Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FALAR A VERDADE A MENTIR / Almeida Garret
FALAR A VERDADE A MENTIR / Almeida Garret

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                   

 

 

Almeida Garrett

 

 

 

 

Representada, a primeira vez, em Lisboa, no teatro de Tália, pela sociedade particular do mesmo nome, em sete de abril de 1845.
#
#
#

#
#
#
                                                 PESSOAS:  BRÁS FERREIRA
                                                                       AMÁLIA DUARTE
                                                                       GUEDES
                                                                       GENERAL LEMOS
                                                                       JOAQUINA
                                                                       JOSÉ FÉLIX Um lacaio
                                                                       Um criado sem libré.

#
#
#

Lugar da cena: Lisboa.  
ATO ÚNICO Sala de visitas elegante. Porta ao fundo e laterais. À esquerda, mesa com escrivaninha, etc.
CENA I Joaquina, José Félix.
JOAQUINA Entre, senhor José Félix, entre. Isto são umas madrugadas!... Para uma pessoa como o senhor José Félix, o criado particular de um fidalgo da corte! Lá por fora ainda mal são nove horas...
 
JOSÉ FÉLIX Nove horas... e fidalgo da corte!... Recolha o seu espírito, senhora D. Joaquina. O meu amo é general, estamos de acordo; nove horas deram há muito. Mas cá em Lisboa contam-se as horas e os fidalgos por outro modo. Lá na província, minha querida Joaquina...
 
JOAQUINA Ai, como tu estás tolo! A província, a província... Ora isto! Saiba que eu venho do Porto, senhor José Félix, que é a segunda capital do reino, e a cidade eterna, como dizem os periódicos. Província será a terra de você, que há de ser a Lourinhã, ou a aldeia de Paio Pires, ou coisa que o valha. E então?...
 
JOSÉ FÉLIX Basta, Joaquina, basta; recolhe o teu espírito, que já aqui não está quem falou. Soube ainda agora que tinham chegado ontem à noite no vapor, que estavam aqui nesta hospedaria, que é pegada quase com a nossa casa; e vim logo, minha adorada Joaquina, reclamar o prêmio de onze meses de eternas saudades.
 
JOAQUINA E você, vamos a saber, você tem sido constante, fiel?... 
 
JOSÉ FÉLIX  Horrivelmente fiel! Maldição, Joaquina, maldição!... 
 
JOAQUINA  Que diz ele?...
 
JOSÉ FÉLIX Se tu vens da!... da província não. Não, Joaquina, tu não vens da província, vens da cidade eterna... Virás. Maldição eterna sobre quem o duvidar! Mas vens, vens donde ainda se não sabe a língua das românticas paixões, dos sentimentos copiados do nu da natureza como nós cá a temos na Rua dos Condes, e nos folhetins das folhas públicas, que são o órgão da opinião incomensurável dos séculos.
 
JOAQUINA Se te eu entendo...
 
JOSÉ FÉLIX Ah! tu não entendes? Bem, Joaquina, bem. Nem eu: nem ninguém. Por isso mesmo, Joaquina. A moda é esta. Deixa: em tu estando aqui oito dias, ficarás mais perfeita do que eu; porque a tua alma de mulher é feita para compreender o meu coração de homem. E então, vês tu? Oh Joaquina, anjo, mulher, sopro, silfo, demônio! eu amo-te! amo-te, porque...
 
JOAQUINA Cruzes!
 
JOSÉ FÉLIX Não me interrompas, não me interrompas, deixa ir. Silfo, anjo, sopro, mulher! amo-te porque o meu coração está em brasa, e tenho umas veias, e estas veias... têm umas artérias... e estas artérias têm... não têm... as artérias não têm nada; mas batem, batem como os sinos que dobram pelo finado na hora do passamento, que é morrer, morrer, morrer... oh Joaquina, morrer! E que é a morte? É a vida que cai nos abismos estrepitosos da eternidade, que é, que é...
 
JOAQUINA Isso é comédia, ou tu estás a brincar comigo?
 
JOSÉ FÉLIX Isto é o drama das paixões, que o sentimento, a verdade...
 
JOAQUINA Pois olha: tinha uma coisa muito séria que te dizer mas como tu estás doido, adeus!
 
JOSÉ FÉLIX
 
A poesia da vida é esta, Joaquina. Mas... mas passemos à vil prosa dos interesses materiais do país, se é preciso. Vá. Far-te-ei mais esse sacrifício. Que exiges tu de mim?
 
JOAQUINA Que deixes essas patetices agora e ouças. O meu amo, o senhor Brás Ferreira, que é um ricaço como tu sabes, um daqueles negociantes do Porto que têm dinheiro como milho, vem de propósito a Lisboa para casar a menina. É uma filha única, e morre por mim, coitada! É um anjo! Prometeu-me que no dia que se assinassem as escrituras tinha eu o meu dote.
 
JOSÉ FÉLIX Dote! Céus! um dote... Oh Joaquina, pois tu tens um dote?... Não quero saber de quanto. Quem eu! Maldição sobre mim!
 
JOAQUINA Cem moedas.
 
JOSÉ FÉLIX Oh! seja o que for, que me importa? O amor, o amor verdadeiro não conta os pintos do objeto amado... Não... E é em dinheiro de contado, sonante, Joaquina?
 
JOAQUINA Sim senhor.
 
JOSÉ FÉLIX Melhor: porque bem vês, com a minha educação, um rapaz que emigrei, estive em Paris, e hoje sou criado particular de um general... habilitado para ser mordomo de um clube dos de primeira ordem — a Galocha já eu recusei — bem vês, não podia formar uma aliança que me não desse os meios de sustentar a posição social em que me acho colocado. Mas tu tens dote; acabou-se. Recolho o meu espírito c estendo a minha mão.
 
JOAQUINA
 
Ai, José Félix! mas o casamento da minha ama ainda não está feito.
 
JOSÉ FÉLIX Pois que há... que impedimentos?
 
JOAQUINA Não sei... quando vínhamos no vapor, pareceu-me, vi que havia transtorno. O pai e a filha tiveram suas coisas a esse respeito. E a menina anda triste, desassossegada. Estou certa que há impedimento grande, há obstáculos...
 
JOSÉ FÉLIX Obstáculos! Não há, não os pude haver. A minha paixão, a nossa felicidade, cem moedas sonantes, mil pintos com os diabos! absolutamente não pode deixar de ser, há de se fazer este casamento, Joaquina... A honra, a delicadeza, tudo lhe ordena, senhora Joaquina, que vá já desenganar o papá. E se é preciso que eu tome parte na questão...
 
JOAQUINA O caso era saber a gente o que é, e onde a coisa pega... Mas espere; olha, aí vem a senhora D. Amália: deixa-te tu estar e... Mas não vás tu fazer falta em casa ao teu amo.
 
JOSÉ FÉLIX Meu amo! Toma. Tu estás muito atrasada, Joaquina. O meu amo é um cavalheiro, um general, uma pessoa da primeira sociedade, portanto costumado a fazer esperar os outros, e a esperar ele pelos seus criados, que é a regra. Além disso, eu tenho licença por todo o dia, que houve lá uma coisa em casa... A senhora chorou, o senhor ralhou. Eu te contarei noutra ocasião, que hás de rir. O caso é que hoje tenho o dia por meu. Ela aí vem, a tua ama. Vem triste, coitada! Firme, Joaquina! Olha que a coisa é séria para ti, um dote e um marido!
 
