concordaram.

Clarissa deu uma respiração aguda e Natty levantou a cabeça novamente.

— Quanta ajuda?

Um suspiro de alívio escapou dos lábios de Penny. Pela primeira vez, ela se lembrou das coisas realmente boas que aconteceram naquela noite.

— Muita ajuda. Ajuda suficiente para nos mudarmos.

Clarissa soltou um grito.

— Mesmo?

Penny concordou.

— E ajuda suficiente para abrir uma segunda casa para meninos.

— Uma casa para meninos? — Logan perguntou, a voz dele estava marcada por uma emoção que ela não entendeu.

— Isso mesmo. — Ela não olhou para ele. O caseiro que eles haviam deixado na casa, ela acreditava que seu nome era Fergus, veio da sala da frente que ocupava.

— Pensei que você chegaria mais tarde.

Logan não respondeu enquanto dava outro abraço em Natty.

Penny reprimiu um pequeno sorriso. Ela gostava do caseiro quase tanto quanto gostava do mordomo de Logan.

— Sua equipe é muito livre com você.

— Fale-me sobre isso. — Ele esfregou o rosto. — Não queria ser como os outros homens da minha classe. Não sou melhor do que minha equipe. Eu sou...

Penny prendeu a respiração. Talvez seu coração não estivesse tão duro como ela imaginou esta noite, afinal.

Mas como ela reconciliaria o homem que implacavelmente perseguia dinheiro e a usou, com aquele que segurava crianças chorando e contratava homens que considerava seus iguais?

— Ele me contratou porque eu cobro bem menos e trabalho muito mais, — o escocês resmungou, jogando-se em uma cadeira.

Penny olhou para o chão. Isso fazia muito mais sentido.

— Você recebe muito mais do que qualquer outro caseiro que eu conheça.

O outro homem bufou.

— Você conhece muitos?

Natty sentou-se.

— Ele deve pagar muito a você. Gold está certo em sua palavra.

O outro homem riu, mas o rosto de Logan estremeceu.

— Até as crianças estão me incomodando por ser o Conde de Ouro.

— Oh. Que bonito. — Natty concordou. — Eu gosto muito disso.

Logan balançou a cabeça.

— Não era o que a alta sociedade pretendia, posso assegurar-lhe.

— O que eles pretendiam? — Penny perguntou, sua mão segurando o xale.

Seu lábio se curvou.

— Bem, foi o apelido do meu pai primeiro. E para ele era uma ironia. Isso significava que ele não era capaz de segurar uma única parte de seu dinheiro.

Penny teve aquela sensação novamente. Como aquela que teve no primeiro encontro deles. Dentro dele estava um homem que precisava ser salvo. Isso lavou muito de sua raiva.

— Logan, — ela sussurrou enquanto se aproximava. — Isso é um terrível apelido.

Ele baixou o rosto na cabeça de Natty.

— Para mim, significa que estou decidido a buscar ouro. Consumido pela posse de dinheiro. Em ambos os casos, o nome foi merecido.

Penny cobriu a boca com as mãos enquanto esperava para ouvir o que mais ele poderia dizer, mas o som de venezianas batendo a impediu de falar.

O som foi seguido de perto pelo rolo de vidro no chão acarpetado.

— Maldito inferno, — Logan gritou enquanto pulava da cadeira, entregando Natty para Penny em um único movimento.

Ele correu para a sala da frente, Penny o seguindo o mais rápido que pôde com a criança nos braços.

Um grito quase saiu de sua garganta quando ela viu uma garrafa com um pano no chão, uma linha de chamas saindo pela boca.


Capítulo 10


Logan nem sempre foi o homem mais caloroso e amigável. Ele sabia disso sobre si mesmo.

Ele nunca foi como Penny. As pessoas eram atraídas por ela, tinha certeza.

Mas em uma crise, ele era um homem de ação.

E isso é exatamente o que era necessário agora.

— Pegue Natty, — Logan berrou, apontando para as escadas. — Tire todo mundo da casa.

Em seguida, tirou o casaco e cobriu a garrafa, tomando medidas imediatas para conter as chamas. Embora a garrafa provavelmente contivesse óleo de lâmpada e não fosse apagada por sua jaqueta. Isso só lhes daria tempo. Poucos segundos preciosos para poupar a todos.

— O óleo está todo no tapete. — Fergus apontou. A garrafa havia caído no meio de um tapete e todo o óleo havia derramado. — Vai pegar fogo na casa toda.

— Você está certo, — ele gritou. — Vamos dar o fora daqui.

O mais rápido que puderam, enrolaram o tapete, a garrafa dentro do rolo e cada um pegou uma ponta, levantando tudo.

— Temos que tirar isso rápido, — disse Fergus com um grunhido enquanto se dirigiam para a porta. — Já estou sentindo o calor. Vai nos queimar se não tomarmos cuidado.

— Leve para o meio da rua, — Logan disse enquanto abria a porta da frente e descia os degraus.

No momento em que seus pés tocaram o chão, ele correu, curvado sobre o rolo pesado. Ele abriu o portão, a fechadura voou em dez pedaços quando eles jogaram o tapete no meio dos paralelepípedos.

No momento em que parou de rolar, estava escuro no meio da rua até que as chamas começaram a lamber de cada extremidade. Exatamente onde ele e Fergus estavam segurando.

— Maldito seja, — ele gritou na noite.

Atrás dele, Penny apareceu na porta, ainda segurando Natty. Outra garotinha se arrastava ao lado dela. Clarissa apareceu também com uma terceira pequenina no quadril.

A raiva ferveu em suas veias. Mais um minuto e a casa inteira teria pegado fogo, e consumido sua casa.

Ele sabia que deveria ter cuidado. Aqueles homens ainda estavam por perto e alguém poderia atacá-lo ou a elas.

Mas esses homens tentaram machucar Penny e as meninas. Elas eram a coisa mais próxima que ele teve de uma família... bem... de todos os tempos. E ninguém iria machucá-las. Ele morreria primeiro. Seu peito se expandiu quando ergueu o queixo.

— Pessoas da Adderley Street, — ele gritou para a noite. — Você tem homens em seu meio dispostos a atacar mulheres e crianças inocentes.

Ele viu uma porta se abrir no caminho.

— Eles tentaram colocar fogo em uma casa. — Mais portas se abriram. As janelas do segundo andar subiram. — Um incêndio que se tivesse pegado, teria se espalhado para suas casas. Poderia ter engolfado a rua inteira.

Um silêncio assustador encheu a noite, exceto pelo som das chamas comendo o tapete.

— Vocês sabem quem fez isso. Quero nomes e pagarei bem por esse privilégio. Conde de Ouro é o meu nome. Sei que vocês sabem o porquê. Procurem-me e comerão por um mês.

Então, virou-se para Penny.

— Agasalhe as crianças. Apenas o essencial para esta noite. — Ele caminhou em direção a elas, preocupado que alguém pudesse na verdade, dar um tiro nelas.

— Para onde estamos indo? — Uma das outras meninas perguntou.

— Sim. — Clarissa ergueu as sobrancelhas. — Onde?

Logan abriu os braços, conduzindo as mulheres de volta para dentro.

— Para minha casa.

Fergus estava logo atrás dele.

— Agradeça a Deus, — o homem murmurou enquanto fechava a porta e trancava novamente.

Mas Penny disse algo totalmente diferente. Bem, Logan disse, refletiu. Ela não disse nada, apenas gritou.

— Sua casa?

Penny parecia calma, mas ela estava tudo menos isso esta noite.

— Você tem outra ideia? Você não pode ficar aqui. E se eles jogarem outra garrafa? Ou... — Mas um olhar severo de Penny o fez parar de falar.

— Existem crianças, — ela sibilou, e então respirou fundo. Então, novamente. Quando ela falou novamente, sua voz estava muito mais calma. — Clarissa, leve as crianças para a cozinha e dê leite morno para elas. — Então, olhou para Fergus. — Se você pudesse me ajudar...

Logan o ouviu murmurar algo sobre bourbon em seu leite, mas o homem as seguiu, e Penny os observou sair, sem olhar para ele até que todos tivessem saído.

Uma agitação nervosa começou em seu estômago quando ela pressionou as palmas das mãos sobre o vestido.

— Lorde Goldthwaite.

— Quando você parou de me chamar de Logan?

Ela ignorou a pergunta, sua voz tendo recuperado seu tom calmo, enquanto respondia.

— Concordo que é do interesse das crianças retirá-las da casa.

— Bom.

— Mas. — Seu dedo erguido no ar. — Não vou permitir que você me use para seus próprios fins.

Ele retumbou fundo em sua garganta. Ela estava sendo ridícula.

— Penny, — disse ele com os dentes cerrados. — Com que finalidade eu poderia mover um bando de mulheres para minha casa?

Seu olhar se estreitou.

— Então você vai manter seus lábios para si mesmo?

Oh. Aquilo.

Seu punho cerrou-se ao lado do corpo.

— Vou manter meus lábios para mim mesmo. Você vai manter os seus só para você?

A cor encheu suas bochechas.

— Sou eu que corro o risco de ser comprometida.

Verdade. Mas ele estava correndo risco, em nada menos, de ser ferido.

— Sei que você não confia em mim depois do que descobriu esta noite, mas deixe-me assegurar-lhe que desejo mais do que apenas um antro de jogo. Na verdade... — Ele fez uma pausa, sem ter certeza de que poderia iniciar aquela torrente de palavras. Em vez disso, ele disse: — Quero ajudar. E, acima de tudo, quero você e elas seguras.

Os ombros dela se curvaram e seu rosto desabou em derrota. Era uma expressão que ele vira no rosto de muitos oponentes.

— Podemos estar prontas em meia hora ou menos.

— Bom, — suas mãos relaxaram ao lado do corpo. O primeiro passo seria levá-las a um lugar seguro. Então, poderiam começar a discutir o futuro. O do orfanato, mas também...

Ele puxou o queixo para trás. O que mais queria? Deveria dizer a ela como se sentia? Ou ele estava destinado a repetir seu passado?

Sua mão esfregou a nuca.

Ele não tinha certeza.

Penny segurou Natty e Fran no colo enquanto Clarissa se sentou com Ethel ao lado de Logan. Fergus havia se sentado com o condutor para vigiar enquanto eles saíam do East End.

Ninguém disse uma palavra enquanto iam pela noite.

As entranhas de Penny estavam confusas. Ela quase perdeu a paciência duas vezes esta noite. E isso nunca aconteceu.

Nunca.

Ela aprendeu o controle absoluto desde que se tornou órfã.

Como poderia estar escorregando agora? Ela permitiu que Logan ultrapassasse suas defesas apenas para descobrir que suas intenções não eram puras. Ele queria seus beijos e queria garantir mais dinheiro. Isso era o que ela significava para ele.

Claro, ele a estava ajudando também. Isso tinha que significar alguma coisa, não é?

Mas ela sempre soube manter uma parede entre ela e o mundo. Não permitindo que ninguém ultrapassasse. Porque tinha tudo a perder aqui.

E se as intenções de um homem não fossem puras? E se ele não apoiasse suas órfãs? E se, como Clarissa disse, ele a deixasse grávida?

Ela estava se adiantando. Sabia que era preciso mais do que um beijo para fazer um bebê. Mas quando ele a tocou, ela se esqueceu de pensar, raciocinar, e só queria... mais.

Ele era perigoso e ela precisava ficar longe. Enquanto eles ficassem na mesma casa. Droga. Sem nenhum significado, ela soltou um suspiro. Todos olharam para ela.

— Desculpe, — Penny murmurou.

— Estamos quase lá, — disse Logan. — As crianças podem ficar todas no berçário. Clarissa pode ir para os aposentos da criada que estão anexados, se estiver tudo bem.

— Tudo bem, — Clarissa murmurou, acenando com a mão. — Qualquer cama serve.

— Isso nos deixa... — Ele hesitou, esfregando a mão na nuca. — Penny.

