Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


EXPOSED / Rachel Van Dyken
EXPOSED / Rachel Van Dyken

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

Bem-vindo ao mundo da Elite... Onde nada é o que parece.
Tudo o que Tanit deseja fazer é passar o ano letivo sem receber nenhum tipo de atenção.
Até que ela ganha a atenção dele.
Ele é cruel.
Ele é lindo.
Ele é tudo que ela foi avisada para ficar longe...

Avance 10 anos no futuro da Eagle Elite, descubra o que aconteceu com a universidade Eagle Elite e abra caminho para um novo chefe...

 


 


01

Tanit

“Nova universidade. Novas regras.” Meu pai abaixa a cabeça e suspira, como se estivesse mais desapontado do que eu com a mudança de Nova York para Chicago. Todos sabemos por que isso teve que acontecer.

É uma questão de vida ou morte.

Eu queria estar brincando.

Mas não.

“Isso será bom para você, ok?” Seu rosto envelhecido revela seus sessenta e dois anos. Eu fui uma surpresa, uma criança milagre e, por causa disso, basicamente não fiz nada além de viver sob a proteção dos meus pais e da Família pelos últimos dezoito anos.

O único contato real que tenho com o mundo exterior é através do computador e do telefone que meu pai me deu apenas para fins de emergência — o que significa que meu plano de dados realmente não permite fazer nada além de mandar algumas mensagens de texto.

Todas minhas experiências de ensino são domiciliares.

E fazer compras.

As raras visitas foram quando minha mãe me deixou ir com ela para a Saks ou a Barney’s, e mesmo assim, quase sempre com os seguranças... quer dizer, de que adianta se não consigo nem me divertir sem que alguém fale ao fone de ouvido ou fique parado ao meu lado enquanto tento escolher um sutiã!

É embaraçoso.

Deus, tão embaraçoso.

“Sim.” Finalmente encontro minha voz e estendo a mão. Meu pai a segura, apertando-a entre as luvas de couro antes de soltá-la e virar levemente o pulso para verificar seu Rolex.

Sem emoção.

Sem revelar nada.

Não sentindo nada.

Porque em nosso mundo.

Emoção significa apenas uma coisa.

Fraqueza.

Minha mão cai ao meu lado.

Sem vida.

Contenho o tremor que ameaça escapar sempre que meu corpo anseia por mais.

Como um abraço.

Um toque.

Alguma coisa.

Qualquer coisa.

“O reitor está te esperando.” Papai coloca a mão nas minhas costas e entrega minha bolsa... nada além do melhor dos melhores para a realeza italiana, certo?

Só que não somos mais a realeza para eles.

Não mais.

Não desde a separação.

Não desde que meu pai decidiu que havia um pasto muito mais verde... não com vida, mas com dinheiro.

Ele pulou fora.

Abandonou o navio.

Estamos encrencados com os Petrov desde então.

Outra razão pela qual deixamos Nova York.

Uma garota da minha idade não deveria saber essas coisas.

Uma garota da minha idade também não deveria bisbilhotar.

E um homem da idade do meu pai deveria saber disso.

O que significa apenas uma coisa.

Ele queria que eu soubesse.

E a parte doentia é que quando coloco a cabeça no travesseiro à noite, as vezes me pergunto se é porque ele se recusa a deixar os segredos morrerem com ele... se for o caso.

Então, eu os carrego.

E eles me comem viva.

“Tanit”, ele diz meu nome suavemente, como se fosse lindo, como se fossemos ter um momento entre pai e filha com o qual sonho, como na série Três É Demais quando a música fica mais leve e os personagens se abraçam. “Eu te amo.”

Mordo o lábio inferior e balanço a cabeça.

Ele vai embora.

Deixando-me sozinha.

Pela primeira vez na vida estou sem proteção.

Viro para olhar ao redor.

Universitários estão por toda parte. Sigo o caminho que tem uma placa apontando para o prédio da administração.

Sozinha.

Mas sempre estive sozinha, não é?

Esta é apenas uma versão diferente e mais assustadora, cheia de jovens que me matarão se souberem a verdade... e de adultos que farão o mesmo.

Estou na universidade mais segura e ainda assim a mais perigosa do mundo.

Minha única tarefa?

Graduar-me sem ser morta.

Um cara passa por mim num skate, quase me atirando na grama.

Pois é, não deve ser um problema.


02

Dom


“Strike três.”

Sorrio presunçosamente quando outro aluno é punido por algo que fiz. Não é como se eu pudesse levar a culpa por colocar fogo no mascote, quer dizer, o que meus pais adotivos diriam?

Que ajo assim porque estou sendo forçado a terminar o último ano?

Absolutamente.

Eu.

Odeio.

A.

Universidade.

Mas a resistência é fútil e toda essa merda... meus 'pais' querem que eu tenha uma educação além da ciência armada e como espancar alguém apropriadamente quando não cobram um preço justo pela maconha.

Não estou certo? Ok, ok.

Leo me dá um olhar carrancudo antes de sair pisando duro em direção à patética sala para a qual os professores mandam os alunos rebeldes. De que adianta tê-lo como melhor amigo se ele não pode levar a culpa por mim?

Faço uma nota mental para agradecê-lo mais tarde.

Não que minha reputação não seja notória; é que tenho merda melhor para fazer do que sentar por três horas e fazer a tarefa que terminei semanas atrás.

Estou tão farto deste lugar chato.

Com seus alunos ainda mais chatos que parecem ovelhas.

E professores, professores que se curvam para mim como se eu estivesse numa posição de autoridade... é assim desde que tenho seis anos.

E realmente começou a me irritar.

Eu culpo meus pais.

Mas não é culpa deles.

Bem, meio que é.

De certa forma.

As coisas estão complicadas.

Especialmente quando se é o patético órfão de Nixon Abandonato.

É como me refiro a mim mesmo.

Porque quando minha mãe verdadeira morreu tragicamente por causa de uma bomba que não deveria ter explodido, num hotel em que ela não deveria estar para começar, ele e sua esposa Trace me acolheram.

O último da família.

Esse sou eu.

E quase todos os dias.

Eu desejo ter estado naquele hotel com ela.

A única memória que carrego está cheia de sangue.

E uma infância em que minha mãe sempre me escondia atrás dela com medo de que alguém atirasse em nós... melhor que fosse nela do que no herdeiro, certo?

Balanço a cabeça com desgosto.

A máfia é uma coisa bagunçada.

Na verdade, morar com Nixon é prova disso.

Eu o chamo de pai para irritá-lo.

E não funciona, porra.

Ele apenas sorri e vai embora, na maioria dos dias me ameaçando com danos físicos e nunca duvido que ele os cumprirá.

O pior é que ele é apenas dez anos mais velho do que eu.

Trinta e um contra meus vinte e um.

Inferno.

“Atear fogo no mascote”, diz uma voz familiar. Eu gemo e momentaneamente penso em fugir. “Não é muito original.”

Viro para olhá-lo.

“Pai.”

Os olhos azuis de Nixon se estreitam. “Engraçado, você me lembra do por que não tivemos mais do que três filhos.”

“Que sortudo! Agora tem quatro.” Cruzo meus braços volumosos.

“Claro que tenho sorte.” Ele me dá um tapa nas costas, em seguida, me empurra pelo corredor, o cara é uma besta letal, e gosto de pensar que posso vencê-lo num bom dia, mas ele ainda tem pelo menos dez quilos a mais de músculos em seu corpo. “Preciso de um favor.”

Meus ouvidos ficam atentos a cada palavra. “Um favor?”

“Sim.” Assim que saímos para a luz do sol, ele coloca seus óculos aviador e começa a andar. Eu o sigo. Cinco homens saem das sombras e nos cercam de todos os lados. Sim, minha vida é um filme de máfia maluco que ganhou vida. “Preciso que se aproxime de alguém.”

Já fiz coisas para ele antes, mas algo em seu tom revela que dessa vez é diferente, que não se trata de obter informações, roubar, aprender sobre drogas, tráfico, como matar alguém antes que solte um grito ou sequer saiba que estou lá.

“Quem?” Resmungo a palavra.

Ele para e balança a cabeça, um breve sorriso cruzando seu rosto. “Eu odeio este lugar.”

Não é o que eu esperava. “Entre na fila, vou queimá-lo primeiro.”

Ele ri, mas mantenho minhas feições controladas e o encaro com um olhar pétreo. Seu piercing no lábio parece totalmente fora do lugar com o terno que ele usa, e a tatuagem que aparece por baixo da gravata ao redor de seu pescoço, sim, o cara pode quebrar qualquer um.

Nem é engraçado vê-lo tentar.

“Ela acaba de se matricular.” Meu telefone vibra no bolso. “Todas as informações foram criptografadas e enviadas para você. Sergio já pôs um rastreador na bolsa dela. Mas preciso que se certifique de termos algo mais... permanente.”

“Inferno.” Reviro os olhos. “Você quer que eu durma com ela, não é?”

“Dormir?” Ele franze a testa. “Não, Dom, preciso que você a foda até ela perder os sentidos e esquecer o próprio nome, então preciso que faça seu trabalho... isso é maior do que nós.” Ele abaixa a cabeça, “Eles finalmente encontraram você.”

“Eu?” Pisco para afastar a confusão. O que diabos eles querem comigo?

“Você”, ele repete. “Ainda duvida da sua importância?”

“Eu não sou ninguém.”

Ele balança sua cabeça. “Você é filho dele... isso o torna alguém. Você é um elo perdido que não sabíamos até agora, então isso o torna importante. “

“Meus pais são boas pessoas.”

“Não estou falando das pessoas que te criaram.” Nixon encolhe os ombros. “Faça seu trabalho, então talvez eu o deixe se formar mais cedo.”

“Eu te odeio.”

“Alimente demais o seu ódio, e o que resta?” Nixon inclina a cabeça, depois me dá um tapinha no ombro e o aperta. “Nós fazemos o que é preciso para proteger quem amamos. E por mais que me doa admitir, Trace te ama, a Família te ama... todos nós nos importamos com você, mesmo que queime coisas para chamar a atenção.”

Eu reviro os olhos. “O mascote foi uma declaração sobre minhas crenças sobre animais com roupas.”

Ele ri. “Faça um favor a todos e pare de andar tanto com Chase e Dante.”

Literalmente, os únicos caras com quem passo um tempo fora da escola junto com o resto da família assustadora na qual fui jogado.

“Chase anda sorrindo”, eu digo.

“Talvez porque ele finalmente tem algo para sorrir.” Nixon responde alegremente: “Apresse-se, vai chegar atrasado à aula de anatomia”.

Eu gemo. “Conheço o corpo humano. Sei como inserir uma lâmina entre as vértebras de alguém e tenho que ir a essa aula?”

“Ela estará lá”, é sua única resposta.

E então estou sozinho.

Mas não antes de Sergio, que nem sequer notei até parar na minha frente, me entregar um pacote e piscar.

Já mencionei que odeio minha vida?


03

Tanit


O reitor tem o dobro do tamanho do meu pai.

E quando ele fala, posso jurar que sua secretária abaixa a cabeça e tenta rastejar para debaixo da mesa.

Nota para mim mesma: nunca receber uma advertência.

Porque tenho a sensação de que me esconder não funcionará com esse cara. Ele me dá uma olhada, entrega o horário de aula e quase me expulsa de seu escritório, mas não antes que eu o ouça resmungar baixinho.

Traidora.

Pisco para conter as lágrimas.

Claro, os pecados de um pai sempre recaem sobre os ombros de sua descendência, ou seja, eu.

Eu os carrego comigo.

Cuido dos segredos de meu pai como flores silvestres, regando, alimentando, ajudando-as a crescer mais e mais, até que o único espaço em meu cérebro que não está preenchido por elas se enche de medo.

Porque é isso que os segredos produzem.

Medo.

Muito dele.

Balanço a cabeça e desvio dos alunos enquanto mantenho os olhos focados na calçada, e meus pés seguindo um na frente do outro, direita, esquerda, direita, esquerda... eu posso fazer isso. Um ano de universidade. Mais um ano. Pelo bem das aparências.

Pela minha segurança.

Porque o impossível aconteceu.

Meus pais não têm mais como me proteger.

Mas a universidade sim.

A faculdade pode.

Porque o sangue sempre será mais espesso que a água, e embora eu seja o inimigo, de acordo com as cinco Famílias, ainda sou sangue.

Então, ganho proteção.

Isso não significa que não estou apavorada por meus pais. Voltar a Chicago é tão perigoso quanto andar pelas ruas de Nova York sem um guarda-costas. Então, eles estão escondidos.

E eu estou na universidade

À vista de todos.

Deus me proteja.

Um corpo esbarra em mim. Por hábito, puxo minha bolsa para mais perto do corpo, em seguida, deslizo a mão no bolso da frente em busca do spray de pimenta.

Meu polegar abre a tampa, no momento em que a voz pertencente ao corpo diz.

“Não vai precisar disso aqui.”

Eu congelo e encaro seus olhos cor de mel. Eles são manchados de preto, e sinto se que não desviar o olhar, ele me puxará para suas profundezas.

Rapidamente solto o spray de pimenta e cruzo os braços. Eu provavelmente pareço culpada — meu rosto nunca foi bom em esconder sentimentos. “Precisar do quê?”

“Spray de pimenta.” Ele dá um passo em minha direção, elevando-se sobre meu corpo, embora eu não seja baixa. Seu cabelo negro e rebelde caí sobre a testa, dando a impressão de que ele não o corta há anos... ou talvez apenas prefira parecer um pirata desgrenhado.

O visual combina com ele.

Ele é musculoso nos lugares certos e é um pouco intimidador. Ele imita meus movimentos, em seguida, lambe os lábios, um sorriso cruel se espalhando por seu rosto.

Tento não respirar fundo.

Em vez disso, viro a cabeça para longe.

Eu preciso.

Ele é... do tipo lindamente louco que não deveria existir na vida real, com uma espécie de magnetismo que diz que ele representa uma vida inteira de más escolhas embrulhadas num pacote sexy.

“Você fala?” Sua voz é quase uma melodia.

“Claro que falo.” Faço uma careta. “Eu acabo de...”

“Oh, eu ouvi.” Seu sorriso se alarga. “Está tudo bem, acontece muito. É o sangue Abandonato, mas você vai se acostumar. Além disso...” Ele se aproxima e se inclina até que seus lábios roçam minha orelha. “Eu não fodo com calouras.”

Respiro fundo quando uma sensação de calor irradia da minha orelha para as bochechas e, em seguida, para o resto do meu corpo. “Isso é... uma suposição ousada.”

Ele se afasta e encolhe os ombros. “Não é uma suposição.” Sua mão se move para meu queixo e ele prontamente fecha minha boca aberta e pisca. “Você não deveria estar na aula?”

Olho ao redor e vejo calçadas vazias. Há quanto tempo estou parada aqui? “Hum, sim, eu só preciso ver qual é”, pego a grade de aulas. Ele a puxa das minhas mãos e acena com a cabeça em direção ao prédio na nossa frente.

“Eu te levo.”

“Não precisa.” Tento recuperar o papel.

Ele o segura mais alto. “Eu insisto.”

Não tenho forças para lutar contra ele e fugir parece ser algo que encorajaria um cara assim. Derrotada, dou um fraco aceno.

“Excelente.” Ele envolve um braço volumoso ao redor do meu corpo e me puxa em direção às portas.

Tento prender a respiração.

Porque tenho a sensação de que ele cheira tão bem quanto parece.

É desmaiar.

Ou respirar.

Eu escolho viver.

Então respiro.

Um aroma picante que não é nem um pouco infantil.

Viril.

Ele cheira como se passasse colônia apenas o suficiente para fazer uma garota como eu se inclinar.

Porque isso é exatamente o que quero fazer, inclinar-me, cheirar, tentar descobrir onde ele a passou. Sim, estou perdendo o controle. E é apenas o primeiro dia.

Caminhamos em silêncio. Tento não deixar meu corpo roçar contra o dele enquanto minhas pernas se movem, mas é inútil, ele segura mais forte quando resisto.

Ele para em frente a uma porta, gira a maçaneta com a mão esquerda e entra, ainda me tocando, ainda me tratando como se tivesse encontrado um cachorro perdido e o estivesse devolvendo ao dono.

“Sr. Abandonato.” O professor visivelmente empalidece. “A que devo a honra?”

O cara encolhe os ombros. “Esta é minha aula.”

“E ainda assim você raramente aparece, e sinto a necessidade de questionar sua presença. Pergunto-me por que...” Ele me olha de cima a baixo, em seguida, estende a mão.

Olho para o estranho sexy com a sobrancelha arqueada.

“Sua grade, senhorita.” O professor resmunga enquanto a sala explode em gargalhadas. “Não tenho o dia todo, ao contrário de algumas pessoas.”

“Ele se refere a mim.” O cara pisca novamente, então me solta e caminha lentamente pelas poucas cadeiras espalhadas na sala.

E como se eu estivesse num sonho doentio, no minuto em que ele passa, todas as risadas cessaram.

Os caras acenam em sua direção.

As meninas sorriem e depois olham para seus livros.

Os alunos se endireitam em suas cadeiras.

A única maneira de explicar isso é... respeito. Eles o respeitam.

Mas por quê?

Ele é apenas um estudante.

Como todo o resto.

“Agora, se você parar de olhá-lo.” O professor diz, afastando minha atenção do cara: “Por que não encontra um assento, de preferência longe de Dom, ele não é a melhor influência.”

Ninguém ri.

O professor não sorri como se estivesse brincando.

“Seja uma boa menina”, Dom diz do fundo da sala, “E ouça o professor, você não quer ficar perto de mim.”

Uma garota na primeira fila suspira e murmura: “Eu com certeza quero.”

Não há assentos vazios.

Em pânico, olho do professor para os alunos, “Hum, devemos trazer as próprias carteiras?”

O riso geral soa novamente.

Sério? Que tipo de inferno é esse?

Sinto meus olhos arderem. Minhas bochechas esquentam.

“Eu não esperava por Dom hoje, ele raramente aparece”, o professor resmunga. “Suponho que terá que se sentar no chão ou brigar com ele pelo assento.”

A sala fica em silêncio.

“O que será, linda?” Dom sorri. “Brigar pelo lugar ou sentar no chão?”

Eu quero responder brigar.

Mas o cara me destruirá com um soco, sem vacilar.

“Eu...” Seus olhos brilham brevemente. Ele quer que eu o desafie. Eu sei. Mas desafiá-lo, fazer qualquer coisa, apenas mostrará às pessoas quem realmente sou... ou pior, as convencerá de que sou tão perigosa quanto meus pais. Então, engulo meu orgulho e encolho os ombros. “O chão parece... perfeito.”

Posso jurar que ouço alguém dizer 'Fraca' no minuto em que me sento.

E por algum motivo, sinto vergonha.


04

Dom


O fato de ela estar sentada no chão com as pernas cruzadas deveria ser divertido. Em vez disso, cerro a mandíbula com tanta força que meus dentes parecem estar a ponto de quebrar.

Os alunos continuam olhando.

O sussurro fica mais alto.

E o professor não os para. Ele é tão culpado quanto os outros, julgando a nova garota que não tem o nome da Família, linhagem de sangue, ou dinheiro.

A garota que não tem proteção além de um pequeno spray de pimenta em sua bolsa que já viu dias melhores.

A Eagle Elite não deixa ninguém entrar.

Ou você pode pagar.

Ou uma das Cinco Famílias lhe deve um favor.

E pela aparência dela.

Não foi o dinheiro que a fez entrar.

Foi um favor.

Um malditamente velho, se me perguntar.

Clico no arquivo que Sergio mandou no meu celular.

Tudo, e quero dizer tudo, sobre sua história foi apagado... e foi muito bem-feito.

Limpo.

Ele está tentando encontrar qualquer arquivo e restaurá-lo, mas levará tempo.

Tudo o que temos é que ela tem associação com algumas famílias de Nova York, o que não revela nada.

E que ela será um pé no saco para proteger.

Porque seus inimigos não são meus inimigos.

“Merda”, digo baixinho.

O professor arqueia as sobrancelhas para mim e continua a palestra enquanto giro o telefone na mão e flerto com a ideia de quebrá-lo na mesa.

Seria fácil, é claro, quase natural se ela odiasse os russos como eu odeio, se ela estivesse aqui porque viu a coisa errada na hora errada.

Mas não.

A única coisa que diz em seu perfil.

A única coisa que Sergio conseguiu encontrar.

Finalize isso a qualquer custo, escrito em vermelho.

E o nome da família criminosa ao lado disso.

Tanit De Lange.

“Bem-vinda ao lar, princesa”, eu murmuro baixinho. “Espero que não esteja esperando uma recepção.”


05

Tanit


Eu gostaria de dizer que as aulas ficam mais fáceis, os professores se tornam menos estranhos e faço no mínimo cinco amigos.

Mas seria mentira.

Eu só quero que o dia acabe.

E que o belo estranho pare de me seguir. Juro que toda vez que viro, ele está me observando.

Sempre olhando.

Nunca sorrindo.

Ele não parece ser o tipo que sorri facilmente, e não vou me esforçar para ganhar um pouco do seu tempo. Caras assim parecem pensar que são os donos do mundo, e sei que isso só representa problemas para alguém que tenta se esconder do mundo do qual ele quer ser o rei.

Cerro os dentes e mantenho a cabeça baixa, tomando cuidado para não fazer contato visual com ninguém enquanto caminho para o dormitório.

Muitos dos alunos mais velhos moram fora do campus.

Mas eu não.

“Contanto que fique dentro dessas paredes, você estará segura.”

Lembro-me das palavras do meu pai e as repito inúmeras vezes em pensamento.

Pelo menos sei que estou segura.

De seus inimigos.

Dos meus.

Engulo o nó na garganta e minhas pernas estão cansadas quando finalmente chego ao meu prédio e olho para cima.

É uma monstruosidade feita de tijolos com seis andares. Os alunos circulam, e o zumbido da conversa sempre presente apenas me faz sentir mais solitária.

“Ei”, uma familiar voz masculina diz atrás de mim.

O zumbido da conversa some completamente. As cabeças viram lentamente em minha direção.

Estou a poucos metros da porta da frente. Não conseguiria entrar mesmo se corresse.

Então eu me viro.

Minha memória desta manhã não lhe faz justiça. Como é possível ficar mais sexy ao longo do dia? Eles distribuem pílulas sensuais durante o almoço ou algo assim?

Seus olhos dourados me percorrem como uma carícia sensual antes dele inclinar a cabeça e avançar um passo, me tocando como se tivesse o direito de fazê-lo.

Eu deixo; estou paralisada demais para fazer qualquer coisa.

Ele pega minha mão e a aperta. “Vamos tomar um café.”

Alguém engasga.

Ouço mais sussurros.

“Ele acaba de convidá-la para sair?”

“Ela não é seu tipo.”

“Eu não bebo café”, minto.

Ele sorri como se achasse engraçado que estou o rejeitando. “Você está na faculdade. Todo mundo bebe café.”

“Eu não.”

“Chá.” Os olhos de Dom se estreitam. “Suco, água, sangue...” Ele dá de ombros, “Vamos acabar com isso, estou te convidando para um café porque quero ficar com você, não porque temo que esteja sofrendo de desidratação severa. Café é uma desculpa, eu tenho milhões de motivos e justificativas que poderia usar para te fazer vir comigo. Café...” Ele se inclina para mais perto. “... parece a mais inocente.” Então ele encolhe os ombros. “Mas se você tem outra coisa em mente, sou todo ouvidos.”

Eu engulo em seco. “O café está bom.”

“Tem certeza?” Seu olhar é sensual. “Porque eu posso te seguir até seu quarto e... ajudá-la...”

Cubro sua boca com a mão.

Ele sorri por trás disso, então puxa minha palma para baixo e sussurra. “A desempacotar.”

“Não é isso que você ia dizer.”

“Já me conhece tão bem, hein?” Dom me arrasta para longe do dormitório, “Então, é para isso que servem os encontros no café, certo? Conhecer alguém num ambiente não ameaçador? Descobrir suas cores e comidas favoritas.” Ele faz uma pausa. “Eu gosto de preto e odeio qualquer comida em que não possa colocar ketchup.”

“Huh?”

“Não consigo confiar em alimentos que têm gosto ruim com ketchup.”

Tento me soltar, mas ele continua falando e me puxando em direção ao prédio do conselho estudantil. Eles tem um pequeno café lá, junto com alguns restaurantes.

“Tenho uma escolha ou você apenas força as pessoas a fazerem o que quer?” Eu resmungo.

Ele para e quase bato em suas costas.

Lentamente, ele se vira e seus olhos são letais, “Eu sempre consigo o que quero. Não importam as consequências. Seria sensato lembrar disso.”


06

Dom


Cumprir essa tarefa não deveria ser difícil.

Seduzi-la.

Manipular suas emoções.

Fazê-la sentir tudo.

Desligar todas as emoções como fui treinado desde o nascimento para fazer ao trabalhar para a máfia.

Mas há um problema.

Um problema.

Uma covinha.

É quase imperceptível no início.

Se eu for completamente honesto admito que estou muito concentrado nos olhos dela para pensar em qualquer outra coisa, muito menos numa covinha.

Mas lá está ela, me provocando quando menos espero.

Eu a forço a tomar um café.

E ela sorri.

Então a covinha aparece.

E um mal-estar toma conta de mim.

Sei meu lugar no mundo. Eu sou o cara intermediário. O cara que conhece o bem e o mal e escolhe fazer o mal para garantir que o bem vença. A máfia, na minha família, sempre pareceu mais com Robin Hood do que a encarnação do diabo.

Eu sei que, no final, nós realmente não causamos danos... pelo menos não danos que não sejam merecidos.

Nós nos concentramos em manter nosso sangue seguro.

E derramar o dos outros quando necessário.

Simplesmente nunca enfrentei um possível inimigo com olhos tão bonitos, um sorriso tão viciante ou uma maldita covinha.

“Então”, Tanit dá aquele sorriso infernal novamente, “Você me forçou a tomar um café, e agora?”

As pessoas olham. Elas sempre olham. Elas sabem exatamente quem sou. E sabem que se estou falando com ela, ela é alguém que precisam temer... ou alguém de quem precisam se livrar. Essa é a lei da terra. A lei da Universidade Eagle Elite.

Deus, como odeio isso.

“Jantar”, respondo.

Suas sobrancelhas franzem. “Mas estamos tomando café, e...?”

“Jantar.” Digo de forma mais decisiva. “Jante comigo. Você é nova aqui, ficar no campus é uma besteira completa, e acho que vai gostar da minha família.”

Sua sobrancelha direita arqueia antes dela tomar outro gole de seu café gelado. Ela engole em seco e olha para trás, em direção aos dormitórios. “Eles têm toque de recolher.”

“Eles”, enfatizo intencionalmente, “não dão a mínima, acredite em mim.”

“O que? Você controla o reitor?” Ela brinca.

Dou de ombros.

Ela faz uma careta. “Sério?”

“Digamos que ele me deve um favor.”

“Que tipo de favor?”

Do tipo de vida ou morte. Encolho os ombros de forma desdenhosa. “Não se preocupe com isso.”

Eu estendo a mão.

E por alguma razão, ela a aceita, como se não estivesse com medo de mim algumas horas atrás, como se não tivesse sido humilhada na aula. Como se ela estivesse desesperada por um amigo.

Por algo.

Tão desesperada que não vê o lobo vestindo pele de ovelha.

“Vamos.”

“Agora?”

Eu a puxo contra mim. “O que? Pensou que eu quis dizer amanhã? Sim, agora. Por que não? Você tem planos? Tarefas para terminar? Amigos para fazer?”

Lágrimas enchem seus olhos antes que ela olhe para baixo e lamba os lábios, “É, hum, seguro sair agora?”

“Seguro”, eu repito, meu corpo ficando mais rígido com cada batida do meu coração contra o peito. “Não.”

Olhos arregalados fixam-se nos meus. “Então eu não posso ir.”

“Nada é seguro ou garantido nesta vida, Tanit”, corro o polegar pelo seu lábio inferior. “Mas acredite, você pode confiar em mim.” Por enquanto. Por enquanto, ela pode. Mas depois? Eu não hesitarei. Não está no meu sangue. Não é meu trabalho hesitar. Meu trabalho é matar, destruir se necessário, e dizer a mim mesmo que não me importo.

Ela sorri novamente com aquela maldita covinha e diz: “Tudo bem.”

Eu congelo.

Covinhas.

Porra.

Ela é como qualquer outra pessoa.

Como todo mundo.

Repito isso várias vezes enquanto caminhamos.

E eu sei... estou mentindo o tempo todo.


07

Dom


É uma ideia terrível.

Eu sei.

O mundo sabe.

E honestamente? Parte de mim acha que Tanit também sabe, mas, mesmo assim ela concorda. Em vez de alívio, sinto... Suspeita. Ela sabe sobre mim? Quem sou? O que faço? O que farei?

Não faço nenhuma fodida ideia.

Em vez disso, ela segura minha mão como se tivesse medo de que eu a solte.

E por algum motivo confuso.

Nossas mãos entrelaçadas se movem enquanto caminhamos.

Para frente. Para trás.

“Então...” Suas mãos frágeis tremem quando ela as dobra sobre o colo, então, como se de repente lembrasse da existência de cintos de segurança, ela se apressa para colocá-lo, empurra-o na fechadura cerca de sete vezes, finalmente voltando a ficar de frente para mim, e seu rosto está pálido e a linguagem corporal... Estranha.

“Sabe..” eu sorrio. “É apenas um jantar, não um pedido oficial.” Não que ela não me tente com esses olhos. Sério, com seus lábios cheios e olhos grandes e inocentes, maldição ela pode provocar até o pior de nós. Inferno, ela provoca até a mim. A inocência é meu canto da sereia, e ela a tem exalando por todo o corpo.

Junto com o fato de que ela é meu trabalho.

E não consigo parar de sentir seu cheiro de baunilha na minha pele... ainda está lá, não importa quantas vezes lavei as mãos.

Seguro o volante com mais força.

Ela encolhe os ombros como se tentasse parecer casual, mas não há nada além de músculos tensos por trás do movimento. “Não importa, só não quero me meter em encrenca.”

“Com quem?” Pergunto antes que possa me impedir.

Ela apoia as mãos no assento, como se assim pudesse segurar seus segredos.

Como se o couro pudesse impedir minha sondagem.

Sorrio com isso.

Provavelmente isso a assusta ainda mais porque ela afunda no assento e bufa um: “Realmente importa?”

“Sempre importa”, digo num tom inocente. “Por que uma garota como você parece ter tanto medo? Por que parece estar a segundos de irritar alguém?”

Ela bufa. “Porque estou sempre em apuros.”

Isso é novidade para mim. Arqueio as sobrancelhas. “Cara, se eu soubesse disso você poderia ter me ajudado a colocar fogo naquele mascote!”

Ela vira a cabeça em minha direção. “A fumaça foi você?”

Eu tento e falho em não estufar o peito. “Pode ter sido.”

Seus lábios se curvam num pequeno sorriso. “Bom.”

Sim. Bom. Inferno, sim, foi bom, eu odeio tudo o que a Eagle Elite representa. Dinheiro. Drogas. Máfia. Famílias com uma linhagem tão forte que as pessoas matam inocentes por causa disso. O único lado bom é o fato de eu morar com a Família que a possui, que quer consertar as coisas.

“Então...” Limpo a garganta enquanto nos aproximamos dos grandes portões de ferro. “Só não puxe uma arma e ficaremos bem.”

“Huh?” Ela franze a testa. “Eu pareço saber usar uma arma?”

Encaro-a e sorrio. Dos lábios inchados à maneira inocente com que ela puxa a saia para baixo como se temesse estar muito curta... ela é totalmente o oposto do mundo em que vivo. “Não, você ficará bem.”

Ela cruza os braços, embora seus olhos se arregalam quando nos aproximamos do complexo.

Os seguranças se posicionam na entrada.

Seguranças de terno preto nas portas.

E dois deles se aproximam para abrir nossas portas.

“O que é este lugar?” Ela sussurra reverentemente.

“O céu”, digo suavemente. “Inferno.” Abro minha porta. “Você escolhe qual vai ser.”

“Por que?” Ela engole em seco e então parece buscar possíveis rotas de fuga com os olhos. “Por que me trouxe aqui?”

Abaixo a cabeça para olhar dentro do carro e encolho os ombros. “Porque sempre dou às minhas vítimas a chance de escolher.”

“Escolher?” Ela repete, prolongando a palavra com confusão.

“Deixar-me persegui-las... Caçá-las...” Espero em vão pelo medo surgir em seus olhos. “Ou ficar.”

Seu olhar dispara de mim para a casa assustadora antes dela respirar fundo, soltar o cinto de segurança e responder: “Fico. Eu fico.”

Eu sorrio. “Boa menina.”


08

Tanit


Homens de ternos.

Ternos bonitos.

Ternos que gritam dinheiro, grande número de fios, designers cujos nomes a maioria das pessoas não ouviu falar, porque eles são muito caros, apenas o top de linha.

Somente. O. Mais. Impressionante.

Tento manter meu rosto neutro.

Se qualquer coisa, aprendi que a arte de enganar sempre começa com a linguagem corporal. Não deixe que te vejam, misture-se, mantenha a cabeça baixa, mas não tão baixa a ponto de parecer assustada, aperte as mãos com firmeza, enuncie cada palavra... torne-se parte delas apenas o suficiente para se misturar e não se destaque.

Por que concordei com isso?

Como diabos um encontro no café passou para um jantar em um complexo? Porque é para isso que estou olhando. Um legítimo complexo. A casa tem uma maldita cerca ao redor, seguranças... O que mais devo presumir?

Eu deixei uma vida de guerra.