  CENA II
Os já mencionados e Amália.
 
AMÁLIA Joaquina! Joaquina! ando à tua procura. O senhor Duarte ainda não veio?
 
JOAQUINA Não, minha senhora.
 
AMÁLIA Que homem é esse com quem tu estavas a falar? 
 
JOSÉ FÉLIX Anda, apresenta-me como gente.
 
JOAQUINA Minha senhora, é aquele rapaz de quem lhe eu dizia no Porto...
 
AMÁLIA Ah! já sei: o senhor José Félix. Tens bom gosto, Joaquina. O pior é que vocês não têm de casar senão quando o meu casamento se fizer, tenho muito medo que ainda esperem bem tempo.
 
JOAQUINA Então por que, minha senhora?
 
AMÁLIA Ora! estou desesperada, transtornou-se tudo: meu pai quer quebrar com ele.
 
JOAQUINA Com o senhor Duarte? 
 
AMÁLIA  Sim: pois com quem?
 
JOSÉ FÉLIX (à parte)
 
Meu Deus! e as nossas cem moedas?
 
JOAQUINA Não é possível: a mesma família, a mesma riqueza, um casamento tão igual, tão acertado... O seu pai não se há de atrever.
 
AMÁLIA Nada, não! Veio a Lisboa — agora é que o eu sei bem — só para achar pretexto de o desmanchar.
 
JOAQUINA Pois não o há de achar. O senhor Duarte é um rapaz como há poucos. Juízo não lhe falta: suas doidices... não é, é pancada da mocidade. Isso passa depressa. Bom coração... não o há melhor. Quer a senhora saber? O mal que ele faz é por moda... todos assim são... e o bem que ele faz, que é muito, esse, minha senhora, não é moda que pegue.
 
AMÁLIA Pois sim; mas já que falamos nos seus defeitos, sempre te digo que ele que tem um, que se o meu pai o vem a descobrir... Tenho-lho encoberto até agora, mas se ele o chega a conhecer, acabou-se, nunca mais lhe perdoa. O meu pai é um negociante dos antigos, que leva a honra e probidade, a lisura e a verdade no trato, a um ponto de severidade que é quase rudeza... e Duarte é muito bom rapaz, não há dúvida; mas não sei se é distração se é doidice, tomou o costume de nunca dizer uma palavra que seja verdade.
 
JOSÉ FÉLIX Percebo: tem viajado muito...
 
JOAQUINA Não, mas é morgado, e de raça quase castelhana...
 
JOSÉ FÉLIX Entendo, entendo: echelas usted más blandas.
 
JOAQUINA E para além do mais, há seis meses que está em Lisboa...
 
JOSÉ FÉLIX Onde todos os talentos se aperfeiçoam.
 
AMÁLIA Enfim, meu pai declarou que à primeira mentira bem clara, bem provada em que o apanhasse, tudo estava acabado.
 
JOSÉ FÉLIX Ora adeus! O senhor seu pai com efeito... ele ainda é parente, bem se vê, há de ter sua costela espanhola... O seu projeto é outra espanholada também... Querer impedir que um rapaz do tom, da moda pregue a sua peta!... isso é mais do que formar castelos em Espanha, é querer meter o Rossio pela Betesga.
 
AMÁLIA Meu pai é que o não entende assim: e eu não sei como hei de avisar a Duarte.
 
JOAQUINA Vou eu pôr-me à espera dele. Não tarda a vir por aí; e antes que entre e que fale com o seu pai, hei de avisá-lo que tome conta em si, e que não dê notícias senão as que forem oficiais... a ser possível.
 
AMÁLIA Cala-te: ouço falar no quarto do meu pai; é a voz de Duarte.
 
JOAQUINA É que entrou pela outra escada.
 
AMÁLIA Está tudo perdido! Se ele falou com o meu pai... aposto que já... Nunca vi: é que não pode, mente por hábito e sem saber o que faz.
 
JOAQUINA
 
Então agora o que se podia... o que era de mestre, era fazer que o senhor Brás Ferreira o não conhecesse. Por fim de contas, a nós que nos importa que ele minta, contanto que o seu pai o não perceba?
 
JOSÉ FÉLIX Ela tem razão, a Joaquina. E é mais fácil isso. Se a senhora D. Amália se confia em mim, e me autoriza...
 
AMÁLIA Oh meu Deus! Se vocês encobrem aquele defeito ao meu pai, ficolhes numa obrigação... Depois em nós casando, eu o emendarei. Que se não fosse isso...
 
JOSÉ FÉLIX Está claro, minha senhora. Mas agora é preciso que o senhor Duarte me não veja. E u é que se pudesse ouvi-lo, e fazer assim ideia do seu modo...
 
JOAQUINA (apontando para uma alcova, à direita) Ora!... aquela alcova... e tem uma porta que dá direita na escada... Eles aí vêm: entra depressa, esconde-te.
 
 
CENA III Joaquina, Amália, Brás Ferreira, Duarte.
BRÁS FERREIRA Agora essa é demais!... Cem mil cruzados de renda!
 
DUARTE Pois é tal e qual como lhe digo... uma senhora brasileira — marquesa, que é o menos que lá há; a marquesa de Paraguaçu. Engenhos de açúcar a moer, trezentos e seis; pretos... entre pretos, mulatos, cabras e cabritos, é uma conta que mete medo; sem falar em cajus, bananas, farinha-de-pau, papagaios e periquitos, que isso anda a rodo pela casa — pois a mesma em pessoa é que me pediu, a mim.
 
BRÁS FERREIRA Uma marquesa deveras!
 
DUARTE Marquesa deveras. E eu recusei: escuso de dizer porquê... (Olhando para Amália)
 
BRÁS FERREIRA E que caminho levou essa fidalga? Tomara vê-la.
 
DUARTE Vê-la, coitada! Apenas lhe dei o fatal desengano, saiu daqui no primeiro navio para Pernambuco, de Pernambuco à Baía, da Baía para Niterói, de Niterói — que desgraça! — passava para o Rio de Janeiro naquele vapor que arrebentou... morreu escaldada a pobre da marquesa.
 
BRÁS FERREIRA Que pena!
 
JOAQUINA (à parte) Que fortuna!
 
BRÁS FERREIRA Se ela vivesse, queria saber...
 
JOAQUINA (à parte) Por isso Deus a levou: ainda bem!
 
BRÁS FERREIRA Sempre lhe acontecem coisas a este rapaz!
 
DUARTE Ainda isto não é nada. — Mas deixa-me falar com esta querida Amália. Que gosto que eu tenho de a tornar a ver! Mas chegou ontem, e não me manda dizer nada! Se eu tal soubesse, não tinha ido a São Carlos, onde me sucedeu, contudo, uma aventura, à saída do teatro... Queriam roubar esta prima-dona que chegou há pouco... roubá-la... levá-la a ela numa sege... Acudo eu, duas bengaladas no boleeiro, deito a mão ao cavalo das varas, o da boleia espanta-se, quebra os tirantes, foge... os meliantes fogem também e... Mas que é isso, que tem? Que tristeza é essa? Então não sabe que o seu pai consente enfim em nos unir hoje? hoje mesmo!...
 