Seus olhos se estreitaram.

— Você está sem cama?

— Não. — Ele deu um longo suspiro. — É apenas o único outro quarto anexado ao berçário é... — sua voz falhou.

— O quê? — Ela perguntou, inclinando-se para frente, Natty mudando com ela.

— A suíte da condessa.

Sua respiração ficou presa.

— Existem outros quartos, é claro. Mas não estão ligados ao...

— Isso está bom, — ela o cortou, sua voz captando a última palavra. Tanto para a distância. — Vou dormir onde quer que esteja perto das crianças.

Ele deu um puxão rápido com o queixo e a carruagem continuou, o silêncio caindo novamente. Clarissa, entretanto, inclinou a cabeça para o lado, olhando para Logan.

— A suíte da condessa também está conectada à sua?

Ele se endireitou.

— Há uma fechadura.

— De que lado? — Ela ofegou.

— Ambos, — ele respondeu levantando as mãos.

— Lorde Gold...

— Penny, — sua voz aumentou de volume. — Por favor. Depois do que quase aconteceu, do que poderia ter acontecido, gostaria de manter todas vocês por perto.

Havia um tremor em sua voz. Um que ela nunca tinha ouvido antes. Parecia vulnerável e assustado. Toda a sua preocupação parecia esvair-se dela com a expiração.

— Tudo bem.

Ele relaxou em seu assento.

— Bom.

Natty desceu do colo e abriu a cortina para olhar pela janela quando o portão se abriu.

— Você vive aqui? — Natty perguntou, sua voz cheia de admiração.

— Sim. — Logan estendeu a mão e afastou o cabelo de Natty de seu rosto.

As próprias entranhas de Penny se retorceram com o gesto.

— Quão grande é a sua família? — Fran perguntou, tendo se esforçado para olhar pela janela também.

— Muito pequena, — ele respondeu calmamente.

— Então, por que sua casa é tão grande? — Perguntou Ethel. Ela ficou em seu assento com apenas um leve contorcer e olhar melancólico em direção à janela. Penny mexeu-se. Ethel era a mais velha das meninas e se esforçava muito para ser adulta. Mas as palavras de Ethel fizeram seu estômago embrulhar. Logan se casaria algum dia e começaria uma família própria. Ela odiava o ciúme apertando seus punhos.

Ele deu uma risadinha.

— Era o único tamanho que a casa tinha.

Ethel acenou com a cabeça como se isso fizesse todo o sentido.

— Quanto tempo vamos ficar?

Sua risada morreu.

— Até que possamos encontrar um lar mais seguro para você.

A própria garganta de Penny começou a fechar. Porque estava com tanta raiva, ela pensou coisas terríveis sobre ele esta noite. Mas a verdade é que, quaisquer que fossem suas motivações, elas pareciam puras o suficiente para os órfãos.

Ele queria mantê-las todas seguras. Quando foi a última vez que um homem se colocou entre ela e o mundo, carregando o pesado fardo?

Tanto tempo.

Não sabia quanto tempo ele planejava ficar, e ela quis dizer o que disse sobre a necessidade das meninas de terem uma presença consistente em suas vidas. Mas, se ele não estivesse lá esta noite... se ele não as tivesse acolhido...

Suas mãos se torceram no colo.

Ela precisava ser mais agradável.

Era só que em algum lugar ao longo do caminho, este homem irritante e maravilhoso tinha entrado em sua pele.

Ela não permitia que ninguém a deixasse com raiva ou chateada por anos. Nem se permitiu sentir amor por outro além de Clarissa e das crianças.

Mas ele estava abrindo caminho em seu coração.

E essa era a verdadeira razão pela qual ela estava com raiva. Ela não deveria permitir. Ele não seria delas para sempre. Até ela sabia disso.

 

 


Capítulo 11


Logan se jogou em uma cadeira perto do fogo em uma sala de estar no andar de cima. Penny sentou-se na cadeira ao lado dele, suspirando ao se recostar.

Eles passaram a última hora acomodando os convidados dele. Finalmente, ele colocou todos as crianças e Clarissa em suas camas, e apenas Penny permaneceu.

Ela ainda usava seu vestido de jantar e, embora tivesse amassado por toda a atividade, ela parecia incrivelmente bonita.

Ele gostaria de pressionar a palma da mão nos lábios e beijar sua mão. Em seguida, seu braço, talvez seu pescoço, orelha e bochecha.

— Estou tão cansada que poderia dormir nesta cadeira. — Sua cabeça inclinada para o lado, seus olhos tremulando fechados.

— Já passa da meia-noite. — Ele observou sua respiração lenta enquanto seus lábios se separavam suavemente. — Devíamos levar você para a cama também.

Ela acenou com a mão.

— Em um minuto. Tenho algumas coisas a dizer primeiro.

Seu intestino apertou. O que ela queria dizer agora?

— Sim?

— Obrigada, — ela disse enquanto se sentava, seus olhos castanhos abrindo para olhar para os dele. Sob esta luz, eles pareciam ter pequenas manchas de ouro. — Agora que estamos aqui, sinto-me muito mais segura. — E ela respirou fundo. — E as doações que você ajudou a garantir. Elas estão além... — Ela balançou a mão no ar. — Qualquer coisa que eu sempre sonhei.

— Sua percepção vale muito mais. — Ele queria estender a mão e pegar a mão dela. Ele colocou as mãos nas coxas para não estender a mão para ela. — Continuaremos arrecadando fundos. Eu não sou o lorde mais popular, mas com certeza eu posso...

— Meu senhor, — o mordomo chamou da porta. — Há alguém aqui para te ver.

A cabeça de Logan girou. Alguém já tinha vindo entregar os nomes dos perpetradores?

— Quem?

— O Conde de Baxter, — ele respondeu. — Devo pedir a ele para voltar amanhã? É muito tarde para visitantes.

— Estou ciente da hora. — Logan suspirou. Ele realmente tinha o servo mais obstinado em toda a Inglaterra. Mas de alguma maneira...

Que estranho. Ele tinha acabado de perceber que sua equipe soava como uma família. Como Clarissa e Penny.

— Ele disse por que está aqui?

O mordomo acenou com a cabeça.

— Uma proposta de negócio que ajudaria a financiar o orfanato.

— Mande-o entrar, — Logan disse enquanto fechava os olhos. Ele só queria ver Penny relaxar em sua cadeira. Mas esta noite simplesmente não parecia ter fim.

— Devo ir? — Penny perguntou, já se levantando.

— Você não precisa. — Ele se levantou também, aproximando-se dela. — Se for sobre o orfanato, você deveria estar aqui.

— Quando se trata de dinheiro, confio em você implicitamente. Você é o Conde de Ouro.

— Fique um pouco. — Precisava que ela confiasse nele mais do que apenas por dinheiro. Ele poderia querer que ela confiasse nele com tudo. Seu intestino apertou. De onde vieram esses pensamentos? Não importava agora. O que parecia importante era recuperar sua confiança. E a única maneira de fazer isso era não ter mais segredos.

Ela acenou com a cabeça quando o mordomo conduziu o outro homem para a sala. Ele era alto e largo e terrivelmente bonito, com cabelos escuros ondulados e um sorriso brilhante.

Logan tinha ouvido falar do homem, é claro. Ele era um dos poucos condes que tinham uma reputação pior do que Logan. Conde dos Bastardos, o chamavam. Ao contrário da maioria dos condes, o homem não herdou seu título, mas o ganhou com sua coragem no campo de batalha.

Logan nunca tinha ouvido falar por que ele era chamado de Conde dos Bastardos. Era porque ele era um soldado implacável ou sua linhagem estava em questão? Ainda assim, o homem teve sucesso e, ao contrário de Logan, parecia para se mover pela sociedade com relativa facilidade.

Salve os rumores, é claro.

Os olhos escuros do homem pareciam avaliar Penny em um instante e o ciúme, mais uma vez, aumentou como maré por dentro de Logan.

— Senhorita Walters, eu presumo. — Um sorriso apareceu no rosto do outro homem. — É um prazer.

Penny silenciosamente fez uma reverência.

— Meu senhor.

— É muito tarde para visita. — Logan rugiu, dando dois passos que o colocaram entre este homem e Penny.

— Desculpas, Goldthwaite. — O homem inclinou a cabeça. — Meu irmão disse que era urgente.

— Irmão? — Ele não tinha ouvido falar do homem antes.

— O Duque de Devonhall. — Baxter disse se aproximando. — Você o conheceu esta noite, eu acredito.

Os olhos de Logan se arregalaram. Como Devonhall e Baxter poderiam ser irmãos? Mas a semelhança estava lá. Seus olhos, o nariz. A graça com que os dois homens se moviam.

— Eu não sabia.

— Não muitos sabem, — Baxter respondeu. — Posso me sentar? Tenho muito a dizer e não tenho muito tempo. — Então, ele se virou para Penny. — Algumas das coisas que tenho a compartilhar são apenas para os ouvidos de Goldthwaite. Espero que você não se importe. Adoraria conhecê-la em outro momento.

Penny se aproximou, Logan sentiu seu corpo próximo. A energia sobre ele sempre mudava quando ela estava perto. Então, a mão dela tocou levemente seu ombro. Mas o toque o aqueceu. Queria se virar e capturar aqueles dedos nos seus, pressionando-os contra os lábios.

— Lorde Goldthwaite? — Penny fez uma pergunta silenciosa, mas ele entendeu. Ela queria saber o que ele desejava que ela fizesse.

— Está tudo bem. — Ele olhou-a com um sorriso. A preocupação coloriu seu rosto e ele queria abraçá-la por carinho. — Sr. Winters pode oferecer tudo o que você precisar.

— Boa noite. — Então, ela acenou para Baxter em seu caminho para fora da porta.

Logan a observou ir.

— Garota adorável, — Baxter disse, voltando-se para Logan. — Você é muito sortudo.

O que ele disse sobre isso? As palavras de Baxter implicavam que Penny era dele. Ele supôs que parecesse que sim, com Penny sob seu teto e em uma hora tão tarde. Por mais que quisesse que Baxter pensasse que Penny estava sob sua proteção, ele também queria proteger sua reputação.

— Apreciaria se você mantivesse sua visita aqui para você. Alguém tentou colocar fogo em seu orfanato esta noite e...

— Você está falando sério?

— Temo que sim. Bandidos locais, pelo que posso dizer, no entanto eles têm sido irritantemente persistentes. Estou começando a me preocupar, pois há uma força maior em ação. — Ele esfregou a cabeça, odiando onde seus pensamentos o haviam levado. — Você conhece Blackwater?

— Conheço. Sei que vocês tiveram uma discussão esta noite, mas ele não iria descer tão baixo. Ele é um bom homem. — Baxter foi até a cadeira que Penny acabara de desocupar. — Você obviamente teve uma noite difícil. Deixe-me ir direto ao assunto. Primeiro, vou combinar a doação para o orfanato. Pretendo ser um proprietário menos ativo do clube, então sinto que devo contribuir.

— Tudo bem.

— Mas gostaria que você reconsiderasse juntar-se a nossa aventura na Toca do Pecado.

Logan deveria saber.

— Sinto muito, mas como disse a Daring, a resposta é não.

Penny tapou a boca com as mãos para não ofegar, então se perguntou se eles tinham ouvido o som de suas luvas batendo contra seus lábios.

Mas a conversa continuou.

Ela sabia que não deveria estar ouvindo, mas quando se afastou, percebeu que eles estavam discutindo... bem... sobre ela. Em seguida, mudaram a conversa para o clube, e ela claramente ouviu Logan dizer que não estava participando da Toca do Pecado e algo macio e quente derreteu dentro dela.

Porque ele definitivamente ainda as estava ajudando.

Sem receber nada em troca.

Ela lamentava ter ficado tão zangada e tão grata por ele as ter trazido para cá, onde estavam seguras.

Ela se encostou na parede enquanto a conversa continuava.