E silenciosamente caminho para outra, mais perigosa, uma onde não estou sentada em nosso belo apartamento, me perguntando se algum dos associados do meu pai passará para tomar um café.

Isso é mais do que um café.

Merda, por que o café sempre é o motivo? É alguma palavra em código para morte?

Não é hora de começar a hiperventilar.

Mas meu corpo não quer ouvir.

Anos de prática em me misturar são atirados pela janela quando Dom agarra minha mão e lentamente sobe as escadas, me arrastando atrás dele.

Os homens se separam.

Como se ele fosse um deus.

E eu me pergunto, neste momento, se não cometi um grande erro de julgamento. Eu não o conheço, não conheço sua família, não sei de nada.

Eu só desejo.

Ter liberdade.

Quero que alguém me leve embora.

Então, quando ele ofereceu, eu aceitei principalmente por desespero.

E agora provavelmente morrerei porque deixei o único lugar seguro que meu pai encontrou neste mundo, o único lugar onde não preciso olhar sempre por cima do ombro, procurar saídas ou ler expressões.

Eu deixei esse lugar.

Por um cara que mal conheço.

Que é lindo demais para descrever.

Que passou pelos seguranças como se tivesse o direito de fazê-lo.

Como se eles devessem ser aqueles com medo.

“Bem-vindo de volta”, um deles diz friamente antes de me olhar e piscar.

Pelo menos minha respiração começa a ficar sob controle enquanto me inclino na direção de Dom e espero o pior acontecer, tiros, gritos, acusações. Eu já vi isso antes.

Violência.

E verei de novo.

“Dom!” Uma mulher com olhos assombrados avança em sua direção, uma nuvem de longos cabelos escuros voando atrás dela. Ela não deve ter mais que vinte e tantos anos, e imediatamente sinto ciúme encher meu peito. Ela não é apenas razoavelmente bonita, ela é linda. “Você colocou fogo no mascote?”

Dom geme: “Mãe, não foi assim.”

Ela dá um soco em seu ombro quando ele solta minha mão, em seguida, segura seu rosto e sussurra. “Fique longe de problemas. Faça isso por mim.”

Ele revira os olhos e dá um beijo em sua bochecha antes de puxá-la para um abraço, “Eu prometo, mãe.”

“Mãe?” Repito a palavra. Não há maneira lógica dessa mulher ter dado à luz a um cara talvez seis anos mais novo que ela.

Suas bochechas aquecem antes dela virar e soltar uma longa risada. “Isso irrita Nixon.”

Eu a encaro, tentando não franzir a testa. Como se isso fosse uma explicação.

“O que também significa”, Dom continua, “que esta é Trace, também conhecida como mãe, e ela acha hilário. Além disso, eles me acolheram quando eu não tinha ninguém, e eu considero um tratamento respeitoso.”

Minha mandíbula quase cai quando dou um pequeno aceno de cabeça e tento recuperar a compostura. “Desculpe, é só...”

“... estranho.” Trace encolhe os ombros. “Eu entendo.” Ela olha para mim, depois para Dom e para mim novamente. “Então, você trouxe uma garota?”

“Tente não chorar incontrolavelmente”, Dom diz sarcasticamente. “Ela precisava de uma fuga, e eu a providenciei. Íamos tomar um café, então tive a brilhante ideia de vir aqui.” Ele lambe os lábios e acena para mim. “É tão seguro e privado.”

Seguro. Gosto dessa palavra. E quero acreditar nele.

“Realmente é.” Trace sorri. “Temos mais segurança agora que...” Seus olhos caem um pouco. “Bem, não importa, o que quero dizer é que sim, é seguro e acho que um dos caras está fazendo o jantar, então vou para a cozinha ajudar.” Ela junta as mãos e começa a andar para trás quando um homem alto e ameaçador com um piercing no lábio e tatuagens cobrindo ambos os braços avança, puxa-a para seus braços e a beija.

Eu tento não olhar.

Mas os dois juntos... é de tirar o fôlego.

“Aí está você.” Ele sorri e então franze a testa quando vê Dom e franze ainda mais quando me vê. Então ele dá a Dom um olhar questionador como se perguntasse por que diabos a trouxe aqui?

“Café.” Eu murmuro. “Ele uh, me convidou para um café, e de alguma forma eu estava em seu carro e terminei aqui.” Respondo baixo, muito baixo.

O homem sorri, me fazendo perder momentaneamente todas as habilidades de fala e pensamento. “É mesmo?”

“É apenas um jantar”, Dom diz em um tom irritado.

“Certo.” O cara sorri. “Tudo bem.”

Dom dá um passo à frente.

“Guarde as armas.” O cara estende a mão para mim. “Sou Nixon Abandonato, e você é?”

Meus olhos me entregam primeiro.

Seguido pela postura rígida do meu corpo.

E então o gemido que vem de Dom me fez perceber que ou ele sabe algo sobre mim que não deveria... ou que sou apenas uma péssima atriz.

Nixon espera com a mão estendida.

E não posso escapar disso.

Ele é um chefe.

Não apenas qualquer chefe.

Um dos chefes do crime mais influentes do mundo.

Estendo a mão trêmula.

Ele a pega, beija as costas e sussurra: “Aqui você está segura.”

“Por quanto tempo?” Não consigo me impedir de perguntar.

Todos ficam em silêncio e então Nixon responde. “Você está segura, a menos que nos traia, então qualquer um de nós irá matá-la. E...” Ele sorri para Dom. “Você quer me falar sobre as aulas?”

Dom geme.

E eu fico paralisada.

Ele fez isso? Ele realmente fez?

“Relaxa.” Dom me dá uma cotovelada: “Você não está armada e é apenas um jantar, lembra?”

Certo. Apenas um jantar.

Eu o sigo.

E quase engulo minha língua quando alguns homens se levantam.

Homens que reconheço.

Os mesmos homens que mataram o chefe do meu pai.

Associados do meu pai.

Eu engulo em seco.

E recuo.

E sou forçada a avançar pela mão de Dom quando ele se inclina e sussurra: “Sobreviva a isso, e tenho certeza de que a faculdade será moleza.”


09

Dom


Tanit está tremendo.

Normalmente isso não me incomodaria, nem um pouco. Eu como garotas assim no café da manhã, almoço e jantar... literalmente.

Ela não tem nada que eu já não tenha visto, experimentado, lambido... tomado.

E, no entanto, ela tem tudo que faz meu sangue bombear mais rápido nas veias, tudo que me faz olhá-la por mais alguns segundos cada vez que ela inspira, cada vez que ela expira.

Não tudo.

Alguma coisa.

Ela. Tem. Alguma. Coisa.

E pela minha vida, não consigo descobrir o que é.

Ou porque a quero tanto.

“Jantar em família”, digo baixinho enquanto caminhamos pela cozinha barulhenta. Garrafas de vinho enchem a mesa enquanto as risadas aumentam junto com os olhares inadequados em nossa direção.

As esposas sorriem. Elas sempre sorriem. Às vezes acho que seu único objetivo na vida, além de agradar os maridos e fazer mais bebês da máfia, é encontrar uma boa esposa italiana que faça um macarrão ruim.

E os chefes?

Os homens mais poderosos da América, aqueles que seguram a maioria das pessoas por suas bundas e sorriem enquanto apontam armas para suas cabeças, eles não estão sorrindo, a maioria deles parece...

Suspeito.

No minuto em que Nixon puxa a cadeira da cabeceira da mesa, a conversa cessa. As crianças já estão na cama... a maioria dos jantares de Família não são jantares de família reais como se pode pensar. São jantares 'em família', também conhecidos como encontros de negócios com todos os associados; são atualizações sobre quem acertou quem.

Eles são informativos.

Então, há o fato de que acabo de trazer um inimigo para dentro de casa.

Durante um jantar.

Bem, isso exige coragem.

E há somente uma razão pela qual não há pelo menos sete armas apontadas para minha cabeça.

O sangue que corre em minhas veias.

E o fato de que todos os homens nesta sala sabem que se algum deles morrer, eu sou aquele que tomará seu lugar.

Não por causa da linhagem familiar.

Mas por causa do meu sangue.

Real. Eu sou a realeza para eles.

Exibo um sorriso fodido no rosto e puxo uma cadeira para Tanit. Ela desaba nela, mantendo os olhos baixos enquanto pego meu guardanapo e o coloco no colo. “Então, a aula foi boa, obrigado por perguntar.”

“Merdinha sarcástico.” À minha esquerda, Dante revira os olhos.

“Apenas agradeça por eu ter salvado sua bunda.” Levanto minha taça de vinho e a encosto contra a dele.

“Verdade. Graças a Deus.” Ele toma um longo gole, em seguida, olha para Tanit um pouco mais do que o necessário.

“E suas aulas? Como foram?”

O único som que vem da mesa é de pessoas bebendo vinho e esperando sua resposta.

Tanit olha para ele e depois para baixo. “Foram boas, senhor.”

“Por que está me chamando de senhor?” Dante pergunta num tom entediado. “Eu pareço ter idade suficiente para ser um senhor?”

Ela balança a cabeça, então seus ombros caem como se tivesse falhado no teste, e eu decido resgatá-la.

“Ele é mais idiota do que um senhor”, digo alegremente, ganhando risadas ao redor da mesa.

Nixon me olha por cima de sua taça de vinho. “O sujo falando do mal lavado, hein, filho?”

Mostro-lhe o dedo do meio.

Para diversão de Tex, nosso Capo, basicamente nossa versão do Poderoso Chefão. Corre o boato de que se olhar nos olhos dele por muito tempo, ele o hipnotizará para que cometa suicídio. Testei essa merda no minuto em que o conheci, ganhando dez vezes mais do seu respeito.

“Chega de conversa.” Frank, o chefe mais velho de todos, diz com voz sábia. “Oremos.”

Os olhos de Tanit se voltam para os meus.

Todo mundo estende as mãos.

Sem chance no inferno que manterei minha mão no ar quando segurar a dela parece tão tentador. Agarro seus dedos e aperto, puxando sua mão para meu colo enquanto Frank ora.

“Deus abençoe nossas famílias...”

Tanit aperta minha mão com tanta força que sofrerei com perda de sangue, com alegria, porque pelo menos ela está me tocando mesmo sabendo que um dia, possivelmente num futuro próximo, posso ser a pessoa a puxar o gatilho e balear seu corpo, não deixo de apertar em resposta e me perguntar como seria se as coisas fossem diferentes.

O tremor ainda está lá, porém mais fraco.

Esfrego meu polegar no dela, levemente.

Ela relaxa um pouco, inclinando o corpo em minha direção.

Frank está batendo um recorde com a oração mais longa de todos os tempos, não que eu me importe, mas meu corpo fica mais quente a cada minuto, meus pensamentos se confundem, meus planos... São destruídos por causa de seus dedos.

Ela se aproxima.

Eu a encontro no meio do caminho.

Eu puxo sua mão ainda mais para meu colo, talvez eu tenha puxado com força demais, talvez ela já soubesse que eu puxaria, mas no minuto em que o faço, seu braço roça a frente da minha calça e cada pensamento de oração vai direto para as profundezas do inferno junto com minha alma.

Meu corpo estremece.

Meu pau estremece.

E posso jurar que ela sente não apenas meu coração aumentar três vezes, mas outra parte da minha anatomia.

Ela respira fundo.

Balanço a cabeça para clareá-la exatamente quando os olhos de Nixon abrem e se concentram nela com uma intensidade matadora. Suas sobrancelhas se erguem em dúvida. Consigo encolher os ombros.

Ele lentamente balança a cabeça como se quisesse dizer que não é sobre luxúria, ou amor, ou mesmo sobre fazer um trabalho.

E sou bom no meu trabalho.

Um dos melhores, agora que os chefes têm outros fazendo a parte suja.

E, no entanto, ainda estou focado em tudo, exceto no meu trabalho.

O resto do jantar transcorre sem problemas, respondo a perguntas chatas, Tanit se concentra no macarrão como se fosse sua última refeição, e quando os caras se levantam para ajudar a limpar a mesa, eu a empurro pelo corredor para meu quarto.

Principalmente para dar o espaço que sei que ela precisa.

“Não vamos, hum, voltar para o campus?” Ela esfrega os braços para cima e para baixo e faz um pequeno círculo no meu quarto enquanto fecho a porta e me encosto nela. “Eu provavelmente deveria desempacotar.”

“Eu vou te ajudar”, ofereço-me.

“Ok.” Ela caminha em direção à porta, em minha direção.

Coloco as mãos em seus braços, parando-a no lugar.

“Não vamos voltar?”

“Dez minutos”, eu sussurro.

“O que?”

Inclino a cabeça, memorizando seus lábios, a maneira como sua inocência grita para eu me aproveitar ou talvez apenas para reconhecer que o mundo não é tão escuro e horrível como originalmente assumi. “Dê-me dez minutos.”

“Tivemos um jantar e agora você quer dez minutos?” Ela fala asperamente.

“Por favor?” A palavra parece estranha, soa estranha e tem um gosto ainda mais estranho.

Ela engole em seco e assente.

“Não quer saber o que farei nesses dez minutos?”

Ela empalidece. “Achei que só quisesse relaxar... você disse dez minutos antes de sairmos certo?”

“Não”, corrijo, “eu pedi dez minutos.”

Não pensei ser possível, mas ela empalidece ainda mais. “O... o que você vai fazer?”

Encaro-a e espero, contando suas respirações ofegantes e como elas aumentam em intensidade enquanto foco em seus lábios com um propósito. “Eu vou te beijar.”

Ela fica boquiaberta e então murmura. “Por dez minutos?”

“Provavelmente vou definir um alarme para não perder tempo, nem o ultrapassar.”

“Mas...”

“Você vai perguntar por que, mas vou economizar seu tempo, poupar nossos minutos. Porque você é bonita, porque te acho fofa, porque você é corajosa, porque fora deste quarto não somos amigos, não somos nada. Na Eagle Elite, estamos no lugar errado e na hora errada. Então, aqui, neste quarto, agora, eu posso controlar tudo e fazer o que quero. E eu quero te beijar.”

Seus olhos suavizam e ela me surpreende profundamente, inclinando-se para frente e sussurrando contra meus lábios. “Então me beije.”

Eu não hesito.

É quando a experimento pela primeira vez.

Quando meu lábio inferior desliza contra o dela, eu juro.

Nunca mais.

Nunca mais farei isso.

Porque fazê-lo de novo significa uma tentação que não posso me dar ao luxo de ter.

É a primeira vez que fico tentado a ir contra a vontade de alguém em minha vida.

De uma garota simples e inocente, com lábios como o céu.

“Faltam nove minutos.” Mordo seu lábio inferior. “Vou fazer valer a pena.”

Aprofundo o beijo com um gemido, levantando seu corpo enquanto ela envolve as pernas em minha cintura.

Juro fazer aqueles oito minutos valerem uma vida inteira... porque sei em meu coração que é algo que nunca terei com ela.

Uma vida inteira.


10

Tanit

Meu cérebro tem muita dificuldade em convencer meu corpo que isto é má ideia. E meu coração? Bem, talvez seja apenas mais estupidez da minha parte, mas no momento em que os lábios de Dom tocam os meus, ele acelera contra o peito exigindo que eu reconheça sua existência e o único cara capaz de fazê-lo parecer vivo.

De me fazer sentir algo.

Além de medo.

Desde que meu pai me deixou na escola e basicamente me abandonou.

E aqui estou.

Nas garras de Satanás.

Sentindo-me mais segura do que quando estava em Nova York, na casa dos meus pais.

Dom geme algo inaudível contra meus lábios, em seguida, se afasta. “Ainda tenho cinco minutos.”

Não estou em posição de pedir mais... e ainda assim é tão tentador, o desejo de pedir mais cinco, dez, vinte minutos... uma vida inteira cheia de seus beijos.

Não posso confiar em minha voz.

Ela é tão traidora quanto meu coração.

Lambo os lábios, provando-o ali, desejando um milagre que mantenha seu gosto exatamente onde quero, para que eu possa assistir às aulas e sonhar acordada com esse momento, porque tenho certeza de que depois de hoje não terei mais deles.

Não se sua família souber quem sou.

Não se ele descobrir de onde vim.

E não se eu realmente quiser ficar viva e longe das pessoas que encontraram um dos meus tios, pediram uma explicação sorrindo, e quando ele abriu a boca... atiraram antes que pudesse respirar novamente.

“Você está tremendo.” A voz de Dom é baixa. “E por mais que eu saiba que minhas habilidades beijando são incomparáveis, tenho certeza de que nunca tive uma garota tão pálida em meus braços, a menos que...”

Meus olhos se arregalam.

“Seja lá o que pensou que eu fosse dizer...” Ele me beija suavemente e se afasta. “Esqueça agora.”

“Acho que temos quatro minutos”, digo meio grogue. “E então você pode me levar para o campus.”

Ele suspira, acariciando meus braços nus, seu olhar é penetrante, procurando por algo. “Seja honesta, onde se sente mais segura, aqui ou no campus?”

Abro minha boca e a fecho, impedindo as palavras traidoras de sair.

“Ou você prefere não mentir para mim”, ele supõe, “ou foi criada para dizer apenas as coisas certas.” Ele encolhe os ombros. “É uma pena, pois acho que terei que resolver a situação com minhas próprias mãos, certo?”

“Algo me diz que não é difícil para um cara como você resolver as coisas com as próprias mãos.”

“Assim como eu te peguei.” Seus olhos brilham. “E não gosto de devolver as coisas.”

“Você não é meu dono.” Mantenho a voz leve, embora saiba que essa conversa está navegando para águas perigosas e meu navio já perdeu seu capitão, além de uma vela.

“Ah...” Ele segura meu queixo entre os dedos. “Mas eu gostaria de ser.”

Tão estúpida. A forma como sua possessividade toma conta de mim.

Talvez porque meu pai literalmente me jogou em território inimigo e disse para eu não morrer.

Talvez porque nunca me senti parte de algo.

Desejada.

Necessária.

Dom sorri, beija-me na bochecha e segura minha mão. “Vamos.”

“E aqueles quatro minutos?”

Sim. Pareço uma idiota nesse momento. Estou realmente considerando? Ficar nessa casa? Com essas pessoas? Em seus braços?

Ele aperta minha mão e sua risada espalha arrepios em minha pele. “Não se preocupe com eles, vou anotar como tempo extra. Talvez da próxima vez eu consiga adicionar esses minutos. Tenho a sensação de que uma vez que eu fizer o que preciso, você não será capaz de resistir.”

Como posso resistir agora?

Caminhamos de mãos dadas pelo corredor.

Um dos caras, um dos menos assustadores, mas tão mortalmente atraente que desvio os olhos se aproxima. Ele para na nossa frente com os braços cruzados. “Estão voltando para as profundezas do inferno?”

“Algo assim”, Dom responde pensativo. “Preciso de um favor e...”

“O que quiser.” O cara responde tão rápido e com tanta firmeza, que sei que se Dom falar 'ei, você pode matar o professor que me deu um F em química?', isso será feito com tanta eficiência, tão sem esforço, que parecerá um feliz acidente.

“Coloque-me de volta nos dormitórios.”

O cara começa a rir e de repente para, arqueando as sobrancelhas. “Oh, inferno, você fala sério?”

“Sim, será bom para o moral da Eagle Elite.”

“Isso vindo do cara que se encrencou por colocar fogo no mascote?”

“Besteira. Você faria a mesma coisa. Na verdade, tenho quase certeza de que suas palavras exatas no primeiro dia de aula foram 'Vou queimar este lugar'.”

O cara ri de novo, “Sim, é verdade.”

“Dante...” Dom suspira.

“Deus, você é um pé no saco na maioria dos dias.”

“Mas não hoje?” Dom diz esperançoso.

“Não hoje”, Dante concorda.

Finalmente olho para ele, realmente olho. Ele é bonito demais para ser um assassino, o que significa que provavelmente é um dos piores.

O sorriso de Dante se alarga. “Vê algo que gosta, caloura?”

“Minha.” Dom me puxa contra ele.

Dante lambe os lábios, seus olhos lentamente encontrando os meus. “Nixon vai cagar um tijolo.”

Algo muda na maneira como Dom me segura, e então ele me solta, como se estivesse sendo muito possessivo... mostrando suas cartas muito cedo? Posso jurar que vejo culpa em seu rosto antes que ele substitua a expressão por tédio.

“Ligue hoje.” Dom encolhe os ombros. “Oh, e me coloque no quarto dela.”

Dante morde o lábio e em seguida, dá outro sorriso ameaçador em minha direção. “Não deixe que Dom a influencie, Tanit, ele é um aluno nota A, mas sofre de severa distração com... coisas bonitas.”

Dom revira os olhos. “Vou colocar um saco na cabeça dela quando precisar me concentrar.”

Dante acena com aprovação. “É um bom plano, avise-me se funcionar, e isso fica entre nós?”

“Nah”, Dom dá de ombros, “Nixon vê tudo, sabe tudo, faz tudo... não é como se eu pudesse esconder algo dele de qualquer maneira.”

“Não é por falta de tentativa”, Dante concorda, “Tudo bem, estou nessa.”

Ainda estou em choque quando voltamos para o carro e estou prestes a hiperventilar quando dirigimos para o campus em silêncio.

Quando Dom me ajuda a sair do carro luxuoso.

Quando Dom segura minha mão e me guia para dentro do prédio.

Quando cada garota me dá um olhar assassino enquanto provavelmente o imagina sem roupas.

Quando ele me acompanha até a porta e não me deixa lá, mas entra e a fecha com um clique mortal.

O que?! É quando começo a surtar.

“Você não pode estar falando sério!” Eu grito.

Ele recua e sorri.

“E pare de sorrir! Você não pode simplesmente se mudar para o meu quarto!”

Lentamente, Dom vai até a outra cama, onde minha colega de quarto, uma garota qualquer, deveria dormir e morar comigo. Ele se senta.

“Bem, olha isso? Acabo de fazer.”


11

Dom


Não consigo tirar o sorriso do rosto enquanto me encosto no edredom.

É agradável.

Também é a única coisa em seu quarto, provavelmente porque eu o roubei antes que ela tivesse a chance de pegá-lo. Posso sentir a tensão saindo dela. Ela quer me mandar para o inferno.

Isso só me encoraja.

Além disso, como diz o ditado, mantenha seus inimigos por perto.

Que melhor maneira de ficar de olho aberto do que quando a tenho diante de mim?

“Isso...” Tanit respira fundo e murmura: “... é altamente inapropriado.”

“É?” Movo-me para ficar sentado, em seguida, levanto vagarosamente dando cada passo até ela e, em seguida, inclino seu queixo em minha direção com um simples movimento do meu polegar contra sua pele macia. “Porque tenho ideias sobre o que é inapropriado se quer que eu demonstre.”

Ela engole em seco, lentamente, como se estivesse ganhando tempo, pensando. “Vou desempacotar.”

Escondo a decepção quando ela rapidamente se afasta e caminha para o outro lado do quarto, onde uma mala solitária está encostada na parede.

Coloco as mãos nos bolsos, calculando mentalmente quanto tempo levará para eu pegar todas as minhas merdas em casa, ou pelo menos o que preciso para ficar no dormitório. Eles providenciam roupa de cama na Elite, mas além disso preciso de todas as minhas roupas, e algo para conter o fato de que vou morar com uma garota que, com minha sorte, provavelmente ama rosa e unicórnios.

Faço uma careta quando ela silenciosamente abre o zíper de sua mala, seu corpo tenso.

“Onde está o resto das suas porcarias?”

Suas mãos param de se mover.

Ela congela como se estivesse com medo.

Isso é o que ela revela, o jeito que hesita para ganhar mais tempo, e odeio e amo o fato de que estou aprendendo tão rápido... porque significa que não vai durar muito, seja lá o que diabos for. Haverá um dia em que ela me odiará para sempre ou tentará me matar, e se ela souber o verdadeiro motivo do meu pequeno convite para ficar em seu quarto, provavelmente esperará até que eu durma e então colocará uma faca na minha garganta.

“Tanit?” Digo seu nome suavemente. “Suas coisas?”

“Estão bem aqui.” Ela se endireita, colocando as mãos nos quadris. “Uma mala.”

“Uma.” Mordo meu lábio com força até sentir o gosto de sangue. “Mala?”

“Sim.” Ela não parece tão chateada quanto eu estou, mas que diabos de pais a deixam numa faculdade com uma mala?

Eu me movo para olhar por cima do ombro.

Roupas.

Nada pessoal.

Nem mesmo um bicho de pelúcia embaraçoso de sua infância.

“Vou perguntar uma coisa, e preciso que não minta para mim”, eu sussurro.

Ela cruza os braços e se vira, sua expressão completamente fechada.

“Se”, eu digo, e me aproximo, baixando a voz, “eu te comprar um bichinho de pelúcia, você colocaria fogo ou dormiria com ele?”

“Huh?” Claramente não é o que ela esperava. “Por que você me compraria um bichinho de pelúcia?”

Dou de ombros. “Em primeiro lugar, é muito triste que não tenha nada pessoal, exceto uma mala que suponho que nunca viu até hoje, provavelmente você nem fez as próprias malas. Em segundo lugar, me faz querer cometer atos extremamente violentos em seu nome quando não vejo nada do seu passado, nada que diga que tudo vai ficar bem... que o mundo não é este lugar escuro e solitário, embora pareça ser na maioria das vezes. Eu não vejo nada. E já que você provavelmente me expulsará da sua cama se eu oferecer os ditos serviços de afeto, pensei que poderia negociar com um...” eu estreito os olhos. “Gato?”

Ela sorri, e o maldito sorriso afunda direto em meu coração frio e se aninha no meu peito como se fosse morar lá. “Cachorro?”

“Elefante.” Decido. “Você parece uma garota do tipo elefante de pelúcia.”

“Como sabe?” Ela se aproxima de mim.

Dou mais um passo, tentado a puxá-la para meus braços novamente, tentado a beijá-la, a roubar pedaços que já me sinto culpado por não ter devolvido. “Fácil”, dou de ombros, “Elefantes têm boa memória, são inteligentes e intimidantes por si próprios. Assim como você.”

Surpresa a faz arregalar os olhos. “Você está me chamando de elefante?”

“Eu poderia te chamar de gato, mas acho que gatos são possuídos por demônios, então...” Dou de ombros.

Ela lambe os lábios e fica na ponta dos pés. “Então um elefante.”

Puxo-a para os meus braços, apenas o suficiente para poder tocá-la.

“E Dom?”

“Hmm?”

“Eu nunca disse que te expulsaria se oferecesse seus serviços de afeto. Você não perguntou, mas agora que terei um elefante...”

“Droga, fui trocado pelo bichinho.”

Ela sorri e acena, “Eu sou rápida, o que posso dizer?”

Dou um leve beijo em seus lábios. “Eu gosto quando você sorri.”

“Em oposição a quê?”

“A careta. Ao medo.” Eu me afasto, para bem longe. Não tenho o direito de fazê-la acreditar em um felizes para sempre, quando sou mais o mensageiro da morte do que um príncipe da Disney. “Agora, deixe-me ajudá-la a desempacotar suas cinco blusas e algumas calças, e você pode me contar tudo que preciso saber para ser um bom colega de quarto. Ronco, rotina de banheiro, tempo nua...”

“Tempo nua?” Ela zomba. “Não haverá tempo nua.”

Eu sorrio. “Veremos, ok?”


12

Dom


Já é meia-noite.

Eu estou exausto.

Mas não tenho nenhuma das minhas merdas.

E uma parte minha se sente culpada por ela não ter nada, apenas as roupas em seu corpo e aquelas da mala, sem nada pessoal, nenhuma foto.

É como se sua família não quisesse que ela guardasse nada que pudesse rastreá-la até eles.

E quando envio outra mensagem para Sergio, ele não ajuda com mais informações. Quando envio mensagem para Chase, recebo um dedo do meio, seguido por 'Vá para o inferno'.

Droga, o cara é charmoso apenas quando quer.

A casa de Nixon está às escuras.

Dois homens estão do lado de fora, fumando.

Eles me dão um aceno e, em seguida, um amplo espaço se abre enquanto passo entre eles, propositalmente, certificando-me de que eles entendam que não se reportam apenas a Nixon, mas a mim também.

Eu abro a porta.

E congelo.

Tex.

Eu cerro os punhos.

Ele sorri e, em seguida, pressiona as mãos contra o balcão da cozinha, seus músculos flexionam com o que sei ser puro prazer em imaginar-se me socando.

Eu leio seus pensamentos.

Ele lê os meus.

Nós dois só queremos uma coisa.

Uma chance de fazer como no dia em que entrei em seu mundo, o dia em que lhe mostrei a prova de quem sou.

No primeiro dia, eu o desafiei como Capo.

“Meio irmão.” Ele zomba. “O que te traz aqui?”

Meio irmão. Seu apelido favorito para mim.

Meio irmão. Irmão bastardo do mesmo pai.

Minha mãe foi estuprada.

Ela se casou com meu pai para esconder a gravidez.

Não é assim que todos os membros da realeza nascem?

“Irmão mais velho.” Eu sorrio. “Não passou um pouco da hora de dormir? Sei o quanto gosta do especial para os madrugadores... Deus, eu amo Sizzlers.”

Ele não cai na provocação. Apenas sorri mais.

“Como as coisas estão progredindo?”

“Mais rápido do que se você estivesse fazendo o mesmo trabalho, eu garanto.” Dou de ombros. “Só vim pegar algumas coisas.”

“Morando no dormitório.” Ele balança a cabeça. “Ou está decidido a se provar ou quer ficar nu com o inimigo.”

Mantenho o rosto indiferente e minha expressão entediada. “Onde está Nixon?”

“Dormindo”, ele responde. “Vim deixar outra pasta preta no cofre e decidi roubar uma garrafa de seu melhor uísque.”

“Pelo menos roube na frente dele para conseguir uma boa luta.” Dou de ombros.

“Quem precisa de uma luta com Nixon quando posso treinar com você?”

Eu quase gemo.

Quase.

Sou um cara grande.

Maior do que muitos deles.

Mas Tex é o maior.

É como se ele comesse criancinhas no café da manhã e colocasse carne de cavalo em seus shakes de proteína durante o almoço.

Não faz nenhum sentido.

É como se quanto mais velho ele fica, mais seus músculos crescem.

E para ser honesto, meio que me irrita. O cara já tem muito poder. Por que dar a ele tanto poder físico quanto mental, e depois a maldita coroa da máfia para completar?

“Desculpe, mas terá que encontrar outra vítima. Eu preciso voltar para o campus.” Faço um movimento para passar por ele.

Sua mão se move, agarrando meu antebraço com tanta força que contenho um estremecimento. “Não foda com isso. Ela é um deles.”

“E o que, exatamente...” Eu me afasto, “... temos contra eles?”

Seus olhos procuram os meus antes de ele responder em voz baixa. “Tudo.”

“Então, nós a culpamos por nascer?”

“Não. Nós a culpamos por existir.” Ele lentamente afasta a mão antes de me dar um único aceno de cabeça e sair pela porta, o uísque de Nixon está em suas mãos.

Fico olhando para o piso de madeira.

Pensando.

Tentando descobrir por que uma garota tão pequena é uma grande ameaça.

E continuo sem respostas.

Por que ela é importante?

Quem é ela?

E no que estou me metendo?

Porque parece que quanto mais fundo vou, quanto mais quero, mais o faço isso por mim, e não por eles.

E sei que pensamentos como esse não levam apenas a um tiro, mas também a morte.

Já vi em primeira mão.

Vi com o que os caras têm lidado.

O sangue.

A guerra.

A perda.

Não quero ser enterrado a quase dois metros de profundidade, só porque perdi a cabeça e o coração.

Esses pensamentos me assombram quando entro no quarto e começo a fazer as malas e, quando vejo coisas que acho que Tanit gostará, eu as pego também.

E me amaldiçoo por minha fraqueza quando se trata de seus olhos.

Assim como me amaldiçoo quando penso em nosso beijo.

Não volto para o campus até ser uma da manhã.

Quando abro a porta do dormitório, Tanit acorda de repente, puxando o lençol contra o peito e respirando tão pesadamente que você pensaria que tenho uma arma apontada para ela.

“O que está errado?” Imediatamente fecho a porta e começo a vasculhar o quarto, começo pelo armário, porque é o esconderijo óbvio, então procuro debaixo das camas e quando a olho, ela está carrancuda. “O que?”

“Está procurando o bicho-papão?”

“Não.” Faço uma careta. “Você parecia assustada e ameaçada. Estou procurando pelo bandido.” Digo com um sorriso.

“Engraçado.” Ela engole em seco. “Já que tenho quase certeza de que estou olhando para ele.”

“Eu não sou ruim”, digo rapidamente, odiando a mentira. “Eu simplesmente não sou bom.”

“Não é a mesma coisa?”

“Eu duvido.” Digo ao levantar, elevando-me sobre sua cama, então ergo a mão. “Dê-me um minuto...”

Vou até uma das minhas mochilas e pego o cavalo branco, então muito lentamente entrego-o para ela.

Ela franze a testa, “O que é isso?”

Uma pista.

Uma dica.

Um teste.

“Nada.” Dou de ombros. “Só pensei que poderia te ajudar a dormir.”

Ela olha para baixo e, em seguida, uma única lágrima desliza por sua bochecha antes dela sussurrar: “Eu vou morrer, não é?”

Eu respiro fundo. “Por que diz isso?”

“Isso... É um símbolo.”

Inferno, ela sabe mais do que deveria.

“Como você sabe?” Digo estupidamente.

“Eu vou dormir.”

“Tanit... o que você precisa me contar?”

“Estou cansada.” Ela se vira para o lado.