AMÁLIA É possível!
 
DUARTE Sim, deu-me a sua palavra que esta noite, depois de jantar, se assinavam as escrituras; mas com uma condição somente que me não quis dizer qual era. Disse-lha, não disse?
 
AMÁLIA Disse, Duarte, disse; e bem medo tenho que já não esteja no seu poder cumpri-la.
 
BRÁS FERREIRA Pelo menos há de lhe custar, me parece. Mas quero ser justo, e não hei de condenar sem provas. Por desgraça estou bem persuadido que te não hás de ver aflito por me dares quantas eu queira daqui até à noite.
 
DUARTE O que a mim me parece é que no Porto deram em falar por enigmas, porque eu não entendo nada. Mas seja o que for: o que eu entendo bem é o amor que lhe tenho, Amália, a afeição tão verdadeira que me inspirou, e que me persuado merecer-lhe também. Estou tão contente de a ver... Separados há seis meses!
 
BRÁS FERREIRA Queira Deus que tu tenhas aproveitado este tempo, que adquirisses amigos, boas relações, protetores. Nas tuas cartas nunca me falavas no general Lemos, o melhor amigo do teu pai. Dar-se-á caso que o não fosses visitar ou que deixasses de frequentar uma casa quê?...
 
DUARTE Ao contrário, vou lá todos os dias. É a casa mais agradável de Lisboa: uma senhora extremamente amável... O outro dia compus eu uma modinha para ela... uma letra que não ficou feia... hoje tinha ficado de lhe ir levar a música.
 
JOAQUINA (a Amália) Jesus! que medo que eu tenho! José Félix, que está em casa do general, tinha-me dito decerto, se fosse verdade.
 
DUARTE O meu general, coitado! o meu santo general Lemos tem-me obsequiado e tem-me feito serviços... interessou-se por mim de uma maneira... O caso é que hoje tenho eu à minha disposição, para escolher, três lugares de primeira ordem, recebedor-geral em Évora, Santarém...
 
BRÁS FERREIRA Escolho eu: Santarém. E vamos já, já daqui sem demora a casa do general.
 
DUARTE Ora! ainda agora chegou, se pode dizer, e há de ir já tratar de negócios! Não senhor, tratemos dos divertimentos primeiro. Quero eu fazer as honras da capital a esta senhora. Há hoje benefício em São Carlos, toca o Liszt: mandei-lhe tomar uma frisa. Depois vamos ao baile do clube: temos quantos bilhetes quiserem; eu sou diretor.
 
BRÁS FERREIRA Tu és diretor, tu!
 
DUARTE É verdade: eleito por duzentos votos.
 
BRÁS FERREIRA Duzentos votos! pois quantos sócios tem o clube?
 
DUARTE Duzentos e um. Não perdi senão um voto; e mais foi cá por certa coisa que eu sei. — É verdade, e como se arranjam neste hotel? É o melhor de Lisboa. Os quartos não são grandes, não... Mas eu moro nos outros de cima, e então... foi egoísmo da minha parte...
 
BRÁS FERREIRA A falar a verdade, eu gostava mais do Cais do Sodré.
 
DUARTE Ora se eu tal soubesse, mandava arranjar um quarto da minha casa que é mesmo no fim da Rua do Alecrim. 
 
AMÁLIA  A sua casa!
 
BRÁS FERREIRA Pois tu tens uma casa em Lisboa?
 
DUARTE E que me não custou cara. Assinei por trezentos contos na Companhia-monstro, vendi, ganhei dez por cento sem desembolsar cinco réis... bagatela! trinta contos de réis: não sabia o que lhe havia de fazer, comprei aquela casa.
 
BRÁS FERREIRA Com a breca! é fortuna.
 
DUARTE Uma casa linda, nova; saída por três ruas — e tenho quase tudo alugado: — tudo, ainda assim! menos o segundo andar que é o melhor, e para onde podiam ir se eu soubesse. Mas enfim, sempre era um segundo andar.
 
BRÁS FERREIRA Que me importa! Os segundos andares em Lisboa é o mais habitável das casas. Vou para lá morar eu para a tal casa.
 
DUARTE Que pena que eu tenho! Se tal adivinhasse, não a tinha vendido ontem.
 
BRÁS FERREIRA Pois já a vendeste?
 
DUARTE É verdade, trinta e três contos: e ainda ganhei... uma bagatela é certo, mas sempre é melhor que perder. E havia seus consertos, suas despesas que fazer.
 
BRÁS FERREIRA Consertos numa casa nova?
 
DUARTE Eu lhe digo: é que as águas-furtadas tinham sido feitas de empreitada, e bem sabe... Enfim vendi e não fiz mal. Trinta e três contos é mais certo, e não paga impostos e tal...
 
BRÁS FERREIRA E o comprador é pessoa segura?
 
DUARTE Oh! seguríssima. Um homem de uma fortuna imensa, um negociante retirado, Tomás José Marques... há de conhecer...
 
BRÁS FERREIRA Não conheço: admira-me.
 
DUARTE Tem estado quase sempre no Brasil e cm Inglaterra, veio-se estabelecer aqui agora. Compra tudo quanto aparece em bens de raiz. Esta manhã ficou ele de me trazer aqui o dinheiro. Não me dá trabalho nenhum.
 
JOAQUINA (à parte) Nem a mim.
 
AMÁLIA (baixo a Joaquina) Ai, Joaquina, que esta parece-me que é... 
 
JOAQUINA (baixo a Amália) Também a mim.
 
 
CENA IV Os já mencionados e u criado da hospedaria.
CRIADO (trazendo uma carta) Para o senhor Brás Ferreira, do Porto.
 
BRÁS FERREIRA Sou eu: dá cá. (Abre) Ah! é para o tal pagamento. (O criado sai) Vejamos as minhas contas: quanto tenho eu em dinheiro?... Dá-me licença, Duarte; tenho uns papéis que arranjar. Conversa com a minha filha. (Tira a sua carteira, e vai sentar-se à esquerda)
 
AMÁLIA (baixo a Duarte) Não se emenda, está visto.
 
DUARTE De a adorar? não decerto.
 
AMÁLIA Não é disso, é do seu maldito vício que nos deita a perder: meu pai jurou que desfazia o nosso casamento se daqui até à noite o apanhasse numa mentira.
 
DUARTE
 
Oh meu Deus, o que fiz eu!
 
AMÁLIA Pois que é, Duarte? Tudo quanto tem estado a dizer?...
 
DUARTE É verdade no fundo; acredite: agora os detalhes... os pormenores... eu não sei como isto é... não é com má tenção... mas a maior parte das vezes, as coisas contadas tais quais como elas são... ficam de uma sensaboria tal...
 
AMÁLIA (com ironia) Que não pode resistir ao desejo de as enfeitar, e de mostrar a riqueza da sua imaginação.
 
DUARTE Não torno mais. Juro-lhe que nunca mais.
 