— Por quê? — Baxter perguntou. — É uma oportunidade fabulosa. Você sabe.

— Eu sei. Mas também sei que não preciso disso. Além disso, ajudar a Srta. Walters é muito mais importante do que qualquer empreendimento comercial. Tomei minha decisão final.

Lágrimas escorreram de seus olhos e ela teve que piscar várias vezes para limpá-las. Ele estava desistindo de ganhar mais dinheiro para concentrar sua energia e tempo na causa dela.

Baxter ficou em silêncio por um momento.

— Vou ser sincero com você. Sabemos que você tem o toque de ouro...

Penny respirou fundo, preparando-se para a resposta de Logan, já que ele odiava o apelido. Isso ficou evidente no início da noite, durante o jantar.

— E? — A voz de Logan poderia ter congelado o Tâmisa.

— Blackwater vai se acalmar. O resto de nós acredita que você é um elemento vital para o sucesso do empreendimento, — disse Lorde Baxter. — Estamos dispostos a refletir essa necessidade em sua parte do negócio.

Foi a vez de Logan parar de falar. O silêncio se estendeu por tanto tempo que Penny se viu na ponta dos pés, inclinando-se para mais perto da porta. Ela quase se esqueceu de respirar quando suas mãos se entrelaçaram.

— Não tenho reputação de ser bonzinho com os outros, — ele disse finalmente.

Penny balançou a cabeça. Sim, às vezes ele soprava como uma tempestade e ocasionalmente esmurrava os homens na rua. Mas ele defendeu o que era certo, protegeu as crianças e... Ela cobriu a boca novamente para não falar quando não era para estar ouvindo.

Por que ela estava ouvindo? Não deveria e não era do feitio dela, mas do outro lado da porta, Logan estava entrando em foco. E ele era o homem que ela esperava que fosse.

Baxter deu uma risadinha.

— Minha reputação é muito pior que a sua. Sei como era o irmão de Blackwater, o primeiro herdeiro legítimo. Percebi sua ira em Eton e eu tinha um irmão que era duque ao meu lado. Vou confiar em você para fazer o seu melhor para ser legal com o novo Barão de Blackwater. Ele não é nada como seu irmão era... ele está apenas... sentindo-se culpado.

Ele franziu a testa. O que isso significava? Penny reprimiu o desejo de descobrir. Não importava.

Logan soltou um resmungo.

— Eu tomei minha decisão. Tenho quartos lá em cima cheios de órfãos que precisam de um lar.

As lágrimas mais uma vez encheram seus olhos. Sua bochecha pressionada contra a parede fria sob sua pele quente.

— Eu posso ter uma solução para isso. Há um prédio perto de Mayfair que está disponível.

Desta vez, ela não conseguiu conter o suspiro. Mayfair? Suas crianças estariam muito mais seguras e felizes em um lugar assim. Penny não percebeu que tinha fechado os olhos até que alguém tocou seu braço. Em seguida, eles se abriram novamente.

Logan estava diante dela, suas sobrancelhas levantadas.

— Eu sinto muito, — ela sussurrou. — Eu não queria. Eu acabei de...

— Conversaremos mais tarde, — respondeu ele. — Suba. Segunda porta à esquerda.

Ela assentiu. Ela conhecia o quarto. Era aquele ligado ao berçário.

Seu intestino apertou. Ele agora tinha todo o direito de estar zangado com ela. Ela escutou uma conversa e... ela suspirou. E soube que ele não era o Conde de Ouro porque tudo o que importava era o dinheiro.

Na verdade, se ela fosse adivinhar, seu coração era feito de ouro puro.

 

 


Capítulo 12


Logan voltou para a sala, mal contendo um sorriso. De forma, o fez se sentir melhor saber que ela não era absolutamente perfeita.

Isso não significava que ela não fosse perfeita para ele.

Ela o deixou mais suave. Inferno, tornou-o um homem melhor.

Surpreso com a descoberta, Logan descobriu que gostava de si mesmo mais do que nunca.

Os pensamentos de seu pai ricochetearam em sua mente. Seu pai não tinha sido excessivamente cruel. Ele tinha machucado Logan, primeiro com indiferença. O desprezo sutil por fazê-lo saber que sempre estaria em segundo lugar ao invés do jogo. Quando criança, doeu profundamente. E então, mais tarde, o abandono total de ser deixado para trás quando seu pai havia sido levado embora para a prisão.

Ninguém nunca se importou com ele.

E se ele tivesse uma Penny quando menino? Quão diferente ele seria hoje?

Mas, agora não era hora para tais pensamentos.

Ele voltou para a sala para encarar o Conde de Baxter.

— Problemas? — Baxter sorriu maliciosamente enquanto se recostava na cadeira.

— Não, — Logan respondeu, tomando seu assento novamente. — Onde nós estávamos?

— Eu estava dizendo que tinha uma pista exclusiva em uma propriedade em Mayfair.

Logan deu um pequeno sorriso.

— Uma pista que eu certamente não poderia ir atrás fazendo o mesmo? — Ele sabia muito bem que podia. E Baxter também sabia.

Isso era parte do que o tornou o Conde de Ouro.

O outro homem estreitou o olhar.

— Você é irritantemente bom nisso.

Logan deu um pequeno sorriso.

— Um enigma para ter certeza. É a razão pela qual você me quer dentro do clube e ainda...

— Isso torna difícil recrutá-lo. — Baxter se inclinou para frente seus lábios puxando em um sorriso diabólico. — Mas, tenho uma oferta ainda mais tentadora.

Baxter mexeu os ombros e Logan avistou um emblema dourado preso em sua lapela. Ele brilhou à luz do fogo. Um único e brilhante W piscando de volta.

Logan os tinha visto antes, mas ele não tinha ideia o que o emblema realmente significava.

— Você gosta disso? — Baxter percebeu seu olhar e puxou a lapela para Logan dar uma olhada mais de perto.

— É maravilhoso, — Logan disse categoricamente. Baxter estava se desviando. Ele não estava gostando nada disso.

— Apenas os membros usam este distintivo. É a insígnia do nosso clube muito exclusivo. — O sorriso de Baxter se alargou. — Acabo de ser nomeado o novo líder.

As sobrancelhas de Logan subiram. Ele não deveria perguntar. O homem estava preparando uma armadilha e Logan estava prestes a pisar nela.

— Que tipo de clube?

— O tipo que daria a você acesso direto aos homens da elite de Londres. — Baxter balançou as sobrancelhas.

— Whites? — Logan perguntou.

— Estes são comuns, — Baxter acenou uma mão. — Eu disse exclusivo, lembra?

Mais exclusivo que os do White?

— Como é mesmo chamado? Eu ouvi disso?

— Nós somos secretos, — Baxter abaixou sua voz. — Chama-se, e você deve prometer manter isso para si mesmo, o Wicked Earls 'Club.

Logan prendeu a respiração.

Era tudo o que ele sempre quis. Baxter acabara de entregar os sonhos de sua vida em uma bandeja. E ainda...

Ele olhou para a porta. Clube dos Condes Perversos?

— Parece... tentador.

Baxter deu uma risadinha.

— É apenas para condes solteiros. Eu deveria mencionar isso. Mas, como membro, você terá acesso vitalício a todos os membros atuais e aposentados. Honestamente, essa é uma política que implementei e foi uma excelente adição. Tive uma reunião de ex-condes e foi extremamente bem frequentada.

Logan continuou a olhar para o lugar onde Penny acabara de ficar.

Ele tinha um plano. Uma lady de excelente qualidade, uma 'entrada' na elite da sociedade. Mas com um convite como esse, ele poderia ser a elite e ainda assim se casar com quem quisesse.

— Os homens noivos podem ser membros?

— Oh, certamente. — Baxter deu uma risadinha. — Você é excepcional em encontrar soluções, não é?

— Eu faço o meu melhor, — Logan respondeu. Ele queria encerrar essa conversa. Queria, francamente, estar perto de Penny.

— Então, nós temos um acordo? Eu doo para o seu orfanato, forneço um endereço, e ofereço a adesão a um clube muito exclusivo e você, em troca, junta-se a nós na Toca do Pecado?

Logan ergueu as sobrancelhas. Ele quis dizer as próximas palavras, mas estaria mentindo se não quisesse fazer Baxter se contorcer. Só um pouco mais.

— Honestamente, terei que falar com Penny.

Baxter deixou escapar um suspiro profundo.

— Você não pode estar falando sério.

Logan permitiu que um ombro se levantasse.

— É o orfanato dela.

— Só por curiosidade, embora não seja da minha conta, ela é a mulher com quem você pretende se casar? — Baxter olhou para a porta, esticando o pescoço como se pudesse ter outro vislumbre dela. — Porque eu pude ver por que você ficaria tentado.

— Você está certo, — ele se levantou. — Não é da sua conta.

Então, ele gesticulou em direção à porta.

— Volte amanhã ao meio-dia. Terei suas respostas.

Baxter assentiu.

— Gostaria de dizer que foi um prazer, mas acabei de ser arrastado para as brasas. Ainda. Espero que você aceite. Tudo valerá a pena se você estiver do meu lado.

Logan balançou a cabeça. Quando sua vida mudou tão drasticamente?

Mas, já sabia.

No momento em que Penny Walters entrou. Uma sensação de calor o percorreu.

Depois de ver Baxter sair, ele subiu para seu quarto. Ele colocou a vela na penteadeira e tirou o casaco, jogando-o sobre uma cadeira. Então, se sentou e começou a tirar as botas.

Ele ouviu um suspiro suave sair da cama. Um som sonolento que o fez ficar absolutamente imóvel.

Levantando-se, ele cruzou o quarto, deixando a vela sobre a mesa.

Com certeza, um pequeno calombo estava deitado diretamente no meio de sua cama. Tirando suavemente as cobertas, um ninho de cabelo loiro encontrou seu olhar. Puxando-os ainda mais para trás, ele encontrou Natty, dormindo profundamente, no meio de sua cama de dossel.

Logan riu ao ver a menina com o polegar enfiado na boca. Ainda assim, ele não poderia ir para a cama assim.

O pulso dele saltou. Teria que chamar Penny. Não havia outra opção.

Um sorriso lento se espalhou por seu rosto.

Penny estava deitada na cama, exausta, mas incapaz de adormecer.

Conseguiu tirar o vestido sozinha, embora não tenha sido fácil, e ela vestiu sua velha camisola desbotada.

O que serviu para lembrá-la de que ela era apenas uma garota simples que ficara órfã e agora queria começar um orfanato.

Ela nunca se tornaria a esposa de um conde.

Não que ela quisesse ser.

Ela revirou o pescoço quando um suspiro escapou de seus lábios. Tudo bem, tudo certo, ela queria.

Mas mesmo que sua fantasia se tornasse realidade, o que provavelmente não aconteceria, casar-se com um homem como Logan significava desistir de alguns de seus sonhos.

Como poderia ser condessa e ainda administrar vários orfanatos? E essa era apenas a primeira pergunta.

Logan parecia um homem que precisava ser reparado, e ela tinha um prato cheio de crianças que ansiavam por seu amor e afeição.

E mesmo se tudo isso não fosse um problema, qual a probabilidade de ele a querer?

Ele era um homem que buscava a perfeição. Até ela podia ver isso. E ela estava longe de ser perfeita como uma mulher deveria ser para um conde. Bem, havia piores, ela supôs, mas, novamente, não era provável que ele conhecesse aquelas mulheres, então ela estava de volta ao seu ponto anterior.

Soltando um suspiro, ela se levantou da cama, afastando as cobertas. Seus pés bateram contra o chão frio, mas não prestou atenção à sensação quando começou a andar.

Ela não poderia ser sua amante. Muitas outras pessoas confiavam nela para sua própria saúde e segurança.

Mas aquele beijo...

Ela esfregou o rosto, deixando escapar um gemido alto. Seu coração e sua cabeça estavam em desacordo. Ela abaixou a cabeça em direção ao peito.