Inclino-me sobre seu corpo, meus lábios roçando sua orelha enquanto sussurro: “Você está segura... por agora... comigo. Mas se me trair, esta será a última coisa que verá.”

Eu me odeio.

Eu odeio a máfia.

Eu odeio minha vida.

Tenha. Bons. Sonhos. Querida.


13

Tanit


Eu gostaria de dizer que não fico neurótica.

Que não fico completamente apavorada com o que acontece entre mim e Dom.

Mas estou.

Sou arrastada ao tempo em que ficava acordada à noite e ouvia meus pais brigarem sobre o que é certo ou errado. Estou novamente nesse momento, onde rezo para que meus cobertores cubram meu corpo tão completamente que ninguém me encontrará, que nem mesmo uma bala o penetrará.

Se isso chegar a acontecer.

Eu os odiei pelo que me fizeram passar.

E parte minha sente que algo está errado com minha composição, com meu DNA, por me sentir atraída por alguém que promete o mesmo.

Não tenho certeza de quando finalmente adormeço.

Duas da manhã? Três?

Eu acordo com uma música tocando ao fundo. Isso é Beyoncé?

E uma xícara de café fumegante está na minha mesa de cabeceira, junto com o maldito cavalo branco que Dom me deu na noite anterior.

Eu não sou idiota.

Sei o que isso significa.

O que representa.

Traição.

Deslealdade.

Um X-9.

Olho para ele e então com muito cuidado pego a xícara de café, com medo de que se o tocar, este seja meu destino. Ouvi histórias de como jogam um cavalo branco em caixões, em camas, em casas, antes de tudo ir para o inferno, e não quero participar disso.

“Dormiu bem?” Dom pergunta enquanto clica furiosamente num laptop. Aposto um milhão de cafés que esse notebook não estava aqui algumas horas atrás, quando ele disse, de repente, que se mudaria para meu dormitório.

“Hum, não, de jeito nenhum, tenho um psicopata morando no meu quarto e ele é parente de algumas das pessoas mais assustadoras que já vi, então não, não, eu não dormi bem, não depois de ser ameaçada, não depois de temer por minha vida, então a resposta é não.”

Ele encolhe os ombros. “Que resposta longa.”

“O que está fazendo?” Afasto os lençóis e me levanto, esfregando o rosto com as mãos e caminhando até ele. Já estou morta mesmo, o que é mais uma ofensa?

“Lendo.” Ele suspira. “Eu amo livros.”

Encaro suas costas, mais confusa do que qualquer coisa. “Por que está lendo no computador?”

“Eu esqueci meu Kindle.” Ele suspira como se estivesse realmente triste com isso, “e sou um idiota que se esqueceu do aplicativo para o meu celular, por que mais eu iria ler no computador?” Ele se vira e sorri para mim. “Essa merda é boa.”

“Uh-huh.” Não vou me descontrolar. Eu não vou me curvar. Não vou me ajoelhar. Serei o epítome do autocontrole. “Eu preciso me vestir.”

Ele se recosta na cadeira, colocando as mãos atrás da cabeça como se fosse o maldito dono do quarto. “Então se vista.”

“Sozinha.”

“Estamos sozinhos.”

“Sem você.”

“Não posso fazer isso, cupcake.” Seu sorriso está me dando nos nervos. “Mas vou me virar, só para você não ficar quente e incomodada quando eu lamber os lábios e gemer seu nome.”

Minhas mãos se fecham em punhos. “Isso é ofensivo.”

Ele sorri ainda mais. “Eu raramente me desculpo.”

“Que surpresa.” Vou até o guarda-roupas e pego o uniforme da Eagle Elite, irritada por precisar usá-lo e envergonhada por estar me trocando no mesmo quarto que um menino, espere, não um menino, um homem, um homem atraente que faz meu sangue ferver. “Vire-se agora.”

Então ele o faz.

Suspiro com alívio e provavelmente quebro um recorde com o quão rápido me visto.

Quando finalmente coloco a jaqueta, sinto dedos em meus braços, lentamente, muito lentamente, correndo dos meus ombros até minhas mãos antes que ele se incline e sussurre: “Perfeita.”

Eu me afasto. “Tenho que ir para aula.”

“Vou acompanhá-la.”

“Não...” eu me movo mais rápido em direção à porta, “é necessário.” Abro-a e todas as garotas do andar me encaram, com a porta aberta, café na mão e olhos arregalados.

Dom se inclina sobre mim, uma mão segurando a moldura da porta e a outra no meu ombro. “Então, eu terei que discordar, querida.” Ele pisca, “Depois de você?”

“Quem diabos é você?” Eu resmungo: “Quero dizer, além do óbvio.”

“Eu sou a realeza”, ele finalmente diz num sussurro. “Deixe-me colocar desta forma, quando o Padrinho partir, você está olhando para o substituto novinho em folha.”

Eu fico boquiaberta e depois tropeço. Ele segura meu cotovelo ao mesmo tempo em que a garota mais próxima suspira.

“Padrinho.” Eu repito.

“Tex Campisi, o único, embora acho que o irrita quando você o chama de padrinho em vez de Capo.”

Meus olhos ardem.

Meu peito dói.

“Aquele que matou os melhores amigos do meu pai?”

“Ele mata os amigos de todos. É o que ele faz. Para manter a ordem. É melhor lembrar disso da próxima vez que tentar discutir.” Ele aperta o botão do elevador e eu me afasto para o canto mais distante.

“Eu não fiz nada de errado”, digo defensivamente.

“Ah, Tanit.” Ele suspira como se estivesse realmente triste. “Seu pai a entregou ao diabo. Que Deus tenha piedade de sua alma.”


14

Dom


Meus dias passam assim.

Vejo Tanit ir para as aulas.

Falo sobre Tanit com outros alunos.

Descubro informações sobre Tanit por meio dos programas stalkers assustadores de Sergio.

Certifico-me de que Tanit volte para o quarto sem ser esfaqueada ou baleada.

Observo Tanit.

Fico com Tanit.

Eu. Fodidamente. Vejo. Tanit. Dormir.

Demora cinco dias tentando ser normal para eu quebrar. Nem tenho certeza do que causa a mudança, mas sinto no vento. Vejo na maneira como as folhas voam pela grama, indo cada vez mais longe até atingirem a calçada, batendo em seus sapatos e então voando e tentando se prender em seu cabelo escuro e sedoso.

Talvez seja a forma como a luz do sol ilumina seu cabelo, ou a folha laranja.

Talvez seja apenas o fato de que estou sujeito a vê-la entrar e sair do banheiro do dormitório com nada além de um roupão de banho e chinelos.

Mas de repente eu quero...

Mais.

Mais do que a perseguição.

Mais do que ficar de olho.

Mais do que as ameaças.

Droga, eu quero mais da sua boca deliciosa.

E.

Eu.

Estou.

Desesperado.

“Bela folha.” Eu a tiro de seu cabelo. “Como estão as aulas esta semana?”

Seus lindos olhos se estreitam. “Você deve saber. Já que recebe relatórios dos meus professores.”

Sorrio e encaro-a diretamente. “Agora, como diabos você sabe disso?”

“Esqueci meu celular, voltei para pegá-lo e vi uma faca empurrada contra a garganta de um dos meus professores e as palavras 'como ela está' aleatoriamente saindo da sua boca. Você está acompanhando só a mim ou tem todo um harém de garotas para cuidar? Qual opção?” Ela dá um passo em minha direção, então fica na ponta dos pés como se estivesse tentando desesperadamente olhar nos meus olhos.

Sem chance no inferno, princesa.

Tenho pelo menos quinze centímetros a mais.

Se não mais.

Sorrio para ela. “É fofo como você me escuta... como me espera após as aulas, como até mesmo certifica-se de que estou dormindo antes de descansar.”

Seu queixo estremece.

“Admita.” Eu me aproximo até que estamos peito a peito. “Você está com muito medo de dormir à noite, na verdade tanto medo que posso apostar que o motivo dessas olheiras”, toco suas bochechas, “não têm nada a ver com o dever de casa e tudo a ver comigo dormindo a poucos metros de distância.” Afasto o cabelo do seu rosto. “Diga, você pensa em meus beijos? Minha boca? Hmm?” Inclino-me para frente até que meus lábios estão a um centímetro da sua orelha e eu sussurro: “Você sonha em vir para a minha cama? Em me deixar nu e me deixar sugar todo o medo e tristeza que está decidida a manter em seu corpo sexy?”

Tanit engasga e empurra meu peito. Seguro sua mão e a puxo para mais perto, pressionando sua palma contra meu uniforme. “Sente isso? Sente essa batida?” Fecho os olhos por um breve momento e apenas me permito sentir o calor de sua mão. “É seu.”

Seus lábios tremem.

Eu quero tê-los entre meus dentes. Mostrar a ela coisas que nunca viu antes, sussurrar segredos em seu ouvido. Eu quero confiar.

E acredito que isso vale minha vida.

Ela não morde a isca. Não se inclina e me beija, ela não se move.

Quero que os outros alunos vejam enquanto a reivindico.

Em vez disso, ela está congelada no lugar.

Uma semana e não ganhei merda nenhuma.

E ainda assim parece que fiz tudo, porque neste mundo, sua vida significa conhecimento e já dei a ela a maldita vantagem revelando a mim mesmo e minha família.

E aqui está ela. Tremendo.

Querendo.

Imóvel.

“Caminhe comigo.” Seguro a mesma mão que pressiono com ternura contra meu peito.

Ela me segue. Sem palavras.

Caminhamos em silêncio.

Até encontrarmos... o lugar. O espaço. Inferno? Como quiser chamá-lo. Todos damos nomes diferentes para isso, em diferentes épocas.

Destranco a porta do armazém no campus e a empurro para dentro. “O que você vê?”

Ela engasga e cobre a boca com as mãos. Tento imaginar o que isso a faz sentir, as impressões das mãos ensanguentadas, os diários RIP com datas de morte, mas acima de tudo, me pergunto o que ela sente sobre as rosas.

As rosas brancas.

As que permanecem no mesmo lugar.

Todo ano.

Sem falta.

No aniversário de sua morte.

“Esse é...” Tanit balança a cabeça enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto. “Esse é o túmulo dela?”

“É o memorial”, digo em voz baixa. “É a imagem do amor verdadeiro, um amor que não foi forte o suficiente nesta vida.”

“E na próxima?” Tanit vira e me encara. “O que? Será forte o suficiente então?” Lágrimas enchem seus olhos, em seguida, caem por suas bochechas. “Será o suficiente? Quando tanta morte será o suficiente?” Ela bate no meu peito, uma, duas vezes. Seguro seu pulso na terceira vez e suspiro.

Seu rosto está pálido.

Seus lábios se separam.

“Nunca será”, eu sussurro roucamente. “Porque a vingança é contínua, assim como a traição. Isso causa um efeito cascata que nunca para, nunca cessa. Jogue uma pedra na água e ela vai ondular, vai crescer, até se tornar algo imenso, não é?”

Ela cerra a mandíbula.

“Tanit.” Eu a puxo para um abraço. “Dê-me uma razão para confiar em você. Uma razão para deixá-la sair deste lugar e voltar ao dormitório. Uma razão para eu te beijar, não porque faz parte do meu maldito trabalho, mas porque quero acreditar que esse não é o tipo de legado que você deseja deixar para trás. Que esta, esta é a vida da qual não quer fazer parte porque escolheu ficar acima dela. Conte-me...”

Ela abre e fecha a boca, em seguida, baixa o olhar para o chão enquanto sussurra: “Eu não posso.”


15

Dom


Eu sinto seu medo.

Posso sentir o gosto no ar.

Puxo seu corpo contra o meu enquanto envolvo um braço em sua cintura e suspiro em seu cabelo. “Devo matá-la?”

Ela fica tensa e, em seguida, relaxa em meus braços como se esperasse por isso, como se soubesse que aconteceria... sua morte.

“É isso que você quer?” Aponto com a mão livre para o memorial, para as marcas de mãos ensanguentadas espalhadas pela parede, para tudo. “Simplesmente deixar de existir?”

Ela engole em seco e sussurra: “Minha morte não importará, assim como minha vida.”

“Essa é a coisa mais triste que já ouvi.” Eu a seguro com mais força, então viro-a em meus braços, inclinando seu queixo em direção ao meu rosto. “Contanto que o ar encha seus pulmões... você é importante, e mesmo quando seu coração parar de bater... você será importante.”

Lágrimas enchem seus olhos. “Diga-me, você acreditaria nisso sobre si mesmo se fosse abandonado diretamente nas mãos de seus inimigos?”

Eu hesito, sem saber o que responder. “Seu pai está te amando da melhor maneira que ele pode... de longe.”

“Ele simplesmente não quer morrer”, ela admite. “E eu pensei em começar de novo! Nova faculdade, nova vida, novos amigos.”

“Estou ofendido.” Inclino-me. “Não sou seu amigo?”

“Você é...” Ela hesita. “Alguma coisa.”

Nossas testas se tocam. “O que farei com você?”

Ela lambe os lábios, seus olhos disparando para minha boca.

Com um gemido, eu me afasto, tiro a arma do coldre e aponto para sua cabeça. “Uma razão, Tanit. Eu só preciso de uma. Mostre-me sua luta, dê-me algo.”

Uma única lágrima escorre por sua bochecha antes que sua voz baixa quebre o silêncio tenso. “Eu não sou culpada pelos pecados dos meus pais.”

Abaixo a arma tão rápido que ela quase caí das minhas mãos.

O mundo para enquanto a pego me olhando, seus olhos piscando para conter as lágrimas.

Dou um passo em sua direção, depois outro.

Eu guardo a arma.

Então a agarro pelos ombros e digo com voz rouca. “Nem eu.” Dou um beijo em seus lábios. “Vamos para a aula.”

Por algum motivo, ela obedece. Ela agarra minha mão, encosta a cabeça no meu ombro como se eu não tivesse segurado uma arma contra sua cabeça. Preciso de respostas e me recuso a trazer a traição de volta para a família.

Foi assim que os últimos dez anos se tornaram complicados para nossas famílias.

Ninguém fala sobre isso.

Mas é sentido em todos os lugares, a dúvida constante e a luta pelo poder entre todos nós.

É como se no dia que um dos nossos nos traiu... todos se tornassem suspeitos.

Inclusive eu.

Isso trouxe dureza ao comportamento de todos, Nixon sempre foi um filho da puta assustador, mas agora, sei que não devo provocá-lo ou verei meu baço acenando do chão.

E Tex? Bem, meu querido irmão provavelmente quer que eu morra e ora para que eu tropece numa bomba.

Eu suspiro.

Família.

Sangue entra, não sai. É simples.

Não sai.

E aqueles que o derramam... não vivem para contar.

Tanit para de andar.

Faço uma careta para ela, perdido em pensamentos, e então sigo seu olhar até ele.

Porraaaaaa.

Seu andar é lento e decidido, sua expressão é decidida. Quando ele finalmente para na nossa frente, sei que vou levar um tiro, uma facada ou as duas coisas.

“Chase.” Eu inclino a cabeça.

Ele olha para Tanit, olhando para a direita e depois para a esquerda antes de pegar uma faca e entregá-la para mim. “Faça isso, ou eu farei.”


16

Tanit


Pensei ter conhecido o medo quando homens vieram a nossa casa e gritaram com meu pai, com armas apontadas para nós.

Pensei ter conhecido o medo quando ele me deixou nesta faculdade, basicamente para sobreviver sozinha.

Pensei ter conhecido o medo quando Dom apontou uma arma para minha cabeça.

Ou talvez, quando vi todos os inimigos de que meu pai falou, bebendo vinho e discutindo suas vidas como se a minha não estivesse prestes a acabar.

Isso não foi nada.

Sequer foi medo.

Em um piscar de olhos.

Isso. Isso é medo.

Encaro o olhar azul deste homem, e é disso que são feitos os pesadelos. Eu me agarro a Dom de uma forma que é quase indecente.

O ar ao meu redor é pesado e queima enquanto tento respirar e permanecer calma. Sempre consigo parecer calma, é o que aprendi a fazer. Mas, pela primeira vez na vida, sinto a escuridão me encarando de forma tão fria e começo a contar os segundos até que a faca encontre minha pele e a corte.

“Chase.” Dom parece irritado. “Deixe-me fazer uma pergunta.”

Chase acena com a cabeça.

“Você confia em mim?” Dom diz suavemente. “Você confia no meu sangue? Em quem sou? No que represento?”

Chase lambe os lábios enquanto sua mandíbula visivelmente flexiona e, lentamente, ele abaixa a faca e olha para o chão, seu corpo inteiro tenso e os músculos contraídos. “Sim.”

É um sussurro rouco.

Parece doloroso, como se doesse fazer essa admissão.

Espero enquanto Dom aperta mais o braço ao meu redor, cobrindo-me com metade de seu corpo, protegendo-me da família, do perigo.

“Então confie em mim para fazer isso da maneira certa. Não condenamos inocentes, e gostaria de pensar que de todas as pessoas que amo, de todas as pessoas por quem eu morreria... você entende isso. Eu te prometo, se ela nos trair, se o sangue vencer, eu alegremente arrancarei seu coração e o entregarei a você.”

Um arrepio percorre meu corpo. Eu acredito nele.

E Chase também.

Ele guarda a faca e balança a cabeça. “É melhor Tex se cuidar, seu bastardo sanguinário.”

Dom esboça um sorriso.

Chase gargalha.

E de repente sinto como se tivesse caído numa pegadinha.

Mas quando os olhos de Chase encontram os meus, o sorriso some, a risada é substituída por desdém. “Espero que você seja melhor do que seu sangue.”

“Eu também”, sussurro, sem saber o que responder.

Ele acena para mim, dá um tapinha no ombro de Dom como se fossem colegas de fraternidade e vai embora.

Eu cairia no chão se Dom não tivesse me segurado e firmado. “Você está bem?”

“Não”, admito honestamente. “Quem estaria? Não importa, é uma pergunta estúpida, você é um...” Não digo a palavra, embora ela esteja na ponta da minha língua.

“Assassino?” Ele termina por mim.

“Não”, minto. “Eu quis dizer que... você é diferente.”

“Diferente não significa que não sinto emoções humanas comuns.” Ele sorri.

Estremeço levemente em seus braços e depois observo Chase se afastando. “Ele é o mais assustador de todos.”

Dom hesita, então segue meu olhar. “Você acreditaria se eu disser que este é seu lado calmo?”

Meus olhos se arregalam automaticamente. “Diga-me que essa é a sua versão de piada.”

“Eu queria.” Até Dom parece desconfortável, e talvez se eu olhar um pouco mais em seus olhos verei... medo. “O cara já passou por muita coisa, viu muita coisa. Ele é... bem, vamos apenas dizer que ninguém quer ir contra ele, porque não tenho certeza se conheço alguém que o venceria, pelo menos não agora, não com seu objetivo de vida, não com a dívida que ele sente que precisa pagar.”

“Dívida?” Eu questiono.

“Ele jurou eliminar uma linhagem... e pretende fazer isso.”

Pavor percorre meu corpo. “Qual linhagem?”

Dom hesita e então sussurra: “A sua.”


17

Dom


A informação a atinge com um impacto tão assustador que ela oscila e então sacode a cabeça quando a silhueta de Chase some e finalmente entra numa Mercedes preta.

Ele não está sozinho.

Eu sorrio.

Ainda bem que alguém o mantém sob controle.

“O que?” Tanit pergunta. “O que é engraçado?”

Olho para o carro enquanto ele parte e respondo, “Ah, isso é história para outra hora. Uma das melhores que já ouvi. Queria ter estado por perto para vivenciá-la.”

Seus olhos piscam para longe dos meus antes que ela encare o chão, seus ombros curvados, seu corpo parecendo mais frágil do que nunca.

“Você fala sério, não é?” Ela abraça seu corpo com força. “Você arrancaria meu coração.”

Ela não diz como uma pergunta. É uma declaração que não sinto necessidade de responder.

“Você já sabe a resposta, Tanit.” Dou de ombros. “Você conhece este mundo. Você pode ser o amor da minha vida, o ar que respiro, toda a minha existência, e se me trair... eles ainda exigirão sua cabeça.” Eu cerro os dentes. “Nem sempre foi assim.”

“Mas é agora.” Ela suspira.

“Antes...” eu coço a cabeça, tentando pensar numa maneira de explicar. “Não havia crianças, nem vidas extras, nem almas por aí precisando de proteção. As coisas mudam quando há crianças envolvidas, Tanit. Elas não podem permanecer as mesmas, não quando se tem esse tipo de responsabilidade.”

Ela tem o olhar curioso quando morde o lábio e apoia as mãos nos quadris. “Isso, pelo menos, faz sentido.”

“Viu? A máfia não é de todo ruim.”

Ela revira os olhos. “Você tem uma maneira realmente estranha de decidir o que é bom e ruim.”

Sorrio, pegando sua mão e a apertando. “Você está bem?”

Ela acena com a cabeça.

Eu a puxo contra meu peito, tomo seus lábios, e então chupo-os até poder prová-la, até sentir o calor de sua língua deslizando contra minha boca. Então eu recuo.

“Bom. E ainda assim é ruim, porque não é algo que devo fazer. O bem e o mal sempre dependem de onde você está, Tanit. Lembre-se disso.”

Eu a solto e aceno em direção ao dormitório. “Vamos matar aula.”

“Você é má influência.”

“Obrigado.” Eu pisco.

“Não foi um elogio.”

Aperto sua mão, em seguida, deixo a minha cair ao meu lado. Estou criando um vínculo emocional. Eu costumava pensar ser o tipo de cara que pode matar uma vovozinha a sangue frio se ela me trair.

Mas agora?

Agora, lentamente começo a perceber que a única razão pela qual imaginei ser esse tipo de idiota é porque minhas matanças sempre foram a distância.

Nunca fui posto numa posição onde tenho que escolher o sangue ao invés do meu coração.

E me apavora que isso esteja se aproximando.

Que minha vida se resuma a uma única escolha.

Eu. Ou eles.

Não quero que seja assim.

Não sei como pode ser de outra maneira.

E porque o universo está me empurrando para um caminho que não quero, meu telefone vibra na minha mão.

Eu o pego e leio a mensagem.

ANTECEDENTES RESTAURADOS — SEU PAI É O ASSOCIADO DE LANGE QUE OS RUSSOS PROCURAM PARA MATAR UM CONTATO. A FILHA VIVEU COM ELE A VIDA TODA. NENHUMA CHANCE NO INFERNO DE ELA NÃO SABER ALGO. ELA VIU ALGO. ELA VAI TRAÍ-LO. QUEBRE-A. MANTENHA-A VIVA. — NIXON

Eu aperto o telefone na mão. Droga.

“Tudo bem?” Tanit prende o cabelo em um rabo de cavalo, enviando imagens eróticas de mim puxando-o por todo meu cérebro e pau fica duro.

“Você é realmente bonita.” Quero dizer isso. Mas o elogio me faz sentir sujo, faz com que toda a situação pareça errada.

Ela cora. “Você bateu com a cabeça ou algo assim?”

Eu reviro os olhos. “Tudo bem, seu segurança pessoal diz que você deve vestir algo confortável, comer fast food e tirar sarro do Crepúsculo.”

Ela engasga.

Eu a encaro.

“Ok, estou de acordo com isso. Nunca matei aula.”

“Estou chocado”, digo secamente. “Provavelmente você tira nota máxima e tem a presença perfeita.”

Ela encolhe os ombros como se não fosse grande coisa.

Passo meu cartão-chave sobre o teclado, deixando-nos entrar no elevador. As portas se fecham e ela encara meus olhos.

“Meu pai não era muito...” ela engole em seco. “... compreensivo quando se tratava de notas ruins e faltas.”

Tanit começa a esfregar os braços. Ela está inquieta.

“Aquele bastardo bateu em você?” Eu questiono.

“Não.” Ela respira fundo. “Mas por vezes as palavras machucam tanto quanto uma surra, sabe? Ele gritava. Muito. E isso fazia com que ele e minha mãe brigassem, e então ele descontava nela, então eu só... Tentei ser perfeita.”

“Devia ser exaustivo.” Estendo a mão para ela.

Ela a agarra. “Você não tem noção.”

É uma entrada.

O momento perfeito.

Literalmente tenho essa garota numa bandeja de prata.

Eu preciso atacar.

Família.

Sangue.

Tanit é apenas outra garota.

Outro trabalho.

Eu beijo o topo de sua cabeça. “Não me tente, Tanit.”

“Tentar você?”

“Aposto que você é virgem, aposto que nunca ficou fora até depois da meia-noite, aposto que nunca dormiu com um cara na sua cama, aposto que nunca o deixou te tocar.” Eu roço seus seios com os nós dos dedos e sua respiração para. “Aposto que você me deixaria fazer isso.”

“São muitas apostas.” Ela engole em seco.

As portas do elevador abrem.

Caminhamos em silêncio até o quarto.

Abro a porta e ela me segue.

E quando se move para acender o interruptor, seguro sua mão e sussurro contra sua boca. “Não faça isso.”

Ela se afasta ligeiramente. “O que está fazendo?”

“O que faço de melhor. Fazendo boas meninas se tornarem más”, eu provoco. “E te fazendo esquecer todo o mal que vem com o bem. Lembra, eu te disse... Bom, ruim, tudo depende de onde você está, e do meu ponto de vista...” olho-a de cima a baixo, seus seios fartos, sua boca beijável, o jeito que seus lábios estão ligeiramente entreabertos enquanto respirações curtas escapam. “Tudo o que vejo é bom. Muito bom.”

“Aposto que sim.”

Sorrio ao sua provocação, embora possa ver que ela está nervosa.

“Vou te fazer desejar que este lugar tenha apenas uma cama, Tanit. Você vai deixar?”

Um único aceno de cabeça.

Eu vou queimar no Inferno.

Pelo menos Chase estará comigo.

Junto com todos os membros da minha Família.

Não somos bons.

Apenas dissemos isso a nós mesmos.

De que outra forma conseguiríamos dormir à noite? Quando se tem sangue nas mãos e uma Glock embaixo do travesseiro?

Eu tomo seus lábios.

E sei que tomarei tudo.

Sua inocência.

Seu coração.

Sua alma.

E ela se dará livremente.


18

Tanit


Sei que estou respirando porque ainda não desmaiei. Nenhum ponto apareceu na minha visão... pelo menos no que posso ver do quarto escuro.

Sinto sua respiração no meu pescoço, suas mãos segurando meus braços enquanto ele lentamente me guia em direção à minha cama.

Eu deveria ter firmado os calcanhares no chão.

Dizer que não confio nele o suficiente com meus segredos para sequer considerar entregar meu corpo.

Mas ele me faz sentir algo diferente de terror.

Ainda tenho medo dele, mas tenho mais medo da minha reação a ele, é normal desejar o mesmo homem que sabe que sem dúvida te matará durante o sono se você o trair?

Como ele é diferente do resto?

Do meu pai?

Não tenho tempo para pensar além desse simples fato porque ele está me virando em seus braços, inclinando meu queixo em direção ao seu rosto, suspirando contra meu pescoço, inalando como se nunca tivesse sentido meu perfume antes, ou talvez seja apenas minha pele e, então ele pressiona um beijo de boca aberta contra meu pulso acelerado.

“Tanit”, Dom sussurra.

“S-sim.”

“Você está com medo?”

“Um pouco.”

Ele me solta. “Você confia em mim?”

“Eu quero confiar.”

“Bom.” Ele parece satisfeito com a resposta.

Talvez ele esteja satisfeito apenas por eu não estar mentindo, pois que mulher em sã consciência diria não estar apavorada em sua presença dominadora?

“Tudo bem, boa menina.” Sua risada sombria faz arrepios surgirem em meus braços, ele corre os dedos pela minha pele nua, seu sorriso predatório se alargando. “Diga algo que devo saber...”

Faço uma careta. “Eu, hum, eu não sei?”

“Uh-huh.” Ele captura meus lábios entre os dele sem aviso, suas mãos deslizam para os meus quadris e me puxa com tanta força que engasgo em sua boca. Ele aprofunda o beijo, fazendo com que minhas pernas quase se curvem quando sua língua mergulha na minha boca, me provocando e recuando, apenas para voltar e me tentar além de qualquer razão. “Diga-me algo...” As palavras tremem contra minha boca. “Importante.”

“Meu toque de recolher era às 20h.”

Ele faz uma pausa e, em seguida, diz: “Da noite?”

“Não, da manhã.” Eu empurro seu peito. “Sim, da noite.”

Ele agarra minhas duas mãos e as pressiona contra seu peito, e então as abaixa até que chegam à frente de sua calça jeans. “Explore, Tanit, eu não me importo, parece que temos uma vida inteira de toques de recolher para compensar.”

“O que te faz pensar que eu queria sair para fazer essas... Coisas?” Eu nem consigo falar. Sim, sou uma vergonha para os universitários de todo o mundo!

“Porque...” sua língua roça meu lábio inferior. “Você tem gosto de perigo.”

Quase gargalho alto. “Eu não sou perigosa.”

Ele suspira como se eu estivesse sendo ridícula, e então estamos nos beijando novamente, suas mãos deixam meus quadris enquanto puxam minha camisa sobre a cabeça. Ele joga o tecido no chão de madeira dura com um som forte, como se estivesse com raiva, como se a camisa o ofendesse. E então suas mãos estão na saia do meu uniforme. Seus dedos puxam o zíper e, em seguida, a saia está no chão mais rápido do que pensei ser possível, fazendo o ar frio atingir minha pele.

Minha calcinha será a próxima.

E eu permitirei.

Deixo-o tirar cada centímetro de roupa enquanto apenas observo seus olhos ficarem mais quentes e mais intensos.

E então aquele olhar gelado volta ao meu rosto, quando ele leva minhas mãos para sua calça jeans e inclina a cabeça. “Eu te disse para explorar. Só vai ficar aí parada?”

“Não tenho ideia do que fazer.”

“Oh.” Ele lambe os lábios e segura meus quadris enquanto lentamente corre o polegar pela minha calcinha preta e, em seguida, me toca com seu polegar. “Você saberá.”

Balanço a cabeça enquanto ele me puxa para seus braços e me beija novamente, não me permitindo respirar sem sentir alguma parte dele.

Dom, Dom, Dom.

Meu corpo inteiro vibra com seu gosto, seu domínio, e quando sinto a parte de trás da cama contra minhas pernas, abro os olhos e vejo algo que não esperava em seu olhar.

Culpa.


19

Dom


Eu a tenho onde quero.

E a quero em todos os lugares.

Sou um homem que conhece a própria mente.

Sei meus limites.

O controle foi incutido em mim antes mesmo de eu conhecer o alfabeto... como é de se esperar.

Isso foi exigido.

Ela me faz querer jogá-lo fora.

E esquecer porque estou aqui.

Apenas me concentro na curva de seu pescoço, nos suspiros suaves vindos de sua boca, na maneira como seus lábios se separam, abrindo-se para mim enquanto ela espera que eu faça o próximo movimento.

Eu quero levar tudo.

Tudo que ela tem a oferecer.

Meu coração bate forte contra o peito quando me inclino para outro beijo, enquanto minha mão desliza por suas costelas e segura um seio perfeito.

Quando engulo seu gemido, sinto uma mistura de luxúria implacável... e culpa.

Muita maldita culpa.

Porque não importa quantas vezes me convença de que estou bem com o que faço, ainda sei que os motivos são por mim, por minha Família e pelo que ela sabe.

Ela estende a mão, puxando-me para mais perto, com um olhar de admiração enquanto corre as unhas pelo meu peito.

E quando estou prestes a dizer foda-se para tudo, e tomá-la, afundar-me nela e possui-la... meus olhos pousam no cavalo branco.

O que está em sua mesa de cabeceira.

Eu congelo.

Meu corpo fica completamente entorpecido quando memórias e histórias de advertência tomam conta de mim.

Histórias de traição.

Não posso fazer isso com ela.

Ser assim com ela.

Eu me afasto e me levanto.

“Dom?” Ela franze a testa e seu rosto está confuso. “O que está errado?”

“Nada”, eu minto, girando e encarando a porta para não ficar ainda mais tentado do que já estou. Meu pau é completamente a favor de voltar para a cama e terminar o trabalho.

Meu coração, por outro lado.

Minha fodida consciência.

Corro as mãos pelo cabelo, em seguida, puxo-o. “Merda.”

“Dom?” Sua voz vacila, como se ela estivesse com medo, como se fosse minha culpa ela sentir medo... de novo.

“Sim.” Eu não me viro.

Mas a sinto.

Oh, sinto quando ela se levanta, envolve os braços em minha cintura e beija minhas costas com tanta ternura que quero gritar com a injustiça de tudo isso.

De encontrar alguém que me faz sentir como eu mesmo, e apenas para fingir ser outra pessoa com ela.

Abaixo a cabeça enquanto ela atinge uma das minhas únicas fraquezas.

Toque.

Cuidado.

Sou o filho de pais que preferiam me ver morto.

De amigos que preferem me apunhalar e desafiar do que me oferecer um high five.

Fui posto numa família que me ama, mas não é realmente minha.

Não de verdade.

Todo esse tempo, pensei ser eu aquele atacando, sondando e me infiltrando.

Até ela me tocar.

E meu coração acelerar.

Até ela me beijar e minha respiração parar.

Até ela me virar em seus braços e reivindicar minha boca com paixão desenfreada — e eu me esquecer tudo.

Da máfia.

Do plano.

De seu lugar em nosso mundo.

E quando minhas roupas são jogadas no chão, quando me aproximo dela, quando gemo seu nome enquanto ela me abraça com força... digo a mim mesmo que tudo ficará bem.

Mesmo quando ela se move comigo, uma lágrima escorrendo por sua bochecha.

Mesmo quando suas pernas se apertam ao meu redor.

Digo a mim mesmo que é diferente.

Isso é diferente.

Não é traição.

E quando ela grita contra minha boca, sua linda cabeça caindo para trás contra o travesseiro enquanto eu a encho mais.

Eu admito.

Sou egoísta.

E queimarei no Inferno.

Mas vou me lembrar desse momento por toda a eternidade.


20

Tanit


Meus olhos ardem como se eu tivesse chorado por dias. Esfrego-os com as costas da mão e me sento na cama.

Dom ainda dorme, seu rosto é severamente bonito enquanto seu corpo permanece imóvel, sua respiração regular faz meus olhos pousarem em seu peito esculpido. Estremeço lembrando de como seus beijos foram pressionados contra meu corpo. Suas mãos me tocando em todos os lugares.

E eu quis isso tão desesperadamente.

Eu o quis.

Tanto que não pensei nas repercussões.

Ele é meu colega de quarto!

Não posso simplesmente dormir com meu colega de quarto.

Sem mencionar o fato de que ele é o próximo na sucessão para o trono da máfia, e isso o torna um alvo tanto quanto eu.

Tento respirar fundo.

Meu pai nunca pode saber.

Minha família não pode saber.

Não que isso importe, certo? Eles me abandonaram, me sacrificando no altar da família no minuto em que me deixaram na faculdade e basicamente me disseram para sobreviver.

Respiro fundo e tento processar os sentimentos tumultuosos junto com a angústia de ter o cara mais sexy do planeta na minha cama... no meu quarto.

A realidade de que ele fez coisas comigo que nunca pensei serem possíveis... de que sua fala indecente foi implacável na busca para provar cada centímetro meu.

Mas e daqui a algumas horas?

Quando a escuridão for embora.

Mordo o lábio inferior quando meu olhar cai para o cavalo branco na mesa de cabeceira. Não sei por que, mas uma parte minha esperava que ele escondesse esse símbolo, a lembrança do que acontece com os traidores, com os que ousarem o trair ou aqueles próximos a ele.

Pego a pelúcia assim que Dom se vira e abre os olhos.

“Terminou de pensar?” Seu peito bronzeado é todo músculo e perfeição quando ele coloca as mãos atrás da cabeça e sorri largamente. “Sério, já estava me dando dor de cabeça.”

Minha voz fica presa na garganta antes de eu responder roucamente. “Desculpe.”

“Venha aqui”, ele sussurra sem se mover.

Subo em seu corpo e pressiono o queixo em seu peito nu. Posso sentir cada centímetro da sua pele queimando a minha.

Ele fica tenso por dois segundos antes de muito lentamente trazer as mãos até meus ombros e me puxar para mais perto. Meu corpo desliza contra as formas duras do seu abdômen e sua boca encontra a minha, deixando perdida em sensações que só ele pode causar enquanto me vira de costas e me faz esquecer todas as razões pelas quais estou preocupada.

Beijo após beijo, perco um pouco mais do meu coração para ele, e quando seus olhos escurecem com necessidade, quando sua expressão enlouquecida encara a minha, sei que o tenho.

Isso é tudo que importa.

Eu o tenho.

Por enquanto.

É tudo que preciso.

“Não feche os olhos”, ele pede, me surpreendendo. “Eu quero te ver. Sempre quero te ver.”

Estou totalmente perdida.

Pelo meu inimigo.


21

Dom


Eu a observo dormir.

Como um psicopata.

Até tiro uma foto quando sua mão cai contra a bochecha, tornando tudo pior, quando ela ronca tão alto que tenho que virar de lado e fingir que estou dormindo.

Ela.

É.

Tudo.

Todas as coisas que eu não deveria querer.

Todas as coisas que não preciso.

Eu suspiro.

Como um covarde.

Então pego o cavalo branco e o guardo no bolso. Meus lábios demoram em sua têmpora direita, então finalmente faço uma escolha ao deixar minha boca tocar sua pele suave.

O que diabos estou fazendo?

Eu me pergunto isso a cada vez que me curvo e pressiono os lábios em sua orelha, em seu queixo, no ponto macio em seu pescoço e até mesmo no canto de sua boca.

E toda vez... ela inspira e cai num sono mais profundo.

Eu observo seus olhos.

A maneira como estão fechados e ainda assim tão focados.

Penso nas mentiras, na traição, nas coisas ditas e não ditas, e então faço algo muito perigoso.

Eu me questiono.

Eu espero.

Eu desejo.

E se.

Porra. E. Se.

E se ela não for seu sangue?

E se ela for diferente?

E se ela for melhor?

Quero tanto que seja.

Balanço a cabeça rapidamente e vou para o chuveiro, o chuveiro não misto onde vigorosamente lavo meu corpo e ao sair vejo pelo menos duas garotas esperando com uma toalha.

“Obrigado.” Pego a toalha que trouxe, balanço a cabeça e ando alegremente enquanto as calouras desapontadas fazem cara feia em minha direção, e quando penso que as coisas não podem ficar mais complicadas, eu abro a porta.

Para uma colega de quarto nua.

Oh, ela usa uma toalha.

Enrolada ao redor da cintura.

Mas seus seios.

Livres de qualquer cobertura.

Eu olho boquiaberto.

Fecho a porta com mais força do que o necessário.

Fico mais pasmo.

Então agradeço minhas estrelas da sorte enquanto ela curva os dedos, me chamando, chamando-me para seu corpo, me devorando com a boca.

Meus lábios a tomam novamente.

E eu minto.

Minto para mim mesmo.

Digo a mim mesmo que está tudo bem.

Outra pausa rápida.

Eu e ela.

Ela e eu.

Nosso para sempre.

Tão curto quanto deve ser.

Nossa.

Triste.

E fodida.

Mentira.


22

Tanit


Devo ter adormecido. Meu corpo dói em todos os lugares certos e, antes mesmo de abrir os olhos, estou sorrindo.

Ainda o provo em minha língua e sinto seus dedos em minha pele.

Com um bocejo, estico os braços acima da cabeça e olho o lugar vazio na minha cama, franzindo a testa enquanto meu olhar vai para sua cama.

Está vazia também.

Suas coisas ainda estão espalhadas no seu lado do quarto.

Mas Dom não está em lugar nenhum.

Lembro-me dele voltando do banho com a água pingando de seu cabelo escuro. Nunca fiquei tão encantada com a beleza masculina, a maneira como ele se porta com tanto poder, a maneira como seus olhos prendem os meus com tanto desejo.

É como se o resto do mundo desaparecesse.

E é tão careta quanto soa.

Sinto-me segura nos braços do meu inimigo.

E quero passar a eternidade tentando descobrir o porquê.

Mas ele se foi.

Lentamente afasto as cobertas quando um arrepio atinge meu corpo. Eu olho a tela do meu telefone.

Tenho aula em menos de uma hora.

Com um guincho, corro pelo quarto como uma louca e consigo ficar pronta com cinco minutos de antecedência. Pego as chaves do quarto, meu celular da mesa de cabeceira e congelo quando noto que o cavalo branco sumiu.

Isso é uma coisa boa ou ruim?

Como ele sumiu?

Dom o pegou?

O que significa? Ele dormiu comigo, então não sou mais uma ameaça?

Ou pior.

Ele levou tudo.

Saiu da minha vida.

E me deixou sem proteção.

Pânico inunda meus pulmões.

Não. Eu me recuso a acreditar. A noite passada foi diferente. A maneira como ele me tocou, cuidou de mim... não foi mentira.

Ele não é capaz de ser um ator tão bom.

Esfregando meu peito dolorido com a mão, lentamente saio do quarto e sigo para o elevador.

Passo meu cartão-chave no teclado e faço uma careta quando o elevador não funciona.

Então tento novamente.

“Precisa de ajuda?” Diz uma familiar voz masculina.

Eu congelo quando mais pânico atinge meu corpo como um balde de água gelada.

“Não.” Eu não me viro.

“Parece que precisa.” Ele se aproxima e pressiona um cartão preto do teclado. Quando as portas do elevador abrem, ele faz sinal para que eu entre.

O corredor está vazio.

Ninguém pode me salvar além de mim mesma.

Engulo em seco e entro enquanto ele me segue.

E como imaginei, no minuto em que as portas fecham, ele para o elevador, seus olhos azuis cristalinos me encaram por alguns segundos antes dele se encostar na parede e cruzar os braços. “Ele gosta de você.”

“Quem?” Faço-me de boba. E não sou boa nisso.

Os lábios de Nixon se curvam num sorriso zombeteiro. “Minha dor na bunda, meu filho adotivo, o herdeiro do trono Campisi, mais ou menos dessa altura”, ele levanta a mão. “Não tem autocontrole e gosta de flertar com o inimigo... as maçãs raramente caem longe das árvores.” Ele pragueja e morde o lábio.

Nixon me apavora.

Está na maneira como ele se comporta.

Não posso lê-lo. Num minuto ele está sorrindo, no próximo estou olhando o rosto de um assassino implacável, seus olhos me penetram e sua postura é de ataque.

“Dom.” Abaixo minha cabeça.

“Ele mesmo. Viu? Você é melhor nisso do que pensa.” Nixon zomba: “Ele é a única razão, Tanit De Lange.”

Eu respiro fundo, mas ainda não consigo sentir o ar; parece que um peso esmaga minha garganta quando Nixon caminha em minha direção, prendendo-me contra a parede com seu corpo. “A única razão pela qual não coloquei uma bala em seu cérebro. Diga que não fui um idiota pedindo a ele para protegê-la. Diga que não estou pedindo para ele morrer só porque você o acha bom de cama.”

Lágrimas enchem meus olhos. “Nossas maçãs...” Engulo em seco. “elas tendem a cair muito longe da árvore... quase a um continente de distância, mas isso não muda o fato de que ainda sou uma maçã, certo?”

Nixon suspira e recosta-se ao meu lado. “E essas maçãs... elas têm planos de pedir que você se junte a elas na árvore?”

“Ainda não. Não.” Eu suspiro.

“E quando o fizerem?”

“Eu... eu não sei. Eles não vão. Eles me mandaram ao território inimigo. Realmente acha que se importam comigo?”

“Por que?” Nixon sussurra. “Você deveria se perguntar o porquê... por que enviar uma garota indefesa para mãos do inimigo? Estou surpreso de que ainda não tenha descoberto. Inferno, estou surpreso que eles não tenham colocado um cartão de boas-vindas em seu suéter e feito uma festa para te anunciar.”

“Do que está falando?” Eu cerro os dentes. “Eles me abandonaram!”

“Não, querida...” Ele aperta o botão do elevador que lentamente começa a descer. “Eles estão nos pescando, atraindo o sucessor com um lindo e pequeno pacote, e já fizemos o que eles queriam. Acredite em mim, isso não acontecerá novamente. Vou designar outra pessoa para você. Seu tempo com Dom acabou.”

Quando as portas se abrem, um homem de jeans e jaqueta de couro está me esperando com um sorriso no rosto.

Nixon nem olha para ele, apenas passa direto.

E junta-se a Dom.

Meu Dom.

Aquele que me segurou.

Que beijou minhas lágrimas.

Que levou o cavalo branco.

Porque ele se retirou.

Ele olha através de mim e então muito lentamente vira e segue Nixon até o Escalade preto que os espera.

Quero que ele pare.

Que me diga que é tudo uma piada.

Que confesse seu amor.

Sua necessidade.

Em vez disso, sinto mãos tocarem meu braço. “Tanit, você tem aula agora.”

Lágrimas enchem meus olhos enquanto entorpecidamente atravesso a porta. “Quem é você?”

“Eu sou casado. Tenho um filho e outro a caminho.” Ele brinca e depois fica sério. “Trinta e dois anos, com algumas mortes em meu nome, escorpião, e ávido fã de futebol.” Ele coloca os óculos de sol. “E à noite, penso em todos os motivos pelos quais faço o que faço... que são os sorrisos nos rostos da minha família, então meu conselho é que mantenha a cabeça baixa e estude, antes que sua vida seja ceifada sem que tenha a chance de se divertir.” Ele sorri, “Ok, então, vamos para a aula de biologia?”


23

Dom


Não tenho certeza do que é pior. Observá-la em seu quarto, da cama em frente a dela, cobiçando-a.

Ou ter vislumbres dela pelas mensagens de Axe.

Cada vez que ele me envia uma foto, quero esmagar meu telefone, e cada vez que ele me conta sobre como as pessoas a ignoram na aula, quero mutilar os alunos do campus.

Violência nem começa a definir.

Ela não tem amigos.

Ela me tinha.

E eu fui embora.

Roço o polegar sobre o cavalo branco em minha mão, em seguida, jogo-o do outro lado do cômodo.

“Ah, a quantidade de vezes que esse cavalo é lançado.” Phoenix se junta a mim e me entrega uma taça de vinho. “Você está bem?”

Olheiras. Sempre tem olheiras sob seus olhos, e a escuridão está presente ao redor do seu corpo, como se ele finalmente tivesse aceitado e vivesse em harmonia com cada demônio que se recusa a sair de seu lado.

Phoenix nunca mais foi o mesmo depois daquela noite.

Dante ainda se recusa a falar sobre isso.

É nosso segredo para guardar.

Nosso inferno para viver.

Só quero saber mais sobre a história de fundo, porque os caras foram ao infinito e além, por que sua confiança é tão distorcida.

Inferno, eles nem confiam no carteiro, e o cara tem oitenta anos e um olho vesgo; ele traz a correspondência até a porta na neve.

“Pare de pensar nisso.” Phoenix encolhe os ombros. “Nenhuma quantia de pensamento tornará isso melhor. Nenhuma quantidade de análise. O que está feito está feito. Siga em frente. O chefe, seu chefe, fez um julgamento. Aceite-o.”

“Ele não é meu chefe.” Digo com os dentes cerrados.

O sorriso de Phoenix é cruel. “Até que Tex morra, desista ou você o mate, você está sob a casa dos Nicolasi. Desrespeite Nixon novamente e serei forçado a atirar em outra pessoa de quem realmente gosto.”

Faço uma careta. “Você gosta muito de mim para dar um tiro fatal.”

“Provavelmente.” Ele encolhe os ombros. “Mas posso fazer doer.”

Eu engulo em seco. Sim, sei como ele age. Desde... dez anos atrás, quando eu ainda tinha onze e era um idiota tentando encontrar meu lugar num mundo que me abandonou, ele e os caras se envolveram nessa escuridão que nunca vai embora. E me forçaram a respirar o mesmo ar, tornando-me parte do mesmo ódio por uma linhagem que ousou subir por conta própria.

Eu encaro minhas mãos. “Ela não é um deles.”

“Famosas últimas palavras. Este provavelmente não é o lugar para esta conversa, mas ouça. Temos filhos, famílias. Precisamos protegê-los. Trazê-la, mesmo que ela seja inocente, só atrairá a atenção deles. Não há uma maneira de protegê-la sem acabar com sua vida. Você precisaria fazer dela seu sangue. Ela teria que passar pela cerimônia.”

Meu intestino se agita.

Outra coisa que mudaram.

Como as pessoas entram na família.

Elas são torturadas para provar sua lealdade.

Afinal, sempre se derrama sangue.

Sempre.

Porque sangue é a única coisa verdadeira em nossas vidas.

“Eu nunca a faria passar por isso apenas para poder tê-la.”

“Bem”, ele encolhe os ombros. “então não sei o que te dizer, exceto, que às vezes é mais fácil se você é aquele torturando.”

Eu o encaro boquiaberto. “Você não pode estar falando sério!”

“O quanto você a quer?”

Isso é tudo o que ele diz antes de terminar seu vinho e me dar um tapinha no ombro. “Pense nisso. Saiba que sempre haverá um lugar na minha família se decidir que é isso que quer. Nixon aceitará.”

Isso é loucura.

Sequer o pensamento é insano.

O sofrimento que ela suportaria.

Para ser minha.

Para fazer parte de nós.

Para ter proteção.

“Eu ouvi a conversa.” Reconheço a voz. E fecho os olhos. Ela é linda, não minha, não que eu a queira em primeiro lugar, mas é difícil não olhar. Nem sequer posso pronunciar seu nome porque ele fica fora de si, e essa é a última coisa que preciso agora. “O que vai fazer, Dom?”

Eu suspiro. “Não faço a menor ideia.”

“A vida é medida por nossas escolhas. Não use isso levianamente. Você escolherá pelos dois, e essa escolha não pode ser desfeita.” Tristeza está gravada no rosto de Luc como se ela carregasse meu fardo quando nunca pedi por isso, mas é o que ela faz por Chase, por todos que são próximos. Ela é uma luz. E nós a amamos por isso.

Isso é o que ela sempre faz.

“Obrigado.”

“A qualquer momento.”


24

Tanit


Entediada, observo a chuva atingir minha janela. Axe voltou ao complexo ou para onde quer que vá à noite quando o campus está fechado, me deixando sozinha no quarto e pronta para arrancar meus cabelos.

Meu coração dói.

E meu medo é que nunca melhore.

Meu pai não entrou em contato comigo.

Não tenho absolutamente ninguém.

Por que eu existo?

Tento afastar os pensamentos sombrios. Até tento me concentrar nas tarefas, mas nada funciona... vejo seu rosto todas as vezes.

As luzes piscam no dormitório.

Rapidamente pego meu celular e acendo o flash quando tudo fica preto.

“Não surte”, digo para me acalmar. “É apenas a tempestade.” Lágrimas turvam meus olhos quando percebo que tudo o que quero fazer é ligar para Dom. Quero que meu inimigo me resgate.

Salve-me.

Ame-me.

Eu me abraço enquanto as lágrimas escorrem.

Algo soa no corredor. Viro para a porta no mesmo momento em que a maçaneta se move e uma figura de preto entra, eu tropeço em minha cama e deixo cair o celular no momento em que algo duro me atinge na bochecha.

E tudo o que vejo é escuridão.


??????


Quando acordo estou em um lugar escuro. Não há luz e estou congelando. A cadeira de metal que prende meu corpo torna impossível ficar confortável, ainda mais com as mãos amarradas. Já posso sentir meus pulsos machucados e doloridos.

Mordo a mordaça em minha boca. Desejo tanto por água que posso chorar.

Eu grito.

E é abafado.

O som de uma porta abrindo e fechando me sacode no assento, mas em todos os lugares vejo escuridão.

Tudo está preto.

Meus olhos queimam com a necessidade de distinguir a forma que entra. Ele é alto.

Ele se move até parar diretamente na minha frente.

Eu começo a tremer.

E então a lâmina de uma faca toca minha garganta.

Eu vou morrer hoje.

Vou morrer sem me despedir.

Abaixo a cabeça e aceito meu destino.


25

Dom


Lidei com a escuridão minha vida inteira.

Nunca me senti culpado ao tirar vidas desta terra e enviá-las para o fogo do Inferno.

Mas desta vez, sim.

Porque me importo com essa garota.

O maior erro que se pode cometer ao trabalhar para a máfia é desenvolver uma consciência que o obriga a hesitar quando deve agir.

Eu estou hesitando.

Sua respiração está ofegante.

Ela está petrificada.

E ainda é corajosa.

Corro a faca na pele suave e pálida abaixo de seu queixo e a mantenho lá, esperando para ver se ela vai implorar pela vida.

Ela não fala.

Nenhuma palavra.

Nem mesmo uma lágrima.

Ela apenas aceita.

Quebra meu coração em um milhão de pedaços a maneira como ela tenta deixar este mundo, com a cabeça erguida, embora eu possa ver seu pulso irregular, revelando o medo.

“Isso vai doer”, finalmente digo, tentando o melhor que posso disfarçar minha voz.

“Nunca pensei que a morte seria agradável”, ela responde, embora sua voz trema.

“Eu não vou te matar.” Embora ela possa morrer facilmente, pois não faço ideia do nível de dor que ela suporta. Vou matar Phoenix por me fazer pensar que isso é uma opção.

Minha única opção.

Provar sua lealdade.

À custa da minha alma.

Puxo a faca e lentamente corto seu pescoço, tiro a amarra de suas mãos e liberto seus pulsos, puxando-a para meus braços. “Não se mova.”

Ela congela contra mim.

Eu quero tomar sua boca.

Seu corpo.

Consumi-la.

Libertá-la.

Sou muito egoísta para fazer isso.

O que significa apenas dor.

E, com sorte, quando tudo isso acabar... terei seu perdão.

Seguro a corda e a amarro em seu corpo, em seguida, solto-a no chão. Ela estremece quando cai. Ignoro a maneira como meu coração dói como se alguém tentasse arrancá-lo do peito.

Desvio o olhar e seguro seu corpo de cabeça para baixo, amarrando a corda de forma que ela fique pendurada pelas correntes no meio da sala.

E devagar.

O sangue começa a pingar.

Gota.

Gota.

Gota.

A cada poucos segundos, outra gota cai e ela fica mais delirante. Eu farei perguntas.

Ela responderá.

Ela pode sobreviver e provar que pertence a nós.

Ou morrer protegendo nossos inimigos.

Puxo a cadeira e me sento.

E depois de cinco minutos de puro inferno.

Eu oro pela minha alma.


26

Tanit


Ele me vê sangrar.

Imagino que ele sinta um imenso prazer ao ver o sangue escorrer de meu pescoço e pingar no chão.

Eu as conto.

Foram dez gotas até agora.

Não é uma grande perda, mas já estou vendo dobrado. Minha boca está amordaçada novamente e estou presa testemunhando minha própria morte.

Não há saída.

Meu sangue é prova disso.

Meu corpo dói enquanto tento encontrar uma posição confortável.

Mas não há nenhuma.

Nada, apenas os sons da minha respiração em pânico e o homem coberto pela escuridão, sentado numa cadeira e totalmente imóvel.

Quando penso que não aguentarei mais ficar de cabeça para baixo, ele se levanta, solta as correntes e eu caio de cara no chão, então ele me amarra novamente na cadeira de metal.

Acabou?

É isso?

Ele pressiona a mão na minha cabeça. Em seguida, seus dedos roçam minha bochecha quando ele termina de amarrar minhas mãos nas costas e se afasta.


??????

 

Dom


Sou um fodido.

Tiro o lenço que cobre meu rosto e me encosto na porta de metal, então rapidamente tranco-a e me viro em direção às escadas.

Trinta e dois degraus.

Isso leva a duas salas à prova de som que mantemos no caso de necessidade.

Elas possuem tecnologia de ponta.

Com câmeras e concreto suficiente para sepultar uma cidade.

Subo os degraus de dois em dois e meus passos vacilam por um momento quando ouço risadas masculinas. Quanto mais longe vou, mais furioso eu fico.

Quando chego à cozinha, os caras estão ao redor da mesa servindo doses de uísque.

Chase tem sua própria garrafa que divide com Dante, que parece prestes a cair da cadeira.

“Sério?” Eu murmuro.

Nixon sorri para mim. “Sente-se e tome uma bebida.”

“Ela está sofrendo lá embaixo e você quer que eu beba”, digo enquanto nojo me inunda.

Chase se levanta, puxa uma cadeira e aponta para ela. “Acredite em mim, isso é melhor do que se torturar.”

Ele sabe, não é?

Eu o encaro, mas ele apenas pisca.

E de repente lembro do porque gosto dele.

Ele é perigoso e manipulador, não mais o homem que costumava ser. Em alguns aspectos, melhor, em outros, pior.

Pergunto-me o que isso significará para mim, para minha alma.

Dante pega a garrafa de uísque de Chase e toma um gole. “Então, Dom, como está a masmorra?”

Ele cambaleia um pouco.

Eu o encaro. “Quão bêbado você está?”

“Ele disse que quer correr no pátio da faculdade”, Chase diz alegremente. “Ele está bêbado. E... acaba de descobrir que sua esposa terá gêmeos!”

Todos aplaudem enquanto Dante pega a garrafa.

“Sério?” Aceito o copo mais próximo e bebo. “Gêmeos?”

“Dois.” Dante levanta três dedos. “Espere, isso está certo?”

“Absolutamente.” Chase acena com a cabeça. “Acertou em cheio.”

Dante baixa os três dedos e encolhe os ombros. “Puta merda, eu vou ser pai.”

Ele bebe mais.

“Ser pai é a melhor coisa.” Tex tropeça em seus pés. “Você sabe, quando sua esposa não está gritando durante o trabalho de parto e atirando facas.”

“Atirando facas?” Pela primeira vez na vida, vejo Dante realmente parecer petrificado, “Ela jogou facas em você?”

Tex encolhe os ombros. “Ela jogou várias coisas, e então me acertou com uma faca na coxa, enfiando tudo até o cabo. Eu nunca choro. Mas derramei pelo menos duas lágrimas. Uma porque eu estava com dor e ela cheia de morfina, e outra porque em minutos eu me tornei pai... E a dor foi embora.”

Ele enxuga as bochechas.

“Você está chorando?” Todos estão bêbados?

“NÃO!” Tex grita. “Eu só... tenho algo... merda, crianças são as melhores.”

“As. Melhores.” Nixon me olha. “A menos que tenham idade suficiente para serem seu irmão, aí elas são merdinhas agressivas como este aqui.” Ele aponta para mim.

“Abaixe o dedo. Você é dez anos mais velho, dificilmente seria um pai, papai.”

Ele se encolhe.

“Pai, pai, pai, papai”, eu canto enquanto Dante começa a rir e depois cai da cadeira.

Phoenix e Sergio entram quando ele atinge o chão.

Eles não fazem perguntas, apenas olham o uísque e começam a beber como se fosse água. Suas mãos estão cobertas de sangue.

Ninguém pergunta.

Assim como ninguém se encolhe quando o mesmo sangue pinga na mesa.

É melhor não saber.

“Então...” Phoenix olha minha roupa. “Você a escolheu.”

“Eu escolhi.” Encolho-me com o som rouco da minha própria voz.

“De Lange”, Chase diz lentamente, com ódio escorrendo de cada poro de seu corpo. “Melhor rezar para ela não ser uma das fracas.”

“Ela não é”, eu respondo.

Ele leva a garrafa aos lábios e sussurra: “Veremos, ok?”

Deus, às vezes quero estrangulá-lo.

E então é claro que ele tem que sorrir.

E lembro-me do por que ainda o tolero.

Mo entra na sala, balança a cabeça e franze a testa enquanto Dante luta para se sentar. “Quão bêbado você está?” Ela o ajuda a se levantar.

Dante faz um movimento com os dedos, mostra-lhe um centímetro e acena com a cabeça, “Assim. Então você esfaqueou Tex?”

Ela olha ao redor da mesa. “Qual das vezes?”

Todos caímos na gargalhada.

Até que Frank aparece com uma garrafa de vinho, senta à cabeceira da mesa e pigarreia. “Quem estamos mantendo lá embaixo? Conte-me tudo.”

Todo mundo fica sério.

Hora dos negócios.

E eu começo a falar.


27

Tanit


Podem ter passado horas. Ou minutos.

O tempo simplesmente se mistura num vazio contínuo de dor. Quanto mais fico amarrada nesta cadeira, mais perco a esperança de que alguém venha me resgatar.

Estou nas mãos de meus inimigos.

E não tenho aliados.

Minha mente vaga para Dom.

Digo a mim mesma que é natural pensar nele nessa situação, desejar que ele surja num cavalo branco... exatamente como aquele que deixou na minha mesinha de cabeceira. Então, novamente, essa é a cruel piada da máfia.

Não há cavalo branco.

Sem príncipe encantado.

Porque na máfia, esses mesmos termos não são de resgate... mas de traição.

Engulo em seco quando outro nó se forma na minha garganta.

Pelo menos não estou mais sendo torturada, embora saiba que continuo sangrando, o corte aumentou por eu estar de cabeça para baixo, e o monstro que teve prazer em me machucar não se preocupou em estancar o ferimento.

Eu fecho meus olhos.

Dom.

“Dom.” Sussurro seu nome em voz alta. Eu tive uma noite perfeita com ele. Isso é o suficiente. Digo a mim mesma que tem que ser. As pessoas passam a vida inteira em busca de algo que senti quando ele estava comigo, quando ele me tocou e me beijou.

Repasso as imagens de suas mãos no meu corpo.

Convencida de que se vou morrer, morrerei com um sorriso no rosto, com lembranças felizes. Se ele me deixou, pelo menos levarei essa parte comigo, a levarei deste mundo e carregarei em minha alma.

É meu direito.

Seus lábios contra meu pescoço, a sensação de seus dentes quando ele mordeu minha clavícula, a maneira como ele soprou contra minha pele e causou uma onda de borboletas na minha barriga.

Ou a maneira dominante como ele possuiu meu corpo... marcando-o como seu.

Então eu sorrio.

Mesmo com o sangue escorrendo pelo meu pescoço e braço.

Mesmo quando a dor se torna insuportável.

E quando a porta se abre, sento totalmente ereta e sorrio para meu sequestrador.

“Você está sorrindo.” Sua voz é rouca e hesitante, o que parece estranho.

“Tenho muitos motivos para sorrir.” Digo ainda sorrindo.

Ele não vai me quebrar.

A única maneira dele me quebrar é se eu permitir, permitir que ele entre, e outra pessoa já possui essa parte minha... mesmo que ele não a queira.

Eles são dele de qualquer maneira.

Meu coração.

Minha alma.

Meu corpo.

Continuo olhando para frente.

Tudo o que vejo é escuridão.

Mas me sinto leve por dentro, como se finalmente tivesse decidido como morrer e admitido a possibilidade de que será horrível, mas naquela noite eu o tive.

Eu tive uma noite.

O que minha mãe já teve com meu pai?

Nada.

Eu tive tudo.

O homem pragueja quando a porta se abre novamente.

Mais passos.

Muitos deles, ao que parece.

“Vou fazer algumas perguntas... e toda vez que você mentir...” Sua voz parece falhar. “... Eu vou te chicotear.”

“Parece justo”, respondo, meu corpo já se encolhendo com o que sei que será uma dor tão intensa que desejarei uma morte rápida e fácil.

“Então vamos começar.” Ele limpa a garganta e fica na minha frente, a perda de sangue torna impossível focar em seu rosto, e não ajuda que esteja usando um lenço sobre a boca e a luz é muito fraca para eu ver além disso, ele é muito alto e não consigo esticar o pescoço o suficiente.

“Ok.” Encontro minha voz.

“Diga-me tudo o que sabe sobre Dominic Campisi.”

Eu engulo em seco.

Lágrimas enchem meus olhos enquanto sussurro. “Não tenho ideia de quem seja.”

Não tenho tempo para me preparar.

A primeira chicotada atinge minha perna direita.

“Se disser o que sabe, eu vou liberá-la.”

“Senhor...” eu lambo os lábios. Foco nas memórias de sua língua lambendo meu lábio inferior, em seguida, sugando-o como se não se cansasse do meu gosto, a maneira como ele colocou minhas mãos sobre a cabeça expondo meu pescoço, o olhar em seus olhos quando permiti que o fizesse. “eu nunca ouvi esse nome em toda a vida.”

A segunda chicotada vem.

E eu sei.

Eu morrerei.

Mas escolherei como será.

E não será com ódio.

Mas com amor.


28

Dom


E Não posso continuar com isso.

Estou com o chicote na mão.

Dou um passo à frente e sou impedido por Tex. Ele suspira e pega o chicote. Observo em agonia quando ele a encara.

A mulher que desejo.

A mulher que me aceitou.

A mulher que estou machucando.

Permitindo que seja ferida.

Nixon fica ao meu lado e sussurra: “Ele tomará seu lugar.”

“Ele não deveria estar aqui”, respondo baixinho, aliviado por não ser eu quem precisa dizer a ela que seguro esse chicote, que lhe causei dor.

“Não importa o que ele deva ou não fazer”, Nixon sussurra. “Ele é o Capo. O Capo carrega todos os pecados e falhas em seus ombros, assim os sucessores. Se qualquer coisa acontecer com Tex, você precisa estar pronto para ficar onde ele está, não importa quem esteja naquela cadeira, você precisará ser forte o suficiente para segurar o chicote.”

Eu abaixo a cabeça.

“Nem todos nascemos assim”, Nixon diz. “Eu não desejaria essa responsabilidade nem para o meu pior inimigo... e o último cara que chamei de inimigo acabou com a cabeça numa estaca.”

Eu sorrio.

Ele não fez isso.

Ok, merda.

Desvio o olhar quando ele pergunta quem eu sou.

Meus joelhos quase cedem quando ela se recusa a reconhecer minha existência. Estúpida. Maravilhosa. Linda. Minha menina.

Outra chicotada.

Eu cerro os dentes e fecho minhas mãos em punhos.

Ele ergue o chicote novamente após outra pergunta.

Movo-me em sua direção e o tiro de suas mãos. Nixon está certo. Esse será meu legado, meu trabalho. Se não puder fazer isso agora, nunca serei capaz de fazê-lo. Porque ao contrário de Nixon...

Eu nasci assim.

Com ódio em meu sangue.

E morte em minha alma.

“E se eu falar...” Faço um círculo lento em torno de sua cadeira e paro atrás dela. “... que enrolarei este chicote em seu pescoço para te sufocar... caso você minta... ainda assim mentiria?”

Ela sequer vacila.

“Vamos fazer isso.” Inclino-me tão perto do seu pescoço que quase posso sentir o gosto.

Com um suspiro de desapontamento, levanto-me e faço a pergunta. “Dominic Campisi, qual é sua maior fraqueza?”

“Eu não conheço este homem”, ela responde.

Então eu o faço.

Enrolo o chicote em seu pescoço, minhas mãos tremendo de horror quando finalmente aperto o suficiente para ela soltar um suspiro. “Vou perguntar mais uma vez, qual é a sua maior fraqueza?”

Seus dedos agarram o chicote, lutando por ar enquanto ela engasga. “Eu não conheço este homem.”

Ainda segurando firme, inclino-me e sussurro em seu ouvido. “A resposta certa... é você.”