AMÁLIA Cale-se, que pode ouvir meu pai.
 
DUARTE Não me importa, não tenho medo: estou emendado e para sempre. Amália, prometo, hei de ser o modelo dos maridos, leal, sincero, verdadeiro, sempre...
 
AMÁLIA Sempre! se o meu pai ouvisse essa palavra, desfazia logo o nosso casamento.
 
DUARTE Amália, isso também é demais!...
 
BRÁS FERREIRA (chegando com um papel) Não tenho dinheiro que chegue. E eu sem me lembrar! Duarte, hás de me fazer um favor.
 
DUARTE Qual? Estou pronto.
 
BRÁS FERREIRA Uma letra de três contos de réis para descontar. 
 
DUARTE  Em bem má ocasião, com a fortuna! não tenho um pinto. 
 
BRÁS FERREIRA Não tens!... e aquele dinheiro? 
 
DUARTE  Qual dinheiro? 
 
BRÁS FERREIRA O da tua casa.
 
DUARTE Da minha casa?... Ah sim, é verdade. É que atualmente... 
 
BRÁS FERREIRA Já dispuseste dele?
 
DUARTE Não, não, isto é, de certo modo já; mas propriamente... 
 
AMÁLIA (baixo a Duarte) Vê o que é mentir.
 
DUARTE Em suma, porque lhe não hei de dizer francamente o que é, meu tio?... Eu tinha minhas dívidas...
 
AMÁLIA Outra, Duarte?
 
DUARTE Não, esta não; é verdade puríssima. Um rapaz não pode viver sem isso. Ora sucedeu, por uma coincidência esquisita, que o comprador da minha casa, o tal senhor José Marques...
 
BRÁS FERREIRA Ainda agora disseste Tomás...
 
DUARTE Tomás José Marques, um lindo agiota de gema...
 
BRÁS FERREIRA Tinhas-me dito um negociante...
 
DUARTE Negociante, porque negocia em papéis e descontos por atacado, e faz usura em grosso. Enfim, o meu honradíssimo homem, que já é comendador e sai conselheiro um dia destes, era o que me tinha emprestado o dinheiro. De sorte que na compra da casa, feitas bem as contas...
 
BRÁS FERREIRA E tu devias ao comprador?
 
DUARTE Uns dez a doze contos de réis. BRÁS FERREIRA Então vendeste por trinta e três; tem de te dar ainda de tornas vinte e um contos.
 
DUARTE (atrapalhado) Vinte contos de réis... É o que lhe eu dizia... (À parte) Como hei de eu sair desta?
 
BRÁS FERREIRA (olhando para ele) Dar-se-á caso que tu me pregasses uma das tuas?... que tal comprador não exista?...
 
CENA V Os já mencionados, José Félix (disfarçado em negociante velho), Joaquina.
JOAQUINA O senhor Tomás José Marques.
 
DUARTE (pasmado) O senhor!...
 
BRÁS FERREIRA (idem) Como?
 
JOSÉ FÉLIX (a Duarte) Peço-lhe desculpa, meu caro senhor Duarte, de o perseguir assim pelas casas alheias; mas a obrigação, como lá dizem, está primeiro que a devoção. E aqui, parece-me que todos parentes os senhores, não quer dizer nada... O senhor seu pai, creio eu?... E estas senhoras, suas manas? Tenho a honra de as cumprimentar. Custa-me vir importuná-lo... mas são duas palavras, e já me retiro.
 
DUARTE (à parte) Que história será esta?
 
AMÁLIA Estes senhores querem tratar dos seus negócios... O meu pai dá licença, eu retiro-me.
 
DUARTE Para quê?... Eu por mim, não tenho segredos nenhuns...
 
JOSÉ FÉLIX A falar a verdade, para uma senhora não é divertido ouvir tratar de títulos, registros, termos de posse, escrituras... ainda se fossem de casamento — vá, tem a gente paciência, recolhe o seu espírito, e...
 
BRÁS FERREIRA Vai, minha filha, vai: nós não tardamos também.
 
 
CENA VI Os já mencionados, menos Amália.
JOSÉ FÉLIX Então, meu caro senhor! eu venho acabar com isto: fazemos ou não fazemos o negócio da sua casa?
 
DUARTE (admirado) Da minha casa?
 
JOSÉ FÉLIX Da sua casa... ainda assim! da que a vossa senhoria vendeu e eu comprei: não se trata senão de entrar de posse... É verdade: que cabeça a minha! Muitos recados da senhora D. Jacinta Marques, minha mulher, uma criada da vossa senhoria. Já me ia esquecendo. É que eu, em se tratando de negócios, a respeito de tudo o mais recolho o meu espírito.
 
DUARTE Ah! então o senhor vem... (A Brás) A mim sempre me sucedem coisas! Esta é a mais extraordinária...
 
BRÁS FERREIRA Que lhe achas tu extraordinário? Vendeste a casa...
 
DUARTE Está claro... pois isso não é o que me admira. Mas se o tio soubesse!...
 
JOSÉ FÉLIX O contrato não está assinado, mas é como se o fosse. Oh! bem entendido: décima e impostos anexos, por este ano ainda lhe pertence a vossa senhoria pagá-los.
 
DUARTE Esta agora é melhor! Não me faltava mais nada. Com que eu hei de pagar?... eu! a décima da tal dita casa que... que vendi ao senhor... senhor...
 
JOSÉ FÉLIX Tomás José Marques, um criado da vossa senhoria. — Pois, meu senhor, é como se tudo tivesse assinaturas e sinais em público e raso. Eu sou homem de dizer e fazer. E o dinheiro está pronto; quando quiser...
 
DUARTE (à parte) É uma pulha de entrudo; está visto. Mas deixa, que eu já te apanho. (Alto) Então como o dinheiro está pronto, meu caro senhor Tomás José Marques, o dito dito, faz favor de mo entregar...
 
JOSÉ FÉLIX Essa é boa! certamente. (Procurando nas algibeiras, donde, por fim, tira a caixa do tabaco) Assinado o contrato, e certidão tirada do registro das hipotecas...
 
BRÁS FERREIRA Tem razão.
 
JOSÉ FÉLIX Além disso, o senhor Duarte bem sabe, aquelas continhas velhas... não lhe venho a restar senão...
 
DUARTE (à parte) Não sei como se pode mentir com aquele desembaraço... 
 
JOSÉ FÉLIX E já está em poder do tabelião o saldo...
 
DUARTE Pois é pena! tinha vontade de ver as cruzes ao seu dinheiro, senhor Marques... E por causa deste senhor meu sogro, mais por outras razões particulares... se me pudesse dar aqui já algum ao menos... (À parte) tinha mais graça a mangação.
 
JOSÉ FÉLIX Faço ideia: na sua posição, há de lhe ser preciso realizar... ainda que não seja senão para as suas fianças.
 
DUARTE As minhas fianças!
 
JOSÉ FÉLIX Então! a recebedoria-geral de Santarém.
 
BRÁS FERREIRA O quê? pois ele será verdade?... O que tu me disseste ainda agora de um emprego?...
 