Uma batida na porta fez seu queixo erguer-se. Devia ser quase duas da manhã.

— Penny, — Logan chamou do outro lado. — Temos um pequeno problema.

— O quê? — Seu coração subiu em sua garganta enquanto ela corria para a porta, abrindo-a.

Ele ficou lá, grande e imponente do outro lado.

— Natty, — ele começou.

Seu pulso disparou.

— O que está errado?

— Ela está na minha cama.

Penny piscou.

— Ela está machucada?

— Acho que não. Acabei de encontrá-la lá, dormindo sob as cobertas.

Penny desabou contra o batente.

— Você me assustou. — Então, ela se endireitou. — Por que você simplesmente não a carregou para a cama dela?

Sua boca abriu, fechou e abriu novamente.

— Não pensei nisso.

De alguma forma, toda a preocupação da noite a oprimiu, e sua cabeça caiu contra a madeira fria.

— Não acho que sou forte o suficiente para fazer isso.

Ele balançou a cabeça, estendendo a mão para tocar o braço dela.

— Eu sinto muito. Posso carregá-la para a cama. Você não tem que levantá-la.

— Não isso, — ela sussurrou, sua voz um pouco rouca. — Tudo isso. Uma vez, tive uma família que me apoiou quando eu estava prestes a cair. Agora não há rede. Estou totalmente sozinha e muitas pessoas dependem de mim.

De alguma forma, as palavras a desanimaram ainda mais. Por um lado, foi tão muito dizê-las. Admitir a alguém que estava cansada, com medo e certa de que iria falhar.

Por outro lado, parecia apenas tornar seus sentimentos mais reais, finalmente expressando-os em voz alta.

— E se eu não tiver sucesso? O que vai acontecer com elas?

Ele respirou fundo, e de repente seus braços estavam sobre ela. Ele era quente, forte e tão sólido que as mãos dela também envolveram sua cintura.

— Você não vai falhar. Não vou deixá-la. E você não está sozinha. Eu tomei minha decisão. Estou te ajudando. — Então, ele a apertou com mais força. — E caso você não tenha notado, sou mais forte que a média.

Penny deu um choramingo. Mas este não era um choro triste, a gratidão a dominou. Fazia tanto tempo desde que tivera alguém com quem realmente podia dividir o fardo, e não sabia como começar a dizer obrigada.

Em vez disso, ela ergueu o queixo e pressionou os lábios nos dele.

Não foi suave ou gentil. O beijo nem foi cheio de luxúria.

Mas a necessidade a fez ficar na ponta dos pés e se aproximar. Queria estar perto dele. Da sua força, do seu calor.

A maneira como ele a preencheu com tanto desejo que ela quase esqueceu todas as outras partes de sua vida.

Em seus braços, ela se sentia... segura. Cuidada.

Em vez de retribuir a necessidade dela, ele relaxou os braços e deslizou as mãos por suas costas para embalar sua cabeça.

Ele suavemente a beijou de volta enquanto a segurava perto de seu corpo.

— Eu estou você, — ele murmurou contra seus lábios. — Não estou indo a lugar nenhum.

Ela precisava dessas palavras. Como se precisasse de ar e água. Eles a preencheram. Ela apertou os braços em volta do pescoço dele, amando a maneira como seu corpo, sem espartilho, se encaixava no dele.

Ele a ergueu, seus pés saindo do chão, e começou a se mover enquanto aprofundava o beijo, sua língua saqueando sua boca. Era quente, doce e apaixonado, tudo ao mesmo tempo. Seus dedos enroscados em seu cabelo.

Ele pressionou seu corpo mais perto e ela engasgou-se em uma respiração, o desejo crescendo nela mesmo enquanto sua necessidade desesperada de tocá-lo ainda a atormentava.

Eles não pararam até que a parte de trás de suas pernas atingiu a cama.

— Não vá, — ela implorou. — Não me deixe agora.

— Eu não vou a lugar nenhum, querida, — ele respondeu, então a deitou no colchão espesso e profundo. — Estou bem aqui e estou com você.

O peso dele diminuiu em cima dela, seu calor enchendo os lugares mais frios que ela mantinha escondidos bem no fundo. Ela queria ficar assim para sempre.

 

 


Capítulo 13


Logan a segurou embaixo dele, seus braços em volta dela com força. Sabia que ela precisava de ajuda. Mais dinheiro, segurança. Segurança.

Mas como poderia não ter percebido que ela compartilhava seu medo de abandono? A dor de ser deixado jovem demais para andar sozinho neste mundo. Ele mal tinha notado em si mesmo. Mas, ao ver-se refletido em seu desespero, ele a viu como ela era. E, também se viu.

Sozinho. Precisando de amor e atenção. Precisando de uma família para preencher aqueles espaços escuros que ele não gostava de admitir que existiam.

Mas, existiam. Por mais que tentasse negá-los. E todo esse tempo, estava tentando preencher esses lugares com ouro. O dinheiro era tangível, depois de tudo. Palpável.

E Penny também.

Debaixo dele agora, implorando para que ele a abraçasse e não a soltasse.

Com uma clareza que não experimentava há anos, percebeu que eram perfeitos um para o outro. Ambos eram fortes, mas precisando de amor e carinho. Eles se entendiam.

Nunca a deixaria ir.

Ele a beijou novamente, profundamente, como se confessasse profundamente com seu coração, que a amava. Que havia encontrado a outra metade de si mesmo que estava desaparecida há tanto tempo.

— Eu só preciso... — ela ofegou entre beijos. — Sentir...

— Eu entendo, — ele murmurou, beijando-a novamente enquanto deslizava a mão para cima e para baixo em seu lado. Ele entendia. Completamente.

Não que fosse explicar tudo isso esta noite. Quando as pernas dela envolveram as dele, sua masculinidade latejante estabelecendo-se no berço de seus quadris, ela empurrou contra ele, fazendo com que ambos gemessem.

Amanhã seria para conversar.

Eles se casariam, é claro. Em breve.

Ele finalmente encontrou uma mulher que o tornava um homem melhor. O tipo de homem que sempre quis ser. Como não percebeu que não importava o que a sociedade pensava? Aqui, ele estava inteiro pela primeira vez em toda a sua vida.

Ele estava apaixonado. Seu peito doía com isso, mesmo quando sua mão roçou um de seus seios e então deslizou para baixo, todo o caminho para o seu quadril e perna, para segurar a barra de sua camisola.

Ele sacudiu o tecido para cima e então começou a correr a mão de volta na parte interna da perna dela, sua pele sedosa tão lisa sob sua mão.

Ela roçou contra ele, fazendo com que ambos gemessem.

Quando ele alcançou o ápice de suas coxas, ele roçou levemente os cachos entre suas pernas. Ela estremeceu com o toque e roçou contra ele novamente.

Ele gemeu em resposta, acariciando-a de leve novamente. Mantendo seu toque suave, ele esfregou sobre sua carne inchada novamente e novamente até que finalmente pressionou um dedo ao longo de sua abertura.

Ela convulsionou sob ele, cravando os dedos em seu pescoço. Ele teve que sorrir contra lábios dela.

Provavelmente Penny estava aumentando as marcas em sua pele, mas descobriu que não se importava quando começou a acariciar seu cerne de desejo.

Ela ofegou contra sua boca, seu corpo se esforçando para estar mais perto do dele.

Seu próprio desejo rugia através dele, mas esta noite não era sobre suas necessidades. Isso era sobre ela.

E dar-lhe este prazer era sua maneira de dizer que a amava. Que estaria lá quando ela precisasse.

Seu corpo ficou tenso, suas unhas cravaram ainda mais fundo em sua pele.

— Logan, — ela gritou, seu corpo tão tenso que ele sabia que seu fim estava perto.

— É isso, querida, — ele sussurrou, acelerando o passo. — Eu tenho você. Solte-se.

Ela gritou, seu corpo estremecendo contra o dele. Ele a sentiu gozar enquanto seu corpo convulsionava.

Ele a beijou diversas vezes enquanto ela tremia em seus braços até que ela finalmente relaxou. Acariciando seu rosto, ele murmurou palavras suaves que pretendiam dizer-lhe o quanto se importava.

Ele quase riu alto quando percebeu que ela conseguiu adormecer. Gentilmente, ele a ergueu em seus braços novamente e a colocou sob as cobertas. Parte dele queria ficar. Para se esticar ao lado dela e sentir suas curvas suaves pressionadas contra seu corpo.

Mas haveria muito tempo para isso. Eles tinham suas vidas inteiras, na verdade.

E esta noite, ele lhe daria espaço para dormir fora do estresse de hoje. E se daria tempo para permitir que seu próprio corpo se acalme. Só quando voltou para o quarto é que se lembrou de que este já estava ocupado.

Natty parecia tão confortável em sua cama que ele desceu para o escritório. Ele agarrou um cobertor e se esticou no grande sofá da sala. Ele o comprou para aqueles momentos em que precisava pensar ou até mesmo fechar os olhos para um breve repouso. Mas esta noite, seria sua cama.

Ele sorriu. Sua casa tinha sido invadida e ele teve que confessar, amou cada segundo desta vida nova, maravilhosa e louca que era sua.

Penny acordou sentindo-se mais descansada e relaxada do que há meses. Que horas eram?

Ela se levantou da cama e olhou pela janela, o sol alto no céu. Na porta ao lado, ouviu todos os tipos de barulho e abriu a porta de comunicação para espiar no quarto das crianças.

Uma das criadas, pelo menos foi o que Penny presumiu, estava contando uma história para as meninas. A mulher era muito talentosa, e as garotas faziam ooh e aah quando ela fingia ser um dragão.

Mas uma batida em sua porta interrompeu sua espionagem e ela fechou suavemente a porta de comunicação para atravessar o quarto.

Logan mais uma vez ficou do outro lado, um sorriso fazendo-o parecer anos mais jovem e muito mais acessível.

— Bom dia.

Um rubor subiu para suas bochechas com as memórias da noite anterior enchendo seus pensamentos.

— Bom dia.

O que eles fizeram foi... maravilhoso. Mas exatamente o que eles fizeram era a pergunta que ela desejava fazer. Era assim que os bebês eram feitos? Tinha permitido que ele tomasse sua inocência? Se atreveria a perguntar?

— Se você se lembra, temos um compromisso às dez horas esta manhã.

Sua sobrancelha se franziu.

— O quê?

Ele deu uma risadinha.

— Ok. Entendi que já entreguei os fundos para você, mas temos outras... coisas... para discutir.

Eles realmente fizeram.

— Que horas são?

Ele pigarreou.

— Dez e meia.

— Oh, querido, — ela olhou para os dedos dos pés descalços. — Estou atrasada.

Ele riu e estendeu a mão para acariciar suavemente sua bochecha.

— Vou mandar alguém ajudar você a se vestir. O Conde de Baxter retorna ao meio-dia, e verdade seja dita, gostaria de discutir sua oferta com você antes de vê-lo.

Era isso que eles precisavam discutir?

— De alguma forma, pensei que o assunto poderia ser um pouco mais... pessoal.

Ele se aproximou e seus lábios roçaram sua testa.

— Eles fazem parte da mesma conversa, posso garantir.

O calor encheu suas bochechas novamente, mesmo quando ele deu um beijo leve no topo de sua cabeça.

— Eu vou te ver muito em breve. E não se preocupe com o café da manhã. Terei uma bandeja no meu escritório.

— Obrigada, — ela disse enquanto ele se afastava novamente. Era errado que ela desejasse ficar em seu abraço?

Mas quando ele voltou para o corredor, ela se virou para começar a se preparar.

Se desejasse estar perto dele, teria que comparecer a sua... reunião.

Isso a fez sorrir. Assim como Logan, desejava discutir seu relacionamento em uma hora e local determinados.

Mas então ela se endireitou. Como ele via o futuro deles?

Todas as suas dúvidas ainda existiam.

Ela estremeceu. Não era adequada para ser uma condessa. Na verdade.

E ele tinha muitos deveres e obrigações que sua esposa deveria ajudar. Em vez disso, ela tinha seu próprio caminho que planejava trilhar.

Ela afastou seus pensamentos e começou a se lavar. A única maneira de obter alguma resposta era terminar de se vestir.

 

 


Capítulo 14


Logan estava sentado em sua mesa esperando Penny chegar. Com pouco mais a fazer, começou a examinar a correspondência da manhã.

Suas mãos trabalharam quase sem pensar. Atualizações de seu advogado em uma pilha, documentos legais em outra. Finalmente ele veio para um bilhete simples. Quando o virou, ele viu o selo do Marquês de Humphries. O homem para quem ele escreveu sobre uma apresentação para sua filha.

Virando-o, ele quebrou o selo e puxou a folha de pergaminho nova.

Examinando rapidamente o conteúdo, Logan quase latiu de tanto rir.

A família teria o maior prazer em fazer a apresentação e solicitou sua presença em seu próximo baile. A celebração do Natal está marcada para quinze dias a partir desta sexta-feira.

Ele balançou a cabeça enquanto colocava o bilhete na mesa. Ele não compareceria.

Logan já havia escolhido uma noiva. Uma linda mulher com um coração de ouro.

Seu coração disparou no peito. Lady Goldthwaite. Tinha um lindo anel. E como condessa, estaria mais capaz de ganhar qualquer quantia de dinheiro que ela precisasse administrar para seus orfanatos.

Ele soltou um suspiro. Mas Natty, Ethel, Fran e Clarissa ficariam aqui, é claro. Eles eram uma família agora. Sabia disso.

O calor encheu seu peito.

Ele finalmente teria uma família de verdade.

Uma batida soou na porta e ele ergueu a cabeça, um sorriso pronto para Penny. Mas foi o Sr. Winters quem estava na porta.

— Me perdoe, meu senhor, mas o Conde de Baxter voltou.

Logan franziu a testa. Eram onze e quinze. O homem chegou cedo.

— Já?

Sr. Winters deu um aceno de cabeça.

— O que devo dizer a ele?

Logan ficou tentado a não contar nada a ele. Basta fazê-lo sentar-se e esperar.

Mas ele não sabia se Penny queria a propriedade Mayfair, e por isso decidiu ir se explicar.

Ele se levantou da escrivaninha.

— Eu mesmo falarei com ele.

Sr. Winters deu um aceno rápido. Assim que ele se virou, uma criada entrou, colocando uma bandeja em uma das mesinhas laterais.

Logan deu um breve aceno de cabeça. Perfeito. Penny poderia fazer um lanche enquanto lidava com um conde muito impaciente.

— A Srta. Walters deve descer em breve, — Logan avisou por cima do ombro enquanto fazia seu caminho para fora da porta. — Veja se ela come.

Sr. Winters pigarreou.

— Não deixe a lady esperando muito tempo. Sua paciência não é infinita.

— Seriamente? — Ele ergueu as mãos ao virar a esquina. — Você está me dizendo o que fazer agora?

Sr. Winters entrou no corredor e o falou.

— Sempre, meu senhor. Falando nisso, devemos providenciar para que cada uma das crianças tenha quartos próprios.

Logan parou e girou. Estava na ponta da língua dizer ao homem para cuidar da sua vida. Mas o Sr. Winters tinha razão e, além disso... ele também fazia parte desta família maluca.

— Natty tem pesadelos. Ela precisa das outras crianças.

O Sr. Winters ergueu uma sobrancelha.

— Quão atencioso e bom ponto, meu lorde.

Logan se virou novamente, caminhando para a sala da frente. Era a mesma onde Penny o tinha esperado.

Ele sorriu. Quanta coisa mudou nas últimas semanas.

Entrando na sala, o Conde de Baxter sentou-se com uma perna apoiada no joelho, enquanto colocava as mãos na frente do rosto.

— Você chegou cedo, — Logan resmungou, cruzando a sala para se sentar ao lado do outro homem. Ele notou que Baxter não se incomodou em se levantar em saudação.

— Cheguei, — o outro homem respondeu.

Já que eles não estavam fazendo cerimônia, Logan não se incomodou com conversa fiada.

— Tão cedo, que eu não tenho uma resposta para você.

Baxter franziu a testa.

— Por que não?

Logan soltou um estrondo baixo. Outras pessoas achariam este Logan abrasivo? Que irritante.

— Porque... — Ele se inclinou para frente. — Você está interrompendo meu encontro com a Srta. Walters.

Baxter ergueu uma sobrancelha.

— Me perdoe. Presumi que você teria tido a conversa várias horas atrás. Vocês dois parecem... intimamente conhecidos.

Logan soltou um longo suspiro, levantando-se de sua cadeira.

Ele viu os olhos de Baxter se arregalarem de surpresa.

— Cuidado, — Logan disse baixo e profundamente. — Essa é a mulher com quem pretendo me casar.

Baxter lhe deu um sorriso conhecedor.

— Exatamente o que eu quis dizer.

Logan olhou-o por um minuto. Suspeitava que não era isso que o outro homem queria dizer. Ele quis dizer que houve uma oportunidade de discutir seu futuro na cama, mas Logan decidiu deixar para lá.

— Se você quiser sua resposta hoje, terá que esperar.

Baxter assentiu.

— Eu espero.

— Pode demorar um pouco. — Na verdade, Logan podia mantê-lo esperando por um tempo excessivamente longo. Penny merecia tempo para tomar sua decisão e Baxter merecia uma lição de paciência. E bons negócios. Duvidava que Baxter fosse tão sereno quanto Penny tinha sido. Mas, novamente, Penny era uma pessoa excepcional.

Baxter tirou vários sacos de moedas de sua bolsa. Lentamente, ele colocou cada bolsa na mesa ao lado de sua cadeira.

— Já que você está prestes a falar com a Srta. Walters, talvez você possa passar isso para ela.

Os olhos de Logan rapidamente examinaram oito sacos de moedas, um consideravelmente maior do que os outros.

— Os contratos.

— Sim, — Baxter deu um único aceno com a cabeça. Então, puxou uma folha de papel do casaco. — E o contrato da casa.

— Senhorita Walters e eu retornaremos em breve.

— Muito bom. — Baxter piscou.

— Meu senhor, — uma voz feminina chamou da porta. — Você viu Penny?

A cabeça de Logan se ergueu. Clarissa ficou na porta, um olhar de preocupação marcando sua sobrancelha.

— Não consigo encontrá-la em lugar nenhum.

Ele pigarreou.

— Ela está no meu escritório ou deve estar em breve.

— Quem é sua amiga? — Baxter perguntou atrás dele. Sua voz ficou mais profunda, mais ameaçadora, perdendo o tom jovial.

Logan olhou para o outro homem para ver o que causou a mudança, mas o olhar de Baxter estava fixo em Clarissa. Seu rosto ficou pálido de repente, as mãos cerradas na frente dele. O homem parecia ter visto um fantasma.

Logan olhou de volta para a amiga e aliada de Penny. Com os sapatos calçados e o cabelo bem penteado, ela parecia muito mais velha do que Logan costumava vê-la. Ela era alta e esguia, com cabelos loiros grossos e olhos azuis brilhantes. Como Logan não percebeu?

Mas ele estava muito ocupado procurando em Penny, tinha certeza.

— Clarissa, este é o Conde de Baxter, — Logan disse com os dentes cerrados. Então, ele se virou para Baxter. — Clarissa é uma das pupilas da Srta. Walters que agora está sob minha proteção.

Baxter não desviou o olhar de Clarissa quando deu um único aceno de cabeça, sua mandíbula rígida de tensão e seus olhos se enchendo de uma intensidade que Logan não entendeu. Ele inclinou a cabeça para o lado enquanto avaliava o outro homem.

Mas a única resposta de Baxter foi repetir baixinho o nome dela.

— Clarissa.

Clarissa fez uma reverência em retorno, seu olhar fixo no chão enquanto a cor inundava suas bochechas.

— Vou... verificar as crianças.

Logan caminhou em direção à porta, acompanhando-a para fora.

— Vou mandar Penny subir assim que terminarmos.

Clarissa deixou seus olhos voltarem para a sala e Logan prendeu a respiração. O Conde dos Bastardos não era alguém com quem ele queria que aquela jovem inocente brincasse. Sua voz baixou.

— Na mesa. Era isso que eu acho que é?

Logan caiu de alívio. Ela não estava olhando para Baxter, mas para o dinheiro.

— Sim, é.

Clarissa levou a mão à boca.

— Oh, nossa.

Logan riu.

— De fato. — Ele esperava que este fosse um dia cheio com muitos momentos, oh, nossa.

Penny entrou no escritório de Logan. Era uma sala em que ela nunca tinha estado e tinha vergonha de admitir, ela se perdeu... duas vezes... tentando encontrá-la.

Uma empregada estava ao lado de um serviço de chá e fez uma rápida reverência.

— Chá, senhorita?

— Oh, por favor, — ela respondeu agradecida.

A criada rapidamente serviu-lhe uma xícara e depois fez uma reverência novamente.

— A Sua Senhoria recebeu outra visita, mas ele pediu para lhe dizer que já volta.

Penny assentiu e assim que a mulher saiu, ela começou a espalhar geleia em um biscoito. Estava faminta. Tardiamente, percebeu que eles não tinham jantado e então, ela dormiu demais.

Comendo um biscoito, ela tomou vários goles de chá e depois preparou outro.

Do escritório do segundo andar, ela podia ver o jardim dos fundos e se levantou da cadeira, mordiscando seu café da manhã enquanto se dirigia para a janela.

A maioria das plantas estava morta, mas ela podia ver que lindo lugar era no verão. Bancos de jardim alinhados, reunindo em um ponto central, cercado por um dossel de árvores. Ela suspirou ao ver o pequeno local tão adorável. Mas seu estômago roncou novamente e ela se voltou para a bandeja.

Uma nota estava aberta sobre a mesa, um grande pergaminho em negrito que chamou sua atenção. Ela sabia que não deveria olhar, mas as palavras — baile de Natal — saltaram sobre ela. E então — filha — e — encantada — e..., sua mão cobriu sua boca.

Logan estava cortejando outra mulher.

Seu estômago caiu e seus ombros se curvaram, uma mão apoiada na mesa apenas para mantê-la de pé.

A dor percorreu seu corpo enquanto sufocava um soluço seco. Ela sabia, é claro. Sabia que ele nunca se casaria com ela. Por que iria? Mas, de alguma forma essa evidência doía tão profundamente que ela não conseguia respirar.

Eles fizeram coisas ontem à noite.

Ele nunca lhe fez promessas, é claro. E ela praticamente implorou a ele.

Oh, santos misericordiosos. Ela implorou a ele.

Ela tinha sido tão cuidadosa em manter distância dos homens. Mantê-los com o braço estendido. Mas ele violou essas defesas até que ela precisou tanto de seu toque que foi incapaz de negar a si mesma ou a ele.

Balançando a cabeça, ela empurrou-se para fora da mesa.

Ele prometeu ajudá-la.

E por mais que quisesse afastá-lo, Penny não era idiota. Era no interesse de Fran, Ethel e Natty que ela permitiu que ele fizesse isso. Por Clarissa também.

Mas ela odiou isso.

Ela fez papel de boba. Era uma idiota.

O que ela precisava era limpar a cabeça. Ir caminhar. Classificar seus pensamentos turbulentos. A respiração presa. E se o que eles fizeram resultasse em um filho?

Sem permitir que mais pensamentos girassem, dirigiu-se para a porta. Desceu as escadas e, depois de vestir o casaco, saiu para o frio.

Começou a andar sem uma ideia clara para onde deveria ir.

Ela sabia o caminho de volta ao East End, mas não conhecia mais nada nesta vizinhança.

Decidindo que não importava, Penny acelerou o passo, tentando fugir do turbilhão de pensamentos. A neve começou a cair e ela ergueu o colarinho, curvando-se para dentro do casaco puído.

Sua mente estava tão ocupada que nem percebeu que uma carruagem havia parado ao lado dela até que a porta se abriu.

— Penny?

A Duquesa de Darlington se inclinou para fora da porta, seu cabelo ruivo brilhando na luz cinzenta.

— Sua Graça? — Ela ofegou reconhecendo o endereço.

— Nada disso. É Minnie. Agora, entre. Eu insisto. O tempo está horrível.

— Não posso, — Penny balançou a cabeça. — Cometi um erro terrível e eu...

— Então, você definitivamente precisa entrar, — Minnie disse estendendo a mão. — Seja o que for, tenho certeza de que posso ajudá-la a resolver.

Penny olhou para a outra mulher. Uma duquesa iria ajudá-la? Como isso poderia ser verdade?

— Eu não poderia. Eu...

— Não. — Minnie puxou sua mão.

Penny finalmente concordou. Subindo, Minnie entregou a ela um tijolo quente e um cobertor.

— Agora. — A outra mulher se inclinou para frente. — Conte-me tudo.

 

 


Capítulo 15


Logan voltou para seu escritório, mas parou na porta.

Meia xícara de chá estava na mesa junto com um biscoito intocado. Provas claras de que Penny estivera na sala, mas agora estava vazia. Pelo menos assumiu que ela estivera comendo e bebendo.

Ele ficou parado por um momento, tentando decidir o que fazer. Ela apenas saiu por um momento? Voltaria? Algo errado com uma das crianças? Não tendo certeza do que mais fazer, ele subiu as escadas.

Mas ela não estava no berçário, com Clarissa, ou em seu próprio quarto. O Sr. Winters não a tinha visto, e ela não apareceu na cozinha. Passando a mão frustrada pelo cabelo, voltou ao seu escritório. Talvez tivessem acabado de se desencontrar nos corredores.

Mas antes que pudesse passar pela porta, ele foi recebido pelo Sr. Winters.

— O casaco dela sumiu.

— O quê? — Ele perguntou, franzindo a sobrancelha. — Por que o casaco dela sumiu?

Sr. Winters balançou a cabeça.

— Não sei. Mas é isso.

Um pavor doentio encheu seu estômago. A neve havia aumentado e o vento uivava lá fora. Não era hora de dar um passeio. Por que Penny se aventuraria nessas condições? Seu intestino apertou.

— Baxter ainda está aqui?

— Sim, — Sr. Winters respondeu. — Trouxe-lhe uma bandeja de refrescos há alguns momentos.

Logan coçou a cabeça e entrou no escritório. Parte dele queria correr porta afora e pegá-la, mas descobrir por que ela foi embora parecia importante. Ele saberia para onde ela tinha ido se pudesse descobrir o que a enviou para a neve em primeiro lugar. Logan foi até sua mesa tentando decifrar o que poderia ter acontecido quando viu o convite em sua mesa.

Ele parou, seu sangue gelando.

Estava bem à vista, exatamente onde ele o havia deixado. As letras em negrito legíveis à distância. Penny achou que ele planejava cortejar outra?

Bem, ele tinha planejado isso, na verdade.

Mas parecia a Toca do Pecado novamente. Ele reteve informações. Desta vez, não intencionalmente. Simplesmente mudou de ideia. Ele estendeu a mão para aquela outra candidata para ajudá-lo a seguir em frente e esquecer Penny. Parecia certo na hora, mas agora...

E sem contexto, ela não teria ideia de que ele planejava se casar com uma linda dona de orfanato...

Ele gemeu, esfregando o rosto. Embora ainda não soubesse exatamente para onde ela tinha ido, ela provavelmente também não havia traçado um plano. Não era normal ela não colocar suas acusações em primeiro lugar. Ela saiu chateada e marchou para a neve? Tinha colocado roupas suficientes? Suas entranhas se torceram novamente.

— Sele meu cavalo. Imediatamente. Há quanto tempo ela foi vista?

— Não pode ter mais de meia hora. — O Sr. Winters girou nos calcanhares em direção à porta. — Vou preparar seu cavalo.

— Obrigado, — disse ele enquanto seguia Winters para fora da porta. Isso o fez se sentir um pouco melhor. Ela não teria congelado até a morte em meia hora. Ele parou na sala de estar onde Baxter esperava.

Entrando na sala, o homem estava de cabeça baixa em sua cadeira. Estava dormindo?

— Baxter?

O outro homem se sentou, seus olhos afiados, uma carranca em seu rosto.

— Está tudo bem? Você parece estranho.

Logan franziu a testa. Não estava acostumado a confiar nas pessoas. Ele também não gostava de pedir ajuda. Nunca. Mas muito em sua vida estava mudando. Não gostaria de se confessar com Baxter, mas outro homem procurando tornaria seu trabalho muito mais fácil.

— Penny viu algumas das minhas correspondências e tem a impressão errada de que pretendo me casar com outra mulher.

O sorriso de Baxter voltou, o olhar sério que ele usava alguns momentos antes, desaparecendo.

— Que interessante.

Logan fez uma careta. Ele não alimentaria mais o interesse do homem.

— Ela saiu de casa e começou a nevar. Eu gostaria de achá-la antes que ela congele até a morte.

O sorriso de Baxter sumiu.

— Não digas mais nada. Quão útil posso ser?

Logan deu um único aceno de agradecimento.

— Presumo que você cavalga?

— É claro. — O outro homem já estava se levantando. — Vamos começar.

Logan deu um rápido aceno com o queixo.

— Obrigado. — Ele esfregou o couro cabeludo novamente. — Eu estou dividido. Ou ela está andando vagarosamente sem uma direção real ou se dirigiu para a Adderley Street.

— Adderley Street? Perto da Toca do Pecado?

— Precisamente, — Logan fez uma careta enquanto desciam as escadas dos fundos em direção à cozinha.

— Devo seguir em direção à parte desagradável da cidade. Se a encontrar, voltarei aqui.

— Bom, — disse Logan. — Vou começar a procurar nos jardins e nas ruas próximas. Ela está a pé há meia hora. Isso deve dar uma boa ideia de quão longe ela pode ter ido.

Baxter assentiu, encolhendo os ombros em seu casaco.

— Vejo você de novo em breve. — E então, ele saiu pela porta em direção ao celeiro.

Logan encolheu os ombros em seu próprio casaco quando saiu, o vento batendo em seu rosto.

Estava muito frio para ela sair assim. O medo real desceu por sua espinha. Ele não a culpou por precisar de um momento para ficar sozinha.

Se achasse que ela se casaria com outro... O ciúme pressionou seus punhos em bolas apertadas.

Mas isso era simplesmente perigoso. Ela precisava ser protegida do frio. E então ele explicaria tudo, e finalmente, depois que ela estivesse quente e aconchegante, pediria sua mão em casamento.

Ele respirou fundo. Tinha acabado de encontrar seu coração e não podia perdê-lo agora.

Mas enquanto subia em seu cavalo, ele se perguntou como poderia realmente encontrá-la. Era uma cidade grande e ela caminhava muito.

O medo bateu em seu peito como um tambor. E se algo acontecer com ela? Tirando as rédeas, começou a descer o caminho em direção ao portão. Ele viu Baxter sentado em seu cavalo, sem se mover, mas olhando para uma carruagem. O outro homem olhou para trás e deu uma piscadela para Logan.

Foi quando Logan percebeu que a carruagem mostrava o brasão do Duque de Darlington. E quando a porta se abriu, Penny saiu.

Seu primeiro sentimento foi de alívio. Seus ombros caíram e sua respiração acelerou no frio, criando uma nuvem de vapor. Ela estava segura.

Mas o seu segundo, foi de ciúme em brasa. Ele sentou-se novamente, rígido e reto na sela. Ela tinha estado sozinha com o duque?

Penny sentou-se com a duquesa enquanto enxugava os olhos.

— E então, eu encontrei uma carta de um marquês convidando Logan para ir a uma festa com o interesse expresso de cortejar sua filha.

Apesar de si mesma, ela fungou novamente.

A boca de Minnie apertou.

— O problema é que não temos ideia de quando ele começou a se corresponder com o marquês. Poderia ter sido ontem ou semanas atrás. Nós simplesmente não sabemos.

Bem, esse era um ponto interessante. O peito de Penny apertou ao perceber que poderia ter cometido um erro. Talvez, em vez de correr, ela devesse simplesmente ter perguntado... Mas, ela ainda estava com medo. Preocupada que Logan a deixasse como todos os que ela amou.

— Acho que tirei conclusões precipitadas por causa da noite passada.

— O que aconteceu ontem à noite? — As sobrancelhas de Minnie subiram quando ela se inclinou para frente.

Uma onda de calor, apesar do ar frio, encheu as bochechas de Penny.

— É... hum... eu...

Minnie acenou com a mão.

— Eu sou a mais velha de cinco meninas. Conversei com várias mulheres sobre os primeiros dias de um relacionamento que se inicia.

Isso poderia ser verdade, mas Penny não era sua irmã.

— O problema é que não tive mãe quando cheguei à maioridade, e não tenho certeza absoluta do que exatamente acontece...

— Não diga mais nada. — Minnie ergueu a mão e se acomodou na beirada da cadeira. — Você é como uma flor.

Penny piscou. Não era o começo que ela esperava.

— E ele tem um... — Minnie olhou para o teto da carruagem. — Uma vara ou cajado que usa para plantar sua semente em sua flor. A semente pode ou não germinar, mas se isso acontecer, ela cria vida.

Penny engoliu em seco enquanto se afastava ainda mais do banco, com a voz diminuindo.

— Estamos falando metaforicamente?

— Não. — Minnie sorriu timidamente. — Embora por flor eu me refira a partes femininas. E por cajado, quero dizer os correspondentes masculinos.

A sobrancelha de Penny franziu.

— Oh, eu deveria saber que suas partes teriam que estar envolvidas para que um bebê fosse feito.

— Suas partes não estavam envolvidas? Ele, por exemplo, tirou alguma parte da calça?

Penny balançou a cabeça, incapaz de acreditar que estava realmente tendo essa conversa com uma duquesa, nada menos.

— Não. Apenas a minha... é... flor estava envolvida. Suas coisas...

Minnie deu um largo sorriso.

— Então ele te deu prazer, mas não tirou nenhum para si mesmo?

Querido Deus, foi isso o que aconteceu? Quanto mais Penny pensava nisso, mais parecia verdade.

— Eu sou terrivelmente egoísta.

Minnie riu disso.

— Não seja muito dura consigo mesma. Você não sabia. Mas vou te dizer uma coisa. Os homens geralmente obtêm mais prazer com o arranjo do que as mulheres. Então, quando é o contrário, geralmente significa que eles se importam... profundamente.

A verdade dessas palavras caiu sobre ela. Logan se importava? Ele desistiu do clube por ela. Mudou a família inteira dela para a propriedade dele.

— Talvez seja hora de eu falar com Logan, — ela disse no silêncio da carruagem.

Minnie piscou.

— Concordo completamente.

Penny torceu as mãos.

— Obrigada por isso. — Uma nova onda de calor certamente coloriu suas bochechas. — Se pudéssemos manter esta conversa em particular, eu ficaria mais...

— Não diga mais nada. — Minnie estendeu a mão e cobriu a dela. — Seus segredos estão seguros comigo. Agora vá falar com o seu conde. É provável que ele esteja preocupado.

Penny deu um último aceno de cabeça e então abriu a porta, descendo do veículo.

Uma mistura de preocupação e alívio a fez prender a respiração irregular. Não sabia o que Logan esperava para o futuro deles, mas fugir provavelmente não traria suas respostas.

Era hora de conversarem.

— Darlington, — A voz de Logan retumbou sobre o vento cortante. — Venha aqui, seu rato.

Penny piscou, seus olhos focalizando o par de cavaleiros na rua. Logan estava ao lado do Conde de Baxter.

Darlington? Um rato?

Ele empurrou seu cavalo para frente, seu rosto marcado por linhas de granito.

— O que você estava fazendo na carruagem dele?

Ela franziu a testa, olhando para ele.

— Sua carruagem? — Ela perguntou, balançando a cabeça.

A porta se abriu.

— Eu me oponho a ser chamada de rato, Goldthwaite, — disse Minnie atrás dela.

— Vossa Graça, — Logan respondeu, sua voz tão chocada quanto seus olhos arregalados. — Desculpas.

Então, ela se inclinou e, em um sussurro alto, claramente destinado a Logan ouvir, Minnie acrescentou:

— O ciúme é outro sinal muito bom. Mas, se você precisar de um protetor, farei meu marido interceder em seu nome. Tenham um bom dia. — Então, a porta se fechou novamente e a carruagem começou a rodar rua abaixo.

Penny olhou para Logan, piscando contra os grandes flocos de neve.

— Acho que é hora de conversarmos.

— Concordo, — ele respondeu.

Baxter falou sobre a montaria.

— Isso vai demorar muito? Estou esperando por uma resposta há horas.

— Temo que sim. — Logan desceu do cavalo e pegou a mão de Penny. — Você terá que voltar amanhã, Baxter. Vá para casa antes que o tempo piore.

— Tudo bem, — Baxter respondeu, não soando irritado. — Mas certifique-se de realmente discutir a proposta antes de eu voltar. — E então, ele esporeou seu cavalo e começou a descer a rua.

— Venha para dentro e se aqueça. — Logan começou a escoltá-la pra dentro. — Quando estiver pronta, temos muito o que discutir.

 

 


Capítulo 16


Logan a cobriu com vários cobertores enquanto ela tomava um gole de chá. De alguma forma, ele não tinha certeza de como começar. Tinha sido muito, e ele preferia apenas olhar para ela. Ele gostou do jeito que ela se enrolou em sua cadeira na frente do fogo. Isso fazia este lugar parecer... mais acolhedor.

— Você vai ao baile? — Penny perguntou, seus olhos ainda nas chamas.

— Não, — ele respondeu honestamente. — Não irei.

Um pequeno sorriso tocou seus lábios.

— Bom.

Lentamente, ele se inclinou para frente e pegou a mão dela.

— Te prometi que não iria tirar vantagem de você de forma alguma.

Os olhos dela flutuaram das chamas para os dele. Quente, largos e marrom, ele se perdeu em suas piscinas profundas.

— Prometeu.

— Quero que você saiba que eu não estava tentando tirar vantagem de você na noite passada também. Eu só queria te ajudar e...

— Eu sei. — Ela apertou seus dedos. — Pelo menos eu entendo agora.

Ele fez uma careta, sem ter certeza do que isso significava, mas decidiu não perguntar.

— Eu nunca teria tocado em você se minhas intenções não fossem honrosas.

Ela puxou uma instável respiração.

— Quais são suas intenções?

— Pretendo me casar com você. — Pronto, ele disse isso.

Ela balançou a cabeça.

— Você não precisa, você sabe. Sei que não fizemos um bebê ontem à noite, e eu entenderia se você quisesse alguém mais adequado para o papel de condessa.

— O quê? — Ele foi pego de surpresa. Ela não queria se casar com ele?

— Não é que não queira ser sua esposa, mas... — Seu lábio tremeu. — Venho com Natty e as meninas. Entenderia se você não quisesse tanta responsabilidade.

— Eu amo as meninas, — disse ele. — Eu amo você.

Sua cabeça se ergueu quando a cor inundou suas bochechas e seus olhos brilharam.

— Você me ama?

— De todo o coração, — respondeu ele. — Sei que te contei sobre meu pai, sobre seu apelido, mas não te contei sobre como ele sempre escolheu um jogo de letras em vez de mim. Como passou meses fora em algum jogo e, mais tarde, o que passei na escola como filho do Conde de Ouro.

Ela escorregou da cadeira, ainda segurando a mão dele, e se acomodou no chão aos pés dele. Então, estendeu a outra mão e pegou a outra mão dele.

— Como foi?

— Foi solitário, — disse ele, a única palavra aparentemente fácil de dizer, mas ele escondeu aquele sentimento profundo dentro de si por tanto tempo, parecia hercúleo empurrar a palavra. — Mas, com você aqui... — Ele empurrou a cadeira para trás, deslizando até o chão para que seus rostos ficassem próximos. Tão perto que poderia colocar um beijo suave em seus lábios. — Mas agora você está aqui e pela primeira vez em muito tempo, tenho alguém com quem compartilhar minha vida. Alguém que entende.

Uma única lágrima escorreu por sua bochecha.

— Eu entendo. — Ela encostou a testa na dele. — Foi mais fácil para mim do que para você em alguns aspectos. Eu me lembro do amor.

— Penny. — Ele a tomou em seus braços e a puxou para seu colo. — Você estava morando em uma favela.

Ele a sentiu rir. Um pequeno riso.

— Essa é uma boa opinião.

— Você já teve muitas dificuldades. — Ele a puxou para mais perto, querendo estar perto dela. — Mas posso fazer sua vida melhor. Tenho certeza disso e você também pode melhorar a minha.

— Acho que você está certo, — disse ela, querendo dizer mais, mas ele não a deixou pronunciar as palavras. Em vez disso, ele a beijou, longa e fortemente.

Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele, os dedos deslizando em seu cabelo enquanto retribuía o beijo.

Ele acariciou levemente suas costas enquanto o beijo se aprofundava e se alongava, seus corpos precisando garantir o vínculo que suas palavras criaram.

Quando a mão dele deslizou lentamente sobre a frente de seu vestido para segurar seu seio, ela se arqueou com o toque.

E ele gemeu em sua boca.

O problema era que ele ansiava por ela pelo que parecia uma eternidade e essa necessidade não tinha sido satisfeita. O seio dela encheu sua palma, o mamilo crescendo em sua mão.

O pescoço dela arqueado, e ele arrastou um beijo por sua extensão, amando o gosto dela.

— Penny, — ele rangeu entre os dentes. — Eu preciso parar. Não posso...

Mas ela empurrou com mais força em sua mão.

— Você vai ter que me ensinar como te agradar. Receio não ter a menor ideia.

Por um momento ele ficou sem palavras.

Como agradá-lo?

— Você me agrada com cada beijo e cada toque.

Ela fez uma pausa, então.

— Sim. Mas. Na noite passada. Eu tive algum tipo de... — Sua voz falhou e sua cabeça abaixou.

Então, ele entendeu.

— Penny. — Ele arrastou os lábios até a orelha dela e fez cócegas na pele com os lábios, a língua e os dentes. — É ridiculamente fácil agradar a um homem. Não há necessidade de se preocupar.

Seu queixo puxou para trás e aqueles olhos castanhos o avaliaram novamente.

— Sim, mas como eu te agrado agora?

Sua vara rugiu para vida em suas calças enquanto suas mãos apertavam o corpo dela. Precisou de cada grama de seu controle para não puxar as saias acima da cintura, e pressionar em seu calor úmido e desejoso.

— Isso vai chegar com o tempo, — ele ofegou.

Ela balançou a cabeça.

— Não. Não gosto disso. Aqui está o que discutimos até agora. Tornamos a vida um do outro melhor. Porque nos entendemos e nos amamos, nos damos um aos outro.

A palavra amor pairava no ar como visco ou neve.

— Nós nos amamos?

— Nos amamos, — ela respondeu, e então roçou seus lábios contra os dele com um leve toque provocante que fez seus músculos duros como pedra se contraírem ainda mais. — Muito.

Ele deslizou a mão sob a saia dela, desesperado para acariciar seu calor mais uma vez. E quando seu dedo traçou suas dobras lisas, ambos gemeram em voz alta.

— Logan, — ela implorou.

Ela pediria para parar ou continuar? Ele não lhe deu a chance de continuar enquanto traçava um círculo sobre sua área mais íntima.

— Você sabia, — ele murmurou contra seus lábios. — Que há mais de uma maneira de você gozar?

— Logan, — ela ofegou. — Eu queria te agradar...

— Isso me agrada. Muito. — E então ele a deitou, enquanto puxava suas saias para cima.

Penny sabia que permitir que ele a tocasse assim era errado, mas arqueou-se com o toque de qualquer maneira, agarrando seus ombros como uma âncora em uma tempestade.

Ela pretendia devolver o presente dele da noite anterior.

Em vez disso, ele estava removendo sua roupa sistematicamente enquanto a acariciava em todos os lugares.

Suas pernas, quadris, abdômen, seios. E seus lábios se arrastavam atrás de suas mãos, fazendo-a ofegar e gemer a cada novo toque.

O tapete era grosso e macio sob suas costas, o fogo crepitava alegremente ao lado deles apenas alguns metros de distância.

Ela esticou os braços sobre a cabeça enquanto ele beijava uma trilha de volta em sua barriga. Seus bigodes faziam cócegas e raspavam sua pele da maneira mais tentadora. Mas quando ele beijou mais abaixo, em direção ao triângulo de pelos entre suas pernas, ela engasgou-se, uma dor latejando em seu ápice.

Ele rosnou uma resposta, pegando-a por trás de um joelho para separar-lhe mais as pernas.

E então, sua boca beijou... sua flor... e ela perdeu toda a capacidade de raciocinar quando a sensação explodiu por dentro. A língua dele arrastou ao longo de sua carne, fazendo-a convulsionar e gemer, sua cabeça balançando para frente e para trás.

Ela enfiou a mão em seu cabelo e puxou-o para mais perto, querendo mais, querendo tudo o que ele tinha para dar.

Ele respondeu acelerando, e de repente ela estava subindo para alturas vertiginosas de seu lugar no chão. Ele foi implacável no ritmo e antes que pudesse implorar, ela cambaleou até o limite de seu prazer, espasmos correndo por seu corpo. Ela gritou seu nome cravando os dedos em seu couro cabeludo.

Quando ele a olhou, ela percebeu que tinha permitido que acontecesse novamente. Ela teve essa bela experiência enquanto ele permanecia insatisfeito. Ela não sabia como fazer isso acontecer.

— Logan, — ela murmurou, puxando seus ombros, querendo lhe dar tudo o que ele merecia e desejava.

Ele já havia tirado a camisa e subido por seu corpo, seu peito roçando ao longo de seu abdômen. Ela estremeceu novamente, amando a sensação de sua pele contra a dela.

Ele deu a ela outro beijo apaixonado, sua língua emaranhada com a dela.

Deslizando, as mãos dela desceram por seu peito nu, ela alcançou a calça dele e começou a desfazer os laços. Se ele não fosse ensiná-la, ela simplesmente teria que descobrir.

Mas ele soltou um gemido e começou a puxá-las pessoalmente até que a calça caiu em uma poça sobre seus joelhos.

De repente, algo duro pressionou contra sua carne macia e úmida, e ela ofegou ao se lembrar da lição anterior.

Lentamente, ele pressionou dentro dela, e ela ficou surpresa com o quão grande ele parecia, seu corpo se esticando para acomodá-lo.

— Penny, — disse ele com os dentes cerrados. — Esta primeira vez pode doer, amor. Eu preciso deflorar você.

Por que todo mundo continua mencionando flores? Suas entranhas estavam queimando. Mas queria ser dele, e então o abraçou com mais força.

— Estou pronta.

Ele empurrou nela, quebrando algo por dentro. Ela mal conseguiu evitar que um grito de dor escapasse de seus lábios.

— Isso... isso é bom para você?

Ele estava dentro dela, parado, mas baixou a cabeça em seu ombro.

— Sim. — Então, ele deu um longo suspiro. — Mas vai me sentir melhor quando eu começar a me mover.

— Mover? — Ela perguntou, mas então ela se lembrou do ritmo que ele estabeleceu para trazer o seu prazer.

Ele lentamente deslizou para fora dela e de volta, um gemido escapando de seus lábios.

Ele fez isso de novo, e de novo, e com cada impulso a dor diminuía, até que ele a fez se sentir bem quando se movia dentro dela. E então, era muito melhor do que bom.

Agarrando seu pescoço, seu próprio prazer construiu novamente. Ela tentou conter sua liberação. Esta era a vez dele. Mas quando o corpo dele ficou tenso e o dela também, e de repente ambos estavam gritando, seu corpo convulsionando de prazer, mesmo quando ele deu um gemido, seus olhos se fechando.

Estremecimentos sacudiram seu corpo, e então ele desabou em cima dela, cobrindo cada centímetro dela com seu grande corpo.

— Logan, — ela murmurou, seus olhos se fechando mais uma vez. O que havia em estar juntos que minava cada grama de sua energia?

— Sim, querida? — Ele perguntou quando deslizou para o lado, aconchegando-a na curva de seu ombro.

— Nós ainda não discutimos a oferta do Conde de Baxter. Seja lá o que é.

— Quem se importa, — ele respondeu, aconchegando-a mais perto. — Decidi o que é importante para mim. Você. As crianças. Não preciso mais da sociedade.

Mas seus olhos se abriram.

— Ele está realmente oferecendo a você a chance de fazer parte da sociedade? Porque eu não vou dar isso para você e...

— Penny, — ele murmurou contra o cabelo dela. — Durma.

Ela deixou escapar um suspiro. Essa conversa não acabou.

 

 

Capítulo 17


No final, Logan refletiu, estava satisfeito com o que decidiram. Eles se deitaram na cama, suas vozes suaves sustentando uma intimidade que ele nunca tinha experimentado em sua vida. Isso o fez doer de tanta ternura.

Ele iria se juntar ao Wicked Earls 'Club. Penny foi inflexível. Ela desejava que ele tivesse as conexões pelas quais trabalhou tanto.

E embora ele felizmente desistisse por ela, ele entendeu. Seu sonho, o orfanato, estava se tornando realidade. Ela queria fazer o mesmo por ele.

Ele raciocinou que, com este novo clube, teria acesso a todos os tipos de novos doadores, e então cedeu.

Mas, não seria um parceiro na Toca do Pecado.

Ele seria um consultor. Isso teria que bastar. Em troca, não aceitaria nenhum dinheiro, seu nome não estaria em nenhum papel. Mas os homens que o possuíssem teriam que se tornar doadores anuais para a causa de Penny.

Baxter revirou os olhos quando Logan compartilhou a notícia.

O homem se inclinou, erguendo uma sobrancelha e perguntou, com toda a seriedade:

— Agora você está tentando ser o Conde com um Coração de Ouro, não é?

Logan encolheu os ombros.

— Estou tentando me tornar um homem casado com a mulher que amo.

Baxter balançou a cabeça.

— É incrível como uma mulher, nem mesmo da nobreza, pode fazer um conde implorar por sua mão. Mudá-lo por dentro para sempre.

Logan fez uma pausa, ouvindo o tom quase triste na voz de Baxter. Havia uma história aqui. Mas não cabia a Logan perguntar.

— Você está satisfeito com nossa barganha?

Baxter deu um breve aceno de cabeça.

Eles concluíram apressadamente a reunião. Ele tinha outra discussão muito mais pessoal para conduzir e não queria perder mais tempo com aquele conde errante.

Depois de subir as escadas, ele bateu na porta do berçário. Clarissa respondeu, abrindo para ele entrar.

As três outras meninas sentaram-se à mesa no canto, trabalhando em suas letras.

— Posso interromper? — Ele perguntou.

Todas se levantaram, fazendo as reverências enquanto se alinhavam em frente à mesa. Ele sorriu ao vê-las. Em breve, ele as vestiria com roupas adequadas.

— Por favor, sentem-se. Posso me juntar a vocês? — Ele gesticulou em direção à mesa.

Quando elas assentiram, ele cruzou a sala e se acomodou numa das pequenas cadeiras.

— Você precisa aprender suas letras também? — Natty perguntou enquanto entregava a ele um dos cadernos em que trabalhavam.

— Não, já sou bastante bom nisso, — respondeu ele com um sorriso. — Eu vim aqui para pedir permissão a vocês, meninas.

— Permissão para quê? — Ethel perguntou, endireitando-se. Ela inclinou a cabeça para o lado, parecendo bastante adulta.

— Permissão para pedir a mão de Penny em casamento.

A sala ficou em silêncio por um momento e então Natty deu um pulo soltando um grito de alegria.

Fran fez o mesmo e as duas dançaram.

Mas Ethel não se mexeu.

— O que há de errado, Ethel? — Clarissa perguntou enquanto estendia a mão para acariciar o cabelo da criança.

— Nada. — Ethel deu um tapinha no queixo. — Só estou me perguntando o que aconteceria conosco se Penny se casasse com o conde.

Logan sorriu, aliviado.

— Essa é uma pergunta fácil. Vocês vão ficar aqui conosco.

— Todas nós? — Clarissa perguntou baixinho. — Até eu?

Logan olhou para a cabeça baixa de Clarissa.

— Se você decidir fazer isso. Sim. A escolha será sua se decidir administrar um dos orfanatos ou se lançar na sociedade.

— Sociedade? — Ela gritou, levando as mãos aos lábios. Mas quando ela deixou cair os dedos, suas feições demonstravam estar pensando. — Eu nunca poderia. Mas gostaria de trabalhar em um dos orfanatos. Desejo ajudar as pessoas.

Sua sobrancelha se franziu. Clarissa era uma beleza e agora tinha um conde como guardião. Ela deveria considerar sua oferta, mas essa era uma conversa para outro dia.

— Então, todas vocês concordam com minha proposta de casamento a Penny?

— O que está propondo? — Natty perguntou, coçando o queixo.

— Propondo casamento a alguém, boba. — As mãos de Fran chegando aos quadris. — E eu voto sim.

— Oh, eu também, — Natty respondeu. — Eu gosto daqui.

— Eu gosto de você aqui também. — Logan apontou para seus cadernos. — Tive uma ideia, mas vou precisar da sua ajuda. Por que vocês meninas não se sentam de novo?

Penny caminhou pelo corredor, perguntando-se para onde todos haviam desaparecido. A casa estava silenciosa por horas.

Ela passou a tarde em um escritório que Logan preparou para ela usar. Ela se encontrou com o vendedor da casa na Mayfair e um advogado. O dia tinha sido produtivo, mas exaustivo, e o que desejava agora era um bom abraço de qualquer membro de sua família, mas nenhum parecia disponível.

Finalmente, encontrou todos eles no berçário.

Logan, Clarissa e as três meninas sentaram-se ao redor da mesa conversando com cadernos abertos na frente deles.

— O que é isso? — Ela falou, entrando na sala.

As meninas pularam, Fran erguendo as mãos.

— Não chegue mais perto!

— O quê? — Os olhos de Penny se voltaram primeiro para Logan depois para Clarissa, mas ambos tinham sorrisos iguais.

— Penny, — Logan resmungou. — Temos uma surpresa para você, mas agradeceríamos se você tapasse os olhos por um momento?

Suas sobrancelhas se ergueram, mas então ela deu um aceno rápido e obedientemente levou as mãos ao rosto.

Sussurros furiosos encheram o silêncio, mas Penny só ouvia uma palavra ocasional.

— Por aqui.

— Não, você aí.

— Vire o caderno. Está de cabeça para baixo, boba.

Seu riso estava se tornando um sorriso aberto.

Finalmente, Logan gritou.

— Tudo bem. Abra seus olhos.

Eles ficaram em uma linha, cada um segurando um caderno.

Ethel foi a primeira e abriu cuidadosamente o dela, grandes letras maiúsculas preenchendo a página.


PENNY, VOCÊ VAI


Fran foi a próxima.


CASAR COM O LOGAN


Havia uma seta apontando para Logan, que era o próximo. Seu olhar era dolorosamente suave enquanto ele abria o caderno. As lágrimas encheram seus olhos, mas ela as enxugou. Como poderia ler com uma névoa cobrindo-os?


ENTÃO NÓS

Natty foi a próxima.


PODERÍAMOS NOS TORNAR UMA


A última da fila era Clarissa. A mão de sua amiga tremia quando abriu o último caderno.


FAMÍLIA


Penny ficou imóvel, os braços envolvendo a cintura enquanto as lágrimas que tentava conter se soltaram.

A emoção obstruiu sua garganta. Ela abriu a boca para falar, mas a fechou novamente.

— Bem, — Natty bufou. — Qual é a sua resposta? Trabalhamos nessas letras a tarde toda.

Logan estendeu a mão para a garota, colocando a mão em seu ombro.

— Penny, — ele resmungou. — Você aceitará nossa oferta?

— Sim, — ela conseguiu apenas empurrar uma única palavra.

Os cadernos caíram no chão enquanto todos corriam para frente, uma confusão de braços se abraçando.

Era isso.

Ela finalmente encontrou seu homem. Aquele que a colocou de volta no lugar. O que havia tornado sua vida melhor.

O homem com um coração de ouro.

 

 

Epílogo


A manhã de seu casamento amanheceu cinzenta enquanto mais neve caía do céu. Ninguém se importou nem um pouco com o tempo, no entanto, enquanto corriam para se preparar para a cerimônia.

E para o Natal.

No final, Logan conseguiu uma licença especial e definiu o casamento para o dia de Natal.

Penny apoiou a decisão. Parecia a ocasião perfeita para começar sua nova vida juntos.

Cada uma das garotas usava um vestido de veludo vermelho que combinavam entre si. O vestido de Clarissa era do mesmo tecido, mas tinha um estilo muito mais sofisticado. Quando Penny olhou para sua amiga, percebeu que a garota que ela aprendera a amar como uma irmã fora substituída por uma linda mulher.

— Quem mais está participando? — Clarissa perguntou, olhando para a parede oposta.

Penny alisou a saia.

— Apenas alguns outros. O Duque e a Duquesa de Darlington, o Duque de Devonhall e o Conde de Baxter.

Clarissa congelou, as mãos apertando na frente do estômago.

— Oh. Entendo.

Penny apertou os lábios. Esta era uma conversa que elas terminariam mais tarde. Por agora, ela incentivou todos a descerem e irem para as carruagens.

Logan certamente já estava na igreja. Seu pulso disparou enquanto considerava o que eles estavam prestes a fazer.

Ela seria uma condessa e ele... seria o orgulhoso co-proprietário de vários orfanatos.

Ela sorriu com a ideia.

Não era algo que ele provavelmente tivesse planejado.

Quando a carruagem parou e o Duque de Darlington ajudou-a a descer, ele colocou a mão dela em seu braço e sussurrou:

— Você está pronta?

— Estou, — ela respondeu enquanto as garotas se alinhavam a sua frente.

Minnie pegou a mão de Natty e começou a conduzir as meninas para a igreja. Penny e Darlington a seguiram.

O cheiro de incenso encheu seu nariz quando ela olhou em volta para ver as decorações de azevinho e visco por toda parte.

Logan estava na frente, seu sorriso tão grande quanto o dela.

Levou cada grama de energia para não correr pelo corredor em direção a ele. Mas quando sua mão finalmente deslizou para a dele, soube, sem sombra de dúvida, que estava em casa.

Os votos foram silenciosos, as palavras não menos poderosas para seus tons suaves. E quando seus lábios se encontraram para selar o casamento, Penny sentiu a alegria explodir em seu peito.

— Eu amo você, — ela disse enquanto se afastava, olhando em seus olhos.

— Eu também te amo, — disse ele, apontando para as meninas se juntarem a ele. Natty, Fran e Ethel correram para a frente. Clarissa o seguiu.

Enquanto as três garotas se aproximavam de seus novos pais, Penny não teve dúvidas de que este era o começo de um futuro brilhante e brilhante.

 

 

 

[1] Buy in - situação na qual uma pessoa ou um grupo compra partes suficientes de uma empresa para obter controle sobre ela.

 

 

                                                   Tammy Andresen         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades