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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


ENVY / Rachel Van Dyken
ENVY / Rachel Van Dyken

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

Era uma vez, no futuro...
Sou uma aluna fascinada por histórias e por aprender.
Estudo filosofia, poesia, história, ocultismo, arte e a ciência do amor e da magia. Tenho uma vasta biblioteca na casa do meu pai e possuo milhares de volumes sobre contos fantásticos.
Eu aprendi tudo sobre povos antigos. Sobre mitos, lendas e contos de todos os tipos ao longo do milênio. E quanto mais leio mais forte minha imaginação fica até que descubro ser capaz de viajar para as histórias... e realmente tornar-me parte delas.
Quero dizer que escutei meu professor e respeitei meu dom, como deveria fazer. Se o fizesse, não estaria contando essa história agora.
Mas fui ousada e imprudente, me exibindo ao extremo.
Uma tarde, curiosa sobre o conto das Mil e Uma Noites, eu viajo até a antiga Pérsia, para ver por mim mesma se é verdade que todos os dias Shahryar (Persa: ??????, ‘rei’) casava-se com uma nova virgem e depois mandava a esposa anterior ser decapitada.
Foi escrito que, quando ele conheceu Sheherazade, a filha do vizir, já havia matado mil mulheres.
Algo deu errado em meus planos. Eu cheguei no meio da história e de alguma forma troquei de lugar com Scheherazade, um fenômeno que nunca ocorreu antes e ainda hoje, não consigo explicar.
Agora estou presa no passado. Assumi a vida de Scheherazade e a única maneira de me proteger e permanecer viva é fazer o que ela fez para proteger-se e permanecer viva.
Todas as noites, o Rei me chama e ouve enquanto conto histórias.
E quando a noite termina e amanhece, paro num ponto que o deixa sem fôlego e desejando mais.
E assim o rei poupa minha vida por mais um dia, para que possa ouvir o resto do meu conto sombrio.
Assim eu termino uma história... E já começo outra... Como a que você, caro leitor, tem agora pela frente.

 


 


CAPÍTULO UM

RENEE

“Peguei você!” Seguro o pé gordinho de Serena e finjo enfiá-lo na boca. Ela grita e o puxa para longe, apenas para trazê-lo de volta com uma risadinha. Bebês. Eu balanço a cabeça e repito isso pelos próximos vinte minutos, causando risos na criança. Ela tem apenas dezoito meses, mas é o bebê mais fofo que já vi, junto com o garotinho que atualmente tenta empilhar blocos à direita de Serena. Eu o chamo de Junior, pois ele tem o mesmo nome de seu pai, Phoenix.

Nixon, o chefe da família Abandonato, passa e pisca para sua filha, tomando cuidado para esconder a Glock na parte de trás da calça jeans enquanto se inclina e a beija na cabeça.

Eu desvio o olhar.

Nunca olho por muito tempo.

Fato um: Meus pais me disseram especificamente para não falar com nenhum dos chefes, a menos que eles falem comigo.

Para deixar bem claro, eles me contaram a história de quando um de seus homens interrompeu o jantar da família e levou um tiro nas rótulas.

Eles o deixaram sangrar no chão por uma hora antes de finalmente ajudar... o cara manca até hoje. Gostaria de dizer que são histórias assustadoras que se conta às crianças para colocar medo, algo sobre o qual você e seus irmãos sussurram tarde da noite.

Mas sei que é verdade. Tudo isso.

A máfia é uma fera muito real.

E não faz prisioneiros.

Ela prefere matá-los.

Com um suspiro, volto a brincar com Serena e tento me encolher. Eu não preciso de atenção e, embora Nixon sempre seja gentil comigo, sei do que ele é capaz.

Phoenix Nicolasi entra a seguir... não, ele comanda a sala e até o próprio ar que ousa tocar sua pele, ele o controla em silêncio.

Aterrorizante... Não o descreve adequadamente. E o fato dele ter pastas pretas, uma para cada pessoa ligada à família, incluindo o Capo - nossa versão de O Poderoso Chefão, se quer algo específico - bem, é aterrorizante.

Eu tenho amigos da faculdade que reclamam por trabalhar em cafeterias ou no shopping durante o verão. Eu menti e disse que trabalharia num consultório médico.

Phoenix saca a arma e verifica se ela está carregada.

Sim. Esse não é o tipo de lugar que salva vidas e conserta um nariz quebrado.

Serena puxa meu cabelo para chamar a atenção. É como se ela pudesse sentir meu medo, a maneira que meu corpo treme ligeiramente sempre que os homens estão por perto e as mulheres não estão no mesmo cômodo.

É um comportamento normal para esses caras.

Lidar com armas a qualquer momento sem pensar nos olhinhos que assistem, que querem ser iguais aos pais, assassinos e tudo mais.

Eu tento não julgar.

Mas é difícil.

Eles são chefes da máfia, eu entendo.

Ou pelo menos acho que entendo, já que cresci com eles. Mas minha educação não foi tão severa. Meu pai é um Nicolasi e sempre manteve as coisas calmas ao nosso redor. Foi só aos 12 anos que percebi que não era normal ganharmos tanto dinheiro com duas joalherias e cinco lavanderias.

Presumi erroneamente que todo empresário com muito dinheiro dirigia uma Mercedes à prova de balas para proteger sua família. Quanto mais envelheci, mais horrorizada fiquei com a vida que meu pai tem, a vida que ele nos força a viver e a completa inquietação que sinto a cada vez que fecho os olhos e oro para que ele volte para casa.

Ele é um homem feito.

Um dos melhores da família, o que significa que Phoenix confia nele, o que por sua vez significa que ele confia em mim para cuidar de seu filho. E toda vez que Phoenix olha para seu telefone, eu me pergunto se é meu pai mandando mensagens, se ele está vivo, se ele está bem. Ele partiu faz um mês. Não tivemos notícias, exceto por algumas mensagens de texto ‘ei, estou vivo’.

Eu odeio essa vida.

E quero sair dela.

“Renee”, Nixon se inclina e toca meu ombro. “Você está bem?”

Eu me controlo.

Lembro de não o olhar diretamente nos olhos e forço um sorriso. “Só estou cansada, sabe como é.”

“Crianças fazem isso com qualquer ser humano”, Phoenix diz, finalmente guardando as facas que ele aparentemente pegou nos segundos em que comecei a pensar em meu pai. “Precisamos sair em cinco minutos.”

Nixon se levanta.

Eu desvio o olhar.

Preciso desviar.

Sinto-me enjoada com o sangue que esses homens têm nas mãos e a maneira como falam tão casualmente sobre matar, como se discutissem o último episódio de This Is Us.

Forço um sorriso para Serena e Junior assim que a porta da frente abre, quase saindo das dobradiças.

Lá está ele.

Meu pesadelo.

Vic Colezan Abandonato.

Em toda sua maldita glória.

Calça preta sob medida.

Camisa preta justa.

Armas suficientes presas ao seu corpo para vencer uma guerra.

E nenhum sorriso.

O homem nunca sorri. Isso não está em suas habilidades. A única vez que ele sorriu foi para Chase, e acho que foi apenas um feliz acidente, porque Chase pareceu tão chocado quanto o resto do grupo. Eu desvio o olhar, novamente tendo certeza de que não chamo atenção para mim enquanto alimento as crianças.

Vic é um assassino silencioso. Imagino que as pessoas nem sabem que estão morrendo até verem o sangue saindo de seus corpos como um rio vermelho.

Eu me estremeço.

Isso é o que os assassinos da máfia fazem. Eles não são homens feitos e não estão no nível dos chefes. Eles fazem o trabalho sujo, e assumem a responsabilidade por isso. Eles têm somente uma função. Proteger a família a todo custo.

Ele é exatamente o oposto do que quero para minha vida. Ele não é do tipo felizes para sempre.

De repente, mal posso esperar para ir para a faculdade na semana seguinte. Estudo jornalismo na Brown e, embora sentirei falta das crianças, estou pronta para abandonar todo o resto.

Liberdade. Finalmente.

A morte, o sangue, os olhares de Vic quando ele pensa que não percebo.

Conscientemente, coloco meu cabelo preto atrás das orelhas e me levanto, pegando as duas crianças e levando-as para fora da sala no momento em que Nixon ri e fala: “Você a assustou.”

A voz suave e arrogante de Vic responde. “É o que faço de melhor. Assustar pessoas.”

Segundos depois, volto para a sala e pego um dos brinquedos que Serena quer. Não deixo de notar a maneira como seus olhos me encaram antes dele me dar as costas. Solto a respiração que estava prendendo com um estremecimento e levo as crianças para o mais longe possível do diabo.

Se eu pudesse salvá-las.

Proteger sua inocência por mais de um verão.

E manter a escuridão afastada por um pouco mais de tempo.


CAPÍTULO DOIS

VIC

Ela torna impossível não olhar, com seus lábios rosados e sedutores e olhos castanhos, quase como se fosse a Bela Adormecida acordando de um longo e necessário cochilo. Dói pra caralho saber que uma mulher assim nunca olhará duas vezes para um homem como eu.

Um soldado.

Um assassino.

Um demônio.

Não tenho um coração ou alma para dar a ela, eu já entreguei tudo às famílias. Além disso, que papel eu teria num contos de fadas?

“Você está mais assustador do que o normal.” Nixon diz do banco de trás, sua expressão presunçosa firmemente no lugar. Olhando a tatuagem em ambos os braços, peito e o piercing no lábio, ele parece tudo, menos um chefe da máfia. Mais como o líder de uma gangue de motociclistas dos subúrbios de Chicago.

Phoenix dá um raro sorriso enquanto mantenho os olhos fixos na estrada à minha frente, focado na tarefa atual. Estaciono na casa de Chase e espero.

Quando ele não sai depois de cinco minutos, Phoenix se inclina sobre o console e aperta a buzina.

Chamando atenção para nós.

Para mim.

Faço uma careta e rapidamente verifico o perímetro.

Atrás de nós, tudo ok.

Perto de nós, ok.

Nenhum carro à vista.

Suspiro com alívio.

“Chefe, eu realmente apreciaria se não informasse a todos sobre nossa localização.”

Phoenix encolhe os ombros. “Eu gostaria de ver alguém tentar matar nós três, na rua que possuímos, na cidade que comandamos.”

Uma dor de cabeça pulsa atrás dos meus olhos. “E, no entanto, eles diariamente tentam, porra.”

“Olha a língua.” Nixon se move no banco de trás, balançando a arma no ar.

Estamos tentando reduzir os palavrões por causa das crianças.

Já perdi uns bons cinquenta dólares naquele maldito jarro de palavrões e eu mal falo! Nixon diz que é porque sempre digo algo impróprio para ouvidos infantis.

Reviro os olhos interiormente assim que a porta da frente abre. Os passos largos de Chase eliminam a distância quando ele finalmente caminha para o SUV e entra.

“Desculpe.” Ele bate à porta atrás de si.

Então tudo fica em silêncio.

Muito quieto.

Com uma careta, finalmente olho para Phoenix, cujas sobrancelhas estão levantadas até a linha do cabelo.

Nixon morde o lábio com um sorriso malicioso. “Você, ah, você esqueceu um lugar.”

Chase franze a testa e, em seguida, toca a boca com as costas da mão limpando uma mancha de batom vermelho. Sua voz assume um tom ameaçador. “Nem mais uma palavra.”

Nixon ergue as mãos.

Eu dou risada.

Chamando a atenção de todos.

“O que?” Chase chuta meu assento. “Pare com isso.”

“Sua camisa está do avesso”, digo enquanto saio para a rua ao som das gargalhadas dos caras e dois dedos do meio apontados para o espelho retrovisor.

“Eu sei”, ele resmunga, tirando a camisa e colocando-a do lado correto. “Eu estava com pressa...”

“Besteira.” Phoenix tosse.

“Como se eu não pudesse te ouvir”, Chase resmunga.

“Sabe, está tudo bem fazer sexo com sua nova esposa. Ninguém vai te julgar por isso”, Nixon diz calmamente.

A tensão no carro é tão densa que quase desço e os deixo resolver sozinhos.

A primeira esposa de Chase traiu as famílias.

Ele acaba de se casar novamente.

Ela está grávida.

E as coisas estão tensas.

Tensas porque ele não confia em ninguém.

Tensas porque ele perde sua alma a cada morte de um De Lange.

Tensas porque estamos numa guerra que muitas vezes me pergunto se podemos vencer, especialmente com a família De Lange constantemente arranjando briga. Eles não têm nada a perder.

O que significa que são um inimigo perigoso.

E já que Chase foi nomeado como seu guardião até que possamos colocá-los sob o controle das quatro famílias restantes, e isso significa que ele está sedento de sangue e ainda lida com a culpa por que sua nova esposa quase morreu para salvá-lo.

É uma confusão dramática que manteria uma pessoa normal acordada à noite.

Eu fico de fora disso.

Fico de fora de tudo isso.

É uma existência solitária.

O que sempre me faz voltar para Renee.

Bela. Inocente. Renee.

Toda vez que a vejo quero gritar para ela correr. Para fugir desse lugar e nunca mais voltar. Vi o preço que essa vida cobra das esposas dos chefes. Este não é o lugar para uma inocente universitária de olhos arregalados que brinca de babá durante o verão.

Seguro o volante com tanta força que meus dedos ficam brancos.

“O que há de errado com Vic?” A voz de Chase corta o tenso silêncio. “Ele está mais quieto do que o normal. Ei, garotão, você está puto porque te provoquei?”

“Você o provoca todos os dias”, Phoenix argumenta.

“Ele sempre está quieto.”

“Sabe o que seria ótimo?” Chase sorri ameaçadoramente pelo espelho retrovisor.

Não gosto de onde isso vai. Meses atrás, eu era basicamente sua babá, certifique-se de que ele não se mate ou mate outra pessoa sem permissão. E ele disse que se vingaria por eu tê-lo impedido com Luciana, sua esposa, no início de tudo.

O pior que ele pode fazer é me matar.

Eu provavelmente darei as boas-vindas para ter alguma paz.

“O que?” Finalmente pergunto, fazendo a próxima curva e pisando no acelerador. “O que seria ótimo, Chase?”

“Se você...” Ele aponta a faca para mim, batendo-a no meu ombro. “... transasse.”

“Lá vamos nós”, Phoenix diz em voz baixa.

“Estou falando sério. Ele é quase tão divertido quanto eu costumava ser, e isso não é apenas triste, é quase patético. Você precisa de um orgasmo.” Ele revira os olhos enquanto um grunhido sai dos meus lábios. “Ou... Dez.”

Uma sensação de formigamento percorre minha espinha quando Nixon o interrompe.

“Você sabe que ele não pode...”

“... Estamos quase lá, chega de papo furado”, Phoenix ordena.

Viro na próxima esquina e paro no armazém.

É perfeito para o que temos que fazer.

Dante e o Sergio já estão lá com o Tex, o Capo. E se as coisas estão bem, Frank, um dos chefes aposentados, também está lá.

Ele banca o policial bom, pois nenhum de nós sabe fazer isso.

Somos maus. Por inteiro.

Depois de estacionar, desço primeiro carro, seguido pelos caras. Cada movimento carrega a possibilidade de uma mudança mortal. Levanto a mão para eles pararem e abro a porta do armazém, apontando a arma para a escuridão, tenso e esperando por tiros.

Sempre estou preparado para o pior.

Sacos para corpos.

Mortes.

Desovamento de corpos.

Dante, o chefe Alfero, se aproxima e suspira. “Eles finalmente lhe deram uma arma?”

“Cala a boca.” Digo passando por ele. “Eu poderia ter atirado em você.”

“Eh, aposto que erraria.”

Eu reviro os olhos. Essa merda me faz beber todos os dias. Literalmente.

“Vocês finalmente se juntaram à festa, hein?” Dante cruza os braços e lidera o caminho pelo chão de cimento para a próxima parte do armazém. A parte que é à prova de som, por motivos óbvios.

Um homem está pendurado no teto pelas mãos ao lado de outros dois sentados em cadeiras, com as mãos amarradas nas costas. Uma mordaça está em suas bocas e o sangue seco em suas bochechas cria um rubor brilhante.

Frank está no canto com um charuto na boca. Com o cachecol ao redor do pescoço, e seu chapéu fedora preto, sempre tem um chapéu com esse cara, empoleirado em sua cabeça como se ele fosse para a semana da moda e decidiu parar e se sujar um pouco.

Tex está com as mangas arregaçadas e lentamente carrega uma arma, prolongando a colocação de cada bala enquanto os reféns observam. E Sergio está ao lado dele com uma agulha nas mãos enluvadas, sempre pronto para injetar algo que ajude as pessoas a falar.

“Viu?” Dante encolhe os ombros. “Estão atrasados.”

“Parece que você tem as coisas... resolvidas.” Phoenix passa por mim, pega uma de suas facas e, em seguida, estende-a à sua frente. “Qual deles quer ir primeiro?”

Ninguém diz uma palavra.

“Hmm.” Phoenix encolhe os ombros. “Acho que vou deixar a escolha das mulheres... Chase?”

Vai se foder, Chase murmura antes de caminhar até eles. Ele encara os homens como se para memorizar seu medo e usar contra eles mais tarde; ou talvez esteja apenas guardando para si para poder se alimentar tarde da noite quando precisar de energia.

“Você.” Chase acena com a cabeça para o cara pendurado pelas mãos. “Você parece... Petrificado.”

O homem não vacila.

“O medo, tem um certo cheiro... Para alguns, cheira a morte, mas para homens como nós? Você poderia nos dar uma injeção de adrenalina e adicionar uma linha de cocaína à diversão... O medo torna isso mais difícil para você. Guarde seus segredos e morra. Guarde seus segredos e sofra. Essas são as opções. Pisque uma vez se quer morrer.” O homem começa a piscar violentamente.

Chase sorri. “Foi o que pensei. Então é assim que vai acontecer. Você vai falar tudo o que sabe sobre quem está atualmente liderando a família De Lange, quem de repente decidiu começar a ajudar a financiá-los e criar uma guerra entre nós... e então Vic vai te socar até que perca a capacidade de falar para sempre.” Ele abaixa o tom de voz. “Eu não sou misericordioso?”

“Quase a porra de um santo.” Tex ri enquanto chuta uma cadeira em direção aos pés do cara. Ele fica parado enquanto Chase corta a corda com sua faca.

E quando o cara senta na cadeira e a mordaça é tirada, a primeira coisa que o idiota faz é cuspir na cara de Chase.

Eu avanço, pronto para forçá-lo a ter respeito.

Chase ergue a mão.

Eu odeio isso. A sensação de que preciso de permissão para acabar com alguém quando essa pessoa obviamente merece.

Esse cara merece.

“Tem algo a dizer?” Chase zomba.

“Como está sua nova esposa?” O cara responde com um sorriso fodido; ele já está sem os dois dentes da frente e seu nariz parece quebrado.

A tensão na sala aumenta. Os De Lange não só tentaram matar a esposa atual de Chase... eles também são da mesma linhagem de sua falecida esposa, aquela que traiu as famílias. Basta dizer que ninguém realmente quer os De Lange vivos e, se você quer continuar respirando, é melhor não mencionar a esposa de Chase.

“Ela está viva.” A voz de Chase soa, fazendo com que a tensão aumente ainda mais. “O que é mais do que posso dizer de você.” Ele recua lentamente. “Divirta-se, Vic... Mas não muito. Deixe um pouco para nós.” Ele dá um simples aceno. Um aceno cheio de respeito, justiça e vingança. Não permitimos que traidores vivam. E matarei qualquer um que ameaçar a família. Essa é minha promessa. Minha maldição.

“Eu não gosto de compartilhar”, resmungo enquanto ando em direção à cadeira e encaro o próximo na lista de homens que me mandaram matar.

Minha visão afunila.

Escuridão.

Meus demônios saem para brincar.

Eu sorrio.

Enquanto ele grita.


CAPÍTULO TRÊS

RENEE

“As crianças estão dormindo.” Eu bocejo por trás da mão enquanto Trace gesticula para que eu a siga pelo corredor. Foi um longo dia.

Meus pés doem.

Nota para mim mesma: não use sapatos novos para trabalhar quando tem crianças que correm para cada atividade como se estivessem numa maratona. Nunca quis tanto uma massagem.

“Obrigada.” Ela tem olheiras e não usa muita maquiagem, o que não é típico de nenhuma das esposas. Elas sempre parecem lindas, ferozes e bem cuidadas, quase como se fosse parte do uniforme. Embora se alguma delas fosse natural, provavelmente seria Trace mais do que as outras.

“Ei.” Eu toco seu braço sem pensar, então afasto a mão quando percebo o movimento. “Você está bem?”

Ela olha para além de mim como se não estivesse na cozinha comigo. “Eu só... Odeio quando eles estão atrasados, sabe?”

“Os chefes?”

“Todos eles.” Ela encolhe os ombros. “Desde...” Ela olha para o chão. “Quando você perde uma pessoa, meio que se preocupa se você vai, de alguma forma, perder todas as outras. Sei que parece estúpido e mórbido, mas apenas te desgasta, e estar com um resfriado idiota, não ajuda.”

Eu franzo o nariz. “Posso ajudar com o resfriado. E sobre as mortes. Bem, só posso esperar e rezar para que eles voltem em segurança.”

“Obrigada.” Ela me puxa para um abraço.

Eu endureço temporariamente, então devolvo o carinho. “Pelo que?”

“Por ouvir. Eu tento não sobrecarregar as outras garotas. Elas têm o suficiente com que se preocupar sem que eu desmorone.”

Eu me afasto. “Ser forte é uma droga, mas alguém tem que fazer isso.”

“Eu sei.” Ela sorri. “E quanto ao resfriado, qual o segredo?”

“Ah.” Pego uma xícara de café, vou até o armário de bebidas e sirvo duas doses de uísque. “Você tem limões?”

“Na geladeira.”

“Excelente.”

Pego a chaleira que está quente pela bebida que fiz antes e sirvo a água na xícara, em seguida, acrescento o suco de um limão. Sei que o mel está na despensa porque o adicionei a algumas torradas esta manhã.

“Aqui!” Entrego-lhe a bebida. “É um velho truque de família. Ajuda com dores de garganta e resfriado, mas também vai te deixar com sono.”

“Dormir.” Ela fecha os olhos e solta um pequeno gemido. “Parece incrível.”

“Eu saio por algumas horas e já está fazendo minha esposa gemer?” Nixon sorri ao entrar na cozinha. Seu rosto é tenso. Suas mãos não têm sangue, mas imagino que elas tiveram, em algum ponto desta noite.

Todos eles têm sangue nas mãos... sempre tem.

Olho suas roupas como se isso fosse me fizesse sentir melhor.

Mas não faz.

Porque não são as mesmas roupas com que ele saiu, o que significa que ele se trocou para não voltar para casa com manchas de sangue.

“É só um resfriado estúpido.” Trace parece pronta para fazer birra. “Desculpe, eu a segurei até tarde esta noite para poder tentar descansar.”

Nixon se abaixa e toma sua boca num beijo ardente que me faz desviar os olhos e olhar pela janela, sem jeito, bem a tempo de ver Phoenix entrar. Ele está paranoico sobre alguém sequestrar Junior e machucar Bee sempre que está fora, então eles passam a noite na fortaleza de Nixon sempre que os negócios são sérios.

“Renee?” Nixon chama, me assustando.

Eu me viro, esquecendo de não fazer contato visual. Seu olhar gelado trava em mim, intenso e lindo. Eles são todos bonitos... deveria ser um crime assassinos parecerem com supermodelos.

Ele morde o piercing no lábio e cruza os braços. “Você ouviu alguma coisa do que acabei de falar?”

Calor se espalha por minhas bochechas. Por favor, não me mate. “Não, eu sinto muito, não vai acontecer de novo, só estou... estou cansada.”

Suas sobrancelhas estão franzidas com preocupação. “Eu sei, é por isso que não quero que dirija. Além disso...” Ele olha para Trace. “Não é seguro. Na verdade, quero conversar com você sobre algo...”

Minha pele começa a coçar.

“... mas pode esperar até que durma por algumas horas.” Seu sorriso é caloroso. Não consigo entender o motivo. Cuido das crianças faz alguns meses, e ele nunca sorriu para mim, pelo menos até onde consigo lembrar. Talvez Trace ajude a torná-lo mais humano. “Vou pedir a Vic para levá-la para casa.”

Meus ouvidos começam a zumbir.

Qualquer um, menos Vic.

Ele é muito intenso. Ele raramente fala. Não consigo lê-lo e sinto uma constante ansiedade ao seu redor, e não ajuda que nunca o tenha visto sem um sorriso de escárnio no rosto, como se ele estivesse chateado com o mundo e decidido a destruí-lo.

Caramba, prefiro Phoenix e tenho certeza de que ele sonha com assassinatos, com um leve sorriso no rosto e tem a morte como sua canção de ninar favorita.

Vic escolhe o momento perfeito para entrar. Ele ligeiramente vira a cabeça em direção à nossa conversa, continua andando, e então tropeça.

“Merda! Porra. Que diabos!” Ele resmunga.

Ele se equilibra e levanta um carrinho de corrida no ar.

Opa.

“Jarro do palavrão!” Trace ri.

Vic se levanta e coloca o carrinho na mesa, me encarando no processo, então enfia a mão no bolso e tira uma nota de vinte.

“São apenas cinco dólares por palavrão”, Nixon o lembra.

Vic ergue a mão. “Quem deixou o maldito carrinho no chão?”

“Ah, e agora você deve vinte. Entendi.” A risada de Nixon se junta à de Trace.

“Hum, provavelmente fui eu. Achei que tinha arrumado tudo, mas... Devo ter esquecido um.” Minha voz soa fraca. Eu me sinto estúpida.

O rosto de Vic suaviza. “Eu deveria olhar para onde ando.”

“Isso é o mais próximo de um pedido de desculpas que conseguirá.” Trace acena para mim. “Vic, você pode levá-la para casa? Por favor?”

Seu rosto visivelmente empalidece.

Sério?

Só de pensar em quê? Ficar sozinho no carro comigo?

Ótimo.

Ele parece prestes a vomitar.

Nada como se sentir desejada.

Quer dizer, se um assassino não consegue nem sentar ao meu lado, que esperança tenho de um casamento? Que bom que tenho um namorado que gosta de mim o suficiente para me beijar e querer me ver nua.

Embora tenham passado semanas.

Meses.

A quem estou enganando? Não tive notícias dele durante todo o verão.

“E vocês?” Vic aponta para Trace e Nixon.

“Temos seguranças e ficaremos bem. Basta mantê-la segura e verificar a casa, ok?” Ele agarra a mão de Trace, beija-a e a leva para fora da cozinha.

Eu engulo em seco e olho para Vic.

Ele me encara de volta.

Seus olhos me lembram os de Nixon, bonitos demais para um homem, e é injusto que seus cílios sejam tão longos. Seu rosto é marcado por linhas duras de raiva, sua mandíbula não tem nenhuma gordura, e realmente não tenho certeza se ele ainda tem dentes, baseada no fato de que não sorri.

Seus olhos se fixam nos meus. “Devemos ir?”

“Sim.” Tento evitar que minha voz trema enquanto caminho pela cozinha, pego minha bolsa da mesa e fico ao seu lado.

Ele não se mexe.

“Então?” Aponto para a porta.

O que o faz sorrir.

E assim minha mandíbula quase se desloca do rosto.

Esse sorriso.

Não deveria ser sexy.

Não tem o direito de ser sexy.

Dentes retos e brancos.

Covinhas.

O homem tem covinhas!

Quem diria?

“Eu ando atrás de você, sempre atrás. Se estiver na sua frente, não posso protegê-la. E esse é o meu trabalho.” Esse é o máximo que ele já falou comigo.

Balanço a cabeça em silêncio e caminho na frente dele, sentindo o leve toque de seus dedos nas minhas costas enquanto ele me guia para a garagem.

Em direção ao seu G-Wagon.

E não é apenas porque ele é bem pago.

Ele é um Abandonato.

O cara pode cagar dinheiro todos os dias de sua vida e ainda ter o suficiente para comprar um pequeno país e fugir do FBI.

Ele pode fazer isso dez vezes. Isso é o que acontece quando se é a realeza da máfia.

Posso sentir o calor de seu corpo através das pontas dos dedos em minhas costas enquanto ele se aproxima e abre a porta.

Entro no carro, deixando a bolsa cair aos meus pés, e estou pronta para fechar a porta quando ele inclina o corpo enorme e prende o cinto de segurança, puxando-o para ter certeza de que está preso.

“Você está bem?” Ele pergunta com a voz suave.

Estou boquiaberta e, em seguida, silenciosamente balanço a cabeça.

A porta fecha.

Eu tremo.

Mas não estou com frio.

É a maneira como ele me olha.

É cada toque de seus dedos.

Sim, devo estar muito cansada.

Balanço a cabeça quando ele ocupa o banco do motorista e sua colônia flutua em direção ao meu rosto. Ele cheira a riqueza. Luxo. A mistura de couro e especiarias dança ao redor do meu nariz quando ele aciona o motor.

E então suas mãos estão próximas enquanto ele aperta os botões dos aquecedores do assento, claramente confundindo meu tremor com frio. Ele o liga e direciona para mim, antes de colocar seu cinto de segurança.

“Você quer água?” Vic pergunta, casualmente saindo da garagem e passando pelos portões de segurança.

“Hum...” eu lambo os lábios. “Quero.”

Ele para o carro.

Depois solta o cinto de segurança e estende a mão para trás. Então me entrega uma garrafa gelada, prende o cinto novamente e volta a dirigir.

Atordoada, seguro a água fria e o encaro. “Você poderia ter feito isso sem parar o carro ou soltar o cinto de segurança.”

“Sim.”

“Então? Por que perder tempo?”

“Estamos fora dos portões da casa de Nixon. Alguém pode estar à espreita. Temos inimigos vindo de todos os lados. Eu me recuso a arriscar. Só preciso hesitar. Demorar um segundo. Um segundo em que não estou prestando atenção. Eu lamentarei esse segundo pelo resto da vida; ficará sempre sobre minha cabeça. Não desejo essa culpa para ninguém e já tenho mortes suficientes para lembrar... não sobreviverei tendo as de vocês na minha cabeça.”

“Porque você seria morto?” Eu questiono.

O sorriso, aquele lindo sorriso, surge novamente em seu rosto. “Não, Renee, porque eu não desejaria viver... sabendo que tenho permissão para continuar e que você está enterrada no chão frio e duro.”

Começo a suar.

Meu corpo superaquece com suas palavras. Ele age como se se importasse. Ele age como se eu importasse. Não faz sentido. Eu não sou ninguém. Meu pai está no alto escalão, claro, mas sou apenas sua filha.

Uma universitária.

Uma babá.

Por que Vic se importa?

Esse pensamento se repete durante todo o caminho até minha casa.

As luzes estão apagadas já que minha mãe e tia decidiram sair durante o fim de semana, o que costumam fazer quando meu pai não está em casa. Isso tira suas mentes da morte em potencial. Sortudas.

Quando toco a porta do carro, Vic agarra meu braço. “Por que sua casa está tão escura?”

Dou de ombros. “Minha mãe saiu, estarei sozinha pelos próximos dias.”

“Não.” Ele solta seu cinto de segurança.

Solto uma risada bem-humorada. “Uh, sim, elas saíram. Olha, está tudo bem, eu fico sozinha o tempo todo. Tenho vinte e um anos.” Eu vou me formar este ano! “Além disso, sei disparar uma arma, e não sou um alvo fácil, pode acreditar.”

Ele balança a cabeça. “Vou ligar para Nixon.”

“Você não vai ligar para Nixon. Está tudo bem, não o incomode com...”

Ele já está digitando como um maníaco em seu telefone.

O som de chamada soa pelo viva-voz do carro.

“Tudo certo?”

“Ela está sozinha. A casa está escura. “

“Merda.”

Eu jogo as mãos no ar. Todos estão exagerando.

“Exatamente.” Vic me olha pelo canto do olho e sua expressão é quase presunçosa. “O que quer que eu faça?”

“Você não pode ficar sozinho com ela.”

Vic revira os olhos. “Porque não posso cuidar dela?”

“Porque o pai dela me mataria se soubesse que deixei sua única filha com o cara que costumava dormir com a maior parte da Universidade Eagle Elite... você não fodeu uma professora?”

Vic estremece. “Sim, e você está no... viva voz.”

Silêncio e, em seguida, Nixon diz. “Eu sei.”

“Bastardo.”

“São mais cinco dólares para o jarro do palavrão.”

“Bastardo não é palavrão!” Vic resmunga. “E você acabou de dizer fodeu!”

Escondo uma risada atrás da mão.

Ele se vira para mim com os olhos arregalados. “Diga a ele!”

Eu levanto as mãos no ar. “Oh, não vou tomar partido, é muito perigoso, e eu gosto de viver, mas se fosse escolher um lado... sempre escolho o do chefe.”

Nixon gargalha. “O pai dela a criou direito.”

Vic pragueja novamente.

“Agora são dez.” Nixon ri ainda mais.

“De volta ao assunto em questão.” Vic esfrega os olhos, e é a primeira vez que realmente vejo uma rachadura em sua habilidade desumana de parecer entediado com tudo e todos. Em vez disso, ele apenas parece cansado. Junte-se ao clube, certo? “O que quer que eu faça?”

“Traga-a de volta, ela pode ficar conosco.”

Ah, pesadelo recorrente, nos encontramos de novo!

“Nixon”, eu interrompo, um pouco desesperada. “Juro que estou segura. Ninguém tentará nada e...”

“Você está discutindo comigo?” Ele parece surpreso.

“Não, eu só...” Meus olhos imploram a Vic.

“Uma noite.” Nixon suspira. “Vic vai ficar com você uma noite. E nem uma palavra para seu pai, não quero ter que atirar em um dos melhores homens de Phoenix porque ele está puto comigo... e Vic, tente manter as mãos para si mesmo.”

“Eu sou um homem novo, você sabe disso.” Vic parece triste, seu corpo inteiro está tenso como se ele esperasse que uma bomba fosse explodir.

Nixon espera alguns instantes e então declara: “Eu sei, cara. Eu sei.”

“Vejo você de manhã.” Vic encerra a ligação e desliga o motor. “Parece que você está presa comigo pelas próximas doze horas.”

“Hah.” Não vejo nenhum humor na situação. Mas é o menor dos males. É apenas Vic, apenas o assustador, silencioso, taciturno e sexy Vic. O que pode dar errado em doze horas?


CAPÍTULO QUATRO

VIC

Eu ficarei bem.

Completamente bem.

Se Nixon não tivesse mencionado meu passado. Com. Um. Fodido. Objetivo.

Não sou estúpido.

Ele não é estúpido.

O que significa que teve um motivo para alertá-la.

O que significa que sou um idiota de merda por pensar ter escondido todos os olhares que dei a ela.

Eu me encolho só de pensar nisso.

Se Nixon sabe, significa que os outros também sabem.

O que também significa que eles provavelmente estão fazendo apostas pelas minhas costas para ver quanto tempo vou durar antes de desistir e tentar beijá-la.

Lambo meus lábios repentinamente secos enquanto a sigo para dentro da casa, meus olhos percorrendo cada centímetro, cada partícula de poeira, cada sombra que espreita nas árvores.

Eu seguro a arma e a destravo enquanto ela destranca a porta. A casa parece nova, tem dois andares de dinheiro dos Nicolasi... porra, suas paredes foram construídas com sangue. Eu me pergunto quantas almas foram tiradas para pagar por esta casa, quantas vidas perderam sua existência.

“Viu?” Renee abre os braços e dá de ombros. O luar lança um brilho através da impressionante janela da cozinha, dando a ela uma aparência tão etérea que paro de respirar por um segundo antes de controlar minhas feições. “Nada para se preocupar, ninguém está aqui para me matar.”

Eu não relaxo a postura ou abaixo a arma. “Então você verificou todos os quartos? Os armários? Cada canto escuro?” Dou um passo enquanto ela lentamente balança a cabeça. “E com certeza você verificou a despensa, certo? Quer dizer, ela está bem atrás de você. Inferno, pode haver alguém com uma arma apontada para esse cabelo bonito e você não saberá até ser tarde de demais.” Seus olhos se arregalam como se ela não tivesse pensado nisso. Claro que não pensou. Não é seu trabalho pensar nos monstros no escuro, assim como não é seu trabalho se proteger. É por isso que ela me tem.

Dou alguns passos e abro a despensa, apontando a arma para dentro antes de fechar a porta e encará-la novamente. “Está limpo.”

Seu lábio inferior treme. “Não pensei na despensa.”

“Não é seu trabalho pensar na despensa”, sussurro com a voz rouca. “É seu trabalho me ouvir quando tento fazer o melhor para mantê-la segura.”

Ela desvia o olhar. “Não é possível salvar a todos.”

“Mas não há absolutamente nada de errado em tentar, Renee.”

Eu digo o nome dela.

Soa doce na minha língua.

O gemido que quer sair mal é suprimido por meus dentes cerrados.

“Você vai fazer uma varredura na casa?” Ela pergunta baixinho.

“Quer se juntar a mim?”

“Estou mais segura com você ou sozinha na cozinha?”

“Comigo”, eu minto. Fisicamente, ela sempre estará a salvo de nossos inimigos, mas sei a verdade em minha alma. Sou tão perigoso para ela quanto uma bala. Eu estar perto acabará por matá-la.

Todas as esposas sabem disso.

Elas sabem que eventualmente haverá mortes.

E se seus maridos morrerem, é apenas questão de tempo antes que o sangue delas seja derramado.

Gosto de pensar que é por isso que bebemos vinho como se fosse água.

Porque quando constantemente se encara a desgraça iminente, você começa a querer comemorar cada minuto a mais que lhe é concedido.

“Vamos.” Balanço a cabeça em direção ao corredor. Meus passos soam contra o tapete. Nada parece fora do lugar... o que é quase mais suspeito. As pessoas são bagunceiras. Os corredores estão repletos de fotos de família de Renee sorrindo com seus pais. Um peso se instala em meus ombros.

“Ela não pode saber”, Phoenix disse mais cedo nesta noite. “Pelo menos ainda não.”

Sei que ela é próxima de seus pais. Também sei que eles são desonestos com ela. E ela se pergunta por que cuida das crianças.

Porque está constantemente sob o olhar atento de Nixon.

Balanço a cabeça e continuo andando com uma tensa Renee ao meu lado.

Olho cada cômodo, cada armário, cada canto e, vinte minutos depois, quando sinto que é seguro o suficiente ela fazer mais do que respirar ao meu lado, abaixo a arma e a coloco no coldre.

“Tudo bem?” Renee se afasta. Ela raramente me olha nos olhos, mas desta vez eles se fixam em mim por longos três segundos antes dela colocar o cabelo atrás da orelha e caminhar para longe.

Quase estendo a mão e agarro seu braço.

Quase a puxo contra meu peito.

Quase confesso tudo.

As mentiras que eles contaram.

Os segredos que guardamos.

Tudo para mantê-la segura.

Tudo para mantê-la no escuro.

Para mantê-la viva.

“Tudo bem”, digo asperamente.

Ela morde o lábio inferior e o prende entre os dentes antes de desaparecer no corredor.

Ela espera que eu a siga?

“Ei”, ela me chama. “Você vem? Ou não planeja dormir esta noite?”

Com um suspiro, eu a sigo até que ela para num quarto e abre a porta.

Uma cama king-size está contra a janela. Basicamente, o lugar mais inseguro e idiota para colocar uma cama, mas seguro a língua. Uma tela plana ocupa grande parte da parede oposta. Um edredom branco cobre a cama, junto com alguns travesseiros vermelhos, mas fora isso, o quarto está completamente vazio. Sem cômoda, sem cadeira.

“Eu não vou dormir.” Aponto com a cabeça para o quarto. “Mas obrigado.”

Ela franze a testa para mim. “O que? Você é algum tipo de vampiro?”

Você me deixaria te morder se eu dissesse sim? “Não.”

“Estou brincando”, ela diz lentamente. “Tipo, foi uma piada. Eu não acredito em vampiros, eu não... “Ela está corando? É difícil ter certeza no escuro. “Quer dizer, eu li Crepúsculo uma vez, mas não é como se eu fosse obcecada pela série.”

“Você divaga quando está nervosa.”

“Não estou nervosa.”

“Você está corando.”

“Está muito escuro para você saber”, ela diz rapidamente, cruzando os braços.

Eu sorrio. “Renee, está tudo bem gostar de vampiros. Tudo bem você corar também...”

Ela faz uma careta.

“Eu mato pessoas por dinheiro. Realmente acha que estou em posição de julgar alguém?”

Ela engole em seco. Eu me pego observando o movimento. Por que estou tendo um momento tão difícil? Ambos estamos agindo de forma estranha, e sei que é por causa do que Nixon disse. Inferno, nem quero imaginar o que ela pensa de mim.

“Se você vai dormir...” Tento conduzir a conversa, principalmente porque quero continuar falando com ela, quero ver se posso fazê-la corar novamente. “... Então eu estarei observando.”

Seus olhos se arregalam.

“Você entendeu errado!” Digo rapidamente. Merda. Inferno. Droga. Porra. “Eu quis dizer...”

“Observando os monstros que aparentemente estão tentando invadir minha casa e me matar enquanto durmo?”

“Sim. Isso.”

“Bem, eu tentaria dormir um pouco se fosse você, ou amanhã será um longo dia. Além disso, eu não sou importante. Juro.” Seu sorriso me destrói; sua expressão é tão confiante nas palavras... de que ela não é importante.

“Você é”, eu sussurro.

Então seus olhos me surpreendem. Eles veem através de mim, eles me prendem e não deixam ir. E eu encaro de volta, escondendo meus segredos, enterrando minhas cicatrizes e a deixo olhar, esperando que ela não veja tudo.

Se alguém não é importante, esse sou eu.

Mas Renee?

Posso muito bem estar protegendo a realeza.

“O que não está me dizendo, Vic?” Ela pergunta com a voz trêmula.

“Nada.” Dou de ombros. “Eu apenas levo meu trabalho a sério.” Eu te levo a sério.

Meus olhos vão para seus lábios antes de eu me controlar e, em seguida, estender a porra da mão. “Obrigado pela cama”, eu digo. “Pelo quarto. Obrigado pelo quarto. Tenha uma boa noite.”

Ela olha por um momento e então a segura. É tudo que preciso. Só quero tocar sua pele e senti-la.

Meu cérebro e meu corpo estão em guerra, o que significa que minha boca não diz as palavras que deve e, em vez de soar evasivo e protetor, pareço um perseguidor que conseguiu um convite até o quarto dela.

“Ok.” Ela solta minha mão.

Eu odeio a sensação.

Quero sua mão de volta.

Quero pressioná-la contra a parede.

Uma vibração me tira da miséria cheia de luxúria. Ela pega o telefone e sorri.

Quero que ela olhe assim para mim.

Não para seu maldito iPhone.

“É minha mãe!” Ela atende o telefone e começa a falar tão rápido que minha cabeça gira. Ela me deixa na porta. Encarando uma cama que quero usar. Desejando uma vida que não posso ter.

E me perguntando o quanto terei que sacrificar para realizar o que parece ser o primeiro desejo real que já tive em toda a vida.

Possuí-la.


CAPÍTULO CINCO

RENEE

Minha mãe não vai voltar para casa.

Tento não parecer desapontada ao telefone, mas ela diz que está se divertindo muito e que isso faz maravilhas com sua ansiedade. Ela sente falta de papai como uma louca e aparentemente teve notícias dele.

Um mês.

Mais um mês e ele finalmente estará em casa.

Esse pensamento não me tranquiliza.

Que tipo de trabalho o mantém afastado por um mês? Quer dizer, não é como se houvesse congressos da máfia nos quais ele faz apresentações sobre evasão fiscal, certo?

Reviro-me na cama por uma hora antes de adormecer e, por algum motivo, sinto-me menos segura do que se Vic estivesse longe.

Tudo nele é intenso.

Seu estúpido aperto de mão é intenso.

Quem tem um aperto de mão intenso?

Como é possível?

Odeio que o que me faz adormecer é seu cheiro ainda enchendo o ar.


??


“Fique quieta”, uma voz sussurra em meu ouvido.

Acordo com um suspiro, apenas para ver Vic cobrindo minha boca com sua mão enorme. Ele está ajoelhado no chão ao meu lado como se tivesse entrado no quarto para ter certeza de que nenhum monstro está embaixo da minha cama.

Meu batimento cardíaco pulsa nos ouvidos quando ouço passos no corredor.

Alguém está na minha casa.

Alguém está na minha casa.

Eles estão procurando por meu pai?

Ou por mim?

O sangue lateja em meus ouvidos enquanto espero. Meu peito está tão apertado que torna cada vez mais difícil respirar conforme os passos se aproximam.

“Shhh.” A voz de Vic diz. Fecho os olhos e foco em sua voz, apenas para abri-los assim que um homem todo de preto entra por minha porta.

O tiro soa antes que eu possa respirar, acertando o travesseiro que abraço, errando meu corpo por centímetros.

E então outro tiro, que vem de Vic, da arma, de suas mãos. O homem cai no chão.

Outro cara entra no meu quarto. Vic levanta e atira nele entre as sobrancelhas. Sangue mancha as lindas paredes brancas. Eu engulo um grito. Mas me contenho porque pode haver mais.

Minha boca está aberta.

Nenhum som é ouvido.

Sequer o de nossas respirações.

Vic rapidamente se senta na cama e me puxa para seu colo. “Respire, você precisa respirar, Renee.”

Balanço a cabeça enquanto lágrimas escorrem. Eu estou tentando! Não consigo obrigar meu corpo a fazer nada... estou congelada.

Congelada de terror.

Vic pragueja.

E então me beija.

Não, não é um beijo.

É uma reclamação.

“Vamos lá”, ele diz por entre beijos. “Inspire-me, apenas eu, concentre-se em mim.” Seu próximo beijo é leve quando ele toca meus lábios. Eu reajo. Respiro fundo e me inclino para frente e então mordo seu lábio, sentindo seu gosto, desesperada pela segurança de seu corpo, desesperada pela promessa de mais beijos, de mais ar.

Moldo meu corpo ao dele, deixando-o me segurar protetoramente em seu colo e me perco em algo bom.

Depois de ver tanto mal.

Eu fui protegida desta vida.

Agora sei o motivo.

Não é como um videogame. Ou um filme.

É real.

Nunca esquecerei a visão de alguém levando um tiro, e isso vai me assombrar pelo resto da vida.

A língua de Vic desliza pelo meu lábio inferior.

Ele tem um gosto quente.

Como se a qualquer minuto sua boca fosse atear fogo ao meu corpo da melhor maneira possível, queimando minhas veias, acelerando minha pulsação. Eu o beijo com mais força, agarro-me a ele até os nós dos meus dedos estarem brancos.

E então ele se afasta e enxuga as lágrimas que não percebi ter derramado. Seus polegares acariciam minhas bochechas. Seus olhos azuis claros disparam entre minha boca e minhas bochechas úmidas, então finalmente param em algo atrás de mim, como se ele estivesse com medo de me olhar.

“Você está segura”, ele sussurra com a voz vazia e não afetada. Não estávamos nos beijando? Intimamente? “Eu sempre vou te proteger.” Ele me assegura.

Eu agarro sua mão. “Por que você me beijou?”

Ele desvia o olhar, seu perfil é perigosamente sério e seus lábios estão inchados pelo nosso beijo. Homens como ele não deveriam parecer apetitosos.

Ele é como um suflê de chocolate.

E me sinto como um sorvete de creme chato derretendo por toda parte, graças ao pânico.

“Beijar ou morrer.” Ele sorri para o chão, então me olha e dá uma piscada. Sinto meu corpo inteiro derreter. O assassino pisca e meu corpo vibra por causa disso. Choque. Estou claramente em estado de choque. “Achei que se tivesse escolha diria beijo... mas, o que eu sei?”

“Obrigada.” Tento não parecer desapontada. Algo está muito errado na maneira como meu corpo balança em direção ao dele, a maneira como meu coração bate dolorosamente no peito como se fosse explodir. Este é o homem que me apavora.

Este também é o homem que, pela primeira vez em minha curta vida, me faz sentir viva.

“Renee?”

“Sim?” Levanto a cabeça, meus dentes batendo um pouco enquanto o que aconteceu na minha casa e no meu quarto começa a me sufocar.

Ele pega o celular e aperta um botão. “Acho que seu gosto é a única coisa que pode salvar um pecador... e causar ainda mais pecados.”

Encaro-o quando uma voz masculina soa do outro lado da linha.

“Sim.” Vic soa todo profissional. “Dois invasores...”

Meu estômago revira quando meus olhos encaram a cena e se fixam nela, incapaz de ignorar os respingos de sangue e os corpos que não têm mais almas, caídos a poucos metros da minha cama.

Lágrimas enchem meus olhos.

“... Eu não tenho certeza se isso é um bom...” Vic pragueja novamente. “Tudo bem, apenas... Nixon...” Sua mandíbula cerra quando ele me olha como se estivesse com dor. “Tudo bem. Ok. Sim. Desculpe.” E então Vic geme. “Vou desligar agora. Diga a Sergio, e eu o matarei enquanto dorme.”

Ouço risadas do outro lado da linha.

Vic coloca o telefone no bolso. “Precisamos pegar suas coisas.”

“Minhas coisas?” Eu repito estupidamente. “Por que precisamos pegar minhas coisas?”

“Porque...” Ele caminha até meu guarda-roupas e abre as portas. “Você vem comigo.”

“Mas esta é minha casa! Eu vou ficar aqui.” Desço da cama, pronta para lutar pelo direito de ficar onde pertenço, mesmo sabendo que não dormi nem um pouco. Estou sendo levada da minha casa, que deveria ser meu lugar seguro. Se eu não tiver minha casa, então o que tenho?

Ele enrijece. “Não é mais, você não vai ficar aqui.”

“Vic, seja razoável!”

Ele se vira e me agarra pelos ombros. “Você poderia ter morrido. Como isso é razoável? Se eu não tivesse me forçado para dentro da sua casa, o mundo teria uma luz a menos... uma alma a menos. E nem por um segundo pense que eles seriam rápidos. Eles demorariam com seu corpo, usando cada pedaço inocente que você possui, e então lentamente a exterminariam deste mundo. Isso é ser razoável. Isso é a realidade. Então pegue suas coisas.”

Meu corpo estremece com seu tom rouco. “Para onde nós vamos?”

“Para a casa de Nixon”, ele sussurra. “É o lugar mais seguro agora.”

“Por que preciso de proteção”, penso em voz alta, “se eles estão atrás do meu pai?”

Ele bufa uma risada. “Eles não estão atrás do seu pai, você não pode ser tão estúpida.”

Levanto a mão para lhe dar um tapa, mas ele a agarra antes que eu possa encostar em sua bochecha e me empurra para longe. “Bata em mim e não vai gostar das consequências.”

Mais lágrimas enchem meus olhos. “Eu te odeio.”

Ele solta uma risada zangada. “Obrigado pela lembrança.”

Imediatamente me sinto culpada.

Só porque seu rosto se contorce de dor.

Só porque o beijo dele foi o melhor da minha vida.

Só porque sei que ele está fazendo seu trabalho e eu o puno por isso.

“Vic, me desculpe. Eu não deveria...”

“Está tudo bem”, ele me interrompe. “Estou acostumado com o ódio das pessoas, não tenho certeza do que faria se recebesse algo além disso. Arrume suas coisas e esteja pronta em cinco minutos. E, Renee?”

Eu ainda estou processando o que ele disse. “Sim?”

Seus olhos suavizam. “Você não vai voltar.”


CAPÍTULO SEIS

VIC

“Isso é algo novo?” Chase sorri. “Beijar seus cativos e tudo mais?”

Estou na casa de Nixon por um total de dez minutos antes de Chase me dar um olhar suspeito e depois outro para garantir.

Algo está extremamente errado com Chase me olhando não uma, mas duas vezes. Inferno, durante a maior parte do tempo ele nem sabe que estamos no mesmo cômodo, e agora ele me olha como se soubesse o que fiz... o que ainda penso em fazer no minuto em que ficar sozinho com Renee.”

Eu ignoro seu comentário.

O que não é novidade.

Seu sorriso se alarga enquanto ele serve uma taça de vinho, então se inclina para trás e me encara.

A loucura em seus olhos nunca vai embora.

E a determinação em meu olhar apenas o encoraja.

A porta da frente abre.

Tex entra com Phoenix, Sergio e Dante. Nunca tenho que me virar quando Tex entra. Por um lado, ele anda ruidosamente e fala ainda mais alto, como se o mundo inteiro precisasse prestar atenção.

Olho para frente, diretamente para Chase com um olhar desafiador, e espero que ele comece a fazer perguntas sobre os homens que matei.

Em vez disso, no minuto... não, no segundo, que Tex puxa uma cadeira, Chase diz: “Ele a beijou.”

Todas as cabeças viram em minha direção.

Eu estreito os olhos. “Onde está a prova?”

“Eu sei como a culpa parece.” Ele se inclina para frente, apoiando os antebraços tatuados na mesa. “E você a tem por todo seu rosto. Inferno, posso até sentir o cheiro, e para registro... da próxima vez que decidir beijar a babá, certifique-se de tirar a expressão atordoada do rosto dela e por um pouco de gelo nos lábios inchados.” Ele pisca.

Tex começa a rir. “Pelo menos diga que matou os homens e depois a beijou.”

“Foda-se se ele não a beijou durante”, Dante brinca. “Estou apenas dizendo.”

Phoenix me olha fixamente. “Você sabe por que ela está sob nossa proteção.”

“Sim”, digo rispidamente. “Eu sei porque. Não deveria saber?”

Ele estreita os lábios numa linha firme e encolhe os ombros.

É meia-noite. Eu estou exausto. Preciso dormir. E meu corpo ainda vibra com o gosto dela.

Isso é errado.

Sei que nunca poderei tê-la... não deveria sequer tocá-la.

Limpo a garganta e aceno para Chase. “Isso não acontecerá de novo, você tem minha palavra.”

“Odeio quando as pessoas mentem na minha cara.” O bom humor de Chase desaparece. “O que me diz, Sergio? Mil? Dois mil?”

Olho para frente, e meu dedo contrai em direção a arma.

Tex é o primeiro a falar. “Nah, eu diria três.”

“Cinco.” Phoenix acena para mim. “Aposto cinco contra ele.”

“Eu aceito.” Dante ri enquanto Tex pega a garrafa de vinho.

“Em que estamos apostando?” Nixon diz ao entrar, parecendo tão cansado quanto eu, e soando muito melhor do que minha voz rouca pela falta de sono.

“Vic dormindo com a babá.” Chase ergue sua taça no ar. “Saúde.”

Nixon volta sua expressão gelada para mim e murmura um simples, “Não.”

“Eu não fiz nada... errado.” Meu primo me olha como se imaginasse minha morte. E espero por Deus que eu esteja olhando-o como se quisesse vê-lo tentar.

Posso não ser um chefe.

Mas minhas habilidades superam em muito as de todos nesta mesa.

É por isso que trabalho para todas as famílias em vez de apenas uma.

Eu sou o executor.

Sou quem eles precisam que eu seja.

Esta noite fui uma babá.

Esta noite fui um assassino.

Gosto mais de ser babá.

“Vic.” Nixon balança a cabeça negativamente, depois faz uma pausa e olha ao redor da mesa. “Como temos certeza de que os homens não eram De Lange?”

A porta da frente bate e o chefe russo Andrei Petrov entra usando um terno. O homem não possui um jeans.

Na verdade, ele não possui nada que não possa alisar com um ferro ou pela força de vontade de suas mãos.

Muitas vezes me pergunto quem nesta mesa o odeia mais.

E então imagino se isso corresponde ao ódio que ele sente por si mesmo.

“Eles eram meus.”

Ele se senta ao mesmo tempo que eu pego a arma. Nixon balança a cabeça para mim.

“E foram contra minhas ordens”, ele continua despreocupadamente. “Espero que tenha lidado com eles como eu lidei com aqueles que eles amam?”

É quando noto o sangue em seu colarinho e um arranhão perto de sua orelha esquerda.

“Que Deus tenha misericórdia de suas almas...” Andrei serve uma taça de vinho e a ergue no ar. “Porque eu não tive.”

“Isso é batom ou sangue?” Tex aponta para o colarinho de Andrei.

Andrei sorri educadamente. “Depois desta noite, não é realmente uma pergunta, mas sua preocupação é tocante.”

Tex pega sua arma e a gira sobre a mesa. “Que tal um pouco de roleta russa?”

Andrei levanta bruscamente. “Você ousa me ameaçar?” Ah, o temperamento de um jovem de dezenove anos forçado a crescer muito cedo.

“Pare.” Chase ordena com uma calma misteriosa. “Andrei, por que seus homens estavam atrás de alguém sob nossa proteção?”

Ele senta novamente e encolhe os ombros. “Porque seu homem tem me fornecido informações nos últimos dois meses, e a estrada sempre termina em um beco sem saída. Imaginamos que ele provavelmente voltou rastejando para a família Nicolasi com seus segredos... e você sabe como fazemos negócios.”

Chase agarra a haste de sua taça de vinho e dá a Andrei um olhar de puro ódio. Ninguém gosta de negociar com o russo. Fazemos isso forçados, por necessidade e mesmo que ele esteja atualmente do nosso lado, ninguém sabe quanto tempo durará ou quão fundo Andrei está disposto a ir antes de perder completamente a alma que lhe resta.

“Ela é uma babá, uma porra de universitária normal, então deixe-a em paz, Andrei.” Falo pela primeira vez esta noite, novamente ganhando o olhar de todos. E mesmo quando as palavras saem da minha boca, sei que não são totalmente verdadeiras, embora eu deseje que fossem.

Normal nunca estará em seu vocabulário. Não mais.

Ele suspira em minha direção. “Nixon, se não consegue manter o cachorro na coleira, pelo menos lhe dê algo para mastigar.”

“Ou beijar”, Tex acrescenta.

As sobrancelhas de Andrei se levantam. “Beijar?”

“Deixa pra lá.”

Limpo a garganta, apenas para ouvir Chase continuar, “Ele a beijou. Você não pode matar uma garota que está sob a proteção de qualquer um de nossos nomes, Petrov.”

“Isso foi um erro.” Ele encolhe os ombros. “Provavelmente como o beijo... Você é o quê, oito anos mais velho que ela? Qual a utilidade de uma mulher bonita com um executor que obedece a todos... quando ela pode ter alguém que não se reporta a ninguém?”

Cerro as mãos no colo e mordo a língua até sentir o gosto do sangue. Se ele olhar na direção dela, eu acabarei com sua vida.

Eu o eliminarei com um sorriso no rosto, e nenhuma oração por sua alma ajudará.

Andrei se levanta. “Isso foi... Interessante como sempre. Quando vamos lidar com o traidor e sua família?”

“O traidor foi cuidado”, Phoenix responde suavemente.

“E a família...” Sergio fala pela primeira vez. “... não sofrerá as consequências por suas ações.”

“Você não pode protegê-la para sempre”, Andrei diz com naturalidade. “E não sou o único com quem vocês precisam se preocupar.”

Eu tenciono.

Sei disso.

Todos sabemos.

Como é que no minuto em que pensamos ter acabado com nossos inimigos, outro se levanta, ainda mais poderoso e decidido a destruir?

“Andrei.” Nixon resmunga seu nome. “Pelo menos tente fazer o que jurou que faria, entrar, falar, sair.”

“Por que?” Ele dá uma risadinha. “Quando me divirto tanto quando estou por perto?”

“Isso é estranho.” Tex balança a cabeça. “Até para você.”

Andrei apenas sorri e começa a assobiar ao sair. O som da porta batendo liberta minha raiva, fazendo uma onda incandescente percorrer meu corpo.

“Vic.” Nixon coloca a mão no meu ombro. “Você não vai dormir esta noite. Certifique-se de que ela está segura e vigie o quarto. Se ouvir algo...”

“Eu sei como fazer meu trabalho... Além disso, você realmente deveria me questionar quando seu segundo em comando nem sabia que eu estava morando com ele durante o ano passado?”

“Foi uma escolha!” Chase diz. “E você é um monstro que rouba bagels e eu preciso deles!”

Eu sorrio. Sei exatamente para o que Chase precisa deles.

É por isso que encontrei alguns com pequenos buracos.

“E Vic”, Nixon abaixa a voz. “Isso para aqui. Você não pode começar nada com ela que não possa terminar. Sua vida não foi feita para...” Ele parece triste. Ele sabe a escolha que fiz. “Sua vida nunca será normal, você sabe a promessa que fez. Não posso te deixar sair disso sabendo que nossa família não está protegida. Você escolheu e agora preciso que siga em frente.”

“Pode contar comigo”, digo. Estou mentindo, no entanto. Porque pela primeira vez desde antes de fazer essa promessa, dois anos atrás... uma promessa de celibato quando jurei estar completamente ligado às famílias... de repente percebo por que Nixon e Tex me obrigaram a fazer isso.

Eles tiraram o vício e me deram foco.

Objetivo.

Mulheres sempre foram uma distração bem-vinda, e eu precisava de qualquer coisa, exceto essa distração.

Eu parei de festejar, parei de viajar, parei de desperdiçar minha vida com mulher após mulher... Eu vendi meu iate.

Vendi tudo.

Incluindo minha alma para as famílias.

E agora odeio que uma parte minha... Queira voltar no tempo.

Por causa de uma garota que me deixou abraçá-la quando estava com medo.

E que me deixou beijar suas lágrimas.


CAPÍTULO SETE

RENEE

“Então, você tem tudo que precisa?” Trace, a esposa de Nixon, limpa as mãos na calça e me dá um de seus sorrisos educados, mas cautelosos. Imagino que ela passe muito tempo tentando parecer calma em meio às tempestades da máfia.

Olho ao redor e encolho os ombros. “Tenho.”

É mentira.

Preciso de mais do que algumas peças de roupa e a tartaruga que meu pai me deu quando era pequena.

“Você vai morar aqui agora”, ele sussurrou com a voz rouca. Ele tinha lágrimas nos olhos ao puxar minha mãe para perto. “Eu serei seu novo papai.”

Eu não entendi as palavras na hora. Não tinha certeza de por que mantive essa memória com tanta força.

“Você está segura.” Minha mãe repetiu como se fosse importante. Então eu disse também. Ambos olharam para mim e sorriram.

Lágrimas enchem meus olhos.

Eu preciso do meu pai.

Preciso da minha mãe.

Preciso da minha vida de volta.

Não me sinto segura.

E preciso que as imagens daqueles homens parem de aparecer sempre que baixo a guarda.

Em vez disso, forço um sorriso que não tenho vontade de dar e espero que ela vá embora. Mas ela não sai. É como se considerasse meu sorriso um convite. Excelente. Ela senta na cama e dá um tapinha ao seu lado como se eu fosse um de seus filhos.

Eu me sento. Principalmente porque estou cansada de ficar em pé e por ficar pensando em todo aquele sangue, estou prestes a desmaiar.

“Vic vai voltar?” Pergunto assim que ela abre os lábios e os fecha como se eu tivesse dito algo errado.

“Sim.” Ela engole em seco e olha para as próprias mãos. “Ele protegerá sua porta.”

Solto um suspiro de alívio.

“Renee, Vic não... Você está aqui porque...” ela balança a cabeça e tenta novamente. “Vic está aqui para proteger as famílias, para proteger você, a nós e as crianças. Ele é o melhor homem que temos e não pode perder o foco.”

“Então prometo não o seduzir enquanto durmo”, digo sarcasticamente. “Palavra de escoteira.”

Seus olhos estreitam. “Mesmo? Porque tenho a impressão de que algo aconteceu entre vocês.”

“Por que teria qualquer impressão se não sabe o que aconteceu?”

Trace abre a boca, em seguida, a fecha. “Eu só...” ela dá um tapinha na minha perna. “Eu só ... Deus, se não posso falar com você sobre isso, como vou falar com minha filhinha?”

“Ah.” Então entendo sua intenção de maneira dolorosamente clara e divertida. “Só não o deixe tirar suas calças? É isso que quer falar?”

Ela sorri. “Eu queria dizer algo como ‘tome cuidado porque ele não é quem você pensa e pode acabar te machucando’.” Seu sorriso desaparece. “E o oposto também pode acontecer, onde você o magoa e ele não pode mais trabalhar para nós. Ele fez um juramento.”

“Que tipo de juramento?”

“Um do tipo para sempre.” Ela se levanta, esfrega as mãos na calça jeans e depois abaixa a cabeça. “Sinto muito, Renee, eu realmente sinto.”

“Pelo que? Há muitas coisas pelas quais lamentar.”

Ela faz uma careta. “Vamos apenas dizer que sinto muito pelo que aconteceu e ainda mais pelo que está por vir.”

Meu coração acelera no peito. “Do que você está falando?”

“Descanse um pouco.” Ela esfrega as mãos novamente, em seguida, caminha até a luz e aperta o interruptor, me deixando na escuridão.

Eu não me movo.

Continuo sentada na cama, meus pés tocando o chão, minhas mãos cruzadas no colo. Meu coração bate mais alto do que meus pensamentos e eles são uma mistura confusa de terror e medo.

“Ei.” O som da voz grave de Vic me faz pular. Ele abre a porta um pouco mais, e a luz do corredor entra. “Por que você não dorme um pouco?”

“Ok.” Fico olhando para minhas mãos trêmulas, embora mal possa vê-las. Não importa o quanto tente, elas ainda tremem. “Vou parar de pensar em todo o sangue e no fato de que estou na casa de um estranho. Que um dos meus pais está sabe-se Deus onde, enquanto o outro está em Las Vegas... não me interprete mal. Estou feliz que eles não estejam em casa, mas ainda assim...”

Vic suspira. “Às vezes, você só quer seus pais, e as pessoas mais próximas.”

“Sim.” Por ter o físico de um fisiculturista, ele com certeza se move rápido. Num minuto ele está na porta, no próximo está de joelhos na minha frente.

Ele pressiona as mãos enormes sobre as minhas. Elas são quentes e reconfortantes. Lentamente, ele levanta a cabeça e encara meus olhos. “Não afaste o medo, Renee.”

“Eu não entendo.”

“A melhor maneira de superar é encará-lo de frente. Não tente afastar os pensamentos, deixe sua mente repassá-los, deixe sua alma senti-los, lide com isso agora para não ter que fazê-lo mais tarde.”

“É isso o que você faz?”

Ele desvia o olhar. “Alguns de nós já vimos coisas demais para isso funcionar.”

“O que você faz, então?”

Ele franze o rosto. “Eu a substituo por uma nova memória, uma nova morte, e ela cuida da última. Cada memória substitui a anterior até que seja apenas um borrão.”

“Isso não é muito encorajador”, eu murmuro, olhando para sua boca.

Seus lábios se contraem. “Sim, mas tive boas intenções vindo aqui. Errei ao dizer quando disse que não funciona, eu deveria ter mentido.”

“Não.” Aperto suas mãos nas minhas. “Eu prefiro ter a verdade.”

Ele engole em seco. Observo o movimento com olhos pesados. Até seu pescoço é bonito. Ele inclina a cabeça, em seguida inspira, rápido e profundamente, e se levanta. “Durma.”

“Você estará observando?” Pergunto com a voz esperançosa.

“Eu estarei.”

“Mas não de uma forma assustadora”, acrescento.

Seu sorriso é fraco, mas está lá. “Da maneira menos assustadora possível.”

“Obrigada, Vic.”

“Não precisa me agradecer por fazer meu trabalho.” Ele inclina a cabeça e fecha a porta atrás de si.

Posso ver a sombra de seus pés pela luz do corredor. Ele está literalmente parado na frente da porta como um guarda de prisão.

Com uma careta, apresso-me e no escuro, me preparo para dormir, então entro debaixo das cobertas.

O quarto é intocado.

A cama é macia.

Os lençóis são sedosos contra minha pele.

Mas não estou em casa.

Fecho os olhos com força e me pergunto se algum dia serei capaz de pronunciar essa palavra e sentir-me segura de novo.


CAPÍTULO OITO

VIC

Meus olhos ardem enquanto encaro a parede à minha frente. Estou sem distrações. Sem jogos no celular. Apenas silêncio e a promessa de dormir pela manhã, pois haverá mais homens presentes na casa. Odeio que meus pensamentos sejam tão perigosos, como se eu precisasse de uma distração.

Solto um suspiro. Apenas mais algumas horas.

Eu bocejo por trás da mão.

Verifico se minha arma está carregada e a coloco de volta no coldre quando Renee grita.

Eu invado o quarto, com a arma apontada, procurando por um intruso que possa eliminar quando percebo que a janela está fechada e ela ainda dorme.

Merda. Rapidamente recoloco a trava de segurança e caminho até a cama, onde a bela e intocável mulher se mexe, fazendo seu cabelo saltar para a esquerda e para a direita.

Ele parece sedoso contra o travesseiro branco.

“Renee”, eu sussurro.

Ela geme e então segura meus antebraços, suas unhas afundando como se eu fosse o inimigo número um e ela pretende acabar com minha vida arranhando minha pele do corpo.

“Renee.” Chamo-a novamente, desta vez mais alto.

Quando seus olhos abrem, ela se afasta do meu toque mais rápido do que um tiro. Tento não levar para o lado pessoal, que ela me vê como um monstro, apenas por uma causa diferente, uma família diferente. Sou exatamente como aqueles homens, só que bem melhor no meu trabalho.

“Desculpe.” Ela pressiona a mão na testa. “Desculpe, eu só... Você estava lá, e os homens conseguiram entrar no quarto, mas desta vez eles puxaram meus tornozelos, eu caí no chão, e você gritou comigo...” Lágrimas escorrem pelo seu rosto. Ela as enxuga com a mão trêmula. “Não sei se consigo voltar a dormir.”

Não consigo afastar os olhos. Meu corpo me pede para sair correndo do quarto, para fugir da tentação. “Você precisa descansar.”

“Eu sei!” Ela grita e depois abaixa a cabeça. “Desculpe, isso foi desnecessário.”

“Você foi baleada. Tenho certeza de que tudo parece demais”, digo suavemente. Levanto seu queixo com a ponta dos dedos. Sua pele é suave contra as pontas dos meus dedos e ela é quente ao toque.

Sua respiração para nos pulmões enquanto ela olha para minha boca como se quisesse saber se está tudo bem em me tocar também.

Correr. Eu preciso correr.

Eu já atravessei a linha.

Nada de bom virá disso.

E prometi às famílias.

Fiz um juramento de sangue.

Minha lealdade nunca foi testada de forma tão violenta ou ridícula. Um beijo. Um beijo me faz questionar se quero ou não quebrar uma promessa pelo qual posso acabar morrendo.

Não tenho dúvidas em minha mente, se eu cruzar essa linha com ela, se eu continuar a cruzá-la, se eu me envolver emocionalmente...

Eu serei punido.

E ainda assim não afasto minha mão.

Então lambo os lábios e a observo espelhar a ação.

“Durma”, eu finalmente resmungo. “Se ajuda, posso trazer uma cadeira e ficar aqui com você.” Eu queimarei no inferno por isso e provavelmente os caras vão reclamar, mas por ela? Aceito isso.

“Sim.” Ela suspira como se estivesse aliviada. “Sabia que eu costumava sentir medo de você?”

Eu sorrio. “Nããão, eu não fazia ideia.”

“Você está...” Ela franze a testa e o nariz. “Está tirando sarro de mim?”

Dou de ombros. “Talvez.”

“Então, você tem senso de humor, apenas o mantém escondido porque prefere assustar crianças pequenas e animais indefesos?”

Eu dou risada. “Em primeiro lugar, as crianças me amam.”

Ela agarra um travesseiro e o abraça. “Ok, vou concordar com isso.”

“Em segundo...” Puxo a cadeira para o lado de sua cama e me sento. “Não tenho tempo para ser engraçado. Meu trabalho é importante, meu foco é...” desvio o olhar, droga. “É importante que eu não tenha distrações.”

“Isso parece divertido”, ela responde secamente.

“A vida é divertida para outras pessoas... Eu deixo que elas se divirtam... Meu sacrifício não é tão grande pelo bem maior das famílias, para que as crianças cresçam com seus pais. Meu trabalho é garantir que isso não seja apenas uma esperança, mas a realidade.”

Não tenho certeza, mas parece que lágrimas surgem novamente em seus olhos. Ela rapidamente desvia o olhar, enrolando-se nos cobertores pesados e bocejando.

“Ei, Vic?”

“Sim.” Cruzo os braços e tento relaxar, mas é cada vez mais difícil fazer isso enquanto ela está na cama, falando comigo, me dando vislumbres de como seria se eu pudesse estar ao seu lado.

Ela é suave.

Calorosa.

Ela é espaçosa.

Gosto disso.

Ela abraça os travesseiros e espalha o corpo como se fosse dona do colchão... ela provavelmente roubaria as cobertas. Eu acordaria com as bolas congelando, e sorriria por adorar cada minuto.

“Que promessa você fez?”

Eu congelo.

Ela me encara, seu rosto é inocente, mas sua pergunta parece uma faca em meu estômago. Contar a ela será o último prego em meu caixão, não é?

Inferno, eu já estou enterrado, posso muito bem jogar terra por cima e acabar com tudo.

Com um suspiro, inclino-me para frente, apoiando os antebraços nas coxas. É quase impossível ver a tatuagem que decora meus braços, embora seja outra lembrança da promessa que fiz. Inclino-me e mostro-lhe a mão direita. Meu santo padroeiro está manchado de sangue e ao redor de seu corpo estão os nomes de cada família que jurei proteger. “Meu santo é São José...” Lambo os lábios. “Ele protege contra a morte e a destruição, como protegeu a Sagrada Família.” Aponto os sobrenomes. “Se uma guerra estourar, se formos atacados e, Deus nos livre, alguém exterminar uma linhagem, preciso arrancar seu nome da minha mão. Jurei lealdade às famílias, da mesma forma que um padre entrega sua vida à igreja.”

Suas sobrancelhas se franzem numa careta. “Espere... Quer dizer hipoteticamente, certo?”

“Hipoteticamente.” Afasto a mão para não estar perto dela, para não sentir o cheiro de sua pele, ou a forma como ele se mistura com o amaciante usado nos lençóis. “Não. Quero dizer literalmente. A máfia me possui. Corpo e alma.”

“Isso é legal?” Ela sussurra.

Dou um sorriso. “Realmente não acho que nós, assassinos, nos importamos com questões legais.”

“Você não é um assassino.”

“Sua mentira não é necessária. Eu sei o que sou.” Não consigo mais encarar seus olhos. “Eu fiz uma promessa que manterá meu foco na coisa mais importante.” Dou de ombros. “Manter você segura. Mantê-los vivos. Manter esta família de pé.”

Ela fica quieta. Acho que Renee finalmente dormiu, mas ela solta um suspiro alto e diz: “Então você não tem relacionamentos.”

“Não.”

“E não tem permissão para isso.” Seus olhos me encaram brevemente antes dela desviá-lo e abraçar o travesseiro.

Eu mal escondo um sorriso. “Não.”

“Então o que faz no seu tempo livre?”

“Essa é uma resposta fácil...” Inclino-me para frente, desta vez me permitindo a dor causada pela excitação enquanto inalo seu cheiro. “Eu observo a babá.”


CAPÍTULO NOVE

RENEE

“Junior!” Eu o repreendo enquanto ele se arrasta até Serena e tenta acertá-la na perna. Seu lábio inferior treme. Eu espero pelo choro.

Mas ela engole as lágrimas, olha para ele e levanta o queixo no ar.

Minhas sobrancelhas franzem. Boa sorte com essa, Nixon, como ela pode parecer tão majestosa mesmo aos dezoito meses? Bem, nem consigo imaginar como ela será quando adolescente.

Corro em direção ao Júnior, entrego a boneca a Serena e então sinto meu corpo inteiro começar a zumbir.

Eu afasto a sensação.

Estou nervosa o dia todo.

Desde a noite passada.

Tive pesadelos.

E acordei sem Vic por perto.

Entrei em pânico, pulando da cama e correndo para a porta, apenas para ver outra pessoa ali.

Claro que eu exigi saber onde Vic estava.

O estranho disse que ele foi dispensado às seis da manhã para dormir um pouco.

Já é 13h e ainda não o vi ou ouvi notícias.

Esfrego os braços e sorrio enquanto Júnior luta para colocar mais de três blocos um em cima do outro. Ele fica facilmente frustrado, mas nunca desiste. Ele se concentra nas coisas de forma assustadoramente inteligente e, se não consegue, permanece nisso o dia todo.

Sei que seu comportamento às vezes preocupa Phoenix.

Que homem quer passar os próprios demônios para seu filho?

Abraço meus joelhos e então sinto como se alguém me olhasse. Com um movimento, viro para a direita. Nada. Depois para a esquerda. Nada. Somos apenas nós na sala de estar.

“Ele está ficando grande”, diz a voz suave de Vic.

Eu salto de pé e observo quando ele se aproxima da cozinha. “Você me assustou!”

“Pensei que soubesse que estou aqui”, ele murmura, seus olhos encarando os arrepios em meus braços.

“Está frio.” Eu minto. Não estou com frio. Agora meu corpo apenas responde a ele sem nenhum aviso?

Ele deve duvidar de mim... estou começando a notar suas peculiaridades, a maneira como seus olhos falam o que sua boca se recusa a confessar. Seus lábios contraem quando ele se diverte e se força a não sorrir, como se isso fosse uma distração, assim como outras distrações não permitidas por sua promessa.

Eu me pergunto sobre sua vida na faculdade e o que pode levar um homem que aparentemente dormia com professoras universitárias e o resto do campus, a se tornar alguém que parece quase com medo de sorrir e aproveitar a vida. Quero estender a mão e acariciar seu curto cabelo preto. Quero perguntar se ele teve as orelhas furadas como Sérgio quando era adolescente. Quero descobrir se ele sente alegria em outra coisa além de tirar vidas e ser assustadoramente bom nisso.

Ele se ajoelha e ajuda Junior com os blocos. Junior suspira e dá um tapinha na perna dele como se quisesse agradecer.

A calça e a regata preta de Vic parecem tão fora de lugar. Assim como as armas presas em seu peito e omoplatas, como se ele estivesse pronto para ir para a guerra a qualquer momento.

“Tem uma granada aí?” Eu provoco.

Lentamente, ele inclina a cabeça, dando-me outra olhada com sua mandíbula firme, uma que cortará meus dedos se eu não for cuidadosa. “Sim.”

Oh meu Deus. Sinto o sangue sumir do meu rosto.

E então ele se aproxima e pisca. “Estou brincando. Mas eu adoro uma granada, mas faz... muita bagunça.”

“Essa é a única razão pela qual não as carrega por aí?” Pergunto com a voz sufocada.

Ele dá de ombros e acena com a cabeça em direção às crianças. “Isso e não quero mãos pegajosas puxando os grampos.”

“Inteligente”, eu suspiro.

Ele inclina a cabeça e fica em pé, cruzando os braços. “Está quase na hora da soneca.”

“Você sabe os horários deles?” Eu sorrio.

“Não.” Ele fica sério. “Eu sei os seus.”

Meu corpo estremece involuntariamente.

“Você ainda está exausta”, ele diz suavemente. “Vou ajudar a colocá-los para dormir e depois você vai para cama...”

Meu rosto cora tão fortemente que provavelmente grita, você vem também, garotão? “Hum, isso não é necessário.”

“Quando se trata de você, tudo é necessário.”

“Você sempre foi tão protetor antes?” Digo como uma pergunta e imediatamente me arrependo. Eu quero saber a verdade? Sua verdade?

“Nixon me deu um novo trabalho esta manhã.” Ele pega Junior do chão e rosna em seu pescoço, em seguida, dá um beijinho em seu nariz. Seu sorriso é tão grande que eu quase me derreto numa poça de calor inútil. Isso o humaniza... segurar uma criança, brincar com ela, beijá-la.

Fico boquiaberta por um minuto antes de me recuperar. “Então você vai embora logo?”

“Não.” Ele volta o sorriso para mim. Ele lentamente se dissipa no olhar mais intenso que um homem já me deu. “Ele me designou para você.”

Meus joelhos tremem levemente. “Oh.”

“Vamos deixar essas coisinhas dormirem, e depois... Renee?”

“Hmm?”

“Você vai tirar uma soneca.”

“Isso é uma ordem?”

“Sim.”

Estreito os olhos. “E se eu disser não?”

“Não me faça forçá-la... não será agradável para nenhum de nós”, ele diz com voz rouca. “Além disso, eu fiquei acordado enquanto você dormia, ouvi seus gemidos e gritos. Eu te vi sofrer quando sua mente deveria estar descansando. No momento, minha principal preocupação é você se recuperar de algo que nunca deveria ter visto, muito menos vivenciado. Ok?”

Eu concordo. “Ok.”

“Bom.”

Pego Serena no colo e digo para ele. “Você sempre consegue o que quer?”

“Sim!” Ele nem mesmo se vira. Junior acena para mim como se estivéssemos brincando, e me pergunto se ele está certo.

Isso é real? Ou um jogo? Onde está meu pai? Por que alguém está tentando me matar? O que é tão importante que eles sentiram a necessidade de me designar a um de seus melhores guarda-costas? Um assassino treinado para lidar com a morte.

Por que eu?

O pensamento perdura durante todo o caminho até os quartos das crianças.

E mais tarde, quando Vic realmente me coloca na cama, apaga a luz e depois fica do lado de fora da minha porta, eu continuo a pensar.

A razão pela qual ele está aqui.

A razão pela qual eu estou aqui.

Não é um motivo pequeno.

E eu tenho o direito de saber.


CAPÍTULO DEZ

VIC

Existem coisas que você sabe que não sobreviverá. Estar no meio de um tiroteio, por exemplo. Você entra em um sabendo que não será fácil. Isso faz com que tenha os sentidos mais aguçados, garantindo que tenha um bom ataque, tão bom quanto sua defesa.

Quando vou aos jantares da família, sei que pode ficar feio; muito vinho é servido e todos estão armados. Além disso, somos italianos. Isso já é o suficiente.

Quando saio do escritório de Nixon esta manhã...

Tenho a mesma sensação. Eu reajo da mesma maneira. Meu foco é intenso como o inferno quando entro na sala de estar.

E em dois segundos.

Ela o destrói.

Desarmando-me completamente.

E ela o faz simplesmente existindo.

Não tenho armas.

Não tenho defesa, e minha única alternativa é colocar uma maldita criança na frente do meu corpo para não fazer algo estúpido.

Pressiono os dedos nas têmporas e me inclino contra a parede. Ela precisa dormir. Concentro-me em uma coisa de cada vez.

Foco.

Abro uma fresta da porta e escuto.

Ouço sua respiração profunda.

Suspirando de alívio, fecho a porta e me apoio contra ela.

Tão fácil. Seria tão fácil entrar.

E bloquear todo mundo.

Dizer a ela que preciso prová-la novamente.

Deixar sua boca me assombrar para sempre.

“Porra.” Bato levemente a cabeça contra a parede e então corro as mãos pelo meu cabelo bagunçado.

“Problemas no paraíso?” Chase encosta-se na parede oposta, seus olhos estreitos na porta atrás de mim. “Sabia que a frustração sexual pode ser debilitante... Alguns podem argumentar que é melhor apenas acabar com isso para poder voltar a se concentrar. Porque nesse momento? Você parece ligeiramente surtado. E acredite num homem que nunca terá a sanidade completa de volta... esperar só vai piorar as coisas.”

Eu bufo. “Isso vindo do cara que jurei proteger?”

Ele encolhe os ombros. “Posso cuidar de mim mesmo. Todos podemos. O motivo pelo qual Nixon o contratou não tem nada a ver conosco e tudo a ver com o medo de que alguém use seu filho contra ele. Você é assustador pra caralho, e ele sabe que quando se concentra num objetivo, você não apenas o atinge, você o destrói e pede por mais.” Ele me dá um tapinha nas costas ao passar. “Oh, e Vic? O que ele não sabe não o matará... o que é mais um segredo?”

Fecho os olhos com força. “Você não está ajudando.”

“Huh e eu pensei estar tornando as coisas mais fáceis, não...” ele sorri. “Mais duras...”

Eu o ignoro.

Ele solta uma risada baixa. “Basta estar preparado para as consequências. Nenhum de nós peca e sai ileso... pelo menos não sem receber uma punição... todos temos cicatrizes como prova.”

“Alguns mais do que outros”, eu murmuro.

Ele fica sério e desvia o olhar. “Você sabe que a família tem um terapeuta.”

“Besteira, como se você fosse passar com um terapeuta!” Eu quase grito, mas então lembro que preciso manter a voz baixa.

Chase me encara. “Às vezes um homem quer lutar contra seus demônios sozinho. E outras vezes...” Sua expressão fica vazia. “Outras vezes, ele só quer deixar o demônio vencer.”

“Sim.”

Ele não diz mais nada enquanto se afasta.

Nunca me aproximo de Chase.

Não quero que sua escuridão reconheça a minha.

Não quero admitir o quanto temos em comum.

A perda faz isso com você.

Ela transformou minha tristeza em raiva.

E a parte patética? Minha raiva é muito mais calmante do que minha paz. E Renee se pergunta por que eu não sorrio.

Porque dói pra caralho.

É por isso.


CAPÍTULO ONZE

RENEE

Estico os braços sobre a cabeça e sorrio para o teto. Não tive pesadelos, mas sonhei com uma mandíbula definida e lábios curvados em minha direção. Sonhei com cabelo preto e olhos assombrados.

Sonhei com uma escuridão tão consumidora que apenas a deixei me engolir por inteiro. Afundei no mar negro e me entreguei.

E eu gostei.

A garota se formando na faculdade este ano.

Aquela que deveria estar pensando em oportunidades de carreira ou em ter uma família.

Ela não deveria convidar a escuridão para meu coração e acolhê-la.

Embora se valesse a pena cometer algum pecado, seria por ele.

Faço uma careta para a janela. As cortinas estão fechadas, então não tenho certeza de quão tarde é. Pelo menos as crianças ainda não acordaram. Pego meu telefone para verificar o monitor.

Minha mão encontra uma mesa de cabeceira vazia.

Em pânico, procuro debaixo do travesseiro e cobertas, e então tropeço no edredom ao sair correndo do quarto.

Se alguma coisa acontecer com essas crianças, eu primeiro mataria quem fez algo e depois serei assassinada.

Lágrimas enchem meus olhos enquanto corro pelo corredor e paro no berçário.

Vic está sentado na cadeira de balanço com Serena.

Junior não está por perto.

E o assassino canta uma música infantil. “Joaninha, Joaninha, voe para longe de casa, sua casa está pegando fogo e seus filhos se foram. Joaninha, Joaninha...” Ele para e corre um dedo pelo narizinho dela, depois sorri. Ele sorri.

Eu respiro fundo.

Ele nunca sorri para as pessoas assim.

Estou quase com ciúmes da criança que não tem ideia do tipo de presente que acaba de receber.

“Você estava cansada”, ele diz sem olhar para cima. “Posso sentir seu medo e raiva daqui.”

“Eu não...”

“Tudo bem. Você não seria uma boa babá se não estivesse em pânico. Não quis te assustar.” Ele olha para cima. “Nunca quis te assustar.”

Seus olhos imploram aos meus de uma forma que faz meu coração apertar no peito, como se ele precisasse que eu entenda que nunca foi sua intenção ser como um dos monstros na minha cabeça... mesmo que ele seja como eles, mesmo que ele mate como eles.

Dou-lhe um aceno. “Eu sei.”

“Junior foi para casa com Phoenix depois de sua soneca... Serena estava com fome, e Trace não chegou ainda, então eu a troquei, nós comemos, lemos alguns livros e assistimos um pouco de Vila Sésamo. Ela ficou entediada e decidiu que seria mais divertido brincar com os cadarços. Jantamos, fizemos bonecos de massinha e então é hora de voltar para a cama. Nixon e Trace disseram para colocá-la no berço, mas...” Sua voz desaparece.

“Mas o que?”

Ele encolhe os ombros. “Eu fiquei com raiva... ela me faz sentir livre.”

É tudo o que ele precisa dizer.

Isso me deixa triste e com ciúmes.

E odeio ambas as emoções.

“Você é muito bom com ela”, eu sussurro.

Seus olhos brilham com dor por um segundo tão breve que juro estar vendo coisas, e então ele a coloca no berço e a beija na testa. Ela tem um pequeno cavalo branco de pelúcia em seu berço o tempo todo. Nixon o mantém lá como um lembrete do que eles perderão se forem traídos novamente. Eu não tenho ideia do porquê. Ou o que significa. Simplesmente sei que sempre que alguém a vê com isso, parece que vai chorar ou sair correndo. Quase tenho medo de perguntar. Mas a máfia lida com simbolismo o tempo todo. É o que eles fazem. Eu não questiono o que nunca entenderei ou farei parte.

Uma pequena voz dentro de mim diz que já sou parte de tudo isso.

Que eles estão escondendo algo.

Mas eu a silencio.

O verão está quase acabando.

Mais uma semana e voltarei para a faculdade.

Exatamente como planejei.

E tudo isso será apenas um breve pesadelo seguido pelo sonho do beijo de Vic que lembrarei para sempre.

“Você precisa comer.” A voz de Vic me tira dos pensamentos.

Eu coloco a mão na barriga. “Você tem razão. Que horas são?”

“Sete.”

Meus olhos se arregalam. “Eu dormi por seis horas!”

“Shhhh.”

Ganho um olhar bravo como se precisasse saber quando ficar quieta. Uma bomba pode explodir e Serena apenas vai bocejar.

Apago a luz e a escuridão cai sobre nós, exceto pelo pequeno abajur das princesas no lado oposto do quarto.

Eu posso ouvir meu batimento cardíaco.

Sinto minha respiração pesada.

Há algo familiar na escuridão. Algo emocionante na maneira como ela sussurra promessas mesmo eu sabendo serem falsas.

Abaixo a cabeça e abro a porta.

Sinto Vic estendendo a mão ao meu redor e pressionando-a contra a madeira, fechando-nos para o corredor.

Para a luz do corredor.

Fecho os olhos enquanto o ar se move atrás de mim, enquanto ele se eleva sobre mim. Posso senti-lo. Todos seus quase dois metros.

Mãos ásperas tocam meus ombros.

E então ele apoia sua cabeça contra a minha.

Uma guerra começa neste quarto.

Entre dois corações.

Entre uma alma quebrada.

E uma perdida.

Eu lambo os lábios.

Suas mãos percorrem meus braços até encontrarem as minhas. Ele entrelaça nossos dedos e aperta com força.

Eu me inclino contra seu peito e puxo seus braços musculosos para perto. Ouço seu suspiro, posso sentir a intensidade do momento. Está no ar entre nós.

É como areia movediça.

Como fogo.

Eu olho para a maçaneta.

E então ele me vira em seus braços. Seus olhos azuis não deixam os meus. Tenho medo de piscar. Tenho medo de tirá-lo do cabo de guerra entre nós.

O beijo. A atração. O conhecimento de que ele sempre esteve observando.

“Eu observo a babá.”

Meus joelhos tremem.

“Eu observo a babá.”

Ele me observa.

Inteiramente.

E na mesma intensidade que sinto medo, eu gosto.

Talvez até desejo por isso.

“Você está me observando novamente”, eu sussurro.

“Você quer que eu o faça”, ele responde.

Nossas bocas se encontram como a fagulha necessária para um incêndio. Eu separo meus lábios enquanto o calor escaldante de sua língua se espalha por mim. Arqueio as costas enquanto ele pressiona beijos famintos em meu pescoço. Cada toque mexe com algo aterrorizante dentro de mim, algo que meu coração clama. Mais. Mais. Mais. Ele beija com precisão, atingindo lugares que eu não sabia existir.

Ele não me beija como um universitário.

Ele me beija como um homem.

Cada movimento provocador de sua língua deixa meu corpo fora de controle. Ande através das chamas, seu beijo diz. Afogue-se enquanto eu seguro sua mão.

Meus lábios tremem enquanto envolvo os braços ao redor de seu pescoço. Ele me pressiona contra a porta, levantando-me sem esforço e me apoiando em sua coxa enquanto suas mãos adentram minha frágil camiseta.

“Eu deveria parar”, ele murmura contra meus lábios entreabertos.

“Você sempre faz o que deveria?” Eu o provoco.

Ele corre o polegar sobre meu mamilo. Eu me aproximo em resposta... meu sutiã é fino e sinto como se cada parte do meu corpo se esticasse em sua direção, implorando por mais do que ele pode dar.

“O que você acha?” Ele diz as palavras contra meu pescoço, se afasta e sorri.

Ele pode muito bem usar esse sorriso sexy como uma arma.

Perigo! Meu coração grita.

Perigo! Minha mente concorda.

Perigo! Meu corpo treme por alguns segundos enquanto deslizo a língua por seu lábio inferior e o provo, bebendo o veneno mortal que algo entre nós produz.

Nunca me perdi por alguém.

Mas homens como Vic? Eles te fazem querer esquecer tudo, exceto seus pequenos momentos juntos.

Ele move a mão da minha barriga para a legging que uso e me toca entre as coxas enquanto eu o beijo, enquanto eu o instigo, montando sua mão como se não estivéssemos no quarto da filha de um chefe da máfia, segundos antes de sermos expostos ao mundo.

Eu empurro os quadris contra ele.

Maldições saem de sua boca.

A ousada carícia de sua língua é o suficiente para me deixar louca.

Uma batida suave soa na porta.

Nós nos separamos tão rápido que quase caio no chão.

“Sou eu”, Chase sussurra. “Não vi nenhum de vocês sair. Nixon foi para a cidade, mas estará de volta em minutos. Achei ser uma informação valiosa...” O humor em sua voz é meu único consolo no momento. Eu não quero ser despedida. Também não quero ser morta por distrair o executor.

Fecho os olhos com força. “Sim, obrigada Chase.”

“Cuidado crianças...” Seu aviso é silencioso.

Sinto-me um pouco insultada por ele me chamar de criança. Tenho vinte e um anos.

Vic tem pelo menos trinta.

“Desculpe-me.” Vic levemente toca meu ombro e, em seguida, abre a porta. “Eu sinto muito.”

“Por que está se desculpando?”

“Não vale a pena morrer por algumas coisas”, ele confessa.

“Não vale a pena morrer por mim?” Dor me atinge de todos os lados.

“Você não entende...” Ele abaixa a cabeça. “Você vale tudo isso... mas não é justo levá-la comigo para o inferno, só porque não consigo me controlar. Isso não acontecerá de novo.”

Ele sai do quarto.

E uma pequena parte minha sente orgulho por ele andar engraçado.

E que cada músculo de seu corpo está tenso como se ele estivesse pronto para ação, mas sem permissão para agir.

Conheço bem a sensação.

Isso foi estupidez

Foi uma má ideia.

Mas estar com Vic é o mais viva que já me senti.

Claro que seria nos braços de um assassino onde eu me sentiria mais segura e mais viva... um anjo da morte dando-me a vida. Quem imaginaria algo assim?


CAPÍTULO DOZE

VIC

Vou para a cozinha em busca de algo para colocar na boca que não vá me matar... como aveia, cereal, ou álcool.

Sirvo uma taça de vinho e me sento enquanto Renee caminha pelo corredor. Seu rosto está limpo como se ela tivesse acabado de tirar o que restava da maquiagem, com o cabelo num rabo de cavalo e pernas lindas cobertas por um moletom cinza.

Ela me dá um olhar pensativo antes de ir até a geladeira e abri-la. Engasgo com o próximo gole quando ela se inclina para pegar algo.

“Você poderia pelo menos tentar ser menos óbvio.” Chase senta ao meu lado.

“Você poderia pelo menos tentar manter a porra da voz baixa”, eu respondo.

O que apenas o faz sorrir.

Merda, o cara tem um desejo pela morte.

“Acha que gosto de estar na casa do Nixon quando poderia estar na minha própria casa com minha esposa? Ela fez um assado. Você sabe como me sinto sobre assados.”

Eu reviro os olhos. “Não, na verdade, não sei.”

“Oh, ok, deixe-me te contar.” O desgraçado pega minha taça e a leva aos lábios. “É suculento...” Ele sorri largamente. “Úmido e perfeito...” Ele solta um longo suspiro que me deixa pronto para matá-lo. “Pronto para ser devorado... Você já comeu um assado assim? Que apenas derrete na sua boca...”

“Um aviso, se eu atirar no seu rim... esta conversa é prova de que você mereceu.” Eu me levanto, pego outra taça e, em seguida, sento novamente.

Ele tamborila as pontas dos dedos na mesa.

Renee vem até nós e se senta. Enquanto graficamente planejei o assassinato de Chase... ela fez um sanduíche.

“Então Renee...” Chase sorri para ela. Onde diabos está uma arma tranquilizante quando se precisa dela? Ou uma focinheira. Qualquer coisa. “Está animada para voltar à faculdade?”

Seu rosto se ilumina.

Merda. Não quero deixá-la ir.

Não consigo nem pensar no dia em que não poderei vigiá-la ou mantê-la segura. Com que tipo de obsessão meu cérebro está sofrendo? Não é apenas uma preocupação normal.

É a merda real que te leva aos noticiários, onde amigos e familiares dirão, ‘Ele era tão atento a cada necessidade dela, haha, ele era um fodido perseguidor’.

“Mal posso esperar.” Ela sorri. Merda, ela está radiante. Encaro meu vinho e escuto sua voz. Digo a mim mesmo que seu rosto não está cheio de excitação. Digo a mim mesmo que sua expressão não será similar quando ela estiver gozando na minha língua.

Eu minto.

“Faltam o que? Cinco dias?”

“Seis”, ela corrige.

“É claro que você está contando os dias”, ele comenta.

Eu viro a cabeça em sua direção. “O que isso significa?”

Seu rosto é inocente. Mas nada que Chase diz ou faz é sem razão. Ele simplesmente encolhe os ombros. “Para deixar as crianças. Porquê? O que acha que eu quis dizer?”

Cerro os dentes enquanto Chase serve outra taça de vinho e pisca para Renee como se tivesse esse direito.

A porta da frente abre. Nixon entra e fecha-a com um estrondo. “Fodidos russos.”

“Ok, ok.” Chase leva a taça aos lábios. “Problemas no clube?”

“Ele está fora de controle.” Os olhos de Nixon estão selvagens. Ele passa a mão pelo cabelo preto como tinta. “Petrov me fez desejar por todas as meninas - isso é o quanto quero estrangulá-lo. Ele nos desafia de propósito apenas para ver o quão longe pode nos forçar, e ele é um pedaço de merda de dezenove anos!”

“Cuidado, Dante é um chefe aos vinte”, Chase o lembra.

“Dante te escuta.” Ele acena com a cabeça para Chase. “Ele pensa em você como um irmão mais velho, sabe disso.”

Culpa domina o rosto de Chase. “Sim, eu sei.”

“Precisa que eu o coloque no devido lugar?” Pergunto casualmente. Não me importaria com uma distração. Deus sabe que preciso de uma.

Nixon solta um forte suspiro. “Não o machuque, não podemos tocá-lo.”

Eu me encolho.

“Mas...” Ele sorri. “Pode se divertir um pouco com seus homens. Além disso, o bastardo doente realmente gosta quando outros são torturados, mesmo que sejam leais a ele.”

“Considere feito.” Eu me levanto.

“Mais uma coisa.” Ele olha para Renee.

Meu coração para de bater.

Ele sabe?

Ele pode ver o inchaço revelador em seus lábios?

O pesado subir e descer de sua respiração?

“Eu disse que precisamos conversar, nós três...” Ele esfrega os olhos com a palma das mãos. “Renee, você... você não vai voltar para a faculdade.”

Lágrimas de raiva escorrem de seus olhos. “O que?”

“Você não irá.” Ele repete de forma mais suave, seus olhos vão para Chase. “Isso é definitivo.”

“Isso é definitivo?” Renee cruza os braços. “Quem morreu e fez de você meu pai? Eu quero falar com ele. Caso ele concorde, eu ficarei.”

“Você não pode”, Nixon sussurra.

“Por que diabos eu não posso?” Ela grita.

“Seu pai está morto.” Nixon estende o braço sobre a mesa e segura a mão dela.

“Não.” Ela balança a cabeça. “Não, não, você não entende, ele está fora... fazendo negócios para os Nicolasi. Ele não...” Lágrimas escorrem de suas bochechas.

“Querida...” Nixon fecha os olhos com força. “Ele jogava dos dois lados, fazendo com que perdêssemos bons homens que estavam no lugar errado na hora errada. Ele foi cuidado.”

“Então você o matou!” Ela grita.

“Não.” Ele olha para mim.

Porra. “Eu o matei”, admito.

Ela solta um suspiro profundamente traído e desvia o olhar, dando-me as costas exatamente como mereço.

“Vidas inocentes foram perdidas por causa dele, Renee. Famílias foram expostas.” Nixon tenta argumentar. Ele ainda esconde a verdade, mas fazer isso é a única maneira que a manterá segura. Mas não importa. Ele é seu pai. Isso nunca importará. Não podemos controlar quem amamos. “Tinha que ser feito.”

“Tinha mesmo?” Sua voz está embargada pelas lágrimas.

Merda. Eu me seguro na cadeira.

“Vic?” Nixon acena com a cabeça para a porta. “Pode ir, nós vamos ficar bem.”

Eu não quero ir.

Meus dedos ficam brancos quando agarro a cadeira.

Nixon franze a testa enquanto uma guerra acontece em meu coração.

Ele é o chefe da família mais rica da Cosa Nostra.

Ele é meu chefe.

E ainda assim eu hesito.

Hesitação significa uma morte rápida.

Nesse momento ele não é mais meu primo ou amigo.

Ele é juiz, o júri e o carrasco.

Minhas necessidades não importam.

Meus desejos podem ir para o inferno.

Meus olhos vão para Renee. Quero puxá-la para meus braços, beijar suas lágrimas, dizer que sinto muito por ela ter visto a morte duas vezes desde que me conheceu.

Eu sinto muito.

“Vic”, Nixon ordena. “Eu não vou falar duas vezes.”

Inclino a cabeça e bato a porta com força atrás de mim.

Deixo que ele sinta minha revolta.

Não chega nem perto de aliviar a raiva percorrendo meu corpo.


CAPÍTULO TREZE

RENEE

Lágrimas turvam minha visão enquanto me sento no escritório de Nixon e espero pelo que acontecerá a seguir. Fotos cobrem as paredes. Uma mesa de mogno fica no fundo do cômodo. O lugar cheira tão caro quanto parece. Estou sentada numa poltrona de couro vermelho com espaldar alto que provavelmente é mais pesada do que um Ford Focus.

Sinto-me cercada por uma solidão sufocante.

Pela morte e pelo frio.

Ainda posso sentir os braços de meu pai ao meu redor, ver a expressão em seu rosto quando ele prometeu que cuidaria de mim e da minha mãe.

Minhas mãos tremem no colo enquanto Nixon se recosta na cadeira e me olha como se não tivesse certeza do que dizer.

Enxugo uma lágrima perdida. “Eu deveria estar preocupada?”

“Preocupada?” Suas sobrancelhas se franzem. “Com o que?”

“Com ser morta se quebrar uma das regras?”

Ele suspira e desvia o olhar do meu rosto, focando em uma foto na parede. “Renee, farei qualquer coisa para proteger aqueles que vivem sob minha casa. Eu morrerei por você, e todos os homens também o farão. Você realmente pensa tão pouco de nós? Que te mataremos por ser humana?”

“Você o matou.”

Ele morde o lábio inferior e uma expressão de frustração cruza seu rosto. “E se eu disser que ele matou dez pessoas, incluindo crianças? E se eu disser que ele estragou tudo e não conseguiu encontrar uma saída? E se eu disser que não conheço os detalhes porque Vic não quis me sobrecarregar com isso, mas sei que seu pai implorou pela morte?”

“Implorou pela morte!” Eu repito.

“Implorou por uma morte rápida e sem sofrimento... garanto que ele teria sofrido por dias, talvez até semanas, sua esposa, filhos...” Sua voz some. “As coisas em nossa vida não são preto e branco. Existimos numa área muito cinzenta, nos perguntando constantemente se o crime justifica aqueles que são salvos. Isso não é violência por ser violento, isso é sobrevivência para termos um futuro. Você precisa entender. E se não quiser? Bem, então não posso ter alguém assim cuidando da minha filha. Pense nisso... e se quiser largar o emprego eu encontrarei uma casa segura, mas até você fazer vinte e dois anos, precisará de proteção.”

“Por que vinte e dois?” Faço uma careta. “Isso será em três meses.”

“Em três meses estaremos próximos do feriado. Achei que gostaria de ficar com sua mãe.”

Algo não está certo. Eu estreito os olhos. “Minha mãe, ela já sabe?”

“Sim.”

A traição é como uma faca torcendo minhas entranhas. “E ela não teve coragem de me dizer... por quê?”

“Eu quis falar com você primeiro. Para ter certeza de que estava bem antes de... Mas parece que julguei mal a situação, já que você preferiria saber disso pelo telefone enquanto sua mãe afoga as mágoas em Las Vegas, mas não cometerei esse erro de novo.” Ele acena com a cabeça para a porta.

Levanto com as pernas bambas e caminho até a porta, tendo uma lembrança repentina de Vic e eu pressionados contra ela, nossas bocas selvagens e as línguas emaranhadas.

Eu observo a babá.

Com um suspiro, agarro a maçaneta e abro a porta.

Chase está parado ali com uma garrafa de vinho na mão e uma taça. Ele as oferece para mim. Círculos escuros decoram seus olhos e sua voz parece cansada quando ele fala devagar. “Não desconte toda a raiva nele. Vic apenas fez seu trabalho. “

Eu desvio o olhar. “O trabalho dele era matar um membro da minha família.”

“Não.” Chase responde. “O trabalho dele era nos manter seguros. E ele o fez. Não é apenas sobre o sangue derramado no chão... é tudo sobre o sangue que ainda está vivo. Agora vá dormir.”

Andando devagar, levo a garrafa para meu quarto junto com a taça de vinho e coloco ambos na mesa de cabeceira.

A cadeira da noite anterior ainda está ao lado da cama.

Só que vazia.

Lágrimas enchem meus olhos enquanto pego um cobertor e o levo para a cadeira, então sento e levanto meus joelhos até o peito. Eu não voltaria para a faculdade. Meu pai morreu. Minha vida acabou.

E ainda assim, consigo sentir o cheiro de Vic.

Ainda assim, sinto seus braços me abraçarem em minha imaginação.

Como alguém pode ser sua força e seu pesadelo?

Meus olhos fecham com um profundo suspiro.


CAPÍTULO QUATORZE

VIC

Bato três vezes na porta preta de metal. Ela abre, revelando um homem vestindo terno vermelho e gravata preta. Ele usa uma capa que se entende até o chão de uma forma que me lembra um romance histórico.

“Senha.”

“Club Tempt”, digo num russo perfeito.

A porta se abre mais.

O cheiro de charutos e colônia cara enche o ar, inundando minha cabeça enquanto caminho pelos corredores familiares. Mulheres rodeiam todos os tipos de homens. Eles usam máscaras cobrindo os rostos, têm bebidas nas mãos, e se um rap não estivesse tocando, eu assumiria que viajei no tempo direto para um baile de máscaras no subúrbio londrino.

Os homens usam cartolas, ternos e roupas caras que seriam extremamente descabidas nas ruas. Estou completamente deslocado usando jeans e uma camisa de algodão preta.

O tapete é vermelho sangue, e velas escuras bruxuleantes iluminam os corredores estreitos com suas pequenas alcovas, onde consigo ver pessoas rindo e se despindo.

E então a pior parte.

A chave pendurada no tornozelo de cada mulher.

E a tatuagem da fechadura que a acompanha.

Com um suspiro, sigo por outro corredor e depois para a área de dança principal, onde a música ecoa dos alto-falantes. Sofás de veludo vermelho estão cheios de pessoas seminuas e se tateando, curtindo a companhia umas das outras e se beijando. Um covil de iniquidade.

De diversão.

Petrov está na área VIP como um rei olhando suas terras. Um sorriso cruel se espalha por seu rosto e então ele aponta o dedo para mim.

Subo as escadas de dois em dois degraus e quando um segurança me encara e se recusa a liberar a corda de veludo, agarro-o pelo pescoço com uma mão e digo: “Algum problema?”

“Não”, ele resmunga.

“Bom. Bom.” Eu lentamente afasto a mão e ajusto sua gravata, em seguida, dou um tapa de leve na sua bochecha direita. “Nós temos negócios.”

Petrov inclina a cabeça para nós. “Deixe-nos, D.”

Vou até onde Petrov está parado na sacada. “Ele é encantador.”

“Não é?” Petrov sorri. “Eu o acho divertido.”

“Estúpido como um saco de pedras, então?”

“Os burros são mais fáceis de persuadir... E têm medo de nunca ganhar tanto quanto o que eu pago... então os burros me mantém seguro. Eles mantêm o que acontece aqui seguro.”

Eu apoio as mãos nas grades. “Nixon está chateado.”

Ele bufa. “Nixon está sempre chateado. Mais alguma novidade? Ele disse que eu poderia cuidar do meu negócio da maneira que quiser, só porque estou retardando o processo, não significa que não pretendo derrubar o império que meu pai construiu. Mas existem jogadores-chave que preciso ao meu lado, e não posso simplesmente forçar a mão. Nixon sabe disso.”

Eu concordo. “Ele sabe. Eu sei. O problema é que você está se aprofundando nisso. Quantas vezes já esteve no chão? Quantas vezes você já foi à venda? Minhas informações dizem que sua mão está em cada parte desta pequena escravidão... você está muito envolvido.”

Ele revira os olhos. “Estou bem.”

“Você dormiu com alguma delas?” Pergunto corajosamente.

Sua mandíbula flexiona. “Não é desse jeito.”

“Oh, então é amor?”

Ele apoia as mãos na grade e fecha os olhos como se tentasse se acalmar. “Não me questione.”

Eu me movo. “Não nos dê uma razão para isso”, sussurro em seu ouvido. Então seguro sua mão como se fosse apertá-la e quebro seu dedo indicador.

Os ossos cedem facilmente.

Ele não grita.

Ele apenas estreita os olhos como se irritado por eu machucá-lo e que ele não possa revidar sem chamar a atenção.

“Um lembrete.” Eu inclino a cabeça. “De a quem você pertence. Do que as famílias farão com você se às trair.”

Ele respira fundo e segura sua mão. “O clube está sob meu controle. Deixe-me fazer as coisas da maneira que achar melhor. Já libertei cinquenta meninas. Isso são cinquenta meninas a menos se preocupando com o vício em drogas ou levando uma surra até a morte.”

Eu concordo. “E as outras duzentas?”

“Você verá...” Ele pega uma bebida da mesa com a mão esquerda. “Vou mostrar a todos... Vocês acham que sabem tudo, italianos bastardos e arrogantes. Eu tenho contato com famílias em todo o mundo. Não faça ameaças mesquinhas que não está disposto a cumprir. E mais, você precisa disso mais do que eu. Eu tenho as chaves da casa. Você é simplesmente um comprador numa longa fila de compradores que não entram em meu domínio e quebram ossos.” Ele sorri e leva o copo aos lábios. “Tenha uma boa noite, Vic.”

Eu o encaro, percebendo seu blefe, me perguntando por que isso é necessário. E então vejo um homem e uma mulher sentados no bar VIP. Um homem e uma mulher familiares.

“Einstein.” Sorrio para a garota bonita e inteligente que, francamente, sabe muito sobre nossos negócios. “Engraçado te ver em nossa cidade.”

Seu sorriso não vacila. “Sim, bem, estamos pesquisando um pouco.”

“Posso ajudar em algo? A família Bordello sempre nos ajudou. Eu adoraria retribuir o favor.”

Seus olhos piscam para Andrei e depois para mim. “Estamos procurando informações sobre alguém...”

“Ah, você suspeitou que eu viria?”

“Eu esperava”, ela admite. “Preciso de Phoenix.”

Eu suspiro. “Deve ser ruim se precisa de um Nicolasi que detém as informações assustadoras de todas as famílias criminosas do mundo.”

Seu sorriso cai um pouco.

“Merda, vou avisá-lo para esperar uma visita.”

“Achei que isso amenizaria as coisas.” Einstein bebe o resto de sua bebida num só gole. “Ou que pelo menos ajudaria.”

Eu bufo. “Sim, continue dizendo isso a si mesma.” Beijo suas bochechas, aceno para o homem ao seu lado e saio do clube escuro, odiando carregar parte do fedor daquele lugar para dentro do meu carro. Odeio a escravidão, não consigo impedir, a escravidão que temos que apoiar antes de poder derrubá-la. Eu vejo Renee naquelas mulheres dançando, no medo em seus olhos quando são levadas para a sala dos fundos. Ninguém volta de lá. Odeio que ela me olhe como essas mulheres olham para os homens lá dentro.

Odeio que ela realmente acredite que sou um monstro agora que sabe que matei seu pai.

Meus pensamentos estão tão consumidos que nem percebo que cheguei em casa até que os portões de ferro se abrem.

Estaciono na garagem e entro. Está tudo silencioso. E escuro.

“Como foi?” Nixon pergunta do canto da sala, como se me esperasse.

Jogo minhas chaves na mesa. “Tão bom quanto se pode esperar.” Então faço uma careta. “Vi um dos Bordellos.”

“Oh? É muito longe para viajar para uma reunião. Não lidamos com outros dramas familiares. Temos o suficiente para resolver.” Sua voz parece tensa, mas curiosa. “O que diabos eles querem?”

“Informações de Phoenix.”

Ele bufa. “Deus nos ajude.”

Eu sorrio e depois fico sério. “Como foi com Renee?”

“Oh, vamos ver.” Nixon levanta e se aproxima de mim. “Ela gritou, chorou, depois gritou um pouco mais e não acreditou em mim quando disse que seu pai implorou por uma morte rápida em vez de ser torturado.”

Meu coração quebra no peito enquanto o escuto.

“Eu disse a ela que você é um dos melhores homens que conheço, e que sinto muito por ter sido posto nessa posição.”

“Você faria a mesma coisa.”

“Em alguns dias... Sim. Em outros... Bem, vamos apenas dizer que ver os outros sofrendo me faz sentir muito melhor.”


CAPÍTULO QUINZE

RENEE

O calor envolve meu corpo. Ele acalma minha alma. Acho que por esses breves segundos respiro livremente, minha primeira grande expiração, seguida por outra respiração profunda. Pressiono a mão contra o calor e sinto um peito forte. Não me importo que seja o peito do assassino do meu pai.

Eu estava doente.

Estava porque meu assassino acaba de me curar.

Envolvo os braços em seu pescoço e respiro fundo. Então estamos caminhando. Não quero estragar o momento falando, então mantenho os olhos fechados e a voz muda enquanto ele caminha um pouco mais.

Uma porta abre e fecha.

Cheira a charutos e especiarias de Natal.

Gentilmente, sou colocada no chão. Em seguida, meu corpo entra em contato com algo deliciosamente suave.

E então o que me envolve afunda sob o peso daquele que me carrega. Talvez se eu mantiver os olhos fechados posso imaginar que é Vic sem a palavra assassino pairando sobre sua cabeça como um sinal vermelho brilhante.

Talvez eu possa ceder à fantasia de que ele é apenas um cara, e eu sou apenas uma garota. Passando a noite nos braços um do outro, usando o calor um do outro para obter energia.

Cobertores são colocados sobre meu corpo, empurrando-me contra o colchão com seu peso. E então braços volumosos me puxam novamente contra o peito duro como pedra.

“Durma.” Sua voz é alta como um tiro no escuro; um sussurro áspero, uma ordem que não tenho permissão para recusar. Às vezes, você só precisa ser forçada a descansar - e quando ele saiu, virei e revirei naquela cadeira idiota por horas tentando ficar confortável.

Mas agora? Agora meu corpo está cansado. Minha mente fica em silêncio.

“Você matou alguém esta noite?” Faço a temida pergunta. Quero saber se as mãos que me seguram são mãos que derramam sangue. Eu me torturei com ideias do que ele fez esta noite. Torturei-me com visões do rosto do meu pai implorando pela morte.

Seu corpo está rígido quando ele resmunga: “Não, Renee. Eu não matei ninguém esta noite.”

“Você vai matar alguém amanhã?”

Ele suspira. “Bem, é uma sexta-feira, e esses são meus dias favoritos para tirar uma vida. O que acha?”

Eu sorrio, embora não seja engraçado. “Desculpe, pergunta estúpida.”

“O que rendeu uma resposta igualmente estúpida.”

“Ei, Vic?” Eu me viro para encará-lo. Seus olhos são tão brilhantes na escuridão que me distraem antes que eu consiga reorganizar os pensamentos. “Ele realmente implorou?”

“Não me force a falar sobre isso. Não agora. Não quando você está cansada e chateada. Não quando você me olha como se estivesse desapontado. Eu posso lidar com muitas coisas, Renee, mas sua decepção não é uma delas.”

Eu concordo. “Eu não quero me sentir assim.”

“Às vezes não temos escolha, apenas sentimos. Você amava seu pai. Eu o tirei de você. Os detalhes não importam quando se ama, apenas o resultado. Neste caso a morte é tudo o que conta, Renee, especialmente na nossa vida.”

Lágrimas enchem meus olhos quando envolvo os braços em seu pescoço e o puxo para perto. Beijo sua testa e, em seguida, a ponta de seu nariz. Ele cerra a mandíbula como se tentasse se acalmar e fizesse um péssimo trabalho.

“Durma.” Eu sorrio tristemente.

Ele pisca e desvia o olhar. Seguro seu queixo para que ele não tenha escolha a não ser encarar meus olhos. “Durma”, eu repito. “Ou não vou dormir também.”

“E se alguém entrar sorrateiramente e tentar te machucar?”

“Pelo menos vou morrer ao seu lado, certo?”

“Não.” Ele se afasta e agarra meus pulsos. “Eu não deixarei isso acontecer. Nunca. Nunca deixarei alguém tirar sua alma antes que ela tenha a chance de amar, de viver. Nunca. Você está me ouvindo? Nunca!”

“Você não pode controlar tudo, Vic. Já deveria saber disso.”

“É por isso que tento para caralho controlar pelo menos o que posso”, Vic sussurra. “Que é você dormir e descansar e eu não decidir que é uma boa ideia te forçar a exaustão.”

Eu faço uma careta. “Forçar a exaustão?”

Ele agarra minha bunda com a mão direita, aperta-a e me puxa contra seu corpo. “Exaustão.”

“Eu não...”

Ele afasta a mão e coloca-a sobre minha boca. “Nem mais uma palavra. Durma.”

Eu balanço a cabeça quando sua mão se afasta, os olhos focados em minha boca como se ele dissesse a si mesmo que apenas um beijo não causaria problemas.

Estou tornando as coisas mais difíceis.

Dificultando que ele mantenha sua promessa.

E ele está tornando as coisas complicadas para mim.

Para vê-lo como um monstro.

Principalmente quando ele me encara como se eu fosse sua salvação.


CAPÍTULO DESESSEIS

VIC

Deixo-a dormir na minha cama.

E quando ela não acorda depois que meu alarme toca, deixo-a dormir um pouco mais. Parece que é o mínimo que posso fazer depois de matar seu pai.

“Então...” A voz de Nixon me surpreende o suficiente para eu quase derrubar a xícara de café. Normalmente, estou ciente de tudo ao meu redor.

Normalmente não tenho uma mulher sexy dormindo no meu quarto.

Eles estão certos sobre ela ser uma distração, isso é fato.

“Sim?” Viro com a expressão entediada como se soubesse o tempo todo que ele estava lá.

Ele cruza os braços tatuados contra a camisa branca. “Agora que ela sabe que seu pai está morto, agora que ela sabe a verdade, não é melhor arrancar o Band-Aid completamente?”

“Por band-aid você quer dizer por que ela precisa de proteção 24 horas por dia, sete dias por semana?” Eu o encaro.

Ele coça o queixo. “Pode ser. Vou falar com Tex.” Ele se vira para sair. “Oh, desculpe, eu quase esqueci... Trace quer levar Serena até o centro. Vamos passar a noite em um dos apartamentos e fazer compras. É... Digamos que muito disso é um lembrete para ela. É um gatilho para muitos de nós... Manter alguém em nossa casa que temos que proteger nunca dá certo. Eles acabam casados ou mortos.”

Ele tem razão. Sempre que protegemos alguém significa ou casá-los para serem intocáveis, ou eles acabam sendo traidores ou pior... eles são eliminados pela incapacidade de seu próprio corpo em permanecer vivo.

“Eu sei.” Dou de ombros. “Vamos ficar bem, basta levar todos os homens extras.”

“Eu sei que vai ficar bem, e temos um exército chegando.” O sorriso de Nixon não alcança seus olhos. Ele anda, quase saindo da cozinha antes de dizer por cima do ombro. “Estive te observando por três minutos antes que soubesse que eu estava na cozinha... devo me preocupar?”

A vergonha é um balde de água gelada despejado sobre meu corpo, fazendo-me endurecer completamente enquanto cerro os dentes e digo um forçado. “Não.”

“Bom. Eu odiaria descobrir que um dos meus primos favoritos não consegue manter um juramento...”

Reviro os olhos. “Semana passada você disse que Sergio era seu favorito.”

Nixon apenas ri e vai embora.

Com as mãos trêmulas, coloco minha xícara de café na mesa e me dou um tapa. Preciso me controlar antes que eu mesmo ou outra pessoa acabe morta.

Talvez Chase esteja certo.

Talvez seja porque a tentação está lá. Talvez eu precise tirar isso do meu organismo, mas a última coisa que quero fazer é dormir com ela apenas uma vez para satisfazer o desejo entre nós e depois voltar ao normal.

Será impossível não a querer sempre em meus braços.

Eu posso visitar o clube.

A ideia tem certo apelo.

Isso fará com que Petrov confie mais em nós, além disso, eu lhe devo um favor. O desgraçado ama cobrar favores às pessoas... ele pode muito bem ter meu sangue num contrato.

Tomo minha decisão.

Então, por que meu coração ainda está acelerado no peito? Por que ainda sonho com sua boca, com a maneira como seu corpo se molda perfeitamente ao meu? Por que meu estômago revira com o pensamento de tocar alguém que não é ela?

Pelo menos ela pode dormir e não se preocupar com as crianças. Faço uma ligação para ver se Junior virá, mas Phoenix e Bee o levarão para a cidade também.

Eles moram mais perto.

Eu engulo em seco.

Isso deixa Chase a quase três quilômetros de distância.

Tex está a dezesseis.

Dante e Sergio moram ainda mais longe.

Eu esfrego as mãos no rosto.

Tudo bem.

Não é como se eu precisasse de uma babá para manter meu pau dentro das calças, certo?

Eles saem uma hora depois.

E eu fico sozinho com a Bela Adormecida.

Meus lábios se contraem enquanto caminho para meu quarto e ouço um ronco suave. Como diabos até mesmo o ronco dela é fofo, eu não faço ideia. São quase dez horas, e não quero que ela acorde pensando que não fez seu trabalho.

Entro no quarto, tomando o cuidado de ser silencioso, sento na cama e acaricio seu braço. “Renee, é hora de acordar.”

Ela segura minha mão e a aperta.

E eu apenas fico parado e permito.

Ela me desarma de forma assustadora.

Ela me desarma segurando minha mão.

Abaixo a cabeça enquanto ela aperta meus dedos com força.

“Renee”, inclino-me para mais perto. “é hora de acordar, querida.”

Ela se move um pouco e então abre os olhos, ainda segurando minha mão. Ela não a solta enquanto se senta e puxa os joelhos contra o peito. “Que horas são?”

“Dez”, eu respondo e uma expressão de pânico cruza seu rosto. “Não se preocupe, todo mundo saiu.”

“Saíram?” Seus olhos se arregalam. “Por que eles saíram? O que aconteceu?”

“Compras em família no centro de Chicago... normalmente eu iria junto, mas eles têm um exército de homens, e eu preciso ficar e cuidar de você.” Sei que a ordem silenciosa de Nixon é protegê-la a todo custo. De repente, ela é mais importante do que sua família, ela tem que saber que há um motivo para isso.

Renee franze o cenho. “Eu ainda não entendo. Nixon não me conta, mas há mais nisso, há mais na traição do meu pai. Ele não iria apenas... Machucar as famílias, você tem que acreditar em mim.”

“De propósito? Não. Ele não iria. Porém... talvez ele estivesse te protegendo fazendo o que fez. No mínimo, isso chamou atenção novamente. Isso nos lembrou do por que ele era tão importante em primeiro lugar.”

“Por ser bom em seu trabalho?” Ela pergunta em voz alta.

“Porque ele estava encarregado de te proteger.”

“Mas ele nunca estava em casa”, ela diz com a voz confusa.

Ah, como explicar a vida e a morte para alguém que só quer ver a vida mesmo nas piores situações?

“Renee, seu pai não era apenas um homem feito, ele não estava envolvido em negociações típicas... Seu pai, ele tinha mais de quarenta mortes no nome, ele foi até a Sicília para fazer... Negócios.”

“Com quem?”

“Você precisa tomar o café da manhã.” Eu me levanto e solto sua mão. “Quer torradas? Ovos? Sorvete?”

Ela me olha feio. “Não sou uma das crianças.”

Seus seios estão praticamente saindo para fora da blusa decotada, e consigo ver suas coxas tonificadas me provocam a cada passo. Quero lamber entre elas e ver quantas lambidas serão necessárias para chegar ao seu centro. Incontáveis. Lambidas.

“Sim.” Eu resmungo. “Estou bem ciente.”

Seus olhos oscilam para minha boca como se pudesse ler meus pensamentos, e então ela passa por mim. “Espero que seja um péssimo cozinheiro.”

Sorrio para o quarto vazio.

O mesmo quarto em que me senti isolado por tanto tempo.

A mesma casa que nunca pareceu um lar.

E de repente, por causa dela, todas essas coisas acontecem.

Perigo!

Fecho os olhos com força, cerro os punhos e olho para a frente, encarando a parede branca e vazia.

Aquela sem fotos.

Sem memórias.

Sem vida.

Perigo.

Ela é perigosa para alguém como eu, alguém que vive na escuridão há tanto tempo que não tem ideia de que ter luz é possível.

Até que ela a acende.

Com um simples sorriso.


CAPÍTULO DESESSETE

RENEE

Eu o sinto mesmo quando ele não está no ambiente. Estremeço enquanto caminho para a cozinha vazia.

As crianças saíram.

Somos apenas eu e Vic.

O assassino do meu pai me fará ovos.

E eu farei o quê? Apenas permitir?

Afundo as unhas nas palmas das mãos enquanto Vic entra na cozinha, pegando uma frigideira e indo até a geladeira.

Ele se move ao meu redor sem esforço como se eu nem estivesse aqui. Estou presa num atordoamento confuso. Não durante esse café da manhã.

Mas ao longo da vida.

O que isso significa?

Minha mãe sabe que estou presa nesta casa com uma das famílias criminosas mais ricas do mundo?

Especialmente depois de saber sobre a morte do meu pai?

Ela ao menos sabe que ele era um assassino como Vic?

As peças de um quebra-cabeça se encaixam quando você tem um panorama geral, mas eu não o tenho. Sei muito pouco.

E realmente preciso de um para me concentrar no lado positivo... ou descobrir se isso é possível.

“Os ovos estão prontos”, Vic diz com a voz rouca.

Eu levanto a cabeça.

Ele segura um prato com um pedaço de torrada e um ovo frito no meio, cortado num quadrado perfeito.

Sorrio. “Como se chama isso?”

“Boa comida.” Ele encolhe os ombros. “A combinação perfeita de gordura, proteína e carboidratos.” Ele empurra o prato em minhas mãos. “Coma.”

“Obrigada.” Pego o prato azul, caminho até a mesa e me sento bem a tempo de ele estender um garfo a cerca de cinco centímetros do meu rosto. Eu os pego com a mão direita e como.

Enquanto ele me observa.

Como se eu pudesse comer um ovo da maneira errada.

Dou a primeira mordida e balanço a cabeça. “Sabe, se você não fosse tão bom em matar pessoas, provavelmente poderia ser um chef.”

“Quer dizer passar do sangue para o ketchup?”

“Sim, pense nas possibilidades.”

Seu sorriso é malicioso. Eu amo e odeio, principalmente porque seu nível de sensualidade aumenta a cada minuto em que estamos perto. “E se eu gostar de matar pessoas?”

Engasgo com a próxima mordida.

Sua mão enorme bate nas minhas costas.

Tapa, tapa, tapa.

Eu quase paro de respirar.

“Pare!” Digo roucamente. “Estou totalmente bem, apenas... passou pelo buraco errado.”

“Tem certeza?” Ele pergunta ainda com a mão levantada.

Pressiono os lábios para não rir. “Sim, estou... ótima.”

Não deixo de notar o quão perto ele está.

Ou o fato de que seus olhos azuis cristalinos tem partes de amarelo delineando as íris. Em outra vida, ele teria sido um vampiro a me encantar.

E eu cairia em seu anzol, linha e rede.

“Bom.” Ele não se move.

Limpo a garganta e pego o garfo novamente.

“E não... A resposta é não.”

Eu o encaro profundamente, até ver sua alma. Gosto de lá, é o olho da tempestade, calmo, apenas esperando para virar violência. Espero que ele fale mais.

Vic solta um suspiro. “Não gosto de ser a última coisa que as pessoas veem quando deixam esta terra.”

“Acho que teremos que concordar em discordar, porque não consigo imaginar nada melhor para se olhar durante minhas últimas respirações.”

Ele balança em minha direção, então se inclina na cadeira, apoiando as mãos em cada lado do meu corpo, me prendendo contra o granito duro. “Não diga coisas assim para mim, Renee.”

“Por que?”

Ele fecha os olhos e suspira. “Porque não é sensato oferecer drogas a um viciado, é por isso.”

“Então agora você é um viciado?”

Seus olhos percorrem meu corpo como um fogo lento. “Bastou provar uma vez...” ele se afasta bruscamente. “Vou verificar o perímetro. Termine seu café da manhã.”

“Posso assistir TV?”

“Você terminou suas tarefas?” Ele brinca.

Meu queixo cai quando uma risada irrompe de seu corpo de uma forma que me faz querer ser a causa dela.

“Não me faça jogar o garfo em você!”

“Tenho reflexos de gato...”

Então eu jogo.

Ele literalmente o pega no ar e encolhe os ombros, em seguida, coloca-o na bancada. “E sim, você pode fazer o que quiser... Dentro do razoável.”

“Vai me dizer por que sou uma prisioneira aqui?”

“Não.”

“E isso está aberto à discussão?”

“Não.”

“E não posso te persuadir?”

Ele enrijece. “Não faça isso.” Sua mandíbula aperta. “Nem. Sequer. Pense. Nessa. Porra.”

Por alguma razão, sua resposta apenas me encoraja. Não é como se eu fosse obter respostas de outra pessoa, e já é difícil o suficiente ficar longe dele.

Ficar longe do bandido não deveria ser um problema.

E ainda assim é.

Se eu fechar os olhos, posso ver o sangue do meu pai em suas mãos.

E ainda assim quero essas mãos em mim.

Algo está muito errado comigo.

Eu gemo, seguro o garfo e como mais um pouco, me repreendendo por ser o pior tipo de pessoa.

Por querer seu toque perigoso.

E desejar que ele ceda ao meu tipo de tentação.


CAPÍTULO DEZOITO

VIC

Consigo passar o dia inteiro longe dela. Mas eu a observo. Definitivamente a observo. Inferno, sei quando ela pega um lanche, uma garrafa de água, quando ela usa o banheiro. E quando ela fica lá um pouco mais, eu quase quebro a porta antes de ouvir o chuveiro ligar.

Estou com uma dor constante.

Tornei-me uma sombra.

Esperando em silêncio.

Observando.

Desejando.

É um verdadeiro inferno.

A tortura do sétimo círculo.

E eu aguento. Eu preciso. Não tenho escolha a não ser protegê-la de tudo. Ela não sabe o quanto vale. A máfia não faz as coisas por acidente. Não é por acaso que ela cuida das crianças.

Não é por acaso que ela foi convidada para esta casa, para nossas vidas.

Isso não é um trabalho de verão.

Isso é um caso de vida ou morte.

E odeio que seu mundo eventualmente desabe ao redor, revelando que tudo o que ela sabe sobre si mesma é mentira.

E ajudarei a desferir o golpe esmagador.

Porra, às vezes eu odeio minha vida.

A porta do banheiro abre. Ela está enrolada na toalha mais curta que já vi em toda a vida. Gotas de água escorrem por suas pernas. Engulo um gemido e cerro o punho para não fazer algo que quebrará minha promessa.

Posso ser um assassino.

Mas ainda sou um homem.

Com desejos e necessidades.

Droga, é uma péssima hora. Estou prestes a explodir e preciso cuidar de uma mulher que pode tentar qualquer um, especialmente um homem que é celibatário há três anos.

Fecho os olhos com força para não encarar sua bunda quando ela anda até meu quarto e pega algumas roupas.

Lentamente, volto pelo corredor, e olho pelas grandes janelas da cozinha.

O portão está abrindo.

Não estamos esperando visitantes.

Solto um suspiro de alívio quando percebo que é Chase. Pego minha arma apenas por precaução e abro a porta da frente.

Ele estaciona.

Sai de seu Maybach.

E caminha em minha direção como se tivesse todo o tempo do mundo, como se atiradores não fossem um perigo real. Ele acredita que é invencível. Que ninguém ousará machucá-lo, considerando o poder que ele exerce dentro da família Abandonato junto com suas assustadoras ligações políticas, o que significa que ele pode fazer qualquer coisa que quiser e ser coberto com rosas.

Rosas manchadas de sangue.

Mas ainda são rosas do mesmo jeito.

“Teve uma boa noite, Vic?” Ele sorri.

Juro que o homem está decidido a me torturar desde que eu o segui dentro de sua casa e acidentalmente vi sua esposa nua.

“Sim.” Cruzo os braços sobre minha arma. “Precisa de algo?”

Ele enfia as mãos nos bolsos. “Um pouco de ar fresco, e você?”

Eu o encaro. “Nós não temos conversa fiada, diga logo.”

“Você está sozinho?” Ele inclina a cabeça e olha ao meu redor como se pudesse ver dentro da casa, no meu quarto, ver a toalha cair do corpo nu de Renee formando uma pilha aos seus pés, ver seus seios balançarem a cada passo em direção a suas roupas, vê-la se curvar e... “Vic?”

“Não.” Eu balanço a cabeça. “Quer dizer, sim.”

Qual foi sua pergunta?

“Você já pensou sobre nossa conversinha?”

“Não.” Sim. A cada segundo de cada dia.

“Mentiroso.” Ele dá um passo em minha direção, depois outro. O maníaco pega uma faca, testa a lâmina e então me ataca. Não estou preparado para isso. Deixo cair a arma, minha única arma, e desvio da primeira facada com meu antebraço direito antes de empurrá-lo para longe e chutá-lo no estômago.

Ele tropeça com o peito arfando, como se gostasse da luta. O que diabos está errado com ele?

Ele ataca novamente, desta vez com a mão esquerda, que estranhamente é melhor do que a direita. Abaixo no momento em que seu cotovelo direito atinge minhas costas e seu joelho encontra meu queixo. Acerto uma cabeçada em Chase fazendo-o tropeçar e gargalhar.

“Que diabos, Chase!” Eu grito.

“Nunca diga que não te ajudei.” O psicopata do século joga a faca no ar. “Melhor ir se limpar... Na verdade, tenho certeza de que há uma garota aqui que ficará chateada para caralho em vê-lo sangrando.” Um sorriso lento se espalha por seu rosto. “Aposto que ela vai cuidar de seus ferimentos.”

“O que você está fazendo?” Eu resmungo.

Ele fica sério. “O que precisa ser feito. Estou te pressionando. Porque você vai ser um mártir pela família, porque está perdendo a porra do foco, porque duas semanas atrás você teria acertado alguns golpes. Você está distraído. Então, estou tirando a distração. Será nosso segredinho.” Ele encolhe os ombros. “Recupere o controle antes que Nixon descubra, e deixe-a ajudá-lo com todo esse sangue em...”

“Foda-se, Chase!”

Seus olhos estreitam antes que ele jogue a faca diretamente no meu peito. Mal desvio a tempo.

“Meu ponto”, ele diz assim que a faca afunda na porta, “está provado...”

Empurro-o pela porta e jogo a faca em sua direção. Ele pega a lâmina com dois dedos e pisca. “Tenha uma boa noite.”

“Foda-se!” Eu resmungo.

“Amo você também!” Ele acena com a faca, entra no carro e sai da garagem.

Bato a porta, embora ele já tenha saído.

Pelo menos sinto-me melhor.

Embora minha raiva esteja fervendo sob a superfície, borbulhando, ameaçando transbordar e causar estragos na minha sanidade já instável.

“O que está acontecendo?” É a voz dela.

Aquela voz.

Eu cerro os dentes e me viro.

Ela tem que estar usando branco.

Shorts brancos e um top branco curto.

Um conjunto.

Inocente.

Ainda intocado pelo sangue.

Abro a boca e olho a mesa de café da manhã para me impedir de encará-la com a boca aberta. “Nada, apenas Chase me irritando de novo.”

“Irritando tanto que decidiu lutar com ele?” Sua voz está mais perto e então suas mãos tocam meu rosto.

Não. Isso não vai acontecer.

Não.

Não.

Eu cerro os punhos.

Seus polegares esfregam minhas bochechas. “Vamos te limpar.”

“Eu estou bem.”

“Você está sangrando.”

“Eu disse que estou bem!” Grito, me afastando porque tenho que fazê-lo, me afastando porque meu corpo anseia pela ternura de seu toque. Afastando-me porque meu coração dispara pedindo mais.

Uma promessa.

Eu fiz uma promessa.

Ninguém precisa saber.... A voz de Chase é como um maldito gravador na minha cabeça, apenas encorajando as coisas que meu corpo quer, não me lembrando do por que preciso resistir.

Ela recua e dor domina suas lindas feições. Dói que a coloquei lá porque meu controle está escorregando, somente mais um toque e estarei arruinado.

Vou até a pia, molho algumas toalhas e limpo minha bochecha. Eu estremeço. Maldito Chase. Eu coloco as toalhas debaixo d’água novamente e toco meu olho. A dor é como um calmante.

Ela me lembra que tenho um trabalho.

Ela me deixa o motivo de eu precisar fazê-lo.

E então o som de um banco de bar sendo arrastado e colocado na minha frente me distrai da dor.

O banquinho preto está a um metro de mim.

E Renee está o escalando como uma criança.

Ela fica de joelhos, então estamos olho no olho.

Olho para frente, com medo de me mover.

Com medo de respirar.

Engraçado que o medo finalmente se manifesta na forma de uma mulher siciliana de um metro e setenta empenhada em cuidar de minhas feridas e não no russo de mais de cem quilos que atirei na cabeça semana passada.

“Fique. Parado.” Ela pega a toalha da minha mão e começa a limpar o sangue que Chase deixou lá.

Torcendo meu estômago num número incontável de nós.

Meu coração bate forte enquanto ela examina meu rosto, segurando meu queixo com cuidado enquanto o vira para a esquerda e para a direita. “Seu olho provavelmente ficará um pouco machucado, mas fora isso... Você vai viver!” Ela pisca.

Estou cansado.

Estou cansado de fazer a coisa certa.

Meu corpo rígido desaba. Seguro seus quadris para me impedir de cair e imploro para que ela me deixe abraçá-la.

Ela acaricia meu cabelo e ergue meu queixo. “Devemos assistir a um filme ou algo assim?”

Sala fechada, coxas se tocando, luzes apagadas. Eu quero isso. Mas não devo. E ainda assim pego-me concordando com a cabeça.

E mentalmente me dou um tiro no pé enquanto a sigo como um cachorrinho desejoso por qualquer pedaço de atenção jogado em sua direção.

Patético.

Desesperado.

Carente.

Sigo-a para a sala de cinema.

Apago as luzes assim que ela pega o controle remoto.

E é só quando o brilho da TV atinge seu rosto que percebo o grave erro que cometi.

Eu me coloquei numa posição de vulnerabilidade com uma mulher que quer assistir a um filme de terror.

Ok, foda-se.


CAPÍTULO DEZENOVE

VIC

Minhas mãos estão suadas como se eu estivesse no meu primeiro encontro.

Estamos aqui faz cinco minutos.

Será uma longa noite.

Meu telefone vibra.

Nixon: Alguma surpresa?

Quase dou uma gargalhada. Não, apenas seu primo vindo me encorajar a dormir com a babá para tirar isso do meu organismo e me esfaqueando para que ela limpasse o sangue.

Sem surpresas aqui!

Eu: Estamos seguros.

Nixon: Ótimo. Eu fiquei preocupado...

Faço uma careta.

Eu: Por quê?

Nixon: Por causa de quem ela é. Ela é uma tentação para os russos, uma tentação para os cartéis, ela é uma tentação para os De Lange. Parte de mim acha que seria melhor matá-la do que protegê-la.

Seguro o telefone com tanta força que ele quase se parte num milhão de pedaços na minha mão.

Eu: Eu cuido disso.

Nixon: Nunca disse que você não o faria. Só que precisamos pensar nas famílias. Eles já provaram que estão dispostos a atacar por todos os lados pelo sangue dela.

Eu: O sangue dela não é deles.

Nixon: Eu sei. Mas só podemos protegê-la por certo tempo...

Eu: Então a mandamos embora. Nós a entregamos ao FBI para o programa de proteção a testemunhas.

“Sem mensagens de texto durante a noite de cinema!” Renee ri e tenta pegar meu telefone. Mantenho o aparelho longe e me levanto.

“Isso não é brincadeira, Renee!” Grito com frustração e medo por ela. “Este é meu trabalho. Esta é a sua vida. Então, se eu tiver que responder a uma porra de mensagem durante uma merda de filme, eu farei isso!”

Seu rosto desmorona.

Merda!

Eu continuo me descontrolando.

Fazendo tudo errado quando tenho as intenções certas.

“Desculpe”, eu murmuro. “Estou apenas sob muito estresse.”

“Por minha causa?”

Eu engulo em seco, olhando para sua garganta em vez de sua boca.

“Acho melhor eu ir para a cama”, ela diz em voz baixa, correndo mais do que andando para fora da sala de cinema.

Faço um pequeno círculo e jogo meu celular no sofá, apenas para pegá-lo novamente e ler a próxima mensagem de Nixon.

Nixon: Você está certo. Vamos lidar com isso dia após dia. Por enquanto, certifique-se de que ela esteja feliz e segura.

Feliz?

Por que minha mente vai imediatamente para dormir com ela para fazê-la feliz?

Como se isso fosse consertar tudo e não piorar as coisas?

Eu: Está feito.

Nixon: Tenha uma boa noite.

Quase sorrio. Uma boa noite sozinho com uma mulher que não posso tocar? Não é provável.

Abaixo a cabeça e vou procurar a mulher que me persegue dia e noite.

Olho em meu quarto primeiro.

Franzo a testa quando ela não está lá.

Então passo os próximos trinta minutos apavorado enquanto vasculho a casa inteira e, finalmente, corro para fora.

Solto um suspiro de alívio quando a vejo sentada de pernas cruzadas sob um dos grandes carvalhos no quintal. Toda a propriedade é cercada.

Não significa que as pessoas não podem entrar.

Especialmente se somos um alvo fácil do lado de fora.

“Que diabos!” Eu grito, sem perceber o quão assustado me sinto até este momento, quando deveria ser capaz de controlar minhas emoções e não consigo.

Ela estremece ligeiramente e se vira. “O que?”

“Nunca!” Coloco minha arma de volta no coldre. “Nunca mais se esconda de mim. Não me importo se está chateada, triste ou precisa de espaço. Eu sou seu espaço. Eu sou seu tudo. Você não foge e faz beicinho, entendeu?”

Seus olhos estreitam. “Você me deixou chateada, então vim dar uma volta no pátio da prisão!”

“Você é tão mimada!” O medo me agarra, isso e o fato de que não posso tocá-la, não posso contar por que é tão importante mantê-la segura. “Olhe a sua volta! Você acha que quero que fique presa aqui? Acha que gosto do fato de você não poder ir à faculdade? Não posso controlar isso, mas posso controlar como mantê-la segura. Deixe-me fazer meu trabalho antes que eu enlouqueça!”

“Eu te enlouqueço, hein?”

“Isso é o que você ouviu dessa conversa sincera?”

“Oh, isso foi uma conversa sincera? Deve ter me distraído com todos os gritos.” Ela cruza os braços e me encara.

Abaixo a cabeça e corro a mão pela nuca. “Achei que algo tivesse acontecido com você.”

“Eu estou segura.”

“Eu não sabia que você estava segura”, sussurro, dando um passo cauteloso em sua direção. “Preciso saber que você está respirando... fico louco quando não consigo te ver.”

Ela sorri para mim. “Porque gosta de observar a babá?”

“Não.” Balanço a cabeça e levanto seu queixo. “Eu amo observar a babá.”

Eu não estou pronto.

Não estou preparado.

Sou um soldado.

Um assassino.

É inesperado que alguém me toque. Que me seduza.

Então, quando ela fica na ponta dos pés, não penso no que acontecerá.

Talvez eu não queira pensar.

Então ela pressiona sua boca na minha.

Eu ainda estou em choque.

Até que reajo.

Violentamente.

Eu a empurro contra a árvore e agarro seus quadris com as mãos. Traço pequenos círculos com os polegares contra seus quadris. Descaradamente devoro seus lábios, engolindo cada gemido e me perco.

Eu me perco.

Ou talvez, pela primeira vez em anos, eu finalmente me encontro.


CAPÍTULO VINTE

RENEE

Eu sinto seu medo.

Ele se mistura com a luxúria.

Com seu desejo.

Eu o quero.

Então o pego.

Porque esperar que ele exploda é como assistir alguém queimar lentamente por dentro até incendiar tudo ao seu redor. Ele sente a atração. Somos calor, somos indomáveis, somos gananciosos.

Vic agarra a frente da minha camisa e a rasga com a mão direita. Engasgo quando ele expõe meu sutiã e então o rasga também, como se eu pudesse sair e comprar outro igual.

Seria mais fácil se ele fosse desajeitado...

Se ele não soubesse exatamente o que faz quando sua língua desliza pelos meus lábios e provoca cada centímetro da minha boca.

Mas ele sabe.

Ele conhece meu corpo melhor do que eu mesma.

Eu me inclino para seu toque.

Ele responde me levantando com um braço e apoiando contra a árvore, correndo sua boca perversa por meu pescoço e lambendo um mamilo, apenas para ir para o outro como se ele tivesse esperado para fazer isso o dia todo.

Cada gemido é engolido por um beijo profundo.

Mais, mais, mais.

“Você é ruim para mim”, ele sussurra contra meu pescoço. “Eu te quero de qualquer maneira.”

“Você é ruim para mim”, admito. “Vou levá-lo de qualquer maneira que eu puder.”

Ele resmunga contra minha boca e a vibração causa arrepios na minha espinha. Abruptamente, ele se afasta.

Quero protestar, dizer a ele para não correr.

Não preciso fazê-lo.

Ele me joga por cima do ombro como se eu não pesasse nada e me carrega para dentro da casa, fechando a porta atrás de si e trancando-a para manter os bandidos fora, ou talvez para manter o pior de todos eles...

Dentro.

Ele me joga no sofá mais próximo e me ataca. Sua boca me possui e seu corpo me sufoca até que tudo que vejo é ele.

O cheiro de Vic.

Seu gosto.

Seu peso contra mim.

Eu abro a boca enquanto ele aprofunda o beijo. Suas mãos ásperas seguram meus seios, pesando-os, apertando, enquanto ele chupa minha língua e prende-a entre os dentes.

Com o coração acelerado, não consigo sequer formar um pensamento lógico além de quão gostoso ele é e quão quente sua pele está.

“Isso acontecerá somente uma vez.” Ele se afasta abruptamente. “Prometa-me.”

Eu engulo em seco.

“Renee.” O que me convence é seu tom, o som do meu nome saindo de seus lábios como se ele fosse torturado por dizê-lo... por mim. Conheço esse tipo de tortura, sei o que é beijar meu inimigo e querê-lo na minha cama.

Eu me odeio por querer o assassino.

“Renee.” Sua testa toca a minha, seu peito arfa para cima e para baixo, seus olhos queimam como fogo e seu toque é quase doloroso quando ele agarra meus ombros. “Por favor.”

“Sim”, eu sussurro. “Apenas uma vez, a menos que você decida o contrário.”

Ele me dá um beijo de boca aberta no meu pescoço. Mordo o lábio inferior para não gritar seu nome quando ele chupa minha clavícula e arrasta a boca ao longo do meu peito, deixando um rastro de desejo por onde passa, até que ele para no meu umbigo.

Eu espero.

Ele lentamente levanta a cabeça e sorri.

Quase tenho um orgasmo somente com esse sorriso.

Ele usa as duas mãos.

Ambas agarram meu short.

Ambas puxam o tecido enquanto ele sorri.

Seus dedos afundam em minha pele enquanto ele puxa o short pelas pernas, levando minha frágil calcinha junto.

Seus olhos permanecem nos meus o tempo todo enquanto seus dedos roçam minha pele.

Engulo em seco quando ele levanta meus quadris com as duas mãos e num rápido movimento puxa todo o meu corpo para baixo do sofá como se ele estivesse pronto para me devorar.

Nunca vi esse lado dele.

É predatório.

Focado.

Não em matar.

Não em seu trabalho.

Mas em mim.

Solto um grito quando ele abre minhas pernas. Não há aviso, nem hesitação. É uma ação seguida por outra ação, e Deus me ajude se ele sorrir novamente.

“O que está fazendo?” Eu pergunto.

“Precisa de uma descrição detalhada?” Ele pergunta com a sobrancelha arqueada.

“Não me dê esse sorriso arrogante.” De alguma forma, consigo pronunciar as palavras.

“Sorriso arrogante?” Ele franze a testa. Graças a Deus, seu sorriso não é mais visível.

“Sim.” Basicamente pare de ser sexy e irresistível. Por favor.

Ele abaixa a cabeça entre minhas pernas. Ainda posso ver seus olhos sobre meu sexo. O que ele espera? E por que estou descaradamente me exibindo a ele?

Pelo menos as luzes estão fracas.

Mas não fracas o suficiente para que eu não possa ver todas as suas expressões.

“Talvez...” Seus olhos nunca deixam os meus. “Talvez eu tenha um motivo para me sentir arrogante.”

“Ah, sim?” Não consigo acalmar meu coração. Minhas pernas começam a tremer com antecipação, minhas coxas já estão tensas. Cada parte minha está preparada e tudo o que ele fez foi sorrir maliciosamente enquanto tirava meu short.

Estou com sérios problemas.

“Sim.” Ele fica sério, e posso jurar que o tempo para enquanto seus lábios se separam e ele me encara. Ele abaixa a cabeça. Um suspiro assustado escapa da minha boca quando ele não desvia o olhar.

Não, ele me observa.

Ele. Observa.

Enquanto me devora.

Enquanto move a boca sobre cada centímetro da minha buceta, enquanto pressiona os dedos contra cada centímetro sensível. Seus olhos nunca deixam os meus.

Não consigo controlar as ondas de prazer ou a forma como meu corpo tenta se aproximar mais.

Fecho os olhos por um segundo.

Ele para.

Quando os abro, ele pisca e o prazer está de volta.

“Nunca...” Sua boca vibra contra minhas coxas. “Nunca tire os olhos de mim.”

“Isso é um fetiche?” Tento brincar e amenizar o momento me dando uma trégua antes de explodir.

“Não é um fetiche querer te ver descontrolada por causa da minha boca, por causa das minhas mãos. Não é um fetiche quando um assassino quer ver como é criar vida... em vez da morte.” Seus olhos fixam nos meus com tanta intensidade que não consigo respirar. “Vejo vida em seus olhos quando te toco.”

“Eu não sei o que dizer”, sussurro numa respiração instável.

“Peça-me para tocá-la. Peça-me por mais...” ele se move até que está em cima de mim, minhas pernas de cada lado de seu corpo. Como ele ainda está vestido? “e diga meu nome.”

“Vic.” Minha voz treme enquanto ele rouba beijo após beijo. “Vic.”

Ele começa a tremer em meus braços como se ouvir seu nome em meus lábios fosse mais prazeroso que o melhor sexo.

E talvez, para alguém como ele, seja.

“Vic.” Digo seu nome novamente para mim, não para ele, para memorizar em minha cabeça e em meu coração que este é Vic. O mesmo Vic que não deveria fazer sexo, o mesmo Vic que jurou proteger as famílias, o mesmo Vic que jurou me proteger.

O assassino do meu pai.

Com as mãos trêmulas, acaricio seu peito, tirando a arma do coldre e gentilmente a coloco no chão. Sua respiração acelera quando puxo sua camiseta preta sobre a cabeça.

Nada poderia ter me preparado para o homem por baixo da camisa.

Para as tatuagens que cobrem cada centímetro de pele em seu peito e ombros.

Ou para os ferimentos de faca que as tatuagens cobrem.

Ele autoriza minha exploração com um simples aceno de cabeça, como se meus dedos tocando suas feridas as trouxessem de volta à vida. Começo a abrir suas calças; ele me ajuda a puxá-las para baixo. Então sinto-o nu, cada centímetro duro.

Ele fecha os olhos com força quando minha mão o toca, e então segura meus pulsos. “Isso vai acabar cedo demais.”

“Foi você quem disse ‘uma vez’”, eu o lembro.

Seus olhos me queimam. Talvez ele vá dizer algo, talvez não. Seus lábios se separam e então ele me beija, quase violentamente.

Eu gosto.

Gosto de sua agressividade.

A maneira como ele coloca todo seu corpo e alma no beijo... como se ele não tivesse uma segunda chance para fazer isso, então tem que fazer tudo certo na primeira e única vez.

Não consigo acompanhar.

Eu o beijo em resposta, machucando a boca no processo. Ele agarra meu cabelo com a mão direita e segura minha bunda com a esquerda, dando-me o ângulo perfeito para sentir a cabeça de seu pau.

“Por favor”, eu imploro. “Por favor, Vic.”

Ele solta um rosnado animalesco antes de me penetrar tão rápido e forte que quase paro de respirar.

Ele não se move.

Seguro seu rosto entre minhas mãos. Ele me olha como se eu fosse seu mundo... nunca fui olhada dessa forma.

Lágrimas enchem meus olhos quando ele abaixa a cabeça e dá o mais suave dos beijos contra minha boca. Ele move os quadris e engole meu gemido enquanto me agarro ao seu corpo como se fosse minha tábua de salvação.

Eu o abraço, sinto seu corpo tremer ao meu redor como se ele tentasse se segurar, mas não pudesse durar tanto quanto deseja.

“Renee”, ele murmura meu nome e escolho acreditar que isso sempre estará em seus lábios. “Eu nunca...” ele se empurra tão fundo que eu grito. O prazer é demais. “Fique comigo...” eu balanço a cabeça. “Você está tão perto...” agarro seus ombros, afundando as unhas na pele. “Deus, suas coxas podem matar um homem...” ele ri contra meu pescoço.

É o som mais lindo que já ouvi em toda a vida.

É o que me leva ao limite.

O que me liberta.

Sinto tanto prazer em sua risada quanto com seu corpo.

“Vic...” Eu toco seu rosto. “Entregue-se.”

“Não... Eu não posso...” Vejo a guerra em seu rosto. Mas momentos não podem durar para sempre, certo?

“Vic.” Meu corpo pulsa e então ele entra em mim novamente, aumentando meu prazer até um nível insuportável. Fico tão chocada que não posso me controlar. Ele grita... enchendo-me com cada parte sua, e eu avidamente aceito tudo, chateada por não poder ter mais.

E quando os tremores secundários me levam cada vez mais alto, quando ele se afunda dentro de mim e eu gozo novamente, eu sei que nunca sentirei o mesmo prazer nos braços de outro homem.

Do meu... assassino.


CAPÍTULO VINTE E UM

VIC

Espero que a culpa me atinja.

Em vez disso, meu cérebro está muito preocupado com o fato de que ao meu lado tenho a babá de Nixon nua no sofá.

O que falar de más decisões...

É o mesmo que concordar em fazer aquela maldita promessa e entrar para os negócios da família em primeiro lugar.

Corro a mão pelo rosto e me viro para Renee. Tudo que vejo são suas curvas suaves e sorrisos leves.

Isso faz meu estômago revirar.

O fato de que ela nunca deveria ter me deixado tocá-la, quanto mais... Estendo a mão, toco seu lábio inferior e, em seguida, seguro seu pescoço e puxo-a para um beijo. Eu não posso evitar. Ela tem gosto de vida.

Ela me faz sentir menos como morto.

“Você está sorrindo”, ela sussurra com admiração.

Faço uma careta. “Estou?”

Ela me bate de leve no braço. “Você estava e agora estragou tudo.”

Eu suspiro, beijo-a novamente e digo: “Talvez você me faça sorrir.”

“Isso me torna uma encantadora de demônios?” Ela se aproxima até que não tenho escolha a não ser abraçá-la até que estamos peito a peito.

Eu beijo sua testa. “Acho que isso me torna o demônio neste cenário.”

Ela encolhe os ombros.

“Hah.” Sorrio novamente. É alarmante o quão difícil é fazer isso, ou pelo menos o quão difícil costuma ser, mas não com ela em meus braços. Nunca com ela em meus braços. Ela é a luz do sol no meu inferno. “Você está...” eu lambo os lábios. “Você faz...”

“Pare.” Ela cobre minha boca com a mão. “Sinto-me fantástica, embora um pequeno aviso seja bom da próxima vez, então eu me lembrarei de respirar.”

Eu faço uma careta. “O que quer dizer com lembrar de respirar?”

Suas bochechas ficam rosadas. “Você não é um... Homem pequeno.”

Solto uma risada enferrujada. “Acho que isso é um elogio?”

“Tente não deixar que suba para a cabeça.” Ela prende o lábio inferior entre os dentes. Deus, eu faria qualquer coisa para prová-la novamente, para nunca parar de possuí-la.

Eu encaro sua boca.

Em seguida, acaricio sua bunda.

“Você é tão gostosa.”

Ela estremece.

Eu faria qualquer coisa por esta mulher.

Eu iria protegê-la.

Eu morreria por ela.

Eu poderia...

Sinto meu corpo inteiro ficar tenso. “Porra.”

“O que?”

“Porra!” Fecho os olhos com força. “Sinto muito, Renee. Merda!” Eu não consigo olhá-la.

“O que? O que está errado?” Ela segura meu rosto.

Eu cerro os dentes. “Eu deveria estar te protegendo e nem pensei em usar um preservativo! Porra, vou levá-la ao médico e...”

“Vic?”

“O que?” Meu estômago revira.

“Primeiro, eu não sou estúpida...”

“Eu não disse...”

Ela pressiona um dedo em meus lábios. Inferno, ela está me calando? Estou sorrindo novamente? Droga, os caras vão suspeitar de algo se eu não parar com essa merda. Principalmente Nixon.

“Quero dizer”, ela continua, “que mesmo que você exale sexualidade e dominação...”

Agora estou definitivamente sorrindo.

Seus olhos estreitam. “Retiro o que disse sobre esse sorriso.”

“Muito tarde.” Gargalho quando uma expressão atordoada cruza seu rosto. E então ela está balançando a cabeça.

“Como estava dizendo...” Renee engole em seco e olha para minha boca com fascinação. “Eu não sou estúpida e tomo a pílula. E você disse que não esteve com ninguém em três anos, então... acho que estamos bem.”

Um suspiro sai de meus pulmões. “Você confia tanto na minha palavra? E se eu escorreguei durante esses três anos? E se eu escorreguei no clube na outra noite?”

“Então você não dormiria comigo”, ela diz em voz baixa. “E homens como você não escorregam...”

“E ainda assim.” Eu gemo. “Sinto muito, Renee. Eu não estava pensando. “

“Bom”, ela diz suavemente. “Você pensa demais.”

Ela acaricia minhas costas e, em seguida, apoia a cabeça no meu peito. Brinco com seu cabelo enquanto ela percorre as unhas para cima e para baixo nas minhas laterais. Algo molhado atinge meu peito. Quando olho para baixo, duas lágrimas rolam por seu rosto.

“Meu pai era um homem mau?” Sua voz soa tão baixa, tão inocente. Deus, eu não deveria sequer tocá-la.

“Ou nós o matávamos sem tortura, ou os russos faria durar semanas... Ele era assim porque pedimos que fosse. Ele tinha que jogar dos dois lados e sabia que se algum dia fosse pego...” eu xingo. “ele sabia o que aconteceria.”

“E você...”

“Não me faça falar sobre isso. Não quando estou segurando a filha dele...” Quase gaguejo quando digo filha. “em meus braços.”

“Ok.” Ela funga.

Abraço-a com força e fecho os olhos. “Em três minutos... as coisas voltarão a ser como antes. Elas tem que voltar.”

Renee se agarra a mim com mais força.

Eu amo pra caralho a maneira como ela cola o corpo no meu, como se dissesse: Você não pode me obrigar.

E eu não quero me afastar.

Mas ninguém pode saber.

Nunca.

Isso não está na promessa que fiz.

E não sou bom o suficiente para tocá-la, muito menos dormir com ela.

Observo o relógio na sala.

Observo-o com o peito apertado.

E lentamente, conforme os segundos passam, sinto meu corpo enrijecer. Eu afasto o sorriso, propositalmente apagando as memórias de seu gosto do meu cérebro e me agarrando a apenas um último pensamento.

A maneira como ela disse meu nome.

Manterei essa lembrança.

Mas todo o resto... eu preciso esquecer.

Mas me lembrarei de que uma vez, alguém me fez sentir menos como um monstro e mais como um ser humano, apenas pela forma como meu nome saiu de seus lábios.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

RENEE

Eu durmo sozinha.

Mas sei que ele está me observando.

Todas as noites ele me observa.

Mesmo depois de eu voltar a cuidar das crianças no início da manhã, ele nunca sai do meu lado.

E isso está me enlouquecendo.

Passaram-se cinco dias desde o sofá.

Cinco dias entrando e saindo daquela sala, olhando para o sofá de couro onde ele me despiu. Onde ele me fez gritar, me fez repetir seu nome.

“Você está bem?” Uma voz masculina me tira da onda de luxúria. Viro e sorrio enquanto Chase me olha como se soubesse de algo. “Parece nervosa.”

“Sim, bem, todos estão nervosos.” Dou de ombros bem quando Vic entra.

Chase abaixa a voz. “Sim, em mais de uma maneira.”

Um calor abrasador inunda minhas bochechas.

Chase estica os lábios em um sorriso conhecedor. “Foi o que pensei.”

Vic para na frente das janelas e depois vira para nos encarar. Não posso evitar minha reação mais do que posso evitar respirar. Seus olhos escurecem enquanto ele me encara.

Ao meu lado, Chase pigarreia. “Ele te observa muito... intensamente.”

“Talvez ele apenas seja bom no que faz.”

“Ele é bom em seu trabalho”, Chase admite. “Quando não está distraído. E o mais chocante é que ele não se distrai faz... cinco dias ou mais, eu diria?”

Eu cerro os punhos e olho para frente.

“Mas quem está contando?” Chase boceja. “Você é sempre bem-vinda em nossa casa.”

Eu viro a cabeça em direção a ele. “O que isso significa?”

“Se Nixon decidir te expulsar.” Ele encolhe os ombros. “Nossa porta está aberta.”

“Por que ele me expulsaria?”

Chase olha para Vic. “Por que?” Ele coloca a mão no meu ombro. “A atuação dele é melhor do que a sua... controle-se, babá.”

Pressiono as palmas em minhas bochechas quentes. “Excelente. Simplesmente ótimo.”

Chase pisca e se afasta com um assobio, como se ele não fosse um dos homens mais irritantes que já tive o desprazer de conhecer. Ele carrega a escuridão consigo, mas todos os homens o fazem. É como se houvesse um peso gigante em seus ombros, que eles mantêm lá para se punir propositalmente pelos pecados que cometeram.

Eu encaro o sofá novamente, em seguida, olho para cima.

Vic me flagra.

Sua expressão suaviza.

Ótimo, agora ele está me olhando com pena. Ele é um assassino!

Eu estou bem.

Completa e totalmente bem.

Engulo a bola de tênis que se aloja em minha garganta e lhe dou as costas.

Que se dane o jantar em família.

Sei que eles querem me incluir, mas preciso ficar sozinha. E Chase falar que não sou capaz de me controlar? Bem, isso não é um bom sinal, certo?

“Para onde está indo?” Nixon para bem na minha frente.

Merda.

“Eu vou, hum, só lavar as mãos... Antes do jantar”, eu minto.

Ele inclina a cabeça. “Tex acaba de entrar lá com Mo. Pode demorar alguns minutos, use a pia da cozinha.”

Eu faço uma careta.

Nixon esboça um sorriso. “Eles não conseguem manter as mãos longe um do outro, e se continuarem fazendo isso sob meu teto, vou usar Tex como tiro ao alvo. Ainda não sei o que minha irmã vê nele.”

“Tex sabe disso?”

“Oh, o passatempo favorito dele é me irritar. Um dia vou lhe arrancar um dedo. Espero por isso com mais entusiasmo do que deveria.”

E com isso, sou conduzido para a cozinha, onde tento lavar as mãos sem pensar em Vic.

Onde tento acalmar meu coração acelerado enquanto as pessoas se sentam ao redor da grande mesa.

Cadeiras são arrastadas.

Eu espero.

Porque os chefes sempre sentam primeiro. Sempre de forma a proteger os outros ao seu redor. Cada chefe foi designado a um membro da família para ficar na frente, caso haja um tiroteio.

E como moro sob o teto de Nixon, por alguma razão que ainda não me contaram, a não ser que meu único futuro será como babá de seus filhos e nunca terminar minha graduação, engulo a pílula amarga e a aceito.

Estou prestes a me sentar quando Trace entra e se senta ao lado de Nixon. Eu espero mais um tempo. Desta vez, num borrão de atividade, todos se sentam e sou a única em pé. Até mesmo Tex e Mo já saíram do banheiro e estão aqui.

Sobra um assento.

Ao lado de Vic.

Para piorar as coisas, o sorriso de Chase não me faz sentir confiante o suficiente que não deixarei transparecer que fizemos sexo e assim acabar matando Vic. Uma promessa não é uma coisa pequena na máfia e uma vez que se faz uma, basicamente tem que ir até o fim. Sangue entrando, não saindo. Você nunca estará livre. Somente se morrer. Eu suspiro pesadamente.

Pelo menos Mo está à minha esquerda e Vic à minha direita.

Eu posso fazer isso.

“Chase, você faz a oração”, Nixon ordena.

O sorriso de Chase aumenta em proporções épicas enquanto ele me encara. “Claro, vou fazer uma oração extra para que Deus perdoe a todos por nossos pecados...”

Se eu pudesse chutá-lo e não levar um tiro, eu o faria.

Em vez disso, eu o encaro.

O assassino quase sempre sombrio parece emocionado por me provocar, como se fosse a maior diversão que ele tem em anos.

Sua esposa, Luc, lhe dá uma cotovelada e me lança um olhar de desculpas.

A parte chocante é que ele realmente ouve.

E então envolve um braço volumoso ao redor dela e a puxa para perto.

Sua oração é curta.

Não me lembro de nada.

Até meu nome é confuso.

Porque posso sentir o cheiro de Vic.

E quero comê-lo.

Não a comida.

Preciso controlar meus pensamentos, não é? Isso é o que preciso fazer.

A comida é servida.

É noite do taco, o que faria minha avó siciliana revirar no túmulo. Segundo minha mãe, não se come tacos durante o jantar em família. Mas quando se tem filhos, você vai sacrificar uma vaca sagrada só para que comam e parem de tentar sobreviver somente do ar. Não é como se alguém nessa mesa fosse religioso de qualquer maneira.

Tex pega um pãozinho e o joga sobre a mesa. Dante o agarra com uma mão. “Muito lento, meu velho.”

Sergio ri enquanto Tex pega uma faca e aponta na direção de Sergio. “Quer ver se eu erro?”

“Se importa se eu envenenar seu vinho?” Sergio diz isso com muita calma, mas sei que ele o fará só para ver Tex cagar nas calças ou fazer algo igualmente embaraçoso. Esses caras não conhecem a palavra limite. É uma família forjada por sangue, pela perda e por tanto amor que quase parece normal brigar e apontar armas para provar sua opinião. Família e Deus. Eles governam com punhos de ferro, eles amam ainda mais do que matam.

Fico surpresa que facas são permitidas na mesa depois do mês passado, quando os chefes começaram a discutir por causa de tatuagens.

“Renee.” Nixon falar comigo durante o jantar raramente acontece. Eu não falo a menos que seja solicitado. “Sua mãe ligou.”

“Ela ligou?” Solto um suspiro de alívio. “Posso ir para casa em breve?”

A mesa fica em silêncio.

“Na verdade...” ele limpa a garganta. “Ela decidiu ficar um pouco mais em Vegas.”

“Quanto tempo?” Minha pele é dominada por arrepios. Algo não está certo. “Uma semana?”

“Alguns meses.” Ele encolhe os ombros como se não fosse grande coisa. “Além disso, você está mais segura aqui.”

Eu quase bufo. De quem? Do que?

“Mais segura.” Repito suas palavras e decido que as odeio. “Mais segura de...?”

“Pessoas”, Nixon responde num tom brando. “Pessoas com armas que gostam de apontá-las para outras pessoas.”

“Você acaba de descrever cada um nesta mesa!” Eu não quis levantar a voz. Ele deve estar surpreso porque suas sobrancelhas arqueiam.

Ele solta um suspiro. “Confie em nós.”

“Não quero estragar o jantar em família, senhor.” Tento ser respeitosa. “Mas por que diabos você não está me contando tudo?”

“Porque não mudará as coisas. Porque conhecimento é poder. E porque dar a você esse poder a tornará ainda mais um alvo. Você não pode dizer o que não sabe.”

Eu suspiro. Odeio que ele tenha razão.

Odeio que o cara seja, o quê? Cinco anos mais velho do que eu com um piercing no lábio e tatuagens o suficiente para cegar uma pessoa, e ele manda em mim como se tivesse o direito.

Porque ele tem.

Máfia estúpida.

“Então...” Chase nos interrompe. “Vic, aposto que ficou entediado na outra noite, quando todos saíram e você ficou de babá.” Ele coloca um pedaço de pão na boca e sorri para mim.

Vic encolhe os ombros. “Nada emocionante.”

“Mesmo?” Chase diz. “Nem mesmo a faca que joguei em seu rosto?”

“Você errou.” Vic encolhe os ombros. “Como eu disse, nada emocionante.”

“Por que você jogou uma faca no rosto dele?” Luc dá um tapa em seu braço.

Chase apenas encolhe os ombros. “Porque eu posso?”

“A pior lógica do mundo”, Mo murmura baixinho, ganhando uma risada das outras mulheres na mesa.

“Mas é verdade.” Chase pega um taco. “Certo, Vic?” Ele resmunga. “Você sabe que parte do corpo os tacos me lembram?”

“Chase.” A voz de Nixon é cheia de exaustão e um leve tom de advertência.

Vic parece minimamente afetado.

E então eu o olho.

Ele segura a cadeira com tanta força que os nós dos dedos estão brancos, os músculos do antebraço tensos enquanto ele se controla e mantém a expressão vazia no lugar.

Cubro levemente sua mão com a minha, breve o suficiente para ser eficaz e discreta o bastante para não complicar nossa situação.

Ele suspira como se precisasse da minha permissão para relaxar.

E minha mão vibra com a sensação de tê-lo tocado durante todo o resto do jantar.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

VIC

Eu me encaro no espelho do banheiro, segurando a pia com as duas mãos para apertar algo que não seja a garganta de Chase. Ele sabe que estou pronto para desistir.

Ele vê nos meus olhos.

E então, chama a atenção para isso.

Ou talvez seja apenas a tentação de estender a mão e segurar a dela.

Droga, o cara é irritante!

Respiro fundo e vou até a porta para abri-la. Renee está com a mão no ar como se estivesse pronta para bater.

“Desculpe”, eu resmungo. “É todo seu.”

“Não, quer dizer, eu só vou me refrescar e...”

Fecho meus olhos e suspiro. “Bem, vá em frente.” Eu a evito apenas para que ela tente me contornar ao mesmo tempo, parecendo que fazemos uma dança estranha. Nossas roupas se roçam.

“Porra.” Agarro seu pulso, segurando-a lá.

Segurando-a onde posso sentir seu cheiro.

Fecho os olhos e respiro fundo, meus olhos reviram para a parte de trás da cabeça quando o cheiro dela toma conta de mim. E ainda seguro seu pulso.

“Vic.” Solto a mão dela ao som da voz de Nixon e saio pisando forte.

“Sim?” Ele está no escritório.

“Não diga a ela, ainda não. Sei que ela pode ser... Convincente.” Ele engole em seco. “E ela é inocente o suficiente para te fazer compartilhar detalhes, mas não fique tão perto a ponto de esquecer seu propósito de observá-la.”

“De mantê-la viva.” Eu concordo.

“Para seu noivo na Sicília.” Ele afunda a faca mais fundo, torce, torce e torce um pouco mais.

“Sim”, eu resmungo. “Para seu noivo.”

“Bom.”

Sou dispensado, exceto que... “Nixon? Você dará a ela um quarto?”

“Ela está mais segura no seu apenas por precaução... A menos que esteja se tornando um problema... Observá-la?”

Nunca. “Eu cuido disso.”

“Tudo bem então.”

Eu me repreendo durante toda a caminhada de volta para meu quarto e novamente quando chego bem a tempo de vê-la bocejar e esticar os braços sobre a cabeça. Aquela regata branca frágil não engana ninguém. Como isso é considerado uma camisa? Entro no quarto, sento na cadeira de costume e pego um livro. Olhar para ela me faz querer arrancar suas roupas com os dentes com Nixon a poucos metros de distância.

Eu limpo a garganta.

Duas vezes.

E então levanto os olhos quando a luz não é apagada.

Ela está me olhando.

“O que está fazendo?” Fecho o livro.

Ela dá de ombros. “Observando o guarda-costas.”

Meus lábios se contraem. “Deve ser chato.”

“Ele é muito bonito de se olhar”, ela sussurra. “A mandíbula mais definida que já vi, olhos azuis intensos que cortam uma pessoa, músculos esculpidos em seu corpo duro como pedra, é melhor do que assistir as Kardashians, com certeza.”

“Uau, sinto-me aliviado”, digo impassível.

Ela apenas sorri mais amplamente, me forçando a experimentar sua alegria, mesmo quando estou decidido a ignorá-la.

Ela é uma chama, não é?

E eu sou uma porra de uma mariposa estúpida.

“Você precisa que eu apague a luz?” Eu me levanto e caminho até a porta, parando apenas um segundo antes de apertar o interruptor. Minha mão paira perto da fechadura da porta.

A tentação pulsa e provoca; implora, me arranha, grita por mim. Eu ignoro e me sento, agora envolto pela escuridão, o livro já esquecido.

“Ei, Vic?” Renee me chama.

“Sim?”

“Você está observando?”

Essas três palavras.

São minha ruína.

Posso sentir no ar enquanto fixo os olhos nela e a observo mover os dedos sob as cobertas. Eu respiro fundo, incapaz de desviar o olhar.

Seus quadris levantam da cama.

E então ela está tirando o short debaixo das cobertas e jogando-o no chão.

“Você está observando?” Ela repete.

Estou paralisado.

Congelado.

Excitado.

Ela afasta as cobertas do corpo e passa as mãos pelos seios que se esticam contra a regata branca.

Ela me observa enquanto eu a observo.

E então ela desliza uma mão pela barriga, descendo mais e mais.

Não me lembro de me mover.

Eu estava na cadeira.

E então minha boca toma a dela num beijo punitivo. “Nunca.” Aperto sua bunda. “Toque-se sem me deixar te tocar primeiro.”

“Com ciúmes?” Ela pergunta.

“Foda-se, sim.” Viro-a de bruços e corro as mãos pelas curvas de seu corpo. Eu posso adorá-la assim. “Você é tão bonita.”

Ela pertence a outra pessoa.

Nixon pode entrar.

Eu fiz um juramento.

E decido ignorar esses pensamentos. “Tão. Perfeita.”

“Tire as roupas.” Ela não tem que implorar, já estou deslizando as calças pelos quadris, pulsando com a necessidade agressiva de reivindicá-la na minha cama, contra meu colchão.

Minha.

Eu a viro de costas e abro seus joelhos, então, coloco a mão sobre sua boca. “Shhhhh.”

Ela acena com a cabeça. Seus olhos estão selvagens.

Eu a penetro com um impulso suave que a faz morder minha mão. Eu não me afasto. Deixo-a morder, deixo-a tirar sangue, apenas não a deixo gritar.

Mesmo que seja o som mais bonito do mundo, ela gritando meu nome enquanto chega ao clímax.

Esse não é nosso futuro, certo?

Meu corpo estremece quando ela tem um espasmo ao meu redor. Porra, posso sentir seu batimento em cada pulso, em cada impulso.

Isso grita meu nome quando suas palavras não podem.

E eu respondo da única maneira que posso.

Acelero os movimentos enquanto ela corresponde implacavelmente ao meu ritmo com seus quadris. Não há nada de cuidadoso no que fazemos, nada lento.

Não temos esse luxo, certo?

Todas as razões pelas quais não podemos estar juntos foram esquecidas no minuto em que ela se tocou, no minuto em que ela me perguntou se eu estava observando.

Inclino-me e gemo contra seu pescoço, meus lábios encontrando os dela num beijo frenético. Eu desacelero o ritmo para prolongar o momento, para desejar tê-lo por uma eternidade que sei que nunca existirá, exceto nos momentos em que ela é minha, quando estou dentro dela, quando meu nome bate sai de seus lábios.

Ela me agarra como se precisasse de mim mais perto. Movo-me mais fundo, ganhando outro suspiro antes dela gozar.

Não estou muito atrás.

Encaramos um ao outro, com o peito arfando.

O cheiro de sexo enche o ar.

Palavras não ditas pairam entre nós.

Eu beijo sua testa.

Lágrimas enchem seus olhos.

Eu beijo suas bochechas. E então a deixo na cama usando todo o controle que possuo. Sinto-me mais velho do que meus trinta anos quando me aproximo da cadeira, sento e faço meu trabalho.

“Você vai me observar, Vic?” Ela pergunta com a voz sonolenta.

“Sempre”, eu resmungo, incapaz de esconder a emoção em minha voz.

“Talvez um dia você não precise fazer isso.”

“Talvez”, digo, dando-lhe falsas esperanças. Fazendo-a pensar que é possível que a história termine de forma diferente se ela apenas desejar o suficiente. Eu mentiria para ela a qualquer momento, porque a verdade vai destrui-la.

A verdade sobre seu nascimento.

A verdade sobre seu passado.

Sobre seu futuro.

Eu não quero contar nenhuma delas.

Então, eu mentirei.

Porque pelo menos na mentira, ela estaria em meus braços.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

RENEE

Eu estou errada.

Mas não me importo.

Na verdade, estou longe de me importar.

Não a ponto de nos expor e colocar Vic em apuros, mas a ponto de minha necessidade por ele superar toda razão e lógica. Isso me faz justificar minhas ações da pior maneira.

Meu dia passa tão devagar que penso que enlouquecerei e, com o passar dos dias, as crianças viram pequenos tiranos, e quando chega a hora do jantar, eu só quero ir para a cama cedo e ver um filme.

Quando entro no quarto de Vic, vejo uma luz acesa e um prato de comida esperando na mesa de cabeceira.

Ao lado dele está meu laptop aberto com a Netflix já na página da web.

Eu sorrio.

E então o sorriso desaparece.

Isso não é um encontro.

Ele não vai ficar comigo.

Ele simplesmente fez algo bom.

Porque está cumprindo sua promessa. Ele nunca estará ao meu lado, e parte de mim entende o porquê. Só não quer aceitar.

Subo em sua cama e começo a comer assim que alguém para no meio da porta.

“Vic.” Digo seu nome como se fosse minha palavra favorita, e talvez seja. “Obrigada pela comida e pelo filme...” dou de ombros. “Estou exausta hoje.”

Ele sorri. Droga, pare de sorrir maliciosamente se quer que eu te impeça de levar um tiro!

“Eu sei.” Ele senta em sua cadeira habitual. “Acho que o ‘Vou te vender no Walmart se não começar a obedecer’ foi a primeira pista.”

Eu sorrio. “Serena é totalmente uma princesa!”

“Ei, ela usa uma coroa, mas não há motivo para você simplesmente entrar no carro, dirigir até a cidade e lhe comprar um leopardo.”

Reviro os olhos. “Eu nunca fui tão problemática.”

“De alguma forma, eu duvido. Mas o que quer que te ajude a dormir à noite, princesa.” Seu rosto passa de feliz para triste como se alguém acabasse de tirar a vida de seu corpo.

“O que está errado?”

Ele encolhe os ombros. “Você não é a única que está exausta. Fui eu quem seguiu Junior por pelo menos cinco quilômetros enquanto você e Serena estavam quietinhas.”

“Você tem seis vezes o tamanho dele, tenho certeza de que foi muito bem.”

Seu sorriso está de volta. “Precisa de mais alguma coisa?”

“De você”, eu digo. E então imediatamente me arrependo quando seu rosto desmorona. “O que? Não está disponível?”

Ele não se move do lugar na cadeira. Seus dedos afundam no couro. “Não acho que seja sábio, já que tendo a perder a cabeça quando estou com você... sem contar que Nixon a removeria do meu corpo se descobrisse.”

Eu suspiro. “Eu sei. Desculpe...”

“Não se desculpe. Eu quero ser desejado.”

Sinto todo meu corpo relaxar e inclino-me para perto. “Não acho que precise se preocupar com isso.”

“Cuidado...” Ele sussurra. “Vai me fazer quebrar minha promessa pela terceira vez.”

“Eh, o que é mais uma vez?”

“E eu sou o cara mau.” Ele balança a cabeça e então me chama com seu dedo. Vou até onde Vic está sentado e monto em seu colo enquanto ele segura meus quadris. “Eu te quero a cada segundo de cada dia. Não consigo parar.”

“Eu nunca te pedi para parar.”

“Seria sensato.”

“Seria sensato você me beija...”

Sua boca devora minha próxima frase enquanto suas mãos agarram meu cabelo. Eu deslizo a língua por seu lábio inferior, sentindo o gosto de vinho.

“Vic?” Chase diz seu nome alto o suficiente para que nos separemos. Sento na cama e seguro meu prato, comendo vigorosamente enquanto Vic pega o livro que está na mesa de cabeceira. Chase coloca a cabeça dentro do quarto e suspira. “Você teve sorte... Desta vez.”

“O que quer dizer?” Pergunto inocentemente.

Chase revira os olhos. “Cheira a colegiais com tesão aqui, ok? Controlem-se ou pelo menos esperem até Nixon estar dormindo...” Ele olha para Vic. “Ele quer te ver.”

“De novo?” Vic deixa escapar.

De novo? O que ele quer dizer com de novo? A comida parece secar na minha boca enquanto Vic lentamente se levanta e caminha para fora do quarto, passando por Chase e seguindo pelo corredor.

Fico encarando meu prato, fingindo interesse no brócolis verde.

Chase pigarreia.

“O que?” Eu não olho para cima.

“Eu encorajei isso... no começo.” Sua voz tem um tom que arrepia meu corpo. “E interpretei mal a situação. Presumi que ele precisasse de um pouco de alívio para poder fazer seu trabalho.”

Meu estômago revira. “Oh.”

“Raramente estou errado”, Chase admite. “E por isso... Eu sinto muito, mais do que você jamais saberá.”

“O quê?” Finalmente encaro seus olhos azuis. O olhar assombrado está de volta, como se ele tentasse manter os demônios longe, mas está muito cansado para lutar contra eles esta noite. “Exatamente pelo que você sente muito?”

“Por ajudá-lo a quebrar seu coração.” Ele lambe os lábios, acena para mim uma vez e vai embora.

Um forte enjoo domina meu estômago. Eu abraço meu corpo e me fecho para o mundo. Não estou mais com fome. Não estou cansada. Eu estou apenas... confusa.

E talvez com muito medo.

Com medo do peso das palavras de Chase.

Com medo do fato de que Nixon continue chamando Vic para seu escritório.

Eu estremeço.

“Está tudo bem?” Nixon aparece na porta.

“Hum, sim.” Eu faço uma careta. “Você cuidará de mim esta noite?”

Ele sorri. “Não. Vic tem que fazer algo, mas voltará em breve. Ele disse que te trouxe o jantar e preparou um filme... E sinto muito por Serena ter decidido que hoje, de todos os dias, deveríamos coroá-la como princesa da família.”

Sorrio com isso. “Sim, bem, toda menina quer ser uma princesa, certo?”

Ele fica sério. “Algumas já são.”

Eu faço uma careta e gargalho. “Sim, talvez na Europa.”

Ele fica em silêncio e seus olhos estão longe de mim quando ele pergunta: “Renee, você gosta daqui?”

“Desta casa? Desta família?”

“Sim.”

Eu suspiro. “Não há nenhum lugar que eu prefira estar. Você sabe, exceto em minha própria casa... A única coisa que falta são todas as informações que você se recusa a me dar.”

Ele assente. “Em breve.”

“Quando?”

“Muito breve, Nixon responde.

“Vago, Nixon. Muito vago.”

“Relaxe.” Ele ignora minha reclamação e fecha a porta do quarto.

Tento me concentrar no filme, mas meus pensamentos continuam indo para Vic. Em que missão Nixon o mandou? E por que ele não pode enviar outra pessoa?

Eu encaro o relógio. São 18h.

Eu espero por ele.

Eu preciso dele.

Preciso dele mais do que ele jamais saberá.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

VIC

Estou no clube novamente. Odeio ter sido mandado para cá. Eu preciso enfrentar os fatos, quanto mais eu me apaixono por Renee, mas eu odeio meu trabalho. Quero dizer foda-se e fugir com ela.

Deixar tudo para trás.

Não admira que eu tenha feito uma promessa.

Talvez Nixon soubesse que meu único defeito de personalidade é que amo demais. Ao extremo. Não sei como ficar no meio termo. Então, quando vejo algo que quero, eu mergulho de cabeça no meu coração e deixo o cérebro para trás.

Aceno com a cabeça para o segurança e o acesso é liberado. Caminho pelo clube e todos os seus clientes, com suas máscaras e capas, seus encontros anônimos e maquiagem espessa.

A pista de dança não está tão lotada quanto da última vez.

Andrei acena e me dá as costas.

Merda. Ele está aqui.

Subo lentamente as escadas, tentando prolongar o momento antes de ter que ver seu rosto, antes de ouvir as palavras possessivas saírem de sua boca. A música soa ao meu redor. É viva e livre. Enquanto eu caminho em direção a uma prisão. Para perto do meu fim. Juro que meu coração desacelera para uma batida rude e deprimente.

Andrei me entrega um copo de uísque, mas precisarei de mais do um copo depois desta noite. Sento e coloco minha Glock na mesa apontada para Angelo Sinacore.

Ele não é o chefe da família Sinacore. Ele é o segundo filho mimado que ainda tenta impressionar a própria família.

O único poder que ele tem vem de quem é seu pai.

O único dinheiro que ele tem está guardado num fundo para quando fizer vinte e oito anos.

Ele usa um terno cinza com uma gravata vermelha, óculos escuros, e seu cabelo preto é comprido e oleoso, caindo até as orelhas. Ele é tudo o que há de errado com a máfia.

Ele está errado.

Todo errado.

E, também, é considerado da realeza na Sicília.

“Você está com a garota?” Ele sorri, seus dentes brancos e retos brilham como se ele estivesse pronto para dar uma mordida nela.

“Nós estamos.” Concordo.

“Obrigado.” Ele se inclina para frente, juntando as mãos. “Por cuidar dela até fazermos os preparativos. É um achado raro.”

“Você fala como se ela fosse um artefato perdido.” Andrei bufa de desgosto.

Pela primeira vez, concordo com o russo.

“Ah, mas para o país dela ela é uma russa suja.”

Andrei sorri, mas sua postura endurece, seus olhos pousando em minha arma. Bem que eu queria.

“Você vai me levar até ela.” Angelo se recosta e pega um charuto.

“O acordo para a troca é amanhã à noite”, digo com a voz mais entediada possível. “Você vai esperar um dia. Isso está definido no contrato e não queremos que ele seja anulado.”

Seus olhos estreitam um pouco e, em seguida, recebo um aceno de cabeça e uma dispensa com a mão. Tenho mais dinheiro do que todo o seu fundo fiduciário e mais armas escondidas no meu corpo do que ele provavelmente tem em todo o seu arsenal.

Ele nunca viu o lado sangrento da máfia.

Apenas o dinheiro.

O poder.

Você não merece algo pelo qual nunca teve que lutar. E ele não lutou sequer um dia de sua existência.

Eu fico de pé.

“Só mais uma coisa...” Angelo se inclina para frente. “Ela é... Virgem?”

Cerro os punhos e perco o controle por completo.

Andrei segura minha mão direita na hora certa e sorri. “Angelo, agora você parece um russo.”

Angelo parece insultado.

“Por que importa se ela é virgem?”

“É importante porque ela vai se casar comigo, e quero ter certeza de que ela não abriu as pernas para a escória russa.”

O sorriso de Andrei desaparece. “Cuidado. Este ainda é meu clube. Tenho pelo menos sete armas apontadas para você e não pressione o melhor assassino da Cosa Nostra quando ele está tendo um dia horrível.”

Angelo ajusta a gravata. “Posso estar curioso sobre minha futura esposa.”

Eu respiro fundo. “Não fizemos um exame médico. Ela está em casa desde que obtivemos os documentos finais sobre seu direito de primogenitura.”

“Ah.” Angelo acena com a cabeça. “E Nixon não permite essas coisas sob seu teto. Eu me sinto melhor. Acho que...” ele pisca para nós. “vou encontrar alguém para minha última noite como solteiro.”

Ele se afasta.

Eu me imagino atirando em sua cabeça.

Isso não ajuda.

“Então...” Andrei coloca as mãos nos bolsos. “Exatamente quantas vezes você quebrou seu juramento à família?”

Fico olhando para a frente. Andrei sempre foi um ótimo leitor de mentes. Ou talvez minha reação tenha sido muito violenta... eu nunca reajo. Angelo não sabe disso. Mas Andrei sim.

“Uma vez”, eu sussurro. “Com ela.”

“Oh, eu sei com quem o fez.” Andrei dá uma risadinha. “Minha pergunta é mais sobre... o nosso pequeno assassino acidentalmente dormiu com a babá e depois se desculpou por isso... ou ele tem... feito mais vezes?”

“O que você quer?” Eu cerro os dentes. A raiva cai sobre meu corpo como um cobertor quente.

“Interessante.” Ele cruza os braços. “Muito interessante. Imagino que Nixon não saiba já que está focado em sua família. Mas os outros homens, eles sabem. Confie em mim.”

“Chase me encorajou.. ele provocou... o homem é o diabo”, eu finalmente admito.

“Sim, ele é.” Andrei acena com a cabeça. “Realmente vale a pena morrer por uma mulher, Vic?”

Levanto a cabeça e o encaro. “Quando essa mulher é a única coisa que te faz sentir vivo neste mundo de merda? Sim. Vale a pena. Vale muito a pena.”

“E quando você morrer?”

“Ainda valerá a pena.”

“E quando ela sofrer por causa disso?”

Fecho os olhos com força. “Proteja-a quando eu não puder.”

Andrei pragueja. “Bem, isso ficou sério bem rápido.” Ele dá um único aceno de cabeça. “Eu te dou minha palavra.”

Ele estende o antebraço. Eu seguro seu cotovelo e o aperto.

Ele se inclina quando nossas testas se tocam brevemente, sua mão na minha nuca.

“Está feito”, ele diz.

Pego minha faca do bolso e corto a palma da minha mão. Ele estende a sua e faço o mesmo.

“Sangue en, non fuori”, dissemos em uníssono e nos separamos. Seus olhos enxergam segredos e alimentam-se da dor.

Andrei é uma pessoa que quero do meu lado porque, no fim das contas, ele queimará o mundo inteiro para conseguir o que quer e proteger aqueles que chama de amigos, ele matará seus entes queridos a sangue frio, ele rirá enquanto envia suas almas para o inferno.

O inimigo do meu suposto aliado sempre será meu amigo mais forte.

Precisamos de mais homens dispostos a fazer as coisas difíceis neste mundo, homens que não amolecem.

Algumas dançarinas entram na seção VIP e envolvem os braços ao redor dele.

Ele não enrijece, apenas vira a cabeça para a direita e beija uma delas enquanto a outra chupa seu pescoço.

Qualquer pessoa que assista teria prazer.

Qualquer uma, exceto alguém que sabe o que é viver num constante estado de dor, de necessidade, sabendo que nunca terá o desejo de seu coração.

Seus olhos são indiferentes.

Sua linguagem corporal é relaxada.

Exceto por uma única falha.

Seu pé direito bate impacientemente no chão, e seu olhar, por um breve momento, vai para as gaiolas no palco.

Não me viro para ver quem o interessa.

Porque não quero me sentir culpado quando ela for vendida.

Andrei está profundamente envolvido.

A única saída é a morte ou derrubar o esquema.

É por isso que ele escolheu fazer o papel do bandido... acontece tão naturalmente, por que não ceder ao pecado?

E ele o faz.

E eu me pergunto, enquanto saio do clube, quanto tempo levará antes que ele permita que sua luz seja totalmente consumida.


CAPÍTULO VINTE E SEIS

RENEE

Ele não volta.

Eu espero.

E ele não volta.

Finalmente adormeço com as luzes acesas, olhando para sua cadeira e me perguntando o que é tão importante que ele não pode entrar e pelo menos me dizer que está bem.

É por volta das três da manhã quando finalmente me levanto e apago a luz quando vejo um clarão no corredor e sapatos de uma pessoa na frente da minha porta. Faço uma careta para a porta e de repente me sinto pronta para socá-lo por não me dizer que voltou em segurança.

Eu abro a porta.

Vic não se move.

Ele olha para frente como se a parede falasse com ele.

Então eu bato em suas costas. “Você poderia ter me dito que está vivo!”

Ele não se vira, apenas abaixa a cabeça. “Estou vivo.”

“Bem, eu sei disso... agora.” Cruzo os braços. “Eu te esperei...”

Ele solta um suspiro. Não posso dizer se ele está irritado ou triste, talvez uma mistura de ambos? “Peço desculpas por sua perda de sono.”

Eu ouvi direito? “Hum, o quê? Você se desculpa pela minha perda de sono? Você é um robô?” Eu o bato novamente. “E vire-se quando estivermos conversando!”

Lentamente, ele se vira e me encara. Seus olhos estão escuros, seu rosto está tenso como se ele acabasse de ouvir que todos que ama vão morrer, e é sua culpa.

“O... O que aconteceu?” Avanço para tocar seu rosto, mas ele se afasta. “Vic...”

Ele cerra os punhos e os pressiona contra a parede como se quisesse socar algo. “Você deveria dormir.”

“Eu provavelmente também deveria parar de bater num cara que carrega várias facas e armas, mas não consigo evitar”, respondo suavemente.

Ele fecha os olhos como se estivesse com dor.

“Vic.” Toco-o de leve no braço.

Ele sibila e morde o lábio inferior. Meus olhos percorrem seu braço. Uma gaze branca envolve sua mão.

“O que aconteceu?” Eu seguro sua mão ferida.

Ele o puxa para longe. “Renee.” Seu tom é severo. “Vá para cama. Agora.”

“Tudo bem, vou dizer a Nixon que sei como é seu rosto quando...” Ele pressiona a mão na minha boca tão rápido que quase caio para trás. E então ele está me puxando para o quarto, fechando a porta e trancando-nos.

Mantendo-os de fora.

Meu peito arfa quando sua voz rouca soa em meu ouvido. “Você não faria isso.”

“Eu não faria”, admito. “Mas você não está jogando limpo, então aumentei as apostas.”

“Foda-se as apostas.” Ele ri amargamente. “O jogo já acabou, Renee.”

“Não é um jogo.”

“Então por que parece assim?” Ele me afasta e depois se vira, passando as mãos pelo cabelo. Passos soam no corredor. Nós dois congelamos, mesmo não fazendo nada de errado. Lentamente, Vic vai até a cadeira e se senta exatamente quando alguém para em frente a porta e depois continua andando.

Suspiro quando ele se recosta na cadeira e me encara. Ele nem mesmo pisca.

“Como machucou sua mão?” Pergunto, caminhando até onde ele está e me sentando na cama.

Ele se inclina para frente, apoiando os joelhos nos cotovelos. “Se eu disser que a machuquei de propósito para proteger alguém que amo, você acreditaria?”

“Sim”, sussurro, de repente sentindo que isso é maior do que nós, maior do que posso entender. “eu acreditaria.” Lambo meus lábios secos. “É isso que aconteceu?”

“Não. Na verdade, eu apenas cortei minha mão com a faca num esforço para confundir o cara segurando uma arma na minha cabeça. Isso me deu tempo suficiente para desarmá-lo e salvar o mundo.” Seus lábios se contraem.

“Babaca!” Jogo um travesseiro nele. Ele nem sequer desvia, então tento acertá-lo de novo, mas Vic pega o travesseiro no ar. Aproveitando sua distração, envolvo as pernas ao redor dele e pressiono contra seu corpo.

Seus olhos vão para minha boca.

“Por que você parece zangado e triste?” Pergunto, acariciando seu rosto enquanto ele segura meu corpo próximo ao dele. “Há algo que eu possa fazer para você rir?”

“Eu raramente dou risadas.”

“Sua risada me faz sentir uma verdadeira alegria”, eu admito.

Seu rosto fica ainda mais triste. “Você merece toda a alegria do mundo, Renee.”

“Então pare de ser tão mesquinho com isso.” Eu pisco, encontrando-o no meio do caminho para um beijo. Ele não me beija de volta.

Eu inclino a cabeça. “Você não... quer dizer, é sobre...” Não consigo nem pronunciar as palavras antes que sua boca esteja sobre a minha com tanta ferocidade que quase caio de seus braços. Ele inclina a cabeça para aprofundar o beijo. Eu gemo quando deito no colchão. Seus dedos agarram minha camisa enquanto ele a puxa por minha cabeça e me devora com os olhos. Posso ver a indecisão em seu rosto.

Então me apoio nos cotovelos e começo a abrir suas calças, tomando a decisão por ele. A ousada carícia de sua língua me encoraja ainda mais enquanto suas mãos seguram meus seios, persuadindo-me com uma promessa de mais. Ele afasta a boca da minha quando puxo sua calça jeans para baixo, expondo seu pau. Posso jurar que ele está latejando ou talvez seja eu, estou com dor física por desejá-lo tão desesperadamente. Seu corpo avança em direção ao meu e, em seguida, com um grunhido profundo e primitivo, ele entra em mim enquanto agarro sua camisa e o seguro perto. Uma tensão dolorosa aumenta entre nós quando um olhar frenético cruza seu rosto. Eu me afasto, segurando suas bochechas, retardando o momento. Ele segura minhas mãos e, em seguida, muda nossas posições e me coloca por cima para que eu possa montá-lo.

“Renee?”

“Sim.” Deslizo sobre ele e não posso deixar de fechar os olhos quando um espasmo de prazer me atinge. Estou incrivelmente ciente de cada movimento enquanto ele pressiona as mãos grandes em meus quadris e acelera o ritmo.

“Diga meu nome.”

Inclino-me e sussurro em seus lábios. “Vic.”

Seu corpo treme sob o meu enquanto cada músculo fica tenso.

“Vic.” Digo de novo porque gosto de ouvi-lo tanto quanto gosto de falar. Posso sentir meu sangue correndo nas veias enquanto o tomo mais profundamente, o mantendo dentro de mim. Enquanto prometo nunca o deixar ir. “Você é meu, Vic.”

Seus olhos vidrados encaram minha alma. “Sempre serei seu.”

E então ele está se movendo implacavelmente, nos empurrando para o prazer quando não quero estar em nenhum lugar a não ser nesse momento com ele dentro de mim, dizendo que pertencemos um ao outro.

Dor cruza seu rosto quando seu controle se desfaz. Suspiro em êxtase quando sinto-o dentro de mim, realmente me tornando parte dele. Desabo contra seu corpo e rezo para que ele continue assim para que eu possa sentir nossas peles pressionadas uma contra a outra.

Mas ele não o faz.

Lentamente ele me levanta, pegando minhas roupas, me ajudando a vesti-las e sem palavras, Vic me coloca na cama e puxa o edredom sobre meu corpo.

“Você não vai ficar?” Meu peito está apertado e não tenho ideia do por que... Por que estou triste? Por que ele está triste?

“Não esta noite”, é tudo o que ele diz enquanto se inclina e dá um beijo suave na minha bochecha. “Mas eu estarei observando.”

“Meu protetor”, eu sussurro, sem perceber o quão cansada realmente estou. Ele caminha para a porta e me observa por alguns segundos. Minhas pálpebras pesadas finalmente fecham, e posso jurar que ouço as palavras “perdoe-me” saírem de seus lábios.


CAPÍTULO VINTE E SETE

VIC

Eu não durmo.

Posso fazer isso quando ela for embora.

Quando poderei me enfurecer na privacidade do meu quarto, quando poderei me torturar nos lençóis que nunca lavarei.

Com memórias que nunca esquecerei.

“Não me leve a mal”, Chase diz enquanto entra na cozinha para jantar na noite seguinte. “Mas você está uma merda.”

“Não me leve a mal.” Mostro-lhe o dedo do meio, e puxo uma cadeira para me sentar e não ficar andando pelo corredor que ela deve atravessar a qualquer minuto.

A troca acontecerá às 09h.

Porra.

Eu tenho três horas.

Três. Horas.

Não vou sobreviver a esse tipo de perda.

Eu não tinha percebido.

Até agora.

Uma sensação de pânico me domina, fazendo todo meu corpo querer sair correndo da cozinha, jogá-la por cima do ombro e pegar o primeiro voo para o México.

Deixá-los nos perseguir.

Eu matarei todos.

Com ela.

Por ela.

Por nós.

Corro as mãos pelo meu cabelo e rosto, percebendo que não faço a barba há um dia e provavelmente isso é evidente.

Chase senta à minha frente e solta um longo suspiro. “Eu não sabia.”

“Não sabia o quê?”

“Que você a ama. Eu não sabia que isso é mais do que sexo. Se soubesse, teria feito a coisa certa e te trancado no porão.”

Eu bufo. “Acha que isso me manteria longe?”

“Merda, isso é...” Ele serve uma taça de vinho. “E se contarmos a Nixon? Talvez haja uma saída sem ser entrar em guerra com as famílias sicilianas? Ela tem mais de dezoito anos, pode ter uma escolha.”

Eu sorrio tristemente. “Você, mais do que ninguém, deveria saber que raramente temos uma escolha nesta vida.”

Seu comportamento escurece. “Sim, bem...”

“Obrigado mesmo assim.”

“Não me agradeça por ajudar a te arruinar... eu não desejaria a perda de um amor a ninguém, nem mesmo para meu maior inimigo. Isso não é justo com ela, nós dois sabemos. Mas sua vida nos manterá em paz com os sicilianos e a manterá protegida dos russos e dos De Lange.” Ele leva o vinho aos lábios. Posso ver que ele está longe de novo, pensando no passado. Preocupando-se com o futuro como qualquer pessoa quando tem família.

Uma família.

Quase sorrio

Achei saber o que era família.

Até ela.

E agora percebo que a família que tenho está perdendo uma peça fundamental, uma parceira.

Não conversamos mais. Chase está preso no passado.

E eu estou de luto pelo futuro.

Minha família lentamente enche a cozinha.

As coisas ficam cada vez mais altas até que o barulho me consume. E finalmente Renee atravessa o corredor e se senta à mesa, bem na minha frente.

E então, ela levanta os olhos e sorri.

Para mim.

O assassino de seu pai.

Ela me dá algo nesse sorriso.

Ela me dá esperança de que não será a última vez que a vejo sorrir.

Ela me faz sentir esse sorriso.

Ela começa uma guerra com esse sorriso.

Levanto-me abruptamente. “Preciso de um pouco de ar.”

Eu caminho pelo corredor e abro a primeira porta que não está trancada.

É o banheiro.

Abro as janelas e me inclino para fora, inspirando e expirando. Imaginar todos os resultados possíveis só faz o problema ficar mais complicado, em vez de mais simples.

Uma batida soa.

“Vá embora.”

A maçaneta gira. Eu deveria ter trancado a porta.

“Eu disse para...”

Renee está lá, com as costas contra a porta e o rosto cheio de saudade. Ela dá dois passos em minha direção. Eles são pequenos e hesitantes, do jeito que você abordaria um animal selvagem.

“Não podemos.” Fecho os olhos com força. Não consigo olhá-la e lhe negar algo.

“Abra os olhos.” Ela agarra meu bíceps com as mãos. Lentamente, eu os abro e encaro sua beleza, algo que me lembrarei quando for velho e grisalho, se eu viver por tanto tempo. A maneira como seus olhos brilham como se ela soubesse um segredo que quer compartilhar. “Deixe-me te amar.”

Eu descuidadamente desço minha boca até a dela. Provo meu pecado em seus lábios, experimento minha maior bênção e minha maior maldição enquanto nossos corpos se tocam. E quando a levanto sobre a pia e seguro sua nuca, puxando-a para mais perto, me drogando com seu beijo, com seu toque, odeio tudo e todos que a afastam de mim.

Sua suavidade e alegria mexem com algo feroz dentro de mim, algo incontrolável. Somos fogo, e estamos queimando. Ela não tem ideia do que acontecerá nas próximas horas.

Mas posso lhe dar prazer para que quando ela conhecer o diabo... ela ao menos saiba que o paraíso existe.

Rapidamente abaixo suas leggings, puxando-as por suas pernas com cuidado para que ela não volte para o jantar relevando o que faremos. Até me impeço de puxar seu cabelo, de segurá-lo entre meus dedos e bagunçá-lo só porque isso a faz parecer selvagem e sexy.

Provoco seus lábios abertos com minha língua enquanto ela se agarra a mim com lágrimas nos olhos, como se soubesse que isso é um adeus.

Como se ela soubesse que isso não acontecerá novamente.

Talvez seja a ternura do meu beijo.

Talvez seja a devastação que me recuso a esconder.

Sinto-me quebrado, e ela ainda não foi embora.

Sinto-me morto e ela ainda está viva.

A razão rapidamente desaparece quando ela enfia a mão na minha calça, me tocando enquanto puxa o jeans para baixo com sua mão livre.

Ela desliza a mão ao longo do meu pau.

Eu me inclino contra ela e a puxo para frente, provocando sua entrada com pequenos toques antes que ela devore meu próximo beijo com tal intensidade que perco toda a concentração e a encho ao máximo.

“Por que isso parece o fim?” Seu corpo se move tão facilmente com o meu, como se fossemos feitos para isso, um para o outro, para mais ninguém.

“Você sempre terá proteção.” Evito sua pergunta. “E sempre terá isso.” Eu agarro sua mão e a pressiono contra meu peito para que ela possa sentir a forma como meu coração bate por ela, cada batida como uma música em sua homenagem. Meu sangue corre nas veias por ela e apenas por ela.

Uma onda de posse toma conta de mim quando ela agarra minha mão e a coloca em seu peito. “E você sempre terá isso.”

Nossas testas se tocam enquanto pressiono contra ela, preenchendo cada espaço. A tensão aumenta entre nós enquanto seu corpo treme ao redor do meu pau. Eu memorizo a maneira como sua cabeça se inclina, a forma como seus lábios se separam de prazer.

Eu gravo cada detalhe.

E então deslizo dentro dela uma última vez.

O prazer balança meu corpo tão intensamente que tenho que me segurar, para me impedir de empurrar demais seu corpo contra o espelho atrás dela.

Lágrimas enchem seus olhos enquanto ela segura meu rosto.

Eu tento desviar o olhar.

“Diga-me.” Ela sussurra. “Agora.”

Eu abro a boca ao mesmo tempo que a porta do banheiro é escancarada.

Eu a escondo com meu corpo.

Nixon olha entre nós e sussurra em voz rouca: “Vistam as roupas. Vocês tem três minutos para ir até a cozinha.”

A porta se fecha.

Renee cobre a boca com as mãos, em seguida, pressiona-as contra meu peito. “Ele vai me matar?”

“Não. Você é muito valiosa... Já quanto a mim, por outro lado...” solto um forte suspiro.


CAPÍTULO VINTE E OITO

RENEE

Eu quero segurar sua mão enquanto caminhamos para a cozinha, mas tenho certeza de que isso será apenas como jogar gasolina numa fogueira já fora de controle.

Todos estão em silêncio.

Sinto-me tão envergonhada que tenho vontade de chorar.

Envergonhada por eles provavelmente saberem o que fizemos.

Envergonhada por ter feito isso na casa dos meus patrões.

E apavorada por Vic.

O que estou pensando?

Oh certo, eu encontrei o meu.

O único.

Eu encontrei alguém que me vê, que me segura, que me faz sentir viva, que me faz sentir ao mesmo tempo assustada e segura. Eu o encontrei. E quando se encontra algo tão incrível...

Você arrisca tudo.

Sem pensar nas consequências.

Ele me avisou.

Abaixo a cabeça, mas consigo ver Luciana caminhar até mim e envolver um braço em meu corpo como se tentasse me proteger de Nixon. E lentamente, uma a uma, as esposas levantam e se posicionam ao meu lado.

Eu não me sinto confortada.

Por que é necessário que todas estejam ali? Mo, Trace, Bee, Val, Luc, El?

Nixon para na frente de Vic. E, para seu crédito, Vic apenas olha para frente, os braços volumosos imóveis ao lado do corpo.

“Quem sabia?” Nixon para na frente de Vic. Ele ainda não fala nada.

Chase pragueja. “Nixon, sem ofensa, mas como você não sabia?”

Nixon pode incinerar alguém com esse olhar.

Tex desvia os olhos. Sergio encara seus pés. E Phoenix olha para Nixon com um olhar indiferente que não consigo identificar enquanto Dante caminha até Vic.

“Estenda a mão”, Nixon exige com a voz áspera.

Vic estende a mão. Dante entrega a Nixon uma adaga afiada.

Observo com horror quando Nixon afunda a faca na mão de Vic e começa a arrancar os diferentes nomes que ele jurou proteger. Vic treme, mas não faz um som.

Lágrimas escorrem por meu rosto. “Pare! Pare!”

Nixon não para.

“PARE!” Eu grito. “Você é um monstro!”

Seus lábios se movem como se ele estivesse prestes a sorrir. “Eu sou um monstro? Tenho certeza de que você está transando com um monstro. Todos somos monstros, Renee. Apenas escondemos nossos demônios de maneiras diferentes.”

Eu limpo minhas bochechas molhadas. “Fui eu. Eu o seduzi.”

Nixon deixa escapar um suspiro de descrença. “Então você o seduziu e o quê? Ele finalmente cedeu? Vic é um dos homens mais fortes que conheço. Pessoas como Vic não cedem à sedução, a menos que queiram.”

Solto um suspiro.

“E você...” Ele encara Vic com tanta raiva que quero correr e protegê-lo, entrar na frente dele e abrir os braços para que as facas sejam atiradas em mim, não nele. Em qualquer um, menos nele. “O que tem para dizer em sua defesa?”

“Nada”, Vic diz com a voz firme. “Não posso defender minhas ações, nem vou me desculpar por elas.”

Nixon lhe dá um gancho de direita.

Vic não desvia.

Observo quando Nixon o acerta novamente e novamente até que ele desaba no chão, e então a bota de Nixon atinge suas costelas. E ainda assim Vic não desvia. Ele aceita a punição.

“Nixon.” Chase dá um passo à frente. “Você pode muito bem me punir também. Vic contou para mim, eu ajudei a apressar isso... eu não... eu pensei que era apenas... algo sexual.”

“Isso parece algo sexual do caralho?” Nixon grita, apontando para Vic. “Ele a ama!”

Lágrimas quentes e úmidas escorrem por meu rosto, passando pelos lábios.

“Eu posso perdoar um monte de coisas...” Nixon para de chutar Vic e se abaixa para que eles estejam olho no olho. “Eu posso até perdoar uma indiscrição. Mas isso? Você fez um juramento para nós... não apenas ser celibatário, mas como você pode proteger qualquer uma das crianças, das mulheres da Família, quando seu único foco sempre será a si mesmo?”

“Eu não posso.” A voz de Vic treme.

“Eu sei.” Nixon balança a cabeça, depois se levanta e chuta os armários. “Você sabe que a família Sinacore a espera em menos de três horas. Ela vai chorar num avião por causa do homem que ama, em vez de conversar com aquele de quem está noiva!”

Sinto meus joelhos falharem quando meu coração para na garganta. “Noiva?”

Todos os olhos se voltam para mim. Eu balanço a cabeça e estreito o olhar para Vic. Há sangue seco em seu rosto, mas ainda posso ver a culpa.

“Noiva”, eu repito. “O que diabos quer dizer com noiva? Por que você me casaria em primeiro lugar? Isso é por causa do meu pai? Do que ele fez?”

“Renee...” A expressão de Nixon suaviza.

“Não vou me casar com um estranho!”

“Renee!” Nixon grita. “Você é a porra da realeza. Você vai casar com quem dissermos para você se casar porque é a última da sua família! Seu pai morreu enviando essa informação para nós! Ele morreu tentando te proteger. Sua mãe está numa casa segura até que este acordo seja concluído!”

“O... O quê?”

Ele suspira e passa a mão pelo cabelo. “A família Sinacore é uma das mais antigas da Sicília. Eles já foram considerados a realeza entre as pessoas. A guerra civil estourou e vários dos membros se mudaram para os Estados Unidos para começar uma nova vida. Eles chamam seu líder de Rei, sua esposa Rainha, sua filha de...”

“Princesa”, eu digo num sussurro.

E então tudo que vejo é um fogo ardente.

Uma mansão com chamas devorando tudo.

Um tiro.

Um homem cai.

E minha mãe jogando um cobertor sobre minha cabeça, me colocando no carro. Dirigindo. Nós dirigimos por muito tempo. Voamos por ainda mais horas.

Eu balanço a cabeça. “Então, essa família Sinacore...”

“Eles estão procurando pelo herdeiro legítimo. Tem milhões e milhões num fundo que só você pode acessar. Casas, carros... assim que a guerra acabou tudo foi preservado para você, mas sua mãe...” Nixon se move em minha direção. “Ela estava com medo de que fosse uma armação, e então ela se apaixonou novamente, só que desta vez por um de nossos homens que foi enviado para matar o herdeiro remanescente. Só que ele não conseguiu. Ele não pode matar você ou sua mãe. Ele disse que se apaixonou por você no minuto em que a viu. E disse que protegeria as duas e espionaria por nós em troca de suas vidas.”

Eu fecho os olhos com força. “Ele morreu por saber demais.”

“Ele morreu porque seu trabalho foi concluído”, Tex fala.

Eu me apoio na parede, minha mente totalmente atordoada. “Vic foi uma armação também? Uma distração para me fazer confiar em vocês?”

“Não!” Vic grita de seu lugar no chão.

“Você vai para a Sicília esta noite.” Nixon toca meu ombro. “O contrato de noivado feito entre seu pai biológico e a família Sinacore ainda existe... você não tem escolha. Quebrá-lo seria o início de uma guerra na qual não podemos nos dar ao luxo de participar! As cinco famílias não entrarão em guerra com a Sicília por causa de uma mulher.”

Cada palavra que ele diz é como um tiro na minha alma.

“Não!” Eu grito. “Eu não vou fazer isso! Eu não o amo! Eu não posso... não posso ficar com ele.” Corro uma mão trêmula por meu rosto enquanto o terror envolve as garras em minha garganta e a aperta.

“Shhh.” Luc me puxa para um abraço, mas eu a empurro e corro. Corro o mais rápido que posso. Corro para o quintal, passando pelas árvores. E então continuo correndo até a cerca para estar longe o suficiente e poder respirar.

O quintal tem câmeras em todos os lugares, não é como se eu pudesse me esconder. Começo a escalar o muro que divide a garagem e a quadra de tênis, e meu pé escorrega.

Tento saltar e torço o tornozelo ao cair num ângulo estranho no chão.

Eu não tenho escolha.

Corro pela calçada, mancando e gritando. Choro tanto que não consigo enxergar direito.

E então noto os carros.

Quatro sedãs pretos.

Eles não se parecem em nada com os carros esportivos que o resto da família dirige, e não tenho onde me esconder.

Então, um deles para, abre a porta e alguém diz: “Entre.”

Sei que correr só me machucará ainda mais.

Limpo o rosto e entro no veículo como a princesa que sou, com as costas eretas como uma vareta. O homem parece ter a idade de Vic. Ele sorri. “Andrei disse para chegarmos cedo e ver se a sorte sorriria para nós.” Os outros três homens no carro riem. “Acho que houve uma feliz mudança de planos.” Ele acena com a cabeça para o motorista. “De volta para o clube.”


CAPÍTULO VINTE E NOVE

VIC

“Deixe. Ela. Ir.” Nixon grita para mim.

Levanto em toda a minha altura e sussurro: “Porra, me obrigue.”

Seu punho me atinge com força novamente. Desta vez, eu o empurro. Ele mal se move um centímetro porque eu não quero uma briga. Quero correr atrás dela, beijar suas lágrimas, cair de joelhos e implorar por perdão.

“Será que todo mundo pode parar um maldito segundo?” Tex ergue uma arma no ar como se estivesse pronto para atirar. “De quem foi a ideia brilhante de deixá-la sozinha com Vic em primeiro lugar?” Ele aponta para mim. Excelente.

Então eu sorrio e aponto para Chase, que aponta para Nixon, você pode imaginar um monte de dedos apontados.

“Oh, pelo amor de Deus.” Chase tira uma faca do bolso e brinca com ela. “Levante a mão quem achou que ele ficaria sem sexo por mais de um mês, quanto mais três anos.” Ninguém levanta a mão. “Exatamente, mas pedimos a ele para fazer isso e protegê-la... você sabe que ele gosta de olhos castanhos!”

“Que porra?” Phoenix estreita os olhos para Chase. “Então ele joga todo seu esforço pela janela?”

Dante bufa. “Que o santo nesta sala dê o primeiro soco, oh, espere...” ele olha para Nixon, “Pedimos o impossível... porque queríamos que ele protegesse as mulheres, as crianças, o nosso futuro... Isso é muito para colocar nos ombros de alguém. Como é justo pedir isso? Ele protege nosso futuro, mas não consegue nada além de escuridão no dele? Sem filhos? Sem família?”

“Ah, sabedoria desde o mais novo, isso é raro.” Tex diz.

Dante mostra-lhe o dedo enquanto Sergio olha para o telefone e murmura uma maldição alto o suficiente para chamar a atenção de todos.

“Nós temos um problema.” Sergio parece pronto para enfiar o telefone na bunda de alguém.

“Nós?” Nixon cruza os braços.

“Sim, nós.” Sergio joga o telefone para ele. “Controle seu humor. Andrei disse que Angelo está a caminho do clube... e ele tem Renee consigo.”

Sou um borrão de movimento quando agarro meu coldre apenas para ter Nixon segurando meu cotovelo e me puxando. “Sem chance no inferno. Você está muito distraído e pode ser morto.”

“Pensei que já quisesse me matar.”

Suas narinas dilatam. “Você está muito distraído.”

“Pare. De. Tomar. Decisões. Por. Mim”, eu grito. “Ela é minha!”

Ele dá um passo para trás, suas sobrancelhas arqueando em surpresa antes de compartilhar um olhar divertido com um Chase.

“Você ouviu o homem.” Chase sorri. “Ela é dele.”

“Deus proteja qualquer um que entre em seu caminho”, Tex murmura baixinho enquanto eu empurro todos e corro em direção ao meu G-Wagon. Com toda certeza de que Deus os proteja.

Porque matarei todos eles.


CAPÍTULO TRINTA

RENEE

O clube está escuro. As pessoas usam vermelho e preto com máscaras cobrindo a maior parte de seus rostos. Não sinto nada além do cheiro de charutos e uísque. As mulheres estão esparramadas em sofás de veludo enquanto homens beijam abertamente seus pescoços, entre suas pernas, apenas para agarrar outra e fazer o mesmo.

Estremeço quando sou levado a uma área de dança e, em seguida, subo as escadas pretas até uma corda de veludo vermelho. Ele é liberada e então sou empurrada em direção a um sofá branco. Eu tropeço e me sento.

“O que é isso?” Uma voz familiar pergunta.

“Minha noiva.” O homem pisca para mim. “Mas é o seguinte... se ela morrer ou desaparecer de repente, tornaria minha vida muito mais fácil.”

“Ah.” Andrei acena com a cabeça e se senta, juntando as mãos. “Sim, eu me lembro, toda sua herança está ligada a este casamento.”

“Sim.” Ele cerra os dentes. “E eu acho que... prefiro meu dinheiro.”

A mandíbula de Andrei flexiona, mas seus olhos não se alteram. Olho para sua perna direita enquanto ela bate contra o chão numa rápida sucessão. “Como posso ser útil?”

O homem sorri. “Imagino que ela vale uma grande soma... Realeza italiana, certo? Mesmo se for uma prostituta, ela ainda vale pelo menos, oh...” Ele me olha, da cabeça aos pés. Nunca me senti tão suja em toda a vida. “Sete milhões.”

Sete milhões de dólares?

Tento esconder o choque.

“Ela é uma mercadoria usada”, Andrei diz num tom entediado. “Esse valor só vai para as virgens. Sheiks não gostam de saber que suas mulheres estiveram com outras pessoas e os príncipes que atendemos cortariam minha garganta por isso. Sinto muito, mas terá que fazer melhor do que isso, Angelo.”

Fico olhando para a frente enquanto eles negociam meu valor. Enquanto ouço a música soando ao meu redor, e os suspiros e gemidos sexuais que a acompanham.

Ele virá.

Certo?

Vic virá me encontrar.

Ele virá.

Eu tenho que acreditar.

E depois? Serei novamente entregue para esse maníaco?

Isso é tudo que sou? Uma moeda de troca?

Quanto mais penso nisso, mais deprimida fico... Vic nunca fez nada sobre o que aconteceu comigo.

Por que faria agora?

“Dois milhões em dinheiro”, Andrei diz pensativo. “É a minha oferta final.”

“Em dinheiro?” Angelo diz apressadamente. “Esta noite?”

“Assine o contrato, prometa nunca mais aparecer e sim, esta noite você terá dois milhões de dólares em dinheiro. Diremos apenas que ela foi morta pelos russos ou, melhor ainda, levada pelo cartel Bordello, e facilmente você consegue dois milhões a mais em seu fundo fiduciário quando fizer 28 anos e sem um noivado desagradável com uma mulher que é claramente... muito inferior para estar ao seu lado.”

Eu vacilo com suas palavras. Com seu tom. Ela fala descuidadamente e as usa as como uma espada e um escudo. Andrei é realmente um homem perigoso.

“Feito.” Ele se levanta e estende a mão.

Andrei olha-a por alguns segundos depois a aperta e faz sinal para que alguém se aproxime.

Um homem aparentemente italiano e muito parecido com Sergio estende uma pasta preta e depois entrega uma caneta de aparência cara.

“Assine aqui”, Andrei diz rispidamente.

Angelo obedece, sorrindo o tempo todo.

Eu afundo em mim mesma, já pressentindo o pior.

“Axe”, Andrei acena com a cabeça para o homem com a pasta preta. “Leve dois guardas com você.” Ele sorri para Angelo. “Isso conclui nosso negócio. Axe o levará ao cofre, onde receberá o pagamento.”

E então eles saem.

Andrei senta ao meu lado. Ele nem me olha quando pergunta. “Você está ferida?”

Minha garganta está tão seca que é difícil falar. “No tornozelo, eu caí.”

“Ele te machucou?” Mesmo assim, ele não me olha. “Posso atirar nele por vender produtos danificados e não ter informado sobre isso.”

“Só meu orgulho”, consigo brincar, ganhando seu olhar pela primeira vez. Ele é lindo. Também é mais jovem do que pensei originalmente. Está seus vinte anos, talvez. Com cabelos claros e pele perfeita. Como um anjo caído que não recebeu o memorando de que pode voltar para o céu.

“Vejo por que ele gosta de você.” Ele se levanta e estende a mão. “Devo te provar primeiro?” Eu recuo. Ele se inclina e sussurra. “Siga meus comandos, ele ainda tem homens aqui.”

Agarro sua mão.

Ele a aperta com força e me conduz pela multidão. Meu tornozelo lateja quando me inclino contra ele. Sua mão livre acaricia minha bunda e a aperta. Eu fecho os olhos. Isto é apenas o começo, não é? Angelo está saindo de uma sala quando Andrei gira e me empurra contra a parede mais próxima. Sua boca é quente e controlada, ele mantém os olhos abertos, fixos em mim enquanto seus lábios se movem sem esforço nos meus. Como se o homem tivesse estudado como fazer um beijo parecer apaixonado para quem observa - mesmo sem ele demonstrar qualquer emoção.

Seus olhos escurecem quando ele me puxa para mais perto e afasta ligeiramente os lábios. Não o beijo de volta no início, e então um forte beliscão na minha bunda me faz gritar em sua boca enquanto ele roça sua língua na minha. Ele tem gosto de uísque e hortelã.

E então ele para abruptamente, se afasta, agarra minha mão e continuamos andando. “Foi um mal necessário.”

Eu quase tropeço. “Beijar-me foi um mal necessário?”

Ele mantém os olhos fixos à frente. “Não misturo negócios com prazer. Beijar é apenas uma troca de moeda.”

“Eu não entendo.”

“Alguém como você não o faria.” Paramos em frente a uma porta de metal e ele desliza um cartão preto e vermelho por uma fenda. Ela abre com um estranho barulho de sucção. A sala está congelando. Meus dentes imediatamente começam a bater.

“Eu não entendo”, repito entre respirações curtas.

“Todo mundo tem uma moeda. A maioria das mulheres usa seus corpos para comprar o que querem... A maioria dos homens paga por isso. Eu lido com essas pessoas. Mas não sou um deles. E nem você.” Sua voz abaixa quando uma luz acende no meio da sala. Há um palco preso com cordas saindo do teto, junto com diferentes tipos de algemas e algemas.

Eu paro de andar.

“Tire os sapatos”, ele instrui.

Eu me atrapalho com os sapatos e finalmente os tiro, incluindo o que tenta sufocar meu tornozelo já inchado.

Ele pega um robe de seda preta e me entrega. “Tire as roupas.”

“Não.”

Ele suspira com impaciência. “Você precisa confiar em mim.”

Eu o encaro. Ele apenas inclina a cabeça de uma forma animalesca e predatória que faz eu me perguntar se sua alma ainda está no corpo ou apenas presa lá por mera força de vontade. Seus olhos são tão vazios.

Mas ele é tudo que tenho.

E sei que ele e os italianos têm um acordo.

Estou sem opções, não é? Este é o único caminho a seguir.

“Ok... Ok.” Tiro minha roupa enquanto ele assiste. Ele não parece minimamente afetado por minha nudez, como se a tivesse visto tanto, que não o abala mais.

Ele aponta para o teto. “A luz verde significa que você foi comprada. A luz vermelha significa que será torturada. Eu começaria a orar por uma luz verde... até os italianos são sanguinários quando se trata de tortura, e não tenho como saber se aqueles que te compram pretendem deixá-la viver ou querem vê-la sofrer.”

“Por favor!” Agarro seu braço. Ele olha para meus dedos como se não estivesse acostumado com o contato humano e então se afasta. Eu o seguro novamente. “Por favor, não me deixe aqui.”

Seus olhos suavizam. “Se isso te faz se sentir melhor, tenho setenta por cento de certeza de que verá uma luz verde, e se for vermelha, vou atirar em você antes que a dor se torne insuportável. Concorda com isso?”

Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Ele me entrega um lenço enquanto seus passos ecoam pelo chão de cimento.

Por que cimento?

E por que, de todas as coisas acontecendo, isso é algo que permanece em minha cabeça? O clube é luxuoso, nenhuma despesa foi poupada, então por que cimento? Fico olhando para ele enquanto a porta fecha.

As luzes piscam ao meu redor.

Drenos estão a cada poucos metros no cimento.

E revestindo a parede há correntes que você veria em uma masmorra. Sangue mancha algumas delas, e em uma delas está uma mulher, com os olhos e a boca sem vida. Abro a boca para gritar quando o painel ao qual ela está presa é sugado de volta para a parede. Uma cortina vermelha substitui a área como se nada tivesse acontecido.

Assumi erroneamente que esse é algum tipo de playground adulto.

Não, não é.

Isso é... o poço do inferno.

O palco principal parece saído de um filme de terror. O que é pior? Parece haver lugares para sentar nos fundos, sofás luxuosos como os da seção VIP com baldes de champanhe em cada uma das mesas.

Que tipo de homem é Andrei? Para deixar isso acontecer? Para participar disso?

Se beijar e sexo não são sua moeda, isso significa que é a tortura?

Envolvo os braços em minha cintura enquanto lentamente caminho em direção ao palco e sento na beirada. Meus olhos se fixam nas luzes acima.

“Por favor, Vic. Por favor, me encontre.”


CAPÍTULO TRINTA E UM

VIC

Não me lembro de ter dirigido até o clube. Minha raiva é alimentada por três coisas. Encontrá-la. Mantê-la segura. Matar qualquer um no meu caminho.

Eu saio do SUV com uma Glock em cada mão.

“Vic”, Nixon grita atrás de mim.

Eu paro de andar. Muito chateado para me virar e encará-lo.

“Isso não vai acabar do jeito que você quer”, ele diz com a voz clara.

“Eu recebi o castigo. Não deixarei que ela seja punida por minhas ações, Nixon. Tenho um plano.”

Posso sentir sua hesitação.

Sinta os chefes se entreolharem.

Chase dá um passo à frente. “Nós confiamos em você por três anos.”

Finalmente viro-me e vejo todos eles fortemente armados, olhando para Nixon. Esperando. Tex não interfere porque é um negócio de família - e eu sou propriedade dos Abandonato.

“Se conseguir encontrar uma maneira de consertar isso”, Nixon diz em voz baixa, “conserte. Mas nada pode remontar a nós ou a ela. Foda isso e eu te mato. Sem hesitação. Sem erros.”

Eu concordo. “Obrigado.”

“Nós te protegemos, Vic.” Nixon engatilha a arma e balança a cabeça. “Você tinha que se apaixonar pela babá.”

“Eu te disse cara, olhos castanhos.” Dante sorri.

Caminhamos juntos em direção à porta preta. Bato duas vezes antes que a porta abra. “Mova-se.”

O guarda-costas arregala os olhos enquanto encara o cano da arma na minha mão direita.

Com um suspiro, ele balança a cabeça. “Uma arma por pessoa.”

“Desculpe, eu tenho sete. Mova-se.”

“Vic...-” O cara amaldiçoa em russo. “Eu não posso, você sabe que não posso.”

“Você pode”, respondo com um sorriso. “E irá.”

Ele sabe que não estou blefando. Ele conhece minha loucura; está evidente em meu rosto. Eu o matarei a sangue frio mesmo sabendo que ele tem uma família, mesmo sabendo que ele tem um filho a caminho. Eu não hesitarei.

Ele sabe.

Então dou-lhe três segundos.

Quando não deveria ter dado nenhum.

Ele enxuga o suor do rosto com as mãos. “Pelo menos me bata, então parecerá que houve uma luta.”

“Sem problemas.” Eu o nocauteio com minha arma e atravesso a porta da frente. A música alta já está me dando dor de cabeça enquanto atravesso o corredor principal e entro na área de dança. Andrei mais uma vez está examinando seu reino. Ele suspira quando me vê, e então sorri quando o resto dos chefes entra atrás de mim.

A música continua, mas as pessoas obviamente percebem que um grupo de gigantes italianos entra no que é notoriamente conhecido como um clube dirigido por russos. Um clube dirigido por russos que atende a todos os tipos de estilos de vida e origens, um clube que adora torturar garotas italianas e vendê-las nas ruas.

Andrei acena para mim.

Subo as escadas, minhas armas ao lado do corpo enquanto ele senta em seu sofá de costume e estende os braços nas costas dele. “Está aqui pela garota?”

“O que você fez?” Aponto ambas as armas para seu rosto.

É a primeira vez que vejo o cara sorrir abertamente. “De nada.”

“Que porra é essa?” Eu grito.

Ele apenas encolhe os ombros enquanto o resto dos caras se posiciona ao meu lado.

Tex é o próximo a falar. “Você decorou ou conseguiu encontrar um vampiro disposto a fazer isso pela metade do preço?”

Andrei lhe dá um olhar de desgosto. “Lobisomem, na verdade.”

“Onde ela está?” Pergunto novamente, e desta vez minha voz treme com tanta raiva que tenho dificuldade em não atirar nele apenas por simples prazer.

Ele suspira como se estivesse entediado, então se levanta. “Siga-me.”

Caminhamos em direção a gaiola.

Não. Ele não a colocaria lá.

Ele não iria.

Meus dedos coçam para puxar os dois gatilhos.

“Lembre-se...” Andrei suspira. “Eu sou seu aliado.”

“Posso questionar isso se você a colocou na gaiola, seu filho da puta doente!” Eu grito.

Ele revira os olhos. “Acalme-se. Além disso, o que queria que eu fizesse? Simplesmente entregá-la após uma transação de dois milhões de dólares?”

Nixon coloca a mão no peito de Andrei. “Explique-se. Agora.”

“Angelo é um idiota que quer ter acesso ao seu fundo fiduciário. Tudo está ligado ao casamento... Mas se ela for vendida e ele voltar e tiver provas de sua morte, então... O que um pai pode fazer senão dar ao filho todo o dinheiro?”

“O que?” Balanço a cabeça.

“Dei a ele dois milhões de dólares pela honra de torturá-la.”

Tento atacar Andrei, mas Tex e Phoenix me seguram.

“Agora...” Andrei nos leva para a varanda com vista para o palco principal. Ela está tremendo, abraçando seu corpo enquanto pessoas ao seu redor começam a cutucá-la como se ela fosse um objeto que podem comprar. “Aqui está o seu botão. Basta digitar o número da garota pela qual deseja pagar... e pressionar a luz para definir o tipo de atividade que deseja realizar. Posso sugerir a torre suspensa da morte? É o melhor orgasmo da vida de alguns homens.”

Eu aponto a arma para sua cabeça. “Solte-a.”

Andrei abre bem os braços. “Sou um homem de negócios, lembra? É aqui que fui posto. Não posso entregá-la. Mas você pode comprá-la. Da maneira como todo mundo compra neste estabelecimento. Minha sugestão seria se apressar, já que vários homens já perguntaram o preço dela e não posso continuar mentindo e dizendo doze milhões, especialmente quando um deles realmente considerou pagar...” Ele enfia as mãos nos bolsos. “Dois milhões. E não importa a escolha que fizer com a luz, sem julgamento, Vic, ela será declarada morta, o que significa que ficará sob sua proteção ou conhecerá o inferno.”

O dispositivo está frio em minha mão quando ele o entrega e me deixa olhando-a.

“Eu posso matar todos eles”, sussurro.

“Você se sentiria melhor se o fizesse?” Nixon pergunta.

“Sim.”

Ele suspira. “Não seria sensato criar uma bagunça ainda maior quando Andrei está tão envolvido... Apenas... Compre-a e acabe com isso.”

“Acabar com isso!” Eu empurro seu peito e grito. “Eu a amo!”

“ENTÃO COMPRE-A!” Ele grita de volta.

Não é simples assim.

Posso comprá-la sete vezes.

Eu comprarei.

E então tenho que deixá-la ir.

Mas não quero fazer isso.

Eu quero comprá-la e fugir com ela. Quero comprá-la e me casar com ela. Quero comprá-la e deixá-la ir para a faculdade que quiser e terminar seu curso. Eu quero sua liberdade.

Com as mãos trêmulas, pressiono o número pendurado acima do lugar onde ela está sentada... E depois aperto o botão vermelho.


CAPÍTULO TRINTA E DOIS

RENEE

Estremeço quando a tela pisca com o número acima da minha cabeça... E então a luz fica vermelha. Fico boquiaberta como se não fosse verdade. Não pode ser. Ele não só não veio a tempo, mas eu seria torturada até a morte.

Embora Andrei tenha prometido que me matará.

Isso não está acontecendo.

Como pode ser real?

Levanto com os pés trêmulos quando dois homens entram, caminham em minha direção e me puxam para uma porta do lado oposto. Eles me empurram e fecham a porta atrás de si.

O quarto está escuro como breu, exceto por um pequeno lustre que pende sobre uma cama de cetim vermelho. Não há janelas.

Apenas cetim e veludo em todos os lugares que olho, e várias gavetas e armários diferentes que provavelmente contém armas que me assombrarão mesmo na morte.

Um movimento atrás de mim chama minha atenção enquanto corro em direção à cama e tento me esconder no canto mais distante.

Em seguida, passos.

Alguém está saindo das sombras.

Eu fecho os olhos.

Isso acabará em breve. Tudo estará acabado.

“Estou te observando”, diz a voz familiar. “E percebi mais uma vez que se tudo que eu tivesse permissão nesta vida... fosse a honra de te observar, eu aceitaria.”

“Vic?” Pergunto, enquanto esperança enche meu peito. “Por favor, me diga que isso não é um truque.”

“Sem truque.” Ele dá a volta na cama e se abaixa. Ele tem quatro armas diferentes presas ao peito, ainda mais provavelmente nas costas, e parece pronto para começar uma guerra.

“Mas como?” Estendo a mão para ele, então me afasto com vergonha.

Ele inclina o queixo em minha direção. “Sempre vou te encontrar, Renee. Sempre.”

“Eu não queria fugir, mas estava tão chateada, ainda estou, não posso confiar em ninguém, não posso...”

Ele me silencia com um beijo e então se afasta. “Você pode confiar em mim. Eu teria contado tudo se isso não colocasse sua vida em perigo, e a minha. Já estamos com muitos problemas. Mais um seria...” Ele suspira. “Acho que não importa mais, certo?”

Faço uma careta. “O que você quer dizer com não importa?”

“Eu te amo.” Ele beija minha testa. “Nunca se esqueça disso, certo?”

“Mas...”

Ele se levanta e pega uma das armas.

“Não, Vic! Não!”

“Confie em mim”, ele diz suavemente. “Confie em mim para cuidar de você.”

“Você está apontando uma arma para mim!” Eu grito. “Como posso confiar nisso?”

“Você me conhece, Renee. Você conhece o meu verdadeiro eu. Confie em mim... Por favor. É a única maneira.”

“Matar-me é a única maneira?”

“Eu nunca disse que te mataria”, ele diz com a voz letal.

Faço uma careta assim que o primeiro tiro soa. Ele atinge o travesseiro próximo à minha cabeça. Eu grito e cubro o rosto com as mãos. Mais tiros soam até que tudo que ouço são tiros.

E então a porta abre atrás dele e o que parece ser uma mulher é jogada na cama.

Andrei estala o pescoço. “Ela é a mais parecida que pude encontrar... e não é mais útil para nós.”

A mulher começa a rir alto e a tirar a roupa. Ela parece à beira da morte enquanto buracos de balas decoram suas pernas finas, junto com queimaduras de cigarro. Seus braços foram cortados como se ela tivesse se ferido tentando escapar do inferno, e está tão drogada que começa a gritar sobre demônios.

Vic atira nela sem tirar os olhos de mim.

Eu o observo enquanto ele crava balas em seu corpo.

Quando sangue escorre e é misturado com penas e cetim vermelho da cama, Vic estala os dedos e Andrei lhe entrega algo preto.

“Confie em mim”, ele diz, antes de cobrir minha cabeça e me jogar por cima de seu ombro.

“Foi divertido!” Andrei ri orgulhosamente. “Volte sempre!”

Quero mostrar a ele meu dedo do meio junto com minhas lágrimas. Quero gritar, me enfurecer e bater os punhos nas costas de Vic. Isso até sentir o ar frio da noite nas minhas pernas.

E então uma porta abre.

Vozes familiares soam.

“Alguma limpeza?” Dante.

“Não”, Vic responde asperamente.

“Droga.” Chase.

“Ela provavelmente está em choque.” Tex.

“Quem não estaria?” Sergio.

“Leve-a para casa.” Nixon.

“Parece que tenho uma nova pasta preta para outro membro da família... Você vê como o mundo funciona? Damos e damos, e ele dá de volta. Vou gostar imensamente dessa, eu acho.” Phoenix.

Eles continuam falando como se não fosse grande coisa que uma mulher aleatória esteja morta naquele quarto, ou que seu amigo Andrei lide com quaisquer horrores que acontecem naquele clube.

Vic me coloca no banco de couro e joga as chaves para Phoenix. E senta ao meu lado enquanto o veículo parte.

Eu oscilo em seus braços.

Ele não me solta.

E então finalmente paramos.

E sou tomada pelo cheiro familiar da casa de Nixon... ele tira o capuz preto da minha cabeça, e desabo contra seu peito. Soluços angustiantes saem de meus lábios enquanto tento agarrá-lo, lutando por seu abraço.

Ele me conforta. Ele me abraça com força.

E eu os odeio.

Odeio todos.

Odeio essa vida.

E odeio a necessidade do que acaba de acontecer.

Que alguém tenha que morrer para que eu possa viver.

“Conversaremos mais tarde”, Nixon sussurra. “Bom trabalho esta noite. Eu não teria pensado claramente... Eu teria apertado o botão verde e exposto tudo e todos... porque quando se ama alguém, tudo o que pode focar é em mantê-la em segurança. Você provou algo extraordinário esta noite, Vic. Eu espero que saiba disso.”

Vic acena com a cabeça e me carrega pelo corredor em direção ao seu quarto.

Uma vez lá, ele fecha a porta atrás de si e me coloca no chão. Eu avanço. Bato nele com os punhos até não poder mais sentir minhas mãos e então grito com ele, ele permite até que eu me acalme, até que perco a energia - até eu vencer o medo.

“Tudo bem.” Vic segura meu rosto, enxugando as lágrimas com os polegares. “Você está segura agora, vai ficar tudo bem.”

“Não vai!” Eu engasgo com um soluço. “Nixon vai me mandar de volta para Angelo ou... Ou... Ou...”

“Você está morta”, Vic diz em voz baixa. “Você não pertence a ninguém além de si mesma.”

“Mas...” Eu fungo. “E você? Por que não posso pertencer a você?”

Seus lábios se contraem e ele sorri. “Eu nunca disse que não podia.”

“Mas seu juramento...”

“Foda-se o juramento.” Ele me puxa contra seu peito. “Eu vivo para você agora.”


CAPÍTULO TINTRA E TRÊS

VIC

Seus olhos brilham quando mais lágrimas caem por seu rosto. “Por mim?”

“Dê-me a escolha, Renee, eles ou você, e sempre será você. Diga-me para ir embora e eu irei.”

“Você se afastaria desta vida?”

“Isso não é viver”, digo tristemente. “Eu quero uma vida com você. Só com você.”

“Mas e quanto à sua família? Você não pode simplesmente deixá-los...”

“Eu sou substituível.” Dou de ombros.

Ela me encara como se soubesse que não é verdade.

Com um suspiro, puxo-a com força contra meu peito. “Não quero mais momentos roubados com você. Quero ir devagar... Quero seu corpo suado em minhas mãos enquanto faço amor com você, quero te deixar louca com minha língua, te deixar selvagem com cada toque. Chega de coisas apressadas entre nós, Renee. Não mais. Porque eu sou seu.”

“Não.” Ela balança a cabeça.

Meu coração para de bater com esse não. “O que?”

“Não posso ser sua a menos que você me dê sua palavra.”

“O que?”

“Sua palavra primeiro.”

Eu me afasto e cruzo os braços. “Não é assim que as coisas funcionam.”

Ela sorri. “Eu sei. Mas também sei o quão teimoso você é. Sua palavra, por favor.” Claro que posso ver o contorno de seus seios e estou distraído como o inferno com a necessidade de apenas estar dentro dela e me certificar de que ela está bem.

“Você tem minha palavra.”

“Excelente.” Ela agarra minha mão e sai do quarto pisando forte comigo a reboque. Paramos quando ela entra na cozinha barulhenta... naturalmente há vinho por toda parte e conversas raivosas sobre não terem atirado em nada.

“Nixon.” Ela grita seu nome como se tivesse o direito.

A expressão de Nixon não poderia ser mais atordoada.

“O que você fez, esconder isso de mim, foi errado.” Ela ergue o queixo no ar como a realeza que é. “Mas é verdade? Se houvesse uma classificação aqui... Eu seria mais importante do que... Tex?”

“Cuidado.” Tex se levanta e pisca para ela.

Nixon sorri. “Sim, provavelmente.”

“Ei!” Tex parece realmente magoado.

“O que você quer?” Nixon parece extremamente divertido.

“Bem, eu tenho exigências.”

“Babás não tem exigências.”

“Princesa”, ela corrige. “Tenho direitos, certo?”

Nixon gargalha com vontade. “Sim, tudo bem, alteza, quais são suas exigências?”

“Ele.” Ela me puxa para frente. “Só ele.”

Os caras me encaram com sorrisos tão divertidos que quero atirar em cada um deles.

Chase apenas se recosta na cadeira com um sorriso astuto como se soubesse que acabaria assim. Okay, certo.

“Algo mais?” Nixon franze a testa.

“E...” Ela engole em seco. “Quero cozinhar o jantar em família pelo menos uma vez por mês.”

“Não!” Chase grita. “Ela vai estragar tudo!”

“Sente-se.” Dante o segura pela camisa.

“Jantar em família, hein? Isso significa que vai ficar?” Nixon caminha em sua direção. “Eu tenho uma casa de hóspedes, vários quartos... mas pelo olhar do meu primo...” Ele nem me olha, o bastardo provavelmente pode sentir o cheiro de excitação de longe. “... Ele talvez busque mais privacidade.”

Eu mostro-lhe o dedo do meio.

Todos começam a rir.

“Não há tempo para isso.” Ela sorri docemente. “Então eu sugiro que use protetores de ouvido esta noite... teremos algumas horas divertidas. Afinal, acabo de ser resgatada e, aparentemente, valho mais do que você.”

Eu engasgo com uma risada.

“Isso é justo.” Nixon ri e estende a mão. “Temos um acordo então?”

“Juramento de sangue.” Ela ergue o queixo no ar novamente.

Caramba. A mulher vai se cortar por isso? Por mim?

“Você tem prestado mais atenção do que imaginei”, Nixon murmura enquanto pega sua faca e corta o meio de sua mão, em seguida, agarra a dela e faz o mesmo, só que muito mais leve. Ele pressiona a palma da mão na dela. “Eu juro pela minha vida que Vic está livre de seu juramento, que ele é seu em todos os sentidos, que você é dele...” Ele limpa a garganta. “... e”, ele acrescenta com a expressão cansada, “que você pode preparar o jantar em família pelo menos uma vez por mês.”

“Filho da puta”, Chase murmura de seu lugar na mesa.

Renee suspira, afasta a mão, então se inclina e beija Nixon nas duas bochechas. “Obrigada.”

“O prazer é meu”, ele diz num tom sério enquanto sustenta seu olhar.

“Ele tinha que se apaixonar pela babá...” Tex diz.

“Aposto que ele vai beijar seus machucados e fazer o melhor macarrão com queijo...”

Esse comentário ganha um tapa de alguém, e então as facas e armas são puxadas. E vinho é servido.

É um dia típico por aqui. Eu não respondo, apenas procuro o kit médico e pego um antisséptico para passar na mão de Renee em meio aos homens bebendo. Quando termino, aperto sua mão e a guio pelo corredor.

No minuto em que entramos no meu quarto, fecho a porta com força.

E não a tranco.

Deixe-os ver.

Deixe-os ver quem eu amo.

Por quem morrerei.

Por quem juro viver.

“Eu te amo”, ela sussurra entre beijos enquanto me empurra contra a porta, forçando seu corpo suave contra o meu. “Obrigada por salvar minha vida.”

“Foi você...” afasto-me e encaro seus olhos. “... que salvou a minha.”

Nossas bocas se encontram. Eu me afasto e sorrio. Eu sorrio porque estou feliz. Porque ela me faz feliz.

Porque pela primeira vez em muito tempo, eu sinto alegria.

E quando a jogo na cama e beijo cada centímetro de sua pele, quando provo seu corpo, quando me empurro lenta e suavemente e me permito sentir o ritmo de seu corpo...

Eu juro fazer tudo ao meu alcance para garantir que ela nunca seja ferida ou ameaçada novamente.

Levanto-me sobre ela e minha respiração é irregular. “Você é minha alegria.”

Seus olhos brilham quando ela envolve os braços em meu pescoço e move os quadris contra os meus. Acendo um fogo lento entre nós, puro prazer enviando ondas de choque por nossos corpos.

Ninguém jamais vai amá-la do jeito que eu amo.

“Vic.” Ela me encara com ternura. “Meu Vic.”


EPÍLOGO

Ele está me observando novamente.

Posso sentir em meu corpo, na maneira como queimo por ele, do topo da cabeça até os dedos dos pés. Lambo os lábios em antecipação e tento me concentrar na conversa com minha mãe.

“Aqueles eram tempos perigosos”, ela diz com uma tristeza tão pesada que tenho certeza de que se eu estender a mão, posso agarrá-la, olhar para ela, prová-la, ver cada imagem mental que ela descreve e sentir sua dor. “Mas seu pai, seu pai biológico”, ela se corrige. “Ele sacrificou a vida por nós.”

Seguro a mão dela e a aperto. “Ele sofreu?”

Sinto todos pararem e me olharem, é como se as pessoas ao nosso redor agindo casualmente depois do nosso casamento mostrassem suas verdadeiras faces. E espionarem. Talvez elas tenham feito uma pausa, talvez tenham reagido porque sabem a verdade.

Na máfia sempre há sofrimento.

Vem de mãos dadas com encontrar o amor verdadeiro.

É um sacrifício que todos estamos dispostos a fazer - encontrar aquele que faz nosso coração bater quando enfrentamos a morte diariamente.

“Não.” Ela sorri para nossas mãos unidas e para o pequeno álbum marrom com suas cinco fotos e páginas rasgadas. “Onde há amor, o sofrimento não pode existir, apenas amor. O amor expulsa todo o medo onde reside o sofrimento, só existe determinação, proteção e sacrifício. Isso é amor de verdade, morrer para si mesmo, independentemente do custo.”

Não percebo que estou chorando até que minha mãe solta minha mão e toca minhas bochechas com as dela. “Seu pai biológico te amava tanto quanto o pai que você conheceu. Ambos nos salvaram de maneiras diferentes. E agora...” Ela olha por cima do meu ombro. “Agora você encontrou um homem disposto a fazer qualquer coisa para mantê-la segura. Em nosso mundo, essa bravura é mais profunda do que o amor. É a vida. E ele está disposto a dar a dele pela sua.”

Ela me beija na bochecha e se levanta, caminhando em direção à cozinha como se o ar não estivesse pesado com suas palavras. Como se eu não continuasse olhando as fotos em meu colo.

Engulo o nó na garganta e olho para cima. Vic está ao meu lado novamente.

Surpresa, surpresa.

Ele é muito talentoso em não fazer barulho. Às vezes me pergunto se ele treina para parar de respirar.

Ele diz que é apenas habilidoso.

Certo.

Hábil no silêncio.

“O que está fazendo?” Inclino a cabeça e coloco o pequeno álbum no sofá.

Ele apenas sorri, na verdade seu sorriso se transforma num riso completo quando ele se ajoelha e segura minhas mãos, então sussurra rispidamente contra meu pescoço: “O que eu faço de melhor.” Eu respiro fundo. “Estou observando a babá.”

“Gosta do que vê?” Mordo meu lábio inferior.

“Adoro.” Ele se afasta e segura meu rosto, em seguida, dá um beijo suave no canto da minha boca. “Eu te amo.”

“Eu também te amo.”

Ele se levanta e me coloca de pé, então me puxa contra seu peito. “Acho que terá que provar isso várias vezes.”

Não deixo de notar a piscada maliciosa que Chase dá em nossa direção enquanto caminhamos casualmente para o banheiro do corredor, e percebo a expressão vazia de Andrei como se ele nem estivesse naquele ambiente.

Mas em algum lugar longe.

Em algum lugar morto.

E meu estômago revira ainda mais porque sei que a menos que se tenha luz para equilibrar a escuridão... você não sobreviverá.

Não nesta vida.

“Ele está bem”, Vic diz, fechando a porta atrás de nós, me empurrando contra ela. “Alguns de nós se alimentam da escuridão, então eu digo: deixe-a se alimentar, deixe-a crescer, até que fique tão grande que ele mesmo tenha que lutar.”

“Como um monstro?”

“Ele é um monstro. Todos somos. Deixe ficar grande o suficiente para que ele tenha que fazer uma escolha...”

“Que seria?”

“Lutar ou se entregar.”

“Você lutou.”

Ele dá um beijo em meus lábios. “Você me deu uma razão para isso.”

Agarro seus bíceps e puxo para um abraço. Neste momento, posso jurar que sinto a batida de seu coração chamando meu nome enquanto meu coração bate na mesma cadência.

Para sempre. Sou dele para sempre.

Até que a morte nos separe.

Ou até que este mundo cruel nos separe um do outro.

Eu sou dele.

Ele é meu.

“Eu também te observo.” Sussurro. “Todos os dias.”

“Eu sei.” Ele sorri. “Eu sempre soube... foi a primeira coisa que notei em você, seu olhar intenso... eu encontrei amor naquele olhar. Sabia que a única maneira de chamar sua atenção... era observando de volta. “

“Eu te amo”, digo entre lágrimas.

Ele apenas sorri e repete o que falou antes. “Prove.”

 

 

                                                   Rachel Van Dyken         

 

 

 

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