JOSÉ FÉLIX O decreto está assinado: não há ninguém que o não saiba... O general Lemos tem uma influência com os ministros... Ainda esta manhã estive com ele. É um belo sujeito o general... e olhe que é seu amigo, senhor Duarte, seu amigo deveras. E então a senhora D. Matilde, a mulher do general? não falemos nisso. É verdade: tenho que ralhar com a vossa senhoria da sua parte. Isso não é bonito; prometeu, deve cumprir. Aquela música, não se lembra? para aquela modinha, que lhe fez a letra — e que há de ser linda... mas não há música onde caiba.
 
DUARTE (à parte) Irra! isto já é descoco demais... é já muita caçoada junta. (Alto) Oh lá, senhor... sabe que mais?...
 
JOSÉ FÉLIX Aos pés da vossa senhoria, senhor recebedor-geral. — Um lugar magnífico! verdadeiramente dos rendosos e pouco trabalhosos! — Com um poucachinho de jeito e de savoir-faire — quaisquer boas relações no tesouro, um amigo seguro nas companhias-monstros...
 
pode-se andar muito caminho em pouco tempo. Hão de gritar — é o costume — hão de gritar: o recebedor-geral para aqui, o recebedorgeral para acolá!... Deixá-los gritar: ri-se a gente, e vai arranjando a sua vida. A minha regra, a minha regra, que é: em ouvindo tolices, recolho o meu espírito. E com isto não enfado mais. Criado e fiel cativo... (Vai-se)
 
 
CENA VII Duarte, Brás Ferreira, Joaquina.
DUARTE Com efeito sempre é o maior falador!
 
BRÁS FERREIRA Tenho que te pedir perdão, meu Duarte: confesso-te que tinha desconfiado, estava em dúvida...
 
DUARTE O quê! pois meu tio?...
 
BRÁS FERREIRA Mas acabou-se, com isto acabou-se. Vamos já imediatamente a casa do general, e apresenta-me como teu sogro: quero-lhe agradecer.
 
JOAQUINA (à parte) Está perdido!
 
DUARTE (atrapalhado) Hoje é... domingo... hoje está ele da outra banda na sua quinta da Lameda. É um sítio delicioso a Lameda, à borda do Tejo, uma vista, uns ares... Vamos lá, uma, duas vezes na semana: Sempre lhe digo, senhor Brás, que há ali um bilhar em que eu tenho feito as bolas mais espantosas... O outro dia carambolei... eu lhe digo como: a negra estava...
 
BRÁS FERREIRA Sim, sim; mas não é hoje que o general há de jogar no tal bilhar, porque ainda agora este Tomás José Marques me disse que tinha estado com ele esta manhã. Assim, como eu não estou para ir só, vamos.
 
DUARTE Amanhã, cada vez que quiser; mas hoje é-me impossível.
 
BRÁS FERREIRA Então por quê?
 
DUARTE Tenho uns amigos à minha espera esta manhã — um pequenoalmoço de rapazes... mas contamos com o meu caro sogro.
 
BRÁS FERREIRA Eu não posso: prometi de ir almoçar com o barão da Granja.
 
DUARTE Aí está! E eu que tinha mandado fazer um almoço magnífico, um verdadeiro ambigu. Champanhe, já se sabe. Um cerceal da Madeira que bate quantos hocs e johannisbergs tem o Reno; — torta de camarões e ostras, e dois faisões que me chegaram ontem de Inglaterra pelo vapor, coisa preciosa! 
 
(Joaquina parece tomar sentido na lista dos pratos)
 
BRÁS FERREIRA Ora vá — pois seja... Mas ainda não são senão dez horas: o teu almoço há de ser como o meu, para o meio-dia: e daqui lá, temos tempo de sobejo para ir a casa do general. Assim, anda, vem... Então que é isso?
 
DUARTE (à parte) Está teimoso com a tal visita.
 
JOAQUINA (à parte)
 
O pobre rapaz não sabe com que santo se há de pegar.
 
BRÁS FERREIRA Então! que tens tu? Que pasmaceira é essa? Não podes sair de casa por meia hora?
 
DUARTE Pois enfim, meu tio, já que não há outro remédio, vou-lhe dizer... já que lhe não posso ocultar o que eu tanto desejava... saiba que não posso sair de casa esta manhã nem um minuto. (Baixo) Tenho um desafio, e estou à espera do meu adversário.
 
BRÁS FERREIRA Oh meu Deus!
 
JOAQUINA Bem no dizia eu: aqui temos outra.
 
BRÁS FERREIRA E então aquele almoço que tu me dizias ainda agora?
 
DUARTE Lá está... lá está o almoço, posto lá, à espera... Um dos rapazes que aí vem almoçar é que me há de servir de padrinho.
 
BRÁS FERREIRA Isso! outra cabeça doida como a tua: tinham de fazê-la bonita... Não senhor, toca-me a mim: eu é que hei de arranjar esse negócio.
 
DUARTE Ora, não se meta nisto, deixe cá a gente. Pode comprometê-lo... nós somos rapazes, é outra coisa.
 
BRÁS FERREIRA Nada, nada! quero saber como isso é, como isso foi, senão adeus casamento.
 
DUARTE (à parte)  Que diabo de homem! (Alto) E o seu almoço em casa do barão da Granja?...
 
BRÁS FERREIRA Importa-me cá almoço nem meio almoço! que espere o almoço. Trata-se da tua vida, da tua honra... Tu, filho do meu maior amigo, e agora meu filho, que és quase como se o fosses já! Vamos, fala, conta-me lá como isso foi, quero saber tudo por miúdo.
 
DUARTE (à parte) É um homem capaz, por fim de contas, o meu sogro. (Alto) Ora pois ouça, senhor Brás, e não tome estas coisas em ponto de admiração... é um caso como há tantos, um mal-entendido, uma brincadeira por fim.
 
BRÁS FERREIRA Não está má brincadeira! pôr em perigo a sua vida, a de um amigo! Assim é que vocês o entendem...
 
DUARTE Primeiro que tudo, é um inglês.
 
BRÁS FERREIRA É o mesmo... E para que hás de ir tu logo às do cabo, logo com as mãos à cara?...
 
DUARTE Eu não lhe toquei.
 
BRÁS FERREIRA Ou com palavras?...
 
DUARTE Eu lhe digo como a coisa se passou. Fui ontem jantar fora, a Benfica... uma casa linda à beira da estrada... O dia estava belo, um dia de Verão. Depois de jantar viemos tomar café para um terraço delicioso que fica mesmo rente com a casa... É uma espécie de quiosque... uma lindeza! faça ideia... e pouco elevado do chão. A casa fez-se este ano, ainda lhe não puseram grades no terraço... repare bem nesta circunstância... note...
 
BRÁS FERREIRA Noto, noto, e faz-me estremecer. Querem ver que sucedeu alguma?
 
DUARTE Ouça. A dona da casa, senhora extremamente amável... e moça ainda... uns olhos pretos!... a dona da casa pergunta-me se quero mais açúcar... Eu tinha a xícara na mão, o café soberbo e a ferver... Eu entretido a olhar para a senhora e a dizer-lhe algumas coisas agradáveis... o tio bem sabe... não reparei na xícara que estava muito cheia a deitar por fora... e eu de sapatos... Sinto escaldar-se-me um pé de repente, dou um pulo à retaguarda, empurro um sujeito que estava por trás de mim... para a borda do terraço... e com a fortuna...
 
BRÁS FERREIRA e JOAQUINA  E Jesus!
 
DUARTE Perigo nenhum!... cinco ou seis palmos de altura... Mas a desgraça foi que justamente nesse momento passava um oficial inglês da nau... viria de Sintra ou das Laranjeiras, mas vinha a pé... para um inglês é indiferente; e o meu sujeito cai-lhe mesmo em cima dos ombros.
 
JOAQUINA (rindo) Ah ah ah! Já não posso mais.
 
BRÁS FERREIRA Ó Joaquina, pois tu ris-te?...
 
JOAQUINA (contendo o riso) Oh! senhor, é que eu já não posso... não me pude conter.
 
DUARTE O mesmo sucedeu a toda a companhia. O inglês desesperado embirra comigo, teima que eu o fiz de propósito, que lhe atirei com o homem... Eu procuro acomodar a coisa; ofereço-lhe a desforra, dando-lhe até um primeiro andar de partido, isto é, que o atirem a ele do segundo sobre mim... Recusa tudo... não houve remédio senão dar-lhe a minha adresse; ele dá-me a sua... E lord Coockimbroock aí vem logo buscar-me com um par de pistolas.
 
BRÁS FERREIRA (abanando a cabeça) Confesso-te que a tal história sempre me parece bem extraordinária... Mas não importa, eu não te largo, e quero ser teu padrinho.
 
DUARTE (à parte) É cabeçudo ou não é? (Alto) Mas, senhor Brás, eu faço escrúpulo de lhe pregar uma maçada... E se ele não vier?... Não era a primeira que sucedia. Há por aí sujeitinho que, ã mais pequena coisa, tem logo na boca: “A sua adresse?” Pensam que é para a gente lhe não escapar? Não senhor, é para se escaparem eles.
 
BRÁS FERREIRA Pois bem, se ele não vier, iremos nós ter com ele.
 
 
CENA VIII Os já mencionados, José Félix (de inglês), um criado.
CRIADO  Milord Coockimbroock!
 
BRÁS FERREIRA (espantado) O quê?... pois deveras?...
 
DUARTE (admirado) Temos outra! Esta agora ainda é melhor.
 
JOAQUINA (à parte) Bravo!... vou dizer a minha ama, e adverti-la...
 
CENA IX José Félix, Duarte, Brás Ferreira.
JOSÉ FÉLIX Sinhórr, eu vem tómarr vóssinhórrie pôr o pequena diverrtissemente de... to exchange, querr dizerr, trrócar dois tirras de pístol entrre nós ambas amiguevolmente.
 
DUARTE (à parte) À pistola, com os diachos!
 
BRÁS FERREIRA Pois quê, milord! o caso de ontem?...
 
JOSÉ FÉLIX Essa foi muito disagrréavel! E ésto foi por guarrdarr todo o cólerra que me tem causade, que eu guarrdarr meu sombréro — em pórrtuguiz, meu chapello — como ele esteve ontem. (Mostra o chapéu com o fundo dentro) Vê vóssinhorrie? Oh! eu vem pedirr satisfácxion in forma.
 
DUARTE (à parte) Agora é que eu já não entendo. Estou a ver se por acaso... Não fosse eu dizer a verdade?
 
JOSÉ FÉLIX Oh, yes! foi um brincadeiro muito má. Eu não impedir vóssinhorrie de atirrar com homem, se faz-lhe prazer, if you please; mas é estilo de suo capital gritar primeirra de janela: “homem vai!” — Eu trazia meu umbella, podia ter abrrido, como faz quando dizem: “aguo vai!” — que é sempre um grrande peto em Lisbon, este de dizer: “aguo vai!” — Oh, yes! não é aguo, vóssinhorrie... (Sorrindo)
 
DUARTE (à parte) Irra! Chegou-me a mostarda ao nariz, com o tal engraçado tolo que apostou de mangar comigo: hei de saber quem ele é. (Alto) Pois, senhor, uma vez que veio para se bater, havemo-nos bater, e já.
 
BRÁS FERREIRA Essa é que é a moderação que tu me dizias?...
 
 
CENA X Os já mencionados e Amália.
AMÁLIA (acudindo)  Oh meu Deus! que é isto?
 
JOSÉ FÉLIX (baixo a Amália) Separe-nos, ande... (Alto) Eu não bato a mim. 
 
DUARTE  Mas mim bate a ti. Agora o veremos.
 
BRÁS FERREIRA E eu mando-te que te cales. Que tal está! Ai que eu!... (À parte) E eu que pensava ao princípio que era uma brincadeira!... e o jogo é a valer. (A José Félix) O senhor é o ofendido...
 
DUARTE Não senhor, o ofendido sou eu.
 
BRÁS FERREIRA Tu! tu que o ias matando, aleijando pelo menos!
 
DUARTE Não é verdade.
 
JOSÉ FÉLIX É verrdade.
 
BRÁS FERREIRA É verdade sim senhor: a culpa é sua, não há que duvidar.
 
DUARTE se o meu tio o diz, não tenho remédio eu senão acreditá-lo.
 
BRÁS FERREIRA Ora graças a Deus! que confessou a sua culpa, e entrou na razão enfim. Da sua parte, milord, espero que desista, que se esqueça...
 
JOSÉ FÉLIX Se o senhórr está muito triste, very sorry, se não tinha intenxion...
 
BRÁS FERREIRA Não tinha, não.
 
DUARTE Não tive.
 
BRÁS FERREIRA Então vamos! esqueça-se tudo; e em sinal de reconciliação, milord, há de almoçar conosco.
 
AMÁLIA Ainda bem! respiro.
 
DUARTE (à parte) Verdade, verdade, não tenho muito de que me queixar. Ainda eu lhe sou obrigado ao tal maganão que embirrou a fazer-me este serviço. (Alto) Oh lá! Joaquina, Isidoro! algum de vocês... É preciso mandar arranjar depressa alguma coisa...
 
BRÁS FERREIRA Para quê?
 
DUARTE
 
Pois o senhor almoça conosco...
 
BRÁS FERREIRA Almoça: e então? Tu tens almoço em casa para um príncipe. Já te esqueceste?
 
DUARTE Ah! sim... decerto... Mas talvez um almoço de garfo... sem chá preto... sem manteiga fresca... não será do gosto de milord...
 
JOSÉ FÉLIX Eu peço o seu perdão, vóssinhorrie. O meu stomago é cosmopolitana, e entende todos línguas; janta em francês, pórtuguiz... não importa; almoça com Turquia se é preciso, e ceia sobre Peru, se vóssinhorrie dá prazer.
 
 
CENA XI Os já mencionados e Joaquina.
JOAQUINA O almoço está na mesa. 
 
DUARTE (espantado) O almoço!...
 
JOAQUINA Venha cá ver como está bonita a mesa. (Leva-o à porta do fundo) Garrafas de Champanhe, fruta, pastelão, tudo tão bem posto... hein?
 
DUARTE Não há dúvida: o almoço ali está. Acabou-se, já me não deixam mentir... é escusado. — Agora posso dizer o que eu quiser. (Alto) Amália! (Dá-lhe o braço)
 
BRÁS FERREIRA Milord! (Conduzindo-o para a porta do fundo)
(Saem todos, menos Joaquina)  
 
CENA XII
JOAQUINA (só) Pobre rapaz! ficou como pateta! Se ele não está acostumado a isto... Condenado a falar verdade vinte e quatro horas a fio!... Também olhe que nos dá um trabalho! porque mente com um desembaraço e sem a menor consideração... Já se tinha esquecido da peta do almoço. Felizmente que nós estamos prevenidos, e graças ao bolsinho da minha ama e à vizinhança do Manuel Espanhol, em poucos minutos se fez da peta verdade... E José Félix! Não verão o meco sentado à mesa com os meus amos como se fosse gente, o pedaço de lacaio!... Mas deixem estar que o tratante tem um ar, sabe tomar uns modos, que quem o não conhecer!... Em que ele se deita a perder decerto, é que aquilo é um comilão... O que lhe vale é fazer de inglês... não se repara. — Agora que mais falta? Vejamos. A tal visita de agradecimento ao general Lemos: essa não se pode evitar. Só se... É verdade; o general Lemos que venha cá... como têm vindo os outros. Vou avisar José Félix que se avie de almoçar e nos represente mais esse figurão. Não lhe há de custar muito... é seu amo. — Ai! que é isto, que quer este senhor?
 
 
CENA XIII Joaquina e o General.
GENERAL O senhor Duarte Guedes está aqui, não é assim?
 
JOAQUINA Está sim senhor, foi agora para a mesa almoçar com o senhor Brás Ferreira, seu sogro que está para ser.
 
GENERAL
 
Um almoço de família, almoço de noivos... Não permita Deus que eu tal perturbe. Esperarei.
 
JOAQUINA Se faz favor de dizer o seu nome.
 
GENERAL Não é preciso.
 
JOAQUINA Não é para saber... é que se fosse coisa que... 
 
GENERAL É coisa que eu lhe quero dizer só a ele ou ao seu sogro. 
 
JOAQUINA  Como queira.
 
 
CENA XIV Brás Ferreira, General, Joaquina.
BRÁS FERREIRA (de guardanapo na mão, falando para dentro) Eu venho, milord, eu venho: quero ratificar o nosso tratado de aliança com uma garrafa especial do meu Porto, é da fundação da Companhia, trouxe-o eu comigo.
 
JOAQUINA (para o general) Aqui vem o senhor Brás Ferreira.
 
BRÁS FERREIRA O que é isso?
 
JOAQUINA Um senhor que lhe quer falar, ao senhor Brás Ferreira ou ao seu genro. (À parte) Vamos ensaiar José Félix no novo papel que tem de representar.
 
CENA XV General e Brás Ferreira.
GENERAL Creio que é o senhor Brás Ferreira do Porto a quem tenho a honra de falar? Muita satisfação de ver a vossa senhoria em Lisboa. Conheçoo há muito de nome, e quase que posso dizer somos amigos sem nos termos visto. O meu antigo camarada, o coronel Luís Guedes sempre me encarece por tal modo a amizade que lhe tem! Nas suas cartas quase que me não fala de outra coisa senão do seu filho e da vossa senhoria.
 
BRÁS FERREIRA Luís Guedes! Então vossa senhoria é...
 
GENERAL O seu mais antigo e melhor amigo, o general Lemos.
 
BRÁS FERREIRA Ah! vossa excelência perdoe, por quem é. Mas porque se incomodou, senhor general? Eu é que devia ir aos seus pés... e hoje mesmo tencionava fazê-lo — para lhe agradecer todas as bondades que tem tido com o meu genro... que está para ser.
 
GENERAL Bondades! eu não sei... decerto não tem nada que me agradecer... mas é sua culpa. Eu ignorava absolutamente...
 
BRÁS FERREIRA O quê, general?
 
GENERAL Que Duarte estivesse em Lisboa.
 
BRÁS FERREIRA Que me diz, senhor? Há três meses.
 
GENERAL Ainda o não vi uma só vez. Antes de ontem recebi eu uma carta do seu pai, que me pareceu um enigma: queixa-se de que o filho não tenha ainda obtido a recebedoria de Santarém que tanta conta lhe fazia... Mas que diacho! quem quer alguma coisa, pede-a. Eu não podia adivinhar, e vinha aqui de propósito ralhar com ele.
 
BRÁS FERREIRA Ralhar, tenho eu que ralhar com o tal menino por outras muito piores. Mas como é isto, senhor? Pois Duarte não vai habitualmente a sua casa?
 
GENERAL Não senhor.
 
BRÁS FERREIRA Não digo em Lisboa, mas à sua quinta? 
 
GENERAL A minha quinta? É coisa que não tenho.
 
BRÁS FERREIRA Pois não digo quinta... não seja... mas a linda casa que tem da outra banda com uma vista magnífica, um bilhar...
 
GENERAL Sou tão desastrado que não jogo o bilhar.
 
BRÁS FERREIRA Estava visto... Faça ideia, general, que é o sistema de mentiras mais complicado que nunca vi, e combinado de modo que ainda não sei... Mas deixá-lo: vossa excelência está aqui, há de me ajudar a confundi-lo... Com toda a certeza não lhe dou minha filha.
 
GENERAL
 
Por quem é! Eu que vinha com tanto gosto trazer-lhe a minha prenda de casamento...
 
BRÁS FERREIRA Não há de ser meu genro. 
 
GENERAL E a sua palavra?
 
BRÁS FERREIRA Retiro-a: e ele não tem direito de se queixar... Avisei-o de que, à primeira mentira em que o apanhasse, tudo estava acabado. Ainda bem que o encontrei, general: vamos a ver com que cara o maldito do rapaz... Oh! ele aí vem: peço-lhe que não diga o seu nome.
 
GENERAL (à parte) E esta! Eu que vinha para obsequiar o pobre do rapaz, e ao seu pai de quem sou tão amigo!
 
 
CENA XVI Os já mencionados, Duarte, Amália, Joaquina.
DUARTE Ora com efeito! forte companhia fazem os tais senhores! — O senhor meu sogro levanta-se no meio do almoço, e daí a um instante milord desaparece à segunda garrafa de Champanhe.
 
JOAQUINA Vieram procurá-lo.
 
DUARTE Não duvido... algum pobre rapaz que se achou em aperto... Que é preciso confessar... o tal sujeito é a criatura mais serviçal... E então sem nenhum interesse! — Diga-me uma coisa, amabilíssimo sogro, que fazemos nós esta manhã?
 
BRÁS FERREIRA Eu tinha vontade de sair; mas temos aqui uma visita, um amigo da família...
 
DUARTE Perdoe... eu não tinha tido o gosto de ver este senhor... É do Porto? 
 
BRÁS FERREIRA É verdade.
 
DUARTE Ia jurá-lo... Nós os das províncias do Norte temos um ar de franqueza, um aberto de fisionomia... se a vossa senhoria se demorar em Lisboa, terei muito gosto de o acompanhar, de lhe servir de guia... Não faça cerimônia comigo... sinceramente lhe peço... um amigo do meu sogro!...
 
GENERAL Dou-lhe os parabéns, senhor Brás Ferreira: o seu genro parece um rapaz extremamente amável.
 
BRÁS FERREIRA (baixo ao general) Espere, espere, e depois falará. (A Duarte) É preciso que saibas, meu caro amigo, que este senhor vem a Lisboa para negócios que tem na secretaria da guerra, e precisa muito do valimento do general Lemos.
 
DUARTE Melhor... Dizem que é um homem justo e imparcial; e toda a gente o estima.
 
BRÁS FERREIRA Pois sim... mas tu que tens relações de intimidade com ele, não podias pela tua influência?
 
DUARTE Ah! certamente... terei a honra de lhe apresentar. Há de gostar dele, verá: um homem agradável e que, sem bazófia, é meu amigo.
 
BRÁS FERREIRA (rindo) Hein!
 
GENERAL (baixo a Brás Ferreira) Até aqui, acho que diz a verdade.
 
DUARTE E alegre!... Olhe: à mesa me não deixava ele só, como aqui me fizeram. Ainda ontem almoçamos nós juntos na sua casa.
 
BRÁS FERREIRA e GENERAL  Em casa dele?!
 
DUARTE Sim, juntos, ao pé um do outro.
 
BRÁS FERREIRA Então muito mudado está ele de ontem para cá.
 
DUARTE Por quê?
 
BRÁS FERREIRA (apontando para o general) Porque ele aqui está, e tu não o conheceste.
 
DUARTE (surpreendido) O general Lemos! 
 
JOAQUINA (à parte) Estamos perdidos. 
 
AMÁLIA  Tudo, tudo está perdido.
 
DUARTE (tornando a si logo) O quê! Pois este é o senhor general Lemos? Muito sinto... não tenho a honra de o conhecer.
 
BRÁS FERREIRA Não duvido... mas nem por isso deixa de ser ele em pessoa.
 
DUARTE Há de me perdoar, meu tio: eu não digo o contrário; mas não foi com este senhor que eu almocei ontem... a verdade pura é esta. Como isto foi é que eu não sei; mas a não ser que haja outro general Lemos em Lisboa...
 
GENERAL Em Lisboa do apelido de Lemos nem eu conheço senão meu primo o coronel Francisco de Lemos.
 
DUARTE Exatamente. Pois foi em casa dele, decerto, que ontem me apresentaram, e provavelmente com ele é que eu almocei.
 
GENERAL Não teria dúvida nenhuma em o acreditar, se não fosse uma pequena dificuldade: e é que há três meses que está em Inglaterra.
 
DUARTE (à parte) Com a breca! (Alto) É que voltaria há pouco, sem se saber... porque ele ontem estava em Lisboa.
 
BRÁS FERREIRA Não estava.
 
DUARTE Estava tal.
 
BRÁS FERREIRA Pois bem, rapaz, esqueço-me de tudo... se me provares essa.
 
 
CENA XVII Os já mencionados, um criado, José Félix (com farda de brigadeiro), etc.
CRIADO  O senhor Lemos.
 
JOSÉ FÉLIX (afetando desembaraço) Então que é isto, que é isto?
 
GENERAL  Que vejo! É o meu brejeiro do meu Félix.
 
JOSÉ FÉLIX Ora vivam meus senhores... Adeus, meu Duarte.
 
DUARTE Oh meu querido protetor! Confesso que desta vez já não contava com o seu auxílio... Ainda bem que veio... Vou apresentá-lo ao meu sogro e ao seu primo.
 
JOSÉ FÉLIX (indo para eles com ar chibante, reconhece de repente o general) Santo Deus, meu amo!...
 
GENERAL (à parte) E com a minha farda, o maroto!
 
BRÁS FERREIRA (espantado)  Conhecem-se! 
 
(Duarte, Brás Ferreira, José Félix e Amália ficam todos imóveis de admiração)
 
GENERAL Que painel! Enterraram-se todos até ao joelho. Ora vamos a dar-lhes a mão, que eles por si não se levantam. (Para José Félix) Então senhor meu primo...
 
TODOS  Seu primo!
 
GENERAL Que espanto é esse? Pois queria esconder de mim a sua volta a Lisboa?
 
DUARTE O quê? Pois este senhor é seu primo, o coronel Francisco de Lemos que voltou de Inglaterra?
 
GENERAL Sim senhor. Por quê?... não lhe faz conta?
 
DUARTE Certamente que faz. — Mas é que isto hoje parece mesmo um acinte... não invento senão verdades. — Pois não é minha culpa, senhor Brás; mas, em consciência, está obrigado a dar-me sua filha.
 
GENERAL Não há dúvida, senhor Brás Ferreira; é preciso consentir neste casamento. Já não tem mentiras de que o acusar.
 
BRÁS FERREIRA Exceto a da recebedoria de Santarém.
 
GENERAL Aqui está o decreto. É a prenda de casamento que lhe eu trazia.
 
AMÁLIA Pois é possível!
 
DUARTE Aposto que é verdade... tudo é verdade hoje. Assim, meu caro sogro, consinta, não há remédio...
 
BRÁS FERREIRA Estou certo que me enganaram.
 
JOSÉ FÉLIX E eu também.
 
GENERAL E eu também... Apesar disso, vamos, consinta...
 
BRÁS FERREIRA Que lhe hei de eu fazer? Ainda que não seja senão por curiosidade e para saber esta adivinhação.
 
JOSÉ FÉLIX (atirando com o chapéu) Viva! A palavra do senhor Brás Ferreira é letra que não tem desconto. Eu ritorno al mio mestiere e ponho aos pés da minha cara Joaquina... o senhor Tomás José Marques... milord Coockimbroock, e sobre todos, o seu fiel José Félix, criado particular do excelentíssimo general Lemos.
 
DUARTE Ó maroto, pois eras tu?
 
BRÁS FERREIRA Faz-te de novas.
 
DUARTE Juro-lhe que eu não sabia nada, e que nem sequer o conheço...
 
BRÁS FERREIRA Continuamos?... Não faltava senão esta que é a mais difícil de engolir!
 
AMÁLIA E contudo é verdade, meu pai. Eu lhe explicarei como isto foi.
 
DUARTE Protesto-lhe que hoje foi o último dia da minha vida que me deixei cair neste maldito vício... E nem eu sei como foi; queria-me defender... vinham umas atrás das outras... por fim... não sei... Mas acabou-se: não torno mais a mentir; custa muito, dá muito trabalho. Vi-me em ânsias! Juro que me hei de emendar... já estou emendado. — José Félix, nunca me hei de esquecer da lição que me deste, e prometo pagar-ta.
 
JOSÉ FÉLIX Deveras?
 
AMÁLIA (dando-lhe uma bolsa) E eu pago-ta já.
 
JOSÉ FÉLIX Melhor ainda. (Apalpando a bolsa) Isto sim que são verdades puras... e não deixam mentir ninguém.

 

 

                                                                  Almeida Garrett

 

 

              Voltar à “Página do Autor"

 

 

                                                   

O melhor da literatura para todos os gostos e idades