Eu solto o chicote.

Ela ofega por ar.

Nixon acena para mim e sai pela porta, seguido por Phoenix, Chase, Sergio, Dante e Frank.

Tex é o último.

Ele me encara na escuridão, seus olhos dizendo tudo.

O meu implora para ele me deixar ficar com ela.

Lentamente, ele caminha até mim e puxa a arma, em seguida, aponta para a cabeça dela. Eu fecho os olhos. “Não faça isso.”

Ele move a arma para meu peito e puxa o gatilho. “Sangue sempre deve ser derramado.”

Inclino-me para frente pressionando a mão em meu ombro direito enquanto a sensação de ferroada da bala se espalha por meus dedos.

“Merda!” Esfrego o local. “Dê um pequeno aviso da próxima vez.”

Ele encolhe os ombros, “Isso faz doer mais.”

Com um sorriso, ele guarda a arma e olha para Tanit, que encara firmemente a sua frente como se estivesse com medo de se mover. “Bem-vinda à família, pequena, espero que tenha valido a pena.”

Lentamente me movo para a cadeira dela e começo o processo dolorosamente lento de desamarrá-la. Uma vez que as cordas estão soltas, caio no chão, minha visão turva pela perda de sangue.

Ela fica em cima de mim e engasga.

E então me chuta nas costelas.

Eu permito.

Fecho os olhos e sinto minha dor, sua dor, seus medos.

Ela chuta e grita tantas vezes que perco a conta.

E, finalmente, eu simplesmente desmaio com um sorriso nos lábios e uma sensação de paz no coração.


29

Tanit


Nunca me senti tão assustada e chateada.

Nem percebo que o estou chutando até que alguém vem por trás e me arrasta para longe, não consigo distinguir seu rosto até que ele me gira.

“Phoenix”, suspiro, e é assustador ver aquele que me matará por tocar um dos dele.

Ele suspira e pressiona a mão na minha boca como se eu fosse gritar ou algo assim. “Você está bem?”

Faço uma careta. Por que ele pergunta se estou bem? Estou chutando a porra do Dom e ele levou um tiro. Não é sobre mim, ok?

Dou-lhe um olhar confuso.

Com um suspiro, ele afasta a mão e repete. “Você consegue respirar, andar, falar? Você está bem?”

Balanço a cabeça rapidamente.

“Bom.” Ele me solta e olha para Dom, um Dom ainda sangrando. “Ele vai se sentir péssimo amanhã, pode precisar de alguém para cuidar de sua saúde.” É minha imaginação ou seus lábios se curvam num pequeno sorriso?

Eu estreito os olhos.

E espero.

Phoenix apenas sorri mais e acena com a cabeça para Dom, “Ele vai precisar de alguém para vigiá-lo esta noite, apenas no caso.”

Eu engulo em seco. “Apenas no caso?” Ainda não consigo entender o que está acontecendo. Dom me machucou? Ou foi Phoenix? Foram todos? E o que diabos está acontecendo?

Ele se ajoelha e sente o pulso no pescoço lindamente esticado de Dom, todo musculoso e definido. “Ele ficará bem, vou pedir a Sergio para tirar a bala e vamos colocá-lo no quarto, mas seria bom ter uma enfermeira...”

Eu o encaro. “E essa pessoa seria...?”

“Você.” Ele sorri. “Quer dizer, se aceitar o trabalho. Se não, posso te mandar ao campus com Axe...”

Meu estômago afunda.

Estou com assassinos.

Com a máfia.

Com os inimigos.

Pessoas que nem piscarão antes de me matar.

Um homem que dormiu comigo e depois com a mesma mão me machucou. Mas foi ele? Eu quero perguntar, foi ele? Ou os outros?

Estou confusa demais para entender.

Estou exausta demais para pensar.

E apenas... com raiva, apavorada e tantas outras coisas que não consigo nem começar a explicar.

“Certo”, finalmente digo. “Eu acho... eu vou...” faço um gesto com as mãos. “Seguir você?”

Ele estala os dedos.

E um segundo depois, dois caras enormes e corpulentos entram e levantam Dom, carregando-o para fora da sala.

Phoenix vai embora.

Eu o sigo.

Não tenho outra opção.

Lentamente subo as escadas.

E entro numa enorme cozinha onde todos meus inimigos esperam, incluindo Nixon. Ele me olha especulativamente, como se eu fosse a pessoa má, não a boa.

E quando passo pelo Capo, um arrepio percorre meu corpo.

Ele me impede, agarrando meu braço enquanto sussurra em meu ouvido: “Se nos machucar, você e todos que ama ... morrerão.”

Encaro o chão com lágrimas nos olhos enquanto respondo. “A única pessoa que amo... nem está consciente agora... então acho que vocês estão seguros.”

Seu rosto suaviza.

Ele abaixa a cabeça e me dá um tapinha nas costas sussurrando: “Inferno de uma boa resposta, De Lange.”

“Eles são como uma praga”, Nixon sussurra atrás dele. “Nunca vamos nos livrar deles, certo?”

Uma mulher muito bonita se aproxima e me puxa para um abraço. “Espero que não. Deus, espero que não. “

Meu sangue esquenta.

Eu não tenho ideia do porquê.

Ela me solta.

Então sigo para o quarto onde Phoenix colocou Dom numa cama bonita e fofa.

Outro cara, Sergio, eu acho, entra e começa a fazer algo com o ferimento do tiro. Eu não consigo olhar.

Dez minutos se passam.

Depois vinte.

Trinta.

Finalmente, uma mão pousa no meu ombro. Eu salto quando Sergio sorri. “Ele está bem. Pode dormir agora e obrigado.”

Faço uma careta. “Pelo que?” Pelo sofrimento? Por ser uma vítima? Por chutá-lo?

“Por ser uma maldita mentirosa. Às vezes, respeitamos mais o mentiroso do que aquele que grita a verdade. Deixe os inimigos falarem a verdade, deixe seus amigos contarem a mentira.”

E com isso, ele vai embora.

E estou sozinha com o único homem que sempre desejei.

Seguro sua mão e sussurro: “Vamos lá, volte para mim.”


30

Dom


Todo o meu corpo está machucado.

A dor é tão intensa que quando abro os olhos, meio que espero estar no Inferno.

Estou perto o bastante.

Olho para meu antigo quarto.

E uma Tanit muito irritada e preocupada paira sobre mim.

Tento me sentar.

Ela me empurra contra o colchão. “Você está ferido.”

“Não brinca.” Eu estremeço. “Você tem que chutar um homem quando ele está caído?”

Ela não mostra uma expressão.

Não é um bom sinal.

Eu espero pela pergunta.

Penso brevemente em mentir.

E fecho os olhos quando ela diz. “Era você no meu quarto?”

Deixo Tanit fazer as perguntas quando não tenho armas, não tenho como escapar e ela ainda sofre com a perda de sangue.

“Sim.”

“Por que?”

“Não posso te dizer isso, ainda não.”

Ela chuta a cama. Uma pontada de dor atinge meu peito. “Sério isso?”

Lágrimas escorrem pelas suas bochechas. “Eu achei que fosse morrer!”

“Eu sei”, digo asperamente. “Eu sei.” Encaro seus olhos. “Foi a única maneira, acredite em mim, eu tentei outras opções, você não acha que eu tentei?” Minha voz aumenta quando seus olhos se arregalam. “Você nem deveria estar viva, não deveria estar aqui...” Minha voz falha. “Um De Lange normalmente não vive mais do que alguns dias no meu mundo, especialmente aqueles com pais notórios que trabalham para redes criminosas clandestinas que promovem o tráfico sexual.”

Seu rosto empalidece.

“Surpresa.” Cerro os dentes quando mais dor me atinge, fazendo-me delirar de raiva. “Quer que eu continue? Porque eu posso. Posso te contar todas as razões pelas quais eu te peguei e justificar cada uma, mas se não quer ouvir mais nada e não acredita em mim, acredite apenas nisso.” Minha voz treme. “Eu quero você. Preciso de você. E me recuso a te deixar ir. Dane-se as malditas consequências.”

Ela respira fundo.

Eu estendo a mão.

E conto os segundos de indecisão em seu rosto.

Não estou oferecendo muito.

E haverá mais sangue.

Mais dor.

Mais de tudo.

Estou convidando-a para entrar e esperando por Deus que ela não me apunhale pelas costas.

Eu não sou emotivo, não normalmente.

Talvez seja a dor.

A situação.

Ou a expressão perdida em seu rosto.

Mas preciso que ela saiba que não importa o que aconteça, ela não está sozinha no mundo, e que lutarei contra o Inferno para salvá-la.

Lentamente, ela desliza a mão na minha e a aperta. “Conte-me tudo.”

“Eu vou, apenas me faça um favor primeiro.” Estou perto de desmaiar novamente, posso sentir.

“Qualquer coisa”, ela se aproxima.

“Beije-me”, eu suspiro, e caio num sono escuro e sem sonhos no minuto em que seus lábios tocam os meus.


31

Tanit


Quero ficar ao seu lado a noite toda, e parte de mim se pergunta se mesmo inconsciente ele deseja o mesmo.

Dom continua segurando meus dedos como uma tábua de salvação, mas eventualmente a fome vence. Isso e a necessidade de respostas que sei que não obterei de um Dom desmaiado.

Lentamente saio de seu quarto e sigo pelo corredor para a cozinha iluminada. Não espero que alguém esteja acordado, já é quase meia-noite. Minha única esperança é encontrar algo para fazer um lanche e pelo menos uma pessoa sentada à mesa disposta a conversar.

Fico surpresa ao vê-lo.

Aquele que me odeia mais do que qualquer outra pessoa.

Seu olhar gelado diz tudo, ou pelo menos eu acho que sim.

De repente, não sinto mais fome.

Não sinto nada além de pavor de que este homem vá acabar comigo segundos depois de eu passar pelo fogão.

Ele não se levanta.

Ele não vacila.

Sua cabeça se inclina e então ele curva o dedo.

Engulo em seco e muito lentamente caminho até a mesa, puxando uma cadeira e me sentando.

Ele gira o vinho tinto na taça e eu observo, então foco em seu rosto. “Então, ele está vivo.”

Seu tom não está satisfeito, mas também não está chateado, é mais uma declaração do que qualquer coisa.

Eu exalo. “Ele está.”

“E...” ele inclina a cabeça. “... você também.”

Outra declaração. Meio que espero que ele diga algo como 'mas não por muito tempo'. Em vez disso, ele apenas continua me olhando como se esperasse por algo.

Ele se inclina para frente, e posso apreciar quão bonito ele seria se não fosse tão ameaçador, ou se não me fizesse querer rastejar para debaixo da mesa e me esconder.

“Sim.” Concordo. “Eu estou.”

“Imagino que queira continuar assim... respirando.”

Eu aceno com a cabeça. “Certo.”

“Certo? Ou sim?”

“Sim”, digo rapidamente.

Seus lábios se contraem. “Machuque Dom. Machuque qualquer um de nós. Machuque alguém perto de mim e receberei a ordem para acabar com você. Como se sente sobre nós? Sobre o que fazemos? No que você entrou?”

Penso sobre isso.

Agarro-me à lógica e ignoro o meu medo.

Eu fecho os olhos. Penso um pouco mais.

E então abro os olhos e digo em voz alta e clara. “Justo. É justo.”

Ele parece surpreso. “E por que?”

Lembro do meu pai. A frase que ele costumava dizer. A que mais me marcou e a repito. “Uma vida por uma vida. Sangue entra. Não sai.”

Ele fica me olhando.

E então estende a mão.

Eu o aperto enquanto ele sussurra: “Boa resposta, De Lange, posso te deixar viver.”

Ele diz com um sorriso.

Então me sinto segura para sorrir de volta quando ele solta minha mão, pega uma taça vazia e serve uma boa dose de vinho. “E agora, você bebe.”

Eu não discuto.

E depois de dez minutos, não fico surpresa, quando ele me traz lasanha requentada e mais vinho, e sussurra: “Agora você come.”

Então eu como.


32

Dom


Eu entro e saio da consciência durante a noite toda. Sonho com ela, com seus gritos, aqueles que ajudei a causar.

Não sei como voltar ao ponto de partida.

Onde éramos apenas nós, e o drama da máfia ainda não existia. Suspiro e tento me sentar quando uma mão pressiona contra meu ombro lentamente me empurrando no colchão.

Abro os olhos enquanto Tanit me encara com preocupação em seu rosto. “O que acontecerá conosco?”

Amo quando ela se refere a nós.

Odeio que ela pareça petrificada, como se temesse que a qualquer minuto um dos caras vá entrar e atacá-la.

E ainda assim, sinto-me grato.

Grato por termos causado tanto medo de que quando ela estiver sozinha, ficará paranoica o suficiente para memorizar o ambiente, os rostos das pessoas, seus trejeitos e postura. É algo necessário nessa vida.

E ainda quero que ela a compartilhe comigo.

Mesmo sabendo dos perigos que envolve.

“Você vai ficar”, murmuro, minha mão procurando cegamente pela dela.

Meus dedos finalmente roçam os dela, e ela aperta com força e então suspira.

“O que está errado?”

“Por onde eu começo?” Tanit diz com uma pitada de diversão na voz, e então seu corpo deita ao lado do meu.

Tento me virar, mas a dor é muito intensa. Em vez disso, ela se vira para mim e pressiona a cabeça contra meu peito.

Ela me acaricia com a mão direita.

Fecho os olhos e estremeço. “Isso é bom.”

“E agora?”

Não abro os olhos. “O que quer dizer?”

“O que acontece? Como essa história termina?”

Eu sorrio, sem abrir os olhos enquanto sussurro: “Não termina.”

“O que quer dizer com não termina?”

“Está apenas começando.” Lentamente abro as pálpebras e encaro seu rosto cheio de terror. “E juro pela minha vida que ninguém vai tocar em você.”

“Até mesmo seu sangue...” ela engole em seco. “Mesmo aqueles que chama de família?”

Eu hesito.

Ela me pede o impossível.

Para colocá-la acima deles.

Eu cuidei dela.

Ela passou pelo inferno por mim.

Ela ainda é uma De Lange.

As palavras dos rapazes são como um lembrete amargo na minha consciência quando pego sua mão e a beijo. “Sim, até mesmo deles.”

Soa como uma mentira.

Talvez porque não tenho certeza de que sou forte o suficiente para salvá-la deles quando sequer a salvei de mim mesmo.


33

Dom


Preciso de mais dois dias para me recuperar, ou pelo menos me sentir minimamente bem. Quando abro os olhos, Tanit não está por perto. Levanto o mais rápido que posso, sem ferir novamente meu corpo quebrado e cuidadosamente sigo o som de vozes até a cozinha.

Dante está à mesa com Tanit.

Nixon também está lá.

E outro rosto familiar que ainda me dá arrepios por motivos pessoais enquanto estremeço e desvio o olhar.

“Você está acordado”, Dante diz num tom casual. “Cansou de fingir estar machucado?”

Reviro os olhos. “Eu levei um tiro, seu idiota.”

Ele encolhe os ombros como se não importasse.

E no grande esquema das coisas, isso não importa, não realmente; todos nós levamos tiros, todos sangramos uns pelos outros.

Suspiro e puxo uma cadeira enquanto Tanit me serve um copo de suco de laranja. Seu sorriso é cauteloso, como se ela ainda não confiasse em nenhum de nós. Garota esperta. “Está se sentindo melhor?”

Eu sorrio. “Agora estou.”

“Não nesta mesa.” Dante diz rapidamente. “Quero comer sem vê-los se beijando. Façam essa merda no quarto.”

Jogo um garfo nele. Ele se esquiva no momento em que Nixon entra como um furacão. Seus olhos aquecem quando ele olha cada pessoa na mesa, o olhar finalmente parando no meu. “Eu estava certo.”

Odeio essas palavras.

Essa frase.

Levanto-me, temporariamente esquecendo meus ferimentos até a dor aguda atingir meu corpo. “O que quer dizer?”

Nixon pragueja e desvia o olhar. “Ele está exigindo uma aliança.”

“Ele?” Eu repito.

Seus olhos caem para Tanit. “O pai dela e o novo chefe De Lange.”

“Uma aliança”, Tanit repete. “O que exatamente isso significa?”

“Significa que estamos ferrados”, Dante diz do outro lado da mesa. “Espero que você fique bem de branco.”

O queixo de Tanit cai. “Não, isso é... não, você está enganado.”

Nixon balança a cabeça lentamente. “Você foi avisada.”

“Eu não fiz nada! Não sei nada sobre isso!”

“A isca perfeita”, Nixon resmunga, “E agora que derramamos o sangue dela, temos que protegê-la ou mantê-la. Eles querem nossa resposta na próxima hora.”

Olho fixamente para Nixon enquanto minha mente tenta unir todos os fatos. “Uma aliança.”

Nixon pragueja e apoia o corpo no balcão. “É a única maneira de voltar... eles não serão mais rejeitados. Inferno, eles devem ter nos observando como loucos, observando você especialmente...”

E novamente todos os olhares se voltam para Tanit como se ela fosse culpada de algum crime.

Envolvo um braço ao seu redor. “Ela não sabia.”

Nixon não diz nada.

Ele não precisa.

Conheço seus pensamentos, eles refletem os meus: e se ela foi treinada como nós? E se ela foi plantada? E se ela for perigosa? E se ela estiver disposta a morrer pela causa, morrer por seu pai? Morrer pelo nome?

Ela quase fez isso.

Mas eu ajudei a impedir.

Eles sabiam que eu o faria?

São muitas perguntas.

E todas sem respostas.

Tanit me encara com lágrimas nos olhos. “Você tem que acreditar, eu nunca faria isso”, sua voz falha. “Ele me deixou como se eu nem fosse seu sangue! Ele não se importa comigo, você tem que acreditar.”

“Oh, ele se importa.” Nixon diz com uma expressão sombria. “Ele se importa o suficiente para vendê-la para seu maior inimigo, a fim de ganhar um aliado... diga-me, como é ser um peão?”

“Nixon”, eu resmungo.

“O que?” Ele se afasta da bancada. “Só estou dizendo o que todo mundo aqui pensa.” Com isso, ele sai furioso, batendo a porta atrás de si.

Corro as mãos pelo rosto, em seguida, olho para Dante.

Ele encolhe os ombros e se levanta. “As escolhas são limitadas, meu amigo.”

“Sejam úteis!” Eu digo.

Todos saem da cozinha, exceto Tanit.

Ela está tremendo de novo.

Puxo-a para meus braços e digo em seu cabelo. “Vai ficar tudo bem.”

“Como você sabe?” Ela sussurra.

“Porque...” Eu me afasto. “... nós temos um ao outro... e não vou te deixar novamente.”

“Mesmo que aparentemente eu seja o inimigo?” Ela cita minhas palavras.

Eu sorrio. “Isso torna as coisas mais emocionantes.”

Ela faz uma careta.

Inclino seu queixo para mim. “Sabe o que isso significa, certo?”

Suas sobrancelhas franzem com concentração. “Eu tenho que sair da faculdade?”

Merda, ela realmente não faz ideia.

Não tenho certeza de como contar.

Então, escolho o caminho mais rápido e simplesmente deixo escapar. “Você tem que se casar com a Família.”

“O quê!?” Ela grita. “Com quem?”

Tento não me sentir insultado.

E então espero que ela chegue à conclusão óbvia antes que desmaie e caia contra a cadeira enquanto a seguro.


34

Tanit


Tem que haver outra maneira.

Uma saída.

Esses são meus pensamentos antes de desabar nos braços de Dom, e a primeira coisa que penso quando acordo com uma forte dor de cabeça.

Eu tenho dezoito anos.

Não vinte e oito.

Não estou pronta para me casar, não que não seja tentador. Afinal, é Dom.

“Você está bem?” Ele diz ao meu lado, ainda me segurando em seus braços, no chão de madeira da cozinha.

“Sim.” Afasto-me e me levanto com os pés instáveis. Ele estende a mão para me ajudar. “Só estou... em estado de choque.”

“Acontece”, Dante interrompe enquanto caminha com uma arma como se estivesse pronto para atirar em algo, ou mais provavelmente, em alguém.

E então Nixon surge com uma arma em cada mão.

Tex é o próximo, uma arma presa ao peito e duas nas costas.

Chase entra com um facão, que na verdade é um pouco mais assustador do que uma arma.

Sergio tem um silenciador, que sente a necessidade de apontar para Vic e Axe enquanto ambos acenam com a cabeça em aprovação, e Frank, bem, Frank está na mesa bebendo vinho enquanto Phoenix calmamente abre uma pasta preta e olha para ela e depois para mim.

Eu engulo em seco.

“Quanto tempo?” Nixon pergunta.

Dom fica tenso ao meu lado.

“Dez minutos”, Phoenix responde sem tirar os olhos da pasta.

A provocação fácil entre os homens desaparece.

Chase está à frente de todos, seu rosto tenso, os olhos selvagens e com fúria. “Quantos sobreviventes?”

Sobreviventes?

“Quinze que nós sabemos, estavam escondidos desde a limpeza...” Phoenix suspira e então lê algo na pasta preta. “Eles não têm dinheiro, nem recursos, nem desculpa para tentar foder conosco, a não ser que esperem encontrar uma fraqueza ou uma maneira usando Tanit.”

Oh, ótimo.

Engulo em seco quando faróis piscam nas janelas da cozinha.

Portas de carro abrem.

Passos altos soam.

Uma batida ecoa na porta.

Chase a abre e segura a lâmina do facão no pescoço do meu pai.

“Que bom, você está aqui...” É tudo o que ele diz quando os olhos frios do meu pai se fixam nos meus, seguidos por um sorriso cruel.

Eu estremeço e tento me esconder atrás de Dom.

“Vejo que o plano funcionou.” Ele sorri como um lobo. “Você sabe o preço de tocar um de nós sem a permissão do Capo. De acordo com isso, só tem permissão para prejudicar alguém da família De Lange se essa pessoa se recusar a cooperar.”

Medo se acumula em meu estômago.

“Filha”, ele se dirige a mim, “você se saiu bem.”

Meus ouvidos zumbem. “Não sei do que está falando.”

“Isso importa? Mandei você para a universidade com um propósito, e agora tenho a atenção do Capo.” Seu sorriso me faz querer vomitar. “Então eu diria que o trabalho foi bem-feito. Vamos nos sentar?”

É minha culpa... Que o inimigo esteja nesta casa.

É minha culpa... Que ele esteja prestes a se sentar à mesa de Nixon.

É minha culpa. Tudo isso. Mesmo que eu tenha recebido a punição de Dom.

“O que exatamente você quer?” Tex pergunta cruzando os braços volumosos.

“Oh, isso é fácil”, meu pai responde. “Quero me restabelecer, quero dinheiro e quero ser o novo chefe.”

“Oh.” Tex balança a cabeça em silêncio. “Então, três milagres, hein? Que legal.”

Chase ri sombriamente quando Tex acena com a mão.

Acontece antes que eu possa piscar.

Chase se move com perfeita precisão.

Dois cortes no pescoço.

E os homens que flanqueiam meu pai encontram uma morte sangrenta no chão.


35

Dom


Eu não me acostumo.

Sangue vermelho e fresco goteja e começa a escorrer de suas gargantas enquanto eles desabam no chão.

O som do corpo humano batendo contra objetos contundentes, tentando agarrar-se em algo, qualquer coisa para se salvar nos últimos segundos, sempre me atinge como da primeira vez.

A morte coloca todos em pé de igualdade.

Porque não importa quão corajoso, quão perverso, quão forte você seja como pessoa, sempre desejará mais segundos, mais minutos, antes que seus olhos se fechem pela última vez.

Chase passa por eles chutando suas cabeças para se certificar de que estão mortos, mas também para mostrar seu domínio ao pai de Tanit. Ele é um De Lange por completo. Você pode ver na maneira como ele mantém os olhos treinados à frente, na maneira como se recusa a reconhecer a presença de Chase, como se ele não existisse.

Então, novamente, você não ganha o apelido de bicho-papão sem motivo. Chase ganhou esse título, ele tem esse direito, e nenhum de nós vai tirá-lo dele... é do conhecimento de todos e tudo mais.

Estremeço com o pensamento.

Não tenho medo de muitas coisas.

Mas Chase com um facão?

Não estou exatamente confortável.

“Agora, por que não se senta... qual é seu nome mesmo?” Tex cruza as mãos como se estivesse tomando um brunch e acena em direção a uma cadeira.

“Você sabe meu nome”, seu pai responde.

Tex apenas sorri. “Um cachorro sabe o nome de cada pulga que tenta se prender em seu corpo?”

Sorrio enquanto o resto dos homens explode em risadas baixas.

“Alistar”, ele diz, mantendo a cabeça erguida. “Alistar De Lange.”

A expressão de Tex fica completamente em branco, como se ele não pudesse se lembrar, embora cada um de nós lembre.

Nós sabemos tudo, sobre todos, e não é preciso ser um gênio para descobrir quão puto os russos ficarão ao descobrir como Tanit está relacionada a este homem, e o quanto estou ligado a ela.

Em todos os sentidos.

Merda.

Não posso ter uma fodida pausa. Nenhum de nós pode.

“Vamos fazer negócios.” O som da cadeira sendo arrastada na madeira faz meu sangue ferver e minha pele arrepiar. O fato dele estar nesta casa me faz pegar a Glock no balcão.

Tex se inclina para trás, seu sorriso firmemente no lugar. “Contratos comerciais são normalmente redigidos em sangue...”

Alistar apenas acena com a cabeça.

“Então, De Lange.” Tex encolhe os ombros. “O que está disposto a nos entregar?”

A sala está cheia de tensão quando, com um sorriso, Alistar vira lentamente em nossa direção e sussurra: “Eu já entreguei.”

Seguro a mão de Tanit.

Não.

Ele não disse isso.

Tanit solta um suspiro e cobre a boca com a mão livre, então uma expressão confusa e magoada toma conta de suas feições. “Você... você está mentindo. Eles notarão seu blefe.”

Alistar a encara por alguns segundos, em seguida, olha para Tex e diz. “Pode ficar com a mãe dela também.”


36

Tanit


Perco a respiração e encaro meu pai. Ele acaba de oferecer meu corpo? O da minha mãe? Para seus inimigos jurados? Pelo que? Dinheiro? Posição? Movo-me em direção a ele, mas Dom é mais rápido. Ele agarra meu cotovelo, puxando-me contra seu peito e sussurrando em meu pescoço. “Não faça isso.”

Não há por favor.

E seu tom é rouco, como se lhe machucasse me pedir tal coisa.

Engulo a emoção presa na minha garganta, a raiva crua por um pai que oferece uma filha, uma mãe, duas pessoas que ele jurou proteger no minuto em que trouxe para este mundo esquecido por Deus. Quem faz isso? Quem oferece a própria família?

“Nós não lidamos com família, e com certeza não traficamos humanos. Eu recuso”, Tex diz num tom entediado, embora seus olhos brilhem como se isso fosse engraçado.

“Você não pode recusar”, papai diz num tom letal, que eu conheço muito bem. Um que faz meu estômago revirar. Viro a cabeça no peito de Dom e respiro fundo. Ele cheira a sabonete e colônia. Eu respiro fundo várias vezes.

“Acabo de fazer.” Tex levanta e se aproxima da grande mesa.

Papai bate o punho contra a madeira e cerra os dentes com raiva.

“Estou lhe dando duas De Lange. Você sabe o que isso vale, eu sei o que vale para uma escória como você, uma escória que não quer nada além do que nos eliminar deste planeta. Inferno, até darei alguns primos, se quer mais sangue. Exceto o meu, é claro.” Ele zomba como se seu sangue importasse e o meu não, embora o mesmo sangue corra em nossas veias!

Acontece em câmera lenta. A raiva toma conta de mim ao ser vendida. Imagens de sangue enchem minha visão enquanto meu cérebro me lembra do que acabo de passar para tentar salvar minha família, para salvar Dom, para ser parte de algo mais do que o legado doentio que meu pai aparentemente quer retomar.

E essa raiva... ela me assusta porque eu gosto, porque me enche com uma necessidade intensa de agarrá-la.

Então. Eu o faço.

E então eu vejo.

Ela é preta.

Eu odeio armas.

Nunca imaginei que olharia para uma e veria um propósito.

Veria a paz.

Totalmente entorpecida, afasto-me de Dom.

Não sei por que ele me solta.

A menos que ele possa ler minha mente, adivinhar minhas intenções. Pego a arma da mesa e libero a trava de segurança. Mesmo assim, ninguém presta atenção em mim.

Afinal, não sou nada além de um sacrifício, não é?

Na mesa encharcada de sangue da família De Lange.

E estou farta disso.

Do que significa.

Do que eles querem.

“Eu sou sua filha”, digo com a voz calma enquanto aponto a arma para a cabeça do meu pai e espero por sua resposta.

Ele sorri.

Não há medo.

Apenas a morte.

“Implore”, eu sussurro.

“Pelo que?” Ele parece divertido e um sorriso malicioso curva seus lábios.

“Sua vida.”

Ele balança a cabeça lentamente. “Não me admira que vocês sejam poderosos. Tiveram minha filha... por quanto tempo? E agora ela está pronta para atacar a própria família. Porém, é isso que vocês fazem, certo? Matar a família.” Ele olha para Tex e sussurra: “Minha oferta é válida e, desta vez, incluirei sua prima favorita, você sabe quem é, Tanit. Ela é bonita, assim como você. As duas brincavam de boneca todos os sábados.”

E então eu entendo.

Lidar com a máfia acaba em derramamento de sangue.

Porque quando se lida com o diabo. Não há outra maneira.

“Tanit”, Dom sussurra meu nome.

Eu o ouço, mas suas palavras são como um inseto irritante zumbindo no meu ouvido. Uma distração a ser ignorada.

Meu coração bate forte contra o peito, bloqueando todos os outros sons.

Meu dedo treme enquanto lentamente aperto o gatilho.


37

Dom


Parte de mim quer impedi-la, a parte que diz que ela se arrependerá disso, que ela não voltará deste Inferno. Assim como seu primeiro beijo, você não esquece sua primeira morte, jamais. Principalmente quando é seu pai.

Mas não é meu direito tirar a arma dela.

Não posso fazer essa escolha.

Então fico atrás dela em silêncio.

O resto dos homens se move como se estivessem sincronizados. Não para deter a garota com a arma, mas para fazer o impensável a um homem antes da morte.

Eles lhe dão as costas.

Tex é o primeiro, seguido por Chase, Nixon, Dante, Sergio, Frank, Phoenix... é como se essa morte não estivesse na consciência deles, porque esse homem na nossa frente, ele nunca existiu em primeiro lugar.

Sei o que essa morte significará para Tanit, no entanto.

Sei que ela nunca mais será a mesma. E temo que não sobrevivamos às consequências do que está acontecendo.

Eu sinto-a apertar o gatilho, sinto em minha alma.

Quando a arma dispara, eu não pisco.

Ela atira no peito dele.

Um pouco para a direita.

É doloroso, um tiro no músculo, mas com esse tipo de arma, não é um tiro limpo.

Ele a encara como se a visse pela primeira vez, como se de alguma forma estivesse orgulhoso dela por defender sua família.

“Ele vai te matar por isso”, seu pai sussurra. “Você acaba de começar uma guerra que não pode parar.”

Tex olha por cima do ombro. “Estamos em guerra há anos, o que é mais uma?” E então ele acena com a cabeça para Tanit e diz. “Termine isso.”

Com as mãos trêmulas, ela aponta a arma novamente. Seu pai a encara com morte e crueldade... tão fria que não sinto nada além de gelo em minhas veias, se espalhando até as extremidades.

Coloco a mão em seu braço, então lentamente corro os dedos para baixo até que seguro sua mão na minha. “Eu farei”, sussurro em seu pescoço, “Não se mova.”

Sua respiração acelera.

E quase posso imaginar a doce justiça que ela sente, junto com o alívio de que o sangue manchará minhas mãos, não as suas. Na verdade, acontece rápido, eu puxo o gatilho e, sem olhar, acerto-o perfeitamente na testa e quando ele cai de costas contra a parede, o cheiro de sangue enche a sala.

Mas na minha linha de visão, na minha memória, sempre que lembrar deste momento, e o farei muitas vezes, verei seus olhos se fecharem de alívio enquanto seguro sua mão. Verei as lágrimas escorrendo por seus olhos e descendo lentamente pelas bochechas. Eu me lembrarei de sua expiração profunda quando puxei o gatilho.

E lembrarei do alívio que senti quando soube que minha pontaria foi certeira e ouvi seu corpo cair no chão.

Eu matarei qualquer um que tocá-la.

Ela não sabe a lealdade que sinto.

Ela não sabe minha obsessão.

Ela não sabe da minha necessidade por ela... que quero recolher essas lágrimas e jurar pelo corpo frio de seu pai que eu morrerei para mim mesmo, a fim de libertá-la.

Acabou.

E então ela vira o rosto para mim.

Sem inocência.

Posso muito bem ter pintado o rosto dela com o sangue dele, molhado os dedos nele e feito uma pintura de guerra em suas bochechas.

Eu roubei a inocência de seu corpo.

E roubei com sucesso a inocência de sua alma.

Não consigo mais encará-la.

Então fecho os olhos enquanto a batida lenta e pesada do meu coração ecoa contra meu peito quebrado.

Não tenho certeza de que as coisas serão as mesmas.


38

Tanit


Pingo. Pingo. Pingo.

É apenas a água.

Eu escuto, meus ouvidos aguçados esperando a próxima gota, e então a seguinte. A torneira do banheiro continua a me assombrar, me lembrar do sangue que pinga.

Sangue que corre.

E a pessoa responsável por isso.

Não sei o que eu esperava.

Talvez mais barulho?

Sim, o barulho, eu gostaria de ouvir mais. Os filmes não mencionam a falta de som. Minha expectativa era de caos.

Minha realidade foi uma espécie de paz, horror e depois silêncio.

Silêncio enquanto os homens ao meu redor pegam os corpos e se desfazem deles.

Silêncio enquanto o sangue é limpo do chão.

Silêncio enquanto alvejante é jogado por todo o lugar, o cheiro substituindo o odor do sangue, mas ardendo em meu nariz.

Silêncio enquanto vinho é servido.

Silêncio enquanto Dom me pega e me leva para a cama.

E então, o gotejamento.

Como se o universo precisasse me lembrar que sim, há uma morte em minhas mãos, e sim, essa morte é do meu pai.

Pergunto-me sobre minha mãe.

Se ela ficará orgulhosa ou horrorizada.

O fato de ter que me perguntar essas coisas me diz que mudei, que nunca mais serei a mesma. O fato de que não estou fugindo e gritando, que ainda estou deitada nessa cama macia e bonita olhando para a escuridão do quarto... significa que eu mudei, não é?

Meus dedos parecem pesados, como se ainda segurassem a arma.

E meu peito. Dói como se houvesse um buraco gigante nele.

A porta se abre.

E então se fecha.

Solto um suspiro quando a cama afunda, seus braços musculosos me envolvem e puxam para perto.

“Sem mentiras.” Dom diz contra meu pescoço. “Diga-me como afastar o mal.”

Eu faço uma careta. “O mal?”

“A dor, a feiura, a tristeza.” Cada palavra é como outro tiro enquanto ele beija meu pescoço. “Eu sinto a escuridão... deixe-me tirá-la de você.”

Eu engulo em seco. “Não é sua para tomar.”

“Sempre será.” Ele agarra meu quadril com a mão direita. “Enquanto eu viver, sua dor sempre será minha dor, agora deixe-me ficar com ela.”

Lágrimas turvam minha visão enquanto balanço a cabeça para frente e para trás, e então seus lábios estão no meu pescoço, depois em minha boca enquanto ele sussurra: “Vou levar tudo então.”

E ele o faz.

Sem permissão.

Primeiro, com sua língua enquanto espalha beijos em meus lábios, enquanto devora até a última gota de tristeza e raiva na minha boca, e então novamente quando ele me pressiona contra o colchão, tirando minha camisa pela cabeça e depois minha calça. Estou nua em poucos minutos.

Estou com frio.

Estou quente.

Eu sinto tudo.

E então ele está em cima de mim.

E tudo que consigo pensar é sim, apenas me sufoque com seu calor, não me deixe pensar em nada além do peso do seu corpo e na forma como você cheira e beija meu corpo.

Nós.

Não eles.

Qualquer coisa, menos ele.

Eu o beijo. Agarro-me a seus bíceps como se fossem minha tábua de salvação, e então ele entra em mim.

Eu abro as pernas mais amplamente.

Abro-me para ele.

Deixe-o me consumir.

Permitindo-me esquecer o horror.

Isso deveria ser físico.

Mas as emoções vencem.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Ele as lambe, movendo-se contra mim com tanta cautela, com tanto cuidado, que mais uma vez vejo a vida em vez da morte diante dos meus olhos, sinto-a entre minhas coxas, e na maneira poderosa com que ele tenta exorcizar cada coisa ruim entre nós e me dar esperança.

Eu o sinto.

Eu nos sinto.

Então fecho os olhos.

E respiro um pouco mais fácil quando ele beija minha boca e sussurra: “Eu prometo.”

“Você promete o quê?” Pergunto.

“Tudo.” É o que ele diz antes de sua boca consumir a minha novamente, antes de me deixar cair mais e mais rápido, antes de me prometer que morrerá antes de deixar isso ir.


39

Dom


Eu minto e a beijo.

Eu prometo.

Eu minto mais um pouco.

E faço promessas que não tenho certeza de que serei capaz de cumprir enquanto a pressão reacende em meu peito... a mesma pressão que senti no dia em que olhei nos olhos de Tex e soube que o lugar como Capo é tanto meu quanto dele. A mesma sensação que tive quando Nixon disse que minha vida seria entregue às famílias.

Não percebi então o que significava esse peso.

Eu sei agora.

Porque agora é tangível, eu posso tocá-lo, prová-lo, amá-lo.

O peso é o meu coração.

O peso é a atração que ela exerce sobre ele.

E a percepção de que minhas mentiras saem com muita facilidade, assim como a capacidade de desligar completamente minha mente e apenas ficar com ela.

Depois que ela adormece, levanto, coloco minhas roupas e lentamente saio pela porta, encostando-me no batente quando ela se fecha atrás de mim.

Preciso de espaço.

Preciso de ar.

Não longe de Tanit, apenas longe da sufocante percepção de que não tenho nada para oferecer a ela além de minha arma, e parte de mim entende que ainda sou muito jovem para lhe dar qualquer outra coisa... muito menos as promessas que continuam saindo junto com as mentiras.

“Você é barulhento.” Dante sai das sombra, quase me matando de susto. Olho-o e cruzo os braços novamente. “Talvez da próxima vez, certifique-se de que a porta esteja fechada.” Ele sorri.

Eu sequer vacilo.

Com um suspiro, ele passa as mãos pelos cabelos e encosta-se na parede oposta. “Você parece bravo.”

“Eu estou bravo.”

“Precisava ser feito.”

“Não estou questionando o que aconteceu”, digo em voz baixa. “Apenas questiono todo o resto. Tenho vinte e um anos, não posso simplesmente casar com ela e viver feliz para sempre.”

“Eu sei.” Dante fica quieto, seus olhos azuis fixos nos meus. “Então o que planeja fazer? Presumo que tenha um plano?”

Dou de ombros. “Deixá-la terminar a faculdade, talvez mandar alguns homens para protegê-la, tirá-la de...”

Dante cai na gargalhada, o que é raro para ele, me deixando ainda mais irritado. “Merda, cara, você não pode simplesmente mandar um De Lange para a selva, sabe que ela tem um alvo nas costas que basicamente convida as outras famílias a abrir fogo.”

Eu cerro os punhos. “Basta uma palavra de Tex, e ela está protegida.” Ou uma palavra minha, mas deixo essa parte de fora.

As sobrancelhas de Dante se erguem como se ele tivesse ouvido o que eu não disse. “Uma palavra do Capo, hein?”

Não passa despercebido que ele não usa o nome de Tex.

Eu apenas desvio o olhar. “O Capo pode tomar decisões como essa.”

“E então? Você mata o Capo e consegue protegê-la sem sujar as mãos. Muito bem, cara, apenas certifique-se de dar um tiro certeiro na testa.”

Faço uma careta e abaixo a cabeça, sussurrando em voz baixa. “Isso não é o que eu-”

“Planejando matar seu próprio irmão, devo dormir com um olho aberto?” Tex sai das sombras sorrindo maliciosamente como se fosse a coisa mais engraçada que ele já ouviu.

Sinto-me cheio de vergonha.

Uma vergonha profunda e angustiante.

“Não seja covarde.” Tex balança a cabeça. “Não combina com você.”

Dante me olha fixamente, minha pele está formigando e quente enquanto penso em nossas opções, enquanto penso nas opções dela.

“Não posso dar o que ela precisa.”

“Escute aqui, seu idiota”, Tex resmunga. “Você é tudo que ela precisa, compre um castelo se ela quiser, consiga um pônei para ela, diabos, você pode até fazer com que ela estude em casa. A vida dela está nas suas mãos, e vai jogá-la fora porque está preocupado em não ser o suficiente para mantê-la?”

Sinto minha mandíbula apertar enquanto tento engolir. Meus músculos estão paralisados com alguma coisa... mas o que é? Medo? Temor?

“Ela merece mais do que sangue”, eu finalmente digo.

“Não brinca.” Dante se afasta da parede como se fosse me atacar. “Você não acha que eu desejo mais do que isso todos os dias? Serei pai de gêmeos, dois fodidos bebês!” Ele se enfurece. “Você acha que quero mostrar a eles minha escuridão todos os dias? De jeito nenhum! Mas é melhor você acreditar que matarei por eles, milhões de vezes se for preciso, e é por isso que ficamos, é por isso que fazemos o que fazemos, porque em um mundo cheio de monstros, às vezes é melhor viver com eles.”

“Você é o monstro neste cenário”, Tex diz. “Apenas no caso de estar se perguntando...”

“Olhe-se no espelho”, eu respondo.

Ele coloca o braço ao redor do meu pescoço e me dá um soco no estômago. Eu não me defendo, apenas permito porque sei que lutar é inútil com minha cabeça nesse estado. Inferno, talvez uma pequena luta ajude.

“Veja desta forma, ela acaba de atirar no pai...” Dante diz. “Quem melhor para ela do que o homem que vai nos liderar se esse cara se matar?” Ele aponta o dedo para Tex. “Pense nisso e não seja um idiota.”

Tex ri e depois fica sério. “Sim, falando sério, não seja um idiota.”

“Quem é um idiota?” Nixon pergunta enquanto caminha pelo corredor.

Todos os dedos apontam para mim.

Ele apenas revira os olhos como se fosse uma notícia velha e então me encara. “Você está pronto?”

“Pronto?” Repito vagarosamente, vasculhando meu cérebro em busca de informações.

“Para o seu casamento.” Ele pisca.

E posso jurar que quase desmaio e caio contra a porta, especialmente quando ela abre e Tanit aparece, com lágrimas nos olhos enquanto sussurra: “Você está me mandando embora?”


40

Tanit


Não consigo olhar para ele.

Não quero ver a vergonha em seus olhos.

Recuso-me a deixá-lo ver e sentir a rejeição em minha alma enquanto passo pelos homens, caminhando cegamente pelo corredor e indo para a grande sala de cinema.

Esbarro num corpo duro como pedra e recuo.

Chase.

Seus olhos se estreitam enquanto ele me encara. Não consigo evitar recuar quando ele segura meu rosto com as mãos fortes, e então muito lentamente enxuga minhas lágrimas.

Não é o que espero.

Eu estremeço sob seu toque letal.

Quantas pessoas ele matou com essas mãos?

Quantos pais? Filhos? Humanos?

Elas estão permanentemente manchadas, embora eu não possa ver o sangue. Engulo em seco e tento me afastar, mas ele me segura no lugar e, então, estende a mão atrás de mim e fecha a porta.

Posso ouvir minha respiração pesada.

Ele vai me matar também?

Eu mereço.

Com base no meu sangue, eu mereço a morte.

Sei disso.

Todo mundo sabe.

Ele afasta a mão e acena com a cabeça em direção à tela gigante. “Filme?”

Não consigo esconder o choque. Minha boca abre e após alguns segundos encontro minha voz.

“Acabei de ajudar a matar alguém e descobri que o cara por quem fiz isso quer me mandar embora e você me convida para ver um filme?”

Ele apenas dá de ombros e caminha até uma das cadeiras. Quando não o sigo, ele dá um tapinha no couro com a mão.

Lentamente ando e sento ao seu lado enquanto ele pega o controle remoto e liga nas Kardashians.

“Isso é sério?” Sussurro baixinho.

Ele apenas ri. “É coisa das meninas, acredite em mim, não assisto essa merda. Sem contar que minha esposa chutaria minha bunda se soubesse que passo o tempo livre vendo outras mulheres... e mais, por que eu faria isso quando a tenho?”

Faço uma careta. “Eu não te entendo.”

Ele bufa. “Entre na fila.”

Ficamos sentados em silêncio enquanto ele vaga pelos canais, parando no canal da Disney e novamente me choca.

“Se eu tiver que assistir Descendentes mais uma vez...” Ele resmunga. “Essa é a maldição da paternidade. Acho que as crianças devem vir com um aviso: cuidado, Cheerios ficará grudado na sua bunda o tempo todo.”

Eu finalmente sorrio.

E ele também.

Sempre o achei apavorante, a maneira como ele é mortal, e sinto medo de olhar por muito tempo em seus olhos azuis gelados, mas Chase sorrindo? Ele é quase bonito. Ele me lembra Nixon, exceto que seu tamanho é diferente, ele tem mais músculos, e é coberto com tantas tatuagens que chega a ser uma distração.

“Então”, ele solta o controle remoto. “o idiota vai te mandar embora?”

Minha garganta fecha com emoção enquanto assinto.

Chase suspira e então passa a mão tatuada por seu cabelo preto como tinta. “O negócio é o seguinte, Tanit, as histórias estão invertidas. A princesa não deve ficar com o monstro. Parece certo, diabos pode até parecer romântico, mas é feio, é sangrento e brutal. A princesa deve ficar com o príncipe, sempre. Ele só não quer te arruinar. Inferno, eu nem gosto de você, sem ofensa, e não quero arruiná-la.”

Eu sorrio. “Gosto da sua honestidade.”

“Tanto uma bênção quanto uma maldição.” Ele pisca. “Além disso, conheço o sangue que corre em suas veias, e a menos que eu possa abrir essa sua cabeça e ver nosso sangue gravado em seu cérebro, sempre vou desconfiar de você, mas essa merda é minha, não sua. Meu ponto é que derramar sangue nunca é bonito, não importa o quanto anseie por esse sangue.”

Faço uma careta e olho para minhas mãos, não percebi que elas tremiam até que ele as envolve nas suas e me vira em sua direção. Seu toque é quente, forte e contém uma ternura que nunca experimentei antes enquanto ele suspira e sussurra: “Diga uma palavra e eu te protegerei até meu último suspiro. Diga uma palavra e eu te darei um carro, dinheiro suficiente para comprar o que quiser, providenciarei segurança, manterei dois homens com você pelo resto da vida. Diga uma palavra e tornarei mais fácil para você sobreviver sem tudo isso.” Ele hesita e então fala: “Mas sobreviver sem ele, eu não posso fazer isso. E vindo de alguém que o ama tanto quanto odeia, irá destruí-lo de dentro para fora se você se afastar.”

Eu não falo. Sinto as lágrimas rolarem pelo meu rosto, mas não consigo encontrar palavras e não tendo certeza se sou capaz de falar, faço a única coisa que posso. Abraço o assassino em minha frente e o seguro perto, então toco sua bochecha com meus lábios e sussurro: “Obrigada.”

Se ele fica chocado, não demonstra, apenas me deixa abraçá-lo e, quando me afasto, ele enxuga minhas lágrimas, levanta e me deixa sozinha no escuro com Disney tocando ao fundo.

Minutos depois, Dom entra. Ele não diz nada. Nossas coxas se tocam quando ele senta onde Chase estava.

Engraçado como às vezes a escuridão revela seus segredos quando você menos espera, porque quando o olho, ele não parece mais ter vinte e um anos.

Ele parece... Mais maduro do que deveria.

Pesado.

Sobrecarregado.

Como se carregasse todo o peso do mundo nos ombros e estivesse hesitante em assumir mais uma coisa... eu.

Lentamente, ele se ajoelha no chão acarpetado, me encarando enquanto segura minhas mãos nas suas e as beija. Estremeço quando ele deita a cabeça no meu colo e segura meu corpo como se fosse sua tábua de salvação, como se estivesse o adorando.

Esse momento parece sagrado.

Fecho os olhos e me deito sobre ele, como se pudesse protegê-lo da escuridão que nos rodeia, como se pudesse protegê-lo das profundezas do inferno.

Mas nós sabemos a verdade.

Estamos em um rio de sangue.

E um dia, nos afogaremos nele.

Juntos.

“Case-se comigo”, ele sussurra. “Não porque precisa da minha proteção, não porque é a coisa mais inteligente a fazer”, ele estremece. “Mas porque não quero mais enfrentar meus pesadelos sem você... por anos eu sonhei com sangue, e agora... eu sonho com você.”

Lágrimas rolam do meu rosto para sua cabeça.

“Eu preciso de você mais do que você precisa de mim”, ele continua com a voz rouca. “E me apavora que um dia, por causa desta vida, você possa ser tirada de mim. Prefiro mandá-la embora do que vê-la morrer em meus braços, porque não pude protegê-la. Mas não posso fazer isso, não vou fazer. Então fique.” Ele sufoca com a última palavra como se estivesse à beira das lágrimas. “Fique.”

Levanto sua cabeça, seguro seu rosto e me inclino, unindo nossos lábios num suave beijo.

Ele pressiona o corpo no meu, enquanto me deita contra o couro e depois monta em mim, com os joelhos em cada lado das minhas coxas e seu beijo se torna faminto, então envolvo os braços ao redor de seu pescoço e o beijo. Ele se afasta apenas o suficiente para falar. “Você não disse sim.”

“O que meu corpo diz a você?”

Seu olhar é encoberto enquanto ele corre a mão da curva do meu pescoço até o seio, seus lábios estão a um centímetro dos meus enquanto ele sussurra: “Diz que eu te faço queimar.”

Aceno com a cabeça.

Essa mesma mão desaparece sob minha camisa, os dedos percorrendo minha barriga e se movendo para meu sutiã. “Eu te faço querer.”

Engulo em seco quando ele agarra a camisa e rapidamente a puxa por cima da minha cabeça, beijando-me com mais força, sussurrando as palavras contra minha boca, direto para minha alma. “Escolha-me, do jeito que meu coração já te escolheu.”

“Sim.” Eu balanço a cabeça com mais lágrimas descendo pelo meu rosto. “Sim.”


41

Dom


Um peso cai sobre mim no minuto em que ela diz sim, ou talvez fosse apenas indignidade.

Talvez seja culpa.

Talvez seja um pouco de apreensão.

Talvez seja tudo isso.

Mal consigo dormir pensando que Nixon sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde e ciente que a garota deitada ao meu lado com os braços e as pernas enroscados nos meus... será minha para sempre, minha para proteger, minha para manter viva.

Passo as mãos pelo cabelo e me sento.

Tanit se move ao meu lado, em seguida, toca meu ombro. “Você ainda está acordado?”

“Sim.” Minha voz é rouca pela exaustão. “Você precisa dormir.” Eu a beijo na testa um pouco antes dela se sentar e me encarar com olhos inabaláveis e a postura determinada.

“Uma coisa.”

“O que?” Faço uma careta. Talvez eu esteja mais cansado do que pensei. “Isso foi uma pergunta? Ou uma declaração?”

Os cantos de sua boca contraem. “Diga-me uma coisa que está te fazendo perder o sono.”

“Apenas uma?” Provoco enquanto ela revira os olhos e se aproxima. Eu solto um suspiro. “Tudo bem, uma coisa.” Engulo em seco e me inclino. “Você está ferida e essa é a grande, a mãe de todas as coisas, a coisa das coisas, algo aconteceu com você.”

“Porque somos companheiros mafiosos para a vida ou algo assim?” Ela pisca.

Eu não dou risada.

Ou sorrio.

“Na minha família...” seguro seu rosto entre minhas mãos. “Sim.”

Lágrimas brotam em seus olhos e ela segura meus pulsos. “Ok, então, diga-me quem é o melhor lutador e ele me dará aulas.”

“Isso não é um acampamento de verão.” Eu gemo. “Não vou apenas te entregar a um assassino, preparar um lanche e me certificar que não se esqueça da mochila. Essa é uma merda assustadora. Eles tentaram matar Dante antes mesmo que ele se tornasse um homem feito. Inferno, eles ainda sentem uma enorme alegria em tentar me matar.”

Ela franze o cenho. “Essa é uma família confusa.”

“É a máfia.” Eu suspiro. “É difícil explicar. É quase como nosso hobby, e sei quão errado isso soa, especialmente depois de falar em voz alta.”

“É diferente”, ela diz lentamente. “Não significa que é estranho ou errado, apenas não é um comportamento humano normal, mas a sobrevivência é o que importa certo?” Ela parece pensar por um minuto. “Quer dizer, se você não vê nada além de violência no dia a dia, é quase como se tivesse que normalizá-la para sobreviver.”

Eu a encaro, um pouco surpreso por nunca ter pensado nisso em todos os meus anos com Nixon, e ela acerta em cheio com surpreendente facilidade.

“Sim.” Finalmente consigo dizer. “Você tem razão.”

“Então.” Ela cruza as mãos atrás do meu pescoço e se aproxima. “O melhor lutador, vamos, sem pensar muito.”

“No combate corpo a corpo é Phoenix”, digo rapidamente. Sinto minha voz vacilar, “Mas os melhores lutadores geralmente são aqueles que não têm nada a perder. Costumava ser Chase. Acredite em mim, estar perto daquele cara em qualquer momento há alguns anos era uma sentença de morte. Ele ficava chateado se você respirasse errado. Mas agora? Agora...” engulo em seco. Droga, odeio os russos. Eu os odeio tanto que posso sentir o gosto.

“Agora, acho que ele é alguém que nunca conheceu antes, e há uma razão para isso, então, até que chegue a hora, é melhor treinar com Phoenix, e se passar nos testes dele, só restará uma coisa.”

“O que?”

Caio de costas contra a cama e sussurro: “Saudar a Mãe Rússia.”

“Isso não parece útil.”

“Oh, confie em mim, será. Ele vai tentar te matar enquanto dorme, mas você quer o melhor lutador... ele não teve escolha desde que nasceu, o cara escalou até o topo com os dedos ensanguentados e não vacila ao agir. Ele é diferente.”

“Não é seguro.”

“Não, Tanit, mas nenhum de nós é, não para você. A última coisa que quer é cruzar com alguém de sangue italiano ou russo. Você verá seu corpo no chão antes que sua alma perceba que foi separada dele.”

“Você é péssimo em contar histórias para dormir.”

“Você perguntou.” Eu sorrio, puxando-a para meus braços enquanto ela deita ao meu lado. “Podemos planejar tudo amanhã, até lá... Era uma vez uma linda garotinha chamada Tanit...”

Ela começa a rir. “Assim está melhor. Apenas certifique-se que eu seja bonita.”

“As histórias, Tanit...” beijo sua têmpora. “elas nunca farão justiça à sua verdadeira beleza.”


42

Tanit


Sua boca tem gosto de perigo.

Seus lábios me enchem de emoção.

E suas mãos.

Suas mãos grandes e fortes percorrem todo meu corpo como se ele fosse me adorar. Dom me conta uma história boba, fazendo com que eu durma em minutos, e agora está me acordando da melhor maneira possível.

A luz do sol se infiltra pelas cortinas fechadas, lançando um brilho sexy em seu rosto. Sempre achei que Dom se parece mais com Nixon ou Chase, mas com a luz do sol diretamente em seu cabelo, posso ver partes de um Campisi. Especialmente nas mechas vermelhas quase imperceptíveis que brilham em seus fios mais escuros.

“Você parece com seu irmão agora”, eu sussurro e minha voz está rouca pelo sono.

Dom para de beijar entre meus seios. Nunca imaginei que sentiria falta do calor da língua de alguém até agora.

“Só direi isso uma vez.” Sua voz é rouca e sexy, por que ele tem que parecer e soar sexy de manhã, quando eu provavelmente estou com o cabelo bagunçado e remela nos olhos? “Diga que pareço meu irmão de novo, especialmente quando um de nós está nu, e não gostará das consequências.”

“Você está me ameaçando?” Apoio-me nos cotovelos.

Ele me encara. “Sabe... se esse casamento vai dar certo, você precisa ter certeza de... ouvir o seu marido.”

“Você ainda não é meu marido”, eu respondo

“Não importa. Quando disse sim, eu já nos vinculei legalmente em minha mente e coração. Não pode desfazer essa merda Tanit, isso é para sempre.”

“Ohhh, sério?”

“Sério.” Seus beijos continuam, beijos ardentes que beiram a tortura.

O prazer é demais e quando se trata de Dom, não tenho paciência, nem autocontrole. Ele é meu mundo.

“Merda, a maneira mais rápida de fazer um homem perder a ereção é falar sobre seu irmão.”

“Oh, ainda estamos nisso?”

Ele resmunga. “Deixe Tex fora desse quarto. Ele já me irrita o suficiente e se parece comigo. Eu não pareço com ele.”

Mordo o lábio para não rir. “E a diferença é?”

“Não tenho ideia, mas me faz sentir melhor ter nascido depois.” Ele ri.

O som de vozes enche o corredor.

Eu suspiro, em seguida, agarro seus ombros. “Podemos ficar na cama um pouco mais, certo?”

Seus olhos se iluminam e então escurecem imediatamente quando brinco com o lençol. “Pelo menos até o almoço.”

Dom ri contra minha boca, suas mãos puxando os lençóis num esforço para nos desnudar. Tenho que agarrar a mesinha de cabeceira com a mão direita para não cair do colchão quando num ataque de frustração, ele puxa o lençol e o edredom da cama e se levanta.

Dom nu é algo de que nunca me cansarei, e por mais assustada que esteja com nosso futuro ou o que isso signifique para nós, olhá-lo é o suficiente para me fazer esquecer do medo, pelo menos por um tempo.

“Frustrado?” Eu pergunto.

“Sexualmente, sim.” Ele avança em minha direção, apoiando as mãos em cada lado da minha cabeça e me beijando com tanta força que sinto meu corpo derreter no colchão. Ele me pressiona para baixo, sua mão levanta meu queixo para que possa aprofundar o beijo, e ele tem um gosto sexy, convidativo e deliciosamente perigoso.

“Eu quero você”, suspiro, me afastando para poder respirar.

Dom sorri, seu corpo pairando sobre mim enquanto ele diz num tom grave. “Então me tenha.”

Envolvo as pernas em sua cintura. Ele não tem escolha a não ser cair sobre mim.

“Crianças!” A voz estrondosa de Tex grita. “Deem um tempo, nós temos negócios.”

“Você nos trouxe azar.” Dom reclama entre beijos, “Isso é culpa sua.”

“Como é minha culpa?” Abraço seu pescoço puxando-o para mais perto. “Além disso, podemos ser rápidos.”

“Eu não quero ser rápido. Eu quero ir devagar. Quero ser minucioso, quero ouvir meu nome sair de seus lábios cheios como uma prece...”

Quase acerto seus dentes com meu beijo agressivo, em seguida, deito na cama arrastando-o comigo.

“Por favor?” Eu imploro.

Mal digo a palavra e ele está dentro de mim. Em todos os lugares, com os dentes cerrados e o corpo tenso.

“Dom, estou falando sério!” Tex grita. “Você tem um minuto!”

“Merda!” Dom se move mais rápido.

Eu gemo muito alto, sem conseguir evitar.

“Quarenta segundos!” Tex informa, ele parece estar parado perto da porta e sua voz soa muito alta.

“Mais rápido!” Peço a Dom.

“Está brincando comigo?” Ele resmunga contra minha boca enquanto o suor desliza entre nossos corpos. Agarro suas costas quando ele segura a cabeceira da cama.

“Vinte e cinco segundos e vou arrombar a porra da porta.”

“Dom, ele não pode...”

“Mantenha o foco em mim...!” Dom interrompe, beijando-me de novo e de novo até que tento puxá-lo para ainda mais perto, com mais força. “É uma sensação tão boa e tenho que ser rápido... eu vou matá-lo...” Ele suspira, “Morto... ele está...” Seus dentes cerram. “morto para mim.”

“Dez segundos!”

“Porra!” Dom empurra a cabeceira da cama com as duas mãos, me fodendo até que vejo estrelas. Eu respiro fundo quando ele se apoia em mim com um sorriso atrevido, e então o lençol está sobre nós.

E a porta é, de fato, arrombada.

“Oh, ei.” O peito de Dom sobe e desce rapidamente enquanto ele tenta recuperar o fôlego. “Ei, cara, eu não te ouvi.”

Tex sorri e encosta-se à porta. “Oh, não se preocupe, na verdade não precisamos de vocês por mais uma hora.”

“O INFERNO QUE VOCÊ FEZ ISSO!” Dom grita.

“Foi divertido, você teve um bom tempo, oh e Dom? Eu sabia que conseguiria em menos de um minuto, pode não ser muito, mas talvez você realmente seja um Campisi. Pode ir devagar se necessário e rápido quando...”

Dom joga um abajur na porta e Tex desvia ao sair.

O abajur quebra ao atingir o chão.

Sentamos lado a lado na cama, ofegantes por bons três minutos antes dele virar para mim e piscar, “Então agora que temos uma hora...”


43

Dom


“Diga que isso não é loucura.” Estou do lado de fora, perto da árvore que todos os caras marcaram. Gravado para sempre no tronco estão seus nomes. Tex está encostado nela, seu nome perto de sua cabeça. Ele tira um frasco do bolso e me entrega.

Eu o pego.

E me arrependo do gole gigante que tomo no minuto em que o líquido queima ao descer pela minha garganta. “Que merda de uísque é esse?”

“Do tipo bom.” Ele dá de ombros enquanto toma um gole sem sequer piscar no momento em que Nixon, Sergio, Phoenix, Dante e Frank saem, seguidos por Andrei.

Ele dá a todos um amplo espaço, encostando na lateral da casa com uma expressão de raiva no rosto e os braços cruzados.

Nosso ódio é mútuo.

Sou o próximo Capo e, a menos que ele me mate ou a Tex, sempre será um russo com uma família italiana... e muito dinheiro.

“Vamos lá”, Chase bate na parte de trás da cabeça dele, ganhando uma maldição de Andrei quando todos se juntam a nós perto da árvore. “Você está nervoso?”

Chase pergunta para mim.

Eu o encaro ao responder. “Nah, acabei de tomar um gole do frasco de Tex, nem sei onde estou agora.”

“Pensei que essa merda fosse água.” Chase agarra o frasco, cheira, toma um gole e dá de ombros. “Água.”

Suspiro quando ele dá um passo à frente e coloca uma faca de prata na minha mão. Tem a foice russa entalhada no cabo e uma águia no topo, como se estivesse cuidando dos russos, dominando o mundo, disposta a ser mergulhada em sangue. Eu a seguro com força.

“Está na hora”, é tudo o que Tex diz enquanto me empurra em direção à árvore onde os caras escreveram seus nomes e A eleição.

O nome de Dante está em baixo, parece mais fresco do que os outros.

Dou um passo à frente e começo a entalhar meu nome. O ritual parece algo saído de um livro ou filme, algo sagrado que não consigo identificar. Esta é a árvore deles.

Seu grupo.

Sua coisa.

Estou dez anos atrasado.

E agora eles me pedem para ser não apenas o cara que pegam e colocam para trabalhar, mas um igual.

Com o coração pesado, continuo escrevendo meu nome.

“Andrei.” Tex chama quando termino.

Lentamente, Andrei dá um passo à frente, os olhos semicerrados, vazios de emoção, e isso depois de seu final feliz. Já ouvi histórias sobre sua raiva.

Histórias de sua briga com Chase e o resto dos caras, e isso aconteceu quando mais importava.

Ele salvou todos.

Com um grande custo pessoal.

Mas eles nunca falam sobre isso.

Ele trata o mundo como se fosse merda.

E o mundo o trata exatamente da mesma maneira, pelo menos a maioria das pessoas. Poucos entendem como sua mente funciona.

Porém, quão normal se pode ser quando nasceu com o próprio sangue nas mãos? Quando você tinha seis anos e seu pai te pediu para cortar a garganta de seu irmão?

Sim, não é normal.

Entrego-lhe a faca. Ele a pega e escreve um A gigante na árvore seguido por um P.

Andrei. Petrov.

Em algum lugar há um porco voando.

“Tudo bem.” Tex esfrega as mãos. “Agora vamos te casar e enviar aos De Lange uma pequena e divertida mensagem.”

“Estou quase com medo de perguntar”, murmuro baixinho.

“Vamos, meu irmão.” Tex sorri maliciosamente. “Onde está seu senso de aventura?”

“Prefiro manter minha aventura entre os lençóis.” Eu pisco. “Mas, você não entende, certo?”

Seus olhos se estreitam.

“Para com essa merda”, Nixon grita. “Vá se preparar, filho.”

Filho. Eu costumava odiar que ele me provocasse desse jeito.

Mas a maneira como diz agora.

Como se realmente assumisse a responsabilidade por mim.

E ele o faz.

Acompanho-o pelo corredor.

Tento não parecer chocado.

Mas posso dizer que Nixon nota.

Ele pisca e conduz todos de volta para a casa, mas acaba ficando para trás. Eu faço o mesmo.

É quando ele estende a mão e me puxa para um abraço.

E eu permito.


44

Tanit


“Dez vezes.” Luciana sorri, esfregando a barriga grávida enquanto boceja e se senta na minha cama. Trace apenas ri enquanto pega um lindo vestido de seda esbranquiçado e um par de sapatos vermelhos.

Vermelho sangue.

Eu o encaro, de boca aberta.

“Algo emprestado.” Mo entra no quarto. “Também é útil quando há um tiroteio e se tem sangue por toda parte. Seus sapatos ainda ficarão incríveis. Sei bem disso.”

“Eu ia perguntar como você sabe, mas...” minha voz some quando respiro fundo e volto a atenção para Luciana, “O que quer dizer com dez vezes?”

“Vou tapar os ouvidos.” Trace boceja. “Mas já perdi tanto sono...”

“Três filhos.” Mo dá um tapinha nas costas dela. “E uma garotinha impetuosa que pensa que seu pai é um rei... boa sorte com isso.”

Trace a encara ferozmente. “Ela tem nove anos e perguntou quando poderia começar a própria família e se tornar uma chefe.”

Eu estremeço. Este modo de vida. É estranho, mesmo para alguém que cresceu nele com a própria família.

“Dez vezes. Esse é o recorde.” Luciana boceja e esfrega a barriga. “Eu preciso de um cochilo.”

“Não!” El entra correndo com uma garrafa de vinho, seguida por Bee segurando as taças. “Raramente temos um tempo para garotas com todas as crianças e...”

Quando ela diz crianças, gritos começam na forma de crianças de um a nove anos.

As mulheres ficam completamente em silêncio quando Phoenix para na porta e apoia a mão na parede. “Quanto tempo?”

“Uma hora, você vai sobreviver.” Bee o beija na bochecha e estende a taça para El, que a enche até a borda. “Você vai sobreviver. Você não é um assassino? Hmm?”

Não sei de quem é o filho, mas alguém vem correndo pelo corredor gritando sobre ter o cabelo puxado, seguido por outro garoto dizendo que ele puxou o próprio cabelo. Uma buzina soa.

E depois. Silêncio.

Phoenix levanta uma das crianças acima da cabeça com uma expressão feliz no rosto. “Quem quer sorvete?”

Mais gritos.

Mas do tipo bom.

“Você é o melhor.” Bee pisca.

“E você vai provar isso esta noite, de novo, de novo, e de novo...” ele a beija profundamente e sai.

Eu suspiro.

Todas as mulheres se viram como se eu tivesse acabado de anunciar que quero casar com ele.

“O que?” Esfrego meus braços nus.

Elas me cercam como se eu fosse sua presa.

“Então...” Luciana senta mais perto de mim, ou melhor, deita o melhor que pode, prendendo novamente o cabelo. “Como estão as coisas... Com Dom... Vocês estão bem? Sei que tudo está acontecendo muito rápido.”

Seus olhos são simpáticos e seu toque é terno. Ela é a pessoa mais empática que já conheci em toda a minha vida. É impossível não gostar dela. É impossível não ficar um pouco apaixonada cada vez que ela abre a boca.

“Bem...” eu respiro fundo. “Eu só... é muito para absorver, especialmente depois do meu pai...” minha garganta fecha.

Mo estende a mão na cama e dá um tapinha na minha coxa. “Nenhum homem merece o título de pai se está disposto a sacrificar o próprio sangue para ganho pessoal.”

“E”, Trace acrescenta, “você fez algo corajoso. Estamos orgulhosas.” El me entrega uma taça de vinho e boceja por trás da mão.

“Uau, as coisas já estão loucas para você?” Mo brinca.

El ri. “Desculpe, tenho ajudado Sergio na pesquisa sobre os De Lange recentemente, então tem sido... cansativo.”

“Ohhhhh, pesquisa.” Mo faz aspas no ar. “Entendo.”

“Cale-se.” El desvia o olhar e suas bochechas ficam rosadas.

O silêncio cai sobre nós novamente.

É confortável.

“Estou assustada.” Finalmente digo em voz alta. “Estou com medo de ser muito jovem. Estou com medo de não ser corajosa o suficiente para ele. Estou com medo de que ele não volte para casa. Estou com medo de tudo.”

Trace é a primeira a falar quando se ajoelha ao meu lado e me puxa para seus braços. “Todas nós estamos com medo. A cada dia. Mas temos uma à outra. Temos nossa família. E é por isso que vivemos e morremos... pela Família.”


45

Dom


“Você está pronto?” Sergio esfrega os olhos, olheiras são evidentes sob seus cílios inferiores quando ele pega uma garrafa de vodca e a aponta em minha direção com uma piscada.

“Mais pronto do que você. Ainda sabe o que é dormir?”

Ele apenas sorri. “Val está tendo problemas com o sono agora, o que significa que eu tenho problemas para dormir, e ontem um menino de três anos pulou no meu rosto e anunciou que ia peidar só depois de realizar o fato. Nós arejamos o quarto por dois dias antes de eu perceber que crianças só... Cheiram mal.”

Sergio e eu não somos próximos. Nunca fomos. Ele também não é o tipo de pessoa que compartilha qualquer detalhe íntimo de sua vida com alguém, exceto Phoenix. De alguma forma, os caras possuem um vínculo além do que o resto deles tem e me pergunto se é por Phoenix ser o único no grupo, além de Chase, que entende o que significa perder tudo apenas para ganhar de volta.

Estendo meu copo enquanto ele serve vodca pura e acena com a cabeça esperando que eu beba como se fosse água. Eu olho para baixo. Meu paletó está pendurado na cadeira atrás de mim e minhas mangas estão arregaçadas.

“É a tradição”, ele diz suavemente. “Uma dose de vodca em casamentos e funerais... Tenho que amar os russos.”

Bebo o líquido branco. Queima a minha garganta e me lembra gasolina barata. “É uma péssima ideia”, eu resmungo.

“A pior”, ele concorda com uma risada enquanto Val anda pelo corredor. Ela usa um vestido amarelo curto que abraça suas curvas. Fico surpreso ao notar uma ligeira elevação em sua barriga e sorrio para Sergio, que não consegue tirar os olhos dela.

“Então é por isso que El tem te ajudado até tarde.” Digo em voz alta.

“Isso a distrai de quando Dante tem que sair.” Sergio diz em voz baixa, os olhos ainda na esposa. “E me distrai de me preocupar com tudo que pode dar errado em outra gravidez.”

Eu concordo.

Algumas das garotas saem dos quartos no corredor e, em poucos minutos, estou cercado pela minha família.

As únicas pessoas ausentes são Tanit e Nixon.

Movo nervosamente as mãos enquanto o relógio da sala zomba de mim, desacelerando os segundos e minutos, até que estou pronto para arrancar os cabelos.

Sei que ela se aproxima pelo silêncio que cerca minha família normalmente barulhenta.

Você poderia ouvir um alfinete cair no chão.

A primeira coisa que penso? Linda.

A segunda? Audaz.

Ela usa um vestido de seda que meu cérebro já está imaginando maneiras de tirar... e sapatos vermelhos.

Vermelho sangue.

O sorriso é tão grande que meu rosto dói quando seu olhar encontra o meu e a eletricidade vibra entre nós.

Tex apoia a mão no meu ombro. “Está pronto para isso?”

Eu não tiro os olhos dela. “Sim. Estou.”

Não esperava que parecesse tão certo.

Assim como não esperava que isso acontecesse há dois meses, quando coloquei fogo no mascote da Universidade.

A vida nunca joga limpo com a máfia.

Mas, inferno, ainda parece certo.

Não é?

Ainda nos deixa ter peças de jogo.

Mesmo que isso signifique que, no final, perderemos nossas vidas para o derramamento de sangue, para a violência, para nós mesmos.

Ainda temos uma chance de viver.

E é uma coisa linda.

Nixon a beija na bochecha e dá a Tex um breve aceno de cabeça. “É hora de ir para a igreja.”

“Para a igreja?” Tanit repete com a voz fraca.

“Podemos entrar lá?” Chase diz com uma risada.

“Eu liguei antes”, Nixon diz com voz de comando. “Muitos casamentos ocorreram sob coação, derramamento de sangue e nesta maldita casa. Desta vez, vamos à igreja, talvez Deus nos aceite e perdoe por todas as mortes... se acrescentarmos outro De Lange em nossa família da maneira certa.”

“Vamos então.” Tex suspira. “Vale a pena tentar, não é?”

“Exatamente”, Nixon concorda.

Caminho em direção a Tanit e estendo a mão; ela a segura. “Você está linda.”

Ela sorri. “Gostei dos suspensórios vermelhos.”

“Eles combinam com seus sapatos.” Inclino-me e beijo sua bochecha, não querendo bagunçar sua maquiagem.

“Eu sei.” Ela aperta minha mão enquanto seguimos o grupo até o SUV que nos espera.

E sorrio quando vejo a escolta policial.

Duas motos e cinco carros da polícia estão alinhados do lado de fora do portão fortemente vigiado. Eu apenas balanço a cabeça e gargalho enquanto Nixon dá de ombros como se perguntasse o quê?

Chase corre à nossa frente, acena para cada um dos policiais, e eles sorriem de volta como se ele fosse um melhor amigo. O cara realmente deveria concorrer a prefeito; ele ganharia até sem fazer campanha.

Quando ele se vira, encolhe os ombros e me encara diretamente. “Você não deveria se preocupar com uma guerra durante a cerimônia.”

Não sei o que dizer.

Tanit solta minha mão e lentamente caminha até ele. O grupo fica completamente quieto. Parece que o tempo para enquanto ela envolve os braços em seu pescoço e beija sua bochecha.

Os braços de Chase estão ao seu lado, e então ele a abraça. Quase engulo minha língua.

As pessoas não tocam em Chase.

Jamais.

Sua esposa e seus filhos podem tocá-lo. Ninguém mais.

Ele a levanta no ar e gira, uma, duas vezes, então diz alto o suficiente para Sergio ouvir. “Duas voltas, certo cara?”

Sergio sorri largamente enquanto o resto do grupo ri. “Sempre duas voltas, cara, sempre duas voltas.”


46

Tanit


Dom aperta a minha mão quando nos aproximamos da grande igreja católica. Sua aparência é quase gótica, e extremamente intimidante. Não ajuda o fato de que a escolta policial é barulhenta o suficiente para criar uma cena, e quando todos os homens e mulheres saem de seus SUVS, as pessoas ficam boquiabertas e erguem os celulares como se estivessem na presença de celebridades.

O que, eu acho, que de certa forma eles são.

Os Abandonato possuem o suficiente desta parte do mundo para governá-la, e exercem esse direito diariamente, especialmente com Chase no comando. Dom me conduz para frente, mas noto Chase hesitar.

“Ele não vem?” Eu pergunto em voz alta, desapontada que seu comportamento mude num estalar de dedos... ou no caso dele, o pescoço que ele está quebrando, a pessoa que ele está esfaqueando.

Dom se vira, olha para Chase e então para mim enquanto subimos as escadas de cimento. “É sempre Chase atrás, o Capo no meio, Nixon na frente com Phoenix e Sergio ao lado. Dante fica com Chase...” Sua voz falha.

“Mas por que?”

Ele suspira como se não quisesse falar sobre isso, então sussurra em voz baixa. “Se alguém tentar atirar na Família, os caras fizeram um pacto há muito tempo que usarão seus corpos como escudos, para proteger seus filhos, suas esposas. Eles entregarão suas vidas sem piscar, quando se sabe o que é importante, a morte não parece tão assustadora.” Ele beija as costas da minha mão. “É isso que significa fazer parte desta Família. Proteção.”

“É por isso que a polícia está aqui?”

“Provavelmente.” Ele encolhe os ombros. “Seria uma pena morrer devido um carro-bomba no dia do seu casamento, certo?”

Meus olhos se arregalam.

“Relaxe.” Ele beija o topo da minha cabeça. “Não vou deixar nada acontecer com você.”

“Eu sei.” Agarro-me a ele um pouco mais forte enquanto cruzamos as portas maciças que conduzem à igreja.

Velas estão acesas no corredor.

Lágrimas ardem em meus olhos quando percebo que sempre imaginei meu pai me acompanhando nesse momento. Nunca imaginei que o faria sem ele... ou que seria parte da razão pela qual ele não está mais aqui.

Sapatos vermelhos.

Eles também podem ser uma representação de seu sangue.

Dom solta minha mão. E eu fico parada no corredor enquanto as esposas passam por mim e os homens mais poderosos do mundo ficam ao meu lado.

Não tenho certeza do que fazer.

Então, encaro meus sapatos vermelho-sangue.

Olho para baixo com tanta força que meus olhos começam a arder pelas lágrimas não derramadas.

Não é assim que as coisas deveriam acontecer.

E não é que não estou agradecida.

Sinto uma mão em meu ombro e quase me afasto antes de perceber que é Chase. “Pronta?”

Eu engulo em seco. “Sim.”

Nixon para do meu outro lado e estende o cotovelo. “Vamos te casar.”

Quando olho para frente, Tex nos guia. E como não consigo ver Phoenix, Sergio ou Dante, imagino que eles estão atrás de mim.

Eu engulo em seco.

Não. Não é como imaginei me casar.

Com um pai morto.

E seu maior inimigo ao meu lado, segurando meu braço, com o segundo em comando desse inimigo pronto para matar qualquer um mesmo em solo sagrado.

Procuro pelo padre.

E quando o russo de antes entra no meio do corredor e abre uma Bíblia, quase me pergunto se ele tem permissão para tocar em coisas sagradas sem ser queimado.

Dom pisca para mim do final do corredor.

Meus pés lentamente seguem em sua direção.

E quando Nixon solta meu braço e o entrega a Dom, quando cada homem se reveza para me dar um beijo na bochecha, é quando parece real.

E quando o russo pigarreia e começa a falar com seu suave sotaque, eu me agarro a Dom, com medo de desmaiar.

“Quem entrega esta mulher?” Ele pergunta.

“Nós entregamos”, respondem os chefes.

Eu oscilo levemente.

E então repito os votos.

E o mundo desaparece quando olho para a direita e vejo minha mãe sentada no banco da frente segurando o rosário.

Ela está vestida de preto.

Seu rosto está mais pálido do que já vi na vida.

Ela não pisca. Ela não sorri.

Então ela sabe.

Ela tem que saber.

Ele está morto.

E cumprirei uma sentença de prisão perpétua junto aos homens que ela aprendeu a temer, quando é exatamente o oposto.

As coisas na máfia nunca são preto e branco.

Nunca percebi que meu inimigo é meu amigo.

E minha família? Eles são o inimigo.

“Eu agora os declaro marido e mulher...” Ele finalmente dá um sorriso, transformando seu rosto o suficiente para eu ter uma dupla surpresa. “Dom, você pode beijar...”

Num borrão, Dom segura meu rosto, beijando meus lábios como se tivesse passado muito tempo desde que ele os provou, sugando-os para memorizar sua forma e criar uma memória para mais tarde.

Envolvo os braços em seu pescoço.

Alguém pigarreia.

Eu decido ignorar.

E quando um Dom sem fôlego finalmente se afasta, eu olho para a direita.

Minha mãe se foi.

“Esta é sua família agora”, o russo diz enigmaticamente. “Você não precisa daqueles que podem te fazer mal...”

“Ele está certo,” Dom concorda. “Você é minha.”

“Campisi?”

“Gostamos mais de Campisi-Abandonato, já que ele gosta de chamar Nixon de pai”, Tex diz, fazendo todos rirem.

Os aplausos aumentam e, então, arroz é jogado na minha cara quando Dom me pega e gira duas vezes no meio do corredor, terminando com um aceno de cabeça para Sergio.

“É tradição agora”, ele sussurra em meu ouvido. “Casamentos e funerais... sempre olhamos para a vida do jeito que ela é, e um dia Sergio vai te contar tudo sobre como sobreviveu, e isso vai pelo menos afastar o medo da morte... sei que isso ajudou a tornar todas as esposas corajosas para encarar esta vida, e vai te ajudar também.”


47

Dom


Algo está errado.

Não tenho motivos para estar apreensivo.

Absolutamente nenhum.

Caminhamos pelo corredor de mãos dadas, os policiais ainda estão em frente à igreja, as viaturas paradas como uma barricada, apenas no caso de alguém decidir abrir fogo em nossa direção.

Mas algo parece...

Não muito certo.

Diminuo meus passos e pressiono a mão no peito de Tanit e então aceno para os caras. Os olhos de Phoenix se estreitam enquanto Sergio se move para ficar na frente de Tex. Nixon faz o mesmo, flanqueando-o. Porque de todos nós, precisamos mais de Tex vivo, o que é péssimo, mas a verdade às vezes não é agradável.

Phoenix agarra Tanit e a coloca atrás de Tex e o resto das mulheres começa a voltar para a frente da igreja enquanto sigo em direção às portas principais. Deslizo a arma para fora da calça. Dante me segue.

Se eu morrer, as pessoas falarão.

Se Dante morrer, bem, todos ficarão chateados.

Se algum dos outros morrer?

Guerra.

Guerra total.

Abro a porta, apontando minha arma à frente, bem quando alguém a chuta da minha mão.

Raiva e terror me enchem quando fecho a porta, acertando-a em quem quer que tenha atacado.

Dante está com sua arma apontada.

O cara não parece familiar. Ele nem parece... são.

Seus olhos estão turvos, seu cabelo emaranhado no rosto enquanto ele ri do chão e, em seguida, abre a camisa revelando uma tonelada de C-4 de merda presa em seu peito.

“Qual a melhor maneira de morrer?” Ele ri ainda mais. “Como um mártir dos De Lange.”

Eu olho para a bomba.

Três minutos.

Três minutos para decidir quem vive e quem morre.

Três minutos para tentar interromper a contagem regressiva ou encontrar uma maneira de não explodir metade da igreja.

Três minutos.

Dois minutos e cinquenta e nove segundos.

“Dom...” A voz de Dante tem uma pontada de advertência.

“Sergio!” Eu grito.

Sergio vem correndo.

Aponto para a bomba. “Você pode desarmá-la?”

“Temos que tirar isso dele primeiro.” Ele se ajoelha ao lado do cara e estende a mão.

Eu não perco tempo.

Pego minha arma do chão e dou dois tiros na cabeça do cara antes que sua risada doentia possa encher o ar novamente.

“Eu ia fazer isso.” Sérgio parece irritado porque tirei uma morte dele.

Deixo a arma de lado, “Apenas tire a bomba.”

“Certo...” Ele cuidadosamente toca o colete e olha por baixo. “Não há gatilhos ligados ao corpo, caso contrário, você e eu estaríamos mortos.”

“Os De Lange não são inteligentes o suficiente para isso. Este é um trabalho desleixado. Ele está bêbado, chapado e claramente louco.”

Ele encolhe os ombros. “Verdade.”

Dois minutos e meio.

“Depressa!” Digo assim que o resto dos homens se aproxima na frente da igreja onde estamos ajoelhados.

“Merda!” Tex olha para o cronômetro. “Sergio, seus malditos dedos podem ir mais rápido?”

“Desculpe, estou ocupado salvando sua vida de novo”, Sergio murmura baixinho.

Ele finalmente libera o colete.

Suor se acumula no meu lábio superior enquanto o observo trabalhar nos fios azuis, vermelhos e verdes, como escolher um? Como?

“Porra.” Ele solta o colete e enxuga o rosto com as mãos. “Não sei ao certo.”

“O que diabos quer dizer com não sabe ao certo?” Eu grito. “Esta é sua especialidade!”

“Se eu estiver errado, explodiremos meio quarteirão, idiota!” Ele grita em resposta.

“Meninos, parem.” Tex diz em voz baixa. “Estamos ficando sem opções.”

“Vá para dentro”, eu sussurro com a voz fria. “Apenas... Entre e proteja-se.”

“Dom...”

“VÃO PARA DENTRO!” Grito para os caras.

Nixon dá um passo à frente.

Eu movo a cabeça para frente e para trás. “Não há tempo. Se vocês morrerem, nós criaremos uma guerra ainda maior ou pior, as esposas e crianças...” Minha garganta fecha. Minha esposa. Minha nova esposa.

A vida que pensei que teria.

“Sergio, você também.”

Todos apenas me encaram como se eu tivesse perdido a cabeça.

“VÃO TODOS!” Eu grito novamente. Então agarro Sergio pela frente da camisa. “Qual cor sua intuição sugere?”

“Azul”, ele diz sem pensar, “mas se eu estiver errado...”

Eu tiro o colete de suas mãos.

Um minuto.

Um minuto.

“Apenas diga a ela...”

“Não morra”, ele me interrompe. “Não faça isso.” Sergio engole em seco.

“Por que ninguém me escuta?” Sussurro para mim mesmo quando os homens ainda ficam lá. “VÃO!”

Lentamente, eles voltam para dentro. Nixon é o último a ir.

Ele acena uma vez, então me dá as costas.

Sei o que está neste aceno.

Promessas.

Promessas.

Promessas.

Proteção sendo a mais importante.

Ela é minha agora.

Ela é nossa.

E se eu morrer, bem...

Afasto o pensamento e corro o mais rápido que consigo.

Há um parque na esquina e pedestres nas ruas. Vítimas.

Seguir pela rua onde fica o distrito comercial não é opção.

E então, a caixa de correio...

Eu me viro e corro. Quando os policiais virem o que está em minhas mãos, será tarde demais.

Trinta segundos.

É incrível quanto tempo eles duram, quando você realmente quer que durem.

Trinta segundos podem ser uma vida inteira.

Uma eternidade.

Eu vi nosso futuro.

Nos olhos dela.

Os olhos de nossos filhos não nascidos.

Seus risos, a maneira como ela os giraria no ar.

Talvez a vida realmente se resuma a duas voltas.

Viver antes de morrer.

Viver sabendo que se você morrer, você fez bem.

Dez segundos.

Eu fecho os olhos.

Puxo o fio azul.

E jogo o colete na caixa de correio.


48

Tanit


Agarro meu vestido de casamento com os dedos suados, torcendo o tecido até que minhas mãos ficam dormentes.

Algo está errado.

Eu espero.

Por que todos os chefes estão lentamente voltando para a igreja?

Com a garganta seca e os olhos cheios de lágrimas não derramadas, observo o rosto de cada um, ou pelo menos eu tento.

Mas ninguém faz contato visual.

“Vai ficar tudo bem”, Trace sussurra.

Eu não acredito nela.

Nem ela acredita.

Nixon se aproxima de nós, coloca a mão em seu ombro e balança a cabeça negativamente.

Não, não vai ficar tudo bem?

Não, algo está errado?

“Onde está Dom?” Pergunto no tom mais calmo que consigo.

Finalmente, é Chase quem me olha, que vê através da minha alma, que sustenta meu olhar.

“Onde está DOM?” Eu grito. Sinto a histeria subir pela minha garganta enquanto minhas mãos balançam indefesas ao meu lado. Eu não tenho uma arma. Não tenho nenhum inimigo com o que brigar.

Não tenho escolha a não ser esperar que alguém me explique o que diabos está acontecendo.

Nixon abraça Trace.

E o resto dos chefes, todos menos Chase, me dão as costas.

Como se estivessem com medo de eu ver a verdade em seus rostos.

Lentamente, Chase se aproxima. Ele não pisca. Ele estende a mão e me puxa para um abraço apertado enquanto sussurra em meu ouvido. “Algumas coisas, mesmo homens poderosos como nós não podem controlar.”

“O que isso significa?” Sinto uma lágrima escorrer por minha bochecha e cair em seu casaco.

Depois de um suspiro pesado, ele diz. “Significa que estes serão os trinta segundos mais longos da sua vida, e você sairá ilesa, ou orará para que Deus leve sua alma e não tenha que sentir essa dor novamente.”

Ele precisa ser tão honesto?

Ele me segura com força.

A igreja está silenciosa.

Sem sirenes.

Nada.

Chase verifica o relógio, seus olhos disparam em direção às portas onde Sergio está inclinado com o rosto escondido nas mãos como se de alguma forma ele houvesse falhado com todos.

Sua esposa o abraça, como se ela fosse a única razão pela qual ele é capaz de se levantar, porque seus braços o sustentam. Ela fala em voz baixa e acaricia seus braços.

A confusão guerreia com a raiva.

Onde ele está?

Por que todos parecem ter acabado de perder a guerra?

Ou talvez tenham sacrificado um dos seus para que pudessem vencer.

É disso que se trata a Família?

Eu afasto esse pensamento.

E quando sinto o estremecimento do corpo de Chase, olho para cima e pergunto calmamente. “Chase, onde ele está?”

É a terceira vez que pergunto.

Desta vez, Chase pisca como se tivesse perdido a capacidade de controlar suas feições.

“Uma bomba.” Chase desvia o olhar. “O quarteirão inteiro teria explodido... você teria morrido. Ele fez o que qualquer um de nós faria pela pessoa que mais ama... ele ficou na frente das chamas furiosas do inferno e disse para levá-lo em seu lugar.”

Meu coração para de bater, tirando o fôlego do meu peito.

“Não.” Eu balanço a cabeça. “Acabamos de nos casar, é... é o dia do nosso casamento!” Chase agarra meus pulsos quando tento batê-los contra seu peito. Seus olhos se enchem de tristeza, como se ele revivesse a perda. “NÃO! DOM!”

Chase fecha os olhos e deixa cair as mãos enquanto bato meus punhos em seu peito.

Ele me deixa acertá-lo.

Ele me deixa descontar a raiva.

Mais tarde eu me pergunto, se é assim que ele se cura — vendo o próprio sangue, sentindo a própria dor.

“Dom!” Lágrimas turvam minha visão enquanto escorrego para o chão.

“Estou aqui!” Sua voz atravessa a igreja.

É um sonho.

Tem que ser.

As portas da frente abrem.

Ele sorri para mim, seu rosto está cheio de suor como se ele tivesse corrido pela última hora.

Ele dá um passo no momento em que Tex acerta um soco em sua mandíbula, jogando-o no chão. ''Mas que inferno, cara!”

Sergio vai ajudá-lo a se levantar enquanto corro até eles.

“Se você me assustar assim de novo, vou te matar antes que tenha a chance de levar toda a glória!” Tex grita e então se afasta, puxando o cabelo. “Merda!”

“É sempre divertido quando se descobre que o pior de todos tem um coração do tamanho de um grilo e odeia quando ele começa a te bater”, Chase diz baixinho.

Todos nós viramos e o olhamos.

“O que?” Chase encolhe os ombros.

“Nada.” Nixon é o primeiro a falar.

Sei por que eles estão chocados. Suas piadas são raras hoje em dia... ele é um homem mais forte, um homem mudado.

“Dom?” Ajoelho-me ao seu lado, “Você pode me ouvir?”

Ele estremece e toca a pele sensível sob seu olho direito. “Sim, também posso sentir meu olho inchando, obrigado irmão.”

“Ladrão de glória.” Tex sorri e o ajuda a se levantar. “O que você fez, por nós... Pelas mulheres... pelas crianças...”

“É o que um líder faz”, Nixon termina por ele.

“Aprendi com os melhores”, Dom diz encarando cada um dos chefes. Se uma posição para um novo chefe estivesse disponível, eu sei, sem dúvida, que imediatamente o aceitariam.

“Por favor, nunca mais faça isso.” Abraço-o forte e escondo a cabeça contra seu peito. “Por favor.”

“Não posso prometer que nem sempre colocarei minha família em primeiro lugar, Tanit. Fiz essa promessa quando disse sim, e levo meus votos a sério.” Ele beija o topo da minha testa. “Agora, devemos comer bolo ou algo assim?”

Todos soltam uma risada nervosa e caminham em direção à porta.

Dom para na frente de Sergio e dá de ombros. “Era o fio azul.”

Sergio pragueja e passa as mãos na cabeça. “Foi um palpite.”

“Sim, eu sei”, Dom diz suavemente.

“Você acaba de dar a cada cara aqui pelo menos mais dez fios de cabelo grisalho, e Nixon disse que encontrou um ontem, embora tenha trinta e poucos anos.” Tex dá uma risadinha.

“Pelo menos Sergio sempre será o mais velho”, Dom responde. “Ei, você não faz quarenta no próximo ano?”

“Sobre o que é isso? Sobre você não morrer? Por que de repente parece uma ótima ideia cortar o fio amarelo?”

Eu reviro os olhos.

Eles brincam sobre a morte, talvez porque a conheçam bem, ela está sempre atrás deles, atrás de todos nós, e a diferença? Eles não têm medo de mandá-la para o Inferno, e a maioria das pessoas passa a vida fugindo dela, quando pessoas como Dom, correm até ela.

Atreva-se. Eles dizem.

Atreva-se.

Talvez nossa escuridão diminua... se apenas nos virarmos e a perseguimos, em vez de deixá-la vencer.

Dom aperta minha mão. “Eu te amo.”

“Eu também te amo.” Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto sua boca toca a minha.

E então saio da igreja.

Com meu novo marido.

Minha nova família.

Eu estou em casa.

Mais em casa do que já me senti.

E prometo a mim mesma que da próxima vez que a morte pairar sobre minha cabeça... simplesmente vou ignorar e continuar andando.


49

Dom

Minhas mãos continuam tremendo por todo o caminho até em casa. Meu único objetivo é parecer calmo para que Tanit pare de chorar. E estou miseravelmente falhando. Ainda assim, ela não me solta.

Quando finalmente chegamos, estou emocionalmente exausto o suficiente para esquecer de tirar o cinto de segurança.

Tanit o solta para mim.

Lambo os lábios, em seguida, inclino-me e dou um beijo em sua boca. Isso faz o tremor parar. Ela me abraça, apertando tão forte que me permite descansar a cabeça em seus ombros enquanto a mantenho perto.

Estou em choque.

O que é incomum para alguém como eu.

Mas quando você é apresentado a algo tão raro como o amor, e percebe que é algo que pode perder mais rápido do que quando o encontrou, o choque é justificado.

“Tanit?” Diz a voz de Nixon.

Eu me afasto dela e encaro seus intensos olhos azuis.

“Dê-nos um minuto.”

Tanit me solta, acena com a cabeça e lentamente entra em casa, olhando casualmente por cima do ombro com um sorriso confiante antes de abrir a porta e fechá-la atrás de si.

Ficamos apenas eu e Nixon.

“Pai”, eu brinco.

Ele não ri.

Ele se move tão rápido que não tenho tempo de me preparar. Acho que estou mais preparado para ele sacar uma arma ou talvez gritar comigo, já que ele é muito bom em me criticar.

Mas ele não faz nenhuma dessas coisas.

Ele me abraça.

Seu abraço é tão forte que torna difícil respirar. Lentamente, eu levanto os braços e o abraço de volta.

“Nunca mais”, ele diz com a voz rouca. “Eu preciso que me prometa que vai me deixar protegê-la. Não posso fazer isso se você não estiver decidido a se proteger.”

Suspiro e me afasto. “Você faria a mesma coisa.”

“Essa não é a questão.” Ele corre a mão pelo cabelo e suspira. “Precisamos de você, eu preciso de você... você é parte desta família, goste ou não, e eu não posso...” Sua voz falha. “Deus, eu odeio ser pai.”

“Claramente, você é péssimo nisso.”

Ele sorri. “Ontem Serena me chamou de monstro porque não a deixei usar um short na escola. Eu precisaria de um microscópio para enxergar o tecido. Ela chorou, disse que sou injusto e que me odeia.” Ele engole em seco. “Prefiro que ela me odeie e eu a proteja, do que ela me amar e eu a perder.”

“Ela não te odeia.”

“Oh, odeia, ela disse hoje de novo.” Ele sorri. “Não se preocupe, ela vai superar, até começar a namorar, e então vou me questionar como pai enquanto a ensino a usar uma arma.”

Eu sufoco com uma risada. “Você é um bom pai.”

“Não. Às vezes acho que sou o pior, que não sei o que diabos fazer... como hoje.” Ele desvia o olhar. “Dom, não importa como você veio até nós, como veio para a Família. O que importa é que você é uma parte dela e que te amamos como a um dos nossos filhos, certo?”

Ele nunca disse palavras assim para mim.

Pelo menos não com a seriedade que tem no rosto agora. Ele raramente mostra aos outros esse lado emocional. Sinto-me honrado por ser alguém com quem ele se sente seguro para baixar a guarda.

“Eu também amo vocês.” Minha voz falha.

Nixon passa um braço ao meu redor e começa a nos guiar para casa. “Você entende que ainda é um pé no saco, certo? Pare de me causar cabelos grisalhos.”

“Você tem talvez três deles”, eu aponto.

“Hah.” Ele balança a cabeça. “Estou orgulhoso de você, filho.”

“Obrigado.” Sorrio assim que a porta se abre na nossa frente. Frank segura uma garrafa de vinho em uma das mãos e uma garrafa de uísque na outra.

“Sim, vamos precisar de mais disso.” Nixon sorri ao entrar.

“Oh, não se preocupe, eu fui a adega.” Frank pisca.

O velho não está brincando. A mesa está cheia de álcool e comida italiana suficiente para fazer meu estômago roncar.

Mas quando meus olhos encontram Tanit, eu esqueço de tudo.

Com alguns passos, eu a puxo para meus braços.

Então beijo suas bochechas ainda manchadas de lágrimas.

Gosto dos momentos que tenho com ela, por mais curtos que sejam, e juro que nunca mais considerarei o tempo como algo garantido.

Eu encaro o futuro, dia após dia, com a certeza de que, enquanto tiver Tanit ao meu lado, a vida será plena.


50

Tanit


Sangue foi derramado nesta cozinha.

E vinho é servido.

E muitos lanches.

E mais vinho, porque aparentemente esse é o novo oxigênio, ou isso ou os mafiosos acreditam que, como é vermelho, substitui o sangue que derramaram ou perderam.

Pisco para Dom, que me olha com tanta intensidade que parece tirar a Terra do eixo.

Todos querem comemorar.

Eu sou a noiva.

Eu deveria querer comemorar.

Mas comemorar significa que as pessoas estão ao nosso redor. E eu o quero. Quero que ele me toque. Quero sua boca em mim.

“Desculpe.” Eu me levanto, meus olhos não deixam os de Dom “Acho que vou me trocar e vestir algo mais confortável.”

Dom se levanta devagar, soltando a taça de vinho e dizendo com voz rouca: “Vou ajudá-la.”

“Sim, você vai”, Tex diz baixinho, ganhando um tapa de Mo.

O resto da turma está tão ocupada servindo mais vinho e discutindo sobre a comida que não percebem quando Dom domina completamente como seu próprio nome, domina a sala... domina o ar enquanto contorna a mesa. E, finalmente, domina cada célula do meu cérebro me fazendo sorrir estupidamente como se eu precisasse de ajuda para soletrar meu próprio nome.

“Vamos lá”, ele toca levemente meu cotovelo.

Ele poderia muito bem ter me incendiado.

Como um toque pode causar tantas sensações?

Como é possível para um homem exercer tanto poder com o toque... e ser tão obviamente inconsciente do que provoca? Minhas coxas já estão tremendo e meu pulso bate forte.

Caminhamos em silêncio até seu quarto.

Minhas mãos tremem um pouco quando ele fecha a porta atrás de nós e se encosta nela, como se não se importasse com o mundo. Espero que ele diga algo.

Ele não o faz.

Com um movimento de seus dedos ele ordena que eu me vire.

Isso só faz meu pulso bater como um tambor.

Mais forte.

Mais rápido.

Ele corre os dedos quentes pelos meus ombros nus e puxa o vestido para baixo.

Minha respiração para quando ele abre o zíper da parte inferior das costas, as pontas dos dedos pressionando contra minha pele enquanto o tecido desliza para fora do meu corpo.

Ele agarra minha bunda num aperto doloroso, em seguida, solta o gemido mais sexy que já ouvi em toda a vida, o tipo de som cheio de tentação e desejo. O tipo de som que toda mulher quer ouvir de um homem quando ele vê sua pele nua.

Lambo os lábios em antecipação.

Apenas para ficar desapontada quando ele tira minha calcinha fio dental.

Eu saio das roupas com a ansiedade altíssima.

E ele ainda não disse nada.

Meu pulso irregular não ajuda.

Ou o fato de eu estar nua, exceto pelo salto alto.

Ele agarra minha bunda novamente, então, espalha as palmas das mãos em meus quadris, deslizando-as por minhas coxas numa lenta descida que faz com que meus joelhos fiquem a ponto de ceder. Tenho problemas para ficar em pé, e é difícil não desabar contra ele.

“Tudo bem...” Dom finalmente diz em voz baixa. “Você quer um moletom ou jeans?”

Eu olho para frente, meus olhos estreitos com confusão. “Hum, eu acho, que moletom? Leggings?”

“Excelente.” Ele parece emocionado em me vestir! Que diabos? “E está pensando num top? Talvez uma camiseta?”

“Sim?”

“Você parece incerta.”

“Sim.” Engulo em seco, franzindo a testa para a parede na minha frente.

“Mmm e os saltos, vamos manter os saltos?”

“Não.”

“Errado.”

“O que?”

“Sinto muito, Tanit, realmente sinto, mas isso foi um teste. Você falhou, e quando se falha em testes... há certas consequências.”

Ele está bêbado?

Tento me virar.

Ele segura meus braços tornando impossível me mover. “Ah, outro erro...”

“Espere... o que? Quanto vinho você bebeu? “

“Meia taça, estava muito ocupado me embebedando de você.” Sua respiração é um sussurro contra meu pescoço. “Agora, vou precisar que ouça com atenção.”

Eu respiro fundo. “Estou ouvindo.”

“Os salto...” Ele passa um braço ao redor da minha cintura puxando-me contra seu comprimento duro. “Eles. Ficam.”

“Entendido”, eu me inclino contra ele. “Os saltos ficam.”

“E Tanit?”

“Sim.” Fecho os olhos com força, saboreando a sensação de seu corpo duro como pedra contra o meu.

“Você não vai se vestir... ainda.”


51

Dom


Ela estremece quando corro as mãos por seus lados. Eu afundo os dedos em sua pele, fecho os olhos... e respiro fundo.

“Ninguém jamais fará você se sentir como eu faço”, digo por entre os dentes cerrados.

“Ninguém”, ela sussurra, esfregando a bunda contra mim.

Movo seu cabelo para o outro lado do pescoço e beijo sua pele nua. Um beijo, dois beijos, todos lentos, tudo para deixá-la louca, tudo para aproveitar o momento com que somos presenteados.

Sorrio contra a pele macia quando ela solta um gemido e estende a mão para trás, tentando envolver os braços em meu pescoço, tentando manter minha boca na pele sensível logo abaixo de sua orelha. Sinto seus arrepios em meus lábios enquanto mordo sua pele e a beijo.

Seus lábios se separam enquanto sua cabeça cai contra meu peito.

Com um sorriso, eu recuo, fazendo com que seus braços caiam ao lado do corpo. Anseio por ela de forma enlouquecedora, e não ajuda que ela esteja nua e de salto, esperando que eu ataque. Há algo excepcionalmente excitante numa mulher com nada além de saltos altos, é como o farfalhar das roupas sendo removidas, o som de sucção entre seus lábios, as exalações ásperas e os tremores de corpo inteiro que fazem um homem cair de joelhos em adoração.

Eu abro suas pernas com minhas mãos. Seus saltos soam contra o piso de madeira.

Esse som é o suficiente para me afetar.

Decido que gosto disso.

Muito.

“Mudei de ideia.” Afasto-me dela e me encosto à parede, cruzando os braços. “Caminhe.”

“O que?” Ela começa a se virar.

“Pare.” Digo a palavra com mais força do que pretendia. “Quero que caminhe em direção à cama... Bem devagar.”

Ela assente e dá um passo.

Clique.

Eu cerro os punhos.

Clique.

O som da abertura do zíper das minhas calças acompanha o próximo clique.

Ela para e olha por cima do ombro. “Decidiu se juntar à nudez?”

“Eu sempre me juntarei.” Sorrio para sua bunda nua enquanto minhas calças caem ao redor dos quadris. “Você parou.”

Ela dá mais um passo.

Prendo a respiração quando ela para na frente da cama e, em vez de esperar que eu diga alguma coisa, ela muito lentamente se curva sobre o colchão e arqueia as costas, então olha por cima do ombro e pisca. “Então, posso me vestir agora?”

“Isso não é jogar limpo.”

“Estou nua e andando de salto enquanto você assiste, realmente quer falar sobre jogar limpo?”

Eu amo sua confiança, o jeito que ela tem uma conversa perfeitamente normal, bem, quase normal, enquanto sua bunda está no ar, implorando para que eu a agarre. Dou um passo em sua direção.

“Não.” Ela se vira, sentando na cama e abrindo as pernas. Meus olhos a absorvem, cada centímetro perfeito. “Sua vez. O que está esperando Dom? Caminhe.”

Eu apoio as mãos nos quadris. “Então, é assim?”

“A máfia nunca joga limpo, Dom...” Ela pisca e então se apoia nos cotovelos. “Caminhe.”

A cada passo que dou, removo uma peça de roupa, até parar a centímetros dela. “Bem-vinda à máfia.” Ajoelho-me e coloco seus tornozelos em meus ombros e os seguro lá com minhas mãos. “Será uma longa noite.”

“E nossos convidados?” Ela diz com uma sobrancelha arqueada.

“Eles podem ir para o inferno.” Eu sorrio. “Estarei muito ocupado mostrando-lhe o Céu.”


52

Tanit


Seus dedos espalham calor por minhas coxas quando ele as segura e me puxa para mais perto. Sua respiração é quente no meu pescoço enquanto ele chupa minha pele entre seus lábios. Meu coração acelera quando ele demora em cada beijo. Lágrimas queimam minha visão enquanto minha mente entra num território perigoso, onde não temos tempo, onde o tempo quase nos é tirado.

Quero saborear cada segundo com ele.

Eu seguro seu rosto, fazendo-o recuar, seus olhos procurando os meus. “O que está errado?”

“Nada.” Sorrio para sua expressão confusa e ainda assim sexy. Seu olhar com as pálpebras pesadas está focado em minha boca como se ele estivesse apaixonado pela maneira como digo cada palavra. “Eu só... estou feliz por termos pulado o jantar.”

Algo quebra na cozinha.

Dom suspira. “Acho que você prefere gritar meu nome em vez de vê-los gritar uns com os outros.”

Eu sorrio. “Você tem sorte de ser irresistível.”

“Isso é verdade.” Sua cabeça desce enquanto ele roça um beijo em meus lábios. “Sempre será.”

“Vou concordar apenas porque te quero agora”, sussurro contra sua boca. “Não me leve devagar, Dom. Não me faça esperar.”

“Você tem certeza?” Ele diz asperamente.

Acaricio suas costas e as mãos que estão lentamente apertando minhas coxas ficam cada vez mais forte, como se ele estivesse se contendo, tentando ser bom.

Estou cansada do bom.

Cansada de esperar.

Cansada de tudo ser no tempo de outras pessoas.

Cansada das regras e tudo o que vem com a máfia.

Nossas testas se tocam.

“Tenho certeza”, sussurro enquanto tento envolver meus braços em seu pescoço.

Num movimento suave ele pressiona meu corpo contra o colchão, prendendo meus braços com as duas mãos, arqueando-se sobre mim, o homem mais bonito que já vi, com todos os músculos tensos, cada parte de seu corpo pronta para atacar.

“Ok”, ele se inclina e sussurra em meu ouvido, seus lábios acariciando minha pele sensível. “Se você tem certeza...”

Engasgo quando ele entra em mim com um único movimento, fazendo meu coração disparar. Meu pulso acelera pelo prazer enquanto ele me fode rápido e violentamente, como se não houvesse tempo.

Como se isso fosse tudo que temos.

Este momento.

Ele solta uma das minhas mãos. Eu o agarro pelo pescoço e puxo para frente, nossas bocas se chocando enquanto onda após onda de prazer aumenta entre nós.

À medida que a gritaria da cozinha se torna a trilha sonora de nossa vida amorosa.

Sem palavras.

Palavras apenas tornam tudo confuso.

Palavras são usadas quando não se sabe demonstrar.

Nós somos melhores com ações.

Nunca precisamos de palavras.

Não tenho uso para algo que não é capaz de transmitir exatamente como me sinto quando ele está dentro de mim, quando estou ao redor dele, quando ele me ama tão cruelmente, tão perfeitamente.

“Prometa que vai ficar comigo para sempre.” Uma explosão de êxtase me atinge, talvez até mesmo me quebra quando percebo que não sobreviverei a essa vida sem ele ao meu lado. “Prometa, Dom. Por favor.”

Minta. Apenas minta.

Dom estremece, diminuindo seus movimentos enquanto me puxa para uma posição sentada e, em seguida, me coloca em seu colo. Ele facilmente nos leva em direção à cabeceira da cama e, em seguida, me pressiona contra ela, segurando-a com as duas mãos enquanto aprofunda cada impulso. Não tenho para onde ir, exceto de encontro a ele.

Nenhum lugar para olhar a não ser para ele.

Dom cerra os dentes, em seguida, agarra meu queixo com uma mão enquanto segura a cabeceira com a outra como uma forma de ancorar nossos corpos, como uma forma de ir cada vez mais fundo, de fazer meu corpo, minha alma, se partirem numa praia de ondas sem fim de prazer enquanto elas me atingem uma por uma.

“Eu prometo”, ele murmura. “Ficarei com você para sempre.”

Balanço a cabeça enquanto lágrimas brotam em meus olhos.

As ondas nos deixam.

A praia some.

Somos apenas nós dois sozinhos neste quarto.

Duas almas quebradas olhando uma para a outra, desejando poder controlar o mundo ao seu redor.

Sabendo que um dia... um dia não será assim.

“Eu te amo.” Um nó se forma na minha garganta quando ele fecha os olhos e suspira, em seguida, me abraça como se pudesse me proteger fisicamente de todo o mal ao nosso redor. “Eu te amo muito.”

“Eu também te amo.” Ele beija minha testa.

Tento controlar minha respiração ofegante. Apoio-me nele quando a chuva começa a atingir as janelas do lado de fora. Somos um pequeno pedaço deste mundo.

Mas juro me tornar perigosa.

A ponto de não deixar o mal tirar o que é meu.

“Ensine-me”, eu me pego dizendo.

“Ensinar o quê?”

Nós nos afastamos. Eu me endireito e digo com voz clara. “Tudo.”


53

Dom


Estremeço quando Chase a ataca novamente. Ele não se contém.

Ela disse a ele para não fazer isso.

Fico tão enjoado que tenho que desviar o olhar quando Phoenix salta para o ringue com Chase... ambos a encurralando.

Phoenix tem uma arma na mão direita, Chase carrega uma faca.

Tanit olha para a frente.

“Foco!” Chase ordena. “Use o medo para se concentrar.”

Tanit dá um aceno brusco e depois levanta as mãos.

“Bom.” Phoenix se aproxima. “Você não pode correr, agora... você precisa lutar. De quem vai se defender primeiro?”

“Da arma.” Ela engole em seco. “Mas só terei alguns segundos antes de precisar me desviar da faca.”

“Aprendeu rápido.” Chase pisca.

Esfrego meu rosto com as mãos e observo enquanto Tex entra com um pote de pipoca. Ele começa a mastigar como se assistisse a um programa na TV.

“Sério?” Eu grito.

“Oh, desculpe.” Ele me oferece o pote. “Você quer?”

“Não, eu não quero!” Quase o arranco de suas mãos. “Eles vão machucá-la!”

“Bom.” Ele encolhe os ombros. “Então ela irá para a cama, lembrará de como dói pra caralho, vai acordar e melhorar.”

“Maldita máfia”, eu resmungo.

“Ela pediu por isso.” Dante entra atrás dele. “Deixe-a aprender, você não aprendeu sem cair de bunda pelo menos uma ou duas vezes.”

“Ou...” Sergio entra atrás dele. “Ser empalado.”

“Não posso acreditar que estou dizendo isso, mas acho que prefiro Nixon a todos vocês.” Pelo menos Nixon se recusou a treiná-la porque não queria lhe machucar. Não, isso é com Chase. O bastardo se ofereceu com um sorriso no rosto e a acordou às quatro da manhã segurando uma faca sob meu queixo e uma arma na minha testa.

Eu tinha minha arma apontada para sua cabeça também, então nós dois provavelmente teríamos morrido, mas tanto faz.

Tanit acaba de sair da cama, se vestir e seguir esse louco até a sala de treinamento.

Juro que ele gosta de ferir as pessoas.

“Tudo bem, vamos lá.” Chase sorri. “Dê o seu melhor e tentarei causar um ferimento superficial.”

Ansiedade toma conta de mim quando Phoenix ataca. Ela chuta a arma de suas mãos. Ela cai no chão no momento em que Chase avança com a faca, acertando-a no lado esquerdo antes que ela possa sair do caminho, desviando e correndo para o outro lado do ringue.

Sangue mancha a camisa branca que ela usa.

Movo-me em direção ao ringue.

Mas não é nenhum dos caras que me impede.

É o rosto de Tanit.

Ela balança a cabeça para mim, então olha para Chase com morte em seus olhos e diz. “De novo.”

Tex ri baixinho. “Boa escolha, irmão, boa escolha.”


54

Tanit


A dor dói.

Não parece possível.

Mas está acontecendo.

Cada hematoma, cada pedaço de pele, cada parte do meu corpo parece inchada e quebrada, e ainda assim continuo encarando Chase por entre os olhos inchados e dizendo: “De novo.”

Depois que começo, não consigo parar.

Talvez seja a dor.

Talvez seja a maneira como ele me olha como se estivesse orgulhoso.

“Pare.” A voz de Dom enche o ringue. Olho ao redor, procurando-o, mas meus olhos estão quase completamente fechados pelo inchaço, os sons parecem vir de longe e minha visão está turva quando ele entra no ringue e encara Chase. “Isso é o suficiente por hoje.”

“Não terminei ainda.” Chase não está ofegante ou perturbado. Ele acena para mim e pisca, então volta sua atenção para Dom. “Temos mais meia hora de treinamento, então isso significa que vai trocar de lugar com ela?”

Dom pragueja baixinho e então ri. “Acha que pode lidar comigo, meu velho?”

Os olhos de Chase se estreitam. “Tenho trinta e quatro anos, dificilmente sou um velho. Estou surpreso que você tenha pelos no peito.”

Dom gentilmente coloca as mãos em meus ombros. Isso dói. Eu solto um suspiro. Ele me beija na testa. “Vá beber um pouco de água. Phoenix tem bolsas de gelo.”

Quase pergunto o motivo.

Então desço do ringue e tropeço em meus pés quando Sergio me pega em seus braços e suavemente me coloca num banco macio. Mãos e braços se movem ao meu redor e bolsas de gelo são postas em mim. O frio é calmante contra a ardência da dor.

“Acho que é a primeira vez.” Sergio diz com diversão enquanto Dante para na minha frente e lentamente balança a cabeça.

“Primeira vez?” Eu sussurro roucamente.

“Primeira vez...” Dante repete. “que Chase está no ringue por tanto tempo com outra pessoa além de mim e não causou danos renais graves.”

“Oh.” Eu estremeço. “Não tenho certeza disso...”

“Os rins dela estão bem.” Sergio diz como se pudesse ver através da minha pele e avaliar a situação. Porém, meu estômago e rosto doem mais do que qualquer coisa, sem mencionar minhas coxas. Chase me fez chutar muitas vezes.

“Huh.” Digo em voz alta enquanto Dante coloca um pacote em minhas mãos.

“O lado direito está pior que o esquerdo, mantenha dez minutos em cada olho.”

Pressiono o pacote na bochecha direita e o puxo para baixo quando Dom dá um gancho de direita em Chase, mandando-o para o chão.

Tex assobia enquanto Nixon grita. “Ele te acertou!”

“Cala a boca!” Chase resmunga.

Eu os observo moverem-se ao redor um do outro pelo que parecem horas. Cada um dá golpe após golpe, rindo após cada soco, xingando quando não conseguem acertar e se alegrando quando o fazem.

“Eles abraçam a dor da mesma forma que abraçam o prazer”, Phoenix diz enquanto senta ao meu lado e me entrega uma garrafa de água gelada. “Como se deve.”

“Verdade?” Bebo lentamente com medo de que o movimento cause dor no meu peito e pescoço. “E por que?”

“Porque elas andam de mãos dadas neste negócio, nesta vida. É por isso que você disse para Chase continuar, porque sabe que a dor será grande, o sofrimento provavelmente será pior, mas o prazer? O prazer de estar com alguém que ama e rir na cara da morte? Sempre será maior. A cada maldita vez.”

Olho-o boquiaberta no momento em que Sergio grita: “Que merda...”

Viro o olhar para o ringue e vejo Dom em cima de Chase esmurrando seu rosto, enquanto Chase ri com sangue escorrendo pela boca.

“Ela ficará chateada se ele tiver que ir ao dentista de novo!” Dante grita.

Dom se afasta, rindo como um lunático. E Chase realmente parece satisfeito quando cospe um dente e dá de ombros.

Os dois se levantam quando Frank entra com uma garrafa de vinho nas mãos. “Ouvi dizer que foi um dia de treinamento... trouxe reforços.”

“Uma garrafa?” Tex zomba.

“Oh, essa é minha.” Frank encolhe os ombros. “O resto está na cozinha com os cannoli.”

Todos correm para lá, me deixando sozinha no banco. Dom caminha em minha direção, sem camisa e com sangue manchando suas bochechas. Seu lábio está cortado e ele parece mais do que feliz com isso.

“Sangue fica sexy pra caralho em você”, ele murmura, ajoelhando na minha frente. “Eu diria para você parar, mas...”

“Um dia quero arrancar um dente dele”, digo decididamente.

“Certo... sobre isso.” Dom pisca. “Treine com Chase, e um dia você o vencerá.”

“Sua confiança em mim provavelmente é mortal”, eu brinco.

“Minha confiança em você é a vida”, ele responde, beijando minha boca machucada com a sua. Prazer e dor. De mãos dadas.


55

Dom


Ela geme em seu sono. Não posso culpá-la.

Curativos cobrem os hematomas em seus braços. Há uma mancha roxa em sua bochecha direita. Acaricio suas costas com as mãos. Sei que vai doer pra caralho pela manhã... não que isso vá impedi-la. Ela é corajosa. E eu amo isso. Eu a amo.

Estremeço quando viro de lado e a puxo para meu peito. Seu leve movimento me diz que ela está acordada quando me encara e toca meu rosto. “Eu estou feia?”

“Nunca”, sussurro reverentemente, observando seu lábio inferior cortado e os olhos roxos. Droga, Chase. Odeio que ela lute com ele, mas sei que essas contusões irão protegê-la. Elas serão a razão pela qual ela saberá como lutar, como matar, como se proteger. A única maneira de tornar alguém um assassino é mostrar a ele qual a sensação de quase ser morto. Isso desperta a escuridão interior, a morte, a exigência de viver independentemente do que custar. Todos passamos por isso. Poucos entendem. Mas é necessário nesta vida.

E por isso, não posso culpá-lo, ou a ela.

“Dói?” Pergunto, puxando-a para mais perto.

Ela encolhe os ombros. “Um pouco, mas preciso aprender. Eu não quero ser...” ela desvia o olhar. “não quero ser indefesa, uma vítima. Eu quero lutar.”

“Lute apenas...” Nossas testas se tocam. “... quando for absolutamente necessário.”

“Eu sei.”

Solto um suspiro de alívio, em seguida, dou um beijo em sua bochecha direita, logo abaixo da pele machucada.

“Dom?” Ela envolve o braço esquerdo em minhas costas e aperta com força. “Será sempre assim?”

“Assim como?”

“Como se eu estivesse apenas esperando o pior acontecer?”

“Sim.” Eu tenho que ser honesto. Encobrir a situação não tornará as coisas mais fáceis. O choque será maior quando ela descobrir que sempre haverá pessoas nos querendo mortos, sempre haverá monstros esperando no escuro, mas para sorte dela, meu monstro é maior, junto com minha raiva. “Sempre será.”

“Bom”, ela diz, surpreendendo-me.

“Bom?” Eu repito. “Por que diabos isso é uma coisa boa?”

“Acho que antes... eu não estava realmente vivendo, não me sentia tão viva quanto agora em seus braços, como se qualquer minuto pudesse ser o último. Isso me obriga a valorizar o tempo que me é dado. O resto da humanidade é tão tolo com seu tempo, não acha? Eu me pergunto sobre isso. O que fiz antes de lutar para sobreviver? Ler revistas? Assistir TV? Não quero voltar para uma vida sem paixão, sem propósito. Mesmo que isso signifique que não terei tanto tempo quanto alguém que não faz parte deste mundo.”

Balanço a cabeça com descrença. “Eu não te mereço.” Não consigo colocar em palavras o quanto isso significa, como a culpa simplesmente some do meu peito, em vez de me sufocar em sua névoa asfixiante. “Você realmente quer dizer isso?”

“O que acha?” Ela sorri, então se afasta e tenta tirar a camisa. Tenta é a palavra-chave.

Eu solto uma risada. “Precisa de ajuda?”

“Não! Eu cuido disso.” Ela se mexe mais um pouco. Apoio as mãos atrás da cabeça e assisto ao show. Seu cotovelo fica preso e ela provavelmente está dolorida demais para pentear o cabelo, muito menos para puxar algo sobre a cabeça. Ela consegue colocá-la no pescoço e então me dá o olhar mais lamentável que já vi.

Eu inclino minha orelha.

Ela faz uma careta.

Eu limpo a garganta.

“Por favor.” Ela suspira. “Por favor, me ajude a tirar a camisa para que eu possa te seduzir.”

“Ohhhhh então é isso.” Eu aponto em sua direção. “Uma sedução? Obrigado por esclarecer. Eu estava confuso.”

Ela agarra um travesseiro e tenta jogá-lo em mim. Ele se move cerca de um centímetro. A pobre garota provavelmente deveria estar numa banheira de gelo.

Fico de joelhos e puxo a camisa por sua cabeça, em seguida, seguro seu rosto com as mãos. “Eu vou te amar para sempre, mesmo quando você não puder tirar a camisa, mesmo quando parecer um guaxinim, gritar comigo, me odiar, me repreender... eu sempre vou te amar. Até o dia de minha morte.”

Lágrimas enchem seus olhos. “Isso significa que você me ama o suficiente para me ajudar a tirar meu short? Porque não acho que consigo fazer isso.”

“Ohhh, então, depois desse belo discurso, vamos voltar a coisa da sedução?”

“É por causa do discurso que quero passar por fortes dores e tirar o short... quero agradar você. Eu quero te amar. Quero ser sua uma e outra vez.” Ela envolve os braços em meu pescoço. “Vou te amar para sempre, mesmo quando tiver que me ajudar a tirar minha camisa, mesmo quando você rir dos meus olhos de guaxinim, gritar comigo, me odiar, me repreender... eu sempre vou te amar. Até o dia de minha morte.”

Ela dá um beijo carinhoso na minha boca.

E me apaixono mais um milhão de vezes.

Eu caio completamente.

E percebo durante a queda.

Nunca haverá nada para me pegar, nada para me quebrar... porque o amor nunca termina, nesta vida e na próxima.

É uma queda constante.

Com quem você ama ao seu lado.

Encarando a aventura juntos.

Agarro sua cintura e a puxo para perto. “Por que você simplesmente não deita e me deixa te fazer sentir melhor..?”

“Eu esperava que dissesse isso.” Ela ri e, em seguida, deita lentamente enquanto aproveito para amá-la, para cuidar dela, enquanto prolongo os minutos que tenho e egoistamente desejo mais.

Quando provo seu prazer.

Quando ela agarra os lençóis entre as pontas dos dedos e grita meu nome.

Eu sei... nunca encontrarei outro amor como esse.

E sou um bastardo sortudo por tê-la achado em primeiro lugar.


56

Chase


“Agora.” Eu esfrego as mãos. “Você pega um graveto e coloca em cima do outro, e então...”

“Papai, olhe isso!” Izzy agarra os gravetos que acabo de mostrar a Violet para colocar em nossa fogueira e começa a cutucar seu gêmeo Marco. “Toma!”

Esfrego a mão pelo rosto e solto um suspiro de frustração. Violet compartilha um olhar exasperado comigo. Ela me implorou durante todo o fim de semana para acampar. Foi ideia de Dom fazer isso no quintal.

Não considerei gêmeos de quatro anos.

Meu erro.

Dom se aproxima com um saco de marshmallows. “Desculpe, eu me distraí.”

Observo seu cabelo despenteado e a camisa aberta.

“Papai, o tio Dom brigou?” Violet pergunta com um brilho nos olhos.

Deus ajude a todos nós.

“Sim e parece que ele ganhou”, murmuro enquanto Tanit sai para o quintal, enfiando a camisa de volta no jeans. Uh-huh, certo. “Onde estão os outros?”

“Lá dentro, degustando a caçarola de Luc.” Dom sorri.

“Inferno!” Eu resmungo.

“Papai disse inferno.” Izzy diz enquanto Marco começa a gritar inferno, inferno, inferno, inferno.

Engulo mais palavrões e encaro Dom. “Se você explicar a parte de usar o graveto para fazer fogo, eu lhe dou um dos meus carros.”

“Apostando seu equipamento, Chase?” Dom sorri afetadamente.

Mostro-lhe o dedo do meio por trás das minhas costas.

Ele olha ao redor e engasga com uma risada antes de eu deixar cair as mãos e encarar Violet. “Vou dar uma olhada na sua mãe, obedeça ao tio Dom, certo?”

“Sim, senhor.” Ela envolve os braços magrelos em minha cintura. Sinto meu corpo inteiro relaxar em seu abraço. Ela sempre tem esse efeito em mim. Volto para casa com sangue em minhas mãos e demônios na alma e basta um olhar para Violet e tudo apenas... some.

Ela herdou a luz de Luc.

Todos os nossos filhos o fizeram.

Muitas vezes me pergunto o que acrescento a essa família, além da proteção que lhes dou. Porém, se isso é tudo para que sirvo, estou bem com isso. Deus, que se foda eu cumprirei pena no inferno para proteger aqueles que amo... de bom grado.

“Não demore, papai, Marco continua roubando os gravetos e precisa de uma lição.” Ser pai de uma criança de nove anos depois de espancar um De Lange. Nunca perde a graça.

“Eu prometo.” Pisco e rapidamente corro para dentro da casa onde Nixon, Sergio, Dante, Phoenix, Frank, Tex e Andrei estão reunidos ao redor da minha esposa como um bando de crianças malditas.

“Sério?” Eu apoio as mãos nos quadris.

Juro que todos saltam como se tivessem sido pegos fazendo algo errado.

“Ela cozinhou”, Tex diz desajeitadamente.

“É bom.” Dante diz com as mãos para cima.

As mulheres estão no canto da sala bebendo vinho e rindo como adolescentes enquanto encaro meus irmãos. “Vocês provaram a caçarola da minha esposa antes de mim?”

“Mmmmm”, Nixon lambe os lábios. “Está deliciosa.”

“Filho da puta!” Eu puxo minha arma, ele puxa a dele.

Dinheiro é trocado de mãos.

E vinho é servido.

“Não seja um cuzão.” Nixon ri. “Puxe o gatilho. Sei que já faz algumas horas... você está tremendo como um viciado.”

Eu reviro os olhos. E movo a arma para o lado.

“Um tiro mortal.” Tex esfrega as mãos com mais força. “Estou esperando.”

“Combinado.” Dante pega o dinheiro e Andrei acrescenta outra nota de cem dólares a ele.

“Por que eles chamam de tiro mortal?” Trace diz num tom entediado. “Isso faz com que a bala vá mais rápido?”

“Agora não, Trace! Estou tentando me concentrar!” Não tenho que olhar para saber que ela não está sequer perturbada por eu ter uma arma apontada para seu marido. Na verdade, imagino que ela está lendo um artigo intrigante da US Weekly e bocejando por trás da mão enquanto, ao lado dela, Mo pinta as unhas.

Malditas esposas da máfia!

O sorriso de Nixon aumenta.

Serena entra, olhando a cozinha e revirando os olhos. “Isso de novo não, papai... é tão chato...”

“Papai está ocupado.” Nixon nem pisca.

Junior a segue, dá uma olhada para nós e levanta as mãos. “Tanto para o controle de armas.”

Phoenix o agarra pela gola da camisa, fazendo-o se agarrar às suas mãos e depois solta-o contra seu pai. “Ei, eu não respondi dessa vez!”

“Não, você está apenas sendo um idiota.” Phoenix diz num tom calmo. “Diga ao tio Chase que sente muito.”

Junior suspira e olha para mim. “Tio Chase, sinto muito por ser um idiota.”

“Não diga idiota”, Bee grita do outro lado da sala.

Felizmente, o resto das crianças está na sala de jogos ou cochilando. Porém, uma das minhas provavelmente estará aqui a qualquer momento, já que precisam de uma fogueira para assar marshmallows.

“Papai!” Violet grita e a porta bate.

“Desgraçado.” Eu xingo baixinho e abaixo a arma, então me viro e ajoelho para estar na sua altura. “Sim, querida?”

“Eu só queria dizer que te amo.” Ela encolhe os ombros como se não fosse grande coisa. Então me beija na bochecha e volta para fora.

Quando viro, Luc está sorrindo como se tivesse acabado de ganhar na loteria, e posso jurar que todas as mulheres na sala tem lágrimas nos olhos enquanto os caras suavizam a expressão como se entendessem.

E eles entendem.

Eles conhecem minha dor.

Eles sabem que mantenho meu monstro bem alimentado.

Eles conhecem essa merda.

Minha escuridão.

E eles sabem que há algo nessa família, nesse sangue que me mantém com os pés no chão, me impedindo de fazer o impensável.

“Luc.” Eu a chamo. “A caçarola?”

“Eles simplesmente atacaram como lobos.” Ela encolhe os ombros. “Em minha defesa, nem tive tempo de puxar uma arma.”

“Isto é verdade.” Frank acena com a cabeça. “Cheirava muito bem e estávamos morrendo de fome!”

“Minha esposa, eu estou morrendo de fome!” Puxo-a contra meu peito e, em seguida, tomo seus lábios nos dentes. “Mmmm, assim é melhor.”

“Tudo bem, então”, Val dá uma cotovelada em El, “Hora de acender uma fogueira antes que eles comecem a rasgar as roupas um do outro. Vou levar a comida para fora.”

Eu amo prová-la em minha língua, minha esposa, minha luz.

O caos se instala quando Tex assobia para que todas as crianças acordadas venham jantar. Pessoas correm ao nosso redor, crianças gritam, uma delas está chorando e em todo lugar há o caos.

E eu acho perfeito.

E não passa despercebido o olhar que Nixon me dá, ou a mão que ele brevemente pressiona no meu ombro, como se talvez, apenas talvez, tudo realmente fosse acabar bem.

Mais um dia nesta vida.

Mais um presente.

E vou vivê-lo ao máximo.

“Chase!” Dom grita. “Marco acaba de me queimar!”

“Sua vez.” Dou um tapa na bunda de Luc. “Vou pegar o vinho.”

Ela suspira. “Como ele sabe fazer fogo?”

Eu não respondo.

É mais seguro assim.

“Marco Chase Abandonato!” Luc grita com perfeição. Até eu estremeço e sorrio enquanto Marco se arrasta em sua direção e depois começa a chorar.

“Foi um acidente.”

Pego o vinho e o levo para fora.

Dom sorri para mim. “Eu quero seu novo Bugatti.”

“Filho da puta!” Eu começo a rir. “Você realmente fez isso?”

“De que outra forma acha que o merdinha pôs fogo em mim?”

Tiro a chave do bolso e a jogo no ar. “Pense nisso como um presente de casamento tardio.”

Os olhos de Dom estão arregalados como um pires.

Ele tem dinheiro suficiente para comprar uma tonelada de carros.

Mas este é um personalizado.

Eu o pré-encomendei faz dois anos.

Meu peito aperta.

É o tipo de carro que definiu meu passado. Dez anos atrás, eu dirigiria aquele carro tão rápido quanto possível, eu precisava dele para acalmar minha alma depois de outra briga com Mil.

Por um tempo me senti inútil depois que ela afrouxou o controle sobre mim, sobre nossa família. Quando ela disse que não queria trazer filhos ao mundo enquanto tudo que eu queria era um legado.

Engraçado, porque dez anos atrás aquele carro parecia se adequar a mim e ao meu estilo de vida, mas agora? Agora estou mais inclinado para um SUV no qual posso passear com toda minha família.

O fato é que não me importo com um carro esporte onde não posso colocar uma cadeirinha.

Os caras pensarão que amoleci.

Eu compartilho um olhar com Luc.

Talvez, de certa forma... eu tenha.

 

 

                                                   Rachel Van Dyken         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades